Você está na página 1de 9

PAPEL DO FARMACÊUTICO CLÍNICO NO ATENDIMENTO AO PACIENTE COM

DOENÇA CELÍACA: UMA REVISÃO

NAKA, Daniel.1
HEGEDUS, José Paulo.2
ULH, Jullyara Valléria Corbari Ulh.3
OLIVEIRA, Nicollas Renan Cardozo..4
LINARTEVICHI, Vagner Fagnani 5

RESUMO

O cuidado farmacêutico é uma pratica de orientação ne auxilio ao paciente, família e comunidade.


A doença celíaca é uma doença causada por intolerância ao glúten, proteína encontrada em vários
alimentos e também em medicamentos. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da
literatura sobre o papel do farmacêutico clinico no atendimento ao paciente com doença celíaca. O
farmacêutico é um profissional de grande relevância visto que o mesmo está envolvido em todas as
etapas relacionadas ao medicamento desde sua produção até sua dispensação, assim como muitas
vezes é o profissional que terá o primeiro contato com o paciente.

PALAVRAS-CHAVE: Celíacos. Aconselhamento farmacêutico. Intolerância ao glúten.

1. INTRODUÇÃO

O cuidado farmacêutico é uma prática que tem por finalidade orientar o paciente, a família e a
comunidade, visando a promoção, proteção, recuperação da saúde e prevenção de agravos,
juntamente com a resolução de problemas farmacoterapêutico e o uso racional dos medicamentos.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
A doença celíaca é uma doença autoimune e é causada por intolerância ao glúten, uma
proteína encontrada no trigo, aveia, centeio, cevada, etc. Os principais sintomas são diarreia, dor

1
Acadêmico do 10º período do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
jphegedus@minha.fag.edu.br
2
Acadêmico do 10º período do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
dhnaka@minhaa.fag.edu.br
3
Acadêmico do 10º período do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
Jvculh@minha.fag.edu.br
4
Acadêmico do 10º período do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
nrcoliveira@minha.fag.edu.br
5
Doutor em Farmacologia pela UFSC. Professor Titular do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. E-
mail:linartevichi@fag.edu.br

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
abdominal, inchaço na barriga, anemia, perda de peso. O diagnóstico é realizado por exames
clínicos e o tratamento é realizado através de dieta com ausência de glúten. (MINISTERIO DA
SAUDE, 2020).
O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre o papel do farmacêutico
clinico no atendimento ao paciente com doença celíaca.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 DOENÇA CELÍACA

A doença celíaca é uma doença autoimune que ocorre através da ingestão de glúten. Sendo
uma doença frequente, com predisposição genética, onde a prevalência média na população geral, é
de 1-2% (RODRIGO apud RITO NOBRE, et al, 2007). Define-se por inflamação crônica da
mucosa e submucosa do intestino delgado, também, pode-se relatar enteropatia sensível ao glúten.
(RODRIGO; LEPERS, et al apud RITO NOBRE, et al, 2007).

2.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E SINTOMAS

As manifestações clínicas da doença celíaca podem ser identificadas das seguintes maneiras
(PRESUTTI, et al; TORRES, et al apud da GAMA e SILVA & FURLANETTO, 2010):

Forma clássica: Há a má absorção intestinal sintomática, onde pode ocorrer diarreia crônica, dor e
distensão abdominal, flatulência e emagrecimento.

Forma atípica: Sintomas mínimos ou ausência de sintomas gastrointestinais, podem haver sintomas
atípicos, como anemia ferropriva, osteopenia ou osteoporose, infertilidade e baixa estatura. Sendo a
apresentação mais comum.

Forma latente: Podem ocorrer em duas formas diferentes. Em pacientes com diagnóstico antecipado
da doença celíaca, que responderam à dieta livre de glúten, e possuem histologia normal ou com
aumento de linfócitos intraepiteliais. Na segunda forma, pode ocorrer em pacientes com mucosa
intestinal normal, que estão sob dieta com glúten, e consequentemente, desenvolverão a doença
celíaca.

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
Forma refratária: Os indivíduos com a doença que não respondem à uma dieta isenta de glúten.

Os primeiros sintomas gastrointestinais podem aparecer nos primeiros 6 meses de vida,


podendo evoluir conforme a introdução de cereais na alimentação da criança. Os sintomas mais
comuns nessa idade são: hipotonia, distensão abdominal, diarreia, dor abdominal e vomito. Os
sintomas, também podem manifestar apenas na fase adulta (CICLITIRA, 2001; MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2005).

2.3 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico pode ser realizado por teste sorológico e por biópsias intestinais. Onde o teste
IgA anti-tTG (Tranglutaminase tecidual, anticorpos IgA) possui maior precisão, com especificidade
maior que 95% e sensibilidade de 90% a 96%. Deve-se realizar o teste antes de uma dieta restritiva
de glúten. Caso o teste for positivo, durante a dieta, verificar se há alterações histológicas
(KAGNOFF, 2006).

A biópsia é realizada no duodeno distal, a alterações na mucosa e presença de linfócitos T


importantes são fatores no diagnóstico, devem ser realizadas múltiplas biopsias na região
descendente do duodeno, para verificar se também há alterações histológicas (KAGNOFF, 2006).

Os testes HLA-DQ2 e HLA-DQ8 são extremamente importantes para o diagnóstico da


doença, pois quase todos os pacientes possuem o alelo DQ2 (95%) ou DQ8 (5%). Como
praticamente todos os pacientes com a doença celíaca, estão relacionados com os loci DQA1 e
DQB1, a ausência desses alelos resulta um valor preditivo negativo para a doença próximo de
100%. Sendo os testes HLA para alelos DQ importantes como complemento para exclusão do
diagnóstico (KAGNOFF, 2006).

2.4 POPULAÇÃO DE ALTO RISCO

2.4.1 PARENTES

Os parentes de primeiro grau de um indivíduo com a doença celíaca, dispõem maior risco da
confirmação da doença por biópsia, com uma prevalência de aproximadamente 10%,

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
diferentemente da população em geral. No caso de parentes de segundo grau, a prevalência é de
2,6% a 5,5%. Mesmo sendo menor, ainda é excedente na população em geral (KAGNOFF, 2006).

2.4.2 ANEMIA FERROPRIVA

Em casos de anemia ferropriva inexplicada, em adultos, recomenda-se a realização de testes


sorológicos para a doença celíaca. Nos pacientes com deficiência de ferro inexplicada, a prevalência
da doença aumenta independentemente se o paciente houver sintomas gastrointestinais
(KAGNOFF, 2006).

A prevalência em pacientes assintomáticos, avaliados através de testes sorológicos, pode


variar de aproximadamente, 2% a 5%, no entanto, através da endoscopia a variação é de
aproximadamente 3% a 9%. Em pacientes sintomáticos, a prevalência demonstrou-se maior, (~10%
a 15%) (KAGNOFF, 2006).

2.4.3 OSTEOPOROSE

Em pacientes com osteoporose, a prevalência da doença celíaca é de aproximadamente 1,5%


a 3%, especialmente em casos de osteoporose precoce ou osteomalácia (KAGNOFF, 2006).

2.4.4 DIABETES MELLITUS TIPO 1

Em pacientes com diabetes mellitus tipo 1, a prevalência da doença celíaca pode variar de
2% a % em adultos e de 3% a 8% em crianças. Ao diagnosticar a diabetes tipo 1, o profissional da
saúde deve ficar atento da associação entre estas duas doenças. A realização do teste para doença
celíaca se houver sintomas é crucial (KAGNOFF, 2006).

2.4.5 DOENÇAS NO FÍGADO

Em pacientes com níveis elevados inexplicados de transaminase, a prevalência pode variar


de 1,5% a 9%, de 2,9% a 6,4% em pacientes com hepatite autoimune, e de até 6% em casos de

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
cirrose biliar primaria. Não há prevalência elevada em casos de colangite esclerosante primária ou
esteatose hepática. Não se recomenda o uso do teste sorológico para anticorpos tTG neste caso, pois
podem estar falsamente elevados em doenças hepáticas avançadas (KAGNOFF, 2006).

2.4.6 GENÉTICA

A prevalência da doença em indivíduos com síndrome de Down pode variar de 3% a 12%,


indicando que o risco em pacientes com síndrome de Down é de 5 vezes maior do que na população
em geral. Já a prevalência em indivíduos com síndrome de Turner há uma variação de 2% a 10%,
demonstrando-se, também, maior que na população em geral. Assim como nos demais, em ambas
as síndromes, a doença celíaca é restrita aos alelos DQ2 e DQ8 (KAGNOFF, 2006).

2.4.7 TIREOIDE CRÔNICA

A prevalência em pessoas com tireoide crônica pode variar de 1,5% a 6,7%. Não há
justificativas para realizar a triagem de rotina em pacientes com a doença celíaca e da tireoide
quando não há sintomas sugestivos para a doença (KAGNOFF, 2006).

2.4.8 DESORDENS REPRODUTIVAS

Existe a associação da doença celíaca e desordens reprodutivas, como amenorreia primária e


maior taxa de abortos espontâneos. A prevalência é de 2,1% e 4,1% em mulheres com infertilidade
inexplicada. A fertilidade da mulher pode ser melhorada com a intervenção de uma dieta sem glúten
(KAGNOFF, 2006).

2.4.9 OUTRAS DOENÇAS

A doença celíaca também pode ser associada às seguintes doenças e distúrbios: nefropatia
por IgA, doença de Addison, epilepsia idiopática, ataxia, e calcificações occipitais. (KAGNOFF,
2006).

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
2.5 TRATAMENTO

O tratamento da doença celíaca só é possível através de uma dieta livre de glúten, essa dieta
deve ser seguida durante toda a vida do paciente. Durante essa dieta, caso necessário, o paciente
pode receber tratamento nutricional se houver deficiência nutritiva (ferro, ácido fólico, vitamina
B12) (KAGNOFF, 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

3. METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Como fontes de consulta
foram utilizadas as bases eletrônicas Google Acadêmico, Pubmed e Scielo, buscando-se artigos
publicados em periódicos científicos entre os anos de 1995 e 2021 (abril), nos idiomas português ou
inglês. A seleção dos artigos dos artigos ocorreu entre março e agosto de 2021.

4. ANÁLISES E DISCUSSÕES

O farmacêutico tem um impacto direto na vida dos pacientes acometidos com a doença
célica, atuando desde a indústria na produção de medicamentos isentos de glúten, passando pela
farmácia hospitalar onde por meio da supervisão da administração medicamentosa tem o encargo de
garantir a não administração de medicamentos que contenham glúten a esses pacientes, por meio de
pesquisas no âmbito cientifico buscando novas alternativas de terapêutica e principalmente na
farmácia comunitária, onde o mesmo tem o importante papel na identificação de medicamentos
seguros e no aconselhamento ao paciente (SILVA, NAVES and VIDAL, 2008).

A mudança de vida do paciente pode começar já quando criança, com o profissional introduzindo
glúten na alimentação de forma progressiva após os 6 messes de idade, começando por papas sem
glúten e posteriormente adicionando essas proteínas de forma gradual, possibilitando assim verificar
uma possível intolerância. Na vida adulta pacientes podem chegar com déficits nutritivos devido a
deficiência na absorção de vitaminas como ferro, ácido fólico e b12, o farmacêutico pode
aconselhar suplementos alimentares elucidando essas carências que afetam diretamente na vida do
paciente. (Leitão, 2016)

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
Nas farmácias ainda há a possibilidade do uso de testes de autodiagnósticos, que possibilita
identificar a intolerância ao glúten, porém cabe ao profissional informar que esses testes por si só
não diagnosticam e não substituem a consulta médica (SILVA, NAVES and VIDAL, 2008). Cabe
ainda ao farmacêutico incentivar essas pessoas a participar de grupos de apoio, onde elas irão
encontrar outros com os mesmo problemas e desafios como o fato da dieta isenta de glúten (Leitão,
2016).

No estudo de Piva and Wolkweis, (2020), 56,7% dos 180 pacientes celíacos entrevistados relataram
se auto medicar a fim de diminuir os sintomas da doença, evidenciando assim a relevância da
atuação do farmacêutico, atuação essa que pode trazer grandes melhoras na vida do paciente. Nesse
contexto o farmacêutico pode agir retirando medicamentos desnecessários, corrigindo possíveis
interações medicamentosas, orientando sobre a possível presença de glúten em alguns deles, assim
evitando prováveis complicações, garantindo uma farmacoterapia adequada e uma boa qualidade de
vida ao paciente. (LEITÃO, 2016)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho é de grande importância, pois mostra que além do cuidado com
alimentação de forma a garantir que o paciente não venha a consumir alimentos que contenham
glúten os cuidados com os fármacos são um ponto de grande relevância para garantir uma boa
qualidade de vida e bem estar aos pacientes celíacos, desse modo o farmacêutico é um profissional
de grande relevância visto que o mesmo está envolvido em todas as etapas relacionadas ao
medicamento desde sua produção até sua dispensação, assim como muitas vezes é o profissional
que terá o primeiro contato com o paciente. Assim o Farmacêutico deve sempre intervir quando
necessário de forma a melhorar farmacoterapia sempre com uma boa relação com os demais
profissionais envolvidos no tratamento como o médico e o nutricionista visando sempre o bem estar
do paciente.

6. REFERÊNCIAS

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
CICLITIRA, Paulo J. AGA Technical Review on Celiac Sprue. American Gastroenterological
Association. Bethesda, v. 120, n. 6, p.1526-1540, mai. 2001. Disponível em:
<https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(01)87933-6/fulltext?referrer=https%3A%2F
%2Fpubmed.ncbi.nlm.nih.gov%2F>. Acesso em: 04/09/2021.

GAMA e SILVA, Tatiana Sudbrack; FURLANETTO, Tania Weber. Diagnóstico de doença


celíaca em adultos. Revista da Associação Médica Brasileira. Porto Alegre, v. 56 n. 1 p. 122-126,
mar. 2010. Disponivel em: <https://www.scielo.br/j/ramb/a/Gh38SVTy6nzPzNxzsPHzwFv/?
lang=pt>. Acesso em: 04/09/2021.
KAGNOFF, Martin F. AGA Institute Medical Position Statement on the Diagnosis and
Management of Celiac Disease. American Gastroenterological Association. Bethesda, v. 131, n.
6, p. 1977-1980, dez. 2006. Disponível em: <https://www.gastrojournal.org/article/S0016-
5085(06)02226-8/fulltext?referrer=https%3A%2F%2Fpubmed.ncbi.nlm.nih.gov%2F>. Acesso em
12/09/2021.
LEITÃO, Raquel Sofia da Costa. (2016) Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária,
Universidade De Coimbra. Coimbra. Disponível em:
<https://eg.uc.pt/bitstream/10316/83747/1/Final Raquel Leitão.pdf.> Acesso em 18/09/2021.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doença Celíaca. Biblioteca Virtual em Saúde. jul. 2005. Disponível
em: <https://bvsms.saude.gov.br/doenca-celiaca/>. Acesso em: 12/09/2021
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Assistência farmacêutica. Disponível em://
www.artigo.saude.gov.br/assistencia-farmaceutica// acesso em: 19/09/2021.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca.
PIVA, Rafaela Dal; TONIN, Thaís; WOLKWEIS, Jociele Tonin. Atenção farmacêutica na doença
celíaca: uma amostragem no município de Foz do Iguaçu/PR, Editoracientifica, v. 26, p. 303-317.
dez. 2020. Disponível em: <https://downloads.editoracientifica.org/articles/210203195.pdf/>.
Acesso em: 12/09/2021
RITO NOBRE, Sonia; et al. Doença Celíaca Revisitada. GE Jornal Português de
Gastrenterologia. Lisboa, v. 14, n. 4, p. 184-193, set. 2007. Disponível em:
<http://www.eloizaquintela.com.br/guide_lines/DCA%20CELIACA%20III.PDF>. Acesso em:
04/09/2021.
SILVA, E. V. da, NAVES, J. de O. S. and VIDAL, J. (2008) O papel do farmacêutico comunitário
no aconselhamento ao paciente, Conselho Federal de Farmácia Centro Brasileiro de informação
de Medicamentos - CEBRIM/CFF, v. 1 n. 8, p. 1–3. Disponível em :
<http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/67/057a064_farmacoterapeutica.pdf.>. Acesso em
: 19/09/2021

Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021


ISSN 1980-7406
Anais do 19º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2021
ISSN 1980-7406

Você também pode gostar