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Epílogo
MARIE
Meus olhos estavam presos nos dele. Ele sorriu, beijou minha mão, e eu,
de uma forma estúpida, comecei a relaxar. Conversamos, trocamos risadas e
histórias engraçadas. Ele parecia tão confiável.
Mas eu estava errada.
Ele não era confiável.
— Tira a roupa — foi o que ele falou quando estávamos sozinhos, horas
depois.
— O quê? — Eu sorri, bêbada. Tomei alguns shots de tequila induzida
por ele, enquanto brincávamos. — Para, pelo menos me leva para sair mais
vezes. — eu disse, rindo inocentemente.
O tapa veio inesperadamente. Senti minha pele arder e em seguida a
ardência se transformou em latejo. Meu ouvido ficou tapado por segundos e só
momentos depois voltei a ouvir o ruído do beco escuro.
Ele disse que vinha fumar e queria minha companhia. Eu o segui até
aqui. Deus, como fui burra.
— Tira a roupa! — ele gritou e eu percebi que ele não estava brincando.
Seus olhos escuros me fizeram recuar para a parede mais próxima. Ele
deu passos em minha direção, eu ainda sentia meu rosto doer até que ele pegou
meus cabelos. Sempre tive cabelos loiros, mas são tão ralos que perdem a
beleza. Ele me tirou do chão, segurando-os. Eu gritei, mas ele foi rápido ao
tapar minha boca.
— Eu faço por você — ele anunciou, encarando meus olhos de maneira
nojenta. Sua língua áspera percorreu meu pescoço e bochecha, me fazendo
soluçar. A bebida estava fora do meu corpo instantaneamente. O medo criou
raízes.
Escutei um barulho quando um canivete entrou pela minha blusa e ele a
rasgou ao meio. Meu sutiã era de renda e logo se partiu também. Meus seios
ficaram rígidos ao entrarem em contato com o frio da noite enquanto minhas
pernas se remexiam, querendo atingi-lo.
O erro foi meu, com meu movimento ao tentar machucá-lo, o objeto
cortante atingiu meu seio e feriu minha pele.
Meus gritos eram abafados pela mão dele e eu comecei a perceber que
não sairia dali viva. O que eu fui fazer ali? Por que isso estava acontecendo?
Eram essas as questões que rondavam meus pensamentos.
— Olha só o que me fez fazer. — Sorriu friamente e lambeu meu sangue
da faca pequena. — Te observo há tanto tempo, Marie. Estava tão louco por
você. — Ele se inclinou e lambeu meu sangue direto do corte latejante.
Queria implorar, pedir que me deixasse ir, mas já estava difícil respirar.
Meu couro cabeludo doía e eu poderia apostar que já estava saindo sangue.
— Vou trepar com você a noite inteira. Vou marcar seu corpo todo, sua
puta. — Ele mordeu a ferida com uma força absurda, rasgando mais ainda a
carne, e eu gritei, conseguindo tirar sua mão dos meus lábios por um momento.
Finquei meus dentes na sua mão e pude sentir a carne ser partida.
Sua mão no meu cabelo saiu, me dando um alívio passageiro, mas então
ele segurou meu pescoço, apertando seus dedos, fazendo o ar se esvair dos meus
pulmões. Meus olhos se encheram de mais lágrimas enquanto ele chupava o
machucado que fiz em sua mão.
— A vagabunda sabe morder também…
— Por favor, me solta. Não vou denunciar… só me deixe ir… — eu me
focei a falar, sentindo minha vida deslizar entre meus dedos, porém ele me calou
com um murro certeiro em meu olho esquerdo.
Ainda tonta do soco, senti minha cabeça colidir contra a parede diversas
vezes. Meus olhos pesaram e a escuridão me engoliu.
Quando acordei, não sabia se tinham passado horas ou minutos. Todo o
meu corpo doía. Virei a cabeça, percebendo que eu estava amarrada, ainda no
beco, e então eu soube que aquele homem me mataria.
— Ainda bem que acordou. — Ele apareceu no mesmo momento que me
sentei, puxando meus joelhos juntos. Apenas minhas mãos estavam amarradas.
Minha calça jeans ainda estava no lugar e eu agradeci por isso.
— Me so-solta. Po-por favor — pedi, gaguejando, sentindo minha
garganta queimar e minha cabeça doer cada vez mais. No entanto, quando ele
se aproximou e se inclinou em minha direção, pelos seus olhos, eu soube que ele
nunca me deixaria ir.
Nunca vi tamanha escuridão e maldade em alguém. A vida que eu
encarei enquanto estávamos conversando no bar do Axel não está presente,
nunca esteve. Ele fingiu.
Ele se aproximou mais, rindo. Foi quando ouvi vozes, elas estavam
distantes, mas uma delas se sobressaiu, era a dele. Cain.
— Socorro! CAIN! — gritei, mesmo aterrorizada, pelo homem que eu
amava, encarando o psicopata que eu conheci há algumas horas, mas que teve
tempo suficiente para arruinar minha vida para sempre. — Socorro! Socorro!
Eu me agarrei à esperança de viver e continuei gritando.
— Eu volto — ele pronunciou furioso e correu para a porta que dava
para o bar do Axel.
Minha visão estava embaçada, mas eu vi Cain chegar a mim. Vou
guardar para sempre em minha mente seu olhar de puro pânico naquele dia.
Releio duas vezes a passagem enquanto estou deitada sobre meus
lençóis. São três da manhã, cinco dias depois da noite fatídica. São cento e vinte
horas sem dormir, sem conseguir relaxar meu corpo.
Eu não consigo. Juro que tento. O sono apenas não vem.
Desde pequena meu maior lazer era andar a cavalo à noite. Aquilo me
relaxava, fazia meu corpo e alma terem paz, mas agora não posso olhar para o
céu escuro, pois temo entrar em pânico absoluto. Não falei para ninguém o que
aconteceu, não abri a boca para falar com ninguém sobre aquela noite. Eles me
rodeiam, fazem perguntas, mas eu fico calada. Fico aterrorizada somente com a
possibilidade de alguém me tirar de casa depois que o sol se põe.
Eu associei o horário do dia que eu mais amava àquela noite. Ao meu
tormento.
— Posso entrar? — escuto a voz de Kai pela porta, depois de batidas, e
engulo em seco. O que ele está fazendo acordado a essa hora? Encaro meu
celular, sabendo quão tarde é.
— Claro. Entra — peço suavemente e logo vejo seu rosto.
Kai me abrigou na sua casa quando eu era apenas uma menina. Minha
mãe trabalhou aqui, mas morreu e ficamos apenas eu e minha irmã, Michelle.
Kai nos deu trabalho, uma casa e comida. Eu o amo como meu irmão mais
velho.
Seu rosto cansado denuncia sua preocupação. Sou um estorvo para ele.
Estou na sua casa durante esses dias, mas moro numa propriedade onde seus
trabalhadores dormem, a alguns minutos daqui. Antigamente eu ia de cavalo
para casa, depois do dia de serviço, porém hoje eu não vou a lugar nenhum.
— Marie, não consegue dormir? — Ele se aproxima devagar e se senta
na cadeira ao lado da minha cama enquanto fecho meu diário, escondendo-o
embaixo das cobertas logo em seguida.
— Já estava quase — minto, forçando um sorriso. Não quero preocupá-lo
mais do que o suficiente. Kai tem sua família para cuidar, não precisa de mim
lhe dando preocupações.
— Sei que não está conseguindo dormir. Escuto seus suspiros e vejo sua
luz acesa quando passo na porta. — Kai fecha os olhos e eu sinto meu coração
começar a doer. — Eu estou apavorado. — Ele ri sem humor, me fazendo piscar.
— Você é minha irmãzinha, entende? Eu quero entender o que aconteceu. Quem
fez isso… — Ele se cala de repente e esconde o rosto entre as mãos. Vejo seus
ombros tremerem e me ergo da cama, me colocando de joelhos à sua frente.
— Não precisa ficar assim, Kai… — digo, tentando, em vão, acalmar
meu quase irmão.
— Marie, você não sai desse quarto há dias. Estou preocupado. O que
esse homem fez…
— Kai, eu estou bem. Amanhã eu saio, vou dar uma volta pela fazenda…
— Tento me imaginar saindo desse quarto e não consigo ver como.
— Não, você não está. Vou matar o homem que fez isso com você, se
Cain não o achar primeiro, é óbvio. — O nome dele ecoando faz com que eu me
afaste de Kai, arfando.
— Como assim? Cain… — Meus olhos se arregalam enquanto meu
sangue esfria completamente.
— Ele está caçando o homem. Ele viu você com ele, Cain pode
reconhecer o cara — Kai fala de modo calmo e eu tremo, abraçando meu corpo.
Se Cain o encontrar… e se ele fizer o homem que amo sofrer tanto quanto me
fez? Não consigo imaginar perder aquele homem. Eu morreria.
Imaginei que Cain tivesse chegado ao bar no momento em que me
encontrou. Estava errada. Ele me observou sendo uma idiota a noite toda. Rindo
e flertando com um psicopata por causa da nossa briga. Talvez planejando
estapear minha bunda por estar na presença de outro homem.
— Entendi. — Respiro profundamente e me forço a sorrir, deixando meu
medo de lado. Terei que falar com Cain. Durante essa semana conversamos, mas
ele estava receoso o tempo todo. Talvez, achando que eu desmoronaria. Estou a
um passo, confesso. — Kai, vou dormir, podemos conversar ao amanhecer? —
tento dizer de forma convincente, e ele se ergue, se inclinando até mim.
— Estou aqui, Marie, ele não vai entrar aqui. Nunca deixarei. — Seus
lábios tocam minha testa, e eu suspiro, constatando que sim, eu acredito nele.
Helena fica andando pelo meu quarto enquanto calço minhas botas. O
jeans curto é desfiado e deixa minhas pernas livres. Amarro meu cabelo em um
rabo de cavalo e suspiro, me erguendo.
— Você tem certeza? — ela já perguntou isso três vezes nos últimos
cinco minutos. Kian bate palmas nos braços da mãe e os olhos dela desviam dos
meus para os do filho.
— Sim, eu tenho — confirmo, tentando sorrir. — Preciso sair de casa,
Kai mesmo falou — eu a lembro, tentando soar calma. — Estou bem, Helena —
tento convencê-la, e ela engole em seco, acenando.
— Tudo bem.
Afasto-me dela e saio do quarto. Já passa das quatro da tarde e esse é o
melhor momento para cavalgar. Desço as escadas devagar e, quando chego à
porta, estanco. Elevo a mão para a maçaneta e observo os dedos tremerem.
Está tudo bem, Marie. Você consegue.
A voz em minha cabeça soa calma e cheia de carinho. Pego na maçaneta
e suspiro, sentindo a coragem percorrer meu corpo.
Ele está lá fora. Vai te pegar. Por favor, não vá.
Recuo, soltando a maçaneta. A voz que me acompanha desde a fatídica
noite é completamente diferente da anterior; ela está completamente apavorada.
Fecho meus olhos e aperto a mão contra meu peito. Minha respiração fica presa
e eu arregalo os olhos, tentando me acalmar. Por favor, por favor…
— Marie? — Eu me viro, assustada, e o ar explode em meus pulmões.
Gabe franze as sobrancelhas, e eu pisco, engolindo em seco. — Está tudo bem?
— Sim — murmuro e pego sua mão. Meu melhor amigo me puxa para
seus braços, e eu relaxo. Estou segura. Estou em casa, não naquele beco escuro.
— Você pode me acompanhar até o celeiro? Quero pegar Troia para podermos
dar uma volta…
— Não vou perguntar se tem certeza, pois é isso o que você precisa. Sair.
Então, não retroceda. — Ele beija meus cabelos e se afasta. Com um sorriso, ele
abre a porta e segura minha mão até eu estar fora da casa do Kai.
Minha respiração fica superficial e Gabe coloca seus braços sobre meus
ombros como se soubesse o quanto assustador é estar fora de casa. O sol ainda
está quente e minha pele formiga com os raios solares. Assim que vejo Troia,
meus músculos relaxam.
— Ei, garoto! — Toco sua cabeça e ele se inclina em minha direção.
Troia é do Kai, não meu, mas o amo como se fosse. Desde que cheguei
aqui eu desejava montar. Quando o vi tudo se encaixou, era como se ele
conseguisse me manter protegida. Ele nunca me deixaria cair.
— Tenho que ir — Gabe murmura e eu me lembro do meu amigo.
Aceno, ainda tocando Troia, e o vejo se afastar.
— Vamos dar uma volta? — sussurro, observando que ele já está pronto
para montar. Helena deve ter pedido a alguém para aprontá-lo.
Saio com ele do celeiro e subo nele, segurando as rédeas. Troia cavalga
devagar nos primeiros metros, mas eu acelero para sentir o vento em meu rosto.
Sorrio, enchendo meus pulmões de ar. Troia corre mais rápido e eu me inclino
sobre ele, querendo abraçá-lo.
— Eu estou bem, Troia — repito isso, tentando convencer a nós dois.
Meu cavalo nunca entenderia, mas eu estava a um passo de cair. Não no chão,
Troia nunca deixaria, mas na escuridão. Ele está lá, aguardando, me esperando…
ele quer me destruir.
Seus olhos surgem de repente e meu peito aperta. As batidas aceleram à
medida que eu puxo as rédeas de Troia, fazendo-o parar. Volto a me inclinar
sobre ele e meus braços o envolvem, enquanto fecho meus olhos. O rosto
quadrado, o sorriso branquíssimo e o cabelo preto me fazem sufocar. Conto de
um até dez, depois até vinte, e, quando acho que vou desmaiar ou morrer, Troia
se abaixa, me assustando ao se deitar.
O susto faz o ataque de pânico cessar e o ar explode em meu corpo. Meu
queixo treme e eu o abraço apertado. Ficamos juntos, parados, enquanto me
concentro nele. Aliso sua crista e beijo seu pelo. Obrigada, obrigada, Troia.
Na volta, assim que a casa grande aparece, eu detecto Cain. Ele está
sentado na escadaria que leva até a casa. Seu chapéu está no joelho enquanto
seus cotovelos descansam no degrau atrás dele. Se eu não o conhecesse poderia
apostar que ele está calmo e até relaxado. Só que eu o conheço, e Cain está tudo,
menos relaxado.
— O que você está fazendo? — questiono assim que ele se ergue e vem
na minha direção.
Ele coloca as mãos em minha cintura e me tira de cima de Troia sem
esforço algum. Assim que meus pés tocam o chão, minha cabeça se inclina para
que eu possa olhar seu rosto. Sua estatura enorme sempre me fez sentir como
uma criança. Pequena, indefesa.
— Entra no carro. — Sua voz é pesada. Não sei por que está chateado,
mas algo aconteceu.
— Não! — Franzo as sobrancelhas e dou um passo para trás. — Por quê?
— Marie, entra na porra do carro. — Engulo em seco vendo seu olhar
sério.
— O que aconteceu? — questiono, tentando imaginar o que poderia tirar
a paciência dele. Nada chega a mim. Será que ele brigou com algum dos
meninos? Eles sempre brigam, até de socos, e quase sempre o motivo sou eu.
Cain suspira, segurando as rédeas do Troia. Jimmy surge em seguida,
sorrindo para mim. Eu me afasto de Cain assim que meu amigo corre em minha
direção. Seus braços me envolvem e eu relaxo contra seu corpo, mesmo estando
suado.
— Ei, loirinha… — Ele beija meus cabelos, me apertando, e eu o abraço
de volta.
— Estou bem, Jimmy — murmuro e beijo sua bochecha, me afastando.
Vejo seus olhos marejados e seguro sua mão. — Estou bem. Eu juro.
Ele limpa os olhos e acena, beijando minha testa. Seguro sua bochecha e
o beijo também.
— Pode levar Troia para o celeiro, Jimmy? — o tom sério de Cain nos
interrompe e eu o encaro. Seus olhos estão presos na paisagem, longe de mim e
Jimmy.
— Claro. — Jimmy se afasta com Troia rapidamente.
— Odeio…
— Que eles me toquem — completo, o interrompendo. — Eu sei e eu
não ligo, não estamos mais juntos…
— Nunca estaremos separados. Você é a extensão do meu coração.
Nunca a deixarei me afastar. — Um arrepio percorre meu corpo com suas
palavras.
— Você já deixou.
Dou-lhe as costas e caminho para casa. Nem completo dois passos e sinto
suas mãos em mim. Ele me coloca sobre seus ombros e anda até seu carro, me
levando como muitos dos quadrados de capim das vacas que ele e os meninos
carregam.
— Cain! — resmungo, completamente chocada. Porém eu não deveria.
Ele sempre foi assim. Se eu não cedia, ele me pressionava até eu me render. —
Me solta. Estou cansada, quero ir para o meu quarto…
— Você está indo para ele. — Cain me coloca no banco do carro e fecha
a porta, antes que eu consiga entender o que falou.
— Cain. — Eu me viro, vendo-o entrar também. — O que você está
fazendo? O que quis dizer…
— Indo para casa. Estou cansado, e você precisa dormir. — Sua
casualidade me causa frustração.
— Eu moro aqui agora, você sabe disso. O que está acontecendo?
— Não mais. — Ele dá partida no carro, mas para ao ver Kai estacionar
atrás dele. Graças a Deus. Não vou embarcar na loucura desse homem. Não vou
morar com ele, nem a pau.
Bato na janela e Kai olha para nós dois. Ele gesticula, mandando Cain
descer o vidro, o que o homem turrão faz bufando.
— Mande-o abrir essa porta agora, Kai — peço calmamente, fazendo Kai
franzir as sobrancelhas.
— Cara, sai daqui — Cain manda, resmungando.
— Ela não quer…
— Você sabe o que vou responder, então segue a porra do caminho, Kai.
Agora. — Arregalo os olhos, surpresa. Cain nunca gritou com o primo. Eles são
melhores amigos.
— Você que sabe, cara. — Kai eleva as mãos, rendido. Vejo-o se afastar,
completamente embasbacada.
Cain sai da fazenda em seguida. Ele se inclina sobre mim e coloca meu
cinto enquanto pisa no acelerador.
— Vai ficar tudo bem — ele murmura, se concentrando na estrada. Eu
me viro, olhando para a paisagem. — Eu juro, Anjo.
Percebo com os minutos passando que estamos longe da fazenda.
Estamos na cidade. Sufoco a vontade de pedir informações, Cain está me tirando
de onde me sinto segura à força, a última coisa que eu quero fazer na minha vida
é dirigir a palavra a ele.
Minutos depois ele para em frente a um portão enorme de ferro. Encaro o
prédio de três andares, apertando meus dentes. O que Cain pretende? O portão
só abre quando ele coloca uma senha e sua digital no painel. Franzo as
sobrancelhas para isso, mas o carro passa fazendo o portão se fechar, nos
trancando em uma garagem que tem lugar para mais dois carros. Cain sai do
carro e dá a volta, abrindo minha porta.
— Você nem mesmo me deixou pegar as minhas coisas… — resmungo,
seguindo-o até um elevador. As portas se fecham assim que ele se coloca atrás
de mim.
— Tudo que precisa está aqui. — Sua mão envolve minha barriga e ele
me puxa contra seu peito.
— De quem é esse lugar? — questiono, segundos depois, saindo da sua
posse quando as portas se abrem, me dando uma fuga.
— Nosso.
Arregalo os olhos, vendo que o elevador para já dentro de casa. Viro-me
ao escutá-lo. Cain cruza os braços, e eu semicerro os olhos.
— Desde quando? Como? — minha voz sai exatamente como estou me
sentindo: confusa.
A sala é grande, tem um sofá imenso e uma TV tão grande como nunca
vi. Um tapete cinza estava no meio da sala e uma mesa pequena de centro estava
sobre ele. A cozinha era acoplada e um balcão largo de granito separava os dois
cômodos.
— Construí esse lugar durante todos esses anos. Demorou, mas ele ficou
pronto quando eu mais precisei. — Escuto o orgulho em sua explicação e minha
barriga esfria. — Tudo foi feito pensando em você. Se não gostar de algo, mude.
Eu tento entender, fazer com que qualquer coisa faça sentido, mas não
faz.
— Nunca soube disso…
— Era surpresa. — Ele caminha até mim e segura meu queixo, se
inclinando.
— Não faça nada disso — imploro, piscando com a umidade que se
forma em meus olhos.
— Fazer o que, loirinha? — A maneira como sua voz sai preocupada me
faz lembrar o quanto esse homem odeia que eu chore.
— Isso! Fingir que fez isso para mim, que era uma surpresa… — Mesmo
tentando, as lágrimas rolam por meu rosto. — Nós dois sabemos que só me
trouxe para cá por causa dele.
— Eu vou te proteger, Anjo. Nem você será capaz de me impedir. — Ele
desvia do assunto e eu me afasto, limpando o rosto.
Vejo uma escada do lado direito e vou até ela, subindo em seguida. Ela
dá acesso a um corredor com três portas. Uma em cada lado, e a terceira no final
do corredor. Abro as duas e entro no quarto mais iluminado pelas janelas. A
cama dá duas da minha antiga. Eu me sento, relaxando contra a maciez. As
paredes claras estão lisas. Nenhuma decoração. Mais duas portas estão aqui e eu
vou até elas, descobrindo em seguida que são o banheiro e closet. Engulo em
seco, entrando, e vejo todas as minhas roupas aqui. Cain trouxe tudo.
— Descansa. Eu vou preparar algo pra gente comer…
— Não. — Balanço a cabeça, limpando meu rosto molhado. Eu me viro e
vejo o corpo de Cain preencher a porta. — Eu faço isso. Você não sabe nem
fritar um ovo — resmungo e dou um passo, esperando que ele saia da frente.
Ledo engano.
— Não chore. — Seus dedos deslizam pela minha pele e ele se inclina,
beijando meus lábios com ternura, tão rápido que eu me pergunto se foi mesmo
verdade. Desvio meu rosto, e sua testa descansa sobre a minha. — Eu estou aqui,
e vou ficar. Não sou paciente, você sabe, mas por você eu vou tentar. Juro que
vou, Anjo.
Seus dedos brincam com meu cabelo e eu aceno, sem conseguir falar
nada. Cain se afasta e eu saio do closet, indo para a cozinha.
Não sei o que ele pretende com isso. Nós dois na mesma casa, sozinhos.
Isso era tudo que um dia eu desejei, mas por que agora? Por que estou sentindo
que tudo que ele está fazendo é guiado pelo medo?
Cain Ross não me ama. Ele quer ser meu herói, quer me proteger. O que
ele parece não saber é que eu não preciso ser salva. Não mais, pelo menos. Eu só
quero ser amada. Por ele, ninguém além dele.
CAIN
Deixo seu celular tocando e vou atrás dele. Cain tem problemas com sua
família materna, sempre soube disso, mas os motivos nunca chegaram a mim.
Ele surta a cada menção do nome da mãe. Foram poucas as vezes que o vi
reagindo à mãe, e todas foram assim.
Abro a porta do quarto e o vejo na cama. Sua barriga contra o colchão.
Ele é enorme e a cama fica num tamanho perfeito para ele, diferente de mim, que
pareço um bebê. O travesseiro em cima do rosto esconde suas feições.
— Ela não te liga — murmuro, tentando acalmá-lo. Seu corpo fica tenso,
mas ele não responde. — Talvez hoje fosse algo realmente importante…
— Não ligo se Wendy está com problemas. Você já deveria saber disso.
— Ele está certo. Eu deveria.
— Tudo bem. — Suspiro e volto para a cozinha. Assusto-me ao ouvi-lo
descer da cama e vir ao meu encontro.
— Eu lavo a louça e arrumo a cozinha. — Ele passa por mim
rapidamente e me deixa sozinha no corredor.
Volto para o quarto e me sento na cama. Meu celular começa a tocar e eu
vejo o nome de Felicity na tela. Somos amigas há muito tempo, desde que
éramos meninas. Infelizmente, a vida nos separou esses dias e eu me vi mais na
presença da Vanessa do que na dela.
Hesito em atendê-la, mas cedo quando a chamada termina e recomeça.
— Ei! Oi! — Sorrio ao falar.
— Oi! Estava pensando em passar na fazenda para te ver. Você sabe,
colocar o papo em dia. — Sua voz está normal e suas palavras são algo que ela
normalmente diria. É isso que amo nela, ela sabe como eu quero que me tratem.
— Não estou na fazenda… — Mordo meu lábio e me aproximo da
janela.
— E onde está? Realmente preciso conversar. — Ela suspira e Axel
aparece em meus pensamentos. Felicity e ele têm problemas.
— Vou te mandar minha localização. Me liga quando chegar —
resmungo e ela responde um okay completamente confusa.
Desço assim que desligo a chamada. Cain está secando as louças e a
cozinha está limpíssima. Se me perguntarem qual cômodo dessa casa mais
gostei, com certeza eu responderia a cozinha. Ela é equipada com todos os
utensílios que imaginei comprar para minha casa. Toda em inox, completamente
linda.
— Você gostou da cozinha? — Suas costas se remexem quando ele
pergunta.
Volto a olhar para cada canto do cômodo e suspiro.
— Sim. Eu amei — respondo, me aproximando. Escuto seu suspiro
aliviado e sorrio. Deus, o que estamos fazendo?
Eu me sento de frente para o balcão e o observo guardar as coisas.
Quando ele termina, se vira e sorri para mim. É um daqueles sorrisos enormes
que fazem os olhos brilharem, são esses que fazem minha barriga dar
cambalhotas desde a primeira vez que o vi fazer isso.
Ele estava com Kai. Eles estavam conversando, não sei sobre o que, não
consegui ouvir. Então, de repente, ele sorriu. Foi arrebatador. Ele gargalhou tanto
e eu me senti completamente apaixonada. Naquele dia achei incrível o quão
alegre, leve e brincalhão ele se torna quando está com o primo.
— Para de fazer isso. — Minha voz sai como um gemido. Ele franze as
sobrancelhas.
— O quê? Não entendi.
— Esse sorriso. Pare de sorrir assim para mim — resmungo e me inclino,
colocando minha testa contra o granito frio.
— Você me faz feliz, Anjo. Eu não posso me conter. — Elevo meu rosto
e descanso meu queixo nas minhas mãos, ainda pousadas no granito.
— Eu já te amo. Não precisa disso. Você sabe — murmuro e depois volto
a explicar: — Estou falando desse sorriso e do jeito que está me olhando. Não
precisa. Isso aqui… — Toco em meu coração. — … é seu. Sempre vai ser.
Cain engole em seco e pisca com umidade em seus olhos. Não sei se já
falei, mas ele é emotivo. Pelo seu tamanho, cara fechada e tudo o mais, eu achei
que não fosse, mas ele é, e esta foi uma das coisas que fizeram com que eu me
apaixonasse por ele.
— Eu sou sortudo pra caralho — ele afirma, e eu sorrio, balançando a
cabeça.
Não percebo quando ele se aproxima, mas assim que sinto seus dedos em
minha pele um arrepio percorre meu corpo. Eu me viro e inclino a cabeça para
encarar seu rosto.
— Eu amo você também, Anjo. — Meu peito aperta e ele sorri de lado
ao ver minhas lágrimas, que eu nem percebi terem deslizado dos meus olhos. —
Você é meu sol, eu giro em torno de você. Minha felicidade, tudo.
— Cain… — É a primeira vez que ele diz me amar. Nunca essas palavras
saíram por seus lábios, e… droga! Eu estava petrificada.
— Desculpa por não ter falado antes. Me perdoa pelo tempo que escondi
a gente. — Ele se ajoelha ao meu lado e me faz virar, segurando minha cintura.
— Eu pensava que estava fazendo o certo. Foda-se o certo a partir de agora,
Marie. — Ele descansa a cabeça em meu colo e eu deslizo as mãos pelos seus
cabelos raspados.
— Eu gostei da casa — murmuro depois de um tempo. Sua cabeça se
ergue e seu sorriso arrebatador volta. — Amei, na verdade.
Sorrio também e ele segura meu rosto.
— Não menti quando disse que a construí para a gente. É sua. Está no
seu nome. — Arregalo os olhos e ele beija meus lábios impetuosamente.
Sua língua procura a minha de forma lenta e preguiçosa. Retribuo seu
beijo e seguro seus ombros, o puxando para mais perto de mim. Mordo seu lábio
devagar e seu gemido é tão bom que repito o gesto.
Quando estamos ambos sem fôlego, nos afastamos. Seu olhar escuro me
faz lembrar as vezes em que ele entrava assim em meu quarto. Pronto para me
possuir. Foi assim desde a primeira vez.
Caminho para meu quarto sabendo que estou ferrada. Oh, Deus, tão
ferrada. Seu olhar esteve em mim a noite inteira. A cada passo que eu dava, e eu
sei que ele cansou de esperar. Nós nunca nos tocamos. Nunca. São apenas
olhares, mas os meses que passaram fizeram os olhares ficarem descarados. O
desejo estava por todo lugar que ambos ficávamos, era pesado, e eu era a
primeira a sair. Como hoje.
Tomo banho rápido e saio do quarto de coque e toalha. Pulo,
arregalando os olhos, ao me deparar com ele sentado na ponta da cama. Meus
batimentos aceleram e eu permaneço parada.
— Você não sabe, mas eu odeio quando eles a tocam. — Engulo em seco
sentindo a eletricidade percorrer meu corpo. Sua voz está diferente. Rouca. Tão
rouca.
— E-eu…
— Vem aqui. — Ele aponta para o chão bem na sua frente. Minhas
pernas travam, mas seu olhar resignado me faz dar o primeiro passo.
Assim que chego até ele, seus dedos tocam os meus. É singelo, nada
sexual. É um toque. O primeiro depois que nos conhecemos. Lambo meus lábios
em busca de calma, e seu peito treme ao ver.
— Eu te disse para sair do meu caminho — ele me lembra e eu engulo
em seco novamente. — Você não saiu. Droga, estou feliz por isso. — Suas mãos
vão para meus quadris e eu me torno consciente de que estou apenas com uma
calcinha de seda pequena.
— Ca-cain — começo, mas meus lábios se abrem, formando um “O”
perfeito quando suas mãos arrancam a toalha de mim.
Agarro meus peitos e ele suspira, se inclinando. Seus lábios beijam
minha barriga lisa e eu fico parada, ainda sem saber o que diabos aconteceu.
Cain se ergue e suas mãos entram por meus cabelos presos, os soltando.
Suas mãos acariciam meu couro cabeludo e ele sorri. Oh, Deus. Fico parada, o
encarando como uma idiota, sentindo mais um pedaço do meu coração ser
entregue a ele.
— Minha — sua voz soa bruta e eu não entendo, até que seus lábios
esmagam os meus.
Sua língua é exigente, mas tem um toque de carinho nela que me faz
relaxar. Seguro seus braços e o deixo me beijar enquanto retribuo.
Cain me eleva e eu o agarro com as pernas. Sinto seu membro e tremo de
necessidade. Ele me deposita na cama e beija meu pescoço e colo. Seus lábios
encontram meus seios e seus olhos crescem famintos. Cain chupa e morde cada
bico, me levando a um orgasmo tão forte que temo apagar.
Sinto minha calcinha sair e seus lábios beberem meu orgasmo. Grito
quando seus dentes raspam meu clitóris. Quando ele volta, mais um orgasmo sai
de mim. Cain me observa enquanto coloca seu membro em mim. Tento não
tremer, mas quando ele desliza lentamente, encontrando um impedimento, seus
olhos verdes se arregalam.
Mordo meu lábio pela dor e tento não encarar seu rosto. Estou lívida. Eu
deveria ter falado antes que era virgem. Porém como? Ele não perguntou.
— Puta que pariu! — ele resmunga, saindo de mim. — Caralho, não
entrei, então não tirei sua virgindade. — Suas palavras me causam tanta
vergonha e eu nem sei o motivo.
— Eu quero — consigo dizer, prendendo-o com minhas coxas e Cain me
encara completamente sério.
— Isso é importante. Você não deve entregar-se para um idiota que entra
em seu quarto escondido…
— Eu quero. Então me escuta e faz o que eu quero. — O modo firme com
que falo o faz engolir em seco.
— Loirinha…
— Eu quero. Não me faça implorar — resmungo e ele relaxa. Seu corpo
cobre o meu e eu volto a me deitar relaxada na cama.
— Eu sou a única pessoa que tem que implorar. Porra, eu não deveria
me sentir tão feliz. Eu sou um porco imundo mesmo — ele conversa consigo
mesmo, me fazendo sorrir. — Vai ser bom, Anjo. Eu juro.
E foi. Droga! Foi tão bom.
Até que amanheceu e ele não estava mais comigo. Ele nunca estaria.
— Você vai estar comigo amanhã, quando acordarmos? — pergunto de
súbito e vejo a dor se espalhar por todo seu rosto. — Eu vou acordar sozinha
amanhã, Cain? — questiono, vendo seus olhos cheios de lágrimas. Droga.
— Nunca mais. Eu juro. Vou estar com você pelo resto dos nossos dias.
Todo dia você irá acordar e me ver ao seu lado. É uma promessa, Anjo. — Suas
palavras me acalmam, e, sim, eu acredito em cada palavra.
MARIE
Mais tarde naquele dia, quando já estou pronta para ir para casa, eu
encontro Maria na cozinha. Ela é a cozinheira da casa e tudo que sei hoje é por
causa dela.
— Sente-se, querida — ela pede sem nem ter me visto entrar. — Fiz bolo
de cenoura com chocolate. Aquele que você gosta. — Sua voz sorridente me
acalma e eu faço exatamente o que ela me pede.
Pego um pedaço generoso e como em silêncio. Ela não fala nada e eu não
esperava que falasse. Maria é calada.
Saio momentos depois de agradecer e avisto um carro entrando na
fazenda. Vejo Felicity e Brianna juntas, mas estranho quando percebo quem está
no carro também.
— Sean? — Arregalo meus olhos, vendo-o descer do carro. Minha nossa.
Sean é irmão das duas e faz muito tempo que eu não o via. Caramba. Muito
mesmo.
Ele está enorme, forte e muito bonito. O que ele sempre foi, mas agora
está tudo acentuado. Ele virou um homem. Quando nos conhecemos éramos
apenas adolescentes feiosos e magros.
— Ei, pessoa! — Ele sorri enorme e eu pulo em seus braços, que roda,
me segurando, e sorrio, abraçando-o. — Minha nossa, como você está bonita. —
Ele se afasta e eu sorrio novamente quando meus pés tocam o chão.
— Você também! — Bato em seus braços e as meninas riem, beijando
meu rosto.
— Sean voltou para casa. Esqueci de te falar ontem — Felicity diz,
dando de ombros, e eu aceno. — Hoje ele resolveu que queria ver o primeiro
amor da vida dele…
— Felicity. — Brianna ri e Sean dá de ombros, como a irmã, rindo
também.
— É verdade — ele confirma e eu dou um passo para trás, sentindo
minhas bochechas corarem.
Sean foi o primeiro namorado que tive na vida. Meu primeiro beijo foi
com ele. Foi horrível, adianto. Éramos amigos que resolveram se beijar, no final,
passamos alguns meses namorando.
— Deixe de ser bobo. Eu estou bem, de verdade — murmuro, tentando
relaxar. Sean foi embora há muito tempo. Não preciso ficar nervosa, mas minha
consciência sabe que não é por causa de Sean. O Cowboy que possui me coração
é um turrão ciumento.
— Fico feliz. — Ele sorri e se inclina, tirando meus cabelos do rosto para
colocá-los atrás da orelha.
— Vão me apresentar o cara? — Pulo ao ouvir a voz de Cain e me viro, o
encontrando de pé a alguns metros.
Meu batimento cardíaco acelera e eu me aproximo, ficando na sua frente.
Seu braço enrola minha cintura, colando minhas costas em seu peito, e Sean
eleva as mãos, rindo.
— Cain, esse é Sean. Irmão das meninas — apresento e toco a mão de
Cain, que está sobre minha barriga. — Sean, esse é Cain, meu…
— Marido — Cain termina quando eu titubeio. Sua voz está tensa e eu
sei que está chateado.
— Oh, droga, Marie! Pensei que iríamos casar e ter aqueles anjos loiros
como imaginamos na adolescência. — Sean ri, divertindo-se, e eu sorrio,
balançando a cabeça.
— As coisas mudaram.
— Eu sei que sim. Sou o único culpado por isso. — Sua voz muda para
séria e eu engulo em seco desviando o olhar. Felicity dá uma cotovelada no
irmão e ele morde o lábio, acenando.
— Eu vou indo. Só vim ver como estava — ele volta a falar e eu aceno.
Dou um passo na sua direção, mas Cain mantém o controle sobre mim, me
forçando a ficar parada.
— Obrigada. Até mais.
Ele sai com suas irmãs e eu fico parada, esperando Cain dizer algo, mas
ele fica completamente mudo. Eu o observo ir pegar o carro e, assim que ele
para na minha frente, entro, saindo da fazenda do seu primo em seguida.
— Sean é legal. Talvez devêssemos nos encontrar, todos nós, no Vicious,
depois…
— É claro que sim — ele debocha, e eu mordo meu lábio inferior,
encarando a paisagem.
— Fomos namorados…
— Eu percebi pela merda que ele falou sobre vocês terem filhos, Marie.
Ou o modo como ele te olhou desde que desceu daquela droga de carro. — Ele
bagunça, o cabelo falando rudemente.
— Por que você está tão irritado? Eu não fiz nada — murmuro
contrariada. Suas mãos seguram o volante com força enquanto eu fico esperando
sua resposta.
— Só se jogou nos braços dele. — Abro e fecho a boca sem acreditar
nisso.
— Ele é meu amigo. Foi meu amigo por um longo tempo…
— Sei. — Ele balança sua mão em desdém, e eu aperto meu punho.
— Não estou mentindo. Antes de namorarmos ele era meu amigo. Eu
estava com saudades e foi bom revê-lo…
— Ótimo. Estava com saudades do filho da puta? Meu Deus… — Cain
pisa no acelerador, me interrompendo, e eu me seguro no banco de couro.
— Você está sendo ridículo — afirmo irritada. O que diabos deu nele? —
Já falei. Ele foi meu namorado há anos. Muitos anos. Éramos crianças. Deixe de
besteira.
— Tudo bem. — Ele acena e eu me calo, sem saber como responder.
Como assim, tudo bem? Que homem mais doido.
Vou para a cozinha assim que chegamos em casa. Preparo o jantar
rapidamente, ouvindo Cain jogar videogame. Ele ainda está tenso por Sean. Sei
que ele tem crédito por ter ciúmes. É normal, já que Sean foi meu namorado,
mas já faz tanto tempo.
Chamo-o assim que termino de colocar a mesa. Nós nos sentamos e eu
como devagar e sem falar nada. Se ele vai continuar agindo assim, problema
dele.
Ele se ergue e junta nossos pratos. Cain os coloca na lava-louças em
silêncio. Vou para meu quarto e o deixo ainda na cozinha, limpando. Entro no
banheiro para tomar banho e o escuto andando no quarto. Retiro minha roupa e
entro no box. Deixo a água deslizar por mim, me acalmando. Fecho meus olhos
e suspiro enquanto tiro o shampoo do cabelo. Escuto a porta abrir e logo sou
imprensada contra a parede. Meus seios tocam os azulejos frios e sinto meus
mamilos ficarem duros.
— Droga! — Cain resmunga e sua mão desliza pela minha barriga, em
direção ao meio das minhas pernas.
Seu peito está tenso e eu o deixo me tocar. Sua outra mão segura meu
queixo e ele me faz virar até que eu encare seus olhos. Meu coração dói com a
tristeza que vejo neles. Eu me coloco sobre a ponta dos pés e alcanço sua boca.
Beijo-o devagar e ele me vira. Suas mãos seguram minha cintura e ele
me ergue sem esforço algum. Abraço seu corpo com minhas pernas e deixo
meus lábios abertos para receber sua língua. Chupo seu lábio inferior e o deixo
dominar meu corpo. A nuvem de luxúria cobre o banheiro tanto quanto o vapor
de água.
— Droga, Marie, desculpa — ele resmunga entre os beijos e eu respiro
fundo quando seus lábios beijam meus seios.
Encaro seu rosto e solto gemidos ao sentir seus lábios se fecharem ao
redor do mamilo. Cain entra em mim devagar e eu grito ao sentir um tremor
passar por meu corpo. Ele investe contra mim enquanto me segura pela bunda e
eu grito novamente ao sentir o prazer ultrapassar meu corpo. Cain também me
segue e sua cabeça descansa em meu ombro.
— Eu sou um idiota. Desculpa, Marie. — Ele se afasta e eu aceno,
encarando seus olhos verdes incríveis.
— Amo você. Só você — murmuro e ele sorri, acenando.
— Eu também te amo. Sempre você.
Nós nos deitamos na cama, já de pijama, para assistir a algum filme. Cain
faz círculos sobre minha barriga e eu vejo seus olhos lá.
— Você quer ter muitos filhos? — Sua pergunta me pega desprevenida.
Viro para encarar seu rosto e sorrio.
— Sim — digo, sentindo minhas bochechas corarem. Sempre sonhei com
uma casa grande onde eu pudesse colocar minha família. No Natal ter todos
reunidos para festejar.
— Quantos? — ele questiona, curioso.
— Cinco — respondo rapidamente, com medo da sua reação, mas Cain
apenas sorri, acenando.
— A gente precisa treinar mais, então. Talvez o primeiro já esteja na sua
barriga. — Suas palavras me fazem arregalar os olhos.
— Sério? — Sorrio, colocando a mão sobre meu ventre. Imaginar que
posso estar grávida me faz querer pular de alegria.
— Sim, mas, para garantir… — Ele se inclina, ficando sobre mim, e
beija o meu corpo, até minha barriga, e, por último, o meio das minhas pernas.
Cain me faz gozar com algumas lambidas. Assim que ele me preenche,
meus gemidos ficam altos, desesperados. Suas mãos tiram minha camisola e
seus lábios beijam os meus de maneira faminta. Grito quando ele nos vira e me
faz colar o peito no colchão, deixando minha bunda no ar. Seus quadris investem
em mim rápido e forte, me fazendo gritar contra os lençóis. Sinto a quentura do
seu gozo dentro de mim e sorrio, imaginando meu bebê.
— Acho que ela está ávida por mais — ele grunhe, e eu gemo
novamente, tremendo. Então ele recomeça. Lento, forte, rápido e devagar.
No final, eu estou dolorida e completamente cheia.
No dia seguinte, Cain faz nosso café da manhã enquanto tomo banho.
— Como está? — ele pergunta assim que me sento em sua frente à mesa.
— Talvez grávida? — Sorrio feliz e seus olhos brilham, contentes. —
Estou ótima. — Eu me inclino e beijo seus lábios.
— Fico feliz. Depois de ontem, eu diria que com certeza está grávida. —
Sua certeza me faz suspirar. Espero que sim. — Então, eu vou com Kai para Las
Vegas amanhã — ele deixa escapar rapidamente e eu mordo meu lábio,
franzindo a testa.
Na primeira vez que foram a Las Vegas Kai veio casado, com Helena a
tiracolo. Não entendo o que vão fazer lá. E se Cain conhecer uma "Helena"?
— Vai todo mundo. Vanessa, Hank, Helena. Eles querem viajar e
resolveram ir. Então…
— Ah, entendi. — Escondo meu desagrado por ele ter que me deixar
aqui. É o seu trabalho, afinal.
— Então, como eu ia dizendo, antes de você me interromper, faça suas
malas. Viajamos amanhã. — Seu sorriso largo me dá a certeza de que ele estava
brincando comigo. Querendo me chatear.
— Você é um bobo. — Reviro os olhos e como mais ovos, tentando
esconder minha satisfação.
— Você deveria ter visto sua cara. — Ele ri mais ainda, e eu bato em seu
braço.
A campainha resolve tocar e Cain se ergue, indo para o painel. Tem uma
senhora na frente da câmera, e, antes mesmo que ele tenha chance de me dizer,
eu sei que é sua mãe.
CAIN
Eu sinto meu coração doer quando ele fica calado. Ela não mentiu. Ele é
noivo de alguém.
— Não é mentira. — Eu me curvo, soluçando, e me sento no sofá.
Seguro minha cabeça, tentando acalmar minha respiração. Todo esse
tempo entrando em meu quarto de maneira sorrateira porque estava noivo. Por
isso éramos um segredo.
— Eu era sua amante. Você deixou que eu fosse sua amante por mais de
um ano! — murmuro, sentindo minha garganta doer. Meu coração está apertado,
e minha barriga, gelada.
— Não! — ele grita e se ajoelha diante de mim. — Não foi assim…
— Eu estou saindo daqui agora e não quero ouvir sua voz… — afirmo,
tentando manter minha voz neutra.
— Não. Por favor, Marie…
— Agora, Cain…
— Eu saio. Não saia, por favor. — Percebo seu medo na tremulação da
voz. Ele se ergue e eu abraço minhas pernas.
Eu o vejo pegar suas chaves e sair. Ele me deixa sozinha na casa dele e se
retira. Como ele pôde mentir todo esse tempo? Como me usou dessa maneira?
Meu celular toca momentos depois e eu atendo Felicity. Ela diz que quer
sair para jantar e pede que eu vá também. Já jantei, mesmo assim, aceito. Não
vou ficar em casa enquanto Cain está fora, principalmente por não querer estar
aqui sem ele.
Duas horas depois estou com ela, Brianna e Sean. Os três me olham
diversas vezes tentando, talvez, entender meu rosto inchado. Sorrio para eles e
nos sentamos em um restaurante. Olho para a porta do restaurante de instante em
instante, sentindo apreensão.
— Podemos ir ao Vicious ao sair daqui — Brianna convida sorrindo, mas
eu nem preciso responder, pois Felicity toma a frente.
— Você sabe que não. — As duas se entreolham, e Brianna percebe,
mordendo o lábio, que o motivo sou eu.
— O que eu perdi? — Sean questiona, bebericando sua cerveja.
— Nada — Brianna resmunga na mesma hora que meu celular vibra,
avisando que chegou mensagem. Engulo em seco, tirando o aparelho da bolsa.
"Onde está?"
Fico olhando para a mensagem sem responder, mas vendo que só o
deixarei preocupado, teclo, avisando que estou com as meninas.
"Onde?"
"Em um restaurante."
"Sean está aí?"
Demoro para responder essa. Não sei se falo a verdade ou digo para ele
se preocupar com sua vida.
"Sei que está."
"Não é da sua conta."
"Não é da minha conta? Você sair com o idiota do seu ex é da minha
conta!"
"Vou desligar o celular."
"Não se atreva. Vou buscar você agora."
"Nem sabe onde estou."
"Você que pensa."
Ergo minha cabeça, vendo três pares de olhos em mim. Sorrio e como o
prato que pedi sem responder qualquer dúvida de Sean sobre o que Brianna e
Felicity estavam falando.
Saímos do restaurante momentos depois de terminar nossa refeição, com
brincadeiras entre os três. Sean se aproxima quando chegamos ao carro dele.
— O que aconteceu? Você está triste — ele afirma, apontando o óbvio, e
eu dou de ombros.
— Briguei com Cain — digo alto o bastante para as meninas ouvirem. As
duas entram no carro e Sean segura meu braço, me fazendo o olhar.
— Sean, entra no carro — Brianna manda, mas seu irmão sobe suas
mãos e segura meu rosto. Tento me afastar, mas seus lábios tocam o canto da
minha boca rapidamente. Eu o afasto na mesma hora, completamente surpresa.
— Sean! — grito enfurecida. — O que deu em você? Sou
comprometida… — Olho para os lados, e meu corpo treme quando vejo Cain do
outro lado da pista, ao lado do seu carro. Ele encara a mim e a Sean, balançando
a cabeça. Contrariando tudo o que eu pensava que ele faria, Cain entra em seu
carro e me deixa encarando a vaga que ele ocupava.
— Desculpa. Eu pensei que tivessem terminado…
— Nunca mais me toque assim. Eu o amo. O amo loucamente. Não
quero ninguém além dele! — grito, começando a ficar com medo. E se Cain me
deixar?
Os três vão embora, e eu fico parada, esperando algum táxi. A rua está
deserta, e o frio que sobe pela minha espinha me faz tremer. Olho para os lados,
sentindo que alguém me observa. Engulo em seco, tentando respirar
calmamente.
É ele!, minha consciência grita, apavorada, e eu nego, agarrando minha
bolsa. Não, não pode ser. Olho para os carros parados e encontro um SUV preto
parado na esquina. Não sei como ou por que, mas eu sei que é ele.
— Eu volto — ele disse e, como se o próprio estivesse ao meu lado, eu
escuto sua voz repetindo isso mais e mais.
Um táxi desponta na rua e eu balanço minha mão freneticamente,
tentando procurar abrigo. Entro no carro assim que ele para e abraço meu corpo.
Assim que chego em casa, aperto no botão para que Cain abra o portão.
Ele ainda não me ensinou como abrir por fora. Toco mais uma vez e o portão
abre. Corro para o elevador e em segundos estou dentro de casa.
Eu me encosto na porta e tento acalmar minha respiração, sentindo que
estou segura. Ele não entraria aqui.
Procuro Cain pela casa, sentindo o medo voltar, só que dessa vez era por
ele. Cain deve estar enlouquecendo por causa de Sean. Encontro-o na varanda
com uma garrafa de uísque. Ele a vira e engole uma boa dose da bebida. Sento-
me numa poltrona ao lado da dele e abraço minhas pernas. Descanso meu rosto
em meus joelhos e fico o olhando.
— Vou deixar as chaves da casa no balcão amanhã. Pedirei a alguém para
vir buscar minhas coisas. A casa é sua. — Sua voz envia ondas de dor para meu
coração.
— Não vamos nos separar — nego, tentando controlar minha voz. —
Não quero sua casa, quero você — digo, encarando seu perfil. Seu cabelo
raspado quase por completo, sua barba por fazer e seus lábios molhados da
bebida.
— Eu vi o que queria. Não precisa me dizer. — Ele sorri de lado,
completamente neutro. — Alexis está chegando essa semana. Vai ser bom ficar
com ela. — Suas palavras são carregadas de feridas. Cruéis.eu me retraio ao
pensar nele com essa mulher. Cain é meu, sei que ele me ama. Esse noivado é
uma farsa. Tem que ser.
— Não minta para mim. — Balanço a cabeça, certa de que ele está
mentindo. É claro que ele tem uma explicação sobre esse noivado. Sei que tem.
— Não diga que o que vivemos não foi real para você só porque Sean foi um
idiota e me beijou, que quer acabar com tudo…
— Minha mãe não mentiu. Eu sou noivo há muito tempo. Porém Alexis e
eu já não nos vemos mais há anos. Ela tem a vida dela, e eu, a minha — ele
explica, suspirando e fingindo não me ouvir. — Acho que sua volta vai mudar
tudo…
Eu me ergo, pegando a garrafa das suas mãos, e a jogo no chão com força
suficiente para quebrá-la. Os cacos voam e eu empurro o peito de Cain, o
fazendo quase se deitar na poltrona.
— Você é meu. Desde o dia em que me mandou ficar fora do seu
caminho. Meu, Cain. — Aponto meu dedo para seu peito e cutuco com força
onde seu coração bate. — Seu coração é meu, e eu vou ser a mãe dos seus filhos.
— Encaro seus olhos verdes e me inclino, ficando à sua altura. — Você não vai
sair dessa casa, muito menos eu — solto um grunhido, furiosa. — E eu não ligo
para essa mulher. Quero que ela se exploda. Se ela aparecer na minha frente, eu
não me responsabilizo pelos meus atos — aviso e caminho para dentro de casa.
Entro em nosso quarto e me jogo em nossa cama. Puxo o edredom sobre
mim e logo o sinto se deitar ao meu lado. Seu braço envolve minha cintura e ele
me puxa contra seu peito, cheirando meus cabelos.
— Eu te amo. — Sua voz suave me faz encher os olhos de lágrimas. —
Desculpa, Anjo.
— Eu também te amo, amor. Te amo mais que tudo na minha vida. — Eu
me viro, ficando de frente para ele. Seus olhos estão cheios de lágrimas também,
e eu levo meus dedos até seu rosto, limpando a umidade.
Nós nos abraçamos, e eu suspiro, feliz. Descanso minha cabeça em seu
peito e relaxo. O carro na outra rua volta à minha cabeça, mas afasto o
pensamento. Não vou preocupar Cain, não hoje.
— Você está bem? — Vanessa pergunta quando chegamos ao aeroporto
no dia seguinte.
— Sim. Por quê? — questiono confusa. Eu me maquiei antes de sair de
casa e minha calça jeans com botas e casaco estão bonitos e combinando.
— Porque parece que você passou a noite trepando. — Ela ri, tentando
me tirar a paciência, e eu a empurro.
— Eu passei, pra sua informação. — Eu lhe dou língua e Helena ri,
olhando para o celular. — Tudo bem aí? — pergunto, e ela sorri, acenando.
— Kian ficou. Então já sabe, estou um pouco louca com isso. — Ela
sorri e eu aperto sua mão, tentando a acalmar.
Os meninos chegam com comida e Cain me faz levantar para que eu me
sente em seu colo. Sorrio, beijando seu queixo.
— Amo você, Cowboy.
Seu sorriso ao me ouvir é enorme, e eu me acalmo diante disso. Nunca
senti tanto medo como ontem, pensar em perdê-lo me fez ficar exausta. Temo o
sofrimento que eu sentiria se nos separássemos logo depois de conhecer como é
tê-lo ao meu lado.
Depois que provei o gosto de ter esse homem comigo, nunca mais o
deixarei ir. Ele é meu.
MARIE
— Sabe, Kai falou a verdade. Vocês sempre pensam que vamos comer
qualquer uma… — Cain fala horas depois, pensativo.
— É porque vocês fazem exatamente isso — eu o interrompo,
bebericando o vinho.
Cain me encara, colocando o braço atrás da cabeça. O paletó se foi e
agora ele está apenas com uma calça de linho preta. Meu vestido ainda está em
meu corpo, mas os sapatos estão no canto da porta.
— Me diz com quantas mulheres você já me viu…
— Você nunca fez na minha frente. — Lambo meus lábios e sorrio. —
Mas eu sabia de todas. Cada uma delas. — Engulo a bebida e me sinto leve. —
Porém… — Cruzo minhas pernas e sorrio. — … eu sabia que as usava para me
esquecer. Sempre soube.
— Eu nunca fiquei com ninguém depois de você. — Sua voz fica rouca e
eu permaneço o encarando. — Sonhava com você todos os dias dormindo na
porra da minha cama. Eu podendo apenas abrir suas coxas e me aquecer dentro
de você. É claro que fiz os outros pensarem que eu ficava com outras mulheres.
Iriam surgir perguntas, as quais nunca quis responder…
— Você nunca quis me assumir — constato firme, o observando se
erguer da cama e se sentar na ponta dela, de frente para mim.
— Nunca quis que você conhecesse meu mundo. Isso é diferente.
— Seu mundo faz parte do meu. Eu o conheço…
— Não, Anjo. Você não conhece. — Suas mãos seguram a cadeira
acolchoada e a puxam em sua direção. Ergo minhas pernas e as coloco em cima
das suas coxas. Ficamos cara a cara e ele beija minha testa.
— Eu quero — murmuro erguendo meus olhos. Cain sorri, mas esse
sorriso não chega aos seus olhos. Pego impulso e subo em seu colo, ao me
segurar em seus ombros. — Quero conhecer cada parte de você, seu passado,
seus segredos. Tudo, Cain.
— Um dia, baby. — Ele beija meus lábios e eu sinto seus dedos
deslizarem pelas minhas coxas. Ele encontra minha calcinha. Suspiro ao senti-lo
puxar o tecido para o lado e enfiar seus dedos em meu interior.
Cain me embebe com prazer e mesmo que eu saiba que é o seu jeito de
me fazer deixar o assunto morrer, não reclamo. Nunca reclamaria.
— Você deveria ter visto — Helena fala mais uma vez sobre o episódio
do elevador para Vanessa enquanto bebemos uísque. Os meninos estão em uma
das mesas de jogos, porém nós escolhemos ficar aqui.
— Esquece isso — resmungo envergonhada, ainda escutando as risadas
das duas.
— Eu pagaria muito para ter visto. — Vanessa se inclina rindo, e eu
reviro os olhos.
— Também foi engraçado quando todos nós chegamos à sua suíte e
vimos as roupas do seu marido e as suas pela sala. — Ela para de rir
instantaneamente e suas bochechas coram.
— Vocês…
— Sim. Sua calcinha em cima do sofá e…
— Não! Para. Tudo bem, eu não vou mais rir de você…
Helena ri e eu bebo mais do meu drinque, encarando as pessoas ao redor.
Vejo Cain rindo com Hank e Kai e suspiro, sentindo frio em minha barriga.
Apaixonar-se é isso? Eu amo esse homem loucamente há um bom tempo e nunca
passou. O frio no fundo do estômago, a sensação de nervosismo.
— Não passa. — Volto a olhar para Helena e ela sorri, sua atenção
voltada para Kai. — A sensação de que ele nos tem nas mãos. Que a nossa
felicidade só se completa com a dele. — Ela bebe sua cerveja e encara a irmã.
— Eu sinto isso também — Vanessa admite dando de ombros. — Eu
sempre fui como um pássaro livre que gostava de voar. Então achei Hank. Ele é
meu ninho.
— Vocês não sentem medo? — A pergunta faz um caroço crescer em
minha garganta. — De um dia eles acordarem e decidirem não estarem mais lá?
— Não. — Helena morde o lábio e sorri. — Kai me ama além do mundo.
Sinto isso com meu coração, então eu sei que ele não vai me deixar. Logo
pensará assim também. — Ela se inclina, apertando minha mão, e Vanessa
acena, confirmando.
Os meninos voltam momentos depois e Cain se inclina, beijando minha
orelha.
— Dance comigo. — Sua voz alegre me faz encarar seus olhos
brilhantes.
— O quê? Não… — Balanço a cabeça rindo, e ele me puxa, fazendo com
que eu me erga. — Cain!
— Venha. Vamos lá. — Seu sorriso me faz acenar e o seguir entre as
pessoas até a pista de dança.
Cain segura minha cintura e me puxa contra seu peito. Descanso minha
cabeça contra ele e escuto a letra da música ecoando no cassino lotado.
Sozinho sou apenas
Metade do que eu poderia ser
Eu não posso sem você
Estamos costurados
E o que o amor amarrou
Eu nunca poderia desfazer[1]
Marie envolve meu pescoço com seus braços e se coloca sobre as pontas
dos pés para alcançar minha boca. O beijo que ambos começamos vai do lento
ao necessitado em questão de segundos. Aperto sua cintura enquanto ela segura
meu rosto, tentando aprofundar mais ainda nossa carícia.
— Podemos subir, eles não vão sentir nossa falta — sussurro contra seus
lábios vermelhos do beijo. Suas bochechas coram quando ela se vira e observa
nossos amigos.
— Mas… — Eu a calo com meus lábios e Marie se derrete contra minha.
— Ok. — Seu sussurro é escasso e eu sorrio, erguendo meus olhos para Hank,
que olha de volta. Elevo meu dedo, anunciando que estamos subindo, e ele
acena.
Puxo Marie em direção aos elevadores e a prendo na parede fria assim
que as portas se fecham conosco dentro. Agradeço por não haver mais ninguém.
Seguro seu cabelo na altura da nuca e a puxo, fazendo seu pescoço ficar
totalmente à minha mercê. Beijo-o devagar antes de morder sua orelha e chupar
sua pele alva e deliciosa.
— Cain… — ela geme em meu ombro e eu deslizo minha mão pelo seu
vestido curto, subindo-o um pouco até que encontro sua calcinha úmida. — Tem
câmeras, não tem? Eu acho que tem… — ela balbucia incoerente, e eu coloco
um dos meus dedos contra seu clitóris.
— Shiu — peço, sabendo que a câmera não a pega naquele ângulo, que
estou na sua frente. Enfio lentamente o dedo pelas suas dobras e Marie
choraminga contra meu terno.
— Cain. — Seguro seu queixo com a outra mão e beijo sua boca do
mesmo jeito que mexo meus dedos contra sua boceta escorregadia. Com alguns
toques rápidos Marie suspira, gozando e espremendo meus dedos. O elevador se
abre no 37° andar.
Eu me afasto e limpo meus dedos em minha boca. A cara que meu Anjo
faz me dá a noção do quanto a noite vai ser incrível.
Dias depois…
Dois dias depois que voltamos de Las Vegas, Marie insistiu que
deveríamos oferecer um jantar de casa nova para nossos amigos. Não fui contra.
Eu até me animei, mas agora não sei se foi uma boa ideia.
Engulo mais da minha cerveja quando a vejo com suas amigas. Sei que
elas são importantes, mas, foda-se! Na última vez que elas estavam com Marie, o
fodido irmão delas estava com a língua na garganta da minha mulher.
— Marie me contou o que houve. — Escuto a voz de Vanessa ao meu
lado e respiro fundo. — Sabe, eu já vi mulheres amarem homens. Eu amo o meu
além do que posso colocar em palavras, mas Marie… — A irmã de Helena me
rodeia e para na minha frente, entre mim e Marie. — O amor dela supera o de
todos nessa sala. Quando cheguei aqui eu desvendei isso no minuto em que a vi
te olhar. Então, não seja um burro estúpido e a trate como a mulher especial que
ela é. Ou… — Ela sorri e se vira, olhando para a porta aberta que me dá a visão
completa de Sean. — Ele a pegará para si.
— O que esse…
— Você me escutou? — Vanessa traz minha atenção para seu rosto e
sorri. — Sean não importa. O que importa é como você a trata, como você prova
a ela todos os malditos dias da sua vida que você, só você, é o homem dela. E o
mais importante: que ela, só ela, é a mulher da sua vida.
Vanessa sai sem me dirigir qualquer outra palavra.
— O que ela está aprontando? — o marido da própria surge atrás de mim
e eu dou de ombros.
— Sua mulher é uma incógnita. — Saio de perto de Hank e caminho
diretamente até Marie.
O sorriso que se abre por seus lábios quando me vê faz tudo que Vanessa
me contou se assentar. Marie é a única na minha vida e eu sou o único na dela.
Sortudo, eu? Imagina.
— Vamos lá. — Pego sua mão e a puxo em direção ao centro da sala,
sem explicar nada. Pego minha taça e bato um dos utensílios contra o vidro,
chamando a atenção das pessoas. — Sei que a maioria de vocês sabe que Marie e
eu nos envolvemos há um tempo. Hoje, eu quero dizer o quanto a decisão de
estarmos juntos, nessa casa, fez parte dos meus planos. Soube que Marie me
arruinou quando a vi sorrir pela primeira vez. — Olho para ela e sorrio ao vê-la
completamente envergonhada. Beijo seus lábios e me viro. — Agradeço por
virem hoje. Cada um de vocês faz parte da nossa história, então obrigado por nos
levar na direção um do outro. — Ergo minha taça e vejo os olhos de Sean
travados com os meus. — Um brinde à mulher da minha vida.
— Eu te amo. — Marie me abraça enquanto nossos amigos brindam e eu
beijo sua testa, abraçando sua cintura.
— Eu, com certeza, a amo mais.
Assim que jogo o celular em cima da mesa, deslizo meus dedos pelo seu
sorriso em uma das muitas fotos que estão pela parede. Minha. Marie está em
frente ao restaurante sorrindo para uma das suas amigas. Relembro como foi vê-
la sorrindo para mim naquele bar quando estive a um passo de tê-la para sempre
e suspiro.
E então você estragou tudo depois. Balanço a cabeça e peço para a voz
calar a boca. Admite, você estragou tudo com seu desespero estúpido. Foda-se.
Logo a terei novamente e tudo vai ser como eu quero. Se não agir como um
adolescente na puberdade, talvez.
Retiro a faca pequena e afiada da imagem ao lado e um corte que vai da
testa ao queixo do homem que a beijou em frente ao restaurante surge. Sorrio
enquanto deslizo por todo seu corpo e suspiro satisfeito quando a foto se parte e
seu corpo também.
Eu me ergo e encaro a rua pela fresta da janela. O sol está nascendo e
com ele meu novo dia. As fotos brilham com os raios de sol e eu relaxo vendo
todas as fotos dela pelas paredes reluzirem.
Eu a desejo há tanto tempo que não lembro quando começou. A única
coisa que sei é que Marie nasceu para ser minha. Eu soube disso desde o
primeiro segundo que a vi.
MARIE
Olho para cada homem diante de mim, separados de mim por um vidro, e
suspiro, balançando a cabeça. Eu sabia que ele não estaria aqui. Porém Cain
disse que deveríamos vir. Cá estamos nós e nada. Não é nenhum dos homens à
minha frente.
— Nenhum. Não é nenhum deles — respondo novamente ao Jordan,
detetive que ficou com meu caso, e ele acena frustrado.
— Liberem o pessoal. — Ele nos guia para sua sala e eu me sento
enquanto Cain fala sobre ontem. Estremeço quando ele conta que teve uma
conversa com o cara pelo celular, ontem de madrugada.
— Cadê o número? Podemos tentar rastrear a ligação. — Jordan sorri
entusiasmado, mas balanço a cabeça.
— Quebrei o celular. Não sabemos. — Cain parece até envergonhado,
mas o homem apenas pede o celular e diz que vai tentar recuperar.
Saímos da delegacia minutos depois em direção à nossa casa. Kai nos
liberou hoje, pois, depois de ontem, eu não estou preparada para encarar meus
amigos. Imaginar o que eles devem estar pensando depois de me verem tendo
um ataque de pânico me faz estremecer. Sei que eles me amam, mas ainda não
me sinto bem sabendo que eles me viram em um momento de fraqueza tão
grande.
Cain estaciona em frente à nossa casa e eu ergo meus olhos do celular
novo para o encarar, confusa, já que ele sempre abre o portão de dentro do carro.
Ergo meus olhos e encaro uma mulher morena e alta parada ao lado de um carro
luxuoso. Franzo as sobrancelhas quando Cain desce do carro. Encaro seu corpo
se distanciando e fico parada, sem saber o que fazer.
Vejo os lábios dela se esticarem e meu estômago revira quando enfim
entendo. É a Alexis.
Desço do carro sentindo minhas mãos tremerem. Ando até eles e Cain
segura minha mão ao me puxar para perto. Fico satisfeita mesmo que pareça
uma bobagem.
— Alexis, essa é Marie. — A mulher sorri para mim e dá um passo em
nossa direção.
— Oi! Prazer em conhecê-la. — Ela sorri e eu estendo minha mão, a qual
ela aperta se afastando, em seguida. — Como você está? — Seus olhos se
dirigem para Cain e eu também o encaro.
— Estou ótimo. Então, voltou realmente? — A conversa se estende e eu
a escuto responder que sim enquanto mexe em seu cabelo escuro.
— Podemos jantar essa semana? Preciso conversar com você. — Alexis
sorri, encarando meu rosto e depois o de Cain.
— Claro. Também preciso conversar com você.
Nós nos despedimos de maneira metódica e logo estamos dentro de casa.
Cain se senta no sofá e fica calado enquanto eu vou direto para a cozinha.
Esquento a comida que sobrou ontem e sirvo para nós dois.
— Você não achou estranho sua ex aparecer aqui? — pergunto curiosa.
Mordo meu lábio, encarando seu rosto. Não senti vibe ruim vindo de Alexis, mas
com certeza algo a fez vir até aqui, e eu quero saber o quê.
— Sim, por isso quero conversar com ela. Deixar claro que essa merda
de noivado acabou. — Cain dá de ombros e leva uma colherada de arroz e
legumes à boca.
— Ok.
— Não gosto disso — Cain murmura assim que para em frente à casa de
Hank e Vanessa. Vejo os carros das outras meninas estacionados e me viro para
meu noivo.
— Vai ficar tudo bem. Relaxa. — Seguro seu rosto e me inclino para
beijar sua boca. — Amanhã vou estar bem aqui, esperando você. — Ele me puxa
para seu colo, e eu me sento, sorrindo.
— Qualquer coisa me liga. Vou voltar para te buscar na hora. — Eu
aceno para o acalmar e sua boca reivindica a minha.
Pulo assustada quando a porta é aberta e uma Vanessa irritada surge.
— Não seja melodramático. Podem transar amanhã quando ela chegar
em casa. Meu Deus, Cain — ela fala enquanto me puxa de dentro do carro. Cain
revira os olhos e eu tento abafar meu sorriso.
— Até amanhã, baby. — Beijo seus lábios e Vanessa termina de me
arrastar em direção à casa dela.
— Se acalma — peço rindo enquanto ela continua me puxando em
direção à casa.
— Não. Ele vai já sair desse carro e te colocar sobre os ombros.
— Quê? É lógico que não…
— Marie! — a voz de Cain me corta e eu viro meu rosto para o ver
saindo do carro como Vanessa disse. — Vem, vamos embora…
— Nem fodendo, bonitão. — Eu entro na casa e Vanessa bate a porta,
fechando-a bem na cara dele.
Escuto risadas e me viro para ver Felicity, Helena e Brianna. As três
estão sentadas no sofá de Hank, comendo pipocas. Caminho em direção às três
com Vanessa ainda resmungando e me sento ao lado de Felicity.
— Enfim, sós! — Vanessa anda pela sala e morde sua unha longa com
um suspiro profundo. — Tenho uma coisa pra contar, mas não sei como…
— Fala de uma vez. Nem vem com drama, pois preciso das minhas
lágrimas para os filmes que Felicity trouxe — Brianna corta Vanessa rindo e a
minha amiga quase a mata com um olhar.
— O que foi, Vanessa? — questiono suavemente. Nunca a vi tão fora do
seu habitat.
— Fala, vai. Estamos aqui para qualquer coisa. — Helena sorri
encorajadora e a sua irmã se senta na mesa de centro, sorrindo nervosamente.
— Eu…
— Vanessa? — a voz estrondosa de Hank a interrompe e ela se ergue e
vira para o marido, que está de pé na escada. — Os meninos estão lá fora,
pedindo para entrar. Você os proibiu? — Ele vai em direção à porta e Vanessa
coloca as mãos nos quadris.
— É a noite das meninas, não dos idiotas que não conseguem controlar
seus paus por uma noite! — ela grita nervosa, e Hank cruza os braços, a
encarando.
— Se fosse na casa de qualquer uma delas, você não iria. Não durmo sem
minha mulher, foda-se! — Ele nos encara totalmente sério e eu dou de ombros.
— Eles vão entrar agora. Nada de show, vou levá-los para a sala de jogos no
andar de cima. Vocês podem ficar aqui ou irem para um dos quartos.
— Jesus Cristo, não quero o diabo em forma de homem para ficar me
encurralando em canto nenhum. Vocês são loucas — Brianna resmunga,
revoltada, e eu e Helena começamos a rir.
Em segundos Kai, Cain e… Axel entram. Que diabos?
— O que ele está fazendo aqui? — Felicity se ergue rapidamente,
cruzando os braços.
Axel fica em completo silêncio e anda até Felicity calmamente. A tensão
entre os dois cresce tanto que eu quase corro em direção à porta.
— Estou em casa, Felicity, já você… — Ele sorri em desdém, e ela se
afasta, indo em direção a Vanessa.
— Estou indo — ela murmura e eu acordo e vou em sua direção.
— Amiga, por favor, a Vanessa preparou tudo pra gente…
— Você sabe o que ele fez, Marie. Me expulsou do bar, me baniu de lá!
— Ela aponta para ele, histérica, e eu aceno sabendo bem.
— O quê?! — Hank e Kai gritam surpresos e Axel cruza os braços, sem
vergonha nenhuma.
— Ele me tirou pelo braço. Não posso nem mesmo colocar meus pés na
porta daquela merda de bar. Me envergonhou na frente da cidade inteira…
— O que deu em você, cara? — Kai se aproxima do primo, que se afasta,
erguendo os braços.
— Ela beijou um dos meus funcionários — ele anuncia, como se Felicity
tivesse o desferido um golpe de faca.
— E o que é que tem? Você nunca ligou para… — Hank para de falar
assim que entendimento preenche seu rosto. — Droga. Vamos subir…
— Não! — Vanessa grita, andando em minha direção, e tira à força a
bolsa de Felicity, que está ao meu lado. — Agora que estamos reunidos e que
você não vai para lugar nenhum, me deixem falar. — Ela respira fundo no meio
da sala e volta a sorrir. — Eu estou grávida!
Todos na sala arregalam os olhos e eu começo a gritar e pular com as
outras meninas enquanto os homens se revezam abraçando Hank. Seu olhar
assustado e desnorteado me diz muito sobre essa surpresa.
— Vanessa, sua diaba, você está grávida? — Os dois se encontram no
meio da sala e ela acena, com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim, Cowboy. — Hank limpa as lágrimas dela enquanto Cain me
puxa para seu peito.
Limpo meu rosto emocionada e chega nossa vez de abraçarmos Vanessa.
Eu me aproximo, sendo a última a cumprimentá-la.
— Meu Deus, você já é tão incrível sendo mãe da Audrey. Parabéns,
amiga. Eu amo vocês. — Abraço Vanessa e beijo sua bochecha me afastando.
— Eu amo vocês também. — Ela beija minha testa e me abraça apertado.
Axel e os meninos sobem enquanto ficamos na sala assistindo a filmes.
Quando passa das três da manhã, acordo quando sinto Cain me pegando no colo.
Bocejo cansada e sorrio. Não vejo nenhuma das meninas, mas quando me ergo
vejo o celular de Brianna tocando. Logo ela aparece, esfregando os olhos.
— Droga, vou matar o infeliz. — Cain ri do resmungo dela e me ajuda a
me erguer.
— Vamos, baby. Preciso dormir. — Ele beija meus cabelos e eu caminho
para longe dando, tchau a Brianna.
— Co-como? — Brianna grita, me assustando, me fazendo virar para
olhá-la e seu rosto sem expressão me faz arrepiar. — Não! Mãe, não, por favor,
não, não, não…
O choro desolado me faz correr em sua direção. Felicity também surge e
os outros aparecem em segundos.
— Brianna, o que houve? Brianna? — questiono, me ajoelhando à sua
frente, e o celular desliza por seus dedos. Pego o aparelho e deixo Felicity com a
irmã. — Alô? O que aconteceu?
— Ele o pegou. O homem que machucou você pegou Sean. — Minhas
pernas amolecem e eu despenco ao chão.
MARIE
Sean foi morto a tiros e torturado com facas. Ele sofreu muito e, à noite,
quando coloco a cabeça no travesseiro, eu posso imaginar tudo o que ele passou
nas mãos daquele doente. É angustiante e me fere. Destrói-me, porque eu o
amava, não como homem, mas como um alguém que fazia parte da minha vida.
Não consegui ir ao seu velório, como eu poderia? Deus, eu sou a culpada.
Felicity e Brianna devem estar me odiando, e eu não as culpo. Penso que no
lugar delas eu também estaria.
Bebo mais do café em minhas mãos enquanto Cain está dormindo. Meus
olhos estão cheios de lágrimas e a cada respiração profunda que seu peito sobe e
desce eu estremeço. Eu devo isso a ele, Cain me salvou de mim mesma. Me pôs
em um trono e eu não posso deixar alguém machucá-lo como aconteceu com
Sean.
Eu não me perdoaria. Nunca.
— Ei! — Cain se senta ereto e sorri, sonolento. Um sorriso que me
enfraquece pelo que preciso fazer. — O que… — Seus olhos voam do meu rosto
para as malas ao meu lado e a expressão dele me faz ofegar. Dor. Crua.
— Eu amo você. — Sorrio e coloco a xícara na mesinha ao meu lado.
Meus dedos finos tremem e eu abraço minhas pernas ao voltar a encarar seu
rosto.
— Marie…
— Como eu te amo, mas não posso pôr você em risco dessa maneira. —
Balanço a cabeça e me lembro de ontem, dia do velório do irmão das minhas
amigas, onde nem mesmo eu consegui me encarar enquanto perambulava pela
fazenda. Sozinha. Todos foram dar adeus a ele, menos eu e Cain.
— Marie, eu vou dizer isso apenas uma vez. Nem uma a mais. — Cain se
ergue e seu corpo beijado pelo sol aparece vestido com apenas uma cueca boxer.
— Coloca as suas coisas no lugar e volta pra cama. Não me importo com
ninguém, nem comigo mesmo, se eu for te perder. Eu vou matar esse Patrick,
juro por mim mesmo. Ninguém vai te ferir ou a mim, então me poupe de dar
palmadas em você por tentar isso. — Sua voz furiosa me faz pular em sua última
frase.
— Eu estou convicta. Não podemos mais ficar juntos. Estou voltando
para a fazenda. — Ergo-me assim que ele fica na minha frente. — Eu não posso
perder você, Cain, por favor, me deixe ir…
— Eu nunca poderia, Marie. Você é meu coração todo, como vou viver
sem meu maldito coração? — O homem enorme cai de joelhos e eu volto a me
sentar para descansar sua cabeça em meu colo. — Não vai me deixar.
— Eu te amo. Deus, como eu te amo. Você é o único homem que entrou
em meu coração, corpo e alma. Eu pertenço a você para sempre, mas hoje não
podemos ficar juntos. Entenda.
— Você não vai…
— Venham! — grito, e a porta se abre com um estrondo. Kai e Hank
tiram Cain de cima de mim à força e o dono da minha vida se debate, tentando
escapar. — Me perdoa — balbucio tremendo. Limpo minhas bochechas
molhadas enquanto pego minhas malas.
— Você vai se arrepender disso, Marie. Eu juro! — Seus gritos me
acompanham até o andar de baixo, e quando estou com Helena e Vanessa no
carro ainda consigo escutar seu grito enfurecido.
Cain fica para trás e eu vou na frente para a fazenda. Nossa volta vai ser
um segredo até para nossos amigos. Não posso arriscar. Não agora.
Assim que chego à fazenda eu tomo banho. Caminho pelo meu quarto,
segurando o celular, pensando com cuidado sobre o que farei. Respiro fundo e
clico em ligar. A chamada se estende e, quando imagino que ninguém vá
responder, sua voz ecoa.
— Detetive Jordan. — Sua voz está cansada e eu imagino o quão
frustrado ele está.
— Sou eu, Marie. — Forço minha garganta e escuto sua respiração
longa.
— Marie, tudo bem? Tem alguma novidade? Patrick entrou em contato
com você? — A enxurrada de perguntas me faz ficar em silêncio por um tempo,
tentando ordená-las. O nome do demônio foi descoberto no dia em que
encontraram o corpo de Sean. Os documentos dele ficaram para trás.
— Não. Eu estou bem, mas preciso da sua ajuda — respondo firme e me
sento na minha cama temporária. — Eu tenho uma ideia.
Minhas mãos tremem e meu coração acelera a cada passo que dou em
direção à porta. Suspiro ao elevar a mão para bater à porta, mas nem preciso
fazer o movimento. Brianna aparece e meu estômago afunda ao encarar seus
olhos apáticos.
— Marie. — Ela sorri devagar e abre mais a porta, me convidando
silenciosamente para entrar.
— Eu… — As palavras somem quando vejo Felicity de pé, próximo ao
sofá. Tento sorrir devagar para minha melhor amiga, temendo que ela me chute
para longe. Porém me surpreendo e ofego ao sentir seus braços me rodearem.
— Estive preocupada com você… — Suas palavras me fazem afastar,
com os olhos cheios de lágrimas.
— Por quê? Ele não está mais conosco por minha culpa…
— Marie, por Deus, não é culpa sua. Você não fez nada…
— Ele morreu por mim. Por minha culpa…
— O único motivo foi que Patrick é um doente imundo. Você não tem
culpa de ele ser obcecado por você ou por ele fazer coisas más — Brianna me
interrompe, firme, e se aproxima também. — Sean te amava e nós te amamos.
Por favor, não se culpe por isso.
— Não sei como vocês podem não se ressentir de mim quando até me
ressinto — continuo, pois não compreendo. É tão pouco crível que isso esteja
realmente acontecendo.
— Só queremos que fique bem. Que prendam esse homem, apenas isso.
As duas tentam me fazer ficar e assistir a um filme, mas Cain está me
esperando, então digo que voltarei depois. Os pais delas aparecem e eu tento me
manter calma diante deles, porém os dois apenas me abraçam e me dizem para
ficar calma. É difícil, mas eu tento por eles. Despeço-me, sentindo que um
pedaço do meu coração fica com a família.
Minha barriga gela quando Cain abre a porta do carro para mim e me
ajuda a subir. Saber que ele vai para casa sozinho me faz ficar doente. Quero
minha casa, minha cama. Preciso estar com ele.
No lugar do medo, tristeza e letargia, uma fúria imensa cresce dentro de
mim. Quero eu mesma acabar com Patrick. Quero vê-lo destruído do mesmo
jeito que ele destruiu minhas amigas e a mim.
— Como foi? — Cain beija minha testa suavemente e eu suspiro.
— Melhor do que eu esperava. — Conto como as meninas reagiram a
mim e ele parece aliviado.
Cain me leva para a fazenda de Kai e eu protelo alguns segundos para
tirar os olhos das minhas mãos no colo. Quando procuro seu rosto, não me
surpreendo ao vê-lo encarar a noite fria.
— Não acredito que não vou dormir com você por causa de um psicopata
idiota… isso é insano. Quem diabos eu sou se não posso nem mesmo proteger
minha mulher? — Cain soca o volante e eu levo minha mão até seu braço.
— Você é o homem que eu amo e que me coloca em primeiro lugar
sempre. Está tudo bem, Cain. Podemos aguentar isso. Precisamos. — Tento
controlar minha voz e emocional, mas vê-lo tão destruído faz meus olhos
arderem com lágrimas.
— Não merecemos isso. Não eu, e muito menos você. — Sua mão se
molda à minha bochecha e eu beijo seus dedos. Cain se afasta e abre o porta-
luvas. Eu o observo tirar uma caixa de veludo e quase ofego, mas ele a abre
rápido, me mostrando um colar com um pingente de Anjo. — É seu. Vira. —
Faço o que ele me pede e me viro, sorrindo. Cain coloca a joia e eu seguro o
pingente, sentindo meu coração bater mais rápido. — Eu te amo. Agora vai,
Loirinha. Durma com os anjos. — Ele nem se aproxima para me beijar. Sua mão
cai e eu saio do carro, segurando o colar entre meus dedos, soluçando.
Corro para casa, mas paro quando chego à porta. Eu me viro e não me
surpreendo ao ver Cain me olhando. Sibilo o quanto o amo e ele devolve antes
de seguir para nossa casa, depois de me ver entrar.
Ando pelo quarto por alguns minutos e logo Cain aparece. Sua expressão
cansada parte meu coração. Observo-o fechar a porta e sorrio, me sentando na
cama e tirando minhas botas.
— Preciso dormir — murmuro enquanto ele anda até mim. Nós nos
deitamos em silêncio e eu escuto as batidas do seu coração ao descansar minha
cabeça sobre seu peito.
— Você está bem? — Seus lábios tocam minha testa e eu fecho os olhos,
me aconchegando.
— Agora sim. — Um bocejo corta minha fala e ele sorri.
Nós adormecemos. E em nenhum momento eu me preocupo com o
mundo lá fora. Éramos eu e ele. Marie e Cain. Duas pessoas que, apesar de tudo,
se amavam de uma forma única.
As estrelas no céu escuro brilham bem mais que tudo ao meu redor. Eu
me encosto na cerca que rodeia os cavalos durante o dia e respiro fundo. Quando
acordei, Cain estava longe de ser visto. Não sei exatamente o que ele pensou,
mas algo dentro de mim sabe que ele está fazendo isso por minha causa.
— Marie. — Eu me viro ao escutar uma voz e meus olhos se arregalam
ao vê-lo. — Eu sei quem é o Patrick e por que ele é tão fascinado por você.
Franzo as sobrancelhas completamente confusa. Oberon está vestindo
roupas pretas e seus olhos, que são claros, estão molhados com lágrimas. Nunca
fomos tão próximos, mas ele e Mike chegaram aqui bem depois de Gabe e
Jimmy, meus melhores amigos.
— O que falou? — Tento dar um passo para trás, mas a cerca colide com
minhas costas.
— Patrick é meu primo. — Obe engole em seco e coloca as mãos nos
bolsos.
— Não… — Balanço a cabeça, completamente incrédula. — Co-como
assim? Obe, o que…
— Ele veio para a cidade meses atrás. Saí com ele algumas vezes e um
dia ele te viu aqui. Patrick perguntou de você, ele ficou muito interessado e eu
falei que você tinha Cain…
— Obe, pelo amor de Deus… — Minha respiração fica superficial e ele
se aproxima rápido, mas me esquivo, temendo seu toque.
— Eu sinto muito. Só liguei os fatos quando Sean foi morto e os policiais
acharam os documentos dele, eu nunca imaginei que ele fosse capaz de algo
assim…
— Você sabe onde ele está? — Minha cabeça vira em todas as direções,
mas só encontro a escuridão da fazenda. É tarde, todos estão dormindo — Você
não me levaria para ele, não é, Obe? Por favor… — As lágrimas enchem meus
olhos e eu o vejo balançar a cabeça freneticamente.
— Jamais. Eu juro, nunca, Marie. — Limpo meu rosto e me aproximo
dele.
— Você precisa me ajudar, então. — Engulo em seco, pegando suas
mãos e apertando-as. —Liga para ele, Obe, finge que ainda não sabe de nada.
Marca de se verem… eu preciso que ele seja preso, eu estou miserável… Preciso
do meu Cain, mas estou morrendo de medo de que Patrick faça algo com ele…
— Minhas palavras saem rápidas e meu choro dificulta o entendimento, mas
Oberon acena, me puxando para os seus braços. Eu o abraço de volta, porém não
percebo o pano em suas mãos até que ele esteja sendo pressionado contra meu
rosto.
A escuridão me engole na hora em que o rosto de Patrick, depois de ter
me mordido no passado, aparece sorrindo friamente.
CAIN
FIM
MARIE
[1]
God Gave Me You | Blake Shelton
Table of Contents
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
Epílogo