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Epílogo
MARIE

Meus olhos estavam presos nos dele. Ele sorriu, beijou minha mão, e eu,
de uma forma estúpida, comecei a relaxar. Conversamos, trocamos risadas e
histórias engraçadas. Ele parecia tão confiável.
Mas eu estava errada.
Ele não era confiável.
— Tira a roupa — foi o que ele falou quando estávamos sozinhos, horas
depois.
— O quê? — Eu sorri, bêbada. Tomei alguns shots de tequila induzida
por ele, enquanto brincávamos. — Para, pelo menos me leva para sair mais
vezes. — eu disse, rindo inocentemente.
O tapa veio inesperadamente. Senti minha pele arder e em seguida a
ardência se transformou em latejo. Meu ouvido ficou tapado por segundos e só
momentos depois voltei a ouvir o ruído do beco escuro.
Ele disse que vinha fumar e queria minha companhia. Eu o segui até
aqui. Deus, como fui burra.
— Tira a roupa! — ele gritou e eu percebi que ele não estava brincando.
Seus olhos escuros me fizeram recuar para a parede mais próxima. Ele
deu passos em minha direção, eu ainda sentia meu rosto doer até que ele pegou
meus cabelos. Sempre tive cabelos loiros, mas são tão ralos que perdem a
beleza. Ele me tirou do chão, segurando-os. Eu gritei, mas ele foi rápido ao
tapar minha boca.
— Eu faço por você — ele anunciou, encarando meus olhos de maneira
nojenta. Sua língua áspera percorreu meu pescoço e bochecha, me fazendo
soluçar. A bebida estava fora do meu corpo instantaneamente. O medo criou
raízes.
Escutei um barulho quando um canivete entrou pela minha blusa e ele a
rasgou ao meio. Meu sutiã era de renda e logo se partiu também. Meus seios
ficaram rígidos ao entrarem em contato com o frio da noite enquanto minhas
pernas se remexiam, querendo atingi-lo.
O erro foi meu, com meu movimento ao tentar machucá-lo, o objeto
cortante atingiu meu seio e feriu minha pele.
Meus gritos eram abafados pela mão dele e eu comecei a perceber que
não sairia dali viva. O que eu fui fazer ali? Por que isso estava acontecendo?
Eram essas as questões que rondavam meus pensamentos.
— Olha só o que me fez fazer. — Sorriu friamente e lambeu meu sangue
da faca pequena. — Te observo há tanto tempo, Marie. Estava tão louco por
você. — Ele se inclinou e lambeu meu sangue direto do corte latejante.
Queria implorar, pedir que me deixasse ir, mas já estava difícil respirar.
Meu couro cabeludo doía e eu poderia apostar que já estava saindo sangue.
— Vou trepar com você a noite inteira. Vou marcar seu corpo todo, sua
puta. — Ele mordeu a ferida com uma força absurda, rasgando mais ainda a
carne, e eu gritei, conseguindo tirar sua mão dos meus lábios por um momento.
Finquei meus dentes na sua mão e pude sentir a carne ser partida.
Sua mão no meu cabelo saiu, me dando um alívio passageiro, mas então
ele segurou meu pescoço, apertando seus dedos, fazendo o ar se esvair dos meus
pulmões. Meus olhos se encheram de mais lágrimas enquanto ele chupava o
machucado que fiz em sua mão.
— A vagabunda sabe morder também…
— Por favor, me solta. Não vou denunciar… só me deixe ir… — eu me
focei a falar, sentindo minha vida deslizar entre meus dedos, porém ele me calou
com um murro certeiro em meu olho esquerdo.
Ainda tonta do soco, senti minha cabeça colidir contra a parede diversas
vezes. Meus olhos pesaram e a escuridão me engoliu.
Quando acordei, não sabia se tinham passado horas ou minutos. Todo o
meu corpo doía. Virei a cabeça, percebendo que eu estava amarrada, ainda no
beco, e então eu soube que aquele homem me mataria.
— Ainda bem que acordou. — Ele apareceu no mesmo momento que me
sentei, puxando meus joelhos juntos. Apenas minhas mãos estavam amarradas.
Minha calça jeans ainda estava no lugar e eu agradeci por isso.
— Me so-solta. Po-por favor — pedi, gaguejando, sentindo minha
garganta queimar e minha cabeça doer cada vez mais. No entanto, quando ele
se aproximou e se inclinou em minha direção, pelos seus olhos, eu soube que ele
nunca me deixaria ir.
Nunca vi tamanha escuridão e maldade em alguém. A vida que eu
encarei enquanto estávamos conversando no bar do Axel não está presente,
nunca esteve. Ele fingiu.
Ele se aproximou mais, rindo. Foi quando ouvi vozes, elas estavam
distantes, mas uma delas se sobressaiu, era a dele. Cain.
— Socorro! CAIN! — gritei, mesmo aterrorizada, pelo homem que eu
amava, encarando o psicopata que eu conheci há algumas horas, mas que teve
tempo suficiente para arruinar minha vida para sempre. — Socorro! Socorro!
Eu me agarrei à esperança de viver e continuei gritando.
— Eu volto — ele pronunciou furioso e correu para a porta que dava
para o bar do Axel.
Minha visão estava embaçada, mas eu vi Cain chegar a mim. Vou
guardar para sempre em minha mente seu olhar de puro pânico naquele dia.
Releio duas vezes a passagem enquanto estou deitada sobre meus
lençóis. São três da manhã, cinco dias depois da noite fatídica. São cento e vinte
horas sem dormir, sem conseguir relaxar meu corpo.
Eu não consigo. Juro que tento. O sono apenas não vem.
Desde pequena meu maior lazer era andar a cavalo à noite. Aquilo me
relaxava, fazia meu corpo e alma terem paz, mas agora não posso olhar para o
céu escuro, pois temo entrar em pânico absoluto. Não falei para ninguém o que
aconteceu, não abri a boca para falar com ninguém sobre aquela noite. Eles me
rodeiam, fazem perguntas, mas eu fico calada. Fico aterrorizada somente com a
possibilidade de alguém me tirar de casa depois que o sol se põe.
Eu associei o horário do dia que eu mais amava àquela noite. Ao meu
tormento.
— Posso entrar? — escuto a voz de Kai pela porta, depois de batidas, e
engulo em seco. O que ele está fazendo acordado a essa hora? Encaro meu
celular, sabendo quão tarde é.
— Claro. Entra — peço suavemente e logo vejo seu rosto.
Kai me abrigou na sua casa quando eu era apenas uma menina. Minha
mãe trabalhou aqui, mas morreu e ficamos apenas eu e minha irmã, Michelle.
Kai nos deu trabalho, uma casa e comida. Eu o amo como meu irmão mais
velho.
Seu rosto cansado denuncia sua preocupação. Sou um estorvo para ele.
Estou na sua casa durante esses dias, mas moro numa propriedade onde seus
trabalhadores dormem, a alguns minutos daqui. Antigamente eu ia de cavalo
para casa, depois do dia de serviço, porém hoje eu não vou a lugar nenhum.
— Marie, não consegue dormir? — Ele se aproxima devagar e se senta
na cadeira ao lado da minha cama enquanto fecho meu diário, escondendo-o
embaixo das cobertas logo em seguida.
— Já estava quase — minto, forçando um sorriso. Não quero preocupá-lo
mais do que o suficiente. Kai tem sua família para cuidar, não precisa de mim
lhe dando preocupações.
— Sei que não está conseguindo dormir. Escuto seus suspiros e vejo sua
luz acesa quando passo na porta. — Kai fecha os olhos e eu sinto meu coração
começar a doer. — Eu estou apavorado. — Ele ri sem humor, me fazendo piscar.
— Você é minha irmãzinha, entende? Eu quero entender o que aconteceu. Quem
fez isso… — Ele se cala de repente e esconde o rosto entre as mãos. Vejo seus
ombros tremerem e me ergo da cama, me colocando de joelhos à sua frente.
— Não precisa ficar assim, Kai… — digo, tentando, em vão, acalmar
meu quase irmão.
— Marie, você não sai desse quarto há dias. Estou preocupado. O que
esse homem fez…
— Kai, eu estou bem. Amanhã eu saio, vou dar uma volta pela fazenda…
— Tento me imaginar saindo desse quarto e não consigo ver como.
— Não, você não está. Vou matar o homem que fez isso com você, se
Cain não o achar primeiro, é óbvio. — O nome dele ecoando faz com que eu me
afaste de Kai, arfando.
— Como assim? Cain… — Meus olhos se arregalam enquanto meu
sangue esfria completamente.
— Ele está caçando o homem. Ele viu você com ele, Cain pode
reconhecer o cara — Kai fala de modo calmo e eu tremo, abraçando meu corpo.
Se Cain o encontrar… e se ele fizer o homem que amo sofrer tanto quanto me
fez? Não consigo imaginar perder aquele homem. Eu morreria.
Imaginei que Cain tivesse chegado ao bar no momento em que me
encontrou. Estava errada. Ele me observou sendo uma idiota a noite toda. Rindo
e flertando com um psicopata por causa da nossa briga. Talvez planejando
estapear minha bunda por estar na presença de outro homem.
— Entendi. — Respiro profundamente e me forço a sorrir, deixando meu
medo de lado. Terei que falar com Cain. Durante essa semana conversamos, mas
ele estava receoso o tempo todo. Talvez, achando que eu desmoronaria. Estou a
um passo, confesso. — Kai, vou dormir, podemos conversar ao amanhecer? —
tento dizer de forma convincente, e ele se ergue, se inclinando até mim.
— Estou aqui, Marie, ele não vai entrar aqui. Nunca deixarei. — Seus
lábios tocam minha testa, e eu suspiro, constatando que sim, eu acredito nele.

Na manhã seguinte, tomo banho demoradamente. Encaro-me


completamente nua em frente ao espelho e mordo meu lábio ao ver a cicatriz em
meu seio. Os médicos tentaram deixar imperceptível, mas eu conseguia ver. A
pele deformada de seis centímetros me fazia sentir nojo de mim mesma.
— Marie? — a voz suave de Helena soa e eu engulo em seco, vestindo
shorts jeans e uma blusa de botões. Abotoou-a até quase o pescoço, temendo que
alguém veja a ferida quase cicatrizada.
Vou sair do quarto hoje. Preciso aliviar as preocupações dos meus
amigos. Sei que esperam isso de mim, principalmente depois de ontem à noite.
— Só um momento! — grito para a mulher do Kai, querendo que ela me
espere.
Quando saio do banheiro, vejo Kian em seus braços, mordendo um
patinho de borracha. Com três meses, o filho de Helena é uma gostosura. Suas
bochechas são gorduchas e os olhos têm um brilho lindo.
— Ei!
— Sinto incomodar. Como está? — Helena sorri sem me deixar
desconfortável pela pergunta, e foi exatamente isso que mais gostei nela quando
Kai a trouxe de uma viagem a Las Vegas.
— Não é incômodo. Estou bem, Lena, obrigada.
— Você pode ficar com Kian por um minuto? Kai está no celeiro,
precisando da minha ajuda — ela diz suavemente, e eu aceno, me aproximando.
— Claro! Me passe ele.
Helena o entrega a mim, saindo em seguida, e eu levo Kian para minha
cama. Deixo-o rodeado de travesseiros enquanto coloco minhas botas. Sua risada
enche meu quarto e eu me sento ao seu lado. Coloco-o em meus braços e ele
sorri, completamente babado.
— Será que sua mãe já te deu café? — pergunto, mas lembro que Kian
ainda só mama. Helena quer incrementar sua alimentação ainda esse mês, se me
lembro bem. — Podemos ficar aqui, então…
Sorrio para suas covinhas e beijo sua barriga, me inclinando sobre a
cama. Sua risada aquece meu coração e eu sinto lágrimas encherem meus olhos.
Estou sensível, esclareço para mim mesma.
— Com licença. — Meu corpo tensiona quando escuto sua voz seguida
de batidas. Fico completamente tensa e não me permito virar. — Marie? — Sua
voz engrossa e eu fecho os olhos, tentando criar coragem.
— Pode entrar. — Forço minha garganta e escuto suas botas pesadas
contra o chão do meu quarto.
— Está tudo bem? — Ele se senta na cadeira onde Kai estava ontem, e eu
aceno. — Você ainda não falou com ninguém sobre o que aconteceu. — Não era
uma pergunta.
Cain percebe pelos longos segundos em silêncio que eu não falaria nada,
então muda de assunto. Eu agradeço por isso.
— Kian está grande, não é? — Escuto o riso em sua fala e relaxo.
— Sim, ele é lindo — murmuro, beijando o bebê gorducho.
— Imagina o nosso? Consegue? — A voz dele envia choques pelo meu
corpo, sua mão aperta meu joelho, e eu travo, quando entendo o que quis dizer.
— Cain…
— Eu imagino. Porra, ele vai ser lindo. Com seus malditos olhos bonitos
e nosso cabelo loiro — ele continua divagando, e eu me viro, para encarar seu
rosto.
— Não teremos o nosso, Cain. Acabou. Você sabe disso. — Seu olhar é
indecifrável, tento tirar qualquer coisa dele, mas quando ele sorri eu sei que está
ferido. Cain surta comigo, ele não ri do que eu falo. Nunca.
— Você quis terminar, não eu — contrapõe suavemente.
— Você não queria nada sério comigo — eu o lembro, sabendo que ele
sempre tentou esconder o fato de que dormia na minha cama.
— O que tínhamos era sério…
— Esquentar seus lençóis à noite depois que entrava escondido em meu
quarto, pela janela, é algo sério para você? — Eu rio, balançando a cabeça.
Seguro Kian contra meu peito enquanto Cain suspira.
— Foda-se. — Ele se ergue e anda até a porta. Não o vejo, mas ainda o
sinto dentro do quarto. — Arrume suas coisas. Quando meu turno acabar, venho
buscá-la. — Ele bate a porta, mas me ergo e corro para fora, à sua procura.
Encontro-o já descendo as escadas.
— O que falou? — sussurro, completamente confusa. Ele para de andar
ao me escutar.
— Você ouviu. — Seu resmungo irritado me faz engolir em seco.
— Para onde pensa que vai me levar? — grito, indo a seu encontro. Cain
vira o rosto e sorri de forma perigosa. Os pelos do meu corpo arrepiam e eu sei
que ele planejou algo para mim.
— Para um lugar de onde nunca mais vai sair. — Minha barriga gela e
sua língua sai, lambendo seus lábios. — Minha casa.
Cain desce as escadas rapidamente e me deixa parada, sem saber o que
fazer. Meus lábios estão abertos e Kian enfia a mão por eles, quase me
engasgando. Seguro sua mão e sorrio, ainda tensa, para o bebê.
— Kian, o que esse idiota está aprontando? — questiono, mas o bebê
apenas ri sem me dar nenhuma chance de entender.
MARIE

Uma semana antes…


Meu cabelo voa pelos meus ombros enquanto ignoro mais uma das
ligações de Cain. Na verdade, a música do toque estava embalando meu galope
em direção à casa onde vivo, deixando o momento mais único. Na casa,
moravam a cozinheira do Kai, chamada Maria, eu e alguns dos capatazes da
fazenda, incluindo Cain.
Quando avisto a casa, o vejo parado na varanda com o celular contra seu
ouvido. Seu peito está exposto, a camisa jogada em uma cadeira ao seu lado.
Seus cabelos estão raspados e o perigo em seus olhos faz minha barriga esfriar
consideravelmente.
Ele me observa descer do cavalo e entregá-lo a um dos meus amigos,
Jimmy, em silêncio.
— Pode fazer um doce hoje, Marie? Estou desejando. — Jimmy sorri
com seus olhos pidões, sabendo que eu faria sem problema.
— Claro, guarde o meu garoto lá, por favor? — peço, acariciando o pelo
de Troia.
— É uma honra. — Ele pisca, jogando um beijo em minha direção junto
a uma piscadela.
Grito quando sou arrancada do chão, fazendo Jimmy achar graça. Encaro
a maior bunda do Texas e grito furiosa.
— Gabe! Me coloque no chão agora! — Ele ri, girando, e eu gemo,
querendo socar seu rosto, em vez da sua bunda, já que ela é acolchoada.
— Venha para casa comigo amanhã, baby. Podemos parar no mato e eu
te ensinarei como me dar prazer. — O rosnado furioso e o bater de portas me dá
a deixa de que Gabe irritou seu primo mais um pouco. — Adoro como ele tenta
esconder de nós que dorme na sua cama. Temos ouvidos, sabia? — ele murmura
e me coloca no chão, rindo enquanto bato em seu peito. — Se fosse minha, eu a
exibiria para a porra do Texas inteiro. Seus peitos valem o sacrifício. — Ele ri
quando me viro e entro na casa.
— Se gostasse de mulher, eu poderia pensar no seu caso. — Pisco, o
deixando de boca aberta. — Não é o único tem ouvidos.
Corro para a cozinha e ele me segue, parecendo assustado.
— Como sabe disso? Quem? — Seus lábios selam e eu acho graça do seu
estupor.
— Eu amo você, sei tudo sobre vocês. Não seja dramático. — Beijo sua
bochecha e ele sorri, engolindo em seco.
Encontro Maria na cozinha enquanto Mike e Oberon estão sentados
comendo. Os dois piscam para mim enquanto engolem mais um bocado de
carne.
— Precisa de ajuda, Maria? — pergunto sorrindo depois que beijo seus
cabelos.
— Nenhuma. Sente-se e coma com os outros — ordena suavemente, e eu
aceno, me afastando.
Depois de comer com Mike, Oberon, Gabe, Cain e Jimmy, todos saem.
Os meninos foram para a cidade, só Deus sabe fazer o quê, enquanto corro para
o quarto, esperando Cain entrar. Hoje decidi dar-lhe um ultimato. Estou cansada
de ser seu segredo sujo. Gabe estava brincando ao falar que me exibiria para o
estado inteiro, mas despertou algo dentro de mim.
Tomo banho e visto uma camisola de algodão, nada sexy. Queria sua
atenção na conversa, não em meu corpo. A janela se abre e seu corpo enorme
surge em minha visão. Sua mandíbula está apertada, e eu sei que vamos brigar.
— Odeio quando deixa que a toquem. Gabe parece um cachorro ao seu
redor. Você já percebeu? Eu sim. — Ele se aproxima, fazendo meu coração
acelerar. Tento erguer a mão para pará-lo, mas Cain sabe quando algo está
errado. Ele desvia.
— Odeio que… — tento falar, mas seus lábios me interrompem.
Nunca consigo fazer Cain me ouvir, mas, em minha defesa, os nossos
corpos anseiam o dia inteiro o toque um do outro. A noite era o nosso refúgio.
Somente por isso relaxo contra seu peito largo e quente enquanto passo os braços
por seu pescoço. Cain me ergue e eu o envolvo com as pernas.
Seu eixo pressiona meu centro e eu gemo em sua boca. Suas mãos
apertam minha bunda e ele me coloca sobre a cama. Nós nos afastamos apenas
para ele arrancar a camisola do meu corpo. Seus olhos brilham com a visão dos
meus seios e eu sorrio, engolindo em seco. Sei o quanto ele ama meu corpo, mas
sua paixão está em meus seios maiores que a maioria.
— Caralho. — Ele me deita e segura meu seio, levando-o diretamente
para os lábios. Seus dentes raspam no bico endurecido e ele sorri quando arfo.
Cain me faz virar e eu subo em seu corpo completamente nua. Tiro sua
calça e desço sua boxer apenas para soltar seu membro. Arqueio meu quadril e
afundo em seu colo, levando-o para dentro de mim.
Solto gemidos altos quando ambos gozamos, tempos depois, e abro os
olhos quando ele ri, tapando meus lábios.
— Quietinha, doçura. Não queremos ninguém sabendo do que fazemos
aqui…
Suas palavras me lembram do porquê de eu estar com uma camisola
enorme hoje. Sou seu segredo. Nunca imaginei que se um dia o braço direito de
Kai me tocasse, eu iria apenas dormir em sua cama à noite. Sonhei com a gente
se casando, tendo filhos, o que fosse, mas isso nunca aconteceu. Faz mais de um
ano que aqueço seus lençóis.
A lembrança de quando o vi a primeira vez enche meus pensamentos, e
eu tento sufocar as lágrimas, saindo de cima dele.
— Por aqui. Você poderia pegar mais massa na despensa? — Maria, a
governanta do casarão, pede e eu aceno. Estou trabalhando na fazenda agora.
Faz alguns meses da morte da minha mãe e precisamos trabalhar. Minha irmã
está arrumando os quartos, e eu fiquei na cozinha para ajudar Maria.
Ando para a despensa e pego um banquinho para subir quando vejo que
a farinha está mais alta que eu, o que não é lá grande altura. Sou quase uma
anã. Meu um metro e sessenta centímetros me faz ficar tão baixa em relação aos
capatazes da fazenda que até eu acho graça quando Jimmy caçoa de mim.
Pego a farinha, mas escuto alguém entrar pela porta e me desequilibro.
A farinha voa das minhas mãos ao mesmo tempo em que entro em queda livre,
mas, para minha sorte, um par de braços me segura. Minhas costas batem
contra um peito duro e eu respiro fundo, tentando encontrar minha voz.
Os braços me viram e eu dou de cara com o homem mais lindo que já vi
na minha vida. Nunca saí da minha cidade, então não tenho muito com o que
comparar. Mas, oh, Deus, ele era tão lindo. Eu me surpreendo com sua
expressão de raiva. Baixo meus olhos e tento ir para o chão. Ele não me solta,
pelo contrário, me aperta mais.
— Quem diabos é você? — Minhas bochechas coram ao escutar sua voz
rouca. Alguma coisa cutuca a minha barriga e eu arregalo os olhos ao ter noção
do que é. Minha nossa senhora.
— Ma-Marie — gaguejo completamente em choque. — Pode me colocar
no chão? — peço, tentando não gaguejar novamente. Ele enfim me põe para
baixo, mas não antes do seu nariz afundar em meu pescoço.
— Você é nova aqui, Marie. — Ele sorri e se inclina tentando ficar à
minha altura. Meu nome pronunciado por ele me faz tremer. Quem é esse
homem? — Fique longe de mim, Anjo. — Suas palavras me confundem, mas
enquanto ele apanha a farinha e me entrega o pacote, consigo recolher meu
orgulho e sorrio tensa.
— Pode ter certeza, isso não será um problema. — Eu viro as costas e
vou embora.
De onde tirei isso? Nunca saberei. Aquele homem só despertou uma fúria
silenciosa em mim. É confuso, já que nunca experimentei ser sarcástica ou
maldosa.
— Precisamos conversar. — Afasto-me do seu corpo e pego minha
camisola. Cubro meu corpo e me encosto à cabeceira da cama. Puxo minhas
pernas e abraço-as.
Minha garganta dói e eu tento esquecer que é pelo choro que estou
evitando.
— Marie, vem aqui — ele chama, abrindo os braços. A calça ainda está
amontoada perto dos seus joelhos, junto à sua cueca.
— Eu te amo. — Eu vejo seus olhos se arregalarem e sua garganta se
mover. Ele sobe a roupa e se põe de pé em segundos. Seu silêncio racha meu
coração de formas que nunca senti. É isso que sentimos ao amar alguém que não
te quer? — Mais de um ano, Cain. Tentei me convencer de que com o tempo
você poderia me assumir…
— Anjo… — Sua voz sofrida me causa dor. Por que eu posso sofrer, e
quando começo a pelo menos atingi-lo com minhas palavras, tenho pena dele?
Sou tão estúpida. Minha irmã sempre fala isso para mim, agora eu estou
começando a acreditar.
— Eu quero que saia do meu quarto e não volte. Juro por Deus que
ligarei para Kai e farei ele tirar você de perto de mim — afirmo séria, olhando
para meus lençóis, esperando-o sair.
— O que fizemos aqui não importa? Tudo que dividimos durante esse
tempo não importa? — Sua expressão furiosa faz as lágrimas reprimidas
descerem por meu rosto.
— Você não liga para o que sinto? Eu estou machucada, Cain. Você está
me machucando ao fingir que sou uma colega de trabalho quando estamos com
outras pessoas. Estou machucada por ter que sorrir para você de forma educada
quando quero sacudi-lo e dizer para todos o quanto odeio amar você.
— Essa porra não está dando certo. Foi ilusão minha deitar na sua cama e
pensar que não envolveríamos sentimentos nisso… — ele afirma, me fazendo
arregalar os olhos e sentir minha garganta fechar.
— Oh, meu Deus… Sai daqui! Fora! — explodo, me erguendo, e
empurro seu peito em direção à porta.
— Sabe que todo mundo tem conhecimento da gente, Marie. Não te
escondo…
— Não tente me acalentar, Cain. Juro que vou embora dessa casa assim
que amanhecer. Não quero mais te ver! — grito, tremendo.
— Eu preciso de você, Anjo…
— Você precisa manter seu status de solteiro. Eu preciso de alguém que
me coloque como primeira opção. Acabou.
Abro minha porta e o empurro para fora. Sei que ele poderia lutar comigo
e nem mesmo deixar que eu abrisse a porta, mas sei que ele não quer isso. Ele
quer uma saída, então eu dou uma a ele.

— Vocês são péssimos. — Gabe entra em meus lençóis e abraça meu


corpo trêmulo.
— Você ouviu? — choramingo e abraço seu corpo. Minhas lágrimas
descem, molhando a camisa do meu amigo enquanto o escuto rir.
— Ele está furioso na sala, então sim, eu acho que escutei. — Eu me
encolho, pensando nisso. Soluço e fecho meus olhos, tentando me acalmar. —
Você merece mais, Marie. Merece alguém que te ame sem reservas. Cain é um
idiota por não te assumir…
— Eu sei, eu sei, Gabe, mas o amo. Está doendo. Faz um ano que ele
entrou em meu quarto pela primeira vez. Ele me amou quando não sentia amor e
isso é o que mais me dói. Eu precisava de amor, nunca precisei de compaixão.
— Eu amo você. — Ele beija minha testa, e eu sorrio.
— Também te amo. — Beijo sua bochecha, me aconchegando ao seu
peito em seguida.
Na manhã seguinte eu acordo cedo e Gabe está longe de ser visto. Voo
para a casa do Kai e passo o meu dia tentando evitar Helena e sua irmã, Vanessa,
que veio passar a tarde com ela. As duas se tornaram amigas que prezo muito,
mas infelizmente são pessoas muito perspicazes. Com um olhar elas desvendam
tudo. É exaustivo tentar convencê-las do contrário. Às vezes me pergunto se
todos os brasileiros são assim.
Guardo todos os lençóis do quarto de hóspedes e sorrio quando abrem a
porta. Vanessa entra, caminhando até mim, e sorri.
— Precisa de uma pausa. Te procurei pela casa toda… — ela resmunga,
me puxando para a cama que acabei de arrumar. Nós nos sentamos e eu sorrio.
— Estava trabalhando. Sabe, eu sou uma funcionária aqui — brinco,
sorrindo, e ela revira os olhos.
— Estava atrapalhada com meu casamento, mas como já passou preciso
conversar com você…
— Foi incrível, preciso dizer — relembro seu casamento na fazenda do
Hank, seu marido e irmão do Kai. Ela, principalmente, estava esplêndida.
— Foi, não é? — Ela sorri e suspira. — Enfim, vim atrás de você para
saber como anda seu amor. — Vanessa pisca, deixando subintendido.
Ela sabe, de alguma maneira — volto a falar o quanto ela e a irmã são
perspicazes —, que eu e Cain nos relacionávamos.
— Terminamos, sabe como é… quero dizer, eu o afastei. Mandei ele me
esquecer. Infelizmente para ele, não quero mais encontros furtivos na
madrugada. — Decido ser franca e falar tudo de uma vez. Acho que eu preciso
disso. Preciso que alguém me diga que fiz o certo.
— Vocês formam um casal lindo — ela comenta sorrindo. — Cain é um
idiota como Hank foi também, mas o que não entendo é o porquê. — Ela vira o
rosto para mim e arqueia a sobrancelha. — Meu Cowboy tinha um motivo e
tanto para não querer me assumir, mas o que o seu Cowboy tem? — Sua
pergunta fica sem resposta, porque eu não sei.
— Não acho que ele tenha nenhum segredo. Eu não entendo o Cain,
Vanessa. E isso é horrível. — Suspiro frustrada, e ela aperta minhas mãos.
— Você é incrível e fez o certo em decidir tirar ele da sua vida, nem que
seja só para ele acordar e voltar com o rabo entre as pernas. — Vanessa ri e eu
balanço a cabeça. — Dê um tempo a ele.
Eu decidi que daria naquele momento, mas quando cheguei em casa
aquela noite e o ouvi, sabia que precisava desistir.
— Aonde vai, idiota? — Mike pergunta, sentado no sofá. Eu estava nas
escadas, longe das vistas dos dois.
— Vou a um encontro — Cain responde, arrumando o chapéu na cabeça.
Minha respiração fica presa, e mesmo quando ele sai, minutos depois, ainda
sinto falta de ar em meus pulmões.
Mais tarde, em meu quarto, Jimmy e Gabe me chamam para ir ao Bar do
Axel. Eu aceitei.
Esse foi o meu primeiro passo em direção ao abismo.
MARIE

Helena fica andando pelo meu quarto enquanto calço minhas botas. O
jeans curto é desfiado e deixa minhas pernas livres. Amarro meu cabelo em um
rabo de cavalo e suspiro, me erguendo.
— Você tem certeza? — ela já perguntou isso três vezes nos últimos
cinco minutos. Kian bate palmas nos braços da mãe e os olhos dela desviam dos
meus para os do filho.
— Sim, eu tenho — confirmo, tentando sorrir. — Preciso sair de casa,
Kai mesmo falou — eu a lembro, tentando soar calma. — Estou bem, Helena —
tento convencê-la, e ela engole em seco, acenando.
— Tudo bem.
Afasto-me dela e saio do quarto. Já passa das quatro da tarde e esse é o
melhor momento para cavalgar. Desço as escadas devagar e, quando chego à
porta, estanco. Elevo a mão para a maçaneta e observo os dedos tremerem.
Está tudo bem, Marie. Você consegue.
A voz em minha cabeça soa calma e cheia de carinho. Pego na maçaneta
e suspiro, sentindo a coragem percorrer meu corpo.
Ele está lá fora. Vai te pegar. Por favor, não vá.
Recuo, soltando a maçaneta. A voz que me acompanha desde a fatídica
noite é completamente diferente da anterior; ela está completamente apavorada.
Fecho meus olhos e aperto a mão contra meu peito. Minha respiração fica presa
e eu arregalo os olhos, tentando me acalmar. Por favor, por favor…
— Marie? — Eu me viro, assustada, e o ar explode em meus pulmões.
Gabe franze as sobrancelhas, e eu pisco, engolindo em seco. — Está tudo bem?
— Sim — murmuro e pego sua mão. Meu melhor amigo me puxa para
seus braços, e eu relaxo. Estou segura. Estou em casa, não naquele beco escuro.
— Você pode me acompanhar até o celeiro? Quero pegar Troia para podermos
dar uma volta…
— Não vou perguntar se tem certeza, pois é isso o que você precisa. Sair.
Então, não retroceda. — Ele beija meus cabelos e se afasta. Com um sorriso, ele
abre a porta e segura minha mão até eu estar fora da casa do Kai.
Minha respiração fica superficial e Gabe coloca seus braços sobre meus
ombros como se soubesse o quanto assustador é estar fora de casa. O sol ainda
está quente e minha pele formiga com os raios solares. Assim que vejo Troia,
meus músculos relaxam.
— Ei, garoto! — Toco sua cabeça e ele se inclina em minha direção.
Troia é do Kai, não meu, mas o amo como se fosse. Desde que cheguei
aqui eu desejava montar. Quando o vi tudo se encaixou, era como se ele
conseguisse me manter protegida. Ele nunca me deixaria cair.
— Tenho que ir — Gabe murmura e eu me lembro do meu amigo.
Aceno, ainda tocando Troia, e o vejo se afastar.
— Vamos dar uma volta? — sussurro, observando que ele já está pronto
para montar. Helena deve ter pedido a alguém para aprontá-lo.
Saio com ele do celeiro e subo nele, segurando as rédeas. Troia cavalga
devagar nos primeiros metros, mas eu acelero para sentir o vento em meu rosto.
Sorrio, enchendo meus pulmões de ar. Troia corre mais rápido e eu me inclino
sobre ele, querendo abraçá-lo.
— Eu estou bem, Troia — repito isso, tentando convencer a nós dois.
Meu cavalo nunca entenderia, mas eu estava a um passo de cair. Não no chão,
Troia nunca deixaria, mas na escuridão. Ele está lá, aguardando, me esperando…
ele quer me destruir.
Seus olhos surgem de repente e meu peito aperta. As batidas aceleram à
medida que eu puxo as rédeas de Troia, fazendo-o parar. Volto a me inclinar
sobre ele e meus braços o envolvem, enquanto fecho meus olhos. O rosto
quadrado, o sorriso branquíssimo e o cabelo preto me fazem sufocar. Conto de
um até dez, depois até vinte, e, quando acho que vou desmaiar ou morrer, Troia
se abaixa, me assustando ao se deitar.
O susto faz o ataque de pânico cessar e o ar explode em meu corpo. Meu
queixo treme e eu o abraço apertado. Ficamos juntos, parados, enquanto me
concentro nele. Aliso sua crista e beijo seu pelo. Obrigada, obrigada, Troia.

Na volta, assim que a casa grande aparece, eu detecto Cain. Ele está
sentado na escadaria que leva até a casa. Seu chapéu está no joelho enquanto
seus cotovelos descansam no degrau atrás dele. Se eu não o conhecesse poderia
apostar que ele está calmo e até relaxado. Só que eu o conheço, e Cain está tudo,
menos relaxado.
— O que você está fazendo? — questiono assim que ele se ergue e vem
na minha direção.
Ele coloca as mãos em minha cintura e me tira de cima de Troia sem
esforço algum. Assim que meus pés tocam o chão, minha cabeça se inclina para
que eu possa olhar seu rosto. Sua estatura enorme sempre me fez sentir como
uma criança. Pequena, indefesa.
— Entra no carro. — Sua voz é pesada. Não sei por que está chateado,
mas algo aconteceu.
— Não! — Franzo as sobrancelhas e dou um passo para trás. — Por quê?
— Marie, entra na porra do carro. — Engulo em seco vendo seu olhar
sério.
— O que aconteceu? — questiono, tentando imaginar o que poderia tirar
a paciência dele. Nada chega a mim. Será que ele brigou com algum dos
meninos? Eles sempre brigam, até de socos, e quase sempre o motivo sou eu.
Cain suspira, segurando as rédeas do Troia. Jimmy surge em seguida,
sorrindo para mim. Eu me afasto de Cain assim que meu amigo corre em minha
direção. Seus braços me envolvem e eu relaxo contra seu corpo, mesmo estando
suado.
— Ei, loirinha… — Ele beija meus cabelos, me apertando, e eu o abraço
de volta.
— Estou bem, Jimmy — murmuro e beijo sua bochecha, me afastando.
Vejo seus olhos marejados e seguro sua mão. — Estou bem. Eu juro.
Ele limpa os olhos e acena, beijando minha testa. Seguro sua bochecha e
o beijo também.
— Pode levar Troia para o celeiro, Jimmy? — o tom sério de Cain nos
interrompe e eu o encaro. Seus olhos estão presos na paisagem, longe de mim e
Jimmy.
— Claro. — Jimmy se afasta com Troia rapidamente.
— Odeio…
— Que eles me toquem — completo, o interrompendo. — Eu sei e eu
não ligo, não estamos mais juntos…
— Nunca estaremos separados. Você é a extensão do meu coração.
Nunca a deixarei me afastar. — Um arrepio percorre meu corpo com suas
palavras.
— Você já deixou.
Dou-lhe as costas e caminho para casa. Nem completo dois passos e sinto
suas mãos em mim. Ele me coloca sobre seus ombros e anda até seu carro, me
levando como muitos dos quadrados de capim das vacas que ele e os meninos
carregam.
— Cain! — resmungo, completamente chocada. Porém eu não deveria.
Ele sempre foi assim. Se eu não cedia, ele me pressionava até eu me render. —
Me solta. Estou cansada, quero ir para o meu quarto…
— Você está indo para ele. — Cain me coloca no banco do carro e fecha
a porta, antes que eu consiga entender o que falou.
— Cain. — Eu me viro, vendo-o entrar também. — O que você está
fazendo? O que quis dizer…
— Indo para casa. Estou cansado, e você precisa dormir. — Sua
casualidade me causa frustração.
— Eu moro aqui agora, você sabe disso. O que está acontecendo?
— Não mais. — Ele dá partida no carro, mas para ao ver Kai estacionar
atrás dele. Graças a Deus. Não vou embarcar na loucura desse homem. Não vou
morar com ele, nem a pau.
Bato na janela e Kai olha para nós dois. Ele gesticula, mandando Cain
descer o vidro, o que o homem turrão faz bufando.
— Mande-o abrir essa porta agora, Kai — peço calmamente, fazendo Kai
franzir as sobrancelhas.
— Cara, sai daqui — Cain manda, resmungando.
— Ela não quer…
— Você sabe o que vou responder, então segue a porra do caminho, Kai.
Agora. — Arregalo os olhos, surpresa. Cain nunca gritou com o primo. Eles são
melhores amigos.
— Você que sabe, cara. — Kai eleva as mãos, rendido. Vejo-o se afastar,
completamente embasbacada.
Cain sai da fazenda em seguida. Ele se inclina sobre mim e coloca meu
cinto enquanto pisa no acelerador.
— Vai ficar tudo bem — ele murmura, se concentrando na estrada. Eu
me viro, olhando para a paisagem. — Eu juro, Anjo.
Percebo com os minutos passando que estamos longe da fazenda.
Estamos na cidade. Sufoco a vontade de pedir informações, Cain está me tirando
de onde me sinto segura à força, a última coisa que eu quero fazer na minha vida
é dirigir a palavra a ele.
Minutos depois ele para em frente a um portão enorme de ferro. Encaro o
prédio de três andares, apertando meus dentes. O que Cain pretende? O portão
só abre quando ele coloca uma senha e sua digital no painel. Franzo as
sobrancelhas para isso, mas o carro passa fazendo o portão se fechar, nos
trancando em uma garagem que tem lugar para mais dois carros. Cain sai do
carro e dá a volta, abrindo minha porta.
— Você nem mesmo me deixou pegar as minhas coisas… — resmungo,
seguindo-o até um elevador. As portas se fecham assim que ele se coloca atrás
de mim.
— Tudo que precisa está aqui. — Sua mão envolve minha barriga e ele
me puxa contra seu peito.
— De quem é esse lugar? — questiono, segundos depois, saindo da sua
posse quando as portas se abrem, me dando uma fuga.
— Nosso.
Arregalo os olhos, vendo que o elevador para já dentro de casa. Viro-me
ao escutá-lo. Cain cruza os braços, e eu semicerro os olhos.
— Desde quando? Como? — minha voz sai exatamente como estou me
sentindo: confusa.
A sala é grande, tem um sofá imenso e uma TV tão grande como nunca
vi. Um tapete cinza estava no meio da sala e uma mesa pequena de centro estava
sobre ele. A cozinha era acoplada e um balcão largo de granito separava os dois
cômodos.
— Construí esse lugar durante todos esses anos. Demorou, mas ele ficou
pronto quando eu mais precisei. — Escuto o orgulho em sua explicação e minha
barriga esfria. — Tudo foi feito pensando em você. Se não gostar de algo, mude.
Eu tento entender, fazer com que qualquer coisa faça sentido, mas não
faz.
— Nunca soube disso…
— Era surpresa. — Ele caminha até mim e segura meu queixo, se
inclinando.
— Não faça nada disso — imploro, piscando com a umidade que se
forma em meus olhos.
— Fazer o que, loirinha? — A maneira como sua voz sai preocupada me
faz lembrar o quanto esse homem odeia que eu chore.
— Isso! Fingir que fez isso para mim, que era uma surpresa… — Mesmo
tentando, as lágrimas rolam por meu rosto. — Nós dois sabemos que só me
trouxe para cá por causa dele.
— Eu vou te proteger, Anjo. Nem você será capaz de me impedir. — Ele
desvia do assunto e eu me afasto, limpando o rosto.
Vejo uma escada do lado direito e vou até ela, subindo em seguida. Ela
dá acesso a um corredor com três portas. Uma em cada lado, e a terceira no final
do corredor. Abro as duas e entro no quarto mais iluminado pelas janelas. A
cama dá duas da minha antiga. Eu me sento, relaxando contra a maciez. As
paredes claras estão lisas. Nenhuma decoração. Mais duas portas estão aqui e eu
vou até elas, descobrindo em seguida que são o banheiro e closet. Engulo em
seco, entrando, e vejo todas as minhas roupas aqui. Cain trouxe tudo.
— Descansa. Eu vou preparar algo pra gente comer…
— Não. — Balanço a cabeça, limpando meu rosto molhado. Eu me viro e
vejo o corpo de Cain preencher a porta. — Eu faço isso. Você não sabe nem
fritar um ovo — resmungo e dou um passo, esperando que ele saia da frente.
Ledo engano.
— Não chore. — Seus dedos deslizam pela minha pele e ele se inclina,
beijando meus lábios com ternura, tão rápido que eu me pergunto se foi mesmo
verdade. Desvio meu rosto, e sua testa descansa sobre a minha. — Eu estou aqui,
e vou ficar. Não sou paciente, você sabe, mas por você eu vou tentar. Juro que
vou, Anjo.
Seus dedos brincam com meu cabelo e eu aceno, sem conseguir falar
nada. Cain se afasta e eu saio do closet, indo para a cozinha.
Não sei o que ele pretende com isso. Nós dois na mesma casa, sozinhos.
Isso era tudo que um dia eu desejei, mas por que agora? Por que estou sentindo
que tudo que ele está fazendo é guiado pelo medo?
Cain Ross não me ama. Ele quer ser meu herói, quer me proteger. O que
ele parece não saber é que eu não preciso ser salva. Não mais, pelo menos. Eu só
quero ser amada. Por ele, ninguém além dele.
CAIN

Ela se movimenta pela cozinha de forma graciosa. Seus olhos brilham


com entusiasmo a cada nova coisa que ela encontra. Não menti quando disse que
estava construindo esse lugar há tempos. Ninguém sabia, nem mesmo Kai. É
claro que a segurança foi reforçada por causa do que aconteceu com Marie, mas
tudo aqui foi feito para ela.
— Você vai ficar aí me encarando a noite toda? — ela resmunga
enquanto lava verduras. Seu corpo pequeno no meio da nossa cozinha faz meu
sangue esquentar. Foi assim que eu imaginei muitas vezes, ela aqui comigo. Na
nossa casa.
Durante os anos que ficamos escondidos, eu pensei que estava fazendo o
que era certo. Não queria que meus problemas a atingissem. Eu errei. Na noite
em que ela me expulsou do seu quarto, eu sabia que sim. Quando saí de casa, eu
já tinha me decidido. A casa já estava pronta, os móveis já tinham sido
entregues. Tudo estava no lugar, menos ela. Marie faltava para que tudo
estivesse completo.
— Vou — respondo simplesmente. Escuto-a bufar, mas finjo que não.
Observo seus dentes castigarem seu lábio enquanto a barriga lisa está à mostra,
como também suas pernas. A faca em suas mãos corta milimetricamente a
cebola, e eu me pego querendo levá-la para o quarto.
Mas sei que não é o momento. Estamos longe dele. Eu me ergo e ela para
de cortar para me olhar. Passo por ela e abro a geladeira. Sob seu olhar pego uma
cerveja e me sento novamente, descansando meus cotovelos no balcão. Observo-
a por todo o tempo enquanto cozinha e só me ergo quando ela termina. Coloco a
mesa e me lembro de trazer uma vela que estava guardada há tempos.
Suas sobrancelhas sobem e ela me encara por um segundo. Cruzo os
braços e Marie desiste de falar qualquer coisa. Acendo a vela assim que se senta
e se serve.
Faço o mesmo, e minha garganta faz um barulho de contentamento assim
que a carne assada toca minha língua. Caramba, Marie tem mãos de anjo. Eita,
mulher que sabe cozinhar.
Vejo seu rosto corar e me inclino sobre ela, engolindo a comida.
— Está ótimo. Sério, você se supera a cada vez. — Sorrio e ela morde o
lábio, acenando discretamente.
— Obrigada.
Comemos em silêncio, e quando acho que nada vai ecoar nessa casa, meu
celular toca. Wendy. Aperto a mandíbula e vejo os olhos azuis que tanto amo
checarem o nome.
— Não vai atender? — ela murmura, franzindo as sobrancelhas quando
aperto o botão para silenciar.
— Não — respondo simplesmente.
— O que ela quer? Pode ser importante. — Sua calma me faz apertar os
punhos.
— Não dou a mínima para isso. Você sabe. — Seu rosto se contorce em
caretas e eu me ergo, prevendo briga.
— Cain…
— Não. — Balanço a cabeça, a interrompendo.
— Ela é sua mãe! Ela precisa de você. Pode ser realmente…
— Não! Ela não precisa, que merda! — grito assim que o celular volta a
tocar. Seu nome aparece de novo e eu o jogo do outro lado da sala, ele atinge o
sofá e o barulho da chamada continua.
— Eu sei que são distantes…
— Pelo amor de Deus… — Nego com a cabeça e a deixo sozinha na
cozinha. Eu me dirijo para nosso quarto e desabo na cama.
Wendy Perrice não vai foder com minha vida de novo. Nunca mais.
MARIE

Deixo seu celular tocando e vou atrás dele. Cain tem problemas com sua
família materna, sempre soube disso, mas os motivos nunca chegaram a mim.
Ele surta a cada menção do nome da mãe. Foram poucas as vezes que o vi
reagindo à mãe, e todas foram assim.
Abro a porta do quarto e o vejo na cama. Sua barriga contra o colchão.
Ele é enorme e a cama fica num tamanho perfeito para ele, diferente de mim, que
pareço um bebê. O travesseiro em cima do rosto esconde suas feições.
— Ela não te liga — murmuro, tentando acalmá-lo. Seu corpo fica tenso,
mas ele não responde. — Talvez hoje fosse algo realmente importante…
— Não ligo se Wendy está com problemas. Você já deveria saber disso.
— Ele está certo. Eu deveria.
— Tudo bem. — Suspiro e volto para a cozinha. Assusto-me ao ouvi-lo
descer da cama e vir ao meu encontro.
— Eu lavo a louça e arrumo a cozinha. — Ele passa por mim
rapidamente e me deixa sozinha no corredor.
Volto para o quarto e me sento na cama. Meu celular começa a tocar e eu
vejo o nome de Felicity na tela. Somos amigas há muito tempo, desde que
éramos meninas. Infelizmente, a vida nos separou esses dias e eu me vi mais na
presença da Vanessa do que na dela.
Hesito em atendê-la, mas cedo quando a chamada termina e recomeça.
— Ei! Oi! — Sorrio ao falar.
— Oi! Estava pensando em passar na fazenda para te ver. Você sabe,
colocar o papo em dia. — Sua voz está normal e suas palavras são algo que ela
normalmente diria. É isso que amo nela, ela sabe como eu quero que me tratem.
— Não estou na fazenda… — Mordo meu lábio e me aproximo da
janela.
— E onde está? Realmente preciso conversar. — Ela suspira e Axel
aparece em meus pensamentos. Felicity e ele têm problemas.
— Vou te mandar minha localização. Me liga quando chegar —
resmungo e ela responde um okay completamente confusa.
Desço assim que desligo a chamada. Cain está secando as louças e a
cozinha está limpíssima. Se me perguntarem qual cômodo dessa casa mais
gostei, com certeza eu responderia a cozinha. Ela é equipada com todos os
utensílios que imaginei comprar para minha casa. Toda em inox, completamente
linda.
— Você gostou da cozinha? — Suas costas se remexem quando ele
pergunta.
Volto a olhar para cada canto do cômodo e suspiro.
— Sim. Eu amei — respondo, me aproximando. Escuto seu suspiro
aliviado e sorrio. Deus, o que estamos fazendo?
Eu me sento de frente para o balcão e o observo guardar as coisas.
Quando ele termina, se vira e sorri para mim. É um daqueles sorrisos enormes
que fazem os olhos brilharem, são esses que fazem minha barriga dar
cambalhotas desde a primeira vez que o vi fazer isso.
Ele estava com Kai. Eles estavam conversando, não sei sobre o que, não
consegui ouvir. Então, de repente, ele sorriu. Foi arrebatador. Ele gargalhou tanto
e eu me senti completamente apaixonada. Naquele dia achei incrível o quão
alegre, leve e brincalhão ele se torna quando está com o primo.
— Para de fazer isso. — Minha voz sai como um gemido. Ele franze as
sobrancelhas.
— O quê? Não entendi.
— Esse sorriso. Pare de sorrir assim para mim — resmungo e me inclino,
colocando minha testa contra o granito frio.
— Você me faz feliz, Anjo. Eu não posso me conter. — Elevo meu rosto
e descanso meu queixo nas minhas mãos, ainda pousadas no granito.
— Eu já te amo. Não precisa disso. Você sabe — murmuro e depois volto
a explicar: — Estou falando desse sorriso e do jeito que está me olhando. Não
precisa. Isso aqui… — Toco em meu coração. — … é seu. Sempre vai ser.
Cain engole em seco e pisca com umidade em seus olhos. Não sei se já
falei, mas ele é emotivo. Pelo seu tamanho, cara fechada e tudo o mais, eu achei
que não fosse, mas ele é, e esta foi uma das coisas que fizeram com que eu me
apaixonasse por ele.
— Eu sou sortudo pra caralho — ele afirma, e eu sorrio, balançando a
cabeça.
Não percebo quando ele se aproxima, mas assim que sinto seus dedos em
minha pele um arrepio percorre meu corpo. Eu me viro e inclino a cabeça para
encarar seu rosto.
— Eu amo você também, Anjo. — Meu peito aperta e ele sorri de lado
ao ver minhas lágrimas, que eu nem percebi terem deslizado dos meus olhos. —
Você é meu sol, eu giro em torno de você. Minha felicidade, tudo.
— Cain… — É a primeira vez que ele diz me amar. Nunca essas palavras
saíram por seus lábios, e… droga! Eu estava petrificada.
— Desculpa por não ter falado antes. Me perdoa pelo tempo que escondi
a gente. — Ele se ajoelha ao meu lado e me faz virar, segurando minha cintura.
— Eu pensava que estava fazendo o certo. Foda-se o certo a partir de agora,
Marie. — Ele descansa a cabeça em meu colo e eu deslizo as mãos pelos seus
cabelos raspados.
— Eu gostei da casa — murmuro depois de um tempo. Sua cabeça se
ergue e seu sorriso arrebatador volta. — Amei, na verdade.
Sorrio também e ele segura meu rosto.
— Não menti quando disse que a construí para a gente. É sua. Está no
seu nome. — Arregalo os olhos e ele beija meus lábios impetuosamente.
Sua língua procura a minha de forma lenta e preguiçosa. Retribuo seu
beijo e seguro seus ombros, o puxando para mais perto de mim. Mordo seu lábio
devagar e seu gemido é tão bom que repito o gesto.
Quando estamos ambos sem fôlego, nos afastamos. Seu olhar escuro me
faz lembrar as vezes em que ele entrava assim em meu quarto. Pronto para me
possuir. Foi assim desde a primeira vez.
Caminho para meu quarto sabendo que estou ferrada. Oh, Deus, tão
ferrada. Seu olhar esteve em mim a noite inteira. A cada passo que eu dava, e eu
sei que ele cansou de esperar. Nós nunca nos tocamos. Nunca. São apenas
olhares, mas os meses que passaram fizeram os olhares ficarem descarados. O
desejo estava por todo lugar que ambos ficávamos, era pesado, e eu era a
primeira a sair. Como hoje.
Tomo banho rápido e saio do quarto de coque e toalha. Pulo,
arregalando os olhos, ao me deparar com ele sentado na ponta da cama. Meus
batimentos aceleram e eu permaneço parada.
— Você não sabe, mas eu odeio quando eles a tocam. — Engulo em seco
sentindo a eletricidade percorrer meu corpo. Sua voz está diferente. Rouca. Tão
rouca.
— E-eu…
— Vem aqui. — Ele aponta para o chão bem na sua frente. Minhas
pernas travam, mas seu olhar resignado me faz dar o primeiro passo.
Assim que chego até ele, seus dedos tocam os meus. É singelo, nada
sexual. É um toque. O primeiro depois que nos conhecemos. Lambo meus lábios
em busca de calma, e seu peito treme ao ver.
— Eu te disse para sair do meu caminho — ele me lembra e eu engulo
em seco novamente. — Você não saiu. Droga, estou feliz por isso. — Suas mãos
vão para meus quadris e eu me torno consciente de que estou apenas com uma
calcinha de seda pequena.
— Ca-cain — começo, mas meus lábios se abrem, formando um “O”
perfeito quando suas mãos arrancam a toalha de mim.
Agarro meus peitos e ele suspira, se inclinando. Seus lábios beijam
minha barriga lisa e eu fico parada, ainda sem saber o que diabos aconteceu.
Cain se ergue e suas mãos entram por meus cabelos presos, os soltando.
Suas mãos acariciam meu couro cabeludo e ele sorri. Oh, Deus. Fico parada, o
encarando como uma idiota, sentindo mais um pedaço do meu coração ser
entregue a ele.
— Minha — sua voz soa bruta e eu não entendo, até que seus lábios
esmagam os meus.
Sua língua é exigente, mas tem um toque de carinho nela que me faz
relaxar. Seguro seus braços e o deixo me beijar enquanto retribuo.
Cain me eleva e eu o agarro com as pernas. Sinto seu membro e tremo de
necessidade. Ele me deposita na cama e beija meu pescoço e colo. Seus lábios
encontram meus seios e seus olhos crescem famintos. Cain chupa e morde cada
bico, me levando a um orgasmo tão forte que temo apagar.
Sinto minha calcinha sair e seus lábios beberem meu orgasmo. Grito
quando seus dentes raspam meu clitóris. Quando ele volta, mais um orgasmo sai
de mim. Cain me observa enquanto coloca seu membro em mim. Tento não
tremer, mas quando ele desliza lentamente, encontrando um impedimento, seus
olhos verdes se arregalam.
Mordo meu lábio pela dor e tento não encarar seu rosto. Estou lívida. Eu
deveria ter falado antes que era virgem. Porém como? Ele não perguntou.
— Puta que pariu! — ele resmunga, saindo de mim. — Caralho, não
entrei, então não tirei sua virgindade. — Suas palavras me causam tanta
vergonha e eu nem sei o motivo.
— Eu quero — consigo dizer, prendendo-o com minhas coxas e Cain me
encara completamente sério.
— Isso é importante. Você não deve entregar-se para um idiota que entra
em seu quarto escondido…
— Eu quero. Então me escuta e faz o que eu quero. — O modo firme com
que falo o faz engolir em seco.
— Loirinha…
— Eu quero. Não me faça implorar — resmungo e ele relaxa. Seu corpo
cobre o meu e eu volto a me deitar relaxada na cama.
— Eu sou a única pessoa que tem que implorar. Porra, eu não deveria
me sentir tão feliz. Eu sou um porco imundo mesmo — ele conversa consigo
mesmo, me fazendo sorrir. — Vai ser bom, Anjo. Eu juro.
E foi. Droga! Foi tão bom.
Até que amanheceu e ele não estava mais comigo. Ele nunca estaria.
— Você vai estar comigo amanhã, quando acordarmos? — pergunto de
súbito e vejo a dor se espalhar por todo seu rosto. — Eu vou acordar sozinha
amanhã, Cain? — questiono, vendo seus olhos cheios de lágrimas. Droga.
— Nunca mais. Eu juro. Vou estar com você pelo resto dos nossos dias.
Todo dia você irá acordar e me ver ao seu lado. É uma promessa, Anjo. — Suas
palavras me acalmam, e, sim, eu acredito em cada palavra.
MARIE

Meu celular começa a tocar em algum lugar da casa e eu lembro que o


deixei no quarto. Cain se afasta e me segue até o andar de cima. Atendo Felicity
sob seu olhar curioso.
— Já cheguei — ela resmunga e eu aceno, mas balanço a cabeça,
sabendo que ela não pode me ver.
— Ok. Estou indo.
Desligo e passo por Cain. Ele me segue novamente e eu paro na sala ao
ter noção de que não sei como abrir o portão para ela.
— Quem é?
— Felicity. Você pode abrir para ela? Ah, e me ensina também — peço
calmamente e ele acena. Cain anda até a cozinha e só agora percebo o painel
pequeno acoplado na parede. Há uma tela do tamanho de um tablet com a
imagem de Felicity em seu carro.
— Esse é o código. — Ele coloca os números, em seguida, sua digital, e
só assim o portão se abre. — Vou cadastrar sua digital quando ela for embora.
— Obrigada — murmuro, dando passos para a sala, mas Cain me para,
segurando meu braço. Eu me viro e o encaro. Seus olhos claros medem meu
rosto inteiro e ele semicerra o olhar.
— Vou esperar no quarto. — Sua frase tem uma promessa velada e eu
sinto minhas pernas fraquejarem ao passo que meu coração acelera.
— Tá-tá — gaguejo, encarando todo o apartamento, menos seu rosto,
mas ele segura meu queixo me obrigando a ver seus olhos.
Sua boca desce até a minha e ele me faz gemer ao chupar meus lábios
devagar, demoradamente. Apoio minha testa em seu peito quando nos afastamos.
A campainha toca e eu suspiro, tentando me organizar. Cain abre a porta e minha
amiga fica nos encarando por vários segundos, totalmente confusa.
— Felicity — Cain a saúda e se retira em seguida.
Fecho a porta após puxar Felicity e ela mexe os lábios, perguntando o
que diabos está acontecendo.
— Pode falar alto, Felicity. — Sorrio e a abraço apertado. Minha amiga
relaxa e me envolve em seus braços.
— O que diabos está acontecendo? O que vocês dois estão fazendo
juntos? E de quem é essa casa incrível? — Suas palavras embolam enquanto se
afasta e excepciona o lugar.
— Minha casa? — minha resposta sai mais como uma pergunta, e a
confusão no rosto da minha amiga dá lugar a excitação.
— Puta que pariu! Vocês estão juntos? Caralho! Eu… — Ela tampa a
boca ao ouvir os palavrões que acabou de falar. — Brianna está com a boca tão
suja que estou pegando a mania dela. — Felicity geme e eu me, aproximo
puxando-a para o sofá.
— É uma loucura, eu sei. — Suspiro, cruzando as pernas. — Ele
construiu esse lugar para a gente. — Mordo meu lábio, encarando minha amiga.
— Ele me trouxe aqui hoje. Eu fiquei tão surpresa quanto você, mas…
— Mas o quê? — ela questiona desesperada. Felicity cruza as pernas
também e me encara.
— Ele disse que me ama, Felicity. — Meu queixo treme ao ver o olhar da
minha amiga.
— Nós duas sabemos que é verdade…
— Mas por que agora? — Desvio o olhar e encaro meu colo. — Eu sei o
porquê, é claro. Porém não gosto do motivo, entende?
— Já pensou que tudo estava nos planos dele? Que foi o que aconteceu
que atrapalhou? Não se martirize por isso. Vocês têm uma casa incrível, vão ter
bebês incríveis e droga, mulher, vocês se amam! É isso aí. Pare de questionar e
se joga. — Ela se inclina e toca minha mão. — Eu estou tão feliz por você…
— Obrigada. — Eu me jogo em seus braços e a aperto. Felicity sorri e
retribui com carinho. — E onde Brianna está? — questiono, sorrindo ao me
afastar. A irmã gêmea de Felicity é bem diferente dela. É uma doida, por assim
dizer.
— Vicious — ela responde, desviando os olhos de mim.
— E por que você não está com ela?
— Você sabe por que — resmunga, cutucando a unha do dedão. — Axel
me proibiu.
— O quê?! — exclamo chocada, e ela acena, revirando os olhos.
— Sou barrada na entrada, você acredita? — Felicity parece realmente
raivosa e isso é uma surpresa. Ela é meiga e carinhosa, exatamente como eu. Sua
irmã é o oposto, é claro.
— Que filho da mãe!
— Sim, ele é um idiota…
— E quando foi isso? — questiono curiosa.
— No dia que eu possivelmente fiquei com o novo barman dele? — Ela
faz uma careta e suas palavras soam como uma interrogação.
— Não acredito! — Arregalo os olhos, chocada.
— Ele é um idiota manipulador, Marie. Você não o conhece direito, mas
eu juro que ele é! — ela eleva a voz, tentando fazer com que eu concorde. —
Deve estar no sangue dos Ross, não é possível! — Seu resmungo me faz sorrir,
concordando.
— Sim, completamente — afirmo, certa disso. Cain é um manipulador
também, não tanto quanto seus primos, Kai e Hank, mas, sim, ele é.
Axel ser da família deles não é novidade, o conheci no bar dele quando
fui a primeira vez com Helena, Kai e Vanessa. Cain estava junto e eu lembro que
foi um dos dias que estive mais feliz na vida, mesmo sendo ignorada por ele a
maior parte do tempo. Minha felicidade aquele dia estava relacionada a nada
além das meninas. Elas me divertem tanto. Eu as amo.
— Mas e o barman, você gostou dele? — instigo, sabendo que não.
Felicity tem algum rolo com Axel, é nítido, mas eles nunca admitiriam. Jamais.
— Gostei. Estamos nos conhecendo — ela responde calma, e eu franzo
as sobrancelhas, surpresa.
— Por quê?
— O quê? Como assim por quê?
— Não seja dissimulada. Você gosta de outra…
— Ah, pelo amor de Deus, não continue essa frase descabida — ela
ralha, ficando completamente vermelha. — Não gosto de ninguém, eu só preciso
conhecer pessoas novas.
— E o Axel?
— O que ele tem a ver com isso? Esqueça esse idiota, Marie, por Deus.
— Ela balança a cabeça e eu olho para trás de mim, tentando esconder o sorriso.
Só Felicity para me fazer rir numa hora dessas.
Nós nos despedimos tempos depois e eu fecho a porta, suspirando. Cain
aparece exatamente nessa hora. Percebo, engolindo em seco, que a única roupa
que ele usa é uma calça de moletom que cai por seus quadris muito abaixo da
sua cintura. Seu peito liso está molhado, como também seus fios loiros. Ele anda
para a cozinha, e eu arregalo os olhos ao perceber, pelo movimento na calça, que
ele está sem cueca. Sem cueca. Deus do céu, esse homem vai ser minha morte.
— Você quer algo? — ele questiona alto da cozinha, e eu suspiro,
negando.
— Não, obrigada! Vou tomar banho… — aviso, já correndo escada
acima.
Passo bastante tempo no banho. Sim, eu estava tentando evitar Cain, mas
o banheiro é lindo e eu verdadeiramente fiquei encantada com ele.
— Você está linda — Cain murmura assim que saio. Ele está deitado no
meio da cama, com um dos braços atrás da cabeça, enquanto o outro muda os
canais da tv pelo controle remoto.
— Estou de camisola velha. — Reviro os olhos, mostrando meu vestido
fino.
— Continua linda. — Ele sorri de lado, e eu sinto meu coração acelerar.
Finjo que não ouvi e me deito na ponta da cama. Puxo as cobertas e me
cubro, ficando de costas para Cain. Eu espero paciente que ele me puxe e rasgue
minhas roupas, mas o tempo passa e percebo que ele dormiu. Eu me viro e vejo
seu peito subir e descer devagar.
Mordo meu lábio, tentando me acalmar. Droga! Eu quero esse homem.
Bufo, me sentindo deixada de lado, e vejo o canto de sua boca se erguer num
sorriso.
— Suba em mim, loirinha. — Sua voz rouca envia ondas de prazer
diretamente para o centro das minhas pernas.
— Hum, não. — Finjo estar surpresa, mas Cain me conhece melhor que
todos. Ele vira um pouco e segura minha cintura com suas mãos. Em um
movimento sem esforço algum, ele me coloca em cima do seu corpo. Sinto o
contorno do seu pênis contra minha vagina e respiro fundo, me apoiando em seu
peito.
Cain segura os lados da minha calcinha e a puxa, arrebentando-a. Ele
puxa seu membro para fora da calça e eu suspiro, nervosa, ao ser erguida pelos
quadris, para me sentar sobre ele. Mordo meu lábio, sentindo-o me alargando.
Seus braços me soltam e ele os coloca atrás da cabeça. O quarto
escurecido não me deixa ver tanto dele, mas quando ele sorri seus dentes
reluzem. Droga!
— Vamos lá, Anjo — ele me encoraja e eu subo e desço contra seu
corpo, gemendo. O prazer se constrói aos poucos, e quando estou alcançando o
clímax sinto Cain se remexer.
Suas mãos sobem e ele puxa as alças da minha camisola, expondo meus
seios. Travo, sentindo meu coração acelerar e minha respiração não chegar aos
meus pulmões. Arregalo os olhos e afasto suas mãos, tentando sair de cima dele.
— Marie? — Cain geme de dor quando saio de repente, machucando seu
membro.
Atravesso o quarto e deslizo pela parede, tentando respirar. Conto até
vinte e, quando percebo, Cain está na minha frente, abraçando suas próprias
pernas, apenas me olhando.
Sua visão faz o ataque passar. Os olhos dele parecem apavorados, mas no
fundo eu vejo uma fúria que nunca encontrei neles.
— O que foi? O que desencadeou o ataque? — Ele esfrega o rosto e
franze o cenho, olhando para seus punhos cerrados.
— Ca-cain… — gaguejo e respiro fundo. — Não quero falar sobre
isso…
— Foram os seios. Eu toquei neles e você desconectou — ele responde à
própria pergunta e sorri friamente, se erguendo.
Eu o observo andar até uma das cômodas no quarto e pegar um vaso
bonito. Ele fica o olhando por segundos até jogá-lo contra a parede. O barulho
dos estilhaços me faz ofegar.
— Cain! — Eu me ergo e vou em sua direção. Seus olhos verdes estão
escuros, completamente.
— Vou matá-lo. Juro que se eu encontrar esse homem eu vou matá-lo. —
Sua voz sai raivosa, completamente transtornada. — Eu deveria ter… — Ele se
cala e eu nego, me aproximando.
— Não ouse…
— Todos pensam isso! Todos…
— Não! Ninguém pensa isso, Cain.
— É minha culpa. Minha culpa, Marie! Você saiu por minha causa,
admita! — Sua voz se eleva cada vez mais e seus olhos se enchem de lágrimas.
— Eu fui um idiota. Como pude deixar isso acontecer…
— Não aconteceu nada…
— Não? E o que acabou de acontecer? Você fugiu de mim por eu ter
desencadeado um ataque de pânico. — Ele puxa o cabelo curto e pisca,
tremendo. — Lembrou dele…
— Não, não me lembro dele quando estou com você, eu juro…
— Então me conta o que acabou de acontecer. — Ele massageia o
pescoço e se senta na cama.
— Eu… — Abro a boca para contar, mas a vergonha se sobrepõe. — Por
favor…
— Me fala.
Mordo meu lábio superior e engulo em seco, suspirando. Eu sempre amei
meu corpo. Se tinha uma coisa em mim que eu sempre amei foram meus seios.
Eles são bonitos, nem pequenos nem grandes. Eles são cheios, e Cain sempre os
amou.
Agora eles estavam danificados. A marca da faca é grande o suficiente
para que Cain possa vê-la. Nem eu mesma consigo olhar para ela. Por que ele
olharia?
Contra todo o meu medo, me aproximo. Fico entra suas pernas e tiro a
camisola. Seus olhos correm por meu corpo e voltam para meu rosto.
— Ele me machucou, Cain — afirmo, pegando sua mão e levando-a até
meu seio. Deslizo seu dedo pela extensão da cicatriz em minha pele e sinto as
lágrimas grossas encherem meus olhos. — Cortou meu seio…
— Marie…
— Eu odeio que carrego feridas tanto emocionais como físicas. Não me
conformo. Minha cabeça está danificada; minha pele, marcada; e minha alma,
quebrada — murmuro, sentindo as lágrimas caírem. Cain segura minha cabeça
entre as mãos e me faz encará-lo.
— Não importa que ele tenha deixado essas coisas em sua vida. Você é
forte, Anjo. Você é a garota mais forte que eu conheço. Porra, loirinha, tenho
certeza de que você vai conseguir sair disso. — Ele limpa meu rosto e beija
minha testa. — E foda-se, Marie, eu estou aqui. Eu nunca vou sair do seu lado,
baby. Eu juro. Ninguém, nunca mais, vai ferir seu coração, corpo ou alma. Eles
me pertencem. Como eu pertenço a você.
— Eu te amo — digo, me segurando em seus ombros. Eu o abraço
apertado e Cain me envolve em seu colo.
Devagar, ele me leva para o centro da cama e se deita ao meu lado. Ele
nos cobre e murmura o quanto me ama. O quanto ama cada coisa em meu corpo
e coração.
Eu não sabia que poderia me apaixonar pela mesma pessoa múltiplas
vezes, mas Cain estava me ensinando que sim. Eu poderia o amar várias e várias
vezes.
MARIE

Na manhã seguinte vamos para a fazenda cedo. Cain está inquieto e eu


suspiro, lembrando que sua mãe ligou mais uma vez hoje.
— Eu poderia falar com ela, já que você não quer — murmuro, olhando
pela janela temendo sua reação as minhas palavras.
— Não quero que fale com ela. Nunca. — Sua voz irritadiça me faz
encará-lo.
— Eu só quero ajudar — respondo firme, e ele engole em seco, pegando
minha mão na sua.
— Anjo, eu conheço aquela mulher. Não deve ser nada, então, por favor
pare de falar sobre isso. — Eu aceno, mesmo sabendo que ele está errado.
Talvez seja algo importante.
— Agora me diz o que vai fazer durante todo o dia. — Seus lábios
beijam minha mão e eu derreto como uma manteiga sobre a frigideira quente.
— Trabalhar. Está mais que na hora de eu voltar — respondo
simplesmente.
— Vai fazer bem para você. — Cain sorri e eu retribuo, feliz por ele não
se opor.
Assim que chegamos à fazenda, avistamos Kai e Hank no celeiro. Os
dois acenam para a gente e Cain logo se despede de mim. Suas mãos agarram
minha cintura e ele cola seus lábios nos meus. Eu o beijo por alguns segundos,
mas me afasto, sabendo que temos plateia.
Meu rosto esquenta sob seu olhar risonho.
— Vai lá. — Ele bate suavemente na minha bunda e eu subo as escadas
que levam à casa.
Fecho a porta e me escoro nela, sorrindo ao fechar os olhos.
— Você fodeu essa noite? — Vanessa surge à minha frente, e eu grito,
assustada.
— Vanessa! — repreendo, colocando a mão sobre meu peito. — E para
de falar isso — murmuro desconcertada.
A risada de Helena surge e eu me viro, vendo-a com Kian no colo. Os
dois sorriem para mim e eu me aproximo, pegando-o em meus braços.
— Oi, querido! — Beijo sua bochecha e Helena sorri para mim.
— Vai, conta. Já sei que foi morar com o bonitão. — Ela ri, se jogando
no sofá. Quando Vanessa chegou, eu até que fiquei com ciúmes dela com Cain.
Eu via seus olhares para ele. Porém, ao vê-la com Hank, eu sabia que não
precisava ter ciúmes. Ela o amava.
— Não, não fizemos amor. — Balanço a cabeça e conto a elas tudo sobre
minha casa.

Mais tarde naquele dia, quando já estou pronta para ir para casa, eu
encontro Maria na cozinha. Ela é a cozinheira da casa e tudo que sei hoje é por
causa dela.
— Sente-se, querida — ela pede sem nem ter me visto entrar. — Fiz bolo
de cenoura com chocolate. Aquele que você gosta. — Sua voz sorridente me
acalma e eu faço exatamente o que ela me pede.
Pego um pedaço generoso e como em silêncio. Ela não fala nada e eu não
esperava que falasse. Maria é calada.
Saio momentos depois de agradecer e avisto um carro entrando na
fazenda. Vejo Felicity e Brianna juntas, mas estranho quando percebo quem está
no carro também.
— Sean? — Arregalo meus olhos, vendo-o descer do carro. Minha nossa.
Sean é irmão das duas e faz muito tempo que eu não o via. Caramba. Muito
mesmo.
Ele está enorme, forte e muito bonito. O que ele sempre foi, mas agora
está tudo acentuado. Ele virou um homem. Quando nos conhecemos éramos
apenas adolescentes feiosos e magros.
— Ei, pessoa! — Ele sorri enorme e eu pulo em seus braços, que roda,
me segurando, e sorrio, abraçando-o. — Minha nossa, como você está bonita. —
Ele se afasta e eu sorrio novamente quando meus pés tocam o chão.
— Você também! — Bato em seus braços e as meninas riem, beijando
meu rosto.
— Sean voltou para casa. Esqueci de te falar ontem — Felicity diz,
dando de ombros, e eu aceno. — Hoje ele resolveu que queria ver o primeiro
amor da vida dele…
— Felicity. — Brianna ri e Sean dá de ombros, como a irmã, rindo
também.
— É verdade — ele confirma e eu dou um passo para trás, sentindo
minhas bochechas corarem.
Sean foi o primeiro namorado que tive na vida. Meu primeiro beijo foi
com ele. Foi horrível, adianto. Éramos amigos que resolveram se beijar, no final,
passamos alguns meses namorando.
— Deixe de ser bobo. Eu estou bem, de verdade — murmuro, tentando
relaxar. Sean foi embora há muito tempo. Não preciso ficar nervosa, mas minha
consciência sabe que não é por causa de Sean. O Cowboy que possui me coração
é um turrão ciumento.
— Fico feliz. — Ele sorri e se inclina, tirando meus cabelos do rosto para
colocá-los atrás da orelha.
— Vão me apresentar o cara? — Pulo ao ouvir a voz de Cain e me viro, o
encontrando de pé a alguns metros.
Meu batimento cardíaco acelera e eu me aproximo, ficando na sua frente.
Seu braço enrola minha cintura, colando minhas costas em seu peito, e Sean
eleva as mãos, rindo.
— Cain, esse é Sean. Irmão das meninas — apresento e toco a mão de
Cain, que está sobre minha barriga. — Sean, esse é Cain, meu…
— Marido — Cain termina quando eu titubeio. Sua voz está tensa e eu
sei que está chateado.
— Oh, droga, Marie! Pensei que iríamos casar e ter aqueles anjos loiros
como imaginamos na adolescência. — Sean ri, divertindo-se, e eu sorrio,
balançando a cabeça.
— As coisas mudaram.
— Eu sei que sim. Sou o único culpado por isso. — Sua voz muda para
séria e eu engulo em seco desviando o olhar. Felicity dá uma cotovelada no
irmão e ele morde o lábio, acenando.
— Eu vou indo. Só vim ver como estava — ele volta a falar e eu aceno.
Dou um passo na sua direção, mas Cain mantém o controle sobre mim, me
forçando a ficar parada.
— Obrigada. Até mais.
Ele sai com suas irmãs e eu fico parada, esperando Cain dizer algo, mas
ele fica completamente mudo. Eu o observo ir pegar o carro e, assim que ele
para na minha frente, entro, saindo da fazenda do seu primo em seguida.
— Sean é legal. Talvez devêssemos nos encontrar, todos nós, no Vicious,
depois…
— É claro que sim — ele debocha, e eu mordo meu lábio inferior,
encarando a paisagem.
— Fomos namorados…
— Eu percebi pela merda que ele falou sobre vocês terem filhos, Marie.
Ou o modo como ele te olhou desde que desceu daquela droga de carro. — Ele
bagunça, o cabelo falando rudemente.
— Por que você está tão irritado? Eu não fiz nada — murmuro
contrariada. Suas mãos seguram o volante com força enquanto eu fico esperando
sua resposta.
— Só se jogou nos braços dele. — Abro e fecho a boca sem acreditar
nisso.
— Ele é meu amigo. Foi meu amigo por um longo tempo…
— Sei. — Ele balança sua mão em desdém, e eu aperto meu punho.
— Não estou mentindo. Antes de namorarmos ele era meu amigo. Eu
estava com saudades e foi bom revê-lo…
— Ótimo. Estava com saudades do filho da puta? Meu Deus… — Cain
pisa no acelerador, me interrompendo, e eu me seguro no banco de couro.
— Você está sendo ridículo — afirmo irritada. O que diabos deu nele? —
Já falei. Ele foi meu namorado há anos. Muitos anos. Éramos crianças. Deixe de
besteira.
— Tudo bem. — Ele acena e eu me calo, sem saber como responder.
Como assim, tudo bem? Que homem mais doido.
Vou para a cozinha assim que chegamos em casa. Preparo o jantar
rapidamente, ouvindo Cain jogar videogame. Ele ainda está tenso por Sean. Sei
que ele tem crédito por ter ciúmes. É normal, já que Sean foi meu namorado,
mas já faz tanto tempo.
Chamo-o assim que termino de colocar a mesa. Nós nos sentamos e eu
como devagar e sem falar nada. Se ele vai continuar agindo assim, problema
dele.
Ele se ergue e junta nossos pratos. Cain os coloca na lava-louças em
silêncio. Vou para meu quarto e o deixo ainda na cozinha, limpando. Entro no
banheiro para tomar banho e o escuto andando no quarto. Retiro minha roupa e
entro no box. Deixo a água deslizar por mim, me acalmando. Fecho meus olhos
e suspiro enquanto tiro o shampoo do cabelo. Escuto a porta abrir e logo sou
imprensada contra a parede. Meus seios tocam os azulejos frios e sinto meus
mamilos ficarem duros.
— Droga! — Cain resmunga e sua mão desliza pela minha barriga, em
direção ao meio das minhas pernas.
Seu peito está tenso e eu o deixo me tocar. Sua outra mão segura meu
queixo e ele me faz virar até que eu encare seus olhos. Meu coração dói com a
tristeza que vejo neles. Eu me coloco sobre a ponta dos pés e alcanço sua boca.
Beijo-o devagar e ele me vira. Suas mãos seguram minha cintura e ele
me ergue sem esforço algum. Abraço seu corpo com minhas pernas e deixo
meus lábios abertos para receber sua língua. Chupo seu lábio inferior e o deixo
dominar meu corpo. A nuvem de luxúria cobre o banheiro tanto quanto o vapor
de água.
— Droga, Marie, desculpa — ele resmunga entre os beijos e eu respiro
fundo quando seus lábios beijam meus seios.
Encaro seu rosto e solto gemidos ao sentir seus lábios se fecharem ao
redor do mamilo. Cain entra em mim devagar e eu grito ao sentir um tremor
passar por meu corpo. Ele investe contra mim enquanto me segura pela bunda e
eu grito novamente ao sentir o prazer ultrapassar meu corpo. Cain também me
segue e sua cabeça descansa em meu ombro.
— Eu sou um idiota. Desculpa, Marie. — Ele se afasta e eu aceno,
encarando seus olhos verdes incríveis.
— Amo você. Só você — murmuro e ele sorri, acenando.
— Eu também te amo. Sempre você.

Nós nos deitamos na cama, já de pijama, para assistir a algum filme. Cain
faz círculos sobre minha barriga e eu vejo seus olhos lá.
— Você quer ter muitos filhos? — Sua pergunta me pega desprevenida.
Viro para encarar seu rosto e sorrio.
— Sim — digo, sentindo minhas bochechas corarem. Sempre sonhei com
uma casa grande onde eu pudesse colocar minha família. No Natal ter todos
reunidos para festejar.
— Quantos? — ele questiona, curioso.
— Cinco — respondo rapidamente, com medo da sua reação, mas Cain
apenas sorri, acenando.
— A gente precisa treinar mais, então. Talvez o primeiro já esteja na sua
barriga. — Suas palavras me fazem arregalar os olhos.
— Sério? — Sorrio, colocando a mão sobre meu ventre. Imaginar que
posso estar grávida me faz querer pular de alegria.
— Sim, mas, para garantir… — Ele se inclina, ficando sobre mim, e
beija o meu corpo, até minha barriga, e, por último, o meio das minhas pernas.
Cain me faz gozar com algumas lambidas. Assim que ele me preenche,
meus gemidos ficam altos, desesperados. Suas mãos tiram minha camisola e
seus lábios beijam os meus de maneira faminta. Grito quando ele nos vira e me
faz colar o peito no colchão, deixando minha bunda no ar. Seus quadris investem
em mim rápido e forte, me fazendo gritar contra os lençóis. Sinto a quentura do
seu gozo dentro de mim e sorrio, imaginando meu bebê.
— Acho que ela está ávida por mais — ele grunhe, e eu gemo
novamente, tremendo. Então ele recomeça. Lento, forte, rápido e devagar.
No final, eu estou dolorida e completamente cheia.

No dia seguinte, Cain faz nosso café da manhã enquanto tomo banho.
— Como está? — ele pergunta assim que me sento em sua frente à mesa.
— Talvez grávida? — Sorrio feliz e seus olhos brilham, contentes. —
Estou ótima. — Eu me inclino e beijo seus lábios.
— Fico feliz. Depois de ontem, eu diria que com certeza está grávida. —
Sua certeza me faz suspirar. Espero que sim. — Então, eu vou com Kai para Las
Vegas amanhã — ele deixa escapar rapidamente e eu mordo meu lábio,
franzindo a testa.
Na primeira vez que foram a Las Vegas Kai veio casado, com Helena a
tiracolo. Não entendo o que vão fazer lá. E se Cain conhecer uma "Helena"?
— Vai todo mundo. Vanessa, Hank, Helena. Eles querem viajar e
resolveram ir. Então…
— Ah, entendi. — Escondo meu desagrado por ele ter que me deixar
aqui. É o seu trabalho, afinal.
— Então, como eu ia dizendo, antes de você me interromper, faça suas
malas. Viajamos amanhã. — Seu sorriso largo me dá a certeza de que ele estava
brincando comigo. Querendo me chatear.
— Você é um bobo. — Reviro os olhos e como mais ovos, tentando
esconder minha satisfação.
— Você deveria ter visto sua cara. — Ele ri mais ainda, e eu bato em seu
braço.
A campainha resolve tocar e Cain se ergue, indo para o painel. Tem uma
senhora na frente da câmera, e, antes mesmo que ele tenha chance de me dizer,
eu sei que é sua mãe.
CAIN

Ao ver minha mãe na tela pequena, eu quero quebrar algumas coisas.


Será que essa mulher nunca vai me deixar em paz? Sinto a mão de Marie
fazendo carinho nas minhas costas tensas e respiro fundo.
Nunca quis colocar Marie frente a frente com minha mãe. Ela é cruel e
joga sujo para conseguir o que quer.
— Abre, por favor — Marie pede, calma, e eu engulo em seco, clicando
no botão para abrir o portão. Eu me viro para ela e seguro seu rosto entre minhas
mãos.
— Não escute nada do que ela disser. Não estou brincando, não a escute.
Ela mente e distorce tudo. — Seus olhos azuis se arregalam com a urgência em
minha voz. Não ligo se tiver que implorar. Só preciso que ela permaneça aqui
depois de conhecer minha mãe.
— Tudo bem. — Ela acena devagar e beija meus lábios.
Vamos para a sala e eu abro a porta. Os cabelos loiros impecáveis e a
maquiagem exacerbada me lembram o tempo em que morei com ela. Sempre
vivi com meu pai até que ele morreu, quando eu tinha dez anos. Minha mãe
nunca me quis. Mas teve que querer quando meu pai faleceu. E eu sei que ela
odiou cada segundo.
— Filho. — Ela me dá um aceno e entra na casa sem ser convidada,
parando ao ver Marie no meio da casa. — Pode me trazer um copo de água? —
Nem em seus olhos ela olha. Apenas dá uma ordem.
— Cla-claro. — Marie sai da sala e vai para a cozinha. Meu Anjo volta
em segundos com a água.
— Obrigada. — Minha mãe bebe o líquido e depois entrega o copo a
Marie novamente. — Você pode se retirar agora? — Ela olha para minha mulher
como se ela fosse…
— Marie não é uma empregada, mãe — esclareço rapidamente enquanto
aperto meus punhos.
— Oh? Sério? — Ela se senta no sofá e limpa seu vestido com tapinhas
na perna. — E quem ela é? — Sua sobrancelha sobe, desafiadora.
— O que veio fazer aqui? Apenas fale e poupe meu tempo! — explodo,
vendo seu cinismo.
— Preciso de você de volta. Estou velha e cansada, não vou poder
trabalhar por mais tempo. — Suas palavras não significam nada para mim.
— Não vou. Nunca fui e não vai ser agora que irei…
— Vai viver para sempre juntando merda do gado do seu primo? Que
vergonha, Cain. Te criei para ser mais que um capataz burro. — Seu veneno sai e
Marie engole em seco, franzindo a testa.
— Mãe…
— E você não me respondeu; quem é essa menina? — Ela não olha para
Marie, apenas destila seu desdém na direção da pessoa que mais amo no mundo.
— Minha mulher — respondo firme e vejo seu rosto inflamar. Seus olhos
castanhos pegam fogo em minha direção.
— Você só pode estar brincando. — Ela ri, medindo Marie, e eu me
coloco na frente dela.
— Não, mãe, eu não estou. Essa é a Marie, minha futura esposa e mãe
dos seus netos — explico orgulhoso. Seu olhar de puro nojo vai de mim para
Marie, que se encolhe.
— Ela sabe sobre Alexis? — O puro veneno novamente me faz apertar
os punhos. — Sabe do noivado de vocês?
— Eu… — Minha garganta fecha e sinto Marie se afastar de mim. Ela
ofega e me viro para encarar seu rosto. — Você prometeu. Lembra? — Procuro
seus olhos e ela me olha por uns instantes, antes de engolir em seco e acenar.
— Alexis é filha de um dos homens mais ricos do Texas. Os dois
namoraram na adolescência e noivaram há alguns anos — minha mãe continua e
eu me aproximo dela como um foguete.
— Saia da minha casa agora! — grito, pegando-a pelo braço. Levo-a até
a porta e bato a madeira em seu rosto risonho. Como ela pode ficar feliz com
minha desgraça?
Eu me viro, procurando Marie, e a encontro se abraçando no meio da
sala. Seus olhos estão cheios de lágrimas e eu me aproximo com medo.
— Anjo — chamo, e ela eleva seus olhos.
— Ela mentiu? É mentira, não é? — Sua voz quebra e eu quero socar
meu próprio rosto. Droga!
MARIE

Eu sinto meu coração doer quando ele fica calado. Ela não mentiu. Ele é
noivo de alguém.
— Não é mentira. — Eu me curvo, soluçando, e me sento no sofá.
Seguro minha cabeça, tentando acalmar minha respiração. Todo esse
tempo entrando em meu quarto de maneira sorrateira porque estava noivo. Por
isso éramos um segredo.
— Eu era sua amante. Você deixou que eu fosse sua amante por mais de
um ano! — murmuro, sentindo minha garganta doer. Meu coração está apertado,
e minha barriga, gelada.
— Não! — ele grita e se ajoelha diante de mim. — Não foi assim…
— Eu estou saindo daqui agora e não quero ouvir sua voz… — afirmo,
tentando manter minha voz neutra.
— Não. Por favor, Marie…
— Agora, Cain…
— Eu saio. Não saia, por favor. — Percebo seu medo na tremulação da
voz. Ele se ergue e eu abraço minhas pernas.
Eu o vejo pegar suas chaves e sair. Ele me deixa sozinha na casa dele e se
retira. Como ele pôde mentir todo esse tempo? Como me usou dessa maneira?
Meu celular toca momentos depois e eu atendo Felicity. Ela diz que quer
sair para jantar e pede que eu vá também. Já jantei, mesmo assim, aceito. Não
vou ficar em casa enquanto Cain está fora, principalmente por não querer estar
aqui sem ele.
Duas horas depois estou com ela, Brianna e Sean. Os três me olham
diversas vezes tentando, talvez, entender meu rosto inchado. Sorrio para eles e
nos sentamos em um restaurante. Olho para a porta do restaurante de instante em
instante, sentindo apreensão.
— Podemos ir ao Vicious ao sair daqui — Brianna convida sorrindo, mas
eu nem preciso responder, pois Felicity toma a frente.
— Você sabe que não. — As duas se entreolham, e Brianna percebe,
mordendo o lábio, que o motivo sou eu.
— O que eu perdi? — Sean questiona, bebericando sua cerveja.
— Nada — Brianna resmunga na mesma hora que meu celular vibra,
avisando que chegou mensagem. Engulo em seco, tirando o aparelho da bolsa.
"Onde está?"
Fico olhando para a mensagem sem responder, mas vendo que só o
deixarei preocupado, teclo, avisando que estou com as meninas.
"Onde?"
"Em um restaurante."
"Sean está aí?"
Demoro para responder essa. Não sei se falo a verdade ou digo para ele
se preocupar com sua vida.
"Sei que está."
"Não é da sua conta."
"Não é da minha conta? Você sair com o idiota do seu ex é da minha
conta!"
"Vou desligar o celular."
"Não se atreva. Vou buscar você agora."
"Nem sabe onde estou."
"Você que pensa."
Ergo minha cabeça, vendo três pares de olhos em mim. Sorrio e como o
prato que pedi sem responder qualquer dúvida de Sean sobre o que Brianna e
Felicity estavam falando.
Saímos do restaurante momentos depois de terminar nossa refeição, com
brincadeiras entre os três. Sean se aproxima quando chegamos ao carro dele.
— O que aconteceu? Você está triste — ele afirma, apontando o óbvio, e
eu dou de ombros.
— Briguei com Cain — digo alto o bastante para as meninas ouvirem. As
duas entram no carro e Sean segura meu braço, me fazendo o olhar.
— Sean, entra no carro — Brianna manda, mas seu irmão sobe suas
mãos e segura meu rosto. Tento me afastar, mas seus lábios tocam o canto da
minha boca rapidamente. Eu o afasto na mesma hora, completamente surpresa.
— Sean! — grito enfurecida. — O que deu em você? Sou
comprometida… — Olho para os lados, e meu corpo treme quando vejo Cain do
outro lado da pista, ao lado do seu carro. Ele encara a mim e a Sean, balançando
a cabeça. Contrariando tudo o que eu pensava que ele faria, Cain entra em seu
carro e me deixa encarando a vaga que ele ocupava.
— Desculpa. Eu pensei que tivessem terminado…
— Nunca mais me toque assim. Eu o amo. O amo loucamente. Não
quero ninguém além dele! — grito, começando a ficar com medo. E se Cain me
deixar?
Os três vão embora, e eu fico parada, esperando algum táxi. A rua está
deserta, e o frio que sobe pela minha espinha me faz tremer. Olho para os lados,
sentindo que alguém me observa. Engulo em seco, tentando respirar
calmamente.
É ele!, minha consciência grita, apavorada, e eu nego, agarrando minha
bolsa. Não, não pode ser. Olho para os carros parados e encontro um SUV preto
parado na esquina. Não sei como ou por que, mas eu sei que é ele.
— Eu volto — ele disse e, como se o próprio estivesse ao meu lado, eu
escuto sua voz repetindo isso mais e mais.
Um táxi desponta na rua e eu balanço minha mão freneticamente,
tentando procurar abrigo. Entro no carro assim que ele para e abraço meu corpo.
Assim que chego em casa, aperto no botão para que Cain abra o portão.
Ele ainda não me ensinou como abrir por fora. Toco mais uma vez e o portão
abre. Corro para o elevador e em segundos estou dentro de casa.
Eu me encosto na porta e tento acalmar minha respiração, sentindo que
estou segura. Ele não entraria aqui.
Procuro Cain pela casa, sentindo o medo voltar, só que dessa vez era por
ele. Cain deve estar enlouquecendo por causa de Sean. Encontro-o na varanda
com uma garrafa de uísque. Ele a vira e engole uma boa dose da bebida. Sento-
me numa poltrona ao lado da dele e abraço minhas pernas. Descanso meu rosto
em meus joelhos e fico o olhando.
— Vou deixar as chaves da casa no balcão amanhã. Pedirei a alguém para
vir buscar minhas coisas. A casa é sua. — Sua voz envia ondas de dor para meu
coração.
— Não vamos nos separar — nego, tentando controlar minha voz. —
Não quero sua casa, quero você — digo, encarando seu perfil. Seu cabelo
raspado quase por completo, sua barba por fazer e seus lábios molhados da
bebida.
— Eu vi o que queria. Não precisa me dizer. — Ele sorri de lado,
completamente neutro. — Alexis está chegando essa semana. Vai ser bom ficar
com ela. — Suas palavras são carregadas de feridas. Cruéis.eu me retraio ao
pensar nele com essa mulher. Cain é meu, sei que ele me ama. Esse noivado é
uma farsa. Tem que ser.
— Não minta para mim. — Balanço a cabeça, certa de que ele está
mentindo. É claro que ele tem uma explicação sobre esse noivado. Sei que tem.
— Não diga que o que vivemos não foi real para você só porque Sean foi um
idiota e me beijou, que quer acabar com tudo…
— Minha mãe não mentiu. Eu sou noivo há muito tempo. Porém Alexis e
eu já não nos vemos mais há anos. Ela tem a vida dela, e eu, a minha — ele
explica, suspirando e fingindo não me ouvir. — Acho que sua volta vai mudar
tudo…
Eu me ergo, pegando a garrafa das suas mãos, e a jogo no chão com força
suficiente para quebrá-la. Os cacos voam e eu empurro o peito de Cain, o
fazendo quase se deitar na poltrona.
— Você é meu. Desde o dia em que me mandou ficar fora do seu
caminho. Meu, Cain. — Aponto meu dedo para seu peito e cutuco com força
onde seu coração bate. — Seu coração é meu, e eu vou ser a mãe dos seus filhos.
— Encaro seus olhos verdes e me inclino, ficando à sua altura. — Você não vai
sair dessa casa, muito menos eu — solto um grunhido, furiosa. — E eu não ligo
para essa mulher. Quero que ela se exploda. Se ela aparecer na minha frente, eu
não me responsabilizo pelos meus atos — aviso e caminho para dentro de casa.
Entro em nosso quarto e me jogo em nossa cama. Puxo o edredom sobre
mim e logo o sinto se deitar ao meu lado. Seu braço envolve minha cintura e ele
me puxa contra seu peito, cheirando meus cabelos.
— Eu te amo. — Sua voz suave me faz encher os olhos de lágrimas. —
Desculpa, Anjo.
— Eu também te amo, amor. Te amo mais que tudo na minha vida. — Eu
me viro, ficando de frente para ele. Seus olhos estão cheios de lágrimas também,
e eu levo meus dedos até seu rosto, limpando a umidade.
Nós nos abraçamos, e eu suspiro, feliz. Descanso minha cabeça em seu
peito e relaxo. O carro na outra rua volta à minha cabeça, mas afasto o
pensamento. Não vou preocupar Cain, não hoje.
— Você está bem? — Vanessa pergunta quando chegamos ao aeroporto
no dia seguinte.
— Sim. Por quê? — questiono confusa. Eu me maquiei antes de sair de
casa e minha calça jeans com botas e casaco estão bonitos e combinando.
— Porque parece que você passou a noite trepando. — Ela ri, tentando
me tirar a paciência, e eu a empurro.
— Eu passei, pra sua informação. — Eu lhe dou língua e Helena ri,
olhando para o celular. — Tudo bem aí? — pergunto, e ela sorri, acenando.
— Kian ficou. Então já sabe, estou um pouco louca com isso. — Ela
sorri e eu aperto sua mão, tentando a acalmar.
Os meninos chegam com comida e Cain me faz levantar para que eu me
sente em seu colo. Sorrio, beijando seu queixo.
— Amo você, Cowboy.
Seu sorriso ao me ouvir é enorme, e eu me acalmo diante disso. Nunca
senti tanto medo como ontem, pensar em perdê-lo me fez ficar exausta. Temo o
sofrimento que eu sentiria se nos separássemos logo depois de conhecer como é
tê-lo ao meu lado.
Depois que provei o gosto de ter esse homem comigo, nunca mais o
deixarei ir. Ele é meu.
MARIE

Assim que aterrissamos em Las Vegas, Cain me leva para o hotel. Os


outros saíram para almoçar, mas eu só quero minha cama.
— Está tudo bem? — Ele beija minha cabeça depois que tomo banho e
me deito.
— Sim, só estou cansada — murmuro sorrindo. Ele se deita ao meu lado
e me puxa para seus braços.
— Então durma.
A viagem me deixou sonolenta e muito enjoada. Nunca tinha entrado em
um avião, então eu o culpo pelo meu mal-estar. Definitivamente, eu não gosto de
voar. Adormeço por horas e quando acordo já é hora do jantar. Cain é mais
rápido que eu ao se arrumar e logo escuto seus resmungos do banheiro.
— Vamos nos atrasar. — Reviro os olhos, terminando de passar meu
batom.
— Ainda faltam cinco minutos — respondo rindo, ao chegar ao
quarto. Mordo meu lábio ao ver que seus olhos percorrem meu corpo.
— Você está linda. — Seu elogio me faz sorrir e deslizar a mão por meus
cabelos. — Vamos, por favor. Se eu ficar mais um segundo aqui…
Nem o deixo terminar de falar e corro em direção à minha bolsa. Pego-a
e rio quando ele abraça meu corpo enquanto saímos do quarto. Paramos
abruptamente ao darmos de cara com Hank e Vanessa no meio do corredor.
— Cara, vai para o quarto! — Cain grita assim que vemos as mãos de
Hank na bunda de Vanessa.
— Desculpem! — Vanessa dá um gritinho e se afasta do marido. —
Tenho um marido muito gostoso, não consigo resistir. — Ela dá de ombros,
desborrando o batom, e eu sorrio, balançando a cabeça.
Descemos juntos e encontramos Kai e Helena já sentados no bar do
restaurante.
— Quero levar vocês a um lugar — Helena diz alto o bastante para que
todos nós escutemos e troca olhares com seu marido.
— Depois de comer, Lena. Pelo amor de Deus… — Cain resmunga atrás
de mim, e eu dou uma cotovelada nele. — Ei!
— Para de ser um esfomeado pelo menos hoje! — peço, franzindo as
sobrancelhas. Cain só pensa em comer.
— É depois mesmo, não se preocupe, Cain, você vai forrar o bucho! —
Vanessa fala em português, fazendo Helena rir.
— Vocês e essa mania boba de falar em outra língua — Hank reclama,
olhando por cima da gente para as mesas.
— Só falei que ele não vai morrer de fome. — Ela dá de ombros para o
marido e nós nos encaminhamos para a mesa de jantar.
Assim que nos aproximamos, eu vejo um casal na mesa. O homem bem
mais velho está com uma das mãos em cima de uma mulher bem mais jovem. Os
dois olham para nosso grupo e o homem se ergue, sorrindo para Hank e Kai.
— Família Ross. — O homem ri e os meninos o seguem. — Uma honra
recebê-los.
— Franklin, é um prazer.
Ele abre os braços, e eu fico embasbacada ao perceber, ao longo da
conversa, que ele é o dono do prédio inteiro. O cassino fica ao lado do
restaurante e o hotel é nos andares superiores.
Meus olhos seguem para a mulher e eu vejo o interesse brilhar em sua
íris ao olhar para Hank. Seguro a mão de Cain com mais força, dando graças a
Deus que ela não está o olhando assim. Porém, no segundo seguinte, me sinto
mal por pensar assim. Vanessa vai arrancar os olhos da mulher.
— Essa é a Janine…
— Sua filha? — O veneno na voz de Vanessa surge assim que ela
percebe os olhos de mulher em seu marido.
— Uma amiga — ele responde sem jeito, e eu vejo Hank apertar a
cintura de Vanessa.
Nós nos sentamos, e a conversa se estende sobre negócios. Janine olha
para mim por um segundo e desliza para mais perto de Cain, que ficou ao seu
lado. Franzo as sobrancelhas sem entender. Ela não estava olhando para o Hank?
— O melhor vinho da cartela. — Ela mostra sua taça, se inclinando para
Cain, e eu fico tensa em minha cadeira. — Prove — Janine pede, e Cain se
afasta sutilmente.
— Minha mulher não gosta que eu beba muito — ele fala, mas nós
sabemos que isso é mentira. Eu não ligo para o quanto Cain bebe. Isso é uma
decisão dele.
— Mulher? Oh, pensei que fosse sua irmã. — Ela coloca a mão em frente
aos lábios, que formam um “O”.
— Com certeza ele não é meu irmão — resmungo, séria, e me inclino
sobre Cain, em direção a ela. — É melhor se afastar — digo suavemente, porém
minha vontade é de empurrar seus ombros.
Janine se afasta com um sorriso cínico e puxa seu vestido para baixo,
revelando mais dos seios. Vanessa está me encarando quando a avisto do outro
lado da mesa. Seu olhar de nojo para a mulher me faz querer rir.
O jantar passa sem maiores problemas, porém quando Hank se ergue,
dizendo ir ao banheiro antes de irmos, e Janine faz o mesmo um minuto depois,
vejo que Vanessa está a um passo de pirar.
— O senhor transa com essa mulher? — Cuspo água ao escutar a voz da
minha amiga.
— Vanessa, por Deus… — Helena geme e eu vejo o olhar alarmado do
Kai.
— Só estou perguntando porque ela passou o jantar inteiro flertando com
meu marido e estou a um passo de ir atrás dos dois. — Ela dá um gole no vinho
e sorri, lambendo os lábios. — Não vai ser bonito.
— Ela é uma acompanhante…
— Aperte a coleira da sua cachorra, então — ela interrompe o homem e
eu escondo meu sorriso atrás da taça de vinho.
Hank volta dando passos apressados em direção a Vanessa. Ele a ergue
pelo braço e enlaça sua cintura, a mantendo em seu peito.
— Desculpe, precisamos ir — ele avisa sorrindo, e os dois somem de
vista.
Kai eleva o celular, mostrando a todos uma conversa via WhatsApp entre
ele e o irmão.
— Ele a controla — explica, dando de ombros, e vejo Helena dando um
cutucão nele ao reclamar.
Nós nos despedimos do Franklin assim que Janine volta.
— Que bosta foi aquela? — Kai explode quando entramos no elevador.
— Meu Deus, eu pensei que Hank tivesse dito à sua irmã o quanto esse jantar
era importante. — Ele encara sua esposa e Helena cruza os braços.
— Janine estava dando em cima do Hank na frente dela. Por Deus, eu
teria feito pior…
— Vocês pensam que a gente vai enfiar a porra do pau em qualquer
buraco que encontrarmos, pelo amor de Deus! — ele fala em tom bastante alto, e
eu franzo o cenho.
— O quê?! — resmungo chocada, e Cain respira fundo quando me viro
para ele. — Quero ver se fosse um homem dando em cima de nós na frente de
vocês. É claro que vocês ficariam calmos. Hipócritas.
— Marie! — Kai resmunga, surpreso, e eu lhe dou o dedo do meio.
— Eu te amo como meu irmão mais velho, mas não abra a boca para
falar merda. Minha nossa. — Reviro os olhos e cruzo os braços. Escuto um bufar
e elevo meus olhos ao ver os de Helena cheios de lágrimas e suas bochechas
cheias. — Helena!
Eles explodem numa gargalhada imensa e eu grito frustrada, balançando
a cabeça.
— A melhor parte foi o dedo, sem dúvida — ela fala entre as
gargalhadas, assim que as portas se abrem no nosso andar.
Andamos para o quarto de Hank e Vanessa, ainda aos risos, e abrimos a
porta.
— Meu Deus… — Minhas bochechas coram quando vejo as roupas de
Hank e Vanessa jogadas pela sala do pequeno apartamento.
— Acho melhor voltarmos mais tarde… sabe, quando formos ao
cassino… — Helena sugere e nós corremos para fora do lugar entre risadas
escandalosas.

— Sabe, Kai falou a verdade. Vocês sempre pensam que vamos comer
qualquer uma… — Cain fala horas depois, pensativo.
— É porque vocês fazem exatamente isso — eu o interrompo,
bebericando o vinho.
Cain me encara, colocando o braço atrás da cabeça. O paletó se foi e
agora ele está apenas com uma calça de linho preta. Meu vestido ainda está em
meu corpo, mas os sapatos estão no canto da porta.
— Me diz com quantas mulheres você já me viu…
— Você nunca fez na minha frente. — Lambo meus lábios e sorrio. —
Mas eu sabia de todas. Cada uma delas. — Engulo a bebida e me sinto leve. —
Porém… — Cruzo minhas pernas e sorrio. — … eu sabia que as usava para me
esquecer. Sempre soube.
— Eu nunca fiquei com ninguém depois de você. — Sua voz fica rouca e
eu permaneço o encarando. — Sonhava com você todos os dias dormindo na
porra da minha cama. Eu podendo apenas abrir suas coxas e me aquecer dentro
de você. É claro que fiz os outros pensarem que eu ficava com outras mulheres.
Iriam surgir perguntas, as quais nunca quis responder…
— Você nunca quis me assumir — constato firme, o observando se
erguer da cama e se sentar na ponta dela, de frente para mim.
— Nunca quis que você conhecesse meu mundo. Isso é diferente.
— Seu mundo faz parte do meu. Eu o conheço…
— Não, Anjo. Você não conhece. — Suas mãos seguram a cadeira
acolchoada e a puxam em sua direção. Ergo minhas pernas e as coloco em cima
das suas coxas. Ficamos cara a cara e ele beija minha testa.
— Eu quero — murmuro erguendo meus olhos. Cain sorri, mas esse
sorriso não chega aos seus olhos. Pego impulso e subo em seu colo, ao me
segurar em seus ombros. — Quero conhecer cada parte de você, seu passado,
seus segredos. Tudo, Cain.
— Um dia, baby. — Ele beija meus lábios e eu sinto seus dedos
deslizarem pelas minhas coxas. Ele encontra minha calcinha. Suspiro ao senti-lo
puxar o tecido para o lado e enfiar seus dedos em meu interior.
Cain me embebe com prazer e mesmo que eu saiba que é o seu jeito de
me fazer deixar o assunto morrer, não reclamo. Nunca reclamaria.

— Você deveria ter visto — Helena fala mais uma vez sobre o episódio
do elevador para Vanessa enquanto bebemos uísque. Os meninos estão em uma
das mesas de jogos, porém nós escolhemos ficar aqui.
— Esquece isso — resmungo envergonhada, ainda escutando as risadas
das duas.
— Eu pagaria muito para ter visto. — Vanessa se inclina rindo, e eu
reviro os olhos.
— Também foi engraçado quando todos nós chegamos à sua suíte e
vimos as roupas do seu marido e as suas pela sala. — Ela para de rir
instantaneamente e suas bochechas coram.
— Vocês…
— Sim. Sua calcinha em cima do sofá e…
— Não! Para. Tudo bem, eu não vou mais rir de você…
Helena ri e eu bebo mais do meu drinque, encarando as pessoas ao redor.
Vejo Cain rindo com Hank e Kai e suspiro, sentindo frio em minha barriga.
Apaixonar-se é isso? Eu amo esse homem loucamente há um bom tempo e nunca
passou. O frio no fundo do estômago, a sensação de nervosismo.
— Não passa. — Volto a olhar para Helena e ela sorri, sua atenção
voltada para Kai. — A sensação de que ele nos tem nas mãos. Que a nossa
felicidade só se completa com a dele. — Ela bebe sua cerveja e encara a irmã.
— Eu sinto isso também — Vanessa admite dando de ombros. — Eu
sempre fui como um pássaro livre que gostava de voar. Então achei Hank. Ele é
meu ninho.
— Vocês não sentem medo? — A pergunta faz um caroço crescer em
minha garganta. — De um dia eles acordarem e decidirem não estarem mais lá?
— Não. — Helena morde o lábio e sorri. — Kai me ama além do mundo.
Sinto isso com meu coração, então eu sei que ele não vai me deixar. Logo
pensará assim também. — Ela se inclina, apertando minha mão, e Vanessa
acena, confirmando.
Os meninos voltam momentos depois e Cain se inclina, beijando minha
orelha.
— Dance comigo. — Sua voz alegre me faz encarar seus olhos
brilhantes.
— O quê? Não… — Balanço a cabeça rindo, e ele me puxa, fazendo com
que eu me erga. — Cain!
— Venha. Vamos lá. — Seu sorriso me faz acenar e o seguir entre as
pessoas até a pista de dança.
Cain segura minha cintura e me puxa contra seu peito. Descanso minha
cabeça contra ele e escuto a letra da música ecoando no cassino lotado.
Sozinho sou apenas
Metade do que eu poderia ser
Eu não posso sem você
Estamos costurados
E o que o amor amarrou
Eu nunca poderia desfazer[1]

— Eu estou aqui, Anjo. — A voz de Cain me desperta e eu elevo minha


cabeça para o enxergar.
— Obrigada por estar… — Seus dedos tocam meus lábios e ele sorri.
— Nunca agradeça por isso. Eu sou um sortudo do caralho por ter você
ao meu lado. Nunca serei merecedor de você, Marie. — Cain segura meu queixo
entre os dedos e encosta sua boca na minha. — Eu passarei cada segundo da
minha vida agradecendo. Nunca você.
CAIN

Marie envolve meu pescoço com seus braços e se coloca sobre as pontas
dos pés para alcançar minha boca. O beijo que ambos começamos vai do lento
ao necessitado em questão de segundos. Aperto sua cintura enquanto ela segura
meu rosto, tentando aprofundar mais ainda nossa carícia.
— Podemos subir, eles não vão sentir nossa falta — sussurro contra seus
lábios vermelhos do beijo. Suas bochechas coram quando ela se vira e observa
nossos amigos.
— Mas… — Eu a calo com meus lábios e Marie se derrete contra minha.
— Ok. — Seu sussurro é escasso e eu sorrio, erguendo meus olhos para Hank,
que olha de volta. Elevo meu dedo, anunciando que estamos subindo, e ele
acena.
Puxo Marie em direção aos elevadores e a prendo na parede fria assim
que as portas se fecham conosco dentro. Agradeço por não haver mais ninguém.
Seguro seu cabelo na altura da nuca e a puxo, fazendo seu pescoço ficar
totalmente à minha mercê. Beijo-o devagar antes de morder sua orelha e chupar
sua pele alva e deliciosa.
— Cain… — ela geme em meu ombro e eu deslizo minha mão pelo seu
vestido curto, subindo-o um pouco até que encontro sua calcinha úmida. — Tem
câmeras, não tem? Eu acho que tem… — ela balbucia incoerente, e eu coloco
um dos meus dedos contra seu clitóris.
— Shiu — peço, sabendo que a câmera não a pega naquele ângulo, que
estou na sua frente. Enfio lentamente o dedo pelas suas dobras e Marie
choraminga contra meu terno.
— Cain. — Seguro seu queixo com a outra mão e beijo sua boca do
mesmo jeito que mexo meus dedos contra sua boceta escorregadia. Com alguns
toques rápidos Marie suspira, gozando e espremendo meus dedos. O elevador se
abre no 37° andar.
Eu me afasto e limpo meus dedos em minha boca. A cara que meu Anjo
faz me dá a noção do quanto a noite vai ser incrível.

Dias depois…
Dois dias depois que voltamos de Las Vegas, Marie insistiu que
deveríamos oferecer um jantar de casa nova para nossos amigos. Não fui contra.
Eu até me animei, mas agora não sei se foi uma boa ideia.
Engulo mais da minha cerveja quando a vejo com suas amigas. Sei que
elas são importantes, mas, foda-se! Na última vez que elas estavam com Marie, o
fodido irmão delas estava com a língua na garganta da minha mulher.
— Marie me contou o que houve. — Escuto a voz de Vanessa ao meu
lado e respiro fundo. — Sabe, eu já vi mulheres amarem homens. Eu amo o meu
além do que posso colocar em palavras, mas Marie… — A irmã de Helena me
rodeia e para na minha frente, entre mim e Marie. — O amor dela supera o de
todos nessa sala. Quando cheguei aqui eu desvendei isso no minuto em que a vi
te olhar. Então, não seja um burro estúpido e a trate como a mulher especial que
ela é. Ou… — Ela sorri e se vira, olhando para a porta aberta que me dá a visão
completa de Sean. — Ele a pegará para si.
— O que esse…
— Você me escutou? — Vanessa traz minha atenção para seu rosto e
sorri. — Sean não importa. O que importa é como você a trata, como você prova
a ela todos os malditos dias da sua vida que você, só você, é o homem dela. E o
mais importante: que ela, só ela, é a mulher da sua vida.
Vanessa sai sem me dirigir qualquer outra palavra.
— O que ela está aprontando? — o marido da própria surge atrás de mim
e eu dou de ombros.
— Sua mulher é uma incógnita. — Saio de perto de Hank e caminho
diretamente até Marie.
O sorriso que se abre por seus lábios quando me vê faz tudo que Vanessa
me contou se assentar. Marie é a única na minha vida e eu sou o único na dela.
Sortudo, eu? Imagina.
— Vamos lá. — Pego sua mão e a puxo em direção ao centro da sala,
sem explicar nada. Pego minha taça e bato um dos utensílios contra o vidro,
chamando a atenção das pessoas. — Sei que a maioria de vocês sabe que Marie e
eu nos envolvemos há um tempo. Hoje, eu quero dizer o quanto a decisão de
estarmos juntos, nessa casa, fez parte dos meus planos. Soube que Marie me
arruinou quando a vi sorrir pela primeira vez. — Olho para ela e sorrio ao vê-la
completamente envergonhada. Beijo seus lábios e me viro. — Agradeço por
virem hoje. Cada um de vocês faz parte da nossa história, então obrigado por nos
levar na direção um do outro. — Ergo minha taça e vejo os olhos de Sean
travados com os meus. — Um brinde à mulher da minha vida.
— Eu te amo. — Marie me abraça enquanto nossos amigos brindam e eu
beijo sua testa, abraçando sua cintura.
— Eu, com certeza, a amo mais.

— Deixe-a respirar por alguns segundos — Brianna grunhe no meu


ouvido quando estou segurando Marie em meu colo.
— Brianna. — Marie ri balançando a cabeça, e eu bufo, a libertando a
contragosto. As duas saem para a varanda e eu fico para trás com Kai e Helena.
— Ela está grávida? — Kai pergunta de repente e eu semicerro os olhos
sem entender.
— O quê? Não! — Balanço a cabeça, confuso. — Por que perguntou?
— Nada, cara. — Ele ri com sua esposa e eu reviro os olhos, bebendo um
gole da minha cerveja.
Procuro Sean entre as pessoas, mas parece que ele sumiu. Não o
encontro. Deus sabe que não quero esse imbecil na minha casa. Ergo meus olhos
e encontro uma Michelle muito sorridente. Droga.
Procuro Marie, querendo avisar que sua irmã deu um jeito de entrar aqui
ou apenas escondê-la. Marie não precisa dessa cobra. Michelle nem mesmo a
visitou depois que aquele infeliz pôs as mãos na minha mulher. Ela não merece
um segundo do tempo de Marie.
— Calma — Kai resmunga e eu me viro para entender seu sussurro. Sua
esposa, Helena, está a um passo de se erguer. O olhar que carrega me diz que o
ódio que nutria por Michelle não cessou. O passado dos três é turbulento.
Eu me ergo e caminho em direção a ela. Tento me manter calmo diante
do sorriso venenoso.
— Quem deixou você entrar aqui? — murmuro assim que paro de andar.
— Muitos convidados, cunhadinho. É óbvio que um penetra apareceria.
— Michelle dá de ombros e joga os cabelos alisados pelo ombro. — Onde Marie
está? Preciso falar com ela.
— Não mesmo. — Seguro seu braço e puxo-a em direção à porta. —
Onde esteve quando ela estava no hospital ou quando passou dias trancada em
um quarto?
— Pode não gostar de mim, Cain. Mas, ela é minha irmã. Nem mesmo
você é mais importante que eu na vida dela… — Sua risada debochada me faz
parar de andar e ficar cara a cara com ela.
— Onde estava, Michelle? Me diz e eu deixo você ir até ela. — O olhar
se desviando do meu me dá a resposta que eu preciso. — Marie pode sim te
amar, mas você não a merece. Duvido que alguém mereça o amor dela. Sua
presença apenas vai relembrar o quanto você não deu a mínima para o que ela
estava passando. Vai embora…
— Cain! — um grito corta minhas palavras e eu me viro para ver Brianna
na varanda, segurando Marie.
Os braços dela abraçam suas coxas e eu sei que ela está em um dos seus
ataques de pânico só de ver seus olhos azuis. Perdidos.
Corro em sua direção, empurrando algumas pessoas no processo, e a
pego em meus braços. Eu me sento no sofá da varanda e a coloco sobre mim.
Elevo sua cabeça e beijo sua testa.
— Ei, Anjo. Olha para mim — peço, tirando os cabelos dela da frente do
seu rosto. — Meus olhos, loirinha. — Ela consegue me encarar, e eu sorrio. —
Respira fundo. Devagar… — Marie faz o que peço por alguns longos segundos
e, em seguida, seus olhos se enchem de lágrimas. Ela envolve meus ombros e eu
respiro aliviado.
— Meu Deus, que vergonha — ela geme contra meu peito, tentando se
esconder, e eu encaro todas as pessoas nos olhando.
— Acabou a festa — Hank fala firmemente e vai até a porta, abrindo-a
para todos saírem. Em alguns minutos, todos somem, apenas meus amigos
ficam.
— O que aconteceu, Anjo? — questiono preocupado, mas ela apenas
balança a cabeça.
— Ela recebeu uma mensagem e ficou assim… — Brianna me responde
e me entrega o celular da Marie.
Abro a última mensagem de um número desconhecido e sinto meu
sangue esquentar.
“Você está linda. Estou te vendo, baby. Em breve nos encontraremos
novamente.”
Aperto o celular, querendo parti-lo ao meio.
— Há quanto tempo, Marie? — questiono, a sentindo sair do meu colo.
Minha loirinha abraça seu próprio corpo e suspira, balançando a cabeça.
— É a pri-primeira — ela afirma, mas eu sinto o tremor em sua voz.
— Não mente. Não mente pra mim, porra! — Meu grito faz as meninas
pularem e eu esfrego o rosto, tentando me acalmar. — Desculpa. Me fala a
verdade.
— Ontem recebi uma, mas não sabia que era dele, eu juro. Pensei que
fosse Sean, pois era boba, apenas perguntando como tinha sido meu dia. Porém
era desse número. Só me toquei agora…
O celular de alguém toca e eu me aproximo de Marie, tentando me
manter calmo. O pensamento de ele ter estado aqui me assusta tanto que estou
entrando em desespero.
— Foram só esses os momentos, Marie? Tem certeza? Só essas
mensagens? — pressiono mais um pouco, temendo que algo aconteça com ela.
— Eu… — Ela engole em seco e encara o céu. — No dia que brigamos
eu vi uma pessoa em um carro me observando. Não vi direito, mas eu sei que era
ele. — Lágrimas enchem seus olhos e eu soco a parede, furioso.
— Você deveria ter me contado…
— Eu não tinha certeza…
— Cain, se acalma. Marie, querida, venha aqui. — Felicity abraça a
amiga e a leva para dentro de casa. Aperto o parapeito da varanda e encaro a rua
completamente escura. Ele estava vendo-a. Ele esteve na droga dessa rua
minutos atrás.
— Se você não o matar, eu irei — escuto a voz de Hank e me viro,
vendo-o parado ao lado do Kai e dos meninos da fazenda.
— Eu vou. — Era uma promessa.
— O delegado ligou agora e disse que prendeu alguns suspeitos. Ele quer
que Marie faça o reconhecimento — Kai nos interrompe e eu aceno.
— Nós sabemos que nenhum dos que está lá é ele, mas iremos amanhã
de manhã — respondo rápido.
Eu me despeço de todos eles e logo a casa está vazia. Procuro Marie pela
casa e a encontro no nosso quarto completamente coberta e encolhida na cama.
— Desculpa pelo modo que agi — resmungo e me deito ao seu lado. —
Eu me sinto incapaz. É isso, amor. Tenho medo de não conseguir te proteger…
— Só quero que ele suma. Desapareça da minha vida, que ele me
esqueça. Eu preciso disso. — Seus soluços me abalam e eu a envolvo com meus
braços e a deixo chorar contra meu peito.
Ela demora para adormecer, mas enfim entra em sono profundo. Eu, no
entanto, permaneço acordado. Meus olhos não permanecem fechados. Eu me
ergo com cuidado para não a despertar e ando até a sala. O celular em cima da
mesa de centro me atrai como um ímã.
Sento-me na poltrona e clico no número, levando o celular à minha
orelha. Toca duas vezes e logo ele atende.
— Marie. — A voz melodiosa me faz fechar os punhos.
— Eu vou matar você — minha voz rouca e firme ecoa e escuto sua
risada.
— Eu matarei você. No momento em que Marie voltar para mim. Porém
tudo no seu tempo. Curta seu corpo enquanto há tempo. Logo você não terá nada
dela, a não ser imagens e pensamentos.
— Eu tenho pena de você. Psicopata inútil. Esqueça minha mulher, em
breve vou descobrir quem você é e nada nessa fodida cidade vai me impedir de
matar você. — Aperto o celular enquanto sua risada aumenta.
— Eu estou embaixo do seu nariz e você não me vê. Quem é o inútil
agora, Cain? — Ele desliga e eu jogo o celular contra a parede, tomado pela
fúria.
Não importa quem seja, eu vou destruí-lo.
ELE

Assim que jogo o celular em cima da mesa, deslizo meus dedos pelo seu
sorriso em uma das muitas fotos que estão pela parede. Minha. Marie está em
frente ao restaurante sorrindo para uma das suas amigas. Relembro como foi vê-
la sorrindo para mim naquele bar quando estive a um passo de tê-la para sempre
e suspiro.
E então você estragou tudo depois. Balanço a cabeça e peço para a voz
calar a boca. Admite, você estragou tudo com seu desespero estúpido. Foda-se.
Logo a terei novamente e tudo vai ser como eu quero. Se não agir como um
adolescente na puberdade, talvez.
Retiro a faca pequena e afiada da imagem ao lado e um corte que vai da
testa ao queixo do homem que a beijou em frente ao restaurante surge. Sorrio
enquanto deslizo por todo seu corpo e suspiro satisfeito quando a foto se parte e
seu corpo também.
Eu me ergo e encaro a rua pela fresta da janela. O sol está nascendo e
com ele meu novo dia. As fotos brilham com os raios de sol e eu relaxo vendo
todas as fotos dela pelas paredes reluzirem.
Eu a desejo há tanto tempo que não lembro quando começou. A única
coisa que sei é que Marie nasceu para ser minha. Eu soube disso desde o
primeiro segundo que a vi.
MARIE

A luz do sol entra pela fresta da cortina e eu levo a mão ao rosto, me


escondendo. Em instantes, tudo que aconteceu ontem volta e eu me surpreendo
ao não sentir nada. Apenas dormência.
Quando crio coragem e me levanto, Cain está longe de ser visto, por isso
uso meu tempo no banheiro tomando banho e me arrumando para o trabalho.
Visto calça jeans e um moletom, vendo que o tempo, mesmo com o sol, está um
pouco frio.
Escuto a porta central abrir e caminho para a sala. Sorrio ao encontrar
Cain deixando uma sacola em cima da mesa de centro. Eu me aproximo quando
seus olhos se fixam nos meus.
— Você está bem? — Sua preocupação me faz relaxar mais ainda.
— Sim. Onde esteve? — questiono, ficando na sua frente.
Cain abraça minha cintura e sua boca desce até a minha. O gosto da pasta
dental ainda está pelos seus lábios e eu solto gemidos quando aprofundamos a
nossa carícia.
A mão esquerda dele aperta meus cabelos e puxa, lhe dando acesso ao
meu pescoço. Em alguns minutos, estamos no sofá, embolados um no outro,
tentando tirar nossas roupas.
— Responde minha pergunta — peço, puxando meu moletom e abrindo
meu sutiã. Os dedos frios de Cain torcem meu mamilo e eu me esfrego contra
seu colo.
— Comprando um presente… — Ele engole as palavras assim que
abocanha meu seio. Uma das suas mãos abre minha calça e eu me afasto,
retirando-a completamente. Volto para seu colo e suspiro vendo seu membro
livre e duro. Seus dedos calejados puxam minha calcinha fina para o lado e seu
dedão fricciona meu clitóris antes de ele me preencher.
— Qua-qual presente? — pergunto, sem fôlego, e grito assim que suas
mãos me erguem pela cintura e me puxam com força para baixo. Sua boca volta
para meus seios e eu esqueço o que perguntei.
Pelo menos até estarmos suados e satisfeitos no sofá minutos depois.
— Isso. — Cain pega a sacola e coloca na minha frente. Ainda estou em
seu colo e ele ainda está dentro de mim. Abro-a rapidamente e encontro um
celular novo. Um caro, que eu nunca conseguiria pagar.
— Cain… — Franzo as sobrancelhas e encaro seu rosto. — Eu já tenho
um celular…
— Eu o quebrei ontem, Anjo. Desculpe por isso. — Ele tira meus cabelos
do meu rosto e eu arregalo os olhos.
Não pergunto o motivo de tê-lo quebrado, pois sei que ontem foi difícil
para nós dois. Porém o maior motivo de eu não perguntar está relacionado
apenas àquele demônio. Não preciso trazê-lo para dentro da minha casa.
— Obrigada, amor. — Beijo seus lábios e me afasto, começando a
configurar o aparelho.

Olho para cada homem diante de mim, separados de mim por um vidro, e
suspiro, balançando a cabeça. Eu sabia que ele não estaria aqui. Porém Cain
disse que deveríamos vir. Cá estamos nós e nada. Não é nenhum dos homens à
minha frente.
— Nenhum. Não é nenhum deles — respondo novamente ao Jordan,
detetive que ficou com meu caso, e ele acena frustrado.
— Liberem o pessoal. — Ele nos guia para sua sala e eu me sento
enquanto Cain fala sobre ontem. Estremeço quando ele conta que teve uma
conversa com o cara pelo celular, ontem de madrugada.
— Cadê o número? Podemos tentar rastrear a ligação. — Jordan sorri
entusiasmado, mas balanço a cabeça.
— Quebrei o celular. Não sabemos. — Cain parece até envergonhado,
mas o homem apenas pede o celular e diz que vai tentar recuperar.
Saímos da delegacia minutos depois em direção à nossa casa. Kai nos
liberou hoje, pois, depois de ontem, eu não estou preparada para encarar meus
amigos. Imaginar o que eles devem estar pensando depois de me verem tendo
um ataque de pânico me faz estremecer. Sei que eles me amam, mas ainda não
me sinto bem sabendo que eles me viram em um momento de fraqueza tão
grande.
Cain estaciona em frente à nossa casa e eu ergo meus olhos do celular
novo para o encarar, confusa, já que ele sempre abre o portão de dentro do carro.
Ergo meus olhos e encaro uma mulher morena e alta parada ao lado de um carro
luxuoso. Franzo as sobrancelhas quando Cain desce do carro. Encaro seu corpo
se distanciando e fico parada, sem saber o que fazer.
Vejo os lábios dela se esticarem e meu estômago revira quando enfim
entendo. É a Alexis.
Desço do carro sentindo minhas mãos tremerem. Ando até eles e Cain
segura minha mão ao me puxar para perto. Fico satisfeita mesmo que pareça
uma bobagem.
— Alexis, essa é Marie. — A mulher sorri para mim e dá um passo em
nossa direção.
— Oi! Prazer em conhecê-la. — Ela sorri e eu estendo minha mão, a qual
ela aperta se afastando, em seguida. — Como você está? — Seus olhos se
dirigem para Cain e eu também o encaro.
— Estou ótimo. Então, voltou realmente? — A conversa se estende e eu
a escuto responder que sim enquanto mexe em seu cabelo escuro.
— Podemos jantar essa semana? Preciso conversar com você. — Alexis
sorri, encarando meu rosto e depois o de Cain.
— Claro. Também preciso conversar com você.
Nós nos despedimos de maneira metódica e logo estamos dentro de casa.
Cain se senta no sofá e fica calado enquanto eu vou direto para a cozinha.
Esquento a comida que sobrou ontem e sirvo para nós dois.
— Você não achou estranho sua ex aparecer aqui? — pergunto curiosa.
Mordo meu lábio, encarando seu rosto. Não senti vibe ruim vindo de Alexis, mas
com certeza algo a fez vir até aqui, e eu quero saber o quê.
— Sim, por isso quero conversar com ela. Deixar claro que essa merda
de noivado acabou. — Cain dá de ombros e leva uma colherada de arroz e
legumes à boca.
— Ok.

No dia do jantar Cain, me ajuda a subir o zíper do vestido justo enquanto


eu passo batom.
— Você está linda. — Ele beija meu pescoço e eu sorrio, agradecida. —
Não gosto da ideia de você dormir longe. — Ele encara meus olhos pelo espelho
e respiro fundo, me virando.
— Vou ficar bem. As meninas vão me entreter muito, mas ainda sentirei
sua falta. — Pisco, tentando amenizar a tensão, mas Cain suspira se afastando.
Pego minha mochila em cima da cama e minha bolsa de colo. Depois do
jantar irei dormir na fazenda de Hank. A Vanessa inventou uma noite das
meninas e todo mundo meio que me obrigou a ir. O único que não parece tão
feliz é o meu futuro marido.
— Tudo bem. Vamos lá. — Ele me guia até a sala e vamos embora.
Assim que chegamos ao restaurante avisto Alexis. Seu cabelo liso
escorrido é preto e eu invejo seu corpo curvilíneo. O sorriso que ela dá a Cain
faz um incômodo crescer em meu ventre.
— Boa noite! — Ela sorri se erguendo e me cumprimenta com um aperto
de mão, porém com Cain os braços crescem e ela o envolve.
— Boa noite, Alexis — dizemos juntos e eu me sento, já bebendo a água
que o garçom nos serve.
Fazemos nossos pedidos sob comentários alegres de Alexis sobre o
restaurante e de Cain a respondendo. Eu permaneço quieta e atenta.
— Então, o motivo desse jantar… — Alexis pausa a fala e limpa os
lábios com o guardanapo de linho. — Estou noiva. — Seu anúncio me faz
arregalar os olhos e sinto meus lábios se esticarem involuntariamente. Droga, eu
sorrio grande.
— Fico feliz, pois eu também estou. — Cain ri, pegando em minha mão,
e eu o acompanho.
— Eu voltei para cidade para ajustar algumas coisas, mas logo voltarei
para Nova York. Meu noivo é de lá e… enfim. Eu só queria deixar tudo claro.
Nosso noivado foi meio que uma coisa arranjada pelos nossos pais e nunca achei
de verdade que nos casaríamos. É meio bobo. — Ela ri explicando e eu bebo
mais água, agora relaxada.
— Concordo com você — Cain afirma, e nós três emendamos uma
conversa legal e calma até nos despedirmos.

— Não gosto disso — Cain murmura assim que para em frente à casa de
Hank e Vanessa. Vejo os carros das outras meninas estacionados e me viro para
meu noivo.
— Vai ficar tudo bem. Relaxa. — Seguro seu rosto e me inclino para
beijar sua boca. — Amanhã vou estar bem aqui, esperando você. — Ele me puxa
para seu colo, e eu me sento, sorrindo.
— Qualquer coisa me liga. Vou voltar para te buscar na hora. — Eu
aceno para o acalmar e sua boca reivindica a minha.
Pulo assustada quando a porta é aberta e uma Vanessa irritada surge.
— Não seja melodramático. Podem transar amanhã quando ela chegar
em casa. Meu Deus, Cain — ela fala enquanto me puxa de dentro do carro. Cain
revira os olhos e eu tento abafar meu sorriso.
— Até amanhã, baby. — Beijo seus lábios e Vanessa termina de me
arrastar em direção à casa dela.
— Se acalma — peço rindo enquanto ela continua me puxando em
direção à casa.
— Não. Ele vai já sair desse carro e te colocar sobre os ombros.
— Quê? É lógico que não…
— Marie! — a voz de Cain me corta e eu viro meu rosto para o ver
saindo do carro como Vanessa disse. — Vem, vamos embora…
— Nem fodendo, bonitão. — Eu entro na casa e Vanessa bate a porta,
fechando-a bem na cara dele.
Escuto risadas e me viro para ver Felicity, Helena e Brianna. As três
estão sentadas no sofá de Hank, comendo pipocas. Caminho em direção às três
com Vanessa ainda resmungando e me sento ao lado de Felicity.
— Enfim, sós! — Vanessa anda pela sala e morde sua unha longa com
um suspiro profundo. — Tenho uma coisa pra contar, mas não sei como…
— Fala de uma vez. Nem vem com drama, pois preciso das minhas
lágrimas para os filmes que Felicity trouxe — Brianna corta Vanessa rindo e a
minha amiga quase a mata com um olhar.
— O que foi, Vanessa? — questiono suavemente. Nunca a vi tão fora do
seu habitat.
— Fala, vai. Estamos aqui para qualquer coisa. — Helena sorri
encorajadora e a sua irmã se senta na mesa de centro, sorrindo nervosamente.
— Eu…
— Vanessa? — a voz estrondosa de Hank a interrompe e ela se ergue e
vira para o marido, que está de pé na escada. — Os meninos estão lá fora,
pedindo para entrar. Você os proibiu? — Ele vai em direção à porta e Vanessa
coloca as mãos nos quadris.
— É a noite das meninas, não dos idiotas que não conseguem controlar
seus paus por uma noite! — ela grita nervosa, e Hank cruza os braços, a
encarando.
— Se fosse na casa de qualquer uma delas, você não iria. Não durmo sem
minha mulher, foda-se! — Ele nos encara totalmente sério e eu dou de ombros.
— Eles vão entrar agora. Nada de show, vou levá-los para a sala de jogos no
andar de cima. Vocês podem ficar aqui ou irem para um dos quartos.
— Jesus Cristo, não quero o diabo em forma de homem para ficar me
encurralando em canto nenhum. Vocês são loucas — Brianna resmunga,
revoltada, e eu e Helena começamos a rir.
Em segundos Kai, Cain e… Axel entram. Que diabos?
— O que ele está fazendo aqui? — Felicity se ergue rapidamente,
cruzando os braços.
Axel fica em completo silêncio e anda até Felicity calmamente. A tensão
entre os dois cresce tanto que eu quase corro em direção à porta.
— Estou em casa, Felicity, já você… — Ele sorri em desdém, e ela se
afasta, indo em direção a Vanessa.
— Estou indo — ela murmura e eu acordo e vou em sua direção.
— Amiga, por favor, a Vanessa preparou tudo pra gente…
— Você sabe o que ele fez, Marie. Me expulsou do bar, me baniu de lá!
— Ela aponta para ele, histérica, e eu aceno sabendo bem.
— O quê?! — Hank e Kai gritam surpresos e Axel cruza os braços, sem
vergonha nenhuma.
— Ele me tirou pelo braço. Não posso nem mesmo colocar meus pés na
porta daquela merda de bar. Me envergonhou na frente da cidade inteira…
— O que deu em você, cara? — Kai se aproxima do primo, que se afasta,
erguendo os braços.
— Ela beijou um dos meus funcionários — ele anuncia, como se Felicity
tivesse o desferido um golpe de faca.
— E o que é que tem? Você nunca ligou para… — Hank para de falar
assim que entendimento preenche seu rosto. — Droga. Vamos subir…
— Não! — Vanessa grita, andando em minha direção, e tira à força a
bolsa de Felicity, que está ao meu lado. — Agora que estamos reunidos e que
você não vai para lugar nenhum, me deixem falar. — Ela respira fundo no meio
da sala e volta a sorrir. — Eu estou grávida!
Todos na sala arregalam os olhos e eu começo a gritar e pular com as
outras meninas enquanto os homens se revezam abraçando Hank. Seu olhar
assustado e desnorteado me diz muito sobre essa surpresa.
— Vanessa, sua diaba, você está grávida? — Os dois se encontram no
meio da sala e ela acena, com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim, Cowboy. — Hank limpa as lágrimas dela enquanto Cain me
puxa para seu peito.
Limpo meu rosto emocionada e chega nossa vez de abraçarmos Vanessa.
Eu me aproximo, sendo a última a cumprimentá-la.
— Meu Deus, você já é tão incrível sendo mãe da Audrey. Parabéns,
amiga. Eu amo vocês. — Abraço Vanessa e beijo sua bochecha me afastando.
— Eu amo vocês também. — Ela beija minha testa e me abraça apertado.
Axel e os meninos sobem enquanto ficamos na sala assistindo a filmes.
Quando passa das três da manhã, acordo quando sinto Cain me pegando no colo.
Bocejo cansada e sorrio. Não vejo nenhuma das meninas, mas quando me ergo
vejo o celular de Brianna tocando. Logo ela aparece, esfregando os olhos.
— Droga, vou matar o infeliz. — Cain ri do resmungo dela e me ajuda a
me erguer.
— Vamos, baby. Preciso dormir. — Ele beija meus cabelos e eu caminho
para longe dando, tchau a Brianna.
— Co-como? — Brianna grita, me assustando, me fazendo virar para
olhá-la e seu rosto sem expressão me faz arrepiar. — Não! Mãe, não, por favor,
não, não, não…
O choro desolado me faz correr em sua direção. Felicity também surge e
os outros aparecem em segundos.
— Brianna, o que houve? Brianna? — questiono, me ajoelhando à sua
frente, e o celular desliza por seus dedos. Pego o aparelho e deixo Felicity com a
irmã. — Alô? O que aconteceu?
— Ele o pegou. O homem que machucou você pegou Sean. — Minhas
pernas amolecem e eu despenco ao chão.
MARIE

Todos me dizem para eu não me preocupar. Os raios de sol aparecem e eu


me sinto entorpecida. Os olhares de Brianna e Felicity me cortam ao meio. Elas
parecem destruídas. Ele pegou Sean ontem depois que o irmão das minhas
amigas as deixou na casa da Vanessa.
— Ele vai matá-lo — murmuro para Cain, tremendo violentamente.
— Não vai. Lógico que não. — Ele balança a cabeça e descansa sua testa
na minha. — Não estamos ajudando em nada, Anjo, vamos para casa, por favor.
— Seu pedido é ouvido por todos na sala da família das meninas.
A mãe dos três me olha de instante em instante, e eu sei o que se passa
nos pensamentos dela. Minha culpa. Sean pode estar morto e eu estou aqui,
sentada na sala dos pais deles. É uma afronta.
— Me desculpem, eu sei que isso é culpa minha… — murmuro olhando
para minhas amigas e para os pais delas.
— Não, não é — os pais delas negam e as duas balançam a cabeça. —
Sabemos que ele é um monstro. Ficou claro no bilhete e ligação. Ele só queria
nos avisar que Sean estava à sua mercê. Ele é louco, Marie. Não é culpa sua…
— Mas deve ter alguma conexão. Não é coincidência…
— Ele viu Sean te beijando — o detetive Jordan, que está aqui colhendo
depoimentos, chega a uma conclusão, e eu ofego, balançando a cabeça. — Pode
ser isso. Pense bem. Você disse que o viu aquela noite.
— Oh, meu Deus…
— Ele é um psicopata, Marie, e ele está obcecado por você. Ele deve
estar agindo por ciúmes. Precisamos proceder e rápido, senão…
— Sean pode morrer — Axel completa ao sair de um dos cantos da casa.
Ele encontra Felicity entre Brianna e Helena e seu rosto suaviza. — Precisamos
pegar esse desgraçado.
Soluços crescem em meu choro e Cain me arrasta para longe de todos.
Foi isso. É claro que foi isso. Peço a Deus que ele deixe Sean livre, mas eu sabia,
no fundo do meu ser, que ele não faria isso.
Horas se passam e, quando os policiais voltam, dizendo que não
conseguiram encontrar nenhum vestígio de Sean, meu celular toca. Meu coração
acelera quando o número desconhecido aparece.
— Pode ser ele — Jordan avisa quando mostro o celular a ele. —
Atenda…
— De jeito nenhum. Eu falo com ele. — Cain balança a cabeça furioso e
eu puxo o celular contra meu peito. — Marie…
— Devo isso a Sean — murmuro e clico na chamada, colocando no viva-
voz em seguida. — Alô?
— Oi, amor. Tudo bem? — Um rastro de arrepios se alastra por minha
pele ao ouvir a voz dele. Minhas mãos tremem e as batidas do meu coração
aceleram quando flashes da noite em que o conheci invadem minha mente.
— Onde está Sean? — questiono tentando focar no presente.
— Você está bem? Tenho que confessar que ando muito ansioso para te
ver novamente. — Escuto a risada em sua voz e me sento no sofá de frente para
todo mundo.
— Eu quero meu amigo. — Engulo em seco e tiro meu cabelo da frente
do meu rosto. — Ele não tem culpa…
— Marie, eu sei que ele quer você. Ninguém pode te ter. Só eu. —
Aperto minhas pálpebras, temendo olhar para Cain. — Ele vai ser o próximo,
Marie. Porém ele vai sofrer o dobro.
— Oh, meu Deus. — O celular desliza da minha mão e cai no chão.
Cubro minha boca assim que meu grito ultrapassa minha garganta.
— Foda-se! — Cain cai ajoelhado na minha frente e segura minha cabeça
entre as mãos.
— Eu amo você, Marie — o demônio sentencia.
A ligação cai e Jordan corre até o celular, sorrindo.
— Vamos pegar esse desgraçado. O rastreio deu certo, temos um
endereço. — Todos se erguem e parecem esperançosos, mas eu me concentro
apenas no homem diante de mim.
— Ele nunca chegará perto de mim, Marie. Nunca. — Cain me faz
encará-lo com firmeza e eu balanço a cabeça, sentindo as lágrimas encharcarem
minhas bochechas. — Não se preocupe comigo, Anjo…
— Cain, e se…
— Não. Não pensa nisso. Jordan vai encontrar aquele desgraçado e o
Sean, não fique preocupada, por favor…
Todos falam o mesmo tempo durante os próximos minutos, mas a única
coisa que está em minha cabeça é a voz dele dizendo “ele vai sofrer o dobro”.

— Eu quero ir — digo a Cain quando os policiais entram nos carros para


irem até Sean.
— Não, de jeito nenhum. Marie, não podemos arriscar — ele murmura
ansioso e eu engulo em seco. — Vamos para casa. Esperaremos notícias lá.
— É minha culpa, Cain, eu preciso ir. — Eu me afasto de suas mãos e
ando rápido para o carro de Jordan, escutando-o me seguir.
— Marie. — O detetive acena e eu entro em seu carro rapidamente. — O
que está fazendo?
— Eu vou. Preciso ir — afirmo com convicção e vejo quando Cain abre
a porta ao meu lado e me tira de dentro do carro em seguida. — Cain! Pare…
— Vamos no meu, Marie. — Ele me leva até o carro e nós dois entramos
em silêncio.
Até o endereço que o rastreamento da ligação resultou ficamos calados.
Sei que ele é contra, mas estou tentando fazer o que é certo.
— Vocês ficam aqui. — Jordan ordena assim que os carros param e
cercam uma casa pequena. Não tem nenhuma outra propriedade ao redor e eu
estremeço quando tenho certeza de que, sim, essa é a casa.
Os policiais invadem o local assim que Felicity e Brianna chegam com
seus pais e Axel. Por alguns minutos ninguém fala absolutamente nada, até que
Jordan sai de lá com documentos nas mãos. Eu só preciso ver seu rosto para
saber que ele não estava lá.
— O psicopata não está aqui…
— E Sean? Onde ele está? — Felicity questiona tremendo e tentando
limpar o rosto.
— Ele está lá dentro, mas… — Jordan abaixa a cabeça e minhas pernas
enfraquecem. — Eu sinto muito.
Eu não sei dizer o que de fato aconteceu nos próximos instantes, porque
foi um borrão. Senti-me fraca, como eu sei que sempre fui. Porém agora eu
estava morta por dentro. A única coisa que eu escuto se repetindo mais e mais é
que a culpa era minha.
Sean foi morto por minha causa.
Eu era a culpada.
E o próximo seria Cain.
“Ele vai sofrer o dobro.”
MARIE

Sean foi morto a tiros e torturado com facas. Ele sofreu muito e, à noite,
quando coloco a cabeça no travesseiro, eu posso imaginar tudo o que ele passou
nas mãos daquele doente. É angustiante e me fere. Destrói-me, porque eu o
amava, não como homem, mas como um alguém que fazia parte da minha vida.
Não consegui ir ao seu velório, como eu poderia? Deus, eu sou a culpada.
Felicity e Brianna devem estar me odiando, e eu não as culpo. Penso que no
lugar delas eu também estaria.
Bebo mais do café em minhas mãos enquanto Cain está dormindo. Meus
olhos estão cheios de lágrimas e a cada respiração profunda que seu peito sobe e
desce eu estremeço. Eu devo isso a ele, Cain me salvou de mim mesma. Me pôs
em um trono e eu não posso deixar alguém machucá-lo como aconteceu com
Sean.
Eu não me perdoaria. Nunca.
— Ei! — Cain se senta ereto e sorri, sonolento. Um sorriso que me
enfraquece pelo que preciso fazer. — O que… — Seus olhos voam do meu rosto
para as malas ao meu lado e a expressão dele me faz ofegar. Dor. Crua.
— Eu amo você. — Sorrio e coloco a xícara na mesinha ao meu lado.
Meus dedos finos tremem e eu abraço minhas pernas ao voltar a encarar seu
rosto.
— Marie…
— Como eu te amo, mas não posso pôr você em risco dessa maneira. —
Balanço a cabeça e me lembro de ontem, dia do velório do irmão das minhas
amigas, onde nem mesmo eu consegui me encarar enquanto perambulava pela
fazenda. Sozinha. Todos foram dar adeus a ele, menos eu e Cain.
— Marie, eu vou dizer isso apenas uma vez. Nem uma a mais. — Cain se
ergue e seu corpo beijado pelo sol aparece vestido com apenas uma cueca boxer.
— Coloca as suas coisas no lugar e volta pra cama. Não me importo com
ninguém, nem comigo mesmo, se eu for te perder. Eu vou matar esse Patrick,
juro por mim mesmo. Ninguém vai te ferir ou a mim, então me poupe de dar
palmadas em você por tentar isso. — Sua voz furiosa me faz pular em sua última
frase.
— Eu estou convicta. Não podemos mais ficar juntos. Estou voltando
para a fazenda. — Ergo-me assim que ele fica na minha frente. — Eu não posso
perder você, Cain, por favor, me deixe ir…
— Eu nunca poderia, Marie. Você é meu coração todo, como vou viver
sem meu maldito coração? — O homem enorme cai de joelhos e eu volto a me
sentar para descansar sua cabeça em meu colo. — Não vai me deixar.
— Eu te amo. Deus, como eu te amo. Você é o único homem que entrou
em meu coração, corpo e alma. Eu pertenço a você para sempre, mas hoje não
podemos ficar juntos. Entenda.
— Você não vai…
— Venham! — grito, e a porta se abre com um estrondo. Kai e Hank
tiram Cain de cima de mim à força e o dono da minha vida se debate, tentando
escapar. — Me perdoa — balbucio tremendo. Limpo minhas bochechas
molhadas enquanto pego minhas malas.
— Você vai se arrepender disso, Marie. Eu juro! — Seus gritos me
acompanham até o andar de baixo, e quando estou com Helena e Vanessa no
carro ainda consigo escutar seu grito enfurecido.

— Você vai ficar bem? — Helena fica parada na porta de braços


cruzados enquanto eu me sento na minha cama antiga.
— Não se preocupe. Vou ficar bem — tento sorrir, mas sei que o gesto
não saiu como eu queria.
— Eu sei que não quer ouvir isso. — Vanessa entra no quarto e se senta
na poltrona à minha frente. — Mas o que está fazendo? — Minha amiga me
encara séria e eu respiro fundo.
— Não posso perder ele, Vanessa. É o certo a se fazer…
— Sério? Porque todo mundo está achando que isso é loucura. — Ela
arqueia a sobrancelha e cruza os braços. — É questão de horas até ele conseguir
entrar nessa casa. Nossos homens são difíceis, mas eles não aguentam muito
tempo longe de nós.
— Pode ser, mas preciso que o… — Nem o nome do maldito eu consigo
pronunciar. — …pense que acabou tudo. Pelo menos até Jordan encontrar ele.
— Você que sabe, mas quando ele chegar, ninguém vai detê-lo. Serão
você e ele. Somente. — Vanessa aperta minha mão e eu aceno, pois sei que é
verdade.
— Vão ficar bem. Eu sei que sim. — Helena sorri e se despede com sua
irmã.
Helena e Vanessa saem do quarto e eu começo a andar por ele,
preocupada. Sei que Cain vai entrar na fazenda cedo ou tarde. Ele trabalha aqui,
afinal. Esfrego meu rosto e ando até a janela. O pasto vasto me faz respirar
fundo e mais calma, então em um segundo sei o que me fará ficar mais relaxada.
Saio da casa e ando até o celeiro. Jimmy está de pé com Destiny ao lado
e eu me aproximo.
— Como você está? — Seu sorriso pequeno me faz perceber e me
lembrar da noite em que todos estavam lá em casa.
— Bem. Jimmy, desculpe por ter presenciado aquilo tudo. — Mordo meu
lábio retorcendo minhas mãos. — Eu pensei que estava bem… mas…
— Você não tem que fazer isso. Ninguém precisa de explicação, Marie.
Ninguém. Não faça mais isso. — Ele se aproxima e limpa minha bochecha, que
eu nem percebi estar molhada.
— Eu… — Engulo em seco e me jogo em seus braços, temendo
desmoronar.
— Eu sei que pensa que precisa proteger Cain, Marie, mas isso vai
arruinar aquele homem. — Suas palavras me fazem afastar. — Ele te ama mais
que qualquer pessoa no mundo e a gente não pode te proteger… não como ele…
— Como assim? — Enxugo meu rosto, encarando os olhos castanhos do
meu amigo.
— Tem pessoa mais apta a cuidar e proteger um filho que sua mãe?
— Não — respondo, mesmo achando tudo isso estranho.
— Isso mesmo e o motivo de apenas ela poder protegê-lo melhor que
todos é porque ela o ama além da vida, Marie. Cain não é sua mãe, é obvio, mas
é a pessoa que mais te ama. Ninguém nunca vai te proteger como ele.
As batidas irregulares do meu coração alcançam meus ouvidos e eu sinto
meu queixo tremer. Aceno para Jimmy e beijo sua bochecha para me afastar em
seguida.
Pego Troia e o monto minutos depois. Jimmy pede que eu tenha cuidado
segundos antes de eu voar pela fazenda. Abraço o pelo de Troia, sorrindo por ele
relinchar em resposta. Cavalgo por quase toda a fazenda e quando decido voltar,
pegando a estrada de terra que limita os terrenos de Kai e Hank, paro
abruptamente quando vejo um carro. Seguro as rédeas de Troia mais forte, até
fazê-lo parar.
Meu corpo treme e minha respiração fica superficial. A porta do carro se
abre e eu quase caio do cavalo ao ver minha irmã. Suspiro profundamente,
aliviada, e desço de Troia.
Faz muito tempo que não vejo Michelle. A última vez que tentei me
aproximar foi quando ela perdeu o bebê que esperava anos atrás e não foi um
bom momento.
— O que está fazendo aqui? — questiono, amarrando as rédeas de Troia
na cerca.
— Como você está? — Ela cruza os braços e se encosta no carro. Eu me
aproximo, suspirando.
— Bem, e você?
— Indo. Fui na festa que deu. Até conversei com seu namorado, mas ele
estava tentando me colocar para fora, então… — Ela sobe os ombros e seus
cabelos loiros balançam.
— Desculpe. Ele só estava tentando me proteger…
— De mim? Eu sou sua irmã… — Eu a interrompo para explicar.
— Eu sei. Porém não é de você. É das emoções. Qualquer uma —
murmuro incerta. Cain não falou sobre Michelle ter ido à festa, mas infelizmente
não o culpo. Eu estava fora de mim.
— Só queria saber se está bem.
— Eu estou. Quero dizer, vou ficar…
— Ouvi sobre Sean. Sinto muito por isso. — Minha irmã parece
realmente triste e eu aceno grata. — O que está fazendo aqui? Onde está Cain?
— Nos separamos. — Seus olhos se arregalam e sua boca abre, surpresa.
— Eu quero mantê-lo em segurança e infelizmente estar comigo não é uma
opção — afirmo, tentando convencer a nós duas.
— Ele deveria decidir isso. — Ela me encara firme e eu desvio o olhar.
Michelle suspira e se afasta do carro. — Espero que fique bem. Eu vou indo…
Ando em sua direção e abraço seu corpo. Michelle demora para relaxar,
mas isso acontece rápido e então ela retribui o carinho.
— Obrigada.
Eu me despeço e volto para a fazenda em seguida. De longe vejo Cain
em um dos cavalos, cavalgando em minha direção. Faço Troia parar e o espero
tentando respirar profundamente.
— Vamos — sua voz rouca ecoa e ele galopa, passando por mim.
Dou meia-volta e o sigo mesmo sabendo que é um erro. Não devo estar
tão próxima dele. Isso vai dar no de sempre. Eu em seus braços. Porém Cain
merece mais do que me ver indo embora de casa.
Eu o sigo até deixarmos os cavalos em um pequeno celeiro que Kai fez
depois de todos encontrarem o lago. Sei que vamos para lá. Sigo Cain de perto e
escuto a água caindo mesmo estando longe.
Assim que chegamos eu o observo tirar a camisa e as botas. Cain se senta
na borda do lago com os pés na água, e eu faço o mesmo, mas mantenho a
distância.
— Eu entendo seu medo, Marie. — Sua voz está baixa, neutra e isso me
faz morder o lábio, temendo sua mudança de atitude. — Se eu estivesse em seu
lugar, faria o mesmo. Eu te manteria tão longe quanto pudesse. Porque quando
amamos a gente coloca a outra pessoa em primeiro lugar. Sempre. E eu te amo.
— Suas mãos deslizam pelo chão e ele pega algumas pedrinhas. Cain joga uma
na água e ela quica algumas vezes até afundar. — Podemos querer nos salvar,
mas como as pedrinhas que lutam para se manterem na superfície, sempre
afundaremos. Um no outro.
— Cain…
— Não, deixa eu terminar. — Ele sorri e me encara de lado. — Eu aceito
nosso afastamento. Aceito você morar na fazenda. Aceito estar longe de você,
mas não aceito que não poderei mais tocar em você. É tempo demais. Não
consigo ficar sem você. Nem em um milhão de anos.
— Eu também não. Oh, Cain, eu queria tanto, mas você é dono do meu
coração. — Pisco afastando as lágrimas e ele se aproxima. Seus dedos deslizam
pelo meu rosto e ele beija suavemente minha testa.
— É um término de mentira, loirinha. Vamos mentir. — O sorriso que se
estende por seus lábios acaba com meu fôlego. Suspiro e o beijo devagar, apenas
um selinho, um encostar de lábios que acalma nossos corações muito mais do
que estarmos em uma cama, nus.
— Tudo bem. — Sorrio e me jogo em seus braços, abraçando-o apertado.
Cain nos empurra para dentro do lago e eu afundo para emergir rindo e
lhe dando tapas. Brincamos por um longo tempo, ora nos beijando, ora rindo.
Não sei se nossa decisão está certa, porém não me importo agora. Só preciso que
Jordan prenda o homem que matou Sean. Preciso da minha vida de volta.
Rápido.
MARIE

Cain fica para trás e eu vou na frente para a fazenda. Nossa volta vai ser
um segredo até para nossos amigos. Não posso arriscar. Não agora.
Assim que chego à fazenda eu tomo banho. Caminho pelo meu quarto,
segurando o celular, pensando com cuidado sobre o que farei. Respiro fundo e
clico em ligar. A chamada se estende e, quando imagino que ninguém vá
responder, sua voz ecoa.
— Detetive Jordan. — Sua voz está cansada e eu imagino o quão
frustrado ele está.
— Sou eu, Marie. — Forço minha garganta e escuto sua respiração
longa.
— Marie, tudo bem? Tem alguma novidade? Patrick entrou em contato
com você? — A enxurrada de perguntas me faz ficar em silêncio por um tempo,
tentando ordená-las. O nome do demônio foi descoberto no dia em que
encontraram o corpo de Sean. Os documentos dele ficaram para trás.
— Não. Eu estou bem, mas preciso da sua ajuda — respondo firme e me
sento na minha cama temporária. — Eu tenho uma ideia.

— Isso é loucura. — Jordan balança a cabeça enquanto aperto meus


dedos contra a xicara de café. Resolvi que deveríamos nos encontrar e então vim
ao café da cidade.
— Preciso disso, Jordan. Eu farei de um jeito ou de outro, você decide se
vai me ajudar ou não…
— Cain vai me matar se eu aceitar isso, Marie. — Ele leva suas mãos ao
rosto e eu suspiro diante dos seus olhos cor chocolate. Sua pele é negra e ele tem
quase dois metros. O homem é um gigante, e por isso não entendo seu medo do
Cain. Meu namorado é grande, mas não tanto.
— Eu preciso. Preciso disso para viver em paz. Para colocar o homem
que matou meu amigo atrás das grades. Eu necessito ver Patrick — continuo,
firme, mas logo lágrimas enchem meus olhos ao me lembrar de Sean. Dói saber
que ele se foi, que nunca mais o verei.
— Tudo precisa ser avisado a mim e aos meus homens. Eu estarei com
você no dia da ligação, no dia do possível encontro. Você não sai das minhas
vistas. Entendeu?
Aceno tremendo e bebo um gole generoso da bebida quente. Meus
nervos estão agitados, mas me proíbo de surtar. Vai dar certo. Precisa dar.
CAIN
— Está tudo bem? — Kai questiona assim que surjo no pasto onde ele
está arrumando mais uma cerca arrebentada.
— Sim, quero dizer, ela vai ficar aqui por enquanto. Até aquele infeliz
ser capturado — digo meias verdades e evito olhar para o rosto dele.
Não estou confortável em mentir para as pessoas que gosto, mas prefiro
isso a ficar longe de Marie. Eu sei que eles vão entender quando souberem.
Passo o dia trabalhando e, ao final dele, fico na cozinha, sentado. Escuto
os passos de alguém e quando me viro vejo a Maria. A senhora sorri e se senta
na minha frente. Seu silêncio me faz suspirar alto.
— Marie me contou o que aconteceu. — Não me surpreendo ao ouvi-la.
Marie sempre considerou a governanta uma mãe. É claro que ela não esconderia.
— Estou fazendo o que ela quer. — Engulo em seco e tiro meu chapéu.
— Mas não é fácil. Agora mesmo… — Encaro o céu azul-escuro e baixo a
cabeça. — Não me vejo indo para casa sem ela. Dormir sem Marie ao meu lado
parece errado. Estar na nossa casa… é errado.
— Eu entendo, filho. Porém você precisa ser forte por vocês dois. Marie
não pode carregar esse peso, Cain. Não agora, nem nunca…
— Eu sei. Eu sei.
Respiro fundo e me ergo, tentando fazer exatamente o que Maria está
falando. Ser forte.
Assim que chego à sala paro de andar ao ver Helena e Marie juntas. As
duas estão sentadas no sofá e Marie tenta conversar com a amiga. Eu me
aproximo, indo em direção à porta, e as duas erguem o rosto.
— Boa noite! — cumprimento e continuo a andar. Saio da casa e
caminho até meu carro mais rápido.
— Cain! — Eu me viro ao ouvir o grito da Helena. Marie a acompanha,
meio contra vontade, e eu cruzo meus braços, observando as duas.
— Helena, ele está ocupado… por favor… — ela murmura sem me
encarar, e eu sinto meu peito apertar. Como eu me apaixonei tanto por uma
mulher? Droga!
— Marie está indo ver as meninas. Pode levá-la até lá? Sei o que está
acontecendo, mas infelizmente não consigo levá-la e ela não sabe dirigir.
Poderia? — Helena quase junta as mãos para implorar.
— Claro que sim. Vamos. — Abro a porta para Marie e respiro fundo,
captando seu cheiro quando ela passa por mim.
Saímos da fazenda em seguida. Acelero na estrada de terra e sinto Marie
pular em mim quando estamos no meio do nada. Ela me abraça e eu suspiro,
beijando sua testa.
— Odeio fazer isso. — Seu murmúrio me faz acenar.
— Também odeio, Anjo — concordo em voz alta ao perceber que seus
olhos estão à nossa frente. — Tem certeza de que quer ir ver as meninas? Queria
estar com você…
— Eu preciso, Cain. Não imagino a dor que elas estão sentindo nesse
momento e tenho que tentar me desculpar…
— Não, Anjo, se desculpar não é a palavra. Você não teve culpa
nenhuma, Marie — eu a corrijo rapidamente. Sei que isso está enraizado na
cabeça dela. Porém não posso permitir que ela continue a pensar assim.
— Eu me sinto assim. É só isso. — Seus ombros sobem e eu suspiro,
acenando, pois sei que em seu lugar eu também estaria.
— Vou esperar você e te trago de volta. — Ela não discute comigo.
Passamos o restante do caminho encostados um no outro, em silêncio.
Marie sai do carro assim que estaciono na fazenda das meninas. Aguardo
dentro do carro, querendo segui-la, mas sabendo que o melhor a fazer é ficar
aqui.
MARIE

Minhas mãos tremem e meu coração acelera a cada passo que dou em
direção à porta. Suspiro ao elevar a mão para bater à porta, mas nem preciso
fazer o movimento. Brianna aparece e meu estômago afunda ao encarar seus
olhos apáticos.
— Marie. — Ela sorri devagar e abre mais a porta, me convidando
silenciosamente para entrar.
— Eu… — As palavras somem quando vejo Felicity de pé, próximo ao
sofá. Tento sorrir devagar para minha melhor amiga, temendo que ela me chute
para longe. Porém me surpreendo e ofego ao sentir seus braços me rodearem.
— Estive preocupada com você… — Suas palavras me fazem afastar,
com os olhos cheios de lágrimas.
— Por quê? Ele não está mais conosco por minha culpa…
— Marie, por Deus, não é culpa sua. Você não fez nada…
— Ele morreu por mim. Por minha culpa…
— O único motivo foi que Patrick é um doente imundo. Você não tem
culpa de ele ser obcecado por você ou por ele fazer coisas más — Brianna me
interrompe, firme, e se aproxima também. — Sean te amava e nós te amamos.
Por favor, não se culpe por isso.
— Não sei como vocês podem não se ressentir de mim quando até me
ressinto — continuo, pois não compreendo. É tão pouco crível que isso esteja
realmente acontecendo.
— Só queremos que fique bem. Que prendam esse homem, apenas isso.
As duas tentam me fazer ficar e assistir a um filme, mas Cain está me
esperando, então digo que voltarei depois. Os pais delas aparecem e eu tento me
manter calma diante deles, porém os dois apenas me abraçam e me dizem para
ficar calma. É difícil, mas eu tento por eles. Despeço-me, sentindo que um
pedaço do meu coração fica com a família.
Minha barriga gela quando Cain abre a porta do carro para mim e me
ajuda a subir. Saber que ele vai para casa sozinho me faz ficar doente. Quero
minha casa, minha cama. Preciso estar com ele.
No lugar do medo, tristeza e letargia, uma fúria imensa cresce dentro de
mim. Quero eu mesma acabar com Patrick. Quero vê-lo destruído do mesmo
jeito que ele destruiu minhas amigas e a mim.
— Como foi? — Cain beija minha testa suavemente e eu suspiro.
— Melhor do que eu esperava. — Conto como as meninas reagiram a
mim e ele parece aliviado.
Cain me leva para a fazenda de Kai e eu protelo alguns segundos para
tirar os olhos das minhas mãos no colo. Quando procuro seu rosto, não me
surpreendo ao vê-lo encarar a noite fria.
— Não acredito que não vou dormir com você por causa de um psicopata
idiota… isso é insano. Quem diabos eu sou se não posso nem mesmo proteger
minha mulher? — Cain soca o volante e eu levo minha mão até seu braço.
— Você é o homem que eu amo e que me coloca em primeiro lugar
sempre. Está tudo bem, Cain. Podemos aguentar isso. Precisamos. — Tento
controlar minha voz e emocional, mas vê-lo tão destruído faz meus olhos
arderem com lágrimas.
— Não merecemos isso. Não eu, e muito menos você. — Sua mão se
molda à minha bochecha e eu beijo seus dedos. Cain se afasta e abre o porta-
luvas. Eu o observo tirar uma caixa de veludo e quase ofego, mas ele a abre
rápido, me mostrando um colar com um pingente de Anjo. — É seu. Vira. —
Faço o que ele me pede e me viro, sorrindo. Cain coloca a joia e eu seguro o
pingente, sentindo meu coração bater mais rápido. — Eu te amo. Agora vai,
Loirinha. Durma com os anjos. — Ele nem se aproxima para me beijar. Sua mão
cai e eu saio do carro, segurando o colar entre meus dedos, soluçando.
Corro para casa, mas paro quando chego à porta. Eu me viro e não me
surpreendo ao ver Cain me olhando. Sibilo o quanto o amo e ele devolve antes
de seguir para nossa casa, depois de me ver entrar.

— Bom dia! — Viro minha cabeça e encontro Helena e Vanessa na porta


do meu quarto. Sorrio devagar e aceno para as duas entrarem.
Não consegui dormir. Passei a noite rolando na cama e há algumas horas
eu me sentei na cama e permaneci olhando para fora até agora. Fecho mais meu
robe enquanto as meninas se sentam.
— Você dormiu bem? — Vanessa questiona devagar.
— Você dormiria bem longe de Hank? — Minha frase sai afiada e
segundos depois eu me reprimo. — Desculpe…
— Não, eu não dormiria. Desculpe, minha pergunta foi idiota…
— Não, desculpe a mim. Estou triste por estarmos longe. — Desvio
meus olhos das duas e me ergo, andando até a janela.
— Ele chegou supercedo hoje. — Helena suspira e eu a sinto ao meu
lado. Escuto galopes e logo Cain aparece rindo em cima de Troia. Meu estômago
esfria ao vê-lo com meu cavalo. Queria isso, estar lá, montando com ele.
— Não sei o que fiz para merecer tanta dor. — Desvio os olhos do
homem que amo e encaro minhas unhas pequenas e simples.
— Nada. Você é incrível, e eu sei que logo estará com seu amor. Feliz e
realizada — Vanessa me responde e eu suspiro, encarando sua barriga pontuda,
porém discreta. Toco a minha sem pensar e me pergunto se eu posso estar com
meu bebê em meu ventre sem saber.
— Podemos sair? Hoje é minha primeira consulta e Hank está bem
ansioso. — Ela sorri entusiasmada, e eu aceno com Helena.
Tomo banho, me visto sem pressa e logo estou saindo de casa, à espera
das meninas. Meu vestido floral balança ao meu redor e quando procuro Cain
pela fazenda sinto alguém me abraçar por trás. Gabe cheira meu pescoço e eu me
afasto, dando um gritinho ao sentir sua pele suada.
— Gabe! — grito chateada e ele ri, erguendo as mãos.
— Você está linda. Para onde vai? — Ele pisca para mim com seus olhos
brilhantes e eu relaxo e o respondo, mas logo em seguida sou tirada do chão.
— Você parece uma boneca. — Jimmy gargalha do meu susto e eu levo a
mão ao peito.
— Me ponha no chão…
— Você a ouviu, Jimmy! Solte ela. Agora! — o rosnado furioso de Cain
faz Jimmy virar para ficarmos de frente para ele. Cain chega a mim rapidamente
e me tira dos braços do nosso amigo como se eu fosse realmente uma boneca.
Meus pés tocam o chão em seguida e ele se afasta.
— Meu Deus, Cain, se acalma, porra! Ela é nossa irmãzinha. Não a
vemos como você, seu pau ambulante — Gabe resmunga, revirando os olhos, e
puxa Jimmy para longe.
— Não te vi aí…
— É por isso que deixa que eles façam isso? — Seus olhos estão escuros,
e seus ombros, tensos. Eu me aproximo devagar e toco seu peito.
— Você não dormiu? — Inclino minha cabeça, vendo suas olheiras tão
parecidas com as minhas.
— Não, estou por um fio, mas foda-se isso. Não quero que a toquem.
— Você ouviu, Gabe. Somos como irmãos, você precisa parar de rosnar
para eles — falo séria e ele desvia os olhos dos meus. — Me encontre em dez
minutos no meu quarto. Por favor — peço, suspirando, e ele acena, se afastando.
Ando de volta para a casa e encontro as meninas.
— Desculpem, não vou poder ir. Estou exausta. — Sorrio amarelo e
ambas acenam, me pedindo para descansar.
MARIE

Ando pelo quarto por alguns minutos e logo Cain aparece. Sua expressão
cansada parte meu coração. Observo-o fechar a porta e sorrio, me sentando na
cama e tirando minhas botas.
— Preciso dormir — murmuro enquanto ele anda até mim. Nós nos
deitamos em silêncio e eu escuto as batidas do seu coração ao descansar minha
cabeça sobre seu peito.
— Você está bem? — Seus lábios tocam minha testa e eu fecho os olhos,
me aconchegando.
— Agora sim. — Um bocejo corta minha fala e ele sorri.
Nós adormecemos. E em nenhum momento eu me preocupo com o
mundo lá fora. Éramos eu e ele. Marie e Cain. Duas pessoas que, apesar de tudo,
se amavam de uma forma única.

As estrelas no céu escuro brilham bem mais que tudo ao meu redor. Eu
me encosto na cerca que rodeia os cavalos durante o dia e respiro fundo. Quando
acordei, Cain estava longe de ser visto. Não sei exatamente o que ele pensou,
mas algo dentro de mim sabe que ele está fazendo isso por minha causa.
— Marie. — Eu me viro ao escutar uma voz e meus olhos se arregalam
ao vê-lo. — Eu sei quem é o Patrick e por que ele é tão fascinado por você.
Franzo as sobrancelhas completamente confusa. Oberon está vestindo
roupas pretas e seus olhos, que são claros, estão molhados com lágrimas. Nunca
fomos tão próximos, mas ele e Mike chegaram aqui bem depois de Gabe e
Jimmy, meus melhores amigos.
— O que falou? — Tento dar um passo para trás, mas a cerca colide com
minhas costas.
— Patrick é meu primo. — Obe engole em seco e coloca as mãos nos
bolsos.
— Não… — Balanço a cabeça, completamente incrédula. — Co-como
assim? Obe, o que…
— Ele veio para a cidade meses atrás. Saí com ele algumas vezes e um
dia ele te viu aqui. Patrick perguntou de você, ele ficou muito interessado e eu
falei que você tinha Cain…
— Obe, pelo amor de Deus… — Minha respiração fica superficial e ele
se aproxima rápido, mas me esquivo, temendo seu toque.
— Eu sinto muito. Só liguei os fatos quando Sean foi morto e os policiais
acharam os documentos dele, eu nunca imaginei que ele fosse capaz de algo
assim…
— Você sabe onde ele está? — Minha cabeça vira em todas as direções,
mas só encontro a escuridão da fazenda. É tarde, todos estão dormindo — Você
não me levaria para ele, não é, Obe? Por favor… — As lágrimas enchem meus
olhos e eu o vejo balançar a cabeça freneticamente.
— Jamais. Eu juro, nunca, Marie. — Limpo meu rosto e me aproximo
dele.
— Você precisa me ajudar, então. — Engulo em seco, pegando suas
mãos e apertando-as. —Liga para ele, Obe, finge que ainda não sabe de nada.
Marca de se verem… eu preciso que ele seja preso, eu estou miserável… Preciso
do meu Cain, mas estou morrendo de medo de que Patrick faça algo com ele…
— Minhas palavras saem rápidas e meu choro dificulta o entendimento, mas
Oberon acena, me puxando para os seus braços. Eu o abraço de volta, porém não
percebo o pano em suas mãos até que ele esteja sendo pressionado contra meu
rosto.
A escuridão me engole na hora em que o rosto de Patrick, depois de ter
me mordido no passado, aparece sorrindo friamente.
CAIN

Rolo sobre a cama, tentando adormecer, mas parece que é impossível.


Passo a mão pelo lado de Marie da cama e suspiro, me encorajando a pegar no
sono. Amanhã eu a verei, isso que importa.
Eu me estico ao escutar o celular tremer e o pego, levando-o à minha
orelha.
— Alô? — Eu me sento, passando a mão pelo cabelo ao escutar a voz de
Helena.
— Marie está com você? Digo, você falou com ela hoje? — Franzo as
sobrancelhas e me ergo.
— A vi aí na fazenda, mas vim embora sozinho quando anoiteceu. Onde
ela está? — Minha garganta aperta e minha coluna enrijece ao fazer a pergunta.
Calço meus sapatos, tentando segurar o aparelho no ouvido. Pego uma
blusa e a coloco sobre os ombros, nem me dando o trabalho de fechar os botões.
— Ela não está aqui. Fui ao seu quarto ver se ela estava dormindo, mas
ela nem mesmo deitou na cama. — A voz da mulher do meu primo está histérica
e eu só me irrito mais com isso.
— Meu Deus. — Soco a porta do quarto e corro escada abaixo, pegando
minhas chaves. — Helena, liga para Felicity. Pergunta se ela está lá. Acorde todo
mundo. Liga para a Maria, Jimmy e Gabe. Estou indo. — Desligo o celular e
entro em meu carro. Ultrapasso todos os sinais e quebro diversas leis de trânsito
para chegar à fazenda.
Leva alguns poucos minutos, mas assim que chego todo mundo está na
sala reunido.
— Onde ela está? — Ando diretamente para Jimmy e puxo a gola da sua
camisa em minha direção. — Me diz!
— Eu não sei, cara. Eu não a vi depois que a deixei com você. Eu juro,
porra! — Ele me empurra, mas meu domínio não cessa.
— Cain, puta que pariu, solta o Jimmy! — Kai me puxa para trás e eu
solto o amigo da minha loirinha.
— Como ela saiu e ninguém viu? Como diabos… — Mordo meu punho,
tentando me acalmar. Ando pela sala do meu primo, tentando ordenar meus
pensamentos. — Eu errei ao deixá-la ficar aqui.
— Onde ela está? — Felicity abre a porta e grita, procurando Marie com
os olhos. — Onde, Cain?
— Não sei. Ninguém sabe. O celular estava no quarto dela… — Helena
balança o celular entre os dedos e eu respiro fundo.
— Ele a pegou. — Felicity acena, piscando ao deixar as lágrimas caírem.
— Não. Não pegou, Felicity. Talvez… talvez ela esteja com a Michelle.
Isso, com a Michelle. — Helena acena, sorrindo tensa, e pega o celular para ligar
para a irmã do meu anjo.
— Ele disse, não foi? Foi ele — Felicity volta a falar e eu soco a parede
furioso. — Mas como ele entrou aqui? — A voz dela ecoa na minha cabeça e eu
suspiro.
— Ele não entraria. Não tem como — constato ao saber que Kai tem
vigilantes pela fazenda, à noite. — Alguém a levou.
Batidas soam na porta e eu me apresso para abrir, imaginando que seja
ela, mas me frustro ao ver que não.
— Licença. — Jordan aparece e eu me afasto, lhe dando passagem.
— Alguém entrou aqui e a levou — falo rápido e vejo quando ele
suspira.
— Marie me procurou para marcar um encontro com Patrick. Uma forma
de fazer uma enrascada para ele…
— Ela fez isso? — A dor que sinto ao ouvir suas palavras me surpreende.
Não acredito que Marie foi capaz disso.
— Não acho que tenha feito. Fui firme ao dizer que tudo seria feito entre
nós. Tudo. Cada ligação, rastreio e encontro. Ela queria você com ela nisso
também. É suspeito ela sumir no meio da noite — Jordan explica, calmo, e eu
recomeço a andar. — Preciso de uma lista de todas as pessoas que entram e saem
daqui. Todos estão aqui? — Seus olhos voam pela sala e eu me aproximo.
Felicity agarra um colar que está em seu pescoço e eu arregalo os olhos
ao lembrar.
— Não importa. Eu posso saber onde ela está — afirmo sério. Dei um
colar a ela dias atrás. Nunca pensei que precisaria, mas o fiz exatamente para
isso. Saber onde ela está.
Jordan me escuta atento e vejo todos se aliviarem. Eu vou encontrar
Marie. Nunca mais ela sairá do meu lado.
MARIE

Demoro a lembrar o que aconteceu e, quando o faço, minha respiração


engata. Eu me sento sobre uma cama e enfio minha cabeça entre minhas pernas.
Respiro devagar e conto suavemente o máximo possível. Escuto a porta bater e
ergo meus olhos. Tremo por dentro quando os olhos dele me encontram.
— Oi, meu amor. — Seu sorriso branco me faz tremer. Pisco, tentando
afastar as lágrimas do medo. — Como você está?
Ainda é noite e o quarto é iluminado pelas luzes. Eu me arrasto até à
cabeceira e respiro fundo, tentando me controlar.
— Você é linda. — Patrick se aproxima devagar e se senta na borda da
cama. — Eu entendo por que eles a querem tanto. Sean morreu me desafiando.
Incrível o quanto ele te amava. — Meu estômago embrulha e eu viro o rosto para
o chão, vomitando todo meu jantar.
— Não fale dele. Não toque no nome dele. — Eu me surpreendo ao ouvir
minha voz forte e furiosa.
— Precisamos trabalhar juntos, Marie. Nós dois. — Assim que ele fala
isso, a imagem de Oberon aparece. Novamente sinto ânsia, porém eu a seguro.
— Onde está Oberon? — questiono, olhando para a porta.
Não acredito que ele foi capaz disso. De me entregar para esse psicopata.
— Lá fora. Vigiando. — Patrick sorri de lado e eu mordo meu lábio. —
Você nunca percebeu? É sério?
— O quê? — pergunto sem saber o que ele quis dizer.
— Ele é tão louco por você quanto eu. Uma pena que assim que
amanhecer iremos embora e ele ficará aqui. — Patrick ri, achando sua ideia o
máximo.
— Não. — Balanço a cabeça completamente enojada. Oberon não me
olha assim, nunca percebi isso.
— Você é tão inocente, pura, não vê maldade em ninguém. Um
verdadeiro anjo, Marie…
— Não me chame assim! — grito, cortando sua fala, e ele eleva as mãos,
dando de ombros. Nojo enche meu corpo ao ouvir o apelido que Cain me deu
saindo de sua boca. Horror ultrapassa meu corpo.
— Tudo bem, amor. — Ele se ergue, me fazendo relaxar
momentaneamente, porém ele se movimenta rápido e sobe na cama, fazendo-me
deitar e ele conseguir ficar por cima de mim. — Droga! Que falta eu senti do seu
cheiro. — Esperneio, tentando afastá-lo de mim, e logo sua risada ecoa pelo
quarto, me fazendo tremer violentamente. — Temos todo tempo do mundo,
Marie. Você dormiu bastante, acho que agora Cain e seus amigos já imaginam
seu corpo sem vida. — Ele ri ao dizer isso, mas meu coração só lamenta.
Imaginar a dor de Cain nesse momento me faz querer matar Patrick.
Lentamente.
— Sai de perto de mim! — grito, empurrando seu peito, e ele continua
rindo até que a porta se abre. Não consigo ver quem é, mas ele se afasta de mim,
o que agradeço.
— Ela é nossa. Que droga está fazendo? — Oberon entra no quarto
furioso e eu me sento, encarando-o com repulsa.
— Não sou de ninguém. Eu sabia que Patrick era um louco, mas você?
— Franzo as sobrancelhas e cuspo no chão. — Tenho nojo. Nojo de vocês.
— Está tudo bem, Marie. Com o tempo você vai amar a gente…
— Nunca. Eu odeio vocês! — grito com todo meu fôlego e os dois se
entreolham. Patrick finge não me ouvir e Oberon apenas dá de ombros e se senta
em uma cadeira perto da porta.
— Não vou sair de perto dela novamente. Se vamos prová-la, seremos os
dois. Juntos. Como família. Não vou deixar você a foder sozinho. — Suas
palavras novamente me causam nojo.
Patrick sorri para o primo e se vira para me olhar por um momento. Seus
movimentos novamente são ligeiros, e ele se vira, retirando um revólver da parte
de trás da calça jeans. Patrick atira duas vezes contra a cabeça de Oberon e eu
ofego, agarrando meu peito.
— Oh, meu Deus! — grito, vendo o corpo sem vida do Oberon cair de
lado.
Patrick sorri, se virando, e guarda a arma como se fizesse isso diversas
vezes.
— Você é minha. Só minha. — Ele ri novamente e estende a mão para
mim. — Venha, vamos lá. — Balanço a cabeça, chegando mais para trás, para
mais perto da cabeceira, e ele se aproxima devagar. — Marie, venha. Você não
quer me irritar.
Patrick pega minha mão à força e me puxa para fora da cama. O sangue
de Oberon se espalha pelo carpete e Patrick me faz passar por cima dele em
direção à porta. Meu estômago embrulha e eu me afasto, temendo vomitar
novamente.
Patrick me puxa em direção à saída do que parece ser um apartamento, e
eu peço a Deus que tenha alguém do lado de fora para que eu possa pedir
socorro. Porém, para meu total desespero, ele me puxa para um elevador
privativo, dentro do próprio apê. Meus olhos ardem com lágrimas, mas me forço
a ser forte. Preciso disso.
— Podemos morar em qualquer lugar. Tenho vários países em mente.
Você gostaria de algum em especial? — Sua voz está normal, nem parece que ele
acabou de tirar a vida de uma pessoa.
— Me deixe ir embora, Patrick — peço assim que o elevador abre e eu
vejo que estamos no estacionamento. Apenas nós dois.
— Eu te amo, Marie. Não posso. — Ele desliza a mão pelo meu rosto e
eu me engasgo, me afastando.
Tento pensar em uma forma de fugir do seu domínio, mas Patrick prevê
meus movimentos e pega sua arma. Ele a enfia em minha cintura sem falar nada
e me guia até o carro. Entramos nele e, ao sairmos do prédio, eu tremo sentindo
que nunca irão me achar. Vou morrer nas mãos desse demônio.
Patrick dirige rápido pela rodovia e eu me forço a olhar pela janela.
Passam diversas fazendas aos lados e eu sinto as lágrimas chegarem à superfície.
Elas molham meu rosto, que escondo de Patrick, não lhe dando o gosto de ver
minha ruína.
— Que diabos? — Eu me viro ao ouvi-lo e vejo quando seus olhos ficam
arregalados. Olho para a frente e vejo a polícia, dando sinal para ele parar. —
Não faça nada, Marie. Eu juro que voltarei e matarei Cain. Juro. Fique calada e
limpa as merdas dessas lágrimas. — Limpo-as devagar enquanto ele para o carro
no acostamento. O sorriso branco que Patrick dá ao policial é simpático, não o
faz parecer o psicopata que eu sei que ele é. É um homem normal, um cidadão
que está indo viajar. Apenas.
— Bom dia, policial — ele o cumprimenta e eu tento manter meus olhos
no chão, porém os elevo, para que o policial me veja.
— Bom dia! Carteira de motorista e documentos do carro. — O policial
não me dá sequer um olhar firme. Apenas me observa por um segundo e desvia.
Patrick lhe entrega tudo e eu vejo de relance que são documentos falsos.
No nome de outra pessoa.
— Pode descer do carro? — O policial abre a porta e eu vejo os outros
rodeando o carro. Patrick me encara, sério, e volta sua atenção para o policial.
— Tem algo errado? Estamos um pouco atrasados… — ele fala,
novamente cheio de simpatia, e quando o policial parece ficar dividido se nos
deixa ir embora, eu abro a porta do carro e saio correndo.
Meus pés doem, mas eu continuo me distanciando, tremendo e rezando
para que Patrick não me siga. Um peito duro colide contra mim e eu elevo meus
olhos para encontrar as esmeraldas que tanto amo. Respiro fundo,
completamente aliviada, e mais uma vez a escuridão me engole. Só que dessa
vez não era por causa de produtos químicos, mas de exaustão física e emocional.
Eu estava nos braços de Cain. Nada mais importava.

Marie desmaia em meus braços assim que Jordan e eu saímos de trás da


viatura. Ao rastreá-la, logo ele presumiu que Patrick sairia da cidade com ela.
Policiais foram ao apartamento onde a localização ficou por mais tempo e nós
nos encaminhamos para a interestadual. Ver o rosto apavorado de Marie pelo
vidro me quebrou, mas eu precisava esperar. Mais uma vez, Marie me
surpreendeu. Ela não precisou de mim para salvá-la. Marie se salvou como a
heroína que eu sei que ela é.
Jordan corre em direção ao carro enquanto seguro Marie em meus
braços. Vejo-o colocar algemas no homem que odeio e eu luto contra a vontade
de ir até ele para socar seu rosto até ele desmaiar. Porém Marie vem em primeiro
lugar. O mais rápido que consigo, coloco-a dentro do carro e saio em direção ao
hospital, tentando acordá-la.
Chego ao hospital e fico alguns minutos esperando que o médico me
deixe entrar. Eu me viro quando escuto passos e vejo meus primos entrando.
Helena, Vanessa e as gêmeas parecem aflitas e logo eu aviso que Marie
desmaiou, mas que está sem nenhum machucado.
— Marie quer falar com você. — Uma enfermeira abre a porta e eu
suspiro ao entrar no quarto e ver que ela já está acordada. Eu me aproximo
devagar e beijo sua testa ao sentir seus braços ao redor do meu pescoço.
— Eu tive tanto medo… — ela soluça contra meu pescoço, e eu me
afasto para ver seus olhos lindos.
— Você foi corajosa e forte. Eu tive tanto orgulho. — Beijo seus lábios e
acaricio suas bochechas molhadas. O médico pigarreia e eu me afasto, puxando
uma cadeira para me sentar, me mantendo próximo dela.
— Marie estava desidratada e com estresse. O que é compreensível na
sua situação. Peço repouso durante essa semana…
— Que situação? — Helena pergunta da porta, e eu encaro o médico
mais velho.
— Gravidez. Ela está com algumas semanas de gestação. — Ele segura
os óculos lendo uns papéis, e eu encaro o rosto de Marie.
— Meu Deus… — Ela respira fundo e eu seguro sua mão, levando-a até
meus lábios. Seus olhos brilham com lágrimas, e eu suspiro, abraçando minha
mulher. — Vamos ser pais? — Eu me afasto e seguro seu rosto, ao ouvir sua voz
trêmula.
— Acho que sim. — Sorrio devagar e beijo seus lábios.
— Sério? — ela questiona ao doutor, incerta, e ele confirma sorrindo.
Marie pula em meus braços e aí sim consigo ver a alegria irradiando dela. Beijo
seus lábios devagar e Helena, com Kai, Vanessa, Hank, Axel, Gabe, Felicity,
Brianna, Jimmy e Maria entram no quarto, abraçando Marie e a parabenizando.
Seus olhos brilham quando ela coloca a mão sobre a barriga e pronto.
Nesse momento, eu juro a mim mesmo que sempre a manterei grávida. Feliz e
grávida.
MARIE

Alguns meses depois…


Depois que descobrimos a gravidez, Cain parece um menino bobo,
cuidando e me mimando. Às vezes me irrita, mas hoje realmente eu preciso
disso.
A mão na base da minha coluna é fria e grande. Suavemente, ele me guia
para a saída do tribunal e eu enfim volto a respirar quando o ar do Texas, mesmo
que abafado, enche meus pulmões.
— Você vai desmaiar — Cain murmura preocupado e eu tento respondê-
lo, mas minha garganta está fechada.
Balanço a cabeça, tentando fazê-lo relaxar, mas sua mão agarra meu
braço e ele me faz sentar em um banco próximo à calçada.
— Marie. — Ele suspira me encarando, e eu sinto meu queixo tremer ao
ver seus lindos olhos verdes me olhando com tanta preocupação.
— Estou bem — respondo, firme, e as lágrimas cegam minha visão. —
Está tudo bem agora. — Sorrio ao constatar isso.
Patrick foi condenado momentos atrás. Pedi a Jordan que eu não fosse
posta frente a frente com ele. Eu não aguentaria. Durante todo o julgamento,
pedi forças a Deus e paciência para que saísse daqui somente depois de saber
que Patrick estaria longe de mim para sempre.
— Ela está bem? — Cain apoia sua mão em minha barriga já bem
avantajada e eu sorrio, acenando.
Descobrimos que estamos esperando uma menina há pouco tempo. Cain
ficou maravilhado, e eu também. Só de imaginá-la em meus braços, meu coração
acelera.
— Está ótima. Podemos ir para casa? — peço, tentando limpar meu
rosto. Cain sorri e beija minha testa em seguida.
Logo chegamos em casa. Jogo meus sapatos ao lado da porta e me sento
no sofá. Cain coloca meus pés em cima da mesa de centro e traz água. Bebo
devagar cada gole sob seus olhares e sorrio, limpando meus lábios com a língua.
— Você está bem mesmo?
— Sim, amor. Eu queria um ponto final. Acabou. — Sorrio fraco e
estendo minha mão para ele. Cain se senta ao meu lado e seu braço envolve
meus ombros.
— Sonho em fazê-lo sofrer. Não me conformo que não fiz absolutamente
nada com ele…
— Você não precisa machucar aquele demônio. Durante todo esse
tormento a única coisa que ele lutou para conquistar foi nossa ira. Ele não
merece nossos sonhos. — Seguro sua bochecha com a barba por fazer e beijo
seu queixo. — Se concentre nas mulheres da sua vida. E tudo ficará ótimo —
brinco rindo, e nossa filha confirma meu pensamento, chutando o pai.
A campainha toca em seguida, nos fazendo nos afastar. Poucas pessoas
têm acesso à casa, então já sei quem pode ser mesmo antes de Cain abrir a porta.
— Ei! Tudo bem? — Eu me ergo, indo até Felicity, e a vejo sorrindo. Ela
foi ao julgamento com sua família, não me despedi, pois estava a um passo de
passar mal.
— Sim, só ficamos preocupadas com você. — Ela entra na casa e
Brianna aparece também.
— Foi um mal-estar. Porém já está tudo bem. — Abraço as duas e as
levo até a cozinha. — Querem algo? Fiz um bolo de cenoura e cobertura de
chocolate. Está ótimo.
As duas se sentam enquanto as sirvo e pego suco também.
— Eu demorei para avisar uma decisão que tomei. — Felicity suspira
depois de comer um pedaço do doce. — Estou indo para Nova York…
— O quê?! — Minha garganta fecha e ela sorri, pegando minha mão.
— Fiquei aqui esses meses por causa dos meus pais, mas eles estão bem
agora. Eu realmente preciso dar um tempo desse lugar. — Ela dá de ombros, e eu
me sento, sentindo Cain se aproximar.
— Quanto tempo? — Cain pergunta firme, e ela o olha rapidamente.
— Dois meses, três, não sei ainda.
— Sua afilhada vai nascer e você está dizendo que não vai estar aqui? —
a voz do meu marido soa incrédula, e eu toco seu braço, mandando-o se acalmar.
— Lógico que não. Volto antes de ela nascer. — Felicity revira os olhos
para Cain e se inclina na minha direção. — São umas férias. Só isso. — Seus
lábios tocam minha mão, e eu me ergo para a abraçar.
Fico colada nela por algum tempo e, mesmo que eu não queira, lágrimas
enchem meus olhos.
— Vou sentir sua falta — confesso fungando, e ela limpa meu rosto.
— Ela vai estar no mesmo país ainda, sua boba. — Brianna tenta fazer
cosquinhas em mim, e eu relaxo, sabendo que esse é seu jeito de quebrar o gelo.
— Você está certa. — Aceno rindo e abraço as duas.
A campainha toca novamente e Cain se afasta para ir atender. Quando
Axel aparece, ninguém parece surpreso, mas quando ele entra eu sinto Felicity
mudar de melancólica para firme em um segundo.
— Por que estão chorando? — ele questiona, andando até a gente, depois
de entregar duas sacolas com comida para Cain.
— Felicity está indo embora — respondo e volto a abraçar minha amiga.
— Eu amo você. Antes de ir, me avisa para saímos.
— Pode deixar. Também amo você. — Ela beija meu rosto e se afasta
junto à sua irmã.
— Podemos conversar? — Axel segura o braço dela quando ela iria
passar por ele. Felicity acena e eles caminham para fora. — A sós. — Ele encara
Brianna, que os seguia, e ela bufa, revirando os olhos. Porém volta para perto de
mim.
Espero que os dois se acertem, mas sei que, infelizmente, tudo tem o
tempo certo para acontecer. Com eles não será diferente.

FIM
MARIE

— Está tudo bem — Cain repete pela milionésima vez, e eu reviro os


olhos, sentando-me na cadeira de rodas enquanto ele preenche alguns papéis.
— Se você repetir isso novamente, eu vou te matar — afirmo séria, e ele
acena, completamente suado. Estávamos em casa quando a bolsa estourou. Corri
para a maternidade, pois não é a hora. Estou nervosa e com medo. — Desculpe,
amor. Só estou com medo — confesso, suspirando.
— Está tudo bem. — Seus lábios tocam minha testa e nós dois somos
encaminhados para a sala de parto. Peço para Cain ligar para nossos amigos e
avisar, mas, para nossa surpresa, todos estão aqui.
— Vanessa entrou em trabalho de parto também. — Helena sorri e me
pergunta se estou bem.
— Sim, não estou com dor, apenas a bolsa estourou — explico sorrindo.
Vanessa e eu teremos bebê no mesmo dia, se tudo ocorrer rápido. Eu espero que
sim.
Deixo meus amigos partirem para a sala de espera e fico em meu quarto.
Passo horas esperando as contrações começarem, mas não ocorre. Nem mesmo
minha dilatação cresce. O médico nos encaminha para a sala de cirurgia, pois o
mais seguro no momento é optar pelo parto cesáreo.

— Ei! — Cain sorri, segurando meu rosto, e eu descanso minha


bochecha contra ele. — Ela vai ser tão incrível quanto você. — Sorrio diante
disso, pois nós dois sabemos que não fará tanta diferença.
— Olha a sua princesa. — O choro seguido dessa frase me enche de
amor. Os olhos cinzentos da minha filha brilham ao me encarar e eu choro,
tentando me manter calma.
Horas depois, estamos em nosso quarto, e eu continuo a encarar os olhos
bonitos dela. A médica disse que ela nasceu cedo, mas tão saudável quanto
qualquer bebê no hospital.
— Uau. Você vai ter tanto trabalho, Cain — Kai resmunga, pegando-a
dos braços do meu amor. — Andrew está a uma porta daqui, acho que eles
nasceram um para o outro.
— Que conversa é essa? Deixe de ser um idiota, me dá minha filha. —
Cain fica desconfortável e pega nossa menina dos braços do tio dela
rapidamente. — Hank que não se atreva a deixar seu filho chegar perto da
minha. — Eu quero rir alto disso, mas falar é algo que me foi proibido.
— Qual o nome dela? — Helena pergunta enquanto Felicity e Brianna
tentam pegar a bebê dos braços de Hank.
Encaro os olhos de Cain e volto a olhar para os olhos da nossa filha.
— Sunshine.
Cain sorri acenando, e eu fecho meus olhos, contente. Ela é o nosso raio
de sol, nada mais justo que seu nome seja esse.
— Amo vocês duas. — Cain beija meus lábios e eu tento parar as
lágrimas que se acumulam, mas elas saem sem impedimento.
Não sabia que Cain e eu seriamos tão felizes, e o melhor, que
pudéssemos ter um fruto tão perfeito do nosso amor. Olhando para ambos, eu
tenho certeza de que estou completa.
As leitoras do Wattpad sabem mais sobre o meu período ~ nebuloso ~ de
escrita com Cain e Marie. Foi difícil e eu me senti incapaz quando percebi que o
livro não estava ficando como eu pensei que deveria estar. Eu comecei a
comparar Protegida Por Um Cowboy com os dois livros anteriores (Casei Com
Um Cowboy #1 e Enlacei Um Cowboy #2).
O que eu não percebi é que ele é diferente. Os três são, pois são livros
que contam histórias de personagens distintos, e quando percebi isso eu comecei
a "aceitar" Protegida do jeito que ele é. Um livro que mescla o romance, o
drama e o suspense. Superdiferente do anterior, que foi um livro engraçado e
bem hot.
Enfim, quero agradecer minha beta, Bianca Bonoto, por toda a ajuda e
apoio. Acho que encontrei uma pessoa incrível para me ajudar e eu agradeço
muito cada momento que ela gasta me auxiliando. Obrigada, sua linda!
E quero agradecer a cada um que leu mais um livro meu. Espero que
tenham gostado e em breve o livro #4 (Felicity e Axel) chegará.
Com amor,
Evilane Oliveira

[1]
God Gave Me You | Blake Shelton
Table of Contents
01
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04
05
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07
08
09
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Epílogo

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