Você está na página 1de 407

THE GUM RUNNER

THE GUM RUNNER


THE GUM RUNNER
THE GUM RUNNER
THE GUM RUNNER
THE GUM RUNNER

Tradução: U. Mota,
Jessica Markab, Vickye, Kla.

Revisão: Biosa, Bruna

Leitura Final: Luh


Campanha

Formatação: Luh
Campanha

Verificação: Nana Lima


THE GUM RUNNER
THE GUM RUNNER

Tripp

Antigamente eu combatia os terroristas nas linhas de frente como um fuzileiro


naval.

Agora vivo no mundo do crime.

Eu vendo armas para pessoas que outros podem não aprovar.

Eliminei os criminosos, os delinquentes e os bandidos que pisaram no meu


território.

E olhei o chefe da Máfia Siciliana nos olhos e disse-lhe para ir se f****.

Ninguém me diz não, a menos que seja a sua última palavra.

Eu não desempenho apenas um papel de mau – eu o vivo. Então ela tropeçou na


minha vida.

Tentei ficar longe. Tentei me concentrar nos negócios. Mas o sorriso de Terra era
como um tiro no coração.

Ela é minha agora. E ninguém ameaça o que é meu.

Terra
Vi um monte de coisas terríveis em minha vida.

Cresci rodeada por mentiras e enganos, mas consegui fugir de tudo isso. Até
que o conheci.

Eu sabia que ele era corrupto. Que era perigoso.

Deveria ter ficado longe, mas minha atração por ele, minha necessidade dele,
anulou a minha lógica.

Agora eu o amo.

Se ele descobrir quem sou, estaremos acabados e eu ficarei sem nada.

Nunca quis ser a princesa da máfia, mas mia famiglia tinha outros planos. E o
que mia famiglia quer... ela consegue.

Apenas Michael Tripp pode salvar-me.


THE GUM RUNNER

Terra

Quando um relacionamento termina, parece que uma pessoa


sempre aceita a mudança mais fácil que a outra.

Eu era essa pessoa. A que aceita.

— Eu te disse para não vir aqui — ele fervia. — Pegue suas


coisas. Estamos indo embora.

— Deixe-me em paz, Vincent. Jesus. Acabou! Vá embora. As


pessoas estão olhando.

Os lábios dele se comprimiram.

— Pareço dar à mínima se as pessoas olham?

Afastei - me, puxando meu pulso de seu alcance.

— Vá. Embora.

— Levante-se — ele exigiu. — Eu não quero fazer uma cena.

— Idiota. Você já fez. Vá embora.

— Sua puta! Levante-se — ele rosnou.

O café era o meu refúgio. Embora estivéssemos separados há


quase seis meses, havia momentos em que Vincent não
THE GUM RUNNER
entendia muito bem que a nossa separação era
permanente. Homens italianos eram extremamente orgulhosos e o
término do relacionamento contra sua vontade tornou-se muito
mais difícil para ele aceitar.

Vicent enrijeceu o maxilar

— Falo sério. Levante-se. Vamos embora, porra!

Quando virei e o vi-me enjoo, tê-lo tocando-me era ainda pior.


Seu tamanho e comportamento abusivo neste momento eram
meus maiores problemas.

Peguei minha xícara de café com a mão trêmula, era uma


lembrança do medo de seu temperamento violento. Passei os dedos
ao redor da xícara e tentei convencer-me de que não estava tão
assustada quanto julgava.

Levantei a xícara aos lábios.

— Não! Deixe-me em paz.

Com uma mão firme agarrou meu casaco e a outra um punhado


de cabelo. Antes que tivesse a chance de impedir, minha xícara de
café já estava no chão e fui arrastada pela porta em direção ao
estacionamento.

O medo passou por mim como um choque elétrico. Este tipo de


coisa tinha acontecido com Vincent o suficiente para que eu
soubesse o que viria a seguir. Durante todo o nosso
relacionamento usei maquiagem e lenços para esconder os
THE GUM RUNNER
hematomas deixados em mim por seus acessos de raiva.

Ele me arrastou ao longo da calçada.

— Você quer me desrespeitar em público?

Eu lutei para me libertar de suas garras.

— Solte-me. Minha bolsa. Minha bolsa está...

Seu aperto no meu cabelo aumentou.

— Cale-se.

Tentei travar os calcanhares no chão e me libertar do seu


alcance. Em vez de fazer qualquer progresso em escapar,
simplesmente perdi um dos meus amados Louboutins. Através de
toda a comoção e minhas débeis tentativas de fugir, meus olhos
vislumbraram a entrada de vidro da cafeteria, só para ver as duas
dezenas de clientes nos observando com os olhos
arregalados. Ninguém parecia disposto a fazer qualquer coisa para
ajudar.

Eu não podia ser espancada por ele novamente.

Dois anos disso foi o suficiente.

Enquanto estava sendo arrastada para fora da calçada e entrava


no estacionamento, um barulho estridente me fez virar a
cabeça. Vincent parou e fez o mesmo. Um homem extremamente
atraente em um belo terno cinza estava a seis metros de distância.
Metodicamente se aproximou de nós. Cada movimento cheio de
THE GUM RUNNER
confiança.

Ele tinha uma arrogância inegável e olhos azuis dos quais eu


não conseguia me afastar. Parecia que podia falar só com o olhar e
se estivesse entendendo-o corretamente – e esperava que estivesse
dizia para não me preocupar.

O estranho continuou a caminhar em nossa direção, cada passo


expressando sua confiança. Fiquei de boca aberta. Não por
surpresa. Ou esperança. Mas sim por um estranho desejo lascivo.

Ele era tão bonito que o aperto de Vincent contra mim tornou-se
secundário.

O belo estranho deu mais um passo em nossa direção, parou e


espalhou seus pés ligeiramente.

— Solte-a. — Sua voz era distinta e exigente.

Vincent soltou meu cabelo e deslizou o braço em volta da minha


cintura.

— Isso não é da sua conta.

O estranho levantou a mão e afrouxou a gravata. — Eu vi você


arrastá-la pelo estacionamento. Inferno, um de seus sapatos está
ali na calçada. É da minha conta sim! Eu não vou dizer
novamente. Solte. Ela.

Vincent afrouxou o aperto um pouco e limpou a garganta. —


Você sabe quem eu sou?
THE GUM RUNNER
O estranho riu.

— Eu não dou a mínima para quem você é. Mas você com a


maldita certeza precisa saber quem sou.

O sotaque italiano de Vincent ficou forte.

— Quem diabos é você?

Os olhos do homem se semicerraram.

— Eu sou aquele cara. O que você vai desejar ter ouvido.

Oh meu Deus!

Tudo o que ele fez foi falar e eu já estava derretida em uma poça
de desejo.

Com os olhos fixos em Vincent, o desconhecido deu alguns


passos para o lado e tirou o paletó e a gravata. Aparentemente, ele
não estava brincando. Eu podia ter medo de Vincent, mas era
óbvio que o estranho não tinha. Jogando as roupas em cima do
que assumi que era seu carro, desabotoou o primeiro botão da
camisa e caminhou em nossa direção.

A distância entre nós desapareceu e o aperto de Vincent em


mim aumentou. Aparentemente eu seria seu escudo. Ele era o tipo
de pessoa que não hesitaria em abusar de uma mulher, mas
quando era para encarar alguém ou desafiar um homem – Vicent
não sabia nada.

Pelo menos foi o que meu pai disse sobre ele.


THE GUM RUNNER
Quando o estranho estava perto o suficiente para eu sentir seu
cheiro, ele baixou o queixo. Os músculos de sua mandíbula
estavam tensos. Eu não fazia ideia do que tinha planejado, mas
seu foco era inquestionável. Seus traços faciais esculpidos,
mandíbula forte e maçãs do rosto altas só aumentaram a
intensidade do seu olhar.

Ele estava perto o suficiente para me tocar. Minha garganta deu


um nó, mordi a língua e tentei engolir, mas uma combinação de
medo e insegurança impediu-me. Vincent me segurou tão perto
que podia sentir seu coração batendo contra minhas costas. Eu
queria desesperadamente ficar livre de seu aperto, mas naquele
momento eu não sabia como isso poderia terminar.

E então aconteceu.

Eu não vi. Pelo menos não imediatamente. Poucos segundos


depois, percebi o que houve.

As mãos do desconhecido foram muito rápidas.

Eu estava na frente de Vincent, com as costas contra seu


peito. Sendo quinze centímetros mais baixa do que ele existia uma
abertura entre meu ombro e seu pescoço para o desconhecido dar-
lhe um soco na garganta, levando-o a libertar-me por reflexo. No
instante em que me soltou, outra mão ultrarrápida passou por
mim e chocou-se contra o rosto de Vincent.

Depois que isso aconteceu, percebi que ele não fez isso com os
punhos fechados. Ele tinha feito com as mãos abertas.
THE GUM RUNNER
Ele ficou na frente de Vincent em uma posição de combate que
iria assustar e manter afastado qualquer homem.

Vincent lutou para respirar.

Eu estava de boca aberta.

Quem é você?

Em vez de correr ou gritar, levantei-me e olhei para o estranho.

— Uhhm...

Ele fez um gesto em direção ao café.

— É melhor você buscar o seu sapato.

Manquei pelo estacionamento e peguei meu sapato, verificando


por cima do ombro a cada passo. Recuperei minha bolsa e mostrei
aos bebedores de café observando, o dedo médio.

Virei em direção ao estacionamento. As mãos do desconhecido


estavam levantadas, os joelhos dobrados e o olhar afiado deixou o
seu objetivo claro. Ele estava pronto para continuar a
luta. Vincent, por outro lado, parecia estar tendo dificuldade de
respirar.

Provavelmente não deveria, mas esperava que o soco na


garganta tivesse esmagado a traqueia de Vincent ou feito algo
maior, como um dano permanente. Se ele caísse morto, seria o
início de um dia muito bom. Não sabendo o que fazer a seguir,
mas sentindo-me atraída para o meu novo lindo protetor, eu
THE GUM RUNNER
mantive minha cabeça erguida e caminhei ao seu lado.

Vincent estava curvado com as mãos pressionadas nos joelhos,


lutando para recuperar o fôlego. Se era genuíno ou uma encenação
para impedir o estranho de continuar, eu não tinha ideia e isso
realmente não importava.

Sentindo-me confiante de que o bem vestido lutador de rua iria


livrar-me do mal, me abaixei e removi meus sapatos.

— Che cavolo1! — Levantei meu pé direito e chutei a virilha de


Vincent com todas as minhas forças.

Um grunhido abafado passou por seus lábios.

— Você nunca mais. — Eu inalei uma respiração profunda e


chutei-o. — Chegue perto de mim novamente. Ou vou mandar meu
pai cortá-lo em pedaços e jogá-lo no rio Missouri.

Vincent caiu para frente, gemendo e segurando sua virilha. Eu


olhei para ele e sacudi a cabeça.

— Testa di cazzo2!

O estranho recuou e tossiu uma risada.

— Acabou?

— Acabei agora. — Calcei os sapatos e virei para o meu novo


amigo — Não posso agradecer o suficiente. Sou Terra.

1 Che cavolo é expressão para "Que Diabo" ou "Que raios" em italiano.


2 Testa di cazzo é Idiota em italiano.
THE GUM RUNNER
— Sem problemas — disse com um encolher de ombros
despreocupado. — Meu nome é Michael.

Sem problemas?

Talvez não para você.

Nós apertamos as mãos. Ele olhou para Vincent, zombou e


recuperou a gravata e o paletó. Seus cinzentos olhos azuis focaram
em mim, prendendo-me.

— Você o conhece?

Odiava admitir, mas acenei de qualquer maneira.

— Ex-irritado.

Olhei para o carro. A placa dizia TRIPP. Eu fiz uma nota mental
e sorri para mim mesma.

Fiz um gesto em direção ao carro. — Seu sobrenome?

— Sim, longa história. Ouça — disse ele. — É melhor você ir.

Meus olhos caíram para Vincent, que parecia com muita dor.

— Você está certo. Não sei como agradecer o suficiente.

Ele sorriu. Duas covinhas e uma boca cheia de dentes brancos


foram tudo o que vi.

— Vou ficar por aqui e ter certeza de que ele se levante — disse
ele.
THE GUM RUNNER
— Você vem sempre aqui?

Depois que eu disse, me senti como uma tola. Parecia tão clichê.

— Sim. Acabei de me mudar para a vizinhança, de modo que


este é o meu novo lugar — disse ele. — Fica no meu caminho para
o trabalho.

— Mais uma vez, obrigada. — Eu não queria, mas afastei meus


olhos dele e virei.

Bem, Michael, meu lindo amigo fodão, essa não vai ser a última
vez que você me verá.

Se o meu pai pensasse por um instante que eu estava


interessada em alguém que não era italiano e católico, ele iria se
desfazer em frangalhos. Os pais italianos eram conhecidos por
serem protetores com suas filhas, mas o meu era ainda pior. Ele
era muito mais do que o meu pai.

Ele era o Padrinho3.

3 Ref. De Portugal para o Chefe da mafía italiana.


THE GUM RUNNER

Michael

Eu não precisava olhar para cima da minha mesa para saber


que era Cap que vinha pelo corredor, poderia dizer pelo som
distinto de seus passos. Ele entrou no meu escritório e parou três
metros na frente da minha mesa. Queria que a estadia dele fosse
curta e suas preocupações não fossem sobre os negócios.

Ele não precisava saber isso, mas minha mente ainda estava na
garota do café. Sua atitude, coragem e aparência deslumbrante
tornaram difícil de descartá-la como apenas outra mulher. Sem
desviar os olhos da papelada, o saudei.

— Boa noite, Cap — eu disse categoricamente.

— O alarme não foi ativado.

— Os sensores de porta estão quebrados. Eu preciso mandar


consertar.

Ele limpou a garganta.

— Seria melhor fazer isso. Espero que seu dia tenha sido bom.

Encontrei seu olhar.

— O que?
THE GUM RUNNER
— Eu espero que seu dia tenha sido bom.

— Ele ainda está acontecendo. E o que diabos isso


significa? Você espera que meu dia tenha sido bom?

— Significa que espero que seu dia tenha sido bom. Porque o
meu foi uma merda.

Acenei minha mão por cima da minha mesa. Normalmente


organizada, mas estava coberta de pilhas de papéis.

— Desculpe-me se o seu dia foi um inferno, mas estou longe de


acabar, por isso é muito cedo para dizer. A entrega correu bem?

— Mais ou menos.

— Mais ou menos? Você entregou as armas?

Cap assentiu.

— Sim.

— Eles ficaram satisfeitos com a qualidade?

— Sim.

Sua observação e fez sentir-me um pouco


desconfortável. Sabendo que todos os meus clientes pagavam
antecipadamente antes de receber um carregamento de armas
deixava muito pouco para dar errado.

— Não estou interessado em jogos de adivinhação, Cap. Os fuzis


AK-47 estão chegando finalmente e quando acontecer
estaremos com pouco prazo. Vou ter
THE GUM RUNNER
alguns búlgaros loucos em minhas mãos se não conseguir
descobrir uma maneira de corrigir isso. — Empurrei minha cadeira
para longe da mesa. — Então, esclareça-me sobre o porquê você
está aqui me contando sobre o seu dia de merda.

— Estava planejando isso. — Ele respirou fundo e cruzou os


braços na frente do peito. — Algum filho da puta veio até o
caminhão e bateu na janela. Depois que eu descobri o que estava
acontecendo, abri a janela e ele começou dizendo como estaríamos
mortos se vendêssemos armas em Kansas City. Disse alguma coisa
sobre fazer dinheiro, também.

Qualquer tentativa de interferir com o meu negócio seria


resolvida pela força. Olhei de volta para ele.

— Mortos com a venda de armas? O quê?

— Ele disse você vai acabar morto se vender armas em Kansas


City. Eu realmente não podia ouvi-lo sobre a música e saí. Então
ele começou a olhar para mim todo zangado e falando merda, aí
comecei a bater nele.

— Quem era ele? E o que disse sobre o dinheiro?

— Não sei quem era e eu não poderia dizer tudo o que ele disse,
estava muito ocupado batendo nele enquanto tentava falar.

— Raios, Cap. O que mais ele disse?

— Não me lembro de tudo o que ele disse, estava com muita


raiva.
THE GUM RUNNER
— Você não se lembra? — Eu andei em torno da minha mesa. —
Por que não se esforça mais? Onde, especificamente, você
estava? E quem era ela? Uma federal? Uma policial? Conseguiu
um nome?

Ele olhou, confuso.

— Ela? Ele era um homem, não uma mulher.

— O quê? — Eu não entendi o que falou, até que percebi que


tinha dito ela, em vez de ele. Isto parecia estranho durante toda a
emoção e confusão, mas os pensamentos em Terra ainda estavam
em minha cabeça.

— Maldição, você sabe o que eu quis dizer. Responda à


pergunta.

— Eu estava na I-435, no posto de gasolina — E ele não era um


policial ou um federal, isso eu sei. Ele tinha acabado de sair do
seu Cadillac e se aproximou de mim, então começou a mostrar
suas gengivas e falar merda, por isso bati na boca dele.

Cerrei meus dentes e tentei manter a compostura.

— Onde ele está agora?

Ele encolheu os ombros.

— Arrebentei ele todo e deixei-o no estacionamento ao lado de


seu carro. Percebi que alguém estava prestes a chamar a polícia ou
começar a fazer perguntas, então só meti o pé. Você sabe, vim aqui
dizer-lhe o que aconteceu.
THE GUM RUNNER
Gostaria de saber como o problema poderia ser resolvido se eu
não tinha ideia de quem o homem misterioso era. Eu acreditava
que Cap teria encontrado seus documentos se ele tivesse um, mas
senti- me compelido a perguntar de qualquer maneira.

— Ele tinha alguma identificação com ele?

— Não — disse ele. — Nada. Bem, nada, além de uma arma


presa na cintura de suas calças. Ah, e o filho da puta estava
vestido como você.

Apertei os olhos.

— Como eu?

— Sim. Usava um terno. Parecia caro. Sem gravata. Vestia sua


camisa desabotoada e usava uma grande corrente de ouro no
pescoço. Ah, sim, e uma pulseira de ouro.

— Estou supondo que você pegou a arma dele?

— Sim. Um lixo barato. Uma Ruger P-85.

Eu reconheci a arma como sendo uma 9 milímetros barata


retirada do mercado por questões de segurança em meados dos
anos 80. Fiquei surpreso que alguém vestindo um terno caro e
corrente de ouro tivesse uma arma tão pouco confiável.

Comecei a tentar montar as peças do quebra-cabeça. — Pense,


Cap. Alguma coisa se destacava nesse cara?

Depois de pensar um momento, seus ombros levantaram


THE GUM RUNNER
lentamente.

— Parecia que ele era de Nova York ou algo assim. Você sabe,
tinha aquele sotaque da costa leste. Talvez
Boston. Definitivamente de algum lugar no Leste.

— Vou mandar Trace pesquisar os números da arma.

— Ok, chefe.

Cap entregou a arma, usando um pano para evitar que suas


impressões digitais entrassem em contato com a arma. Segurando-
a no comprimento do braço presa entre o polegar e o indicador,
como se fosse uma doença, ele colocou cuidadosamente no canto
da minha mesa.

— Jesus, Cap. Não é uma porra de bomba.

— Não vou deixar minhas impressões digitais em alguma peça


descartável.

Ele estava certo. Estendi a mão para a arma. Coberta de


arranhões e com metade do revestimento desgastado, ela parecia
que foi atropelada por um caminhão.

— Estava assim quando você pegou?

— Sim.

Estudei a arma e reuni o que eu sabia com certeza.

Kansas. Terno caro. Sotaque da costa Leste. Cadillac. Correntes


THE GUM RUNNER
de ouro. Pistola descartável de baixo custo. Sem identificação.

Suspirei pesadamente.

— Porra.

— O quê?

— Acho que eu tenho uma ideia de quem é o dono disso. Ou


quem ele possa ser.

— Quem?

— Agrioli — eu disse. — Mais cedo ou mais tarde eu sabia que


ele ia enfiar o nariz nos meus negócios. Nós estávamos vendendo
muitas armas.

Depois de passar dez anos no Corpo de Fuzileiros Navais dos


Estados Unidos, optei por pedir baixa tão logo eles já não fossem
capazes de me manter em combate. Imediatamente após a
liberação, comecei um negócio no mercado negro de armas em
Kansas.

As leis em Kansas permitiram-me distribuir armas usadas


conforme eu queria, sem quaisquer formalidades associadas com
vendas de armas novas. Andei ao longo do fio de uma navalha
sobre a legalidade, mas tinha liberdade para vender o que queria,
a quem quisesse, sem intervenção. A falta de envolvimento de
qualquer departamento do governo foi boa, mas me levou a ser um
dos principais alvos da máfia e seu sistema de pagamento
de taxas.
THE GUM RUNNER
Até agora eu tive sorte.

Seus olhos se arregalaram.

— O Padrinho de toda a máfia? Aquele Agrioli?

— Pense nisso. Terno caro. Carregando uma arma


descartável. Dirigindo um Cadillac. Usando correntes de
ouro. Sotaque da costa leste. — Dei de ombros. — Quem mais usa
correntes de ouro?

Ele riu.

— Cafetões e italianos.

Cafetões e italianos. Não foi tão engraçado, mas eu ri mesmo


assim.

— E agora? — Perguntou.

— Quanto você bateu nesse cara?

Sua boca se torceu em um sorriso culpado.

— Bati nele como se me devesse dinheiro.

Estremeci com a resposta. Se fosse um dos homens de Agrioli,


ele, sem dúvida, tentará obter vingança pelo que
aconteceu. Mesmo se pudesse, não mudaria a forma como Cap
reagiu, mas estar em guerra com a máfia italiana definitivamente
não estava na minha lista de prioridades.

— Muito? — Perguntei.
THE GUM RUNNER
— Muito mesmo. Não tinha tomado meu café ainda e fiquei
acordado até tarde assistindo Netflix, então não estava com
vontade de ter alguém falando no meu ouvido.

Cap era ex-fuzileiro naval e assassino treinado. Tinha o corpo de


um levantador de peso e o rosto que parecia ser esculpido em
pedra, ele era um homem intimidante. Seu comportamento cômico
e comentários ridículos muitas vezes tornava difícil para mim levá-
lo a sério.

Lutei contra a minha vontade de rir e anotei o número de série


da pistola. Depois de retirar dois mil dólares da gaveta, eu joguei o
dinheiro em cima da minha mesa e balancei a cabeça.

— Você e essa porra de Netflix.

— New Girl. Você já assistiu essa série?

Mentalmente revirei os olhos.

— Não.

— Tente. Aquele cara Schmidt é muito engraçado.

— Trabalho até as oito, tomo café, como e continuo trabalhando


até as onze. Quando é que você sugere que eu assista Netflix?

Ele pegou o dinheiro. — Essa é a parte boa do Netflix. Você pode


assistir aquela porra sempre que quiser. Você pode assistir uma
série inteira em um fim de semana. Iniciar, parar,
pausar, avançar, retroceder, você tem tudo ali mesmo no alcance
dos dedos.
THE GUM RUNNER
— Não penso assim.

Ele passou o polegar ao longo da borda das notas.

— Ei, tem dinheiro a mais aqui.

Era o mínimo que eu podia fazer, considerando a dificuldade


que ele passou. — Um pela a entrega e o outro por defender meus
interesses. Mantenha isso entre você e eu. Vou tentar procurar por
ele sem chamar muita atenção.

— Aprecio o extra — disse ele.

— Eu aprecio a sua devoção, Cap.

Ele virou-se para a porta. No momento em que atingiu o limiar,


parou. — Eu não estou gostando do pensamento do fodido
provocando uma complicação para nós. Tem certeza que está
bem?

— Estou numa boa. Por quê?

— Só me surpreendeu você não explodir.

Eu tinha uma reputação de ter um temperamento explosivo,


algo que Cap tinha visto em primeira mão em muitas
ocasiões. Pensei na minha briga no estacionamento da Starbucks
e ri para mim mesmo. Senti que era melhor manter o incidente
para mim mesmo.

— Estou começando uma nova página.

— É bom ouvir, — disse por cima do ombro com uma


THE GUM RUNNER
risada. — Mas eu não estou acreditando nisso.

Assim que ele saiu do meu escritório, minha mente não foi para
o trabalho, ou Cap bater num homem e deixá-lo no
estacionamento de um posto de gasolina. Desviou-se para onde
tinha estado quase todo o dia.

Terra.

Considerando a possibilidade de que Agrioli e seus homens


pudessem estar tentando se infiltrar na minha organização, a
última coisa que eu precisava estar pensando era em uma
mulher. Parar de pensar nela, no entanto, tinha se provado quase
impossível. Ela era linda e tinha coragem. A combinação era
inegavelmente atraente.

Olhei para o meu relógio. Era uma hora antes da que eu


normalmente saía, mas desde que o meu dia tinha rapidamente se
transformado em um sanduíche de merda, ficar e manter o foco
seria difícil na melhor das hipóteses.

Olhei ao redor do escritório, decidindo que minha capacidade de


continuar era nula e encerrei o dia. Uma xícara de café iria me
relaxar e duas horas de treino me esgotariam. Teria uma boa noite
de sono e então poderia simplesmente começar um novo dia.

Uma xícara de café, refeição e exercícios que me permitissem


esquecer Agrioli por uma noite.

Mas não tinha ideia do que ia ter que fazer para limpar a minha
mente de Terra.
THE GUM RUNNER
E eu não sabia se queria.
THE GUM RUNNER

Terra

Baseada na minha experiência limitada, acreditava que todos os


homens eram idiotas sem consciência. Se houvesse uma maneira
social e moralmente aceitável de ter sexo sem o incômodo de ter
um namorado, eu com certeza teria tentado.

Após a exibição de cavalheirismo de Michael, eu mudei de


ideia. Agora preenchida com uma crença recém-descoberta que só
os homens italianos eram idiotas, sentei-me no café na esperança
de vê-lo novamente.

Apenas para não conseguir nada.

Duas manhãs consecutivas mais tarde e sem êxito, decidi tentar


o turno da noite. Ele disse que o café era o seu novo lugar, então
eu não acreditava que meus olhares para fora da janela foram
todos em vão.

Várias horas e seis cafés duplos na noite e eu já tinha gasto


cerca de quatro mil dólares em compras online, induzida pelo
café. Com meu coração batendo uma centena de vezes por
segundo e todos os pelos arrepiados, lancei um suspiro e fechei
meu laptop.

Fui até a lata de lixo e deixei cair meu copo meio


cheio nela. Mais um gole de café e eu, sem dúvida, morreria de um
ataque cardíaco aos vinte e quatro anos
THE GUM RUNNER
de idade. Enquanto caminhava de volta para o meu lugar, os faróis
de um carro se aproximando chamaram minha atenção. Um olhar
esperançoso para fora da janela indo para o estacionamento
deixou meu coração disparado e as palmas das minhas mãos
suando.

Um sedan BMW preto com uma placa personalizada. TRIPP.

Corri para o meu lugar e freneticamente abri meu laptop. Depois


de me atrapalhar com o botão, olhei pela janela e para o
estacionamento.

Querido Deus.

Eu poderia facilmente me perder simplesmente observando-o


andar. Vestido de forma semelhante ao dia que nos conhecemos, a
única mudança real era a cor de suas roupas. Agora vestindo um
terno azul escuro e nenhuma gravata – mas com a mesma
arrogância – ele caminhou até a porta e abriu.

Olhei para frente e tentei trocar a tela de produtos da Starbuck


do computador para um site de qualquer tipo. Eu queria parecer
preocupada, mas tinha que parecer real. Quando o site da minha
loja preferida ficou à vista, sua voz calma me fez vibrar inteira.

— Terra?

Lancei meu cabelo sobre meu ombro e me virei para ele. — Oh,
oi. Michael, certo?

— Sim. Mais problemas com o seu ex?


THE GUM RUNNER
Ele parecia mais alto do que antes. Levantei do meu assento e
sorri.

— Não, não tive notícias dele desde então.

Michael apontou a cabeça para o caixa.

— Posso pegar uma bebida?

Outra xícara de café seria certamente a minha morte, mas não


ousaria recusar. — Claro. Um café com leite duplo.

Ele balançou a cabeça, sorriu e virou-se para o caixa. Sentei e


tentei não olhar. Alguns olhares por cima do ombro enquanto ele
fazia o pedido e esperava pelo café não passaram despercebidos,
mas era toda a garantia de que precisava para me convencer de
que valeu a pena esperar.

Michael me entregou o café e sentou-se ao meu lado.

— Procurei por você aqui desde o dia em que nos conhecemos.

Você o quê?

Instintivamente, levei o copo aos lábios.

— Ah, é mesmo?

O cheiro quase me fez vomitar.

Ele tomou um gole de café.

— Pensei que poderia achá-la aqui.


THE GUM RUNNER
— Venho aqui de vez em quando. — forcei-me a tomar um
gole. — Se você quiser, posso te dar meu número de telefone e na
próxima vez que for vir, talvez possa encontrá-lo.

— Parece bom.

Comemorei internamente. Sim!

— Qual é o seu número? — perguntei. — Vou enviar-lhe uma


mensagem de texto.

Ele me deu seu número e eu lhe enviei uma mensagem de texto


com meu primeiro nome na mensagem. Quando o telefone tocou,
ele puxou do bolso interno da jaqueta e abaixou o olhar para a
tela. — Terra de quê? Apenas diz Terra. Qual é o seu sobrenome?

— Wilson — menti.

Quando as pessoas descobriam o meu sobrenome, as coisas


terminavam antes que chegassem a começar. Um olhar estranho,
um ah sério, ou, a inevitável pergunta você está relacionada com
Anthony Agrioli? Era o de praxe. Com Michael, eu queria uma
chance para mostrar a ele quem realmente era e não me
categorizar pelo que minha família estava envolvida.

— Terra Wilson — disse ele. — Está salvo.

— E o seu é Tripp. Você disse que era uma longa


história. Então, tem tempo para contá-la agora?

Ele riu enquanto considerava sua resposta.


THE GUM RUNNER
— Eu estava indo obter as placas para o carro e a senhora me
deu USN 666. Sou um ex-fuzileiro naval, e embora nós
estivéssemos tecnicamente sob o Departamento da Marinha,
olhamos para ela como sendo abaixo de nós. As letras USN são a
sigla para Marinha dos EUA e não queria elas no meu carro. Eu
sabia que não queria 666 tampouco, então perguntei se poderia
obter uma placa diferente. Ela disse “não, a menos que você volte
para a linha e vá para um serviço militar diferente”. Levei três
horas para chegar onde estava, então pedi uma placa
personalizada. Joguei a USN 666 no porta-malas e dirigi com a
placa comercial expirada até que a nova apareceu.

Suas habilidades de luta levaram-me a acreditar que ele era


alguma coisa, mas a marinha não teria sido a minha primeira
suposição. — Então, você era um fuzileiro naval?

— Dez anos atrás.

— Ah uau. Bem, isso explica o, uhhm. Sim. —Eu olhava para


ele com admiração. — Mas não mais?

— Não, faz um ano.

— Então o que você faz agora?

— Sou investidor — disse ele categoricamente.

— No que você investe?

— Oportunidades. Invisto em oportunidades. — Ele pareceu


convencer a si mesmo disso enquanto falava.
THE GUM RUNNER
Acenei minha mão aberta em direção a ele.

— Bem, parece como uma carreira gratificante.

— Até agora, tem sido muito lucrativa. Com alguma sorte, vai
continuar assim. Estou pensando em me aposentar dentro de
poucos anos e mudar para Belize.

— Sério?

— Espero que sim. Quero dizer, se tudo continuar dando


certo. É lindo lá.

Enterrei os dedos em meus cabelos e agitei-os


freneticamente. Não querendo ser graciosa ou para chamar
atenção para mim, mas porque eu senti que meu cabelo estava
uma bagunça. A dieta da minha noite de quase sete cafés duplos e
nenhum alimento estava causando estragos em mim. Sacudi meu
cabelo e deixei-o cair sobre meus ombros.

Ele se inclinou para trás e assistiu.

Baixei minhas mãos no meu colo e sorri, satisfeita por meu


pequeno ajuste ter acabado. — Nunca estive lá, mas com certeza
gostaria de ir um dia.

— Você é... — Sua boca se torceu em um sorriso e ele balançou


a cabeça levemente. — Linda pra caralho.

Eu não tinha certeza se ele realmente disse o que pensei ter


ouvido, ou se o estado de delírio induzido pela cafeína fez minha
mente pregar peças em mim.
THE GUM RUNNER
— Desculpe?

— Desculpe, mas eu não sou cego.

Eu realmente queria ouvi-lo dizer isso de novo.

— O que você disse?

— Desculpe, mas eu não sou cego?

— Não, antes disso.

— Antes disso? Eu disse que era linda.

Senti-me como na quinta série quando Salvadore Tarrucci me


passou um bilhete na sala de aula. Quando abri, estava escrito
“quer ser minha namorada?”, meu coração se sobressaltou,
enchendo minha mente com uma combinação de orgulho e
autoconfiança.

Michael estava me fazia sentir como se estivesse na quinta série


novamente. Meu rosto parecia estar pegando fogo. Uma sensação
de formigamento correu da minha boceta aos meus mamilos. Os
seis meses de abstinência eram óbvios.

Cruzei as pernas nervosamente e sorri.

— Obrigada.

Parecia bom demais para ser verdade. Um homem lindo, bem-


vestido, que era protetor, queria se aposentar em uma ilha remota
no sul do México, que me achava linda e não tinha medo de
dizer. Ele estava muito longe dos homens que estava
THE GUM RUNNER
acostumada, a maioria dos quais fazia lucro com suas atividades
criminosas e comportamentos obscuros.

— Então, além de dar chutes nas partes dos caras, o que você
faz? — Perguntou.

— Huh? — Eu ainda estava pensando no elogio. Ele tinha


acabado de passar de um lindo chutador de traseiros para
irresistivelmente adorável.

Michael inclinou a cabeça para o meu computador.

— O que você faz?

Enruguei meu nariz.

— Com o que?

Ele tossiu uma risada.

— Você está nervosa? Eu acho que eu poderia ter esperado


para dizer aquilo, mas quando você fez aquela coisa com o cabelo,
foi apenas, eu não sei. Você ficou linda.

Estava longe de ser uma adolescente e antes de conhecê-lo me


descreveria como confiante, madura e bastante estabelecida na
vida, mesmo assim, ele me fez sentir como uma menina
novamente.

E eu gostei.

— Desculpe, acho que sonhei acordada por um minuto.


THE GUM RUNNER
— Abanei a mão na frente do meu rosto. — Então, você
perguntou o que faço?

— Sim — disse ele. — No que trabalha?

Eu não tinha um emprego. Parecia terrível admitir, mas desde o


meu vigésimo primeiro aniversário, recebia uma quantia anual do
meu fundo fiduciário. Minha família era rica, portanto eu também
era. Tinha dinheiro e se tentasse conseguir um emprego, meu pai
teria um ataque.

— Eu uhhm. Eu. Bem... —murmurei.

Senti-me terrível por dizer que o meu sobrenome era Wilson e


tinha decidido manter minhas mentirinhas limitadas a isso. Mas
não ousaria dizer-lhe a verdade sobre ser rica e não ter um
trabalho real. Suspirei pesadamente na expectativa de lhe dizer
mais uma mentira.

— Estou no ramo de calçados — soltei. — Eu herdei uma loja


em Long Island. E a gerencio a partir daqui.

Jesus, Terra. De onde diabos veio isso?

Não tinha ideia de onde veio essa resposta, mas eu amava


sapatos e tudo sobre compras de calçados. E, embora tenha sido
uma mentira, não era. Estava no negócio de sapato. O negócio de
comprá-los.

Ele ofereceu um leve sorriso.

— Sapatos, hein?
THE GUM RUNNER
Apertei os olhos. Talvez não tenha convencido Michael o
suficiente.

— Sim, por quê?

— Nada.

— Você tinha um sorriso de merda na sua cara.

— Não foi de merda. Era apenas um sorriso, nada mais do que


isso. Estava pensando que isso explicaria o solado vermelho que
caiu no outro dia.

Era difícil de acreditar que ele sabia o que um solado vermelho


4significava.

— Você notou.

— Sou observador.

Sentei com um ligeiro sorriso no rosto e olhei fixamente para


frente. Sentia um enorme conforto na presença de Michael. Era
uma mudança agradável falar com alguém sem ter a pessoa
enviando mensagens de texto ou atualizando o status no Facebook
a cada dez minutos. Eu também gostei que ele fosse observador,
protetor e de não ter hesitado em intervir quando Vincent estava
tentando me arrastar para longe contra a minha
vontade. Considerando como nos conhecemos, decidi arriscar um
pouco mais.

— Então, o que você pensou que eu fazia?

4 Christian Louboutin Christian Louboutin é um designer francês de calçadosque lançou sua linha de sapatos

principalmente femininos na Feança. Sua marca registrada é a sola solas vermelhas em sapatos, exceto quando o sapato em si
é todo vermelho também.
THE GUM RUNNER
— Não sei.

— Tenho certeza que você pensou alguma coisa — eu disse. —


Você parece ser uma pessoa observadora.

— Você realmente quer saber?

Não vi o mal nisso. Dei de ombros.

— Claro.

— Na verdade, eu fiquei imaginando o que seu pai faz.

O quê? Minha boca ficou seca.

— Por que uhhm. Hã?

— Você disse a seu ex que faria o seu pai cortá-lo em pedaços e


jogá-lo no rio Missouri. Então, fiquei imaginando o que ele fazia
para viver. — Ele pegou seu café e levantou uma sobrancelha de
brincadeira. — Obviamente não trabalha no ramo de sapatos.

Se meu pai descobrisse o que Vincent tinha feito para mim,


ele iria realmente cortá-lo e jogá-lo no rio Missouri. Eu tinha
começado com minhas mentiras, então tinha que continuar.

— Ele não é loucamente protetor comigo ou qualquer coisa, mas


ficaria muito bravo se achasse que alguém estava abusando de
mim.

— E ele deveria.

Eu decidi mudar o assunto de volta para mim, ou pelo


THE GUM RUNNER
menos tentar fazê-lo.

— Então o que você imaginava como minha profissão? Nós


estávamos falando sobre isso. Seu sexto sentido ou algo assim.

— Meu palpite querida era um fundo fiduciário, ou algo similar


— disse ele. — Você é obviamente rica.

Puta merda.

Eu olhei para Michael. Desconsiderando ligeiramente o que


disse. Bem, tanto quanto eu pude, considerando que era tudo
verdade.

— Sério? Baseado em quê?

Ele se inclinou para frente e travou os olhos comigo.

— Bem, você dirige uma Mercedes S550 Coupe. O sapato que


perdeu no outro dia era um Louboutin e está sentada na
Starbucks comprando online de uma boutique cara em uma noite
de quarta-feira. É solteira ou faz um bom trabalho de agir como se
fosse e você está usando um diamante enorme em seu dedo
anelar.

Nervosamente cobri meu anel com a mão direita e olhei para ele
em choque. Ou talvez estivesse impressionada. O que quer que
fosse, eu estava paralisada em minha cadeira, olhando para ele
com os olhos arregalados e a boca aberta.

Michael se afastou da mesa e fez um gesto para o meu colo.


THE GUM RUNNER
— Meu palpite é que usa isso para manter caras longe de você.

Continuei de boca aberta.

Ele fez uma pausa e levantou uma sobrancelha.

— Como estou indo até agora?

Uau.

— Como... — Movi a cabeça em descrença. — Como você sabe o


que dirijo?

— Você foi embora no outro dia, lembra?

Michael estava certo. Sobre tudo. Apesar de suas observações,


ainda sentia que eu era digna de seu tempo e apreciei isso. Como
ele dirigia uma BMW de cem mil dólares e se vestia com roupas de
marca, era óbvio que não estava atrás de mim pelo meu dinheiro e
obviamente eu não estava interessada nele pelo seu.

Estava atrás dele por outras razões. E parecia que a lista estava
crescendo.

— Meu pai me deu o anel. Ele disse que iria manter os caras
longe. E, você estava certo sobre tudo. É loucura ter percebido
tudo isso.

— Sou muito consciente dos meus arredores. Às vezes acho que


isso me impede de viver uma vida normal.

— Como assim?
THE GUM RUNNER
— Desenvolvo opiniões baseadas no que penso e não
necessariamente no que sei que é verdade. Em minha opinião, se
eu acreditar, é fato. Então, quando entro em uma sala, faço um
levantamento das pessoas e a situação, e, em seguida, tomo
decisões com base no que vejo. Alguns podem chamar isso de
arrogância. Eu digo que é confiança. Existe uma linha tênue entre
os dois, sabe.

Ele estava se tornando mais interessante a cada minuto.

A mulher em mim precisava saber mais.

— Então, quais decisões ou opiniões você tem com base no que


você já viu de mim? No outro dia quando nos conhecemos e hoje à
noite?

— Sério?

— Sim, realmente.

— Você tem certeza?

— Sim, tenho certeza.

— Lembre-se, eu não sou cego.

Não havia nada que ele pudesse dizer que me


assustasse. Queria ouvi-lo, mesmo se fosse direto em sua
resposta.

— Eu sou uma menina grande — assegurei a ele.

Michael sorriu.
THE GUM RUNNER
Eu relaxei e esperei que expressasse sua opinião.

— Primeiro. Deixe-me dizer isto. Eu nunca tive muito interesse


em estar em um relacionamento. Com qualquer uma. Em
combate, acredita-se que ter uma mulher em sua vida fará com
que você perca o foco e que a falta dele vai te matar. Sei que não
estou mais em combate, mas os velhos hábitos custam a morrer.

Meu coração afundou. Engoli o pouco de orgulho que tinha


desenvolvido ao longo de nossa conversa e cai no meu lugar.

Ele me estudou por um breve momento, então deu um sorriso


culpado.

— Mas, depois que a vi no outro dia, não consegui te tirar da


minha mente. Por mais que quisesse, não conseguia. Naquela
noite dirigi de volta para cá na esperança de vê-la. Então, fiz a
mesma coisa nas próximas manhãs. Inferno, esta noite vim aqui
na esperança de encontrá-la. Havia algo sobre você. Eu não sabia
no início o que estava acontecendo, mas decidi que o motivo é por
você ser uma menina aventureira. Isso é o que penso sobre o dia
que nos conhecemos.

Ele travou os olhos nos meus, encostou-se à borda da mesa e


moveu-se para tão perto que eu podia sentir sua respiração.

— Hoje? Nesta noite, eu decidi querer dedicar uma parte do


tempo e esforço necessário para, eventualmente, ganhar o direito
de assistir você se vestir de manhã. E quando essa hora chegar –
quando eu finalmente ganhar esse direito – quero sentar e assistir
você puxar sua calcinha sobre as coxas, em seus quadris, até
THE GUM RUNNER
que a coloque no lugar certo. Então, quero ver você enrolar seu
sutiã em torno de seus seios perfeitos enquanto me observa
admirar você.

Eu posso ou não ter lambido os lábios. A temperatura subiu


instantaneamente. Pressionei meus joelhos juntos, mas isso
apenas piorou as coisas.

Pisquei.

Ele respirou superficialmente.

— E então quero assistir você abotoar sua camisa, puxar as


calças sobre essas longas pernas, e calçar seus sapatos de salto. E
então, Terra, depois de calçar seus sapatos...

Minha boca estava seca, minha garganta apertada e minha


boceta uma bagunça encharcada. Lutei para engolir e tentei falar.
Nada aconteceu.

Pressionei meus joelhos e acenei com a cabeça. Isso fez pouco


para resolver o problema com minha boceta.

—... Quero levantar, andar devagar até você e tirar tudo de


novo.

Eu estava uma bagunça. Ele tinha me deixado tão excitada que


não podia fazer nada além de implorar por mais. Realmente
precisava que Michael me dissesse o que viria a seguir. Ainda
estava tão perto que podia sentir sua respiração no meu rosto,
então olhei em seus olhos hipnóticos e separei meus lábios
levemente.
THE GUM RUNNER
— Por quê? — As palavras foram sopradas pelos meus lábios
num sussurro quase silencioso.

Sua boca se torceu em um sorriso.

— Porque se eu ganhar o direito de fazer tudo isso, poderei


enfiar minha língua na sua pequena boceta molhada. Quero que
você goze na minha boca. Quero te provar, Terra Wilson. E hoje à
noite? Hoje à noite decidi que vou fazer o que tiver que ser feito
para que isso aconteça.

Ele se inclinou para trás e calmamente tomou um gole de


café. Ele parecia diferente. Seu cabelo castanho escuro curto,
mandíbula forte e penetrantes olhos azuis lhe fizeram parecer mais
ameaçador do que antes. Pressionei minha língua contra o céu da
boca e engoli em seco.

Eu estava começando a gostar desse cara.

— Você decidiu tudo isso esta noite?

— Sim.

Meu rosto ficou vermelho.

— Você quer... você quer uhhm... você quer ganhar esse direito?

— Eu quero.

Bem, Michael Tripp, temo que você está mais perto disso do que pensa.
THE GUM RUNNER

Michael

Os passos desconhecidos se aproximando poderiam ser de


qualquer um. Considerando o problema recente de Cap, fiquei em
guarda, deslizei minha pistola e esperei ansiosamente. Em menos
de trinta segundos, eles apareceram.

Um deles estava vestido com roupa de treino dos anos oitenta


com listras brancas ao longo dos braços e pernas e o outro um
terno cinza com listras escuras. Eles eram, sem dúvida, dois dos
capangas de Agrioli.

O músculo e o cérebro.

O que estava vestindo a roupa de ginástica era alguns


centímetros mais alto do que seu companheiro; cerca de um e
oitenta de altura. A camiseta branca que usava por baixo da
jaqueta fez seu peito robusto aparente, mas a barriga bastante
grande pairando sobre sua cintura me disse que gostava de comer
muito mais do que malhar. Seu cabelo escuro estava penteado
para trás e achatado contra o seu couro cabeludo. Suas bochechas
caídas e as pregas no queixo levaram-me a acreditar que estava
em seus quarenta e tantos anos ou início dos cinquenta.
THE GUM RUNNER
Agitei a cabeça em direção ao Sr. Agasalho enquanto contornava
a minha mesa.

— Pensei que a Adidas tinha parado de produzir essa roupa na


década de 80. Onde você conseguiu isso? eBay?

Agasalho olhou para seu parceiro, aparentemente buscando


aprovação para lançar um retorno ao meu comentário
sarcástico. O de listras inclinou a cabeça para o lado e encolheu os
ombros. Enquanto eles continuaram a trocar olhares, procurei por
sinais de que qualquer um deles estivesse carregando uma arma.

Listras encontrou meu olhar. Seu cabelo negro tinha manchas


de cinza que não pareciam corresponder a sua idade, que eu
imaginava ser uns trinta.

— Sr. Tripp, somos associados do Sr. Agrioli. O mencionado Sr.


Agrioli gostaria de marcar uma reunião sobre um carregamento de
rifles militares. Foi trazido à atenção dele, que você receberá estes
rifles muito em breve e ele gostaria de formar uma parceria antes
de serem enviados para o destinatário final.

Minha resposta foi imediata.

— Desculpe, vocês estão no escritório errado. Esta é Don’t Tripp


Ltda. Somos uma empresa especializada em resolver problemas
com superfícies irregulares de calçadas.

Listras riu. Seus ombros subiram e desceram


novamente. Convencido de que era mais um tique nervoso que um
encolher de ombros real, balancei a cabeça e esperei
THE GUM RUNNER
impacientemente a sua resposta.

Treino alcançou dentro de sua jaqueta. Reagi de acordo com o


meu treinamento militar e dez anos de experiência de combate.

Puxei a pistola da minha cintura e apontei em direção à cabeça


dele.

— Mantenha essas mãos onde eu possa vê-las ou acertarei


vocês dois seus filhos da puta, antes que se movam. — Meus olhos
dispararam entre eles. Eu estava em modo de sobrevivência. —
Não estou de sacanagem, se qualquer um de vocês se moverem,
será a última vez que farão.

Os olhos de Listras se arregalaram e suas mãos lentamente se


levantaram na altura do peito. As mãos de Agasalho imitando-o.

— Você está brincando comigo? Esta é uma reunião pacífica,


nenhum de nós está armado — Listras explicou, claramente
irritado com a minha reação. — E você foi bastante rápido para ser
um reparador de calçada.

Virei minha cabeça para Agasalho.

— Ele estendeu a mão para alguma coisa.

Agasalho puxou sua jaqueta e levantou-a lentamente, expondo o


cós da calça. Listras estava correto, parecia que ele não estava
armado. Baixei a pistola. Não importava se estavam armados ou
não. Eu tinha muito mais experiência em matar pessoas do que
eles, não havia nenhuma dúvida sobre isso. Se qualquer um deles
pegasse numa arma, eles seriam enviados de volta para Agrioli
THE GUM RUNNER
em um tambor de aço.

— Eu sou um traficante de armas e você sabe disso. E não


estou procurando um parceiro de negócios. Então, diga a Agrioli
que fico lisonjeado, mas não, obrigado.

Incomodou-me que Agrioli estivesse ciente dos rifles AR-15 que


estava programado para receber. Para ele descobrir qualquer coisa
sobre minha operação, significaria que ou ele tinha meu escritório
grampeado ou um dos meus empregados era um informante do
Agrioli.

Ambas as possibilidades me deixaram puto. Listras deu de


ombros.

— Ele vai sentir muito em ouvir isso.

Olhei de volta para ele. .

— Sentir ouvir isso, hein? Você sabe, o que isso significa, a


partir de agora será uma disputa por quem tem o maior pau. Ele
ou eu? Então diga a Agrioli que eu... — Fiz uma pausa e limpei
minha garganta. — Não, vou dizer a ele eu mesmo.

Listras deu de ombros. Novamente. .

— Preciso dar a Sr. Agrioli uma resposta.

Dei de ombros em resposta. Não por causa da falta de


segurança, mas porque sou naturalmente um idiota quando
encurralado.
THE GUM RUNNER
— Eu lhe dei minha resposta. Diga Agrioli que vou entrar em
contato.

Listras olhou para Agasalho. Agasalho deu de ombros e


sorriu. Perguntava-me se ele era capaz de falar. Listras ergueu o
dedo indicador. — Preciso te dar um cartão de visita.

— Faça isso devagar.

Ele enfiou a mão no casaco e depois de alguns segundos


procurando, pegou um cartão de visita.

— Deixe-o cair no chão. E vocês, rapazes podem encontrar a


saída, não podem? — Listras deixou cair o cartão a seus pés, deu
de ombros e concordou. Agasalho sorriu.

Juntos, eles se viraram e passaram pela porta. Os assisti entrar


em um Cadillac preto e me perguntei se um destes homens foi
vítimas de Cap no posto de gasolina. Rapidamente decidi que não,
já que nenhum deles estava coberto de contusões. Era possível
que todos os homens de Agrioli dirigissem Cadillacs. Depois que
eles foram embora, peguei o cartão de visita e sentei à minha
mesa.

Ter a máfia envolvida em meu negócio significava que não iria


acabar bem, pelo menos não para mim. Eu não era italiano e eles
eram gananciosos. Inevitavelmente, a parceria iria acabar. E
quando as parcerias da máfia italiana acabavam, sempre havia
morte. As mortes, no entanto, nunca foram no lado da multidão.

Olhei para o cartão de visita.


THE GUM RUNNER
Anthony Agrioli.

Peguei meu telefone de mesa e apertei os números no teclado.

— Escritório de Anthony Agrioli, — disse a recepcionista em um


tom anasalado.

Minha mente se encheu de visões de uma loira de vinte e poucos


anos, sentada em uma mesa vestindo uma saia justa, pintando as
unhas e estalando o chiclete enquanto esperava a próxima
chamada telefônica.

Suspirei ao telefone.

— Michael Tripp para falar com Anthony, por favor.

— É Sr. Agrioli.

Ela limpou a garganta como se para adicionar mais ênfase à sua


resposta.

— Ele está esperando a sua chamada?

— Por que você não pergunta à Anthony?

— Espere por favor— ela retrucou.

Eu descansei o telefone entre o ombro e a orelha enquanto


esperava. Depois de alguns segundos, ele pegou o telefone.

— Sr. Tripp. Fui informado de que precisamos nos encontrar. —


A voz era distinta, com um grosso sotaque da Filadélfia.

— Só vou concordar em fazer isso de uma única maneira.


THE GUM RUNNER
Meu escritório em uma hora. Venha sozinho.

— Seu escritório? — Ele riu. — Você acha que sei onde é o seu
escritório?

— Uma hora— respondi categoricamente.

Inclinei a cabeça para longe do meu ombro e deixei cair o


receptor na minha mão esquerda. Quando ele começou a falar em
resposta ao meu pedido, apertei o telefone no gancho e finalizei a
chamada.

Meus olhos caíram para o cartão de visita.

Eu tinha investido muito em minha liberdade para desistir


facilmente. Nos meus dez anos de guerra baleei milhares e fui
atingido por dois. Nada poderia me impedir de lutar por aquilo que
eu acreditava ser o certo, Anthony Agrioli incluído. Se ele ia me
impedir de traficar armas de fogo, teria que trazer um exército de
homens, ou me matar.

Havia dois problemas.

Ele não tinha um exército de homens.

E, até onde sabia, eu ainda tinha sete vidas.

***

Agrioli era mais jovem do que esperava. Um homem de pele


escura, com cerca de cinquenta anos de idade, calmo, de fala
mansa e educado. Vestido com um terno cor de oliva, uma camisa
azul e gravata cinza, ele parecia ser um
THE GUM RUNNER
modelo italiano, não o assassino sem coração que certamente
era. No entanto, eu não estava impressionado. Na verdade, estava
irritado.

Nosso encontro foi direto ao ponto e já estava quase no fim.

Ele cruzou as pernas e apoiou as mãos na coxa.

— Uma parceria. Gosto de pensar nisso como uma parceria.

— É bom saber, mas não estou precisando de um parceiro.

Com as mãos ainda descansando em seu colo, ele virou as


palmas das mãos para cima e levantou as sobrancelhas. — Talvez
você devesse. Coisas acontecem. Os embarques são sequestrados
ou roubados. Você precisa proteger seus interesses. Olhe para
essa parceria como uma proteção para eles.

Pensei no incidente de Cap no posto de gasolina e ri para mim


mesmo.

— Eu protejo meus interesses com veteranos de guerra. Eles são


treinados para reagir a essas situações.

Ele suspirou e baixou a cabeça. Depois de um longo momento,


ele levantou o queixo e encontrou meu olhar.

— Considere isso. A nossa força é a nossa reputação. Há


benefícios. Nós podemos assegurar seus carregamentos contra a
perda.

Eu ri.
THE GUM RUNNER
— Você asseguraria minhas cargas?

Ele deu de ombros.

— Poderia ser arranjado.

Levantei-me e estendi a mão.

— Bem, isso é bom saber, mas eu não tive problemas ainda e


não antecipo um no futuro. Agradeço a oferta. Se as coisas
mudarem, talvez possamos nos falar novamente no futuro.

Não tinha intenção de me encontrar com ele novamente, mas


estava tentando ser o mais atencioso possível.

Agrioli se levantou, apertou minha mão e olhou ao redor do


escritório.

— Bom escritório. É uma excelente localização.

— Obrigado — eu disse com um ligeiro aceno. — E obrigado por


ter encontrado um tempo para nosso encontro.

— Minimizar a sua perda é maximizar o lucro— disse ele.

— Agradeço mais uma vez, mas não tenho problemas de perda.

Ele passou as mãos em suas calças.

— Pense no futuro. Você nunca sabe o que o futuro


reserva. Tenha uma noite agradável, Sr. Tripp.

Não era exatamente uma ameaça, mas pareceu como uma.


THE GUM RUNNER
O italiano que confrontou Cap, os dois italianos que entraram
em meu escritório e a visita do chefe da máfia italiana me
deixaram com desejo de me vingar da raça italiana por terem
incomodado minha vida.

Terra foi à primeira coisa que me veio à mente como um meio


para resolver o problema.

Eu não estava lá ainda, mas com o tempo esperava que fosse


estar. E quando chegasse esse momento, tudo o que podia fazer
era rezar para que ela estivesse preparada para o que iria
desencadear.
THE GUM RUNNER

Terra

Eu não tinha o hábito de ir a encontros, mas a mudança era


mais do que bem-vinda. As diferenças entre as personalidades de
Michael e Vincent eram muitas e embora odiasse comparar
Michael a qualquer um, isso parecia acontecer o tempo todo.

O restaurante em que estávamos era bem distante


dos conhecidos restaurantes do centro superpovoado. Era um
estabelecimento de luxo com uma área de jantar e um bar de jazz.

Estar em um lugar que meu pai nunca iria era importante e


como eu não tinha conhecimento prévio da existência desse
restaurante, acreditava que meu pai também não tivesse.

Depois da refeição, nos sentamos e bebemos vinho enquanto o


jazz suave enchia o ar. Bem diferente do que estava acostumada,
saboreava cada minuto que passava, esperando que a noite fosse
durar para sempre. Três copos de vinho depois e eu estava meio
bêbada, com tesão e agradecida pela existência de Michael na
minha vida.

— Então isso não é algo que você normalmente faz? —


Perguntei.
THE GUM RUNNER
Nossos olhos se encontraram e ele riu quando estendeu a mão
para o vinho. — Não estive em um encontro em mais de dez anos.

Sua resposta foi surpreendente e eu achei mais conforto nela do


que provavelmente deveria ter.

— Dez anos? Mesmo?

— Talvez onze. — Seus olhos desviaram. — Sim, onze anos.

— Wow. Isso é muito tempo. Por que tanto tempo?

Levantei meu copo de vinho e tomei um gole enquanto esperava


a sua resposta.

— Bem, eu estava lutando em uma guerra durante dez desses


anos. E, não sei. Como disse naquela noite no café, nunca achei
que valia a pena estar em um relacionamento. Sabia que nunca
iria durar em um, então não havia sentido em mentir para
ninguém indo a um encontro.

Baixei minha taça. Os efeitos do vinho estavam evidentes.

— Sexo casual?

Ele empurrou o copo para o lado e sorriu.

— Existe uma coisa dessas?

Sua atitude calma, bela aparência e as bravatas que ele


naturalmente exibia tornava difícil estar em sua presença e agir
como um adulto. Eu queria chegar debaixo da mesa com o meu pé
e esfregar seu pau.
THE GUM RUNNER
Lambi meus lábios.

— Eu acho que sim. Como sexo sem um relacionamento, amigos


com benefícios, ou apenas uma foda ou qualquer outra coisa.

Seu rosto se contorceu como se eu tivesse dito que ele cometeu


um assassinato.

— Não acredito nisso. Se eu enfiar meu pau em alguém,


independente do arranjo, os sentimentos vão existir. Pensar que
duas pessoas podem foder e não ter, pelo menos um deles,
eventualmente, vindo a desenvolver sentimentos para com o outro
é tolice.

Concordei totalmente com o que ele disse. No entanto, foi uma


surpresa ouvir isso de um homem. Eu terminei meu vinho e
desejei ter mais.

— Então, você nunca teve sexo casual? Nem uma vez?

Ele balançou sua cabeça. “Nunca tive e nunca terei.".

— Então você não teve relações sexuais em onze anos? — Não


conseguia entender isso. Na verdade, parecia impossível para
qualquer um, que não fosse um inválido ou talvez um tetraplégico.

— Não disse isso. Falei que não tive encontros e que nunca tive
sexo casual. Eu tive relações sexuais durante esse período, porém
não sem sentido.

— Oh, desculpe.
THE GUM RUNNER
Ele estendeu a mão para o copo".

— Havia uma enfermeira com quem pensava que estava em um


relacionamento, mas acabou que ela estava transando com cada
homem que se alistou e que entraram em contato com ela.".

— Isso é péssimo.

— Acontece — disse ele. — E você? Você faz essa coisa de sexo


casual?

Queria dizer não, mas tinha feito sexo casual em algumas


ocasiões. Não era algo que fazia com frequência, apenas uma noite
ou três. Adorava fazer sexo e senti que tentando negá-lo poderia
enviar a mensagem errada.

— Não faço mais isso, mas já fiz. Quando era mais jovem.

Com os olhos fixos no seu copo de vinho, ele balançou a cabeça


lentamente, como se estivesse pensando profundamente.

Michael usava terno para o trabalho, então ver ele sentado a 90


cm de distância de mim, com jeans escuro e uma camisa com os
primeiros botões desabotoados, parecia mais convidativo do que o
habitual. Talvez ele parecesse mais acessível. Ou poderia ter sido
culpa do vinho.

— Você disse outro dia que queria ganhar o direito de assistir eu


me vestir.

Ele olhou para cima.


THE GUM RUNNER
— Sim.

— E se eu lhe disser que você ganhou esse direito?

— Ganhei?

Meus olhos encontraram suas mãos. Envolvidas em torno de


sua taça de vinho, elas eram magras com veias visíveis. Seus
dedos longos eram extremamente sexys, se as mãos pudessem ser
consideradas sexy. Imaginei-os debaixo da minha camisa,
apertando meus seios.

Embora não tivéssemos passado muito tempo juntos e era


tecnicamente nosso primeiro encontro, havia passado tempo
suficiente para que eu estivesse além de preparada. Suspirei. — Já
nos conhecemos a algumas semanas. Eu acho que estou pronta.

— Para?

— Posso ver as palmas das suas mãos?

Ele levantou uma sobrancelha.

— Como?

— As palmas das suas mãos. Eu posso vê-las? — Era


definitivamente culpa do vinho.

Ele soltou o copo e virou as mãos. A superfície de suas palmas


era lisa e sem rugas.

— Como você as mantêm tão suaves?


THE GUM RUNNER
— Loção. E faço a unha — disse ele enquanto se afastava.

— Você está bem?

— Eu quero chupar seu pau.

Ele tossiu reflexivamente.

— Você quer chupar o meu pau? Simples assim?

Meu rosto estava quente e embora uma pequena parte de mim


desejasse não ter dito isso, a maior parte de mim estava feliz que
eu fiz. Independentemente disso, senti a necessidade de tentar
recuperar o meu erro.

— Nós somos adultos e estamos atraídos um pelo outro. Você


me disse isso. Eu já lhe disse isso. Você disse a duas semanas que
queria ganhar o direito de me ver nua. Esta noite, estou dizendo a
você que quero chupar seu pau.

Ele apontou para a minha taça de vinho vazia. — Você está


bêbada.

— Eu sou italiana—disse. — Falamos o que nos vem à mente.

— E você quer...

— Chupar seu pau — interrompi.

Ele riu. — E você não está bêbada?

— Já ouviu as pessoas dizerem a expressão de que não têm


filtro?
THE GUM RUNNER
— Sim, já ouvi.

— Bem, os italianos não têm filtro. Eu sou italiana. — Dei de


ombros e estendi a mão para minha taça. Ela ainda estava vazia.

Merda.

Michael pressionou os antebraços na borda da mesa e se


inclinou para frente. — Isso pode te colocar em apuros. Você já
ouviu pessoas dizerem à expressão que conseguiram mais do que
esperavam?

Inclinei-me ligeiramente.

— Sim, já ouvi.

Ele agarrou a parte de trás do meu pescoço com a mão direita e


virou minha cabeça para o lado. Quando sua boca encontrou a
minha orelha, ele sussurrou.

— Bem, sou bom em duas coisas. Defender o que amo e


foder. Tem certeza de que está pronta para fazer isso?

Eu podia sentir meu coração batendo na minha boceta. Com


vinho ou sem vinho, estava pronta.

Minha boca ficou seca instantaneamente. Tentei engolir. Com


meus seios pressionados no topo da mesa e sua boca ainda contra
o meu ouvido, notei o garçom se aproximando. Empurrei minha
língua no céu da boca e engoli, depois levantei o dedo indicador.

— Bem? — Michael sussurrou.


THE GUM RUNNER
O garçom levantou as sobrancelhas. Segurei o meu dedo
indicador estendido no ar e virei minha boca contra a orelha de
Michael.

— Você não me assusta— eu sussurrei.

Inclinei a cabeça para o lado e apertei os olhos para o garçom


sorridente. — Você pode nos trazer a conta?

O garçom assentiu e se afastou.

— Você já está pronta para ir? — Perguntou Michael.

Cruzei os braços sob meus seios e deixei escapar um suspiro


exagerado.

— Sério?

Ele sorriu.

— Ainda tenho metade de um copo de vinho.

— Bem— eu disse. — Estou pronta.

Ele bebeu o restante do vinho.

— Tem certeza disso?

Balancei minha cabeça.

— Se você pudesse sentir minha boceta, não iria me perguntar


isso.

Ele virou para mim e me chamou com o dedo


THE GUM RUNNER
— Venha aqui.

Eu sabia o que ele queria. Pelo menos pensava que sim. Olhei
para a esquerda. Olhei para a direita.

— Hã?

— Venha. Aqui. — Sua voz era severa.

Fiquei de pé, dei a volta na mesa e parei do seu lado. Eu lutei


para molhar minha boca excessivamente seca. A simples palavra
de três letras não veio fácil.

— Sim— eu murmurei.

Com os olhos fixos nos meus, ele sorriu e enfiou a mão no bolso
direito. Um clique me fez mudar meu foco para sua mão
direita. Meus olhos se arregalaram com a visão de um canivete na
palma da sua mão.

Prendi a respiração quando ele deslizou a mão debaixo do meu


vestido. Meus olhos nervosamente examinaram o corredor para os
espectadores.

Senti sua mão contra a minha coxa. Lentamente, passou pela


minha perna até que descansou contra o meu quadril. Com os
olhos ainda presos nos meus, senti uma leve pressão enquanto
puxava minha calcinha. A lâmina cortou o material com pouco
esforço. Ele deslizou a mão para o outro lado, arrastando os dedos
livres contra a minha boceta molhada no processo.

Mais uma vez, a faca cortou através do material sem


esforço. Meu queixo e minha calcinha
THE GUM RUNNER
caíram no chão ao mesmo tempo. Sentindo-me um pouco
envergonhada, comecei a abaixar para pegá-la.

— Deixe no chão — ele respirou.

A ponta do dedo circulou meu clitóris inchado. Meus olhos


dispararam em torno do estabelecimento meio-cheio. O garçom se
aproximava de nós, com o rosto coberto por um sorriso.

Michael deslizou um dedo dentro de mim. Eu suspirei. Meu


rosto ficou vermelho.

Sua boca se torceu em um sorriso. Mordi o lábio. Ele forçou


outro dedo dentro. Fechei os olhos e engoli um suspiro.

— Minhas desculpas, senhor. Eu voltarei depois.

Merda, o garçom.

Mantive meus olhos fechados.

Michael forçou seus dedos um pouco mais profundo em minha


boceta ansiosa. — Está tudo bem. Deixe-a sobre a mesa.

Mordi meu lábio inferior. Oh Deus.

— Você parece... — o garçom limpou a garganta. — Um pouco


ocupado, senhor.

— Basta deixar aí que vou chegar a ela quando terminar aqui.

— Muito bem, senhor.

Michael empurrou os dedos profundamente, deslizou-os


THE GUM RUNNER
totalmente e depois os enfiou de volta. Ele enrolou a ponta de um
dedo contra o meu ponto G. A sensação de formigamento passou
por mim como um relâmpago. Minhas pernas tremeram e tive que
lutar para permanecer de pé. O formigamento continuou por
alguns segundos, correndo através de mim da cabeça aos pés.

— Obrigado— Eu ouvi Michael dizer.

— Sem pressa— o garçom respondeu, sua voz desaparecendo à


medida que ele obviamente se virou. — Fique o tempo que
precisar.

Michael trabalhou seus dedos dentro e fora da minha vagina


latejante duas vezes, provocando o meu ponto G cada vez. — Eu
certamente vou.

Ouvi o garçom sair. Eu não me incomodei abrir os olhos. Queria


aproveitar a sensação dele me dedilhando no restaurante
aberto. Foi à coisa mais sexy que já tinha estado envolvida e tanto
quanto queria saber o que viria a seguir, não queria que isso
acabasse.

— Abra os olhos— disse ele. Eu cumpri.

Seus dedos deslizaram livre da minha boceta encharcada. Eu


esperava que ele fosse limpá-los na minha coxa ou talvez na
bainha do meu vestido.

Ele não o fez.

Com as pernas tremendo, vi ele puxar sua mão, estender os


dedos brilhantes na frente de seu rosto e depois chupar meus
THE GUM RUNNER
sucos deles.

Oh. Meu. Deus.

Ele abriu a pasta de couro da conta, colocou três notas de 100


dentro e fechou-a com as pontas dos dedos. Então se levantou e se
inclinou para frente, pressionando seu rosto contra o meu
levemente e moveu sua boca ao meu ouvido.

Minhas pernas ficaram fracas. Fechei os olhos, prendi a


respiração e esperei. Seu hálito quente contra a minha orelha
causando arrepios que subiam ao longo do meu braço.

— É melhor que você esteja pronta— ele sussurrou.

Movi a cabeça para assegurar-lhe, mas não fiz nada para me


convencer.

— Eu estou.

Eu não estava.

— Pegue sua bolsa— disse ele.

Andei ao seu lado até a porta, ainda em transe. Quando


chegamos ao carro, ele estendeu a mão para a maçaneta da porta
e se inclinou para mim. Seus lábios pressionados contra a minha
orelha. Levantei meu ombro instintivamente, mas não queria que
ele parasse.

— Vou-te foder com a minha língua até que não consiga andar—
ele respirou em meu ouvido.
THE GUM RUNNER
Oh Deus.

A porta do carro se abriu.

Minhas pernas fraquejaram e caí no meu assento.

Tinha certeza que não estava pronta para a viagem sexual que
ele preparou, mas estava mais do que disposta a tentar.

***

Ele apertou as mãos contra as minhas coxas, espalhando


minhas pernas um pouco mais. Com a minha boca aberta
e incapaz de desviar o olhar, observei meu vestido através do topo
de sua cabeça até que eu não pude assistir por mais tempo.

Fechei os olhos.

Nós ainda não tínhamos chegado ao meu quarto. Deitada no


chão no hall de entrada do meu apartamento, peguei minhas
coxas por trás e levantei minha bunda do chão ligeiramente,
forçando-me contra sua boca.

Sua língua circulou meu clitóris algumas vezes e em seguida,


me lambeu de baixo para cima. Então, trabalhou para dentro e
para fora de mim implacavelmente. Ele não tinha exagerado, ia-me
foder com a língua até minha morte precoce e isso era apenas o
começo. Mantive meus olhos fechados e embora não fizesse
nenhum esforço consciente para segurar minha respiração, estou
certa de que não inalei nenhuma vez durante todo o tempo que
sua língua estava em mim.
THE GUM RUNNER
Eu não podia.

Enquanto o meu corpo convulsionava, ele puxou sua língua de


dentro de mim e lambeu minha boceta habilmente. A ponta de sua
língua sacudiu contra a minha protuberância sensível a cada vez,
enviando choques através de mim.

A escuridão me envolveu e meus ouvidos zumbiram.

Ele inseriu um dedo. Em seguida, outro. E um terceiro.

Porra.

Arqueei minhas costas e abri minha boca. Alguns espasmos


mais tarde e eu estava à beira de mais um êxtase fulminante.

Michael chupou meu clitóris como um verdadeiro


profissional. Eu queria que ele nunca parasse, mas sabia que se
continuasse, certamente morreria ali mesmo no meu hall de
entrada. Eu soltei minhas coxas, relaxando contra sua boca e lhe
permiti continuar com a sua língua talentosa.

A rotina simultânea do dedo e língua que se seguiu me enviou a


um estado de êxtase orgástico.

Durei apenas mais cinco segundos antes de estourar contra sua


boca.

— Eu vou. Gozar. — Gemi.

Senti-me como se fosse à primeira vez. Em muitos aspectos,


era. Tudo parecia diferente. Novo. Melhor.
THE GUM RUNNER
Ele levantou a cabeça. Abri os olhos. Com sua face brilhante do
meu apreço pelo seu talento e sorriu.

— Goze.

Seus dedos continuaram a alongar-me e sua boca caiu para o


meu clitóris. Assim que senti começar a chupar meu botão
inchado, tudo dentro de mim involuntariamente liberou e eu gritei.

Meus quadris empurraram contra seu rosto pela última vez. Um


formigamento ecoou entre o meu clitóris e os meus mamilos,
fazendo todo o meu corpo tremer. Em algum momento, tudo
parou. Confusa e de costas, olhava para o teto e me perguntava se
eu seria a mesma depois disso.

Eventualmente, Michael levantou a cabeça e limpou a boca com


as costas da mão. Fiz tudo o que era capaz, abriu meus braços e
minhas pernas ligeiramente, assim como quando eu fazia anjos de
neve no Natal como uma criança.

Michael desabou ao meu lado.

— O que você está fazendo?

Virei a cabeça para o lado dele. Ele fez o mesmo. Estávamos


olhando nos olhos uns do outro e sorri.

— Quando eu era criança, eu costumava fazer anjos de neve —


expliquei. — Eu não sei por que todo mundo faz, mas para mim
era a minha forma de mostrar a Deus que era grata por tudo o que
tinha me proporcionado.
THE GUM RUNNER
Seus olhos se voltaram para a minha cintura e voltaram
lentamente para encontrar os meus. — Então, por que está
fazendo isso agora?

Comecei a varrer os braços e as pernas para trás e para frente.

— Porque você é grata? — Perguntou.

— Uh-huh.

Quando os braços e pernas de Michael seguiram o exemplo,


virei a cabeça para enfrentar o teto e fechei os olhos.

Obrigada.
THE GUM RUNNER

Michael

Durante os dez anos que passei na guerra, senti pouca emoção


que não fosse medo, frustração e, ocasionalmente, a raiva. Desde
que voltei para os Estados Unidos meus sentimentos não
mudaram muito até que conheci Terra. Eu não tinha como saber
por que me sentia dessa maneira, pelo menos não em um sentido
completo. Por alguma razão, me sentia confortável em sua
presença. E, o conforto permitiu-me aceitá-la onde eu havia
rejeitado tantos outros.

Fiz um gesto para a cadeira em frente à minha mesa.

— Sente-se, Cap. — Ele caminhou em direção e se sentou.

Peguei um lápis em cima da minha mesa e comecei a girar entre


meus dedos.

— Você ainda está solteiro?

Ele jogou os braços para cima.

— Você sabe que eu estou. Provavelmente sempre estarei, pelo


menos enquanto estiver fazendo isso, de qualquer maneira. Por
quê?
THE GUM RUNNER
Olhei para o lápis rotativo considerando a minha
resposta. Antes que tivesse a oportunidade de falar, ele continuou.

— Você não acha que eu iria comprometer a nossa segurança


por estar em um relacionamento, não é?

E assim, ele respondeu à minha pergunta sem eu nem precisar


perguntar. Sua crença não era muito diferente do que a minha
costumava ser; ter meu foco de trabalho desviado por uma
mulher - dependendo de meus clientes e subcontratados -
poderia comprometer a segurança.

Olhei para cima.

— Só estava perguntando.

Ele franziu a testa e inclinou a cabeça ligeiramente.

— Você me chamou aqui para perguntar se eu era solteiro?

Parei de girar o lápis.

— Correto.

Segurei firmemente o lápis entre o polegar e o indicador, na


esperança de capturar sua atenção ou desviar a sua linha de
pensamento de onde eu suspeitava que ela pudesse ir. Quando ele
falou, era evidente que o meu pequeno truque não funcionou bem.

— Que porra está acontecendo, Tripp?

Agitei a cabeça e joguei o lápis na minha mesa.


THE GUM RUNNER
— Nada, estamos apenas conversando.

— Sério? Vamos ficar sentados no escritório jogando conversa


fora? — Cap cruzou seus braços enormes na frente do peito.

Ele estava tentando me irritar e eu não tinha intenção de ser


vítima de sua armadilha. Dei de ombros e peguei o lápis.

Ele se inclinou ligeiramente.

— A menina com quem você tomou café aquela noite, há


algumas semanas. Aquela que você me disse que chutou seu ex
nas bolas e então nunca mais disse uma maldita palavra sobre
ela. É ela, não é?

Eu tinha esquecido completamente que tinha contado sobre


Terra à Cap. Na época, eu duvidava que alguma coisa iria se
desenvolver entre nós.

Ele balançou sua cabeça.

— Nunca pensei que veria esse dia.

Levantei-me da cadeira e comecei a rodar o lápis.

Cap se levantou, apontou para a minha mão e acenou com a


cabeça uma vez. — Coloque o lápis na mesa, Tripp. Você sempre
faz isso quando está pensando. Pare de pensar e me responda.

Parei.

— Eu não estou em um relacionamento.


THE GUM RUNNER
Ele levantou a sobrancelha direita ligeiramente. — Você está
fodendo ela?

Movi a cabeça e comecei a rodar o lápis novamente. Alguns


segundos mais tarde o atirei na minha mesa.

— Não.

— Você transou com ela?

— Não.

— Você quer transar com ela?

— Ninguém vai transar com ninguém, vamos deixar esse


assunto para lá.

Ele riu.

— Você não respondeu à pergunta.

— Estou farto de falar sobre isso — disse categoricamente.

— Bem, isso responde à questão — disse ele. — Tenho só mais


uma.

Cruzei os braços na frente do meu peito e flexionei meu bíceps,


na esperança de desencorajá-lo de continuar com isso. — Só mais
uma o que?

— Pergunta — disse ele.

Suspirei e joguei minhas mãos no ar.


THE GUM RUNNER
— Você a viu desde aquela noite?

Estudei Cap por um momento antes de responder. Vestido com


calças pretas de estilo militar, uma blusa verde-oliva e botas de
combate, ele se assemelhava a um mercenário. Por baixo da
manga direita da camisa, a tatuagem USMC em seu braço agia
como um aviso para aqueles que fossem tolos o suficiente para
desafiar os seus 100 quilos de músculo. Eu não precisava de um
lembrete de quem ele era, sabia que não adiantava dizer qualquer
coisa que não fosse a mais pura verdade.

Encontrei seu olhar.

— Sim, tenho. Tomamos café e saímos para comer algumas


vezes. Mas não estamos em um relacionamento se é isso que você
está perguntando.

Só tinha sido um pouco mais de duas semanas desde que nos


conhecemos, mas eu sabia que a cada dia que passava estava
mais perto de querer mais de Terra.

Mas não diria à Cap como me sentia.

Seus olhos caíram para o chão e ele limpou a garganta. —


Jantar, café, foder, chupar, ir ao cinema ou caminhar felizes pelo
parque é tudo a mesma coisa. Ela é uma mulher, Tripp. É uma
distração. E com aqueles italianos fodidos sobre nós, não
precisamos de uma distração.

Estava cheio de ouvir as razões para não estar com


Terra. Limpei a garganta e estreitei os olhos. — Anotado.
THE GUM RUNNER
— Anotado? — Cap repetiu sarcasticamente.

Afirmei com a cabeça. — Sim.

— Tudo bem então. — Ele esfregou as mãos. — Se esse é o fim


de tudo... Então, qual é o próximo trabalho?

Sentei-me e suspirei. — Comprei quinhentos receptores usados


de AR-15 e preciso buscá-las.

— Localização? — Perguntou.

Apanhei a ordem de serviço em cima da minha mesa e estudei o


endereço. — Você já esteve lá antes. Empresa Trident.

— E eles são usados?

Entreguei-lhe a ordem de serviço.

— Novos e ainda na embalagem, mas teoricamente são usados.

A lei permitia que eu comprasse receptores usados de AR-


15 sem a apresentação de qualquer documento e em questão de
quinze minutos, eu poderia ter um equipamento completo para
uma arma de fogo. O receptor era um pedaço de alumínio do
tamanho de um telefone celular e apesar de regulados e rastreados
pelo governo em novas compras, as peças usadas caiam em uma
brecha legal. Todas as partes restantes necessárias para construir
os rifles estavam disponíveis para serem adquiridas por qualquer
pessoa e não havia nenhum regulamento sobre comprá-los, nem
qualquer estrutura legal para monitorá-las.
THE GUM RUNNER
Isto tornava possível uma versão civil do M4 militar ser
construído por cerca de 350 dólares usando os receptores de AR-
15. No mercado negro, os rifles custavam entre 1.500 a 2.500
dólares cada, dando-me um lucro considerável. Se os fuzis fossem
vendidos em alta escala, eu lucraria mais de um milhão de dólares
e faria isto em questão de semanas.

Não era de admirar que Agrioli quisesse colocar as mãos no meu


negócio.

Cap olhou para a ordem de serviço e riu. — Usado, mas


novo. Do jeito que gostamos.

— Exatamente.

Balançando a cabeça, se afastou.

— Ok. Já estou saindo daqui.

No limiar da porta ele parou e se virou para mim.

— Mas nós não terminamos de falar sobre a garota.

E, tanto quanto eu odiava admitir, sabia que ele estava certo.


THE GUM RUNNER

Terra

A casa de Michael estava tão arrumada e organizada que me fez


sentir como se tocar ou mover qualquer coisa, estivesse fora de
questão. A enorme sala foi decorada com um mobiliário de couro
branco, mas todo o espaço era simétrico e tudo
foi perfeitamente colocado. Os pisos de madeira e as paredes
pintadas de branco fosco só contribuiram para a aparência
impecável.

A casa tinha um plano aberto e ele estava na cozinha. Eu estava


em pé no limite da sala de estar olhando tudo. Fiquei de boca
aberta com as revistas perfeitamente arrumadas na mesa de
centro: GQ, Vanity Fair, Men’s Health, Kiplinger's e Traveler. Olhei
ao redor da sala enorme, as paredes eram decoradas com pinturas
abstratas a óleo e várias peças de arte, mas nenhuma fotografia.
Era quase assustador.

A ausência de quaisquer fotografias de família me pegou de


surpresa.

— Você não tem uma única foto de sua família.

— Não tenho nenhuma.

Virei-me para a cozinha.


THE GUM RUNNER
— Você deveria ter alguma.

Ele andou para o meu lado e me entregou uma mimosa.

— Beba isso, você vai se sentir melhor.

Eu tinha saído com as minhas amigas a noite passada e fiquei


ridiculamente bêbada. Estar longe de Michael em uma sexta-feira
à noite não foi tão fácil como eu pensei que seria e beber parecia
aliviar meu desejo de estar com ele. Depois de ter compartilhado
que estava morrendo de ressaca, ele me convidou para mimosas.

Quando cheguei, o interrompi de seu treino. Ele parecia muito


diferente de camiseta suada, ela se agarrava ao seu peitoral bem
definido e acentuava seus ombros largos. O moletom fez pouco
para mostrar-me o seu corpo atlético, mas era encantador.

Tomei um gole da bebida e olhei ao redor da sala. — Aposto que


sua mãe lhe daria algumas se você pedir educadamente.

— Deixe-me reformular isso— disse ele. — Eu não tenho


nenhuma família.

De repente me senti vazia. Bebi metade da mimosa e vire para a


sala de estar. O vazio dentro de mim foi rapidamente preenchido
com tristeza.

— Quando tinha seis anos, meus pais morreram em um


acidente de carro. Eu sobrevivi.

Meus olhos se encheram de lagrimas.


THE GUM RUNNER
— Está vendo essa cicatriz? — Ele levantou a camisa, expondo
completamente a parte de cima do seu corpo. Meus olhos foram
imediatamente atraídos para além do seu abdômen bem definido,
se concentrando em uma cicatriz de quinze centímetro no lado
esquerdo do peito.

Tomei outro gole, lutando contra a vontade de chorar.

— Sim.

— Essa é a minha única lembrança. Não me lembro de nada


daquilo. Droga, nem me lembro deles. Eu tento e às vezes até falo
que consegui, mas acho que todas as minhas memórias são
falsas. Apenas merda que inventei ao longo dos anos.

Ele soltou a bainha de sua camisa e tomou um gole da sua


bebida.

— Irmãos e irmãs?

Ele balançou sua cabeça.

— Filho único.

— Avós, tias, tios?

Ele inclinou o copo na minha direção, como se fizesse um


brinde.

— Que tal um orfanato?

Senti-me doente. Independentemente do envolvimento da


minha família no crime organizado, fui criada em um lar cheio
THE GUM RUNNER
de compaixão, bondade e acima de tudo, amor. Para mim,
entender perfeitamente uma criança vivendo em um ambiente sem
aqueles elementos cruciais, era impossível.

A carreira militar de Michael fazia perfeito sentido. O Corpo de


Fuzileiros Navais foi sua família e a guerra era a sua casa. Quando
a guerra terminou, ele provavelmente sentiu que sua família
tivesse se dissolvido.

— Sinto muito. — As palavras pareciam insuficientes e


superficiais, mas era tudo que poderia oferecer.

Ele se sentou no sofá. — Não sinta.

— Bem, eu sinto.

— E seus pais? Você nunca os menciona.

Eu precisava dizer-lhe algo que apoiaria o fato de não o ter


apresentado a eles, e de nunca abordar o tema. — Eu não me dou
bem com nenhum deles, na verdade. Só sigo meu próprio
caminho.

Era verdade. Mais ou menos. Minha mãe sempre me irritou por


não estar casada e meu pai era um gangster e nunca queria falar
nada por medo de revelar um segredo.

— Entendo — disse ele. — Então, como foi sua noite?

Eu ri levemente, embora ainda tivesse vontade de chorar.

— Foi interessante.
THE GUM RUNNER
— Como assim?

— Saí com as meninas, pensando que iria me divertir, mas


passei a noite inteira desejando estar com você.

— Se isso faz você se sentir melhor, eu estava sentado no


escritório envolvido em papeladas e pensando em você o tempo
todo. É estranho, nunca me senti assim antes.

Virei para ele e inclinei a cabeça para o lado.

— Como?

Ele olhou para mim, aparentemente confuso.

— Hã?

— Você disse que nunca se sentiu dessa maneira antes. De que


maneira você está falando?

— Você sabe, obcecado ou como você quiser chamá-lo.

— Por mim?

— Sim, por você. De quem mais estaríamos falando?

Os sentimentos de tristeza quase desapareceram. De repente, eu


estava cheia de calor e algo que se assemelhava a
esperança. Terminei minha bebida, não conseguindo decidir o que
fazer com o copo, então coloquei-o entre as minhas pernas.

— Então, o que é isso que temos? Eu sei que faz apenas três
semanas, mas como você chama isso?
THE GUM RUNNER
Ele cruzou as pernas e me ofereceu um sorriso falso antes de
tomar um gole de mimosa.

— Chamo o quê?

Exalei bruscamente.

— Nossa situação? Você e eu.

Meu pai me mataria se descobrisse o que eu estava fazendo,


mas Michael era muito mais que uma aventura para mim. Era
tudo o que queria em um homem, mas ele não era italiano e não
acho que era católico também — meu pai não ficaria contente com
nada menos do que ambos. Convencida de que não me importava
com o que papai pensava, queria que Michael colocasse um rótulo
sobre o que nós tinhamos.

— Oh. Eu não sei. Uma fase de descoberta?

Sentei-me no meu lugar.

— Uma o quê?

— Fase de descoberta.

— Que porra é essa? — A menina italiana em mim tinha sido


solta. Uma fase de descoberta parecia algo curioso que os
adolescentes faziam no porão enquanto o resto da família estava
no andar de cima assistindo televisão.

Ele se afastou como se eu o tivesse insultado. Ele encolheu os


ombros.
THE GUM RUNNER
— Tentando decidir apenas o que é que queremos um do
outro. Você sabe, descoberta.

— O que você quer de mim? — Eu perguntei.

— Foda-se, não sei, mas acho que você ou precisa de outra


bebida ou de uma porra de um cochilo. Alguém está de mal
humor.

Levantei e virei para encará-lo.

— Mas é claro que estou de mal humor. Fase de


descoberta? Soa como um adolescente batendo punheta no porão
para mim. Eu o descobri no estacionamento da Starbucks um dia,
essa foi a fase de descoberta.

Meus lábios estavam franzidos. Eu estava respirando pelo nariz


e soava como um touro preparando-se contra o matador.

— Acalme-se, Terra. Jesus. Ok, mesma pergunta para


você. Onde estamos? O que temos entre nós?

Tínhamos nos encontrado no café duas vezes, almoço uma vez e


depois foi o nosso primeiro encontro. Após o jantar ele chupou
minha boceta até que desmaiei no chão. Depois, ele foi
suficientemente cavalheiro em não me tentar foder enquanto
estava estupidamente bebada. Na verdade, nunca tive a chance de
chupar seu pau naquela noite e não tive a oportunidade de vê-lo
nu. Pelo menos não ainda. Na semana seguinte ao nosso primeiro
encontro, saímos para o café duas vezes no meio de seu horário de
trabalho.
THE GUM RUNNER
Era uma boa pergunta. Talvez eu simplesmente queria mais do
que estava disposta a dar. Certamente não queria irritá-lo e dar-
lhe razão para acabar com algo que mal tinha começado. Apertei o
copo vazio na minha mão, olhei para ele e percebi que estava
sendo nada menos do que uma vadia.

— Sinto muito, acho que só senti a sua falta ontem à noite.

— Você não respondeu a pergunta. — Ele apontou para a


almofada ao lado dele. — Sente-se. Não gosto de meias respostas.

Sentei-me. Michael estava certo. Eu não tinha respondido à


pergunta.

Ele bebeu o resto de sua mimosa e pegou meu copo. — Então, o


que você quer que isso seja? Se puder escolher?

Soltei a minha resposta sem hesitação.

— Um relacionamento.

Ele pegou meu copo e desapareceu sem responder. Em poucos


minutos, voltou com duas bebidas frescas e me entregou uma
delas.

— Aqui, beba isso. — Sorriu. — Talvez isso acalme seus nervos.

Eu me perguntava se ele escutou. Talvez me ouviu, mas optou


por não responder. Era bem provável que não quisesse um
relacionamento. Tomei um gole da bebida e me perguntei se o
tinha deixado com raiva por causa da minha cena.
THE GUM RUNNER
— O que é um relacionamento para você? — Perguntou.

Aleluia!

Formulei cuidadosamente a resposta na minha cabeça antes de


falar. Após metade da mimosa e do que parecia uma eternidade
para decidir exatamente o que dizer, respondi. — Duas pessoas
que concordam que estão unidas de forma particular. Poderia ser
um relacionamento poligâmico. Ou
monogâmico. Aberto. Comprometido. Tanto faz.

— E que tipo de relacionamento você quer? Se tivesse que


escolher?

— Uhhm. Bem, eu diria que seria aquele em que nos


comprometeríamos um com o outro que não sairíamos com outras
pessoas e então ver o que acontece. Você sabe, “nada de
mais". Ninguém está apaixonado, não estamos dizendo isso, nós
estamos dizendo que vamos ver o quão bem nós nos
encaixamos. Ver se as coisas funcionam entre nós. É difícil saber
com certeza, se as duas pessoas estão comprometidas uma com a
outra.

Ele levantou-se.

— Você quer um tipo relacionamento “nada de mais” ?

Parecia ridículo ouvi-lo dizer isso. Tomei outro gole da minha


bebida.

— Uh-huh.
THE GUM RUNNER
Ele apontou para mim com seu copo.

— Bem, levante-se.

Eu franzi o nariz.

— Levantar?

— Sim, Terra. Levante-se. Saia do sofá e fique de pé.

Michael colocou a bebida na mesa de café. Levantei e ele fez o


mesmo. Virei-me para encará-lo, um pouco confusa sobre o que
estava acontecendo, mas aliviada que estávamos falando sobre um
relacionamento, mesmo que fosse um pouco unilateral.

— Quão boa você é em andar para trás?

Enruguei meu nariz.

— O que?

— O oposto de para frente. Para trás. Você é talentosa o


suficiente para andar de costas?

— Eu acredito que sim.

Ele avançou para mim, pressionando seu corpo totalmente


contra o meu. Enquanto cambaleei para manter o equilíbrio, ele
levantou a mão para o meu pescoço e continuou a me empurrar
para trás até que me choquei contra a parede. Confusa e
desorientada me perguntei o que diabos estava acontecendo, abri
minha boca para expressar a minha queixa. Michael apertou meu
queixo em sua mão, segurando-o firme e olhou nos meus
THE GUM RUNNER
olhos. Depois de uma ligeira hesitação, me beijou.

Nossos lábios se encontraram e uma onda de emoção correu


através de mim.

Ele beijou-me completamente, apaixonadamente e sem


reservas. Ansiosa, devolvi o beijo, minha língua dançando com a
sua no espaço que nossas bocas se moviam juntas. Sua mão livre
parecia estar me tocando em todos os lugares, enquanto a outra
segurava meu rosto com firmeza, me proporcionando uma
estranha sensação de que ele estava no controle de muito mais do
que o beijo.

Seu corpo inteiro se encaixou no meu, moendo contra mim


quase como se nós estivessemos fazendo amor. Eu tinha sido
beijada muitas vezes, mas nunca tinha experimentado nada tão
apaixonado como o que ele estava fazendo comigo. Foi muito mais
do que um beijo.

Foi uma experiência sexual.

Nossos lábios se separaram. Abri os olhos e encontrei seu


olhar. Seus olhos pareciam mais cinza do que o normal. Suspirei e
limpei a boca com as costas da minha mão.

Inalei uma respiração rápida.

— Puta merda. O que foi isso?

— Eu não podia me comprometer a estar em um relacionamento


com você se não tivesse te beijado. — Falou enquanto soltava meu
rosto.
THE GUM RUNNER
Engoli pesadamente.

— Então o que você acha?

Ele encontrou meu olhar, inclinou-se e mordeu meu lábio


inferior entre os dentes. Com os olhos presos nos meus, parecia
ser capaz de ver a minha alma. Foi doloroso, mas em um bom
sentido. Mas não queria que ele parasse.

Michael soltou meu lábio e manteve os olhos presos nos meus.

— Acho que estou em um relacionamento “nada de mais” com


você. Isso é o que eu acho.

Meu Deus.

— Então, nós não estamos saindo com outras pessoas?

Ele balançou a cabeça.

— Não.

— E vamos ver se podemos fazer isso funcionar e ver o que


acontece?

— Está correto.

Minhas costas ainda estava contra a parede e seus olhos


permaneceram fixos nos meus. Sua altura fez-me sentir pequena,
protegida e como uma mulher. Eu tentei não demonstrar toda a
minha excitação, mas tinha certeza que esconder qualquer coisa
dele seria completamente impossível.
THE GUM RUNNER
Dei de ombros, tentando agir como se não fosse grande coisa,
embora para mim fosse.

— Acho que nós vamos ver como vai ser e seguir daí.

Michael levantou uma sobrancelha e agarrou meu


pulso. Segurando-o firmemente na palma da sua mão, apertou
minha mão contra sua virilha.

Meus olhos se arregalaram.

Ele quebrou o meu olhar e pressionou os lábios ao meu ouvido.

— Agarre-o bem. Aperte-o.

Eu fiz. Era rígido e tão grosso quanto meu pulso. Meu rosto
ficou quente e engoli pesadamente.

— Ok— guinchei.

— Isso, Terra, é a prova de que vai dar certo. Bem aí. Sua mão
cheia de pau elimina todas as dúvidas. Posso dizer o que eu
quiser, mas um pau duro nunca mente. Meu pau gosta de
você. Esta é a porra da prova — sussurrou em meu ouvido.

Quando ele se afastou eu quase desmaiei no chão.

Minha buceta estava encharcada, minha cabeça girando e meu


lábio inchado. Para resumir, eu estava no céu.

Ele se virou e começou a caminhar em direção ao corredor. Eu


queria mais, mas não me atrevi a perguntar. Era evidente quem
THE GUM RUNNER
estava no comando e realmente preferia que fosse assim.

— Quer saber como o nosso relacionamento está progredindo,


agarre meu pau, ele vai remover todas as dúvidas.

— Onde, uhhm. Onde você vai?

— Terminar o meu treino. Estou frustrado — disse ele por cima


do ombro.

E desapareceu no corredor.

— Frustrado! — eu disse, pulando pelo chão de madeira para


alcançá-lo. — Por quê?

Ele entrou em sua academia particular.

— Porque quero foder e não posso. Eu tenho uma regra dos


trinta dias e nunca quebro minhas regras.

O segui para a sala.

— O que é uma regra dos trinta dias ?

Ele arrancou sua camisa e jogou-a sobre o banco de peso. — Eu


nunca faço sexo antes dos primeiros trinta dias. Você sabe, sem
penetração.

Fiquei de boca aberta com a magnificência da estrutura


muscular de seu corpo. Era tão simétrico quanto sua sala de estar,
só que eu achei muito mais convidativo.

— Nunca? — Perguntei.
THE GUM RUNNER
Ele alcançou a barra de elevação, segurando-a firmemente na
mão.

— Não.

Oh merda.

Parecia ridículo. Era ridículo. Eu precisava entender o porquê,


mas tinha certeza de que nunca iria. Por uma questão de diversão,
perguntei.

— Por que não?

— É uma questão de disciplina.

— O que é uma questão de disciplina?

— A regra do trigésimo dia.

Eu tinha razão. Não fazia sentido.

— Você está fazendo isso apenas por fazer? Ou não está


fazendo?

— Preciso me lembrar que o sexo não é importante. É


indispensável permanecer disciplinado para fazer isso.

Odiava ser a portadora de más notícias, mas


sexo era importante.

— Sexo é importante.

— Se eu ainda estiver interessado após trinta dias, sei que o


meu interesse é pelo motivo certo.
THE GUM RUNNER
— Em qual dia estamos? — Perguntei.

Ele puxou-se para a barra horizontal, os braços e o peito


queimando quando seu corpo levantou cada centímetro até que
seu queixo passou a barra.

— Vinte.

Estudei seu tórax sem camisa. Seu corpo era incrível. Coberto
de músculos que era a prova de sua dedicação. Era difícil não
babar enquanto o admirava. A promessa de sexo voo para fora da
janela, mas eu ainda estava encharcada.

Tê-lo me prendendo contra a parede e me beijando tinha


instantaneamente me excitado. Envolvendo minha mão delicada
em torno de seu pau enorme me deixou no limite. Com sexo ou
sem sexo, senti que precisava de algum alívio. De alguma forma.

— Dez dias, hein? — Perguntei, estudando suas imperfeições e


encontrando apenas uma grande cicatriz em seu bíceps esquerdo.

Ele puxou-se até a barra novamente.

— Sim.

— Bem — eu disse. — Também estou frustrada.

Michael ergueu-se até a barra novamente.

— Junte-se a mim. O exercício ajuda com a frustração. Eu sei


muito sobre isso.
THE GUM RUNNER
— Boquetes são considerados sexo? — Perguntei.

— Depende — disse ele secamente.

— Do que?

— Quem está oferecendo.

Parecia bastante óbvio.

— Eu?

— Sim, seria sexo.

— Por quê?

— Porque eu quero isso.

— É sobre disciplina novamente?

Ainda pendurado no alto da barra ele assentiu.

Forcei um suspiro, em seguida, puxei minha camisa sobre a


minha cabeça. Ele abaixou-se até que seus braços estavam
presos. Tirei o sutiã e joguei-o no chão ao lado da minha
camisa. Com os olhos ainda grudados em mim, ele pendia na
barra.

Tirei minhas sapatilhas, desabotoei as calças e as empurrei para


baixo das minhas coxas. Ele olhou. A puxei pelos meus pés e
joguei-a na pilha. Ele continuava pendurado na barra, olhando na
minha direção e eu lentamente tirei minha calcinha.

Seus olhos se arregalaram.


THE GUM RUNNER
Desci a mão direita entre as minhas pernas. A virilha na sua
calça começou a subir. Enfiei o dedo na minha boceta, fechei os
olhos e gemi.

Quando abri os olhos Michael continuava pendurado na barra,


o tecido de sua calça esticada ao limite.

Agi desinteressada, me virei e fui para a esteira. A poucos


passos para o que eu esperava ser uns oito quilômetros de corrida
nua, inclinei minha cabeça para ele.

Ainda pendurado na barra com seu pau cutucando para fora,


ele parecia frustrado.

Espero que você engasgue com a sua regra do trigésimo


dia, senhor.

— Sim, acho que você está certo. O exercício faz tudo melhor —
menti.

Nada poderia estar mais longe da verdade.

Ele soltou a barra, caiu no chão e apertou seu pau duro com a
palma da mão.

— O que há de errado? — Perguntei.

Com o rosto mostrando claramente seu desconforto, sacudiu a


cabeça em direção à porta. — Eu estarei de volta em um minuto.

— Aonde você vai?

— Preciso resolver uma coisa.


THE GUM RUNNER
Eu continuei minha corrida nua.

— OK.

Com as duas mãos pressionando a virilha na sua calça, ele se


virou. Em poucos passos desapareceu pelo corredor.

Minha boca se curvou em um sorriso.

Se não poderia ter relações sexuais por mais dez dias, pelo
menos poderia me divertir.
THE GUM RUNNER

Michael

Estávamos a seis dias de ter sexo e ambos pareciam estar se


divertindo com as limitações da minha auto-imposta restrição de
trinta dias. Inicialmente, pensei que seria fácil para mim. Afinal,
eu tinha passado anos sem sexo. Em um relacionamento com a
Terra, porém, as coisas eram diferentes.

Era difícil.

Meu desejo de estar com ela sexualmente, era maior do que o


meu desejo de fazer qualquer outra coisa. Tentei convencer a mim
mesmo que esse desejo era porque não podia tê-la, é natural
querermos algo que não podemos ter.

Mas estava na entrada para os vestiários da loja, olhando para


ela, comecei a acreditar que o meu desejo era mais um resultado
de sua beleza natural.

Terra pressionou as pontas dos pés no chão, levantou os


calcanhares e girou em um círculo.

— O que você acha?

O pequeno vestido preto. Um produto básico no guarda-roupa


de toda garota. Sem mangas, com um decote que marcava seus
seios, revelando o suficiente para provocar uma enorme
tentação. O comprimento na altura do joelho o tornando elegante.

Limpei as palmas das mãos suadas contra as coxas de meus


THE GUM RUNNER
jeans.

— Amei ele.

— Amou ou apenas gostou?

Sacudi a cabeça em descrença do que estava diante de mim. —


Amei de verdade. Você está deslumbrante.

Ela inclinou seu quadril.

— Devo levá-lo?

— Se você não fizer isso, eu vou.

— Oh, adoraria vê-lo nisso.

— Não é para mim, sua esquisita. É para você. Está perfeito.

Seus olhos caíram para os meus pés e os levantou lentamente


até que encontrou meu olhar. Ela pressionou seus bíceps contra
os lados de seus peitos, forçando para que eles saíssem do
vestido.

— Ok, vou levar.

Senti meu pau ficar rígido até que o tecido do meu jeans
impedisse qualquer progressão adicional.

— Uhhm. — Ela inclinou seu quadril e sacudiu o dedo


indicador em minha direção. — Seu uhhm. Você tem aquela coisa
de pau duro acontecendo novamente.

Olhei por cima do ombro antes de pressionar a palma da


THE GUM RUNNER
minha mão contra ele.

— Estou bem ciente disso.

Com os olhos colados a minha virilha, levantou uma de suas


sobrancelhas perfeitamente arqueadas.

— Vergonha.

Verifiquei por cima do meu ombro de novo, fiz o que pude para
me ajustar e apontei para a longa fila de provadores.

— Vá se trocar.

Obviamente fazendo um esforço consciente para destruir as


minhas reservas sexuais, Terra se virou e caminhou para seu
provador. Observando sua perfeitamente modelada bunda a cada
passo exagerado era pura tortura. Com uma combinação perfeita
de beleza, charme e elegância, fez seu caminho até a porta no final
do corredor.

Trinta segundos depois ela estava me chamando para a ajudar.

— Michael, você pode vir aqui por um minuto?

Estar na Saks Fifth Avenue em uma noite de quarta-feira foi


uma experiência de compra muito diferente do que estava
acostumado. Em um total contraste com minhas corridas ao meio-
dia para a loja de ferragens pela fita adesiva ou parte das armas de
fogo improvisadas, era realmente agradável. Não só havia uma
falta de clientes na loja, parecia haver muito menos funcionários, o
que me fez sentir menos culpado sobre estar caminhando para
THE GUM RUNNER
seu trocador e ver exatamente o que precisava.

— O quê? — Perguntei, o tom da minha voz expressando um


aborrecimento inexistente.

— Preciso de ajuda.

— Com o quê?

— Está preso...

— O que está preso?

— Basta abrir a porta.

— “Clientes, a Saks Fifth Avenue vai fechar em quinze


minutos. Neste momento, pedimos que você traga seus itens
selecionados diretamente para o representante de vendas mais
próximo e efetue sua compra. Obrigado por fazer compras com a
Saks.”

— Você ouviu isso, certo? Eles fecham em poucos minutos. O


que você quer?

— Basta abrir a porta, Michael.

Eu me virei e olhei para o corredor que tinha acabado de


entrar. Com exceção dela, nenhum dos vestiários estavam
ocupados. O provador que tinha escolhido ficava no final do
corredor.

— Qual é o problema?
THE GUM RUNNER
— Está preso. Apenas venha me ajudar.

Um rápido olhar por cima do ombro confirmou o que eu já


suspeitava. O corredor permanecia vazio.

Empurrei a porta entreaberta apenas o suficiente para falar


através da abertura.

— O que está preso?

— Apenas abra.

Abri a porta um pouco.

Entrei parcialmente no pequeno provador e avistei Terra com o


pequeno vestido preto amontoado em volta da cintura. Com sua
bunda apontado diretamente para mim e sua boceta igualmente
nua, ela mudava seu peso de um lado para o outro, rebolando
lentamente.

— Que porra você está fazendo? — Sussurrei. Entrei e fechei a


porta atrás de mim. — Filha da puta, nada está preso.

— É minha mente — disse ela por cima do ombro. — Está


presa em você.

Terra era adorável. Não havia como negar isso. Mas foi
igualmente travessa.

— Cubra essa coisa — Sussurrei.

Ela se inclinou sobre o banco com as costas arqueadas e a


cabeça enterrada no canto do pequeno trocador, se virou e
THE GUM RUNNER
olhou por cima do ombro.

— O que? Minha pequena boceta apertada?

Meu pau duro e latejante me fez lembrar dos seis dias que eu
ainda tinha que esperar. Acenei minha mão para ela e lutei para
me ajustar.

— Vista-se, sua merdinha.

— Você me chamou de putinha? Eu amo isso. Eu quero ser a


sua putinha. Foda-me aqui. Tire esse seu pau grande e me fode.

Meus jeans apertados lembrou-me que não havia espaço


suficiente para meu pau em rápido crescimento. Embora o
impulso mental para transar com ela ali mesmo no trocador fosse
grande, eu lutava contra o desejo físico, dolorosamente apertando
minhas mãos para baixo contra a minha masculinidade fora de
uso.

— Eu disse sua merdinha , não putinha — bati de volta na


forma de um sussurro.

— Oh— ela disse inocentemente. — Eu ainda quero ser sua


putinha.

Meus olhos focaram em seu reluzente monte. Perfeitamente em


forma e inchado de desejo, os lábios estavam expostos e molhado
como se tivesse brincando com ela mesma antes da minha entrada
na sala. Alguns segundos mais tarde e minha mente, assim como
a dela, estava presa.
THE GUM RUNNER
Abri minha calça e puxei meu pau livre de suas restrições.

— Você vai me foder? — Sussurrou animadamente.

Eu estava com meu pau na minha mão, olhando para o sua


boceta irresistível e considerei quebrar uma das regras que tinha
instaurado quando me tornei um adulto. Decidi que a regra
do trigésimo dia impediria de me tornar um prostituto e me
forçaria a ter certeza se queria ter relações sexuais antes de tê-la.

Com seu longo cabelo castanho pendurado em seus ombros, ela


olhou para mim por cima do ombro, esperando pacientemente por
mim decidir meu próximo passo. Suas maçãs do rosto salientes e
nariz fino acentuavam seus olhos, que eram normalmente uma cor
de marrom escuro. Agora estavam parecendo tão negro como o
vestido que estava amontoado em volta de sua cintura, eles eram
uma combinação perfeita para os seus maus desejos.

Agarrei meu pau firmemente na minha mão e guiei-o para ela


sem aviso. Ela abaixou a cabeça em direção ao banco e exalou um
gemido abafado enquanto empurrava os primeiros centímetros de
meu comprimento em sua umidade.

— Você vai me foder? Isso é o que você me perguntou, certo? —


Agarrei sua cintura em minhas mãos e puxei sua bunda contra os
meus quadris, forçando um pouco mais do meu eixo inchado
dentro dela. — Será que isso responde a sua pergunta?

Sua respiração estava entrecortada.

— Oh Deus.
THE GUM RUNNER
Sua boceta era tão apertada que quase tive um acidente
vascular cerebral. Cerrei os dentes, olhei para o meu eixo e puxei-o
para fora.

Empurrei-me de volta.

— Eu gosto dessa sua bocetinha apertada, Terra.

Um gemido baixo na pilha de roupas foi sua única


resposta. Segurei-me profundamente dentro dela e fechei os olhos,
tentando memorizar a sensação de finalmente estar com ela
sexualmente. Poucos segundos depois, abri meus olhos, satisfeito
de que nunca esquecerei nada do que estava experimentando.

Olhava para suas pernas trêmulas.

— Você está pronta?

— Eu uhhm ... Eu estou ... — ela gaguejou.

— Não tenho tempo para esperar por uma resposta, este lugar
estará fechando em cerca de dez minutos. Vou dar-lhe seis golpes,
é isso. Você os conta. Pronta?

Ela levantou a cabeça, fez uma pausa e baixou-a no topo da sua


bolsa.

— Oh Deus.

Agarrei sua firme cintura.

— Agora, conte-os para mim.


THE GUM RUNNER
Empurrei dentro dela plenamente.

— Um. — O som foi abafado pela bolsa da Louis Vuitton, onde


seu rosto estava enterrad,. puxei para fora e imediatamente
empurrei meu comprimento inteiro de volta para suas dobras
apertadas.

— Dois — ela respirou.

A combinação de fazer sexo no trocador, sua boceta


extremamente apertada e sua contagem abafada era quase
demais. Senti minhas bolas apertatem. Arqueei minhas costas
para trás e olhei para o teto, esperando que eu pudesse pelo
menos durar mais tempo do que ela.

Precisava que Terra se lembrasse desse momento do mesmo


jeito que eu com certeza faria. Queria que recordasse o evento
cada vez que pegasse sua bolsa, visse o vestido preto, ou ouvisse
alguém mencionar a Saks. Queria desesperadamente que ela se
sentisse exatamente da mesma maneira que me sentia.

Dei-lhe outro golpe poderoso.

— Deus!! Três — ela murmurou.

Libertei sua cintura, alcancei debaixo do ombro direito e a


levantei até que estivesse ereta. Querendo mais, pressionei meu
peito em suas costas, enterrei meu rosto em seu cabelo e inalei
profundamente.

Lilás, jasmim e sol.


THE GUM RUNNER
A empurrei para a parede frágil separando nosso trocador do ao
lado. Com a sua possível compra enrolada em torno de seu torso e
sua bunda esmagada contra meus quadris, a segurei contra a
parede e deslizei-me para fora até que a cabeça do meu pau estava
descansando contra os lábios de sua boceta.

Pressionei minha boca para sua orelha. — Onde estávamos?

— Você estava... me ... fodendo.

— Três? Quatro? Cinco? Onde estávamos?

— Dois — ela mentiu.

Eu sorri.

— Pronta?

— Uh-huh.

Arrastei meus dentes levemente ao longo de seu pescoço de sua


orelha para os seus ombros forçando meu pau dentro dela ao
mesmo tempo. Enfiei a mão no vestido e segurei seus seios em
minhas mãos. Conforme mordiscava seu pescoço e ombro,
continuei transando com ela em um ritmo constante cada golpe
penetrando-a totalmente.

Seu aperto em meu pau era enorme. Cada impulso tornou-se


ligeiramente mais fácil, convidando-me para continuar minha
exploração de sua resistência sexual.

— Dois…
THE GUM RUNNER
— Três...

Bati contra ela com força.

— Porra. Sim — ela resmungou. — Quatro.

— Sim. — Respirou fundo. — Oh ... Deus ... Sim ...

Suas pernas começaram a tremer. Ela gemeu, desta vez muito


mais alto. Com seus seios em concha em minhas mãos, belisquei
seus mamilos com firmeza e comecei a dar-lhe tudo o que tinha.

Ela choramingou ates até chegar ao número onze e finalmente


desistiu. O grunhir continuou até que as luzes começaram a
escurecer ao nosso redor. Quando o trocador estava
completamente escuro, a senti apertar em torno de meu eixo.

— Vou gozar dentro de você — gemi em seu ouvido.

— Oh Deus. Faça isso — ela implorou.

Senti meu pau inchar dentro dela ao mesmo tempo que as


paredes internas de sua vagina apertaram contra mim. Juntos,
como se fosse tudo parte de um plano sexual, atingimos o
clímax. Imediatamente após, suas pernas cederam e ela caiu sobre
o banco.

— Puta merda— ela engasgou. — Sem velas e flores na nossa


primeira vez hein?

— Era isso que você queria?

— De jeito nenhum. Isso ... — ela acenou com o braço


THE GUM RUNNER
trêmulo para mim — ... isso era o que eu queria. O
que precisava . Acredite em mim. Deus. Você vai ter que me levar
daqui. Minhas pernas estão moles.

Todas as luzes no corredor com a exceção de duas estavam


desligadas, deixando o trocador com um brilho quase assustador.

— Tire logo esse vestido. Se não nos apressarmos, vamos ficar


trancados aqui.

— Não acho que vou conseguir fazer isso. Você me deixou


estúpida.

Eu ri. — O que?

— Estou estúpida. Como uma idiota. Você me fodeu até eu


perder a cabeça.

Ela ajeitou a maquiagem no espelho compacto e arrumou o


cabelo. Depois de reunir suas coisas e remover a etiqueta do
vestido, fizemos o nosso melhor para endireitar-nos e olhar como
se nós simplesmente tivéssemos perdido o anúncio de que a loja
estava fechando.

Nós vagamos ao redor da loja por dez minutos até encontrarmos


uma funcionária perto da saída. Ela parecia ter cinqüenta anos de
idade e aparentemente, gastava toda a sua renda em cirurgia
plástica. Ao perceber que nos aproximávamos, ela inclinou um
quadril, jogou o cabelo platinado para o lado e olhou fixamente.

— Ficamos presos experimentando roupas e de repente, as


THE GUM RUNNER
luzes se apagaram. Podemos pagar o vestido e então sair?

A funcionára nos olhou como se fôssemos loucos.

— Meu caixa está fechado.

Inclinei a cabeça em direção a Terra.

— Ela está usando o vestido.

— Meu caixa está fechado. A loja está fechada. São dez minutos
depois. Como é que não nos ouviram anunciar que estávamos
fechando? Nós fizemos dois anúncios.

Nunca fui de mentir e não achei que era uma boa hora para
começar.

— Ouvi o anúncio. Nós apenas não saímos do trocador no


tempo. Podemos pagar o vestido e ir?

— Meu caixa está fechado.

— Entendi. Seu caixa está fechado.

Ela estava se divertindo com a situação.

— Bem, nós vamos voltar para o provador, mudar o vestido e


em seguida, vamos precisar de você para nos deixar sair daqui.

— Empurre a porta e ela vai abrir — , ela retrucou bufando. —


Você tem vinte minutos até o alarma soar. Sugiro que você se
apresse.
THE GUM RUNNER
— Eu realmente quero este vestido— Terra sussurrou.

Dei de ombros e inclinei a cabeça em direção ao monstro


loiro. — Acho que nós vamos ter que voltar.

— Os dois? — Perguntou.

— Os dois.

— Amanhã?

— Perfeito para mim.

Terra limpou a garganta.

— Quanto tempo até que o alarme soar?

— Ela disse que vinte minutos.

Seus olhos castanhos cairam para minha cintura e lentamente


subiu até encontrar meu olhar. Os cantos de sua boca se
curvaram em um sorriso.

Olhei para ela.

— O quê?

— Vamos repetir? — Ela sussurrou.

Olhei para Terra em descrença. Ela se virou para os tocadores e


começou a caminhar novamente, deixando-me selvagem com nada
mais do que sua caminhada. Eu percebi que era bem possível que
ela fosse a parceira perfeita para mim, mas era muito cedo para
dizer isso.
THE GUM RUNNER
Uma coisa era certa. Até agora tudo indicava que esse
relacionamento estava longe de ser um relacionamento nada de
mais.

E eu estava muito bem com isso.


THE GUM RUNNER

Terra

Debrucei-me sobre a borda da mesa e incorporei o meu rosto de


vadia.

— Estou falando sério. Uma palavra, apenas uma e eu vou te


odiar para sempre.

Ela tomou um gole de sua bebida.

— Eu já disse que não vou falar nada.

— Jure. Estou falando sério, Michelle. Você tem que jurar.

— Ok, eu juro. — Ela suspirou. — Agora me conte.

— Você está agindo como se não fosse grande coisa. Mas isso é
importante. Você precisa entender isso.

— É uma coisa importante. Se eu contar para alguém, você vai


me odiar. Eu juro não dizer nada para qualquer pessoa. — Ela
falou como um homem italiano da Filadélfia.

Michelle era minha melhor amiga desde que éramos


crianças. Nós fomos para a escola juntas, nossos pais eram muito
próximos e embora eu não tivesse certeza, acreditava que fazia
parte da máfia. Se alguém pudesse entender os problemas que
traria em ter Michael em minha vida, seria ela.

— Conheci um cara.
THE GUM RUNNER
— Oh meu Deus, isso é loucura, Tee — ela disse em um tom
sarcástico.

— Apenas cale a boca e ouça. Conheci esse cara. Ele é tão


gostoso. — Esfreguei as palmas freneticamente. Era emocionante
finalmente poder contar isso a alguém . — Então, estava no
Starbucks e Vincent entrou. Você sabe como ele odiava que eu
fosse lá, certo?

— Uh-huh.

— Bem, Vincent veio e começou a falar merda, gritando para eu


sair. Eu estava tipo, ‘fique longe de mim, seu otário'. E aí ele me
agarrou. Então, o filho da puta, me puxou para o estacionamento
como se fosse me bater bem ali. A porra das pessoas que estavam
dentro ficaram todas apenas olhando para nós como se eles não
dessem a mínima. Enfim, estava lutando com Vicent, chutando e
de repente ...

Ela se inclinou para frente com os olhos arregalados.

— De repente o quê? Que porra aconteceu?

— Houve este barulho. Alto. Bem alto. Vincent parou. Nós dois
olhamos por cima e lá estava esse cara. Vestido com um terno. A
porra de um terno Michelle. Então ele diz ‘deixe-a ir' e Vincent fala,
'você não sabe quem eu sou' e o cara de terno responde 'Eu não
dou a mínima pra quem é, mas você precisa saber quem sou' e
Vincent pergunta: 'Quem é você?' e o cara só sorrindo,
porra. Então explica: “Sou o cara que vai chutar a porra da sua
bunda.' E ele fez. Foi tão sexy.
THE GUM RUNNER
Michelle pegou sua bebida.

— O que? O que aconteceu?

— O cara tirou o casaco, a gravata e desabotoou a camisa. Em


seguida, ficou em uma pose do karatê, como um chinês lutador de
kung fu ou algo assim. E eu fiquei paralisada . Aí golpeou Vincent
tão rápido que nem sequer o vi, nem Vincent.

Ela engoliu metade de sua bebida.

— Puta merda. O que foi que Vinnie fez?

— Nada — eu disse. — O cara o golpeou na garganta.

Suas mãos foram instantaneamente para o pescoço.

— Ele o bateu na garganta?

Queria que ele o atingisse mais forte, mas não lhe disse
isso. Simplesmente assenti.

— Forte.

— Estou surpresa que ele não morreu.

— Eu também.

— Então o que aconteceu?

— O cara me disse para ir buscar o meu sapato. Oh, eu não lhe


disse essa parte. Um dos meus saltos caiu perto da porta
enquanto ele me arrastava para fora. Então, busquei o meu
sapato, me aproximei de Vincent e chutei suas bolas. Duas
THE GUM RUNNER
vezes. E então fui embora.

— Você chutou as bolas do Vinnie?

Eu ri.

— Sabia que ele não iria fazer nada com esse cara lá.

— E o que mais você sabe sobre esse cara?

— O vi novamente alguns dias mais tarde. Na Starbucks.

— E?

— Bem, ele era um fuzileiro naval que lutou na guerra. É um


investidor, dirige uma BMW, é super sexy e agora estamos
namorando.

— Não acredito!! — ela retrucou. — Namoro? Cale a boca!

— Eu juro. E adivinha?

Ela encolheu os ombros.

— O que?

Estendi cada um dos meus dedos, coloquei sobre a borda da


mesa vários centímetros de distância e inclinei a cabeça em
direção às minhas mãos.

— O quê? — Ela olhou para os dedos e depois para mim. — O


que? Não estou entendendo.

Baixei os olhos para os meus dedos e sorri.


THE GUM RUNNER
— O pau dele.

— O que? Isso tudo? Esse é o tamanho do seu pau? Puta


merda. Você já viu isso?

— Ele me fodeu no trocador da Saks.

— Você fez sexo em um trocador? Na Saks? — Ela engoliu o


resto de sua bebida e acenou para a garçonete.

— Com certeza.

— Com o cara que deu uma porrada no Vinnie no


Starbucks? Você foi e fodeu com ele na Saks? O
que? Como obrigado por me salvar do meu ex, vamos transar? —
Ela deu uma risada divertida. — Sua vagabunda.

— Não. Ele bateu em Vincent quase um mês atrás. Temos saído


desde então. Tivemos relações sexuais na Saks na última quarta-
feira. Bem, essa foi a primeira vez, de qualquer maneira.

— A primeira vez... Isso é engraçado. Ele é legal?

— Super legal.

— O que posso fazer por você? — Perguntou a garçonete.

— Mais dois — disse Michelle. — Vodka de framboesa e


qualquer merda de frutas que ela está bebendo.

— Mimosa — eu disse.

— Algum acompanhamento? — Ela perguntou.


THE GUM RUNNER
Michelle riu.

— Não, obrigada.

A garçonete se virou. Michelle me enfrentou e jogou as mãos no


ar. — Então, qual é o grande segredo? Sexo no trocador é quente,
mas isso não é segredo.

— Não, há mais. — Inalei uma respiração profunda. — Ele é


branco. E não é católico.

— O quê? — Ela gritou. — Seu pai vai matá-la, porra. E a ele


também.

Desabei no meu lugar.

— Você realmente acha que ele vai?

— Eu sei que ele vai. Você também sabe disso, Tee. Oh meu
Deus.

— Mas ele é perfeito.

— O que você vai fazer?

Eu estava tentando não pensar sobre isso, mas quando fiz, disse
a mim mesma que meu pai iria entender se for lhe dado tempo
suficiente. Olhando para a expressão no rosto de Michelle, tive a
certeza do contrário. Entre nós duas, ela era a mais sensata.

Caí no meu lugar.

— Eu não sei.
THE GUM RUNNER
Ela inclinou-se para o centro da mesa e encontrou meu
olhar. Seu rosto estava cheio de preocupação.

— Você não pode ter nada sério com ele, isso é certo.

O pensamento de acabar meu relacionamento com Michael me


fez querer vomitar. Isso não era uma opção.

— Acho que já tenho. Quer dizer, eu realmente gosto


dele. Muito. Ele é protetor comigo, muito sexy e engraçado.

Ela balançou a cabeça.

— E seu pai vai matá-lo. De verdade. Pense nisso.

Pensei em algumas coisas que ouvi, as quais meu pai tinha


feito. Eu não sei se todas as histórias eram verdadeiras, mas
acreditava-se ser um homem muito cruel quando estava com
raiva. Dei de ombros para me fazer sentir melhor sobre a
situação.

— Talvez não se ele souber como me sinto.

Ela tossiu uma risada.

— Especialmente se ele souber como você se sente.

Quando vi a garçonete se aproximando, sentei no meu lugar. —


Isso é uma droga.

— Droga? Se você realmente gosta dele, sim, isso é. — Ela


pareceu lembrar de alguma coisa e riu. — Ele sabe que você é
uma princesa da máfia?
THE GUM RUNNER
Movi a cabeça enfaticamente.

— Não.

Seus olhos arregalaram.

— Ele não sabe?

Não havia nenhuma dúvida em minha mente que se Michael


descobrisse que o meu último nome era Agrioli, não reagiria de
forma diferente de todos os outros. Na melhor das hipóteses, eu
imediatamente seria considerada fora dos limites por ser a filha do
chefe da máfia. Na pior das hipóteses, ele pensaria que eu era uma
extensão da mia família. De qualquer maneira, dizer-lhe a verdade
era impossível.

— Não. — E não vou dizer. Ainda não. Eu não quero, você sabe,
afetar seu julgamento.

A garçonete deixou as bebidas.

— Ainda sem comida?

— Não — Michelle estalou. — Nós estamos bebendo, caralho.

Ela deu a Michelle um olhar matador e girou abruptamente.

Muitas vezes me perguntava o que as pessoas realmente


pensavam sobre nós quando estávamos juntas. Nós duas eramos
cheias de atitude, mas a dela era muito pior que a minha. Cadelas
ricas, crianças mimadas, putas, tinha ouvido tudo isso quando
estávamos na escola. Tentava dizer a mim mesma que como uma
adulta era melhor, mas me perguntava se
THE GUM RUNNER
eu realmente era. Ela não era diferente do que quando estava na
escola, isso era claro.

Tomei um gole da minha mimosa.

— Você acha que sou uma vadia?

— O quê? — Ela pegou sua bebida. — Uma vadia? Não, por


quê? Ele te disse isso?

— Não — eu disse. — Estava pensando. Quero dizer, você


sabe o que falavam sobre nós na escola.

— Nós estudavamos com vadias — ela assobiou. — Elas eram


estúpidas e diziam coisas estúpidas.

— Sim, acho que sim.

— Esse cara com o pau grande e o kung fu. Ele é gostoso?

— Muito gostoso.

— E ele é um investidor?

— Uh-huh.

— Em quê?

Dei de ombros.

— Não sei. Oportunidades. Isso foi o que ele disse.

— Isso é estranho. Que tipo de oportunidades? Talvez ele seja


um cafetão ou algo indecente. Já pensou sobre isso?
THE GUM RUNNER
— Ele não é indecente. E não é um cafetão ou algo
desagradável. Ele veste um terno para trabalhar e dirige um BMW.

— Estou apenas dizendo. Nunca se sabe.

— Eu sei — Fui na casa dele. Ele é um maníaco da limpeza.


Impecável em tudo.

— Então, você confia nele só porque tem uma BMW e uma casa
limpa?

— Não, confio nele porque não me deu nenhuma razão para


não confiar.

— Bem — disse ela. — Mais cedo ou mais tarde o seu pai vai
descobrir. E quando o fizer, você vai estar em uma confusão
enorme. Então, se realmente gosta deste cara — Ela levantou
uma sobrancelha e a bebida. — Descubra como você vai lidar com
isso antes que seu pai descubra.

Michelle estava certa. A qualquer momento o meu pai


descobriria sobre Michael e se eu não tiver falado sobre isso com
ele, iria ficar furioso e enviaria um de seus subordinados para
tentar feri-lo, o que não iria acabar bem. A última coisa que eu
precisava era o meu pai e Michael estarem em guerra um com o
outro.

— Talvez fale com meu pai sobre Michael e defina alguma coisa
para eles se encontrarem. Não imediatamente, mas muito em
breve — eu disse, sabendo que iria esperar o máximo de tempo
possível.
THE GUM RUNNER
— Você precisa falar com ele primeiro— disse ela. — Michael
vai ficar na merda quando descobrir quem você é.

— Eu sei.

— E seu pai vai ficar bravo também. — Ela tomou um gole e


tossiu enquanto engolia, é complicado.

Meu pai podia ser capaz de descartar Michael, porque ele não
era italiano, mas tenho certeza que eu não poderia. Até onde sei,
ele era perfeito para mim.

Só precisava que o meu pai concordasse.


THE GUM RUNNER

Michael

Fiz um gesto em direção à estrada à nossa frente.

— Não vire aqui, pegue a 23. A Avenida Fredrick é na outra


direção. Ela nos leva logo atrás do estacionamento e você consegue
ver toda a rua.

Cap desligou a seta do carro e pisou no acelerador.

— Certo, chefe.

Na metade do caminho ele perguntou o inevitável.

— Você acha que esses búlgaros vão nos dar algum problema?

— Espero que não.

— Por que você colocou Lucky no outro lado da rua observando


o ponto de entrega?

— Apenas sendo cauteloso.

Ele deu uma risada seca.

— Quando foi a última vez que você participou de uma entrega?

Olhei em direção ao local marcado na Avenida Fredrick. — Não


sei.

— Eu sei. — ele afirmou virando a esquina. — Você nunca


participou. Agora antes que eu estacione, quero saber o que
THE GUM RUNNER
está acontecendo?

— Acho que esses caras são imprevisíveis, temos 200 mil


dólares em armas e eles são um dos poucos clientes que exigiram
não pagar adiantado. Então, nós estamos fazendo um negócio de
200 mil dólares em um estacionamento à noite. Não há espaço
para erro. Isso é o que eu acho.

Ele diminuiu a velocidade enquanto nos aproximávamos do


estacionamento.

— Faz sentido.

— É só que ...

Parei de falar e peguei meu telefone que estava vibrando.

— Como está tudo por aí, Lucky?

— Três eslavos em uma caminhonete. Fora isso, o lugar está


vazio.

O local marcado para fazer a entrega das armas foi escolhido


pelo cliente. Com base na localização e estando sob a escuridão da
noite, acreditava que estávamos expostos a poucos riscos. Sendo
um bairro de antigos armazéns com praticamente nenhum tráfego
nas ruas laterais, a área diminuía a possibilidade de sermos
assaltados ou surpreendidos.

Uma vaga do outro lado da rua era perfeita para um dos meus
funcionários pararem e observar a transação. Nunca é demais ser
cuidadoso quando se está fazendo um negócio deste valor em
THE GUM RUNNER
um estacionamento de um armazém abandonado, especialmente à
noite.

— Ok. Estamos chegando. Você fique alerta até que o dinheiro


chegue a minhas mãos.

— Entendido— assegurou ele. — Vou ficar observando.

Eu desliguei. — Lucky disse que está tudo tranquilo. Estacione


ao lado do Mercedes.

Como sempre faço com entregas grandes, aluguei um caminhão


de mudança e carreguei com as armas. Desta forma chamava
pouca atenção dos desconhecidos e o cliente podia simplesmente
levar o veículo e devolvê-lo à agência de aluguel quando
terminassem de descarregá-lo.

O estacionamento estava iluminado por postes e o Mercedes


SUV estava estacionado diretamente debaixo de um deles. Quando
paramos, dei minhas instruções para Cap. — Fique aqui, em alerta
e preparado, até Lucky chegar para nos tirar daqui.

— Entendido.

Saí do veículo e me aproximei do Mercedes. Meu negociante,


sentado no banco traseiro, saiu do carro e deu um
aceno. Um búlgaro de queixo quadrado e 1,93m de altura, Svetli
raramente ria ou dava um sorriso.

Eu acenei. — Svetli.

— Boa noite, Tripp.


THE GUM RUNNER
Bati minha mão no caminhão.

— Temos todas as duzentas, em caixas de dez.

Ele fez sinal para o seu companheiro sair.

— Agradecemos por você não cobrar o adiantamento de 50%.

Svetli tinha vivido nos Estados Unidos por um ano e se


comunicar com ele me lembrava das diversas cenas de filmes de
ação, onde o russo interpretava o cara mau. Sempre impassível e
falando com um distinto sotaque eslavo, seria fácil confundi-lo
com um russo.

— Você é o cliente — assegurei. — É o meu trabalho mantê-lo


feliz.

O companheiro de Svetli entregou-me uma pequena bolsa de


couro. Por respeito, não olhei o que tinha dentro. Um simples
aceno da minha parte era confirmação suficiente do recebimento
do pagamento na íntegra. Abri a porta do passageiro e joguei a
bolsa em direção a Cap.

Svetli apontou para a parte traseira do caminhão.

— Você se importa se eu olhar?

Coloquei a mão no meu bolso e retirei a chave do cadeado. —


Vamos dar uma olhada.

Svetli e seu companheiro me seguiram até a parte traseira do


caminhão. Depois de destrancar o cadeado e de lhe entregar a
chave, abri a porta. Vinte caixas de
THE GUM RUNNER
madeira feitas à mão enchiam toda a área de armazenamento.

Apontei para a caixa mais próxima da porta.

— A tampa não está pregada nessa aqui. Eu pensei que você


pudesse querer dar uma olhada.

O companheiro saltou para dentro, tirou a parte superior da


caixa e balançou a cabeça em sinal de aprovação ao ver o
conteúdo.

Svetli se virou para mim.

— Nós estamos prontos para ir.

Adoro quando um negócio dá certo.

Meu telefone vibrou e causou um arrepio na minha espinha.

Tirei o fone de ouvido do bolso do casaco e o coloquei. Os dois


olhares estranhos que eu recebi em troca eram a menor das
minhas preocupações. Eu sabia que se Lucky estava ligando no
meio da transação é porque devia haver uma séria ameaça.

A declaração de Lucky foi breve.

— SUV preto. Modo furtivo. Posição nove horas. Faróis


apagados.

Porra.

Eu puxei a pistola do meu coldre.

— Temos companhia.
THE GUM RUNNER
O rosto de Svetli se contorceu e seus olhos se estreitaram.

— O que você quer dizer com temos companhia?

Em nossa remota localização, o som distante do SUV acelerando


rapidamente estava em completo contraste com o silêncio. Não
tinha tempo para explicar melhor as coisas. Meu treinamento
militar assumiu.

Olhei por cima do meu ombro esquerdo.

— Cap, temos inimigos se aproximando. Posição nove horas —


gritei.

— Ok.

A voz de Lucky veio no meu ouvido.

— Os inimigos estão chegando perto.

— Fique vigiando — eu disse. — Só ataque ao meu comando.

— Entendido — ele respondeu.

Virei-me para Svetli e apontei com a cabeça para o som do SUV


que se aproximava.

— Há um carro vindo nessa direção.

Svetli puxou uma pistola da cintura e gritou alguma coisa para


seu companheiro em búlgaro. Imediatamente, ambos
desapareceram para trás do caminhão.

— Tenho um atirador observando eles — gritei. — Deixe-


THE GUM RUNNER
me lidar com isso.

Lucky estava armado com um fuzil e era capaz de nos fornecer


proteção de sua localização do outro lado do estacionamento. Eu
estava bem consciente de que não estávamos em um filme de ação
e que não estava na guerra.

Se o nível de ameaça fosse mortal, eu teria Lucky para reagir


adequadamente. Se não fosse, eu iria responder com menos força,
usando provavelmente meus punhos e chutes.

O SUV preto entrou no estacionamento em uma alta velocidade,


parou bruscamente em frente do caminhão e três homens
saltaram.

Amadores do caralho.

— Você consegue dar um tiro certeiro? — Perguntei.

— Consigo.

Svetli e seu parceiro estavam no lado direito do caminhão,


ambos armados com pistolas. O motorista deles, que ainda estava
sentado no Mercedes, olhou para os recém-chegados através do
para-brisa. Eu estava em pé no canto direito traseiro do caminhão,
com a intenção de usar o veículo como um escudo, se necessário.

— Saiam do caminhão, porra! — uma voz gritou. A mistura de


sotaques da Filadélfia e da Itália transformou a tentativa de
encobrir o envolvimento de Agrioli naquela situação impossível.

Enquanto Svetli e seu parceiro búlgaro sussurravam, fui


para o lado do caminhão com a minha
THE GUM RUNNER
pistola apontada para o homem à minha esquerda.

— Eu tenho más notícias, caras — disse sem rodeios,


estudando cada um deles. — Esta carga não vai a lugar nenhum.

Um dos três homens estava armado com uma espingarda e os


outros dois com pistolas. Todos os três estavam vestidos com
roupas semelhantes ao cara que apareceu no meu escritório.

— Estamos levando a porra do caminhão! — o cara com a


espingarda anunciou.

— Você consegue atirar no filho da puta com a espingarda? —


Eu sussurrei.

— Consigo, ele está na minha mira — Lucky respondeu.

— Atire na sua coxa direita quando eu terminar de contar até


cinco — sussurrei.

— Entendido.

Eu alternava olhares entre os três homens.

— Vou dar-lhes uma chance de irem embora e essa chance é


agora. Você, com a espingarda. Um atirador de elite tem você em
sua mira. Jogue a espingarda no chão a sua frente quando eu
contar até cinco ou você será baleado. Isso não é uma ameaça, é
uma promessa.

Ele balançou a cabeça e levantou a espingarda ligeiramente. —


Foda-se. Tire o seu motorista do maldito caminhão, porra.
THE GUM RUNNER
Balancei minha cabeça.

— Um. Dois. Três.

Ele apontou a espingarda em direção a Cap.

— Saia da porra do caminhão.

Ele não merecia um quatro. .

— Cinco.

De onde estávamos não havia nenhuma indicação do som do


fuzil sendo disparado. O distinto som da bala zunindo, pelo menos
para meus ouvidos treinados, era o único sinal do que tinha
acontecido. No mesmo instante que o número cinco foi falado, a
bala atravessou a perna do homem. Ele rugiu um estridente grito e
caiu no chão.

A espingarda caiu perto de seus pés.

Imune aos gritos do ferido, virei-me para os outros dois


restantes e dei o meu comando. O homem que havia sido baleado
gemia de dor enquanto segurava sua perna.

Os outros dois homens estavam com suas pistolas em seus


lados, vasculhando nervosos o estacionamento para ter uma ideia
de quem poderia ter atirado em seu parceiro. Tendo estado em
situações semelhantes em muitas ocasiões na guerra, percebi que
era bem possível que os outros dois homens não tinham ideia da
complexidade da ferida de seu companheiro. Não ouvir o tiro
parecia diminuir a gravidade da situação registrada pela mente
THE GUM RUNNER
humana.

— Soltem suas armas, fiquem de joelhos e coloquem as mãos


atrás da cabeça.

— Foda-se — o cara no centro gritou.

— Consegue atirar no cara do centro? — Perguntei para


Lucky.

— Consigo. — Lucky respondeu.

— Atire na coxa.

No mesmo instante, um som zunindo passou pelo ar e o homem


no centro caiu no chão. Ainda segurando sua pistola, ele gritou o
que eu esperava que fossem palavrões italianos.

— Jogue a arma. — exigi — Ou vou mandá-lo atirar no peito.

Ele jogou a arma para o lado.

— Agora — eu disse, apontando minha pistola para o último


homem de pé. — Jogue sua arma, fique de joelhos e coloque as
mãos atrás da cabeça. Este é seu único aviso.

Ele jogou a arma no chão.

— Cap — eu gritei. — Reviste e amarre-o.

— Certo.

Cap saiu do caminhão com sua pistola preparada. Depois de


chutar as três armas para trás, ele revistou o último homem,
THE GUM RUNNER
amarrou suas mãos com fitas de nylon e depois revistou os dois
homens feridos.

— Corte as mangas de suas camisas e use-as como


torniquetes. Pegue seus telefones e reviste o veículo deles.

— Tudo bem, chefe.

— Continue vigiando o estacionamento até que o caminhão saia


daqui. — eu disse.

— Entendido — Lucky respondeu.

Virei-me para Svetli. Minha boca se torceu em um sorriso


orgulhoso. — Desculpe pelo atraso.

Ele apontou com a cabeça para os três homens.

— Porra! Quem são esses fodidos?

Eu não ousava dizer para ele dos problemas que estava tendo
com Agrioli.

— Máfia Italiana é o meu palpite, pelo menos eles falavam como


italianos. Parece que estavam tentando roubar suas armas.

— Agrioli?

Dei de ombros, surpreso que ele estava informado da presença


da máfia na cidade do Kansas.

— Esse é o meu palpite.

Svetli me lançou um olhar severo.


THE GUM RUNNER
— O que você vai fazer com estes fodidos?

— Vou retirar os celulares e armas do veículo e deixar o cara


que não está machucado levar os outros dois ao hospital. Eles
podem enviar uma mensagem para seu chefe dizendo que eu não
sou nenhum estúpido e inexperiente traficante de armas.

Ele esboçou um sorriso.

— Nada de inexperiente, você é um traficante de armas do


caralho, Tripp.

— Sou mesmo. — Gostei do som disso, especialmente vindo de


alguém como Svetli. — Nós vamos tirar vocês daqui agora mesmo.

Ele inclinou a cabeça na direção de onde Cap estava em pé de


guarda sobre os italianos.

— Eu quero levar um homem comigo. O único que não está


machucado. Talvez Svetli Slavonovich possa enviar sua própria
mensagem para Agrioli. Aquele filho da puta.

Não vi nenhum mal nisso, especialmente sabendo que os outros


dois homens dariam a mensagem para Agrioli de que os russos
tomaram um de seus parceiros. Era bem possível que permitindo
Svetli de tomar um dos italianos como refém fosse desviar parte da
atenção de Agrioli para longe de mim.

— Por mim tudo bem.

Cap se aproximou de nós.


THE GUM RUNNER
— Encontrei uma identificação no veículo. Os dois feridos não
têm nenhum documento. Mas o número três tem. Você vai adorar
isso.

Dei de ombros.

— O quê?

— Ele é um Agrioli. Seu nome é Peter.

Eu ri com o pensamento da irritação do filho da puta do Agrioli


quando ele descobrisse que um de seu sangue tinha sido tomado
como refém.

— Perfeito.

— Parece que ele é exatamente o que você quer. Leve-o — eu


disse com um aceno de cabeça em direção Svetli. — Depois que
vocês já estiverem bem longe, nós vamos deixar os outros dois
partirem.

— Você é um homem de palavra — disse Svetli.

Sorri quando coloquei minha pistola no coldre.

— Eu faço o meu melhor.

Acenei minha cabeça para o caminhão. .

— Cap, proteja o caminhão. Eles vão levá-lo.

— Certo.

Olhei para os três homens. Cap colocou fita adesiva em suas


THE GUM RUNNER
bocas e suas mãos e pés estavam amarrados com fitas de nylon.

— Lucky, você ainda pode me ouvir?

— Afirmativo.

— O caminhão vai sair. Após o Mercedes e o caminhão saírem


daqui, precisamos que você nos pegue.

— Entendido.

Svetli colocou Peter Agrioli no compartimento traseiro de seu


SUV, apertou minha mão e depois foi embora com o caminhão, seu
Mercedes seguindo logo atrás. Alguns momentos depois, Lucky
chegou ao estacionamento em seu carro.

— Eles vão viver? — Perguntou.

— Eles vão ficar bem — eu disse. — Bons tiros.

— Obrigado — disse ele.

— Guarde o dinheiro, suas armas e telefones e também a


sacola. Vou deixá-los irem para um hospital. Fodidos estúpidos.

Enquanto Cap e Lucky carregavam as coisas para o carro,


aproximei-me dos dois homens feridos. — Vou deixar vocês dois
irem atrás de atendimento médico, mas não até que nós estejamos
muito longe. Vocês foram atingidos por uma bala de fuzil, que
parece muito pior do que realmente é. Noventa dias de terapia e
vocês estarão andando novamente. Agora, prestem atenção.

Obviamente, ambos os homens tinham chegado a um ponto


THE GUM RUNNER
onde eles entenderam que gemer não ia mudar nada. Do mesmo
jeito que acontecia com a maioria dos homens que eu já tinha visto
baleados na perna, inclusive comigo, após passar o choque inicial,
lidar com o desconforto e dor tornava-se muito mais fácil a cada
minuto.

Com seus olhos fixos em mim, eu continuei. - Eu sei que vocês


vão dizer a Agrioli o que quiserem. Mas esta é a minha promessa e
vocês precisam pensar sobre o que vou dizer. Pensem sobre isso
com cuidado. Se qualquer um de vocês tentarem se aproximar de
mim de novo, por qualquer razão, vocês serão mortos. Sem
perguntas, sem opções e nenhuma contagem até
cinco. Entendido?

Um aceno afirmativo de cada homem me garantiu de que eles


entenderam qual seria seus destinos se eles fizessem algum plano
para me prejudicar de novo.

— Vejo que você tem um relógio — eu disse ao primeiro homem


que havia sido baleado. — Depois que sairmos daqui, espere cinco
minutos e desapareça. As chaves estão em seu veículo. Se você
sair antes dos cinco minutos, o meu atirador vai colocar uma bala
no seu olho esquerdo. Entendido?

Com a mandíbula apertada e os olhos estreitos, ele respondeu.

— Cinco minutos.

Não havia um segundo atirador, mas ele não precisava saber


disso. Os cinco minutos de vantagem me dariam paz de espírito
em saber que eles não iriam tentar fazer nada para salvar suas
THE GUM RUNNER
reputações nem seu orgulho.

— Diga a Agrioli que ele não está lidando com um bando de


amadores. Somos profissionais treinados. Qualquer outro que
tentar foder comigo ou com meus homens vão encontrar o mesmo
destino que vocês dois.

Sacudi a cabeça e me afastei.

Voltei da guerra havia pouco mais de um ano. Agora, parecia


que tinha a minha própria guerra para lutar. Uma de natureza
mais pessoal. Andei em direção ao carro de Lucky, com o
pensamento confiante de que se alguém nasceu para lutar, esse
alguém era eu.

E, depois de enfrentar sem muitas dificuldades a ameaça dos


homens de Agrioli tentando roubar meu carregamento de armas,
ver Terra era a única coisa que queria.
THE GUM RUNNER

Terra

Coloquei meu cotovelo na beira da mesa e segurei a minha mão


entre nós para que ele pudesse observar a minha habilidade com o
hashi.

— Não, você simplesmente deve deixar a vareta debaixo em


contato com seu dedo médio e usar a de cima para pegar o sushi.

Ele observou atentamente. Depois de me estudar por um


momento, pegou seu hashi e pressionou as pontas juntas, como se
ele fizesse isso há anos.

— É realmente simples depois que alguém lhe ensina —


admitiu.

— A maioria das pessoas não conseguem na primeira vez. —


Eu não estava frustrada, mas sim com inveja. Eu levei uns seis
meses para aprender e ele tinha dominado em trinta
segundos. Isso não me surpreendeu. — Não posso acreditar que
você nunca tentou.

Ele olhou para as pontas dos Assis batendo.

— Nunca tive a chance.

— O que você quer dizer com você nunca teve a chance de


THE GUM RUNNER
comer sushi?

Ele olhou para mim e falou com uma voz que era quase
arrogante.

— Quando tinha dezoito anos, me ofereci para ir lutar na


guerra. Nos últimos onze anos, passei dez deles comendo refeições
em um saco plástico. E, no ano passado, eu estive ocupado
construindo meu império.

Vendo-o agora, era fácil esquecer que ele já foi da


Marinha. Esquivar de balas e atirar em pessoas não pareciam
adequados para Michael, especialmente considerando o seu modo
de transporte e sua maneira de vestir. Dei de ombros e forcei uma
risada.

— Eu esqueci.

Ele riu.

— Essa última parte era uma piada. O quê? Você não tem
senso de humor?

— Sinto muito, eu não estava pensando. Isso foi muita falta de


consideração da minha parte.

— Não, não foi. Minha infância acabou. Eu não preciso de você


lamentando sobre o que aconteceu comigo. Cristo, isso que me
trouxe até aqui, não é?

Eu admirava a capacidade de Michael em aceitar a vida que ele


foi forçado a viver. Apesar de todas as suas dificuldades, de
alguma forma encontrou uma maneira de
THE GUM RUNNER
superá-las e manter uma visão imparcial sobre a vida.

— Acho ótimo que você consiga olhar para a vida do jeito que
você faz.

— E o quê? Não ser mais uma estatística? Não ter me tornado


um sujeito amargurado por causa do meu passado? De que outra
forma eu olharia para tudo isso? Se um homem é incapaz de
aceitar seu passado, seu futuro será um fracasso com certeza.

— Mas nem todo mundo é capaz de aceitar seu passado. Pelo


menos não inteiramente. E quero dizer pessoas muito mais
sortudas do que você — expliquei.

Ele parou de girar o hashi, pegando-o na sua mão sem tirar


seus olhos de mim.

— É tudo questão de ser orgulhoso.

— O que você quer dizer?

— Eu não tenho arrependimentos sobre como vivi minha


vida. Não tenho vergonha. Absolutamente nenhuma. Tudo o que
fiz foi com a melhor das intenções e da melhor maneira possível. —
Ele deu de ombros. — Isso é tudo que posso fazer.

— Então você não mudaria nada em seu passado? Se pudesse?

— Na verdade não. Como eu disse, ele me trouxe aqui. —


Acenou sua mão para mim. — Eu nunca estive mais feliz. Nunca
imaginei que ter uma mulher na minha vida iria melhorar as
coisas, mas para ser honesto, melhorou.
THE GUM RUNNER
Descartei elogios de amigos e familiares como sendo nada mais
do que observações de improviso. De Michael, os achei sinceros e
muito mais significativos.

— Obrigada. Isso significa muito para mim.

— Não precisa me agradecer. É a verdade.

— Bem, eu aprecio elogios vindos de você. Então, obrigada.

— Você não aprecia de qualquer um?

Senti-me como uma cadela desdenhosa, mas queria ser honesta


com ele.

— Nem sempre — admiti.

Seu rosto se contorceu.

— Por quê?

— Tenho uma grande família e nem todas as pessoas são tão


afortunadas. Não sei, é só que... — Olhei para ele buscando
compreensão, mas percebi que ele não tinha ideia de qual era a
sensação de ter um parente olhando com desdém para você sem
nem mesmo disfarçar.

— Quando eles dizem alguma coisa, é quase como se eles


dissessem porque se sentem obrigados a fazê-lo. Eles olham com
desprezo e dizem 'esse vestido fica bom em você, Terra. ' Ou um
deles pode dizer 'Adorei o seu cabelo, você cortou?' E realmente
não dão à mínima, vão dizer essas coisas enquanto passam ao
meu lado e nem mesmo esperam para
THE GUM RUNNER
ouvir a minha resposta. Então, não, eu nem sempre gosto de
elogios. Mas com você? Você não diz as coisas apenas por
dizer. Pelo menos não parece.

— Se desprezo alguém, a pessoa sabe — ele disse com uma


risada. — E se fizer um elogio, é com o coração.

— Gosto disso em você.

O garçom aproximou-se da mesa carregando dois pratos


grandes.

— Aqui está. Um número onze e um número seis. Qual é o seu,


senhora?

— Nós vamos dividir — informei.

Dei instruções sobre o molho de soja, o uso de gengibre para


limpar o paladar entre um sushi e outro e o wasabi, que eu,
pessoalmente, detestava e começamos a comer.

— O que você achou? — Perguntei.

— Gostei. Muito. Eu acho. — Ele pegou um pedaço de gengibre,


comeu e continuou.

— É fresco. Saudável. Eu gosto disso.

Michael pegou outro pedaço.

— Esse peixe é atum cru?

Assenti.
THE GUM RUNNER
— Tudo bem?

— Já comi atum antes — disse ele. — Eu gostei.

Dei um sorriso, satisfeita que fui capaz de fazer uma sugestão


de algo novo e que seria memorável.

— Acabei de pensar em algo — eu afirmei.

— O quê?

— Essa foi sua primeira vez com sushi. — Ele riu.

— Verdade.

— E agora, toda vez que você comer, vai pensar em mim.

Ele riu novamente, desta vez colocando cuidadosamente seus


hashis na borda do prato.

— Eu não preciso comer sushi para pensar em você.

Comecei a responder, para lhe dizer o quanto apreciei sua


bondade, mas ele continuou antes que tivesse uma chance de
falar.

— Não consigo fazer mais nada sem pensar em você,


Terra. Nada. Algumas das coisas que estou envolvido no trabalho
são bastante intensas. E bem no meio do trabalho, penso em você.

Fiquei lisonjeada. Sentia-me da mesma maneira, mas não


ousava compartilhar meus pensamentos com ele por medo de
assustá-lo. Encontrei seu olhar e mordi meu lábio
THE GUM RUNNER
ansiosamente.

— Obrigada.

— Eu não acabei — assegurou ele. — Penso em você quando


dirijo para o meu escritório, quando como, tomo banho, quando
eu...

Ele sorriu até que suas covinhas apareceram.

— Quando eu faço qualquer coisa.

Eu admirei suas covinhas, satisfeita que elas tinham


aparecido. Era uma raridade.

— Isso é ruim? — Perguntei.

— No início, pensei que era. Agora? Já me acostumei.

— Como isso poderia ser ruim?

— Isso me leva a acreditar que sou dependente de você. Ou, se


ainda não sou, estou rapidamente me tornando.

— E isso é ruim como?

— E se você decidir me deixar? — Ele hesitou e estendeu o dedo


indicador. — E se decidir que o relacionamento sem importância
tornou-se na verdade um grande problema?

— Eu não vou.

Ele balançou a cabeça e pegou os hashis.


THE GUM RUNNER
— Você não pode fazer essa promessa.

Tentei ficar séria.

— Posso e acabei de fazê-la.

Michael pareceu surpreso por um instante, então colocou a mão


no bolso do casaco. Depois de um momento, ele pegou um
pequeno envelope quadrado.

Ele estendeu sobre a mesa e entregou-me.

— Aqui.

— O que é isso?

— O que parece para você?

— Um cartão.

— Bem, é isso mesmo. Eu trouxe para você e esqueci-me de


entregar. Quero dizer, até agora, de qualquer maneira. Você
acabou de me lembrar.

Puxei o cartão do envelope ansiosamente. A frente estava cheia


de bolinhas coloridas, mas nada escrito. Confusa e curiosa abri. O
interior do cartão estava livre de frases impressas e continha
apenas poucas frases escritas à mão.

Michael tinha comprado um cartão em branco e ele mesmo


escreveu. Olhei para Michael e depois de volta para o cartão.

Terra,
THE GUM RUNNER
Quando eu estou com você, nada mais importa.

Quando nada mais importa, o mundo em torno de mim se


dissolve, deixando apenas você.

E. Nada. Mais. Importa.

Michael

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu li novamente. Minha


garganta apertou. Uma lágrima escapou e virei a cabeça,
esperando que ele não visse. Enxuguei-a rapidamente e segurei
firme o cartão na minha mão, não querendo soltá-lo.

Virei-me para Michael com toda a intenção de expressar o meu


agradecimento, mas as palavras não vieram.

Ele sorriu, revelando suas covinhas. E nada mais importava.


THE GUM RUNNER

Michael

Cap e eu já havíamos resolvido muitos problemas bebendo uma


boa cerveja na minha cozinha e embora eu não soubesse se
iriamos resolver esse completamente, falar sobre isso tranquilizava
minha mente consideravelmente.

— Você acha que esses idiotas vão desistir? Estou certo que
não. Nós ainda encontraremos com eles, tenho certeza disso.

A garrafa de cerveja balançava entre seus dedos, enquanto ele


esperava minha resposta, mas eu não tinha uma para oferecer,
pelo menos não imediatamente. Havia muitas possibilidades e
nenhuma delas faziam sentido para mim. Uma opção era que
Agrioli percebesse que não poderia lidar comigo, nem com meus
homens, mas não tinha muita certeza sobre isso.

— Ele é muito orgulhoso para desistir — eu disse. — Se ele


decidir nos libertar de suas garras, não será tão fácil. É dessa
forma que idiotas pretensiosos como ele trabalham.

Cap jogou a garrafa vazia no lixo e abriu a porta da geladeira.

— Mais uma?
THE GUM RUNNER
Ergui minha garrafa ainda cheia e agitei a cabeça. — Ainda não.

— Você provavelmente está certo. — Ele pegou outra garrafa de


cerveja e fechou a porta. — Aposto que aquele maldito é um
verdadeiro filho da puta. Dizem que no outono passado ele matou
um dos seus homens. Encontraram o cara com uma bala na testa
e sua língua faltando.

Lembrei-me sobre o pouco que ouvi no noticiário. O nome do


falecido se destacou para mim na época.

— Sim, eu me lembro — assegurei. — Paulie Pinchface.

Ele engasgou com sua cerveja enquanto ria. — Era Pinchface


Paul. Nós precisamos tomar muito cuidado até isso acabar.

— De acordo.

Tomei um gole de cerveja e meus pensamentos logo se


desviaram para Terra. Eu deveria estar muito mais preocupado
com Agrioli do que realmente estava, mas minha mente estava em
outro lugar. Perturbou-me um pouco não esta completamente
focado nos negócios. Eu não era assim.

Como um lutador de MMA que se prepara para um jogo, Cap


revirou os ombros e estalou seu pescoço. — Então, agora vamos
para um assunto que vai te deixar puto.

Inclinei a cabeça para trás e o olhei com desprezo.

— Qual?
THE GUM RUNNER
— A garota. Você esteve quieto sobre ela por algumas semanas,
talvez por mais tempo. O que está acontecendo entre vocês?

Perguntei-me se ele conseguia ver as diferenças em mim.

— O que você quer dizer?

— O que está realmente acontecendo entre vocês, porra?

Enchi-me de orgulho em antecipação e imediatamente senti


uma pontada de culpa por meus pensamentos orgulhosos. De
qualquer forma o orgulho rapidamente voltou. — Estou
encontrando com ela regularmente.

— Encontrando como? Comendo sundaes e sorvetes, rindo


como um casal de adolescentes na puberdade ou saindo com
ela? Você sabe, realmente saindo com ela?

— Você sabe que eu não gosto de gracinhas.

— Você transou com ela, não é?

— Sabe — eu disse. — Eu era o perfeito soldado da


marinha. Enfrentei os maiores riscos, porque não tinha porra
nenhuma a perder. Passei toda a minha vida sem nada, Cap.

Nunca fui um cara que reclamava sobre a vida ou de qualquer


coisa e não estou reclamando agora. Estava justificando minhas
ações e quanto mais falava mais me convencia de que estava
fazendo o que era melhor para mim.

— Eu nunca soube o que é ter alguém ansioso para me ver. Ter


uma pessoa que sorri quando pensa em
THE GUM RUNNER
mim. Acreditar de verdade que há alguém que se importaria se eu
morresse. Quando era criança, provavelmente quinze anos, havia
uma única coisa que costumava me incomodar mais do que
tudo. Você sabe o que era?

Em pé no bar com os cotovelos apoiados na borda e as mãos


juntas, ele simplesmente virou as palmas das mãos para cima e
balançou a cabeça.

— Meu funeral — afirmei. — Eu costumava sentar e pensar


sobre isso. Que não haveria ninguém lá. Não havia uma única
pessoa no mundo que dava a mínima se eu estava vivo ou
morto. Pensava sobre isso quase toda noite.

Cap inalou uma respiração profunda e eu tinha certeza que ele


queria me dizer alguma coisa, mas eu não havia
terminado. Levantei o meu dedo para ele e continuei. — Você
sabe, conheço-a há cerca de seis semanas. E pela primeira vez na
vida, tenho certeza que se Agrioli me matasse, ela estaria no meu
funeral. Ela estaria lá.

— Eu estaria lá — Cap afirmou.

— Fico feliz com isso — disse com um aceno de cabeça.

Ele tomou um gole de cerveja, fez contato visual comigo e em


seguida, rapidamente olhou para o chão.

— O quê? — Perguntei.

— Nada.
THE GUM RUNNER
— Você ia dizer alguma coisa.

— Não. Não é importante.

— Você achou que era. Então, diga.

— Você mandou Trace verificar o histórico da garota?

Meu tom de voz transmitiu claramente meu desagrado com sua


pergunta.

— Eu sou novo nesta coisa de relacionamento. É assim que se


faz? Você realiza uma verificação de antecedentes de qualquer
pessoa que você decidi ver?

Ele encolheu os ombros.

— Policiais fazem.

— Bem, policiais são idiotas e eu não sou um deles.

Cap limpou a garganta, tomou outro gole de cerveja e olhou ao


redor da sala. Depois de um momento, ele encontrou meu olhar.

— Então, você realmente gosta dessa garota.

— Com toda certeza.

— Quero conhecê-la.

— Você vai — afirmei.

Ele levantou a garrafa e estudou o conteúdo.

— Bebi muita cerveja pensando que iria encontrar as


THE GUM RUNNER
respostas de tudo que eu quisesse saber quando chegasse ao
fim. Mas isso nunca aconteceu.

— E o que você está querendo saber?

— Caralho, um monte de coisas. Como é que uma estrela do


mar pode regenerar uma nova perna, mas eu não posso crescer
um novo dedo? E coisas como porque aquele filho da puta na
Coréia do Norte ainda não foi assassinado. Ou onde Netflix
mantém todos aqueles filmes. Quero saber tudo isso. Mas nesse
momento, estou imaginando o que é que faz um homem decidir
que é a hora certa. Nunca pensei que você iria se apaixonar por
uma garota, mas não estou condenando-o por isso. Só não a deixe
atrapalhar o seu bom senso.

Não eram bem palavras de apoio, mas era tudo que poderia
esperar de Cap.

— Bom senso faz parte de quem sou. Não vou perder isso —
afirmei.

— Um brinde ao bom senso. — Ele levantou a garrafa de


cerveja. — E às estrelas do mar.

Levantei minha garrafa e bati na sua.

— As estrelas do mar.

Ele tomou um gole de cerveja e levantou uma sobrancelha.

— Agora, o que vamos fazer com aquele maldito italiano?


THE GUM RUNNER
— Por enquanto, nada. Nós só precisamos estar conscientes de
sua existência.

— Concordo — disse ele. — Qual será seu objetivo? Você


sabe, depois do negócio na outra noite?

— Resgatar seu homem vivo dos búlgaros é o meu palpite.

— Você provavelmente está certo. Você acha que aqueles idiotas


estão pedindo resgate em dinheiro?

— Estou certo disso. Eles vão fazê-lo pagar por desrespeitá-


los. Para eles, aqueles italianos não vieram para nos roubar, mas
sim roubar os búlgaros. Não poderia ter funcionado melhor. Eles
vão exigir um resgate, Agrioli vai pagar e isso vai ser resolvido
entre eles.

— Pelo menos o seu foco não está em nós.

Terminei minha cerveja e olhei para o relógio.

— Concordo.

Cap olhou para o relógio, balançou a cabeça e bebeu o resto de


sua cerveja.

— Bem, está ficando tarde. É melhor eu ir. Falei sério sobre a


garota.

— Eu também — assegurei.

— Qual é o nome dela?


THE GUM RUNNER
— Terra — respondi. — Terra Wilson.

Ele parou e parecia absorver o nome por um momento.

— Te vejo de manhã.

— Acho que sim.

Depois que ele saiu, limpei a cozinha, tirei o lixo e fui para
cama. Passei alguns minutos tentando adormecer, mas algo
parecia errado. Procurei meu telefone, tirei-o da mesa de cabeceira
e digitei para Terra uma mensagem.

Estou pensando em você.

Quase imediatamente, meu telefone tocou. Abri a mensagem.

Eu nunca paro de pensar em você.

Digitei uma resposta de volta.

Então estou fazendo algo certo pela primeira vez. Boa noite.

Sua resposta foi rápida.

Sim, com certeza você está. Boa noite.

Eu li sua resposta, sorri e reli.

Então adormeci.
THE GUM RUNNER

Terra

Nós estávamos deixando a minha casa, mas ainda não tínhamos


chegado à porta. Passei minha mão ao longo da minha coxa e
coloquei meu cabelo sobre meu ombro, fazendo minha melhor pose
sedutora.

— Você prefere em relação a que?

— O que você quer dizer? — Perguntou Michael.

— O que você quer dizer? Eu perguntei se você gostava da


minha calça. Você disse que a preferia. E estou perguntando. Você
prefere em relação a que?

Seus olhos caíram para meus saltos de 10 cm e lentamente


subiram pelas minhas pernas, parando na minha cintura. Virei-
me, rebolando um pouco, fazendo com que ele tivesse certeza
sobre sua resposta.

Alguns segundos se passaram.

— Tudo. Em relação a tudo. Bem, tudo, exceto o pequeno


vestido preto, eu sou parcial em relação a ele, mas por outras
razões.
THE GUM RUNNER
Jeggings. Elas pareciam ridículas no começo, mas depois de ver
todos usando por mais ou menos um ano, eu me rendi e comprei
um par. Agora, se eu estava com vontade de usar calças jeans,
jeggings era minha única opção.

— Joguei fora meu jeans e isso é tudo o que tenho agora —


afirmei. — Eu gosto delas.

— Eu também.

Ele disse para me vestir confortavelmente, mas eu não tinha


ideia de quais eram seus planos. .

— Então o que nós vamos fazer?

Ele caminhou na minha direção lentamente. Até mesmo o seu


andar casual gritava confiança.

— Nós estávamos indo para o parque Mundo da Diversão andar


na montanha russa. Agora? Eu não tenho certeza.

Andar na montanha-russa parecia divertido. Não fazia isso


desde que eu era pequena. Pensei em pular de alegria e
entusiasmo, mas não o fiz.

— Por que não? — Perguntei.

Ele colocou as mãos na minha cintura, um pouco acima da


minha calça. Quando ele me tocou, me arrepiei toda e não parecia
importar onde ele escolhia me tocar ou o por que. Apenas
acontecia.
THE GUM RUNNER
— Decidi fazer outra coisa — afirmou ele.

Eu já tinha esquecido sobre o que estávamos


conversando. Quando ele falou, o assunto voltou à minha mente,
mas com suas mãos sobre mim, já não importava. Não me
importava com a montanha-russa ou com qualquer coisa. Nem um
pouco.

— Não importa — murmurei.

Suas mãos se moveram para baixo da minha cintura até que


seus polegares estavam sob minha calça e descansando nos meus
ossos do quadril.

— Eu gosto de tocar em você.

Senti cócegas e estremeci. Pareceu encorajá-lo para


continuar. Meus lábios se separaram.

— Eu...

As pontas de seus dedos se moveram em pequenos círculos


contra a pele dos meus quadris. Ele se inclinou para mim. Sua
respiração contra o meu pescoço me fez fechar os
joelhos. Instantaneamente, minha boceta apertou.

Olhei ao longo do meu hall de entrada e me perguntei em que


ponto me virei para o interior da minha casa e não para
porta. Estávamos tão perto de sair quando ele começou a me
admirar e então tudo parou. Estávamos tão perto. Alguns passos
da saída.
THE GUM RUNNER
Fechei os olhos.

Seus polegares deslizaram para baixo ao longo dos meus


quadris, tirando minha mistura de leggings e jeans com
eles. Lembrei-me de que não estava usando calcinha e sorri com a
minha decisão.

Minhas pernas ficaram fracas e com medo de cair, tirei meus


saltos. Em um instante, estava nua da cintura para baixo. Abri
meus olhos.

Michael era um homem magnífico de admirar. A combinação


entre aparência inocente e traços bonitos, juntamente com o meu
conhecimento de suas habilidades, dava grande prazer em
observá-lo.

Ele tirou a camisa e jogou ao lado da minha calça. A parte


superior de seu corpo estava em forma - o peito amplo se
estreitando na parte de cima e seu conjunto sedutor de músculos
abdominais levavam a um perfeito V que se formava acima de seus
jeans.

— Não se mova — sussurrou.

Mordi meu lábio e esperei.

Ele enfiou dois dedos dentro de mim, o que me fez dar uma
respiração forçada e fechei os olhos novamente. Fazendo cócegas
no meu ponto G com seus dedos, uma sensação de formigamento
agitou o meu núcleo.

Com o peito contra mim, Michael mordiscou minha orelha,


THE GUM RUNNER
sua respiração arrepiava meus braços e minhas pernas. Queria
que ele me tomasse. Parecia que estávamos mentalmente,
fisicamente e sexualmente em sintonia um com o outro. Nunca
demorava muito tempo para ele realizar meus desejos.

Seus dedos continuaram a me satisfazer até que um zumbido


encheu meus ouvidos. Um orgasmo logo escapou tão intenso que
senti como se corresse ao longo de minha pele e não de dentro de
mim. Assustada, abri os olhos.

Ele estava diante de mim com seu pau na mão. Sua bochecha
roçou contra a minha quando puxou a boca da minha
orelha. Nossos olhos se encontraram. Queria dizer algo, mas
percebi que muitas vezes com Michael eu era incapaz de dizer uma
única palavra.

Meus olhos caíram para a sua mão cheia com seu pau.

— Foda-me.

E ele fez exatamente isso. Empurrou-me para a porta com força,


mas não violentamente. Os impulsos que logo se seguiram, no
entanto, eram totalmente diferentes. Com minhas costas contra a
parede e suas mãos segurando em torno de minhas coxas, ele me
segurou suspensa sobre o chão, com as pernas ligeiramente
dobradas.

Senti uma leve pressão enquanto ele me penetrava e engasguei


com a sensação de estar completamente preenchida com todo o
seu comprimento em um único impulso. Suas mãos se moveram
até minhas coxas, logo descansando sobre a minha bunda. As
THE GUM RUNNER
pontas dos seus dedos cravaram na minha pele, mergulhando
mais forte e me levando a um estado de excitação que nunca tinha
sentido.

Sua boca me tomou. Meu subconsciente me levou para um


excitante lugar, tentava processar o beijo, enquanto minha mente
era obrigada a se concentrar nele me fodendo.

Cada impulso selvagem me pressionava na parede e me forçava


a respirar fundo.

Ritmicamente eles continuaram um após o outro.

Passei minhas unhas ao longo dos músculos de suas


costas. Nós já não éramos mais humanos. Nós havíamos nos
tornado dois animais selvagens que transavam para satisfazer
seus instintivos.

Senti-me começar a contrair em torno de seu pau. Abri os olhos,


querendo desesperadamente ver seu rosto enquanto chegava ao
clímax. Dolorosa e propositalmente, os impulsos continuaram. A
ponta do seu pau estava mergulhando em lugares dentro de mim
que eu não sabia que existiam.

Gritei. Sua boca abafou meus gritos até que ele se afastou e
gemeu. Meus ombros batendo contra a porta com cada impulso
lembrara-me de que ele não havia terminado completamente. O
som do seu gemido se intensificou. Sua respiração tornou-se
irregular. Seu pênis inchou.

Gritei novamente.
THE GUM RUNNER
A mãe de todos os orgasmos estava se formando dentro de
mim. Daqueles de prazer indescritível.

— Eu vou .... gozar ... dentro de você ... — ele gemeu.

— Por favor, faça isso — implorei.

Um último impulso me empurrou contra a


porta. E. Ele. Explodiu. Seu gozo passou por mim como uma onda
de lava quente, enviando minha mente desorientada para a minha
própria liberação sexual. Meu corpo estremeceu. Meus dedos dos
pés se curvaram. Cravei minhas unhas em seus ombros e gemi
como se estivesse sendo levada ao paraíso.

Pareceu algo habitual entre nós, atingimos o clímax juntos.

De costas para a porta e com meus pés suspensos acima do


piso, Michael e eu nos tornamos um.

Queria segurá-lo, abraçá-lo, beijá-lo e nunca o deixar


ir. Naquele momento, nada mais importava. Nem meu pai, minha
herança ou minha religião. O amor não tinha limites e naquele
instante, pela primeira vez, senti que qualquer conexão que
existisse no mundo, nós certamente tínhamos.

Não tinha ideia sobre o que estava diferente naquele momento,


mas algo estava. Algo dentro de mim sabia. Um botão foi
ligado. Talvez algum local dentro de mim em que seu mais que
perfeito pau colidiu, enviou o sinal para o meu cérebro. Tudo que
sabia era que algo estava diferente.

E me senti diferente.
THE GUM RUNNER
Olhei em seus olhos.

— Puta. Merda.

Michael parecia satisfeito, seus lábios separados. Sua boca se


curvou em um sorriso e encolheu os ombros.

Parecia sem palavras.

Ele franziu os lábios e balançou a cabeça. Alguns segundos se


passaram até que abriu a boca novamente e riu.

— Você me fodeu até me deixar sem sentido.

Dei de ombros.

— Eu deixei você sem sentido, mas você colocou algum sentido


em mim.

— O que você quer dizer? — Perguntou.

Você é tudo o que importa e acho que você pode ter-me fodido
até que me apaixonasse por você.

Eu sabia como me sentia, mas não me atrevi a dizer uma única


palavra. Ainda não.

— Você é incrível — afirmei.

Ele segurou o meu olhar.

— Eu acho que...

Ele sorriu e beijou meus lábios levemente.


THE GUM RUNNER
— “Você acha o quê? — Perguntei.

— Não sei — disse. — Preciso de algum tempo para


pensar. Como disse, tenho certeza que você fez alguma coisa para
mim.

Mas eu sabia a verdade. Nós fizemos isso um para o outro.


THE GUM RUNNER

Michael

Era evidente que Terra era bem-sucedida com o seu negócio de


calçados e percebi que não poderia comprar-lhe qualquer coisa
que ela provavelmente já não tivesse. Eu poderia, no entanto,
oferecer-lhe algo que nenhuma quantidade de dinheiro jamais
poderia comprar.

Eu.

Ela enfiou a mão no balde de pipoca amanteigada e se virou


para mim. — Não vou ao cinema desde que era criança.

— Eu venho todo o tempo. Acho que é um dos meus poucos


meios de fuga.

Ela terminou de mastigar sua pipoca e me deu uma carranca


indiferente. — Com quem?

— Sozinho.

— Você vem sozinho?

— Sim. Tenho vindo desde que voltei da guerra.

— Por que sozinho?


THE GUM RUNNER
— Até conhecer você, quem iria trazer? Cap?

— Não sei. Acho que ninguém. E quando é que vou conhecê-lo?


— Ela de brincadeira forçou o lábio inferior em um beicinho
completo. — Você disse que iria nos apresentar.

— Eu vou. — Falei. — Em breve.

Terra sorriu e pegou outro punhado do balde.

— Certo.

Enquanto comia, falou através da mão cheia de pipoca.

— Mal posso esperar para que comece.

Vê-la animada sobre algo tão simples como um filme era


inestimável. Observar uma mulher tão respeitável e tão refinada
quanto Terra comer pipoca como uma criança ansiosa era
recompensador de uma forma totalmente diferente. Terra pode ser
rica e um membro de uma grande família, mas no final, não era
diferente de mim.

Independente de virmos da casa da colina ou das entranhas da


sociedade, éramos simplesmente pessoas. No treinamento básico
para os fuzileiros navais, os recrutas eram orientados a ficar cegos
para as cores. Erámos todos, de acordo com os nossos instrutores,
vários tons de verde.

Mas erámos todos verdes.

Viver sem noções preconcebidas foi fácil para mim. Dei respeito
e esperei obtê-lo em troca. Se alguém
THE GUM RUNNER
fosse desrespeitoso, iria rebater independentemente da idade,
raça, cor ou credo.

As luzes se apagaram e Terra se aconchegou ao meu lado, com


uma mão na minha coxa e a outra dentro e fora do balde de
pipoca.

No meio dos trailers iniciais, um homem a nossa frente atendeu


a uma chamada telefônica. Ele estava afundado em sua cadeira,
falando como se estivesse no conforto da sua sala de estar.

Pessoas ao nosso lado e atrás de mim reclamaram


silenciosamente sobre o comportamento rude dele. Ele continuou,
no entanto. A tela escureceu. Bati no ombro dele.

— Só um minuto. — Disse ele.

— Não acredito que ele é tão rude. — Terra sussurrou enquanto


a tela se iluminava. Ele se virou e olhou para ela.

Bati em seu ombro novamente. O cara virou-se, segurou a mão


sobre o telefone e suspirou profundamente.

— Eu disse que vou terminar em um minuto, porra. — Disse


ele. — Toque-me no ombro novamente e vou arrastar o seu
traseiro para fora e chicoteá-lo.

Olhei para Terra. Sua boca se abriu.

— Segure isso. — Entreguei-lhe o balde de pipoca.

Uma rápida olhada ao redor da sala de cinema revelou uma


saída de emergência em ambos os cantos.
THE GUM RUNNER
Normalmente usadas como saídas de emergência ou em caso de
uma evacuação, as portas eram abertas pelo interior, mas não pelo
exterior. Fiquei de pé, vir-me-ei para as pessoas atrás de mim e
ofereci um encolher de ombros, como um pedido de desculpas pelo
que estava prestes a acontecer.

De pé no corredor estreito na frente de meu assento, virei em


direção à tela e bati-lhe no ombro.

O homem levantou e virou-se. Assim que o fez, eu o atingi na


base do pescoço com a borda inferior da minha mão achatada,
paralisando-o por um instante. Ele deixou cair seu telefone, mas
antes que caísse no chão, o peguei pela camisa e o arrastei para o
corredor principal.

Em meio a sons de palmas, alguns gritos silenciosos e um


assovio estridente ou dois, o arrastei para a saída, abri a porta
com meu ombro e quadril e empurrei-o para o asfalto do
estacionamento escuro. Confuso, envergonhado e com medo, ele
olhou para mim.

— Se você voltar aqui vou arrastar a sua bunda para fora e


chicoteá-lo. — Disse em um tom sarcástico.

Tomei meu assento ao lado de Terra e alcancei a pipoca. — O


que eu perdi? — Sussurrei.

— Shhh. — Disse ela em tom de brincadeira.

No meio do filme de ação, ela apontou para a tela e pressionou a


boca no meu ouvido.
THE GUM RUNNER
— Você já levou um tiro?

Respondi com um suave sussurro.

— Sim.

— Você levou um tiro?

— Sim, levei. Duas vezes.

Ela se afastou e estreitou os olhos.

— Você teve que matar alguém? Quero dizer, na guerra? —


Sussurrou.

Era uma questão que não estava preparado ou entusiasmado


para responder.

— Sim. — Muitos.

O rosto dela ficou sombrio.

— Sinto muito.

Nós assistimos o resto do filme e gostamos imensamente. Depois


disso, ao recolher a pipoca de cima dos assentos e nos
prepararmos para sair, o casal sentado atrás de nós agradeceu-me
por remover o senhor rude da sala de cinema.

— Você é um veterano? — Perguntou o homem.

Acenei com a cabeça.

— Sim, senhor. Marinha Americana. Iraque e Afeganistão.


THE GUM RUNNER
— Ele olhou para sua esposa e sorriu. — Eu te disse, Sheri.

Apertou minha mão.

— Eu disse a minha esposa. Falei: “esse cara não é um com


quem se possa brincar”. Pude ver isso pela forma como você
caminhava para a sala. E quando aquele idiota começou a falar ao
telefone, eu disse a ela. Falei “Sheri, ele vai arrastar o filho de uma
cadela para fora, apenas observe”. Isso foi o que disse a ela. Não
foi, Sheri?

Ela respondeu timidamente.

— Ele disse.

— Então, quando o cara disse que ia arrastá-lo para fora, só


esperei. Sabia que seria como Donkey Kong. Que diabos você fez
com ele, afinal?

— Só o levei para fora.

Ele riu. — Você acabou com ele, isso foi o que fez.

— Acho que sim.

— Aprecio seu serviço. — Disse com um aceno. — Eu sou Tracy


e esta é minha esposa Sheri.

— Obrigado. Sou Michael e esta é Terra.

— Oi. — Disse Terra.

As luzes se acenderam. Olhei em torno da sala vazia.


THE GUM RUNNER
— Você me parece familiar. — Disse ele à Terra. — Eu te vi em
algum lugar antes.

— Eu duvido. — Disse ela.

— Talvez sua loja de sapatos. — Eu disse.

Ela encolheu os ombros.

— Não sei.

— Acho que foi na TV. Vi você na TV. Você é uma celebridade?


Como uma apresentadora ou algo assim? — Ele perguntou.

— Não. — Ela disse, com a voz transmitindo ligeiro incômodo.

— Juro. Vi você em algum lugar.

— Eu acho que não. — Disse Terra.

Tracy estudou-a por um momento, balançando a cabeça


levemente.

— Vou me lembrar de assim que formos embora, isso é o que


sempre faço.

Terra pegou minha mão. Parecia que Tracy estava deixando-a


nervosa com sua certeza de vê-la na televisão.

— Bem. — Disse, inclinando a cabeça em direção à porta. —


Ligaram as luzes, então parece que estão nos mandando sair.

— Prazer em conhecê-lo. — Eu disse.


THE GUM RUNNER
— Da mesma forma. — Respondeu.

Seguimos o casal pela sala de cinema até a porta da frente. A


cada poucos passos Tracy olhava por cima do ombro, obviamente,
tentando lembrar-se de onde conhecia Terra. Quando chegamos à
porta, mantive-a aberta para eles passarem. Depois que passaram,
Terra seguiu.

Assim que saí, tive um vislumbre de algo na minha visão


periférica no lado da minha mão direita. Naturalmente, levantei a
minha mão e virei para a ameaça. Quando o fiz, empurrei Terra
atrás de mim com a mão esquerda.

Na minha frente, com as mãos levantadas e pronto para lutar,


estava o cara do telefone.

— Você achou que eu não ia esperar por você? Seu fodido idiota.
— Disse ele.

— Michael! — Terra gritou.

O cara era consideravelmente maior do que eu esperava que


fosse, mas a última vez que o vi, ele estava enrolado em uma bola
no estacionamento escuro. Facilmente alguns centímetros mais
alto que eu e uns dezoito quilos a mais, seria intimidante para a
maioria dos homens. Para mim, era simplesmente um alvo maior.
Estudei sua posição de combate e não podia deixar de sentir pena
dele.

Ele não estava de modo algum preparado para me desafiar.

— Vá para dentro, encontre o seu telefone e vá para casa. —


THE GUM RUNNER
Eu disse. — Porque se você não abaixar as mãos, isso não vai
acabar bem para você.

— Você não é grande o suficiente para falar comigo desse jeito.


— Ele rosnou.

— Na verdade. — Eu Sou.

Ele baixou a mão direita e pegou algo do bolso. Mentalmente


imaginando que puxaria uma arma, cheguei ao meu lado esquerdo
e verifiquei o posicionamento de Terra.

Não faça isso.

— Não, você não é. — Ele puxou uma faca do bolso da frente da


calça jeans. — Talvez eu vá apenas cortar seu traseiro magro e
levar a sua pequena prostituta mexicana para casa comigo.

Prostituta?

Sem pensar e de acordo com a minha formação, dei um passo


para trás, tirei minha camisa e envolvi meu braço esquerdo com
ela. Em pé na frente dele sem camisa – e com o meu braço
esquerdo protegido – eu estava preparado para uma briga de faca.

Uma multidão de oito havia se reunido, Tracy e Sheri incluídos.


Mentalmente em modo de combate, os sons ao meu redor se
tornaram maçantes e abafados. Todo o meu foco era a mão que
segurava a faca.

Ele avançou com a mão direita na minha direção em uma


manobra de corte mal executada. Inclinei-me para trás, movi
meu braço esquerdo para cima e forcei a
THE GUM RUNNER
mão na mesma direção que ele estava balançando. Usando sua
própria força contra ele, perdeu o equilíbrio e tropeçou para trás.

Enquanto cambaleava, minha mão direita girou para a esquerda


e segurei o pulso da mão que empunhava a faca. Instintivamente,
pressionei um ponto em seu pulso com o polegar que o fez soltar a
faca no chão.

Chutei a faca atrás de mim e torci-lhe o braço atrás das costas,


forçando-o de joelhos.

Todo o evento não demorou trinta segundos. Agora, havia duas


vezes a multidão de antes. Enquanto ele choramingava e pedia-me
para soltar seu pulso, movi meus olhos para Terra e apontei para a
faca.

— Pegue a faca para mim, por favor?

Encarei-o.

— Você vai chamar a minha namorada de prostituta? Não se


fala com as mulheres dessa maneira. Qualquer mulher. Agora,
peça desculpa a ela.

Enquanto falava, ficava mais irritado por ele ter sido tão
desrespeitoso. A raiva logo aumentou e eu apertei seu braço com
mais força.

O homem gemeu de dor.

— Desculpa.
THE GUM RUNNER
Levantei seu pulso, colocando mais pressão sobre seu ombro. —
Vou arrancar seu braço e jogá-lo no estacionamento. Eu lhe disse
para se desculpar. Tente novamente.

— Desculpe por te chamar de prostituta. Sinto muito, muito. —


Ele gemeu.

Ainda pressionava o pulso dele.

— Você nunca mais vai falar com uma mulher desse jeito de
novo, entendeu?

— Sinto muito. Eu nunca vou fazer isso de novo.

Não foi o suficiente. Talvez eu estivesse mais ligado à Terra do


que pensava. Isso poderia muito bem ter sido sobre o comentário
“prostituta”. Era também bastante possível que simplesmente não
acreditasse nele e sabia no fundo que ele faria a mesma coisa se
fosse dada outra oportunidade no futuro.

— Só para ter certeza que você se lembrará do que acontece


quando você faz. — Eu disse. — Vou deixá-lo com isto.

Empurrei contra seu pulso até que ouvi o estalo no ombro, sem
dúvida havia deslocado. Com ele enrolado em uma bola na entrada
de concreto chorando por uma ambulância, me virei para Terra e
vesti minha camisa.

— Sinto muito por tudo.

— Você não tinha que me ver fazer isso.


THE GUM RUNNER
Terra me entregou a faca.

— Não me incomodou em nada. Ele teve o que mereceu.

— Puta merda. — Disse Tracy, me dando tapinhas no ombro. —


Você acabou com a noite daquele cara. Ensinou o que acontece
quando algum idiota brinca com um fuzileiro naval dos EUA.
Estou dizendo a você. Você só bateu, bateu, bateu e aquela faca
caiu da mão dele. Chutou a bunda dele duas vezes em uma noite.

Forcei um sorriso e dei de ombros.

— E eu descobri onde conheço você. — Ele disse. — Você é filha


de Toni.

— Deve ter me confundido com outra pessoa. — Ela puxou meu


braço.

— Você não é filha de Anthony?

Ela balançou a cabeça. — Como disse, deve ter me confundido


com outra pessoa.

— Hum. — Disse ele. — Eu teria jurado.

— Deixe-os ir. — Disse a esposa dele. — Eles provavelmente


precisam sair daqui antes que a polícia apareça.

— Sheri está certa. — Eu disse. — Em breve estarão aqui.

— Vamos. — Terra sussurrou, puxando meu pulso. — Esse cara


está me assustando.
THE GUM RUNNER
— Ele com certeza pensou que conhecia você.

— Bem, ele não conhece.

— Tem certeza? — Perguntei brincando.

— Sim. — Ela retrucou. — Tenho certeza.

Depois de uma caminhada tranquila pelo estacionamento, nós


entramos no carro e viramos um para o outro. — Sinto muito
sobre tudo isso.

— Sinto muito por agir como idiota. Aquele cara... quero dizer, a
coisa toda... só me deixou chateada. Muito. — Ela se inclinou para
mim e franziu os lábios.

Beijei-a e me afastei.

— Sinto muito, mas vou fazer o que tiver que fazer para protegê-
la. Sempre. Não posso ligar e desligar disso.

— Não. — Disse Terra com uma risada. — Não ele, o outro cara.
Aquele que ficou olhando para mim e dizendo que me conhecia.

Eu ri. — Oh. Bem, ele se foi agora.

— Sinto que o nosso pequeno encontro perfeito foi arruinado. —


Disse ela.

Foi decepcionante ouvi-la dizer isso, mas eu não compartilhava


seus sentimentos. Para mim, nossa noite foi ótima. Minha pior
noite com Terra sempre excederia a minha melhor noite na
guerra.
THE GUM RUNNER
— Não concordo com você. Tudo depende de suas expectativas
de vida. A vida não é perfeita e nunca será. Mas um dia ruim com
você será sempre melhor do que o meu melhor dia na guerra.

— Então você aceita o que aconteceu esta noite como sendo


parte da vida?

— Não tenho uma escolha. Não posso mudar isso. Aceitar isso é
tudo o que resta.

— Acho que eu poderia aceitar qualquer coisa quando se trata


de estar com você. Sabe, mesmo se você fizer algo estúpido ou
qualquer outra coisa. Mas é porque sei que no fundo você defende
o que é bom. — Ela abaixou a cabeça. — Preciso trabalhar nisso.

Eu ri.

— Não estou pensando em fazer nada estúpido.

Ela fixou seus olhos nos meus e balançou a cabeça levemente.

— Sabe o quê?

— O quê?

— A vida pode nunca ser perfeita, mas você é.

Olhei para ela por um longo tempo. Tenho certeza que alguém
poderia encontrar falhas nela, mas eu não podia. Eu gostava de
tudo nela.

— Você também, Terra. Você também.


THE GUM RUNNER

Terra

Eu tinha certeza de que meu pai não aceitaria Michael, mas


sabia no fundo de meu ser que sobreviver sem ele não era uma
opção. Quando estávamos juntos, nada mais importava. Mas,
quando ia embora me sentia como se estivesse sufocando,
morrendo um pouco a cada hora que passava, até que ele voltava
para o meu lado.

Queria desesperadamente falar com o meu irmão, quem eu


acreditava que seria mais compreensivo que meu pai, mas ele
estava fora do país a negócios. Fiquei com a decisão de ser honesta
com minha família sobre Michael ou simplesmente continuar o
que estava fazendo e evitar o contato com eles, escolhi a segunda
opção.

Michael tinha se tornado o meu sistema de apoio e minha


família. E me apaixonava mais por ele a cada batida do meu
coração.

Sentei-me ansiosamente em um bar com Michael, esperando


para conhecer Cap. Fiquei feliz pelo dia finalmente ter chegado.
Pelo que Michael tinha dito e pelo que não tinha dito, era evidente
que Cap era toda a família que ele tinha.
THE GUM RUNNER
Observei um homem enorme, com um corte de cabelo estilo
militar e um peito largo enquanto caminhava pelo corredor em
direção a nossa mesa. Vestido com jeans, botas e uma camisa, ele
parecia alguém que até mesmo Michael não deveria cruzar.
Quando fixou os olhos em nós, eu nervosamente desviei o olhar.

Michael ficou de pé enquanto o homem se aproximava.

— Cap, esta é Terra. Terra, este é Cap.

Levantei-me e olhei de boca aberta, incrédula, esperando o


tempo todo que ele não soubesse que me sentia assim. Cap era o
tipo de homem que outros homens descreveriam como enorme. —
Ouvi muito sobre você. É um prazer finalmente conhecê-lo.

— Sinto - me da mesma forma. O velho Tripp aqui é protetor


com quem e o que ele se importa.

Olhei para Michael.

— Você contou a ele sobre o cinema?

Ele balançou a cabeça.

— Não.

Fiquei imaginando o que Cap estava falando e então decidi que


talvez significasse que Michael estava protegendo cada um de nós
do outro – até que tivesse certeza. Decidi que era provavelmente o
caso e sorri para esse pensamento.

Cap sentou-se à nossa frente.


THE GUM RUNNER
— O que aconteceu, Tripp?

Sentei-me. Michael balançou a cabeça e encolheu os ombros.

— Posso contar a ele? — Perguntei animadamente.

Michael suspirou.

— Vá em frente.

Cap se inclinou para frente, descansando os braços musculosos


contra a borda da mesa, fazendo com que parecessem maiores. —
Vamos ouvir isso.

— Bem. — Eu disse. — Fomos ao cinema e havia um cara na


nossa frente que estava falando ao telefone. Michael bateu-lhe no
ombro e pediu-lhe para desligar. Ele se virou e disse: “Eu vou
desligar quando terminar e se você me tocar de novo, vou arrastá-
lo para fora e chicotear seu traseiro”. Então, Michael...

Cap levantou a mão. — Pare aí. Mal posso esperar para ouvir
quantos dentes esse cara perdeu, mas não diga outra palavra até
que eu consiga algo para beber. Vocês não querem nenhuma
bebida? — Ele perguntou, apontando para nós.

— Estávamos esperando por você. — Disse Michael.

— Deixe-me adivinhar. Ele apontou para mim. — Vinho?

Eu sorri.

— Branco?
THE GUM RUNNER
Olhei para Michael.

— Já gosto dele.

Ele riu.

— Dê-lhe um tempo.

Cap levantou-se e apontou para Michael.

— Não importa qual frescura de merda você beba quando está


com ela. Comigo, você vai beber cerveja. Volto já.

Virei para encarar Michael.

— Eu gosto dele.

— Ele é um bom homem.

Cap rapidamente voltou com duas cervejas em uma mão e um


copo de vinho na outra.

— Já irão trazer um balde de cervejas e o resto da garrafa de


vinho. — entregou o vinho e para Michael uma cerveja. — Certo,
desculpe pela interrupção. Caso você tenha esquecido, quando
conversamos pela última vez, alguém ia chicotear o traseiro de
Tripp.

Levantou a garrafa de cerveja e bebeu metade dela em um gole.

— Bem, estou morrendo para ouvir o resto.

Olhei bem para Cap e arregalei os olhos.


THE GUM RUNNER
— Ele falou sobre “chicotear a bunda” e Michael disse “segure
isso” e me entregou a pipoca. Em seguida, bateu no cara
novamente. Bem sobre o ombro.

— Exatamente como o cara lhe disse para não fazer.

— Isso mesmo.

— Certo, vá em frente.

— Então, quando Michael tocou no cara, ele pulou. Quando se


virou, Michael deu um golpe de Karatê no pescoço dele e ficou todo
mole. Em seguida, atirou-lhe pela porta dos fundos.

Cap se inclinou para trás e franziu o nariz.

— Só isso? Sem braços ou tornozelos quebrados? Sem olho roxo


nem nada?

Eu ri. — Não acabei ainda.

— Minhas desculpas. — Disse ele. — Por favor, continue.

— Então, nós assistimos ao filme e fomos para o carro. Quando


saímos, o cara com o telefone – exceto que ele não tinha ais seu
telefone – estava do lado de fora esperando. E, logo que nos viu, ele
puxou uma faca e disse: “Eu vou cortá-lo e então vou levar essa
prostituta mexicana para casa comigo”.

Fiz uma pausa e tomei um gole de vinho.

O rosto de Cap se contorceu.


THE GUM RUNNER
— Então, havia outra garota com vocês? Alguma prostituta
mexicana? Eu devo ter perdido algo.

— Não. — Eu ri, porque sabia que ele estava brincando. — Não,


era de mim que falava.

— Mas você não é mexicana ou uma prostituta.

Levantei meu copo de vinho.

— Eu sou italiana e uma dama.

— Ainda bem que não estava lá. Eu teria quebrado o pescoço de


merda dele. Mas tenho certeza que ele apanhou depois dessa.

— O cara apanhou. — Eu disse.

— Certo, então ameaçou com uma faca e te chamou de


prostituta mexicana. — Ele inclinou a cabeça para Michael. —
Onde estava Tripp?

— Ele rasgou a camisa e enrolou-a em torno do braço e disse ao


cara para mandar ver. Ou algo assim. Acho que ele disse “você
deveria ter ido para casa”.

— Volte um pouco. Tripp rasgou a camisa? Como rasgar em


pedaços ou apenas puxou-a sobre a cabeça bem rápido?

Eu ri.

— Sobre a cabeça.

Cap pressionou as pontas dos dedos nas têmporas.


THE GUM RUNNER
— Apenas tentando obter uma imagem mental.

Sacudi minha mão livre no ar.

— Então, o cara virou a faca em direção a Michael e de repente,


a faca está no chão e Michael estava torcendo o braço dele em um
nó.

Ele desviou os olhos para Michael.

— Você falou com ele sobre ser desrespeitoso com mulheres?

— Deixe-a contar a história. — Disse Michael.

— Ele o fez pedir desculpas, mas quando o cara não fez isso
direito, Michael decidiu quebrar o braço dele.

Cap olhou para Michael.

— Cabeça quente, hein?

Michael deu de ombros.

— O braço só ficou deslocado.

— Desculpem pela espera. — Disse a garçonete quando colocou


a garrafa de vinho sobre a mesa e um balde de gelo cheio com
garrafas de cerveja. — Aqui está a bebida de vocês.

Cap pegou uma cerveja e tomou a maior parte dela antes de


colocar na frente dele. Terminei meu vinho e enchi o copo.

— E foi isso, nós voltamos para minha casa e adormecemos.


THE GUM RUNNER
Cap deu de ombros e desviou os olhos para trás entre Michael e
eu.

— Então, sem policiais?

Balancei minha cabeça.

— Nós saímos antes que eles chegassem lá.

— Sim, Tripp não aceita caras sendo rude com as mulheres. Eu


também não, mas ele com certeza teve mais problemas com isso
do que eu.

Fiquei intrigada.

— Sério?

— Sim, mas antes de falar sobre isso, preciso voltar um pouco.


Você disse que voltaram para sua casa e foram dormir. — O suave
olhar dele se transformou em um olhar penetrante. — Vocês dois
estão dormindo juntos?

Olhei para Michael.

— Não olhe para ele. — Cap rosnou. — Eu sou a pessoa fazendo


as perguntas.

— Eu uhhm. — Tomei um gole de vinho e dei de ombros. — Nós


voltamos e caímos no sono.

Ele deu um gole rápido de sua cerveja.

— Não foi o que lhe perguntei. Você tem estado com Tripp há
um tempo, você está fugindo da pergunta
THE GUM RUNNER
original. Vocês dois estão fazendo coisas feias juntos, não é?

Não sabia o que dizer. Queria dizer que sim, porque eu era
orgulhosa do que tínhamos, mas não queria dizer nada que
Michael já não tivesse dito a ele. Sem expressar emoção, ele se
sentou e observou, esperando a resposta.

— Eu não faço nada feio e com quem estou fazendo coisas


bonitas não tem nada a ver com você ou qualquer outra pessoa.

Cap inclinou a garrafa de cerveja para mim e sorriu.

— Boa resposta.

— Então e sobre Michael defender a honra das mulheres? —


Perguntei. — Você ia me contar uma história.

— Eu não sou um bom contador de histórias, mas vou tentar.


Há um milhão, mas só vou contar uma curta.

Tomei um gole de vinho e assenti ansiosamente.

— Certo.

— Qual delas vai contar a ela? — Perguntou Michael.

— O grande mistério da amêndoa.

— Tudo bem. — Disse Michael.

Mistério da amêndoa?

Cap se inclinou para frente, apoiando os cotovelos sobre a


mesa.
THE GUM RUNNER
— Então, era aquela época do ano entre o inverno e a
primavera. E o carro de Tripp estava sujo pra caramba. No caso, se
ainda não te contou, ele é uma pessoa estranha sobre ninguém
poder tocá-lo, desta forma, nós fomos até um lava rápido de carros
daqueles que você mesmo lava. Era um conjunto de quatro baias,
mas eles colocaram baldes bloqueando a entrada em três das
quatro baias, portanto, apenas uma estava aberta. Havia um
Buick sujo pra caralho nela quando chegamos, mas parecia que
ele estava abandonado. Então, Tripp estacionou atrás dele.

Enquanto tomava um gole de cerveja, eu me perguntava que


tipo de problemas uma pessoa poderia encontrar em uma lavagem
de carro e decidi que uma pessoa normal não iria encontrar
nenhum. Michael não era normal, e pelo que eu poderia dizer Cap
também não.

— Bem, ficamos atrás deste carro esperando por nossa vez e


depois de um minuto, ficou evidente que havia pessoas lá dentro.
Até esse ponto conseguíamos avistar pelo menos duas. Tripp
aponta na direção dele e diz: - “eles estão brigando?” Bem, eu dei
uma longa olhada e disse “eles estão fodendo ou estão brigando,
não sei dizer qual”. Então vi o cara levantar a mão e bater nessa
garota e mudei a minha resposta. “Brigando” eu disse.

Engolindo um pouco de vinho perguntei.

— Então o que aconteceu?

— Eu vou te dizer. — Disse ele com um aceno.

— Tripp abre a porta do carro, vai até lá e arranca o cara


THE GUM RUNNER
para fora. Nesse ponto tinha certeza que Tripp não precisava de
qualquer ajuda e eu estava terminando de comer meu saco de
amêndoas, por isso, fiquei na minha. Até que vi um cara saindo do
banco de trás.

— Havia outro cara no carro? E ele não a ajudou?

— Só se acalme e deixe Cap te contar a história. — Disse ele.

Eu sorri.

— Certo.

— Então, onde eu estava? Ah sim. Estou cuidando do meu


próprio negócio, comendo meu saquinho de amêndoas sabor
jalapeño quando olho para cima. Tripp estava esmurrando o cara
que estava dando um tapa na menina e o outro idiota estava
saindo para a briga. Quando ele saiu do carro... — Cap fez uma
pausa saindo da cabine para o corredor, dando um longo passo
lentamente de forma exagerada. — Ele continuou saindo. O filho
da mãe tinha uns dois metros de altura.

Tossi uma risada e sacudi a cabeça.

— Então, joguei minhas amêndoas no chão e levantei. Tripp


estava batendo no primeiro cara e tentando chutar o segundo.
Estava muito claro que este grande filho da puta iria atingir o
velho Tripp e eu não podia permitir isso. Então fui atrás do
número dois e disse “ei seu merda” e o idiota se vira. Então o
acerto no nariz.

Cap arregalou os olhos.


THE GUM RUNNER
— O que acha que ele fez?

Dei de ombros. — Caiu?

— É o que qualquer um teria imaginado. Não, ele cuspiu um


dente, olhou para cima e sorriu, porra.

— Você está brincando comigo? — Engoli em seco.

— Nem um pouco. Policiais disseram quando chegaram lá que


ele foi expulso de algum lugar, mas vou chegar nessa parte logo.
Então, Tripp arrebentou o cara número um e eu tentando me
esquivar do homem mais alto do mundo, quando a menina sai. As
roupas estão rasgadas, um dos seus seios pulando para fora, o
lábio sangrando e tentando se vestir. Chorando a menina começou
a contar sobre estes dois merdas tentando estuprá-la.

— Não! — Engoli em seco e cobri minha boca com a mão.

Ele balançou a cabeça. — Receio que sim. Então, fui atrás desse
cara e Tripp fez o mesmo. Antes que percebêssemos, tínhamos os
dois caras no chão amarrados e estávamos esperando os policias.
Os policiais chegaram fazendo barulho alguns minutos mais tarde
e levaram os dois merdas para longe. Uma ambulância levou a
menina e um par de policiais ficou para tomar nossas declarações.
Quando tudo acabou, eu só queria o que restava do meu saco de
amêndoas. Sabe quando você sente vontade de comer alguma
coisa e nada irá satisfazê-lo que não seja a coisa que está
desejando?

Eu sorri.
THE GUM RUNNER
— Sim.

— Bem, elas sumiram. O grande mistério da amêndoa. Metade


de um saco das minhas nozes preciosas desapareceu. Merda, eu
rastejei para debaixo do carro de Tripp, sob os dois fodidos carros
de polícia, em todo o lugar maldito apenas querendo minhas
pequenas amêndoas jalapeñas de volta.

— Você as encontrou?

— Sim. Quando os policiais foram embora. — Ele riu. — Eles


estavam estacionados em cima delas.

Estendi a mão para o meu vinho.

— Isso é engraçado.

Cap acenou com a mão para mim.

— Concordo com você. Elas viraram pó.

— Que droga. E sobre a garota? O que aconteceu com ela? E


eles? — Perguntei.

— Bem, nós estávamos prontos para ir ao tribunal e


testemunhar, mas os dois idiotas finalmente se declararam
culpados. Nós vimos à menina na delegacia. Ela estava bem.
Acabou que não tinha sido estuprada, eles estavam apenas
tentando quando chegamos.

Sorri para mim mesma e soltei um suspiro. Michael e Cap


tinham salvado uma garota de ser estuprada e para eles, era
apenas uma das histórias que tinham
THE GUM RUNNER
para contar. A maioria dos outros homens provavelmente não teria
notado o que estava acontecendo, muito menos teriam se
envolvido.

Não sabia ao certo o que o meu pai e os seus homens faziam,


mas se apenas metade das histórias fosse verdade, ele era um
homem extremamente violento. Vivi a vida protegendo-me da
verdade, dizendo que não estava acontecendo ou que não ligava
para saber os detalhes. Quando tinha idade suficiente para
namorar, jurei que nunca iria acabar com um homem que
participava ou tolerava a violência contra os outros de qualquer
forma.

Era fácil para mim ver Michael como sendo um homem passivo,
porque tudo o que ele fazia era reagir contra alguém de fora da lei
ou imoral. Em alguns aspectos, era um vigilante, tomando a lei em
suas próprias mãos, agindo quando ninguém mais o faria ou
poderia. No final, tudo o que fez foi para o bem, o que era mais do
que eu poderia dizer do meu pai.

Pelo que pude ver, Cap era do mesmo jeito. Em vez de detestar
as ações deles como detestei as do meu pai, admirava-os.

Bati minha mão contra a coxa de Michael.

— Graças a Deus vocês dois apareceram.

— Amém. — Disse ele.

Inclinei a cabeça para Cap.

— E você mentiu. — Eu disse.


THE GUM RUNNER
Ele jogou suas mãos no ar.

— Como assim?

— Você disse que não era um bom contador de histórias. —


Você é um grande contador de histórias.

— Obrigado. — Disse ele.

Cap encostou-se contra a parte traseira da cabine e me estudou


por um momento e então se virou para Michael.

— Bem, Tripp, se você quer a minha aprovação, conseguiu. —


Ele rosnou. — Eu gosto dessa garota, porra.

A voz dele combinava com ele. Era rouca e trovejou de seus


pulmões quando falou. Olhei de um para o outro. Eu não tinha
nenhuma razão real para pensar isso, mas tinha certeza só de
olhar para Cap que ele sempre protegeria Michael e Michael me
protegeria. Juntos, como um trio inseparável, viveríamos uma vida
livre de qualquer mal.

Michael riu. — Gosto dela, também. Acho que vou ficar com ela.

Perguntava-me se o encontro com Cap foi algum tipo de teste.


Senti como se estivesse com a minha família de um lado e o
homem por quem rapidamente me apaixonei do outro. Cada um
estava puxando um braço e Michael estava ganhando claramente a
batalha. Eu não tinha ido ver meus pais em semanas e pela
primeira vez na minha vida, realmente não queria.
THE GUM RUNNER
Virei-me para Michael e franzi os lábios.

— Vou ficar com você também. E eu tinha toda a intenção de


nunca mais deixá-lo ir.
THE GUM RUNNER

Michael

Estava namorando Terra havia dois meses e não podia imaginar


a vida sem ela, nem queria. Era meio da tarde, início do verão e
cerca de duas semanas se passaram desde o incidente com os
homens de Agrioli. Para minha surpresa, não tinha ouvido uma
palavra de Svetli ou de Agrioli.

Cap uniu os dedos atrás da cabeça e recostou-se na cadeira.

— Então, quando acabarmos com essas AR-15, vou comprar


uma Smart Tv de sessenta polegadas.

— Para assistir New Girl em uma tela maior?

— Essas novas 4K são fodas. Parecem com 3D, mas você não
tem que usar os óculos. Você já foi a um filme 3D e olhou em torno
da sala de cinema? É como se estivesse em um filme com um
monte de doidos de quatro-olhos. Nem morto vou ser pego usando
essa merda em casa, isso é certo.

— Quem iria vê-lo? Você é uma porra de um eremita.

Ele encolheu os ombros. — As pessoas do correio talvez. Ou


THE GUM RUNNER
uma daquelas crianças de bicicleta. Ou talvez você.

— Você é uma bagunça do caralho.

— Vou ter que concordar. Eu sou uma bagunça, mas sou assim
desde sempre. Você? Você está diferente do que costumava ser. —
Disse ele.

— Como assim?

— Bem, você está feliz. Costumava ficar bravo quando eu me


sentava aqui e conversávamos. Agora não dá a mínima. Droga, a
garota faz você feliz pra caralho não importa o que acontece ao
redor. Acho que é bom. Como disse no começo, contanto que você
não perca o foco. Por enquanto, parece que está tudo bem.

— Aprecio o encorajamento. — Eu disse. — Mas se você a


odiasse, eu ainda estaria com ela. Terra é perfeita para mim.

— Quem poderia odiar aquela garota? Porra, ela é linda,


educada, engraçada e quase me vence nas bebidas. Você tem uma
vencedora com certeza.

— Concordo.

Cap se inclinou para frente e virou a cabeça para o lado. O som


de uma sola de sapato andando pelo corredor ecoou e me chamou
a atenção. A marcha soou familiar. Apontei para minha orelha e
levantei minha mão. Enquanto ele sentava-se calmamente, abri
minha gaveta e peguei minha pistola.

Ele calmamente entrou pela porta, removendo qualquer


THE GUM RUNNER
dúvida sobre de onde eu conhecia os passos.

Porra.

Anthony Agrioli estava olhando para mim, sozinho, com o rosto


manchado com preocupação.

Preocupação genuína.

— Eu não estava esperando companhia. — Levantei e cruzei os


braços na frente do meu peito. — Sem desrespeito, mas mantenha
as mãos onde eu possa vê-las.

Vestido em um terno cinza escuro, ele pegou os cantos inferiores


do seu paletó desabotoado, abriu-o devagar e deu de ombros. —
Estou desarmado, vim aqui para conversar.

Fiz um gesto para a cadeira vazia ao lado Cap.

— Sente-se, mas ele vai ficar.

Agrioli deu um encolher de ombros meia-boca e caminhou em


direção ao assento vazio. Ele parecia cansado, decepcionado e
humilhado.

— A que devo o prazer? — Perguntei.

Ele sentou.

— O tempo é essencial. — Disse. — Vou ser rápido.

O sotaque em sua voz ainda transmitia sua herança claramente,


mas faltava a autoridade de quando nos encontramos antes. A
pele sob seus olhos estava flácida como
THE GUM RUNNER
suas bochechas. Ele parecia ter envelhecido dez anos desde que o
vi pela última vez.

Em suma, parecia o inferno.

Relutantemente, tomei meu assento.

— Estou ouvindo.

Ele olhou para Cap, cruzou as pernas e depois olhou para mim.

— Um dos meus colegas de trabalho me passou a sua


mensagem. As palavras dele ficaram na minha cabeça.

Com base na aparência dele sozinho, senti que tinha mais na


história e seu comportamento só aumentou a minha convicção.

— Esclareça-me. — Disse com um tom de sarcasmo.

Agrioli limpou a garganta.

— Meu sócio me passou a sua mensagem que não estamos


lidando com amadores.

Foi a mensagem que dei para os dois homens feridos


entregarem.

— Isso está correto.

Agrioli olhou para Cap, e depois travou os olhos comigo. — Seus


homens são bem treinados como você?

— Uma condição do emprego deles.


THE GUM RUNNER
— Interessante. — Disse ele. — Meus pais eram imigrantes. Eu
cresci no sul da Filadélfia, entregando mantimentos para um
mercado no meu bairro. Batalhei para chegar onde estou hoje,
guardando cada centavo que ganhei. Sou um homem orgulhoso,
Sr. Tripp.

Agrioli aparecendo sem aviso prévio era definitivamente


estranho, mas o seu comportamento passivo era mais estranho do
que a sua chegada não programada. Confuso sobre o ponto
qualquer que fosse que ele estava tentando fazer, estreitei os olhos
para ele.

— Por que você está aqui?

Seus olhos caíram para o colo. Parecia que vários minutos se


passaram.

— Filhos. Você tem filhos?

Balancei minha cabeça. — Não tenho.

— Eu tenho dois. Como sabe, um deles foi sequestrado. Refém.


Usado para o resgate. Meu único menino. Os bastardos russos...
— Ainda olhando para o seu colo, fez uma pausa, exalou
pesadamente e depois sacudiu a cabeça. — Para entregarem ele?
Eles pediram vinte milhões de dólares.

Eles não eram russos, mas era um detalhe insignificante.

Agrioli Levantou os olhos até que encontrou o meu olhar. Ele


parecia derrotado.
THE GUM RUNNER
Engoli em seco. Os vinte milhões de dólares eram uma demanda
absurda.

— Você já tentou negociar?

Seu lábio inferior começou a tremer.

— Estou fazendo isso agora.

Começou a fazer sentido. Pelo menos para mim. Ele estava


procurando minha ajuda, mas eu estava sem entender o que ele
faria – ou podia – usar como oferta. Olhei para Cap, que estava
sentado jogado na cadeira como se não tivesse uma preocupação
no mundo.

Movi meu olhar para Agrioli.

— Ainda estou ouvindo.

— Estes homens. — Ele virou as palmas das mãos para cima e


deu de ombros. — Eu não posso negociar.

— Vou perguntar de novo. Por que você está aqui?

— Sou um homem de negócios, tomo decisões de negócios.


Neles nós temos perdas. É parte de fazê-los, mas isso? — Ele deu
de ombros.

Em meus limitados encontros com Agrioli e seus homens, tinha


aprendido duas coisas: eles davam de ombros o tempo todo e a
conversa nunca ia direto ao ponto. O sotaque Filadélfia-italiano
dele estava me dando nos nervos e sua falta de explicação por trás
da intrusão em meu escritório estava
THE GUM RUNNER
rapidamente superando a pouca tristeza que eu sentia por ele a
respeito da perda temporária de seu filho.

Levantei-me e limpei minha garganta.

— Vou perguntar mais uma vez. Direto ao ponto. Por que você
está aqui?

— Você é um homem de negócios, não é? — Perguntou.

— Eu gosto de pensar assim.

— Tenho uma proposta de negócio para você.

— Esta é a terceira vez que eu digo isso desde que você chegou
aqui. Estou ouvindo.

— Vou contratá-lo para resgatar o meu filho. Vou pagar-lhe


duzentos mil dólares.

Ele tinha a minha atenção, mas ainda não tinha conseguido


meu interesse. Sentei-me.

— Não estou interessado.

— Quatrocentos.

Levantei uma sobrancelha. Um momento de silêncio se seguiu.


Peguei meu lápis e comecei a rodá-lo entre meus dedos.

— Meio milhão. — Ele deu de ombros. — É tudo que posso


oferecer em dinheiro.

Cap levantou uma sobrancelha.


THE GUM RUNNER
Esperei. Agrioli não disse mais uma palavra. Parecia que estava
em seu limite.

— Não estou pensando em sua oferta, estou preparando a


minha resposta. — Eu disse.

— Você é um militar, não é?

— Isso mesmo.

— O Iraque? Afeganistão?

— Ambos.

— Seus oponentes. Se eles se rendessem, eram torturados mais


tarde?

Movi minha cabeça.

— Não.

— Tratados com respeito? De acordo com as convenções


militares?

— Sim. — Eu disse. — A Convenção de Genebra.

— Um homem que se rende. Ele nunca é morto?

— Não.

— Deixe-me lembrá-lo, Sr. Tripp. Meu filho se rendeu. Se eu não


pagar — O lábio dele começou a tremer novamente. — Os russos
vão assassiná-lo.
THE GUM RUNNER
Bem, porra.

Concentrei-me no lápis enquanto ele girava entre meus dedos.


Os pontos dele, tal como apresentados, caíram em ouvidos
atentos. Eu tinha passado a minha vida adulta fazendo o que
acreditava ser o certo e me opus a qualquer um que eu acreditava
estar errado. Na noite em que o filho de Agrioli foi pego, os homens
dele estavam tentando nos roubar. Suas ações não foram apenas
criminosas, foram contrárias ao meu código moral. Minha
retaliação só foi implementada depois de terem sido dadas as
oportunidades de se retirarem – que eles recusaram.

Sentei-me diante de Agrioli e me perguntei se o rapto de seu


filho foi certo ou errado. No calor do momento, parecia certo.
Comecei a me perguntar se a minha aprovação de Svetli levando
Peter sequestrado foi baseada em parte no seu sobrenome.

Considerei minha separação dos meus pais. Não tinha dúvida


de que Agrioli iria experimentar os sentimentos na ausência de seu
filho que senti depois de perder os meus pais e não desejaria isso a
qualquer homem. Poucos segundos depois, percebi que além de
rapto de Peter estar em minhas mãos, seu sangue também estaria.

Permiti que Peter fosse levado e agora ele ia ser morto.

Peguei o lápis na minha mão e apertei-o firmemente entre o


polegar e o indicador.

— Como os homens nesta terra, tudo o que temos é a nossa


palavra. Um homem que não cumpre suas promessas, não tem
honra. Você é um homem de honra?
THE GUM RUNNER
— Eu sou.

Olhei para Cap. Ele acenou com a cabeça uma vez. Era a
maneira dele de transmitir a aprovação, sem balançar a cabeça
como um garoto de dez anos de idade.

Encontrei o olhar de Agrioli.

— Aqui estão as minhas condições. Deste dia em diante, você


não irá interferir contra mim, meu negócio, meus funcionários ou
meus clientes.

Seus olhos se arregalaram e os cantos de sua boca se curvaram


em um sorriso esperançoso. Ele descruzou as pernas e se
levantou.

Levantei o meu dedo indicador.

— Vou precisar de um mínimo de três homens da equipe para


extrair ele. Você vai recompensar cada um dos homens da minha
equipe com o montante que eles solicitarem e vai doar a minha
porção para um lar de crianças que eu vou especificar depois.
Nenhuma negociação. É pegar ou largar. Se você concordar, vou
fazer o meu melhor para salvar seu filho dos russos.

Ele estendeu a mão.

— Você tem a minha palavra.

Era tudo o que eu precisava.


THE GUM RUNNER

Terra

Seus antebraços descansavam contra os meus ombros. — Pare


de mover sua cabeça.

— Só estou tentando vê-lo.

Ele se afastou e forçou um suspiro.

— Você pode vê-lo depois que eu tiver a maldita coisa ao redor


do seu pescoço.

Bati meu pé como uma criança com raiva.

— OK.

Ele se inclinou para mim e me beijou. Encheu meus lábios


apaixonadamente, levando minha mente para nossa noite
maravilhosa, da nossa corrida ao apartamento e meu presente de
aniversário.

Um colar de diamantes.

Passei meus braços ao redor da sua cintura e puxei-o para


THE GUM RUNNER
mais perto. Nossos lábios se encontraram, nossas línguas
dançaram e minha mente ficou em branco. Minhas pernas
começaram a tremer, como sempre faziam quando nos beijávamos,
eventualmente, ele se afastou.

— Dez segundos — disse Michael com um sorriso. — É tudo que


preciso.

Seus olhos estavam azuis, uma cor que raramente


ficava. Parecia que eles eram uma mistura de azul e cinza,
normalmente cinza. Só quando ele estava calmo, eles eram azuis.

— Pronto — Agora você pode olhar para ele.

Levantei minha mão e o senti com cuidado com as pontas dos


dedos. Ele tinha brilhado na minha frente quando entramos, mas
não pude vê-lo até que estivesse ao redor do meu pescoço.

— Eu ... Eu vou correr ... Vou ao banheiro — gaguejei.

Ele riu.

— Vá.

Olhei para o espelho. Era lindo um ornamentado pingente de


ouro branco com diamantes pequenos ao redor de um diamante
central muito maior. O colar harmonioso pendurava em volta do
meu pescoço.

Dois meses. Fazia apenas dois meses, mas eu sabia. Cada vez
que o via era como a primeira vez. Ele me fez sentir bonita, com
tudo o que disse e fez. Eu tinha visto comédias românticas, lido
livros e ouvido muitas histórias sobre
THE GUM RUNNER
homens que eram perfeitos, mas nunca acreditei que realmente
existia.

Até agora.

Eu tinha vários colares em minha coleção de joias, mas nunca


usava. Admirei este no espelho por algum tempo, sabendo que o
estimaria pelo tempo que fosse viva.

— Amei — eu gritei.

— Bom. Fico feliz.

Entramos na sala e nos sentamos no sofá. Não tinha planejado


nada especial, mas percebi que fazia dois meses desde nosso
primeiro encontro. Achava que Michael não sabia o significado do
dia.

Mais uma vez, ele mostrou-se diferente do que outros homens.

— É engraçado como as coisas mudam.

— O que você quer dizer?

— Três meses atrás, teria jurado que estaria solteiro para


sempre. Agora, não posso imaginar não a ter.

— Sinto-me da mesma maneira. — Toquei o pingente. — Isto é


loucura.

— Não é o que eu esperava, mas não é louco. Você sabe o dia


em que te conheci, isto sim foi uma loucura. Vi aquele merda te
arrastar para o outro lado do estacionamento e sabia que tinha
THE GUM RUNNER
que fazer alguma coisa. Então, na minha mente, estava pensando
que se batesse no cara, ele iria soltá-la e eu seguiria o meu
caminho. Pensei que vocês dois estavam juntos. Você sabe, em um
sentido romântico. De qualquer forma, quanto mais perto
ficávamos, mais atraente você se tornava. Fez-me triste pensar que
iria acabar saindo com aquele cara, mas tinha certeza de que era
isso que aconteceria.

— Mas eu não fiz.

— Eu sei. — Michael sorriu revelando sua covinha. — Não podia


te tirar da minha mente. Sentei-me no meu escritório olhando para
este monte de trabalho, mas não conseguia fazer nada. Não podia
me concentrar em qualquer coisa, só pensava em ti. Não era tanto
sua aparência, era querer saber mais sobre você.

— Saber mais sobre mim? Você me disse que me queria foder.

Michael riu.

— Eu disse que queria te provar.

— Você afundou seu dedo em mim naquele restaurante e depois


lambeu os dedos. Essa foi a sua primeira prova. Minha boceta
começou a formigar por pensar nisso. Respirei fundo, fechei os
olhos e exalei lentamente, esperando que minha charada fosse
encorajá-lo a fazer alguma coisa.

— Eu me levanto de manhã, tomo um banho e quando estou em


pé de frente para o espelho me barbeando, olho para mim mesmo e
penso 'o que diabos ela pode ver em mim?' Isso acontece todos
os dias, mas acabei decidindo que não me
THE GUM RUNNER
importo. Não faz diferença. Você, obviamente vê alguma coisa e
fico feliz que veja.

— Está brincando comigo? — Respondi. — Seus olhos precisam


ser checados. Aquele dia no estacionamento? Você veio andando e
disse ao idiota para me soltar, certo? Naquele instante e quero
dizer naquele mesmo instante, minha boceta jorrou. Não foi o que
você disse, foi quem você era. Você é atraente, Michael, muito
atraente. Mas o que está aí dentro? Isso é o que te deixa
irresistível.

Ele parecia envergonhado e sorriu.

— Obrigado.

Seja nossa data, o colar ou o fato de que estava simplesmente


apaixonada por ele, não sei, me fez querer dizer a como me
sentia. Amor. Algo tão sagrado e satisfatório não deveria ser tão
difícil de comunicar. Sabia como me sentia e queria dizer,
esperando que ele se sentisse da mesma maneira, mas mais do
que tudo, temia a rejeição.

Eu tinha doze anos quando disse a Salvadore Tarrucci que o


amava. Ele tinha treze anos. Nós estávamos no sétimo ano juntos
e era quase verão. Eu queria um amor para as férias de verão, ou
pelo menos pensava que sim.

Salvadore se levantou e olhou. Tinha certeza que ele não me


ouviu. Talvez estivesse em estado de choque, pensei. Até onde
sabia, eu era a garota mais bonita da escola e meu anuncio direto
poderia tê-lo pego de surpresa.
THE GUM RUNNER
Então disse a ele novamente.

Ele sorriu e estendeu a mão para o cadeado no seu


armário. Enquanto reunia os livros para a sua próxima aula,
decidi que não tinha me ouvido, porque se tivesse teria dito
alguma coisa. Esperei ansiosamente para ele me tranquilizar e
dizer que se sentia da mesma maneira, mas nunca veio. Então,
disse novamente, seu rosto ficou vermelho e riu.

Um mês depois nós terminamos. Embora nunca tivesse


contado, devo ter dito a ele que o amava duas dúzias de vezes. Ele
nunca devolveu o gesto.

Bobby Cardone não tinha uma namorada. Então, logo antes das
férias de verão eu disse que o amava. Eu estava desesperada.

Ele não estava e riu.

Era o tipo de risada quando alguém lhe diz algo tão


estupidamente engraçado que você quase faz xixi e não consegue
recuperar o fôlego por alguns minutos. Ele chorou de rir.

Chorei e corri para o outro lado do playground, esperando que


ao longo do caminho fosse morrer. Mas não morri.

Essas foram minhas primeiras rejeições, mas elas certamente


não foram às últimas. A partir desse ponto até meus vinte anos,
não me incomodei em expressar meu amor para minha cara-
metade. Com Vincent, esperei para me expressar até que tivesse
certeza e esperava que seus sentimentos espelhassem os meus.

Eu estava errada.
THE GUM RUNNER
Embora devesse tê-lo deixado por causa de seu comportamento
abusivo, a sua incapacidade para expressar que me amava, foi o
que lhe custou o nosso relacionamento.

Perder Michael iria me matar. Não poderia assumir esse


risco. Eu o amava e nada mudaria isso. Tão agradável como seria
saber que ele sentia o mesmo, o que estava em risco era muito
grande. No final, escolhi o silêncio.

Ele me bateu na perna.

— Ei? Está acordada?

— Oh, sim. Só estava pensando.

— Sobre o que?

Amar você.

— Nada. Ensino médio.

— Ensino médio?

— Sim, eu não sei. Talvez porque o verão está finalmente


aqui. Acho que estava pensando nas férias de verão de quando era
criança.

Ele pareceu perder o foco por um instante.

— Não seria bom ter férias de verão como um adulto?

— Eu sei — disse.

Na realidade, estava em férias de verão o tempo todo, mas


THE GUM RUNNER
sabia que não podia contar para Michael. Em algum momento a
verdade tinha que sair, mas temia o dia que acontecesse. Com o
passar do tempo, dizer isso se tornava mais difícil e as
repercussões aumentavam.

Ele se levantou e estendeu a mão para mim.

— Eu tenho outra coisa em minha mente.

Peguei a mão dele, sem saber o que estava fazendo ou por que
tinha se levantado do sofá. Era tarde, mas não achava que era tão
tarde a ponto de ele considerar sair. Michael me puxou para si
assim que eu estava de pé e me beijou suavemente.

Eu queria mais.

Trinta segundos mais tarde, depois de abaixar-me na cama, ele


me deu isso.

Ele levantou meu vestido sobre minha cabeça, mas tudo parecia
estar acontecendo em câmera lenta. Talvez fosse porque o queria
tanto. Talvez eu estivesse observando todos os detalhes que me
tinham escapado no início. Talvez fosse porque sabia que lá no
fundo o amava e meu amor me permitiu desfrutar de todas as
pequenas coisas que tinha dado como garantidas anteriormente.

Não importava.

Nervosamente mordi o lábio inferior quando ele estendeu a mão


para meus quadris. Ele enfiou os dedos por baixo do tecido
delicado da minha calcinha e encontrou meu olhar. Com os olhos
presos nos meus, deslizo-a para baixo das minhas pernas no
THE GUM RUNNER
que parecia ser dez minutos no calvário. Quando a puxou sobre os
meus pés e jogou-a ao lado do meu vestido, inalei uma respiração
instável.

Sempre que o assisti me tocar parecia que me esquecia de fazer


as coisas simples. Como respirar.

Michael se levantou e tirou a camisa. A cor de sua pele era um


lembrete de que o verão estava chegando e a cor bronzeada
combinava com ele também. Quando estendeu a mão para seu
cinto deixou a mostra seus bíceps e a parte superior do tórax
bronzeado.

Eu observava atentamente enquanto ele soltava o cinto e tirava


os jeans. Seu lindo pênis oscilou de um lado para outro enquanto
subia na cama. Outra respiração ofegante da minha parte
aconteceu como um lembrete do meu desejo de tê-lo dentro de
mim. Virei meus olhos para os dele.

Sua boca encontrou a minha e ao mesmo tempo, ele guiou-se


em mim. Sua circunferência fazia com que cada vez parecesse
como a primeira e desta vez não foi exceção. Eu ofegava enquanto
ele me enchia com sua espessura mordendo meu lábio em troca.

Beijamos-nos apaixonadamente, suas mãos delicadamente me


tocando, acariciando e tranquilizando. Ele encontrou o seu ritmo,
movimento lento e constante, empurrando em mim plenamente
com cada golpe. Nossas bocas finalmente se separaram e beijou ao
longo do meu ombro continuando com seu castigo previsível e
agradável em minha boceta molhada e disposta.
THE GUM RUNNER
Contorci-me enquanto ele mordiscava meu ombro, só parando
quando moveu sua boca para os meus seios. Beijando e sugando
gentilmente, provocou meus mamilos enviando pequenos choques
e formigamentos em mim dos meus mamilos para o meu clitóris.

Abri os olhos só para encontrá-lo a me olhar. Ele segurou o meu


olhar, levantando a boca dos meus mamilos enquanto se
encontrava profundamente dentro de mim. Com a cabeça
diretamente sobre a minha, nossos olhos permaneceram
conectados.

Seu ritmo aumentou, assim como a sua força. Espalhei minhas


pernas tão abertas quanto era capaz, dando-lhe carta branca para
fazer comigo o que quisesse. Em poucos segundos, ele estava-me
fodendo de forma constante, a parte superior de seu eixo tocando
uma melodia contra o meu clitóris inchado.

Fechei os olhos.

Esse era o sexo que as mulheres sonhavam, mas que a maioria


nunca conheceria. Em um estado desconhecido da excitação
sexual, senti-me avançando meu caminho para o clímax com cada
investida. Alguns golpes estrondosos mais tarde e nós dois
começamos a gemer.

Agarrei as bochechas de sua bunda e puxei sua carne


musculosa, forçando-o a ir tão fundo quanto ele fosse capaz. Meu
clitóris começou a formigar. Suas mãos tateavam meus
seios. Minha mente tentou acompanhar o que estava acontecendo,
apenas para desistir e me permitir concentrar-me em
THE GUM RUNNER
nada. Rapidamente, nada se tornou tudo.

Senti seu pau inchar dentro de mim. Estendi a mão para suas
bolas e segurei-as na minha mão. Quase instantaneamente, atingi
o auge de minha felicidade sexual e me senti como se estivesse
explodindo na sala. Meus olhos se abriram e fecharam
repetidamente enquanto ele empurrava mais algumas vezes.

Meu corpo tremia. Eu gritei.

Ele entrou em erupção dentro de mim, enchendo-me com o seu


amor.

Michael caiu em cima de mim e percebi que não tinha falado


uma única palavra. Nós não precisávamos disso.

Nós dois olhamos para o teto por algum tempo. Depois de


alguns minutos, me virei para encará-lo.

— O que foi isso? — Perguntei.

— O que você quer dizer?

— Foi foder ou foi fazer amor?

— Com você, é tudo a mesma coisa — disse ele. — Não é o ato, é


a pessoa que determina isso.

— Então, em sua opinião, fazer amor e foder são a mesma


coisa? — Seus olhos permaneceram fixos no teto.

— Precisamente.
THE GUM RUNNER
— Eu pensava que foder era áspero, profundo, forte e fazer amor
era suave, lento e doce.

Ele riu.

— É tudo fazer amor se você ama a pessoa com quem está.

— E foder é quando não se ama?

— Sim.

Decidi assumir o risco. Limpei a garganta levemente.

— Então, o que estávamos fazendo?

Ele virou a cabeça para o lado e olhou nos meus olhos. —


Estávamos fazendo amor — disse ele.

Porra eu te amo.

— Michael?

— Sim?

— Eu te amo.

Seus olhos sorriam.

— Eu também amo você, Terra.


THE GUM RUNNER

Michael

Para cumprir a minha promessa a Agrioli, passei uma


quantidade considerável de tempo lutando com o que considerava
como certo ou errado a respeito do resgate de seu filho.

Vivia em um mundo de preto e branco. Tudo o que fiz, foi com a


crença de que estava de pé ao lado do bem. O mal estava errado e
eu não faria nada se acreditasse que era errado.

Cap olhou para mim como se eu tivesse pedido para cometer


assassinato. Em alguns aspectos, acho que tinha.

— Você está de sacanagem comigo, certo? — Ele perguntou.

Balancei minha cabeça.

— Nós estamos extraindo a porra de um refém. Você estava


pensando que seriamos recebidos de braços abertos? 'Ei caras, ele
está bem aqui. ' Acho que não. Eles vão estar armados, ou pelo
menos ter acesso a armas. Cristo, nós vendemos a eles a porra de
um caminhão de fuzis AK-47.

— Então, nós vamos matar os mesmos caras com quem fizemos


negócio na outra noite? Então, em vez de ter italianos sobre nós,
teremos aqueles búlgaros loucos. Acho que você precisa repensar
THE GUM RUNNER
isso, Tripp.

— Ouça. — Levantei-me e comecei a andar pelo escritório. — Eu


nunca deveria tê-los deixado levá-lo. Você estava aqui quando
Agrioli veio. Cometi um erro, estava pensando que foi merecido
para Agrioli já que teve seus capangas tentando nos roubar. Mas
ele está certo. Aquele garoto se rendeu. Concorda ou discorda?

Cap concordou.

— Ele se rendeu, não há dúvida sobre isso.

— Então, deixamos os búlgaros executá-lo se Agrioli não


pagar? E lembre-se, Agrioli não vai pagar. E eles não vão pensar
duas vezes.

— Bem, foda-se — disse ele. — Você tem razão.

— Isto não é sobre o dinheiro, Cap. Trata-se de corrigir um


erro. Eu cometi um erro.

—Vejo isso agora. Nós cometemos um erro.

Cap levantou, caminhou até o canto da minha mesa e retirou a


garrafa de scotch da gaveta. Ele ergueu uma sobrancelha
ligeiramente e levantou a garrafa. Eu balancei a cabeça. Meu
estômago estava em nó só de pensar sobre as possíveis opções e
nenhuma incluía os búlgaros vivendo após a missão. Um copo de
scotch não faria mal as coisas.

— Que tal isso — ele disse enquanto servia dois copos de


uísque. — Criamos uma distração. Explodimos metade de sua
loja e então quando todos eles estiverem
THE GUM RUNNER
tentando descobrir o que diabos aconteceu, nós entramos e
roubamos a criança?

Cap me entregou um copo. Tomei um gole do uísque e


considerei a sua sugestão.

— Eles vão perceber que é uma distração, então vão deixar pelo
menos um homem com o refém. Se nós cronometrarmos certo,
podemos ter Trace fazendo uma imagem térmica com um drone ao
mesmo tempo. Nós saberíamos se houvesse um ou dez homens
com o refém.

— Não importa se há um ou quinze. Uma vez que explodirmos a


parede daquele lugar, nós estamos entrando, não importa o
quê. De acordo?

— De acordo. Se for um, será rápido. Se for quinze...

— Se forem quinze homens— disse ele. — Estamos fodidos.

Tomei outro gole de uísque. — Nós vamos precisar adicionar


Trace a equipe. Tê-lo como nosso motorista e operar o drone. Você,
eu, Trace e Lucky. Nós buscamos o garoto, Lucky guarda a saída.

— Há cerca de umas cem maneiras disso dar em merda. Você


sabe disso, certo?

Levantei meu copo.

— E apenas uma chance de correr bem.

Ele tomou um gole de uísque e limpou a garganta.


THE GUM RUNNER
— As probabilidades são contra nós irmão.

— Elas estavam contra nós na província de Anbar, mas não


deixamos isso nos levar para baixo.

Ele ergueu a taça.

— Vamos brindar a isso.

— Você sabe que nós vamos ter que matar qualquer um


desses filhos da puta que nos reconhecer— disse ele. — Mesmo
com os nossos rostos cobertos, eles vão reconhecer nossas vozes.

Terminei o meu scotch e fui até o fim da minha mesa. Ele estava
certo. Quem fosse capaz de nos identificar teria que ser
eliminado. Os ocupantes restantes do edifício deveriam imaginar
que a extração do refém foi feita por Agrioli.

E Agrioli poderia lidar com isso quando chegasse o momento.

Completei outra dose dupla e engoli de uma só vez.

— Vamos nos organizar essa noite. Amanhã à noite realizamos a


operação. Tem certeza que está dentro?

— Eu o seguiria para as profundezas ardentes do inferno, você


sabe disso, Tripp.

Foi reconfortante ouvir.

Porque senti que era exatamente onde estávamos indo.


THE GUM RUNNER

Terra

Michelle forçou um suspiro dramático.

— Ele parece perfeito. Eu preciso de alguém assim.

Eu ri.

— Você precisa de alguém, isso é certo.

— Será que ele tem amigos?

— Conheci um. Ele é muito engraçado, enorme, mas muito


bonito também.

— Enorme? Como gordo?

— Não. Ele não tem gordura nenhuma. Seus músculos têm


músculos. E ele é tão legal. Você provavelmente gostaria dele. —
Peguei minha bolsa e tirei minha carteira. — Mas, seu pai iria
matá-lo.

— Se ele me tratar como Michael trata você, não dou à


mínima. Preciso de um homem de verdade.

— Vou falar com Michael e ver o que ele pensa — disse com
uma risada iluminada. — Seria incrível se vocês dois se dessem
bem. Poderíamos fazer coisas juntos.
THE GUM RUNNER
Meu relacionamento com Michael era segredo. Ser capaz de falar
com Michelle sobre o quanto gostava dele e o que fazíamos juntos,
me fez sentir melhor sobre tudo, mas não dissolvia minhas
preocupações completamente. Cheguei à conclusão de que Michael
era um elemento permanente em minha vida e não havia nada que
pudesse mudar isso.

Encontrar uma maneira de dizer ao meu pai era o próximo


passo. E em uma hora eu teria uma oportunidade. Só precisava
descobrir uma maneira de fazê-lo sem que ele reagisse de forma
inadequada.

Puxei meu cartão de crédito da carteira.

— Aqui, deixe-me pagar por isso e então eu preciso ir.

— Eu vou pagar. — Ela levantou o copo com a bebida, que


ainda estava meio cheio. — Arranje um encontro com esse cara.

A ideia de ela estar com Cap me animava.

— OK. Vou ver o que posso fazer.

— Qual é o nome dele?

— Cap.

— Cap? Isso é algum apelido?

Não era abreviação para nada, o que tornava ele ainda mais
fofo.
THE GUM RUNNER
— Nada. Ele disse que é o seu nome. Cap.

— Ooh, gosto disso.

— Eu também.

— Então, você vai ver o seu pai?

Eu não estava animada sobre isso e minha resposta fez pouco


para esconder a minha falta de entusiasmo.

— Sim.

— O que Michael está fazendo?

— Trabalhando até tarde.

— E o seu irmão? Ele já está de volta?

Balancei minha cabeça.

— Ainda na Argentina.

— Seu pai provavelmente o pegou com drogas. Qualquer coisa


pela porra do dinheiro.

— O seu não é muito melhor — retruquei.

— Eu sei, ok? Sério, eu pago a conta. Vá embora.

— Tem certeza? — Perguntei. — Eu ficaria, mas tenho que


trocar de roupa antes de ir para lá.

— Positivo — disse ela. — Se seu pai te ver vestindo isso, ele vai
surtar.
THE GUM RUNNER
— Eu sei. — levantei e coloquei a carteira na bolsa. — OK. Vou
falar com Cap e te aviso.

— OK.

Michelle e eu tínhamos nos encontrado para uma bebida em um


bar no subúrbio que eu vivia, mas que passei muito pouco tempo
comendo, bebendo ou socializando. A localização foi uma boa
escolha, considerando que tinha que ir para casa, trocar de roupa,
desempacotar o equivalente a um dia de compras e dirigir de volta
para Kansas City para encontrar minha mãe e pai.

Correndo contra o relógio, corri do bar para o estacionamento,


pulei no meu carro e tentei decidir rapidamente qual era o
caminho mais rápido de casa. Depois de longos sessenta
segundos de argumentos comigo mesma, escolhi um caminho e
decolei.

Algumas voltas erradas e várias ruas mais tarde e eu não tinha


certeza de onde estava. Frustrada, procurei um lugar para
encostar e programar meu sistema de navegação. No meio de uma
quadra desconhecida em um bairro industrial, avistei várias lojas
que tinham vagas de estacionamento bem iluminadas e decidi
escolher uma que estava desocupada para parar. Quando passei
um dos edifícios, vi um carro que parecia do Michael.

Eu olhei para a parte traseira do veículo enquanto dirigia.

TRIPP.

Eu freei rapidamente.
THE GUM RUNNER
Parecia uma localização estranha para os investidores
trabalharem, mas Michael disse que ele trabalharia até tarde e eu
não tinha dúvidas de que o carro era dele. Virei e puxei para
dentro do estacionamento. Estacionando ao lado do carro de
Michael estava à caminhonete de Cap, um SUV, um Mercedes-
Benz e uma Suburban preta.

Estacionei ao lado do Suburban e desliguei o carro.

Minha mente estava a mil. Tentei pensar em quaisquer


possibilidades que eu poderia estar me expondo e decidi que não
importava o que era não seria ruim. Obviamente, o trabalho de
Michael o trouxe para a instalação e por qualquer motivo, Cap
estava lá com ele.

Enviei a Michael um texto.

Depois de esperar alguns minutos por uma resposta, eu


liguei. Ele não respondeu.

Entrei pela porta da frente. A espessa camada de poeira que


cobria a mesa da recepcionista vazia logo na entrada me levou a
acreditar que ninguém tinha sentado nela em anos. O corredor
virou para a direita, então o segui na esperança de encontrar
Michael e Cap bebendo uma cerveja com dois dos investidores de
Michael. Os sons de vozes abafadas me levaram a meio caminho
para a única porta que eu podia ver o que me deixou um pouco
ansiosa e apreensiva. Continuei mesmo assim.

Há alguns pés da porta pude ver que ela estava aberta, então
enfiei a cabeça para dentro.
THE GUM RUNNER
Suspirei. Michael, Cap e dois cavalheiros que não reconheci
estavam na sala. Eles pareciam que tinham acabado de voltar da
guerra. Vestidos todos de preto, com os rostos pintados com
maquiagem verde, cinza e preta, eles ficaram em estado de
choque. Cada um deles estava ou segurando uma arma ou a tinha
amarrada ao seu ombro.

— Você disse que tinha que trabalhar até tarde. O que está
acontecendo, Michael?

— Estarei de volta em um minuto — disse ele abertamente. —


Dê-me alguns minutos com ela.

Ele entregou seu rifle a um dos homens e caminhou em minha


direção. Senti como se fosse vomitar.

— Olha — ele disse enquanto se aproximava de mim. — Eu sei


que você provavelmente está se perguntando o que está
acontecendo e não é uma coisa fácil para eu responder. Mas vou
fazer o meu melhor.

— Por que você está vestido assim? O que... eu não ...

— Eu vou explicar. Apenas venha comigo — disse ele.

O segui pelo corredor e através da porta de outro escritório. A


sala estava cheia de caixas, mas não tinha móveis.

Ele não parecia o mesmo. Seu rosto estava coberto de uma


maquiagem horrível e ele estava usando uma roupa preta com
botas pretas. Ele inalou uma respiração profunda, exalou e olhou
para mim.
THE GUM RUNNER
— Não posso te dizer no meio do que estou, mas posso dizer-lhe
que não é algo ruim.

— Bem, com certeza não parece bom. Por que você tem
armas? E por que está usando essa roupa? Você parece como se
você estivesse indo roubar um banco. Sinto que vou vomitar por
ter vindo aqui.

— Terra, isso é ... eu ... — ele gaguejou.

Joguei minhas mãos no ar. — É aqui que você trabalha? Este


edifício?

Ele assentiu.

O tapete era azul escuro, olhei para ele por algum tempo. Senti
como se fosse vomitar. — Você é um investidor de quê?

— Deixe-me ... Eu posso... eu vou explicar. Mas vou ter que


fazer isso mais tarde. Eu realmente...

Não tinha interesse em mais tarde. Queria as respostas agora e


nada menos.

— Não. Eu quero uma resposta. Não há um telefone na mesa da


recepcionista. E está coberto de poeira. Se você trabalha aqui, algo
não está certo. Qual é o seu investimento?

Ele respirou fundo.

Pressionei minhas mãos em meus quadris.

— Não minta para mim, Michael.


THE GUM RUNNER
— Armas de fogo.

— O que tem? — Perguntei.

— Invisto em armas de fogo.

Enruguei meu nariz e olhei. — Você coleciona armas de fogo?

— Não coleciono. Eu compro, vendo, fabrico...

— Você é um traficante de armas, porra? — Gritei.

Ele encolheu os ombros.

— Mais ou menos. É complicado.

Eu odiava armas e quase tudo o que representavam. Não podia


acreditar nos meus ouvidos.

— Conte-me. Eu juro... — eu estava louca de raiva. — Estou tão


brava com você agora.

— Tenho certeza que você está, mas não tenho muito


tempo. Podemos conversar mais tarde. E vou explicar tudo.

Uma das coisas que ele disse tomou conta de meus


pensamentos.

— Espere um minuto — Eu assobiei. — Você disse que compra,


vende e fabrica armas? Este é o seu trabalho? Isto é o que faz?

Ele assentiu.

— Eu vou vomitar.
THE GUM RUNNER
— Terra, não é...

— Não o que? — Eu soltava fumaça. — Não o que? Vou lhe


dizer o que é. Você mentiu para mim, porra!

— Terra, sou um investidor. Invisto em armas de


fogo. Carregamentos enormes deles. E as vendo por lucro. É o meu
trabalho. Mas não é algo que uma pessoa sai e anuncia. Vamos
falar sobre isso mais tarde — ele implorou.

— Para quem você vende?

Seus lábios estavam entreabertos. Ele encolheu os ombros.

Tudo o que ele tinha dito lentamente afundou em mim. Não


posso dizer-lhe tudo. Não posso explicar. Meu rosto estava
quente. Eu tinha sido enganada. E, acima de tudo, descobri que o
homem que amava era um traficante de armas e que os enormes
carregamentos dele eram complicados. Odiava armas, odiava a
violência e morte que deixavam em seu rastro. Detestava os
criminosos obscuros que dependiam delas para viver e acima de
tudo, me senti terrivelmente triste pelas pessoas que acabavam
aleijadas, mortas e mutiladas.

— Que tipo de armas?

Reservei um vislumbre de esperança de que eram relíquias da


guerra civil ou recordações da guerra antigas. Estava em um ponto
que tinha medo de que isso não importava. Não havia muito que
ele pudesse dizer ou fazer para mudar o fato de que meu coração
estava em chamas e um nó estava se construindo dentro do
THE GUM RUNNER
meu estômago e que eu tinha certeza que estaria lá por toda a
vida.

Ele deu de ombros novamente.

— É realmente algo... Que devemos... nós precisamos conversar


mais tarde.

— Não. Agora! — Exigi. — Armas como as que tiveram naquele


quarto? Você vende essas? Não minta para mim.

Ele assentiu.

As lágrimas rolaram pelo meu rosto. Ele estendeu a mão para


mim.

— Não me toque — Gritei — Eu sei o que essas armas são. Você


vende metralhadoras? Armas militares? Não minta!

Após um momento de luta interior, ele respondeu. — Sim, eu


vendo armas militares.

— Eu não acredito — Chorei.

— Terra...

— Não me venha com isso. — Levantei minha mão entre nós. —


Não posso acreditar. Eu deveria saber.

Poderia perdoá-lo por não me dizer exatamente o que ele fazia,


inferno, eu não tinha sido verdadeira com ele, tampouco. Sua
profissão, no entanto, foi simplesmente demais para que pudesse
aceitar.
THE GUM RUNNER
No fundo sentia que Michael sabia que o que estava fazendo era
inaceitável ou teria me dito a verdade.

Saí do escritório para o corredor.

— Terra, é...

Virei-me.

— Pare. Sugiro que você diga para a próxima garota a verdade


desde o início. Então, ela pode decidir se quer estar com alguém
que vende morte.

— Terra...

— Eu te odeio. — Meu estômago convulsionava. Lutei para


respirar. Meu. Coração. Doía. Tropecei em direção à saída,
chorando enquanto me afastava. Quando cheguei à porta, limpei
as lágrimas do meu rosto com as costas da minha mão e me virei
para ele.

Coberto de preto, ele estava no final do corredor, olhando para


mim.

— Nunca mais se aproxime de mim! — Gritei.

E, por mais difícil que era acreditar, eu quis dizer cada palavra.
THE GUM RUNNER

Michael

Através da imagem térmica, descobrimos que havia três pessoas


no edifício, duas delas em movimento. Com base na posição
estática da terceira pessoa, assumimos que ele era o nosso
objetivo.

— Entradas no sudoeste e noroeste serão sopradas


simultaneamente. Lucky vai lançar dois M84s no sudoeste. Vamos
entrar pelo noroeste, extrair o alvo e sair em trinta segundos. Se
forem identificados ou ameaçados, atire para matar.

O plano era para Lucky jogar granadas de choque na área onde


os dois alvos móveis estavam posicionados. Quando os dispositivos
detonassem, seria desorientador para qualquer um exposto e os
submeteria a uma explosão de flash de luz. Os dois ocupantes
estariam cegos e surdos por cinco segundos, além disso,
experimentariam perda de equilíbrio e desorientação por alguns
segundos adicionais.

Eu acreditava que esse tempo, com a sua incapacidade de


funcionamento, seria praticamente suficiente para Cap e eu
entrarmos e sairmos da instalação sem a necessidade de
prejudicar ninguém.
THE GUM RUNNER
— Você vai explodir as portas ao meu comando.

— Entendido — disse Lucky.

— Agora é a hora — eu disse. — Se alguém quiser sair deste


desastre.

Os dois polegares para cima em respostas eram tudo que eu


precisava ver. Em questão de segundos, estávamos posicionados
em nossas respectivas portas.

— M1 a M4, preciso de uma posição de tangos — eu disse.

A voz de Trace veio do fone de ouvido. — Este é M4, temos dois


tangos a três metros da parede a ser explodida. Tango três está
parado, desligo.

Coloquei a carga explosiva na porta.

— M1, carregado no lugar.

— M3, carregado — disse Lucky.

— Na minha contagem de três.

— Entendido. Contagem de três.

— Um.

— Dois.

— Três.

A pequena carga explosiva soprou o mecanismo de bloqueio


completamente para fora da
THE GUM RUNNER
porta. Imediatamente, os outros explosivos soaram através do
edifício.

Apesar de imagem térmica mostrar pontos quentes, não há


nenhuma indicação de onde as paredes, portas, quartos ou
quaisquer outras superfícies interiores estão localizados. Cap e eu
entramos como cegos no edifício, ajudados apenas pelos óculos de
visão noturna que estávamos usando.

Por sorte, o canto do edifício que nós entramos estava bem


iluminado, fazendo o uso do nosso equipamento de visão noturna
impossível. Ao entrar, cada um de nós jogou os óculos para cima e
cuidadosamente seguimos nosso caminho para o canto do edifício.

Nós avançamos para um quarto na parte traseira do edifício


com as nossas armas preparadas até chegarmos a uma porta
fechada. Sabendo que a vigilância indicava apenas um homem
nesta área do edifício, a porta foi aberta e entramos com a
expectativa de encontrar Peter.

O que vimos não foi de nenhuma maneira o que eu, ou qualquer


um teria esperado. Um homem com o que parecia ser um
dispositivo explosivo amarrado ao seu pescoço e seu corpo
equipado com um colete de explosivo deitado em uma cama.

Se eu tentasse movê-lo, nós três poderíamos estar mortos


instantaneamente. Se esperasse muito tempo para tomar uma
decisão, nós estaríamos em um tiroteio com dois búlgaros raivosos
e eu não tinha como prever o resultado. Corri através das
possibilidades e rapidamente percebi que os dois homens no
quarto em frente haviam recuperado seus
THE GUM RUNNER
sentidos e podiam simplesmente detonar o dispositivo, que iria
destruir todo o canto do edifício, Cap e eu inclusos.

Meus pensamentos foram imediatamente para a Terra. Se de


alguma forma eu sobreviver a essa situação, precisava encontrar
uma maneira de corrigir o meu erro com ela. Mas a primeira coisa
que precisava fazer era decidir como sair da situação vivo.

Olhei para Cap.

Posicionado ao lado da porta com a arma apontando para o


corredor, ele encontrou meu olhar. Por um instante, ele me
estudou.

Ele acenou com a cabeça uma vez.

Preparado para a situação que tinha sido apresentada a mim ou


não, eu fiz ao homem uma promessa de que faria o melhor que
pudesse para recuperar seu único filho.

E eu pretendia cumprir essa promessa.

Perdoe-me, Senhor...

— M1 a M3.

— M3, vá M1.

— Eliminar os dois tangos.

— M1, dizer de novo?

— M3, eliminar os dois tangos, desligo.


THE GUM RUNNER
— Entendido, M1.

Ouvi o som distintivo de uma arma ser emitido duas vezes. O


baque surdo de dois corpos caindo no chão seguido.

— M3 para M1. Dois tangos eliminados.

— M1 a M4.

— M4, pode falar M1.

— M4, temos uma situação. Precisamos do boneco de neve.

— M1, dizer de novo.

Olhei para a bomba. Desde a guerra, não tinha visto nada


parecido e esperava nunca ver. Era uma das bombas mais
complexas que já tinha visto.

— Precisamos do boneco de neve — eu disse.

— M3. Posso obter uma descrição da situação?

— Haditha, 2007 — eu disse, lembrando uma batalha no Iraque


que Trace, Lucky e Cap lutaram comigo. Um dispositivo
semelhante foi amarrado a um homem no centro da praça da
cidade. Não foi neutralizada a tempo e o homem explodiu na frente
de todo nosso pelotão. Uma cratera grande o suficiente para
estacionar um caminhão foi à prova única remanescente da sua
existência.

— Deus nos ajude — disse Trace.


THE GUM RUNNER
— Amém —respondi.

— Peter — disse bruscamente. — Você precisa ficar tão imóvel


quanto possível. Pisque os olhos, se você me entendeu.

Seus olhos piscaram. E eu comecei a orar.


THE GUM RUNNER

Terra

Prendi a respiração e tentei falar sem quebrar emocionalmente.

— Eu não posso nem mesmo... Eu não posso começar a


explicar... — eu disse. — Ele era tudo para mim.

— Sempre haverá outro — disse minha mãe.

— Não. Não vai.

Comecei a hiperventilar enquanto tentava respirar. Precisava do


conforto que só minha mãe poderia oferecer, então decidi contar a
ela sobre Michael e nossa separação. Quando cheguei à casa dos
meus pais, meu pai como sempre, tinha desaparecido.

— Mia figlia — disse ela. — Respirare.

Respire, minha filha, respire.

— Isto ... dói — eu disse. — Muito...

Ela colocou os braços em volta de mim e me segurou contra o


peito. Em poucos minutos, senti como se pudesse respirar de novo
e me afastei dela.

— Eu simplesmente não posso...


THE GUM RUNNER
— Diga-me o que aconteceu — disse ela.

Não podia dizer a verdade completa e uma parte não seria


suficiente. — Não há nada a dizer. Acabou.

— Mas. Se você se sente... — Ela balançou a cabeça. — Se você


o ama. Vai encontrar um jeito.

— Não há nenhum jeito.

— É porque ele é americano.

— Mãe!

— Os homens americanos não entendem.

— Mãe — Eu respondi. — Você soa como o pai.

— É verdade — disse ela.

— Não importa, ele é um bom homem. — Depois que falei,


desejei que tivesse dito que era. Poucos segundos depois, eu fiz. —
Ele era um bom homem.

— Se ele fosse bom... — Ela encolheu os ombros. — Você não


ficaria chateada.

Inicialmente senti um pouco de conforto em falar com ela sobre


Michael, mas eu estava ficando irritada com sua natureza teimosa.

— Estou indo embora.

— Não, fique — ela implorou. — Deixe-me ver uma foto


dele. Você tem uma foto?
THE GUM RUNNER
Não tinha motivo para mostrar a ela, mas o orgulho teimoso me
fez pegar meu telefone da bolsa. Depois de folhear as fotos,
selecionei uma que eu tinha tirado na minha casa quando ele
estava vestido com suas roupas de trabalho.

Segurei o meu telefone no comprimento do braço.

— Aqui.

Ela pegou os óculos e o empurrou em seu nariz.

— Oh, ele é bonito. Ele se veste tão bem. Tem certeza que ele
não é italiano?

— Não sei, mãe. Não perguntei.

— Você não perguntou? — Ela olhou por cima de seus óculos e


estreitou os olhos. — Você deveria perguntar.

— Não me importo. E agora não importa mais. — Ela fez uma


careta para mim.

— Pergunte.

— Seus pais morreram quando ele era pequeno. Seu nome não é
italiano. Não é italiano e ele não importa. E mesmo se
estivéssemos juntos, ainda não importaria.

Ela tentou tirar o telefone da minha mão.

— Ele é um menino católico, não?

Afastei-me e coloquei meu telefone na minha bolsa. Eu não


THE GUM RUNNER
tinha ideia, mas eu estava cansada de discutir algo que já não
importava.

— Não, é um luterano.

Ela suspirou como se tivesse dito a ela que era um assassino em


massa.

— Luterano? Deixe-me vê-lo novamente. Ele não é luterano.

— Pare com isso, mãe. Fico feliz que terminamos. Isto é o que eu
esperava de você. Mas o que o pai teria dito? Hã? Se ele soubesse?

Ela levantou a mão ao rosto e cobriu a boca. Sua cabeça


balançou lentamente de um lado para o outro.

— Seu pai.

Ao invés de parecer alguns anos mais velha do que eu, minha


mãe poderia se passar por minha irmã gêmea. Eu nasci quando
ela tinha vinte e dois anos, mas não parecia ter sua idade. Aos
quarenta e seis anos, parecia estar em seus trinta e poucos no
máximo.

Uma mulher bonita, sempre vestida elegantemente, era a típica


mulher italiana. Ela ficava ao lado do meu pai, independentemente
de sua posição sobre um assunto e concordava com ele
verbalmente, mesmo que não concordasse em seu coração.

Eu poderia ter sido filha de minha mãe, mas não partilhava das
suas maneiras subservientes.
THE GUM RUNNER
— Preciso ir para casa e dormir.

Ela estendeu os braços.

— Fique.

— Preciso dormir na minha cama. Estou indo para casa.

— Você precisa estar com sua mãe. Eu estou aqui


sozinha. Todos os dias desde que... — Ela balançou a cabeça e
suspirou.

— O que?

— Nada — disse ela.

— O que?

— Seu irmão. Ele está tão longe.

— Argentina. — Revirei os olhos. — Por quê?

Ela encontrou meu olhar. Algo estava errado.

— Mãe?

Ela se virou.

— Peter está na Argentina, não é?

Foi silencioso e macio, mas eu consegui ver. Ela estava


chorando.

Dei um passo para o lado e coloquei o meu braço em torno de


seu ombro.
THE GUM RUNNER
— Mãe. Onde está Peter?

Ela olhou para cima e enxugou os olhos.

— Negócios.

Não na Argentina?

Ela desviou o olhar.

— Mãe?

— Vem sentar-se comigo. E fique, por favor — disse ela.

Soltei seu ombro.

— Vou pegar um pouco de vinho.

Juntas, nós sentamos e conversamos de um modo que somente


uma mãe e filha podiam. Nós não falamos sobre Peter, ou meu pai,
mas sobre a vida. Nós conversamos por algumas horas sobre ser
uma mulher e amar um homem. Falamos sobre sacrifício, perda e
estar de pé ao lado do homem que você ama independentemente
das dificuldades.

Ainda estava convencida que a minha decisão de deixar Michael


era o caminho certo, mas não totalmente.

Os efeitos do vinho foram se tornando aparentes. Estava


exausta, meu coração doía e precisava de um pouco de
sono. Considerando que não tive tempo para comer, eu
estava meia bêbada.
THE GUM RUNNER
— Preciso dormir um pouco.

— Basta ir até seu quarto — ela disse.

Levantei-me, beijei-a e caminhei até o mesmo quarto que dormia


em cada noite quando era uma menina. Não importa quantos anos
eu tivesse, havia sempre algo de mágico sobre dormir no meu
quarto.

Depois de lavar o meu rosto, subi na cama e comecei a pensar


em Michael. Apesar da conversa com minha mãe, ainda me sentia
certa da decisão que tomei. Violência armada sem sentido era algo
que eu detestava. Existia um tempo e um lugar para uma arma,
mas não aqueles tipos de armas.

Se Michael tivesse me dito no dia em que nos conhecemos que


ele trabalhava com enormes embarques de armas de fogo e que os
detalhes eram difíceis de explicar, eu nunca teria ido a um
primeiro encontro com ele.

Tinha sido exposta a muito mal na terra por meu pai e minha
família. Eu não escolhi minha família, no entanto, não poderia me
afastar deles, eles eram sangue.

Mas, tão difícil como seria fazer, eu poderia me afastar de


Michael. Convencida que minha vida era mais uma vez um
desastre e com a certeza de que não poderia fazer nada para
corrigi-la, relaxei e adormeci.

Em algum ponto no tempo, no meio da noite, acordei ao som de


portas abrindo e fechando.
THE GUM RUNNER
Sentei-me na cama e imediatamente senti que eu tinha bebido
mais do que pensava. Esfreguei os olhos e os permiti ajustar-se ao
quarto mal iluminado. Um flash de luz na minha janela e o som de
uma saída de carro despertou minha curiosidade. Imaginando que
era meu pai no meio de algo sombrio, andei até a janela e olhei
para fora apenas a tempo de ver um carro puxando para fora da
garagem.

Era difícil ver muito bem através dos ramos de árvore da minha
janela no segundo andar, mas quando o carro se afastou, parecia
que a placa do carro dizia TRIPP.

Pisquei os olhos. Nada.

Eu podia ouvir meu pai falar com a minha mãe. O som fraco de
uma terceira voz interrompeu ocasionalmente. Parecia que minha
mãe estava chateada. Certa de que meu pai estava no meio de
uma de suas transações comerciais e que o carro era
simplesmente um de seus associados, me arrastei de volta para a
cama e fui dormir.
THE GUM RUNNER

Michael

O quarto cheirava a fezes, suor e urina. Parecia que a


temperatura havia subido cerca de cinquenta graus nos últimos
quinze minutos. As repetidas exigências do Boneco de Neve para
que eu deixasse a sala caíram em ouvidos surdos esta era a
minha missão e se as coisas fossem para o inferno, eu estaria no
meio dele.

— Bem? — Perguntei.

— Nunca vi algo assim. O filho da puta tinha seis gatilhos, todos


conectados em série. Com sensor de movimento e um
temporizador. O movimento é um interruptor de mercúrio e parece
que ele desencadeia um temporizador que só pode ser desativado
voltando para a posição original no tempo atribuído — disse o
Boneco de Neve.

— Eu preciso disso traduzido.

Ele virou-se, limpou o suor do rosto e suspirou.

— Isso significa que você precisa sair da sala se você quiser


qualquer tipo de garantia de que vai viver com isso. Mas, eu vou
precisar de ajuda. Não posso fazer isso
THE GUM RUNNER
sozinho. Então, ou você vai morrer, ou um dos seus homens vai.

Lutei contra a minha garganta seca e engoli.

Ele enxugou a testa novamente.

— E o preço para desarma-lo acabou de subir. Ao máximo.

O dispositivo explosivo foi construído em alumínio, fechados em


torno do pescoço de Peter e ligado a um segundo dispositivo preso
à parte superior do corpo. Após a inspeção inicial do Boneco de
Neve, ele disse que se isso detonasse, toda a extremidade do
edifício seria explodido em pó.

— Eu não vou sair — eu disse.

— Tudo bem — disse ele. — Vem aqui, então. Preciso de outro


par de mãos.

Ele apontou para uma bolsa aberta de ferramentas no chão.

— Limpe sua mente de tudo e pegue dois pares daqueles


pequenos alicates.

Fiz o que ele pediu.

Ele pegou uma lanterna e dirigiu a luz para a massa de fios


expostos.

— Está vendo os fios vermelhos com listras brancas e amarelos


com listras verdes?

Estudei o emaranhado de fios.


THE GUM RUNNER
— Eu acho que sim.

Ele pegou um laser da maleta de ferramentas e apontou para os


dois fios.

— Aqui e aqui.

Balancei a cabeça. — Entendi.

— Ok, após contar até três, vamos cortar os fios. Eu tenho dois
para cortar e você tem dois. Não arranque, não esprema.
Corte . Não é lento. Não é rápido. Apenas corte o fio.

— OK.

— Vou contar desta forma. Um. Dois. Três. — Sua contagem foi
afiada e rápida.

— Desse jeito? — Perguntei.

— Desse jeito — ele disse com um aceno de cabeça. — E


quando o três sair, você corta. Não quando eu começo a dizer três,
mas quando terminar. Um, dois, três, corta . Ambos os fios ao
mesmo tempo.

Meu coração estava disparado e eu estava encharcado de suor


dos pés à cabeça. Limpei a testa. — Entendi.

— Um, dois, três, corta — disse ele, contando assim como fez da
primeira vez. — Você está confortável com isso?

Limpei o suor dos meus olhos.


THE GUM RUNNER
— Tão confortável quanto posso estar. O que acontece se não
forem cortadas no mesmo instante?

— Você não terá que se preocupar com o meu pagamento. —


Ele respirou fundo e suspirou profundamente. — Um, dois,
três, corta. Bem desta forma. Esta pronto?

— Sim — eu disse. — Eu estou pronto.

— Quais fios? — Perguntou.

— Amarelo com verde e vermelho com o branco.

Ele apontou a lanterna para os fios.

— OK. Posicione seus alicates sobre os fios e pegue-os


cuidadosamente. Pegue com toda a calma em sua ferramenta e
apenas mantenha-a lá. Entendeu?

— Entendi.

— Quando estiver confortável, é só dizer pronto. — Depois de


dizer isso, vou entrar em posição. Vou perguntar se está pronto e
você responde novamente com pronto . Então, contarei.

Eu posicionei meus alicates, assumi toda a calma e respirei


fundo.

— Você acredita em Deus?

— Você sabe que eu acredito— eu disse calmamente.

— Estou falando com Ele.


THE GUM RUNNER
Peter respondeu com uma voz trêmula.

— Eu ... eu acredito.

— Ore para seu Deus, começando agora — disse o Boneco de


Neve. Tudo ao meu redor, exceto para as ferramentas e fios
ficaram pequenos e eventualmente, tudo pareceu desaparecer.

— Pronto— eu disse.

Ele colocou a luz para o lado. Depois de posicionar suas


ferramentas e respirar fundo, disse

— Pronto?

Suspirei. — Pronto.

— Um. Dois. Três. Corte.

Eu cortei os fios, mas engasguei com o silêncio que se


seguiu. Olhei para Boneco de neve.

— É isso?

Ele pegou a lanterna e o medidor. Enfiou alguns fios e fez


algumas medições, até que seu grito ensurdecedor encheu o ar.

— Porra!

Eu me senti como a sala tivesse explodido, mas não


tinha. Ainda.

— O quê? — Gritei.
THE GUM RUNNER
Ele deixou cair o medidor e apertou as palmas contra suas
têmporas.

— Cale a boca — ele gritou. — Todo mundo cala a


boca! Ninguém se move, nem sequer respira, caralho.

Ele jogou o medidor para o lado e vasculhou a bolsa,


freneticamente removendo outro medidor. Minha cabeça doía a
cada batida do meu coração. Com medo de fazer qualquer coisa,
meus olhos permaneceram fechados nas pequenas pontas
pontudas de seu medidor. Depois de picar uma dúzia de fios e
estudar o medidor, ele o colocou cuidadosamente para o lado e
suspirou profundamente.

— Você, seja qual for o seu nome com essa coisa em seu
pescoço. Não. Se. Mova. Não respire, não faça merda. Nem sequer
me responda.

Ele se virou para mim.

— Ainda tem as suas ferramentas?

Não respondi imediatamente. Estava paralisado de medo.

— Estou falando com você, Tripp.

Olhei para as minhas mãos. As ferramentas ainda estavam em


meus punhos.

— Sim — respirei.

— Você ouviu esse leve zumbido?


THE GUM RUNNER
Meus ouvidos estavam vibrando e eu podia sentir meu coração
batendo em minhas cavidades oculares. Tentei limpar a minha
mente e quando finalmente consegui, ouvi um som de zumbido
leve do pescoço de Peter.

— Sim — respondi suavemente.

— A mesma coisa tudo de novo. Temos cerca de dois minutos


pelo que eu posso dizer, talvez menos. Um. Dois. Três. Corte. Se
cortá-lo e esse zumbido não parar, corra o mais rápido que puder
para a rua. Nós vamos ter que deixá-lo aqui. Compreendido?

Balancei minha cabeça.

— Eu não posso ...

— Você não tem escolha. Listra verde e amarela. Você está


pronto?

Assenti.

— Sim.

Ele apontou para o fio com a mão trêmula.

— Vê isso?

Limpei o suor do meu rosto.

— Verde e amarelo.

— Qual é o nome dele?

— Peter— eu disse.
THE GUM RUNNER
— Reze, Peter— ele exigiu.

— Está pronto?

— Pronto.

— Bem, entre na merda da posição, então — ele latiu.

Agarrei o fio verde com a faixa amarela e segurei firme com o


alicate.

Ele agarrou dois outros fios.

— Isto é real para caralho. Pronto?

— Pronto.

— Um. Dois. Três. Corta. — Eu cortei o fio.

O silêncio era ensurdecedor.

Ele se atrapalhou para pegar o medidor. Depois de picar alguns


fios, ele se virou para mim.

— Nós conseguimos. Nós conseguimos, porra.

— Está desarmada?

— Está.

— Então ele está seguro?

— Eu tenho que cortar essa maldita coisa fora de seu pescoço e


me livrar dele. Ainda é uma bomba, apesar de tudo.
THE GUM RUNNER
— Mas não vai explodir se ele se mover, certo?

— Isso é certo. — disse ele.

Um suspiro disparou dos pulmões de Peter como um foguete.

— Grazie a Dio.

***

Andei pela da sala com um copo de uísque enquanto Peter


tomava um banho. O alívio que senti no passado depois de libertar
tantos cidadãos iraquianos de situações semelhantes estava
faltando. Eu não sentia alívio de me libertar do aperto de
Agrioli. Com cada passo, senti uma tranquilidade vazia sobre mim
e a tensão da missão lentamente escapou.

Apenas para ser substituído por uma quantidade igual de


tristeza.

Recusei-me a acreditar que Terra tinha ido embora. Eu andei


para trás e para frente, tomando o meu uísque, tentando pensar
no que deu errado. Depois que toda a tensão se foi, a resposta foi
clara.

Não tinha sido franco. No final, minha reserva sobre quem eu


era, deixou-me dizer-lhe nada, mas uma mentira.

Sentia-me doente.

— Obrigado pelas roupas — disse Peter. Eu me virei.

Droga.
THE GUM RUNNER
Durante seu periodo em cativeiro, parece que perdeu vinte
quilos, seu rosto tinha uma aparência bastante magra. De banho
tomado, barbeado e vestido com um dos meus ternos, ele parecia
muito melhor.

Apresentável.

Levantei meu copo.

— Não por isso. Fique com o terno. Ele se encaixa bem.

— Eu ainda não entendo.

— Entender o quê? — Perguntei.

— Por que?

— O mesmo que eu disse a você no carro. — Cometi um erro e


o corrigi.

Ele balançou a cabeça.

— Eu lhe devo minha maldita vida.

Terminei o meu uísque e suspirei.

— Você não me deve nada.

— O mesmo que eu disse a você no carro — disse ele


ironicamente. — Meu pai vai recompensá-lo bem.

Eu não tinha contado a ele sobre quaisquer acordos que tinha


feito com seu pai ou que ele tinha participado com a organização
THE GUM RUNNER
da sua libertação. Não senti que era o meu dever.

— Tudo que me importa é você chegar em casa com


segurança. Tem certeza de que não quer nada para comer?

— Tenho certeza.

Levantei meu copo.

— Beber?

Seus olhos se iluminaram.

— Uma dose, só para tirar o nervoso.

Servi dois copos de uísque, puro e nos sentamos no


bar. Estudei-o enquanto ele bebia o uísque e vim a perceber três
coisas.

Um, ele não era muito diferente de mim. Embora seu


envolvimento possa ser mais criminoso do que o meu ao longo de
um dia típico, nosso trabalho não difere muito. Ele estava
simplesmente de um lado da linha e eu do outro.

Dois, eu sentia falta da guerra. Foi um lugar onde realmente


senti que tinha minha própria família, uma conexão e um
propósito. Resgatando Peter me fez lembrar da guerra. Pelo curto
período de tempo em que estava envolvido em seu socorro, os três
homens ao meu lado eram minha família. Os meus irmãos. Eu não
tinha dúvida de que teria perdido a minha vida por eles se fosse
necessário.
THE GUM RUNNER
E, três, a união da família é maior do que qualquer outra, com o
exceção de uma.

O Amor.
THE GUM RUNNER

Terra

Eu esperava mais simpatia e menos críticas, mas Michelle


sempre foi uma vadia teimosa.

— A porra de um dia atrás, tudo estava bem. Agora, de repente,


ele é um idiota. Supere — ela assobiou.

— Não é assim tão fácil.

— É assim tão fácil.

— Você só quer conhecer Cap— eu disse. — E não há como


fazer agora.

— Você é uma porra de uma fedelha, Tee. Uma fedelha. — Ela


balançou a cabeça e deu uma mordida no sanduíche. Com sua
boca cheia de comida, ela continuou. — Eu só quero que você seja
feliz.

O pensamento de estar sem Michael para sempre não tinha


assentado ainda. Eu doía da cabeça aos pés e não tinha nenhum
motivo para acreditar que isso jamais pararia. — Vai demorar
muito antes de estar feliz novamente.

Ela deu outra mordida no sanduíche.


THE GUM RUNNER
— Você tem que me dizer o que aconteceu.

— Isso realmente não importa.

Michelle terminou de mastigar e engoliu.

— Neste momento, é tudo o que importa.

Olhei para o meu sanduíche intocado. Tudo o que eu tinha feito


desde que terminei com Michael era beber. Comer parecia fora de
questão. Gostaria de saber se falar sobre isso, me faria sentir
melhor. Depois de alguns segundos de contemplação, percebi que
a única pessoa com quem eu realmente poderia ser sincera era
Michelle.

— Ok, vou te contar.

Ela mordeu o sanduíche, arregalou os olhos castanhos e


encolheu os ombros.

— Quando nos conhecemos, ele me disse que era um


investidor. Ele disse que investia em oportunidades.

Ela estava mastigando a comida, mas não esperou para


responder.

— Você me disse isso.

Queria dizer a ela tudo e que concordasse que eu estava certa e


ele estava errado. No final, esperava sua aceitação das minhas
ações e que de alguma forma me oferecesse conforto. — Bem,
depois que saí daqui na outra noite, dirigi até algum edifício
THE GUM RUNNER
aleatório e seu carro estava lá. Então, eu encostei.

Ela pegou seu copo de chá.

— Meu Deus. Ele estava transando com alguma prostituta.

— Não — eu rebati. — Apenas deixe-me terminar. Então, eu


entrei e ele e três outros caras tinham armas e estavam vestidos
como ladrões de banco.

Sua boca se abriu.

— O que?

Parecia estranho falar sobre isso. Confirmou que minhas ações


eram justificadas.

— Sim.

Ela tomou um gole de chá.

— Que porra é essa?

— Exatamente. Que porra é essa. Então o questionei sobre isso.


Ele disse 'é complicado, eu não posso te dizer, mas tudo o que
posso dizer é que não é ruim. ' Então, olhei em volta e disse 'você
trabalha aqui?' e ele disse que sim. Então perguntei sobre as
armas, e em seguida, entramos nessa outra conversa ...

Inalei uma respiração superficial. Não foi tão fácil falar sobre
isso, como esperava. Meu lábio começou a tremer. Ela pegou
minha mão e segurou-a até que comecei a falar novamente.
THE GUM RUNNER
— Michael é um traficante de armas. Vende armas
pesadas. Como a que aquele cara usou quando Paul foi morto. Ele
disse que tem grandes carregamentos e é difícil de explicar . Esses
foram os tipos de coisas que ele me disse. Esse é o seu
investimento, armas. Perguntei-lhe que tipos e ele respondeu que
são metralhadoras, armas militares. Esses tipos de armas.

Encontrei o seu olhar.

Ela olhava para mim fixamente.

Após um longo silêncio, eu limpei minha garganta.

— Bem?

Ela olhou para mim, obviamente incrédula.

— É isso? Essa é a sua história? Você acabou?

Eu mastigava o meu lábio inferior.

— Sim.

— Ele não matou ninguém? Eles não estavam roubando um


banco?

— Não sei o que estavam fazendo. Ele disse que não era ruim.

— Ele era um fuzileiro naval ou qualquer outra coisa,


certo? Como algum veterano de guerra ou algo assim?

Minha resposta faltava entusiasmo.

— Sim.
THE GUM RUNNER
— E aquele o amigo dele? Cap?

— Sim.

— Cap estava lá? Com uma arma ou qualquer outra coisa?

— Sim.

— E diga-me outra vez, por que você terminou com ele? A razão
exata.

Meus olhos caíram para a mesa.

— Ele não é um investidor. É um traficante de armas.

— Ele disse grandes carregamentos e é complicado e vende


armas militares e metralhadoras?

— Sim.

Ela tossiu uma risada.

— Ele não é um traficante de armas. É um contrabandista de


arma.

— Huh?

— Ouvi meu pai e Philly Pete falando de um cara. Um


contrabandista de arma. Foi um tempo atrás. Contrabandista
trazem as armas e as vende para as pessoas. Como exércitos
independentes e outras coisas. Pessoas que se destacam contra o
governo, ou talvez, contra pessoas como Saddam Hussein ou
qualquer outra coisa— ela disse, emocionada.
THE GUM RUNNER
— Traficante de armas, contrabandista de arma. Tanto faz.

Michelle passou os dedos pelo cabelo grosso e sacudiu-a como


algo estivesse deixando-a louca. — Você está me dizendo que é por
isso que você terminou? Por que ele vende armas? Eu acho que é
sexy. Faz dele um cara durão.

Às vezes, Michelle era impossível. Eu olhei de volta para ela. —


Com licença? Elas são armas pesadas.

— De acordo com você — ela bufou.

— Elas são ruins. Será que você não me ouviu? São como as
armas que aquelas duas crianças usaram quando atiraram na
escola. Quando Paul morreu. Lembra?

Ela suspirou.

— Eu lembro. Aquelas crianças eram malditos demônios,


Tee. Odeio soar como uma cadela, mas não foi culpa da arma. Eles
disseram no noticiário, que aquelas crianças matavam animais
quando eram pequenos. Iam a psiquiatras desde que tinham dez.

— Michael vende armas pesadas. São as mesmas armas que


mataram meu primo. Elas são ruins. Ele é ruim.

— Diga isso para as pessoas que precisam delas — ela disse


com uma risada.

Não podia acreditar nos meus ouvidos.

— Quem precisa de armas assim?


THE GUM RUNNER
Michelle inclinou a cabeça para o lado.

— Cada chefão, soldado ou associado sob o seu pai, eles


precisam.

Forcei um suspiro.

— Você sabe como me sinto sobre isso.

— Você diz isso. Mas pare para pensar que dirige uma Mercedes
Benz. Usa esse anel. Vive em um condomínio fechado. Fundo de
investimento, amor. Pode falar o que quiser, mas você não tem um
emprego. De onde o dinheiro vem, Tee? Você é uma princesa da
máfia.

— Nós não estamos falando de meu pai. Estamos falando de


Michael. Você perguntou por que nós terminamos e eu te disse.

— Se quiser enfiar a cabeça na areia. OK. Toda a razão porque


você estava com ele, em primeiro lugar, é porque ele era um cara
durão. Agora, ele mostra que é um verdadeiro cara durão e você
foge?

Eu queria simpatia, mas estava sendo criticada. Senti-


meenjoada.

— Eu acho que ele negocia morte — eu disse. — E não posso ...


eu só ... se soubesse no início, eu nunca teria ...

Meus olhos se encheram de lágrimas.

Percebi que precisava de Michael para simplesmente


THE GUM RUNNER
sobreviver.

Não havia nada que alguém pudesse fazer ou dizer para me


convencer de que ele estava fazendo algo que não era prejudicial.

Não sobrou outra alternativa senão viver sem Michael.

E isso me matava.
THE GUM RUNNER

Michael

Foi uma semana desde a noite. Eu esperava Agrioli honrar seu


compromisso comigo após o resgate de seu filho da máfia
búlgara. A seu pedido, concordei em encontrá-lo para o almoço em
um restaurante de sua escolha. Ao entrar, fiquei chocado ao ver
Agrioli e mais um rosto familiar no que parecia ser um almoço de
celebração de algum tipo.

Todo o restaurante estava vazio de clientes, com a exceção de


nós. Tomei um gole de vinho e olhei para os homens sentados ao
redor da mesa.

Não havia muito na vida que me deixasse desconfortável, mas


eu não estava exatamente à vontade compartilhando um copo de
vinho com os senhores da máfia italiana da cidade.

Depois de nos reunimos em uma grande mesa redonda


posicionada no canto da sala de jantar, Agrioli se levantou,
deixando-me e os outros quatro homens sentados à mesa. Eu
vacilei um pouco quando ele chegou para mim.

— Este homem. — Deu um tapinha no meu ombro. — Um


homem de honra.
THE GUM RUNNER
Quatro respectivos chefes balançaram a cabeça lentamente.

Ele acenou com a mão para os quatro homens.

— Estes homens são minha família. Minha força. Para mim, eles
tomam decisões. Boas decisões. Mio Capos. Meus capitães.

Ele apontou para o homem de terno listrado que tinha me


visitado em meu escritório.

— Jimmy Cupcake.

Cupcake assentiu.

Ele inclinou a cabeça para o próximo homem à minha direita.

— Little Frank. Outro aceno.

— Gino.

Uma saudação meia-boca seguido de um aceno.

— Mad Sal.

Mad Sal levantou a taça de vinho.

Little Frank e Mad Sal pareciam versões mais antigas do


Cap. Pouco acima do peso e talvez vinte anos mais velhos, mas
eles permaneceram intimidantes principalmente devido ao seu
tamanho. Seus rostos me diziam que eles não eram amadores.

Eles eram os capitães da máfia. O tipo de homem que eu


suspeitava que cortava dedos, assassinava pessoas através de
janelas de carro abertas ou andavam em um restaurante e
THE GUM RUNNER
alvejavam todo o lugar em pedaços apenas para buscar o único
homem que eles estavam atrás.

Depois disso, era evidente que celebrariam com um prato de


massa.

Não tinha idéia do que fazer ou dizer, então dei um aceno,


adequado para qualquer nacionalidade, religião ou origem étnica.

— Cavalheiros.

— Este homem. — Agrioli apertou meu ombro novamente. —


Ele e seus homens, resgataram meu filho dos fodidos russos que o
raptaram.

Limpou a garganta.

— Os russos prenderam uma bomba em seu pescoço do meu


Peter. Este homem desarmou a bomba por si mesmo. Limpou o
Pequeno Peter, deu-lhe um terno e entregou-o para mim.

Os quatro homens assentiram em uníssono.

— Vinte milhões de dólares eles exigiram. Vinte milhões ...

Levantei minhas sobrancelhas em um esforço para expressar o


meu desagrado com as exigências dos Russos . Não porque achava
necessário, mas porque era o que acreditava que os quatro
homens em torno da mesa esperavam que eu fizesse. Tomei um
gole de vinho e troquei olhares com cada um dos homens.

— Figli di putanna— disse Agrioli. — O que eles conseguiram? A


THE GUM RUNNER
mão da morte.

Quatro taças levantadas. Olhei para Agrioli.

Cinco.

Eu levantei meu copo.

— Saúde!

Todos bebemos em honra a mão da morte.

Durante toda a semana passada, me senti como no inferno por


muitas razões, a principal era a ausência de Terra na minha
vida. Meus telefonemas e mensagens de texto tinham ficado sem
resposta, deixando-me a acreditar que ela estava falando sério com
sua afirmação de nunca querer me ver ou falar comigo novamente.

A outra coisa que me incomodou foi a minha decisão de tirar a


vida dos dois búlgaros. No momento, eu senti que não tinha
escolha. Se a bomba tivesse sido detonada, remotamente por
qualquer um deles, todos nós teríamos morrido. E negociar com
eles não era uma opção.

Tal como aconteceu em cada vez que eu tive de tirar a vida de


outro homem, a decisão foi tomada prontamente e somento
quando minha vida ou a vida dos homens que eu era responsável
a proteger estavam em jogo.

No entanto, sempre me sentia arrependido depois.

A expressão de gratidão de Agrioli me fez sentir melhor sobre a


minha decisão. De uma maneira
THE GUM RUNNER
estranha, o seu apreço deu um propósito ao ato.

— Hoje e em todos os dias no futuro. — Agrioli apertou meu


ombro. — Você vai ser conhecido como um Giovane d'Onore . Um
homem de honra.

— Saúde!

Todos bebemos.

Agrioli sentou-se.

— Nós o consideramos membro desta família, por


associação. Tudo o que precisar. — Ele apontou para o grupo de
homens sentados diante de mim. — Você pede a família.

Humildade me encheu. Culpa logo em seguida.

Na herança de Agrioli, família era muito importante e ele tinha,


de alguma forma, encontrado uma maneira de me incluir na
sua. Um homem, que tinha detestado, me fez sentir como se
estivesse envolvido em algo maior do que a vida como eu conhecia.
Mas tão atraente quanto fosse ter uma imitação de família, não
conseguia me convencer que a máfia fosse onde precisaria me
abrigar.

Nós permanecemos no restaurante por mais de uma hora,


falando, bebendo e contando histórias de amigos, família e nossa
devoção a ambos. Eu não poderia oferecer muito além das minhas
histórias de meus irmãos marinheiros alguns dos quais eram
agora os meus funcionários.
THE GUM RUNNER
Parecia haver um consenso entre os homens. Embora nenhum
deles me conhecia e apenas dois deles já tinham me visto
anteriormente havia uma certa tristeza expressa em cada um
deles quando perceberam que não tinha família.

Eles insistiram que eu tinha uma nova família. Um grupo de


homens em quem poderia me apoiar em momentos de
necessidade. Asseguraram-me, como indivíduos e como um grupo
que dariam qualquer coisa que sentisse que precisava para
sobreviver como um contrabandista nas ruas de Kansas City e no
exterior.

A conversa logo migrou para as negociações de armas, outras


facções da máfia italiana e de potenciais futuras encomendas para
seus irmãos italianos necessitados.

Quando nos separamos, recebi algo de cada um dos homens


que eu não esperava. Um abraço.

Preenchido com uma sensação incomum de calor entrei no meu


carro. Sentei-me por vários minutos e mentalmente digeri o que
tinha acontecido, o que aconteceria se qualquer coisa em minha
vida tivesse mudado e o que o futuro reservava para mim.

Ao fazê-lo, percebi independentemente da oferta de Agrioli, eu


teria que passar a noite sozinho.

E o calor logo desapareceu.

***

Cap cruzou os braços na frente do peito e olhou para mim


THE GUM RUNNER
em aparente descrença por um momento.

— Você está brincando? Ele disse exatamente isso?

— Sim. Ele também disse 'um homem de honra' e um membro


da família por associação ou algo parecido.

— Você não assiste TV, mas eu assisto. Eu vi a porra


dos Sopranos , ele fez de você um associado.

Tomei um gole de cerveja e tentei agir como se não me


importasse. Parte de mim, no entanto, fazia.

— Sim e daí?

Ele balançou a cabeça e pegou sua cerveja.

— Vamos apenas dizer que não estaremos tendo mais


problemas com a máfia.

Achei reconfortante que tudo na minha vida de negócios


aconteceria sem preocupações.

— Voltar ao normal é bom.

Cap se inclinou e apoiou os antebraços na borda do bar.

— Sim, exceto pela menina. Agora o que diabos você vai fazer
sobre isso?

Senti-me vazio e fraco. Gostaria que houvesse uma maneira que


pudesse consertá-lo, mas não tinha. Eu não era o tipo de cara
para ir contra a sua vontade ou sua exigência de deixá-la
THE GUM RUNNER
sozinha e eu realmente não queria falar a Cap sobre como me
sentia sobre ela.

Terminei a minha cerveja e fui até a geladeira.

— Não posso fazer mais nada.

— Com certeza pode, porra!

Abri a garrafa e joguei a tampa e a outra vazia no lixo. Demorei


ali por um momento, fora da vista do Cap e pensei.

— Ela me pediu para deixá-la sozinha.

— Sim. Mas quer saber, caralho? Minha namorada da escola me


pediu para não tocar em sua bunda, também. Mas eu fiz. E sabe
de uma coisa? Ela gostou. As mulheres não sabem o que querem.
O que dizem e o que querem são duas coisas diferentes. Lembre-se
disso. Palavras de sabedoria do Cap.

Ri um riso leve e caminhei ao redor da borda do bar.

— Então Terra realmente quer que eu fale com ela?

Ele apontou a boca da sua garrafa de cerveja para mim.

— Bem, certamente preferiria que você tivesse sido honesto com


ela desde o início, o meu palpite é que ela se sente como se tivesse
sido enganada. Agora está envergonhada e magoada. Terra quer
uma explicação porra e um pedido de desculpas.

Fiquei chocado em estar ouvindo lições de vida de Cap. Não


sabia que tinha isso nele.
THE GUM RUNNER
— Quando você ficou tão inteligente sobre as mulheres?

— Netflix, filho da puta. Comédias romanticas, toda porrada


deles lá. Te ensina muito sobre a vida também — ele disse com um
aceno de cabeça.

— Bem, com comédia romantica ou não, eu tentei ligar e


mandar mensagem. Não houve resposta em qualquer um. Ela não
quer falar.

Parecia que eu o tinha insultado. Ele afastou-se do bar e franziu


a testa.

— Você é um idiota insensível. Uma mensagem? A mulher que


ama te deixou e você enviou-lhe uma mensagem, porra?

Cap levantou seu dedo indicador como se tivesse uma idéia.

— Talvez devesse comprar-lhe uma caixa de chocolates.

Parecia bastante razoável.

— Poderia fazer isso.

— Estava brincando. Por ser um homem tão inteligente, às vezes


você é um filho da puta idiota Tripp.

Ele se virou, pegou outra cerveja da geladeira e jogou a vazia no


lixo.

— Ela não quer chocolate. Ou a porra de uma mensagem de


texto. Você sabe, noventa por cento dos problemas nesta terra
poderiam ser corrigido se pudéssemos voltar o relógio para
THE GUM RUNNER
1860. Se um homem estupra uma mulher hoje, metade das
vítimas não depõem por medo do homem bater em seus traseiros e
os malditos idiotas andam livre. Naquela época, enforcavam os
bastardos. Se começarmos a fazer isso com os estupradores nas
escadas do tribunal, eu aposto que parava esse merda. — Ele
tomou um longo gole de cerveja.

— Sabe o que mais, Tripp? De volta em 1860, não havia tal


coisa como uma mensagem de texto ou um telefonema. Se
quisesse resolver algo, você falaria cara a cara. Aqui está a minha
sugestão. — Ele levantou a garrafa de cerveja. — Dar um passo
atrás no tempo.

— Ir vê-la?

—Sim, imbecil. Vá vê-la. Ainda bem que me tem como amigo,


sério.

— E dizer o quê?

— Começaria em como eu sinto muito.

— Eu posso fazer isso.

Depois de alguns longos segundos olhando para mim, ele jogou


suas mãos no ar.

— O quê? — Perguntei.

— Vou trancar tudo quando sair — disse ele.

— São oito horas da noite. Você acha que eu deveria ir


THE GUM RUNNER
agora?

Cap limpou a garganta

— Você a ama?

Minha resposta foi imediata.

— Amo.

— Vou trancar tudo quando sair. — disse ele.


THE GUM RUNNER

Terra

Olhei para o teto. Isso me lembrou da noite que Michael e eu


conversamos sobre a definição de fazer amor. Rolei para o meu
estômago e virei minha cabeça para o lado. Isso me lembrou de
como o encorajei a deitar-se de conchinha comigo.

Peguei um dos travesseiros, os coloquei entre os joelhos e tentei


ficar confortável.

Em vez de conforto, senti como se estivesse prestes a chorar.

Na semana que se passou desde que Michael e eu terminamos,


eu tinha dormido pouco, comido nada e bebido álcool apenas o
suficiente para reduzir a dor no meu coração e mente . No entanto,
nada pareceu fazê-la desaparecer.

Por mais que soubesse que sua mentira nos levou para os
problemas que causaram a nossa separação, ainda sentia uma
tremenda culpa por não lhe dizer quem eu realmente era. Embora
dissesse a mim mesma que o segredo que estava escondendo de
Michael era minúsculo em comparação ao dele, me perguntava
qual parte da dor que sentia era um resultado da minha culpa por
não ter sido completamente verdadeira.
THE GUM RUNNER
Mais e mais eu desejei que tivesse lhe dito quem realmente era
antes de descobrir sobre seus negócios com armas. Agora eu
nunca teria a chance e a culpa estava me matando lentamente. Se
aprendi alguma coisa através de toda a dor, foi o valor de ser
honesta com a pessoa que se ama.

E eu o amava profundamente.

No período de tempo que tínhamos estado separados percebi


que o meu amor por Michael era real. A dor que sentia era a
confirmação de que a expressão do meu amor enquanto estávamos
juntos não tinha sido simplesmente uma ilusão ou um desejo
ganancioso.

Uma vez o amor da minha vida era real. E ele se foi.

Uma batida na porta me assustou. Sentei-me na cama, me


convencendo de que era outra coisa e quase imediatamente, ela
veio novamente. Eu sai da cama, caminhei até a porta e espiei pelo
olho mágico.

Michael estava na minha porta. Minha garganta se


contraiu. Minha boca ficou seca. Olhei novamente. No mesmo
instante, a dor aumentou para um rugido quase paralisante.

— O que eu te disse? Vá embora!

— Quero pedir desculpas — disse ele.

Não havia nada que ele pudesse dizer. Eu queria que a dor
chegasse ao fim e vê-lo não estava ajudando. Falar com ele só iria
piorar as coisas.
THE GUM RUNNER
— Eu não estou disposta a ouvir.

— Terra ...

Limpei as lágrimas.

— Vá. Embora. E, não volte. Por favor, tenha alguma decência e


não me faça pedir de novo.

Olhei pelo buraco. Com meus olhos pressionados contra a


porta, eu observei sua imagem distorcida desaparecer.

E orei para que fosse a última vez que o visse.


THE GUM RUNNER

Michael

Sentei-me em um café moderno a alguns quilometros de meu


escritório e bebi uma xícara de café. Convencido de que eu nunca
iria amar ou ser amado novamente, tentei encontrar um novo
caminho para seguir, que me permitisse viver sem Terra e ainda
manter um certo grau de sanidade. Tinha sérias dúvidas de que
fosse capaz de viver no mesmo lugar em que ela vivia sem ela em
minha vida e não ficar louco.

— Então você acha que ela foi embora para sempre? —


Perguntou.

— Esse é o problema. Ela não se foi. Ela vive cinco a minutos


daqui. Mas, se está fora da minha vida? Temo que sim.

— Cara. Isso é péssimo.

— Com certeza.

Um garoto magro e cabeludo recem formado no ensino médio


compartilhava uma mesa comigo. A cafeteria era cumprida,
estreita e cheia de pessoas. Duas dúzias de mesas altas alinhadas
na parede em uma única linha, a partir da entrada para a parte
traseira do estabelecimento. Cheio de
THE GUM RUNNER
adultos, garotos em idade de faculdade e adolescentes, o lugar era
uma mistura eclética do que os subúrbios de Kansas City tinham
para oferecer.

Ele levantou os olhos de seu bloco de desenho e empurrou o


cabelo longe de seus olhos.

— Sem chance de tê-la de volta?

— Acho que não. Ela não quer nem falar comigo.

— Tipo, de maneira alguma?

Eu balancei minha cabeça.

— De maneira alguma.

— Cara. As mulheres podem ser tão difíceis.

— Eu que o diga.

Ele continuou a esboçar enquanto bebia o meu café, olhando de


vez em quando, mas não realmente prestando atenção em
nada. Parecia estar recolhendo informações, mas em pequenos
pedaços.

— Quantos anos você tem?

— Perguntei.

— Dezenove— ele respondeu sem olhar para cima.

— Eu comecei a escola atrasado. Você?


THE GUM RUNNER
— Vinte e nove.

Ele continuou a desenhar no seu bloco.

— Legal.

Levei minha mente para o meu décimo nono aniversário. Eu


estava no Iraque havia três semanas, era jovem e com medo, mas
pela primeira vez na minha vida senti que era uma parte crucial de
algo. Minha existência era necessária. Estava convencido que os
Estados Unidos seria um lugar melhor comigo lutando por sua
liberdade.

Pelo menos era isso que disse a mim mesmo.

Dez anos mais tarde, me perguntava se este era o caso.

— O que você pretende fazer? — Perguntei.

Ele olhou para cima.

— Sobre o quê?

— Com sua vida.

O menino começou a esboçar novamente.

— Dificil dizer. Vou pensar nisso só depois do verão.

— Faculdade?

Enquanto escrevia, ele riu.

— Não posso pagar.


THE GUM RUNNER
— Tem uma namorada?

— Não mais.

— Se importa se eu perguntar?

Ele cuidadosamente colocou o lápis ao lado de seu caderno,


passou os dedos pelo cabelo grosso e removeu um cigarro
eletrônico de sua bolsa de couro. Depois de algumas tragadas
longas ele exalou uma enorme nuvem de cheiro doce para o ar e
suspirou.

— Voce fuma?

— Claro que não.

— Tem alguma coisa contra as pessoas fumarem?

— Não.

— Bem, eu fumo. E ela não gostava. Nós discutimos sobre isso o


tempo todo.

Inclinei a cabeça em direção ao cigarro eletrônico.

— Você quer dizer aquela coisa?

— Não fumar. Você sabe, maconha.

Tentei agir indiferente.

— Oh sim.

— Bem, ela veio um dia e eu estava fumando e simplesmente


perdeu o controle. Disse que estava
THE GUM RUNNER
fora. Era isso. Ela se foi. É uma droga, mas o que vou fazer?

Ele tomou outra tragada no cigarro e soprou a vapor em seu


colo.

— Você pensa em desistir da maconha?

Ele balançou a cabeça e riu levemente.

— Não estou interessado.

— Não gosta dela tanto assim?

— A amava. Mas ela sabia que eu fumava quando nos


conhecemos. Costumávamos sair o tempo todo e eu estava sempre
fumando. Ela ficou cansada disso e queria que mudasse.

— Isso é uma merda. — eu disse.

Ele balançou sua cabeça.

Ele deu outro sopro de sua fumaça e começou a desenhar


novamente. Considerei a minha situação com Terra e me
perguntei se ela tivesse me dado um ultimato o que eu teria
feito. Minha resposta não veio imediatamente e isso me
surpreendeu.

Eu sabia que não só a amava, mas que amava totalmente e


completamente. No entanto, me convencer a mudar quem era ou o
que acreditava, não era fácil.

Terminei meu café em alguns pequenos goles conforme


continuava a pensar em Terra, minha profissão escolhida e o
THE GUM RUNNER
que tinha acontecido entre nós. No final, decidi que minha
desgraça com ela foi o resultado de não ser honesto desde o início.

Se eu tivesse dito a ela o que fazia no dia em que nos


conhecemos, talvez Terra teria escolhido simplesmente apertar a
minha mão e andar para longe.

Terminei o meu café e fiquei no meu assento convencido de que


nós somos o que somos e que mudança nem sempre é uma
opção. Aceitação era a chave, e para mim tentar ser alguém, ou
algo, que não era, realmente seria uma mentira.

Se concordasse em mudar, eu não seria fiel a mim mesmo.

— Obrigado pela companhia — eu disse com um aceno de


cabeça.

Ele olhou para cima, sorriu e rasgou a folha de papel de seu


caderno.

— Aqui — disse ele, entregando-me o desenho.

Estudei o esboço. Um desenho estilo revista em quadrinhos com


duas pessoas, um homem e uma mulher, cada um segurando
partes de uma vara quebrada. Uma nuvem sobre o centro, entre as
duas extremidades da vara, tinha a palavra pressão!, indicando
que a vara tinha quebrado em dois.

A mulher segurava claramente o maior pedaço da vara.

Sacudi a folha de papel na minha mão e encontrei seu olhar.


THE GUM RUNNER
— Isso não é a verdade.

Ele limpou o cabelo do rosto e sorriu.

— Cara...

fui embora sabendo que ficar sem Terra estava me matando,


mas para me ter em sua vida, ela teria de aceitar quem eu era. Se
não pudesse, simplesmente teria que morrer sozinho. Sozinho, e
fiel a mim mesmo.
THE GUM RUNNER

Terra

Eu decidi ficar com meus pais por um tempo e esperava que


isso ajudasse a me recuperar da separação com Michael. Ficar
sozinha estava me deixando doente. Tudo na minha casa me
lembrava dele e embora eu não tivesse garantias de que seria
melhor estar com os meus pais, pelo menos não estaria sozinha.

Carreguei minha mala no carro, fechei o porta-malas e me virei


para pegar o resto das minhas coisas.

— Onde você vai?

Eu levantei minha cabeça.

Cap.

Parado no meio da calçada com os braços cruzados na frente do


peito e os pés grandes espalhados, parecia que não ia me deixar
sem responder. Passar sobre ele não era uma opção.

Lutei para engolir e inclinei a cabeça para o fundo das


escadas. Minha resposta foi assim como eu. Fraca.

— Para dentro.

Ele apertou suas mãos sobre os quadris e balançou a cabeça


THE GUM RUNNER
como se revoltado com a minha resposta.

— Jura, Sherlock? Eu quis dizer onde você estava indo com o


carro. E sendo sincero, você parece uma merda bebada.

Seus olhos caíram para os meus pés, em seguida, subiram


lentamente pelo meu corpo debilitado. Quando ele encontrou meu
olhar, levantou uma sobrancelha.

— Quando foi a última vez que você comeu?

Não conseguia lembrar, então não disse nada.

— Vou tomar isso como um não tenho certeza.

— A última vez que você dormiu?

— Noite passada.

Ele riu.

— Não parece.

Queria que me abraçasse e dissesse que ia ficar tudo bem, mas


ele não tinha oferecido e eu não tinha certeza do protocolo. Tentei
sorrir, mas duvido que qualquer coisa notável aconteceu.

Ele virou-se de costas.

— Suba.

— Hum?

— Suba. Pule nas minhas costas e eu vou te levar até as


THE GUM RUNNER
escadas. Parece que você vai desmaiar.

Não conseguia me lembrar da última vez que tive uma carona


nas costas. O pensamento só me fez sorrir. Subi em suas costas e
o direcionei para a porta.

Ele baixou-me para o sofá e olhou ao redor da casa.

— Bela casa.

— Obrigada.

— Tem algum pão?

Parecia uma pergunta estranha.

— Claro — respondi. — No armário no canto esquerdo.

— Carne ou queijo ou pasta de amendoim? Você tem merdas


como essas aqui?

Não conseguia me lembrar da última vez que tinha ido para a


loja. Fiz um inventário mental do que eu sabia na geladeira. —
Uhhm. Há presunto, salame, queijo ...

— Isso vai dar. Estarei de volta em um minuto. Você senta lá.

Poucos minutos depois ele voltou com dois sanduíches.

— Aqui, coma isso.

— Oh, eu não estou realmente ...

— Você vai comer ou eu vou socá-lo para baixo da sua


THE GUM RUNNER
garganta. Você escolhe.

Eu ri.

— Vou comer.

— Tudo o que você tem na geladeira é água. Você quer uma


garrafa ou devo servir em um copo?

Fiquei surpresa com a pergunta

— Copo, por favor.

Ele me trouxe um copo de água e um guardanapo e sentou-se


ao meu lado. Silenciosamente, comemos os sanduíches juntos. Vê-
lo parecia trazer um pouco de vida para mim. Tenho certeza de
que a comida ajudou. Quando terminamos, ele levou os pratos
para a cozinha e encheu o meu copo.

— Você provavelmente pode adivinhar por que estou aqui.

— Cap, eu realmente não quero ...

Ele limpou a garganta.

— Pare de falar. Eu sei que é grosseiro dizer, mas eu não quero


ouvir sua merda agora. Vou falar e você vai ouvir. Primeiro de
tudo, Tripp não sabe que estou aqui. Ele não me pediu para vir e
não acho que qualquer um de nós precisa dizer a ele que eu fiz.

Eu sabia que era melhor não argumentar, então concordei.

— OK.
THE GUM RUNNER
— O homem que você conheceu naquele dia no estacionamento
no Starbucks, aquele que chutou a merda daquele cara sem você
pedir por ajuda. Você se lembra daquele cara, certo?

Suspirei.

— Sim.

— Bem, isso é Tripp. Ele entra na briga onde outros homens vão
virar e fugir. É apenas quem é.

Ele tomou um gole de água e fixou os olhos na parede


distante. — Tínhamos ordens para retomar esta pequena aldeia de
merda da Al-Qaeda. Eles estavam matando civis e causando
estragos nessa cidade empoeirada de merda. Então, estavamos
marchando pela rua e era tão silencioso quanto a morte. De
repente, morteiros inimigos começaram a vir e os edifícios estavam
explodindo de cada lado de nós. Tiros de todas as fodidas direções,
fumaça tão espessa que você não conseguia respirar e chamas tão
altas que queimava a distancia. Todo o caralho de pelotão parou
quando aconteceu.

— Ninguém queria avançar para essa merda. Nós não


estávamos apenas caminhando para o inferno, nós estavamos indo
para uma morte inegável.

— Tripp? Esse filho da puta se manteve andando. Agiu como se


não se importasse. Balas voando, bombas explodindo e ele
continuava andando, era como uma máquina. De vez em quando,
ele disparava uma rodada, eliminando mais um maldito maldito da
Terra.
THE GUM RUNNER
— Então estamos todos de pé e olhando, sabendo que se
continuassemos iríamos ser mortos. Tripp? Ele olhou por cima do
ombro chocado que ninguém estava atrás dele. E então ele se
virou e bam!

— Ele levou um tiro. Girou ao redor e desabou no chão. Inferno,


pensei que estava morto. Corri até lá e levantei-o. Tripp não me
deixou pedir um socorrista. Você sabe, um médico, queria
continuar lutando. A bala atravessou seu braço, mas ele não se
importava, insistiu para que eu ficasse quieto e o deixasse lutar
até que a cidade fosse segura para os civis retornarem. E fez
exatamente isso. Perdeu tanto sangue que aquele maldito quase
morreu. Mas nós ganhamos a batalha. Quando perguntei por que
não desistiu, disse: 'Eles estavam matando mulheres e crianças,
Cap. Nós éramos a sua única esperança.' Sabe, eu pensei sobre
isso por um longo tempo. Não o conhecia muito bem naquela
época, mas isso? Isso aí. Isso é Tripp. E esse foi o dia em que
decidi que eu realmente gostava dele. Você sabe, o que
representava.

Eu tinha prendido a respiração o tempo todo enquanto Cap


falava. Limpei as lágrimas na parte de trás da minha mão e
respirei lentamente, grata que ele ainda estava olhando para longe.

— Tripp sempre faz o que acha que é certo e nunca faz nada que
acha que é errado. O mundo inteiro pode estar contra, mas ele não
se importa. Ele vai se levantar contra qualquer um ou todos, se
achar que é o certo. Agora, acho que precisamos conversar sobre
algumas coisas que eu realmente não deveria falar. Mas vou. Quer
THE GUM RUNNER
saber por quê?

Limpei o que restava das minhas lágrimas. Ele olhou para mim
e esperou. Encontrei seu olhar e assenti.

— Sim.

— Vi vocês dois juntos e isso me faz sentir bem. Tripp não tem
família e realmente nunca teve uma namorada. Pessoas assim não
precisam disso, pois são uma distração. Mas ele se apaixonou por
você e eu nunca o vi mais feliz. Agora? Quando olho em seus olhos
vejo um buraco. Ele está oco por dentro. Como se alguém tivesse
roubado sua alma. Deixa-me louco pensar que vocês dois são
perfeitos um para o outro, mas são muito teimosos ou muito
burros para tentar resolver as coisas.

Tinha ouvido o suficiente. Não estava sendo teimosa e não era


burra.

— Espere um minuto. Eu...

— Não, você espere um minuto — ele estalou. — Você terá sua


chance em breve. Deixe-me terminar.

— Mas...

Ele riu.

— Mas nada.

Cruzei meus braços sob meus seios e o olhei.

— Tudo bem— Eu bufei.


THE GUM RUNNER
— Quando vocês se conheceram Tripp disse que era um
investidor. Bem, ele é. Investe em libertar as pessoas da tirania,
opressão, abuso e abate. Vende armas sob o radar sim, mas não
as vende a qualquer um. Não vai vender a um traficante de drogas
ou um cartel. Mas vai a um grupo que irá usá-las para lutar por
algo que acredita que é bom. Pode até ser ilegal, mas se Tripp
acredita nele, que assim seja. Não vou mentir para você, ele vende
carregamentos, mas sempre a alguém que acredita que precisa
deles. E faz muito dinheiro com isso.

Cap não tinha dito nada que mudasse minha mente, mas me
sentia um pouco melhor sobre o que Michael estava envolvido. Na
minha opinião, armas de fogo e metralhadoras ainda eram do mal
e eu duvidava que qualquer pessoa pudesse me convencer do
contrário.

— Acredito que ele não lhe contou sobre o que fazia em


detalhes, porque não é algo que alguém normalmente faria, pelo
menos não no início. O conheço bem o suficiente para dizer que
em algum momento teria lhe dito. Você acabou por descobrir antes
de ter uma chance.

Limpei a garganta áspera.

— Vocês não iam fazer nada de bom naquele dia, não me


importo com o que ele disse. Seus rostos estavam pintados e todos
vocês tinham metralhadoras.

Ele levantou seu dedo indicador. — E esta é a parte em que vou


ter que dizer uma coisa que não deveria. Vou dizer-lhe o que
estávamos fazendo quando você apareceu.
THE GUM RUNNER
Mas, preciso que você me faça uma promessa. Você tem que
prometer que isso fica entre nós. Para sempre. Não importa se ele
nunca te contar, ou qualquer coisa. Se ouvir alguma coisa disto no
futuro, tem que agir chocada. Como se não tivesse ouvido isso de
mim. Só estou te dizendo isso porque acho que vai fazer a
diferença.

Eu sabia que nada poderia mudar minha mente, mas estava


curiosa para ouvir a verdade, então concordei.

— OK. Prometo.

Cap estendeu a mão.

— Tenho que sacudi-la.

Então apertei sua mão.

— Bem.

— Se você quebrar essa promessa ...

— Não voltarei atrás na minha palavra — Respondi. — Sou


italiana.

Ele tossiu uma risada.

— Eu também, mas não diga a Tripp.

Fiquei chocada que Cap era italiano, ainda mais por ele pedir
para não contar a Michael.

— Por quê?
THE GUM RUNNER
— É uma longa história— disse ele. — Você está pronta para a
verdade?

— Por favor.

Ele inalou uma respiração profunda, exalou e começou. — Uma


figura conhecida nesta cidade se aproximou de Tripp alguns dias
antes da noite em que nos viu. Seu filho havia sido sequestrado e
foi feito refém. Eles exigiram um resgate muito além do que o
homem poderia pagar e ele foi assegurado de que se não pagasse
dentro do prazo, matariam seu filho. Eu estava no escritório de
Tripp na noite quando o cara entrou pedindo por ajuda e nós
concordamos em trazer seu filho de volta.

Esperei que dissesse que estava brincando, mas ele nunca


disse.

— Nós estávamos correndo contra o relógio. É por isso que ele


não teve tempo para explicar. Acho que vou te dizer o resto, agora
que comecei.

Seus olhos caíram para o colo e passou os dedos através do


cabelo cortado bem curto. Depois de um suspiro pesado,
encontrou meu olhar.

— Chegamos ao cara sequestrado e ele tinha uma bomba


amarrada ao seu pescoço. Uma bomba grande o suficiente para
explodir todos nós ao juízo final. Agora, não há um monte de
homens que aceitam resgatar uma vítima de sequestro. E, há
muito menos que o faria contra os filhos da puta loucos que
estavamos enfrentando. Mas encontrar alguém que iria
THE GUM RUNNER
assumir o risco e tentar desarmar a bomba? Sim, essa é uma
pergunta difícil.

Senti como se tivesse engolido um punhado de areia. Minha


garganta estava apertada, minha boca seca e meu coração
acelerado. Lembrei-me de que eu tinha um copo de água, e tomei
um gole.

— O que aconteceu? O filho do homem morreu, não foi?

— Claro que não. Tripp nos fez procurar um abrigo e insistiu


em ficar e ajudar a desarmar a bomba. Levou o garoto para casa
com ele, o limpou, deu-lhe um de seus ternos e entregou-o a seu
pai.

— Oh meu Deus— eu engasguei. Olhei para minhas mãos


trêmulas. Eu tinha imaginado vários cenários do que poderia ter
acontecido naquela noite, mas nunca teria sonhado que era
qualquer coisa como o que Cap havia descrito.

— Agora. As armas pelas quais você ficou louca? As


metralhadoras, como você as chama? Essas mesmas armas são as
que salvaram a todos nós, aquele garoto incluído, de ter sido morto
naquela noite.

Era quase demais para compreender. Gostaria de saber quem


era o menino e quem era o homem. Um senador, juiz ou
congressista, eu supunha. Eu tinha tantas perguntas.

— Oh meu Deus, isso é tão louco — disse com entusiasmo. —


Eu tenho uma tonelada de perguntas.
THE GUM RUNNER
— Se é sobre aquela noite, a resposta é não. Já lhe disse tudo
sobre aquela noite. Nem uma palavra disso é mentira e eu não
escondi nada. Mas, nós acabamos de falar sobre isso. Isso nunca
vai ser discutido novamente.

— Mas...

— Sem mas sobre isso. Eu tenho só mais uma coisa a dizer e


vou embora.

Ele se levantou, virou-se e cruzou os braços na frente do seu


peito enorme.

— Os pais de Tripp morreram quando ele era criança. Cresceu


sem uma família, mas não desistiu. Ainda com dezoito anos de
idade foi para a guerra. Dois países, um milhão de inimigos e um
par de ferimentos a bala depois, ele voltou. Mas nada disso o
matou. Dez fodidos anos de inferno. Eu o vi em lugares que
ninguém no seu perfeito juízo iria e contra os inimigos que
nenhum homem jamais iria querer lutar. Mas Tripp viveu por tudo
isso. E, em seguida, surgiu esta pequena moça italiana.

— Ele ama você Terra. Mais do que provavelmente ama a si


mesmo. E você? Depois de tudo que viveu, você o está
matando. Ele está morrendo agora, posso ver. E ver isso está me
matando.

Meus olhos começaram a encher de lágrimas.

— Você ama ele? — Perguntou.

— Eu ... o amo.
THE GUM RUNNER
— Vá dizer a ele — disse. E se afastou.

Amar Michael era fácil. Tudo o que tinha a fazer era


existir. Ficar sem ele em minha vida, no entanto, era impossível.

— Cap! — Gritei.

Ele estava na porta da frente, pronto para sair. Ele olhou por
cima do ombro.

— Sim?

— Você pode me ajudar a carregar as minhas coisas de volta


para dentro?
THE GUM RUNNER

Michael

Cap limpou a garganta quando entrou no meu escritório.

— Sirva-me uma bebida. — Ele disse.

Estendi a mão para a pilha de uns sete centímetros de papéis


empilhados na minha mesa, depois tirei a mão.

— O que está acontecendo?

Para todos os efeitos, não tinha feito uma maldita coisa desde a
noite. Estava começando a me perguntar se algum dia chegaria a
ponto de me importar o suficiente para trabalhar novamente. A
minha mesa parecia uma zona de combate e tinham clientes que
estavam ameaçando ir para outro lugar se eu pelo menos não
retornasse suas ligações.

— Hora de uma bebida.

— Não está escuro ainda. — Olhei para fora da janela. Estava


apenas começando a anoitecer. — Não completamente, de
qualquer maneira.

Ele deixou-se cair na cadeira do lado oposto da mesa. Parecia


exausto. — Está escuro em algum lugar. E eu acabei com as AR-
15. Hora de celebrar.
THE GUM RUNNER
— Acabou? — Olhei por cima da pilha de papéis. —
Tipo acabou?

— Sim, filho da puta. Acabei. Temos quinhentas armas


montadas em caixas no galpão. Poderíamos armar um país
pequeno. Ou talvez a metade norte do Texas.

— Puta merda.

Ele balançou a cabeça em direção ao canto da mesa.

— Sirva-me um copo, pode ser?

O inventário no valor de um milhão de dólares, estava


finalmente concluído e pronto para enviar. Eu estava animado,
mas não da maneira que teria esperado. Abri a gaveta e olhei para
dentro dela, observando a garrafa de uísque comemorativo.

— Pode.

Uma leve batida leve na porta me assustou. Inferno, não tinha


sequer ouvido os passos. Convencido de que estava perdendo
minha força, minha cabeça e meu senso de consciência, olhei para
cima.

Terra.

Meu coração parou.

E, em seguida, começou a bater rapidamente. Ela estava


magnífica.

Seu cabelo estava solto sobre a frente dos ombros e seus


THE GUM RUNNER
olhos castanhos estavam cheios de esperança.

Ou talvez fossem os meus.

Ela estava usando um vestido preto, mas eu não podia afirmar


se era o que nós compramos juntos na Saks. Parecia tanto tempo
desde que a tinha visto usá-lo, tornando-se impossível afirmar.

Decidi que era.

Em volta do pescoço, o pingente de diamante pendurado pelo


colar que eu tinha comprado pelo nosso aniversário de dois meses.

— Posso entrar?

Pulei da minha cadeira e limpei as mãos nas coxas da minha


calça.

— Claro que sim. Entre, sente-se.

Cap levantou-se.

— Vou voltar mais tarde.

— Não. — Disse Terra. — Fique por um minuto, se você não se


importa.

Cap olhou para mim.

— Não me importo se...

— Tudo bem por mim. — Eu disse. — Sente.

Dei a volta na minha mesa e fiz sinal para a cadeira ao lado


THE GUM RUNNER
Cap.

— Sente-se.

Terra parecia incrivelmente... perfeita. A dor surda que parecia


encher-me pelas últimas semanas instantaneamente desapareceu
e foi substituída por um batimento cardíaco irregular.

Ela se sentou.

— Obrigada.

Era difícil não ficar parado de pé olhando e senti como se


estivesse fazendo exatamente isso. Arranquei meus olhos
admirados dela e fui até a minha cadeira.

— Então, como está indo?

Ela sorriu. Era suave, mas um sorriso, no entanto.

— Já estive melhor.

— Existe alguma coisa que eu possa fazer...

— Há sim. Preciso fazer algumas perguntas.

— Tudo bem. — Eu disse. — Qualquer coisa.

— Na noite em que entrei aqui. Você disse que era


complicado. Quero que você descomplique. Essa é a
palavra? Descomplicar?

— Simplificar. — Disse Cap.


THE GUM RUNNER
Olhei para ele e em seguida, movi meus olhos para ela.

— Acho que sim.

Ela suspirou levemente e cruzou as pernas.

— Então?

— Você quer que ele... — Inclinei a cabeça em direção a Cap.

— Sim. — Ela disse com um aceno. — Quero que ele fique.

Eu não tinha pensado sobre o que eu diria se me fosse dada a


oportunidade de falar com Terra sobre o incidente naquela noite,
ou sobre o meu negócio. Realmente acreditava que nunca teria
uma oportunidade, portanto, não tinha nada planejado para
responder. Queria um copo de uísque para acalmar meus nervos e
meu coração, mas decidi contra isso.

Basta dizer-lhe a verdade, Tripp.

— Antes de começar, quero dizer isso – eu gostaria de ter sido


franco desde o início. Porque apesar de me sentir como se tivesse
mentido para você, não lhe ofereci todos os fatos, tampouco. No
futuro, se houver um futuro, pergunte-me qualquer coisa que
tenha dúvidas e nunca mais irei mentir para você.

— Tudo bem. — Ela disse.

— Eu compro e vendo armas de fogo. Elas são normalmente,


mas nem sempre, armas de uso militar, mas em forma
civil. Vendo-as para quem acredito que precisa delas e ninguém
mais. São sempre compradores legais
THE GUM RUNNER
cumpridores da lei? Provavelmente não. Mas eles nunca são os
tipos de pessoas que vão atacar uma escola, cinema ou qualquer
coisa assim. A maioria, se não todas, são enviadas para fora do
país e usadas em outro lugar. Isso é no que invisto.

— Mais alguma coisa?

— Alguma coisa o que?

— Existe alguma coisa que você invista? Além de armas?

— Não.

— Certo. Eu sou um cara. Chamo você e digo que quero


comprar mil fuzis AK-47. Isso é uma arma, certo? Uma AK-47?

Perguntei-me se ela tinha feito pesquisa ou se odiava as armas


tanto que sabia suas designações.

— Sim. — Eu disse. — Essa é uma escolha comum de arma.

— Certo. Quero mil delas. Qual é a primeira coisa que você me


pergunta?

— Quem é você?

— Sou uma quadrilha vietnamita.

— Desculpe, não posso ajudá-lo.

— Sou um traficante de drogas mexicano.

— Desculpe, não posso ajudá-lo.


THE GUM RUNNER
— Sou um cidadão mexicano.

— Contra quem você vai usar?

— Contra quem? Vamos ver. A polícia da Guatemala é corrupta


e eles estão trazendo cocaína através de meu estado. Está um
desastre. Nós precisamos fazer algo sobre isso. Vamos matá-los ou
pelo menos tentar.

— Então, você está realmente lutando contra a polícia da


Guatemala?

— Si, señor.

Dei um pequeno sorriso de merda.

— Custa dois mil e quinhentos dólares cada. Onde quer que


sejam entregues?

— Dois mil e quinhentos dólares? Eu consigo elas na rua por


novecentos dólares.

— Compre na rua.

— Tudo bem. — Ela disse. — Agora sou eu de novo e não o cara


mexicano. Por quê? Por que acha certo eles lutarem contra a
polícia?

— Porque eles estão dispostos.

— Então você vai vendê-las a quem está disposto? Disposto a


lutar?
THE GUM RUNNER
— Não. Não vou.

— Não entendo.

— E eu não espero que você entenda. Nunca faço qualquer coisa


que acredite que seja errado ou que pode pôr a vida americana em
perigo. Essa é a minha regra.

— Então você decide quem é digno das armas e quem, não é?

— Isso mesmo.

— E entre algumas das pessoas para quem você vende pode


haver pessoas ruins?

— Talvez. Mas as armas serão usadas para algo que vai tornar o
mundo um lugar melhor.

— Em sua opinião.

— Isso mesmo.

— Então, de certa forma, você se senta em sua pequena cadeira


e brinca de Deus. O deus das armas?

— Acho que sim.

— Você não se importa que eu lhe chame disso? O deus das


armas?

— Não. — Disse com uma risada. — Na verdade, meio que gosto


disso.

— O que você estava fazendo naquela noite? Onde estava


THE GUM RUNNER
indo?

— Que noite?

— Sério? Que noite? Na noite em que vim aqui e peguei você e


seu pequeno grupo de vigilantes.

Olhei para Cap.

— Não olhe para ele. Responda-me.

Em minha visão periférica, vi Cap acenar uma vez.

— Eu estava indo resgatar um homem que estava sendo


mantido refém.

Ela deu uma risada sarcástica. — Então estava em uma missão


de resgate de reféns?

— Isso mesmo.

— E espera que eu acredite nisso?

Dei de ombros. — Provavelmente não.

— É a verdade?

— É.

— Você jura?

— Não juro. Eu lhe disse quando você entrou aqui que não iria
mentir para você. Fazendo as perguntas certas, sempre vai ter as
respostas certas. Estou falando a verdade. Estava indo resgatar
THE GUM RUNNER
um homem que foi sequestrado e sendo mantido como refém.

— Vocês tiveram sucesso?

— Sim, nós tivemos.

Ela virou-se para Cap e riu.

— Você fez parte desta missão de resgate de refém?

Aparentemente, ela ainda pensava que eu estava


brincando. Cap sentou-se em sua cadeira e apontou para o
uísque.

— Sirva-nos um copo.

Servi dois copos cheios. Terra limpou a garganta.

— Para mim também.

Eu servi outro.

Entreguei a cada um deles seus copos. Enquanto bebericava o


meu, Cap virou para Terra.

— Estava. — Ele disse com um aceno.

— E os outros dois caras que estavam aqui. Eles eram parte


disso?

Cap deu de ombros.

— É melhor perguntar a eles.

Ela se virou para mim.


THE GUM RUNNER
Tomei um gole do uísque.

— Você terá que perguntar a eles.

Ela revirou os olhos.

— Certo última pergunta.

Tomei outro gole.

— Estou ouvindo.

— Você matou alguém naquela noite?

Surpreendeu-me que perguntasse isso. Depois da minha


primeira briga com ela, não estava interessado em criar outra. Se
alguma vez nós ficássemos juntos novamente, teria certeza de que
ela entendesse com o que e quem estava se envolvendo.

— Sim. Dois homens.

— Mortos?

— Isso mesmo.

— Você os matou?

— Eu dei a ordem para matá-los, sim.

— Deu a ordem?

— Isso mesmo.

— Você não está mais no serviço militar, certo?


THE GUM RUNNER
— Não estou.

— Então, a quem deu as ordens?

— Meus funcionários são ex-militares. Nós tratamos algumas


das nossas transações comerciais como missões militares e eles
seguem o meu comando.

— Então você é como um chefe da máfia? O Padrinho?

Nunca olhei para isso dessa forma. Considerei isso, tomei um


gole de uísque, e assenti.

— Eu acho.

Terra levantou o copo, bebeu um gole de uísque e levantou da


cadeira. Meu coração afundou.

Ela limpou a boca com a costa da mão e tossiu. — Tenho duas


declarações e uma pergunta.

Preparei-me para desencadear sua ira.

— Michael, eu te amo.

Minha garganta ficou seca, mas de alguma forma consegui


engolir. Tomei um gole do meu uísque e esperei o, mas.

— E. — Ela deu um pequeno sorriso. — Não estou usando


calcinha.

Engasguei com o meu uísque até que tive um ataque de


tosse. Quando finalmente consegui respirar, ela continuou.
THE GUM RUNNER
— Agora, a minha pergunta. Eu já perdoei você. Você me
perdoa?

Tossi o último uísque fora dos meus pulmões.

— Sim. — Disse sem hesitação. — Perdoo.

Cap bateu com a mão contra a borda da minha mesa.

— É disso que estou falando. Despeje mais uma rodada, filho da


puta. Então tenho que ir.

— Fique um pouco. — Disse Terra com um sorriso.

— Após esse comentário da calcinha? —


Ele levantou uma sobrancelha. — Acho que vocês dois precisam
estar sozinhos.

Eu concordava com Cap de todo o coração.

***

O brilho dos faróis do caminhão de Cap desapareceu de


vista. Afastei-me da janela do escritório e caminhei em direção a
ela. A cada passo cuidadoso, tentei esconder minha emoção,
tanto no meu rosto quanto na minha calça.

— Sem calcinha, hein?

Parecendo nervosa, ela se contorceu na cadeira.

— Eu disse isso?

Dei a volta na mesa, empurrei a base da minha mão contra o


THE GUM RUNNER
meu pau duro e assenti.

— Eu te amo e não estou usando calcinha. Foi o que você disse.

Ela encontrou meu olhar e se levantou.

— Eu não... uhhm... não me lembro de ter dito isso.

Aproximei-me. Com os meus lábios a meros centímetros dos


dela e nossos olhos presos um no outro, pus a mão sob seu
vestido.

Levantei minha mão entre as coxas e gentilmente segurei sua


boceta na minha palma.

Estava encharcada e parecia que tinha estado assim por algum


tempo.

Ela inalou uma respiração instável.

Enrolei meu dedo, empurrando a ponta entre suas dobras


encharcadas.

— Oh merda. — Ela engasgou.

Segurei a parte de trás do seu pescoço e puxei-a firmemente


contra mim. Enquanto nossos lábios se encontravam empurrei
toda a extensão do meu dedo dentro dela.

Apaixonadamente, nos beijamos enquanto trabalhava o meu


dedo dentro e fora de sua boceta molhada e disposta.

Soltei seu pescoço e varri a minha mesa com um movimento


da minha mão. Enquanto os papéis
THE GUM RUNNER
desabavam no chão, abaixei-a para a superfície limpa.

Empurrei outro dedo dentro.

Seus olhos se arregalaram e respirou fundo.

— Senti sua falta. — Ela disse com os dentes cerrados.

Meu pau estava prestes a estourar através do tecido da minha


calça.

— Foda-me. — Ela implorou.

Bastou ter Terra de volta na minha vida para me deixar tão


rígido quanto uma pedra. Tê-la no meu escritório, seminua e
implorando pelo meu pau me deixou no limite. Meu desejo por ela
era muito além do que eu era capaz de esconder.

Depois de deixar meu paletó de lado, empurrei minhas calças


até o meio das coxas e peguei meu pau rígido. Com meus dedos
ainda dentro dela, comecei a acariciar-me com a mão livre.

Deitada de costas sobre a mesa levantou a cabeça


ligeiramente. Seus olhos imediatamente caíram para a minha
virilha.

— Por favor.

Deslizei meus dedos tirando-os de seu montículo inchado e fiz


um gesto em direção à mesa.

— Curve-se. — Disse, meu tom exigente.


THE GUM RUNNER
Ela rolou para seu estômago, espalhou-se largamente e
alcançou a bainha do vestido. Assim que o material liberou suas
nádegas, agarrei sua cintura firmemente e empurrei-me dentro
totalmente.

— Oh... meu... Deus. — Ela arqueou as costas ligeiramente.

— Eu realmente senti saudades.

Absorvido pela visão do meu eixo inchado desaparecendo


repetidamente em sua boceta molhada olhei para baixo e assisti
com admiração. Dentro de poucos segundos, estava transando
com ela com força, batendo meus quadris firmemente contra a
parte traseira de sua bunda com cada investida.

Com os olhos ainda fixos entre as bochechas de sua bunda,


puxei sua cintura com cada impulso do meu pau. O som do tapa
distinto de pele-na-pele ecoou em todo o escritório.

— Desculpe...ME — Ela disse, uma palavra escapando de seus


lábios com cada investida. — Ensine... me... uma... lição.

Já tinha perdoado completamente, mas o pensamento de


ensiná-la a nunca questionar meus meios, métodos ou motivos
tinha seu apelo – pelo menos no momento.

Deixei-a cheia com meu pau em um impulso selvagem.

— Nunca.

Puxei meus quadris para trás e estendi a mão para seus


seios. Apertei-os firmemente em minhas mãos. — Jamais. —
THE GUM RUNNER
Empurrei meus quadris contra seu traseiro.

Obviamente perto do clímax, ela deu um gemido baixo. Outro


empurrão violento seguiu.

— Duvide.

— Oh Deus. — Ela choramingou.

Retirei meu comprimento inteiro e rapidamente empurrei de


volta para dentro.

— De mim.

Afastei-me devagar, observando cada centímetro do meu eixo


brilhando enquanto deslizava de dentro dela. Sem aviso, bati nela
mais uma vez, grunhindo enquanto meu pau afundava. —
Novamente.

Ela engoliu em seco.

Apertei seus seios, rolando os mamilos entre o polegar e o dedo


indicador enquanto continuava com um ritmo acelerado. Um
momento depois e a sensação de minhas bolas batendo contra seu
clitóris provou ser demais.

— Estou quase gozando. — Eu gemi.

— Por favor. — Ela implorou.

Continuei no mesmo ritmo por mais alguns segundos. Quando


meu pau inchou, advertindo-nos do que estava por vir, senti sua
boceta contrair. Eu apertei os peitos dela enquanto ela se
THE GUM RUNNER
atrapalhava segurando a borda da mesa. Com os braços
estendidos e as costas arqueadas, suas pernas começaram a
tremer.

Belisquei seus mamilos mais duramente. Minhas bolas


apertaram.

— Oh... porra... — Eu gemi.

Explodi, liberando cada gota da minha satisfação dentro dela.

Sua vagina apertou meu pau como um torno e juntos chegamos


ao clímax.

Ainda dentro de sua umidade, inclinei-me para frente,


descansando meu peito levemente contra suas costas. Beijei seu
ombro.

— Eu te amo.

Sua respiração ainda estava irregular e instável.

— Eu amo... você... também.

Beijei seu pescoço.

— Faça-me uma promessa.

— Certo. — Ela respondeu.

— Nunca me deixe novamente.

— Não vou deixar. — Ela me assegurou. — Mas você precisa


fazer o mesmo.
THE GUM RUNNER
— Tudo bem.

— Não. — Ela disse. — Você precisa dizer.

— Nunca te deixarei.

— Não importa o quê? — Ela perguntou.

— Não importa o que.

Ela exalou pesadamente e desabou sobre a mesa.

— Obrigada.
THE GUM RUNNER

Terra

Enfim fomos andar na montanha russa.

— Finalmente vamos conseguir fazer isso. — Eu disse.

Michael entrou no tráfego e em seguida, olhou para mim.

— Acho que devemos parar e comer primeiro.

Eu estava tão animada, mas estava com fome também.

— Concordo. Agora tudo o que temos a fazer é decidir o que


vamos comer. Algo leve. — Eu disse. — Então, não vamos ficar
enjoados na montanha-russa. Nada é pior do que vomitar.

— Se você quer uma refeição leve... — Ele riu e agarrou sua


virilha. — Você sempre pode...

Depois de resolver os nossos problemas em seu escritório na


noite anterior, deixamos tudo no passado e concordamos que os
negócios de Michael eram negócios de Michael. Decidi que minha
reação ao saber da profissão escolhida por ele era mais uma
resposta pelo que aconteceu com meu primo do que meu ódio a
armas de fogo.
THE GUM RUNNER
No final, me senti tola por reagir daquela maneira.

Embora Michael tenha me perdoado, eu ainda abrigava culpa, a


maioria da qual era um resultado de não ter sido franca com ele
sobre a minha própria profissão – ou a falta dela – e a verdade
sobre a minha família. Precisava encontrar a coragem de dizer a
ele, mas porque ainda não a tinha, senti que precisava compensa-
lo de alguma forma.

— Coloque para fora. — Eu disse.

— Estou dirigindo.

Soltei o cinto de segurança. — Bom.

— Mesmo? Você não pode chupar meu pau enquanto estou


dirigindo.

— Mesmo? — Eu disse ironicamente. — Nunca ouviu falar de


chupada na estrada?

Ele mudou de pista, deu uma rápida olhada na minha direção e


fixou os olhos na estrada.

Era a maneira perfeita de compensar ele.

— Se você não vai tirá-lo, eu vou.

Ele olhava para frente.

Bom.

Lutei com o cinto e depois com o botão da calça jeans. Não


foi tão fácil quando pensei. Finalmente
THE GUM RUNNER
consegui desabotoar e comecei a abaixar até seus quadris, longe o
suficiente para liberar o pau. Parecia haver tanta coisa
acontecendo. O alarme do cinto de segurança soando, a música
tocando e eu podia ouvir a respiração de Michael. Sem a ajuda
dele, foi difícil, mas finalmente saiu.

Puta merda.

Seu pau perfeito estava se contraindo apenas a alguns


centímetros do meu rosto. Parecia muito maior. Olhei para ele,
esperando por algum tipo de aprovação para prosseguir.

Não consegui nada.

Segurei o eixo na minha mão e sorri para a circunferência. Fiz


uma comparação com meu pulso e não conseguia decidir se tinha
pulsos realmente finos, ou se o pau dele era anormalmente
grosso. Concentrei-me na minha mão e assisti enquanto trabalhei
para cima e para baixo o comprimento do eixo.

Sua respiração tornou-se rápida, como a minha.

Agarrando seu pau na minha mão direita, segui ao redor da


cabeça com a ponta do meu dedo indicador esquerdo. Depois de
alguns círculos lentos, seu pau se contraiu. Assustada, eu
pulei. Ele se encolheu.

Molhei meus lábios e me preparei para balançar seu mundo.

Olhei para Michael uma última vez. Se ia se opor, precisava ser


rápido. Ele olhou para mim. Embora lutasse contra isso, sua boca
se curvou em um leve sorriso.
THE GUM RUNNER
Era toda a aprovação que precisava.

Vou chupar seu pênis até que você me perdoe. Para sempre.

Passei meus lábios ao redor da cabeça e achatei minha língua


contra o eixo. Lentamente, fiz minha magia, levando um pouco
mais dele em minha boca com cada investida.

Tê-lo na minha boca me fez sentir poderosa em um sentido


sexual. Sempre que fizemos sexo, sentia como se ele estivesse
no comando.

Não me interpretem mal, gostava de tê-lo no comando e amava


como ele me fodia. Mas. Com seu pênis inchado na minha boca e o
sexo começando e terminando comigo sugando-o até o fim, me
senti poderosa e realizada.

Seus quadris começaram a subir e


descer ligeiramente, trabalhando em sincronismo perfeito com
minha boca. A pele macia da cabeça batia contra a minha
garganta com cada estocada, um lembrete de seu comprimento
enorme.

Comecei a usar minha mão suavemente ao longo do eixo


escorregadio, enquanto continuava a chupar, esperando que
conseguisse trazê-lo ao clímax.

A música tocava, o alarme do cinto de segurança soava e os


carros passavam por nós, mas sua respiração tornou-se mais
importante do que qualquer outro som. Agitada e dura, isso me
incentivava a continuar com vigor.
THE GUM RUNNER
Senti sua mão descansar suavemente na parte de trás da minha
cabeça. Seus quadris empurraram descontroladamente. E o
caloroso gozo encheu minha garganta.

Sim!

Continuei a chupar até a última gota, engolindo-o com


gratidão. Voltei para o meu lugar, satisfeita por tê-lo agradado.

Realmente esperava que ele tivesse me perdoado tão


completamente como disse, mas essa não foi a única razão pela
qual eu quis chupar seu pau. Quis porque o amava e queria que
ele soubesse disso.

Apontei minha mão na sua direção e dei um sorriso de


realização.

— Você pode arrumar essa bagunça com a sua calça. Eu já fiz o


meu trabalho.

Ele tossiu uma risada e sacudiu a cabeça.

— Não acredito que você fez isso, caralho.

— O que?

— No carro? Mesmo?

— Você não reclamou. E pensei que isso era excitante.

— Foi excitante. Foi quente como o inferno. Apenas foi novo


para mim.
THE GUM RUNNER
— Ninguém nunca...

Ele balançou a cabeça.

— Não.

Olhei para ele, incrédula.

— Sexo em um carro?

— Não.

Eu sorri. — Hum.

Eventualmente nos saímos da estrada e comemos uma


salada. Depois, fomos para o parque temático e encontramos um
lugar para estacionar o carro.

Acabamos estacionando em um local bastante remoto, vários


corredores de distância de qualquer um dos outros carros, mas
bem dentro da visão dos transeuntes. Eu realmente queria andar
na montanha russa, mas quanto mais olhava para Michael, mais
percebia o quão o amava completamente.

— Você está pronta? — Perguntou.

Eu simplesmente o adorava.

— Você está pronto?

Ele torceu o nariz.

— Para quê?
THE GUM RUNNER
Ele deve ter visto a adoração nos meus olhos. Apontei para o
cinto.

— Tire suas calças.

Virou-se e olhou para fora da janela. A alguma distância, uma


mãe e seus filhos estavam caminhando em direção ao carro.

— Há pessoas lá fora.

Desabotoei minha calça e comecei a abaixá-las. — Recline seu


assento. Eu vou montar esse pau. Tenho que montá-lo.

— Por quê?

— Porque eu te amo pra Caralho.

Ele olhou pela janela mais uma vez, balançou a cabeça e


suspirou. Após o que pareceu ser uma pequena luta mental,
soltou o cinto e tirou os jeans. — Essa é uma razão boa o
suficiente para mim.

Despi-me, subi nele e encontrei uma posição confortável com o


assento reclinado totalmente. Com ele deitado de costas e fora de
vista e minhas mãos no volante, parecia para quem passava a pé
que eu estava simplesmente sentada no carro sozinha.

Bati minhas mãos no volante, ouvi a música e fodi Michael


como se fosse à última vez que teria uma chance. Senti que tinha
um monte a fazer para compensar meu comportamento estúpido.

Acenei para algumas pessoas enquanto elas passavam


THE GUM RUNNER
caminhando, mudando seus olhares estranhos para um sorriso.

Levou algum tempo, mas depois de três orgasmos da minha


parte, ele finalmente chegou ao clímax. Com o carro ligado e o ar
condicionado soprando ar frio contra os nossos corpos suados,
desmoronei em seus braços no assento reclinado.

Quando acordamos o parque estava fechado e eu estava certa de


que Michael era o homem com quem queria passar o resto da
minha vida.

Mas estava convencida de que nunca conseguiríamos andar na


montanha-russa juntos.
THE GUM RUNNER

Michael

— E quanto a este? — Perguntou Terra.

Eu estava relaxando no sofá mais confortável que já tive o


prazer de sentar e não tinha vontade de me levantar. Usando
jeans, saltos e um top preto sem mangas, Terra sentou perto de
mim em outra peça de mobiliário. Ela abriu os braços sobre as
costas do sofá e sorriu.

— Gosto disso.

Ela balançava para frente e para trás na almofada.

— Michelle perguntou sobre Cap novamente.

Puxei meu telefone do bolso.

— Eu esqueci. Vou mandar uma mensagem agora. Quando é


que ela quer encontra-lo se ele quiser?

— Ela está livre a qualquer hora. E, obrigada. Pelo menos vou


ser capaz de dizer que perguntei.

Enviei a Cap uma mensagem de texto rápida e encaminhei a


foto da amiga de Terra que ela tinha me enviado alguns dias
THE GUM RUNNER
antes. Segurei meu telefone entre o polegar e o indicador e estudei
o sofá em que estava sentado.

— Quanto você gostou? — Ela perguntou.

— Muito. Gostei do couro.

Ela apertou as mãos no estofado de couro, deixando marcas


quando as tirou.

— Gostou o suficiente para comprá-lo?

— Gosto de olhar para ele daqui.

Ela estreitou os olhos e parecia estar inspecionando a minha


escolha de sofás. — Este é apenas um tom mais escuro do que o
que você tem. É quase branco. Seria como fazer uma mudança,
sem mudar nada.

— Verdade.

— Esse? — Ela disse. — É o céu. E ficaria muito bom na sua


sala.

Nós dois concordamos que meu gosto sobre mobiliário era


maçante, então decidi redecorar minha casa – com a sua
ajuda. Vagar sem rumo por uma loja de móveis, no entanto, estava
provando ser mais trabalho do que eu pensava.

Ela bateu na superfície almofadada ao seu lado.

— Venha sentar nele.


THE GUM RUNNER
Comecei a me levantar do sofá e meu telefone tocou. Abri a
mensagem de Cap, sorri para a resposta dele e coloquei o telefone
no bolso.

Caí ao lado de Terra. O estofado parecia me envolver.

— Puta merda.

— Eu sei, não é mesmo?

— Ele engole a gente.

Apontou para a marca que pairava sobre o braço.

— Sofá preenchido com almofadas.

— Sofá preenchido com o céu. Você está certa.

— Com seus pisos de madeira clara este material ficaria ótimo.

O período de tempo que fiquei sem Terra permitiu-me entender


como realmente me sentia sobre ela. Tocar uma mulher e ser
tocado em troca era uma experiência em si, mas amar e ser amado
era incomparável.

Queria que a minha casa fosse confortável e esperava fazer


algumas mudanças que a convertessem em um lugar no qual ela
queira ficar, e menos um lugar o qual escolheu visitar.

Saltei para cima e para baixo sobre o estofado.

— Você gostou?

— Amei.
THE GUM RUNNER
— Olhe só. Vocês dois não são adoráveis? — Perguntou uma voz
estridente.

A vendedora usava muita maquiagem, tinha extensões que


estavam em completo contraste com a cor de seu cabelo e estava
vestindo uma saia amarelo-limão e casaco que pareciam ter vindo
diretamente da década de 50.

Os cinco quilos de joias que estava usando coroavam o


conjunto.

Ela agarrou sua pasta com a papelada e sorriu.

— Essa é a nossa marca Cordova. É a mais vendida por uma


razão.

Estudei os grandes botões de bronze que pendiam de seu casaco


aberto.

— Que razão seria essa?

— Durabilidade, conforto e preço.

Olhei para a etiqueta de preço e tentei não parecer surpreso com


o valor de oito mil dólares.

— Pelo que posso ver, é a peça mais cara na loja.

— É. Mas vale muito a pena. Poderíamos cobrar talvez dez ou


doze mil dólares pelo sofá, mas não cobramos.

— Ela virou-se e apontou para o sofá de dois lugares


THE GUM RUNNER
posicionado ao lado. — Você viu o de dois lugares?

— Vi. Tropecei nele para chegar a este.

Terra beliscou minha perna.

— Pare. — Ela sussurrou.

— Bem continue procurando e caso você tenha esquecido, eu


sou Chloe.

— Obrigada. — Disse Terra. — Vamos avisar a você quando


tomarmos uma decisão.

Os olhos de Chloe se iluminaram. Aparentemente, ela sentiu


que encontrou uma nova amiga.

— Quanto tempo faz que vocês dois estão juntos?

— Três meses. — Disse Terra.

A cabeça dela inclinou para o lado e ela nos observou


descrente.

— Meses?

— Uhum.

Chloe suspirou e cobriu a boca com as pontas dos dedos.

— Minha nossa. Eu arriscaria anos. Tem uma aura inegável


sobre vocês.

— Obrigada. — Disse Terra.


THE GUM RUNNER
— Novamente, se precisarem de alguma coisa.

— Obrigado. — Eu disse com um falso gesto de gratidão.

Terra descansou a cabeça no meu ombro.

— Você acha que nós temos uma aura sobre nós?

— Não sei. É difícil dizer o que os outros veem.

Ela aninhou a cabeça no espaço entre meu ombro e pescoço. —


Acho que depois da pequena confusão pela qual nós passamos,
temos de ter algo muito especial, porque estar sem você foi um
inferno absoluto.

— Cap diz que nunca me viu mais feliz.

— Se você pudesse descrever, como faria? Sabe o que sente?

— Não posso. — Eu disse. — É indescritível.

Ela levantou a cabeça do meu ombro. — Sério?

— Bem. Não sei. Odiaria tentar definir o que sinto. Não nos faria
justiça.

— Defina com uma palavra.

Coloquei meu braço sobre o ombro dela. — Indescritível.

Ela se inclinou para frente e franziu os lábios. — Isso é trapaça.

Beijei-a levemente. — Foi o melhor que pude fazer. E você? Uma


palavra.
THE GUM RUNNER
— Transformador.

Fiquei de pé e alternei olhares entre os dois sofás. Ela disse que


minha casa parecia clínica e talvez estivesse certa. O couro escuro
era de longe a melhor escolha, mas não era o que eu teria
escolhido se comprasse sozinho.

— Então, o que acha? — Perguntou.

Eu somei os preços do sofá grande, o de dois lugares e o pufe.

— Sobre o quê?

— Comprar móveis. Você acha que seis meses atrás estaria


fazendo isso?

— Não. Tinha certeza que ficaria solteiro para sempre.

— Quando a pessoa certa vem, no entanto. — Ela se


levantou. — Não há muito que possa fazer contra isso.

Balancei minha cabeça.

— Você não é a pessoa certa.

— Não sou?

— Não. — Eu disse. — Você é a mulher da minha vida.

Os passos irregulares de Chloe em seus saltos enormes fizeram


pouco para disfarçar sua abordagem.

— Então, os dois pombinhos tomaram uma decisão?


THE GUM RUNNER
Olhei para Terra.

— Você quer?

Ela assentiu ansiosamente.

— Realmente gostei.

— Vamos levar o sofá grande, o de dois lugares e o pufe. Nesta


cor.

— Sério? — Elas perguntaram em uníssono.

— Sério. — Eu disse. — Mas há um ponto.

— Qual é o ponto? — Perguntou Chloe.

— Quero que sejam entregues no fim de semana.

— Tenho certeza que não vai ser um problema. — Ela disse. —


Temos caminhões que entregam sete dias por semana.

Sorri e assenti.

— Nós vamos olhar por aí um pouco mais.

— Levem o tempo que precisarem. E deixe-me saber se tiverem


quaisquer perguntas.

Quando ela se virou, olhei para Terra. Ela estava sorrindo de


orelha a orelha.

— Por que você está tão feliz? — Perguntei.

— Você vai realmente comprá-los?


THE GUM RUNNER
— Você disse que gostou.

— Amei.

— Quero que minha casa seja um lugar onde você queira


estar. Um lugar onde se sinta confortável.

— Eu me sinto confortável lá.

— Mas disse que parecia clínica.

— Tudo é branco. Parece clínica. Isso não significa que não


quero estar lá.

— Eu só... Apenas, quero que você esteja feliz. Com tudo. Estou
cansado de nós indo e voltando e passando o tempo em ambos os
lugares. Quero que minha casa seja confortável para você.

— Você está pensando. Quer dizer, acha que devemos... você...


— Ela gaguejou.

— Quero que comece a pensar se quer ou não viver comigo.

Pronto, eu disse.

— Oh, uau. Sim, eu uhhm. Adoraria começar a pensar sobre


isso.

— Bem, pense sobre isso. — Eu disse com uma risada. — E


deixe-me saber o que decidiu.

— Acabei. — Ela disse.

— Acabou o quê?
THE GUM RUNNER
— De pensar.

— E?

Ela caminhou na minha direção com os braços estendidos.

— Vamos fazer isso.

— Vamos escolher alguns móveis para o quarto. — Eu disse.

— Está falando sério?

Passei meus braços em torno dela e apertei-a no meu peito.

— Qualquer coisa que você quiser.

— Sério?

— Sério. — Enterrei meu rosto em seu cabelo e respirei fundo.

Lilás, jasmim e luz do sol.

O aroma me fez lembrar de nossa pequena escapada no


trocador da Saks.

— É melhor você começar a procurar. — Eu disse. — Ou vou


acabar dobrando-a sobre este sofá.

Ela se afastou e olhou por cima de cada ombro.

— Você não pode fazer isso aqui.

— Provavelmente não é uma boa ideia, mas sentir o cheiro do


seu cabelo me fez lembrar da Saks.
THE GUM RUNNER
— Toda vez que ouço essa palavra fico molhada.

— Que palavra?

— Saks.

Eu ri. — Saks, Saks, Saks, Saks.

— Você vai ver quando chegarmos à sua casa. — Ela segurou


minha mão na dela e começou a caminhar em direção ao
mobiliário para quarto. — Por que você quer que os móveis sejam
entregues neste fim de semana?

— Pensei que parecia legal para quando Cap e Michelle viessem.

Ela parou e se virou para mim.

— Ele disse sim?

— Disse.

Seus olhos se arregalaram.

— Meu Deus. Isto é tão emocionante. Podemos comprar


algumas velas?

Eu olhei para ela.

— Velas?

— Você não tem nenhuma vela. Nenhuma mesmo. Em toda a


casa.

Continuei a olhar.
THE GUM RUNNER
— Não sabia que precisava de alguma.

— Bem, precisa. Você precisa de algumas velas Jo Malone Wild


Fig & Cassis. Se vai ter uma menina em sua casa em tempo
integral, na verdade, há um monte de coisas que deve ter.

Eu queria uma vida com Terra e estava disposto a fazer


qualquer coisa para conseguir isso. Mas velas?

— Tudo bem. Vamos conseguir as velas Jo Malone. Mas isso vai


custar-lhe.

— O quê? — Ela perguntou.

— Você vai ver. — Eu disse com um sorriso.


THE GUM RUNNER

Terra

Eu estava animada com a nossa pequena reunião. Cap estava


vestido com jeans escuro, uma camisa preta de botões e botas. Ele
parecia mais do que diferente, estava atraente. Michael estava
vestido da mesma forma e eu usava meu vestidinho preto.

Tudo o que faltava era Michelle.

Cap estava andando pela cozinha. — Estou tão nervoso quanto


uma prostituta na igreja.

— Não fique. — Disse Michael. — É apenas uma garota. Nós


apenas vamos conversar e tomar algumas bebidas.

— Talvez assistir a um filme na Netflix ou algo assim. Apenas


relaxar. — Eu disse.

Cap parou de andar e olhou para mim.

— Netflix e relaxar para mim significam outro episódio de New


Girl e uma cerveja gelada. Não estou preparado para esta merda.

Eu sorri.

— Seja você mesmo. E você está bonito.


THE GUM RUNNER
— Quando ela vai chegar aqui? — Perguntou.

— A qualquer minuto.

— Essa menina é legal, né? Quero dizer, posso apenas agir como
eu mesmo?

— Ela é muito legal. Você verá. Depois que nós dermos algumas
bebidas, ela vai se soltar.

— Então nós temos que deixá-la bêbada para desfrutar de sua


companhia?

Eu ri.

— Não. Mas ela vai se abrir depois que tomar algumas bebidas.

Michael atravessou a sala de estar e nervosamente arrumou


tudo, desde os quadros na parede até as plantas que eu tinha
comprado e cuidadosamente colocado em toda a sala.

A campainha tocou.

— Vou recebê-la. — Eu disse.

Abri a porta. Michelle estava vestida com jeans, saltos e um top


preto com decote extremamente baixo. Seus peitos grandes
estavam pulando para fora do sutiã parcialmente exposto.

— Você parece uma prostituta. — Eu sussurrei.

Ela sorriu e me abraçou.

— Uma prostituta realmente sexy. Meu Deus. É ele? — Ela


THE GUM RUNNER
sussurrou.

— O de camisa preta. Sim.

— Pare de ser empata foda. — Ela riu, empurrando-me para o


lado. — Mova-se.

Até o momento em que fechei a porta da frente e entrei na


cozinha, ela já tinha se apresentado aos dois e Cap estava
servindo-lhe um copo de vinho. Michael e Michelle estava em um
lado da ilha de cozinha, que também era um bar e Cap estava do
outro. Eu andei para o lado do Cap e peguei meu vinho.

Michelle pegou seu copo.

— Então, você era um fuzileiro naval?

— Era. Dez anos levando tiros foi o suficiente, então eu saí.

— O que faz agora?

— Assessor de Segurança. Eu treino pessoas no uso de armas e


táticas. Coisas chatas. E você?

Michelle tomou um gole de vinho e se inclinou para frente,


pressionando a parte inferior de seus peitos na bancada, os
forçando para fora do sutiã. — Tenho um fundo fiduciário,
querido, assim como Terra.

Olhei para Michael. Eu não poderia dizer se ele notou.

Porra. Porra. Porra.


THE GUM RUNNER
Olhei para ela, tentando fazer com que me visse sem que
Michael percebesse. Os olhos dela estavam grudados em
Cap. Eventualmente, eu desisti.

Porra, eu juro. Michelle, se você foder isso...

— Fundo fiduciário, hein? — Cap apontou para Michelle e


ergueu a garrafa de cerveja. — Não há nada de errado com isso.

Levante-se. Seus seios estão caindo e você parece uma


vagabunda.

Limpei a garganta. Duas vezes. Michael olhou entre Cap e


eu. Eu estava suando e me perguntei se Michael percebeu
isso. Joguei minha cabeça para a sala de estar.

— Devemos nos sentar?

— Estou bem aqui. — Disse Michelle. — A menos que todos os


outros queiram ir.

— Você já assistiu New Girl? — Perguntou Cap.

— Oh meu Deus. — Michelle engasgou. — Melhor. Série.

— É verdade, porra. Acabei de terminar a terceira temporada. O


Schmidt é o filho da puta mais engraçado que eu já vi.

Michelle riu e finalmente ficou de pé. O decote dela mostrava


todo o seu sutiã. Eu lutei contra o desejo de caminhar ao redor do
bar e ajustá-lo.

— Eles são todos engraçados. — Ela disse com uma


THE GUM RUNNER
risada. — Essa é a melhor série. Juro. Eu amo.

— Qual é o seu episódio favorito? — Perguntou Cap.

No meio de um gole, Michelle baixou a taça de vinho.

— O que Winston e Schmidt foram comprar crack. E o seu?

— Aquele em que todos eles falaram sobre perder a virgindade.

— Eu ri tanto. — Disse Michelle. — Schmidt é um idiota.

Tentada por um momento a ir para a sala de estar com Michael


e deixá-los na cozinha falando de New Girl, decidi beber meu vinho
e desfrutar da conversa deles ao invés disso. A noite era mais
sobre eles do que sobre nós, de qualquer maneira. Eu só esperava
que ela não cometesse mais erros.

Nós ficamos no bar por algum tempo, conversando e rindo e


pela primeira vez desde que Michael e eu estamos juntos, me
sentia completamente normal sobre o nosso relacionamento. Ter
que esconder tudo sobre minha família e amigos enquanto estava
na presença dele, era como um lembrete constante de que eles não
sabiam como eu estava feliz e o quanto adorava Michael.

O tempo compartilhado com Cap e Michelle me fez sentir como


se meu relacionamento não fosse tão secreto e gostei de como
estava começando a me sentir. Minha mente logo viajou para longe
da conversa e foi para o meu pai.

Tentei desesperadamente me convencer de que ele iria encontrar


uma maneira de aceitar Michael. Eu pensava que se Michelle
estivesse em um relacionamento com
THE GUM RUNNER
Cap, e eu estivesse em um com Michael, seria muito mais fácil de
dizer ao meu pai. Ele e o pai de Michelle poderiam discutir suas
preocupações um com o outro, encontrar uma maneira de aceitar
o que estava feito e a vida continuaria sem ninguém ser morto,
incluindo eu.

Olhei para o meu relógio.

Eram quase oito horas.

— Então, quão alto é você? — Perguntou Michelle.

— Um metro e noventa. — Cap respondeu.

Ela ajeitou a postura e empurrou o peito para frente.

— Tenho um e sessenta.

Cap tomou um gole de cerveja e sorriu.

— Tamanho perfeito.

Os olhos de Michelle se alargaram.

— Para quê?

Oh senhor.

— Para qualquer coisa. Pegar. Jogar. Você sabe.

Eu olhei para Michael e rapidamente movi meus olhos para


Cap.

— Jogar?
THE GUM RUNNER
— Sim. — Ele disse com um aceno.

— Durante o sexo.

Bem, não demorou muito.

— Você realmente acha que poderia me pegar? Tipo levantar do


chão? — Perguntou Michelle.

Oh senhor. Sério?

— Sei que poderia. Inferno, levanto cento e dez quilos três dias
por semana. Não acho que te levantar seria um problema.

Ela empurrou o vinho para o lado e deu a volta no final do bar.

— Faça.

Michael olhou para mim, balançou a cabeça e encolheu os


ombros. Ele não parecia estar preocupado com o comentário – do
fundo fiduciário – anterior e me convenci de que não notou. Ele
não tinha dito duas palavras durante toda a noite, mas com Cap e
Michelle cobiçando um ao outro e falando a cem quilômetros por
hora, era difícil de dizer até uma palavra.

Cap enfiou as mãos por baixo dos braços de Michelle, levantou-


a até que a cabeça dela quase bateu no teto e baixou-a para o
chão.

Caralho.

— E sobre jogar? — Michelle riu. — Conte-me sobre isso.


THE GUM RUNNER
Atirei-lhe o meu melhor olhar de raio laser.

— Michelle!

Ela olhou por cima do ombro, dando seu próprio olhar de


merda.

— O que?

Cap olhou para mim e encolheu os ombros.

— Não censure a garota. — Seus olhos se voltaram para


Michelle. — Sou conhecido por gostar de uma coisa mais bruta.

Michael tossiu uma risada. Olhei para ele e balancei a cabeça.

— Parece-me que temos duas coisas em comum. — Disse


Michelle.

Cap cruzou os braços na frente do peito.

— Ah, temos é?

Michelle concordou.

— Assistir New Girl e sexo bruto.

— Você gosta dos brutos, né?

— Quanto mais melhor. — Disse Michelle.

Oh. Meu. Deus.

Não era como eu esperava que minha noite de sexta


perfeitamente planejada acabasse. Com os móveis novos,
THE GUM RUNNER
decoração, fotos e plantas em toda a casa, tinha imaginado uma
noite tranquila e agradável para comer, beber e conversar. Em
menos de uma hora, a conversa unilateral deles tinha como
assunto sexo bruto.

Dei a volta no bar e parei ao lado de Michael.

— Que porra é essa? — Eu sussurrei.

— Parece uma combinação perfeita. — Ele respondeu.

Movi a cabeça em direção a eles. De pé no final do bar rindo e


olhando para Cap, Michelle parecia uma adolescente safada.

— Olhe para eles. — Eu disse com desgosto.

Michael parecia genuinamente bem com a forma como eles


estavam agindo e riu.

— Eles estão bem.

— É embaraçoso. Os peitos dela estão caindo para fora.

— Cap parece gostar.

Cap pode ter gostado, mas eu não.

— Não posso acreditar que ela usou aquele top. Parece uma
prostituta. Queria que ela conversasse com você. Pensei que nós
comeríamos e tomaríamos algumas bebidas e depois sentaríamos
no sofá novo para conversar.

— Parece que ela tem outra coisa em mente. Ele não está
THE GUM RUNNER
exatamente discordando, no entanto.

— Desculpe-me. — O beijei levemente nos lábios. — Eu te amo.

— Não há nada para se desculpar. Eles estão se


divertindo. Vamos comer e conversar depois.

— Bem, Tripp meu irmão. Parece que estamos indo para a


minha casa agora. — Cap disse.

O que?

Eu atirei a Michelle outro olhar.

— O que?

Michelle sorriu.

— Nós estamos indo para assistir New Girl e conversar.

Acenei para a sala de estar recém-decorada.

— Vocês podem assistir New Girl aqui. E todos nós podemos


conversar.

— Nós faremos isso em outra oportunidade. — Ela disse.

Questão de minutos mais tarde, eles se foram. Sentei-me no


sofá novo olhando para a tela em branco da nova TV de LED
de sessenta polegadas que Michael comprou.

— E agora? — Eu bufei.

Michael deu de ombros.


THE GUM RUNNER
— Poderíamos tentar essa série New Girl.

— Pode ser.

Na segunda-feira de manhã, nós já tínhamos assistido toda a


primeira temporada da série, saindo do nosso novo sofá apenas
quando era absolutamente necessário. Ao longo do fim de semana,
apreciei como Michael tinha mudado desde que nos conhecemos,
sem se tornar alguém diferente.

Rimos até chorar enquanto assistíamos a série e comemos os


aperitivos e lanches que comprei para a festa. Bebemos vinho,
comemos manteiga de amendoim diretamente do pote e ele me
segurou em seus braços até que adormecemos. Em um ponto,
decidimos tomar banho e embora tenhamos feito isso juntos, nós
dois estávamos muito animados com a série para fazermos sexo.

Ter relações sexuais com Michael era mágico, mas amei não ter
que fazer sexo para desfrutar da companhia um do outro. Nosso
relacionamento estava florescendo em muito mais do que sexo e
nesse fim de semana, percebi como era fácil me perder em quem
Michael era realmente.

Um ex-fuzileiro naval fodão que se tornou um vendedor de


armas que não hesitaria em lutar por uma pessoa ou situação que
ele sentia que fosse merecedora.

E adorava maratonar série.

Ele era meu e eu não podia esperar até que pudesse dizer isso
ao mundo.
THE GUM RUNNER

Michael

Terra estava na cozinha de frente para a sala de estar. Com meu


peito contra suas costas, apertei minhas mãos na sua cintura e
descansei o queixo em seu ombro esquerdo.

— Eu te amo — eu sussurrei. — Você está pronta para sair?

Ela inclinou a cabeça para o lado, descansando sua bochecha


contra a minha.

— Eu também te amo. Eu estava pronta, mas acho que é


apenas uma mentira. Nós nunca vamos conseguir.

Soltei seu quadril com a mão direita e tracei a ponta do meu


dedo indicador ao longo do zíper na parte de trás do
vestido. Parecia que eu tinha acabado de fecha-lo.

O hálito quente de seu suspiro levou-me a continuar.

Puxei o zíper para baixo lentamente. O vestido dela se separou


no centro, expondo suas costas enquanto os dois pedaços de
THE GUM RUNNER
material caiam para cada lado. Soltei a mão esquerda de seu
quadril e desabotoei o sutiã com as pontas dos meus
dedos. Ansiosamente, alcancei a frente do vestido por dentro e
apertei seus seios até que ela começou a gemer contra a minha
bochecha.

Pressionei minha boca em seu pescoço, beijando-a suavemente,


continuando a amassar sua carne macia. Com cada aperto da
minhas mãos, sua respiração saia como uma explosão súbita,
como se forçada pelo meu toque.

Meu pau começou a lutar pela liberdade.

Enquanto beijava ao longo do seu pescoço, puxei minhas mãos


de seu sutiã e alcançei sua calcinha.

Pressionei a palma da mão direita contra seu estômago e


lentamente deslizei a mão, passando pelo cós de sua calcinha,
parando quando a ponta do meu dedo médio escorregou em sua
umidade.

— Oh Deus — ela balbuciou.

Tocá-la tornou-se fácil e eu achava isso muito gratificante. A


suavidade de sua pele, o contorno suave de seu corpo e o efeito
que meu toque parecia ter sobre ela, levava-me a continuar
muitas vezes muito além do que tinha planejado.

Explorar seu corpo era fácil, parar no entanto, provou ser


impossível.

Assim, deslizei meu dedo dentro e fora algumas vezes,


THE GUM RUNNER
lubrificando-o completamente com os sucos que fluíam livremente
de seu calor. Puxei-o para fora, em seguida, mordi seu pescoço
levemente, circulando seu clitóris inchado com a ponta do dedo
enquanto eu mordiscava meu caminho para seu ombro.

Terra respirou rapidamente. Juntei dois dedos e os empurrei


para dentro. Ela bateu as mãos espalmando contra a bancada,
espalhando-se enquanto empurrava meus dedos mais fundo.

A base dos meus dedos massageava seu clitóris. Ela suspirou.

Levei minha boca para sua orelha.

— Eu vou te foder até perder o sentido.

— Por favor — Implorou.

Atrapalhei-me com a minha mão esquerda, mas eventualmente


acabei tendo meu jeans desabotoado e aberto. Meu pau rígido
saltou livre. Levantei seu vestido e agarrei a cós de sua calcinha na
minha mão esquerda, enquanto com a minha direita meus dedos a
fodiam ritmicamente.

Eu soprei em seu ouvido.

— Você gosta dessa calcinha?

— Ela é ... uma das minhas... favoritas— disse entre os golpes


de meus dedos.

— Desculpe — Eu sussurrei enquanto puxava o tecido frágil


bruscamente, rasgando o tecido em dois.
THE GUM RUNNER
Eu puxei o topo de seu vestido para baixo e seu sutiã para cima,
expondo seus seios e a visão me deixou louco. Minha mão
esquerda pressionou contra o centro de suas costas, empurrando
seu peito para a bancada.

Debrucei-me sobre ela e mordi a parte inferior de sua orelha


entre meus dentes. Meu pau bateu contra sua coxa enquanto me
posicionei entre suas pernas.

— Erga essa bundinha para cima para que eu possa enchê-la


com meu pau.

Ela levantou-se na ponta dos pés e apertou as bochechas de sua


bunda contra os meus quadris. Com meus dedos ainda
firmemente dentro dela e minha palma torturando seu clitóris, ela
alcançou entre suas pernas para encontrar meu eixo latejante,
agarrando-o firmemente na mão.

Antes que eu pudesse dar a minha próxima instrução, ela guiou


a cabeça do meu pau em sua boceta. Com meus dedos ainda
dentro dela, lutei para empurrar meu comprimento. Determinado
a enchê-la com o meu amor, enrolei as pontas dos meus dedos na
carne áspera de seu ponto G, fazendo cócegas quando empurrava
firmemente dentro ela.

Soltei seu lóbulo da orelha de minha boca.

— Quanto você quer? — Perguntei.

Sua resposta saiu em grunhidos.

— Cada. Centímetro. Porra.


THE GUM RUNNER
Esta resposta fez o meu pau já duro como pedra, ainda mais
duro. Agora dando a sua boceta uma experiência única com meu
pau rígido, levantei meu peito de suas costas e olhei para a sua
bunda perfeita.

Lentamente, trabalhei meus quadris para trás e para frente,


ganhando um pouco mais de profundidade com cada golpe. Eu vi
como o eixo brilhante deslizou de dentro dela, apenas para ser
empurrado de volta tão profundo quanto era capaz de explorar. A
penetrava profundamente, meus dedos ainda trabalhando em
uníssono com o meu eixo rígido.

Sua boceta estava apertada por estar preenchida com dois dos
meus dedos e meu pau ao mesmo tempo e isso fez essa
experiência muito mais agradável. Ela me agarrava como um
punho, tornando cada golpe mais perto do clímax.

Segurei-me profundamente e enrolei os dedos em seu ponto G

— Deus, eu amo foder você— gemi.

— Foda-me. Então — ela resmungou.

Era o convite que precisava. Então puxei meus dedos de dentro


dela, agarrei sua cintura com cada mão e comecei a bater meu pau
dentro dela, como se esta fosse a última chance que receberia.

O som dos nossos grunhidos encheram o ar e logo nossas


respirações estavam agitadas. Senti minhas bolas apertarem,
avisando que o fim estava próximo.

Meus quadris bateram contra a pele macia de sua bunda


THE GUM RUNNER
mais algumas vezes e isso era tudo que poderia tomar. Fechei os
olhos, arqueei as costas e me preparei para o clímax.

— Eu vou ... Michael ... Eu estou ...

Sua boceta apertou contra o meu eixo. E de alguma forma


consegui mais alguns golpes, cada um mais difícil que o
anterior. A fricção de sua carne contra a minha fez com que meu
pau inchasse.

Suas pernas tremiam.

Como sempre, atingimos o clímax juntos.

Explodi dentro dela, enchendo-a com cada gota de meu


amor. Sua boceta contraiu uma última vez, lançando um choque
através de mim e me lembrando de que não havia mais ninguém
na terra que poderia me satisfazer da maneira que ela era capaz.

Segurei-me profundamente dentro dela e levantei seu corpo até


que suas costas estavam contra meu peito.

— Eu não posso ficar de pé — ela murmurou.

— Apenas um beijo — eu sussurrei.

Ela se virou para mim, me enchendo com seu calor. Nós nos
abraçamos e beijamos apaixonadamente, o que me fez esquecer
tudo o que me rodeava. Terra tornava-se tudo o que existia a cada
vez que nos beijavamos.

Em algum ponto, o beijo terminou.


THE GUM RUNNER
Nossas bocas se separaram. Olhei em seus lindos olhos
castanhos. Ela era uma mulher incrível e a amava com cada gota
de meu ser.

— Eu te amo— eu disse.

Ela se levantou e olhou para mim, a boca torcida em um sorriso


malicioso, seu cabelo despenteado.

— Eu também amo você — disse ela. — Mas em algum


momento, vamos ter que deixar esta cozinha. Minhas pernas
parecem de borracha.

Era a segunda vez que faziamos sexo na cozinha desde o banho


após o nosso café da manhã. Olhei para o relógio. Era quase uma
hora da tarde.

— Você está com fome? — Perguntei.

— Estou morrendo de fome, mas não consigo me levantar.

A levantei de seus pés e a coloquei o balcão da cozinha. Puxei


meu jeans.

— Sente-se por um minuto. Eu vou fazer o almoço.

— E depois vamos andar na montanha russa?

— Talvez — eu disse. — Depende do que acontecer depois que


terminarmos de comer.

Nós estávamos tentando andar na montanha-russa à mais de


um mês e parecia uma tarefa impossível. Cada vez que
THE GUM RUNNER
tentamos, por qualquer razão, acabávamos transando.

— Estou começando a achar que para você, andar na montanha


russa é apenas outro termo para sexo. Nós nunca iremos andar
nela.

Olhei para a minha virilha.

— Diga isso de novo — eu disse.

— O que? Montanha-russa?

Senti um leve puxão no meu jeans.

Eu ri.

— Acho que você pode estar certa.

— Você tem as suas prioridades a a montanha-russa não é uma


— disse ela.

— Montar em você e andar de montanha-russa são


semelhantes, eu acho.

— Sério?

Apertei meu cinto e assenti.

— Ambos são emocionantes, tiram meu fôlego e fazem com que


o meu coração acelere.

— Mas eu ainda sou melhor — disse ela.

— Como assim?
THE GUM RUNNER
Ela passou os dedos pelos cabelos.

— A montanha-russa não vai chupar seu pau por velas Jo


Malone.

O pensamento dela chupando meu pau no carro pelas velas me


fez sorrir.

— Elas estão acabando, a propósito.

— Faça o nosso almoço e depois que comermos, podemos ir


comprar mais.

Puxei a porta da geladeira aberta e olhei por cima do meu


ombro.

— Vai custar-lhe uma coisa...

— Não posso acreditar que você me fará chupar seu pau pelas
velas de novo. — Ela fechou os olhos e deu um longo suspiro. —
Mas, mesmo assim vale a pena.

Fechei os olhos e inalei o cheiro doce que enchia nossa


casa. Pensei nela me dando um boqute no carro depois que saimos
da loja das velas. Olhei para o meu pau já endurecendo.

Valia a pena? Eu não poderia concordar mais com ela.


THE GUM RUNNER

Terra

— Mamãe deve ter entendido errado.

Meu pai pegou uma fatia de capicola e dobrou-o em sua boca.

— Entendido errado como? — Ele perguntou enquanto


mastigava a fatia de carne.

— Ele era apenas um cara que conheci. Não foi nada sério. Nós
conversamos no café algumas vezes — menti.

Tinha ido ver meu pai com toda a intenção de contar sobre
Michael. Assim que cheguei lá, era evidente que minha mãe
contou-lhe sobre o Americano- Luterano que conheci e ele não
estava feliz. Apesar de querer ser honesta sobre tudo, meu pai me
deixou extremamente desconfortável.

Pensar nisso, na ausência do meu pai era fácil. Na sua


presença, as coisas eram muito diferentes. Ele era um homem
muito intimidante, mesmo quando estava simplesmente tentando
ser meu pai. Olhei pela janela da cozinha, esperando que pudesse
terminar minha discussão com ele antes de minha mãe chegar e
confrontar minhas mentiras.
THE GUM RUNNER
Ele tirou outra fatia da carne e dobrou-a na palma da mão.

— Vou falar com sua mãe.

— Ok — eu disse. — Acho que ela só se confundiu.

Ao lado do capicola tinha um prato frio de macarrão al ragu que


ele havia pego na geladeira. Levantou uma garfada da massa à
boca e chupo-o do garfo. — O que aconteceu com Vinnie?

Eu desviei o olhar, enojada com sua escolha de lanche.

— Nós terminamos.

Meu pai levantou o garfo.

— Vinnie era um bom menino italiano.

Ele não era, mas achei melhor não compartilhar minhas


experiências.

— Ele era bom.

Outra garfada cheia de massa.

— Você não está ficando mais jovem.

— Eu sei.

Eu precisava mudar de assunto.

— Então, Peter ainda está doente?

Seu rosto se iluminou de alegria.


THE GUM RUNNER
— Doente? Não. Peter é um menino forte. Está muito bem.

Aparentemente, enquanto estava na Argentina, Peter tinha


ingerido algo que o deixou terrivelmente doente. Quando
finalmente chegou em casa, ficou de cama por vários dias.

— Conversei com a mãe, ela disse que ele estava magro. Que
perdeu muito peso.

O rosto dele ficou com raiva, estendeu a mão para o presunto e


puxou outra fatia.

— Sim, ele perdeu peso.

Muitas vezes eu queria que meu pai não fosse completamente


sigiloso sobre suas relações com a máfia. De acordo com ele e os
seus homens, a máfia não existia. Dizendo-se empresários,
realizando negócios. Nunca admitiram ser parte de algo maior ou
participar de quaisquer atividades criminosas. Mas todos sabiam.

Aprendi mais sobre o que meu pai estava envolvido lendo sobre
ele na internet, assistindo ao noticiário e ouvindo conversas
quando tinha a chance. Tive que decidir no que acreditava ser
verdade e o que esperava que fossem mentiras.

Suspirei. Homens e seus segredos. Michael disse que se eu fizer


as perguntas certas, eu sempre terei as respostas certas. Talvez
nunca tenha feito as perguntas certas para o meu pai. — Por que
Peter esteve na Argentina por tanto tempo?

As palavras saíram antes que tivesse a chance de detê-las.


THE GUM RUNNER
Ele pegou outro pedaço de presunto. Em seguida,
outro. Mergulhou seu garfo na massa, ficou frustrado e jogou-o no
prato. Ele dobrou o capicola como se estivesse zangado com ela e
colocou o presunto em sua boca. — Negócios.

Gostaria de saber se a declaração de Michael sobre fazer


perguntas iria funcionar com o meu pai. Considerando o que foi
revelado sobre Michael, decidi aprofundar ainda mais. Estendi a
mão para o presunto e lancei-lhe um olhar inocente. — Que tipo
de negócios?

— Por que está fazendo perguntas? Negócios.

Eu rasguei a fatia de presunto em dois.

— Desde quando você tem negócios na Argentina?

— Desde agora.

Faça as perguntas certas , tenha as respostas certas.

— O que aconteceu com Peter para perder tanto peso?

Estendeu a mão para o presunto, fez uma pausa e olhou para


mim.

— Ele estava doente.

— Por causa do quê? O que o deixou doente?

Ele encolheu os ombros.

Não foi uma resposta. Ele estava evitando me


responder. Talvez estivesse sendo apenas
THE GUM RUNNER
como Michael. Se não me dissesse nada, não estaria dizendo uma
mentira, estava simplesmente escolhendo não responder.

— Você não sabe por que ele estava doente? O que o levou a
perder peso? Você não tem idéia? — Coloquei metade do
presunto em minha boca e esperei a resposta dele.

Ele abriu a porta da geladeira.

— Cannoli?

— Você está evitando a minha pergunta.

Meu pai abaixou o cannoli e agarrou a borda da bancada tão


firmemente que os nós dos dedos ficaram brancos.

— Por que está fazendo perguntas?

Decidi contar uma versão da verdade.

— Vinnie e eu terminamos porque ele não me contava as


coisas. Não estava sendo sincero. Magoou-me. Eu só quero saber.

Ele balançou sua cabeça.

— Você não precisa saber. Ele estava doente e está bem agora.

Eu coloquei o presunto restante na minha boca e arregalei os


olhos. Ele segurou o meu olhar por um longo tempo. Depois do
que pareceu uma vida inteira me encarando, suspirou.

Liberou o balcão, pegou um dos cannoli e começou a andar pela


cozinha.
THE GUM RUNNER
— Os negócios da sua família permanece nesta casa , — disse
ele severamente. — Não deve contar para ninguém.

— Compreendo.

— Se tem certeza que quer saber, eu te digo. Só não fique


chateada. Você quer saber?

— Não vou ficar chateada. — Lutei para não sorrir. — Só


quero saber a verdade de uma vez.

Ele olhou.

Eu ri, na esperança de aliviar sua mente.

— Sou uma menina grande.

Ele andou por toda cozinha e mordiscou o cannoli. Após andar


para lá e para cá algumas vezes, respirou fundo e exalou
pesadamente. — Figli di putanna levou seu irmão como
refém. Tive que conseguir um homem ...

Puta merda!

Eu sabia que não eram negócios.

Meu coração disparou.

Olhou para o cannoli, caminhou até o lixo e jogou-o dentro.

— Um homem especializado nessas coisas. Eles queriam


dinheiro. Tanto dinheiro. Ameaçaram a família. O homem, o
especialista, concordou em ajudar. Ele resgatou Peter dos
THE GUM RUNNER
selvagens.

Olhou para mim com os olhos inseguro.

— É isso que você queria saber?

Eu ainda estava tentando processar tudo, mas estava contente


que me disse a verdade.

— Sim. Obrigada.

— As pessoas acham que nós temos muito dinheiro. Nós não


temos.

Sabia que isso era mentira, mas concordei.

— Eu sei.

Estendeu a mão para o presunto e encolheu os ombros.

— Trabalho duro.

— Sei disso pai.

Andei até a ilha e peguei sua mão

— Estamos seguros? Não preciso ficar preocupada?

— Um mal-entendido — disse ele. — Foi um mal-


entendido. Você não está em risco.

— Tem certeza.

— Tão certo quanto o Papa ser católico.


THE GUM RUNNER
Eu não tinha tanta certeza quanto ele e sempre me preocupava
com essas coisas. Perguntei e ele respondeu à minha pergunta,
confiando-me ser capaz de aceitar a informação que me deu. Eu
estava animada, com medo e queria saber muito mais, mas sabia
como mascarar meus sentimentos.

Forcei um sorriso.

— Bom.

— Não diga nada a sua mãe. Nem para Peter. — Ele apontou
para mim e depois para si mesmo. — Você e eu. Nosso segredo.

Eu sorri.

— Nosso segredo.

Olhou para o relógio e suspirou.

— Estou atrasado. Jimmy. Ele exige muito do meu tempo.

Acenei minha mão em direção ao balcão.

— Vou arrumar tudo.

Ele sorriu, me beijou e voltou para a porta. Antes de chegar ao


corredor, se virou para mim.

— Boca fechada não entra mosquito.

Balancei minha cabeça.

— Nosso segredo.
THE GUM RUNNER
— Essa é minha garota.

Limpei a bagunça e pensei em tudo o que ele disse enquanto


estava limpando a bancada e tive uma epifania.

De jeito nenhum.

Na explicação do meu pai sobre o que aconteceu com Peter, ele


não mencionou a Argentina. Peter não estava na
Argentina. Provavelmente foi o que ele disse a todos para esconder
o que estava realmente acontecendo.

Michael, Cap e os outros dois homens tinham salvo um refém


na noite anterior que Peter voltou para casa.

Cap disse que Michael deu ao homem um de seus ternos para


vestir.

Joguei o pano sobre a bancada e corri para o quarto de


Peter. Nervosa, olhei através de seu armário em seus
ternos. Quatro ternos, todos mais ou menos a mesma cor de cinza
escuro, pendurado em seu armário. Eles pareciam com o que Peter
sempre usava e não como as roupas modernas de Michael.

Merda.

Senti-me como uma detetive que tinha conseguido uma


vantagem em uma investigação, apenas para descobrir que era um
beco sem saída. O pensamento que de alguma forma meu pai
tinha falado com Michael para salvar o meu irmão de alguém que
o sequestrou era ridículo.
THE GUM RUNNER
Ri de mim mesma com a capacidade da minha mente de
fabricar tal absurdo e sai do armário de Peter. Uma rápida analise
do quarto, trouxe de volta memórias da minha infância e como
sempre me senti muito mais velha que meu irmão, embora fossem
apenas dois anos.

Virei-me para sair e quando o fiz, notei algumas peças de roupa


estendida sobre a parte de trás de uma cadeira, provavelmente
coisas que ele pretendia levar para a lavagem a
seco. Animadamente, caminhei até a mesa, levantei os itens da
parte de trás da cadeira e voilá.

Um terno azul-marinho.

Olhei para dentro do revestimento.

Brioni. 44R .

Não sabia que tamanho Michael vestia, mas ele era menor do
que Peter. Meu irmão era como meu tio Sal, grande e um pouco
gordinho, mas realmente alto. Corri para o armário, tirei uma das
jaquetas e olhei para dentro.

Joseph Abboud. 46L.

Olhei o próximo. E no próximo. E no próximo. Todos eram


Joseph Abboud 46L. Devolvi com cuidado as roupas atrás da
cadeira e olhei para elas. Não tinha ideia do que estava
acontecendo, mas suspeitava que de alguma forma, Michael se
envolveu no resgate de meu irmão. Perguntava-me se era do
conhecimento geral que ele era um ex-fuzileiro naval e se
Michael ofereceu esses serviços, ou se o
THE GUM RUNNER
meu pai de alguma forma o conhecia. Talvez meu pai tenha
comprado armas dele, eu não tinha idéia.

Tropecei para a cozinha. Comecei a pensar através das


possibilidades, parecendo quase frenética para encontrar as
respostas, apenas para perceber que não poderia saber nada com
certeza. Não havia nenhuma maneira que seria capaz de descobrir
qualquer coisa definitiva sem dizer a Michael quem realmente era e
se lhe dissesse agora era bem possível que eu colocaria em risco o
nosso relacionamento.

E isso era algo que não podia arriscar.

Meu pai certamente não revelaria qualquer coisa e se eu


revelasse que conhecia Michael, dependendo de como meu pai o
conheceu, poderia criar muitos mais problemas.

De alguma forma precisava encontrar uma maneira de


permanecer Terra Wilson e agir como se não soubesse de nada,
ao menos até que toda a verdade fosse revelada.

Mas temia que a culpa de não dizer a Michael quem realmente


era, me matasse.
THE GUM RUNNER

Michael

Não queria parecer estúpido, mas estava começando a me sentir


assim.

— Realmente não estou entendendo o que é que você está


dizendo.

Agrioli se ajustou em seu assento, virou-se para Jimmy


Cupcake e encolheu os ombros. Cupcake escovou as mangas do
casaco com as mãos, como se estivesse limpando-as de uma
sujeira invisível. Encarou-me e se inclinou para frente em seu
assento.

— É como a porra de um esquema de segurança. Seus homens


acompanham os nossos motoristas, certificando-se que tudo
ocorra tranquilamente.

Peguei um lápis e virei entre meus dedos enquanto me


concentrava em Jimmy. Ele sentou-se impassível, esperando pela
minha resposta. Pesei os prós e os contras de tal arranjo e percebi
que os contras eram maioria.

— E se algo acontecer? Se a carga for ameaçada?


THE GUM RUNNER
Cupcake deu de ombros.

Mudei meus olhos para Agrioli. Ele deu de ombros e tentou em


vão esconder o sorriso.

— Não é realmente o que faço. Não é o meu forte — eu disse.

Vi como o lápis virava de um dedo para o outro. Era relaxante


para mim, algo que eu vinha aperfeiçoando desde os doze anos de
idade. Eu tinha passado incontáveis horas a mover um lápis entre
os dedos, muitas vezes deixava quem queria falar comigo insano
antes de finalmente parar.

Os olhos de Cupcake correram entre o lápis e Agrioli que


respirou fundo.

— Você é um homem de negócios, não?

Eu me considerava assim. Olhei em volta do meu escritório e


acenei com a cabeça orgulhosamente.

— Gosto de pensar assim.

Agrioli deu uma olhada rápida no escritório.

— Bem sucedido?

— Mais uma vez — eu disse. — Gosto de pensar que sim.

— Seu sucesso, você mede na satisfação do cliente ou no lucro


obtido? — Cupcake riu.

Não achava engracado. Olhei para Cupcake, que parou de


THE GUM RUNNER
rir. Encontrei o olhar de Agrioli.

— Lucro.

Agrioli assentiu.

— Uma percentagem das receitas de cada entrega segura.

Seu hábito de rodeios proverbiais estava me deixando


louco. Atirei-lhe uma sorriso meia boca.

— Você está me oferecendo uma porcentagem de sua receita? É


isso que você está dizendo?

Ele deu de ombros e olhou para Cupcake. Cupcake deu de


ombros.

Eu tinha pouco, se tivesse algum, interesse em estar envolvido


nos negócios da máfia. Ser considerado um homem de honra era
uma coisa, mas estar envolvido era outra completamente
diferente. Atividades ilícitas trazia o olhar atento da lei e junto com
ele, a potencial ameaça de prisão.

Duvidava que houvessem muitos negócios da máfia que seria


capaz de abraçar como sendo moralmente aceitável.

Agrioli suspirou.

— Mês passado. Perdemos três caminhões.

Cupcake virou as palmas das mãos para cima de acordo com a


perda.
THE GUM RUNNER
— Sequestrado? — Perguntei.

Eles olharam um para o outro.

Parecia uma pergunta simples. Obviamente, havia mais da sua


operação que não queriam revelar.

— Seus motoristas foram sequestrados? Enquanto estavam em


trânsito?

Cupcake olhou para Agrioli, que me estudava, senti-me


perdido. Terra estava a caminho para me encontrar para o almoço
e eu não queria que os dois chefes da máfia estivessem no meu
escritório quando ela chegasse. Olhei para o meu relógio.

Eu tinha quinze minutos.

O lápis continuou a passar entre meus dedos enquanto eu


alternava olhares para os dois homens. Estava cheio com o sigilo
da máfia e os jogos de adivinhação. — Olha, tenho receio de que
não possa fazer nada para ajudar. Aprecio sua oferta, no entanto.

Agrioli se ajustou na cadeira.

— Cigarros. Cada caminhão entregue, cinquenta mil dólares.

Ele tinha a minha atenção.

— Como? Cinquenta mil?

Agrioli assentiu.

— Quantas entregas por mês?


THE GUM RUNNER
Cupcake respondeu.

— Quatro? Seis?

Parei o lápis na palma da minha mão. Isso eram dois milhões e


meio de dólares por ano em cigarros. Duvidava que Agrioli tinha
uma licença para essa carga, então eu deixei de perguntar sobre a
legitimidade das entregas.

Olhei para o meu relógio.

Dez minutos.

— Você paga em carga ou em dinheiro? Eu não preciso de um


armazém cheio de Malboro.

Agrioli riu alto. Cupcake juntou-se.

— Dinheiro — Agrioli disse quando finalmente recuperou o


fôlego.

Fquei de pé.

— Deixe-me pensar nisso e falar com os meus homens. Vou ter


uma resposta para você até o final da semana.

Planejei apertar as mãos dos homens, mas percebi que eles


iriam me abraçar novamente. Eu andei em torno da borda da
minha mesa, abracei cada um deles e os acompanhei até a porta.

Assisti quando seu Cadillac saiu do estacionamento do local,


mas minha mente estava em outro lugar. Parecia um monte de
dinheiro para garantir a entrega segura de um caminhão de
THE GUM RUNNER
cigarros. Decidi que tinha que haver mais do que o que eles
estavam me dizendo, mas não saber poderia ser melhor.

Fiquei no sol quente por alguns segundos, considerado sua


oferta. As poucas centenas de milhares de dólares extras por mês
me permitiria aposentar em Belize muito mais cedo do que
esperava inicialmente.

Meus olhos entraram em foco com a visão da Mercedes de Terra


aproximando-se da entrada do meu estacionamento assim que o
Cadillac saiu. Em vez de parar, ela simplesmente passou. O
Cadillac foi para a esquerda, em direção à rodovia e Terra partiu
para a direita. Depois ela dirigiu alguns metros abaixo da rua até
que perdi seu carro de vista. Procurei meu celular até que percebi
que o tinha deixado na minha mesa. Decidi esperar e ver se ela
voltaria. Cinco minutos mais tarde, quando estava desistindo, ela
parou no estacionamento.

Ela abriu a porta do carro, apertou suas mãos contra seus


quadris e olhou.

— O que você está fazendo?

— Pensando.

— Sobre o que? Está quente aqui fora e você está vestido em


um maldito terno.

— Pensando que porra aconteceu. Você passou reto, como se


tivesse esquecido onde eu trabalhava.

— Estava sonhando acordada. Só percebi que já tinha


THE GUM RUNNER
passado a entrada quando avistei o bar na Three Corners. Eu sou
uma cabeça de vento às vezes, eu juro.

— Alguns caras vieram conversar e eu estava dizendo-lhes


adeus, aí whoosh! Você passou reto.

— Hum. Vieram conversar, hein?

— Sim, eles me fizeram uma oferta de negócio.

Seus olhos foram para o estacionamento. Ela chutou uma pedra


solta e em seguida, cavou a ponta do sapato no asfalto, tentando
libertar outra.

— É um bom negócio?

— Não decidi ainda.

Perguntava-me quão confortável ela estava com relação ao meu


trabalho. Não parecia bem com isso ainda.

Terra olhou para cima.

— Uma negociação de armas?

— Não — eu disse. — Um esquema de segurança. — Ela


franziu as sobrancelhas.

— Como guardas armados?

— Algo assim.

— Isso é legal?
THE GUM RUNNER
Dei de ombros.

— Depende.

Devolvi seu olhar e esperei por mais perguntas. Tinha esperança


de distraí-la antes de fazer a pergunta crucial.

Ela suspirou profundamente.

— Pronto para o almoço?

Essa foi fácil.

— Deixe-me trancar.

Tranquei a porta e me virei. Usando um vestido com seu cabelo


torcido em um coque, parecia elegante. Sofisticada. Bonita.

Andei em direção a ela.

— Acho que estou pronto para uma pequena pausa.

— O que você quer dizer?

Beijei-a levemente, me afastei e acenei a mão em direção ao


prédio.

— Eu preciso de algum tempo longe disso.

— O que você vai fazer?

— Nós. O que nós vamos fazer? E a resposta é relaxar.

— Parece divertido.
THE GUM RUNNER
Ela estava certa. Seria divertido. E muito mais.
THE GUM RUNNER

Terra

Andei duas vezes pelas fileiras de jaulas do canil sem nenhuma


ideia do que estava procurando. Vários dos cães eram ativos,
alguns latiam sem parar e outros estavam dormindo. Havia um
cachorro deitado que estava acordado, tranquilo e não muito ativo.

Mas ele era adorável.

Quando passei pela sua jaula na primeira vez, ele levantou a


cabeça um pouco e me observou. Assim que passei, sua cabeça
caiu para o chão entre suas patas dianteiras.

Seu corpo era completamente marrom e seus pés dianteiros


eram brancos. Logo acima dos ombros, o marrom terminava e todo
o seu pescoço e cabeça eram brancos, exceto por um olho marrom.

A pele do seu corpo era mole e enrugada. E seus olhos estavam


tristes.

Na minha terceira viagem ao longo das fileiras do canil, ele


levantou a cabeça de novo e olhou. Eu parei e olhei de volta. Ele
abriu a boca larga, bocejou e caiu com a cabeça no chão.

Uma garota vestindo uma camiseta que dizia Eu amo gatos se


aproximou de mim. Ela sorriu e inclinou a cabeça para as
THE GUM RUNNER
gaiolas.

— Oi. Eu sou Nichole. Teve sorte?

Apontei para o filhote enrugado.

— Qual é a historia daquele rapaz?

Ela sorriu.

— Hank? O Bulldog Inglês?

— O rapaz enrugado. É o que ele é?

Ela assentiu.

— O nome dele é Hank?

— Sim. Hank. Ele é um filhote resgatado.

— O que isso significa?

— Bem, foi uma situação estranha. O proprietário foi preso ou


algo assim, não sei ao certo. Você sabe. Rumores e coisas do
tipo. Mas toda a ninhada foi abandonada, deixada em casa sem
supervisão. A mãe foi deixada livre e os filhotes dentro da
residência.

A mãe ou pelo menos pensamos que era, foi atropelada por um


carro e morreu. Toda a ninhada morreu, exceto ele. Ele não comeu
por mais de uma semana. Nosso veterinário disse que era um
milagre ter sobrevivido, mas ele conseguiu. Chamamos-lhe Hank
em homenagem a Hank, o Tanque. Você sabe, porque ele é
THE GUM RUNNER
indestrutível.

Minha garganta se apertou. Era o cachorro perfeito. Olhei


novamente e ele levantou a cabeça, desta vez por apenas alguns
segundos. Quando deitou no chão do canil, eu ri e me virei para a
menina.

— Ele é uhhm. Então ele é um órfão?

— Eu acho que é uma maneira de se dizer.

Como eu não via Michael fazendo parte da minha grande família


em um futuro próximo senti que precisávamos fazer uma família
por conta própria. Pelo menos até que eu pudesse descobrir uma
maneira de revelar a verdade. Ver meu pai deixando a loja de
Michael forneceu todas as garantias que precisava para acreditar
que Michael era a pessoa que salvou Peter. Apesar de estar
orgulhosa do que fez saber que meu pai conhecia Michael e tinha
feito ofertas de negócios a ele, fazia revelar a verdade sobre quem
eu era muito mais difícil.

Até descobrir o que fazer, imaginei que ele e eu poderíamos


partilhar a nossa casa juntos, em segredo. Na minha maneira de
pensar, já tinha me dado a Michael e dando-lhe o cachorro seria
minha maneira de lhe oferecer uma família.

E eu queria que ele tivesse uma família.

— Ele parece não conseguir segurar a cabeça levantada. Ele


está bem? — perguntei.

Ela sorriu e acenou com a cabeça.


THE GUM RUNNER
— Ele está bem. Eles são uma raça letárgica. É preguiçoso. Você
quer ir vê-lo?

Balancei a cabeça ansiosamente.

Entramos no interior, passando por todos os outros cães até a


gaiola de Hank. Depois que ela destrancou a porta, ele se levantou,
sacudiu-se, gingou até mim e deixou-se cair entre meus pés. Olhei
para Nichole.

— Ele gosta de você.

Olhei para Hank. Sem levantar a cabeça ele levantou os olhos e


me encarou.

— Hank— eu disse rapidamente, esperando que pelo menos


levantasse a cabeça. Sua boca se abriu.

— Woof!

— Vou levá-lo — afirmei.

— Você pode passar algum tempo com ele e ver se é realmente o


que você quer... — Senti-me como uma garotinha, mas o
pensamento de levar o cachorro e ter algo semelhante a uma
família com Michael, quase trouxe lágrimas aos meus olhos.

— Não — eu disse. — Tenho certeza.

Comprei o cachorro, uma gaiola portátil, uma caixa cheia de


brinquedos, produtos de higiene, comida e uma cama. Após a
viagem de volta, arrumei tudo e Hank enrolou-se em sua cama.
THE GUM RUNNER
Enquanto esperava Michael voltar do trabalho, me perguntava o
que meu pai tinha proposto. Se ele aceitou, qual o efeito que teria
sobre o nosso relacionamento, já que eu precisava de uma maneira
de revelar a verdade.

Não contar para Michael estava me deixando doente e de uma


forma ou de outra, sabia que não poderia aguentar muito mais
tempo. Sentia como se as mentiras estivessem se acumulando e
logo elas explodiriam, tornando minha vida uma completa
bagunça.

Relaxei no sofá com Hank deitado em sua cama no chão ao meu


lado. Em pouco tempo, nós dois estávamos dormindo.

E sonhei com Michael e eu tendo uma vida normal.


THE GUM RUNNER

Michael

Lutei com a minha decisão sobre as entregas de Agrioli e depois


de uma longa discussão com Cap e Lucky, decidi dar uma
chance. Agrioli estava grato, concordando até mesmo com um
período de experiência e estava confiante que eu iria concordar em
fornecer o serviço em tempo integral.

Exausto, cansado da tensão e precisando de uma noite


relaxante, estacionei meu carro na garagem, baixei a porta e entrei
em casa.

O cheiro doce da minha casa me lembrava de que precisava


comprar mais velas. Respirei fundo, olhei através da cozinha até a
sala de estar e fiquei surpreso que Terra não tivesse me
cumprimentado ainda.

— Terra?

Silêncio.

Limpei a garganta.

— Terra!
THE GUM RUNNER
Woof!

Que porra é essa?

Andei em torno da ilha da cozinha e fui saudado pelo mais


bonito Bulldog Inglês que eu já tinha visto. Sua pele era mole e
enrugada ao redor de seu peito gordo e pendia formando uma
papada.

Quando era criança, sempre quis ter um cachorro, mas as


minhas condições de vida como um órfão impediram. No serviço
militar também era impossível e embora dissesse a mim mesmo
que iria arrumar um quando fosse dispensado, não o tinha feito
ainda.

Cheio de questionamentos sobre o que estava acontecendo,


abaixei-me no chão da cozinha e lhe dei um tapinha em sua
cabeça grande.

Uma coleira com camuflagem com uma placa de identificação do


mesmo estilo estava pendurada em seu pescoço. Estendi a mão
para a placa e levantei para minha vista.

"Hank" Tripp 648 Timbercreek

Shawnee Mission, KS 66203

Meu coração se encheu de emoção. O pensamento de ter um


animal de estimação tinha sido um sonho ao longo da vida. O
filhote de cachorro desmoronou em meus pés.

— Terra! — gritei.
THE GUM RUNNER
Ela se sentou, olhou para mim sobre o encosto do sofá e
esfregou os olhos.

— Eu tenho uma surpresa para você.

— Tenho uma para você também.

— Yaaay! — Ela ficou de pé. — A minha primeiro.

Escondido atrás da ilha da cozinha, eu estava com Hank aos


meus pés.

— Espero que você goste — afirmou ela. — Eu só... — Ela


olhou ao redor da sala, nervosa. — Bem...

— O que você está procurando?

— Eu tenho uma surpresa. É, bem, é... merda. Você pode vir me


ajudar?

Peguei o cachorro e caminhei para a sala de estar. Rastejando


em suas mãos e joelhos e olhando debaixo do sofá, ela parecia
agitada.

— Procurando por este rapaz? — Perguntei.

— Merda! — Ela se levantou. — Queria surpreendê-lo. Então,


uhhm. — Moveu seus quadris para trás e para frente
nervosamente. — Espero que esteja tudo bem, mas eu queria que
tivéssemos uma família.

— Esta mais do que tudo bem. Eu sempre quis ter um


cachorro. Ele é fofo.
THE GUM RUNNER
Terra apertou os lábios e balançou a cabeça
ansiosamente. Parecia que estava prestes a chorar.

Embalei o filhote preguiçoso nos meus braços.

— O que está acontecendo?

Ela balançou a cabeça.

— Nada. Eu só queria te contar. Mas.

— Diga-me o quê aconteceu?

Ela enxugou os olhos.

— Sinto muito. Sou tão chorona.

— O quê?

— Ele uhhm. Sua mãe e toda a sua família morreram. Ele é um


órfão. Nós somos sua única família.

Provavelmente não deveria ter feito diferença, mas fez. Minha


garganta ficou seca, meu coração se encheu de amor e eu sabia,
com toda certeza, que o filhote e eu seríamos melhores amigos. Em
minha mente já planejei levá-lo para o trabalho comigo, ao parque
e ensina-lo a fazer todas as coisas que um cachorro deve aprender
a fazer.

Minha chance de criar um filho de uma maneira que eu gostaria


que alguém tivesse me criado.

— Eu te amo— eu disse. — Obrigado.


THE GUM RUNNER
Inclinei-me sobre ela para beijá-la, com Hank imprensado entre
nós.

Ela olhou por cima do ombro em direção a cozinha.

— Qual é a minha surpresa?

— Não está lá — eu assegurei.

— Onde está?

— Bem longe daqui — eu disse.

Ela empurrou as mãos nos bolsos de trás da calça e moveu seus


quadris para trás e para frente.

— Sério?

— Você tem um passaporte?

Ela assentiu com a cabeça ansiosamente.

— Sim, eu tenho.

— A sua loja de sapatos em Long Island pode viver sem a sua


presença por algumas semanas?

Seus olhos se arregalaram.

— Acho que sim, por quê?

Levantei o filhote para o meu peito.

— Bem, desde que não se importem de levarmos Hank com a


THE GUM RUNNER
gente, nós estamos indo para uma pequena viagem de férias.

O olhar em seus olhos me disse que minha decisão de tirar um


período de descanso era a coisa certa a fazer. Terra parecia
estressada ultimamente e eu suspeitava que começasse a morar
juntos foi à culpa. Muitas mudanças rápidas demais. Ela colocou
os braços em volta de mim, me abraçou forte e me beijou como se
fosse sua última chance.

E eu embalei Hank em meus braços o tempo todo.


THE GUM RUNNER

Terra

De olhos vendados, fui levada por alguns degraus e através de


uma porta para dentro de um quarto. Um cheiro muito familiar
atingiu minhas narinas. O aroma me deu uma sensação imediata
de conforto, mesmo estando cega para meu entorno e em um lugar
desconhecido.

Ouvi Michael deixar Hank sair de sua gaiola e em seguida, senti


que ele se atrapalhava com a venda dos meus olhos. Depois de
uns alguns longos segundos de luta, o pano foi removido e olhei ao
redor do quarto. Iluminado apenas por velas, o pequeno espaço
parecia romântico e caloroso.

Aquele cheiro... é ...

Engasguei.

— São velas Jo Malones. Como...

— Os mandei enviarem para cá e fiz um cara arrumar tudo. O


que você acha?

Acho que você acabou de me derreter em uma poça.

— Eu acho que te amo.


THE GUM RUNNER
Sabia que estávamos em uma ilha de Belize, mas isso era tudo
que tinha conhecimento. Depois de chegar ao aeroporto e tomar
um transporte para outra ilha, Michael insistiu em me vendar para
a última etapa da nossa viagem.

Senti-me como quando era criança e finalmente chegava à


manhã de Natal. Era tudo que poderia pensar para
comparar. Olhei ao redor do quarto e inalei lentamente pelo meu
nariz. Do jeito que minhas narinas se enchiam com o aroma
maravilhoso, meu coração também se encheu de amor pelo
homem extraordinário que estava me fornecendo o refúgio perfeito.

Ele sorriu o sorriso de covinhas que eu raramente tinha a


chance de ver.

— Eu também te amo.

Michael me beijou. As velas tremulavam de maneira diferente no


quarto escuro, lembrando-me que, embora nós tivéssemos
alcançado nosso destino, era tarde da noite e eu estava
exausta. Aposto que Hank e Michael também estavam.

— Onde estamos?

— Caye Caulker, Belize. É uma pequena ilha. E isso... — Ele


agitou os braços ao redor do quarto. — Esta é a nossa casa pelas
próximas duas semanas.

— Estamos perto da praia?

Ele abriu um par de portas francesas. Uma varanda que dava


THE GUM RUNNER
diretamente na praia, o oceano era o nosso quintal.

— Meu Deus. Isto é...

— Perfeito?

Fechei os olhos e ouvi as ondas lavarem a costa.

— Você pode imaginar viver aqui?

— Eu posso.

Vir-me-ei para encará-lo, envolvi meus braços sobre seus


ombros e agradeci a Deus por sua existência na minha vida. — Eu
não posso nem... Eu só... Eu te amo.

— Também amo você.

Foram vinte horas de voos, escalas e transporte para chegar


onde estávamos e nenhum de nós dormiu nesse período. De tão
esgotados que estávamos provavelmente deveríamos ter ido dormir
direto. Em vez disso, nos abraçamos em uma rede na varanda e
escutamos os sons do oceano.

Silenciosamente e nos braços um do outro, nos balançamos


para frente e para trás até que finalmente caímos no sono. Eu não
pensei em meu pai ou na relação profissional de Michael com ele,
mas sim na necessidade de limpar a bagunça de mentiras que
pareciam estar se acumulando em meus pés. Depois de um
momento pensando, decidi que eu iria, sem dúvida, resolver o
problema de uma vez quando retornássemos aos Estados Unidos,
permitindo que a nossa viagem fosse exatamente o que ela
THE GUM RUNNER
estava destinada a ser.

Uma viagem romântica.

Naquela noite, uma vida com Michael, livre de mentiras


e decepções, foi meu último pensamento consciente.

***

Puxei meu chapéu de palha recém-adquirido para baixo sobre


meus olhos.

— Realmente não me importo, contanto que eles tragam para


mim.

— Eu vou até lá pegá-los. Peixe ou camarão?

— Tacos?

— Nós não temos muitas opções se você não vai se levantar.

Levantei meu chapéu, inclinei a cabeça para o lado e abri meus


olhos. Cega pelo sol apertei os olhos, desejando que não tivesse
esquecido meus óculos de sol na casa. Michael estava alguns
passos de distância, vestido com calções de banho na altura dos
joelhos e nada mais. O bronzeado que tinha obtido ao longo dos
últimos doze dias o fazia parecer um dos moradores locais.

— Camarão. Com limão. Eu tive peixe ontem.

— Para beber?

Admirei o peito musculoso de Michael. Era difícil não


THE GUM RUNNER
observar.

— Uma dessas coisas de abacaxi.

Ele riu.

— Aquele que te deixa tonta?

— Sim. — Observei a praia. No que podia ver, estava


completamente vazia de pessoas. — Podemos transar depois.

— Nós vamos mergulhar às duas horas, lembra?

Suspirei.

— Bem. Arranje-me um de qualquer maneira. E não alimente


Hank com mais nenhum taco, estou falando sério.

Ele deu um olhar irritado.

Caye Caulker Belize era um lugar incrível para conhecer. Água


cristalina, muito sol e uma infinidade de atividades para se manter
ocupado do nascer até o pôr do sol. Nossas festas ao anoitecer com
alguns dos instrutores de mergulho e suas respectivas esposas
deixava pouco tempo para dormir.

Mas eu não tinha interesse em dormir.

Eu estava realmente no paraíso. Estar longe de tudo e de todos


me permitiu compreender o quanto queria fazer minha vida com
Michael oficial. Após a nossa segunda noite na ilha, decidi que logo
que chegasse a casa, ia dizer a meu pai sobre Michael e
simplesmente lidar com a reação dele como uma adulta
THE GUM RUNNER
responsável e perfeitamente capaz. Sem desculpas. Iria encontrar
uma maneira de dizer a ele, resolver completamente e fazê-lo
aceitar. Então, e só então, diria a Michael a verdade.

Mais do que tudo, queria que a minha vida com Michael fosse
livre de qualquer drama, segredos ou surpresas.

A intensidade do sol em Belize era muito diferente da


intensidade dos Estados Unidos. A brisa fresca da ilha fazia se
bronzear uma atividade relaxante e os 27° graus disfarçava quão
perto do equador a ilha estava.

Várias vezes desde que nos conhecemos, Michael tinha


mencionado viver, após se aposentar, em Belize e agora que tive a
oportunidade de experimentar uma das ilhas, deixá-la não era algo
que eu estava desejando.

Ele voltou com o nosso almoço e comemos os tacos na


praia. Mais tarde, nós relaxamos na casa que alugamos e depois
fomos mergulhar. Os vários peixes coloridos, estrelas do mar e
lindas conchas que encontramos não chegavam nem perto da
paisagem da cidade do Kansas e por mais que eu quisesse sentir
falta da minha casa, não sentia.

Depois do mergulho, nós caminhamos ao longo da praia, de


mãos dadas. Segurei a coleira de Hank e segui Michael, sem
realmente prestar atenção em nada, mas amando tudo. As ondas
suaves lavavam as pegadas que Hank e eu deixávamos para trás,
fazendo-me sentir como se tudo fosse um sonho.

Michael parou e virou de costas para o oceano, olhando para


THE GUM RUNNER
a terra. A poucos metros a areia terminava. Palmeiras, folhagem
densa e grama grossa completavam a paisagem.

Parecia com o que eu achava que era o paraíso.

— Quanto caminhamos? — Perguntei.

Ele encolheu os ombros. — Um pouco menos de um quilômetro.

Virei em direção ao oceano. A água cristalina fazia pouco para


esconder a beleza do recife de coral que estava logo abaixo. Virei-
me para o interior. Areia clara nos separava da bela selva. As
grandes folhas das palmeiras balançavam na brisa e a grama
farfalhava levemente.

Inalei o cheiro da praia e tentei memorizá-la. Não queria que


isso acabasse nunca.

— O que você acha dessa área?

— A praia? — Perguntei.

— Não — ele disse. — Este ponto exato.

Olhei à minha esquerda. A praia estava vazia, apenas a areia


branca. À minha direita. O mesmo. Era o lugar mais sereno que
qualquer pessoa poderia encontrar na terra.

Suspirei.

— Eu amo esse lugar.

Ele sorriu seu sorriso com covinha.


THE GUM RUNNER
— Nós somos os donos dessa área.

Tossi. Pensei ter ouvido que somos os donos do lugar.

— O quê?

Michael sorriu e acenou com a cabeça.

— Nós somos os novos donos dessa área.

Olhei ao meu redor.

— Nós possuímos o quê?

Ele agitou os braços em cada direção.

— Aqui foi aonde vim ontem, enquanto você estava tirando uma
soneca. Assinei tudo e o dinheiro já foi transferido. Está tudo
definido. Bem, falta assinar alguns documentos.

Eu estava tão animada que pensei que fosse chorar.

— Você está falando sério?

— Completamente — disse ele. — É mais do que eu queria


gastar pela terra, mas depois de vê-la, eu tinha que comprar. É o
lugar perfeito para... bem, para nós.

Meu coração subiu para a minha garganta.

— Meu Deus. Você está falando sério?

Ele deu um sorriso orgulhoso. — Vou ter economizar para


financiar a construção da casa perfeita, mas sim. Isto é nosso.
THE GUM RUNNER
Liberei a coleira de Hank e agarrei Michael. Juntos, sobre o
lugar onde um dia teríamos uma casa, nós rolamos até que
estávamos cobertos de areia, enquanto o cachorro olhava para nós
como se fôssemos dois idiotas.

E o impensável aconteceu. Apaixonei-me ainda mais por


Michael.

A noite logo veio e depois do jantar, estávamos em pé na


varanda olhando para o mar.

Senti o doce aroma da praia. Amo esse lugar. Vai ser impossível
ir embora daqui amanhã.

Michael sorriu.

— Um dia você não terá que ir embora.

— Parece um sonho.

Ele tomou um gole de sua cerveja e olhou para o mar. — Meu


sonho? Meu sonho está de pé ao meu lado. Eu só tinha que
encontrar o lugar perfeito para a mulher perfeita. E agora, nós
temos isso.

Eram as férias perfeitas com o homem perfeito. Minha


imperfeita vida de alguma forma se transformou em um sonho
perfeito, me deixando sem ar, louca de amor e gratidão.

— Porra, eu te amo!

Enquanto olhava para o horizonte que escurecia, ele sorriu. —


THE GUM RUNNER
Porra, eu também te amo.

A ilha que nós estávamos ficava entre São Pedro, Belize e Cidade
de Belize.

Michael insistiu para ficarmos do lado da ilha que ficava a oeste,


para que pudéssemos desfrutar o pôr do sol. Como o sol se
preparava para ir embora, me entristeci de pensar que era a nossa
última noite na ilha.

— Isso é lindo— eu disse, jogando a cabeça para o pôr do sol.

— Se tivesse uma maneira que nós pudéssemos...

Eu queria mais um dia. Apenas um. Mas a beleza de tudo isso


fez com que as palavras me escapassem. Ele sabia o que quis
dizer. Ficar com Michael permanentemente na ilha seria o meu
sonho.

Ele entrou na casa e logo voltou, agarrando minha mão na sua


enquanto entrava na varanda.

— Vamos. O sol está quase se pondo. Nosso último pôr do sol


aqui. Vamos passá-lo na praia.

— Hank? — Eu perguntei.

— Deixe-o aqui.

Descalços, nós caminhamos para a praia de mãos dadas. Nós


dois fomos em direção aonde o oceano se encontrava com a terra e
caminhamos ao longo da beira da água. Fechei os olhos e permiti
que as ondas suaves molhassem o topo
THE GUM RUNNER
dos meus pés enquanto seguia Michael, segurando sua mão todo o
caminho.

— Abra os olhos — disse ele.

Ele colocou as mãos levemente contra meu braço e me virou


para o pôr do sol. Suas mãos caíram para minha
cintura. Balançamos-nos para frente e para trás na brisa quente
enquanto meus pés lentamente se afundavam na areia molhada.

— Assista ao pôr do sol — afirmou ele.

— Eu estou. Não posso evitar.

Olhei por cima do seu ombro e observei com admiração


enquanto os raios rosas, roxos, laranjas e amarelos se dissipavam
no horizonte.

— Diga-me quando estiver mais bonito para você. Quando for


perfeito — disse ele.

Perdi-me no momento. Olhei para o oceano, enquanto o som das


ondas ressoava em meus ouvidos. Em um momento, as cores do
pôr do sol misturaram-se com as poucas nuvens que haviam se
reunido ao longo do horizonte, fazendo tudo parecer como se uma
criança tivesse pintado com tinta a dedo. O céu lentamente
começou a escurecer, deixando apenas um pequeno reflexo sobre a
água e as cores brilhantes no céu.

Olhei por cima do seu ombro e sorri tanto que doía.

— Agora — eu afirmei. Ele soltou meus ombros e se abaixou


THE GUM RUNNER
em um joelho.

Olhei para ele como se ele fosse tolo por não virar e apreciar o
que eu acreditava ser a mais bonita vista da terra.

— Eu te amo, Terra.

— Também te amo. — Meus olhos voltaram para o horizonte. —


Levante-se. Veja isso. Você vai perder.

— Terra?

As cores eram magníficas. O tempo estava perfeito.

— Olhe — eu disse. — É o momento perfeito. Agora mesmo.

— Terra Wilson.

Meus olhos caíram do horizonte para Michael.

— Sim?

De costas para o pôr do sol, ele olhou por cima do ombro e


voltou para o meu olhar.

— Uma vida com você é tão bonita quanto esse pôr do sol
perfeito. Antes que ele vá embora, me responda isso.

— OK.

Ele se atrapalhou com seu short e tirou algo brilhante.

— Terra, complete este momento maravilhoso e diga sim.

Meu Deus.
THE GUM RUNNER
— Você quer se casar comigo?

Você não pode dizer a ele. Agora não.

Eu tinha sonhado com esse momento desde que eu era uma


garotinha. Minha boca ficou seca. Minha cabeça girava em
círculos. Mudei meus olhos do anel para ele, para o horizonte e de
volta. Meus olhos se encheram de lágrimas.

Abri a boca. As palavras não vieram imediatamente. Eu queria


isso mais do que qualquer coisa. Mas...

Estava cheia de culpa.

— Terra?

Levantei o meu dedo indicador.

- Eu tenho algo para lhe dizer, mas não até chegarmos a casa.

Uma lágrima escapou do meu olho e balancei a cabeça. Meus


lábios entreabertos.

Tinha me metido em uma terrível bagunça do caralho, mas


queria muito uma vida com ele.

Lutei contra o aperto na garganta.

— Nada neste mundo me faria mais feliz — assegurei. — Claro


que eu quero.

Com a mão trêmula, ele colocou o anel no meu dedo.

E apesar da crescente escuridão, vi algo que eu nunca teria


THE GUM RUNNER
imaginado que veria em uma vida inteira.

Uma lágrima rolou pelo rosto de Michael Tripp.

Continua.....
THE GUM RUNNER

***

Você também pode gostar