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PERIGOSAS NACIONAIS

S T E L L A G R
A Y

Destinada por Você


SÉRIE SUBMUNDO—LIVRO 5

São Paulo, 2018.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capa: Patrizia Evans


Revisão: Lilian Lima
E-mail para contato: autorastella@gmail.com

Copyright © 2017. Stella Gray


Esta é uma obra de ficção. Nome, personagens, lugares e
acontecimentos descritos, são produtos da imaginação do
autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
É proibido o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou
intangível – sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei
nº. 9. 610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição Digital | Criado no Brasil.
REGISTRO: 1801245574139

PERIGOSAS ACHERON
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UM

21 DE SETEMBRO DE 2010.

Acordei com o barulho da chuva batendo em


minha janela. Hoje seria o grande dia em que eu
finalmente teria o meu diploma em mãos! Levantei-
me da cama e caminhei até o meu banheiro para
fazer minhas higienes habituais. Quando saí, fui até
a janela, empurrando a cortina para ver como
estava lá fora. O mundo estava caindo com aquela
chuva, o que era extremamente anormal chover na
primavera por aqui. Levantei meus braços para
cima, me alongando e fui até o meu guarda-roupa
pegar meu vestido.
Se eu soubesse que cairia essa chuva
justamente hoje, teria pegado emprestado com a
Perla, um de mangas compridas! Aff! Vesti o
vestido de alças preto e calcei meu salto baixo.
Passei um pouco de maquiagem e fiz uma trança
bonita em meu cabelo escuro, respirei fundo e saí
do meu quarto. Meu apartamento era praticamente
uma caixa de fósforos! Pois o salário que eu tinha,
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trabalhando em uma loja no centro, era apenas para


pagar os estudos. Mas agora com o diploma em
minhas mãos, senti que tudo isso mudaria!
Cheguei ao ginásio da Fundação Getúlio
Vargas às pressas, em cima dos saltos baixos,
agarrada em meu casaco e no pequeno guarda-
chuva. Quando entrei, muitos alunos já estavam
com suas becas, sentados nos lugares certos, fui
para a fila e peguei a beca vermelha, em seguida
caminhei para o lugar que os coordenadores
instruíram. Sentei-me na sexta fileira e olhava para
todos os cantos, eu nunca tinha feito amizades,
estava nessa faculdade há quatro anos, e as únicas
pessoas que se aproximaram de mim foram os
professores e outros funcionários do campus.
Soltei um suspiro baixo quando avistei Perla,
chegando e dando um tchauzinho exagerado,
devolvi o aceno e ela se sentou onde os familiares
estavam. Perla era a melhor amiga da minha mãe e
depois que ela se foi, pegou minha guarda e cuidou
de mim desde os meus seis anos. Bem, minha mãe
suicidou-se depois que meu pai pediu o divórcio a
ela, e voltou ao seu país com a amante quinze anos
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mais jovem que ele. Eu nunca quis conhecê-lo,


nunca me importei em arrancar dinheiro dele, nem
quis viajar até ele, e jogar na sua cara que minha
mãe se matou por culpa dele. Eu não sou assim,
nunca fui.
Mas sempre agradecia a Deus por Perla ter
me acolhido, como se eu fosse sua filha. Ela era
uma mulher de 39 anos, incrível! E eu a amava.
Quando todos os formandos estavam sentados e
murmurando animadamente, o reitor apareceu no
púlpito e começou os discursos.
Lá vamos nós!
*****
— ELISA CASTANHO. — A garota deu
um passo até as escadas e pegou seu diploma,
várias pessoas gritavam, aplaudiam e assobiavam.
A garota chamada Elisa sorriu e acenou depois de
descer as escadas. Meu coração batia
freneticamente, pois eu era a próxima a ser
chamada. — ELIZABETH NEVASCO EVANS.
— Subi os degraus e aplausos educados surgiram,
apertei a mão do diretor Fernando e depois do
reitor, Renan, sorrindo abertamente e agradecendo.
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— Ótima Lizzie! Ótima! — Garantiu Renan.


Sorri assentindo e caminhei para descer. Ele
sempre dissera essas palavras a mim, que eu era a
melhor aluna da turma de Publicidade. Enquanto eu
caminhava de volta a minha cadeira, Perla estava
em pé, pulando como uma pulga e batendo palmas,
soltei uma risada feliz e balancei minha cabeça.
Essa Perla.
*****
Depois de todos terem pegado deus diplomas,
fomos ao buffet, chique demais, para mim. Na
Barra. O ambiente cheirava a riqueza, eu não
desgrudava meus olhos de cada detalhe do belo
salão de festas. Estava tão distraída que não percebi
a chegada de Perla. — Meu amor! Acabou de se
tornar adulta. — A abracei com carinho e sorri. Eu
me sentia uma verdadeira adulta. Afastei-me dela e
disse-lhe:
— Quando quiser elaborações fantásticas
para sua futura empresa, chama a gatinha aqui,
sacou? — Forcei o sotaque, fazendo Perla rir.
— Vou lembrar com carinho. — Piscou,
sorrindo.
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A festa estava boa, mas apenas os que vieram


me abraçar e parabenizar foram os professores e
alguns funcionários. Sério, eu me sentia um ÓVNI
não descoberto. Horas se passaram e a noite já
estava presente, sem a chuva. Mas tudo o que eu
pensava era o que seria daqui pra frente? O que
aconteceria a seguir? Eu não queria trabalhar
naquela loja onde as riquinhas me tratavam com
desprezo, era muita humilhação!
Pedi para Perla me levar embora e então
fomos para o seu carro, chegamos ao meu
apartamento e ela subiu as escadas junto comigo,
quando entramos, me joguei no pequeno sofá bege
e tirei meus saltos. — Você estava bem pensativa e
quieta. Se bem que você sempre foi assim. —
Murmurou Perla, se sentando ao meu lado, seus
saltos agulha, vermelhos, eram lindos. — Mas hoje
foi anormal. O que está pegando?
Deitei minha cabeça no sofá e suspirei. —
Você sabe o porquê. Quero trabalhar na Mlisbona
Entertainment, mas não aqui no Brasil.
— Nos Estados Unidos, Liz? — Perguntou
ela, se sentando ereta. — Isso é longe! Tu vai
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morar no país que nem conhece ninguém, isso me


deixa bolada! — Resmungou. Soltei uma risada
baixa e abracei seus ombros.
— Aqui é difícil achar, assim, de cara o
emprego dos sonhos, Perla. Lá, eu posso conseguir
isso.
— Mais como vai se sustentar? Onde vai
morar?! Ou esse emprego dá tudo de uma vez, casa,
roupas, comida…. — Disse em voz alta. Ela estava
frustrada. Sorri novamente e beijei sua bochecha.
— Eu guardei um dinheiro extra, mas fui
burra em não ter guardado para a passagem. —
Suspirei, me encostando ao sofá. Tinha sido uma
lerda sobre isso, guardei dinheiro suficiente para
ficar em alguma pensão ou algo do tipo por lá, até
que o emprego fosse meu! Mas aí, minha cabeça de
vento esquece a grana para a passagem do avião.
Ótimo. Perla me olhou por um tempo, depois
mexeu na sua grande bolsa vermelha. Sim, ela era
uma loira peituda, perua de Madureira.
Quando a vi tirando sua carteira dourada da
bolsa, estendi minhas mãos em direção a ela. —
Não sonha com isso! — Exclamei, mas Perla, não
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se importou. Ela me deu um olhar crítico e tirou


notas de cem reais dali. — Porque você anda com
tanto dinheiro na bolsa, Perla? Sabe que é perigoso!
Perla soltou uma risada e apontou para mim.
— Nenhum desses moleques mexe comigo! Eles
não são doidos. Tome, é pra comprar tua passagem.
— Ela me entregou um bolo de notas. — Eu recebi
hoje aquela dívida do Jonas. Aí tem mil e
quinhentos, amanhã eu trago o restante. — Perla
beijou minha testa e se levantou do sofá, assim
como eu.
Segurei seu braço, completamente perplexa.
— Ficou maluca?! Você esperava por esse dinheiro
há meses! Eu não posso aceitar.
— Mais você vai aceitar! — Sorriu, se
afastando. — Na segunda tu vais pro Estados
Unidos, gatinha. Vai ser o meu orgulho aqui nesse
bairro. — Perla soprou um beijo e fechou a porta.
Eu não sabia o que fazer! Deveria gritar
euforicamente de alegria ou de frustração? Sei que
ela queria apenas o meu melhor, mas sei que, Perla
precisa do dinheiro! Joguei-me no sofá e olhei o
dinheiro em minha mão. Acho que deveria gritar de
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alergia.
*****
— Pegou teus casacos? Tuas calças jeans?
Camisinhas? — Tapei a boca de Perla, e ri pela sua
cara de desespero. Estávamos no Aeroporto
Internacional de Galeão as 06:15 h. Eu mal tinha
adormecido na noite passada, devido à minha
ansiedade. Na semana passada tinha ligado para a
Mlisbona e marcado uma entrevista para quarta-
feira! Meu inglês não era um dos melhores, mas eu
arriscaria, esse era o meu sonho e eu sentia que
minha vida estava prestes a ser transformada!
Beijei a bochecha de Perla para acalmá-la, ela
estava pior que eu.
— Está tudo certo, Perla. Não precisa se
preocupar. — Quando terminei de dizer, foi
anunciado que o portão de embarque estava aberto.
Respirei fundo e olhei para ela. — Eu sempre darei
notícias, todo mês vou deixar dinheiro na conta, eu
prometo.
Perla começou a chorar silenciosamente e
balançou sua mão. — A única coisa que me
importa és tu. Tua felicidade e segurança. Seja
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feliz, minha gatinha. Vivian ficaria orgulhosa da


filha que tem. — Meus olhos encheram-se de
lágrimas, assenti para ela e a abracei com força. Eu
sentiria tanta falta dela, do meu país, da minha
cidade, mas eu tinha que fazer meu futuro andar.
Beijei demoradamente a bochecha de Perla e me
afastei sorrindo. Coloquei minha mochila nas
costas, e peguei minha mala de mão que Perla
segurava.
Segurei sua mão estendida e sorri, enquanto
ela chorava. — Eu te amo. — Disse, me afastando.
— Eu te amo, meu bebê.
Depois de me sentar no meu lugar, olhei pela
janela do avião com o coração frenético. Era isso.
Minha vida mudaria e eu seria o orgulho para
mamãe e Perla.
*****
Quase dezesseis horas de voo se passaram e
eu finalmente estava em Las Vegas. Quando saí do
aeroporto, não sabia para qual canto olhar. Era tudo
lindo e perfeito. As luzes coloridas e brilhantes da
cidade se destacavam ao longe, eu estava eufórica
com tanta beleza. Las Vegas é a cidade mais linda
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que já vi, com toda a certeza. Chamei um táxi e


soletrei praticamente cada palavra ao taxista. Ele
me deu um sorriso educado, pegou minhas duas
malas, colocando-as no porta-malas. Entrei no
veículo e então seguimos ao destino.
Tive que deixar a janela do carro abaixada,
mesmo eu sentindo frio, não me importei. Os
cassinos, os hotéis de luxo, as fontes e estátuas, as
luzes nos grandes prédios e os coqueiros na avenida
principal. Como nos filmes, perfeitamente perfeito.
Depois de meia hora, eu já estava na recepção do
hotel Circus Circus fazendo meu cheque-in e dando
boa noite para a recepcionista. Por mais que eu
estivesse agitada por dentro e extremante alegre por
esse grande passo, meu corpo estava exausto pela
longa viagem.
Entrei no quarto aconchegante com uma
grande cama branca no meio, e uma janela que
tinha uma vista espetacular de Nevada. Tirei
minhas roupas, tomei meu banho, pedi o serviço de
quarto (pizza era a melhor solução) e finalmente
me deitei na cama. Peguei meu celular no aparador,
ao lado da cama, e mandei uma mensagem rápida
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para Perla, dizendo que estava no hotel e que tudo


correu bem. Joguei o aparelho na cama, ao meu
lado e apaguei a luz do abajur, me deitei e fiquei
olhando pela janela, que eu havia deixado aberta,
para dormir com as luzes da bela cidade.
DOIS
Meu coração se encontrava descompassado
quando parei em frente ao alto edifício da Mlisbona
Entertainment. Minha ansiedade estava tão forte,
que eu poderia a qualquer momento desmaiar ali na
frente da empresa, no meio de tantas pessoas. Olhei
para meu relógio de pulso, para ter certeza que não
tinha chegado atrasada ou adiantada. 09 h, o
horário combinado. Passei a mão na minha camisa
branca, depois na cintura da minha saia lápis cinza
e respirei profundamente.
Ergui meu queixo, caminhei confiante até a
entrada do prédio, passei pelas portas de vidro e
andei entre aquelas pessoas, em seus vestidos e
ternos caros. Quando parei na frente do balcão
chique da recepção, duas mulheres loiras estavam
ali, uma delas sorriu para mim e se apresentou.
— Bom dia senhorita, me chamo Reese. Em
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que posso ajudá-la?


— Oi! Quer dizer, bo-bom dia. Chamo-me
Elizabeth Evans e tenho uma... hum, revista com o
Sr. Dullivan. — a mulher junta suas sobrancelhas
em confusão com minhas palavras. Merda. Acho
que pronunciei algo errado. Balancei minhas mãos,
rindo nervosamente e disse mais uma vez. — Estou
aqui para uma entrevista com o Sr. Dullivan.
Ela fez uma cara de surpresa e sorriu. — Oh
sim! Srta. Evans, ele já estava lhe aguardando. Por
favor, assine seu nome aqui para que possa liberar
seu crachá de identificação, e a acompanharei até a
sala. — Reese pegou uma prancheta transparente
com várias folhas e me entregou, lá, havia vários
nomes escritos. Assinei o meu e depois entreguei a
ela. Reese me deu um crachá preto com laranja,
escrito somente Visitor e embaixo o nome da
empresa. — Por favor, senhorita, me acompanhe.
Seguimos mais adiante do prédio e pegamos
um elevador com algumas pessoas, depois, quando
paramos no último andar, Reese me chamou e
entramos em um ambiente sofisticado da cor azul e
cinza. Portas e paredes de vidros se destacavam ali
e eu não sabia para onde olhar, então, Reese parou

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de frente a portas duplas da cor preta e bateu.


Alguém falou algo lá dentro e ela enfiou sua
cabeça.
Reese se virou para mim e se afastou da
porta. — Ele já está disponível, Srta. Evans. Boa
sorte! — Ela deu um sorriso e se afastou, voltando
todo o percurso.
— Obrigada! — Falei em português.
Respirei fundo e abri a porta do escritório.
Seria ali, o grande passo para o meu futuro.
*****
Já era quase horário do almoço quando saí de
dentro da Mlisbona. O Sr. Dullivan era um homem
no auge dos seus 40 anos, extremante gentil, que
me deixou confortável. Mas, apesar daquilo tudo,
eu não me sentia confiante. Tinha vacilado em
algumas perguntas e ele tinha, com toda a certeza
do mundo, notado que eu não era totalmente fluente
em inglês.
Caminhei pela calçada movimentada, peguei
meu celular da minha bolsa preta, cliquei no nome
da Perla e esperei que atendesse.
— Graças a Deus! Pensei que tinha sido
sequestrada! — Soou sua voz preocupada e alta do
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outro lado da linha.


Soltei uma risada e caminhei pela cidade, que
estava a todo vapor. — Hoje foi um dia importante,
sabe disso.
— Claro que sei! Conte-me aí como foi na
entrevista. — Parei perto de uma fonte redonda e
grande, bem no meio da calçada larga, havia várias
pessoas ali. Sentei-me na borda da fonte e respondi:
— Foi bom. Mas eu me dei mal em algumas
perguntas. Não sei, tenho que ser mais confiante.
Perla soltou um suspiro para mim. — Olha,
tu sabe que é capaz Lizinha. Não venha com essa
pra mim agora, tu fez uma viagem dessas pra
agora tá assim? Toda mixuruca?!
— Mixuruca? — Perguntei gargalhando.
Perla soltou uma risada e continuou. — Sem
brincadeira. Agora é sério, tu têm potencial. É
inteligente e capaz, se esses gringos não te
aceitarem, vou aí dar na cara deles! Sacou? —
Perguntou ela, me fazendo rir ainda mais. Olhei em
minha volta e respirei fundo.
— Saquei. Obrigada por acreditar em mim.
Eu amo você. — Disse com a garganta apertada.

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— E eu te amo. Preciso ir para o trabalho.


Cuide-se e não dê atenção para estranhos. Até
mais tarde minha linda.
Desliguei a ligação e fiquei ali parada,
olhando para a imensidão que estava diante de
mim. Eu me sentia pequena e indiferente aqui. Uma
peça que não se encaixaria no quebra-cabeça. Será
que eu tinha feito o caminho certo? Ou era uma
loucura tentar entrar no caminho dos homens-
grandes? Passei a mão na minha testa, suspirando e
me levantei. Joguei aqueles pensamentos para
longe e fui procurar um lugar para comer.
*****
Três dias se passaram e eu estava
incomodada a ponto de não sair de dentro do hotel,
ou até mesmo dormir, esperando a resposta da
Mlisbona. Dullivan me garantiu que daria uma
resposta concreta em até quatro dias. No máximo!
E amanhã esse prazo acabaria. Estava assistindo
tevê quando meu celular apitou. Peguei o aparelho
de cima do aparador e atendi sem verificar quem
era. — Alô? — Uma pessoa pigarreou do outro
lado da linha, como se estivesse se esforçando para
falar.

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— Srta. Evans? Aqui é o James West, diretor


de RH da Mlisbona. — Me sentei retamente sobre a
cama e desliguei a tevê.
Engoli em seco e mantive a calma, para não
gaguejar e as palavras saírem confusas. — Sr.
West! Estava aguardando ansiosamente a ligação.
— O homem soltou uma risada educada e baixa, e
continuou….
— Fico feliz, mas não venho com uma boa
notícia. — Ele fez uma pausa, a ponto de fazer meu
coração parar! — Srta. Evans, analisamos seu
desempenho e sua entrevista e vimos que buscamos
profissionais do seu nível. Porém, algo indesejável
fez com que a Mlisbona recusasse sua contratação.
A senhorita não é apropriadamente fluente na
língua inglesa e, também, é uma recém-formada na
universidade Getúlio Vargas. Pedimos que a
senhorita busque microempresas de publicidade,
para que tenha mais experiência no ramo. E
também, que faça um curso de carga horária
pequena da língua inglesa. Infelizmente, Srta.
Evans, não está apta o suficiente para participar
da equipe Mlisbona. Sentimos muito e esperamos o
maior sucesso para a senhorita. Tenha uma boa
tarde!
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A ligação ficou muda e eu paralisada. Era


isso, um sonho jogado pela janela. Coloquei
lentamente o celular em cima da cama e fui até a
janela do quarto. Sentia as lágrimas escapando
pelos meus olhos, estava me sentindo uma droga! A
porra de uma droga. Fechei os meus olhos e
encostei minha cabeça no batente da janela,
olhando para Las Vegas.
Eu não teria o que buscava, voltaria para o
Brasil da mesma forma que saí de lá, não tiraria
Perla daquele lugar e teríamos que continuar
naqueles empregos desgostosos. Tudo por minha
culpa! Burra, burra e mais burra! Quem nos
Estados Unidos contrataria uma mulher que não
sabe soletrar uma palavra em inglês? Eu deveria ter
encontrado um cursinho gratuito quando tive a
oportunidade. Agora era tarde demais.
Limpei as lágrimas com as costas da minha
mão e fui calçar meus sapatos. Não ficaria ali
trancada, lamentando. Aproveitaria a cidade
enquanto eu poderia.
*****
Mesmo saindo algumas lágrimas estavam
escapando pelos meus olhos, a sensação da derrota
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era terrivelmente horrível. Sentia-me menos e


inferior naquele momento. Parei em uma dos
lugares mais movimentados da cidade, no
complexo The Linq Las Vegas, enquanto eu
caminhava lentamente, fiquei observando a roda-
gigante que estava com suas luzes, coloridas, já
acessas.
Fui até um local onde havia várias pessoas
sentadas e também me sentei, bem ao lado de um
homem que estava no telefone. Curvei-me e cruzei
meus braços em cima das minhas pernas, pensando
do que seria de mim sem esse emprego. Eu não
tinha uma segunda opção, não tinha outro plano.
Não tinha nada. Soltei um suspiro trêmulo e limpei
minhas lágrimas, enquanto me recostava no banco.
Quando levantei minha cabeça, o homem ao meu
lado desligava seu telefone e me encarava
seriamente.
— Você está bem? — Perguntou com um
sotaque italiano.
Funguei discretamente e cruzei meus braços,
para espantar o frio. — S-sim. Obrigada por
perguntar. — Murmurei timidamente. O homem
assentiu e se recostou também, como eu estava. Ele

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era muito elegante, usava um terno azul marinho e


camisa preta sem gravata. Aparentava ser alto e não
era magricelo, mas também não era musculoso.
Ele me encarou novamente, dizendo. — Não
quero me intrometer e nem nada, mas parece que
está triste? Garanto-lhe que sou um bom e
confiante ouvinte. — Abri um sorriso para ele e
acenei. Ele era bem sério, um olhar penetrante e
intimidador, mas me sentiria bem em contar minhas
derrotas para um estranho gentil.
— Conhece a Mlisbona? — Perguntei.
Ele franziu o cenho e passou a mão em seu
queixo. — Aquela que cria eventos, produção,
planejamento? — Perguntou, me encarando.
Meneei minha cabeça e soltei um suspiro.
— Vim do Brasil para uma entrevista, estava
confiante, mas, agora a pouco recebi a ligação
deles, me dizendo que não estou apta porque meu
inglês é uma merda e eu sou uma ferrada sem
experiências. — Disse em tom sarcástico. Eu estava
começando a sentir certa raiva e aquilo era melhor
do que a tristeza.
O homem arqueou suas sobrancelhas e se
curvou em minha direção. — Tenho certeza que
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eles não disseram exatamente nesse nível.


— Não! — Gargalhei. — Mais foi quase
assim.
Ele se afastou, assentindo e cruzou seus
braços, assim como eu. Olhei para seu rosto e
poderia dizer que ele era muito bonito. Ficamos em
um silêncio esquisito e constrangedor, bem, para
mim. Eu sou muito incomunicável e quando a outra
pessoa também é, fica pior.
— Sabe. — Suspirou o homem. Olhei para
ele e esperei. — Não sei se acredita em sorte, assim
como eu, mas…. tenho uma boate aqui na cidade,
estou precisando de toques femininos para os
eventos que acontecem por lá. Até hoje eu não
achei ninguém adequado, mas sinto que você não
me decepcionará. E também, se aceitar o emprego,
terá tudo o que quiser. — Fiquei olhando para ele,
com as sobrancelhas arqueadas. Aquele não era o
momento para brincar.
Mexi-me, incomodada em meu lugar e sorri.
— Você deve estar brincando com a cara de uma
mulher desesperada.
O homem arqueia sua sobrancelha esquerda e
me diz. — Eu por acaso, estou tentando rir? —
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Perguntou de forma arrogante, fazendo seu sotaque


ficar mais forte. Olhei atentamente para ele e vi que
realmente não havia nenhum vestígio de
brincadeiras.
Oh meu Deus!
— Meu Deus…. Você está mesmo...
— Esse é o meu telefone. — Disse, me
interrompendo, ele tirou uma caneta do estilo rica
de dentro do paletó e um pedaço de papel, fiquei
observando ele enquanto escrevia seu número. —
Se não está acreditando, me ligue por volta das 11
h. Eu realmente preciso de alguém para me ajudar
na boate. — Ele entregou o papel em minhas mãos
e se levantou.
Eu não sabia o que pensar, estava sentindo
uma nova onda de esperança crescer dentro de
mim. Levantei-me rapidamente e sorri. — E-eu
nem sei como agradecer! Muito obrigada, senhor.
Ele enfiou as mãos em seus bolsos da calça e
arqueou novamente suas sobrancelhas, dizendo. —
Agradeça me ligando amanhã. E por favor. — Ele
foi se afastando e dizendo: — Me chame de
Vicentino.
Enquanto Vicentino entrava em um carro de
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luxo, com um homem abrindo a porta, eu fiquei ali,


segurando seu papel e seguindo o carro, em
movimento, com meus olhos. Soltei uma risada
frouxa e olhei o número de telefone.
Vicentino Cavallaro.
Era uma nova oportunidade?

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TRÊS
Estava sentada na beirada da cama com o
celular na mão, na outra o número de telefone que o
Sr. Cavallaro me passou. Faltava pouco para as 11
h da manhã e eu me sentia eufórica e agitada! Não
tinha conseguido dormir na noite passada, pelo fato
de querer ligar para ele o quanto antes. Eu tinha
dito para Perla sobre esse encontro inesperado e ela
ficou feliz, porém como sempre, ficou desconfiada
e pedindo para eu tomar cuidado.
Olhei para a tela do meu celular e já era hora.
Lá vamos nós!
Disquei o número ansiosamente e esperei ser
atendida. Nada. Franzi meu cenho e tentei mais
uma vez, no terceiro toque, a voz masculina de
Vicentino, soou. — Cavallaro. — Soltei um
pigarreio baixo e abri um sorriso largo. Por que eu
estava sorrindo?! Balancei minha mão e respirei
fundo.
— Bom dia, Sr. Cavallaro! Aqui é a Liz...
Elizabeth. Conhecemo-nos ontem e eu estava
chorando...
— Oh! Elizabeth a garota brasileira que tem
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um diálogo em inglês péssimo. — Ele soltou uma


risada discreta e eu queria me enterrar naquele
momento. Era vergonhoso conversar com alguém,
dizendo metade das palavras erradas. — Como
está? Que bom que você me ligou. — Sorri
pequeno e me levantei da cama. Estava agitada
demais.
Parei de frente a janela do quarto, enquanto
dizia: — Me desculpe pela minha forma de falar.
Prometo melhorar. Eu estou bem, mas estou curiosa
para saber o motivo de me pedir para logar…. ligar.
— Me corrigi rapidamente. Vicentino riu mais uma
vez.
— Não se preocupe, quando vim para
América, era pior do que você. Mas vamos ao que
interessa. Estou na boate Haze, venha até aqui.
Passarei o endereço. — Ele especificou claramente
o local que estaria, além disso, disse que eu poderia
pegar um táxi e quando chegasse, ele pagaria.
Terminando de anotar tudo, ele continuou. — Só
não demore muito, pois meu sócio irá vir até aqui
para uma reunião.
Assenti com um sorriso e respondi. — Irei
agora mesmo! Muito obrigada, Sr. Cavallaro. —

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Um sorriso misturou-se com sua voz, quando ele


me disse.
— Me chame de Vicentino. E não precisa
agradecer, eu que tenho, acredite. Vejo-te daqui
alguns minutos.

*****
Um dos funcionários de Vicentino estava me
esperando na porta da boate e tinha pagado o táxi.
O bairro era magnificamente de luxo, bem no
centro da cidade, mas quando entramos na boate
meu queixo caiu. A boate era maravilhosa, com
luzes coloridas roxo, azul e rosa, acesas, e sofás,
mesas, poltronas claras por todo o lado. As paredes
eram de madeira marfim escuras, como as pilastras.
No centro da boate, uma pequena escada de vidro
com quatro lances levava até sofás e poltronas
grandes, com mesa de vidro.
Eu estava petrificada com o luxo da boate,
era incrivelmente linda. Caminhei lentamente por
ela, olhando os pole dance e o grande balcão do
bar, quando Vicentino caminhava em minha
direção, em um terno cinza claro. Seus cabelos
ondulados estavam penteados de forma elegante e
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um olhar sério estampava seu rosto. Ele era bonito,


mas não tanto assim, na verdade. E hoje, ele usava
uma aliança de ouro no anelar esquerdo.
— Sua beleza é destacada, até mesmo de
longe, Elizabeth. Seja bem-vinda. — Disse-me
Vicentino, chegando perto de mim e segurando
minha mão, para beijá-la.
Sorri timidamente para ele, enquanto lhe
dizia: — Obrigada, Vicentino. Esse lugar é incrível,
maravilhoso.
— No seu país é diferente? — Perguntou,
entrelaçando meu braço direito ao seu e me levando
mais adentro da boate.
Assenti com um sorriso. — Muito. Aqui é
mais lindo e convidativo. — Vicentino sorriu sem
mostrar os dentes, enquanto entrávamos em um
corredor claro, com inúmeras portas pretas, mas eu
notava apenas os vários homens que estava ali.
Desde que tinha entrado aqui. — Por que há tantos
homens espalhados por aqui? O centro é perigoso?
— Perguntei no momento em que paramos de
frente a última porta do corredor. Vicentino me deu
um olhar simples e abriu a porta, me convidando.
Lá dentro, era um escritório muito bonito com
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decorações sofisticadas.
— Apenas prezamos a segurança de todos
que entram. Não há com que se preocupar. —
Comentou. — Por favor, sente-se. — Pediu, dando
a volta em uma mesa de madeira escura, sentando
na cadeira giratória de couro. Sentei-me em uma
das poltronas à frente da mesa, olhava para todos os
lados. Eu não sabia o porquê, mas estava me
sentindo fora da minha zona de conforto. — Está
bem? — Perguntou Vicentino, arqueando suas
sobrancelhas escuras.
Meneei com minha cabeça e suspirei. —
Claro. — Sorri.
Ele me olhou por um instante e depois
assentiu, entrelaçando os dedos das mãos sobre a
mesa. — Certo. Vamos começar. Está com seu
currículo? — Vicentino pigarreou e se curvou um
pouco. Assenti para ele, pegando a folha de dentro
da minha pasta vermelha o entregando. Vicentino
leu rapidamente o conteúdo, assentindo ao mesmo
tempo. — Como eu disse a você ontem, realmente
preciso de uma mulher para trabalhar aqui. Mas o
seu inglês, ele é péssimo Elizabeth, isso pode afetar
seu trabalho, pois aqui sempre há pessoas

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importantes e essas pessoas adorariam conversar


com uma mulher que saiba diferenciar palavras
como “discreto e distinto” nas frases. Você
compreende?
Mordi meu lábio inferior e assenti com
vergonha. Ele tinha toda razão, seria humilhante
para mim, conversar com talvez, um ator
hollywoodiano e não souber formular uma frase,
com palavras difíceis. Suspirei pesadamente e
assenti mais uma vez. — Compreendo, sei que esse
ponto é complicado. Mas…. sempre tive uma vida
simples, a faculdade foi uma bolsa que ganhei
através de uma prova na escola. — Murmurei
timidamente, sabendo que eu era uma merda no
inglês.
— Não se preocupe com isso. Apenas quero
que você responda sim ou não. — Ele me olhou
seriamente, dizendo. — Elizabeth, você quer esse
emprego?
Não pensei duas vezes, era tudo o que sempre
quis. Atuar naquilo que eu mais amava. — Sim, eu
quero. — Confirmei com a voz firme.
Vicentino abriu um sorriso e então, abriu uma
gaveta da mesa e tirou várias folhas, grampeadas
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nas outras. Ele pegou uma caneta e colocou as


folhas em cima da mesa junto com a caneta, na
minha frente. — Esse é o contrato, dizendo que
você será uma funcionária registrada na Haze, com
todos os direitos. Salário, benefícios dados pela
empresa, adicional noturno se precisar. Você
assinando, já se... — Sua voz parou enquanto me
via assinando o meu nome em cada folha. Foram
no total de dez.
Quando terminei, olhei para ele. — Já posso
me considerar da equipe Haze? — Perguntei
ansiosamente.
Vicentino pegou o contrato em suas mãos,
com um sorriso no rosto. — Seja bem-vinda a
família Haze. — Mordi meu lábio, sorrindo para
ele, me segurando para não pular de alegria. Eu
estava em êxtase! Completamente feliz. — Bom,
agora podemos dizer o que você precisa. Amanhã,
você começará a ter aulas com um ótimo professor
de inglês. Preciso de você fluentemente em menos
de dois meses, seu inglês é péssimo, como eu disse,
mas há momentos em que fala as palavras
corretamente. Então, não demorará muito para
aprender todas as palavras. Resolvendo isso, você
precisa morar perto da boate.
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Eu estava praticamente pulando no meu


lugar, quando então, desanimei por dentro. Eu sabia
que algo ferraria tudo. Encostei-me a poltrona e uni
minhas sobrancelhas. — E-eu não tenho uma casa.
Estou hospedada em um hotel, que logo me jogará
para a rua, pois os dias de hospedagem estão
chegando ao fim. — Contei, com a voz apertada.
Segurando o choro. Aquele era o fim, mais uma
derrota para minha coleção de fracassos de
Elizabeth nos Estados Unidos. Porém, Vicentino
abriu um sorriso, jogando o contrato em cima da
mesa, abrindo a mesma gaveta. Ele tirou um
pequeno molho de chaves, colocando na minha
frente.
— Isso não é problema. No contrato, diz que
se o funcionário não tem uma casa na cidade ou
mora em outro bairro, a boate cobre isso tudo.
Todos os funcionários têm um apartamento
disponível em um prédio que compramos no final
da rua. Essa é a chave do apartamento, e essa a
chave do seu carro. — Meus olhos estavam
arregalados com suas palavras lentas, para que eu
pudesse entender. Havia duas chaves pratas, uma
dourada maior e a do carro. Do meu carro: uma
MERCEDES!
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— Ai meu Deus, e-eu acho que vou passar


mal! — Exclamei, pegando as chaves em minha
mão. — Eu estou, estou enlouquecida! Muito,
muito obrigada por tudo! — Ri para ele.
Vicentino assentiu para mim e então se
levantou da sua cadeira. — Amanhã, começará suas
aulas de inglês. Quando estiver se sentindo
preparada para ter conversas com os clientes, me
avise. Enquanto isso. — Ele me chamou e me
levantei sorrindo. Saímos de dentro do escritório e
caminhamos até a boate. Quando paramos perto do
bar, Vicentino continuou. — Quero você aqui às 18
h em ponto, me mostrando todas as informações
para criar um evento na boate. Você terá pessoas
para lhe ajudar com o que precisar. Antes desse
horário, suas aulas começaram as 08 h e 30 min e
acabarão as 14 h. Quero seu foco nas duas tarefas,
aprender e desenvolver. Você consegue?
Que pergunta! Eu era um faz tudo, em toda
minha vida. Por isso consegui minha bolsa na
faculdade. — Com certeza, prometo que ficará
orgulhoso. — Garanti, com um sorriso aberto.
Vicentino assentiu e me olhou atento, de cima a
baixo.

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— Tenho certeza disso. Um dos seguranças


levará você ao apartamento, busque suas coisas no
hotel, antes disso. — Vicentino se aproximou de
mim, segurando minha mão para plantar um beijo.
— Estou feliz por você estar conosco, Elizabeth.
Quando me despedi, me sentia uma criança
no parque diversões. Eu praticamente tinha corrido
para o quarto de hotel, jogando minhas coisas de
qualquer jeito dentro das malas e saí de lá o mais
rápido possível. O segurança que andava comigo,
se chamava Nino. Ele não era muito de falar, mas
eu não me importei com isso, eu queria sentir a
sensação de ter um apartamento maravilhoso para
mim. Quando tinha entrado no carro, Nino deu a
partida, seguindo em direção onde a boate ficava.

*****
Minha boca não conseguia se manter
fechada, devido ao que estava em minha frente. Eu
estava na entrada do apartamento magnificamente
lindo, em tons claros e vermelhos, a mobília era do
branco ao tom pastel e os sofás vermelhos. A
parede da sala, ao lado esquerdo, era de vidro, do
teto ao chão, destacando as luzes coloridas da

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cidade e o MGM amarelado brilhante, quase ao


lado do meu apartamento!
O carpete era bege e fofinho, a televisão era a
maior tevê que eu já tinha visto na minha vida!
Soltei um grito animado e corri pelo grande
apartamento, havia três quartos de cores diferentes,
um era azul, o outro vermelho e o último branco. O
maior dos três era o azul, mas eu tinha escolhido o
branco. Todos tinham um banheiro com banheiras!
E eu suspeitava que fossem do tamanho da minha
quitinete na Madureira. Havia um banheiro social, a
cozinha, superabastecida, da mesma cor do quarto
que escolhi, e uma sala, com as paredes de vidro e
uma jacuzzi no meio dela.
Eu não parava de pular e gritar com cada
descoberta, naquele incrível lugar, me sentia tão
feliz que tinha esquecido completamente do meu
inglês barato. Voltei para a sala e fiquei na frente
da parede de vidro, olhando, maravilhada para Las
Vegas, à noite. Mordi meu lábio inferior e soltei um
riso feliz. Um novo e grande começo.
*****
O dia com o professor Liam Foster foi
descontraído e divertido. Ele sabia falar em
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português, o que me fazia sentir como se eu


estivesse no conforto da minha casa. Mas ele era
bem rígido, me ensinou em um dia, algo que
deveria ser em uma semana. Ele era
academicamente um dos melhores professores de
inglês fluente, em quase todos os estados do país. E
também o mais procurado para dar aulas. Passamos
todo o aprendizado, conversando em inglês e ele
corrigia onde eu mais errava feio.
Eu não me sentia envergonhada, com a minha
deficiência em sempre trocar uma letra pela outra.
Mas sentia que entraria de cabeça nisso, para
surpreender Vicentino.
Quando o professor Liam tinha se despedido,
dizendo que iríamos nos encontrar mais cedo no dia
seguinte, comecei a me preparar para as
elaborações do evento. Havia tudo para mim
naquele apartamento, incluindo um caro MacBook
e um celular da mesma marca. Minhas pesquisas
foram positivas e minha mente já trabalhava nas
ideias que eu poderia usar naquela noite. Não era
difícil criar algo fantástico em Las Vegas, mas eu
queria renovar, mostrar que eu estava envolvida em
tudo aquilo.

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Passava-se das 16 h e eu não tinha mais


tempo. Terminando tudo, liguei para a boate e
conversei com uma das pessoas que me ajudaria,
ele se chamava Lincoln e era um doce de pessoa.
Expliquei tudo o que precisávamos para decorar e
todas as minhas ideias, ele amou e disse que iria
começar a preparar antes de mim. Tomei meu
banho apressadamente e corri para me arrumar,
vesti um vestido canelado preto de mangas curtas e
sua barra ia até os meus joelhos. Queria estava
apresentável e aparentando uma profissional e não
uma puta.
Sequei meus cabelos negros e me maquiei,
depois de terminar tudo, saí de dentro do
apartamento. Caminhei até o elevador e desci para
o térreo, onde meu novo carro aguardava, quando
cheguei lá, apertei o botão na chave do veículo, e
ele apitou. Era uma Mercedes prata de dar inveja
para qualquer mulher. Bati minhas mãos
animadamente e corri até o carro.
Merda. Eu me sentia uma executiva!
*****
O relógio marcava quase meia-noite e eu não
tinha visto Vicentino ainda. Os funcionários
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garantiram que ele chegaria logo, pois a boate


fechava apenas às cinco da manhã. Enquanto isso,
o lugar estava abarrotado de pessoas, música
tocando alto e a maravilhosa produção que fiz. O
tema era: Noite Dourada. Onde as garotas usavam
biquínis pratas e pintadas de dourado por todo o
corpo, as que levavam as bebidas, usavam vestidos
e sapatos dourados e toda boate estava com balões
dourados e no chão, papéis brilhantes da cor
dourada.
Tudo brilhava a ouro e os sorrisos dos
clientes, eram enormes. Muitos deles vieram me
cumprimentar, mas Lincoln estava ao meu lado e
falava por mim. Eu tinha ido até o bar para tomar
um copo de água, eu não bebia bebidas alcoólicas,
então, o que me restava dentro de uma boate
luxuosa, era água. Mais que bem-vinda. Sentei-me
em uma das baquetas e senti meus pés doerem, por
causa do salto alto. Eu estava cansada e com sono,
meu corpo estava dolorido, principalmente minhas
costas e pescoço.
Enquanto eu segurava meu copo, observei
uma das garotas de biquíni, caminhando até um
homem elegante em seu terno e se sentando no colo
dele. Ela disse algo em seu ouvido, os dois se
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levantaram e ela pegou sua mão, levando-o até os


fundos da boate, onde era o escritório. Bebi a água,
lentamente e quando uma bar girl se aproximou,
chamei por ela.
— Oi! Por que aquela garota levou o cliente
para lá? — Ela me olhou confusa e depois para
onde eu apontava.
A mulher abriu um sorriso e gritou acima da
música. — VOCÊ TRABALHA AQUI E NÃO
SABE? — Perguntou rindo. Quando abri minha
boca para responder, ela arregalou seus olhos para
onde olhava e se afastou.
— Aí está você. — Olhei para trás, Vicentino
vinha caminhando até a mim. Ele tocou nas minhas
costas com sua mão direita e encostou-se ao balcão
do bar, ao meu lado. — Quando me ligaram,
dizendo o que estava acontecendo por aqui, eu não
acreditei. Meus parabéns, você começou muito
bem.
Abri um sorriso e olhei para a festa
empolgante. — Obrigada, eu me sinto muito feliz.
Estou contente em ver que minha primeira vez
nisso tudo, foi um sucesso.
— E todas as vezes serão. — Garantiu
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Vicentino. — Um dos rapazes me disse que você


não parou por um segundo. Então vá descansar. O
professor Liam me disse que iria até sua casa mais
cedo amanhã. Durma. Recarregue as baterias e
prometo que amanhã você não fará tanta coisa
assim. — Ele se aproximou de mim e achei que
pegaria minha mão, mas Vicentino segurou minha
nuca e se curvou, beijando o meu pescoço
demoradamente. Fiquei paralisada de surpresa,
quando se afastou.
Soltei um pigarreio e sorri rapidamente. —
Obrigada, Vicentino. Tenha uma ótima noite. —
Ele me olhou da mesma forma que fez na manhã
passada e assentiu. Indo para longe de mim. Soltei
um suspiro baixo e terminei de beber minha água.
Eu estava me sentindo uma merda de cansada e
tudo o que queria agora era poder dormir!
*****
Sentei-me na frente da parede de vidro da
sala e esperei Perla me atender. — Alô? Eliza? —
Abri um sorriso carinhoso ao ouvir sua voz.
— Estou feliz em ouvir sua voz.
Ela soltou um suspiro e depois um bocejo,
me fazendo rir. — Tu sabes que aqui são 04 h da
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manhã, né?! — Me deitei sobre o carpete macio e


gemi.
Não, eu tinha me esquecido. — Me desculpa,
esse jet-lag está acabando comigo. Enfim, só quero
te mostrar algo. — Tirei o celular de perto do meu
ouvido e comecei a bater fotos do apartamento, da
incrível vista e depois dos outros cômodos. Parei no
meu quarto e me joguei na cama, enquanto enviava
as fotos. — E aí? Bem legal né? — Perguntei
animada. Perla demorou a me responder, enquanto
olhava as fotos enviadas. Depois, ouvi seu suspiro.
— Não acha…. Isso... tipo... estranho
demais? É muita facilidade, Eliza, e eu acabo de
me ligar que tu és ingênua demais! Volte agora
para casa. — Ordenou com uma voz firme.
Revirei meus olhos e me sentei na cama. —
Relaxe, eu conversei com quase todos os
funcionários e eles deram as mesmas versões. Que
quando se trabalha tanto na Haze, como em outras
boates, seu chefe dá o apartamento e em algumas
vezes um carro, mas quando você é mandado
embora ou se demita, precisa devolver tudo da
mesma forma que pegou. Estava no contrato. —
Expliquei para ela e me levantando da cama para

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tirar o vestido.
— Isso soa tão fodido que me faz querer te
dar um pau! E estou falando de uma surra, eles
trabalham lá e óbvio que dirão o que o cafetão diz.
Agora, você leu o contrato?
— Perla. — Suspirei. — Não chame meu
chefe dessa forma. E não, eu não li, ele explicou o
que estava escrito, você sabe que sou pior lendo, do
que falando em inglês. Mas, advinha? Eu tenho um
professor particular! Logo estarei cantando Livin on
a Prayer sem precisar do Bon Jovi pra me ajudar.
— Ri com a piada, tirando o vestido. Joguei-me na
cama e esperei que ela dissesse algo.
Perla soltou um rosnado chateado. —
Completamente boba! Eu sofro com essa tua
ingenuidade, nunca vendo o lado mau das pessoas.
Meu bem, você sabe que o mundo é sujo! As
pessoas que o deixaram assim, por favor,
Elizabeth, eu estou implorando. Volta pra tua
terra, volta pra morar comigo. Por favor!
— Não fique assim, Perla. — Respondi,
fechando meus olhos. — Eu prometo ligar todos os
dias antes e depois do trabalho. Eu sei me cuidar
sozinha e sei que as pessoas são boas, não fique
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assim, tudo bem? Eu preciso dormir. Estou muito


cansada, faça o mesmo e não se preocupe. Eu te
amo!
Perla soltou um choramingo frustrada, com
as minhas palavras. — Que Deus te guarde nesse
lugar esquisito! Ligue todos os dias, entendeu? Eu
também te amo.
Quando a ligação ficou muda, deixei o
celular escapar dos meus dedos, e o sono já estava
me invadindo.

QUATRO
Em apenas cinco semanas fazendo eventos na
Haze, o lugar se encontrava mais lotado do que
nunca, como alguns funcionários disseram. Eu me
sentia feliz com o meu desempenho e totalmente
satisfeita. Principalmente porque eu poderia
finalmente me comunicar com quase todos os
clientes, o que era divertido. Muitos deles faziam
questão de dizer que tinham casas espalhadas pelo
mundo, carros luxuosos, amantes e dizem de seus
dias entediantes no trabalho. Outros se
vangloriavam por enganarem o governo do país,
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por não pagarem impostos ou as hipotecas de suas


casas e bens.
Não havia um dia que fosse chato na Haze,
todos os dias apareciam rostos novos, e rostos que
eu conhecia apenas através da tevê. Eu sempre
mantinha a postura de uma profissional quando
algum famoso vinha conversar comigo, mas era
totalmente difícil, meu lado tiete gritava dentro de
mim, louca para sair. Mas, eu já estava me
acostumando com tudo, tanto na boate, como
também na cidade. Minhas folgas eram aos
domingos e segundas-feiras, eu poderia fazer o que
quiser nesses dois dias livres. Mas o que eu fazia,
realmente, era dormir até babar.
Tudo estava perfeito, o que sempre sonhei,
mas também, havia acontecimentos na Haze, que
eu não conseguia deixar para lá. Esses
acontecimentos duvidosos tinham dias e horas
marcadas. Todas as quintas-feiras, às 21 h,
Vicentino e outros homens se encontravam na
boate e sumiam para dentro do escritório. Eles
saíam de lá, somente por volta da 01 h da
madrugada. Havia também, algumas vezes, garotas,
muitas garotas eram escoltadas pelos guarda-costas
em algum local da boate.
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Eu sempre perguntava para uma das bargirls,


a Patsy, por que sempre aconteciam aquelas
reuniões particulares e às vezes, mulheres sendo
escoltadas. Mas desde o meu primeiro dia, que fiz a
pergunta do por que as dançarinas sumiam com os
clientes ao fundo da boate, ela não me respondia
mais. Apenas me dizia que aquilo não era problema
nosso e para eu esquecer aquilo. Eu não sou
nenhuma Super Mulher com uma Super
Inteligência, sempre fui considerada como a “meia
tapadinha ingênua”, mas algo me dizia que aquilo
cheirava muito mal.
Eu estava a caminho da boate agarrada ao
meu casaco de lã. Não queria ir de carro, então
achei melhor caminhar até a boate, pois não era
muito longe, levava apenas quinze minutos.
Quando cheguei à porta, cumprimentei os
seguranças que sorriram educadamente para mim e
em seguida entrei.
Ainda não havia nenhum cliente e nem as
dançarinas, mas os barmans estavam lá. Patsy me
olhou com um sorriso pequeno e se virou de costas
para mim, fugindo das minhas curiosidades. Soltei
um suspiro baixo e me sentei em um dos sofás de
couro branco, remexi na minha bolsa e peguei meu
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celular, para enviar uma foto da boate junto com


uma mensagem para Perla.
PARA: Perla.
AS: 18:36 min.; HOJE: 16/10/10.
"Queria que estivesse aqui para podermos
nos divertir na Haze!: (você ainda não conseguiu a
aprovação do seu visto?)."
— Liz. — Uma voz me chamou e
rapidamente, bloqueei a tela do meu celular. Peguei
minha bolsa e me levantei. Era Vicentino.
Abri um largo sorriso para ele, enquanto se
aproximava de mim. — Vicentino! Você sumiu
desde ontem, por onde andou? — Perguntei e
entrelaçando minhas mãos.
— Oh, meu sócio teve uma entrevista
particular na sua casa e ele me queria por perto. —
Sorriu rapidamente. — Se sentiu deslocada, sem
minha presença? Pensei que já estava familiarizada
com os empregados. — Murmurou, me olhando de
cima a baixo.
Pigarreei timidamente e sorrir. — Er... sim,
hum, quero dizer, eu já estou familiarizada com
eles, apenas achei estranho você não ter vindo
ontem. — Expliquei em tranquilidade. Vicentino
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sorriu pequeno e acariciou meu braço com a sua


mão, rapidamente, olhando para a boate. Eu estava
com minha pergunta enxerida, na ponta da língua.
Vicentino sempre foi uma ótima pessoa comigo e
tudo o que eu lhe perguntava, ele respondia sem
problema algum. Engoli em seco e chamei sua
atenção. — Vicentino, por que você se junta com
alguns homens elegantes todas as quintas-feiras de
noite?
Ele virou sua cabeça em minha direção e
arqueou suas sobrancelhas, enquanto buscava algo
no seu bolso direito da calça. — Eles tomam conta
das outras boates, então sempre faço uma reunião
para me passarem os feedbacks. — Murmurou
distraidamente, enquanto mexia no seu celular.
Aquilo era bem óbvio, ele sempre me dizia que não
existia apenas a Haze, mas outras boates, e não
somente em Las Vegas.
Mordi meu lábio e aproveitei a situação, ele
não tinha problemas em responder minhas
curiosidades, pelo visto. — Claro! — Ri
nervosamente. — E aquelas mulheres? Há dias em
que também aparecem em torno de vinte mulheres,
sendo escoltadas pelos seguranças até os fundos da
boate, quando você já está em reunião. —
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Vicentino parou de digitar na tela do aparelho e


levantou sua cabeça lentamente, em minha direção.
— Sabe, eu sou extremamente curiosa! Não perco o
foco de nada que chame minha atenção! Desculpe-
me. — Soltei outra risada baixa e cruzando meus
braços.
— Quantas vezes você já viu isso? —
Perguntou seriamente.
Olhei pela boate e dei de ombros. — Hã….
bem, não sei, acho que umas três ou quatro vezes.
— Respondi. Vicentino assentiu e guardou seu
celular me dizendo:
— Só você que notou isso? Aqui da boate?
— Perguntou mais uma vez, porém sua voz estava
mais melosa. Acenei com a minha cabeça e franzi o
meu cenho.
— Olhe me desculpe, eu não deveria ficar me
intrometendo no que se passa ao meu redor. Eu
prometo que não irei mais perguntar nada, a não ser
que seja do meu trabalho. — Eu sentia que tinha
pisado em ovos podres naquele momento. Os olhos
de Vicentino já me diziam tudo. Ele não queria ser
rude, mas eu via o quão ele não gostou da minha
segunda pergunta enxerida. Eu deveria parar com
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aquela loucura de ficar bisbilhotando tudo o que


acontecia na boate. Minhas preocupações eram
outras, e é totalmente diferente das que eu
observava de longe.
Vicentino respirou fundo, balançando sua
cabeça e sorrindo. — Não se preocupe Liz. Você é
nova por aqui e é normal fazer essas perguntas.
Bem, eu preciso ir a um lugar. Prometo que estarei
de volta mais tarde. — Ele me enviou uma
piscadela e se afastou, chamando dois seguranças e
indo em direção às portas de saída da boate. Olhei
na direção do balcão onde Patsy me encarava,
enquanto enxugava um copo, mas quando olhei
para ela, seus olhos se desviaram.
Voltei novamente para o sofá e esperei que
Lincoln chegasse com os preparativos daquela
noite.
*****
Estava caminhando entre os clientes
animados e bêbados daquela noite. Havia muitas
pessoas e parecia que tinha sido a noite mais lotada
de todas. Os clientes que eu já conhecia, me
chamavam com largos sorrisos e me abraçavam,
dizendo que eu era a melhor coisa que a Haze
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trouxe. Eu apenas sorria envergonhada e agradecia


a eles pela consideração.
A música ficava cada vez mais animada,
mudando de uma para outra. Muitas garotas
dançavam em cima dos seus saltos altos, fazendo o
possível para suas saias e vestidos apertados
subirem. Os homens ficavam babando, mas a maior
parte deles ia até as dançarinas, que dançavam em
seus colos e depois, como sempre faziam, sumiam
pelas portas dos fundos da boate. Aquilo me
incomodava muito, eu não sabia que as garotas,
dormiam com clientes e eu não gostava daquilo. Eu
me sentia estranha toda vez que meus olhos
capturavam essa cena.
Quando terminei de caminhar entre todas
aquelas pessoas, que jogavam seus dinheiros fora.
Parei ao lado do balcão do bar e pedi um copo de
água. Sentei-me em uma das banquetas e tombei
minha cabeça entre minhas mãos. Eu sentia o
começo de uma dor de cabeça e suspirava de
alegria em saber que amanhã era uma das minhas
folgas. Quando meu copo de água chegou, tirei
meu celular de dentro do meu sutiã – não me
julguem, todas as mulheres fazem isso! – e cliquei

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na mensagem da Perla, que tinha me respondido


horas atrás.
Nela dizia:
DE: Perla.
AS: 20:18 min.; ONTEM: 16/10/10
"Eu adoro as cores desse lugar! Lembra-me
um chique puteiro. :) Mas infelizmente meu visto
foi negado, eu estou de saco cheio disso e não sinto
mais vontade de ir até aí! Tu precisa vir pra cá,
pede uns dias de folga pro teu "chefinho" e não
esquece de me responder! Te amo."
Soltei uma risada baixa e balancei minha
cabeça, suas piadas sobre a boate e Vicentino
sempre me faziam rir. Tomei um gole da água e
guardei meu celular, eu queria mesmo que ela
viesse para os Estados Unidos, para nos divertimos
na cidade perfeita que é Vegas. Mas ela estava
tendo problemas para entrar e eu sabia que seria um
sacrifício Perla entrar na América do Norte.
Terminei de beber toda a minha água e
quando me levantei do banco me bati com alguém.
— Desculpe…. — O homem alto passou por mim,
sem se desculpar e sumiu entre a multidão. Eu não
consegui ver seu rosto, pois as luzes piscavam
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repetidamente, mas eu o via de longe. Ele era bem


alto e tinha cabelos loiros. Coloquei a mão no meu
coração e respirei profundamente, ele batia
descompassado e agitadamente dentro do meu
peito, como se tivesse recebido uma descarga
elétrica.
Olhei na direção em que o homem foi, mas
ele não estava mais lá. Tinha desaparecido. Suspirei
devagar e me sentei novamente, passei meus dedos
nos meus olhos e joguei minha cabeça para trás,
mexendo meu pescoço de um lado para o outro.
Deus, eu estava exausta. Quando me endireitei,
Vicentino estava se aproximando de mim, com um
sorriso sem mostrar os dentes. Ele parou ao meu
lado e disse: — Olha só esse lugar, está a todo
vapor graças a você. — Parabenizou. Abri um
sorriso feliz e bocejei ao mesmo tempo, fazendo
Vicentino rir. — O que acha de eu levá-la para o
apartamento? Posso pegar um champanhe Krug
Private Cuvée aqui no bar.
— Você sabe que eu não entendo de bebidas,
mesmo dizendo os nomes. E eu não bebo álcool. —
Esclareci, massageando meu pescoço.
Vicentino balançou sua cabeça em negativa,
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com um sorriso e pediu a garrafa de champanhe


para um dos barmans. Quando a garrafa estava em
suas mãos, ele me disse. — Vá buscar suas coisas.
Seu dia acaba por aqui. — Fiz um biquinho para ele
e me levantei do banco, indo até os fundos para
buscar minhas coisas.
*****
Peguei duas taças de champanhe no armário
da cozinha, que, aliás, eu não fazia ideia que tinha
taças, e voltei para a sala de estar quando
Vicentino, abria a garrafa. Coloquei as taças sobre
a mesinha de vidro e me sentei no sofá. Vicentino
me serviu e depois pegou o seu champanhe, se
levantando da poltrona e se sentando ao meu lado.
— Um brinde ao sucesso. — Sorriu,
estendendo a taça. Bati a minha contra a sua e ri
animada.
Dei um pequeno gole na bebida e arqueei
minhas sobrancelhas, olhando para ele. — Você
tinha razão. O gosto é delicioso! — Exclamei
sorrindo. Vicentino soltou uma risada baixa e
piscou para mim, bebericando seu próprio
champanhe. Quando terminou, ele colocou a taça
sobre a mesinha e cruzou suas pernas.
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— Eu estou muito feliz por encontrar alguém


como você, Liz. — Murmurou. Coloquei a taça na
mesinha e sorri para Vicentino, entrelaçando
minhas mãos. Ele soltou um suspiro e me olhou de
forma intensa. — Os clientes estão muito
satisfeitos, disseram que você é um amor de garota
e pretendem te ver com mais frequência na boate.
Eles praticamente me ameaçaram para não deixá-la
ir embora nunca mais. — Sorriu, me fazendo rir.
Balancei minha mão direita e encostei-me ao
sofá. — Eu faço o que posso, as pessoas são tão
gentis. Não a um dia de tédio na Haze, sempre há
novos assuntos entre os clientes. Não me imagino
saindo de lá, porque faço o que eu sempre quis que
era atuar no meu ramo. E espero fazer certo. —
Brinquei rindo.
Vicentino sorriu pequeno e se aproximou
mais de mim. — Você é maravilhosa Elizabeth, eu
também não pretendo deixá-la sair da Haze. —
Murmurou. Engoli em seco e sorri timidamente, ele
estava muito perto e eu muito nervosa. Sentia o
clima mudar. — Sabe, eu nunca tinha visto uma
brasileira de perto. Então os boatos são verdadeiros,
são as mulheres mais belas que existem. —

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Continuou Vicentino, acariciando meu braço com


seus dedos.
— É. Sim, e-eu acho. — Gaguejei. —
Obrigada, Vicentino.
Vicentino segurou uma mecha do meu cabelo
entre seus dedos e chegou mais perto de mim, eu
sentia o calor do seu corpo contra o meu. — Você é
muito bonita. Não faz ideia do quão é. —
Sussurrou, descendo sua mão para o meu pescoço.
O alerta acionou minha mente, dizendo-me para
fazer algo. Para afastá-lo de mim.
Diga que está cansada.
Soltei um pigarreio e me esquivei
discretamente da sua mão, pousando minha mão no
meu pescoço. — Bem, acho melhor eu ir dormir.
Estou muito cansada. — Murmurei com vergonha,
olhando para ele. Vicentino me encarou sem se
importar com minhas palavras, chegando mais
perto de mim e puxando minha mão.
— Amanhã é segunda e é a sua folga querida.
Poderá descansar o quanto quiser. — Lembrou.
Vicentino beijou a palma da minha mão e tocou no
meu rosto lentamente. — Por que não fica aqui
comigo? Desde que a conheci, eu estava ansioso
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para termos um momento a sós. — Suas palavras


faziam meu coração bater com mais rapidez. Eu
não queria ser rude, pois ele era o meu chefe. Mas
precisava fazer algo.
Levantei-me do sofá, sorrindo, e passei a mão
na minha saia lápis. — Ah, podemos conversar na
terça-feira antes de abrirem as portas da boate e….
— Antes que eu terminasse Vicentino se levantou
do seu lugar e chegou mais perto, tão perto que me
fez curvar para trás.
— Liz. Não faça isso. — Sussurrou, passando
os dedos nos meus lábios. — Você não é nenhuma
menininha, sabe muito bem do que estou falando.
— Não, eu não sei. — Respondi.
Ele soltou uma risada e segurou minha
cintura com as duas mãos. — Então me deixe
mostrar o que é….
Empurrei suas mãos de mim e me afastei.
Aquilo foi à gota d'água! — Vicentino, eu disse que
não! Eu não estou interessada e quero apenas
dormir! Por favor, respeite minha decisão e saia
nesse instante da minha casa. — Exclamei em voz
alta e firme. Ele estava enganado, achando que eu
iria me deitar com ele! Nunca fui esse tipo de
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pessoa, sempre me respeitei. Eu sabia como


contornar aquela situação, pois já aconteceu algo
assim na faculdade.
Eu estava devendo um trabalho para o
professor de comunicação e marketing e
necessitava daquela nota. Ele tinha visto o meu
desespero e então propôs coisas indecentes para
mim, no mesmo instante, eu corri para a direção da
universidade e eles tomaram as decisões certas.
Vicentino era mais outro aproveitador, ele achava
que eu cairia no seu jogo.
Seus olhos tinham mudado, quando o mandei
embora. Ele me olhava com tanta raiva, que eu
poderia me encolher, mas o desafiei, eu não
baixaria minha guarda. — Seu apartamento? —
Perguntou ironicamente. — Diga-me, então, se não
fosse por mim, você estaria nesse momento o
chamando de meu?! SE NÃO FOSSE POR MIM,
VOCÊ ESTARIA COMENDO LIXO AO LADO
DOS CACHORROS! — Gritou, dando um passo
na minha direção.
Eu não gostei do seu tom, empurrei
Vicentino, com as minhas duas mãos e gritei. —
VÁ EMBORA DA MINHA CASA! AGORA! —
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Não esperei que aquele idiota dissesse outra droga


para mim. Virei-me de costas para ele e marchei
em direção à porta de saída. Mas antes que eu
pudesse chegar até a maçaneta, Vicentino agarrou
os meus cabelos na sua mão e me puxou com força,
me fazendo gritar de susto e medo.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? HÃ?
SUA PUTA NOJENTA! — Esbravejou Vicentino,
me arrastando para longe da sala. Eu lutava a toda
força, tentava me soltar, segurar as paredes do
corredor, mas não adiantava. Vicentino era mais
forte, eu apenas ficaria exausta com o esforço.
Meus gritos eram altos no meio da madrugada fria
e silenciosa, eu pedia socorro e sentia lágrimas
caírem pelo meu rosto, mas ninguém apareceu.
Vicentino abriu a porta do meu quarto com
força e me jogou em cima da minha cama, soltei
um grito abafado e tentei me levantar, mas ele
chegou mais rápido e deu um tapa na minha cara, o
barulho e a batida foram bruscos, me fazendo cair
sobre o colchão novamente. Coloquei minhas duas
mãos sobre a bochecha direita, e olhei para ele,
chorando. Vicentino tirava seu paletó e o seu cinto
da calça social.

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— Eu vou te foder com tanta força que você


nunca mais gritará comigo, sua vagabunda burra!
— Quando Vicentino rosnou as palavras, ele bateu
com seu cinto entre minha bunda e costas. Soltei
um grito e curvei sobre o colchão. Tentei sair de
perto dele e engatinhei na cama, mas Vicentino
segurou meus tornozelos e me puxou de volta, me
virando de barriga para cima. — ENTÃO QUER
ME ENFRENTAR?! — Gritou. Sua mão direita se
fechou em punho e veio em velocidade até o meu
rosto, me socando.
Rugi com seu ataque e senti o sangue sair das
minhas narinas. Eu me debatia e gritava entre os
meus soluços, mas ninguém aparecia. Por que
ninguém estava vindo me salvar?
Vicentino segurou minha saia e puxou-a do
meu corpo sem nenhum esforço, tentei lutar para
ele não arrancar minha calcinha, mas recebi outro
golpe no rosto, caí sobre o colchão e fiquei ali.
Parada. Deixando que ele me usasse como uma
boneca. — Bem quietinha. — Rosnou e se
curvando sobre mim, Vicentino apertou meios seios
com força e chupou meu pescoço, ele puxou minha
camisa branca, fazendo os botões se soltarem e

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depois levantou meu sutiã. — Olha só esses bicos


rosados. Eu adoro essa cor, sabia? Minha putinha
gostosa, eu vou te foder tanto! — Rosnou
Vicentino, mais uma vez, chupando meus mamilos
dolorosamente.
Fechei os meus olhos, contendo um gemido
de dor, não parava de chorar. Vicentino segurou
meu pescoço e abriu mais minhas pernas, foi então
que o desespero voltou. — Não! Não, Vicentino!
NÃO, POR FAVOR! — Gritei, tentando fechar
minhas pernas. Ele apertava meu pescoço e
levantou seu tronco, onde eu o vi com seu pênis
para fora da calça. Tentei gritar, mas a sua mão me
apertava.
— Se tivesse aceitado quando eu pedi isso
não estaria acontecido assim. — Rosnou. — Agora
cala a porra dessa boca! — Ele segurou seu
membro ereto e, então, entrou de uma vez em mim.
Tentei segurar sua camisa, para empurrá-lo, mas
não havia forças em mim. Vicentino bombeou
furiosamente, soltando gemidos nojentos e
rosnando. Eu o sentia dentro de mim, ele me
violentava com força e apertava meu pescoço. Eu
tentava me debater, tentava gritar, mas não

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conseguia.
Ele tinha drenado toda a minha força.
— PORRA! QUE BOCETA GOSTOSA,
GAROTA! — Gritou, me penetrando bruscamente.
Sua mão tinha saído do meu pescoço e foi até os
meus seios expostos, tossi várias vezes e tentei
empurrá-lo, mas Vicentino, deu outro tapa no meu
rosto e foi mais brusco. — CONTINUE
LUTANDO SUA VAGABUNDA! EU ADORO
ISSO, BATER EM VOCÊ ENQUANTO A FODO!
— POR FAVOR! — Urrei para ele, chorando
com a dor. Vicentino soltou uma risada e deu uma
bombeada forte, me fazendo gritar. Depois ele saiu
de dentro de mim e finalmente eu poderia respirar.
Fechei minhas pernas, aliviando a dor que crescia e
solucei, eu me sentia tão suja….
Vicentino ofegava alto e me olhava, ele suava
como um porco, deixando sua camisa branca
molhada. — Olha só para você! Não serve nem pra
foder. — Riu. Quando o vi se aproximar
novamente, me encolhi como uma bola e implorei.
— Eu não terminei ainda sua putinha. A noite é
uma criança! — Exclamou rindo e me virando de
costas.
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— PARE COM ISSO! — Gritei, tentando


sair de perto dele.
Vicentino segurou minha cabeça e o senti
entrar em mim mais uma vez. Eu gritava tanto, que
sentia minha garganta arder, eu sentia que não
adiantaria de mais nada gritar. Ninguém estava lá
para me ajudar, eu não tinha ninguém ali comigo.
Estava completamente sozinha.
Os rosnados e gemidos dele embrulhavam
meu estômago. Eu sentia o mais puro nojo. — Grite
o quanto quiser! Quem vai ajudar você? Você é um
lixo, sua puta! Não passa de um LIXO! GRITE!
MEU PAU SE CONTORCE QUANDO A OUVE!
SUA PIRANHA IMUNDA! — Senti a mão de
Vicentino golpear o meu rosto, e saliva saía da
minha boca. O lençol da cama estava sujo do
sangue do meu nariz e boca.
Eu sabia que ele não pararia, sabia que essa
não seria a primeira vez que faria isso comigo.
Algo me dizia isso. Então, simplesmente parei de
lutar. Não estava ajudando em nada. Eu o sentia
dentro de mim, o sentia tentando invadir a outra
parte intocada do meu corpo, e quando ele o teve,
eu fechei os olhos com força e mordi o colchão,
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contendo meu grito de dor. Vicentino rugia entre


gemidos e me violentava como um animal no cio,
meu rosto se arrastava contra o lençol, a única coisa
que eu estava sentindo.
Meu corpo estava dormente e meus olhos
pesados. A única coisa que eu queria, era minha
casa.
*****
Minha vista estava embaçada e minha
audição baixa, como se eu estivesse debaixo
d’água. Eu estava nua e ferida, caída no chão
quando Vicentino se levantou, vestindo sua calça,
arrumando o restante das roupas. Seus cabelos
estavam molhados de suor, os primeiros raios de
sol invadia o quarto.
Tossi repetidamente, fazendo meu corpo
gritar de dor. Abracei minhas pernas e olhava zonza
para Vicentino. Ele já estava vestido quando
chegou perto, me chutando da mesma forma que se
faz quando se vê um animal morto. Ele fez o certo,
eu era um animal morto. Vicentino agachou na
minha frente e acariciou meus cabelos suados. Eu
não conseguia falar.
— Eu sei tudo sobre você, da Perla, do seu
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papai, madrasta e filhos. Principalmente de você,


eu tenho sua vida guardada na gaveta do meu
escritório. — Ele soltou uma risada e suspirou. —
Quero que esteja pronta daqui a duas horas, para ir
à boate e sem aquelas roupinhas de funcionária do
mês. Se eu souber que foi até a polícia, eu vou
matar cada membro da sua família. Deixarei você
como diversão para os meus soldados e depois
arranco sua cabeça para fora do corpo! Jogando na
entrada da delegacia! Não esqueça.
Vicentino se levantou e saiu de dentro do
quarto, me deixando ali. Quando ouvi a porta se
fechar, deixei lágrimas silenciosas escaparem.
Levantei-me lentamente do chão e olhei entre
minhas pernas, havia muito sangue ali, ele me
machucou tanto…. chorei como uma criança a cada
esforço que fazia para me levantar, eu ainda estava
com tonturas, então, manquei até o banheiro, eu
não sabia em qual banheiro estava indo, mas fui. Eu
via o mundo girar e se embaçar, não conseguia
ouvir direito e meus pensamentos estavam
quebrados.
Quando entrei no banheiro, fui às cegas até a
torneira do chuveiro e liguei a água. Entrei debaixo
dela e gemi alto com a ardência no meu corpo
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ferido, minhas pernas vacilaram e caí no chão, virei


minha cabeça para o piso branco e vomitei. Não
parava de vomitar e quando meu corpo se aquietou,
tentei me levantar, segurando as torneiras do
chuveiro. Mas não consegui, o mundo estava
estranho e lento, eu queria apenas descansar e
absolutamente mais nada. Não tive mais forças para
me segurar então caí mais uma vez, embaixo da
água quente, fechando os meus olhos.

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CINCO
Sentia meu corpo sendo erguido e levado.
Meus olhos não conseguiam se abrir e minha boca
estava seca, sentia como se estivesse sendo puxada
para um buraco sujo, úmido, escuro e que não tinha
fim. Eu queria manter os meus olhos fechados,
queria desaparecer do mundo, queria morrer
naquele momento, aliás, eu estava morta? Será que
ali era o purgatório? Inferno? Céu? Não me
importava com absolutamente nada, eu apenas
queria….
— Srta. Evans? Está tudo bem? — Uma voz
masculina e baixa me chamou, mas não o respondi.
— Senhorita, olhe para o meu dedo e siga com os
olhos. — Quando a voz disse isso, uma luz forte e
branca se balançou na frente dos meus olhos,
criando uma dor forte na minha cabeça. Eu ainda
estava no apartamento. — Srta. Evans, eu irei
injetar um remédio para dores, o.k.? A senhorita
caiu durante o banho certo? — Eu não tinha ideia
por que ele fazia perguntas.
Uma picada foi sentida no meu braço
esquerdo, fazendo meus sentidos voltarem ao

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normal. Abri os meus olhos lentamente e a visão


embaçada foi melhorando, havia dois guarda-costas
da boate em pé no meio da minha sala, olhando em
minha direção de forma estranha. Eu estava deitada
e coberta sobre meu sofá, e um homem,
aparentando ser mais velho, estava tirando luvas de
borracha das suas mãos, me olhando com um
sorriso doce.
— Q-quem é você? — Perguntei em
sussurro. Onde estava a minha voz?
Ele se curvou diante de mim e sorriu
novamente. — Eu me chamo Oliver Green, sou o
médico da Família. Você está bem? Os soldados
vieram escoltá-la, e a encontraram, desmaiada no
chão do banheiro. — Engoli em seco e olhei na
direção dos... soldados? Eles me olhavam
pacificamente, sem dizer nada.
— Por que vieram aqui? — Perguntei mais
uma vez.
— Vicentino nos mandou, você está atrasada.
— Comentou um deles.
Olhei para o doutor Oliver, sentindo minhas
lágrimas nascerem. — Me leve embora daqui, por
favor. — Implorei sussurrando. Oliver me olhou
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tristemente e suspirou, abaixando sua cabeça, em


seguida, se levantando.
— Alguém feriu você? — Perguntou o
soldado.
Olhei para ele e paralisei. Não queria falar
nada. — Olhe. — Interrompeu o doutor. —
Infelizmente eu não poderei fazer nada. Converse
com Vicentino, ou com o Don. Demétrio. Diga que
alguém invadiu sua casa e... Elizabeth, eu sou um
profissional na medicina e em apenas olhar para
você sei o que aconteceu. Você está protegida pela
Família e isso te dá imunidade, se disser ao
Consigliere ou para o Don, o que houve, eles irão
atrás do culpado. Deixei alguns medicamentos e
escrevi em um papel explicando o uso de cada um.
Ele pegou sua bolsa preta grande e se foi.
Deixando-me com aqueles dois homens.
— Só vista algo confortável, está bem?
Diremos a Demétrio o que aconteceu, e você não
precisará trabalhar por alguns dias. — Falou um
deles. Por que estavam tão gentis? Eles não sabiam
quem fez isso? Eu poderia sentir o cheiro podre
dele, se misturando com o meu. Eu sentia o fedor
por todo meu corpo.
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Suja. Suja. Suja. Suja. Suja. Suja.


Fechei meus olhos com força e assenti. — T-
tudo bem. — Sussurrei.
O mesmo soldado que estava falando se
aproximou de mim, quando iria segurar meu braço
para me ajudar a levantar, soltei um grito de medo e
me esquivei dele, encarando-o de olhos arregalados
e lacrimosos. — Calma! Eu não vou fazer nada,
apenas recebi ordens. Ok? — Disse em voz alta,
levantando suas mãos. Puxei o cobertor em volta de
todo o meu corpo e respirei fundo, me levantei
devagar do sofá e vi o mundo girar, mas não me
desequilibrei. Meu corpo doía, mas não tanto como
antes.
Passei pelos homens, andando lentamente e
fui até o meu quarto, quando parei na entrada, meus
olhos se paralisaram na cama revirada.
Suja. Suja. Suja. Suja. Suja. Suja….
Soltei um suspiro trêmulo e segui até o
closet, tentando não olhar para o quarto. Vesti uma
calcinha e sutiã confortáveis e depois uma calça
jeans clara e um suéter branco. Calcei minhas botas
e sai de lá de dentro. Eu me sentia estranha. Sentia-
me barata e insignificante, esses eram os principais
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sentimentos. Por ora. Quando voltei à sala, os dois


homens me olharam, o que não dizia nada desde
que o vi, soltou um suspiro e balançou sua cabeça.
— Pelo menos passe uma maquiagem no seu
rosto, seu olho direito está roxo e a têmpora
esquerda machucada, assim como os lábios. Tente
dar um jeito nisso e ande logo, porque não sou
babá. — Me encolhi com seu tom ácido e me
abracei, indo até o banheiro para me maquiar.
— Seu verme. Não fale assim com ela! —
Rosnou o outro quando eu entrava no banheiro.
— Você não é o meu chefe, Theo! Não se
parece com Vicentino.
— Não sou seu chefe, mas o meu chefe é
chefe do seu chefe, seu fodido! O que significa que
você é nada! Trate a garota bem! Não viu que ela
foi atacada por um filho da puta?
Enquanto eu passava a base no meu rosto
machucado, sem me olhar no espelho, ouvia a
discussão dos homens. Um deles soltou uma risada,
enquanto dizia. — Você ainda não sacou quem fez
isso? Por Deus, Theo! Pare de ser uma bichinha
burra.
— Essa será a última vez que sairei com
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você, Nino! Agora entendo porque Demétrio te


ameaça de tortura o tempo todo!
Saí de dentro do banheiro e caminhei até a
porta de entrada, os dois estavam um perto do
outro, e o homem chamado Theo estava com seu
dedo indicador apontado na cara de Nino. Eu
conhecia esse Nino, ele que me ajudou com as
malas quando vir morar no apartamento. A
lembrança me fez quase chorar, aquele dia eu ainda
estava livre. Perla tinha toda razão, eu nunca via o
lado mau das pessoas. Isso me tornava uma presa
fácil. Uma burra, vagabunda burra, como ele me
chamou...
— Está pronta? — Perguntou Theo,
chegando até mim e abrindo a porta.
Não o respondi e saí de dentro do
apartamento.

*****
Fui levada até uma sala da Haze, que nem
sabia que existia. Ela era escura, tamanho grande
oval e elegante. Eu estava sozinha na sala, sentia o
suor brotar das minhas mãos e minha respiração
ofegar. Meu medo estava me deixando zonza e as
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dores no meu corpo estavam voltando lentamente.


Olhei por toda a parte da sala, mas não havia
nenhuma janela, não havia tubo de ventilação,
apenas ar-condicionado.
Estava presa aqui, sem poder fugir. Não. Se
eu fugisse, colocaria as pessoas que eu amo em
perigo. Abaixei minha cabeça e deixei as lágrimas
caírem, como ele sabia do meu pai e sua família?
Eu não o via há quase sete anos e a única coisa que
eu sabia, por meio de uma carta da minha madrasta,
era que eles estavam morando na Espanha. Onde
meu pai nasceu. Era somente isso que eu sabia, eu
não tinha ideia que meu pai teve mais filhos, mas
Vic...
Soltei minha respiração pela boca, eu não
conseguia, ao menos, pensar no seu nome.
Entrelacei minhas mãos trêmulas e as olhei,
algumas das minhas unhas estavam quebradas e
duas com um fino sangue, por terem sido
arrancadas bruscamente. As imagens vieram com
violência na minha mente. Ele me esmurrando. Ele
puxando meu cabelo. Ele me violentando como um
animal. Ele cuspindo dentro da minha boca….
— Deus, por favor! Faça parar. — Sussurrei,
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sentindo meu corpo tremer, eu estava prestes a


desmoronar. Engoli em seco e fechei os olhos com
força. — Faça parar, faça parar, faça parar, faça….
— Entrem! — Sobressaltei com o susto e
olhei para a porta que era aberta por Lincoln.
Quando ele me viu, franziu o cenho, mas
rapidamente desviou seus olhos. — Vamos logo! Já
passa das 19 h! — Exclamou. Já era de noite? Eu
fiquei desacordada o dia todo? Limpei minhas
lágrimas rapidamente, quando dez mulheres de
cada tipo entraram na sala. Mulatas, brancas,
pardas. Todas estavam com olhares diferenciados,
algumas sorrindo alegres, outras, com olhos
arregalados de medo.
Todas pararam ao meu lado e se calaram,
enquanto Lincoln escrevia algo em um tipo de
caderno, na nossa frente. Olhei para uma garota ao
meu lado que não parava de chorar
silenciosamente, ela segurava entre sua mão, que
estava perto da boca, um crucifixo. Ela me olhou de
lado e vi que sua boca estava machucada. Ele
também a pegou?
— Certo. — Olhamos para Lincoln, quando
ele fechou o caderno e nos olhou. — Sou o gerente

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da Haze, me chamo Lincoln e estou aqui para dizer


o que vocês têm que fazer por nós e eu direi o que
temos que fazer por vocês. — Seus olhos foram em
minha direção de relance, depois, ele soltou um
pigarreio e continuou.
— Nós somos um grande número de homens
e mulheres que procuram seu pequeno espaço nesse
imenso mundo. Somos mais conhecidos como a
família siciliana, ou também como a Cosa Nostra.
— Todos fizeram sons de espanto, animação e
risos, meus olhos não se moveram quando ouvi as
palavras de Lincoln, Deus... eles eram... — Porém,
há coisas importantes que devem saber. Existem
leis dentro do nosso ciclo e devem ser respeitadas.
A primeira: não desrespeitar nenhum membro
acima de vocês, soldados, capitães, associados,
chefes e os principais. Capo e Consigliere.
Demétrio Gratteri, é o que comanda a cidade,
provavelmente devem ter ouvido sobre ele. —
Lincoln me olhou e disse. — Ou talvez não. Mas,
quando o Capo aparecer na boate, vocês todas
devem se manter em postura, não podem chegar
perto dele, pois isso irá parecer como uma ameaça
para os soldados. Não falem com ele, a não ser que
ele mesmo dirija a palavra a vocês. E não tentem
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flertar com ele, ele odeia isso. Essas regras básicas


servem para o nosso Consigliere Vicentino
Cavallaro e também para os capitães de primeira
linha. Joseph Ricazzio, Leopoldo Gustafi e
Salvatore De Gasperi. Eles são os que estão
totalmente acima de vocês. E outra coisa.
Lincoln passou a mão no seu cabelo e
continuou: — É proibido ter qualquer tipo de
relacionamento amoroso com qualquer homem da
máfia. Vocês não terão nenhum direito disso,
principalmente a de serem amantes deles. A não ser
que algum deles queira, isso é diferente do querer
de vocês. E também, nosso Capo, Demétrio, tem
três irmãos. Dois são de Nova York e o mais velho
atualmente vive no Canadá, eles sempre aparecem
na cidade e na maioria das vezes, o irmão mais
novo vem para a boate. Vocês não podem chegar
perto deles. Todos os Gratteri. Não cheguem perto
deles, como eu disse anteriormente, vocês vão dar a
entender que é uma ameaça, mesmo que cheguem
rebolando e sorrindo. Os irmãos do seu Capo, são
homens voláteis e desconfiados, vocês são carnes
novas e a desconfiança deles, só aumentará. E por
último, um dos capitães já está aqui, para dar uma
olhada em vocês.
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Ele olhou para um soldado que estava na


frente da porta, e deu um aceno de cabeça. O
soldado abriu a porta e chamou alguém. Todas nós
olhamos, curiosamente, eu olhei, mas virei minha
cabeça, meus olhos ardiam…. — Garotas, eu quero
lhes apresentar o capitão de primeira linha da Cosa
Nostra, Salvatore De Gasperi. — Quando o olhei,
meu mundo se rompeu. Parecia que os sons e os
movimentos foram embora. Meus olhos se
focalizaram somente nele. Ele mostrava
superioridade, poder, um olhar penetrante e
calculado. Ele era... lindo. Eu estava sem piscar,
não queria perder nenhum movimento seu. Quatro
homens estavam posicionados atrás dele, assim
como Lincoln, fez o mesmo.
Salvatore….
Eu não estava entendendo, mas uma
sobriedade absurda invadiu todo o meu corpo.
Deixando-me leve e bem. Apenas bem. Os olhos de
Salvatore observavam atentamente todas as garotas,
eu sabia que as risonhas, estavam sorrindo para ele,
mas não queria desviar meu olhar. Até que….
Seus olhos verdes, penetrantes, pararam
sobre mim, ele franziu seu cenho e não desviou seu

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olhar. Estávamos compartilhando algo, mas não


sabíamos o que era; eu gostava dos seus olhos, eles
tentavam ser duros, mas não conseguiam. Algo
gentil e doce transparecia naquelas órbitas verdes.
Engoli em seco e senti meu coração
descompassado, seu ritmo era frenético, a ponto de
querer me fazer curvar. Eu estava correndo uma
maratona, e ele estava só me olhando. Salvatore
soltou um curto suspiro, fazendo seus lábios se
separarem. O mundo estava silencioso e parecia
que existíamos apenas nós dois. Eu estava sentindo
as mesmas sensações da noite passada, quando um
homem se bateu contra mim no meio da boate. Eu
sabia agora, quem ele era.
— Hã…. Bem. — Lincoln interrompeu o
momento vergonhoso. — E então Salvatore, o que
me diz? — Salvatore foi o primeiro a quebrar
nossos olhares, me deixando vazia por dentro.
Abracei meu corpo com meus braços e dessa vez o
olhei completamente. Ele era alto, muito alto. Seus
cabelos eram de um loiro natural e liso, deixando
qualquer mulher com inveja. Seu corpo era
musculoso sobre o terno cinza; camisa e paletó
estavam colados nos músculos, era uma visão
hipnotizadora. Sua pele era clara e ele tinha poucos
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pelos de barba no rosto, era tão lindo.


Salvatore escondeu suas mãos dentro dos
bolsos da sua calça e olhou para as garotas, mas
dessa vez para mim não. — Como…. chegaram
aqui? — Uma eletricidade se rompeu dentro de
mim, deixando meu coração batendo mais rápido
ainda, ao ouvir sua voz. Ela era grave,
masculinamente grave e baixa. Como alguém
poderia ser todo perfeito? Lincoln se aproximou do
lado dele, verificando seu caderno.
— Algumas delas nos procuraram por
indicação de associados. Outras, não. Todas têm
idades entre 24 a 28 anos.
— Quem são as outras? — Ele perguntou
rudemente e encarando Lincoln.
Ele leu as folhas e depois apontou para duas
garotas e para mim. — Aquelas. Louise Vamcap,
Tessa Howard e Elizabeth Nevasco Evans. —
Contou. Salvatore olhou rapidamente para as duas
mulheres ao meu lado e depois me encarou, ele me
olhou de cima a baixo e abriu sua boca, já prestes a
me dizer algo, quando uma das mulheres apontadas
por Lincoln, começou a chorar. Era a garota do
crucifixo.
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— EU NÃO FICAREI AQUI! ISSO É


SEQUESTRO, EU NÃO SEI QUEM ME
TROUXE AQUI E IREI ATÉ A POLÍCIA MAIS
PRÓXIMA! — Ela tentou correr até a porta, mas
dois soldados foram rápidos e a seguraram. A
garota não parava de gritar no seu choro e pedir
socorro. Salvatore dá um aceno de cabeça para eles,
que abrem a porta e levam a garota para fora da
sala. Quando o silêncio se rompe, todas nós
olhamos para Salvatore.
— Existe um juramento de silêncio na
Família. Aquele que quebra o juramento, paga com
a sua vida. Espero que Tessa Howard sirva de
exemplo para as duas garotas que vieram sem os
seus consentimentos. — Ele não me olhou quando
disse isso, apenas para a outra garota, que estava
parada em silêncio, seus olhos estavam vermelhos.
— A regra é vocês interagirem com os clientes, os
faça gastarem todo o seu dinheiro no andar de cima
da boate. Conseguindo isso, deem um agrado para
eles, se eles voltarem e trouxerem mais clientes,
vocês ganham um bônus em dinheiro. Vocês
trabalharão para nós agora, a família de vocês
somos nós, seremos seus pais, mães, irmãos. Nunca
faltaremos com respeito a vocês, da mesma forma
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que vocês não faltem conosco. Nosso Capo não


tolera qualquer tipo de agressão às mulheres que
estão sob sua proteção. Mas infelizmente, ele não
consegue controlar mais de dois mil membros.
Então, se alguém importunar vocês, me avise, eu
estou, na maior parte do meu tempo, nas boates. —
Salvatore me olhou e disse. — E agora, terei mais
tempo por aqui. Então, estão sob nosso domínio,
mas serão respeitadas como funcionárias. Terão
salários gordos, poderão comprar a casa e o
apartamento que quiserem, dou minha palavra que
não somos aquilo que o mundo conta. Podem ir,
hoje, tenham o tempo para vocês, mas as quero
aqui amanhã, depois das 20 h.
As garotas foram levadas para fora, com dois
soldados as escoltando. Virei-me para ir junto com
eles e manquei até lá, meu corpo doía tanto, que me
fazia ver estrelas. Quando seria a última a sair da
sala, uma mão firme e grande segurou meu braço.
Olhei para trás, assustada, Salvatore estava perto de
mim, me encarando. Ele tinha um cheiro bom... —
Lincoln, por que essa daqui está mancando e com o
rosto machucado? — Perguntou. Ele viu os
hematomas? Mas como? Não havia como ver de
longe.
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Parece que alguém estava te observando.


Lincoln dispensou os outros soldados com
quem falava e caminhou em nossa direção. Ele me
deu um olhar de desculpas e depois suspirou. —
Hoje pela manhã, Theo e Nino a encontraram,
desmaiada, debaixo do chuveiro e chamaram por
Oliver. É tudo o que sei. — Ele me olhou mais uma
vez, então saiu da sala, me deixando as sós com
aquele homem intimidante.
Sua mão ainda estava envolta no meu braço,
ele me deu um olhar excêntrico enquanto dizia. —
E você? Sabe falar? — Perguntou grosseiramente.
Eu poderia chorar naquele momento ao ouvir sua
voz rude, mas segurei as lágrimas e pigarreei. Por
que ele continuava segurando meu braço?
— E-eu e-e….
Salvatore soltou um rosnado, me fazendo se
encolher. — Ótimo, trouxeram uma muda para cá.
— Ele soltou meu braço, no mesmo instante em
que Lincoln entrava novamente na sala com um
largo sorriso. Ele deu dois tapinhas nas costas de
Salvatore, enquanto lhe dizia.
— Advinha só, Elizabeth é a única
estrangeira por aqui e tem curso superior completo.
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Bem interessante, não é? — Perguntou.


Salvatore me olhou atentamente, sem desviar
os olhos. Eu desviei, estava me sentindo estranha.
— Sim, bem interessante. — Murmurou com sua
atenção sobre mim. Lincoln pegou algo que estava
ali e se foi novamente. Dessa vez fechando a porta.
Olhei apavorada para a madeira escura e engoli em
seco. Por que ele fechou a porta?! — Por que está
assustada? — Sobressaltei ao ouvir sua voz e me
afastei dele. Salvatore me encarava impaciente.
— D-desculpe senhor. — Murmurei.
Ele assentiu com sua cabeça e me olhou. —
Se tem ensino superior de uma universidade, então
por que entrou no radar da máfia? — Perguntou,
unindo suas sobrancelhas loiras. Puxei meu suéter
para baixo, nervosamente, fazendo seus olhos
seguirem o movimento.
— Vic…. — Eu não conseguia dizer seu
nome. Fechei os olhos, respirando fundo e tentei
mais uma vez. — Vicentino. — Sussurrei.
Salvatore arqueou mais uma vez suas
sobrancelhas, balançando a cabeça negativamente e
rindo. — Claro. — Disse com raiva. — Ele bateu
em você?
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— Não! — Exclamei, interrompendo-o.


Meus olhos se arregalaram e estava assustada.
Salvatore franziu o cenho, mas apenas assentiu.
Seus olhos verdes desceram até minhas pernas, e
em seguida para o meu rosto, ele mexeu sua cabeça
para os lados, me olhando atentamente.
— Pelo meu conhecimento em agressão, por
você estar mancando, ele te chutou e por usar base
no rosto, ele te socou. Estou certo? — Perguntou de
forma autoritária. Passei minha mão na têmpora
machucada e assenti. Ele acertou em tudo, bem,
quase em tudo. — É eu imaginava. Aposto que
você o xingou ou tentou ir pra cima dele, aquele
verme filho da puta gosta de bater em mulheres.
— E-eu quero ir para casa. — Sussurrei,
olhando para o chão.
— Olhe para mim. — Ordenou com
simplicidade. Engoli em seco e deixei as lágrimas
escorrerem, olhando para ele. — O que ele fez com
você na noite passada? Você é a garota dos
eventos, certo? Eu vi você ontem à noite indo
embora com ele, estava prestes a chamá-lo para
inventar algo, mas o meu Capo me ligou na mesma
hora. — Pisquei algumas vezes, incompreendida da

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sua curiosidade. Se o que aconteceu comigo for


algo abominável para eles? Eu não sabia nada de
máfia, mas para mim essa palavra já dizia perigo e
criminosos.
Limpei minhas lágrimas com o suéter e me
abracei. — Por que isso te interessa?
— Porque eu estou procurando qualquer
motivo para desfigurar a cara dele. — Comentou.
— A própria esposa tem ódio dele. Diga-me, o que
ele fez Lisa? — Juntei minhas sobrancelhas e
balancei minha cabeça em negativa.
O que ele estava fazendo?! — Meu nome não
é Lisa, e-eu….
— Diga-me Elizabeth. — Rosnou
entredentes. Engoli em seco e suspirei, eu estava
apavorada.
— E-ele... ele... — Senti minha garganta se
fechar e meu mundo se colidir. Os soluços
escaparam dos meus lábios e rapidamente coloquei
minhas mãos sobre a boca, eu chorei tão alto e
desesperadamente, que tive medo dele me ouvir.
Ele disse que adorou meu choro. Salvatore juntou
suas sobrancelhas e deu um passo em minha
direção, mas rapidamente dei outro para trás, até
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encostar-me à parede ao lado da porta. — E-ele...


me machucou! M-me machucou a noite toda! Meu
Deus! Como deixei isso acontecer?! MEU DEUS!
— Gritei a plenos pulmões, caindo até o chão, mas
ele estava lá. Salvatore correu e me segurou ao
mesmo tempo em que eu caia, meu corpo dizia para
afastar ele urgentemente.
Mas o meu coração e racionalidade dizia para
mantê-lo.
Seus braços me envolveram e me levantaram
do chão, ele tirou meu cabelo escuro de frente dos
meus olhos e me encostou-me à parede. Salvatore
se curvou sobre mim e apoiou suas mãos na parede,
ao lado da minha cabeça. — Tudo bem, eu já
entendi. Só fique calma. Ele foi ordenado milhares
de vezes a não fazer isso. Porra, eu vou matá-lo! —
Rosnou com raiva.
— Se ele souber que disse algo a você, ele
volta! Eu sei disso. — Chorei para ele.
Salvatore juntou suas sobrancelhas e me
encarou pensativo. Ele abaixou sua cabeça, me
dando a vista dos seus cabelos dourados. Eu queria
trocá-los, pareciam tão macios…. — Certo. Posso
arrumar um novo lugar para você, mas não pode
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contar para ninguém. Apenas diga para vir


perguntar a mim. Você entendeu? — Suspirei
tremulante e o olhei como uma idiota. Salvatore
soltou um rosnado e perguntou mais uma vez. —
Porra, garota. Você entendeu?!
— S-sim, eu entendi. — Respondi.
Ele se afastou de mim e abriu a porta. —
Vamos buscar suas coisas, saia da boate depois de
mim e entre no carro Jaguar preto, na esquina.
Certo? — Antes que eu pudesse respondê-lo,
Salvatore saiu de dentro da sala e fechou a porta.
Não poderia confiar nele, algo me dizia que
todos eles eram iguais. E se ele estivesse
inventando tudo isso, para fazer o que quisesse
comigo, como o outro fez? Se fosse isso, eu seria
novamente uma vagabunda burra. Olhei para a
porta e fiquei ali pensando. Ele faria isso? Enganar-
me-ia? Ele disse que iria junto comigo até o meu
apartamento. Por que ele quer ir até lá? Será que
está com más intenções? Será que é diferente do
outro? Por que outra parte de mim dizia para me
acalmar? Por que eu me sentia segura em apenas
pensar no seu nome? Por que ele me olhou daquela
forma quando entrou naquela sala? Por que ele

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ficou bravo com o outro?


Suja. Suja. Suja. Suja. Suja. Suja.
Segurei minha cabeça entre minhas mãos e
fechei os olhos, com força. Meus pensamentos
pareciam de um louco, dividido em três partes. Eu
não estava aguentando mais aquilo.
Suja. Suja. Suja. Suj….
Abri a porta da sala e corri às pressas, para
longe daquele lugar. Eu estava correndo para
Salvatore.

SEIS
Minhas unhas estavam se afundando no
couro do banco do carro. O medo estava papável
naquele pequeno espaço, eu não sentia medo de
Salvatore, mas sentia medo. Apenas. Desde que
entrei no carro, ele não me olhou, não conversou,
somente perguntou o meu endereço e franziu o
cenho quando lhe passei. Quando chegamos ao
edifício, Salvatore saiu do carro e deu a volta,
parando ao lado da porta do carona, ele fechou o

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botão do terno e abriu para mim, em seguida


estendeu sua mão.
Aquele gesto foi tão cavalheiro, que me
deixou surpresa. Peguei sua mão, hesitante, e
quando a segurei, uma descarga de adrenalina
entrou pelas pontas dos meus dedos, atravessando
todo o meu corpo. Salvatore me olhou de relance e
desviou seu olhar, respirando duro. Será que ele
sentiu o mesmo? Quando saí de dentro do carro,
agradeci em voz baixa. Salvatore fechou a porta e
travou o veículo. Caminhamos até o saguão do
prédio e entramos em um elevador com as portas
abertas. Até mesmo naquela caixa, ele não falava
comigo e muito menos eu com ele.
Apesar de tudo, ele me trazia segurança, eu
estava me sentindo protegida e algo me dizia que
ele não era como o outro…. — Você mora nesse
andar? — Perguntou de repente. Paramos no meio
do corredor e o olhei confusa.
— Sim…. Por quê? — Perguntei também.
Salvatore balançou negativamente sua cabeça
loira e continuou caminhando, fui atrás dele e o
encarei, seu olhar estava distante. Como se
estivesse pensando em algo sério.
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Paramos na frente da porta e quando a abri


com a chave, ele soltou uma risada sem humor e
passou sua mão direita na frente dos olhos. —
Então é aqui que você mora? Bem na toca do lobo?
— Me olhou risonho. Fechei e tranquei a porta
enquanto o olhava. Como assim? Abracei minha
cintura com os braços e dei de ombros para ele.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que você mora no
apartamento de Vicentino. — Acrescentou
seriamente. Fiquei parada. Encarando-o e me
odiando ainda mais, eu já estava cansada das
minhas burradas, agora sentia um grande nojo de
mim. Sempre uma droga de lesada, nunca olhando
para o lado mau dos outros. Como estava fazendo
naquele instante, eu não conhecia Salvatore, ele
também era da máfia. Os dois tinham algo em
comum e eu, novamente, caindo nas garras de outro
mafioso.
Sentia minhas lágrimas se amontoando,
prontas para sair, mas não deixei que caíssem.
Respirei profundamente e desviei meus olhos de
Salvatore. — Você não tem culpa. — Sua voz
murmurou. Uni minhas sobrancelhas e olhei para

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ele.
— Por que diz isso?
Salvatore me olhou antes de dizer. — Porque
você é fácil de adivinhar, suas emoções são nítidas.
— Murmurou. — O que significa que é uma presa
fácil. Como você acreditou em alguém que nunca
viu na sua vida? — Perguntou ele. Sua voz tinha
uma nota de repreensão, ele estava fazendo o quê?!
Engoli em seco e cruzei meus braços. — Está
querendo….
— Não estou criticando. — Respondeu, antes
de mim. — Só estou querendo entender. Por que
deixou isso acontecer, Lisa? Por que confiou
cegamente nele? — As lágrimas caíram
silenciosamente pelas minhas bochechas até o meu
queixo, eu não consegui mantê-las. Salvatore tinha
toda razão. Eu fui uma cega.
Enxuguei meu rosto com o suéter e dei de
ombros. — E-eu achei que ele só queria ajudar. —
Abaixei minha cabeça e suspirei tremulante. —
Vamos mudar de assunto? Podemos ir logo?
— Desculpe-me. — Murmurou. Seus olhos
verdes estavam sobre mim, havia algo gentil dentro
deles. — Eu vou dar um jeito nisso, tem minha
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palavra. Só não... saia por aí confiando em qualquer


um, ok? — Perguntou com a voz suave. Mordi meu
lábio e encarei-o. Eu não conseguia manter meus
olhos longe de Salvatore, por mais de dois
segundos! A impossibilidade já estava me
vencendo e, pelo visto, ele não se importava em
saber que eu o encarava como uma bobona.
Pigarreei duas vezes e assenti. — Ok! —
sussurrei. — Mas…. e quanto a você? — Ele me
olhou confuso, de um jeito encantador.
— O que tenho eu?
Olhei para o interior do apartamento e
balancei meu pé esquerdo. — Hã…. você disse
para eu não sair por aí confiando em qualquer um.
— Expliquei. Salvatore arqueou suas sobrancelhas
loiras e sorriu. O sorriso dele era incrivelmente
perfeito. Droga. Acho que ele todo era perfeito! Por
que eu estava tendo esses sentimentos bons?!
— Pode confiar em mim. Não sou um verme
filho da puta, eu respeito às pessoas e abomino
quem toca em uma mulher sem o consentimento
dela. —Ele suspirou pesadamente e olhou pelo
apartamento. — Aliás, eu venero as mulheres. São
perfeitas. — Murmurou para si mesmo. Segurei um
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meio sorriso e assenti para ele. Eu não sabia o que


estava acontecendo comigo, Salvatore estava me
trazendo de volta à vida? Em tão poucas horas?
Isso era possível?
Segurei as mangas do meu suéter e disse-lhe.
— Vou arrumar as malas.
Salvatore me olhou e depois observou o
corredor. — Certo. Só não demore Lisa.
— Por que você me chama de Lisa?! —
Perguntei irritadamente. Os olhos de Salvatore
pousaram sobre mim confusos. Eu também não
tinha entendido minha raiva.
Ele abriu sua boca e, ao mesmo tempo,
balançou sua cabeça e suspirou. — Vá, arrumar as
malas. — Desviei meu olhar e andei rapidamente
até o quarto. Quando entrei lá, soltei um suspiro
baixo e passei as mãos em meu rosto. Meu coração
não parava de palpitar mais rápido do que o
normal, eu poderia cair dura a qualquer momento!
Balancei minha cabeça e corri para as minhas
coisas. Eu queria ir embora dali, para sempre.
*****

— E-e se ele vir atrás de mim? Se me


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encontrar? Eu deveria ter ficado lá. — Disse para


Salvatore, assustada. Estávamos parados na frente
de outro prédio chique, mas era em outro bairro,
bem distante da boate. Salvatore estava mexendo
no seu celular, enquanto eu andava de lá para cá na
calçada, histericamente. Minha cabeça não parava
de gritar, dizendo que foi uma péssima ideia, ter
saído do apartamento. — Uma péssima, péssima
ideia! — Choraminguei para mim mesma.
— Será que dá pra parar? Você está quase
fazendo um buraco no chão. — Chamou Salvatore,
irritadamente. Parei na sua frente e enrolei a manga
do meu casaco entre meus dedos, ele olhou para
mim e disse: — Seria péssima ideia, se continuasse
lá. Acha que ele não faria mais nada? Pare de ser
tão adolescente e seja mais adulta, você está em um
local seguro. Eu te garanto isso. — Abri minha
boca para responder, mas Salvatore levantou seu
dedo indicador na minha direção. — E se você
disser nesse exato minuto que ele é mais esperto, eu
vou bater minha cabeça nesse asfalto. Já lhe disse e
não repetirei, está segura. Vicentino é só um
Consigliere e não Deus. E ele só é Consigliere,
porque seu pai também foi. Eu sou o melhor amigo
do Capo, então tenho mais créditos do que ele.
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Fechei meus olhos para respirar fundo. —


Melhor amigo? Quem garante que esse…. Capo ou
sei lá o quê, é confiável? — Salvatore olhou pela
rua, onde passava um carro e depois me encarou.
— Demétrio não é como ele. Eu só não a
levo até ele, porque ele está sendo um perseguidor,
nos últimos dias, de uma jornalista, mas quando
tivermos a chance, o conhecerá e verá que pode
confiar. — Salvatore se aproximou de mim, mas
rapidamente dei um passo para trás. Ele sorriu e
assentiu. — Está indo bem, continue na defensiva.
Olhe, grave esses nomes, pode confiar somente
neles: Demétrio, Theo e Salvatore. Certo?
Franzi o cenho e cruzei meus braços,
nervosamente. — Por que tenho que confiar em
Theo?
— Porque ele é o soldado que Demétrio,
mais confia. Acima de todos, Theo é leal. Confie
em mim. — Explicou simplesmente. Ele olhou
mais uma vez para a rua, e guardou seu celular no
bolso da calça. — Está tarde. Você passou por
muitas coisas nas últimas horas e eu tenho que
trabalhar. Vamos subindo. — Salvatore passou por
mim, entrando no edifício luxuoso e me olhou por

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cima do ombro, me chamando. Corri em sua


direção e entrei.
Ele queria que eu confiasse. Mas como
confiar em três homens que têm algo em comum
com…. Vicentino?
*****

Salvatore morava em uma incrível cobertura,


meus olhos estavam arregalados sobre todas as
partes do local. Quando se entrava no apartamento,
a primeira coisa que chamava a atenção era a
parede de vidro, do teto ao chão. A parede era
grande e mostrava a vista de Las Vegas, a única luz
acesa da sala imensa e luxuosa, era de um abajur
perto de uma poltrona preta.
Parei atrás do sofá e olhei para os lados, a
cozinha já era vista, e uma luz amarela estava acesa
sobre um balcão escuro. — Vamos lá. — Suspirou
Salvatore, parando na minha frente. Ele era tão alto
que fazia meu pescoço doer. — Eu moro aqui e
tenho o apartamento de baixo, sei que vai perguntar
por que preciso do andar de baixo, e direi que
porque sou muito cauteloso e não queria nenhum
vizinho, nem embaixo, nem ao lado e nem em lugar

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nenhum. Você pode morar no debaixo. —


Explicou.
— E quando poderei ir embora do país? —
Perguntei, colocando minha mala de mão no chão.
Salvatore me olhou com o cenho franzido e
suspirou. — Acha que sou o que? O presidente? Só
posso protegê-la e não ajudá-la a ir embora, aliás,
não há como ir. Você já pertence à família e….
— Pertenço?! — O interrompi. — Eu sou o
quê?! A merda de um cachorro que vocês buscaram
na doação? Hein?! Você sabe o que passei a noite
inteira? Sabe como estou me sentindo? VOCÊ
SABE? EU ME SINTO IMUNDA! SINTO-ME
SUJA, MESMO SE EU TOMAR DEZ BANHOS
SEGUIDOS! EU QUERO O MEU LAR, EU
QUERO MINHA VIDA! — Gritei com ele. Meus
soluços interromperam minhas palavras e sentei no
chão da sala, eu não parava de chorar por ódio, por
raiva, por tristeza! Eu me sentia horrenda e porca.
Salvatore se agachou na minha frente e ficou
ali me observando, mas ele não tocou em mim.
Escondi meu rosto entre minhas mãos trêmulas e
não conseguia parar de chorar. Eu tinha esse direito
ainda. E em pensar que não verei Perla novamente.
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Que não voltarei para o meu país! Só fazia meu


choro aumentar. — Elizabeth…. por favor, não
faça isso. Eu não tenho esse poder todo de tirá-la
daqui. Se eu fizer isso, membros da Família cairão
sobre minhas costas e de Demétrio. Depois irão
atrás de você. Apenas entenda, posso protegê-la
aqui. Somente aqui.
— Q-que seja! — Respondi, limpando
minhas lágrimas. — Só me leve para o outro
apartamento. —Levantei do chão, pegando minhas
malas e indo em direção ao elevador aberto.
Salvatore me seguiu e quando entramos, ele
apartou três botões escondidos dentro do painel e
esperou o elevador descer.
As portas se abriram, mostrando o mesmo
local, aparentemente. Tinha o mesmo tamanho e os
mesmos móveis. Poucas luzes acesas. — Os
quartos ficam à direita, assim como o banheiro
social e a sala de jantar e escritório. Do outro lado,
à esquerda, cozinha. — Ele me entregou um papel
dobrado e continuou. — Você não trabalhará pelos
próximos dois dias, esse é o código do elevador, o
primeiro é para o saguão do prédio, o segundo para
o térreo e o terceiro para o meu apartamento. Isso
quer dizer que ninguém pode entrar aqui, sem a sua
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autorização, se o elevador apitar, significa que sou


eu porque tenho o código. Bom, acho que é isso. —
Ele olhou por todo o apartamento, pensativo e
assentiu para si mesmo. — É. — Murmurou e
entrou no elevador, deixando as portas se fecharem.
Fiquei olhando para onde ele tinha ido,
soltando um suspiro baixo e voltando a observar a
vista da cidade. Mordi meu lábio inferior e meus
olhos lacrimejando. Então era isso, eu estava
oficialmente presa à máfia. Para sempre.
*****
DOIS DIAS DEPOIS….
Salvatore apareceu apenas para dizer a que
horas que eu deveria estar na Haze. Ele disse que
eu deveria entreter os clientes com um sorriso
bonito, e encorajá-los a subirem no segundo andar
da boate, e gastarem seus dinheiros nos jogos de
pôquer e nas máquinas de caça-níqueis. Nada mais
que isso. Ele garantiu que eu não seria como
algumas das outras garotas, que se deitavam com os
clientes, e deu ordens específicas para Lincoln.
Hoje era o dia de voltar para aquele lugar, e
em todo caminho que eu fazia, meu coração dizia
para eu dar meia-volta com o carro. Mas não o fiz e
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continuei. Chegando lá, algumas pessoas já


estavam ocupando algumas mesas, apenas bebendo
e havia algumas garotas da boate. Elas usavam
biquínis da parte de cima e microssaias, com saltos
plataformas para combinar. Soltei um suspiro triste
e passei pelo bar, sem olhar para Patsy. Estava me
sentindo envergonhada, antes, eu era a criadora dos
eventos, hoje, sou uma prostituta.
Corri até os fundos da boate e entrei no
camarim, onde as garotas se arrumavam, quando
fechei a porta e me virei, havia umas seis delas ali,
se maquiando ou se vestindo animadamente. Uma
delas me olhou e sorriu. — Olha só! A refeição
exclusiva de Vicentino chegou finalmente no
verdadeiro emprego! — Todas soltaram uma
gargalhada alta e me olharam. Segurei as alças da
minha bolsa, firmemente, e abaixei minha cabeça,
indo para a outra extremidade da sala.
Olhei para os cabides, onde havia várias
roupas. Todas eram curtas demais, provocativas, e
isso só me deixou nervosa. — Não precisa
escolher. — Olhei para o lado, onde uma mulher de
cabelos ruivos estava fumando. Ela vestia um top
rosa e short branco. Era muito bonita.

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— Perdão?
A mulher apagou o cigarro na parede e
depois jogou numa lixeira. Ela se aproximou e
mexeu nas roupas, era mais alta que eu com os
saltos. — As roupas! Não precisa escolher. —
Disse-me. Um vestido curto demais, rodado, da cor
púrpura foi tirado do cabide por ela, me
entregando. — Esse serve. E, ah! Não dê ouvidos
para essas putas invejosas. Eu me chamo Margot.
— Eu me chamo….
Ela riu e acenou. — Elizabeth. Todos sabem.
Bem, vamos chamá-la de outra coisa. Eliza é nome
de vovó, Liz é nome de menininha. — Margot
apertou seus lábios, rosas, pensando. — Ah! Lisa!
Seria mais fácil se seu nome fosse Elisabeth com S
ao invés do Z. Vá se trocar, estou te aguardando. —
Ela me virou de costas e me empurrou até um canto
do camarim. Soltei um suspiro baixo e pendurei
minha bolsa no cabide.
— Por que cismaram em me chamar de Lisa?
— Sussurrei para mim mesma.
Enquanto eu tirava minhas roupas, fazendo o
possível para ninguém olhar para mim, mantive
meus olhos nas mulheres que riam e conversavam
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sem parar.
Não parecia que estavam indo ter uma noite
grotesca, se deitando com homens que não
queriam, parecia que estavam entre amigas se
arrumando para uma noite de farra. Eu não entendia
por que elas pediam para entrar nisso tudo, aliás, eu
entendia. Dinheiro fácil. Muito dinheiro.
Quando estava somente de calcinha e sutiã, vi
que o vestido era um tomara que caia em formato
de coração, para os seios ficarem mais para cima,
óbvio. Tirei meu sutiã e no mesmo instante, duas
garotas passaram por mim, para saírem do
camarim. Elas me olharam de cima a baixo e riram.
— Você não ganhará um centavo de agrado, com
essas manchas roxas pelo corpo, queridinha. Espero
que aproveite as fodas que terá que fazer! —
Cantarolou, rindo juntas, saíram do camarim.
Meus olhos se arregalaram e escondi meus
seios, me abraçando, deixando meus braços em
cima deles. O que eles queriam dizer com aquilo?
Que eu…. — Algum problema, Lisa? — Disse
Margot, se aproximando. Tirei meu cabelo da
frente dos meus olhos e a olhei.
— E-eu terei que me deitar com homens? Por
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causa disso? — Perguntei, apontando para meu


corpo.
Margot olhou minha pele machucada e
suspirou, ela soltou um rosnado e disse-me. — Eu
tenho nojo desse Vicentino, enojada por ele. —
Seus olhos castanhos claros me olharam mais uma
vez. — Não vou deixar que você passe por isso
novamente. Espere aqui. — Ela saiu de perto de
mim e foi até as penteadeiras vazias, onde as
mulheres não estavam. Margot trouxe um estojo
preto cheio de maquiagens e se aproximou
novamente. — Vamos cobrir essas manchas.

*****
Margot passou o tempo todo ao meu lado,
explicando como eu deveria contornar os clientes
tarados, e os que só estavam ali para transar. Eu
não deixei escapar nada, pois era um assunto muito
sério para mim. Não queria passar por aquilo mais
uma vez. Ela andou comigo por toda a boate me
explicando como chegar aos clientes e incentivá-los
a subir para o segundo andar. Era bem simples na
verdade.
— Esses comprimidos os deixaram lesados e
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idiotas. Você joga todo seu charme, o distrai e joga


o comprimido dentro do copo de bebida. É fácil e
simples. Depois, só levá-lo para cima que o babaca
gastará todo seu dinheiro. Tome. — Ela me deu um
frasco rosa, sem que as pessoas ao nosso redor
vissem. Olhei rapidamente para os comprimidos e
guardei entre os meus seios.
Não se passava nem uma hora e meus pés
estavam me matando com o salto alto. Meu corpo
ainda reclamava de dor, pois eu nunca me lembrava
de tomá-los. Bem, o remédio para me fazer dormir
eu lembrava. Meus olhos voaram para a multidão
da boate, enquanto eu gritava acima da música,
para Margot me ouvir. — SABE ME DIZER SE
AQUELE CAPITÃO, DE CABELOS LOIROS,
APARECERÁ HOJE? — Perguntei.
Ela virou-se para mim e abriu um sorriso. —
Fala sério! Você quer transar com ele?! Meu Deus!
Todas querem isso, mas nenhuma teve a chance.
— O quê?! — Perguntei sem entender. —
Não! Eu não quero nada disso, apenas estou
curiosa. Ele tem sido bem legal….
Margot soltou uma gargalhada e se prostrou
na minha frente, segurando meus ombros nus. —
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Se acalme! Eu não sei, ele simplesmente aparece e


fica lá atrás. Só isso que sei. — Ela suspirou
exageradamente e ficou ao meu lado, cruzado os
braços. — Não tem a vaca que ironizou lá no
camarim? Ela se chama Resee, mas foi apelidada
por Baby. Argh! A vadia teve a puta da sorte de
transar com o Capo há meses e depois, transou com
o irmão mais novo. Ela se acha a abelha rainha por
aqui, somente porque sua vagina foi recebida por
sêmen Gratteri. Por duas vezes.
— Oh meu Deus! — Exclamei horrorizada.
— Isso…. é nojento de se falar, Margot. — Ela me
olhou de lado, jogando sua cabeça para trás e
gargalhou mais uma vez, me puxando para
andarmos.
— Vem puritana. Não podemos ficar paradas.
Precisamos trabalhar e já encontrei duas vítimas
para nós! — Suspirou e me puxou.
Olhei na direção em que seguíamos, dois
homens bem-arrumados estavam sentados de frente
à mesa, e olhavam para as pessoas que estavam
dançando. Segurei o pulso de Margot, fazendo-a
parar. — N-não, eu não posso, Margot!
— Relaxa! Você não vai fazer nada, apenas
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se acalme e depois joga esse remédio no copo do


idiota. — Explicou ela.
Olhei novamente para os homens e balancei
minha cabeça em negativa. — É fácil para você,
porque está acostumada.
— Ah meu Deus, Lisa! — Exclamou Margot,
me segurando pelos braços. — Se você estiver se
sentindo mal ou algo do tipo, diga para ele que já
volta e corra para o camarim. Prometo que vou
cobrir você, se alguém perguntar. Apenas vamos
até eles, pois os babacas do Lincoln e do Gregório
ficam de olho.
Engoli em seco e encarei mais uma vez os
homens sentados. — Por que está sendo legal
comigo? — Perguntei em voz baixa. Ela me deu
um olhar triste e depois respirou fundo, olhando
para o lado. Quando me encarou, seus olhos
brilhavam.
— Porque eu passei pelas mesmas coisas que
você passou, com Vicentino. Acredite, eu entendo
você, suporto aquele maldito há três anos. Agora,
vamos, por favor, e prometo conversarmos em
outro momento. — Soltei um suspiro alto e fechei
meus olhos. Eu não faria nada, apenas drogaria o
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pobre coitado e o levaria para o segundo andar.


Depois, encontraria outro homem e assim por
diante.
Salvatore prometeu e garantiu para mim, que
eu não faria nada do que a maioria das garotas da
boate faz. Abri meus olhos e soltei. — Tudo bem!
— Margot fez uma dancinha e pegou minha mão,
rebolando até a mesa. Quando nós estávamos
chegando perto, os dois homens nos olharam de
cima a baixo.
— Oi meus queridos! — Exclamou Margot.
— Sinto que vocês estão bem solitários.
O homem de jaqueta marrom abriu um
sorriso para ela e disse. — É porque eu estava
esperando por você. — Piscou. Margot soltou uma
risada baixa e caminhou até ele, se sentando no seu
colo.
— Aqui estou eu! — Murmurou, beijando
seu pescoço.
Eu permanecia como uma idiota, de pé.
Estava tão nervosa que sentia as minhas mãos
tremerem, assim como minhas pernas. — E você
gracinha? — Chamou o outro homem, se
levantando. Ele era alto, cabelos escuros e um
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corpo nem atlético e nem magricelo. Mas não me


importei com isso, eu só o queria bem longe de
mim. — Qual o seu nome? — Perguntou se
aproximando e segurando uma mecha do meu
cabelo. Engoli em seco e uni toda minha coragem.
Abri um sorriso para ele e passei minha mão
no seu peitoral. — Posso ser quem você quiser. O
que acha? — Ele lambeu seus lábios e segurou
meus quadris. Eu queria correr, para bem longe.
— Que tal…. Minha boneca?
Fiz um biquinho e ri. Merda. Eu não queria
estar ali! — Gostei. — Murmurei, para ele não
ouvir minha voz trêmula. O homem me puxou
lentamente e me abraçou, beijando meu pescoço e
falando em meu ouvido o quão eu era linda. Eu
estava com nojo! Queria vomitar em cima dele e foi
aí que virei minha cabeça, na direção em que as
pessoas estavam entrando na boate.
Salvatore estava conversando com dois
homens com uma carranca em seu rosto. Ele
parecia irritado com algo, pois apontava a todo o
momento na cara deles. Os homens disseram algo
para ele e depois, saíram de perto. Salvatore passou
sua mão direita no rosto e quando abriu seus olhos,
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eles pararam diretamente em mim. Senti meu


coração vibrar me dizendo para correr até ele, mas
não o fiz, me segurei para não o fazer. Ele me
olhava seriamente e não piscava, depois, fechou sua
cara e caminhou em direção aos fundos da boate.
Eu me sentia vazia novamente.
Queria estar perto dele, pois era o único que
me sentia confortável. O desespero foi tão forte,
que rapidamente tirei o frasco do meio dos meus
seios e abri a tampinha discretamente. Margot,
ainda conversava animadamente com o homem,
sentada no colo dele. Ela me deu um olhar
cúmplice e fez sinal para a bebida. Ela já tinha
colocado? Margot mudou de posição no colo do
homem, ficando de costas para mim. Ela
continuava distraindo ele, ao mesmo tempo, que
sua mão direita jogava um comprimido sobre a
bebida. Depois, ela se sentou para o outro lado e
pegou o copo da mesa, fazendo o homem beber.
Ele abriu um largo sorriso e deu um grande gole.
Era a minha vez.
— V-você não quer se sentar? — Perguntei
para o nojento que beijava meu pescoço. Guardei o
frasco habilidosamente e sentia o pequeno

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comprimido na minha mão. Ele me olhou sorrindo


e passava suas mãos para cima e para baixo em
minha cintura. Eu queria gritar de tanto nojo que
sentia.
— Quero ficar bem pertinho de você, boneca.
— Murmurou, tentando me beijar.
Desviei minha cabeça e o empurrei devagar
até que estivéssemos ao lado da mesa, ele me olhou
com desejo nos olhos. Eu estava me sentindo
enjoada e sentia nojo de mim mesma. — Certo. E
que tal…. uma bebida? — Quando lhe disse isso,
puxei ele para me abraçar e olhei para o copo sobre
a mesa, coloquei o comprimido na minha outra mão
e sem olhar joguei dentro do copo. — Por que não
bebe agora? — Sorri.
Ele soltou uma risada e assentiu, mas quando
pegaria o copo, seu amigo gritou. — Hey! Will,
não beba isso! Essa puta jogou algo! — Olhei
assustada para ele e Margot estava de pé com os
olhos arregalados. O homem na minha frente levou
o copo em direção aos seus olhos e soltou um
rosnado.
— SUA VAGABUNDA! — Gritou e me
puxando pelo braço bruscamente. — Iria me
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drogar?! É isso?
Tentei me soltar dele e sentindo o desespero
me invadir. Ele iria me machucar, eu sabia disso.
— N-não! Eu não...
— SOLTA ELA! — Gritou Margot, dando a
volta na mesa e me puxando. — Seus idiotas! Era
apenas para deixá-los animados!
O homem que estava com ela, gritou. —
COLOCOU NA MINHA BEBIDA TAMBÉM?!
ONDE ESTÁ O GERENTE DESSA MERDA?
GERENTE! — Gritou, assim como seu amigo.
Olhei assustada para Margot, sentindo minhas
lágrimas caírem.
— Eles vão falar! Margot!
— Se acalme. — Disse-me.
Limpei minhas lágrimas rapidamente e
quando olhei para o lado, um homem de terno
preto, veio em nossa direção. Aquele deveria ser o
Gregório. — Houve algum problema? —
Perguntou ele.
— Sim, houve! Suas prostitutas colocaram
drogas na nossa bebida! E O MEU AMIGO
TOMOU A DELE! — Gritou Will, com os olhos
arregalados de raiva.
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Gregório nos olhou bravamente e perguntou.


— Drogas?
— Nós duas também tomamos! Era apenas
para nos animar, Gregório! — Mentiu Margot,
chegando perto dele. Os olhos de Gregório foram
para os copos e depois para os homens.
— Sinto muito senhores, por esse tipo de
transtorno. Nossas garotas apenas tentam fazer o
melhor para seus clientes, então, como pedido de
desculpas, poderão passar três horas com elas,
gratuitamente nas suítes que temos logo ali atrás.
— O QUÊ?! — Gritei, segurando o braço de
Margot, ela olhava com ódio para Gregório, seus
olhos estavam em chamas. Os homens nos olharam
sorrindo maliciosamente, fazendo meu estômago
revirar. — E-eu preciso ir até Salvatore!
Gregório me olhou e se aproximou como
uma águia. Encolhi-me com medo, quando sua mão
segurou meu braço com força. — Você irá agora
para uma das suítes e deixará o cliente feliz e
satisfeito! Não me aborreça! — Rosnou e me
balançou. Gregório abriu um sorriso e me soltou.
— É o primeiro dia dela. Bem, vocês podem me
acompanhar? E se quiserem, a bebida é por conta
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da casa. — Quando ele terminou de falar. O


homem chamado Will, segurou meu pulso e me
puxou para seguir Gregório.
Margot me olhou sorrindo fraco e disse em
voz baixa. — Tome dois dos comprimidos. —
Deixei as lágrimas caírem e olhei por todos os
lados, procurando por Salvatore. Procurando pela
minha proteção! Quando chegamos ao corredor dos
quartos, Gregório abriu as duas portas de cada
quarto e sorriu na nossa direção.
— Aproveitem senhores! — O homem puxou
Margot, para dentro da suíte, fechando a porta com
força. Depois, seu amigo segurou minha mão, me
guiando para dentro do outro quarto.
Olhei mais uma vez em busca de ajuda, mas
ele não estava ali. Não estava.

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SETE
Abri meus olhos lentamente para a claridade
que se erguia diante do meu quarto. Eu estava
dolorida, zonza e com ânsias de vômitos pela noite
passada. Eu não tinha ideia de como vim para casa,
mas algo me dizia que Margot foi minha salvação.
Fechei meus olhos novamente e virei minha cabeça
para o outro lado, estava deitada de bruços sobre o
colchão quente e macio. Queria passar minha vida
ali, deitada naquela cama e ser invisível para o
mundo! Minha vida não seria mais a mesma, eu
não seria mais feliz, não teria o meu sonho se
tornando em realidade. Tudo isso, eram meros
fantasmas e mais nada.
Soltei um suspiro baixo e me virei de barriga
para cima, me sentando no colchão. Fiz uma careta
ao sentir as dores e tirei o edredom de cima de
mim, eu estava usando uma das minhas camisetas
largas e meias. Margot me tratou como um bebê
recém-nascido. Levantei-me lentamente e respirei
fundo de olhos fechados, a noite passada foi mais
uma para eu esquecer. Ontem, eu tinha oficialmente
me tornado uma prostituta escrota e sabia que era
minha culpa. Gregório tinha ferrado comigo por
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causa dos comprimidos, fui obrigada a transar com


quatro? Cinco? Seis homens? Eu não tinha ideia,
pois os mesmos comprimidos que tinham me
entregado também me salvaram.
Eu não tinha sentido absolutamente nada na
hora de me deitar com os clientes, eu não lembrava
os seus rostos, não lembrava se eram bonitos ou
feios, não lembrava se os beijei ou se lutei, mas
lembrava de que Salvatore não estava lá.
Ele é como todos! Logo invadirá o
apartamento para te foder!
Caminhei lentamente para fora do quarto,
seguindo até a sala. Se ele faria isso comigo, então
que o fizesse de uma vez e depois pediria para que
me matasse. Com um tiro no meio da minha testa!
Quando cheguei até a sala, ouvi o bipe do elevador,
anunciando a chegada do próprio... Salvatore
entrou no apartamento indo até os quartos, mas
quando me viu, parou para me olhar.
— Elizabeth.
— Por favor, vá embora. — Disse
rispidamente, não reconhecendo minha voz meio
grogue.
Os olhos verdes dele me avaliaram de cima a
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baixo com o rosto franzido. — O que aconteceu


ontem? Eu…. fui resolver umas coisas para
Demétrio, ele acabou se tornando um sequestrador,
agora...
— Eu pouco me importo com isso! —
Interrompi em voz alta. — Por que você fica me
falando sobre o que ele faz? Eu não estou nem aí e
pare de se justificar! Pare de tentar me enganar,
Salvatore, eu sei muito bem o que você quer.
— Ah você sabe?! — Rosnou e dando um
passo em minha direção e eu dando um para trás.
Salvatore me olhou bravamente, enquanto dizia. —
O que eu estou querendo, então? Hã? Diga-me,
quero que fale autenticamente! O que eu quero?!
— Continuou. Pisquei várias vezes seguidas para
não derramar as lágrimas na frente dele. Tudo o
que eu mais queria, naquele momento, era morrer!
Soltei um suspiro trêmulo e desviei meu olhar de
Salvatore.
Quando me recuperei, olhei em seus olhos
mais vez. — Você quer o que todos os homens
sujos e perversos desse mundo querem! Você quer
o mesmo que o seu... comsigli não sei o quê, fez
comigo! Pare de bancar o bom moço.

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— Então você me vê dessa forma? —


Perguntou, sorrindo. — Que eu sou um sujo
pervertido? Um estuprador? Olhe bem para mim
garota, acha mesmo que eu preciso ter uma mulher
a força?! Acha que sou esse tipo de homem? VOCÊ
NÃO ME CONHECE, ELIZABETH!
— E VOCÊ TAMBÉM NÃO ME
CONHECE, SEU MALDITO DE MERDA! —
Gritei de volta. Olhávamo-nos ofegantes e com
olhares arregalados, eu era de raiva e nojo. Mas
Salvatore, eu não sabia o que era. — Onde esteve
quando eu mais precisei? Onde esteve o tal de
Theo, quando eu precisei? Seu Capo? De repente,
todos desapareceram e apenas os lobos
permaneceram em minha volta. Quer mesmo que
eu confie em você? Para mim, você não passa de
outro insignificante podre e imundo. Sua aparência
não quer dizer nada sobre ser um próximo
pervertido escroto! POR QUE NÃO FAZ AGORA
O QUE ESTÁ QUERENDO? VAMOS!
ATAQUE-ME! MACHUQUE-ME, COMO
VICENTINO FEZ! FODA-ME, COMO OS
HOMENS DA NOITE PASSADA FIZERAM!
VAMOS LÁ! — Vociferei, abrindo meus braços
para ele.
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Eu não me importava mais com o que me


aconteceria, eu já estava destruída e tomada pela
vida. Então para quê resistir?
Salvatore estava com os olhos parados em
meu rosto, em todo o momento em que gritei.
Aproximava-me cada vez mais dele, não me
importando com o alerta em minha mente para me
afastar dele. Salvatore assentiu com a cabeça,
olhando para o lado e depois deu um passo para
trás. — Não preciso disso. Sou bem capaz de foder
consensualmente. — Soltou acidamente. Trinquei
minha mandíbula e sem pensar nas consequências,
cuspi na sua cara, fazendo-o fechar os olhos e
respirar duro. Eu ofegava com a raiva dentro de
mim, meu coração se balançava, irritadamente e
não me importei com o que tinha feito.
Ele passou a mão no seu rosto, tirando o
cuspe e depois pegou um pequeno pano branco de
dentro do paletó, limpando seu rosto e mão. —
Sinto muito por ontem à noite. — Murmurou, se
virando para mim.
— Faça isso mesmo! — Exclamei, andando
até lá. — Vá embora, quem precisa de você por
aqui? Se na verdade, nunca está? — Salvatore

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parou na frente do elevador aberto e respirou


profundamente, ele virou sua cabeça para o lado,
fazendo-me captar o perfil do seu rosto pacífico.
Sem dizer mais nada, ele entrou no elevador e se
foi. Mais uma vez.
*****

Estava sentada no chão da sala, encostada no


sofá. Já tinha se passado quase uma hora, desde a
ida de Salvatore. Estava sentindo que tinha sido
uma ingrata e maluca com ele, mas também, que
tinha feito à coisa certa. Eu não queria
proximidades com mafiosos, não queria intimidade
com absolutamente nenhum deles. Eram todos a
escória da humanidade no mundo, porcos, malditos
e que deviam ser exilados.
Fechei meus olhos, e flashbacks da noite em
que Vicentino me atacou vieram.
É sua culpa! É sua culpa! É sua culpa!
Apertei meus olhos e coloquei minhas mãos
entre minha cabeça. — CALA A BOCA! — Gritei
entre os dentes.
Deveria ter ido embora, no momento em que
a empresa não te aceitou! Deveria ter sido mais
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útil e inteligente!
Soltei um grito e me balancei para frente e
para trás. — EU SEI DISSO! EU SOU A ÚNICA
CULPADA, SOU UMA VAGABUNDA BURRA!
Vagabunda burra! Vagabunda burra! Você
não passa disso, NÃO PASSA DE UM LIXO! —
FAÇA PARAR! — Gritei mais uma vez, chutando
a mesinha de centro.
Você mereceu aquilo! — Eu sei! Eu sei! Eu
mereci aquilo. — Chorei em voz alta, batendo na
minha cabeça com a mão. Você que procurou
aquele inferno! Você mereceu pelo que está
passando. — Eu que procurei, eu que procurei! Sou
a culpada! Eu MEREÇO! — Levantei-me do chão
e andei de lá para cá. Minha mente estava
fragmentada, todo o meu ser destruído tinha me
dominado, deixando-me louca. Eu respirava alto e
procurava algo para aliviar aquela loucura em
minha cabeça.
Por que aceitou o pedido dele? Por que foi
burra? Ele tinha razão, você é um lixo! É uma
vagabunda burra.
— Sou! Eu sou! É minha culpa por sorrir
demais, minha culpa por olhar demais, minha culpa
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por ser gentil demais! Tenho culpa e mereço o meu


castigo! — Solucei e peguei um vaso, jogando-o
contra a porta do elevador. Gritei histericamente e
comecei a jogar tudo o que eu via. Vagabunda.
Vagabunda. Burra! Burra!
Meus gritos eram tão fortes, que faziam
minha garganta se arranhar, a dor já era uma boa
amiga. Ela era a única que poderia me trazer a
sanidade. — PARE! PARE! PARE! — Vociferei e
me joguei no chão, tapando meus ouvidos com a
mão e me encolhendo como uma bola. Eu queria
desaparecer, sumir completamente daquele mundo
indo buscar uma nova paz. Mas…. como? Abri
meus olhos molhados de lágrimas e olhei para a
mesa de centro. Lá em cima, o frasco rosa estava
caído.
Sentei-me lentamente sobre o chão, não
desviando os meus olhos do frasco. Engoli em seco
e engatinhei até lá, quando parei, peguei-o na
minha mão esquerda e joguei os comprimidos na
outra mão. Eles tinham a mesma cor que o frasco.
Faça isso, assim você se livrará de quão suja
é! Ninguém irá te salvar aqui, todos irão te usar
porque você merece isso. Você é apenas um

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nada…. tome os comprimidos... tome os


comprimidos... tome os comprimidos...
Soltei um suspiro trêmulo e fechei meus
olhos, joguei os comprimidos dentro da minha boca
e os engoli com dificuldade. Passei a língua nos
meus lábios secos e joguei o frasco para o lado, me
deitando em cima do tapete macio. Minhas
lágrimas cobriram meu rosto, me deixando
indefesa…. eu me sentia indefesa, vulnerável e
insignificante. Eu estava fazendo o certo, pois eu
sabia que aquele inferno seria infinito. Não haveria
vida para mim. Queria apenas morrer e nada mais.
Meus olhos começavam a ficar pesados, eu
me sentia lesada e sonolenta. De repente, sinto meu
corpo sendo puxado e ao mesmo tempo tremendo
freneticamente. A última coisa que eu vejo são as
portas do elevador se abrindo, e a sombra de um
homem entrando correndo no apartamento.
*****
Despertei lentamente do meu sono, tentando
focalizar meu olhar em qualquer coisa. Quando os
abri suficientemente, vi Salvatore, de costas para
mim, de frente a parede de vidro, com a mão direita
na cintura e a outra segurando seu celular até a
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orelha. Olhei em volta me vendo dentro do meu


quarto e ainda era de dia.
— Que bom que acordou. — A voz baixa de
Salvatore se rompeu e uma pequena camada de
raiva estava ali. Ele caminhou até a cama, depois se
sentou ao lado das minhas pernas. — Você estava
quase morrendo quando eu cheguei aqui ontem.
Sabia disso? — Perguntou, unindo suas
sobrancelhas loiras.
Ontem? Eu dormi aquele tempo todo?
Encarei seu olhar duro e engoli em seco. — Sabia,
por que era exatamente isso que eu queria. —
Respondi entredentes.
— Se eu não tivesse enfiado a droga do meu
dedo na sua garganta e feito você vomitar, como
uma criancinha doente, estaria morta! Por que você
fez isso, Elizabeth? — Salvatore sequer me ouviu,
ele se levantou da cama e me olhou irritado. Era até
engraçado. Soltei uma risada baixa e balancei
minha cabeça para os lados, seus olhos estavam em
faíscas.
Passei a mão no meu rosto e suspirei. —
Você…. quer mesmo saber o motivo? Não se faça
de idiota! Por que me salvou?! EU JÁ ESTARIA
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MORTA E EM PAZ! — Esbravejei, me sentando


rapidamente, deixando-me zonza, mas não me
importei. Eu estava muito brava.
— Sabe o que aconteceria? — Perguntou
calmamente. — Você se suicidaria e ficaríamos
desconfiados de que, talvez, falou para alguém
sobre nós, e sabe o que Vicentino faria? Mataria
sua família e amigos, qualquer pessoa que tivesse
um vínculo com você. Tudo isso apenas por você
ter se matado. — Quando Salvatore, disse aquelas
palavras, parei e pensei. Seria algo tão egoísta,
pensar somente em mim, além de me matar,
mataria as pessoas que amo. Encostei-me sobre as
costas da cama e olhei distante de Salvatore, as
lágrimas estavam ali mais uma vez, elas já faziam
parte de tudo da minha vida.
Suspirei tremulando e chorei. — E-eu…. eu
não aguento mais Salvatore. Não aguento mais. —
Sussurrei. Aquele buraco negro estava de volta, me
rondando e me provocando. A sensação de nojo e
tristeza profunda se espalhava dentro do meu peito.
Limpei as lágrimas apressadas que caiam sobre
meu rosto e me abracei, encostando minha cabeça.
Pela minha visão periférica, avistei Salvatore, se
aproximando e se sentando ao meu lado, dessa vez,
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bem perto de mim.


— Olhe para mim. — Murmurou. Olhei para
ele e seus lindos olhos verdes estavam amolecidos
e preocupados. Salvatore chegou mais perto de
mim e se curvou. — Me desculpa por ontem, eu
falhei em te proteger e reconheço isso. Tanto que
resolvi voltar aqui e pedir perdão, mas aí te
encontro caída no chão, se debatendo. Droga, Lisa,
não me assuste mais, Ok?
Eu me sentia tão serenamente em paz, que
poderia adormecer tranquilamente, sem pesadelos.
De repente, Salvatore pegou uma das minhas mãos
e a segurou, fazendo minha pequena mão sumir
dentro da sua. Ela era quente e um pouco calejada.
Sentia algo se brotar dentro de mim, uma onda
forte de esperança? Eu não sabia, mas era muito
bom. Olhei para nossas mãos e o encarei. — Ok!
— Sussurrei. Salvatore abriu um pequeno sorriso e
com isso, me aproximei dele e o abracei. Fechei os
meus olhos e inspirei seu aroma que trazia tanta
calma.
Senti as suas mãos me envolverem, sem
hesitar e me apertar contra ele. — Você não será
uma daquelas garotas, eu não deixarei que isso

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aconteça. Farei até o impossível pra te proteger


desse submundo, Lisa. Eu prometo. — Soltei um
suspiro e encostei minha testa no seu ombro
esquerdo, assentindo. Eu sentia que ele estava
sendo sincero, sentia que poderia confiar
absolutamente nele. Afastei-me lentamente do
nosso abraço e então, o encarei. Ele era mais lindo
de perto, era o homem mais charmoso e
maravilhosamente lindo que eu já vi em toda minha
vida. Salvatore estava com as sobrancelhas
franzidas, me observando. Seus olhos verdes
olhavam cada parte do meu rosto. Ele tocou na
minha bochecha com os dedos e disse-me. — Por
que eu tenho a sensação de que você me pertence?
— Sussurrou. Era engraçado, pois eu sentia a
mesma coisa.
— Eu também sinto o mesmo. — Respondi
entre sussurros.
Ele olhou para a minha boca e seu polegar
passou em meu lábio inferior. — Não quero que
pense que estou me aproveitando. Eu nunca
machucaria você, Lisa. Meu instinto é de protegê-la
de todos, confie em mim. — Pediu solenemente.
Minha respiração estava se elevando com o que
acontecia, eu me sentia totalmente em paz com
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Salvatore, sentia que poderia confiar nele,


cegamente. Timidamente, levei minha mão até o
seu queixo firme e toquei com as pontas dos meus
dedos. Ele respirou fundo e segurou minha mão,
virando sua cabeça e beijando minha pele. Meu
coração rugiu com o toque de seus lábios.
— Eu confio. — Sussurrei. — Nunca
deixarei de confiar. Mas…. posso perguntar algo?
Salvatore me olhou desconfiado e uniu suas
sobrancelhas, assentindo. — Claro. — Murmurou
hesitante. Depois de um longo tempo, senti um
sorriso se formar em meus lábios.
— Por que me chama de Lisa? — Seus olhos
se iluminaram e uma risada baixa escapou dos seus
lábios. Era uma risada tão linda….
Salvatore respirou profundamente e tirou
alguns fios do meu cabelo na frente do meu rosto.
— Porque é o seu nome. Elisabeth, certo?
— Sim! Mas você está usando o S. — Ri
para ele.
— Droga. — Murmurou para si mesmo. — E
eu já estou acostumado com esse apelido.
Desculpe-me, é que mesmo morando nos Estados
Unidos, não tenho o costume de conversar em
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inglês, só quando é necessário. — Explicou. Abri


um sorriso para Salvatore e assenti.
Mordi meu lábio inferior e perguntei. —
Elizabeth não é tão comum no seu país?
— Acho que sim, mas eu só consigo
pronunciar seu nome com S. Sinto muito. —
Suspirou e sorrindo. — E você? Eu nunca fui ao
Brasil, me disseram que é um paraíso. — Fiz uma
careta, rindo com isso. Tudo bem, nem tão paraíso
assim, mas eu amava aquele lugar.
Dei de ombros para Salvatore e passei a mão
no seu braço, distraidamente. — É a imperfeição
mais linda. Claro que há os altos e baixos, como
todo lugar, mas…. eu gosto, me sinto bem lá e
protegida.
— Você sente falta, posso ver em seus olhos.
— Murmurou. Salvatore me olhou por alguns
segundos e então me disse. — Eu…. eu posso...
levá-la até lá, mas somente por um dia. No mesmo
dia em que chegarmos iremos embora. Tudo bem?
— Meus olhos não conseguiam piscar. Eu estava
em êxtase naquele momento, digerindo cada letra
que Salvatore me disse.
Ele me olhava com ternura, apenas me
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olhando. — Salvatore…. — Sussurrei. — Você


está falando a verdade?
— Deus. — Suspirou, segurando meu rosto
entre suas grandes mãos. — É claro que sim, eu
jamais mentirei para você. Vou apenas procurar um
dia livre e podemos ir, dou minha palavra de que
ninguém saberá de nada, ok?
Assenti para ele e sorrir. — O-ok. Meu Deus,
eu não acredito. — Sussurrei e ri voltando a abraçá-
lo. — Prometa que nunca mais desviará seus olhos
de mim. — Sussurrei de olhos fechados. Salvatore
acariciou minhas costas e minha cabeça
carinhosamente.
— Eu prometo que não desviarei, nunca,
nunca mais meus olhos de você. Será minha
prioridade, agora, Lisa. — Ele beijou minha
cabeça, e depois me envolveu entre seus braços
grandes e musculosos. Eu senti que uma pequena
luz estava rompendo a escuridão. Ele não me
deixaria, ele ficaria ao meu lado e seria o meu anjo.
Soltei um suspiro baixo e sorri, de olhos fechados,
o abraçando com mais força.
Salvatore era a minha salvação.

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OITO
SALVATORE.
No dia seguinte, estive aguardando uma
oportunidade de me encontrar com uma pessoa, que
eu não via há duas semanas. Eu sempre dizia para
Demétrio manter seus olhos mais abertos sobre
Vicentino, pois ele sempre estava ausente quando
mais precisávamos. Ontem, passei meu dia com
Lisa, pois estava desconfiado de que talvez, ela
pudesse fazer outra merda a ela mesma. Ao
imaginá-la tentando tirar a própria vida, mais uma
vez, era agonizante! Então, tive que inventar para
ela que poderia levá-la ao Brasil, eu não poderia,
isso é impossível, mas claro que eu tentaria.
Sempre mantive minha palavra com qualquer
pessoa.
Elizabeth era minha exclusividade. Desde
que a vi, não sabia o que tinha acontecido comigo,
não sabia o porquê disso, apenas sabia que eu
deveria protegê-la. Demétrio sempre deu ordens
explícitas de que nenhum de nós, poderíamos levar
uma mulher à força para trabalharem conosco,
mas…. Elizabeth, não foi levada a força e sim foi

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enganada.
Estava na boate Haze, a procura de
Vicentino, mas ele não se encontrava, assim como
o seu soldado vira-lata Nino. Eu sabia que eles
estavam planejando algo, porém, como o próprio
Demétrio me disse foi: eu, pelo menos, tinha
alguma prova disso? Não, eu tinha apenas minha
intuição e eu sempre acertava. Caminhei
apressadamente pelo local vazio e fui até o
escritório, abri a porta e a fechei em seguida, depois
de entrar, trancando-a. Dei a volta na mesa de
madeira escura e me sentei na cadeira de couro já
abrindo as gavetas. Encontrei todos os contratos em
que as garotas assinavam antes de começarem a
trabalhar para nós, eu queria apenas um deles.
— Aqui está você. — Murmurei, tirando o
contrato de Elizabeth dentre os outros. Eu sabia de
cor, cada parágrafo desse maldito contrato. Não se
recusar a deitar com qualquer homem. Não se
recusar a ingerir álcool ou drogas. Não se recusar a
trabalhar todos os dias. Outras e mais outras regras
eram inseridas nas cinco páginas do contrato,
Vicentino, aproveitou a situação por Lisa não saber
ler em inglês, naquela época, fazendo-a assinar as
folhas inocentemente. Virei todas as folhas e no
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final dela, havia informações sobre Elizabeth.


Nome: Elizabeth Nevasco Evans.
Nascimento: 17/01/1986 – Rio de Janeiro, Brasil.
Idade atual: 24 anos.
Endereço residencial: Tv. Tomé de Alvarenga n°
34 apartamento 8 - Madureira RJ.
Ensino de escolaridade: Escola Municipal
Ministro Edgard Romero (1991 - 2001) Colégio
Estadual Cidade de Lisboa (2002 - 2004).
Ensino superior: Fundação Getúlio Vargas (2006
- 2010). Publicidade.
Experiências profissionais: Atendente em
Sorveteria Itália. (2002 - 2003). Vendedora em
VIVARA - Botafogo Praia Shopping (2004 - 2010).
Tipo sanguíneo: A+
Doenças hereditárias: Nenhuma.
Alguma doença: Sim, porém curada. Coqueluche,
entre os 8 meses a 3 anos de idade. (Vacinada em
20 de fevereiro de 1989 na cidade de Sevilha,
Espanha).
Infecções sexualmente transmissíveis: Nenhuma.
Pai: Albert Ramirez Evans, publicitário, nascido
em Santiago de Compostela, Espanha, em 31 de
dezembro de 1957. Casado com Judy Sanches,
professora de piano, desde 2002 e com dois filhos,
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Pedro Evans e Ludmilla Evans, estudantes da


escola Nossa Senhora de Loreto, em Salamanca,
Espanha.
Endereço atual: Paseo de la Castellana,
Salamanca - Madrid, Espanha.
Mãe: Heloísa Sales Nevasco Evans, enfermeira,
nascida em Duque de Caxias, Brasil, em 21 de
setembro de 1963. Casada com Albert Ramirez
Evans, publicitário, entre 1985 a 1999, e com uma
filha, Elizabeth Nevasco Evans.
Endereço atual: Nada constando.
Motivo: Óbito. Suicídio em 13 de agosto de 1999
em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
Nota* Elizabeth Nevasco Evans, foi criada
depois da morte da mãe por Perla Cristina
Tavares, essa passou a ter a guarda da criança em
30 de outubro de 1999. Perla Cristina foi amiga de
Heloísa Sales desde a infância, a mulher passou a
ter responsabilidade pela filha da amiga falecida.
Atualmente ela vive em Madureira, Rio de Janeiro,
e trabalha com atendimento em um posto de saúde.
Sem filhos.
Soltei um suspiro cansado e passei meus
dedos nos olhos, ele tinha tudo sobre ela e mesmo
eu tomando essa ficha, apostava que Vicentino
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memorizou tudo. Filho da puta desgraçado. Olhei


novamente para a folha e me senti triste com a vida
de Lisa, ela sofreu tanto, primeiro, sua mãe se
matou e em seguida, seu pai a descartou como um
filhote de animal. E mesmo assim, era uma garota
boa e inocente, não via mal em nenhuma pessoa.
Ela sofreu na sua vida e agora, estava passando por
mais um inferno, por culpa de Vicentino. Soltei um
rosnado irritado e fechei a gaveta com força, me
levantei da cadeira e dobrei ao meio o contrato
junto com a ficha.
Elizabeth não iria mais passar por isso, eu
não deixaria.
Guardei os papéis dentro do paletó e saí do
escritório, eu precisava dizer a Demétrio, mais uma
vez sobre esse fodido desgraçado.

*****

— Por que acha que devo desconfiar apenas


com papéis, Salvatore? — Perguntou Demétrio,
distraidamente enquanto assinava papéis sobre a
sua mesa de escritório. — Você sabe que preciso de
mais motivos. Não tenho culpa se a garota é burra.
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— Suspirou, olhando para a tela do seu


computador.
Trinquei minha mandíbula e rosnei. — Não a
chame de burra. — Os dedos de Demétrio, sobre as
teclas, pararam de se mover, ele levantou seu olhar
lentamente em minha direção. Respirei
profundamente e abaixei minha cabeça, em
respeito. — Me desculpe, não deveria falar dessa
forma, mas... Demétrio você me conhece há anos e
sabe que nunca diria algo que não fosse verdade.
Vicentino tem a garota na palma da mão dele, ela
chora o tempo todo, diz que não consegue dormir,
comer. Sei que você tem preocupações melhores,
mas ela é minha preocupação. Só por favor,
procure Vicentino e ordene a ele para libertar
Elizabeth.
Os olhos azuis de Demétrio estavam duros
sobre mim, ele estava irritado a semanas com a
entrevista da jornalista McAdams, no jornal que
dizia boas mentiras sobre ele. Eu sempre disse que
ele tinha que ser cauteloso, que ele não podia se
expor tanto assim, mas Demétrio era orgulhoso
demais. Ele nunca ouvia ninguém. E por nunca
ouvir, acabou sequestrando a chefe da jornalista e a
tratando como um pedaço de carne, dando aos
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soldados. Sabia que ele não tinha feito nada com


ela, ele não era assim, mas o ódio dele o cegou.
— Por que essa garota é tão importante? O
que há com você, Salvatore? Sabe que se o seu pai
descobre essa sua obsessão por uma prostituta do
ciclo, ele castra você!
— Você acha mesmo que me importo com
France? — Ri com suas palavras, mas eu queria
mesmo era gritar. — Eu tenho quase 40 anos
Demétrio, e mando na minha própria vida. As
opiniões dele não são nada para mim. E Elizabeth,
não é uma prostituta, você sabe disso. — Esclareci
em voz baixa. Demétrio soltou um suspiro alto e se
recostou na sua cadeira, ele apertou seus lábios e
balançava a cabeça.
— Porra, Salvatore! Você sabe que eu não
tenho como ajudar. Você sabe também que eu fiz
de tudo para mudar as leis da Cosa Nostra, mas não
consegui, se souberem que estou ajudando você
com a garota brasileira, farão de tudo para me tirar
de Don. Somos melhores amigos, eu te considero
como meu irmão, mas... — Ele passou suas mãos
no rosto e se curvou até a mesa. — Vicentino está
na boate Fall, vá até lá e conversem

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civilizadamente. Eu tenho outras coisas para fazer.


— Assenti uma vez e me virei, saindo do seu
escritório e indo até o meu carro. Eu o entendia,
sabia que havia muitos urubus entre nós, apenas
aguardando um deslize de Demétrio. Então eu
deveria ir me virar.
Entrei no meu carro e a única coisa em que
pensava era que eu deveria encontrar Vicentino.
*****

O fim da tarde estava próximo, quando


estacionei em frente à boate Fall. Quando passei
pelas portas, cumprimentei os soldados que
estavam ali, e encarei Nino que estava entre eles.
Ele me deu um aceno de cabeça nervoso e desviou
seu olhar, como um verdadeiro maricas. Mas ao vê-
lo ali, eu sabia que Vicentino estava dentro da
boate. Caminhei de queixo erguido pelo salão, com
luzes piscando e uma música eletrônica tocando
alto. Algumas garotas que trabalhavam lá estavam
conversando animadamente, perto do balcão do
bar, mas quando me viram chegando se calaram e
me olharam.
Dei um aceno de cabeça para elas, quando eu
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passava perto e continuei andando até encontrar


quem eu buscava. De repente, Vicentino, saía dos
fundos da boate com três homens que eu não
conhecia, ele sorria e respondia os homens. Não
esperei um segundo e caminhei até ele, então, seus
olhos me viram.
Ele me machucou! Machucou-me a noite
toda!
A cada passo certo que eu dava a voz, triste e
desesperada, de Lisa surgia em minha mente.
Deus, como eu pude deixar isso acontecer!
Sinto-me imunda!
Soltei um rosnado irritadiço, quando estava a
centímetros de Vicentino, ele abriu um sorriso falso
e exclamou: — Senhores! Esse é o nosso capitão
Salva... — Meu punho esquerdo se chocou contra
seu rosto, impedindo-o de terminar de falar. Os
homens correram para longe e eu ouvi os gritos das
garotas. Vicentino tentou se afastar de mim, com os
olhos arregalados de medo. — O-o que... O QUE
ESTÁ FAZENDO?!
— O QUE ESTOU FAZENDO? — Trovejou
minha voz, meus olhos estavam em brasa. Eu
queria matá-lo! Segurei seu pescoço e dei outro
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soco na sua cara imunda. — A PRÓXIMA VEZ


QUE VOCÊ TOCAR NA ELIZABETH,
AMEAÇÁ-LA OU ATÉ PENSAR NELA, EU TE
MATO SEU COVARDE! EU TE MATO! —
Joguei seu corpo em cima de uma mesa perto de
mim e fui até ele. Vicentino tossia e tentava se
levantar do chão como uma merda. Era engraçado,
pois eu estava ansioso que ele mostrasse o homem
que é quando estupra mulheres. — ONDE ESTÁ O
MACHO ALFA, AGORA? — Gritei, chutando seu
estômago. Ele urrou de dor, segurando minha
perna, me puxando até que eu caísse.
Gritos ecoavam pela boate junto a música,
Vicentino subiu em cima de mim e deu um soco na
minha cara. — DEFENDENDO PUTAS, AGORA?
GOSTOU TANTO ASSIM DE COMÊ-LA? —
Vociferou. Ele tentou novamente me socar, mas eu
fui ágil. Segurei sua nuca, entrelaçando minhas
mãos e o puxei para mim, dando uma cabeçada no
seu nariz. Vicentino se afastou, caindo para o lado e
gritando como uma garotinha. Mas quem disse que
eu terminei aquela porra?!
Ajoelhei-me ao seu lado e soquei
repetidamente seu rosto, barriga, peito. Qualquer
lugar. — EU VOU CORTAR SUA CABEÇA!
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VOU PENDURÁ-LA NA PAREDE DA MINHA


SALA SEU VERME REPUGNANTE! — De
repente fui puxado por várias mãos e tentava me
soltar. Oito soldados me seguraram, me dizendo
para me acalmar. Aquilo só me incentivou mais.
Quando eles me levantaram do chão, chutei contra
o saco de Vicentino, fazendo-o urrar e se debater
sobre o chão. Ele fechava as pernas e segurava o
pau nas mãos. — Isso é para se lembrar de mim!
Encoste-se a ela, eu corto seu pauzinho e faço você
comer! — Rosnei. — ME SOLTEM! — Gritei e
empurrando os soldados que me encaravam.
Vicentino não parava de gritar com dor, ele
se balançava no chão como uma criança. Olhei para
os soldados confusos e ordenei. — Tirem esse lixo
daqui! Pois temos clientes prestes a chegarem. —
Rapidamente eles seguraram Vicentino, levando-o
para o interior da boate. Respirei profundamente e
passei a mão no cabelo, jogando-o para trás, depois
no meu nariz e olhando meu dedo ensanguentado.
Virei-me para ir embora e fui até o bar, e as garotas
me encaravam assustadas. — Deviam estar com
medo de Vicentino, não de mim. Você, passe
aquela garrafa de uísque. — Disse para o barman.
Ele se virou correndo e pegou a garrafa e um copo,
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colocando sobre o balcão, na minha frente.


Peguei a garrafa na mão e abri a tampa,
virando o líquido dentro da minha boca e me
afastando dali. Quando saí da boate, encostei-me ao
meu carro e arrumei meu terno. Fechei meus olhos
e respirei fundo.
Finalmente tinha conseguido o que queria.
Desfigurar a cara do filho da puta. Graças a
Elizabeth. Lisa.

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NOVE
Desliguei o telefone pela quarta vez, me
jogando no sofá. Eu estava com medo de que
alguém descobrisse que eu estava tentando falar
com Perla, nesses últimos dias. Sentia falta dela e
principalmente dos seus conselhos, sentia minha
cabeça girar em relembrar suas palavras. Ela
sempre esteve certa sobre esse lugar, mas eu era
idiota o suficiente para não acreditar. Joguei minha
cabeça no encosto do sofá, quando ouvi o barulho
do elevador sendo aberta.
Salvatore entrou com uma sacola de papelão
na mão, levantando para eu vê-la. — Trouxe seu
jantar. — Murmurou, caminhando até a cozinha. —
Acho que você não gosta de lavar as louças, certo?
— Perguntou em voz alta, me olhando com as
sobrancelhas arqueadas, enquanto tirava marmitas
brancas de dentro do saco.
— Não curto fazer nada, ultimamente. —
Murmurei, esticando minhas pernas sobre a mesa
de centro. — Mas o banho e dormir ainda estão
valendo. — Ele saiu de perto do balcão da cozinha
e veio caminhando em minha direção, toda vez em

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que ele se aproximava, meu coração miava como


um filhote de gatinho. Salvatore se sentou ao meu
lado e esticou seu braço esquerdo nas costas do
sofá, atrás da minha cabeça. Instantaneamente seu
cheiro invadiu minhas narinas, me deixando
inquieta.
Soltei um pigarreio incômodo e me endireitei
no sofá. — Hoje, Lincoln veio falar comigo.
Perguntou se eu sabia sobre você, porque não a vê
há dois dias. — Comentou tranquilamente.
Arregalei meus olhos e quando surtaria, Salvatore
foi mais rápido. — Relaxa! Ele disse que se você
não for essa noite, sua conta no banco será
bloqueada. Olha Lisa, sabe que posso sustentar
você, mas infelizmente você precisa dar as caras
hoje, na Haze. Não posso deixar que desconfiem.
— Como não? — Perguntei assustada. —
Você mesmo disse que viu Vicentino mancando
pela cidade, com a cara roxa e todos sabem que foi
você! Acha mesmo que eles já não desconfiam?
Salvatore apertou a ponte do nariz e balançou
sua cabeça. — Eles acham que foi por outro motivo
qualquer e não por sua causa, Elizabeth. Aliás, os
únicos que sabem é o próprio Vicentino e

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Demétrio. Só, por favor, me ouça, você precisa ir


essa noite, mas antes que surte, eu vou ir com você
e estarei de olho, não deixarei ninguém se
aproximar e você não manterá relações sexuais com
os clientes. Ok? — Choraminguei alto e joguei
minha cabeça em cima das minhas pernas. Como
eu pude acreditar que minha vida voltaria aos eixos,
apenas pela aparição de Salvatore?! Não tinha
como escapar dessa merda, mesmo Vicentino
levando uma surra e sendo avisado, eu sabia que
ainda correria perigo.
— Prometa que será a minha sombra, dentro
daquele lugar? — Resmunguei e olhando para ele.
— Não posso ficar grudado em você,
Elizabeth, mas ficarei aos arredores, assim como
Theo. — Assegurou. Salvatore respirou fundo e se
aproximou mais, pegando minha mão
delicadamente e segurando na sua. — Eu não vou
tirar os meus olhos de você, prometo. — Sussurrou.
Mordi meu lábio inferior e apertei sua mão
com a minha, a pele quente dele era tão boa... — Só
tente me tirar disso tudo, o mais rápido possível. Eu
trabalharei para a máfia, mas não para ser
prostituta. — Os olhos verdes de Salvatore me

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avaliaram intensamente, ele assentiu com sua


cabeça e a abaixou para olhar nossas mãos
entrelaçadas. — Eu continuo sem entender, por que
você me protege. — Murmurei encarando-o.
Salvatore abriu um sorriso torto e levantou a cabeça
loira para me encarar.
— Preciso de motivos? — Perguntou em voz
baixa, olhando meus lábios. Engoli em seco e
balancei a cabeça em negativa. Salvatore chegou
mais perto de mim, muito perto, fazendo seu rosto
ficar próximo ao meu. — Se quiser, posso dar uma
pequena demonstração. — Sussurrou, colocando
sua mão direita no meu rosto. Eu sentia meu
coração atravessar minha espinha! Meu sangue
estava fervendo, minha respiração se alterou e eu
poderia jurar que meus sentidos estavam mais
aguçados. Salvatore olhou mais uma vez para meus
lábios, fazendo seu polegar passear lentamente por
eles. Eu sabia o que ele queria, sabia o que ele
estava prestes a fazer, mas eu não conseguia.
Ainda, não tinha forças para isso. Apesar dessa
relutância, eu queria beijar Salvatore, muito.
Quando vi o pequeno espaço entre nós
diminuir, espalmei minha mão esquerda contra seu
peitoral e fechei os olhos. — E-espera. —
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Sussurrei, gaguejando. — Eu... eu não posso,


Salvatore, não posso. — Um gosto amargo descia
pela minha garganta ao dizer aquelas odiosas
palavras. Sentia-me uma vaca, por negar isso, pois
eu queria desde que o conheci. Nunca me imaginei
fazendo sexo com Salvatore, pois eu não estava
totalmente curada do meu trauma, mas... me
imaginava beijando-o com tanta ternura, eu
sonhava com isso todas as noites.
Senti sua mão passear no meu pescoço e nuca
e me puxar, plantando um beijo na minha testa,
para depois se afastar. Olhei, envergonhada, para
ele enquanto o vi sorrindo carinhosamente. — Não
precisa sentir vergonha. Acha que eu não te
entendo? — Perguntou, acariciando meus cabelos.
— Posso esperar, sou uma pessoa muito paciente.
Mas... acho que acabei de mostrar um dos motivos
pelo qual eu estou te protegendo. — Piscou
Salvatore, beijando mais uma vez minha testa e se
levantando, indo de volta para a cozinha.
Joguei-me sobre o sofá, deitando-me e
observando Salvatore, esquentando meu jantar.
Deus! O que aquilo significava? Que ele... quer
ficar comigo? Aliás, eles têm o costume de ter
amantes? Eu nem sabia como chamavam esse tipo
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de coisa, aqui nesse país. Olhei para o teto do


apartamento e suspirei pesadamente. Eu não queria
imaginar coisas para depois, futuramente, sair
ferrada mais uma vez, mas... Salvatore sempre
demonstrou ser um homem de verdade e não aquele
maldito de duas faces! Se ele queria me beijar,
então queria dizer que ele queria ter algo comigo?
Merda! Por que não deixei que ele me beijasse?
Porque você não está preparada, sabe
disso...
Escondi o rosto entre minhas mãos e
choraminguei. Vicentino tinha oficialmente
destruído a minha vida. Eu não me importava com
os machucados na minha pele, me importava por
ele ter machucado a minha alma e toda a minha
vida! Agora, como seria daqui para frente? Viveria
me esquivando? Desconfiando até da minha própria
sombra? Eu queria muito, tentar me erguer
novamente, gostaria de dizer a mim mesma, para
seguir em frente e não pensar mais naquele dia,
porém, eu não tinha forças para isso. Eu não tinha
forças para superar, dentro de mim, estava em
ruínas, me sentindo usada e descartada como lixo.
Salvatore estava sempre dando “broncas”, quando
eu me rotulava com palavras negativas. Ele sempre
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dizia que não era minha culpa, que eu que era a


vítima da história. Sabia disso. Mas... minha
consciência não tinha captado essa informação,
ainda.
Entretanto, quando Salvatore chegou ao
apartamento, dois dias atrás, com a boca
machucada, dizendo que tinha dado uma surra em
Vicentino, fiquei em êxtase. Eu ri e saltitei,
enquanto Salvatore contou detalhadamente, tudo o
que aconteceu. Ninguém tinha levado e dado socos
por mim antes, nunca na minha vida e confesso que
me sentia especial ao lado de Salvatore, apenas por
isso. Olhei mais uma vez para ele, que comia um
pedaço de cenoura e então suspirei.
O que eu faço com você, Sr. De Gasperi?
*****

Entramos na boate Haze, já se via muitas


pessoas ali. Era sábado à noite e o esquenta tinha
começado antes das 21 h. Respirei profundamente e
segurei a mão de Salvatore, que estava parado ao
meu lado, olhei para cima e disse em voz alta: —
Você promete, mesmo, mesmo, mesmo que estará
por perto? — Perguntei de olhos arregalados. Ele
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deu um leve aperto em minha mão e depois a


soltou, discretamente.
— Tem a minha palavra. — Assegurou. —
Agora, vá até Lincoln, dizendo que estava doente
ou algo do tipo. Estarei aos arredores, Theo
também. — Ele apontou com sua cabeça, e olhei na
direção em que o soldado Theo estava parado, de
braços cruzados, olhando o movimento. Seus olhos
pousaram sobre nós, e ele deu um aceno com sua
cabeça. Aquilo me aliviou um pouco. Assenti,
voltando minha atenção para Salvatore, e sorri sem
mostrar meus dentes. Ele piscou para mim, e então,
caminhou pela multidão. Deixando-me ali,
altamente nervosa.
Respirei fundo e andei, passando pelas
pessoas que dançavam e tentando, ao máximo, me
esquivar delas. Quando estava próxima das mesas
Vips, alguém segurou meu braço. Soltei um grito e
dei um tapa na mão, quando me virei, era Margot.
— Oh meu Deus, Margot! Que susto! — Exclamei,
colocando a mão sobre meu peito. Ela soltou uma
gargalhada alta e me puxou para um canto escuro
da boate. Em seguida, me abraçou.
— Você que me assustou, sumindo por dois

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dias! O que deu em você, sua maluca? —


Perguntou exaltada. Quando abri minha boca para
respondê-la, ela já estava passando na minha frente.
— Aliás! Os rumores eram verdadeiros! Você
está... hmmm..., fazendo sexo gostoso com o,
delicioso, loiro De Gasperi? Acabei de ver você
chegando com ele, sua espertinha. — Margot,
soltou outra risada divertida e me balançou pelos
braços. O que eu tinha acabado de ouvir fez uma
raiva, desconhecida, subir por todo o meu corpo.
Por que todas as pessoas acham que quando uma
mulher está ao lado de um homem, significa que
estamos transando com eles?
Soltei um suspiro baixo e balancei minha
cabeça, discordando. — Não estamos dormindo
juntos, Margot. Os rumores são falsos. Salvatore
está apenas me protegendo de certas pessoas. —
Expliquei para ela, cruzando meus braços. Os olhos
de Margot se abriram mais do que o normal, em
minha direção, e um sorriso torto apareceu em seus
lábios rosa.
— Droga! Você é uma safadinha de sorte.
Mas... não importa o que você diga, as garotas
viram você saindo daqui e entrando no carro dele.

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— Ah é mesmo? — Perguntei
tranquilamente. — E aposto que estão se mordendo
de raiva com isso.
Margot fez um biquinho e assentiu. — Com
toda a certeza. Principalmente a querida Baby, ela
quer a sua cabeça espalhada na sala dela. — Sorriu
diabolicamente. Revirei meus olhos, cansadamente,
e olhei por toda a boate. Ótimo, agora, eu era
odiada pelas mulheres que trabalhavam por lá.
Quanta bobagem. Margot olhava para um cara que
estava bebendo perto bar, quando chamei
novamente a sua atenção.
— Ela que faça bom proveito, agora veremos
se ele irá querê-la. Salvatore não me vê com esses
olhos. — Murmurei timidamente. Eu sabia que algo
ele queria de mim, desde que tentou me beijar, mas
algo prolongado... não mesmo.
Margot soltou uma risada e revirou os olhos.
— Sim, ele a vê com esses olhos. Se não, por qual
motivo estaria a protegendo? O que Vicentino fez a
você, já fez com outras e também soldados já
fizeram isso, capitães já fizeram isso, resumindo;
qualquer maldito da máfia já fez, até os clientes. O
Sr. De Gasperi está interessado em você, e isso,

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minha amiga Lisa, será sua passagem de saída da


Haze. — Ela deu uma piscadela e olhou mais uma
vez para o homem que bebia, ele também estava
bem interessado nela. Margot soltou minha mão, se
afastando, com seus olhos sobre ele. — Agora, se
me dê licença, meu radar vadia foi acionado. Vejo-
te depois. — Ela caminhou sensualmente até o
homem e me deixou ali, rindo da sua piada. Eu
gostava muito dela. Lembrava-me da Perla. Em
pensar no seu nome, me senti triste e solitária, eu
estava com tantas saudades dela, mas Salvatore
disse-me que o melhor seria não manter muito
contato com ela, apenas por precaução.
Passei a mão em minha testa e me virei, em
busca de Lincoln.

*****
Conversar com Lincoln, foi algo bem
desagradável, pois ele não conseguia me olhar nos
olhos e eu não conseguia parar de sentir nojo da sua
cara! Ele sabia o tempo todo, sobre as tramas de
Vicentino, mas foi um bom e fiel cachorro com o
seu Consigliere. Quando tinha me visto, pediu
muitas desculpas sobre tudo, e principalmente de

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quando Gregório me colocou para transar a noite


toda, com vários homens desconhecidos. Ele
garantiu que aquilo não se repetiria novamente.
Ótimo. Como se eu confiasse nele.
Quando saí de seu escritório, caminhei de
volta para a pista da boate, procurando por Margot,
mas ela não estava ali. Soltei uma risada e balancei
minha cabeça, ela tinha me dito que gostava,
algumas vezes, de ter relações sexuais com alguns
clientes, todos escolhidos a dedo por ela. Além
disso, Margot era amante de um senador da cidade.
Ele sempre dava joias caras para ela, que queria me
mostrar tudo o que ganhava dos seus homens fiéis,
até mesmo o seu loft. Chegando até as pessoas,
passei por um grupo de garotas, pedindo licença. O
lugar estava mais lotado ainda, impedindo que
qualquer corpo humano se locomovesse
adequadamente. De repente, tropecei sobre o pé de
uma mulher que dançava loucamente, e alguém alto
me segurou para não cair no chão.
— M-ME DESCULPE... — Gritei acima da
música, olhando para cima. Quando vi quem era,
meu corpo se paralisou e senti o gelo do medo subir
pela minha espinha, dando pontadas sobre o meu
coração.
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Vicentino me olhou, sorrindo sem mostrar os


dentes. — CUIDADO PARA NÃO CAIR... LISA.
ALIÁS, TOME CUIDADO. — Gritou, em seguida,
se afastando e passando por onde eu estava. Fiquei
parada, no meio das pessoas com as mãos ainda na
mesma posição, como se estivesse apoiada sobre
alguém. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu
não ouvia mais nada, o som da música e das
pessoas foi abafado pelo medo, eu sentia um gosto
amargo em minha boca, um gosto horrendo. Fechei
meus olhos com força, quando as cenas daquela
noite vieram à tona.
Que boceta suculenta.
Eu estou adorando te foder.
Isso! Grite! Meu pau se contorce mais.
Você é deliciosa! Quero te comer todos os
dias.
Sua vadia escrota! Piranha burra!
— EI! — Gritou alguém por trás de mim, me
fazendo gritar também, mas de susto. Olhei para
trás, respirando alto, quando um homem abria um
largo sorriso e segurava minha cintura. —
Disseram que você trabalha aqui. Achei você muito
linda, que tal se nós nos divertíssemos bastante no
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quarto? — Ele se aproximou, dando vários selinhos


em meus lábios, me empurrando para trás com seu
corpo. Eu estava paralisada ainda, não conseguia
me afastar dele. O homem era um pouco alto e
tinha piercings no rosto, e um cabelo loiro falso
platinado. Ele tinha cheiro de vodca com suor, o
que fazia meu estômago se revirar.
Quando o vi tentar me beijar, virei meu rosto,
esquivando-me daquele porco. — Eu não estou
interessada! — Exclamei, empurrando ele. O
asqueroso soltou uma risada e me puxou com força,
pela cintura.
— Como se isso importasse! Você é uma
puta e estou pagando para te comer! Agora vá logo
para o quarto! Estou louco pra entrar bem aqui. —
Sua mão desceu até a minha vagina, passando o
dedo por ela. Soltei um grito e dei um tapa na sua
mão, puxando minha saia mais para baixo. Tentei
me afastar novamente, mas ele era mais forte. —
Vamos lá! Dê-me o que quero porra! — Exclamou.
O homem me puxou para mais perto dele, tentando
a todo custo me beijar.
Quando socaria sua cara, como Salvatore me
ensinou, uma mão me puxou bruscamente pelo

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braço, fazendo-me colidir com seu corpo. Olhei


para cima, ofegante e assustada, quando Salvatore,
encarava, com ódio, o cara platinado. — Em qual
momento não entendeu que ela não está
interessada? Ela não é prostituta, seu lixo! — Sua
voz estava firme e rosnando, uma voz ameaçadora,
que eu nunca tinha escutado dele. Olhei para o cara
asqueroso e ele nos encarava confuso.
— E quem você é? Acha que só porque é alto
e todo fortão, vai me deixar com medo? — Ele se
aproximou de nós e rapidamente fiquei atrás de
Salvatore. — Eu paguei para entrar nessa merda e
agora eu quero a pu... — Antes que ele conseguisse
terminar de dizer algo, Salvatore deu um soco em
sua barriga, o segurando, ao mesmo tempo, para o
idiota não cair no chão. O homem soltou um
gemido de dor e se curvou, com as mãos sobre o
local afetado.
Salvatore o segurou pelo capuz de seu casaco
e se curvou para dizer algo. — Nunca mais retorne
a esse lugar, você não tem ideia de quem sou eu!
Agora suma daqui, seu pedaço de merda! — Ele
empurrou o homem bruscamente para longe de nós,
quase fazendo-o cair em cima das pessoas. Quando
ele tinha ido, Salvatore se virou para mim e
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segurou meus ombros. — Você está bem? —


Perguntou carinhosamente. Fechei meus olhos para
respirar fundo, e assenti, em seguida.
— Obrigada. — Sussurrei.
— Vicentino. — Disse-me com uma
carranca. — Não consegui atravessar a porra dessa
multidão a tempo. O que ele falou e fez? —
Perguntou, me levando para longe das pessoas.
Quando paramos em um canto vazio e
escuro, disse-lhe: — Ele não fez nada, me segurou
porque eu quase caí. Depois me disse para tomar
cuidado, mas sei que não foi por causa do tropeço.
— Claro que não. — Rosnou. — Eu vou
atrás dele agora! — Quando Salvatore estava
prestes a se afastar, como um raio, eu segurei seu
braço e me prostrei bem na sua frente.
— Não. Por favor, não me deixe sozinha. Me
leve embora, já se passa uma hora e eu não aguento
mais ficar aqui. — Os olhos dele me olhavam
bravamente, e refletia o quão loucamente ele queria
ir atrás de Vicentino, mas eu queria ir para longe
daquele lugar. Apertei seu braço e choraminguei.
— Por favor! — Implorei. Salvatore me olhou por
mais alguns segundos, e então, soltou um suspiro
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baixo e trincou sua mandíbula, irritadamente.


Ele balançou sua cabeça, revoltadamente e
rosnou. — Que droga, Elizabeth! Tudo bem, vamos
logo!
Mordi meu lábio, para segurar meu suspiro
de alívio e então, andamos as pressas, até a saída
dos fundos da boate.

*****

— Entregue. — Salvatore sorriu uma vez,


para mim, quando entramos no meu apartamento. A
porta do elevador ainda estava aberta e seus olhos
sobre mim. Cruzei meus braços e sorri amarelo.

— Obrigada por hoje, Salvatore. Não sei


como retribuir. — Admiti timidamente.
Salvatore arqueou suas sobrancelhas loiras e
meneou sua cabeça. — Não precisa me retribuir,
sua segurança é o que vale. — Respondeu
murmurando. — Você sabe que acontecerão mais
vezes, aquilo, como aquele cara fez. Mas não
precisa sentir medo, estarei lá. — Acrescentou.
Mordi meu lábio inferior e assenti, era verdade.
Aquele cara nojento não seria o primeiro que faria
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aquilo, mesmo eu dizendo o contrário. Revirei


meus olhos, para não deixar as lágrimas caírem e
balancei minha mão esquerda.
— Lincoln me disse que não serei obrigada,
mas haverá momentos em que terei que fazer isso,
se não eu não terei direito a ganhar dinheiro. — Ri
sem graça, olhando para minhas mãos que mexiam
em minhas unhas. — Acho melhor eu seguir o que
ele disse, sou como todas aquelas mulheres
Salvatore, eu não posso me esquivar. Você sabia
que estão dizendo que estamos transando? —
Perguntei em voz baixa e desanimada. Os olhos de
Salvatore desceram para as minhas mãos, e depois
se voltou ao meu rosto. Ele balançou sua cabeça em
negativa e lambeu os lábios, irritado.
Então me disse: — Fofocas não são do meu
interesse. E por que está dizendo isso? Tem medo
de ser jogada na rua? Sabe que isso não acontecerá,
Lisa. Eu posso sustentar facilmente a nós dois...
— Não Salvatore, você não pode. —
Interrompi em voz alta, olhando para o lado. — Eu
não sou uma criança, você já está fazendo demais
por mim! Agora, seu nome está em bocas sujas,
dizendo que está dormindo com uma prostituta! Eu

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não posso abusar dessa sua generosidade, você é


tão bom! Mas esse foi o meu limite. Eu que
procurei por isso tudo e agora preciso arcar,
sozinha, com as consequências. Não se preocupe
comigo, farei meu trabalho da forma que precisará
ser feito. Se for para me deitar com alguns homens,
eu terei que fazer, esse é o motivo de eu estar na
máfia. — Quando terminei meu desabafo, eu vi a
raiva preencher os olhos de Salvatore, ele não
concordava, absolutamente nada, com o que eu
disse, mas... acho que aquilo não importava, de
fato.
Ele se afastou das portas do elevador e parou
na minha frente. — O motivo de você estar na
máfia, é porque foi enganada. Você não merece
estar aqui. — Discordou ele. Salvatore suspirou,
olhando para o chão, para depois me encarar. Seus
olhos verdes estavam brilhando. — Eu... tenho algo
em mente sobre isso. O que acha de dizermos o que
todos já acham que é verdade? — Perguntou,
arqueando as sobrancelhas. Franzi meu cenho e dei
de ombros.
— O quê? — Murmurei.
Salvatore abriu um sorriso torto para mim. —

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Sobre estarmos dormindo juntos. Isso foi bom, pois


eu tive a ideia. — Comentou. — As garotas que
trabalham em uma das três boates da máfia podem
se tornarem fixas, somente de um único homem.
Ela só pode se deitar com ele e assim, continuar
ganhando tudo o que tem direito. Haze é uma das
três boates. Então... pensei, por que você não se
torne uma Ragazza Fissa? — Ponderou Salvatore,
me olhando curiosamente.
Juntei minhas sobrancelhas em confusão e
perguntei. — E o que é uma... Ragozza fissa? —
Ele soltou uma risada baixa, fazendo meus pelos se
arrepiarem, e então continuou:
— Ragazza. — Corrigiu. — Significa Garota
Fixa. Quero que você seja minha fixa e ninguém
mais poderá tocar em você, Elizabeth. Somente eu.
Então, o que você acha? — Perguntou novamente
de forma curiosa. Quando meu raciocínio quebrado
tinha entendido, meu coração se alterou com suas
palavras.
Oh. Meu. Deus! Ele quer que eu seja sua?!

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DEZ

Salvatore continuou me olhando


pacientemente, esperando minha resposta. O que
ele tinha acabado de me propor, foi algo
absolutamente insano! Virei-me para longe dele e
andei lentamente pela sala, com os braços cruzados,
eu podia sentir seus olhos me seguindo. Parei na
frente da parede de vidro e suspirei alto. — Eu não
vou transar com você! Nem hoje e nem nunca. —
Exclamei, de repente, me virando para encará-lo.
Salvatore arregalou seus olhos verdes e a sombra
de um sorriso se escondia em seus lábios. Ele deu
de ombros e andou pela sala de estar
tranquilamente.
— Tudo bem. Eu nem estava pensando nisso,
aliás. — Admitiu, fazendo uma careta engraçada.
Apertei meus olhos e me encostei sobre a
parede, Salvatore continuava caminhando
lentamente, com suas mãos escondidas dentro dos
bolsos da calça social, cinza. — Claro que somos
apenas amigos, e amigos não pensa em fazer sexo
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um com o outro. Mesmo que um dos amigos se


torne uma... Garota Fixa. — Murmurei de
sobrancelhas arqueadas.
— E amigos não ficam imaginando nas suas
cabeças, como seria beijar e fazer muito sexo com
o outro amigo, claro. — Completou Salvatore,
parando na minha frente e se encostando, também,
sobre a parede de vidro. — É como transar com
uma irmã. — Sussurrou para mim, dando uma
piscadela.
Reprimi uma risada escandalosa e assenti
para Salvatore, eu não sabia o porquê, mas estava
sendo engraçada a nossa conversa. — Isso significa
incesto. Ter vontade de transar com a irmã.
— Porém... — Acrescentou em voz alta. —
Isso não serve para nós dois. Não... somos irmãos,
certo? — Perguntou risonho. Engasguei-me em
uma risada e pigarreei, passando a mão em minha
garganta, concordando com ele. Era tão bom sentir
aquilo novamente, sentir alegria e diversão inocente
dentro de mim. Salvatore estava me dando vida,
novamente.
Cruzei os braços mais uma vez e apertei os
lábios contra o outro. — Não vamos transar
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Salvatore. Desista. — Falei aquietada. Seus olhos


desviaram-se de mim, olhando para a cidade
iluminada, então, de repente, Salvatore chegou
mais perto e virou sua cabeça, me olhando de cima.
Engoli em seco e paralisei.
— Há algo que você precisa saber sobre
mim. — Ele se curvou até a altura do meu olhar e
disse: — Eu não sou de desistir, em nada. Fique
ciente disto, Srta. Evans. — Salvatore abriu um
largo sorriso e piscou para mim, se afastando e
andando para longe. Eu sentia minhas pernas
amolecerem como geleias! Coloquei a mão em meu
coração e respirei fundo, algum dia, que não estava
muito longe, esse homem iria me matar! Olhei para
Salvatore, que mexia no celular e me desencostei
da parede.
Sentei-me em uma das poltronas e perguntei.
— Para quem está ligando?
— Lincoln. — Murmurou distraído. — Estou
mandando uma mensagem. — Completou.
Enquanto Salvatore escrevia – lentamente –
sua mensagem para Lincoln, permaneci sentada,
olhando para ele. Eu não sabia como descrevê-lo,
ele era... chocolate. Revirei meus olhos com o
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pensamento, realmente, eu não tinha ideia de como


elogiar aquele homem. Ele era todo... simplesmente
todo. Cabelos loiros, que eu podia bagunçar com as
mãos, olhos de um verde intenso, altura de um
homem de verdade, musculatura pecaminosa,
sorriso destruidor e um olhar sexy. Salvatore era o
homem perfeito, que toda mulher montava em sua
mente. Mas esse existia. E estava aqui, diante de
mim, tentando escrever uma mensagem, o que era
engraçado de se ver.
— Precisa de ajuda? — Perguntei com uma
vontade enorme de rir.
Seus olhos se estreitaram em minha direção e
depois, ele guardou o celular no bolso. — Eu sei
mexer em um aparelho celular, Elizabeth. —
Resmungou se aproximando, soltei uma risada
baixa. Salvatore se sentou no sofá pequeno. —
Amanhã de manhã iremos até a Haze. — Disse.
Arqueei a sobrancelha direita encarando-o
seriamente.
— Juntos? — Perguntei em ironia.
Salvatore cruzou suas pernas e depois as
mãos, me olhando. — Juntos. — Respondeu. —
Direi que a quero como fixa. Nós teremos que
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assinar um termo e dessa vez eu quero que você


leia, antes de assinar. — Completou simplesmente.
Revirei meus olhos, soltando um grunhido e
levantei minhas pernas até a poltrona macia. Eu iria
ler, pois agora eu entenderia o que estava escrito!
Isso não era um crime, por favor! Deitei minha
cabeça sobre o encosto, e descansei minhas mãos
em cima da minha barriga, Salvatore continuava
me encarando com aqueles olhões verdes.
Por favor, pare de ser tão gostoso/estranho.
— Por que eu leria? Confio em você. —
Admiti murmurante.
Salvatore balançou sua cabeça e suspirou. —
Uma regra bem básica no mundo adulto: Nunca
assine nada, antes de ler. Pode ser seu professor,
sua tia, melhor amiga e eu, que está dando algo
para assinar, mas isso não diz nada, você não sabe
das intenções das pessoas, não sabe o que se passa
sobre a cabeça delas, Lisa. Deve ler. Isso mostra
que é inteligente, não que eu esteja dizendo o
contrário sobre você. Na época você foi enganada,
estava desesperada por uma oportunidade de
emprego, eu entendo você. Mas agora, você precisa
saber ser esperta no submundo. — Ele descruzou

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suas pernas e em seguida se curvou, apoiando os


cotovelos sobre os joelhos. — Eu já te ensinei a se
defender fisicamente, mas preciso ensiná-la mais
coisas. Você é muito ingênua, Lisa. Você sorrir
para tudo, acaricia tudo e isso é perigoso, tanto
dentro ou quanto fora da máfia. Não pode ser
assim, ok? — Completou carinhosamente.
Enquanto Salvatore me dava mais de uma das suas
broncas, eu estava olhando-o timidamente e
mexendo nas minhas unhas.
Ele tinha razão, droga, ele sempre estava com
a razão e era por isso que confiava tão cegamente
nele. Suas atitudes, seus modos, seus olhares e o
modo que mexia o corpo perto de mim, mostravam
o quão protetor ele era, que ele verdadeiramente
queria me ajudar, no que fosse. Subi meus olhos até
Salvatore, assentindo com a cabeça.
— Ok. Não serei. E amanhã vou ler os
termos. — Murmurei.
— Ótimo. — Disse Salvatore, se levantando.
Ele caminhou até o elevador e antes de entrar, me
olhou novamente e disse. — Esteja pronta as 08 h
em ponto, querida fixa. — Ele deu uma piscadela e
então se foi, fazendo-me rir com o seu comentário.

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Então era isso, eu seria definitivamente de


Salvatore, para ninguém se aproximar de mim. Eu
estava finalmente livre do inferno?
Não comemore antes do tempo.
*****

Naquela manhã, tinha acordado


extremamente ansiosa! Mal tinha adormecido na
noite passada, esperando aquele momento. Eu
estava sozinha no escritório da boate Haze,
balançando minha perna esquerda, nervosamente,
enquanto esperava Salvatore voltar com Lincoln.
Eu sentia minhas axilas transpirarem embaixo da
minha jaqueta, meu coração, como de costume, se
acelerava em antecipação. Respirei profundamente
e olhei para as janelas do escritório, admirando a
beleza da cidade.
Fiquei pensando no início da manhã, quando
eu tinha pegado no sono, Salvatore apareceu no
meu quarto e abriu as cortinas, me balançando
bruscamente e ordenando que eu me levantasse.
Abri um sorriso com a lembrança, eu gostava
quando ele agia como o adulto entre nós dois.
Mordi meu lábio inferior e lembrei-me
choramingando, indo tomar um banho e... me sentei
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ereta na poltrona de couro. — Oh merda! —


Exclamei sussurrando. Droga, eu não lembrava se
passei desodorante ou não! Levantei meu braço
esquerdo apressadamente e aproximei meu nariz
até minha axila. Se eu tivesse me esquecido de
passar, sairia daqui correndo as pressas até uma
farmácia ou supermercado! Continuei cheirando
como um cachorro, até que detectasse algum mau
cheiro em mim. Até que...
— .... e seria bem interessante se aceitasse.
— Sobressaltei em meu lugar ao ouvir a voz de
Lincoln, e por pouco não caí junto com a poltrona
sobre o chão. Quando ele e Salvatore estavam em
minha visão, Lincoln perguntou. — Tudo bem,
Elizabeth? Está vermelha.
— É...Er, e-eu, eu, err... oi? — Perguntei
como uma idiota. Lincoln deu um olhar de relance
para Salvatore, eu fiz o mesmo. Ele estava tentando
se segurar para não rir de mim. Parabéns, Eliza! —
Desculpe, eu estava distraída. — Murmurei
timidamente, pigarreando. Lincoln abriu um sorriso
e então se sentou na cadeira, ele segurava uma
pasta pequena preta.
Olhei mais uma vez para Salvatore, ele ainda

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estava sorrindo. — Distraída? Por que estava se


cheirando? — Perguntou franzindo o cenho. Soltei
um gemido envergonhado e me afundei em meu
lugar. Argh. Salvatore poderia ao menos ser um
pouquinho mais discreto? Apoiei minha mão sobre
a testa, tentando ao máximo evitar seu olhar
engraçado. Eu queria a morte naquele exato
momento! Encarei Lincoln, que nos olhava
surpreso, eu não sabia por que esse babaca nos
olhava assim, mas eu não me importei, pois os
soldados nos olharam da mesma forma, quando
Salvatore me ajudou a sair de dentro do seu carro.
Só esperava que eles não fossem uns fofoqueiros,
como aquelas garotas da boate. Era irritante demais
ser alvo de atenção.
— Bem. — Falou Lincoln, quebrando o
silêncio. — Aqui estão os termos para ambos,
leiam e assinem se concordarem. São poucas coisas
para ler. — Ele retirou duas folhas das cores beges
de dentro da pasta, e entregou cada uma para nós.
Salvatore leu rapidamente o que estava escrito,
assentindo, com as sobrancelhas unidas a cada
palavra que lia. Depois, assinou na folha e entregou
para Lincoln.
Ele disse. — Quero uma cópia.
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— Acho que terá que esperar, pois...


— Eu disse que quero uma cópia. — Insistiu
Salvatore, calmamente. Lincoln me deu um olhar
inquisitivo e depois voltou a olhar para Salvatore,
ele soltou um suspiro e sorriu, sem mostrar os
dentes.
Dizendo. — Claro! Basta Elizabeth assinar
também, que farei isso. — Segurei uma risada e
olhei para Salvatore, que me olhava com as
sobrancelhas loiras, arqueadas e fazendo um gesto
para eu ler os termos. Por que ele estava tão
apressado? Revirei os olhos, balançando minha
cabeça em negativa e então soltei um suspiro,
pegando a folha em minhas mãos. Os termos eram
bem pequenos, não iguais à merda do contrato da
Haze. Na folha estava escrito:
*Termo de Cooperação para Ragazza
Fissa.*
NEVASCO, ELIZABETH (Garota Fixa).
DE GASPERI, SALVATORE (Responsável
pela Garota Fixa).
Todos os termos devem ser seguidos e
respeitados por ambos. Toda cooperação entre a
FISSA e o RESPONSÁVEL, serão de
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responsabilidades entre ambos.


• A FISSA não poderá mais se deitar com
outros homens, apenas com seu responsável. Se a
FISSA trabalha para dormir com seus clientes,
deverá ser averiguado o contrato com a boate
(Haze) e retirar as cláusulas 3.8º e 9.0.1º
imediatamente.
• A FISSA continuará a trabalhar para a
boate (Haze), porém, sem contatos físicos com os
clientes e demais.
• A FISSA não poderá negar absolutamente
nada de seu responsável, independente de quais
forem às razões.
• A FISSA não poderá discordar dos termos
que estão sendo relacionados.
• A FISSA e o seu RESPONSÁVEL, não
podem criar vínculos amorosos e muito duradouros.
Aceitável apenas relação casual.
• A FISSA deverá continuar com o seu
juramento de silêncio.

EU, Elizabeth Nevasco Evans, ACEITO E


COOPERAREI COM OS TERMOS DITADOS
ACIMA.
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Nevada, LV. 20 de novembro de 2010.

Assinei rapidamente a folha, entregando para


Lincoln, como se ele fosse minha professora do
jardim de infância. Eu me sentia como um
passarinho livre de sua gaiola, finalmente prestes a
voar, para bem longe disso tudo. Lincoln se
levantou, pedindo licença, foi até a máquina de
copiar, enquanto ele fazia aquilo, eu olhava
sorrindo abertamente para Salvatore, mas ele
apenas me encarava com doçura. Seus olhos
estavam brilhando por algo indecifrável.
— Bem, aqui está. Espero que aproveitem. —
Disse-nos Lincoln, entregando os dois papéis
assinados para Salvatore, ele já estava se
levantando do seu lugar, então fiz o mesmo. —
Mas, como diz nos termos, Elizabeth continuará
trabalhando na boate, mas agora ficará somente no
andar de cima. Tudo bem? — Perguntou, olhando
entre mim e Salvatore. Soltei um suspiro chateado e
trinquei minha mandíbula, essa droga de boate não
me deixaria em paz?! Nunca?! Quanta inocência,
Elizabeth!
De repente, Salvatore levantou seu dedo

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indicador da mão direita na direção de Lincoln,


dizendo: — Se eu souber que alguém tocou nela, eu
mato. Se alguém se esbarrar nela, eu mato. E se
alguém apenas encostar-se a um fio de cabelo dela,
eu mato. Entendido? — Perguntou com uma voz
perigosamente calma. Eu me arrepiava, toda vez
em que ele usava essa voz. Mas não sabia se me
arrepiava de medo ou era pelo fogo, mesmo. Aff.
Os olhos de Lincoln voltaram-se rapidamente em
minha direção, depois olhando de volta para
Salvatore. Ele assentiu com sua cabeça e sorriu.
— Entendido, você sabe que não deixarei
nada disso, acontecer Salvatore. — Esclareceu.
Salvatore abriu um meio sorriso e fechou um
dos botões do paletó preto. — Ah, mais eu acho
muito bom que pense dessa forma. — Ele foi até a
porta e abriu. — Vamos, Lisa. — Mordi meu lábio
inferior, contendo um sorriso e saí do escritório,
sem me despedir de Lincoln.
Quando estávamos saindo da boate, peguei os
papéis da mão de Salvatore e ri. — Posso continuar
com o juramento, aceitar em não ser uma prostituta,
mas... os outros? — Soltei uma risada alta e
balancei a cabeça. Paramos perto do seu carro e

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continuei. — Nem em sonhos, meu bem. —


Salvatore lambeu os lábios e pegou de volta os
papéis das minhas mãos. Ele me olhava de um jeito
engraçado.
— Por mim tudo bem. — Respondeu com ar
desinteressado.
Cruzei meus braços e apertei meus olhos para
ele. — Impressão minha ou você está fingindo que
não se importa? — Provoquei com um sorriso
diabólico nos lábios. Salvatore me olhou por uns
segundos e depois, observou atentamente ao nosso
redor. Então, ele deu somente três passos e estava
perto de mim, colocando uma das mãos acima do
lado de minha cabeça, sobre o carro e curvando-se
para ficar na minha altura. Os olhos dele estavam
febris sobre os meus. Deixando-me sem fôlego.
— Impressão minha ou você quer que eu me
importe? — Perguntou sensualmente.
Engoli em seco e pisquei repetidamente. —
E-eu perguntei pri- primeiro. — Gaguejei nervosa.
Salvatore sorriu torto, respirando fundo.
— Hmmm... — Murmurou. O som que ele
tinha feito com a voz foi extremamente erótico. Ah
merda! — Não quero que fique com medo de mim,
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posso ser brusco em algumas palavras para certos...


momentos. — Juntei minhas sobrancelhas em
confusão, balançando minha cabeça.
— Por que seria brusco nas palavras?
Salvatore soltou uma risada baixa, beijando
minha testa e se afastando de mim. Eu não queria
que ele ficasse longe. — Sua ingenuidade me
matará, algum dia. Vamos, preciso resolver coisas
importantes, eu levo você para casa. — Me afastei
da porta do motorista, dando acesso para Salvatore
entrar, mas eu permaneci parada. Ele nunca
concluía os pensamentos, me deixando confusa e
louca! Aliás, Salvatore que irá me matar, com esse
seu jeito abrasador, qualquer dia. Ele deu uma
buzinada e corri, dando a volta no carro e entrando,
para irmos embora.

*****

Soltei um bocejo, deitada em minha cama e


estiquei os braços, para me espreguiçar. Ontem, eu
tinha dormido quase o dia todo, pois Salvatore não
ficou presente, estava resolvendo problemas com
algum tiroteio que houve, em um dos cassinos
clandestinos. Ele me contou que a garota que seu
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Capo tinha sequestrado e depois não era mais uma


sequestrada – vai entender – tinha caído em uma
armadilha com mafiosos russos e com isso, Theo,
acabou levando um tiro. Eu não fazia ideia de que
havia drama dentro da máfia, também.
Então, Salvatore passou seu dia nas ruas.
Soltei um suspiro profundo e abri meus
olhos, balançando meus braços para cima e para
baixo, sobre o colchão macio. De repente, um
barulho de um papel, soou por onde meu braço
esquerdo tinha passado, chamando a minha
atenção. Olhei para a esquerda e peguei o papel...
— Oh meu Deus! — Sussurrei de olhos
arregalados, colocando a mão por cima boca. Não
era somente um papel, era... — Uma passagem para
o RIO DE JANEIRO! OH MEU DEUS! OH MEU
DEUS! — Gritei, me levantando em cima da cama.
Pulando e gritando de felicidade. Eu não estava
acreditando o que estava em minhas mãos! Uma
passagem de avião Plus?! Gritei histericamente e
pulei da cama, correndo pelo corredor. Apertei o
botão do elevador e entrei as pressas, indo até o
andar de cima. Quando cheguei lá, corri pela
cobertura luxuosa de Salvatore, encontrando-o na

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cozinha, preparando um café. Abri um largo sorriso


e dei passos longos até ele. — Eu não acredito! —
Exclamei em felicidade.
Salvatore sorriu pequeno, enquanto despejava
café em uma xícara laranja. — Eu que não acredito
que você grita tão alto. — Murmurou, piscando, me
fazendo rir. — Desculpa pela demora, mas
finalmente consegui um dia de folga. —
Acrescentou ele, dando um gole no café. Coloquei
a passagem em cima do balcão da cozinha e dei a
volta, parando na frente de Salvatore, ele estava
bonito. Não usava terno, estava com uma camiseta
branca e calças de moletom cinza. Cruzei meus
braços e o encarei.
— Desculpas? Pelo que? Por ser tão bom
comigo? — Perguntei. Salvatore colocou a xícara
sobre o balcão e deu de ombros. Seus olhos
estavam destacados nele. Um verde perfeito. — O
que você quer Salvatore? Diga-me, o que quer? —
Perguntei com cautela.
Ele franziu o cenho e se sentou em uma das
banquetas, apoiando o braço direito sobre o balcão.
— Eu não quero nada, Lisa. Você sabe disso.
— Sim, mas... — Me perdi nas palavras e dei
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um passo, na sua direção. — Não há gentileza


nesse mundo, sem que você queira algo em troca.
— Sussurrei. Salvatore olhou por todo o meu rosto
e sorriu rapidamente, sem mostrar os dentes. Ele
abaixou sua cabeça e a balançou negativamente.
— Eu não sou como todo mundo. —
Respondeu, me encarando. — Não fui criado dessa
forma. Eu... apenas me importo, me importo com
você. Não quero nada em troca, apenas... — Ele
tocou em cada canto dos meus lábios, com seu
dedo e me fazendo sorrir. — Esse sorriso. Importo-
me com ele. E com as risadas, seu riso é tão lindo,
tão juvenil. E os gritos também. — Soltei uma
gargalhada e escondi meu rosto entre minhas mãos.
Envergonhada.
— Salvatore...
Tirei as mãos de meu rosto e olhei para ele.
Seu olhar era intenso. — E com você. Eu me
importo com você, desde o momento em que a vi
naquela noite, triste, sozinha. Agora, é finalmente
uma garota livre, bem, ainda estou trabalhando
nisso, mas logo será. — Sorriu timidamente. Mordi
meu lábio inferior e não sabia o que lhe dizer.
Salvatore estava sendo tão gentil e bondoso

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comigo, e tudo o que ele queria em troca, era meu


bem-estar. Isso era algo a ser considerado, muito.
Peguei sua mão direita sobre na minha e olhei em
seus olhos.
— Obrigada. — Sussurrei, apertando sua
mão. — O que seria de mim sem você?
— O que seria de mim sem você! —
Respondeu imediatamente, se levantando. Olhei
para cima, para não desviar meus olhos dos seus,
enquanto ele continuava a me dizer. — Nunca
pense que estou fazendo algo, apenas para ter uma
troca. Eu não sou assim, quero vê-la bem,
Elizabeth. Só isso. — Admitiu em um sussurro,
acariciando o perfil do meu rosto. Assenti para ele,
engolindo em seco e sentindo a atmosfera mudar
completamente. Salvatore me olhava de forma
ansiosa e não afastava sua pele da minha, mas... eu
não queria que ele fizesse isso. De repente, o senti
se curvando lentamente sobre mim, seus olhos,
fixos em minha boca.
Era idiotice minha, talvez, mas aquele alarme
alto apareceu em minha cabeça. — Err-é, então?
Quando iremos? — Interrompi, animadamente, me
afastando. Dei a volta sobre o balcão e peguei a

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passagem. Salvatore continuou parado em seu


lugar, com um olhar decepcionado. Ele respirou
fundo e se virou, pegando seu café novamente.
— Amanhã. — Respondeu. — Mas não se
esqueça. Será amanhã mesmo que voltaremos para
casa, não podemos arriscar tanto assim. — Assenti
para ele, sorrindo abertamente.
— Obrigada, Salvatore! — Exclamei,
voltando a correr de volta para o elevador, de
repente, parei e me xinguei. Dei a meia volta e corri
até ele, que já estava sentando novamente e de
cabeça baixa. Quando Salvatore me viu se
aproximando, arqueou suas sobrancelhas. —
Esqueci-me de algo muito importante. — Esclareci,
rindo e então, abraçando-o com força e de olhos
fechados. Suas mãos me envolveram lentamente e
seu suspiro baixo, soou perto da minha orelha. Era
tão bom sentir o seu corpo quente, colado ao meu.
Eu gostava daquela proximidade. Beijei
demoradamente sua bochecha direita e me afastei
um pouco, segurando seus ombros largos. — E
você, é o melhor mafioso do mundo. — Cantarolei,
fazendo Salvatore ri. Ele deu um leve aperto em
meus quadris, com suas mãos, me puxando para
beijar meu queixo.
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— E você, a melhor mulher do mundo. —


Sussurrou, me soltando.
Encarei seus olhos e soltei uma risada
nervosa. — A-até mais! — Sorri e corri de volta
para o elevador. Salvatore me deu uma de suas
piscadelas e quando as portas se fecharam, me
joguei sobre o chão do elevador e fechei os olhos.
Respirando profundamente. — Deus! — Exclamei
baixo, rindo.

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ONZE
A viagem do Aeroporto Internacional do
Galeão, até a casa da Perla, em Madureira, foi
extremamente ansiosa e longa! Eu não tinha
conseguido dormir por toda viagem, então, falei
quase sobre tudo, do Rio de Janeiro, para Salvatore.
Ele disse que não poderíamos fazer um passeio, ou
ir até o Cristo Redentor, pois a partida do nosso
avião seria no início da noite e porque, também,
havia máfias inimigas no Brasil e todos sabiam
quem era ele.
Aquilo me surpreendeu, pois eu sempre achei
Salvatore, um homem bem reservado e cauteloso.
Quando o táxi, tinha finalmente parado,
Salvatore pagou e – e não queria o troco da sua
nota de cem! – em seguida saímos de dentro do
carro. Abri o pequeno portão de entrada da casa e
corri até a porta, era quase 12 h, eu sabia que Perla
estava em casa. Apertei a campainha diversas
vezes, quando ouvi o táxi seguir seu percurso e
Salvatore, parou atrás de mim com a nossa mala de
mão compartilhada. — Acho que ela não está aí. —
Murmurou Salvatore, olhando atentamente pela

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rua, meio movimentada de pessoas e veículos. Fiz


um biquinho para ele e apertei, diversas vezes, a
campainha. Até que:
— MAIS QUE PORRA! EU VOU MATAR
VOCÊS, SUAS PESTES! — Gritou a voz de Perla,
dentro da casa. Soltei uma gargalhada e me afastei
da porta, por precaução. Quando me afastei, a porta
foi destrancada e aberta bruscamente pela mulher
que sempre me amou e mimou, ela estava com o
uniforme do trabalho e de chinelos, seus olhos
estavam em brasas pela sua raiva, mas quando ela
me viu ali, parada ao lado de Salvatore, soltou o
grito mais alto do universo. — AI MEU DEUS! AI
MEU DEUS! É O MEU BEBÊ! — Gritei em
êxtase e corremos até a outra, rapidamente nos
puxamos para um abraço forte, gritando sem parar.
Perla, não parava de me apertar e beijar todo o meu
rosto, enquanto eu ria e chorava ao mesmo tempo.
Seus dedos limparam minhas lágrimas,
quando eu disse. — E-eu estou tão feliz por te ver!
— Escondi meu rosto na curva do seu pescoço e
chorei ainda mais com o afago de suas mãos em
mim. Eu me sentia viva novamente, sentia minhas
forças serem recuperadas em apenas chegar aqui e
estar aos braços de Perla. Mãe.
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— Graças a Deus, Graças a Deus. Eu rezei


tanto pra Ele, pedindo tua proteção, meu amor.
Fiquei tão preocupada contigo. — Sussurrou perto
do meu ouvido, choramingando. Ficamos alguns
minutos a mais nos abraçando, e dizendo palavras
carinhosas, até que, ouvi o pigarrear de Salvatore.
Afastei-me de Perla, rindo e limpei minhas
lágrimas caídas no rosto. — Deus! Eu esqueci.
Perla? — Chamei sorrindo e voltando até
Salvatore, ele me deu um olhar desentendido
enquanto eu o apresentava em português. — Esse
aqui é Salvatore, meu amigo e também meu
primeiro chefe na boate. E Salvatore, essa é a
mulher que me criou: Perla. — Terminei em inglês.
O primeiro a se manifestar, obviamente, foi ele,
pois a pobre Perla, estava paralisada olhando para
aquele magnífico homem. Salvatore chegou mais
perto, segurando a mala na outra mão para
cumprimentar Perla, com um beijo na mão dela.
Ele se curvou, segurou e plantou o leve beijo
cortês.
— Que grande prazer. — Disse ele em um
português perfeito. Arregalei meus olhos e quase
me derreti em ouvir aquele vozeirão.

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Perla estava se abanando descaradamente


com a mão e sorrindo para ele. — Prazer, digo eu!
Eliza, ele entende o que eu falo? — Perguntou,
ainda mantendo seus olhos nele, sorrindo
disfarçadamente. Franzi o meu cenho e encarei
Salvatore, que me olhava com as sobrancelhas
arqueadas.
— Hã... não. — Murmurei desconfiada.
Ela passou a mão no seu cabelo e sorriu
maliciosamente, se curvando na direção de
Salvatore e dizendo. — Por tua culpa, minha
calcinha tá toda molhada, seu gringo gostoso!
— Ah meu Deus! — Exclamei, indo até o seu
lado.
Salvatore franziu o cenho e me olhou. — O
que ela disse? — Perguntou confuso, olhando de
mim para Perla, que ria. Abri um sorriso sem jeito e
gaguejei. Droga, essa Perla acabava comigo.
— Err... hum, e-ela di-disse que você é muito
bonito. — Sorri amarelo, beliscando a coxa de
Perla. Ela deu um tapa na minha mão e sorriu
também.
Salvatore arqueou suas sobrancelhas loiras e
nos olhou desconfiadamente. — Certo. Então, por
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que não entramos? — Perguntou, subindo os dois


degraus da casa. Perla soltou um gemido baixo,
olhando para o corpo dele e mais uma vez a
belisquei.
— Vamos! Perla, vamos entrando?
Ela sorriu abertamente e escancarou a porta.
— Mais é claro! Todo mundo entrando e não liga
pra minha casa humilde, hein loirão. — Piscou,
sorrindo. Soltei uma risada e chamei por Salvatore,
entrando na casa.
*****

— Cara! Eu estou meses sem te ver e tu já


vai ir embora hoje mesmo? — Perguntou Perla,
depois do nosso delicioso almoço. — Fala pro teu
chefe aí ir embora só amanhã, poxa! — Revirei
meus olhos e olhei para Salvatore, ele estava ao
lado da janela da sala, conversando ao telefone.
Soltei um suspiro cansado e me deitei no sofá
marrom. Eu adorava aquele sofá, sentia falta dele.
Perla estava sentada no sofá pequeno, com suas
pernas cruzadas e cotovelo esquerdo apoiado no
braço dele, enquanto enrolava uma mexe do cabelo
e olhava mais para Salvatore, do que para mim.

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Mas eu a entendia. O cara se destacava por


aqui, ele estava usando um jeans preto, paletó azul-
escuro e camisa de botões branca, sem a gravata. E
seus sapatos caros, óbvio. No aeroporto, olhar
feminino é o que não faltava em nossa direção, e
confesso que me sentia menos por lá, pois a
maioria das mulheres estava muito bem vestida e
com seus corpos de dar inveja. Eu? Bem, eu tinha
colocado um jeans skinny preto, camiseta preta e
tênis all star. Não era grande coisa e ao lado de
Salvatore, eu parecia ser uma criança. Aquilo me
incomodou bastante, porém, quando eu olhava
disfarçadamente para ele, achando que talvez ele
estivesse apreciando a beleza brasileira, Salvatore
estava me encarando ou olhando para qualquer
lugar, menos para as mulheres belas.
Eu me senti bem, instantaneamente com
aquilo. Claro!
Entrelacei meus dedos com os outros de
minhas mãos e descansei em cima da barriga,
respondendo a Perla. — Por mais que eu queira, ele
não pode deixar a boate “sozinha” até amanhã. Foi
um sacrifício, conseguirmos viajar até aqui, hoje,
pois não tínhamos tempo absolutamente para nada.
— Eu não poderia dizer a verdade para ela, pois a
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colocaria em risco e, eu não queria isso. Então,


durante o voo, Salvatore e eu ensaiamos o que eu
deveria dizer para Perla, sem que ela ficasse
desconfiada de algo, o que estava dando certo até
agora.
— Merda. — Murmurou. — Eu queria passar
um tempo contigo, mas como não dá, fala desse
gostosão aí. Você estava toda entusiasta na hora do
almoço falando do trabalho e como o Salvatore é
um bom chefe. Admite, tu tá dando pra ele. —
Arregalei meus olhos, dando um pulo sobre o sofá
e me sentando às pressas. Para minha má sorte,
como sempre, Salvatore estava desligando seu
celular e caminhando em nossa direção, ele se
sentou ao meu lado e sorriu sem mostrar os dentes,
para nós duas.
Desviei meus olhos dele e senti minhas
bochechas pegarem fogo. — Pe-Perla, você é uma
maluca. É claro que não estou... — Mordi meu
lábio e sussurrei. — Dando para ele. Meu Deus,
não viaje.
— Ah tá! — Exclamou ela e apontando seu
dedo com a unha pintada de vermelho, na minha
direção. — Tá achando que sou lerda que nem tu?

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Olha o jeito que esse cara estava te encarando, lá na


cozinha, eu peguei esses lindos olhos verdes
observando essa tua bunda redondinha, sua safada
fingida. — Ela soltou uma gargalhada e bateu
palmas uma vez. Eu estava me sentindo tão
envergonhada, pelas ideias malucas da Perla, que
estava começando a suar!
Olhei timidamente para Salvatore, que estava
com as pernas cruzadas, olhando para Perla, como
se ela fosse louca. — O que vocês estão falando?
Você sabe que, há partes da conversa que eu
entendo, certo? — Perguntou, arqueando uma
sobrancelha.
DEUS ME MATE!
— Ai meu Deus, você... você está
entendendo o que ela está dizendo? Por favor, diga
não. — Respondi, olhando-o sem piscar. Salvatore
abriu um sorriso e suspirou tranquilamente.
Ele disse-me. — Se é para deixá-la aliviada,
não, eu não a entendo, aliás, ela fala muito rápido.
— Respirei profundamente e me encostei sobre o
sofá, Perla nos observava atentamente e quando
estava prestes a dizer algo, mais uma vez, eu cortei.
— Nem sonhe em falar mais alguma coisa,
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ele está entendendo boa parte da conversa. —


Expliquei.
Perla riu da minha cara e balançou sua mão,
não se importando. — Para de ser chata! Apenas
me responde! Vocês tão se pegando?! —
Perguntou, cruzando os braços. Ela olhava entre
mim e Salvatore, o que claramente chamou a
atenção dele. Escondi meu rosto entre minhas mãos
e choraminguei. Ela não se aquietaria até que
houvesse uma resposta concreta, eu sabia disso.
— O que ela está falando? — Perguntou
Salvatore.
Levantei minha cabeça e suspirei
pesadamente. — Ela quer saber se estamos... hã...
saindo. — Murmurei. Salvatore uniu as
sobrancelhas e perguntou novamente para mim.
— Saindo?
— Transando, Salvatore. Ela quer saber se
estamos transando. — Soltei de uma vez, olhando
para ele. Salvatore riu baixinho, balançando sua
cabeça, enquanto isso, ele olhou para Perla, que nos
encarava curiosamente, quando ele disse as
palavras para ela.
Seu sorriso estava de orelha a orelha. Argh.
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— Siamo. — disse em italiano. Perla fez uma


careta e me olhou, sem entender.
— Que droga é essa que ele falou? — Soltei
uma risada alta e escondi meu rosto novamente em
minhas mãos.
— Vocês estão acabando comigo! —
Exclamei, olhando para o teto da casa. — Significa
“estamos”. Ele está dizendo que estamos dormindo
juntos, mas é mentira.
Salvatore pigarreou e revirou seus olhos
claros. — Lisa...
— Lisa? Por que ele te chama de Lisa? É um
pseudônimo de prostituta? — Perguntou Perla, com
as sobrancelhas unidas.
Soltei um rosnado para ela. — Será que
podemos, por favor, mudar de assunto? —
Perguntei. Os dois me olharam por alguns instantes
e então, finalmente, Perla decidiu dar uma trégua.
Ela apontou novamente o seu dedo em minha
direção, dizendo-me.
— Você tem sorte que eu quero aprender os
palavrões em italiano com esse gostosão aí. Muita
sorte ouviu? — Balancei minha cabeça, contendo
uma gargalhada e me encostei novamente sobre o
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sofá. Essa Perla, definitivamente me matará de


vergonha, algum dia. Porém, passamos as horas
rindo de qualquer coisa.
Salvatore ensinou pacientemente os palavrões
em italiano, foi engraçado de ver Perla tentar
pronunciar as palavras. Eu por outro lado, estava
sendo a “dubladora” dos dois, pois Salvatore queria
saber tudo sobre mim, e, Perla queria saber tudo
sobre ele. Ela estava desacreditada que ele tinha
quase 40 anos, e não parava de dizer como ele era
gostoso e se por acaso tinha algum irmão. Deus.
Mas Salvatore estava se divertindo com ela, até
demais. Eu estava amando ver os dois interagindo,
eu não desviava meus olhos dele, não queria perder
o foco de suas feições. Elas eram leves e risonhas.
Mordi meu lábio inferior e continuei
encarando-o, mesmo quando ele me olhou de volta.
Foi um olhar profundo e intenso, porém, rápido
demais, mas aquele olhar me deixou ofegante e
com meu coração na boca. Eu não fazia ideia do
por que eu me sentia dessa forma, toda vez que ele
me olhava assim. Eu gostaria de saber o que era,
mas lá no fundo eu já sabia a resposta, e ela me
apavorava. Desviei meu olhar do rosto dele e
suspirei baixo, quando Perla se levantou do sofá,
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dizendo:
— Quem quer torta de limão? Vocês tão com
uma puta sorte, porque hoje eu estou boazinha. —
Disse a Salvatore o que ela estava dizendo e ele se
levantou, aceitando, indo até a cozinha, junto com
Perla. Soltei um suspiro alto e levantei-me do meu
lugar.
*****

Despedir-me de Perla foi algo doloroso e


triste para ambas. Tive que prometer para ela que
voltaria em breve e tentaria ao máximo, sempre
deixar uma mensagem a ela, que estava bem. Perla,
também disse a Salvatore, para cuidar de mim e ele
não pensou duas vezes em dizer que sempre
cuidaria. Então, tínhamos que ir. Acabei chorando
por alguns minutos no portão de embarque, depois
entrei no avião. Só consegui me acalmar, quando
Salvatore pegou a minha mão, entrelaçando na sua.
Ele me olhou com carinho e sussurrou. —
Não chore! Isso não foi um adeus. Sabe disso. —
assenti com a cabeça e suspirei trêmula.
— Sim. Obrigada, Salvatore. — Sussurrei de
volta, apertando sua mão contra a minha. Ele deu
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um sorriso breve e virou sua cabeça, olhando para a


pequena tevê embutida nas costas da poltrona a sua
frente. Limpei meu rosto e olhei pela pequena
janela do avião, já era noite na cidade e quando o
avião levantou voo para o céu, me despedi
silenciosamente da minha antiga vida que estava lá
embaixo, com suas luzes perfeitas e brilhantes.
Mordi meu lábio inferior e fechei a janela.

*****
Já tinha se passado duas horas e eu não sentia
sono. Diferente de Salvatore, que dormia
tranquilamente ao meu lado com sua poltrona
reclinada e, sua cabeça virada na minha direção. Eu
não parava de olhar para ele, mas estava com medo
de ser pega de surpresa, caso eu estivesse olhando
demais. O avião estava silencioso, apenas o som
dos motores e nada mais, ele estava com a maioria
das luzes apagadas e os passageiros adormecidos,
apenas aguardando a chegada em Las Vegas.
Passei os dedos sobre os olhos e reclinei
minha poltrona, na mesma altura da de Salvatore.
Levantei minhas pernas para cima e apertei o botão
“dane-se se eu for pega por seus olhos” em minha

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cabeça. Eu não conseguia olhar muito bem para o


seu rosto, pois as luzes acesas estavam mais à
frente, onde os comissários de voo estavam. Mas
não era preciso ter luz, para apreciar a beleza dele.
Eu sabia que seus longos e invejáveis cílios eram
loiros. Sabia que na parte inferior do seu queixo, no
lado direito, havia uma pintinha que passaria
despercebida em olhos não observadores. Eu sabia
também, que estava nascendo uma barba loira e
rala envolta das bochechas, queixo...
Eu poderia ser considerada uma psicótica, em
prestar tanta atenção em um homem, mas eu não
conseguia evitar. Desde que tinha visto a passagem
de avião ao meu lado, em cima da cama, sentia algo
mudar dentro de mim, porém, eu estava guardando
somente para mim, pois não tinha certeza de nada
daquilo. Aliás, eu não queira ter certeza. Soltei um
suspiro baixo e engoli em seco, olhando para
Salvatore, no meio escuro. Ele de repente, lambeu
seus lábios e mexeu a cabeça sobre o encosto na
poltrona, os meus olhos se hipnotizaram pela sua
boca.
Seus lábios estavam um pouco entreabertos,
sua respiração baixa e ritmada, saia lentamente
entre eles. Com os dedos hesitantes, levantei minha
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mão lentamente e toquei em seu rosto. Ele


continuou adormecido, como estava até então,
acariciei seu maxilar firme com a barba rala e
depois, fui subindo até tocar em seus cabelos.
Salvatore mexeu levemente sua cabeça em minha
direção e, fez um som engraçado na sua garganta.
Mordi meu lábio inferior e respirei o mais
profundamente possível, meu coração saltitava
como um esportista, dentro do meu peito.
Minha consciência estava ao meu favor,
naquele momento, dizendo-me o que eu deveria
fazer. Que não havia nada de errado.
Soltei a respiração devagar e, então, me
aproximei do seu rosto. Desci minha mão em seu
pescoço e fechei meus olhos, quando meus lábios
tocaram os seus. Beijei Salvatore lentamente, o
senti se mexer e soltar um baixo gemido entre
nossas bocas. Sua mão esquerda acariciou o perfil
do meu rosto, e mais um gemido escapou dos seus
lábios.
— Lisa... — Chamou Salvatore, com a voz
rouca e baixinha.
Mas não o respondi, puxei-o pelo seu
pescoço e aumentei a pressão do nosso beijo. Ele
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tentava ser gentil, mas eu não. Seu gosto era bom


se misturando com o meu, eu estava gostando
muito. Mordi seu lábio inferior e passei minha
língua em seguida, fazendo-o gemer mais uma vez
e me beijar intensamente. Sua mão que segurava
meu rosto foi descendo até a minha cintura, onde
deu um leve aperto. Sobressaltei com isso e quebrei
o beijo rápido demais. — Acalme-se, tudo bem. —
Sussurrou ele, segurando meu rosto. Olhei
assustada para ele e ofegando. — Tudo bem, me
desculpa. — Pediu Salvatore, acariciando meu
queixo.
Fechei meus olhos com força, espalmando
minha mão sobre a testa. Eu tinha acabado de
estragar aquele momento nosso! Merda! Suspirei
pesadamente e encostei minha testa, sobre o ombro
de Salvatore, ele colocou sua grande mão na minha
cabeça, acariciando meus cabelos. Eu estava me
sentindo uma idiota, por apenas me assustar com a
sua mão. Meu medo estragou tudo. — Me desculpe
Salvatore. Eu estraguei tudo. — Murmurei
envergonhada. Ouvi sua risada leve e em seguida,
ele beijou minha cabeça.
— Você não estragou, acredite! Agora esse
beijo surpreso não sairá da minha cabeça.
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Afastei minha cabeça do seu ombro e o


encarei, ele também me encarava. — Fala sério...
— Sim, falo muito sério. — Interrompeu
Salvatore, minhas palavras, me fazendo rir. Depois,
ele tirou meu cabelo da frente do meu rosto e
passou o polegar, carinhosamente, na minha pele.
— Eu já lhe disse, está tudo bem. Eu fui rápido
demais fazendo aquilo. Sem pressa. Ok? —
Completou com a voz baixa. Sua voz era sempre
carinhosa comigo.
Mordi meu lábio inferior e assenti. — Ok. —
Disse-lhe.
— Certo. Agora descanse um pouco, quer
deitar no meu ombro? — Perguntou.
Segurei um largo sorriso em ouvir sua
gentileza que eu adorava tanto, então, peguei seu
braço direito e o trouxe para mim, me envolvi com
ele, sobre os meus ombros e deitei minha cabeça
sobre Salvatore, fechei meus olhos e sussurrei. —
Obrigada! — Ele, com sua outra mão, tocou em
meu pescoço e começou a acariciar em um ritmo
delicioso.
— Durma, la mia bella. — Sussurrou de
volta para mim.
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Depois de algumas horas, eu finalmente


consegui adormecer.
*****
Chegamos à cobertura de Salvatore, durante a
madrugada. Quando estávamos a caminho para cá,
não nos beijamos novamente e muito menos
tocamos no assunto. Eu estava me sentindo
envergonhada até demais, parecia que eu tinha feito
algo errado e um pequeno incômodo, surgia na
minha cabeça.
Quando entramos no seu apartamento,
Salvatore colocou a mala em cima da poltrona, ao
mesmo tempo, seu celular tocou. Ele retirou o
aparelho do bolso, olhou a tela e rapidamente
atendeu. —Sim, Vicentino. — Franzi meu cenho
em ouvir aquele nome e meu coração congelou,
enquanto me sentava no sofá. O que será que tinha
acontecido? Será que ele... — Certo. Chegarei o
mais rápido possível. — Completou Salvatore,
desligando o celular.
— Ele descobriu que viajamos. — Sussurrei.
Os olhos verdes de Salvatore me olharam, e
um pequeno e rápido sorriso apareceu em seus
lábios. — Não. Ele disse que Demétrio quer que eu,
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ele e Nino vá até sua casa. — Explicou. — Eu já


imagino o que possa ser. Bom, sinta-se à vontade,
eu tenho certeza que não demorarei, se quiser
passar a noite aqui...
— Hmm... na verdade não. — Disse já me
levantando. — Acho melhor eu descansar em casa,
depois você leva as minhas coisas? — Perguntei.
Salvatore me olhou de relance e apenas assentiu.
Então, seguimos em direção ao elevador e entramos
em silêncio. Quando cheguei ao meu andar, sai de
dentro dali e me virei, acenando timidamente para
Salvatore.
Ele me olhava de uma forma diferente, mas
não conseguia decifrar se era boa ou ruim.
Salvatore deu um breve sorriso para mim, se
despendido. — Nos vemos amanhã. Descanse. —
Com isso, as portas do elevador se fecharam. Soltei
um suspiro baixo e caminhei lentamente em direção
ao quarto, seguindo até o banheiro. Eu sabia o que
precisava naquele momento, que também faria com
que eu esquecesse sobre os acontecimentos dentro
do avião.
Um longo e relaxante banho!

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DOZE

Estava sentada no meu sofá, lendo uma


revista qualquer. Olhei através da parede de vidro,
se erguendo em minha direção e mostrando a forte
chuva que caía na cidade, eu gostava de chuva e
aquela era a primeira vez que vi em Nevada. Voltei
minha atenção na revista aberta em meu colo,
quando então, o elevador apitou, anunciando a
chegada de um visitante. Olhei para as portas cinza,
fechada e a luz no painel, piscando. Com toda a
certeza, era Salvatore.
Fechei a revista, deixando-a ao lado e me
levantando do sofá, soltando um suspiro. — Você é
muito preguiçoso, até mesmo para apertar o
código? — Perguntei em voz alta, enquanto
chegava perto do elevador, rindo. Digitei o código
de acesso e quando as portas se abriram, meu
sorriso foi embora e o terror entrou em mim,
deixando-me paralisada. Vicentino estava
encostado contra a parede do elevador, girando sua
aliança de ouro com o dedo. Quando seus olhos
pousaram-se sobre mim, corri. Corri para longe
dele, dessa vez, eu deveria ser mais rápida!
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— Aonde pensa que vai?! — Exclamou e


ouvi seus passos pesados.
Entrei em meu quarto e fechei a porta com
força, em seguida a trancando. Dei dois passos para
trás, respirando ofegantemente, olhando por todo o
cômodo. Corri até uma cadeira, ao lado da porta do
banheiro e a arrastei até a porta de entrada,
travando com suas costas, a maçaneta. Não havia
som, estava tudo quieto demais. Então, passos
lentos e controlados começaram a surgir lá fora, um
assobio, caminhando junto com os passos. Era o
mesmo assobio que ele deu, quando terminou de
me atacar naquela noite. Quando se aproximou da
porta, avistei sua sombra por baixo da fresta e me
afastei, batendo minhas panturrilhas na cama, eu
estava apavorada, assustada e não sabia o que fazer.
De repente, duas batidas ressoaram na
madeira da porta, fazendo-me sobressaltar e
choramingar. Ele deu mais uma batida leve e
assobiou. — Eliza... eu sei que está aí. —
Cantarolou da mesma forma que os psicopatas
faziam nos filmes. Sentei-me, lentamente sobre o
chão, sentindo as lágrimas se formarem em meus
olhos. A sombra de Vicentino se movia de lá para
cá, me deixando nervosa. — Lisa... — Cantarolou
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novamente.
— Vá EMBORA! — Gritei, respirando alto.
Sua risada foi substituída pelo assobio e
rapidamente. Tudo aconteceu. Um estrondo alto
surgiu na porta, fazendo-a criar uma rachadura no
meio dela. Soltei um grito assustado quando os
barulhos altos, quebrando a porta não cessavam.
Tapei meus ouvidos com as mãos e gritava sem
parar. Aquilo não era nada humano! Não era! —
PARE COM ISSO! — Esbravejei e então, o
barulho cessou. Abri os meus olhos, olhando para a
porta toda rachada e me levantei, devagar. Respirei
tremulamente, hesitava entre me aproximar ou me
afastar da porta. Mas eu precisava saber se ele tinha
ido.
Segurei a cadeira, tirando de perto da porta e
em seguida, a chave que trancava ela. Minhas mãos
estavam trêmulas e meu coração saltitava
assustado. Engoli em seco e quando tomei a
coragem para abrir a porta, o barulho alto se
rompeu e fui jogada para longe, junto aos restos das
madeiras. Caí no chão, soltando um grito e sentindo
sangue escorrer pela minha testa, soltei um gemido
de dor e quando olhei para cima, Vicentino estava

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tirando seu cinto, se aproximando de mim e


sorrindo diabolicamente. — Que tal nós nos
divertimos, delicinha?
*****
— Não, não! Pare! — Sobressaltei da minha
cama, gritando no escuro. Minha pulsação estava
acelerada e minha respiração seguia o mesmo
ritmo. Olhei para a parede de vidro do quarto onde,
a madrugada estava ali, quieta e inofensiva sobre a
cidade. Passei a mão na minha testa suada e me
joguei sobre o colchão, onde estava molhado de
suor. Respirei fundo para acalmar meu coração e
fechei meus olhos. O pesadelo que tive com aquele
verme, parecia tão real que eu sentia sua presença
parear em meu quarto. Abri os olhos e me sentei
novamente na cama, para me levantar e ir até o
banheiro. Quando cheguei lá, peguei o copo de
vidro que estava ao lado da torneira e enchi de
água, bebendo rapidamente. Bebi mais uma vez e
depois, voltei para o quarto.
Eu não queria ficar ali. Permaneci parada,
olhando para o cômodo meio claro, meio escuro,
pela noite, me recordando do pesadelo.
Não. Não conseguiria dormir ali. Caminhei
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para fora do quarto e chegando à frente do


elevador, parei. Eu não tinha falado com Salvatore
desde que tínhamos chegado de viagem, o que foi
há quinze horas. O que era também anormal para
nós, pois sempre estávamos nos falando de minuto
a minuto. Porém, depois de beijá-lo, tive que recuar
somente um pouco para não me machucar.
Obviamente eu sei que Salvatore jamais iria me
machucar, como o porco do Vicentino fez.
Salvatore sempre aparentou ser um homem
que transmitia confiança e lealdade. Além de ser
uma pessoa íntegra, eu gostava dele. Muito. Não
pelo fato de ele ser o homem mais lindo que já vi
em minha vida, mas pela sua personalidade franca e
gentil, ele sempre foi gentil comigo. Aquilo me
fazia suspirar. Então, lá estava eu na frente das
portas abertas do elevador, pensando se seria ou
não estranho, invadir seu apartamento as 03 h e 45
min. Balancei minha cabeça, jogando essa
insegurança de lado, entrei no elevador. Disquei o
código para entrar na sua cobertura, porém, estava
bloqueada. Uni minhas sobrancelhas, em confusão
e apertei a campainha, chamando por ele.
Por que Salvatore tinha bloqueado o acesso
para entrar na sua casa? Será que estava chateado
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comigo em beijá-lo de surpresa e depois descartá-


lo?
Remexi-me, incomodada com o pensamento
e apertei mais uma vez. Depois de quase dois
minutos esperando, ouvi o apito do elevador e,
então, as portas sendo abertas. A primeira visão que
captei foi Salvatore na minha frente, sem camisa, e
vestido com uma calça de pijama listrada de azul-
claro. Desviei meus olhos da sua incrível
musculatura e o encarei. Seu olhar estava
sonolento, porém, alerta e surpreso. Salvatore
franziu o cenho, perguntando.
— Está tudo bem? — Sua voz estava rouca.
Saí de dentro do elevador, entrelaçando
minhas mãos diversas vezes nervosamente. — E-
eu... eu posso dormir aqui? M-me desculpe, eu
deveria ter aceitado quando você sugeriu. —
Murmurei vergonhosamente. Realmente, se eu
tivesse aceitado seu convite horas atrás, não iria ter
aquele sonho horrendo, pois estaria me sentindo
segura aqui. Salvatore continuou me olhando, de
uma forma em que eu não estava conseguindo
decifrar o que era. Seus olhos se desviam de mim e
vão até o painel do elevador, ele aperta um código e

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faz com que as portas se fechem, e um som de


como se estivesse sendo bloqueada, soa.
Ele me chama com um aceno de cabeça e
sigo-o para onde estava me levando. Fomos em
direção ao lado direito da cobertura e passamos por
um corredor com portas fechadas, Salvatore, abriu
uma delas e depois acendeu as luzes, mostrando um
belo quarto. — Pode dormir aqui. — Murmurou,
abrindo toda a porta. Olhei de relance para o quarto
e balancei minha cabeça em negativa.
— Não quero ficar sozinha. — Sussurrei,
olhando-o.
Salvatore me encarou com um olhar
sonolento e bocejou, passando por mim, olhei na
direção do corredor em que ele caminhava devagar
e esperei. Salvatore parou em uma porta aberta,
onde a luz do luar destacava seu corpo seminu,
engoli em seco quando ele me olhou. — Você não
vem? — Chamou, murmurando e entrando. Não
esperei mais tempo e corri até o fim do corredor,
quando parei na frente da porta aberta, do quarto de
Salvatore, olhei, ele estava pegando uma coberta
branca e travesseiro.
Ele dobrou o cobertor ao meio, depois
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colocou no chão, ao lado esquerdo da cama. Em


seguida jogou o travesseiro em cima do cobertor,
Salvatore suspirou e olhou para mim, com suas
sobrancelhas arqueadas. Ele era tão maravilhoso
durante a noite. Porém, me senti um pouco
desanimada em ter que dormir no chão.
Quando dei um passo, entrando na grande
suíte, paralisei em surpresa, vendo Salvatore se
deitando na “cama” em que ele improvisou no chão
do quarto. Ele soltou um suspiro baixo ao se deitar
e depois colocou as mãos atrás de sua cabeça,
apoiando-a e finalmente fechando seus olhos. —
Me desculpa, mas estou muito cansado... — Sua
voz rouca sumiu aos poucos indicando que já
estava adormecendo.
Mordi meu lábio inferior e fechei a porta com
cuidado para não fazer barulho, depois corri nas
pontas dos meus pés, dando a volta na cama e
enfim me deitando sobre ela, engatinhei em cima
dela e me deitei no lado esquerdo, para olhar
Salvatore dormindo. Ele estava mesmo cansado,
pois não me questionou sobre eu ter aparecido ali,
assustada em seu apartamento às três da manhã.
Permaneci olhando para ele, até que o sono voltasse
novamente. Suspirei fechando meus olhos e deixei
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minha mão direita cair, ao lado do peito de


Salvatore.
Finalmente, o sono veio.
*****

Acordei naquela manhã mais que bem! A


claridade invadia o belo quarto, fazendo com que
os meus olhos sentissem preguiça de se abrirem,
mas me lembrei de algo muito importante. Abri os
meus olhos e olhei para o chão onde não havia nada
e ninguém ali. Juntei minhas sobrancelhas, depois
bocejei me levantando da cama, me espreguiçando,
enquanto caminhava sonolenta até o banheiro.
Quando entrei no banheiro, estava quase
caindo de sono, então esfreguei meu olho esquerdo
com a mão para acordar. Quando estava totalmente
acordada, meus olhos se arregalaram e paralisaram-
se no que eu estava vendo! Eu não tinha notado o
barulho da água ligada no chuveiro, pois Salvatore
estava bem ali, de costas para mim durante o seu
banho! Eu só poderia ver da sua virilha para cima,
pois o vapor cobria o restante do seu corpo junto ao
vidro do box, mas não conseguia evitar, estava
praticamente salivando em ver o corpo forte e
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bronzeado de Salvatore, molhado.


De repente, ele desliga o chuveiro e se vira
um pouco para abrir a porta do box, quando saiu lá
de dentro, seus olhos se pousaram sobre mim, ao
mesmo tempo que arqueava suas sobrancelhas
loiras na minha direção. Ele não estava se
importando nem um pouco com sua nudez, porém,
fiz o impossível para não olhar mais para baixo...
— Tudo bem, Lisa? — Pergunto, me fazendo
sobressaltar e virar-me de costas para ele, às
pressas.
— É-é... e-eu... é-err... — Não conseguia
formular uma única palavra, pelo meu nervosismo,
apenas gaguejei como uma idiota.
Enquanto eu tentava falar algo, Salvatore
passou por mim, ele olhou para trás com um sorriso
safado e fez um sinal com sua cabeça. — Venha,
vamos tomar café. — Chamou ainda sorrindo e
saindo do banheiro. Fiquei babando no meu lugar,
olhando para as suas costas musculosas e
molhadas, enquanto ele saía de dentro do quarto.
Encostei minha mão, perto do meu coração
frenético e fechei os olhos, respirando fundo para
me acalmar. Como ele pode fazer isso comigo?! Eu

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não sabia ao certo, mas algo me dizia que Salvatore


estava tentando... me seduzir?
Puf.
Claro que não! Ele não precisava disso, fala
sério...
Revirei meus olhos e balancei minha mão,
para esquecer aquelas loucuras. Corri para fora dos
cômodos e segui diretamente até a cozinha, onde
Salvatore estava sentado em uma das baquetas,
comendo seu café da manhã. Mordi meu lábio
inferior e me aproximei dele, porém, estava nervosa
com a sua quase nudez.
Apenas com uma toalha envolta da cintura
para baixo. Ah Deus!!!
Soltei um pigarreio, enquanto me sentava um
pouco distante dele, e pegava um pedaço de
croissant na mão. — Você que fez o café? As
refeições? — Perguntei, para me distrair. Salvatore
deu um gole na sua bebida e assentiu para mim.
— Sim. Não tenho cozinheiras, apenas a
Sally, que vem aqui no início da tarde para limpar a
casa e lavar as roupas sujas. — ele me olhou
sorrindo e continuou. — Pedi a ela que agora limpe
seu apartamento, também. Você é muito
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preguiçosa. — completou, me fazendo rir.


Servir-me com um copo de leite e café
enquanto respondia. — Isso soa bem interessante.
Mas, então... o que houve na noite passada? —
perguntei curiosa.
— Não, não. Diga-me você, o que houve na
noite passada? — Disse Salvatore, suspirando e
mordendo um grande pedaço do seu pão doce.
Dei de ombros para sua pergunta, mas
respondi mesmo assim. Eu não sentia mais medo.
— Eu tive um pesadelo. Então não queria passar a
noite sozinha. — Expliquei. — Agora é a sua vez.
Seu chefe, o que ele queria? — Os olhos verdes de
Salvatore me observavam, atentamente, a cada
palavra que eu lhe dizia, como seu tudo o que eu
dissesse, fosse a coisa mais importante para ele e eu
gostava daquilo. Muito. Ele engoliu um pedaço do
seu terceiro pão doce e respirou fundo.
— Bem, Demétrio está envolvido com aquela
garota que eu contei para você, então, ela disse para
ele que Nino tocou nela de uma forma que
Demétrio desaprova, e eu também. Vicentino fez o
mesmo, mas ela não quis falar.
Franzi o meu cenho e perguntei. — Por que
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não?! Foi na noite em que vocês estavam na


delegacia e a encontraram no estacionamento,
certo? Você mesmo disse que esse verme a
apalpou, mas não fez nada. — Falei, deixando
minha voz amarga no final. Como Salvatore
sempre me dizia, ele não podia salvar todas as
mulheres das garras de Vicentino, mas poderia ao
menos evitar que aquele porco, tocasse na jovem
jornalista. Os olhos de Salvatore me olharam de
relance e, balançou sua cabeça.
— Eu não me envolvi, pois sei que Demétrio
fará algo em breve. — Murmurou. — E sim, foi
sobre aquela noite, mas a garota poupou o fodido e
quem levou toda a ira de Demétrio foi Nino. —
Sorriu diabolicamente, pegando um croissant. Esse
homem come para caramba!
Balancei minha cabeça e remexi-me na
banqueta branca. — O que ele fez? Aquele cara é
um projeto de Vicentino, as garotas disseram que
ele curte bater nelas e as pegarem a força. —
Rosnei de raiva, cruzando meus braços. Realmente,
eu sentia nojo do soldado de Vicentino, pois ele
transparecia às mesmas atitudes dele. Eu o
detestava. Salvatore pegou o guardanapo em cima
do balcão preto de granito e limpou sua boca,
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quando terminou o café. Então ele disse-me:


— Bem, agora ele permanecerá distante e
quieto por um bom tempo. — Sorriu. — Demétrio
cortou os dedos da mão dele, por ter tocado na
garota. — Arregalei meus olhos, em surpresa e
parei de mastigar o croissant. Eu tinha escutado
aquilo, mesmo?
Bebi um pouco do meu leite com o café e,
olhei para Salvatore. — Uns dão socos e chutes,
outros decepam os dedos. Quanto mais de vocês
dois existem por aí? — Brinquei, rindo ao mesmo
tempo. Salvatore sorriu torto para mim e deu de
ombros.
— Mais alguns, porém, você é minha. Não
sonhe em procurar outros para te salvar. —
Comentou, com uma voz baixa e grave. Aquilo
quase me fez molhar a calcinha! Quando ele disse
minha, senti meu coração vibrar de excitação em
resposta. Abri um meio sorriso, nervosamente e
pigarreei, era absolutamente incrível, como
Salvatore conseguia me deixar nervosa.
Então, consegui respondê-lo. — Nem em
sonhos. — Confirmei, fazendo-o sorrir para mim.
— E então? O que temos para hoje? Bem, eu
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preciso estar na Haze, às 19 h em ponto. E você? —


Suspirei desanimada.
— A mesma rotina de sempre, mas hoje não
terei como ir até a Haze. — Contou murmurando e
olhando-me atentamente.
Apoiei meus braços cruzados em cima do
balcão e franzi o cenho. — E por que não?
Salvatore, você disse que iria...
— Sim, eu disse que iria estar lá. —
Interrompeu-me, assentindo. — Mas há outras
coisas para fazer, Lisa. Tenho que averiguar uns
dois restaurantes no centro e depois disso, prometo
que estarei lá. Aliás, Theo estará na sua cola. Ele
não irá desgrudar de você, enquanto trabalha no
andar de cima da boate. — Prometeu. Quando
Salvatore disse o nome do soldado, consegui
respirar normalmente e fechar os olhos para me
acalmar. Eu sabia que quase todos naquele lugar já
sabiam que eu era a Fixa de Salvatore, porém,
havia os clientes e eles não iriam entender.
Mas Lincoln tinha nos garantido que todas as
mulheres que trabalham no andar de cima, estão ali
apenas para servir bebidas ou encorajar –
sedutoramente – os clientes para gastarem cada vez
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mais o seu dinheiro, e eles também estavam


cientes, que as garotas que transam estavam no
andar de baixo da boate. Eu não confiava em
nenhum daqueles homens que estavam ali, jogando
dinheiro fora sem ao menos perceber, mas em
pensar que haveria alguém a todo o momento, no
meu lado, me reconfortava.
Eu queria que aquele homem, que estava ali,
“vestido” apenas com uma toalha azul no corpo, me
olhando interessado, estivesse ao meu lado, mais
ninguém. Entretanto, eu entendia que Salvatore
tinha suas próprias tarefas dentro da máfia. — Tudo
bem, isso me acalma. — Admiti, suspirando
pesadamente. Salvatore balançou suas sobrancelhas
e depois sorriu sem mostrar os dentes. Sem minha
permissão, meus olhos desceram para seu peitoral,
depois para a barriga reta e musculosa dele, me
deixando com um calor desconfortável e delicioso
ao mesmo tempo. Lambi meus lábios,
nervosamente, e abaixei meus olhos na direção do
prato sobre o balcão. Eu estava olhando demais
durante nossa conversa, e sabia que Salvatore tinha
notado, pois aquele sorriso safado não se afastava
de seus lábios.
— Bem. — Disse Salvatore se levantando da
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banqueta e passando por trás de mim, ele se virou,


andando de costas e indo em direção ao quarto. —
Preciso me vestir, pois tenho uma reunião às 10 h.
E você, quando quiser dormir aqui, pode vir, mas
só deixarei se usar apenas uma das minhas
camisetas, ok? — Perguntou sorrindo, mas ele já
estava se virando.
Quando Salvatore ficou de costas para mim,
se afastando, ele desenrolou a toalha do seu corpo,
jogando-a sobre as costas do seu sofá maior. Eu
estava dando um gole no café com leite e quando
olhei para sua bunda, me engasguei e tossi diversas
vezes.
OH MEU DEEEEEEUS!!!
Bati no meu peito para tossir e depois soltei
uma meia risada, arregalando meus olhos. — Meu
Deus! — Sussurrei nervosamente, olhando para
onde ele tinha sumido. Esse homem acabaria
comigo!

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TREZE
Cheguei à boate meia hora atrasada, pois tive
a ridícula ideia de mudar todos os móveis da casa
de lugar. Além disso, passei o dia todo relembrando
da bunda de Salvatore, e também antes disso. Eu
fiquei tão nervosa, que tinha saído do seu
apartamento às pressas, gritando que estava indo
tomar um banho. Mentira. Fiquei apenas pensando
no corpo dele e me sentindo estranha referente a
isso, em estar atraída. Não, claro que eu não me
tornei uma assexuada, depois daquele grande
trauma vivido há dois meses, mas eu achava que
não sentiria mais aquele desejo carnal por um
homem.
Salvatore é maravilhoso, isso é óbvio, porém,
eu não estava tão interessada assim nele. Mas hoje,
mais cedo, quando o vi nu na minha frente, eu sabia
o que queria. Eu o queria, muito, e sabia que
Salvatore estava querendo o mesmo que eu. E isso
me animava.
Subi as escadas pretas da boate, rapidamente,
e quando cheguei ao fim delas, fiquei parada sem
saber o que fazer. Havia muitas mesas redondas

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espalhadas e várias pessoas em volta delas.


Mulheres, funcionárias, andavam de lá para cá com
vestidos pretos curtos, até demais, carregando
bandejas com bebidas em cima. Mordi o meu lábio
inferior e entrelacei meus dedos entre os outros,
sem saber o que deveria fazer. — Srta. Evans? —
Uma voz masculina, me chamou por trás e me virei
rapidamente. O soldado Theo caminhava entre as
pessoas dali e então, parou na minha frente. —
Você está bem? Fui notificado de que a senhorita
apenas servirá as bebidas alcoólicas para os
jogadores.
Olhei para os clientes entretidos em seus
jogos de azar e suspirei. Servir bebida era melhor
que ser servida. — Isso parece muito bom.
Obrigada, Theo. — Respondi, fazendo-o acenar a
cabeça e se afastar. Mas o chamei antes. — Espere!
Você ficará comigo, mesmo? E Salvatore? Ele
demorará muito? — Os olhos escuros de Theo,
olharam para as pessoas ao nosso redor e depois
pararam em mim.
— Sim, ficarei. Não se preocupe. — O
garantiu, enquanto se aproximava novamente de
mim. — O capitão está no outro lado da cidade,
mas não demorará mais de uma hora, enquanto
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isso, eu estarei aqui. — Uma hora. Aquilo tinha me


deixado tão desanimada, que apenas assenti para
ele e caminhei até o bar. Salvatore já tinha avisado
sobre isso, mas eu o queria aqui. Era melhor.
Quando parei na frente do balcão, perto do bar, um
homem vestido de camiseta preta, enxugando um
copo de vidro, me atendeu.
Ele abriu um sorriso e disse-me. — Você
deve ser a Elizabeth! Eu me chamo Niall, você
pode pegar uma das bandejas que estão logo ali e ir
de três em três mesas, perguntando quais bebidas os
senhores e senhoras gostariam. — Lambi meus
lábios e fiz como ele instruiu. Queria terminar
aquela noite o mais rápido possível!
*****

Já tinham se passado quatro horas, meus pés


estavam dormentes de tanta dor. Salvatore tinha
chegado à boate, horas antes, apenas me deu um
aceno de cabeça de longe e, foi conversar com
alguns homens que estavam ali. Ele não desgrudava
seus olhos de mim, assim como eu não desgrudava
meus olhos dele. Depois que tinha visto-o aos
arredores, estava trabalhando a todo vapor e sempre

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sorridente, pois me sentia mais leve com a presença


dele. Meu verdadeiro salvador nesse submundo.
Eu estava no final do balcão do bar, no lado
esquerdo, colocando os copos lavados em cima da
bandeja de prata, quando um homem chamou
minha atenção. — Hã... olá, desculpe atrapalhar o
seu trabalho, mas poderia me ajudar com algo? —
Olhei para trás, com as sobrancelhas arqueadas e
parei de fazer o trabalho.
Ele era bem bonito. Tinha cabelos pretos
escorridos, porém curtos, alto, com um físico
natural, queixo quadrado com uma barba rala e
olhos claros, possivelmente castanhos. Usava uma
camisa social branca, por dentro de sua calça jeans.
Abri um meio sorriso e dei de ombros. — Depende
de que tipo de ajuda. — Respondi. O homem alto
abriu um breve sorriso e balançou sua cabeça.
— É que estou com um grupo de amigos,
estão bem ali. — Ele apontou para perto das
escadas e realmente havia quatro mulheres e três
homens, conversando e às vezes nos olhando. Ele
se virou para mim e continuou. — Estamos há dois
dias na cidade, e um taxista daqui nos disse que há
uma incrível boate que se chama Star, mas

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acabamos parando na Haze! Ninguém quer nos


informar, sabe onde fica essa Star? — Perguntou.
Virei-me de costas para o balcão e cruzei os braços,
franzindo o cenho e tentando saber onde era esse
lugar.
Eu já sabia os nomes de todas as casas
noturnas de Las Vegas. Até mesmo as que existiam
dentro dos grandes hotéis. Olhei para o homem,
que me observava curioso, dizendo-lhe. — Você
tem o endereço? Ele passou algum? — Questionei,
estendendo minha mão direita para ele. Ele mexeu
em um dos bolsos da calça jeans e tirou um
pequeno papel branco, me entregando.
— Aqui está. — Olhei para o que estava
escrito e então, soltei uma risada alta. O homem me
olhou confuso, dizendo. — Algum problema com o
endereço? — Perguntou preocupado.
Acenei com a minha cabeça, devolvendo o
papel. — Sim, pois vocês estão a milhares de
quilômetros longe desse lugar. O endereço dessa
boate fica em Miami, o taxista gozou com a cara de
vocês. — Eu não conseguia me segurar, então ri
mais uma vez, fazendo o homem soltar um suspiro
chateado e amassar o papel.

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— Por que ele fez isso? Quanta bobagem. —


Murmurou.
Sorri abertamente e dei de ombros. — Bem,
talvez você não tenha deixado uma boa gorjeta. —
Provoquei, fazendo-o ri. Ele me deu um olhar
simples e arqueou sua sobrancelha esquerda.
— Vinte dólares já era o suficiente. —
Suspirou, me fazendo ri. De repente, ele ergueu sua
mão e sorriu. — Me chamo James, muito obrigado
por ser gentil, senhorita... — Revirei meus olhos,
sorrindo e apertamos nossas mãos.
Quando afastei a minha, respondi. — Pode
me chamar de Lisa. — Disse, ainda sorrindo, mas
diminui um pouco para, o tal de James, não pensar
errado. Ele olhou para os seus amigos, esperando
por ele e depois me olhou novamente.
— Sabe, se você estiver acabando seu
expediente, por que não vem conosco, para andar
pela cidade. Você pode ser a nossa guia turística.
— Sugeriu, com um sorriso. Aquilo era tentador até
demais, pois eu não conhecia muito da cidade,
apenas os pontos em que a máfia comandava.
Mas... eu não conhecia aquele homem e não era
simplesmente porque havia mulheres entre eles,
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que eu me sentiria segura. Sei que era paranoia


minha, porém, eu não estava cem por cento "bem"
sobre confiar em outras pessoas.
Fiz uma careta de desgosto para ele e
suspirei. — Esse é o melhor pedido que já ouvi
desde que cheguei aqui, mas... infelizmente não
posso, ainda estou a trabalho. Desculpe. — James
olhou desanimado para mim e assentiu, com um
pequeno sorriso.
— Não se preocupe, o dever vem em
primeiro lugar. Mas, obrigado mais uma vez pela
ajuda, Lisa. Espero encontrá-la em uma boate que
você não trabalhe e que seja de Las Vegas,
principalmente! — Soltei uma risada alta, o que fez
James fazer o mesmo. Quando nos recompomos,
ele continuou. — Aliás, pegue meu telefone, caso
queria ser uma guia turística em algum dia nas
próximas três semanas. — Ele pediu à caneta que
eu segurava e um pedaço de papel, anotando seu
número. Depois, me entregou, com o papel
dobrado.
Quando peguei em minhas mãos, sorri para
ele. — Obrigada, James. Ligarei quando eu estiver
livre.

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— Espero que esse livre, possa ser nessa


mesma semana. — Piscou, se afastando.
Mordi meu lábio inferior, sorrindo, quando
sobressaltei. — Ei! Light Moon! — Exclamei em
voz alta. James estava quase perto de seus amigos,
quando o chamei, ele levantou suas mãos, em
forma de que não tinha me compreendido, mas
estava sorrindo abertamente.
— Isso é um código? — Perguntou no
mesmo tom que o meu.
Soltei uma gargalhada e respondi. — Uma
das melhores boates da cidade, fica no centro! As
luzes dela são verdes, não errarão. — Expliquei,
fazendo ele ri. Seus amigos também agradeceram,
sorrindo e descendo as escadas, porém, apenas
James, continuou ali.
— Light Moon, aqui vamos nós! Graças à
linda Lisa! Obrigado. — Piscou para mim. — E
não se esqueça do dia livre. — Ri em resposta para
ele e, então, James desceu as escadas. Sumindo da
minha vista. Virei-me, de volta para os copos e
sorri, ele era tão gentil. Pelas roupas e modo formal
de falar, deveria ser um empresário ou algo do tipo.
Até mesmos seus amigos eram elegantes, como ele.
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Eu nunca fui de flertar ou aceitar convites de um


homem com boa aparência, mas eu tinha gostado
de James. Ele parecia legal.
Eu estava no fim do meu dia de trabalho,
claro, apenas disse aquilo para James não insistir. E
ele aceitou sem pressionar. Soltei um suspiro baixo
e quando terminei de colocar os copos sobre a
bandeja prata, me virei, ao mesmo tempo, que via
Margot, no fim das escadas, acenando e sorrindo
para mim, e também, Salvatore. Porém ele estava
dando passos firmes e rápidos em minha direção,
com um olhar raivoso em seu semblante. Quando
ele parou na minha frente, vi que seu olhar estava
em brasa.
— Não sabia que já estava apta em bater
papo com desconhecidos. — Rosnou. Seus olhos
desceram para minha mão, que segurava o papel
marcado com o telefone de James. — E muito
menos aceitar papelzinho deles. — Eu não estava
entendendo absolutamente nada do que ele estava
dizendo-me. Bem, eu estava, mas não compreendia
o significado daquilo tudo.
Revirei meus olhos, entre suspiros e me
afastei, pegando minha bolsa atrás do balcão e

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depois, seguindo até as escadas. Eu podia sentir


Salvatore atrás de mim. — Por favor, Salvatore, ele
apenas pediu informações. Por que está agindo
assim? — Perguntei, olhando para trás e chegando
perto das escadas. Chamei Margot, para descermos,
e notei que ela estava nervosa e incomodada.
— Por que estou agindo assim? — Perguntou
ele, em incredulidade. — Horas atrás você estava
desesperada pela minha monitoração sobre você,
agora, estava toda risonha e aceitando porra de
papel de clientes?! Qual é o seu problema, garota?!
— Quando estávamos na calçada vazia da Haze,
parei de andar e olhei para trás.
Os olhos de Salvatore estavam arregalados e
mortíferos, eu poderia apostar o quão ele queria me
estrangular. Passei minha mão esquerda sobre a
testa e respirei profundamente. — Qual é o seu
problema? Pelo amor de Deus, Salvatore. Eu
apenas o ajudei, e em troca de agradecimento, ele
passou seu telefone, para eu mostrar a cidade. Mas
obviamente que não ligarei. Deus, para que tanto
drama?
— O... drama? — Exasperou Salvatore. —
Minha preocupação com você é drama? Você... tem

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transtornos de personalidade? Você sabe que gosto


de você e fez aquilo para me provocar, Elizabeth!
— Arregalei meus olhos e encarei às pressas
Margot. Que estava de braços cruzados, olhando
para nós, com um sorrisinho diabólico.
Voltei minha atenção para Salvatore,
levantando minhas mãos em forma de garras. —
Você... o que?! Salvatore! Não leve as coisas para
outro lado! Eu não sou de... de... provocar
ninguém, quem faz isso a todo momento é você!
Mostrando sua bunda definida para mim! —
Exclamei em voz alta, ao mesmo tempo, tapando
minha boca com as mãos. Ouvi Margot soltar uma
gargalhada alta, por trás de mim.
— Oh meu Deus! — Exclamou ela, rindo.
Salvatore olhou na sua direção e depois para
mim, ele ainda estava bravo. — Por que conversava
com aquele... merdinha? De uma forma tão
intensa? Eu não gostei daquilo, porra! Se ele fosse
um maníaco? Hã?! — Soltei um grunhido alto e
revirei meus olhos, aquele assunto estava me
irritando.
— Meu Deus, Salvatore! Intenso? Sério
mesmo? Conversar de forma descontraída e
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sorridente é intenso para você? Obrigada por se


preocupar, sabe que eu adoro isso, mas você está
passando...
Antes que eu pudesse terminar, Salvatore
soltou uma risada misturada com um rosnado e
continuou por mim. — Dos limites? Você que
passou dos limites, Elizabeth! Conversando
daquele jeito com aquele filho da puta
engomadinho! Tenho certeza que ele pede a porra
de uma ajuda, para abrir a tampa no vidro de picles!
— Aí meu Deus! — Exclamei
revoltadamente. Qual era o problema dele? Encarei
os seus olhos que brilhavam de raiva e soltei de
uma vez. — Por que está tendo uma crise de
ciúmes, Salvatore?! Você não entendeu que não
temos absolutamente nada um com o outro? Então
pare de agir assim! Está ridículo! — Avistei seu
maxilar se apertar e um olhar indecifrável tomou
conta de sua raiva. Salvatore me encarou por alguns
segundos e depois, olhou para o lado, em seguida,
me encarou a última vez e então, se afastou de
mim. Voltando para dentro da boate, sem dizer
mais nada.
Merda.

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Dei um passo na direção da boate, mas uma


mão segurou meu pulso. Eu tinha esquecido
completamente da Margot. — Nem pensar. Você já
fez a merda, agora não deixe feder! Vamos andar
um pouco pela cidade, ele precisa de espaço e você
também. — Soltei um suspiro baixo e triste,
olhando para as portas da Haze.
Tinha acabado de criar uma grande merda
entre Salvatore e eu.
*****

Margot me apresentou boa parte do centro da


cidade, mas eu não estava animada naquele
momento, para desfrutar a bela cidade, com luzes
ofuscantes e coloridas. Sentia-me mal em ter sido
sincera demais com Salvatore, pois ele estava
apenas preocupado, e eu, agi como uma vaca.
Aquilo foi errado da minha parte, mas também eu
não queria correr até ele de joelhos e pedir
desculpas.
Já se passavam das 02 h da manhã, quando
Margot resolveu ir se sentar perto da fonte de
Bellagio. Ela pegou seu espelhinho de dentro da
bolsa e seu batom vermelho, enquanto eu dizia. —
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Não foi legal o que eu disse Margot. Ele se


preocupa comigo, de verdade. E eu, agi como uma
idiota em vez de agradecer sua atenção sobre mim.
— Choraminguei, olhando para as ruas
movimentadas e as pessoas que estavam ali.
Margot soltou um suspiro, fechando seu espelhinho
e guardando, junto com o batom.
— Olhe, eu não sou boa em conselhos
amorosos, pois nunca gostei de um cara. Mas... isso
é normal, ele estava apenas preocupado e com uma
puta de um ciúmes, o que foi engraçado de ver. E
você, estava apenas sendo realista! Realmente, os
dois não tem nada com o outro... por enquanto. —
Sussurrou, rindo para mim.
Revirei meus olhos e engoli em seco, não
estava gostando da sensação dentro de mim, me
sentia muito mal. — Eu gosto dele, também. Mas
sei que não teremos algo sério, a família dele não
aprovaria, pois eu fui prostituta da Haze. Isso seria
desonroso. — Murmurei.
— Foda-se a honra! Salvatore é um homem
adulto, Elizabeth. Ele está pouco se fodendo para
isso, não percebeu? — Perguntou, arqueando as
sobrancelhas para mim. Dei de ombros e suspirei.

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— Olhe, eu sei do que vocês dois realmente


precisam. Isso acabaria com a putaiagem de vocês
dois!
Franzi o meu cenho, olhando para ela e ri. —
O que? Quem inventou essa palavra? — Perguntei,
ainda rindo. Margot revirou os olhos teatralmente e
jogou os cabelos para trás.
— Você disse essa palavra em outro dia! Dã.
— Balancei minha cabeça, rindo para ela. Margot
deu dois tapinhas nas minhas costas, sorrindo.
— Então. — Perguntei. — O que Salvatore e
eu, precisamos?
Ela me olhou travessa e se aproximou,
sussurrando: — Um sexo, bem, bem gostoso no
estilo você cavalgando em cima dele! Depois,
vocês fazendo um sessenta e nove, até que não
restassem mais orgasmos! — A cada palavra que
Margot, dizia, eu soltava uma gargalhada,
escondendo meu rosto entre as mãos e me
esquivando dela, enquanto ela se curvava sobre
mim, dizendo tudo em meu ouvido. Gargalhamos
as duas juntas, e então, olhei para ela.
— Bem... depois de vê-lo nu, na manhã
passada, eu meio que senti vontade...
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Margot soltou um gemido exagerado,


fazendo algumas pessoas nos olharem e depois ela
riu. — Eu criei tantas cenas quando você gritou
isso para ele, mas você detalhou tão bem! Oh! Eu
daria até o espacinho do meu dedão do pé, para ele
foder! Diga-me, o pau dele é rosado? Ou da cor da
pele dele mesmo? Merda, eu sempre imaginei o pau
de Salvatore bem rosinha. — Ela fechou seus olhos
e sua mão direita em punho, como se estivesse
segurando um pênis e começou a lamber o ar.
Soltei uma risada alta e puxei suas mãos, estávamos
chamando muita atenção.
— Meu Deus, Margot! Sua maluca. Eu disse
a você, quando estava prestes a olhar, eu me virei
de costas. Fiquei com vergonha. — Fechei os
olhos, choramingando e deitei minha cabeça em
seu ombro. — Eu realmente gosto dele. Sinto-me
uma maldita, você viu o olhar que ele deu? Aquilo
me magoou, eu não deveria ter feito aquilo. —
Comentei, murmurando e me sentindo a mais vaca
ingrata de todos os tempos. Ter visto aquele olhar
de Salvatore, tinha me deixado arrependida até
demais, porém, eu apenas estava tentando lhe dizer
a verdade. Salvatore e eu, não tínhamos nada,
tirando a nossa amizade.
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Depois de alguns minutos, Margot me


abraçou pelos ombros e encostou sua bochecha na
minha cabeça. — Você pode fazer algo por mim?
— Perguntou em voz baixa. Assenti com a cabeça,
então ela disse-me: — Quando fizerem sexo, grave
tudo e depois mande para mim.
— Margot! — Exclamei, levantando minha
cabeça e gargalhando.
Ela se levantou e sorria maliciosamente. — E
não se esqueça do áudio! Eu tenho que ouvir os
gemidos daquele filho da puta, gostoso. Devem ser
tão bons! Do tipo “ah” "uh que delicia" "que
gostoso" "vou meter mais forte na sua amiguinha
Lisa". — Me levantei, gargalhando, tapando sua
boca com a minha mão. Essa mulher era mais louca
que a Perla, mas eu a adorava!
— Sua maluca! — Gargalhei. — Pare com
isso.
Margot afastou minha mão da sua boca,
sorrindo abertamente. — Tudo bem, mas... agora
falando sério. Por que não surpreende ele dê uma
vez? Lisa, ele está praticamente se jogando para
você, algo que é mais função das mulheres! Quer
dizer, nem todas, droga, quase todas. Mas... chega
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dessas coisas de adolescentes, ele está envolvido e


você também. Deixe os problemas de lado,
Salvatore já lhe mostrou o quanto pode confiar até
de olhos fechados nele. Que tal chegar de
"surpresa" no apartamento dele? Se você ficar com
vergonha, não precisa acender as luzes, mas, por
favor, transem logo, essa é a solução dos problemas
de vocês!
Fiz um biquinho para ela, mas pensei. Será
que ela tinha razão? Eu deveria fazer isso, me
arriscar dessa forma? Eu não sabia ainda, se já
estava apta para ter relações sexuais com um
homem, porém, Salvatore não era um homem
qualquer. Mordi meu lábio inferior e suspirei
indecisa. — Isso me deixa tão nervosa. — Admiti
murmurando, para a minha amiga. Margot segurou
meus ombros com suas mãos e me olhou.
— Sabe que eu já passei por isso, como você,
né? E superei, sim no início é muito difícil, você
sente ódio do sexo masculino, sente ódio por um
homem apenas te olhar, sente ódio por se atrair por
um bom homem e ele o mesmo, mas a vida precisa
seguir Lisa. Você precisa seguir, não pode deixar de
andar, pois isso seria um triunfo para o inimigo. Ele
amaria em vê-la às escondidas, amedrontada. Não,
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você deve mostrar que isso te deixou mais forte,


que você pode sim ter uma vida normal. Não faça
isso com você, não deixe a vida te dominar, você
que deve dominá-la. Entendido? — Ela me olhava
desafiante e, ao mesmo tempo, me deixando
surpresa e fazendo-me ri.
Fechei os olhos, respirando profundamente e
assenti. — Tudo bem! Entendido! A nova Eliza
está vindo! Irei fazer isso, vou fazer uma
surpresinha para Salvatore... com as luzes acesas.
— Pisquei para ela, fazendo-a rir. Margot me
abraçou novamente, nos levando para longe da
fonte, enquanto dizia:
— Mais que progresso, senhoras e senhores!
Elizabeth Evans estará com sua nudez visível para
Salvatore De Gasperi! Agora, só falta o vídeo, para
sua amiguinha. — Gargalhei, balançando a cabeça
em negativa e abracei sua cintura.
Dei um beijo em sua bochecha e corremos
ainda abraçadas, atravessando a rua. — Pensarei no
seu caso, agora, estou com vontade de beber!
Acredita? Vamos a um bar.
— Se você ficar bêbada, eu vou ocupar o seu
lugar e, ainda por cima, tirar várias fotos enquanto
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chupo o seu loiro! — Ameaçou Margot, me


fazendo ri.
Eu não ficaria bêbada, aliás, eu não bebia,
apenas tinha sentindo uma vontade, pois uma
leveza tinha se apossado dentro de mim. — Fique
relaxada! Serão apenas dois copos de vodca com
limão. — Os olhos de Margot se apertaram em
minha direção, mas ela não disse nada. Depois de
alguns minutos, andando pela cidade, entramos em
um bar chamado Muse. Estava lotado, mas não
ligamos para isso.
— Um brinde para Elizabeth, que fará sexo
até o amanhecer e ficará sem andar corretamente
por uma semana! — Exclamou Margot, quando
pedimos a bebida e ela foi entregue. Saudamos
entre risadas e viramos o copo de uma vez, fazendo
a bebida me esquentar por dentro e minha garganta
arranhar.
O nervosismo tinha dissipado, depois do
terceiro copo, mas a excitação e ansiedade estavam
à flor da pele! Pensei, qual seria a reação de
Salvatore?
*****
Depois das bebidas, Margot me obrigou a
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voltar e fazer a “lição de casa” como tinha me dito.


Tínhamos voltado para o estacionamento da Haze,
onde seu carro se encontrava e ela me deixou na
portaria do prédio. Naquele momento, eu estava
dentro do elevador, zonza, feliz demais e muito
bêbada. Eu era muito fraca com bebidas.
Quando o apito do elevador acionou a sua
chegada, tirei os meus saltos altos, na mesma hora
em que as portas foram abertas, me levando para o
interior da cobertura luxuosa de Salvatore. Na sua
sala, estava apenas uma luz do abajur acesa, perto
de uma das poltronas e também, a luz sobre o
balcão da cozinha. Nada mais. Mordi meu lábio
inferior, olhando para o corredor que levava até o
seu quarto e sorri. Ele ficaria tão surpreso, com a
minha iniciativa, que aquilo me fazia querer soltar
gritinhos e dar pulos.
Deixei meus sapatos e bolsa na sala e
caminhei lentamente, até o seu quarto. Quando
cheguei lá, Salvatore não estava na sua cama
bagunçada, porém, o barulho de água escorrendo
dentro do seu banheiro, chamou a minha atenção.
Melhor ainda. Ser pego durante o banho, eu nunca
tinha feito sexo embaixo do chuveiro, seria tão
excitante!
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A luz amarela do banheiro clareava apenas


uma pequena parte do quarto, pois a porta estava
entreaberta. Não esperei mais tempo. Segurei a
barra do meu vestido preto rodado e tirei por cima
da cabeça, em seguida, arranquei minha calcinha e
sutiã rapidamente, e respirei fundo. Eu estava um
pouco tonta e claro que não era a bebida fazendo
nada daquilo, eu tinha consciência do que estava
acontecendo. Quando tranquilizei minha ansiedade,
caminhei até o seu banheiro, sentindo o puro êxtase
me invadir, a adrenalina de excitação estava a todo
vapor pelo meu corpo, em apenas imaginar
Salvatore ali, mais uma vez, molhado, nu.
Quando então, finalmente estou perto da
porta, um barulho me paralisa.
Gemidos femininos invadem minha cabeça,
fazendo com que a excitação e embriaguez fujam
rapidamente, para longe de mim. Meu coração
saltitava às pressas e, por idiotice, empurrei
lentamente a porta e entrei no banheiro. Uma
mulher com os cabelos loiros e molhados, estava
encostada no vidro embaçado do box, com a sua
perna esquerda dobrada e levantada. Uma de suas
mãos estava a sua frente, incentivando seu parceiro
e a outra, espalmada no vidro. Eu sentia meus olhos
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lacrimejando, as lágrimas se construindo e caindo


pelo meu rosto.
Eu me sentia tão idiota... até que, de repente,
Salvatore se erguia e os seus olhos pararam
diretamente nos meus. Estavam escuros e
excitados, mas também surpresos. Ele piscou
algumas vezes, e então, desceu seus olhos por todo
o meu corpo, eu tinha esquecido que estava nua.
Escondi meus seios com os braços e não parava de
chorar silenciosamente. — Salvatore, o que houve?
— Sussurrou a mulher e, ao mesmo tempo, ela
olhou para trás. Eu não a conhecia, o que era bom.
Porém, quando ela me viu ali, nua, chorando
com a cena, seus olhos arregalaram-se em surpresa.
Não conseguia me controlar com aquilo, então
comecei a soluçar alto e saí depressa, correndo para
longe e deixando minhas coisas ali. —
ELIZABETH! — Gritou Salvatore, vindo às
pressas, mas dessa vez fui mais rápida, entrei no
elevador, discando o código para entrar no meu
apartamento. Eu não parava de chorar como uma
criança, eu soluçava alto e me sentia uma boba, em
ter passado por aquela humilhação toda!
Quando estava dentro da minha casa,

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rapidamente digitei o código de bloqueio, quando


Salvatore chamou o elevador. Não passou um
nanossegundo e ele começou a esmurrar as portas,
mesmo sabendo do código. — ELIZABETH, ABRA
LOGO! — Gritou. Abracei-me e comecei a chorar
mais, fazendo questão de que ele me ouvisse. —
Por favor, Elizabeth eu não quero entrar sem a sua
permissão!
— ENTÃO VÁ EMBORA! VOLTE LOGO
PARA LÁ E CONTINUE A CHUPAR AQUELA
MULHER! — Trovejei com ódio. Quando eu disse
isso, ele parou de esmurrar as portas do elevador.
Eu já sabia o que viria a seguir.
O som das portas sendo abertas fez-me parar
de chorar, principalmente, quando Salvatore entrou
na minha sala, completamente nu. Ele correu atrás
de mim com o pau duro? Era até engraçado de se
pensar, mas eu não estava querendo rir, muito
menos apreciar a visão dele. Os olhos de Salvatore
correram por todo meu corpo, como tinha feito no
banheiro, ele engoliu em seco e me encarou.
— O que eu faço com você, Eliza? —
Sussurrou com as sobrancelhas unidas, se
aproximando de mim.

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Eu sabia o que queria fazer com ele. Matá-lo!

QUATORZE

— SE VOCÊ CHEGAR MAIS PERTO DE


MIM, EU VOU SOCAR A SUA CARA! — Gritei
para Salvatore. Seus olhos verdes estavam
perdidos, ao mesmo tempo em brasa, olhando para
mim. Quando eu dei um passo para trás, Salvatore
chegou mais perto e eu fiz o que disse, bem, quase
fiz. Ele se aproximou de mim e rapidamente
levantei minha mão esquerda em punho,
direcionando no seu rosto, para socá-lo, quando ia
dar o murro, ele desviou seu rosto e me prendeu
nos seus braços fortes, fazendo meus bracinhos
ficarem presos por trás de mim.
Salvatore soltou um rosnado e me balançou
junto com o seu corpo. — O que está fazendo?! —
Rosnou, ao mesmo tempo, seus olhos desceram até
os meus seios colados no seu peitoral úmido. Soltei
um grito, tentando me afastar dele, tentando puxar
minhas mãos para longe do aperto de Salvatore.
— ME SOLTA! — Esbravejei. Rapidamente,
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Salvatore me soltou e dei dois passos para trás,


colocando as mãos na minha barriga, gemendo.
Ele tentou se aproximar de mim, mas me
afastei às pressas, encostando-me a parede escura
de madeira. — Lisa, o que você tem? — Perguntou
Salvatore, franzido.
— O que eu tenho? Sério isso? — Exclamei
ainda curvada e com as mãos na barriga. — Nojo!
Estou com ânsia em pensar que essa boca estava
chupando uma... uma... uma perereca loira! Seu
nojento! — Eu estava em brasa naquele momento,
tudo o que eu mais queria, era ter a chance de
deixar o corpo nu de Salvatore, completamente
roxo! Peguei um livro gigante que estava debaixo
do abajur e segurei-o com as duas mãos, jogando
na direção em que Salvatore estava.
Mas para a minha péssima pontaria e má
sorte, ele se esquivou a tempo, ao mesmo instante,
chegou perto de mim como uma águia. Quando vi
próximo de mim, me virei de costas às pressas e
corri para o corredor, indo até o meu quarto. Eu
estava começando a me sentir incomodada com a
minha nudez, ele estava olhando muito. Quando já
estava perto o suficiente da porta do quarto,

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Salvatore segurou o meu braço direito e me


empurrou de costas para a parede. — Por que está
com raiva? Eu realmente não compreendo você!
Aquilo tudo que me disse, ficou bem claro que
você não sente nada por mim e muito menos quer
algo comigo. Eu sou adulto, Elizabeth, e não um
adolescente que fica sentado, esperando. Se você
não quer, eu respeitarei, mas também continuarei
com a minha vida. Não era isso que queria? —
Exasperou. Eu sentia que ele tinha razão, porém, de
qualquer forma eu sentia raiva dele. Muita.
Eu ainda estava chorando, mas não ousei
emitir nenhum som. Aliás, não valia a pena chorar.
Engoli em seco e consegui dizer-lhe: — Eu estava
indo pedir desculpas para você, não foram legais as
minhas palavras. Eu finalmente estava preparada e
quando tomo coragem, recebo a maior humilhação
do mundo, vendo você com outra. Sabe, não somos
namorados ou casados, mas aquilo me machucou,
eu me senti traída. — Salvatore franziu o cenho e
me olhou, penetrando os meus olhos com os seus.
Avistei de relance, sua mão esquerda se levantando
e prestes a tocar no perfil do meu rosto,
acariciando.
— Lisa... — Ele sussurrou, mas virei minha
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cabeça para o lado, pois não o queria me tocando.


Eu sentia nojo.
Rapidamente limpei as lágrimas que estavam
em meu rosto e então disse: — Acho melhor você
ir. Sua amiga deve estar confusa e esperando. —
Murmurei duramente.
— Eu não vou voltar. Quero ficar...
Balancei minhas mãos e saí de perto dele e da
parede. — Mais não vai! — Interrompi suas
palavras. — Vá embora, por favor, me deixe
sozinha. — Salvatore me encarou ainda ali, parado,
sem se mover para qualquer lado. Seus olhos
estavam brilhando, sobre mim. — Por favor. —
Implorei entre sussurros. Ele piscou algumas vezes
e apertou sua mandíbula com força, assentindo.
Antes de ir, Salvatore olhou mais uma vez
por todo o meu corpo e suspirou em seguida, se
afastando e finalmente indo embora. Quando eu
estava sozinha, entrei no meu quarto e me joguei
sobre a cama, fechando os olhos e chorando por
longos minutos, por tanto tempo, que acabei
adormecendo e fazendo de tudo para não pensar no
que eu tinha presenciado.
*****
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Dois e incansáveis dias tinham se passado e


eu não tive a mínima intenção de ir para a boate.
Estava cansada de tudo e todos. Estava esgotada e
sentindo muito raiva. Pelo menos, sentir raiva era
melhor que tristeza e solidão. Salvatore apareceu
somente um dia, porém, mais uma vez, entrando no
meu apartamento e esmurrando a porta do meu
quarto, eu apenas o xingava e ele ia. Margot estava
preocupada comigo, sentindo raiva dele, mesmo
nós dois não tendo absolutamente nada!
Realmente, não tínhamos nenhum
relacionamento amoroso, era bobagem da minha
parte ter esses sentimentos como a traição, o ciúme,
raiva, magoa... totalmente idiota, pois eu sabia que
Salvatore, deveria estar transando com outra
mulher e rindo da minha cara por eu ter sido tão
infantil!
Soltei um suspiro pesado e cruzei os braços,
olhando através da parede de vidro do quarto, a
cidade de Las Vegas. Sentia-me um animal
enjaulado durante esses dois últimos dias, não
estava mais aguentando ficar ali! Olhei para o
aparador e fui à busca do meu novo celular, quando

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o peguei, estava marcando 15 h e 25 min. Fiz um


biquinho e mandei uma mensagem para Margot.
PARA: Margot
AS: 15:26 min.
“Onde você está? Estou ficando maluca
dentro desse lugar! Acho que vou dar um
pulo na Haze, o que acha?”
Enviei a mensagem e saí de dentro do meu
quarto, indo até a sala, quando parei perto da
poltrona marrom, o celular apitou. Era Margot:
DE: Margot
AS: 15:28min.
"Você gosta de brincar com a morte, certo?
Não vá até lá hoje, pois Lincoln disse que o
senhor dos senhores chamado Demétrio
Gratteri, estará lá para ver como anda a parte
financeira da Haze! E além do mais, você não
trabalha há DOIS DIAS! Encontre-me em frente
ao Sincel."
O Capo estaria lá? Droga, aquilo me atiçou,
eu queria dizer umas verdades para ele, mesmo não
me importando com as consequências. Mordi meu
lábio inferior e desliguei o celular, sem responder a
mensagem da minha nova amiga. Que se dane.
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Meu instinto suicida estava implorando para ir até a


Haze, o mais rápido que eu pudesse. Então, corri de
volta para o quarto e fui tomar um banho, não
perderia essa chance de conhecer o melhor amigo
de Salvatore, por nada.
*****
Entrei na boate recebendo os, “boa tarde,
Lisa”, dos soldados que estavam na porta dos
fundos do prédio, eu apenas sorri e entrei
rapidamente, o que foi moleza, eu já sabia que o
Capo estava lá, pois na entrada da boate, havia dois
carros Audi de puro luxo e mais soldados tomando
conta na frente das portas fechadas. Passei
rapidamente pelos corredores da Haze, indo em
direção ao bar, não havia ninguém ali, então acabei
eu mesma indo me servir. Peguei uma garrafa de
água com gás dentro de um dos frigobares e depois
um copo de vidro.
— Eu não quero que ninguém descubra isso!
Principalmente a Amélia. — Parei de despejar a
água no meu copo no momento em que ouvi uma
voz masculina, irritada e com o forte sotaque
italiano, dando ordens. Levantei meus olhos
lentamente, na direção da voz e paralisei. Oh meu

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Deus! Engoli em seco, com os olhos bem abertos


enquanto o via se aproximando do bar com uma
grande carranca.
Demétrio Gratteri chegou à frente do balcão
e, aqueles olhos azuis e intimidantes me olharam.
Cruzes! Eram de arrepiar! Porém, ele era
maravilhoso, toda vez que Salvatore citava sobre
ele, eu imaginava um chefe parecido com o
mafioso do filme O poderoso Chefão e não um
homem jovem e bonito! Sim, muito bonito, ele era
bem alto, mas não tanto quanto Salvatore; tinha
uma barba bem feita, cabelos penteados
elegantemente e era musculoso. Resumindo, era
tentador, mas não tanto quanto Salvatore...
— Quem é você? E por que está me olhando
dessa forma? — sobressaltei com a sua voz
cortante e ameaçadora, me deixando com um
grande medo.
Engoli em seco e pisquei repetidamente. —
E-e e-eu eu, eu sou... err... — Eu estava gaguejando
tanto que o Capo Gratteri soltou um rosnado e
apontou através de mim.
— Mojito. Com o melhor rum branco que
tiver. — Ordenou, se sentando em uma das
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banquetas. Ele achava que eu era barman? Apoiei


minhas mãos sobre o balcão de baixo e quando
soltaria minha voz irritada, três das garotas que
trabalhavam na boate, apareceram e uma delas
eram a Baby.
Quando ela avistou Demétrio sentado em
uma das banquetas, esperando seu coquetel, ela
abriu um sorriso malicioso e andou sensualmente
em direção a ele, já dizendo: — Oh não, se não é o
maravilhoso Don, na humilde Haze. — Demétrio
me deu um olhar cansado e depois encarou a
garota.
— Quem é você? — OH DEUS! HAHAHA!
Engasguei-me com a gargalhada alta que
estava prestes a sair de mim, mas rapidamente me
recompus quando os dois me olharam. Eles tinham
os mesmos olhares, autoritários e assustadores.
Baby cruzou os braços e não se aproximou tanto
dele, como eu imaginava que faria. — Você não se
lembra de mim?! Você vinha todas as semanas
aqui, para ficarmos a noite toda, trancados dentro
do quarto! — Exclamou revoltadamente, mas
rapidamente ela abaixou o tom. Aquela tinha
coragem nas veias.

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— Eu acho que estava bêbado... —


Murmurou, franzido o cenho e eu, entregando a
bebida.
Eu estava preparando um mojito e não notei
isso?
Os olhos da garota brilharam em raiva, ela
estava realmente puta com o “esquecimento” do
homem. — Ficou bêbado por quase dois meses e
meio?! — Perguntou, exasperada. Demétrio deu
um gole na bebida e depois suspirou, passando seus
dedos sobre a testa.
— Eu bebia muito. — Admitiu e olhou para
ela. — Culpe a bebida. Agora, suma da minha
vista. — Os olhos da Baby, foram de mim,
vergonhosamente, depois para Demétrio, que
estava mais envolvido na bebida do que com ela.
Sem dizer mais nada e uma carranca no rosto,
Baby saiu às pressas e passando reto pelas amigas
que riam. — Essa bebida está boa. — Murmurou
Demétrio, mudando a atmosfera de chata para leve.
— Seus clientes devem adorar.
— Mais eles não adoram. — Revirei os olhos
e fazendo-o apertar seus olhos para mim. Não me
importei com aquilo. — Eu não sou barman.
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Demétrio franziu o cenho e tombou sua


cabeça de lado, me encarando. — Então por que
está... — Ele olhou para o seu copo e rapidamente
jogou longe, sobressaltei com seu ataque e arregalei
meus olhos. — O QUE TINHA NESSA PORRA?!
QUEM É VOCÊ, GAROTA? — Gritou ele,
fazendo tantos homens virem correndo, que me
deixou assustada. Quando eu diria quem eu era e
acalmá-lo, a voz de Salvatore soou:
— Demétrio! Se acalme, essa é a Lisa. — Ele
olhou para o tanto de soldados que seguravam suas
armas apontadas para mim, dizendo: — Relaxem.
Ela trabalha aqui. — Os homens rapidamente
abaixaram suas armas e se afastaram, deixando
apenas seu Capo, capitão e eu, a sós.
Salvatore se aproximou de nós, me olhando
atentamente e depois, encarou Demétrio. — E-eu
não fiz nada com a bebida se é isso que está
imaginando! Se eu quisesse te matar, faria melhor.
— Ameacei o homem bravamente. Ele tinha me
irritado! Pensando que eu tinha posto, talvez, algum
tipo de veneno na bebida?! Por Deus. Quando eu
disse isso, Demétrio soltou um rosnado e deu um
passo rápido até o balcão, ao mesmo tempo, em que
eu me afastava e, Salvatore segurava-o pelo ombro
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direito.
— Está me ameaçando? É esse tipo de
mulher que você gosta Salvatore?! Além de ser
uma língua solta, é uma puta?! — Esbravejou,
tentando se aproximar.
Salvatore o olhou pacificamente e disse-lhe.
— Você está muito estressado, dizendo coisas que
não tem o costume de falar para uma mulher,
Demétrio. Vá para sua casa e descanse com a
garota, eu cuido de tudo, já que Vicentino nunca
está por perto. — Os olhos azuis gélidos de
Demétrio se desviaram de mim e pararam em
Salvatore. Ele soltou um suspiro baixo e passou a
mão no cabelo avermelhado.
— Está bem. Eu estou muito cansado, de
fato. — Sei a volta pelo balcão e parei atrás de
Salvatore, quando seu chefe apontou o dedo longo
para mim. — Aprenda a ter mais respeito, sua
criança.
Cruzei meus braços e me aproximei dele,
ficando entre ele e Salvatore, eu me sentia um anão.
— Senão vai fazer o que? Você não é nada meu! —
Respondi em voz alta e cada palavra que eu dizia,
ficava na ponta dos pés. Os olhos de Demétrio se
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arregalaram olhando para Salvatore, que


rapidamente me puxou pela minha blusa e me
colocou atrás dele.
— Demétrio...
— O QUE VOCÊ DISSE GAROTA?! —
Esbravejou e querendo chegar perto de mim. —
Essas garotas são todas iguais! Não tem respeito
pelos outros!
Salvatore soltou um grunhido, rapidamente
empurrando seu Capo maluco para longe de mim,
enquanto lhe dizia. — Você tem razão, elas são
teimosas, encrenqueiras e desafiantes, mas são
mulheres, Demétrio! Isso já diz tudo! Agora, por
favor, não entre na pilha de Elizabeth, vá para casa
e fique com a McAdams. Por favor! — Demétrio
desviou o olhar de mim e encarou seu amigo, ele
respirou fundo e assentiu, murmurando algo em
italiano e Salvatore respondeu, assentindo. Depois,
ele chamou os soldados que apareceram
rapidamente, para levá-lo embora.
Mas antes, óbvio, Demétrio me deu um olhar
estilo de mamãe ameaçando o filho bagunceiro e
apontou para mim. Revirei meus olhos e não dei a
mínima para aquilo. Ele deu mais um olhar para
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Salvatore e, então, se afastou junto com os demais


soldados, indo embora. Soltei um suspiro
pesadamente e me sentei no mesmo lugar em que o
chefe nervosinho estava. Pelo menos tive um pouco
de adrenalina, por aqui. Balancei a cabeça em
negativa, rindo e peguei meu copo com água.
— Você não é assim. Por que o enfrentou
daquela forma? — A pergunta de Salvatore, veio
por trás de mim, fazendo-me bufar de tédio.
Dei um pequeno gole na água,
tranquilamente antes de respondê-lo. — Porque eu
não tenho medo dele. — Respondi secamente.
Salvatore parou ao meu lado e apoiou seu braço
direito sobre o balcão, me olhando.
— Elizabeth...
Joguei a cabeça para trás, respirando alto e o
encarei. Seus olhos verdes estavam sem aquele
brilho que me deixava acesa por dentro. Vai ver
que foi a vagina da loira que roubou todo o brilho
enquanto ele a chupava! Aquele pensamento me
deixou tão brava, que empurrei inutilmente
Salvatore, com a minha mão. — Não fale comigo!
Aliás, não chegue perto! Não quero saber de você,
pois eu...
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Antes que eu terminasse, Salvatore puxou-me


pelas minhas coxas, bruscamente, virando-me de
frente para ele. Suas mãos afastaram minhas pernas
uma da outra e me puxou para mais perto do seu
corpo, fazendo meus olhos se arregalarem e minha
respiração sobressaltar. Ele me olhava
irritadamente, deixando os verdes dos olhos,
completamente escuros pela raiva.
— Já chega Elizabeth! Você não é nenhuma
criancinha para essas merdas! Foi você que deixou
bem claro que não me queria, agora, por causa
daquela noite, está assim comigo? Eu não fiz nada
de errado, eu não estava traindo você ou algo do
tipo, pois como você mesma disse, não temos
absolutamente nada. Isso não serve para você,
também? — Perguntou rosnando e dizendo tudo em
voz baixa.
Suas palavras eram como um soco no
estômago, pois ele tinha toda a razão, ele estava
certo e eu era a paranoica. Salvatore era um homem
adulto, que mandava em seu próprio nariz e eu não
tinha entendido isso, até agora. Estava cansada de
sentir raiva sobre algo que não era meu. Fechei os
meus olhos, respirando fundo, estava decidida, mas
também haveria um, porém. Engoli em seco, para
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manter a minha calma e olhando, fundo nos olhos


de Salvatore. Perguntei. — O que você quer? —
Seu rosto contorcido de irritação, tinha mudado
rapidamente para algo mais calmo e controlado. Ele
soltou minhas pernas do aperto de suas grandes
mãos e deu um passo para trás.
— Você sabe o que eu quero. — Respondeu
murmurando.
Balancei minha cabeça em negativa para ele.
— Quero que você mesmo diga o que quer? —
Falei no mesmo tom que o dele. Salvatore passou a
mão no cabelo loiro e respirou fundo. Seus olhos
estavam brilhando naquele momento.
— Eu quero... você, Lisa. Não quero mantê-
la longe, esses últimos dois dias foram um pesadelo
para mim. Eu quero mantê-la segura, quero você ao
meu lado. — Ele respirou profundamente, mais
uma vez e então chegou mais perto de mim,
novamente. — Me perdoe se eu feri os seus
sentimentos, sinto muito por ter estragado sua
surpresa, você não faz ideia do quão eu ficaria feliz
em vê-la se entregando, espontaneamente, para
mim. Eu realmente sinto por você ter presenciado
aquela cena, mas não me deixe no escuro, eu que

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preciso saber o que você quer Lisa. Pois sempre


deixei minhas intenções bem nítidas para você.
Agora é você que precisa me dizer, o que quer.
Mordi meu lábio inferior, contendo um largo
sorriso e assenti para ele. Salvatore chegou perto e,
então, acariciou meu queixo e bochecha com as
pontas dos dedos, enquanto lhe dizia. — Eu quero
você, se não quisesse, não ficaria daquela forma.
Mas eu não posso me entregar tão facilmente
assim, Salvatore. — Quando as últimas palavras
saíram da minha boca, seus olhos paralisaram-se
sobre mim e suas sobrancelhas uniram-se em
confusão.
— O que quer dizer com isso? — Perguntou
desconfiadamente.
Lambi os meus lábios secos e disse para
Salvatore. — Se quer ter algo comigo, você vai ter
que me tirar da Cosa Nostra, definitivamente. Não
importa o trabalho que me oferecerem aqui, você
terá que me tirar disso tudo.

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QUINZE
— Elizabeth... — murmurou Salvatore,
balançando sua cabeça para os lados. — Não há
como, você sabe disso. — Completou. Olhei a
minha frente e suspirei, assentindo. Eu ainda não
sabia do porque continuava insistindo nisso,
achando que em algum momento da minha vida,
não faria mais parte da máfia, porém, seria
impossível já que eu quero ficar com Salvatore...
mas desse jeito... seria diferente, um diferente bom
demais.
Mordi meu lábio e o olhei, suas sobrancelhas
loiras estavam franzidas. — Tudo bem, acho
melhor eu ir, você deve estar...
— Não faça isso. — Interrompeu-me com um
olhar preocupado.
Juntei minhas sobrancelhas e perguntei. —
Não fazer o que? — Salvatore olhou para o chão,
por alguns segundos e, depois de volta para mim.
— Não fuja quando algo não seja do jeito que
você quer. — Continuou. — Se eu fizer isso, tirar
você de uma organização criminosa, posso ser
caçado e morto, podemos ser caçados e mortos,
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Lisa. Máfia não é brincadeira, eu nasci no meio


disso tudo, do meu bisavô até hoje, os homens De
Gasperi são todos da máfia e entendem o certo e o
errado desse submundo. Não me leve a mal, por
favor, mas ser um capitão não quer dizer que estou
aberto em fazer o que quiser por aqui.
Quando Salvatore terminou seu desabafo, eu
me senti muito ingrata por não ter pensado nele,
estava tão desesperada para sair desse inferno, que
não abri os meus olhos para o perigo. Dei de
ombros e suspirei, desanimada. — Tudo bem. Eu
entendo você. — Ele segurou meu rosto entre suas
grandes mãos, levantando minha cabeça para olhá-
lo. Ele disse:
— O que eu mais quero é tirar você dessa
vida. Sabe que não suporto vê-la ter que trabalhar
aqui, mas... — Ele não precisava terminar.
Levantei-me da cadeira, com cuidado e fiquei
na sua frente, os olhos verdes de Salvatore brilhava
para mim, eu adorava aquele brilho gentil, doce,
preocupado, amoroso. Passei minha mão esquerda
na sua bochecha até o queixo, fazendo-o fechar os
olhos e suspirar. — Você é a melhor coisa que já
me aconteceu Salvatore. Obrigada. — Sussurrei.

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Sua mão segurou a minha, que ainda estava em seu


rosto, e abrindo seus olhos. — Eu realmente
preciso ir. Hoje terei que voltar mais cedo aqui. —
Sorri fracamente. Salvatore piscou repetidamente e
pigarreou, ele soltou minha mão e deu um passo
para trás.
— Certo. Hoje é minha folga, só vim aqui
para ficar de olho em Demétrio, ele não é daquele
jeito. — Murmurou, defendendo seu amigo.
Cruzei os braços e arqueei minhas
sobrancelhas. — Ah não? Então por que ele está
agindo daquela forma? — Perguntei, curiosamente.
— Não quero assustá-la, vá para casa, está
bem? — Disse Salvatore, se aproximando e
chegando com seus lábios perto dos meus, depois,
ele franziu o cenho e beijou minha testa, se
afastando.
Tentando fugir.
Segurei o seu pulso e o olhei com firmeza. —
Não faça isso, agora! Por favor, você sempre está
me contando tudo! O que houve? — Ele olhou para
os lados, na boate vazia e fechou os olhos,
respirando profundamente.
— Certo. Mas precisa ficar calma, ok? —
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Assenti com a cabeça e soltei seu pulso, Salvatore


se virou para mim e então... — Theo foi morto
pelos russos, e Demétrio está quase todos os dias
recebendo partes do corpo dele e sempre com uma
mensagem de ameaça, junto ao membro. — Me
sentei lentamente, de volta à banqueta escura, me
segurando no balcão do bar. Eu não era próxima de
Theo, claro, mas ele sempre foi muito gentil, até
contou do seu noivado com a garota que ele estava
apaixonado, agora, destruíram isso, a máfia...
Pisquei algumas vezes, franzido o cenho e
olhando para cima. — A máfia russa? — Perguntei
em voz baixa. Salvatore me olhou por alguns
segundos e assentiu, lentamente.
— Não precisa ter medo, Theo estava em
uma toca dos inimigos e acabou sendo capturado,
acreditamos que foi depois do tiroteio que houve no
cassino. — Explicou, calmamente. Concordei com
a minha cabeça, olhando para as luzes coloridas.
Minha ficha não tinha caído totalmente, sobre
como esses caras eram barra pesada. Eu estava de
olhos fechados, adormecendo enquanto o mundo
continuava a girar ao meu redor. Poderia haver
coisa pior, do que ser uma lesada?

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Pelo menos você tem seus motivos...


Respirei profundamente e me levantei mais
uma vez. — Eu... vou indo, não quero acabar com a
sua folga. — Sorri timidamente, olhando para ele.
Salvatore escondeu um sorriso em seus lábios e
beijou minha testa mais uma vez, dizendo:
— Até mais, Lisa.
Dei um tchauzinho rápido e me virei indo
embora.

*****
Haze estava uma grande loucura, estava tão
lotada que era uma dificuldade até soltar um
suspiro! Mesmo com os ar-condicionado ligados
por toda a boate, eu estava suada, meus cabelos
longos, que sempre gostei de deixá-los soltos, tive
que fazer um coque alto de qualquer jeito, para
evitar o meu suor. Eu estava de lá para cá, as
pessoas não paravam de pedir suas bebidas,
algumas, tentavam me apalpar como se eu fosse
uma prostituta – aliás, os clientes novos pensavam
dessa forma – naquela noite eu fui praticamente
agarrada por quase cinco homens, completamente
bêbados, mas na sorte havia os soldados, os clientes
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veteranos e o barman para me salvar, assim como


para salvar as outras mulheres.
Eu já estava superando toda aquela dor que
foi causada quando cheguei a Las Vegas. Sentia-me
mais forte e mais leve, pois tinha vencido pelo
menos algo, não ser mais uma prostituta. Claro que
continuar trabalhando na Haze, estava sendo
horrível, mas eu estava agradecida por Salvatore ter
me tirado do andar debaixo. Isso já era um bom
começo.
Quando entreguei minha última bebida, fui
direto ao banheiro dourado e completamente limpo,
para lavar meu rosto. Enxuguei com a minha
toalhinha rosa e depois minhas mãos, em seguida,
me olhei no espelho e soltei meus cabelos,
balançando para os cachos nas pontas se soltarem.
Peguei minha bolsa preta e minha jaqueta jeans e
sai às pressas de lá, dando boa noite a todos que eu
conhecia. Hoje, Margot, infelizmente não foi
trabalhar, pois estava com uma virose... sei. Aquela
danadinha não me enganava.
Enquanto descia as escadas pretas de verniz,
vesti minha jaqueta e depois coloquei a bolsa sobre
o ombro direito, correndo em direção às portas de

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saída. Quem estava de segurança, eram os soldados


Apollo e Santio, eles eram legais. Parei na saída da
Haze e choraminguei. — Oh não... — Uma chuva
forte caía furiosamente pela cidade, fazendo alguns
pedestres correrem, fugindo dela. Apollo me olhou
rindo e fez uma careta.
— Melhor esperar essa chuva, Máfia Girl. —
Soltei um suspiro chateado e olhei para as ruas.
Pois é, desde que todos souberam que eu era a fissa
de Salvatore, eles me deram esse apelido ridículo.
Tirei minha jaqueta e segurei por cima da
cabeça. — Acho melhor arriscar! Até terça,
rapazes. — Eles se despediram de mim, dizendo
para eu tomar cuidado e então corri. Mesmo sendo
um pouco longe, preferiria me molhar a passar mais
um segundo naquele lugar!
*****

Depois de quase trinta e cinco minutos estava


dentro do elevador, esperando entrar em casa. Eu
estava encharcada, a ponto de sentir até a minha
calcinha molhada. Soltei um espirro e cruzei os
braços, quando o elevador parou no meu andar,
porém, as portas não se abriram. Disquei os
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códigos e as portas abriram uma fresta e depois se


fecharam, fazendo um barulho estranho. — Fala
sério. — Murmurei, digitando novamente o código,
mas as portas não tinham forças para se abrirem. —
Que ótimo! — Exclamei revoltadamente.
Apertei o botão que levava para cima e em
seguida, as portas se abriram tranquilamente,
mostrando a sala de Salvatore, e o próprio. Ele
estava com um copo na mão e olhando para a
chuva através do vidro, encostado. Quando me viu,
franziu o cenho. — Lisa? — Ele colocou o copo
sobre a mesinha ao lado do sofá e veio caminhando
em minha direção. Já estava com sua roupa de
dormir. — Você pegou essa chuva toda? Por que
não me ligou? Eu iria buscá-la. — Antes que eu
pudesse dizer algo, Salvatore puxou minha bolsa do
meu ombro e me tirou do elevador.
— Não queria incomodar, bem, as portas do
elevador não estão abrindo quando eu digito o
código, elas travam. Por isso vim até aqui. —
Expliquei murmurando.
Salvatore soltou um rosnado e estendeu a
mão. — Me dê essa jaqueta. Eu não acredito que
essa droga deu problema novamente. — Quando

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entreguei minha jaqueta grande, Salvatore olhou


meu corpo e depois suspirou. Eu estava usando
uma saia curta, top de mangas, meia calça e botas
estilo coturnos, tudo preto. — Eu... eu vou ligar
para o responsável, se quiser pode tomar um banho
e deixar as roupas em cima do balcão da pia. Eu já
volto. — Ele passou por mim e sumiu da sala indo
até a lavanderia. Realmente, eu precisava de um
relaxante banho, meus músculos pareciam gelatinas
e tudo que eu queria era poder dormir!
Caminhei até o seu quarto, já entrando no
banheiro, quando estava tirando minhas roupas,
olhei para os vidros esfumaçadas do box e suspirei,
me recordando daquela cena... Salvatore e a loira...
balancei minha cabeça rapidamente e entrei
debaixo do chuveiro. Liguei a água no máximo e
fechei os olhos, deixando a água quente escorrer
por todo o meu corpo, eu estava tão exausta, que
poderia até mesmo dormir ali no meio do banho.
Depois de alguns minutos, abri meus olhos e
olhei para trás, onde estavam os produtos
totalmente masculinos de Salvatore, abri um meio
sorriso e peguei seu sabonete, passando lentamente
pelo meu corpo e fechando meus olhos. De repente,
não era a minha mão e sim a de Salvatore, ele por
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trás de mim, guiando o sabonete na minha barriga,


subindo para os meus seios e voltando a descer,
descer e descer... um trovão ressoou lá fora me
fazendo sobressaltar e abrir os olhos arregalados.
Olhei para o sabonete com espuma e rapidamente
guardei de volta ao seu lugar. Depois, peguei o seu
shampoo e joguei um pouco na mão.
Soltei um gemido quando espalhei nos
cabelos e fazendo o aroma ficar mais forte. — Cem
por cento Salvatore. — ri. Merda. Eu passaria a
noite inteira cheirando meu cabelo!
Quando estava limpa, saí de dentro do box e
puxei sua toalha cinza do cabide, me enxugando e
depois enrolando-a em volta de mim. Abri a porta
do banheiro e já avistei Salvatore, mexendo no seu
celular, perto das cortinas altas na frente da sua
parede de vidro. O mundo estava em águas lá fora.
Ele me olhou com as sobrancelhas loiras arqueadas
e depois sorriu, a me ver com sua toalha. — E
então? Ele virá agora? — Perguntei indo me sentar
na cama. Salvatore soltou um suspiro baixo e
balançou a cabeça negativamente.
— Robert não poderá vir hoje, pois está um
temporal lá fora. — Comentou, ele caminhou em

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minha direção e parou na minha frente, me


encarando. — Pode dormir aqui, como da última
vez. E pode pegar um casaco meu se estiver com
frio. Está com fome também? — Segurei um largo
sorriso ao presenciar a sua preocupação, Perla
sempre foi assim comigo, mas Salvatore... tinha o
triplo! Ele sempre estava me perguntando se isso
estava bom, se eu precisava daquilo, se o outro era
o suficiente. Eu me sentia muito feliz. Mordi meu
lábio inferior, olhando para o closet grande e
apontei.
— Pode pegar uma camiseta? Estou sem
fome, eu comi lá na boate, apenas cansada. —
Expliquei. Ele assentiu para mim e se virou,
entrando no closet. Levantei-me da cama,
bocejando, quando Salvatore voltou, estendendo
uma camiseta cinza para mim. — Obrigada,
Salvatore.
Seus olhos verdes me observaram
atentamente e depois, ele deu um meio sorriso. —
Disponha, quer que eu saia? —Perguntou. Balancei
a cabeça e fui até o closet com as luzes apagadas,
tirei a toalha e vesti a camiseta rapidamente, ela
ficou batendo quase nos meus joelhos! Por Deus!
Eu pensei que ficaria sexy como nos filmes e não
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usando uma lona! Revirei meus olhos, suspirando


desanimadamente e sai de lá, Salvatore estava
dobrando um cobertor sobre o chão, como tinha
feito naquela noite. E quando eu vi sua bunda no
dia seguinte. Aff.
— Salvatore. — Chamei, fazendo-o virar a
cabeça para trás, me olhando. Respirei fundo e
apontei para a cama, com a cabeça nervosamente.
— É... hum, nã-não precisa... quero dizer, se você
quiser, pode dormir na sua cama. No... no lado
esquerdo e eu dormir na sua cama no la-lado
esquerdo... direito. Eu no lado direito e você no
esquerdo. É.. é isso aí. — Ri, olhando para os lados
e enrolando a barra da camiseta no meu dedo. Os
olhos de Salvatore foram para a sua cama e, vi um
vislumbre de uma risada em seus lábios. Ele achava
engraçado meu nervosismo. Então, ele se ergueu do
chão e pegou o travesseiro.
— Tudo bem. Eu no esquerdo e você no
esquerdo. — Seu sorriso sacana apareceu. —
Direito. Seu lado direito. — Piscou, dando a volta
na cama, se deitando e depois me olhando com a
mão no interruptor do abajur. — Você não vem? —
A luz se apagou, deixando apenas à luz fraca da lua
no quarto, corri até a cama e me deitei ao seu lado,
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puxando o edredom macio para cima do meu corpo.


Eu estava tão nervosa que sentia minhas mãos
suarem e meu coração trovejar como estava lá fora
no céu.
Salvatore e eu ficamos em silêncio. Eu podia
ver o perfil do seu rosto e seus olhos estavam
fechados. Mordi meu lábio inferior e fiz o mesmo,
dormir seria muito melhor.
*****

— Lisa? — Chamou uma voz de longe. —


Lisa, acorde. — Soltei um gemido e tirei o braço
de cima dos meus olhos. Espreguicei-me sobre a
cama quente e macia, ao mesmo tempo, abrindo
meus olhos, esfreguei-os com as mãos e quando
estava acordada, Salvatore estava ao meu lado com
o braço esquerdo servindo de apoio e sua outra mão
segurando minha cintura. Lá fora, ainda chovia,
mas não estava tão forte. Olhei novamente para ele
e choraminguei.
— O que houve? — Perguntei sonolenta.
Seus olhos desceram pelo meu corpo e ele
chegou mais perto de mim. Ele estava sem camisa
quando se deitou? — Eu não consigo dormir. —
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Admitiu, murmurando. Revirei meus olhos e


levantei meus braços, dobrando-os acima da minha
cabeça.
— E por não consegue dormir, me acordou?
Pelo amor de Deus, Salvatore!
Ele se aproximou mais, tanto que eu senti seu
corpo colado ao meu. — Você dormiu por quase
duas horas. — Sussurrou, acariciando meu rosto,
aquilo fez meu sono e mau humor desaparecer. —
Não consigo dormir, porque está quase nua na
minha cama, você se mexe muito e eu não pude
deixar de notar. — Porra! Ele tinha visto... minha...
minha vagina?! Deus! Fechei os olhos, gemendo de
vergonha.
— Me desculpa, é que minhas roupas... — O
polegar de Salvatore passeou pelos meus lábios, me
calando. Ele estava diferente, eu não sabia o que
era, mas eu sentia que ele estava querendo algo...
— Tudo bem. — Sussurrou. — Você sabe
que jamais farei algo sem o seu consentimento,
jamais te forçarei ou qualquer outra coisa. Mas
Elizabeth, eu... não aguento... mais. — Cada
palavra que ele soltou com uma respiração dura,
fazia seu rosto chegar mais perto do meu. De
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repente, e muito rápido Salvatore segurou minha


nuca e me puxou com força, fazendo nossas bocas
se colarem e se beijarem às pressas. Nossas línguas
pareciam estar em colapso e eu sentia aquele calor
por todo meu corpo, parando entre as minhas
coxas. Então, o alarme de "AFASTE" veio com
força.
Empurrei seu ombro direito com a mão e
fechei os olhos, respirando ofegantemente. —
Lisa... — Chamou Salvatore, abri os meus olhos e
suspirei, ele me olhava com tanto carinho,
preocupação... por que me afastar? Por que deixá-lo
ir mais uma vez?
Está livre, Elisa...
Quando ouvi a vozinha sussurrar aquelas
palavras na minha cabeça, eu já tinha total certeza.
Estava no controle novamente, estava livre.
Finalmente livre. Olhei para Salvatore e sem
pensar, o empurrei de volta ao colchão e subi no
seu colo, tirando sua camiseta. Seus olhos não
sabiam onde parar, mas as suas mãos não estavam
em mim, me curvei sobre ele e beijei sua boca com
força, nos fazendo gemer, e eu me balançar em seu
colo, ele já estava duro. — P-pode me tocar onde

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quiser. Eu quero. Quero você Salvatore, só você. —


Exasperei ofegante e segurando seu cabelo. Ele me
puxou para mais um beijo, segurou minha cintura,
subindo às pressas até os meus seios.
Suas mãos o seguraram firmemente me
fazendo soltar um gemido excitado. Era gostosa a
sensação das suas mãos em mim. Quando iria beijá-
lo mais uma vez, Salvatore se virou rapidamente,
me fazendo deitar na cama e ele ficar em cima de
mim. Olhei para ele sorrindo diabolicamente. —
Graças a Deus, garota. — Brincou, me fazendo
gargalhar, enrolei minhas pernas na sua cintura e o
puxei para mais um beijo, tentando tirar sua calça
de moletom. — Quer que eu tire? — Perguntou
sussurrando.
Levantei minha pélvis e gemi. — O que você
acha? Por favor... — Implorei.
Quando terminei de dizer, Salvatore ficou de
joelhos sobre a cama e segurou o cós da calça, com
um meio sorriso sacana. — Você é quem manda
Srta. Evans. — Mordi meu lábio para conter um
gemido quanto o vi mais uma vez nu, mas dessa
vez não desviei meus olhos. Estava ereto a ponto de
me deixar ter um orgasmo, sem ao menos tocar em

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mim! Quando Salvatore se deitou sobre o meu


corpo novamente, fiquei nervosa. Ele beijou minha
boca carinhosamente e depois sussurrou em meu
ouvido. — Jamais irei te machucar, quando quiser
que eu pare, vou parar ok? — Assenti
freneticamente e puxei para beijá-lo.
Mais eu não queria parar. Queria que durasse
a noite toda, sem medos e inseguranças. Aquela
noite me entregaria totalmente e completamente
para Salvatore De Gasperi. Meu Salvatore.

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DEZESSEIS
Salvatore e eu estávamos ajoelhados sobre o
colchão da cama, um de frente para o outro. Ele
segurou a barra da camiseta que me cobria e puxou
lentamente para cima. Ergui meus braços deixando
o tecido sair do meu corpo, deixando-me
completamente nua para ele. Seus olhos
paralisaram-se em mim, aqueles lindos olhos
verdes não deixou nenhuma parte de mim, de lado.
Salvatore me olhou com carinho e segurou meu
rosto entre suas mãos calejadas, eu estava muito
nervosa, mas me saía bem, pois estava escondendo
facilmente.
— Perfetto. — Sussurrou em italiano,
beijando minha boca. Segurei os seus ombros
largos e separei meus lábios o quanto eu podia,
deixando Salvatore entrar. Arrastei minha mão
esquerda até os seus cabelos e puxei seu corpo para
mim, nos fazendo cair sobre a cama. Ele soltou um
suspiro baixo entre nossos lábios, deixando nosso
beijo mais selvagem.
Eu sabia que Salvatore estava se esforçando
ao máximo para pegar leve comigo, estava

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apreensivo de que talvez pudesse me assustar, mas


não iria; não dessa vez. Abri as minhas pernas e
entrelacei em volta da sua cintura, ao mesmo tempo
puxando-o de encontro a mim. — Eu n-não quero
que se segure. — Sussurrei, segurando seu queixo
com a mão. Salvatore me olhou excitado e assentiu,
sem pronunciar uma única palavra.
Quando seus olhos focalizaram-se sobre o
meu rosto, Salvatore se posicionou e, entrou tão
lentamente dentro de mim, a ponto de fazer meus
olhos revirarem-se, e meus lábios deixar escapar
um gemido. Levantei minha cabeça, com os olhos
fechados e beijei sua boca ferozmente, ele já todo
dentro de mim, me penetrando suavemente, me
deixando excitada e querendo mais. Senti-lo dentro
do meu corpo, me preenchendo, era surreal! Como
se fôssemos feitos um para o outro, Salvatore se
encaixava perfeitamente em mim.
Arrastei minhas mãos para mais baixo do seu
corpo e segurei sua bunda firme, com elas, puxando
para cima e incentivando que acelerasse o ritmo.
Salvatore soltou um gemido baixo sobre nossas
bocas quando fiz isso. — Lisa... — Gemeu,
dizendo meu nome como se fosse uma prece. Uma
de suas mãos segurou meu seio esquerdo e puxava
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com força meu mamilo duro, suas mãos eram


ásperas sobre a pele do meu corpo, mas eu adorava
a sensação delas. — Seu corpo é tão lindo, você é
uma tentação, Elizabeth. — Sussurrou
apressadamente, perto do meu ouvido.
— Salvatore... — Chamei, gemendo para ele.
Salvatore segurou meu queixo e beijou minha
boca com força, ao mesmo tempo em que suas
investidas ficaram mais rápidas. Soltei um gemido
alto e arranhei suas costas, fazendo-o rosnar e
estocar com mais força dentro de mim. Assim era
tão bom! Seu membro másculo entrando e saindo
repetidamente em mim, deixando-me a beira da
loucura. Eu não queria que ele parasse, queria que
continuasse.
Abri os meus olhos e avistei Salvatore me
observando, enquanto entrava e saía de dentro de
mim, rapidamente, seus olhos e feições estavam
excitados, um olhar de dor passou em seu rosto e
outro gemido escapou dos seus lábios. — Tão
gostosa. — Sussurrou entredentes, fazendo meu
coração saltitar com suas palavras.
Puxei sua cabeça para baixo e beijei sua
boca, sempre gemendo, os dois, era delicioso o
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gemido dele.
— Que tal outra posição? Tudo bem para
você? — Perguntou Salvatore, desacelerando o
ritmo. Mordi seu lábio inferior e assenti
freneticamente para ele, então Salvatore saiu de
dentro de mim e rápido, segurou meus quadris com
as mãos e me virou de bruços para o colchão. De
repente, um gelo atravessou a minha espinha e
flashbacks da noite, em que fui atacada por
Vicentino, vieram como um vulcão em erupção.
Quando senti Salvatore se aproximar, me
balancei assustada. — Salvatore! N-não! —
Choraminguei, me virando rapidamente. Ele me
olhou franzido, respirando ofegante, porém não
tocou em mim.
— Eu te machuquei? E-eu fiz algo...
Antes que eu pudesse deixá-lo terminar,
disse. — Não me machucou, mas eu me assustei...
desculpe, eu sempre estrago tudo. — Sussurrei com
lágrimas não derramadas nos meus olhos. Olhei
para o corpo nu de Salvatore e seu membro
continuava erguido como uma rocha. Ele soltou um
suspiro, abaixando a cabeça e depois me olhou com
ternura.
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— Tudo bem. — Tranquilizou, acariciando


minha perna. — Podemos parar. — Sugeriu.
Mordi meu lábio inferior e me sentei
lentamente sobre o colchão, me abraçando e
assentindo com a cabeça, devagar. — Certo. —
Disse timidamente. Salvatore deu um meio sorriso
e levantou com seu indicador o meu queixo.
— Não precisa ficar com vergonha. Eu
entendo você, está bem? Só me empolguei no
momento. — Explicou carinhosamente, acariciando
meu queixo. Salvatore passou por mim, se jogando
sobre a cama e olhei para trás onde ele esticava
seus braços. — Durma comigo. — Pediu
sussurrando. Não pensei duas vezes, me deitei ao
seu lado, descansando minha cabeça em cima do
seu peitoral, colocando minha mão direita sobre a
sua pele lisa e quente. Fechei os olhos, suspirando
quando senti seus dedos acariciarem meu couro
cabeludo.
Sentia-me uma inútil, em ter me assustado
daquela forma e sentido nojo, mas eu não
conseguia evitar quando esses flashbacks
apareciam em minha cabeça. Eu sabia que levaria
essas lembranças comigo, para sempre, mas

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também deveria aprender a dominá-las.


Depois de longos minutos, consegui dizer. —
Me desculpe. — Sussurrei no escuro. Mas ele não
me respondeu. Salvatore já estava adormecido.
*****

Apertei os olhos diante da claridade que


estava na minha cara, e gemi, rolando para o lado e
batendo meu rosto em algo macio. Abri os meus
olhos lentamente, dando de cara com as costas de
Salvatore, olhei para trás, onde o dia se erguia com
um sol forte e, em seguida, fechei os olhos
novamente, suspirando. Ontem à noite... estava
tudo tão, tão perfeito com ele! O sexo estava
maravilhosamente ótimo, e eu, idiota, estraguei
tudo, mais uma vez.
O pouco que tinha experimentado de
Salvatore fez com que eu o colocasse em primeiro
lugar, na lista de melhor sexo! Claro, eu não era
uma maluca que saía por aí abrindo minhas pernas
para qualquer cara, mas os poucos que tive, não se
compararam com o homem deitado ao meu lado.
Olhei para a sua cabeça loira e mordi meu lábio. O
homem sempre sendo paciente comigo. Eu não
entendia de onde ele tirava aquela calmaria e
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compreensão toda! Queria ser como ele. Aliás, eu o


queria naquele momento.
Apoiei-me sobre meu cotovelo esquerdo e
tentei olhar para o seu rosto e, em seguida, seu
corpo, ele estava com o lençol esticado até a
metade da sua barriga, impedindo-me de apreciar
aquela visão. Segurei uma risada e revirei os olhos
no momento em que pensei no que poderia fazer.
Que se dane. Salvatore não era do tipo de se
importar com sua nudez. Segurei a barra do lençol
com cuidado e, lentamente, levantei o tecido e
arrastei para baixo, longe do seu corpo.
Quando estava perto da sua virilha, Salvatore
soltou um bocejo e se virou de barriga para cima, se
espreguiçando, apoiando a cabeça com os braços...
porra! Esse cara era fodidamente perfeito! Engoli
em seco, observando seus braços, abdômen e
virilha, com água na boca, quase babando com a
visão, mas os meus olhos focalizaram os poucos
pelos loiros, que iam debaixo do seu umbigo, até o
caminho da felicidade. Soltei um gemido baixo
para não acordá-lo e puxei o restante do lençol.
Para a minha alegria, Salvatore estava ereto,
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fazendo meus olhos se arregalarem e minha


garganta secar! Olhei de relance, para o seu rosto
adormecido e soltei o lençol. Droga! Esse homem
deve ter roubado toda a beleza italiana, seu corpo
era incrivelmente bem cuidado, sem nenhum tipo
de cicatriz, marcas ou qualquer coisa que
deformasse a sua pele. Meus olhos subiram para a
sua barriga e senti meus dedos pinicarem, querendo
tocar nele. Levantei minha mão direita e levei até a
sua barriga, onde a pele macia e lisa se colidiu com
a minha, fazendo-me suspirar.
Mas... eu queria descer só um pouquinho...
— O que está fazendo? — Chamou
Salvatore.
Arranquei minha mão da sua virilha, gritando
ao mesmo tempo. — Porra! — Olhei para o lado,
Salvatore estava bocejando e esfregando os olhos
com as mãos. Sempre sendo pega, sua anta!
Quando ele me olhou, seus olhos verdes desceram
pelo meu corpo nu, um sorriso apareceu em seus
lábios.
— O que estava fazendo? — Perguntou
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novamente, sorrindo com uma cara de sono.


Cruzei meus braços nervosamente e gaguejei
como uma idiota. — É... é e-eu... hã... e-eu estava
a-apenas...
— Me apalpando? — Terminou por mim.
Sua voz tinha uma nota de diversão. Soltei um
gemido, escondendo meu rosto entre minhas mãos
e me joguei sobre a cama, ao seu lado. Salvatore
soltou uma risada suave e passou sua mão nas
minhas costas. — Não fique com vergonha, Lisa.
Tudo bem se quer me olhar, eu acho muito justo,
pois eu adoro olhar para você. — Senti ele se
aproximar, fazendo o colchão se balançar, então um
beijo foi depositado no meio da minha espinha.
Levantei minha cabeça e o encarei, quando
voltou a se deitar. — Me desculpe por ontem, eu
pensei que já tinha o controle. — Murmurei.
Salvatore deu de ombros, fazendo uma careta e
depois sorriu.
— Não me importo, pois o pouco que tive de
você já me deixou muito animado. — Piscou
brincalhão.
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Deitei-me de lado e me aproximei dele,


rapidamente a mão de Salvatore, segurou minha
coxa com carinho. — Mas eu não. Eu não quero
ficar assim toda vez que estivermos nos tocando
com tanta... intensidade, eu recuando. Não quero
isso, quero estar aberta para você, sem medos. —
Os olhos de Salvatore me encaravam com aquele
brilho verde deles, que eu tanto admirava, estavam
lindos sobre sua pele. Ele era muito lindo.
Salvatore soltou um suspiro, se virando de frente
para mim, ficando na mesma posição. E dizendo-
me:
— Então vamos expulsar esse medo, juntos.
Também não quero que fique sentindo isso por
mim, nunca, jamais faria algo com você sem o seu
consentimento. Você sabe disso. — Sussurrou,
franzindo o cenho e tirando meu cabelo de perto do
meu rosto com a sua mão. Fechei os olhos,
respirando profundamente, assentindo para as suas
palavras. Definitivamente ele nunca tentaria algo,
me forçando. Eu sabia daquilo.
Mas precisava mostrar isso para o meu eu. —
Juntos... isso parece muito bom. — Sussurrei,
abrindo os olhos, já sorrindo. Salvatore sorriu junto
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comigo e deixou sua cabeça mais próxima da


minha. Eu queria muito beijá-lo.
— Muito bom. — Completou, olhando para
os meus lábios.
Que se dane! Esse homem já é meu!!!
Joguei aquele medo idiota de lado e puxei seu
rosto, enfiando minha língua na sua boca e
fazendo-o ronronar de surpresa para mim. Segurei
o braço de Salvatore, trazendo-o para mais perto e
enfim fazendo seu corpo subir em cima do meu. Eu
e ele, respirávamos alto e nossas mãos não sabiam
onde paravam pelos nossos corpos, abri meus olhos
e desfiz o beijo, olhando para o seu pau, que peguei
com a minha mão. Salvatore soltou um gemido, no
meio da sua respiração ofegante e balançou o
quadril para frente e para trás, fazendo minha mão
subir e descer sobre o seu membro ereto.
Olhei para ele, sorrindo e guiei seu pau até a
minha boceta, fazendo com que entrasse de uma
vez só.
Juntos, soltamos um gemido e nos grudamos

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um no outro. — Quero que vá rápido. — Pedi às


pressas. Salvatore desviou seus olhos de onde
estávamos encaixados e me encarou, seu olhar
estava escuro e excitado.
— Tem certeza? — Perguntou.
Não o respondi, dobrei minhas pernas e
segurei sua bunda firme para incentivá-lo. Ele
soltou um rosnado misturado com um gemido
másculo e, suas estocadas firmes, vieram. Fechei os
olhos sem parar de gemer, a todo o momento em
que Salvatore me fodia cada vez mais forte, ele
segurou um dos meus seios e apertou contra sua
mão, ao mesmo tempo, abaixando a cabeça e
engolindo meu mamilo endurecido pelo tesão.
Gemi alto naquela vez e não parava de pedir mais
forte, rápido... estava delicioso. A língua de
Salvatore circulava meu mamilo e sua boca
chupava com gosto, como se estivesse mamando.
Ele sabia chupar um mamilo muito bem!
Quando sua cabeça se levantou, Salvatore se
apoiou com as suas duas mãos, ambas em cada lado
da minha cabeça, fazendo suas estocadas mais
rápidas. — Isso, isso, isso! Assim! — Exclamei
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gemendo, apertando sua bunda.


Um sorriso safado apareceu nos seus lábios,
me deixando cada vez mais molhada. Salvatore,
então, colocou seus braços por trás dos meus
joelhos dobrados, mudando a posição e me
deixando mais aberta para ele. Seus olhos desceram
lá embaixo e um gemido escapou de seus lábios. —
Tão molhada... — Disse, com a voz rouca pelo
tesão.
— Não para... — Implorei.
Salvatore se curvou, beijando rapidamente
minha boca e voltou a me foder. Mas dessa vez
mais forte ao ponto de fazer a cama se balançar. Ele
fechou os olhos e virou sua cabeça, encostando-se à
minha panturrilha esquerda e depois dando uma
mordida. — PORRA! — Esbravejou, segurando
minha cintura com uma mão e metendo mais forte.
Eu era só gemidos, pois a sensação do seu pênis
duro, dentro de mim, estocando de uma forma tão
abrasadora, só me fazia gemer e pedir mais. Porém,
eu sentia que estava chegando, o que foi uma
novidade, eu não saberia que conseguiria.

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De repente, Salvatore me puxou e se deitou, e


eu fiquei em cima dele. — Está no controle. —
Disse entredentes e respirando alto. Espalmei
minhas mãos sobre o seu peitoral suado, comecei a
cavalgar como uma louca sobre o seu pau, naquela
posição, era bem melhor. As mãos de Salvatore
saíram dos meus quadris, indo até os meus seios,
onde ele apertava e massageava. — Que peitos
gostosos, eu adoro seios fartos. — Disse
sensualmente, levantando sua pélvis, fazendo seu
membro entrar rapidamente em mim.
Concentrei-me naquilo, seu pênis, entrando e
saindo, nós dois cada vez mais molhados, deixando
nossas peles sensíveis. Abri os meus olhos e senti a
luxúria me cegar, quando então, um orgasmo,
longo e forte saiu de dentro de mim, caindo sobre o
pau de Salvatore. — OH MEU DEUS! — Gritei,
pulando freneticamente no seu pênis e, Salvatore
segurando minha cintura, me imobilizando e
somente ele se movendo rápido, seu pau entrando e
saindo com tanta força, que fazia meu próprio
orgasmo se contorcer.
Quando senti meu corpo suado, esgotado,
Salvatore soltou um gemido alto e sua respiração se
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elevou, mostrando que seu orgasmo tinha chegado.


Abri os olhos e o vi estocando na minha boceta
com seu pau, enquanto gozava furiosamente para
dentro de mim, com os olhos fechados com força.
Enfim, quando a última gota do nosso orgasmo se
foi, me joguei sobre o seu corpo molhado e
Salvatore jogou seus braços para os dois lados da
cama.
Seu coração batia freneticamente abaixo do
meu ouvido e sua respiração estava ofegante e alta,
assim como a minha. Virei minha cabeça, beijando
seu peito molhado de suor e, me deitei novamente,
fechando meus olhos. Ele tinha me deixado
extremamente cansada. Quando estava quase
adormecendo, Salvatore me abraçou e beijou o topo
da minha cabeça.
— Está com fome? — Perguntou com a voz
abafada pelo meu cabelo. Soltei um gemido e me
alinhei no seu corpo, fazendo-o ri. — Acho que
não, volte a dormir. — Sussurrou a última palavra,
habilidosamente, tirando seu pênis amolecido de
dentro de mim. Salvatore me deitou no colchão, de
costas para ele e me abraçou por trás, beijando
onde seus lábios pudessem tocar minha pele.
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Entrelacei minha mão na sua e adormeci, vencida


pelo sono, porém, consegui pensar sobre algo.
Finalmente eu tinha me entregado para
Salvatore.

DEZESSETE
Abri os meus olhos e olhei para a parede de
vidraça. Não sabia ao certo em que momento eu
adormeci, mas não me sentia exausta, pelo
contrário, estava muito renovada! Lá fora, o início
da noite se erguia dizendo que passei o domingo
inteiro na cama... bem... mas havia aquela
companhia de 1,90 cm de altura, loiro, olhos verdes
e um corpo fodidamente tentador e musculoso. Pois
é, aquela companhia ocupou toda a minha folga,
que me teve na cama, no chão, sobre a parede de
vidro e na maioria das vezes na posição do
cachorrinho. Virei-me de bruços, escondendo meu
rosto contra o travesseiro, rindo com meus
pensamentos sobre a nossa longa sessão de sexo.
Deus! Eu nunca tinha transando tanto assim na
vida!
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Virei-me novamente, me sentando na cama,


quando ouvi Salvatore se aproximando, ele saiu de
dentro do banheiro com sua toalha em volta da
cintura pra baixo, bagunçando os cabelos molhados
com a mão, mordi meu lábio inferior e me sentei
em cima das pernas, não me importando com
minha nudez. Quando seus olhos pararam sobre
mim, abri um sorriso. — Boa... tarde/noite? —
Perguntei inocentemente, franzindo o cenho. Os
olhos verdes de Salvatore olharam-me de cima a
baixo, deixando minhas partes íntimas mais
aquecidas. Droga. E ele apenas olhou!
— Parece que alguém desmaiou depois de
praticar exercícios... íntimos. — Piscou,
caminhando em direção à cama.
Soltei uma gargalhada e me ajoelhei quando
Salvatore fez o mesmo, abraçando minha cintura
com seu braço direito, me puxando, para um beijo
profundo e sexy. — Meu professor é bem exigente.
— Provoquei, quando nossos lábios se separaram.
— Ele retirou toda energia que restava do meu
corpo. — Os lábios de Salvatore estavam puxados
para o lado, sem mostrar seus belos dentes, seus
olhos de uma forma sexy e sedutora, me olhavam.

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— Hmm... Realmente, ele é muito exigente.


Mas eu o entendo, uma mulher como você, perto
dele... não é fácil de resistir. — Murmurou, dando-
me um selinho.
— Oh não? Então, Sr. De Gasperi, está me
dizendo que eu lhe deixo a ponto de perder a
cabeça? — Brinquei de jeito formal.
Salvatore sorriu uma vez e assentiu. — Você
me deixa assim, desde o primeiro dia em que você
me olhou sorrindo e em seguida mordeu esse lábio
delicioso. Então pensei: essa mulher vai destruir
meu controle e minhas estruturas. — Admitiu,
segurando meu queixo entre os dedos e voltando a
me beijar. Dessa vez, enrolei meus braços em volta
de seu pescoço e o puxei até que caíssemos no
colchão, rindo e beijando ao mesmo tempo. Nossas
línguas começaram a se tornar selvagens, uma
sugando a outra de forma brusca e sexy, Salvatore
soltou um gemido e roçou seu corpo contra o meu
deliciosamente, fazendo-me também gemer.
Desci minha mão esquerda rapidamente até a
sua cintura e abri a toalha em seu corpo, Salvatore
levantou-se apenas um pouco, permitindo que eu
empurrasse a toalha para longe da onde eu gostaria

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de tocar. Quando estava livre, segurei seu pau


ereto, começando a masturbá-lo, de lento a rápido,
Salvatore, gemia e respirava com dificuldades a
ponto de me deixar molhada para ele. Afastei-me
dos seus lábios, e nos olhamos nos olhos, ele estava
tão excitado, que suas pupilas se dilatavam com
isso. Olhei para baixo, observando seu pau,
pulsando na minha mão e guiei até a minha entrada,
deixando sua pele macia me preencher lentamente,
fazendo-me suspirar de desejo.
Eu já tinha me acostumado com seu tamanho.
Quando Salvatore já estava todo dentro de mim,
dobrei minhas pernas e segurei sua nuca, voltando a
beijá-lo. Um gemido escapou de sua boca, entrando
na minha e fazendo meu coração saltitar de tesão
com aquilo. Mordi seu lábio inferior e comecei a
mexer o meu corpo, no mesmo ritmo que o dele, eu
sentia seu pau entrar e sair com força, ouvindo o
barulho da nossa sucção, molhados. Eu estava tão
molhada que Salvatore se movia dentro de mim
com a maior facilidade.
Ele segurou meu seio direito com sua mão,
beliscando meu mamilo ereto e deixando-me de
costas arqueadas e gemendo por mais. — Mais
rápido... — Sussurrei com a voz entrecortada pelas
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estocadas. Salvatore se arqueou um pouco de cima


de mim e pegou minha perna esquerda, colocando-
a acima do seu ombro e voltando a se aproximar de
mim. Ele me deu um beijo rápido e começou a se
mover com força, do jeito que eu adorava. Fechei
meus olhos e soltei um gemido alto, enquanto
Salvatore estocava com brutalidade na minha
vagina. Levantei minha outra perna até o seu ombro
e, dessa vez ele gemeu e deu um tapa na minha
bunda.
— Porra, Elizabeth! E-eu vou gozar. —
Rosnou com as palavras cortadas, me fodendo com
rapidez.
Espalmei minha mão direita nas costas da
cama e levantei minha cabeça para nos ver
encaixados, seu pau estava brilhando pela minha
sucção, entrando e saindo com brutalidade e
deixando-me mais dolorida ainda, mas eu não me
importava, Salvatore sabia fazer um belo sexo
bruto. — Você fode tão bem! — Soltei sem pensar,
mesmo sabendo que era a luxúria falando.
Salvatore abriu um largo sorriso e depois fez uma
careta de dor, gemendo em seguida.
— Você está me apertando tanto, da próxima

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vez quero ouvir a palavra “amor” e não “foder”. —


Respondeu ofegante, me fazendo rir.
Aquela não foi a primeira vez em que eu
tinha dito aquilo para ele, e quando eu dizia,
Salvatore me olhava estranho, e eu sabia o motivo.
Ele não queria fodas, ele queria fazer amor comigo,
pois estava estampado em seu olhar. Porém, eu não
sabia ao certo o que estava havendo comigo,
porque também queria fazer amor com ele, eu era a
garota que amava quando um homem era romântico
comigo, mas... parecia que eu estava me punindo,
querendo que Salvatore fosse bruto no sexo. Ele
fazia o que eu pedia e eu, ficava apreensiva de que
talvez ele perdesse o controle e tentasse ser mais
rude, de um jeito que eu não gostasse. Mas não, ele
não foi. Apenas fazia o que eu pedia e nada mais.
Ele não é como todos...
Não. Salvatore era único, perfeito para mim,
gentil, inteligente, íntegro, honesto, um bom amigo
e com toda certeza seria um ótimo... namorado?
Era isso que nos chamaríamos daqui para frente?
Mas e a máfia? E o acordo de garota fissa?
Salvatore começou a respirar mais alto,
apertando seu corpo contra o meu e me penetrando
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mais rápido, eu sentia minhas paredes se fechando


em torno dele, indicando que chegaria também. Em
segundos, Salvatore e eu, gememos alto e gozamos
juntos. Gozamos entrelaçados no outro e nos
movendo às pressas, juntos para prolongar nosso
orgasmo. Quando chegou ao fim, sua cabeça se
deitou na curva do meu pescoço, onde sua
respiração ofegante escapava dos seus lábios e
colidia-se com minha pele aquecida. Eu respirava
profundamente para acalmar meu coração e
continuava enrolada no seu corpo suado e quente.
— Prometa-me que não fugirá de mim,
nunca, jamais. Prometa-me que não irá se interessar
por outra pessoa, Lisa, por favor, me prometa? —
Salvatore sussurrou as palavras, de repente,
abafadas contra meu pescoço e deixando-me
surpresa com o que me disse.
Uni minhas sobrancelhas e toquei no seu
rosto, fazendo-o levantar sua cabeça e me olhar
franzido. Seus olhos, tão lindos... — Por que... está
dizendo isso? — Perguntei em voz baixa,
acariciando sua barba por fazer. Salvatore lambeu
seus lábios, suspirando, me encarando novamente.
Seu olhar era de mágoa e tristeza.

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— Eu... — Ele balançou a cabeça e apertou


os lábios. — Eu...
— Tudo bem, sem pressão. — Sussurrei,
sorrindo e passando meus dedos no seu lindo rosto.
Salvatore saiu de cima de mim, deitando-se ao meu
lado, mas ainda abraçado em mim e me puxando,
para ficarmos um de frente para o outro e
abraçados. Como um casal apaixonado... mordi
meu lábio e continuei acariciando seu rosto firme e
masculino. De perto, seus olhos verdes eram
espetaculares, eu realmente era hipnotizada pelos
olhos daquele homem. Verdes gentis. Bondosos.
Salvatore acariciou minhas costas, enquanto
me olhava com ternura, dizendo. — Eu sei tanto
sobre você... e você não sabe absolutamente nada
sobre mim, da minha vida particular. — Comentou.
— Não me importo, o que me agrada é a
forma que é comigo. — Completei, fazendo
Salvatore sorrir torto, dando um selinho em meus
lábios. Ele colocou sua mão acima da minha
cabeça, e começou a circular em carícias meus
cabelos.
— Porém, acho justo que saiba. — Salvatore
franziu o cenho e olhou para baixo, fazendo seus
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cílios loiros baterem na pele do seu rosto. — Eu


sou o filho do meio, tenho duas irmãs, a mais velha
se chama Selena e a mais nova Zara. Minha mãe,
Aimée, é francesa e da Família Martíni que é aliada
dos italianos e também muito poderosa. Meu pai,
France, é aposentado da máfia, ele era um capitão
temido nas décadas de 50 a 90 e, por isso, chamou
a atenção do meu avô Garon que acabou dando sua
filha para ele. — Salvatore passou a mão nos
cabelos, puxando-os para trás e olhando para o teto
ainda acariciando minha cabeça. Confesso que em
apenas ouvir os nomes de seus familiares, tinha me
deixado amedrontada. Nomes importantes de
pessoas poderosas! Aliás, eu nunca iria adivinhar
que Salvatore era um filho do meio.
Passei minha mão no seu peito, fazendo com
que me olhasse de novo. — Qual a idade das suas
irmãs? — Perguntei. Salvatore arqueou as
sobrancelhas e suspirou, observando o teto
novamente.
— Selena tem 45 anos e Zara tem 16. —
Murmurou. — Selena é como nosso pai, acha que
pode me dominar depois do que houve. —
Completou. Aquilo tinha chamado mais a minha
atenção.
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Apoiei-me com o cotovelo sobre o colchão,


olhando, curiosa para Salvatore. — O que houve?
E... o que tem o seu pai e sua irmã?
— France e eu... não somos tão próximos,
uma vez eu o peguei discutindo e dando um tapa na
cara da minha mãe, eu simplesmente agi sem
pensar, eu parti pra cima dele e lutamos mesmo o
homem sendo velho, ele é bem alto e habilidoso.
Então como eu estava perdendo aquela briga,
esfaqueei sua coxa. Havia muitas pessoas, muitos
gritos, e essa foi à última vez que tive um contato
físico com ele. — Riu com desgosto, apoiando a
cabeça com os braços atrás dela. Olhei para seus
músculos e suspirei.
Não era uma novidade descobrir que
Salvatore protegeu sua mãe. — Sempre protegendo
as donzelas em perigo. — Murmurei, fazendo-o rir
e revirar os olhos. — E quanto a sua irmã? —
Perguntei novamente, descansando minha cabeça
na mão. Ele me olhou por um tempo, dando de
ombros, como se não fosse importante.
— Ela pensa que ainda sou o irmãozinho
frágil dela, mas isso não é nada bom. Selena é uma
péssima pessoa, só pensa nela mesma, acha que o

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mundo está ao seu favor e isso me irrita. Não


somos próximos também. — Ele abriu um sorriso
torto e continuou. — Zara e minha mãe são
maravilhosas. Elas iriam gostar de você e vice-
versa.
— Hmmm, vamos continuar na zona de
conforto. — Ri com a piada.
Salvatore franziu o cenho e perguntou. —
Não gostaria de conhecê-las algum dia?
Mordi meu lábio inferior e suspirei. —
Salvatore, eu não acho...
— Tudo bem, desculpe! Um passo de cada
vez. — Murmurou, desviando os olhos de mim. —
Bem... já faz um bom tempo que não gosto de uma
mulher, eu... meio que me fechei para isto, mas
você apareceu, senhorita. — Piscou, sorrindo
abertamente, o que fez meu coração trovejar!
Primeiro, ele disse que estava gostando de mim e
agora me jogou esse sorriso estilo ator
hollywoodiano?! Argh.
Deitei meu queixo em cima do seu peito e
sorrir. — Então... já se apaixonou? Quero dizer,
não que esteja nesse momento, a-agora sabe? Quer
d-dizer... com essa mulher? — eu sentia a
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humilhação e a vergonha me esmagar por dentro,


porém Salvatore pareceu não se importar com
aquilo. Ele assentiu para mim e olhou o teto pela
milésima vez.
— Sim, me apaixonei e muito. O nome dela é
Angélica. Fui solicitado a me casar com ela, e então
passamos a nos conhecer e nos apaixonar. — Ele
me deu um olhar de relance, depois continuou. —
Ficamos noivos depois de seis semanas, pois ela
estava em viagem com a família. Naquelas semanas
nos comunicávamos por e-mails, sempre contando
nosso dia. Então, quando ela chegou, não nos
afastamos mais do outro. Angélica é da Família
nova iorquina Gambino, então na noite do nosso
noivado havia muitos membros da máfia. Mas...
algo de péssimo aconteceu... eu e o restante dos
convidados a pegamos transando com um soldado
da Família Gambino, no corredor do andar de cima
da casa dos pais dela, minha família se sentiu
insultada e humilhada, ainda mais pelo fato de
Angélica ter perdido a virgindade a muito tempo
atrás. Mas eu... não dei importância, acabei
relevando e continuei com meu acordo, pois
Demétrio precisava a qualquer custo que as
Famílias ficassem o mais próximas possível.
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Levantei minha cabeça, tocando em seu rosto


e me sentindo mal por ele. — Sinto muito por isso,
você gostava dela e deve ter sido péssimo passar
por isso. — Sussurrei, beijando sua boca. Quando
me afastei, Salvatore me olhava sorrindo e
acariciando meu pescoço.
— Foi sim, mas eu supero rápido até demais.
Porém, não foi somente isso que houve. — Suas
sobrancelhas loiras, uniram-se ao se recordar das
lembranças. — Continuamos juntos, então quando
se passou dois meses, descobrimos que ela estava
grávida do soldado. Depois disso, meu pai tomou a
frente, disse que uma mulher como ela não era
digna em ser esposa de um capitão da Cosa Nostra.
O pai dela matou o soldado e France, ordenou que
largasse Angélica em algum prostíbulo imundo da
cidade, a última vez que a vi, estava sentada no
colo de um velho. Ela teve que abortar a criança. E
fim de história, essa foi minha decepcionante vida
amorosa. — Sorriu torto, plantando um selinho na
ponta do meu nariz.
Mordi meu lábio inferior e toquei com meu
dedo indicador os seus lábios. — Salvatore... —
Sussurrei com a garganta apertada. — E-eu nem
consigo imaginar como você sofreu por dentro,
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realmente, sinto muito. — Eu sentia uma tristeza


me invadir, pelo que ele tinha passado com aquela
maldita mulher! Salvatore é uma maravilhosa
pessoa, e não poderia sofrer. De repente, ele me
virou de costas, deitando-me no colchão e pareando
sobre mim, com um olhar carinhoso. Ele soltou um
suspiro baixo e passeou seus dedos em minha
bochecha esquerda.
— Não fique com essa carinha. Isso é
passado, nossa vida nem sempre será um mar de
rosas, Lisa. Obviamente que haverá decepções, pois
é com elas que aprendemos no futuro. Agora estou
aqui, ao seu lado. — Salvatore se curvou sobre
mim, beijando-me lentamente e subindo seu corpo
sobre o meu. Abri minhas pernas para ele se
instalar melhor e aprofundei o nosso beijo, ele tinha
razão, agora ele estava aqui, comigo em meus
braços e eu sentia que jamais, nunca iria
decepcioná-lo.
— Nunca irei fazê-lo sofrer. Prometo. —
Sussurrei contra seus lábios. Ele me olhou
intensamente e assentiu, sem pronunciar uma
palavra. Abri um sorriso e voltei a beijá-lo.
Por que me sentir insegura com o nosso

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relacionamento? Eu estava me envolvendo com


Salvatore, estava me sentindo completamente sua.
Não havia o porquê de me esquivar, permaneceria
ao seu lado, até quando pudéssemos.

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DEZOITO

Estava de frente ao balcão do bar de cima da


boate, enxugando os copos e colocando-os sobre a
bandeja prata. Eu estava sonhando acordada,
sorrindo como uma boba pelos dois dias de folga,
ao lado de Salvatore. Foi incrível. Parecíamos
realmente um casal, deitados na cama, conversando
sobre tudo, rindo, nos beijando, em seguida,
fazendo amor. Maravilhoso. Mordi meu lábio
inferior e abaixei a cabeça, enquanto alinhava os
copos limpos e secos, na bandeja. O único
momento em que nos separamos, foi na tarde de
ontem, quando seu chefe ligou dizendo que
precisava dele para alguns serviços, mas demorou
somente duas horas e Salvatore já estava no seu
apartamento, entrando no banheiro, onde eu tomava
banho, fazendo amor ali mesmo.
Soltei uma risada baixa e suspirei, será que
eu estava me apaixonando?
— Por favor, pode me dar um copo de
Bourbon? — Uma voz masculina, tranquila e com
sotaque italiano chamou por trás de mim, fazendo-
me virar para trás. Olhei o belo homem vestido
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com um terno azul-escuro e camisa preta sem


gravata, de cima a baixo. Ele era incrivelmente
bonito, com seus olhos escuros, cabelos curtos
avermelhados, e um olhar provocante e sexy. Com
toda certeza que esse era seu olhar habitual, não
para chamar atenção das mulheres. Porém, eu não
podia negar, ele era muito parecido com um
homem de olhos azuis, nervosinho, que conheci na
semana passada...
Abri um largo sorriso e assenti dando a volta
sobre o balcão. — Claro! Sinta-se a vontade. —
Sorri abertamente, pegando a garrafa de Jack
Daniel's Sinatra e um copo. O homem bem vestido
se sentou em uma das banquetas, pretas brilhantes,
na minha direção e em seguida cruzou as mãos
acima do balcão, unindo suas sobrancelhas e um
sorriso escondido nos lábios.
— Acho que sou a primeira pessoa que não
curti... — Ele apontou com a cabeça para a garrafa
que eu abria e paralisei a mão. — Jack Daniel's. —
Soltei uma risada e tampei a garrafa novamente,
enquanto fazia uma careta.
— Acho que estou inclusa, também. Mas no
geral.

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Suas sobrancelhas levantaram-se. —


Trabalha com bebidas, mas não bebe? Se eu
estivesse em seu lugar, sairia daqui, todos os dias,
bêbado. — Olhei para ele e não consegui me
segurar, soltamos uma risada alta e peguei outra
bebida. Eu gostei do humor desse homem.
— Bom. — Suspirei, despejando o líquido no
copo. — Se o senhor Daniel's não é seu amigo,
talvez Three Ships possa te animar. — Empurrei o
copo em sua direção e fechei a garrafa, sorrindo. O
homem pegou o copo, dando somente um gole e
esvaziando. Soltei outra risada alta e peguei o copo
de volta.
Ele soltou um gemido, lambendo os lábios e
apontando para a bebida. — Mais uma nova amiga,
porém, você deveria ser mais generosa, mocinha.
— Disse-me com uma careta, apontando para o
pequeno copo. Segurei outra risada e me virei para
a bandeja, com os copos que eu estava secando.
Peguei um deles e depositei no balcão com um
meio sorriso. Enchi o novo copo até o topo e
entreguei em sua direção, servindo. O homem riu
para mim, pegando o copo na mão e levantando
antes de bebê-lo. — Agora sim. — Murmurou,
bebendo novamente. Ri mais uma vez e me apoiei
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no balcão.
— Qual é o seu nome? — Perguntei.
Ele colocou o copo de volta ao balcão e
pigarreou. — Lucco. E o seu? — Perguntou
curiosamente. Estendi minha mão direita, e ele a
sua, apertamos nossas mãos sorrindo.
— Me chamo Elizabeth, é um prazer
conhecê-lo, Lucco. — Ele piscou para mim e deu
mais um gole na bebida. — Então, você é daqui?
— Perguntei mais uma vez. Era inevitável, sempre
fui curiosa, tanto que fazia Perla revirar seus olhos
e me puxar pela orelha, quando parávamos em filas
de qualquer local, quando criança.
Lucco esvaziou seu copo de Bourbon e
lambeu os lábios. — Não. Eu moro em Los
Angeles, mas sempre estou em Nova York, meio
que posso “controlar” algo feio nas Famílias de lá.
— Quando ele disse a palavra controlar, levantou
as mãos fazendo aspas. Arqueei minhas
sobrancelhas e meus olhos brilharam.
— Sempre quis conhecer essas cidades. Seria
um sonho impossível? — Lucco abriu um sorriso
torto e fez uma careta, balançando a cabeça em
negativa.
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— Acredito que não, pois se você quiser


pode pedir um tipo de transferência para Nova
York e conhecer Los Angeles nas folgas. Las
Vegas é a mamãe de Nova York no nosso ciclo. —
Piscou para mim e, dessa vez, ele mesmo pegou a
garrafa e se serviu.
Mordi meu lábio inferior e assenti, dizendo.
— Eu não sabia disso, sou nova por aqui. Estou há
alguns meses. — Expliquei.
— Eu sei. — Assentiu, tampando a garrafa.
— Salvatore contou e sugeriu que eu não me
aproximasse de você, ele disse tão carinhosamente.
— Ironizou, rindo ao mesmo tempo. Uni minhas
sobrancelhas e depois olhei em minha volta,
estávamos prestes a fechar e não tinha mais
ninguém aqui, pois o andar de cima fechava antes
do andar de baixo. Remexi-me
desconfortavelmente no meu lugar e engoli em
seco, por que Salvatore pediria isso para ele?
Antes eu que terminasse as minhas palavras,
Lucco se apressou. — Mais por que ele...
— Relaxe. — Tranquilizou. — Eu tenho o
costume de atrair confusões e Salvatore não queria
que elas... e eu, chegassem perto de você. Mas eu
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gostei de você, foi gentil comigo sem me conhecer.


— Murmurou, bebendo o Bourbon.
Realmente. Desde que Lucco chegou aqui, eu
não senti perigo algum na sua presença. Ele era
relaxado, tranquilo e risonho, e eu também tinha
gostado do jeito dele. Abri um sorriso tímido e
relaxei, voltando a me curvar sobre o balcão e olhá-
lo. — Isso quer dizer que as pessoas não são gentis
com você, por você arrumar confusões? —
Perguntei com uma pitada de pena na voz, mas pelo
visto, ele não tinha notado isso. Lucco mexeu no
colarinho da camisa e deixou uma sobrancelha
arqueada, ficou bonito naquele jeito.
— Você é tão ingênua. — Murmurou,
olhando para o copo e, finalmente, levantando os
olhos em minha direção. — Por que trabalha para a
máfia?
Apertei meus olhos e sorri. — Eu perguntei
primeiro. — Comentei, fazendo Lucco rir.
— Bem, olhe para mim. Sou terrivelmente
arrogante e cheio de razão, além de ter feito muitas
coisas que até Deus duvidaria. Não sou um homem
bom, Elizabeth. — Ele suspirou e olhou para a
bebida no copo. — Por isso que todos não me
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querem por perto. — Acrescentou. Ouvi-lo


desabafar aquelas palavras, pareceu ser difícil para
ele, pois a voz de Lucco ficara apertada e baixa.
Não entendia por que ele dizia aquilo, e me deixou
mal por ele.
Mordi meu lábio inferior e por impulso,
coloquei minha mão acima da sua, seus olhos
castanhos subiram, em surpresa, para meu rosto. —
O que quer que você tenha feito, não importa. É um
simples passado e agora você deve seguir o futuro,
as pessoas que gostam de verdade de você, ficarão
ao seu lado e as falsas se dissiparão. — Sorri para
ele, na tentativa de tranquilizá-lo, imagens
apareciam na minha mente, pelo que talvez ele
tenha feito no decorrer da sua vida, pois eu sabia
que nenhum mafioso era santo. Muito menos
Salvatore, mas somente por ser um, não significava
que eles deveriam ser cada vez piores.
Lucco olhou para a minha mão em cima da
sua. — Se você me conhecesse, sentiria ódio de
mim. — Admitiu, franzindo o cenho. Dei de
ombros e não me importei.
— Eu não tenho ódio de ninguém.
— Nem de Vicentino? — Perguntou com
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uma raiva na voz. Ele tinha raiva dele? Mas ao


ouvir o seu nome e saber que Lucco também sabia
disso, me deixou nervosa. Porém, não demonstrei.
Salvatore sempre diz que o que me deixa mais
amedrontada, é onde devo mostrar mais resistência.
Cocei o meu queixo com a mão livre e
suspirei. — Sinto pena. Mas ódio não, ódio
corrompe as pessoas e eu já fui corrompida demais
pela vida. — Olhei finalmente para seus olhos
escuros e sorri timidamente, dando de ombros mais
uma vez. Lucco continuava franzido e me
observando, como se eu fosse um extraterrestre.
— Ódio foi à única coisa que eu conheci em
33 anos. Amor? Passageiro, pela minha mãe, mas aí
a vida a levou de mim. Mas o ódio esquentou meu
coração, ódio me deu força e sabedoria, então eu
não o trocaria por nada. Ódio e vingança. — Ele
abriu um sorriso torto e antes de tomar o último
gole de Bourbon, sussurrou para si mesmo. — Ódio
e vingança.
Continuei encarando-o, um pouco assustada
com ele. Lucco não aparentava ser um homem
mau, como ele tentava me dizer em palavras. Mas
sim, uma pessoa boa. Realmente, as aparências

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enganam. — Como eu não o conheço, para mim,


você é uma ótima pessoa, que gosta de conversar
bastante, assim como eu. — Ele soltou uma risada e
seu rosto se iluminou mais uma vez, estendi
novamente a minha mão e Lucco me encarou
confuso. — Já que você é falante, então,
precisamos ser amigos. O que acha? — Seu sorriso
pequeno ainda estava em seus lábios, porém,
quando ouviu minha proposta o sorriso alargou-se.
Lucco fez uma cara fingida de durão e segurou
minha mão.
— Senhorita... sua proposta doce, anima o
meu coração quebrado. — Ele deu um aperto em
minha mão, me fazendo rir. — Você é muito gentil,
Elizabeth. Salvatore tem sorte em tê-la. — Sorri
para ele e senti minhas bochechas esquentarem.
— Tenho certeza que encontrará uma mulher
melhor que eu. Aliás, você já tem uma? —
Perguntei curiosamente, voltando a deixar minha
mão acima da sua, ele parecia relaxado dessa vez.
Lucco soltou uma meia risada, como se o que
eu tinha lhe dito, fosse algo hilário. — Não, não
tenho e tenho certeza de que nunca irei ter. Não
consigo controlar meu eu, perto de uma mulher que

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queira um relacionamento sério comigo.


— O que você quer dizer?
Seus olhos castanhos pararam no meu rosto.
— Se você quer uma amizade comigo, então serei
sincero. — Ele suspirou e disse-me. — Gosto de
machucá-las, muito e isso me excita. — Esclareceu.
Pisquei algumas vezes e uni as sobrancelhas.
— Você é tipo... um... sádico? — Lucco me
encarou erguendo as sobrancelhas e então
gargalhou, acariciando minha mão com a sua.
— Sua ingenuidade é a oitava maravilha do
mundo, para homens como eu. Mas... vamos dizer
que sim, sou... sádico. — Ele riu mais baixo dessa
vez e eu sorri pequeno. Embora eu saiba que
Lucco, não é exatamente um sádico, ainda assim
me deixou pensativa. Por que ele mesmo acabou se
rotulando assim?
Quando abri minha boca, para mudar de
assunto, fui interrompida. — Hey. — Lucco e eu
olhamos na direção da voz, de onde Salvatore veio
caminhando. Seus olhos estavam em brasa e
quando se aproximou de nós, sua mandíbula se
apertou ao ver minha mão e de Lucco, juntas.
Afastei-me cautelosamente, mesmo sabendo que
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Lucco tinha notado, e sorri forçadamente, com o


coração na boca. — Perdi alguma coisa? —
Perguntou, se recostando no balcão e apoiando o
braço esquerdo em cima dele, porém quando disse
isso, seus olhos estavam sobre Lucco.
Ele me olhou em divertimento, quase me
fazendo ri, depois, ele olhou para cima e se
levantou. Lucco era um pouco mais baixo que
Salvatore, aliás, quase todos os homens eram. —
Não. Estávamos apenas conversan...
— E sobre a parte em que lhe disse para não
falar com Elizabeth, quando chegasse aqui? —
Rosnou Salvatore, se endireitando. — Seus irmãos
já se foram! Por que não faz o mesmo? — Lucco
soltou um suspiro chateado e enfiou a mão no bolso
da calça.
O jeito que Salvatore falava com ele, na
minha frente, me irritou. — Não precisa falar dessa
forma, Salvatore. Estávamos apenas conversando.
— Seus olhos verdes, saíram de perto dele e
pararam em mim, o que por acaso tinha me
arrependido de chamar sua atenção. Aquele olhar
me enviou arrepios de medo!
— Você não o conhece para defendê-lo. —
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Rosnou, apontando para mim, seu dedo erguido e


se virou para Lucco, assim como o seu rosto. —
Volte para Nova York, Demétrio não quer
problemas por aqui.
Lucco soltou um suspiro pesado e tirou a mão
do bolso, com três notas de cem dólares. Ele me
olhou sorrindo sem mostrar os dentes e, deixou o
dinheiro em cima do balcão. — Obrigado pela
bebida e pela conversa, Elizabeth. Espero que você
saia desse fundo do poço. — Ele olhou para
Salvatore e disse. — E encontre um cara que valerá
a pena, futuramente, e que não só queira que sua
cama esteja quente. — Assenti, sem jeito para ele,
sorri quando ele piscou para mim e passou por
Salvatore, encarando-o com deboche.
— Cuidado como fala. — Ameaçou ele.
— Cuidado com quem fala. — Acrescentou
Lucco, então, indo embora. Salvatore permaneceu
parado e eu não desviava meus olhos de seu rosto,
estava escurecido pela raiva. E se segurando para
não ir atrás de Lucco.
Ele soltou um rosnado baixo e me olhou. —
Vamos embora, agora.
— Não estou com pressa. — Respondi. Seus
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olhos se apertaram e rapidamente acrescentei. —


Preciso fazer outras coisas por aqui, e, Lucco me
deu uma gorjeta de duzentos e cinquenta dólares.
— Fui até o caixa, trocando uma nota de cem por
uma de cinquenta, me agachando para guardar em
minha bolsa. Quando me levantei, Salvatore estava
a minha frente, seus olhos verdes já estavam
amolecidos.
Ele pigarreou, dizendo-me: — Me desculpe,
não sou seu dono, para falar dessa forma.
Cruzei meus braços e dei de ombros. — Por
que o tratou daquela forma? — Mudei de assunto.
Salvatore franziu o cenho, depois suspirando
cansadamente.
— Repito: você não o conhece para defendê-
lo.
— Ele sendo mau ou não, pouco me importa,
porque ele foi gentil comigo! — Contei. — Não
precisava tratá-lo daquele jeito, Salvatore.
— Sim, Elizabeth! Precisava! — Exclamou
ele, me assustando. — Lucco Gratteri é um filho da
puta manipulador e sonso, primeiro; ele trata as
mulheres da mesma forma que fez com você e, em
seguida; usa-as como lixo! Ele não tem respeito por
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mulheres! Ele as humilha, as machuca, bate, mata


e, provavelmente, pela infância de merda que ele
teve com o pai, até mesmo violenta mulheres! Quer
que eu diga mais sobre o verdadeiro Lucco, ou quer
continuar fantasiando que ele é um bom homem,
por apenas ser gentil e dar uma boa gorjeta a você?!
— Quando seu ataque de palavras cessou, fiquei
assustada com aquilo. Claro que Salvatore o
conhece melhor, mas, mesmo sabendo disso, não
parecia o Lucco de uma hora e meia que conversou
comigo.
Engoli em seco e pisquei algumas vezes. —
Ele... ele é irmão do seu Capo? — Perguntei em
voz baixa, surpresa com a notícia.
Salvatore juntou as sobrancelhas loiras e
concordou. — Sim. O mais novo, ele e os outros
dois irmãos vieram fazer uma visita para Demétrio,
colocar a conversa de Nova York em dia. —
Explicou seriamente. Assenti com a cabeça e mordi
meu lábio. Aposto que Lucco não tinha contado
isso, para não me afastar, pois com toda a certeza
eu o faria. Os olhos de Salvatore não desgrudavam
do meu rosto, eu via que ele estava chateado
comigo, mas tentava esconder isso. Olhei para o
lado, respirando fundo e coçando a testa.
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— Ele pode ser esse tipo de pessoa, mas aqui.


— Apontei para o balcão. — Foi totalmente ao
contrário. Sabe o que eu acho? Que as pessoas
deveriam aproximá-lo delas e ajudá-lo com essa
parte malvada dele, todos vocês são maus, aposto
que Lucco não é o único mafioso que maltrata
mulheres, eu vi um de perto e fui vítima dele. Mas
ele é totalmente diferente de Lucco, eu vi nos seus
olhos, tristeza, desespero para ser salvo, e solidão.
Diferente de Vicentino, eu só via zombaria,
mentira, ódio, podridão e o verdadeiro mal nos seus
olhos. Ele nunca será salvo, Salvatore, mas aquele
homem que estava aqui, descontraído e sorrindo
bastante, de forma sincera, ah, ele sim, ele poderá
ser salvo, algum dia. Então não o menospreze, tanto
você, como todos nesse mundo, não são melhores
do que ele. — Peguei minha bolsa, sem olhar para
o rosto de Salvatore e saí do bar, dando a volta e
indo até as escadas.
Desci lentamente sobre elas, olhando para a
boate, onde estavam somente os funcionários e os
seguranças sentados nas cadeiras das mesas,
conversando e se alimentando. Todos se
despediram de mim, sorri acenando e indo. Quando
estava perto o suficiente da porta, a mão firme de
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Salvatore me segurou e me virou. — Não vá. —


Murmurou, encostando-me à parede, onde estava
escuro. Antes que eu dissesse algo, Salvatore
segurou a lateral do meu pescoço e me beijou
profundamente. Soltei um gemido baixo e toquei na
sua nuca com a minha mão fria, apertando-o contra
mim. Ele tinha gosto de menta e de Salvatore. Uma
combinação perfeita.
Nossas línguas se enrolavam a cada
movimento que fazíamos com a boca, e eu sentia
que queria muito mais do que um beijo quente.
Quando afastei minha boca da sua, encostei minha
testa contra a sua, respirando ofegante e de olhos
fechados. — Me leve para casa. — Sussurrei. —
Eu preciso de você. — Seus lábios voltaram para
mim, mais uma vez, e rapidamente, Salvatore se
afastou, segurando minha mão com a sua e abrindo
a pesada porta preta da boate.
*****

Três semanas tinham passado e, Salvatore e


eu não nos desgrudávamos mais. Nossas rotinas
eram: ele sempre estava com Demétrio, eu na Haze,
ou saindo com Margot e durante a noite fazíamos

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amor até os primeiros raios de sol aparecer, nas


janelas do teto ao chão do seu quarto. Ele não tinha
a intenção de me deixar voltar para o andar de
baixo do edifício, e praticamente implorou para que
eu ficasse somente na sua cobertura. Eu protestei?
Com certeza não.
Seria ridículo e infantil da minha parte, fazer-
me de mocinha, rejeitando algo que eu queria
muito.
Hoje era o meu dia de folga, a última da
semana e estava na cozinha, preparando pipoca,
para ir assistir a um filme, enquanto Salvatore
estava quase fora da cidade, praticamente lá no
deserto, fazendo um trabalho para Demétrio.
Falando no Capo, ele tinha vindo ao apartamento
de Salvatore por duas vezes e, uma dessas vezes,
nós estávamos fazendo sexo e ele esmurrando a
porta do quarto. Eu praticamente estrangulei
Salvatore sobre o motivo de seu chefe ter o código
de acesso da sua casa, mas, enquanto ele colocava
uma calça de moletom às pressas e ia em direção à
porta, ele apenas disse “Ele é meu chefe, não há
perigo e, também, é meu amigo. Se comporte.”
Pois é.

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Soltei uma risada baixa, enquanto me


lembrava disso e fui distraída pelo apito do micro-
ondas. Virei-me indo até lá, abri a porta, pegando o
grande pacote de pipoca, fui até o balcão escuro e o
abri, virando-o de cabeça para baixo e jogando a
pipoca dentro da vasilha azul. Amassei o papel,
jogando na pequena lata inox de lixo e, depois, a
manteiga ao lado da vasilha. Fiz o mesmo
procedimento, jogando um pouco da manteiga,
pegando a vasilha e voltando para a sala.
Quando me sentei no sofá, cruzando minhas
pernas para cima, o filme começou bem na hora,
me fazendo sorrir. Enfiei minha mão dentro do pote
de pipoca e quando direcionei até a minha boca,
parei. Olhei para a minha mão, onde as pipocas
estavam brilhando com a manteiga derretida. Olhei
para a tevê, janela do teto ao chão, cozinha e pipoca
novamente. Algo estava errado. Joguei o alimento
de volta a vasilha e coloquei em cima da mesa de
centro, me levantando e correndo com a mão na
boca. Abri a porta do banheiro com força e caí de
joelhos, de frente ao vaso sanitário, despejando
meu almoço de hoje que pedi no restaurante que
mais gostava. Soltei um gemido com a náusea e
veio a minha cabeça à manteiga derretida na
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pipoca.
Curvei-me novamente sobre o vaso e
vomitei.
Quando tinha acabado, puxei a descarga e me
levantei com o apoio da grande pia branca, sentia
meu corpo mole e cansado, abri a torneira de água
morna e me curvei, bebendo da água e depois
cuspindo. Em seguida joguei um pouco no rosto e
me olhei no espelho. — O que foi isso? —
Sussurrei para o meu reflexo, minhas bochechas
estavam vermelhas e minha boca entreaberta.
Passei a mão na testa e me virei para sair do
banheiro, foi aí que paralisei. Meu necessaire rosa
estava aberto sobre o balcão escuro, colado na
parede do banheiro, dentro dela minhas maquiagens
e a caixa escrita Tampax, aparecendo para fora.
Virei-me como um robô para fora do banheiro,
correndo até a sala. Peguei o telefone com as mãos
trêmulas e disquei os números, errei duas vezes e
na terceira, acertei.
Fiquei de costas para a vasilha de pipoca e
não notando o filme na tevê, sentia meu coração
pulsando descontroladamente, e minhas mãos não
paravam de tremer. Finalmente, fui atendida. —

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Lisa? — Disse a voz de Margot no outro lado da


linha. Fechei meus olhos e suspirei.
— Aconteceu algo. — Sussurrei.
Ouvi um barulho como se fosse alguém se
levantando. — O quê?! Onde você está?! O que
houve? Cadê Salvatore?! — Sua voz de
preocupação rapidamente reconfortou meu coração,
mas havia outro para se pensar.
— E-eu estou bem. Só preciso que me ajude,
pode vir até aqui, por favor? — Não havia voz em
mim, apenas sussurros. Deus, eu estava apavorada.
Margot soltou um suspiro de alívio através da
linha. — Você sabe que posso. Chego aí em vinte
minutos.
— Mais rápido. — Acrescentei
nervosamente. — Passe na farmácia.
Ela ficou muda por alguns segundos, eu
sentia até o seu nervosismo começar a crescer,
também. Ela disse. — E comprar o que
exatamente? — Perguntou curiosa. Mordi meu
lábio inferior e olhei para a cidade.
— Teste de gravidez.
Margot sufocou um suspiro e praguejou. —

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Oh merda! Chego aí em quinze! Quinze minutos.


A linha ficou muda e me levantei indo até a
parede de vidro. Minha respiração estava um pouco
ofegante, meu coração, martelando furiosamente e,
sentia meus olhos arderem. Olhei para baixo e
toquei na minha barriga reta, com a mão. E agora?

DEZENOVE

Margot apareceu no apartamento dezoito


minutos depois da ligação, eu estava me andando
de lá para cá na sala e quando ouvi o apito do
elevador, suspirei. Digitei o código e Margot entrou
vestida com calças e jaqueta de couro preta, uma
camisa de seda com estampa de oncinhas e saltos
altos de tiras. Na sua mão, uma sacola branca
escrita com o nome de uma farmácia.
— Ah meu Deus, Eliza! Eu estou tão nervosa
que minha virilha está suando! — Exclamou em
voz baixa, segurando minha mão e depois me
abraçando.
Peguei a sacola da sua mão e a segurei,
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levando-a até a suíte de Salvatore, quando


entramos, passamos direto e entramos no banheiro.
— E-eu não sei o que fazer. — Sussurrei. — Minha
cabeça está a mil por hora, Margot! E se eu estiver
mesmo? E s-se eu... — Margot soltou um suspiro
alto e me segurou pelos ombros, fazendo-me olhar
em seus olhos claros.
— Acalme-se! — Falou firmemente. — Pode
ser que seu período esteja somente atrasado.
Mordi meu lábio inferior e murmurei. — E se
eu te disser que Salvatore e eu, não usamos
camisinhas com muita frequência durante esses
quatro meses? E que mesmo eu indo ao
ginecologista, não segui as instruções do médico?
— Ela me deu um olhar simples, depois fechou os
olhos, levantando a cabeça para cima e soltando um
gemido alto. Fiz uma careta com um choramingo e
coloquei meu polegar esquerdo da mão, na boca,
roendo a unha. Aquilo realmente estava ficando
difícil! Depois de pensar tanto sobre esses quatro
últimos meses com sexos prolongados e nenhuma
proteção, eu sentia que 99,9% da minha cabeça
estava certa de que eu estava... estava...
— Não importa! — Interrompeu-me Margot.

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— Isso já aconteceu comigo umas duas, quero


dizer, quatro... ah droga! Enfim eu já passei por
isso e todas as vezes foram nulas. Então, vá fazer o
xixi em cima de todos esses palitos!
Ela me virou em direção ao vaso sanitário e
me empurrou. Tirei a caixa de dentro da sacola e
abri, retirando os testes de gravidez. Coloquei em
cima da borda do balcão e abaixei minha calcinha,
levantando meu vestido, quando me sentei, olhei
lentamente para Margot. Ela estava com um olhar
atento e ansioso para mim, de braços cruzados.
Gemi com aquilo e acenei para ela. — Eu não vou
conseguir soltar se você continuar me olhando com
essa cara de psicopata! — Exclamei. — Vire-se! —
Ela soltou um suspiro, revirando os olhos e ficou de
costas para mim.
Fechei meus olhos para me concentrar e
peguei os testes, quando o xixi saiu, Margot riu. —
Cala a boca... — Murmurei ainda concentrada,
colocando um palito de cada entre minhas coxas.
Quando acabei, coloquei todos em cima da pia,
arrumei minhas roupas, apertando a descarga.
Margot se virou na mesma hora e olhou para os
palitos.

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— E então? Quanto tempo? — Perguntou já


pegando a caixa nas mãos e dizendo em voz alta.
— Aguarde os resultados em apenas cinco minutos!
Fala sério.
Lavei minhas mãos sobre a água e depois
enxuguei com a toalha preta de rosto. — Serão os
minutos mais longos do mundo! E Salvatore
chegará em breve e ele ficará desconfiado e quando
ele fica desconfiado eu fico nervosa! Ah meu Deus,
e se eles ficarem positivos, Margot! O que vou
fazer?! — Eu sentia o desespero me preencher
completamente. Realmente eu não saberia o que
fazer! Se desse positivo? E se... Salvatore não
gostasse? A família dele, o pai dele provavelmente
iria me matar! Fechei os olhos, querendo chorar e
Margot se aproximou de mim.
— Acalme-se Lisa! — Tranquilizou-me. —
Como eu disse, talvez seja alarme falso e você
precisa respirar e pensar com calma.
Fechei os meus olhos e respirei fundo,
sorrindo. — Ok! Estou calma, vai dar tudo certo. É
alarme falso e da próxima vez, vou enfiar uma
camisinha no meu útero e seguir as orientações do
ginecologista. — Sorri tranquilamente e Margot

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olhando seu relógio de ouro sobre o pulso.


— Já faz seis minutos.
— AH MEU DEUS MARGOT, EU ESTOU
FERRADA! SALVATORE FICARÁ FURIOSO!
— Gritei histericamente, andando de um lado para
outro.
Eu estava em pânico sem ouvir Margot
dizendo para me acalmar, então ela se aproximou e
deu um tapa na minha cara, me assustando e
fazendo-me respirar novamente. — Jesus! Acalme-
se, não é o fim do mundo. Agora, respire bem
fundo e vá até o seu xixi! — Fechei os olhos,
respirando profundamente e os abri em seguida.
Meu coração martelava furiosamente e quando
olhei para os testes, ali, intocáveis, porém
assustadores, eu soltei uma lufada de ar. Caminhei
lentamente até a pia, minha visão se embaçando
com a ansiedade e parei lá.
Segurei os testes, ao mesmo tempo, sentindo
Margot se grudando atrás de mim. Respirei fundo e
virei todos. Ali estavam eles.
— Certo. — Murmurei com a voz trêmula.
— Deus, meu Deus. Oh meu Deus.... OH. MEU.
DEUS.
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Margot soltou um grito e me puxou,


abraçando-me e me sacudindo. — Você está
grávida!
— Eu estou grávida! — Exclamei sorrindo,
horrorizada.
Ela gritou e me girou. — Sim! Você está
grávida! Deus! Está grávida de Salvatore De
Gasperi... — Nossos olhares se arregalaram e então
começamos a gritar as mesmas palavras, em horror.
— JESUS, MARIA E JOSÉ! VOCÊ ESTÁ
GRÁVIDA DE UM MAFIOSO!
— ESTOU GRÁVIDA DE UM MAFIOSO!
— Gritei.
— DO SALVATORE!
Assenti gritando. — DO SALVATORE! Oh
meu DEUS, OH MEU DEUS! — Não parávamos
de gritar “Oh meu Deus” uma para a outra, de olhos
arregalados, segurando nossos ombros. Nossos
gritos ecoavam dentro do banheiro, até que...
— Elizabeth?! — Quando ouvimos
Salvatore, paralisamos e nos olhamos.
Margot pegou os testes da minha mão, depois
a caixa e a sacola. Ela jogou tudo lá dentro e
amassou, fazendo uma bola nas mãos, indo até o
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balcão, abrindo uma das portas de baixo. Margot


jogou lá dentro e quando fechou à porta, Salvatore
abriu a porta do banheiro, com um olhar
arregalado. Nós duas paralisamos, enquanto seus
olhos verdes varreram todo o banheiro.
— O que está acontecendo? — Perguntou.
Abri minha boca, olhando para minha amiga
me salvar, mas eu sentia que a responsabilidade era
minha. Virei-me para ele e gaguejei. — N-nós
estávamos... hum... e-eu... — Ele franziu sua testa e
encarou Margot.
— Hã... acho melhor eu ir indo. —
Murmurou, parando na minha frente e me
abraçando. Quando fizemos isso, ela sussurrou. —
Conte. Vai ser melhor. — Ela se afastou, sorrindo e
passou por Salvatore. Ele olhou para ela e depois
para mim.
Era óbvio que o homem estava desconfiado
como uma coruja! — O que houve? Por que as
duas estavam dentro do banheiro, com a porta
fechada e gritando “Oh meu Deus”? — Soltei uma
risada nervosa, mas rapidamente me calei, quando
seus olhos apertaram-se para mim. Cruzei meus
braços e mordi meu lábio inferior, esse era o
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assunto mais difícil de toda a minha vida, para


dizer a alguém. Eu sabia que Salvatore gostava de
estar próximo de mim, porém, eu não sabia se ele
sentia algo a mais. E agora, um filho? Sem ao
menos eu saber que o pai dele me ama? Seria
possível existir um amor em apenas quatro meses e
meio?
Salvatore arqueou as sobrancelhas loiras,
para eu dizer algo. — Nós estávamos... hã...
tomando banho... juntas. — Menti, olhando para a
porta. Os olhos de Salvatore ficaram divertidos e
um sorriso se escondeu em seus lábios perfeitos.
Ele pigarreou e cruzou os braços, no momento em
que se apoiou no batente da porta.
— Entendi. — Murmurou. — Amigas são
assim, uma cuidando da outra.
Soltei uma risada histérica. — E uma
limpando a vagina da outra! — Gargalhei e parei.
Meu Deus me mate, por favor, me mate! Salvatore
riu com as minhas palavras e deu um passo em
minha direção, pegando minha mão e nos tirando
do banheiro. Quando paramos no quarto, ele olhou
minha mão na sua e a levou até seus lábios,
beijando delicadamente. Meu coração saltou.

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— Está gelada. Nervosa? — Perguntou com


carinho.
Mordi meu lábio inferior e sorri pequeno. —
Só com frio. — Murmurei. Seus olhos me
observaram atentamente, digitalizando minha
expressão. Ele olhou nossas mãos e depois me
encarou.
— Não esconda nada de mim. Eu ouvi
Margot dizendo para contar, e agora contar o que?
— Perguntou em voz calma.
Engoli em seco e tirei minha mão da sua.
Deus, ele tinha escutado o sussurro de Margot?!
Passei a mão no meu cabelo e respirei fundo, ela
estava certa, eu deveria contar. — Certo. —
Coloquei a mão em meu coração e suspirei. —
Salvatore... e-eu, eu descobri algo. E foi por isso
que Margot estava aqui, para me ajudar. — Ele
franziu a testa, me encarando. Deus, seus olhos, tão
lindos. Salvatore assentiu, tranquilamente,
perguntando:
— Ajudar... com o que?
Olhei rapidamente para a minha barriga e
soltei. Soltei a notícia que mudaria as nossas vidas,
para sempre. — Salvatore... eu descobri que... —
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Balancei a cabeça e engoli em seco. — Estou


grávida. Grávida.
*****
SALVATORE

— Diga alguma coisa. — Sussurrou ela. Seus


olhos azuis estavam amplamente abertos, havia
medo e ansiedade ali. Meus ouvidos estavam
zumbindo. Foda-se. Por que eu me sentia
vulnerável? Lisa franziu o cenho e levantou sua
mão, para tocar-me, mas ela não o fez. Estava com
medo da minha reação a isso? — Salvatore? —
Chamou ela, sua voz baixa e melosa. Sim. Estava
com medo da minha reação. Porém nem mesmo eu
sabia como reagiria, aquela notícia... aquilo... eu
não sabia.
Passei a mão em meus cabelos, piscando
repetidamente e soltando uma lufada de ar. As
ignições da minha cabeça estavam travadas,
paradas e sem forças para continuarem a trabalhar.
Eu queria lhe dizer, dizer qualquer coisa! Mas eu
não sabia nem mesmo o que dizer para mim. Olhei
para longe dela, incapaz de pensar com aqueles
olhos ansiosos sobre mim. Sim, eu deveria pensar,
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mas não poderia deixá-la aqui no escuro, sozinha,


em um momento como esse. Seria algo
fodidamente estúpido e cretino da minha parte.
Deus. Uma criança. Minha. Nossa.
Engoli com dificuldades e consegui encará-la
mais uma vez. Elizabeth estava mordendo o lábio
inferior sem parar, deixando o vermelho ficar
branco com a força dos seus dentes. — Grávida? —
Sussurrei franzido. Ela assentiu freneticamente e se
abraçou, fazendo meus olhos descerem até a sua
barriga. Ela estava reta, ainda. Olhei para cima,
continuando. — E-eu... Deus. — Murmurei,
colocando uma mão no quadril e outra na cabeça,
fechando os olhos e pensando. Finalmente
pensando.
Porra, Salvatore! Porra!
Uma criança, meu Deus, uma criança! Onde
eu estava com a cabeça me descuidando daquela
forma?! Eu nunca fui descuidado, com
absolutamente nada. Sempre fui focado em tudo,
nunca deixando até mesmo as mínimas coisas de
lado, sempre deixei minha cama arrumada, mas
pelo visto, uma parte dela estava bagunçada.
Agora, Lisa estava grávida, de mim. Eu não me
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importava com o fato de deixar minha família


empalidecer quando eu desse a notícia. Obviamente
que France e Selena ficariam loucos com isso. Mas
foda-se. A vida era minha.
Porém, Elizabeth acabou de se tornar o foco
dos meus inimigos, estaria em risco, assim como o
meu... o nosso filho. Filho.
Soltei uma meia risada baixa e a encarei. Ela
me olhava, curiosa e com um pequeno brilho nos
azuis dos seus olhos. Lisa se aproximou de mim, e
no mesmo instante, segurei seu rosto entre minhas
mãos. Sua pele macia e cremosa acalmava os meus
nervos, seu cheiro... único. Ela tinha cheiro de
flores. Curvei-me e beijei sua boca, um beijo lento
e carinhoso. — Vamos ser pais. — Sussurrei
quando cessei o beijo. Ela deu um grande sorriso e
chegou mais perto, envolvendo meu pescoço com
os seus pequenos e finos braços.
— Achei que ficaria chateado. — Admitiu.
Passei a mão no seu cabelo e beijei sua testa.
— Nunca. Isso é algo nosso, por que eu ficaria
chateado? — Ela abriu a boca para me responder,
mas a calei com um beijo. — Tudo bem. Eu não
vou a lugar algum, Lisa. Ficarei aqui, ao seu lado.
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— Tranquilizei. Ela soltou um suspiro baixo e


passou sua mão delicada sobre o meu peito, toda
vez que ela me tocava, sentia uma adrenalina subir
ao meu peito. Porra. Eu ficava duro em apenas vê-
la passando as mãos nos cabelos escuros dela.
Lisa me olhou, atentamente. — Eu sei que
haverá consequências. Sei que seu pai... o Sr.
Gratteri... a máfia. Eles ficarão loucos, dirão que
você engravidou uma prostituta. — Cuspiu as
palavras e seus olhos ficaram vermelhos, segurando
as lágrimas. Aquilo me matava. Ver o seu
sofrimento me deixava devastado. Mas ela tinha
razão, claro que, eu não dava a mínima para isso,
mas ela acertou. Apontariam os dedos, dizendo
que engravidei uma prostituta, por mais que Lisa
não seja. Ela é conhecida por todo o ciclo dessa
forma. Mas também todos são inteligentes em não
dizer essas coisas perto de mim, eles sabem que
estamos juntos.
Desde então, eu estava fodendo para os
olhares tortos, para os murmúrios, para qualquer
merda. A vida era minha, eu fazia o que queria.
Foda-se todos.
— Você não é uma prostituta. Não fale

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assim, e não quero que fique preocupada, pode


afetar a criança... — Abaixei minha mão até seu
ventre e acariciei.
Lisa prendeu a respiração. — Não está nem
formado ainda Salvatore. — Comentou, mas eu não
liguei. Tinha uma criança ali, se formando e
crescendo dentro dela, minha. Meu filho. Aquele
pensamento era estranho para mim, eu nunca
pensei a respeito de ter filhos ou não. Mas agora
sentia que eu queria, talvez seja por causa dela.
Dessa linda e doce mulher que eu não mereço ter.
Foda-se, eu sou egoísta demais. Eu a quero, tanto
que dói em meu peito. Desviei meus olhos de sua
barriga reta e a encarei.
— Estou feliz e horrorizado ao mesmo
tempo. — Admiti, fazendo-a sorrir. Merda. O
sorriso dela é encantador.
Elizabeth colocou sua mão sobre a minha,
descansando em sua barriga, ainda sorrindo. — Eu
também. Não sei no que pensar, eu estou eufórica,
mas não consigo colocar para fora. — Riu com
meu coração acompanhando o timbre. — Eu... eu
acho melhor não contarmos a ninguém, tipo,
ninguém mesmo, nem para as pessoas que você

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confia. Margot deveria, pois ela é minha única


amiga. — Por mais que suas palavras tenham me
incomodado, ela tinha razão. Não era a hora certa
de dizer isso.

Porém eu gostaria muito de dar essa notícia


para minha mãe e minha irmã Zara. Elas ficariam
felizes por mim, mas pediriam para tomar mais
cuidados. Eu sei disso. Foi um grande erro, porém
será um lindo e perfeito erro. Suspirei pesadamente
e toquei na sua cabeça. — Você está certa, vamos
agir naturalmente e diga a sua amiga para não
entregar o jogo. — Alertei, fazendo Lisa ri e revirar
os seus olhos.
— Não estamos bolando um plano para
atacar inimigos mafiosos, sabe disso né? — Riu
mais uma vez e finalmente ela arrancou um sorriso
meu. Segurei a curva do seu ombro e beijei-a mais
uma vez, seu gosto era doce e convidativo para
mim.
Olhei para ela, suspirando e alisando o seu
cabelo. — Lisa... — Falei em advertência, mas
docemente. — Só quero que você... vocês. — Eu
coloquei novamente a mão no seu ventre. —

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Fiquem bem.
— Mas ficaremos. — Disse-me suavemente,
tocando em meu rosto. — Com você ao nosso lado,
ok?
Abri um sorriso torto e assenti, puxando-a
para um longo e profundo beijo. Peguei-a no meu
colo, suas pernas se entrelaçando na minha cintura
e virei-me até que senti a cama contra minhas
pernas, fui me abaixando lentamente e deitei Lisa,
com cuidado, mas parei de mover quando ela soltou
um gemido e virou a cabeça para o lado, fechando
os olhos com força. — O que foi? — Sussurrei,
sentindo meu pau cada vez mais duro contra a
calça. — Machuquei você? — Perguntei. Ela
colocou sua mão direita sobre a boca e balançou a
cabeça, gemendo novamente.
— Estou enjoada desde cedo, só fiquei um
pouco zonza. — Esclareceu, segurando meus
ombros.
Beijei seu queixo e tentei me afastar, mas as
pernas de Lisa enrolaram-se com força contra
minha cintura. — É melhor eu sair de cima de... —
Não consegui terminar, pois sua boca estava me
calando e me beijando fervorosamente. Soltei um
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gemido entre nossas bocas, desci minha mão até


sua carne úmida e quente sobre a calcinha. Lisa
gemeu com isso e se curvou contra o colchão, eu
estava muito duro, prestes a explodir dentro da
minha cueca e calça. Olhei para baixo onde meus
dedos passeavam para cima e para baixo por cima
da sua calcinha, o tecido estava molhado, fazendo
meu pau se contrair.
— Salvatore... — Gemeu. Porra. Eu ficava
louco quando ouvia sua voz excitada, chamar pelo
meu nome. Era fodidamente tentador.
Abaixei a alça do seu vestido, junto com a do
sutiã e puxei seu seio para fora. Seu mamilo estava
duro e exposto para eu apreciar, abaixei minha
cabeça, chupando seu mamilo e circulando com a
minha língua sua pele. Lisa se contorcia e gemia
por mais, abrindo suas pernas como incentivo,
então puxei sua calcinha de algodão para o lado e
belisquei seu botão inchado, ela gritou e meu pau
se contraiu novamente. Lambi e mordisquei seu
mamilo, ao mesmo tempo em que enfiava um, dois
e três dedos na sua fenda molhada. Ela esmagava
os meus dedos contra o seu músculo e fazia-me
gemer, enquanto engolia seu mamilo inchado e
duro.
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Comecei a bombear dentro dela, e com o


polegar, circulava seu clitóris, eu sabia que ela
estava quase chegando, eu adorava isso, saber que
seu corpo não se aguentava com meu toque e
desmoronava rapidamente. Fiz um som como se
estivesse sugando algo, quando a senti se apertando
contra meus dedos e seus gemidos e respiração se
elevarem, meu celular tocou.
Soltei um gemido com um rosnado, eu não
queria parar, mas meu trabalho era estar sempre
disponível. Tirei meus dedos de dentro de Lisa, o
que a fez choramingar alto e levantar sua pélvis
para o ar. Eu estava ajoelhado na cama. —
Salvatore não, por favor! — Implorou, apertando
seu seio exposto com sua pequena mão. Porra.
Essa garota vai me matar. Eu queria me enterrar
nela, queria comemorar nosso filho, com muito
sexo. Mas o telefono tocava. Tirei do meu bolso e
quando li o nome, pulei da cama, e Elizabeth se
sentou. — O que houve? — Perguntou ofegante.
Atendi a chamada e a olhei.
— Salvatore.
— Acabou Salvatore, acabou. — Disse
Demétrio no outro lado da linha, com sua voz

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sufocada. — E-ela se foi! Se foi, porra! Eu sou a


porra de um fodido. Ela simplesmente se foi, sem
mais nem menos. — Uni minhas sobrancelhas e fiz
um sinal para Lisa, me acompanhar. Saí de dentro
do quarto, caminhando pelo corredor e chegando a
sala.
Lisa já estava ao meu lado, olhando-me em
curiosidade. — Demétrio? Fique calmo, por que ela
iria assim? O que disse a ela? — Por mais que eu
tente negar, não posso. Demétrio sempre foi um
babaca com as mulheres que tentavam se aproximar
dele, sempre agiu como um idiota, mas nunca se
importava quando elas iam embora. Ele nunca me
ligava dizendo que elas tinham ido. Essa foi à
primeira vez e eu sabia desde o início que ele
estava apaixonado pela jovem jornalista que o
entrevistou, meses atrás. Ele amava Amélia
McAdams.
Demétrio suspirou e ouvi uma porta sendo
aberta com força. — Eu inventei que realmente não
tínhamos um futuro, mas, que se foda! Posso fazer
o que eu quiser. Isso é máfia e não uma igreja. —
Ele parou e respirou fundo. — Que seja, pelo
menos meus inimigos não a machucarão. Preciso
de você em frente aos armazéns em vinte minutos,
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Vicentino encontrou um esconderijo dos russos,


quero matar, estou louco para isso. — Ele desligou
a ligação sem me dar a chance de xingá-lo. Ele é
tão fodidamente orgulhoso que faz meus olhos
virarem-se ao contrário.
Fechei os olhos, apertando o celular com a
mão e o encostando a minha testa, querendo me
acalmar. — Salvatore? — A mão de Elizabeth
tocou no meu pescoço e sua voz feminina me
acalmou rapidamente. Abri os olhos e a encarando.
— O que houve? — Não fiz delongas.
— Demétrio precisa de mim novamente.
Prometo que voltarei antes do anoitecer, não se
preocupe. — Guardei meu celular e a puxei pela
cintura, beijando sua boca. Ela me abraçou com
força e depois deu um selinho nos meus lábios,
sussurrando.
— Estaremos te esperando. — Sorri com
carinho, me afastei e entrando no elevador. Quando
as portas se fecharam com Lisa sorrindo, desfiz
meu olhar carinhoso. Mais que porra que Demétrio
tá pensando que vai fazer?! Matar russos? Por que
está de coração partido?
E esse filho da puta do Vicentino, oh sim, eu
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estava de olho nele, desde que atacou minha Lisa,


ultimamente estava muito distraído com ela, mas eu
continuaria com um olho sobre ele. Esse fodido só
dava ideias de merda para Demétrio e ele, babaca,
não notava isso, mas eu sabia o porquê. Estava
apaixonado e seus pensamentos eram da garota. Eu
o entendia. Quando saí do elevador entrando no
estacionamento, fiz uma careta.
Isso queria dizer que eu estava apaixonado?

VINTE

Quando Salvatore se vai, ele me manda uma


mensagem dizendo para eu não sair, de jeito
nenhum, de dentro do apartamento. Aquilo me
assustou tanto, que corri para o quarto e tranquei a
porta, era o lugar que eu mais sentia segurança ali.
Eu não sabia o que estava havendo, ele estava com
um semblante bravo e preocupado, ao mesmo
tempo, quando se foi. Mas tentei manter a calma,
pois sentia muitas náuseas e não gostaria de
vomitar a cada cinco minutos.

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Depois de meia hora sem fazer absolutamente


nada, resolvi sair de dentro do quarto, quando o fiz,
o apito do elevador soou em meus ouvidos,
deixando-me paralisada. Quem seria?
Corri para meu celular e enviei uma
mensagem a Salvatore.
PARA: SALVATORE
AS: 17h45min. 14/01/2011
“Por favor, me diga que você que pediu para
alguém vir até a sua casa?!”
O apito soou mais uma vez e choraminguei,
eu estava apavorada, sentia minhas terminações
nervosas pulsarem de dentro do meu corpo! Mordi
meu lábio e olhei para a tela, indicando uma nova
mensagem. Era Salvatore.
DE: SALVATORE
AS: 17h48min. 14/01/2011
“Relaxe. São minhas irmãs, Selena e Zara,
estavam em viagem com o marido de Selena, desde
o ano novo. Não se preocupe, foram apenas para
darem um oi, fique calma, chego daqui a dez
minutos.”
O quê?!!!

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Suas... irmãs?! E ele estará aqui em dez


minutos? Fechei os olhos, choramingando
novamente e joguei o aparelho contra o sofá,
rapidamente corri até o quarto e peguei minha bolsa
de maquiagem, passando um pouco de corretivo no
rosto e um batom rosa bem claro. Arranquei meu
vestido e vesti um collants bege e minha calça
jeans. Calcei minhas sapatilhas e corri até o
elevador, enquanto arrumava meus seios, queria
estar apresentável para a família do meu homem!
Digitei o código e as portas se abriram suavemente.
Uma mulher loira e muito alta estava ali,
parada de uma forma extremante elegante. Cabelos
dourados até os ombros, maquiagem impecável e
vestida em uma saia lápis, branca e blusa da mesma
cor, um casaco branco e elegante pendurado em
seus ombros. Seus lábios, a cor, combinavam com
seus sapatos escarpins e bolsa. Vermelhos. Seus
olhos, da cor de oliva, eram duros e arrogantes
sobre mim, fazendo um calafrio passear pela minha
espinha. Apesar disso, ela era magnífica. E idêntica
à Salvatore.
Suas sobrancelhas escuras se levantaram,
quando disse. — Onde está Salvatore? —
Perguntou com um leve sotaque italiano. Pisquei
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algumas vezes para sair do estupor e pigarreei, me


sentia uma garotinha do colegial.
— Hã... me... me desculpe, S-Salvatore
chegará em dez minutos. — Consegui dizer, com
voz rouca.
Ela revirou os seus olhos e olhou seu relógio
de ouro em seu pulso fino. — Espero que ele
chegue daqui a seis minutos. — Murmurou. Selena.
Eu sabia que era ela, porém, quando sua cabeça se
virou e se abaixou um pouco, fiquei surpresa em
não ter notado a jovem garota ao seu lado. — Não
sei por que me trouxe até aqui, Zara. Seu irmão
nunca tem tempo para sua família. — Murmurou,
saindo de dentro do elevador, sem ao menos
esperar a resposta da garota.
Enquanto Selena caminhava até o minibar da
sala, Zara se aproximou de mim, com um grande
sorriso. — Olá! Chamo-me Zara e aquela é a
Selena. Somos irmãs de Salvatore, e você? — Ela
estendeu sua mão e rapidamente a segurei,
cumprimentando-a com um sorriso. Zara era
pequena, talvez um metro e cinquenta de altura, o
que era novidade. Tinha grandes olhos azuis e um
rosto quadrado e marcante, seus cabelos eram

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castanhos com algumas mechas claras. Ela era


linda.
Soltei uma risada nervosa e não sabia o que
responder. — É um prazer conhecê-las, Zara. Eu
sou a Elizabeth, mas o seu irmão tem o costume de
chamar-me de Lisa. — Ela riu delicadamente para
mim e soltou minha mão.
— Certo. Mas... o que você faz aqui? É
amiga dele? — Perguntou curiosamente. Tinha me
esquecido de como os adolescentes eram curiosos.
Antes que eu pudesse inventar qualquer
bobagem, a voz de Selena nos interrompeu. — O
que você acha que ela é dele? Está óbvio que é
outra namoradinha. — Disse ironicamente, porém
eu não a respondi. Ela estava andando de frente a
janela de vidro do teto ao chão, com um copo de
uísque em uma das mãos, nos observando. Zara,
por outro lado, suspirou pesadamente, revirando
seus olhos.
— Ignore-a. Ela está rabugenta, pois a fiz vir
diretamente do aeroporto para cá. — Sorriu,
fazendo-me sorrir. Eu gostava dela, ela tinha a
mesma tranquilidade de Salvatore. O mesmo olhar,
também gentil.
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Caminhamos até o sofá e Zara sentou-se no


maior, de frente a tevê, onde ligou e colocou em
um programa de reality-show. Sentei-me na
poltrona preta e fiquei quietinha, sentindo os olhos
de Selena sobre mim. Os minutos se passavam
depressa, mas nada de Salvatore! Eu estava me
sentindo sufocada e queria gritar, não estava me
sentindo bem ali. Não por Zara, que a propósito, eu
tinha adorado a garota, mas pela sua irmã mais
velha.
De repente, ela soltou uma risada e fazendo
tanto eu, como Zara a olhar. — Sabe, analisando de
longe, Lisa, é bem estranho ver uma mulher como
você, aqui. Desde quando Salvatore curte
pobretonas colegiais? — Perguntou rindo.
— Selena. — Repreendeu Zara, entredentes.
Abri um sorriso e balancei a cabeça
negativamente para ela. — Tudo bem, Zara. —
Olhei para Selena e dei de ombros. — Deveria
perguntar a ele, pois em todo momento, foi ele que
correu atrás de mim. — Zara soltou uma risadinha
e Selena me olhou ironicamente, não acreditando
em minhas palavras. Por mim tudo bem, eu não
daria esse gostinho para ela, tentando fazer com

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que eu perdesse a cabeça e criássemos uma cena.


Selena caminhou tranquilamente sobre o piso
de madeira, fazendo seus saltos bater lentamente.
Ela me olhou sorrindo, um sorriso de tubarão. —
Aposto que é mais uma das vadias que está apenas
querendo dinheiro. Você não faz ideia da onde se
meteu. — Riu. — Salvatore não é um qualquer e
muito menos quem você pensa que ele é. —
Completou, sorrindo abertamente. Levantei-me da
poltrona e cruzei meus braços, não estava brava,
mas não ficaria calada.
— Oh sim, você está querendo dizer sobre
aquela parte em que Salvatore é um dos capitães de
Demétrio Gratteri? — Perguntei inocentemente,
fazendo ela e Zara me encararem boquiabertas. Por
que estariam surpresas? Quanta bobagem. — E não
há porque se preocupar, eu sou a garota fissa de
Salvatore... bem, agora meio que nos tornamos
namorados. — Sorri. Selena soltou um arquejo e
arregalou seus olhos, não acreditando em minhas
palavras. Quero dizer, ela tinha acreditado, e como!
Já a garota Zara, não parecia chocada comigo, ela
deu um olhar desinteressado para o assunto e
voltou sua atenção na tela da televisão.

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Sua irmã me olhava com tanto nojo, que eu


podia sentir sua raiva de onde eu estava. — Você...
é o que? Qual o problema de Salvatore?! Sempre
escolhendo... — Selena apertou sua boca, tentando
achar as palavras certas para a ocasião. —
Prostitutas! Esse é o fraco dele? Putas?! Olhe para
você, qual homem iria querê-la! Céus! —
Exclamou.
— Seu irmão me quer Selena. — Respondi
em voz alta. — E você e nem ninguém inverterá
isso, Salvatore é um homem adulto e independente,
não precisa da sua opinião. — Completei. Estava
me segurando para não atacar aquela mulher
ordinária!
Os olhos de Selena estavam em brasas, sobre
mim, e eu tinha total certeza de que ela estava
querendo me socar naquele momento. Quando sua
boca se abriu, para cuspir as palavras, o elevador se
abriu, fazendo nós três olharmos até lá e ver
Salvatore, saindo tranquilamente. Ele parou e
franziu o cenho. — O que você fez Selena? —
Perguntou.
*****
Zara arqueou as sobrancelhas e riu,
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levantando-se do sofá e correndo até ele. Seu


semblante rapidamente mudou, suavizando.
— Salvatore! — Disse ela, pulando em seu
colo. Ele a abraçou de olhos fechados e beijou seu
pescoço e rosto. — Estava com saudades de você.
— Completou quando ele a pôs no chão.
Ele sorriu com carinho para ela e em seguida,
estendeu a palma de sua mão em cima de sua
cabeça. — Você cresceu? Uns... dois centímetros?
— Os dois riram em sincronia e mais uma vez ele a
abraçou, seu abraço era nitidamente protetor sobre
Zara. Imaginei o pobre coitado que se apaixonar
pela garota, mas vai ter que aguentar o irmão. Eu
estava tão distraída com a cena, ao mesmo tempo,
sentindo falta de Perla, que tinha esquecido de
Selena. Até o momento em que ela se manifestou.
— Por que você está em um relacionamento
com uma mulher de um clube, Salvatore? —
Perguntou, duramente.
Salvatore se afastou de Zara, suspirando e
fechando os olhos. — É bom te ver também,
Selena. — Murmurou, chegando perto dela,
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beijando sua testa e caminhando em minha direção,


seus lábios plantaram um selinho na minha boca.
Selena arregalou os olhos, quase explodindo com
aquilo, mas não disse nada. Salvatore estendeu sua
mão até o meu ventre, onde habilidosamente,
peguei a mão e segurei com a minha. Merda. Qual
era o problema dele? Seus olhos vieram de relance
para mim, mas voltou-se para sua irmã. — Em qual
momento eu disse que você poderia dar opiniões
sobre minha vida amorosa? Bem, eu nunca fiz isso
quando se casou com Alfred, certo?
Olhei para ela e tudo o que eu mais queria era
estar longe daquela confusão! Selena passou as
mãos no seu rosto, irritadamente, dizendo-lhe. —
Nosso pai, ficará louco com isso! — Rosnou
entredentes, apontando em minha direção, mas ela
continuava olhando para Salvatore. — Você quase
estragou sua vida, com aquela vadia da sua ex-
noiva, agora está namorando uma fissa?! Qual o
seu problema?! Mulheres fissas pertencem aos
clubes e não a um homem só, Salvatore! Há tantas
mulheres na máfia, loucas por você, e você escolhe
essa? Veja Helena, Analisa, Dolores ou até a
Valentina! São loucas para se casarem com você!
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Ansiosa para que em algum momento você bata na


porta de alguma delas! Mulheres de honra,
Salvatore! Mulheres que nunca ficaram com mais
de dois homens! Quer estragar a sua vida?
Eu sentia suas palavras como uma bela surra
para mim. Deixando meus olhos lacrimejarem e
fazendo-me sentir suja e barata. Selena poderia
estar certa disso, ela queria apenas o bem para o seu
irmão, não estava fazendo nada de mal. Mas
agora... como poderia me afastar dele? Como, se
havia... uma parte sua dentro de mim, crescendo.
Olhei para a minha barriga e toquei nela com minha
mão. E quanto a essa criança? Qual seria o seu
futuro? Viver sem um pai, assim como a sua mãe?
Crescer e ver sua mãe indo dormir com vários
homens, para sustentá-lo? Enquanto isso, eu e ele
assistirmos a vida perfeita de Salvatore, de longe,
com uma linda mulher da máfia, os dois sorrindo e
felizes com seus próprios filhos, enquanto eu e
nosso único filho ficávamos sofrendo.
Engoli em seco e senti as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto, Selena continuava com
seus sermões de irmã mais velha e Salvatore apenas
a olhava, tranquilamente, esperando a hora certa
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para dar o bote. De repente, meus olhos foi até


Zara, ela estava me observando, seus grandes olhos
azuis, posicionados sobre a minha mão, em meu
ventre. Ela me encarou por um momento e andou
até minha direção, quando chegou perto, abraçou
meus ombros e olhou de cara feia para Selena.
— Será que você pode, por favor, calar a sua
boca?! — Exclamou, fazendo Selena a olhar
surpresa. — Você não tem o direito de humilhar
Elizabeth, Selena, sem ao menos conhecê-la.
Ela riu alto com isso e abriu os braços. —
Você é uma criança, Zara! Não entende nada sobre
o mundo dos adultos! — Zara a olhou com raiva e
se calou, então sua irmã, continuou a dizer. — Por
que você se esforça tanto para destruir sua vida,
Salvatore? O que aconteceu com você? Ficou cego
depois de Angélica? Olhe para essa mulher ao seu
lado, ela não tem nada a oferecer, apenas uma cama
quente e fodas diárias! Esse é o trabalho dela! —
Zombou acidamente. Mais uma vez senti a
humilhação, senti o quão baixo eu poderia ser. Os
sentimentos que tranquei a sete chaves há quase
quatro meses, estavam tentando se soltarem.

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Os sentimentos que Vicentino proporcionou


para mim.
Olhei para Salvatore que encarava sua irmã
com a mais pura raiva, e quando ele abriu sua boca,
para retrucar as palavras duras de Selena, passei em
sua frente dizendo sem pensar. — Além de eu
oferecer uma cama quente, fodas diárias, Selena, eu
também ofereci ao seu irmão minha confiança,
meus ouvidos para escutá-lo todos os dias, quando
ele chegava frustrado e cansado dos serviços que
fazia, eu oferecia meus conselhos, oferecia meus
sorrisos, novamente minha confiança, oferecia estar
ao lado dele, quando estava chateado com algo.
Oferecia estar ao lado de seu irmão, torná-lo parte
de mim, torná-lo meu amigo, acima de tudo, meu
confidente, meu. Apenas meu. — Disse sorrindo e
chorando. — Eu compreendo você, quer proteger
seu irmão, pelo fato do que Angélica causou a ele,
mas... Salvatore é um homem adulto que tem suas
próprias decisões, quando ele precisar de ajuda, ele
pedirá talvez a você, ou a mim. Mas... não diga
coisas que não sabe. Você não me conhece e eu não
a conheço. Seu irmão foi e é meu pilar desde que
pisei nesse país, então, por que eu iria feri-lo? Por
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que afastá-lo?
Virei-me de frente a Salvatore, seus olhos
estavam arregalados e brilhantes para mim. —
Estou no seu caminho, Salvatore. Você que me
colocou lá, foi por você que eu tive forças, qual
mulher não se apaixonaria por um homem como
você? — Perguntei rindo. — Não é porque seja de
um mundo cruel, ao qual você cresceu, com mortes,
roubos, chantagens, que você deva ser cruel. E você
não é. Você é bom Salvatore, você ama ajudar os
outros e eu amo isso em você, seu coração é tão
bondoso, que faria qualquer pessoa se perguntar
por que está nesse submundo. — Suspirei alto e
senti meu coração se elevar, senti meu mundo ser
recolocado no lugar. — Eu... sinto algo tão forte
por você. Eu sei, quatro meses é pouco, mas não
podemos controlar nossas emoções e nossos
destinos. Mas você me destinou a você, sua
bondade fez com que eu corresse e corresse em sua
direção. Eu o quero tanto, somente para mim, que
fico sem fôlego em apenas dizer, e agora, nossa
paixão foi concebida.
Quando digo isso, Zara nos olha com olhos
cheios de lágrimas e Selena, assustada. — O que
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você quer dizer? — Perguntou em voz baixa.


Respirei profundamente e toquei em minha barriga,
com as duas mãos.
— Quero dizer, Selena, que eu estou grávida
do seu irmão. E antes que você diga qualquer
acidez sobre a criança ser de clientes, eu irei
adiantá-la. — Olhei firmemente em seus olhos, sem
ter medo. — Tive apenas três semanas com esse
estilo de vida, ser uma prostituta, sim, eu fui, mas e
daí? Todos nós erramos, porém, eu não sabia que
seria isso. Graças a Salvatore, ele conseguiu me
tirar daquilo. O filho é dele. Nosso. Não dos
clientes da Haze e muito menos do seu Consigliere
Vicentino que me estuprou, antes de tudo. —
Selena arquejou, e colocou as mãos sobre a boca, as
lágrimas rolando. Não eram lágrimas de alegria.
Zara me abraçou de lado e me olhou. —
Sinto muito por isso, sinto muito mesmo. — Sua
mão desceu até o meu ventre e sorriu. — Eu
acredito em você. Sei que é do meu irmão,
finalmente serei tia. — Riu a garota e me abraçou
novamente.
— Zara vá para o carro e espere no
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estacionamento. — Interrompeu Selena.


Ela olhou para Salvatore, que ainda me
encrava paralisado. Depois, desviou seu olhar dele
para sua irmã. — Eu não vou fazer...
— Zara agora! — Exclamou. A garota fez
um olhar triste e rapidamente abraçou a mim e seu
irmão, depois correu para o elevador. Quando
estávamos somente nós três, Selena continuou. —
VOCÊ ENGRAVIDOU ESSA MULHER? CADA
ANO QUE PASSA VOCÊ SE TORNA MAIS
FROUXO COM ESSAS PUTAS, QUE
APARECEM EM SUA VIDA! — Gritou.
— ESSA VAI SER A ÚLTIMA VEZ QUE
IRÁ TRATAR ELIZABETH DESSA FORMA! —
Rugiu Salvatore de repente, fazendo tanto eu como
Selena, sobressaltar. Ele levantou seu dedo e deu
alguns passos até sua irmã, ela estava assustada e
deduzi que aquela foi à primeira vez em que
Salvatore gritou com ela. — Sim, Selena, eu
engravidei ela e quer saber? Eu fiquei apavorado no
início dessa tarde, mas agora, agora é a coisa mais
incrível que já aconteceu em minha vida! Essa
criança é minha e Elizabeth é minha! Somente
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minha! E nem você, nem France e nem ninguém


mudará isso. Estou cansado de vocês meterem seus
dedos sobre mim, essa é a minha vida, minhas
escolhas e a partir de hoje será ao lado de Elizabeth
e do nosso filho. Queira você ou não! Vá viver a
sua vida e deixe a minha em paz. Nunca mais, digo
novamente, nunca mais humilhe minha mulher, não
ficarei calmo da próxima e não haverá uma
próxima!
Selena pegou sua bolsa bruscamente de cima
do sofá e o olhou com raiva. — EU ESPERO QUE
NOSSO PAI ARRANQUE SUA CABEÇA FORA!
EU TENHO NOJO DE VOCÊS DOIS! NOJO! —
Com isso, ela saiu às pressas da cobertura de
Salvatore e entrou no elevador, sem olhar para nós.
Eu fiquei parada, olhando para onde Selena
estava, pois eu não entendia sua raiva contra mim.
De repente, braços fortes envolveram minha cintura
e o hálito quente de Salvatore, atravessou meu
pescoço. — Sinto muito, não queria que passasse
por isso. — Sussurrou em meu ouvido, beijando-o
em seguida. Fechei os olhos, suspirando, e me virei
de frente a ele. Segurei seu lindo rosto aflito em
minhas mãos e sorri.
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— Está tudo bem. Só em ver que está sempre


me protegendo, até de sua irmã, me deixa feliz. —
Respondi.
Salvatore soltou uma meia risada e me puxou
para um beijo. Parecia que não nos beijávamos há
anos, pois tornávamos aquele momento o mais
profundo possível. Encostei minha testa contra a
sua, ainda com os olhos fechados e dizendo. — Me
leve para o quarto, eu quero você, muito. —
Sussurrei, segurando as lapelas de seu paletó em
minhas mãos. Salvatore me beijou novamente e me
pegou no seu colo com facilidade, onde entrelacei
minhas coxas em volta de sua cintura.
Eu o queria e não me importava com nada
naquele momento, talvez, grandes coisas estavam
por vir, mas por que me preocuparia agora, se o
tenho naquele momento em meus braços? Só queria
amar Salvatore sobre aquela cama e que ele
pudesse fazer-me esquecer de sua irmã.

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VINTE E UM
Caímos sobre a cama rindo e tirando o
restante de nossas roupas, quando estávamos nus,
abri minhas pernas e segurei o membro ereto de
Salvatore em minha mão, guiando até a minha
fenda molhada. Abri os olhos e o encarei, seus
olhos verdes estavam luxuriados de tesão,
deixando-me excitada! Salvatore se moveu junto
com a minha mão e ele estava dentro de mim,
gememos, juntos e nos movemos unidos. Segurei
sua cabeça com as mãos e puxei-o para um beijo.
Sua língua quente e convidativa se mexia em torno
da minha, ao mesmo tempo em que seu pau estava
me preenchendo lentamente.
A sensação, os toques, as respirações e
gemidos que fazíamos era algo que nunca me
cansaria.
Salvatore segurou minha nuca e encostou sua
testa contra a minha, o movimento de seu pênis
aumentou o ritmo dentro de mim, soltei um gemido
baixo e arrastei lentamente minhas unhas sobre as
suas costas, ele gemeu com isso e me deu beijo
duro na boca. — Mais profundo. — Pedi,

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sussurrando ofegante.
Ele me olhou excitado e acelerou o ritmo, seu
pau batendo lá no fundo, o que me fazia miar como
um gato e me contorcer de prazer. Salvatore
segurou meu seio direito na sua mão e apertou meu
mamilo, eu gemia e sentia. E sentia que estava
chegando. Entrelacei minhas pernas em torno da
sua cintura e fechei os olhos. Salvatore gemeu,
rosnou e me penetrou mais rápido, nossos corpos se
colavam pelo suor e sentia o quão molhada eu
estava.
Até que senti a luxúria invadir meu corpo e
uma leveza me possuir. Gozei. Forte. Chamando
por Salvatore e arranhando sua carne das costas.
Ele segurou meu quadril e bombeou mais forte até
que grunhiu e gozou dentro de mim, sua respiração
alta, as maçãs do rosto vermelhas e boca aberta. A
melhor visão.
Seu corpo caiu contra o meu e seus lábios
vieram. Ele me beijou. Com amor, carinho,
respeito. Beijou-me profunda e apaixonadamente,
toquei em seus cabelos loiros e suspirei. Eu jamais
me afastaria de Salvatore, nunca iria embora. Ele
me pertencia, e eu também, pertencia a ele. Para

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sempre.

*****
Algumas semanas depois...
— Aposto que é uma menina. — Sorriu
Margot, comendo uns amendoins. Era a sua folga
na Haze e ela aproveitou para jogar no andar de
cima. Eu estava pegando algumas bebidas para
servir, quando ela disse-me isso. Olhei para ela
sorrindo e dei de ombros.
— Bem, eu soube que na máfia tem essa
loucura de ter herdeiros homens, para a Família
continuar nas posições da máfia. Porém, com
Salvatore não importa, há muitos homens na sua
família e se tivermos uma garota, estará ok. —
Expliquei. Espalmei minhas mãos no balcão e fiz
um biquinho. — Se for menina, ele escolhe o
nome, aliás, Salvatore já conversa com a minha
barriga e o nome Samantha sempre sai de sua boca.
Devo me preocupar? — Eu não era fã do nome
escolhido por ele, porém, tínhamos jurado que
nenhum dos dois lamentaria, quando
descobríssemos o sexo do bebê e o ganhador
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escolheria o nome. Eu fiz uma grande careta em


ouvi-lo chamar nosso – ou nossa – filho de
Samantha. Era um nome... simples e sempre gostei
de algo diferente.
Enquanto eu escolhi o nome Donovan, se
fosse um lindo garoto. Margot soltou um suspiro e
revirou seus olhos. — Salvatore não é babaca para
colocar o nome do seu filho de alguma conquista
que ele teve. Se for isto que está pensando. —
Resmungou. — Ele apenas gosta do nome, sua
maluca. Entretanto, Samantha é melhor que
Donovan!
— Achei que eu que era a sua amiga! —
Exclamei, pegando um amendoim na mão e
jogando nela.
Margot gargalhou e se levantou da banqueta.
— Foda-se. Esse nome é feio e se for menino com
esse nome, ele será um bebê feio! — Ri, enquanto
ela pegava sua bolsa vermelha e se afastava. —
Relaxe e aproveite esse momento, vadia. Beijinhos.
— Ela desceu as escadas, indo embora e me
deixando ali, sorrindo. Margot era a melhor amiga
de todos os tempos, eu a amava. Mordi meu lábio
inferior e fiquei me recordando dessa manhã, no

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consultório. Era um espaço incrível com cheiro de


riqueza! Salvatore estava pagando tudo, à vista, e
sem fazer cara feia. Ele já estava pensando também
no enxoval do bebê e que gostaria de comprar tudo
em Marselha, na França! Fala sério! Eu estava em
êxtase!
Mas também disse que era cedo demais,
queria fazer tudo na hora certa. Porém, eu não
poderia negar, estava enlouquecida para ir à França.
Já o bebê estava bem, o meu Doutor –
particular – chamado Ulisses Krueger, me deu
várias vitaminas e indicações de alguns exercícios
físicos, leves, para no dia do parto, ser menos
“pesado” como ele citou. A parte do parto eu não
tinha pensando, ao vê-lo dizendo aquilo fez meu
coração acelerar de terror e ansiedade. Mas
Salvatore estava ao meu lado, acariciando minha
mão e olhando-me com carinho. Ele estava feliz.
Mas eu sabia que estava em guerra com seu
pai. France tinha aparecido um dia depois que suas
duas irmãs, na cobertura de Salvatore, mas
infelizmente não pude conhecê-lo, pois Salvatore
tinha ordenado para me trancar no quarto e não sair
nem ferrando. Eu não os ouvia, nenhuma voz

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alterada, nenhum xingamento. A educação dos dois


me surpreendia muito. Depois de meia hora,
Salvatore apareceu no quarto com um olhar
impassível, ele permaneceu taciturno sobre o
assunto e eu não perguntei. Se ele não gostaria de
compartilhar o que conversou com seu pai, então eu
não iria pressioná-lo.
Caminhei sorrindo com a bandeja prata e
bebidas em cima, entregando aos últimos clientes
ali e depois voltando para o balcão. Dei a volta nele
e fui guardar as garrafas, cantarolando.
— Gostaria de uma bebida. — Uma voz
masculina disse-me.
Abri um sorriso, perguntando. — Claro! Qual
seria? — Quando me virei para o cliente, meu
sorriso endureceu e meu corpo se arrepiou do mais
puro medo. Vicentino estava curvado sobre o
balcão, olhando para o seu copo vazio, quando seus
olhos subiram para mim, senti a fraqueza das
minhas pernas, eu não conseguia me mover. Estava
em pânico e queria chorar e correr. Sentia minha
respiração se elevar e meu coração pulsava
fortemente. Os flashes daquela noite e dia estavam
me deixando em frangalhos. Engoli em seco e

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tentei me manter firme, segurando as lágrimas de


medo.
— Então, agora é namoradinha de Salvatore?
— Perguntou, arqueando as sobrancelhas. Não o
respondi. Vicentino sorriu e olhou para o lado,
onde alguns clientes estavam jogando. — Ele é um
sortudo, ter esse corpo quando quiser... humm... É
de invejar, não é mesmo? — Perguntou novamente.
Respirei fundo, olhando-o. — O que você
quer? — Perguntei sem tremer a voz. Salvatore me
ensinou a controlar os sentimentos, pois ele sabia
que em algum momento, Vicentino apareceria mais
uma vez, quando ele não estivesse por perto. Seus
olhos escuros me avaliaram de cima a baixo,
deixando-me enojada.
— Em qual momento achou que poderia
deixar de ser uma puta? — Trinquei a mandíbula
para não chorar, suas palavras foram um murro em
meu estômago, mas continuei calada. Ele abriu um
sorriso de tubarão e continuou. — Sou um dos
gerenciados da Haze e eu que mudo o... catálogo da
empresa. Não me recordo de torná-la uma fissa,
justamente ainda, para Salvatore. E também, virar
garçonete dos fodidos que gastam seus dinheiros no

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segundo andar.
Olhei para os homens rindo e bebendo,
depois o encarei. — Salvatore falou com o Capo.
Ele é o dono da boate e não discordou das decisões
independentes de Salvatore, você, não é importante.
— Quando terminei de falar, respirei fundo, pela
minha pequena coragem, eu sabia que ele não faria
nada com testemunhas ali na nossa frente, e
também, todos na boate estavam alerta sobre ele,
depois de um aviso de Salvatore. Vicentino se
levantou da banqueta e me olhou com raiva, mas
não senti medo dessa vez.
— Você vai ir embora, sem olhar para trás.
Aliás, era isso que você queria mesmo. —
Comentou calmamente.
Suspirei. — Não irei. Estou bem agora, tenho
pessoas impor...
— Importantes? — Zombou Vicentino,
rindo. — Salvatore e a puta loura? Acredita que ele
ficará com você por tempo indeterminado? Olhe
para você, olhe para Salvatore. Ele precisa de uma
mulher e não uma garotinha mal comida como
você. — Rosnou, se curvando no balcão.
Dei um passo para trás e segurei a borda do
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outro balcão, sentindo as lágrimas fluírem. — Não


vou embora. — Continuei. — E contarei para
Salvatore.
Vicentino suspirou pesadamente e olhou em
nossa volta. Eu sentia meu instinto gritar para
correr dali, o mais longe possível. — Ameaças.
Sempre salvam alguém, mas comigo não funciona.
— Ele abriu um sorriso e então mexeu no bolso
interno do seu paletó, ele retirou seu celular e
olhava a tela enquanto dizia. — Para outros, sim.
Essa aqui é alguém conhecido para você? —
Vicentino me encarou no mesmo instante que virou
a tela do seu celular para mim. Abaixei meus olhos
até lá e paralisei novamente, dessa vez, não pude
deixar de segurar as lágrimas.
Havia uma foto. Não algo normal. Uma foto
de Perla no seu trabalho, atendendo às pessoas.
Com seu uniforme e seu cabelos penteados para
trás e preso em um coque. Ele estava vigiando-a lá!
No Brasil, há quilômetros daqui! Funguei e limpei
um lado do meu rosto com a mão. — Onde ela
está? — Perguntei com acidez.
Vicentino riu e guardou o aparelho
novamente, levantando seu dedo indicador. — Oh

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meu bem, ela está onde sempre esteve. Nas


periferias do seu país, vigiado pela máfia siciliana.
E não adianta você ligar para as autoridades
brasileiras, seus governantes são fáceis de subornar.
São como crianças pegando o doce, quando vê
dinheiro. — Ele soltou uma risada e se afastou do
balcão. — Saia do meu mundo e vá viver a sua
vida. Pense em Perla, a linda Margot e seu
namorado Salvatore. Você não os quer
machucados, certo? — Ele se virou de costas para
mim, andando confiante, até que parou no meio do
caminho e se virou com um sorriso, voltando até o
balcão do bar.
— Que cabeça a minha. — Vicentino retirou
algo do paletó e depositou em cima do balcão. —
Aqui está à passagem só de ida para o seu país, se
quer Perla a salvo, então sugiro que faça as malas
hoje mesmo e sem olhar para trás. Aliás, Salvatore
não se importará com a sua partida. Tenha uma boa
viagem, Srta. Evans.
Quando Vicentino se foi, consegui respirar
com calma e andar até o papel, peguei em minhas
mãos trêmulas e vi que era uma passagem de avião,
na classe Premium. Mordi meu lábio inferior,
olhando para onde o maldito tinha ido embora e
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deixei as lágrimas rolarem silenciosamente. Ele me


ameaçou, estava vigiando Perla e aquilo me
apavorou. Não poderia colocá-la em risco, não
mesmo! E quem sabe, talvez, até o meu pai,
madrasta e irmãos? Apoiei os cotovelos sobre o
balcão e segurei a cabeça com as mãos, me
permitindo chorar. Estava farta desse homem! Farta
de sempre ser fraca na sua frente. Não poderia
colocar as pessoas que amo, em risco.
E quanto a Salvatore?
Levantei minha cabeça e pensei. Ele saberia
se defender, Salvatore era um homem forte e
destemido. Diferente de mim. Ele nasceu no meio
dos perigos, aprendeu a conviver com eles, mas
eu... eu não. Isso me apavorava muito. Fechei os
olhos e suspirei. Estava envolvida demais por ele,
Salvatore era o meu pilar, não saberia viver nessa
selva sem ele ao meu lado, sempre esteve presente
e agora... agora teríamos um bebê, juntos! Porém,
será que teríamos juntado?
Virei-me de costas e escondi meu rosto entre
as mãos. Não queria deixá-lo, mas também não
queira ninguém da máfia, ao lado de Perla.
Suspirei tremulante. E agora, o que eu faria?
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VINTE E DOIS

Parei na frente da porta do apartamento de


Margot e bati três vezes na sua porta. Meus olhos
estavam inchados de tanto que chorei do caminho
para cá. Esperei ser atendida e então ouvi passos lá
dentro e a porta sendo destrancada e aberta, Margot
estava com um camisão branco, shorts, curtinho,
rosa, meias e seu cabelo preso em um rabo de
cavalo. Já estava prestes a dormir. Quando ela me
olhou, franziu a testa e me puxou com as mãos,
para dentro do seu apartamento. Ele era lindo, mais
parecido com um loft.
— Lisa! O que houve? — Perguntou ao
trancar a porta, me puxando para um abraço. —
Você está bem? — Perguntou mais uma vez.
Abracei-a com força, deixando as lágrimas
escorrerem. Afastei-me dela e funguei. —
Vicentino. — Sussurrei, olhando-a. Margot soltou
um suspiro baixo e segurou minha mão, guiando-
nos até o seu sofá grande da cor vermelha.
— O que ele fez? — Perguntou.
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Limpei meu rosto com as mãos e contei tudo


o que tinha acontecido há meia hora. A cada
palavra que soltava, chorava mais, Margot
balançava sua cabeça e direcionava um olhar
raivoso. Quando terminei, respirei profundamente e
dizendo. — Por que ele quer que eu vá embora? Eu
não entendo! — Realmente fiquei sem
compreender essa questão, por qual motivo me
queria longe. Margot então pegou a minha mão e
olhou-me com ternura.
— Com certeza é algo que possa ser
importante para ele. Talvez queira ver o sofrimento
de Salvatore. — Sugeriu.
Balancei a cabeça e suspirei. — Tenho quase
certeza de que seja porque eu não trabalho na Haze,
da forma que ele gostaria. — Expliquei. —
Vicentino disse no dia que me atacou que gostaria
de me... foder quando ele quisesse, sem ninguém
por perto. Então Salvatore apareceu e eu contei a
ele, Vicentino pagou o preço levando uma surra
dele. Ele está com ódio. — Completei. Essas
opções eram as que estavam no topo das dúvidas,
eu não entendia seus motivos, mas essas questões
poderiam ser pensadas. Minha mente sempre ficara
em frangalhos, quando aquele homem se
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aproximava de mim e isso me transtornava.


Os olhos de Margot se apertaram, como se
estivesse pensando, então ela me disse. — Vamos
pensar nisso depois. Agora, temos que ter um plano
sobre sua ida para o Brasil, porém sem voltas. —
Ela cruzou seus braços e pernas e fez um biquinho.
— Sabe, fico feliz em ter me procurado, mas
precisamos dizer a Salvatore. — Olhei para ela e
me senti tensa com isso.
— Você acha? Eu sei, devemos, mas não
quero que ele saia ferido. Salvatore é o pai do meu
filho. — Disse com dor na voz.
Margot assentiu com a cabeça e segurou
minha mão novamente. — Exatamente, Lisa. O pai
do seu filho que não pode ficar no escuro! Seria
egoísmo não contar para ele, depois de tudo o que
fez por você. Salvatore te trouxe vida novamente,
minha amiga. Não faça com ele, o que você não
gostaria que ele fizesse a você. — Sorriu pequeno.
Fechei os olhos, suspirando e concordei com
Margot, ela tinha razão e eu seguiria seus
conselhos. Salvatore era muito importante para
mim. Muito.
— Tudo bem. Contarei para Salva...
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Batidas bruscas ressoaram contra a porta,


fazendo-nos sobressaltar do sofá. — Elizabeth! —
Chamou a voz grave de Salvatore, sua mão batendo
novamente contra a porta. Margot e eu nos
entreolhamos surpresas, ao mesmo tempo, nos
levantando do sofá e indo em direção a porta.
Margot abriu as fechaduras e quando abriu à porta,
Salvatore estava ali, com um olhar bravo. — Qual o
seu problema? Sair da boate e não me dizer para
onde vai?! Você está grávida!!! — Abri minha
boca para respondê-lo, mas não sabia o que dizer.
— C-como você me achou? — Consegui
perguntar.
Salvatore passou por nós duas, entrando no
apartamento e olhando todo o lugar, com seus olhos
de águia. Margot trancou a porta, no momento em
que ele me dizia. — O celular que lhe dei,
implantei um chip de rastreamento nele. —
Murmurou, olhando-me bravamente. Margot me
encarou de olhos bem abertos e depois olhou para
ele.
— Isso foi muito inteligente. — Murmurou.
Mordi meu lábio inferior e encarei Salvatore,
mas não me aproximei. — Me desculpe. — Disse-
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lhe. — Preciso te contar algo, muito, muito sério.


— Completei.
Os olhos de Salvatore se apertaram e foram
de mim, para Margot em pé ao meu lado. Ele não
disse nada, então Margot murmurou. — Acho
melhor você se sentar.
*****

— ELE FEZ O QUE?! — Esbravejou


Salvatore, se levantando do sofá como um gato.
Tinha contado tudo, sobre as ameaças de Vicentino,
enquanto Margot murmurava “fique calmo” para
ele. Levantei-me do sofá assim como ela, para
tentar acalmar Salvatore.
— Por favor, fique calmo. — Disse-lhe. —
Precisamos ser mais inteligentes do que ele.
Salvatore soltou um grito misturado com um
rosnado e se afastou de nós duas, indo até a porta.
— EU VOU MATÁ-LO E QUE SE FODA O
JURAMENTO! — Margot e eu corremos até ele e
quando Salvatore estava prestes a abrir a porta,
seguramos seus braços e Margot pegou a chave da
porta. — QUAL O PROBLEMA DE VOCÊS,
PORRA?! SAIAM DAQUI!
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— VOCÊ PRECISA SE ACALMAR


SALVATORE! — Rugi de volta, com as mãos
espalmadas sobre o seu peitoral. Salvatore me
olhou respirando ofegantemente, havia vermelho
em seus olhos. — Precisamos da sua ajuda! Por
favor, não vá até ele, Perla poderá entrar em perigo.
— Ele virou seu rosto, respirando fundo e movendo
seu maxilar de forma irritada. Aproximei-me dele e
abracei sua cintura, encostando minha cabeça no
seu peito largo. Era arriscado demais deixá-lo ir
atrás daquele verme maldito, não poderíamos agir
com a emoção e sim com a razão! De repente,
Salvatore soltou sua respiração tranquila e me
envolveu com seus grandes braços fortes, beijando
o topo da minha cabeça.
Ele me afastou e acariciou minha bochecha.
— Me perdoe, não tenho controle quando fazem
algo contra você. Eu disse a ele para não ameaçá-la,
vou arrancar os membros do seu corpo, aquele filho
da puta. — Rosnou, em seguida, respirando
profundamente, mais uma vez. Ele olhou para
Margot, que nos observava sorrindo abertamente.
— O que tem em mente, Srta. Lawrence? — Ela
revirou os olhos e se afastou da porta, chegando
perto de nós dois.
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— Não precisa dessa formalidade. Enfim, eu


tenho um amigo que trabalha na companhia do
avião que irá para o Brasil hoje, se não me engano
ele será o piloto dessa noite e eu posso pedir um
pequeno favor a ele, pois ele me deve um. —
Sorriu.
Salvatore caminhou pela sala e suspirando.
— Ótimo. Não vamos envolver pessoas que não
conhecemos, eu não confio em ninguém, Margot.
— Respondeu com advertência. Porém, ela soltou
um rosnado e pôs as mãos nos seus quadris.
— Eu confio nele! Travis é uma pessoa do
bem, somos amigos há anos e sei que ele não faz
ideia da existência da máfia. — Ela fez uma careta
em seguida. — Quero dizer, agora sabe, já que o
seu Capo aceitou aquela entrevista ridícula de
meses atrás! O ponto é: com a ajuda de Travis,
podemos nos dar bem e foder Vicentino. —
Completou com um sorriso.
Eu tinha amado a ideia da minha amiga,
porém eu via que Salvatore estava pensando o
contrário de mim. Óbvio que não confiaria, eu
nunca tinha visto tantos homens desconfiados como
havia na máfia. Virei-me para Margot, sorrindo. —

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Ligue para ele, o voo é daqui a uma hora e meia. —


Disse-lhe. Ela correu para o corredor do seu
apartamento e depois voltou com o celular.
Enquanto ela conversava com o seu amigo,
Salvatore se aproximou de mim com um semblante
angustiado.
— Temo por esse tal amigo. — Murmurou
para mim.
Abri um meio sorriso e toquei em seu rosto
com a mão. — Está tudo bem, não temos opções e
seria perigoso pedir ajudar de alguém da máfia.
Margot não colocaria esse Travis no meio, se
desconfiasse dele. Ok? — Ele me olhou com
carinho e assentiu, segurando minha mão contra a
sua em seu rosto.
— Ok! — Murmurou. — Lisa, eu tenho algo
para te dizer, desde o momento que comecei a ficar
ao seu lado. Eu... eu estou...
— Pronto. — Chamou Margot, nos tirando
do nosso assunto. Ela sorria feliz enquanto dizia. —
Não precisei contar exatamente do que se tratava,
então ele aceitou. Travis será o piloto do próximo
voo para o Brasil, mas ele disse que mudará o
horário da passagem e assim será mais prático.
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Assenti para ela e quando perguntaria algo,


Salvatore ouviu meus pensamentos e disse antes.
— O que virá a seguir? — Perguntou franzido.
Margot sorriu maliciosamente para nós e cruzou
seus braços.
— A cereja do bolo. — Respondeu
sorridente.

*****

Margot e eu paramos na frente do Aeroporto


Internacional McCarran estacionando o carro. Já
era metade da madrugada e o lugar estava meio
vazio. Eu estava com duas malas de viagem e
usando meus óculos de sol, pois Salvatore nos disse
que haveria olheiros de Vicentino por ali. Quando
entramos no aeroporto, tinha feito todo o
procedimento de cheque-in e enfim estava
esperando o avião. Eu me sentia extremamente
nervosa e estava com muito medo de que, talvez,
Vicentino aparecesse por lá.
— Fique fria. — Tranquilizou-me Margot,
olhando para os lados, com as mãos escondidas nos

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bolsos de seu casaco cinza de moletom. Ela


também estava com o capuz do moletom para cima
da cabeça. — Vai dar tudo certo.
Suspirei pesadamente e olhei em volta, as
pessoas pareciam normais demais, entretidas nos
seus celulares, notebook, nas tevês do salão do
aeroporto ou até mesmo em seus alimentos. Não
pareciam estar nos observando, mas sabia que
alguém ali, estava. Olhei para Margot mais uma
vez e dei de ombros. — Me preocupo mais com
Perla. Ela é a minha mãe, e é inocente nisso tudo.
— Murmurei para ela. Margot fez uma careta e
assentiu com a sua cabeça, concordando comigo.
— Eu imagino sua preocupação, mas com
isso que estamos fazendo, ela se manterá segura. —
Afirmou.
— Não posso me dar ao luxo, Margot. —
Balancei a cabeça. — É de Vicentino que estamos
falando, do homem que me machucou, pra valer. O
mesmo homem que fez exatamente as mesmas
perversidades, com você. Você acha que vivo bem
com isso? Salvatore é uma exceção desse mundo
podre, foi uma grande sorte em encontrar alguém
tão doce e disposto a me ajudar, como ele. Mas no

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início, eu não me sentia bem ao seu lado, toda vez


que fazíamos amor, eu me sentia relutante e ele
rapidamente parava. Deus! Ele é incrível, mas ele é
um criminoso, mesmo sendo rico, bem-vestido,
falar formalmente e ter um apartamento de luxo, ele
continua sendo um criminoso. Como Vicentino!
Isso, os dois têm em comum. Se minha mãe
descobre quem é ele e que espero um filho dele,
ficaria sem chão, pois não foi esse futuro que Perla
queria me dar, eu não queria esse futuro. Agora,
quem você acha que deve estar ao meu lado? Perla,
que foi a melhor amiga da minha mãe, que me
pegou para criar como sua filha, depois do meu pai
me abandonar, que me deu tudo o que estivesse ao
alcance dela, que me deu amor, carinho, que me
deu educação e respeito por toda minha vida. A
mulher que me amou com se eu fosse sua filha de
sangue! Ou então, Salvatore, um homem
incrivelmente maravilhoso, que me protegeu das
garras desse submundo, que me deu um
apartamento, para proteger-me melhor! Que me
ofereceu a sua confiança, seu lar, seus dias ao meu
lado, que me ofereceu seu carinho, seu altruísmo
em enfrentar toda a máfia, somente por minha
causa! O homem que pela primeira vez enfrentou
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sua irmã, por mim. Qual deles dois? Qual eu


poderia escolher, para manter a salvo? Não seria
justo escolher aquele que sabe se defender sozinho
e melhor do que ninguém?
Quando terminei meu desabafo, encostei-me
ao vidro que separava a pista do aeroporto,
suspirando tremulante e segurando meu choro.
Margot chegou perto de mim e deu-me um forte
abraço. — Siga o seu coração. — Falou, segurando
meus ombros com as mãos. — Eu nem imagino
como deve ser escolher entre sua mãe e o pai do
seu filho, com toda certeza eu ficaria ao lado da
minha mãe, mas... olha essa parte fica com você, só
pense com cuidado, pois haverá uma solução para
ambos. — Assenti para ela, no mesmo momento,
foi dito no salão que os portões de embarque
estavam abertos para ida do Brasil. Olhei para
Margot, nervosamente.
— É agora.
Ela balançou suas sobrancelhas e sorriu. —
Siga-me senhorita. — Consegui ri dessa vez e
fomos em direção à porta do banheiro feminino.
Quando entramos, Margot trancou a porta e abriu o
seu casaco, dizendo: — Hora de enganar os filhos

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da puta. — Cantarolou.
*****

Finalmente estávamos na fila do embarque


com nossas roupas trocadas. Margot tinha colocado
uma peruca preta e estava com meus óculos, e eu
com seu casaco de capuz e cabeça meio baixa. Eu
me sentia ansiosa com o nosso plano, temendo que
talvez alguém nos pegasse no ato. Mas Margot
estava calma até demais! Enquanto esperávamos
sermos as próximas para vistoriar os meus
documentos, que estavam com Margot, ela dizia.
— Travis já está a caminho daqui, ele deixará que
eu entre no avião sem ter os documentos
confiscados pela bonitinha ali. — Apontou para a
moça vestido de vermelho, no balcão. — Quando
eu entrar no avião, você pega meu carro
tranquilamente e fique no meu apartamento,
esperando.
— E quando você volta? — Perguntei em voz
baixa.
A fila andou novamente e ela me olhou de
relance. — Hoje mesmo, depois das 10 h. Olhe!
Travis está aqui. — Olhei discretamente para trás,
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para que ninguém visse meu rosto e vi um homem


alto e apresentável, vestido com um terno azul,
camisa branca e gravata preta, onde estava bordado
seu nome em amarelo. Três aeromoças e um
homem caminhavam com suas malas atrás dele. —
Acene para ele sem mostrar seu rosto. — Disse
Margot. Fiz um sinal para o homem que
rapidamente notou e disse algo aos funcionários.
Eles assentiram e foram até os portões, em
direção ao avião. Seu amigo Travis parou em nossa
frente, fazendo as pessoas da fila nos olharem. —
Eu a conheço mesmo usando peruca, torça para que
outros não notem. — Murmurou o homem, olhando
para mim, mas sem se direcionar em nenhum
momento. Margot passou a mão na sua peruca preta
e mexeu nos óculos de sol.
— Obrigada por me ajudar, Travis. Mas eu
preciso entrar o quanto antes. — Murmurou, para
que ninguém nos ouvisse.
Travis olhou para o início da fila e depois
assentiu. — Tudo bem, mas terá que mostrar sua
identidade. O resto é comigo, vamos? — Chamou,
já se afastando. Ela se virou para mim e me abraçou
com força, com o rosto escondido em meu ombro

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como se estivesse chorando. Ao se afastar, Margot


segurou minhas mãos geladas com as suas e sorriu.
— Vai dar tudo certo, eu prometo. Mais tarde
estarei de volta. — Garantiu.
Sorri fracamente e assenti. — Só tome
cuidado, por favor.
Margot caminhou até o balcão junto com seu
amigo Travis e conversou com a mulher, ela
mostrou a minha identidade e rapidamente o
homem falou algo para a mulher, ela sorriu e
assentiu educadamente, já atendendo outro
passageiro. Fácil. Margot e Travis andaram juntos
até os portões de embarque, ela se virou para mim,
e seu rosto escondido pelos óculos de sol,
transparecia como se estivesse triste e chorando.
Margot acenou para mim e fiz o mesmo. Pronto!
Ela já estava entrando no avião.
Eu sentia o gosto da vitória, mas só me
glorificaria quando ela estivesse de volta à Las
Vegas, contando-me tudo. Suspirei pesadamente e
me virei indo embora dali, quando cheguei ao seu
carro e dei a partida, eu continuei com o capuz
contra a minha cabeça. Era melhor prevenir do que
remediar. Olhei pelo retrovisor, mas ninguém
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estava me seguindo. Isso era bom. Depois de


alguns minutos, cheguei ao prédio e deixei o carro
na vaga de Margot. Peguei o elevador e, em
seguida entrei no seu apartamento, fechando e
trancando a porta.
Encostei minha testa contra a madeira e
fechei os olhos, tentando acalmar meu coração.
Não sei por quanto tempo permaneci ali, mas fui
tirada do meu devaneio, com a voz de Salvatore. —
Lisa, sou eu. — Rapidamente destranquei, abri a
porta e Salvatore entrava no apartamento, me
abraçando com força. — Ocorreu tudo como
queríamos, fiquei de olho em vocês duas à
distância. — Murmurou ele. Assenti com a cabeça
e fechei e tranquei mais uma vez a porta. Os olhos
de Salvatore me observavam atentamente, o verde
mais lindo que já vi em toda minha vida. Arrastei
as palmas das mãos contra a outra e andei
lentamente até o centro da sala.
— Tenho medo pelo que pode acontecer com
Perla, quando notarem que não estou no Brasil. —
Sussurrei com um aperto em minha garganta.
Salvatore franziu o cenho e mexeu no bolso
da sua calça social cinza, ele tirou seu celular e

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discou alguns números, em seguida começou a


falar em italiano. — Ho bisogno di lasciare il tuo
post e la guardia alla casa della madre di mia fissa,
Ti prendo l'indirizzo dopo aver riagganciato.
Posizionare i vostri uomini come sua guardia del
corpo, ma mantenere una buona distanza. — Ele
desligou a ligação e digitou algo na tela, enfim,
guardou seu aparelho e me olhou. — Está tudo
certo, Perla estará segura. — Assegurou. Uni
minhas sobrancelhas em confusão, não entendendo
o que estava acontecendo.
— Como assim? O que disse na ligação? —
Perguntei.
Ele deu de ombros e caminhou em minha
direção. — O que você queria. Proteger Perla. Há
alguns homens pagos pela máfia, que estão por lá.
Pedi que vigiasse a casa e os passos de Perla, mas
sem ela notar. Depois passei o endereço. Eles são
ótimos em proteger pessoas fora do ciclo e que
estão sobre ameaça, sem o consentimento de
Demétrio. — Quando ele parou na minha frente,
um sorriso torto e lindo demais apareceu em seus
lábios. — Ela ficará bem, lhe garanto. — Mordi
meu lábio inferior e assenti para ele. Deus, tão bom
para mim esse homem! Disposto a tudo, mas não
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poderia negar, estava ficando farta disso tudo, farta


de ter que viver com o medo, farta em ser tão frágil,
quando se tratava de Vicentino. Ele sempre estava
drenando minha energia e eu não poderia viver
assim, não agora que tenho um bebê. Rapidamente
minha mão desceu até o meu ventre e, os olhos de
Salvatore, captaram o movimento.
Pisquei algumas vezes, e o encarei. —
Precisamos conversar. — Ele me encarou por um
momento, dando um passo para trás e engoliu em
seco, porém, assentindo da mesma forma.
— Certo... vamos conversar. — Murmurou.

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VINTE E TRÊS
Entrelacei repetidamente meus dedos contra
os outros, sentindo-me nervosa, a bile em minha
garganta subia junto com as minhas palavras. Não
poderia andar para trás, era a minha vida, eu
precisava me preocupar comigo e com o meu bebê,
acima de tudo. Fechei meus olhos mais uma vez,
contendo a calmaria.
— Não acho que estamos fazendo o certo. Eu
nem sei se teremos um futuro, não posso passar
mais por nada que me machuque, Salvatore.
Principalmente fisicamente, tenho uma criança,
crescendo, dentro de mim e ela é a minha
prioridade. — Olhei para ele e respirei. — Acima
até mesmo de você, de nós dois.
Seus olhos verdes se moveram lentamente
para o lado, impossibilitado de me olhar. Salvatore
abaixou sua cabeça, unindo suas sobrancelhas. —
Você... — Ele fechou os olhos e respirou alto. —
Você tem razão, deve proteger nosso filho. Mas
pode fazer isso, ao meu lado. Não quero que vá
embora, por favor, e-eu não... eu não saberia o que
fazer. — Murmurou franzido e, dessa vez, me

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olhando. Sentia meu chão abrir e me engolir, em


ouvir a dor na sua voz, mas a minha mente sempre
me fazia lembrar alguém mais importante do que
Salvatore. Coloquei minhas duas sobre meu ventre
e suspirei.
— Isso não é mais sobre nós, Salvatore. Não
posso arriscar nosso filho, você entende? Meu
instinto fala mais alto, que qualquer outra coisa,
máfia não é brincadeira. Não são os bons moços,
não são os salvadores do mundo! Eles destroem
vidas, famílias, trabalhadores. Meu bebê não pode
fazer parte de algo tão sujo, não pode. — Limpei
minhas lágrimas que escorriam pelo meu rosto e
respirei tremulante. — Olha... vamos dar um
tempo, está bem? Até as coisas se acalmarem.
Ficarei com Margot até lá, não posso estar por
perto quando sei que Vicentino está por aí. — Os
olhos de Salvatore mudaram de surpresos a
machucados, como se sentisse dor em ouvir meu
desabafo.
Porém, eu sentia o que ele estava sentindo,
era estranho, mas a verdade. Como se estivéssemos
conectados.
Eu não queria permanecer longe, mas devia ir

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pela razão, não pela paixão que sentia por


Salvatore. Dependente de qualquer situação que
acontecesse a seguir, estaríamos sempre vinculados
ao outro, pois ele era o pai do meu bebê.
Salvatore engoliu em seco e passou a mão no
seu rosto, onde a rala barba loira estava crescendo.
Então ele disse-me: — O que tenho que fazer, para
que se sinta segura comigo novamente? —
Perguntou em voz baixa. Eu sempre me sentiria
segura com ele, sempre, mas deveria reforçar isso,
não éramos mais dois, éramos três agora.
— Vicentino quer destruir o que temos, ele
que é o veneno disso. — Dou de ombros.
Ele me encarou e assentiu. — Eu e alguns
dos meus homens, estamos vigiando Vicentino, já
faz alguns meses, Demétrio pediu, mas até o
momento não conseguimos nada, que mostrasse
alguma traição de sua parte. — Ele parou de falar e
apertou os lábios contra o outro. — Ele não vai
afastar o que é meu. Não vai. — Quando terminou
de dizer-me isto, Salvatore caminhou em passos
firmes em minha direção e segurou meu rosto com
suas mãos quentes, olhei surpreendia para ele e
então seus lábios apertaram-se contra os meus.

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Segurei sua nuca com minhas mãos e beijei


sua boca, persistindo que seu gosto se misturasse
com o meu, para sempre. Quando o beijo cessou,
sua testa veio de encontro a minha e nossas
respirações estavam ritmadas. — Isso vai acabar.
Você estará livre da sombra desse homem. Eu
prometo. — Sussurrou a última palavra. Salvatore
beijou a minha testa e com isso saiu, deixando
apenas o rastro do seu perfume e o formigamento
dos seus lábios nos meus.
Toquei na minha boca e suspirei. Foi o certo
a se fazer, não foi egoísmo da minha parte, eu tinha
um filho e ele era o mais importante para mim. Se
Vicentino descobrir que eu ainda estava em Las
Vegas e grávida de Salvatore, somente o bom Deus
saberia. Eu tinha medo, porém, não dele, como
imaginava, mas sim do que ele pudesse fazer.
Vicentino estava com ódio de Salvatore, por ter me
protegido, estava com ódio pela surra que levou na
frente de algumas pessoas e, então, veio me afastar
de Salvatore.
Talvez ele pudesse conseguir. Talvez eu
pudesse ir embora desse lugar e ter somente uma
parte de Salvatore comigo, nosso filho.

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*****

Não consegui dormir nas últimas horas então


depois da saída de Salvatore, permaneci na sala,
sentada no sofá. Minha mente estava em um
turbilhão, assim como os meus sentimentos. Eu
queria Salvatore ao meu lado, claro, mas também
não queria arriscar minha vida e a do nosso filho.
Além de tudo, Salvatore não é Deus para proteger
incansavelmente a nós dois. Ele era apenas um
assassino rico com habilidades, e não filho de
Odin!
Mordi meu lábio inferior e olhei a hora na
tela do meu celular, estava começando a sentir
fome.
— Lisa! — Chamou Margot quando abriu a
porta. Levantei-me e me virei olhando para ela.
Estava sem a peruca, mas usava as mesmas roupas
de horas atrás.
Corri até ela e a abracei, suspirando de alívio
ao vê-la bem. — Graças a Deus. — Murmurei me
soltando do abraço. — E então? Tudo ok? —
Perguntei em seguida. Margot tirou seus sapatos
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altos e depois sua jaqueta, jogando nas costas do


sofá, em seguida, prendeu o cabelo em rabo de
cavalo e deixou suas coisas na entrada da casa,
caminhando até o sofá.
Segui-a e nos sentamos ao mesmo tempo. —
Sim. Tudo perfeito, ninguém me viu ou me seguiu,
eu fiz o impossível para ser evitada por qualquer
desconhecido, que pedisse até licença! Droga, meus
pés estão me matando. — Gemeu, puxando o pé
direito até seu joelho esquerdo, massageando com
as mãos. — Precisamos passar um feedbacks para
Salvatore, aposto que está curioso, aliás, onde ele
está? — Me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
Soltei um suspiro baixo e balancei a cabeça, não
queria fazer rodeios, estava cansada mentalmente.
— Eu... Margot, eu..
— Ah droga, você deu um fora nele?
Justamente agora?! — Perguntou incrédula. —
Elizabeth, ele era a nossa única proteção! Qual o
seu problema, por que faria isso?
Levantei-me do sofá e me virei para ela, seus
olhos me fuzilavam revoltadamente. — Não posso
colocar todos em perigo, Margot. Salvatore sabe se
defender? Sim, mas ele não é o homem de ferro!
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Ele é um ser humano e eu sou também, não tem


nada a ver em ceder ao que o maldito do Vicentino
disse-me, tem a ver com preservar a vida. Tenho
uma criança crescendo constantemente dentro de
mim e não quero arriscá-la nisso tudo! Salvatore...
Salvatore entende, eu disse a ele que até que tudo
se resolva. — respirei profundamente e voltei a me
sentar. Margot me encarava tristemente, depois de
me ouvir. Ela me compreendia também. — Não
posso simplesmente ir, deixá-lo. Mas também não
posso simplesmente arriscar minha vida nessa
loucura entre assassinos, arriscaria a do meu filho
também. Por favor, Margot, não me julgue, me
entenda.
Ela revirou os olhos, rosnando e me puxou
para um abraço. Sentia as lágrimas se derramando
rapidamente, pois eu me sentia esgotada, fraca.
Queria que tudo aquilo, fosse apenas um sonho.
Margot acariciou minhas costas e me balançou com
ela. — Jamais a julgaria. Eu te compreendo e sei
que está fazendo isso pelo bebê, ele é a parte mais
importante de tudo. Salvatore acabará com a
festinha daquele desgraçado do Vicentino, eu
prometo. — Assegurou.
Fechei meus olhos e funguei. Eu esperava
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que fosse o quanto antes, não estava mais


suportando em pensar na palavra “separada”,
rondando a minha cabeça.
*****

SALVATORE.

A tarde já estava sobre a cidade, um vento


frio passava por mim, deixando a pele da minha
nuca arrepiada. Eu estava me sentindo só,
incompleto e vazio, sentimentos que senti quando
Angélica tinha feito tudo aquilo. Antes eu pensava
que não os encontraria mais, dentro de mim, mas
estava enganado. Não podemos criar nossos
próprios destinos. Olhei para o céu diurno e
suspirei, passando a mão na nuca. Suspirando e
suspirando. Queria Elizabeth perto de mim, queria-
a comigo para protegê-la de tudo, dos seus medos
que iam e vinham e até dela mesma.
Minha garota frágil.
Corrompida por um desgraçado aproveitador,
aquele maldito, filho da puta do Vicentino. Eu
sempre imaginava o que ele tinha feito a minha
Lisa, naquela noite, machucado tanto ela, sem
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ninguém para ajudá-la. Soltei um rosnado,


entredentes e fechei minhas mãos em punhos. Eu
estava atento a ele, muito antes de Demétrio
desconfiar, mas não tinha dito, pois a sua garota
estava aqui e eu não estragaria a primeira paixão
dele. Então fiz tudo sozinho.
Ele e o fodido do Nino, estavam muitos
próximos com o passar dos meses. Quase todas as
noites, se encontravam em lugares poucos
movimentados na cidade, ou até mesmo no deserto.
Aquilo me incomodava tanto, que me transtornava.
Demétrio tinha perdido sua habilidade “telepática”
em apenas olhar o indivíduo e descobrir todos seus
podres, ele não estava mais atento e era
preocupante para mim. Temia pelo meu amigo,
pois estava apaixonado e tudo o que surgia em sua
cabeça, obviamente, era a garota Amélia. Eu tinha
certeza.
A menina era jovem demais para alguém
como ele, totalmente inexperiente com
relacionamentos amorosos, era notável, sem contar
que fazia grandes burradas, não pensava com
racionalidade, confia em todo mundo, era teimosa
demais... mas... ela amava Demétrio, com sete
meses de convivência apenas, amava meu velho
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amigo amargurado. E ele também, mas não


admitia.
Então, foi aí que meus sentidos se aguçaram
mais. Por que uma garota como aquela,
perdidamente apaixonada por um homem adulto,
iria embora sem mais nem menos? Dizendo
motivos fúteis e que o pobre homem adulto,
acreditou? Besteira. Os argumentos de Amélia, não
tinham me convencido, e por esse motivo, eu sabia
que algo grande e errado estava acontecendo
debaixo dos nossos narizes. Tinha total certeza. Eu
estava naquele momento, na mansão de Demétrio,
mesmo ele não estando lá, eu sempre ia, para me
certificar de que nada suspeito acontecesse sem a
sua presença. Os soldados rondavam a casa, porém
eu me sentia mais tranquilo, vendo tudo com meus
próprios olhos. Como eu disse, meu amigo estava
diferente e “desligado”, para um Capo como ele,
era perigoso demais. Estava vulnerável. E me
preocupava com isso.
— Se acalme Safira, você está tremendo
muito. — Parei de jogar para cima o meu celular,
no momento em que ouvi a voz de uma das
empregadas da casa, e também um choro feminino.
Olhei para as portas de vidro colorido que levava
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do jardim até a cozinha da casa, esperando ouvir


mais. —...não pode ficar calada, criança! O Don
precisa saber disso, por favor, diga a ele!
— Eu tenho medo, Greta! Medo pelo que ele
pode causar a ela... ao nosso Don... a nós! Não
conseguirei dizer. — Eu conhecia aquela jovem
voz. Era a garota Safira, uma adolescente de 15
anos que Demétrio pegou para criar. Mas... o que
ela estava dizendo, alertou-me. Desencostei-me da
parede e abri a porta de vidro, quando fiz isso, as
duas sobressaltaram e me olharam assustadas.
A garota estava com o rosto vermelho e
coberto de lágrimas, enquanto Greta e consolava.
Levantei minhas mãos, dizendo. — Tudo bem, eu
não vou fazer nada de mau. Escutei vocês dizendo
algo, sem querer, então preciso que me conte o que
houve Safira, por favor. — Apontei com a minha
cabeça, na direção da outra empregada. — Greta
me conhece, ela sabe como eu sou. — Assegurei
tranquilamente, fazendo de tudo para não assustar a
garota. Ela olhou desconfiadamente para Greta,
enquanto ela assentia para a menina.
— Ele é de confiança. Conte para ele, vai ser
melhor. — Pediu.

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Safira me olhou mais uma vez e suspirou


tremulando. — Antes de tudo, sinto muito, deveria
ter contado antes, mas... isso está me corroendo por
dentro, eu não aguento mais! — Chorou e Greta a
abraçou pelos ombros. Abaixei minhas mãos e
assenti com um breve sorriso, tranquilizando-a.
— Está tudo bem. Nada de ruim lhe
acontecerá, mas precisa me dizer o que aconteceu.
— Respondi.
Ela assentiu e então me disse. — No mês
passado, em uma tarde, eu estava fazendo meu
trabalho, tinha subido até o quarto do Amo para
passar algumas camisas e calças dele, então quando
estava fazendo isso, tinha me esquecido da torta no
freezer. Eu corri até aqui, na cozinha, e assim como
você agora, sem minha intenção eu... eu ouvi o Sr.
Cavallaro ameaçando Amélia, no jardim. — Parei
de piscar e a olhei. Ele a ameaçou também? Esse
verme só tinha colhões com mulheres?! Demétrio
ficaria doente com isso e eu faria questão de dizer a
ele. Safira suspirou e continuou a dizer. — Eles
estavam bem na frente das portas e eu podia até
mesmo ver as sombras deles, ele estava muito perto
dela, ameaçando-a, dizendo que ela estava
destruindo a Família e também ao Amo, que ela
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deveria ir embora da cidade, largar tudo, caso


contrário mataria os pais dela... ele a ameaçou
muito e então Amélia não se calou, por esse
motivo, ele esbofeteou a cara dela e depois foi
embora.
— Ele fez o que?! — Rosnei com ódio.
Safira engoliu em seco e assentiu, encarando Greta.
— Juro que contaria naquele mesmo dia, para
o Amo, mas Amélia se assustou quando me viu e
implorou para guardar segredo. — A garota
choramingou e chorou mais alto. — Eu me sinto
tão culpada! Agora ela se foi! Foi para a casa dos
seus pais, que nunca se importaram com ela, para
longe, em Los Angeles! E-eu sinto falta dela e das
nossas conversas, olhe como o Don está? Ele mata
seus homens como se fossem baratas, ele está
possesso desde a partida dela e isso tudo é minha
culpa por ser covarde! — Greta a puxou para um
abraço, fazendo a garota esconder seu rosto no
pescoço da mulher. Ela também me olhava
franzida, esperando minha reação.
Eu estava em choque, todas as minhas
suposições eram então, verdadeiras. Vicentino
estava tramando algo grande e estava tirando

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pessoas que, possivelmente estragariam seus


planos, do seu caminho. Assim como fez com
Elizabeth, ele fez há um mês com Amélia. Mas
Lisa não se foi. Ela ficou e isso reconfirmou meu
coração. Respirei profundamente e passei os dedos
sobre a testa, eu contaria a Demétrio? Sim, sem
pensar duas vezes, mas acharia fácil demais. Eu
queria mais, queria caçar Vicentino e arrancar seu
coração fora de seu corpo imundo! Aquele maldito
covarde, eu iria mutilá-lo!
— Está tudo bem. — Disse calmamente e
olhando para o lado, pensando. — Vou resolver
isso, não se sinta culpada. Prometo que seu nome
não estará no meio disso tudo. — Garanti.
A garota me olhou aliviada e assentiu,
agradecendo em sussurros. — Obrigada Sr. De
Gasperi. Deus lhe abençoe. — Sorriu Greta,
pedindo licença. As duas saíram da cozinha,
deixando-me sozinho com meus pensamentos.
Esfreguei as mãos contra o meu rosto e virei-me até
a porta aberta, saindo para o jardim. Não sabia o
que fazer! Qual o primeiro passo! E isso era
frustrante. Soltei um rosnado e peguei meu celular,
buscando o número de telefone do Demétrio, mas
quando li o nome Lisa, parei.
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Se eu contasse naquele momento para


Demétrio, ele ordenaria todos os soldados a procura
de Vicentino, sendo que eu estava desconfiado
tanto dele, como de Nino! Se eu dissesse agora para
ele, o que estava havendo, Vicentino fugiria e
provavelmente iria atrás de Amélia... da Lisa. Olhei
para o céu, suspirando e balancei a cabeça em
negativa. Sim, não era o momento para contar a
Demétrio, mas eu posso contar para alguém
importante.
PARA: LISA
AS: 15:45 min. 12/04/11.
“Acabo de descobrir que a partida de Amélia
foi forçada. Vicentino também a ameaçou e ela se
foi. Eu não sei o que fazer, a garota está a quatro
horas de distância e estou entre contar a Demétrio
sobre a verdade ou buscar mais informações. O
que devo fazer? Por favor, me ajude Lisa.”
Salvatore.
Passei a mão em meus cabelos, minha cabeça
martelava sobre o que eu poderia fazer, tinha medo
de que Elizabeth me evitasse, pois saberia que isso
me deixaria mais frustrado ainda. Mas me enganei.
O som de uma nova mensagem me animou.
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DE: LISA
AS: 15:48 min. 12/04/11
“Salvatore... pense melhor! Se ela está há
quatro horas daqui, então o que você precisa fazer
é...? IR ATRÁS DELA! Faça-a voltar, faça-a voltar
para o seu chefe psicopata! Ele precisa dela e ela
dele. Não os deixem separados, assim como
Vicentino tentou nos separar. Faça isso, vá até
ela.”
Lisa.
Um grande e sincero sorriso se rompeu em
meus lábios, eu sentia a adrenalina preencher meu
sistema e tudo o que eu mais queria, era ir atrás da
minha mulher! Eu queria loucamente naquele
momento, em meus braços, beijá-la e não soltá-la
nunca mais. Sentia a esperança voltar em ler o final
de sua mensagem, ela usou a palavra “tentar” e não
"separou" sobre nós dois. Então havia algo.
Retornei um agradecimento a ela, dizendo
para não sair da casa de sua amiga, depois guardei
o aparelho e caminhei pelo jardim. Eu iria fazer
isso, ir atrás de Amélia como, a minha doce, Lisa
disse-me. Iria foder a vida de Vicentino, o império
de merda dele cairia em cinzas.
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— Te peguei filho da puta. — Murmurei ao


entrar em meu carro e disparar em alta velocidade.

VINTE E QUATRO
Depois de receber a mensagem de Salvatore,
permaneci pensativa na sala de estar do
apartamento de Margot, eu sentia que algo perverso
estava por vir e não era sobre mim. Mas sim dele.
De Salvatore, do meu grande e verdadeiro amor.
Sabia que ele ajudaria a namorada do seu Capo, ele
não conseguia virar suas costas absolutamente para
ninguém! E isso me deixava um pouco
amedrontada.
Ouvi a porta do quarto sendo aberta e Margot
saindo de lá de dentro, no seu roupão vermelho e
uma toalha branca enrolada na cabeça. — E aí? Ele
foi mesmo para Los Angeles? — Perguntou,
chegando perto e se sentando. Acenei com a cabeça
e me recostei no sofá, suspirando e cruzando os
braços.
— Me preocupa isso, ele ir até lá, sozinho. —
Mordi meu lábio inferior e a olhei. — E se
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acontecer alguma coisa?


Margot descansou sua mão direita no meu
braço e acariciou-o. — Não se preocupa, ele ficará
mais que bem. Salvatore é o melhor capitão de
todas as máfias, ele é inteligente. — Ela se levantou
do sofá e parou na minha frente. — Vamos assistir
a um filme?
*****

Margot e eu não estávamos conseguindo


dormir na noite anterior, então assistimos a três
filmes seguidos, eu não prestava atenção em
absolutamente nada do que os personagens diziam,
apenas pensando em Salvatore. Enquanto Margot
estava entretida no filme e no saco de pipoca, me
levantei do sofá e fui até o meu celular. Quando o
peguei, ele tocou.
Arregalei os olhos pelo susto e franzi o cenho
ao desconhecer o número, encarei Margot e mostrei
o aparelho. — O número é daqui, mas eu não
conheço. — Disse com medo. Ela se levantou
correndo do sofá e parou ao meu lado, olhando para
o celular em minha mão. A pessoa que estava
ligando, desligou, mas novamente começou a tocar.
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Encarei Margot, nervosamente.


— Atenda, é melhor. — Disse-me.
Suspirei e mordi o lábio. — Mas... mas e se
for...
— Acha mesmo que se fosse Vicentino,
ligaria para você? — Interrompeu Margot, de olhos
arregalados. — Atenda de uma vez.
Soltei a respiração e toquei na tela,
atendendo. — Elizabeth? Elizabeth, onde está?! —
Uma voz aflita, juvenil e feminina soou no outro
lado da linha, eu conhecia aquela voz.
— Zara? — A irmã mais nova de Salvatore,
soltou um soluço e fazendo meu coração
tamborilar.
Ela respirou tremulante, enquanto dizia. —
Eliza... está acontecendo algo horrível, estou
ligando escondido... peguei seu número na boate.
— Fiz um sinal para Margot abaixar o volume da
TV e tapei meu ouvido com o dedo.
— O quê? Zara o que está acontecendo?
Onde está seu irmão? — Perguntei assustada.
A garota soltou um choro e fazendo-me sentir
uma aflição entrar em mim. — E-ele está na

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mansão do pai de Demétrio, Salvatore e a


namorada do Capo descobriram que Vicentino,
Nino e alguns capitães estavam traindo a família,
eles estavam juntos com alguns russos! Deus,
Elizabeth, está tendo um terrível tiroteio na
mansão e Salvatore está lá! Ele está lá! — Sentia
as lágrimas caindo às pressas sobre minhas
bochechas, pensando no que aconteceria naquela
mansão. Um tiroteio. Vicentino traidor. Um
tiroteio! E Salvatore estava lá! — Você está aí? Por
favor, Elizabeth, volte para Las Vegas, eu sei que
você foi embora, mas precisa estar aqui. Nino foi
morto e toda a sua família, pois foi ele quem
contou tudo para Salvatore. Volte, por favor...
A ligação ficou muda, deixando meu coração
disparar com rapidez, o soldado foi morto? Não que
eu me importasse com isso, ele era um nojento!
Sentei-me no braço da poltrona e Margot ao
meu lado, abraçando meus ombros e me olhando
curiosamente. — O que houve? Por que a irmã de
Salvatore te ligou? — Perguntou ela, em voz baixa.
Soltei um suspiro e a olhei, ainda chorando.
— Está tendo um tiroteio na mansão do pai
de Demétrio e Salvatore está lá. Ele e a namorada

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do Capo descobriram que Vicentino, Nino e alguns


capitães estavam traindo a família, estavam juntos
com alguns russos. — Sussurrei em resposta tudo o
que Zara tinha acabado de me dizer na ligação.
Margot arregalou os olhos e praguejou. —
Puta merda!
Escondi meu rosto entre as mãos e chorei. Eu
queria Salvatore ao meu lado, queria ele comigo!
Mas... — Os russos devem saber de mim e dele,
Vicentino deve ter contado. E se... e se ele
conseguiu fugir de lá?! — As possibilidades eram
grandes, aquele porco imundo odiava ver a
felicidade dos outros, era claro. Ele sentia ódio em
observar homens como ele, serem feliz ao lado de
alguém.
Eu não queria me afastar definitivamente de
Salvatore, não queria.
Margot segurou meus braços com suas mãos
e me olhou. — Por favor, Lisa, não se entregue ao
medo. O que você e Salvatore tem... é algo que
qualquer mulher no nosso ciclo gostaria. Você foi
escolhida por ele, você e agora não pode desfazer
isso. Salvatore está bem, ele ficará bem. — Ela me
puxou para um abraço e a apertei contra mim.
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Chorando e pensando nele.


*****

Eu estava dormindo profundamente quando,


fui acordada com Margot me balançando. — Lisa,
acorde! Acorde logo merda, eu preciso sair! —
Soltei um gemido e ouvi seus passos se afastando.
Ultimamente eu sentia tanto sono, que seria
considerado um caso para a NASA. Abri os meus
olhos e me levantei lentamente da cama, estava
sentindo dores no abdômen e isso estava me
preocupando mais do que eu já estava!
Amanhã eu iria até o consultório... sem ele
dessa vez.
Andei pelo apartamento, esfregando os olhos
e quando abri os olhos definitivamente, parei de
andar. Já estava de noite e ali, parado no meio da
sala Salvatore se encontrava com um olhar perdido,
angustiado e sua camisa branca... suja de sangue.
Tapei a boca com a mão, para abafar o grito e os
soluços que escapavam, corri às pressas em sua
direção e segurei sua camisa social, puxando-a para
fora da calça, em busca de algum ferimento.
— Lisa, Lisa. — Chamou ele suavemente,
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segurando meu rosto. — Ei, ei se acalme. Não é


meu sangue, olhe para mim, não é meu sangue. —
Sussurrou, fazendo-me olhá-lo. Minha respiração
estava ofegante e meus olhos ardendo pelo choro,
eu levantei sua camisa e realmente não havia
nenhum ferimento. Olhei para as minhas mãos
manchadas com o sangue.
— Q-quem se feriu? — Solucei.
Salvatore juntou suas sobrancelhas loiras e
me encarou, ainda acariciando minhas bochechas.
— Demétrio. Vicentino deu um tiro nele. —
Murmurou com uma pitada de raiva.
Pisquei várias vezes, repetidamente. —
Deus... emele está bem? E Vicentino, o-onde está,
ele...
— Se acalme. — Disse ele. — Demétrio está
bem, perdeu muito sangue, mas está bem. Mas
Vicentino continua vivo, mesmo levando tiros. —
Em ouvir as palavras continua vivo, fez com que
meu medo voltasse. Dei um passo para trás, não
conseguindo olhar nos olhos de Salvatore, tudo o
que eu queria era a minha segurança, pois me
protegendo, protegeria o nosso filho.
Deixei minha tristeza cair junto com as
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lágrimas, e dessa vez, olhei para Salvatore. — Você


não pode mais vir aqui, precisa ir embora. — Disse
rudemente. Ele franziu o cenho, perdido na
mudança da atmosfera naquela sala, eu também
estava perdida.
Salvatore uniu suas sobrancelhas loiras e deu
um passo em minha direção. — Por que não?
— P-porque é arriscado! Irão descobrir que
você e eu estamos... estamos...
— Juntos? — Completou Salvatore.
Fechei os meus olhos, suspirando e
balançando a minha cabeça. — Apenas vá,
Salvatore, por favor.
— Só vou embora quando me disser o
motivo.
— NÃO HÁ MOTIVOS! — Gritei para ele,
abrindo os braços.
Salvatore me olhou, suspirou e assentiu. —
Sempre existe um motivo. Diga-me, o seu,
Elizabeth!
— Droga! Porque estou apaixonada por você,
ok? Eu estou fissurada em você, estou maluca por
você, estou possessa em você, Salvatore! Esse é a

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droga do meu motivo e não podemos nos ver mais,


é arriscado para mim, posso me meter em maus
lençóis!
— Você não está desprotegida, sabe disso!
Eu jamais deixarei que alguém te machuque! E
depois dessa declaração... — Salvatore suspirou
pesadamente e chegou mais perto de mim,
segurando meu rosto nas suas grandes mãos. —
Droga, Elizabeth, eu achei que era o único que
amava por nós dois. Eu também estou apaixonado,
fissurado, maluco e possesso por você. E esse é o
meu motivo porque devemos ficar juntos e pelo
qual eu irei te tirar dessa vida, que você entrou
inocentemente.
Sem pensar duas vezes, Salvatore colou sua
boca na minha, beijando-me pra valer, um beijo de
saudades, um beijo de eu te amo. E não me afastei.
— Eu te amo mais que o meu próprio eu, eu a amo
tanto que me assusta, Lisa. Nunca senti nada disso
por alguém, você é minha e ninguém tirará você. —
Ele desceu sua mão até o meu ventre e me olhou.
— E o nosso filho, de mim.
— Salvatore... — Sussurrei.
Ele me beijou novamente e sorriu. — Não
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lute contra os seus sentimentos, será uma batalha


perdida, sabe disso. — Seus lábios roçaram
suavemente meu queixo, quando ele sussurrou. —
Case comigo.

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VINTE E CINCO
Dei um tapa no seu peito e tentei me afastar,
com os olhos em lágrimas e abertos.
— Você ficou maluco?! Não vou destruir a
sua vida! — Exclamei em voz alta, tentando me
soltar dele.
Mas Salvatore apenas sorria e com facilidade
acariciava meu rosto. — Você é tão linda. Quero
que seja a mãe dos meus filhos. — Sussurrou com
uma voz melosa, mas ele sorria. Balancei a cabeça
rapidamente para os lados, de um lado para o outro,
tirando suas mãos do meu alcance. Qual era o
problema dele? Ele não percebeu que não teríamos
um futuro com Vicentino por perto?
— Você é um maluco! Salvatore não faça
isso. — Chorei. — Por favor. — Completei
melancólica.
Ele puxou-me novamente para si e me beijou
com avidez, aquele beijo derrubou as barreiras que
estivera criando sem nenhum sucesso. Salvatore
desgrudou sua boca da minha e disse. — Você é
tudo para mim, Lisa. Chega de se esconder do
medo. Vamos enfrentá-los, juntos. — Seus lábios
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se voltaram sobre os meus e dessa vez não resisti.


Ele me pegou em seu colo, fazendo minhas pernas
entrelaçarem sobre seu corpo.
Tudo o que eu mais queria, era Salvatore.
Para mim. Para sempre.
E então, seguimos até o quarto.
*****
Seis dias depois...
— E então? — Perguntei quando Salvatore
apareceu em sua cobertura, Margot estava ao meu
lado, ansiosa pela notícia. Salvatore caminhou para
perto de nós, em sua sala e nos olhou, seriamente.
Aquilo me deixou nervosa, mas em poucos
segundos. Seu semblante se amoleceu, mostrando
alívio.
Então, ele nos disse: — Morto. Demétrio o
matou, mandou arrancar todos os membros do
corpo e depois queimá-los. — Seus lindos olhos
verdes, pousaram em mim. —Acabou meu amor.
Está livre. — Soltei um gritinho, agudo de
felicidade, pulei no seu colo e, em seguida, senti
Margot nos abraçar. Minha euforia era grande,
sentir aquele peso simplesmente se dissolver,
depois de meses, era maravilhoso.
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A sensação de liberdade, a energia de poder


viver onde e como eu queria, era sem igual. Eu
estava feliz.
Plantei um selinho na boca de Salvatore e
desci do seu colo, me virando e abraçando a minha
amiga. — Estou tão feliz! Não acredito que esse
pesadelo acabou. — Cantarolou ela e fazendo-me
rir. Acariciei seus cabelos e assenti, com alegria.
— Obrigada por sempre me apoiar e me
proteger, você é a melhor amiga do mundo. — Seus
olhos encheram-se de lágrimas e a puxei
novamente, rindo e abraçando-a. Sim, eu amava
Margot, não a deixaria longe de mim, nunca.
Agora eu poderia fazer aquilo, o que estava
ansiando por meses.
Fechei meus olhos, inspirei com força e
depois expirei, sentindo a leveza que eu sentia, no
Brasil, voltar para dentro de mim. Abri meus olhos
e ainda abraçada a minha amiga, olhei para
Salvatore. Mãos escondidas sobre os bolsos da
calça cinza cara e social. Aqueles lindos olhos
verdes, gentis e amorosos sobre mim, e o sorriso
carinhoso, dizendo... minha.
Mordi meu lábio inferior, sorrindo e
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sussurrei. — Eu te amo. — Seu sorriso se alargou


mais e então ele sussurrou de volta.
— E eu te amo.
Ri em felicidade, apertando Margot contra
mim.
Eu o amaria para sempre. Meu futuro marido
mafioso!

*****

Salvatore e eu, estávamos na frente da casa


dos seus pais, era um almoço em família e eu me
sentia uma penetra, pois não tinha sido convidada.
Olhei mais uma vez para o meu vestido bege, de
comprimento até os meus joelhos, para ver se
estava amarrotado. Nada. Ele era meio soltinho na
cintura, pois minha barriga já estava começando a
aparecer.
Eu estava de quinze semanas e não acreditava
nisso, pelo fato de ter o bebê em meu ventre. Claro,
eu nem lembrava mais do meu ciclo menstrual e
muito menos do anticoncepcional ou camisinhas. O
bebê estava bem e forte. Salvatore e eu não
queríamos saber do sexo até o dia do nascimento,
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pois a expectativa era melhor.


Pois então, lá estávamos nós, na entrada da
linda mansão De Gasperi, estilo família
Kardashian!
— E-e se o seu pai me por para fora? Sua
irmã deve ter contado sobre a gravidez. —
Gaguejei nervosamente.
Salvatore sorriu e passou o polegar contra o
meu queixo. — Não vou deixar que nada de ruim
lhe aconteça, estarei ao seu lado, ok? — Antes que
eu respondesse, Salvatore apertou a campainha e o
som fez meu estômago se revirar! Merda, eu estava
quase vomitando. Estava quase correndo de volta
ao carro, quando a grande porta branca foi aberta,
por uma mulher adulta, vestida com uma calça e
camiseta preta. Ela estava maquiada, levemente, e o
cabelo preto penteados para trás. Provavelmente
uma das empregadas.
— Sr. De Gasperi! Por favor, sejam bem-
vindos, entrem. — Sorriu a mulher, abrindo mais
da porta, entramos com Salvatore agradecendo e
perguntando a ela se estava bem, enquanto eu
babava pelo interior da casa.
Era magnífica, com uma escada branca larga
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e todos os móveis e paredes da mesma cor. Era tão


branca e limpa, que meus olhos ardiam. — Está
tudo bem? — Salvatore apareceu ao meu lado,
colocando sua mão no meio de minhas costas. O
seu toque tinha me acalmado rapidamente. Sorri
torto para ele e assenti com a cabeça.
— Sim. Apenas achei a casa magnífica. —
Murmurei. — Cresceu aqui mesmo? — Perguntei a
ele.
Salvatore arqueou suas sobrancelhas loiras e
olhou pela casa. — Sim, mas há apenas beleza nela.
Só isso. — Ele soltou um suspiro baixo e sorriu
para mim. — Venha, estão no jardim nos
aguardando. — Respirei profundamente e
caminhamos no mesmo cômodo, até o final para
uma porta de vidro de correr, lá fora o sol forte
batia contra o gramado cortado e verde, e também
na grande piscina de chão. Salvatore abriu a porta e
segurou minha mão, para que eu não caísse com
meus saltos. Quando estávamos no jardim, senti
meu coração martelar de nervosismo e a bile subir
pela minha garganta.
Havia uma mesa oval e grande sobre o chão
de pedra clara no jardim, a mesa estava com

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comidas prontas e jarras de sucos espalhadas. Nas


cadeiras, conversando animadamente eu podia ver
Zara, rindo e mais linda do que a última vez, sua
outra irmã Selena, bebendo um copo de água com
gelos, nos olhando seriamente e ao seu lado, um
homem moreno de cabelos escuros e barba bem
feita. Ele conversava com o homem que estava na
cadeira principal da mesa.
Segurei o braço de Salvatore, fazendo-nos
parar de andar. Ele me olhou franzido e seguiu meu
olhar com o seu. — O que houve? — Perguntou.
Engoli em seco e sussurrei somente para que ele
escutasse.
— Seu pai é idêntico a você! — Exclamei
entredentes, o encarando.
Salvatore soltou um rosnado e olhou seu pai.
Sim, não estava exagerando, eram muito parecidos!
France também era loiro, olhos azuis esverdeados,
e com certeza, era muito alto, assim como o seu
filho. Ele usava uma camisa branca de linho, o que
somente isso eu poderia ver, pois estava sentado.
Mas apesar da aparência, ele não tinha um olhar
bondoso como de Salvatore, uma carranca, que
provavelmente já era um costume dele, estava

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estampado em seu rosto e somente isso mostrava


que ele era um homem bem velho.
— Oh vocês chegaram! — Saí de meus
devaneios com uma voz amável e calorosa, vindo
da outra extremidade da mesa, e também fazendo
os outros olhos virarem-se para nós. Aimée, a mãe
de Salvatore se levantou do seu lugar com os
braços abertos e um largo sorriso no rosto, ela era
pequena, cabelos castanhos claros até os ombros e
olhos castanhos. Vestida num vestido longo de
flores e magnificamente bonito. Ela era linda
também. Acho que todos naquela família eram
bonitos.
Quando Aimée se aproximou de nós, me
surpreendi em ser abraçada primeira, por ela.
Devolvi seu abraço e sorri. — Estou tão feliz por
conhecê-la! Eu me chamo Aimée, sou mãe de
Salvatore. — Quando nos afastamos, sorria
timidamente para ela.
— É um grande prazer conhecê-la, Sra. De
Gasperi.
Ela balançou sua mão esquerda e fez uma
careta. — Aimée, por favor. Sou jovem demais
para ser chamada de senhora. — Riu docemente.
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— Eu concordo. — Falou Salvatore, ao meu


lado, abraçando a cintura de sua mãe e beijando sua
bochecha. Aimée deu um beijo demorado também,
na bochecha de Salvatore e depois limpou com a
mão, o batom que ficou ali.
Ele se afastou dela e abraçou minha cintura.
Zara também nos cumprimentou. Abraçou-nos e
sussurrou algo para mim. — Estou feliz que esteja
aqui. — Sorriu para mim.
— Prometo que não irei a lugar algum. —
Garanti.
Depois dela, o marido de Selena também veio
até nós, educadamente, e se voltou ao seu lugar
como um raio, porém, somente o pai de Salvatore e
a própria Selena não vieram. — E quanto a vocês
dois? — Chamou Aimée. France encarava
Salvatore e ele fazia o mesmo. Eu sentia uma
tensão começar a crescer naquele jardim,
principalmente quando o seu pai, se levantou da
cadeira.
Realmente, ele era alto. Assim como
Salvatore. Estava usando um jeans escuro. —
Salvatore. — Sua voz um pouco parecida com a do
filho, me assustou. Ele apertou a mão de Salvatore,
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cumprimentando educadamente.
— France. — Soltou Salvatore, no mesmo
tom que do seu pai.
France tombou seu olhar sobre mim,
enviando arrepios pela minha espinha. — E você, é
a Srta. Evans? — Perguntou, estendendo a mão.
Surpreendi-me com o gesto e a peguei, ele deu um
aperto na minha mão, que poderia machucar, mas
não emiti nenhum som. Chega de ser amedrontada
por esses tipos de homens.
— Sim, é um prazer conhecê-lo, Sr. De
Gasperi. — Disse, apertando sua mão de volta, mas
não na mesma força que a dele, claro. Minha voz
estava limpa, alta e clara, sem transparecer
intimidação.
France separou nossas mãos e assentiu,
olhando novamente para o filho ao meu lado. Eu
me sentia uma boneca, ao lado deles, por ser tão
pequena, mesmo usando saltos altos.
— E então? Há algo para me dizer? —
Perguntou tranquilamente e com os olhos franzidos
pelo sol, assim como todos nós.
Salvatore meneou sua cabeça e disse em voz
alta para todos ouvirem. Estávamos bem próximos
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da mesa. — Para todos. Eu só vim dizer que


Elizabeth e eu, estamos juntos. O que significa
também que depois que Demétrio se casar, irei me
casar também, com ela. — Ele me olhou com
carinho e entrelaçou sua mão na minha, fazendo
meu coração dar piruetas de alegria. — Com Lisa.
— Abri um sorriso tímido e largo e apertei sua
mão.
— Como é? — Disse seu pai com acidez.
Sua mãe e Zara estavam pulando de alegria.
Dessa vez, Selena se levantou como uma águia do
seu lugar e se prostrou ao lado de France. — VOCÊ
FICOU MALUCO?! — Gritou.
— Sim, fiquei maluco, por ela. — Respondeu
Salvatore, piscando para mim. Segurei minha
risada e olhei para Selena, ela me encrava com
ódio.
Porém, foi o seu pai que disse algo. — Sua
irmã já disse tudo! Como pode se casar com uma
prostituta?! Você acabou de se tornar Consigliere
do seu chefe e agora quer uma porra de uma puta
para ser ESPOSA? — Esbravejou.
— ELA SERÁ A MINHA ESPOSA,
QUEIRA VOCÊ, SELENA OU NÃO! — Gritou
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Salvatore de volta, se aproximando do seu pai. Os


dois ficando cara a cara. Segurei seu braço, mas
não o puxei. — Cuide da porra da sua vida! Não
devo nada a você, absolutamente nada! — Rosnou
em voz baixa.
Pude notar que sua mãe, Zara e Albert,
estavam entre nós. France soltou um rosnado e
empurrou o peito de Salvatore com força. — Saia
da minha casa, AGORA! Você e essa vagabunda
mal comida não merecem estar aqui!
— FILHO DA PUTA! — Quando Salvatore
gritou, ele tentou partir para cima do seu pai, mas
eu e sua mãe o puxamos com toda nossa força e
todos nós gritávamos desesperadamente, então
alguns soldados apareceram para nos ajudar e
conseguiram conter tanto Salvatore, como o seu
pai. Os dois se olhavam ofegantes e odiosamente
para o outro.
Fiquei na frente de Salvatore e encarei
France, com os olhos em lágrimas. — Eu sinto
muito pelo que estou causando a sua família, Sr. De
Gasperi! Mas eu não tive culpa em me apaixonar
por seu filho, o único homem bom e decente que
conheci desde que cheguei aqui! E também não

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tenho culpa se ele se apaixonou por mim. — Disse


em voz alta e todos me olhando. — Você e a sua
filha podem me criticar, me humilhar o quando
quiserem, mas isso não fará com que eu me afaste
dele, novamente. Eu amo Salvatore e não importo
mais com as opiniões dos outros, principalmente a
de vocês dois. — Quando terminei meu desabafo,
France e Selena, me encaravam com raiva, mas não
dei importância. Eu amava Salvatore e ponto.
— Você acaba de destruir essa família. —
Rosnou France, olhando acima de mim.
Salvatore se soltou dos soldados e sua mãe,
parando ao meu lado. — Você a destruiu no
momento em que se tornou um De Gasperi. —
Tanto Aimée como Zara, olharam boquiabertas
para ele, sorrindo ao mesmo tempo, mas Salvatore
continuou. — Elizabeth será minha esposa daqui a
dois meses e estou fodendo para honra. Se os dois
quiserem ir ao casamento, estão convidados. Mas
se não quiserem, não fará diferença nenhuma para
nós dois.
Ele olhou raivosamente para France e depois
para sua irmã, que estava com os olhos em
lágrimas, mas ele não ligou. Salvatore se virou para

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mim e me chamou para ir. — Espera. — Disse a


ele. Caminhei até a sua mãe e irmã mais nova, e
segurei suas mãos, elas sorriam com carinho. —
Suas filhas não devem ter contado, mas... eu estou
grávida de quinze semanas. Fiz questão de fazer o
teste de paternidade, é de Salvatore, eu juro. Aquela
vida que tive durou por poucas semanas e sempre
me protegia quando era obrigada a fazer... a fazer...
— Oh querida! Isso pouco me importa! Eu
sei o quão perverso a máfia é, venha cá. —
Exclamou Aimée, me puxando para um abraço
entre ela e Zara. Eu chorava e ria ao mesmo tempo,
por saber que havia pessoas da família de Salvatore
nos apoiando.
Limpei meu rosto rapidamente e ri. —
Desculpem, são os hormônios. Eu espero revê-las
mais uma vez, e sinto muito por tudo isso. —
Murmurei.
— Não se preocupe. — Tranquilizou Zara.
— Estamos acostumadas. — Assegurou.
Salvatore se aproximou de nós e tanto Zara
como sua mãe, nos deram os parabéns pelo
casamento e a gravidez. — Desculpe por estragar
seu almoço, mais uma vez, mãe. Mas Lisa e eu
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temos de ir. — Disse Salvatore. Aimée assentiu e o


abraçou de novo, e sua irmã. Depois a mim.
— Não se preocupe com isso. Agora vá,
Elizabeth não pode se estressar. — Nos despedimos
delas duas e dei um aceno para Albert, mas ele
desviou seu olhar. Era um cachorrinho na mão da
esposa. Salvatore nos guiou para fora da casa e
quando estávamos dentro do carro, ele segurou
minha mão e me olhou.
Um olhar de puro amor. — Nunca mais
passará por qualquer tipo de humilhação, não
importa a situação, eu estarei aqui para te proteger.
— Mordi meu lábio inferior e assenti, me curvando
para beijá-lo.
— Confio em você, sempre. — Sussurrei.
Salvatore abriu um sorriso torto e beijou
minha testa, ligando o carro e finalmente saindo
dali. Para longe. Eu sentia uma felicidade em vê-lo
enfrentando seu pai e irmã por minha causa. Aquilo
era amor, com toda certeza. Olhei para o seu longo
perfil e suspirei. — Eu te amo. — Disse
carinhosamente. Salvatore me olhou e levantou
minha mão entrelaçada na sua, dando um beijo.
— E eu te amo.
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VINTE E SEIS

UM MÊS DEPOIS...
O casamento do Don Demétrio Gratteri e
Amélia foi espetacular! Divinamente lindo e
emocionante, no momento em que os dois trocaram
seus lindos votos. Salvatore, durante a cerimônia
não tirava seus olhos de mim, sua ansiedade
transparecia nos lindos verdes, mostrando o quão
animado estava para a nossa vez. Nosso dia
especial. Nosso casamento. Margot estava
revoltada pelo fato de eu não ter um anel de
noivado, dizendo que Salvatore poderia entrar na
Tiffany & Co. para comprar o anel em dinheiro e
simplesmente me dar. Eu apenas ria, pois essas
pequenas coisas não me importavam.
Tê-lo ao meu lado para sempre, já era o
bastante.
Na bela festa de casamento, durante a dança
do Sr. e Sra. Gratteri. O jeito que eles estavam
abraçados, olhos nos olhos, o sorriso bobo e

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apaixonado entre eles, era admirável. Demétrio


olhava para sua esposa, como se estivesse olhando
uma deusa. Eles fecharam os olhos em sincronia,
sorrindo e encostando seus narizes juntos, se
balançando com a melodia da música.
Os convidados os olhavam entre suspiros, as
mulheres, algumas com olhares bondosos e felizes,
já outras, com certa inveja de Amélia. Ela era muito
legal, ficou eufórica quando eu disse que era da
América Latina, começou a implorar para seu
marido, que gostaria de conhecer o Brasil. Para a
minha surpresa, ele deu um sorriso de adolescente e
murmurou: Tudo o que você quiser meu amor. Pois
é, até os brutos amam e é incrível de se ver.
Depois da dança. Uma música mais agitada
começou a tocar, luzes ofuscantes das cores rosa e
roxa balançavam-se sobre toda a pista de dança do
hotel. Com uma boate. Eu nunca gostei de dançar e
muito menos na frente de desconhecidos, então fui
até a vasta e grande mesa de comida, e estava
pegando tudo o que chamava a minha atenção. Meu
bebê estava a todo vapor dentro de mim naquela
noite.
Peguei um morango vermelhinho e coloquei

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sobre a fonte de chocolate. Enquanto eu mordia um


pedaço do morango, coberto pelo delicioso
chocolate, alguém me chamou. — Elizabeth? —
Lambi meus dedos como uma porca e me virei
rapidamente, Demétrio caminhava em minha
direção sem a sua gravata e paletó, dobrou as
mangas da camisa branca até as dobras dos braços,
e estava com as mãos escondidas dentro dos bolsos
da sua calça. Ele parou perto de mim e deu um
breve sorriso. — Parece que alguém está comendo
por dois. — Disse-me, olhando o prato em minha
mão, com doces e salgados misturados, e na outra
mão a metade do morango.
— E-é... eu sou... hum... — Gaguejei com
suas palavras que me incomodaram, porém, ele
soltou uma risada.
— Tranquilize-se. — Falou. — Salvatore me
contou já faz meia hora, estou feliz pelos dois que
estejam construindo uma família. Meus parabéns
pela criança.
Salvatore contou? Aquilo me deixou tão
feliz, eu queria que mais pessoas soubessem. Abri
um largo sorriso e assenti. — Obrigada, mas quem
deveria estar parabenizando alguém aqui, sou eu.

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Sua festa de casamento está sendo perfeita, sua


esposa é um amor. — Quando falei sobre Amélia,
os olhos de Demétrio derramaram puro amor e
rapidamente ele virou sua cabeça para a pista de
dança, onde ela dançava com uma mulher
sorridente, Salvatore me contou que era a amiga de
Amélia, Cinthia.
— Sim, ela é. — Respondeu por fim.
Demétrio se virou para mim novamente e respirou
fundo. — Só estou aqui para me desculpar, pela
forma que a tratei meses atrás, na boate Haze. Eu
agi como um adolescente e reconheço meus erros,
você é uma garota inocente que foi enganada, aliás,
fomos enganados pelo mesmo homem. Também
sinto muito pelo que passou, eu não aceito essas
coisas, mas é um pouco impossível controlar tantas
pessoas, fico feliz por ter encaminhado Salvatore a
averiguar as novas mulheres que entraram naquela
noite, na Haze. Se eu não tivesse o mandado ir vê-
las, estaria perdida nesse nosso mundo.
Eu não sabia o que responder, pois como
Salvatore mesmo me disse várias vezes, em algum
momento, Demétrio iria se desculpar por aquele
dia, mas eu tinha a parcela de culpa também.
Balancei minha mão, piscando várias vezes para as
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lágrimas irem embora e sorrir. — Eu também peço


desculpas, foi errado da minha parte agir daquela
forma. Eu estava chateada com Salvatore. —
Desabafei. Demétrio deu um sorriso sem mostrar os
dentes e olhou para onde Salvatore estava,
conversando com os irmãos de Demétrio.
— Angélica o destruiu, fico feliz que você
apareceu no caminho dele. Salvatore é o homem
mais mundano desse ciclo e ele merece a
felicidade. — Demétrio pigarreou algumas vezes e
então apontou para a minha barriga, um pouquinho
grande, com seu longo dedo. — Posso tocar na sua
barriga? — Sua pergunta me surpreendeu, mas
assenti com a cabeça mesmo assim.
Um mafioso assassino querendo tocar na
minha barriga? Que demais! — Claro! — Sorri
envergonhada. Demétrio se aproximou mais, então,
sua grande mão direita descansou sobre meu
ventre, o vestido se mexeu junto com a sua mão,
que acariciava minha pequena barriga redonda. Ele
soltou uma meia risada e olhava para a sua mão.
— A última barriga de uma mulher gestante
que toquei, foi de minha mãe. Estava grávida de
seis meses do meu irmão Lucco, se me recordo. Ele

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chutava sem parar. Foi incrível. — Murmurou com


um sorriso frouxo. Demétrio parecia gostar muito
de crianças, que era uma surpresa, ver alguém
como ele, tão frio, intocável e altamente líder,
apreciar pessoinhas pequeninas e manipuladoras.
Sua outra mão tocou na minha barriga e, em poucos
segundos, seu sorriso foi morrendo.
Franzi o meu cenho e olhei para Amélia, que
estava nos olhando e sorriu para mim abertamente,
com uma taça de champanhe na mão, acenando
com a outra. Acenei de volta, enquanto dizia. —
Vocês pretendem ter filhos? — Demétrio me deu
um olhar simples, lentamente retirou suas mãos da
minha barriga plana.
— Hã... acho que não. Amélia é infértil. —
Murmurou. Eu não sabia o que responder de
imediato, mas como sempre, eu era uma idiota em
momentos delicados. — Está tudo bem. — Disse
ele, mais para si mesmo.
Mordi meu lábio inferior e soltei a idiotice.
— Se vocês quiserem, e-eu posso engravidar por
vocês... não, eu não disse corretamente, se
quiserem eu posso ser uma barriga de aluguel, mas
não irei querer nada em troca, eu vejo que quer ser

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pai e deve ser doloroso saber que a mulher que


você ama, seja incapaz de conceber. E-então se
você quiser eu posso engravidar, sabe? Mas o bebê
é de vocês e não meu, eu não iria ser uma louca,
dizendo que o filho é tanto meu quanto seu, eu não
sou assim, e-eu gosto de ajudar e também acho que
estou falando muito rápido e demais. Desculpe. —
Murmurei, enfiando o morango dentro da boca para
me calar.
Merda. Eu realmente sou uma estúpida.
Eu tinha feito o mesmo com Perla, contando
sobre o noivado e a gravidez. Falando rápido,
nervosa, mas Perla já me conhecia e tinha
entendido tudo o que lhe contei. Ficou gritando
como uma maluca de tanta felicidade, mas
infelizmente ela não conseguiria vir para cá, no
casamento e na hora do parto do bebê, o que era
decepcionante para mim.
Quando saí de meus devaneios rápidos, olhei
envergonhada para o rosto de Demétrio, ele me
olhava com diversão e simpatia. — É muito
generoso da sua parte, ninguém iria
voluntariamente se dispor a isso, para alguém
desconhecido e muito menos não cobrar nada. Fico

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grato com o grande coração bondoso que tem


Elizabeth. Mas... não é querendo ser mau e
indelicado com você, mas eu acharia melhor ver a
barriga da minha esposa, crescendo com a minha
criança dentro dela, do que ver um filho meu
crescendo dentro da barriga da futura esposa do
meu amigo. — Ele deu um leve aperto em meu
braço esquerdo e sorriu, eu fiz o mesmo. —
Agradeço por se importar conosco, não me
esquecerei disso. — Demétrio deu uma piscadinha
e caminhou até Amélia, que parecia já estar bêbada,
abrindo os braços e sorrindo fácil quando seu
marido se aproximou, abraçando-a pela cintura e
beijando seus lábios.
Sorri para isso e me virei para a mesa. Estava
comendo praticamente todos os doces e salgados
que tinham lá, nem me importava mais com o
pratinho vazio em minhas mãos, porém, novamente
fui interrompida. — Venha comigo. — Sussurrou a
voz de Salvatore no meu ouvido, suas mãos
segurando ambos meus ombros. Deixei o pratinho
sobre a mesa e peguei a sua mão, enquanto saíamos
às pressas do salão de festas.
Salvatore e eu subimos as escadas de
emergência, tudo escrito em italiano, nós não
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tivemos tempo de apreciar Veneza, pois tínhamos


chegado lá naquela manhã. — Salvatore eu estou
de saltos e grávida! — Exclamei, cansada com os
lances de escadas. Ele soltou uma risada e me
parou, desceu dois degraus e se curvou para tirar
meus sapatos, depois os pegou na mão livre e
continuamos a subir.
Eu já estava cansada e com dores nas costas
quando finalmente a porta de saída apareceu. —
Por que estamos aqui? — Perguntei a ele. Salvatore
me deu olhar divertido e se prostrou atrás de mim.
— Apenas feche os olhos, vou guiá-la. —
Murmurou.
Respirei fundo e fechei os olhos, sem
reclamar. Uma das mãos dele parou sobre os meus
olhos, a outra ele envolveu minha cintura com seu
braço. Ouvi a porta sendo aberta e um vento fraco
passou por mim, estava quente, me sentia meu
corpo se arrepiar de antecipação. — Salvatore... —
Chamei.
— Vou sair de trás de você, mas me prometa
que manterá os olhos fechados? — Perguntou ao pé
do meu ouvido.
Suspirei pesadamente e dei de ombros. —
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Tudo bem, apenas seja rápido, eu preciso comer


aquelas delícias sobre a mesa na festa. — Salvatore
riu com isso e então se afastou como tinha dito.
Tudo o que eu poderia sentir era o vento noturno,
pelo fato de estarmos no último andar do hotel,
luzes fracas estavam em meu rosto e um cheiro
forte de talvez, rosas...
Não ouvia Salvatore por perto e por isso
comecei a me sentir nervosa. — Onde você está?
Salvatore!
— Tudo bem sua curiosa, pode abrir os
olhos. — Rapidamente os abri e suspirei. Salvatore
estava ajoelhado a seis passos, distante de mim,
com uma caixa aberta e um anel a vista. Em todo o
chão de concreto, pétalas e mais pétalas de rosas
vermelhas e brancas, misturadas, e um delicioso
perfume das rosas, se espalhando.
Coloquei as mãos sobre a boca e soltei uma
risada, olhando em minha volta e caminhando até
ele. — Você que fez isso? Essas rosas, voando
lentamente... meu Deus, Salvatore. — Ri entre meu
choro. Ele me deu um olhar apaixonado e assentiu
para mim.
— Quero ser o homem mais romântico e
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carinhoso de toda a sua vida, eu sempre irei mimá-


la, sempre estarei disposto para você, porque você é
simplesmente a mulher dos meus sonhos. Sou
completamente louco e apaixonado por você,
Elizabeth desde que começamos a nos aproximar.
Não me imagino longe de você, não imagino um
lugar, um tempo, um dia, uma vida longe de você.
— Eu não parava de chorar baixinho, suas palavras
eram tão reconfortantes para o meu coração.
Salvatore retirou o lindo anel de prata, com um
diamante bonito, meio rosado, de dentro da
caixinha de couro azul, ele a pôs sobre o chão e
depois pegou minha mão esquerda e me olhou. —
Elizabeth Nevasco Evans, você aceita se casar
comigo?
Soltei minha respiração trêmula e sorri para
ele. — Sim, eu aceito me casar com você. —
Sussurrei em resposta. Salvatore abriu um sorriso
torto e colocou o anel no meu dedo anelar, depois
ele segurou minha cintura, cheirando e beijando
minha barriga e, em seguida, se levantando e me
puxando para um beijo.
Fiquei na ponta dos meus pés quando o senti
me levantar do chão e me beijar profundamente.
Deus, eu o amava tanto! — Eu te amo, muito. —
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Sussurrou como uma prece. Apertei meus braços,


que estavam em volta do seu pescoço e passei a
ponta do meu nariz sobre o seu.
— Eu também te amo, não vejo a hora de
chamá-lo de esposo. — Ri, fazendo-o me seguir.
Não somente esposo, mas o meu legítimo homem,
o pai do meu bebê. Meu destino era eterno ao lado
de Salvatore De Gasperi.

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VINTE E SETE

DOIS MESES DEPOIS...


Meus olhos não se desviavam da minha
grande barriga de sete meses, eu estava nervosa
com aquele dia, pois era o dia do meu casamento
com Salvatore. Entretanto, não nos casaríamos em
Las Vegas ou Itália, muito menos na França, mas
sim uma surpresa! Arrr. Ele não queria me contar e
já estávamos dentro do avião. Margot, sua mãe
Aimée e sua irmã Zara, também estavam conosco e
todas nós nos encontrávamos no quarto do jato
particular.
Aimée estava penteando meus cabelos,
enquanto Margot fazia minha maquiagem e Zara
estava preparando meu vestido de noiva/grávida.
Ele era simples, uma cor, meio perolado, seu
tomara que caia em renda, forma de coração e a
saia do vestido era pequena. O mais confortável dos
vestidos de noivas para quem estava com uma
barriga gigante, e um bebê frenético dentro de si.
Eu nunca faltava às consultas ou até mesmo
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das palestras sobre gravidez, fazia os exercícios


físicos indicados para que o dia do parto seja
“melhor”, e comia somente alimentos saudáveis,
mas mesmo fazendo tudo nos conformes, minhas
cólicas estavam cada vez mais irritantes! Elas eram
insuportáveis e apareciam em momentos como, na
hora de dormir, de passear ou até mesmo estar em
um assunto importante ao telefone. Sem contar as
dores nas costas e os terrores quando o bebê se
alongava dentro de mim, isso era apavorante.
Demais.
Mas Salvatore apenas observava com
admiração. Ele conversava o tempo todo com o
bebê e, na maioria das vezes, a criança o respondia
com leves chutes. Seu olhar de papai babão era
amável.
Quando Margot tinha finalizado minha
maquiagem, olhei através do espelho para Aimée.
— Fico triste em saber que Selena e o Sr. De
Gasperi não irão... — Murmurei. Ela me olhou de
relance e sorriu docemente.
— Não se preocupe com isso, meu amor.
Hoje é o seu grande dia e você não pode ficar com
a cabeça cheia. — Mudou de assunto, Aimée e

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sorrindo.
Concordei, balançando minha cabeça e
suspirando ao mesmo momento. — Um casamento
que não faço ideia da onde será. — Murmurei
cansadamente. Aimée soltou uma risada leve,
segurando meus ombros com as suas mãos, ele se
curvou, ainda me olhando pelo espelho.
— Salvatore apenas quer impressioná-la o
quanto ele puder, tenho certeza que será uma
grande surpresa! — Ela beijou minha bochecha e se
afastou. — Vamos sair para ele entrar, Zara e
Margot, escondam o vestido. — As duas
recolocaram o vestido de volta ao closet e saíram
da pequena suíte acenando.
Quando estava só, me levantei, apoiando-me
nos braços da cadeira macia e respirei fundo, andei
lentamente pelo quarto quando Salvatore apareceu.
Ele estava vestido em um jeans escuro e blusa de
mangas compridas, com os dois dos três botões
abertos, da cor branca. Ficava mais lindo ainda sem
os seus ternos intimidantes. Ele fechou a porta e
andou em minha direção, onde me sentava na borda
da cama. Salvatore parou na minha e se agachou,
deixando seu rosto de frente a minha barriga nua.

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Eu estava apenas com um robe de seda


branca, calcinha e sutiã da mesma cor.
Os olhos de Salvatore varreram pelo meu
corpo e finalmente pousaram-se em meu rosto. —
A gravidez lhe deixou ainda mais linda. —
Murmurou, beijando minha barriga. Sorri
timidamente e toquei em seus cabelos loiros,
delicadamente.
— Quero que nasça, além, de eu estar
terrivelmente curiosa para saber o sexo e ver o seu
rostinho, eu não suporto mais as náuseas, as dores e
os inchaços. Não tem nada de bonito em uma
gravidez. — Disse fazendo um biquinho.
Salvatore soltou uma meia risada e beijou
mais uma vez o meu ventre. — Se esqueceu de algo
muito importante, para ambos. — Piscou.
— O quê? — Franzi o cenho, sorrindo ao
mesmo tempo.
Ele apertou seus olhos para mim e se ergueu
lentamente, até que seu rosto estivesse colado ao
meu. — A falta de muito, muito sexo. —
Sussurrou, mordendo meu lábio inferior. Dei um
gritinho misturado com risada e o empurrei para
longe, Salvatore sorria abertamente.
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— Como me esqueceria disso?! Sinto falta da


posição de quatro e de lado.
Salvatore gargalhou e plantou um selinho em
meus lábios, depois foi se afastando. — Sinto falta
de todas, senhorita! — Ri junto com ele, ao mesmo
tempo, o chamei.
— Ei! Não vai mesmo me dizer onde será o
casamento, e por que resolveu fazer todos voarem
durante o fim da madrugada? — Possivelmente o
sol estava quase nascendo, Margot implorava para
que eu descanse, mas quem conseguiria com tanta
ansiedade?
Salvatore balançou a sua cabeça com um
sorriso cretino nos lábios, dizendo-me: — Não,
sinto lhe dizer. Falta menos de uma hora para
chegarmos, então descanse um pouco. Eu te amo.
— Piscou para mim, fechando a porta. Soltei um
rosnado baixo e cruzei os braços, além daquele
suspense todo, eu também estava proibida de sair
da droga do quarto.
Deitei-me com cuidado para não bagunçar o
cabelo e suspirei.
Realmente, eu sentia saudades de Salvatore,
claro que fazíamos sexo, mas não era a mesma
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coisa que antes. Então acabei não querendo mais,


por ora. Minha especialidade na cama, naquele
momento era masturbação ou sexo oral, Salvatore
fazia o mesmo em mim e, às vezes, ele não
aguentava somente aquilo e me penetrava.
Lentamente, com carinho.
Mas eu gostava de algo mais... intenso.
Aquele assunto tinha tomado minha cabeça e
por isso me sentia mais tranquila, estava ficando
maluca para saber onde estávamos indo, mas sabia
que ninguém contaria mesmo. Soltei um suspiro e
fechei meus olhos, cochilar um pouco seria bom
naquele momento.
*****

Tinha posto o meu vestido, finalmente, antes


disso, Margot refez a maquiagem e Aimée o
simples penteado, pois eu estraguei toda, enquanto
adormeci. Meu penteado era algumas mechas
amarradas e o restante de meu cabelo, solto. Minha
maquiagem era um batom rosa bem clarinho, blush,
máscara para cílios e um pouco de pó compacto no
meu rosto.
Nada extravagante ou exagerado.
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Infelizmente quando eu saí do quarto, as


pequenas janelas do avião estavam fechadas, não
permitindo que eu visse nada, e Salvatore teve mais
uma maldita ideia de colocar uma venda em meus
olhos, e fones de ouvido para que eu não escutasse
nada quando descêssemos. Aquilo me fez rosnar e
choramingar, enquanto ele, sua mãe e irmã e
Margot, riam sem parar.
Caminhamos por uns segundos e já
estávamos entrando em um carro, eu sentia pela
brisa, que estava de dia e um sol forte, mas não
para sentir muito calor, essas descobertas não
fizeram com que eu descobrisse onde estávamos e
me sentia mais frustrada do que nunca!
Salvatore estava ao meu lado, com um braço
envolto de mim, me acariciando com seu polegar.
Eu não parava de engolir em seco, mas
quando senti o carro finalmente parar, meu coração
disparou. Salvatore tirou um dos fones de ouvido e
disse-me. — Uma pessoa te levará até o lugar
combinado, esperarei por você.
— Espera! Q-quem me levará? Para onde?
Você está olhando meu vestido? Droga Salvatore
nosso bebê sairá agora mesmo de dentro de mim!
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— Exclamei apavorada, apertando sua mão com a


minha.
Ele deu uma risadinha e beijou minha
bochecha. — Se acalme meu amor, para se sentir
melhor, também estou de venda para não olhar
você. Agora, se acalme. — Ele beijou minha
bochecha novamente e o senti saindo do carro.
Depois de alguns minutos, alguém estava
segurando minha mão, me ajudando a sair de
dentro do carro.
Eu estava tremendo! Estava a ponto de entrar
em trabalho de parto pela ansiedade e nervosismo,
não estava conseguindo decifrar nem mesmo de
quem era o braço, entrelaçado ao meu, e a mão na
minha. Ainda estava com os fones e isso dificultava
mais, pelo fato de não escutar os sons ao meu
redor, era tão irritante e frustrante que me fazia
choramingar, como uma criancinha de colo.
A mão me guiou por alguns minutos,
lentamente. Minha vontade era poder tirar aquelas
merdas do meu rosto, mas não queria estragar a
nova surpresa de Salvatore. Então paramos, fiquei
prostrada como estátua, tremendo, não pelo vento
que batia naquele momento, mas sim a adrenalina

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de ansiedade. Até que meu nariz reconheceu um


cheiro muito familiar...
A mão saiu de perto de mim e foi até a minha
cabeça, quando a venda foi solta do meu rosto e os
fones retirados, abri meus olhos e dei um grito
entre minhas mãos.
Estávamos no Brasil, no Rio de Janeiro!
Em uma praia, com cadeiras brancas,
mafiosos ali, até mesmo Demétrio e Amélia
Gratteri, que sorriam animados, Salvatore estava no
seu terno de casamento, ao lado de um homem,
também de terno e segurando uma Bíblia, fora isso,
o corredor improvisado para mim, sobre a areia,
estava coberta de pétalas de rosas vermelhas e
brancas. Um arco branco com as rosas inteiras,
fundidas em cada buraquinho do arco atrás de
Salvatore e, o pastor. Também se encontrava uma
banda ao lado, com instrumentos nas mãos,
sorrindo.
Eu podia ver Margot, olhando-me com um
grande sorriso. Assim como Aimée e Zara.
Soltei uma risada e limpei as lágrimas,
olhando novamente para Salvatore, ele me olhava
com um sorriso, sem mostrar os dentes, mas seus
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olhos estavam hipnotizados sobre mim. Ele fez um


sinal para que eu pudesse olhar ao meu lado e eu o
fiz. Tinha me esquecido do braço se envolvendo
com o meu.
Quando olhei para o meu lado, coloquei a
mão na boca e chorei mais. — Meu bem, você
realmente achou esse macho na loteria! E olha essa
barrigona linda! — Exclamou Perla, rindo.
— P-Perla! — Solucei e a puxei para um
forte abraço. — Você sabia? Sabia disso tudo? —
Perguntei ainda abraçada a ela, eu sentia a sua falta.
Perla limpou minhas lágrimas com cuidado e
segurou meu rosto. — Mais é claro que sim, sua
boba! Quando Salvatore ligou, falando a nossa
língua e contando os esquemas, eu surtei! Tô feliz
por você meu amorzinho. — Soltei uma risada e a
abracei novamente, mas Perla já me afastava. —
Agora chega desse choro choro, vamos casar você
logo! Pega aí ô.
Limpei meu rosto, ao mesmo tempo, ela me
entregava um buquê de tulipas em minhas mãos,
entrelaçamos nossos braços e a pequena banda ao
lado, tocava a música. As pessoas ficaram de pé e
finalmente caminhei até o meu lindo Salvatore, me
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olhando com amor e admiração.


*****

O jantar estava perfeito, com duas mesas


longas, com comidas típicas do meu país e também
da Itália. Músicas misturadas tocavam e as pessoas
estavam radiantes, assim como eu. Perla não
desgrudava de mim e pegou uma grande simpatia
por Margot, mesmo as duas não se entendendo,
mas estavam bêbadas e cantando uma música, que
nem tocando estava na grande tenda.
Amélia e seu marido desejaram tanto para
mim, como para Salvatore, os parabéns e depois
saíram para a praia, bem animadinhos.
Depois de cumprimentar todos, Salvatore me
puxou para fora e saímos na praia noturna. Ele
segurou minha mão e a olhou, na direção do anel de
noivado e, agora, a aliança de ouro do casamento.
A sua se destacava em sua pele, eu ainda estava
desacreditada que tinha me casado e com
Salvatore! Era inacreditável como o tempo muda.
— Gosto de vê-la com a aliança e meu anel.
— Murmurou, me abraçando, abracei sua cintura e
nos beijamos lentamente, o toque dos seus lábios,
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irradiou o meu corpo.


— Também gosto de ver você usando a
aliança. — Murmurei, depois do beijo. — Você não
faz ideia de como estou feliz, não faz ideia do quão
surpresa e mais apaixonada por você, eu estou.
Obrigada por isso, obrigada por me trazer até Perla.
— Ele deu um sorriso torto e segurou meu rosto
com as duas mãos, seus lindos olhos verdes,
estavam brilhando. Eu não sabia dizer em palavras,
o que sentia naquele momento, mas apenas poderia
dizer que o amava e o amaria incondicionalmente.
— Eu a quero feliz e farei tudo o que estiver
ao meu alcance e, também o que estiver longe. —
Sua mão me puxou para um beijou mais profundo e
tive que ficar na ponta dos pés, quando fiz isso, o
bebê deu um chute.
Rapidamente peguei a mão direita de
Salvatore e coloquei na direção que o bebê se
remexia. — Olhe! Ele está chutando, deve estar
dançando por saber que seus pais se casaram. — Ri
em alegria. Salvatore acompanhou minha risada e
acariciou minha barriga, ao mesmo tempo em que o
bebê dava outro chute, ele me olhou nos olhos e
rimos juntos ao sentir aquilo, a vida que estava

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crescendo dentro de mim.


— Ela vai ser a coisa mais perfeita do
mundo. — Sussurrou. — Minha Samantha.
Mordi meu lábio inferior e olhei minha
barriga, com a mão em cima da de Salvatore. —
Sim. Meu pequeno, e lindo Donovan. — Pisquei
para Salvatore, fazendo-o rir.
— Será bem-vindo de qualquer forma, pois
será um filho meu com você. Quero ter muitos, Sra.
De Gasperi. — Ri, enquanto ele dava vários
beijinhos na minha boca e assenti.
— Quantas crianças você tem em mente? —
Perguntei.
Salvatore suspirou, olhando para a praia e
deu de ombros. — Três? Ou quatro? — Mordi meu
lábio inferior e assenti, voltando a beijá-lo.
— Prefiro seis.
— Vai com calma sua maluca. — Brincou
Salvatore, nos fazendo gargalhar, entre nossos
beijos.
Quando cessamos, olhei para ele. — Quatro.
Eu gostei. Minha mente já criou três meninos e
uma menina. Todos loirinho como o papai. —

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Sorri. Salvatore esfregou seu nariz contra o meu, e


sorriu com amor nos olhos.
— Todos lindos como a mãe. — Sussurrou,
me beijando de volta. — Vamos voltar, não pode
ficar muito tempo de pé, e Perla e Margot estão
bêbadas. — Ri para ele e voltamos para a tenda de
mãos dadas.
Aquele foi o dia mais lindo, magnífico e
perfeito de toda a minha vida. Graças ao meu
marido. Salvatore. A surpresa valeu a pena.

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VINTE E OITO

DOIS MESES MAIS TARDE...


O dia finalmente chegou e eu estava nervosa.
Finalmente conheceria meu bebê, que escolheu
nascer no Hospital Timone, durante o final da
minha lua de mel, as 03 h e 32 min, na França.
Quem diria! Casada com um homem ítalo-
americano com descendências francesas e ter um
filho francês! Loucura, certo? Então lá estava eu,
nervosa, dentro do quarto, andando de lá para cá,
sentindo dores e chorando. Salvatore tinha ido ao
aeroporto, buscar minha obstetra, pois queria
somente ela e mais ninguém!
Além do mais, eu não entendia ninguém
naquela cidade, se não fosse por Salvatore ser
fluente, estaríamos ferrados.
Meia hora já tinha se passado e eu urrava de
dor, me curvava com as mãos, apoiadas na parede e
respirava fundo, contando os segundos. Até que
finalmente a porta foi aberta por Salvatore e Alicia,
minha médica, vindo atrás. Havia duas enfermeiras
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do hospital também. — Graças a Deus. —


Sussurrei ofegante. Salvatore parou ao meu lado e
retirou o cabelo úmido de suor, do meu rosto. Seu
olhar era preocupante.
— Desculpe a demora. — Murmurou
franzido.
Abri um sorriso fraco quando então Alicia
apareceu, pousando sua mão direita nas minhas
costas. — Eliza, você contou as contrações? —
Perguntou sem delongas. Assenti a ela e sussurrei
curvada sobre a cama.
— De cinco em cinco minutos. — Engoli em
seco.
Alicia assentiu para mim e pediu para
Salvatore dizer às enfermeiras, que me ajudassem a
se deitar. — Precisamos levá-la a sala de parto. —
Disse ela, indo abrir a porta.
As enfermeiras escutaram Salvatore e
rapidamente elas me fizeram deitar sobre o
colchão. Mais uma contração veio. — Deus! —
Chorei em agonia. — Eu não quero deitar, Alicia.
Piora. — Choraminguei. Salvatore segurou a minha
mão e eu podia ver o quão preocupado estava. Eu
também estava e com muito medo.
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— Não podemos trazer a criança ao mundo


nesse quarto. Não se preocupe, apenas respire como
ensaiamos. — Tranquilizou-me.
Então saímos daquele quarto, todos ao lado
da cama em que eu estava e entramos no elevador.
Salvatore se curvou até a minha cabeça e beijou
minha testa. — Vou estar ao seu lado. —
Sussurrou.

*****

— Empurre com mais força, Elizabeth. Você


está quase lá. — Incentivou Alicia, que estava
sentada de frente às minhas pernas separaras. As
enfermeiras seguravam meus pés e uma delas
apertava minha barriga, com sua outra mão,
empurrando a criança. Salvatore permanecia ao
meu lado, já com as roupas, máscara e touca,
necessárias naquela ocasião. Seus olhos não saíam
de onde Alicia estava. Eu era toda feita de gritos,
suor e dores! Queria me levantar, queria gritar
mais, queria dormir, mas me esforcei, ao máximo,
para que o bebê saísse.
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Gritei e fiz força. Mais força e mais força,


parecia que nunca acabava. Não sabia mais quanto
tempo tinha se passado. Minutos? Horas? Eu não
sei, mas sentia-me completamente esgotada pelo
esforço. Então forcei cada vez mais forte. —
AHHHHH! — Urrei, chorando, querendo que
aquilo acabasse logo.
— Você está indo bem meu amor, a cabeça já
saiu. — Disse-me Salvatore, tranquilamente.
Alicia se levantou da pequena banqueta e me
olhou. — Faça mais força, está acabando. —
Ordenou e eu fiz. Curvei-me e soltei toda a força
que meu corpo tinha, gritando, ao mesmo tempo,
em que sentia algo saindo de dentro de mim e dor
cessando completamente. E aquele incrível choro.
—Parabéns Elizabeth! Vocês acabam de ter uma
menina! — Exclamou, dando a criança para uma
das enfermeiras. Meus olhos seguiram as mãos da
mulher, que carregava algo todo sujinho e se
debatendo em choros, eu queria fechar os meus
olhos e adormecer, mas queria conhecê-la.
Quando finalmente a enfermeira chegou,
Salvatore pegou a bebê enrolada, agora, em um
coberto amarelo. Ele a olhava com admiração e

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quando abaixou sua máscara cirúrgica, um sorriso


estava em seus lábios. — Olhe para ela. —
Sussurrou, ainda olhando o bebê e se curvando
sobre mim. Enquanto Alicia cuidava de mim e as
duas enfermeiras, olhei para a pequena coisinha nos
braços de Salvatore.
— Quero segurá-la. — Sussurrei. Ele a
colocou em meus braços; acariciava sua cabecinha
redonda e com poucos fios loiros na cabeça. Soltei
uma meia risada e sussurrei novamente. —
Samantha.
Salvatore me olhou sorrindo e beijou minha
boca, apaixonadamente, em seguida, na bochecha
de Samantha, que dormia tranquilamente. Ela era
gordinha, nem pequena e nem grande, era linda. —
Nossa Sam... — Sussurrou Salvatore de volta.
Olhei para ele e assenti com um largo sorriso.
— Nossa pequena Sam.
*****

Três dias se passaram e, finalmente, eu e meu


bebê tivemos alta. Alicia examinou Samantha e
disse que ela estava ótima e saudável. Quando
chegamos à casa que Salvatore alugou para nós, ele
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me ajudou a subir as escadas, enquanto eu segurava


nossa filha, entramos no quarto e pedi que
acendesse apenas uma luz do abajur no aparador.
— Deite comigo. — O chamei e colocando Sam no
centro da nossa cama. Tirei minhas sapatilhas e me
deitei ao lado dela, estava me sentindo cansada!
Parecia que fui atropelada por um caminhão.
Salvatore tinha fechado a porta da suíte e
colocou minha bolsa e a de Sam na poltrona, em
seguida, ele tirou seus sapatos, chaves do carro e
carteira de dentro do bolso da calça, colocando
sobre o aparador de madeira. Seus olhos não saíam
de perto da nossa filha, que adormecia
pacificamente. Quando ele se deitou no outro lado
da cama, nos olhamos. — Ela é linda, se parece
com nós dois. — Sussurrou.
Sorri, olhando para ela, deitei minha cabeça
perto da sua, o que Salvatore fez o mesmo. —
Sim... com nós dois, mas eu quero ver os olhos
dela. — Suspirei e coloquei minha mão em cima da
sua barriguinha, coberta pelo macacão rosa que
usava, sua respiração acalmava o meu coração,
deixando-me relaxada. Eu sentia que tinha feito um
ótimo trabalho, em trazer meu bebê forte e saudável
para o mundo.
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— Fizemos um ótimo trabalho, ela é perfeita.


— Sussurrei, depois de um tempo.
Salvatore sorriu torto, sem mostrar os seus
dentes e apoiou a cabeça com sua mão, o cotovelo
sobre o travesseiro. — Muito, isso dá uma vontade
de ter mais... — Piscou, me fazendo ri. Dei uma
batidinha de leve no seu ombro e ele riu
abertamente.
— Não faz nem setenta e duas horas que
coloquei uma criança para fora, e você já está
pensando em fazer outras?! — Perguntei em
incredulidade fingida.
Os olhos de Salvatore sorriram para mim,
assim como seus lábios, repuxaram-se para o lado.
— Minha fábrica ficará aberta até o número quatro.
— Contou, arqueando as sobrancelhas. — Ou até o
seis. — Piscou para mim, me fazendo recordar do
que eu tinha dito meses atrás, sobre ter seis filhos.
Soltei outra risada e apoiei minha cabeça com a
mão, ficando na mesma posição que a dele.
— Aquilo foi uma brincadeira. Não posso
cuidar de seis crianças. — Comentei, fazendo um
biquinho.
Salvatore riu e curvou, dando um selinho em
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meus lábios. — Não se preocupe, se você quiser,


pode pedir para Margot. — Ele franziu o cenho e
continuou. — Posso dizer a Demétrio que preciso
de alguém de confiança, para cuidar dos nossos
filhos, a pessoa perfeita seria Margot, assim ela
sairia definitivamente da Haze, sei que ela entrou lá
da mesma forma que você entrou. E posso ver que
você gosta dela. — Quando ele terminou de falar,
arregalei meus olhos em surpresa.
— Está falando sério?
Ele assentiu sorrindo e me beijou dessa vez.
— Claro. — Respondeu, olhando para Samantha.
— Quando voltarmos é só dizer a ela, que eu
comunicarei a Demétrio, ele aceitará, sei disso. E
quando tivermos nosso segundo filho, vou deixar
que você escolha o nome. — Piscou para mim,
dando um selinho barulhento na minha boca e
beijando a testa de Sam.
Soltei uma risada e o olhei tirando as roupas,
quando se levantou da cama. — Que gentil de sua
parte, de agora em diante serei eu que escolherei o
nome de todos, pois não é você que sofre por nove
meses. — Revirei os olhos, rindo. Salvatore
balançou suas sobrancelhas loiras e deu a volta na

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cama, parou atrás de mim, mordiscando minha


orelha. Estava somente de cueca boxer branca.
— Ah, Sra. De Gasperi, eu sofro e muito!
Ficar sem sexo é uma tortura. — Ele deu um
tapinha na minha bunda, indo até o banheiro
enquanto eu ria. Acho que então, nós dois
sofremos.
Quando escutei o chuveiro ser ligado, voltei a
admirar Sam. — Ei, você. — Sussurrei, passando
meu dedo indicador na sua bochechinha. Ela
levantou os bracinhos para cima e fez um som
engraçado com a boca, se espreguiçando. Sua
boquinha cheia de bolhas de baba, o que me fez ri.
Passei a mão no seu pequeno corpo e quando olhei
seu rostinho, paralisei.
Samantha estava acordada, finalmente, me
olhando, fiquei paralisada e estendi minha mão até
o interruptor do abajur, quando a luz acendeu, ela
fechou seus olhos e se espreguiçou novamente,
fazendo-me sorrir. — Ei, olhe para a mamãe. —
Quando disse isso, ela abriu seus olhos e bocejou,
em seguida, me olhou, piscando lentamente.
Seus olhos eram as esmeraldas mais perfeitas
que já vi. Mais de que os de seu pai. Soltei outra
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risada e me curvei para beijar sua testa, depois


inspirei seu doce cheiro de bebê recém-nascido. —
O melhor cheiro. — Sussurre, beijando-a. Quando
olhei para ela, estava dormindo novamente. Sorri
com carinho e apaguei a luz do abajur, voltando a
me deitar e olhá-la.
Realmente, eu queria mais. Não me
importava com as dores, queria mais de uma
coisinha dessas, com o homem que amo
incansavelmente e nunca deixarei de amar.
Salvatore estava certo, precisamos de mais!

VINTE E NOVE

TRÊS ANOS DEPOIS...


Quando desliguei o telefone, Salvatore
entrava na nossa sala de estar, com um olhar
cansado, ele chegou perto de mim e deu-me um
selinho. — Era a Perla? — Perguntou, indo até o
minibar da sala, se servindo com um copo de
conhaque, ele adorava essa bebida. Fiquei
observando-o e assenti, suspirando e me sentando
no sofá marrom.
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— Sim, estava contando a notícia. — Sorri


sem mostrar os dentes.
A cabeça de Salvatore se virou para mim e
um sorriso se estampou em seu rosto, ele se virou
por completo e veio caminhando com o copo de
bebida na mão. — Mais uma mulher. —
Murmurou, se sentando na poltrona de couro. —
Precisamos de filhos homens, será que faço
somente mulheres? — Perguntou, dando um gole
na bebida. Soltei uma risada e me levantei, indo até
ele. Sentei-me no seu colo e acariciei cabelos
loiros, sem nenhum fio grisalho.
Era incrível como o tempo tinha passado
rápido. Meu casamento com Salvatore era
maravilhoso, eu adorava o que tínhamos construído
juntos. Claro que ainda tinha as más pessoas que
sussurravam pelas minhas costas, chamando-me de
interesseira, prostituta ou até mesmo suja, pelo
acontecimento do estupro. Mas eu não me
importava com isso, eles que falassem o que
quisessem, pois a minha vida com Salvatore era
esplêndida. Eu tinha minhas suspeitas sobre alguém
estar me difamando por três anos, incansavelmente,
e tanto eu como Margot, tínhamos a mesma ideia.
Selena. Ou até mesmo France, que nem se deu ao
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trabalho de conhecer a sua primeira neta.


Porém, Salvatore não queria que eles dois
tivessem contato com Sam, ele sempre dizia que
não queria palavras e olhares falsos sobre nossa
pequena Sam, e pouco se fodia se essas pessoas
seriam sua irmã e seu pai. Além disso, France
revoltou-se quando descobriu que seu primeiro neto
era, na verdade, primeira neta. Zara tinha me dito
que ele chamou Salvatore de fraco por não ter feito
um... varão. Argh! Completamente ridículo! Essa
máfia que não sonhasse em tocar nos meus filhos e,
para minha sorte, eu tinha um marido que me
apoiava.
Salvatore concordou com isso sem pensar
duas vezes, obviamente.
Apesar do seu pai e irmã ignorantes, havia
muitas pessoas bondosas. Como o casal Gratteri,
Aimée e Zara, que estava noiva, infelizmente, de
um homem bem mais velho, e que ela não
conhecia, minha grande amiga Margot, que agora,
me ajudava a cuidar de Samantha e minha
maravilhosa mãe Perla. Ela tinha conseguido o
visto para Las Vegas, depois de um
“empurrãozinho” de Salvatore. Nesses últimos três

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anos, ela aparecia nos aniversários de Sam, meu e


até mesmo no de Salvatore. Tinha aprendido inglês
fluente e se gabava com isso, o que era hilário.
Tinha implorado para que ela morasse
comigo, Sam e Salvatore, mas ela recusou e me
disse que a casa era a nossa, e que também ela
odiaria ter que ouvir meus gemidos de sexo durante
as madrugadas.
Perla sendo Perla.
Então ela só aparecia em datas
comemorativas, até mesmo nos quatro de julho. Ela
e Sam não se desgrudavam uma da outra, ela
sempre me dizia que estava orgulhosa de mim.
Quando saí de meus devaneios, respondi a
Salvatore. — Não se preocupe. Alicia disse que
depois do nascimento de Isadora, podemos seguir
uma espécie de grade. — Murmurei. — Ela disse
que nos meus dias mais férteis, as chances são
maiores e também ela vai mudar novamente a
minha alimentação, e também que as posições de
lado e de bruços são as melhores para isso. — Os
olhos de Salvatore subiram até observar meu rosto.
— Não sabia que poderia controlar isso.
Abri um sorriso doce e acariciei seu queixo.
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— Não podemos, mas se fizermos o que Alicia


passar para nós dois, as chances serão altas e então,
teremos um menino. — Expliquei. Salvatore
colocou o copo vazio sobre o aparador redondo e
envolveu minha cintura com seus dois braços, seus
lindos olhos verdes brilhavam de paixão.
— Hmm... Isso quer dizer que haverá muito
sexo, principalmente na posição do cachorrinho. —
Disse, balançando as sobrancelhas, o que me fez
rir. Segurei sua nuca com as mãos e beijei sua boca
avidamente, na minha segunda gravidez, estava me
tornando uma tarada! Eu não parava de assediar
Salvatore e ele ria com isso.
Quando afastei meus lábios dos seus,
relutantemente, o respondi. — Esse nome é
péssimo! Mas sim, será bem usada. — Brinquei
também. Ele abriu um sorriso e beijou meu
pescoço, enquanto eu suspirava e olhava minha
barriga um pouco grande, eu já estava de seis
meses. — Ela se mexe tanto, não consigo dormir a
dois dias.
— Ela é como você, quando você dormiu ao
meu lado pela primeira vez, eu tive que me
esquivar várias vezes, para não ser nocauteado na

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minha própria cama. — Suspirou, me fazendo rir.


Salvatore colocou sua mão sobre a minha, na
barriga e sorriu. — Não vejo a hora de conhecê-la.
Mordi meu lábio inferior e assenti para ele.
— Eu também. Principalmente quando nascer e
pudermos fazer sexo, até que você tenha sua
primeira parada cardíaca. — Brinquei, beijando sua
boca entre nossas risadas. Quando nossos beijos
estavam começando a ficar quente, um gritinho
histérico e mãozinhas pequenas tocaram em minhas
pernas, fazendo-nos afastar rapidamente. Salvatore
e eu olhamos ao mesmo tempo para baixo, quando
Sam nos olhava em advertência e de bracinhos
cruzados.
— Mamãe! Não pode beijar na boca. —
Exclamou, sacudindo sua cabecinha, o que fazia os
seus cachos dourados, nas pontas de seu cabelo
balançar.
Tanto eu, quanto Salvatore, rimos com sua
bronca, eu a peguei no colo, e a coloquei sentada na
outra coxa de Salvatore. — Desculpe meu amor, o
papai não resistiu ter que beijar a mamãe. — Disse
ele, beijando sua testa. Samantha me olhou com
seus grandes olhos verdes, e encostou sua cabeça

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no peito de Salvatore.
— Tá bom, eu deixo o papai beijar a mamãe.
Ri para ela e me curvei até o seu rostinho. —
Que garotinha mais gentil! Vai comer a sobremesa
duas vezes depois do almoço. — Beijei a ponta do
seu nariz, fazendo-a gritar de alegria, abraçar minha
nuca, com seus bracinhos, beijar meu rosto e minha
boca. O que me fazia ri mais pela sua felicidade.
— Obrigada mamãe! Vou contar pra tia
Margot. — Ela deu um beijo na bochecha de
Salvatore, em seguida, a pedido dele, depois desceu
do seu colo e correu pela casa atrás da minha
amiga.
Quando estávamos a sós novamente,
continuei. — Avelina está bem? — Perguntei a ele.
Salvatore fez uma careta e suspirou.
— Não, mas ela é forte. Está aguentando as
pontas. Principalmente esse novo eu do Demétrio.
— Respondeu murmurante. — Amélia não sabe
mais o que fazer, é frustrante vê-los daquela forma
e, mais frustrante é ver o pequeno Giulio crescer
sem o pai. Eu moveria céus e terras se alguém
tentasse tirar meu filho e minha esposa do meu
lado.
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Olhei para ele com um sorriso e colei minha


testa na sua, olhando em seus lindos olhos. — E é
por isso que amo você. Mas tenho certeza que o pai
dele está fazendo algo, o tempo não acabou ainda.
Todos nós merecemos uma segunda chance e
também a felicidade. — Comentei, sorrindo.
Salvatore me olhou por um tempo e aos poucos seu
sorriso perfeito, que fazia com que ele aparentasse
ser mais jovem, surgiu em seus lábios. Eu amava
seus sorrisos.
— Você é a minha segunda chance. Estou tão
feliz por ter tido mais uma oportunidade e ainda
mais sendo com você. — Sussurrou, franzindo o
cenho. Sua mão direita pousou no meu rosto, e seus
olhos brilharam de amor por mim. — Me deu uma
linda família, uma nova vida, um novo eu. Tudo
por você. Olhe para a nossa filha, que fizemos com
tanto amor! E agora, nosso amor irá frutificar pela
segunda vez, eu agradeço a Deus, por você ser a
minha segunda e última chance. Quero você ao
meu lado, até que estejamos bem velhinhos, pois o
nosso amor permanece desde o primeiro dia que
nos beijamos, que nos tocamos... quero amá-la,
quero mais filhos com você, quero mais risadas,
quero seu mau humor todas as manhãs, reclamando
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que suas costas estão acabadas, e isso é minha


culpa por querer tantos filhos. Quero seus gemidos
de excitação, quando eu estiver dentro de você,
quero seus olhares tímidos, que ainda estão aí,
mesmo depois de três anos juntos. Eu quero tudo o
que vier de você, você vale a pena Elizabeth,
sempre valeu e eu a amo por isso. Eu te amo tanto,
que me sinto um novo homem, você me modificou
e não quero que se afaste nunca. Quero-a ao meu
lado até os nossos últimos suspiros. Para sempre.
Minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto,
às pressas, ao ouvir mais uma das lindas
declarações de amor de Salvatore. Ele sempre fazia
isso e toda vez me emocionava, pois eu sentia a sua
sinceridade. Além disso, todas as manhãs eu
recebia flores e cestas de café da manhã dele, com
cartões escritos com as mais lindas frases, que uma
mulher adoraria ler do homem que ama. Eu era
uma sortuda por tê-lo.
Soltei uma risada baixa e toquei em seu rosto
com as minhas mãos, olhando em seus olhos. — Eu
te amo tanto... — Sussurrei. — Você fez de mim
uma pessoa melhor, você mudou a minha vida
Salvatore e, é a vida mais perfeita que alguém
poderia ter. Eu te amo, só sei dizer isso e fico feliz
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por ter ouvido meu instinto, pois ele sabia que eu


estava indo até você. — Não terminei as palavras,
pois Salvatore estava me puxando para um beijo,
soltei um gemido e o abracei, sentindo minhas
lágrimas escorrerem mais. Só cessamos nosso
beijo, em busca de ar e quando fizemos isso,
Salvatore respondeu.
— Você é perfeita, Sra. De Gasperi. Será
minha eternamente. — Abri um sorriso e plantei
um selinho nos seus lábios, quando ele se levantou
junto a mim e, em seguida, limpou minhas lágrimas
com suas mãos. — Agora vamos nos alimentar!
Ultimamente estou me sentindo um rabugento.
Ri com a sua piada, enquanto caminhávamos
abraçados até a sala de jantar, depois olhei para
cima, dizendo. — Normal, a idade está avançando
rápido, vovô. — Brinquei e Salvatore fez uma
careta exagerada. Quando entramos na sala de
jantar, Margot e Samantha discutiam sobre quem
iria se sentar em tal cadeira, elas nem nos notou
chegando.
— Mais você adora procriar com o vovô. —
Piscou Salvatore, fazendo-me rir.
Virei-me de frente a ele, segurando suas
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mãos nas minhas. — E sempre vou amar você, meu


velhinho. — Ele sorriu e segurou meu rosto entre
suas mãos, me beijando com amor.
— E eu amarei você, minha novinha. —
Disse a gíria do meu país e em português, fazendo-
me ri e abraçá-lo. Realmente, esse homem é
magnífico!

Fim!

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...Série Submundo

Destinada ao Capo - livro 01.


Destinada a Senti-lo - livro 02.
Destinada a Amá-lo - livro 03.
Destinados Eternamente - livro 2.1 Continuação
do livro 02.
Destinada a Força - livro 04.
Destinada por Você—livro 05.
Dark Revenge - spin-off da Série Submundo.
Heart Delivered - spin-off da Série Submundo.
GRATTERI—livro 06.
Pulsation—spin-off da Série Submundo.
Intensa Malícia—Underworld Finale.
Lord of Lies—livro 07.
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The Don Colombo—livro 08 (último da série).

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Obrigada por sua leitura! Vemos-nos


na próxima estória.

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