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Copyright © 2019 Jas Silva

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,


através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento
escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
NOTA DA AUTORA

Quando recebi o convite para participar da antologia Implacáveis, Alexander Gerrard


surgiu de imediato em minha cabeça. Ele, um jogador de futebol da seleção espanhola,
prestes a participar da Copa do Mundo, se vê envolvido por uma jovem de olhos
brilhantes que enxerga nele o seu passe para uma vida de conforto e luxo. Um ano depois
de lançado, decidi compartilhar essa história que agora leva o nome de seu protagonista.
É uma novela, maior que um conto e menor que os livros a que estamos acostumados(as),
ainda assim, deixei em cada linha dessas páginas a minha paixão por esses personagens e
por essa história.

Espero que se divirtam e obrigada, mais uma vez, por todo o carinho que tenho recebido
nesses cinco anos de escrita. Vocês são demais!

Boa leitura e um super beijo,


Jas Silva.
CAPÍTULO UM

Luna

Grávida.

O teste em minha mão continha o resultado do exame de


farmácia que Loren, minha irmã mais velha, obrigou-me a realizar.
Ela e mamãe estavam ansiosas por este resultado e pareciam
acreditar que ele mudaria nossas vidas e que… nos traria o conforto
e o luxo que elas pensavam merecer. Além, é claro, de comida em
nossas mesas. Algo pelo que, a princípio, nós três deveríamos estar
batalhando. Mas eu era a única aqui a acordar antes das seis da
manhã todos os dias e a dormir somente após cuidar da casa e
bagunça que elas faziam durante o tempo que eu passava fora. A
dupla dinâmica, porém, recusava-se a sofrer a humilhação de ser
vista fazendo algo digno como trabalhar.

Não que o comportamento delas fosse uma surpresa. Elas não


eram sensatas… acho que nenhuma de nós era. Caso contrário eu
não teria aceitado fazer parte desse plano maluco criado pela
mulher que me trouxe ao mundo. Eu poderia ter dito não e lhe
virado as costas quando Lara explicou como seria fácil que um
rosto jovem e bonito como o da minha irmã encontrasse um alvo
rapidamente, e quando sua atenção virou para mim, cheia de
desprezo, ela teve que admitir que eu também tinha meus atributos.
Mesmo que fosse parecidíssima com o meu pai.

A verdade é que das quatro mulheres que viviam nessa casa,


porque, sim, havia mais uma e ela era uma das principais razões
pela qual eu aceitei participar dessa loucura, para começo de
conversa. Mas voltando à questão: de nós quatro, eu era a mais
comum. A mais sem graça, eu diria até. Mamãe era loira, magra, do
tipo pequena, mas cheia de curvas. E sei que em algum momento
da vida ela deveria ter sido uma mulher muito bonita. Mas o
cigarro, as noites passadas em claro e os anos fizeram com que
Lara parecesse bem mais velha do que os seus 36 anos de idade. O
orgulho e arrogância, no entanto, permaneciam intactos. E mamãe
agia como se ainda fosse a rainha do baile de sua escola. Título
esse que ela ganhou pela primeira vez aos quinze anos de idade e
que, vamos ser sinceras, nunca acrescentou nada à sua vida.

Porque, no final, mamãe se casou com o astro de futebol do


colégio, que após sofrer uma fratura na perna esquerda teve sua
chance de seguir carreira arruinada. Mas então era tarde, porque
Lara já havia engravidado de Loren, e, antes mesmo que se
formasse no colégio, ela e meu pai já estavam casados. Presos um
ao outro. Depois de Loren, foi a minha vez, e por último, sabe-se-
lá-por-que-razão, veio a Lucy, que era quatro anos mais nova do
que eu e que chegou em um momento que o casamento dos nossos
pais estava por um fio. Tanto que, dias após o nascimento da minha
irmã mais nova, papai desapareceu. Deixando a nós quatro a ver
navios. Sem dinheiro, sem uma casa onde morar. Sem comida.
Foram tempos difíceis, e talvez por isso, mamãe tenha ficado tão
fissurada em conseguir dar o conhecido golpe do baú. Mas ela já
não era tão nova, e qualquer homem que pudesse conquistar com o
seu charme desapareceria completamente após conhecer suas
filhas. Nós fomos como um repelente de bons partidos, pensei
angustiada, ainda fitando o teste que eu segurava.

Loren era como mamãe. Bonita, sempre sorrindo,


encantadora… por fora. E absolutamente cruel por dentro. Lucy,
porém, era a mais bela de todas nós, e isso porque ela tinha só
quinze anos de idade. Seu cabelo era longo e loiro, não um loiro
amarelo como o de nossa mãe e irmã, mas um loiro bonito. Que
iluminava qualquer ambiente. Seus olhos eram azuis e as
bochechas rosadas. Ela ainda era a pessoa mais inteligente dessa
família. Por isso eu lutava tanto para protegê-la da influência de
nossa mãe, porque sabia que, de todas nós, ela era a única aqui que
conseguiria ser alguém no futuro.

Ergui o rosto e me observei através do espelho manchado do


banheiro. Eu não era loira, não era… magra e definitivamente não
era esperta ou inteligente. Tanto que o único emprego que consegui
foi o de servir mesas, e até nisso eu me atrapalhava às vezes. Fosse
no pedido, fosse no número da mesa. Pior era quando eu ficava
nervosa e não conseguia escrever o pedido na caderneta. Todos já
estavam acostumados a lidar comigo, claro, eram pacientes na
maioria das vezes e a minha chefe era como a mãe que eu… bem…
que eu gostaria de ter tido.

Apesar da proximidade da lanchonete com o Estádio Santiago


Bernabéu, não foi lá que conheci o meu alvo. Melhor dizendo, o
alvo de Loren.

E mesmo que tudo tenha sido planejado, desde o primeiro


encontro até a noite que passamos juntos, eu podia dizer com
sinceridade que me apaixonei por Alexander Gerrard no instante
em que seus olhos se chocaram com os meus. Estava escuro no bar,
as luzes coloridas e a música alta, porém, não impediu que a forte
atração, quase magnética, se instalasse em meu corpo. E o mais
assustador foi que, apesar de ter começado a noite torcendo para
que o alvo se interessasse por Loren, eu passei os minutos
seguintes após a primeira troca de olhares fazendo justamente o
contrário. Eu torci para que ele me escolhesse. Não só torci, como
rezei para que isso acontecesse. Porque naquele momento,
enquanto fingia sorrir para Loren, eu me dei conta do quanto
desejava ser salva dessa vida.

Quando eu a vi
(Alexander Gerrard)
Faltava pouco mais de três meses para que o time da seleção
espanhola entrasse em uma rotina diária de treinamento e
começasse a se preparar para a Copa deste ano, que para o prazer e
felicidade dos espanhóis seria sediada em nosso próprio país. Essa
seria sem dúvida a melhor oportunidade de revidar a humilhação de
quatro anos atrás, quando perdemos nas semifinais para a Holanda.
Os caras caminhando comigo para dentro do pub próximo ao
edifício em que eu morava atualmente, também conhecido por ser o
lar de celebridades espanholas e jogadores das mais diversas
nacionalidades, que, assim como eu, jogavam no glorioso e
aclamado Real Madrid, pareciam animados. Três deles estariam
comigo na concentração que teria início em breve, inclusive
Murilo. Um dos meus mais antigos amigos.

Eu tinha certeza de que cada um deles alimentava a esperança


de que sairíamos vencedores este ano. E comigo não era diferente,
pensei, ao caminhar pela pequena multidão de pessoas. Seria
mentira dizer que ter sido considerado três vezes o melhor goleiro
do mundo pela FIFA não afetava a mente de um homem. Ser
idolatrado por milhares de fãs e ver mulheres, constantemente,
caindo aos seus pés e prometendo os prazeres mais absurdos em
seu ouvido era algo que inflava o ego de qualquer um. E não
apenas isso, ser adorado nos fazia sentir donos do mundo. Homens
além do bem e do mal.
Era fácil demais se deixar levar por essa ilusão.

Movi a cabeça, com facilidade, já que era o mais alto naquele


lugar, e fiz uma rápida e certeira varredura. No bar havia algumas
mulheres interessantes que fitaram o nosso grupo tentando avaliar
se deveriam ou não se aproximar. A música, localizada em um
pequeno palco no canto mais distante, era agradável, mas
atrapalhava a conversa entre meus amigos. Um grupo de
garçonetes servia as mesas apressadamente. Virei-me na direção
para a qual elas iam e identifiquei alguns casais, turma de amigos
e… duas deliciosas garotas. Localizadas bem no centro e viradas
para a entrada do pub. De um lado estava uma loira, que fez o
típico biquinho sedutor ao perceber que tinha minha atenção, e na
frente dela uma morena de cabelos longos e pele naturalmente
bronzeada, que se encolheu diante do meu olhar. Acho até que ela
teria afundado na poltrona e desaparecido ali mesmo, se fosse
possível.

Algo nela, talvez o medo em seu rosto, fez-me continuar


verificando-a de tempos em tempos. E foi por essa razão que,
quando ela deu o primeiro gole da bebida que havia acabado de
chegar à sua mesa e engasgou — alto e dramaticamente — eu não
consegui deixar de olhar ou sorrir.

Não um engasgar natural, daqueles facilmente disfarçados.


Não, esse era um daqueles em que qualquer pessoa ao lado
pensaria em ligar para a emergência. Que era o que eu teria feito, se
não fosse pela reação da loira, que ficou obviamente irritada, a
ponto de bater nas costas da morena enquanto ela tossia, atraindo
olhares em sua direção.

— Eu não consigo respirar… isso arde — a engasgada falou e


levantou os braços. Como se isso de alguma forma pudesse ajudar.
O que eu duvidava. Ela não tinha engolido um caroço de uma fruta,
droga, foi apenas um pouco de bebida forte.

— Porcaria, Gerrard, o que você está olhando? — Murilo


questionou, olhando para a mesma direção. — Ah, sim. Agora eu
entendo — disse, sorrindo abertamente. — As duas belezinhas
estão fazendo uma cena e tanto, não é? — Eu não respondi, porque
tudo o que conseguia ver era a morena sendo acudida agora por
várias pessoas. — Eu quero a de vestido azul, a que está chorando e
acha que vai morrer.

— Nem pensar! — grunhi, voltando-me para ele. — A


morena é minha.

Não importava o pouco que eu sabia a respeito dela. Porque se


alguém iria sair desse lugar com aquela mulher essa noite, esse
alguém seria eu.

— Pensei que você ainda estivesse transando e brigando com


a Lola… — Franzi o cenho e sacudi a lembrança de Lola. Que era
apenas o pior tipo de maluca que já passou pela minha vida, e de
malucas eu estava cheio.
Foram quase três anos indo e vindo com aquela mulher,
discussões espalhadas para toda a mídia. Escândalos, brigas. Gritos
e drama. Essa era a definição perfeita para a Lola. Não era para
tanto que a mulher era uma das mais queridas atrizes da Espanha,
mesmo que seus papéis fossem notórios por se enquadrarem no
arquétipo de empurrarem mocinhas em frente a carros, matar de
forma sempre surpreendente e, claro, mentir. Um defeito que a
sensual e infame Lola também possuía.

— Eu estou tentando algo diferente — falei entre dentes. —


Algo, ou alguém, que não seja louco. Ou que não pense que a
minha vida é uma novela e que ela é a protagonista.

Murilo riu, além de ser um dos meus amigos mais próximos, o


idiota era um dos melhores atacantes que eu conhecia.

— Não sei se a morena é a escolha certa, meu amigo. Duvido


que ela já tenha colocado alguma dose de álcool no organismo, e
pior, acho até que o fato de ela estar entrando em pânico porque se
engasgou com uma bebida qualquer seja uma prova de que ela
pode ter, sim, tendências lunáticas. Porque olhando daqui… ela me
parece bem surtada. — Sorri, assentindo.

— Que venha outra louca, então.

***
— Você aceita uma bebida? — perguntei, segurando o sorriso
ao ver Luna olhar assombrada para a sala do meu apartamento. A
boca vermelha da garota estava entreaberta, sugerindo o seu
espanto. Analisei as sandálias altas, com estampa de onça, logo
depois, as pernas grossas e por último o seu rosto, graças ao qual eu
só me convenci ser maior de idade após verificar seus documentos.
Eu não a teria tirado daquele bar se fosse o contrário. Mesmo
que… vinte anos ainda fosse muito jovem para mim.

Quando olhei para o seu documento, após a conversa que


tivemos, percebi que cada palavra e sorriso que demos durante a
noite foram atentamente observados pela garota loira, que descobri
se tratar de sua irmã. Loren, como era o seu nome, pareceu irritada
por ter sido ignorada grande parte da noite e a cada elogio que dei a
Luna, ela fez questão de rebater, enaltecendo intermináveis pontos
negativos de sua própria irmã. Até de estúpida Luna foi chamada, e
aquele foi o momento em que decidi tirá-la daquele lugar.

Como se de repente fosse minha a obrigação protegê-la. O que


era um absurdo, porque eu nunca fiz o tipo protetor ou defensor.
Normalmente eu pegava o que queria e seguia em frente. Assim
como a maioria dos jogadores faziam. No tipo de carreira que
possuíamos era difícil relacionamentos durarem e os poucos caras
que eu conhecia que eram casados era porque amavam demais suas
esposas e famílias. Mas eles eram raros nesse negócio, essa era a
verdade. A maior parte de nós preferia apenas aproveitar o que nos
era ofertado.

— Hummm, eu deveria, mas acho melhor não. Dizem que


álcool deixa as pessoas mais legais, mas ele costuma só me deixar
tonta. Mais tonta que o normal. Então eu abro a boca e digo algo
que não deveria… ou então engasgo quase até a morte.

— Você não engasgou quase até morte — falei, e ela se virou


para mim. — Faltava um bocado para isso, Luna.

— Bem, talvez não quase até a morte. Mas eu fiquei sem ar.
— Suas bochechas ganharam um tom avermelhado, e ela pareceu
desconfortável. — E o gosto era terrível, eu nunca bebi algo como
aquilo…

— Por que pediu então?

— Não fui eu quem pediu… foi a minha irmã. Ela disse que
eu gostaria, que mulheres chiques o bebiam e…

— Você não é chique, Luna. — Não foi uma ofensa, pelo


menos não era a minha intenção ofendê-la. Porque a verdade era
que a forma como Luna estava vestida assemelhava-se mais a uma
aprendiz de acompanhante. E esse pensamento, por si só, deu-me
calafrios. Mesmo que durante nossa conversa parte do que foi dito
por ela tenha me parecido ensaiado, memorizado, houve alguns
momentos em que Luna foi ela mesma. Que sorriu de forma
engraçada, fazendo um pequeno chiadinho no final. E que se
atrapalhou e trocou algumas palavras. Acho que por estar nervosa.

— Loren é mais do que eu… ela sabe como andar e se portar.


É… mais bonita também. Você deveria ter escolhido ela. — Luna
mordeu o lábio, pensativa. Ainda olhando ao redor.

— Em primeiro lugar, beleza nem sempre é tudo. E em


segundo, eu jamais a teria trazido para este lugar. Sei que é sua
irmã, mas ela tem a palavra interesseira estampada em sua testa. —
Luna tossiu, sem graça. — O único lado bom disso é que ela não é
do tipo que disfarça, porque essas, sim, são as piores…

Luna virou o rosto vermelho. Sentando-se comportada no sofá


e apertando as mãos sobre as pernas. Como se esperasse por
alguma ordem a qualquer momento.

— Por que está aqui, Luna?

— Por que você me comoveu? — rebateu, arqueando a


sobrancelha marrom.

— Como?

— Convidou… a palavra é convidou — disse nervosa.

— Certo.

— Então… por que me com… convidou?


Eu a encarei com curiosidade.

— Eu a trouxe aqui porque fiquei cansado de escutar sua irmã


menosprezar você.

— Só por isso?

Sorri, acariciando a bochecha ainda vermelha enquanto


inclinava-me diante dela. Erguendo o seu queixo.

— Eu também a trouxe aqui porque quero saber se você tem


um gosto tão bom quanto acredito que tenha. — Beijei Luna,
primeiro devagar, avaliando o terreno, e depois forte, seduzido por
sua boca macia, e juro que essa foi uma das experiências mais
estarrecedoras da minha vida. Primeiro porque a garota se segurou
em meu casaco como se dependesse disso para sobreviver, e
segundo porque ela parecia não ter ideia do que… fazia.

— Você já beijou antes, Luna? — Ela assentiu, rapidamente.

— Tem certeza?

— Sim… eu, eu tive um namorado. Nós ficamos juntos por


três anos, até que…

— Até que? — Ela fechou os olhos e sacudiu a cabeça.

— Eu não quero falar sobre isso — sussurrou. — Não me faz


bem.
Sorri compreensivo e desci o meu olhar instintivamente,
observando a forma descarada com que seus mamilos despontavam
sob o vestido azul apertado, que parecia ser um número menor do
que o que ela deveria estar usando.

— Não falaremos então — minha voz saiu rouca, mais do que


eu estava acostumado. Não vou mentir, eu estava excitado com a
ideia de levar essa garota para a cama. Saber então que os seus
mamilos intumesceram com um único beijo… deixava-me insano.
— Me responda apenas se você e esse seu namorado… fizeram
sexo em algum momento.

Eu não tomaria uma virgem. Essa era uma das poucas regras
que eu levava a sério.

— Se a gente transou? — Quase não a escutei, mas a vi


assentir. Com a mesma veemência de antes. — Sim, várias vezes. E
foi… bom, muito bom. — Ela estava mentindo, se sobre ter feito
sexo ou se sobre ter sido bom, eu não fazia ideia. Seus olhos
marrons, quase do mesmo tom do cabelo, pareciam agitados, e
Luna forçou um sorriso que não convenceria a ninguém. Nunca.

— Seja honesta, Luna, você realmente transou ou ainda é


virgem? — perguntei sério. Odiando a ideia de ser enganado por
ela. Porque eu estava sendo sincero, havia algo nessa garota que me
agradava.

— Uma vez. — Choramingou, dramaticamente. — Apenas


uma vez e foi horrível. Me desculpe, eu não deveria dizer isso…
mas eu não sei o que fazer. Não sei como seduzir um homem —
confessou baixinho. — Eu sou um desastre… você foi bobo em
não ter saído com Loren. Ela saberia o que fazer… e…

— Pare de falar, Luna. — A garota me encarou, com olhos


trêmulos, e eu podia jurar que ela estava a um passo de chorar. —
Se eu quisesse uma expert em sexo, eu pagaria por isso, entende?
Não quero que fique nervosa e não quero que volte a se comparar
com a sua irmã. Loren é… Loren. E você é você. Quanto a ter sido
ruim…

— Foi horrível, não ruim. — Sorri.

— Quanto a ter sido horrível, bem… — Eu me aproximei,


deslizando os dedos por sua pele macia até alcançar um punhado
do seu cabelo. — Eu acho que posso desfazer essa impressão para
você. — Eu a beijei, sem esperar por uma nova autorização, e a
trouxe rapidamente para o meu colo ao ver que ela retribuía o beijo
com a mesma paixão e ardor que eu sentia. As pernas grossas de
Luna envolveram o meu quadril e ela respirou fundo, tomando
fôlego entre um beijo e outro. Seu pequeno e voluptuoso corpo
contorcendo-se sob o meu controle.

Cheio de tesão, eu toquei a sua bochecha e afundei o dedo em


sua pele até obter a reação que procurava. Uma respiração longa e
entrecortada escapou por entre os seus lábios, e Luna praticamente
soluçou ao ter suas costas empurradas contra a parede.

— Ponha as mãos atrás do meu pescoço — sugeri, e ela o fez.


Movendo o quadril e impulsionando o corpo.

O movimento fez com que a boceta, coberta apenas por uma


minúscula calcinha, esfregasse contra o meu membro repetidas
vezes, o pior era que eu achava que ela nem ao menos teve
consciência disso. Quando voltei a beijá-la, a boca de Luna se
mostrou ainda mais molhada. Como se apertá-la contra mim a
deixasse excitada.

Bom, eu estava.

Mais excitado do que poderia lembrar em muito tempo.

O sexo com Lola nos últimos meses, antes de terminarmos,


foi mais louco do que realmente excitante. Três anos fodendo a
mesma mulher e conhecendo cada gesto e hábito dela tinham esse
poder sobre a relação, não é?

Desesperado para estar dentro de Luna, eu aproveitei o seu


encaixe em meu quadril e subi o vestido azul por suas pernas,
afastando a calcinha de algodão para o lado e deslizando meus
dedos pela boceta úmida. Gulosa. Luna choramingou e estremeceu
inteira. Mas foi apenas quando empunhei o meu pau e o coloquei
para fora, em um só ato, que ela realmente ofegou. Eu a assisti
olhar para baixo com assombro e erguer o rosto em seguida,
mantendo o lábio entre os dentes, com uma pressão que deveria
estar lhe machucando, pois o senti ficar ainda mais vermelho e
inchado.

— Será que você é doce, Luna? Que sua boceta é tão gostosa
quanto a sua boca?

— Eu… realmente não sei.

— Claro que não, mas nós iremos descobrir isso agora. — Eu


a fitei, tenso por conta da força que estava fazendo para me
controlar. Qualquer outra mulher já estaria nua, com as pernas
abertas e gritando o meu nome. — Abra a boca… isso… dessa
maneira. — Luna separou os lábios e eu deslizei o polegar entre
eles, espalhando o seu próprio gosto pela boca dela. — Prove.

Ela provou, primeiro de maneira tímida. Depois, ao abrir um


pouco mais a boca, ela abocanhou os meus dedos e os sugou. A
língua quente circulando o comprimento deles até que eu não
suportei a tortura e os provei também. Sugando os resquícios do
seu gosto. Não apenas o de sua boceta como o de sua boca também.
Sexo para mim era isso, não havia pudores nem reservas. Tudo era
permitido e apreciado. E eu gostava assim, que fosse sujo e suado.
A parte suada, então…

Segurando a base grossa do meu pau, eu o empurrei entre as


suas pernas, ouvindo-a gemer alto.
— Relaxe, Luna — murmurei em seu ouvido. — Isso só
melhora… — Afundei dentro dela, uma e outra vez, o frenesi entre
nós dois tomando outra proporção. Meu quadril bateu contra a
garota várias vezes, e além dos seus gemidos esse foi o único som
que ressoou pelo quarto. Nossos corpos encaixando-se, sua
pequena boceta engolindo-me. Apertando-me. As unhas curtas de
Luna segurando com força o meu pescoço. O tesão foi tão grande
que eu me dei conta de que me esqueci de outra de minhas regras,
esta, porém, estava no topo da lista: sempre usar a bendita da
camisinha.

A contragosto, tirei o meu pau completamente e respirei


fundo. Eu me sentia a um passo de gozar. E mais, sentia que por
muito pouco não o fiz.

— O que… foi? — murmurou, empurrando seu corpo gostoso


contra o meu, impedindo-me de me afastar.

— A camisinha, eu tenho que colocar a maldita camisinha. —


Ela me olhou atordoada e me abraçou com força. Definitivamente,
Luna não queria que eu parasse.

— Eu es-estou segura, quero dizer, nós estamos. Eu tomo…


pílula para não…

Eu a calei com um beijo, sua explicação sendo o suficiente


para mim, enquanto voltava a penetrá-la. Incerto sobre o porquê de
ter decidido acreditar nessa garota quando isso nunca teria
acontecido. Normalmente eu não era tão idiota.

Foda-se!

A loucura continuou pelos próximos minutos, e foi o orgasmo


dela que drenou cada gota do meu sêmen. Éramos suor e gozo,
ambos escorrendo por nossos corpos enquanto eu recobrava a razão
aos poucos. E enquanto o fazia, eu vi a expressão sonolenta e
satisfeita de Luna.

— Perguntar isso não é do meu feitio… mas com você eu me


sinto na obrigação de perguntar: foi bom pra você?

Luna sorriu, agora largamente. E foi o sorriso mais encantador


que uma mulher dirigiu a mim.

— Foi maravilhoso.
CAPÍTULO DOIS

Luna

— Anda logo, garota, abra essa porta e nos diga o resultado!


— Loren gritou, batendo na porta com força, o que me fez olhar
apreensiva para Lucy, pedindo em silêncio para que ela escondesse
o teste com resultado positivo.

Porque, por alguma razão, eu sabia que contar à minha mãe e


irmã que eu estava grávida de Alexander Gerrard as faria rodear o
homem, que de pobre não tinha nada, como urubus atrás de
carniça. Era isso que elas haviam planejado, afinal. E por mais que
eu tenha aceitado participar do maldito plano de caça ao tesouro,
que nesse caso era parte da fortuna de Gerrard, eu não estava tão
certa se queria dividir o sucesso do plano com elas. Não ainda.

Antes de falar com elas, eu precisava falar com Alexander.


Tinha que partir de mim a notícia de que… ele seria pai. Eu já me
sentia culpada o bastante por tê-lo enganado.

— Você não vai dizer nada as duas? — Lucy perguntou


baixinho.

— Não… — Ela sorriu, gostando. — Eu preciso que você


esconda esse teste com sua própria vida, me ouviu? Mamãe e
Loren irão fazer de tudo para saber se eu estou mentindo ou não.

— Eu gosto disso — disse de maneira cúmplice, e eu soube


que poderia contar com ela para o que precisasse. — Mas… o que
irá fazer, Luna? Você está…

— Não se preocupe, ok? — Eu tinha tudo organizado, como


escaparia de casa, como chegaria ao apartamento de Alexander. A
única coisa que eu ainda não sabia era o que diria ao pai do meu
filho. Como se anunciava uma gravidez? Como…

— Luna, abra essa porta! — Loren gritou novamente, e eu


estremeci.

Abri outro teste, um dos três que Lara havia comprado, e


entreguei a Lucy.

— Faça xixi aqui. Rápido.

Ela fez e, como esperado, deu negativo. Segurei o teste e abri


a porta. Entregando a ela e correndo em direção à saída. Tudo para
que Loren me seguisse e sequer prestasse atenção a Lucy,
escondida no banheiro. Não sei qual era o problema de Loren,
talvez fosse inveja, mas acho que saber que Lucy quando crescesse
seria ainda mais bonita do que ela, a perturbava. Então, sempre que
tinha chance, essa tonta ofendia Lucy e a fazia chorar. Eu podia
aguentar ser chamada de estúpida e burra, não era algo que eu
pudesse mudar, de qualquer maneira.
— Não posso acreditar que você perdeu essa oportunidade,
Luna! Você teve a noite inteira com aquele homem e… não foi
capaz de engravidar! Eu, no seu lugar…

— Vá à merda, Loren. Você e mamãe queriam que eu fizesse


o maldito teste e eu fiz, agora me deixem em paz.

Cheguei à calçada, após bater a porta, e andei pelas ruas em


direção ao ponto de ônibus. Se tudo desse certo, se Alexander
olhasse para mim e se lembrasse da noite que passamos juntos…
do sexo que fizemos… as chances de ele acreditar em mim seriam
infinitamente maiores.

— Tem que dar certo — sussurrei para mim mesma. — Tem


que dar, e ele tem que ficar feliz. Tem quem amar esse bebê tanto
quanto eu já amo.

A conversa que eu estava prestes a ter com ele, se conseguisse


entrar em seu apartamento, é claro, mudaria tudo. E talvez, com
isso, eu conseguisse nos tirar daqui.

Você está agindo como elas, Luna. Achando que um homem


irá arrancá-la deste lugar e lhe dar uma vida de princesa que você
nem ao menos merece.

Mas não era uma vida de princesa que eu buscava, tudo o que
desejava era uma chance de cuidar da Lucy, fazer com que ela
continuasse a estudar e fosse para uma boa faculdade enquanto eu
poupava para pagar por seu estudo e nos tirar dessa vida. Porque eu
sabia que se continuasse vivendo aqui, o mísero dinheiro que
ganhava nunca seria suficiente. Não com mamãe e Loren o
gastando a cada oportunidade que surgia. Só este ano nós fomos
três vezes ameaçadas de despejo. Três vezes em que confiei em
uma delas para que pagasse o nosso aluguel, e elas não fizeram.

Fechei os olhos e pousei a mão no meu abdômen, ele nunca


foi exatamente plano. Eu não era nada como as mulheres da minha
família, e sim como o meu pai. O que me garantia uma aparência
tipicamente espanhola. Pele bronzeada, olhos e cabelos escuros.
Um nariz não tão pequeno e uma bunda que vivia cheia de
hematomas por conta de todas as vezes que eu a batia por aí,
distraidamente. Não era fácil.

— Desculpe-me pelo que eu estou prestes a fazer, bebezinho.


Se tivesse escolha eu nunca te usaria dessa forma. Nunquinha.

Após passar a tarde tentando encontrar o edifício de


Alexander, depois de cometer inúmeros erros de nome e direção,
eu finalmente o achei. Mas não tive coragem de entrar, em vez
disso andei de um lado ao outro. Prestando atenção em tudo. Desde
o movimento de entrada e saída, até na pequena porta lateral que
era por onde os funcionários entravam. No dia seguinte, eu me
arrumei como fazia todos os dias após tomar o meu café da manhã,
e antes de sair dei uma boa olhada nas duas mulheres
confortavelmente sentadas na sala, que desde a noite passada
vinham me ignorando como se eu não fosse boa o bastante para
que dividissem seu tempo comigo.

— Sexta-feira terá outro jogo, o pub costuma ficar lotado


durante… — Balancei a cabeça, as duas já estavam fazendo planos.
Possivelmente outra tentativa tola de fisgar um cara rico que as
sustentasse.

— Não esqueça que nós iremos precisar de um pouco de


dinheiro para esta noite, Luna. — Claro que elas precisariam.

Agora me pergunte se elas se importavam que todo o dinheiro


que possuíamos para nos alimentar durante o mês estava perto,
muito perto, do fim? Não, elas não se importavam. O que
significava que eu teria de pedir mais algum trocado emprestado.
Merda, eu resolveria isso depois. Agora, nesse exato momento, eu
tinha algo bem mais importante a fazer e esse algo era dizer ao pai
do meu filho que eu estava grávida.

Alexander

— Gerrard! — O som do meu nome foi ouvido ao mesmo


tempo que a batida brusca na porta do quarto. Suspeitei de que se
não desse sinal de vida nos próximos instantes, Martina entraria
neste quarto e arrancaria o lençol que me cobria. A fim de verificar
se eu permanecia vivo após a festa da noite passada.

Era assim que a general Ramirez atuava. Como minha


governanta, cozinheira e a melhor dispensadora de mulheres que eu
já conheci, Martina Ramirez era muito bem remunerada para fazer
o seu trabalho. A mais eficiente também.

Mas isso não justificava a forma tirana com que agia às vezes,
e essa era uma das vezes, merda.

— Eu estou vivo! — gritei de volta, socando o colchão.


Esperando ser deixado em paz. — Não foi dessa vez, Sra. Ramirez.

— É uma pena, porque lá embaixo tem um problema com P


maiúsculo à sua espera.

— Hum? — grunhi com a cara ainda enterrada no travesseiro.

— Uma garota, Gerrard — disse com seu sotaque do interior


acentuado, o que significava que estava aflita. — Há uma garota lá
embaixo e a cara dela grita problema. Eu vi pela maneira como me
olhou e como está segurando aquela bolsa velha como se existisse
um troféu ali dentro…

Essa mulher não estava falando coisa com coisa. Por essa
razão eu me levantei e, sem me importar de vestir algo além da
cueca boxer, desci os degraus rumo ao primeiro andar do duplex.
Enquanto o fazia, eu ainda tentei puxar na memória alguém que
tenha convidado, mas nada. Não havia ninguém que eu pudesse
imaginar aparecendo às nove horas de um de um dia comum para
dizer o que fosse a mim.

Os passos diminuíram conforme aproximei-me da sala,


ficando gelado e um tanto surpreso ao identificar a silhueta nem um
pouco estranha. Porque, convenhamos, eu reconheceria aquele par
de pernas e traseiro em qualquer, absolutamente qualquer, lugar.

Luna.

Quase sorri ao vê-la se virar, mas algo em seu rosto confirmou


o que Martina disse anteriormente. Luna não se parecia em nada
com a garota que conheci aquela noite, e tudo nela… gritava
problema. Dos mais graves.

— O que está fazendo aqui? — fui direto ao ponto. Eu só não


esperava ter de ser rude para me fazer entender dessa vez. Porque
algumas mulheres, muitas delas, tinham o péssimo costume de
confundir química com amor. Em muitos casos, era necessária a
intromissão até mesmo dos meus… espera! — Como passou pela
segurança? — Não apenas do prédio, como a minha privada
também.

— Eu… me… escondi. — Arqueei a sobrancelha.

— Você se escondeu? — perguntei firme. — O quão fácil foi?


— Eu precisava saber se os dois seguranças que trabalhavam para
mim estavam facilitando que as mulheres me encontrassem.
— Foi bem fácil — disse. — Eu me uni a um grupo de
funcionárias do hotel e pedi emprestado o cartão de identificação
de uma delas, alegando que havia esquecido o meu.

Será que eu deveria estar preocupado que Luna tenha


planejado tudo isso e que em momento algum pensou em
simplesmente interfonar e pedir para falar comigo?

— Por que não se identificou? — Mantive distância e peguei a


calça que Martina me jogou ao descer as escadas. Vesti-a
rapidamente e esperei que Luna me desse a resposta que buscava.

— Eu precisava falar com você e tive medo de que não fosse


me atender… então eu…

— Burlou algumas regras? — indaguei, e ela voltou a


assentir.

— Sim.

— E o que está esperando para dizer a razão pela qual está


aqui?

Luna não falou, em vez disso, ela me encarou aterrorizada.


Seus olhos marrons exibiam um brilho de cansaço, mesmo que em
seu rosto ainda houvesse o ar inocente de antes. Aquele que me fez
querê-la, para começo de conversa. Mas havia algo mais também,
uma certa culpa. Eu só queria entender por quê.
Noites como a que tive como Luna eram comuns e
aconteceram uma dezena de vezes depois que estive com ela. E
mesmo que em um ou outro momento eu tenha me pegado
pensando nessa garota, no seu gosto e cheiro… eu não me dei ao
trabalho de usar o número que ela deixou para trás. Primeiro
porque o pequeno pedaço de papel se encontrava numa confusão
só, foram precisos, pelo menos, três tentativas, até que Luna
conseguisse acertar o seu número. Sei disso pois havia duas rasuras
feitas acima de sua última tentativa, e acredito, acerto. Mesmo
assim fiquei confuso ao me deparar com alguns deles virados ao
contrário. Se foi uma piada ou não, eu nunca pude dizer.

— Eu… eu posso beber um copo de água?

— Não.

— Claro que pode! — Martina gritou do corredor, deixando


claro que escutava nossa conversa. — Não a dispense, Gerrard —
ela falou olhando diretamente para mim. — E você… — Apontou
para Luna. — Fique aí e se sente enquanto eu pego algo para que
possa beber.

Com um olhar de soslaio, Martina pediu para que eu a


seguisse e foi o que fiz.

— O que foi, Ramirez?

— Me diga que você não transou com aquela pobre garota…


— Não fui capaz de negar, muito menos confirmar. — A garota
tem desespero escrito na testa, Gerrard. Será que é tão difícil assim
manter suas calças fechadas? — inquiriu de forma dramática.

— O que acha que ela quer?

— Dinheiro? Chantagem? Você verificou a idade dela?

— Sim, eu vi seus documentos, ela tem mais de 18 anos.

— Quanto a mais?

— Ela tem vinte anos, ok? Não é nenhuma criança.

Martina resmungou e me empurrou o copo de água.

— Vá! Vá! E resolva esse pepino. Se essa garota enlouquecer


e começar a gritar eu chamo os seguranças, ok? Eles podem ser
dois brutamontes cegos, mas eu sei o que vejo e a menina naquela
sala vai colocar esse lugar de pernas para o ar, eu sinto… —
murmurou contrariada.

Voltei à sala com o copo de água ainda gelado em mãos e me


deparei com uma Luna encolhida no sofá, mordendo o cantinho da
unha enquanto olhava nervosamente ao redor.

— Sua água. — Minha voz saiu mais grave do que pretendia.


— Você pode bebê-la enquanto me conta o que está acontecendo.

Luna deu um grande gole no líquido transparente. Sua


garganta fazendo aquele movimento típico de quem engole em
seco.

Com os olhos marrons amedrontados e virados


completamente para mim, Luna abriu a boca e disse a que veio:

— Eu estou grávida.

A despedida

Luna acordou na manhã seguinte e parecia ainda mais linda


do que na noite anterior. Mas de uma maneira completamente
diferente. O rímel estava borrado ao redor dos seus olhos, e o
cabelo, revirado de maneira selvagem. E eu adorei vê-la sob a luz
do dia. Antes de me levantar da cama e dar início aos meus
compromissos, eu alisei as mechas de cabelo marrons e lhe dei
outro beijo, que acabou nos arrastando para debaixo dos lençóis
outra vez.

Quando nos despedimos, uma hora mais tarde, Luna


empurrou o bilhete dobrado e pediu para que eu o abrisse só depois
que ela saísse. Naquele momento eu concordei e dei e ombros, pois
tinha quase certeza de que se tratava do seu número.

Um que, por sinal, eu não pretendia utilizar.


Os dias passaram e eu praticamente esqueci aquela garota,
ainda assim, todas as vezes em que retornei ao pub em que nos
encontramos uma única vez, eu me peguei olhando na direção em
que a tinha visto. Alimentando, mesmo que inconscientemente, a
esperança de que, talvez, algum dia, nós dois voltássemos a nos
esbarrar. Eu não tinha problemas com encontros gerados pelo
destino, o que me inquietava e preocupava eram aqueles
programados. Mas Luna nunca voltou, e honestamente eu nunca
soube se dava graças a Deus ou não por isso.
CAPÍTULO TRÊS

Luna

Ah, meu Deus! Alexander parecia prestes a me matar. Eu


podia ver isso dentro dos seus olhos… realmente podia. A maneira
fria e incômoda como me encarava, ou como cerrou os punhos.
Sim… esse homem iria me picar em mil pedacinhos e depois atear
fogo. Tudo isso, claro, com a ajuda da Sra. Ramirez, que olhava
para mim como se eu fosse… exatamente o que eu era: uma
aproveitadora.

Respirei fundo, uma, duas, três vezes. Minhas pernas e dedos


tremendo descontroladamente enquanto os dois me encaravam e
conversavam entre si. Não que estivessem sendo muito discretos,
porque eu era capaz de escutá-los perfeitamente.

— Eu falei que ela era problema… meu radar nunca falha —


a senhora austera e gorducha disse.

— Como ela pode estar grávida? — Isso era tudo o que ele
dizia. Já tinha repetido a mesma questão dezenas de vezes, por
sinal.

— Você não sabe mesmo, Gerrard? Realmente?


— Grávida, Martina. Essa garota está grávida e diz que o
filho é meu.

— Se eu fosse você pediria um exame. As meninas de hoje em


dia são um pouco… esquecidas. — A Srta. Ramirez me olhou, e eu
mordi o lábio nervosa. Será que ela estava insinuando que eu, por
acaso, posso ter esquecido quem era o pai do meu filho?

— Eu estou escutando vocês dois, sabiam? — falei,


contrariada.

— Como sabe que o filho é meu? — Alexander foi direto ao


ponto, aproximando-se como se eu fosse pular a qualquer momento
em seu pescoço e obrigá-lo a casar comigo.

— Bom… nós nos encontramos e… você me trouxe para cá, e


nós… — Olhei dele para ela, um tanto confusa com sua pergunta.

— Não se faça de estúpida, Luna. Eu não vou cair nessa sua


historinha até descobrir se o que está me dizendo é verdade.

— Por que eu mentiria sobre isso? — Ele riu, e Martina


cruzou os braços, observando-me com atenção.

— Por que você mentiria? Olhe ao seu redor, Luna, qualquer


mulher gostaria de estar exatamente em seu lugar. Encurralando-
me dessa maneira.

De tão aflita, meus olhos começaram a encherem-se de


lágrimas. Eu precisava que ele acreditasse em mim.

— Eu estou dizendo a verdade, eu juro. — Os dois voltaram a


se encarar, e por alguma razão fui deixada sozinha com a Martina,
que, devo confessar, era assustadora.

— Por que está fazendo isso, garota? Você é jovem, tem a


vida pela frente… pode estudar… — Eu não falei nada, porque me
sentia envergonhada. — Não acha que poderia ter evitado uma
situação como esta?

— Eu…

— A menos que você não quisesse evitar. — Ela me analisou.


— Foi isso, não foi? Você engravidou de propósito?

Nesse momento eu não consegui mais segurar o choro. Ou a


vergonha. Estava tão claro assim que tudo tinha sido um plano?
Que eu era uma pessoa ruim?

Não foi até levantar o meu rosto que percebi que Alexander
nos observava, ancorado no batente largo da porta, e que
possivelmente escutou cada palavra dita pela sua funcionária
enquanto escrevia algo em seu celular.

Ao terminar, ele guardou o telefone no bolso e voltou a se


aproximar.

— Nos deixe sozinhos, Martina. Luna e eu temos muito o que


conversar.

Assim que ela saiu, Alexander puxou uma banqueta na minha


frente e se sentou. Recusando-se a afastar os olhos de mim.

— Martina está certa, não está? Você fez de propósito?


Mentiu sobre as pílulas para que pudesse vir com essa historinha
agora, não é? — Não consegui sustentar por muito mais tempo o
seu olhar e virei o rosto. O que o deixou nervoso. — Responda,
Luna! Foi de propósito ou não?

— Alex… eu…

— Eu não posso acreditar nisso, porra! — Ele se levantou,


passando a mão pelo cabelo ainda revolto. — Como pude ser tão
idiota?

— Me desculpe. — Mas eu precisava fazer isso, completei


em silêncio.

— Se essa maldita gravidez for real, Luna, então você ferrou


com tudo! — Encolhi-me na poltrona.

— Nós daremos um jeito, Alex. — Ele me fuzilou.

— Daremos? Eu vou te dizer o que vai acontecer, eu vou


pedir ao médico para te consultar e fazer um exame, e se ficar
comprovado... você irá até uma clínica e tirará essa criança.

Ele queria que eu abortasse? Eu o olhei chocada. Que


matasse o nosso bebê?

Alexander

— Luna? — Bati na porta do banheiro do corredor, mas


ninguém atendeu. Após perder a cabeça e despejar aquela merda
sobre ela, Luna pediu licença e disse que precisava ir ao banheiro.
Mas isso foi há vinte minutos.

Soquei a porta uma outra vez e nada. Preocupado, forcei a


maçaneta e a empurrei ao vê-la aberta. Mas não havia ninguém lá
dentro, o banheiro estava vazio.

— Luna? — Caminhei por todo o primeiro andar procurando


por ela, mas nada.

— O que foi agora, Gerrard? — Martina gritou da cozinha.

— A espertinha fugiu — revelei ao entrar na cozinha.

— Ligue para ela… ela não deve estar tão longe, certo?

Ligar para ela? Como faria isso se eu nunca gravei o seu


telefone, sequer me preocupei em guardá-lo? O pior não era não
saber o seu contato, e sim o fato de que eu não fazia a menor ideia
de onde encontrá-la. Havia agora mesmo uma garota fora desse
apartamento, alegando estar grávida de mim, enquanto eu não fazia
ideia nem de por onde começar a procurá-la.

Eu não soube, mas o meu empresário, sim. E de acordo com


ele, nós deveríamos descobrir tudo sobre aquela garota o mais
rápido possível, antes que a notícia se voltasse contra mim.

Droga, Luna! Você parecia tão inofensiva.

Luna

Caminhei pela avenida, sentindo a pele quente. Suada. Eu não


fazia ideia do tempo que estava andando, só que meus pés doíam.
Assim como as pernas e o meu coração. Eu sabia que não seria
fácil para Alexander lidar com uma gravidez, mas… me pedir para
tirar o bebê? Isso era sério?

Sequei algumas lágrimas e funguei no meu suéter velho.


Estava tarde, em algum momento eu teria que voltar para casa e
enfrentar minha querida e unida família. Dinheiro… elas iriam
querer dinheiro e eu não tinha nada comigo. Então caminhei até a
lanchonete em que trabalhava e esperei até que o expediente de
alguma das meninas terminasse. E sim, eu me humilhei a esse
ponto. Eu pedi algumas notas emprestadas, sabendo que
dificilmente conseguiria pagar, e que se pagasse teria de deixar de
pagar alguma conta, ou opção pior. Mas qualquer coisa era melhor
do que ter de ouvir a fúria de minha mãe e as provocações de
Loren. Além disso, eu não queria que Lucy se preocupasse. Ela
tinha matérias para estudar, boas notas para tirar.

Abri a porta de frente da nossa casa, algum tempo depois, e


me deparei com os gritos de minha mãe para com Lucy, que
cumpriu a promessa de não revelar onde eu estava. Sem dizer nada
e com o rosto inchado do choro eu deixei as notas sobre a mesinha
próximo à porta e subi para o meu quarto, arrastando Lucy comigo.

— Está tudo bem? Você falou com o pai do seu bebê? —


perguntou baixinho, para que ninguém nos ouvisse. Caminhei até a
janela da frente, sem responder, e esperei que mamãe e Loren
saíssem. Quando as vi chegar à calçada, eu me virei para Lucy e
assenti.

— Eu falei.

— Foi ruim, não foi?

— Foi horrível. Ele… — Eu não consegui dizer e ao ver o


rosto desolado da minha irmã eu decidi não preocupá-la. Sabia que
a impressão era a de que eu superprotegia minha irmã, mas eu não
me importava. Ela era a pessoa que eu mais amava nesse mundo,
por que não fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para que
pelo menos uma só pessoa dentro dessa casa fosse feliz? — Quer
saber? Não importa, Lu, eu darei um jeito, ok? Não há nada com o
que se preocupar.

Lucy não acreditou em mim, pois franziu o cenho e se jogou


na cama ao lado da minha. Pensativa. Deitei-me com ela e a
abracei, adormecendo em seguida.

Os dias seguintes não foram fáceis. Eu tive que dobrar meu


horário de trabalho para conseguir lidar com tudo e sabia que em
breve teria que contar a verdade para todos. Nem minha mãe nem
Loren eram tolas, elas logo entenderiam que o repentino mal-estar
me assolando todas as manhãs era motivado por uma gravidez, e
não por uma virose, como eu havia explicado.

Cansada e com os pés doendo por conta da sapatilha gasta que


eu vinha usando pelos últimos meses, eu andei de um lado para o
outro na lanchonete durante todo o dia. Forçando um sorriso para
as meninas que trabalhavam comigo, achando incrível que eu
pudesse me sentir mais à vontade aqui, com elas, do que em minha
própria casa.

Naquele mesmo dia, a pequena esperança de que teria uma


boa noite de descanso quando chegasse em casa foi substituía por
temor quando encontrei Lucy chorando no pé da escada.

— O que foi?

— Elas encontraram…. o teste, Luna, elas encontraram e


perguntaram se era meu. Quando eu não respondi, elas… surtaram.
— Eu pude ver o rosto machucado da minha irmã.

— Quem te bateu? Foi a Loren? — Porque se fosse eu daria


um jeito de bater nela, até que ela aprendesse a nunca mais levantar
a mão para Lucy.

— Foi a mamãe. Eu tentei pensar em algo, mas elas chegaram


à conclusão sozinhas, e…

— Onde elas estão?

Lucy balançou a cabeça.

— Elas só saíram… e levaram o teste.

Isso não era bom.

Passei a noite em claro, tão confusa, para não dizer assustada.


O que fosse que aquelas duas estivessem pensando em fazer, as
chances de nos trazerem problemas eram altas. Quando a porta da
frente finalmente bateu, anunciando o retorno delas, eu desci as
escadas e esperei que falassem algo. Qualquer coisa.

— Aí está a pequena mentirosa — Loren foi quem falou,


esbarrando em mim com raiva, mas fazendo o que as duas
provavelmente combinaram.

— Onde estavam? — perguntei, diante do silêncio de Lara. —


E por que levaram o teste?
— Nós fomos atrás do pai do meu neto. — Gelei por dentro.

— A senhora não tinha esse direito…

— Não? — mamãe se irritou. — Essa criança irá garantir o


nosso futuro, sua idiota. Irá por comida nesta casa… — Ela riu. —
Não nesta, porque eu deixei claro para aquela vaca gorda que nos
atendeu que não há a menor possibilidade de que você, a mãe do
filho de Alexander Gerrard, continue morando nesse buraco
enquanto ele vive naquele luxo todo lá.

— Vaca gorda? — murmurei, odiando repetir suas palavras.

— Martin, Martina… sei lá o nome da mulher. O homem que


você está tentando proteger da gente nem mesmo estava em casa.
Provavelmente estava por aí, aproveitando a vida enquanto você
permanece aqui nessa miséria. Mas isso vai mudar, Luna, me
entende? Ele vai ter que te assumir, e não pense que eu deixarei
que você estrague tudo, ou pior, que decida se fazer de esperta pela
primeira vez na vida e nos prive do conforto e riqueza que
Alexander pode nos oferecer.

Uma onda forte de enjoo me atingiu e eu não pude acreditar


que estava mesmo vivenciando tudo isso. Que tinha concordado
com essa loucura e que agora não tinha para onde correr.

Sentei-me na escada, aflita, e não chorei até que mamãe


estivesse em seu quarto. E pensar que aquela foi a primeira de
muitas noites em que eu me senti assim: sem chão.
CAPÍTULO QUATRO

Alexander

— Ela disse o quê? — grunhi em resposta ao que Martina


acabara de contar.

— Que o senhor não sairá impune do que fez à filha dela e


que terá que arcar com as consequências e assumir o bebê… disse
também que ela nunca passou por tanta humilhação e que não pode
nem imaginar o que as pessoas dirão quando descobrirem que o
senhor engravidou sua inocente filha.

— Inocente? — Sacudi a cabeça, irritado. — Arcar com as


consequências…

— Ela não me pareceu uma… mulher confiável, Gerrard. Se


bem que havia muita maquiagem naquele rosto cansado para ver
qualquer traço de honestidade…

— Então ela é como a filha. — Martina me olhou e aquiesceu.

— Acho que ela é pior.

Passei parte do dia seguinte fazendo com que o meu


empresário e advogado entendessem o que estava acontecendo. E o
conselho inicial que recebi foi: fique longe dela até que o exame de
DNA comprove que você é o pai. O problema era que, a cada vez
que eu me convencia de que esse era mesmo o melhor a se fazer, eu
me lembrava dos olhos desesperados de Luna, soluçando e pedindo
para que pudesse ir ao banheiro, antes de desparecer. Meu
advogado, um homem bem mais prático e direto, pediu que
deixasse nas mãos dele resolver esse problema e até mesmo veio
com a conversa sobre o aborto ser a melhor decisão a ser tomada
no momento. O que fez minhas entranhas retorcerem. Porque uma
coisa era dizer ou sugerir algo assim na hora da raiva, da boca para
fora, outra era escutar as mesmas palavras que eu disse a Luna
saírem da boca desse homem. O que tornou a sugestão ainda mais
asquerosa.

Porque no instante em que as disse para Luna, eu meio que


soube que seria incapaz de concordar com algo assim.

— Merda, garota! — chiei baixo, voltando a atenção para o


meu empresário.

— Você sabe que se a notícia dessa gravidez invadir os


jornais nesse momento você tem grandes chances de ser afastado,
certo? Eu nunca vi um treinador mais filho da puta do que o da
seleção deste ano, Gerrard. Ele não irá facilitar as coisas… —
Manuel Perez não iria mesmo facilitar a minha vida, por alguma
razão o idiota me odiava. Tanto que o meu nome só entrou para a
lista de titulares dessa Copa porque, se não o fizesse, ele teria que
arcar com o desafeto de milhares de espanhóis que torciam por
mim e acompanhavam a minha carreira desde que estreei no Sub-
20. — Se você não quer que façamos um acordo em troca da…
retirada desse bebê, então não nos sobra muito, Alexander. — Os
dois pensaram por alguns instantes. — Porque vir a público e
admitir que engravidou uma jovem de vinte anos em uma das suas
inúmeras noites de farra irá arruinar todo o trabalho de imagem que
temos tentado manter nos últimos tempos.

— Você poderia casar com ela — o advogado disse, com


escárnio. Mas pela expressão que o meu empresário fez eu soube
que ele estava pensando seriamente nessa possibilidade.

— Nem pense, ficou louco? — Ignorei o advogado e me virei


na direção do homem ao seu lado.

— Louco ou não, nós temos que calar a boca dessa garota e a


da mãe dela. E como faremos isso parece ser a principal questão.

Graças a Martina, que fez questão de pedir o número à mãe de


Luna em sua absurda visita, eu consegui o endereço de onde elas
moravam. Assim como o telefone de Lara Garcia, que eu ainda não
havia chamado.

Dias depois…
Rua das Gaivotas, número 333, casa amarela no final da
esquina.

Era o que estava escrito no papel dobrado em minha mão.


Verifiquei a tal casa e rolei os olhos, porque de amarela a pobre
residência não tinha mais nada. Fosse o tempo ou a falta de
cuidados, mas esse lugar não era nada diferente do restante do
bairro. Com o carro estacionado e o SUV logo atrás, eu abri a porta
e saí, fazendo uma rápida verificação.

Não havia segurança alguma nos arredores, e eu não me


referia à segurança que eu pagava para ter, e sim àquela
proporcionada pelo governo. Como alguém como Luna e sua irmã
viviam em um lugar como esse sem sofrer qualquer tipo de ataque
ou intimidação não entrava em minha cabeça. Não que as duas
fossem inofensivas, eu aprendi da pior forma que a carinha de
moça inocente de Luna nada mais era do que a maneira que ela
encontrou de fisgar o idiota aqui.

Imagens da única noite que passamos juntos foram jogadas


sobre mim, e eu me peguei passando a mão pelo cabelo, em um
gesto ansioso. Fazia dias que eu não conseguia transar com
nenhuma mulher, algo sempre me impedia, fosse a lembrança dos
olhos de Luna quando gozei dentro dela, fosse a decepção que tive
tempos depois.

Caminhei pela calçada, meus pés batendo firme no chão de


cimento, e esperei que alguém atendesse a campainha. As janelas
da frente estavam abertas, e isso era bom, pois me deu um
vislumbre do que acontecia lá dentro. Não demorei a notar que não
havia ninguém em casa e que se houvesse a pessoa provavelmente
era surda. O pensamento foi afastado quando uma garota loira, que
não deveria ter mais do que seus 15 anos, apareceu no meu campo
de visão através do vidro e gritou do outro lado.

— Não tem ninguém em casa. — Ela era o quê, então, um


fantasma?

— Há você. Mas eu gostaria mesmo é de falar com a Luna.

— O que o senhor quer com a minha irmã? — Então havia


outra delas.

A garota, porém, não abriu a porta e nem se pôs em qualquer


lugar para que eu pudesse voltar a vê-la.

— Eu preciso falar com ela, é importante.

— Importante quanto? Nós estamos devendo ao senhor? Se


estamos, eu sinto muito, mas vou ter que pedir que volte no mês
que vem. O dinheiro desse já foi todo gasto com aluguel e
comida… — Rolei os olhos novamente, ela não tinha me visto ou
reconhecido, pelo que parecia.

Sim, acho que a loucura era mesmo de família.


— Eu não vim cobrar nada, criança. Apenas me diga onde
está sua irmã ou me passe o telefone dela, sim? Eu realmente
preciso conversar com ela. — A garota pareceu pensar, até que
colocou o rosto na fresta da porta que abriu.

— Ela não estará em casa até pelo menos 22h, tem sido assim
a semana toda — disse com desgosto.

— Por quê?

— Eu não tenho autorização para falar, não com estranhos.


Não deveria nem mesmo estar abrindo a porta para o senhor. Mas
então eu vi o seu carro e achei que não corresse risco. Além
disso… — Ela estava olhando muito firmemente para o meu rosto.
Como se procurasse saber de onde me conhecia.

— O que o meu carro tem a ver com sua decisão de abrir a


porta? — eu a cortei.

— Minha mãe diz que homens com dinheiro são fáceis de


serem dominados… e que qualquer mulher consegue.

— Sua mãe disse isso a você? — sondei.

— Sim. Ela é tipo… uma especialista no assunto… ou talvez


não seja, porque continua vivendo nesse buraco. — Deu de
ombros. — Agora me diga, quem é o senhor?

Quando não respondi, ela olhou para os dois seguranças


parados do lado de fora do SUV preto e depois olhou novamente
para mim.

— Você é o homem que engravidou a minha irmã, não é? —


inquiriu baixinho, soando mais do que assustada. — Por favor, se
ela estiver em apuros não a castigue. A Luna faz o que pode para
sobreviver, não é culpa dela se ela mentiu… Eu juro que não é…
Nós precisamos de dinheiro aqui, mas não somos pessoas ruins.

— Sua irmã fez muito mais do que mentir.

— Ela é tudo o que eu tenho, senhor. Se você me tirar ela eu


morrerei nessa casa com as bruxas más e a Luna nunca o perdoará,
me ouviu?

Bruxas más?

Se havia bruxas más nessa história, eu era o que então? O


príncipe encantado?

Acho que não.

Luna

Desliguei o telefone após ligar para Daniel Moreno, o


advogado do cartão que Alexander dera a Lucy, e respirei fundo.
— O que ele quer com você? Não irá te prender, não é?

— Eu não fiz nada para ser presa, Lucy. — Só menti para um


homem e o deixei me engravidar com o propósito de receber algum
dinheiro em troca.

— Ele era bonito… o jogador. — Eu a encarei. — Seu bebê


será bonito também, eu já posso até imaginar. — Lucy sorriu, e de
repente tudo parecia perfeito no mundo dela.

Desviei meus olhos tristes dos seus e pensei nas palavras do


advogado, que se recusou a me passar o número de Alexander,
dizendo que antes de fazê-lo ele gostaria de tratar de alguns
assuntos comigo. Só assim o número dele me seria entregue. O
idiota ainda me ameaçou, dizendo que se eu tentasse entrar em
contato novamente com o Alexander de maneira furtiva, como fiz
na última vez, ele não pensaria duas vezes antes de chamar a
polícia.

Dois dias após esse telefonema eu me vi entrando em um


edifício alto no centro da cidade de Madrid. Fui logo liberada pela
recepção e a secretária de Daniel me acompanhou até o escritório,
fechando a porta após sair. O homem calvo e baixo olhou para
mim, dos pés à cabeça, e pediu que eu me sentasse. Ele não se
preocupou em parecer educado, pelo contrário. Foi extremamente
rude.

— Quanto você e sua mãe querem para manter a boca calada


e darem um fim a essa criança? — ele perguntou, e eu arregalei os
olhos, sacudindo a cabeça quase que instintivamente.

— Eu não vou tirar o meu filho.

— Srta. Garcia, eu estou tentando ajudar você, posso garantir


que se você se recusar a cooperar a situação será infinitamente pior.

— Pior como?

— Pior como… você e sua mãe sendo acusadas de extorsão e,


no caso de essa criança nascer, perda total da guarda. Compreende?
Não há maneira que você saia dessa por cima. Então, ou aceita o
dinheiro que tanto quer e se livra dessa criança… ou as
consequências não serão agradáveis.

Eu gaguejei em pensamento, juro por Deus. Acusada de


extorsão? Isso nunca passou pela minha cabeça. Quem cuidaria da
Lucy? Ela seria enviada para o sistema social, porque Loren nunca
moveria um dedo para ajudá-la, então haveria o meu filho. Eu o
perderia para o Alexander.

Mas a alternativa a isso não era muito melhor. Porque aceitar


dinheiro para tirar o meu filho parecia algo tão… nojento. Tão sujo.

Antes que eu dissesse qualquer coisa, Daniel estendeu alguns


papéis na minha direção e pediu que eu os lesse. O que me fez
ainda mais nervosa. Porque normalmente era difícil, para mim, unir
as palavras e compreender o que era lido, quando estava sob
pressão tudo ficava infinitamente pior. Respirei fundo, mas senti
uma onda de enjoo enquanto suava frio.

Com algum esforço, eu fingi ler o que aquelas linhas diziam.


Reconhecendo uma ou outra palavra, mas sem realmente entender.
Foi assim até que cheguei a um determinado valor em dinheiro que
continha mais zeros do que eu me achava capaz de reunir. Olhei
para ele estarrecida e comecei a contar os zeros…

— Vamos lá, Srta. Garcia. Você não receberá um valor maior


do que este…

— Eu não posso fazer isso — falei e afastei os papéis ao


perceber que, por mais que me esforçasse, eu não conseguiria saber
quanto era o valor que Alexander estava disposto a pagar para que
eu tirasse o nosso filho. E era melhor assim, pensei comigo mesma.
— Esqueça que eu existo, que eu e minha família existimos. Eu
juro que não quero nada do Alexander, só quero ter o meu bebê e
cuidar da minha irmã. Eu não quero o dinheiro dele, nem quero ser
acusada de nada… — Levantei-me nervosa, apertando a bolsa
contra o peito, e me preparei para sair. Mas Daniel não facilitou.

— Não seja estúpida, garota. Você não vai conseguir mais do


que eu estou disposto a lhe dar. Alexander não irá acreditar nessa
sua pose de boa moça e ele deseja ter isso resolvido ainda hoje.

Dei um passo em direção à porta, com Daniel ao meu encalço.


A minha sorte foi que sua secretária abriu a porta no mesmo
instante e um Alexander furioso entrou. Ele olhou para mim com
raiva, como se soubesse que eu tinha recusado a sua oferta, e
depois olhou para o Daniel.

— O que significa isso? — grunhiu, e de alguma forma eu dei


um jeito de passar por debaixo do braço dele e escapar,
empurrando sem querer a secretária, rumo à minha fuga.

Eu não queria vê-lo nunca mais na vida. A nenhum deles.

Aturdida, eu não esperei pelo elevador. Não quando era capaz


de escutar passos firmes atrás de mim. Os dois não me deixariam
escapar, pensei, empurrando com força a porta de emergência e
descendo as escadas. Até que, de repente, a maldita sapatilha velha
que eu tinha deslizou do meu pé e eu tropecei. Não tive tempo para
assimilar nada além da evidente queda, e acho que antes mesmo de
o baque acontecer… tudo ficou completamente escuro.

Alexander

— Talvez a solução não nos custe nada — Daniel insinuou ao


meu lado, o que me fez encará-lo com raiva.

Após a queda de Luna e de ela ter sido levada às pressas à


emergência, ele e eu estávamos aqui, à espera de notícias. A mãe
de Luna havia sido avisada, mas isso foi há mais de uma hora, e eu
jurava que ainda podia escutá-la chamando a própria filha de tonta
ao telefone, por ter sido tão descuidada com o seu neto.

Senti um gosto amargo na boca naquele momento e quase,


quase, cedi à possibilidade de que talvez Luna fosse apenas uma
inocente em toda essa história. Mas ela estava envolvida nessa
bagunça dos pés à cabeça, não era mesmo?

Quando transou comigo, a garota sabia como tudo iria acabar.


Nada naquela noite foi por acaso e algo me dizia que até mesmo o
lugar de destaque em que ela e a irmã se encontravam sentadas fora
planejado.

— O que Luna fazia no seu escritório? — perguntei,


contrariado.

— Eu queria conversar com ela antes de lhe passar o seu


número como combinado. Então coloquei algumas cartas na mesa,
disse o que aconteceria caso abrisse a boca ou não se
comportasse…

— Você a ameaçou. — Não perguntei, apenas afirmei.

— Que escolha eu tinha, Alexander? Você não é ingênuo,


merda, sabe como esse tipo de mulher age. Você não é o primeiro a
se ver nas mãos de uma golpista e não será o último. Acredite em
mim: quanto mais rápido agirmos, mais fácil será resolver essa
situação.

— Eu não quero que você resolva mais nada. Luna é um


problema meu a partir de agora, Daniel.

— Se… ela não tiver perdido essa criança. A garota estava


sangrando, Gerrard. — Ele não precisava me lembrar, eu tinha
visto com meus próprios olhos.

O sangue dela ficara em minhas mãos. Não apenas…

— Onde ela está? — A voz aguda de uma mulher foi ouvida.


— Onde minha pobre criança está? — Virei-me, dando de cara
com a mulher que acreditei ser a mãe de Luna. Baixa, como todas
elas eram, e o cabelo, diferente da filha mais velha e mais nova, era
loiro, mas um loiro desgastado pelo tempo.

Não foi preciso muito tempo a avaliando para saber que tipo
de mulher a senhora Garcia era.

O vestido justo, com estampa animal, teria sido indecente até


mesmo para a sua filha Loren, que vinha logo atrás dela, ambas
movendo os quadris e olhando a todos de nariz em pé como se
fossem princesas ou alguma merda do tipo.

— O que aconteceu com o bebê? Ele ainda está vivo?

Claro que elas iriam perguntar pelo bebê. Ele era a galinha de
ovos dourados delas.
Olhei de relance para o idiota do meu advogado. Que me
olhou como se dissesse: eu te avisei.

— Nós ainda não sabemos — foi tudo o que respondi, sendo


surpreendido pelo abraço forçado de Loren, que empurrou o rosto
em meu peito e começou a chorar.

— Pobre Luna, ela é tão imprudente. Eu tenho pena dessa


criança.

Isso era um show de horrores, não tinha outra definição.

A ladainha continuou, mas eu já não as escutava, e, com um


aceno, afastei-me para poder respirar. Luna não era como as duas.
Ela só… não se encaixava no quadro terrível que era a sua família.
Lucy também não.

Quase duas horas depois, uma das enfermeiras do setor


particular e privativo apareceu dizendo que o médico desejava falar
com a família da paciente. As duas mulheres deram um passo à
frente a fim de serem as primeiras, mas eu as detive.

— Vocês duas fiquem aqui. Eu falarei com o médico


enquanto vocês… hum… secam seus rostos e se controlam. —
Vocês estão se envergonhando e não convencendo ninguém, eu
quis dizer, mas não o fiz

— Não acho que o senhor deva ser o único a falar com ele, eu
sou a mãe dela… — Parte da máscara comovida da senhora Garcia
deslizou, ao ser contrariada.

— Eu deixaria que entrasse, Sra. Garcia, se fosse a senhora


que estivesse pagando por isso aqui. Mas não é. — Ela me olhou
nervosa, prestes a dizer algo de que se arrependeria, mas, antes que
o fizesse, sua outra filha segurou-a pelo braço e a acalmou.

Ao chegar até o médico, eu fui aconselhado a sentar.

— Alexander Gerrard, devo dizer que estou surpreso que


esteja falando com o goleiro da nossa seleção de futebol. Mas
tentarei não parecer tão fanático como normalmente sou e ir direto
ao ponto. — Ele era um médico jovem, e essa não era a primeira
vez que alguém se surpreendia por me ver em algum ato rotineiro e
comum. Era como se eu fosse algum tipo de celebridade acima de
tudo e todos. — O que a Srta. Garcia é sua?

— Não acho que isso seja importante para a situação em que


nos vemos…

— Sim, claro. Mas as pessoas que a tratarão irão fazer


especulações e eu quero saber o que devo dizer. Entende? —
Assenti.

— Eu sou um amigo da família.

— Certo. Pois bem, como sabe Luna apresentou algum


sangramento após a queda, mas nós já a medicamos e eu acredito
que seu quadro não requer mais tanta atenção…
— Isso quer dizer…?

— Que ela ainda está grávida. — Fiquei calmo, percebendo


nesse instante que nunca quis que o contrário acontecesse. —
Apesar de apresentar um quadro de anemia, mas isso é facilmente
resolvido com um pouco de repouso e medicação adequada.

— Eu posso cuidar disso — falei sem pensar, chegando à


conclusão de que se essa mulher fosse mesmo ter um filho meu, eu
não gostaria que ela estivesse longe do meu radar.

— Eu imaginei que poderia. — Ele sorriu, e eu aproveitei para


sondar algo que vinha me preocupando há alguns dias. Eu
precisava ter certeza de que essa criança era minha antes de tomar
qualquer decisão e o doutor me garantiu que o exame para coleta
de DNA ainda na gravidez já não era mais um bicho de sete
cabeças como era considerado anos atrás.

— Eu quero que ela faça um assim que for possível.

Para o meu azar, os dois abutres, também conhecidos como a


família de Luna, pairavam ao redor de sua cama quando descobri
que ela já se encontrava apta a receber visitas. Caminhei devagar,
para não chamar atenção, e me aproximei sem fazer barulho,
escutando-as discutirem.

— Como pode ter sido tão idiota, Luna? Se colocar em risco


dessa maneira…

— Imagine o que seria de nós sem esse bebê…

Amaldiçoei as três mulheres por pensarem ser tão espertas, e


mais ainda, amaldiçoei Luna por escutá-las em silêncio. Sem dizer
nada. O rosto da garota estava virado na direção da janela e ela
parecia anestesiada. Como se uma grande tristeza a assolasse.

Será que ela estava imaginando o que aconteceria caso tivesse


perdido o bebê, ou será que estava arrependida por ter me
enganado?

— Nós manteremos um olho em você a partir de agora, Luna,


pode ter certeza — Lara Garcia continuou. — Para começo de
conversa, ir até o advogado sozinha foi um erro… o que você
esperava? Que ele fosse estender a mão e dizer que tudo ficaria
bem? Claro que ele iria oferecer dinheiro para tirar esse bebê! —
Como?

Eu sabia sobre a ameaça, mas não sabia nada sobre oferecer


dinheiro para que Luna tirasse a criança. Achei ter deixado isso
claro ao Daniel.

— Você ao menos viu de quanto era a quantia? — a irmã dela


perguntou, e eu senti meu estômago retorcer. Elas eram nojentas.

Luna, por sua vez, encolheu-se na cama e fechou os olhos.


— Acho que está na hora de as duas irem para casa — falei,
entrando no quarto e abrindo um pouco mais a janela para que
Luna pudesse apreciar melhor a vista daqui de cima. — Amanhã
quando Luna estiver melhor vocês podem discutir a melhor
maneira de me extorquirem, porque esse não é o momento nem a
hora.

Ambas me encararam sem um pingo de remorso, mas a raiva


da mais velha delas era clara.

— Luna precisa da mãe ao lado dela.

— O que Luna precisa é de sossego, coisa que vocês não irão


dar a ela. Agora saiam!

Eu as enxotei como se enxota urubus, e, para a minha


surpresa, nenhuma das duas se preocupou em se despedir de Luna.
Como que em sincronia, elas apenas se viraram e marcharam para
fora. Quando me vi a sós com a garota que havia virado a minha
vida de cabeça para baixo, eu inspirei fundo. Ela parecia cansada.

Sua pequena boca carnuda se abriu e fechou várias vezes, até


que murmurou:

— Obrigada.

Eu a encarei, tentando compreendê-la. E mais ainda. Tentando


entender por que eu me sentia tão protetor com ela mesmo que
Luna tivesse me enganado da maneira mais baixa que uma mulher
poderia fazer.

— Não me agradeça ainda — foi o que respondi ao me sentar


na poltrona onde passaria a noite. Eu queria manter um olho sobre
ela e, se tudo estivesse certo como o médico acreditaria estar,
amanhã, a essa hora, o exame que comprovaria se ela estava
grávida do meu filho já teria sido realizado.

Horas se passaram, e eu acompanhei Luna descansar enquanto


pensava em minha vida e família. Meus pais surtariam quando
soubessem sobre ela, quem não surtaria, droga? O falatório seria
ainda maior se eu nada fizesse para tornar isso oficial. Meus pais
eram católicos praticantes e nunca aceitariam que o primeiro neto
deles nascesse assim. Ao acaso, sem planejamento algum. Muito
menos que fosse fruto de uma relação instável.

Então eu teria que assumir essa criança, deixá-la fazer parte da


minha vida. Assim como a sua mãe e sua família distorcida.

Era madrugada quando Luna começou a se mover na cama,


inquieta. E eu ainda seguia acordado, incapaz de pregar o olho. Eu
a escutei chamar baixinho por seu bebê repetidas vezes e a fui até
ela.

— Luna — tentei acordá-la. — Acorde, garota.

Ela abriu seus olhos cheios de lágrimas, desperta do pesadelo,


e os prendeu aos meus mesmo através da escuridão do quarto. Eles
pareciam quase negros, eu notei. Assim como o coração da mãe
dela. Eu só esperava que o coração de Luna não fosse igual,
porque, mesmo que não houvesse planejado nada disso, ela seria a
mãe do meu filho.

— O que eu faço com você, Luna? O quê?

— Não me deixe — disse simplesmente. — Cuide de mim.

Cuide de mim.

Eu a deixei segurar meu braço até adormecer novamente e,


quando isso aconteceu, eu não consegui me afastar, porque as
palavras ditas por Luna ficaram voltando à minha memória como
um maldito gravador.

Cuide de mim.

***

Eu a vi antes que ela pudesse me identificar. Lucy vinha pelo


corredor com uma mochila escolar nas costas e o uniforme,
olhando para os lados a fim de encontrar o quarto da irmã.

Em vez de abrir um sorriso como imaginei que faria, ao me


reconhecer, ela comprimiu os lábios e caminhou até onde eu
estava. Luna estava realizando o teste que comprovaria a
paternidade do bebê e eu aproveitei os minutos para vir até o
corredor e pegar um café forte para que pudesse tomar.

— Cadê a minha irmã?

— Fazendo alguns exames, então não se apresse…

— O que o senhor fez com ela?

— Eu? Eu não fiz nada, criança, sua irmã foi quem causou
toda essa merda de confusão ao achar que poderia mentir e me
fazer de idiota. — Lucy engoliu em seco e olhou para as mãos,
parecendo chateada.

— Não é culpa dela.

— Não? — Ela negou.

— Luna é boa comigo. A única naquela casa que o é. Então eu


sei que se ela… fez algo, foi porque precisava fazer. Minha irmã
não é má.

— Você já me disse isso antes.

— Eu juro que é a verdade. Ela não é.

— Então por que razão a sua irmã, que não é má, mentiu para
mim? — Ela empalideceu. — Você já não é nenhuma garotinha,
Lucy, tenho certeza de que na sua idade já é capaz de entender a
gravidade do que sua irmã fez. Ela engravidou de propósito, como
se eu fosse a porra de uma garantia para o seu futuro.

— E o senhor é.

Revirei os olhos. Todas elas eram loucas.

— O senhor é o único que pode ajudar a Luna, ela engravidou


porque… acha que assim pode me dar uma vida melhor. Pode me
tirar daquela casa e….

— E?

— E nenhuma de nós duas vai precisar mais sofrer.

— E você acha que um bebê de um homem rico é a garantia


de um futuro feliz e sem sofrimento?

— Sim. Minha mãe diz que o dinheiro cura tudo e eu acredito


nela.

Sacudi a cabeça, o que fosse que a mãe dessas garotas dizia a


elas não lhes fazia bem.

Quando Luna retornou ao quarto, eu recostei contra a parede


do corredor e acenei para que Lucy entrasse. O que ela fez
rapidamente. Dei um tempo às duas e, ao perceber que não iriam se
separar, a menos que alguém interferisse, eu retornei ao quarto e as
encontrei sobre a cama estreita de hospital. Luna dormindo
pesadamente, e sua irmã deitada ao seu lado.
— Eu não vou para casa — a mais nova delas sussurrou, e eu
sabia que por ser menor de idade ela não poderia ficar.

— Sua irmã terá alta amanhã, Lucy. Então sim, você vai para
casa.

A expressão em seu rosto ficou tensa.

— Quem irá cuidar de Luna? Eu não vou deixar ela sozinha


nesse lugar enorme.

— Eu cuidarei da sua irmã. Foi o que eu fiz na noite passada e


é o que farei hoje. Agora pegue suas coisas, eu vou aproveitar que
sua irmã irá dormir por algumas horas e a deixarei em casa. — Eu
aproveitaria esse tempo também para tomar um banho e comer
alguma refeição preparada por Martina. Eu estava exausto, mas não
confiava em ninguém que pudesse tomar o meu lugar nesse
momento.

Quero dizer, havia a Martina e os meus pais, mas a primeira


era velha demais para estar aqui, e os meus pais, bem, novamente
eu pensava no que eles diriam. A ala privativa do hospital era o que
tornava a minha presença aqui possível. Caso contrário, os
arredores desse lugar já teriam se transformado em um circo. Com
toda certeza.

A caminho de sua casa, Lucy pareceu assombrada com o carro


esportivo que eu dirigia, o mesmo tipo de assombro que vi no rosto
de Luna quando ela pisou pela primeira vez no meu apartamento.

— Quantos anos tem, Lucy?

— Quinze.

— Você não deveria andar por aí sozinha então, não acha?


Sua casa não fica próximo a esse hospital.

— Eu fugi. — Eu a olhei com espanto. — Quero dizer… Lara


e Loren nunca estão em casa quando eu chego da escola, e com
Luna aqui elas estão meio que… loucas.

— Por quê?

— Tenho certeza de que o senhor sabe.

Bom, eu imaginava.

— Onde está o pai de vocês? — Lucy deu de ombros antes de


responder.

— A gente não sabe, tudo o que mamãe diz é que ele era um
imbecil inútil.

— No que sua mãe trabalha? — Lucy riu.

— Lara nunca trabalhou na vida, não que eu consiga me


lembrar, pelo menos. Luna é quem… põe comida na nossa casa
desde sempre. Antes dela… houve alguns momentos bem difíceis
aqui e ali… os namorados de minha mãe eram quem nos
sustentava, eu acho. Mas Luna disse uma vez que se ela quisesse
dinheiro e comida sobre a mesa, os homens dentro da nossa casa
teriam que parar.

Eu estava surpreso.

— Sua irmã fez o certo.

— Ela sempre faz, senhor. Ela pode… ter um pouco de


dificuldade com algumas coisas, mas ela é esperta e inteligente.
Não da maneira como as pessoas comuns são. Mas isso não
importa, eu a amo do mesmo jeito.

— O que quer dizer com isso?

— Com o quê?

— Com o fato de ela não ser inteligente como as pessoas


comuns são.

— Bem… ela… se o senhor não percebeu, eu não irei dizer.


Ela me mataria.

— Lucy. — Ela me olhou. — Diga logo.

Não é que eu não tenha percebido, Luna era um pouco…


estranha. Mas até então eu achava que era algo normal. Algo dela.

— Ela tem déficit de atenção e um pouco de dificuldade de


aprender e memorizar as coisas. Sempre foi assim.
— Luna é disléxica? — Lucy deu de ombros, demonstrando
que não queria mais falar sobre o assunto. — Mas ela sabe ler… e
escrever… eu já a vi fazendo isso.

— Eu não disse que ela não sabia… só que tem dificuldade.


Lara acha que ela é burra, sabe? Mas não é, Luna tinha uma
professora na nossa escola que conversou com ela uma vez e falou
que é normal. Que ela é inteligente, só que à maneira dela. Foi essa
professora que ajudou a Luna durante muito tempo.

— Ela nunca foi a algum especialista ou frequentou uma


escola apropriada?

— A saúde pública não cobre esse tipo de médico… e como


pagaríamos por uma escola apropriada? Além disso, mamãe
sempre disse que era besteira da escola. Que Luna era burra como o
nosso pai e que…

— Luna não é burra.

— Eu sei que não. Por isso eu tentei, pesquisei alguns


médicos… eu só queria que ela ouvisse da boca de algum deles,
sabe? Mas minha irmã é teimosa, diz que não precisa de um papel
diagnosticando o que ela tem. Porque ela consegue lidar com
isso…

— Onde sua irmã trabalha?

— Por quê?
— Não seja desconfiada, Lucy. Apenas responda.

— Em uma lanchonete — disse em um suspiro. — Todo


mundo gosta dela lá, e às vezes ela consegue trazer algum lanche
para gente comer escondido. Mas não é sempre.

— Certo, me diga onde é. Eu pegarei algo para que você coma


antes de deixá-la em casa. — Lucy sorriu como se eu tivesse
acabando de lhe dar um presente.

— Eu digo, se você prometer que não irá falar mal dela por lá.

— Eu nunca faria isso.

— Então tudo bem.

Levei Lucy até a pequena lanchonete e conheci a chefe de


Luna, que parecia uma gaivota prestes a defender sua ninhada, que
no caso eram as meninas que trabalhavam para ela. Lucy a abraçou
e me apresentou, mas eu tinha certeza de que não havia uma só
pessoa dentro daquele estabelecimento que não me reconheceu. Os
seguranças, preocupados, entraram na lanchonete atrás de mim e
enquanto Lucy tomava um milk-shake e comia uma porção extra
de batatas fritas, eles se sentaram à mesa ao lado. Doug lançando-
me um olhar que deixava claro o que pensava a meu respeito: que
eu estava ficando louco.

Ao chegar ao meu apartamento naquele dia, um pouco mais


tarde, eu resisti à vontade de desabar na cama e em vez disso tomei
uma ducha fria para despertar.

Ao sair do box, enrolado na toalha, peguei o meu celular e


chamei a Sra. Gerrard.

— Filho, que bom que telefonou — ela disse, com um


possível sorriso no rosto. — Achei que tivesse se esquecido dos
seus pais.

— A senhora sabe que tenho andado ocupado, mãe.

Eu vinha treinando nos últimos tempos. Não sobrava muito


mais tempo para que pudesse viajar e vê-los.

— Nós sabemos, filho. E tudo aqui já está pronto, em uma


semana nós estaremos aí com você. — Meus pais moravam no
interior da Espanha, eles nunca apreciaram a ideia de viver em uma
cidade grande e agitada como Madrid, mas estariam aqui pelo
tempo que durasse a copa.

— Isso é bom… porque eu quero apresentar alguém a vocês.

Minha mãe ficou em silêncio.

— Não é aquela atriz, não é?

— Não, mãe. Não é ela.

— Certo, porque seu pai e eu não achamos que ela seja para
você, filho. Aquela mulher é uma oportunista que vive dos
escândalos que arma na mídia… — Será que eles veriam Luna da
mesma forma? Droga! Se meus pais soubessem como tudo
aconteceu, eles nunca a aceitariam. — Agora me diga, o que nós
precisamos saber sobre essa garota? Ela trabalha com o quê? É de
família católica?

Eu sabia que essa seria uma das primeiras perguntas a serem


feitas. Mas eu realmente não sabia se Luna era católica.

— Tudo o que você precisa saber é que essa garota será a mãe
do seu neto e que… eu vou me casar com ela, mãe.

A linha ficou muda.


CAPÍTULO CINCO

Luna

— Eu não quero me casar com o senhor! — praticamente


gritei, mas sabia que era inútil, porque do outro lado da sala minha
mãe parecia estonteantemente feliz. Loren, no entanto, tinha aquela
cara de quem havia chupado algo azedo. E Lucy, bem, minha irmã
mais nova parecia assustada.

— Não seja estúpida, Luna — Lara disse em alto e bom som.

— Chame-a de estúpida novamente e tenho certeza de que a


senhora não irá gostar das consequências — Alexander grunhiu, e
minha mãe se calou. Pelo menos naquele momento. — Ouçam
todas vocês, eu já estou de saco cheio. Luna, não há outra maneira
de resolvermos isso. Não ache que porque espera um filho meu eu
lhe darei dinheiro para que você possa entregá-lo à sua mãe e irmã,
me ouviu?

— Como o senhor se atreve? Eu criei a Luna, lhe dei amor e


atenção por anos, nada mais justo do que ser recompensada…

Lucy, Alex e eu a olhamos. Ela era uma pessoa horrível.

— Como eu estava dizendo antes de ser rudemente


interrompido, Luna se casará comigo e irá para o meu apartamento.
É lá que ela ficará até que essa criança nasça. Em segurança. —
Alexander olhou para a Lucy.

— Mas… e quanto a nós? — minha mãe protestou.

— E quanto a vocês o quê? Você e sua filha são mulheres


saudáveis, podem sobreviver se trabalharem.

— Luna é quem põe comida nessa casa…

Olhei para Alexander em súplica. Se ele me tirasse daqui e


não lhes desse nada, elas fariam da vida dele um inferno. Da minha
também. E elas nunca mais deixariam que eu visse minha irmã.

— Eu… eu me caso com o senhor, mas somente se você lhes


der algum dinheiro. — Por favor.

Alexander me olhou contrariado. Seus olhos comprimindo-se.

— Ok. — Loren e minha mãe sorriram. Sem se preocuparem


em parecer pessoas decentes, que diriam: “não, meu caro, senhor.
Tudo o que quero é que faça minha filha feliz. Você não nos deve
nada… apenas a ame…”

— Ok? — perguntei para ter certeza.

— Sim. Meu advogado irá preparar o documento para que


elas assinem, mas será apenas isso. Eu não sou de forma alguma
um banco, e se para garantir um pouco de paz eu tiver que ceder,
tudo bem. Mas será a única vez. Então pensem muito bem como
irão gastar esse dinheiro e o que farão com ele. Porque não haverá
outra chance como esta.

Lucy permaneceu calada, acredito que pensando em seu


próprio futuro. Porque era no que eu também pensava.

— Suba e faça suas malas, Luna. Você irá para casa comigo
hoje.

— Já? — Lucy e eu dissemos ao mesmo tempo.

— Você não irá tirá-la dessa casa sem que o dinheiro esteja
comigo. — Meu Deus, será que ela não cansava? Eu estava
mortificada com a maneira fria com que Lara estava agindo. Era
como se… ela estivesse me vendendo?

A mim eu ao meu filho. O pior era que eu a estava ajudando.

Nervosa, dei as costas a todos eles e subi as escadas, as


lágrimas se formando em meus olhos. Olhei para o pequeno quarto
em que cresci e não consegui sentir o alívio esperado. Eu estava
grata de certa forma por ele estar me tirando daqui, mas morrendo
de medo de como seria lá fora. Viver com ele… e me casar com
ele…. Alexander me odiava. Até a empregada dele me odiava.
Como um casamento entre nós dois poderia dar certo?

Mas a pergunta que não queria calar: por que casar comigo
quando ele podia simplesmente acusar todas nós de o extorquir?
Fora que o homem tinha dinheiro suficiente para tirar essa criança
de mim quando nascesse. E assim como eu e toda minha família já
sabíamos, ele era mesmo o pai. Mas em nenhum momento desde
que recebeu o resultado ele mostrou algum tipo de emoção.

— Quer ajuda? — Lucy perguntou ao empurrar a porta. Ela


estava triste.

— Eu não achei que… teria de ir, Lucy. Deixar você aqui…

— Eu vou ficar bem. E estou feliz que ele vá te tirar daqui,


seu bebê será feliz e isso é o que importa.

Eu a abracei com força.

— Prometo que eu te verei sempre. Que vou cuidar de você


mesmo longe, me ouviu? Você não terá com o que se preocupar, e
enquanto aquelas duas tiverem dinheiro você será deixada em paz.

— O dinheiro não irá durar muito nas mãos dela, Luna, você
sabe disso.

— Eu sei, mas até que ele acabe você já estará maior e poderá
morar comigo. Só mais alguns anos…

— Você acha que irá durar tudo isso?

— Tem que durar, Lucy. Porque eu juro a você que não


deixarei que elas te usem como me usaram. Sei que eu concordei,
que poderia ter dito não… mas que escolha eu tinha? Eu não sei
fazer nada mais do que servir mesas e nem isso eu faço direito.
Como poderia proteger e cuidar de você se… não fosse por esse
bebê?

— Não fale assim. Você é a pessoa mais incrível que eu


conheço, Luna.

Lucy me ajudou a guardar algumas coisas minhas na mochila.


Não era como se eu tivesse muito o que levar comigo. Toda a
organização levou cerca de meia hora e, quando descemos, mamãe
e Loren estavam completamente caladas. Nem olhar na minha
direção elas olharam. E isso acabou comigo.

— Está tudo aí? — O homem com quem eu iria me casar


olhou para a mochila nas minhas costas e depois para a sacola na
minha mão e assenti. Nervosa.

Passei por ele, saindo da casa, e percebi que Alexander se


despedia de Lucy, que os dois conversavam baixinho e que ele
parecia… gostar dela. Porque ele até mesmo sorriu. Senti um
embrulho estranho no meu estômago, acho que com ciúme de vê-lo
sorrir para alguém que não eu.

Besteira, eu sei, mas nesse momento, quando estava


praticamente sendo vendida, qualquer soco doeria umas cem vezes
mais.
Alexander

O caminho até o apartamento foi feito em silêncio. Luna


parecia triste, mas conformada, e, enquanto torcia os dedos sobre as
coxas eu pude ver as unhas, que, mesmo curtas, haviam me
arranhado na noite em que estivemos juntos. Incrível como tudo
parecia ter acontecido há um século, e não há três meses. Meus
pais, assim como combinado, chegariam dentro de alguns dias e,
até então, eu esperava ter tempo para explicar a Luna o que
esperava dela. Eu não queria necessariamente uma esposa, queria
só que o meu filho estivesse longe daquela família distorcida.

— As pessoas não deveriam se casar se não se amam — ela


disse, em determinado momento, fazendo-me pensar e em seguida
rir de modo sarcástico.

— Elas também não deveriam mentir e enganar — rebati.

— Eu não me arrependo do que fiz, se é o que quer saber.

— Aposto que não, afinal, você lutou para que eu desse


dinheiro à sua mãe, não é? — Luna não respondeu. — Será que
você pensa como ela? Que dinheiro é tudo e que por um pouco dele
é capaz de fazer qualquer coisa?

— Dinheiro é tudo sim… principalmente para quem não o


tem. Vocês… ricos, gastadores, que são capazes de dar centenas de
euros em uma única garrafa de espumante, nunca irão entender que
há pessoas que não possuem dinheiro nem para o que comer no
final do mês. Então eu não me importo se você me acha uma
aproveitadora, porque talvez eu seja mesmo, mas não me
arrependo.

Luna

— Você é disléxica — Alexander falou, trazendo o assunto à


tona, logo depois de pedir para que eu o avisasse quando
estivéssemos chegando à quadra do seu apartamento. Perguntei a
ele como eu saberia e ele respondeu apenas que eu deveria ler as
placas.

— Eu não sou não.

— Você é sim. Você sempre lê duas vezes a mesma coisa para


ter certeza, você lê murmurando as sílabas e tem dificuldade em
gravar números. Você apagou e reescreveu três vezes antes de
acertar o seu telefone quando me deu na primeira vez.

— Isso não significa que eu seja isso daí.

— Nós iremos ver um especialista, não há por que ter


vergonha.

— Eu não quero ver ninguém, e também não quero me casar


sem amor. Não é justo.

— E é justo o que você fez comigo, Luna? Mentir para mim e


me envolver nessa loucura distorcida que é a sua família? Eu estou
preso a essa situação, droga!

— Então me deixe.

— Isso não vai acontecer. Você está esperando um filho meu,


e por mais que eu não o tenha planejado… eu o quero.

Bufei, pensando na quantia cheia de zeros que ele estava


disposto a me dar para que eu tirasse nosso filho.

— Mas isso não significa que nós temos que nos casar.

— Luna, nós iremos nos casar, então apenas aceite. E


permanecerá assim até que você decida sair.

— Sair?

— Pedir o divórcio — esclareci.

— Mas…

— Não se preocupe, se chegarmos a esse ponto você levará


mais uma boa quantia de mim. Só não pense que o seu filho irá
com você… porque dele eu não abro mão.
— Você está dizendo que…

— Que ele ficará comigo.

As palavras “eu não quero o seu estúpido dinheiro” estavam


na ponta da língua. Mas seria uma mentira, não é? Porque eu não
só o queria como também precisava dele.

Alexander

Naquela mesma noite eu percebi que não seria fácil adormecer


sabendo que Luna estava a apenas alguns passos da minha cama.
Então, em vez de me deitar e procurar relaxar o meu corpo, tenso
dos treinos e da bagunça que se tornou a minha vida nas últimas
semanas, eu andei pelo apartamento sem ir realmente a qualquer
lugar, pelo menos não até que escutei sons vindo da cozinha. Ao
chegar no cômodo, deparei-me com uma Luna de pijama, cabelo
desgrenhado e comendo com entusiasmo uma tigela de cereais.

Aproximei-me, e isso a fez afastar os olhos da tigela e os


prender em mim. Com receio. Servi-me de um copo de água e me
encostei na bancada, observando-a.

— Coma devagar, Luna — falei, ao vê-la mastigar mais


depressa. Acho que para se livrar de mim.
— Não me diga como comer — disse com a boca cheia,
mastigando o cereal como se ele fosse a coisa mais gostosa do
mundo. Ou então como se ele fosse desparecer a qualquer
momento caso ela não o comesse rapidamente.

— Não conseguiu dormir? — Ela negou. — Vai levar algum


tempo até que a gente se acostume com essa mudança, mas se nos
empenharmos…

Ignorando-me, ela se levantou e começou a guardar tudo o


que havia espalhado. A caixa de cereal, o leite…

— Eu vou pensar nisso — murmurou antes de passar por


mim.

Eu poderia tê-la deixado se safar e seguir o seu caminho, mas


não o fiz.

E quando a puxei, fazendo-a bater no meu peito nu, Luna


arregalou seus olhos marrons e me encarou.

— O que você… — Eu a beijei antes que a espertinha


dissesse qualquer coisa.

E, ao fazê-lo, escutei o ofego baixinho dela, que se agarrou


aos meus braços para se manter de pé. Respirei fundo em meio ao
beijo e a apertei contra o meu corpo.

O gosto dela continuava o mesmo, e isso fez com que cada


barreira que ergui para me proteger dos encantos dessa garota
desmoronasse. Eu ainda sentia raiva dela, mas também sentia…
que deveria fazer mais. Que deveria colocá-la em um lugar onde
pudesse protegê-la de tudo. Eu vinha evitando pensar nisso, sabia
que um casamento era um passo muito grande e que essa situação
poderia ser resolvida de maneiras bem mais simples. Mas eu a
queria aqui comigo.

— Alex. — Ela me fitou. — Eu…

— Hum?

— Eu quero você — admitiu trêmula, e mesmo sob a meia-luz


eu pude ver o seu rosto adquirir uma coloração avermelhada, que,
percebi, agradava-me muito.

Deslizei os dedos pelo seu rosto corado e a beijei de leve


enquanto a pegava no colo e a sentava sobre a bancada central.
Beijei-a por vários minutos, meus dedos passeando pelo seu corpo
que começava a mudar aos poucos. Quando finalmente afastei as
pernas de Luna e desci sua calcinha, eu soube que nada me
impediria de fazer o que tinha em mente.

Que seria prová-la entre as pernas. Algo que fiz antes, mas
que desejava repetir.

Quando a minha língua tocou a boceta quente de Luna, ela


não foi a única a gemer. Com as mãos afastando suas pernas, eu
lutei contra o desejo de pular as etapas e penetrá-la e me dediquei a
lamber cada curva gostosa do seu centro molhado. Luna ainda
lutou comigo ao tentar mover suas coxas, que estavam trêmulas.
Mas eu continuei a chupá-la e, enquanto o fazia, penetrei dois
dedos na boceta apertada. Fazendo-a ofegar e se contorcer.

Luna gozou assim, com minha boca agarrada à parte mais


sensível do seu corpo. E enquanto o sabor dela espalhava-se pela
minha boca, eu o lambi. Não vou negar, meu pau endureceu ainda
mais nesse momento e nem quando me levantei e a penetrei com
um único golpe o latejar diminuiu. Pelo contrário, eu inchei dentro
de Luna, indo e vindo tão freneticamente que tudo o que podia
sentir e ouvir eram nossas respirações. Como da primeira vez, Luna
se agarrou a mim e eu percebi que gostava de vê-la se entregar
dessa maneira, tão apaixonada.

Foi só após gozarmos que a realidade me bateu e eu me


afastei. Pensando com dificuldade. Essa merda não podia ter
acontecido, a ideia era mantê-la distante… focar apenas no bebê.
Mas como faria isso se a atração que sentia por essa garota era tão
forte?

Beijei-a na testa, em um gesto carinhoso, e me afastei,


sabendo que minhas próximas palavras seriam cruéis.

— Isso não voltará a acontecer, Luna. Foi um erro. — Ela me


olhou, magoada. — O dia foi confuso, nós dois apenas reagimos
um ao outro, mas eu acho melhor você subir agora e descansar.
Amanhã será um outro dia…

Luna não me deixou terminar e, no instante em que as


palavras saíram da minha boca, ela estava longe.
CAPÍTULO SEIS

Alexander

— Você está me dizendo que irá se casar? — Murilo


perguntou, e eu assenti, bebendo a cerveja que nos foi servida
instantes atrás. Meus pais chegariam em breve, então não havia por
que manter a notícia que em breve chegaria aos jornais.

Com a mãe de Luna já tendo assinado o contrato e a quantia


transferida para sua conta, nossa rotina andava um pouco mais
calma. Martina e Luna vinham tendo algumas divergências de
opiniões, Martina achava que Luna bagunçava tudo o que ela
arrumava, e Luna dizia que não podia fazer nada porque Martina a
vigiava o dia inteiro. As duas gritavam muito uma com a outra,
mas todas as noites, antes de ir para sua casa, eu encontrava o doce
especial que minha governanta preparava para que Luna pudesse
comer de madrugada. Um hábito bem comum da minha garota. A
verdade é que Luna parecia nunca conseguir dormir, e de acordo
com o especialista que pedi que fosse visitá-la a insônia era um dos
distúrbios comuns ocorridos por conta da dislexia.

Foi graças a ele também que descobri que Luna foi uma das
poucas pessoas com esse transtorno a terem recebido ajuda antes de
o problema se tornar um agravante e ela acabar por abandonar o
estudo. Ainda de acordo com ele, o número de evasão escolar por
conta desse distúrbio era alto, e muitos pais não se preocupavam
em descobrir a razão pela qual a criança apresentava dificuldades.

— Sim.

— Lola? — meu amigo sondou, e isso me lembrou de que eu


teria que contatar Lola em breve. Ao longo dos anos nós
terminamos e reatamos tantas vezes que algo me dizia que ela não
iria receber a notícia do meu casamento muito bem.

— Não. — Murilo estranhou.

— Pare de mistério e me diga logo, seu idiota. Não é possível


que você vá se casar… não faz sentido. Nós estamos às vésperas da
copa…

— Eu sei, mas aconteceu.

— Aconteceu? — Dei de ombros. — Eu a conheço?

Movi-me em frente à mesa e me inclinei. Não querendo que


ninguém nos escutasse.

— Lembra da morena de vestido azul com quem eu saí desse


bar, meses atrás? —

— Você está de brincadeira comigo…

— Não. Eu não estou.


Um silêncio tomou a nossa mesa.

— Ela está grávida — ele concluiu e dessa vez eu fui o único


a assentir. — Que merda, cara!

Ao voltar para casa naquela noite, eu girei a maçaneta da


frente e, antes mesmo de chegar à sala principal, eu soube que
havia algo de errado. O silêncio, que antes era comum, e que após a
chegada de Luna se tornou nulo, pareceu… estranho. Como um
prelúdio. Andei pelos cômodos do andar inferior, e só quando
cheguei à sala principal, a que tinha uma lareira sempre ligada, foi
que identifiquei Luna sentada, torcendo os dedos nervosamente,
um gesto que sempre fazia quando se sentia acuada, e à sua frente,
identifiquei meus pais, que a olhavam com extrema curiosidade,
como se ela fosse uma intrusa. Os três absolutamente calados.

— O que estão fazendo aqui? — perguntei à minha mãe, que


se levantou e me abraçou, aliviada. — Pensei que só chegariam
amanhã.

— Essa é a mulher que você queria nos apresentar? —


perguntou baixinho. — Ela é uma garota, meu filho.

— Nós conversamos depois, mãe — falei, quase rude. —


Vocês já se apresentaram?

— Sim, Luna foi bastante gentil em nos deixar entrar. Nós


tentamos ligar para você, mas seu número estava caindo na caixa-
postal…

— Eu estava fora com um amigo.

— Certo — falou desconcertada enquanto eu cumprimentava


o meu pai.

— Eu vou para o meu quarto… estou morrendo de sono. —


Ela bocejou de modo fingido, mas eu a segurei pelo braço com
delicadeza.

— Pai… mãe… essa é a Luna. Sei que já se conheceram e


fizeram as apresentações, mas gostaria de fazer isso da maneira
certa. Nós pretendemos nos casar antes que os jogos da copa
tenham início.

— Mas já, meu filho? Faltam menos de dois meses…

— Eu sei, mas acho que é o melhor. Eu terei que focar


totalmente nos jogos durante semanas e… — Queria que ela
estivesse segura.

— Bom, se ela está grávida, talvez seja o melhor mesmo. —


Minha mãe sorriu e olhou para o abdômen de Luna. — Será ótimo
te ajudar nos preparativos, querida.

Foi bom saber que minha mãe não julgaria Luna. Eu não
estava com cabeça, ou saco, para ter de lidar com essa situação,
caso ela se colocasse contra a mãe do meu filho.

— Não será nada muito grande, mãe. Apenas alguns amigos e


a família.

— Mas, meu filho, será o seu casamento. Você não pode


negar à sua futura esposa uma festa com tudo o que você pode lhe
proporcionar…

— Tudo o que Luna quer ela já tem, mãe. — A garota ficou


vermelha. — A festa será apenas para formalizar nossa união e
garantir o futuro do meu filho.

— Não seja frio, Alexander Gerrard. Não foi assim que seu
pai e eu o educamos.

— Não tem problema, Sra. Gerrard… eu não ligo. Tudo o que


quero é que o meu filho nasça saudável. Eu não me importo com
festas…

— Mas eu sim, querida. E mesmo que seja algo pequeno, nós


iremos fazer isso dar certo. Confie em mim.

Revirei os olhos e dei boa noite a todos, levando Luna comigo


e pedindo para que meus pais se sentissem à vontade. Eles
passariam essa primeira noite aqui, mas iriam para um elegante e
confortável hotel no dia seguinte. Uma escolha deles, não minha.

— O meu quarto fica para lá. — Luna parou no meio do


corredor, ao perceber para onde eu a levava.

— Eu sei, mas com meus pais aqui você irá dormir comigo.
Não quero que eles saibam que há algo de errado com esse
casamento. Eu sou o único filho deles, a única chance que terão de
ter netos, e eu quero que nosso filho seja criado sob o que eles
acreditam. Para isso precisam acreditar que estamos apaixonados.

— Como assim sob o que eles acreditam?

— Meus pais são católicos praticantes, Luna. Acreditam em


Deus, em ir à igreja todos os domingos, em batismo e todo o
restante… Quero que o meu filho tenha as mesmas crenças que eles
e que aprenda desde pequeno que dinheiro não é tudo. Entende?

— Não fui eu quem sugeriu que eu… você sabe. — Eu sabia a


que ela estava se referindo, e justamente por essa razão, por ter pais
que me ensinaram a ser um homem melhor do que fui com Luna,
era que eu me arrependia amargamente do que lhe falei quando
descobri sobre sua gravidez.

— Eu estava nervoso, Luna, foi da boca para fora.

Eu a segurei pelo braço outra vez, querendo que ela entrasse


comigo. Mas Luna seguiu congelada em seu lugar.

— Alex, e se nosso filho for como eu? — perguntou baixinho.


— E se ele for dis… lé… xico — falou com certa dificuldade,
principalmente, por conta do nervosismo. Essa era uma
possibilidade que já havia passado pela minha cabeça, mas não era
algo que me tirava o sono.

— Se ele tiver dislexia, nós o aceitaremos e amaremos da


mesma forma, Luna. Isso não muda nada.

— Você não vai amá-lo menos, não é? — perguntou


preocupada.

— Não, Luna, eu não vou amá-lo menos. Juro a você. — Ela


sorriu, acho que aliviada, e se aconchegou na cama. De roupa e
tudo. Fiquei ali, por alguns instantes, a observando, os pés
pequenos estavam para fora dos lençóis, assim como o cabelo
marrom e cheio de ondas.

A forma como foi criada, como sua mãe a moldou. Não acho
que Luna tinha tanta culpa pelo que estava acontecendo. Não
completamente.

Exausto do dia cheio que tive, já que havia passado parte dele
treinando, eu cobri o corpo de Luna e fui para o banheiro tomar um
longo banho frio.
CAPÍTULO SETE

Luna

Olhei para o espaço ainda vazio entre os meus dedos, sentindo


uma vontade absurda de gritar. Três semanas haviam se passado, e
tudo em que conseguia pensar eram nas vezes em que Alexander e
eu nos beijamos nesse meio tempo. Às vezes, após um dia cheio,
ele me parava no corredor e me olhava daquela maneira intensa,
para em seguida me beijar. Nós nos beijávamos tanto que… minha
boca vivia dormente. Mesmo com esses rompantes, nós não
voltamos a fazer sexo.

Não que eu… não quisesse ou sentisse vontade. O problema


era que, quase sempre, ao chegarmos a esse ponto, Alexander se
lembrava de quem eu era e o que havia feito e se afastava. No
restante do tempo, eu me dividia entre a companhia de sua mãe e as
horas que passava dentro do seu apartamento. Com ele focado nos
treinos e em melhorar seu, já ótimo, desempenho físico, não
sobrava tempo para estarmos juntos. Então na maior parte do
tempo eu me via sozinha.

Porque, como imaginei que aconteceria, Lara vinha fazendo


de Lucy uma moeda de troca, mantendo-a afastada, mais do que
ciente do quanto isso me magoaria e do quanto eu seria capaz de
oferecer em troca da companhia dela e da certeza de que estava
bem. O problema é que agora que Lara possuía o dinheiro dado por
Alex, o valor que me pedia era sempre alto demais. E nem sempre
se tratava de dinheiro. Com a conta criada por Alexander par que
eu pudesse me manter e comprar o que achasse necessário para o
nosso enxoval sempre que saía com sua mãe, eu vinha
economizando ao máximo a mesada oferecida por ele, porque sabia
que os desejos de minha mãe se tornariam cada vez mais
impossíveis de serem saciados. Uma joia aqui, uma bolsa ali. Lara
nunca pedia descaradamente, ela apenas deixava no ar que se
ganhasse tal presente, Lucy poderia ficar comigo durante a tarde.

— Você parece preocupada, querida — a mãe de Alex


comentou, e eu tentei não parecer tão aflita. Meu bebê estava bem,
com peso e altura ideais para o meu tempo de gestação, e o volume
que começava a exibir em meu abdômen era algo que me deixava
diariamente fascinada. Em alguns dias, minha barriga parecia
maior, em outros era quase imperceptível.

Tinha aqueles momentos, aqueles raros momentos, em que


Alexander olhava para o meu abdômen e parecia não saber o que
dizer. Era como se ele não soubesse direito como reagir ao meu
corpo e às mudanças dele. Ou então como se a realidade ainda não
tivesse sido digerida. E quando nos beijávamos, presos em algum
rompante não planejado, bem, ele sempre dava um jeito de
escorregar sua mão até a minha cintura. E eu, bem, eu não sabia
como agir quando ele o fazia, porque parecia ser um gesto
extremamente carinhoso. Algo íntimo demais para ser
compartilhado por duas pessoas que mal se falavam.

Eu sabia que os treinos dele estavam cada vez mais intensos e


que dentro de algumas semanas eu o perderia para os jogos. E
assim como aconteceria com todos os jogadores de todas as
seleções que disputariam a Copa do Mundo, a seleção da Espanha
também exigia que seus jogadores ficassem na concentração pelo
período que durasse a copa.

— Acho que só estou… ansiosa. É tudo muito novo para mim,


sabe? Viver aqui, com todo esse conforto e luxo… é estranho. Não
é como imaginei que seria. — Eu realmente pensei que não ter que
trabalhar seria incrível e que os ricos fossem mais felizes, que
viviam rindo e comemorando a vida fácil e magnífica deles.

Lara nos fez crescer acreditando que o dinheiro era a chave de


tudo.

E que, quando o tivéssemos, nossas vidas estariam perfeitas.


Mas não era assim que as coisas funcionavam. Porque por mais
conforto e segurança que eu tivesse ao viver nesse lugar com
Alexander, eu não me sentia feliz. Meu coração doía… e a única
razão que justificava essa dor era o que eu sentia ao olhar para meu
futuro marido. Um sentimento que vinha me consumindo
diariamente e de uma forma que nunca pensei ser possível.
Toda essa situação me consumia, fazia meu coração acelerar e
só ficava mais difícil a cada beijo que Alex e eu trocávamos.
Porque vê-lo se afastar me machucava.

— Luiz e eu estamos ansiosos para conhecer a sua família,


querida. Uma moça tão boazinha como você…

— Eu não sou boazinha — rebati em um sussurro que ela não


escutou. Eu não queria que a mãe de Alexander me enxergasse de
uma forma e depois se decepcionasse, como aconteceu com o seu
filho. — Eu poderia ter evitado tudo isso, mas já era tarde, e…

Ela sorriu como se compreendesse.

— Venha até aqui e deixe-me te contar uma história, Luna. —


Eu me sentei ao seu lado. — Quando conheci o meu esposo, ele
estava noivo de outra garota, sabia? — Prestei atenção. — Eu
poderia ter me afastado, ter me convencido de que era errado dizer
a ele o quanto eu o amava. Mas eu não fiz. E em cada oportunidade
que tive eu o deixei saber sobre os meus sentimentos. Nós nos
tornamos amigos, e por muito tempo eu o vi com ela. Até que no
dia em que decidi me afastar, deixar que os dois fossem felizes, ele
percebeu que me amava. — Eu sorri, feliz por ela. — Eu errei em
ter sido persistente? Em ter lutado pelo homem que em breve se
casaria com outra? Errei. E quando percebi que já não estava em
minhas mãos decidir o nosso futuro, o Luiz tomou a decisão por
todos nós.
— O que ele fez?

— Ele terminou o noivado e esperou que tudo se acalmasse.


Não sem antes me fazer prometer esperar por ele. Meses depois…
nós dois nos casamos. — Não era tão simples assim, porque o Luiz
amava a esposa, isso estava visível na forma como ele a olhava e
idolatrava. Alexander, porém, não me amava. — Sei que tudo
parece um pouco nublado agora, mas aquiete o seu coração, sim?
Meu filho nunca teria dado esse passo se não tivesse certeza do que
está fazendo.

Pensei novamente na primeira reação de Alexander… e mais


ainda na ameaça do seu advogado, que graças a Deus eu nunca
mais voltei a ver. E enquanto pensava, eu não pude deixar de
encolher meus ombros sem nenhuma esperança de viver um amor
como o da mãe de Alex. Verdadeiro e duradouro.

Outras duas semanas se passaram, e o dia da minha


ultrassonografia chegou. O obstetra que cuidava de mim disse que
as chances de eu conseguir descobrir o sexo do bebê seriam bem
maiores nessa fase da gestação.

— Não fique nervosa, Luna. Você está rígida desde que saiu
de casa.

— Eu não estou não. — Retorci os dedos distraída.


— Você pode achar que não, mas eu a conheço, ok? — Será
mesmo?

Bati os pés no chão por alguns instantes enquanto


esperávamos sermos chamados pela secretária do médico. Quando
aconteceu, Alex segurou a minha mão e a entrelaçou à dele, o que
me fez encará-lo e ver que a expressão séria e taciturna permanecia
em seu rosto.

Minutos depois, comigo deitada na maca em frente à tela onde


as imagens do meu bebê passavam, o doutor foi movendo o
aparelho sobre minha barriga molhada com o gel e nos explicando
tudo o que víamos. Quando, por fim, foi possível identificar o sexo,
Alexander me encarou e sorriu. Um sorriso contagiante, daqueles
que faziam com que pequenas ruguinhas se formassem ao redor de
seus olhos. E eu percebi que as amava, assim como amava esse
homem.

Atordoada com a descoberta e com o momento que


compartilhamos dentro daquele consultório, eu me deixei ser
levada por ele enquanto saíamos do hospital. Nenhum de nós dois
falou nada, pelo menos não até que o carro esportivo de Alexander
estacionou em frente a uma conhecida praça de Madrid, que ficava
próximo ao seu apartamento, e foi quando ele se virou na minha
direção.

— Um menino — murmurou, repetindo as palavras ditas pelo


médico.

— Sim. — Toquei minha barriga, com carinho.

Do meu abdômen, eu olhei para o Alex que ainda não tinha


conseguido desviar os seus olhos de mim.

— Você gostou? — perguntei temerosa.

— É tão estranho — ele falou, após assentir. — Eu tinha


planos de ser pai, Luna… algum dia. Não por agora. Então
aconteceu e só parece certo, entende? Como se minha vida inteira
tivesse me preparado para este momento, para o dia em que a
conheci e…

Acho que eu me sentia da mesma forma. Não em relação à


gravidez, mas em relação a ele. Como se a vida tivesse me
preparado para o dia em que eu o conheceria e tudo mudaria. Sem
dizer nada, o homem ao meu lado segurou a minha mão e a levou
até o meu abdômen. Nossos dedos espalhando-se por cima do
vestido.

Sim, quando ele fazia esses pequenos gestos e esquecia a raiva


que sentia por mim e o gelo com que me tratava quando lembrava o
que eu havia feito, tudo parecia certo. Eu tinha que concordar com
ele.

Naquela noite, antes de chegarmos ao apartamento, Alex


pediu que eu passasse a noite em seu quarto. Diante do meu olhar
de espanto, ele balançou a cabeça e garantiu que não haveria sexo,
apenas… nós dois em uma cama. Como deveria ter sido desde o
princípio.

— Eu quero testar essa coisa entre nós dois, Luna — foi o que
disse, fazendo-me virar o rosto e sorrir… esperançosa. Eu não
queria que ele visse o efeito que suas palavras tinham sobre mim.

Tomei banho, vesti uma camisola nova que sua mãe e eu


compramos para o meu enxoval e fui para a cama com ele.
Alexander ainda andou pelo quarto, bebendo sua água e despindo-
se da calça de moletom que usava. A boxer branca fazendo um
contraste impressionante em sua pele bronzeada. Os pelos das
coxas, assim como os poucos cobrindo o seu peito, sempre me
deixavam sem palavras e dessa vez não foi diferente. Mas ao subir
na cama e vir em minha direção, Alex somente me beijou. Primeiro
na boca, depois no rosto, bochecha, nariz… Voltando de leve para
os meus lábios, até deixá-los inchados.

Mas como prometeu, não houve sexo. Mesmo que o meu


corpo gritasse pelo prazer que até então eu só tinha experimentado
em suas mãos. Eu tinha certeza de que isso aconteceu com ele
também, pois seu membro estava duro. Pressionando meu bumbum
enquanto Alexander respirava pesadamente em meu pescoço. Os
dedos ásperos tocando o meu abdômen por debaixo da camisola. E
foi assim que adormecemos. Suas pernas entrelaçadas às minhas,
suas mãos mantendo-me atada a ele.
Aquela foi a melhor noite que tive em dias.

O clima de cumplicidade perdurou pelos próximos dias, e nós


meios que demos uma trégua no que fosse que estivesse nos
mantendo longe um do outro. Lucy veio ao apartamento duas
vezes, me fazer companhia após a escola. E apesar de odiar vê-la ir
embora, a certeza de que Alex não demoraria a chegar mantinha-
me na linha. Durante o dia, ele dava um jeito de me telefonar para
conferir a mim e ao bebê. E eu adorava os minutos que passávamos
conversando.

Assim como adorava vê-lo cozinhar para gente tarde da noite.


Dormir abraçada a ele se tornou um hábito, assim como o sexo, que
parecia ainda mais intenso do que o da primeira vez. Havia um
cuidado maior em Alex ao me tomar, e conforme o seu filho
assumia o seu espaço em meu ventre, o homem venerava com
ainda mais intensidade o meu corpo.

Você é deliciosa, era o que ele dizia a cada noite. Mas eram as
palavras “durma bem, Luna” que vinham logo em seguida que
faziam com que o meu coração batesse mais acelerado.

A cada vez que essa estranha felicidade era interrompida,


quase sempre por conta da minha mãe e de Loren, eu acabava por
me retrair e pensar que algo poderia acontecer a qualquer momento
para acabar com o que Alex e eu vínhamos construindo. As
pequenas melhorias que eu vinha tendo por conta das consultas
com o especialista que ele contratou e da terapia que vinha fazendo
eram a prova do quanto ele se importava comigo. Dando-me a
certeza de que ele nunca seria como a minha mãe, ou que me
acharia estúpida e burra. A paz que era viver em um lugar sem
medo de ser despejada ou não ter o que comer no dia seguinte
também era algo que me fazia feliz. E ainda tinha os pais dele, que
eram uns amores comigo. Foi com o passar dos dias que me dei
conta de que eu desejava essa vida para mim e que morria de medo
de que o destino destruísse tudo de alguma forma.

Então, para dar vazão aos meus temores, o inesperado


aconteceu. A notícia do nosso em breve casamento chegou à
imprensa e foi uma loucura. Muitos queriam saber quem eu era,
mas Alexander me protegeu de tudo e todos. Além de garantir o
silêncio da minha família. Era isso, ou elas teriam de devolver o
dinheiro que haviam recebido.

Ainda assim foi difícil ler as especulações de quem era essa


tal de Luna Garcia e o que ela tinha para ter sido capaz de
conquistar um homem como Alexander Gerrard, que namorou uma
das maiores estrelas do cinema espanhol e mundial. Confesso que
tive medo ao saber que a notícia logo chegaria até ela, como se
pressentisse que Lola seria um problema. Não foi para menos que
cinco dias após o nosso casamento receber a atenção da mídia,
aquela mulher tenha aparecido no apartamento de Alexander sem
se dar ao trabalho de avisar ou ser anunciada.
Comigo sozinha, o choque em vê-la parada no meio de nossa
sala foi enorme. Mas o que mais me intrigou foi o fato de ela ainda
possuir as chaves do apartamento. Meu primeiro impulso ao
escutar o som da porta foi correr para ver se se tratava de Alex, mas
assim que a vi eu congelei. Lola deixou claro que sabia quem eu
era, possivelmente, porque me olhou dos pés à cabeça com total
desprezo, fazendo-me sentir insignificante.

— Eu precisava colocar os meus olhos sobre você…. ver


quem foi a garotinha que roubou o meu homem. — Seu homem?

— Alex não é seu — rebati, nervosa. E a atenção dela


deslizou para a minha barriga. Quando ficava em casa, eu não fazia
questão de escondê-la, e poucos eram os que sabiam acerca da
minha gravidez, de qualquer maneira. Meu casamento com Alex
seria em uma semana, tudo estava pronto e se déssemos sorte
ninguém descobriria antes que ele e eu tivéssemos a chance de
dizer sim um ao outro.

— Agora eu vejo por que ele decidiu se casar. Não é amor… é


apenas um erro estúpido. — Lola riu com escárnio. — Eu deveria
ter imaginado.

— Você não sabe de nada!

— Não? Olhe para você e olhe para mim, querida. Se não


fosse por essa coisa que carrega dentro de você, eu é quem seria a
noiva de Alexander. Mas duvido que você saiba a razão pela qual
nós terminamos da última vez, não é?

Não, eu não sabia. Os dois viviam indo e vindo de qualquer


forma. Para saciar a curiosidade que ela mesma plantou em mim,
Lola estendeu a mão onde um anel enorme estava colocado.

— Ele me pediu para casar com ele… e eu disse que não. Fui
uma tola, achei que teríamos mais tempo. — Alex a havia pedido
em casamento?

Pensei no espaço vazio em meu dedo e no fato de que eu


sequer recebi um anel. Sabia que eram situações diferentes e que
ele não estava se casando comigo por amor, mas… não pude deixar
de me sentir magoada.

— Se soubesse que uma interesseira como você entraria na


vida dele e o tomaria de mim eu nunca teria dito não a ele. Mas
sabe o quê? Ainda está em tempo de ele repensar essa loucura de
casamento com você e tomar algum juízo.

A porta da frente voltou a ser aberta, mas Lola e eu estávamos


absortas demais para prestar atenção a quem quer que fosse. Foi
apenas quando a voz seca de Alex preencheu a sala que nós duas
nos viramos.

— Lola. — Não havia raiva em sua voz. Ele não a olhava


como se quisesse matá-la, como fez tantas vezes comigo. Não, ele
a olhava… de uma forma estranha. Ressentida, eu acho. — Você
usou as chaves — ele constatou e ela se jogou nos braços dele.

— Mi amor… por que está cometendo essa loucura? O que


deu em você?

— Nós não iremos falar sobre isso aqui, Lola. — Ele ainda
não havia olhado na minha direção, e isso fez com que qualquer
esperança de que ele se importasse comigo desmoronasse.

— Onde então, mi amor? Só dizer…

Alexander a segurou pelo braço, pegou a bolsa que ela havia


deixado no sofá da sala e a tirou do apartamento, deixando-me ali
perplexa. Ele não gritou com ela ou disse algo para machucá-la
como fez tantas vezes comigo. Ele nem mesmo me enxergou ali,
nem a mim nem ao seu filho.

Alexander não dormiu em casa naquela noite, o que me fez


passá-la em claro. Andando de um lado para o outro dentro do
nosso quarto. Questionando onde ele estava e por que não havia
voltado. E se Alex se deu conta de que aquela mulher era quem ele
realmente amava?

Mas ele falou que queria tentar, Luna… e pareceu tão


sincero.

Mas talvez não tenha falado sério, já que, na época, o retorno


de Lola não era algo a se pensar.

— Por que ela não aceitou se casar com ele? Se eles se


amavam… então…

Não sei direito como ou quando adormeci, a questão é que ao


acordar na manhã seguinte tudo parecia estranho. Martina estava
mais calada do que o habitual, e eu não consegui ficar dentro
daquele apartamento por muito tempo. Por isso, assim que a
oportunidade surgiu eu saí para caminhar pelos quarteirões, mais
do que ciente da dupla de seguranças a me seguir por cada passo
que dei. Em outro momento essa perseguição e tentativas de
despistá-los teria sido divertida, mas o dia hoje estava sombrio e eu
me encontrava sem ânimo até mesmo para pregar peças.
CAPÍTULO OITO

Alexander

— Onde está a Luna? — perguntei a Martina, assim que


passei pelo batente da cozinha. Eu havia emendado uma noite
maldormida com um dia extenuante de treino. O fato de não ter
entrado em contato com Luna foi apenas um acréscimo na porcaria
do dia que tive. Porque, como imaginei, Lola faria o possível para
tornar-me miserável por ter seguido em frente sem ela.

A mulher tinha um complexo narcisista que a impedia de lidar


com rejeição.

Para piorar, ela veio com aquela porcaria de anel que lhe dei
anos atrás e o qual ela passava a usar quando se via desesperada,
prestes a me perder. Que era o que estava acontecendo agora.
Quando lhe comprei o anel, porém, eu pensei que a amasse.
Realmente pensei que todo o tesão e luxúria que me invadiam
quando ficávamos juntos pudessem ser amor. Então eu a pedi em
casamento e Lola disse não. Simples assim.

Essa pequena pedra no caminho, que, na verdade, de pequena


não tinha nada — nem de barata, aliás — não fez com que
terminássemos. Quero dizer, nós passamos alguns meses afastados
após ela recusar o pedido e em seguida voltamos e terminamos
tantas vezes que eu mal era capaz de lembrar. Mas havia algo que
eu nunca esqueceria, que era a sensação que experimentara ao
escutá-la rejeitar o meu pedido. Por isso, jurei a mim mesmo que
nunca voltaria a ser idiota a ponto de repetir aquelas palavras. Não
para aquela mulher.

Eu aprendi a minha lição na época, assim como Lola aprendeu


a dela após se arrepender.

Os últimos anos foram passados com ela soltando piadinhas


aqui e ali, insinuando estar preparada. Pronta para dar o próximo
passo, mas a verdade é que todo o amor que pensei sentir por
aquela mulher… nunca existiu. Essa era uma das razões pelas quais
eu era grato por sua recusa, caso contrário teria terminado em um
casamento fadado ao fracasso desde o princípio.

Não que com Luna houvesse garantias, porque não havia. E


aqui estava eu, atirando no escuro, prestes a me queimar
novamente. A diferença era que, dessa vez, não havia anéis a serem
devolvidos.

— Ela saiu para dar uma volta.

— Com esse tempo? — Martina assentiu, sem muita vontade


de dar continuidade à conversa. Então eu não forcei.

Tentei não me preocupar, Luna era adulta, e se podia se cuidar


sozinha também podia se cuidar com os meus seguranças em seu
encalço. A calma na qual tentei permanecer foi se esgotando ao ver
que as horas passavam e eu não conseguia sequer contatá-la através
do telefone. Os homens que trabalhavam para mim também não
atendiam.

— Luna? — chamei seu nome, quando alguém finalmente


atendeu o celular que ela usava.

— Não é a Luna, Alex, é a Lucy. — Ela estava com a irmã,


isso era bom. — E, eu sinto muito, mas ela não deseja falar com
você.

O alívio que senti ao escutar a voz de Lucy foi substituído por


uma inquietação estranha.

— Diga a ela que irei aí buscá-la então.

— Eu não vou dizer isso e o que for que você tenha feito, a
fez chorar a tarde toda. A pobrezinha só conseguiu dormir agora,
então…

— Eu não a quero perto de sua mãe, muito menos de sua irmã,


Lucy. Diga a Luna para cooperar.

Ouvi as duas falando baixinho, contradizendo a história de


que ela estava dormindo. Duas pequenas mentirosas, pensei,
ouvindo a mais nova ofegar e voltar à linha.
— Ela disse que é para você ir se ferrar.

Ótimo. Eu estava prestes a me casar com uma criança.

***

Passaram-se três dias e todo o contato que tive com Luna foi
através de Lucy, que me atualizou diariamente sobre o estado
ferido da irmã. Eu deveria ter imaginado que a garota seria teimosa,
mas ela iria aprender em breve que eu era muito mais. Tanto que,
no dia seguinte, ao ver uma foto armada, minha e de Lola,
estampando cada jornal do país, eu desisti da ideia absurda de lhe
dar espaço e a procurei.

Luna gritou e se se debateu quando a coloquei sobre os meus


ombros, protestando audivelmente enquanto sua família assistia a
toda a cena. Eu havia perdido completamente a paciência com essa
situação e sabia que se Luna colocasse os olhos em algum daqueles
jornais, levá-la de volta para casa se tornaria um obstáculo ainda
maior. Isso porque faltavam poucos dias para o casamento.

— Eu não quero me casar com você! Não quero!

— Não quer?! — gritei de volta. — Toda a palhaçada que fez


foi para o quê, então? Apenas dinheiro?

— Eu não quero o seu… — Ela se calou, porque sabia que


estava errada. — Me põe no chão, seu ogro! Eu não gosto de você,
não gosto!
— Tem certeza? — Eu a coloquei no chão e a pressionei
contra a parede do hall de entrada. Os olhos assustados das três
mulheres pairaram sobre nós, e com um grunhido eu as afastei,
ficando a sós com Luna. — Não é isso que pareceu quando nos
dois estávamos na cama, garota.

— Não fale essas coisas… — Eu a beijei. Não havia nada que


quisesse mais do que isso. Eu queria beijá-la e levá-la para a nossa
casa.

Que era o seu lugar.

— Dá próxima vez que desaparecer dessa maneira eu juro que


lhe darei uns tapas nesse seu traseiro bonito, Luna.

— Você não é o meu pai…

— Não sou mesmo, porque, diferente dele, eu pretendo cuidar


de você. E se isso significa te punir… — Ela me lançou um olhar
indecifrável.

— Você dormiu com Lola e não voltou para casa. Nem ao


menos olhou para mim. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Eu não vou aceitar que fique com ela e comigo, que me faça
sofrer dessa maneira…

— Eu não fiquei com ela, Luna.

— Não? Onde esteve então?


— Eu não vou mentir, ok? Não tenho por que fazer isso e
estou sendo honesto quando digo que não fiquei sexualmente com
ela. Mas…

— Mas?

— Mas eu passei a noite em sua casa. Não fiz nada de errado,


no entanto. Porque parte do tempo em que estive lá foi gasto
fazendo com que Lola entendesse que o que havia entre a gente
acabou. Lola chorou, esperneou, tentou me convencer a te deixar…

— Você a ama? — Neguei. Seguro de que amor mesmo só


poderia ser o que eu sentia pela garota chorona à minha frente. Era
com ela que eu planejava passar o restante da minha vida. Três dias
sem ela na minha vida foram o suficiente para que eu percebesse.

— Lola teve a oportunidade dela, Luna. Teve e perdeu.

— Mas… e aquele anel? Vocês terminaram tem pouco tempo,


como pôde ter dado um anel daquele a ela, quando...?

— Quando você não tem nenhum? — Luna ficou


envergonhada, a coloração em suas bochechas a entregou.

— Sei que nosso casamento não é real, mas… eu queria ter


um anel. Não um caro como aquele, apenas um que fosse bonito e
me fizesse lembrar de você.

Eu sorri. Só Luna para querer um anel que a fizesse lembrar


de mim. Não era assim que as mulheres escolhiam seus solitários
hoje em dia.

— Eu te dou o que você quiser, Luna. Um, dois, três anéis, se


for preciso…

— Eu só quero um. — Estendi a mão para limpar suas


lágrimas.

— E eu… só quero que esse casamento dê certo.

— Mas você não me ama.

Ah, mas eu amava. Só que esse ainda não era o momento de


jogar meus sentimentos sobre Luna. Até porque eu duvidava que
ela tivesse ciência de que o que eu sentia por ela era uma via de
mão dupla.

— Quando você disser sim para mim, Luna. Eu quero que seja
verdadeiro e que a última coisa a passar pela sua cabeça seja… o
que nos levou a ficar juntos. O que aconteceu não importa mais, me
ouviu? — Eu estava sendo brutalmente honesto aqui. — Não
importa, porque eu quero estar com você e quero que você também
queira estar comigo.

Ela chorou ainda mais.

— Me desculpe pelo que fiz. — Eu limpei uma de suas


lágrimas. — Foi desespero, eu só queria que a Lucy tivesse um
futuro diferente do meu…

— E ela terá. — Eu não deixaria Lucy ficar por muito mais


tempo debaixo do teto da mãe de Luna. Aquelas duas mulheres
eram tóxicas.

— Eu quero ficar e me casar com você. Quero tanto que isso


chega a machucar o meu peito.

Sorri. Não por vê-la sofrer, mas por compartilhar desse


mesmo desejo.

— Não precisa machucar, meu amor. Eu estou aqui e não


pretendo me afastar — garanti antes de beijá-la e vê-la ficar na
ponta dos pés, roçando as unhas em meu pescoço e se entregando
ao beijo de maneira apaixonada.

Afastei-me por um momento, apenas para olhar para a garota


que entrou na minha vida sem pedir licença e que arrasou com
tudo. Da melhor maneira possível.

— Que tal irmos para casa agora?

Ela assentiu, com um sorriso bobo estampado em seu rosto, e


segurou a minha mão com toda força que seus pequenos dedos
podiam. Como se temesse que algum dia eu a deixasse ir. O que eu
sabia que jamais iria acontecer.
Fim… ou quase…

Alexander Gerrard venceu a copa daquele ano e comprou um


lindo e simples anel para sua esposa. Um anel que realmente a
fazia se lembrar dele. O filho deles nasceu meses depois e foi
chamado de Lorenzo Gerrard Garcia. Lucy, a querida irmã de
Luna, foi morar com eles semanas após os dois se casarem, tudo
graças à interferência de Alex, que desejava mais do que tudo ver
sua esposa feliz. Luna se tornou uma excelente mãe e passou a
apoiar programas de ajuda a crianças com dislexia e distúrbios
neurológicos. Lucy, que sempre a defendeu, se formou anos depois
em medicina — a melhor da sua turma — e se tornou uma
especialista nesta mesma área. Ambas fizeram a diferença no
mundo da maneira delas.

Então, sim, pode-se dizer que depois de tudo o que aconteceu,


todos eles foram felizes para sempre.

P.S: Menos Lara e Loren. As duas, após gastarem todo o


dinheiro, tiveram que… trabalhar. Vejam só.
JAS SILVA

JAS SILVA é formada em Publicidade e Propaganda, e hoje se dedica exclusivamente à


carreira de escritora. Apaixonada por romances e finais felizes, suas histórias são
recheadas de paixões avassaladoras e amores possíveis. Com mais de dez livros
publicados, a maioria deles sendo best-sellers na Amazon, a autora cativa seus leitores
pela pitada sensual e intensa de suas histórias.

Suas principais obras: Aconteceu Você, Doce Prisão, Instinto Indomável e o seu mais
recente lançamento, O Barão do Café."

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