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BETTI ROSEWOOD

Tradução: Line
Revisão Inicial: Suli
Revisão Final: Karolina
Leitura Final: Ana Rita
Formatação: Ariella

BETTI ROSEWOOD
ELITE OF EDEN FALLS PREP – LIVRO QUATRO
BETTI ROSEWOOD

BETTI ROSEWOOD
AVISO
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BETTI ROSEWOOD
NOTA DO AUTOR

Bem-vindo, querido leitor, ao meu mundo sombrio, distorcido e lindo.

Se você nunca leu meus livros antes, um aviso de advertência é necessário.


Eu escrevo livros Darks - desde os personagens, até as situações em que eles
se encontram e o amor que fazem.

Você está lendo A Hurt So Sweet - Volume Quatro, o quarto e último livro da
história de Dex e Pandora. Os personagens desta série são distorcidos e
cruéis, e você está prestes a embarcar em um passeio selvagem.
Este livro faz parte de uma série e NÃO é independente.

Série Elite of Eden Falls Prep:


#1 A Hurt So Sweet – Volume um.
#2 A Hurt So Sweet – Volume dois.
#3 A Hurt So Sweet – Volume três.
#4 A Hurt So Sweet – Volume quatro.

BETTI ROSEWOOD
BETTI ROSEWOOD
1
PANDORA

Depois de algumas horas de viagem de trem, não me sinto tão


desesperada quanto quando vi aquele sinal positivo no teste de gravidez.

Alli é a companhia perfeita para a viagem de trem que pode mudar minha
vida para melhor. Ela me distrai com seu próprio passado quando estou em
pânico e faz o possível para me acalmar quando começo a chorar. O pensamento
do bebê que eu tanto queria, na verdade, crescendo na minha barriga de verdade
me deixa enjoada. E o que é ainda pior, fico questionando como Dex vai reagir.
Ele vai ficar chateado? Ele exigirá um teste de paternidade para a criança? Ele
ainda vai me querer, sem saber se é dele?

Eu me forço a empurrar os pensamentos o mais longe possível da minha


mente. Não me importo com Dexter Booth. Ele é uma história antiga - como
deveria ser, depois do que ele fez comigo, quando vazou aquela foto. Ele não
mudou nem um pouco. Ele ainda é o garoto cruel e distorcido que conheci. E
ainda assim, o pensamento de sua reação não sai da minha mente. E é aí que
entra Alli.
— Apenas respire, — ela me diz com um sorriso simpático, apertando
suavemente minha palma da mão. — Estou aqui para ajudá-la. No que você
precisar. Tudo vai ficar bem. Inspire, expire.
— Obrigada, — eu consigo dizer alguns momentos depois. — Caralho.
Como vou lidar com tudo sozinha? Eu não deveria ter deixado Eden Falls.

— Você fez a coisa certa ao sair. E olhe... Talvez possamos manter


contato. — Seu sorriso é caloroso, e quando ela puxa a mão, eu me agarro a ela,
meus olhos encontrando os dela desesperadamente. — Vou te dar meu
número... Você pode me ligar quando se instalar com sua mãe.

— Venha comigo. Por favor. Eu não quero ir sozinha. Eu preciso de uma


amiga.
— O que? — Ela ri inquieta. — Eu te disse, meu tio está esperando por
mim em sua casa quando eu descer em Stormcliff. Ele é meu último parente
vivo. — Ela morde o lábio inferior e eu dou um tapinha em sua mão. Ela me
disse que seus pais morreram em um trágico acidente de carro, e agora ela tem
que ir morar com um tio que nunca conheceu.
— Diga a ele que você vai ficar com uma amiga por um tempo. Você já
tem idade suficiente. — Eu aperto a mão dela novamente. — Por favor. Eu vou...
— Eu mordo meu lábio inferior, sem saber o que oferecer a ela. Pelo que eu sei,
minha mãe poderia ficar chateada em me ver e me expulsar antes que eu sequer
pisasse em sua casa. — Não tenho nada a lhe oferecer. Mas você disse que temia
ir morar com seu tio, Alli. Venha comigo. Realmente preciso de alguém e acho
que você também.

BETTI ROSEWOOD
Ela me encara com uma expressão indecisa antes de suspirar e se
recostar na cadeira. — Está bem.
— Mesmo? — Meu rosto se ilumina com um sorriso. — Você faria isso
por mim?

— O que mais eu tenho para fazer? — ela ri. — Pelo menos assim, terei
alguma emoção na minha vida. E não terei que morar com minha tia.
— Você não quer dizer tio? — Eu franzo minhas sobrancelhas.
— O quê? Ah, sim. — Ela sorri distraidamente. — Meu tio.
Nesse momento, a voz do operador do trem soa no alto-falante, avisando-
nos que estaremos chegando a Stormcliff em dois minutos. Alli pega sua
pequena bolsa e me oferece o braço.
— Venha, vamos fazer isso.

Enganchando meu braço no dela, eu a sigo até a plataforma quando o


trem para. Ela chama um táxi e olhamos para a pitoresca cidade à beira-mar,
enquanto dirigimos por ela. É lindo aqui, mais perto de Wildwood do que Eden
Falls era. Algo me diz que eu poderia morar aqui. Me sentir em casa aqui. Mais
do que jamais senti com minha segunda família.

Meu coração bate cada vez mais alto, enquanto viajamos pelos subúrbios
para o bairro de elite da cidade. O endereço da mamãe fica bem aqui, o motorista
nos diz, e estou surpresa com a quão rica é a área. Isso me faz pensar se minha
mãe se casou novamente. O potencial de ter de conhecer mais uma nova família
me faz desmaiar.

Chegamos na frente de uma garagem fechada que leva a uma casa linda
e moderna protegida por árvores altas. Parece que é principalmente vidro, algo
de uma revista de arquitetura. Posso ver uma quadra de tênis e uma piscina
atrás dela, e a propriedade fechada é enorme.
— É o mais longe que posso ir, — diz o taxista, apontando para o portão.
— Vocês, garotas, têm alguém para pegar vocês?

— Sim, — minto, dando a ele o resto do meu dinheiro. — Obrigada por


sua preocupação. Tchau.
Ele me lança um olhar duvidoso, mas eu o encaro de volta, desafiando-o
a dizer algo. Estou farta de ver pessoas me tratando como se eu não pertencesse
ao lugar.

Quando ele finalmente desvia o olhar depois de nos entregar nossa


bagagem, me sinto triunfante e desapontada ao mesmo tempo. Quase queria
que ele nos chamasse. Eu poderia ter usado isso como uma desculpa para voltar
para Eden Falls e esquecer que tudo isso aconteceu.
Alli e eu paramos em frente aos portões e eu respiro fundo antes de tocar
a campainha.
Uma voz estala no alto-falante. — Sim?

BETTI ROSEWOOD
— Olá, err, — eu gaguejo. — Meu nome é Pandora, Pandora Oakes. Eu...
hum...
— O que você acabou de dizer? — A voz soa emocional agora. — Pandora?
— Sim, Pandora Oakes. Eu...
Eu não consigo terminar minha frase quando os portões se abrem. Alli e
eu trocamos olhares surpresos antes de entrar na propriedade. Atravessamos a
calçada até a frente da casa. A porta da frente se abre e uma mulher aparece
no batente da porta.
— Meu bebê! — ela grita, correndo em nossa direção. Eu nem tenho a
chance de entender tudo antes que seu corpo colida com o de Alli e ela a abraça
com força, rasgando quando ela olha em seus olhos. — Ah, realmente é você.
Eu a reconheceria em qualquer lugar, minha linda menina. Você não mudou
nada desde que era um bebê.
Alli está pálida como um fantasma e eu limpo minha garganta
desconfortavelmente.
— Err... Eu sou Pandora, na verdade.
A mulher se vira para mim então, me dando uma chance melhor de
examiná-la. Ela tem estatura mediana, cabelo castanho brilhante e vários
procedimentos discretos que esticam o rosto contra os ossos do rosto. Eu posso
ver os sinais agora. Ela é linda, no entanto. E ela até se parece um pouco comigo.

— Ah, Pandora, — ela sorri com uma tristeza agridoce. — Claro. Sinto
muito, sua amiga aqui parece... — Ela dá mais uma olhada em Alli e balança a
cabeça. — Esqueça. Meu bebê!
Ela se joga para frente novamente, desta vez para mim. A cena dramática
pela qual Alli passou momentos atrás agora está se repetindo comigo como
protagonista. Minha nova amiga e eu trocamos olhares divertidos por cima do
ombro da minha mãe antes que a mulher se afastasse, enxugando os olhos
enquanto me olhava com fome.
— Sempre soube que você viria aqui, — diz ela, parecendo satisfeita
consigo mesma. — Eu até tenho um quarto preparado para você.
— Mesmo?

— Claro. — Ela me olha com uma expressão que só posso descrever como
maluca. — Estou tão feliz que você finalmente está em casa.

Ela faz sinal para que a sigamos para dentro com entusiasmo, e Alli e eu
trocamos olhares antes de segui-la em sua casa grandiosa.

Minha mãe deve ser rica. O interior de seu palácio moderno é decorado
com arte original, tudo banhado a ouro e buquês de flores insanos, espalhados
por todas as superfícies disponíveis. O cheiro de flores é tão pesado no ar que
minhas narinas se enchem dele, resultando em uma dor de cabeça instantânea.
— Flores lindas, — consigo guinchar. — Ocasião especial?

BETTI ROSEWOOD
— Ah, você gosta delas? — Mamãe me encara com um sorriso brilhante,
rindo. — Eu tenho muitos admiradores secretos... e não tão secretos! Agora
vamos, eu quero te mostrar o seu quarto!

— Você percebe que ela nem perguntou quem eu sou? — Alli murmura
em meu ouvido enquanto subimos as escadas, subindo os degraus de uma
enorme escada de mármore rosa. Nós duas rimos.

— Shh, ela vai ouvir você. Talvez ela tenha tomado um Xanie1 para se
acalmar, — murmuro. Ela parece um pouco fora de si, mas não vou julgar
minha mãe ainda. Meu coração já está batendo com mais entusiasmo com a
ideia de me ligar a alguém normal - bem... pelo menos meio normal.

— Aqui está! — Ela revela um quarto incrível. Não é apenas um quarto


genérico - é decorado pessoalmente com uma pessoa em mente. E tendo estado
perto de pessoas obcecadas com a porra da Lily Anna, eu sei imediatamente que
esta sala não foi projetada para mim. Este aqui foi para minha quase irmã,
morta. — Você simplesmente não ama isso?
— Sim, é incrível, — murmuro, meus olhos procurando por Alli, minha
única tábua de salvação neste lugar que está ficando mais estranho a cada
segundo. — O que você acha?
Ela sorri, colocando para baixo uma figura de Alice no país das
maravilhas que ela estava admirando para se inclinar e sussurrar em meu
ouvido. — Eu acho isso incrível! Sua mãe é muito legal.

Eu concordo. Não concordo com ela, mas pareceria ingrata se


mencionasse Lily Anna agora.

Sinto-me humilhada e um pouco enjoada. Eu sinto ânsia, meus olhos se


arregalando de horror. Eu pressiono a mão na minha boca, meus olhos
dançando pela sala em pânico. Antes que eu pudesse me conter, vomitei em
cima da cama.

— Oh, — minha mãe murmura com desgosto que estranhamente se


transforma em prazer no próximo segundo. — Oh, olhe só para isso. Assim como
eu, quando estava grávida!
— O-o quê? — Eu gerencio. Alli e eu trocamos olhares em pânico, mas
mamãe parece felizmente inconsciente da conversa silenciosa que está
acontecendo entre nós. — Como você...
— Sei? — Ela sorri docemente, dando um passo à frente. Uma de suas
mãos encontra minhas costas e me endireita, a outra leva meu queixo mais alto
no ar. Ela sorri com orgulho e meu coração pula uma batida. É a coisa mais
maternal que aconteceu comigo desde que deixei Wildwood e minha família real.
Eu quero mais disso. — Nós somos sangue, afinal, Pandora.

***

1
Xanax – Calmante.

BETTI ROSEWOOD
Três dias depois de minha visita e de Alli à minha mãe, estou mais
confusa do que nunca, e Alli parece compartilhar minha opinião - minha mãe é
um pouco... maluca.

Eu a vi tomando pílulas em ocasiões demais para contar. Ela fuma bem


na nossa frente - e também não é cigarro. Ela muda de maternal e carinhosa
para completamente desapegada e indiferente. Alli e eu só estamos aqui há
alguns dias e já testemunhamos tantas mudanças de humor que parei de contar
quando deu doze no primeiro dia.
Ela é um curinga. Mas, ao mesmo tempo, seus doces momentos a tornam
perigosamente cativante. E o fato é que não tenho outro lugar para ir. Portanto,
fico na casa das maravilhas em Stormcliff, esperando que algo aconteça.

O que eu realmente quero é que Dexter venha me buscar e me leve de


volta para Eden Falls.

Mas a ideia de querer isso dói. Ele é um idiota que só quer me machucar
por diversão. E ainda estou tão desesperadamente, irrevogavelmente
apaixonada por...
— Oh, meu Deus.
— Hm? — Levanto os olhos do livro em minhas mãos que está na mesma
página há vinte minutos.
Alli está sentada na frente de uma TV no meu quarto. Eu me levanto do
meu assento na janela e caminho até ela. Já adquiri o hábito de repousar a
palma da mão de forma protetora sobre a pele esticada da minha barriga e,
quando me vejo fazendo isso de novo, rapidamente puxo minha mão para trás,
fingindo que não tinha feito nada.
Eu não posso me importar com esse bebê.
Não quando eu nem sei se terei permissão para mantê-lo quando alguém
descobrir que ele existe.

— Pandora... — Alli engole em seco, pulando e bloqueando minha visão


da tela. — Vamos dar um passeio.
— O que? Por que?

— Não olhe para isso, — ela me implora, mas eu franzi minhas


sobrancelhas enquanto a evito e olho para a tela da TV.

— E essa foi Kayla Greene com a última atualização sobre o cenário que
se desenrolava em Eden Falls, — explica um âncora de notícias de aparência
sombria. Sinto que vou vomitar de novo.

— O que aconteceu? — Eu sussurro assim que a imagem de Dexter pisca


na tela. Eu me sinto vazia. Outra foto aparece e eu franzo as sobrancelhas para
a tela.

BETTI ROSEWOOD
— O suspeito está agora sob custódia depois de ser preso pelo
assassinato de seu melhor amigo, Lai, — lê o âncora. — Mais às onze.
— Sinto muito, — sussurra Alli. — Eu queria te dizer eu mesma... eu não
tinha ideia de que isso tinha acontecido.
— Lai está morto, — eu gaguejo.
Alli agarra minha mão, segurando-a com força. — Oh, Deus, Pandora.
— Mas quem o matou?

Ela franze as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado. — Oh,


Pandora... Querida.
— O que? — Eu viro meu olhar em pânico para o dela. — Não foi ele. Não
poderia ter sido. Dexter nunca... ele nunca...
Ela apenas olha para trás, balançando a cabeça em descrença. — Sinto
muito, Pandora. Mas Dexter Booth é um assassino.

BETTI ROSEWOOD
2
DEXTER

Eles me colocam no carro da polícia e eu passo o caminho até a delegacia


olhando entorpecido pela janela do passageiro.

Minha vida acabou. Meu melhor amigo está morto e minha cabeça está
cheia de ideias sobre como eu poderia ter evitado o desastre que tirou a vida de
Lai. Mas agora é tarde demais. Ele se foi.

Minhas mãos formam punhos nas algemas. Nunca me permiti ser fraco,
mas o assassinato, tornou quase impossível não... sentir. Para alguém que
trancou todas as emoções atrás de uma parede de tijolos por uma década, é
uma proeza impossível seguir em frente agora. É como se a represa que segura
meus pensamentos mais íntimos, estivesse rompendo. Estou me aproximando
de um colapso. Olhando para o cano da arma. E não sobrou ninguém para me
ajudar.
Lai está morto.
Meu melhor amigo de infância, o homem que ficou ao meu lado durante
a morte de meus pais, que me traiu muitas vezes, que se importava mais comigo
do que qualquer outra pessoa. Ele se foi, sem chance de consertar as coisas,
para esquecer os erros. Acabou.

A viatura para em frente à delegacia. Há repórteres aglomerados do lado


de fora da delegacia e eu gemo por dentro.

— Existe alguma maneira de entrarmos despercebidos? — Murmuro


quando um dos policiais abre a porta.
Ele nem se incomoda em responder. Em vez disso, ele me puxa com força
para fora do carro e me leva escada acima até a delegacia. Não me preocupo em
cobrir meu rosto enquanto as câmeras piscam e os jornalistas começam a gritar
meu nome. Isso tudo acabará em breve. É um pesadelo, mas já lidei com coisas
piores.
Eles me colocaram em uma sala com uma daquelas janelas unilaterais.
Eu fico olhando para o meu próprio reflexo, totalmente ciente de que há alguém
atrás do vidro que eu não posso ver, olhando de volta para mim. Eu não me
permito ficar emocionado. Em vez disso, fico ali sentado durante os quarenta e
cinco minutos inteiros que me fazem esperar para ver o detetive designado para
o caso.

Finalmente, o que parecem horas depois, a porta se abre e um homem


baixo e atarracado entra. Ele está vestido com um terno e mostra-me seu
distintivo antes de desabar no assento oposto a mim, enxugando a testa suada
com um lenço.
— Então, você é o assassino. — Sua declaração de abertura me deixa
doente.

BETTI ROSEWOOD
— Eu não matei Lai.

— Ouvi dizer que você confessou na cena do crime. — Suas sobrancelhas


espessas se erguem e ele me examina criticamente. — Nós vamos ter um
problema aqui?

— Eu não sabia o que tinha acontecido, — murmuro. — Mas você pegou


o cara errado. A pessoa que você precisa procurar é...

— Tudo no seu devido tempo, — ele interrompe, levantando a mão. Ele


não dá a mínima para o que tenho a dizer. Em sua mente, eu sou o culpado, o
assassino. Ele não vai mudar sua opinião sobre mim. Ele só me quer atrás das
grades. — Primeiro, vamos falar sobre seu relacionamento com a vítima.

Eu o acompanho pela minha história com Lai. Eu não pulo nada. Falo
sobre Pandora, sobre os outros caras, os jogos doentios e malucos que jogamos.
O detetive me observa com uma expressão impassível, de vez em quando
anotando algo em seu bloco de notas. Há uma câmera apontada para mim. Eu
sei que isso está sendo filmado. Assim que termino de falar, o detetive dá um
suspiro.
— Então, você está pronto para confessar?
— Não, — eu rosno. — Estou pronto para falar sobre... Lily Anna Oakes.
Ele franze as sobrancelhas. — Lily Anna Oakes morreu.
— Não, ela não morreu, — eu balancei minha cabeça com veemência. —
Ela... nós... encenamos a morte dela. Ela está morando comigo, há anos. Em
segredo.
Ele ri alto, olhando para mim. — Então onde ela está?
Eu encolho os ombros. — Isso é para você descobrir, detetive. Tudo que
eu sei, é que ela estará ansiosa para rastrear Pandora Oakes.

Ele anota algo antes de voltar sua atenção para mim. — Pandora Oakes.
Onde ela está?
— Sumida, — eu assobio. — Ela... nós brigamos. Eu acredito que ela saiu
para ver sua mãe biológica.

— Vamos pesquisar isso, — ele murmura. — Vou fazer algumas ligações.


Agora, sobre essa confissão?
— Eu não sou culpado, porra. — Eu olho para o homem. — E eu gostaria
de falar com um advogado agora, por favor.
O homem suspira, cruzando as mãos. — E como, por favor, diga, você vai
pagar um?

Suas palavras fazem a realidade do que está acontecendo amanhecer em


mim. Eu não tenho nada. Desde que comprei a mão de Pandora em casamento,
fiquei sem um tostão. Terei que vender a propriedade também.
— Eu acredito que tenho o direito a uma ligação, — eu digo.

BETTI ROSEWOOD
— Você tem. Você gostaria de fazer isso agora?

Concordo com a cabeça e sou levado a um telefone no escritório do


detetive. Não sei para quem ligar. Quem me ajudaria. Finalmente, eu disco o
número de Pandora, o celular que dei a ela. Mas a linha apenas toca e toca.
Ninguém atende.
O detetive termina minha ligação com uma expressão de autossatisfação.
— Nós nomearemos um advogado para você.
— Mas, eu...
— Você está oficialmente detido pelo assassinato, — ele continua. —
Vamos levá-lo para sua cela agora.
— Espere um minuto, — eu assobio. — E quanto a Lily Anna?

— Sua pequena história sobre a garota morta? — Ele balança a cabeça.


— Eu não acredito nisso.

Minhas unhas cravam nas palmas das minhas mãos. — Você tem que
acreditar em mim. Foi ela quem matou Lai, e ela é perigosa pra caralho. Ela
poderia, e vai, matar de novo. E eu acho que Pandora é sua próxima vítima.
Ele me ignora, chamando dois guardas para entrar no escritório. Eles me
puxam para cima e eu resisto a eles, exigindo que minha voz seja ouvida. Mas
o detetive faz os policiais me conterem. Ele vem até mim e sorri na minha cara.
— Você e sua família fundadora distorcida são a razão desta cidade ser
um desastre de trem, — ele me diz friamente. — E eu farei tudo ao meu alcance
para colocá-lo atrás das grades, onde você pertence.

Ele sai antes que eu tenha a chance de responder. Os guardas me


conduzem a um chuveiro coletivo. Sou forçado a ficar embaixo da água fria,
depois recebo um uniforme laranja para vestir. As algemas estão de volta e sou
conduzido para uma cela. Pelo menos há apenas uma cama - uma pequena
misericórdia. Mas serve apenas para me lembrar que essas pessoas pensam que
sou perigoso. Um maldito assassino.

Desabando no colchão fino como papel, fico olhando para a parede onde
mensagens obscenas foram esculpidas em pedra e tijolo. Estou enjoado. Minha
vida deu uma guinada em uma série de eventos que eu não poderia ter previsto.
E, no entanto, minha principal preocupação é Pandora.

Meu estômago se revira com o pensamento dela vendo aquela foto


espalhada por toda a escola. Ela deve ter se sentido tão traída.
E agora, Lily Anna está lá fora também, e ela está determinada a
machucar meu brinquedo e trazer justiça à cidade que destruiu a todos nós.

A vida como eu a conhecia acabou. A única esperança que tenho de dar


o fora daqui agora, é Emilian Oakes - e tenho a sensação de que ele não dá a
mínima se eu apodrecer na prisão ou não, especialmente depois de descobrir
que Lily Anna está viva e que eu tenho mantido ela trancada por anos.

BETTI ROSEWOOD
Minha mente está cheia de memórias. Imagens de Pandora me levantam
e me derrubam no segundo seguinte. Meus próprios sentimentos confusos pela
garota me fazem sentir mal. Eu não posso amá-la. Eu não amo ninguém. Não
posso me permitir isso - não quando isso me custaria tudo.

Mas o pensamento dela não me deixa. Eu imagino o rosto dela. Seu corpo.
Cada canto e recanto dela, explorado, reivindicado em meu nome. Minha
propriedade. E agora ela se foi, e eu estou atrás das grades. E, no entanto, a
única coisa que me importa é a segurança dela.
Eu faço um trato com Deus naquele momento, embora nunca tenha sido
religioso. Mas pensar no perigo em que meu brinquedo está, me deixa
desesperado. Eu oro então, oro pela segurança dela, mesmo que isso signifique
ficar atrás das grades. Para sempre.

Meu pau endurece com o pensamento dela. As paredes aqui são finas e
posso ouvir alguém gritando no corredor. Um guarda está meio adormecido em
seu posto a poucos metros de mim.
Eu massageio a protuberância em minhas calças. Eu preciso dela.
Preciso do alívio, da distração, da porra da sensação de Pandora Oakes sendo
minha novamente. Eu deito na cama e puxo minhas calças para baixo. Com
culpa, minha mão encontra meu pau, envolvendo-se em torno da cabeça
carnuda, acariciando, precisando do alívio que só Pandora foi capaz de me dar.

Surgem bolhas na ponta do meu pau e eu uso o polegar para espalhar


por todo o corpo. Meus dentes cavam em meu lábio inferior, queimando
dolorosamente a pele. Eu não consigo evitar.

Imagens enchem minha cabeça. Pandora nos vestidos de Lily Anna.


Pandora sem nada.
Meu pau fica cada vez mais duro e eu o massageio com movimentos
longos que não trazem nenhuma satisfação. Não é a mão de Pandora que está
fazendo isso comigo, e minha própria palma é uma solução barata para o
problema.
Eu me pergunto se algum dia vou conseguir senti-la novamente.
Eu gemo o nome dela enquanto me toco. Aproximo-me cada vez mais, à
beira de um orgasmo que não vou me permitir ter. Não até que ela esteja de
volta, segura em meus braços - ou tão segura quanto ela puder estar, quando
eu estiver por perto.

Trazendo-me para a borda, me forço a parar toda vez que chego muito
perto. Meu pau está pingando, ansioso para gozar, desesperado para ser
enterrado em suas dobras sedosas. Mas ela não está aqui. Ela foi embora.
Frustrado, eu bato meu punho na parede. A dor cega. Meus dedos se
abriram, sangue escorrendo pela minha mão, mas eu mal percebi, chegando
perto de um orgasmo novamente enquanto acariciava meu pau cada vez mais
perto.

BETTI ROSEWOOD
Seu nome é um sussurro moribundo em meus lábios. O sangue escorre
pela minha virilha enquanto eu empurro com movimentos rápidos e raivosos. O
tempo passa. Eu passo o que devem ser horas deitado naquele colchão que
range, espalmando meu pau ao som dos outros presos gritando, rindo e
gemendo de prazer semelhante ao meu.

Não sou nada agora. Fui reduzido a escória. Ninguém me quer mais em
sua vida. Sem meus pais, Lily Anna e Pandora, não sou nada.

Lembro-me de uma história que minha mãe costumava ler para mim
quando eu era criança, sobre um menino que desapareceria se ninguém se
lembrasse dele. Tento desesperadamente me lembrar do final. Para lembrar
como ele resolveu o problema. Mas não há nada lá - apenas o som suave e
angelical da voz da minha mãe e suas mãos bem cuidadas tocando minha testa
enquanto ela me colocava para dormir.

Tento adormecer, mas está muito barulhento. O guarda acorda em algum


momento para trocar de turno com outro homem. Eu tiro minha mão do meu
pau latejante. Eu fecho meus olhos e finjo que estou em algum lugar, em
qualquer outro lugar.
Eles não me dão comida.
Eu uso o banheiro no canto da cela. Não há janela. O tempo passa
terrivelmente devagar. Não tenho como saber quantas horas se passaram.
Preocupação e culpa fodem com minha cabeça, me fazendo perder a cabeça.

Começo a entender como foi para Lily Anna estar trancada em um lugar
do qual ela não podia escapar. E não posso deixar de me perguntar se isso é
tudo culpa minha.
Por concordar com seu plano.
Por prendê-la.
Por foder sua mente além do reparo.
Mas então me lembro do que ela fez. Que ela matou meus pais. Ela é um
monstro. E ela precisa ser levada à justiça.
Mais duas mudanças de guarda e um sanduíche seco pra caralho depois,
um guarda se aproxima da minha cela. Estou pronto para ir, ereto e orgulhoso,
determinado a levar Lily Anna à justiça.
— Alguém está aqui para ver você, Booth, — murmura o guarda. Eu o
reconheço como o irmão mais velho de um dos alunos da Prep. Ele parece saber
quem eu sou também e parece quase envergonhado com a inversão de papéis.
Oh, como os poderosos caíram.
Eu o sigo pelo corredor, minhas mãos ainda algemadas.
Caminhamos para a mesma sala de interrogatório em que eu estava
antes, e ele trava as algemas na mesa em que estou sentado. Eu me sinto como
um maldito criminoso.
E a pior parte é... agora sei que sou.

BETTI ROSEWOOD
O que fiz com Lily Anna é imperdoável.
E eu mereço ser punido por isso.

BETTI ROSEWOOD
3
PANDORA
3 MESES DEPOIS

Este é meu novo normal. Alli é minha nova melhor amiga. Minha mãe
continua a me confundir com sua atitude quente e fria que muda a cada cinco
minutos. E quanto à minha vida em Eden Falls... acabou. O pesadelo ficou para
trás.
Não entrei em contato com ninguém da cidade. De má vontade,
acompanhei a notícia da prisão de Dexter após o assassinato de Lai. Eu não
queria acreditar que era verdade, mas tudo apontava para isso - Dex havia
matado seu melhor amigo e agora ele iria cumprir uma longa, longa sentença.
O juiz que presidia seu julgamento estava determinado a fazer de Dexter um
exemplo. Para colocar Eden Falls de joelhos. Para acabar com a supremacia dos
Primogênitos da cidade de uma vez por todas.
E então há a questão do bebê. A vida crescendo dentro de mim. Eu soube,
desde o momento em que descobri que estava grávida, que não poderia me livrar
do bebê. Nem mesmo sabendo que não tinha ideia de quem era o pai. Nem
mesmo com a possibilidade de o pai do bebê ser um assassino.
— Eu simplesmente não entendo, — murmuro enquanto Alli alterna
entre as sugestões da Netflix na TV. — Por que ninguém veio atrás de mim?
Nenhum deles se importa?
— Achei que você não queria voltar para Eden Falls, — murmura Alli,
finalmente decidindo por um episódio de Charmed. — Eu pensei que você queria
fugir de uma vez por todas.
Eu não respondo, mordendo meu lábio inferior. Ela está certa. Nunca
pertenci a Eden Falls. Nunca foi um lar - não como Wildwood.
Com um suspiro exasperado, Alli pausa o programa de TV.

— Talvez você devesse voltar para lá, — diz ela, fazendo minha cabeça
erguer e meu coração bater mais rápido.
— Por que você diz isso?
— Aqueles homens que arruinaram sua vida... e seus filhos. Você não
acha que eles merecem pagar pelo que fizeram a você?

— Acabou agora, — murmuro, apoiando protetoramente a palma da mão


na minha protuberância crescente.
— Mas você não está preocupada que eles machuquem outra pessoa? —
O olhar de Alli está voltado diretamente para mim e sinto a vergonha queimar
minhas bochechas. — Você não acha que eles vão fazer tudo de novo? Eles só
precisam de uma nova vítima...

BETTI ROSEWOOD
Ela está certa. Se eu me afastar de Eden Falls e seus habitantes, não
consegui nada. O que preciso fazer é mudar a forma como a cidade é
administrada. Eu preciso encontrar uma maneira de recuperar meu poder. E a
única maneira de fazer isso é voltar para onde tudo começou.

— Vou pensar sobre isso, — digo, e Alli me dá um sorriso de satisfação,


acenando com a cabeça e voltando sua atenção para a TV.
Eu faço o meu melhor para me concentrar na série, mas minha mente
está em outro lugar. Preciso falar com alguém que está na mesma situação que
eu. Alguém que se libertou. E só conheço uma pessoa que conseguiu escapar
de Eden Falls.

Dou uma desculpa e saio do quarto. Eu preciso falar com minha mãe.
Como ela sempre está entusiasmada com alguma coisa, estive atrasando essa
conversa por muito tempo. Mas é hora de finalmente falarmos sobre tudo - meu
pai, Lily Anna, e a cidade malvada da qual queria escapar há meses.

Mas há algo sobre Eden Falls, algo que está me chamando como o canto
de uma sereia, exigindo que eu volte. Sei que, no momento em que pisar na
cidade novamente, serei arrastada para baixo pelo drama e pela hierarquia do
lugar. Tem sido revigorante não ser tratada como a vadia de ninguém em
Stormcliff. Para poder viver minha vida da maneira que eu quiser. Mas também
sei que minha consciência não vai me deixar em paz até que eu mude as coisas
para o próximo recém-chegado na cidade.
Encontro minha mãe esparramada em uma espreguiçadeira de veludo
rosa na área de estar. Ela está comendo bombons de chocolate enquanto uma
mulher de cabelo curto trabalha em suas unhas, e seus olhos brilham quando
eu entro na sala.
— Lily... Err, Pandora! — Ela sorri, e meu coração bate com rejeição
enquanto ela faz um gesto para que eu me aproxime. — Eu estive me
perguntando onde você estava.
— Por quê? — Sento-me no sofá de couro acolchoado ao lado dela.
— Você queria falar comigo, não é? — Seu sorriso é beatífico, me fazendo
pensar mais uma vez como ela pode ser tão observadora para alguém tão
totalmente descuidada. — Bem, aqui estou eu, querida. Xô.
Ela aponta para a manicure, que faz uma careta para mim antes de sair
da sala com seu equipamento. Mamãe sopra suas unhas vermelho-sangue e me
dá um grande sorriso.

— Você quer falar sobre o bebê? — ela pergunta candidamente. — Eu sei


que é um pouco tarde, mas ainda há maneiras de se livrar disso, você sabe.
— Não. — Eu nem mesmo tento esconder o tom de horror na minha voz.
— Eu não vou me livrar disso, mãe.

— Oh. — Ela parece perplexa com a minha declaração, como se ela não
tivesse entendido muito bem. Mas sua expressão muda no próximo instante. —
Bem, o que é então, querida? Diga logo. Não tenho o dia todo.

BETTI ROSEWOOD
Sua mudança de humor é instantânea e assustadora, mas tento não
deixar isso me afetar. Amasso o tecido do meu vestido esvoaçante entre os
dedos, evitando seu olhar.
— Eu... eu queria falar com você sobre Eden Falls, — finalmente consegui
dizer.
— Ah, aquele inferno. — Ela ri alto melodicamente. — A melhor decisão
que já tomei foi deixar aquele lugar, minha querida.
— Mas você nunca sentiu falta? — Culpada, eu rio. — Emilian, seu ex-
marido... Você não se pergunta como seria sua vida se você nunca tivesse ido
embora?

Seu rosto fica mais sério e ela se inclina para frente, segurando minha
palma entre as mãos recém-cuidadas.
— Eu não poderia ter ficado lá. Eu tive que sair.
— Compreendo.

— Ele teria me arruinado, — ela continua, balançando a cabeça. — Você


não conhece Emilian Oakes como eu.
— Você o amou uma vez, — eu a lembro.
— Isso foi há muito tempo atrás...
— Mas ainda assim. — Eu sei que estou pressionando, mas não consigo
evitar. É como se procurasse um motivo - alguém que me diga que devo voltar
e enfrentar a música, com minha barriga crescendo e tudo que agora sei sobre
a cidade. — Você o amava. O suficiente para ter um filho com ele. O suficiente
para construir uma vida em Eden Falls. Você não se arrepende de não ter
voltado?
Ela se afasta então, brincando com um anel em seu dedo. Ele tem um
diamante enorme e falo baixinho para quebrar a tensão. — É um lindo anel.
Ela ri amargamente. — Meu anel de noivado.
— Você ainda usa?
Ela concorda. — Eu não posso evitar. Eu o amo, você sabe.
Agora é minha vez de concordar. — Entendi.

— Ele era uma pessoa má, — ela murmura. — Mas eu não conseguia
ficar longe, nem mesmo quando as pessoas me avisaram para ficar longe dele.
Você já se sentiu assim?

Eu engulo o nó na garganta, assentindo. Não confio em mim mesma para


falar.

— Então você sabe. — Mamãe parece mais lúcida do que desde que a
conheci, e compartilhamos um raro momento de compreensão quando nossos
olhos se encontram. — Esses homens são ruins para nós... mas não podemos

BETTI ROSEWOOD
resistir a eles. Talvez devêssemos estar com eles... Talvez eu não devesse ter
resistido tanto. Às vezes me pergunto se esse é o meu castigo.
— O que você quer dizer?

Ela encolhe os ombros. — As pílulas. O álcool. Talvez eu esteja fazendo


tudo isso para esquecer isso... que não sou mais dele.

Seu lábio inferior balança e eu pisco para afastar as lágrimas dos meus
olhos. Eu entendo melhor do que ela poderia imaginar. A situação dela com meu
pai parece semelhante ao que estou passando com Dex. E ainda não sei qual de
nós fez a escolha certa - ela, por ir embora, ou eu, por voltar.
Já sei que vou voltar agora.
Não há como evitar.

Dexter - e o resto dos Primogênitos, junto com papai - merecem saber


sobre o bebê.
— Acho que tenho que voltar, — admito com a voz trêmula.
— Eu sei. — Mamãe dá um tapinha na minha mão. — Assim que você
estiver pronta, querida. E você é sempre bem-vinda aqui, você sabe disso.
Levanto-me do sofá, grata pelo raro momento de companhia. Sinto seu
olhar nas minhas costas quando saio da sala, voltando para o andar de cima,
onde os olhos de Alli ainda estão grudados na tela da TV. No momento em que
eu entro, ela desliga, virando-se para me encarar com uma expressão
preocupada.

— Quantos Xanies hoje? — Ela pergunta, e eu encolho os ombros,


sentando na cama com um suspiro.
— Acredite ou não, ela parecia muito lúcida. Tivemos uma boa conversa.

— Fico feliz, — Alli sorri. — Então, qual é o plano? Vamos voltar para
Eden Falls?
— Sim, — eu aceno, observando-a sorrir. Ela já ouviu muitas histórias
sobre a cidade agora. Ela está ansiosa para ver por si mesma, embora eu não
entenda muito bem por que ela quer tanto conhecer. A maior parte do que eu
disse a ela é terrível, mas nunca conheci alguém tão ansioso para entrar na toca
da cobra.
— Isso é bom, — ela concorda. — Está na hora, eu acho. Você não está
animada?
Eu pondero sua resposta. Deus sabe o que me espera quando eu voltar.
Terei que visitar Dexter na prisão, contar a ele sobre o bebê. Terei que enfrentar
todos os Primogênitos, assim como meu pai. O medo se instala na boca do meu
estômago, misturando-se com a excitação para formar uma mistura peculiar.
— Eu suponho, — eu finalmente murmuro. — Você está?
— Sim, — ela sorri. — Vou conhecer o esquivo Dexter Booth...

BETTI ROSEWOOD
Eu rio, mas não consigo evitar a pontada de ciúme que suas palavras
enviam pelo meu corpo. Alli é bonita. Tipo, muito mais bonita do que eu. E não
posso deixar de me perguntar o que Dex pensaria dela.
— Mas há outra coisa que você deveria saber, — murmura Alli então,
desviando o olhar para esconder a culpa em seus olhos. — Eu encontrei algo.
— O que?

Ela não vai encontrar meus olhos. Em vez disso, ela simplesmente passa
por cima de um papel arrancado de um talão de cheques. Meus olhos se
arregalam quando eu percebo o que diz.

O cheque é de duzentos mil dólares. E é endereçado à minha mãe. O


cheque está gravado com um nome que conheço muito bem - o de meu pai.

— O que é isso? — Eu pergunto, tentando esconder o tremor na minha


voz.
Alli encolhe os ombros. — Acho que seu pai está pagando a sua mãe.
— Você acha que ele sabe que estamos aqui? — Eu sussurro.
— Provavelmente... quero dizer, com certeza ele sabe.
— Mas ele me disse que ela estava morta, — eu consigo dizer em pedaços.
— E ele está em contato com ela esse tempo todo?
— Sinto muito, Pandora.
Tenho vontade de gritar, mas consigo me conter e devolvo o cheque a Alli.
— Onde você encontrou isso?
— Foi... no foyer, — diz ela, rapidamente desviando os olhos. Algo me diz
que ela está mentindo e decido pressionar mais.
— Ela não iria simplesmente deixar isso por aí. Você mexeu nas coisas
da mamãe?

Os lábios de Alli formam uma linha defensiva e ela cruza os braços. —


Você merece saber a verdade, Pandora. Muitas pessoas têm escondido coisas de
você.

Não posso negar isso e, embora queira dizer a ela para não bisbilhotar de
novo, não consigo me forçar a fazer isso.

Então, papai sabe que estou aqui, mas não fez nada para me levar de
volta a Eden Falls. Não sei se estou aliviada ou desapontada.

— Estou feliz que você decidiu voltar, — Alli fala novamente. — Aquela
cidade, e especialmente os homens que vivem nela, merecem ser colocados de
joelhos. E você pode ser a pessoa certa para isso, Pandora Oakes.

Eu olho para ela e sorrio. A luz que entra pela janela saliente da sala
ilumina Alli, deixando-a ainda mais bonita. O medo me domina com força, mas
faço o possível para ignorá-la. Dex se preocupa comigo. Ele não iria
simplesmente me abandonar ao ver uma garota bonita... Não é?

BETTI ROSEWOOD
— E a melhor parte, — Alli continua, pegando minha mão na dela e
sorrindo maliciosamente. — É que vou ajudá-la em cada passo do caminho. Eu
sei exatamente como derrubá-los. Aqui está o que vamos fazer...

BETTI ROSEWOOD
4
DEXTER

— Booth.

Eu olho para longe da parede, para o guarda que está destrancando


minha cela. Devo ter uma visita - provavelmente o advogado de merda que que
me foi nomeado pelo estado. Eu me levanto da cama dura e áspera e me
aproximo das barras, segurando meus pulsos para que o policial possa me
algemar. Estou bem versado nisso agora. Estou preso aqui há meses, sem
esperança de sair tão cedo.
— Não há necessidade de algemas hoje, — murmura o guarda,
destrancando a porta e me mostrando o corredor. — Você está livre para sair,
Dexter Booth.
Meu coração fica preso na garganta. Eu estive esperando e esperando
para ouvir essas palavras, mas elas nunca vieram.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, temendo que ele esteja apenas
brincando comigo, aproveitando minha miséria.
— Sua fiança foi paga, — o guarda dá de ombros, bocejando. Ele não dá
a mínima para isso, ele só quer se livrar de mim o mais rápido possível. — Você
vem ou não?

Eu o sigo pelo corredor, pensando quem seria louco o suficiente para


pagar a fiança de um milhão de dólares.
Não Emilian Oakes. Ele me odiava desde sua preciosa Lily Anna.
Não Pandora - ela não tem nada e se foi, de qualquer maneira.
Eu não tenho mais ninguém.
Tudo o que sei é que eles finalmente encontraram alguém que se lembrou
de mim da festa do dormitório a que fui naquela noite em que Lai morreu.
Demorou meses, mas finalmente, eu tenho um álibi. E como eles não puderam
me colocar na cena do crime durante a hora da morte de Lai, as autoridades
permitiram que a fiança fosse paga no meu caso. Ainda assim, eu não vi uma
maneira de sair daquela cela de prisão - não quando eu não tinha mais ninguém
do meu lado.

Preocupação e descrença correm em minhas veias enquanto eu coloco


minhas próprias roupas - as com que eu fui trazido para a delegacia meses
atrás. É estranho estar em qualquer coisa que não seja a porra do uniforme
laranja, nada lisonjeiro, que estou usando há muito tempo.
Sou conduzido para fora da instalação e por um longo corredor
subterrâneo. Finalmente, eu apareço na frente dos portões que levam à prisão.
Não tenho ideia de como diabos vou voltar para casa daqui. Não tenho um
centavo no meu nome, então acho que terei que pedir carona. Eu, o maldito
Dexter Booth. Oh, como os poderosos caíram.

BETTI ROSEWOOD
Mas quando os portões se abrem, percebo que não vou precisar de uma
carona, afinal.
Porque bem ali, ao lado de um Escalade branco brilhante, estão os amigos
que pensei ter perdido. Easton, Caspian e Julian erguem os olhos ao me ver
saindo da prisão. Eu me preparo para o impacto do primeiro golpe, mas nunca
acontece.
Eu me aproximo deles com cautela. Nenhum deles se move, eles estão
apenas me encarando.
Finalmente, Julian fala.
— Faz muito tempo, Booth.
Eu concordo. Estou enjoado. O grupo não parece o mesmo sem Lai e,
pela primeira vez desde que ele morreu, sinto a perda do meu melhor amigo
como um soco no estômago. Eu gemo, passando a mão pelo meu cabelo escuro
e rebelde.
— Ele realmente se foi, não é? — Murmuro. — Ele nunca vai voltar.
O peso da verdade me atinge como uma tonelada de tijolos e eu me inclino
contra o carro de Caspian, me sentindo mais doente do que nunca. Os meninos
abrem espaço para mim e nós ficamos parados, ainda me perguntando se eles
estão aqui para acabar comigo de uma vez por todas. Eu não os culparia. Não
sei se ainda mereço um lugar na terra. Não depois de tudo que aconteceu, porra.
Mas ainda tenho um propósito - uma força motriz que está me empurrando para
frente.
Preciso encontrar Pandora e preciso matar Lily Anna pelo que ela fez. E
eu não vou descansar até que essas duas coisas estejam sordidamente
acabadas e feitas.
Uma mão pesada pousa em meu ombro e eu olho nos olhos de Easton.
Não sei se ele vai me confortar ou me bater. Mas eu vejo a dor em seus
olhos - a dor de perder um de nós. Lai realmente se foi e nosso grupo nunca
mais será o mesmo, não sem ele.
— Eu sei que você não fez isso, — Easton fala, suas palavras fazendo um
peso gigante sair do meu peito. — Mas você precisa começar a falar, Booth.
Porra. Você precisa nos contar a verdade.
Eu aceno e aponto para o carro. — Podemos ir para a minha casa?

Todos nós entramos no carro, com Caspian no banco do motorista. A


viagem para minha casa leva trinta minutos, e nós os passamos sentados em
silêncio. Ainda não consigo falar. Eu preciso envolver minha mente em torno do
que aconteceu primeiro.
Finalmente, a visão familiar da Mansão Booth aparece na nossa frente, e
fico chocado quando alguém abre o portão para nós. Estacionamos na garagem
e vejo uma figura que conheço muito bem em pé na frente da casa.
Anders.

BETTI ROSEWOOD
Saímos do carro e meu mordomo e eu nos olhamos. Ele parece cansado,
mas determinado. Anders nunca foi de mostrar afeto fisicamente, mas quando
ele dá um tapinha nas minhas costas, sinto como se ele estivesse me dizendo
que tudo vai ficar bem.

— O que você está fazendo aqui? — Eu murmuro. — Não posso mais


pagar você, Anders. Você não soube? Estou falido.
— Eu não me importo, — ele balança a cabeça. — Estou aqui para ajudar,
Mestre Booth. Não quero pagamento.
Emoções ameaçam romper minha fachada fria como pedra, mas, como
sempre, eu as empurro de volta e dou um breve aceno de cabeça para Anders.
O grupo de rapazes entram na casa. Se eles ficam surpresos com o estado disso,
eles não comentam.

Todos nós nos acomodamos na sala de estar. Anders nos prepara


algumas bebidas, e eu me encosto no sofá, apreciando o conforto que não sentia
há meses.

— É melhor você começar a falar, Booth — Caspian diz. — Precisamos de


uma explicação. Sabemos que você não é culpado, mas precisamos saber quem
é.
Eu concordo. O segredo que tenho guardado há muitos e muitos anos
pesa muito na minha mente e no meu coração.
— Foi Lily Anna, — eu digo com os dentes cerrados. Os caras trocam
olhares, provavelmente pensando que eu perdi o controle, mas sei que tenho
Anders como reforço. Ele sabe que ela está viva - afinal, ele me ajudou a cuidar
da garota. E ele vai confirmar tudo que estou dizendo.
Lentamente, eu presenteio os caras com a história de Lily Anna. De
querer escapar de Emilian Oakes, de seu lento declínio, de seu ponto de
ruptura. Eu não me contenho. Conto tudo a eles e não economizo nos detalhes.
Eu os conduzo pela história até minha prisão, e os caras me encaram com
expressões de choque.
— Por que você não nos contou? — Easton finalmente pergunta. — Por
que você não nos disse que ela ainda estava viva?

— Fique feliz por não ter feito isso, — murmuro. — Lai é o único que
sabia, e veja o que aconteceu com ele.

Todos nós ficamos sentados em silêncio, lamentando em silêncio a perda


de nosso amigo.

— Ela precisa pagar por isso, — Julian finalmente afirma. — Lily Anna
não pode escapar com o que ela fez.

— Eu sei, — murmuro. — E eu acho que ela vai atrás de Pandora da


próxima vez - se é que ela já não foi.
— Porra, — murmura Easton. — Você se lembra... anos atrás. Antes de
ela desaparecer. Você se lembra do que aconteceu com Lily Anna e eu?

BETTI ROSEWOOD
Minhas mãos formam punhos e mal posso conter o rosnado no meu
rosto. — Você quer dizer quando você a forçou? Você a fodeu. Ela me contou
tudo.
— E você realmente acreditou nela, — Easton murmura, balançando a
cabeça. — Você acreditou nela o tempo todo.
— Você está negando? — Eu assobio. Isso não é uma questão pequena -
é a razão pela qual eu odeio as tripas de Easton.
— Sim, — ele responde com a mesma expressão indignada. — Pelo amor
de Deus, Booth, não me diga que você ainda confia em uma palavra da boca
daquela garota. Ela é uma maldita mentirosa, e você deveria saber disso agora.
Ela me odiava, ela odiava Lai.
— Ela odiava todos nós, — acrescenta Caspian.

— Odiava mesmo, — Julian concorda. — Ela odiava que éramos amigos.


Lembra como ela costumava ficar com ciúmes? Ela não nos queria perto de
você. Ela queria você só para si mesma. É por isso que ela te alimentou com
todas aquelas mentiras.
— Que mentiras? — Eu murmuro.
— Eu não me forcei a ela, para começar, — Brantley disse por entre os
dentes. — Foi o contrário. Ela colocou alguma coisa na minha bebida. Quando
eu dei por mim, ela estava em cima de mim. Ela estava delirando, Dex. Ela
estava se fodendo com meu pau, ao mesmo tempo me dizendo que monstro
maldito eu era. Que ela ia contar a você o que eu fiz com ela. E eu não fiz porra
nenhuma.
Minhas mãos formam punhos ao meu lado. Soa como ela - não como a
Lily Anna que uma vez amei, mas o monstro que agora sei que ela era o tempo
todo.
— Precisamos encontrá-la, — concluo meu pensamento. — Precisamos
encontrá-la e levá-la à justiça antes que ela mate mais pessoas.
— Como diabos vamos fazer isso? — Caspian assobia. — Esta cidade
inteira pensa que você é culpado. Mesmo se contarmos às pessoas sobre Lily
Anna... quem vai se importar o suficiente para levá-la à justiça?
Anders coloca nossa segunda rodada de bebidas e todos bebemos em
silêncio. O mordomo permanece na sala, e eu viro meus olhos para ele.
— Você tem alguma ideia? — Pergunto-lhe.

— Na verdade, eu tenho. — Seu rosto enrugado se ilumina. — Há apenas


uma pessoa além de você, Mestre Booth, que se preocupa tanto quanto você
com aquela menininha insolente.
Eu sei o que ele está prestes a dizer, antes mesmo de as palavras saírem
de sua boca, e eu gemo, passando a mão pelo meu cabelo novamente. — Não
diga isso, Anders. Não posso aguentar esse idiota.

BETTI ROSEWOOD
— Temo que possa ser sua única escolha, — ele murmura. — Você sabe
o que deve fazer.
Ele sai da sala. O resto dos caras está olhando para mim, esperando uma
explicação. Já estou com medo do que sei que teremos que fazer.

— Ele está falando sobre Emilian Oakes, — murmuro. — Ele é o único


que pode nos ajudar agora. O único com os recursos, o dinheiro e a porra da
determinação de encontrar aquela vadiazinha.
— Devíamos ir vê-lo, — responde Caspian. — Quanto mais cedo melhor,
caralho.

Eu sei que ele está certo, mas ainda estou com medo de ver o cara que
fez da minha vida um inferno.
Mas então eu penso nela.
Não a pequena vadia conivente que matou meu melhor amigo, arruinou
minha vida e ainda está tentando se vingar de mim.
Não, em vez disso, penso em Pandora Oakes.
Minha Pandora. Meu maldito brinquedo.
Mesmo que ela tenha cortado relações comigo, mesmo que ela tenha
fugido, mesmo que ela não queira nada comigo... Eu não posso deixá-la ir.
E apesar de saber o motivo pelo qual não posso desistir dela, não estou
pronto para admitir para mim mesmo.

— Vamos lá. — Eu me levanto e faço um gesto para que os caras me


sigam. — Precisamos ir para a Mansão Oakes agora. Precisamos consertar as
coisas. Precisamos encontrar Pandora e levar Lily Anna à justiça.
— Mas, Dex... — Julian hesita. — Você sabe que Oakes era obcecado por
ela. Você não está preocupado com ele enfiando as garras nela? Você não está
preocupado com o que ele pode fazer, agora que sabe que eles não são parentes?
Penso em todas as coisas ruins que Oakes fez às pessoas de quem gosto.
Minnie. Pandora. Eu.

— Eu espero que ele faça, porra, — eu finalmente murmuro. — A cadela


mereceu. E quer saber? Espero que ele seja rude com ela. Espero que ele a faça
pagar por tudo que ela fez.

Os caras parecem entender e concordar comigo. Não preciso lembrá-los


de que Lily Anna é um monstro - o monstro que colocou uma barreira entre
todos nós, o monstro que matou um de nós.

— Vamos, — Easton murmura, jogando as chaves do carro para Julian.


— Melhor nos apressarmos, porra.

BETTI ROSEWOOD
5
PANDORA

Observo Alli com um interesse recém-descoberto, murmurando: —


Nunca pensei nisso dessa forma.

Ela ri. — Você realmente deveria ler aquele manual de Eden Falls que
você me deu.
— Eu deveria, — eu sorrio. — Mas agora eu tenho você.
Ela pega minha mão, apertando-a suavemente. — Você também tem duas
pessoas com quem se preocupar agora. Você e o bebê.

— Você está certa, — murmuro. — Não posso ser egoísta agora. E o bebê
será a pessoa mais graduada em Eden Falls assim que nascer.
— Isso mesmo, — ela acena com entusiasmo. — E como eu disse, você é
quem está no comando até que ele ou ela faça dezoito anos. Eu li tudo isso no
manual. Acredite em mim. Venho estudando desde que chegamos aqui, sei das
coisas.
— Muito obrigada por fazer toda essa pesquisa. — Eu aperto sua palma.
— Eu não sei o que eu faria sem você. Você tem me salvado desde que apareceu.
Eu acho que eu desmoronaria se não fosse por você.
— Todo mundo precisa de um amigo, — murmura Alli, folheando
novamente o manual. — Vou continuar lendo. Talvez possamos encontrar outra
coisa para tornar as coisas mais fáceis para você.
— Pandora?
Trocamos olhares cansados quando minha mãe chama meu nome.
— Deus, o que é agora, — eu gemo. Mamãe adquiriu o hábito de me vestir
como uma boneca. Ela gastou tanto dinheiro em roupas para mim que
provavelmente poderia usar uma roupa nova todos os dias durante um ano. Eu
me sinto mal por Alli, a quem ela quase sempre ignora. Mas eu compartilhei
minhas coisas novas com minha melhor amiga, deixando-a vestir o que quiser
da minha coleção. — É melhor eu ir ver o que ela quer.

Ela balança a cabeça e me deseja boa sorte antes de voltar sua atenção
para o manual em suas mãos. Eu sorrio para mim mesma enquanto saio da
sala e desço a escada de mármore. Alli é tão dedicada a me ajudar. Eu realmente
tenho sorte por tê-la ao meu lado.

Chego ao salão onde minha mãe passa a maior parte do tempo e franzo
as sobrancelhas quando vejo a cena que se desenrola na minha frente.
É uma festa do chá.
Há fogaças, bolos, sanduíches de pepino e bules de chá, um dos quais a
mamãe segura nas mãos, derramando delicadamente o líquido verde ácido em
uma xícara dourada.

BETTI ROSEWOOD
— O que é tudo isso? — Eu me pergunto em voz alta.

— Ah, aí está você. — Ela põe o chá na mesa e um pouco do líquido


vibrante espirra na toalha de mesa branca rendada. Ela corre em minha direção,
preocupando-se com minha aparência, sem realmente prestar atenção em mim.
— Eu pensei que poderíamos ter uma pequena festa do chá esta noite.
— Oh, — eu consigo dizer sem muita convicção. — Devo chamar Alli para
descer? Não acho que ela esteja ocupada...
— Não, não, — ela corre para dizer. — Esta festa é só para você, minha
querida. Agora venha! Sente-se à mesa, deixe sua mãe lhe servir um pouco de
chá.

Eu me sinto mal por Alli. Ela sempre a exclui, como se minha amiga não
importasse nada. Eu faço uma promessa mental de levar algo para comer um
pouco mais tarde, para que Alli também possa participar.
Mamãe tem tentado desesperadamente forçar esse vínculo comigo. Mas
ela não age como uma mãe de verdade na maioria das vezes. Sim, os períodos
em que ela fica entusiasmada e carinhosa são maravilhosos, mas são poucos e
distantes entre si, sem falar que são fugazes. Na maioria das vezes, ela
simplesmente flutua, drogada com um de seus remédios e mal percebe que Alli
e eu também estamos em casa.
— Sente-se, — diz ela novamente, mexendo ao meu redor enquanto me
aponta para a mesa. Quando eu não obedeço imediatamente, ela segura meus
ombros. Suas longas unhas escarlates cravam em minha pele enquanto ela me
força a sentar em uma cadeira. — Sente-se, sente-se.

— Não seja tão rude, — murmuro, protegendo meu estômago com a


palma da mão. — Você pode machucar o bebê.

— Não seja boba, — ela sorri, descartando minha preocupação. — Não é


nada. Agora coma. Beba.
Pego um macaron francês com recheio de pistache e coloco uma fatia de
bolo floresta negra no meu prato. Ela observa ansiosa enquanto eu começo a
cavar na comida antes de empurrar a xícara dourada na minha direção,
dizendo: — Tome um pouco de chá também.
Eu olho para o líquido verde ácido. — É uma cor estranha. O que é?

— Uma velha receita de família. — Ela ri alto. — Não seja tão exigente,
querida. É bom para você. Beba, beba!
Ela empurra o copo em minha direção novamente. Ela encheu até a borda
e o líquido espirrou sobre a borda quando eu o levei aos lábios. Tem um cheiro
horrível. Verde e pútrido. Mas não quero começar uma discussão quando ela
tiver todo esse problema, então consigo dar um sorriso inseguro e tomo o menor
gole de chá que posso.

Deus, o gosto é ainda pior do que parece. Eu me esforço para não cuspir
de volta na xícara. — O que você disse que era isso?

BETTI ROSEWOOD
— Uma receita de família, — ela repete. — Vamos, beba. A receita está
na família há gerações. Você vai adorar.
Eu discordo veementemente, mas me forço a tomar outro gole, forçando
o líquido quente e nojento pela minha garganta. Mas eu engasgo, cuspindo
enquanto cubro minha boca e balanço minha cabeça.
— Desculpe, não posso. É simplesmente horrível!

— Mas é tão bom para você. — Ela faz beicinho. — Por favor, beba pelo
menos uma xícara.
Hesito e sua expressão muda em um instante. Esta não é a primeira vez
que isso acontece - minha mãe está acostumada a conseguir o que quer, e no
momento em que as pessoas não fazem cegamente o que ela diz, ela perde a
compostura. Sinto saudade da previsível crueldade de papai. Sim, ele era um
idiota, mas pelo menos eu sabia que seu humor não mudaria em um instante.
Com mamãe, ela vai me adorar em um segundo e me acusar de arruinar sua
vida no próximo. Você nunca sabe o que está por vir, e é estressante como o
inferno.

Eu forço mais alguns goles do chá nojento em meu estômago. Ele queima
enquanto desce. O que quer que esteja nessa coisa é horrível. Mas mamãe está
me observando, silenciosamente me encorajando a beber mais e mais. Depois
de esvaziar a xícara, empurro-a de volta, sentindo-me aliviada por ter acabado.

— Quer mais? — ela pergunta imediatamente, nem mesmo esperando


pela minha resposta enquanto ela enche meu copo.
— Deus, por favor, não, — murmuro. — Eu odiei isso.
Ela não insiste, mas sei que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.

— Você não vai querer? — Eu pergunto a ela com as sobrancelhas


franzidas.
— Não, — ela responde alegremente, sem oferecer qualquer tipo de
explicação.

— Mas por que... — De repente, uma dor aguda atinge meu estômago.
Eu agarro a mesa para apoio e cerro os dentes. — Merda.
— Olha a língua! — ela diz em uma voz chocada. — Cuidado com essa
boca imunda, Pandora. De qualquer forma, isso é para o seu bem. De verdade,
para o seu bem.

— O que? — Eu consigo dizer, ofegante enquanto a dor diminui, então


bato novamente com força renovada. — Oh Deus, eu não me sinto bem.

— Vai passar, — ela responde com um sorriso animado. — Tome mais


chá.
Ela empurra a xicara dourada em minha direção novamente, assim que
outra cãibra horrível me faz dobrar.

BETTI ROSEWOOD
— Eu não quero este chá horrível! — Eu assobio, varrendo a xícara da
mesa. Ela se estilhaça. O chá derrama no chão e minha mãe parece irritada com
minha desobediência.
— Bem, assim seja, se for preciso, — diz ela com um bufo de resignação.
— A quantidade que você bebeu deve ser suficiente, de qualquer maneira.
— O suficiente? — Eu sussurro. — O suficiente para quê?

— Para se livrar disso, é claro. — Ela sorri. Seus dentes são tão perfeitos.
Ela é a imagem de uma beleza bela e imaculada. E ela é má pra caralho. — É o
melhor, como eu disse, querida. Você não quer ficar com um bebê, quando você
é tão jovem quanto você é. Isso com certeza vai arruinar sua vida.

— Mas que porra você está falando? — Eu resmungo enquanto me


levanto da minha cadeira, ainda segurando minha barriga. — E o que diabos
havia naquele chá?
— Raiz de valeriana, — ela sorri. — Uma velha receita de família. Você
está nos últimos estágios, onde vai funcionar agora. Eu tinha que me apressar,
não é?
— Você está tentando me fazer perder o bebê?
— É o melhor, — ela repete pela enésima vez. — Eu deveria ter feito o
mesmo, realmente.
— Mas eu sou sua única filha, — eu gemo.

— E eu estou tentando salvá-la das mesmas armadilhas que enfrentei em


minha jornada, — ela gorjeia, se levantando também. Ela umedece um pano
com água e o pressiona na minha testa. — Não se preocupe, minha linda
menina. Não vai demorar muito. Apenas algumas horas.
— Eu preciso de um médico, — exijo. — Chame uma ambulância, pelo
amor de Deus!
— Por que diabos eu faria isso? — ela sorri, alheia. — Já fiz isso antes.
Vai funcionar, como sempre funciona.

— Você está louca, porra? — Eu rosno, agarrando seu braço. — Eu não


quero perder esse bebê! Eu não posso perder esse bebê!
— É o melhor, — ela repete, mas sua voz está mais baixa e um pouco
assustada agora.

— O que está acontecendo aqui? — Alli aparece no batente da porta e eu


tropeço em sua direção. Ela me pega em seus braços, lançando olhares
assassinos para mamãe. — O que diabos você fez com ela, sua velha maluca?
— Eu não sou velha, — mamãe faz beicinho.
— Ela me deu um pouco de chá para me livrar do b-bebê, — eu consigo
falar.
— Caralho, — murmura Alli. — Vamos.

BETTI ROSEWOOD
Ela me ajuda a levantar. Sinto-me superaquecida e delirando, mal
percebendo o que está ao meu redor enquanto ela me leva pelo corredor até um
dos odiosos banheiros rosa deste lugar. Ela me ajuda a inclinar-se sobre o vaso
sanitário e exige que eu enfie os dedos na minha garganta.

— Não deveríamos chamar uma ambulância? — Eu sussurro, meu


coração batendo tão rápido que estou convencida de que vai explodir no meu
peito. — Chamar um médico para ajudar?

— Você precisa tirá-lo do seu sistema, — insiste Alli. — Veremos um


médico assim que pudermos. Por favor, Pandora. — Ela agarra minha mão com
uma força inesperada. — Não podemos perder esse bebê, Pandora.

Estou tocada pelo quanto ela se importa, então eu aceno com


determinação e enfio três dedos na minha garganta. O chá sobe de novo e eu
cuspo no vaso sanitário. Leva vários minutos excruciantes, mas uma vez feito,
eu imediatamente me sinto melhor. O veneno saiu do meu sistema, e o plano
perverso de minha mãe para me fazer perder o bebê não funcionou afinal.
Eu desabo no piso frio e rosa do banheiro com minha cabeça contra a
parede.
— Eu não posso acreditar que ela fez isso, — eu sussurro.
— Ela é doente. — Alli se abaixa ao meu lado. — Ela é uma mulher
doente, horrível, pavorosa.
— Precisamos sair daqui. — Ela acena em concordância. — Quanto mais
cedo pudermos partir, melhor. Mas para onde poderíamos ir? Não posso voltar
para Eden Falls ainda. Quero o bebê aqui quando eu fizer isso.
— Eu sei, — ela murmura, mordendo o lábio inferior. — Bem... há um
lugar onde eu poderia levar você. É muito isolado e ninguém sabe disso - não é
usado com muita frequência.
— Ah? — Eu franzo minhas sobrancelhas.
— Vou lhe contar tudo sobre isso. Mas precisamos levá-la para a cama e
você precisa descansar um pouco primeiro. Vou chamar um médico para você
amanhã.
Ela se move para se levantar, mas eu pego sua palma, virando meus olhos
suplicantes para os dela. — Você não vai deixar que ela me machuque, vai, Alli?
Não quero perder o bebê. Não posso perdê-lo. Por favor.
— Eu sei. — Ela esfrega minha mão. — Eu vou cuidar de você, não se
preocupe. Eu não vou deixar essa bruxa malvada chegar perto de você. E nós
iremos embora assim que pudermos. Agora vamos.
Ela me ajuda a levantar. Com a ajuda dela, de alguma forma consigo
atravessar a casa até o andar superior e o quarto que dividimos. Não pego outro
vislumbre de mamãe, pelo que sou grata. Se eu o fizesse, enfiaria meu punho
em seu rosto e o arruinaria para sempre. Ela provavelmente sabe disso também,
por isso está se escondendo.

BETTI ROSEWOOD
— Eu não posso acreditar que ela fez isso, — murmuro quando estou
deitada na cama mais tarde. — Ela tentou tirar isso de mim.
— Ela é horrível, — murmura Alli. — Um monstro. Mas não se preocupe,
nós partiremos em breve. E então seremos apenas nós duas.

Eu aceno e fecho os olhos, permitindo que os sonhos assumam o


controle.

Minha última memória é Alli segurando minha mão enquanto eu caio em


um sono turbulento e agitado.
Tenho muita sorte de ter alguém como ela ao meu lado.

BETTI ROSEWOOD
6
DEXTER

— Que porra você está fazendo aqui?

— Olá para você também, — eu assobio no interfone de vídeo. — Deixe-


nos entrar. Temos assuntos importantes para discutir.

A voz desaparece, e nós cinco ficamos ali inutilmente, até que os portões
finalmente se abram. Troco um sorriso triunfante com Easton e volto para o
carro. Paramos em frente à mansão Oakes, onde Emilian já está esperando na
frente da casa, com as sobrancelhas unidas e os braços cruzados.
Saímos do carro e o homem sorri para mim.

— Bem, bem, bem, olhe o que o gato arrastou até aqui, — ele disse. —
Dexter, filho da puta, Booth. Deixaram você sair da prisão, não é? Eles
simplesmente deixam assassinos andarem pelas ruas hoje em dia?

Eu ignoro seus comentários de merda e passo por ele, entrando em sua


própria casa. Ele resmunga algo, mas segue de perto. Eu sei que ele está
curioso. Ele sabe que eu não apareceria aqui, a menos que tivesse algo útil para
ele, então ele não se opõe enquanto todos nós entramos em seu escritório,
tomando nossos lugares. Sento-me em sua mesa, passando a mão pelo meu
cabelo escuro e esperando que todos se acomodem para que eu possa começar
a falar. O silêncio na sala logo se torna ensurdecedor. Todo mundo está na ponta
de seus assentos. Essa conversa vai mudar muitas vidas. Eu preciso ter certeza
de que quero condenar Lily Anna assim. Mas uma memória é suficiente para
selar seu destino.
O corpo morto e imóvel de Lai no chão.
Ela o matou.
E ela vai cair.

— Estou aqui para falar sobre algo que é do seu interesse, — digo a
Emilian. — Mas isso vai custar caro para você.
Ele ri, balançando a cabeça enquanto se senta atrás de sua mesa e faz
um gesto para que eu me levante. Mas eu não faço, sorrindo para o homem. Ele
deve saber que o que eu tenho é valioso. Ele deve saber que vou fazê-lo pagar.

— O que isso vai me custar? — ele vaga em voz alta com um sorriso
descuidado. — Duvido que você tenha algo de interessante para mim, Booth.

— É sobre Lily Anna. — Seu sorriso cai e nós nos enfrentamos, seus olhos
brilhando com interesse.
— O que tem ela?
— Muitas coisas que você não sabe. — Eu observo seus punhos sob a
mesa, as veias saltando em seus dedos. Ele odeia isso. Odeia saber que não é

BETTI ROSEWOOD
ele que detém todo o poder agora. — Então, vamos começar com minha primeira
pergunta. Onde diabos está Pandora?
Ele me encara. — Olho por olho, Booth. E quanto a Lily Anna?

— Ela não está morta, — Julian interrompe impaciente. — Agora dê-nos


o que queremos, se quiser saber mais.

Observo Oakes de perto para ver sua reação. Ele empalidece


instantaneamente. Sua pele fica fantasmagórica. Ele não tinha ideia sobre isso.
Às vezes, durante os últimos anos, eu me perguntei se ele tinha alguma suspeita
sobre Lily Anna, mas sua reação prova que ele era um idiota.
— P-Pandora... Ela está com a mãe, — ele administra. — Em Stormcliff.
— A mãe dela? — Eu franzo minhas sobrancelhas. — Eu pensei que
Ângela estava morta.
— Todos nós temos nossos segredos, — murmura Emilian. — E ela está
muito viva, como um de vocês sabe muito bem.
Eu sigo seu olhar para Easton, que parece culpado pra caralho.
— Você sabia disso? — Eu assobio.
— Eu dei o endereço a ela, — ele murmura. — Não achei que ela fosse
para lá. Achei que ela simplesmente fosse para Wildwood.
— Você pensou errado, — eu assobio em resposta. Eu lidarei com ele
mais tarde. Existem questões mais importantes em mãos. Incluindo descobrir
o que aconteceu com as duas garotas que moldaram minha vida, passado,
presente e, com sorte, futuro. — Lily Anna quer machucá-la.
— Como você sabe disso? — Exige Oakes.
— Porque eu não sou um idiota sem noção do caralho? — Eu estalo de
volta, esfregando minhas têmporas. — Nosso primeiro passo é verificar as
câmeras de vigilância. Se pudermos encontrar uma câmera de segurança na
cidade... talvez possamos confirmar se Lily Anna encontrou Pandora.
— Onde ela estava todo esse tempo? — Emilian sibila. — Você a manteve
longe de mim?
— Claro que sim, — eu estalo. — Você a teria machucado. Ela estava com
medo de você porra, seu pedaço de merda. Você a queria, e ela sabia disso.
— Ela não é minha filha biológica, — ele tenta se defender em vão.
— E ainda assim, foi você quem a criou — Caspian o lembra.

— Ela sempre viu você como seu pai, — eu aceno. — Pena que você não
entendeu isso. De qualquer forma, ela estava mais segura comigo. E todos nesta
sala estavam mais seguros assim também. Suponho que você tenha ouvido falar
de Lai?
— O que tem ele? — Oakes finge indiferença, mas posso ver como ele está
pálido. Ele já sabe que foi ela. — Ele se foi. Carne morta.

BETTI ROSEWOOD
— Por causa dela, — eu grito. — Por causa de Lily Anna. Ela o matou e
escapou. E agora ela está atrás de Pandora.
— Por que ela tentaria machucar Pandora? — Oakes pergunta. — Ela não
tem motivo.

— Eu sou o motivo. — Eu me levanto da mesa e ando pela sala até chegar


ao carrinho de bebidas. Servindo-me de um copo de Bourbon caro, ignoro o
olhar crítico de Emilian e bebo em um gole a bebida. — Ela não quer me
compartilhar com ninguém. E tem sido assim desde o começo.
— Então você sabe, — murmura Emilian. — Você sabe sobre seus pais?

— Se você quer dizer que Lily Anna os matou, sim, — eu assobio. — Mais
alguma coisa que você escondeu de mim?

O homem encolhe os ombros descuidadamente. — Ela é minha


prioridade, não você. Eu protejo os meus.

— Você também fode com eles, — murmuro. — Você é a razão pela qual
ela é assim.
— Agora, agora, senhores, — interrompe Easton. — Não vamos apontar
o dedo. Nossa prioridade número um é encontrar Pandora e Lily Anna.

— Vou fazer uma ligação, — Emilian grunhe, pegando seu telefone. —


Tentar fazer com um amigo nos consiga a transmissão das câmeras de
segurança da estação de trem, onde ela provavelmente embarcou no trem para
Stormcliff.

Eu me ocupo conversando com os caras até que Emilian nos chama para
sua mesa. Ele tem o feed de segurança puxado em seu computador. Todos nós
assistimos à plataforma de Eden Falls. Alguns passageiros embarcam no trem
para Northcliff. Há uma figura encapuzada na plataforma, deitada em um banco
com o boné puxado sobre o rosto.
E então ela aparece.

Pandora Oakes, com uma pequena bolsa na mão e um passo


determinado. Ela embarca no trem. Meu coração para quando eu a vejo, mas a
qualidade da imagem é muito ruim para eu entender qualquer coisa além do
fato de que é inconfundivelmente ela.

Estou tão focado em Pandora que mal percebo a figura encapuzada se


movendo do outro lado da tela.

Mas Julian aponta para a figura, e observamos em silêncio enquanto a


pessoa puxa o capuz para trás e observa Pandora embarcar.
É Lily Anna.

Não há como confundir sua figura frágil e pequena. Eu a reconheceria


em qualquer lugar.
Meus olhos se fixam nos de Emilian. Eu sinto pena dele então, vendo
suas mãos em punhos e seu rosto pálido. Ele a ama. Por mais doente e errado

BETTI ROSEWOOD
que seja esse amor, ele quer o melhor para ela. E ele está começando a
reconhecer que seu amor pela garota está errado. Talvez ele até a deixe ir depois
que tudo isso acabar.
Se eu não a matar primeiro, porra.

— É ela, — murmuro. — Nós precisamos ir. — Emilian se levanta e eu


olho para ele. — Que porra você pensa que está fazendo?
— Vou com vocês.
— O caralho que você vai. — Eu olho para ele. — Pandora não precisa de
você lá.
— Mas Lily Anna sim, — ele sibila, me empurrando para o lado.

Desta vez, não me oponho. No mínimo, Oakes vai me impedir de cometer


um assassinato de verdade. Porque no momento em que colocar minhas mãos
em Lily Anna, ela deve temer por sua vida.
Não estou longe de matá-la para salvar Pandora.

***
A viagem para Stormcliff é de quatro horas. Sentamos na limusine Oakes,
com Kelley no banco do motorista. Não há conversa, nem palavras
desnecessárias. Todos nós estamos em nossas cabeças, contemplando como
será esse confronto, e provavelmente imaginando quanto dano Lily Anna já fez.

Minhas unhas cravam em minhas palmas. Pandora não pode ter ido
embora. Pandora não pode estar morta. Pandora é minha, porra.
Quando chegamos, até meu queixo cai ao ver a casa de Ângela.
— Você está financiando isso? — Murmuro para Emilian enquanto
estacionamos em frente aos portões.
— Não é da sua conta, — ele sibila de volta, saindo do carro e
respondendo à minha pergunta.
Nós quatro assistimos a seu acalorado debate no interfone, e então os
portões se abrem. Estamos dentro.
Kelley para na garagem, onde todos nós saímos da limusine. Há uma
mulher esperando na escada que leva até a casa com um sorriso gigante e
branco-perolado. Ela está vestindo uma roupa toda rosa com um boá de penas
e segurando uma taça de martini com uma bebida rosa bebê combinando que
parece horrível.
— Querido! — ela fala. — Nos encontramos novamente.
Ela troca beijos frios na bochecha com Emilian. É óbvio que há algo não
dito entre eles, mas nenhum de nós menciona isso. A mão de Ângela permanece
no ombro de Emilian, mas ele se afasta rapidamente, e ela se esforça para
esconder sua decepção.

BETTI ROSEWOOD
— Estamos aqui por Pandora, — diz Emilian.

—Oh? — Ângela ri melodicamente. — Nossa, muita gente para uma


garotinha tão simples.

— Onde ela está? — Eu exijo, dando um passo à frente. — Onde está


Pandora?

— Oh, ela não está aqui, — Ângela gorjeia, rindo. — Elas partiram esta
manhã.
— Elas? — Eu assobio, me aproximando dela. Ela olha para Emilian
como se para ver se ele vai protegê-la de mim, mas ele não faz nenhum
movimento para me impedir. Engolindo em seco, Ângela volta sua atenção para
mim.

— Ela estava com uma menina, — murmura Ângela, acenando com a


mão com desdém. — Alguém chamada Alli alguma coisa.

— Você não a reconheceu? — Emilian sibila. — Você não percebeu quem


era?
— Não, — ela diz, parecendo confusa. — Pelo que ouvi, alguma coisa
perdida ela apanhou ao longo do caminho. Uma ninguém.

— Era a sua filha, — murmura Emilian, o nojo tão evidente em sua voz
que não deixa espaço para perguntas sobre por que eles se separaram. Ele não
ama essa mulher. Ela é tão insípida, tão envolvida em si mesma, que não dá a
mínima para ninguém. — Era Lily Anna.
Para seu crédito, a cadela realmente empalidece. — Lily Anna está morta.

— Ela não está, — eu assobio. — Mas ela é perigosa pra caralho e quer
machucar Pandora.
— Oh, minha querida menina nunca machucaria Pandora, — ela sorri.
— Ela era uma menina tão boa. Um bebê tão bom.
— Você nem mesmo a reconheceu, então não nos alimente com essa
besteira, — murmuro. — Onde elas estão? Para onde elas foram?
— Eu não sei, — ela encolhe os ombros, impotente, agitando os cílios
para Emilian. — Como eu poderia saber?
— Como você pôde deixá-las ir sem saber para onde iam? — Eu exijo. —
Como você pôde deixá-la sair com uma maldita assassina?
— Pandora é uma assassina? — ela pergunta totalmente sem noção.
— Não, Lily Anna! — Eu tive o suficiente, e bato meu punho na limusine,
deixando para trás um amassado. Todo mundo está polidamente em silêncio
enquanto eu enfrento Ângela. — Você precisa nos dizer quando elas foram
embora e para onde foram. Porra, agora, mulher. Sua filha - sua filha biológica
- está em perigo. E Lily Anna também, se eu colocar minhas mãos nela.

BETTI ROSEWOOD
— Eu não sei p-para onde elas foram, — ela gagueja pateticamente. —
Elas foram embora esta manhã.
— Por que elas simplesmente iriam embora assim? — Emilian pergunta.
— Sem te dizer? O que diabos você fez?

— Nada! — ela grita antes de começar a chorar e cobrir o rosto com as


mãos. — Eu não fiz nada de errado, nada, nada...

— Corta essa porra de teatro, Ângela, — Emilian exige. Sua voz não deixa
espaço para discussão, e a mãe de Pandora funga mais algumas vezes antes de
puxar as mãos para trás. Não há lágrimas em seu rosto. Ela parece tão calma
como sempre. — Apenas nos diga onde elas estão. E o que você fez. Elas estão
bem? Você não as machucou, não é?
— Eu fiz o que era melhor, — ela sibila. — Eu fiz o que eu tinha que fazer.

Emilian empalidece. Com um único passo, ele se aproxima dela,


envolvendo os braços ao redor dela. Mas este não é um abraço de amante - não,
seu aperto em sua ex-mulher acarreta um aviso. Ela sabe que ele vai machucá-
la agora, e seu rosto com Botox empalidece ainda mais.
— O que você fez? — ele exige. — O que você fez, porra?
— Eu dei a ela um remédio, — ela sorri docemente. — O que mais eu
deveria fazer? Deixá-la acabar como eu? — Ela ri amargamente, balançando a
cabeça. — Não. Ela não poderia lidar com isso. Amar um homem que não dá a
mínima para ela. Ansiando por alguém que tem uma nova família. Porque isso
é o que aconteceria com ela. Assim como aconteceu comigo.
Ela calou Emilian com essas palavras, passando por ele para olhar para
mim.

— Você é Dexter Booth? — Eu aceno, e ela sorri fracamente. — Você se


parece com o seu pai.
Suas palavras significam tanto para mim que quase engasgo, mas então
me lembro por que estamos lá. — Onde ela está?

— Elas fugiram, — Ângela murmura. — Não sei para onde. Mas estou
avisando agora, Dexter Booth. Você não vai partir o coração daquela garota. E
é melhor você cuidar da criança, se ainda não tiver morrido.
— O que? — Eu resmungo. — De que porra você está falando?

Suas palavras acordam Oakes também, e ele a agarra, exigindo: — Que


criança?
— Vocês não sabem? — Ângela sorri alegremente com o conhecimento
que nenhum de nós tem. — Sua preciosa Pandora está grávida. Parabéns,
Dexter Booth. Você será papai em breve.

BETTI ROSEWOOD
7
PANDORA

— Tem certeza de que este é o endereço certo? — Eu pergunto novamente.

Estamos em frente a uma enorme casa de férias. É totalmente isolada -


na verdade, o motorista do táxi se recusou a nos trazer até aqui e parou na
cabana do zelador a um quilômetro de distância. Após a longa caminhada morro
acima para chegar à casa de campo, estou pirando de exaustão e a última coisa
que preciso é que Alli me diga que ela cometeu um erro e que estamos no lugar
errado.
— É aqui. — Ela sorri enquanto se dirige para a varanda, levantando um
vaso de flores e tirando uma chave do nada. — Ah, bom. A chave estava
escondida no mesmo lugar.
Eu franzo minhas sobrancelhas. Ela realmente me trouxe aqui sem saber
se a chave estaria lá?
— O que é este lugar? — Eu me pergunto em voz alta enquanto ela
destranca a pesada porta da frente, decorada com vitrais, como você veria em
uma igreja.
— Pertencia ao meu pai, — explica Alli. — Eu não acho que meu... tio use
isso. Nós viemos muito aqui quando eu era criança. Não tem sido usado desde
então.
Entramos na casa. Os móveis estão cobertos por lençóis brancos e o lugar
parece deserto. Eu tusso quando Alli puxa um lençol do sofá, jogando poeira no
ar.
— Vai precisar de uma boa faxina, — ela continua. — Mas estaremos
seguras aqui. Ninguém vai pensar em nos procurar neste lugar.

Não sei se isso é reconfortante ou assustador, mas aceno com a cabeça


em aprovação de qualquer maneira. Eu ajudo Alli a remover o resto dos lençóis
dos móveis. O lugar é bastante bom - um pouco desatualizado, mas bom o
suficiente.
— Há um zelador também, — diz ela. — Embora eu ache que ele não
tenha estado aqui. Mas ele cuidou da propriedade e ainda mora naquele galpão
pelo qual passamos. Podemos conseguir tudo o que precisarmos com ele.
— Ótimo, — murmuro, gemendo quando sinto outra cãibra no estômago.
— Porra.
— Sente-se. — Alli me faz sentar no sofá floral. — Vou tentar ligar o
gerador para termos água e eletricidade.
Eu aceno, observando-a sair da sala e me sentindo totalmente miserável.
Eu realmente fiz a coisa certa quando deixei Eden Falls?

BETTI ROSEWOOD
Não consigo impedir que o pensamento entre na minha mente. Eu fico
me perguntando se eu deveria ter saído em primeiro lugar. Não a casa da minha
mãe - eu sabia que tinha que deixar aquele lugar, sabendo o que ela tentara
fazer. Mas meu pai não teria tentado me fazer perder o bebê. Ele ficaria
orgulhoso. Ele me colocaria no mais alto dos pedestais e o bebê não estaria em
perigo.

Mas, ao abandonar o navio, arrisquei a vida do bebê. E se não fosse pelas


reações rápidas e inteligentes de Alli, eu não estaria mais grávida.
Vimos um médico em Stormcliff, que confirmou com um ultrassom que
o bebê estava ileso. Foi também a primeira vez que finalmente vi o feijãozinho
no meu útero, confirmando o que já sabia - eu estava grávida e, em poucos
meses, eu mesma seria mãe.

— Obrigada. — Aceito com gratidão o copo de água fria de Alli e tomo


longos e profundos goles do líquido. A água limpa minha cabeça, deixando para
trás a determinação de consertar as coisas e voltar para Eden Falls e meu pai.
— Eu queria falar com você sobre uma coisa.
— Continue. — Alli se senta no sofá de pernas cruzadas, puxando um
travesseiro para o colo e sorrindo para mim.
— Eu quero voltar para casa. — Eu observo seu rosto para ver uma
reação, mas seu sorriso permanece congelado em seu rosto. — Preciso contar a
Dez o que está acontecendo. Preciso voltar para meu pai e contar a ele o que
mamãe tentou fazer. Preciso estar em algum lugar onde possa... dar um jeito na
minha vida.

— E você acha que voltar para a casa do seu pai vai resolver isso? — A
pergunta de Alli envia uma pontada de culpa por mim.
— Bem, ainda posso ser independente, — tento me defender.
— Em Eden Falls? — Ela ri alto. — Sim, boa sorte com isso.
Eu observo incrédula enquanto ela se levanta e caminha até a janela. Ela
abre as cortinas florais e a luz se derrama na sala empoeirada. — Não, não, não
acho que seja uma decisão sábia, minha querida Pandora. Acho que você
deveria ficar onde está e resolver sua vida, não correr de volta para casa com o
rabo entre as pernas.
— Bem... — Eu mordo meu lábio inferior. — Dex ficaria feliz em me ver.

— Você quer dizer seu ex assassino? — ela pergunta, balançando a


cabeça. — Acho que não.

— Ele não é um assassino, — murmuro, lembrando-me das manchetes


de jornal que vimos em nosso caminho pela estação de trem Eden Falls. Dex foi
solto.
— Só porque eles não têm evidências suficientes, não significa que ele
não matou aquele tal de Lai, — insiste Alli. — Esse é realmente o tipo de pessoa
que você deseja na vida do seu bebê?

BETTI ROSEWOOD
— Ele é o pai, — murmuro.

— Ele é? — Alli inclina a cabeça para o lado antes de suspirar e se sentar


no sofá ao meu lado. Ela dá um tapinha no meu joelho. — Você não me disse,
que ele pode não ser o pai? Que você não tem ideia de quem é? Que existem
quatro outros caras que poderiam ter gerado essa criança?
— Eu... — Eu mordo meu lábio inferior, queimando de vergonha. —
Espero que seja do Dexter...
— Bem, esperar por algo não muda os fatos. — Ela sorri condescendente
para mim. — Fique aqui comigo, Pandora. Vou ajudá-la a descobrir tudo.
— Mas eu poderia simplesmente explicar para Dex que...
— Você fodeu todos aqueles caras e um deles pode ter te engravidado? —
Ela balança a cabeça. — E como você acha que ele vai aceitar isso, Pandora?
Assassino ou não, esse cara Dex, é volátil e perigoso.

Fico sem palavras e fico olhando para minhas mãos cruzadas no colo sem
responder.
— Estou aqui para ajudá-la, P, — diz Alli. — Eu sou a única que você tem
agora. A única pessoa em quem você pode confiar. Você não pode nem confiar
em si mesma, não é? Você tem todas essas pequenas ideias na sua cabeça. Você
precisa que eu lhe diga por que elas não funcionam, não é?
Eu encolho os ombros evasivamente e Alli aperta minha mão novamente.

— Não se preocupe. Eu não vou a lugar nenhum. E eu sei que você sente
que me deve por proteger seu bebê. Então faça isso por mim. Fique aqui e vamos
ter certeza de dar à luz sem Eden Falls assistindo cada porra de contração.
Fique comigo e deixe-me cuidar de você, para que ninguém possa machucar
você ou este bebê. — Ela coloca a mão na minha barriga com um sorriso doce.
— Isso é tudo que me importa, P. Você e este bebê. Garantir que vocês dois
estão bem. Então você pode voltar, eu prometo.
Eu olho em seus olhos, encontrando-me balançando a cabeça apenas
para calá-la. Ela está me irritando, mas não posso discordar dela. E ela estava
certa no passado, então eu realmente deveria ouvir seus conselhos e apenas
fazer o que ela diz.
— Tudo bem, — eu finalmente consigo. — Podemos ficar aqui um pouco.
Alli bate palmas com entusiasmo, mas eu levanto a mão, ainda sem
terminar o que eu queria dizer.

— Contanto que haja um médico na área que vai se certificar de que tudo
está bem.

— Ah, existe. — Ela sorri. — Há um médico em uma cidade próxima e ele


até faz visitas domiciliares.

— Ótimo, — eu respondo. — Embora eu não tenha nenhum problema em


ir para a cidade. Eu aprecio o aspecto social. — Eu rio nervosamente, esperando
não a ter ofendido. Por mais maravilhosa que Alli seja, tenho certeza de que

BETTI ROSEWOOD
deixaríamos uma à outra louca nesta casa, apenas uma com a outra como
companhia por meses.
— Mesmo? — Ela inclina a cabeça para o lado, encolhendo os ombros. —
Bem, o que você quiser.

— Espere. — Eu puxo sua manga quando ela tenta se levantar. — Você


não acha que eu deveria ver um médico?

— Claro que eu acho. — Ela dá um tapinha na minha mão. — Eu só acho


que você deveria aproveitar as visitas domiciliares. Quer dizer... Você não quer
que alguém em Eden Falls reconheça você, não é? Eles contariam a Dex - e a
todos os outros. Seu pai. Todos os outros caras. E sem ofensa, mas você já está
mostrando um pouco. Se você começar a aparecer por toda a cidade com uma
barriga enorme, todo mundo vai descobrir. Isso é mesmo o melhor? Para eles
descobrirem através de outra pessoa?
— Eu acho que não.
— Não, não é. Então vamos ter as visitas domiciliares. Vou fazer o zelador
pegar tudo para nós da cidade. E vou pedir ao médico, para vir a cada duas
semanas.
— Mas... — Eu olho para ela. — Como vamos pagar por tudo isso?
— Eu tenho alguns truques na manga, — ela pisca.
— Mas não temos dinheiro.

— Não precisamos de dinheiro. — Ela abre as pernas, me fazendo corar


quando percebo que ela não está usando calcinha. — Por que mais Deus nos
abençoaria com isso?
Estou tão chocada que não consigo nem responder. Não tenho certeza se
devo presumir, mas não posso evitar - ela está pagando o médico à moda antiga?

— Você realmente faria isso por mim? — Eu pergunto antes que eu possa
me impedir.
— Por você e pelo bebê, — ela acena gravemente. — Eu já o amo. E eu
simplesmente sei que vai ser um menino. — Ela sorri.

— Eu te amo, Alli, — murmuro, pegando sua mão. — Obrigada por tudo.


Sério. O que eu faria sem você?

— Estaria muito, muito perdida, — ela ri. — Está tudo bem. Estou aqui
para você.
Ela vai para a cabana do zelador, me perguntando se ela usará os
mesmos poderes de persuasão nele também, para garantir que tenhamos
mantimentos.
Tenho muita sorte de Alli ter entrado na minha vida.
Sem ela, estaria totalmente perdida.

BETTI ROSEWOOD
***

— Onde você vai?


Viro por cima do ombro, minha mão demorando-se acima da maçaneta
da porta. — Ah, ei, Alli. Eu estava apenas levando o lixo para fora.
— Não. — Ela praticamente corre em minha direção e arranca o saco de
lixo das minhas mãos. — Você precisa descansar. Vou tirar isso. Não se
preocupe.
Ela me puxa do frio, e eu mordo meu lábio inferior antes de caminhar até
o sofá. Sento-me novamente, dizendo a mim mesma que não é nada.

Alli só quer ajudar. Ela não tem um motivo oculto. Por que ela teria? Ela
nem me conhecia até alguns meses atrás. Ela é minha melhor amiga. A única
pessoa em quem posso confiar totalmente. Às vezes, até mais do que a mim
mesma.
Ela não iria me manter enfiada nesta casa de propósito. Ela só está
fazendo isso para proteger a mim e ao bebê.
Digo a mim mesma que não é nada. Eu olho pela janela e a vejo do lado
de fora, enchendo a lata de lixo. Eu mal consigo um minuto para mim mesma
hoje em dia. Alli sai uma vez por semana para comprar mantimentos com o
zelador, e minha próxima consulta ao médico está se aproximando rapidamente.
Estou planejando fazer algumas pesquisas enquanto Alli estiver fora. E, por
acaso, sua viagem semanal que dura quarenta e cinco minutos está marcada
para esta noite.
Pelo resto da noite, mantenho os fingimentos e aceno para Alli quando
ela sai. Mas no momento em que ela vira a esquina, estou de volta aos meus
pés.
Há alguns quartos na casa, e Alli e eu temos um. Ela não gosta quando
entro em seu quarto, o que me deixa com suspeitas. Mas esta noite é minha
chance. Eu posso ver o que ela está tentando tanto esconder. Por que ela sempre
recua quando eu apareço em sua porta.
Eu penso nela saindo com sua sacola de cesta e eu acenando para ela.

Ela se sentiria tão traída se soubesse o que estou fazendo. Mas não
consigo evitar. Eu preciso de respostas.

Minutos depois, estou vasculhando seu quarto. Eu olho embaixo do


colchão, embaixo da cama. Eu verifico todas as suas gavetas. No final, encontro
minha resposta oculta à vista de todos.

Estou assumindo que há três tamanhos deles, cada um rotulado com um


trimestre. O primeiro e o terceiro estão lá. O segundo está faltando.

Eu fico olhando para as barrigas de gravidez falsa em descrença. Por que


diabos Alli tem isso? Para que ela poderia precisar delas?

BETTI ROSEWOOD
— Que porra você pensa que está fazendo?
Eu me assusto com o som, então me viro para encarar Alli.

Ela está vestida como antes, ainda segurando a cesta de vime. Mas agora
sua mão está descansando em seu estômago. Sua barriga aumentou de
tamanho. É igualzinho a minha.

— Que porra é essa? — Eu assobio. — Eu deveria te perguntar a mesma


coisa.
Seus lábios se estreitam enquanto ela coloca sua cesta na mesa, sem
palavras. Ela fecha a porta e gira a chave na fechadura.

— Ah meu Deus, — eu sussurro. — Por favor, diga que há uma explicação


razoável para tudo isso, Alli.

Ela está de costas para mim. Eu a vejo tirar sua jaqueta e ficar com a
barriga de fora. Quando ela me encara novamente, seu rosto é uma imagem de
inocência.

— Claro que há, boba, — ela sorri. — Estou usando isso para que
ninguém suspeite que você está aqui comigo. Você não acha que as pessoas
ficariam desconfiadas se eu começasse a comprar fórmula para bebês e não
parecesse grávida? Todo mundo conhece todo mundo em Eden Falls, você
mesma me disse, P. Não podemos correr o risco de os caras descobrirem sobre
você. Eles tirariam o bebê de você.

Eu quero acreditar muito nela, mas algo em sua história não está
batendo. Eu me sinto mal do estômago enquanto a sigo com meus olhos.

— Mas você não deveria mexer nas minhas coisas, Pandora. Eu também
não faço isso com você, — diz ela com firmeza.
Porque conto tudo como uma idiota ingênua, eu acho. Porque eu não guardo
segredinhos imundos. E você só pode estar fazendo isso...
— Claro, — eu respondo com um sorriso. — Sinto muito, devem ser os
hormônios. Estou ficando louca.
— Compreensível. — Ela sorri friamente.
— Então, você vai buscar a comida?
— Eu vou quando você estiver dormindo, — ela responde. — Não gostaria
que esses hormônios entrassem em ação novamente. Você precisa de
supervisão. E eu estou aqui para ajudar. Qualquer coisa que você precisar.
Ela me puxa para um abraço. Suas unhas cavam nas minhas costas.

— Qualquer coisa por esse bebê, — ela sussurra em meu ouvido. Suas
palavras causam um arrepio na minha espinha.

BETTI ROSEWOOD
8
PANDORA

— Mas no início, você disse que um médico vinha a cada duas semanas.

— Deus, P, você está realmente começando a reclamar muito. — Alli


suspira e coloca uma tigela de mingau de aveia na mesa para mim. — Eu te
disse, o cara está ocupado com compromissos na cidade.
Eu fico olhando para a tigela, meu apetite diminuindo.
— Talvez devêssemos ir para a cidade então. — Parece que ela está
prestes a falar, mas eu levanto a palma da mão para impedi-la. — Por favor, eu
sei o que você vai dizer. Mas preciso de um exame médico adequado. Preciso
saber se o bebê está bem e nada de ruim vai acontecer. Estou ficando paranoica.
Pense na segurança do bebê.

— Tudo bem, — ela sibila, revirando os olhos. — Vou ligar para o


consultório. Vou chamá-lo para vir esta semana.
Eu uni minhas sobrancelhas. — Seu telefone funciona aqui?
— O telefone do zelador funciona, ele está um pouco mais baixo do que
nós, — ela responde suavemente após uma pausa quase imperceptível. — Eu
disse a você, não há serviço aqui em cima.
E eu acreditei nela. Isto é, até eu rastrear o fio do telefone residencial e
descobrir que ele foi partido em dois.

— Claro, — eu sorrio rigidamente. — Avise-me quando ele vier. Tenho


muitas perguntas.
— Apenas me pergunte, P. — Ela sorri largamente, apontando para a
pilha de livros para bebês que ela tem estudado sem parar. Você pensaria que
é ela quem está dando à luz, não eu.
— Mas você não é médica.
Seu sorriso desaparece instantaneamente. — E você não é a primeira mãe
do mundo.
— Bem, — eu encolho os ombros. — Eu estou prestes a ser uma, no
entanto. E você não.
Ela parece irritada, mas ela apenas sorri e se dirige para a outra sala.

Eu gemo, espalmando minha barriga crescendo. Estamos presas aqui há


um mês e estou tendo cada vez mais sintomas da gravidez. Quem quer que
tenha dito que este era um momento maravilhoso e mágico, estava mentindo ou
delirando profundamente. Para mim, não tem sido nada além de enjoo o dia
todo, tornozelos inchados e uma fadiga terrível.

Acho que, de certa forma, tenho sorte de ter Alli. Mas então por que
continuo me sentindo uma prisioneira nesta casa? E por que ela controla tudo?

BETTI ROSEWOOD
Ela até me fez monitorar minha ingestão de água e me trouxe vitaminas pré-
natais, pelo amor de Deus. Todos os atos que poderiam ser percebidos como
doces e afetuosos, mas ela de alguma forma os fazia parecer o oposto disso.
Quando conheci Alli, estava tão desesperada por uma conexão emocional,
por uma amiga, que não vi nenhum sinal de alerta.
Mas quanto mais tempo passo em sua companhia, mais noto todas as
pequenas coisas sutis que parecem... fora do comum.
Mais tarde naquela noite, ela me disse triunfantemente que o médico virá
no dia seguinte. Estou aliviada. Digo a mim mesma que estou sendo paranoica.
Ela não é uma pessoa má, está apenas fazendo o que acha que é melhor para
mim e para o bebê.
Ela realmente se preocupa com o bebê.
Às vezes... quase demais.

Estamos sentadas à mesa de jantar naquela noite e comendo o jantar que


ela preparou para nós. É quando ela toca no assunto.
— Eu estava esperando que você pudesse assinar algo esta noite. — Ela
toma um gole de seu suco e me lança um olhar de expectativa.
— Oh? Assinar algo?
— É apenas um testamento simples, — ela acena com a mão com
desdém.
— Um testamento? — Eu uni minhas sobrancelhas. — Por que diabos eu
precisaria de um testamento?
— E se você morrer no parto? — ela contesta.
Eu ri. — Tenho certeza que vou ficar bem.
— Essas coisas acontecem. — Ela encolhe os ombros. — Tudo o que estou
dizendo é, Deus me livre que algo aconteça, mas, você precisa ter certeza de que
seu bebê está bem cuidado. Se você morresse, iria para o pai. Você realmente
quer essa criança crescendo com um daqueles caras? Três pervertidos porra,
um cara morto - então porra sabe quem o pegaria então - e um assassino.
— Dex não é um assassino, — eu sibilo pelo que parece ser a milionésima
vez.
— Claro, P, — ela revira os olhos. — Você fica dizendo a si mesma que...

— Você nem mesmo o conhece. — Minha voz está pingando gelo. — Você
nunca conheceu Dex.
— Então? Os fatos não mentem.
— Ele não matou Lai.
— Então quem foi? — Ela me desafia com seu olhar, mas eu mantenho
seu olhar desafiadoramente.

BETTI ROSEWOOD
— Talvez tenha sido meu pai, — eu ofereço.
— Duvido.
— E quanto a um dos outros caras?
— Eles nunca machucariam Lai, — ela bufa.

— Você não os conhece, — eu a lembro novamente. — Você não conhece


nenhuma dessas pessoas.
Ela apenas me encara com aquele sorriso irritante estampado no rosto.
Se ela não fosse tão bonita, seu rosto quase pareceria assustador com aquela
expressão.
Jogo meu guardanapo de papel na mesa enquanto me levanto e
murmuro: — Vou dormir.
— Não se esqueça das suas vitaminas, o bebê precisa delas, — ela grita
atrás de mim, e eu murmuro uma palavra não muito boa sob minha respiração,
me odiando por deixá-la chegar até mim. — Falaremos sobre os jornais em
breve.
Mas as sementes da dúvida foram plantadas.
E a cada dia que passo na empresa da Alli, eles crescem mais e mais...

***

— Então, para concluir, tudo parece bem. — O médico sorri para me


tranquilizar enquanto tira as luvas. — Deve ser um parto normal e natural, sem
complicações. Você tinha algum plano especial para o parto?
— Sim, — Alli interrompe. Tanto o médico quanto eu olhamos para ela.
— Nós vamos ter um parto em casa, bem aqui na casa.

— O que? — Eu rio alto. — De jeito nenhum. Vou para o hospital, não há


dúvida sobre isso. — Eu mudo minha atenção de volta para o médico. — Quando
devo ir ao hospital?

A mão de Alli pousa em meu ombro, dedos magros e ossudos cravando


em minha pele. — Eu disse, vamos ter um parto em casa.

Eu conto até três em minha cabeça antes de encará-la novamente. —


Não, não vamos.
— Confie em mim, — ela pisca para mim. — Eu fiz todas as pesquisas.
— Mas não é o seu bebê!
As palavras saem uma oitava alta demais. Em instantes, o ar na sala está
se contraindo e um arrepio desce pela minha espinha. O médico limpa a

BETTI ROSEWOOD
garganta, guardando suas coisas, e eu limpo minha barriga de frustração e jogo
as toalhas de papel na mesa enquanto me levanto.
— Sinto muito, Alli, vou para um hospital. Sei que mamãe teve um parto
complicado comigo e preciso de alguém lá para ter certeza de que está tudo bem.

— Ele está bem, — ela me corrige, dando ao médico um sorriso triste. —


Viu? É disso que estou falando. Ela nem mesmo reconhece que ele é uma pessoa
ali.
— Eu não queria assumir o sexo como você, — eu assobio, olhando para
o médico.
Eu esfrego minha barriga enquanto puxo meu vestido de volta para baixo.
— Nós o veremos em algumas semanas, doutor? — Eu pergunto
enquanto o cara se despede.
— Veremos. — Alli o leva para longe da cabana. — Precisa ir agora. Dr.
Meyer está muito ocupado.

— E quanto às minhas perguntas? — Grito atrás deles, mas Alli não para
de andar. O doutor olha por cima do ombro, mas ela rapidamente o enxota ao
virar da esquina antes que ele possa responder. Derrotada, volto para casa.

Com culpa, olho para os livros de maternidade que Alli acumulou. Eu


não li nenhum deles. Na verdade, ainda não acredito que isso esteja realmente
acontecendo.
Que vou ter um filho.

Mesmo com meu corpo mudando tanto, é difícil acreditar que estou tão
longe.
A vergonha ameaça me engolir. Me sinto péssima por não ser mais
dedicada ao bebê. Como Alli é - ela vive e respira por esse garoto, e ele nem
mesmo é dela.
O que está me incomodando nisso... algo que não fui capaz de admitir
para ninguém, nem mesmo para mim, é...
Eu legitimamente não tenho ideia de quem é o pai.
Pode ser qualquer um deles.
Julian, cruel e bonito.
Caspian, artístico e torturado.
Easton, distorcido e inteligente.
Pobre Lai morto.
Ou meu valentão, Dexter.
Embora Dex tenha uma chance maior de ser o pai do que os outros, não
posso ter certeza até que façam um teste de paternidade. Mas, ao mesmo tempo,
não saber manteria a mim - e ao bebê - mais seguros.

BETTI ROSEWOOD
— Estou de volta! — Viro-me para a porta da frente por onde Alli acabou
de entrar. Não respondo, me sentindo muito irritada, mas ela só precisa se
aproximar de mim. — Por que você foi uma vadia comigo na frente do Dr. Meyer?
Eu rio alto. — Você não pode estar falando sério.

— Estou falando muito sério. — Ela cruza os braços. — Você me fez


parecer uma idiota. Sou eu que estou fazendo a pesquisa. Você nem mesmo
escolheu um nome!
— Você está se esquecendo de algo muito importante, — eu a lembro com
um sorriso meloso. — Nada disso importa, porque no final do dia, sou eu que
vou ter o bebê.

Seu lábio inferior se contrai. — Você é uma menina tão triste, Pandora.
Apenas chorando e sentindo pena de si mesma o tempo todo. Ninguém se
preocupa mais com esse bebê do que eu. Muito menos você.
— O que aconteceu com você? — Eu a examino com meu olhar. — Você
mudou muito desde que te conheci, Alli.

Ela me ignora e puxa uma pilha de papéis de uma gaveta. — É hora de


falarmos sobre esses papéis novamente.
— Sobre o testamento? — Eu gemo. — Eu te disse, não há razão para eu
assinar isso.
O que não estou dizendo a ela é que mesmo que algo acontecesse comigo,
eu não a iria querer perto do bebê. Não com sua atitude controladora e louca
que ela tem ultimamente.

— Você tem que pensar no bebê agora, — ela continua como se eu não
tivesse falado nada. — Você não pode ser tão egoísta, Pandora. Você não pode
apenas pensar em si mesma.
Eu afino meus lábios enquanto ela espalha os papéis na mesa diante de
mim e começa a apontar os lugares para eu assinar.
— Aqui, aqui e aqui.

— Eu não vou assinar isso. — Sento-me com os braços cruzados e ela me


encara. — Você não pode me obrigar.
— Não me subestime, P. — Sua voz é gelada e quando nossos olhos se
encontram, um arrepio desce pela minha espinha.
Como eu pude confiar nessa garota? Eu nem a conheço.
— Eu posso fazer você fazer o que eu quiser. Afinal... o que você vai fazer?
Para quem você vai ligar? Você não tem mais ninguém. Só eu. Então é melhor
você fazer o que eu digo.
Desafiadoramente, levanto meu queixo e encontro seu olhar para dizer:
— Ou então o quê?

BETTI ROSEWOOD
Sua expressão muda. Seus lábios se contraem antes de ela sorrir
docemente. — Vou ligar para o seu pai.
— Por quê? — Eu exijo.

— Para dizer a ele que você está louca, — ela gorjeia. — Que eu tenho
testemunhado um comportamento perturbador desde que estou com você. Que
você não poderia cuidar deste bebê sozinha. Que você precisa de ajuda
profissional, e é melhor que ele a internasse. E que o bebê está melhor com ele
do que com você. Você simplesmente vai foder com ele.
Minha boca fica aberta com a quantidade de sarcasmo que ela está
vomitando. — Você está delirando pra caralho, Alli. Como pode dizer isso? Achei
que você se importasse com o bebê.
— Mais do que você, — ela zomba. — Isso é certo. Eu só tenho os
melhores interesses no coração, e sinto muito, P, mas você claramente não está
pensando direito, porque você não é a melhor coisa para este bebê. Eu sou.
— Como você pode dizer isso? Você não é nada disso. Não somos nem
parentes!
Sua boca se abre em um rosnado, mas ela cobre rapidamente,
inclinando-se sobre a mesa para me olhar nos olhos. — Você é tão idiota,
Pandora.
— Com licença?

— Você é uma ignorante. Estúpida. Uma idiota do caralho. A verdade está


te encarando e você se recusa a ver. Você não consegue ver?
— Ver o que? — Eu murmuro.
— Tudo, — ela sussurra.
Eu uno minhas sobrancelhas e olho para ela. Do que diabos ela está
falando?
— Dexter Booth não matou Lai, — ela diz com um sorriso doce. — Eu
matei.
Meu coração salta no meu peito e eu fico olhando para ela sem acreditar.
— O-o quê?
Ela ri alto, como se tudo isso fosse um jogo para ela. — Brinquedo idiota.
— Você... eu...

— Está certo. — Ela boceja, esticando seus membros longos e flexíveis.


— Você pensa sobre isso, P. Tenho certeza que vai demorar mais para descobrir,
já que seu QI é menor do que o número de caras com quem você fodeu.
— Você é... eu...

— Começando a juntar as peças do quebra-cabeça? — ela pisca para


mim. — Ou eu preciso te ajudar aí, gênio?

BETTI ROSEWOOD
— Por que você m-mataria Lai? — Eu gaguejo. — Você nem o conhecia...
Você disse que nunca tinha estado em Eden Falls...
— Você é tão ingênua, — ela zomba. — Você realmente acreditou em
mim? Uau, você é ainda mais burra do que eu pensava. Vamos, pense, P. Quem
esteve aqui antes de você? Quem você tem tentado constantemente fazer jus?
De quem você teve que preencher os sapatos? Com quem sua mãe me
confundiu?

Eu respiro fundo. Eu não quero dizer isso. Dizer isso significa admitir
que há verdade nisso, e não posso encarar os fatos agora. Mas as palavras saem
dos meus lábios antes que eu possa me conter.
— Lily Anna, — eu respiro.
— Diga isso de novo, — ela sussurra, seu rosto perto do meu. Eu examino
sua beleza, e aí está - cada pequeno sinal, cada característica que ignorei porque
estava tão preocupada com meus próprios problemas que nunca a vi como o
lobo em pele de cordeiro que é.
— Lily Anna Oakes, — eu sussurro. — Mas..., mas você está morta.
Ela agarra minha mão e pressiona a palma contra o peito. Eu coro,
sentindo seu batimento cardíaco rápido sob meus dedos. Tum. Tum. Tum.
— Ainda batendo, — ela sorri.
— Mas como...

— Descubra, — diz ela, acenando com a mão. — Trabalhe essas células


cerebrais, vadia. E a propósito? Agora que você sabe, os tempos de diversão
acabaram.
— Que porra é essa?
— Eu cansei de ser a doce e chata pequena Alli. — Ela sorri. — Agora
você vai conhecer o meu verdadeiro eu. E confie em mim, P. Você vai receber
um presente de merda.

BETTI ROSEWOOD
9
DEXTER
4 MESES DEPOIS

Ela está constantemente em minha mente.

Pandora Oakes. Eu deveria saber que a única pessoa que eu pensei que
não chegaria nem perto de ser a garota, seria que me colocaria de joelhos.
Já se passaram meses, meses sem ela, meses procurando por ela sem
qualquer tipo de sucesso. Ela simplesmente se foi - desapareceu no éter, sem
deixar vestígios.

Quando voltamos a Eden Falls depois de visitar a mãe de Pandora,


ficamos de olho no circuito interno da estação de trem, mas era tarde demais.
A filmagem mostrou Lily Anna e Pandora chegando naquela manhã, descendo
do trem e indo sabe Deus pra onde. Essa é a pior parte dessa merda de bagunça
- elas devem estar bem aqui, na cidade. Perto do toque dos meus dedos. E ainda
não temos ideia de onde procurar mais.

Com a ajuda dos caras e de Emilian Oakes, virei esta cidade de cabeça
para baixo em meu esforço para encontrá-los.
Mas eu não consegui. E esse fracasso me seguirá até o fim dos dias, e
terei que conviver com isso.

Minhas mãos formam punhos. Eu gemo, resistindo ao desejo de bater


meu punho na parede novamente. Eu penso sobre minhas opções. Enviando
mais equipes para encontrá-las. Verificando mais imagens de segurança. Mas
não há nada lá fora, porra nenhuma. Eu nunca as encontrarei. E, além disso...
já pode ser tarde demais.
O pensamento me deixa, Dexter filho da puta Booth, assustado.
E eu não fico com medo.

Mas não posso perder Pandora. Principalmente agora, sabendo que ela
está tão vulnerável, sabendo que está grávida. Uma criança que poderia ser
minha. Uma criança que tenho que salvar de Lily Anna.
Fico dizendo a mim mesmo que só estou fazendo isso por causa do bebê,
mas, no fundo, sei a verdade. Eu quero Pandora de volta. Sinto falta do corpo
dela ao lado do meu. Saudades de nossas conversas. Sinto falta de provocá-la,
de machucá-la. Sinto falta de uma pequena vítima disposta, um brinquedo para
brincar sempre que preciso.

Agora é quase tarde demais no jogo. Ela está grávida, sua barriga cheia
de vida, crescendo dentro dela.
Em breve, ela será uma mãe. E eu não estarei lá para ela, ou para o bebê.
Eu bato meu punho na parede.

BETTI ROSEWOOD
— Dexter! — Emilian Oakes sibila. — Talvez você precise respirar.

Eu olho para o pai de Pandora, odiando cada momento de nossa


interação. Fomos forçados a ficar juntos em um jantar celebrando as realizações
arquitetônicas do pai de Julian, mas minha mente está em outro lugar, e todos
podem dizer. Já se fala na cidade que estou nesta festa, apesar da suspeita de
que matei Lai ainda pairando no ar.
— Tudo bem, — eu assobio para o homem mais velho, puxando a manga
de Julian. — Vamos, cara, vamos embora.
Meu amigo olha desconfortavelmente entre seu pai e o Sr. Oakes. Seu pai
dá um aceno quase imperceptível, que é quando ele finalmente me segue até a
varanda com vista para Fox Hall.
— Você tem que parar de agir como a vadia do seu pai, — eu resmungo
para Julian, e ele suspira.
— Você está bêbado pra caralho, Dex.

— E daí? — Eu murmuro, batendo na cerca da varanda e rindo alto. —


O que eu tenho a perder? Prefiro beber e esquecer, do que ficar sóbrio e lembrar.
Cada maldito segundo cada maldito dia.
— Você se afastaria da borda? — Julian pergunta, sinalizando por ajuda.
— Pelo amor de Deus, Dex, você realmente quer se machucar além de tudo
mais?

Caspian chega um momento depois, e Easton faz o mesmo. Juntos, eles


me arrancam da cerca. Descemos as escadas e entramos no jardim que foi
iluminado por luzes de fada. É lindo aqui, lindo e sem sentido pra caralho.
Parece que tudo perdeu aquele brilho que costumava ter. Ou talvez seja apenas
porque eu não tenho meu pau chupado há malditos meses.
— Alguma pista nova? — Eu assobio para Brantley enquanto
caminhamos para os jardins atrás da casa de Julian. — O que aconteceu com
aquele cara local que notou uma garota suspeita na cidade?
— Pedimos a ele para ficar de olho nela, — murmura Easton. — Mas ela
não reapareceu desde então.
— Porra! — Eu chuto uma pedra no caminho de cascalho, repetindo o
palavrão uma vez e outra. — As chances são cada vez menores com o passar do
tempo.
— Ela não está morta, — Caspian murmura.
— Você não sabe disso, seu filho da puta, — eu resmungo.

— Acalme-se. — Easton agarra meu ombro e me estabiliza. — Sério, cara.


Você precisa se acalmar. Você está agindo como um louco. Estamos apenas
tentando ajudá-lo.
— Eu não sou a prioridade aqui, — eu rosno. — Pandora é. E o bebê.

BETTI ROSEWOOD
— Você não acha que nós queremos encontrá-la também? — Julian
pergunta. — Estamos todos nisso, Booth. E queremos que Lily Anna seja levada
à justiça, tanto quanto você.
— Duvido. — Eu corro meus dedos pelo meu cabelo. — Porra. Porra.
Estou uma bagunça.
Eles me cercam enquanto eu ando entre eles tentando pensar em novas
maneiras de encontrar meu brinquedo. Mas não há nada - esgotamos todos os
nossos recursos. Não há mais nada. Ou Pandora se foi há muito tempo... ou ela
não está em Eden Falls.
Nesse momento, meu telefone vibra com uma notificação. Não quero
prestar atenção nisso. Provavelmente é apenas Audra ou alguma outra vadia
sedenta do meu passado, desesperada para que eu faça uma visita a ela. Mas
algo me implora para pegar meu telefone e meus olhos se arregalam quando
vejo o que está na minha tela.
— Nova mensagem de um número não salvo, — murmuro.
— Abra, — diz Caspian.
Eu clico na notificação e a mensagem é carregada no meu telefone. É
uma foto. Enquanto nós quatro esperamos que ela abra, minhas unhas cravam
em minhas palmas enquanto mais e mais da foto aparece.
É Pandora. Ela está com uma expressão de pânico no rosto, mas ela
ainda está linda, mesmo sem seu cabelo ou maquiagem feitos. Lily Anna está
ao lado dela, com seu sorriso doce e inocente para a câmera. A palma da mão
de Lily Anna está pousada no estômago inchado de Pandora, e meu coração e
meu estômago embrulham quando vejo isso.
Porra. Ela está bem. Ela está viva. Ela ainda está grávida.
A mensagem soa um momento após a fotografia.
Chegando tão perto agora! x P & LA
— Oh meu Deus, — eu gemo. — Eu sei onde elas estão porra.
— O que? — Caspian administra. — Você sabe?

— Pegue Emilian Oakes, — eu rosno. — E Kelley. Vamos pegar o carro


deles, temos que ir. AGORA!

Easton corre para pegar Oakes, e eu vou para o Aston Martin onde Kelley
está. Ele parece sentir a urgência em minha caminhada, guardando seu jornal
e acenando para mim com ar cansado quando me aproximo dele. Ele também
está arrasado com o desaparecimento de Pandora e confidenciou-me várias
vezes sobre como ele se aproximou do meu brinquedo durante as idas e vindas
da Prep.
— Para onde estamos indo, Mestre Booth? — Ele pergunta, sem hesitar
por um segundo enquanto desliza de volta para o banco do motorista.

BETTI ROSEWOOD
— A velha cabana de madeira dos Oakes, — murmuro. — É onde elas
estão se escondendo.
— Como diabos você sabe disso? — Julian exige. Caspian segue de perto,
seus olhares preocupados me rastreando enquanto eu toco meus dedos contra
a porta do carro.
— Eu reconheci um dos troféus de caça no fundo, — murmuro,
apontando para o fundo da foto onde a cabeça de um veado está pregada na
parede. — Sempre odiei essas coisas. Onde diabos está Oakes?
— Estou aqui! — Emilian desce correndo os degraus, parecendo corado
enquanto desabotoa a gravata borboleta e os primeiros botões da camisa. —
Você realmente sabe onde elas estão?
— Positivo, — murmuro. — Vamos, porra, agora.

Colocamos nossos cintos de segurança e Kelley sai da garagem com a


insistência dos caras que eles deveriam vir. Mas eu não quero que eles façam.
Estou apenas levando Oakes para que ele me impeça de matar Lily Anna quando
a encontrar.
Não sei se o texto é um jogo doentio da parte dela ou outro ardil astuto.
Por que ela me enviaria isso? Por que ela iria foder com a minha cabeça ainda
mais? Ela é uma vadia do caralho. Não vou deixá-la viver depois disso. Não se
ela machucou o bebê.
Nós dirigimos em silêncio, o ar pesado com a tensão. Não tenho nada a
dizer a Oakes e ele parece muito preocupado com seus próprios pensamentos
para lidar comigo, de qualquer maneira.
Minha mente volta para Pandora. Ela parecia tão grávida naquela foto, e
ainda assim exatamente como eu me lembro dela. A dura verdade disso me
ocorre - faz meses desde a última vez que a vi, senti sua pele na minha. Talvez
ela não me queira mais. Talvez meu efeito sobre ela tenha diminuído. Talvez ela
tenha me esquecido.

Mas então me lembro de seu olhar atormentado na fotografia. Ela parecia


torturada, infeliz, miserável. E ela nunca pareceu assim comigo. Talvez
desafiadora, teimosa, irritada, mas ela nunca foi infeliz. Lily Anna fez isso. Lily
Anna pegou meu lindo brinquedo e a transformou nisso.

Estou preocupado com a expressão triste no rosto de Pandora. Não


suporto pensar no que estava causando sua carranca. Sua barriga, inchada
com uma criança crescendo nela. Um filho que pode ou não ser meu.

Não sei o que seria um alívio maior - descobrir que afinal sou o pai ou
aceitar que não sou.
Não sei como a verdade afetará minha decisão ou a de Pandora. Se for
Julian, Caspian ou Easton... ela pode escolher qualquer um deles ao invés de
mim.
E isso dói pra caralho.

BETTI ROSEWOOD
Eu odeio a sensação de dor.

Odeio a maneira como isso incha no meu peito e me impede de respirar


corretamente. Odeio o quão inseguro isso me faz sentir. Mas tento aceitar, quase
convido a entrar. A escuridão sempre fez parte de mim. Talvez seja finalmente
hora de eu segurar a porta aberta para que ela entre.
Há uma chance de ela não me querer. Se isso acontecer, farei tudo ao
meu alcance para convencer Pandora Oakes de que a mereço.
E se ela escolher outra pessoa, vou deixá-los viver suas vidas, felizes,
juntos.

Mas se ela me escolher... então... talvez, finalmente, terei uma chance de


ser feliz também.

Minhas unhas cravam dolorosamente em minhas palmas. Estamos


quase na metade do caminho para a cabana e estou sendo uma porra de uma
bagunça sentimental.
— Quanto tempo mais? — Eu assobio, embora eu saiba a resposta.
— Mais vinte minutos, infelizmente, Mestre Booth, — Kelley responde se
desculpando. — As estradas aqui são horríveis.

Eu gemo, passando minhas mãos pelo meu cabelo. — Por que ninguém
pensou em verificar a cabana?
— Está abandonada há anos, — responde Oakes. — Ninguém sabe sobre
isso.
— Lily Anna, — eu assobio. — Você deveria imaginar.
— Você também deveria, — Emilian contra-ataca.
Ele tem razão.
Isso é tudo culpa minha, porra.

Passei o resto da viagem sentado em um silêncio carregado. Quando


paramos na frente da cabana, quase caio sobre mim mesmo, saltando do carro
ainda em movimento e correndo em direção à casa. Não há luzes acesas.

Eu tropeço para dentro, viro o interruptor e chamo o nome de Pandora.


Eu tropeço, batendo em algo pesado no chão.

— Que porra é essa, — murmuro. Quando eu olho para baixo, o medo


sobe pela minha espinha.

É um cadáver. Um novo. O sangue se acumulou sob o cadáver do homem


imóvel. Ele tem um estetoscópio em seu pescoço e uma faca ao lado dele, coberta
com seu sangue.
— Puta merda, — Emilian murmura enquanto caminha atrás de mim.

BETTI ROSEWOOD
Aponto para uma pegada ensanguentada saindo do corpo. — Alguém saiu
por esta porta. Você precisa encontrá-las. Siga as pegadas. Encontre quem fez
isso.
É então que ouvimos um gemido vindo da outra sala, e todos nós
passamos por cima do cadáver. Eu ligo outro botão e me sinto mal do estômago
quando vejo a cena diante dos meus olhos.
O piso de madeira é coberto por lençóis não mais brancos. Eles estão
cobertos de sangue. Alguns descendo da cozinha, alguns vindo da forma frágil
caíram no chão.
É ela, é meu brinquedo, e ela não está se movendo.

— Pandora, — eu grito, dando um passo em direção a ela antes de me


virar para Oakes. — Vá atrás de Lily Anna. Chame a polícia e uma ambulância.

— Mas precisamos ter certeza de que Pandora está... — ele objeta, mas
eu o interrompo antes que ele possa terminar.

— Vá! — Desta vez, ele obedece, deixando-me sozinho com meu


brinquedo quebrado.
Ajoelho-me ao lado dela enquanto ouço Oakes e Kelley correndo atrás
dela.
Os lábios de Pandora estão azuis e ela parece mortalmente pálida. Não
permito que meu medo assuma o controle. Em vez disso, tento acordá-la.
Por mim.
E pelo nosso bebê também.

BETTI ROSEWOOD
10
PANDORA

— Esse foi outro. — Eu empalideci, segurando minha barriga e tentando


respirar normalmente. — Você tem que me levar para a cidade agora, Lily Anna.

— Eu não tenho que fazer nada, — ela retruca antes de voltar sua atenção
para o livro que está segurando. — Porra, não diz nada sobre o sangramento.
— Lily Anna, — eu gemo. — Por favor, estou te implorando, faça isso pelo
bebê, se não por mim... Eu não quero que ele se machuque.

Ela fecha o livro e o coloca de volta na prateleira antes de andar pela sala,
passando as mãos pelos cabelos enquanto pondera sobre seu próximo
movimento. Enquanto espero que ela tome a decisão certa, outro grito sai do
meu corpo e eu grito de dor. Isso é tortura. Tortura pura.
— Tudo bem, — ela sibila. — Vou chamar o médico para subir aqui.

— Eu preciso ir para um hospital! — Eu começo a chorar. Ela está


delirando se pensa que posso ter o bebê aqui. Não estamos preparados para
nada. — Por favor, Lily Anna, por favor! Você terá o sangue do bebê nas mãos
se algo acontecer... Você realmente quer isso na sua consciência?
— Cale a boca, — ela rosna antes de pegar sua jaqueta. Ela sai, trancando
a porta duas vezes atrás dela. Eu lamento, impotente, mas não há ninguém por
perto, ninguém para me ajudar. Presumo que Lily Anna tenha dado uma gorjeta
ao zelador com seus favores naturais, porque ele finge não me ver toda vez que
passa e eu bato na janela para que ele me ajude.
Agora, estou sozinha e apavorada. Os segundos se transformam em
minutos e logo, já se passou uma hora desde que ela saiu. Mas então eu
finalmente ouço vozes, e os ouço entrar. Eles estão discutindo.
Faço contato visual com o médico, que parece preocupado, e não consigo
mais conter as lágrimas.
— Por favor, — eu sussurro. — Você tem que me ajudar.
— Você vai ter que perdoá-la, doutor, — Lily Anna diz docemente. — Ela
está delirando com o parto. Você trouxe os analgésicos, não trouxe?

Dr. Meyer olha entre nós duas, como se não tivesse certeza em quem
acreditar. Finalmente, ele balança a cabeça e coloca sua pasta sobre a mesa,
começando a mexer em suas coisas enquanto dá instruções a Lily Anna. Eles
me colocaram no chão em alguns lençóis limpos, apoiada em travesseiros. Sei
que as coisas não estão bem, no momento em que vejo o rosto do Dr. Meyer
depois que ele me examina.
— O que há de errado? — Eu sussurro. — O bebê está bem, certo?

Ele não me responde. Eu não consigo parar de chorar. Toda a situação é


estressante e enlouquecedora porque Lily Anna está me impedindo de dar à luz

BETTI ROSEWOOD
ao bebê com segurança. Digo a mim mesma que nunca vou perdoá-la por toda
a merda que ela me fez passar, fazendo uma promessa mental de fazê-la pagar
por tudo que ela fez para mim.
Quando ela sai da sala, alegando que meus gritos estão lhe dando dor de
cabeça, pego a camisa do médico e o puxo para perto.
— Você tem que me ajudar. — Estou gaguejando em meu esforço para
dizer as palavras antes que ela volte e me pegue no ato. — Ela é louca.
Totalmente louca. Eu acho que ela quer roubar o bebê.
— Alli? — Ele pergunta, empurrando os óculos para cima na ponta do
nariz e rindo. — Não, não, ela não faria isso...

— O nome dela não é Alli, — eu rosno, deixando escapar um grito


desesperado. — É a porra da Lily Anna...

— Pandora. — Ela aparece na porta. Seu olhar é frio e calculista, preso


ao meu. — Você vai querer calar a boca agora.
Mas é tarde demais para isso.
O Dr. Meyer já está olhando para ela e seus olhos se arregalam quando
ele percebe.
— É realmente você, — ele sussurra. — Você é filha de Emilian Oakes.
— Não, — eu rosno. — Eu sou. Ela é a porra de uma... ninguém. Uma
impostora.
— Cale-se! — Lily Anna ruge, apontando para mim enquanto se dirige ao
Dr. Meyer. — Você precisa fazer o parto deste bebê, agora mesmo.
— Mas você é... — Ele balança a cabeça quando eu grito de novo, se
levantando. — Estou chamando a polícia. E uma ambulância. Você sabe que
todo mundo está procurando por você?
— Não seja louco agora. — Lily Anna bloqueia a saída. — Me passa seu
telefone.
— Não, — Dr. Meyer balança a cabeça. — Eu deveria ter percebido que
algo estava errado... Eu deveria saber que você não era quem disse que era.
— Mas você ficou mais do que feliz em me foder, — Lily Anna rosna. —
Você colocou seu pau em cada um dos meus buracos. Como sua esposa se
sentiria sobre isso, Dr. Meyer?

— Não importa. — Ele balança a cabeça, discando um número em seu


telefone. — Você está doente. Estou chamando a polícia.

— Não, você não está. — Lily Anna parece tão determinada que estou
momentaneamente distraída da terrível dor na minha barriga. — Abaixe o
telefone.
Ele não abaixa. Em vez disso, ele leva a mão ao ouvido, dizendo a ela: —
Você é uma menina doente, Lily Anna. Vou contar tudo ao seu pai.

BETTI ROSEWOOD
Ela rosna então, lançando-se sobre ele. Eu grito por ajuda, mas a ajuda
não vem. De alguma forma, Lily Anna conseguiu pegar o médico desprevenido
e o derruba, sentando-se sobre ele no chão. Ela tira o telefone da mão dele e ele
tenta desesperadamente alcançá-lo, mas ela apenas ri.

— Veja o que acontece quando você é mau? — ela pergunta a ele


inocentemente. — Você me irritou agora, doutor. E agora eu tenho que puni-lo.
— Que porra é essa? — ele rosna quando ela prende as mãos dele atrás
da cabeça. — Você está louca? Aquela garota precisa da minha ajuda... Ela pode
sangrar se não a levarmos para um hospital.
— Veja se eu me importo? — Lily Anna me dá um sorriso meloso. — Eu
não dou a mínima para a pequena Srta. Oakes. Tudo que me importa é o bebê.
Com essas palavras, ela puxa uma faca de cozinha gigante de sua bota.
Eu fico olhando em descrença enquanto ela o brandia na frente do médico.
— A-agora, não faça nada estúpido, p-por favor, — ele consegue,
erguendo as mãos. — Sou um homem de família, Lily Anna. Tenho dois filhos.

— Talvez eu também transe com eles, — ela diz com um sorriso malicioso.
— Ver se eles são melhores do que seu pai velho e inútil. Ainda quer chamar a
polícia, não é, Dr. Meyer?
— N-Não, — ele consegue. — Não vou ligar para eles, não vou contar a
ninguém, me deixe ir, por favor.

— Oh, agora você está tão ansioso para manter esse segredo, não é? —
ela ri. — Apenas alguns momentos atrás você estava pronto para me colocar
atrás das grades... Meu brinquedinho mudou de ideia?
Eu grito em uníssono com o médico quando ela passa a lâmina em sua
bochecha. O sangue escorre por seu rosto.
— Algum outro comentário, doutor? — ela pergunta docemente.
— N-Não, por favor, — ele gagueja. — Apenas me deixe ir. Por favor.
Apenas me deixe ir. Eu não fiz nada. Eu só quero ir embora.

— Eu aposto que você quer. — Ela faz beicinho. — Mas você já fodeu tudo
agora, não é, doutor? Não posso mais confiar em você. Você é um traidor. E
sabe o que eu faço com traidores?

Ele a encara, imobilizado e apavorado enquanto ela mergulha a faca em


seu peito, rindo.
Meu grito ecoa na sala enquanto ela ri alto.
— Eu os mato, doutor. Eu os mato, porra.
O médico gorgoleja sangue. Ela o deixa no chão. Eu a vejo puxar a faca
de seu peito em descrença. Isso não pode estar acontecendo, não pode ser real.
Por favor, Deus, não deixe isso ser real.

BETTI ROSEWOOD
— L-Lily Anna, — eu sussurro. — Você não ouviu o que ele disse?
Precisamos ir a um hospital... Eu posso sangrar até morrer.
— Eu pareço estar me importando? — ela rosna. — Continue
empurrando, sua vagabunda idiota. Tire meu bebê daí.

— Seu... mas... eu... — Um grito rasga meu corpo e eu percebo que não
tenho escolha. Este bebê está chegando, quer eu queira ou não - não posso
parar o que está acontecendo agora. Vou ter que dar à luz aqui e me vingar mais
tarde.
A dor é tão intensa que continuo desmaiando. Para crédito de Lily Anna,
ela fica ao meu lado, nunca me deixando enquanto eu luto. Em um ponto, eu
olho para baixo entre minhas pernas e grito quando vejo a quantidade de sangue
manchando os lençóis brancos de neve.

— I-isso não parece normal, — eu choro. — Por favor, você tem que me
levar a um médico!
— Talvez se você não fosse uma vadia idiota, o médico ainda estaria aqui,
— ela rosna. — Mas você me fez fazer isso. Você me fez matá-lo. É tudo sua.
Maldita. Culpa!
— Por favor, Lily Anna. — O pânico me inunda. Estou molhada e pegajosa
com meu próprio suor e sangue e nunca estive com mais medo na minha vida.
Não apenas pela minha própria vida, mas também pela do bebê. — Por favor,
estou te implorando, me consiga a ajuda de que preciso.
— Cale a boca, — ela sibila. — Continue empurrando.
Ela se posiciona na frente de minhas pernas abertas. Seus olhos se
arregalam quando ela vê o meu estado, mas ela não o aborda. Em vez disso, ela
apenas espera enquanto eu empurro.
Não sei quanto tempo tudo dura. Estou muito desorientada, muito
exausta, com muita dor para prestar atenção em qualquer coisa, exceto nas
contrações que torcem meu corpo e me dobram. E então eu ouço, através da
névoa espessa que desceu diante dos meus olhos. Um bebê chorando.
— Oh meu Deus. Oh meu Deus. Oh meu Deus.
Eu olho para cima. Meus cílios estão pesados, as lágrimas escorrem pelo
meu rosto e estou me sentindo tonta. Eu a vejo então, Lily Anna, segurando um
menino. Ele é um menino - definitivamente um menino - e é lindo. Perfeito.
Acontece que não preciso desse teste de paternidade. No momento em
que o bebê entra no mundo, eu sei quem é seu pai.
— Reign, — eu sussurro. — Meu bebê Reign.

Eu tinha escolhido o nome semanas atrás, mas mantive isso em segredo


de Lily Anna até agora. Eu não queria que ela bisbilhotasse ou tentasse tomar
minhas decisões por mim. Eu não queria que ela tentasse me dissuadir de usar
o nome. E agora ela se vira para me encarar. Sua expressão maternal de amor
muda instantaneamente para uma raiva fria.

BETTI ROSEWOOD
— Esse não é o nome dele, — ela sibila. — Você não pode nomeá-lo.

— Ele é meu filho. — Eu grito, mas ela não liga para mim. Eu a vejo cortar
o cordão umbilical e limpar o bebê suavemente. Ele está quieto agora. Quase
quieto demais. Ele só chorou uma ou duas vezes. — Dê ele para mim, Lily Anna.
Dê-me meu filho.
— Ele não é seu. — Ela começa a vesti-lo e eu fico olhando para eles, me
sentindo congelada. — Mas o negócio é o seguinte, Pandora. Vou jogar um
joguinho com você, um jogo de azar. Você gosta disso?
Não consigo nem responder. Minha boca está grossa, assim como minha
cabeça. Eu mal posso choramingar.

— Veja, meu plano era este... — Lily Anna chega perto de mim e sorri,
colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu ia te matar. Então
voltar com o bebê e dizer a todos que era meu. Lai seria o pai, claro. Ele me
estuprou, então eu tive que matá-lo. Eu escapei então, logo descobrindo que
estava grávida. E então eu dei à luz ao meu filho mais cedo. Pequeno Dexter
Junior.

— Você está doente, — eu consigo dizer com os dentes cerrados. Ela


encolhe os ombros, sorrindo.
— Eu tive que fazer o que tinha que fazer para trazer Dex de volta. Ele
não é seu, Pandora. Ele nunca foi. — Ela me cobre com um cobertor e eu vejo o
sangue florescer no tecido rosa claro. — Eu coloquei algo na sua bebida esta
noite. Você nem percebeu, não é?
Eu fico olhando para ela, me sentindo cada vez mais congelada.
— Você não tinha ideia, — ela sorri triunfante. — Tão estúpida, P. De
qualquer forma. Você parece ter reagido mal aos remédios. Você está sangrando
muito, cara triste.
Ela faz beicinho enquanto eu grito por ajuda. Mas minha voz está
quebrada, perdida. Ninguém vai me ouvir aqui.
— Então, vou lhe dar adeus agora, minha querida, — ela sorri. — Vou
levar Dex Jr. comigo. Você tenta viver, não é? Mas tenho certeza de que não vai.
Vou dizer a Dexter que você manda lembranças de qualquer maneira.
Ela me sopra um beijo e se levanta do chão. Eu vejo horrorizada enquanto
ela coloca o bebê em uma cadeirinha e desaparece de casa. Minhas pálpebras
ficam cada vez mais pesadas e luto para me concentrar em qualquer coisa.
Minha consciência está lentamente se afastando. Uma lágrima solitária desliza
pela minha bochecha direita antes que a escuridão me leve para casa.

BETTI ROSEWOOD
11
PANDORA

Eu sei que é um sonho, mas isso não está ajudando. Significa apenas
que não há limitações desta vez, sem consequências para suas ações.

Estou amarrada a uma cadeira no meio de uma sala vazia. Uma lâmpada
oscila acima de mim, lançando sombras ao redor da sala. Os meninos me
cercam. Apesar de estarem todos usando máscaras, eu os reconheço pelos
movimentos, pela maneira como estão. Todos estão vestidos com ternos e todos
usam a mesma máscara branca que cobre os olhos. Eles se aproximam de mim.
— Você tem sido um brinquedinho ruim, não é, Pandora? — um deles
fala alto. Eu poderia tentar descobrir quem é quem, mas estou muito cansada.
Eu fecho meus olhos e inclino minha cabeça para trás na cadeira. Há algo na
ponta da minha língua, algo no fundo da minha mente. Algo tão
desesperadamente importante. Mas não consigo segurar o pensamento.
Continua escorregando pelos meus dedos. Então, eu simplesmente desisto, vou
com o fluxo. Eu finjo jogar.
— Sim, senhor, — eu sussurro em meu sonho. — Você vai me punir?
— Claro, meu brinquedinho. Para o que mais você está aqui? — Um
chicote atinge minha coxa e eu grito de dor. Eu fico olhando para minha perna,
onde uma marca vermelha já está florescendo. — Vou bater em você quantas
vezes forem necessárias para você admitir.

— Admitir o quê? — Eu grito quando o chicote me atinge novamente e


novamente. Os outros se juntam agora, batendo, beliscando, puxando meu
cabelo e desgastando meus nervos. — Admitir o quê? Por favor, me diga o que
você quer que eu admita!

Ninguém me responde até que ouço o primeiro sussurro em meu ouvido.


Quando me viro para encarar a voz, ele já se foi, mas o sussurro ainda está lá.
No fundo da minha mente. Na ponta da minha língua.
Você sabe o que fez.

Isso não para. Incansavelmente, ele corrói minha consciência,


lembrando-me uma e outra vez o que significa, o que eu sou.
O que eu deveria ser.
Eu grito. As lágrimas não caem porque eu não vou deixar. Mas eu
mantenho meus olhos abertos. Quero que todos vejam o que estão fazendo.
Infelizmente para mim, leva apenas alguns minutos, terrivelmente dolorosos,
para meus apelos desesperados por misericórdia se transformarem em gemidos
por mais. Eles sabiam que isso ia acontecer e começaram a rir de mim, a
ridicularizar-me, a zombar de mim. Aposto que eles estão adorando isso.
Amando me machucar.
E eu também estou.

BETTI ROSEWOOD
Eu sinto o primeiro orgasmo crescendo. Não sei mais o que é real, mas
me agarro à sensação. As borboletas no meu estômago. A umidade entre minhas
pernas. Deixo a pura euforia assumir, mas no momento em que estou no auge,
ela para.

— Você não merece isso, — a voz fantasmagórica de Dex sussurra em


meu ouvido. — Não até que você admita.
— Admitir o quê? — Eu sussurro entrecortado, depois repito, mais alto,
com mais raiva. — Admitir o quê, seu idiota de merda?
Eles começam de novo, entoando as palavras, me cercando.
Você sabe o que fez, você sabe o que fez.
— O que eu fiz? Diga-me, apenas me diga, — eu fungo.

— Você fugiu! — As duas palavras ecoam pela sala na voz profunda e


irritada de Dexter. — Você me deixou, Pandora. Você me deixou. Você tirou meu
brinquedo favorito. Você sabe o que quero dizer, não é? O pequeno buraco entre
suas pernas. É tudo meu, e você o tirou de mim. E agora você vai pagar por
isso.
Algo entre um gemido e um suspiro me escapa e luto contra as cordas.

— Apenas me deixe ir, porra. — Eu imploro, apesar de saber a quão


patética eu pareço. — Por favor, eu não vou contar a ninguém o que você fez,
apenas me deixe ir, porra!

— Sem chance no inferno, brinquedo, — sibila Dex, e as outras quatro


figuras repetem as palavras. — Você é minha agora. Então, apenas admita.
Admita já!
A pressão crescendo dentro de mim é insuportável. Eu sei que é um
sonho. Tem que ser. Mas não consigo acordar. Fui empurrada para água gelada
sem qualquer esperança de voltar para respirar. Estou entorpecida, mas sinto
tudo, e é lindo.

— Eu não sei o que você quer de mim, — eu sussurro, me sentindo mais


quebrada do que nunca. — O que você quer, Dex? O que você quer?
— Isso, — ele grunhe. Eu olho para baixo e há um coração batendo em
sua mão. Eu choro, choro e choro, mas quando abro os olhos novamente, ainda
está lá. Batendo. — Pegue o meu. E me dê o seu, brinquedo.
— N-não, — eu grito, lutando. — Saia de perto de mim!

— Eu nunca vou deixar você, — Dex sussurra em meu ouvido. — Você


tem uma parte de mim agora. E eu tenho uma parte de você.

Ele estala os dedos e a sala se esvazia. Então somos só eu e ele, e não


estou mais amarrada a uma cadeira. Estou em uma cama agora, e o quarto está
escuro e perigoso, com brinquedos e aparelhos projetados para me fazer sofrer,
cobrindo todas as superfícies do chão e das paredes.
— O que é este lugar?

BETTI ROSEWOOD
— Você gostou disso? — ele sorri. — Eu mandei construir só para você,
meu brinquedinho favorito.
— O que você vai fazer comigo? — Eu sussurro.

— Espere e veja, meu brinquedinho. Espere e veja. — Dex vai até a


parede, examinando cuidadosamente os chicotes pendurados em ganchos. —
Eu me pergunto qual eu devo usar com você. O mesmo que eu fui atingido
quando seu pai me puniu? Você poderia lidar com isso?
— N-não, — eu consigo. — Por favor, não...
A memória de suas chicotadas está muito fresca em minha mente. As
cicatrizes devem ser horríveis.
— Um gato tão assustado. — Dex ri facilmente. — Tudo bem, vamos pegar
leve com você. Talvez um bom chicote de couro.
Ele pega um deles de uma mesa cheia de instrumentos projetados para
tortura sexual. Eu engulo em seco quando vejo sua arma de escolha. É couro
vermelho escuro, com tachas de prata espetadas nas borlas.
— Não vou me esforçar muito, — ele promete. — Apenas o suficiente. Para
você se lembrar do que deveria admitir para mim.

— Eu não sei o que você quer de mim, — lamento, desviando o olhar com
medo enquanto ele passa as borlas sobre meu peito nu. É tão bom que
enrubesço de vergonha. — Por favor, Dex...

— Cave fundo, brinquedinho. — Ele sorri para mim, sabendo que detém
todo o poder. — Cave até descobrir todos os seus segredos.

Ele abre minhas pernas à força. Eu vejo sua saliva escorrer para baixo,
bater na minha boceta e me ouvir gemendo quando ele me fode com dois dedos.
— Não precisava nem de brinquedo, não é? Você já estava molhada pra
caralho para mim, sua putinha...
— P-por favor, — eu consigo. — Não me machuque.
— Eu não vou, — ele promete. — Apenas me dê o que eu quero.

Ele começa a me bater suavemente com as borlas. No início, arde. Mas


quanto mais ele aumenta sua força, melhor é o impacto. Sim, elas picam, mas
Deus, é tão delicioso. O couro e as tachas deixam beijos vermelhos na minha
pele. Eu coro, me odiando quando o primeiro gemido escapa dos meus lábios.
Dex não reconhece, não diz uma palavra.
Ele simplesmente continua batendo. Lentamente, com paciência,
sabendo que ele vai conseguir o que quer no final, porque não há como eu
resistir a isso. Resistir a ele.
— Eu vou continuar, brinquedo, — ele me diz gentilmente. — Vou
continuar até você admitir a verdade.

BETTI ROSEWOOD
Eu continuo implorando e implorando até minha voz sair. Eu nem sei
mais o que estou pedindo. As palavras estão bem aí. Eu poderia dizê-las agora.
É claro que sei o que Dexter Booth quer ouvir. Afinal, ele já me forçou a dizer
isso antes.

— Vamos lá, brinquedo, — ele me incentiva. — Diga. Diga por mim.


Admita. Diga-me como você se sente. Diga-me o que você quer.
— Eu preciso... — Minha voz falha e eu grito quando ele me bate de novo,
mas não porque dói. Porque ele é muito gentil, e eu quero uma dor mais
deliciosa e bonita. — Eu preciso de você, Dex...
— Conte-me mais, — ele exige. — Conte-me tudo.

— Eu preciso de você. — De repente, estou desesperada. Ansiosa para


falar as palavras. Talvez esta seja a última chance que tenho, porque parece que
estou sendo puxada para algum lugar muito, muito longe daqui. — Eu quero
você. Não quero ninguém além de você, Dexter. Eu te amo. Eu te amo.
— Isso mesmo, — ele murmura, mas o som está muito distante. — Isso
mesmo, meu lindo brinquedinho, isso mesmo...
Eu choramingo, tentando alcançá-lo, mas ele está muito longe, e estou
perdida na escuridão novamente.
Ela puxa e puxa, exigindo que eu caia mais fundo, me entregue à
corrente.
Mas eu luto contra isso tanto quanto posso.
Eu luto, porque não vou perdê-lo novamente.
Eu quero Dexter Booth, e ninguém vai tirá-lo de mim.

***

— Pandora, porra, por favor, por favor, estou implorando. Por favor,
brinquedo. Por favor.
Meus olhos se abrem, mas não consigo manter a posição. Eu me sinto
tão pesada e tão leve ao mesmo tempo.
— Pare com isso, Dexter, — murmuro, mas desta vez as palavras parecem
diferentes do que no sonho. Elas são mais pesadas, carregando mais uma
implicação. — Apenas pare com isso, porra.
— Olhe para mim, brinquedo, por favor - apenas olhe para mim. Eu
preciso ver esses lindos olhos.

Uma mão agarra minhas bochechas e meus olhos se abrem, adrenalina


correndo em minhas veias. Eu luto contra o toque indesejado e desconhecido.
— Pare de resistir, — sibila Dex. — Olhe para mim.

BETTI ROSEWOOD
E eu faço. Eu forço meus olhos a abrirem e olho profundamente nos dele.
Não é um sonho desta vez, não pode ser. Eu conhecia aqueles olhos como a
palma da minha mão. Mas eles estão diferentes agora. Mais escuros. As piscinas
parecem mais profundas. Há dor neles. Havia dor antes, mas era aguda e
profunda. O novo tipo é em camadas. Uma coisa em cima da outra. Muitas
coisas tristes para contar, todas empurrando Dex para baixo.
Solto um soluço quando ele me abraça.

— Onde ela está? — Eu consigo, finalmente acordando, mesmo que esteja


lentamente perdendo a consciência de novo. — Onde está Lily Anna com o bebê?
Dex se afasta e alisa meu cabelo do rosto, mas sei que é apenas uma
tática de distração.
— Onde eles estão? — Eu rujo.

— Não sabemos, — Dex admite entrecortado. — Estamos tentando


encontrá-los.

— Você tem que ir atrás deles. — Eu tropeço nas palavras em um esforço


para colocá-las todas para fora o mais rápido possível. — Ela saiu com o bebê
em uma cadeirinha. Deve ter passado muito tempo desde que ela partiu. Vá,
Dexter, vá... Por favor...
— Emilian foi atrás deles, — ele murmura, me segurando perto. — Ele
vai encontrá-los.

— Você tem que ajudá-lo. — Estou chorando de novo. Se é por alívio que
ele me encontrou e eu estou viva, ou por medo por meu bebê, eu não sei. —
Você tem que encontrar meu bebê.
— Eu tenho que te ajudar, — murmura Dex. — Você viu este lugar? Está
uma bagunça...
Eu dou uma olhada em volta, só então percebendo que ainda estou no
chão em cima de uma confusão de lençóis, antes brancos que agora estão
encharcados de sangue. Meu sangue.

— Chamei uma ambulância, — continua Dexter. — E eu irei com você


para o hospital.
— Não, não, Dex. Por favor, não faça isso! — Eu o agarro
desesperadamente, agarrando sua jaqueta. — Você tem que ir atrás de Lily
Anna, você tem que impedi-la!

— Se eu tiver que escolher, estou escolhendo você, — ele murmura. Eu


nem sei se ele percebeu que disse isso em voz alta. Ele parece pálido como um
fantasma.

— Escolha o bebê, Dex, — eu sussurro, mas ele balança a cabeça


silenciosamente e me puxa para seu colo. Eu sinto seus dedos acariciando
minhas bochechas enquanto a escuridão se arrasta com seus dedos escuros e
sombrios. Desta vez, eu desisto agradecida, porque mesmo o sonho fodido que
tive antes, seria melhor da minha realidade confusa.

BETTI ROSEWOOD
BETTI ROSEWOOD
12
DEXTER

Eu fico ao lado de Pandora, segurando sua mão, até que os paramédicos


cheguem. Ela entra e sai da consciência, seus olhos acusadores nos meus toda
vez que se abrem.
Eu sei que ela acha que eu deveria ter ido atrás de Lily Anna. Mas não
consigo deixar meu brinquedo sozinho. Ela está em perigo. Eu sei disso no
momento em que os paramédicos chegam e vejo as expressões graves em seus
rostos. Eles arrancam sua mão da minha e a colocam em uma maca. Eles me
permitem entrar na ambulância depois de insistir que não vou embora.
A viagem até o hospital leva séculos. A cada segundo que passa, a
enfermeira andando na parte de trás da ambulância comigo parece mais
preocupada. Pandora parece mortalmente pálida. Seus lábios são quase azuis,
translúcidos. Eu mal posso ver o subir e descer de seu peito.
— Eu vou perdê-la? — as palavras escapam dos meus lábios antes
mesmo de eu perceber que fiz a pergunta.

A enfermeira me lança um longo olhar. — Não vou mentir para você, Sr.
Booth. Não parece bom.
Minhas mãos se fecham em punhos. Passei o resto da viagem em silêncio,
pensando em Lily Anna e o que vou fazer com ela quando colocar minhas mãos
sobre ela. Eles vão ter que me segurar para que eu não a mate, porra. Tenho a
sensação de que a única coisa que vai me dissuadir de colocar uma bala na
cabeça dela é saber que serei preso se o fizer. Não posso deixar Pandora sozinha
novamente. Não posso arriscar a distância entre nós. Preciso ficar ao lado dela
e fazer o que for melhor para o meu brinquedo.
Somos levados às pressas para o hospital enquanto um alarme soa nos
corredores. Apesar da minha insistência em ficar ao lado de Pandora, os
médicos me expulsaram da sala de cirurgia. Ando pelo corredor do lado de fora,
quando meu telefone vibra com uma chamada de Emilian Oakes.

— Você a encontrou, porra? — Eu lati no telefone. — Diga-me que você


tem aquela vadia.
Pela longa pausa, posso dizer que ele não tem boas notícias para mim. —
Sinto muito, Dexter. Fizemos o nosso melhor, mas ela apenas... se foi. Foi
embora sem deixar vestígios.

— Inaceitável. — Eu quero dar um soco em alguma coisa, mas há uma


criança com sua mãe na mesma sala de espera, e eu não quero assustá-la, então
me forço a me conter. — Você tem alguém tentando encontrá-la? Pessoas a
perseguindo? Olhos por toda a cidade?

— Temos, — Oakes me tranquiliza. — Estou indo para o hospital agora.


Como está Pandora?

BETTI ROSEWOOD
— Ela não está bem. — Admitir isso em voz alta ameaça me quebrar. Mas
escondo bem o tremor em minha voz. Cubro com a raiva mal contida e digo a
Emilian para chegar lá o mais rápido possível antes de encerrar a ligação.
Emilian chega o que parece horas depois. Sentamos juntos na sala de
espera e ele me traz um copo de plástico com café velho a cada hora, enquanto
os médicos lutam pela vida de Pandora.
É isso que presumo que estejam fazendo. Já estamos aqui há horas e
ninguém saiu daquela sala de cirurgia. Por mais que eu odeie ficar no escuro,
sou grato pelos profissionais que fizeram, de salvar Pandora, sua prioridade.
Esperamos séculos até que as portas duplas da sala de cirurgia
finalmente se abram. Oakes e eu imediatamente nos levantamos, apesar do
nosso cansaço, e nos aproximamos do médico exausto que levanta as mãos para
nos pedir espaço. Ele está cansado e esgotado como nós. Porra eu tremo
antecipando as notícias.
— Como ela está, doutor? — Emilian pergunta.

— Ela está... — Ele olha entre nós e eu sinto meu coração parar por um
breve momento. — Ela não está estável ainda. Ela está em estado crítico.
— Mas ela está viva, — murmuro.
— Ela está, — ele concorda. — Acreditamos que a operação que acabamos
de realizar salvou sua vida. Tivemos que suturá-la - ela estava sangrando muito.
Parece que o parto teve algumas complicações. Ela realmente deveria ter ido ao
hospital por causa disso.
Minhas unhas cravam em minhas palmas. Lily Anna vai pagar por isso.
— Quando podemos vê-la? — Eu pergunto.
— Não até que ela se estabilize, — diz o médico. — Mas nós a levaremos
para um quarto privado e você poderá vê-la através do vidro. Mas vocês
precisam estar preparados.
— Preparado para quê? — Emilian franze as sobrancelhas.

— Por causa do estado crítico da Srta. Oakes... — O médico muda de


posição, obviamente desconfiado de nossa reação. — Tivemos que coloca-la em
coma induzido.
— O que? — Eu assobio.

— É para o bem dela, — continua o médico. — Dessa forma, ela está mais
segura. E nós a acordaremos em três dias. Esperançosamente estará estável até
então. Nós fizemos transfusões de sangue. Ela perdeu muito.

— Porra, — murmuro, lutando contra a vontade de bater com o punho


na parede. Novamente.

— Vou mantê-los informados com qualquer tipo de informação, —


acrescenta o doutor, hesitando antes de falar novamente. — Em relação ao

BETTI ROSEWOOD
bebê... não tenho motivos para acreditar que tenha sido prejudicado durante o
parto.
— Bom, — Emilian concorda gravemente. — Estamos fazendo tudo ao
nosso alcance para trazer o bebê de volta para casa.

O médico concorda. — Você deveria. A senhorita Oakes ficará angustiada


quando acordar. Ver o filho de volta em segurança em seus braços ajudaria.

Ele nos deixa parados ali. Eu nem consigo me mover. Sinto o peso do
mundo em meus ombros. Eu quero Pandora aqui, para consolá-la. Mas ela está
em um sono profundo, como a Bela Adormecida. Cabe a mim agora salvar nossa
família.

— Eu preciso ficar aqui, — murmuro. — Eu não posso deixá-la. Mas eu


preciso que você faça tudo que puder para ter aquele bebê de volta.

Emilian concorda. — Vou colocar mais alguns homens nisso. A polícia


também está procurando por Lily Anna. Eles sabem que ela matou Lai agora.

— Porra, finalmente, — murmuro. — Ninguém acreditou em mim.


Ninguém.
— Talvez você não devesse ter guardado tantos segredos, — sibila
Emilian, mas eu já tive o suficiente.
Eu o tenho apoiado contra uma parede no momento seguinte, agarrando
a frente de sua camisa enquanto eu rosno em seu rosto, — Você não pode me
dar um sermão, velho. Eu fiz o que tinha que fazer para salvar Lily Anna de
você, seu monstro de merda.

Ele empalidece e não se opõe. Ele sabe o que fez. Ele sabe que sua
obsessão por Lily Anna não era saudável. Apesar de todas as atrocidades que
ela cometeu, ela não era culpada pela obsessão doentia de Oakes por ela.
— Encontre-a, — eu assobio. — Se não...
Ele tropeça quando o solto, limpando a garganta e consertando a gravata.
Sem dizer outra palavra ou olhar para mim novamente, ele sai do hospital. Para
o bem dele, espero que esteja indo atrás de mais ajuda para encontrar Lily Anna.
Temos que encontrá-la. Não podemos deixar o bebê com ela. Ela é perigosa. Eu
não duvidaria que ela matasse uma criança inocente.

Volto para o meu lugar em frente à sala de cirurgia e espero


pacientemente até que uma das enfermeiras me informe que levaram Pandora
para o quarto com paredes de vidro.

Finalmente estou autorizado a vê-la, mas nada pode me preparar para a


visão.

Ela parece tão diferente do que estava apenas algumas horas atrás. O
corpo de Pandora é minúsculo e frágil, apesar de ter acabado de dar à luz. Há
tubos saindo de seu nariz e boca, e sua pele está fantasmagoricamente pálida e
machucada, onde os tubos foram colocados. Juro novamente fazer Lily Anna
pagar por isso.

BETTI ROSEWOOD
Ela fodeu com minha família.
Ela fodeu com meus amigos.
Ela fodeu com meu futuro.

E agora ela fodeu com meu brinquedo favorito, e não vou deixá-la escapar
impune. Ela vai pagar porra, e eu quero ser o único a levá-la à justiça. Mal posso
esperar para puni-la por seus crimes. Ela merece cada coisa ruim que está
acontecendo com ela, espero que mais cedo ou mais tarde.
Pelos próximos dias, entro e saio do hospital. Só saio para ir para casa,
tomar banho e trocar de roupa uma vez por dia. Estou até me acostumando
com a comida de merda da lanchonete do hospital, porque me recuso a sair do
lado de Pandora. Os caras têm vindo para me fazer companhia. Nunca
esquecerei suas expressões quando viram Pandora pela primeira vez depois de
toda a merda que aconteceu.
Eles estavam chocados pra caralho. Chocados que a garota de quem
todos gostamos, Lily Anna, seja capaz de deixar outro humano em uma condição
como a de Pandora. Mas isso só serviu para nos aproximar. Agora estamos
determinados - encontrar Lily Anna, e puni-la pelo que ela fez.
No terceiro dia no hospital, os médicos decidem que Pandora se
recuperou de seus ferimentos o suficiente para que possam tirá-la do coma.
Sento-me ao lado da cama dela quando isso acontece, segurando sua pequena
e frágil mão branca na minha. Seus dedos são tão pequenos. Ela nunca pareceu
mais vulnerável.
Quando os olhos do meu brinquedo se abrem, eles se conectam com os
meus primeiro. Ela olha profundamente em minha alma com aquele brilho, e
antes mesmo que eu possa perguntar, a pergunta surge.
— Onde ele está? Onde está meu bebê?
Eu aperto sua palma para tranquilizá-la, mas ela logo percebe que não
tenho nenhuma boa notícia para ela. Não sei onde Lily Anna e o bebê estão, e
assim que ela percebe a verdade da questão, Pandora começa a chorar. São
necessárias duas enfermeiras para acalmá-la e injetam um sedativo, dizendo
que ela está ficando muito nervosa. Eu quero dar um tapa na cara delas. Dizer
a elas que ela tem todos os motivos para estar chateada. Eu sei que elas têm
boas intenções, mas estou oscilando no limite da minha sanidade. Um
movimento errado e vou cair.

Quando ela acorda horas depois, ela está muito mais calma. Eu entro na
sala, mas ela não olha para mim. Sentando ao seu lado, tento segurar sua mão,
mas ela a puxa. Dói pra caralho como agulhas sendo enfiadas no meu coração,
mas me forço a não dizer nada sobre isso. Não posso machucar Pandora ainda
mais. Eu preciso ser forte agora, por nós dois.
— Nós os encontraremos, — eu digo sem jeito, mas ela apenas zomba em
resposta.
— Eles podem estar em qualquer lugar, Dexter.

BETTI ROSEWOOD
— E onde quer que estejam, nós os traremos de volta.

Ela balança a cabeça. Uma parte de mim quebra ao ver que ela já perdeu
as esperanças, mas tento não demonstrar.

— E até que os encontremos, estou bem aqui, — consigo dizer, mas ela
apenas consegue dar um sorriso triste.

— Eu não posso nem olhar para você agora, — ela sussurra, e mais uma
vez, as agulhas cavam em mim, profundamente. — Você deveria ter ido atrás
deles, Dexter. Você deveria ter trazido meu bebê de volta.
— Nosso bebê, — murmuro.
Agora ela olha para mim, seu olhar frio como gelo. — Você não sabe disso.
— Eu sei disso...
— Não importa, — ela retruca. — A única coisa certa é que é meu bebê.
E eu o quero de volta. Eu nunca vou te perdoar se você não o encontrar.
Eu aceno, tentando controlar meu temperamento e emoções para não
perder o controle na frente de Pandora.
— Que nome você deu a ele?
A pergunta escapa dos meus lábios antes que eu possa me conter. Mais
uma vez, os olhos de Pandora queimam quando encontram os meus.
— Reign, — ela finalmente responde, sua voz quebrando com a simples
palavra.

Eu aceno, levantando-me abruptamente da minha cadeira e saindo do


quarto. Não posso deixar Pandora me ver vulnerável. Tenho que ser forte, como
sempre fui. Eu tenho que ser o homem que ela precisa que eu seja.
E eu tenho que encontrar Lily Anna e meu filho.
Porque seja lá o que Pandora diga, ele é meu filho.

BETTI ROSEWOOD
13
PANDORA

Não consigo nem olhar para Dexter.

Ele está agindo de maneira diferente. Quase apologético. Ele me trouxe


de volta para a Mansão Booth uma semana depois que cheguei ao hospital, mas
é quase pior nesta casa enorme e vazia do que no meu quarto particular. Mesmo
com o fedor de remédio e antisséptico, era melhor do que isso. Conhecendo
todos os segredos que sei agora, não consigo tirar o pensamento de Alli - Lily
Anna - da minha cabeça.
O pensamento de que ela ainda tem meu filho me deixa doente. Eu vi em
primeira mão do que a garota é capaz e sei o suficiente para ter certeza de que
meu filho não está seguro em suas mãos.
Mas não podemos fazer nada. Papai já está gastando uma fortuna em
detetives particulares para procurá-los, mas é como se eles tivessem
desaparecido sem deixar vestígios. Semanas se passaram. Estou curada da
cirurgia, mas o fato de não estarmos com nosso filho de volta está pesando
muito sobre mim.
Em dias bons, acho que Reign terá os cuidados de que precisa. Que Lily
Anna não seria tão cruel para machucar um bebê inocente.

Nos dias ruins, lembro-me de sua risada maníaca, de suas palavras


cruéis, e me pergunto se ela já o matou.
Meu Reign nada mais é, do que um peão para aquela mulher. E sei que,
mais cedo ou mais tarde, ela o usará a seu favor. Se tivermos sorte, é quando
vamos pegá-la.
— Eu trouxe um pouco de chá para você.

Eu nem mesmo olho para longe da janela enquanto Dex coloca uma
xícara fumegante em um porta copos de mármore na mesa de cabeceira. Não
respondo, mas ainda sinto sua presença persistente. Ele está esperando por
algo, ansioso por algumas palavras de encorajamento, talvez eu diga a ele que
as coisas não estão tão ruins. Que nós vamos superar isso. Mas, vamos?

— Tome um gole de chá, — continua Dex. — É camomila. Bom para


ansiedade.
— Foda-se, — murmuro.
— Pandora. — Seu tom é mais rígido agora. — Isso vai ajudar.

— Ajudar? Você acha que vai ajudar? — Eu rosno para ele, jogando as
cobertas de edredom para trás. Minha barriga de gravida se foi agora, mas só
dói mais ver isso, sabendo que nunca ganhei o dom da maternidade, não sem
meu filho.

BETTI ROSEWOOD
— Pandora, — Dex fala em tons suaves e calmantes. — Só estou tentando
ajudar.
— E ainda assim você não ajudou em nada, — eu assobio. — O bebê não
está aqui, está? E Lily Anna não está na cadeia onde ela pertence.
— Estamos trabalhando nisso.

— Sem muito sucesso. — Eu sei que estou sendo sarcástica, mas não
posso evitar. Estou farta desta busca inútil e infrutífera por meu filho. Estou
farta de tudo.
— Droga, Pandora, — grunhe Dex. — Estou fazendo o meu melhor aqui,
o que mais você quer?
— Eu quero meu bebê de volta! — Eu pego a xicara de chá da mesa de
cabeceira em um acesso de raiva e jogo na parede. O líquido fumegante espirra
por toda a parede e a xicara se quebra ao atingir o chão. Nós dois olhamos sem
acreditar no que acabei de fazer. Eu nunca teria agido assim com Dexter antes.
Eu não ousaria. Mas ele não fará nada a respeito agora. Ele só quer me
proteger... ou não?
Com dois passos rápidos ele me alcança, sobe na cama e prende meu
corpo sob o dele.
— Eu já tive o suficiente de você, sua pirralha de merda, — ele sibila. Sua
respiração é fria e mentolada contra minha bochecha e eu luto embaixo dele,
tentando fugir. — Você acha que pode agir dessa maneira e não ser punida?
— Mas, eu...

Ele me interrompe com um tapa na bochecha direita. Estou tão chocada


que não consigo nem responder, então apenas fico olhando para ele sem
acreditar.
— Cale a boca, — ele exige. — Cale a boca e controle-se, Pandora. Se não
o fizer, farei isso por você.

Ele puxa as cobertas de edredom de mim e de repente estou exposta em


nada além de uma camisola frágil. Mas isso não é o suficiente para meu
valentão. Ele puxa o vestido curto, revelando meu corpo, e eu grito em protesto.
Eu me sinto vulnerável, feia. Eu não o quero olhando para mim assim. Eu sou
uma inútil agora. Não consigo nem transar com ele, não com a dor que tenho
sentido todos os dias, tanto na minha mente quanto no meu corpo.
— Não olhe para mim, — tento gritar, mas sai como um soluço. Percebo
que estou prestes a chorar de novo e sinto a vergonha queimar minhas
bochechas, avermelhando-as. — Por favor, não olhe para mim, Dex...
— Por que não? — Ele agarra minhas mãos pelos pulsos e as mantém
acima da minha cabeça. — Eu posso olhar para você o quanto eu quiser... Você
é minha propriedade, não é?

BETTI ROSEWOOD
Não respondo e paro de lutar também, percebendo rapidamente que ele
é forte demais para mim. Eu me recuso a responder a ele. Não vou ceder às
exigências de Dexter Booth nunca mais.
Mas meu corpo me trai. Estou tremendo e sei que ele vai perceber em
breve. Meu centro está inundado de carência ansiosa, mas não posso deixar
Dexter notar. Tenho que esconder a todo custo. Ele só vai tirar vantagem disso
se perceber, e eu não estou pronta para isso, não estou pronta para dar mais a
ele.
— Você tem sido um pequeno pesadelo, Pandora, — ele me diz
calmamente. — Eu sei que você está sofrendo, brinquedo. Mas você não acha
que eu estou sofrendo também? Eu perdi muito. Lily Anna matou meus pais.
Meu melhor amigo. E agora ela levou outra pessoa. Por que você não deixa eu
me lamentar com você?

— Não deveríamos estar de luto, — eu sibilo, incapaz de me conter. —


Devíamos trazer Reign para casa. Estar fazendo tudo ao nosso alcance para
recuperá-lo.
— Você não acha que eu já estou fazendo isso? — Sua testa se enruga
enquanto ele me impede de me mover. — Deus, você está sendo um pequeno
pesadelo, brinquedo. Tudo o que fiz foi tentar torná-lo melhor. Por que você não
quer melhorar para mim?

Algo sobre essa pergunta simples ressoa em mim. Meu corpo treme, meus
lábios tremem enquanto eu sussurro: — Não posso. Não sei como.
— Então deixe-me mostrar a você, — Dex grunhe. — Deixe-me te
ensinar... Eu posso te deixar melhor, Pandora. Você apenas tem que me deixar...
Eu fico desamparada então. Meu corpo para de resistir, deitada ali
inutilmente enquanto ele começa a beijar uma linha no meu pescoço. Seus
dedos agarram o tecido da minha camisola e, com um forte puxão, ele a divide
ao meio, expondo meu corpo nu.
— Olha como você é linda, — ele murmura. — Meu brinquedo...
Eu fecho meus olhos com força, dizendo a mim mesma que não estou
gostando do que ele está fazendo comigo. Mas é uma mentira, e nós dois
sabemos disso. Meu corpo treme sob o dele e percebo que estou ansiosa por
mais de seu toque cruel. Mas eu nunca admitiria isso para Dexter. Eu não posso
deixá-lo saber de minhas fraquezas. Eu preciso manter o fingimento.

Mas com a maneira como ele está me beijando, rapidamente se torna


aparente que será quase impossível de fazer.

— Por favor, — eu sussurro quando ele beija minha barriga. É uma


sensação incrível, mas a perda de Reign ainda está fresca em minha mente. Eu
sinto que não tenho o direito de aproveitar isso.

— O que você quer, lindo brinquedo? — Dex murmura em meu ouvido.


— Você quer que eu continue beijando você?

BETTI ROSEWOOD
Fecho meus olhos com força e me encontro assentindo. Sim eu quero
isso. Quero tudo e qualquer coisa que tire minha mente da minha terrível
realidade. A bagunça que é minha vida.
Ele move sua boca sobre meu abdômen até meu centro exposto. Seus
lábios se demoram sobre o osso do meu quadril, com cuidado, beijando
lentamente uma linha sobre a minha boceta. Não me depilo há séculos e minha
boceta está coberta de pelos castanhos claros e sedosos. Mas ele não liga para
isso. Ele continua me beijando. É como se ele estivesse fazendo amor comigo
com a boca. Não conheço Dexter Booth assim. Gentil, quase doce. Acho que ele
também não.
— Por favor, Dex, — eu sussurro. — Faça-me sentir melhor. Quero me
sentir melhor.

Minhas mãos encontram o caminho em seu cabelo e eu enredo meus


dedos nas mechas escuras, segurando-o onde eu mais preciso. Dex entende a
dica. Ele é incrivelmente gentil, cuidadoso, como eu nunca o vi ser. Ele beija
minha boceta em círculos frustrantes, nunca alcançando o meu sexo que vibra
de expectativa. Eu quero muito mais, mas eu o deixo escolher o ritmo, o deixo
decidir o quanto eu posso ter e quando.
Quando seus lábios finalmente envolvem meu clitóris, estou a um
momento de ter um orgasmo. Não tenho um há meses. O que eu me dei quando
estava na casa da mamãe, pensando em Dex, quase não conta agora que tenho
a coisa real. Eu quero chorar, porque eu percebo então, que é isso que eu quero.
Dexter Booth é o cara certo para mim. Não importa o quão cruel, distorcido e
malvado ele possa ser, isso é o que eu preciso, o que eu desejo. Eu quero que
ele tenha o controle de mim tanto quanto eu quero lutar com ele por isso.

E com essa percepção, eu desisto para ele. Eu empurro meus quadris e


ele enterra o rosto entre as minhas pernas, habilmente lambendo, sacudindo,
me provocando até que eu estou uma bagunça desesperada e gemendo. Não
quero nada mais do que gozar, mas me forço a não implorar por isso. Seguir no
ritmo de Dex e permitir que ele decida quando eu gozarei.
— Você tem um gosto tão bom, — ele murmura entre minhas pernas. —
Meu brinquedo... absolutamente meu. Diga.

— Sua. — A palavra sai dos meus lábios facilmente, comprometendo meu


corpo e alma ao meu valentão. Estou finalmente no ponto em que aceitei. Dexter
Booth é meu mestre. Que reviravolta cruel do destino.

Apesar da minha ânsia por desistir do controle, estou cada vez mais perto
da borda e sei que vou começar a implorar por uma liberação em breve. Eu não
consigo me conter. Eu só quero um pouco de alívio, um momento para esquecer
a confusão que é minha vida.
— Por favor, — eu sussurro. — Por favor, Dex, me dê.

— Você quer gozar? — ele grunhe contra meu corpo, me lambendo com
movimentos agonizantemente lentos. — Diga-me que você quer gozar,
brinquedo.

BETTI ROSEWOOD
— Por favor, Dexter, eu esperei tanto tempo... Não mereço? Por favor!

— O que você merece é ser provocada e levada ao limite continuamente,


— ele murmura. Ele abre minha boceta com os dedos e eu gemo quando o ar
frio atinge meu centro exposto. Ele mal está me tocando e eu já estou tão perto.
Que vergonha do caralho. — Eu me pergunto se você pode gozar assim,
brinquedo...
— Não, — eu imploro. — Por favor, eu preciso de mais.
Eu luto embaixo dele, mas é inútil. Ele é muito forte. A única maneira de
eu ter um orgasmo agora é se ele decidir dar para mim.

— Eu não posso te foder, — ele reflete. — Você está muito sensível por
conta da cirurgia. Vou ter que pensar em outra coisa.

Ele sacode meu clitóris e eu grito, fazendo-o rir enquanto me dissolvo em


uma miríade de prazeres.

— Por favor, — eu grito novamente. — Não me torture, Dex! Deixe-me


gozar...
— Eu me pergunto o quão perto você está. Quão pouco eu teria que fazer
para fazer você quebrar... — Ele se levanta da cama e eu grito em protesto, mas
ele me ignora. Ele pega um pincel de maquiagem não usado da minha
penteadeira e retorna, e meus olhos se arregalam quando ele começa a correr
as cerdas macias sobre minha boceta.
É uma tortura.
Tortura absoluta.
E eu amo isso, porra.
Não demoro muito para começar a implorar de novo, e Dex continua seu
tratamento torturante, roçando-me dolorosamente devagar e parando no
momento em que chego muito perto.
Ele parece sentir que não vou aguentar por muito mais tempo, e ele hesita
por um momento, o pincel posicionado acima do meu clitóris.

— Implore, — diz ele. É uma ordem, não uma pergunta, e eu engulo em


seco, permitindo que minha vagabunda interior saia, enquanto começo a
implorar por uma libertação que eu nem sabia que queria.

— Por favor, Dexter. — Minha voz está baixa e frágil. É tão constrangedor,
mas minha carência não me permite sentir vergonha. Estou perto demais para
isso. — Por favor, só um, por favor, eu preciso tanto dele... Deixe seu brinquedo
gozar, Dex, por favor, farei qualquer coisa.

— Qualquer coisa? — Ele repete, escovando meu clitóris em círculos que


fazem meus olhos rolarem para trás. — Você até tentará ser feliz por mim?

— Qualquer coisa, — eu repito desesperadamente. — Qualquer coisa,


Dex, por favor!

BETTI ROSEWOOD
— Jure, — ele grunhe.

— Eu juro! — Estou praticamente gritando agora, dolorosamente perto


do orgasmo e incapaz de resistir mais ao meu desespero. — Por favor, Dex, eu
juro, deixe-me, deixe-me, deixe-me!

Ele remove a escova e sua boca volta. Ele chupa meu clitóris com tanta
força que acho que vou desmaiar apenas com a sensação. O orgasmo borbulha
dentro de mim, ameaçando transbordar.
— Você não pode, pode? — ele sorri por entre as minhas pernas. — Você
precisa de permissão como um bom brinquedinho...

— Dê para mim, — eu imploro. — Permissão, por favor, deixe-me, porra


Dexter, por favor!

Ele ri de mim e continua a me torturar com a língua. Ele me leva à beira


da insanidade. Se ele não me deixar gozar agora, vou começar a chorar. Mas,
quando estou prestes a implorar novamente, as palavras mágicas caem.
— Goza para mim, brinquedo.
Eu me desfaço pela primeira vez em meses, saboreando a doce submissão
que só posso sentir com o garoto que me odeia. Eu grito minha liberação e ela
ecoa na Mansão vazia. Eu o deixo ter tudo, e eu não seguro nada enquanto
permito que meu corpo convulsione com a liberação que venho segurando por
tanto tempo.

Dex não para até que meus gritos se transformem em gritinhos suaves.
É quando ele me puxa para seus braços. Provavelmente pareço uma bagunça,
mas já passei do ponto de me importar. Ele cuida de mim e eu deixo. Mãos
firmes e fortes alisam meu cabelo. Um sussurro sombrio, mas reconfortante,
me diz para descansar, e ele me segura enquanto eu caio no primeiro sono de
verdade em uma semana.

BETTI ROSEWOOD
14
DEXTER

Pandora está voltando lentamente. Por mais difícil que tenha sido a vida
nas últimas semanas, meu brinquedo está fazendo o possível para me agradar,
voltando ao seu estado anterior. Mas não fizemos nenhum progresso na busca
por Lily Anna e Reign, e a cada dia que passa sem boas notícias, vejo meu
brinquedo desistir um pouco mais.
Fiz tudo ao meu alcance para melhorar as coisas. Para mantê-la ocupada.
Mas ela é uma mãe agora, uma mãe sem filho, sem propósito. Posso dizer que
ela está sofrendo e o que mais dói, é saber que não posso fazer nada para mudar
isso.

Naquele dia, a campainha tocou na Mansão. Pandora levanta os olhos de


seu livro na cama que compartilhamos.
— Quem é?
— Não faço ideia, — murmuro, me levantando da cama. Abotoo minha
camisa e digo a ela que logo voltarei.
Desço as escadas onde Anders já deixou entrar nosso visitante. Minha
expressão escurece quando meus olhos encontram os de Emilian Oakes.

— O que você está fazendo aqui? — Eu lati para ele. — Não nos
encontramos aqui. Nos encontramos no seu escritório no centro. Esta é minha
casa e você não é bem-vindo aqui.

Nos encontramos todos os dias para discutir a busca infrutífera por Lily
Anna, mas sempre foi no escritório de Oakes em Eden Falls.

— Vim falar com você, — murmura Emilian. — Discutir alguns assuntos


em mãos. Não podia esperar. E não seja tão ingrato, Booth. Estou fazendo isso
para o seu benefício. Podemos ir ao seu escritório?

Eu olho para ele. Não gosto de vê-lo em minha casa, mas também não
posso expulsá-lo. Afinal, é ele quem financia a busca por Lily Anna e Reign.
— Tudo bem, vamos lá. — Eu lidero o caminho até as escadas e entro no
escritório. Oakes se senta na frente da minha mesa e eu pego a cadeira atrás
dele, olhando para ele. — Por favor, me diga que você tem boas notícias sobre
Lily Anna. Você a encontrou? Você encontrou Reign? Você fez algum maldito
progresso?

— Não. — Ele se mexe desconfortavelmente em seu assento,


provavelmente esperando que eu me descontrole novamente. Mas fico calmo,
embora minhas unhas se cravem nas palmas das mãos com raiva. Essa porra
de cadela ainda está à solta. — Eu vim aqui para falar com você sobre outra
coisa, na verdade.
— Mais más notícias?

BETTI ROSEWOOD
— Não. — Ele fica mudando de posição, o que me diz que está nervoso.
Isso é bom. — Eu... eu queria dizer que estou lhe dando um dote. Se você ainda
pretende se casar com Pandora, só isso.
Pandora e eu não discutimos nossos planos, mas Oakes não precisa
saber disso. Então, eu apenas o encaro bem nos olhos e sorrio ao dizer: — Que
generosidade a sua. Agora que tirou tudo de mim, você vai me dar uma desculpa
esfarrapada para um presente de casamento?

— Estou devolvendo sua empresa, Dexter — sibila Oakes, deixando-me


sem palavras. — E a casa, e alguns outros bens.
Eu faço o meu melhor para manter a calma, observando o homem com
os olhos estreitos. — Presumo que haja um preço que terei de pagar por tudo
isso.
Ele ri. — Considere isso um presente meu.
— Ficando com a consciência pesada agora que está envelhecendo?
— Talvez eu tenha maltratado você algumas vezes... — Ele dá de ombros.
— E você acha que me dar essa merda toda, vai compensar toda a merda
que você fez? — Eu resmungo. Ainda me lembro das batidas do chicote em
minha pele macia. Essas são cicatrizes que vou suportar por toda a vida, e não
são apenas físicas. — Vai ser preciso muito mais do que isso para consertar
seus erros, meu velho.

— Eu sei. — Pela primeira vez, Oakes realmente consegue parecer


arrependido. — É por isso que estou fazendo outra coisa, para trazer Pandora
de volta para Eden Falls.
— E o que poderia ser isso?
As mãos do homem formam punhos e eu fico olhando para ele enquanto
ele luta com sua resposta.
— Estou dando Minnie a você, — ele finalmente murmura, cada palavra
aparentemente mais difícil de pronunciar do que a última. Ele corre para
terminar o discurso antes mesmo que eu tenha a chance de responder. — Não
para sempre. Só por um tempo, até que Pandora se sinta melhor.
— Olha só, — murmuro sarcasticamente. — Bem, ela ficará melhor
conosco do que jamais poderia estar com você. Quando ela vai chegar?

— Kelley vai traze-la hoje à noite. — Oakes me observa com uma


expressão de desdém em seu rosto bonito, mas marcado pela preocupação. —
Você poderia pelo menos fingir estar grato, Booth.

— Com você? — Eu rio. — Não estou nem um pouco grato, velho. Foi você
quem nos meteu nessa confusão toda. Se não fosse um pervertido tão doente,
talvez Lily Anna não precisasse se esconder.

—Não se esqueça que fui eu quem trouxe Pandora para Eden Falls, — ele
sibila. — Eu sou a razão de vocês estarem juntos agora.

BETTI ROSEWOOD
— Não, — eu digo resolutamente, levantando-me da minha cadeira e
sinalizando que este é o fim da nossa conversa enquanto abotoo meu blazer. —
Eu sou a razão de estarmos juntos. Porque ela me ama, seu idiota de merda.
Ele também se levanta, sem se preocupar em responder, porque
provavelmente sabe que estou certo.
Pandora aparece na porta então. Ela está usando um vestido branco fino
que varre o chão, sua expressão cautelosa ao encontrar seu pai.
— O que você está fazendo aqui? — ela pergunta.
— Seu pai acabou de aparecer com uma boa surpresa, — eu respondo
facilmente. — Minnie virá morar conosco por um tempo.
— Minnie? — Seus olhos se iluminam. É a primeira empolgação genuína
que vejo nela, e me agrada que Oakes tenha decidido permitir que Minnie fique
conosco. — Oh, isso é maravilhoso...

— Faça Kelley trazê-la aqui agora, — digo a Oakes, e ele balança a cabeça,
surpreso com a reação animada de Pandora. Eu sabia que Minnie e Pandora
eram próximas, mas nunca percebi que a filha da empregada era a única aliada
do meu brinquedo na cidade. Ela precisa dela. Ter Minnie em na Mansão Booth
será bom para Pandora. — Não queremos esperar mais do que o necessário.
Mandarei Anders preparar um quarto para ela.
— Tudo bem, — sibila Oakes. É a melhor reação que posso esperar do
velho. Ele odeia receber ordens, assim como eu. Eu deveria dar ordens, não
segui-las. — Ela estará aqui em breve.
Pandora e eu levamos seu pai para fora. Ela me surpreende ao ajudar
Anders a arrumar o quarto de Minnie, genuinamente animada por ver sua velha
amiga novamente. Até falamos em contratar em breve mais ajudantes para
ajudar o mordomo na casa.
Conto a Pandora o que seu pai decidiu, e ela parece aliviada com a
notícia. Mesmo que eu não queira mostrar, eu também estou. Se não fosse pela
decisão de Emilian, eu seria expulso da Mansão e ficaria sem um tostão. E não
posso arriscar isso. Não agora, quando ainda preciso encontrar Lily Anna e
Reign.

Como sempre, pensar neles faz meu coração e minha cabeça doerem. Eu
me forço a ficar ocupado com os preparativos para a chegada de Minnie. Mas é
tudo uma desculpa esfarrapada. Sei que todos os nossos pensamentos estão
com o bebê, não aqui, em Eden Falls. E, embora esteja mais determinado do
que nunca em encontrar Lily Anna e nosso filho, também sinto que estamos
procurando duas agulhas em um palheiro. Ela simplesmente se foi, sem a porra
de um vestígio.
Estou ficando frustrado, então sou grato pela distração da campainha.
Pandora praticamente corre escada abaixo para cumprimentar Minnie.

A garota loira parece diferente do que eu me lembrava dela. Ela estava


sempre quieta, mas feliz, apesar de tudo que acontecia em sua vida. Mas hoje,

BETTI ROSEWOOD
seus ombros estão caídos. Minnie parece derrotada, e isso instantaneamente
desinfla Pandora também. Ainda assim, as duas garotas parecem animadas por
estarem na companhia uma da outra.
Anders arruma uma mesa para o chá da tarde, e nós três nos sentamos
para conversar.
Percebo que Minnie desenvolveu um novo hábito quando se senta e as
mangas do uniforme sobem. Seus braços estão cobertos de arranhões. Sei que
Pandora também percebeu, embora Minnie tenha feito o possível para esconder.
— Você está bem? — Meu brinquedo pergunta, a preocupação evidente
em sua voz quando ela pega a mão da empregada.

— Estou bem. — Minnie acena com a outra mão com desdém, como se
não fosse nada. — Só... cansada. Estou feliz por estar aqui, porém, Srta.
Pandora.
— Estou feliz que você esteja aqui também. — Meu brinquedo vibra. —
Vai tornar as coisas muito melhores. Mas tem certeza de que está bem?

— Não vejo você há meses, — sussurra Minnie. — Muita coisa aconteceu


desde que você deixou Eden Falls, Srta. Pandora.
Então penso em Oakes. Ele se mostra um homem de negócios, um pai,
um bom homem. Mas, no fundo, ele não é nada além de um monstro, e ver
Minnie tão destruída, só serve para me lembrar do fato. E, no entanto, sou
impotente para detê-lo. Ofereci a Belle, a mãe de Minnie, dinheiro para deixar
Eden Falls. Dinheiro para Minnie trabalhar para mim. Mas algo as mantém lá,
na propriedade dos Oakes, servindo ao homem que as magoa todos os dias.
Agora percebo que ficar conosco, será uma pequena reprimenda para Minnie.
Mas todos nós sabemos que ela terá que voltar para a casa dos horrores em
breve... não há como escapar de um homem como Emilian Oakes.
Eu escuto enquanto as duas garotas conversam. Minnie parece calma,
mas triste, mas Pandora está visivelmente melhor por causa de sua presença.
Juro tornar as coisas mais fáceis para as duas. Farei tudo ao meu alcance para
mudar as coisas.
É a primeira vez que começo a pensar nessa cidade fodida e em seus
rituais que favorecem os ricos.
Se você tem poder em Eden Falls, pode ter tudo.

Mas se não o fizer, você está condenado a uma vida de ser comandado
por aqueles que têm mais do que você.
E é hora de mudar.
Mostramos a Minnie seu quarto mais tarde, e ela silenciosamente se
retira para lá, deixando Pandora e eu sozinhos.
— Estou preocupada com ela, — diz Pandora no momento em que a porta
se fecha. — Ela está sofrendo. Como podemos ajudá-la?

BETTI ROSEWOOD
— Ela vai ficar bem enquanto estiver aqui, — murmuro. — Mas
precisamos tirá-la daquela casa com certeza.
— Eu estava pensando que poderíamos ajudá-la a entrar na Prep., —
Pandora sugere. — Se ela frequentasse as aulas lá, seria bom para o seu futuro
e também a tiraria da propriedade.
— Você pode estar no caminho certo. Vou ver o que posso fazer.

Ela salta em minha direção, me chocando ao me envolver em um abraço


apertado. — Obrigada.
— De nada, brinquedo. — Eu me afasto enquanto ainda a seguro em
meus braços para que eu possa olhar para seu rosto. — É muito doce que você
esteja tentando ajudá-la, Pandora.

— Eu me sinto responsável. Papai não seria capaz de importuná-la tanto


se eu ainda estivesse em casa.
— Vamos trabalhar juntos para afastá-la dele.

— Isso é o que eu quero. — Ela acena com a cabeça resolutamente. —


Nós podemos salvá-la dele.
Eu aceno, embora eu não concorde necessariamente.
Emilian Oakes é um homem que sempre, sempre consegue o que quer.
Eu deveria saber - eu era exatamente como ele quando Pandora entrou na
minha vida.
Eu comia quem eu quisesse, e elas estavam mais do que dispostas a me
deixar levar o prêmio entre suas pernas.
Eu machuquei todos ao meu redor só porque eu podia.
Usei meu poder e influência para conseguir o que queria.
Talvez seja hora de alguém me colocar no meu lugar.

Esta cidade permite que as pessoas machuquem outras. Diz-nos para


usar o poder que temos sobre os meros mortais de Eden Falls e pegar o que
queremos. Mas algum dia, talvez apareça alguém que possa mudar isso.

Enquanto vejo meu brinquedo sorrindo, me pergunto se essa pessoa é


ela.
Se ela tem condições de mudar as coisas e transformar esta cidade.
Só o tempo irá dizer...

BETTI ROSEWOOD
15
PANDORA

Na manhã em que recebemos a notícia sobre Brazen, Minnie e eu


estávamos sentadas no banheiro de Booth Manor, folheando livros para nos
distrair da triste realidade de nossas vidas.
Dexter entra na sala com uma expressão tempestuosa e pede para falar
comigo. Eu olho por cima do meu livro e estreito meus olhos para ele.
— Diga-me aqui, — eu sugiro. — Não guardo nenhum segredo de Minnie.

Ele olha entre nós duas. Os olhos de Minnie estão arregalados e


confiantes e, por uma fração de segundo, lamento minhas palavras. E se isso
for algo que Minnie não deveria saber? E se isso pudesse machucá-la?

— É Brazen, — murmura Dex. — Algo aconteceu e eu preciso falar com


você sobre isso.

— B-Brazen? — Minnie repete. Ela fecha o livro, com a mão trêmula ao


colocá-lo na mesa de centro. — Está tudo bem, Mestre Booth... Você pode dizer
isso na minha frente.
Um silêncio constrangedor cai sobre a sala enquanto Dex luta com sua
resposta. Eu sei que ele não quer machucar Minnie. Sua expressão está
preocupada e eu sei que isso não vai acabar bem, seja o que for. A última coisa
que quero é que Minnie se machuque, mas ela merece saber a verdade assim
como eu.

— Oakes decidiu que Brazen vai se casar, — Dex finalmente cuspiu com
os dentes cerrados. — Brazen agora está noivo de Coco Rose.

— O-o quê? — Eu olho para Minnie. Ela parece congelada e seu rosto
está mortalmente pálido. — Quem te contou?
— Todo mundo sabe. — Dex esfrega o queixo esculpido. — Sinto muito,
Minnie.

A empregada concorda com um pequeno sorriso, mas é dolorosamente


óbvio que ela está quebrando por dentro. Estendo a mão para ela, mas ela se
afasta, mostrando que não quer que eu a console. Eu me afasto e permito que
ela se recomponha. Mas, um momento depois, um soluço rasga o peito de
Minnie.
Desta vez, corro em sua direção sem hesitar.
— Sinto muito, Minnie, — resmunga Dex.

— Então você... realmente gosta dele? — Eu pergunto a ela suavemente.


Ela olha para mim e seus olhos arregalados cheios de lágrimas são a única
resposta de que preciso.

BETTI ROSEWOOD
— Acho que agora nada vai acontecer afinal, — ela sussurra, e meu
coração ameaça quebrar quando as palavras saem de seus lábios. — Nós nunca
poderemos ficar juntos.
Não quero machucá-la ainda mais dizendo que não havia chance para
eles, nunca. De jeito nenhum o papai permitiria que seu único filho se casasse
com uma garota como Minnie. Afinal ela é só filha da empregada...
Eu mentalmente me castigo por pensar dessa forma enquanto um arrepio
desce pela minha espinha. Afinal de contas, Eden Falls me influenciou.
— Com licença. — Dex franze as sobrancelhas enquanto verifica o
zumbido do telefone. — Eu preciso atender isso.
Ele sai da sala e sou grata pela privacidade que agora tenho com Minnie.

— Oh, Minnie, — eu sussurro. — Eu gostaria de poder melhorar as


coisas.

Ela não responde. Percebo então que ela está amarrada no limite
novamente. E estou cada vez mais com medo de que ela não caia - ela dê o
primeiro passo para o abismo e pule.
Dexter volta a entrar na sala um pouco depois, sua expressão
preocupada.
— Você está recebendo uma visita de família, Pandora, — ele me diz.
— Oh? — Eu me levanto. Não quero ver papai agora, não depois do que
ele acabou de fazer com Minnie.

— Brazen e Tianna chegarão em breve, — responde Dex, sorrindo ao


olhar para Minnie. Não consigo evitar - olho para a loira bonita também. Ela
parece feliz o suficiente para explodir. Todos nós sabemos que a visita deles é
apenas uma simulação para que Brazen e Minnie possam passar um tempo
precioso juntos, sozinhos. As oportunidades para isso serão raras a partir de
agora.

Ajudo Minnie a se arrumar com pressa, emprestando-lhe um dos meus


vestidos antigos e prendendo seu cabelo em um coque bonito, com mechas
loiras emoldurando seu rosto de porcelana. Tento tranquilizá-la, mas antes que
possa dizer as palavras, a campainha toca e nos encontramos no grande
corredor.
A postura de Brazen endurece quando ele vê Minnie, e a loira aperta
minha mão dolorosamente.

Eu não solto. O resto de nós os observa com expectativa, exceto Tianna,


cujo olhar está fixo em seu telefone como sempre. Anders nos indica o salão
onde serve chá e nos sentamos, dando a Brazen e Minnie o máximo de
privacidade possível. Tianna, Dex e eu acabamos em um canto da sala,
enquanto Minnie e Brazen sentam no outro.
Enquanto tentamos nos concentrar em nossas próprias conversas, todos
tentamos ouvir o que Brazen e Minnie estão dizendo um para o outro. Estou

BETTI ROSEWOOD
sentada de frente para eles, então posso ver o que está acontecendo, e me
desligo da nossa conversa enquanto tento decifrar as ações do meu irmão.
Minnie está sentada o mais longe possível, olhando com medo para
Brazen enquanto ele implora suavemente para que ela entenda. Vê-los me faz
sentir mal e me forço a desviar o olhar. Em vez disso, me concentro em Tianna,
sorrindo fracamente para ela enquanto ela olha para cima da tela do telefone
por um segundo.
— Então, como vai a vida na propriedade? — Eu pergunto sem jeito.
— Por que você se importa de repente? — ela zomba, voltando a mexer
no celular com o polegar. — Não é como se você jamais tivesse dado a mínima,
de qualquer maneira.
— O que você quer dizer? — Eu estreito meus olhos para ela.

— Você simplesmente se foi, — sibila Tianna. — Você não deu a mínima


para os que você deixou para trás.
— Como quem? — Eu exijo.
— Como Minnie. Brazen. Eu. — Só quando ela enfatiza a última palavra
é que percebo o que está acontecendo. — Você ao menos entende como tem sido
difícil em casa desde que você partiu? Eu sou a única filha que papai tem agora.
Se não é Brazen que ele está dando ordens, é a mim. E pelo menos Brazen é
grande o suficiente para se defender.

Eu fico olhando para minha irmã pequena e frágil. Pela primeira vez, não
a vejo como a garotinha mimada do papai. Ela é forte em seu próprio poder, mas
também está certa - fugindo, coloquei mais do que apenas Minnie na linha de
fogo.
— Sinto muito, — murmuro. — Você é sempre bem-vinda aqui, Tianna.
Sempre.
— Se ele me deixar sair de casa, — zomba minha irmã.

— Nós ajudaremos com isso. — Eu olho para Dex em busca de apoio e


seu aceno firme confirma meus pensamentos. — Sempre que for demais para
você, Tianna, estamos aqui para ajudá-la.
— Obrigada. — Ela volta a mexer no celular, mas não antes de me lançar
um vislumbre de um sorriso agradecido. Dex começa a perguntar a Tianna sobre
a escola e eu volto minha atenção para os amantes estrelados do outro lado da
sala bem a tempo de ver Brazen estender a mão para Minnie.

Ela o empurra em um instante, o mais longe que pode. Ele parece


magoado e surpreso com a reação dela e balança a cabeça antes de se levantar
do sofá e se aproximar do resto de nós.
— Alguma sorte? — Dex pergunta em uma voz profunda e sombria.

Brazen olha para ele em branco. — Ela diz que não é nada. Que sempre
foi nada. Nós somos... nada.

BETTI ROSEWOOD
Eu me levanto e aperto sua mão para tranquilizá-lo. Tianna também se
levanta, guardando o telefone no bolso e dando tapinhas nas costas do nosso
irmão.
— Muitos outros peixes no mar, certo? — ela pergunta docemente, mas
Brazen apenas balança a cabeça. Ele parece... quebrado. Como se a filha da
empregada tivesse acabado de lhe entregar o coração em um prato.
Todos nós nos viramos para ver Minnie saindo da sala. Brazen grita atrás
dela, mas ela o ignora e corre escada acima.
— Posso falar com ela? — Tianna pergunta, e todos nós olhamos para ela
com surpresa. — O quê? Eu posso ser legal.

— Claro, — eu digo após uma pausa desconfortável. — Dex, mostre a ela


onde fica o quarto da Minnie.

Eles saem da sala juntos, me deixando sozinha com Brazen, que está
nervosamente andando pela sala. Uma olhada em meu irmão revela como seus
nervos estão em frangalhos.
— Brazen, — grito para ele. — Fale comigo. O que aconteceu lá?
— Ela disse que acabou, — diz ele, depois ri, repetindo. — Acabou. Como
pode terminar, se nem mesmo começou?
— Você e Minnie... nunca...?
— Não, — ele balança a cabeça. — Eu me mantive longe dela o máximo
que pude, enquanto tentava protegê-la.
— Mas você não quer?
— O que você acha? — ele ri amargamente.
— Ok, pergunta estúpida. Mas você pode sair do casamento que está
sendo forçado, Brazen.
— O que você quer dizer? — Ele estreita os olhos para mim.
— Bem... você conhece aquele livro de regras de Eden Falls? — Eu
pergunto, e ele acena com a cabeça. — Digamos que tenho a sensação de que
está prestes a ser reescrito.
Ele me encara por um momento, e estou agradavelmente surpresa com o
fato de que ele não me descartou e riu na minha cara. Brazen ri alto, dizendo:
— Se alguém pode reescrever a história, será você, Pandora Oakes.

Eu luto contra o brilho orgulhoso do meu rosto, decidindo, em vez disso,


mudar o assunto de volta para Minnie.
— Quando isso acontecer, você poderá ficar com ela, — eu o tranquilizo.
— Não haverá ninguém para te impedir.

— Nem mesmo você? — Seu sorriso brilha com malícia e estou grata por
ver o lado menos sério dele, mesmo que apenas por um momento.

BETTI ROSEWOOD
— Eu não tenho uma vingança contra você, Brazen, — digo a ele.
— Quem então?

— Não é quem, — eu balanço minha cabeça. — É o quê. Esta cidade,


Brazen. A merda de Eden Falls. Está podre até os ossos. E eu não posso sair
por aí esperando mudar as pessoas uma por uma. Eu preciso mudar a
sociedade em que vivemos. Eu preciso mostrar isso as pessoas, a maneira como
tratam os outros não está certa.
— Mas, ao fazer isso, você não corre o risco de perder o poder? — Os
olhos de Brazen brilham de interesse, e estou surpresa que ele provou ser um
conversador digno. Não o considerei muito revolucionário, mas talvez seja seu
relacionamento com Minnie que o está levando a acreditar que posso mudar o
sistema.

— Uma pessoa não importa no grande esquema das coisas, — eu o


tranquilizo. — Qual é o sacrifício para mudar a vida de tantas outras pessoas?
— Essas são palavras perigosas. — Seu tom é uma advertência e seu
olhar é de um interesse frio. — Quem é você para decidir?
— Quem são eles para decidir? — Eu exijo.
— As famílias fundadoras? Os Primogênitos? — Risos descarados. — Um
ou outro, Pandora. Eles governam Eden Falls, e isso nunca vai mudar.
— Veremos. — Eu sorrio enquanto Dex e Tianna descem as escadas. Eu
sorrio largamente quando vejo Minnie andando atrás deles. — Minnie! Por favor,
venha aqui.

Todos nós nos afastamos para que Minnie e Brazen fiquem um de frente
para o outro. Um silêncio desconfortável caiu sobre a sala, e eu limpo minha
garganta.
— Você não quer se despedir, Minnie? Você pode não ver Tianna e Brazen
por um tempo, — Dex sugere calmamente, e eu olho para ele, silenciosamente
murmurando um obrigada.

— Claro, — sussurra Minnie, olhando entre meus irmãos antes de pisar


na frente de Tianna. — Senhorita Oakes, vejo você na propriedade em breve.
Tianna acena com a cabeça, então surpreende a todos nós ao abraçar
Minnie. A empregada retribui o abraço após uma pausa momentânea e, quando
minha irmã se afasta, Minnie dá um passo para trás como se tivesse terminado
as despedidas. Estou prestes a interromper, mas Brazen choca a todos nós
dando um passo para frente, todos os seus cento e oitenta centímetros
emanando com raiva mal contida.
— E quanto a mim, Minnie?
— E quanto a você? — a empregada pergunta, sua voz pingando gelo.
— Você não vai se despedir de mim?

BETTI ROSEWOOD
Os olhos de Minnie encontram os de Brazen. Todos nós prendemos a
respiração.
— Adeus, Mestre Oakes.

— Porra, Minnie! — Brazen dá vários passos, fechando a distância entre


ele e Minnie, mas Dex o intercepta, bloqueando seu caminho. — Você realmente
vai agir como se não tivéssemos nada, porra?

— Não tenho certeza do que você quer dizer, Mestre Oakes. — Ela faz
uma pequena reverência, fazendo uma reverência como todos os funcionários
da propriedade. Meu sangue gela em minhas veias. — Eu sou apenas uma
empregada, isso é tudo.

— Você é apenas uma empregada, — ele repete incrédulo. Suspiramos


coletivamente quando ele força o queixo de Minnie para cima. Dex tenta
empurrá-lo para trás, mas Brazen fica parado, orgulhoso demais para recuar.
— Diga-me, Minnie. Você só quer ser empregada? Não quer minha ajuda ou
atenção? Quer que eu esqueça tudo isso?

Observo o lábio inferior de Minnie tremer quando seus olhos se conectam


com os de Brazen. — Não há nada para esquecer, Mestre, porque nada
aconteceu.
Brazen solta o queixo dela como se tivesse sido queimado. — Tudo bem,
Minnie. Vou me lembrar disso.
A tensão na sala é palpável antes de ele sair furioso, com Tianna o
seguindo de perto. Minnie corre escada acima, e Dex e eu acenamos para meus
irmãos distraidamente.

— Acha que a briga de namorados deles vai ser um problema? — Dex


pergunta.
— Eu acho que ela fodeu com tudo, — eu sussurro.
— O quê? Ele a ama.

— E daí? — Eu assobio, balançando minha cabeça e esfregando minhas


têmporas. — Isso não significa nada. Não aqui. Não em Eden Falls.
— Bem, talvez devesse. — Eu olho para o rosto decidido de Dex. — E
talvez seja a hora de as coisas finalmente mudarem.

BETTI ROSEWOOD
16
DEXTER

— Você pode abrir os olhos.

Seguro a venda de seda em minhas mãos, esperando a reação de


Pandora. Espero lágrimas de felicidade, um grande abraço, um beijo. Eu consigo
qualquer coisa, menos o que espero.
— O que diabos é isso? — ela se vira para mim com uma expressão de
desdém. — Eu não sabia nada sobre isso.

— Era para ser uma surpresa. — Eu sorrio para ela enquanto ela
inspeciona o berçário que venho preparando desde que saí da prisão. — Você
gostou?

— Se gostei? — Ela me encara com uma expressão de pura raiva. Eu


imediatamente sei que ela odiou, mas não entendo por quê. — Como você pôde
fazer isso, Dexter?
— É para Reign, — eu resmungo. — Nosso filho. Para quando ele voltar.
— Mas ele não voltou, não é? — Sua voz vacila enquanto ela fala as
palavras e ela enxuga os olhos marejados com frustração. — E não sabemos se
algum dia o conseguiremos de volta.
— Você tem que ser positiva. — Eu faço um movimento para tocar seu
ombro, mas Pandora sai do meu alcance. — Por favor, brinquedo. Estou fazendo
o meu melhor aqui, quero tê-lo de volta tanto quanto você.
— Como vou ser otimista, quando ele está lá com ela? — Ela esfrega os
olhos, espalhando rímel por todo o rosto. Em vez de me deixar com raiva de mim
mesmo, só serve para fazer meu pau pular nas minhas calças de antecipação.
Faz meses desde que eu a comi, quase um ano. Além da hora em que a
fiz gozar, Pandora manteve distância e eu a deixei assim. Mas minha paciência
está diminuindo, minha necessidade de possuí-la assumindo o controle
novamente e ameaçando me obrigar a fazer algo com ela. Eu a quero de volta.
Eu quero seu corpo de volta. Foi feito para mim. Ela nasceu para ser minha.

— Você está no gelo fino, Pandora, — advirto-a friamente. — Você está


sendo uma pirralha de merda de novo. Você se lembra do que acontece com as
pirralhas, não é?
Ela me encara com desprezo antes de marchar em direção à porta do
berçário azul-bebê. Eu a pego antes que ela possa sair, os dedos envolvendo seu
antebraço.
— Você está me machucando, — ela sibila, mas eu não me importo,
puxando seu corpo contra o meu.

— Eu fiz isso para nos animar, — digo a ela com firmeza. — Nós dois
precisamos disso.

BETTI ROSEWOOD
— O que diabos eu devo fazer com um berçário, — ela cospe. — Quando
eu não tenho nenhum bebê para colocar nele?
Ela puxa seu braço do meu aperto com tanta força que eu acidentalmente
a arranho. Ela inspeciona as marcas de garras em seu braço e me encara.
— Agora, veja o que você fez! Você me machucou...

— Você se machucou, — eu respondo com firmeza. — E você continua


fazendo isso, Pandora, porque você não está me ouvindo, porra.
— Eu não quero ouvir ninguém! — Sua voz está ficando cada vez mais
alta. Posso dizer que ela está com medo, chateada e com raiva, e estou apenas
esperando que ela caia agora para que eu possa juntar os cacos. — Eu quero
meu filho de volta! Eu quero Reign aqui comigo!
— Estamos fazendo tudo que podemos, — eu rosno.
— Não é o suficiente! — Ela começa a bater seus pequenos punhos contra
meu peito, uma e outra vez. — Não é o suficiente, Dexter, não é o suficiente...

— Terá que ser. — Eu a agarro pelos pulsos, evitando que ela me bata
novamente. — Olhe para si mesma, Pandora. Você está uma bagunça.
— Como você espera algo além disso? — Ela está chorando agora, nem
mesmo lutando mais contra as lágrimas. — Você não pode imaginar a dor disso,
de perder um filho.
— Como você pode dizer isso? — Eu a puxo contra mim, seu corpo
colidindo com o meu ferozmente. — Como você pode dizer que eu não entendo?
Eu perdi algo também.
— Você não sabe se ele é seu filho.
— Ele é, — eu insisto. — Você quer ficar comigo?

Ela olha nos meus olhos teimosamente antes de dar um aceno quase
imperceptível.
— Então ele é meu filho. E isso me machuca também, Pandora. Mas o
que dói mais, é perder você. Assistir você se afastar. Eu preciso de você de volta
aqui comigo, para que possamos lutar juntos, você entende? Seu chamado
ainda não acabou. Você é a única que pode mudar Eden Falls. Não quer Reign
crescendo em um lugar melhor?
Por seu lábio inferior balançar, posso dizer que ela está prestes a lutar
comigo novamente, então pressiono um dedo contra seus lábios antes que ela
possa falar.
— Pense nisso, Pandora. Você pode mudar este lugar. Você pode mudar
tudo.
— Mas a dor é d-demais, — ela finalmente gagueja. — Dói muito, Dex,
não consigo me concentrar em mais nada. É como se houvesse um buraco e eu
nunca pudesse preenchê-lo. Dói tanto...

BETTI ROSEWOOD
— Então vamos dar a você algo mais para ocupar sua mente, — eu insisto
com firmeza. — Um novo hobby? Um novo emprego?
Ela balança a cabeça e eu a puxo para mais perto novamente.

— Você quer esquecer a dor? — Eu pergunto. Seus olhos encontram os


meus e ela concorda. — Você quer que ela vá embora? Seja substituída? Você
quer esquecer Reign, só por um momento?
Ela acena com a cabeça novamente.
— Você entende no que está se metendo?
— Qualquer coisa, — ela respira.
— Qualquer coisa?

— Qualquer coisa para tirar a dor, — sussurra Pandora. — Mesmo que


seja só por um tempinho.

— Bom. — Eu a viro em meus braços para que ela tenha suas costas
pressionadas contra a minha frente, e ela engasga. — Meu escritório. Vá.

Eu a empurro para frente e ela tropeça, olhando para mim. Mas seu olhar
logo se enche de interesse e, sem dizer outra palavra, ela caminha pelo corredor
até meu escritório. Puxo minha cadeira e ordeno que ela fique nua.
— Agora?
— Agora, — exijo. — E faça isso devagar, faça um show para mim. Eu
quero aproveitar isso.

Eu pensei que ela seria mais contra fazer coisas sexuais, mas do jeito que
seus olhos queimam com fogo silencioso, eu sei que ela precisa disso tanto
quanto eu. Pandora olha direto nos meus olhos enquanto tira o vestido. Seu
corpo é frágil e minúsculo. Ela mal comeu desde que voltamos e a caixa torácica
está aparecendo na pele. É preocupante.
Eu me forço a ignorar, vou lidar com isso mais tarde. Em vez disso, bato
no joelho, dizendo a ela para se aproximar.

Em seguida, ela tira a calcinha. Percebo que ela raspou a boceta, mas
não comento sobre isso. Eu mantenho meus olhos focados nela enquanto ela se
move em minha direção.

Ela se aproxima de mim lentamente, mas pela respiração que está


prendendo, sei que ela está animada. Ela quer isso. Pela primeira vez, não tenho
um brinquedo relutante em minhas mãos.
— Rasteje, — eu exijo.
Ela cora furiosamente, mas não se opõe. Pandora cai de joelhos e rasteja
para mim.

— Deite-se, — eu ordeno. Ela se posiciona no meu colo, exatamente como


eu queria. Sua bunda está na minha frente, menor do que costumava ser, mas
tão suculenta. O desejo de machucá-la, aumenta meu batimento cardíaco e eu

BETTI ROSEWOOD
sorrio para mim mesmo. Eu vou fazê-la esquecer. Vou torná-la minha
novamente. — Isso mesmo. Deixe-me ver esse corpinho lindo.
Eu a inspeciono, sabendo que ela está corando quando meus dedos
deslizam suavemente sobre cada centímetro de sua pele sensível. Ela é linda.
Dolorosamente magra, mas ainda assim bonita.
— Eu vou bater em você agora, — digo a ela calmamente. — E você vai
me agradecer a cada bofetada. Você entendeu?
— Sim, — ela sussurra desamparada.
— Sim o quê, brinquedo?

— Sim mestre. — Sua voz é minúscula, interrompendo as palavras


simples. Não será por muito tempo. Vou mostrar a ela como a dor pode ser
prazerosa. Vou mostrar a ela uma dor tão doce que ela vai implorar para que eu
dê a ela mais, dia após dia.

— Boa garota. — Eu bati nela pela primeira vez, o som do tapa ecoando
pelo meu escritório.
— Mestre!
— Diga obrigada, — eu rosno, esperando-a parar de tremer no meu colo.
— O-obrigada, — ela gagueja, estremecendo quando eu a acerto de novo.
— Ow!
— Não se esqueça.
— Obrigada mestre.
Eu continuo batendo nela, ela continua me agradecendo. Sua bunda está
brilhando em um vermelho brilhante e ela certamente pode sentir meu pau,
forçando o tecido da minha calça enquanto eu a bato novamente e novamente.
Há uma dicotomia deliciosa e perigosa entre eu estar totalmente vestido e meu
brinquedo nu. Isso instantaneamente diz quem tem o poder aqui, e isso me
excita pra caralho.
Eu abro sua bunda então, e Pandora geme quando eu inspeciono seus
buracos. Meu próximo tapa pousa bem em seu clitóris e ela grita antes de se
dissolver em gemidos.
— Você gosta disso, não é? — Eu murmuro. — Você adora ter sua boceta
doendo. É para isso que servem esses buracos. Diga.
— É... o que... eu...
Eu bato novamente e ela grita.
— Porra, diga isso, Pandora.

— Meus buracos são feitos para a dor, — ela murmura


instantaneamente. — Eu quero mais, Mestre, eu quero mais...

BETTI ROSEWOOD
— Você quer se machucar mais? — Eu ri. — Uma submissa masoquista
carente, não é, Pandora?
Ouvir seus gemidos necessitados me deixa forte o suficiente para
explodir, mas me forço a não pensar no meu pau inchado embaixo dela. Ela é a
prioridade. Ela é quem precisa se lembrar de seu propósito. Lembrar-se de que
me agradar é tudo o que importa. Não há espaço para sua tristeza aqui. Ela
deve ser um bom brinquedo. A todo custo.

— Eu quero me machucar mais, — ela sussurra. — Eu sou sua submissa


masoquista, Mestre.
— Então repete depois de mim, — resmungo. — Que tal você me
convencer de que precisa de mais?
Eu bato nela novamente e ela geme.
— Por favor, Mestre.

— Porra, tente mais forte. — Eu acertei de novo. Novamente. Novamente.


Ela está gemendo sem parar agora, presa à beira de um orgasmo que não vem.
— Porra, olhe para você, sua vagabunda. Você vai gozar com nada além da dor,
não é?
— N-não, — ela administra fracamente.
— Não? — Eu abro os lábios de sua boceta novamente. — Você acabou
de dizer não para mim, brinquedo?

— Não! — ela grita novamente. Eu bato. Forte desta vez, mais forte do
que ousei antes. Ela não faz nenhum som. Sua bunda e sua boceta estão em
um tom violento de vermelho.
— Diga de novo, — eu a provoco. — Eu te desafio, porra.
Ela tenta subir do meu colo, mas eu a agarro, virando-a para que ela
esteja montada em mim.
— Aonde você está tentando ir, brinquedo? Não há como fugir, não há
como escapar disso agora.
Eu olho em seu rosto coberto de lágrimas. Outra pessoa ficaria
preocupada com isso, mas vejo por trás das lágrimas de tanto estar machucada,
bem no centro dela, que está brilhando de prazer. A necessidade de me agradar
foi aplacada. Ela sabe que está sendo uma boa menina e isso lhe deu um
propósito. Significado.

— É isto o que você queria? — Eu exijo, e ela balança a cabeça


fracamente. — Não? O que você quer, brinquedo?
Ela hesita e eu agarro seu cabelo, puxando com força e fazendo-a gritar.
— Conte-me.
— Eu quero mais, — ela sussurra. — Me fode.

BETTI ROSEWOOD
— Você não merece isso, — murmuro, embora meu pau tenha pulado
com o pensamento. — Você não merece ser fodida até que esteja melhor.
— Você pode me deixar melhor, — ela insiste, entrecortada. — Só você,
Dex, por favor...

Eu luto com minha própria necessidade de protegê-la e meu pau furioso


sob o tecido da minha calça. Porra. Não aguento mais e se ela disser não depois
que eu decidir que o jogo começou, não vou conseguir parar.
— O que você está me dando em troca? — Eu exijo.
— Qualquer coisa. — As palavras saem de seus lábios, ela está tão
ansiosa por isso. — Tudo. Vou te dar tudo que você quiser.
— Jure.

— Eu juro. — Ela agarra minha camisa e me beija rudemente,


carinhosamente. — Eu farei qualquer coisa. Me fode.

— Bom. — Eu me levanto, deixando-a ficar no chão ao meu lado


enquanto eu sorrio com uma intenção sombria. — Lembre-se de sua promessa,
Pandora.
— Mas... — Ela observa incrédula enquanto eu saio da sala, deixando-a
nua e pingando. — Você ia me foder, Mestre...
— Eu vou. — Eu rio dela. — Quando chegar a hora. Até então, você
esperará por mim. Carente, molhada e pingando.
— Mestre! — Ela está fazendo beicinho, olhos arregalados, lábio inferior
projetando-se. — Eu quero isso agora!
Ela bate os pés, mas para instantaneamente quando eu me aproximo
dela.
— Qualquer coisa, — eu sussurro em seu ouvido. — Lembre-se do que
você prometeu em troca do meu pau, brinquedo. Qualquer coisa.
Com essas palavras, eu a deixo em meu escritório, um sorriso de
autossatisfação no rosto enquanto me afasto dela.

Ela está me devendo agora, e eu vou manter sua cabecinha bonita


preocupada com o pensamento de finalmente estar transando com ela. Não há
mais dor, além da que eu dou a ela. Não está mais doendo, além da doce dor
que eu a deixei ter. Ela voltou a ser um brinquedo agora, e vou fazer com que
ela ame isso.

BETTI ROSEWOOD
17
PANDORA

Já faz dias.

Dias neste estágio intermediário, onde tudo em que consigo pensar é no


buraco carente, úmido e pingando entre minhas pernas.

Dexter se certificou de que não estivéssemos sozinhos. Ele passou um


tempo em seu escritório, pesquisando possíveis pistas sobre Reign e Lily Anna,
fazendo qualquer coisa, exceto passar um tempo comigo. E o bastardo estava
certo. A falta de atenção está me deixando louca. Eu o quero. Eu preciso dele.
Eu não posso viver sem ele. Dexter e seu corpo duro e rasgado são tudo em que
consigo pensar. Ele me possuindo, me levando, nunca me deixando gozar. E
ainda assim ele não me toca. Não vai nem colocar um dedo em mim. Ele vem
para a cama quando já estou dormindo e acorda antes de eu abrir os olhos.
Lembro-me dos abraços fantasmas no meio da noite, ele me segurando, me
abraçando, sumido na manhã seguinte antes de eu acordar.
Minnie não entende o que está acontecendo e estou com vergonha de
explicar a ela. Tudo o que posso fazer é sentir minha própria necessidade pelo
homem com quem devo me casar.
Não me esqueci de Reign. Eu nunca poderia. Mas com a necessidade
avassaladora que toma conta do meu corpo, não consigo me concentrar em nada
além do homem que me possui e do desespero que ele me faz sentir. É uma
prorrogação bem-vinda, uma maneira de parar de me preocupar com meu filho.
E por mais que doa, tenho que dar para Dexter - ele realmente conseguiu me
distrair. Tudo o que posso pensar agora é no prazer, de sentir ele finalmente
enterrando seu pau grosso dentro de mim, me fazendo sentir todas as coisas
que quase esqueci.
Mas esse prazer simplesmente não vem.
Em vez disso, Dex me nega dia após dia, enviando minha mente em uma
espiral de emoção. E, no entanto, não falo disso com ele.

Eu escondo a quão desesperada estou e o quanto preciso dele até que


seja quase tarde demais. Naquela noite, vamos jantar juntos, com Minnie
sentada na mesma mesa que nós, enquanto Anders nos serve a comida. Agora
que papai deu um dote a Dex, podemos pagá-lo novamente.

— Não sei se consigo fazer isso, — sussurro, soltando meu garfo. Ele bate
no chão, o som ecoando na sala.
— O que você quer dizer, Pandora? — Dexter pergunta, a voz cheia de
preocupação contida.

Eu olho em seus olhos. Estou desesperada para que ele cumpra sua
promessa de me foder, mas ele parece determinado a me fazer trazer isso à tona
primeiro. Meu lábio inferior treme e luto comigo mesma, se devo dizer isso em

BETTI ROSEWOOD
voz alta ou não. Finalmente, deixo escapar a primeira coisa que consigo pensar,
só para que a pressão diminua.
— Não sei se consigo continuar. Talvez devêssemos parar de procurar.

— Por Reign? — Minnie arregala os olhos, olhando entre nós dois. — Você
quer parar de procurá-lo?

— Eu não acredito que ela o deixou... viver. — Minha voz falha com as
palavras e eu olho para a parede para que eu não tenha que aturar suas
palavras condescendentes. Nada mudará minha realidade. Até mesmo o plano
cruel de Dexter para redirecionar minha atenção irá parar de funcionar em
algum momento... — Acho que devemos parar de procurar por Lily Anna.

— Não. — A palavra de Dex soa definitiva, cheia de raiva. — Não vamos


parar de procurar.

— Ela poderia estar morta, — eu digo. — Estamos apenas perdendo


tempo e recursos que...

— Eu não me importo. — Ele me encara com seu olhar penetrante que


poderia iluminar minha alma em chamas. — Eu não vou parar de procurar pela
garota que matou meus pais. Então, você está realmente sugerindo, que
paremos de procurar nosso filho?
Estou sem palavras, sentada lá e remexendo na minha cadeira. — Me
desculpe, eu não pensei...

— Não, você não pensou, — Dex resmunga. — E é melhor você começar


a fazer isso antes de abrir essa boquinha linda, Pandora. Do contrário, terei que
ocupá-la de uma maneira diferente.
Minnie respira fundo, mas não é tão constrangedor quanto o rubor que
engole todo o meu corpo. É a primeira vez que Dex menciona algo sexual desde
a época em que me mostrou o berçário de Reign. Eu queria isso. Eu orei por
isso. Então, por que estou com tanto medo?
— Oakes ligou, — Dexter late após um longo minuto de silêncio
desconfortável. — Ele quer você de volta na propriedade na próxima semana,
Minnie.
— Oh. — A loira empalidece, olhando para o prato meio vazio enquanto
ela balança a cabeça resolutamente. — Sim, eu entendo. Obrigada por me dizer.
— Você realmente está deixando ele levá-la de volta? — Eu falo antes que
eu possa me conter.

Dex pega o guardanapo em seu colo e limpa a boca, jogando-o no prato


enquanto olha para mim. — O que eu acabei de te dizer, brinquedo?
— O que eu...
— Me responda. — Sua voz goteja com fria crueldade e meu coração está
batendo forte enquanto olho de Dex para Minnie.
— Eu...

BETTI ROSEWOOD
— Eu vou subir. — Minnie quase cai sobre si mesma para fugir. Quase
tenho vontade de gritar, implorar para que ela fique para não ficar sozinha com
Dexter. Mas ela fecha a porta firmemente atrás dela, deixando apenas nós.
— O que eu disse sobre ser uma pirralha, brinquedo? — Dex pergunta.
— Eu não sou uma pirralha, ou um brinquedo, — eu digo.
— Você é o que eu digo que você é. Você entendeu?

Eu rio alto, balançando a cabeça, mas Dex reage instantaneamente. Ele


se levanta, me puxando da cadeira pela frente do meu vestido preto.
— Dexter! — Eu luto, mas ele não desiste. — O que você está fazendo?
— Você acha que eu esqueci sua promessa, brinquedo? — ele pergunta
docemente contra a concha da minha orelha. — Lembre-se do que você disse,
brinquedo. Qualquer coisa. Tudo. Você nem se preocupou em perguntar o que
era, apenas concordou cegamente.
Ele ri da minha expressão desanimada.
— Aposto que você está se arrependendo disso agora, não é,
brinquedinho?
Eu balanço minha cabeça negativamente quando ele me empurra contra
a parede, me segurando pela minha garganta agora. Meu coração está ficando
louco e se ele não parar, vou começar a ensopar minha calcinha.
— Diga-me o que você é, — diz Dex, mais gentil dessa vez.
— Pandora Oakes, — eu sussurro.
— Eu disse o que. — Ele ri. — Continue.
— Eu sou um... um brinquedo.
— Para quem?
— Para você. Para o meu Mestre.
— Isso mesmo, — murmura Dex. — Você é um bom brinquedo para o
seu Mestre, não é? Não importa qual seja o seu nome. Ou não... Você verá.
— O-o quê? — Meus olhos se arregalam. — O que você quer dizer?

Dex me deixa ir. Minha pele dói onde ele me segurou, mas não por causa
da dor, mas porque ele não está mais me tocando. Eu esfrego os pontos
doloridos.

— Você vai ver. — Ele se move em direção à porta. — Vamos, vamos


contar a Minnie as boas notícias.

— Boas notícias? — Eu pergunto, ainda tentando me recuperar de sua


explosão repentina.
— Eu a coloquei na Prep., — Dex sorri. — Ela vai começar neste outono.

BETTI ROSEWOOD
***

Nós damos a notícia juntos. É a primeira vez que vejo Minnie sorrir em
quase um ano sem um pingo de tristeza e, por um momento, até eu posso fingir
que as coisas vão dar certo.
Ela nos agradece profusamente pela oportunidade, dizendo que não nos
arrependeremos de mandá-la para a Prep. Isso não apenas ampliará seus
horizontes, mas também abrirá as portas para mais oportunidades de trabalho.

Durante todo o tempo em que explicamos as novidades para Minnie, sinto


a promessa de algo sombrio e ameaçador no ar. Tenho a sensação de que Dex
pode fazer eu cumprir minha promessa em breve. Afinal, devo tudo a ele... e
tudo.
Dizemos boa noite para Minnie e quando fecho a porta do quarto dela,
um arrepio desce pela minha espinha. Eu me viro para encarar Dexter.
— Bem, vou me retirar agora, então.
— Certo.
— Boa noite, Dexter.

Corro pelo corredor para não ter que segurar o peso de seu olhar,
sentindo-o me encarar o tempo todo. Quando finalmente fecho a porta do nosso
quarto atrás de mim, solto um suspiro de alívio.
Não sei se estou com medo ou animada com Dexter cobrando o que devo.
Também sei que estou mentindo para mim mesma.

Eu me preparo para dormir o mais rápido que posso, para fingir que estou
dormindo quando Dex vier para a cama. Escovo o cabelo até ficar sedoso e
macio, passo óleo, tiro a maquiagem e lavo o rosto com um pano quente. Tomo
um banho rápido e subo nua entre os lençóis, dizendo a mim mesma que é só
porque está muito quente. Mas eu sei que é uma mentira... Assim como todas
as noites antes desta, estarei esperando que Dex me toque no meio da noite. E,
como todas as outras noites, terei esperança em vão.
Ele nem mesmo me tocou. Até esta noite, ele não mencionou ou fez nada
sexual. E isso está me deixando louca.

Ele estava certo sobre algo - desde que ele me fez implorar, estive tão
preocupada com meu próprio corpo e suas necessidades que consegui não me
preocupar tanto com Reign. Em troca, isso me deixou mais focada, e Dex até
me deixou entrar na busca, compartilhando qualquer pista possível que eles
encontrassem comigo imediatamente.
Agora entendo que ele estava certo. Eu estava totalmente consumida pelo
meu desespero. Estranhamente, parece que eu precisava de uma distração para
me livrar da minha fixação. Posso me concentrar muito melhor agora.

BETTI ROSEWOOD
Sentindo os lençóis de seda frios contra a minha pele, fecho meus olhos
e expiro. Parece que estou prendendo a respiração há dias. Eu me permito
relaxar contra os travesseiros e os lençóis.
Dex demorará um pouco para vim. Ele vai passar a noite no escritório do
pai, cavando mais fundo, como faz todos os dias.
O pensamento de que ele está longe, e Minnie a uma distância segura de
mim, me faz começar a correr minhas mãos sobre meu corpo. Eu ruborizo
quando me toco, minhas pontas dos dedos arrastando ao longo da pele nua.
Estou ficando ainda mais frustrada, mas não consigo parar. Eu tenho que
continuar me tocando.

Meus dedos beliscam ambos os mamilos em picos duros. Se eu fechar


meus olhos com firmeza, quase posso fingir que é ele me tocando...

Eu deixo escapar o menor dos gemidos, arqueando minhas costas


enquanto faço exatamente isso. Minhas mãos viajam para baixo, tocando a pele
raspada entre minhas pernas. Eu esfrego. Isso me deixa perto de um orgasmo
em um instante. Eu não me toco. Eu não desejo meus próprios dedos... Eu
desejo Dexter e o toque punitivo que ele me dá, o tipo que eu nunca poderia
substituir. Começo a trabalhar o orgasmo acumulado em meu corpo, pensando
em todas as coisas que Dexter fez comigo desde que nos conhecemos. Como ele
me pegou, me fodeu, usou cada um dos meus buracos. Como ele me
compartilhou... Como ele me humilhou. Me degradou. Coisas que deveriam me
enojar, só me fazem esfregar com mais força.
A liberação aumenta e aumenta dentro do meu corpo e eu gemo alto
quando começo a me aproximar ainda mais.

Dexter me mataria se descobrisse que me obriguei a gozar enquanto ele


estava fora.
Ele nunca me deixaria esquecer isso.

Mas a ideia de uma punição é tão tentadora. Ele não me machucaria, de


qualquer maneira. Ele gosta muito de mim... Talvez até...
Eu levanto minha cabeça ao som de um barulho, mas ele desaparece em
um instante. Talvez eu apenas tenha imaginado. Não há ninguém no quarto. As
cortinas ondulam com a brisa do verão. Estou sozinha.

Meus olhos se fecham de novo, meus dedos trabalhando naquela alta


proibida que Dex não me deixa ter.

Estou tão perto. Tão perto que eu poderia explodir a qualquer segundo.
Só mais um pouco. Mais alguns movimentos, talvez se eu virar meu pulso
apenas assim...
— Brinquedo.
Meus olhos se abrem e um pavor absoluto me preenche quando encontro
Dexter aos pés da minha cama.
Sua expressão é calma, mas seus olhos são ensurdecedores.

BETTI ROSEWOOD
— Quebrando regras, não é?
— Não, eu...
— Você estava tentando, — ele retruca. — Não minta.
Fico sem palavras e fico olhando para ele com uma expressão culpada.
— Venha comigo, brinquedo.
— Não, eu... — Eu mordo meu lábio inferior. — Sinto muito. Vou me
comportar, eu prometo.
— Claro que você vai se comportar, — ele sorri. — Isso nem foi uma
pergunta. Agora vamos. Eu apenas terei que punir você durante o que eu
planejei.
— Mas eu... eu já me arrumei para dormir.
— E daí?
— E daí... — Eu toco meu rosto com as mãos, sem graça. — Eu estou
horrível.

— Bobagem. Vamos. — Ele abre a porta. Sombras cobrem o corredor e


meu coração salta uma batida com a promessa de algo escuro e tentador. — Eu
tenho outra distração para você, brinquedo. Acho que você vai gostar...

BETTI ROSEWOOD
18
DEXTER

Eu pego sua mão e a conduzo pelo corredor.

Anders está de folga esta noite e o andar térreo da casa foi transformado.
Minnie vai passar a noite com Araminta e Pandora não sabe o que vai acontecer.

Pela primeira vez em um ano, sinto que estou ficando genuinamente


animado. Claro que a dor de Reign ter partido ainda está lá. Mas parece que
posso pensar em outra coisa, mesmo que apenas por uma noite.

— O que está acontecendo? — Pandora sussurra enquanto eu a conduzo


pelo corredor. A iluminação fraca segue nosso caminho. — Estou com medo,
Dex.

— Não se preocupe. — Eu bato em uma porta e uma mulher com um


largo sorriso, a abre. Eu entrego Pandora para ela. — Eles vão cuidar de você,
deixá-la pronta.
— Dex? — Seu lábio inferior está tremendo e eu sinto um prazer
nauseante ao ver o medo em seu lindo rosto.
— Você ficará bem. — Eu sorrio. — O que quer que você ache que vai
acontecer não vai acontecer, pelo menos não aí.
Isso não virá até mais tarde, acrescento em minha mente, lutando contra
o sorriso de satisfação no meu rosto enquanto ela acena com alívio. A mulher a
leva para o salão enquanto eu subo as escadas para o corredor principal.
Antes da entrada, um homem com uma máscara de ouro me entrega uma
para eu usar. É uma que escolhi especialmente para isso - uma bela máscara
veneziana pintada à mão em tons de azul, branco e dourado. Eu a coloco,
garantindo que ninguém me reconhecerá na sala antes de entrar no corredor.
Parece que nos bons velhos tempos, quando mamãe e papai ainda
estavam aqui. Eles davam festas luxuosas para os habitantes mais ricos da
cidade, e eu podia ir com as outras crianças. As memórias de Lily Anna
geralmente doem neste lugar, mas esta noite, não estou pensando nela.

Minha mente está focada exclusivamente em Pandora. A garota que uma


vez pensei que odiava, está firmemente cimentada na minha mente.
Estou sempre pensando nela. Não posso mais me conter.
Eu atravesso o salão do banquete como uma sombra invisível. É fácil se
perder em meio à multidão de pessoas que convidamos. Pessoas da Prep., seus
irmãos mais velhos. Todo mundo está aqui. E todo mundo vai ver Pandora
transformada em um brinquedo esta noite.
Claro, é um evento de cavalheiros. Nenhuma mulher é permitida. Não
pelo que queremos fazer com ela.
Mal posso esperar por isso.

BETTI ROSEWOOD
O tempo passa muito devagar, mas então as luzes finalmente me dão o
sinal que eu estava esperando. Eles escurecem ainda mais. Sussurros tomam
conta dos convidados, a fofoca passa de um ouvido a outro.
E então o holofote vai para a entrada, e lá está ela.

Meu lindo brinquedo, o único hóspede sem máscara, brilhando em um


vestido de ouro líquido que realça as manchas âmbar nos olhos de Pandora. Ela
brilha mais forte do que nunca, e não preciso de mais confirmação - eu sei agora
e ali que a amo, sem vergonha.
É por isso que tenho que machucá-la.

Minhas mãos formam punhos enquanto ela olha para a multidão reunida
em sua homenagem. Não sei se ela vai me reconhecer. Se eu sou um tolo
esperando que ela seja capaz de fazer isso, em uma multidão tão grande. Mas
porra, eu quero que ela faça. Eu quero saber que seu corpo anseia pelo meu
também. Vou trabalhar para convencer sua mente mais tarde. De uma forma
ou de outra, ela será minha.

Eu a vejo descer as escadas. Meia dúzia de mãos estendidas, oferecendo-


se para acompanha-la dentro da sala. Ela olha com cautela entre seus rostos
mascarados. Todos os convidados são homens, é claro, e ela parece perceber
isso assim que chega à conclusão de que estamos todos usando smoking preto.
Não há como dizer quem é quem.

Ela olha para as três figuras mascaradas diante dela e eu a vejo engolir
em seco antes de pegar uma de suas mãos.
A música ressoa na sala, clássica, linda, rápida. A figura gira Pandora
pela pista de dança, e eu me afasto com o resto dos nossos convidados para
lhes dar espaço.

Enquanto a música clássica ecoa pela luxuosa sala, os olhos de Pandora


dançam sobre nós, tentando me identificar em um mar de pessoas que ela não
reconhece. Ela foi passada para outro dançarino e depois para outro. Ela
permite que a carreguem pela pista de dança como se ela fosse um manequim.
Ela os deixa fazer qualquer coisa, tudo, e minha carranca se transforma em um
sorriso malicioso quando ela começa a perceber que esta é a noite que ela temia
há uma semana.
A noite em que ela seria domesticada. A noite em que ela irá admitir que
é meu brinquedo diante de todas essas pessoas.

Seus parceiros de dança a passam entre eles, e logo, é a minha vez. Eu


pego sua mão, seu olhar focado na plateia enquanto a giro na pista de dança.
Eu agarro sua cintura com muita força. Seus olhos examinam minha máscara.
Uma vaga ideia de reconhecimento surge em seus olhos, mas antes que ela
possa descobrir, eu a passei para a próxima figura mascarada.
A dança continua tentando deixá-la a mais tonta e desorientada possível.
Tenho uma tarefa esperando por ela, mas porque sou um bastardo doente, vou
tornar isso ainda mais difícil para ela.

BETTI ROSEWOOD
Assim que a música chega ao fim, uma cadeira é colocada no meio da
sala. Seu parceiro de dança a senta e o resto de nós fecha em torno dela,
aglomerando-a, até estarmos embaraçosamente perto. Estou à sua esquerda e
posso ver seus seios tremerem a cada inspiração.

— Primeiro desafio, meu brinquedo. — Pandora ergue os olhos com medo


enquanto minha voz ecoa pela sala. Os alto-falantes explodem com uma
mensagem pré-gravada, e eu assisto com doentia satisfação enquanto as
bochechas de Pandora ficam profundamente vermelhas. — Você está pronta?
Você vai fazer alguém gozar. Você não vai saber quem foi, então é melhor você
aceitar isso agora.
Eu vejo seu rosto cair, a multidão zombando e rindo dela. Ela enrubesce.
Ela vai chorar. Meu pau exige ser aquele que ela vai escolher, lutando
dolorosamente contra minhas calças. Me escolha. Me escolha. Me escolha.

Alguém na multidão gira sua cadeira, e ela encara pessoas mascaradas,


rápido demais para saber quem é quem.
Minha voz no alto-falante diz que ela deve gritar para parar, no momento
em que parar, a pessoa na frente dela a usará como quiser, até que ela o faça
gozar.
— Pare! — Pandora grita de repente, levando as mãos ao rosto. Eu quero
gemer de raiva. Ela nem tentou me encontrar. Ela está frustrada, à beira da
histeria. Ela treme ao ficar cara a cara com um homem que a multidão
empurrou para a frente, alto e intimidante, usando uma máscara de médico da
peste.

Ele desabotoa as calças. Um único movimento de sua mão ordena que


Pandora se coloque no chão.
Ela está tremendo ao se levantar da cadeira. O homem ri quando ela se
ajoelha diante dele. O ciúme se mistura com a adrenalina em minhas veias e
estou na maior adrenalina da minha vida. Saber que ela me quer, que vai
suportar isso por mim, por minha causa, me deixa duro. Eu amo torturar meu
brinquedo. Eu vou amar, porra, vê-la ser passada ao redor.
Pandora ergue os olhos com confiança e o homem, que nem eu
reconheço, puxa o pau para fora. É grosso e perfurado na parte superior.
Pandora engasga ao ver.
— Eu não acho que possa... — ela começa, mas o homem a interrompe
colocando seu pau grosso em sua boca, assim como todos foram instruídos a
fazer. Pandora cospe, mas o mantém em seu buraco. Seus olhos estão fixos em
sua máscara. Eu me pergunto, se o que estou fazendo com ela vai lhe dar sonhos
molhados ou pesadelos.
Eu assisto com os punhos cerrados enquanto o homem fode sua boca.
Ela relaxa logo - eu a ensinei bem. Eu observo até o homem jorrar, saindo bem
a tempo de borrifar a frente do vestido com seu gozo.

Ela grita, uma, duas vezes. Logo percebo que é o meu nome que ela está
dizendo. Ela precisa de mim.

BETTI ROSEWOOD
Desta vez, dou um passo à frente. Ela me encara enquanto tiro minha
máscara. Eu estalo meus dedos e o resto dos meus homens sai da plateia.
Pandora choraminga, rastejando perto de mim, e eu acaricio seu cabelo
enquanto ela se ajoelha ao meu lado, olhando para seu rosto coberto de
lágrimas.
— Sinto muito, Mestre, — ela sussurra. — Eu não queria...
— Você fez exatamente o que eu queria que você fizesse, — digo a ela
calmamente. — Estou orgulhoso de você, brinquedo.
Um sorriso nervoso e incerto puxa seus lábios para cima. Ela é tão bonita
assim. Usada, quase quebrando, desesperada.
— Há mais uma tarefa pela frente, — eu digo. — Vê esses homens?
Ela olha para as outras três figuras, assentindo.
— Você sabe quem eles são?

Ela olha para mim antes de assentir novamente. Eu aceno para os


homens tirarem as máscaras. O resto do público assiste por trás de seu disfarce,
mas Pandora pode ver Easton, Julian e Caspian claramente agora.
— Seu último desafio está aqui, — eu digo, puxando seu cabelo e fazendo-
a olhar para mim.
— O que é, Mestre?
Eu não respondo. Com outro clique de meus dedos, figuras mascaradas
trazem uma cama. Eles a colocaram no meio da sala. Eu levanto Pandora do
chão e a deito suavemente nos lençóis. Seus olhos confiantes não vacilam. Eu
sei que ela quer isso. Eu sei que ela vai aceitar, seja o que for, porque ela quer
provar algo - que ela é minha.
— Nós vamos te foder agora, — digo a ela. — Nós quatro. Você escolhe
quem vai para onde.
Ela se levanta nos cotovelos. Espero medo, mas seus olhos brilham com
malícia. Maldita putinha. Ela está amando isso quase tanto quanto eu.
— Caspian e Julian em minhas mãos, — ela fala depois de pensar um
momento. — Easton na minha boca. E você, Mestre. Eu quero você na minha
boceta.
Eu sorrio. O público está assistindo. Eles querem um show, e estou mais
do que disposto a dar isso a eles.
Pego uma faca da minha bota e me aproximo de Pandora. Ela me encara
desafiadoramente, nem um pouco assustada.

Ela mantém os olhos fixos nos meus, enquanto eu corto seu vestido de
grife. Eu o tiro, puxando com força sua calcinha de renda até que rasgue. Tudo
o que ela está usando agora é um espartilho que termina bem abaixo dos seios.
Seus seios estão livres, seus mamilos deliciosamente duros e sua cintura é
pequena.

BETTI ROSEWOOD
— Você vai lutar comigo desta vez, brinquedo? — Eu sussurro em seu
ouvido, alto o suficiente apenas para nós dois. — Você sabe que eu adoro
quando você faz isso.
Nós sorrimos um para o outro enquanto eu me afasto, e ordeno que os
caras tomem suas posições. Assim como ela queria - Easton, Caspian e Julian
acima de mim, e eu cuidando de todos eles. Ela me conhece tão bem. Meu pau
incha de orgulho.

— Paus pra fora, — eu resmungo e os caras fazem o que eu digo a eles.


Meu olhar está focado em Pandora até que ela vire a cabeça para o lado. Sua
boca está cheia agora, e ela está comendo como uma boa menina, enquanto
suas mãos masturbam meus melhores amigos.

Estou acariciando meu pau também, incapaz de resistir ao quão sexy ela
parece sendo usada assim. Eu empurro a cabeça do meu pau contra os lábios
de sua boceta molhada, fazendo-a chutar aquelas pernas longas.

Eu as agarro pelos tornozelos, colocando-os em meus ombros enquanto


empurro para dentro dela. Certifico-me de ir dolorosamente lento, sabendo que
ela precisa de mim mais rápido, mais duro. Mas vou fazer com que ela acabe
com todos os outros antes de mim. Porque sou eu que vou levá-la para casa
esta noite. Seu primeiro, e o filho da puta do seu último.
— Abra suas pernas, brinquedo. — Eu ordeno a ela, e suas coxas
trêmulas se abrem para me permitir mais profundamente em suas dobras
sedosas. Ela geme de prazer e eu permito que ela sinta meu pau latejar por nada
além da sensação de estar dentro dela. — Puta que pariu, Pandora, você é uma
delícia.

Eu começo a transar com ela, mantendo meus olhos bem abertos para
ver tudo o que ela vai suportar por mim. Os caras estão gemendo de prazer.
Metade do público está com o pau de fora, alguns já gozaram. É uma porra de
orgia. Uma orgia desenhada especificamente para o meu brinquedo, para que
ela possa admitir de uma vez por todas o que ela realmente é.

Esse momento está se aproximando rapidamente, e eu sorrio sabendo


que esta noite, não há limites.
E ela pediu por isso, pediu para ser quebrada.
Eu vou mais do que gostar de dar isso a ela.

BETTI ROSEWOOD
19
PANDORA

Minha mente está girando. Meus buracos estão cheios. Estou tão perto
de um orgasmo devastador que mal consigo respirar. Meu corpo dói e arqueia
para o homem que controla meu prazer e minha dor. Dexter Booth, meu
valentão, o pai do meu filho, aquele com quem eu deveria estar.
Não há como me enganar - eu sei que ele está fazendo isso por si mesmo.
Ele quer a satisfação doentia de me ver agradar a todos esses homens. Ele quer
me punir por dormir com seus amigos. Ele quer me colocar no meu lugar, e eu
vou deixar. Porque, no final, Dexter Booth será forçado a admitir o que ele mais
teme.
Que ele me ama.
Eu fecho meus olhos com força, chupando o pau na minha boca, as mãos
massageando vigorosamente os dois paus duros deles. Dexter me fode
lentamente, aumentando a tensão até que se torna insuportável.
— Porra, baby, estou perto. — Caspian geme e eu percebo que esse é todo
o aviso que vou receber enquanto ele espalha sua semente por cima de mim.
— Porra... merda! — Julian é o próximo, empurrando minha mão e
empurrando seu pau por todo o meu peito.

De alguma forma, ainda estou respirando, em algum lugar à beira das


lágrimas e de um orgasmo.
— Dex, — eu sussurro. — Dex, eu quero o seu agora, por favor.
— Você não está esquecendo de nada? — Easton puxa minha boca de
volta para seu pau, forçando meus lábios a se fecharem em torno de sua
espessura. — Puta merda, sua vagabunda. Me chupa até eu explodir.
Eu choramingo e choro, mas ele não desiste e Dexter não faz nenhum
movimento para impedi-lo. Eu percebo que ele vai explodir em breve, seu pau
pulsando na minha boca e ameaçando derramar tudo na minha garganta. Com
Easton, o único aviso que recebo são suas mãos em cada lado da minha cabeça,
segurando-me no lugar com seu pênis profundamente dentro de mim, enquanto
ele atira jato após jato de esperma na minha boca. Eu quero gritar, mas minha
boca está muito cheia.
Easton finalmente puxa para fora, e seu sêmen escorre da minha boca e
cai no chão. Eu gaguejo antes de me virar para encarar Dex. Ele está sorrindo
para mim, e todo mundo dá um passo para trás, deixando apenas nós dois no
centro da sala. Ouço outros começando a gozar, homens xingando e grunhindo
enquanto chegam ao orgasmo. Mas eu não me importo com nada disso. Estou
focada apenas em Dexter, que está entrando em mim com punhaladas
profundas.
— Goza comigo, brinquedo, — ele exige. ‼6 Vou contar até três. Um...

BETTI ROSEWOOD
Eu choro alto, sem saber como vou chegar perto o suficiente tão rápido,
quando seu dedo de repente encontra meu clitóris enquanto ele me fode. Estou
chorando por um motivo diferente agora, e Dex ri alto enquanto ouve meus
apelos desesperados.
— Dois.
Estou gritando nesse ponto, tão perto do orgasmo que meus olhos estão
rolando para trás.
— Três. — A palavra nada mais é que um rosnado, e nos unimos no
segundo em que ela sai da língua de Dexter. Ele agarra minha bunda e não a
solta, me segurando em cima de seu pau, observando minha boceta levar sua
carga enquanto ele me leva a um orgasmo de mudança de alma com seu pau e
seus dedos.

Demoro um bom tempo para perceber que o gemido que estou ouvindo é
meu. Os olhos de Dex nunca deixaram os meus, mas por um momento, eu
estava totalmente fora de mim, perdida em um mundo de prazer onde apenas
nós existíamos.

Ele me fez esquecer, percebo com uma pontada aguda no peito. Eu me


esqueci de Reign.
Sem saber se deveria ficar com vergonha ou grata, deixei escapar um
soluço. O público começa a recuar, abrindo espaço para nós. Dexter me abraça,
me segurando em seu colo, acariciando meu cabelo enquanto eu luto contra as
lágrimas. Se eles estão felizes ou tristes, talvez eu nunca saiba.
— Não acabou, — ele sussurra em meu ouvido. — Vamos, brinquedo.
Ele me ajuda a sair da cama e eu me ajoelho ao lado dele, olhando em
seus olhos com expectativa.
— Você se lembra quando veio pela primeira vez aqui, Pandora? — Dex
fala devagar, suavemente. É tão diferente dele que eu uni minhas sobrancelhas
em preocupação. — O quão selvagem você era? O quanto você resistiu a mim,
nós? Você se lembra o quanto você odiava o meu apelido pra você? O quão
sordidamente chateada você ficou quando eu a chamei de brinquedo?
Eu aceno sem palavras, meu olhar grudado no dele.
— Você vai admitir que é isso que você é, — finaliza Dex.
— Eu... — Eu olho para ele. — Eu não quero.

Meu coração acelera. Não sou um brinquedo e suas palavras me


irritaram. Eu lutei todo esse tempo que estive em Eden Falls. Vou continuar
lutando até mudar esta cidade. Mas Dex quer que eu admita que não sou nada.
Nada além de um brinquedo.
— Nós não vamos embora até que você faça, — Dex range para fora. —
Espero que goste de se ajoelhar, porque também não vai se levantar antes de
fazer isso.

BETTI ROSEWOOD
Meu lábio inferior balança quando ele se ajoelha ao meu lado. Ele olha
em minha alma enquanto passa os dedos na minha bochecha.
— É realmente tão difícil? — ele pergunta suavemente. — Você só tem
que dizer as palavras. Admita. E eu serei seu. E você será minha. Para sempre.
Este é o preço dele, então.

O lado dominante de Dexter venceu. Ele quer que eu admita que é meu
dono aqui, na frente de todas essas pessoas.
Eu não faria isso por mais ninguém.
Mas por Dexter Booth, farei qualquer coisa.
— Eu sou um brinquedo, — eu sussurro enquanto ele ri na minha cara,
triunfante. — Seu brinquedo, Mestre. Nada além de um brinquedo.
— Vá em frente, — ele exige. De alguma forma, as palavras parecem mais
fáceis agora. Elas pingam de meus lábios como mel. Doce. Grossa. Pesada.
— Eu sou o brinquedo do Mestre, — eu sussurro. — Eu nunca serei nada
além de um brinquedo.
— Meu brinquedo, — murmura Dex com orgulho. Há um momento de
silêncio enquanto olhamos nos olhos um do outro. Não há mais necessidade de
palavras.
Com um clique dos dedos, Dexter sinaliza que a noite acabou. Os homens
saem em voz baixa, esvaziando lentamente o salão de banquetes. Eu espero,
prendendo a respiração até que a porta se feche atrás do último convidado, e
seja apenas Dexter, eu e a tensão avassaladora entre nós.
— Foi tão difícil? — ele pergunta.
— Não por você, — eu sussurro. — Ainda estamos cumprindo o plano?
— Daqui a um mês, — concorda Dex. — Eden Falls nunca mais será a
mesma.

***

1 mês depois
Hoje é o dia em que tudo vai mudar.
O futuro de Eden Falls está em minhas mãos e cabe a mim tornar as
coisas melhores para todos.
Estou nervosa e com medo quando dou os toques finais antes de Dexter
e eu partirmos para a celebração. Ele permanece no batente da porta enquanto
coloco meus brincos, me olhando com aprovação.
— Você está pronta para isso?

BETTI ROSEWOOD
— Tão pronta como nunca estarei, — murmuro, colocando o brinco. Eu
me levanto da cadeira e me aproximo dele, e Dex deixa um doce beijo em meus
lábios antes de me levar para fora de casa.
Todos os anos, há uma celebração para o dia da fundação de Eden Falls.
Uma das famílias fundadoras é a anfitriã do evento e, desta vez, é a vez de
Dexter. O Solar foi decorado e preparado para receber centenas de convidados.
É um grande evento e é ainda mais importante porque esta noite tudo pode
mudar. Eu só preciso seguir com o plano.
Juntamo-nos à multidão de convidados enchendo o jardim e o piso térreo
da casa. Nós nos misturamos e conversamos, e toda vez que fico nervosa,
encontro os olhos de Dexter na multidão, sua atitude fria me tranquilizando.
Eu me esforço ao máximo para me recompor para estar pronta para os discursos
que vão acontecer ao entardecer. O meu será o mais importante da noite.

As pessoas com quem falo são cuidadosas perto de mim. Eles sabem que
sou importante, mas também me tratam como uma boneca de porcelana
quebrável. Não há menção de Reign ou Lily Anna. O elefante na sala permanece
despercebido. Ninguém menciona a tragédia que mudou minha vida. Talvez seja
por isso que anseio tanto por ter meu filho em minhas mãos. Este evento é uma
tradição - uma tradição da qual eu queria que Reign fizesse parte.
Minha esperança de encontrá-lo nunca morrerá. Vou procurá-lo até o dia
da minha morte. E desisti do desespero. Tudo o que resta é um pequeno
vislumbre de esperança - que Reign está bem. Que a cadela cuidou dele e fez
com que ele sobrevivesse ao primeiro mês como bebê. Que o traremos de volta
algum dia, de alguma forma.

Não há tempo para esses pensamentos, porém, não com o crepúsculo se


aproximando rapidamente. Quando o céu começa a escurecer, eu subo no palco
que foi montado no jardim da Mansão. Todo mundo fica em silêncio enquanto
eu fico na frente do microfone. Eu me pergunto o que eles pensam de mim agora.
A forasteira, sempre serei exatamente isso, não importa o quão caras sejam
minhas joias, minhas roupas. Sempre vou me destacar em Eden Falls. Mas se
eu fizer as coisas certas, não estarei pior por causa disso. Vou fazer essas
pessoas me respeitarem, nem que seja a última coisa que eu fizer.
— Caro Eden Falls, — dirijo-me à multidão. Os murmúrios diminuem, e
toda a atenção deles está em mim agora. Eu deveria estar nervosa, mas em vez
disso, sinto uma descarga de adrenalina elétrica subindo pela minha espinha,
me dizendo que estou pronta, como sempre estarei. — Nós nos reunimos para
comemorar o trigésimo segundo aniversário da cidade hoje. Eden Falls não é
apenas nossa casa. É um lugar de tradição.
Pego o manual que tenho ignorado desde que cheguei aqui, enquanto a
multidão continua olhando.

— Todos vocês estão familiarizados com isso. Este manual ditou a vida
de todos, seu status, sua fortuna nesta cidade. Hoje, isso vai mudar.

BETTI ROSEWOOD
Um sussurro chocado toma conta da multidão enquanto abro o manual
na página que Lily Anna marcou para mim há muito tempo. Pelo menos a cadela
fez algo certo.
— Aqui está. Cláusula dezoito, parágrafo C. — Mostro o manual a eles.
— Diz que o primeiro filho de um dos primogênitos da cidade tem o poder de
mudar Eden Falls. E até que a criança faça dezoito anos, os pais são
responsáveis por tomar as grandes decisões.

Meus olhos encontram os de meu pai na primeira fila. Sua expressão é


estrondosa - ele está odiando isso. Suas mãos formaram punhos. Aposto que
ele gostaria de poder reescrever o manual agora.

— As coisas vão mudar por aqui, — digo em seguida, sorrindo para os


olhares nervosos da multidão. — Eu vim aqui e fui imediatamente rotulada de
estranha, apesar do meu status. Fui ferida, intimidada e aproveitada por
pessoas em quem confiava. Pensei muito em me vingar das pessoas que fizeram
da minha vida um inferno quando eu vim para Eden Falls.
Meu olhar os encontra um por um. Os meninos. Dex. Pai. Até mesmo
Brazen.

— Mas, buscando vingança contra as pessoas que me machucaram, eu


seria tão ruim quanto elas. Em vez disso, vou mudar esta cidade de uma vez
por todas. Eden Falls, como vocês a conhecia, acabou. As coisas vão ser
diferente agora. As coisas irão mudar.

Pego um isqueiro. É do pai de Dexter, feito sob medida e gravado. Achei


que seria simbólico e Dex permitiu que eu o usasse para isso. Meus olhos
encontram os dele na multidão e ele sorri, dando-me um aceno quase
imperceptível. Abro o isqueiro e seguro o manual perto da chama. A multidão
engasga.
— O manual não é mais algo que vocês devem seguir, — eu falo. — Hoje,
Eden Falls está em chamas. Porque a única maneira de mudar este lugar é
queimar suas tradições até o chão, até que se tornem cinzas e pó.
As chamas engolfam o manual. Eu observo com satisfação enquanto ele
queima. A multidão está chocada, incapaz de pronunciar uma única palavra
enquanto vê o fruto de seu esforço de décadas queimar até ficar crocante.
— É hora de uma nova Eden Falls, — digo enquanto o manual se
transforma em cinzas e as chamas morrem. — É hora de um novo governante.
O futuro é meu, e estou convidando vocês a pegar minha mão e tornar esta
cidade um lugar mais seguro e melhor para todos. Não apenas para aqueles que
nascem com uma colher de prata na boca.

Com essas palavras, encontro Minnie no meio da multidão. Ela está


trabalhando como garçonete hoje, mas seu sorriso brilhante me diz exatamente
o que eu preciso saber - que estou fazendo a merda certa.

— Adeus, velhas tradições. — Eu sorrio amplamente. — Olá, novo


mundo.

BETTI ROSEWOOD
BETTI ROSEWOOD
20
DEXTER

Eu vejo minha mulher no palco com orgulho. Ela é corajosa, bonita e


destemida. Tudo que eu sabia que ela era desde o início. Mas agora ela
finalmente abraçou o poder que esta cidade lhe deu de má vontade. Eden Falls
precisa de um líder forte, e Pandora é exatamente isso. Ela vai colocar esses
homens de joelhos e provar de uma vez por todas que o futuro é feminino. O
futuro é ela.

— O sistema do Primogênito foi abolido, — ela fala do palco. — Não haverá


mais classificação em Eden Falls.
Sussurros chocados tomam conta da multidão, mas quando Pandora
bate o punho no pódio, todos se calam. Isso me agrada. As pessoas a aceitaram.
Todo mundo sabe que a palavra dela é lei agora, e Eden Falls não poderia ter
um líder melhor do que meu brinquedo. Ela vai mudar esta cidade para sempre
e para melhor.
— Todo mundo vale o mesmo, — ela continua.

— Espere só um minuto aqui. — A atenção do público se volta para o pai


de Julian, que está fervendo de raiva enquanto encara Pandora. — Você acha
que pode fazer isso? Você acha que pode virar esta cidade do avesso?
Obviamente, você não leu muito bem esse manual, menina. As regras são um
pouco mais do que o que você descreveu.

— Oh, eu sei. — Pandora oferece a ele um sorriso brilhante. — Preciso de


seis votos das famílias fundadoras. Um de cada família, então posso fazer isso.
— E você realmente acredita que vai conseguir isso? — Seu pai zomba,
falando da primeira fila. — Ninguém vai votar nisso, Pandora. Foi uma exibição
bonitinha, mas agora acabou. Saia desse palco, garota.

Meu sangue corre frio, o desejo de nocautear o desgraçado quase forte


demais para resistir. Mas Pandora apenas sorri para ele.
— Por que não vemos se você está certo? — ela fala. — Vamos votar, aqui
mesmo, agora.

— Vamos, — Emilian responde friamente. — Vou adorar ver você cair em


chamas, filha. É hora dessa farsa acabar.
— Seis votos, — ela continua como se ele não tivesse falado nada,
irritando-o ainda mais. — Seis famílias fundadoras. Oakes. Booth. Brantley.
Fox. Hawkins. Jenkins.
— E você acha que vai conseguir seis? — Emilian ri de sua filha.

— Ela tem meu voto. — Eu me aproximo do palco com Pandora e ela sorri
agradecida.
— Claro, — sibila Emilian. — Ela te controla com a boceta, Booth.

BETTI ROSEWOOD
— Ela também tem o meu voto. — Julian se levanta agora, ignorando o
olhar de seu pai quando ele se junta a nós no palco. Ela tem o voto dos Fox.
— Ridículo, — murmura seu pai, balançando a cabeça em descrença.

— E o meu. — Easton se junta a nós, fazendo a multidão suspirar em


uníssono. Brantley vota a seu favor. Restaram três.
— O meu também. — Caspian é o próximo, dando a ela o voto Jenkins.

— Precisamos apenas de mais dois, — diz Pandora. — Um Hawkins e um


Oakes.
A multidão parece inquieta. Já examinamos o manual mil vezes. Não há
como Pandora usar seu próprio voto como Oakes - ela precisará que sua família
vote a seu favor. Seu olhar está firmemente fixo no de seu irmão agora. Brazen
me encara de volta, implacável e frio. Ele mudou nas últimas semanas. Ele é
um homem agora, mas não é um homem bom. Ele é cruel, vingativo e muito
poderoso, para seu próprio bem. Eu vi a maneira como ele tem agido na escola.
Ele está determinado a fazer as pessoas sofrerem porque Minnie o machucou.
Mas o plano de Pandora poderia impedi-lo de machucar mais pessoas inocentes.
Os olhos de Pandora examinam a multidão. Ela encara Araminta, a
primogênita dos Hawkins. Existem outros, primogênitos de outras famílias, mas
ela precisa dos votos dos membros fundadores. Araminta se recusa a olhar para
sua ex amiga e Pandora suspira no momento em que o irmão mais novo de
Araminta se levanta.

— Mesmo? — sua irmã sibila para ele, fazendo-o enrubescer. — Ari,


sente-se, porra.
— Não, — ele balança a cabeça resolutamente. — Estou cansado disso.
Estou com você, Pandora.
Meu brinquedo sorri para ele com orgulho. — Obrigada, Ari. Agradeço
seu apoio mais do que você imagina.
Os Hawkins parecem que estão prestes a matar seu filho, mas o que está
feito está feito. Pandora só precisa de mais um voto - o de sua família.
Eles estão todos aqui.
Emilian Oakes, o orgulhoso patriarca de sua família. Ele não vai dar seu
voto a ela. Ele provavelmente prefere morrer do que ver Pandora em uma posição
de poder.

Então há Bryony, sua esposa. Parece que ela não dá a mínima para isso,
mas pode se revelar uma aliada improvável para Pandora.

E Brazen, seu filho mais velho. Pela forma como sua boca se endireitou
e a dureza em seu brilho, não acho que podemos contar com ele para ficar do
lado do meu brinquedo. Ele mudou. Ele me lembra há mim mesmo, antes de
Pandora entrar na minha vida. Ele se tornou cruel, sádico. Ele não vai votar a
favor dela.

BETTI ROSEWOOD
Finalmente, há Tatianna, a criança mimada da família. A bela
adolescente que é tão teimosa quanto determinada e agora assiste à cerimônia
com atenção.
— Por favor. — Pandora começa a implorar no banco onde estamos todos.
— Só mais um voto. Você pode ser a pessoa que decide o destino de Eden Falls.
Tianna olha com medo entre seu pai e sua irmã. Ela tem muito medo de
se levantar. Ela sabe que seu pai irá puni-la cruelmente se ela fizer isso.
Brazen está tão estoico quanto antes.
Bryony olha para a frente, não afetada.

Pego o microfone e falo nele, dirigindo-me diretamente à família de


Pandora.

— Tianna, — eu começo. — Pense na mudança que você poderia fazer.


Você poderia fazer parte da nova história de Eden Falls. Uma história que você
ajudaria a criar. Uma história onde todos valemos o mesmo. Sem classificações.
Sem diferenças.
Ela morde o lábio inferior. Ela quer apoiar Pandora, mas está com medo.
Minhas unhas cravam em minhas palmas enquanto rezo para que ela se levante
e ofereça apoio.
Ela tenta.
Ela se levanta da cadeira, mas antes que ela possa se levantar
completamente, seu pai a puxa de volta para baixo.

— Não se atreva, porra, — Emilian sibila para sua filha mais nova. — Ou
eu vou te matar, porra.
— É contra isso que estamos lutando, — Pandora fala atrás de mim. —
É assim que todos vocês querem viver suas vidas? Com medo de alguém que
está acima de você no ranking, tirando o que você mais ama?
Ela está se dirigindo a Bryony agora, e todos nós sabemos disso. A
madrasta de Pandora está nervosa, cruzando as mãos no colo, tentando evitar
o confronto que todos sabemos que vai acontecer.

— Por favor, — Pandora implora suavemente. — A decisão de mudar Eden


Falls está em suas mãos. É hora de reescrever a história. Você quer estar do
lado que as pessoas celebram, não daquele que elas condenam.

Bryony dá um aceno quase imperceptível, mas precisamos ouvi-la dizer,


alto e claro. Ela hesita. Isso não está indo bem.
— Pelo que eu sei, você só tem uma chance de defender sua causa, — diz
Emilian, parecendo satisfeito. — Se sua proposta for rejeitada, tudo volta a ser
como era.

Sussurros começam novamente. Claro, o idiota está certo. Se Pandora


não conseguir que os outros votem a seu favor, seu reinado terminará antes

BETTI ROSEWOOD
mesmo de começar. Precisamos dessa votação. Trabalhamos muito por isso e
não podemos desistir agora.
Eu cerro meus dentes. Não imploro, não peço merda nenhuma, mas isso
é importante para o meu brinquedo e preciso ajudá-la a vencer esta guerra.

— Bryony Oakes, — dirijo-me a ela diretamente. — Está tudo nas suas


costas.

A madrasta de Pandora volta seu olhar vazio para mim, fazendo-me


cerrar os dentes com ainda mais força. Minha mandíbula se contrai
dolorosamente, mas não vou desistir. Não antes de meu brinquedo conseguir
exatamente o que ela quer.

— Você quer que seus filhos cresçam assim? — Eu pergunto a ela. — E


o pequeno Reign. Quando ele voltar para sua casa... este é o mundo em que
você quer que ele cresça?
A mulher engole em seco. Ela vai olhar para Emilian a qualquer
momento, e então tudo estará acabado.
Eu me aproximo dela, saindo do palco e me ajoelhando diante dela.
— Você poderia ser o último voto, — digo a ela. — A última chance de
consertar as coisas. Sei que você cometeu erros - todos nós cometemos. Mas
agora é a hora de mudar Eden Falls. Agora. Não amanhã, não no próximo ano.
Você pode ser a mudança que deseja ver neste mundo. Faça isso, Bryony. Seja
a pessoa melhor.
Ela se levanta com as pernas trêmulas. A julgar pela expressão furiosa
de Emilian, ele está pronto para foder com a mulher. Eu mantenho meu olhar
fixo no dela, oferecendo-lhe minha mão.
— Venha comigo. Defenda seus filhos, por você mesma.
Ela pega meu braço e eu a levo ao pódio. Ainda não chegamos lá. Ela
precisa dizer as palavras para eles contarem.

— Tire suas mãos da minha esposa, Booth. — Emilian se levanta, os


olhos cheios de raiva quando encontram os meus. — Quem diabos você pensa
que é, garoto?
— Seu genro, — eu o lembro. — E um dos únicos que pode mudar a vida
de Reign para melhor.

Emilian ri alto. — Ao abolir o sistema, você está prejudicando o garoto


também. Ele não será nada até os dezoito anos. Um filho da mamãe. Todo
mundo vai rir dele.

Pandora dá um passo à frente e eu tenho que pará-la fisicamente antes


que ela se lance em seu pai.
— Você é uma desculpa tão patética de homem, — digo a Emilian
friamente.

BETTI ROSEWOOD
— Olha quem fala, — ele rosna de volta. — Chicoteado, isso é o que você
é, Dexter. Um idealista que precisa ser derrubado. Já vi muitas pessoas como
você. Todos eles caem no final. Esta cidade não foi feita para sonhadores. A
cidade foi feita para homens com dinheiro.

Eu cerro meus dentes. — Você quer dizer abusadores. Intimidadores.


Monstros.
Ele ri. — Você diz isso como se não fosse um deles, Booth. Isso é o que
todos nós somos. Homens.
É a minha vez de rir agora, e eu balanço minha cabeça em descrença.

— Um homem de verdade, Emilian, sabe a diferença entre consentimento


e controle, — eu cuspo. — E só um homem fraco, assume o controle quando
nenhum consentimento lhe é dado. — Eu agarro a cintura de Pandora e a puxo
contra mim. — Um homem de verdade valoriza o controle. Torna a vida de seu
brinquedo melhor com ele. Um homem de verdade cuida das pessoas de quem
gosta. Ele não as magoa. E não tem medo de admitir que ama... ama
profundamente como você nunca se permitirá.

— Menino estúpido e insolente, — Emilian cospe. — Ficarei encantado


em vê-lo cair em chamas, assim como seus pais. Você merece queimar, assim
como eles fizeram.
Minhas mãos formam punhos, mas antes que eu possa atacar o pedaço
de merda, Bryony arranca sua mão da minha. Por um momento, estou
convencido de que acabou. Perdemos a batalha e a guerra.
Mas então Bryony dá um passo à frente do microfone e fala diretamente
nele.
— Pandora Oakes tem meu voto.
Eu não posso acreditar que ela fez isso. O silêncio recai sobre a multidão
enquanto todos nós aceitamos o que Bryony acabou de fazer. Eu acreditava no
meu brinquedo, mas não acreditava nos outros. Eu não tinha certeza se ela
conseguiria os votos de que precisava. Mas quando eu olho para ela agora, eu a
vejo sob uma nova luz. Ela conseguiu. Ela ganhou a guerra.
— Oh meu Deus, — Pandora respira enquanto todos os rapazes a
abraçam.

Eu dou um passo em direção a ela. Bryony fica tremendo no palco, mal


conseguindo sustentar o olhar do marido. Os caras se separam, permitindo-me
acessar Pandora, e ela corre para os meus braços. Eu a abraço, segurando-a
com força.

— Nós conseguimos, — eu sussurro em seu ouvido. — Você conseguiu.


Você mudou esta cidade amaldiçoada, Pandora.
Ela está sorrindo tanto que deve doer e, embora haja uma pitada de
tristeza em seu sorriso, sei que ela está em êxtase.
Talvez agora, finalmente possamos seguir em frente.

BETTI ROSEWOOD
Talvez agora eu possa contar a verdade a ela.

A verdade é que a esperança de encontrar Reign e Lily Anna está quase


acabada. Que todos os investigadores particulares, a polícia, os homens que
Emilian contratou, estão perto de desistir.
Eles se foram, desapareceram sem deixar vestígios.

E enquanto eu olho para o rosto esperançoso e brilhante do meu


brinquedo, eu sei que é algo que terei que dizer a ela mais cedo ou mais tarde.
Eu também sei que isso vai partir o coração dela.
Mas sempre estarei lá para juntar as peças.

BETTI ROSEWOOD
21
PANDORA

6 anos depois

Eden Falls mudou muito nos últimos seis anos.


O único motivo pelo qual Dex e eu ficamos na cidade foi a busca por Lily
Anna e Reign.
Eles me disseram para desistir. Inúmeras pessoas tentaram me
convencer de que nunca os encontraríamos. Mas eu nunca os ouvi. Eu me apego
à esperança de que algum dia, Lily Anna trará meu filho de volta.
Frequentemente, imagino como ele se parece agora. O retrato que a equipe de
investigadores montou o pinta como um belo rapaz.
Se ele voltar, ele nem me conhecerá ou Dexter. Mas ainda tenho
esperança de que o teremos de volta. Alguns dias, a esperança diminui. Outros,
fica mais forte do que nunca. Eu continuo me agarrando, agarrando-me às
últimas gotas de minha paciência. Esperando, rezando para que meu filho volte.
E eu sei que um dia ele vai.

Só não fico esperando que esse dia aconteça sozinho. Quando estou
saindo do consultório médico, sentada pálida como um lençol no banco de trás
de um carro, um motorista está dirigindo. Um pequeno sorriso surge em meus
lábios quando penso no que acabei de descobrir. Eu luto contra isso no meu
rosto quando o motorista para na longa e sinuosa estrada da Mansão Booth.
Seis anos trouxeram mudanças. Tenho trabalhado como escrava na
Mansão incansavelmente enquanto Dexter trabalha. Agora ela brilha como
nova. Está mais bonita do que nunca e estou imensamente orgulhosa do que
conquistei. Isso é nos dias bons, pelo menos. Nos dias ruins, eu me engulo
porque perdi meu filho. Porque eu não fui capaz de conceber novamente. Porque
isso pode nunca acontecer para Dexter e eu.
Minhas mãos formam punhos. Se eu pudesse apenas...
Viramos a esquina e vejo um carro da polícia estacionado em frente à
Mansão.

— O que está acontecendo, Leroy? — Eu pergunto, tentando manter


minha voz o mais nivelada possível enquanto me dirijo ao nosso novo motorista.
— Eu vou descobrir para você, Sra. Booth. — Leroy sai para abrir minha
porta, mas já estou fora do carro, caminhando rapidamente para a frente da
casa onde meu marido está conversando com dois policiais uniformizados.

— O que está acontecendo? — Eu exijo, meus olhos indo para o meu


marido primeiro.
Dexter está ficando mais bonito a cada ano. Sua mandíbula está coberta
por uma barba escura, mas tão cinzelada quanto quando o conheci. Ele tem

BETTI ROSEWOOD
uma maturidade a seu favor agora, que o faz parecer distinto, confiante e suave.
Como sempre, eu derreto um pouco ao vê-lo. Já faz muito tempo que parei de
resistir a esses sentimentos. É muito melhor ceder, do que lutar.
— Estamos de olho em uma mulher que poderia ser Lily Anna. — Um
oficial fala atrás de mim e eu giro, olhando para ele.
— Lily Anna? — Eu repito. Seu nome amaldiçoado nunca é esquecido
nesta casa. Não quando ela tirou algo tão querido e precioso de nós. — Onde
ela está?
— Houve um avistamento na cidade, — ele murmura, olhando nervoso
de Dexter para seu colega policial. — Não sabemos se era ela ainda.
— Ela estava sozinha? — Eu lati.
— S-sim, — gagueja o oficial.
Meus ombros afundam. Dex aparece atrás de mim, colocando
suavemente as palmas das mãos nas minhas costas. Ele aperta, com força
suficiente para me impedir de entrar em pânico e me lembrar de sua solução
para tudo o que me aflige. Dor. Dor doce, dor querida que se tornou como o
abraço de um amante durante todos esses anos.
— Isso não significa nada, — murmura Dexter em meu ouvido. — Ele
ainda pode estar com ela. Ela provavelmente o está escondendo.
— Você ouviu alguma coisa? — Eu pergunto, virando minha cabeça para
o lado. — Ela entrou em contato? Você ou papai?
— Não.

Eu gemo de frustração e me afasto, deixando os policiais parados no


batente da porta e Dexter correndo atrás de mim.
— Pandora, não faça isso.
— Por quê? Por que não? Você sabe que não é ela, assim como não foram
as primeiras dezessete vezes que um avistamento aconteceu. — Eu assobio. —
Este aqui nem mesmo tem um filho com ela. O que te faz pensar que é realmente
Lily Anna?

— Isso. — Ele puxa o celular do bolso e me mostra uma mensagem de


texto simples.
Meia-noite. Os penhascos na propriedade dos Oakes. Só você.

Não está assinado, mas não precisa estar. Meu instinto reconhece
instantaneamente seu tom, suas palavras. É ela, e ela quer algo.

Eu agarro o braço de Dex para me equilibrar e ele me abraça. Sinto meu


próprio corpo tremer em seus braços. Nenhum de nós diz uma palavra até
minutos depois, quando finalmente nos separamos e olhamos nos olhos um do
outro com resolução.
— Vamos trazer Reign de volta, — digo, e Dex concorda.

BETTI ROSEWOOD
— Vou contar ao seu pai, — ele diz a seguir.
— Dex, ela disse para não contar a ninguém.

— Acalme-se. — Ele beija minha testa. — Não disse nada aos policiais.
Seremos apenas nós e seu pai. Precisamos dominá-la. Precisamos trazer Reign
de volta.

— Você nem sabe se ele estará com ela, — eu consigo dizer, mas quando
olho para ele, a esperança em seus olhos reflete os meus. Queremos a mesma
coisa e é o mais próximo que chegamos de recuperá-la. — Precisamos sair em
breve.

Ele concorda. — Emilian já sabe. Estava esperando você voltar. Onde


você estava, afinal?

Com culpa, lembro-me da minha missão e aceno minha mão como se não
fosse nada. — Compras. Vamos, precisamos ir até lá.

Entramos no carro com Leroy. A viagem para a Fazenda Oakes é


torturante. Cada segundo passei olhando pela janela, procurando uma sombra
familiar ou um sinal. Mas não há nada. A noite está começando a cair em Eden
Falls, trazendo seus segredos com ela.
— Nós temos um plano? — Finalmente pergunto a Dexter assim que
entramos na garagem da fazenda.
— Você e Emilian vão esperar por perto enquanto eu me encontro com
ela, — explica ele. — Vou falar com ela, já que ela só me contatou.

Saímos do carro e caminhamos até a entrada onde Emilian já está


esperando.
Os acontecimentos dos últimos anos o fizeram parecer menor, mais frágil.
Eu o considero com fria indiferença, mas ofereço um breve aceno de cabeça em
reconhecimento. Ele faz o mesmo comigo e com meu marido.
Juntos, montamos acampamento na sala de jantar da família. A casa
parece vazia e triste agora que meu pai é o único que mora aqui. Eu não posso
deixar de notar o quão solitário parece aqui.
— Já houve um avistamento, — Dex preenche o silêncio. — Uma mulher
da sua idade, características semelhantes, na cidade. No início pensaram que
ela era uma sem-teto. Uma viciada.
— Por quê? — Eu pergunto, franzindo minhas sobrancelhas.

— Ela estava dolorosamente magra, — Dex encolhe os ombros. — Mas


você se lembra do Meyers? O médico que ela matou... Foi o filho dele que a viu
na cidade. Ele tem certeza de que foi ela.

— Teremos que ser cuidadosos esta noite, — Emilian interrompe. —


Nossa prioridade é Lily Anna.
— Não, — eu o interrompo friamente. — Nossa prioridade é Reign.

BETTI ROSEWOOD
— Você nem sabe se ela está com ele, — meu pai rosna.

— Eu não dou a mínima, — eu cuspi de volta. — Eu o quero de volta. Eu


não me importo com ela. Ela está melhor morta se você me perguntar, porque
se eu colocar minhas mãos nela, eu mesma a matarei.
— Eu também, — Dex rosna.

Meu pai olha para nós, balançando a cabeça enquanto ri. — Eu não vou
deixar vocês fazerem ada com ela.
— Claro que não, — murmura Dex. — Ela é a última pessoa por perto
que você pode machucar, não é? Você se livrou da mãe de Pandora. De Bryony.
Brazen e Tianna se foram. Você não tem mais nada. Ninguém.
Emilian parece tão chocado com as palavras de Dex que quase começo a
me sentir culpada. Por um momento, estou convencida de que sua fachada vai
quebrar. Ele vai mostrar sua vulnerabilidade e vamos ver o quão difícil os
últimos seis anos realmente foram para ele. Mas um momento depois, sua
máscara está de volta no lugar, a turbulência esquecida. Ele não vai quebrar.
Ele não pode se permitir fazer isso, nem mesmo agora.
— Isso não vem ao caso, — ele sibila após uma longa pausa. — Vocês
dois se preocupem com seu filho, e eu cuidarei da menina.
— Tudo bem, — grunhimos em uníssono.
No resto da noite, montamos guarda ao redor das falésias. Meu pai e
Dexter andam pelo perímetro externo, na esperança de chegar até Lily Anna
antes da reunião. Espero em uma velha casa de barcos, escondida atrás de uma
canoa de madeira quebrada. Isso me dá abrigo apenas o suficiente para que Lily
Anna pense que faço parte das sombras, enquanto fornece uma boa visão dos
penhascos.
E é por isso que a vejo primeiro.
Lily Anna escala a beira do penhasco. É ela - definitivamente ela, com o
mesmo queixo erguido desafiador e lindo rosto de boneca. Mas ela está
dolorosamente magra. Abatida.
Meus dedos apertam tanto a canoa que tenho medo de quebrar a
madeira, e me afasto ainda mais nas sombras enquanto Lily Anna inspeciona o
penhasco vazio.
Faltam cinco minutos para a meia-noite. Dexter estará aqui em breve
para esperar por ela. Nenhum de nós previu que ela chegaria aqui desta forma
- pensamos que ela viria da floresta ao redor, não da água e das rochas na base
do penhasco.
Ainda estou tentando descobrir como ela conseguiu subir aqui, quando
vejo Dexter se aproximando. Seus passos são pesados quando atingem o chão,
e ele não me trai - ele mantém os olhos focados em Lily Anna, para que ela não
suspeite que mais alguém está aqui.
Os ex amantes se enfrentam. A tensão no ar é palpável.

BETTI ROSEWOOD
— Onde está o Reign? — Dex pergunta calmamente.

— Dexter, — Lily Anna respira, ouvindo completamente sua pergunta. —


Estou tão feliz por você estar aqui. Você tem que me ajudar.

— Onde está Reign, sua vadia? — Dex sibila agora, fazendo-a dar um
passo para trás.

— Dex, sou eu. Lily Anna. — Ela dá um passo mais perto, depois outro.
Ela agarra a camisa de Dexter e ele dá um passo para trás, enojado. — Você me
ama, Dexter. Você sempre me amou. Era para ser você e eu. Só nós. Não aquele
garoto idiota. E o nome dele não é Reign.
Meu coração dispara e cai em questão de segundos.
— Lily Anna. — Dex agarra a garota com firmeza pelos ombros, fazendo-
a olhar para ele. — Diga-me onde Reign está e eu a ajudarei.
— Ele está tão perto, Dexter. Dexter Jr. Esse é o nome verdadeiro dele.
Ele está tão perto... — Ela parece delirar, e eu não tenho como saber se ela está
dizendo a verdade. Mas meu coração espera de qualquer maneira, assim como
tem esperado nos últimos seis anos.
— Onde? — Dex a sacode. — Diga-me onde.
— E então estaremos juntos? — ela pergunta esperançosa.
— Sim, — Dex grita. — Onde está meu filho?
Ela aponta para o penhasco e eu sinto uma ânsia, lutando contra o enjoo.
Ela não fez, ela não podia, ela não teria.
Mas então me lembro de como ela subiu. Tento me lembrar da costa
abaixo da Mansão. Tem uma praia que só é acessível por barco...
Tentando ficar o mais quieta possível, passo pela casa de barcos. Se Lily
Anna se virar agora, ela vai me ver. Mas eu preciso saber, porra.
Eu me deito tão perto da borda quanto ouso e olho para baixo.
É uma noite escura e profunda, e o som das ondas batendo na areia e
nas rochas é impressionante.
Há uma canoa estacionada na costa. Estou imaginando ou há algo
encolhido ali?
Soltei um soluço, esquecendo que deveria ficar quieta. Lily Anna se vira,
seus olhos ficando loucos quando ela me vê.

— Que porra essa vadia está fazendo aqui? — ela rosna, marchando em
minha direção. — Cai fora!

Dexter a pega antes que ela possa se lançar sobre mim, segurando suas
mãos atrás das costas.
— Pai! — Eu grito. — Pai! Venha aqui!

BETTI ROSEWOOD
Lily Anna ruge com desgosto enquanto Emilian corre para o penhasco.
Ele para congelado, quando vê sua obsessão na carne.
— Lily Anna. — Sua voz está inflamada de desejo. É nojento. O homem
está doente.

— Segure-a, — eu exijo. — Dexter, leve alguém para aquela praia! Acho


que ela manteve Reign lá.

Dexter e meu pai trocam de lugar. Emilian parece hipnotizado e Lily Anna
começa a vomitar descontroladamente em seus braços enquanto Dex foge,
pedindo reforços. Eu fico olhando para ela, então me lanço para frente,
atacando-a. Eu bato nela, puxo seu cabelo, arranho e grito, e ela resiste o
melhor que pode enquanto a chamo de maldita assassina.
Leva séculos para a voz de meu pai soar em meus ouvidos.
— Pare com isso, Pandora! Pare! Pare com isso!

Eu me viro para encará-lo, meu rosto pálido e minha bochecha


sangrando onde ela me mordeu. A porra da cadela é tão feroz quanto um animal.
— Você está apenas tentando protegê-la, — eu sibilo para meu pai. —
Você ainda está obcecado!

— Papai. — Lily Anna começa a chorar pateticamente, e vejo com


desgosto enquanto ela desempenha mais um papel pelo bem do pai. — Por favor,
papai. Ela me machucou, eu estou machucada. Me ajude, papai.

— Você é nojenta pra caralho, — digo a ela, voltando minha atenção para
Emilian. — E você não está melhor. Nem pense em deixá-la ir, ou eu...

Ouvimos algo alto então. Um helicóptero paira atrás de nós e vejo Dexter
subir a bordo. Papai, Lily Anna e eu observamos o helicóptero subir e descer
para a praia abaixo de nós. Meu coração bate com ansiedade nervosa.

— Ele é meu filho agora, — Lily Anna me disse com um sorriso malicioso.
— Você nunca vai ser sua mãe agora. Aqui nunca vai ser sua casa. Eu o
arruinei. Eu o maculei. Eu o tirei de você.

— Cale a boca, porra. — Estou calma, mas ela está a um insulto de eu


matá-la com minhas próprias mãos. — Reign nunca foi seu.
— O nome dele, — Lily Anna sibila. — É Dexter Júnior!
Com um grito selvagem, ela se debate contra Emilian tão de repente que
o assusta. O velho idiota a solta e ela sai correndo. Mas não vai funcionar. Não
desta vez.
Vou rápido atrás dela, derrubando-a no chão. Eu a agarro pelos cabelos
e ela é forçada a parar de resistir enquanto a arrasto para a beira do penhasco
e a faço olhar para baixo.

— Vê isso? Você deveria ter morrido lá, — digo a ela. — Você deveria ter
morrido lá. E agora você vai. Pule, Lily Anna. Reign é meu. Dexter é meu. Eu
literalmente ganhei. Acabou.

BETTI ROSEWOOD
Ela grita quando eu me levanto, e Emilian chega até nós, ajudando-a a
se levantar.
Eu o observo com nojo enquanto o helicóptero sobe novamente. Meu
coração pula uma batida. Não posso deixar Lily Anna agora - temo que Emilian
faça algo estúpido como deixá-la ir.
Todos nós observamos o helicóptero pousar. Vejo Dexter e ele está
segurando algo nas mãos. Um cobertor, talvez o mesmo que estava na canoa...
Tenho tanto medo, tanto medo de esperar que seja ele. Eu sei que é. Eu sei que
não haverá outra chance.
— Pandora! — Dex grita do helicóptero. — Pandora!

Eu corro em direção a eles, cobrindo meus ouvidos quando o helicóptero


toca o solo. O vento atinge minha pele com suas rajadas e eu me abaixo,
esperando a hélice desligar. Dex está correndo para mim agora, ainda
segurando o cobertor.
Exceto que não é um cobertor.

É um menino de seis anos, um menino que nasceu para reinar em Eden


Falls.
Eu caio de joelhos assim que eles me alcançam. O menino está chorando
baixinho, e Dex abaixa o cobertor para me mostrar seu rosto. Meu coração para
novamente. Eu olho para Dexter, e ele sorri, devagar, mas seguramente.
É nosso filho.
— Leve-o para casa, — digo a Dexter. — Faça-os levarem Lily Anna.

Ele balança a cabeça, beijando-me nos lábios antes de colocar o menino


no chão. Lily Anna vê nosso reencontro e não consegue manter sua boca suja
fechada.

— Agora você sabe, Dexter, — ela diz cruelmente. — Você só precisa dar
uma olhada nele para saber. Ele não é seu...
— Cale-se. — A voz de Dexter está cheia de veneno. Ele coloca a mão do
menino na minha. Eu protejo a criança contra meu corpo, murmurando nada
baixinho enquanto Dex se aproxima de sua ex-noiva e a deixa saber o que ele
realmente pensa dela. — Você é uma assassina. Você matou meus pais. Você
matou Lai. E eu espero que você se mate também.

Ela choraminga com o som cruel de suas palavras, mas ele se vira,
pegando suavemente a mão de Reign e sorrindo para me tranquilizar. O menino
não olha por cima do ombro. Ele me dá um sorriso incerto enquanto Dexter
enxuga uma lágrima de sua bochecha e o leva para longe do caos.

Estou tão emocionada que tenho medo de não ser capaz de ter minha
vingança final, mas estou esperando muito tempo para desistir agora.
— Papai! — Eu chamo. — Venha aqui.

BETTI ROSEWOOD
Ele olha entre Lily Anna e eu assim que um ponto vermelho aparece no
rosto de Lily Anna.
— Não vá, — ela implora. — Não vá, papai...

Mas papai não é tão burro. Ele se afasta, sabendo que eles têm uma arma
apontada para ela e podem atirar nela a qualquer segundo. Covarde de merda.

Ele vem para ficar atrás de mim e eu enfrento Lily Anna triunfante
enquanto ela tropeça para trás, percebendo que agora há vários pontos
vermelhos seguindo cada movimento dela.
— Pandora! — ela grita. — Diga a eles para pararem... Não! Não me
machuque!
— Vá se foder, — eu cuspo. — Lembre-se do que eu disse a você. Acabou.
É meu jogo. Xeque-mate, vadia.
Seu lábio inferior balança e ela bate o pé. Uma pirralha até o fim. Ela
olha entre os homens de uniforme correndo agora, e o penhasco. Ela chega mais
perto da borda.
— Lily Anna, não! — Emilian grita.
Ela dá uma olhada em seu pai. Depois, nas falésias. Ela sabe que essa é
sua escolha agora - ou ela vive com Emilian, seu pesadelo vivo, ou morre por
suas próprias mãos.
Ela olha nos meus olhos. Então ela se deixa cair.
Eu sorrio em sintonia com os gritos de desespero de meu pai.

Não espero para ver o que acontece a seguir. Dou meia-volta e caminho
de volta para onde meu marido e meu filho estão esperando. Minha mão paira
sobre minha barriga e eu sorrio para mim mesma.

BETTI ROSEWOOD
22
PANDORA

Meu coração nunca se sentiu tão cheio. Estou delirando quando me sento
à mesa do café da manhã, na manhã seguinte, vendo Reign devorar seu café da
manhã.
— O que é isso? — ele aponta para sua comida.
— São ovos, querido, — digo a ele. — E um pouco de queijo e vegetais. É
gostoso. Por que você não experimenta?

Ele franze as sobrancelhas, parecendo inseguro, mas então enche o garfo


e prova a comida.

— Bom, — ele declara, e eu percebo que agora que o tenho de volta, meu
coração ficará mais cheio a cada dia que eu passar com ele e Dexter.

Não havia dúvidas em minha mente quando vi Reign sobre quem era seu
pai. Dexter me disse ontem à noite que pensava o mesmo. Vejo Reign tomar seu
café da manhã no momento em que Dexter entra na sala, falando ao telefone.
— Sim, sim, tudo bem. Ligue-me com atualizações, — ele murmura,
encerrando a chamada e sorrindo quando nos vê na mesa. — Era o seu pai.
— Ela está viva? — Eu pergunto, minha voz pesada. Por algum milagre,
Lily Anna pousou em uma rocha a cerca de um terço do penhasco. A rocha
bloqueou sua queda, mas também quebrou suas pernas. Mas a pior parte foi a
raiz que perfurou seu corpo, deixando-a inconsciente. Não sei se a quero viva
ou morta, mas uma coisa é certa. Se ela sobreviveu àquela queda, ela vai desejar
estar morta.

— Sim, — Dex concorda, olhando para Reign. — Em uma cadeira de


rodas, no entanto.
Eu aceno, sabendo que ele não queria chatear Reign. — Para sempre?

— Provavelmente. — Dex está prestes a prosseguir quando percebe Reign


olhando para nós dois. — Você está bem aí, garoto?
— Onde está a mamãe? — Reign pergunta, batendo seus longos cílios.
Sinto as palavras como uma facada nas costas. Mamãe. Eu quero gritar.
Dizer a ele que ela não é sua mamãe, eu sou. Mas eu forço um sorriso nos lábios.
— Vamos explicar tudo, querido. Ela está bem.
— Eu vou vê-la novamente?

Minhas unhas cravam em minhas palmas dolorosamente. Eu olho para


Dexter em busca de ajuda, e ele parece tão perplexo quanto eu. É possível que
nosso filho tenha formado um vínculo com um monstro? Quanto tempo teremos
que aguentar?

BETTI ROSEWOOD
— Por favor. — Reign está chorando agora. — Eu quero ver a mamãe de
novo. Estou com medo.
— Está tudo bem, — Dex diz suavemente, ajoelhando-se ao lado dele. —
Vamos conversar sobre tudo. Quer ver uma coisa?

O menino balança a cabeça, enxugando as lágrimas do rosto. Dex pisca


para mim e eu os sigo pelo corredor, lembrando-me da primeira vez que Dex me
mostrou o quarto infantil que montou para Reign.
Desde então, ele o atualiza todos os anos. No aniversário de Reign, como
um relógio, a sala foi redesenhada com a idade de Reign em mente. Como se ele
fosse entrar na Mansão a qualquer momento. Às vezes eu amava a dedicação
de Dex, às vezes me enervava. Mas hoje, eu estava grata por isso. Acreditamos
que ele voltaria, e ele voltou. Um menino feliz e saudável.
Ou ele é?
Eu balanço minha cabeça para me livrar do sussurro traidor no fundo da
minha mente.

Ele não é um monstro. Só porque ele passou os primeiros anos de sua


vida com uma, não significa que vai acabar como ela... Espero.
Eu engulo quando entramos no quarto. Na noite anterior, Reign dormiu
entre nós em nossa cama. Eu sequer pisquei os olhos. Eu estava muito ocupada
contando os cílios grossos e pesados do meu filho. Admirando suas bochechas
rosadas. Já estou tão apaixonada como sempre soube que estaria.
— Uau! — Reign gira pela sala. — Isso é para mim?

— Sim, é, — Dex concorda com um grande sorriso. — Verifique todos os


seus novos brinquedos. Olhe para isto. É um verdadeiro conjunto de trem.
— Uau, — Reign repete, sentando-se na frente dos trilhos. — Isso é tão
legal.
Dex se junta a mim e nós o vemos brincar com os trens, juntando-se
algum tempo depois. Almoçamos algumas horas depois disso. Parece que não
conseguimos nos afastar de nosso filho, mas quando ele não consegue parar de
bocejar depois do almoço, percebemos que provavelmente ainda está exausto.
Reign nem mesmo luta contra nós quando o colocamos para tirar uma
soneca. Ele está dormindo antes de eu fechar a porta do quarto.

Dex e eu agora estamos sozinhos. Encosto-me à porta do quarto de Reign,


exalando. A palma da mão de Dex pousa na porta à minha esquerda e ele sorri.
— Ele é perfeito. — Ele inclina a cabeça para o lado, sentindo que estou
nervosa. — Você está bem, brinquedo?

Eu concordo. Eu concordo com ele, estou apenas dominada pela emoção


novamente.

BETTI ROSEWOOD
— Vamos para o quarto, — diz ele, faminto agarrando minha garganta e
levando-a à boca. Ele morde e chupa minha pele, me fazendo rir. — Eu quero
te devorar, brinquedo.
— Por favor, — eu sussurro. — Shhh.

Pego sua mão e corremos pelo corredor para o nosso quarto. Seu corpo
vem batendo contra o meu no momento em que fecho a porta atrás de nós. Sua
boca é rápida, desesperada, uma vez que trava na minha e rouba beijo após
beijo dos meus lábios. Lembro-me da notícia que preciso compartilhar com ele,
lutando contra o sorriso em meu rosto.
— Dex, espere, — eu digo suavemente. — Por favor.

— Por quê? — ele rosna. — Eu quero você nua na cama. Eu quero te


foder. Agora, brinquedo.
— Espera. — Eu pego sua mão.

— Por que suas mãos estão tremendo? — Ele me encara. — O que há de


errado?
— Nada. — Eu respiro fundo, guiando sua palma para descansar sobre
minha barriga. — Apenas sinta...

Ele olha fixamente para a frente até que o acerta. Então, seus olhos se
fixam nos meus e o sorriso que ele não consegue esconder começa a puxar seus
lábios para cima. — Você está...
— Sim, — eu sussurro.

Enquanto olhamos profundamente nos olhos um do outro, vejo o garoto


contra quem lutei tanto. O menino que me amava mesmo quando me odiava.
Dexter é um homem agora, mas seu charme infantil não foi embora. E eu
percebo que nunca vou parar de me apaixonar por ele, uma e outra vez.
— Você está grávida, — ele murmura.
— Eu estou, — eu sorrio. — E Dex? São gêmeos.
Ele ri alto, balançando a cabeça. É o momento mais genuíno de felicidade
que já o vi ter. Embora salvar Reign o fizesse se sentir um salvador, um super-
herói, isso o tornava humilde, o fazia sentir-se um homem. E quando seus olhos
encontram os meus, eu leio tudo isso e mais no sussurro silencioso de seus
lábios. Eles se movem com as palavras, e eu repito o mesmo - eu te amo.
Não precisamos dizer isso. Nunca foi necessário.
As próximas coisas acontecem tão rápido que mal tenho a chance de
reagir. Dexter arranca minhas roupas e me joga na cama como se eu não
pesasse nada. Eu me apoio contra o colchão enquanto ele sobe em cima de mim.
Seu sorriso é tortuoso enquanto ele arranca minha calcinha, revelando os
globos redondos da minha bunda.
— Eu não vou gozar em sua boceta esta noite, brinquedo, — ele me avisa
sombriamente, e minha pele eriça com as possibilidades.

BETTI ROSEWOOD
Dex me prende sob seu corpo musculoso e flexível. Seus dentes cavam
em minha pele. Ele morde, suga, lambe e provoca cada centímetro da minha
pele, e eu faço o meu melhor para lutar contra os gemidos que escapam dos
meus lábios. Mas nós dois sabemos o que ele vai fazer.
Desde que perdemos Reign, Dexter tem tratado minha tristeza com dor.
Mas agora que não há nada para ficar triste, mas ainda me vejo viciada
na dor.
O tapa lancinante de seu cinto contra minha pele. O barulho do chicote
no ar. Meus gritos, seus gemidos. É disso que preciso. No que eu prospero. E fiz
Dexter Booth jurar que nunca vai parar de me dar.

Meu corpo estremece em antecipação quando ele abre minha bunda e eu


o ouço cuspir. A baba escorre pela minha bunda, e eu aperto, minhas bochechas
ficando vermelhas quando ele começa a escorrer o líquido claro em meu buraco.
— Eu negligenciei seus outros dois buracos, — murmura Dex. — Mas
nós vamos nos divertir um pouco agora. Vou fazer você implorar...

— Sim, Mestre, — eu sussurro enquanto o sinto pressionando seu pau


contra a minha entrada apertada. Sua mão firme envolve meu rabo de cavalo e
ele puxa minha cabeça para trás, me fazendo olhar para cima e para ele.
— Diga-me que você quer que eu foda a sua bunda, — ele fala lentamente,
as palavras deliciosamente sombrias e ameaçadoras.

— Fode minha bunda, Mestre. — Eu lambo meus lábios, gritando


enquanto ele empurra sua ponta dentro de mim. — Oh Deus, Mestre, por favor...
— Implore para ser uma vagabunda anal, — ele grunhe.
— Eu quero isso. — Estou correndo para dizer as palavras, tropeçando
nelas em um esforço para conseguir o que quero mais cedo. — Eu quero ser sua
vagabunda anal, Mestre, por favor...
— Um brinquedo de boquete, — ele rosna em meu ouvido. — Apenas sua
boca e bunda. Você pode esquecer sua boceta enquanto estiver grávida. Você só
vai ser usada assim.
— Mestre, — grito de frustração.
Ele puxa meu cabelo com mais força e eu grito, o som se transforma em
um gemido e o faz sorrir para mim.

— Implore. — Dex parece um deus sombrio da vingança, e não consigo


mais resistir. — Implore para ser uma vagabunda anal... um brinquedo de
boquete... implore para que eu tranque sua boceta de puta.
— Por favor, — eu grito. — Prenda-me. Não toque nisso.
— Pelos nove meses inteiros? — Ele sorri.
— S-sim. — Eu engulo meus medos. — Sim mestre...

BETTI ROSEWOOD
Ele empurra todo o seu comprimento dentro de mim então. A dor é
insuportável e deliciosa, e minha boca enche de água quando ele começa a me
foder. Ele é gentil, mas insistente, permitindo que minha bunda estique para
que eu possa encaixá-lo em mim. Ele mantém um aperto firme no meu cabelo,
me fazendo olhar para ele enquanto ele me fode.

— Um brinquedo tão bom, — murmura Dex. — Você vai se acostumar


em ser usada... Você vai se arrepender de tudo.
— Nunca, — eu assobio.
— Nunca? — Ele ri, beliscando meus mamilos com uma mão enquanto a
outra envolve em volta da minha garganta em uma fechadura mortal. Meus
olhos reviram. Ele está cortando meu suprimento de ar, mas quero provocá-lo
ainda mais. — Nunca, nunca, brinquedo?

Tento dizer algo, mas sai abafado por causa da maneira como ele está me
segurando.
— Não consigo ouvir você, brinquedo, — ele sorri, sabendo muito bem
que ele é a razão de eu não conseguir falar direito. — Mais alto.
Repito a palavra, mas agora é apenas um gemido.
— Mais alto!
— Nunca, — eu consigo, e ele me beija, suas mãos indo para meus seios.
Minhas costas arqueiam enquanto ele torce meus mamilos, me machucando -
do jeito que eu amo. Solto um grito ao senti-lo gozar dentro de mim e, como
sempre, senti-lo vazar sua semente cremosa dentro de mim me faz tremer com
um orgasmo também.
— Meu brinquedo, — ele respira contra meus lábios enquanto se esvazia
dentro de mim. Nossos olhos se conectam e olhamos profundamente nas almas
um do outro. Parece que estamos nos tornando uma esta noite, com o
conhecimento de outros dois bebês a caminho e de nosso Reign de volta em
casa. Nossa família finalmente está completa e estou feliz.
Mas então me lembro do rosto lindo e bonito de Reign. A dor por trás de
seus olhos, a sugestão de escuridão fria que eu sempre senti em Lily Anna.
Enquanto Dexter me segura em seus braços e nós preguiçosamente
rolamos em nossa cama, tento não pensar em todas as coisas que me
preocupam sobre meu lindo filho.
Ele é apenas um garotinho. É muito cedo para ele se machucar com as
ações de Lily Anna. Nós o trouxemos de volta bem a tempo. Ela não poderia tê-
lo estragado nos seis anos em que o teve. Ele é puro, inocente. Ele é apenas um
garotinho. Minhas preocupações são por nada e preciso me controlar.

Mas me lembro dos olhos de Reign novamente e um arrepio desce pela


minha espinha. O azul de suas íris é como gelo. E eu não tenho certeza se há
algo sinistro escondido embaixo... A tentativa final de Lily Anna de arruinar
nossa pequena família.

BETTI ROSEWOOD
Ela não vai.
Ela não pode.

BETTI ROSEWOOD
EPILOGO
Dexter

5 anos depois.
— Adeline! Flora!

Sua voz melódica ecoa no jardim. Eu olho para minha esposa, deitada
em uma espreguiçadeira em um maiô branco e parecendo mais sexy do que
nunca.
— Qual você acha que ele vai encontrar primeiro? — Eu sorrio.
— Bem, Flora provavelmente vai rir tanto que ele vai localizá-la
imediatamente, — Pandora sorri, empurrando seus óculos de sol no nariz e
encontrando meu olhar. — Mas Adeline pode tentar ser pega primeiro só para
fazer sua irmã feliz.

— Você está feliz, brinquedo? — Eu perguntei em voz baixa, minha voz


suave o suficiente para que as crianças não ouvissem.
— Sim, Mestre, — ela sussurra, rindo. Tenho adorado jogar esses jogos
com ela quando as crianças não podem ouvir. E vivo para o vermelho traidor
em suas bochechas toda vez que a faço corar.
— Boa garota. — Volto ao meu jornal, de olho nas crianças enquanto leio.
Mas, realmente, não estou preocupado com o mau comportamento das
meninas. É Reign que me preocupa.

Com quase 12 anos, meu filho é meu orgulho e alegria. E, no entanto, há


algo nele, algo quase frio, desagradável. É como se Lily Anna tivesse deixado
sua marca nele. Como se seus dedos sombrios estivessem em volta de sua alma,
apertando, agarrando-a para salvar sua vida. Ele tem uma alma tão pura. Mas
aquela vadia tentou ao máximo estragar tudo.
Já se passaram anos desde que a vi.

Ela mora com Emilian agora, sofrendo como sua vítima. Podemos salvá-
la. Pandora e eu poderíamos descobrir uma maneira de afastá-la do pai
distorcido do meu brinquedo. Usar nossa influência para nos tornar seus
tutores legais. Mas nenhum de nós está disposto a fazer isso. E embora eu ainda
possa ouvir o toque dos gritos de Lily Anna enquanto ela estava trancada na
propriedade Oakes, não me arrependo.
Ela merecia o que tinha vindo.

Foi uma sorte ela ter sobrevivido à queda do penhasco. Mas quando Lily
Anna descobriu que a queda havia quebrado sua coluna, que ela seria forçada
a uma vida inteira em uma cadeira de rodas, ela quebrou.
Há fofoca entre os ajudantes. Dizem que Lily Anna não fala há anos. Que
Emilian Oakes é tão obcecado quanto ela. Ela está mais bonita do que nunca.
Que ele a arruinou.

BETTI ROSEWOOD
Eu não me importo com nada disso.

Desde que meus pais morreram no incêndio que ela acendeu, tenho
procurado vingança. E assistir Lily Anna perder tudo o que importava para ela,
um por um, mais do que satisfez minha necessidade de vingança.

— Acha que podemos fugir? — Murmuro enquanto Reign começa a correr


em direção a uma figura rindo atrás de um velho carvalho.

— Agora? — Pandora olha nervosa para as crianças e, culpada, percebo


que ela provavelmente está pensando a mesma coisa que eu.
É seguro deixar Reign sozinho com as gêmeas?

Nunca acreditei que ele as tivesse machucado, e meu filho nunca me deu
motivos para me preocupar. Mas às vezes, seu comportamento é realmente
preocupante.
Já o peguei machucando animais antes. Eu o vi prender uma borboleta
pelas asas. Eu o vi cutucando pássaros mortos no jardim. Reign é um jovem
educado e de boas maneiras. Mas nas raras ocasiões em que tivemos de puni-
lo, Pandora e eu testemunhamos raiva e teimosia que nenhum de nós havia
visto antes. Ele mentiria descaradamente para se livrar dos problemas. Mas se
você o pegasse mentindo, o garoto perdia o controle. Ele se machucava para
conseguir o que queria. Ele ameaçava você. Esses momentos eram raros, mas
aconteceram. E eles me preocuparam.
Mas eu balanço minha cabeça para tirar o pensamento. Não posso
permitir que os pensamentos negativos assumam o controle agora. Não posso
deixar que Pandora veja que também estou preocupado.
— Vamos ficar até eles terminarem o jogo, — decido por nós. Seu sorriso
aliviado me diz tudo que preciso saber.
Observamos as crianças brincarem até voltarem para onde estamos
relaxando, rindo e dando risadinhas. Minha esposa admira as coroas de
margaridas das gêmeas enquanto peço a Reign que venha.
— Está tendo um bom dia, filho? — Eu pergunto a ele, e ele concorda.
Ele não olha bem para mim, provavelmente ainda está chateado comigo por ter
ralhado com ele no dia anterior. O garoto com certeza sabe guardar rancor.
— Está tudo bem, — ele diz lentamente, recusando-se a encontrar o meu
olhar.
— Reign, — eu falo calmamente. — Você está sendo um irmão tão bom
para suas irmãs.

Com isso, ele se ilumina. Ele realmente ama as meninas, formou um


vínculo com elas como nada que eu já vi antes.
— Quando vamos voltar para a casa do vovô? — Reign pergunta.

Minha expressão escurece. Apesar de meus melhores esforços para


manter as crianças longe de Emilian, Reign formou um vínculo com o homem.
Ele tem insistido que o deixemos visitar seu avô. Todas as outras visitas foram

BETTI ROSEWOOD
em nossos termos, em nossa casa, mas agora Reign quer mais liberdade para
visitar seu avô sempre que quiser.
— Posso convidar Emilian para um chá, — ofereço.

— Não. — Os olhos de Reign estão escuros e tempestuosos. — Eu quero


ir para a mansão Oakes. Eu mereço, tenho sido bom.

Eu não me preocupo em discutir com ele. Ele não tem estado bem. Ele se
comportou mal várias vezes na escola apenas esta semana. Eu nem disse a
Pandora ainda, não queria preocupá-la, mas o garoto precisa de uma mão firme,
e nós dois o amamos demais para discipliná-lo adequadamente.

Eu também tenho outro motivo pelo qual não o quero na Mansão - Lily
Anna. Ele não sabe que ela está lá. Achamos melhor contar a Reign que ela se
foi, morta. Não queríamos machucá-lo mais, impedindo-o de ver a mulher. Mas
agora já se passaram seis anos e a criança ainda não parou de perguntar por
ela. E cada vez que ele a traz à tona, vejo o fogo nos olhos de Pandora diminuir
um pouco.
A sombra de Lily Anna ainda está aqui e nos seguirá por muito tempo.
— Nós vamos providenciar algo, — digo a Reign, mas sua expressão
sombria me diz que ele não acredita.
Eu mudo minha atenção para as meninas e Pandora enquanto observo
meu filho com o canto do olho. Ele é um garoto incomum. E por mais que ele
me assuste às vezes, eu o amo mais do que jamais pensei ser possível.
Nunca fizemos um teste de paternidade.
Nós não precisamos.
Lily Anna estava certa sobre uma coisa, apesar de tudo. Uma olhada em
Reign me diz de quem ele é filho.

Lai está bem ali - no azul de seus olhos, no sorriso malicioso em seu
rosto. Ele se parece com ele. E de certa forma, estou feliz que as coisas tenham
acontecido da maneira que aconteceram. Desta forma, temos um lembrete do
menino que morreu muito cedo pelas mãos cruéis de Lily Anna. Lai ainda está
conosco. E um dia, quando Reign tiver idade suficiente, explicaremos tudo a ele.
Só espero que ele entenda.

— Vamos entrar, está ficando frio. — Eu conduzo minha família para a


Mansão. Já se passaram alguns anos desde que Anders faleceu, mas temos uma
equipe totalmente nova chefiada por uma mulher maravilhosa que garante que
todos nós estamos alimentados e bem cuidados. Passo a maior parte dos meus
dias no escritório agora. Eu assumi um grande papel na empresa de meu pai, e
Pandora está ocupada administrando a cidade até Reign atingir a maioridade.
Nós dois nos preocupamos com o que acontecerá depois. No momento em
que Reign fizer dezoito anos, ele será a pessoa mais poderosa de Eden Falls.
Mas o poder corrompe as pessoas. E nosso filho é suscetível a isso, a ser

BETTI ROSEWOOD
dominado pelas possibilidades. Portanto, precisamos conduzi-lo no caminho
certo antes de entregarmos as responsabilidades.
Nós nos acomodamos em frente à lareira. É muito cedo para acende-la,
mas quando meu filho pede para acender, eu permito.

Pandora e eu assistimos de mãos dadas Reign acender a lareira e as


meninas lerem um livro na frente dele. É a imagem perfeita de uma família e é
nossa recompensa bem merecida depois de tudo o que passamos.
Nem tudo é perfeito.
Nada pode ser perfeito - é uma lição que aprendi desde que tinha
dezenove anos e cobiçava uma garota que queria odiar. A menina, que agora é
uma mulher, sentada ao meu lado e me olhando com amor nos olhos.
Eu faria qualquer coisa por ela.
Eu farei qualquer coisa por ela.

— Pandora. — Eu falo, e ela se vira para mim, o fantasma de um sorriso


tornando seu rosto mais bonito do que nunca. — Você está feliz?
Não posso deixar de perguntar isso a ela, o tempo todo, sempre que
puder. Eu preciso que ela me diga que isso é o que ela quer. Eu tirei tudo dela
quando éramos mais jovens. Eu a torturei, fiz de sua vida um inferno. É uma
maravilha hoje em dia, a única coisa que importa para mim, ser a felicidade
dela.

— Estou feliz, Dexter, — ela sussurra em resposta. — Estou feliz por sua
causa.

É tudo que eu precisava ouvir, e um sorriso relutante e raro aparece em


meus lábios enquanto eu os observo.
Reign, meu filho, o último legado de meu melhor amigo para Eden Falls.
Adeline e Flora, minhas lindas filhas, inocentes, meigas e puras.
E minha esposa - Pandora.

Todos aqueles anos atrás, ela entrou na minha vida e me ensinou tudo
que eu precisava saber para ser um homem melhor. Ela me fez quem eu sou
hoje. Ela adorou meu toque de punição e, embora tenha resistido no início, ela
passou a amá-lo, a desejá-lo. E agora ela não pode viver sem isso, assim como
eu não posso viver sem ela.
Minha alma gêmea. Minha felicidade, personificada.
— Estou feliz também, — digo a ela calmamente, e ela sorri antes de se
voltar para nossos filhos.

Eu fecho meus olhos. Há um copo de uísque do meu pai em minhas


mãos. Só me permito beber em dias como este. Quando tudo estiver perfeito.
Levo o copo aos lábios e bebo o líquido âmbar, lembrando-me de meus
pais novamente.

BETTI ROSEWOOD
Eles ficariam felizes em me ver aqui, assim. Espero que estejam
descansando em paz agora, sabendo que estou feliz com a mulher certa, a vida
certa.
Eu brindo para o teto, imaginando-os olhando para mim.
— O que você está fazendo, pai? — Reign pergunta.

— Lembrando de alguém, filho, — digo a ele com um sorriso. Um dia,


contarei a ele tudo sobre a história sórdida da minha vida. Mas hoje não é esse
dia. Hoje é um dia para fazer novas lembranças, lindas lembranças que vão me
fazer um homem feliz. — Vamos, vamos nos juntar a sua mãe e irmãs.

Todos nós nos sentamos no tapete em frente à lareira, lendo o livro das
gêmeas em vozes engraçadas. Estou rindo junto com minha família, me
perguntando como tive tanta sorte.

Não mereço esse final feliz. Eu era um valentão, um monstro, um idiota.


E para ser honesto, ainda sou todas essas coisas.
Meus olhos devoram Pandora com fome e luxúria.
Mas de alguma forma, encontrei a mulher que deseja minha crueldade
tanto quanto deseja meu amor. Pandora vive para o meu toque punitivo, anseia
por ele tanto quanto anseia por meu abraço caloroso, os doces beijos que deixo
em seus lábios. Eles são um forte contraste com as palmadas que ainda dou
nela, com a picada do meu cinto contra sua pele pálida. De alguma forma,
encontrei a mulher que quer os dois lados de mim.
Da natureza escura, distorcida e cruel da qual nunca poderei escapar.
E a luz, gentil, suave que só ela e meus filhos despertam em mim.
Eu pensei que era um homem quando conheci Pandora Oakes.
Mas a verdade é que ela me tornou um homem. Sua resposta implacável,
sua bravura, sua vontade de transformar a dor que eu dou a ela em algo lindo.
Uma dor se desenvolve em meu peito, não porque estou infeliz, mas
porque tenho tudo que sempre sonhei.
Meu coração se enche de amor que sinto por todos eles, misturando-se
com esperanças e medos para o nosso futuro. Ficaremos bem. Somos uma
família. Podemos aceitar qualquer coisa que a vida jogue em nós. A dor, o prazer.
Não importa. Já passamos por coisas piores antes e vivemos.
Tudo o que resta é o nosso felizes para sempre.

Fim

BETTI ROSEWOOD

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