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Capa: Emile Medeiros


Betagem: Emile Medeiros,
Layane Miranda e Viviane Moura
Diagramação Digital: Emile Medeiros
Revisão: Juliana Mangi e Ana Luiza Tinoco (@duasrevisando)
ISBN: 978-65-00-61504-3

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas ou acontecimentos reais é mera
coincidência.
 

1ª EDIÇÃO – 2023 Formato Digital Brasi


Sumário
Sumário

Nota da Autora

Sinopse

Playlist

Dedicatória

Epígrafe

Prólogo

Capítulo 1

Jason Howell

Capítulo 2
Hope Palmer

Capítulo 3

Jason Howell
Capítulo 4

Hope Palmer
Capítulo 5

Jason Howell

Capítulo 6

Hope Palmer

Capítulo 7
Jason Howell

Capítulo 8

Hope Palmer
Capítulo 9

Jason Howell
Capítulo 10
Hope Palmer

Capítulo 11
Jason Howell

Capítulo 12
Hope Palmer

Capítulo 13

Jason Howell
Capítulo 14

Hope Palmer
Capítulo 15

Jason Howell

Capítulo 16
Hope Palmer

Capítulo 17

Jason Howell

Capítulo 18

Jason Howell
Capítulo 19

Hope Palmer

Capítulo 20
Jason Howell

Epílogo
Jason Howell

Agradecimentos

Antes de Ir
Acho que vai gostar

Prólogo
Capítulo 1
Kate Hamilton
Nota da Autora
Vocês se emocionaram com Luke, Kate e Jason em “Uma Família de
Natal”. Caso você ainda não tenha lido, aconselho que o faça, pois a
história a seguir faz referências a nomes e acontecimentos na noveleta
anterior. Ela pode ser encontrada na Amazon dentro do ebook Coletânea
Safadas.
Agora, em Apenas Me Ame, já se passaram onze anos daquele último
Natal. O jovem Jason está se despedindo de sua casa e se preparando para
entrar para a faculdade. Nossa história começa num jantar de sábado,
onde Jason anuncia sua ida para a UCLA. Luke, se emociona pelo fato de
o filho ter escolhido ir para a mesma universidade que ele cursou. Kate
começa a imaginar em todas as dificuldades que o menino irá enfrentar
sozinho, mas a pequena Emily fica possessa pelo irmão ir pra tão longe.
Alerto para a linguagem adulta utilizada no texto e, por se tratar de um
romance hot, há a descrição detalhada de cenas de amor e sexo,
impróprias para menores de 18 anos. Os acontecimentos descritos aqui
não são baseados em fatos reais e qualquer semelhança, não passa de
mera coincidência. Por se tratar de uma noveleta, ressalto que a passagem
de tempo acontece de forma mais rápida e alguns conflitos e situações
não são apresentados em profundidade, respeitando esse tipo de estrutura
literária.
Já ia me esquecendo... Um último alerta! Preparem seus corações (e
outras partes, inclusive) para Jason! Porque filho de peixe, já nasce
nadando. Podem pegar um café e um copo d’água...
Uma excelente leitura e nos vemos no meu perfil: @autora.cacaumaia
 

Cacau Maia
Sinopse
A primeira vez que a vi, estava voltando do prédio de Matemática da
UCLA, e achei que era uma menina levando uma surra de uns valentões.
Meu pai me ensinou a defender os menores e os mais fracos, e nunca
permitir violência contra uma mulher... Acho que isso tem alguma coisa a
ver com a história da mamãe antes de eles se conhecerem. Mas não
importa. Não consigo admitir abusos de qualquer espécie com uma
pessoa mais fraca.
Corri pra socorrer a garota. E dei de cara com os olhos azuis mais
lindos que já vi na vida. Um rostinho de boneca. Fiquei sem ação...
Lembrei das palavras do papai contando como ficou a primeira vez que
viu a minha mãe.
Só que a mamãe era doce, suave... Essa menina mais parecia um
filhotinho de leoa. Os cabelos vermelhos bagunçados da briga lembravam
os pelos de uma raposa, bochechas rosadas de raiva e os olhos brilhando
como duas pedras de safira, me tiraram o fôlego. Aqueles lábios carnudos
e vermelhos abriram-se e, quando achei que iria sair um lindo
agradecimento diante de meu ato heroico de salvamento...
A raposinha começou a me xingar, soltando um monte de absurdos,
que conhecia meu tipo e que eu não a enganava. Que ela sentia cheiro de
armação de longe. Que eu era tão riquinho, besta e nojento quanto todo o
resto. Deu um chute na minha canela, virou as costas e saiu batendo o pé,
sacudindo uma bunda que, de criança, não tinha nada!
— Rapaz... Mas o que foi isso? O que te falta em altura, sobra em
atitude, garota! — Gritei pra ela...
Completamente desequilibrada. É linda, mas é meio doida. Gostei
dessa garota. E segui meu caminho, rindo sozinho

Playlist

1-Perfect — Ed Sheeran
2-If You Love Her — Forest Blakk
3-She Will Be Loved — Maroon 5
4-Wonderful Tonight — Eric Clapton
5-How Would You Feel — Ed Sheeran
6-Shallow — Lady Gaga, Bradley Cooper
7-Marry You — Bruno Mars
8-Rest Of My Life — Matt Johnson
9-Heaven — Bryan Adams
10-Just The Way You Are — Bruno Mars
11-Do It For Me — Rosenfeld
12-All To Myself — Dan + Shay

Dedicatória
 
A você que sabe que nunca é ONDE,
é sempre COM QUEM...
 

Epígrafe
 
“Que seu dia seja tão incrível quanto você
Que seu sorriso brilhe mais que qualquer dia nublado”
 
Autor desconhecido, mas podia ser eu ou você
 

Prólogo
 

Bear Creek Ranch


Estamos em abril, acabo de fazer 18 anos. Sei que vou sentir saudades...
Olhando para cada um deles, sentados à mesa de jantar, todos falando ao
mesmo tempo, rindo e comemorando minhas conquistas. É... vou sentir muitas
saudades dos Howell. Olho para o meu pai, Luke, sentado à cabeceira da mesa,
e noto sua mão catando discretamente a mão da minha mãe, pousada perto da
dele. Esses dois não se largam desde que se conheceram. Emily, agora com
quase 10 anos, está se transformando numa linda garota. Ela pegou as
melhores características dos dois. Vovó Cora agora já não se envolve mais com
a administração do Rancho. Diz que cuidar da neta já lhe dá muito o que fazer,
pobre coitada.
Sinto falta de Bobby... Meu grande amigo e companheiro. Hoje estamos
com Rocky e Ginny, um casal de Weimaraners que chegou um ano depois da
partida do “mamute”. Minha mãe foi a que mais chorou com a morte do meu
cachorro. Mas é a vida. Os cães existem para nos mostrar o que é o amor
incondicional. Por isso não vivem muito. Não têm necessidade de aprender
muitas lições nessa vida. Eles vêm pra nos ensinar a amar. E agradeço todos os
anos que tive com ele.
— Filho, você foi aceito em várias universidades excelentes... — Vejo o
brilho de orgulho incontido no olhar e na voz do meu pai. — Já tomou sua
decisão para qual deseja ir?
— Calma, amor. Vamos jantar primeiro...t — Sinto vontade de rir do pedido
de Dona Kate... Sempre tentando protelar o momento que vai ter que encarar
que eu vou embora de casa.
— Sim, pai. Já tomei minha decisão. Mas a mamãe tem razão, vamos
deixar para depois do jantar o anúncio. —  mamãe me dá um sorriso aliviado.
Mas, a diabinha da Emily, não ia deixar passar barato, óbvio...
— Jace, você é muito puxa-saco da mamãe! Fala de uma vez, criatura! Você
passou pra Stanford, Berkeley e UCLA. Credo! Só faltou ter sido aceito no
MIT...
— Emily Rose! Modos. Isso não é jeito de se falar com seu irmão! —
Ralhou Vó Cora.
— Vovó! Não me chama assim, eu não fiz o filme “O Exorcista”! Puxa
vida...
— Deixe estar Tia Cora... Eu me acerto com a Emily Sue depois. — Mamãe
ameaça daquela forma suave. Vi a Emie se encolher.
— Calma lá, Dona Kate... Deixa que eu mesmo respondo para a mal
criadinha aqui: pra seu governo, eu não fui aceito no MIT, porque não apliquei
pra lá.
Papai arregalou os olhos e se engasgou com a maravilhosa caçarola de
frango que estávamos comendo... Ai, ai. Você me paga, Emie!
— Como é, filho? Por que não aplicou para o MIT? Lá tem o melhor curso
de Ciência da Computação do mundo, se não estou enganado. — Acho que
acabei de colocar mais alguns cabelos brancos nas têmporas do senhor
Howell...
— Mas fica do outro lado do país. Não queria ir pra tão longe de vocês, pai.
Quero ficar na Costa Oeste. Perto de casa... Então, é isso. Vamos comer.
Meus pais trocam um olhar cheio de carinho e segredos. Sei que sou muito
jovem ainda, mas quero exatamente isso pra minha vida: Um amor verdadeiro.
Uma companheira de vida. Uma cúmplice. Mas por enquanto, quero saborear
a vida. Olho para o homem sentado à cabeceira da mesa: Luke Howell. O cara
que me levou pra escola onde faziam bullying comigo e brigou por mim. Que
me ensinou a jogar bola, baseball, football, me ensinou a lutar para me
defender, me ensinou a falar a verdade sem ofender. Enfim, o melhor pai que
qualquer criança poderia ter.
E, mesmo sem ser meu pai biológico, ele me escolheu como filho. Ele me
deu seu nome e seu coração. É meu pai por escolha, amor e coração. Amo esse
cara mais do que consigo colocar em palavras. E ele faz minha mãe feliz.
Somos uma família! Já sei pra onde vou...
— Gente... Já sei pra onde vou.
Quatro pares de olhos erguem de seus pratos e ficam grudados em mim, na
expectativa. Olho para meu pai e digo:
— Vou pra UCLA, pai. A mesma universidade que você estudou.
Capítulo 1
UCLA – Setembro, início das aulas
Puta que pariu! Que lugar imenso! Estava começando a me arrepender
de ter dispensado a ajuda do meu pai nessa chegada aqui na Universidade.
Claro que já tinha vindo visitar, tinha feito entrevistas e o caralho... mas,
porra! Encarar essa monstruosidade sozinho, dá uma mistura de medo
com excitação. Muito foda! Curti.

Fechei a porta do escritório do Housing[1] satisfeito pela minha


escolha. Escolhi um dormitório dentro do campus, com um companheiro
de quarto. Meu pai me explicou que essa escolha, apesar de ser um pouco
complicada porque posso cair com uma pessoa completamente oposta a
meus hábitos e costumes, também pode ser a mais enriquecedora. Bom...
Agora já foi!
Olho a lista da mamãe:
1.Resolver seu dormitório;
2.Comprar um carro em LA (não quero você dirigindo aquele Porsche
assassino que seu pai te deu nas estradas quando vier pra casa! Antes de
comprar, manda foto pra eu ver. Te amo);
Ah, Dona Katherine Louise, você é uma figura!
3.Passar na Secretaria e pegar sua agenda de aulas;
4.Fazer compras de alimentos para seu novo quarto;
5.Ligar para dizer que está tudo bem;
Beijos, Mamãe.
Ri alto com o bilhete da minha mãe. A cada linha, podia até ouvi-la
falando, item por item, em meu ouvido e contando nos dedos. É... vou
sentir mesmo falta dos Howell. Resolvi contrariar minha mãe e ir
primeiro ver o quarto e, quem sabe, conhecer meu novo companheiro.
Decisão tomada, peguei o “Porsche Assassino” e fui para o meu
dormitório, o Saxon Suites. Papai indicou esse porque era composto por
dois quartos separados que dividiam um banheiro e uma pequena salinha.
Ele falou que o Saxon, me daria mais privacidade e era mais indicado
para meu estilo: sou mais quieto e introvertido. Esses eram mais
parecidos com apartamentos. Tive que concordar com ele. Mas também
tinha uma desvantagem: dificultaria ainda mais meu entrosamento com os
outros alunos. Mas, OK. Eu ainda prefiro o silêncio para os estudos.
Chego na frente do prédio e sinto uma simpatia de cara pelo SS. Um
prédio de estrutura clássica, feito em pedras meio avermelhadas me dava
as boas-vindas.  Vou para a administração me registrar e pegar as chaves.
Descubro que meu companheiro de quarto é  um aluno bolsista do quarto
ano. Ele é mexicano, se chama Jose Cuevas e está fazendo
Administração. Maneiro.
Pego minhas coisas e vou para o quarto número 3B. Entro e dou de
cara com uma sala impecavelmente limpa e arrumada. Uau... Dona Kate
iria gostar desse mexicano!. Uma minicozinha ficava bem à direita
seguida de uma porta, que imagino ser o banheiro. Fui olhar... Não, era
uma pequena lavanderia com máquina de lavar roupas e de secar
sobrepostas. Legal! Continuo minha exploração e vejo à esquerda um
corredor que mostrava duas portas.
Abro a primeira e vejo um quarto também super limpo e arrumado,
mas já ocupado. Certo, quarto do Jose. Sigo adiante e vejo a segunda
porta. E acho o que será meu quarto pelos próximos quatro anos. Uma
cômoda, uma cama de casal simples e uma mesa de cabeceira. No final da
cama, noto outra porta. Olho e vejo que era o banheiro, daqueles com
duas portas que atendia aos dois quartos. Iríamos ter que montar um bom
esquema de convivência aqui.
O que me preocupava mesmo era o fato de estar tudo pelado. Nenhum
lençol, colcha, travesseiro, cobertor, abajur, cortina... Nada. Isso o pai não
me falou, né? Pego o celular e começo a anotar o que eu via que iria
precisar providenciar ainda hoje. Quando a lista já estava competindo
com a lista de Natal da Emie, ouço o barulho de alguém entrando no
apartamento. Sabendo ser Jose, resolvo me apresentar.
— Oi! Você deve ser o Jose, imagino! Meu nome é Jason e vou ser seu
novo colega de quarto. Muito prazer. — Cumprimento, estendendo a
mão.
Jose é um rapaz quase tão alto quanto eu, provavelmente jogador de
basquete, pelo tipo físico. Tem pele morena, sorriso fácil e um cabelo que
vivia caindo no olho que ele tentava, sem sucesso, mantê-lo pra trás
passando os dedos pelos fios, quase como um tique nervoso.

— Hola, amigo! Mucho gusto![2]

— Perdón, Jose. Usted no hablas mi idioma? Como haces com las


clases?[3] — Passo imediatamente para o espanhol.
— Eu que peço perdão, Jason. Eu falo seu idioma perfeitamente. Só
queria saber que tipo de pessoa você era. Com quem eu estaria dividindo
meu apartamento... — Jose não parece nem envergonhado.
— Bom... Pra gente não começar com o pé esquerdo, acho melhor
tentarmos de novo. Oi! Você deve ser o Jose! Meu nome é Jason e sou de
Salt Lake. Muito prazer... — Falo, estendendo a mão e erguendo uma
sobrancelha. Jose dá uma risadinha envergonhada.
— Oi, Jason. Muito prazer. Meu nome é Jose. Sou mexicano e um
aluno pobre e bolsista. Se você não estiver confortável de dividir o
apartamento comigo, eu vou entender... Não seria o primeiro a fazer isso
e, provavelmente, nem o último.
Olho para o cara na minha frente, avaliando a verdade no que eu
estava ouvindo. Chego à conclusão de que ele está dizendo a verdade, e
que estava rodeado de babacas preconceituosos. Que merda... Bom,
vamos resolver ao estilo Emily Howell!
— Sei... Você é sonâmbulo?
— Hã... Não.
— Ok. Costuma fazer orgias durante as vésperas de provas?
— Deus me livre... mas, quem me dera. — Já começa a aparecer um
sorriso na cara do camarada.
— Arruma brigas desnecessárias onde vou ter que te defender?
— As brigas que me envolvo, eu mesmo resolvo, muito obrigado. —
Agora Jose já sorri abertamente.
— Tem algum vício terrível que deponha contra sua pessoa?
— Jogo toda sexta LOL com meus amigos.
— Bem... Se me colocar nesse grupo, eu perdoo esse pecado!
Sou recompensado com uma verdadeira gargalhada agora.
— Gostei de você, calouro! Se você realmente não se importa de
dividir o quarto comigo, acho que podemos ser amigos.
— Desde que você não se incomode de dividir o quarto comigo, temos
um acordo!
— E por que eu me incomodaria de dividir o quarto contigo, hombre?
— Talvez por eu ser o filho e herdeiro de Luke Howell? Ao menos, o
único filho homem...
— Carajo! “O” Luke Howell? O CEO da SysTech? O lugar que é o
sonho de qualquer aluno de engenharia, informática e matemática do
campus inteiro?
— É... Esse mesmo.
— Puta Madre! — Jose cai sentado na minha cama. De olhos
arregalados... Saco. Lá se vai mais um amigo... Valeu, papai...
— Mas porque essa cara de cachorro que caiu do caminhão da
mudança? Qué te passa, chico?
— Estou aguardando você surtar... E praticamente esquecer que eu
existo. E pedir pra conhecer meu pai. Ou pedir uma vaga na empresa... E
quando eu digo que isso é impossível, bye bye, nova amizade.
— Bem, cabrón... Acabou de conhecer alguém diferente. Porque se
um dia eu conhecer seu pai, não saberia nem como, muito menos o que
falar com ele. Ia me desesperar e só ia sair espanhol da minha boca. Não
gosto de passar vergonha com os pais dos meus amigos. E como não iria
ser amigo do primeiro cara que vem falar comigo em espanhol pra eu não
me sentir deslocado?
— Que alívio, Jose. Você não faz ideia de como ser filho de Luke
Howell é complicado. É ao mesmo tempo, um presente e uma baita
responsabilidade. Não colocada pelo meu pai, mas por mim mesmo.
— Eu posso imaginar...
Paro a conversa por aí, mas o que Jose e todos não desconfiam é que
eu não era filho biológico do grande Luke. Quando ele nos conheceu,
minha mãe era arrumadeira no Rancho e eu estava com seis anos, e ele
nos amou por inteiro. Completamente. Quando papai pediu a mamãe em
casamento, ele me adotou formalmente. Hoje sou filho e herdeiro legal de
Luke e Kate Howell. Para mim, nunca houve outra figura paterna na
minha vida. E nunca haverá.
Percebendo o clima pesado, Jose dá um tapinha no colchão da minha
cama e, dando um sorrisinho, solta:
— E aí, riquinho? Vai pedir os lençóis egípcios de casa ou vai às
compras por aqui mesmo?
— Se a minha mãe me escutasse agora, provavelmente iria lavar
minha boca com sabão... Mas... Vai se foder, mexicano abusado!
Caímos na gargalhada!
 
 
Capítulo 2
UCLA – Setembro, início das aulas
Enfim! Segundo ano na UCLA!!! Meu sonho está se realizando. Às vezes
sinto vontade de me beliscar pra ter certeza de que não estou sonhando. Mas
daí sinto que estou sozinha na cama, minhas irmãs menores ficaram em casa.
Tudo bem que agora eu dividia o quarto com mais duas garotas, mas cada
uma dormia na sua cama. E isso era bom demais!
Eu estou conseguindo! Às vezes sinto falta do vovô, mas ele já não está
mais presente nesse mundo. Só sua carcaça. No dia que saí de Tucson, bati
até a poeira dos sapatos pra não carregar mais nada de lá. Só sinto mesmo
pela minha mãe e meu avô. Por mais que aquele desgraçado do Sebastian
tenha tentado me boicotar pra eu não fazer as inscrições nas universidades,
eu consegui! E ainda consegui entrar no programa que oferecia bolsa de
100% para Matemática Aplicada. Eu estava superanimada para o início das
aulas, mas precisava arrumar outro emprego urgentemente. A monitoria não
estava conseguindo mais sustentar meus custos dentro da universidade como
no ano passado.
Estudar é muito bom, sei que vou melhorar minha vida, vir para UCLA foi
um passo enorme, deixar minhas irmãs que ficaram no Arizona, a Addy e a
Meg ainda são pequenas, são um grande incentivo pra toda a minha
dedicação, mas eu preciso comer também. Já estou aqui em LA há dois anos
e a grana que trouxe de casa já está minguando. Preciso pensar em algo
urgente.
— E aí, Hope? Tudo bem aí em cima? — Ouço a voz da minha colega de
quarto, Andrea. Das duas, ela era a mais simpática.
— Oi, Andrea! Tá tudo bem sim... Eu tô aqui pensando com meus
botões... Preciso arrumar um emprego meio que urgente. O dinheiro que
trouxe de casa já está acabando.
— Eita, que droga. Você estava pensando em quê? Eu trabalho no café do
campus. Lá geralmente precisam de garçonete. Acho você com uma cara
meio nova pra isso, mas vai saber? Você já trabalhou servindo mesas?
— Garota... Acho que já fiz de tudo nessa vida, só não me prostituí até
hoje...
— Barra pesada, né? Eu também já trabalhei em um monte de lugares.
Mas você é bem novinha, Hope... Quantos anos você tem?
— Eu vou fazer 18 mês que vem.
— Menina! Mas você não disse que já tinha feito um ano de básico e já
estava no indo pro segundo ano do seu curso? Isso quer dizer que você entrou
aqui com o quê? 16 anos? E você falou que era bolsista, né? Por favor, me
conta esse babado.
Tive que rir da cara de espanto dela. E já devia estar acostumada com essa
reação das pessoas comigo quando se deparam com minha performance
estudantil. Pulo da minha cama alta, sobre a escrivaninha. A dela era bem em
frente à minha, a de baixo do beliche. Libby ficava com a de cima.

— É o seguinte... Eu fiz o high school[4] na metade do tempo, dois anos.


Num programa avançado de quase todas as matérias. Só tenho dificuldades
com línguas. Na verdade, eu poderia ter entrado antes, mas não tínhamos
condições financeiras. Daí, meus professores me ajudaram com as inscrições.
E com os programas de bolsa de estudos.
— Caramba, menina. Não pense que eu não percebi o plural na sua fala,
que eu percebi... Vai, desembucha! Quais foram as universidades que te
aceitaram?
— Ah... Deixa pra lá. Só a UCLA me ofereceu bolsa de 100%.
— É o quê? Você está estudando aqui com bolsa de 100%? Você sabe
quantos alunos conseguem esse tipo de bolsa? — Andrea estava chocada.
— Hã... Bem poucas? — Eu já começava a ficar encabulada.
— Não, criança. Muito poucas! Meu DEUS! Eu durmo no mesmo quarto
que um gênio! Qual é o seu curso? Só pode ser alguma coisa muito incrível e
extraordinária. Tipo Matemática Super Avançada Só Para Supergênios?
Agora, eu já ria abertamente dela.
— Ô doida, nem existe isso aqui! Mas você quase acertou. Vou cursar
Matemática Avançada e Aplicada.
— Eu sabia! Não podia ser alguma coisa normal tipo, Artes como eu faço,
claro... Ou mesmo Arquitetura como a doida da Libby. Tinha que ser
Matemática Avançaaaaaaada. — Ela falou com uma voz tenebrosa. Eu já
chorava de rir.
A porta se abre e Libby entra com o namorado, Lucas. Os dois nos olham
sem entender, mas já a postos pra entrar na vibe da alegria.
— Do que vocês riem tanto? Quero saber pra dar risadas também.
— Libby, você não tem ideia. Nós agora dividimos o quarto com uma
descendente direta do Einstein. Essa garota é um gênio, sabia?
— Andrea, para com isso. Eu não sou nada disso...
— Claro que é! Lucas, o que você diria de alguém que faz o high school
na metade do tempo, com todas as matérias avançadas, e entra pra UCLA
com bolsa integral aos 16 anos?
— Eu diria que essa pessoa não existe. — Ele respondeu, fazendo cara de
deboche.
— Errou, meu amigo. Você está olhando para o exemplar feminino desse
milagre. —  Andrea diz, apontando pra mim, que já me encolhia, porque eu
simplesmente odiava ser o centro das atenções.
— É sério, Hope? Você está aqui com bolsa integral? Caracas! Até hoje eu
só sabia de um outro aluno com bolsa assim, mas é um aluno de quarto ano.
Um mexicano, acho.
— É, sim. O Cuevas. Ele joga basquete pela universidade. Ele conseguiu
bolsas compulsórias, de esporte e meritocrática.
— Eu sei... Entrei logo depois dele. Se a Universidade dependesse de mim
no esporte, eu estaria perdida...
Lucas me lança um olhar de cima a baixo que me deixou um pouco
intimidada.
— Com esse corpo? Eu diria facilmente que você seria cheerleader,
ginasta ou bailarina.
— Nada disso. Sou só pobre mesmo.
E com essas palavras, nós quatro caímos na gargalhada.
— Mas por que você só veio pro HH agora? Se você já está estudando
aqui há 3 anos, não já deveria ter sido designada para cá?
— Até que deveria sim, Andrea. Mas só foi aberta essa vaga agora. A
companheira de quarto de vocês se graduou semestre passado. Então eu
peguei o lugar dela.
— Mas você estava onde?
— No Tercero.
— Nossa. Lá é bastante complicado, né?
— É sim... São 10 meninas dividindo o mesmo quarto. 50 dormitórios por
andar, fora do campus. Bem mais difícil...
— Caramba... Pesado. — Comenta o Lucas, com uma careta.
— O bom é que esses problemas acabaram! Seja bem-vinda ao Recanto
das Românticas!
— Dea, pela cara dela, a póbi não entendeu...
— Cala a boca, Lucas! Hope... o Recanto das Românticas é o nome do
nosso Quarto!
— Ah! Valeu, gente!
Saímos do Hedrick Hall, meu dormitório, e fomos para o café onde a
Andrea trabalhava. Quando Libby e Lucas souberam do meu problema
financeiro e da necessidade de arrumar um emprego, eles concordaram que lá
seria o melhor lugar para buscar um local pra tentar uma chance de começar
a procurar ou até encontrar algo logo de cara.
Chegamos no Bruin Café e me sento numa das mesas do salão com meus
amigos. O estilo do local é muito mais de uma lanchonete, tipo fast food que
propriamente um café. Só isso já me agradou bastante. O entra-e-sai de
alunos também é bem intenso. Andrea estava falando que a maioria das
pessoas atendiam no balcão, a maior dificuldade era conseguir pessoas para
atender o salão, principalmente na parte após o almoço. Mesmo oferecendo
bons salários e as gorjetas sendo maiores.
— Tá. Desembucha. Qual é o problema daqui? Porque é tudo bom demais
pra ser verdade. E se é tão bom assim, por que não tá cheio de gente
querendo ser garçonete? Atender o salão? Você acabou de me dizer que é
difícil conseguir gente pra esse serviço.
— Merda. Você é boa não só em números, né? Caraca... Libby, você pode
explicar essa pra mim? Vou ter que entrar. Já deu meu horário. — Andrea
acena, se levantando e saindo da nossa mesa quase correndo.
— Cretina, covarde! — Resmunga a morena. Lucas cai na risada.
— Se você quiser, eu posso responder, baby.
— Ah, lógico. Até pouco tempo atrás, você bem fazia parte da gang, né?
— Ui. Não precisa agredir. Hoje sou um homem regenerado. Meu pedaço
de bombom me trouxe pro bom caminho...
— Ok. Será que vocês dois poderiam focar em mim e me explicar do que
estão falando? Porque estou começando a ficar nervosa.
— Calma, Hope. É o seguinte, tem um grupo de caras aqui do campus que
se acha a última bolacha do pacote. E pensam que não existe mulher no
planeta que resista aos encantos deles. São uns filhinhos de papai ricos que
andam pra cima e pra baixo desfilando em seus carrões, se achando no direito
de tirar “casquinha” em qualquer uma que esteja trabalhando honestamente.
— Tá brincando, né?
— Vê se eu tô com cara de quem tá brincando?
— Mas, gente. Isso não vai contra as regras da UCLA? Por que ninguém
denuncia eles?
— Amiga... Você reparou quando eu disse que eram todos ricos, filhinhos
de papai? Os pais deles são todos mantenedores e doadores de verdadeiras
fortunas à universidade. Todas as meninas têm medo de falar ou fazer alguma
coisa contra e acabar sofrendo alguma retaliação.
Fico em silêncio olhando meus amigos...
— Até você, Lucas? Também fazia parte desse grupinho de ricos filhos de
papai desclassificados?
— Eu era a piada, o engraçado. Eles me permitiam andar com eles porque
se divertiam com minhas piadas. Agradeçam a minha veia artística. Mas
nunca concordei ou me comportei como eles faziam com as garotas.
— Aliás, foi assim que nos conhecemos. Ele me defendeu quando aquele
idiota do Billy Joe e mais três me encurralaram na saída do café, um dia de
tarde.
— Virei “persona non grata”[5]junto aos ricos e poderosos. Caí fora e
fiquei com minha melhor metade aqui... — Os olhos dele brilham para Libby,
e nessa hora eles já nem lembravam que eu estava presente.
Olhei para Andrea no balcão e percebi que estava fazendo sinal para mim.
Eu me levantei discretamente e fui falar com ela.
— Oi, amiga. O que foi?
— Então? Vai querer falar com o gerente? Comentei com ele que talvez
você se interessasse pelo trabalho de servir as mesas.
— Acho que eu não estou no momento de escolher muito, amiga. Falo
com ele sim.
— Beleza! O nome dele é Ed. Edward, quer dizer. Ele parece um pouco
duro à primeira vista, mas na verdade é um doce de pessoa quando se
conhece direito.
— Que beleza, o gerente é grosso, o lugar recebe tarado, e a gente não
pode reclamar, mas o salário é bom e as gorjetas são melhores ainda... É isso?
— Fez um bom resumo. É isso sim. Vai falar com ele?
— Claro! Meu sonho de local de trabalho, gata!
Demos risadas, e sigo a Andrea em direção ao escritório dos fundos com
uma sensação de estar fazendo a maior cagada do mundo. Mas, situações
difíceis pedem medidas desesperadoras... Acho que era assim o ditado. Se
não fosse, eu já tava na merda mesmo, o que era mais uma pá de bosta?
 
 
Capítulo 3
UCLA – Alguns dias depois
Eu e Jose rapidamente descobrimos vários pontos em que nossas
personalidades combinavam. Tudo ia muito bem, até mesmo no LOL.
Marcamos um solo duo, o jogo ia às mil maravilhas, a gente tava arrasando.
Fechamos o jogo dando uma surra na outra equipe.
— Meu camarada, nada melhor que uma bela surra de LOL pra começar
um semestre.
Ri um monte. Se minha mãe escutasse isso, meu ouvido iria ficar roxo de
tanto ouvir reclamação. Até meu pai intervir, dizendo pra ela deixar pra lá,
que um pouco de distração só iria me fazer bem. E ele iria sair puxando-a pra
namorarem. De verdade... às vezes esses dois me davam cáries de tão
melosos que eram. Sinceramente, acho que só tiveram a Emily porque a
mamãe ficou bem mal no nascimento da bolotinha e meu pai tem um medo
desgraçado de perder a mamãe.
— Hahaha. Bem falado, meu amigo. Muito bem falado. Principalmente
depois de sofrer horas fazendo compras. Meu Deus! Não sei como as
mulheres conseguem curtir essa tortura.
— Você é muito jovem, meu caro padawan. Mulher só gosta de fazer
compras se o cartão de crédito utilizado para o pagamento não for o dela ou
for um dourado do Morgan Stanley.
— Não é bem assim, meu Mestre Jedi. A primeira vez que meu pai deu
um cartão desses pra minha mãe, ela perguntou o que faria com um cartão
desses no Rancho. Pra ela, aquele pedaço de plástico dourado não servia de
nada. Ela devolveu pra ele. Minha mãe fez meu pai repensar inúmeras vezes
o que era valor e o que era preço.
Meu amigo e vizinho de quarto fica calado me olhando por um bom
tempo. Aguardo, porque não sabia se tinha falado alguma coisa errada. Mas
não tinha dito nenhuma mentira, papai mudou muito nos anos de convívio
conosco. Hoje ele diz viver a sua melhor versão. Ele agora já está pensando
em me preparar para assumir a SysTech, já percebi.
Só não sei se tenho capacidade para isso. Toda vez que converso sobre
isso com o Sr. Luke Howell, ele me diz sempre a mesma coisa: “Eu criei a
empresa com 21 anos. E você é muito mais inteligente do que eu poderia
imaginar ser com a mesma idade, Jace. Confio em você, filho. Agora só falta
você confiar em você mesmo.”
Mais fácil falar que fazer, papai...
— Meu caro colega. A cada dia que passa, você se torna uma grata
surpresa. Só fico pensando nos abutres e no que eles irão fazer de você no
início das aulas. Porque creio que nem o fato de ser filho de quem você é vai
te proteger deles.
— Se você está falando da alta sociedade californiana, já conheço alguns.
Já tive esse desprazer na escola. E eles não me assustam. Alguns até têm
medo de mim, pra dizer a verdade, sem querer ser convencido.
— Opa! Sinto cheiro de fofoca no ar!
— Que coisa feia, Senhor Cuevas! Você acha que sou do tipo que beija e
conta?
Jose, às gargalhadas, me dá um belo tapa no ombro.
— Moleque, você é bacana. Mas agora, vamos dormir que amanhã
começamos as aulas cedo.
— Beleza, cara. Até amanhã.
— Valeu.
Acordo cedo e, cheio de disposição para iniciar o semestre, saí mais cedo
do quarto porque teria que primeiro passar na secretaria do prédio da
Matemática pra pegar meus horários e salas. A decisão por Ciência da
Computação foi algo natural, uma vez que praticamente respiro computação
desde meus seis anos de idade. Fui chamado de puxa-saco do papai pela
Emie por anos a fio, mas não ligo. É algo que eu realmente me identifico.
Pego o Porsche Assassino e vou  para o campus. No caminho, avisto o
Bruin Café e lembro que precisava parar para comer algo. Resolvo dar uma
chance ao lugar. Como era cedo, o estacionamento estava relativamente
vazio. Noto alguns carros já estacionados, mas nada que demonstrasse uma
lotação que me deixasse preocupado com um possível atraso.
Lá dentro avisto a disposição das mesas e percebo um clima bastante
bacana no lugar. Tinham duas garçonetes servindo e pegando os pedidos no
salão. Como eu não queria me atrasar, resolvi pegar a fila mesmo e esperar
meu pedido. Peço um café, um smoothie e um sanduiche que me enche os
olhos: um honey mustard chicken bacon[6].
Assim que recebo minha bandeja,  me sento em uma das mesas e reparo
numa cena estranha no fundo do salão com uma das garçonetes. Ela parece
um pouco relutante em se aproximar de uma das mesas, e era uma mesa
grande. Contei quatro rapazes e uma moça. Um dos caras tenta pegar a
mocinha pelo braço, mas ela é  mais rápida e, faz um movimento com a
cabeça para a companheira, se retira da mesa, e a  outra garota vem  1tende-
los.
Estranho. Aquele comportamento da garota me incomoda um pouco, mas
eu já estava atrasado e, realmente nada de mais havia acontecido que
justificasse meu envolvimento. Exceto essa sensação estranha de que algo
não estava se encaixando no cenário. Olho para a garota que fugiu do grupo,
mas só consegui vê-la de costas. O boné na cabeça deixa ver um enorme rabo
de cavalo passado pelo buraco de ajuste do boné, como minha mãe e irmã
tantas vezes faziam em casa. Percebo seus cabelos vermelhos.
“Deve ser geniosa...”, brinco internamente e volto a comer. Na saída, meu
olhar mais uma vez busca a ruivinha. Ela seguia tranquila, trabalhando. Não
tinha tempo para nada agora, já que preciso ir até a secretaria pegar meus
horários.
Quando chego na entrada do enorme edifício destinado à todos os cursos
relacionados a Matemática, me pedem minha identificação. Percebo que
deixei minha carteira sobre o balcão do café. Xingo baixinho. Explico à moça
na recepção e ela, muito solícita, liga para o Bruin. Lá me garantem estar
com minha carteira em mãos. Agradeço demais à recepcionista e digo que
voltava logo.
Pego o carro e voo de volta para o café. Quando desço  do Assassino,
presencio uma cena que custo a acreditar em meus olhos: Os quatro
marmanjos assediando a garota do café. E pela diferença de tamanho, ela
ainda era uma menina. Caralho! Que porra de mundo é esse? Nem fodendo
eu vou aceitar uma merda dessas calado! Ninguém, mas ninguém MESMO
vai acossar mulher na minha frente!
Já parto pra porrada. Chego no primeiro por trás, puxo o filho da puta pelo
ombro e, sem entender o que estava acontecendo, o cara se vira no susto e já
toma um uppercut[7] que o levanta uns bons 15 centímetros do chão e apaga o
imbecil. Ao ouvir o amigo caindo, o segundo vem pra cima de mim e já
recebe um low-kick[8] no joelho e, quando se encolhe, tentando me agarrar,
ganha uma joelhada frontal, o que é o bastante pra acabar com o  ele. Quando
me viro para os outros dois, percebo que me olham assustados e empurram a
menina na minha direção.
Minha reação é  abraçar a garota pra ela não cair no chão. Fico olhando os
dois covardes pegando os outros dois e fugirem correndo. Antes que eu
pudesse fazer qualquer outra coisa, olho para a menina trêmula em meus
braços... E é como se o tempo tivesse parado. Um par de olhos de um azul
que eu nunca tinha visto antes, estavam erguidos pra mim. Rasos de lágrimas.
E acompanhados desses olhos, vinha o rosto mais lindo: nariz arrebitado,
cheio de sardinhas pintando aquela pele maravilhosa, uma boca naturalmente
curvada, pequena, pedindo pra ser beijada.
— Me s... solta! — E a pequena ruivinha (que agora já estava com o
cabelo solto, todo bagunçado, dando um ar de abandono e meio selvagem
àquele rostinho ao mesmo tempo inocente), com uma força inesperada, me
da um empurrão que chega a me deslocar um passo pra trás. — P... pensa que
eu não percebo uma armação quando vejo uma? Você chega todo corajoso
pra me salvar dos riquinhos? Mas você é tão rico quanto eles. E tão ruim
quanto eles! ODEIO vocês! Tenho NOJO de gente assim!
E o pequeno furacão esfrega as costas das mãos sobre os olhos, pra afastar
qualquer vestígio de lágrimas, e pra meu total assombro, me dá um baita
chute na canela e sai batendo o pé em direção a uma bicicleta. Monta e sai
pedalando como se mil demônios a perseguissem.
— Caralho... O que foi isso? O que te falta em altura, sobra em atitude,
garota! — Ainda grito na direção dela.
Completamente desequilibrada. É linda, mas é meio doida. Gostei dessa
garota.  Sigo meu caminho, rindo sozinho.
 
 
Capítulo 4
Nunca mais duvido das palavras das meninas! Que absurdo! Como, meu
Deus? Como um ser que se diz humano se comporta como aqueles quatro?
Primeiro falando aquelas obscenidades pra mim dentro do café, e na frente da
outra moça? E ela nem se importando com isso? Que tipo de gente é essa?
Jesus Amado...
E o que foi aquilo na saída? Esperar eu estar na rua, despreparada, sem ter
ninguém por perto, pra me cercar? Isso lá é coisa que um homem faça? Na
minha terra, isso é coisa de gente frouxa, que não se garante e precisa se
cercar de gangue pra conseguir qualquer coisa com outra pessoa. Que nojo de
gente assim. Sério.
Eu me senti tão diminuída, tão fraca, tão... nada. Como se eu não
significasse nada pra eles, pra ninguém. Até chegar aquele outro rapaz. Não
entendi nada no começo, porque era tanta mão tentando me agarrar. De
repente, foi clareando... as mãos foram diminuindo. Até que fui jogada numa
parede de músculos. Que me seguraram sem me apalpar, só me sustentou. E
eu me senti fraca. Eu me escondi naquele refúgio. E odiei... odiei me refugiar
nos braços de um daqueles riquinhos que viviam me acossando há dois anos.
E agora, trabalhando no café, estava muito pior. Porque, se antes eu era
cercada pelos corredores da faculdade, no prédio da matemática, agora eles
sabiam exatamente ONDE me encontrar. E eu sei que não adianta fazer
reclamação contra eles. A impunidade dos ricos e poderosos impera em todos
os lados. Até que olhei para cima, para a pessoa que tinha me livrado daquela
situação horrorosa.
Nem sei direito o que eu falei, porque, quando olhei pra “ele”, meu
cérebro congelou por um segundo. Minha cabeça estava encaixada bem no
peitoral do cara. Ou seja, ele era alto. Tudo bem que eu sou baixa, mas ele era
alto, tipo alto de eu ter que virar o pescoço pra cima. O cara era lindo! Loiro,
olhos azuis da cor do céu quando vai amanhecer, uma pele lisinha... parece
pele de bebê. Nariz reto. Cabelo meio ondulado, batido nas laterais e nuca e
mais comprido em cima, deixando cair sobre os olhos. Sobrancelhas
arqueadas.
E aí, o que eu fiz? Surtei, óbvio... A boca funciona mais rápido que o
cérebro. Quando vi, já tinha falado um monte de absurdos pra o cara mais
lindo que já pus os olhos em cima, que só o que fez foi parar e me salvar.
Puta merda! Tem como alguém ferrar mais ainda a própria sorte? Claro que
não né? Tem sim... Pra despedida, ainda dei uma bela duma canelada nele,
que arregalou aquelas duas piscinas azuis pra mim. E depois? Fugi.
Óbvio que era tudo montado! O grupo nunca tinha ultrapassado a linha do
físico. Só faziam ataques verbais. Nojentos, mas fáceis de lidar. Mas hoje foi
diferente. Começou com aquele asqueroso do Billy Joe que, não entendo o
porquê, cismou comigo! Não entendo esses caras ricos!
Ainda se eu fosse alguma beldade. Mas longe disso! Provavelmente vou
morrer solteira. E virgem. Sem nem experimentar meu primeiro beijo na
boca. Que merda. Tinha tanta esperança nesses anos da Universidade. Vir
fazer Matemática Aplicada e Avançada eu sabia que iria me exigir tempo e
dedicação, mas juro que pensei que, longe de casa, das obrigações com as
meninas e com o vovô, eu poderia... fazer amigos, me divertir, tentar me
soltar...
Estou sendo ridícula de novo. Quem iria se interessar por mim? Eu
continuo sendo o gnomo do vovô. A Raposa Palmer... Aquela que não chama
a atenção de ninguém, aquela que é a última a ser convidada para as festas, a
última a ser escolhida para os times, a última a ser lembrada nos passeios,
aquela que sempre está estudando para alguma prova. Aquela que tem as
irmãs gêmeas mais bonitas de Monterey. Não dá nem pra tentar ser bonita,
quando você tem exemplares como Addy e Meg debaixo do mesmo teto.
Dois bibelôs de crianças. Mas as duas, mesmo com apenas nove anos, têm a
mesma índole do pai, infelizmente. Lindas de se ver, mas podres ao se
aproximar.
Resolvi esquecer o incidente. Tenho que trabalhar todos os dias no Bruin.
Provavelmente vou ter que aturar o pessoal do Billy Joe muitas vezes ainda.
E o loiro metido a herói também. Saco ter que lidar com esse tipo de
situação. Saco ser mulher. Saco ser pobre.
Vida que segue. Bora pra aula! Vim pra UCLA pra estudar! Não pra
deixar de ser BV, ou pra perder a virgindade, muito menos pra me tornar a
Miss Simpatia Junto aos Ricos e Abastados da Califórnia. Se bem que, se
qualquer das primeiras opções acontecer, não iria achar ruim. Mas eu já
estava aqui há dois anos, e ninguém nem me lançou um segundo olhar, por
que seria diferente logo agora?

— Para tudo!! Volta essa história aí, gata. Explica tudo de novo, tintim por
tintim.
— Mas o que você não entendeu, Libby? Eu saí do café, aqueles quatro
animais estavam me esperando lá fora. Começaram a me agarrar, de repente,
apareceu um quinto. Desceu a mão em dois deles, na verdade, acho que
apagou os dois, os outros dois fugiram com os amigos. Eu xinguei ele, e fugi.
— A gente entendeu O QUE você fez Hope... a gente não entendeu POR
QUE você fez isso. — Andrea usa o mesmo tom suave que falava comigo
quando sabia que eu estava sendo doida. Não podia discordar dela agora.
— Como, por quê? Vocês não acham, no mínimo suspeito, Quatro
daqueles trogloditas ricos me cercarem na saída do café e justo nesse
momento, aparecer um quinto e me “salva” de um possível estupro? —
pergunto fazendo aspas com os dedos no ar.
— Bem... Não. O cara pode ser só decente... — Comenta  Libby,
desgostosa.
— Ah, Libby. Por favor... Nem você mesma acredita nisso...
— Ô, gatinha... — Andrea passa o braço pelos meus ombros, me
oferecendo um conforto que há muito tempo não recebia.
— Hope... Nós não sabemos nada da sua história. E nem precisamos saber
de nada agora. Mas você é muito nova pra ser assim, amarga.s Fique certa
que estamos aqui e não vamos a lugar nenhum. No momento que você quiser
desabafar ou precisar de ajuda ou conselho, pode contar com qualquer uma
de nós. — Libby vem do outro lado e me abraça também.
— Muito obrigada. Já faz um tempo que não tenho um apoio assim.
— Bom, agora você tem a gente. Mas conta direito sobre esse salvador
meio mequetrefe, aí. Quem é ele?
Sinto  minhas bochechas começarem a queimar...
— Não tenho ideia, Libby. Apesar de estudar aqui na UCLA há dois anos,
não convivia dentro do campus. Como meu dormitório era fora, eu evitava de
ficar andando por aqui. Tinha vergonha. No primeiro ano, só vinha, assistia
as aulas e voltava correndo pro Tercero. Ano passado, quando comecei minha
formação principal, fui convidada pra dar monitoria, então ficava mais um
pouco no campus, mas ia embora logo que acabava. Agora, esse grupinho 
me perturba já tem um tempo.
— Verdade, você contou.  Podemos pesquisar pra você, não é mesmo,
Dea?
— Claro, Libby! Conta pra gente as características desse herói misterioso,
Hope.
E passamos a próxima meia hora comendo pipoca, eu falando do meu
suposto salvador e as meninas ouvindo. Até que me toco que não deveria
estar enchendo o saco delas com essa ladainha sem fim sobre o tal rapaz.
Olho para minhas amigas e noto que elas tentavam segurar um sorrisinho...
— Fala.
— Ué? Falar o quê? — desconversa Libby.
— Eu, eim... Que pessoa mais maluca. — Emenda Andrea.
— Vocês duas são péssimas mentirosas, graças a Deus. Fala, anda.
— Tá bem, tá bem. Nossa, como ela é insistente, né Dea?
— Pois é, Libby... Incrível.
— Ridículas! — Jogo um travesseiro na cara das duas fofoqueiras
deslavadas. Rimos as três.
— Hope, amor. A gente tá percebendo aqui três coisas. — Começa 
Andrea.
— A primeira é que você não tem muita experiência com os homens, não
é mesmo?
Pronto. Agora, minha cara já me denunciou para o mundo. Fico
completamente roxa. Acho melhor admitir de uma vez.
— Se com “não ter muita experiência” está incluído nunca nem ter
beijado na boca, então não. Não tenho muita experiência mesmo não.
— Puta que pariu!
— Ai caralho!
— Puta merda!
— Porra, isso é verdade mesmo?
— Mãe de Deus Misericordioso!
Fico olhando uma colocar as duas mãos no rosto e a outra abrir uma boca
tão grande quanto a dentista manda, pra obturar dente molar, e agarrar os
peitos. O que eu disse, meu Deus? Não era pré-requisito pra entrar na
faculdade ter uma vasta experiência com o sexo oposto, até onde eu sei.
— Gente, o que foi? Eu não disse que tenho três peitos. Só disse que tenho
quase 18 anos e ainda não dei beijo na boca. Isso lá é pecado?
— Garota, com o rosto e o corpo que você tem? É sim!
— Eu não tenho nada demais, garotas. Minhas irmãs, sim. Elas vão ser
lindíssimas quando crescer. Mas ainda são muito crianças, só tem nove anos,
mas já fazem até anúncios em revistas e desfiles infantis. O pai delas vive
falando em como elas um dia serão famosas como as irmãs Olsen.
Mostro várias fotos das gêmeas no meu celular. Minhas amigas veem as
fotos caladas, sem fazer nenhum comentário. Estranho. Em geral, depois de
mostrar minhas irmãs, as pessoas começam os elogios imediatamente. Olho
para as duas e percebo que elas estavam meio que conversando com os olhos.
Como nunca fui de fazer amizades, resolvi ficar na minha.
— Suas irmãs são realmente muito bonitas, Hope... — Fala Andrea,
começo a sorrir — Mas...
Travo. Como assim, mas?
— Mas? Como assim, mas?
— Hope, meu doce. Você deve ter passado a vida inteira escutando “como
a fulana e a ciclana são lindas”, não é verdade?
— Adellaide e Margareth. Addy e Meg... Sim, todos sempre falavam da
beleza das duas. Mas, por quê? Se vocês acham que tenho ciúmes das
meninas, não é verdade, eu nunca...
— Não, gatinha! Claro que não.
— Não existe uma única gota de maldade dentro desse seu corpo. Mas
deveria, viu? — Responde Libby.
— Libby, Dea... Eu não estou entendendo aonde vocês querem chegar.
— Claro que não, amor. Claro que não...
— O que estamos querendo dizer pra você, meu doce... É que você é
muito mais bonita que suas irmãs. Porque você tem uma doçura no olhar que
falta nas duas, suas irmãs são lindas sim. Mas são belezas pra se admirar de
longe. A gente percebe uma frieza de aço nessas crianças. Você é amorosa,
simpática, dedicada aos estudos, à família e aos amigos.
— E isso não tem preço. Você brilha por dentro.
— E tudo bem, você não ter inaugurado sua boca com ninguém. Pois que
seja com alguém especial, que faça seu mundo tremer e seu corpo formigar
de vontade. Que seu momento seja tão lindo quanto aqueles que a gente lê
nos livros, com uma pessoa que vá dar valor ao que você estará entregando a
ele.
— Uau...
— Sim, menina! Que o seu momento seja UAU.
— Brindemos a isso! — Batemos nossos copos de papel com refrigerante.
— O Clube das Românticas está aberto!
— UHUUU!
— Saúde!
E assim, começo meu semestre morando dentro da UCLA. Até
participando de um clube, quem diria?
 
 
Capítulo 5
 
— Jason. Abre a porta. Mano, desse jeito você não vai dormir, não vai me
deixar dormir, nem ao pobre coitado que foi designado pro quarto debaixo do
teu, meu camarada... — Jose fala através da porta do meu quarto.
Merda. Achei que estava sendo silencioso.
— Desculpa aí, Jose. Vou tentar ficar quieto. Vai se deitar, cara. Amanhã
começam as aulas em tempo integral.
— Exatamente por isso, meu amigo. Bora! Abre a porta e vamos
conversar. Bota pra fora o que tá te perturbando o juízo a tal ponto de te
impedir de sossegar.
— Tá bem... Mas nem eu mesmo sei dizer o que é.
— O que fica ainda melhor para minha veia fofoqueira.
Tive que rir. Levanto da minha cama pela milionésima vez e abro a porta.
Jose entra munido de uma garrafa de tequila. Olho pra garrafa de olhos
arregalados. A ingestão de bebidas alcoólicas na Califórnia era
expressamente proibida para menores de 21 anos. Não importa se estiver na
rua ou dentro de casa.
— Quantos anos você tem, Jose? Eu acabei de fazer 19, ainda não posso
beber. Nem na minha cidade, Utah... Nem aqui, em LA.
— Eu sei, amigo. Não é pra você. É pra mim. Aqui diz que tenho 22 anos.
— E ele me mostra uma ID. — E, pela sua cara, tenho certeza de que vou
precisar de pelo menos uma dose...
— Meu amigo... Nesse exato momento, EU queria ter 21 anos ou ter uma
ID que dissesse que tenho 21, não importa se verdadeira ou não, e repartir
com você ao menos uma dose dessa bebida.
— Mas, como não vai ser possível, só vai poder repartir comigo a história
e o motivo de tanta angústia. Podemos providenciar depois essa ID pra você.
Fala.
Respiro fundo, de olhos fechados, ainda muito puto.
— Acho que meu caso se inicia com revolta mesmo. Um ódio profundo
com a sordidez do ser humano...
— Ay, Carajo! Acho que vou precisar dessa dose mais cedo do que eu
esperava... Calma aí. — E Jose se serve de uma dose generosa da bebida.
Toma no estilo “shot”. — Dale! Qué pasó?
Começo a contar tudo desde meu café da manhã. Da estranheza que senti
no grupo com a garota, e meu retorno pra pegar minha carteira. Quando
cheguei na cena que presenciei, tive que parar, porque a revolta veio
novamente em ondas incontroláveis.
— La puta Madre! Ay carajo! No me digas que esos bando de cornudos
estaban intentando de violar a la niña?[9]
— Jose. Calma e volta pra o meu idioma.  É isso mesmo, mas eu cheguei
a tempo. Apaguei dois e os outros dois fugiram... Jogaram a garota pra cima
de mim, pegaram os cúmplices e fugiram.
— Puta merda, Jason. Que merda de iniciação na UCLA, garoto.
— Achei até bom... Virei um herói do avesso de uma mistura de onça com
raposa.
— Opa, opa, opa! Tem mais história nesse enrosco aí... Fale-me mais
sobre isso... — E ele me lança aquele sorriso do Gato da Alice no País das
Maravilhas... Credo. Que coisa mais estranha.
— Então... A garota é um sonho. Simplesmente maravilhosa. Pequena,
tipo mignon, mas com curvas deliciosas... Lá no café, o cabelo tava preso
num rabo de cavalo enorme. O comprimento passava do meio das costas.
Sabe quando as mulheres passam o rabo de cavalo pelo buraco do boné pra
não ficar atrapalhando? Então, ela tem tanto cabelo que o rabo de cavalo
ocupa todo aquele buraco... Na confusão com os caras, o boné se perdeu. Eu
achei depois. Tá comigo. Vou devolver amanhã. Acho que faz parte do
uniforme dela.
Fico calado uns segundos lembrando daqueles cabelos espalhados pelo
meu peito...
— E tem os olhos... Cara. Meus olhos são azuis, mas eu nunca vi olhos
azuis como os dela. São em um tom diferente de azul, sabe? E eles brilham à
beça. Ela tem aquele rostinho oval, pequenininho... lindo pra caramba. O
nariz é meio arrebitado, cheio de pequenas sardas, como se alguém tivesse
pintado o rosto dela. E a boca... Cara, a boca. Ela tem uma boca cheia, mas
pequena... Não é espalhada como a gente vê por aí. Ela parece uma fada.
Quando paro de falar, percebo que meu amigo tá calado há algum tempo.
Puta merda, será que ele dormiu e eu não percebi? Comecei a me virar para o
Jose já querendo descer a mão nele também, quando percebo que ele tá se
segurando pra não rir.
— Ô palhação, posso saber qual foi a graça? Porque eu tô procurando e
não tô vendo onde ela tá.
— HAHAHAHAHA
Jose desistiu de esconder e caiu numa gargalhada desaforada na minha
cara.
— Ô mexicano escroto! Posso saber de que caralhos você tá rindo tanto?
— Ay carajo! Perdão, meu amiguinho! Mas eu estou rindo aqui porque
você parece não enxergar o tamanho da encrenca que se meteu, guri. Mas eu,
sinceramente tô torcendo por você e sua fada.
— Você entendeu tudo errado, mexicano de araque! Ela me odeia! Saiu
me xingando, dizendo que eu estava armando com aquele bando de babacas
pra sair bonito na foto pra ela. Terminou me chamando de riquinho e me
dando um belo chute na canela, olha só.
E mostrei a canela roxa com o calombo, cortesia da minha fada-onça.
Agora Jose ria de chorar. Tive que sorrir também ao lembrar daquele
corpo pequeno indo embora aboletado na bicicleta.
— E te conto mais: foi embora sem olhar pra trás, montada numa
bicicleta!
— Ay, Dios! Vou passar a frequentar esse café com você, meu amiguinho.
Não posso mais perder as cenas dessa novela. Está melhor do que as que são
produzidas no meu país!
— Ah... Vai se foder, seu idiota! — Tentei segurar a risada, mas não deu.

De manhã, cumprindo o prometido, Jose saiu comigo para o Bruin cedo.


Chegamos lá e logo meus olhos correm atrás da ruiva. Localizo ela
atendendo no lado esquerdo do salão. Com calma, me encaminho para o que
imaginei ser a sua seção, sento-me numa mesa para quatro com Jose.
Passados alguns minutos, a ruivinha vem nos atender.
— Olá, Bom dia! Sejam bem-vindos ao Bruin Café! Meu nome é Hope e
hoje vou atender vocês.
A ruivinha primeiro sorri para Jose e depois dirige o sorriso pra mim.
Percebo seu sorriso ir sumindo até ela ficar séria. Jose está com um sorriso
colado naquela cara de bolacha dele...
— Oi, Hope. Meu nome é Jose, e meu amigo aqui se chama Jason. Muito
prazer. O que você nos sugere? — Jose, que ainda vai levar umas porradas
minhas, puxa a atenção da ruivinha de volta pra ele.
— Ah, Jose... Depende do nível da sua fome.
— Média fome, Ruiva.
Hope tenta voltar a sorrir, balançando a cabeça.
— Jose, a moça já deu o nome dela. Você pode começar a usar... E é um
lindo nome, Hope. — Corto logo de cara.
— Obrigada, Jason. Mas ter um cabelo da cor do meu, acaba sendo
comum receber esses apelidos. — Ela me diz, olhando para mim, mas sem
dar brecha.
— Ainda assim, você tem um lindo nome, deve fazer as pessoas te
chamarem por ele.
— Obrigada.
— De nada, Hope.
— Bem, vou querer o B-Café Combo, “Hope” — Jose pede, frisando o
nome da ruivinha. Ela sorri mais uma vez e anota o pedido dele. Vira em
minha direção  e fica me aguardando escolher.
— E você, Jason?
— Acho que vou ficar com o Italian Sub e uma soda.
— Ok, rapazes, já volto com os pedidos de vocês.
— Hã... Hope, só um minuto, por favor? — Tento não gaguejar.
— Pois não, Jason? Mais alguma coisa?
Puxo o boné do meu bolso de trás da calça jeans e  estendo para ela.
Imediatamente ela abre um enorme sorriso.
— Ontem você deixou cair seu boné lá fora. Como eu não sabia como
entrar em contato com você, levei pra casa e trouxe hoje cedo. Achei que
você fosse precisar...
— Puxa! Você acabou de me poupar quase 20 dólares! Se não tivesse me
trazido o boné logo pela manhã, eu teria que abonar a perda do boné,
pagando o que eu perdi e o novo. Muito obrigada mesmo! Foi gentileza sua...
— Imagina. Um prazer ajudar.
Recebo uma cara de espanto e um erguer de uma sobrancelha. Que garota
difícil, caramba!
— Hã... Com licença. — Murmura Hope depois do olhar irritado, saindo
de fininho e colocando o boné sobre a cabeça e fazendo aquela coisa de
passar o rabo de cavalo pelo buraco do boné. Jose me da uma cotovelada
nem tão discreta, me fazendo rir.
— A garota é uma graça, guri. E tem o temperamento condizente com o
cabelo. Será que é aluna?
— Não tenho ideia...
— Mas pode ser um bom assunto pra conversarem, não acha?
— Além do fato dela claramente me odiar, ela tá trabalhando, Jose... Não
posso ficar atrapalhando.
— Você não tem muita experiência com isso, não é mesmo?
— Isso, o quê?
— Cantadas...
— Claro que tenho. Bem... Mais ou menos. O nosso Rancho fica em Park
City, mais ou menos uns 50 Km de Salt Lake City. É uma cidade pequena.
Mas pequena mesmo... Lá, todos se conhecem,  e todos sabem quem eu sou.
Então, fica mais fácil paquerar, sair com as garotas. Tudo é mais simples.
— Cara... Você está me dizendo que nunca, mas nunca mesmo, foi estudar
fora? Você, sendo filho de quem é, nunca estudou numa boarding school[10]?
Tento imaginar minha mãe se separando de mim ou de Emie... E,
sinceramente, essa era uma cena tão fora da realidade que quase ri alto.
— Meu amigo, venho de uma família onde os laços são atados tão fortes,
que pra convencer minha mãe pra vir pra LA, tive que apelar pro meu pai,
porque foi a mesma universidade que ele cursou.
— É sério isso?
— E mesmo assim, ainda teve que dar uns tratos de respeito na mamãe...
se é que me entende.
— Para com isso.
— Tô te falando. É sério. Esses dois sempre foram piores que coelhos.
Aprendi desde cedo a não abrir portas fechadas na minha casa.
Damos altas gargalhadas. Acho que Jose ainda tentava colocar a imagem
de um Luke Howell correndo atrás de uma senhora Howell pelos corredores
de um rancho quando nosso pedido chegou, trazido pelas mãos da Hope. Ela
chega sorrindo como manda o manual do bom atendimento.
— Um B-Café e um Italian Sub. Desfrutem. Qualquer coisa, podem
chamar. — Sinto um leve chute por baixo da mesa.
— Hã... Hope?
— Sim, Jason? Precisa de alguma coisa? — Ela pergunta, voltando a me
olhar, o sorriso desaparecido.
— Você estuda aqui na Universidade também?
— Sim. Na verdade, minha aula começa em meia hora. Não vou poder
seguir o atendimento se vocês forem ficar até mais tarde, mas a Lorena
pode...
— Não, tudo bem. Pode trazer nossa conta. A gorjeta é sua. Você está
estudando o quê?
— Ah! Obrigada pela segunda gentileza, rapazes. Estou fazendo
Matemática Aplicada...
— Está começando agora também? Esse é meu primeiro ano, mas o Jose
já está no quarto da graduação.
— Não. Já fiz o básico e estou no segundo ano da minha graduação.
Eu e Jose encaramos  a garota a nossa frente assustados. Mas descobri que
pelos motivos diferentes ao ouvir as palavras do meu colega, porque eu a
achei muito nova e Jose porque descobriu ser ela a garota prodígio da UCLA.
— Uau! Você faz MAA? Você que é a aluna bolsista que todo o curso está
falando pelos corredores? O pequeno gênio de Tucson? — Pergunta Jose de
olhos arregalados.
— Bom... Se, por MAA você chama Matemática Avançada e Aplicada, a
resposta é sim, faço MAA. Agora, não sei se sou EU a garota que andam
falando pelos corredores. Primeiro, porque até pouco tempo, eu nem andava
muito pelo campus, e segundo, porque não vejo motivo de falarem de mim
por aí.
A garota dá de ombros, mas eu percebo que ela ficou incomodada com a
fala do Jose.
— Sei... Tá. Bem, eu também estou no prédio da Matemática. Aliás, nós
três estamos. O Jason aqui faz Ciência da Computação, eu faço Economia. Se
você quiser, podemos te dar uma carona.
— Obrigada, Jose, mas eu vim de bike. — Hope se mostra incomodada.
Não sei se pelo fato de negar a carona, ou por estar andando de bicicleta
pelas ruas da universidade.
— Acho muito legal de sua parte usar bicicleta para se locomover aqui
dentro, Hope. Além de ser ecologicamente mais correto, você está mantendo
seu corpo sempre num prefeito preparo físico. — Comento pra aliviar esse
desconforto dela. Ela da uma risadinha a contragosto.
— Antes fossem motivos tão nobres que me movessem, Jason. Mas a
verdade é a total falta de recursos mesmo. Sou bolsista integral da UCLA,
para sobreviver, preciso trabalhar. Para me locomover, escolhi o método mais
barato e rápido que encontrei. Simples assim. — Ela dá de ombros.
— Bom... Carona é um método mais barato e bem mais rápido que bike.
— Jose brinca de volta.
Dessa vez, Hope ri solta. Tanto, que chama a atenção das outras pessoas.
Imediatamente ela se retrai, mas só recebe sorrisos de volta. Essa moça
precisa aprender a relaxar!
— Já que chegamos à conclusão de que a melhor opção é carona, como
fazemos? Topa ir de carona com a gente? É um oferecimento legítimo. —
Pergunto, tentando não parecer ansioso.
— Obrigada, mas não quero atrapalhar o caminho de vocês. Porque depois
das aulas ainda tenho que voltar pra cá.
— Onde fica o seu dormitório, Hope? — Pergunta Jose.
— Estou no Hendrick Hall. — Ela diz.
— É bem perto do nosso. Que horas você entra no café? — Eu já fazendo 
meus planos...
— Agora que começaram as aulas, só vou trabalhar no período da
tarde/noite. Estava de manhã só pra pegar o ritmo do trabalho.
— Então ótimo! A gente te pega às nove na frente do seu dormitório e
seguimos para o prédio da Matemática, que tal? Depois das aulas, deixamos
você aqui. O único problema seria a sua volta para seu dormitório depois.
— A volta de noite não seria problema, porque saio no mesmo horário que
a Andrea, minha companheira de quarto. Voltamos juntas.
— Então você topa a carona, Hope?
— Tem certeza de que eu não vou atrapalhar?
— SIM! — Respondemos juntos.
— Então temos um combinado!
Trocamos os números de celular e  vamos para o primeiro dia de aulas.
Quase faço  uma dancinha na saída.
— Um segundo, Jason... Você teria um minuto? — Hope me chama da
porta do café.
— Claro!
— Eu posso falar com você em particular?
Jose faz sinal que me esperava ao lado do Assassino. Confirmo com a
cabeça e volto para perto da garota, que me aguarda do lado de fora do Bruin,
ao lado da porta.
— O que foi, Hope?
— Eu preciso te pedir desculpas por ontem...
— Tá tudo b...
— Calma, deixa eu explicar, pra não parecer que sou louca ou
desequilibrada.
— Tá bem, pode falar.
— Eu estudo aqui desde meus 16 anos. Esse é meu terceiro ano na UCLA.
E esse grupo de riquinhos vêm me perseguindo e me perturbando há muito
tempo. Geralmente com ataques verbais ofensivos. Ontem foi a primeira vez
que extrapolaram para o físico.
— Desgraçados!
— Por isso que meu cérebro surtou e eu pensei que era coisa montada.
Mas eu não podia assumir isso de você. Por isso, estou te pedindo
desculpas...
Puta merda! Essa menina estava aqui, lidando com esses problemas
sozinha?
— Hope, se te faz bem, está desculpada. Mas a meu ver, você não tem do
que se desculpar. Agora, fica tranquila, termina seu turno no café e a gente se
vê amanhã às nove na porta do seu dormitório.
— Tá bem, Jason! Obrigada por entender. Até amanhã.
— Tchau!
 
 
Capítulo 6
Entro no quarto e as meninas já estão lá, graças a Deus! Porque eu,
sinceramente, não iria aguentar esperar mais. O dia hoje já foi uma tortura.
Os minutos pareciam horas e as horas se arrastavam sem fim. Acho que foi a
primeira vez, desde que entrei na faculdade, que fiquei agoniada para as aulas
terminarem logo.
Meu período no Bruin foi tranquilo. Atendi as pessoas sem cometer erros,
mas não posso dizer que fui exemplar. Estava louca pra chegar no quarto e
conversar com minhas novas amigas. Até o conceito de ter amigas para
conversar os mais variados assuntos ainda era estranho pra mim. O fato era
que TER alguém que me escutasse, era inusitado. E maravilhoso!
Peguei minha bicicleta e pedalei de volta pro Hedrick Hall numa pressa
quase insana. Mas o alívio que senti quando vi Libby e Dea sentadas na cama
da Dea conversando, foi enorme. Porque eu precisava dessas meninas.
Urgentemente! Bati a porta do quarto com um estrondo.
— Ai, cacete! Que susto! — Solta Libby, com a mão no coração.
— Que foi, Hope? Aconteceu alguma coisa?
— Preciso de uma reunião do Clube das Românticas!
— Eita, porra! É pra já! Dea, faz a pipoca! Vou pegar o refrigerante. Você,
vai trocar de roupa... Já vi que o babado é pesado.
— Libby... Você não faz ideia!
As duas meninas, que eu estava aprendendo a considerar como minhas
melhores amigas, dão um pulo da cama e começam a preparar nossa reunião.
Pela primeira vez na minha vida, tive uma sensação de verdadeira irmandade,
de pertencimento e apoio. Nenhuma das duas nem me perguntou o que foi...
Viram a necessidade, correram pra me ajudar.
Fui trocar de roupa com o coração estranho... Depois eu vou pensar nessa
estranheza.
— Está aberta a Primeira Reunião Extraordinária do Clube das
Românticas! — Declara Dea, toda pomposa.
— Cada uma de nós tem que jurar que tudo que dissermos aqui, será
mantido segredo, será dita a verdade e será ouvido sem julgamentos de
nenhum membro. — Entoa Libby. Olhamos, de uma pra outra e assentimos
com a cabeça.
— Eu juro! — Falo
— Eu juro! — Dea segue.
— Eu juro! — Libby fecha.
Olho para minhas amigas e dou um sorriso.
— Vocês são as melhores!
— Sim, a gente sabe. Agora desembucha, ruivinha. O que aconteceu?
Acabo rindo da agonia da Dea, mas conto tudo que aconteceu de manhã
no café: a entrega do boné, a conversa, o oferecimento das caronas... Tudo.
— Você quer dizer que amanhã você vai de carona com esses tais de Jason
e Jose, daqui do Hendrick até o seu prédio da Matemática? Sozinha? —
Pergunta Dea, um tanto escandalizada.
— Hã... Sim...? — Dei a resposta, meio com tom de certeza, meio
pergunta.
— Hope, meu bebê... Você não conhece esses dois. Como você vai
concordando em entrar num carro de dois homens desconhecidos que dizem
que vão te levar para um lugar, sem você ter nenhum controle sobre isso?
Isso, além de não ter lógica, é um movimento completamente infantil de sua
parte.
Fico paralisada, com minha boca fazendo um O mudo.
— Eu não tinha pensado assim.
— Por isso que nós estamos aqui, querida. Somos mais velhas e mais
experientes que você. — Libby me faz um carinho na perna. Realmente, não
havia condenação nem nas palavras, nem nos olhos da minha amiga.
— O que eu faço, então? Desmarco? Depois do papo de ontem, fiquei
com medo de estar sendo muito desconfiada com ele. Agora já estou achando
que fiz besteira de novo. — Não posso evitar o medo em minha voz.
— Você quer muito o contato com esses dois? Por quê? — Dea pergunta,
carinhosa.
— Se eu quero muito? Eu não sei. Mas o riquinho não precisava me
devolver o boné... Aliás, não entendo como ele pensou que eu fosse precisar
dele, e isso me intrigou. Não sei se confio nesse jeito de bom moço dele, mas
ele me deixa curiosa. Porque ele não segue o padrão dos garotos ricos que já
esbarrei por aqui. Estou sendo totalmente sincera com vocês duas.
— A gente consegue ver isso, Hope. Mas isso é uma coisa que você vai
ter que avaliar e descobrir sozinha. E vai precisar de tempo pra isso. Tempo e
convivência. — Libby  diz.
— Exato. É preciso ter prudência. E pra isso, a gente pode te ajudar. Você
não pode ir sozinha nessas caronas, Hope... MAS a gente pode ir com vocês,
alternadamente. Até você estar segura sobre eles. Afinal, Arquitetura também
fica no mesmo prédio e Artes fica logo em frente.
Nós olhamos de uma pra outra e caímos na risada.
— Vai, manda mensagem pra ele e avisa que eu vou junto amanhã. —
Libby fala.
— Você tá maluca? Só se for pro teu namorado arrancar o pescoço dos
dois, antes de saber o que está acontecendo. Esqueceu que ele chega amanhã
direto pra aula? Não vai dar tempo de você explicar nada pro Lucas antes de
ele pirar e sair cobrindo de pancadas o Jason e o Jose.
Libby arregala os olhos, como se só se recordasse desse detalhe nesse
momento...
— E, pra ser sincera com vocês, do jeito que eu vi o Jason batendo nos
caras no café, não sei se o Lucas ia levar a melhor, Libby... — Falo, torcendo
a boca.
— Dea... Você vai! — Libby fala correndo.
— Claro, meninas. Eu vou. Hope, pode mandar a mensagem pro seu
salvador.
Dou língua pra minha amiga, atitude muito adulta, confesso. Tenho quase
18 anos, não ligo.
Eu: Jason? Boa noite... Desculpa incomodar. Aqui é a Hope, não sei se
você lembra de mim... Sou a garçonete do Bruin. Nós marcamos de ir pra
aula amanhã juntos, lembra?
Digitando...
Riquinho: Oi, Hope! Claro que me lembro! Tá tudo bem com vc?
Aconteceu alguma coisa? Os caras voltaram a te perturbar?
Mostro para as meninas a mensagem... E ouço coros de: “Own...
Riquinho? Que fofo!”e “Que graça! Ele todo preocupado com sua
segurança, Hope! Ganhou pontos comigo” “Vai, continua!”
Eu: Tá tudo bem, ñ preocupa! Eu só queria saber se tudo bem de uma
amiga de quarto ir com a gente amanhã junto pra aula...
Digitando...
Gente! Ele vê a mensagem imediatamente!
Riquinho: Claro Hope! Sem nenhum problema!
Eu: Que bom... ñ queria abusar.
Riquinho: Abuso nenhum... Mas eu preciso te perguntar uma coisa...
Eu: Fala
Riquinho: Então... Preciso saber se tudo bem pra você, ir pra aula no meu
carro...
Eu: Não entendi...
Riquinho: Quando a gente se conheceu, você pareceu ser meio avessa às
pessoas que têm $$$... e eu tenho um Porsche. Desculpa. Ainda não tive
tempo de ver outro carro.
— MENINAS!!!! Pelo amor de Deus... Corre aqui. Presta atenção nisso!
Vê se eu não tenho razão? Cara metido a besta!
— Credo, mulher! O que foi? O que esse garoto te disse?
— É pra eu contar pro Lucas? Ele pode juntar uns dois amigos e descer a
porrada nesse tal de Jason e...
— Não é nada disso! Olha isso que ele escreveu.
E estendo o celular para as duas. Libby fica  de boca aberta e Dea cai
sentada de volta na cama.
— Cacete. Eu li o que eu entendi? Ou inventei dentro da minha cabeça
muito imaginativa de artista romântica? — Dea solta ainda meio chocada.
— Andrea, minha cara... Esse rapaz acabou de perguntar pra nossa amiga
aqui se ela SE IMPORTA de ir pra aula amanhã de Porsche, porque ele ainda
não teve tempo de ver outro carro, porque ela odeia gente rica.
— Vocês viram só o que eu falei? Não parece coisa de gente esnobe? Só
pra dizer que tem um carro chique? Espera! Ele está digitando.
Digitando...
Riquinho: Hope, Juro que vou ver outro carro... O Assassino vai ficar
parado na garagem, prometo. Vou fazer assim, vou perguntar pro Jose se ele
tem algum carro com ele e a gente vai no dele, pode ser?
Eu: Assassino?
Riquinho: KKKK. Desculpa. É como minha mãe chama meu carro. Ela já
me proibiu de pegar a estrada nele. Mas foi presente do meu pai, então tenho
um carinho especial por ele. Mas você não precisa andar nele comigo. Eu não
fico chateado, nem nada.
Hummm. Vamos ver se isso tudo é verdade mesmo.
Eu: Não! Tá tudo bem... Não precisa trocar de carro só por minha causa,
Jason.
Riquinho: Tem certeza? Não quero te forçar a nenhuma situação
constrangedora ou difícil.
Eu: Fica tranquilo. Não sou mulher de aceitar nada que não queira. De
ninguém.
Riquinho: KKKK. Fico contente. E respeito isso. Vivi toda minha vida
com mulheres assim. Então, tudo bem pra você, amanhã te pegar com o
Assassino?
Eu: Nunca andei num Porsche... Tudo bem.
Riquinho: Tomara que vc goste. Boa Noite!
Eu: Boa noite!
Riquinho: Até amanhã, Hope
— Meninas... Dea... Acho que amanhã vamos andar de Porsche.
É... Parece que minha vida realmente começou a mudar dentro da UCLA.
Olho para minhas amigas e fico uns cinco minutos rindo sem parar.
08:55. Eu me olho no espelho: blusa branca de alcinha e saia jeans com
meu AllStar preto surrado. Cabelo solto, porque de tarde já ia ter que deixá-
lo preso o tempo todo no café. Mochila no ombro! Olho pra minha amiga e
ela estava linda no vestido amarelo florido e sapatilhas bailarina. Mas, já
estava agoniada e Dea não se decidia na cor do batom. Pego o primeiro que
vejo e coloco na mão dela. Ela me olha, agradecida, e passa nos lábios.
Descemos correndo pra tentar não atrasar. Chegamos na rua dois minutos
depois das nove. E damos de cara com uma máquina azulada que me deixou
impressionada, tenho que admitir, nem que seja pra mim mesma.
Uma pena que não entendo nada de carros, senão eu até poderia saber qual
o tipo, preço ou qualquer outra grande informação sobre o bichão que estava
parado na nossa calçada. A única informação que eu tinha: o carro era de um
azul lindo! E parecia ter saído de um dos filmes do James Bond. Senti minha
amiga agarrar meu braço. Ela olhava para o carro em frente, como se visse
um fantasma.
— Que foi, mulher?
— Hope... É... Um Porsche Taycan!
— E daí? Ele já tinha dito que era um Porsche... Vamos. A gente tá
atrasada.
— Você não tá entendendo! É um Taycan!
— Grande coisa! E eu sou uma Palmer... Vambora!
E saio arrastando aquela doida. Quando nos aproximamos do carro, vejo
que um monte de gente realmente olhava para o carro do outro lado da rua.
Coisa estranha e gente esquisita...
Jason e Jose descem do carrinho e vem cumprimentar a gente, sorrindo.
Jason parece encabulado e Jose, divertido. E que imagem aqueles dois
faziam: Jose, todo moreno, cabelo e olho preto, com aquela pele morena que
só os latinos têm, aparecia numa bermuda cáqui e camiseta branca. Jason
vinha com uma blusa vermelha que contrastava com os cabelos loiros
bagunçados e os olhos cor de céu (que hoje pareciam ainda mais claros) e
aquelas pernas numa bermuda cargo cinza que, cada passo que dava, pulava
os músculos das coxas. E ainda usava aquelas botinas de caminhada...
— Bom dia, meninas! Você deve ser uma das amigas da Hope, certo? Meu
nome é...
— Jose Cuevas. Você também é bem famoso no campus, senhor Cuevas.
Eu sou a Andrea, muito prazer.
— Não sabia que era famoso. Mas, por favor, me chame de Jose. Posso te
chamar de Andrea? — E o mexicano, galantemente, beija a mão da minha
amiga, que cora imediatamente diante do charme latino.
— Claro. Andrea ou Dea, como preferir. Mas você é famoso sim, Jose.
Tanto na quadra de basquete quanto na área acadêmica, viu?
— Não sabia da minha fama. Se não se incomodar, fico com Andrea. Soa
melhor em meus ouvidos. Uma mulher tão bonita, merece um nome à altura.
— Já vi que temos um galanteador latino... Essa era uma particularidade
da sua fama que eu desconhecia, Jose.
— Jamais. De minha boca, só saem verdades, Andrea.
Minha amiga joga a cabeça pra trás, numa risada solta. Acho que esses
dois vão se dar muito bem.
Antes que eu pudesse me aproximar do Jason ou do Jose para dar bom dia,
Jason já pega minha mão e me leva para o banco da frente do carrinho dele.
De uma forma muito educada, abre a porta do carona e me ajuda a sentar.
Jose e Dea vão conversando no banco de trás.
— Tudo bem mesmo pra você chegar pra aula no Assassino?
— Tudo bem, ué... Ele é bonitinho. Pequenininho. Gostei da cor.
Jason fica me olhando com uma expressão vazia por uns dez segundos até
abrir um sorriso que achei que iria deslocar sua mandíbula.
— Combina com seus olhos. —  É a única coisa que comenta.
— Você acha? — Coloco a mão no rosto e pisco pra ele.
— Tenho certeza.
— O que a gente perdeu? — Pergunta Jose, assim que se senta no banco
de trás.
— Hope gostou do meu carro. Disse que ele é pequenininho, também
gostou da cor dele, e eu disse que combina com os olhos dela.
Jose se engasga numa risada e Dea tenta abafar a dela.
— Acho que preciso dar umas aulas de automobilismo pra minha amiga,
Jason. Não leva a mal a falta de entusiasmo dela, tá?
— De jeito nenhum, Dea! Você não tem ideia de como é maravilhoso
saber que ela gostou da cor do meu carrinho. Tomamos café no Bruin
primeiro? Ou vamos direto?
Os dois atrás disseram café, mas eu fiquei calada. Riquinho me olha,
repetindo a pergunta, em silêncio, apenas com o olhar. Resolvo responder.
— Podem ir sem mim. Eu espero no carro mesmo. Não tô com fome. —
E, como pra me contradizer, meu estômago ronca. Jason sorri de leve.
— Vamos comer.
Começo a ficar nervosa. De verdade.
— Jason... Podem ir vocês. Eu fico.
— Por quê? Eu ouvi seu estômago avisar que estava com fome também.
— Ele até pode avisar, mas vai se comportar até a hora do almoço porque
ainda não recebi o pagamento da semana no Café e não tenho como pagar o
café da manhã. — Explico, cruzando os braços, irritada.
— Calma, Ruiva. Não precisa brigar comigo. Você é minha convidada. Eu
faço questão...
— E eu já disse que não, muito obrigada! Você já está me levando para a
aula.

— Certo, Red[11]... Sem problemas. — Ele levanta as mãos em sinal de


rendição.
— Ótimo!
— Ótimo. — Só não entendi o sorriso.
Chegamos no Café, os três descem e fazem os pedidos. Fico encostada no
carro, esperando. Em uns quinze minutos, todos estão de volta, com seus
lanches pra viagem. Notei o de Jason bem maior que o de ontem.
— Aqui tem um Duplo Italian. Pode pegar uma metade... Estou dirigindo.
E tem dois copos de café também. Fica à vontade. — E ele pisca aquele olho
lindo pra mim, sorrindo...
Juro que quis ficar aborrecida. Juro... Mas não consegui. Como o
sanduiche e tomo o café. Confesso que dei pedaços do sanduiche na boca do
Jason. Afinal, ele pagou meu lanche... Foi só por isso.
Chegamos na frente da Matemática com 15 minutos de antecedência. Foi
uma despedida meio corrida, mas deu pra marcar um horário para a carona da
volta.
Capítulo 7
Já estávamos chegando no final da primeira semana de aulas e as coisas
assumiram um ritmo bem mais confortável com a Hope e as garotas.
Conhecemos a outra amiga dela no segundo dia de carona, a Libby. Garota
divertida e expansiva, as tem um namorado que é um pé no saco.
Ele veio cheio de marra querer me peitar e tirar satisfação comigo depois
que deixei as garotas na escola. Quase quebrei a cara dele também. A sorte
dele foi a Dea estar descendo as escadas e ter visto a confusão. Ela conseguiu
fazer com que ele entendesse que eu não queria nada com a mulher dele, que
meu foco era a Red, daí ele acalmou. E riu da minha cara, dizendo que eu
estava perdendo meu tempo, a Hope só queria saber de estudar.
Veremos.
Sou filho do meu pai. Aprendi com o melhor. E nunca senti uma força tão
grande me puxando pra uma garota antes. Tudo nela me fascina: O cheiro, o
cabelo, o nariz arrebitadinho, aquele rosto cheio de sardas, os olhos de um
azul tão diferente como eu nunca tinha visto antes, a boca que vive fazendo
bico pra mim... Dá uma vontade de morder!
Isso  sem falar do resto... Que eu, sinceramente, em nome das minhas
bolas, acho melhor parar por aqui. Porque cada vez que minha mente começa
a projetar aquela mulher da forma que quero, sinto as coitadas já dando um
repuxar. Vou perguntar pro pai se um homem pode ter alguma doença séria
por bolas azuis por tensão sexual. A garota é dura na queda, não dá brecha...
E assim seguimos em tranquila harmonia, tirando uma ou outra alfinetada
da Hope, até fechar o mês de setembro. Conseguimos construir uma amizade
gostosa, nós seis: eu, Jose, Hope, Dea, Libby e até o Lucas já está mais
próximo.
Hoje é sexta-feira e marcamos de sair pra uma pizza e depois ouvir uma
música no bar do amigo do meu pai, Mike T. A Red fica dizendo que não tem
nem 18 anos ainda, mas eu já disse que o lugar onde vamos é bem legal e
tranquilo. Mike sabe que eu nem meus amigos temos 21 anos, então não vão
ser servidas bebidas alcoólicas pra gente. A Dea deixou escapar pro Jose que
o aniversário da Hope é agora, em outubro, mas não sei a data. Espero poder
fazer alguma coisa pra comemorar...
Mas hoje, só quero sair com ela. Conversar, rir um pouco, se eu estiver
com sorte, dançar. Fiquei imaginando ter a Red nos meus braços por uma
noite, sentir aquele corpo balançando junto com o meu, passar a mão pelas
costas, subindo e descendo e...
“Puta que pariu! Preciso parar com essa autotortura!”. Marquei de pegar
a Red às oito. Olho de novo as horas: 19:35. “Ah, caralho. Foda-se! Vou pra
lá agora e se ela não estiver pronta, eu espero!” Agarro minhas chaves e
bato a porta do meu quarto, gritando para o Jose:
— Aí, cara! Eu tô saindo! A gente se vê lá na pizzaria. Depois vamos na
7Sins. Vou passar lá na Hope pra pegar ela. Você pega a Dea, valeu?
— Valeu, irmão! Fica tranquilo. Eu marquei com a morena às nove. Se
chego assim cedo, ela me castra.
— Ui... Essas garotas são muito violentas. Mas então vocês vão direto pro
bar?
— Acho que sim. Parece que a Dea teve uma aula que demorou mais.
Alguma coisa sobre o modelo ser um chato e a escultura que não dava certo,
sei lá. Por isso ela pediu uma hora a mais, sabe como é mulher pra se
arrumar, né?!
— Beleza! Mas tô na fé que minha garota seja mais rápida...
Ainda consigo ouvir a risada do meu amigo enquanto fechava a porta do
apartamento. Eu estava muito ansioso, porque era a primeira vez que a Hope
me permitia subir no dormitório delas. Ela disse que não tinha cabimento eu
esperar na rua, mas que eu precisava avisar no momento que chegasse. Acho
que eu aceitaria qualquer exigência que ela fizesse.
Saio do Saxon com um sorriso bobo na cara.
Do meu prédio até o Hendrick não levava nem 10 minutos, porque ambos
ficavam na mesma rua, o que não serviu pra diminuir meu nervosismo. Mas
OK. Eu só estava indo pegar a Red, coisa que fiz durante a semana inteira.
Moleza.
Mas hoje a gente iria sair... E tinha uma real chance de eu ter sorte e
conseguir provar aqueles lábios que me enlouqueceram durante a semana.
Puta que pariu... Comecei a suar de novo. Não posso aparecer todo suado
pra garota, merda.
Cheguei na frente do prédio dela e resolvi dar uma checada no visual:
Calça jeans preta, check! Camisa de botão azul, check! Bota Timberland,
check! Cabelo... bom, preciso cortar, mas dá pra passar. Perfume, coloquei
um pouco do Bulgari AQVA que meu pai colocou na mala. Olho embaixo
dos braços, tudo limpo. Melhor que estava, não ia ficar, vou mandar a
mensagem:
Eu: Ruiva? Cheguei. Posso subir?
Digitando...
Ruivinha: Como assim? A gente combinou às oito!
Eu: Faltam dez minutos.
Ruivinha: Como? São 19:50??? Não é possível...
Eu: Já vi que vai demorar, né? Eu espero aqui. Tudo bem...
Digitando...
Ruivinha: Não. Não vou fazer vc ficar na rua. Faz assim, no nosso andar,
tem uma sala comum, onde tem TV, uns sofás... Vc se incomoda de me
esperar lá? Já tô quase pronta.
Eu: Claro que não. Tô subindo. Qual o seu andar?
Ruivinha: 4º . Bj
Subo para o andar da Red, e já comecei a achar tudo muito estranho por
aqui. Era um entra-e-sai de homens e mulheres que não dava pra definir se o
andar ou o corredor era masculino ou feminino. Achei a tal da sala de TV e
me senti como se estivesse no meio da Sala Comunal da Grifinória. Era uma
confusão de homens e mulheres, todos nos mais variados estados de se vestir,
ou de nudez. Quando meu celular vibra com a mensagem da Red, eu já
estava realmente preocupado.
Ruivinha: Se você quiser entrar, já estou quase pronta. A Dea não está no
quarto, está no banho. Pode vir! Meu quarto é o 423.
Eu: Indo!
Paro na porta do número 423 com meu estômago dando voltas. Eu tinha
passado por uma garota que, claramente, estava indo para o banheiro tomar
banho, em seus braços tinham roupas, uma necessaire e, em cima de tudo,
sua lingerie. À vista de qualquer um! Desviei o olhar o mais rápido que pude,
mas a garota nem pareceu perceber.
Bato na porta e minha Red abre pra eu entrar, e que visão eu tive: ela
estava fenomenal. Hope hoje estava num vestido curto de um tecido brilhoso,
vermelho, que ficava meio que enrugado em cima do quadril direito dela,
chamando uma puta atenção pra aquela bunda arrebitada e coxas deliciosas.
O danado do vestido subia fazendo essas dobras espetaculares até embaixo
daqueles peitos redondos, daí o vestido se rendia ao tamanho deles e ficava
certinho, justinho, mas subia só pra um ombro, deixando o outro
completamente livre. Aparecendo a clavícula linda.
Os cabelos também estavam diferentes,  hoje estavam mais ondulados,
caíam pelas costas em cachos grandes, pesados. E ela fez uma maquiagem
que deu um ar mais maduro pra minha Red. Meus olhos foram descendo e
percebendo cada detalhe, até chegar nas pernas. Maravilhosas. Ela
abandonou o AllStar, e colocou saltos altíssimos. Pretos. Daqueles que
fecham no tornozelo, com a ponta bem fina que deixam a gente de pau duro
só de olhar. Jesus.
Percebo que a boca da Red estava mexendo, mas eu não conseguia
entender o que ela estava falando comigo. Percebo seu olhar se estreitando
pra mim e ela se aproximando, preocupada. “Caralho, eu preciso falar com
ela!” Forcei para sair som.
— Meu Deus, como você está linda! — Consigo  falar, com a voz rouca,
mas sai sem gaguejar, o que já achei uma puta vitória. A ruiva fica corada,
espero que de satisfação.
— Que bom. Por um segundo, achei que você não tivesse gostado da
minha roupa ou da maquiagem.
— O quê? Você está simplesmente maravilhosa! Eu perdi a fala de te ver
tão linda!
— Sério? — E minha Ruivinha nunca antes se mostrou tão insegura como
agora.
— Sério. Você está incrível. De verdade. —  aproveito para acariciar seu
rosto,  e sou recompensado por um sorriso verdadeiro.
— Acho bom você estar sendo sincero, Riquinho...
— Palavra de honra.
Olho ao redor e vejo as diferenças entre as disposições de nossos quartos.
Elas realmente dividiam um quarto, lá no Saxon, eu e Jose dividíamos um
apartamento. Cada um de nós tínhamos um quarto, banheiro e área de estudo.
Dividíamos a sala e a pequena cozinha. Aqui, o quarto era pequeno, numa
das paredes havia um armário, nas paredes adjacentes um beliche de um lado
e do outro, o que poderia ter sido outra beliche, tem a cama de cima e, em
baixo, uma mesa de estudos. Na parede do final, a janela. E só. Escolhi me
sentar na cadeira da mesa de estudos.
Hope está procurando o outro brinco, quando a porta se abre e Andrea
entra, de banho tomado, só com uma toalha enrolada no corpo. Quase caio da
cadeira, na pressa de me levantar e virar de costas.
As duas moças começam a rir da minha reação, mas não consigo
encontrar o motivo do riso. Dea pega algumas roupas e volta a sair do quarto.
Não sei o que me choca mais: se a tranquilidade dessas duas com o fato dela
entrar, seminua e me ver no quarto delas, ou ela pegar as roupas e voltar para
o corredor, ainda seminua para se vestir...
— Mas o que ela...? Por que ela estava...? Vocês não...?
— Calma, Jason... Respira. Vamos lá. Junto comigo: inspira... expira...
Muito bem. Agora tenta de novo.
— Ruiva... Eu não estou entendendo nada desse dormitório de vocês. Eu
estava ali na sala comum. Tem homens andando pelo corredor e entrando e
saindo dos quartos tranquilamente!
— Provavelmente porque deve ser o quarto deles, ué.
— Mas como assim? Vocês dividem o andar com quartos pra homens e
mulheres?
— Sim. Cada andar tem 80 dormitórios. Os dormitórios são exclusivos
para o mesmo sexo, mas no andar não tem essa regra. Quer dizer que no
mesmo andar temos quartos femininos e masculinos.
— E vocês dividem o banheiro também?
Eu devo ter feito uma cara muito terrível, porque a Red dá uma risada
super gostosa.
— Não, bobo! Cada andar tem 4 banheiros. São banheiros comunitários,
mas são dois masculinos e dois femininos.
— Ruiva... Não sei se aqui é o melhor lugar pra você ficar. Aliás, não sei
se aqui é lugar pra nenhuma de vocês ficarem.
— Jason, riquinho... Deixa eu te dar uma visão de como funciona o
mundo real: aqueles que não tem pai rico, moram onde dá pra pagar. Sou
bolsista. Moro onde a UCLA me coloca pra morar. Você sabe que aqui é
melhor que o Tercero? Porque lá é até mais complicado que aqui:  tem o
agravante de ser FORA do Campus e são 10 pessoas por quarto. Então,
Riquinho, eu fico bem quieta, não reclamo. Porque eu estava morando lá até
pouco tempo atrás. Como sou bolsista e a UCLA acha que eu valho de
alguma coisa pra universidade, quando vagou um lugar aqui, fui transferida.
Sacou?
Depois desse belo “cala a boca” e um tapa na cara da realidade, Hope me
dá um beijinho na ponta do nariz, coloca o tal brinco desaparecido e me pega
pela mão pra gente ir pra pizzaria e depois pro bar do Mike T.
Ok. Não é todo dia que uma garota de “quase 18 anos” me faz calar a boca
de uma forma tão perfeita assim. Cacete... Lembro da Emie de novo: “Toma,
distraído!”

Depois da pizza, que Jose e Dea não apareceram, fomos para o 7Sins.
Quando chegamos, a Ruivinha estranha um pouco a decoração do lugar, que
era toda montada em cima dos sete pecados capitais: Soberba, Avareza,
Luxúria, Inveja, Gula, Ira e Preguiça. Mike T contratou um grafiteiro para
fazer um mural no fundo do bar espetacular, mostrando cada um dos pecados.
A iluminação da casa fazia o mural ganhar vida, ficava incrível.
Bem à frente do mural, ficava uma pequena pista onde alguns casais se
arriscavam a dançar. As mesas se organizavam ao redor da pista e uma mesa
de sinuca ficava colocada à direita de quem entrava, nos fundos, junto com o
alvo de dardos.
Eu e Hope chegamos e pegamos uma mesa para quatro pessoas, porque
ela acabou de receber uma mensagem de Dea dizendo que, em no máximo
em meia hora, eles estariam chegando. Minha Ruiva era uma super
companhia, inteligente, divertida, engraçada, educada. A noite estava se
mostrando uma delícia. Até que eu volto ao assunto que, desde o dia que a
conheci, estava me perturbando...
— Red, aqueles caras que te perturbaram no Café no primeiro dia,
voltaram?
— Eles vão lá todos os dias, Jason. Esquece isso.
— Mas eles voltaram a te incomodar?
— Jason, fica tranquilo. Eu sei me cuidar. No Café eles não podem fazer
nada comigo, só piadas sem graça. E você me leva e me pega todos os dias.
Eu estou sempre com você, Libby ou com a Dea. Nada vai acontecer.
— Ruiva... Presta atenção. Eu sei que a gente se conhece há muito pouco
tempo... E o que eu vou falar, pode parecer loucura ou exagero. Mas é o que
eu tô sentindo bem aqui dentro do meu peito. Eu venho de uma família
passional. Tudo nós sentimos demais: Amamos demais, sofremos demais...
Cuidamos demais. Tem um monte de coisas que, se eu pudesse, eu mudava
na sua vida. Mas eu não posso, não tenho esse direito. Mas tem uma coisa
aqui que eu vou te pedir, e quero que você me prometa que vai fazer...
A Ruivinha me olha com aquelas bolas azuis incríveis quase sem piscar.
Eu achava mesmo que ela não estava nem respirando. Ela mordia o canto
direito daquela boquinha linda. Um pecado... Mas eu AINDA não podia falar
nada sobre isso.
— Eu preciso que você sempre seja sincera comigo. Se qualquer um deles
tentar algo de novo com você, Red, quero que você me conte. Porque, se isso
acontecer, eles precisam saber que você não está sozinha. Que você não é
uma garota desamparada. Que você tem a mim, ao Jose, a Dea, a Libby e ao
Lucas.
“E eu vou ter o maior prazer em tatuar isso na bunda e na cara de cada
filho da puta que mexer com você, minha Ruiva...”
Parei de falar porque a Ruivinha ficou de pé e me puxou da cadeira. Pra
alguém tão tampinha, ela tinha bastante força nos braços. Olho para baixo,
achando que iria levar outro passa-fora da encrenqueira, mas recebo é um
baita abraço daquela garota. Hope não abraçava só com os braços. Ela
abraçava com as mãos nos meus cabelos e costas, com os peitos nos meus
peitos, com a cabeça no meu pescoço, a respiração em meu ouvido. E foi
assim que ouvi o seu: Obrigada, Jason. O apoio que você está me oferecendo
agora eu recebo com medo. Não por achar que você está me enganando de
alguma maneira, e me perdoe pelo nosso primeiro encontro. Mas para mim,
é difícil confiar, ser cuidada. Geralmente sou eu que cuido... O conceito de
ter alguém cuidando de mim, soa estranho. Mas um estranho gostoso.
As palavras daquela garota batem em mim como porradas de tacos de
basebol. Como alguém deixa de cuidar de uma pessoa? Eu fui cuidado minha
vida inteira! Minha mãe comeu o pão que o Diabo amassou quando eu nasci
pra cuidar de mim, nunca me abandonou nem deixou faltar nada. Quase tive
que causar uma guerra pra poder vir pra LA sozinho e fazer minhas escolhas.
Certas ou erradas... Não importa! Mas que fossem as minhas.
Desde que fomos pro Rancho, tive minha avó Cora, meus pais, tio Paul
para olharem por mim. Até hoje! Se eu fizer uma ligação, pedir ajuda,
imediatamente, qualquer um deles corre em meu auxílio. Até mesmo Oscar,
agora aposentado, se eu chamar, vem da Flórida me socorrer.
— Você não está mais sozinha, Red. Eu vou cuidar de você sempre que
você me permitir. — E retribuo o abraço apertado dela. — Agora, vamos
dançar um pouco?
Minha ruiva, que nunca decepciona, aceita na hora o convite. Chegamos
na pista e somos recebidos com “Fire On Fire” de Sam Smith. Nunca
agradeci tanto ter pais apaixonados na vida. Passei minha infância vendo os
dois dançando colados todas as músicas que eram permitidas aos olhares
infantis. Então, aprendi um ou outro truque. Aproveito estar de mão dada
com minha ruivinha e já a enlaço pela cintura, puxando para meu corpo e
prendendo seu braço por trás, fazendo com que ela automaticamente me
busque com os olhos. Inclino seu corpo pra trás e dou-lhe um beijinho na
ponta do nariz.
Voltamos a ficar de pé e ela  sorri, feliz, enquanto eu nos balanço
suavemente ao som da música. Praticamente só nossos quadris e pernas se
movem. Até que algo acende dentro daquela raposa e ela aceita o desafio.
Sobe o braço livre pelo meu braço que deixei solto só com a mão em seu
quadril, até meu pescoço, entrelaçando os dedos pelos cabelos curtos da
minha nuca.
CARALHO! Eu não estava conseguindo controlar o big Jace aqui
embaixo. Essa combinação desses olhos, o carinho e esses quadris mexendo
sensuais com a música estavam a ponto de me deixar em maus lençóis... E
era só a primeira música, porra. Resolvo soltar a tentação pra deixar que
dançasse longe de mim.
Bom... A tentativa era pra afastar a tentação, correto? Errado! Porque acho
que ela não recebeu o memorando. Veja bem, logo em seguida, o DJ coloca
“I Want To” do Rosenfeld... E a garota parece que aprendeu a dançar com
alguma daquelas mulheres do oriente médio, que fazem uns movimentos
incríveis com os quadris. Ela erguia os braços sobre a cabeça, me olhando
nos olhos.
Olho ao redor e acabo vendo nossos amigos já sentados na nossa mesa.
Pareciam estar se divertindo. Faço sinal para aquela feiticeira e ela, sorrindo,
confirma a vontade de voltarmos para junto dos nossos amigos.
— Oi, gente! — Cumprimenta Dea. — Nossa, vocês fazem um casal lindo
lá naquela pista! Hope, eu não sabia que você dançava.
— Imagina, Dea. Eu amava dançar, mas tive que parar por causa dos
estudos das minhas irmãs.
— Como assim, por causa das suas irmãs?
— Segura a onda aí, Herói. Eu precisei dar o exemplo em casa.
— Dar o exemplo? Tá... E você saiu da dança há quanto tempo? — Um
músculo no meu maxilar pulava de raiva, mas eu mantinha minha voz calma
e controlada pra Ruivinha não ficar puta e descarregar em cima de mim.
— Ah... Já tem uns 3 anos, acho...
— 3 anos?! — Eu repito sem acreditar.
— Sim... Foi na época em que elas disseram que não queriam mais
frequentar a escola. Que já eram lindas e não precisavam estudar. Se não me
engano, na época elas estavam com uns seis anos, aprendendo a escrever.
— Você tá de brincadeira. — Dea estava de boca aberta.
— Não. É verdade... Acho que foi a única vez que Sebastian bateu nas
filhas.
— Esse Sebastian é o que seu? — Pergunto, ainda tentando entender o
funcionamento dessa família.
— Nada. Minha mãe é filha única, mas foi criada com a prima-irmã, ela
era casada com o Sebastian. A tia Beth fugiu de casa uns três meses depois
do parto das gêmeas, deixando o Sebastian, mamãe, eu, o vovô e as gêmeas
recém-nascidas pra trás. Eu tinha nove anos na época, mas lembro que o
Sebastian quase enlouqueceu. Quando as meninas estavam com dois anos,
meu avô teve um AVC e ficou paralítico. A mamãe cuida direto do vovô
agora... Eu fiquei cuidando de casa e das meninas.
Não gostei nem um pouco do silêncio que se seguiu. Mas não sabia o que
fazer ou falar. Olho pra Dea e ela parece tão perdida quanto eu. Olho pro Jose
e ele me faz um sinal com a cabeça como se fosse pra eu cair fora com ela,
pelo menos assumi que era isso.
— Red, vamos deixar essas lembranças ruins pra trás. Você está com a
gente agora. caminhar um pouco?
A Ruivinha  sorri daquele jeito que só ela sabe fazer e, levantando, nos
despedimos e  vamos para fora do bar, sentir o frescor da noite. Coloco ela no
carro, e começamos a passear pela orla de Los Angeles. Depois de uns 40
minutos, acabamos na frente do Saxon.
— Hoje eu conheci o seu dormitório. Quer conhecer o meu?
— Quero.
 
 

Capítulo 8
— Quero.
“É o quê? Eu disse isso mesmo? Ai, meu Deus do Céu. E agora? O que eu
faço? Quer dizer... COMO eu faço? Merda, merda, merda! O cara é rico,
justiça seja feita, o maior gato da paróquia. Deve saber tudo de tudo de
sexo, e você, sua maluca ainda NEM BEIJOU NA BOCA! Ô Deus, desliga o
microfone pro lado de cá, mas vou ter que soltar um belo palavrão. Puta que
pariu, mas eu tô muito fodida! E nem é do jeito gostoso, como leio nos livros
hot que pego escondido da mamãe na conta do Unlimited... Puta que pariu
de novo! Todo livro que li ensina a fazer boquete, a perder virgindade... Até a
dar o cu! Mas nenhum ensina a beijar na boca. Que meeeeerdaaaa! O que
eu faço agora???”
Agora? Ferrou. Vamos ver o que acontece. Que nervoso... mas o Jason
parece ser um cara legal. Sensível. Não vai pular em cima de mim... né? Pelo
menos ele parece ser mais decente que aqueles filhinhos de papai que
aparecem no café. Coragem. Cabeça pra cima. Ele disse que iria me proteger.
Qualquer coisa, eu digo que ela precisa me proteger dele mesmo, ué. Ou de
mim...
— O que foi, Red? Tá tudo bem? Se você preferir, a gente pode ir pra
outro lugar. Falei lá no apartamento, porque é mais calmo. — Ele parecia tão
normal, tão tranquilo. Não tava com cara de quem ia me agarrar ou me forçar
a nada.
— Não foi nada, Jason. Tá tudo bem.
— Tem certeza, Ruivinha? — E faz um carinho na minha mão.
— Tá tudo bem, sim.
— Você sabe que pode falar o que quiser comigo, não sabe? Não precisa
ficar pensando que eu vou me incomodar ou ficar chateado com alguma coisa
que você vá fazer ou falar, Red. Lembra quando eu pedi pra você ser sempre
sincera comigo, Hope? Eu não estava brincando. Eu preciso dessa sua
sinceridade. Em tudo. Se eu falar ou fizer alguma coisa que você não gostar,
me fala. Se alguém fizer isso com você, me fala. Porque se alguém te
machucar, eu vou querer a cabeça dessa pessoa. Se eu te machucar, eu
entrego minha cabeça numa bandeja pra você.
— Nossa... Jason, que exagero. Não fala assim...
— Hope... Eu vou te falar uma coisa séria. Você é uma pessoa bacana.
Não merece ter tantas dificuldades na vida. No que eu puder aliviar seu
caminho, eu vou. Porque você, ruivinha, é especial.
E pela primeira vez na vida, senti as tais borboletas na barriga. Ou então
foi um problema cardíaco, porque me deu uma pontada estranha no peito,
como se fosse uma cãibra, e ele disparou. Fiquei com calor. E com frio. Com
medo. Acho que a Matrix deu pane. O que esse cara estava fazendo comigo?
Por que estava me provocando essas sensações estranhas?.
— E aí? O que fazemos? Confia em mim?
Jason me olha com aqueles olhos claros, limpos, diretos. Relaxo minha
guarda e devolvo o sorriso como meu espírito gostaria de fazer.
— Acho que não estou no meu juízo perfeito, mas confio! Vamos lá,
herói!
Quando descemos do carro na frente do prédio com dois grandes Ss na
entrada, marcando o Saxon Suítes, comecei a perceber dali mesmo as
diferenças. O SS possuía apenas três andares, contra os sete do Hendrick. Já
desde esse detalhe parti para anotar, na mente, as formações distintas. Droga
de mente analítica. Ao menos agora tá servindo pra me distrair.
O Saxon, por ter menos andares e, provavelmente, menos quartos por
andar também, se transformava num ambiente muito mais exclusivo. O
Hendrick Hall promovia mais a interação entre os alunos, pela quantidade de
unidades e até mesmo por permitir a miscelânea de dormitórios femininos e
masculinos no mesmo pavimento. Pelo ar escandalizado do Jason, eu duvido
que isso ocorra por aqui.
— Vem, Ruivinha. Pode entrar. Nós temos acessos individuais.
— Caramba. Vocês não têm toque de recolher durante a semana?
— Não.
— Isso deve ser bom, né?
— Na verdade, é desnecessário. A partir de, mais ou menos, nove e meia,
já estamos todos nos quartos mesmo. Ou fazendo grupos de estudo.
— Que legal. Você já entrou em algum desses grupos?
— Ainda não,  eles ainda estão se formando. Vem... Esse é o nosso
apartamento, 23C.
Quando Jason abre a porta, tenho que tomar cuidado pra meu queixo não
cair. Eu estava entrando em um apartamento de verdade! Entrei numa sala,
com um sofá, mesinha de centro e lateral com abajur, Tv presa na parede. Do
outro lado, uma minicozinha, tipo quitinete. Com geladeira, bancada, pia,
cooktop com duas bocas e armário flutuante. Duas portas se mostravam mais
para a direita e uma outra bem à esquerda. Fui primeiro para a da esquerda.
Quando abri, vi que era uma micro lavanderia. Tipo, só o local das duas
máquinas: lavar e secar, com uma prateleira para o sabão e amaciante sobre
ela. Segui em direção a uma das portas e, antes que eu abrisse, uma mão
enorme cobriu a minha.
— Hã... Aqui é o quarto do Jose. O meu é o do lado, se você quiser, posso
te mostrar.
— Talvez depois?
Jason dá aquele sorriso de meia boca que eu detesto.
— Claro, Red. Não se preocupa... Eu sei que você é inexperiente, eu
nunca vou te apressar. As coisas vão seguir o ritmo que você ditar. Fica
tranquila, você sempre vai estar segura comigo. Segundo meu pai, tudo que
lutamos pra conseguir, se torna mais especial e se valoriza ainda mais.
— Obrigada, Jason.
— Vem, Red. Quer ver um filme?
Jason fica admirado quando eu digo que não quero assistir romances. Eu
dou risada,  como um homem tão inteligente pode ser ao mesmo tempo tão
inocente? Muito fofo...
— Jason, minha mente é matemática. Não tenho muita paciência para
romances melosos. Se você quer a minha opinião sobre um filme... Tem um
que eu queria muito assistir, mas não tive oportunidade.
— Só falar qual é. Se não tiver disponível, eu compro no Prime.
— Ai, que delícia ser rico. — Falo, só pra irritar.
Mas ele entende e ri, me fazendo cócegas.
— Fala, anda! Qual filme?
— O “Projeto ADAM”.
— Boa. Não vi e nem conheço a sinopse.
— Sério? É o máximo. Um viajante do tempo volta por acidente e acaba
encontrando seu eu mais novo. Juntos, e sendo caçados por forças do futuro,
os dois embarcam em uma missão para consertar a linha temporal e salvar
aqueles que eles amam.
— Bora nesse!
Assistimos o filme por um bom tempo, até Jason me cutucar e perguntar
se eu não queria colocar uma camiseta e short dele, depois de tentar ajeitar
meu vestido pela décima vez. Depois de pensar que era um saco ficar
puxando barra de vestido, resolvi aceitar...
Ele entra no quarto e volta logo depois com uma camiseta preta do Gun’s
e um short de ginástica azul. Ele me dá a mão pra me ajudara ficar de pé e
me fala pra usar o banheiro do quarto dele. OK. Não só eles moravam num
apartamento, como cada um tinha seu banheiro privativo dentro do quarto.
Aff, como era boa essa vida de rico.
Entro no quarto e noto que o dele era impecavelmente arrumado. Ou era
sinal de que tinha empregada, ou de quem teve uma boa educação.  Deixo
essa questão no ar, para um possível questionamento futuro. O quarto era
simples e espartano, sem muitos detalhes. Cama de casal, uma mesa de
cabeceira só com o cabo do carregador pendurado, uma cômoda na frente da
cama e uma mesa de estudos na outra parede. Entre a cômoda e a parede, vi a
porta que presumi ser do banheiro.
Era mesmo. O banheiro também era pequeno e funcional. Tudo muito
limpo e arrumado, exceto pela toalha de rosto que estava mexida. Acho
graça, ajeito. Tiro logo o vestido e coloco a camiseta. Ele é tão grande que ela
mais parece um vestido em mim, para no meio das minhas coxas. O short não
teve jeito, ficava caindo, então desisti.
Volto pra sala só com a camiseta e de calcinha, Mas logicamente que não
comento esse fato.
Jason estava me esperando com uma nova porção de pipoca no balde. Não
reclamo, sento ao seu lado e roubo o balde de pipoca pro meu colo. Ele ri e
passa o braço por trás dos meus ombros, me trazendo ainda mais pra perto
dele e aqueles braços de polvo conseguem alcançar o balde.
De repente, eu me sinto sendo erguida no ar e aconchegada num casulo
tão cheiroso, que a única reação que tenho  é esfregar meu nariz, tentando
pegar mais daquele perfume. Ouço um gemido baixo, mas não registro de
onde vem.
— Red, por favor, gatinha... Não faz assim. Eu já estou sendo um
verdadeiro santo aqui. Não me provoca...
Olha só! O Jason dos meus sonhos tinha voltado! E dessa vez em versão
2.0 turbinado: ele tava falando comigo. Eu queria mais desse Jason
quentinho, cheiroso, falante e gemedor. Queria ele gemendo de novo pra
mim, mas não sabia como.  O cheiro que eu tava sentindo era di.vi.no. Será
que sonho tinha gosto também? Coloco a língua pra fora e lambo aquele
pedaço de quentura que estava tão pertinho do meu nariz, e ouço outro
gemido.
— Red, meu anjinho... Por favor, gatinha. Não faz isso comigo. Eu tô por
um fio aqui, linda... Deixa eu te colocar bem direitinha na cama, pra eu
resolver meu problema, tá amor? Me ajuda, Ruiva?
Eu sinto algo macio e gelado na lateral do meu corpo. Um suspiro,
seguido de um beijo na testa e alguma coisa me cobrindo. Eu demoro alguns
segundos pra fazer o download da situação toda.
PUTAQUEPARIU DE NOVO E DE NOVO!!!
Alguém, por favor, me fala que eu não estava bolinando o pobre do Jason
enquanto ele me colocava na cama dele? Ai, cacete... Alguém nessa vida
pode morrer de vergonha? Isso ao menos é possível? Porque eu acho que
estou tendo um ataque cardíaco. Calma, Hope... Vamos tentar resolver seu
problema: COMO resolver essa merda? Da maneira mais honrosa possível
na atual conjuntura... FUGINDO!
Eu me viro bem devagar na cama, pra não fazer barulho e dou de cara
com o Jason... No banheiro... No chuveiro... Pelado! Que bunda
ma.ra.vi.lho.sa! Perco a vontade de ir embora... Sabe-se lá quando vou ter
oportunidade de ver outra bunda na minha vida? E... espera... um... pouco! O
que ele tá fazendo???
Socorro, Deus! Ele... Ele tá? Tá... Ele tá sim!
Ele bem que podia virar de frente pra cá né? Ou de lado... Só um
pouquinho... Vai, Jason... Vira! Só um pouquinho... Nem precisa muito. Não
sou tão gulosa assim. Mas já que vi a bunda... Queria pelo menos saber
como é o resto... VIRA, CARALHO!
Hoje Deus estava de bem comigo, porque o Jason resolveu virar de lado.
E eu quase soltei um grito. Gente!!! Aquilo ali não tem jeito de caber dentro
de uma mulher, não... O tamanho da mão do homem é enorme! E juro, por
Deus... ver ele passando a mão naquele bastão de softbol ali dá medo. Pra
cobrir tudo, ele deve precisar das duas mãos juntas.
Meu Pai Amado! Se todo homem for assim, tá decidido!  Morro virgem
ou morro partida no meio. Porque se aceito o desafio, é capaz daquele treco
me dividir que nem martelo, se sair correndo de medo, morro virgem.
De repente, ele começa a acelerar os movimentos da mão e inclina o corpo
pra frente, apoiando o braço no ladrilho do box e a cabeça sobre o braço,
como se estivesse no limite das forças. Uma cena bruta, mas linda de ver.
Vejo ele acelerando até que sua mão para perto do corpo e, jogando a cabeça
pra trás, escuto ele chamar meu nome: Hoooope.
Logo depois, ele volta a ficar de costas, mas vejo seu corpo ainda
tremendo... Acho que pela força que ele fez.  Começo a perceber as
mudanças que a cena causou em mim, minha respiração estava rápida,
entrecortada, meu coração, disparado, minhas mãos tremiam, eu sentia uma
queimação, no meu ventre, muito estranha. Meus seios estavam pesados, toco
neles e sinto os mamilos arrepiados, sensíveis... Quando me remexo na cama,
percebo minha calcinha molhada.
Caramba... Essa era a sensação que via descrita nos livros. Mas a
realidade é diferente. Será que toda aquela intensidade dos livros realmente
acontece quando eu estiver com alguém? Porque, pela minha análise
comparativa, pelo que li e senti... acho que eu tive um pequeno orgasmo só
em observar o Jason. Que doido.
— Oi, Red. Desculpa. Te acordei? — Jason pergunta, saindo do banheiro,
já vestido com o mesmo short que tinha me dado pra eu usar.
— Não, Jason. Acabei de acordar. Você tomou banho?
— Sim. Sempre tomo banho pra dormir. Eu avisei a Dea que você tinha
apagado aqui e que eu te levava amanhã de manhã, tudo bem? Ou quer que te
leve agora?
— Não, tudo bem. Vamos dormir. Você tá todo gostosinho de banho
tomado. Eu tô sujinha... Se você quiser me emprestar uma cueca sua, posso
tomar banho também. Mas como a gente faz pra dormir?
— Você pode dormir na minha cama, Red. Nós não temos camas extras
aqui. Mas posso fazer uma cama pra mim aqui no quarto, sem problemas.
— Não tem cabimento isso, Jason! A gente divide a cama. Você é grande
sim, mas eu sou pequena. Não ocupo tanto espaço assim...
— Se você não se importar de dividir a cama comigo, então...
— Jason, não seja ridículo. A cama é sua! Prefere que eu tome um banho,
então? Mas vou precisar de mais um empréstimo... — Falei, meio brincando,
meio a sério.
— Pelo amor de Deus, não! Já está difícil te ver deitada na minha cama,
vestida com a minha camiseta favorita, com essa carinha de sono... Você é
um verdadeiro teste para minha sanidade.
— Por quê? — Eu sabia que meus olhos brilhavam e meu rosto estava
corado. Corado de excitação, eu reconheço agora. E estava adorando.
Jason vem caminhando para a cama, só de shorts. E percebo um certo
volume crescendo na frente do short dele. Engulo em seco. A umidade no
meio das minhas pernas aumenta, me dá  vontade de esfregar uma perna na
outra... não alivia.
— Tem certeza de que quer saber o porquê, Red?
Só consigo balançar a cabeça, assentindo.
— Porque te ver deitada na minha cama, me dá vontade de ter aí sempre.
De sentir seu corpo. Teu cheiro. Tua pele. De te abraçar... Quero ver teu
sorriso. Quero ouvir você falar meu nome durante o sonho. Quero decorar
todas as suas curvas. Mas sei que tenho que ir devagar. Porque você é
preciosa. Porque quero que dê certo.
Olho pra aquele homem na minha frente. Porque, por mais que tenha
pouca idade, ninguém pode dizer que essas eram palavras ou postura de um
garoto. Olho para o Jason e sinto que podia confiar, pela primeira vez na
minha vida,  me deu vontade de confiar. E isso era apavorante. Estendo a
mão para ele, chamando pra deitar comigo, e percebo ele engolindo em seco,
segurando minha mão.
— Vem, Jason. Deita comigo. Eu não quero mais ficar sozinha. Eu preciso
aprender a confiar. E escolho começar com você. Não me decepciona.
— Que bom, Red. Você não vai se arrepender. Nunca.
E, pela primeira vez, desde que eu me entendo por gente, eu me deito com
alguém e me sinto completamente segura.
Capítulo 9
Flores... Sinto cheiro de flores. Sinto mais coisas também. Sinto uma
bunda maravilhosa encostando no big Jace, que já acorda animado. “Calma,
meu camarada. Lembra do que eu falei pra Red ontem? Não me faz passar
por mentiroso. Vamos lá, se controla, amigão. Conto contigo!”
Enquanto estou tentando fazer meu pau se comportar, a Ruivinha resolve
se mexer mais, e acaba se virando pra cima de mim. Por reflexo, viro de
barriga pra cima e acabo com ela toda encaixada em mim. Perna passada
sobre minha coxa e muito, mas muito perto do meu cacete, que nesse
momento, já fazia uma tenda no lençol. Inconscientemente, minha mão
começa a acariciar seu antebraço apoiado na minha barriga e tórax.
E, pasmem senhoras e senhores, a ruivinha ressona e gosta de fazer cafuné
nos meus pelos do peito enquanto dorme. Porraaaa. Isso é teste pra tortura
talibã. Meu pau já começa a pulsar. Olho pra ele e vejo a ponta do lençol já
molhando do pré-gozo. Aí, não, caralho! Na primeira vez que a Ruiva dorme
comigo ela acorda e me vê todo melado? Como eu vou explicar uma merda
dessas?
Mas... A pele dela é tão macia, não consigo deixar de fazer carinho. Eu
tento parar, mas olho pra o braço e vejo a pele dela se arrepiar... Puta merda.
Minha ruiva agora deve estar sonhando. Estou sentindo ela apertar a coxa na
minha perna e a rebolar o quadril de levinho, se esfregando em mim.
Caralho... Eu vou pro inferno. Certeza. Porque eu preciso ver minha
Ruivinha gozando. Será que ela geme gostoso? Será que chama por mim?
Porra, vou explodir aqui, sem precisar nem encostar um dedo no Jace. Mas
será que eu posso ajudar a Ruivinha? Ou vou acordar ela?
A esfregação dos quadris da minha Red se intensifica e ela começa a
gemer. Puta que pariu... Eu não vou aguentar. Se ela não gozar logo, quem
explode sou eu. E no braço dela, merda. Vou ter que fazer alguma coisa. Com
o braço que estava por trás dela, desço pelas costas e vejo que a camisa que
ela dormiu, estava toda embolada na cintura. Sigo minha exploração e chego
naquela bunda deliciosa.
Tenho que parar pra respirar,  e me controlar. Porque, que bundinha
gostosa, carnudinha, durinha, cabia certinho na minha mão. Uma mão enche
direitinho cada globo. Que vontade de apertar. De dar um belo tapa. Minha
mão ia pegar tudo. Se colocasse ela de quatro, dava pra ficar espalmando
cada lado da bunda...
Para! Fazer ela gozar. Pra eu poder levantar. E gozar também. No
banheiro. Imaginando como seria... Porra. Para!
Passo a mão pela bunda da Red, escorregando o dedo por baixo da
calcinha dela. Tá dando certo. Isso, amor. Empina a bunda pro meu dedo.
Bem assim. Puta merda. Ela tá encharcada. Isso, gatinha. Deita de barriga pra
cima agora. Ô, Inferno.
Com a Red de barriga pra cima, eu só precisei colocar minha mão sobre
sua bocetinha, sentir o calor dela e fazer uma suave pressão sobre o clitóris
que minha gatinha estremeceu. Gemendo baixinho, solta meu apelido que
apenas minha irmã me chama: Jace... E foi o suficiente para o meu amigão
responder do meio das minhas pernas, num jato de porra que quase me furou
o lençol. Merda. Dane-se.
Olho pra minha ruiva e vejo o sorriso naquele rosto. Valeu a pena a
vergonha que eu provavelmente vou passar. Passo quantas vezes forem
necessárias. Tá tudo bem... Volto a dormir, agora abraçado com minha
ruivinha.
Acordamos juntos uma hora depois. Red foi tomar banho primeiro, eu
entro logo depois. Red estava novamente com uma camiseta minha, dessa
vez dos Chicago Bulls, quando uma batida na porta do quarto e ela vai abrir.
Era Dea com uma muda de roupas pra ela. Jose foi pegá-la logo cedo pra que
a gente pudesse passar o sábado juntos.
Resolvemos passear por Hollywood. Foi muito divertido ver as meninas
em Rodeo Drive, na Calçada da Fama e no Teatro Chinês. As meninas
reclamaram, mas prometi voltar depois pra irmos nos Estúdios da Paramount
e no Dolby Theatre, onde é feita a premiação do Oscar. Fomos jantar num
restaurante muito bacana chamado La Mesa. As meninas ficam encantadas
com tudo.
Foi um dia maravilhoso. Na volta, deixamos as garotas no Hendrick e
quando chegamos em casa, eu e Jose estávamos com uma cara meio murcha.
— E aí, cara? O que tá pegando?
— Pegando? Nada, ué. Por quê? Tá tudo bem com você? — Jose tentou
empurrar pra mim a confissão.
— Tá. Se eu falar, você também fala?
— Não posso confirmar nem negar nada...
— Covarde.
— Confesso.
— Eu tô gostando dela, Jose. De verdade.
Jose fica me olhando por uns segundos, como se estivesse pesando minhas
palavras, ou talvez pesando as próprias palavras pra saber como falar
comigo.
— Aí, Riquinho... Ela é muito diferente.
— Eu tô sabendo.
— As meninas estão muito preocupadas com esse envolvimento de vocês.
— Mas por quê, caralho? Eu não sou bom o suficiente pra Red? O que foi
que eu fiz ou como foi que eu me comportei errado pra ter esse tipo de
preocupação com ela? Com a gente?
— Calma lá, nervosinho. Não tem nada a ver com você. Mas tem tudo a
ver com a Hope.
— Não estou entendendo. Explica.
— Baixa a bola. Não sou seu subordinado. Sou seu amigo e mais velho e
mais experiente que você. Sossega o facho.
— Desculpa... Mas é que falar assim da Red...
— Eu sei. E entendo. Por isso não fiquei puto contigo.
— Então, por que ficar preocupados comigo e com meu relacionamento
dom a Red? Eu tô indo devagar. Com calma.
— Fala pra ouro. Eu vi o lençol sujo de porra.
— Foi um acidente. — Falo, ficando roxo de vergonha. Achei mesmo que
ele tinha visto. — Mas ela me acordou se esfregando em mim, sonhando. Eu
não fiz nada nela. Quer dizer, eu a aliviei enquanto ela dormia. A porra no
lençol era minha. Não consegui segurar.
— Bom assim, é?
— Acredito que melhor... mas como eu disse, não encostei nela. Foi só
sarro mesmo, pra ela acalmar.
— Cara... Você tem noção do quanto a Hope é inocente?
— Sei que ela é inexperiente, claro...
— Não, meu amigo. Ela é totalmente inexperiente. Ela nunca nem beijou
na boca.
Sei que estou fazendo um papel ridículo, porque estou abrindo e fechando
a boca,  e não sai nenhum som, simplesmente não sei o que dizer. Ou como
dizer. Até que nasce dentro de mim um gigante. Um cara tão grande, mas tão
grande, que parece que vai fazer tudo que existe em volta desaparecer. E eu
começo a sorrir, com a realização que esse gigante me traz...
— Quer dizer que a Red é totalmente minha? Nunca ninguém provou
aquela boca? Ninguém desfilou abraçado com ela? Nunca teve ninguém
contando as sardas das costas dela?
Jose deu uma senhora gargalhada.
— Não, meu amigo. Nunca.
— E isso era pra eu ficar apavorado e fugir para as montanhas?
— As meninas acreditavam que sim... porque precisa paciência pra lidar
com ela.
— Meu amigo. O prêmio vale. Acordar com essa garota hoje foi a melhor
experiência que já tive na minha vida, até meu pau ficou feliz. Mesmo que
tenha sido solitário.
— Cara, você é maluco, sabia? — Jose ri da minha cara descaradamente.
Pura inveja, que eu sei.
— É... Acho que sou, sim.
— O que vocês programaram pra amanhã?
— Vamos estudar. Amanhã vamos pra biblioteca do campus.
— Puta merda, vocês nasceram mesmo um para o outro. De tarde, eu,
Lucas e as meninas pegamos vocês dois lá e vamos todos ao cinema, que
acha?
— Desde que não seja romance mela cueca. Minha ruiva não gosta desses
filmes.
— Hahahaha. Você tirou a sorte grande mesmo, Jason.
— Como dizia Sêneca: Sorte é o encontro do preparo com a
oportunidade.
— Tá bem, meu caro filósofo. Tá bem.
E, encerrando o papo, fomos dormir.

O domingo foi fantástico. Começo, como sempre, com a videochamada


com a família. Papai pergunta sobre as aulas, mamãe pergunta se estou me
alimentando e se me livrei do Assassino, Vó Cora diz que estou mais
bonito... E Emie... Essa garota ainda vai me causar um problema. Foi olhar
pra mim e para perguntar: “Jace, o que você tem? Por que essa cara de gato
que comeu passarinho?” Daí descambou o questionamento. Conto dos meus
amigos: Hope, Andrea, Libby, Jose e Lucas.
Falo principalmente sobre Hope e Jose, por serem alunos bolsistas e por
todo preconceito que enfrentam pelos corredores da Universidade. Conto
meu primeiro encontro com o Jose e o fato de ele achar que eu não querer
ficar com ele no mesmo apartamento. Conto também do meu primeiro
encontro com a Hope, e esse relato causa impacto.
Meus pais se indignaram com o comportamento dos caras, como era de se
esperar, minha avó ficou com pena da situação da Hope, também nada de se
espantar. Mas quem me surpreende foi a Emily, ela fica possessa com a
Ruiva, começou a reclamar e dizer que era um absurdo uma garota tratar o
irmão dela dessa forma, uma indignidade, uma vergonha! Achar que logo eu
estaria de armação com um bando de cretinos pra fingir que iria salvar uma
garçonete de café. Não por ser garçonete, mas por achar que eu mentiria por
qualquer motivo!
Tento falar com a Emie que ela só achava isso porque não me conhecia, e
eu ERA rico... De certa forma, era natural ela me colocar no mesmo pacote
que os outros caras. Aí foi pior. Porque minha defensora dizia ser ridículo
assumir qualquer coisa de uma pessoa sem realmente a conhecer, sem ter
comprovado seu caráter, eu disse que ela já me conhecia melhor, e que hoje
até iríamos estudar juntos. E que eu achava que as duas iriam se dar bem,
minha irmãzinha diz: DUVIDO. E termina a chamada. É... Acho que a Emie
ficou muito zangada. Mas com a mesma rapidez que Emily Sue se zanga, ela
perdoa.
Depois dessa conversa bacana familiar, vou encontrar a Ruivinha na
biblioteca. Essa garota estudando não era pra brincadeiras. Ela realmente me
impressiona com sua capacidade de foco, e a facilidade que tem em decifrar
códigos matemáticos era de cair o queixo. Conheço meu potencial, sei que
estou acima da média, mas a Hope... Caralho!
Essa baixinha enfezada, tem um processo muito louco: ela fala sozinha,
discute com os números, anda de um lado pra o outro resmungando... e de
repente, pou! Abre aquele sorriso do Gato da Alice no País das Maravilhas
(hoje vou perguntar pra Emie qual o nome dele, aquela garota sabe essa
história de cor).
Minha Ruiva se senta de novo e, sorrindo, começa a escrever os números
como se estivesse escrevendo uma carta para a mãe. Nem hesita. Nada. Sai
escrevendo sorrindo... Como se fosse a coisa mais simples do mundo. Cara,
que coisa louca de ver. Que orgulho.
O dia passa sem que nenhum de nós nos déssemos conta . Quando o
pessoal chega pra gente ir ao cinema, levo a Red para um canto e pergunto se
ela está mesmo afim de sair, porque tínhamos passado um dia pesado de
estudos.
— Você tá bem pra ir ao cinema, Red? Não tá muito cansada nem nada?
— Claro, Jason. Tá tudo bem. Quebrar códigos é super divertido. É um
exercício que eu faço desde pequena com meu avô... Ou melhor, fazia.
— Você quase não fala do seu avô, Red. Apesar de  ficar claro que goste
muito dele.
— Porque é muito dolorido, Jason. Meu avô foi um homem muito
inteligente. As pessoas dizem que eu sou inteligente, mas ele era muito mais
que eu.
Vejo uma lágrima solitária correndo por aquele rostinho de fada e sinto
um aperto no coração. Porra.
— Não vamos falar dele, então. Quer ficar ou ir ao cinema?
— Vamos ao cinema. Adoro ver filmes com você.
— Sério? E por quê? Pode me dizer, madame? Pelo meu charme?
— Não... Porque você é quentinho e me faz cafuné.
E a pestinha sai correndo para o lado das amigas, certeza que rindo da
minha cara. Cretina... Adoro. Acabamos indo só nós dois no Assassino e os
outros quatro com o Lucas.
Chagamos no Alamo Cinema, deixamos as meninas nos assentos
enquanto nós três vamos pegar as pipocas e bebidas. Eu percebo que Lucas
estava querendo falar alguma coisa, mas não sabia como. Resolvo quebrar o
gelo.
— Lucas, cara. Fala, o que é?
— Falar o quê?
— Eu que sei? Você que tá num pé e noutro. O que foi, cara? Qual foi a
merda que já te falaram pelas minhas costas?
— Então eu vou falar mesmo. Estão dizendo por aí que você era o maior
pegador lá na sua cidade. Que trocava de garota que nem trocava de meias.
Até aí, foda-se. Um dia todos nós vamos achar aquela pessoa que vale a pena
ficar. Mas a Hope é diferente, cara. Tá certo que é gostosa pra caramba...
Antes que ele continue, eu pego aquele abusado pela gola da camisa que
estava usando e o prenso contra a parede. O gesto é tão rápido e tão súbito
que assusta algumas pessoas que estavam por perto, inclusive Jose, que nos
olha sem entender. O filho da puta do Lucas me olha rindo. Quero ver ele rir
daqui a pouco, quando eu terminar com ele.
Escorrego meu antebraço para apertar o pescoço daquele escroto do
caralho e chego minha cara bem perto da dele. Rosno com todo o ódio que
parecia explodir dentro do meu peito.
— Dobra essa porra dessa língua quando PENSAR em falar da Red,
sacou? Se ela é ou não é gostosa, não é pra teus olhos, nem pro teu bico. Eu
nunca fui pegador, nem falei de mulher nenhuma pra outros homens como
você tá fazendo agora. Mas eu sou homem suficiente pra quebrar tua cara se
ouvir você falando assim da minha garota de novo.
Sinto Jose me agarrando pelos ombros e tentando me afastar do Lucas.
— Jason, para meu amigo! Você está sufocando o cara.
— Pouco oxigênio faz abrir a mente. Sua mente já está bem aberta pra
você entender bem, Lucas?
Ele balança a cabeça, ainda com o sorriso na cara. Caralho, que vontade
de quebrar só uns dois dentes desse filho da puta, sonso do caralho. Mas se
eu fizer isso, a Libby vai se chatear, e a Red também. Então, só sufocamento
mesmo... Merda. Dou só mais um apertão e solto o escrotinho.
Ele esfrega o pescoço, me olhando de lado, ainda sorrindo, o filho da puta.
Que ódio.
— Posso saber qual é a graça, ô babaca? Gosta de levar a pior?
— Não, nervosinho. Gostei foi de ver você defendendo a Hope, seu
babacão. Eu falei tudo aquilo de propósito pra ver sua reação.
— Você... o quê? — Eu já ia partir pra cima dele de novo, quando o vi
erguendo as duas mãos pra cima, em sinal de rendição.
— Calma aí, Super Herói. Não tive nenhuma má intenção, só quis saber se
você estava querendo se divertir com a menina ou se era sério.
— E isso seria da sua conta por quê? Por que te interessa? Até onde eu sei,
sua namorada é a Libby.
— E não quero mudar isso, Lover Boy. Não precisa querer me matar, não
tô de olho na sua ruiva. Gosto da minha loirinha. Mas essas duas têm um
instinto de proteção muito grande em cima da Hope. Então era ou eu ou elas,
preferi ser eu a levar porrada de você.
Tento ficar sério, de cara amarrada. Tusso,  passo a mão na cara. Mas sai
uma risadinha, depois outra. Jose se junta com a dele. Lucas é mais
descarado, começa a gargalhar e diz:
— Pra quem é franzino, você bate bem pra caralho, moleque!

— Franzino é o cacete! Sou Bantai Preta em Kickboxing[12].


Os olhos de Lucas arregalam e vejo toda aquela gaiatice de antes ir
sumindo da cara dele.
— Porra, mano. Tu podia ter me sentado o cacete... Corri um puta risco,
né?
— Podia, mas não iria. Por causa das garotas. Agora chega de papo, Jose
já tá chamando a gente pra ajudar com as coisas.
— Por causa das garotas... Entendi. Você é um cara maneiro.
— É... eu sou. Você não. Mas a gente se acostuma.
Dou meia volta e vou ajudar o Jose. Ainda ouço a risada do imbecil atrás
de mim. Merda. Ainda vou acabar gostando desse bosta.
Volto pro lado da minha Red e ela me olha com aquela carinha de fada.
Nossos assentos são  do tipo “namorados” e o braço separador podia ser
levantado. Levanto e puxo a minha fadinha pra mais perto de mim. Não sei
se foi lá uma boa ideia porque hoje a Red tirou o dia pra testar meu
controle...
A Ruiva vem encontrar comigo de minissaia jeans e uma daquelas
camisetinhas que acabam logo depois do busto. As mulheres dizem que isso
tem um nome, mas sinceramente, não sei. Só sei que adoro olhar pra barriga
de fora da Red. Tem vezes que ela ajeita a saia e consigo até ver o umbigo
dela. Porra, hoje tem mais carne de fora do que coberta por tecido...
Eu passo o braço por trás da Red, deixando minha mão descansar em seu
ombro, fazendo pequenos círculos com a ponta dos dedos. Ela está segurando
o balde enorme de pipocas que comprei e eu colocava pipocas em sua boca
de tempos em tempos. Se alguém me perguntar sobre o que é o filme, não
vou conseguir responder, porque não consigo tirar os olhos do rosto da
Ruiva.
Acho que meu olhar é tão intenso que, num momento, a Red me encara de
volta,  passa a pontinha da língua pelos lábios. Meus dedos são  atraídos sem
que eu me dê conta,  a ponta do meu indicador refaz todo o desenho daquela
boca divina. Ela entreabre, soltando um suspiro. Corro meus dedos pelo
rosto, acariciando as sardas, até minha mão encaixar em seu pescoço. Meu
polegar em seu queixo, fazendo um passeio de um lado para o outro...
— Red... eu quero... não é isso. Eu posso...
— Jason. Pode.
Quatro letras. Quatro letras que arrepiaram meu corpo inteiro. Minha
Ruiva estava me olhando. Eu estava olhando pra ela. Bem devagar, abaixei
minha cabeça. Esfreguei meu nariz no dela. Senti vergonha de ser tão grande
e desengonçado, ela é  tão linda e delicada. Preciso tomar cuidado. Sinto,
com minha mão em seu pescoço, a Red engolir em seco e a pulsação acelerar.
Ela está nervosa. Dou um beijinho na lateral da sua boca, senti cheiro de
manteiga. Viro o rosto dela e dou outro beijo na outra lateral da boca. Agora,
a pulsação do pescoço está super acelerada. A garganta se move mais uma
vez, esfrego de novo nossos narizes e olho pra ela. Ela está com os olhos
fechados.
— Red? Tem certeza?
Minha ruiva não decepciona. Ela surpreende. Sempre.
Red larga o balde de pipocas, que cai no chão, segura meu rosto com as
duas mãos e me lasca um beijo forte, apertado, decidido. Puta que pariu...
Onde fica o PetShop mais próximo? Porque, porra! Acabei de me
transformar no Bobby, meu melhor amigo canino...
Se essa mulher disser pra mim agora: Deita! Rola! Abana o rabo! Finge de
morto! Acho que sou capaz de obedecer. Mas só abraço minha Red e ficamos
agarradinhos assistindo o resto do filme. Sem pipoca mesmo.
 
Capítulo 10
Meu Deus do Céu! Eu beijei o Jason.
Eu. Beijei. O. Jason. Na boca. Tipo... Colei minha boca na boca dele!
Meu Deus! Que emoção. Mas... será que ele gostou? Ai, meu deus... E se ele
odiou? Ele deve ter odiado, não é? Senão iria querer mais... E agora? Faço
cara de paisagem? Finjo que não aconteceu nada? Espero pra saber o que
ele vai falar? Que droga não saber o que fazer! Queria pedir uma reunião do
Clube das Românticas agora...
— O que é o Clube das Românticas, Red? — Jason me pergunta no
ouvido.
— O quê? Como você sabe disso?
— Você tava resmungando aqui, baixinho. Que queria pedir uma reunião
desse clube aí...
— Ah. É um clube que eu e as meninas fundamos. Só entra mulheres.
— Ah, tá. Entendi... Outra coisa...
— Fala, Jason. O que é?
— Adorei seu beijo, Ruivinha. E adoro quando você fica nervosa... Você
fala tudo que passa pela sua cabeça. É muito lindo, sabia? Você é muito
linda! E quero muito outro beijo.
— Quer?
— Quero sim. Vários. Quero te ensinar vários tipos de beijos.
— Que tipos? Só tem beijo no rosto e beijo na boca...
— Não, minha Ruivinha deliciosa. Existem beijos leves, dados só pra
instigar... Tem beijos carinhosos, beijos simples, os profundos, os excitantes.
Tem os beijos dados com calma, que são os meus preferidos. Tem os beijos
de descoberta, onde a gente vai descobrindo cada pedacinho do corpo do
outro. Ah... Ruiva. Tem tanto tipo de beijo. Mas nenhum foi melhor do que
esse que você me deu.
— P... por que?
— Porque ele foi inesperado, foi intenso. Foi verdadeiro. Você traz tudo
isso dentro de você, Red. E eu estou louco pra te provar de novo.
— É mesmo?
— É mesmo. Mas não tenho pressa.
— Não... — Não sabia se era um pedido ou um gemido.
— Não, gatinha. Hoje você precisa respirar. Conversar com suas amigas.
Fazer aquelas coisas que mulher faz, de dar aqueles gritinhos e tal.
— Jason... Eu tenho quase 18 e não 13 anos.
— Tá certo. Culpado. Minha irmã tem 10... E me deixava doido em casa
quando se reunia com as amigas pra “conversar”.
Tadinho, ele até estremeceu. Deve ser uma experiência traumática pra ele.
Não que eu não vá conversar com as meninas, mas nada de gritinhos, oras.
Mas fico contente de saber que meu beijo não foi um fiasco. Que ele quer
repetir, que quer me “provar” de novo. E só de imaginar tudo aquilo que ele
listou, sinto meu corpo inteiro vibrar e um arrepio subir pela minha espinha.
Fico bem quietinha depois dessa e só curto os carinhos que ele não para de
fazer em mim, quase como se não percebesse. Uma delícia.
O filme acaba e eu nem sei dizer sobre o que era a história, confesso,  e
nem me importo. Entramos no Assassino e Jason descansa a mão suavemente
no meu joelho. Que sensação gostosa!
— Eu te deixo no Hendrick Hall?
— Acho melhor... Amanhã nós dois temos aula.
— Ainda não consigo entender esse seu dormitório, Ruiva. Achei uma
confusão. Todo mundo misturado...
— Não estamos misturados, Jason...
— Estão sim... Mas não vou brigar com você. Vou te convencer a sair daí.
— Ah, tá. O banco do jardim não é muito confortável, sabia?
— Engraçadinha.
— Addy e Meg também acham. — Dou um sorriso de lado pra ele, Jason
me devolve um beliscão de mentira. Acabo dando risada.
— Tá bem, Red. Vou te deixar naquele antro de perdição. Não concordo...
Mas te deixo lá... Sob veementes protestos.
— Você é uma gracinha, sabia?
— Porra, Red! A pior coisa que um cara quer ouvir é a namorada dizer
que somos uma “gracinha”...
Fico em silêncio uns segundos, Jason me olha e vendo meu estado, para o
caro na hora.
— O que foi, Red? Tá sentindo alguma coisa?
— V... você me ch... chamou de n... namorada?
— Eu... Bom, quer dizer. Chamei, sim. Você me beijou no cinema... —
Arregalo os olhos e devo ter ficado roxa, porque ele se corrige bem depressa.
— Quer dizer, EU te beijei no cinema. E eu não saio beijando qualquer
garota por aí. Só a minha namorada... Só esqueci de te perguntar se você tava
a fim de nam...
— Sim! Claro! — Respondo, rápido.
— Ah, ótimo. Então que ótimo. Red. Não me assusta mais assim, tá? Por
favor...
Gente. Cada vez que ele me faz um carinho no rosto, sinto meu corpo
inteiro vibrar... Que coisa maluca. Uma vontade irresistível de sorrir.
— Tá bem, namorado. Prometo.
E ganhei um beijo no rosto como prêmio.

Chego no quarto dançando como a Julie Andrews em “A Noviça


Rebelde”. Libby e Dea desatam a rir. Não me importo, nem um pouquinho...
Mesmo.
— Tá bem, mocinha. Pode desembuchar! E aí? Beijou?
— La-la-la-ra-la-laaaaa. — Dou umas duas piruetas no meio do quarto,
balançando os braços de um lado para o outro.
— Conta, sua medonha! — Dea, a mais curiosa, parte pra cima de mim.
Grito, correndo pelo quarto apertado, mas sou  barrada pela Libby.
Encurralada.
Começamos a gargalhar como três loucas. E falamos ao mesmo tempo:
— Reunião do Clube das Românticas!!!
Passo minha vida inteira convivendo com mulheres: minha mãe e duas
irmãs... primas, na verdade. Mas só agora conheço o que era me sentir
pertencendo a uma irmandade de verdade. E era maravilhoso! Eu queria
contar TUDO para elas. Perguntar tudo.
E contei...
— Para tudo! Não acredito! Você que puxou o Jason e lascou-lhe um beijo
na boca?
— Foi.
— De língua e tudo???
— Não, Libby. Fiquei com medo de fazer tudo errado e ele perceber.
— Gatinha. Ele SABE que você é totalmente inexperiente. Senão ele não
teria tanto cuidado na hora de te beijar. Homem quando quer pegar garota
que conhece o jogo, cai em cima sem pedir licença, amor.
— Sério, Dea?
— Seríssimo. E já gosto desse Jason, só pelo cuidado que ele teve com
você.
— Mas agora ele já é meu de papel passado. Ele disse que somos
“namorados”
— AHHHHHH. — As duas gritam ao mesmo tempo, me abraçando,
felizes. Lembro das palavras do Jason. Tenho que rir. Estávamos aos
“gritinhos”.
— Você tá feliz, Hope?
— Tô nervosa, com medo de fazer tudo errado... Mas tô feliz sim, Libby.
— Isso que importa! E quanto a fazer tudo errado?
— Nós somos suas amigas e estamos aqui pra te ensinar a fazer TUDO
certo.
— Legal... Tô meio com medo, mas como seria?
— Nada sexual, boba. Vamos te ensinar a beijar na boca como nós
aprendemos.
— Sério? Graças a Deus...
— Nós vamos precisar de uns equipamentos pra auxiliar essa aula. — Dea
fala, sorrindo.
— É verdade, amiga. Você fez compras ontem, não foi?
— Fiz, sim. Pode pegar no armário: uma laranja, uma ameixa, mas vê se
tem bem madura, e aquele copinho que você toma seus remédios de manhã.
E pega uns três cubos de gelo na máquina do corredor.
— Sim, senhora! — Libby até bate continência.
— Dea... Como duas frutas, um copo e três cubos de gelo vão me ensinar
a beijar de língua?
— Aguarde, mulher de pouca fé.
Acabo dando risada desse jeito meio doido da minha amiga... Libby não
demora nada pra trazer tudo que Dea pediu. Olho todos os “instrumentos
pedagógicos” e, novamente, tenho acesso de riso.
— Quem começa?
— Pode começar, Dea.
— Ok. Primeiro, a laranja. Pega a laranja e aproxima da sua boca. Cola
seus lábios suavemente na fruta. Começa a mover os lábios como se fosse
mastigar, mas só com os lábios, escondendo os dentes. Bem devagar,
suavemente. Pode fechar os olhos. Isso ajuda na sensação.
Faço o que a Dea estava mandando. É estranho, porque a fruta, por ser
redonda, realmente facilitava esse movimento.
— Isso mesmo. Esse, Hope, é o movimento dos seus lábios nos lábios do
Jason. Agora, passa sua língua levemente na casca da laranja. Dizem que se
parece com a textura de algumas línguas. Eu não concordo, mas vai que a do
Jason é uma delas, né?
Também faço o que ela manda. Hummm. Não gosto muito da textura da
casca da laranja, tomara que a língua do Jason não seja assim, já que a Dea
disse que ela achava que não era tudo igual... Agora, Libby me estende uma
ameixa linda. Quase dou uma mordida enorme. Ela toma da minha mão,
rindo.
— Calma, gulosa. Essa é a segunda aula. Agora você vai morder a
ameixa, sim, mas vai dar uma mordida pequena, do tamanho de uma boca.
— Agora, Hope, você vai repetir os movimentos que fez na laranja, mas
na parte de cima e de baixo da mordida que você fez. Lembrando que a
ameixa é uma fruta muito mais macia, precisa de muito mais cuidado e
suavidade. E vai imaginar que são os lábios do Jason. Isso mesmo... Pode
fechar os olhos, vai ajudar.
Dessa vez, acho bem mais interessante essa coisa de aula de beijo.
— Agora, Hope, você vai colocar a sua língua dentro do buraco da
ameixa, como se fosse na boca do Jason. Só coloca e tira, como se estivesse
lambendo o céu da boca dele. E depois, passa nas laterais, procurando os
dentes dele.
Agora começou a ficar mais complexo. O suco da ameixa começou a
descer pelo meu queixo e fazer uma sujeira danada. Mas foquei na aula. Fiz
uma duas ou três vezes até mandarem parar.
Agora a Dea volta pro meu lado com o copinho com o gelo dentro.
Percebo que eles estavam começando a derreter. Espero pra ver o que vai sair
disso.
— Agora, Hope. A última aula!
— Ufa!
— Agora você vai aprender a movimentar a sua língua na língua dele.
Você vai colocar sua boca aqui nesse copinho, pode encaixar na parte de
cima ou de baixo, onde você se sentir mais confortável, e vai esticar sua
língua até as pedras de gelo. E vai movimentá-las dentro do copinho. Vai
passar de um lado para o outro, passando sua língua por entre as pedras.
Entendeu?
— Eu não vou ficar com minha língua dormente?
— Não, deusa da matemática. Não vai ser por tanto tempo. É só para sua
língua conhecer os movimentos que deve fazer quando estiver em contato
com outra língua num beijo. Anda logo! Põe a língua pra fora...
E eu, obedientemente, faço como me ensinaram. É estranho? Sim. Eu me
acho meio ridícula? Claro. Mas eu realmente queria aprender... Então faço
tudo que as duas me falam,  e no final, eu estava me sentindo melhor.
— Pronto, Hope! Você está a um passo de se graduar na matéria Beijo Na
Boca, na escola da vida.
— Ai, gente... Vocês falaram que era a última aula. O que falta?
— A prova final, oras. O beijo verdadeiro. Mas esse, quem vai te dar é o
Jason!
E nós três caímos na risada! Como é bom poder dividir as alegrias, os
medos e as inseguranças com as pessoas que gostam da gente, e a gente
confia...
— Mas tem uma coisa muito importante, querida.
— O que é, Libby?
— Você precisa de duas coisas muito certas dentro da sua cabeça e do seu
coração: A primeira é que esse é o momento certo. E a segunda é que é com
ele que você quer dar o primeiro beijo.
— E isso, Hope, vale pra tudo daqui pra frente. Pro primeiro beijo, o
primeiro amasso, a primeira transa. Porque quando é com a pessoa certa e no
momento certo... Tudo é muito lindo. Não existem arrependimentos.
— Não existe quantidade mínima de tempo. Não precisa conhecer a
família toda. Não precisa pedido de casamento. Não precisa jura de amor
eterno.
— Você só precisa da verdade do seu coração. E a segurança de que ele é
a pessoa que você acha que daria valor para o presente que você está
oferecendo. Porque beijo, carinho, sexo, amor... Tudo isso é uma troca.
— Mas uma troca que tem que ser oferecida de forma livre. No momento
que você oferecer, não pode exigir o retorno. Por isso que a gente te diz:
VOCÊ tem que ter certeza de que é ´pra ELE que você quer dar esse
presente. Porque ele só pode ser oferecido uma única vez...
Sou uma chorona, me emociono demais com as palavras,  com o carinho e
preocupação das minhas amigas. Puxo as duas para um abraço triplo e
sussurro no ouvido das duas:
— Obrigada por serem minhas amigas. Nunca vou poder retribuir tudo
que vocês são na minha vida.
— Claro que vai... Pode começar me ajudando a passar em Cálculo... —
Libby fala quase em meio às lágrimas.
Caímos na risada e vamos dormir.
 
Capítulo 11
UCLA – Meados de Outubro
Passamos uma semana frenética na faculdade. Quase não consegui ver a
Red. Mas a gente se falava por mensagem todos os dias e à noite, antes de
dormir, sempre rolava uma videochamada. Eu estava com muitas saudades da
minha Ruiva, mas o aumento das matérias estava sobrecarregando a nós dois.
Eu preciso pensar em alguma coisa pra gente fazer pra distrair minha
namorada no final de semana. Ainda não sabia que dia era o aniversário dela.

Já pensei em levar minha gatinha no Aquarium Of The Pacific[13], mas


daqui da UCLA até lá a gente levaria uns 40 a 45 minutos. O aquário é
enorme, o que faria o passeio ou muito corrido, ou cortado pelo meio. Não
achei muito legal.
Então pensei numa coisa muito mais simples: um dia na praia, piquenique
para almoço e um luau de noite, achei muito mais a cara dela. Perguntei para
várias pessoas e todas me disseram o mesmo. O lugar perfeito seria a
Dockweiler.
Era uma praia que ficava no final da pista do Aeroporto Internacional de
Los Angeles, então os aviões pousando e decolando sobre as nossas cabeças
ia ser uma experiência tanto divertida, quanto impressionante. A praia era de
areia  bem ampla, o que fica ótimo pra Red esticar uma toalha e pegar sol se
quiser. A água era ótima pra nadar e fazer esportes aquáticos.
Lá também tem áreas para piquenique e são permitidas fogueiras, o que já
me autoriza o luau (fiz uma pesquisa rápida e descobri que essa praia é um
dos poucos locais em LA que fogueiras são permitidas). Comecei a
preparação. Compras, toalhas, reservei o pit para a fogueira. Não queria nada
dando errado.
Eu: Oi, Ruiva! Tenho um convite pra te fazer...
Ruivinha: Oi, Jason. Qual convite?
Eu: Espera! Comecei errado nossa conversa! Apaga tudo!
Ruivinha: Sério? Tá bom... kkkk Apagado.
Eu: Oi, Gatinha! Você tem planos pra esse sábado?
Ruivinha: Depende do meu namorado. Ainda estou esperando ele vir
falar comigo... Essa semana ele estava muito ocupado, sabe?
Eu: Que idiota! Se você fosse minha, eu nunca te deixaria esperando.
Ruivinha: KKKKK. Credo, Jason. Que cantada péssima.
Eu: Estou destreinado... Minha namorada é ruiva. Você sabe o que dizem
das ruivas? Elas são violentas.
Ruivinha: Ah, são mesmo. Ainda bem que você sabe...
Eu: Ah, Ruivinha... Como se você precisasse de se preocupar...
Ruivinha: Todo cuidado é pouco.
Eu: Concordo! Mas eu quero te fazer um convite, mulher ciumenta!
Ruivinha: Pode fazer, namorado...
Eu: Adoro quando você me chama de namorado.
Ruivinha: Jason... Fala!
Eu: Tá bem! Calma... Quero te pegar amanhã e passar o dia com você na
praia. Só nós dois. Fazemos um piquenique no almoço e um luau à noite. Até
levo meu violão e toco pra você.
Ruivinha: É sério esse bilhete? Só nós dois? Um dia inteiro na praia?
Eu: É, Red. Eu, você, a areia, o mar e a lua, de noite.
Ruivinha: Jason... Eu vim do Arizona. Deserto, lembra? Não tenho maiô.
Eu: Não? Eu te compro um biquini.
Ruivinha: Vou tentar arrumar alguma coisa com as meninas.
Eu: Não se preocupa com isso. Te pego às 09:30.
Ruivinha: Fechado! Nossa! Eu vou pra praiaaaaaa!

Hoje já é sábado e eu ainda preciso resolver algumas pendências para o


dia na praia com a Red. Quero que tudo seja perfeito pra ela. Porra, nunca
gastei tanto tempo programando um dia com uma garota antes... nunca tive
muito saco com isso, sempre fui mais do time do “deixa rolar e a gente vê no
que vai dar”. Mas tudo com a Red foi diferente. Ela é diferente. O fato de eu
ser quem eu sou, não encanta... irrita. E isso é engraçado. Toda vez que ela
implica comigo brincando, em vez de me bajular, me encanta. Ela é
especial... E quero um dia especial pra minha Ruiva.
Troquei de carro com Jose. Pra tudo que eu queria fazer, o Assassino não
daria jeito. Eu preciso de um carro grande, e a pick-up dele seria excelente.
Não preciso dizer que meu amigo estendeu as chaves antes mesmo de eu
dizer pra onde eu iria com a Red, só precisei dizer que era uma troca de
carros.
Arrumei tudo que precisava na caçamba e coloquei a lona tampando. Não
quero minha namorada curiosa espiando. Quero ir soltando as coisas devagar,
uma de cada vez. Como dizem todos pra mim: paciência. E paciência é uma
coisa que aprendi desde cedo. Agradeço à minha família por isso.
Checo tudo umas dez vezes pra não faltar nada. Quero tudo perfeito! Olho
no relógio e percebo que está quase na hora de pegar a Red para iniciar o dia.
Corro pra trocar de roupa e pegar a mochila com a roupa de banho, passo
rápido pelo quarto do mexicano pra me despedir e o encontro distraído no
celular.
— Jose, já tô saindo!
— Si, si! Dale, hombre!
— Você não está ouvindo uma palavra do que eu tô dizendo, né?
— Seguro, amigo. Pode ir tranquilo.
Tenho que rir. Dou tchau e vou  embora. Chego na porta do HH com a
Pick-up Dodge Dakota prateada do Jose e vejo minha ruiva já me esperando
na calçada. Que visão deliciosa... Até eu perceber quatro caras muito perto da
minha ruiva tentando puxar assunto com ela. E ela fingindo que não estava
ouvindo e mexendo no celular. Imediatamente uma mensagem aparece no
meu aparelho.
Ruivinha: Jason? Você está chegando? Se estiver dirigindo, não precisa
responder.
Minha ruiva estava incomodada que chegava a mandar mensagem pra
saber se eu ia demorar? Ah, caralho...  O dia estava indo tão bem. Acho que
eu vou ter que ferrar a cara de mais alguns filhos da puta. Porra. Tomara que
eu não suje a roupa.
Eu: Red? Eu tive um imprevisto e devo demorar mais uns 10 minutinhos.
Você pode me esperar?
Ruivinha: Ah, claro. Eu já estava aqui na rua. Eu volto, então. Quando
você chegar me avisa que eu desço.
Eu: Isso, ruiva. Sobe e só desce quando eu falar.
Ruivinha: Tá bom. Bj
Eu: Bj
Espero minha ruiva entrar e até vejo um dos cretinos tentar agarrar o braço
dela quando ela entrou. Ótimo. Aquele ia ser o primeiro escroto que ia perder
o dente. Quando perco a Red de vista, desço da pick-up e vou caminhando
tranquilamente pra eles. Um deles era um dos que eu tinha apagado quando
conheci a Red. Fico mais puto ainda... Paciência.
— E aí?
— E aí, beleza? — Cada um me cumprimenta do seu jeito.
— Quem era a ruiva? — Pergunto, à guisa de puxar assunto.
— Uma gatinha que se acha mais gostosa do que realmente é... — O
escrotinho que ia perder os dentes responde.
— Ah, sim? E por quê?
— É uma pobretona que se acha muito inteligente... O único ponto
positivo é aquele corpo e a cabeleira vermelha. Essa ruiva deve ser uma
loucura na cama.
É... Ele foi o primeiro a perder os dentes. Tomou um chute frontal e o
sangue desceu. O susto foi tamanho que os outros três nem se moveram. O
cretino desmontou e apagou na minha frente. Imediatamente, dou uma
cotovelada na garganta do cara da minha direita, fazendo o desgraçado perder
o ar e desmontar do lado do primeiro.
Seguro o escroto que apanhou a primeira vez pela gola da camisa e o
outro covarde que estava tentando fugir. Trago  o cara pra bem perto da
minha cara e falo, olhando dentro daqueles olhos que me fitavam,
apavorados:
— Olha aqui, ô pivete de merda. Pode espalhar para os quatro cantos
dessa universidade inteira que a ruiva que vocês estão tentando mexer, tem
dono. E esse dono não é um merda, borra-botas como vocês. Sou eu! E pra
deixar tudo bem claro, eu sou Jason Howell, filho e herdeiro de Lukas
Howell. Agora some e não chega mais perto da minha mulher! Nenhum de
vocês!
Largo os dois bostinhas com força no chão, e vejo, com prazer, os dois
que ainda estavam inteiros, pegar o engasgado,  arrastarem o desmaiado e
fugirem, apavorados. Bando de filhos da puta. Andando sempre em grupo de
quatro pra poder intimidar minha ruiva. Quero ver alguém se aproximar dela
agora.
Eu: Red? Pode descer.
Ruivinha: Nossa! Você chegou rápido! Tudo isso é saudades?
Eu: Você não faz ideia do quanto, linda! Vem logo.
Ruivinha: Tô indo. KKKK
Quase perco o fôlego quando vejo minha ruivinha saindo pela porta do
prédio do HH, é uma visão de fogo e gelo. Aqueles cabelos deveriam ser
eternizados nesse momento: soltos com o vento movendo-os suavemente
pelas costas. O contraste que aquela cabeleira fazia com a pele branca do
rosto, colo e braços... porra!
— Oi... — Red chega com aquele sorriso tímido que me dá vontade de lhe
morder os lábios. Caralho... paciência.
— Oi, namorada. Bom dia. — Abaixo a cabeça e dou um selinho naquela
boca deliciosa. Sinto  um suspiro. Oba, as coisas já começaram bem! —
Pronta para o dia na praia?
— Então, sobre isso... Jason, não acho que vai dar certo.
— Como assim, Red? Mas por quê? Você estava tão animada...
— É que não consegui nenhuma roupa de banho com as meninas que
funcionasse pra  mim. Eu sou muito pequena de corpo... — Se fosse possível,
minha ruiva teria ficado com o rosto mais vermelho que o cabelo. Tive que
me segurar pra não rir, só de imaginar minha baixinha no maiô da Libby.
— Você não é pequena de corpo, Red. Você é perfeita. E eu tinha te falado
que nós iríamos comprar sua roupa de banho, lembra?
— Tem graça você comprar um maiô pra mim, Jason?!
— Você não quer um maiô? Melhor pra mim! Compramos um biquini
brasileiro! Daqueles bem pequenininhos. Vou adorar.
— Jason Howell!
— Hope Palmer!
Minha ruiva não se aguenta e cai na gargalhada. Melhor, muito melhor.
Abro a porta da pick-up e a ajudo a subir. Dou a volta e me sento ao volante,
sorrindo.
— Primeira parada, COMPRAS!!!
— Tá bem. Depois, vamos tomar café. Tô com fome. Você me acostumou
mal. — Hope fala, fazendo biquinho.

Eu sabia que fazer compras de roupa de banho com a Red iria ser difícil,
quase uma tortura. Mas essa garota abusou. Experimentou quatro biquínis e
três maiôs, não saía do provador e nem me respondia. Resolvi ir lá e bater na
porta. Red estava com dificuldades pra amarrar a parte de cima do biquini
escolhido, destrancou a porta achando que era a vendedora. Quando ela
abriu, deu as costas pra mim e ficou de frente para o espelho, e nos
encaramos pelo reflexo. Entrei no provador e fechei a porta.
— Jason, você não pode...
— Eu sei. Mas não resisti. Você tá linda. Você é linda demais.
Vou me aproximando dela bem devagar, até nossos corpos se colarem e
passo meus braços pelo corpo pequeno, puxando para mim. Devagar, acaricio
aquele rosto lindo e abaixo meus lábios, cobrindo os dela, que se aproximam,
convidativos. Passo minha língua suavemente por eles, pedindo passagem, e
sinto o momento da aceitação, da entrega. Minha Red estremece em meus
braços e me permite intensificar nosso beijo.
E foi um beijo mágico, como nenhum outro que dei antes. Senti como se
eu a estivesse beijando com meu corpo todo, beijei minha ruiva com tanto
sentimento, como se esse também fosse meu primeiro beijo. E de certa
forma, foi como eu senti... A emoção do primeiro beijo da Red tocou minha
alma.
— Senhorita, os biquinis ficaram bons? Precisa de ajuda?
Red, ainda envolvida pelo beijo, não conseguia formular pensamentos
coerentes. Sorrio e acaricio seu rosto, fazendo sinal pra fazer silêncio. Pego
os outros que estavam no chão do provador e passo pela fresta da porta.
— Posso devolver esses, então, certo?
— Aham.
— Ok. Já retorno.
Aguardamos a vendedora se afastar.
— Jason Howell. Agora pode sair desse provador.
— Já estou saindo. Mas primeiro preciso dizer que você ficou maravilhosa
nesse biquíni. Mesmo desamarrado.
— Jason! Sai daqui! — Mas minha ruiva não se aguenta e ri. Roubo mais
um selinho e saio do cubículo.
O dia na praia foi maravilhoso. Hope é uma companhia deliciosa, está
sempre de bom humor e topa tudo. Como ela é de Tucson, nunca tinha visto a
praia antes. Passamos uma manhã deliciosa: apresentei o stand up paddle,
snorkeling, ela curtiu até aquela bicicleta sobre boias que estão colocando
agora pra alugar. Paramos para almoçar e logo depois vai a segunda parte da
surpresa. Acho que ela vai surtar... Ou se apavorar. Oremos.
Depois de comermos, uma lancha vem nos buscar pra fazer um passeio
que aluguei. Fomos ver as baleias azuis e golfinhos. Nunca vi uma pessoa
tirar tanta foto na minha vida. Teve uma hora que tive que agarrar a Red pela
cintura, porque a doida queria tirar a foto de uma família de golfinhos que
passaram rente à lancha e quase se joga no mar. A louca.
Voltamos com o sol se despedindo no horizonte. Minha Ruiva estava
numa felicidade que só de olhar para ela, já enchia meu coração de alegria.
Puta merda, não tô nem me reconhecendo. Até hoje, só tinham três mulheres
que me faziam programar passeios, presentes, surpresas, assim com tanto
cuidado e carinho: Vó Cora, mamãe e Emie. E só de pensar o que eu ainda
tinha na caçamba da pick-up, minha barriga dava um aperto.
— Agora, senhorita, podemos começar o nosso luau.
— Um luau? Mesmo?
— Sim, minha princesa dos mares. Hoje você vai receber o pacote
completo com tratamento VIP.
— UAU... Assim você me acostuma mal, Jace.
— Eu adoro quando você me chama de Jace, sabia?
— É mesmo? Por quê?
— Porque só minha família me chama assim. E soa muito bem pra mim,
ouvir você me chamando assim também.
— Eu também gosto muito quando você me chama de Red. Dá uma
sensação gostosa no meu peito. De pertencimento. De proteção.
— É bom que tenha mesmo esse sentimento de pertencimento, Red.
Porque você é minha. E eu vou te proteger. Sempre. Agora, vai arrumando
nosso espaço naquela fogueira ali que já trago tudo.

— Yes, my Captain![14]
— Engraçadinha.
Ainda podia ouvir minha ruivinha rindo nas minhas costas.
Trouxe tudo pra praia. Ema algumas viagens... Cada vez que voltava para
o carro, percebia a Ruiva arregalando o olho pra quantidade de coisas que eu
trazia nos braços e tinha vontade de rir. “Calma, garota... Hoje você vai
ganhar várias surpresas!”
— Acabou de trazer o mundo, Jace?
— Sim, Red. Acabei. Agora, vou montar a tenda e inflar o colchão.
— É o quê? — Ela me olha sem entender.
— Ainda temos alguns minutos de sol. Se você quiser, pode tomar uma
ducha num dos banheiros do píer. Enquanto eu organizo nosso luau aqui na
praia.
— Mas você não vai precisar de ajuda?
— Preciso que você fique mais linda do que já é.
— Mas eu só trouxe o short e a camiseta que vim  de manhã, Jace.
— Olha de novo dentro da sacola. E vai se trocar que eu espero.
Percebo o exato momento em que a Red vê o vestido que incluí na compra
hoje de manhã. Eu tinha percebido os olhares que ela tinha lançado para a
peça. Perguntei para a vendedora o tamanho da Red e coloquei junto. Minha
ruiva me olha e lança um beijo de longe.
— Você é impossível, Jason Howell. Já volto. Não demoro. Não vai cantar
nenhuma californiana por aqui.
— Tá brincando? Minha namorada é linda e ciumenta.
E minha Red sai rindo em direção aos banheiros públicos do píer, e eu me
ponho a trabalhar. Monto a tenda e inflo o colchão de ar, colocando-o
embaixo dela. A Red tinha colocado a toalha na areia, enquanto eu acendia a
fogueira. Quando minha ruiva retornou do banheiro, eu já estava colocando a
comida para nosso luau .
— Jace... Nós não podemos beber. Onde você arrumou vinho tinto?
— Calma, linda. Esse é sem álcool. Um Cabernet Sauvignon que sempre
tomamos em casa. Até minha irmã de 10 anos pode tomar esse.
— Então tá bem.
Comemos tranquilos, ou ao menos a Red comeu tranquila. Eu estava
nervoso. Muito nervoso. Porque hoje eu queria mostrar pra ela um pouco
mais sobre um relacionamento. Quero mostrar a ela que podemos sentir
prazer juntos. Mas vou no ritmo que ela me permitir. Nem que eu tenha que
morder o colchão.
Acabamos de comer e ajeito o vinho com os cálices do lado do colchão.
Pego a Red pela mão e delicadamente a sento no colchão comigo,  com a
ruiva apoiada no meu peito, e ficamos observando o mar iluminado por uma
linda lua cheia. O cheiro de mar se mistura com o cheiro dos cabelos dela...
 
 
Capítulo 12
Que dia! Que sonho!
A noite começa a cair e estamos os dois sobre o colchão admirando o luar
sobre o mar do Pacífico. Nunca imaginei um dia assim, tão perfeito com uma
pessoa. Nunca fui uma pessoa de me abrir pra sentimentos ou acreditar em
promessas, mas aqui na Califórnia, estou começando a pensar se eu não
estava muito presa a muitas responsabilidades que, na verdade, nem eram
minhas. E agora, aqui, me sinto mais livre. Consigo me sentir mais no direito
de fazer escolhas.
E hoje, quero escolher viver experiências. Quero escolher ser feliz. Com o
Jace. Comigo.
Sinto seu carinho em meus braços, e enquanto estou com meu corpo
deitado sobre seu peitoral, tomo uma decisão. Desencosto dele, que se
assusta. Fico de joelhos e me viro de frente para o meu namorado.
Passo uma perna por cada lado daquele corpo forte, me sentando sobre
seus quadris. Coloco uma mão espalmada em cada lado de seu rosto tão
bonito, e olho dentro de seus olhos azuis claros, que me olham interrogativos,
carinhosos. Faço um carinho de nariz com nariz, e digo:
— Jace, eu preciso te dizer uma coisa.
— Fala, amor.
— Eu nunca, mas nunca mesmo, fui tão feliz como tenho sido desde que
te conheci. Nunca me senti tão protegida e respeitada.
— Eu fico muito feliz com isso. E no que depender de mim, você sempre
vai ser respeitada e protegida.
— É mesmo? Que pena...
— Como assim? — Jace até se engasga
— Eu estava aqui, pensando... E eu não queria ser tão respeitada, se fosse
por você, sabe? Porque você me faz pensar em coisas não muito respeitosas...
Jace fica me olhando, de boca aberta e olhar incrédulo.
— Red... O que exatamente você quer dizer com isso, amor? Porque eu
preciso ter certeza absoluta do que você está fal...
— Jason Howell... Eu quero fazer amor com você. Quero que você me
ensine a fazer amor. Quero que você seja o primeiro a me tocar. Quero que
v...
Agora SIM!!!! Jace me ataca com aquela boca deliciosa que me beija até a
alma. Jesus!!! Esse homem consegue  arrepiar até os pelinhos da minha
bunda.
— Já entendi, senhora. Mensagem recebida e decodificada com sucesso.
— Enfim. Achei que iria ter que desenhar...
Sou premiada por uma sessão de cócegas. E um beijo se segue descendo
pelo meu pescoço, ombros, enquanto, ao mesmo tempo, Jace vai acariciando
minhas coxas, subindo para minha bunda. Meu corpo começa a se remexer
em seu colo, fazendo uma fricção deliciosa entre nossos quadris. Suas mãos
enormes agarraram os globos do meu bumbum, forçando-me para baixo,
enquanto ela faz o movimento contrário, roçando o pau já duro, contra minha
boceta encharcada.
De repente, sinto um tapa estalar na popa esquerda da minha bunda. Levo
um susto, que me fez parar de rebolar, mas me fez gemer mais alto.
— Amor, acalma esse rebolado senão não vou conseguir parar.
— Mas eu não quero que você pare, Jace.
— Amor, eu não vou fazer amor com você pela primeira vez, a céu aberto,
na praia. Onde qualquer pessoa possa te ver e te ouvir. Teu corpo é para meus
olhos. Teus gemidos são para meus ouvidos. Essa bocetinha é pra ser
degustada sem pressa. E eu não quero ser preso por atentado ao pudor.
Porque estou a ponto de arrancar sua roupa, te deixar nua, cair no meio das
suas pernas e te chupar até ouvir você gritar meu nome.
Meu coração até falha uma batida... Quase disse: Sim, por favor, pra tudo
que ele descreveu. Mas só consegui ficar olhando para esse homem. Que me
quer tanto que se controla. Que está com uma ereção monstruosa, que posso
sentir através do trapo que transformou no que um dia foi minha calcinha...
— Agora, Hope Palmer, eu preciso que você saia do meu colo, com
bastante cuidado e bem devagar. Porque eu vou recolher toda nossa bagunça
aqui. E, se você ainda estiver querendo, eu vou te levar para meu quarto. E lá
vou poder adorar cada pedacinho do seu corpo como você merece.
— Eu te ajudo a juntar tudo!

Em menos de meia hora estávamos de volta ao Saxon.


Se eu disser que mudei de ideia pelo menos uma meia dúzia de vezes só
no trajeto da praia até a portaria do SS, não seria exagero. Cada vez que paro
e penso, tenho vontade de fugir para as montanhas, daí olho para o Jace ou
sinto seu carinho e já quero ir adiante. Estou enlouquecendo, só pode.
— Amor, depois que você acabar com a discussão dentro dessa cabecinha
linda, você me conta o veredicto? Fala se a gente sobe ou se te levo pro
Hedrick?
— Vamos subir.
— Ok. Mas quero que você entenda que não é obrigada a nada, tá?
— Tá bem, Jace.
Nós subimos para o 23C. Na porta, Jace, mais uma vez me olha como se
me perguntasse se eu queria realmente entrar. Só o abraço e beijo
profundamente, pra não restar dúvidas. Entramos e vamos direto para o
quarto dele, que hoje não estava tão arrumado quanto a primeira vez que eu
visitei. Olho para  Jace erguendo uma sobrancelha.
— Calma, Ruiva. Eu dormi sozinho. Só saí apressado porque estava
ansioso pra que nosso dia fosse perfeito.
— Eu não falei nada sobre você dormir com ninguém, Jason.
— Nem precisava, Bravinha. Só o seu olhar e o fato de me chamar de
“Jason” já te denunciou. Não sou louco, já te falei.
— Tá.
Ele me pega pela mão e me senta na beirada da cama, se agachando na
minha frente. Uma das coisas que mais me encanta no Jace é a intensidade no
seu olhar.
— Jace, eu realmente quero você. Não estou com medo. Mas quero seu
carinho, quero sentir seus braços de novo.
— Red... — Meu nome era um apelo e um chamado. Só abro meus braços
para ele. Jace se põe de pé e me puxa para seu abraço, me beijando daquele
jeito que só ele sabe. Sinto suas mãos passeando pelo meu corpo, e a cada
toque, uma mistura de calor e calafrio se alternam, trazendo arrepios
deliciosos por toda minha pele.
Meu corpo já responde a seu toque com muito mais rapidez e precisão, e
sinto que vou perdendo o controle sobre meus atos. Minhas mãos passeiam
pelos braços dele e consigo registrar o desgosto de encontrar a barreira da
camisa que Jace está vestindo. Corro minhas mãos em direção à barra da
camisa em busca de mais pele e encontro sua barriga e descubro seus
músculos abdominais.
A cada toque suave das minhas mãos, eles se retesam e ouço um pequeno
gemido no meu ouvido. Um, dois, três. Seis gominhos! Meu namorado tem
um corpo malhado... Que delícia. Continuo a conhecer seu corpo através das
minhas mãos e continuo subindo até encontrar suaves pelos nos peitos. Nada
disso consegui ver hoje na praia por causa das camisa de proteção UV. Jace
também tem os peitorais bem desenvolvidos... Nada de fisiculturismo, mas
um corpo maravilhoso, forte, definido. Percebo seus mamilos arrepiados.
Passo as unhas sobre eles, num carinho mais forte,  e sou agraciada com um
gemido mais alto.
— Red... Gatinha... Por favor... Eu tô... Tô tentando me controlar aqui,
amor... Me ajuda, vai.
— Fiz alguma coisa errada?
Ele ri, um riso meio desesperado, meio dolorido.
— Não, amor. Tá fazendo certo demais. Eu tô tentando ir devagar.
— Jace, eu não quero devagar. Eu tô pegando fogo...
Essas palavras perecem que fazem alguma coisa nele. Porque , num piscar
de olhos, meu vestido voa do meu corpo. Ele me deixa só de calcinhas e me
deita na cama. Fica me olhando, com a respiração rápida, como se tivesse
corrido uns 10 quilômetros.
— Eu vou tentar ir devagar, amor. Mas você é tão linda... Tão gostosa. E
está aqui, quase nua, na minha cama. Com os cabelos espalhados no meu
lençol, como eu tenho sonhado por tanto tempo... Eu preciso te provar...
E ele sobe na cama, mas deita de barriga, colocando a cabeça entre minhas
pernas, sempre prendendo meus olhos nos dele. Isso mexe demais comigo...
Até eu perceber que ele começou a descer minha calcinha pelas minhas
pernas.
— Eu preciso de você muito molhada, amor. Não quero te machucar.
E meu mundo foi abaixo. Mesmo que eu nem imaginasse como ele viria
abaixo desse jeito. É uma sensação estranha e ao mesmo tempo tão gostosa.
Diferente, muito diferente da textura dos dedos. A língua se movimenta de
um jeito doce e ao mesmo tempo enlouquecedora. Eu preciso de mais, e eu
nem sabia que precisava tanto assim. Não nego, eu tinha uma ponta de
vergonha, de estar com as pernas abertas e o rosto dele estar ali no meio!
Jesus! Que vergonha... Mas de repente, tudo passa quando ele levanta os
olhos e me lança aquele sorriso meigo e safado, me derretendo num segundo,
mandando  a vergonha sei lá pra onde. Eu agora só queria que ele continuasse
o que quer que seja que está fazendo. A boca desse homem não é de Deus.
Não pode ter sido um artigo fabricado pelo Senhor. Porque MEU SENHOR...
O que ele faz com aquela língua não pode ser descrito como algo desse
mundo. Não... Foi Deus, sim. Porque é divino. Meu Deus... Eu vou gozar.
Mas... Olho para o Jace e tenho ganas de estapear aquela cara de safado
sem-vergonha dele. Porque o desgraçado sabe o que está fazendo comigo.
Minhas pernas estão tremendo mesmo sem eu me dar conta. E sinto que
estou prestes a explodir.
— Jace, por favor.
Ele sorri daquele jeito safado que eu adoro, e  agora ataca com aqueles
dedos. Devagar, coloca um dedo dentro do meu canal. Sinto um ardor, mas
que logo passa, porque Jace coloca a boca no meu clitóris e começa uma
sucção deliciosa que me enlouquece, pois estou muito sensível. Sinto seus
movimentos dentro de mim acelerarem e a tentativa de introduzir outro dedo.
A sucção agora é substituída por movimentos de cima para baixo e de um
lado para o outro, daquela língua possuída. Eu já não consigo mais controlar
os movimentos do meu corpo.
— Jace!
Eu grito, no momento que o orgasmo sacode violentamente meu corpo.
Jace ainda me beija uma vez, e retira os dedos de dentro de mim, me olhando
com fome.
— Red... Você tem certeza?
— Como nunca tive mais em toda minha vida. Eu quero você, Jace. Por
favor... Não me faz esperar mais, amor.
Jace estremece inteiro. Fica de pé e retira a camiseta,  suas mãos tremem, 
percebo seu corpo brilhando de suor. Ele coloca a mão no cós da bermuda,
mas de repente tira, sacudindo a cabeça.
— Não. É melhor eu ficar mais um pouco com a roupa. Você pode ficar
com medo de me ver pelad...
— Jace. Eu já te vi. No dia que eu dormi aqui. Eu te vi no banheiro.
Meu namorado arregala os olhos e fica corado.
— Amor... Vem, por favor.
E é o bastante, vejo meu amor se desnudar pra mim. Fico orgulhosa de
poder causar tamanho tesão num homem como o Jason. Ele se coloca de pé
na minha frente, e eu o vejo por inteiro. Umedeço os lábios, num movimento
automático. Não conseguia tirar os olhos daquele cacete enorme que
apontava na minha direção,  ese movia, como se pulsasse. Percebi um brilho,
como um líquido aparecendo na ponta. Lambi os lábios mais uma vez. Foi
quando ouvi o gemido.
— Eu posso tocar?
— Você vai me matar, mulher. Mas, sim, você pode fazer o que quiser. —
E Jace se deita ao meu lado, calmamente, passando os dois braços atrás da
cabeça, numa pose relaxada. Mas eu via seus músculos ressaltados,
mostrando o quanto ele estava tenso.
Fico de joelhos ao seu lado e começo io minha exploração. Acaricio seu
peitoral (sinceramente, acho que estou desenvolvendo uma tara pelo peito do
meu namorado) e vou descendo pelos gominhos da barriga: um, dois, três,
quatro, cinco, seis. Até o famoso V. e o pau que descansava sobre seu
abdome. A ponta da glande quase chegava no umbigo. Eu reparo novamente
no líquido que escorria por ela. Passo o dedo e provo,  tem um gosto
estranho, um tanto estéril. Quando coloco o dedo na boca, ouço um gemido
do Jace e vejo seu pau se erguer da barriga.
— Posso tocar nele?
— Pode, amor. Pode sim. Por favor, pega nele.
Eu pego, com cuidado. Minha mão mal fechava em torno da espessura
próxima da base. Fico espantada de ver como é suave ao toque, mas duro ao
mesmo tempo. Faço movimentos suaves de sobe e desce, como li nos livros,
Jace começa a gemer, e pede que eu empregue mais força. Não entendo, e ele
usa a mão sobre a minha e ajusta a pressão, da forma que gosta. Percebo que
começa a sair mais líquido da ponta, e me dá uma vontade imensa de provar.
Eu me inclino e dou uma lambida na cabeça daquela rola enorme.
Sou presenteada com meu nome saindo do fundo da garganta do Jace.
Resolvo fazer como nos livros e coloco toda a glande na boca e Jace solta um
palavrão.
— Caralho, amor. Que porra de boca gostosa! Faz mais, delícia... assim.
Puta que pariu, mulher. Agora chega! Vem cá.
E num segundo, estamos novamente invertidos, Eu deitada e Jace sobre
mim. Ele de joelhos, separando minhas pernas. Até o máximo. E, com o
dedão, começa a esfregar meu grelo. Eu ergo as costas do colchão, porque
estou muito sensível depois do orgasmo, mas logo em seguida, sinto a glande
separando meus lábios vaginais. Eu estou tão excitada que ele escorrega
alguns centímetros pra dentro, até a cabeça entrar toda. Sinto-me arregaçar.
Dói. Uma lágrima cai dos meus olhos. De repente, Jace congela. Olha para
nossos corpos, iniciando a conexão e respira fundo, tremendo.
— Amor. Red. Eu preciso parar.
Meu corpo parece que não recebeu a mensagem, porque continua a tremer
e tentar escorregar o pau dele pra dentro de mim.
— Amor... Por favor. Hope! Eu preciso parar! Por favor, meu amor. Eu
preciso parar. Por alguns segundos... Eu não coloquei proteção. Você é
virgem e é muito gostosa. Eu tô por um fio, amor. E eu não consigo sair de
dentro de você. Preciso que você me ajude, Red.
— Eu não quero... Por favor, Jace.
— Ai, Deus. Um milagre, por favor? Red, não me odeia, mas eu preciso
pegar uma camisinha na minha mesinha de cabeceira.
— Jace. Termina. Depois você pega. Tá doendo...
— Já sei o que nós vamos fazer. Vou me deitar de costas e você sobe em
mim, assim você controla a velocidade e como você quer. Pode ser?
— Tá bem.
Vejo Jace travar o maxilar e fechar os olhos pra retirar a metade do pau
dele de dentro de mim. Dói, muito. Uma dor ardida, mas eu não iria desistir.
Uma pessoa que se preocupa comigo, com minha segurança antes do próprio
prazer, merece dividir comigo esse momento. Assim que ele consegue sair de
dentro de mim, Jace se estica na cama para alcançar a mesinha, puxa a gaveta
com tanta força que tira ela do lugar, fazendo ela cair no chão. Mas ele fica
com uma tira prateada na mão.
Rapidamente, rasga um pedaço e tira uma camisinha, vestindo o pau em
tempo recorde. Depois disso, dobra as pernas e me falou pra usar as pernas
dele como apoio pra não cansar. Passo uma perna sobre aquele corpo lindo e
fico um pouco desengonçada para me posicionar. Até que Jace, mais uma
vez, me auxilia. Ele me segura pela cintura e ergueu, me posicionando sobre
seu pau e me diz para fazer como eu quiser, a velocidade de descida era
minha.
Quando a cabeça volta a encaixar na minha boceta, a gravidade ajuda a
entrada. E realmente é  bem mais fácil. Eu o sentia me rasgando e parava de
tempos em tempos, rebolando um pouco, pra ajudar a penetração. Jace, por
sua vez, lambia meus seios, esfregava meu grelo. Vou descendo até sentir
nossos quadris baterem. Enfim, ele estava todo dentro de mim. E ao constatar
isso, Jace nos inverte mais uma vez, me deitando na cama.
Agora, era ele quem comandava o ritmo, o sexo, o amor. Olhar esse
homem me adorando era enlouquecedoramente orgástico. Ele faz amor com
o corpo todo, com os olhos, com a boca, com as mãos. Em algum momento,
minhas pernas subiram para sua cintura e se entrelaçaram na tentativa de
manter nossos corpos mais juntos o possível. Sinto algo grande se
avolumando dentro de mim, algo sem nome.
Em desespero, chamo pelo nome do Jace. Ele reponde, gemendo meu
nome como da primeira vez que o vi. E nós gozamos juntos, me deixando
alguns segundos sem ar e Jace mole sobre meu corpo. Após um tempinho,
Jace rola para o lado, saindo suavemente de dentro de mim. Olha dentro dos
meus olhos quase fechados pelo extremo cansaço e me beija.
— Eu te amo, Jace.
— Eu te amo. Ruiva.
E eu apago antes de perceber que Jace se levanta pra jogar fora a
camisinha e pegar um pano pra me limpar e voltar para a cama.
 
Capítulo 13
Sinto cheiro de flores e maresia. E um braço sobre meus peitos. E uma
coxa prende a minha coxa direita. Meu braço direito está enlaçando um corpo
e minha mão descansa sobre a bunda mais gostosa que eu já apertei... Red.
Não foi mais um sonho erótico, onde eu acordo melado. Minha Red dormiu
comigo. E eu transei com ela.
Puta que pariu! Eu transei com ela. Eu sou o filho da puta de mais sorte
nessa merda de Campus! PORRAAAAA!
“Caralho, Big Jace! Já está animado? Ontem você já teve um baita
trabalho com a Ruiva. Hoje a garota não vai ter a mínima condição de te
fazer feliz, meu camarada. Pode esquecer, porque ontem foi inauguração da
Ruiva, ela deve estar toda dolorida... Uma pena, porque a Minha Red é
gostosa pra caralho! E pensar que foi ela quem pediu...”
“Porra... Agora eu me lembrei! Eu falei as três palavras pra ela? Ai,
cacete. Acho que eu falei. Mas foi depois dela, não foi? Porra, não lembro...
Merda. Tem que ter sido. Eu não posso ter falado antes dela e ter provocado
um eu te amo na Red só por pena. Puta que pariu.” Comecei a suar frio, só
de imaginar essa possibilidade.
Então, meus olhos caem sobre a mulher dormindo ao meu lado. Na
delicadeza do rosto, nos cabelos selvagens cobrindo parte dos ombros e do
meu peito,  na mão que, mesmo dormindo, faz cafuné no meu peito. O peso
confortável da coxa sobre a minha, o volume lindo da bunda ao alcance da
minha mão. Eu estou tentando me controlar, eu estou tentando me controlar.
Só um carinho... Ela não vai acordar.
Quando eu ia erguendo a mão pra mexer com o cabelo dela, meu celular
tocou. Passo a mão na mesinha de cabeceira onde sempre deixo carregando
e... óbvio que ele não estava lá. Ergo a cabeça do travesseiro e vejo minha
bermuda abandonada no chão. Meu celular, muito provavelmente está  no
bolso de trás,  e não parava de tocar.
Merda! Hoje é domingo! Dia da chamada de vídeo com a família. Olho
mais uma vez pra Red, dormindo em meus braços e pra minha bermuda, com
o som estridente da chamada de casa. A escolha foi até fácil: Abracei mais
forte a Red e fechei de novo os olhos. “Mais tarde eu ligo para eles.”
Lá pelas onze da manhã, eu e Red saímos do quarto. Jose tinha saído pra
um jogo de basquete pela faculdade e estávamos novamente sozinhos,
estamos tomando um brunch[15], quando meu celular volta a tocar. Dessa vez,
não pude evitar atender. Graças a Deus, era só meu pai em ligação normal.
— Oi, Jace! Está muito ocupado, filho?
— Quem, eu? Tô um pouco, pai. Tô comendo.
— Tá sozinho?
— Por que, pai? Aconteceu alguma coisa? Tô te achando estranho.
— Não é nada de ruim, filho. Só quero te lembrar dos setenta anos da sua
avó.
A lembrança cai como uma bomba em meu colo. Meu Deus! Nós já
estávamos em meados de outubro. Vó Cora fazia anos no dia dez de
novembro! Faltava menos de um mês.
— E como estão os preparativos, pai?
— Estão indo bem. Mas estou te ligando para avisar que sua avó resolveu
adiar a festa. Ela disse que quer a festa dos setenta no final de semana do
Thanksgiving. Porque aí você não tem desculpas para não vir.
— Pai! Eu não arrumo desculpas pra não ir pra o Rancho. Você sabe disso.
— Eu sei, meu filho. A não ser que esse motivo tenha cabelos ruivos e
bata no seu ombro.
— O que... Como... Quem...
— Ora, Jason! Primeiro você vai no bar do Mike T. Depois você ameaça
metade da escola, usando seu nome completo, inclusive a filiação? E achou
que não ia chegar em mim, filho?
— Pai, eu posso explicar...
— Explique no dia de  Ação de Graças... E, Jace?
— Sim, pai?
— Traga a moça.
— Tá bem, pai.
— Outra coisa, filho.
— Sim, pai?
— Sua mãe quer uma foto e o nome dela.
— Pai... Quão ferrado eu tô?
— Comigo? Nem um pouco. Com sua mãe? Eu não deixaria de atender
as próximas chamadas de vídeo, se fosse você, Jace.
— Ai, caralho...
— Que lindo o seu francês, filho.
— Desculpa, pai.
Ouço a risada de trovão do papai.
— Jace?
— Sim, pai?
— Vamos retornar a chamada às duas da tarde. Esteja pronto. E com a
moça.
— Tá bem, pai. Brigado.
— Te amo, filho.
— Eu sei. Mas eu amo mais.
Desligo o celular e fico olhando para o aparelho como se ele fosse o
guardador de todos os segredos do universo. Até que uma mão macia e suave
me traz de volta ao presente. Levanto os olhos e é impossível não sorrir para
a Ruiva. Essa mulher tem o sorriso mais doce do mundo inteiro.
Puxo a Hope para meu colo e inalo aquele cheiro maravilhoso de flores
dela. Eu, que nunca gostei de rosas, agora amo o cheiro de jasmim. Abraço
meu pedaço de fogo mais forte junto do meu peito, pra que todo esse amor
que queima dentro dela me aquecesse. Porque eu não quero brigar com
minha mãe. Mas não vou deixar ninguém, nem mesmo ela, tratar mal a
minha Red.
— O que foi, Jace? Você tá com uma cara de quem comeu algo estragado.
Tá tudo bem em casa?
— Tá sim. Levei um puxão de orelha por não ter atendido a ligação de
casa mais cedo.
— Mas por que você não atendeu, amor?
— Porque eu estava deitado enroscado com você e o celular estava dentro
da minha bermuda, no chão. A escolha foi simples.
— Jace! Você não devia ter feito isso... se eles imaginarem que eu fui a
razão de você não ter atendido a chamada, eles podem ter ideia
preconcebidas sobre mim.
— Nunca, Red. Você é muito doce pra isso acontecer. E eles vão ligar de
novo na hora do almoço. E meu pai disse que querem te conhecer.
Vejo minha ruivinha empalidecer.
— Mas como sua família já sabe de mim? Você falou de mim para eles?
— Não, gatinha. Deve ter sido o Mike T. Ele e meu pai fizeram UCLA
juntos. Acho que ele deve ter comentado do dia que fomos no bar e nos viu
dançando juntos.
— Ah... Entendi.
Não ia falar mesmo da ameaça que fiz para a galera do Billy Joe. Não
queria deixar minha garota incomodada com esse problema. Que aliás, já
estava resolvido.
— Agora vem cá, Red. Relaxa. Minha família é super bacana. E eles vão
te adorar. Vamos tomar um banho e relaxar na frente da televisão até a hora
do almoço e eu poder te apresentar para todos?
Hope me olha com aqueles olhos escuros que eu adoro, concordando.
Pego minha garota pela mão e levo para o banheiro. Chegando lá, entrego
uma toalha e mostro meu shampoo. Percebo que a Red estava envergonhada,
levanto seu rosto suavemente, até seu olhar encontrar o meu, e a vejo
completamente ruborizada.
— O que foi, Ruiva? O que passa por essa cabeça que está deixando esse
rosto tão lindo competindo coma cor do seu cabelo?
A brincadeira deu certo, porque  Hope relaxa visivelmente.
— Não é isso, Jace... É que... Você não vai entrar comigo?
— É o que você quer, amor? Porque eu quero muito... Mesmo.
— Quero... Mas só se você também quiser.
Foi o que bastou. Eu colo meu corpo, já bastante excitado, em suas curvas
macias e sinto seu estremecimento. “Caralho. A Hope perdeu a virgindade
ontem. Não posso pular sobre ela como um tarado.”
— Preciso saber se você tá bem, gatinha. Porque depois de ontem você
pode estar dolor...
— Eu estou ótima. Na verdade, fiquei meio sem entender você não me
querer de novo hoje.
— Red. Entende uma coisa. Eu.te.quero.o.tempo.todo.
A cada sílaba, a ruiva ia abrindo um sorriso e se afastando de mim, tirando
uma peça de roupa. Pego a deixa e também vou arrancando a camisa. Vejo
seus olhos brilhando,  e minha garota lambendo os lábios, inconscientemente.
Porra de mulher gostosa.
— Se eu colocar meu dedo no meio das suas pernas, vou te encontrar já
molhadinha, esperando por mim? Se eu te colocar sentada na bancada da pia
e te provar, você vai estar pronta, Red?
— Jace... Cada vez que você fala comigo assim, eu sinto meu corpo
tremer. Tenho vontade de fazer coisas que...
— Fala, gostosa. O que você tem vontade de fazer?
— Não são coisas muito decentes...
— Amor, entre nós dois, não existe nada que seja indecente ou proibido.
Tudo que você quiser experimentar no meu corpo, eu te mostro. Tudo que
você quiser sentir, me fala que faço em você. Tudo que é feito com carinho,
dá prazer.
— Quero lamber você de novo. Quero provar seu corpo todo. Você tem
um cheiro delicioso.
— Vem cá, mulher dos meus sonhos.
E esqueço completamente a ideia do banho. Porque agora, a Red quer
brincar. Passo a mão em outra camisinha e já deixo ao alcance da minha mão,
porque nem fodendo eu iria passar por aquele perrengue de novo. Quer dizer,
eu iria, sim, foder e muito, mas sem a agonia de estar dentro daquela
bocetinha apertada sem proteção e ser obrigado a me retirar.
— Quero decorar cada curva desse corpo divino. Quero, de olhos
fechados, saber cada dobra, cada músculo, cada pequeno toque que te faz
gemer, Red.
Eu via suas pupilas dilatando de tesão, sentia a pele esquentando ao meu
toque, os mamilos enrijecendo sob meu olhar. Os pelos dos braços se
arrepiavam. A respiração acelerou. Essa mulher é minha. E eu vou mostrar a
ela como se faz música.
— Cada toque é importante, Red. Fecha os olhos, você vai ver como vai
ampliar os outros sentidos, principalmente o tato. Agora vou fazer amor com
você, Ruivinha. Vou cuidar de cada pedacinho seu. Deita aqui...
Faço minha garota deitar na ponta da cama, com as pernas pra fora do
colchão. Ergo do chão e pego  seu pé, reparando em como é delicado,
pequeno. Beijo a curvatura da sola, Red da uma risadinha, passo a língua de
leve. A reação é uma inspiração forte. Começo a beijar seu tornozelo,
fazendo pequenas massagens circulares. Passo para a canela, notando a
diferença de coloração entre nós. Sua pele muito branca contrastava com a
minha, mais saudável, acostumada com a vida no Rancho.
Continuo com as massagens e beijos pela perna, passando pela panturrilha
até o joelho. Lá, os carinhos foram para a parte posterior do joelho, e minha
garota já se contorce sobre o colchão, gemendo meu nome. Posiciono sua
perna dobrada sobre o colchão e repito o processo com a outra perna. Red já
choramingava, desesperada. Com cada mão na dobra de seus joelhos, coloco
suas pernas bem abertas, dobradas, uma de cada lado do corpo, que já tremia.
Olho para a calcinha e, se os gemidos e o arquear das costas não já fossem
provas suficientes, a mancha úmida no centro denunciava o nível de
excitação que a Ruiva se encontrava. Chego a lamber os lábios de vontade de
lamber meu prêmio, mas eu estava quase lá. Continuo o caminho em direção
da sua virilha,  dando pequenos beijos na trilha que acompanhava o trajeto
das minhas mãos.
Quando alcanço o elástico da calcinha, Red já está tão desesperada pra
gozar que erguia os quadris em minha direção. Passo a ponta do dedo pelo
centro de sua abertura, e faço pressão sobre o grelinho inchado, e é o bastante
pra o corpo inteiro da Ruiva tremer e convulsionar. Arranco o que restava das
minhas roupas, visto a camisinha e, num tranco, arrebento a calcinha da
Hope.
Sua bocetinha brilhava do orgasmo que acabou de sentir, mas não consigo
me conter. Passo a língua por toda a sua extensão, procurando sorver cada
gota daquele mel. Com a ponta dos dedos, abro bem seus lábios e, expondo o
clitóris, colo meus lábios e começo a chupá-los com força. Red geme sem
parar, xinga, implora por mais, depois pra parar, depois pra fazer com mais
força.
Subo as mãos por aquele corpo maravilhoso até chegar nos seios que
arfavam sem descanso. Com as pontas dos dedos, eu começo a beliscar os
mamilos arrepiados e supersensíveis. A Ruivinha me abraça com as pernas e
agarra meus cabelos em total desespero. Mesmo assim, eu não parava de
lamber e chupar o que era meu. Um ato arcaico, ultrapassado de
possessividade? Com certeza. Mas completamente impossível de controlar
essa vontade de deixar claro que nenhum outro iria provar daquele paraíso.
Um puxão nos meus cabelos com mais força me fez levantar a cabeça e
olhar pra minha garota.
— Jason Howell. Me. Fode. Agora.
Caralho. Sinto um arrepio descendo por toda minha espinha. Ter essa
mulher toda arreganhada na minha cama, descabelada, corada de excitação,
me puxando os cabelos, me MANDANDO foder ela... Acabou com qualquer
tentativa de controle que eu pudesse pensar em ter.
— Ah... Ruiva. Eu vou te foder. Vou te foder muito.
Fico de joelhos na cama e encaixo meu cacete na entrada dela, que parecia
me sugar, gulosa. Seguro a Ruiva pela cintura e enfiei devagar, sem pausa,
até o talo. Quando minhas bolas batem nas nádegas dela, paro uns três
segundos pra me concentrar, porque a boceta da Hope estava esmagando meu
pau. Eu sentia ela me ordenhando em ondas enlouquecedoras. E a danada
gemia sem parar, chamando por mim, arranhando minhas costas. Ainda lhe
prendendo os quadris na cama, pra que ficasse parada, dei uma rebolada de
leve, saindo um pouquinho e socando de volta, forte.
— Jace!!! Mais!!! Faz mais!
O suor escorria como rio pelas minhas costas e peito. Mas repeti o
movimento, devagar, umas três, quatro vezes. Até não ser possível... até ser
obrigado a ir aumentando o ritmo. Até me perder nas estocadas. Até só socar
dentro daquele corpo quente e pulsante. Quando eu já estava a ponto de
explodir, a Ruiva ergue o corpo e me abraça, tremendo inteira e seu canal
praticamente decapita meu pau. Mas o Big Jace adora, porque me leva a um
orgasmo que quase me apaga.
Só consegui sustentar meu corpo por tempo suficiente pra cair ao lado da
Ruiva, abraçando e beijando seus cabelos, agora molhados de suor. Nossas
respirações ainda descompassadas.
Olho para baixo, a camisinha ainda estava inteira, graças a Deus. Porque
depois do que fizemos agora... Cacete. Começo a rir, exausto.
— O que foi, amor? — Red me pergunta, no meio de um bocejo.
— Nós íamos tomar banho. Acabamos mais suados que antes. Jose já
deve ter voltado do jogo. Daqui a pouco vamos ter uma conferência com toda
a família Howell, e eu só consigo pensar na marca da camisinha que usamos.
— O que tem a camisinha?
— É muito boa. Aguentou toda nossa maratona de sexo. Vou panfletar!
— Não se atreva! Vão saber que a gente transou.
— Linda. O prédio inteiro deve saber que a gente transou. Com tanto:
mais, Jace! Mais forte, Jace! Me come, Jace!
Acho que já disse isso uma vez. Minha Ruiva não decepciona. Ela
surpreende. Sempre.
Ela cai na gargalhada...
 
Capítulo 14
UCLA – Dia 28 de outubro
Hoje é um dia como outro qualquer. Hoje é um dia como outro qualquer.
Hoje é um dia... Merda. A quem eu quero enganar? Hoje eu faço 18 anos.
Não recebi nem um mísero parabéns. Eu sei que não contei para nenhum dos
meus amigos, nem para o Jace. Mas, porra. Nem a minha própria mãe
lembrou? Nunca o peso de ser “não importante” foi tão difícil de suportar. Ou
entender. Já chorei sozinha no chuveiro comunitário. Já fiquei irritada na
aula. Quase briguei no Café.
Que aniversário, madame Hope. Melhor se controlar. Porque, se eu
quisesse festa com pompa e circunstância, bastava falar com meus amigos e
meu namorado. Hoje estaria dançando na 7Sins, comendo bolo e tomando
vinho não alcoólico que o Jace sempre arruma para a gente comemorar as
mais bobas datas. Mas não. Não quero ninguém tendo pena de mim. Tendo
pena da menina pobre e abandonada pela família. Apesar de realmente ser
tudo isso. Em plena sexta-feira.
Meu celular vibra denunciando a chegada de uma mensagem. O nome
Riquinho ilumina o vidro. Droga. Tenho que trocar o nome do contato do
Jace. Ainda está como eu coloquei quando a gente se conheceu e eu não
gostava dele. A recordação trouxe um sorriso para o meu rosto. Resolvo abrir
a mensagem.
Riquinho: Amor? Onde você está? Estou o dia inteiro tentando falar com
você.
Olho e realmente vejo que tinham 16 mensagens do Jace e 2 chamadas
não atendidas. Acho melhor responder.
Eu: Oi, amor. Desculpa. Não vi suas mensagens. Esqueci o celular no
modo pra vibrar.
Riquinho: Hope Palmer! Você quase me fez chamar a polícia e a Guarda
Costeira pra te procurar.
Eu: Exagerado...
Riquinho: Exagerado? Amor, eu tô tentando falar com você desde as dez
da manhã de hoje. Você tá bem? Onde você está, coração?
Eu: Eu tô bem, Jason. Eu preciso respirar. Eu só preciso de um pouco de
espaço hoje, tá? Só preciso de um tempo sozinha pra digerir meu dia, minha
família, eu comigo mesma. Sem ter que explicar pro meu namorado pq não
atendi sua ligação. Meu dia hoje não está sendo fácil, e eu só não quero ter
que mostrar a pessoa difícil que eu sou, pq essa sou eu. A pessoa que tive que
ser, pra conquistar sozinha o que tenho e não me quebrar, pq se eu quebrar, só
tenho a mim mesma pra consertar.
Percebo o celular parado alguns segundos, tempo suficiente pra que eu
leia o que escrevi pra ele. Merda. Não era pra ser assim.
Riquinho: Claro, Hope. Desculpe ficar insistindo. Só, quando você puder,
ou quiser, aparece no 7Sins. Tá todo mundo lá na área VIP. Fui.
Eu: Jace, desculpa.
Vi que a minha mensagem não foi recebida. Merda. Merda. Merda.
Magoei a única pessoa que sempre me tratou bem. Acho que vou ter que ir ao
bar do Mike T.

Chego na porta do bar e encontrei estranhamente calmo para uma noite de


sexta. Como Jace falou que estaria na área VIP, já me encaminho para a
escada lateral. Mas o segurança, um irlandês chamado Ed Walsh, me barra.
Olho pra ele sem entender, eu já tinha vindo aqui várias vezes e nunca tive
problemas pra subir.
— O que foi, Ed? O Jace me disse que todos estão aqui.
— O Sr. Jason já foi embora, senhorita. Mas tem, sim algumas pessoas lá
na área VIP. Por favor, queira aguardar aqui. Vou verificar se é para a senhora
subir.
— O Jace foi embora? Mas...
Então, me lembro novamente das minhas palavras. Da minha infeliz
escolha das palavras. Não era pra ser assim... Não era pra eu brigar com o
Jace. Não hoje. Não com ele. Meu peito se aperta numa onda de remorso
imensa.
— Senhorita Hope, por favor. A senhorita pode subir.
— Não vai ser mais necessário, Ed. Eu vou procurar o Jace. Eu...
O Ed me segurou pelo braço, me impedindo de sair.
— Senhorita. As pessoas estão lá em cima aguardando a sua chegada. Por
favor, me acompanhe.
Não estava entendendo nada do comportamento do Ed hoje. Ele
praticamente me arrastou escada acima e parou na porta de acesso à área VIP,
me indicando para entrar.
— Tá bem, Ed. Eu vou entrar, mas que fique registrado que fui coagida...
Eu abro a porta,  entro e levo o maior susto! Estavam todos lá. Minhas
amigas, Jose, Lucas, o pessoal do café, minha mãe e meu avô na cadeira de
rodas, minhas irmãs, Sebastian... e toda a família Howell. O Sr e a Sra
Howell, a Vó Cora, O Tio Paul, a pequena Emily (que me olhava com um
olhar assassino). Todos gritavam: SURPRESA! Todos sorrindo, menos os
Howell.
Meu Deus... O que eu fiz? O que eu fui fazer? Como eu conserto isso?
Sinto meus olhos lacrimejarem. Arderem. A primeira lágrima cai,  a segunda
se junta. De repente, sou uma montanha de tremores e lágrimas. Meus
parentes e amigos vem falar comigo, me abraçar e beijar, um a um... Até que
fico de frente com o Sr Luke Howell. Já havíamos nos vistos em várias
chamadas de vídeo que eles fizeram para o Jace e eu estava presente.
— Hope, parabéns pelos 18 anos.
Tento conter as lágrimas, mas é inútil.
— Obrigada, Sr Luke. O Jace...
— Meu filho saiu daqui há mais ou menos meia hora. Pediu, se você
aparecesse, pra aproveitar sua festa.
— Sr Luke, eu...
— Com licença, querida. Acho que o Jose está me chamando.
E meu coração se parte mais um pouco.
— Hope, parabéns.
— Sra Howell, eu não queria...
— Não importa o que você queria, minha querida. Importa o que está
feito. Sua festa está feita. Foi feita e planejada com carinho. Aproveite sua
família.
Deus...
— Hope, nós também gostaríamos de te desejar um feliz aniversário. —
Ouço a voz do Tio Paul atrás de mim, e me viro para o casal de idosos.
— Minha filha, todos erram. Devemos aprender com os erros. Nossa
família é passional. Não sente pela metade. Não faz nada pela metade. Não se
doa pela metade. Só tome cuidado ao magoar um Howell.
— Vó Cora, Tio Paul, eu não queria magoar...
— Confia, meu bem. E explica. Meu neto, além de inteligente, tem bom
coração.
E os dois se foram.
— Você é burra. Você se acha muito inteligente porque entrou aqui com
16 anos e faz Matemática? Bom, vou te dar a real, garota! Você é burra! Foi
burra quando desconfiou do meu irmão naquela história ridícula de que ele
estava armando pra dar uma de herói. Vê se te enxerga! Meu irmão é um
espetáculo! Ele é o sonho dourado de qualquer mulher na nossa cidade, dessa
droga de Universidade, de qualquer lugar do Universo que ele habite! Você
se acha especial por quê? Só porque você é pobre? Então vou te dar um
banho de realidade, ruivinha. Minha mãe e meu irmão não tinham onde
morar quando meu irmão nasceu. Minha mãe morou de favor, fez faxina,
morou com um bebê de seis meses em hostel pra não ter que dormir na rua.
Minha mãe trabalhou que nem uma infeliz num Resort em Phoenix, e
deixava meu irmão ainda bebê escondido na cozinha pra poder trabalhar, até
descobrir quando ele já estava com quase seis anos, por uma hóspede, que o
Rancho do meu pai estava contratando. Meu pai foi conhecer minha mãe
quando Jace estava com seis anos! Mas ele AMA meu irmão desde o dia que
botou os olhos nele. Você não sabe o que é o valor de um amor, de uma
família. Você não MERECE o meu irmão. Não quero que você tenha um feliz
aniversário, Hope.
E o pequeno furacão dá as costas e me deixa plantada, de boca aberta, sem
ação, sem palavras... Mas despedaçada.
Jace... Cadê você? Eu não posso ter te perdido...

Minha família passou o final de semana comigo em Los Angeles. Todos


hospedados num hotel excelente, próximo ao campus, segundo a mamãe,
cortesia do Jace pra não cansar o vovô. Sebastian e as meninas estão no
Sétimo Céu, porque Jace deixou a conta do hotel toda paga, inclusive
qualquer despesa feita por eles. Eles retornaram pra casa no domingo no final
da tarde. E eu estava mental e psicologicamente exausta. Sentia falta do meu
namorado.
Mandei inúmeras mensagens pra ele. Nenhuma chegou... Ele deve ter
desligado o celular. Liguei para o Jose, perguntando por ele, mas ele me disse
que o amigo não voltou para o SS desde sexta. Deve estar com a família. Vou
seguir tentando. Sei que eu o magoei. Sei que mereço o gelo. Mas quero
consertar. Quero sentir seu carinho, seus braços de volta em mim.
Hoje acordei com um peso enorme no coração. Dea e Libby sabem o que
aconteceu, pedi reunião na própria sexta... Cada uma deu seu parecer, mas
nenhuma das duas tomou nenhum partido, pois se diziam amigas dos dois.
Coloquei minha roupa para ir pra aula e um pavor me apertou o peito de
chegar na rua e não ver o Jace encostado no Assassino me esperando. Eu me
acostumei com seu sorriso todos os dias de manhã, seu olhar guloso correndo
por todo meu corpo, seu cheiro...
Cacete. Eu estava sentindo falta até dele implicar comigo! Minhas amigas
saíram do quarto em silêncio, respeitando minha fossa. Acabo de me arrumar
e, me olhando no espelho, reparo nos olhos inchados de chorar e vermelhos
pela falta de sono. Estou um caco. Quero ficar deitada e esquecer que o
mundo existe. Esquecer que escrevi aqueles absurdos. Esquecer que o Jace
me odeia... Que a família dele me detesta...
Mas não posso me dar a esse luxo. Preciso ir pra aula, ir trabalhar depois...
e tentar consertar a cagada em que eu mesma me atolei. Porque eu sei que a
culpa dessa merda toda é minha. Eu que sou agressiva quando me sinto
insegura, que tenho dificuldade em lidar com as pessoas. Eu que tenho medo
de gostar de alguém e a pessoa me abandonar, como minha família fez.
Confesso que cheguei na calçada com um fio de esperança de encontrar o
Jace me esperando, como todos os dias... Meu peito deu até uma pontada ao
ver a rua vazia. Pela primeira vez em dois meses, fui de bicicleta pra aula.
Não pude evitar procurar o Assassino no estacionamento do prédio da
Matemática. Não encontrei. Meus olhos arderam pelas lágrimas não
derramadas. Abaixei a cabeça e fui pra minha aula.
Foi uma semana muito difícil. Na quinta-feira, recebi a primeira
mensagem do Jace. O medo fez meu coração disparar. As mãos tremiam
tanto que achei que não fosse conseguir desbloquear o celular pra ler. Fecho
os olhos pra tomar coragem, respiro fundo e resolvo ler o que ele tinha pra
me dizer...
Riquinho: Oi, Hope. Desculpe só te responder agora. Tive um problema
com meu aparelho. Demorou um pouco pra resolver. Espero que você esteja
passando bem.
Digitando...
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, veio segunda da parte da
mensagem:
Riquinho: Eu pensei bastante esses dias e preciso de espaço, Hope. Acho
que fui longe demais com você, com meus sentimentos, num período muito
curto de tempo. Idealizei uma pessoa que não sei se existe. Você nunca me
viu de verdade também... É melhor deixarmos as coisas assim por enquanto.
A gente se vê por aí.
Meu. Deus... O que eu fui fazer?
 
Capítulo 15
UCLA – Quinta, 10 de Novembro (Aniversário da Vó Cora)
— Jason, isso já está virando palhaçada, hombre!
— Não, não está, amigo. Não quero encontrar com ela. Não quero
conversar com a Hope. Não quero olhar naqueles olhos e acabar esquecendo
a dor que senti, por pena de ver que ela está sofrendo. Porque um
relacionamento não pode ser construído em cima de pena.
Jose fica calado por uns minutos, absorvendo minhas palavras. Suspira...
Coça a cabeça. Abre a boca. Sorri e me puxa para um abraço de irmão.
— Carajo! Odeio quando você tem razão. Ouvir palavras tão adultas
partindo de você é estranho pra cacete, rapaz. Quem olha assim, pensa que
você tem uma puta experiência no amor.
Tive que rir, apesar do riso ter soado triste.

— Eu tenho uma puta experiência no amor, boludo[16]! Convivi com meus


pais desde os sete anos de vida. Vi em primeira mão o que é o amor de
verdade. Vi como ele deve ser partilhado, construído. O amor cura, não
machuca.
— Ay... Te compreendo. Pero me encantaría poder decir algo para
ayudarte, Chico.[17]
— Eu sei, amigo... Mas assim são os Howell. Fazemos e sentimos tudo
em demasia. Somos uma família intensa. Eu vou ficar bem.
— Se você diz. Mas se não ficar bem, eu estou no quarto do lado. Bem
pertinho. Você não quer mesmo que eu fale com as meninas?
— Não. Não quero. Não quero informações da Hope. Não quero possíveis
encontros, esbarrões pelo campus. Nada.
— Tá certo, amigo. Não entendo, mas respeito.
— Valeu. É o máximo que eu posso pedir.
Meu celular toca e olho a tela bloqueada. Já não me preocupo mais em ser
a Ruiva. Há dias ela não tenta mais ligar ou mandar mensagens, graças a
Deus. Ignorar suas chamadas estava me matando, mas também não queria
simplesmente bloquear seu número. Alguma força muito masoquista dentro
de mim, ainda gostava de ver seu rosto aparecendo na tela do celular, até ela
desistir.
Não sei até quando ainda vai doer meu peito. Até quando vou sentir que
parte de mim foi arrancada. Mas eu sei que um dia, a ferida aberta no meu
coração vai fechar. A Vó Cora tem um ditado muito bacana que diz: “Não há
bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe...”
Bom, tenho que seguir minha vida. Hoje é um dia especial. Minha avó
completa 70 anos e em quinze dias já será a festa de aniversário dela. Eu
preciso comprar um belo presente pra ela. Minhas memórias mais doces da
minha infância estão relacionadas a minha avó.
Desço para o estacionamento e olho o carro estacionado na minha vaga. E
sorrio, ao lembrar do bilhete que recebi na manhã do domingo quando
estávamos indo para o Aquário com a Emie. Ceasar, o motorista da vovó
chegou no hotel com o Bentley do papai, me entregou as chaves e um bilhete
da mamãe dizendo:
“Filho,
Eu sabia que você não iria se livrar desse carro assassino. Então, estou
fazendo a troca compulsória pelo carro daquele que te presenteou com ele.
Azar o dele que vai ficar sem o bebê e vai lidar com o assassino no Rancho.
Mas nosso filho vai ficar mais protegido.
Mamãe te ama.
P.S.- Entrega as chaves do assassino pro Ceasar que ele já vai trazer esse
carro terrível pra casa. Quando seu pai chegar, já vai estar tudo resolvido.
Ah, amor da mamãe... Não conta pro seu pai, tá? Vou falar pra ele só nós
dois... se é que me entende. Bj”
Minha mãe é louca de pedra, mas eu é que não ia brigar pra ficar com o
assassino se podia ficar com o carro do pai. Com o aval dela! Emie quando
viu, gargalhou alto. Fomos os dois pra segunda fase do Aquário e, na volta,
tratei de esconder o Bentley. Não sou trouxa. Agora estou andando pelo
campus de Bentley Continental GTC. Fico imaginando o que a Ruiva diria
do carro novo...
Mas essa é uma informação que não vou ter. Ela provavelmente nem sabe
que estou com o conversível do pai. Aquele cabelo vermelho ficaria lindo
voando, contrastando com o preto do carro... Merda! Não consigo tirar essa
ruiva da minha cabeça. Mas sei que eu mereço mais.
Sei que estou ferido. Mas tudo que falei pro Jose é verdade. Eu realmente
acredito em tudo que falei. Um relacionamento saudável não pode ser
formado em cima de pena ou medo de machucar o outro. Minha mãe saiu de
casa fugindo de um pai abusivo, achando que encontraria a felicidade nos
braços de um cara que só ofereceu conversa.
Segundo ela, a única coisa boa que ele fez na vida dela, foi eu. Porque
abandonou a mãe grávida de dois meses, forçando seu retorno pra casa do pai
dela. Nunca vi meu avô. Nós fugimos da casa dele quando eu estava com seis
meses. Não sei a história direito, mas sempre que o nome do meu avô é
mencionado, papai fica vermelho de ódio.
Soube, há uns três anos que tinha morrido na prisão. Não me importei,
nem a mamãe. Mas a questão agora é o que eu vou dar de presente pra única
pessoa que tenho no meu coração como avó... Entro no carro e vou pro
shopping pensar olhando as lojas. Odeio shopping e odeio ainda mais fazer
compras, mas pela minha avó faço esse sacrifício.
Começo a caminhar a esmo pelos corredores do shopping e avisto uns 100
metros a minha frente, uma cabeleira vermelha, muito minha conhecida.
Merda! Merda! Merda! Não quero esbarrar com a Red. Não quero sentir o
cheiro dos cabelos dela, nem imaginar a textura da pele dela na ponta dos
meus dedos de novo.
Meus olhos começam a arder. Não vou chorar em pleno shopping center
como um perdedor ridículo. Te apruma, caralho! Olho para os lados e avisto
um café, corri e me sentei numa mesa, de costas para a entrada. Em minutos,
um cardápio aparece na minha frente e uma sensação de dejá vu bateu fundo.
— Boa tarde! Meu nome é Karen e hoje vou servir você.
Volto a respirar... Outro nome. Outra garçonete. Outro café.
— B... boa tarde, Karen. Você pode me trazer um expresso duplo?
— Claro! Você tá legal, rapaz?
Respiro fundo e tento dar um sorriso. Pela cara que a moça faz, acho que
mais pareceu uma careta.
— Na verdade, não. Mas vou ficar, Karen. Obrigada.
— Um menino bonito como você? Mas é claro!
— Obrigado! Mesmo. Um elogio agora realmente me fez bem. —
Respondo entre risadas.
— À vontade, rapaz. Estou sempre às ordens pra elogiar rapazes bonitos!
A jarra de gorjetas anda meio vazia ultimamente.
Agora solto uma risada verdadeira.
— Pois hoje você vai receber a sua gorjeta bem gordinha, Karen!
— Isso se a sua namorada ali fora não me bater, Rapaz.
— Não vou me virar. A garota que você se refere por acaso é ruiva?
— Ruiva e linda. E tá com uma carinha...
— Não é minha namorada... Não mais.
— Ui. Mas ela tá sabendo? Porque pareceu tão chateada de te ver
conversando comigo.
— Ela tá sabendo sim... Mas tivemos alguns problemas de comunicação.
— Menino, se o problema foi a comunicação, você ficar se escondendo
num café pra não cruzar com ela e ela fugir, magoada, toda vez que te ver
conversando com alguém... Só aumenta o problema de comunicação, sabia?
Fico calado, remoendo as palavras de uma pessoa que nunca vi antes, mas
que falaram direto para meu coração. Levanto o olhar para Karen, mas ela já
não estava mais lá.
Uns minutos depois, me trouxe meu café,  e um sorriso.
— Pode sair agora, Romeu. Sua Julieta já foi embora.
— Obrigada. Por tudo, Karen.
Deixo uma gorjeta bem gorda pra ela. Continuo minha peregrinação pelas
lojas até passar por uma loja de impressão de fotos. Lembro de um livro de
fotos que vi uma vez na casa de uma amiga da mamãe sobre uma viagem que
fizeram para as Maldivas. Achei uma senhora recordação. Entro e questiono
se faziam esses livros-recordação. Tenho sorte. Eles faziam e dentro do prazo
que eu precisava. Mas vou precisar da ajuda da mamãe para conseguir as
fotos. Fiquei de enviar todas as fotos por e-mail no dia seguinte, e pegaria o
livro pronto na quarta-feira da próxima semana, quando estivesse indo para o
Rancho.
Volto pra o quarto. Agora, fase dois no plano “Presente da Vó Cora”. Ligo
pra mamãe e peço as fotos que eu precisava. Lógico que tive que explicar pra
que eu ia precisar das nossas fotos antigas. Óbvio que dona Kate não iria
fornecer informações tão preciosas assim, gratuitamente, certo? Mas minha
sorte é que ela amou a ideia e me prometeu até pegar fotos do papai com a
Vó Cora quando criança.
Caramba... Vai ficar muito legal. Depois, ligo pro tio Paul, faço o mesmo
com ele. Em uma hora, meu celular parecia que tinha enlouquecido, de tanta
coisa chegando. Abro o notebook e começo a trabalhar nas artes do livro. E
assim, me distraio pelas próximas horas. Até Jose chegar e a gente ligar lá em
casa e fazer a festa on-line pra Vovó, com direito a cantar parabéns e assoprar
vela de bolo.
Caralho... Família é isso: amor incondicional. Isso que eu quero pra mim.
Pra minha vida. Quero tudo ou nada. Mas também quero alguém que dê valor
ao amor que tenho a oferecer. E que ofereça amor em troca. Por inteiro. Sem
fazer combinações, acertos. Quero alguém que se abra pra mim, pro o sentir.
Se for pra rir, que gargalhe comigo. Se for pra chorar, me abrace e soluce
comigo. COMIGO.
Eu sei que é possível. Sei que existe. Cresci sendo testemunha de um amor
assim. Não aceito nada menos. Pra receber menos, fico na paquera. Sem
envolver sentimentos.
Mas por enquanto, dói. Sinto falta. Muita falta...
 
Capítulo 16
UCLA – 10 de Novembro (Aniversário da Vó Cora)
Depois de dez dias trancada no quarto, só saindo para assistir as aulas ou
trabalhar no Bruin, hoje aceitei ir com as meninas no shopping passear.
Mesmo eu dizendo que não tinha um centavo pra gastar, Dea me arrastou,
dizendo que a gente só ia “bater coxa”, o que quer que isso signifique no
dialeto daquela maluca.
Agora entendo, bater coxa significa andar até seus pés pedirem arrego.
Cacete. Essas meninas estão querendo dar a volta ao mundo à pé? E
resolveram treinar comigo? Quando iam me puxar pra mais um corredor,
avistei um café bonitinho logo na frente. Travei no chão.
— Dea e Libby. Não vou a lugar nenhum se vocês não me alimentarem
primeiro.
— Pronto. Nossa Come-Come está de volta! Eu já estava ficando
preocupada com você, Hope. Não come nada direito desde seu aniversário.
— Libby, trava a língua.
— Eu sei, amiga. Eu sei. Eu sinto falta dele, tá bem? Jace sempre me
levava pra comer, mesmo quando eu reclamava que não tinha grana, ele
arrumava um jeito de me alimentar... — A voz treme um pouco no final.
— Ah, pode parar! Já foi um parto de trigêmeos te tirar daquela cama,
garota. Não vai ficar falando Daquele-QueNão- Pode-Ser-Nomeado na minha
frente não. — Dea me dá uma sacudida, de brincadeira.
— Do Voldemort? Não entendi, sua maluca. — Responde Libby. Um doce
de pessoa, mas fazia por merecer todas as vezes que era sacaneada por ser
mais lenta nas piadas. E a Dea não deixava passar nenhuma...
— Que Voldemort, Idiota. Eu tava falando do... do... Argh!
— Ela tava falando do Jace, Libby.
— Ah... Desculpa, Hope. Eu não tinha entendido. Eu...
Tenho que rir das duas. Acho que sair, de repente foi uma boa ideia
mesmo.
— Tá tudo bem. Não falar o nome dele, não faz doer menos, meninas. O
que dói é a ausência, é a falta que sinto.
— Então vamos lá tomar esse café que até eu estou ficando com fome.
— Libby, você sempre tem fome.
Volto a dar risada. Às vezes, fico imaginando como essas duas eram antes
de eu chegar. Deviam praticamente se matar.
— Vamos, garotas. O café é logo ali.
Nós três vamos caminhando e rindo para o café, até que Libby, de repente,
para na minha frente, travando meu caminho.
— Então. Não gostei do estilo desse café. Vamos pra outro lugar.
Ela segura meu braço e tenta me puxar pra longe da entrada do lugar. Foi
quando eu o vi. Ele estava de costas, mas eu conheceria aqueles cabelos
loiros em qualquer lugar. Por todas as vezes que passei meus dedos por eles,
pelas vezes que puxei, desesperada enquanto Jace me lambia e chupava a
boceta, me levando às alturas.
Jace estava conversando com a garçonete do café. Como fez um dia
comigo, e a garçonete sorria pra ele. Claro! Quem, em seu juízo perfeito, não
iria sorrir pra ele? Olhar naqueles olhos azuis e querer se afogar naquela
doçura toda? Querer aqueles braços fortes e protetores te abraçando? Um
soluço escapa da minha garganta.
— Ai meu Deus. Rápido, Dea! Retirada estratégica. Ela vai desabar.
E só consigo ver as duas me cobrirem, uma de cada lado, e correrem
comigo dali. Acho que vou ficar doente...
— Tá tudo bem aí dentro, Hope?
— Vai ficar. Mas quero ir pro quarto. Não acho que foi uma boa ideia ter
vindo pro shopping, amigas.
Quando estávamos quase saindo do banheiro do shopping, a garçonete do
café entrou. Olhou para nós três e, sorrindo, comentou:
— Ah, que bom que peguei vocês ainda por aqui.
— Desculpa? A gente te conhece? — Libby pergunta, erguendo uma
sobrancelha.
— Calma aí, loirinha, eu venho em paz. Acabei de liberar um certo rapaz
da mesa que eu estava servindo. Esse mesmo rapaz entrou no café com os
olhos rasos d’água, cabeça baixa e percebi que fez questão de se sentar de
costas para a entrada.
Nós três ficamos meio que olhando pra ela, mudas de espanto. Eu fui a
primeira a sair do transe.
— Ele estava triste?
— Ah, sim. Por sua causa, ruiva.
— Ele falou de mim?
— Falou que vocês tiveram problemas de comunicação. Vou falar pra
você o mesmo que falei pra ele. Se o problema foi de comunicação, ele se
esconder num café só pra não cruzar com você, e você fugir, magoada, toda
vez que pegar ele conversando com alguém, só vai aumentar o problema de
comunicação.
Fico muda, olhando pra garçonete, que não tinha nenhuma necessidade de
vir atrás de mim e me falar nada das coisas que falou. Meus olhos começam a
lacrimejar e meu queixo a tremer.
— Minha função já está completa. Já vou embora.
— Muito obrigada... Desculpa, não sei seu nome.
— É Karen.
— Muito obrigada, Karen. Muito obrigada, mesmo.
— Imagina, menina. Eu estudo psicologia. Trabalho no café muito mais
como campo de pesquisas. A gente acaba reconhecendo as pessoas. Vocês
dois ainda têm muita história pra contar juntos. A única coisa que pode
atrapalhar vocês são o medo e o orgulho. São as forças opostas ao amor.
Onde esses dois entram, o amor sai. Até mais, meninas.
— Até.
— MEU.DEUS.DO.CÉU! Alguém me explica o que foi isso? — Dea se
encosta na bancada da pia.
— Não faço a mínima ideia. Mas gostei dessa garota.
— Eu também. E ela está coberta de razão.
— O que você quer dizer com isso, Hope?
— Vamos pra casa que eu conto. Acho que vou precisar de uma Reunião.
— UHUUU !!! Estamos de volta, Libby!
Chegamos de volta no quarto em um silêncio estranho, em se tratando de
nós três. Mas todas sabiam que o que tinha acontecido no shopping, tinha
mexido comigo. Aliás, sendo completamente sincera, desde meu aniversário,
as coisas não andavam bem com ninguém. Eu já não via Dea e Jose juntos,
nem mesmo falando ao telefone. Lucas evitava vir ao nosso quarto, marcava
com Libby na rua. Minhas conversas com as meninas eram truncadas, cheias
de dedos.
E isso não estava certo. De maneira nenhuma. E eu sinto que sou a grande
culpada dessa ruptura. Eu preciso tomar uma atitude, não só por mim e pelo
Jace, mas por todos os nossos amigos. E pretendo começar agora. Vou fazer
uma coisa que nunca fiz antes: vou me abrir.
Nós nos sentamos no centro do quarto como sempre, mas antes do
juramento de que nada do que dissermos aqui poderia sair daqui, ergui a mão.
— Hoje vamos fazer uma reunião diferente, pode ser?
— Diferente como, Hope?
— O que você quer dizer com isso, Hope?
— Hoje eu não quero segredo. Quero que vocês tenham a liberdade de
contar. Porque hoje eu vou abrir meu coração pra vocês duas. E é injusto que
vocês guardem segredo para os meninos. Principalmente porque eu mesma
iria contar, se eles olhassem na minha cara de novo.
— Os meninos não estão com raiva de você, Hope. — Dea começa.
— Não estou dizendo isso. Mas eu preciso que vocês entendam como
funciona minha cabeça. E o que me fez ser assim. Não é uma desculpa, mas
uma explicação.
— Tá bem.
— Estamos aqui pra você, pequena.
— Tirando meu avô, nunca recebi muito carinho ou atenção em casa. Eu
tinha minha mãe, mas ela cuidava de mim como se eu fosse uma obrigação,
como se ela estivesse cumprindo as ordens dadas por alguém. Desde muito
cedo eu descobri que não era inteligente sorrir, cantar ou tentar abraçar minha
mãe. Quando tia Beth engravidou, as coisas pioraram... Por um passe de
mágica, acabou-se a necessidade de eu ser cuidada.
— Mas espera um pouco, Hope. Pelos meus cálculos, você tinha, o quê?
Oito anos?
— Isso, Libby. Viu só? Você não precisa da minha ajuda pra passar em
cálculo. — Consigo brincar... — Eu ainda era uma criança. E praticamente
assumi dois bebês, porque a mãe olhava o vovô e eu tinha muito medo do
Sebastian.
— Medo por que, Hope?
— Porque o Sebastian sempre me olhou estranho. Sempre ficava
encostando a mão em mim, mesmo sem necessidade. E ele fez de tudo pra eu
não vir pra universidade. Até tentou entrar na justiça dizendo que eu era
muito nova e ele era meu guardião. Graças a Deus, pra isso minha mãe
serviu...
As duas, nesse momento estavam se remexendo no chão. Doidas pra falar
comigo, mas sem querer acreditar em tudo que estou contando. Ergo mais
uma vez a mão. Eu precisava chegar no fim.
— Eu nunca confiei em ninguém. Nunca PUDE confiar em ninguém.
Toda a minha história vem carregada de decepções, perdas e abandonos.
Aprendi muito cedo que se eu não me abrir, não me aproximar...
— Não tem o que perder. — Dea completa, emocionada.
— Sim.
— Por isso que não falava sua data de aniversário?
— É sim... Porque se alguém esquecesse não ia doer como doeu na
primeira vez.
— J... já esqueceram seu aniversário, Hope?
— Ah, Libby... Já tive mais aniversários esquecidos que lembrados, minha
amiga. Mas minha mãe em algum momento acabava lembrando. Mas nunca
a tempo de me fazer um bolo ou comprar um presente...
— Hope... Querida... Quando foi a última vez que você comemorou seu
aniversário?
— Meus 18 anos? — As duas me olham revirando os olhos.— Acho que
foi nos meus cinco anos. Tem a foto em casa, como eu estou sorrindo e estou
com todos os dentes de leite ainda, foi antes dos seis anos.
— Misericórdia.
— Puta que pariu.
— Por isso eu estudava tanto. Pra não voltar pra casa. E depois de um
tempo, as matérias passaram a ficar muito fáceis pra mim. Quase como se
Deus me tirou uma família normal, me deu um cérebro anormal.
As duas me olham como se eu fosse doida. Eu começo com uma
risadinha, Libby acompanha... Dea engata. Em pouco tempo, estávamos as
três às gargalhadas.
É... essa reunião foi um sucesso.

Hedrick Hall – Sábado, 12 de Novembro


Acabo de chegar da biblioteca, depois de mais uma tarde infrutífera de
estudos. Não consigo me concentrar em mais nada e as provas vão começar
logo depois do Thanksgiving. Preciso arrumar uma forma de retomar minha
concentração. Mas tudo na faculdade me lembra o Jace... Já aceitei o fato dele
não me perdoar. Se fosse comigo, não sei se EU me perdoaria.
Eu deveria estar acostumada com a solidão, certo? Mas eu experimentei,
pela primeira vez na merda da minha vida, uma amostra de ser feliz. De não
estar só. E foi muito bom. Não! Foi maravilhoso. E eu vou ser eternamente
grata ao Jace pelos dois meses em que eu pude experimentar como é ter
motivos pra sorrir.
Largo minha mochila sobre a mesa de estudos do quarto e vejo uma
chamada desconhecida no me celular. Estranhei, mas atendi.
— Alô!
— Alô! Eu estou falando com a jovem Hope?
— Hã... Sim. É a Hope falando. Quem é, por favor?
— Ah, Menina Hope! Que bom. Sou a Vovó Cora Howell. Nos conhecemos
pessoalmente no seu aniversário. Você se recorda, meu bem?

Acho que devo ter ficado uns segundos muda de espanto.


— Alô? Hope? Paul, acho que o telefone não está funcionando...
— Não, Vó Cora! Eu estou aqui. Perdão. Eu só fiquei surpresa com sua
ligação.
Escuto uma voz de homem no fundo dizendo: Eu te falei, Cora! Você
deveria ter mandado uma mensagem Primeiro!
— Paul, fique calado. As damas estão conversando! Perdão minha filha.
Tive que morder o interior da bochecha pra não rir.
— Claro, Vó Cora. Mas o que eu posso fazer pela senhora?
— Bem, meu doce... Meu aniversário foi anteontem e...
— Ah, sim! Meus parabéns, Vó Cora! Muitas felicidades.
— Obrigada, querida. Você é muito educada. Mas não foi pra receber
parabéns que eu te liguei.
— Hã... Não?
— Não, criança! Eu liguei por causa do Jason.
Em segundos, eu imagino que ele sofreu um acidente, que ele largou a
faculdade, até que ele iria se casar. Respiro fundo e me lembro que estava
falando com a vó dele. Que acabou de fazer 70 anos.
— Vó Cora... Eu e Jace não estamos nos falando desde meu aniversário...
— Imaginei que era isso. Menino teimoso como o pai.
— Desculpa?
— Bem, menina. Quero saber de você! Você tem o que é preciso pra
merecer um Howell?
— Perdão, Vó Cora, mas eu não estou entendendo.
— Não se faça de burra. Eu não te acho burra como a Emily te chamou
na sua festa. Quero saber se tem dentro de você o que é preciso pra merecer
um Howell?
— Eu não sei, Vó Cora. O que é preciso? É preciso gostar dele? Então
sim, eu tenho. É preciso pedir perdão? Então eu também tenho. Porque estou
disposta a pedir perdão quantas vezes forem necessárias. Então me fala, Vó
Cora... O que é preciso? Porque eu faço. Faço qualquer coisa.
— Uma vez eu te disse que os Howell são intensos. Tudo eles sentem
intensamente. Pra merecer um Howell, é preciso AMAR intensamente,
completamente. Sem reservas, sem medo, sem meia medida. Um Howell se
despe de orgulho. É tudo ou nada. Vou te perguntar de novo, menina. Você
TEM O QUE É PRECISO?
Respirei fundo. Respondo com o máximo de convicção que pude reunir na
minha voz.
— Tenho.
— Ótimo. Tenho um convite pra te fazer então. O que você pretende fazer
no Thanksgiving, meu doce?
 
Capítulo 17
Bear Creek Ranch – 24 de Novembro (Thanksgiving)
Chegar em casa tem um sabor agridoce. Avistar a Casa Grande chega a
dar um embrulho na garganta. Jose está olhando tudo espantado, mesmo
tentando disfarçar o constrangimento. Só quero ver a reação dele quando
receber as boas-vindas da família Howell. Se não fosse muita sacanagem, até
gravava...
Paro o carro bem na porta principal de propósito, pra chamar a atenção de
todos, mesmo. Antes que eu pudesse abrir a porta pra descer, os Howell
começaram a aparecer.
Primeiro, papai e mamãe, sempre abraçados e sorrindo. Até mamãe
reconhecer o carro e descer as escadas correndo. Vovó sai pela porta em
seguida, com tio Paul falando atrás para que ela esperasse por ele, que
também queria saber quem estava chegando. E os dois brigando, como de
costume. Até que meu pequeno furacão passa por todos, inclusive pela
mamãe e abre a porta, pulando no meu colo, e me dando um abraço apertado
no pescoço. Emily... Ainda não sei em qual versão: se na Sue, a boazinha...
ou na Rose, a má.
— Jace! Eu estava MORRENDO de saudades de você. Você fica aqui até
quando? Nós podemos ver filmes juntos?
— Emie. Eu também estava com muitas saudades de você, Tampinha.
Claro que podemos ver filmes juntos. Eu quero te apresentar um amigo da
faculdade. A gente divide o apartamento. O nome dele é Jose. Ele é
mexicano. Mas fala nosso idioma, exceto quando fica nervoso ou com raiva.
— Ah, tá. Oi, Jose. Não fica nervoso comigo, tá? Porque meu espanhol
não é tão bom quanto o da mamãe e do papai. E daí se eu falar alguma
besteira, você vai ficar com raiva e o caldo entorna de vez.
Eu e o Jose caímos na risada. Graças a Deus, quem veio visitar hoje foi a
Emily Sue... Jose tá com sorte.
— Muito prazer, señorita Emily. É um prazer te conhecer.
— Ai, que chique! Ele me chamou de senhorita. — E a danada se abana,
brincando. — Mas me chama de Emie, tá? Senhorita fica muito formal...
Você é um gato, mas não posso namorar ainda. Meu pai tem uma arma lá
dentro e sabe usar.
Jose até se engasgou.
— Nossa! Muito obrigado por me avisar, Emie. Vou me comportar, então.
— Pois é... É o preço que eu tenho que pagar por ser a única filha de Luke
Howell.
— Qual o problema de ser nossa filha, Emily? — Mamãe pergunta,
pegando a última frase da Emie. Coitada, se lascou agora.
— Nada, mamãe. Nadinha mesmo.
— Sai de dentro desse carro para os rapazes poderem descer e
cumprimentar todo mundo.
— Sim, mamãe.
Com mamãe contendo a Emie, conseguimos descer e falar com todos,
inclusive Rocky e Ginny, que vieram saber qual o motivo de tanta algazarra.
Eu adorava esses dois, mas meu coração sempre seria do Bobby.
Entramos e tio Paul nos levou pra deixar nossas malas nos quartos. Toda a
ala sul era destinada para a família e convidados. Eram 8 quartos para a
gente, mais as salas de entretenimento, a parte de serviços, o salão principal e
a varanda que dá vista para o lago. Hoje o almoço vai ser servido na varanda.
Entro no meu antigo quarto e olho ao redor. Tudo era acolhedor e ao
mesmo tempo estranho. Tão pouco tempo que deixei minha vida no Rancho,
minha casa, meu quarto... Mas eu sinto que já não pertenço a esse espaço.
Reconheço os livros na estante, os troféus de kickboxing, os prêmios
escolares presos na parede... Mas parece ser de outra vida, de outro Jason.
O Jason que saiu de Park City não é o mesmo que retorna hoje. Eu saí
com o coração cheio de sonhos... Chego com ele machucado. Sinto falta da
Red. Penso onde ela estará agora. Mas, depois das últimas palavras dela, não
me cabe mais me preocupar com ela. Segundo a Ruiva, se ela se quebrar, ela
se cura sozinha... Pena. Porque eu sempre estaria ao lado dela pra ajudar a
catar os pedaços.
Mas essa não é mais uma escolha minha... Aliás, nunca foi.
— Jason? Posso entrar, amigo?
— Claro, Jose. Entra aí.
Vejo meu amigo entrar no meu quarto e correr os olhos, analisando tudo.
Ele para na frente das fotos, dos livros, das medalhas... Sempre em silêncio.
Até se sentar na minha cama. E me encarar com aqueles olhos pretos
penetrantes.
— Que foi, cara? Tá tudo bem com o seu quarto?
— Você sabe que sim. Eu tô achando que você é que não tá muito bem,
amigo. Então vim aqui pra arrancar o esparadrapo.
Dou risada.
— Como é?
— Minha mãe dizia que quando a gente tem um machucado que tenta
esconder, a gente coloca um esparadrapo em cima, mas só faz piorar, porque
ele inflama. A melhor coisa a se fazer é arrancar o esparadrapo e deixar
aberto. Cura mais rápido. Tô aqui pra arrancar o esparadrapo.
Penso nas palavras do meu amigo, mas faço que não com a cabeça.
— Admiro a sua boa vontade, irmão. Mas não tenho esparadrapo pra
arrancar. Esse já foi arrancado.
— Meu amigo. Esse feriado você me deu um presente que nem que eu
queira, consigo te pagar. Você me deu aceitação. Você e sua família. Então,
por isso, eu vou te contar uma coisa... Muitas vezes, nós temos demônios
dentro de nós que em geral, conseguimos mantê-los presos, escondidos de
todos. E até de nós mesmos. Mas algumas vezes esses desgraçados fazem
tanta pressão pra sair que fica impossível conter. E quando saem, acabam
fazendo um monte de merda.
Não sei se entendo completamente as palavras do Jose, mas ele me faz
pensar.
— E algumas merdas são tão grandes que a gente acha que não consegue
nem imaginar uma forma de desfazer.
Com isso, Jose se levantou da cama, me dá um tapa nas costas e vai  pra
porta do quarto.
— Esse cara que aparece nessas fotos sempre rindo, que gosta de ler
romances, que parece que aprendeu a lutar pra se defender, porque é isso que
está escrito em cada medalha aqui, precisa lembrar de algumas coisas...
E sai batendo a porta do quarto. Puta que pariu... Mas que caralho foi
isso?

Almoçar com toda a família não é para os fracos. Era preciso ter ouvidos
fortes para suportar os decibéis proferidos por todos. E, principalmente,
precisava estar pronto para ser bombardeado com perguntas e comentários
dos mais inocentes aos mais escandalosos (esses partidos da boca da minha
avó, claro). Até agora, Jose tem se saído bem.
— Jace, meu bem. Preciso que você faça um favor para mim. — Vó Cora
usou “aquele” tom de voz doce que significa que não aceita recusas.
— Claro, Vó. O que você precisa?
— Preciso que você vá no aeroporto pegar uma pessoa que está chegando
para minha festa hoje.
— Mas vó... Não posso mandar o motoris...
— Jason Howell! Estou pedindo pra você pegar uma pessoa querida que
está vindo especialmente me dar parabéns pelo meu Jubileu de Platina?
— Vovó... Quem comemorou o Jubileu de Platina foi a Rainha Elizabeth
II da Inglaterra. Foram 70 anos de reinado. Você está fazendo 70 anos de
vida... — Emie fala do outro lado da mesa, revirando os olhos.
— Emile Rose! Não me corrija! Eu tenho 70 anos de reinado sobre a
Família Howell. E Jace, vá buscar minha amiga! O voo dela está previsto
para chegar às 15:20. Você já pode sair, meu bem.
A mesa ainda estava rindo sobre o comentário sobre o “reinado” da vovó e
das reclamações da Emie dizendo que ela não foi a garota má do exorcismo
de Emily Rose. Quando ia me virar pra chamar Jose pra ir comigo, mais uma
vez, vovó parece que estava prevendo meus movimentos.
— Jose, meu bem. Você quer conhecer o Rancho? O Paul pode te levar
pra dar uma volta pelas instalações agora enquanto o Jace está fora.
— Eu gostaria muito, Vó Cora.
— Perfeito, querido. Faça acontecer, Paul.
— Sim, Cora.
— Bom, então vou indo! — Eu me despeço de todos, e vou pegar a tal
amiga da vovó. Esqueço de perguntar o nome da velhinha... quando chegar
no desembarque, mando mensagem perguntando.

Chego em cima da hora pra pegar a velha. Quando estava quase entrando
no estacionamento, recebo uma mensagem da vovó dizendo que sua amiga já
tinha pousado. E que estava me aguardando numa mesinha do Starbucks, em
frente do grande banco-escultura do corredor da entrada principal. Bom...
facilitou muito minha vida.
Estaciono e vou para o local indicado. Quando chego no Starbucks,
começo a procurar uma velhinha. Encontro uma cabeleira vermelha que me
deu até uma pontada de dor no peito, esfreguei o local reconhecendo o
sentimento: saudades. Mas continuo procurando a amiga da vovó. A ruiva se
levanta e vira pra mim. A pontada de saudade virou um coice de choque.
Porque na minha frente, me encarando, com lágrimas nos olhos, estava a
minha ruiva.
PUTA QUE PARIU...
— Hope?
— Oi, Jason... Desculpa aparecer assim, de surpresa. Pelo visto sua avó
não falou que eu vinha, né?
— Não... Não falou mesmo. Ela me mandou vir buscar uma amiga...
Achei que estava vindo pegar uma velhinha.
— Sua avó é incrível. Ela me ligou no sábado e tivemos uma conversa
interessante. Então ela me convidou para vir para o aniversário dela. Mas eu
só aceitei se conversasse primeiro com você.
— Agora você quer conversar comigo? Eu me tornei merecedor de ouvir
algum segredo ou problema que se você quebrar, conserta sozinha?
Vi a Red se encolher. Também senti a pancada. Mas ainda estava ferido.
Doeu pra caralho ter recebido a porrada dela sem ter feito nada pra merecer.
Mas essa mulher sempre surpreende. Em vez de se esconder, essa ruiva é
corajosa. E creio que chegou pra enfrentar seus demônios internos e arrancar
o esparadrapo.
— É... Eu mereci esse comentário, Jace. Mas tem algumas coisas que você
precisa saber antes de me condenar aos confins do inferno. Não estou aqui
pra você me perdoar, mas pra me ouvir, pra gente conversar. Podemos?
— Eu vou te ouvir, Hope. Mas depois você também vai me ouvir. Porque
tudo tem que ser em duas vias. Respeito que se dá, deve ser recebido,
compreensão dada deve ser recebida na mesma medida, gentileza oferecida
merece retorno.
— Certo, Jace. E eu sinto muito pelas minhas palavras e comportamento
terem te ferido... Isso é um fato. Não pode ser modificado, mas pode ser 
perdoado. E vou tentar te explicar o que gerou meu comportamento.
— Estou ouvindo.
— Minha história de vida não é muito normal no que diz respeito às
demonstrações de carinho e amor, desde a mais tenra idade. A única pessoa
dentro da minha casa que demonstrava ter algum carinho por mim era meu
avô. Mas nunca recebi nenhuma demonstração por parte da minha mãe,
sempre parecia ser uma obrigação pra ela cuidar de mim.
— Fui saber o que era beijo de boa noite, em histórias na escola. A última
festa de aniversário que tive na vida, fora a festa surpresa que você organizou
pra mim, eu devia ter cinco anos, porque na foto eu ainda tinha todos os
dentes da frente... Mas podia ser de quatro anos, porque não tinha vela sobre
o bolo da foto. Inúmeras vezes, praticamente esqueciam meu aniversário. Em
geral, minha mãe lembrava só a noite, no jantar ou quando eu estava lavando
a louça... Mas era só parabéns mesmo.
“Eu não conto minha data de aniversário pra ninguém pra não me frustrar,
pra não ficar esperançosa de que alguém vá se lembrar de mim. E descobrir
que não sou importante. Então aprendi a não esperar SER importante. Porque
assim não machuca. Mas no dia do meu aniversário, nem a porcaria da minha
mãe tinha me mandado uma mensagem...
E, pela primeira vez na vida, eu estava sentindo e presenciando o que era
ser feliz... Ter amigos. E fiquei muito mais aborrecida com tudo, comigo,
com a vida que eu tive, com Deus.
Eu nunca poderia imaginar que você estava organizando uma festa pra
mim. Isso nunca me passaria pela cabeça. Porque eu NUNCA tive uma. Isso
era tão estranho pra mim quanto se você me chamasse pra pegar o foguete do
Elon Musk pra visitar a estação espacial. Eu sei que nada do que eu falei
agora é desculpa dos absurdos que eu escrevi pra você. Mas eu preciso que
você saiba que eu não estava querendo agredir você... Acho que o alvo era a
mim mesma, minha história miserável e a minha dificuldade em lidar com
minha solidão no passado.”
Caralho. Que bagagem foda a Red carrega... Mas como ela mesma disse,
não é desculpa.
— Porra, Ruiva. Entendi tudo o que você falou. Entendi mesmo. E eu fico
puto pra caralho por tudo isso que você passou. Toda criança tem o direito de
ser amada. Ser protegida. Se sentir segura. Eu entendo. Mesmo. Só que tem
uma coisa... Eu não sou saco de pancada. Nem servir de sparing pra qualquer
merda que te acontecer na vida. Você tem um problema? Uma merda isso...
mas todo mundo tem problema, Red. A gente conversa sobre ele. Alivia a
pressão. Eu tento ajudar. Você chora.
Mas levar porrada sem saber o porquê? Ah não... Não foi assim que eu fui
criado. Não é assim que eu quero viver. Eu sinto sua falta pra cacete. Mas eu
quero alguém na minha vida que dê valor ao amor que eu tenho a oferecer.
Alguém que vai dividir comigo aquela história da “na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença”...
O que eu peço parece muito, mas na verdade é pouco. Eu só quero alguém
que apenas me ame de verdade e me e permita amar por inteiro. Porque pra
mim é tudo ou nada...”
Agora, minha ruiva chora abertamente.
— Jace... Pra mim é tudo. Com você é tudo. Sempre.
— Você tá pronta pra me amar? Sem medos? Vai me permitir te amar por
inteiro?
— Eu sempre te amei.
Jace não esperou nem mais um segundo. Depois de tanto tempo, senti seus
braços me enlaçarem a cintura e em segundos sua boca cobria a minha, num
beijo que unia saudade, desespero, paixão, fome, tesão. Nossas línguas
dançavam juntas numa tentativa de buscar mais e mais contato. Suas mãos
corriam pelas minhas costas até meus cabelos, enroscando os dedos nos fios
próximos à minha nuca, me mantendo cativa. Mas não havia desejo de fuga.
Quando a necessidade de ar nos forçou a nos afastar, Jace colou a testa na
minha, ficando uns segundos de olhos fechados, só respirando, pesadamente.
Quando me olha, aqueles olhos azuis tão lindos, que tanta saudade senti,
estão sérios.
— Nunca mais me empurra pra longe de você, Red.
— Nunca mais...
 
Capítulo 18
Voltando ao Rancho dos Howell - Thanksgiving
— O que aconteceu com o Assassino? Procurei por ele nos
estacionamentos do campus...
— Você procurou por nós?
— Todos os dias...
— Minha mãe pediu pro motorista  levar o carro do meu pai e  trazer o
assassino pra cá no dia seguinte do seu aniversário. Ela disse que tinha
certeza de que eu não ia me livrar “daquela máquina horrorosa”. Então ela
tomou as providências pra que eu ficasse com o carro mais seguro dos que a
gente tem aqui na garagem. — Conto, rindo.
— Mas esse não é tão pequenininho quanto o outro? Mas esse carrinho
bagunça o cabelo da gente. Quando a gente chegar, vou estar assustadora...
Olho bem na cara da Red pra ver se ela estava falando sério. Caralho... Eu
amo a ingenuidade dessa mulher. Ela estava dentro do carro mais caro dos
Estados Unidos. O Bentley do meu pai deve estar custando, brincando, mais
de US $ 220 mil,  o meu Porsche devia estar na casa de metade desse valor. E
ela reclamando do conversível porque bagunçou o cabelo dela e prefere o
Assassino por causa da cor. Eu amo essa mulher! Quase paro o carro no
acostamento pra roubar um beijo.
— Você é a coisa mais linda que já vi. Morro de saudades dos seus
cabelos bagunçados no meu travesseiro quando acordo de manhã.
Minha ruiva, que me fazia um carinho suave na perna, aperta minha coxa
e vejo roçar as pernas, tentando se aliviar. Porra. Jace, olhos pra frente! Não
vá causar um acidente, caralho. Calma, garoto. Hoje à noite nós vamos matar
as saudades da nossa ruivinha. Ai cacete! Não trouxe camisinhas!!! Preciso
parar numa farmácia urgentemente e...
— Eu trouxe, Jace.
— Oi?
— Você tava fazendo aquela coisa de resmungar e murmurar que faz
quando fica nervoso. Falou de camisinhas. Eu trouxe... Achei que você tava
pensando que não tinha em casa.
Porra. Aí é foda de resistir, Deus! Encosto o carro numa guinada. Red dá
até um gritinho de susto. Puxo o freio do carro e aperto o botão de
fechamento da capota do carro. Minha Ruiva fica olhando o teto do carro
fechar de olhos arregalados. Acho graça.
— Que foi, Red? Não tem botão pra fechar vidro? Por que não teria pra
fechar o teto?
— Sei lá? Por que o teto é um PEDAÇO do carro?
Tive que rir da carinha linda que ela fez. Solto o cinto dela e puxo minha
ruiva pra cima do meu colo, que imediatamente me aceita, passando uma
perna por cada lado do meu corpo encostando nossos quadris. Porra, que
saudade dessa bunda!
Minhas mãos vão quase que imediatamente para aquela maravilha da
natureza. Que começo a massagear e fazer com que minha gatinha iniciasse
um rebolado delicioso sobre meu cacete que já estava louco pra pular fora do
meu jeans. Puta que pariu! A Ruiva começa a se esfregar inteira no meu
corpo, começo a perder o controle das minhas ações. Minhas mãos
passeavam pelas costas, bunda, seios. Red gemia descontrolada em meu
ouvido, me fazendo rosnar de vontade de rasgar toda a roupa me não estava
me permitindo entrar naquela bocetinha apertada que eu tinha certeza estar
pingando de vontade.
— Jace... Por favor...
— O que você quer, Gostosa? Quer que te tome aqui na estrada? Quer
gozar gostoso pra mim?
— Por favor, Jace. Me faz gozar. Faz tanto tempo... Eu preciso de você.
— Caralho, Ruiva. Essa bocetinha é toda minha. Teu prazer é meu. Teu
gozo é meu. Quero sentir você me apertando de novo, amor.
— Sim, Jace! Sim!
Alguém lá em cima estava torcendo por nós dois, porque fez minha delícia
vir pra cá de vestido, mesmo com a temperatura mais amena... Eu espalmo
minhas mãos naquelas coxas roliças e  vou subindo devagar e ao mesmo
tempo, mordiscando sua orelha, lambendo e chupando seu pescoço,
provocando gemidos cada vez mais altos da minha mulher. Eu sabia que ela
estava por muito pouco. Ergo a barra do vestido dela, enquanto ao mesmo
tempo soltava mordidas pelo ombro e colo, procurando chegar nos bicos
intumescidos daqueles seios deliciosos.
Quando meus dedos encontram o elástico de sua calcinha, Red estremece
por inteiro, como se tivesse levado um choque elétrico e solta um gemido
desesperado. Passo a ponta do indicador pela abertura de seus grandes lábios,
procurando e brincando com seu clitóris.
— Jace, me deixa gozar... Me faz gozar, Jace!
Agarro sua calcinha pelas laterais e, num forte tranco, arrebento a fraca
costura, destruindo o pobre indumentário. Minha Red solta um gemido
profundo. Olha pra baixo, mordendo o canto da boca.
— Era nova, Jace. E eu gostava dela. Foi a primeira vez que usei... — Fala
fazendo biquinho.
— Não entendo nem o porquê você trouxe calcinhas pra cá... Não vai
precisar usar...
— Jace!
— Red!
E enfio meu dedo de uma vez no canal quente e encharcado, que me
recebe como ao filho pródigo. A boceta dela me sugava num desespero tal
que parecia não querer me soltar nunca mais. Introduzo o segundo dedo,
virando a mão pra cima e apoiando o dedão sobre o grelinho que já se
mostrava duro, desesperado pra gozar. E começo a foder minha mulher com
os dedos, inclinando-os , buscando seu ponto G, ao mesmo tempo que lhe
massageava o clitóris.
Red girava os quadris e gemia, ensandecida nos meus braços. Meu pau
quase explodiu só de ver esse quadro maravilhoso que era presenciar minha
mulher tendo prazer. Porra. Hope gozando era algo pra entrar para os canais
das cenas mais eróticas do planeta. Mas só para meus olhos. Preciso do seu
sabor.
Vendo que ela ainda estava nos tremores do pós-gozo, coloco a Ruiva em
seu lugar de volta no banco do carro e, me soltando, caio de boca naquele
néctar maravilhoso que era o orgasmo da Ruiva. Quantas saudades do sabor
dessa mulher. Lambo e chupo até ela estar totalmente limpa, e me puxando
os cabelos, por estar muito sensível. Linda!
— Vamos, amor. Estão esperando por nós na Casa Grande.
— Mas e você?
Ela me pergunta, apontando para a ereção gigantesca que eu estava
portando nesse momento. Vejo seus olhos brilharem de excitação. Red já
vem com uma mão na direção do botão da minha calça, enquanto a outra me
massageia por cima do tecido. Porra, que saudades dessa mulher. Muito
rapidamente, a Ruiva já está com aquela mão pequena e macia por dentro da
minha cueca, numa punheta deliciosa.
— Jace?
— Hã? — Não sei se consigo dar respostas coerentes nesse momento.
— Você fica lindo na minha mão, te dando prazer... Assim tá bom, amor?
— Mais rápido, Ruiva. Mais forte...
— Goza pra mim, amor.
— Ruiva, eu... Ahhh.
Ela coloca a mão sobre a cabeça do meu pau, como ensinei, pra diminuir a
lambança, porque sou um lançador de porra à distância, segundo minha
ruiva. Mas agora estamos com um problema técnico. Como iremos nos
limpar? Olho para os lados e miro o porta-luvas... Será?
— Red, dá uma olhada no porta-luvas e vê se tem desses lencinhos
umedecidos...
— Achei!
”Porra, eu agora realmente não preciso dessa imagem dos meus pais
trepando dentro desse carro e a Dona Kate ser tão prevenida a ponto de
deixar estocado esses lencinhos aqui! Mas... Tá bom, vai! Não posso negar
que eles são bem úteis agora! Valeu, mãe...”
Depois de limpos, pego os lencinhos e jogo embaixo do banco do
motorista mesmo. Quando chegar no Rancho, acho uma lata de lixo e jogo
todos fora. Olho para a Hope e ela está sorrindo.
— O que foi?
— Já tinha ouvido falar de sexo de reconciliação, mas nunca achei que iria
experimentar.
— Red... Isso não foi sexo de reconciliação. Foi só amostra. Sexo de
reconciliação você vai ver mais tarde. Sem roupas e com mais espaço,
privacidade e tempo.
— Promete?
— Pode apostar nisso.

Chegamos na porta do Rancho e vejo a Hope ficar tensa do meu lado.


Pego na sua mão e acaricio...
— Ei... O que foi, Red?
— Eu preciso me desculpar com sua família também, Jace.
— Não precisa, amor. Na hora que eles nos virem bem, eles vão relevar
qualquer problema que a gente tenha passado.
— Mas eu te fiz sofrer... E, por tabela, fiz eles sofrerem também. Eu
preciso fazer isso. Preciso explicar. Você fica do meu lado?
— Claro, linda. Sempre.
E nesse momento, vejo uma mudança no olhar dela. Vi nascer ali uma
serenidade que antes não havia. Era como se agora ela realmente acreditasse
não estar mais sozinha. Porra, se eu pudesse mandava dar uma surra na
família dela. Só escapava o avô. Merda. Dou a mão para ela e entramos em
casa juntos.
Pegamos a família toda reunida, Jose incluído, sentados na sala principal,
ao lado da lareira, conversando. Os homens tomando uísque, mamãe e vovó
na mesa lateral jogando cartas e Emily jogada no sofá com o IPad na mão.
Parecia cena de filme, porque todos pararam o que estavam fazendo pra olhar
para a gente. Até minha irmã soltar, em alto e bom som:
— O que ELA tá fazendo aqui? Que cara de pau!
— Emily! Esse não foi o tipo de educação que eu te dei! — Mamãe já dá
logo um puxão de orelhas na mal-educada.
— E não que seja da sua conta ou interesse, Emily Rose, mas a menina
Hope está aqui a MEU convite, para o MEU aniversário. Você tem algum
problema com isso?
Vejo minha avó levantando a mão, na tentativa frustrada de fazer um
coração com os dedos para a gente. Meu tio Paul, ergue o copo dele de
uísque para meu pai, que sorrindo, solta algo como: Ah, essas minhas
mulheres... Jose sorri de orelha a orelha.
Red dá um passo à frente e, puxando o ar numa forte inspiração, começa a
falar para todos, numa voz clara e firme:
— Na verdade... A Emily tem todo o direito de falar e questionar a minha
presença aqui, Sra. Howell.
Vejo minha irmã erguer as duas sobrancelhas em total espanto.
— Eu preciso pedir desculpas a todos vocês pelo meu comportamento no
dia do meu aniversário, foi grosseiro e desonroso. Eu tratei mal a única
pessoa que só me ofereceu carinho, proteção e amor, desde que me entendo
por gente: o Jason. E destratando ele, eu me sinto na obrigação de hoje vir
pedir perdão a todos vocês.
— O que aconteceu para você ter esse tipo de comportamento, minha
filha? O Jason... — Fala meu pai.
— Não, Sr. Howell. De maneira nenhuma. Seu filho sempre me tratou
com toda a cortesia do mundo.
— Então você poderia nos explicar, de uma forma que não seja muito
invasiva, o que pode ter acarretado toda aquela confusão e sofrimento?
— Sim, senhor. Eu posso. Mas peço que não me julguem muito
severamente depois. Eu não tive uma infância muito normal. Não me foi
oferecido carinho, atenção, amor. Minha mãe cuidava de mim como se
tivesse recebido ordens de uma patroa muito ruim, ou que eu fosse um fardo
indesejável. Como já contei para o Jason, minha última festa de aniversário
foi aos quatro ou cinco anos. E não me recordo de algum dia ter recebido
presentes de nenhum parente. Parabéns mesmo, só recebia da minha mãe,
muitas vezes quando o dia já estava acabando.
“Então, aprendi a não contar pra ninguém sobre essa data, não fazer
amigos, não esperar nada de ninguém. Quando o dia do meu aniversário foi
passando e não recebi nenhuma mensagem nem da minha mãe, comecei a
ficar com raiva de mim mesma, da vida que tive, de Deus... Quando Jace me
mandou mensagem, eu acabei descontando nele o ódio que estava gritando
dentro de mim. Quando tentei falar com ele, já era tarde demais... Sei que
não é desculpa para meu comportamento, mas gostaria de pedir perdão,
mesmo assim.”
Nunca tive tanto orgulho da Hope quanto nesse momento. Porque não foi
um discurso se vitimizando, pra buscar simpatia da minha família, muito pelo
contrário. Ela, o tempo todo manteve a cabeça erguida, falando com todos,
mantendo a calma e os olhos firmes. Pude ver as fisionomias de todos se
abrandando por ela. Minha ruiva merece mais uma chance.
Dou um passo e me coloco ao seu lado, abraçando-a pela cintura,
recebendo seu aconchego.
— Eu já perdoei a Hope e gostaria que vocês a perdoassem também. É
muito importante pra mim ter o apoio e aceite de vocês. Porque, da mesma
forma que amo a Hope, amo vocês.
— Bem... Depois de tantas revelações... Eu só tenho uma coisa a
declarar... — Meu pai diz, muito sério. Retorno seu olhar, sem mover um
músculo do lado da minha Ruiva.
— Seja bem-vinda à Família Howell, Hope. — E ele dá o seu famoso
sorriso de derreter corações femininos. Vejo minha namorada soltar a
respiração.
Todos bateram palmas, contentes. Todos, menos a Emily. Minha irmã se
levanta do sofá e se coloca na frente da Hope, séria.
— Quero falar com você.
— Pode falar, Emily.
— Por que você não contou tudo isso pra gente no dia do seu aniversário?
Porque meus pais, minha avó e meu tio foram legais com você, eu não fui.
Tudo que eu falei pra você, era verdade e eu realmente estava sentindo. Amo
meu irmão. E você machucou ele. Eu realmente quis te machucar. Não me
arrependo.
Minha Ruiva, em vez de se aborrecer com a bruxinha, sorri e acaricia seu
rosto.
— Ah, Emily... Você não tem ideia de como eu te invejo. Eu não contei
pra vocês naquele dia, exatamente pela mesma razão da minha inveja de
você. Você, com seus dez anos, tem uma segurança nas coisas que você
acredita, no seu amor pelo seu irmão, no seu amor pela sua família e no amor
de todos eles por você que eu invejo demais. Essa sua certeza desse amor,
sentido e correspondido, te dá uma segurança enorme de nunca ficar sozinha
nessa vida. Emily... Eu posso te chamar de Emie, como o Jason faz? — Red
vê a pequena Emie fazer um movimento positivo com a cabeça e então
continua — eu sempre estive sozinha. Eu nunca recebi um beijo de boa noite.
Se caía na escola, eu mesma tinha que procurar a caixa de primeiros socorros
em casa pra cuidar dos meus machucados. E eu sei que você quis me
machucar. Mas o que não sabe... é que você nunca poderia me machucar
mais do que eu mesma fiz em mim, quando eu machuquei seu irmão.
Minha irmã  olha para a Hope, pesando as palavras dela e olhando dentro
de seus olhos, tentando sentir a veracidade em tudo que a Ruiva estava
expondo. Faz um sinal afirmativo com a cabeça, dá um sorriso e estende os
braços para um abraço.
— Eu te perdoo.
— Obrigada... Mesmo.
 
Capítulo 19
Rancho dos Howell – Domingo, 27 de Novembro
Estamos voltando do café da manhã e Jace e Jose estão combinando o
horário de retorno. Não sei ainda como vou voltar, porque ninguém falou
nada comigo ainda e não quero assumir nada. Vó Cora me deu a passagem
para vir pra cá, e não sei como tocar no assunto. Ai Deus, ainda tenho que
saber falar as coisas que me envergonham.
— O que foi, Red? — Jace chega por trás de mim e me enlaça pela
cintura, colocando a cabeça na dobra do meu pescoço.
— Ai, amor... Eu não sei como dizer isso.
— Dizer o quê? Qual o problema?
— Sua avó me trouxe pra cá só com a passagem de vinda. Não quero ter
que ir até ela e falar sobre minha volta... Ela é um doce de pessoa. Acho que
ela não queria exatamente me convidar para a festa de aniversário dela, mas
sim, promover nossa reconciliação. Por isso nem se preocupou com meu
retorno.
— É, conhecendo minha avó, foi isso mesmo. Mas qual o problema,
amor?
— Como, qual é o problema, Jace? Eu, teoricamente, não tenho como
voltar. Você e Jose vieram no carrinho do seu pai. Que é bonitinho e tudo,
mas só tem dois lugares, não tem como eu voltar com vocês. E eu,
definitivamente, não vou chegar na sua avó pra pedir uma passagem de volta
pra ela. Afinal, ela já foi um amor de me trazer até aqui pra gente poder se
entender.
Jace e Jose se olham e começam a rachar o bico de tanto rir. Da minha
cara. Não gostei nada disso. Cruzo os braços e faço cara de quem está
perdendo a paciência em 3, 2, 1...
— Posso saber qual a graça que a palhaça aqui não viu?
— Calma, Bravinha. Não estamos rindo DE você. Estamos rindo um do
outro. Porque ontem, quando você e mamãe saíram para o lago, eu, papai,
Jose e o tio Paul conversamos sobre a nossa volta e papai autorizou o retorno
do Assassino.
Fiquei tão contente com a notícia que deve ter transparecido na minha
cara.
— Sério? Que notícia maravilhosa! Seu pai que me desculpe, mas gosto
muito mais do seu carro que do dele.
— E ele te agradece encarecidamente por isso.
Jose ainda dá uma risada incrédula pro meu lado. Não entendo esse
comportamento masculino. Credo, quem pode gostar mais de um carro que
deixa o cabelo da gente um lixo cheio de nós?
— Então vamos poder voltar nós três juntos?
— Sim. Vamos voltar juntos. Mas, por Díos! Controlem-se. Já ouvi
histórias do Sr. e Sra. Howell, mas vocês dois estão competindo pra bater a
fama deles... Carajo! Essa noite, eu quase não dormi, garotos...
— Jose!
— Hope!
— Mas ele tem razão, amor...
— Jason!
— Hope... Estamos mentindo?
De repente, nós três explodimos em gargalhadas.
— Vocês são terríveis... Vamos arrumar as coisas pra gente sair. Temos
horas de estrada pela frente.
— Verdade, Hope. Pela I-15 S, devemos levar cerca de 12 horas pra
chegar, se só pararmos pra almoçar. — Com isso, me despeço e entro
correndo pra dentro do quarto.
— Então, vamos logo. Encontramos você na entrada em 20 minutos, Jose?
— Fechado. Vê se vocês não resolvem dar uma rapidinha de despedida,
pelo amor de Deus!
— Não, amigo. Mas te prepara, porque a Red dorme lá no apartamento
hoje.
— Madre Dío... Ao menos tentem fazer menos escândalo, ok?
— Não posso prometer nada, mexicano invejoso.
— Assumo!
Agora, até a Hope deu risada de dentro do quarto.
— Dale! Estou muito feliz por vocês dois, Jason. Vocês dois merecem ser
felizes. Você já estava chato pra caralho sem sua ruiva.
— Jose?
— Fala, guri.
— Vai tomar no olho do seu cu.
— Nem pensar! Vá comer o da Hope...
Jason vira para o quarto ainda rindo desse mexicano e dá de cara com seu
meu pai fazendo sinal pra conversarem. Luke e Kate estão na porta do quarto
deles. Os dois com cara de poucos amigos. Lá vem bomba...
— Oi, pai... Queria falar comigo?
— Jason, fui pegar o Bentley pra lavar... E algo no banco da frente me
chamou a atenção... Não esqueceu nada, não?
— Uhmmm... Foi é? No banco da frente? Não. Não deixei nada não, pai.
Dei geral no carro antes de sair com a Hope.
— Sei... Deu a geral? Eu sei exatamente o que você “deu” no meu carro,
PORRA, MOLEQUE!!! NO MEU CARRO???
— PORRA! PUTA QUE PARIU... Os lencinhos? Cacete, esqueci de catar.
— JASON HOWELL, eu vou lavar sua boca com sabão! — Guincha
Kate.
— Ai, bosta. Tô ferrado, né? Mas olha, mãe. Sua ideia dos lencinhos para
essas horas com o papai foi providencial. Salvou no final. Valeu.
Tranquilamente, Jason dá as costas para os pais e volta para o quarto.
Prefere não ver a mãe sem saber onde enfiar a cara, nem o pai tentando
conter a risada.
Trinta minutos depois, e ainda estávamos nos despedindo de todos. Adorei
a família dele, mas via em seu semblante que já estava na hora de voltar para
a UCLA. Ter a oportunidade de interagir e iniciar uma amizade com a mãe,
avó e até com a Emie foi maravilhoso. Pude vê-lo matar a saudade do pai e
de todos. Compreender como são fortes os laços que unem a família Howell.
Tanto que é muito difícil se despedir.
Por fim, conseguimos colocar as bagagens no Assassino e entrar no carro.
— Filho, vê se não corre!
Começamos a sair com o carro, Jace coloca a cabeça pra fora e grita:
— Tá, mãe! Prometo que não corro... Muito!
E sai comigo gargalhando do seu lado e Jose reclamando: — Guri... Ô,
Deus!
Tivemos um final de semestre tranquilo. Tirando um ou outro arranca rabo
da Dea com o Jose. Afinal, não sei o que deu nesses dois... pareciam se dar
bem até minha separação com o Jace, foi a gente voltar a namorar, que o
caldo entornou. Tentei perguntar para o Jace, mas ele me falou que o
mexicano estava impossível. Era falar o nome da Dea, que começava a
resmungar, melhor deixar pra lá. Um dia esses dois se ajeitam. Resolvi seguir
o conselho dele.
Nossa relação está cada vez mais forte. Eu resolvo ir a uma ginecologista,
peço indicação às meninas e elas acabam me levando na médica delas. Foi
uma experiência estranha, um tanto desconfortável. Quando cheguei, minha
vontade foi de ligar para a Sra. Howell. Mas fiquei com vergonha, resolvo
ligar para Jace primeiro.
— Oi, amor. Tudo bem? Como foi na médica?
— Jace... Essa realmente é uma conversa que não pretendo ter com você,
amor. — Dou uma risadinha nervosa.
— Eu entendo, amor. Eu te quero sempre à vontade pra falar o que quiser
comigo. Mas então... Por que você me ligou, gatinha?
— É o seguinte. Eu realmente não quero ter essa conversa com você, mas
queria muito conversar com alguém... Na verdade, queria conversar com a
sua mãe. Você acha que eu estaria sendo muito abusada?
Jace ficou calado alguns segundos. Fiquei tensa.
— Amor. Eu tenho certeza de que não haveria nada que deixasse minha
mãe mais contente que saber que você confia nela a ponto de pedir pra
conversar sobre algo importante assim pra você.
— Você acha mesmo?
— Amor. Ela é uma Howell. Eu sei.
— Vou ligar! Jace?
— Fala, linda.
— Eu te amo.
— Eu te amo ao quadrado.
Desligo o telefone ainda rindo dele. Tomo coragem, respiro fundo e faço a
ligação.
— Alô! Sra. Howell? Aqui é a Hope. Como está a senhora?
— Oi, Hope! Eu estou ótima, querida. Mas por favor, me chame de Kate.
Sra. Howell parece que me coloca com uns cinquenta anos. Eu tenho Trinta e
seis.
— Uau. Então, isso significa que a senhora, quer dizer, você teve o Jace
com...
— Exatamente! A sua idade, meu bem.
— Então acho que é com você mesmo que preciso conversar.
— Ai, meu Deus do Céu! Vou ser avó? Luke! Corre aqui!
— Não! Pelo amor de Deus, Kate! Não é nada disso!
— Ah... Sério? Que pena... Quer dizer. Não, não é uma pena! É bom. É
muito bom, sim. Vocês dois estão na faculdade ainda. Isso. Gravidez agora
não é bom.
Escuto a voz do Sr. Howell longe perguntando o que foi, e Kate, meio
abafando o celular, respondendo que não era nada, alarme falso.. Esses dois
são uma figura!
— Pois é, não é bom. O caso é que fui hoje numa ginecologista pela
primeira vez...
— Você ainda não tinha ido, menina? Nem depois da sua primeira vez?
Isso é muito importante e...
— Kate. Jace foi meu primeiro tudo. Meu primeiro beijo, meu primeiro
namorado, meu primeiro e único homem.
Passaram dois segundos. Mais dois. Mais dois.
— Kate? Você tá aí?
— Oi! Estou aqui sim. Tô me refazendo do choque. Achei que virgens
fossem extintas na sua geração.
— Até a minha pessoa, eu era a única que eu conhecia. Acho que agora,
só a Emily mesmo.
Nós duas damos risadas.
— Só não sei por quanto tempo, do jeito que essa menina é...
— Quê isso, Kate. Não fala assim dela.
— Você não sabe da missa, o terço. Mas continue...
— Então. A médica ficou me entupindo de um milhão de opções de
métodos contraceptivos. E me falou pra eu escolher um. Que eu preciso ser
uma mulher empoderada. Desculpa, Kate. Mas, porcaria! Até dois meses
atrás, eu era uma mulher ainda selada! Não sabia nem beijar na boca. Tive
que ter aulas de como fazer com minhas amigas de quarto pra não passar
vergonha com o Jace!
Agora minha sogra gargalhava.
— Des... desculpa, Hope. Mas eu queria ser uma mosca pra ter assistido
isso.
— Foi bem instrutivo. Se um dia a Emily precisar, posso dar aulas pra ela
também.
— Por favor. Se acontecer, assume essa pra mim.
— Pode contar comigo. Mas voltando ao meu problema... Eu não faço a
mínima ideia qual método escolher. A mulher falou de tantas formas
diferentes que me confundiu toda com porcentagens e margens de segurança
e erro. Então preciso da sua ajuda pra me ajudar a escolher, e você  não ser
avó antes do tempo.
— Uau. Puxa... E eu achando que ia receber a notícia que ia ter um bebê
nos braços... Brincadeira!
— Kate! Por favor, me ajuda!
— Tá bem! Eu te aconselharia apenas duas opções. Ou o adesivo
contraceptivo, ou as injeções.
— A médica falou desses dois aí. Mas já me confundi toda.
— Bom, lá vai. O adesivo tem duração de uma semana. Você coloca sobre
a pele, troca semanalmente. Três semanas, para uma. Ponto. Fácil. Tem
eficácia de 91%. A injeção, você toma, ela dura de 8 a 12 semanas,
dependendo da marca. Na primeira aplicação, tem que esperar 7 dias pra
fazer efeito com certeza, então nada de brincar sem camisinha. Não pode
perder a data da próxima aplicação. Tem eficácia de 94%.
— Entendi... Não tem nada mais eficaz né?
— Tem sim. A esterilização. Ela é permanente. Mas acho que não é o caso
de vocês, nem eu iria deixar nenhum dos dois fazer uma idiotice dessas.
Quero netos e netas lindas.
Tive que rir.
— Certo. Adesivo ou injeção. Vou fazer aqui as contas pra ver qual cabe
no meu orçamento. Obrigada, Kate.
— Opa, opa, opa! Pode parar! Não é SEU orçamento, não senhora! É
orçamento de VOCÊS! Desculpa a minha expressão agora, meu bem, mas se
ele está te comendo, ele tem que dividir o valor da proteção. Eu eduquei esse
menino melhor que isso. Nunca que vou permitir que você arque com isso
sozinha!
Como é, produção? Minha sogra, a mulher de um dos homens mais ricos
dos Estados Unidos falou que se o filho dela está me “comendo”? Ai, gente...
Eu sou apaixonada por essa mulher.
— Tá bem, Kate. Vou conversar com ele.
— Acho bom, querida. Senão, converso eu. E eu não vou ser boazinha.
Capaz...
— Obrigada, Sogra!
— De nada, Nora! Até o Natal!
— Até!
 
Capítulo 20
Rancho dos Howell – Férias de Natal e Ano Novo
Estamos chegando no aeroporto de Salt Lake. A cidade está inteira
coberta de neve. Minha garota está encantada como fiquei na primeira vez
que vi um Natal branco. Olho pra Hope e sorrio, lembrando que, doze anos
atrás, eu tinha escrito uma carta para o Papai Noel pedindo um Natal branco,
um amigo e um dia como se tivesse uma família de verdade. Papai Noel me
deu vários Natais brancos a partir daquele ano, o melhor amigo que eu
poderia pedir e a melhor família do mundo.
Hoje eu trago minha ruiva pro primeiro Natal branco dela, ela já faz parte
da melhor família do mundo e é a melhor amiga que eu posso pedir.
Continuo achando que o Papai Noel sempre sabe o que trazer pra gente.
Ainda olho em seus olhos azuis escuros e vejo traços de tristeza pelo
abandono da família. Mas também vejo, aos poucos, esse sentimento sendo
substituído por outros membros: Dea, Libby, Lucas e Jose completam nossa
família na UCLA e os Howell completam aqui fora.
Nesse Natal, seremos só eu e Hope chegando no Rancho. Jose levou Dea
para o Mexico. Eles foram passar o Natal com os parentes dele e depois vão
pra Cancún. Acho que dessa vez, esse nó desata. Libby e Lucas estão
montando o apartamento deles. A partir de janeiro, vão morar juntos. Enfim,
esse cara resolveu assumir mesmo a loirinha.
Jose se forma em maio. Preciso conversar com meu pai sobre isso. O visto
dele nos Estados Unidos é apenas de estudante. Ele é um cara brilhante, vale
a pena investir nele, além de ser meu melhor amigo. E eu nunca pedi por
ninguém. Ser o único filho homem e herdeiro do grande Lukas Howell tem
que valer de alguma coisa, não é?
— O que você tanto pensa, amor?
— Uma mistura de passado com futuro, linda.
— Alguém, em algum lugar disse que depressão é excesso de passado, o
stress é excesso de presente e ansiedade é excesso de futuro.
— Ainda bem que não sofro de nenhum desses sintomas. Eu estava só me
lembrando de umas coisas do meu passado e pensando em ajudar o Jose a
permanecer aqui nos Estados Unidos.
— Você não soube, Jace?
— Soube o que, amor?
— Seu pai já ofereceu emprego pra ele, quando vocês vieram aqui no
Thanksgiving.
— Ora, vejam só! E por que ninguém me disse nada?
— Acho que o Jose quer te contar pessoalmente, no dia da formatura. Não
sei. Mas faz cara de espanto, tá?
Tive que rir da minha ruivinha.
Chegamos no Rancho e dessa vez, a recepção foi completamente
diferente. Emie veio correndo abraçar primeiro a Hope, só depois veio me
dar um beijo. E já saiu puxando minha namorada pela mão pra sentar junto
da mamãe e da vovó. Meu pai se sentou do meu lado e me deu um abraço
forte.
— Como é bom ter a família toda reunida para o Natal, meu filho.
— Hoje eu estava lembrando do meu primeiro Natal aqui, pai. Da minha
cartinha pro Papai Noel.
— Acho que nunca te agradeci por ter escrito essa cartinha, não é mesmo?
— Como assim, pai? Eu ganhei os três desejos.
— Não, meu filho. Você pode ter feito os pedidos, mas quem ganhou os
presentes foi eu.

Passamos um feriado simplesmente maravilhoso. Acho que colocar a


Hope conversando com a mamãe sobre as questões com o ginecologista foi
uma solução bárbara e uma puta jogada de mestre. Agora eu e minha ruiva
ficamos no quarto mais distante da ala familiar. Assim, nossas noites são bem
menos preocupadas com a altura dos gemidos que soltamos. Não vou
reclamar.
E preciso admitir que depois que a Ruiva passou a tomar as injeções, não
usamos camisinha sempre. Porque a Red ainda fica nervosa às vezes, dizendo
que as injeções não são totalmente confiáveis. Mas, puta merda. Comer
minha mulher sentindo pele com pele é simplesmente FENOMENAL. E tem
horas que nós dois mandamos a precaução pra casa do caralho e eu como
minha ruiva lisinha, gostosinha, molhadinha, sentindo cada dobra interna
dela, cada aperto que aquela boceta faz no meu pau, me enlouquecendo.
Nunca pensei que um dia seria desses caras que ficariam de quatro por
mulher. E não vou dizer que esse é o caso com a Ruiva. Porque nossa relação
é maior que sexual. Dormir e acordar com ela nos meus braços são
momentos não só de prazer físico, mas vão muito além. Têm uma conexão
muito maior. Traz uma paz, saber que ela está respirando logo ali, do meu
lado.
Acho que vou ter uma conversa com o pai... porque a Red só fica mais
dois anos na Universidade, e eu ainda tenho todos os quatro anos pela frente.
E a formatura do Jose, com a obrigação da saída dele do campus, me deixou
realmente preocupado. Não quero perder esse sentimento de plenitude que
tenho com ela. Preciso dos conselhos do meu pai...
— Bom dia, Pai. Posso falar com você?
— Claro, Jace. Senta aí.
— Não. É particular...
— Particular? Ouço sinos de igreja e choro de bebê num futuro próximo?
— Pai! Por que você e a mamãe cismaram com isso? Eu nem fiz 19 anos
ainda.
— Sua mãe com 19 já corria atrás de você.
— Certo, certo. Mas vocês dois vão ter que esperar mais um pouco.
Cacete, que pressão.
— Pressão nenhuma. Você gosta da menina. Ela é louca por você, além de
ser um gênio da matemática e criptografia.
— Como você sabe disso, pai?
— Sua namorada é bem conhecida nos corredores da UCLA.
— Uau.
— Uau mesmo. Quer conversar no escritório ou pode ser aqui?
— Vamos para o escritório. Não quero nenhum dos ouvidos femininos
interessados na nossa conversa.
Papai dá risada, dizendo ser impossível guardar segredos para a ala
feminina da nossa família. E é verdade esse bilhete, como diz a Dea. Fui
seguindo meu pai até ficarmos só nós dois no escritório. Lembro a primeira
vez que meu pai me chamou aqui. Foi no dia do meu aniversário de nove
anos. Ele me mostrou minha nova certidão de nascimento. Com o nome da
minha mãe e com o nome dele no lugar de pai,  e com meu novo nome: Jason
Louis Howell. Acho que foi o dia mais importante da minha vida, depois
daquele Natal.
— Bom, filho. Estamos só nós dois. Pode falar.
— Pai, a formatura do Jose me trouxe várias informações sobre o
funcionamento da parte burocrática da UCLA. E me deixou bastante
preocupado sobre meu relacionamento com a Hope.
— Por que, meu filho? O que está acontecendo?
— Por enquanto, nada. Mas pai, você sabe que ela entrou na faculdade
com 16 anos, certo?
— Sim. Eu te falei que acompanho toda a trajetória estudantil da Hope
desde sua entrada na UCLA.
— Como assim, pai? — Agora meu pai realmente me surpreende.

— Você sabe que eu sou Alumni[18] da UCLA, não sabe? Eu recebo


informações sobre as pesquisas, os trabalhos desenvolvidos e as grandes
aquisições da universidade.
— Puta que pariu, pai!
— Jace. Eu preciso te lembrar com quem você está falando, moleque?
— Não, claro! Eu tô falando com o cara mais fantástico de todo o mundo.
Porra! Eu tô falando com o Luke Howell, o meu pai! O cara mais foda que eu
conheço!
Levanto da cadeira e  dou um abraço nele. Que retribui, com um sorriso,
dizendo:
— Nunca fui elogiado com tanto palavrão, filho... Só você mesmo.
— Desculpa aí, pai. Mas já que eu ia me ferrar por causa de falar palavrão
pra você, pelo menos, dei meu recado direto!
— Você não se ferrou comigo, seu moleque. Só não fala essas merdas na
frente da sua mãe. Senão vou ter que te foder, cacete!
Até me engasguei de rir. Quando retomo a seriedade, volto à explicação.
— Então, pai. Voltando ao meu caso.
— Fala.
— Eu fiquei no quarto, fazendo as contas... E fiquei preocupado.
— Com o quê? Sua vida está numa ótima maré, as coisas vão bem pra
você no curso, tá com boas notas, teu relacionamento agora, parece que
deslanchou...
— Tá tudo certo no que você colocou, pai. Mas tem uma questão. Pelas
contas que eu fiz, a Hope se forma em dois anos! E eu ainda estou no básico.
Tenho todo o curso da graduação nas costas!
— Eu tô entendendo...
— Daqui a dois anos, a Red vai ser obrigada a sair do campus, porque
aquela mulher vai se formar e com honras. E aí? O que vai ser da gente? Não
quero ela voltando pra aquela família desgraçada dela, pai. Quero ela
comigo, mas a gente ainda estaria muito novo pra um casamento. Porque eu
ainda estaria na faculdade. Entendeu o meu dilema?
— Perfeitamente, Jace.
— Então preciso da sua ajuda, porque não sei o que fazer, pai.
— Fica calmo, porque eu acho que tive uma ideia de como te ajudar,
filho...
 

UCLA – 28 de maio – Formatura de Jose Cuevas


Meu melhor amigo desce do palanque armado para os graduandos
receberem seus diplomas, com um sorriso enorme no rosto. Também, não é
para menos. O cara se forma com honras e distinção em praticamente todos
os departamentos de Administração. Minha avó sempre me disse que a forma
de se distinguir a verdadeira amizade é sentir-se feliz pelas conquistas do seu
amigo. Eu estava MUITO feliz pelo mexicano. Mas muito mesmo. Foi um
belo tapa na cara nesse bando de hipócritas preconceituosos que lotam essa
universidade.
Estamos todos aqui: eu, Hope, Dea, Libby, Lucas, e toda a família Howell.
Jose vem em nossa direção, pra receber o abraço e os parabéns de um por
um. Quando chega a vez do meu pai, vejo que ele faz questão de falar bem
alto, pra todos em volta escutarem, que vinha congratular seu mais novo
gerente na área de Controladoria e Gestão de Investimentos da SysTech de
São Francisco.
Puta merda! Pra mim, um emprego mais que merecido! Vejo meu amigo
ficar emocionado, apertar a mão do Papai... E depois, puxar o Sr. Luke para
um abraço daqueles! Porra. Não sou de ficar tocado com ceninhas água com
açúcar... Mas sabendo de todas as vezes que meu amigo foi excluído, olhado
de lado, proibido de participar de festas e comemorações do mesmo time que
jogava basquete e que ajudava a vencer os jogos, eu entendi a enormidade do
gesto do meu pai.
E, porra. Que orgulho que eu tenho de ser filho dele.
— Jace...
— Fala, amor.
— Eu tava aqui pensando...
— Hummm. Minha ruivinha pensando, pode significar duas coisas:
problemas ou sexo. O que vai ser?
— Seu ridículo! Eu tive uma ideia. Mas só por causa da sua gracinha, não
vou mais falar nada!
— Red...
— O que foi? Ainda estou aborrecida com você.
— Sabe que quando você fica aborrecida, seus peitos ficam durinhos e
parecem que estão pedindo pra eu fazer coisas deliciosas neles?
— É mesmo? Pois vai ficar na vontade. Porque a ideia que eu tive, tem
muito a ver com meus peitos excitados...
Abraço minha namorada pela cintura. Abaixo a cabeça e lambo seu
pescoço, falando bem perto do seu ouvido:
— Hummm. Como você está deliciosa. Cheiro de flor, mas gosto de mel.
Conta pra mim, qual foi sua ideia, amor... — termino de falar, mordendo o
lóbulo da sua orelha.
— Jace... Isso é covardia. Eu estava brava com você.
E meu anjo de fogo se esfrega de levinho em mim, me fazendo soltar um
rugido. Porra, nesse tempo, eu já devia saber que não posso provocar a
Ruiva. O feitiço sempre vira contra o feiticeiro. Essa mulher me tem nas
mãos.
— Não perde tempo, amor. Fala qual a ideia deliciosa que você teve pra
nós dois, fala...
— Tá bem. Com a saída do Jose do quarto do lado, você acha que seu pai
consegue mexer os pauzinhos dele pra você ficar sozinho no Saxon? A Libby
e o Lucas estão morando juntos. A Dea também se formou e acho que está
super interessada em arrumar um emprego em São Francisco. Por que será,
né? Eu não quero ter novas amigas de quarto...
Meus olhos brilharam com o entendimento das palavras dessa raposinha.
Comecei a sorrir da ideia da minha ruiva.
— Acho que vale a pena falar com meu pai, amor. Acho que ele consegue
dar um jeitinho de driblar o controle de acesso e fazer vista grossa de te
verem morando lá.
— Então vai lá.
— Quanto tempo você precisa pra arrumar sua mala?
— Jace, amor...  Minhas coisas já estão dentro do Assassino.
Nunca foi tão fácil convencer meu pai de uma coisa...
 
 
Epílogo
UCLA – Dois anos depois – Formatura da Hope (maio)
“E é com muito orgulho que chamamos ao palanque para receber seu BS
em Matemática Avançada e Aplicada, suma com lauda e distinção em
absolutamente, todos os departamentos, a senhorita Hope Bridget Palmer! A
UCLA também tem a honra e o prazer de anunciar o convite à atual ex-aluna
para estender suas pesquisas em Cyber Security[19]e terminar o código de
criptografia iniciado no Projeto Zeus, junto ao nosso departamento de
Computação. E é com imensa satisfação que chamamos para fazer a entrega,
o Sr. Luke Howell, patrocinador da bolsa de estudos que proporcionou esse
momento brilhante à nossa aluna!”
Eu e Hope trocamos olhares, sem acreditar... Caralho! Papai sempre
soube quem era a Hope! Desde o princípio...A escola veio abaixo em
aplausos. Aplausos para a menina de apenas 20 anos que se gradua em
Matemática Avançada e Aplicada, que foi vítima de bullying, assédio, que
lutou por um espaço ao sol, que nunca deixou de acreditar. Nossos amigos
choram sem esconder a emoção de ver nossa ruivinha subir no palanque,
receber seu canudo das mãos do meu pai que piscou pra ela, girar, e sorrindo,
fazer o gesto mais corriqueiro numa formatura: erguer o canudo, numa pose
de vitória. Mas essa menina venceu todos os degraus, todas as dificuldades,
todas as noites insones.
Sei disso porque estive com ela. Dividi com ela. Lutei com ela. Sofri com
ela. Sorri com ela. Venci com ela. Agora meu passarinho vai voar! E ela
merece voar, e voar alto! E vai contar comigo sempre. Vou estar aqui no
pouso. E quando eu estiver pronto, vamos voar juntos.
Todos correm para abraçar, beijar, falar com a Hope. Emily, agora já uma
adolescente com quase 13 anos, descobriu em Hope uma grande amiga e
aliada  para grandes conversas e “discussões femininas” que quase giram
madrugada adentro. A única vez que tentei falar alguma coisa contra, a ruiva
me cortou dizendo que a Emie a tratava como uma irmã mais velha. E ela
estava adorando! Nunca mais falei nada.
Depois que todos falam com a minha mulher, chega a minha vez. Faço um
sinal para meu pai e ele fez que sim com a cabeça, me passando a caixinha
preta, com o laço dourado escondido nas mãos.
Caminho até a Hope, nossos amigos e minha família abrindo caminho pra
mim. Quando a Hope me vê chegando, abre um sorriso radiante. Minha
mulher estava um espetáculo com aquela beca preta, o capelo tentando conter
a cabeleira ruiva, a estola azul com bordado amarelo UCLA só fazia acentuar
o brilho daqueles olhos que me cativaram desde o primeiro encontro.
Chego até minha garota e me ponho em um joelho, segurando sua mão.
Minha mãe, avó e irmã soltam os tais gritinhos femininos que sempre achei
graça, mas agora não era o momento para rir.
— Jace... Jace! Levanta! O que você está fazendo?
Red olhava para os lados, visivelmente nervosa. Coloco a mão no bolso da
minha calça e retiro a caixinha que papai tinha acabado de me passar
escondido. Estendo para ela. Minha mulher olha pra caixinha como se
olhasse para um prato exótico ou uma bomba-relógio.
— Amor, não brinca com isso. Jace... Pelamordedeus.
Estendo a caixinha na direção da minha mulher, que treme. Ela olhava
para os lados, como a pedir socorro, minha mãe olhava de volta, com os
olhos arregalados, mexendo os lábios dizendo: “não tava sabendo de nada,
juro!”
— Vamos lá Hope. Pega a caixa! — Sabia que a Emie não iria me
decepcionar.
Minha Ruiva pegou a caixinha da minha mão, mas as mãos trêmulas se
recusam a abrir e ver o que tem dentro.
— Jace, nós nunca falamos sobre isso, amor. Nós só temos 20 anos... Você
realmente acha que está ...
— Amor... abre a caixinha e vê o que eu tenho pra te oferecer... — E dou
um beijinho nas costas da mão que ainda segurava a caixinha, sem coragem
de desfazer o laço e olhar o que tem dentro.
Com um suspiro, Red resolve desfazer o laço e abrir a caixa. E ela me
olha sem entender, tirando a chave de dentro da caixinha. Todos me olham,
ainda ajoelhado, esperando uma explicação.
— Red, você se formou e agora vai ter que sair dos dormitórios do
campus. Eu ainda tenho dois anos aqui estudando. Sei que ainda somos muito
novos pra eu te dar outra coisa dentro dessa caixa, mas não se iluda, esse
presente vai chegar. Então, pedi ao meu pai, no nosso primeiro Natal no
Rancho, na mesma sala onde ele me fez filho dele, que me desse um
apartamento fora do campus pra gente morar juntos. Essa é a chave desse
apartamento. Esse AINDA não é um pedido de casamento, mas é um pedido
pra dividirmos nosso primeiro cantinho. Vamos fazer esse test-drive oficial?
Minha Hope estava chorando sem parar agora. Juro que eu não sabia se
isso era um bom ou mau sinal. Olho para os lados, pedindo ajuda. Mais uma
vez,  é a Emily quem vem em meu socorro.
— Hope, acho bom você dizer alguma coisa, porque o Jace está com cara
de quem, ou vai vomitar de nervoso ou vai sair correndo de vergonha...
Hope agora começa a rir, chorando e, graças a Deus, faz alguma coisa que
eu consigo entender: balança a cabeça em sinal afirmativo.
— Sim? Você disse sim?
— Sim, amor! Eu vou morar com você!
— Graças a Deus. Você quase me matou de susto, Ruiva.
E, imitando os filmes românticos que já flagrei as minhas mulheres
assistindo nos feriados no Rancho, inclino o corpo da Hope sobre meu braço
esquerdo e dou um beijo nela de deixar Rhett Butler[20] no chinelo. Aproveito
a posição para lhe falar no ouvido: “mesmo que a gente tenha morado junto
nos últimos dois anos escondido, ruiva.”
E os som da gargalhada da minha garota soa como música nos meus
ouvidos. Uma música que pretendo ouvir por muitos e muitos anos.
 
 
 

FIM... será?
Agradecimentos
 
Chegou o momento de agradecer!
Primeiro, gostaria de agradecer a quatro mulheres maravilhosas:
minhas Safadas do coração, que acreditaram em mim, me incentivaram e
não me deixaram parar até a Cacau Maia se tornar realidade... Obrigada,
Emile, Viviane, Aline e Layane (fiz de propósito e não coloquei em
ordem alfabética, mas não quero reclamação de nenhuma, dizendo que
tenho preferências, viu!).
Depois, quero agradecer a todas as meninas dos nossos grupos de
WhatsApp, que nos acompanham, apoiam, surtam e imploram por mais
histórias... mesmo quando acabamos de entregar uma. Nossa vida seria
mais calma, mas muito sem graça sem vocês, meus amores! Obrigada,
Enolinhas, PutiAnnes, Lolalovers, Safadas, Kengas, etc...
E preciso agradecer às minhas betas! Aos momentos de surtos, de
gargalhadas, alguns puxões de orelhas e muita, mas muita parceria...
Brigada, Emi, Lay e Vivi. Muitas cenas ficaram ótimas por causa da ajuda
de vocês. E obrigada, Enola, por apimentar alguns momentos de humor
vividos por esses dois personagens!
Preciso agradecer a Deus pelo dom da escrita. Sempre fui uma pessoa
apaixonada por livros. E só recentemente me aventurei nesse maravilhoso
e louco mundo da imaginação. Juntamente, quero agradecer a minha
família que sempre me apoiou em todas as decisões que tomei na vida,
das mais seguras às mais loucas: minha mãe, meu irmão, minha cunhada-
irmã e meus três filhos. Obrigada, meus amores. Amo cada um de vocês.
E, por último, mas não menos importante... Aliás, acho que o
agradecimento mais importante: quero agradecer a você, leitor. Pois nós,
autores escrevemos para vocês! Espero que a história do Jason e da Hope
tenha te agradado e levado sorrisos e leveza a seu coração. Se você ficou
curioso sobre a Família Howell, Dê uma olhada na história do Luke e da
Kate em “Uma Família de Natal”.
 
Antes de Ir
 
Antes de fechar o livro, não esquece de deixar sua classificação em
estrelas na Amazon e deixar sua avaliação escrita. Seus comentários, além
de ajudar outros leitores na decisão de ler ou não o livro, nos auxiliam a
entender a impressão do leitor sobre nossa escrita. A avaliação escrita é
muito importante para nós, autores independentes. Pois só assim
poderemos disputar um lugar no mercado editorial, coisa que não é fácil...
acreditem.
Se você curtiu ler essa história tanto quanto eu me diverti escrevendo,
fico muito feliz! Caso você não tenha gostado muito, eu entendo, é
impossível agradar a todos... Mas se tiver algum ponto que queira
conversar ou debater comigo, tiver sugestões, recomendações, te convido
a conhecer mais sobre a Cacau Maia!
Quer ficar por dentro das novidades?
Acesse:
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Conheça Minhas Publicações
 
Acho que vai gostar
 
Ficou curiosa sobre a Família Howell?
Deixei aqui uma pequena degustação da história dos pais do Jason,
Luke e Kate. Como se conheceram e como surgiu a história desse casal
tão apaixonado. A história deles começa num Natal. No primeiro Natal
onde Jason descobriu que sonhar é possível e a magia está ao alcance de
suas mãos, basta acreditar.
Luke, CEO de uma das maiores empresas de tecnologia da informação
dos estados Unidos, se tornou um homem frio, solitário, vazio. Ele toma
uma decisão inusitada. Dá férias coletivas na empresa e vai para o
Rancho da família, onde guarda lembranças maravilhosas de sua época de
criança.
Kate é uma mãe solteira, batalhadora, que sempre fez tudo pelo
pequeno Jason. Um dia, uma hóspede lhe dá uma informação
privilegiada: Um Rancho no interior do país estaria contratando. Ela
agarra a oportunidade com unhas e dentes, até que sai a confirmação e a
vaga de arrumadeira no Rancho fica sendo sua.
Jason é o menino, filho de Kate, que mais se encantou com a nova
casa. Nesse Natal, ele escreveu sua primeira cartinha para o Papai Noel...
nela só havia três pedidos. Dois ele já conseguiu... Qual seria o terceiro?
Não percam a história completa de Uma História de Natal. Você pode
encontrá-la na Amazon.
 
Um beijo e até a próxima!
 
 

Cacau Maia

Por
Cacau Maia
Prólogo
 
Querido diário,
Hoje começa uma nova etapa na minha vida. Uma nova página. Um
novo capítulo. Não! Um novo livro! Isso... Cheio de páginas em branco.
Deixei pra trás, toda aquela tortura, aquela cobrança, toda a dor, todo o
sofrimento. Agora somos só eu, minhas coisas, meu filho e minha gata.
Coloquei tudo dentro do carro e partimos, sem olhar pra trás.
Saímos de Phoenix, no Arizona, onde eu trabalhava num daqueles
resorts com spa moderníssimos e que atendia a alta sociedade, o
Sanctuary Mountain Resort&Spa. Nome chique para esconder um antro
de podridão. Trabalhei lá... ou melhor, cumpri minha pena lá por
incontáveis cinco anos e nove meses, ou melhor 69 meses, ou 2.098 dias.
Mas me deixa contar essa história direito...
Meu nome é Katherine Louise Hamilton. Tenho 25 anos. Oito anos
atrás, eu estava saindo da escola, fui “casada” por breves seis meses com
um cara chamado Bryan Costello. Homem lindo, alto, forte e na mesma
medida um belo de um filho da puta! O cara veio em cima de mim com
tudo, me chamando de princesa, maravilhosa, dizendo que eu era tudo
que ele queria numa mulher...
A iludida aqui acreditou no bonitão... Tinha brigado com meu pai, saí
de casa, para ir morar com ele. Deixei de ser empregada do meu pai, me
tornei do Bryan, com o grande bônus de um sexo ruim com duração de
exatos 3 minutos... Mas que acabou resultando na única coisa boa desses
seis meses: meu filho Jason! E ele é só meu mesmo, porque no momento
que soube da minha gravidez, o bonitão Costello me colocou na rua.
Coloquei o rabo entre as pernas e voltei pra casa...
Ou tentei. Porque minha vida, que já não era fácil, virou um inferno.
Meu pai me culpava de todos os infortúnios do planeta Terra. Acho que,
se houvesse um terremoto no Japão, provavelmente foi porque eu
derrubei um papel na sala. Eu engolia sapos, rãs, pererecas, matava um
leão por dia e ficava quieta. Aguentava tudo calada...
Quando Jason fez seis meses eu já não suportava mais. Porque uma
coisa é implicar comigo, outra coisa é gritar com um bebê porque ele está
chorando porque os dentes estão incomodando... Peguei meu filho, nossos
poucos pertences e partimos. Sem rumo, sem destino, mas com coragem e
disposição para melhorar.
Durante os primeiros dias, não vou negar que foi muito difícil. Mas
resistimos. Eu e Jason ficamos em um cantinho num hostel[21]. Um dia, vi
um anúncio sobre o resort, dizia necessitar de pessoas com e sem
experiência para trabalhar no hotel e spa. Apliquei e fui chamada! Pensei
que tinha tirado a sorte grande... Ledo engano. Quando chegamos, eu
fiquei como camareira durante os dias. Deixava o Jason sempre com o
pessoal da cozinha, num cercadinho. Como ele era muito bonzinho, deu
tudo certo.
O primeiro ano correu tudo bem... Mas no segundo ano, Jason
começou a andar e começou a ficar difícil. Ele é um menino muito ativo,
feliz, anseia por ajudar e mantê-lo preso foi um ato que me corroía a
alma. Um dia, ele foi pego correndo pelos jardins. E daí, as coisas
complicaram. Fui obrigada a colocá-lo na creche... E me cobravam pelo
serviço. Como o Resort era de alto luxo, meu salário nunca alcançava os
gastos que tínhamos entre acomodação, alimentação, creche...
Comecei a dobrar meu trabalho no resort. De dia, trabalhava de
arrumadeira, de noite, trabalhada no spa. Aprendi a fazer massagens,
tratar de cabelos, cortes, pele, hidratação... Tudo que eu podia, tentava
aprender e fazer. Na maioria das vezes, Jason já ia comigo porque já
estava maiorzinho e era o príncipe tanto das funcionárias quanto das
clientes. Com tantas “mães” a tomar conta e educar, Jason acabou por se
tornar um menino muito calmo, sempre disposto a ajudar às tias e
madames do spa.
Então ficamos... Eu e Jason. Até eu conseguir pagar a dívida. Toda
semana eu ia no escritório da contabilidade e olhava meus débitos... Com
o passar dos anos, vi a conta ir diminuindo, diminuindo... até que, por
fim, zerou. Agradeci aos Céus. Trabalhei lá mais seis meses pra fazer um
pezinho de meia e então, pedi demissão.
Soube através de uma das hóspedes do resort, uma moça muito bonita
chamada Madison Clarke, que era amiga do dono de um rancho que
funcionava como hotel, estava expandindo e precisando de novos
funcionários com experiência. Bom... Experiência não me faltava depois
de tantos anos trabalhando no resort como camareira e no spa como
massagista. Resolvi aplicar e mandar a ficha de inscrição. Alguns dias
depois, recebi um e-mail com a confirmação da vaga de camareira, a data
de apresentação e endereço oficial do Rancho, que ficava em Utah.
Fiz uma pesquisa rápida no mapa e vi que, pela I-15 N eu levaria cerca
de 10 horas e meia até Salt Lake City. Até Park City, que são uns 50Km
distantes, acrescentei mais uns 15 minutos. Eu iria continuar a trabalhar
como arrumadeira, só que dessa vez num rancho, mas não me importava
muito. Era um lugar onde meu filho iria poder crescer livre.
Não foi uma viagem fácil... Quase 12 horas de direção, mas valeu a
pena! A fazenda se localiza em Deer Valley, é imensa, possui um lindo
lago e rios, está nos pés da cadeia montanhosa Wasatch. A casa principal
possui 16 quartos, 4 salas, 1 sala de cinema, 1 salão de jogos, refeitório e
cozinha. Como tenho o Jason, a governanta me permitiu ficar em um
quarto na casa principal. Sinto que nossa sorte começou a mudar! Bear
Creek Ranch foi um sinal divino!
Esse vai ser um ano em que terei muito a agradecer no Dia de Ação de
Graças! E, com certeza, teremos um Natal como meu filho nunca
sonhou...
Um abraço,

Kate
Março-2022

Capítulo 1
 
Olho para os lados e custo acreditar na cena que meus olhos enviam
para meu cérebro: um mundo branco me dá bom dia. Começo a sorrir ao
imaginar a alegria de Jason quando vir a neve pela primeira vez. Ainda
sorrindo, dou meia-volta ao ouvir a Madame Cora me chamando.
Recolho os pratos e copos deixados nas mesas da varanda pelos hóspedes
na noite anterior e retorno para dentro da casa.
— Bom dia, Madame Cora! A senhora chamou?

— Sim, meu bem... Os últimos hóspedes já fizeram o checkout. Você


precisa arrumar os quartos o mais rápido o possível, querida.
— É pra já, Madame Cora... Mas por que a pressa? A senhora não
havia mencionado que não haveria mais hóspedes até depois da virada de
ano?
— É verdade, meu bem. Mas o patrão disse que vem passar o Natal
aqui conosco esse ano. — Ela parecia animada com essa perspectiva. Já
tinha um bom tempo que eu vinha notando a governanta muito triste.
— Que boa notícia, Madame! Qual quarto devo preparar para ele?

— Se for como da última vez, ele fica na suíte azul e o Bob fica na
colada a dele.
— OK. Esse Bob tem quantos anos? É um amigo?

— Ele deve estar com uns quatro anos agora... E ele trata o Bob como
um filho!
— Certo! Pode ficar tranquila, Madame Cora.

— E já falei para você parar de me chamar de Madame quando só


estivermos nós duas. Chame de Tia Cora ou só Cora.
— Sim, senhora.

E nós duas caímos na risada, caminhando juntas para a sala principal.


Deixei as louças na cozinha com Holly e as meninas e fui para os quartos
obedecer às ordens da governanta/gerente do Rancho. Quando estava
terminando o terceiro quarto, meu pequeno foguete entrou correndo,
gritando:
— Mamãe! Mamãe! Você já viu? Já? Você já olhou lá fora? Tá
tuuuudo branquinho, mãe! Tudo! O Papai Noel trouxe meu primeiro
presente!!! Mamãe, vem! Você precisa ver isso!!! Tá tão liiiindo, mãe!
Vem... Anda. Depois eu te ajudo! Vem... por favooor... — Jason, apesar de
ser um menino muito inteligente e em geral ser calmo e educado, estava
numa excitação tremenda. Eu conseguia compreender essa sua alegria.
Afinal, era a primeira vez que o menino via essa quantidade de neve.
— Calma, anjo. Eu vi. E nós vamos lá fora. Mas só depois que a
mamãe terminar de arrumar os quartos que a Madame Cora pediu, tá
bom? Você pode me ajudar, que assim eu termino mais rápido, que tal?
— Tá bom, mamãe. Eu ajudo, claro. Mas depois, a gente vai lá fora?
Você promete?
— Prometo, querido.

— Então tá bem... — meu herói. Seis anos... quase sete já. Meu menino
estava todo feliz porque aqui ele estava indo para a escola. Já se achava
um rapazinho.
Continuei a arrumar os quartos, dando pequenas tarefas para Jason.
Ajeitar os travesseiros, Arrumar as cadeiras nos lugares, colocar as
toalhas sobre as camas... Ele cumpria as tarefas sem uma única
reclamação. Quando chegamos à suíte azul, que era a maior do Rancho e
sempre permanecia fechada, meu filho estranhou a gente entrar para
fazer a limpeza.
— Mamãe... Esse quarto não é o quarto do Patrão? O tio Paul me disse
que nesse a gente não pode entrar. —E ele colocou as mãos na cintura e
franziu a testa, em clara condenação.
— Amor, a Madame Cora mesma me mandou limpar esse e o do lado.
Parece que o Patrão está vindo pra cá nesse Natal, e ele sempre fica nesse
quarto. Exatamente por isso que eu preciso entrar, limpar e arejar o
quanto, entendeu? — Falei pra ele, com calma.
— Sabe pra quem é o quarto do lado? Pra o filho do Patrão. A Madame
Cora disse que ele tem quatro anos. O nome dele é Bob...
Meu filho me olhou com os olhos arregalados e boca aberta. Fiquei
assustada...
—O que foi, meu amor?
— Mãe... O Papai Noel leu minha cartinha! Eu não acredito! Ele vai
trazer meu segundo pedido de Natal... Eu pedi um irmão ou um
amiguinho. O filho do Patrão pode ser meu amiguinho, não pode,
mamãe? Eu posso ser como o irmão mais velho dele. — Jason falava com
os olhos brilhantes e as mãozinhas unidas. Eu me emocionei com os
pedidos do meu pequeno.
— Claro que ele pode ser seu amiguinho, meu amor. Você é um ótimo
menino e pode tomar conta do menor. Mas vamos ver se eles realmente
vêm para o Rancho, não é mesmo?
— É... Mas tenho quase certeza de que eles vêm. Porque, olha só: eu
pedi pro Papai Noel neve, tá tudo branco, eu pedi um irmãozinho ou um
amiguinho, o Patrão tá vindo com o filho... Só falta um! Mas esse é mais
difícil. Mas confio no Papai Noel.
Tive que rir da convicção no coração do meu filho. Que Deus o
conserve nessa pureza por muitos e muitos anos ainda... Voltamos para a
arrumação para depois rolar, fazer anjos na neve, guerras de bolas de
neve. Afinal, viemos de um lugar onde neve era um acontecimento raro.
Eu também estava louca pra brincar com ele lá fora, admito!
E assim, os dias foram passando, o mês de dezembro foi acabando e
nada do patrão chegar. Vi as esperanças irem se apagando do olhar de
cada membro do staff do Rancho. O único que continuava certo da
chegada dele era o Jason. Madame Cora já brincava conosco, chamando
meu menino de “pequeno oráculo”. Ele ria muito...
Quando chegamos na segunda quinzena de dezembro, o Rancho já
tinha fechado a agenda para Natal e Reveillón. Esse seria um ano em que
iríamos passar fechados para o público, pois iríamos fazer algumas
benfeitorias na casa grande e nos alojamentos: telhados, janelas e lareiras
iriam passar por um verdadeiro pente-fino. Alguns quartos seriam
renovados e o patrão iria instalar aquecimento central no salão de
convivência dos empregados. Isso agradou a todos, porque a previsão era
de um inverno rigoroso a partir de Janeiro.
As melhorias iriam ser iniciadas pela área dos empregados, o que eu
achei muito bacana da parte dele... Se preocupar primeiro com os
funcionários e depois com os quartos dos hóspedes. Foi muito bonito ver
a alegria das pessoas se reunindo, de noite, no salão quentinho, depois de
um dia de trabalho. Até nosso salão estava decorado para o Natal.
Mesmo essa não sendo uma festividade muito comemorada na cidade de
onde venho, eu e Jason curtimos muito decorar a árvore, fazer biscoitos
de gengibre com as meninas da cozinha.
Madame Cora e Sr Paul adoraram explicar para ele as histórias de
Natal, do Papai Noel. Sr Paul quem explicou para meu pequeno o porquê
de escrever a tal cartinha para o Papai Noel. Colocou-a na caixa do
correio e Jason ficou muito impressionado quando ela “desapareceu” no
outro dia. Gostaria de saber quais foram os pedidos de Natal dele...
Mesmo com todas as benfeitorias feitas no alojamento dos
funcionários, Madame Cora continuava insistindo que eu e Jason
ficássemos com ela na Casa Grande. A temperatura já havia baixado
bastante, resolvi terminar a noite de comemorações da nova sala
comunitária com Jason, pois vi que ele já tinha dificuldades de manter os
olhos abertos. Fiz sinal para Madame, mostrando que iria me retirar, ela
se ergueu para me acompanhar, como de costume.
— Madame... Não tem necessidade! Pode ficar com seus amigos. Eu e
Jason podemos ir para o casarão sozinhos.
— Não, minha filha. Está muito escuro. Você vai carregando nosso
pequeno ajudante nos braços. A neve está alta e você não tem costume de
caminhar sobre neve ou gelo. Sem discussões... Ou eu ou Paul vai te
acompanhar. Aliás, deveríamos mesmo pedir que ele venha junto. Jason
já está bem grandinho pra você levá-lo no colo.
— Está bem, Madame Cora. Sim, senhora... Mas não se preocupe em
chamar Sr Paul, eu mesma levo o Jason. Estou acostumada.
— Já te falei um milhão de vezes pra me chamar de Tia Cora quando
estivermos sozinhas, não?
— Sim, senhora!
Como de costume, demos risada, com o que já virou piada nossa. Pois
ela sabe que eu nunca vou chamá-la pelo nome e ela sempre vai me
mandar chamar pelo nome ou de tia. Um embate que sempre sairá
empatado.
 

Já no quarto...
— Mamãe... Em qual estrela você acha que o Papai Noel mora?
— Não sei, meu anjo. Mas por que a pergunta?

— Porque eu acho que eu deveria escrever outra cartinha pra ele. Só


pra ter certeza de que ele leu ela inteirinha, sabe? Porque olha só: eu fiz
três pedidos. Três! Ele já me deu dois... Ainda tá faltando um. Ou ele não
leu a minha cartinha inteira, ou ele esqueceu o último.
— Calma, meu amor. O Papai Noel leu sua cartinha sim. E ele
entendeu tudinho, anjo. O Natal ainda não chegou. Ele vai trazer o que
você pediu. Você precisa acreditar!
— Mesmo que seja um pedido muito difícil mamãe?

— Bom, filho... Você tem que acreditar que o Papai Noel vai achar que
você foi um bom menino e merecedor desse pedido tão difícil. Se não
vier esse ano, na próxima cartinha, faz um pedido mais fácil pro Papai
Noel trazer pra você. Lembra que ele é velhinho, né?
— Nossa, mamãe. Eu não tinha pensado nisso! Mas meu pedido não é
grande nem pesado... só é difícil mesmo. Se ele não puder, não vou ficar
triste.
— Você é um menino muito bonzinho. Boa noite, meu anjo.

— Boa noite, mamãe. Te amo.


— Eu te amo mais. — Dei um beijo em sua testa enquanto meu anjo já
fecha os olhos, cansado.
Tomo um bom banho quente e me deito ao lado do Jason... Meu
Jason. Meu tesouro e minha razão de viver. Toda mãe deve ter esse
sentimento quase brutal de amor e proteção sobre sua cria. Mas depois de
tudo que passei, não consigo sequer imaginar permitir que alguma coisa
ou alguém venha a machucar meu filho. Nunca mais. Nem palavras, nem
atos, nem intensões. Meu filho é meu tesouro, minha prioridade, meu
presente.
Esses eram os momentos de tranquilidade que me aqueciam o
coração. Estar tranquila, segura com meu filho ao meu lado. Peguei o
celular e comecei a conversar com Mercedes, uma mexicana que
trabalhou comigo no Spa de Phoenix. Fiz poucos amigos, mas gostava
dessa morena alegre e divertida. Dei algumas risadas com ela me
contando sobre uma brasileira que se dizia no limbo da moda, entre o
plus size e o middle size. Ela disse que essa brasileira faz uns posts muito
bacanas sobre aprender a amar o próprio corpo. Achei bem interessante.
Vou seguir, mesmo não falando português. Algumas coisas são
internacionais. E pra tudo existe o Google Translator. @lottiehot
Sentindo o sono chegar, puxo meu diário, onde tento deixar escrito
alguns pensamentos, sentimentos e passagens da nossa vida. Um dia, vou
mostrar para Jason.
Querido diário,
Estamos mais próximos do Natal e o Jason está adorando todos os
preparativos, a decoração, toda a excitação... e não esconde a ansiedade
pela chegada do amiguinho Bob. Não adianta eu falar pra ele que esse
dia pode ser que não chegue, que o patrão pode mudar os planos de vir...
Meu filho está convicto que esse é o presente que o Papai Noel reservou
pra ele.
Ô Deus... Já faz muito tempo que não rezo, nem vou a uma missa nem
nada do tipo. Mas, por favor... Se está me ouvindo, não deixa ele se
frustrar... Conceda essa graça ao meu menino. Eu Lhe rogo. Não peço
nada pra mim, mas só o sorriso dele.
Um novo Natal e um novo ano para um novo futuro...
Amém. Boa noite. Obrigada.
Kate,
Dez-19-2022
 

[1]
As Universidades americanas oferecem habitações (dormitórios) dentro e fora do campus. São
feitos contratos anuais onde os alunos optam por quartos individuais, duplos ou coletivos.
[2]
“Oi, amigo! Muito prazer!” Em espanhol.
[3]
“Perdão, Jose. Você não fala meu idioma? Como faz com as aulas?” Em espanhol
[4]
É o equivalente ao Ensino Médio americano, mas compreende do 9 ◦ do Fundamental II ao
Terceiro Ano.
[5]
Expressão em latim utilizada para indicar alguém que não é bem-vindo.
[6]
Esse seria um sanduíche que juntava peito de frango, bacon, queijo suíço, cebola caramelizada,
jalapeños, alface e mostarda com mel.
[7]
Uppercut é um soco utilizado em várias artes marciais (boxe, kickboxing e muay thai). Esse golpe
é lançado no plano vertical, de baixo para cima, junto ao tórax do adversário em direção ao seu
queixo.
[8]
É um dos golpes mais aspirados pelos lutadores de Muay Thai, o Low Kick é o chamado “chute
baixo”.
[9]
“ Puta que pariu! Ai, caralho! Não me diga que esse bando de cornos estava tentando violentar a
garota?” – Tradução do espanhol.
[10]
É um tipo de escola particular que funciona como um internato, ou seja, o aluno fica hospedado
no campus da escola durante todo o ano letivo, só voltando para casa durante as férias.
[11]
Jason chama Hope de Red (vermelho em inglês) como uma alusão à cor de seu cabelo.
[12]
É a faixa preta em Kickboxing, nível de instrutor.
[13]
O Aquário do Pacífico (tradução do inglês) é um aquário público, situado em 5 acres em
Rainbow Harbor, Long Island.
[14]
“Sim, meu Capitão” – Traduzido do inglês.
[15]
É a refeição em que se mistura o café da manhã e o almoço, geralmente servido no final da
manhã e início da tarde.
[16]
“Babaca!” – Traduzido do espanhol.
[17]
“Sim... Eu te entendo. Mas queria poder dizer alguma coisa pra te ajudar, Guri.” – Traduzido do
espanhol.
[18]
Alumni é um termo em latim e significa “ex-alunos”. Normalmente essa palavra é usada para se
referir aos graduados ou bacharéis em determinado curso de ensino superior da universidade.
[19]
Segurança de Sistemas, Informações e Pessoas
[20]
Rhett Butler, personagem de “...E O Vento Levou”, interpretado por Clarck Gable, foi inspirado
em um banqueiro de Charleston (EUA).
[21]
Um Hostel é como um albergue, onde se paga apenas por sua cama e o restante do espaço
é compartilhado com outras pessoas desconhecidas.

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