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Apenas Entre Nós

2020

Mari Cardoso
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida
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Salvo em casos de citações, resenhas e alguns outros usos não
comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes,
personagens, alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes
são frutos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é apenas espelho da
realidade ou mera coincidência.

Capa: Mariana Cardoso.


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: Apenas Entre Nós.

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso


AVISO: ESTE LIVRO CONTÉM UM DEBATE SOBRE
BULLIYNG, GORDOFOBIA, ABORTO, ASSÉDIO E
SUICÍDIO.
Dedicatória

Para todas as minhas leitoras que


me acompanham e apoiam minha intensa
jornada de escrita. Cada livro publicado é
para vocês e por vocês.
Metamorfose
significa mudança
é a transformação de um ser em outro.

“Não haverá borboletas se a vida


não passar por longas e
silenciosas metamorfoses”.
Rubem Alves
Rebecca.
— Un caffè freddo, per favore. — Pedi a simpática
atendente e entreguei meu dinheiro, ela sorriu de volta e foi fazer
meu pedido. Aguardei no balcão e olhei ao redor, admirada com a
beleza arquitetônica da Galleria Vittorio Emanuelle II. Não
demorou muito para meu pedido ser entregue. — Grazie.
Peguei meu cafezinho e me apoiei no balcão, bebendo e
fotografei um pouco mais, fazendo um stories no Instagram e ao
terminar, atravessei a Galleria e passei em frente ao Teatro Alla
Scala. Parei para fotografar e pedi a um passante que
tirasse algumas fotos minhas. Desci pela rua Giuseppe Verdi,
olhando tudo com calma e entrei no bairro que me indicaram como
mais boêmio de Milão.
Brera era cheio de galerias de artes, artistas de rua e muita
coisa bonita para ver e comprar. Fiquei apaixonada por um quadro
que se tivesse acompanhada compraria para colocar na sala do meu
apartamento. Andei pelo bairro por horas, até sentir uma baita fome
e procurar a Trame’ na Piazza San Simpliciano, escolhi o
sanduíche de húmus, berinjela, tomate, salmão defumado com
abacate e cream cheese.
Para acompanhar, um copo imenso de coca-cola, algo que não
costumava beber muito, mas o calor e a minha fome mereciam.
Meu telefone tocou no final da minha refeição e era o número local
da minha mãe.
— Oi, amor! Está onde?
— Estou sentada em um restaurante maravilhoso terminando
de comer um enorme sanduíche gostoso. — Bebi um pouco do meu
refrigerante para engolir o que estava na boca.
— Ai que maravilha, estou morrendo de fome.
— Quer que leve um para você? — Ofereci porque já estava
de intrometida na viagem de trabalho dela com seu chefe.
— Seria maravilhoso, mas por favor, traga dois porque meu
chefe também não comeu. Estamos na sala de reuniões do hotel. —
Ouvi a voz de um homem e minha mãe teve que encerrar a
chamada. Pedi mais dois para viagem, garrafas de água e duas
latinhas de coca-cola.
Andei de volta para o hotel memorizando meu caminho para
não me perder no meu tour de turista. Entrei no hotel, morrendo de
calor e por estar de short jeans e camisetinha, não podia passar para
área executiva. Liguei para Blake e avisei que estava na porta com
o almoço. Ela apareceu, com seu longo cabelo loiro solto, saltos
altos, saia justa e uma blusa branquinha.
Minha mãe era uma linda mulher executiva.
— Obrigada. Você salvou o dia. E então, já escolheu nosso
lugarzinho para jantar?
— Ainda estou escolhendo, mas eu juro que vou voltar para
casa com uns dez quilos a mais. A comida aqui é gostosa em todo
lugar. Quero provar absolutamente tudo que vejo pela frente. —
Meu telefone tocou e era meu pai. — É o radar.
— Seja paciente com ele e não diga que te deixei andando
sozinha pela cidade. Prometi que cuidaria de você ou contraria um
segurança. — Blake me deu um beijinho na testa. — Eu te amo, vai
se divertir. — Piscou e voltou para sua sala.
Rindo da sua bobeira, me afastei para atender meu pai, que
encheu meus ouvidos sobre segurança em um país estrangeiro e
voltei a andar pela cidade. Me dediquei a andar o máximo que
consegui, descansei em um parque na sombra tomando um
delicioso gelatto que de tão gostoso, comi dois. Andei de volta ao
hotel no fim do dia, fui direto para o meu quarto e enviei uma
mensagem a Blake que fiz reservas no Ceresio 7.
Encontrei um vestido preto na minha mala, ele era justo,
delineava meu corpo. Tinha curvas suaves nos lugares certos, seios
pequenos para médios com o sutiã adequado. Minha bunda era
agradável pela minha herança latina. Era do tipo com longas pernas
bonitas e abusava das roupas curtas. Quando estava secando meu
longo cabelo preto, Blake entrou no nosso quarto, um pouco
cansada, mas animada para sair e que seu chefe iria conosco.
Eu não tive oportunidade de conhecê-lo ainda, meu pai e
Blake foram jantar na casa dele algumas vezes, mas desde que me
mudei estava por fora dos eventos sociais da minha família. Se
ficasse muito por lá, meu pai poderia inventar que estava querendo
voltar para casa e tomar meu apartamento.
O chefe da minha madrasta deveria ser um velho, mas legal, ela
vivia falando bem dele.
Pronta, me olhei no espelho de corpo inteiro e gostei do
resultado final. Não me sentia a garota mais bonita do universo,
mas era uma das muitas. Meu rosto era redondo, meio bochechuda,
lábios cheios que eu passava um batom rosinha para fingir que
eram naturalmente rosados, olhos pequenos, cílios medianos e
olhos castanhos. Joguei meu cabelo para o lado, para ganhar um ar
mais fatal e quem sabe assim, conheceria um italiano bonito para
agitar minha vida.
— Que tal? — Blake rodopiou com um vestido vermelho e os
cabelos presos em um coque. — Tira uma foto? Quero deixar seu
pai com ciúmes!
— Por que?
— São dezoito anos casados, lindinha. Se eu não puder deixá-
lo com ciúme, algo está muito errado.
Ela fez uma posição ousada, linda e meu pai ia aparecer no dia
seguinte na porta do hotel gritando histérico como era.
Blake e meu pai se conheciam desde a escola.
Meu pai se chamava Alex conheceu minha mãe biológica
na faculdade, se apaixonou, se casou, minha mãe engravidou,
morreu no meu parto, um ano depois ele reencontrou a Blake e
saíram informalmente por um ano até começarem a namorar sério e
casar quando eu completei dois anos. Raramente chamava a Blake
de mãe embora ela fosse no papel e em todo resto.
Ela era a Blake, minha Blake. Sentia algo estranho em chamá-
la de mãe quando meu maior medo era perdê-la. Todos diziam que
ela era linda, apaixonante, extrovertida e sonhadora e que eu era
muito parecida com ela, então, podia imaginar que não era o
sangue que nos unia.
Nós tiramos uma foto juntas e enviei para o meu pai, saímos
do quarto para encontrar o chefe dela no saguão. No elevador, um
grupo de executivos trocaram sorrisos conosco e cutuquei Blake
rindo da sua reação de ficar envergonhada. Ela era toda poderosa
até alguém tentar flertar com ela.
Estava rindo sem parar do rosto dela vermelho quando um
homem muito lindo parou na nossa frente, ao invés de parar de rir,
engasguei-me e tapei minha boca.
— Está vermelha, Blake. — Ele disse e eu me endireitei.
Quem era ele?
— Essa boba me faz passar por cada uma... Ah, Marco, essa é
minha filha, minha linda menininha, Rebecca. — Blake me
abraçou e sorriu para o homem mais lindo do mundo. Ele era
incrível. E espera aí... — Amor, esse é meu chefe, Marco Moretti.
Aquela espécie de homem muito gostoso era o chefe da minha
mãe? Uau. Ele não era nada velho. Na verdade, ele tinha mais de
trinta, provavelmente uns bons anos mais velho que eu e mesmo
assim era muito gato. Alto, cabelos no estilo uma passada de mão,
estava no lugar. Grandes e brilhantes olhos azuis, barba rala e uma
boca desenhada que deveria ser proibido em homens.
— Olá! É um prazer conhecer o senhor. — Estiquei minha
mão e apertei a dele.
— Apenas Marco, por favor. Vamos, senhoras? Eric irá nos
levar até lá, devo dizer, foi uma excelente escolha. — Marco me
deu um breve sorriso.
Andei atrás dele e da Blake como uma menina obediente
porque queria olhá-lo melhor. Mordi meu lábio ao reparar a bunda
firme. Ele estava sem terno, apenas de colete, com as mangas da
camisa dobradas e calças do mesmo tom de cinza. O tal do Eric foi
gentil ao me ajudar a entrar no carro meio alto. Era uma cabine
com bancos virados para o outro. Sentei-me na frente dele e da
Blake, que conversavam bastante.
— Como foi seu dia por Milão? — Marco me perguntou e eu
demorei a perceber que estava falando comigo. — Sua mãe não me
disse que você já era uma mulher adulta. Quando ofereci o Eric
para ficar com você, pensei que fosse uma menina.
Pelo que sabia, Eric era o chefe da segurança da Moretti
Security.
— Ela é uma menina. — Blake corrigiu. — Para o pai dela.
— E revirou os olhos. — Mas Rebecca vai completar vinte e um
em alguns meses, está morando sozinha, se formará na
universidade ano que vem e é o meu orgulho. Muito responsável,
nunca me deu trabalho e é essa beleza. Não tem como a mãe não
ficar orgulhosa?
A Blake queria me matar agindo como uma mãe galinha em
cima de mim na frente do chefe gostoso dela. Revirei os olhos
discretamente, olhando para janela e deixei os dois de lado, mexi
no meu telefone e enviei mensagens para minhas colegas da
faculdade. Ao pararmos na frente do restaurante, Marco saiu
primeiro, elegante e ajudou Blake a descer, esticando a mão para
me ajudar quando sua mão tocou a minha, fiquei toda arrepiada.
— Obrigada.
Nós andamos pela entrada do prédio e entramos no elevador.
Percebi que iria ficar calada a noite inteira porque Blake estava
dominando a conversa com Marco. Identifiquei minha reserva e
fomos levados para nossa mesa. Duas mulheres bonitas
acompanhadas por um homem muito bonito estavam chamando
bastante atenção. Blake sentou-se na minha frente e Marco na
ponta da mesa.
Era um ambiente realmente requintado e com o menu todo em
italiano. Não havia nada continental.
Ele pediu a melhor garrafa de vinho do menu e as entradas. Se
Marco não tivesse presente, ia pedir de tudo um pouco, mas com o
homem presente estava com um pouco de vergonha. Pedi massa
tradicional, na verdade, tudo tradicional porque queria provar as
iguarias locais.
— É a sua primeira vez na Itália, Rebecca?
— Em Milão sim, mas não na Itália. Já passei férias em outros
lugares...
— Rebecca adora viajar... — Blake já ia falar por mim, como
sempre, mas Marco sutilmente virou o rosto para mim.
— Eu também. Quais são seus lugares favoritos? — Marco
parecia interessado e como Blake ficou quieta, contei sobre meu
intercâmbio na França, Toronto e na Inglaterra, passei pelas minhas
loucas experiências culinárias na Grécia e o período que decidi me
mudar para Escócia e criar ovelhas. — Você é muito jovem para ter
passado por tantos países.
— Rebecca tem o privilégio de ter uma avó que viaja
bastante, em breve ela será maior de idade e vai ter a sua tão
sonhada liberdade. — Ergui minha taça e brindamos a isso.
Marco era muito gentil, inteligente e educado. Era fácil ficar
pendurada em cada palavrinha que saia da sua boca. Como já
previa, Blake ficou alegrinha na segunda taça de vinho e passou a
contar as piadas mais bobas – e eu ria de todas elas, porque eu a
amava.
— Daqui a pouco ela vai dizer que está com saudades do meu
pai. — Cochichei com Marco.
— Eu posso imaginar que sim, eu a tiro dele com muita
constância.
— Meu pai entende e respeita o trabalho da Blake, quando ele
está escrevendo um novo livro, fica semanas sendo um chato. Ela
aguenta com amor. — Suspirei e bebi meu vinho. Blake pegou o
celular e sabia que estava importunando meu pai mesmo com
muitas horas de fuso horário diverso.
Marco me encarou divertido.
— Ela já começou? — Soltei risada olhando o rosto vermelho
da Blake.
— Sim.
Marco me perguntou sobre minha faculdade, parecia
interessado e falei que comecei o curso porque era boa em
investigar, escrever e não deixava os fatos de fora. Além de ser
uma garota que não desistia fácil de uma boa história. Minha avó
era uma famosa diretora de cinema – ela ganhou o Oscar quatro
vezes, meu pai um brilhante escritor de mistério e fantasia. Cresci
entre as palavras e a arte, tinha um dom excelente com as palavras
e o curso era para aperfeiçoar.
— Experimente assim... Torrada, tomate seco, berinjela...
Agora um pouco de molho picante e morde. Gostou?
— Um pouco picante demais... — Bebi um pouco de água.
— É assim que se come um bom antepasto e por acaso eles
possuem os melhores. — Marco montou mais uma torradinha para
mim e ofereceu. Ele era galante e se eu estivesse louca, poderia
dizer que estava flertando comigo.
Nosso jantar chegou e meu pai deve ter deixado minha
madrasta muito feliz, porque ela estava sonhadora e com os
olhinhos brilhando. Amava o quanto a Blake era totalmente
apaixonada mesmo depois de tantos anos. Eles não tiveram filhos
juntos, depois de quatro abortos, desistiram de tentar e eu vivia
dizendo que amaria ter um irmão (ou irmã) adotivo ou que eles
tentassem com uma barriga de aluguel.
A noite estava quente, um pouco mais do que estava
acostumada e minha massa de cabelo estava me incomodando. Não
queria prender, estavam todos elegantes demais para ficar
bagunçada e então joguei ainda mais para o lado, disfarçando meu
abanar.
— É por isso que eu vim de cabelo preso. — Blake cochichou
e sorri. Ela podia ter me aconselhado. — Relaxa, você está linda.
Irei ao banheiro, faça companhia ao meu chefe e não diga nenhuma
besteira que o faça me demitir.
— Eu vou tentar. — Observei-a ir andando. Marco me deu um
olhar divertido para alegria da Blake em encontrar uma mulher
conhecida. — Blake conhece meio mundo. É impressionante o
quanto ela pode encontrar gente conhecida em qualquer lugar do
mundo. Quando meu apêndice estourou na Alemanha, eu tinha uns
dezesseis anos e estava acompanhando minha avó na gravação de
um filme, ela foi até lá, desesperada como sempre e adivinha só?
Conhecia o médico. Ele foi colega dela no primário! Tem noção?
Marco soltou uma risada bonita e tive que morder o lábio para
não suspirar feito uma idiota. Disfarcei bebendo meu vinho e ele
me perguntou quantas línguas falava, já que estava falando em
italiano com o garçom.
— Francês, italiano, inglês e espanhol.
— Você é a garotinha nerd da escola?
— Não estou mais na escola, irei me formar na universidade
ano que vem. — Ajeitei minha postura porque não gostei da
maneira que me chamou de garotinha. Quem pensava que era?
Tudo bem me enxergar como um produto perfeito, porque era
o que meus pais queriam. Uma garota bonita, da alta sociedade de
Detroit, com o sobrenome famoso e muito dinheiro não
conquistado por mim mesma na conta bancária. Blake garantiu que
eu aprendesse piano, fosse fluente em três línguas além da minha,
viajasse bastante, fosse culta, inteligente e aspirasse por uma
grande carreira. Ela não queria que sua filha fosse apenas uma
esposa bonita pendurada nos braços de um homem.
Blake não veio de uma família rica, ela foi bolsista por toda
sua vida e meus avós não são as pessoas mais incríveis do mundo,
mas criaram uma mulher foda, que era diretora executiva de uma
empresa de segurança mundialmente famosa. Ela já foi CEO de
uma startup de tecnologia por muitos anos, até que a empresa foi
dissolvida em um grande grupo e ela decidiu sair porque não se
identificava mais com a política interna.
O que me incomodava era que meus pais tinham uma visão
diferente de uma grande carreira. Eu queria escrever romances,
falar de amor, adicionar uma boa pitada de dramas e me apaixonar
repetidas vezes por diversos personagens. Cada livro que escrevi
meu pai descartou. Ele sempre dizia que era água com açúcar, mais
do mesmo, nunca ganharia um prêmio e que deveria focar em ser
uma grande jornalista porque eles me davam suporte para isso.
Meu pai me afirmava que era muito menina para escrever
romances de arrancar o fôlego porque não tinha experiência de
vida. Quando ouvi suas palavras, fiquei ofendida, mas ele tinha
razão e foi por isso que aceitei viajar com a Blake. Precisava viver
loucuras. Soltar tudo que meus pais sempre reprimiram em mim.
Cometer deslizes, beijar estranhos... Ter histórias e experiências
para contar.
Ou apenas me apaixonar perdidamente.
— O que pretende fazer após a faculdade?
— Eu não sei. — Fui honesta.
Marco me deu um olhar divertido, deu um gole suave do seu
vinho frutado que eu podia imaginar o sabor nos seus lábios.
— Por que não sabe? Parece ser do tipo que sabe de tudo.
— Porque vivo um dia de cada vez. Meus planos hoje podem
não ser os mesmos daqui a um ano.
— Isso te faz parecer inconstante e perdida, mas é normal na
sua idade.
Ele estava me atraindo e me irritando.
— Não sei que espécie de homem você era aos vinte anos de
idade, talvez realmente faça muito tempo, mas sou jovem e tenho
direito de não saber o que fazer após a faculdade porque a vida é
minha. — Abri um sorrisinho insolente e olhei para o bar. — Você
pode me dar licença um minutinho?
Marco não entendeu nada. Levantei-me com toda graça
possível, passei por Blake que conversava animadamente com sua
conhecida e parei no bar. Queria uma bebidinha diferente dos
vinhos que estavam na mesa e me afastar do Marco. Ele era
petulante, meio maldoso, muito gostoso e estava caindo no
joguinho dele para me irritar com facilidade.
O barman não me pediu identidade embora estivesse com a
minha falsa na bolsa, Blake não podia saber. Pedi um martini, era a
bebida favorita da minha avó e eu sabia uma combinação muito
gostosa. Comi uma azeitona, saboreando o ardor da bebida e uma
sombra parou ao meu lado. Olhei devagar e um cara moreno, de
cavanhaque e sorriso sexy ergueu seu copo.
— Ciao, bella. — Ele tinha uma voz maravilhosa e sorriso
perfeito.
— Ciao, ragazzo.
— Come ti chami?
— Rebecca e tu?
— Antonio. Americana?
— Sí.
Antonio era um charmoso homem flertando abertamente
comigo e quis pagar uma bebida, que neguei, mas dei conversa.
Virei um pouco de lado, apoiando meu braço e cotovelo no balcão,
ficando de frente para ele e rindo das suas piadas galantes. Ele
estava me tratando como uma mulher.
Eric se aproximou lentamente, parando atrás de mim e eu
virei o rosto, olhando-o com a sobrancelha arqueada, virei para a
mesa e Marco me olhava fixamente. Ele parecia nem piscar, voltei
a olhar para Antonio e sorri, flertando, jogando meu cabelo e até
soltei uma risada mais alta.
Percebendo a presença do DeLucca atrás de mim, Antonio
deslizou um cartão sobre o balcão e disse que estava no Gallia,
quarto 302 e podia chegar a hora que quisesse. Peguei o cartão,
sorri, agarrei minha bebida e voltei para a mesa.
— O que foi isso, Rebecca? — Blake estava apavorada.
— Um cara charmoso me dando atenção, mãe. Relaxa, eu não
entendi metade do que falou, só gostei do flerte. — Menti sem
nenhuma vergonha porque entendi muito bem o que ele disse.
— Achei muito velho, ele tem cara de ter mais de quarenta. Se
tivesse trinta e pouco, tudo bem. Mas se era só um flerte, saiu bem.
— Ele realmente deve ser muito mais velho. — Marco
comentou e eu olhei para ele.
— Tem gente que gosta de garotinhas. — Comentei com um
sorriso doce.
— Fala sério, você vai fazer vinte e um. Na sua idade, eu
estava quase casada com seu pai. — Blake comentou aleatória a
minha piadinha para o seu chefe. — Que lugar lindo. Deve ser
maravilhoso durante o dia.
— Talvez eu volte aqui amanhã e aproveite a piscina. — Sorri
para o garçom que colocou mais um prato na minha frente. —
Grazzie.
— Se continuar assim, vou ficar com inveja e nunca mais te
trago em uma viagem do trabalho. — Blake deu tapinhas na minha
mão.
Mostrei meu sorrisinho de menina inocente sentindo a
potência do olhar do Marco sobre mim, que bravamente ignorei
mudando o assunto sobre a delícia que era meu prato.
Garotinha, ora essa.
Rebecca.
Blake estava muito alegrinha com o vinho, assim que
entramos no quarto, fiquei grata pelo ar condicionado e me joguei
na cama, me refrescando enquanto ela tomava banho, reclamando
com dor de cabeça e fiquei no telefone editando as muitas
fotografias que tirei.
— Eu vou dormir, você está bem? — Blake voltou para o
quarto de pijama.
— Vou usufruir da banheira. — Me abanei ainda com calor
pela quantidade de vinho ingerido no jantar.
Blake dormiu em cinco minutos e bem pesado, de fininho, fui
andando devagar até a saída porque estava cedo, não queria dormir
e pensei em tirar umas fotografias da cidade na área da piscina
privada do andar que estávamos. Um funcionário estava saindo de
lá me deu passagem para entrar e fechou a porta. A piscina estava
com poucas luzes acesas, brilhando em azul e a cidade era uma
visão linda.
A área do bar estava apagada, não havia ninguém lá, abri a
geladeira e peguei uma garrafa de água que ficava disponível para
os hóspedes. Abri, bebi metade e afundei meus pés na piscina.
Hum... Estava deliciosa. Olhei ao redor, não havia ninguém e os
quartos não tinham visão para a água. Peguei uma toalha e um
roupão, deixando próximo a beirada, tirei meu vestido e mergulhei
só de calcinha.
Nadei de um lado ao outro, me refrescando e gostando da
liberdade de fazer algo proibido. A sensação era maravilhosa. Me
apoiei no mármore da beirada, olhando a cidade, de costas para a
porta e pensei que já estava bom, porque era abusar demais da sorte
não ser pega mesmo àquela hora da noite. Mergulhei de volta para
escada e ao emergir, tomei um susto com o homem parado ali.
Camisa aberta, cabelo despenteado, mãos no bolso e um olhar
indecifrável.
— O que você pensa que está fazendo? — Marco parecia
bravo, não podia dizer ao certo.
— Você ganha a vida perguntando o óbvio? Estou
mergulhando. — Puxei a toalha e subi alguns degraus e me
envolvi. — E você? Espiando garotinhas seminuas sem o
consentimento?
— Já estava aqui quando você começou o seu show de
irresponsabilidade.
— Dar um mergulho é uma irresponsabilidade agora? E aonde
você estava?
— É irresponsabilidade quando você está seminua com
câmeras por todo lado. — Me deu um sorriso torto. — Estava
sentado atrás do bar admirando a bela visão a minha frente e estou
falando da cidade.
Cretino.
— Tudo bem, os operadores viram um pouco de mamilos.
Qual a polêmica nisso? Tenha uma boa noite, Sr. Moretti. — Passei
pronta para ter minha saída triunfal e ele falou novamente:
— Você gosta de brincar com o perigo?
— Por que, você gosta? — Mordi meu lábio descaradamente.
— Para de falar comigo como se eu fosse uma peça do seu
joguinho.
Soltei uma risada e suspirei.
— Marco... Foi você quem começou. Pensou que eu era uma
garota idiota que iria ficar deslumbrada a cada pedacinho de
palavra para no fim, massagear o seu ego quando você me fizesse
chorar por me diminuir ou tentar me fazer uma criança do seu lado.
— Dei um passinho a frente e não havia um mísero espaço entre
nós. — Vim aqui viver aventuras, aproveitar a cidade e o que mais
puder. — Marco inclinou o rosto para frente, nossos narizes se
tocando mesmo com a diferença de altura. Lambi meu lábio ao
sentir sua respiração quente contra eles e o beijei. Beijei mesmo.
Beijei com gosto, vontade, desejo e paixão. Beijei agarrando
seu corpo ao meu e sentindo seus lábios me consumindo, suas
mãos me pegando firme e minha toalha quase caindo. Meus
mamilos endurecidos e minha calcinha em chamas me fez perceber
que nunca beijei daquele jeito, assim como nunca fui beijada. Me
afastei, meio embriagada e sorri.
— Boa noite.
Marco estava perdido e sorrindo vitoriosa, tive a minha saída
triunfal. Entrei no quarto em silêncio, tomei banho para tirar o
cloro e me joguei na cama, sorrindo até adormecer.
— Bom dia, amor. — Blake me acordou. — Por que o serviço
de quarto entregou suas roupas secas essa manhã?
Merda! Esqueci na piscina.
— Ah, sujou e quis mandar lavar logo. A vantagem de ter um
serviço de quarto vinte e quatro horas. — Bocejei e me espreguicei.
— Está tarde, por que não está trabalhando?
— Marco me deu algumas horas de folga porque irá precisar
resolver um problema. A esposa dele fez alguma coisa
impressionante para chamar atenção. — Blake me deu um sorriso.
— Vamos passear? Quero fazer compras!
— É claro! Ah, tem um lugar maravilhoso para tomarmos café
da manhã! — Usei a alegria para disfarçar meu choque por
ter beijado um homem casado. Ai que merda. — Vou me vestir.
Corri para me arrumar enquanto Blake fazia uma chamada de
vídeo com meu lindo e controlador pai. Ele estava nos advertindo
sobre gastar muito e eu só revirei os olhos, ignorando. Se derem
cinquenta mil dólares na mão da Blake, ela transformará em cem
mil. Aquela mulher nunca gastava nada excessivamente e eu era a
rainha da promoção. Havia uma sensação muito louca e
maravilhosa em comprar milhares de coisas por uma quantia.
Cupom de desconto? Era viciada.
Nós saímos do hotel com roupas frescas e óculos de sol, direto
para o centro da moda de Milão. Nós entramos em algumas lojas
antes de escolher uma de multimarcas para fazermos nossas
compras.
— Não sabia que o Sr. Moretti era casado. — Comentei
andando entre as araras.
— É complicado. Eles não se veem há um ano. Andrea me
ligou e disse “Avise ao seu chefe que estou indo e é melhor que ele
pague uma pensão todo mês porque não lhe darei o divórcio”. Eu
acho que Marco não se importou. — Blake tirou um vestido e
colocou na pilha que iríamos experimentar. — E segue não se
importando, mas ela não disfarça seus casos e suas extravagâncias.
— Por que ele não se divorcia?
— Não sei se está tentando, para falar a verdade, da última
vez que conversamos sobre isso o advogado estava tentando
localizá-la dentro das muitas vezes exigidas pela justiça para
justificar um litigioso. Acho que a Andrea vai querer arrancar as
calças dele.
— Você a conhece?
— Ela era modelo de uma marca de roupas íntimas quando
eles se conheceram. Mente vazia, completamente fútil e irritante.
Foi uma boa coisa ela se afastar, porque tirava o Marco do sério e
arriscava nosso trabalho muitas vezes. Sem contar que uma
vez fingiu que falou sem querer algo muito sério do trabalho no
salão de beleza... — Blake me deu um olhar sério. — Quase
perdemos a vida de uma pessoa que estava em uma das nossas
operações de segurança.
— Uau, que perigo.
Mudei de assunto para Blake não achar que estava interessada
no seu chefe e fomos experimentar nossas roupas. Acabei
decidindo por algumas peças de roupas e em seguida ajudei Blake a
decidir o vestido que usaria no aniversário de casamento com meu
pai esse ano. Eles farão uma viagem por uma semana como todo
ano. Quando era criança eles me obrigavam ir com eles, o que era
um saco. Quando fiquei adolescente passaram a ir sozinhos.
De volta ao hotel, guardamos nossas compras e ela trocou de
roupa para ir trabalhar. Decidi pegar um pouco de sol na piscina
para sair à noite por ter marcado um encontrinho com algumas
colegas da escola que estavam estudando moda em Milão. Não era
exatamente muito próximo delas, na época da escola dividimos a
mesma mesa do almoço e tínhamos amigas em comum.
Vesti um biquíni vermelho, pequeno e peguei minha bolsa
com bronzeador e protetor solar. Prendi meu cabelo, óculos de sol e
um short jeans para me cobrir pelo corredor. Não desci para piscina
principal do hotel, voltei para o lugar que dei o beijo mais
inesquecível da minha vida.
Escolhi uma espreguiçadeira, pedi meu almoço e uma batida
fresca que o garçom disse que era maravilhosa. Fiquei deitada no
sol depois de comer, bebendo e estava ficando um pouquinho
bêbada quando uma sombra me fez abrir os olhos.
— Eu apaguei o vídeo de ontem... De nada. — Marco ergueu
os óculos e deu uma olhada no meu corpo.
— Apagou por que sua esposa não poderia ver um vídeo seu
beijando outra mulher ou por que os moderadores não podiam ver
meus mamilos polêmicos?
— As duas opções. — Enfiou as mãos no bolso. — Almoce
comigo?
— Eu acabei de falar da sua esposa e você quer que vá
almoçar com você?
— Se sabe da minha esposa foi porque a Blake te falou e eu
aposto que contou tudo sobre o meu casamento. Estou errado? Ou
eu posso te atualizar...
— Já sei... — Bati o dedo no meu queixo. — Você vai dizer
que o casamento acabou, que vivem na mesma casa apenas pelas
crianças e que a vida a dois acabou faz tempo? — Eu não sabia por
que queria irritá-lo tanto.
— Engraçadinha. Não tenho filhos e a Andrea foi embora há
mais de um ano, portanto, vai almoçar comigo ou não?
— Eu já comi.
— Eu pedi comida no Carlo e Camilla. Ouvi dizer que
gostaria de experimentar a comida lá...
— Tudo bem, você venceu. Mas só porque não vai dar tempo
de ir nele. Como conseguiu? Eles não fazem entregas e não tinham
espaço na agenda para reservas. — Levantei e me inclinei para
pegar meu short, vesti e recolhi minhas coisas.
Marco deu passagem para ir andando na frente e pelo reflexo da
porta, o olhar dele estava na minha bunda. Parei em frente ao seu
quarto e me pressionou contra a porta.
— Eu gostei do beijo ontem. — E beijou meu pescoço.
— Parece que você gosta de ser beijado por garotinhas. —
Provoquei e ele abriu a porta rindo.
— Acho que por uma garotinha só, que é bem insolente. Entra
e senta, vou servir nossa comida.
— Onde está minha mãe? — Ocupei uma cadeira.
— Me representando em uma reunião do outro lado da
cidade.
— Então você coloca a mãe longe para ficar com a filha?
Marco me deu um olhar engraçado.
— Não. Eu não pude ir ou iria chegar muito atrasado, estava
resolvendo um problema importante. — Marco me entregou uma
garrafa de água e voltou para onde estava a comida.
— Com a sua esposa?
— Aparentemente, ela caiu bêbada em uma boate na Croácia.
— Fiquei surpresa que me respondeu o que acreditava ser
honestamente. — Mas quando meus homens chegaram lá, ela já
tinha sumido. Andrea consegue sumir, mas falta bem pouco para o
divórcio sair litigiosamente. Quer salada?
— Sim, por favor. Sei que não é da minha conta, mas por que
demorou tanto para se divorciar?
Marco colocou um prato de salada na minha frente.
— Eu não sei. Acho que não queria lidar com o estresse do
divórcio logo que ela foi embora.
— Ou esperava que ela voltasse.
— Talvez. Voltasse para nos divorciar como pessoas normais.
— Deve ser difícil para o seu ego ser deixado... Bonito, rico,
elegível, do tipo que mães querem que suas filhas se casem, porque
elas foram criadas para aceitar maridos que nunca estão em casa e
tem amantes na rua.
— Parte verdade e parte mentira. — Marco sentou-se na outra
cadeira grande da mesa com um prato de salada igual ao meu. —
Ninguém casa para ser deixado, embora me doa admitir, além de
não saber exatamente por que me casei, não era um bom marido
para Andrea. Nós deixamos de estar juntos dois meses após o
casamento e menos de seis ela já estava fora.
— Por que está me falando isso tudo?
— Porque eu vou te beijar novamente e não quero ouvir a
palavra esposa saindo da sua boca como se fosse o cara que está
sendo infiel. — Marco falou bem firme e sorri, envaidecida, saindo
do meu lugar e montei no colo dele. — Você é como uma sereia,
que canta com essa voz doce, sorrisinhos atrevidos e esses mamilos
polêmicos tentadores... — Calei a boca dele com um beijo suave,
mordisquei seu lábio e queixo, ele ficou todo arrepiado. — Isso
deveria ser muito errado, na verdade, é errado.
— Por que você é casado?
— Porque sou dez anos mais velho que você e chefe da sua
mãe. — Suas mãos agarraram minha bunda. — Mas a partir do
segundo que te vi, fiquei tentado e não consigo pensar em mais
nada além da sua boca na minha desde ontem a noite.
Marco me deu um beijo que me deixou completamente acesa
e louca para pular na cama dele, sem tabus, o que normalmente sou
meio enjoada. Nenhum garoto me deixou tão excitada e fervendo
por sexo, sem compromisso e irresponsável, mas para a minha
sorte, antes que tirasse minha roupa, o telefone dele tocou e voltei
para meu lugar.
Tivemos um almoço delicioso o que confirmava que o
restaurante era realmente incrível. Hum, precisava fazer uma
reserva quando retornasse a Itália.
— Tenho que ir trabalhar agora. — Marco me deu um beijo
contra a porta. — Você deve sair desse quarto antes que eu não
permita mais... — Senti seu pau muito duro contra minha barriga e
choraminguei, tão excitada que não pensava direito.
Rindo, saí do quarto dele direto para o meu e me joguei na
cama. Caramba! Como a minha vida mudou tanto em vinte quatro
horas? Não era uma mudança permanente, mas nunca iria imaginar
que o chefe da Blake fosse tão gostoso e me embolei com ele
sentindo a química que sempre invejei dos livros.
Parei por um momento para descrever a sensação que ele
causava em mim, salvei a nota e não podia mais ficar enrolando na
cama. Tomei banho pensando nele e fiz escova no meu cabelo que
demorou uma eternidade.
Quando estava depilando minhas pernas, Blake entrou no
quarto, agitada, com calor e com fome. Ela fez o pedido do nosso
jantar no quarto, tomou banho e fez cachos no meu cabelo.
— Como foi seu dia? — Nos sentamos nas cadeiras
confortáveis junto a mesa do quarto com nossos pratos de comida.
— Fiquei o dia inteiro na piscina e descansei um pouco.
— Foi maravilhoso, amor. Seu pai me perguntou por que não
está ligando para ele...
— Porque ele não está respondendo minhas mensagens. —
Enfiei o garfo na minha almôndega.
— Ele prefere te ouvir. — Blake me deu um olhar cansado da
minha birra com meu pai.
— E eu prefiro digitar. — Murmurei comendo.
— A novidade é que Marco recebeu um contrato para fazer
uma avaliação de segurança em Ibiza. Nós iremos daqui direto para
lá em um jato privado amanhã à tarde. Você vai querer ir para casa
ou passar mais alguns dias pegando sol só que na Espanha?
— Puta merda, é claro que quero ir para Ibiza. —
Praticamente gritei e pulei empolgada na cadeira e bati palmas, e
voltei a comer porque tinha hora.
— Perfeito, vou avisar ao seu pai.
Blake insistiu que Eric me levasse até a boate, aceitei para ela
parar de falar e me dar recomendações. Ela não perguntou como
faria para entrar e deixei esse detalhe propositalmente de lado. O
lugar estava lotado, mas uma das meninas estava namorando o
filho do dono do lugar e rapidamente as encontrei em uma área
reservada usando roupas curtas, coloridas, com seus longos cabelos
e eu percebi que de certo modo elas eram iguais.
— Becky! — Callie gritou e me abraçou. De todas, ela era
menos ruim. Mas eu odiava que me chamassem de Becky. — Você
está linda!
— Não deveria usar o cabelo tão preso, suas orelhas se
destacam e sua cabeça fica maior, garota. Aff, que saudade! —
Tess me deu um abraço e sorri forçada. Por que vim mesmo? —
Você ganhou corpo, gente! Rebecca tem peitos!
Fingi que não ouvi e sentei-me no sofá, pedindo uma bebida.
A conversa entre elas era a mesma do ensino médio. Caramba, elas
estavam morando em outro país, em outra cultura, estudando com
pessoas de lugares diferentes do mundo e ainda assim continuavam
falando mal de todas as pessoas que conheciam, alfinetando o peso,
a aparência e eu simplesmente cansei. Nunca fui aquela garota e
definitivamente estava longe de ser depois de alguns anos
afastadas.
Quando elas tocaram em um assunto muito delicado,
decidi que estava farta.
Levantei do sofá dizendo que ia pegar uma bebida no bar.
Elas estavam bebendo espumante e era algo que não gostava muito,
pedi tequila e virei, ficaria bêbada na segunda dose e ia ficar no
brilho o restante da noite. O DJ começou a tocar uma seleção de
músicas que gostava de dançar e me enfiei no meio, ignorando o
que minhas amigas perfeitinhas iriam pensar.
Ignorando a dor no meu peito.
Rihanna estava cantando We Found Love mixada com outra
música eletrônica e ergui meus braços, dançando, tentando espantar
a tristeza que consumiu meu coração. Voltei para o bar e bebi mais
três tequilas, dançando sem parar e me esfregando em
desconhecidos bonitos, mas não beijei ninguém. Estava suada e
bêbada, quando um buraco abriu na multidão dançante, vi Marco
parado próximo a uma coluna, com as mãos enfiadas no bolso, me
olhando fixamente.
Larguei o idiota que estava dançando e fui até ele.
— Me leva embora? — Parei na sua frente e ele acariciou
meu rosto.
— Parecia se divertir.
— Aquelas vacas falaram da minha melhor amiga como se ela
estivesse errada por ter tomado veneno. — Soltei irritada. — Ela se
matou porque se odiava. Ela não queria mais viver porque aquelas
garotas ajudavam no ódio que ela tinha da sua aparência. Eu não
sei o que vim fazer aqui, não deveria estar com elas e quero ir
embora.
Marco segurou minhas mãos.
— Vou te levar embora.
Me abraçando pelo ombro, me tirou de dentro do local
apertado e Eric rapidamente trouxe o carro. Recostei minha cabeça
no banco e olhei para cidade.
— Ruth se matou porque ela não conseguia emagrecer. Eu
nunca entendi por que ela não se aceitava, me senti mal por ser
uma péssima amiga e não a ter compreendido. — Olhei para o
Marco e ele estava igualmente recostado no banco, me encarando
com suavidade. — Ao chegar aqui, elas disseram que finalmente
ganhei corpo, que não deveria usar o cabelo preso por causa das
minhas orelhas e que meu rosto redondo ficava ainda maior.
Sinceramente, quem deveria se importar com uma merda dessas?
— Sinto muito que tenha sido uma noite ruim. O que posso
fazer para melhorar?
— Me leva para o seu quarto.
— Eu levo.
Sorri, me inclinei e beijei sua boca.
Marco.

Deitei Rebecca na minha cama com cuidado e ela estava


vestindo só uma camisa minha. Beijei seus lábios com carinho
sentindo o gostinho do chocolate que comeu logo depois que
escovou os dentes quando entrou. Me perguntou se tinha alguma
coisa para vestir porque seu vestido estava machucando-a.
Me atentando, tirou bem na minha frente e mais uma vez
admirei sem nenhuma vergonha seus seios perfeitos, a cinturinha
fina e uma calcinha pequena preta de renda. Foi uma bela visão.
Ela estava me beijando devagarzinho, me atiçando, com
sua boca carnuda fazendo maravilhas no meu corpo. Me
aconcheguei ao seu lado, observando seu rosto sereno e logo ela
adormeceu, tomada por toda tequila que bebeu. Minha cama era o
último lugar que ela deveria estar, meu quarto deveria ser proibido.
Descobri que quando se tratava da Rebecca, era um idiota. Estava
tudo bem enquanto era só uma atração desenfreada. Por quantas
mulheres senti atração? Muitas.
Quando a vi, pensei que fosse qualquer mulher e não a
filhinha da Blake. Minha diretora executiva falava da filha como se
fosse uma menina pequena, apesar de reconhecer que Rebecca era
uma garota adulta. Tinha a imagem de uma Rebecca pequena com
um sorriso doce na foto do arquivo da Blake, mas ela era uma
mulher linda. Me senti muito mal por sentir desejo.
Tratei como uma criança para me fazer entender que ela
estava totalmente fora dos limites para mim. Quatorze anos mais
nova, filha da minha funcionária e apenas uma menina começando
a vida. Rebecca era uma força da natureza maravilhosa de assistir.
Nunca imaginaria que ela, com seu rostinho de menina inocente,
tiraria a roupa para tomar banho de piscina e eu não queria assistir.
Quem disse que consegui desviar o olhar?
Rebecca me consumiu em uma única noite. Ela me tomou. Me
incendiou. E quando me beijou, fiquei derrotado. Nunca fui o tipo
de homem que ia para cama dormir pensando nos lábios de uma
mulher. Simplesmente me perdi. Era um homem formado que tinha
minha própria empresa e vida para tomar conta para ficar fixado
por uma mulher de vinte anos.
E a primeira noite dela ao meu lado foi dormindo, e eu soube
que Rebecca seria diferente na minha vida. Dormi pouco, antes de
amanhecer acordei-a com beijos suaves na sua bochecha e lábios.
Ela piscou os olhos antes de se espreguiçar.
— Você tem que ir para seu quarto. Sua mãe vai se preocupar
se não te ver na cama agora pela manhã.
— Eu sei. Obrigada. — Inclinou-se, me deu um beijo lento e
foi se vestir. Assisti o showzinho olhando sua bunda com muito
prazer. — Até mais tarde. — Soprou um beijo saiu do meu quarto
de fininho.
Fiquei jogado na cama, sem sono, pensando nela e no que
contou da sua amiga. Era realmente triste saber que alguém se
matou por não gostar de si mesma. Cresci com mulheres, minha
mãe era uma mulher linda e minha irmã teve seus momentos ruins.
Já a Andrea era extremamente narcisista, o que passou a me irritar
profundamente. Quando ela disse que estava grávida, pensei que
poderia aguentar. Casei-me com ela e fiz a coisa certa, mas no fim,
não era o que esperava e tive que lidar com isso.
Levantei-me na hora certa para sair e tomei café no meio do
caminho. Eric me atualizou sobre o contrato em Ibiza enquanto
Lexie falava da minha agenda. Blake estava ocupada lendo o
contrato e era a nossa última reunião com o grupo que me
contratou para fazer a análise de segurança da empresa. Era uma
marca italiana que exportava vinhos para o mundo inteiro.
Passamos o dia inteiro envolvidos com a resolução, o contrato
e o pagamento final. Blake comentou aleatoriamente que Rebecca
não saiu do quarto e amanheceu chorando. Ela contou sobre a
melhor amiga de infância que se matou há dois anos e que Rebecca
ficou completamente fora de si por muito tempo. Eu entendi que
aquela menina destemida tinha um ponto fraco e era essa história.
No final da tarde, arrumei minhas malas e despachei junto
com as demais. Rebecca deixou suas malas com sua mãe e disse
que nos encontraria no aeroporto. Fiquei curioso para saber o que
estava fazendo por Milão de última hora, mas não perguntei, nós
chegamos ao aeroporto e embarcamos no meu avião privado.
— Lexie está preparando o cronograma, nós iremos ter tudo
ajustado até amanhã, o que significa que temos a noite de folga. —
Blake sentou-se na cadeira na minha frente.
— Podemos sair para jantar, o que acha? Tenho certeza de
que teremos uma noite linda nos aguardando na Espanha. Serão
dias quentes...
— Rebecca ama as praias de Ibiza. Ela veio com a avó umas
mil vezes. — Blake comentou e olhou o relógio, conferindo a hora
e não deu dois minutos para ouvirmos a voz da Rebecca. Ela
embarcou usando um tênis branco, um vestido azul com bolinhas
brancas que voava facilmente com o vento do lado de fora. — Oi,
amor.
— Olá! — Rebecca sorriu e ocupou o lugar ao lado da Blake
bem na minha frente. — Não demorei muito, certo? — Ela
segurava uma sacola que a comissária de bordo pegou e guardou.
— Chegou na hora certa. — Olhei-a com um sorriso educado
no rosto. — O que trouxe?
— Bolinhos italianos com muito açúcar para comermos na
viagem, mas ela precisa guardar para decolarmos e nos servir em
alguns minutos.
Era muito estranho ter que disfarçar meus olhares na frente da
mãe da Rebecca, não queria que ela soubesse sobre nós. Não ainda.
Era apenas algo entre nós dois, por enquanto, talvez, não havia
como prever o futuro.
A viagem foi longa o suficiente para me deixar
desconfortável. Blake era uma mãe zelosa, não entendia porque
Rebecca não a chamava de mãe. Era estranho como Blake tratava
Rebecca como uma criança em alguns momentos e em outros como
uma mulher adulta.
Uma menininha inocente era a última coisa que Rebecca era.
Do jeito que aquela garota me beijava, sabia muito bem o que
queria. E ela conseguia me deixar completamente louco e cheio de
tesão só com sua língua dançando com a minha. Como sabia mexer
aquela língua... Precisava parar de pensar nela. Principalmente com
sua mãe sentada bem na minha frente.
Rebecca leu a viagem inteira, com pouco mais de cinco horas
nós pousamos na Espanha. A noite estava insuportavelmente
quente e nós levamos um tempo para descarregar todas as malas e
seguimos para nosso hotel que era de frente a praia e o som do mar
foi recebido com alegria.
Após deixar minhas malas no quarto, resolvi descer para
uma bebida no bar do hotel.
— Ela está sozinha na praia. — Eric apontou para a praia e vi
o vestidinho azul voar na beira da água.
— Onde está a Blake?
— Foi dormir. Ela e a Lexie estão muito cansadas e pediram
para avisar que preferem descansar. Rebecca desceu sozinha e
perguntou sobre o menu de jantar do hotel, foi para a praia e ficou
lá.
— Obrigado, Pequeno DeLucca.
Atravessei a rua com calma, pisei na areia e ela estava
molhando os pés com as ondas suaves. Parei ao seu lado e me deu
um olharzinho antes de voltar para a lua brilhando para a água.
— Já viu a água mais bonita que essa? Imagina com o sol
quente? E eu serei a garota usando um biquíni branco aproveitando
todo o sol. — Me deu um sorrisinho malandro.
— Farei questão de vê-la pelo menos de longe. Quer jantar?
— Sim, estou faminta. Mas nada de carne de porco... Eu não
como porco de jeito nenhum. — Rebecca segurou meu braço e
voltamos para o hotel. Encontrei uma mesa na parte de trás, virada
para o outro lado e fora da observação do público. — Blake foi
dormir. Ela estava exausta. Viu a cama depois do banho e tombou.
— Por que você a chama de Blake e não de mãe?
— Ela não é minha mãe biológica... E eu simplesmente a
chamo de mãe de vez em quando. Blake me adotou quando se
casou com meu pai, então, é legalmente minha mãe.
— Blake parece te amar incondicionalmente como uma mãe
sem se importar que não foi ela que te deu à luz. — Servi o vinho
nas nossas taças.
— Eu sei e a amo muito, mas é ruim crescer com o estigma
que minha mãe morreu porque nasci. É como se não tivesse o
direito de chamar alguém de mãe... É como se essa palavra fosse
tirar a Blake de mim. — Rebecca encolheu os ombros como se não
fosse nada demais.
— Chamá-la de mãe não vai tirá-la de você... Talvez devesse.
Ela te ama muito.
— Vou considerar isso. E a sua mãe?
— Ela é intrometida, tagarela e ao mesmo tempo maravilhosa.
Tenho uma irmã caçula, seu nome é Nicole, mas gosta de ser
chamada de Nikki e ela tem vinte e dois anos.
— Elas vivem em Detroit?
O garçom nos interrompeu com nossos pedidos e ela pediu
um hambúrguer com batatas fritas e eu um pescado misto com
folhas verdes.
— Depois que meu pai morreu, sim. Antes elas viviam em
Los Angeles...
— E o restaurante da sua família?
— Alguém andou pesquisando sobre mim no google?
— Uma garota precisa fazer sua lição de casa. — Rebecca
mordeu seu hambúrguer cheio de ketchup, mostarda e outros
molhos, pingando na mesa e limpou a boca, mastigando. — Esse é
o melhor hambúrguer da minha vida. Quer?
— Quero. — Rebecca me deu seu hambúrguer para morder e
eu comi apenas para provar. — Realmente muito bom. — Ela
enfiou batatas fritas na minha boca.
— Está melhor que esse monte de peixe boiando aí? — Me
cutucou pelo tornozelo e rimos.
— Eu odeio admitir que sim. — Limpei minha boca e a dela.
— Eu quero seus camarões. — Rebecca pescou os camarões
no meu prato e mordeu. — São bons. Meu hambúrguer está
melhor. — Tomou seu vinho. — Eu nunca comi um lanche com
vinho.
— Acho que não combina muito. Quer um refrigerante?
— Apenas um novo experimento... Você não gosta de
experimentar novas coisas?
— Se não gostasse, não estaria aqui com você. — Acariciei
sua coxa. — Gostei de dormir com você.
— Eu poderia dizer o mesmo, mas eu estava com muitas
tequilas nas veias e com vontade de fazer algo mais que dormir ao
seu lado.
— Garota… — Tentei soar severo e ela sorriu, mordendo o
lábio e me olhou de um jeito bem safadinho. Sua mãozinha subiu
pela minha coxa e apertou.
— Você disse que gostava dessa garotinha aqui...
— Vai jogar isso na minha cara para sempre, não é? —
Recostei na cadeira olhando-a sorrir triunfante.
— Talvez.
Nosso encontro terminou cedo, fui agraciado com beijos
quentes com gostinho do chocolate da sobremesa no corredor.
Fazia muitos anos que não era o cara que ficava de amassos com
uma garota contra parede e ia para cama sozinho, com o pau
realmente duro e cheio de desejo. Rebecca estava me matando.
A noite foi longa o suficiente com todos os sonhos eróticos
que tomaram minha mente à força. Não sabia que podia ser tão
criativo quanto um adolescente. Logo que amanheceu, meu
telefone apitou e a agenda estava apertada pela manhã. Tomei um
banho e me vesti, me preparando mentalmente para entrar no modo
trabalho e me concentrar. Tomei minha medicação e saí.
Lexie e Blake iriam nos encontrar mais parte para a reunião.
Eric e eu fomos conhecer melhor ao redor da empresa, lemos as
cartas de ameaças, assisti os vídeos de invasão três vezes e
identifiquei todos os pontos de falhas. Com a planta enviada pelo
contratante, marquei os pontos de melhoria, quantos funcionários
que poderia implantar para proteção e novo sistema tecnológico. Se
eles aprovassem, seria um contrato milionário de dois anos e
esperava renovar.
Entreguei tudo a Blake, porque ela fazia toda negociação,
minha parte era apenas explicava o que era feito e como
funcionava. Desde que a Blake começou a trabalhar comigo, minha
empresa cresceu de forma assustadora, porque na verdade nunca
fui muito bom em negócios. Era bom em oferecer qualidade ao
serviço da minha empresa de segurança e tecnologia.
— Pelos meus cálculos, temos quatro dias para fazer tudo
acontecer aqui e irmos para casa. — Blake comentou no carro de
volta ao hotel. — Lexie já está fazendo a verificação dos novos
funcionários.
— Eu consigo implantar o sistema com esse tempo. — Eric
estacionou na frente do hotel e olhei para o mar.
— Se quiser ir embora, eu posso me virar com a Lexie.
Está muito tempo fora de casa, longe do seu marido e talvez...
Blake saiu do carro e sorriu, olhou para a praia e voltou para
mim.
— Rebecca precisa de férias e eu estou amando o tempo com
ela. Alex a pressiona demais, ele tem planos que são surreais e não
dá espaço para que ela cresça sozinha. — Segui na direção do seu
olhar e vi Rebecca deitada em uma espreguiçadeira no sol. —
Como mãe, assumo que é muito difícil ver sua filha crescer assim
tão rápido. Sinto que foi veloz e que não fiquei em casa o
suficiente. Quando a Ruth morreu, percebi que aconteciam coisas
na vida delas que não fazia ideia. Não sabia sobre todo bullying,
sobre as dietas malucas e sobre como Rebecca parecia estar
oprimida e deprimida. Foi difícil convencer o pai dela que já estava
com dezoito anos, ela tinha o direito de crescer e enquanto estou
aprendendo a dar espaço, liberdade e autonomia... Alex ainda não.
Ela a vê como uma criança e ela fica irritada, os dois brigam e
estão se afastando. Essa viagem é importante para me manter
próxima dela, ao mesmo tempo mostrar para o pai que ela não é
mais um bebê, embora ela sempre será meu bebezinho.
— Não sou pai, mas lembro que meu pai dizia que a Nicole
sempre seria um bebê para ela. Você, assim como a minha mãe,
está se esforçando para deixá-la florescer. Isso só me faz ver que é
uma boa mãe e pelo que sei, aquela menina te ama muito.
— Eu sei. Apesar dela não me chamar de mãe, isso não me
incomoda. Rebecca tem sérios problemas de abandono e morte, ela
não diz, isso é coisa de mãe. A mãe morreu, o avô que ela
idolatrava morreu e a melhor amiga. Perdas são naturais a longo da
vida, mas acontece que a forma como ela perdeu todas essas
pessoas deixaram marcas e eu só quero que a minha filha tenha
dias bons e seja feliz.
— Você não precisa se preocupar, Blake. Rebecca é uma boa
menina.
— Ela é. E eu aqui te alugando com meu sentimentalismo
maternal.
— É melhor você que a minha mãe. — Brinquei e ela entrou
no hotel rindo, dizendo que ia arrumar um lugar para trabalhar com
uma bebida refrescante. Fiquei parado na calçada, olhando Rebecca
andar até o mar e lentamente ir desaparecendo na imensidão azul
clara, mergulhando com maestria e brincando com as ondas.
Tudo que a mãe dela me disse deveria ser o indicativo que
deveria me afastar. Era muito intenso ouvir tudo aquilo sobre a
Rebecca porque a Blake confiava em mim, mas só me fez desejar
ficar ainda mais perto. Encostei na parede, assistindo-a sair do mar,
pegar uma toalha e tirei meu telefone do bolso enviando uma
mensagem. Ela pegou seu aparelho, leu e abriu um sorrisinho
safado e digitou uma de volta, dizendo que estava na praia e que o
mar estava uma delícia.
Queria não ter tanto trabalho para estar com ela bem ali. Era a
primeira vez que desejava não trabalhar para ficar com uma
mulher. O que fodido estava em tão poucos dias?
Rebecca.

Se alguém disser que a combinação de sol, praia e mar não era


maravilhosa, estava profundamente enganado. Morando em uma
região fria e que nem no verão esquentava o suficiente para usar a
piscina, estar na praia era um luxo.
Estar na praia em Ibiza nas férias de verão era um luxo
maior ainda.
O problema era que a praia cansava como se tivesse
corrido uma maratona sem preparo físico, dormi do meio da tarde
até o começo da noite, quando Blake bateu na porta do meu quarto,
animada para beber no bar do hotel.
Tomei outro banho por estar suada, escolhi um vestido azul
marinho com um tecido leve, ele era como de amarrar na cintura, o
que fazia que tivesse um decote profundo e um lascado enorme na
frente. Vesti um shortinho por baixo e deixei o sutiã de lado porque
estava ardendo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo bem
apertado e bem alto para deixar minha nuca fresquinha.
Nos pés, sandálias baixas porque o bar era na praia e quando
descemos, estava faminta e o lugar estava meio cheio por estar
rolando um luau na areia. Ainda meio com sono, apenas segui
Blake até onde seus amigos do trabalho estavam, que se resumia a
ruiva bonita assistente pessoal do Marco, que se chamava Lexie e
era meio antipática, o simpático DeLucca e o Marco.
Ele não disfarçou o olhar nas minhas pernas e com o vento,
meus mamilos deram olá. Arqueou a sobrancelha e sentei-me na
cadeira disponível ao seu lado. Blake do meu lado. DeLucca e
Lexie estavam do outro lado da mesa e pela forma que se tocavam,
eles eram íntimos e só depois reparei nas alianças de casados.
Hum... DeLucca já me viu beijando o Marco, será que contou para
sua esposa?
— Que lugar maravilhoso! — Blake estava animada, se
balançando conforme a música e Lexie contou que eles passaram a
lua-de-mel naquela mesma praia dois anos antes. — Ai que
romântico, DeLucca. Meu marido e eu temos o acordo de uma lua-
de-mel por ano, vocês deveriam tentar, nem sempre dá para viajar
para longe ou simplesmente viajar, mas nós tiramos no mínimo um
final de semana para ficarmos juntos e faz muito bem ao nosso
relacionamento.
— Eles voltam insuportáveis. — Murmurei alto demais e
todos riram. — Desculpa, a praia me deixou muito cansada. Estou
com sono e mal-humorada.
— Vamos animar bebendo! — Lexie me deu seu drink para
provar. — Não faço ideia o que tem dentro, mas é gostoso! — Dei
um gole e era realmente bom.
— Eu vou pedir mais para as damas. — Marco levantou e
reparei que usava uma bermuda branca e uma camisa azul bem
clarinha, que fazia os olhos dele ficarem ainda mais claros.
Reparei que as mulheres da outra mesa ficaram em
silêncio para vê-lo passar e quando ele chegou no bar, começaram
a rir. Revirei os olhos discretamente e peguei meu telefone,
reparando que ele me mandou mensagens durante meu sono.
Respondi ali mesmo, aproveitando que Blake estava distraída
e disse que estava dormindo, que a praia me cansou, que ele estava
muito gostoso e queria beijá-lo todinho. Não costumava trocar
mensagens ousadas, a maioria dos garotos não sabia o que dizer
para me deixar acesa e logo pediam um nude, exigindo quase uma
posição de ioga para ficarem satisfeitos e podia listar os cinco jeitos
que homens fazem nudes. Era muito chato.
Marco pegou o telefone no bar e discretamente estava lendo
as mensagens, sorriu e uma das mulheres da mesa foi até ele,
parando bem ao lado e foquei minha atenção na tela do telefone.
Ele não me respondeu para dar atenção a mulher. Idiota.
Ergui um pouco meu aparelho, fingindo me ver, mas
estava olhando-o pelo reflexo. Marco abriu um sorriso galante,
todo se achando e revirei os olhos, até que minha atenção parou em
um garoto se aproximando da mesa com uma bebida na mão. Ele
parecia determinado, parou ao lado do DeLucca e sorriu.
— Oi, eu sou Dylan e eu reparei que você ainda não estava
com uma bebida...
— Ah... Obrigada, Dylan. — Sorri sem graça. Lexie e Blake
não disfarçaram o sorrisinho bobo. DeLucca fez a sua expressão
assustadora para o garoto, que ficou vermelho. Ele deixou a bebida
com um bilhete, era seu número de telefone. — Até mais.
Observei-o se afastar com vontade de rir, ele estava tão tímido
que era adorável. Olhei para Blake e ela me empurrou de lado, mas
não tive coragem de beber porque não sabia o que ele poderia ter
colocado ali. Marco voltou para mesa, colocou a bebida que foi
buscar para mim no lugar da que o rapaz me trouxe, fingiu pegar
um guardanapo, amassou o papel do bilhete e enfiou no bolso.
Inacreditável.
E eu nem podia esboçar uma reação, alguém poderia perceber
e coloquei meu canudinho na boca, bebendo quase tudo de uma vez
só. Estava uma delícia, puta merda. Me deu um calor que sabia que
estava ainda mais vermelha e suada, só depois que me disseram
que tinha gengibre. Todo sono passou e estava atenta a tudo, louca
para me jogar no mar. Até troquei de bebida ou ia explodir de tanto
calor.
DeLucca pediu uma variedade de frutos do mar para
comermos, amava camarão e era algo que raramente conseguia
comer em casa porque meu pai tinha uma alergia séria a iodo então,
nunca comíamos. Morando sozinha mal cozinhava e durante o
último semestre, não tinha tempo e comia na rua.
Quem sabe ao retornar para casa, faça um breve cursinho
de culinária porque não sabia fazer um ovo direito. Meu pai nunca
deixou que chegasse perto do fogão, ele sempre agia como se eu
fosse quebrar, um saco.
A bebida era afrodisíaca, porque eu estava sentindo um tesão
imenso junto com o calor. Marco parecia ainda mais incrível e
apetitoso aos meus olhos e pensei... Estava em Ibiza, em pleno
verão, trocando beijos e amassos com um homem que não sabia
como seriam as coisas ao retornar para Detroit. Eu tinha a
obrigação de aproveitar o momento.
Carpe Diem.
E foi assim que deixei minha mãe bêbada ao ponto de precisar
de uma ajudinha para ir para o quarto quando encerramos a conta.
Ela tomou banho e aproveitei para ir para meu quarto, tomei banho,
vesti uma camisola, me enrolei no roupão e saí do meu quarto
silenciosamente. Andei apenas algumas portas, virei a esquina do
corredor e me deparei com uma mulher que imediatamente
reconheci como a do bar, na porta do quarto do Marco, segurando
duas taças e champanhe.
Marco abriu e a encarou com surpresa e me viu parada pouco
depois. Senti vontade de dar as costas e fingir que nada estava
acontecendo, mas, por algum motivo fiquei olhando-o. Não era
uma garota de confrontos, porque apesar de não termos nada sério
e ser algo basicamente de férias, ele tinha que ter a decência de me
dizer que ficaria com outra mulher. Será que diria?
Não consegui ouvir o que disse a ela, porque foi baixo e em
um tom de voz bastante gentil. A mulher virou e me encarou,
visivelmente sem graça, respondeu a ele e saiu andando por outro
corredor. Marco saiu do seu quarto, usando apenas uma calça de
pijama, descalço, me puxou pelo nó do roupão até seu quarto e
fechou a porta.
— Você demorou, eu estava quase indo lá.
— Eu fui tomar banho... Se eu demorasse um pouquinho
mais...
— Nem diga isso. Eu vi que ela fingiu estar no mesmo andar
que nós quando nos seguiu após o bar, só não imaginava que viria
atrás de mim. — Exibiu um sorrisinho convencido.
— Tenho tantas respostas para esse momento que estou até
perdida.
— Pode deixar o deboche para depois. — Me deu uma bitoca
nos lábios. — Blake está bem? Ela parecia estar bem feliz.
— Alegria induzida pelo álcool. Tenho certeza de que amanhã
cedo ela não estará tão feliz assim. Espero que seja bonzinho. —
Abri meu roupão, tirei e joguei no encosto da cadeira. Um ventinho
frio da praia entrou pela janela e fiquei arrepiada, meus mamilos
logo deram olá e a atenção do Marco foi imediata. — Ops!
— Ah eles brincaram com minha concentração a noite inteira.
Você desceu sem sutiã... E sentado ao seu lado, dependendo da
posição que estivesse, conseguia vê-los com o decote meio
larguinho. Foi difícil não olhar, mas fui um homem gentil e
educado a maior parte. — Jogou-se no sofá e sorri, sentando-se no
seu colo. Marco olhou para minha perna acariciando minhas coxas
com suas grandes mãos e beijou meu pescoço. — É difícil resistir a
você assim...
— E por que resistir?
— Quer a lista de motivos? — Mordiscou meu pescoço e
suspirei.
— Somos adultos e desimpedidos. Se você acha que não sou
madura o suficiente para isso, é um problema. — Ele agarrou meus
mamilos e esfregou os polegares. — Porque não vejo problema
nenhum. Serei obrigada a voltar para meu quarto e resolver esse
problema com as minhas mãos.
Marco me deu um olhar e sabia que ainda estava dividido,
embora estivesse com tanto tesão quanto eu porque sabia muito
bem onde estava sentada e o que estava sentindo crescer entre
minhas pernas.
— É mesmo? Como? — Era um desafio e senti que ele queria
que amarelasse, ficasse com vergonha e pudesse dizer que era
jovem demais para avançarmos. Marco queria qualquer motivo
para desistir, porque na mente dele, era errado.
Não havia nada errado entre nós.
Sem tirar minha camisola, apenas a ergui um pouco e enfiei
minha mão na calcinha, esfregando meu clitóris suavemente.
Conforme me masturbava, rebolava devagarzinho, sentindo um
fogo e prazer nunca experimentado antes. Marco grunhiu e não
conseguia desviar o olhar, puxando minha camisola do caminho e
me fez parar para tirá-la totalmente. Minha calcinha estava
molhada e ele levou meus dedos a boca, chupando suave e
mordendo, soltei um gemido ansiosa para ter mais dele.
Me levantei do seu colo e fui andando calmamente até sua
cama, ele me seguiu, me agarrando por trás, erguendo meu cabelo e
atacando meu pescoço. O que ele estava fazendo comigo deveria
ser pecado.
— Você me deixa maluco, porra. — Puxou minha calcinha
para baixo e ajoelhou, me virando de frente. Marco distribuiu
beijos nas minhas coxas, erguendo minha perna e passou pelo seu
ombro. Era uma novidade ser chupada naquela posição e se tinha
uma coisa que amava na vida, era sexo oral bem feito. E ele sabia
fazer muito bem.
Agarrei seu cabelo e me apoiei na porta, com as pernas
falhando e Marco me jogou na cama. Queria desesperadamente sua
boca em mim, em qualquer lugar e ao voltar me chupar não parou
até me ter gritando e gozando. Eu estava implorando e nem sabia
por que direito, mas ele sabia, estava com um sorriso sexy que me
deixava doida. Puxei-o para mim, beijando sua boca e ele procurou
a camisinha na gaveta ao lado da cama. Tirou um pacote com duas
e me entregou.
— Deite-se.
— Eu preciso de você.
— Eu sei, deite-se. — Beijei seus lábios.
Marco obedeceu, deitei-me sobre ele, beijando cada
pedacinho de pele, provocando seus mamilos, lambendo sua
barriga firme e dei uma boa e generosa lambida no seu pau ao
ponto de ele contrair. Levei-o a boca, chupando com gosto e
vontade, deixando a minha língua trabalhar. Ele gemeu alto,
enfiando as mãos no meu cabelo e fazendo de tudo para não foder
minha boca feito louco, em outro momento o deixaria fazer.
Soltei seu pau com um pop alto, sorri para seu olhar intenso
em mim e lentamente coloquei a camisinha.
— Você está me matando, baby. Eu preciso da sua buceta
gostosa, porra...
Chupei suas bolas em resposta.
— Caralho, Rebecca!
Sorrindo orgulhosa de mim mesma, engatinhei sobre ele,
segurei seu pau e deliciosamente fui me sentando devagarzinho.
Foi uma invasão, bem-vinda e dolorida, porque fazia uns meses
que não fazia sexo. Fechei meus olhos tomada pela sensação
gostosa de estar tão preenchida, suspirei, ele segurou minha cintura
e abri meus olhos, tomada pelo seu olhar.
Eu senti a conexão. Nunca mais a minha vida seria a
mesma.
— Garota... Eu quero você no meu pau para sempre...
Comecei a rebolar devagar, me testando, pegando o ritmo e
quando o encontrei, ele gemeu forte, agarrando minha bunda com
força e metendo junto. Me apoiei na cama, Marco me segurou, me
fodendo, encontrando comigo e deu um tapa bem dado e muito
gostoso na minha bunda. Comecei a gozar rápido, tremendo e
caindo sobre ele que não estava com piedade, continuando o sexo
mais cru, carnal, gostoso e intenso da minha vida.
A cama batia firme contra parede, nossos gemidos ecoavam pelo
quarto e a boca suja me fez sentir uma puta bem fodida.
Marco gozou e sua expressão seria minha para sempre.
— Porra... — Ele me beijou firme, ainda dentro de mim e
estava pulsando, apertando-o.
— Eu te quero mais. — Confessei ainda cheia de tesão.
— Você vai ter, linda. Você vai ter sempre que me quiser...
Foi uma das melhores noites da minha vida. Eu fiquei bastante
dolorida, excesso de uso e falta de costume. De manhã cedo me
vesti, ele queria que ficasse na sua cama, mas nem fodendo que
deixaria que a Blake me visse saindo do quarto dele. Dei-lhe um
beijo, querendo ficar na cama e continuar a nossa festa do sexo por
mais tempo.
— Até daqui a pouco. — Ele prometeu e eu sorri.
— Até.
Andei pelo corredor enrolada no roupão, passei o cartão chave
no meu quarto e mesmo banhada, ainda sentia o cheiro dele em
mim e queria que ficasse impregnada para sempre. Rodopiei na
antessala do quarto e tomei um susto, soltando um gritinho ao me
deparar com a Blake na minha cama.
— Aonde você estava, Rebecca?
Puta que pariu, que susto!
— O que você está fazendo aqui?
Blake me deu seu clássico olhar irritado.
— Eu passei mal, acordei muito cedo e vim deitar com você.
Aonde você estava?
— Com um cara. Passei a noite fora fazendo coisas. — Abri
um sorrisinho insolente.
— Rebecca? Eu não acredito!
— Por que não acredita?
— Você não é esse tipo de garota, sei que não é mais virgem,
mas você nunca me apresentou um namorado. E nem me disse
nada, eu estava preocupada, ligando para o seu telefone e a única
coisa que me deixou tranquila e não me fez acordar Marco para te
procurar é que a portaria me garantiu que você não tinha saído. —
Blake ficou de pé, furiosa. — É muita irresponsabilidade da sua
parte não deixar um bilhete, uma mensagem... Estamos em outro
país, longe de casa... E você não pode fazer sexo com estranhos!
— Eu concordo com a parte que vacilei em não avisar,
confesso que esperava que você não descobrisse, porque nós não
falamos sobre sexo. Você e a escola garantiram que eu soubesse
como estar segura, eu uso camisinha e tomo meu anticoncepcional
religiosamente todos os dias...
— Não é essa questão, você é uma menina de família e...
— Mãe, por favor!
— É uma surpresa para mim, me desculpa por reagir assim.
Eu nem soube quando você perdeu a virgindade e eu nem sei
quando você está com alguém.
— Pra quê? Por que controlar essa parte da minha vida
também? — Blake ia falar e eu estava irritada demais para ficar
quieta. — Eu perdi minha virgindade na noite que a Ruth morreu.
Quando eu li a carta que ela deixou, eu peguei o carro da vovó e
dirigi até um bar. Entrei com minha identidade falsa, conheci um
estranho e fiz sexo com ele em um hotel. O cara surtou que eu era
virgem, mas já estava feito. Desde então, eu tenho alguns casos
sim, fico com alguns garotos da faculdade, mas nada sério. Eu
conheci alguém ontem e eu quis. Você não precisa saber sobre
isso...
Blake ficou em silêncio.
— Eu preciso. Não quero controlar sua vida sexual, confio na
educação que te dei em estar segura e limpa. Mas preciso saber
quando você sair com um estranho. Não quero que me fale o nome,
mas quero que me diga onde está. Eu te amo, você é minha única
filha e sempre vou me preocupar com seu bem-estar. — Blake me
abraçou. — Você pode me dizer assim “Mãe, eu conheci um cara,
vou sair com ele ou ele vai vir ao meu apartamento. Vou dormir
fora, vou te manter atualizada”. E eu vou esperar sua mensagem me
dizendo que está bem, porque no final, é só isso que me importa.
Entende por que eu preciso saber?
— Sinto muito. — Fiquei abraçada nela. — Sinto muito por
ser tão difícil.
— Eu não quero te perder, Rebecca. A morte da Ruth mudou
você, cada dia que passa sinto que não te conheço mais e ao mesmo
tempo, parece que nunca te conheci. Eu não sabia que aquilo tudo
estava acontecendo... Deveria ter sido mãe em tempo integral.
— Você é uma mãe maravilhosa, não é sua culpa. Eu deveria
ter falado, mas era difícil até para mim entender aquele momento e
saber, dar um diagnóstico do que a Ruth estava passando. Porque
eu não me importava, mãe. O que eles diziam não me machucava,
nunca liguei, mas se me importasse talvez pudesse ter entendido a
Ruth e assim ela não se sentiria tão sozinha.
— Não foi sua culpa, amor.
— Está ouvindo meu terapeuta? Ele diz a mesma coisa. —
Brinquei para aliviar o clima. — Desculpa por te preocupar e partir
de hoje, vou tentar te dizer.
— Obrigada. — Blake me deu um beijo na testa. — Então, ele
era bom?
— Por favor, não força a barra. — Sai de perto rindo.
— Ok, desculpe.
Entrei no banheiro, fechei a porta e encostei nela. Como seria
a reação da Blake ao descobrir que estava com Marco? Não podia
contar. Essa coisa entre nós não ia durar. Marco era um homem
formado, que trabalhava muito e tinha uma vida totalmente
diferente da minha pelo que imaginava... Eu era uma estudante
sustentada pelos pais que não fazia ideia o que iria fazer após a
faculdade e queria escrever um livro.
Rebecca.

Eu podia me considerar uma garota sortuda que passou quatro


dias incríveis em Ibiza. Pegando bastante sol, tomando bebidinhas
coloridas, fazendo amizade na piscina do hotel, fotografando pelo
lugar, postando tudo e mais um pouco no meu blog de lifestyle
quando de repente surge um e-mail. Meu primeiro post pago.
Fiquei tão emocionada por ter sido convidada por uma agência para
jantar em um restaurante em Ibiza e ser paga por isso!
Meu blog na internet era sobre estilo de vida de modo geral e
o comecei para escrever tudo que acontecia na minha vida depois
que a Ruth morreu. Dizia para mim mesmo era como contar a ela,
compartilhando as melhores fotos, opiniões e aventuras. Como uma
quase jornalista, criticava quase tudo que acontecia no país,
principalmente as políticas públicas. E como uma aspirante a
escritora, criava alguns contos românticos nas cidades que passava.
Desde que ela se foi, não havia mais ninguém para me ouvir e se
divertir com minhas coisas mirabolantes.
Contei a Blake, que ficou feliz por mim e me acompanhou no
jantar. Foi divertido sair só com ela, sem a interrupção do meu pai.
Eu o amava muito, mas, ele sabia como ser chato.
Era a nossa última noite, iríamos embora no dia seguinte
muito cedo e eu amei viajar só com ela.
— Acho que deveríamos fazer uma viagem mãe e filha a cada
ano. — Sugeri ao retornamos para o hotel, andando de braços
dados até o elevador.
— Eu adoraria, amor. — Me deu um beijo na bochecha.
Nós nos separamos em nossos quartos, tomei um banho e me
joguei na cama enviando uma mensagem para Marco avisando que
estava de volta. Nós passamos todas as noites juntos, foram
incríveis, o sexo era surreal, mas vi algo que me deixou
incomodada. Ele tomava medicações sempre que pensava que
estava dormindo. Era um frasco laranja com seu nome escrito e eu
não consegui ler o que era. Queria perguntar, mas não queria ser
invasiva, ao mesmo tempo, me achava no direito de saber por que
ele precisava tomá-las sempre.
Sua resposta chegou um minuto depois e sai do meu quarto,
abrindo a porta do dele com o cartão extra que me entregou. Marco
estava na varanda, olhando para a praia e me sentei em seu colo,
abraçando-o e ele arrastou o nariz pelo meu pescoço, dando um
beijo bem acima da minha pulsação.
— Foi um bom negócio vir aqui?
— Foi um ótimo negócio.
— Então, o que você tem?
— Nada demais. Eu estava aqui olhando para o mar e
pensando na maravilha que é poder usufruir de algo tão belo, me
sinto um homem sortudo. — Sorri para sua resposta e beijei sua
boca.
— Não quero que fique chateado comigo, mas eu preciso
saber. O que é a medicação que você toma toda noite?
— São duas. Uma para antes de dormir e outra depois de
acordar. Sou um ex-fuzileiro e minha última missão fodeu com a
minha cabeça. Quando voltei, me curei fisicamente e achei que
estava tudo bem. Os pesadelos foram começando lentamente, aos
pouquinhos tomando meu sono e o meu apetite, até que ficaram
reais demais e eu passei muito mal, assustei minha irmã, ela me
levou para o hospital achando que estava infartando... Aí um
companheiro da equipe foi me ver e disse que estava fazendo
terapia. Procurei o terapeuta, ele disse que estava sofrendo de
Transtorno Pós-Traumático. — Marco recostou a cabeça na parede
e olhou para o céu. — Perdi meu melhor amigo nessa missão. Não
pude salvá-lo. A bomba explodiu e o helicóptero caiu, de alguma
forma, caiu em cima da perna dele e eu estava meio surdo,
desorientado, metade da nossa equipe morta e tentei arrastá-lo por
estarmos no fogo inimigo. Consegui proteção e reuni nossas
munições, o arrastei por quilômetros escondido do inimigo, levei-o
de volta ao nosso ponto de operação. Ele resistiu bravamente, mas
não passou daquela noite.
— Ah, Marco. Eu sinto muito. — Beijei seus lábios
repetidamente.
— No começo achei que não fosse precisar, não só precisei
como tornou-se necessário. Estou na última fase da medicação.
Primeiro ele passou duas bem fortes e foi diminuindo, já não
preciso ir toda semana, apenas nas reuniões em grupo e já
aconteceu de dormir sem tomar... Fico um pouco nervoso, porque
tenho medo de voltar a tudo...
— Entendo. — Acariciei seu rosto e ele coçou minha palma
com sua barba para fazer. — Sinto muito que tenha passado por
isso.
— Eu também. — Me deu uma mordidinha. — Como foi no
restaurante?
— Foi muito bom, a comida era maravilhosa e eu me
apaixonei pela sobremesa.
— Pensei que fosse a sua sobremesa. — Fez um adorável
beicinho. — Eu não comi a sobremesa...
— Estou bem aqui.
Marco me ergueu no colo e saímos da varanda, ele fechou a
porta e nos perdemos entre os lençóis.
Antes de amanhecer estava no meu quarto, fazendo minhas malas,
guardando tudo e me arrumando para ir embora. Vesti uma calça
de moletom verde militar, uma blusinha preta que acabava pouco
abaixo do meu seio, separei uma jaqueta preta jeans e calcei meu
tênis all-star preto.
Entreguei as malas para o rapaz do hotel que estava ajudando
a despachar, peguei minha bolsa preta grande, com meu notebook,
um livro, celular e meus documentos. Blake e eu viajamos
separados do Marco e os demais na ida, na volta, estaríamos todos
juntos. Desci para tomar café da manhã, todos estavam comendo
um pouco e fiquei só nas frutas e no suco.
— Parabéns, Marco. — Blake comentou aleatoriamente
olhando o celular. — Pelo divórcio. Está em todos os veículos de
mídia.
Ele engoliu o que estava na boca.
— Soube ontem a tarde, nem contei as pessoas... Certamente
isso foi coisa dela. Mas é isso, estou livre, leve e solto. — DeLucca
e ele fizeram um brinde improvisado e eu me perguntei por que não
me disse na noite anterior quando nos encontramos.
Marco contou que o juiz entendeu que Andrea era jovem e podia
trabalhar, então, ele estava livre de uma pensão, mas deixou um
carro e um apartamento com ela.
O assunto sobre o divórcio rendeu até o embarque e a
decolagem. Estava pescando todas as informações, eles
conversavam como se eu fosse uma criança não participativa.
Revirei os olhos discretamente ao ouvir Lexie dizer que Andrea era
muito bonita, que tinha um corpo invejável e logo estaria
arrumando trabalhos.
A ex tinha um corpo perfeito, maravilha. Marco me pegou
revirando os olhos e comecei a usar meu telefone, usufruindo do
Wi-fi quando me deparei com a matéria da ex-Sra. Moretti dizendo
que seu ex-marido era frustrado por ter um micropênis. De todas as
coisas do universo, o pênis do Marco não tinha nada de micro, pelo
contrário. Era uma delícia de grande – mas não enorme, e muito
gostoso.
Imaginei Marco com seu corpo definido e um micropênis,
engasguei-me com minha saliva, tossindo e comecei a rir. Uma
risada incontrolável estava borbulhando no peito e todo mundo me
olhou estranho. Blake perguntou o que era tão engraçado que
estava me fazendo chorar de rir e mostrei a tela do meu telefone.
— Ai meu Deus.
— Me desculpa, é engraçado. Eu não consigo parar de rir, me
desculpa. — Sequei minhas lágrimas. Blake mostrou a Lexie, que
mostrou ao marido e em seguida mostrou ao Marco. — Me
desculpa.
Marco soltou um palavrão alto e fez todo mundo rir ainda
mais.
— Ela é louca, porra. — Grunhiu com meu telefone na mão,
lendo a matéria. — Aparentemente, tenho cinco centímetros.
— Eu vou pedir para retirarem a publicação. — Lexie estava
rindo. — Desculpa.
— Está tudo bem, assumo que é engraçado e trágico.
— Desculpa. — Murmurei me acalmando das risadas.
— Está tudo bem. — Ele me deu um sorriso bonito e desviei o
olhar para não corar feito uma menininha, principalmente que ele
sabia que eu sabia muito bem que o pau dele não era nada pequeno,
inclusive, se ele quisesse, estava topando ir ao banheiro. Pensando
nisso, enviei uma foto que estou deitada na cama do hotel só de
calcinha. Não aparecia meu rosto, mas, ele reconheceria meu
corpo.
Eu amava fotografias sensuais e tinha muitas, muitas. Era
mais pela arte do corpo nu do que pelo ato de enviar um nude, mas
queria deixá-lo louco e desconfortável a viagem inteira. Marco
abriu a mensagem, reparei no olhar dele que mudou e sua resposta
foi um “puta que pariu”. Até Londres, enviei mais duas fotografias
e ele respirou muito fundo nas duas. A última, estava nas sombras e
com a mão entre minhas pernas. Esse ensaio foi uma amiga quem
fez e usei um biquíni do tom da minha pele o tempo inteiro.
Nós tínhamos uma escala porque avião não podia fazer a
longa viagem até Detroit direto, então, tínhamos três horas dentro
do aeroporto de Londres e fomos autorizados a usar a sala da
primeira classe por uma taxa de serviço. Blake aproveitou para
falar com meu pai e eu decidi passear pelas lojas do aeroporto com
a Lexie, ela me viu comprando maquiagens e me pediu ajuda.
— Eu sou terrível com maquiagem, faço o básico, mas agora
que fui promovida a assistente do Marco quero estar mais
apresentável. Sua mãe me ajudou no corte e na mudança do meu
cabelo, combinamos de sair para comprar roupas mais executivas
porque antes usava uniforme, mas não sei me maquiar.
— Deixa comigo.
Ensinei a Lexie a se maquiar, explicando para que o produto
servia e expliquei a importância do cuidado skincare todos os dias,
nos horários diferentes para manter a pele saudável. Ela comprou
apenas alguns produtos, alegando comprar com calma depois, mas
sabia que era muito caro o conjunto todo e quando ela foi até a loja
de revistas, separei tudo que poderia precisar.
— Comprando maquiagem? — Marco parou atrás de mim e
beijou minha nuca. Estávamos escondidos entre milhares de
prateleiras.
— São para Lexie. Ela me contou que foi promovida e não
tem muita coisa. — Virei de frente, espremida entre ele e o armário
de loções atrás de mim. — Oi, homem solteiro.
— Eu ia contar em Detroit... Depois que tivesse com toda
papelada em mãos. — Inclinou-se para baixo e me deu um beijo.
— Eu amei as fotos, mas não é justo me deixar de pau duro no
avião. Comporte-se.
— Vou tentar. — Prometi segurando a cesta abarrotada de
coisas. — Você acha que a Lexie vai ficar chateada se presenteá-la
com isso?
— Não sei, mas eu posso dar. Sou o chefe e o mais
importante, padrinho de casamento. Ela é obrigada a aceitar meus
presentes.
— Então tá, é importante. Ela quer ser a melhor.
Marco sorriu e pegou a cesta, foi até o caixa e esperou
pacientemente a menina passar tudo e pagou, segurando a sacola.
Enquanto ele estava aguardando, enviei mais uma foto nua, ele
recebeu e me olhou sobre os ombros. Hum... Atingi um limite.
Mostrei um sorrisinho insolente e saí da loja, andando pelo
aeroporto calmamente quando ele me puxou pelo braço até um
corredor.
Comecei a rir, seguindo-o aos tropeços e ele parecia procurar
uma porta específica. Achou um banheiro privado, abriu a porta,
entrou e fechou. Jogou a bolsa em cima da pia e briguei com ele
sobre quebrar as coisas.
— Foda-se, quero você agora. Não vou aguentar passar quase
dez horas com você me atentando desse jeito.
Beijei-o, abrindo sua calça e ele puxou a minha para baixo,
me virando de frente ao espelho e segurando meu rabo de cavalo
com força.
— Assista... Não quero que feche os olhos. Em casa eu vou te
comer bem assim, de frente ao espelho e não será tão rápido quanto
agora.
Marco meteu de uma vez só e soltei um gritinho, ele tapou
minha boca e ri. Estava excitada, mas ainda não muito lubrificada.
Ele meteu e bateu no ponto certo, erguendo minha perna e eu gemi.
Se ele continuasse encontrando meu ponto G daquele jeito,
aleatoriamente, aquela posição seria sempre a minha favorita. E eu
ia gozar logo... Me agarrei a pia, porque não tinha onde me apoiar e
ele puxou meu cabelo, me fazendo assistir nossas expressões de
prazer.
O rosto dele cheio de tesão me comendo era simplesmente
tudo.
— Marco, aí. Que gostoso...
— Você faz isso comigo, porra. — Esfregando meu clitóris,
gozei e ele veio em seguida... Só que dentro de mim. Sem
camisinha. — Esqueci a porra da camisinha. — Ele grunhiu ainda
dentro, estava desorientada.
— Eu tomo pílula religiosamente todos os dias. — Marco me
abraçou por trás e enfiou as mãos na minha blusa, brincando com
meus peitos através do sutiã.
— Você toma? Então nós podemos confiar que vai ficar tudo
bem? — Beijou meu pescoço.
— Sim, nós podemos.
— E eu vou poder gozar dentro? — Beliscou meu mamilo.
— Sim. — Gemi e meu telefone apitou no aviso de uma nova
mensagem. — Você tem que ir. Sair primeiro e depois nos
encontramos no salão.
— Não vou te deixar aqui sozinha. — Marco ficou sério.
— Nós não vamos sair desse banheiro juntos, todo mundo vai
perceber.
— É um corredor vazio e eu não me importo.
Entrei em uma das cabines para me limpar, me ajeitei na
frente do espelho e sai com ele, trocamos um beijo e fui andando
ao seu lado, sem parecer que estávamos juntos. Respondi a Blake
que estava com fome para almoçar e iria encontrar com ela no
salão. Para não voltarmos juntos, inventei a desculpa que a Blake
queria que comprasse algo e entrei em uma loja aleatória. Marco
seguiu em frente sozinho.
Comprei um livro de viagens e entrei no salão. Lexie estava
sorrindo feliz com o presente, tirando tudo da sacola e deu um
abraço apertado em Marco e me pegou de surpresa em me abraçar
também.
— Você foi maravilhosa em fazer o Marco dar as maquiagens
para Lexie, amor. — Blake me deu um beijo e eu estava cheirando
a suor e sexo, saí de perto com a desculpa que ia fazer meu prato
no buffet.
— Rebecca Silverstone? — Ouvi uma voz masculina me
chamar e virei. — Oi, menina!
Sorri e abracei um dos assistentes da minha avó. Owen era do
tipo bonitão, mais de quarenta, cabelos grisalhos e um sorriso
atraente. O filho dele tinha quinze anos, mas sabia que seria lindo
como o pai e a mãe. Apontei para Blake distraída conversando na
mesa, dizendo que estávamos indo para casa depois de quase duas
semanas viajando juntas, ela a trabalho e eu de férias.
— Vai estar no churrasco de quatro de julho da vovó, certo?
— É claro que sim. — Então ouvimos o anúncio de um voo.
— Tenho que ir, dê um beijo na Blake. Nos vemos lá, estou indo
encontrar com sua avó em Istambul. Estamos fechando a locação
do próximo filme dela por lá.
— Eu vou ligar mais tarde, diga a ela que a amo muito.
— Ela sabe. — Piscou e saiu pela porta de embarque.
Voltei a encher meu prato de salada quando senti a presença
do Marco. Ele estava no outro buffet enchendo seu prato de carne.
— Atraindo atenção, Rebecca?
— Com ciúme, Marco?
— Tenho certeza de que todos os machos ao redor estão
sentindo meu cheiro em você. Eu te marquei e muito bem
marcado.
— Tá se achando... — Provoquei e fui para o outro lado,
pegando um suco e voltei para mesa.
Ficar esperando no aeroporto era um saco, mas as três horas
foram divertidas. Nós fomos autorizados a voar e eu dormi a
viagem inteira, acordando assustada com o piloto informando que
teríamos que descer em Boston devido a um problema no tráfego
aéreo. Ficamos na aeronave mesmo, aguardando a decolagem que
levou duas horas. Dormi e acordei umas trezentas vezes, fui ao
banheiro, voltei e quando pousamos no aeroporto de Detroit, era
cinco horas da tarde. O fuso horário fazia parecer pouco de tempo
de voo, mas nós estávamos esmagados de cansaço.
O desembarque foi tranquilo, pegamos nossas malas e eu
estava empurrando de lado quando vi meu pai com dois buquês de
flores nos esperando na sala de desembarque privada. Minha mãe
correu até ele sem nenhuma cerimônia e filmei o reencontro deles,
porque precisava ser registrado e guardado para sempre. DeLucca,
Lexie e Marco foram cumprimentá-lo. Meu pai deu as flores da
minha mãe e me deu o segundo buquê.
— As mulheres da minha vida finalmente estão de volta. —
Me abraçou apertado.
— Oi, papai.
— Estou morrendo de saudades e louco para ouvir como foi o
tempo das minhas duas pessoas favoritas juntas.
— Foi maravilhoso. Rebecca e eu faremos mais viagens
juntas.
Meu pai ficou visivelmente feliz. Eles estavam desesperados
com meu afastamento, minha mudança, minha vontade de insana
de não ficar perto deles depois que a Ruth morreu. Era difícil vê-los
me olhando como se eu fosse me matar quando na verdade eu
estava deprimida e de luto.
— Vamos para casa? Eu fiz o jantar.
Me despedi dos demais socialmente, aproveitei para trocar
meu número para o meu americano, para receber ligações, porque
meus aplicativos estavam com meu número normal mesmo. Meu
pai nos levou para casa ouvindo Blake contar da viagem, do
trabalho, das noites que nos divertimos juntas e do meu trabalho
com o blog.
— Isso não é um trabalho de verdade, pode ser uma distração
enquanto está na faculdade já que não ocupa muito tempo. Quando
Rebecca se formar, ela irá encontrar um bom emprego. Tenho
amigos no meio que estão prontos para tê-la em suas equipes...
Respirei fundo no banco de trás e coloquei meus fones de
ouvido.
— Alex... — Blake alertou e deu um tapinha na coxa do meu
pai.
— O que foi?
— Nós não precisamos falar sobre isso agora, não depois de
duas semanas fora e eu...
Aumentei o volume da música para não os ouvir mais.
Marco.

O que estava fazendo? Por que estava ali e com as mãos


suadas como um idiota? Estava parecendo um perseguidor. Não
deveria estar ali, mas meus pés estavam grudados no chão e
pareciam se recusar a sair sem ela. Uma semana desde que
pousamos em Detroit, em que ela foi embora com seus pais, nós
nos falamos no dia seguinte e depois nada mais.
Deveria ter ligado, mas nós nunca falamos sobre como seria
quando voltássemos para casa. Pensei que ela ligaria, me daria um
norte para seguir porque estava perdido e após tantos dias, não
aguentei e apareci na sua faculdade quando ouvi Blake dizer que
Rebecca era editora do jornal da universidade e precisava aparecer
de vez em quando no campus. Ela escreveu uma coluna sobre sua
experiência na Espanha, Blake me deu para ler e fiquei apaixonado
sobre como era incrivelmente talentosa com as palavras...
Mas o que me deixou realmente encantado foi ler “As noites
de Ibiza mudaram a minha vida”. Porra... Ela realmente me tocou
profundamente. Assinei meu divórcio, fiquei oficialmente solteiro,
finalmente soube o paradeiro da minha esposa quando ela foi até
meu antigo apartamento gritar comigo, me mudei praticamente dois
dias depois, fui até Chicago ter uma reunião com um parceiro de
negócios e voltei.
Senti falta dela. Queria que ela fosse a mulher a deitar na
minha cama e sentisse seu cheiro nos meus lençóis. Senti falta da
sua boca esperta, dos seus sorrisinhos debochados e do seu olhar
atrevido. Senti falta de fazê-la gozar e gritar por mim,
definitivamente senti falta de estar dentro dela. Porra... Como ela
podia ter me invadido assim tão rápido?
Era por isso que estava ali, disposto a saber se ela queria mais
ou fui apenas uma aventura de viagem. A vi sair do prédio do
jornal, usava botas de cano curto de salto, um short jeans bem
curto, uma blusa de manga vermelha com estrelas douradas, óculos
vermelhos e cabelos embolados em um coque no alto da cabeça.
Rebecca parou um pouco quando me viu, ergueu os óculos como se
precisasse ter certeza que era real e apressou os passos, se jogando
em mim.
— Oi, minha linda. — Acariciei seu rosto e beijei sua boca
macia.
— Hum... Senti falta disso. Por que você não me ligou? —
Colocou ambas as mãos no meu peito.
— Eu não sabia o que fazer. — Decidi por ser honesto. —
Não sabia se ainda queria continuar ou era uma aventura de viagem
até que li sua coluna no jornal e decidi vir aqui. As noites em Ibiza
também mudaram minha vida.
Rebecca me deu um sorriso lindo e me beijou.
— Sua casa ou a minha?
— Você escolhe.
— Meu apartamento primeiro, depois você me leva para
conhecer a sua casa. Estou sem carro hoje, está na revisão. Vamos?
Estou realmente ansiosa para tirar minha roupa e pular em você. —
Sorriu travessa. Dei a volta no carro e abri a porta do carona para
ela, voltando para o meu lado e assumindo a direção.
Rebecca morava em um bairro caro da cidade em um dos
condomínios de luxo. Ela riu e disse que era a menininha do papai,
mas na verdade, o pai dela escolheu aquele lugar porque o sistema
de segurança e as câmeras eram controladas pela minha empresa.
Blake queria ter certeza de que sua filha estaria morando em um
bom lugar. Ela digitou o código da garagem e estacionei em uma
das suas vagas.
Andamos de mãos dadas até seu elevador e apertou o botão do
último andar, encostado do outro lado e me encarando. Não havia
palavras o suficiente para descrever a tensão e o tesão entre nós
naquele pequeno espaço. Tomei meu tempo para admirar sua
beleza, seu jeitinho extrovertido e sexy de se vestir. Suas pernas
eram realmente incríveis e sua bunda estava uma maravilha
naquele shortinho tentador.
Andando na minha frente até a P3 com a numeração de 1503,
abriu a porta com sua digital e entrou, me puxando para dentro.
— Um tour depois?
— Sim, depois. Primeiro um tour em você. — Ela jogou a
bolsa no chão e eu peguei-a pela bunda, amassando com vontade e
erguendo no meu colo até o sofá. Nós ficamos nus entre beijos, ela
me empurrou e tomou meu pau. Fechei meus olhos com tesão
demais para sobreviver ao seu boquete. — Rebecca...
— Eu preciso testar algo.
Testar? Deixei de pensar com meu pau ao máximo que ela
aguentava na sua boca até que ela fez o impensável, levando tudo
dentro e eu me perdi. Tirou e sorriu, orgulhosa. Seu teste era a
porra da garganta profunda. Eu ia apreciar todas as vezes que ela
quisesse fazer porque era bom demais. Me chupando com maestria,
ela tocou uma punheta muito gostosa e chupou minhas bolas.
Foda-se, não consegui segurar o gozo.
— Agora você pode dizer que me faz gozar como um
adolescente. Uma semana longe de você e mal consigo me segurar,
porra.
Rebecca não estava escondendo seu triunfo.
— Merecido porque eu gozei a semana inteira com meu
vibrador e ele...
— Espera, o que você disse?
— Um vibrador? Você me deixou quebrada, sério. Sempre
tive uma boa imaginação para gozar, mas aí eu fui assistir um
filmezinho para aprender umas coisas e me excitar, acabei tendo
que usar meu vibrador todos os dias enquanto você não me ligava e
eu não queria bancar a louca desesperada para cima de você. —
Explicou calmamente e sorri.
— Onde está o seu vibrador?
— No meu quarto, por quê?
— Porque nós vamos subir e usar ele também.
O sorriso safado dela era lindo.
Mais tarde, ela estava deitada em cima de mim, em silêncio e
acariciei suas costas contemplando a tarde de sexo incrível que
tivemos. Não era só uma aventura, não estava pronto para acabar e
esperava que ela também não.
— Você quer tentar? — Perguntei no silêncio do quarto.
Rebecca ergueu o rosto e seu cabelo caiu como uma cascata
para o lado.
— Tem certeza? Você acabou de sair de um casamento
estranho.
— Nunca me senti realmente casado. — Acariciei seu queixo.
— Andrea disse que estava grávida e eu pensei que não podia
deixá-la desamparada no meio da fragilidade que apresentou. Ela
era modelo, ganhava dinheiro com o corpo e uma gravidez a faria
perder o contrato de trabalho. Nós nos casamos na prefeitura
mesmo, sem festa, sem nada. Eu a levei para jantar e só... Uma
semana depois descobri que ela renunciou ao contrato para ser
apenas esposa e mãe, até aí tudo bem... Ela não estava grávida. Não
ainda. Encontrei nas suas coisas um remédio indutor para
engravidar, achou que conseguiria engravidar logo ou ia inventar
que perdeu. Eu saí de casa na mesma noite, acabou ali o que mal
tinha começado. Dois meses depois nós não nos falávamos mais e
ela pegou as coisas dela, viajando por aí. Demorei a me divorciar
sim, porque não me importava até que minha irmã conversou
comigo e me fez enxergar que estava errado, o restante você sabe.
Rebecca me deu um beijo muito gostoso, montando em cima
de mim e esfregou-se algumas vezes no meu pau. Gemi e soltei um
suspiro involuntário, arrepiado. E como um maldito adolescente,
meu pau estava duro. Ela sorriu e me levou para dentro, rebolando
devagar.
— Eu quero tentar sim. — Me deu um beijinho suave. — Mas
não estou pronta para isso ser público. Quero que seja apenas entre
nós por enquanto.
— Tudo bem, baby. Tudo que você quiser. — Chupei seu
mamilo e mordi de leve. — Que rebolada gostosa, porra.
Rebecca estava no controle, cavalgando em mim com desejo e
nós não demoramos a gozar. Caiu ofegante ao meu lado e nos
abraçamos. Fechou os olhos, sonolenta, esgotada e beijei sua testa,
fechando os olhos também.
Acordei sozinho na cama, seu quarto estava todo escuro e tudo
parecia muito silencioso. Saí da cama nu, vesti minha cueca e fui
até a escada, desci vendo-a contra janela e com o telefone virado
para si.
— Eu tenho que desligar agora, vovó. Também te amo, por
favor, se cuide. — Soprou um beijo e encerrou a chamada, tirando
os fones de ouvido. — Oi bonitão. Te acordei? Acabei acordando
quando minha avó me ligou.
Rebecca andou ao meu encontro e me abraçou.
— Quero pedir comida, minha geladeira está vazia e estou
faminta. Pensei em te homenagear pedindo comida italiana e
bastante, porque estou realmente com fome. — Sorriu e beijei sua
boca.
— Deixa que peço do melhor restaurante da cidade.
— Deixe-me adivinhar...Trattoria Moretti? — Bateu a mão no
queixo e sorri.
— Que mulher inteligente. — Entrei na sua brincadeira.
— Hum... Ele está me chamando de mulher e não mais de
uma garotinha. — Fez uma dancinha engraçada na minha frente e
ri.
— Você é a minha mulher. — A beijei bem firme na boca. —
E uma garotinha não faz um boquete tão incrível quanto o seu.
Rebecca me bateu me chamando de idiota, nós rimos e olhei
para os dois frascos da minha medicação no balcão. Ela seguiu meu
olhar e sorriu.
— Eu fui até seu carro e peguei. Pensei que fosse precisar
porque estou te sequestrando até amanhã, no mínimo.
— Que sequestradora atenciosa.
— Eu sou. — Piscou e a segurei entre meus braços. Ela usava
minha camisa e nada mais.
— Você usou só isso indo lá embaixo?
Rebecca me deu um sorrisinho sem responder.
— Eu vou tomar um banho, você pede a comida?
Saiu de perto bem rápido, subindo as escadas.
Engraçadinha. Catei nossas roupas do chão, dobrando e peguei
meu telefone, lendo as mensagens e fiz o pedido do nosso jantar.
Rebecca só tinha besteira na sua geladeira, água, uma quantidade
insana de chocolates de vários tipos, muito sorvete, leite e ovos.
Nos armários tinha cereal, mistura para panquecas, mel, biscoitos e
uma seleção completa de sabores de pipoca.
Ela precisava fazer compras de verdade e comer algo mais
que besteiras antes que ficasse doente.
Subi a escada com meu telefone e o dela. Rebecca estava no
chuveiro, lavando o cabelo e me chamou para entrar também. Nós
só saímos quando meu telefone tocou informando que a comida
estava a caminho. Nós não fizemos nada demais além de provocar
ao outro, ela era única quase implorando e não ia negar, afinal, não
havia como disfarçar o quanto meu pau estava duro com suas
brincadeirinhas.
Nos sentamos para comer nos bancos da sua ilha na sua
cozinha sofisticada. Ela disse que o apartamento estava em seu
nome por insistência da Blake e só assim pode não autorizar a
entrada do seu pai, ou ele viveria ali dentro. Era preocupante que
seu pai fosse tão protetor e ao mesmo tempo controlador, porque
não parecia ser um marido controlador.
— Meu pai sempre foi do tipo grudento, sabe? Ficava em
cima e queria ser o descolado. Tudo mudou quando a Ruth morreu,
ficou paranoico e ainda mais grudento. Piorou quando eu disse que
queria escrever romances e não mistério, fantasia, que não queria
ser uma jornalista televisiva, que se fosse trabalhar na área seria em
um jornal como colunista, para ter liberdade de falar com as
pessoas... — Rebecca bebeu seu vinho e apoiou o pé em mim.
— Você realmente não sabe o que quer fazer depois da
faculdade?
— Quero escrever, na verdade, quero viver da arte de alguma
forma. Não estou falando isso porque sou muito privilegiada em ter
tudo que tenho, mas me inspira. Amo poder levar a arte para os
outros… Realmente amo escrever, fotografar e até pensei em fazer
algumas aulas de produção artística no último semestre. —
Terminado de comer, peguei seu pé e comecei uma massagem.
— Você escreve muito bem, li toda coluna sem parar e sem
vontade de parar. É bastante envolvente. Tenho certeza de que um
livro seu seria do mesmo jeito.
Rebecca sorriu meio triste.
— Pena que meu pai não ache o mesmo.
— Não quero desfazer, mas ele é a única pessoa que pode te
avaliar? Deve existir empresas especializadas nisso... Sei que
aprovação dele é importante, mas e se você enviar para uma pessoa
imparcial que pode te orientar e mostrar o que está faltando ou
errando? Eu faço isso na empresa. Contrato outras empresas que
possam desafiar o que montei para descobrir onde possa estar
errando...
— Você tem razão. Não sei por que nunca pensei nisso e
talvez assim meu pai possa me olhar com outros olhos... —
Inclinou-se para frente e me beijou. — Obrigada. Quer sobremesa?
— Não sou de comer doces.
— Eu quero. — Desceu do seu lugar e foi jogando fora nossas
embalagens vazias.
Rebecca pegou um chocolate e me convidou para subir.
Estava tarde e apagamos as luzes, peguei meus frascos de remédio,
uma garrafa de água e ela foi acionar o alarme. Subimos a escada e
tirou o roupão, deitando-se só com uma camisetinha e calcinha.
Abriu o chocolate, quebrou um pedaço, enfiou na boca e gemeu.
— É bom assim? — Provoquei e fui ao banheiro, ela gritou
que tinha uma escova extra na gaveta. Ela tinha diversos produtos
embalados e lacrados. — Você assaltou uma farmácia?
— Eu tenho um problema sério com promoções.
— Você deveria doar antes que perca a validade.
— É uma boa. Vou deixar no centro comunitário da faculdade
segunda-feira. — Gritou do quarto, escovei os dentes, tomei minha
medicação noturna e voltei para o quarto. — Tem certeza de que
não quer? Ele é tipo suspiro, derrete na boca e é uma delícia.
— Depende. Posso provar onde?
Rebecca tirou a camisa e quebrou dois pedaços, apoiando bem
em cima dos seus mamilos.
— Você pode começar por aqui.
Quebrou mais um e colocou bem em cima da sua calcinha.
— E terminar bem aqui.
— Seu desejo é uma ordem.
Rebecca.

Acordei com uma carícia suave no meu cabelo, abri os olhos e


tapei minha boca para bocejar. Marco estava escovando meus
cabelos com os dedos preguiçosamente, gloriosamente nu ao meu
lado na minha cama. Ele estava comigo desde sexta-feira,
infelizmente era domingo e nosso final de semana juntinhos estava
terminando. Tudo bem, não foi só de sexo. No sábado pela manhã
nós saímos, porque ele me convenceu a fazer compras de mercado.
Passamos no novo apartamento dele, ainda estava cheio de
caixas e apenas as roupas dele estavam arrumadas. Ele comprou o
lugar mobiliado e sua funcionária iria organizar durante a semana.
Enquanto ele trocava de roupa, espiei seus livros e quando pegou
mais umas peças de roupas, voltamos para o meu apartamento onde
ele me ensinou a cozinhar. Começando por fazer um bom
macarrão, legumes a vapor e frango assado.
Aprendi a usar meu processador, o que foi bem engraçado,
voou cebola para todo lado porque não coloquei a tampa do jeito
certo, foi engraçado e também fritei ovos. Não estava muito certa
sobre a parte que estourava e espirrava óleo. No final da tarde,
buscamos meu carro na revisão, saímos para jantar do outro lado da
cidade em uma hamburgueria que ele conhecia e voltamos para o
meu apartamento. Foi um sábado delicioso, e agora no domingo, eu
tinha que levantar e me vestir, ele ia almoçar com a mãe dele e eu
com meus com meus pais.
— Bom dia. Você está me saindo uma preguiçosa.
— Eu sei, estou faminta e está tarde. Você está gastando
todas as minhas energias. — Me inclinei sobre ele e o beijei. —
Tenho que me arrumar.
Levantei da cama com muita preguiça e fui para o
banheiro. Escovei meus dentes, usei minha escova rotativa para dar
um jeito no cabelo e lavei meu rosto, tomei um bom banho antes de
dormir e estava com preguiça de tomar outro. Assim que saí do
banheiro, liberando para Marco, entrei no meu closet.
Vesti uma calcinha estilo shortinho, uma saia jeans preta
com botões na frente e uma camisa justinha acima do meu umbigo,
sem sutiã e de alças bem fininhas. Ajeitei meus seios e me olhei no
espelho, gostando do visual e calcei meus tênis brancos.
Enquanto Marco se vestia, passei creme hidratante e perfume,
escolhendo um par de óculos de sol de gatinha e uma bolsa de
ombro para colocar minhas coisas. Nós saímos juntos do meu
apartamento e descemos abraçados, ele me deu um beijo
incendiário contra meu carro e dirigi o caminho para casa dos meus
pais, com óculos no rosto e um suspiro nos lábios.
Meus pais moravam no distrito residencial mais afastado do
centro e mais caro da cidade. Era longe e inconveniente todas às
vezes que precisava acordar uma hora e meia mais cedo para sair
de casa e ainda pegar trânsito. Quando meu pai sugeriu que eu
acordasse duas horas mais cedo, disse que ia sair de casa com ou
sem a aprovação deles. Freei os planos de morar sozinha quando a
Ruth morreu, porque era algo que prometemos que iríamos fazer
juntas e senti muito medo de sair de casa no começo, mas, depois
foi extremamente necessário.
Se morasse com meus pais, jamais poderia ter um final de
semana tão gostoso quanto tive e sentia meu corpo diferente, minha
mente e alma. Marco era uma companhia maravilhosa e amei o
tanto que conversamos, conhecendo ao outro e ele me deu dicas
realmente boas para resolver minha vida. Fiquei surpresa que ele
não era mesmo fã de doces embora tenha comido chocolate em
mim... Eu era uma formiguinha, amava doces e ele riu que eu não
gostava muito de cebola, mas fez um refogado que deixou meu
apartamento cheiroso e comi tudo que fez.
Enquanto dirigia, cantava uma seleção de músicas pop bem
alto lembrando que ele disse que não costumava ouvir música, não
era algo que o atraía. Ele ouvia as do rádio, porque acompanhava o
programa matinal da rádio de Detroit.
Cantei várias músicas e a expressão dele era vazia, porque
realmente não conhecia. A única coisa que disse era que cantava
muito bem e se eu lançasse um CD, iria comprar. Um apoio velado
era melhor que muitos tapinhas nas costas.
Finalmente cheguei à casa dos meus pais reparando nos outros
carros estacionados nas vagas de visitantes. Ninguém me avisou
que era uma festa de família. Estacionei dentro da garagem, peguei
minha bolsa e entrei pela cozinha. Blake estava com minha avó,
sua mãe, cozinhando com aventais iguais.
— Olá, meu amor! — As duas arrulhavam ao mesmo
tempo, me abraçando. Ambas cheiravam a coisa gostosa que
estavam fazendo. — Hoje é lasanha.
Lasanha da vovó Sarabeth era a comida favorita da família
inteira.
— Hum, que maravilhoso.
— Você está linda. — Blake me deu um beijo na
bochecha. — Olha só como minha menina está uma moça tão
linda, mãe?
— Vocês duas estão lindas. — Vovó colocou a mão na
cintura.
— Isso eu nunca posso discordar, minha sogra. — Meu
pai entrou na cozinha e me abraçou. — Como você está?
— Estou bem, papai.
— Pensei que fosse passar o final de semana conosco.
— Ah... Eu estava ocupada com as coisas do jornal da
faculdade. — Menti descaradamente. Eu já tinha a coluna da
próxima semana pronta e da outra também.
— Sua mãe me falou. É muito bom que esteja se
dedicando muito como editora do jornal, isso será excelente para
seu currículo pós-faculdade.
Cacete... Eu tinha acabado de chegar. Blake limpou a garganta
e deu um olhar severo ao meu pai, que sorriu sem graça e parou de
falar. Cumpri a minha promessa de avisar a Blake que estava
acompanhada na noite de ontem. Enviava mensagens dizendo que
estava viva e bem de tempos em tempos. Queria deixá-la tranquila
e ao mesmo tempo impedisse meu pai de aparecer no meu prédio e
porque teria que dizer para o porteiro que eu não estava em casa.
Blake não me perguntou quem era e estava pensando se ela ia
fazer alguma conexão, então, eu menti dizendo que era um garoto
da edição do jornal que de vez em quando ficávamos juntos. Peguei
uma lata de refrigerante, gelo e limão, fazendo um copo e disse que
ia cumprimentar meu tio e tia na sala, dei um beijo nos dois e
encontrei meus quatro primos por parte de mãe no quintal.
Meu pai era filho único. Blake tinha dois irmãos, um morava
na Suíça e só aparecia nas festas de fim de ano, o outro era o tio
mais incrível do mundo casado com a tia que mais me mimou no
universo, eles tinham quatro filhos.
O mais velho, Tommy, era compositor, foi ele quem me
ensinou a tocar violão e minha avó paterna ajudou a carreira dele
decolar colocando suas músicas nos filmes dela. A segunda filha
era Karen e ela era residente de medicina, o terceiro, Kevin, estava
estudando artes cênicas, era um ator de comédia muito bom, a
quarta e não menos importante era Lisa e tinha dezesseis anos,
estava em uma fase muito irritante.
Todos eles eram loirinhos como a Blake, olhos azuis e
lábios finos. Meu tio Bryan Jr tinha os cabelos pretos e olhos azuis.
Tia Joana era loira também, embora meus primos parecessem mais
filhos da minha mãe do que dela. Eu era a única de cabelo preto,
olhos castanhos, lábios cheios e aparência hispânica ao lado deles.
Tommy trouxe seu violão, microfone e um cajón para fazer
um pequeno vídeo de cover ao seu youtube. Enquanto ele ensaiava,
cantei baixinho ao lado da minha prima, dividindo um saco de
batatinhas. Vovô Bryan apareceu do lado de fora para me dar um
beijo, ele estava tirando uma soneca antes do almoço. Meu avô era
do tipo que acordava às cinco da manhã para tirar as folhas do
gramado e ser o primeiro a pegar o jornal.
— Você precisa cantar essa música. — Tommy me puxou
para perto do microfone.
— O quê? De jeito nenhum.
— Por favor, sua voz é linda. — Tommy me colocou na
cadeira com o microfone. — Você ama essa música, só canta com
esse sentimento que está aí.
Tommy sentou-se no lugar ao lado com violão, Kevin estava
no cajon, Lisa atrás de duas câmeras profissionais presas em um
tripé, posicionadas diferentes e Karen estava com seu telefone a
postos para filmar. Ele começou a tocar e eu simplesmente fechei
os olhos, cantando como cantava com a Ruth porque essa era sua
música favorita.
O choro chegou no final do primeiro refrão “Don’t cry,
don’t cry”. Big Girls Don’t Cry da Fergie descreveu um momento
da minha vida com a Ruth e eu esperava que onde ela estivesse,
que me ouvisse.
Estava falhando miseravelmente em ser uma garota crescida
que não chorava. Quando acabou, meus pais, meus tios e meus
avós estavam na varanda me olhando. Blake estava chorando e
acenou quando a olhei. Tommy me convenceu a cantar com ele a
segunda música escolhida para gravar para seu canal do youtube,
ele montou o teclado e perguntou se eu tocaria.
Treinei a cifra duas vezes, era uma música conhecida e
empolgada com meus primos, fizemos dois ensaios. O tom da
Miley Cyrus era mais alto que o meu, mas deu para levar de uma
forma mais acústica e Lisa começou a gravar. Enquanto cantava o
trecho que dizia “quando olho para você, eu vejo o perdão, eu vejo
verdade, você me ama por ser quem sou como as estrelas seguram
a lua”, eu fiquei tão assustada por imediatamente pensar no quão
Marco pouco me conhecia e me entendia.
Quando terminamos de gravar, vovó nos chamou para
almoçar e eu abracei meu primo porque cantar aquelas duas
músicas me fizeram pensar em duas pessoas diferentes e dois
momentos da minha vida. Senti que estava vivendo uma nova fase
e iria abraçar o momento com louvor. Tommy disse que ia editar os
vídeos e ia postar no seu canal e que me mandar as prévias para
compartilhar.
Nós entramos porque meu avô estava resmungando de fome e
foi um almoço divertido. Karen me enviou os vídeos que gravou e
postei nos meus stories, atiçando meus seguidores e marcando meu
primo.
— Você estava perfeita lá. — Papai me deu um beijo na
testa. — Eu amo ouvi-la cantar, mas faz tanto tempo. Você cantava
o tempo todo…
— Em algum momento, a vida me fez esquecer a minha
voz. — Olhei para janela lembrando que eu tinha acabado de cantar
e tocar uma música do Elton John para minha avó, no piano da sala
dela, quando me ligaram e contaram que haviam encontrado o
corpo da Ruth em um hotel beira de estrada.
O local que ela escolheu para se matar.
— Estou feliz que a encontrou novamente.
Decidi espantar o espírito da tristeza obrigando a Lisa a fazer
algumas fotografias com a câmera do Tommy. Nós olhamos
inspirações no Pinterest e escolhemos diversos locais da casa para
posar. Descarregamos as imagens no computador do meu pai no
escritório, enviei para meu telefone e fiquei editando, com a barriga
ainda explodindo de tanto que comi e não neguei a torta com
sorvete que minha mãe serviu de sobremesa.
— Rebecca? Elena está aqui! — Meu pai gritou da porta e
levantei do sofá com ajuda, fechei minha saia e tentei encolher a
barriga. Tommy fechou o botão duro.
— Para de comer, garota.
Nunca nessa vida. Após a cirurgia, descobri a maravilha
que era poder mastigar sem dor, comer tornou-se a minha atividade
favorita.
— Cala a boca. — Bati nele e fui até a porta da frente. —
Oi vizinha, como você vai?
— Vem até a minha garagem que quero te mostrar algo!
— Me pegou pela mão e fomos andando pelo caminho de pedras
que separavam as casas.
Elena era minha vizinha desde os dez anos e nós brincamos
muito juntas. Nós nos afastamos depois de um tempo,
principalmente quando eu fui morar fora do país com a Ruth e
quando voltei, parecia que não tínhamos mais nada em comum. A
gente ainda se falava pelas redes sociais, curtia a foto da outra e
comentava. Ela estava estudando engenharia, sempre foi muito boa
em matemática e me dava muita ajuda porque eu era cem por cento
a garota de humanas.
— Eu encontrei com a Tess e as meninas malvadas em
Milão na outra semana. — Comentei enquanto andava do seu lado.
— Por que você fez isso? — Elena me olhou surpresa.
— Eu não sei. Acho que queria sentir na pele que elas
eram intencionalmente cruéis mais uma vez. Elas te machucaram
muito na escola?
— Muito. Meu cabelo era muito crespo, meu quadril
muito largo, meus dentes muitos separados e meu sobrenome não
era latino para ser chamada de Elena sem o H. Por quê?
— Eu não reparei isso. Alguma vez eu ri?
— Claro que não, sua louca. Você saia de perto, nunca foi
a garota que ria ou zoava alguém, pelo contrário, era aquela que
tirava a pessoa de perto e oferecia um sorvete.
— Se tivesse me importado talvez pudesse ter feito algo.
— Não é sua culpa, você era mais forte de todas nós
porque não se importava. O que elas diziam sobre seu rosto, suas
orelhas e dentes definitivamente nem entrava na sua cabeça. Você
tinha certeza de que era bonita e muitas vezes te invejei por isso,
mas depois eu simplesmente me espelhei na sua segurança. Cada
pessoa reage ao bullying a uma forma, uns se importam muito,
outros superam e outros nem ligam. — Elena me parou pouco antes
da sua garagem. — Poderia ter seguido o caminho da Ruth, ou
poderia ter seguido o seu caminho, mas me encontrei assim como
muitos se encontraram e sobreviveram ao ensino médio. Ruth
precisava de uma ajuda que você não podia dar.
— Você e a minha mãe estão ouvindo minha terapeuta às
escondidas?
Elena e eu sorrimos para outra.
— Obrigada por me dizer isso. Às vezes é difícil não
pensar que eu poderia ter agido diferente no ensino médio.
— Eu te ouvi cantar a música favorita dela, sua voz é
linda, mas imaginei que ficaria abalada. Então pensei em dar um
presente... — Abriu a porta lateral da garagem e fomos atacadas
por pequenas coisinhas peludas ganindo. Imediatamente me joguei
no chão, agarrando ao máximo. — Minha mãe demorou a castrar o
John Mayer e ele engravidou a Lady Gaga.
— Nossa! Esqueci que sua mãe tem os melhores nomes
para cachorros. — Peguei unzinho e agarrei.
— Quer um?
— O quê?
— Nós vamos doar todos e antes de colocar na internet,
pensei em te dar um. Mamãe é contra vendas agora, depois que dei
um esporro nela sobre incentivar o mercado de marcas caninas. —
Elena sentou-se do meu lado. — Os pais têm pedigree, eles estão
com dois meses, já foram vermífugos e tomaram as primeiras
vacinas. Aí agora é só se atentar ao calendário para vacinar
certinho.
— Isso é sério? Ai, eu quero sim!
— Mamãe fez uma cartilha de como cuidar deles. Eles são
um amor, mas tem umas coisinhas que precisam de cuidado como
todo cachorro de porte pequeno. A parte boa, eles amam ficar
juntos e você pode levá-los para onde quiser.
Elena me explicou cuidadosamente os cuidados dos pequenos
bulldogs franceses e eu escolhi uma fêmea toda branquinha com
uma manchinha preta em cima, que ficaria maior como sua mãe.
Eles eram pequenos demais como filhotes porque não eram adultos
muito grandes. Me apaixonei por ela e já estava pensando em um
nome. Elena não deu nome à eles ou ficaria com todos.
— É o melhor presente da minha vida. — Abracei-a bem
apertado. — Obrigada.
— Sei que nossas vidas tomaram rumos diferentes, mas
você sempre será minha amiga e eu estou aqui para você.
— Desculpa ter me afastado... Nós temos que voltar a sair
juntas.
— Vamos sim!
Trocamos um abraço pela última vez e fui andando para casa,
toda empolgada com meu pacotinho. Entrei pelos fundos e Blake
arrulhou com o filhote, pegando no colo e fazendo gracinha. Tia
Joana também.
— O que é isso? — Meu pai entrou na cozinha com sua
taça de vinho vazia e serviu mais.
— Um pequeno filhote de E.T com orelhas. — Falei
baixinho.
— Rebecca... — Blake foi severa. — É um filhotinho,
melhor, filhotinha. Já tem nome?
— Ainda não, estou pensando. Não vai ser excêntrico
como dos pais. — Acariciei a cabecinha dela.
— De quem é? — Meu pai apoiou as mãos na ilha da
cozinha.
— É minha. Acabei de ganhar. — Olhei-o preparada para
sua crítica.
— Você vai ter um cachorro? Não sabe cuidar de si
mesma... E raças pequenas precisam de companhia, de atenção e
você em breve terá uma carreira para gerenciar.
— Alex! — Blake se meteu.
Não aguentei ficar calada.
— Qual a sua fixação com carreiras, pai? O que você tem
medo de me torne? Eu já estou fazendo a faculdade que você
escolheu, já estou trabalhando voluntariamente no jornal da
universidade que você escolheu. O que mais você quer? — Explodi
sem um pingo de paciência. — Estou cansada das suas críticas, das
suas exigências e dessa sua mania irritante de controlar cada
decisão minha como se eu ainda tivesse dez anos de idade. Me
deixa viver minha vida. Porque eu não sou quem você quer ou
pensa. Sou totalmente diferente e com muito prazer.
Peguei a filhotinha e comecei a me despedir. Blake e meu pai
começaram a discutir na cozinha. Odiava quando meus pais
brigavam muito por minha causa, mas não podia ficar por perto
para sentir culpa. Peguei minha bolsa, destravei o alarme do meu
carro e entrei, jogando a bolsa no carona e acomodando a pequena
coisinha no meu colo, rezando que não fizesse xixi em mim.
Sabia que tinha um shopping de cachorros no centro e não
tinha certeza se estava aberto, mas fui dirigindo até lá, cantando o
CD da Leona Lewis com a pleno pulmões e foi assim que decidi o
nome dela. Leona era bonito e combinava.
O shopping estava aberto e estacionei na vaga mais próxima da
porta, respondi a mensagem da Blake que estava bem e que ela não
precisava gastar suas energias com meu pai. Não valia a pena, ele
não iria mudar.
Peguei um carrinho e enviei uma mensagem para Marco. Ele
respondeu com uma foto dele sentado em um deck, com uma
garrafa de cerveja e uma garota ao fundo que era extremamente
bonita, mas eu sabia que era sua irmã. Não contei a ele sobre o
cachorro, disse apenas que estava no shopping comprando umas
coisinhas.
Leona ficou um pouco assustada de andar no carrinho
porque eu precisava das mãos livres. Pedi ajuda para comprar uma
boa ração, comprei um saco de três quilos, potes rosas, fraldas,
tapetes higiênicos, educadores sanitários, brinquedos, uma
cadeirinha para andar no carro e quando passei no corredor de
roupinhas, me perdi completamente.
Achei uma saia de tule rosinha muito fofa. Comprei
xampu e condicionadores específicos para a raça dela, soro
fisiológico para limpar as dobrinhas e biscoitos para educá-la.
A conta ficou astronômica, mas necessária. Coloquei uma
fraldinha nela para não sujar meu banco e ela estava com cheirinho
de filhote sujo, montei a cadeirinha no meu banco do carona e a
prendo conforme o manual, guardando todo restante na mala. Ao
chegar em casa, subi com dificuldade e o porteiro me ajudou, dei
uma gorjeta porque não era serviço dele carregar peso.
Entornei comida, água e espalhei o tapete de necessidades,
borrifando o educador sanitário na casa inteira. Ela já ia começar a
entender que podia fazer suas necessidades em um lugar só, fiz o
mesmo no segundo andar, colocando um tapete no meu banheiro.
Dei um banho nela com água morna, sequei e limpei suas
dobrinhas e orelhas com cuidado, vesti uma saia e tirei uma foto na
minha cama, postei no instagram.
“Bem-vinda a minha família, Leona”.
Rebecca.

Estava saindo do prédio que funcionava o jornal da


universidade quando meu telefone tocou. Era o Marco e
imediatamente um sorriso enfeitou meus lábios.
— Oi, linda. Você está sexy com esse vestidinho cinza... O
garoto que está andando atrás de você deve estar achando o seu
rebolar lindo. — Brincou e espiei que Ruan estava me olhando e
ele ficou todo sem graça, saindo de perto rápido.
— Isso é meio perseguidor, saber que você está me olhando e
eu não posso te ver.
— É porque você está parada, se der dois passinhos a frente
vai me ver. — disse e andei a frente, encontrando-o encostado em
seu carro, logo atrás da grande coluna. Marco era tão bonito que
me tirava o fôlego. Sapatos sociais pretos, uma calça jeans bem
ajustada e camisa social preta. Seu relógio destacava-se com sua
roupa escura. — Oi, linda.
— Oi, lindo. — Me joguei nele sem cerimônia e nos
beijamos.
— Como você está? — Segurou meu rosto e passou o polegar
nos meus lábios, olhando em meus olhos todo carinhoso.
— Pensei que fosse te encontrar no restaurante. — Beijei sua
boca mais uma vez.
— Eu estava aqui perto e pensei em te seguir até seu
apartamento, você deixa o seu carro e nós vamos almoçar juntos.
— Tem a tarde livre? — A esperança era evidente na minha
voz.
— Não, mas espero que aceite meu convite para jantar e
cinema mais tarde. Ouvi dizer que tem um bom filme no cinema, é
romântico, não faz meu tipo, mas eu não assisto filmes de guerra,
então... Topa?
— É claro que sim!
Marco esperou que pegasse meu carro no estacionamento e
dirigi para casa, sem entender que ele toda hora piscava o farol.
Entrei no meu prédio, estacionei na minha vaga e desci de elevador
do terceiro andar até o térreo, acenei para o porteiro, sai no portão e
Marco estava parado na frente, destravou a porta e entrei.
— Você é piloto de fuga? Polícia? Por que correr tanto?
— Não sei do que está falando. — Abri um sorrisinho maroto
e o beijei.
Marco tentou me dar uma palestra sobre direção consciente e
eu ignorei completamente, colocando minha mão na sua coxa e
brincando com seu rádio, escolhendo músicas e cantando junto.
Lembrei de baixar os vídeos que meu primo enviou como prévias,
coloquei para assistir e Marco pediu para repetir várias vezes.
— Você canta muito bem, estou ansioso para ver esse vídeo.
— Sua mão ocupava quase toda minha coxa e tirei uma foto para
guardar.
Quando paramos no sinal, obriguei-o a tirar uma foto
comigo sorrindo e outra beijando. Ambas ficaram maravilhosas e
deixei salvas. Aproveitei que estava no carro dele, tirei uma selfie,
editei e esperava que ninguém reconhecesse que estava dentro de
um Volvo XC60 já que meu carro era uma Mercedes Benz GLC e
os bancos eram diferentes. Ou eu estava bastante paranoica sobre
descobrirem meu envolvimento com Marco antes que estivesse
pronta para compartilhar.
Queria que esse algo bom fosse só meu antes de envolver
família e todo restante.
Meu pai era capaz de transformar qualquer coisa boa em
um inferno.
Marco me levou para um restaurante que o nome dizia que
tinha tudo sobre salada, no menu tinha uma seleção de hambúrguer
vegano, comum e com batatas fritas de vários tipos. Pedi um pote
de salada com frango, milho, azeitonas, cenouras, beterrabas e um
mix de folhas verdes. Nós pegamos duas garrafas de suco de
laranja enquanto o hambúrguer dele estava ficando pronto.
Nos acomodamos em uma mesa no pátio, enquanto comia,
ele beliscava minhas batatas e ficar só uma hora com ele me
deixava completamente saudosa. Nós nos vimos pela última vez no
domingo pela manhã, nos falamos todos os dias várias vezes no dia
e apelei nas últimas duas noites enviando fotos nuas.
Após comermos, ficamos aos beijos no nosso lugar e ele
precisava voltar para o trabalho. Ao me deixar em casa, subi
imediatamente para meu apartamento e fui recebida pela Leona.
Peguei-a no colo, beijando-a e fazendo arrulhos para sua fofura.
Soltei-a, me joguei no sofá e fiquei me atualizando com as
mensagens. Blake queria que jantasse em casa no dia seguinte, na
quinta-feira, não queria me estressar com meu pai, mas também
não queria deixar minha mãe tentando se equilibrar entre nós dois.
Avisei que iria e depois mandei mensagens para alguns
amigos, tirando um cochilo no sofá e acordei em cima da hora de
me arrumar. Às vezes a faculdade sugava todas as minhas
energias.
Corri para o chuveiro, tomei um banho caprichado, me
depilando toda porque era dia de rolar entre os lençóis com o
homem que estava se esforçando em mostrar que era mais que
sexo.
Escolhi um body preto em gola V com algumas tiras na
frente, uma saia jeans cheia de fiapos e um blazer preto bem grande
com sapatos pretos de salto fino. Deixei meu cabelo solto, o
interfone tocou e liberei a entrada do Marco enquanto servia mais
comida para Leona, enchendo seu potinho de água e espalhei seus
brinquedos, novos tapetes higiênicos e guardei umas barrinhas de
chocolate na bolsa.
Marco bateu na minha porta e abri, ele tomou um susto
com a Leona pulando nele enquanto segurava um buquê de tulipas
rosas, amarelas e vermelhas.
— Ai que lindas, obrigada. — Segurei as flores realmente
encantada. Beijei seus lábios macios e ele abaixou para pegar a
Leona que mordia a barra da calça dele. — Essa é a Leona.
— Da última vez que vim aqui, ela não existia.
— Ganhei de presente de uma amiga e achei que me
sentiria menos sozinha em casa, o que é uma extrema verdade.
— É bonitinha. Está pronta para ir?
Peguei minha bolsa e deixei as luzes da sala acesas, acionei o
alarme de fora e ele segurou minha mão. Tinha um casal de
vizinhos também esperando o elevador, cumprimentei-os e abracei
o Marco. Ele beijou meu cabelo e cochichou que estava linda,
discretamente apertou minha bunda. Descemos os quatro juntos,
cada casal virou para um lado para seus carros.
— Você está realmente linda. — Marco acariciou minha coxa
e beijei sua bochecha enquanto dirigia até o shopping mais
badalado da cidade.
A entrada do cinema era do lado de fora, estava um pouco
cheio e enquanto ele foi comprar os ingressos, fiquei na fila para
comprar duas garrafas de água e refrigerante porque não costumava
comer pipocas. Não resisti e comprei balas, ele me achou na
multidão e passou o braço na minha cintura.
Faltava apenas alguns minutos para entrarmos na sala, o filme
que escolhemos estava vazia, a fila imensa era de outro filme, o
que era uma maravilha, porque sala de cinema cheia era
insuportável. Ficamos na fileira do canto, cruzei minhas pernas me
acomodando e até prestei atenção por alguns minutos, mas, a sala
estava tão vazia que pensei que era uma completa perda de tempo
não atacar o homem ao meu lado e foi o que fiz.
Marco me beijou com a mesma fome e saudade que sentia e
entendendo meu ataque, pediu que descruzasse minhas pernas.
Parecíamos um casal que estava apenas se beijando, mas a mão
dele estava entre minhas pernas, me masturbando, me deixando
louca e muito excitada. Precisei morder seu braço para abafar meu
gritinho ao gozar deliciosamente nos seus dedos.
Ajeitei minha calcinha no lugar e olhei ao redor, ainda
estávamos sozinhos.
— Certamente irei lembrar desse filme para sempre. Quer ir
jantar agora?
— Estou tentando ser um bom homem. Flores, cinema, um
bom jantar e só depois irei levá-la para casa, tirar sua roupa e Deus
sabe o quanto quero te chupar agora só porque sei que sua buceta
está encharcada. — Marco sussurrou no meu ouvido e fiquei toda
arrepiada. — Farei a coisa certa com a minha namorada, você pode
se controlar?
— Eu vou tentar me controlar, mas você vai se arrepender
quando chegarmos em casa. — Beijei sua bochecha e fiquei quieta
assistindo o filme.
Consegui entender a história e no final, terminei chorando
feito uma boba. Nós saímos do shopping para nossa reserva do
jantar. Marco escolheu uma steak house recém-inaugurada,
pedimos filé com fritas, salada, molho barbecue e um vinho
delicioso. Nós nos divertimos muito e era fascinante que tínhamos
muito assunto. Evitamos assuntos complexos, mas pude conhecê-lo
melhor e saber detalhes importantes da sua vida que não tinha nada
a ver com seu tempo fora.
Marco era uma pessoa simples, com um bom coração, sem
enrolação e que me encantava a cada segundo com seu jeito de
homem decidido.
— Eu amei esse lugar, acho que devemos voltar aqui mais
vezes, o que achou? — Andei ao seu lado até o carro e encostei na
porta, puxando-o pelo casaco. — Está preparado para irmos para
casa?
— É o que mais estou ansiando agora. — Marco agarrou
minha bunda por baixo da saia aproveitando que estávamos um
estacionamento vazio. — Vou te foder com força... Te fazer gritar
tanto. Quero te deixar louca porque você me deixou dois dias
tocando punheta como um adolescente.
Marco abriu minha porta e entrei, me acomodando e ele não
demorou muito para chegar ao meu apartamento. Fiquei repetindo
seu discurso sobre direção consciente no elevador e ganhei um tapa
estalado na bunda por bancar a espertinha. Entramos no meu
apartamento e brincamos com Leona que estava com energia de
sobra, querendo atenção e eu filmei Marco atiçando-a no chão,
batendo com o brinquedo, ela rosnava e gania, correndo atrás de
nós e subi com ela, deixando em sua caminha no closet.
Lavei minhas mãos por brincar com Leona e Marco também,
me puxando para o quarto. Ele tirou sua camisa, o sapato e as
meias. Fiquei parada, observando e quando ele ficou nu, mordi meu
lábio.
— Tira sua roupa, Rebecca.
Joguei meu blazer no chão, tirei a minha saia e abri meu body,
puxando pela cabeça e por último a minha calcinha. Marco
avançou e caímos na cama juntos e ele cumpriu todas as suas
promessas de me dar muito prazer.
— Minha mãe sempre trabalhou no restaurante com meu pai
onde é até hoje, mas era só uma casa e hoje está diferente. Os pais
dos DeLucca trabalhavam fora e então, eles ficavam conosco no
restaurante depois da escola. Lucca era o mais velho. — Marco
estava brincando com os dedos na minha barriga, deitado de lado e
contando uma história da sua infância com seu melhor amigo, que
eu descobri ser irmão mais velho do DeLucca que trabalhava com
ele. — Ele tinha um sapo e passou levar aquela coisa para todo
lugar. Uma vez eu peguei o sapo dele e escondi em um dos fornos
do restaurante... Não liguei o forno, mas, a vigilância sanitária
passou por lá e foi uma gritaria na cozinha. Quando vi todo mundo
correndo soube que tinha feito merda e meu pai ia me matar.
Que pestinha!
— O restaurante foi multado?
— Sim. Tive que assumir minha traquinagem... Meu pai ficou
tão furioso.
— Ele te bateu?
— Não. Meus pais raramente me batiam, na verdade, eu
lembro de uma vez porque eu fiz algo ruim na escola, que não
lembro direito.
— Você era uma pestinha.
— Minha mãe pode dizer melhor. Nós aproveitamos muito,
sem descanso... Três meninos entediados o dia inteiro no
restaurante, o que esperar? Quando minha irmã nasceu, já ajudava
servindo as mesas ou lavando os copos, com dezoito meu pai já
tinha aberto outros dois restaurantes na cidade. — Seu polegar
passou pelo meu mamilo. Ele estava inconsciente da sua carícia,
mas o meu corpo estava muito consciente do seu toque. — Minha
irmã está estudando para assumir quando for a hora. Minha mãe
ainda não está pronta para aposentar.
— Por que você entrou para a Marinha?
— Lucca se inscreveu e eu pensei “Por que não?”. Sempre
soube que não tinha jeito para ficar a vida inteira na cozinha do
restaurante... Aí eu fui. Deixando Eric aqui, ele era jovem demais
para entrar e ficou chateado conosco. Quando ele atingiu a idade,
se inscreveu, entrou, treinou e nós o puxamos para nossa equipe.
Foi assim que ficamos juntos novamente... Até o fim. — Marco me
deu um beijo nos lábios e soube que estava incomodado. — Sua
boca é tão macia que poderia ficar com meus lábios grudados nos
seus para sempre.
Sorri toda tímida sem nenhuma razão aparente e o beijei para
esconder meu rubor, mas ele viu e ficou rindo, beijando cada
bochecha corada.
— Eu tenho que ir a Nova Iorque amanhã cedo, é um
agendamento de última hora e volto na sexta-feira a tarde. Vou vir
te buscar para passar o final de semana comigo, vai ter que levar a
coisinha pequena também. Arruma uma bolsa de viagem para
vocês duas.
— Nós vamos em algum lugar?
— Sim. Uma viagem só nós dois para uma casa, uma
cabana... Vai ser divertido.
— Mal vejo a hora.
Acordar abraçadinha com Marco era bom demais para ser
verdade. Acordei e ainda continuei no mesmo lugar, ouvindo seu
ressonar e senti patinhas andando em mim e virei para ver Leona
acordava, com sua pequena língua de fora e a puxei para perto,
querendo saber como ela subiu.
— Essa criatura é chata. — Marco murmurou sonolento e
sorri. — Ela ficou arranhando do lado da cama.
— Eu ignoro, acho que já nem ouço mais.
— Parou quando subiu e arrumou um canto para dormir.
Infelizmente nossos despertadores tocaram e tivemos que sair
da cama, ele tinha que trabalhar e eu tinha que ir para o jornal
revisar toda edição da semana e enviar para gráfica. Tomamos
banho juntos e ele desceu para preparar nosso café da manhã
enquanto me arrumava para passar o dia inteiro na rua porque
estava cheia de compromissos e Leona teria que ir comigo.
Primeiro arrumei a bolsa dela com ração, garrafa de água,
fraldas para entrarmos em algum lugar e ela não me fazer a
vergonha de fazer xixi do nada. Tadinha, era só uma cadelinha
pequena, quando ficasse mais velha talvez arriscasse em deixá-la
sozinha por mais tempo, mas por enquanto queria levá-la comigo
para não sofrer. Ouvi dizer que existia creche para cães, talvez
devesse tentar um dia.
Me vesti com um cropped cinza, um macacão jeans destroyed,
meus clássicos tênis branquinhos, deixei o cabelo solto e passei
uma maquiagem leve para aguentar o dia inteiro. Desci com
minhas coisas prontas e sentei-me no meu banquinho alto,
observando Marco usar minha chapa para fazer ovos com bacon, só
de cueca. A bunda dele era uma maravilha.
Fiquei com o queixo apoiado nas mãos olhando-o cozinhar e
só me mexi para montar os pratos, servir o café e o suco de laranja.
Comemos rapidamente e ele foi tomar banho e se vestir para o
trabalho, já deixando uma camisa passada no carro ontem a noite,
adiantou sua vida agora pela manhã.
— Você está engraçada carregando-a na bolsa assim.
Acariciei a cabecinha da Leona para fora da sua bolsa
transporte.
— Hoje ela vai passear com a mamãe.
Marco riu e enfiou a mão pelo meu macacão.
— É bem largo, dá para ver sua bunda e fazer isso aqui. —
Apertou minha bunda.
— Ainda bem que você é o único autorizado a fazer isso,
qualquer outro vai tomar um belo soco no olho. — Beijei seu
queixo com a barba para fazer e sorri.
Passar o dia inteiro na rua me deixou esgotada, mas consegui
ir ao banco, me reunir com o avaliador literário, fazer o contrato,
pagamento e ele me prometeu que em duas semanas me enviaria o
feedback sobre o que achou do meu livro. Encontrei-o na internet e
ele tinha excelentes avaliações, tomei cuidado que não fosse da
mesma editora que meu pai para que ele não soubesse.
Fui ao médico fazer uns exames e no final do dia entreguei a
versão final da edição do jornal do dia seguinte na gráfica. Antes de
ir jantar com meus pais, encontrei uma representante de uma
agência para trabalhar comigo e me ajudar a melhorar minha
imagem na internet, focando nos meus objetivos com a escrita e
com todo trabalho envolvendo a arte.
A única coisa que meu pai tinha razão era que eu tinha
oportunidades de investir na minha carreira, estava fazendo isso,
mas não para carreira que ele queria.
Quando estacionei na frente da casa dos meus pais, estava
apertada para fazer xixi e com preguiça. Antes de entrar, retornei a
ligação do Marco e ficamos conversando sobre o nosso dia por uns
dez minutos. Por que eu já estava com saudades dele?
Antes de encerrar a chamada, fez um pedido.
— Eu vou te enviar um link, leia com calma depois. Falo com
você mais tarde...
Ele já estava em Nova Iorque e se eu pudesse, pegaria o
próximo avião só para passar a noite e voltar para os meus
compromissos amanhã. Saí do carro com minhas bolsas e a Leona,
que se comportou como uma princesa o dia inteiro. Ela quase não
latia, parecia não ser tão estressada. Ela fez xixi no gramado dos
meus pais e um pequeno cocozinho, que eu deixei de lembrança só
para irritar meu pai.
Entrei em casa em silêncio e fui direto na cozinha, antes de
entrar, ouvi a voz da Blake.
— Rebecca deve estar chegando, por favor, lembre-se da sua
promessa. Eu não quero perder minha filha porque você tem essa
estranha mania de forçá-la a ser melhor, se ela já é a melhor em
tudo que faz. Você causa nela uma baixa autoestima, um complexo
de que não é boa nada e que você é incapaz de aceitá-la. Nós
prometemos que não perderíamos a Rebecca como os pais da Ruth
a perderam. — Blake parou de falar. — Você pode imaginar ter
que ler uma carta para saber o que estava acontecendo na vida da
sua filha? Eu não quero ser esse tipo de mãe. Ela é adulta agora, vai
ter a vida dela e eu vou estar bem aqui para recebê-la sempre que
precisar de mim. E é melhor que você esteja do meu lado.
Voltei alguns passos e gritei que estava em casa, soltei Leona
no chão e passei pela porta com um sorrisinho no rosto para fingir
que não ouvi o que falaram.
— Oi, amor! Você está linda. — Blake me abraçou apertado.
— Vinho?
— Obrigada, eu aceito. Estou faminta. — Sorri e virei para
meu pai, ofereci um sorriso e ele me abraçou apertado, ainda muito
sensível sobre o que a Blake falou. — Tive um dia cheio. Fui ao
banco, médico e trabalhei no jornal. — comentei para dar a eles a
chance de participarem da minha vida.
Meu telefone vibrou com o link que Marco enviou e abri, era
um site que explicava o significado das cores das Tulipas que ele
me deu ontem a noite. Fiquei congelada no lugar, um sorriso
imenso brotou nos meus lábios que não consegui esconder. Tulipas
vermelhas significam amor, as rosas felicidade perfeita e as
amarelas amizade e alegria.
Se ele queria meu coração, estava entregue de bandeja.
O telefone do meu pai tocou e ele disse ser trabalho, pedindo
licença para atender na varanda.
— Que sorriso é esse? — Blake parou de mexer nas saladas.
— Mãe... Se estiver com alguém que me enviou tulipas e está
planejando uma viagem a dois, quer dizer, três para o final de
semana?
— Uau... — Blake suspirou e então parou e me olhou bem
séria. — Tulipas? Quem te enviou tulipas, Rebecca?
— Eu ainda não estou pronta para compartilhar com vocês
sobre esse relacionamento. Apesar de achar que você vai
enlouquecer, sei que vai superar. Já o papai...
Blake fechou olhos e respirou fundo.
— Marco comprou tulipas amarelas, rosas e vermelhas para
seu encontro de ontem. Eu sei disso porque a Lexie deixou escapar
que ele parecia realmente feliz e apaixonado, pesquisando
significado de flores e um ótimo restaurante. — Blake me olhou
nos olhos. — Filha... Tudo faz sentido agora. A noite que você
sumiu em Ibiza, ele andando assobiando pelos corredores da
empresa e sorrindo.
— Sério? — perguntei toda boba.
— Rebecca!
— Blake! — Rebati também séria. — Aconteceu, não foi
premeditado. Ele ficou agindo como um babaca petulante comigo e
você não ajudava em nada me tratando como uma criança com
autorização para beber com a mãe. Fiquei muito irritada, aí
começamos a provocar e ser grosseiro com outro sem parar. Eu vou
te contar detalhes só para você entender tudo e não julgar,
principalmente a ele, que tem a maior preocupação em ser
respeitoso. Não que eu deixe muito...
Contei exatamente, sem poupar alguns detalhes importantes,
mas deixei os pervertidos de lado. Blake estava de boca aberta.
— Marco é um homem muito sério, ele é muito centrado e
muito na dele. Vê-lo tão feliz chamou atenção, por isso que reparei.
Mas filha, ele vai fazer trinta e dois e você vinte e um. São vidas
totalmente diferentes...
— Eu sei. Parte de mim espera que essa diferença vá acabar
tudo. É sempre aquele meu pensamento sabotador que não posso
ser feliz nunca. Eu espero que ele um dia da semana e diga que
encontrou alguém melhor, mais maduro e mais interessante. —
Olhei para minha taça de vinho. — Fico sonhando que ele vai
levantar e dizer que sou problemática demais para estar ao lado
dele, com meus problemas de garota rica, privilegiada e
traumatizada. Ao mesmo tempo simplesmente sinto algo tão
diferente. Quando estou com ele, parece que posso respirar, ser
quem sou... Ele brinca comigo que sou uma pentelha espevitada
quando começo a rir da cara dele sem pena. Ele me aconselha e me
ajuda olhar o futuro sem medo. O papai me pressiona tanto com a
carreira que morro de medo de falhar, mãe. — Sequei minhas
lágrimas. — Mas quando converso com o Marco ele me dá
esperanças de que terei uma carreira de sucesso, poderei ser eu
mesma e poderei ser feliz. Quando estamos juntos, me sinto
orgulhosa de quem eu sou.
— Ah, meu amor. — Blake me abraçou apertado. — Você é
um sucesso.
— Você já se sentiu insuficiente e errada em tudo que faz?
Blake sentou-se ao meu lado.
— Quando tinha a sua idade, não fazia ideia do que queria ser
e tinha um grande problema porque seu avô estava doente e seus
tios longe de casa. Optei por ficar para cuidar deles. Talvez se
tivesse ido para Harvard, poderia ter me encontrado, criado um
currículo espetacular e talvez precisasse provar menos aos homens
que sou tão ou mais capaz que eles... — Blake segurou minha mão.
— Você sente culpa por ter o que tem, por ter perdido de forma tão
ruim duas pessoas que amava por problemas que não sabia. Ambos
não foi a sua culpa. Seus avós trabalharam muito para conquistar o
que tem, o seu pai também e você é a única herdeira deles. Sei mais
do que ninguém, que a corrida não é justa quando se trata de mais
dinheiro e privilégios. Seu pai entrou na universidade sem esforço,
ele é um cara inteligente, mas foi sem esforço. Eu tive que lutar
pela minha bolsa. A questão é: o que nós podemos fazer para
mudar o futuro de outras pessoas?
— Tenho pensando em algumas coisas... Mas antes do papai
voltar, não fica chateada com o Marco. Ele está tentando. Nós
ficamos sem nos ver e ele foi todo nervoso e inseguro atrás de
mim, perguntando se queria tentar porque ele queria.
— Só porque o conheço, mas terei que ser uma sogra e agir
como sogra. E talvez 1eixa-lo um pouco assustado se ele partir seu
coração. Estou feliz que confiou em mim, em algum momento seu
pai vai ter que saber e vou fingir que não sabia ou o teto dessa casa
vai cair. Vou torcer para dar certo.
— Obrigada, eu te amo.
— Também te amo.
— Rebecca! Eu pisei no cocô dessa criatura! — Meu pai
gritou do jardim da frente e soltei uma gargalhada. — Ela está
banida dessa casa.
Blake revirou os olhos, bebeu seu vinho e sorriu.
— Ah, que tal deixar a Leona aqui para vocês viajarem? Acho
que iremos nos divertir com seu pai.
— Eu adoraria, obrigada.
— Rebecca! Ela fez xixi no tapete!
Blake e eu parecíamos bêbadas de tanto que ríamos e fazia
muito tempo que risadas não eram ouvidas naquela casa.
Marco.

— Oi, fizeram boa viagem? — Lexie nos recebeu no elevador


logo que eu e DeLucca chegamos na empresa.
— Foi tudo bem, nós fechamos o contrato e vamos começar a
trabalhar nele segunda-feira. — Olhei a hora no meu relógio de
pulso e tinha alguns minutos para sair, buscar minha mala em casa
e pegar a Rebecca para nossa viagem.
— Oi, querida. — DeLucca deu um beijo na sua esposa.
— Blake quer falar com você antes de ir. — Lexie me deu o
recado e fui andando e cumprimentando alguns funcionários no
meu caminho e bati na porta da sala da minha diretora executiva e
agora, sogra.
— Pode entrar! — Blake gritou e abrir e a olhei. — Olá,
Marco Antonio Moretti. Sente-se bem aí. — Falou num tom de voz
diferente. — Estou falando como sua sogra e não como sua
funcionária.
— Ah. — Sentei-me na poltrona na sua frente com vontade de
matar a Rebecca por não ter me avisado que a mãe dela sabia. —
Oi?
— Oi? Você tem a sorte que tive uma conversa muito franca
com minha filha, coisa que não acontece desde que era criança. A
pré-adolescência e a adolescência é uma fase difícil de manter a
comunicação, mas enfim. Rebecca está feliz e apaixonada, não
quebre o coração da minha filha. — Blake apoiou as mãos na mesa
e me olhou brava. Um olhar de leoa protegendo sua cria. Não
estava ofendido, pelo contrário, podia compreendê-la cada vez
mais. — Agora falando como sua funcionária, parabéns! Não
acredito que fechamos um contrato com o Pentágono!
— Eu também não, parece completamente surreal para mim.
— Sorri abertamente e me recompus. — Rebecca é uma mulher
maravilhosa. Eu a olhei e não sei como não caí de joelhos. Fiquei
dizendo “qual seu problema, cara? Ela é muito jovem!”. Mas não
consegui resistir a ela, não sei o que te contou, mas sabe o que quer
e ela conseguiu me tirar do foco. Nunca fui de ficar desatento...
Blake sorriu e recostou na cadeira, me ouvindo.
— Estou feliz que ela te falou porque ela não quer que as
pessoas saibam. Está com medo e pronta para fugir, vejo nos olhos
dela que parece estar esperando que termine com ela e antes que
faça, já vai sair correndo.
— E o que você pensa sobre isso?
— Estou apaixonado pela sua filha. Sei que é louco e
repentino, eu amo ouvir o som da sua risada, mesmo que seja rindo
de mim. Eu adoro jeito que é destemida e ousada, fico apavorado
pela forma que dirige, amo ouvi-la cantar e eu nem gosto de
músicas... Sou capaz de ler qualquer mísero bilhete dela com
prazer. Acordo pensando nela, durmo pensando nela... Fui para
Nova Iorque e voltei com saudades dela. — Olhei-a e Blake estava
chorando. — Desculpa, te ofendi.
— É bom saber que minha filha é amada porque ela acha que
não é digna de amor. Quando Rebecca tinha doze anos, o avô dela
disse que ela nasceu por um descuido. O meu sogro não gostava da
primeira esposa do meu marido, dizia que era uma alpinista social.
Ela era pobre e mexicana, era ilegal quando se casou com o Alex,
mas sei que o amava muito. Não era próxima do Alex nessa época,
a gente brigou no ensino médio e nunca mais nos falamos, mas
estudávamos na mesma universidade e de vez em quando via os
dois. Enfim... Ela morreu, dois anos depois me casei com o Alex
pela Rebecca e o amor acabou nascendo entre nós. Meu sogro
sempre foi muito amável, Rebecca o idolatrava, era o amor da vida
dela, mas alguns anos antes de morrer ele foi ficando amargo e
muito difícil de lidar.
— Por quê?
— Só descobrimos depois, mas a história é que ele começou a
dizer coisas ruins a Rebecca e passei proibi-la de ficar sozinha com
ele. Ela chorava, sofria, mas sempre perdoava e fingia que nada
tinha acontecido. Uma noite, minha sogra a levou para casa e
precisou sair. Rebecca ficou sozinha com o avô. Ele gritou muito,
ela me ligou chorando implorando para ir buscá-la... No meio do
meu caminho, ele sofreu um infarto e Rebecca ficou fazendo
massagem cardíaca nele. Ela me disse uma vez que sentiu o
coração dele parar de bater sob as mãos dela. — Blake secou o
rosto. — Rebecca acha que não merece amor. Ela não me chama de
mãe porque acha que não merece ter uma mãe já que dela morreu
no parto. Por mais que saiba que mãe teve eclampsia não tratada,
ainda tem esse sentimento. E o avô tinha um tumor no cérebro
pressionando os nervos que o faziam ser tão cruel. Ela sabe disso
tudo, mas está no coração dela. E por fim, a melhor amiga se matou
deixando uma carta que no meu ponto, a culpa por todo bullying
que sofria. É por isso que ela está se preparando para correr. Não
estou dizendo que você tem que ficar por isso, por pena ou por
sentir responsável pelos sentimentos dela. Estou te dizendo que
você tem uma joia rara e delicada que sorri muito quando recebe
uma mensagem sua.
— Obrigada por compartilhar isso comigo.
— Sou boa com facas e eu não quero saber que você é um ex-
SEAL.
— Recado anotado, sogrinha.
— Ugh!
Deixei Blake em sua sala, pensativo em tudo que Rebecca
passou e podia entender melhor porque sentia tanto medo em
compartilhar nosso relacionamento publicamente.
Fiz um trabalho rápido em pegar minhas roupas, a mala
com alguns mantimentos, o isopor com carnes e a outra mala com
as bebidas. A cabana era um pouco longe da civilização e apesar de
ter uma mercearia por perto, não queria arriscar não ter algo
necessário.
Estacionei em frente ao seu prédio e ela já estava na portaria
me esperando.
— Alguém está ansiosa?
— Muito! Eu amo viajar! — Jogou-se em mim. — Oi, lindo.
— Oi, linda.
Eu não me importei que havia milhares de passantes na
calçada e a beijei com toda minha saudade. Rebecca usava um
short curto que ia até sua cintura e uma blusinha laranja que
terminava logo abaixo dos seios escrito DOLTON. Ergueu os
braços e vi que estava sem sutiã. Ela só podia querer a minha morte
precoce sem pena.
— Você não me disse que sua mãe já estava sabendo sobre
nós.
— Ela meio que adivinhou porque alguém parece estar feliz e
assobiando pelos corredores da empresa. — Rebecca riu de mim e
apertei sua bunda. — Foi legal conversar com a minha mãe, mas o
meu pai não pretendo que saiba tão cedo. Ele está tentando, mas
ainda é insuportável. Acredita que tentou se meter na minha grade
de aulas ligando para o reitor da universidade? Tomei coragem e
disse que ia processar o reitor se ele permitisse que meu pai desse
pitaco por lá também.
— Boa garota. — Beijei sua boca. — Tive uma conversa com
sua mãe, além de dizer que é boa com facas, ela me pareceu bem.
Nós tínhamos apenas quarenta minutos de viagem, porque
estaríamos no Canadá, mas ficamos presos por trinta minutos na
fronteira por estar bastante engarrafado. Nossa liberação durou um
total de cinco minutos, como tinha residência no país e Rebecca
estudou por um ano em Toronto, entramos sem problemas.
— Que casa linda!
— Ela foi reformada ano passado, mas meus pais compraram
quando era criança. Meu pai adorava vir pescar aqui, tirava pelo
menos uma semana no verão para nos trazer aqui. — Estacionei na
garagem e apertei para fechar o botão. — O quintal dos fundos é
ainda melhor.
Saímos do carro, abri a casa para que conhecesse por dentro,
estava com cheiro de limpo porque pedi que limpassem. Tinha um
casal que tomava conta da casa mesmo que tivesse instalado um
bom sistema de segurança para prevenir contra invasões. Por
dentro estava toda mobiliada, tinha três quartos, quatro banheiros,
sala de estar, jantar e cozinha. A varanda dos fundos dava para um
quintal com gramado, que mandei colocar uma mesa de madeira
que pudesse ficar no tempo, dois bancos virados para o lago, uma
fogueira fixa e outros mobiliários externos.
— É tão lindo. Podemos comer aqui fora essa noite?
— É claro, vou buscar as coisas no carro.
— Eu te ajudo.
— Não precisa. Por que não fica olhando o lago?
— Vou buscar minha câmera enquanto tem a luz do dia. —
Olhei para sua bunda enquanto andava na minha frente, não resisti
e apertei quando se inclinou no banco da frente para pegar sua
bolsa que estava no chão.
Tirei nossas malas e guardei no meu quarto no segundo andar,
peguei os mantimentos, guardando o que era de geladeira e o
restante no armário. Decidi que poderia assar alguns bifes na
fogueira, experimentar algumas cervejas artesanais e aproveitar a
noite do lado de fora. Lavei minhas mãos observando-a andar pelo
quintal, falar ao celular, fotografar, tirar fotos com o telefone e
parecia gravar alguns vídeos divertidos e ri da sua bobeira. Ela era
encantadora mesmo quando estava cheia de palhaçada.
— Vou tirar esse short, está me assando toda. — Reclamou
entrando e apontei a direção do quarto. Ela subiu correndo e voltou
usando uma saia curtinha, me provocando que era mais fresca.
Acendi a fogueira, coloquei uma mesa perto, alguns pratos,
copos e talheres. Coloquei as cervejas nos congeladores, temperei
as carnes e o frango. Rebecca inventou de fazer uma salada para
acompanhar, me atrapalhando na cozinha e sujando absolutamente
tudo ao redor. Ela tinha muita sorte de ser bonita e porque cada vez
que se inclinava no balcão, podia ver um pedacinho da sua bunda.
Era naturalmente desastrada, a lata de milho virou, as azeitonas
rolaram pelo balcão e estourou o saco de grão de bico.
— Por que a comida escapa da minha mão? — Reclamou
limpando o balcão.
— Eu gostaria de saber. — Saí da cozinha para o quintal com
a salada e as carnes, coloquei a grelha limpa e alinhei as peças no
fogo.
— Não sou tão ruim assim, a salada ficou uma delícia! —
Gritou pelo vidro da cozinha.
— Tenho certeza que misturar tudo é super master chef. —
Voltei para cozinha só para implicar.
— Me desculpa, Rambo. Você matou a vaca? Cortou todas as
peças de carne? Tratou para o consumo? Perseguiu a galinha? Ah,
não. Você comprou pronta no mercado e trouxe um tempero que
sua funcionária deixa pronto na geladeira. Tenho certeza é muito
master chef. — Cruzou os braços toda irritada e comecei a rir.
— Você me chamou de Rambo?
— Até eu sou capaz de passar o tempero e olhar a carne.
— Desafio aceito. Você vai me dizer quando a comida ficar
pronta.
— Meu amor, você vai aprender a não duvidar de mim. —
Rebecca foi para o quintal determinada e rebolando. Me joguei na
cadeira ao seu lado e apoiei meus pés no alto, olhando para o lago.
Toda vez que estava ali sentia muita saudade do meu barulhento
pai. O homem não sabia fazer silêncio. Olhei para Rebecca, ela
estava olhando o sol se pondo no lago e virou o rosto para mim.
Sorrimos e nos beijamos. — Só porque te beijei não significa que
não esteja com o desafio de pé.
— Se continuar me beijando assim, o desafio não vai ser a
única coisa de pé.
— Vai buscar uma cerveja. Sou a master chef, você só
obedece.
Rebecca deu um tapa na minha bunda e peguei um balde,
colocando as cervejas e todo gelo que tinha na geladeira. Abri duas,
entreguei uma a ela e bebi. Estava louco para tomar uma cerveja
devida toda tensão da minha ida a Nova Iorque encontrar com meu
antigo companheiro de equipe na Marinha que tinha uma proposta.
O Pentágono estava contratando empresas para desafiar a
segurança pública e eu tinha que planejar um ataque para um
treinamento e estava realmente empolgado. Esse contrato iria abrir
portas para outras empresas e isso significaria o meu crescimento
ainda mais.
Já estava em posse de contratos altos, porque até então, a
minha empresa era a única que fornecia segurança em alto mar e
rastreio de navios, devido a minha licença com a Marinha. Ainda
não estava preocupado com uma possível competição porque só a
minha empresa tinha esse software.
Rebecca se empenhou em olhar as carnes, ela cortava uma
pontinha, soltava gritinhos cada vez que queimava as pontas dos
dedos e quando achou que estava bom, foi esperta o suficiente em
cortar as partes boas e voltar com as cruas para o fogo. Ela serviu
frango e uns pedaços de carne com salada, deixando o restante
assando.
— Morda a sua própria língua. — Fez uma dancinha
triunfante na minha frente.
Nós comemos com ela se vangloriando a cada minuto, até
postou na sua conta do instagram que fez o churrasco sozinha, sem
me filmar ou mostrar aonde estava.
— Vem aqui, master chef. — Puxei-a e sorrindo, montou
no meu colo. Apoiei minha cerveja na mesa, ciente que meus dedos
estavam gelados, belisquei seus mamilos. Ela riu e gritou, mas
impulsionou o quadril para frente. — Nunca mais farei churrasco,
você será a única cozinhando.
— Ah não, pode ficar. Acho que estou fedendo a fumaça e
meus dedinhos estão queimados. — Ergueu a mão e chupei cada
um deles.
Olhei ao redor, não havia casas do outro lado do lago, era
apenas um descampado, terreno de alguém que estava vazio e eu
poderia ver se chegasse alguém embora fosse longe. Do lado
também não tinha vizinhos e o lado que tinha, além da cerca, era
repleto de árvores.
Levantei sua camisetinha o suficiente para expor seus
peitos perfeitos e chupei cada mamilo.
— Eu amo quando você faz isso... — Rebecca gemeu
segurando meu cabelo. Enfiei minhas mãos por baixo da sua saia
para descobrir que ela estava sem calcinha.
— Porra, Rebecca.
— O que foi? — Me deu um olharzinho inocente e
mordeu o lábio, fechando os olhos com minha mão entre suas
pernas. — Eu realmente amo quando faz isso aí... — Gemeu
baixinho e eu podia passar a minha vida inteira observando suas
expressões de prazer. Ela estava ficando cada vez mais molhada,
estremecendo a cada carícia com os bicos dos seios durinhos,
esfregando na minha camisa. Rebecca se afastou e abriu o botão da
minha bermuda.
— Aqui fora não.
— Aqui fora sim. Nós já fizemos isso em um banheiro no
aeroporto, quase fizemos no cinema e agora vamos fazer aqui fora.
— Puxou meu pau da cueca delicadamente e peguei uma toalha
que estava jogada na outra cadeira, envolvendo a cintura dela
enquanto se ajeitava. — Isso quer dizer que sim? Posso sentar no
seu pau?
— Porra, baby. Sim, todas as vezes sim.
Rebecca me levou para dentro com cuidado, tentando a si
mesma e em seguida começou o seu rebolado gostoso, me
deixando maluco e marcando a terceira vez que fiz qualquer coisa
em público. Ela me faz perder a noção do certo e errado. Todas
às vezes foi com ela, que me desafia e atiçava em qualquer lugar,
sem noção do perigo e eu amava que confiasse tanto em mim.
Sabia que sempre estaria segura e iria protegê-la de qualquer coisa,
em qualquer situação, era por isso que tudo entre nós era
maravilhoso.
Principalmente o sexo.
Ela gozou, caindo sobre mim e apertando meu pau com
sua buceta apertada. Eu não podia resistir ao seu gemido pós-
orgasmo no meu ouvido, não se contendo mesmo que estivéssemos
no quintal e gozei dentro dela. Abracei-a apertado e a mantive em
meus braços, beijei seu rosto suado e assim ficamos por muito
tempo.
Não conseguia palavras para definir todos os meus
sentimentos.
— Vamos entrar? Sua carne já está esturricada.
— Foi só o que sobrou. — Resmungou cansada. — Quero
tomar um banho.
— Lá em cima tem uma banheira no nosso quarto, sobe
com o vinho que está na geladeira e vou limpar tudo aqui e subir.
— Então tá bom, não demora. — Me deu um beijo e foi
andando para dentro de casa. Limpei tudo com rapidez, lavei a
louça, fechei a casa e acionei o alarme.
Subi a escada ouvindo-a cantar alguma música que não
sabia mesmo, mas dizia sobre amar como se fosse perder, que todo
coração partido sabia como amar como se fosse perder. Esperava
que a Rebecca entendesse que não estava disposto a perdê-la. Ia
provar minhas intenções todos os dias.
Rebecca.
Acordei com beijos suaves pelas minhas costas, abracei o
travesseiro sorrindo e sentindo as mãos do Marco puxando meu
edredom. Ele acariciou minha bunda e mordeu meu ombro,
beijando meu pescoço e chupou o lóbulo da minha orelha.
— Bom dia, linda. — Me virou de lado, acariciando entre as
pernas e suspirei, toda arrepiada.
— Não sei se existe jeito melhor de acordar. — Gemi
baixinho e procurei sua boca, beijando-o e ele lentamente
posicionou-se e empurrou para dentro. — Se você ficar duas
semanas longe de novo, eu vou te matar.
— Eu vou te levar junto comigo. Senti sua falta, baby. Senti
sua falta todos os dias. — Ele estava metendo tão gostoso que logo
gozei. Sexo matinal era a minha nova coisa favorita. — Porra,
Rebecca. — Ele gozou me segurando no lugar e nos beijamos. —
Bom dia, baby.
— Muito bom dia. — Me aninhei nele.
Como senti falta dele nos últimos dias!
Marco precisou viajar no começo do mês e depois de mais
de um mês juntos, passar duas semanas longe dele foi uma
completa tortura. Ele ficou em Seattle, para piorar, a Blake foi
junto e tive que lidar com meu pai completamente sozinha. Jantei
com ele todos os dias, no meu apartamento ou em casa e passei
dois domingos inteiros sozinha com meu pai.
Ele estava se esforçando, mas não se continha. Sempre soltava
uma alfinetada, um pequeno comentário aleatório sobre o parágrafo
que poderia ser melhorado na minha coluna semanal ou se
finalmente escrevi o plot que me enviou por e-mail. Meu pai era
muito bom em criar histórias, os livros dele eram maravilhosos,
mereciam cada prêmio e fã que tinham, mas não era o gênero que
queria trabalhar.
E ele enviava uns vinte temas para escrever por semana.
Essa coisa entre Marco e eu começou no final de março, nas
minhas férias de primavera, nós passamos abril, maio, junho
e julho em completa harmonia. Sobrevivi ao fim do semestre,
fomos ao churrasco de quatro de julho da minha avó paterna, não
ficamos muito próximos apesar de termos sentados na mesma
mesa. Blake precisou nos lembrar algumas vezes que ficávamos tão
próximos.
De vez em quando nossas mãos nos uniam ou ele
colocava o braço na minha cadeira, tirando e disfarçando rápido.
Obviamente ele não estava nada feliz em continuar as
escondidas.
Meu pai monopolizou a atenção do Marco ao ponto de não
poder dar uma fugidinha para ficarmos juntos. Contei a Vovó
Catherine e ela o adorou. Não contei aos meus avós maternos,
porque eles poderiam falar sem querer e meus tios perceberam
alguma coisa, mas ficaram quietos. Felizmente em casa nós
compensamos tudo que não pudemos tocar no outro.
No começo de agosto Marco precisou viajar e nós ficamos
longe. Seattle parecia que era do outro lado mundo. Nunca pensei
que seria o tipo de namorada que sofria de saudades, mas eu sofri.
— Leona, para. — Resmunguei sonolenta e abri os olhos
percebendo que cochilei de novo após o sexo e estava sozinha na
cama.
Levantei toda suada, gosmenta e andei até o banheiro
sentindo o cheirinho de comida pelo apartamento. Tomei banho,
aproveitei para lavar meu cabelo, fiz a minha skincare matinal e me
enrolei no roupão de cetim que ganhei da Blake semana passada.
Era gostoso demais ficar com ele sem precisar colocar calcinha e
sutiã.
Desci a escada devagar com a Leona no colo e Marco estava
na cozinha, alguma coisa gostosa estava no fogo e ele de cueca,
com uma caneca na mão e o jornal na frente, muito interessado no
que lia. Soltei a Leona que estava aprendendo que não gostava
muito de ficar no colo desnecessariamente e ela saiu correndo para
sua cestinha de brinquedos no canto da sala, roendo um ursinho
que Marco deu a ela quando chegou de viagem ontem à noite.
A mala dele estava no canto porque saiu do aeroporto direto
para minha casa. Dormi algumas vezes no seu apartamento, mas
era um lugar que definitivamente não tinha nada. Marco quase não
ficava em casa e por causa da Leona, sempre optamos por dormir
na minha casa.
Abri as cortinas para entrar claridade e parecia estar uma
ventania desenfreada do lado de fora.
Quando cheguei na cozinha, ele estava virando as panquecas
que fritavam em fogo baixo. Então esse era o segredo para não
queimar logo? Hum... Abracei-o por trás e beijei suas costas,
espalmando minhas mãos no seu peito.
— Temos que ir ao mercado. — Comentei e soltei um bocejo.
— Até que demorou para acabar tudo.
— Você não comeu enquanto estive fora?
— Comi sim... Eu tentei cozinhar, as panquecas queimaram e
os ovos ficaram salgados, mas eu fiz espaguete com almôndegas
para o meu pai. Eu comprei as almôndegas prontas, já assadas e fiz
o molho e o macarrão. Ficou meio ao dente no começo, depois
ficou gostoso. — Me defendi bravamente nas minhas aventuras na
cozinha. — No mais, pedi delivery ou comi na faculdade.
— Por que você só está estudando pelas manhãs? — Marco
serviu as panquecas em um prato e peguei o syrup. Ele ia comer as
dele com ovos e bacon.
— Porque meu pai me fez puxar o máximo de matéria a cada
semestre, acontece que agora eu tenho apenas quatro obrigatórias e
duas extras que escolhi. E o meu horário no jornal, então, não
preciso mais ficar o dia inteiro o que é uma benção, foi a única
coisa útil que meu pai me disse sobre a faculdade. Já estou
cansada... A faculdade é um lugar que fode com a sua cabeça.
Servi mais café na caneca dele e um pouco na minha, meu
telefone parecia enlouquecido de tantas mensagens. Desde que meu
primo lançou os vídeos na internet, meu número de seguidores
dobrou e ao invés de me sentir envaidecida, me perguntei que tipo
de influência poderia ser. Não queria causar danos emocionais na
vida de ninguém, não queria ser um espelho porque não era
perfeita. Ao mesmo tempo não bloqueei tudo pelo meu desejo de
lançar meus livros um dia, pelo que escrevia no blog e pelo fato de
estar me tornando uma jornalista e por me sentir na obrigação de
disseminar informações falsas.
— Eu pensei em umas coisas para fazer na internet e queria a
sua opinião. — Sentei-me no banquinho e Marco desviou o olhar
do jornal. — E se eu ensinasse jovens a fazer imposto de rendas, a
calcular juros, cotação da bolsa de valores e a simplesmente fazer
coisas que ninguém nos ensina? Nem todo mundo se forma
entendendo como funciona a economia. Tem muita coisa mentirosa
rolando na internet. O próprio presidente é o maior disseminador de
fake news tuiteiro de coisas aleatórias para confundir a população...
— Você tem algum planejamento?
— Eu não sou muito boa em tudo, é claro. Mas eu pensei em
convidar pessoas para falar, explicar o que é cada coisa da vida
adulta. Minha mãe biológica era uma imigrante ilegal e acredito
que posso ajudar nisso com informações a quem precisa. Onde
encontrar advogados pro-bono, comunitários e cursos gratuitos.
Quero usar todos esses seguidores para dar informações úteis, não
só que acompanhem minhas palhaçadas do dia-a-dia. — Bebi um
pouco do meu café esperando a resposta dele.
— Acho incrível que vai dedicar seu tempo para ensinar
pessoas o que hoje em dia se torna duvidoso.
— Quero usar minha voz e meu poder de influência para
alguma coisa boa, claro que ainda quero continuar compartilhando
coisas mais bobas, mais leves, mas...
— Se precisar de alguém para dar dicas de segurança...
— Eu não vou te expor nas minhas redes sociais.
Marco me deu o olhar que eu já conhecia como irritado.
— Vai me esconder para sempre?
— Eu sei que você está ficando impaciente, vou contar para o
meu pai. — Me inclinei no balcão e beijei seus lábios. — E te
apresentar para família inteira. — Mais um beijinho. — Mas não
quero as taradas da internet dizendo que o meu homem é muito
gostoso. Sou a única tarada que pode fazer isso. — Marco me deu
um beijo tão gostoso que não paramos mais. Me afastei toda
arrepiada e como estava precisando de uma pausa muito necessária
de todo sexo de boas-vindas e o desta manhã, era melhor ficar
longe.
— Não quero te pressionar, mas não sou mais criança para
namorar escondido. Eu vou aguentar qualquer coisa que seu pai
falar. Não quero que a Blake fique encurralada e isso cause
problemas no relacionamento deles. — Marco beijou meu pescoço.
— Você tem razão. Eles já brigam muito por mim. Vou
marcar um jantar, o que acha?
— O que achar melhor.
Nós terminamos nosso café da manhã, lavei a louça e guardei
tudo, limpando a bagunça da Leona e nos vestimos para ir ao
mercado. Ele estava rindo da minha roupa, uma camisa social que
parecia masculina, fechada até o último botão, um short preto curto
e botas militar. Ele adorava minhas combinações excêntricas e
meus óculos coloridos. Ele estava de calças jeans, tênis uma camisa
preta bem ajustada.
Marco gostava de ir em um mercado que era enorme e os
carrinhos maiores que os convencionais. Eu pedi que ele me
empurrasse dentro, como se recusou, pedi que tirasse uma foto
minha sentada chupando o pirulito que ganhei do rapaz na porta.
Era para as crianças, mas ele me deu com uma piscadinha e
aceitei.
— Sua mãe nunca te ensinou a não aceitar doces de
estranhos? — Marco tirou a foto meio rabugento que aceitei o
doce. Sorri e fiquei brincando com minha língua na bola. — Vou
sair de perto. — E foi embora empurrando o carrinho.
Fui atrás dele rindo e enviei uma mensagem para Blake
enquanto ele escolhia pacotes de carne. Disse que estávamos no
mercado, tirei uma foto dele distraído e ela mencionou que era um
programa bastante doméstico. Não tinha pensado nisso. Mas não
me importava. Disse que a ela que precisava contar ao papai e
pensei em fazer um jantar informal, apresentando Marco como meu
namorado.
Nós concordamos que era melhor contar quem era antes
dele simplesmente saber na hora. Decidi enviar uma mensagem
para ele, contando que estava namorando e em seguida ligaria,
assim quando ele encontrasse com Marco pessoalmente poderia
estar mais calmo.
— Você é o primeiro namorado que apresento em casa. —
Comentei casualmente com Marco. — Eu nem fui ao baile com um
menino. Fui sozinha porque achava um absurdo ter que ter um par,
ter que ser convidada, então, fui sozinha. Aluguei uma limusine e
fui pegando todas as minhas amigas solteiras até a escola. Nós
bebemos champanhe escondidas no carro e eu vomitei horrores,
mas foi divertido.
Marco sorriu e beijou a pontinha do meu nariz.
— Também nunca apresentei uma namorada em casa. —
Beijou a pontinha do meu nariz.
— E a Andrea?
— Não deu tempo. Ela apareceu dizendo que estava
grávida, nós ficávamos casualmente antes, não havia por que
apresentar em casa, então, casei-me com ela. Não antes dela assinar
um acordo pré-nupcial e todo resto, já sabe. Eu estava fora de casa
antes da minha mãe voltar da Itália e minha irmã estava muito
ocupada olhando o restaurante na época.
— Será que elas vão gostar de mim?
— Eu gosto de você, então sim.
Terminamos nossas compras, voltamos para casa e eu
estava guardando as compras enquanto Marco atendia uma ligação
do trabalho e brincava com a Leona no chão da sala quando meu
telefone tocou. Era Blake e eu atendi alegrinha.
— A casa caiu, Rebecca.
— O que aconteceu?
— Um amigo do seu pai acabou de contar a ele que te viu
com o namorado no shopping no começo do mês e que achava
incrível que o Alex estava aceitando o namoro com meu chefe...
Ele me perguntou, eu tive que falar a verdade...
— Ai que droga, que fofoqueiro maldito.
— Todo mundo sabe que seu pai é muito protetor...
— E o que idiota pensou? Quero o nome, porque assim
que o ver, irei dar um pedacinho da minha mente furiosa a ele.
Como o papai está?
— Ele está furioso. Dizendo que foi enganado.
— Eu vou aí conversar com ele e acalmar a situação.
— Prefiro que espere seu pai esfriar a cabeça, não quero
que vocês briguem...
— Eu que menti, quer dizer, omiti um relacionamento com
seu chefe. Marco e eu estamos bem, estava na hora do papai
descobrir, principalmente com todas as coisas que envolvem. —
Suspirei e encerrei a chamada. Esperei Marco terminar a dele para
dizer o que aconteceu e que iria nos meus pais rapidinho.
— É claro que vou com você.
— Não é uma boa ideia.
— Eu não me importo, você não vai enfrentar algo que é
sobre o nosso relacionamento sozinha. Eu vou com você e ponto
final. — Ele pegou a chave do carro ele e respirei fundo, saindo
atrás e deixando a Leona gritando na porta.
A vizinha disse que ela gritava só no começo e depois
parava. Até gravou um dia para me deixar tranquila, porque fiquei
me sentindo a pior mãe de cachorro.
Avisei a Blake que estávamos a caminho. Marco sabia o
endereço por ter ido lá algumas vezes e fiquei o tempo todo com a
mão apertando a perna dele, nervosa. E já com um pouco de
vergonha porque meu pai podia ser muito desagradável. Quando
ele entrou no quintal dos meus pais, estacionando nas vagas na
lateral do jardim, saí do carro e o esperei, andando de mãos dadas
até a entrada. Toquei a campainha para protelar um pouco mais.
— Oi, filha. — Blake me abraçou apertado. — Desculpas,
Marco.
— Sinto muito por causar problemas...
— Mãe, me perdoa. Não quero que você e o papai
briguem ainda mais por minha causa.
— Rebecca, você e o seu pai precisam entender isso. Eu
sou mulher, mãe e esposa. Então, você sempre vai vir na frente de
qualquer coisa e pessoa, incluindo seu pai. Vou te proteger e te
amar independente dele, porque é isso que mães fazem. —
Abracei-a ainda me sentindo culpada.
— É muita cara de pau você vir até aqui! Rebecca, solta a
mão dele! — Meu pai já apareceu gritando e nós entramos para a
vizinhança não ouvir. — Ela tem vinte anos, você quase quarenta!
Isso é pedofilia! Eu vou te denunciar.
— A idade de consentimento nesse estado é de dezesseis
anos e se não me engano, eu poderia estar casada desde os doze
anos. As leis são machistas... Que problema, não? — Dei um passo
à frente e meu pai bufou. — Pai, não tem pedofilia. Eu vou fazer
vinte e um em três semanas e pela lei, já sou uma mulher adulta. Eu
sou mulher, adulta e nós nos apaixonamos.
— Você não pode se apaixonar, você tem vinte anos. —
Pensei que ele fosse desmaiar de tanto que a sua veia estava
inchada.
— Na minha idade você já era pai. — Falei mais baixo.
Blake, Marco e eu ficamos parados olhando meu pai
esbravejar que ele ia destruir minha vida, minha carreira, que era
uma distração e ele era um aproveitador de jovens meninas.
Entendia muito bem que meu pai poderia ficar desconfortável com
a diferença de idade, porque nenhum pai aceita bem que sua
filhinha está namorando, ainda mais um homem mais velho.
— Alex... Eu respeito a Rebecca. Estou apaixonado pela
sua filha e quero uma vida com ela. Ela estava insegura e com
medo de falar, nós não escondemos por maldade ou porque
estávamos fazendo algo errado. — Marco parou ao meu lado e meu
pai parou de gritar.
— Uma vida com ela? Você era meu amigo! É o chefe da
mãe dela!
Senti que meu pai não estava no seu estágio normal, ele
era obsessivo demais para aceitar outro homem e quando ele
avançou no Marco, chamando-o de traidor, me senti em um circo.
Marco se defendeu, mas não machucou meu pai. Tentei segurá-lo e
seu cotovelo acertou meu nariz, caí para trás e todos eles gritaram.
Levei minha mão ao nariz, doendo muito e estava todo molhado.
Minha mão ficou toda suja de sangue.
— O que você fez, Alex? — Blake gritou histérica.
Marco agarrou uma toalha decorativa que ficava na
mesinha da entrada e pressionou meu nariz. Estava um pouco tonta
de dor e meus pais gritando um com o outro não estava ajudando
em nada.
— Faz eles calarem a boca, por favor. — Gemi com o
rosto inteiro doendo.
— CALEM A BOCA! — Marco gritou e os dois o
olharam assustados. — Blake, pegue gelo, por favor. E Alex, meu
carro está na entrada, nós temos que levá-la ao hospital. Ela bateu
com a cabeça na parede. — Marco apontou alguma coisa atrás de
mim que fez meu pai ficar pálido.
— Está tudo bem... Só minha cabeça que dói, deve ser por
causa do nariz. Eu nunca mais vou tentar separar dois homens. —
Tentei brincar e meu pai caiu no choro. — Pai...
— Eu não queria te machucar, filha.
— Não chora agora, Alex. Pega o carro. — Marco o
cortou rispidamente. — Vai ficar tudo, meu amor.
Blake veio correndo com gelo, Marco pressionou no meu
nariz de um jeito doloroso e quando ele me ergueu do chão, senti
uma vertigem tão forte que apaguei. Abri os olhos de novo no
carro. Minha cabeça estava no colo da Blake e pelo jeito que o
carro sacudia, estávamos em alta velocidade.
— Ela abriu os olhos. Rebecca, fala com a mamãe.
— Oi, mãe. Quero vomitar. — Grunhi com minha boca
salivando. — Minha cabeça dói.
— Nós estamos chegando. — Meu pai disse de algum
lugar e o procurei.
— Papai? Amor?
— Oi, linda. Estou aqui na frente... Nós já estamos
chegando.
Senti uma mão me tocando e era do meu pai, Marco
deveria estar dirigindo. Quando o carro parou bruscamente, Blake
disse para meu pai ir na frente e Marco abriu a porta, me pegando
no colo com cuidado e eu vi as portas do hospital.
— Coloque-a aqui nessa maca. — Alguém falou. — Qual
o nome dela? O que aconteceu?
Blake relatou que ao tentar separar uma briga, ganhei uma
cotovelada no nariz e bati com a cabeça na quina de uma mesa. Ah,
por isso minha cabeça estava doendo na parte de trás. Fui
empurrada para uma sala sozinha, o médico estava me fazendo um
monte de perguntas aleatórias e me cutucando. Outra pessoa
entrou, ele pediu para colocar no suporte de medicação e me levar
para fazer um raio-x e uma tomografia.
Fiquei acordada o tempo todo ouvindo-os e de vez em
quando eles falavam comigo.
— O que aconteceu? — Karen parou do meu lado. — Eu
vi a tia lá embaixo e ela está chorando, como sempre.
— Papai me acertou com o cotovelo e caí contra a mesa.
— Hum... Certo. Apresentou o bonitão em casa? Porque
aquele cara lá é gostoso.
— Reparou na bunda dele?
Minha prima e eu rimos. Ela terminou de me examinar e
disse que iria ficar em um quarto enquanto esperava o resultado dos
exames. Seja lá a medicação que eles me deram, ela era milagrosa.
Minha roupa estava toda suja de sangue e uma enfermeira me
ajudou a trocar por um pijama hospitalar, voltando a deitar na cama
e um médico diferente entrou junto com minha prima para olhar
meu nariz.
— Seu raio-x mostra que não quebrou e não precisa de
pontos, rompeu alguns vasos no impacto e vai ficar dolorido e com
hematomas por uns bons dias. — Ele cutucou alguns lados e
apertei os dedos da Karen de dor. — Irei passar algumas
medicações. Seu narizinho vai voltar a ficar perfeito. — Tirou as
luvas e jogou no lixo. — Nunca me disse que sua prima era tão
linda, Karen.
Ele era bonito e eu ri, depois gargalhei.
— Ela está rindo à toa por causa da medicação. — Karen
explicou e voltei a deitar. — Vou liberar o pessoal para subir.
— Se meu pai for brigar com Marco de novo, por favor,
deixe-o de fora.
— Tia Blake parecia discutir com os dois. — Karen saiu e
fiquei preocupada.
Blake foi a primeira a entrar e perguntar como estava me
sentindo. Queria responder, mas foi como se ela ficasse cada vez
mais distante e deixei de lado. Quando acordasse, responderia todas
as perguntas e até enfrentaria a quarta guerra mundial, a terceira
quase quebrou meu nariz e me deu um passeio na máquina de
tomografia.
Rebecca.

— No dia do velório da Ruth, o John disse que nunca veria a


filha dele ser uma mulher bonita, bem-sucedida e vivendo a vida
para qual eles a criaram. — Ouvi a voz do meu pai e a mão dele
estava na minha. — Meu pai disse coisas horríveis para Rebecca e
eu pensei que tinha que mostrar a ela que tinha expectativas para
sua vida, que ela tinha muito para viver e muitas chances.
— Alex, amor. Você a fez sentir insuficiente e que as palavras
do seu pai eram verdadeiras. — Dessa vez era a Blake. — Você só
a provoca e tem expectativas enormes e ela só quer viver a vida
dela. Você sabia que Rebecca faz terapia?
Como ela sabia?
— O quê?
— A primeira vez que ouvi sobre isso foi em Ibiza quando ela
me perguntou se estava ouvindo seu terapeuta. Eu ri e fingi que era
brincadeira, mas ela faz. Eu usei o sistema da empresa para
verificar e ela paga em particular para não ser registrado no seu
seguro. — Blake contou ao meu pai.
Minha boca era meu pior inimigo com meus segredos.
— Não sei como reparar meu erro agora. Literalmente acertei
meu cotovelo no nariz da minha filha porque eu perdi a cabeça.
Pensar na Rebecca namorando e um homem de dez anos mais
velho dizendo que quer passar a vida com ela. A vida? Ela nem se
formou.
Ai, papai. Não tinha como ser mais dramático.
— Rebecca tanto pode passar a vida com ele como não pode.
Ela pode se apaixonar por outro amanhã e se mudar para o outro
lado do país. Nós a criamos para o mundo e não para viver grudada
nas nossas pernas. Alex, o que aconteceu com a Ruth foi uma
infelicidade, mas a Rebecca já está deprimida o suficiente. Deixa a
garota ser feliz.
Senti um beijo na minha mão e continuei fingindo que estava
dormindo até o assunto mudar. Minha cabeça estava doendo, abri
os olhos e meu pai estava olhando para janela, minha mãe sentada
ao meu lado digitando algo em seu telefone e sorriu ao me ver
acordada.
— Oi, amor. Como você está se sentindo?
— O que eu tenho? Cadê o Marco? Vocês o colocaram para
correr? — Olhei ao redor procurando meu namorado.
— Você tem uma concussão e vai passar a noite em
observação. Marco foi no seu apartamento buscar seus
documentos, roupas limpas e deixar água e comida para Leona. —
Blake segurou sua mão. — Ele insiste em passar a noite com você,
então, eu e seu pai voltaremos para te buscar amanhã.
— Eu não vou para casa. — Meu pai resmungou de braços
cruzados.
— Nós iremos. — Blake o olhou e meu pai bufou. — Você
está bem, foi um pequeno trauma e não apareceu nada nos seus
exames de imagens. Está com fome?
— Com mais sede do que fome. Meu nariz está doendo um
pouco...
— Vou chamar a enfermeira. — Blake saiu e meu pai sentou-
se na cadeira que ela estava beijando minha mão.
— Me perdoa, filha? Eu jamais te machucaria...
— É claro que sei disso, pai. — Acariciei seu rosto. — Sei
que nosso relacionamento não é dos melhores e nós temos muito
desacordos, mas eu te amo e confio cegamente que jamais me
machucaria intencionalmente, mas agredir meu namorado também
é uma forma de me machucar. Isso é falta de respeito com o Marco
que nunca te fez mal, nunca me fez mal, pelo contrário.
— Não vou dizer que estou feliz e aceitando esse
relacionamento, ainda não faz nenhum sentido entender que seu
primeiro namorado é um homem mais velho e o chefe da sua mãe.
— A expressão dele era puramente ciumenta.
— Você e a mamãe precisam ter um filho para dividir atenção
e Deus sabe como vou rezar para não ser uma menina... — Meu pai
sorriu.
— Por amar você e por todo desastre, eu vou tentar aceitar o
Marco como seu namorado. Mas ele precisa ser bom para você
porque não quero saber se ele é um SEAL todo malhado, bom de
luta e sabe como matar alguém. — Papai disse todo agitado e rir
fez meu rosto inteiro doer.
— Foi um ato de coragem avançar em um homem que poderia
quebrar seu pescoço em dois segundos.
— Ei! Eu faço luta todos os dias!
— Que bom ver que vocês não estão brigando e espero que
me economizem nos cabelos brancos. — Blake voltou para o
quarto com uma enfermeira e um médico.
Eles me examinaram mais uma vez, perguntaram se queria
vomitar novamente e nem lembrava que tinha feito isso quando
cheguei ao hospital. Eles me colocaram sentada e senti que podia
respirar melhor, fazia menos pressão no meu rosto e doía menos.
Uma batida suave na porta me fez virar o rosto e Marco apareceu,
sorri, me sentindo horrível, mas feliz em vê-lo.
— Oi, linda.
— Oi, lindo. Acho que não estou muito linda agora. — Ele me
deu um beijo longo nos lábios e me abraçou, beijando meu
pescoço. Meu pai fez um som de vômito, que me fez rir e olhar
para Blake que batia nele, mandando parar.
— Você está sempre linda. — Marco acariciou meu rosto.
— Agora vou vomitar de verdade. — Meu pai resmungou e ri.
— Trouxe minhas coisas? Quero tomar um banho, tem sangue
grudado no meu pescoço e entre meus seios.
Meus pais disseram que iam comprar alguma coisa para
comer devido a minha careta ao ver a sopa do hospital. Eles
disseram que eu podia comer algo leve, sem muito sal e gordura
junto com um sanduíche light, suco de laranja sem açúcar. Disse ao
meu pai uma série de itens que gostaria de comer para deixá-lo
ocupado, dar uma missão importante e até choraminguei como uma
criança só para sentir útil e não implicar que Marco me ajudaria no
chuveiro.
— Sinto muito por tudo isso. — Abracei Marco bem apertado.
— Seu pai teve uma reação exagerada e não vou negar que
estou muito puto que tenha se machucado. Na hora só conseguir
pensar em você, caso contrário, não acabaria bem.
— Meu pai nunca me machucaria fisicamente
intencionalmente, prometo.
— Eu sei, mas é foda te ver machucada. — Me deu um beijo
nos lábios.
Marco me ajudou no banho porque não conseguia abaixar ou
olhar para baixo. Ele deixou a Leona com a irmã dele, para não a
deixar a noite inteira sozinha em casa e disse que Nikki estava
chocada que ele tinha uma namorada – e andava com a cachorrinha
usando brilhos e saia de tule roxa. Ainda fez a mala dela sem
deixar nada de fora.
— Você é incrível, obrigada. Agora terei que conhecer sua
irmã, mas só quando estiver melhor. Não quero que sua mãe te
aconselhe a terminar comigo porque tenho uma família
disfuncional e louca.
— Contei a Nikki que era você e ela te segue, então, acho que
ninguém vai me aconselhar a nada. — Marco trouxe meu pijama
favorito, que ele zoava terrivelmente que a calça tinha um furo no
quadril e o casaco estava todo puído. Trouxe porque era meu
pijama de conforto, só mencionei uma única vez e ele esquece
noventa por cento das coisas que costumo falar, pelo menos prestou
atenção nas coisas mais importantes.
Meus pais voltaram, me assistiram comer e foram embora
quando a enfermeira disse que precisava descansar. Ela me deu
mais uma medicação e saiu, desejando boa noite e que poderia
chamar se precisasse.
— Deita aqui comigo.
— A cama é só para os pacientes.
— Mas eu não vou conseguir dormir sem você. — Fiz um
ligeiro beicinho e Marco abaixou a proteção, se deitando ao meu
lado com cuidado e beijou minha cabeça. Ele começou a fazer o
cafuné que amava e não demorou muito para adormecer.
Levou cerca de duas semanas para o meu nariz desinchar, os
hematomas mudaram de cor e estavam amarelados, o que era
facilmente coberto com maquiagem. Minha cabeça deixou de doer
alguns dias depois que saí do hospital, fiquei em casa de atestado
por uma semana. E em seguida voltei para minha rotina de ir para
faculdade todos os dias, trabalhar no jornal e estudar, porque tinha
uma gama de provas e trabalhos para me preparar.
Meu avaliador atrasou na entrega do primeiro livro e acabei
enviando um monte, assim poderia me dar uma avaliação geral dos
meus erros. Ele me enviou um longo e-mail, que sem coragem para
ler no jornal, arquivei para ler em casa. Meu pai estava me dando
um tempo, sem mais e-mails, mensagens me cobrando coisas,
apenas perguntando se estava bem e fingia que Marco não existia.
Domingo será o primeiro almoço de família que Marco estará
presente e eu esperava que meu pai se comportasse. Sábado iria
conhecer a família dele e estava completamente nervosa sobre isso.
Era a primeira sogra e cunhada que conheceria na vida.
Marco falava da mãe e da irmã com paixão e a opinião
delas era importante, li um estudo que quando parte da família não
se dá bem com o cônjuge, o relacionamento tem setenta por cento
de chance de não dar certo.
Já bastava meu pai sendo uns cinquentas por cento.
Cheguei em casa, meu cabelo estava todo embolado da
ventania do lado de fora e ia chover bastante. Liguei meu
computador na mesa da sala para trabalhar um pouco quando o
interfone tocou.
— A Srta. Rachel Murphy está aqui para vê-la.
O que a Rachel queria comigo?
— Sim, pode deixar subir. Explique como chegar aqui, por
favor.
Minhas mãos ficaram suadas ao saber que a irmã da Ruth
estava subindo. Nós quase não nos falávamos mais e me afastei
completamente da família Murphy, incapaz de encará-los depois
que a Ruth disse todas aquelas coisas na carta e eles me culparam
por nunca ter feito nada.
Abri a porta segurando a Leona no colo e não demorou para
Rachel sair. Sorri surpresa ao vê-la tão grande. E estava muito
linda.
— Oi, Becca! — Rachel me abraçou com a Leona no meio.
— Que saudade de você!
— Você cresceu tanto!
— Já tenho quinze anos! Não sou mais um bebê.
— Sempre será um bebê. — Apertei seu nariz. — O que faz
aqui?
— Sua mãe me deu seu endereço, eu fui lá e nós tomamos um
café juntas. Ela me disse que você morava sozinha agora, como
ficou tarde ontem, vim hoje. — Rachel entrou sem um convite
formal e tirou sua bolsa do ombro. — Apartamento legal. É uma
cobertura, certo? — Andou até a minha parede de fotografias e
apontou para a fileira que tinha todas as minhas fotografias com
Marco. — Divide com seu namorado?
— Rach... O que você quer?
Esperava que não fosse me fazer sentir ainda pior por viver
minha vida, ter seguido em frente sem a irmã dela.
— Estava esperando ser socialmente educado vir cobrar meu
convite para sua festa de aniversário de vinte e um. Sei que meus
pais foram cruéis com você, eles estavam errados e não tinham o
direito de te culpar pela escolha que a Ruth fez. Ela estava sofrendo
e quis acabar com a dor. — Rachel voltou na minha direção.
— Eu não vou fazer uma festa. Talvez vá jantar com minha
família, mas, não vai ser uma festa. E é claro que você pode vir
conosco...
— Como não vai fazer uma festa? Você tem que fazer uma!
— Rachel...
— Não vem com Rachel como se eu fosse louca por te cobrar
uma festa quando na verdade, você tem que fazer. — Ela gritou
comigo e recuei contra a porta. — Cresci ouvindo você e minha
irmã planejarem a festa de vinte e um. Eu sentava e ouvia os planos
da noite no qual vocês finalmente seriam adultas e poderiam viver
suas vidas. Ruth tinha uma planilha pendurada na parede do seu
quarto e todo mês vocês faziam a droga da lista de convidados!
Como você não pode fazer uma festa?
— Justamente por isso! Eu não posso fazer uma festa de
aniversário sem sua irmã, não a de vinte e um. Eu não posso fazer,
Rachel!
— É claro que pode! Por que todo mundo continua agindo
como se nós tivéssemos morrido com ela? Caramba, eu sinto falta
da minha irmã todos os dias. Eu sinto sua falta todos os dias, mas
eu estou viva! — Rachel começou a chorar. — Você está viva e
isso é bom. Não é nossa culpa estarmos vivos. Meus pais agem
como se a vida tivesse acabado e ela não acabou, a da Ruth sim,
mas a nossa não. Você deve a ela uma festa de aniversário, porque
você está viva e está feliz! — apontou para a parede das minhas
fotografias com o Marco. — É isso que você tem que fazer. Viver,
namorar, ter um belo apartamento e construir uma vida feliz. Isso
não significa que a minha irmã será esquecida.
— Quando você ficou tão madura?
— Não é maturidade escolher viver. É isso que a gente tem
que fazer... E aí, você vai continuar agindo que completar vinte e
um anos vai ser uma traição à memória da minha irmã ou fará uma
festa?
— Por que veio aqui hoje?
— Eu vi o vídeo.
Soltei Leona no chão.
— O seu vídeo cantando a música favorita da Ruth e eu te
conheço, como não recebi o convite, soube que não faria a festa. —
Rachel se jogou no meu sofá. — Parece que a minha missão de
vida é lembrar as pessoas ao meu redor que é importante viver. A
mamãe mal sai da cama e o papai só sabe beber. Você não pode ser
mais uma, Rebecca. Você sempre foi a mais forte de todas.
— Talvez não seja tão forte assim.
— Faça a festa. Eu tenho que ir embora, minha mãe tem que
comer e se eu não fizer o jantar, ninguém o fará. — Rachel ficou de
pé e foi até sua bolsa. — Me manda o convite, meu número de
telefone ainda é o mesmo. — E saiu andando.
— Espera, Rachel!
Quando cheguei a porta, ela já estava em frente ao elevador.
— Eu vou fazer a festa. — Anunciei da minha porta. Ela
sorriu com seu jeitinho de menina.
— Obrigada.
Voltei para casa quando ela desceu e me joguei no sofá com
Leona deitada em cima de mim. Fiquei distraída, pensando na
Ruth, em todos os nossos planos e ri sozinha lembrando das
loucuras que prometemos fazer em nossa festa de aniversário e
com isso eu decidi que não seria uma simples festa. Seria a maior e
melhor festa de aniversário do mundo porque eu estava viva.
Ruth escreveu em sua carta de despedida que queria que eu
fosse com ela, para não se sentir sozinha na morte e seus pais me
acusaram de apoiá-la naquela atitude quando eu sequer sabia o que
estava acontecendo. Ela estava triste naquelas semanas, nós
brigamos por algum motivo bobo que não lembrava mais e fizemos
as pazes. Prometi a ela que nada mudaria entre nós e fui visitar
minha avó. Minha última mensagem para ela foi exatamente
“Nada vai mudar”. Ela visualizou e não respondeu.
E tudo mudou.
Eu a amava muito, mas amava ainda viver e não queria mais
sentir culpa de estar viva. Não queria mais o sentimento que era
egoísmo da minha parte ter sobrevivido ao caos.
Leona ergueu as orelhas e saltou do meu colo, correndo para a
porta e só depois ouvi o barulho da fechadura digital. Marco abriu a
porta, abaixou para pegá-la no colo, que gritava e gania feito uma
desesperada. Rindo, apoiou sua pasta na mesa, fechou a porta e
andou até a mim. Ergui minha cabeça para ele sentar no espaço e
deitei sobre ele, segurando seu rosto e beijando.
— Chegar e encontrar duas meninas desesperadas por mim,
que maravilha.
— Como foi seu dia?
— Melhor agora e o seu? — Leona estava mastigando
colarinho dele com as patas apoiadas na minha testa.
— Vou fazer uma festa para comemorar meus vinte e um
anos.
— Tudo bem. Quer viajar para Napa comigo? Pensei em
termos uma comemoração privada por um final de semana. —
Havia tantas promessas no seu olhar que até fiquei emocionada.
— Eu adoraria.
— Por que decidiu comemorar? Estava certo de que sairíamos
com sua família para jantar.
— Eu mereço comemorar. Estou viva.
Marco se inclinou e me beijou.
— Esse é o melhor motivo do mundo para comemorar. Até
acho que devemos começar hoje, o que acha? Vamos sair para
jantar enquanto ainda está cedo. Eu vou trocar de camisa, essa aqui
a Leona já fez o favor de babar. — Saiu do sofá e foi para escada.
Meu armário estava cheio de roupas dele, lentamente, suas coisas
começaram a ficar espalhadas pela minha casa.
Suas bebidas favoritas no bar, vinhos na adega – ganhei de
presente e nunca usei até ele chegar. Sapatos no meu closet, uma
gaveta de cuecas que comprei, camisas que vão lavar, voltam
passadas e arrumei no meu armário. Aos pouquinhos ele está
ficando e esperava que ficasse para sempre sem um convite formal.
Que ele simplesmente ficasse comigo porque me fazia feliz e
eu o amava.
— Meu dia também fica melhor quando você chega. — disse
quando ele já estava na escada. Me deu um sorriso e foi subindo.
Definitivamente o amava muito.
Por favor, fique comigo.
Marco.

— Estou feliz que você trouxe o Marco para nossa sessão


hoje, Rebecca. Seja bem-vindo. — A terapeuta da Rebecca me deu
um aperto firme na mão e apontou para o sofá.
— Eu disse a ele que hoje ele podia ouvir o que tenho a dizer.
— Rebecca sentou-se ao meu lado e segurou minha mão.
Ela acordou nervosa, estava ainda mais desastrada que era
normalmente e quando quebrou o vidro do seu perfume, soube que
era ansiedade por estar na sua sessão de terapia. Quando me
convidou, porque fazia parte de um exercício se estivesse
confortável, me senti honrado.
— E qual a novidade da semana? — A Dra. Jones perguntou
com calma.
— Descobri que eu amo viver. — Rebecca soltou como se
segurasse uma bomba. — Acho que estou entendendo os diferentes
sentimentos. Tudo que meu avô me disse foi por causa de um
tumor, mas me machucou e não consegui esquecer. Não esqueci o
coração dele parando de bater enquanto tentava fazer uma errada
massagem cardíaca. Eu sei que todo mundo diz que não era minha
culpa, mas me culpei mesmo assim. — Rebecca apertou meus
dedos. — Quando os pais da minha mãe biológica ainda estavam
vivos, eles diziam que ela morreu porque eu nasci.
— E nós já entendemos que a sua mãe tinha uma condição
médica não tratada, por isso ela faleceu horas após o parto.
— Eu sei, mas eu absorvi e me machucou. Todas essas coisas
me machucaram muito e acho que é por isso que não me importava
com que diziam de mim na escola. Acho que estava blindada ou
machucada demais para me importar com que eles diziam. — Ela
inclinou-se para frente. — Nem consigo lembrar o que diziam e por
não me importar, me deixaram de lado. O que não foi a mesma
coisa com a Ruth. Ela chorava e se escondia no banheiro, eu tinha
que suborná-la com sorvete para sair da cabine e ir embora comigo.
Depois o sorvete parou de funcionar...
— Então você está me dizendo que seus problemas familiares
bloqueou os problemas da escola?
— Para falar a verdade, nunca me senti feia. Eles diziam que
eu era magra, cabeçuda e dentuça. Quando me olhava no espelho,
gostava do que via e não me sentia mal por gostar de mim. Eu me
sentia um descuido, um acidente da natureza, mas de outras formas,
não com meu corpo. Não com a minha aparência. — Rebecca
parou e queria dizer que ela era a mulher mais linda do mundo
inteiro. — Eu era dentuça sim e meus pais descobriram que eu
tinha um problema sério no maxilar que fazia meus dentes
crescerem para frente. Começou a doer muito porque estava
pressionando alguma coisa na minha boca e fui operada.
— E onde você achava que era um descuido ou um acidente
da natureza?
— Na vida de modo geral, em nunca ser boa o suficiente e
meus pais me colocaram em tantas atividades que eu passava mal
só de pensar em falhar em uma delas. Queria ser a melhor para que
eles nunca pensassem que era um descuido.
— E agora você descobriu que ama viver?
— Não quero sentir culpa por estar viva. — Rebecca me
olhou. — Por estar feliz e apaixonada. Não quero sentir culpa
mais... Eu só quero sentir que mereço tudo que tenho. Vou fazer
vinte e um... Ruth e eu planejamos essa festa feito loucas. Muito
mais do que nossas festas de debutantes. Não ia fazer nada por
causa dela, mas, não é justo ela dizer que queria que eu morresse
também. Eu não quero morrer. — Rebecca começou a chorar e
passei meu braço pelo seu ombro.
— Não existe absolutamente nada errado em amar si mesmo,
em amar a vida e querer vivê-la. Ruth estava doente, precisava de
uma ajuda profissional e você não poderia curá-la. Foi egoísmo e já
discutimos a obsessão dela por você. — Rebecca ergueu o rosto.
— Não fala assim dela... As pessoas a machucaram muito.
A terapeuta estava cutucando as feridas da Rebecca para
obter uma reação.
— Sim, mas ela não tinha o direito de desejar que a sua vida
acabasse porque ela estava infeliz. Por que vocês brigaram?
— Eu não consigo lembrar. — Rebecca choramingou. —
Quero lembrar para entender as últimas semanas com ela, mas não
consigo. Eu ainda tenho as conversas salvas, mas a gente falava
muito por telefone e não por mensagem, então o que tem lá não é
de muita ajuda.
— Estou feliz em ouvir esse avanço. Você não é um descuido
e muito menos um acidente da natureza. Quando você entrou aqui,
tudo que conseguia dizer era “por que não eu?”. Você tem pessoas
que te amam muito, nós sempre falamos isso, mas no final, a única
pessoa que importa se te ama ou não é você mesma. O amor-
próprio fortalece as dificuldades da vida. — A Dra. Jones sorriu. —
E você conseguiu dizer tudo isso na frente da pessoa que você
ama.
— E se eu for um desastre, amo ser quem sou. — Rebecca
sorriu com os olhos marejados e me olhou. — E eu te amo.
— Eu te amo, Rebecca. Você é o acidente da natureza mais
lindo do mundo. — Beijei a pontinha do seu nariz enquanto ela ria
e por fim seus lábios. — Eu te amo.
Nós saímos da sua sessão e ela parecia pensativa, embora
mais leve. Nós fomos ao shopping porque ela cismou de comprar
um presente para minha mãe, não queria chegar de mãos vazias na
primeira vez por lá. Eu avisei que era desnecessário, ela leu em
algum lugar que era bom dar flores às sogras e apenas ri da sua
bobeira.
— Quero trocar de telefone... O meu está todo quebrado e
arranhado.
— Ele ficaria menos se parasse de cair.
— Já tem três meses que ele não cai no chão. — Rebecca se
defendeu e vi o pedaço da tela faltando. — É sério. O pedacinho
que caiu esses dias foi a rachadura da última vez que caiu. Está me
dando choque, vou ter que comprar outro. E você deveria atualizar
o seu, já saíram dois depois desse.
— Eu sei, mas ele ainda funciona.
— Por favor, troca comigo. Eu vou me sentir tão mal se for
um investimento de casal e não porque fodi um Iphone XR por ser
relaxada.
— Tudo bem, mas se você quebrar o telefone novo, nem sei o
que faço.
— Obrigada. — Me deu um beijo e foi saltitante para dentro
da loja da Apple.
O vendedor primeiro deu uma boa olhada nas pernas da
Rebecca antes de atendê-la. Não podia culpá-lo por olhar, ela
estava particularmente gostosa com aquele short jeans, usando
botas de cano curto de salto, uma camisetinha branca que dava para
ver o sutiã de renda por baixo e uma jaqueta militar que roubou das
minhas coisas. Gostava do jeito que ela se vestia, dizia muito sobre
sua personalidade. Eu adorava ver suas pernas.
Enquanto ela falava sobre o telefone com o vendedor, olhei os
notebooks. Precisava de um computador para uso particular, salvar
fotos, acessar a internet enquanto estava em casa. Como estava
indo embora todas as noites porque tinha alguém me esperando em
casa – às vezes era só a Leona, mas tudo bem, estava deixando de
usar o computador da empresa para lazer. Apesar da empresa ser
minha, gostava de separar o que era pessoal do profissional.
Não ia colocar minhas fotos com a Rebecca no computador da
empresa. E como ela gostava de tirar fotos nossas, guardava no
telefone, em pouco tempo estará cheio. Transferi para nuvem, mas
era bom ter um computador. O da Rebecca ainda era o mesmo que
usava desde a adolescência, por incrível que pareça, estava
conservado. Não sei como ela não conseguiu derrubá-lo.
Percebi que o vendedor estava dando em cima dela
descaradamente e como entramos separados na loja, ele sequer se
deu conta que ela estava acompanhada.
— Amor? Vem escolher a cor do seu.
Se ele pudesse cavar um buraco, cavaria na hora. Não ri
porque tive a idade dele e não podia ver uma garota bonita.
Felizmente, aquela garota bonita era minha.
— Vamos levar dois notebooks daquele modelo. — Apontei
para o garoto que provavelmente era um universitário trabalhando
meio período na loja. Ele disse que ia buscar no estoque enquanto
ela me falava sobre os aparelhos. Já os conhecia, porque DeLucca
era outro me enchendo o saco para trocar meu aparelho e atualizar
o aplicativo da empresa.
Saímos da loja com nossas compras e ela já estava mexendo
no seu aparelho, ligando, conectando as contas e transferindo o que
podia enquanto andava pelo shopping. Entramos na floricultura,
compramos um buquê de flores mistas e fomos na loja de doces
comprar uma torta de morango para a sobremesa.
No carro, ela não parava de falar.
— Será que tenho que ir em casa trocar de roupa? Talvez sua
mãe não devesse me conhecer vestida assim...
— Relaxa.
— Talvez eu devesse prender o cabelo, vai me dar um ar de
sobriedade.
— Relaxa.
— E minha maquiagem?
— Relaxa.
— Se você falar relaxa de novo, eu vou te bater.
Parei no sinal e a olhei.
— Relaxa.
Rebecca fez um beicinho, murchou no banco e então decidiu
configurar o meu telefone, olhando as fotos na galeria.
— Essa mulher pelada aqui não sou eu.
— Não mesmo. — Comentei prestando atenção no trânsito e
ganhei um beliscão doloroso na costela. — Eu tenho um grupo com
amigos da Marinha e eles vivem para ser uns pervertidos. Fazer o
quê se eles não têm uma namorada gostosa como a minha?
— Hum... Caramba. Eu te mando muita foto nua. — Soltei
uma risada. Então ela clicou nos vídeos. — Ah... Você ainda tem
gravado. — Era um vídeo íntimo nosso. Ela queria ver como era e
eu gravei, ela estava deitada de bruços com sua bunda perfeita
empinada, meu pau entrando e saindo. — Ah...
— Rebecca, não posso chegar na casa da minha mãe de pau
duro e agora estou lembrando exatamente desse dia.
— Sinto muito, mas nossa, somos bons juntos.
— Tira a porra do vídeo. — Reclamei e ela só colocou a mão
em cima do meu pau, dando um aperto de leve. — Você é má.
Finalmente sossegou e mexeu em tudo, instalando e
atualizando aplicativos. O da empresa só poderia colocar quando
retornasse ao trabalho, então, ela deixou o outro ligado caso
precisasse acessar. Cheguei à casa da minha mãe e ela enfiou as
unhas na minha perna. Estacionei na garagem e saí, pegando as
flores e a torta.
— Você chegou, bambino! — Minha mãe gritou na porta, me
abraçando. Minha família era italiana de raiz, barulhenta e
numerosa. Não só a minha mãe estava como todas as minhas tias,
tios, primos e alguns vizinhos que eram basicamente da família.
Rebecca me deu um olhar assustado.
— Flores para senhora e a uma torta para sobremesa.
— Deixa de bobagem, vocês são família. Deixe-me ver sua
menina... — Se afastou e puxou Rebecca para um abraço. — Bem-
vinda a família! Marco chegou com a namorada! Ela é linda. —
Gritou da porta ainda esmagando Rebecca em um abraço.
— Mãe! Ela precisa respirar. — Puxei Rebecca para mim e as
duas riram.
— Vamos entrar! Tem muita comida e a adega está aberta!
Preparei o quarto para dormir caso bebam muito!
Dentro de casa estava lotado e quase não tinha lugar para
ficar. Demorei quase uma hora apresentando Rebecca a família.
Sabia que ela não ia lembrar o nome da metade, nem eu lembrava
direito, então não podia culpá-la. Quando chegamos a cozinha,
minhas tias estavam mexendo caldeirões com molhos diversos,
havia massa espalhada no balcão e meu tio cortando o linguine.
Meu primo fazia pizza e minha irmã estava comendo os recheios
das pizzas, me viu e abriu um sorrisão.
— Tem manjericão no seu dente. — Abracei a Nicole. —
Essa é a Rebecca!
— Estou feliz em te conhecer! — Nicole abraçou a Rebecca.
— Seja bem-vinda e por favor, não saia correndo porque a família
é numerosa e intrometida.
— Eu não vou sair correndo. — Rebecca garantiu.
Minha mãe a pegou para ensinar a fazer refogado, sem saber
que Rebecca mal sabia ligar o fogão da sua casa. Ela prendeu o
cabelo e lavou as mãos, mordendo os lábios concentrada no que
minha tia explicava. Nicole se sentou ao meu lado depois de trazer
duas taças de vinho, dar uma a Rebecca e me oferecer a outra.
Fiquei observando Rebecca gritar quando o bacon estourou na
grande frigideira, todo mundo riu, inclusive ela, mas se concentrou
em jogar as cebolas. Ela amou a sensação de enfiar a mão na
massa. O olhar dela descobrindo a textura foi o melhor de todos.
Na pontinha do seu nariz tinha farinha e na bochecha molho,
porque ela não conseguia não se sujar. Em pouco tempo estava sem
jaqueta, usando um chinelo da minha irmã e enrolada no avental da
minha mãe.
— Você quer um babador? — Nicole passou mão no meu
queixo. — Ela existe mesmo? Porque a garota é mão furada,
desastrada e muito engraçada.
— Você não a viu tentando fritar ovos. Ela grita a cada
estouro.
— Está aí algo que pensei que nunca veria, meu irmão mais
velho apaixonado... Então se eu arrumar um namorado mais velho,
você não vai brigar comigo?
— Se ele te respeitar, amar e planejar uma vida ao seu lado,
eu irei aprovar sim.
— Hum... Planejar a vida ao lado?
— Cala a boca. — Bati meu ombro de leve no seu.
Eric DeLucca e Lexie chegaram, a família fez arrulhos e
Nicole uma careta. Lexie e Rebecca se abraçaram, felizes no
reencontro.
— Ela tinha que ter um defeito. — Nicole suspirou do meu
lado e a olhei severamente. — Tudo bem, desculpa. Não é defeito
gostar da linda e perfeita Lexie.
— Você precisa superar isso. Lexie é uma boa pessoa e ela
definitivamente não tem nada a ver com tudo isso.
— Eu vou. Um dia. — Nicole saiu de perto quando DeLucca
veio falar conosco. Ele suspirou, triste e Lexie desviou o olhar, sem
graça. Nicole fazia questão de ser desagradável quando os únicos
culpados eram ela e DeLucca.
Por crescermos todos juntos, os dois eram próximos, porque
são os mais novos. Lucca e eu tínhamos a mesma idade, Eric tinha
vinte e seis e Nicole tinha vinte e dois. Os dois eram grudados, Eric
era apaixonado por Nicole e ela por ele, mas ambos não falavam
sobre isso e não deram um passo à frente. Eles se correspondiam
por carta quando ele estava na Marinha e em todas as licenças, Eric
vinha para casa.
Nicole tinha muitas esperanças de que eles ficassem juntos em
algum momento. Quando vim para casa acidentado e Lucca havia
morrido, Eric se recuperou rápido e voltou, sem passar pelo
período de luto em casa. Quando retornou há dois anos, ele estava
casado com a Lexie. Eu voei até a Itália para o casamento deles,
estava lá por ele porque Lucca era seu irmão mais velho e não
podia estar.
Minha irmã sofreu e se afastou, mas Eric disse que Nicole
nunca dava entender que realmente queria algo mais e ele se
apaixonou por outra mulher. Lexie sabia de toda a história e resistia
calada as besteiras quando não tinha nada a ver com a não atitude
dos dois. Ela nem era do tipo insegura e incentivava que Eric
reconquistar a amizade da Nicole, porque os dois eram melhores
amigos e com toda certeza sentiam falta do outro.
Quando toda comida ficou pronta, foi alinhada e servida na
mesa que minha mãe mandou fazer do lado de fora. Cabiam
cinquenta pessoas sentadas. Tinha muita coisa espalhada, muito
vinho e quando Rebecca se sentou ao meu lado, beijei sua boca e
ela estava morrendo de fome. Queria comer tudo. Não demorou
muito para estar rindo e brincando, fez amizade com minhas primas
que eram as pessoas mais impacientes do planeta.
— Nunca mais vou comer tanto assim. — Rebecca gemeu do
meu lado e ainda faltavam as sobremesas.
No quintal nós nos espalhamos, a música estava tocando e
servi gelatto em uma taça para Rebecca. Ela enfiou uma colher na
boca e me deu um beijo, com gostinho doce e todo mundo
começou a gritar porque eles nunca me viram com uma mulher.
Antes era reservado demais para apresentar em casa, fiquei um
pouco louco após a Marinha e com a Andrea não teve tempo de
aparecer em casa.
— Vocês querem sair para dançar mais tarde? — Lexie
chegou perto bem animada.
— Eu quero! Vamos? — Rebecca comeu uma dose extra de
carboidratos e estava com energia de sobra. Concordei porque nós
nunca saímos em casal com outras pessoas.
Minha mãe ficou chateada que fomos embora no meio da
tarde, mas entendeu que queríamos sair. Rebecca abriu o short
porque tinha comido muito, gemendo e dizendo que nunca mais ia
comer sabia que era mentira. Ela comia o tempo todo. Ao chegar
em casa, foi tomar banho alegre por ter conhecido minha família e
ter sido tão bem recebida.
Entrei no chuveiro só para adiantar o banho e ela deitou para
dormir um pouco. DeLucca fez reservas em uma churrascaria e
alugou um camarote em uma boate para que as meninas tivessem
onde sentar, como ele conhecia o dono, Rebecca poderia entrar sem
ter que usar sua odiosa identidade falsa.
— Você precisa acordar! — Cutuquei-a na cama e ela gemeu,
saindo da cama com fogo para sair.
Continuei na cama com a Leona, ela estava roendo um
ossinho falso e Rebecca vestiu um total de trinta e quatro vestidos,
um mais sexy e mais bonito que o outro até que decidiu por uma
cinza, com flores rosas, um decote em V com um amarradinho na
cintura que eu queria puxar. Escovou os cabelos, se maquiou e
calçou uma sandália bem alta. As pernas dela ficaram ainda mais
incríveis.
Me arrumei em dez minutos, saímos de casa e a pessoa
que disse que nunca mais iria comer na vida, se acabou de comer
na churrascaria porque ela amava. Chegamos na boate pouco antes
de meia noite, ela e Lexie correram para pista de dança e lá ficaram
por bastante tempo.
Assistir Rebecca ser feliz me deixava em paz, depois de
ouvir que finalmente estava aceitando que merecia viver, queria vê-
la aproveitando cada segundo da vida merecida que tinha por que a
amava muito.
Rebecca.

Blake estava com uma prancheta nas mãos, andando pelo


quintal e avaliando com a organizadora se estava tudo certo. A
estrutura parecia perfeita. Quinhentos convidados, metade da lista
eu não conhecia porque a minha avó famosa e a família do Marco
preencheram o restante.
Meus pais convidaram um monte de gente, os nomes que
escrevi completaram cinquenta linhas da lista, portanto, havia
muito o que dar conta. Meus pais não economizaram um centavo
nessa festa ambos ficaram enlouquecidos e descontrolados com a
minha vontade de comemorar.
E porque meus pais eram descompensados e precisavam de
terapia com urgência.
— Caramba, seu RSVP está uma loucura hoje. — Karen
parou do meu lado com uma prancheta também e nós alinhamos
nossas informações. Marcamos o que estava pronto e confirmado.
— Todos os garçons já chegaram, as bebidas estão gelando, o
buffet já está na cozinha e parece que está na hora da senhorita ir
para o salão fazer o cabelo com a Tia Blake.
— E você? Eu fiz reserva para todas nós, minha sogra e minha
cunhada.
— Eu tenho que passar no hospital ou não poderei aproveitar
a noite. Vou fazer meu cabelo quando voltar, vá e aproveite. E
controle a Lisa, quando ela está com a Tia Blake quer gastar o
mundo.
— Eu não vou controlar ninguém. — Sorri e peguei a chave
do meu carro, desci a escada e gritei pela minha mãe.
— Estou saindo com a mamãe, o Marco vai chegar antes de
mim e é melhor que você o trate muito bem. — Ameacei meu pai e
ele riu.
— Aquele homem está morando com a minha filhinha,
tocando o meu bebê e eu tenho que tratá-lo bem? — Ele parou de
digitar
— Seu bebê atingiu a maioridade ontem a noite, portanto,
trate meu namorado e novo colega de quarto muito bem. —
Encostei na soleira da porta.
— Sempre será meu bebê mesmo que aquele idiota esteja
morando com você agora.
— Nós não dissemos oficialmente se moramos juntos ou não,
porque não precisamos disso. Deixa de ser implicante, é meu
aniversário e todos os meus desejos devem ser realizados.
Inclusive, um pouco de harmonia faz parte.
— Estou pronta! Vamos! — Blake desceu a escada agitada.
— Marco vai chegar antes da gente e comporte-se. — Meu pai
apenas ergueu as mãos em rendição. Tirei meu carro da garagem
com minha mãe falando da festa. — Querida, se você se casar com
o Marco teremos que alugar algum lugar que caiba mais pessoas. A
sua sogra convidou duzentas pessoas. E disse que foram só os
chegados...
— Eles são italianos, mãe. Ela foi a única a ter dois filhos, as
irmãs dela cada um tiveram cinco ou seis. E os filhos tiveram tanto
quanto, ou seja, a família dele se prolifera com facilidade... —
Comentei dirigindo e Blake me olhou preocupada. — Sim, estou
tomando pílula e nós já falamos sobre filhos, mas não agora, mãe.
Pelo amor de Deus, eu nem sei fritar um ovo. Marco é a única
pessoa que sabe fazer comida e limpar a casa, ele vai ter que ficar
com as crianças e eu trabalhando.
— Você vai aprender a fazer comida e cuidar dos filhos, mas
isso não quer dizer que ele não tenha que dividir a tarefa com você.
E é bom falarem sobre isso, tenha filhos quando quiser, estou
dizendo isso como mulher porque eu esperei você estar mais velha,
estar mais estruturada no trabalho e até ganhando tanto quanto seu
pai para engravidar, passei dos trinta e não tinha mais produção de
folículos para engravidar... Cada tentativa foi um fracasso, então,
tenha filhos quando quiser. — Olhei de esguelha para Blake ciente
que ainda sofria por não ter mais filhos. — Como mãe eu vou te
matar se engravidar antes de terminar a faculdade.
— Obrigada pelo conselho... Você e o papai poderiam adotar.
Tem muitas crianças precisando de um lar e adorariam ter o
sobrenome Silverstone. Ou uma barriga de aluguel, lembro que
vocês me contaram que congelaram seus óvulos bons quando eu
era criança e o papai ainda tem idade reprodutiva. — Parei em um
sinal e olhei meu telefone rapidamente e Marco avisou que estava
terminando com meu presente. Nós iremos para Napa no próximo
final de semana e pensei que esse fosse meu presente. — Então?
— Será que estou velha demais para aguentar uma criança
pequena? Talvez deva me preparar psicologicamente para ser avó?
— Mãe! Não vai sair uma criança daqui, mas eu gostaria de
ter um irmão. Não é tarde demais! Dá para pensar no assunto?
— Um bebê vinte e um anos depois? Você só pode estar
louca.
— Então, adote.
— Seu pai tem falado a mesma coisa comigo, estão
combinando?
— Pedi para ele quando estava com a cabeça fodida no leito
do hospital e ele deve ter percebido que ter um filho só é muito
chato. — Estacionei em frente ao salão. Nicole e Alma, irmã e mãe
do Marco já estavam no salão com minha tia e a Lisa. — A mãe do
Marco ama abraçar e ela fala por trinta pessoas. Mãe... Eu preciso
que você fique de ponte entre a família barulhenta do Marco e a
coisa refinada da família da Vovó. E por favor, faça com que todos
se sintam bem-vindos. Sou muito bem tratada na casa deles e eu
amo o Marco, a família é importante e quero que todos sejam
felizes.
— Rebecca, minha filha! Fica calma! — Blake segurou minha
mão. — Vai dar tudo certo! Agora vamos ser mimadas.
Passar o dia no salão com uma mulherada com um falatório
me deixou com um pouco de dor de cabeça, mas, foi divertido. Fiz
meus cabelos, as unhas, me depilei e ainda ganhei uma massagem
espetacular para ficar relaxada. Meu cabelo estava solto em ondas,
primeiro ele ficaria todo solto com o vestido preto e o creme usaria
algumas partes presas com umas presilhas que minha avó me deu
de presente alguns anos atrás.
Estava escurecendo quando saímos do salão prontas para meu
aniversário. Meu pai estava histérico que a casa estava lotada, a
imprensa estava do lado de fora e quando parei o carro, fiquei
travada no volante.
Blake precisou entrar para acalmar meu pai. Todas as
mulheres entraram e eu fiquei aguardando a imprensa dissipar para
poder sair. Eles não paravam de avançar, de me fotografar,
querendo pegar um vislumbre da neta da Catherine Silverstone que
estava completando vinte e um com uma festa lotada de atores
famosos.
Respirei aliviada quando Marco atravessou a multidão para
me resgatar e com alegria, sai do carro segurando-o pelo braço e
andamos pela entrada, sorri discretamente para a imprensa, meio
envergonhada e aquilo era para a minha avó ficar aturando.
Alguém gritou que estava linda e fiquei vermelha, rindo. Meu
vestido era preto, até os joelhos, com dois lascados até quase a
virilha, transparente na cintura e um decote profundo quase ao
umbigo. Minhas sandálias era plataforma na frente e salto
quadrado, também escuras e de cetim.
O quintal dos meus pais estava lotado. Havia uma grande
massa dançando na pista de dança e um DJ famoso muito
empolgado. Fotógrafos, garçons e seguranças circulando entre os
muitos convidados espalhados pelas mesas, de pé, servindo-se no
buffet ou nos bares. Havia artistas de circo pendurados em lençóis
fazendo acrobacias, homens cuspindo fogo, malabaristas,
dançarinas exóticas em alguns pontos e luzes coloridas.
Demorei uma hora para passar apenas em uma parte da festa.
Era muita gente querendo falar comigo, tirar fotos e reencontrei
alguns colegas legais da escola – porque os convidei. Meus colegas
da universidade estavam e eu fiquei muito feliz por vê-los,
principalmente os do jornal, até me sentei com eles e dancei. Marco
estava sempre por perto, aparecia e sumia, de alguma forma, sabia
que ele nunca me perdia de vista.
A única coisa que ele e meu pai concordaram nesta festa era
que a Moretti Security fosse responsável por todo esquema de
segurança. Marco passou uma semana treinando seus homens no
quintal da casa dos meus pais e o meu próprio pai participou dos
treinamentos, para entender como deveria funcionar as saídas de
emergência, os sinais de alarme e onde ficariam os extintores de
incêndio.
Havia uma enfermaria e quatro bombeiros particulares
contratados, assim como dois paramédicos amigos da minha prima
porque era norma do corpo de bombeiros em uma festa com tantas
pessoas.
— Mãe! Pai! — Gritei tentando passar pelas pessoas e sorri,
agarrando o braço da minha mãe e ela virou, alegrinha e meu pai já
estava meio bêbado. Eu era a única sóbria ainda? Peguei o copo do
meu pai e virei. Era meu aniversário, por que estava tão careta? —
Tem muita gente, tem pessoas que eu nem conheço.
— Mas elas te conhecem, ou conhecem alguém te que
conhece como eu, seu pai, sua avó ou o Marco. Confesso que a sua
avó exagerou... Tem muita gente famosa aqui, ela está agindo
como se fosse ela a completar vinte e um. — Blake apontou para
minha avó usando óculos coloridos, o cabelo pintado de rosa e
dançando com um garoto pelo menos quarenta anos mais jovem
que ela.
— Mamãe! — Meu pai já ia acabar com alegria dela e parei
na sua frente. — A sua avó já é demais!
— Ela é bonita e viúva.
— Ele deve ser mais novo que você.
— Idade é apenas um número. — Cutuquei meu pai e peguei
outra bebida para ele. — Toma, relaxa, curte a festa!
— Ela pintou o cabelo de rosa?
— Vovó é mais jovem que todos nós juntos. — Voltei a olhá-
la e ao me ver, acenou empolgada e fui dançando até ela. Minha
avó tinha um pique danado, ela era terrível e muito divertida. Vovó
Sarabeth e Vovô Bryan também foram dançar comigo e sinalizei
para meus pais, morrendo de rir. Um garçom me trouxe água e uma
batida, Marco sinalizou do bar e sorri. Ele sabia mesmo o que
gostava de beber. Primeiro foi a água, a quantidade de pessoas
estava deixando a festa insuportável de quente.
Dancei bastante e bebi o dobro, era definitivamente a melhor
festa, mas ainda havia um pedacinho faltando. Eu sabia o que era e
não queria pensar para não desmoronar. Encontrei a Rachel e
ficamos abraçadas por muito tempo, sem falar nada e quem estava
ao redor, simplesmente sabia e respeitaram nosso momento.
Encontrei aleatoriamente com a Elena, estava difícil achar
algumas pessoas na multidão e dei atenção a ela, afinal, era minha
amiga e vizinha, mas tinha tanta gente me chamando que chegou
um momento que queria gritar. Dei um jeitinho de passar por todo
mundo e fugi para a lateral da casa, para respirar e tentar me
acalmar.
— Está tudo bem? — Marco me abraçou e relaxei contra seu
corpo. — Quer subir um pouco e descansar?
— Eu quero e meus pés estão doendo.
Entramos pela porta da cozinha que dava para o corredor da
garagem, passamos pelos funcionários do buffet e alguém fez um
prato de comida para mim. Subimos a escada e abri a porta do meu
antigo quarto. Me joguei na cama, arrancando a sandália e comi
alguns canapés e salgadinhos, deixando de lado por não estar com
muita fome.
Marco estava olhando meu quarto, pegando fotografias e
sorrindo para meus ursinhos de pelúcia.
— Como você está? — Marco tirou o ponto do ouvido e
desligou sua comunicação.
— É agridoce. Estou feliz, um pouco assustada porque tem
muita gente e triste, ela ia amar estar aqui. — Deitei minha cabeça
no seu ombro. — Eu não posso me punir mais, acho que sempre
vou olhar para o lado e procurá-la. Ainda estou ofendida que a Dra.
Jones disse que a Ruth era obsessiva e egoísta, ela era doce e
incrível.
— A Dra. Jones estava te provocando porque precisava
avaliar suas reações. Ela sabe que a Ruth estava com depressão e
precisava de uma ajuda médica.
— Ah é? Entendi. A terapia me faz bem, me faz chorar e
muito, mas me faz bem. Em dois anos sinto que evolui bastante lá.
— Eu gostava do meu terapeuta também embora tivesse muita
vontade de socar a cara dele. — Brincou e subi meu vestido,
montando no seu colo.
— Sabe o que me faria melhor agora e voltaria muito relaxada
para festa? — Beijei seu pescoço e em seguida, puxei o zíper meu
vestido para baixo, expondo meus seios livres de um sutiã.
— Se disser uma rapidinha, estou dentro. — Marco agarrou
ambos, apertando e beliscou meus mamilos.
Uma rapidinha muito gostosa na cama do meu antigo quarto
me deixou feliz e mais calma. A organizadora ligou para o Marco
dizendo que era hora do meu segundo vestido. Tomei um banho
rápido, passei o hidratante com brilho nas pernas e braços, ele me
ajudou com o vestido, prendi meu cabelo e retoquei a maquiagem,
colocando o outro sapato.
— Desconheço mais bonita. — Marco parou atrás de mim de
frente ao espelho. Seus olhos azuis encontraram os meus e o
admirei tão bonito, com sua boca linda e o cabelo desalinhado
porque eu baguncei. Meu vestido era em tom champanhe, modelo
helênico, alças finas, sem um decote profundo, marcado na cintura
e de chiffon. Eu amava como ficava no corpo e ainda mais o
lascado lateral que ia até a cintura. — Acho que vai ficar ainda
mais bonita com isso aqui. — Ele tirou um saquinho de veludo do
bolso e virou na mão. Ergueu e passou pelo meu rosto uma
correntinha dourada com uma pedra vermelha lapidada em formato
de coração. — Essa pedra chama-se berilo vermelho, também
conhecida como esmeralda vermelha e é uma das pedras preciosas
mais raras do mundo. Eu a encomendei com um conhecido que
trabalha com isso pelo simples motivo que você é a minha joia
mais rara.
Marco fechou o colar e eu comecei a chorar. Me joguei nele e
toquei o colar, feliz.
— Sua vida é preciosa. — Me deu um beijo e fomos
interrompidos com Blake atrás de nós.
Viver era precioso.
Saímos do quarto porque estávamos atrasados e o cronograma
precisava ser seguido. Um pequeno palco foi montado e eu saí por
ele. Era o momento de fazer fotografias oficiais com a minha
família, primeiro meus pais, depois meus avós, tios e primos. Para
desgosto do meu pai, fiz um monte de fotografias com Marco e
chamei a mãe e irmã, não dava para fotografar com todo mundo da
família dele.
O garçom entrou empurrando um bolo enorme, de várias
camadas, preto, com letras douradas e o DJ diminuiu a música para
que a multidão cantasse parabéns.
Era o momento mais louco da minha vida.
Fechei meus olhos e chorei, eu queria a Ruth comigo,
sentia falta dela e aquela festa era nossa. Assoprei as velas, fazendo
um desejo.
Que eu soubesse encontrar a felicidade nas pequenas coisas.
E que aonde ela estivesse, que sentisse paz.
Dei o primeiro pedaço do bolo para Blake. Ela merecia por ser
esforçar todos os dias para ser a melhor mãe do mundo mesmo que
eu não a merecesse. O segundo pedaço para causa a quinta guerra
mundial com meu pai, dividi entre ele e o Marco. Sabia muito bem
que meu relacionamento com Marco tinha apenas quatro meses e
meu pai me amava a vida inteira, mas queria provocá-lo por todas
as vezes que me encheu o saco. E era muito divertido vê-lo de birra
com Marco.
A maioria das pessoas mais velhas foram embora quando o
bolo e dos docinhos foram servidos. Na saída estavam sendo
entregues as lembrancinhas do aniversário. Ainda queria aproveitar
mais, apesar do aperto no peito, precisava muito curtir meu
aniversário. E foi o que fiz, que lidaria com a culpa no dia
seguinte.
Meu vestido ficou imundo, meus pés estavam sujos e
molhados. Bebi bastante, dancei e tentei fazer malabarismo,
deixando cair tudo no chão.
Minha festa acabou com o amanhecer e eu estava
esgotada, muito bêbada e neguei o convite dos meus pais de ficar
para dormir de dia. Eles me deram uma caixa grande com bolo,
docinhos, salgadinho e minha mãe nos deu várias garrafas de
espumantes e vinho que sobraram.
Marco não bebeu a noite inteira, estava só cansado e eu muito
bêbada, fui comendo salgadinho no carro até chegarmos no meu
apartamento. Meu vestido estava tão nojento que não sabia se teria
conserto, deixei no canto, ia resolver depois e precisei sentar no
chão do banheiro para lavar meu pé de verdade.
Meu banho demorou uma eternidade porque estava lenta e enjoada.
Não me preocupei em vestir roupas, peguei uma calcinha
grande e um top de algodão, deitando na cama de qualquer jeito e
apaguei.
“Eu preciso que você venha comigo, Rebecca. Estou
assustada e com medo, se você for embora, ficarei sozinha, então
venha comigo”.
Sentei na cama assustada e um solavanco no estômago, corri
para o banheiro, tropeçando nas cobertas e vomitei.
— Ei, calma. Sabia que toda aquela bebida não ficaria no seu
estômago. — Marco segurou meu cabelo. — Acabou? Vem limpar
a boca. — Me ajudou a ficar de pé. — Eu vou te dar um remédio
para enjoo e uma bebida, vai acalmar a ressaca. Volte para cama
quando terminar de escovar os dentes.
Assenti com a escova na boca e eu não estava me sentindo
mal pelo sonho. Sabia que a culpa viria e me olhei no espelho,
disse para mim mesma que Ruth escreveu aquelas palavras porque
estava assustada, com medo e sentindo uma dor que não sabia
explicar. Ela nunca iria desejar que morresse também. E eu
duvidava que quisesse de fato morrer, queria apenas acabar com a
dor.
Eu tinha o direito de ser feliz.
— Você tem o direito divino de ser feliz. — Repeti em voz
alta.
— Falou alguma coisa? — Marco perguntou do quarto.
— Estou bem, na verdade, ouvi dizer que um lanche de fast
food ajuda na ressaca. Você bem que podia pedir... — Voltei para o
quarto fazendo um beicinho e deitei em cima dele, já passava da
hora do almoço e estava com fome. — Quero qualquer um que
tenha bacon, duas carnes, a maior batata frita e um milkshake de
morango.
— Tem certeza de que cabe tudo isso aí dentro?
— Seu pau cabe e você não reclama.
— Está dizendo que meu pau é grande?
— Se você quiser uma massagem no ego, primeiro me
alimente.
Marco fez o pedido e esperamos deitados na cama. Leona
estava em um hotel para cachorros, ele recebeu vários vídeos dela
brincando com outros cachorros e dormindo na sua caminha. Ela
voltaria banhada e feliz, mas estava sentindo falta dela.
Combinamos de buscá-la no final do dia.
— Você deveria alugar seu apartamento. — Comentei
brincando com seus dedos. — Deveria trazer todas as suas coisas...
Tenho dois quartos extras que estão vazios, a ideia inicial seria
dividir com alguém da faculdade, mas, podemos fazer um quarto
de hóspedes e o outro um escritório para nossas coisas de trabalho.
Marco beijou minha testa.
— Seus ovos são horríveis, eu como porque você está
tentando.
— Você ronca tão alto que até a Leona se assusta.
— E você deixa todas as suas calcinhas espalhadas.
— Você é o único a tirá-las em lugares aleatórios pela casa.
— Seu espaguete é maravilhoso.
— Eu amo tudo que cozinha.
Marco começou a rir.
— Eu amo comer você. — Bati nele, que continuou rindo
muito. — Seu boquete é delicioso.
— É, até que você manda bem.
Ele me virou na cama e me atacou com cosquinhas.
— Tudo bem, você é incrível. — Gritei histérica entre
risadas.
— Não quero demitir a Rosa, ela não tem muito que fazer no
meu apartamento, mas pelo menos ele fica limpo e sempre tem
comida na geladeira. — Ele acariciou onde me atacou com suas
injustas cosquinhas e minha meu top saiu do lugar, então ele
simplesmente chupou meu peito.
— Não tem problema, ela pode continuar cozinhando aqui e
quem sabe me ensinando a fritar ovos. Também pode supervisionar
a limpeza da casa com a diarista que vem aqui... E é bom que a
Leona não vai ficar sozinha, mas ela não precisava ficar o dia
inteiro, apenas adiantar a comida e ir... — Suspirei com a boca dele
me provocando. — E nós vamos dividir as contas.
— Uhum... — Ele estava ocupado demais para me dar
atenção.
— Estou falando sério. — Reclamei e ele tirou a minha
calcinha. — Viu só?
— É por isso que eu recolho todas elas... — Afastou meus
joelhos e sorriu. — Vou te ajudar a curar a ressaca. — E começou a
me chupar deliciosamente.
Ainda bem que ele iria ficar.
Rebecca.
Enquadrei Marco na câmera do meu celular, distraído, lendo
um livro do Stephan King que dei a ele de presente, com um
tornozelo direito apoiado no joelho esquerdo e o braço apoiado no
assento do avião particular fretado para nossa viagem a Napa.
Estava empolgada em conhecer a região vinícola, beber bastante
vinho e aproveitar nossos momentos a dois em uma viagem que
não precisávamos ficar escondidos.
Nós completamos sete meses de namoro e eu me sentia
vivendo um dos momentos mais felizes da minha vida.
Estávamos oficialmente morando juntos para completo
desalento do meu pai. No jantar de família antes da viagem, os dois
até conversaram, mas acabaram se desentendendo. Ambos
gostavam muito de implicar com o outro e fizeram um show sobre
quem pagaria a conta. Deixei os dois discutindo, chamei o garçom
e paguei com meu dinheiro – que não era provento de nenhum dos
dois. Dinheiro que ganhei trabalhando no jornal.
— Imprimi o e-mail final do avaliador. Não li nenhuma das
prévias dele, fiquei sem coragem e trouxe para você ler e me dizer.
— Covarde. — Marco murmurou e mudou a página. Estava
há dias pedindo que lesse o e-mail e ele se recusava. — Para de
insistir que não vou ler.
— Sei que sou covarde, estou pedindo a sua ajuda. — Fiz um
beicinho.
— Enfrente seus medos. — Marco estava me provocando.
— Ah, é mesmo? Vamos visitar seus amigos da Marinha em
Portland? — Cruzei meus braços e Marco me olhou. — Toquei em
um ponto sensível, lindo?
Voltou a ler me ignorando. Bufei e saí do meu lugar, indo até
o banheiro me olhar no espelho e ao voltar, encontrei com a
comissária.
— Tem câmeras no avião?
— Apenas na cabine do piloto. Posso ajudar?
— Você poderia não ir até a cabine principal por um
tempinho? — Abri um sorrisinho sem graça. Ela ficou surpresa, um
pouco vermelha e piscou cúmplice.
— É claro, ah, eu voltarei apenas se me chamarem. Fiquem
atentos as luzes de aviso do piloto, está bem?
— Claro, obrigada.
Voltei para cabine principal e ao invés de retornar ao meu
assento, descruzei as pernas do Marco, peguei seu livro, marquei,
fechei e me sentei em seu colo já tirando a minha blusa.
— Você não vai me convencer a ir a Portland com sexo e
muito menos a ler seu e-mail!
— Se eu quisesse te convencer, não faria sexo, afinal de
contas... Imagina como seria passar quatro dias em Napa, me vendo
nua, me masturbando, chupando todas as uvas do meu caminho e
você só ficar olhando?
— Porra... Sem greve de sexo na nossa viagem do amor. Eu
reservei a suíte de lua-de-mel, ela é afrodisíaca e cada canto dela
grita sexo.
— É por isso que não quero te convencer a nada. — Segurei
seu rosto e plantei um beijo rápido nos lábios. — Eu só quero que
meu lindo. — Mais um beijo. — Incrível. — Mais três beijos. —
Compreensivo namorado vá até o reencontro dos sobreviventes da
equipe, lamente a perda de quem não sobreviveu e confraternize
com quem está vivo porque é importante. — Mais beijos. — Eu
vou estar lá do seu lado porque te amo.
Marco gemeu contra meus lábios e agarrou minha bunda.
— Rebecca...
— Nós temos que fazer sexo aqui e agora... Ou na volta,
porque nós nunca fizemos em um avião. — Falei contra seus
lábios.
— Você está colecionando lugares públicos?
— Não exatamente públicos e sim não convencionais. Ainda
tem um monte... Vamos...
— Você nunca precisa choramingar para me ter, baby. — Ele
movimentou-se sugestivamente. — Basta tirar a blusa ou abrir a
boca.
Marco me encantava no sexo, sim, era incrível e na minha
pouca experiência, ele sempre ganhava, mas ele nunca me vencia
no quesito putaria e muito menos na provocação. Ele era sempre o
primeiro a perder a batalha quando ficávamos no sofá só
namorando – o que raramente ficava só em um amasso.
Às vezes ele me chupava e só isso, se dedicava por um bom
tempo me chupando e eu sempre pensava que era demais para
aguentar. Não só aguentava como amava. E amava muito dormir e
acordar abraçada por ele, com beijos e mimos. Ele dizia que nunca
foi do tipo grudento, todas as pessoas da família dele confirmavam,
era coisa apenas nossa.
Cresci com meus pais sendo afetuosos e amorosos, então,
não me sentia um E.T. Mesmo quando eles brigavam por minha
causa ou qualquer outro, terminavam o dia pelo menos com as
mãos dadas.
Esperava ter tanto tempo de relacionamento e a mesma
paixão. Meu pai sempre abriu a porta para Blake, puxava a cadeira,
dava flores e presentes fora de datas importantes. Ele escrevia
bilhetes de amor e espalhava pela casa e uma vez ele escreveu um
livro de amor todo para ela. Antigamente achava que meu pai era
único da espécie, mas encontrei a minha versão de romantismo
perfeita.
Sabia que amava o Marco porque não o matava cada vez que
me enfurecia com suas palhaçadas de casa organizada, quando
deixava apenas um dedo de leite na geladeira e não colocava outro
para gelar. Quando me acordava no meio da noite com seus roncos
altos ou no meio de um filme soltava seus peidos mais podres para
me irritar. Sabia que ele me amava por todas as minhas bagunças,
por sempre deixar os carros sem combustível e cozinhar
terrivelmente.
Paixão era ardente, mas o amor definitivamente te fazia
suportar coisas que você não suportaria por ninguém.
E eu o amava muito por mergulhar nas minhas loucuras
sexuais, alimentar minhas aventuras mais explícitas e me dar
experiência. O sexo no avião foi incrível.
— Você é louca. — Ele estava tímido com a tripulação
enquanto desembarcávamos.
— Só se vive uma vez. — Beijei seus lábios.
Alugamos um carro aberto, era um Jeep e com o GPS,
seguimos para nosso hotel. Levamos uma hora passeando, parando
para tirar fotografias e avisei nossas famílias que chegamos bem.
Nosso hotel ficava no alto de uma colina, com a visão linda para
todas as plantações de uvas e tinha um lindo SPA. Nós decidimos
aproveitar a piscina enquanto ainda havia sol, reservei horário para
massagens e o jantar no quarto.
O jantar foi reservado pelo Marco e eu não fazia ideia do que
preparou, mas desconfiava que seria muito romântico porque saiu
mais cedo do SPA e pediu que me arrumasse por lá. Escolhi um
vestido preto de alças finas, era sexy, decotado nas costas e na
frente, deixei o sutiã de lado e uma calcinha pequena.
Fiz um serviço bom em me arrumar, porque estava sexy e
muito bonita. Enviei uma foto para Blake, ela respondeu “Você
está linda, vá e arrase”, em seguida, me enviou uma foto do meu
pai dormindo e da Leona deitada com uma pessoa, de barriga para
cima, as patinhas dobradas e até com a pontinha da língua para
fora. Meu pai elevou o nível de banida para quase não querer
devolver minha filha.
Andei calmamente até meu quarto e encontrei com Marco no
meio do caminho.
— Uau. Você é a minha namorada? — Marco me abraçou e
foi subindo as mãos das costas das minhas coxas para minha
bunda. — Que gostosa! Isso aqui é curtinho e esse decote, bem
profundo. — Enfiou a mão por cima, apertando minhas nádegas.
Beijei-o bem empolgada, por mim, pulávamos o jantar. — Não,
nada disso. Sem se empolgar. Feche os olhos...
De olhos fechados, fui andando confiando nele e abriu a porta.
Ele me parou, ouvi o barulho da porta sendo fechada e continuei
parada.
— Eu nunca fiz isso, se você não gostar, finge que gostou
porque meu ego vai ficar ferido. Pode abrir os olhos...
Obedeci ao seu comando e tapei minha boca, extremamente
surpresa com a cena na minha frente. O chão do quarto estava
coberto de rosas, muitas, não era simplesmente pétalas salpicadas,
era um tapete imenso de rosas por todo lado com velas e bebidas
em baldes, jantar no buffet e uma linda mesa para dois.
— Você sabe que sou uma garota extremamente romântica,
claro que amei demais tudo isso aqui. — Rodopiei pelo quarto. —
Se importa de fotografar? Quero revelar essas fotos para ter sempre
sobre nossa primeira viagem.
Tirei algumas fotos do quarto, uma foto dele parado contra
porta e posicionei o telefone para tirar uma foto nossa. Não resisti e
peguei a câmera, criando um tripé com coisas espalhadas e
acabamos fizemos várias fotografias nossas antes de nos sentarmos
para jantar. Ele escolheu salmão com molho de camarão, que eu
amava e nós brindamos ao nosso relacionamento.
— Que sejam os primeiros meses de muitos, que se
transformam em anos e uma vida inteira. — Bati minha taça na
dele e me inclinei sobre ele, beijando-o. — Eu te amo, Rebecca.
— Também te amo muito, Marco. Sabe o que é muito
engraçado? Quando eu te conheci, estava disposta a viver
aventuras, a viver de verdade para poder ter a experiência e base
para escrever boas histórias... Foi a primeira vez que decidi parar
andar por aí como uma sombra. Foi meu primeiro sopro de vida em
dois anos. — Bebi um pouquinho e cruzei minhas pernas, meu
vestido subiu ainda mais e minhas coxas ficaram em evidências.
Marco acariciou minhas pernas, beijando meu pescoço e fiquei
toda arrepiada. — Queria saber de verdade o que dizer pelos meus
personagens porque me sentia inadequada e falsa. Não sabia o que
era amar tanto quanto sempre acreditei no amor. Eu estava ferida,
de luto e desacreditada. E agora... Você é a minha maior e melhor
experiência. Escrevi quatro livros desde que começamos a namorar
porque você me inspira todos os dias. Obrigada por isso.
— Obrigado você... Por ser minha todos os dias. — Ele
esticou a mão e pegou uma caixinha atrás de um vaso de flores. —
Quero que seja minha em todos os sentidos para sempre. — E abriu
a caixinha revelando um anel solitário com um diamante lindo em
cima. — Rebecca Silverstone, sei que estamos juntos por apenas
alguns meses e sei que você ainda está começando a sua vida, mas
quero que seja ao meu lado. Seja minha esposa, mãe dos meus
filhos e minha melhor amiga por toda vida. Casa comigo?
— Sim! É claro que sim! — Abracei-o bem apertado. — É
claro que sim. Quero passar minha vida ao seu lado... Mil vezes
sim. Eu te amo.
Marco tirou o anel da caixinha e deslizou pelo meu dedo e era
simplesmente lindo. Ficou ainda mais perfeito na minha mão. Olhei
admirada, recostada nele e as lágrimas bobas continuavam
descendo pelo meu rosto.
Estava noiva!
Era jovem, não tinha me formado na faculdade ainda e
tinha um mundo inteiro para desvendar, mas sabia que não era uma
simples paixão pelo meu namorado porque queria ter todas as
aventuras ao seu lado.
Não terminamos nosso jantar, porque sentei no seu colo
ansiosa para comemorar nosso noivado. Fizemos amor entre
milhares pétalas de rosas na cama, foi romântico, perfeito e
precisava escrever sobre aquilo. Sobre o sentimento avassalador
que estava dominando o meu peito, pelo amor que borbulhava, a
esperança que me enchia de energias para planejar e sonhar com o
futuro. Deixei de olhar para frente, de desejar estar viva e fazer
projetos de longo prazo.
E agora estava dando um passo para o meu “para sempre”.
O problema das rosas era que elas grudavam em lugares
inconvenientes e nós precisamos sair do quarto bem cedo para
equipe limpar tudo. Estávamos com planos de passear ao redor,
fomos a primeira vinícola, tomamos um típico café da região e
pagamos o tour guiado para conhecer a produção de um dos vinhos
que a gente mais bebia em casa. No meio do tour, parei em frente a
um cacho de uva perfeito, ergui minha mão e tirei uma fotografia
com o anel.
— Posso contar a Blake?
— Você ia esconder nosso noivado? — Marco estava
provando o vinho na sua crua essência e fez uma careta. — Azedo.
— Até voltarmos, oras. Mas se está liberado... — Dei de
ombros e enviei a foto para Blake, minha avó Catherine, Vovó
Sarabeth, Karen e Lisa. — E sua mãe e irmã?
— Já enviei para elas logo que acordei. Uma foto sua
dormindo com a mão do seu anel próximo ao rosto e você estava
linda. — Marco me mostrou a foto. Estava coberta quase até o
pescoço, então, não dava para ver que estava completamente nua.
Havia pétalas de rosas entre meus cabelos e meus lábios inchados.
— É a minha foto favorita.
— Um pouco sexy para sua mãe.
— É a minha foto favorita. — Deu de ombros e sorri,
beijando-o no meio de todos os nossos colegas de tour.
Tiramos uma selfie juntos e eu fiz questão de apoiar
minha mão com a aliança no seu peito. Editei um pouco a foto e
postei nas minhas redes sociais anunciando que estava noiva e me
tornaria a Sra. Moretti.
A notícia foi recebida com muita surpresa por parte dos
nossos pais. Blake estava chocada, em seguida, ficou feliz. Meu pai
sequer me respondeu e dessa vez não me ofendi, apenas achei
engraçado. Ele devia estar cuspindo fogo. A família do Marco
queria fazer uma festa de noivado, nós apenas demos de ombros e
eu sabia que seria uma coisa extremamente louca.
— Vai ser bizarro. Minha família italiana, a família tímida da
Blake e a família refinada do seu pai. — Marco estava rindo e
lendo as mensagens.
— Exceto a minha avó Catherine, porque ela não é refinada,
apenas louca e considerada a ovelha negra dos Silverstone. Ela
estava de cabelo rosa no meu aniversário, não se esqueça.
Nossos dias em Napa foram maravilhosos. Comi muito, o que
sempre me fazia arrepender, mas logo voltava a repetir porque meu
ascendente era em Touro. No nosso último dia começou a chover
forte, usamos o spa e voltamos para o quarto, completamente
ilhados das atividades externas e ficamos na cama, o que mais
poderíamos fazer além de aproveitar a dois?
— Se você ler o e-mail, nós iremos a Portland. — Marco
acariciou minhas costas e puxou o lençol que cobria minha bunda.
— Seria o ideal ler hoje assim poderei programar o avião para
Portland em tempo, ou, nós iremos para casa e você nunca vai
saber o que o avaliador disse e eu não irei reencontrar meus
amigos.
— Você é mal. — Rolei para cima dele para alcançar meu
telefone do outro lado da mesa. Abri meu e-mail e comecei a ler
com calma. Era muito grande e ele dizia muitas coisas, me ajeitei
na cama e as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Amor... O que ele está dizendo? É ruim? Me deixa ler! —
Marco sentou ao meu lado.
— Ele quer me publicar! — Gritei e o telefone quase voou
longe e ele pegou no ar. Ops! — Ele disse que apesar de alguns
erros de ortografia, alguns de digitação, minha história tem coesão,
coerência, todos os argumentos são válidos e são concluídos a cada
livro. — Fiquei de pé na cama e comecei a pular. — Ele terminou o
e-mail perguntando quando nós poderíamos nos reunir para a
publicação! Eu vou ser publicada! — Fiquei gritando e pulando na
cama, rindo, gritando e chorando ao mesmo tempo.
Marco me pegou pela cintura e caí sentada no seu colo,
beijando sua boca com todo meu amor.
— Obrigada por me incentivar a enviar meus livros para um
avaliador. E adivinha só? Nós iremos para Portland! — Marco me
abraçou bem apertado, apertando minha bunda e me puxou para
frente. Ficamos encaixadinhos, juntinhos e deitei minha cabeça no
seu ombro. — Eu vou ser publicada. Ele disse que não conseguiu
parar de ler meus livros, que ficou sem dormir e que a esposa dele
chorou no final da minha trilogia. Entendeu cada uma das minhas
críticas e avaliações, que podemos discutir alguns aprofundamentos
e montar uma diagramação atraente.
— Estou orgulhoso de você.
— Não quero contar ao meu pai ainda. Além de achar que ele
não vai superar somar o noivado com a minha publicação, não
quero que minha alegria acabe para enfrentar sua opinião e suas
críticas. — Continuei com minha cabeça no seu ombro.
— Nossa alegria não vai acabar mais.
Após não querer sair dos braços do Marco por um bom tempo,
respondi o e-mail para o avaliador que poderíamos nos encontrar
quando voltasse para Detroit. Blake estava me enviando vestidos
de noiva e eu precisei colocar o freio nela, ou iria acabar me
casando no dia seguinte. Não ia me casar antes de me formar.
Marco conseguiu marcar nosso avião para Portland e nós
saímos do hotel um pouco atrasados porque dormimos demais.
Apesar do embarque ser particular, tinha um horário e nós
precisávamos chegar em Portland a tempo do encontro.
— Minha mãe que saber sobre as festas de fim de ano. —
Marco estava lendo suas mensagens.
— Hum... Uma festa com cada família? Ou jantar com uma e
almoçar com outra? Meus pais costumam fazer o jantar na véspera
e a sua família?
— A maioria se reúne no dia seguinte.
— Então a sua mãe e irmã poderiam jantar conosco na
véspera e nós ficaremos com o restante da sua família no dia
seguinte, talvez meus pais até se empolguem. Só não dá para juntar
todo mundo, vai ser uma loucura, vamos deixar para cometer essa
loucura na festa de noivado e no casamento.
Blake estava me enlouquecendo com fotografias de casamento
e então, rebati com informações sobre advogados de adoção. Ela
ficou quieta por um tempo até que disse que ela e meu pai entraram
em contato com um e se eu poderia estar presente na reunião.
— Meus pais vão se reunir com um advogado de adoção.
— Que maravilha... Será maravilhoso.
— Eu também acho. Eu vi o quanto a Blake ficou
completamente devastada por não ter mais filhos, eles ainda são
jovens, tem dinheiro e vão poder mudar a vida de outra criança...
Ou mais. — Esfreguei meu pé na sua perna. — Então... Preparado
para ter um cunhadinho ou cunhadinha?
— Você atura minha irmã com maestria e ela é muito chata.
— Sua irmã tem vinte e dois, meu possível futuro irmão pode
ser uma criança pentelha bastante irritante. — Sorri muito
empolgada com a possibilidade de ter um irmão ou irmã.
Minha vida estava mudando tanto que estava com medo
quando a minha queda começasse. Porque ninguém ficava
completamente tão feliz quanto estava sem acontecer algo que
doesse muito. Seja o que fosse... Eu ia me preparar.
Marco.

Rebecca e eu trocamos de roupa no avião ao descobrirmos


que o tempo em Portland estava ruim. Tivemos uma turbulência
grave e ela ficou assustada, para sua defesa, não chorou e muito
menos gritou, só quase conseguiu quebrar os meus dedos. Quando
pousamos me deu seu olharzinho assustado e disse que nunca mais
iria voar.
Paramos em uma loja e aluguei um carro no aeroporto e
fomos direto para o bar.
Estava nervoso de revê-los depois de tanto tempo. Nós nunca
nos reencontramos após o ataque, a maioria saiu da Marinha.
Muitos ficaram machucados demais para voltar. A Marinha não me
aceitou de volta no começo, estava perturbado, machucado e de
luto. Depois eu abri a empresa e decidi ter uma vida tão normal
quanto poderia. Tentei encontrar um lugar no mundo que não fosse
constantemente na guerra.
Muitos de nós ficam desesperados para voltar, mas a minha
decisão de ficar foi a primeira vez que choveu. No deserto não
chove, não neva, era apenas calor, muito calor, sangue e sujeira.
Choveu e eu me senti lavado. Me senti no direito de lutar pelo meu
espaço na sociedade novamente, mas revê-los significava muito.
Eu tinha que fazer isso por mim, para superar o medo das
feridas que os rever iria abrir. Tinha que fazer isso pela Rebecca,
que estava lutando bravamente para se superar e agarrando as
chances de viver intensamente a cada dia. E por ela ter aceitado se
casar comigo, por amar a nossa vida a dois e todos os nossos
planos, estava dirigindo até o ponto de encontro.
Estacionei na frente, dei a volta correndo porque estava
chovendo e abri a porta para ela. Segurando minha mão, usando
uma calça preta, botas de cano médio e saltos, estava com um
casaco de moletom preto e os cabelos presos.
Entramos no bar correndo e rindo, sequei as gotas do seu
rosto e ouvi a risada do DeLucca antes de vê-lo. Toda vez que ele
ria alto, me fazia sentir que era seu irmão, porque eles riam igual.
Mas era a risada do pequeno Eric, que estava comigo todos os dias
e não meu melhor amigo, seu irmão mais velho.
Segurei a mão da Rebecca atravessando o bar até a mesa
deles. Lexie saltou do seu lugar, gritando pela Rebecca, elas
ficaram falando sobre o anel, pulando no mesmo lugar e os caras
começaram a rir. Cumprimentei um a um, com abraços e tapas nas
costas, todos me felicitando pelo noivado. As mulheres decidiram
sentar em outra mesa e o falatório delas ultrapassava a nossa mesa
e todas as outras.
Foi bom ouvir sobre cada um, alguns ainda não tinha seguido
em frente e outros estavam recomeçando suas vidas. Podia oferecer
empregos para a maioria, estava sempre precisando de caras
treinados para trabalhar em segurança de eventos e em outros
serviços que oferecemos. DeLucca era o recrutador e estava
anotando os números de telefone para manter contato.
Rebecca riu bem alto na outra mesa e desviei o olhar para seu
sorrisão, pelas bochechas coradas estava começando a ficar bêbada.
Nosso voo era em algumas horas, pedi hambúrguer com batatas
fritas, mandei entregar na mesa dela e ganhei um sorrisão bem
grato. Ela e Lexie comeram, atacando a comida, mas não paravam
com gim e tônica.
— Elas vão passar mal. — Eric estava do meu lado.
— Eu sei.
Sabia que ia me sentir diferente quando os encontrasse, mas
pensei que seria bem ruim. Na verdade, não foi. Confortador,
talvez, mas era bom. Reencontrá-los me fez enxergar por todos os
meios que estava no caminho certo. Não tinha dúvidas sobre o
casamento, muito menos sobre a minha empresa. Não tinha dúvidas
sobre minha vida, mas eu tinha sentimentos realmente diversos
sobre tudo que passei na Marinha.
Era difícil esquecer e era difícil ficar lembrando, era
impossível apagar de vez.
— Obrigado. — Sussurrei bem baixinho no ouvido da
Rebecca ao sairmos. Ela estava meio bêbada e já meio verde, sabia
que estava mal por ter ficado quieta no carro e não fez nenhuma
gracinha, mesmo com a presença do Eric e Lexie.
Nós aguardamos para embarcar e ela apenas disse que algo
estava errado. Rebecca começou a vomitar na lixeira do aeroporto e
não parou mais. Lexie ficou com ela, molhando um tecido e
passando na sua testa para dar um alívio, ela ficou deitada e
gemendo de enjoo. Foram as seis horas mais longas da vida e ao
pousar ela literalmente desmaiou em cima de mim.
Precisei carregá-la até o apartamento, tirando sua roupa e
fiquei vigiando seu sono porque não parecia bem.
— Jogue fora nossa garrafa de gim. — Ela gemeu de lado na
cama. — Minha cabeça está explodindo e meu estômago doendo.
— Você quer ir ao médico? — Beijei seu pescoço.
— Por que eu bebi demais? Eles vão rir de mim.
— Vão te dar glicose, vamos ligar para Karen e ela vai fazer
isso discretamente. Pode ser?
— Diga a Karen que eu vou matá-la se alguém rir de mim e
eu posso contar que ela é apaixonada pelo chefe dela.
— Hum, amor. Eu não acho que a Karen gostaria que eu
soubesse disso.
Rebecca me respondeu vomitando no tapete ao lado da nossa
cama. Liguei para Karen e ela pediu para levá-la naquele momento
porque o hospital estava vazio. Ajudei a Rebecca se vestir, saímos
de casa e estava chovendo muito e demoramos o dobro de tempo
para chegar lá, mesmo assim, a emergência estava vazia e Karen
nos recebeu na porta.
Ficamos em uma sala conversando enquanto Rebecca
tomava glicose diretamente na veia.
— É isso que acontece quando se bebe sem comer. — Karen
implicou com ela.
— Comi um hambúrguer do tamanho da sua cabeça, idiota. —
Rebecca gemeu da maca.
— E bebeu por três marinheiros. — Cutuquei suas costelas e
ganhei um chute.
— E então, se eu não for madrinha do seu casamento, eu vou
te matar. Sou sua prima e eu te ensinei a colocar absorventes.
— Cala a boca.
— Em falar em absorventes, quer aproveitar e fazer um teste?
Olhei imediatamente para Rebecca que revirou os olhos e deu
o dedo do meio para sua prima.
— Estou bem com minha pílula e não atrasada, então, não
enche.
— Apenas checando. — Karen rodou na sua cadeira rindo.
Rebecca ficou melhor após o soro e até quis comer, nós fomos
a uma restaurante próximo ao hospital para sua prima nos
acompanhar. Almoçamos, após devolver Karen para o hospital,
fomos buscar a Leona que os pais da Rebecca não queriam
devolver.
— Por que você está doente? — Blake perguntou logo que
passamos pela porta. Ela conhecia Rebecca como ninguém.
— Porque eu bebi demais ontem. — Rebecca abraçou bem
apertado. Leona apareceu correndo, latindo e pular. — Oi, amor da
minha vida!
Leona lambeu o rosto dela inteiro, se contorcendo de alegria e
depois me deu atenção. E eu gostava da coisinha pequena.
— Você deveria ter me pedido de novo! — Alex desceu a
escada falando comigo.
— Uma vez foi o suficiente, porque eu vou casar com sua
filha com ou sem sua benção.
— Deveria perguntar até que eu dissesse que sim, eu não
disse.
— Não disse nada, me deixou falando sozinho!
Rebecca limpou a garganta e encarou a nós dois.
— Embora ache lindo vocês dois tentando agir
tradicionalmente em relação ao casamento, quem tem que dizer sim
ou não sou eu. Não estamos mais na era feudal que o pai da noiva e
o noivo decidiam absolutamente tudo na vida de uma mulher sem
consultá-la. Eu disse sim, papai. Com o meu sim, você aceita e se
esforça em ter um relacionamento com Marco e você — Apontou
na minha direção. — Foi fofo pedir ao meu pai, agradeço por isso,
mas a única resposta que importa é a minha.
— Eu não vou cortar a mesada da minha filha. Ela ainda é
uma estudante, precisa do seu apoio emocional, então, não tente
sufocá-la com ideias do casamento. Vocês se casam depois de
formar, é tudo que eu peço. — Alex reclamou ainda muito
contrariado.
— Você ia cortar minha mesada porque estou me casando? —
Rebecca gritou.
— Ele tem que cuidar de você.
Blake e Rebecca estavam chocadas.
— Alex! A mesada da Rebecca não é nada além de um valor
mensal que você retira da herança que o avô deixou para ela. —
Blake cruzou os braços. — Agora ela tem vinte e um anos e vai
gerir o próprio dinheiro.
Meu pai cruzou os braços.
— Vovô me deixou dinheiro? — Rebecca até soltou a Leona.
— Esse tempo todo você fazia pressão psicológica comigo e o
dinheiro era meu, papai?
— Eu avisei. — Blake cantarolou sorrindo e Alex me olhou.
— Quer uma bebida? — Me ofereceu.
— Quer minha ajuda para sair daqui? — Comecei a rir.
— Tá! Seu avô deixou tudo que tinha para você.
— E a vovó e você? — Rebecca estava muito confusa.
— Eu não precisava, já era um homem adulto, com família e
eu conquistei meu próprio dinheiro. Eu disse a ele que se quisesse
te deixar tudo, por mim, tudo bem. Você é minha única herdeira,
por enquanto. — Alex abraçou Rebecca. — E brigava com você
apenas para ter controle do seu dinheiro e entender o valor dele.
Felizmente você é uma menina que gasta muito pouco comparado a
tudo que tem acesso.
— Quanto ele deixou?
— Na época, ele deixou uns dois milhões. Hoje tem em torno
de dez, sua mãe fez algumas aplicações e investimentos. — Alex
contou e Rebecca arquejou.
Blake era uma mulher inteligente.
— Caramba... Caramba! — Rebecca começou a andar de um
lado ao outro. — Eu posso pagar a faculdade da Rachel?
Todo mundo a olhou confusa.
— Os Murphy estão vivendo pela misericórdia. John perdeu o
emprego, se tornou um alcoólatra e a Regina viciada em remédios
para dormir. Rachel é a única pessoa que está lúcida e orientada
naquela casa, eles esqueceram que tem uma filha viva e saudável,
mas ela está se preparando para a faculdade no que vem. Não tem
dinheiro...
— Ela tem quinze anos... — Blake estava sentida.
— Rachel pulou uma série. Ela é muito inteligente, imagino
que vai se sair bem com uma bolsa, mas eu queria dar isso a ela. —
Rebecca explicou com pesar.
— Meu Deus, como uma família acaba assim? — Blake
abraçou a Rebecca.
— Nós iremos ajudá-los, filha. Eu vou ver o que posso fazer
para que eles possam se recuperar e ajudar a Rachel com a
universidade. — Alex a beijou na testa. — O dinheiro é seu, se
quiser ajudar pessoas, ele é seu.
— Dizer isso tem um gosto amargo na sua boca, não é? —
Rebecca o provocou.
— Eu preciso beber. — Alex saiu da sala.
— Agora eu aceito uma bebida. — Fui andando atrás dele.
Alex serviu licor em duas pequenas taças e nós sentamos nos
sofás do outro lado da sala. Rebecca e Blake estavam na cozinha,
podíamos ouvi-las, mas não entender o que estavam falando.
— Sempre me incomodei com a morte da menina. Durante
muito tempo pensei que foi assassinato... Acho que porque era
difícil aceitar que ela havia escolhido se matar. Eu a vi crescer, foi
um choque muito grande e em parte porque foi tudo arquitetado.
As cartas, o local, o veneno... E a maneira como foi feito.
Encontraram o corpo dela porque a recepcionista achou estranho
que ela alugou um quarto, disse que estava esperando alguém e
como ninguém apareceu, foi lá bater, ninguém atendeu e foi
ficando desconfortável. — Alex bebeu um pouquinho do licor de
cereja. — Ruth estava com as cartas dobradas e alinhadas na mesa,
deitada na cama do lado direito e a foto da Rebecca no lado
esquerdo.
Fiquei imediatamente arrepiado.
— Perguntei a Rebecca se ela iria até lá. Se era ela a pessoa
que Ruth estava esperando, os pais dela acusaram minha filha de
ajudar a arquitetar aquilo, como se elas tivessem planejado para
fazer juntas quando na verdade Rebecca não fazia ideia. Ela não
recebeu nenhuma mensagem, nada. Ruth resetou seu telefone
alguns minutos antes de tomar o veneno, segundo a informação da
polícia...
Deixei meu licor de lado, nada ia passar nada pela minha
garganta.
— Ruth era passional demais ou alguém a ajudou no processo.
Cada nova informação que ouço sobre isso, penso que tem muito
mais por trás. Quando somos chamados para investigar algo,
precisamos olhar além da polícia, do legista...
— Já faz dois anos, mas vocês conseguiriam achar algo?
— Eu posso dar uma olhada nos arquivos da polícia do caso.
Tem muita coisa que eles sabem e não dizem para família... —
Ofereci pensativo, com as possibilidades na minha mente indo
além.
— É só curiosidade. Intuição de pai, porque não foi algo
normal. A maneira como ela agiu como se a Rebecca tivesse que
morrer com ela porque eram melhores amigas me deixa
desconfortável. — Alex olhou para o piano. Rebecca entrou na sala
segurando uma bandeja, com um sorrisão, aparentando estar muito
melhor. Ela serviu tortas de pêssego e sentou no piano, erguendo a
tampa.
Primeiro ela apenas tocou uma linda canção, em silêncio,
batendo o pé no pedal e seus dedos deslizavam com facilidade
pelas teclas. Seus pais assistiram e estava ainda mais encantado,
então, começou a tocar uma música evangélica que de vez em
quando ouvia em casa, era de um grupo de uma igreja que tinha
perto do nosso apartamento e às vezes ouvíamos o culto. Não
éramos do tipo religiosos, mas a música era linda.
Enquanto tocava, digitei uma longa mensagem para DeLucca
porque estava na hora de finalmente entender o que aconteceu na
noite em que a Ruth morreu.
Rebecca.

Estacionei o carro na garagem e olhei o ponteiro do


combustível. Precisava de um carro mais econômico e de lembrar
de encher o tanque. Marco fazia isso uma vez por semana e eu
nunca lembrava de abastecer. Meu adorável noivo ia falar muito
porque o carro dele estava na revisão e estávamos usando o meu.
Daqui a pouco precisaria sair para buscá-lo, teria que ir ao posto ou
ficaríamos presos na rua com pane seca. Merda.
Faminta e com os braços cheios, minha cabeça ainda estava
doendo com a prova cabulosa. Foi surpresa e o professor queria
uma dissertação sobre economia política no ponto de vista
neoliberal. Ainda tínhamos que acrescentar uma crítica a esse tipo
de termo usado no capitalismo e como o país lidava com a nova era
econômica caindo os padrões do American Way Of Life.
Sinceramente... Não tomei um café da manhã reforçado o
suficiente para aguentar aquilo.
Ainda tinha dois trabalhos para digitar, porque escrevi a mão
durante a aula por ter esquecido meu computador e o professor da
matéria não gostava que usasse o telefone, ele sempre achava que
estávamos conversando em aplicativos – e no meu caso, era
verdade. Meu estômago estava rosnando, ainda bem que não
encontrei um vizinho ou morreria de vergonha dos barulhos altos
que saia.
— Rosa? Estou em casa! — Chamei da entrada, fechei a
porta, coloquei minhas coisas na mesa e peguei Leona. — Rosa já
foi? Sim. Você já almoçou?
Leona fez a sua festa, era muito bom chegar em casa e ser
recebida com tanto amor. Soltei-a, lavei as mãos e levantei as
tampas das panelas. Hum, que delícia. Frango com legumes e
macarrão, amava misturar.
O macarrão era sem glúten e integral, porque eu não podia
mais continuar comendo feito um trator sem passar mal, desde que
Marco foi ao médico e o colesterol dele estava alto, nós decidimos
nos alimentar melhor. Ele malhava bastante, lutava e treinava seus
homens, mas não se não alimentasse bem, não significava nada
para sua saúde tanto exercício.
Eu ia a academia do prédio 3x na semana se conseguisse
vencer a preguiça de atravessar a porta e chegar até ela.
Normalmente precisava de um incentivo muito grande, vários
discursos contra o espelho para ir fazer esteira, bicicleta, enrolar na
contagem dos exercícios de peso, mentir nas repetições de
abdominais e voltar para casa suada e morrendo.
Fiz meu prato e comi no balcão mesmo, terminei em tempo
recorde, sentindo dor no estômago por comer rápido demais.
Escovei os dentes, tirei minha roupa da faculdade e como estava
bem usada, joguei no cesto de roupa suja. Tomei banho e me
enrolei no roupão para fazer meu trabalho da faculdade enquanto
não dava a hora de buscar o Marco no trabalho.
Reparei que a mesinha da entrada estava repleta de
correspondências, alguns itens de decoração porque minhas
paredes ainda estavam muito nuas e reparei que havia um monte de
convites de festas de halloween na próxima semana. O pessoal da
faculdade podia se reunir e fazer uma só ao invés de cada
fraternidade dar uma. Algumas seriam no mesmo dia, não estava
nenhum pouco empolgada para nenhuma festa assustadora, talvez
passasse na festa do jornal (que eu não estava participando da
organização).
Abri minha fatura do cartão de crédito e estava mais alta que o
normal devido a tudo que comprei para o meu aniversário. Não
gostava de extrapolar, ainda bem que aniversários eram só uma vez
ao ano. Abri a fatura do cartão do Marco, olhando seus gastos
engraçadinhos... Hum, quando ele ficou no hotel Hilton? Tentei
lembrar a data das suas viagens, usei o código do hotel para saber
de qual cidade ele era e para minha grande surpresa, era local.
Quando Marco passou a noite em um hotel da cidade? Peguei
meu telefone e escrevi uma mensagem em letras garrafais
“MARCO ANTONIO MORETTI O QUE É ISSO?”. Ele ia rir,
pelo menos iria responder. As contas chegaram e aproveitei que
estava à toa, pagando logo. Marco ia reclamar, mas ele fazia as
compras, pagava os combustíveis e tudo que gastávamos juntos,
então, as contas podiam ser minhas.
Um pacote caiu no chão, peguei e parecia velho e amassado.
Deixei cair novamente quando reconheci a letra e o nome do
remetente. Abaixei devagar e peguei, passando o dedo no nome da
Ruth. Estava escrito seu endereço e seu nome completo. Ruth
Karolyne Murphy. Nervosa, acabei gritando quando meu telefone
tocou e era uma mensagem do Marco.
Subi a escada correndo para o meu quarto, vesti uma calça
leggin, um casaco preto de moletom e um par de tênis preto
plataformas. Prendi meu cabelo e peguei minha bolsa, enfiando o
pacote nela e me despedi da Leona às pressas. Entrei no elevador
com as mãos tremendo, destravei o carro e saí em alta velocidade
da garagem. Quase bati em um carro e entrei no posto como uma
louca.
Marco estava me ligando porque não respondi suas
mensagens e não podia atender, mesmo parada abastecendo. Assim
que paguei, dirigi até a empresa, piscando os faróis para o
segurança que demorou a reconhecer a placa do meu carro. Parei
na vaga costumeira do Marco, empurrando a porta de vidro e a
recepcionista ficou assustada.
Acenei e passei direto, digitando o código de entrada, andando
pelos corredores e Marco virou a esquina.
— Ei, você não atende. — Me joguei nele e o abracei. —
Amor… — Suspirou. — Paguei para um dos seguranças que estava
sem dormir naquela noite.
— Não é isso. Eu queria saber... Mas não é isso. — Falei
contra o seu peito. — Recebi um pacote da Ruth.
— O quê? — Marco se afastou um pouco e me encarou. —
Não entendi, linda. — Secou minhas lágrimas com os polegares.
— Rebecca? Você deixou o carro ligado e com os faróis
aceso. — Eric veio atrás de mim assustado. — Ei, está tudo bem?
Ao mesmo tempo, Lexie e Blake saíram de uma sala, ficando
alarmadas.
— Sinto muito, eu... — Tentei procurar as chaves nas minhas
coisas.
— Está tudo bem, eu já desliguei o carro. A chave estava na
ignição.
— O que houve, filha? — Blake segurou meu braço.
Com as mãos ainda tremendo, entreguei o pacote para minha
mãe. Ela leu e me olhou chocada. Marco me puxou até uma sala de
reuniões. Sentei-me em uma cadeira alta e alguém me deu um copo
com água enquanto do outro lado enquanto DeLucca estava com
um notebook aberto, fones de ouvido e com meu pacote ao lado.
— O que tinha no pacote?
— Um DVD. Vou mandar o pacote para o laboratório para
analisar. — Marco abaixou na minha frente. — Eric irá assistir o
DVD, está bem?
— Eu congelei. Fiquei nervosa.
— Você recebeu um pacote de uma mulher que morreu, está
tudo bem ficar nervosa e congelar. — Marco me deu um beijo
suave.
— Que porra de absurdo é esse? — Blake gritou e arrancou os
fones de ouvido. — Essa garota tem sorte de estar morta! — Virei
na cadeira e a olhei assustada. — Quebra esse DVD, Eric. Minha
filha não vai assistir a esse absurdo.
— Fique aqui. — Marco pediu.
Ele foi até onde eles estavam. Lexie sentou-se ao meu lado
e segurou minha mão. Observei Marco acalmar minha mãe, que
andava de um lado ao outro e ele pegou o fone, falou algo com o
Eric que digitou. Marco ficou em silêncio, olhando para tela e eu o
conhecia o suficiente para reconhecer seus olhares. Ele estava com
raiva, um pouco enojado e então, ele ficou triste. Seus olhos azuis
eram extremamente expressivos, o que quer que tinha naquele
DVD, também o deixou transtornado.
— Mãe? O que tem?
— Rebecca... Amor. Isso é um absurdo. — Blake ainda
andava de um lado ao outro.
— Blake... Por que você não liga para o Alex vir até aqui
para que possamos discutir isso? — Marco falou com minha mãe,
que concordou e saiu da sala. — Eric você pode levar o pacote para
o laboratório? Veja se consegue fazer um reconhecimento do que
vimos. Lexie... Você pode buscar água e calmantes?
— É claro. Eu já volto, Rebecca. — Lexie me soltou e saiu
junto com Eric.
— Sente-se aqui, linda. Eu preciso que veja isso. — Marco
bateu na cadeira e desci de onde estava, saindo do meu lugar e me
sentei na cadeira de frente a tela. — Estou bem aqui, é só um vídeo.
Nada do que ela diz é real ou verdadeiro, mas eu preciso que você
assista para responder às minhas perguntas depois. Estou aqui com
você, pode segurar minha mão e eu te amo.
Coloquei os fones de ouvido, segurei uma mão do Marco e
a outra dei play.
“Oi, Becca!”
Senti meu peito doer ao ouvir a voz da Ruth. Seu rosto
preenchia a tela.
“Hoje é seu aniversário de vinte e um e algumas semanas
será o meu, nós tínhamos alguns planos para nossa maravilhosa
festa antes do Halloween. Eu sei que não vai acontecer, na
verdade, não sei por que estou gravando isso. Se tudo der certo,
nós duas não estaremos mais aqui. Porque temos a promessa... Do
berço ao caixão, lembra?”
— Ai meu Deus...
“Não sei o que te dizer, apenas saiba que te amo, você era
minha melhor amiga e eu te traí de muitas formas. Eu senti muita
inveja de tudo que você tinha, eu queria tudo seu e eu pensei estar
no caminho certo pegando um pedacinho, mas no fim, não era
meu. Nada era meu. E você venceu sem saber que era uma disputa.
Saiu disparada na pista de largada porque você é assim, bonita,
rica, com uns garotos que te amam e não se importa com o que
dizem sobre você. Você quer e consegue. Assim... Então, se você
vier aqui essa noite, nós vamos encerrar esse capítulo, mas se não
vier, vai receber esse vídeo em algum momento para que ouça o
meu perdão. Me perdoa. Passei os últimos anos da minha vida
querendo ser você e agora estou cansada, por isso, é o fim. Eu te
amo”.
— O que? O que ela quer dizer? O que foi isso?
Me afastei da mesa, arrancando os fones de ouvido e não parei
de empurrar a cadeira até ficar contra parede.
— O QUE ELA QUER DIZER? — Gritei com Marco e
empurrei o computador para longe, ele rodopiou até o outro lado da
mesa. — Eu... Ela... O quê?
Marco ajoelhou na minha frente e pediu para me acalmar,
respirar fundo e eu estava sentindo uma dor no peito impossível de
aguentar.
— Eu sei que é difícil, mas eu preciso que se acalme. Só vou
te dar calmante em último caso... — Ele segurou meu rosto. —
Preciso que lembre... Você ia encontrar com a Ruth naquela noite?
— Não. Eu tenho certeza... Eu fui ver a vovó. — Gaguejei e
prendi meu cabelo.
— Marcou com ela e esqueceu? Você costuma esquecer das
coisas, ontem nós brigamos porque você esqueceu de vir me
buscar. Então? Tente-se lembrar...
Coloquei minhas mãos no meu rosto e cobri, tentando me
lembrar. Fechei meus olhos e me concentrei, precisava mais do que
tudo lembrar o que aconteceu naquele dia. Lembrava de chegar na
casa dos meus avós, eu bati a porta do carro e gritei pela minha
avó. Subi as escadas e meu telefone tocou... Era Ruth. Atendi... O
que eu disse?
— Oi! Acabei de chegar na minha avó! Então... Nós nos
falamos mais tarde. Estou feliz que estamos bem novamente, que
tal sorvete?
— Ah... Está ocupada?
— Vovó voltou hoje. Ei, sua voz está ruim, o que aconteceu?
— Nada... Estou com cólica. Então sim, sorvete mais tarde
está ótimo. Você pode me buscar em um lugar? Vou te mandar a
mensagem. — Ruth ainda soava estranha.
— Claro que sim. Me envia e assim que terminar aqui, te ligo
e te busco. Eu te amo, tchau.
— Tchau...
Contei ao Marco o que lembrei e ainda assim não fazia
sentido porque ela nunca me enviou onde estava, porque continuei
na minha avó até a hora do jantar e a mensagem nunca chegou. Ao
contrário, recebi a ligação de quando ela já estava morta e eu
tocava piano. Por que? O que ela queria dizer?
Fiquei sentada na cadeira na ponta da mesa, o computador
com a tela virada para o outro lado. Eric voltou com uma pasta nas
mãos, Lexie com água e calmantes e Blake segurando meu pai. Ele
me abraçou apertado, minha mãe ficou ao meu lado e segurou
minhas mãos entre as dela.
Meu pai foi assistir enquanto Marco discutia algo baixinho
com Eric.
— O que é isso? O que ela quer dizer? — Meu pai ficou
transtornado.
— Eu acho que a Rebecca é a pessoa que ela esperava naquele
quarto. — Lexie limpou a garganta. — Acredito que ela queria
cometer um suicídio duplo, como Rebecca nunca apareceu, ela fez
assim mesmo. Essa é a minha opinião.
— Ela não me mandou a mensagem... Podem acessar meu
drive, tem uma pasta chamada Ruth e estão lá as últimas
mensagens que recebi dela. Eu nem sabia aonde era aquele hotel.
— Gritei histérica. — Eu não ia lá... Não assim. Só para buscar...
Porque eu disse que ia buscá-la.
Todos começaram a discutir o que realmente poderia ter
acontecido naquela noite. Eric espalhou o relatório policial pela
mesa, cada um pegou uma parte e outras pessoas entraram, falando
e provavelmente agindo como eles trabalhavam. Eu e meu pai só
olhávamos, ele até falava mais do que eu porque estava enjoada,
com dor de cabeça e todas aquelas teorias eram surreais. Por que a
Ruth disse que estava cansada de ser eu? Nós éramos
completamente diferentes.
Totalmente diferentes.
Ela era loira, mais baixa, com o corpo curvilíneo lindo e podia
usar quando delineador quisesse. Tinha a risada mais bonita do
mundo. Ela amava sorvete de morango. Eu era morena, alta, mais
magra, com olhos pequenos, rosto redondo e amava sorvete de
menta. Nós nos completávamos porque éramos diferentes.
Não entendia porque ela queria ser eu. Não havia motivos...
Era errado. Como não podia conhecê-la a esse ponto?
— Você conhece essa pessoa? — Eric deslizou uma fotografia
na minha frente.
— Sim. É o Kerry... Ele era parceiro de laboratório da Ruth e
não o vejo desde o funeral. Por quê?
— Ele está no reflexo do vídeo... Peguei o reflexo dele na
janela, é a pessoa por trás da câmera e as digitais dele estão no
pacote. Nós estamos verificando as imagens de segurança do nosso
prédio se foi ele quem deixou na caixa do correio geral. — Marco
passou o braço no meu ombro.
— Acho que não estou me sentindo bem... — Me afastei da
mesa. — Preciso de uma lixeira. — Gemi e Lexie imediatamente
colocou uma na minha direção e vomitei todo meu almoço. —
Droga.
— Ei, está tudo bem. Mamãe está aqui, vai ficar tudo bem. Eu
vou te levar para casa, ok? Nós vamos fazer o jantar e iremos
esperar nossos meninos chegar com as novidades. — Blake me
abraçou. — Vamos embora.
— Não demora a ir para casa, tá? — Apertei o ombro do
Marco.
Aceitei o abraço da minha mãe e até o carro estava em
choque. Ela me colocou no banco do carona, deu a volta correndo e
assumiu a direção, me levando para casa. Fechei meus olhos
ouvindo a voz da Ruth dizer que estava cansada de tentar ser eu me
fazia perceber que não a conhecia, porque não entendia e parecia
que jamais iria compreender o que de fato ela sentia e queria dizer.
Por que gostaria de ser eu?
Se o que a fez se matar foi querer ser eu, estava me sentindo a
pior pessoa do mundo.
Blake estacionou na minha garagem e a segui no piloto
automático. Me joguei no sofá logo que entramos em casa, me
encolhi e puxei a colcha que deixava ali para assistirmos filmes.
Me enrolei toda e cobri meu rosto. Minha mãe ficou andando pelo
meu apartamento, fazendo comida e ela sempre cozinhava muito
quando estava estressada ou ansiosa. O cheiro estava bom e ainda
assim fazia meu estômago torcer.
— Mãe? O que eu fiz? — Perguntei do sofá e ela parou de
cortar legumes no balcão para me olhar. — Eu amava a Ruth, ela
era minha melhor amiga e eu a amava por ser quem ela era. Por que
ela queria ser eu?
— Olha, ela era uma garota... — Comecei a chorar. — Eu
achava que era uma garota boa. Como mãe, ao ver aquele vídeo?
Eu não iria querê-la perto de você. Planejar um suicídio duplo?
Pelo amor de Deus! Estou apavorada! Filha, sei que deveria estar te
consolando, mas estou apavorada. Se você fosse naquela noite, até
que ponto ela iria para que o plano desse certo? O que ela faria com
você?
Tentei correr até o banheiro, mas consegui chegar até o vaso
de planta e vomitei mais uma vez.
— Rebecca? Você quer fazer um teste de gravidez?
Ergui meu rosto e olhei para Blake.
— Você não para de vomitar.
— Mãe...
Subi a escada, escovei os dentes e voltei para a sala, sentei no
banquinho alto olhando minha mãe cortar pepinos com um pouco
mais de força que o necessário.
— Estou fazendo chilli com salada para acompanhar. Então,
você teve sua menstruação? — Blake me encarou bem séria.
— Tive um sangramento. Minha pílula é de vinte e oito dias.
— Nidação? Você sabe... Desce um sangramento... Parece
menstruação. Pedi na farmácia um teste e você faz amanhã de
manhã, quando estiver mais calma, na primeira urina e me conta o
resultado. Promete?
— Tá bom, eu prometo. — Era só para ela não me encher. —
Acho que não conhecia a Ruth. Aquele vídeo me fez entender que
não a conhecia. Ela poderia estar drogada? Pode ser uma
pegadinha? O que o Kerry tem a ver com tudo isso?
Blake deu a volta no balcão e parou ao meu lado.
— Também acho que não a conhecia... Nenhum de nós a
conhecia para saber a profundeza dos seus sentimentos. Nós vamos
descobrir o que puder e vamos entender ao máximo, mas seja o que
for, não é sua culpa. Você a amava e era uma boa amiga e é o que
tudo importa... — Blake me deu um beijo na testa.
Ouvimos um barulho na porta. Meu pai e Marco passaram por
ela, ambos vindo imediatamente na nossa direção. Marco me
abraçou apertado e me beijou, recostei minha cabeça no seu peito e
suspirei muito feliz por ele estar em casa.
— Nós pegamos o pedido da farmácia. — Meu pai pegou o
pacote.
— É só um remédio para dor de cabeça. — Blake pegou o
pacote e me deu. Eu não precisava esconder do Marco, entreguei a
ele para deixar no nosso quarto porque ia subir. — Então,
descobriram mais alguma coisa?
— Debatemos teorias e temos alguns caminhos a seguir, ficou
tarde e decidimos vir para casa. Espero que não se incomode com a
minha presença no seu trabalho nos próximos dias. — Meu pai
abriu minha geladeira e pegou uma cerveja. — Eu quero estar por
perto, preciso entender.
— Todos nós precisamos.
Marco desceu a escada descalço, com outra camisa e uma
calça de linho que usava em casa. Ele sorriu para minha mãe e
perguntou o que iríamos jantar, e mesmo no caos, minha família
me deu uma noite de muito amor e harmonia, porque eu precisava
de um pouco mais de amor.
Rebecca.

Meus pais foram embora após o jantar e fiquei sentada com o


Marco ainda beliscando o que estava no balcão. Minha mãe
cozinhava muito bem, o chili bagunçado dela estava uma delícia.
— Então, o hotel? — Virei no banquinho olhando-o.
— E o teste de gravidez? — Marco continuou comendo as
azeitonas da salada.
— Blake acha que posso estar grávida. — Revirei os olhos e
me servi com um pouco mais de Chilli. — Não estou grávida.
— Sua menstruação veio bem pouco... E você não sentiu
cólicas. — Marco me deu um olharzinho engraçado. — Tira o seu
casaco, por favor?
Tirei achando que ele estava pronto para começarmos a
sacanagem. Marco abriu meu sutiã, jogou no chão e segurou meus
seios. Ficou olhando, dando uns apertões e então, beliscou meus
mamilos e dei um soco nele por reflexo. Doeu, merda. Marco
sorriu e abaixou o rosto, chupando cada um dos bicos do jeitinho
carinhoso que gostava. Mais uma vez, segurou e apertou de
levinho.
— Seus peitos estão enormes. Absolutamente nada contra,
simplesmente estou amando vê-los tão grandes e cheios, durinhos...
Suas veias estão mais visíveis.
— Eu vou te bater de novo. Vamos transar? Estou super com
muita vontade de irmos para nossa cama e fazermos sexo. Muito
sexo. Que tal?
— Parece que toda quantidade de sexo que fazemos colocou a
semente no forno, ainda bem que já coloquei o anel no dedo. — Ele
riu, pulei do banco, tirei minha calça, meias e sapatos. Ele assobiou
para minha bunda nua e dei uma leve reboladinha. — Gostosa!
— Eu sou sua futura mulher... Tive um dia ruim. É o seu
dever como um bom futuro marido me dar uma noite de sexo
incrível. — Acusei enquanto ele continuava rindo. — Quero que
me chupe daquele jeito que eu grito quando gozo, quero que me
coma naquela posição maravilhosa que me faz gozar tão rápido que
penso que estou desmaiando e faça tudo de novo.
Marco limpou a boca e andou perigosamente até mim, recuei
contra parede e ele me pegou no colo. Agarrando minha bunda, me
beijou com fome e agarrou meu peito, apoiei minhas mãos no seu
ombro e ele pressionou seu pau contra mim. Me pegou de verdade.
Era tudo que precisava e ele parecia com um tesão extra.
— Eu sei que fui quem pediu, mas, nossa! Que beijo...
Marco me deu um sorriso safado muito maldoso e subiu a
escada comigo, me jogando na cama e fez o que pedi e um pouco
mais. Ele definitivamente me quebrou no meio, minhas coxas
estavam ardendo e meus peitos doendo de tanto que ele chupou,
mordeu e por cada sacudida.
— Foi maravilhoso. — Me espreguicei lânguida. — Você está
bem? — Marco estava deitado olhando para o teto com um sorriso
no rosto.
— Ainda estou preso no momento que você montou em mim
daquele jeito. — Me deu um sorriso apaixonado. — Eu te amo,
minha cowgirl.
— Ah... Pensei que você gostasse mais quando eu faço isso
aqui... — Fui escorregando pela cama e me enfiei debaixo do
lençol.
— Hum... Ah. — Marco agarrou meu cabelo, gemendo.
Finalmente deixei-o dormir, porque eu estava ligada e não
queria fechar meus olhos. Queria me esgotar o suficiente para não
sonhar. Não queria ouvir a voz da Ruth novamente me dizendo que
se matou porque cansou de tentar ser minimamente parecida
comigo e eu não entendia. Simplesmente não fazia sentido e me
machucava muito.
O cansaço me venceu e acabei dormindo leve, acordando
com as patinhas da Leona pelo quarto e pedindo para subir na
cama.
Marco a colocou entre nós e finalmente sossegou. Cochilei até
o despertador tocar, ele saiu da cama e foi até o banheiro. A
traidora da Leona ficou chorando e até se jogou da cama para ir
atrás dele, arranhando a porta do banheiro e briguei com ela para
não ser chata e voltou, latindo para mim. Sentei na cama com dor
de cabeça e entrei no banheiro também, quando ia sentar no
sanitário para fazer xixi, Marco gritou.
— Pega o teste!
Quase fiz xixi em mim mesma tamanho o susto.
— Eu não vou fazer o teste.
— Vai sim e pega o teste. — Ele apontou para caixinha no
canto.
— Que saco, vou fazer só para esfregar o resultado negativo
na sua cara e da Blake. — Peguei a porcaria da caixa, li
rapidamente como funcionava e Marco estava se ensaboando e me
observando fazer xixi em um copinho. — Isso é ridículo. — Apoiei
o potinho na pia, terminei de fazer xixi, coloquei a tirinha no pote e
me limpei, lavei as mãos e tirei minha roupa.
Marco abriu a porta e me segurou para não escorregar,
comecei a me lavar e ele ficou me ajudando com a desculpa que era
importante para sua sanidade manter as mãos em mim. Adorava
quando lavava meu cabelo, porque massageava meu couro
cabeludo e me dava beijinhos no ombro.
— Me promete que quando ficar velhinha você ainda vai lavar
meu cabelo? Mesmo que você esteja de bengalas ou na cadeira de
rodas? Eu amo nossos momentos juntos. — Era profundamente
apaixonada por todos os nossos momentos juntos. Marco me
abraçou por trás bem apertado.
— Eu prometo... Agora vamos sair para vermos se nossa
família vai aumentar ou não. Será que a Leona vai ganhar um tio
ou tia e uma irmã ou irmão no mesmo ano?
Não me dei o trabalho de responder porque não estava
grávida.
Marco se enrolou na toalha e espremi bem meu cabelo, me
secando ainda dentro do box e me enrolei no roupão. Parei na
frente do espelho, pegando meu secador e Marco estava com a
tirinha na mão e com a caixa na outra. Então, ele começou a rir e
quase me derrubou ao me pegar em um abraço apertado de me tirar
do chão.
— Deu negativo? — Não estava entendendo nada.
— Não, sua louca. Deu positivo. — Marco estava rindo que
parecia que seu rosto ia rasgar no meio.
— Estou grávida?
— Sim, amor.
Porra, como? Bem… Sabia como. E o meu
anticoncepcional?
— Nós vamos ter um bebê?
Caramba. Isso estava realmente acontecendo?
— SIM!
Marco gritou tão alto que ecoou no banheiro e fez a Leona
latir.
— Estou realmente grávida? — Peguei o bastão e olhei.
Caramba. Puta merda!
— Duas tirinhas! — Marco estava agindo como se fosse a
loteria premiada.
— Mas eu só tenho vinte e um. — Balbuciei e cruzei minhas
pernas ao redor da cintura dele.
— Com todo sexo que fazemos, você está surpresa?
— Não. — Sorri e segurei seu rosto. — Vamos ter um bebê!
— Gritei assustada, com medo, empolgada e muito feliz. — Nós
seremos pais!
Eu não sei segurar uma criança!
— Eu te amo, Rebecca.
Meu coração amoleceu e acalmou. Eu o tinha, nós
ficaríamos bem.
— Também te amo, seu bobo. Tenho que contar a Blake e
marcar uma consulta médica...
— Depois... Agora quero fazer amor com você.
Marco só me deixou sair da cama porque Eric ligou – fora
isso, seria um dia preguiçoso – informando que encontrou o Kerry
e o pegou para averiguar algumas informações importantes. Meu
adorável noivo não queria que fosse e não forcei a barra, porque eu
era covarde e não estava disposta a ouvir de primeira o que Kerry
tinha a dizer. Não queria conhecer a Ruth que disse aquelas coisas
horríveis no vídeo.
Era sábado e não estava perdendo aulas, então, marquei minha
consulta médica para a próxima terça-feira, ansiosa, sem saber
exatamente o que pensar. Levei a mão para minha barriga e era
surreal, não ia passar por aquela descoberta sozinha. Perdi minha
virgindade com um estranho e não falei nada para minha mãe,
agora era um momento estávamos muito mais próximas.
— Oi, amor! Eu já ia te ligar! — Blake atendeu a chamada
animada.
— Marco foi trabalhar e estou sozinha em casa. Está muito
ocupada hoje?
— Seu pai foi encontrar com ele, estou sozinha e por isso ia
te ligar. Está tudo bem?
— Quer passear comigo no shopping?
— Precisa comprar algo?
— Precisando fazer compras com minha mãe. Acho muito
importante que uma garota faça as primeiras compras do seu bebê
com a sua mãe. — Bati meus dedos na mesa, aguardando sua
reação.
— Rebecca... O que você quer dizer?
— Que eu quero comprar o primeiro sapatinho do meu bebê
com a minha mãe.
— Eu estou dividida... — Blake suspirou. — Entre gritar de
alegria e brigar com você sobre engravidar antes de terminar a
faculdade. Ai, eu te amo. Estou pegando minha bolsa e as chaves
do carro, vou te buscar e nós iremos comprar a primeira roupinha
do nosso bebê.
Vesti uma calça jeans estilo boyfriend, um mocassim aberto
atrás, camisetinha preta e um casaco de lã cinza escuro. Peguei a
correia da Leona, a bolsa dela para levar água e comida, algumas
fraldinhas e outras coisas que ela poderia precisar. Leona era
membro da minha família, tão ou mais importante que qualquer
pessoa. Ela amava passear. Desci quando Blake informou que
estava me esperando no carro na rua.
— Oi amor da vovó! Você vai ganhar um irmãozinho ou
irmãzinha! — Blake pegou a Leona assim que coloquei a bolsa
primeiro e então entrei. Ela já estava chorando antes de me abraçar
apertado. — Você vai ser mãe! O que está sentindo?
— Estou apavorada... Não sei cozinhar, não sei cuidar de
outro ser vivo e não faço ideia como a Leona está sobrevivendo. As
plantas são regadas pela Rosa e a Leona come tudo que vê pela
frente e o Marco é o único que sabe fazê-la vomitar. — Olhei para
Blake em pânico. — Não sei o que pensar, estou apenas pensando
que eu estou grávida. Eu vou dar conta dessa criança, não vou?
— Eu fui mãe pouco mais velha que você, não dei à luz, não
engravidei, não tive um preparo psicológico de nove meses para ser
sua mãe. E você sobreviveu. Cresceu... E se tornou essa linda
mulher, que está se formando em jornalismo, que é uma autora
maravilhosa e está noiva. Eu sei que fiz um bom trabalho assim
como você vai fazer com essa criança. — Blake me deu um beijo.
Avisei ao Marco que estava indo ao shopping e ele me
respondeu para moderar e não me cansar tanto. Nós passeamos sem
comprar nada por um bom tempo, comprei um sapatinho
amarelinho muito fofo e um quadrinho para colocar a foto da
minha ultrassonografia. Almoçamos e Blake quis comprar novas
roupas para o trabalho.
— Você pode imaginar? — Enfiei meus dedos no sapatinho e
fingi andar pelo meu braço. — Estou ansiosa para consulta. E se
tiver algo errado comigo?
— Não tem nada errado com você. — Blake me assegurou e
entrou no estacionamento do meu prédio. — Você é perfeita e
saudável.
— Está bem.
— Quer aprender a fazer um jantar rápido e prático? Eu
enganei seu pai que sabia cozinhar por anos fazendo basicamente a
mesma coisa só mudando os recheios. Ele dizia que amava, mas,
depois de um tempo aprendeu a rapidinho a fazer novos pratos.
Você era uma sobrevivente conosco naquela casa.
Blake me ensinou a fazer torta com recheio de frango, aprendi
a fazer algumas massas com minha sogra, gostava de sentir a
textura e aquela massa combinava com frango, carne e peixe. A
dica era trocar a salada, o tipo de vinho e os molhos. Fiquei
ansiosa, vigiando assar, toda hora abria o forno e passei gema de
ovo para dourar em cima. Hum... Nunca ia imaginar que era a
gema que deixava as massas torradinhas em cima.
Cozinhar era uma ciência. O que meu filho ia comer?
Nunca trabalhei de babá, ninguém me deixava cuidar da Lisa
porque era extremamente desligada. Derrubava tudo e quebrava a
maioria das coisas. Como um bebê iria sobreviver a mim?
— E o que a gente faz com a clara? Não vai jogar fora, não é?
— Fiquei olhando a torta fixamente.
— É só guardar a clara.
— Eu não conhecia a Ruth do vídeo. Quem era aquela
garota? Passei os últimos dois anos dizendo para mim mesma,
repetindo com a terapeuta, que ela estava doente, com dor e não
sabia o que estava sentindo ou pensando. Lutei muito para aceitar
viver porque ela não estava viva e ainda é muito difícil. Agora veio
tudo isso... — Abri o forno novamente e cutuquei a massa.
— Pensei que tivesse em negação, que bom que está falando
sobre isso. Nós vamos entender, Rebecca. É importante que você
não deixe a peteca cair, não agora que lutou tanto para entender que
você merece viver. Sua vida é preciosa!
Ouvi o barulho da fechadura.
— Chegamos! — Meu pai gritou da entrada e me viu
agachada em frente ao forno. — O que está fazendo aí?
— Cadê o Marco?
— Saudades do tempo que vir correndo porque cheguei era
sua maior alegria. — Papai suspirou e abri meus braços de
brincadeira. Abracei-o apertado e ganhei um beijo. Eu não estava
preparada para contar ao meu pai que estava grávida, talvez fizesse
isso após a primeira consulta. — Aquela pessoa que você por
algum acaso gosta está falando com o síndico do prédio.
— Ah, tudo bem. Mamãe me ensinou fazer a torta de tudo.
— Você vai saber se ele realmente te ama se aguentar comer
isso durante os primeiros três anos de casamento. — Papai riu e
minha mãe deu um tapa nele. — As primeiras tortas ela errava a
massa e precisava de uma britadeira para cortar. Não sei como
meus dentes não caíram.
— Não exagera... Eu assumo que fui melhorando com o
tempo. — Blake o abraçou. — Eu te amo, querido. Como você
está?
— Eu te amo, amor. Estou bem, foi um dia esclarecedor. —
Assisti meus pais trocarem um beijo carinhoso e levei minhas mãos
ao coração. — Nós conversamos com aquele menino e bem, as
coisas realmente não eram como parece. O Eric gravou toda nossa
conversa para que possam assistir.
— É muito chocante? — Encostei-me no balcão próximo a
pia da cozinha.
— É sim, infelizmente.
Voltei a sentar no chão, encarando a torta no forno ignorando
meu pai falando bem baixinho com minha mãe. Quando a luz do
forno apagou, acendi de novo. Marco abriu a porta e me olhou,
sorriu e me ajudou a ficar de pé para abraçá-lo. Fiquei em seus
braços sem falar nada até o forno apitar.
— Está pronta! — Gritei empolgada e peguei as luvas para
tirar do forno. Marco arrumou nossos lugares na mesa, pegou
vinho, preparou rapidamente alguns queijos para comermos e
disfarcei bebendo suco de uva. Nós nos sentamos em silêncio. —
Então, qual dos dois vai me contar o que o Kerry disse?
— Talvez após o jantar. — Meu pai disse com calma.
— Ruth não era quem vocês pensavam, segundo as
informações do Kerry. Eric conseguiu identificar algumas contas
de e-mail dela, restaurando e imprimindo conversas entre os dois
bastante relevantes e que condizem exatamente com o que ele nos
disse. — Marco segurou minha mão e apertou. Meu pai crispou o
lábio. — Sinto muito, Alex. Não é hora para excesso de proteção,
vou manter Rebecca segura e calma, mas precisamos dela para
entender todo o processo.
— Estou bem, pai. Vou avisar se for demais. — Garanti com
um sorriso. Blake estava fatiando a torta e olhando para Marco com
expectativa. — Então?
— Vou te mostrar o vídeo da nossa conversa. — Marco pegou
o telefone.
Apoiei o telefone dele na garrafa de vinho e dei play, segurei
o garfo apenas por segurar, mas estava sem apetite. Sem vontade de
comer com o estômago torcido de ansiedade. Kerry estava muito
diferente, ele parecia pesar mais de cem quilos, ainda bem
baixinho, com o cabelo liso até os ombros e o rosto bochechudo
com a barba para fazer. Ele sentou na cadeira da sala de
interrogatório meio assustado e gaguejou ao assumir que foi ele
quem enviou o DVD.
Ruth gravou algumas semanas antes de morrer. Ela o chamou
e gravaram no quarto dele, porque tinha ele a câmera e ela pediu
que enviasse caso tudo desse errado. Meu pai perguntou o que seria
dar errado e o Kerry confirmou se eu não morresse naquela noite
com ela. Ele sabia de tudo que Ruth estava planejando algo
drástico, não sabia onde e muito menos com quem comprou o
veneno que tomou naquela noite.
— Eu não sei por que a apoiei, na verdade, eu era
apaixonado pela Rebecca e ela não me dava bola. Era tímida
demais para falar comigo e falava com poucas pessoas... — Kerry
ajeitou-se na cadeira. — Não achei que a Ruth fosse até o fim,
achei que queria sei lá, queria se vingar do Derek por escolher a
Rebecca e no fim, ela nem quis ficar com ele. Eu enviei o vídeo
porque vi as fotos da festa do aniversário da Rebecca, ela
convidou muitas pessoas da escola, mas não me convidou, fiquei
com raiva. Bebi demais e acabei enviando. — Kerry lamentou-se.
— Eu não queria causar mal a Rebecca. É que ela é linda e gosto
dela desde criança, desde que ela usava o aparelho externo e
derrubava tudo na sala de biologia. Uma vez ela abriu todos os
sapos do experimento porque se recusava a dissecá-los e ela nunca
chorou, nunca, mesmo quando jogavam coisas para grudar no
aparelho.
— Nós precisaremos entrar em contato novamente, não saia
da cidade. — Marco saiu da sala batendo a porta e meu pai saiu
mais devagar.
— Quem é Derek? — Marco me perguntou.
— Foi um namoradinho da escola. Ele era intercambista...
Hum, eu o conheci no intercâmbio da Inglaterra e depois ele veio
para cá, mas não era nada sério. Era só um namoradinho... A Ruth
e eu até viajamos com o grupo do intercâmbio dele na França. —
Expliquei com calma e a expressão do meu pai foi de choque.
— Você não estava o tempo todo com sua avó?
— Talvez? Pai, já faz tempo...
— A sua avó te autorizou a viajar sozinha com quatorze
anos?
— Não se estresse com o que já passou, Alex. — Blake
segurou o braço dele. — Então, o que tem esse Derek com a Ruth?
— Eu não sei! Ele era meu namoradinho... Ela nem gostava
dele! Vivia dizendo que devíamos terminar. Daí quando eu
terminei, ela ficou bem e até nem fui ao baile a convite dele, nem
queria, resolvi alugar um carro e ir com todas as minhas amigas. —
Apoiei meus braços na mesa. — Ruth não ia no baile, decidiu de
última hora e o Derek foi sozinho, não me importei. Curti a noite e
fui embora para casa...
— Você viajava sozinha nos seus intercâmbios? Onde estava
a sua avó? E você tinha um namorado que a gente não sabia e
muito menos conhecia! — Meu pai estava consternado. — Aonde
estávamos? O que estávamos fazendo?
— Trabalhando? — Sugeri tentando fazer piada e meu pai me
deu um olhar duro. Ele não estava no clima para brincadeiras.
— Por que nunca nos falou?
— Pai... Adolescentes não querem conversar com os pais
sobre isso... Eu não sei por que e sim, me arrependo, mas, na época
achava que a Ruth era a única pessoa que podia confiar. Sinto
muito. — Bebi meu suco e ele parecia em conflito, sentindo-se
culpado. — Por favor, não se culpe. Eu achava que me abrir com a
Ruth era tudo que precisava e agora nem sei quem ela era. Gostaria
de encontrar com o Kerry, se possível. Quero entender a relação do
Derek com a Ruth.
Marco beijou minha mão e apertou.
— Eu vou chamá-lo para uma nova conversa, pelo visto, ele
não vai negar te ver. — Me deu um olhar engraçado. — Então você
tinha um namoradinho?
— Cala a boca.
Marco.

Rebecca estava andando ao meu lado parecendo uma fugitiva.


Usava calça jeans e uma sapatilha, praticamente engolida com meu
casaco cinza. Ela estava com o capuz erguido, com o rosto
parcialmente coberto e a mãozinha grudada na minha enquanto
andávamos até a sala que sua prima estava nos aguardando.
Encontrei a numeração e bati na porta.
— Eu não posso acreditar! — Karen agarrou Rebecca
gritando.
— Eu também não, obrigada por fazer isso. Acho que vou me
sentir mais tranquila se chegar na primeira consulta com um exame
além dos milhares de testes que fiz até agora. — Rebecca estava
tão ansiosa e desacreditada que todo dia comprava um teste e fazia,
só para ver se ainda estava positivo.
Nós fizemos um exame de sangue e pegamos no caminho
para o hospital, lá dizia que estava muito bem grávida.
— Nós vamos confirmar as semanas e saber se já dá para
ouvir o coração ou não. Então, coloque aquela camisola e na volta,
deite-se na cadeira. — Karen instruiu e Rebecca foi até um
pequeno banheiro segurando a camisola. — Então, papai? Como
está?
— Assustado e ao mesmo tempo muito feliz. Pensei que
teríamos filhos em três ou quatro anos, era o que nós
conversávamos. Rebecca não queria esperar muito tempo como a
Blake e eu queria ser pai antes dos quarenta. Vou fazer trinta e dois
em dezembro... Estou falando feito um louco. Desculpa, estou
nervoso.
Karen me deu um abraço apertado, surpreso, retribui e ela era
uma pessoa ligada no 220w falando o dobro que falei, só que tão
rápido e animada que não entendi. Rebecca saiu vestida com a
camisola, ajudei a subir na cadeira alta e Karen colocou as pernas
dela no estribo.
— Eu trocava suas fraldas, está um pouquinho diferente,
mas... — Karen implicou com ela por estar nervosa.
— Cala a boca, Karen!
— Pode ser um pouquinho desconfortável, então, relaxa. Nós
já fizemos isso antes.
— O quê? — Eu estava totalmente perdido.
— Karen é residente assistente da minha ginecologista, então,
ela quem fez meus exames nos últimos anos. É por isso que a Dra.
Taylor não vai implicar se já chegarmos com os exames... —
Rebecca me explicou e segurou minha mão, remexendo-se
desconfortável.
Karen estava concentrada na tela, clicando em algumas coisas,
sem esboçar nenhuma reação e então mostrou um sorriso.
— Aqui está o bebê! — Virou a tela e mostrou um pontinho.
— Parece que você não deu descanso para minha priminha nem
quando Tio Alex deixou o nariz dela arrebentado. Antibióticos
cortam efeitos dos anticoncepcionais.
Ah… Caramba!
— Eu que não dei descanso a ele. — Rebecca me deu um
sorrisinho lindo. — Está vendo o nosso bebê? É tão pequeno.
— E lindo como a mãe. — Beijei sua testa e olhei para tela.
— E o coraçãozinho dele está forte. — Karen aumentou o
som e fiquei extasiado. Completamente apaixonado e entregue ao
som mais importante da minha vida.
— Meu Deus! Ele é real, ai meu Deus. Eu tenho um bebê! —
Rebecca começou a chorar. — Estou em pânico e estou muito feliz.
É o som mais lindo do mundo.
— Eu te amo, Rebecca. Só você para me dar um presente tão
incrível.
Era impressionante e lindo saber que nós dois geramos uma
vida. Rebecca entrou na minha vida como um furacão. Eu estava
apenas vivendo, ela chegou, me deixou encantado com sua beleza,
tirou a roupa para entrar em uma piscina e me enrolou ao redor do
seu dedo mindinho deixando meus quatro pneus arriados e o estepe
também. Me enchia de amor e alegria, era o motivo pelo qual sorria
e não podia mais imaginar viver sem a sua companhia.
— Está tudo bem pelo que estou vendo, vou digitar o laudo e
imprimir as fotografias, vocês podem ir almoçar e voltar aqui para
buscar antes da consulta. — Karen estava com os olhos brilhando,
emocionada. — Você vai casar e ter um bebê antes de mim. Você
nasceu depois, não é justo. — Provocou sua prima e Rebecca
apenas sorria. — Vá trocar de roupa, saia da minha frente.
Rebecca se trocou rapidamente e nós combinamos de voltar
alguns minutos antes da primeira consulta. Escolhemos almoçar em
um restaurante não muito longe do hospital. Nós não estávamos
falando sobre a Ruth ou Kerry naquele dia. Era o nosso acordo de
ter um dia feliz pensando única e exclusivamente no nosso bebê.
Blake sabia, estava muito feliz, mas não contamos ao Alex. Era por
isso que além do Eric e Lexie, ninguém sabia na minha família.
Minha mãe não iria se conter e espalharia para metade do
mundo. Alex precisaria saber primeiro e Rebecca escolheu contar
ao pai sozinha – contra minha vontade. Não podia obrigá-la a
contar na minha frente e nem fazer algo que a deixaria
desconfortável, só achava uma péssima ideia enfrentar a loucura
protetora do seu pai sozinha.
Alex ainda estava superando o fato que Rebecca teve um
namoradinho na escola e que viajava durante seus intercâmbios
totalmente sozinha, apenas acompanhada da melhor amiga e de um
segurança enquanto ele achava que estava viajando com a mãe
dele.
Não concordava com a atitude da Blake e da Avó Catherine,
mas, Alex era muito controlador e com ela adulta era sufocante,
imaginava como era quando adolescente. Era por isso que Rebecca
queria ficar em qualquer lugar do mundo, menos com o pai e muito
menos sentia-se segura para contar sobre seus problemas diários,
correndo o risco de ele surtar ao invés de ajudar.
Alex era um homem muito complicado.
Eu aturava com limitações porque amava a Rebecca e
respeitava muito a Blake. Ele era um homem inteligente, que
sempre tinha boas conversas, mas como pai era um completo
surtado. Esperava ser o oposto. Meu pai era um homem difícil,
tudo tinha que ser do jeito dele, nunca estava errado e raramente
pedia desculpas. Nós brigamos muito conforme crescia e nos
entendemos depois que me tornei um homem adulto. Respeitava
nossas diferenças e ele passou a me respeitar como um homem, não
mais como um menino.
Para Alex, Rebecca era eternamente o bebê que foi deixado
para ele criar sozinho.
— Você está muito quieto. — Rebecca parou de cantar ao
meu lado, no banco do carona e apertou minha coxa. — O que está
pensando?
— Eu sempre fui quieto, costumo falar com você.
— Eu sei, está quieto por que?
— Pensando que sou um pai, tem um bebê crescendo aí e
acabei refletindo sobre minha relação com meu pai e a sua relação
com seu pai. — Segurei sua mão e beijei, voltando a deixar apoiada
na minha coxa. — Espero ser um bom pai, porque já amo o bebê e
ele é minúsculo.
— Ainda é surreal acreditar que tem um bebezinho aqui
dentro... Acho que consigo terminar a faculdade e depois vou me
dedicar a cuidar dele. — Rebecca desligou a música. — Viu só?
Nada de planos a longos prazos. Eu não tinha planos fixos e todo
mundo me criticava, o que seria se tivesse milhares de ambições e
projetos ficando noiva e grávida no mesmo ano? Seria uma imensa
frustração. Planos devem ser feitos conforme vamos vivendo.
Carpe Diem, lindo.
— Eu não tinha planos pessoais... Apenas profissionais.
Alguns serão engavetados para que possa estar mais em casa por
enquanto e estudar um momento melhor, porque não quero ser o
pai que a criança vê por chamada de vídeo o tempo todo. Algumas
viagens ainda serão necessárias, mas não tanto quanto faço
atualmente.
Nós chegamos ao restaurante que era como um fast food, mas
tinha algumas opções de comidas saudáveis. Ela escolheu um lugar
no canto mais quentinho e eu fui até o balcão fazer nossos pedidos.
Para ela, sopinha de abóbora com carne, sanduíche de peito de peru
e salada. Escolhi feijão mexicano com pães torrados temperados
com ervas. Esperei o pedido no balcão mesmo, olhando quem
entrava e saia, observando cada indivíduo sentado na parte de
dentro e fora.
Rebecca estava mexendo no telefone com uma mão e a outra
enfiada dentro do bolso do casaco, eu sabia que ela com a mão na
sua barriga que ainda não demonstrava em nada uma gravidez,
apenas seus peitos e o que para mim estava ótimo. Meu número foi
chamado, levei a bandeja dela primeiro e em seguida busquei a
minha. O tempo estava frio, perfeito para uma boa sopa, mas meu
feijão apimentado me fez suar.
— Combinei de almoçar com meu pai amanhã. Não quero
esconder dele por muito tempo, mas não quero que todo mundo
saiba ainda. — Rebecca limpou a boca. Ela ficou quieta enquanto
estava comendo e suspirou. — Comi demais. Estava faminta.
— Agora tem que comer bem... E se quer segredo, melhor não
contarmos para minha família. Eles não guardam segredo... Só
contei para minha mãe que abri a empresa depois que fechei o
primeiro cliente, não queria que todos soubessem de primeira.
— É injusto minha mãe saber e a sua não.
— Vai por mim, por enquanto, é o melhor.
— Tudo bem, então, amanhã eu almoço com meu pai e depois
eu gostaria de marcar um encontro com o Kerry. Ele ainda está
disposto a conversar comigo?
— Até essa manhã, sim. E ele não vai conseguir ir longe,
estou com alguns homens vigiando seus passos.
— Ele não oferece perigo...
— Não fisicamente, mas quando adolescente ele ajudou a
Ruth a planejar um assassinato e suicídio. Esse garoto é do tipo que
entra atirando em uma escola matando milhares de pessoas
inocentes e em seguida se mata... Assim como a Ruth, até agora,
ela me pareceu alguém muito preocupante.
Rebecca encarou sua tigela de sopa vazia.
— E eu não sabia de nada.
Segurei sua mão e ela levantou, sentando no meu colo.
— Não sabia mesmo... Achava que ela era a minha irmã de
alma, da vida e ela... Queria me matar. É essa sensação que tenho
agora. Estou me sentindo traída... — Escondeu o rosto no meu
pescoço e a abracei bem apertado. — Vamos para nossa consulta.
Nosso bebê é mais importante.
A Dra. Taylor estava surpresa que Rebecca estava noiva e
grávida, em suas últimas consultas, ela ainda estava solteira.
— Seu bebê parece ótimo, você vai precisar tomar essas
vitaminas e ácido fólico. Estou preocupada com esse indício de
infecção urinária, ainda não é nada preocupante, então, quero que
beba bastante água e nós iremos repetir seu exame em alguns dias,
está bem? — Destacou uma série de folhas do seu bloco e nos
entregou. — Aqui estão seus exames. Se você sentir qualquer coisa
ou tiver dúvidas, me liga. E já agendei a sua próxima ultrassom e
será no mesmo dia da sua próxima consulta.
— Tudo bem, obrigada.
— E meus parabéns a vocês dois. — A Dra. Taylor apertou
nossas mãos.
Rebecca estava exultante que a consulta foi positiva, ligou
para Blake e contou tudo que a médica nos disse. Ainda tinha
trabalho a fazer, não queria deixá-la sozinha, não depois da
consulta, mas ela jurou que ia dormir. Cheguei à empresa e
encontrei Eric me aguardando para finalizar a reunião que a Blake
estava conduzindo com possíveis novos clientes.
Levamos mais duas horas para fechar o contrato, fiquei mais
meia-hora fazendo conversa com os novos clientes, me despedi
deles na porta e Blake me deu um abraço surpresa morrendo de
amores com o vídeo do som do coração do bebê.
— Estou ansiosa para compartilhar isso com o Alex.
— Rebecca vai contar amanhã e escolheu fazer isso sozinha...
— Hum, que estupidez. Não vou dizer o que deve fazer, mas
estarei no estacionamento caso ele seja estúpido demais. Alex vai
explodir primeiro, surtar e só depois vai amar a ideia. Foi assim
quando soube da gravidez da Rebecca, cada gravidez minha, cada
aborto e cada ideia maluca da Rebecca. Ele é péssimo nas
primeiras reações... — Blake cruzou os braços e olhou ao redor. —
Vá cuidar da minha filha, eu encerro o expediente por aqui.
— Obrigada, Blake. Eu ainda vou passar para comprar o
nosso jantar porque Rosa está de férias e eu não preparei nada. —
Me despedi do restante e voltei para o meu carro.
Rebecca não respondia minhas mensagens e muito menos
atendia minhas ligações. Passei no restaurante, encontrei com meu
tio na cozinha e ele me deu uma lasanha a bolonhesa quentíssima
com pães de alhos. Ele fez uma agitação na cozinha por minha
causa e fui embora antes que minha mãe ou irmã me encontrassem.
Cheguei em casa e a Leona não estava no primeiro andar,
então, ela só poderia estar dormindo com a Rebecca no andar de
cima.
Deixei a lasanha em cima do forno e coloquei o suco de
pêssego para gelar. Subi a escada tirando meu casaco, abri o
armário do corredor, deixei meu sapato ali dentro e as meias,
pendurando o casaco.
Entrei no nosso quarto e ela estava toda coberta, Leona
saltou da cama e mordeu minha calça, pulando e fazendo a minha
recepção porque Rebecca estava completamente apagada. Tirei
toda a minha roupa, tomei banho, vesti uma calça de pijama e
puxei o edredom, deitando atrás dela.
Ela estava usando seu pijama rosinha que era todo inocente e
ficava ainda mais sexy nela. Beijei seu pescoço, acariciei sua coxa
e ela gemeu, sonolenta e demorou uns bons minutos para
finalmente acordar.
— Você chegou... — E virou de frente, beijando meu
pescoço. — Dormi a tarde inteira.
— Vai ficar acordada a noite...
— Meu futuro marido pode fazer coisas interessantes para me
cansar. — Falou contra meu pescoço e sua voz saiu abafada. —
Estou com fome. Desculpa, não preparei nada.
— Eu sei e acho que não tem mais nada para comermos...
Pelo menos não carne ou frango, talvez ainda tenha ovos. — Tirei
seu cabelo do rosto. — E eu também vou comer e não me custa
absolutamente nada trazer ou preparar o nosso jantar.
— Tudo bem. — E fechou os olhos de novo, voltando a
dormir.
— Rebecca... Vamos comer antes que fique muito tarde. —
Balancei-a para acordar. — Eu trouxe lasanha... Lá do restaurante
da minha mãe.
Rebecca abriu os olhos na hora e me deu um sorriso enorme.
— Você é tão maravilhoso. — Segurou meu rosto e me deu
um beijo gostoso. — Tão incrível e gostoso! — E montou em cima
de mim. — Tão gostoso que eu vou querer Marco Antonio Moretti
antes de comer a deliciosa lasanha da Mama Moretti.
— Sempre ao seu dispor. — Ela tirou a camisetinha do
pijama.
E nós começamos a namorar que era um dos melhores
momentos do meu dia. Dividir a vida com uma pessoa não era
fácil, pelo contrário, podia ser estressante e muito frustrante. Era
outro ser humano com manias e uma educação completamente
diferente da sua, mas, momentos como aquele e muitos outros
faziam valer a pena.
Rebecca.

O que vestir para encontrar com seu pai para um almoço de


“pai e filha” e dar a feliz notícia que ele será vovô? Seria um
momento lindo se eu não tivesse vinte e um recém completados e
meu pai não fosse obcecado com a minha carreira e projetos
futuros. Ele só engoliu o casamento – bem, não engoliu, porque irei
me casar após me formar (e agora após o nascimento do bebê).
Não era porque não queria casar grávida, mas porque eu
tinha que dar tempo para toda família do Marco se organizar.
Nós concordamos que não havia problema nenhum em seguir
boa parte da tradição italiana. Meus pais eram católicos e por isso
acharam uma ótima ideia. Uma semana de festa, muita comida,
bebida, uma cerimônia católica tradicional e todos os parentes
felizes conosco.
O bebê seria mais um convidado muito especial, mais que
todos. E para contar ao meu pai que será um avô, decidi aparentar
uma mulher madura. Se me vestisse como uma garotinha, não
ajudaria nada.
Sapatos nudes, uma calça jeans skinny, uma camiseta de
manga branca bem justa e um trench-coach bege claro com botões
marrons. Deixei meu cabelo solto, ondulado naturalmente e uma
maquiagem leve, porém, com um delineado caprichado que sempre
me fazia sentir mais velha. Me olhei no espelho e gostei do
resultado, tirei uma foto e enviei para o Marco. Ele estava muito
ocupado no trabalho com o novo contrato com o governo.
Nós fomos convidados para festa que meu primo Tommy está
oferecendo em sua casa com sua nova namorada. Eu nem sabia que
ele estava namorando, não levou em casa para apresentar e a vovó
Sarabeth estava chateada. Karen me disse que era recente e eles
estavam morando juntos. Meus avós maternos estavam
estremecidos comigo por morar com o Marco antes de me casar.
Foi uma surpresa para família inteira e eu entendia, sequer
falava de garotos. Meus avós tinham a imensa preocupação que
gostasse de mulheres, então, aparecer com o Marco em um dia e
anunciar que estávamos morando juntos no outro foi um choque.
Em seguida atropelei com a notícia do noivado. Eu podia imaginar
a comoção do almoço em família quando anunciar o bebê.
Minha vida era uma coisa muito louca.
Avisei ao meu pai que estava saindo de casa. Com medo da
reação dele, achava melhor nos encontrar no restaurante que fiz a
reserva do que ele vir me buscar e ficar presa a ele dependendo da
sua reação. Queria enfrentar isso sozinha porque Marco poderia
perder a cabeça e não aguentava mais meus pais brigando por
minha causa. Sabia que teria muita briga por causa do bebê, só
estava evitando a principal.
Dirigi até o restaurante cantando Taylor Swift a pleno
pulmões, procurei a melhor vaga, principalmente aquela que não
precisaria fazer baliza. Queria manter meu espírito bem alegre
porque meu pai ia azedar. Dei meu nome da reserva e fui levada a
uma linda mesa próximo ao jardim e esperei meu pai chegar, ele
não estava atrasado, minha ansiedade me fez sair quinze minutos
mais cedo.
— Uau, querida. Você está linda! — Papai me deu um abraço
bem apertado. — Parece tão adulta! Estou começando a achar que
não estou muito arrumado.
— Você está perfeito, pai.
— Então, qual o motivo especial para esse almoço?
— Além de querer passar mais tempo com meu pai?
Meu pai me deu um sorriso lindo e eu me senti muito covarde
por não soltar logo a notícia de uma vez. Nós fizemos nossos
pedidos, falamos sobre a faculdade e por estar muito nervosa que
aguentei calada suas dicas, suas ambições para minha carreira e
seus amigos influentes que logo poderiam me dar um emprego.
Apenas quando terminamos o prato principal que eu decidi que era
a hora.
— Pai... Eu tenho algo para te dar. — Peguei o envelope com
a foto da ultrassonografia na minha bolsa e deslizei sobre a mesa.
— O que é isso? Carta de admissão em algum jornal? —
Pegou empolgado, abriu e então olhou com calma. — Você está
doente? Isso é algum tumor? O que está acontecendo?
— Isso é o seu neto ou neta. — Expliquei observando bem o
seu olhar sair da ultrassonografia. — Parabéns, vovô.
— Você está de brincadeira comigo?
Para meu pai, até que começou baixo. Me preparei para
explosão.
— Você só pode estar brincando comigo. Eu não acredito...
— Olhou para foto. Secou o suor. — Como você pode estar
jogando fora toda faculdade, intercâmbios, cursos de idiomas e
preparatórios assim?
— Eu não estou jogando fora, pai. Todo esse conhecimento
está comigo... O bebê só vai nascer depois que me formar...
Emprego e carreira ainda há tempo o suficiente. Sou jovem.
— É mesmo? E o que você sabe sobre criar uma criança? Elas
dão trabalho e ocupam o tempo! Exigem muita entrega e
sacrifícios. Você é uma criança. Como vai ganhar prêmios se vai
estar em casa cuidando de um bebê?
— A mamãe conseguiu ter uma carreira de sucesso sendo
mãe, esposa e profissional.
— Se ela tivesse ficado mais em casa isso não teria
acontecido. Isso é culpa daquele irresponsável. Vocês mal se
conhecem! Eu e sua mãe demoramos mais tempo para firmar um
relacionamento...
— Oi? — Foi o meu estopim. — Você não ouse dizer que a
minha mãe falhou comigo. A Blake não foi nada além de
maravilhosa e estaria muito decepcionada se ouvisse algo assim do
homem que está louca para ter mais um filho. — Meu pai ficou
branco da cor da parede ao perceber a besteira que falou. Peguei
minha carteira e tirei cinco notas de cem dólares. Fiz para irritar. —
Só chegue perto de mim novamente se você puder abençoar e amar
esse bebê. Ele é amado. Não foi planejado, mas eu não vou deixar
que o avô dele o faça pensar que foi um descuido com ou sem
tumor! E você engravidou a sua namorada imigrante ilegal aos
vinte anos de idade, se casou com ela e só depois reencontrou a
Blake. Talvez seja de você o meu dom de ser completamente
impulsiva. Hipócrita.
Peguei minha bolsa e bati as notas na mesa. Estava fervendo.
Nunca me senti com tanta raiva e não sabia nem por onde começar
a controlar.
— O pai do meu bebê é um homem que trabalha muito para
ter o que tem e eu tive um avô que deixou uma herança. Minha mãe
que pouco ficou em casa segundo as suas opiniões machistas e
ultrapassadas, multiplicou dinheiro porque é uma mulher,
inteligente, bem-sucedida, que não depende de você para nada e é
feroz nos negócios. E eu tenho um futuro brilhante pela frente.
Minha vida não está perdida.
Andei pelo restaurante ignorando os chamados dele e entrei
no meu carro. Segurei o volante me perguntando se estava bem
para dirigir, comecei devagar e quando minhas mãos pararam de
tremer, peguei as vias expressas para ir até o trabalho da minha
mãe. Estacionei na vaga ao lado do Marco e ao sair do carro, meu
noivo apareceu na porta se despedindo de dois homens altos e
musculosos.
— Ei, linda. — Sorriu e o abracei. — Foi tudo bem?
— Tão bem quanto esperava. Ele vai lidar com isso ou não
fará parte da vida do bebê. Com ou sem tumor, ele não vai fazer
meu filho sentir-se inadequado. — Beijei seu pescoço.
— É isso aí. Então, você comeu bem?
— Aquele café da manhã que fez eu comeria duas vezes.
Cadê a Blake?
— Sua mãe não está aqui. — Marco franziu o cenho. — Ela
estava vigiando vocês no restaurante, caso vocês brigassem e
acabasse sentindo-se mal. Se não me engano, tinha reservado uma
mesa na varanda atrás das parreiras, assim poderia vê-los...
Puta merda.
— Ah não... Com toda certeza ela nos ouviu.
— O que foi?
— Meu pai culpando-a por não ficar mais em casa e ter me
criado direito, assim não namoraria, noivaria e engravidaria em um
espaço de oito meses. Ela deve ter ficado arrasada...
— Está muito frio aqui fora, vamos entrar e ligar para saber
como está.
Blake demorou para me atender, a voz dela estava embargada
e ao fundo podia ouvir meu pai falando baixinho. Droga, ela estava
arrasada. Disse que estava bem, mas eu sabia que estava mentindo.
Poucas coisas a machucavam, as principais era dizer que não me
educou direito por ser ambiciosa e não conseguir ter filhos.
Queria ir até ela e não queria ver meu pai. Minha mãe
precisava de um tempo. Estressada com o trabalho, ansiosa com o
encontro com o advogado da adoção, muito preocupada com tudo
que vinha acontecendo comigo e estava deixando de ser ela mesma.
Rodei várias vezes na cadeira de rodinha do Marco, pensativa e me
arrastei até ele com as rodinhas e bati na parede.
Hum, não era bem o que queria. Não sou muito boa de
direção.
Marco me deu um olhar engraçado e sorri sem graça, levantei-
me e sentei no seu colo no sofázinho preto de couro do seu
escritório.
— Vamos sequestrar sua mãe, irmã e a minha mãe para uma
viagem? — Abracei-o e tirei as folhas da sua frente e beijei sua
boca, fazendo meu charme para conseguir sua atenção.
— Uma viagem?
— Apenas de final de semana. Meu pai precisa de uns dias
sozinho, minha avó deve estar chegando de viagem e ela vai
arrancar a pele dele fora. A Blake precisa de um tempo, descansar,
pensar e se divertir. É aí que sua mãe e irmã entra, elas são muito
divertidas. Podemos fazer muita comida, passar um tempo juntos e
contar a elas que teremos um bebê. Sei que não dá tempo para fazer
muita coisa, então, vamos para a casa do lago.
— Não seria ideal ser uma viagem só de mulheres?
— Você quer me deixar sozinha com elas, aí já é demais.
Preciso do seu charme e sabedoria para equilibrar as situações. E
eu sou egoísta, não quero dormir três dias longe de você. Estou
grávida, você tem a obrigação de fazer o que quero...
— Tudo bem, eu vou me torturar com quatro mulheres
durante três dias porque eu te amo.
— Deixa de ser dramático, são mulheres que você ama e são
da família.
— Vou preparar tudo. — Marco me deu um beijo rápido.
Programamos sair de casa sexta-feira pela manhã, então, tive
que ir à faculdade pedir que minha amiga gravasse as aulas para
mim. Trabalhei na edição do jornal da semana até bem tarde,
revisando todos os textos e ao sair, Marco estava me aguardando
dentro do carro para me levar a gráfica.
Na manhã seguinte os entregadores iam distribuir pelo
campus e entregar na casa dos assinantes.
O jornal era estudantil era basicamente informal, na verdade,
quando entrei na faculdade ele não existia mais. Era uma folha
gratuita que um antigo professor mantinha. Me interessei de
primeira, comecei a trabalhar com ele e aos poucos fomos
conseguindo colocar mais matérias utilizando o espaço de uma
folha tamanho a4 frente e verso. Para conseguir ter mais folhas e
mais visibilidade, precisava de dinheiro e eu tive que apelar para o
reitor.
Ele nos deu seis meses para provar que o jornal poderia ser
rentável. Obriguei toda minha família a comprar as edições. Proibi
meu pai de oferecer uma doação ao jornal, porque minha família já
era doadora da universidade e eu uma aluna particular não bolsista,
portanto, poderiam dizer que estava sendo beneficiada quando o
jornal merecia estar em circulação.
Com muito custo, nós conseguimos e o Professor Phoenix se
aposentou e me deixou como responsável até a universidade
designar outro professor para o cargo de editor, mas eles nunca
ficavam muito tempo. Até porque, eles não recebiam a mais para
estar ali e acabavam estragando todo trabalho.
Fiz um acordo com o reitor que em troca de um salário
pelas horas que passava ali, seria editora e me reportaria
diretamente a ele. Amava o jornal, ele cresceu muito em anos e
tínhamos assinantes fora da universidade.
Seria uma das coisas que mais sentiria falta quando me
formasse.
— Vamos ao mercado e amanhã bem cedo iremos sequestrar
a sua mãe. — Marco estava empolgado. Ele não queria passar
vários dias presos com algumas mulheres, mas, ele ficou
estranhamente feliz quando disse que meu pai ia ficar sozinho. Não
aguentava esses dois vingando-se do outro aleatoriamente. —
Nikki me enviou uma mensagem que estava arrumando suas coisas
e que a mamãe estava levando tudo que poderia precisar, ou seja, a
casa inteira.
— Será que ela pode levar aquele salame gostoso que tem no
restaurante? Ele é tão macio...
— Eu vou comprar.
— E aquele azeite...
— Não tem como levar o restaurante inteiro.
— Poxa.
Antes de conhecer o Marco, nunca ia ao mercado, exceto
quando morava com meus pais porque era quase um evento de
família. Depois fiquei adolescente e obviamente ir ao mercado não
era meu programa favorito. Quando decidi morar sozinha, mal
chegava perto, sempre comendo fora, talvez seja por isso que meu
colesterol ficou nas alturas e me obriguei a comer um pouco
melhor. Ainda era em delivery.
Após o Marco, ir ao mercado com ele era divertido e irritante.
A gente brigava por quase tudo que o outro escolhia, mas não era
exatamente uma briga séria, apenas implicando com as manias do
outro e comidas favoritas. Aprendi em dois segundos que estar
grávida me dava uma carta branca gigantesca para comprar cinco
tipos de cereal – eu comeria todos eles, não seria um desperdício.
Comer nunca foi um problema para mim e agora sentindo muito
mais fome, nada sobrava.
— Isso já é exagero. — Marco me parou quando quis pegar
um saco enorme de batatinhas.
— É para comer na viagem.
— A casa do lago fica a quarenta minutos daqui... A casa dos
seus pais é mais longe.
— É em outro país e se pensarmos bem, faremos o dobro do
tempo ou mais, porque teremos que sair de casa, buscar minha
mãe, voltar todo caminho e aí sim, atravessar a fronteira e pegar a
estradinha linda até a casa. Eu acho que vale a pena.
— É um excelente argumento, mas acho que tem sal demais.
Por que não pega a sem sal?
— A graça de comer batatas é o sal.
— Então o pacote menor.
— Mas o bebê quer o grande!
— O bebê ou a mãe do bebê que é uma criaturinha manhosa?
— Os dois?
— Você leva se pesquisar se a quantidade de sódio em um
pacote é saudável para o bebê. — Marco cruzou os braços fortes e
eu peguei o telefone, dando uma olhada e fiz uma careta. Ele pegou
a sem sal sorrindo, dei a língua e andei na frente. O telefone dele
apitou com uma mensagem. — Eric acabou de conversar com o
Kerry, ele disse que está disposto a te encontrar na segunda-feira e
pode ser lá na empresa. O garoto parece arrependido ou está
aproveitando a oportunidade para te ver. Não estou gostando muito
disso, me sinto desconfortável e por isso quero contratar um
segurança para estar com você.
— Não. Ah não mesmo. É um exagero, ok? Eu fico na
faculdade ou em casa ou com você. Não tem por que ter alguém me
seguindo, me conduzindo... Mal consegui ter liberdade porque
meus pais ficavam em cima. Me desculpa, sei que está preocupado
e quer o meu bem, mas eu não quero um segurança. — Parei ao
lado do carrinho. — O Kerry não vai me fazer mal. Concordo que
ajudar alguém a planejar um suicídio não é certo, prova que ele tem
sérios problemas e que devemos contar isso a polícia. Ele pode ter
influenciado a Ruth, ele deveria tê-la ajudado de alguma forma.
— Indução ao suicídio é crime e a polícia está ciente, eles
estão investigando em sigilo devido ao fato que o detetive
responsável do caso na época hoje é o superintendente da polícia.
— Marco me contou e eu fiquei chocada. — Kerry está sob
investigação. Ele não sabe, mas está. Concordei em ajudar a polícia
mantendo a vigilância dele em tempo integral e em troca, eles vão
me dar as informações que encontrarem nos pertences da Ruth.
— A família sabe?
— Acho que não. Eles vão fazer uma investigação online.
Agora tem mais recursos que no passado e dispus meu sistema para
que fizessem a varredura. Por lei, não poderia fazer isso se não
fosse contratado pela polícia ou pela família. Eric tem sido
cuidadoso no que está pesquisando para não termos problemas. —
Ele pegou algumas carnes, enchi o carrinho de marshmallow e
oreo. — Minha irmã adora isso.
— Eu também. Assado na fogueira é uma delícia. Então...
Eles vão olhar as redes sociais dela, e-mails e etc?
— Olhar o que não está público... O que ela pode ter
escolhido manter privado, o que apagou... Nada na internet se
apaga de verdade. — Marco começou a empurrar o carrinho atrás
de mim, me pressionando contra o apoio e abaixou o rosto até meu
ouvido. — É por isso que quando gravei aqueles vídeos, tomei
muito cuidado em não aparecer absolutamente nada além da sua
bunda maravilhosa e o meu pau. — Cochichou e fiquei toda
arrepiada.
— Hum... Entendi. — Nós paramos no corredor de
chocolates. Peguei a marca que ele gostava, a única, porque foi o
chocolate que o fiz comer em mim.
— Acho que devemos ir para casa. — Marco jogou mais duas
barras no carrinho. — Me bateu uma vontade imensa de comer
chocolates hoje. Todos eles em cima de você.
— É mesmo? — Entrei no seu joguinho. — Temos que
aproveitar já que você raramente sente vontade de comer doces.
— Não tanto quanto sinto vontade de comer você.
— Isso eu felizmente sei que é o tempo todo. — Sorri e virei
meu rosto, beijei sua boca e ele me manteve entre seus braços. — E
é totalmente recíproco desde o primeiro dia. A melhor atitude da
minha vida foi ficar com os peitos de fora naquela piscina...
— Eu ia te beijar mesmo assim... — Marco deu um beijinho
no canto da minha boca. — Ainda tenho o vídeo do nosso beijo na
piscina.
— Tem? Vou mandar passar no telão do nosso casamento...
— Provoquei e ele riu alto, atraindo atenção de quem estava ao
nosso redor. — Vamos para casa...
Não demorou muito para passar as compras e pagar,
empurramos o carrinho para o carro, guardando as bolsas e ele
dirigiu com bastante calma até nossa casa. Ele era tão bonito até
dirigindo, seu lábio formava um pequeno beicinho quando ficava
concentrado e eu amava assisti-lo. Poderia olhar e admirar por
horas. Seu cabelo estava desalinhado, caindo no rosto e ele sempre
passava a mão, jogando para trás e era um movimento bem sexy.
— Você está me paquerando.
— Estou porque eu posso.
Marco sorriu encabulado e beijei sua bochecha, ao chegarmos
em casa, era a vez dele de guardar as compras. Era uma tarefa que
nenhum dos dois gostava de fazer, então, dividimos. Cada vez era
um e quando eu estava de bom humor, dividia. Ele ia arrumar tudo
de um jeito que pudéssemos pegar para sair amanhã cedo, com as
bolsas térmicas, caixas de comida e vinho.
Como tinha outros planos, dei atenção a Leona que estava
há muito tempo sozinha em casa e subi para brincar com ela e logo
cansou – Leona tinha uma personalidade forte. Ela brincava um
pouquinho e cansava da pessoa, saindo de perto e fazendo as
brincadeiras dela sozinha.
Tirei minha roupa, entrei no chuveiro meio cansada do dia e
com sono. Enchi o Marco de promessas sexuais e estava com fome,
com sono e quando ele subiu com dois sanduíches e uma garrafa de
suco para dividirmos, sabia que a fiz a coisa certa em aceitar seu
pedido de casamento, mesmo que quarenta minutos mais tarde ele
estivesse roncando no meu ouvido.
Eu o amava mesmo assim.
Amava porque me respeitava, que mesmo com as
promessas sexuais, ele respeitou meu cansaço, meu corpo, sem
ficar me tocando o tempo inteiro ou chateado que estava cansada
demais para namorar. Esse respeito era muito importante e me fazia
sentir segura.
Rebecca.

Virei na cama, tirei minha camisola e tapei o nariz do Marco.


Ele abriu os olhos e segurou a beirada da cama, por alguns
segundos, me senti mal por esquecer que eu não podia assustá-lo
dormindo. Mas ele relaxou quando me reconheceu e me abraçou,
rindo que estava cobrindo seu nariz porque estava roncando.
— Você está nua. — Murmurou sonolento.
— Quase... Deixei o resto para você tirar. Ontem nós
apagamos logo depois de comermos e você tem promessas sexuais
para cumprir com chocolate, mas posso deixar para depois. Agora
só quero você antes de sairmos.
Marco sorriu sonolento, esquecendo o susto e me agarrou.
Tomei um banho quentinho, me vesti com uma calça de
moletom preta, tênis pretos plataforma que eu adorava, uma camisa
de manga, um casaco e outro casaco de moletom preto do Marco.
Abri uma mala grande e coloquei nossas roupas enquanto ele
levava os mantimentos para o carro. Arrumei a bolsa da Leona, ela
precisava levar tanta coisa quanto nós, fiquei imaginando como
seriam as viagens acrescentando as muitas coisas que um bebê
precisa.
Precisaríamos comprar um ônibus.
E mesmo assustada por não ter ideia o que são essas muitas
coisas que um bebê poderia precisar, um sorriso involuntário
enfeitou meu rosto.
— O que é esse sorriso bonito? — Marco entrou no quarto e
pegou a Leona, que estava deitada dentro da mala.
— Pensando que ano que vem quando viajarmos a casa do
lago, nós teremos milhares de coisas de bebê.
— Ainda bem que já tenho o carro grande. — Marco fechou a
mala e colocou de pé. Também fechou a mala da Leona, enquanto
ele descia, peguei outra mala de mão terminando de colocar minhas
coisas. Nunca sabia o que poderia precisar ainda mais que estava
frio e as roupas faziam ainda mais volume.
Desci com minha bolsa, a mala de mão e Leona no colo,
verificando as janelas e os cômodos. Nós conseguimos sair de casa
às cinco da manhã em ponto, pegando a via expressa até o bairro
dos meus pais e chegando lá uma hora depois. Eles moravam quase
na saída do estado, mas era um bairro lindo e com casas perfeitas.
As ruas estavam silenciosas conforme passamos e Marco
estacionou na primeira vaga e saímos. Meu pai abriu a porta,
usando seu roupão e pijamas, nos olhando confuso e sonolento.
— Pulou da cama, sogro? — Marco chegou provocando e
belisquei a mão dele.
Meu pai apenas grunhiu e o ignorou, olhando para mim com
uma expressão culpada.
— Você poderia ter me dito que sua mãe estava lá.
— Eu também não sabia. Muito ruim?
— Ela não quer conversar comigo e nem me ouvir, estou sem
saber o que fazer.
— Eu vim buscar a mamãe. Ela precisa de um tempo... E você
também. — Dei um tapinha no seu peito. — Se comportem.
— Como assim um tempo? — Meu pai me parou quando
cheguei a beira da escada.
— Ela aguenta nossas merdas e nossas brigas, o trabalho dela
e todo restante da família inteira. A Blake quer outro filho e você
disse que ela não foi uma mãe boa o suficiente. É uma intervenção
de filha. — Pisquei e subi a escada, indo em direção ao quarto dos
meus pais. Abri a porta e ela estava deitada do seu lado, com uma
caixa de lenços no criado mudo e muitos lenços amassados no
chão. Me deitei do seu lado e toquei seu nariz, acariciei sua
bochecha e ela abriu os olhos. — Oi, mãe.
Blake não entendeu nada inicialmente, ficou feliz em me ver e
chorou um pouquinho durante o nosso abraço. Aceitou meu
sequestro indo tomar banho enquanto arrumava uma bolsa com
tudo que achei que poderia precisar e mais um pouco. Vestiu uma
calça leggin, um casaco creme bem grosso e botas sem salto.
Descemos juntas, meu pai estava no sofá da sala e Marco do lado
de fora, encostado no carro, com a Leona dentro do seu casaco toda
encolhidinha.
— Estou indo viajar com a Rebecca... Será uma viagem de
meninas.
— Marco é uma menina agora? — Meu pai cruzou os braços.
Abri um sorriso sem nenhuma vergonha.
— Eu estou grávida e quero ficar com o pai do meu bebê,
você iria também se não tivesse aprontado ontem.
— Eu me arrependo tanto, por favor, me perdoem.
Ver meu pai choramingar morrendo de medo da Blake fazia o
meu dia.
— Quero viajar com a minha filha. Estou magoada e irritada
com você.
Meu pai ficou de pé e abraçou a Blake.
— Me perdoa por te machucar, amor. Eu te amo muito. Estou
arrependido, estava errado, você é uma mãe incrível. A culpa de
toda essa confusão é minha. De todo meu coração, eu errei. Por
favor, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e da
nossa filha. Me perdoa...
Isso ele estava totalmente certo.
— Eu sei, está tudo bem. — Blake lhe deu um beijo.
— Vem aqui, Rebecca. — Meu pai abriu o braço e me
encaixou no abraço triplo. — Me perdoa. Eu te amo e serei um
excelente avô para seu bebê. Eu amo muito vocês duas.
Blake lhe deu mais um beijo e saiu.
— Aproveita esses dias em casa e faça algo realmente épico e
romântico para Blake te perdoar e eu aceito um pedido de
desculpas melhor. Mais emocionante, bem inesquecível e ando
com uma vontade de comer um saco de batatas daquelas que tem
um risquinho azul no rótulo...
Meu pai parecia refletir por um tempo.
— Você está grávida e deveria comer menos sódio.
— Você também? Que saco. — Dei meia volta e acabei
sorrindo.
Meu pai era um desastre ambulante, sua boca era um perigo, mas
de alguma maneira ele não me machucava ou me controlava mais.
A opinião dele era importante, mas não a mais importante. O que
ele dizia era absorvido e ignorado.
Entrei no carro e a Blake ficou com a Leona no banco de trás.
Nós conversamos sobre coisas bobas por quase todo caminho,
acabei dormindo com o balançar do carro e acordei com uma
conversa.
— Você pode trabalhar menos nos próximos meses... —
Marco estava falando com minha mãe. — Sei que não está pronta
para se aposentar e é muito jovem para isso, mas, com Rebecca
grávida e o novo filho, vai ser muito requisitada.
— Eu imagino que sim, estava pensando em trabalhar menos
e fazer o mínimo de viagens nos próximos dois anos.
— Estava pensando em treinar Eric e a Lexie para as viagens
principais. Com a Rebecca grávida e depois com o bebê pequeno,
tenho que ficar em casa mais tempo. Sinto muito que o Alex tenha
te magoado por causa da gravidez.
— Na minha opinião, a Rebecca é muito jovem para ser mãe,
ela passou por muita coisa recentemente, mas eu vou fazer o quê?
Eu não tenho direito de fazê-la sentir-se mal e diminuí-la por isso.
Está noiva e é legalmente uma mulher adulta, cabe a mim amar
intensamente esse bebê. — Blake disse atrás de mim. — Vovó de
dois, não é Leona?
— Nós não planejamos, aconteceu e eu não quero ficar
debruçado sobre a falta de planejamento. Isso está passível de
acontecer com qualquer um. Estou feliz e vou cuidar do meu bebê
pelo resto da sua vida... E a Rebecca está assustada, mas ela é forte
e vai enfrentar de frente.
— Você não faz ideia da força de uma mulher quando ela se
torna mãe. — Blake respondeu com carinho. — E a Leona vai ser
uma irmãzinha incrível. Será que vai sentir ciúme?
— Essa aí é literalmente a filha mais velha mais mimada do
mundo. Enquanto Rebecca estava fazendo as malas, ela estava
deitada na minha pilha de roupas.
Meu estômago roncou bem alto.
— Estou com fome. — Abri meus olhos e fiz um beicinho
sem vergonha para fazer charme para o Marco. Ele desviou os
olhos da estrada e me deu um sorriso. Nós já estávamos no Canadá
e quase chegando na casa do lago. — Sua mãe já chegou?
— Sim e ela está preparando o café da manhã.
— Vamos contar logo que chegarmos porque ela vai achar
sou uma mimada porque estou ficando mal-humorada e com fome.
Blake estava atiçando a Leona no banco de trás, que rosnava e
tentava correr do colo dela, querendo brincar e fiquei ainda mais
encantada com a casa do lago durante o frio. Ainda não estávamos
no auge do inverno, era apenas o comecinho e tudo parecia meio
cinza por lá.
Será delicioso comer e descansar por uns dias, apesar de
precisar fazer dois trabalhos da faculdade que não terminei por
preguiça e estava em cima do prazo.
— Ah que alegria! — Mama Moretti nos recebeu na porta. —
Melhor ideia de toda vida, Rebecca. Estava mesmo precisando tirar
uns dias de descanso e curtir meus filhos. Agora eu tenho mais uma
menina! — Me abraçou apertado. — Que prazer revê-la, Blake.
— Obrigada por me receber. — Blake abraçou minha sogra.
— Eu fiz o café e Nikki está terminando de assar pães de
canela e açúcar. Tem cannolis também...
Não esperei que terminasse de falar. Soltei Leona para correr
livre pela cozinha, lavei minhas mãos e tirei meu casaco que estava
com pelos, sentei-me sem cerimônia e todo mundo ouviu meu
estômago rosnar. Nikki soltou uma gargalhada e perguntou há
quanto tempo não comia.
— Marco Antonio Moretti. — Minha sogra gritou. — Você
engravidou a menina? — E bateu com uma colher de pau nele.
Comecei a rir olhando-o se encolher no canto sob o ataque
poderoso da sua mãe. Blake sentou-se do meu lado, caindo na
risada e encheu sua caneca de café e pelo cheiro estava bem forte.
Nicole sentou-se na minha frente colocando a cestinha com
pães de canela, me olhou com curiosidade e balancei a cabeça
positivamente.
— Eu não acredito! Que incrível! — Nicole me abraçou tão
apertado e derrubou um monte de coisas na mesa. — Serei titia!
— É, mama, vai ser vovó. — Marco agarrou a colher de pau e
abraçou a mãe, beijando-a no rosto de um jeito barulhento que foi
engraçado.
— Que coisa deselegante, não podia esperar pelo casamento?
— Bateu nele uma última vez. — Serei vovó, que incrível.
Nós trocamos um abraço e ela não ficou chateada que eu
estava de boca cheia. Marco sentou-se na cadeira da cabeceira da
mesa, servindo-se com café da manhã e conversamos sobre o bebê,
a primeira consulta e colocamos o vídeo do coraçãozinho batendo
para que elas pudessem ouvir. Eu ouvia o tempo todo, era
maravilhoso. Amava poder ouvir meu bebezinho.
Após o café da manhã, senti sono por ter acordado muito
cedo e me deitei no sofá, ouvindo todo mundo conversar e
cochilando.
Acordei com o som da campainha e um entregador todo
empacotado estava na porta com um buquê de flores enorme nos
braços.
E as flores eram para a Blake.
— Como ele soube do endereço? — Blake agarrou as flores e
sorriu. — Acha que estamos pegando pesado?
— Eu não acho. — Marco comentou do sofá e dei um chute
nele.
— Não muito, ele precisa pensar antes de abrir a boca e causar
desastres. Papai precisa de terapia, porque nunca sabe como reagir
e machuca todo mundo. — Me encolhi no sofá e me cobri melhor.
— As flores são lindas. O que diz o cartão?
— “Sinto muito, eu te amo. Estou ansioso para termos mais
um filho porque você é a melhor mãe do mundo”. — Blake leu o
cartão e ficou pensativa.
— Isso ele não está mentindo.
— Eu disse a ele que era mais fácil me culpar por não estar
em casa, mas ele era o único trabalhando em casa o tempo todo.
Então a culpa era só minha?
Olhei para o Marco e ri. Meus pais não eram normais.
Achava seriamente que era coisa de pais. Será que me tornaria uma
mãe paranoica ou ser mãe era sinônimo de ser paranoica?
— Por que vocês estão tratando como se engravidar fosse
culpa de algum dos dois? Foi um ato de consentimento meu e do
Marco, nós moramos juntos e estamos noivos, foi consequência.
Uma linda consequência que vai estar aqui em alguns meses. —
Acariciei minha barriga e Marco colocou a mão em cima da minha,
inclinou-se e beijou meu ventre repetidas vezes.
— Eu sei, amor. Estou muito feliz com o bebê. — Blake
colocou as flores em cima da mesa e Nikki disse que ia buscar um
vaso. — Seu pai iria reagir assim mesmo se tivesse trinta anos. Isso
é uma questão que vou levar ao terapeuta essa semana.
— Papai ama você. — Marco murmurou contra minha barriga
e sorri. Blake tirou uma foto e meus olhos estavam marejados. —
Sua mãe te afogou em comida? Porque ela já comia por dois antes,
agora ela está comendo por trinta. — Bati na cabeça dele rindo. —
Papai a ama mesmo assim.
— Eu não estou comendo muito, seu implicante!
— Quem quer bolinhos recheados? Esqueci de colocar na
mesa. — Mama Moretti apareceu na sala com uma cestinha e eu
cruzei os braços, tentada a aceitar, mas o Marco ia começar a rir se
eu comesse. Ele aceitou um, mordendo e soltou um gemido que
encheu minha boca de água.
— Tem certeza de que não quer? — Marco me ofereceu com
a sobrancelha arqueada.
— Absoluta.
— Nem um pedacinho?
— Para você dizer que como muito?
— Você come sim, vou te zoar para sempre. — Marco me deu
o bolinho e mordi um pedaço.
— Por que deu o endereço para o meu pai?
— Para ele me dever um favor. Primeiro tive o prazer de vê-lo
engolir o orgulho e me pedir algo. Segundo eu sei que um dia eu
vou te irritar muito e posso vir a precisar da ajuda dele e ele me
deverá. — Marco piscou e pegou meu pé, massageando. Leona
pediu para subir, com ciúme e ficou entre nós dois, me empurrando
com as patinhas traseiras para me manter longe do Marco.
— Eu não vou aguentar vocês dois implicando com o outro a
vida inteira. — Blake brincou do outro sofá.
Nós aproveitamos o dia dentro de casa, enquanto digitava meu
trabalho, conversava e nós comemos a cada segundo disponível.
No final do dia, deitei com a Blake no sofá, algo que nós não
fazíamos desde que era criança. Ela estava ficando melhor e
voltando a ser a mulher poderosa, confiante e uma mãe incrível
sem estar abalada.
No começo da noite, Marco estava na cozinha ajudando sua mãe a
fazer pizzas para o jantar. O cheiro estava delicioso.
Nicole estava fazendo minhas sobrancelhas quando ouvimos
uma comoção do lado de fora e um instrumental. Blake levantou e
começou a rir.
— O que foi? O que é?
Nicole e eu levantamos correndo e um coral de rua estava se
arrumando com instrumentos. Nós ficamos na janela observando o
coral se arrumar e então, eles começaram a cantar My Girl, a
música que meus pais cantavam para mim quando eu era muito
pequena e eles dançaram no casamento porque foi a música que
deram o primeiro beijo. Todos eles seguravam velas em copos e era
tão bonito!
— Agora ele se superou. — Parei ao lado da minha mãe, vesti
um casaco e fiquei na varanda da frente, assistindo. Blake estava ao
meu lado, cantando junto e toda emocionada. Meu pai conseguia
ser um idiota adorável.
E para nossa grande surpresa, ele estava entre as pessoas do
coral cantando também. Marco saiu e me abraçou, nos balançando
de um lado ao outro.
Meu pai deu um braço a frente, segurando um copo com
vela.
— Blake Evelyn Silverstone, quer ser a mãe do meu segundo
bebê? Eu sei que sou um idiota, que falo tudo errado e tenho as
piores reações do mundo. Eu errei em dar a entender que você foi
uma péssima mãe, na verdade, eu que sou sempre péssimo com
vocês duas. Estou assustado em ser avô e pai novamente ao mesmo
tempo, mas, eu vou estar com vocês e vou amar cada novo membro
da família porque amo vocês e nada me faz mais feliz que a nossa
família... Por favor, me perdoe. Rebecca, amor, eu amo você e o
seu bebê, mas eu não amo o Marco.
Comecei a rir porque ele não podia deixar o Marco de fora.
Meu noivo deu um aceno ao meu pai, divertido.
— Prometo tentar melhorar as minhas reações. — Meu pai
segurou a mão da minha mãe e beijou.
— Eu te perdoo, mas é melhor você não pisar na bola comigo
de novo, Alexander. — Blake foi toda severa e eles se beijaram.
O coral cantou Stand By Me e os vizinhos estavam em suas
portas, cantando, filmando e curtindo a música em pleno frio
noturno. Quando eles terminaram, os aplausos preencheram a rua.
Meu pai foi falar alguma coisa com um deles e eu entrei, com o
nariz gelado, deixando a Nikki terminar a minha sobrancelha.
Marco e sua mãe assaram pizzas enquanto assistia meus pais
darem cáries nos meus dentes de tanto grude. Nikki e eu rimos dos
dois e eu me perguntei como seria estar tanto tempo casada que
você já não conseguia mais imaginar sua vida sem.
Marco e eu tínhamos tantos planos e sonhos juntos, que se
misturavam com nossos sonhos pessoais e eu achava que minha
vida sem aventuras e pacata era porque o universo sabia que
encontraria alguém para compartilhar meus melhores momentos.
— Marco? O bebê gostaria de umas fatias generosas de
salame com limão. — Falei do sofá da sala e ele apareceu no
corredor me dando um olhar carrancudo. — Duas fatias? Três?
Mas tem que ser bem grossas.
— Duas fatias moderadas e sem tanto limão, você fica
reclamando que seus lábios ficam rachados.
— Três, por favor. Duas para o bebê e uma para mim.
— Gestantes podem comer salame? — Meu pai perguntou
para o celular e revirei os olhos.
— Pai? Pelo amor de Deus!
Marco não trouxe o salame, ele me deu uma vasilha com as
batatas sem sal que compramos no mercado. Fiz um ligeiro
beicinho, o segurei pela calça e ele me deu um beijo rápido,
sorrindo, sabendo que não estava satisfeita.
— Cristo, isso nem tem gosto. — Nikki devolveu as batatas
que pegou.
— A médica não me proibiu de comer nada.
— Ainda, porque se ela for boa médica, irá. Vou ligar para a
Dra. Taylor e fazer umas perguntas... — Meu pai pegou os óculos
para ler o artigo interessante que achou na internet sobre
alimentação saudável para gestantes.
Puta Merda. Um equilíbrio na mente dele seria bom.
— Seu pai é oito ou oito mil. Eu vou começar a beber porque
eu prevejo ele e o Marco brigando sobre sua alimentação até o final
da noite. — Blake saiu da sala e a Nikki foi atrás. Minha cunhada
maravilhosa voltou com um pratinho cheio de salame e comi três
fatias escondido, bem rápido.
Mesmo que meu pai não tenha respeitado o tempo e espaço
que a Blake precisava, ele sabia como ela era e o que precisava. Ele
sabia que dar tempo a ela a faria entender que não se importava
porque era assim que os dois funcionavam. As surpresas dele foram
bem românticas e o sorriso estava de volta ao rosto dela.
— Você não está errada por ser apaixonar tão rápido. — Meu
pai disse quando ficamos sozinhos mais uma vez na sala. — Eu me
senti doente quando me apaixonei pela sua mãe. — Eu sabia que
não estava falando da Blake. — Foi tão rápido. Ela era tudo que
meu pai não queria me ver relacionado, a sua avó foi a única nos
apoiando incondicionalmente. Eu a amava muito. Ela engravidou
logo e a gravidez foi tão rápida, turbulenta e quando dei por mim,
estava sozinho te segurando na maternidade porque ela havia
morrido. Eu me senti doente e experimentei o pior tipo de dor. No
fundo, não a conhecia, tentei me lembrar dos detalhes da nossa
curta vida e tudo que sentia era um turbilhão de emoções que
esmagava. A Blake me tirou do fundo do poço... Casou comigo
porque primeiro amou a você e depois amou a mim. O conselho
tutelar estava quase tirando você de mim e eu estava desesperado
sem ter ideia do que fazer... Ela chegou, tomou controle de tudo e a
paz reinou. O amor que sinto pela Blake é calmaria, é sossego.
Mesmo a paixão mais ardente... — Eu fiz um som de vômito. Não
precisava saber da paixão ardente dos meus pais. Meu pai riu e
continuou. — Mesmo os dias de paixão mais ardente, eu me sentia
seguro e não perdido. Quando vi você mergulhada na mesma
rapidez e intensidade, quando anunciou o bebê, eu senti o
verdadeiro pavor que você experimentasse a dor. Porque dói. Dói
muito, minha filha.
— Eu entendo agora, obrigada por explicar. Você nunca me
falou como sentiu com a morte da minha mãe... Nunca iria
imaginar. Sinto muito. — Mudei de sofá e sentei ao lado dele,
pegando sua mão. — Sei que nós dois estamos indo rápido demais,
mas o que é o tempo?
Meu pai me abraçou.
— O tempo passa rápido, filha. Você está certa... O tempo
passa muito rápido para nos limitarmos a viver embora seja mais
seguro.
— Carpe diem, papai. Aproveite o hoje e viva intensamente.
— Beijei sua bochecha.
Apesar de fazer as pazes com meu pai e saber que a nossa
relação estava em fase de transformação com todos os
acontecimentos das nossas vidas, sabia que ele estava arrependido,
assim como não iria mudar da noite para o dia. Era certo que ele
jamais deixaria de implicar com o Marco e ambos nunca
renunciavam ao prazer de discordar do outro.
Enquanto eles discutiam minha alimentação saudável,
comi sete pedaços de pizza e dois pedaços de tiramisu.
Marco.

Rebecca estava jogando pedrinhas no lago e tentando fazê-las


quicar até afundar. Estava escolhendo as pesadas demais e a
trapaceira da minha irmã não ajudava em nada, ensinando errado.
Larguei minha taça de vinho na mesa e fui até elas, ensinando
corretamente. Rebecca gritou de alegria ao conseguir e Nikki fez
uma careta. Baguncei o cabelo dela e voltei para o meu lugar, com
as pernas esticadas.
Meus músculos estavam doloridos de ter saído para correr.
Alex disse que meus músculos eram comprados e que não
tinha disposição para fazer exercícios reais. Blake disse a ele que
não era uma boa ideia me desafiar, até porque, ela já me viu
treinando os nossos seguranças. Rebecca riu, comeu seu cereal e
botou pilha.
Minha noiva sabia que pegava pesado. A maioria dos
meus seguranças pesavam mais que eu e eram mais alto, apesar de
ter 1,95 e pesar quase cem quilos, era peso pena ao lado deles,
então, tinha que superar em disposição, técnica e nas habilidades
que fui treinado na Marinha.
Tinha que dar o braço a torcer: meu sogro tinha brio, ele
estava sentindo-se ameaçado com a minha presença. Blake
trabalhava comigo e a sua filha me amava. Quando ele chegava,
sua filha estava nos meus braços e Rebecca estava sempre me
procurando com o olhar, eu sabia disso porque eu estava sempre
olhando-a onde estivesse.
Se tivesse uma menina, precisava me preparar
psicologicamente para esse momento natural. Um dia, filhas
crescem, se apaixonam e se preparam para ter as suas famílias.
Aceitei o desafio e levei meu sogro para correr. Ele estava
cansado na metade do caminho, porque ele era um produto barato
de academia, quarenta anos e muitos suplementos de proteína para
desenvolver logo. Ele não parou, mesmo respirando alto e correndo
mais lentamente e ainda topou fazer alguns exercícios na varanda.
Blake ficou pedindo para parar e Rebecca apenas ria,
adorando ver o pai dela suando como um louco. Então, nós
terminamos, almoçamos e ele estava jogado na cama, dolorido.
— Seu sogro está completamente dolorido, você deveria ter
ido mais devagar. — Minha mãe me serviu mais um pouco de
vinho e sentou ao meu lado. Ela olhou para Rebecca. — Ela tem
um sorriso lindo.
— É verdade. Espero que o bebê puxe o sorriso dela.
— O seu sorriso também é lindo, tenho certeza que ela prefere
o seu. — Mama me deu um tapinha nas mãos. — Seu pai iria
adorá-la.
— Eu sei. Ela estaria debaixo dos grandes braços dele e
dando-lhe muita comida. — Bebi meu vinho e as meninas voltaram
para varanda.
Estava friozinho do lado de fora, não tanto como os outros dias.
Rebecca sentou no meu colo e me abraçou, ela estava com as
bochechas geladas e minha mãe ofereceu em fazer um pouco de
chá para as duas. Nikki começou a comer os amendoins, com os
pés para o alto.
— Quer subir e me aquecer? Eu adoraria tirar um cochilo
antes de irmos embora! — Rebecca cochichou no meu ouvido. —
Vou beber o chá e subimos, que tal?
— Eu acho uma ótima ideia. — Beijei sua bochecha.
Rebecca tomou o chazinho que minha mãe fez e passamos
pelo Alex jogado no sofá depois de tomar analgésicos. Blake estava
massageando as pernas dele e eu ri, dando um aceno. Maduro como
Alex era, ergueu o dedo médio de volta.
Rebecca se jogou na cama, tirando os casacos, as meias e fechei a
porta, puxei a calça dela e deitei em cima. Se ela queria ser
aquecida eu sabia exatamente como deixá-la incendiada.
— A sua mãe é uma criatura de hábitos. — Estava deitado
com a cabeça próximo a barriga da Rebecca. — Logo vai aprender
que ela gosta de algumas coisas do jeito dela e nada mais. — Dei
um beijinho no ventre. — Agora que ela usou o papai para seu bem
querer, quer que eu desça e busque um copo de água. Se isso não é
ser exploração...
Rebecca riu e deu um tapinha na minha cabeça.
— Não fala sobre isso com o bebê. — Brigou comigo e ergui
o olhar, ela estava com um sorrisinho no rosto. — Conte uma boa
história e não fale mal da mãe dele.
— Vou te contar sobre o dia que conheci a sua mãe... Um dia
você vai conhecer alguém e saber exatamente o que estou te
falando, bebê...
Rebecca ficou deitada, quieta e eu passei o resto da tarde
contando histórias que esperava repetir pelo resto da vida do meu
bebê. Nós nos preparamos para ir embora após o jantar, pegando
um pouco de trânsito e enquanto estávamos parados, dessa vez sem
a Blake porque estava com Alex em outro carro. Rebecca estava
cantando e Leona dentro do casaco dela, com a cabecinha deitada
no seu ombro, adormecida e me perguntei como irá reagir com o
bebê.
Chegamos em casa bem tarde, arrumamos nossas coisas,
colocamos roupas para lavar e enquanto a máquina funcionava, fiz
chá de camomila para Rebecca e assistimos um filme, aguardando
a lavagem das roupas para dormir. De manhã cedo, acordei antes
do celular despertar e me atualizei da agenda de trabalho, me
preparando mentalmente, tomando banho, escovando os dentes e
fiz a barba.
Rebecca não estava no quarto quando saí do banheiro. Entrei
no closet para me vestir e desci pronto, sem os sapatos. Ela estava
na cozinha, cabelos bagunçados, olhos inchados de sono, enrolada
no roupão, já mastigando alguma coisa e fazendo café. Enquanto
arrumava minha pasta de trabalho, ela fritou ovos com presunto,
pão torrado com manteiga e serviu em dois pratos.
Quando a conheci, ela gritava cada vez que o ovo
estalava.
— Te encontro depois da faculdade?
— Sim, vamos almoçar e encontraremos com o Kerry.
— Tudo bem, se cuida. Eu te amo. — Rebecca me deu um
beijo e foi se arrumar.
Percebi que estava cantarolando enquanto dirigia e ri, porque
andar com a Rebecca estava me fazendo apreciar músicas. Estava
vivendo um momento de felicidade intensa que me fazia cantar. Se
isso não era amor, eu não sabia o que poderia ser.
Estacionei o carro na minha vaga costumeira e vi que
estava acontecendo algum problema do outro lado do
estacionamento. Minha empresa ficava em um prédio de quatro
andares, com uma academia privada ao lado e uma pista de corrida
para treinamentos.
Saí do carro e vi que Eric estava tentando conter Robbie.
— O que está acontecendo?
— Ele chegou aqui bêbado e não quer me dar as chaves. —
Eric estava contendo o grandalhão.
— Me dá as chaves agora mesmo! — Usei minha voz de
comando.
Robbie parou de empurrar o Eric e me olhou, tentando
ficar na posição de sentido. A maioria dos garotos que saíam da
marinha ficavam perdidos, mas Robbie estava além e colocando
em risco a si mesmo, sua família e o trabalho. Não era a primeira
vez que um contratante reclamava das atitudes do Robbie.
Ele me entregou as chaves e sob minhas ordens, aceitou entrar
em um táxi para ir embora. Eric respirou fundo, cansado e foi
andando para empresa completamente estressado. Era difícil
começar a manhã lidando com um dos nossos passando por tantos
problemas.
Entrei na minha sala, passei a agenda com a Lexie e
conversei com a Blake que estava muito ansiosa com a primeira
reunião com o advogado da adoção no dia seguinte. Eles já
estavam focados em uma fundação específica, que cuidava de
menores abandonados.
— Nós precisamos tirá-lo. — Eric entrou na minha sala com
café. — A boate que ele foi designado acabou de pedir avaliação de
contrato ou um novo funcionário.
— Mande outro e nós o levaremos para reabilitação.
— Robbie não vai aceitar.
— Ele precisa de cuidados, não tem como trabalhar assim...
Senão, ele estará fora. Ninguém mais pode ter responsabilidades
por ele. — Bati algumas folhas na mesa. — Veja uma boa clínica,
algo especializado em ex-combatentes e nós não iremos desistir
dele mesmo que isso signifique que não trabalhe mais por nós.
Eric encontrou umas clínicas e nós ligamos, fazendo algumas
perguntas importantes e decidimos por uma. Liguei para esposa do
Robbie, fiquei triste e surpreso ao descobrir que ela o deixou e
estava morando com sua mãe e o filho pequeno. Ela não estava
aguentando a agressividade, a bebida e as noites mal dormidas.
Disse que ficaria muito feliz que ele se cuidasse porque era
preciso.
Nós decidimos que era a hora de uma intervenção
imediata.
Após Eric sair para resolver questões do Robbie, me
concentrei no trabalho, criando um projeto de segurança para um
evento no estádio e mal me dei conta da hora passando. Rebecca
bateu na porta do meu escritório, que estava aberta e sorriu
apontando para o relógio.
— Estou morrendo de fome e você não apareceu para me
buscar! — Brigou comigo e entrou na minha sala. — Já pedi o
nosso almoço, vão entregar a qualquer momento. — Me deu um
sorriso e segurei sua mão, puxando-a para meu colo. — Tem a
sorte de ser lindo, colírio para os meus olhos.
— Olha quem fala, a mulher mais linda do mundo inteiro. —
Beijei sua bochecha e sua boca.
— Parecia muito concentrado, o que estava fazendo?
— Um plano de negócios para um evento, agora estou com
você, o que é mais importante.
Fomos interrompidos pela entrega do nosso almoço e
comemos na minha sala. Rebecca estava viciada em sopa de
abóbora, porque era uma das coisas que ela não enjoava e não
cansava de comer. Devorou suas torradas e ainda comeu biscoitos
de queijo, jogada no meu sofá. Aproveitei que tinha alguns
momentos sozinhos, enfiei minhas mãos no seu casaco e acariciei
sua barriga. Ergui seu casaco e beijei sua barriguinha.
— Ansiosa para a próxima consulta. — Rebecca acariciou
meu cabelo. — Acha que devemos fazer a sexagem fetal para
descobrirmos logo o sexo e escolhermos um nome? Estou tão
ansiosa.
— Eu acho que sim... Assim vamos parar de dizer apenas
bebê.
Eric bateu na parede de vidro e sinalizou que Kerry estava nos
aguardando na sala de reuniões. Rebecca ficou de pé
imediatamente e segurando meu braço, nós andamos até a sala.
Entrei primeiro e notei o olhar esperançoso do Kerry, querendo ver
por trás de mim e senti vontade de dar um soco nele por desejar
tanto a Rebecca que não era saudável.
Rebecca entrou atrás de mim e ele tentou ficar de pé. Eric
tocou o ombro dele para manter-se sentado.
— Olá, Rebecca. — Ele usou o tom de voz diferente, todo
manso.
— Oi, Kerry. Obrigada por se dispor a vir aqui hoje tirar
minhas dúvidas. — Rebecca sentou-se na cadeira mais distante do
Kerry e parei atrás dela.
— Ele é seu noivo, não é?
— Isso não vem ao caso. — Rebecca estava tensa. — Você
pode, por gentileza, me falar sobre a Ruth? Você sabia que ela ia
fazer todas aquelas coisas?
— Ah... Certo. — Kerry moveu-se desconfortável na cadeira.
— A avó da Ruth era nossa vizinha, foi assim que a conhecia e foi
através dos Murphy que eu consegui entrar na escola, com uma
bolsa de estudos. Aí eu acabei sendo colocado como parceiro dela
no laboratório de biologia... Eu lembro do primeiro dia, você
chorou que não queria outro parceiro e um garoto tentou colar
chicletes nos seus aparelhos. Eu achei que tinha dado entrada em
um hospício, porque outro garoto ficava chamando de Ruth, a
balofa.
— Entendo... Eu sinto muito por não lembrar disso. —
Rebecca brincou com suas mãos.
— Está tudo bem. — Kerry adiantou-se. — Mas isso era o
que a Ruth mais odiava. Você chorava, mas passava e perdoava. Aí
esquecia e voltava a sorrir para as pessoas como se elas não
tivessem te machucado. A Ruth odiava que você era capaz de sorrir
para Tess mesmo quando ela te chamava de Becky Dentuça. Ou a
Rainha Cabeçuda. A Ruth odiava isso... Ela odiava muito que você
perdoava todo mundo e ao mesmo tempo queria saber como você
conseguia. Quando você fez a cirurgia que corrigiu seu rosto, você
ficou mal por meses e a Ruth gostou, porque foi quando você ficou
mais amarga e entendia como ela se sentia. Aí seu rosto desinchou
totalmente e você ficou bonita, ganhou peso e todos queriam ser
seus amigos porque descobriram que você era neta da Catherine
Silverstone e seu pai o autor que todo mundo amava. Ruth ficou
mordida.
— Por quê?
— Porque você tinha tudo. Beleza, dinheiro, pais amorosos e
todo mundo queria um pedacinho seu. Ela aproveitava sua timidez
e inseguranças, te fazia se afastar de todo mundo. Aquela sua
amiga, a Elena, se afastou porque a Ruth era uma vaca com ela. —
Kerry inclinou-se para frente. — Ruth começou a querer ser você.
Eu não sei como ou quando, mas ela passou a querer tudo que você
tinha pela forma que você reagia a tudo.
— Ela te contava essas coisas?
— Nós conversávamos quando ela ia para casa da avó dela e
quando tínhamos aulas de biologia juntos.
— E quanto ao Derek? — Rebecca cruzou a perna.
— Segundo a Ruth... Ela se apaixonou por ele primeiro. Ela o
viu primeiro, mas ele foi até ela porque queria seu número de
telefone. Vocês começaram a ficar e a Ruth ficou devastada porque
você não gostava dele como ela gostava... Aí o Derek veio até
Detroit para ficar com você. Como você não fazia coisas com ele, a
Ruth passou a fazer... Eles tinham relações sexuais pelas suas
costas. — Kerry disse e Rebecca me deu um olhar apavorado. —
Ruth era muito apaixonada e não conseguia se controlar, mas ela
não queria te machucar, não queria perder sua amizade porque você
era a única que sempre ficava.
— Então eles ficavam pelas minhas costas? E o que aconteceu
quando entramos para a universidade?
— Derek ficou muito chateado que você não quis ir ao baile
com ele, planejou tudo para que fosse a primeira vez. A Ruth achou
que ele iria chamá-la quando levou um belo fora, mas, ele foi
sozinho e você foi levá-la para se divertirem juntas. Aí tudo
desandou, nós nos afastamos por causa da faculdade e quando ela
foi para casa no verão, ela me disse que você e o Derek voltaram,
as coisas na faculdade não estavam indo bem e ela se sentia cada
vez pior. — Kerry limpou a garganta. — Ela começou a surtar.

— E o que deu errado?


— Ruth pressionou o Derek querendo que ele escolhesse entre
vocês duas, mas ele disse que jamais iria escolher ela... Aí foi o
estopim. Disse a ela que deveria te contar, mas ela falou que estava
muito envergonhada e que destruiu tudo. Derek foi meio ruim....
— Você sabe o que ele disse exatamente?
— Algo como você é gorda e feia, era só diversão. — Kerry
deu de ombros. — Ele sempre iria escolher você. Eu o entendo,
também escolheria, Ruth era legal, muito bonita, mas você era o
patinho feio da escola que ficou o cisne depois da sua cirurgia
plástica.
— Realmente... Isso é muito chocante. Eu não sei o que
pensar e o que perguntar mais... Por que você a ajudou a planejar
aquilo? Por quê?
— Desculpa... Eu não deveria. — Kerry olhou para baixo,
fazendo-se de arrependido.
— A Ruth estava magoada e ferida, ela estava doente porque
as pessoas se acharam no direito de dizer coisas ruins sobre o corpo
dela. Ela era uma garota maravilhosa e uma boa amiga. — Rebecca
bateu na mesa.
— Não. Você não a conhecia... A Ruth até podia gostar de
você no começo, mas depois, ela simplesmente queria ser você. E
quem não queria? Você era o símbolo de superação na escola... A
garota que era feia e ficou bonita, eu gostava de você desde o
começo. — Kerry tentou pegar na mão da Rebecca e ela se
encolheu. — Acho que nós devíamos ser amigos.
— Amigos? Você ajudou a minha melhor amiga a se matar e
a tentar me matar. Você deveria ter procurado ajuda. Deveria ter
sido a pessoa lúcida, orientada e um pouco madura em entender
que ela precisava de ajuda! — Rebecca bateu na mesa com raiva e
apontou para um Kerry muito assustado. — Ela precisava de um
adulto para entendê-la. Alguém que pudesse mostrá-la que seus
sentimentos estavam embaralhados. A Ruth não me odiava de
verdade, porque ela teve milhares de oportunidades de me matar,
nós dormíamos juntas e bebíamos coisas no mesmo copo. Ela
estava sofrendo e não sabia como exemplificar, me pegou como
alvo, mas ela tinha problemas. Sérios problemas. E pelo visto você
também. Não ouse sentar aí e dizer que eu não a conhecia. Vou
viver com a culpa de ter falhado em não saber como ela estava, em
não ver que estava tão machucada que não sabia o que fazer, mas
eu não a ajudei a se matar. Eu a amava, você não.
— Eu sinto muito, Rebecca. Nunca pensei que a Ruth fosse
fazer algo do tipo...
— Claro que pensou, porque ela sentia que podia abrir com
você seus piores sentimentos. Você mesmo disse que ela não queria
me perder e me machucar. Se ela quisesse, ela teria me machucado.
Ruth estava com dor... — Rebecca começou a chorar. — Você
poderia ter me dito.
— Ela não queria que te contasse... Quando você falava
comigo, não queria desperdiçar o tempo que tínhamos juntos. —
Kerry era um babaca. — Não achava que ela estivesse doente de
verdade. Achei que ela só estava magoada por causa do Derek, ele
era um babaca mesmo.
— E você também.
Rebecca quase derrubou sua cadeira ao ficar de pé e saiu da
sala, batendo a porta com força. Olhei para o Kerry com desprezo e
saí, indo atrás dela. Rebecca estava andando de um lado ao outro
na minha sala, com a mão no cabelo, parou e me olhou.
— O que foi isso? — Rebecca apontou para a porta. — Em
que mundo eu estava?
— No mundo que a Ruth queria. Ela não queria te contar o
que realmente sentia. Talvez nem soubesse realmente definir seus
sentimentos. Depois desses anos em terapia, sabe que a nossa
mente tem espaços e profundidades que desconhecemos. —
Segurei seus ombros e eu estava orgulhoso que ela não estava
desabando de chorar. — Sei que tem muita informação na sua
cabeça agora e estou sinceramente perdido, porque você está quieta
e eu estou nervoso. Me diz o que fazer?
— Estou bem, na verdade, não muito bem, mas vou ficar
quando entender tudo isso. Não quero chorar, não quero sofrer
mais, apenas entender e lamentar que a Ruth estava perdida e
precisava de ajuda. — Rebecca me abraçou. — Se estiver tudo
bem, eu vou para casa, fazer a torta de tudo que minha mãe me
ensinou e esperar meu futuro marido chegar em casa.
— Está bem para ir embora sozinha?
— Estou sim. Me acompanha até a porta?
— Sim. Eu não vou demorar a chegar em casa...
Rebecca pegou sua bolsa e nós andamos juntos até a porta, ela
se despediu da Lexie. Blake estava em reunião e apenas acenou a
distância. Paramos do lado de fora, ainda preocupado, a mantive
em meus braços por um tempo antes que entrasse no carro. Fiquei
com a porta aberta, olhando-a ajustar a bolsa no banco.
— Você não pode me demitir! — Ouvi Robbie se aproximar
em passos pesados. Ele estava armado e apontando a arma para
mim. — Você não vai me tirar da equipe!
Fechei a porta da Rebecca bruscamente.
— Abaixa a arma, Robbie. Não é assim... Vamos conversar.
— Mostrei minhas mãos em rendição. — Você está precisando de
um amigo, vamos conversar.
— Você é um traidor.
Senti o primeiro impacto e caí contra o carro, ouvindo o grito
da Rebecca, mas o meu corpo estava impedindo a porta de abrir.
Levei minha mão a barriga e Robbie caiu no chão, olhando para
arma na sua mão e para mim. Eric apareceu correndo e pegou a
arma do Robbie. Lexie ajoelhou do meu lado, pressionando minha
ferida e apesar de tudo estar confuso, conseguia ouvi-los.
— Não, amor. Ai meu Deus! Alguém precisa ajudá-lo. —
Rebecca estava histérica. — Tem tanto sangue! Amor, por favor,
por favor... Fica com os olhos abertos. Estou bem aqui, eu sei, não
se force. Eu te amo... Ai meu Deus!
Rebecca chorava tanto que lentamente foi ficando distante e
não queria perdê-la de vista, mas perdi a batalha para a dor.
Rebecca.

Olhei para minhas mãos e os cantos das minhas unhas ainda


estavam cheias de sangue. Não podia acreditar em tudo que estava
acontecendo. Em um segundo nós estávamos nos despedindo, no
outro ele estava caído no chão, com tanto sangue, falando coisas
desconexas e eu apenas gritava.
Lexie, Blake, Eric e tantos outros funcionários
desesperados ao redor. Um homem realmente grande atirou no
Marco, ele disse algo sobre Marco ser um traidor. Os demais
seguranças o seguraram até a polícia chegar e eles chegaram antes
da ambulância.
Sei que eles demoraram porque minhas mãos seguravam o
ferimento conforme Lexie me instruiu e ela tentava manter Marco
acordado. A viagem na ambulância foi rápida e turbulenta, cheguei
ao hospital banhada no sangue do meu noivo.
Estava me sentindo tão devastada e confusa. Já fazia muito
tempo que não nos davam notícias e tudo que conseguia pensar que
não poderia existir uma vida no qual Marco não fizesse parte.
Mama Moretti estava sentada ao meu lado, Nikki estava
abraçada com ela e Blake do meu outro lado. Meu pai andava de
um lado ao outro, agitado, brigando com a recepcionista que era
um absurdo não termos notícias. Uma enfermeira vinha nos
atualizar e dizer que ele estava em cirurgia e sem detalhes.
— Você está muito gelada. — Blake esfregou meus braços.
— Alex, me dá o seu casaco! — Meu pai ainda estava
resmungando, andando de um lado ao outro. — Alex?
— Oi, o quê?
— Seu casaco! Rebecca está muito gelada, essa roupinha é
muito fina...
Meu pai tirou o casaco e eles me vestiram. Assim que
cheguei, uma enfermeira me levou a um quarto, onde tomei um
banho e me emprestaram um conjunto hospitalar. Foi como quando
meu pai sem querer acertou meu nariz e teve todo aquele
sangramento. Agora era o Marco e era cem vezes pior.
— Você precisa comer alguma coisa. — Minha sogra olhou a
hora. — O bebê não pode ficar tanto tempo sem alimentar-se. Você
precisa comer. Vince, meu filho, vá até uma lanchonete e compre
algo para Rebecca comer.
— Não vou conseguir... — As lágrimas não paravam de
escorrer dos meus olhos.
— Você precisa. Marco vai sair da cirurgia e vai ficar tudo
bem, meu filho é um homem muito forte. — Ela me abraçou
apertado.
A sala de espera estava muito cheia, todos os familiares do
Marco estavam ali. Karen apareceu junto com meus avós, eles
vieram imediatamente ao meu encontro e me abraçaram,
procurando um cantinho para ficar. Deitei minha cabeça no ombro
da minha mãe, meu pai ajoelhou na minha frente, secando meu
rosto e me ofereceu um copinho pequeno de chá. Bebi uns goles e
me senti aquecer por dentro.
Vince retornou algum tempo depois, trazendo consigo um
sanduíche com queijo, presunto, salada e batatas fritas. Ele trouxe
chá quentinho também, que bebi todo, comendo algumas batatas e
dei algumas mordidas no sanduíche só para meu pai parar de me
encher. Entreguei tudo para minha mãe e me encolhi no lugar.
Seis horas... Ele estava em cirurgia por seis horas.
Eu mal tinha espaço mental para processar tudo que o Kerry
me disse naquela tarde, só ia embora, espairecer e colocar minha
mente no lugar. Planejava fazer o jantar, colocar toda minha
energia na massa da torta e em seguida conversar com o Marco,
porque precisava de ajuda para ligar os pontos de tudo que ouvi.
Era muita informação e completamente surreal... Ruth precisava de
tanta ajuda que não tinha palavras.
Dois médicos saíram das portas que a enfermeira aparecia
para dar notícias.
— Família do Marco Antonio Moretti?
A sala inteira ficou de pé e eles até se assustaram.
— Hum... — Ele olhou algo na pasta que segurava. —
Rebecca Silverstone? Alma Antonella Moretti?
— Somos nós. — Minha sogra deu um passo a frente. Estava
congelada no meu lugar, temendo o que ele iria dizer.
— Nós tivemos uma cirurgia de muito sucesso, felizmente a
bala não atingiu nenhum órgão vital, tivemos um pequeno
problema com seu baço, que foi corrigido e ele terá um
funcionamento perfeito. Marco está bem, vai passar essa noite na
UTI e dependendo do modo que acordar, nós iremos levá-lo para o
quarto. Ele está bem.
Senti tanto alívio que meu pai me segurou no lugar.
— Infelizmente não posso permitir tantas visitas... Eu posso
permitir que uma visita rápida agora e um acompanhante para
noite.
— Eu quero ficar. — disse à minha sogra. — Por favor, não
vou conseguir ficar em casa sem ele.
— Tem certeza, querida? Você precisa descansar e se
alimentar bem.
— Eu não vou conseguir fazer nada disso sem ele.
— Tudo bem, eu vou vê-lo e você fica. — Mama Moretti me
abraçou e seguiu com os médicos.
— Vocês podem ir à minha casa buscar algumas roupas para
nós dois e ficar com a Leona? — Virei para meus pais.
— É claro, amor. Ligue se precisar de algo, estaremos aqui
logo cedo. — Blake me garantiu. — Sua bolsa acabou ficando no
seu carro, então, aqui. — Ela pegou sua carteira, deixou seu cartão
de crédito e todo dinheiro que tinha. — Tem uma loja aqui
dentro, em algum lugar, eu vi quando passei e tem casacos. Se
sentir frio, compre um. Seu pai vai deixar esse com você e coma
mais alguma coisa. O refeitório deles é vinte e quatro horas. Estarei
o tempo todo com o telefone, por favor, ligue.
— Eu vou ligar... Hum, estou sem telefone. Talvez o dele
esteja com as coisas do hospital porque estava no bolso, a
enfermeira me avisou.
— Irei trazer suas coisas e entregar a uma enfermeira, talvez
ela possa levar aonde estiver. Vou tirar essa dúvida. — Blake se
afastou e foi ao balcão de atendimento.
Lexie me abraçou apertado e Eric estava desolado, foi ele
quem demitiu Robbie e estavam planejando interná-lo em uma
clínica por estar mentalmente instável. Marco comentou comigo
sobre o Robbie diversas vezes, que estava dando um trabalho e
estava muito preocupado com as atitudes dele. Conhecendo Marco
como conhecia, sabia que não demitiu o rapaz e ia deixá-lo de lado,
pelo contrário. Marco era do tipo acolhedor e jamais abandonaria
um ex-fuzileiro.
Minha sogra voltou chorando, disse que ele ainda estava
dormindo e muito pálido, mas as mãos dele estavam quentinhas.
Me despedi de todos, segui a enfermeira e um médico
conversou comigo com calma porque disse que minha sogra estava
muito nervosa para compreender. Uma enfermeira me deu as
roupas dele, todas estavam em um saco bem embaladinhas e eu as
jogaria fora, peguei a carteira, colocando o dinheiro e cartão da
Blake, reparando que havia mais por ali.
Entrei no quarto que ele estava e fiquei tão triste de vê-lo
daquela forma, pálido, apagado, cheio de tubos conectados a ele e
segurei sua mão, beijei e fiquei um tempão apenas olhando-o até
ser interrompida por uma enfermeira me trazendo cobertores e um
travesseiro. Me ensinou como abrir o sofá para virar uma cama
confortável. Fiquei encolhida no cantinho, segurando a mão dele,
coberta e pouco antes de amanhecer uma enfermeira entregou a
mala e um saco de lanche que meu pai deixou na recepção.
— Ele vai acordar a qualquer momento. — Um médico entrou
com uma prancheta. — Você é a noiva grávida? Ele me disse que
era melhor não matá-lo porque ia casar e ser pai nos próximos
meses. — Sorriu e olhei para meu noivo, com saudades da sua voz
e sorriso. — Me chama quando ele abrir os olhos, está bem?
Assenti e voltei a encarar o Marco. Minha bexiga me alertou
que era melhor ir ao banheiro. Quando voltei, bebi mais água
porque não podia ficar sem beber água. Comi uma maçã que estava
embalada e cortada, do jeito que meu pai fazia quando era criança e
levava para escola. Era uma das poucas coisas que conseguia
comer.
Usava aquele aparelho terrível, quase não lembrava dele,
mas lembrava que meus pais picavam tudo para me ajudar a
mastigar corretamente. Quando fiz a cirurgia, demorou um ano
para morder coisas de maneira confortável e já nem lembrava mais,
era comum.
Reparei o momento que Marco abriu e fechou a mão,
agitando os olhos, ele abriu, fechou, piscou várias vezes e lambeu
os lábios, erguendo as mãos para tirar o oxigênio do seu nariz.
Impedi segurando sua mão, ele olhou para o lado e sorriu.
— Oi, linda.
— Oi, lindo.
— Eu sei que não estou no paraíso, mas olhar para você é
como olhar para um anjo, o problema que é gostosa e me faz pecar.
— Me provocou falando devagar e colocou a mão na barriga. —
Esqueci que levar um tiro dói. Você poderia se vestir de enfermeira
sexy?
— Você acordou me dando uma cantada, seu safado?
Levou um tiro, seu bobo!
— Não é a primeira vez, das outras vezes não tinha você lá.
— Não haverá mais nenhuma. — Beijei sua mão. — Você
lembra de tudo?
— Sim. Como está o Robbie?
— Eu não sei, amor.
— Você se feriu de alguma forma?
— Apenas o susto. Você fechou minha porta e a bloqueou
com o corpo, eu me abaixei na hora do disparo e depois saí pela
outra porta. Eric gritou comigo e mandou abaixar, alguém me
segurou no lugar, eu não o conheço e ele era enorme e outro
segurança passou por mim e eu não sei, porque não vi o que
aconteceu aí o Robbie foi desarmado e me soltaram para ir até
você.
— Que bom, eles fizeram o trabalho corretamente. — Me deu
meio sorriso.
— Tenho que avisar que você acordou, por favor, não volte a
dormir e fique bem. — Pedi e sai do quarto rápido, avisando e
voltando quase no mesmo segundo.
Marco foi examinado e não ficou quieto um segundo depois.
No mesmo dia a noite ele estava de pé contra as ordens médicas e
indo ao banheiro fazer xixi, só não foi sozinho porque me recusei
deixá-lo com medo que caísse.
Foi liberado do hospital cinco dias depois, com repouso de
mais quinze dias em casa. Eu me dividi entre dormir com ele, ir
para faculdade, voltar, fazer qualquer coisa que fosse necessário na
rua no horário da visita e voltava para o jantar e passar a noite.
Blake e Eric ficaram responsáveis pela empresa, meu pai me
ajudava em praticamente tudo e a trégua entre os dois durou até a
alta, quando voltaram a discutir.
Marco queria carregar a mala e dirigir, ele era tão teimoso
que me irritava profundamente. Meu pai pegou a mala e eu dirigi,
deixando meu irritante futuro marido de bico e braços cruzados.
Meu pai saiu logo que chegamos ao nosso prédio, estava
com saudades de casa e de dormir na nossa cama.
— Você teve alta para repouso, não para fazer esforço ainda.
Por favor, respeite o tempo do seu corpo. — Dei um beijinho na
sua bochecha e fiquei quieta para meu pai não nos ouvir.
— Você tem razão, sinto muito. — Marco segurou meu rosto
e me deu um beijo que me deixou toda arrepiada.
— Uau.
— É, uau. A saudade que estou de você...
O médico liberou sexo, moderado e sem muito esforço, então,
eu estava certa de que poderíamos esperar até estar totalmente
recuperado, mas ele não parecia querer renunciar a isso.
Era a primeira vez que meu apartamento estava cheio em uma
festa de boas-vindas. A Mama Moretti precisou explicar para
metade da família que não seria possível todos em meu
apartamento, então, foi reduzido para ela, Nicole, Eric, Lexie, os
pais do Eric e as irmãs da Mama Moretti com seus maridos e
filhos. O restante não dava mesmo. E claro, meus pais, avós de
ambos os lados, tio, tia e primos.
Marco foi abraçado por todo mundo, nossas mães fizeram
comida para um time de futebol americano sediando um time de
basquete porque toda superfície tinha um prato e uma garrafa de
vinho. Eu e ele ficamos no suco de uva integral que era uma delícia
e finalmente comendo algo além da comida do hospital.
Fomos extremamente paparicados, estava tão feliz de tê-lo
em casa, inteiro e bem que sentia vontade de chorar.
Meus hormônios estavam por todo lado, essa era a parte mais
chata da gravidez, minha oscilação, fome e sono. Pelo menos nesse
comecinho era o que mais sentia. Enquanto Marco esteve
internado, ele insistiu em uma consulta devido ao susto que passei
e felizmente o bebê estava com os batimentos cardíacos dentro do
esperado. Não consegui com a Karen ou com a Dra. Taylor, então,
pedi a uma residente do hospital que o Marco estava apenas para
ficarmos tranquilos.
Teria uma consulta na outra semana e tudo estaria bem, esse
bebezinho tão pequeno, já era muito amado e esperado. Dormia e
acordava pensando no quanto ele mudaria nossas vidas, seria um
desafio, tinha medo de falhar e iria estudar sobre crianças e depois
deixar meu instinto me guiar.
— Estou impressionado sobre o quanto você lidou com o caos
com tanta maturidade. — Meu pai sentou-se ao meu lado. — Todo
dia me faz morder a língua.
— Não foi intencional, mas quando ele me pediu em
casamento, concordamos uma vida a dois... Decidimos por uma
vida no qual teríamos ao outro em todo momento. Essa foi a nossa
principal promessa. — Ele me serviu mais um pouco de suco. —
Mas eu te juro, que eu vou faltar a universidade amanhã e pedi dois
dias de folga do jornal, porque por tudo que é mais sagrado, preciso
dormir. Minha amiga vai tomar notas, fazer as gravações das aulas
e me ajudar com os trabalhos.
— Tudo bem, folga merecida. E você é uma mulher adulta
agora, estou tentando lidar com isso. Tenho ida a terapia com sua
mãe e consegui ver o quanto errei com você. Era uma forma ruim
de amor, com muita proteção e desespero. — Apertou meu joelho.
— Vocês vão nos acompanhar na reunião com o advogado da
adoção?
— Se o Marco estiver sentindo-se mal, vou pedir para a Nikki
cuidar dele e vou com vocês.
Pouco mais de uma hora, minha sala estava vazia e nossas
mães deixaram tudo limpo e organizado. Tomei banho quentinho,
demorado, amando estar no meu banheiro depois de longos dias e
vesti um pijama rosinha claro, com rendinhas escuras e Leona já
estava dormindo na sua cama depois de ficar horas em cima de nós.
Marco tomou banho antes de mim, então, procurei-o pelo
segundo andar e desci a escada encontrando-o na cozinha bebendo
água. Estava só de cueca e a cicatriz ainda estava vermelha. Não
estava usando o curativo que o médico mandou, seu cabelo estava
molhado e bagunçado, ainda assim, o homem mais bonito do
mundo.
— Oi, lindo.
— Oi, linda. — Sorriu e encostei no balcão. — Adoro esse
pijaminha. — Me encurralou contra o balcão, puxando a parte de
renda do meu short e acariciou minha coxa.
— O médico disse que deveríamos ir com calma.
— Nós podemos ir com toda calma. — Marco beijou meu
pescoço e apertou minha bunda, me puxando para frente. — Bem
devagarzinho. — Mordeu o lóbulo da minha orelha. — Quero tanto
você que chega doer... — Pegou minha mão e me fez agarrar seu
pau, acariciando e puxei sua cueca para baixo, tocando uma
punheta suave só para ouvi-lo gemendo baixinho no meu ouvido.
— Eu senti sua falta... — Choraminguei e beijei sua boca. —
Vamos para cama e eu vou fazer todo esforço. Você não pode abrir
seus pontos no primeiro dia em casa.
— Combinado.
Acordar abraçada com Marco me fez sorrir. Beijei suas costas
e acariciei sua cintura, ele estava de lado e segurou minha mão,
nossas pernas estavam emboladas e tive que interromper nosso
momento de carinho para fazer xixi e meu estômago rosnou
faminto.
Saí do banheiro direto para a cozinha, enchi uma tigela de
cereal, leite e joguei granola junto só porque estava com vontade.
Piquei umas bananas, morangos, mirtilo e amoras.
Marco desceu sonolento, nós comemos e voltamos para cama.
Leona deitou conosco, tão cansada quanto estava, voltei a dormir
sem nenhuma demora. Acordei horas mais tarde, sozinha na cama e
senti o cheiro delicioso de comida pelo apartamento. Continuei
deitada, com minha cabeça girando ao redor dos últimos
acontecimentos e eu pensei na Ruth.
Contrário à opinião dos meus pais, eu sabia que a Ruth não
queria me matar de fato. Ela confiava em mim, estava com sua
realidade distorcida e no meio das minhas pesquisas, entendi que
ela podia estar tão mentalmente instável que poderia desejar ferir
qualquer um.
Ao longo dos anos, ela absorveu tudo que diziam sobre
ela. O casamento ruim dos pais, as piadas das garotas da escola, as
exigências ridículas que homens possuem sobre o corpo da mulher
e o fato da sociedade achar que pode ter um número padrão para
beleza. Ruth foi uma vítima da gordofobia, do bullying e do mau
caráter humano. Foram anos e anos, muitos anos, engolindo calada,
levando para seu coração e achando que aquelas palavras eram
certas. Tantas e tantas vezes a acusei em ser imatura, por se
importar, por não enxergar que era linda...
Era porque eu enxergava a beleza dela, mas ela era
incapaz de enxergar a si mesma e ficou sem controle.
Provavelmente não a ajudei cada vez que ganhei peso e disse na
frente do espelho que me sentia gorda, posso não ter ajudado
quando fiquei de palhaçada porque não queria usar um biquíni.
Não fui cuidadosa porque estava focada demais em
qualquer coisa para perceber que ela estava muito ferida. Fiz um
tremendo desserviço.
Só aprendi a perceber o mundo ao redor do meu umbigo, das
minhas dores e dos meus próprios traumas de infância quando ela
morreu. Ruth não estava lá por mim e eu também não estava lá por
ela. Nós apenas estávamos juntas e nada mais. Duas garotas feridas
em muitas formas que não souberam enxergar o próximo, porque
estavam ocupadas demais tentando lamber as próprias feridas.
Esperava que um dia Ruth pudesse me perdoar e que eu
pudesse me perdoar.
— Rebecca, amor! Comida... — Marco subiu a escada
gritando. — É tão bom, tão bom mesmo estar em casa. —
Apareceu no quarto ainda usando a cueca cinza escura. — Brinquei
com minha cachorrinha, fiz amor com minha mulher, acordei
abraçadinho com ela, tomei café, dormi de novo e cozinhei o nosso
delicioso almoço.
— O que você fez?
— Espetinhos de carne e frango grelhados na nossa
churrasqueira elétrica que você disse que era um desperdício
comprar, salada de brócolis com tomates e queijo, que você adora.
— Inclinou-se sobre a cama e me deu um beijo. Ele estava com o
curativo na cicatriz. — Eu mesmo limpei e cuidei direitinho.
— Que menino grande que tenho em casa. — Provoquei e
fiquei de pé, segurando sua mão e Leona foi descendo a escada
entre as nossas pernas. — E excelente cozinheiro também.
Marco montou nossos pratos e fiquei encostada no balcão,
pensando no Kerry e em tudo que ele disse sobre a Ruth, coisas que
desconhecia, que me fez sentir culpa por tudo novamente.
Enquanto Marco estava internado, todas essas coisas passavam no
meu subconsciente sem controle e foram me corroendo ao ponto de
deixar todas as feridas abertas novamente. Elas estavam respirando
e abrindo ainda mais. Tudo que lutei para fechar e cicatrizar nos
últimos dois anos estavam ao páreo.
Era impossível lutar com a sensação que tudo era minha
culpa. Por que eu não fui mais sensível? Por que ela não me falou?
— Ei, linda. Está tudo bem?
— Claro, vamos comer. — Sorri e sentei ao seu lado.
Por que eu não prestei mais atenção no que estava
acontecendo ao meu redor?
Rebecca.

— Você tem certeza de que está bem? — Marco me


perguntava todos os dias, me olhando desconfiado, segurando
minha mão e mantendo seus olhos nos meus. E todas às vezes dizia
que sim, mas não tinha certeza, algo estava errado dentro de mim.
Algumas vezes amanhecia como se estivesse com meu coração
partido mesmo com tudo ao redor me dizendo que tinha direito de
ser feliz.
Eu tinha motivos para ser feliz, precisava me perdoar.
— Estou ótima. — Sorri e vesti minhas botas, peguei minhas
luvas e fiquei de pé. — Vamos ver o nosso bebê?
— Sim, vamos ver o nosso bebê.
Nós andamos de mãos dadas até o nosso carro e eu não liguei
o rádio, porque não queria ouvir músicas. Fiquei olhando a cidade
passar pela minha janela e senti a mão dele na minha, brincando
com a aliança nos meu dedo. Sabia que ele estava pensando, que
não estava me abrindo e compartilhando meus sentimentos.
Não queria ferir sua confiança.
— Não estou bem. — Assumi timidamente.
— Eu sei. — Marco beijou minha mão. — Quer falar sobre
isso?
— Tudo isso com a Ruth novamente abriu as feridas. Estou
me culpando, sem saber o que pensar, o que lembrar...
— Ela era quem te traía.
— Vocês estão olhando as atitudes, não os sentimentos. Poxa
vida, o papai vive errando, tomando atitudes erradas porque não
sabe controlar os seus sentimentos. — Olhei para o Marco. — Com
a Ruth era a mesma coisa. Não ajudava absolutamente em nada que
o Derek a usava, sabe se lá que coisas horríveis ele deveria dizer a
ela para justificar suas ações. — Suspirei e coloquei a mão na
minha barriga. — Ruth foi usada. Usada, abusada e jogada fora
como se fosse nada. E eu? Preocupada em não ser um descuido, em
não agir como um acidente da natureza que os pais precisaram
assumir. Estava com medo de não ser amada quando eu era muito
amada. Eu tinha tudo e não enxergava, ela tinha toda beleza do
mundo e não enxergava. Nós não nos enxergamos e ela sabia que
de alguma forma estava com dor também e por isso que ela armou
tudo, porque naquela noite, queria acabar com as mentiras, com os
segredos e com a dor. Ela precisava dar um fim e deu.
Marco respirou fundo.
— Nós temos que conversar com sua terapeuta.
— Estou tentando arduamente não afundar, sabe? Me sinto
como aquela pessoa que se esforça para manter sobre a superfície.
Mergulhar ainda mais nas profundezas dos sentimentos da Ruth me
fez sentir egoísta e muito mimada.
— Tudo que você não é. — Marco me deu um beijo na mão e
estacionou na frente do laboratório. Nós fizemos o exame da
sexagem fetal e teríamos mais uma consulta com ultrassonografia,
que era na verdade, a minha favorita. — Quer abrir agora ou com a
Dra. Taylor?
— Quero abrir agora. — Arranquei o envelope das mãos dele
e rasguei no cantinho, tirando a folha, desdobrei e abri. — Ai meu
Deus, Marco! Nós temos um menininho! — Gritei emocionada e
ele me abraçou um apertado. — Um mini-Marco. Que alegria, meu
amor.
— Não acredito que é um menino, caramba! — Marco estava
praticamente deslocando as minhas costelas. — Eu te amo,
Rebecca. Estaria feliz se fosse uma menina também.
— Eu também. Vamos contar a Karen e a Dra. Taylor que é
um menino. Quero fazer uma surpresa para os nossos pais, vou
ligar para confeitaria e pedir que o bolo seja azul por dentro. Acha
que podemos jantar no restaurante hoje?
— Tudo que você quiser. — Marco me deu mais um beijo e
voltou a dirigir, nos levando para o hospital aonde a Dra. Taylor
também atendia clinicamente.
Karen nos recebeu na porta, ansiosa e gritei que era um
menino, assustando um casal que estava perto de nós. Nos
abraçamos e ela nos levou para sala de exames, troquei de roupa no
banheiro ouvindo Karen pentelhar o Marco, que não escondia o
sorriso enorme no rosto. Trocamos um beijo apaixonado enquanto
a Karen preparava a máquina e nos preparamos o exame.
Minha prima passou o gel na minha barriga, já estava com
uma pontinha durinha. Estremeço com o gel geladinho e já estava
ansiosa.
Karen ficou em silêncio primeiro, ela sempre ficava, porque
precisava fazer as medidas e tirar as fotografias, então, olhei para o
Marco e o puxei para um beijo. Estava sorrindo, sentindo uma
felicidade que não estava sentindo meia hora atrás. Meu bebê era a
minha chance de vida, meu novo amor e a minha paixão. Não sabia
que ficaria tão feliz e tão assustada ao mesmo tempo.
A felicidade estava superando o medo, porque eu amava me
sentir como mãe. Sabia que seria uma boa mãe, porque meu sangue
corria pelas veias intensamente para amar a maternidade. Desde
que descobri a gravidez, muitas coisas passaram pela minha cabeça
e eu mergulhei em diversos tipos de turbulências emocionais, mas
o amor pelo meu bebê apenas cresceu e se tornou maior que eu ou
o Marco. Se tornou maior que nós.
Karen ficou muito séria.
— O que foi? — Perguntei estranhando seu semblante. —
Está tudo bem?
— Acho que essa máquina não está muito boa, vou pegar
outra na sala ao lado. Já volto, está bem? — Karen desligou o
aparelho e foi empurrando para a porta.
Olhei para o lado, nervosa.
— Será que está tudo bem?
— Ela disse que era a máquina, não se preocupe. — Marco
beijou minha testa.
Nós aguardamos por um longo tempo e então, a Dra. Taylor
entrou na sala empurrando o carrinho com outra residente, que
conhecia de estar nos aniversários da Karen desde que começou a
trabalhar naquele hospital.
— Cadê a Karen? O que está havendo?
— Surgiu uma emergência de uma paciente que ela está
acompanhando. Você conhece a Dra. Simmons? — Dra. Taylor me
deu um sorrisinho. — Nós vamos prosseguir com o exame.
— Tudo bem. Karen te contou que dizemos a sexagem fetal?
É um menino. — Sorri deitada no meu lugarzinho. Dra. Taylor me
deu um sorriso apertado, limpou minha barriga e recolocou o gel.
Ela ficou em silêncio, a Dra. Simmons atrás dela olhando
concentrada para a tela e ambas pareciam tensas demais.
Procurei a mão do Marco e apertei seus dedos, porque sentia
que algo estava errado.
— Está tudo bem, Dra. Taylor? Nós poderemos ouvir o
coraçãozinho do nosso menino? — Marco abaixou do meu lado e
apertou minha mão.
— Só um minutinho. — Ela pediu séria e o olhei, sentindo
medo. — Rebecca e Marco... O exame está detectando um feto sem
batimentos cardíacos. Nós precisaremos fazer mais alguns exames
para definir e compreender o que aconteceu, mas infelizmente, não
há vida no seu bebê.
— O quê? É impossível.
— Eu sinto muito, querida. — A Dra. Taylor segurou minha
mão. — Realmente sinto muito.
— Não. Tenta de novo e você vai ouvir bater. — Insisti e
tentei sentar. — Por favor, tenta de novo.
— Dra. Taylor... Nosso bebê está morto? — Marco estava em
choque.
— Infelizmente sim. Eu vou dar a vocês alguns minutos e vou
preparar sua internação. Nós temos que fazer alguns exames e em
seguida discutir o procedimento.
As duas médicas saíram da sala e um som horrível preencheu
o ambiente, só pela forma que Marco me abraçou que soube que
era meu. Estava gritando, agarrada a ele, sentindo uma dor me
dilacerar de ponta a ponta. Fiquei tão histérica que um médico
entrou e disse que me daria um calmante, mas, gritei para que não
encostassem em mim.
Marco pediu que ele saísse, segurei o rosto dele, sentindo
suas lágrimas molhar minhas mãos.
— Eu não posso acreditar que isso aconteceu, é minha culpa,
por favor, me perdoa. Eu te amo, me perdoa. — Abracei-o bem
apertado.
— Não foi nossa culpa, amor. Não foi... Nós vamos descobrir
o que aconteceu... — Marco me beijou repetidas vezes. — Vamos
passar por isso juntos.
— Está doendo tanto... — Agarrei-o e a Dra. Taylor voltou
para sala.
Havia uma equipe com ela, me pegando e colocando em uma
cama hospitalar, empurrando até um quarto. Marco estava o tempo
todo do meu lado, segurando minha mão e eu mal conseguia erguer
o rosto, encostada no seu braço. Estava ignorando o que era falado
comigo, fui furada, cutucada e só ergui meu rosto quando ouvi a
voz da minha mãe. Ela tirou o casaco e jogou a bolsa no sofá.
— Mãe! Eu perdi meu bebê! — Chorei e ela me abraçou
apertado. — Ela disse que ele está morto. O que eu fiz? O que tem
errado comigo?
— Não tem nada de errado com você e nós vamos descobrir o
que aconteceu. — Blake esfregou minhas costas. — Marco tem que
sair agora, ele é seu responsável médico e precisa assinar seu
prontuário. Aqueles médicos fizeram exames e logo nós vamos
saber o que aconteceu.
— Está doendo tanto... Meu peito dói tanto.
— Eu sei.
Blake vai deitou ao meu lado, me balançando de um lado ao
outro, me ninando, tentando me acalmar, mas, tudo que sentia era
dor. Fechei meus olhos, desejando não existir mais. Queria acabar
com o aperto no peito que me impedia de pensar, respirar e meu
coração explodir no peito. Era tanta dor e me desliguei totalmente.
Era apenas meu corpo lá, não a minha mente.
— Não me deixa sozinha. — Foi a única coisa que pedi para o
Marco.
— Estarei do seu lado o tempo todo. — Marco me beijou na
testa. — Eu te amo muito.
Não respondi, apenas sorri e deitei na cama. Nós ficamos em
silêncio, esperando a Dra. Taylor e ela chegou com um sorriso
profissional e um olhar triste. Blake, Karen, meu pai e o Marco
estavam ao meu lado. Foi discutido o procedimento, eles
debateram, fizeram perguntas e eu apenas fiquei deitada de lado,
segurando a mão do Marco e com o rosto escondido no seu pulso.
Ele estava acariciando meu cabelo com a mão livre e fechei meus
olhos, ignorando-os completamente.
Todas as vezes que a Blake perdeu um bebê, apenas uma vez
que ela ficou de fato internada e fez um parto, porque tinha passado
de vinte semanas. Nós fizemos um enterro simbólico e foi
realmente terrível. Entendi completamente porque ela não saiu da
cama nas semanas seguintes e demorou um tempo para voltar ao
trabalho. Não queria ver a vida, porque me sentia sem uma.
Me sentia completa e intensamente vazia.
Uma semana depois estava em casa, com meu cabelo molhado
e sentada no meio da cama como Marco penteando meu cabelo,
esticando meus fios e dizendo que fez sopa para o jantar. Era dia de
Ação de Graças e nós não saímos de casa. Não havia pelo que dar
graças naquele ano.
Não saí da cama desde que cheguei do hospital e todos os
banhos eram porque ele me arrastava até o chuveiro ou a banheira.
— Você deve ir jantar com sua mãe. — Deitei na cama e me
cobri. Leona chorou para subir na cama, peguei-a e botei ao meu
lado. Marco puxou o edredom, deitando atrás de mim.
Alma estava oferecendo um jantar para dar graças fora de
época, ela esperava que fôssemos, mas eu não cogitava sair da
cama.
— Estou muito bem aqui. — Beijou meu pescoço. — Tudo
que preciso está bem aqui. Você e a Leona. — e acariciou a
cabecinha dela. — Vou se quiser ir.
— Eu não tenho motivos para dar graças e não quero ouvir as
pessoas que sentem muito. — Virei de frente para ele. — Não
quero mais ouvir que meu útero está limpo e será mais fácil tentar
novamente. Realmente não quero ouvir que eu sou jovem, muito
saudável e poderei ter quantos filhos quiser.
— Eu sei, amor. Eu também não estou pronto para ouvir
nenhuma dessas opções. — Marco me beijou e segurei seu rosto,
estendendo o beijo, colocando minhas pernas entre as suas. — Esse
é o melhor lugar do mundo.
— É o meu lugar favorito do mundo. — Segurei-o bem firme.
— É onde me sinto segura e amada, obrigada por não soltar a
minha mão.
— Nós passamos por muito em apenas em pouco tempo,
precisamos de um tempo juntos. — Marco apertou meu nariz
quando comecei a chorar de novo. — Você ronca sempre que
dorme chorando.
— Você ronca o tempo todo. — Acusei de brincadeira.
— Com os dois roncando é por isso que a Leona está optando
por dormir na cama dela e não conosco.
— Pode agendar uma sessão com a Dra. Jones? Estou pronta
para falar. E você?
— Vai ser bom falar com quem vai poder nos ajudar. Mas
estou aqui para te ouvir e falar, precisamos apoiar ao outro.
— Quer tentar ter outro bebê imediatamente?
— Não... E você? Acho que precisamos superar esse
momento para pensarmos em tentar novamente. Talvez logo depois
da sua formatura, faremos uma viagem de formatura e quem sabe,
o casamento e então encomendamos um bebê. Ou vamos deixar
para o momento que sentir confortável.
— Eu acho que é um excelente plano. — Beijei seu queixo.
— Nós ainda vamos acompanhar meus pais no processo de
adoção?
— Se isso te fizer bem, sim. E será um processo longo, nós só
teremos contato com as crianças no ano que vem, vai nos dar um
bom tempo para passar por esse caos. Nós vamos sobreviver a
qualquer coisa assim, bem juntinhos.
Escondi meu rosto no pescoço dele, sentindo o cheirinho da
sua loção de banho e o bater do seu coração. Marco desceu as mãos
para minha bunda, apertando de brincadeira e me fez rir e ficar
ainda mais próxima. Estava de repouso, não podia fazer esforço.
— Por alguns segundos, pensei em nomear o nome do bebê de
Antonio como você e seu pai. Antonio Alexander Moretti. —
brinquei com a gola da sua camisa.
— Seu pai ia chiar por ser o segundo nome. — Ele riu.
— Eu sei e ia ser divertido vê-lo brigar com isso. — Leona
pulou por cima de mim e tentou se encaixar entre nós, rodopiando e
me mordeu para dar espaço.
— Eu ia mandar nomear seu próprio filho com seu nome. —
Marco a acomodou entre nós. — Nós podemos guardar esse nome
se o próximo for menino.
— Nós vamos conseguir passar por isso, não vamos?
— É claro que vamos... É por isso que vamos prometer na
saúde, na doença, na alegria e na tristeza.
— Para sempre. — Beijei sua boca. — Para todo sempre.
Marco.

Rebecca estava parada de frente a janela, olhando a neve cair


e abriu um sorrisinho, colocando a mão contra o vidro. Sua outra
mão segurava sua caneca preta, cheia de café, ainda bem quente e
usava uma blusinha branca curtinha, sem sutiã e uma calcinha rosa
de babados que era sexy e engraçada. Nos pés, usava minhas meias
pretas de lã. Aquele sorrisinho era o máximo que ela conseguia nas
últimas semanas.
Quando sorria de verdade para mim, logo seus olhos
enchiam de lágrimas e seu choro chegava em seguida, me deixando
ainda mais de coração partido.
Ela estava próxima à nossa nova árvore de natal. Decidimos
sair para fazer compras de natal de última hora. Na verdade, ela
acordou e me chutou da cama dizendo que estava com muita
necessidade em fazer compras. Não estava negando qualquer
reação positiva dela, principalmente aquela que se animava em sair
da cama, do quarto e de casa. Nós decoramos o apartamento e
fizemos compras de comida.
Decidimos fazer nossa ceia de natal privada, apenas nós dois,
com direito a tudo e no dia seguinte iremos passar a manhã com os
pais dela e sua família, pela tarde, nós iremos para casa da minha
mãe passar um tempo com a minha família.
Rebecca foi a faculdade, trabalhou no jornal e entrou de
férias de inverno na última semana no qual se recusou atender
telefonemas, sair do apartamento ou até falar com o editor dos seus
livros. Precisei ligar para ele, fazer o pagamento do mês e pedir que
aguardasse um pouco.
— Você quer ovos? — Tirei a cartela na geladeira.
— Com queijo e presunto. — Continuou na janela.
— Mexidos ou como omelete?
— Do jeito que for comer. Ah, coloca aqueles temperinhos
gostosos? — Andou até a cozinha e parou na minha frente. —
Posso comer dois? Estou realmente com fome. — Larguei os ovos
em cima da pia, abracei-a bem apertado porque ela finalmente
estava ficando com pouca roupa na minha frente e demonstrando
ter apetite. — Hum, que homem cheiroso esse meu noivo lindo.
— Você que é cheirosa e gostosa, agora sente-se ali que irei
preparar o melhor café da manhã natalino que já experimentou. —
Apertei sua bunda e ela se sentou no banquinho, comendo cookies
que assamos juntos ontem à noite. — Quer aprender a fazer
rabanadas?
— Quero. Eu amo comer as rabanadas da minha avó Sarabeth,
são as melhores do mundo. — Rebecca se inclinou sobre o balcão.
— Depois de comer, porque estou com muita fome. — Roubou
uma fatia de presunto.
Preparei nossas omeletes e comemos enquanto cortamos os
pães para fazer a rabanada. Rebecca andou até a sala, Leona saiu
dos meus pés e a seguiu, aí eu quase derrubei a espátula ao ouvir o
som. Uma música natalina ecoou pelo apartamento, ela voltou com
um sorrisinho sem graça e encolheu os ombros.
— Criando boas memórias para o nosso primeiro natal. —
Voltou para o seu lugar. — Minha barriga já desinchou bastante...
Reparou?
— Reparei sim. Está doendo menos?
— Já parou de doer. Dia vinte e seis tenho uma nova
consulta... Ver se está tudo bem. — Pegou a faca para cortar mais
pães. — Você já viu a receita das rabanadas recheadas? Tem
chocolate com nozes na geladeira. Acho que vai ficar uma delícia...
Rebecca foi até a geladeira, pegou o pote de chocolate com
nozes e uma colher, voltando para o seu lugar e segurei seu queixo,
beijei sua boca.
— Vou na consulta com você, tenho um horário livre pela
manhã. Depois você poderia ficar comigo no trabalho, vou criar um
projeto de segurança para uma escola sediar uma olímpiada entre
as escolas da região. Eu vou precisar ter o colírio dos meus olhos
para fazer um bom trabalho. O que acha?
Rebecca enfiou uma colher de chocolate bem cheia na boca.
— Espera, isso leva ovo? Cru? Poxa... — Engoliu com
dificuldade. — Não vou me matar se ficar sozinha em casa por
alguns dias. Só não quero os olhares... Além do mais, nos
comprometemos de ir com meus pais para o psicólogo da adoção.
Então vou sair de casa...
Fiz um pequeno beicinho e levei os pães para começar a fritar.
— Que beicinho lindinho. Mas eu vou... Se vai te fazer
trabalhar melhor, eu vou.
Fiquei quieto, fazendo as rabanadas e Rebecca começou a
cantar. Ela estava pensando que estava chateado e estava. Não
gostei de ela sequer mencionar que não se mataria se ficasse
sozinha, isso não deveria ser dito ou pensado. Era minha maior
preocupação todos dias quando saía para trabalhar. Ela não cantava
mais, não dançava, não tocava no seu teclado e não estava soltando
suas gargalhadas maravilhosas. Ela não penteava o cabelo, não se
vestia do seu jeitinho bonitinho e extrovertido, não passava
maquiagem, sempre pálida e com os olhos inchados.
Foi um tiro e um aborto que tirou a nossa vidinha perfeita do
eixo.
— Marco? — Rebecca me abraçou. — Me desculpa por dizer
sobre me matar. Eu não vou fazer isso.
— Você pensa?
— Não. Eu juro.
— Eu posso deixar facas e tesouras pela casa?
— Olha para mim. — Virei de frente e ela deitou a cabeça no
meu peito. — Eu te amo muito. Muito mesmo... E sigo não
querendo morrer, mas estou com meu coração partido e no
momento, viver dói. Você levou um tiro bem na minha frente e
qualquer barulho semelhante a isso me faz querer correr e depois
nós perdemos o nosso bebê. Viver dói muito agora. Essa é a
primeira prova de fogo do nosso relacionamento e me sinto segura
por ter você, mas não quero sair da cama. Não quero... Ver
ninguém. — Apoiou o queixo no meu peito. — Você sabe... Os
olhares. Alguns pensam que estou sendo mimada ao estar sofrendo
porque ele tinha apenas treze semanas. O hospital considerou meu
bebê um lixo hospitalar e não pude fazer um enterro. Eu amava
esse bebê. Queria... Eu realmente queria ter o meu filho.
— Eu sei, amor. E não... Você não está sendo mimada. Dói
em mim também, porque sonhava e planejava uma vida com o
nosso bebê. — Beijei sua testa. — Temos o direito de sentir o luto
e nós vamos. Foda-se o que os outros estão pensando. Eu sei que
você está sentindo e isso que importa.
— A Dra. Jones disse para não me forçar porque pode ser
pior, que é importante respeitar o tempo de luto. Então estou me
respeitando, prometo que pode deixar as facas, garfos e todos os
objetos pontiagudos nessa casa. Agora a rabanada está
queimando... — Beliscou minha barriga e virei as rabanadas.
Quando terminei as rabanadas, ela recheou a metade e deixou
algumas sem. Seu telefone tocou e era sua mãe, ela deslizou para
encerrar a chamada e com a boca cheia de rabanada, me deu um
sorriso com os dentes sujos. Tirei uma foto, ela gritou e correu
atrás de mim no apartamento, se pendurando nas minhas costas e
Leona mordia seu calcanhar.
— Apaga a foto, Marco Antonio. Apaga agora! — Ela gritou
comigo e tentava mastigar o que estava na boca. — Se você
postar...
— Qual o problema? Eu não tenho redes sociais, então, só
poderia postar nas suas... Será que seus dois milhões de seguidores
querem te ver descabelada e com a boca cheia?
— Eles também verão minha blusa transparente e meus
mamilos. — Dei de ombros e olhei melhor a foto.
— Como sempre, seus mamilos polêmicos. — Peguei-a pela
cintura e a ergui em meu colo. Beijei cada um deles, mordendo de
leve e ela cruzou as pernas na minha cintura. — Vou te beijar e é
melhor ter engolido esse monte de pão com canela, açúcar e
chocolate.
— Engoli, mas meus dentes ainda estão sujos.
— Eu não me importo, a prova que te amo, nunca duvide. —
Beijei sua boca e caímos no sofá, apenas namorando, porque ela
ainda estava de repouso da cirurgia. Desacelerei nossa pegação
porque meu pau estava duro e ela estava excitada, mas não havia
nada que pudéssemos fazer.
— Não duvido do seu amor. — Me deu um beijinho doce.
— Acho bom. Eu vou colocar o frango no forno... Quer me
ajudar a fazer o purê?
— Daqui a pouco. Vai dar tempo... Pega mais uma rabanada?
— Continuou deitada no sofá, totalmente jogada com as
almofadas.
— Você vai explodir. — Não podia deixar passar a
oportunidade de provocá-la.
— Foda-se. — Grunhiu e aceitou mais uma rabanada.
Arrumei o frango que estava no tempero desde a noite anterior
na travessa, batatas e outros legumes ao redor, recheei com bacon e
linguiça, enfiando no forno. Peguei uma garrafa de vinho, servi em
duas taças e voltei para o sofá com ela.
Seu telefone estava com quarenta ligações perdidas e o
meu também. Blake estava revezando entre ligar para sua filha e
me ligar. Nossos pais não estavam muito felizes com a nossa
decisão de ficarmos em casa sozinhos.
Blake e Alex estavam devastados. Eles absorviam muito
os sentimentos da Rebecca e por experiência, sabiam o que
estávamos sentindo.
Rebecca procurou um estúpido filme natalino para assistir,
bebendo e meio deitada em mim, com Leona enroladinha em cima
de uma almofada de pelúcia. Nós passamos o dia inteiro
cozinhando, comendo, a noite nos vestimos com as roupas ridículas
que ela comprou para o nosso primeiro natal. Eram conjuntos de
pijamas de pelúcia vermelhos com pequenas árvores de natal por
todo lado.
Eu a amava muito para usar aquela coisa e ainda fui obrigado
a tirar fotografias para guardar de recordação. Arrumei a mesa, ela
decorou com os enfeites que compramos e ficou parada,
emocionada e orgulhosa.
— Nosso primeiro natal, amor. — Rebecca respirou fundo
umas trezentas vezes para não chorar. — Eu acho que está perfeito.
O frango está cheiroso... Vou colocar as vagens e as cenouras na
mesma vasilha.
Se afastou secando o rosto.
— Aquela de bambu deve combinar.
Nós estávamos arrumando as vasilhas com todas as nossas
comidas e a campainha tocou. Olhei o olho mágico e abri a porta.
Blake estava segurando uma vasilha e Alex um peru, ele começou
a rir assim que se deu conta da minha roupa.
— Eu me recuso a passar a noite de natal sem vocês. — Blake
passou por mim e me deu um sorriso. — Oi amor, que lindos estão!
Estou apaixonada por esses pijamas, por que nunca pensei nisso
antes?
— Porque não somos bregas. — Alex respondeu e me olhou
de cima abaixo.
— Não me faça ir até a loja mais próxima e comprar um
conjunto para nós dois. — Blake o ameaçou e abraçou a Rebecca.
— Me desculpe por invadir, mas eu nunca passei um natal longe de
você. Não estava preparada psicologicamente. Não nesse
momento.
— E o restante da família? — Rebecca segurou sua mãe pelos
ombros.
— Sua avó está recebendo a todos e amanhã tomaremos café
da manhã juntos.
— Não é que não queríamos ficar com vocês... — Rebecca
mordeu o lábio e me encarou.
— É que não queríamos passar a noite com os comentários
que são inevitáveis. — Completei por ela.
— Nós já passamos por isso algumas vezes. — Alex deu um
beijo na sua filha. — E compreendemos totalmente, então, será um
natal da família Silverstone sem os demais.
— Alex! Minha família não é os demais, que coisa. Sua mãe
está namorando um garoto trinta anos mais jovem e com o cabelo
roxo, portanto, não fale da minha família. — Blake bateu nele de
brincadeira.
— Desculpe, mas é natal dos Moretti com os Silverstone. —
Corrigi cruzando meus braços e Alex simplesmente revirou os
olhos. — Todos bebem vinho?
— Se ele custar mais de cinquenta dólares... — Alex andou
até a minha adega.
— Não sou mão de vaca como uma pessoa que eu conheço.
— Peguei a garrafa mais cara da minha coleção. Alex colocou os
óculos para analisar o rótulo e fez uma expressão de agrado. — Sei
que você até pagaria por uma garrafa dessas, mas nunca abriria.
Você é a pessoa mão de vaca caso esteja em dúvidas.
— Espero que vocês não briguem, é natal. — Blake pegou as
taças de vinho e alinhou no balcão. Alex e eu dissemos ao mesmo
tempo que nós não estávamos brigando. — Que seja. Então, como
você está se sentindo? Quer companhia para ir a consulta? Marco
vai com você?
Rebecca levou sua blusa para mostrar aos pais que sua
barriga havia desinchado. Nós falamos sobre os próximos exames e
uma coisa boa sobre os pais da Rebecca era que eles não ficavam
lamentando uma situação. Eram práticos, estavam com ela no que
precisasse e não ficavam nos olhando como um casal de
alienígenas de luto por um bebê de treze semanas. Eles nos
entendiam mais do que ninguém.
Nosso jantar foi divertido e Rebecca deu boas risadas.
Daquelas bem bonitas que seu sorriso ficava ainda mais bonito,
mesmo que toda vez sua testa amassava e seus olhos enchiam de
lágrimas. Do riso ao choro. Todas as vezes nós continuamos rindo
para que ela não se sentisse mal por não conseguir não chorar.
Compartilhamos a sobremesa e quando deitamos para dormir
naquela noite, Rebecca não chorou.
Foi a primeira vez em um mês que ela não chorou com o
rosto escondido no travesseiro e me segurou para não sair do seu
lado. Foi a primeira noite que voltei a tomar meu remédio para
dormir porque não me preocupei que ela fosse sair no meio da
noite e dormir no sofá, porque estava com medo de que eu
acordasse com seus soluços.
Foi um feliz natal para mim.
Nós acordamos bem cedo e nos arrumamos para tomarmos
café com a família dela. Rebecca se empenhou em estar
arrumada, sabia que ela queria parecer bem, usando um vestido
cinza, meias bem pretas, botas de cano curto sem saltos e eu
brinquei que ela parecia a sininho mexicana brincando no inverno.
Naquela época do ano, sua pele ficava mais pálida. Eu
amava seu bronzeado, sua pele morena e por ser descendente de
latinos por parte da mãe biológica, quando pegava sol, parecia que
brilhava. Eu também amava a marca do biquíni no seu corpo.
Eu a amava de todo jeito.
Nós arrumamos a Leona para nos acompanhar durante o
dia e enquanto dirigia até a casa dos pais da Rebecca, pensei em
fazermos uma viagem a dois logo que seu repouso terminasse.
— Qual lugar de praia você gostaria de conhecer agora em
janeiro?
— Hum... Caribe, Maldivas, Fernando de Noronha... A
lista é imensa. Pensei que fossemos viajar durante o verão... É
quando você tem que estar na Europa e serão minhas férias de
recém-formada, pré-casamento e quase uma lua-de-mel. —
Rebecca estava brincando com seu telefone. — Por quê?
— Que tal pesquisar um lugar desses para irmos em
janeiro? Vamos quebrar o jejum e tirar um tempinho só nosso...
Acho que estou com saudades de te ver com a pele bronzeada,
biquínis pequenos, bochechas coradas e suada com todo sexo
incrível que iremos fazer em algum lugar paradisíaco. — Bati meus
dedos no volante.
— Vou organizar isso... Acho que a Lexie me enviou sua
agenda de janeiro, vou dar uma olhadinha e fazer reservas. Algum
orçamento limitado?
— Orçamento confortável, mas não estoure os cartões. —
Liguei a seta para entrar no quintal dos meus sogros e o
estacionamento estava cheio. Rebecca me instruiu para colocar o
carro na garagem na vaga que costumava ser dela.
Entramos pela cozinha e estava cheio.
— Vocês chegaram, que delícia! — A avó Catherine
abraçou a Rebecca.
— Oi, vovó. Lindo cabelo! — Rebecca bagunçou as
madeixas roxas da sua avó.
Levou um tempinho para cumprimentar todo mundo e nos
sentamos ao redor da mesa, com muita comida natalina e as
conversas começaram maravilhosas até que a avó Sarabeth, a mais
conservadora e na minha opinião, irritante, perguntou como
Rebecca estava.
— Estou ótima, vovó. Obrigada por perguntar e por
mandar mensagens todos os dias. — Rebecca respondeu
polidamente e eu coloquei mais uma rabanada recheada, que a mãe
dela preparou especialmente para ela.
— Imagino que sim, é ótimo, porque muitas mulheres já
passaram por isso. — Continuou com um sorriso alegre.
— Vó. — Karen limpou a garganta. — Essas rabanadas estão
deliciosas. Foi você quem fez?
— Não, foi a Blake porque a Rebecca adora. — Vovó
Sarabeth disse. — Estava muito cedo, completamente normal, foi
só uma semana após o segundo trimestre. Não era considerado um
bebê ainda. Isso vai passar. Na minha época...
— Estão uma delícia. — Karen continuou no meio do assunto.
Rebecca engoliu devagar e bebeu seu suco.
— Sabe o que é engraçado nesse discurso que “estava cedo
demais?”. — Rebecca soltou seus talheres. — Se eu tivesse
decidido abortar, por exercer o meu direito de mulher em não ser
mãe naquele momento ou nunca, vocês seriam os primeiros a me
crucificar. — Suas mãos tremiam e apontou para seus avós. —
Vocês diriam que estaria assassinando uma vida. Ainda
completariam que estaria indo contra a vontade de Deus... — Blake
chegou abrir a boca para impedir que Rebecca continuasse. — E
agora, Deus quis que meu bebê de treze semanas morresse no meu
útero, tenho que engolir, entender que está tudo bem porque era
cedo demais? Jogaram meu bebê fora como lixo hospitalar!
Irônico, porque se eu tivesse tomado a decisão de tirá-lo: oh meu
Deus, Rebecca! Não assassine uma vida! Ele foi tirado de mim! E
eu estou sofrendo atoa por que muitas mulheres já passaram por
isso? É isso mesmo, vovó?
Um silêncio intenso reinou na sala e passei meu braço pelo
ombro da Rebecca.
— Eu vou ficar bem, então, vamos voltar para nosso café-da-
manhã de natal e deixar os comentários sobre meu bebê de lado. —
Rebecca sorriu e voltou a comer.
Tommy começou um assunto sobre suas músicas e logo as
conversas voltaram. Rebecca continuou comendo, mas não se
esforçou para participar de nenhuma conversa. Blake e Alex
estavam falando baixo com o outro, conforme cada um terminava
de comer, ia saindo e se espalhando pela sala. Nós sentamos em um
canto e participamos da troca de presentes. Rebecca explodiu e
todos estavam tratando-a como uma bomba muito delicada e estava
tentando arduamente não rir.
Nós nos despedimos porque tínhamos que estar na casa da
minha mãe e porque Rebecca não queria ficar ali por nenhum
segundo a mais. Blake e Alex nos acompanharam até a cozinha.
— Eu sinto muito, pedi tanto para sua avó não falar nada. Ela
foi terrível todas as vezes que eu perdi os bebês e agora está sendo
terrível com a adoção. Ela disse “é um ato cristão, mas espero que
não adote uma criança negra”. — Blake grunhiu. — Seu pai, como
sempre, surtou e seus avós não estão falando com ele.
— E seguem dentro da minha casa falando besteira. — Alex
cruzou os braços.
— Querem almoçar na minha mãe? Terá de tudo. Comida
italiana e comida natalina... — Ofereci e eles sorriram.
— Nós estaremos lá em uma hora com as sobremesas. —
Blake bateu palminhas. — Alex vá dizer para todos que nós iremos
sair e levar todas as sobremesas.
— Por que eu?
— Porque todo mundo sabe que você é desagradável mesmo.
— Rebecca provocou. Alex revirou os olhos e foi para sala.
Rebecca segurou minha mão e nós pegamos a Leona, levando
para outra parte de muita comida e comentários terríveis porque
famílias eram um pesadelo em qualquer lugar.
Rebecca.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1
— Feliz ano novo! — As pessoas explodiram de alegria ao
redor jogando serpentinas e com as mãos para o alto. Marco me
puxou pela cintura, nós rodopiamos em meio à multidão e nos
beijamos. Um grupo bêbado e animado esbarrou em nós e quase
caímos, mas ele se recuperou rápido, me colocou no chão e saímos
de perto.
Caminhamos de braços dados pelas calçadas apinhadas de
pessoas e bebemos nosso vinho diretamente na boca da garrafa,
rindo feito dois bobos e voltamos para o nosso hotel. Meus pais
estavam no restaurante e muito bêbados, quando a Blake tropeçou e
riu, segurei-a e trocamos um abraço apertado de feliz ano novo.
Abracei meu pai, desejando um bom ano para nossa
família e minha cunhada, Nicole, estava louca na pista de dança
com um estranho. O irmão dela ficou de olho e para dar uma
ocupação, pedi que pegasse um prato de comida que estava com
fome. Minha sogra também estava bêbada. O que aconteceu no
período que fomos olhar a bola da Times Square?
Meu pai nos surpreendeu com uma viagem de ano novo em
família. Ele estava tentando limpar sua imagem conosco, provando
seu desejo de mudar e não mais nos machucar com suas reações
extremistas, que nos amava e queria manter nossa família unida.
Ele convidou minha sogra e cunhada, porque agora elas eram a
minha família.
Para implicar, Marco disse que não ia pagar um centavo da
viagem, mas desde que chegamos ele e meu pai estão discutindo
sobre a carteira.
Marco me deu um prato cheio de comida e mais uma taça
de vinho, nós sentamos na mesa reservada para nossa família e
comemos.
— Qual é o seu desejo de ano novo? — Cochichei bem
baixinho no ouvido do Marco. — Eu desejei um ano de muita
felicidade e amor para nós dois.
— Desejei o dobro disso aí e um pouco mais. — Marco me
deu um beijo gostoso nos lábios. — Desejei que nosso novo ano
seja cheio de boas coisas. Esse ano bastou. Na nossa viagem nós
vamos começar o ano com o pé direito.
— Nós já começamos. — Ergui minha taça e brindamos.
Começar o ano em Nova Iorque com nossa família foi muito
divertido. Passeamos no dia seguinte e fiz compras de roupas, não
participei da corrida louca do Black Friday porque não sai da cama,
mas, estava satisfeita com as roupinhas novas que fiz o Marco me
dar de presente.
Ao voltarmos para Detroit, marquei um encontro com a
Elena para colocarmos nossos assuntos em dia e eu precisava
atualizá-la sobre as últimas descobertas da Ruth.
Marco estava trabalhando intensamente para manter sua
agenda livre para nossa viagem e nós ficaremos uma semana
aproveitando ao outro, curtindo a praia e colocando meu bronzeado
em dia. Estava ansiosa para ficarmos sozinhos, meu período de
repouso e sem sexo estava terminando.
Oficialmente já estava liberada para o sexo, nós tentamos
e senti muita dor, não terminamos o momento e a Dra. Taylor
pediu para relaxar, tentar ficar calma e talvez aguardar mais uns
dias para tentar novamente.
Decidimos deixar para a viagem, por isso, marquei de
encontrar a Elena no shopping. Nós íamos fazer compras, ela
queria minha ajuda para comprar vestidos de “menininha” para um
encontro e roupas íntimas bonitinhas.
— Oi, garota! — Elena me abraçou apertado. — Você está
linda.
— Você também! Seu cabelo está tão cacheado!
— Fiz a transição capilar, mas não aguentei ficar com o
cabelo dividido em duas texturas e cortei logo. Parece tão mais
leve! Você também está usando mais natural agora?
— Normalmente seco o cabelo escovando, agora estou apenas
secando e deixando como ele é. Gosto assim, ele não é realmente
ondulado, apenas grosso e cheio, então amasso com as mãos. Meu
pai diz que fica muito parecido com a minha mãe biológica e eu
gosto. — Dei o braço a Elena e nós entramos no shopping.
Escolhi uma loja de biquínis e pegamos alguns modelos
diferentes, experimentando e a vendedora me explicou como usar
alguns que favoreciam bastante meu novo corpo. Desde que
comecei a namorar com o Marco, parei de malhar, meu único
exercício era o sexo e engordei uns bons quilos.
Meu corpo de adolescente desapareceu de vez após o
aborto, porque engordei os três restantes para fechar dez quilos.
Estava com mais peito, mais bunda, mais culote, mais celulite e
estava pouco me importando. Me sentia linda, gostosa, desejada e
claro, tinha dias que as dobras da minha barriga me tiravam do
sério, mas estava me dedicando amar meu corpo e manter minha
mente sã.
Era o corpo de uma mulher real e definitivamente não
queria me encaixar nos padrões. Não existia padrão quando se
tratava do corpo de uma mulher
Somos diferentes, com biotipos diversos e belezas únicas.
Mulheres não foram feitas para serem iguais, vestirem o mesmo
número e parecerem feitas na mesma forma.
Elena era mais baixa que eu e tinha seios generosos, ela
estava linda com os modelos brancos que a vendedora deu a ela e
acabei comprando um igual, não ia dar muito certo me bronzear
com ele, mas ficaria bem bonito para passear no final da parte. Nós
passamos para as roupas íntimas e achei um bom momento para
falar sobre tudo que descobri sobre a Ruth.
— Espera aí! — Elena abriu a porta do meu provador e eu
estava nua, segurando um espartilho. — Ela e o Derek? Nas suas
costas? Uau.
— Kerry mencionou que ela era má com você
propositalmente. — Olhei-a através do espelho.
— Sim, ela era uma vaca. — Elena concordou. — Era do
tipo ciumenta e possessiva. Queria ter você e sua amizade única e
exclusivamente para ela. Ruth queria que vocês duas fossem
apenas uma dupla, nada de um trio. Você é do tipo gentil e
preocupada com o que os outros pensam, tinha uma postura
diferente no caos e a Ruth era muito ciumenta com isso, sempre
percebi.
— E eu nunca percebi.
— Porque você é muito empática, Rebecca. Você amava a
Ruth como sua melhor amiga e era capaz de olhar para um
mundinho além de vocês duas. Era isso que ela parecia não querer,
eu não sei exatamente, mas toda vez que ela me dava um fora longe
de você era como se criasse um muro para nunca te perder. Quem
mais aguentava as possessividades dela? Só você. — Elena me
ajudou a fechar o espartilho. Amava o Marco, mas aquela merda
estava muito apertada para bancar a garota sexy. Precisava de um
número maior.
Ruth realmente me afastava de todos e acabava seguindo
porque não queria me indispor com ela. Me afastei dos meus pais,
dos meus primos e de outros amigos da escola.
— Tão empática que não consegui olhar para o que ela
estava sentindo.
— E ela olhou para o que você estava sentindo? Eu olhei?
Alguém mais ao seu redor? Isso é normal. Não estamos
programados para ficar vinte e quatro horas ao dia tentando
entender os sentimentos dos outros. Vivemos ocupados com nossos
próprios problemas, presos nos nossos sentimentos e eu estou
dizendo isso porque é verdade. — Elena abriu o espartilho e
respirei fundo. — Ser melhor amigo não é ser babá ou psicólogo.
Ruth tinha problemas que só um médico poderia lidar, não você.
Assim como você entendeu seus traumas depois da terapeuta. Eu
mesma entendi que meu trauma de relacionamentos foi porque meu
pai me deixou aos cinco anos. Tenho medo de confiar nos homens.
— Entendo seu ponto de vista.
— Estou me formando para ser uma engenheira civil, um
erro meu seria catastrófico em muitas casas e prédios. E por isso
que eu digo, seu número de sutiã aumentou, florzinha.
— Parece que sim. — Sorri marota. — Estou conversando
muito com a minha terapeuta sobre tudo que descobri, eu queria
falar com o Derek, dizer umas boas verdades mesmo que pareça
não fazer sentido.
— A Ruth tinha defeitos, ela podia ser uma vaca comigo,
mas, ela estava muito ferida. — Ruth colocou as mãos nos meus
ombros e nos encaramos através do espelho. — Ela acumulou
coisas horríveis ao longo dos anos e guardou dentro dela, quando
explodiu, foi tarde demais. Eu sinto muito que você tenha que
passar por tudo isso de novo. Você sabe o caminho e
principalmente sabe que nada foi sua culpa.
— Vou chegar lá, estou seguindo esse caminho de paz e
confiança, mas agora, com o bebê, o ferimento do Marco e tudo
isso ao mesmo tempo senti como se estivesse carregando demais ao
invés de simplesmente viver a minha vida.
Conversar com a Elena me fez sentir o gostinho
maravilhoso de ter uma tarde com uma amiga, algo que não tinha
desde que a Ruth morreu. Nós fizemos nossas compras, comemos
um lanche bem gorduroso e que diminuiria minha vida em anos,
mas, era gostoso e não estava me importando.
Elena foi de táxi para o shopping, então, dei uma carona
para ela até seu dormitório e em seguida, dirigi empolgada até a
empresa do Marco. Ele estava ocupado, mas eu ia encher o saco da
Blake.
Passei pela recepcionista e eu soltei um grito, derrubando
a chave do carro e minha bolsa ao ver o homem que atirou no
Marco saindo de uma das salas. Por um segundo, ouvi o som do
disparo e os sons de dor agoniantes que o Marco soltava.
— Está tudo bem, calma. — Eric me pegou no meio do
corredor. — Ele está aqui com seus agentes de reabilitação e um
dos passos é pedir desculpas para quem ele feriu. Marco aceitou
encontrar com ele.
— Eu sinto muito. — Robbie me olhou assustado com meu
grito.
— Acho melhor irmos agora, Robbie. — Um dos homens
tocou o ombro dele e eles passaram por mim.
Me soltei do Eric, recolhi minhas coisas no chão, empurrei a
porta da sala do Marco e ele até se assustou.
— Encontrar com o atirador? — Gritei e bati a porta fechada.
— Rebecca... — Marco deu a volta na sua mesa. — Não era
para você encontrar com ele. Sei que não está preparada... — Ele
me abraçou apertado. — Mas eu sim e ele precisava me ver para
seguir em frente no seu tratamento.
— Ele atirou em você! Atirou bem na minha frente... E agora
é só pedir desculpas? E se você tivesse morrido? E se aquela
maldita bala tivesse acabado com a sua vida ou com a minha que
estava bem atrás de você? — Briguei com ele e me afastei. Não
queria seu abraço. — Vê-lo de novo, me deu um susto. Eu não
sabia... Não viria aqui se soubesse. — Gaguejei ainda nervosa. —
Você deveria ter me dito, estou tão chateada porque ele não é
confiável. Ele te machucou e precisou de cinco pessoas para contê-
lo no chão!
— Não queria te deixar preocupada.
— Não quero que esconda as coisas de mim, não quero esse
homem perto de você, com ou sem reabilitação. — Estava irritada
demais para ouvir e aceitar qualquer desculpa que pudesse me dar.
Dei meia volta, deixando-o sozinho e passei para sala da
minha mãe, no final do corredor e abri sem bater. Ela estava
digitando concentrada e se assustou comigo.
— Ele é inacreditável.
— Presumo que dessa vez não seja seu pai.
— Não. É o Marco Antonio! Ele aceitou ver o atirador,
aceitou as desculpas assim tão simples! Poxa vida! Estou tão
chateada e se eu soubesse, não viria aqui hoje porque eu não estou
pronta para vê-lo e muito menos desculpar. Aquele homem quase
tirou o Marco de mim, não quero perdoá-lo. — Me joguei no sofá
do escritório da Blake. — Na verdade, eu vim aqui para saber o que
está esperando da reunião com a psicóloga? Devo me preparar?
— A primeira reunião com seu pai foi muito tranquila, nós
falamos muito das nossas expectativas com o aumento da família e
agora ele quer conhecer a nossa família. Já foram visitar nossa casa
duas vezes, preenchemos milhares de formulários, mostramos
vídeos de família e eles investigam absolutamente tudo que
respondemos perguntas sobre o passado e mais! Foi exaustivo. —
Blake saiu da sua cadeira e sentou-se ao meu lado. — Basta ser
você mesma que eles verão que seu pai e eu podemos ser
excelentes pais para uma criança.
— E quando nós poderemos finalmente conhecer alguém?
— Essa é a última etapa, se formos realmente aprovados, nós
seremos levados a diversos orfanatos. Nós não definimos idade ou
etnia...
— Isso é estranho, como crianças em vitrines...
— Eu sei, só não queria escolher alguém pela cor, idade ou
algo do tipo. Pensamos que iremos olhar e nos identificar. A
assistente social vai nos orientar e acompanhar em cada passo... O
nosso advogado acredita que como não escolhemos uma faixa
etária, nós vamos conseguir ter um processo rápido, a maioria dos
casais querem crianças que possam parecer da família,
principalmente que sejam bebês, o que não é nosso caso. — Blake
segurou minha mão. — Quanto ao Marco, ele entende que o
Robbie estava em um surto psicótico, confuso e sofrendo de
estresse pós-traumático. Marco também teve o mesmo problema,
ele não feriu ninguém, mas é estressante e é muito difícil manter o
controle.
Cruzei meus braços e fiz um pequeno beicinho
completamente em desacordo.
— Tente ser compreensiva.
— Eu seria se ele tivesse me dito.
— Hum, então além dele encontrar o homem que o feriu, está
chateada que não falou nada?
— Sim e assim teria me preparado psicologicamente para o
encontro. Acho que estou meio irritada por vários motivos hoje e
acabei explodindo com isso.
— Foi um trauma para você... Eu não posso imaginar ver o
seu pai levando um tiro, se ferindo gravemente e eu ter que lidar
com isso. Acho que entraria em pânico! Você ainda aguentou
firme.
Depois de atrapalhar a concentração da minha mãe no
trabalho, voltei de mansinho para sala do Marco. Ele estava
sentado na sua cadeira, atrás da mesa e olhando para janela. Fechei
a porta atrás de mim e encostei nela, preocupada em ter ido longe
demais. Nós raramente discutimos, todas as vezes eram irritantes e
nunca dormimos brigados.
— Deveria ter dito. — Marco suspirou. — Sinto muito. Fiquei
preocupado que não reagisse bem e acabei não falando, mas eu
tinha que ter respeitado o seu tempo.
— E eu não deveria ter gritado com você.
— Tudo bem... Você foi a pessoa a me ver ferido, sangrando e
jogado no chão. Se fosse o contrário, a pessoa que atirou em você
sequer estaria vivo para começo de conversa. — Sentei-me em seu
colo e acariciei seu rosto. — Não prestei queixa, mas o hospital
sim, eles são obrigados por lei. Consegui que o Robbie fosse
internado e está sendo tratado, ele está muito confuso, revivendo
episódios de combate e muito assustado com seus sentimentos.
— Juro que quero ter um bom coração com ele, mas te
machucou e isso é difícil. Não quero vê-lo. — Beijei seus lábios.
— Estou feliz que você tem um bom coração por nós dois. Vamos
para casa?
Assim que chegamos em casa, Marco quis ir malhar e me
arrastou junto, porque eu ia ficar deitada no sofá comendo
chocolate e eu estava ficando muito sedentária. Vesti um short
curtíssimo de ginástica, um top cinza no qual meus peitos estavam
praticamente pulando e eu reparei que precisava comprar roupas
para academia maiores. Não estava ruim, Marco só ia ter algumas
das suas veias tentando explodir.
Cheguei à academia e estava cheia pelo horário. Encontrei
Marco pegando peso com um vizinho, conversando e ele já estava
todo inchado e suado. Acenei e soprei um beijinho, me alongando e
pelo espelho, ele ergueu a sobrancelha, me olhando de cima abaixo.
Me inclinei para frente, me esticando e ele quase deixou o peso cair
no chão.
Liguei a esteira, caminhei por meia hora antes de começar a
correr por uma hora. Parei quando estava quase morrendo sem ar e
com minhas coxas queimando. Marco me pegou pelo braço, me
levou até a área dos pesos e me fez repetir algumas vezes, quando
ele se distraiu, comecei a enrolar até me jogar no chão e dizer que
estava morrendo.
Esperei que terminasse de malhar deitada contra um monte de
colchões, atrapalhando sempre que alguém queria pegar um.
Quando ele finalmente terminou, estava faminta, irritada e cansada.
Não sei porque estava com raiva dele por me fazer malhar quando
estava com fome, queria deitar e talvez meus hormônios ainda
estavam se ajustando no meu corpo ou estava de tpm.
— Não quis minha companhia para tomar banho? Eu fiz o
jantar...
— O quê?
— Lasanha que a Rosa deixou congelada, enfiei no forno e
arrumei a mesa.
— Estou chateada e não sei porque.
— São seus hormônios. — Marco me abraçou e me empurrou
de volta para o chuveiro. — Sua roupinha estava tão curta e
apertada... Tão gostosa. — Apertou minha bunda e me molhou toda
de novo.
— Minhas pernas estão ardendo. Você quer que eu emagreça?
Por isso insistiu tanto que fosse até a academia?
Marco me olhou assustado.
— Claro que não, desculpa se te fiz pensar assim! Eu não
quero que emagreça, eu te amo e vou te amar de todo jeito. —
Marco acariciou meu rosto. — É que você está sempre reclamando
sobre subir as escadas e dizendo que está sem fôlego, só quis te dar
um incentivo.
— Estou sedentária sim e pareço que vou morrer quando
carrego peso, subo escadas, mas, estou bem com meu corpo. Sei
que engordei bastante desde que começamos a namorar...
— E quem se importa? Você está muito gostosa... Mal vejo a
hora de quebrarmos nosso jejum.
— Somente na viagem ou não vai ter graça!
— Se doer, você precisa me dizer. Não quero te machucar.
— A Dra. Taylor disse que é normal... Nós vamos nos ajustar.
— Abracei-o apertado. — Nós vamos ficar bem.
Eu estava desesperadamente querendo acreditar naquilo.
Rebecca.

Marco estava deitado na rede, lendo um livro e eu estava


sentada no deque, com os pés na água, balançando e olhando para
paisagem exuberante das Maldivas. Era fim de tarde e estava com o
sol se pondo no mar, com o céu rosa, era tão perfeito que não
queria piscar para não perder.
Nós estávamos há três dias curtindo aquele paraíso em um
momento só nosso – sem família, sem trabalho, sem atirador, sem a
Ruth e sem a perda do bebê. Apenas nós dois aproveitando nossa
vida, em uma bolha e descobrimos que para bem ou mal, nós
tínhamos problemas para resolver.
Sexualmente falando, estávamos a toda potência novamente,
ainda era meio desconfortável, mas, estava bem melhor que antes e
como sempre, ele tornava tudo melhor. As preliminares eram a
minha parte favorita, me deixavam relaxada e pronta para
aproveitar o restante. Nós só ficávamos de biquíni durante o dia e a
noite, roupas frescas, embora ventasse um pouco, minha pele
queimada de sol ficava logo arrepiada.
— O que vai querer jantar hoje? — Marco fechou seu livro.
— Eu amo a comida praiana, tropical, mas fico com fome e
podemos comer algo mais continental cheio de carboidratos que me
dê mais sustento? — Olhei-o sobre meus ombros e peguei seu
sorriso carinhoso.
— Tudo bem, vou olhar o cardápio.
Marco entrou e continuei balançando minhas pernas, pulei na
água para dar o último mergulho do dia. Nós tentamos a gracinha
de sexo no mar sob a luz do luar e sinceramente, não era algo
agradável. Água salgada tinha areia e me deixava sem lubrificação
e nós sentimos que seria uma experiência literalmente única na
viagem – não haveria sexo se ficássemos assados.
Nadei um pouco de um lado ao outro, subi a escadinha e
voltei para o quarto. Peguei a toalha, me sequei e vesti o roupão,
enxugando meu cabelo e entrei no banheiro, abrindo o chuveiro
para tomar um banho. Lavei meu cabelo, reparei que estava bem
bronzeada e agradecia minhas origens latinas.
Minha pele morena era uma maravilha.
— Uma mulher pelada e gostosa, que sorte a minha. — Marco
entrou no banheiro, tirou a sunga e entrou no chuveiro. Escovei
meus dentes e apenas penteei meu cabelo, deixando para secar
naturalmente.
— Pediu o quê?
— Pizza.
— De que tamanho?
— Tamanho GG. — Lavou o cabelo.
— Saudades da sua mãe e a comida acolhedora dela.
— Nós vamos jantar lá assim que voltarmos para casa. —
Marco prometeu e sorriu, ele sentia em paz cada vez que me sentia
à vontade com sua família. — Eu nunca ia pedir que emagrecesse.
A não ser que fosse um problema de saúde, que estivesse doente,
mas eu nunca pediria para emagrecer. Eu sou um homem, eu vou te
achar linda de qualquer jeito, porque te amo e definitivamente
tenho muito tesão por você desde o começo. Um homem de
verdade não precisa fazer esforço para ter tesão com a mulher que
ama.
— Obrigada, amor. — Sorri para ele através do espelho.
— A Nicole teve um namorado idiota que a fez ficar tão
maluca que ela passou a vomitar cada vez que comia. — Ele
terminou seu banho. — Eu odiaria que você me dissesse o que
tenho que fazer com meu corpo.
— Ah! Minhas exigências são longas... — Brinquei com ele,
rindo da sua expressão todo convencido de si mesmo. Ele tinha
cicatrizes extensas nas costas e agora uma na barriga. E eu tinha
estrias. Estava tudo bem!
Conhecer lugares paradisíacos com o Marco era um dos meus
planos de vida. Eu amava viajar, mas estava na hora de deixar de
ser uma parasita. Tinha meu último semestre na faculdade para
enfrentar, passar meu cargo no jornal para um novo editor e
publicar meus livros. Queria me dar a chance de trabalhar
integralmente com a escrita, de ser uma autora reconhecida e
conseguir me sustentar como meu pai nos sustentou a vida inteira
com os ganhos dos seus livros – e filmes.
A minha avó nunca produziu um filme de origem dos livros
dele, ela bem que quis diversas vezes, mas meu pai nunca permitiu.
Ele vendia os direitos e assinava os roteiros com produtoras que ela
não estava trabalhando no momento. Era muita ambição da minha
parte sonhar que um dia meus livros poderiam tornar-se uma série
ou filmes de sucesso. Queria muito que meus personagens
ganhassem vida como ficava horas escolhendo atores para serem
seus avatares.
Com todo cuidado, planejei a minha vida e foi a primeira vez
que me sentei, escrevi em um caderno com datas. Junto com Marco
ao pôr-do-sol, decidimos a data do nosso casamento, não iremos
viajar de lua-de-mel imediatamente, mas tiraríamos um final de
semana apenas comemorar nosso matrimônio. A agenda do Marco
estava lotada, nosso casamento seria em setembro, pouco depois do
meu aniversário de vinte e dois anos. Final de ano era um pouco
exigente para o Marco.
Nossa lua-de-mel estava programada para janeiro do próximo
ano e eu agendei meu lançamento em algum momento entre todos
esses eventos. Meu editor e agente queria uma tour de lançamento
por umas feiras literárias em outubro, o que não seria nada ruim e
talvez pudesse fazer alguns exemplares em físico se não for um
fracasso logo na estreia.
Terminei meu planejamento anual com a nota “carpe diem”.
Planos podem mudar. Eles devem, porque nós somos humanos e
somos mutáveis, nos adequamos a novas situações, temos novos
sonhos, projetos e por isso era importante nunca esquecer que se a
vida mudar, era só aproveitar e encarar de frente. Fechei minha
agenda e guardei na minha bolsa, era a minha primeira agenda em
anos que estava planejando a minha vida, sentia um friozinho na
barriga de tamanha ansiedade.
A senhora ao meu lado no avião, me deu um sorriso e peguei
um pacotinho de amendoim, abri e encostei minha cabeça no
ombro do Marco, comendo e prestando atenção no filme que ele
estava assistindo. Nós pousamos depois de uma longa viagem,
estava faminta, com dor de cabeça e combinamos de jantar no
restaurante que a mãe dele estava trabalhando naquela noite.
— Nicole e a Lexie tiveram uma briga. — Marco suspirou
logo que entramos no carro e ele estava olhando seu telefone antes
de começar a dirigir. — Não acredito nisso.
— Nicole não é fácil, não é?
— Coração partido e dor de cotovelo é uma dose letal. —
Marco começou a dirigir.
— A Lexie não tem nada a ver... Ela nem é americana, pelo
amor de Deus. Está em um país estranho, onde precisou aprender a
língua, se adequar a um emprego e um novo casamento no qual o
marido tem uma família chegada de mais de cinquenta pessoas e a
melhor amiga dele e amor de infância odiando-a.
— Eu sei, vou conversar com a Nicole.
— Não se mete, Marco. Sua irmã vai achar que você está do
lado da Lexie e vai acabar se afastando, não é o que queremos. Eu
posso dar uma pequena intrometida... — Sugeri e ele concordou.
Nicole e eu estávamos próximas, ainda não nos conhecíamos
com profundidade, mas ela se aproximou muito após o aborto,
chegando a dormir comigo quando Marco não podia ficar em casa.
Nós conversamos sobre o Eric mais de uma vez, ela não sabia se
estava ressentida, apaixonada ou apenas irritada.
Minha opinião sincera era que ele nem era aquilo tudo.
Achava que o Eric tinha que deixar a Nicole e viver sua vida com a
sua esposa. Nicole merecia a chance de encontrar um amor.
Nós chegamos ao restaurante, estava muito cheio, Marco
me levou para cozinha, falamos com seus primos e tios e ficamos
na área de funcionários.
— Quer vinho branco ou tinto?
— Traz as duas garrafas e a sua irmã. Enquanto isso, vá
conversar com seus tios e faça a nossa pizza. — Apontei para
porta, ele me deu um beijo e saiu.
Nikki saiu da cozinha com uma garrafa e duas taças. Ela
sentou na minha frente, enchendo nossas taça até a boca e um
garçom trouxe uma bandeja com frios e antepastos. Agradecemos e
acostumada com o calor, estava sentindo um pouco de frio.

— Eu sei que você já sabe que briguei com a Lexie na


frente de todo mundo. — Nicole bebeu metade da sua taça quase
uma vez só. — Foi ridículo. Metade do restaurante ficou olhando e
quase saiu no jornal da cidade.
— O que aconteceu?
— Perdi o controle. Eu estava conversando com o Eric, ele me
pegou chorando no escritório e ficou insistindo em saber o que era,
me abraçando e eu só acabei falando. Sinto falta do meu melhor
amigo, sinto falta de ter ele para conversar e ainda assim eu não sei
o que sinto. — Bebeu o restante e encheu mais. — Aí ela chegou,
ficou chateada e o chamou. Ele foi. Eric veio até a mim, me encheu
o saco, me fez abrir e chorar, aí eu simplesmente explodi.
— Com a pessoa errada, Nicole. Lexie é a esposa insegura
com a ex-melhor amiga que o marido era apaixonado. Você é a
melhor amiga apaixonada pelo marido dela, ela pegou vocês dois
abraçados em uma sala. Eu no lugar dela... Você estaria usando
muletas, colar cervical e sem os dentes. E o Marco na funerária.
— Uau, você é ciumenta!
— Não que isso seja bonito. Estaria insegura como ela. A
Lexie não tem culpa da falta de atitude do Eric e até sua. Então,
você precisa parar de colocar a culpa nela. Ela não estava aqui. —
Segurei a mão da Nicole. — O Eric se casou. Ela a escolheu, sinto
muito, isso te machuca, mas você precisa respeitar a presença da
Lexie na vida dele e da família. Abra seu coração para um novo
amor que realmente te mereça...
— Tenho que pedir desculpas.
— Tem sim. E se você fica balançada em ficar perto do Eric,
precisa de um espaço. Cabe a você colocar um limite porque a
corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. — Ergui minha
mão com a aliança. — E se os dois se comprometeram com a
metade da intensidade que eu me comprometi com seu irmão, é
muito forte, Nicole. Você pode se machucar. E pior, machucar
alguém que entrou nessa história sem saber. Como mulher, você
deveria olhar o lado dela...
— Serve desculpas por e-mail?
— Seja uma garota grande, tigresa.
Nicole bateu com a cabeça na mesa e bebi meu vinho. Marco
saiu da cozinha, usando um avental e uma touca, ele trazia uma
pizza enorme e um garçom trazia uma bandeja com mais comida,
entre elas, lasanha, espaguete, canelones e pães recheados. Era tudo
que eu queria comer, conforto e comida da minha sogra. Ela era
dona de todas as receitas no restaurante, mesmo que não tenha sido
feito diretamente por ela, cada tempero e combinação ali era única
e exclusivamente dela.
— Vocês estão tão bonitos... Bem, a Rebecca está linda e
bronzeada, mas, você, meu irmão, igualzinho aos tomates da
estufa.
— E você bebeu demais, já chega. — Marco ia pegar a taça
dela.
— Deixe sua irmã beber, ela é adulta e merece acordar de
ressaca porque agrediu gratuitamente uma mulher. Ela merece por
ter sido uma péssima feminista brigando com outra mulher por
causa um macho escroto indeciso. — Soltei uma piadinha para o
Marco. — Seria bom se o Eric entendesse que nesse momento será
necessário um bom espaço.
— Gratidão, minha futura irmã pelo casamento. — Nicole
estava falando arrastado. Ela encheu mais vinho e Marco se moveu
desconfortável, mordi um pedaço da minha pizza, peguei mais um
pedaço de lasanha e bebi meu vinho. — Eu fui tão estúpida com a
coitada da Lexie.
— Foi mesmo. Vai pedir desculpas?
— Eu vou.
— Isso aí, menina.
Nós levamos a Nicole para casa porque estava muito bêbada.
Entramos com ela, colocamos na cama e saímos de fininho para
não acordar a mãe dele. Leona estava nos meus pais – e seria outra
luta para pegar de volta e nós chegamos em casa. Marco colocou
nossas malas na sala e eu apenas virei para ele, abrindo seu casaco,
tirando sua roupa bem na sala e caímos no sofá aos beijos,
rebatizando a nossa casa.
Os dias seguintes foram uma correria, retornar a faculdade
após a viagem, fazer uns testes, trabalhos e treinar meu substituto,
um estudante do segundo ano que tinha muito gás.
— Você tem certeza de que quer lançar essa matéria? —
Shane estava sentado ao meu lado. — Isso é dar um tiro na nossa
universidade.
— Quantos alunos negros você tem na sua sala? — Rodei
minha cadeira e ele arregalou os olhos. — Além de você.
— Ninguém.
— Em nenhuma turma que eu participei tinha alunos negros,
eu era uma das únicas alunas hispânicas das minhas turmas. De
fato, a universidade tem uma grande dificuldade em admitir alunos
que não são brancos... O conselho de admissão é racista.
— É uma acusação grave.
— Não estou acusando! Estou questionando por que a
universidade tem o histórico de não admitir alunos negros,
asiáticos, hispânicos e orientais? É uma excelente matéria. Ao
longo dos anos, cutuquei a universidade em diversas formas, por
que não ter a minha saída triunfal? — Peguei a caneta e assinei
minha aprovação para edição da semana.
— Não vou poder continuar com isso quando você sair. Não
sou você, mesmo morena, você não é negra e muito menos bolsista.
Você é morena, latina e rica.
— Eu vou sair da direção do jornal, mas além de linda,
morena, latina e rica, meus pais são financiadores dessa
universidade, portanto, você vai poder continuar sendo ousado. —
Pisquei muito satisfeita com a minha matéria. — Shane... Não dá
para ser um bom jornalista se não for ousado. A ousadia preenche a
nossa carreira. Acredite em mim, foi as duras penas consegui me
encarar dessa forma. No começo, eu escrevia sobre o sorvete
servido no refeitório e arrumei uma revolução sobre as batatas
fritas. Depois eu mudei todo o estacionamento e tirei algumas
regalias dos presidentes das fraternidades. Ah... Isso é muito
importante. Não faça parte de nenhuma fraternidade para não
comprometer a integridade do jornal. Nós temos que ser
imparciais... Muito imparciais.
Shane estava anotando absolutamente tudo que estava
falando.
— Então... Acabou o meu horário. Nos vemos semana que
vem bem cedinho e colher os frutos dessa edição. E se o reitor
ligar, não gagueje. — Guardei minhas coisas e peguei minha bolsa,
saindo com o pendrive da edição do jornal e me despedi dos meus
colegas.
Saí da universidade pensando que era meus últimos meses
circulando por aqueles campos. Entrei com dezesseis anos em
agosto por ter pulado duas séries, completei dezessete anos no mês
seguinte, em setembro. Passei os últimos anos vivendo no campus
o dia inteiro. A única coisa boa que meu pai fez foi me enfiar em
todas as matérias possíveis e disponíveis porque meu último
semestre estava muito tranquilo.
Deixei o jornal na gráfica e passei para buscar comida para
Leona. Ela era pequena e comia muito, definitivamente a minha
filha canina. Até o petshop estava decorado para o dia dos
namorados, nós queríamos castrar porque ela era muito
pequenininha para ter filhotes e seria muito sofrimento. Não havia
necessidade alimentar a indústria de animais de raça.
Ao chegar em casa, fiz um bolo de carne, molho e queijos
para ralar por cima. Coloquei os vinhos do resfriador, preparei a
salada com um mix de folhas verdes, tomates cerejas, azeitonas e
queijo búfala. Decorei a mesa com velas, meu conjunto de pratos
brancos, guardanapos de lacinhos vermelho. Parecia tudo perfeito...
Então subi, tomei um bom banho, vesti um sexy vestido justo,
vermelho como a decoração sem absolutamente nada por baixo.
Mandei uma foto para Blake que também estava se arrumando
para jantar com meu pai. Ela me ligou por chamada de vídeo.
— Devo usar uma cinta? — Blake enviou uma foto de lado.
— Claro que não, você vai beber, vai ficar alegre e eu não
quero dizer o que vocês vão fazer porque essa conversa me dá
arrepios, mas eu sou adulta e vou superar. Esse é o seu corpo... E
ele vai te ver sem a cinta.
— No escuro, querida.
— Eca, mãe. Olha... Vamos fingir que eu não sou sua filha e
nós não estamos falando que você vai fazer sexo com meu pai.
Acende a porra da luz, Blake Evelyn!
Nós gritamos e soltamos uma gargalhada.
— Eu ainda posso lavar a sua boca, garota. — Blake brincou
e eu ri.
— Não estou falando como sua filha, mas peço desculpas.
Acenda a luz, está bem? Vale a pena. Você e seu marido são
jovens, bonitos e vão curtir muito com a luz acesa. Você está linda,
mãe.
— Nos vemos amanhã cedo?
— Sim! Estou ansiosa, eu te amo. — Encerrei a chamada e
me olhei no espelho.
Ouvi a Leona latir e a porta da sala fechar.
— Rebecca Silverstone, traga essa bunda bonita aqui
embaixo! — Marco gritou e jogou a chave na mesa. — Estou
abrindo o vinho...
Desci a escada devagar e ele assobiou, servindo vinho nas
taças e eu reparei a caixa de presente com um laço azul imenso no
meio da sala.
— É meu?
— Não, da Leona. — Marco bebeu o vinho.
— Então eu vou abrir, a filha é minha.
Andei até o embrulho e Marco me segurou antes de chegar
a caixa, me agarrando e me puxou para longe, me plantou sentada
no balcão e quase rasgou meu vestido.
— O presente não é meu? Nós combinamos que com a
viagem extra, o casamento e a troca do seu carro, nós ficamos perto
de extrapolar nosso orçamento do ano.
— Está tudo bem e eu sei o nosso orçamento. — Marco
me deu um beijo.
— Meu presente não é tão grande assim, mas é sofisticado
e muito maneiro.
— Maneiro?
— É, muito maneiro. Então, aquilo é meu ou da Leona?
— Vá abrir, minha garotinha. — Me provocou e desci do
balcão com dificuldade.
Agarrei a caixa, puxei o laço e os quatros lados da caixa
caíram, soltei um grito e pulei no meu lugar. Leona não estava
entendendo meu surto. Marco comprou uma estátua de cerâmica da
Coruja-das-Neves que Hadrid deu ao Harry Potter.
— Edwiges!
Quando eu estava mal, de cama, fiz o Marco assistir todos
os filmes mais de uma vez e eu sabia que ele me amava porque não
reclamou de ser obrigado a assistir algo que não fazia o gênero
dele. E para uma fã de Harry Potter completamente apaixonada
como eu era, aquele presente era o melhor de todos.
— Seu presente está na gaveta da mesa, pode pegar. —
Apontei ainda congelada em frente a minha coruja. — Nós vamos
comprar uma estante e uma redoma para colocá-la dentro.
— Uau! Um relógio de bolso! — Marco gritou
empolgado. — Olha que incrível! Ele funciona! Onde você
conseguiu isso?
— Na internet e provavelmente saiu do nosso orçamento
familiar, mas, eu pensei “teríamos um bebê então eu posso gastar
o que nós não gastamos com o bebê”. — Dei de ombros e ele me
pegou, me sacudindo no lugar. — Gostou? Mandei gravar suas
iniciais, então, assim que tivermos o Antonio Jr você vai ter para
quem deixar.
— Eu te amo, Rebecca.
— Eu sei, sou incrível. — Sorri e beijei seus lábios. —
Feliz dia dos namorados.
Marco.

— Andrea apareceu na empresa ontem poucos minutos


depois que você saiu. Ela não sabe que trocou de carro, então, não
deve ter te visto. — Eric disse logo cedo. Ele me acordou às seis
horas da manhã para dar um relatório ruim de um dos eventos que
cobrimos na noite anterior. — Insistiu com a recepcionista para
falar com você, queria seu novo número de telefone e disse que
pode te achar com facilidade porque sabe, vou citar as palavras
“onde sua noivinha estuda e trabalha”.
— Que diabos ela quer comigo? — Resmunguei e ao ouvir a
palavra “ela”, Rebecca desviou o olhar do seu telefone e me
encarou. — Não quero nem saber, se ela quiser, que deixe recado
ou procure meu advogado. Não tenho o que falar.
— Estou apenas passando o recado, vou colocar alguém na
cola da Rebecca essa semana caso ela tente se aproximar. Sabe se
lá o que essa louca realmente pretende...
— Tudo bem, obrigado. Até mais tarde.
— Até mais, irmão.
Fechei meus olhos, ainda muito sonolento e Rebecca me
sacudiu.
— Ela quem? — Abriu um sorrisinho fofo.
— Andrea.
— Sua ex-mulher?
— Ela mesma. Disse que quer falar comigo e sabe onde você
estuda e trabalha, então, Eric colocará alguém para vigiar a
aproximação dela. — Bocejei e voltei a fechar meus olhos. — O
que você me deu ontem à noite?
— Hum... Sua medicação. Dei o vidro noturno... Você se
mexeu muito e falou o dobro, chutou bastante... Sonhou com
alguma coisa?
— Não lembro... Só estou com muito sono agora.
Rebecca começou a fazer um cafuné que me fez voltar a
dormir rapidamente e bem pesado. Acordei assustado com um
latido da Leona, ela queria sair da cama e às vezes tinha medo de
pular. Coloquei-a no chão e vi Rebecca dentro do closet, parada em
frente ao espelho, com o lábio inferior sendo cruelmente
mastigado. Ela estava com um conjunto de sutiã e calcinha cinza,
de algodão.
— Está tudo bem? — Chamei sua atenção da cama.
— Estou pensando... — Puxou o cabelo para o alto e se olhou
de lado.
— Quer compartilhar? Vem aqui deitar comigo.
— Acho melhor não compartilhar. — Me deu um sorriso e
vestiu o roupão. — É bobeira feminina.
— Não ligo para suas bobeiras femininas.
— Eu amo meu corpo, acho que gosto um pouco mais dele
agora, embora todo mundo esteja me dizendo que engordei demais.
Só que tem dias que acordo, me olho no espelho e me dá uma
vontade de fazer uma careta. Mentalmente eu sei que é palhaçada,
porque no fundo, eu me amo, não tenho vontade de fazer plásticas
e não vou fazer o desserviço de dizer que estou gorda, porque eu
estou vestindo o manequim quarenta e quatro. — Ela deitou em
cima de mim. — Minha barriga está muito inchada, acho que vou
menstruar. Ainda está meio desregulada e meu remédio acaba
amanhã.
— Então é a menstruação que está te fazendo ficar tão
rabugenta?
— Eu fico rabugenta quando vou malhar, quando estou com
muita fome e menstruada. A junção dos três é letal. — Sorriu e
fechei meus braços ao seu redor. — Estou começando a sentir
cólica, meu útero me odeia.
— Ainda tem aquele seu remedinho milagroso?
— Graças a Deus a sim, vou tomar, colocar absorventes na
bolsa e vamos encontrar com meus pais. Quer dormir mais?
Podemos pular o café da manhã com eles... — Me deu um beijinho
no pescoço.
— Não, estou com fome e não quero fazer comida. Além do
mais, seu pai vai ler a sua matéria e estou ansioso para reação dele.
Rebecca me deu um sorrisinho de quem aprontou e foi se
arrumar. Nós saímos de casa um pouco atrasados para tomarmos
café da manhã com os pais dela. Ao chegarmos na casa deles, já
estavam comendo e Alex ainda estava lendo o jornal da cidade,
ainda não tinha lido o jornal universitário. Nós nos
cumprimentados, Rebecca e eu sentamos de um lado da mesa,
começando a comer e Blake estava comentando as últimas
orientações do advogado da adoção.
— Nós vamos conhecer crianças hoje?
— Sim... Alex e eu não entregamos uma faixa etária, estamos
livres para conhecer e isso abre nosso leque. Também vamos a uma
fundação que é guardiã de algumas crianças. — Blake estava muito
esperançosa. — Há alguns anos as casas de adoção estavam muito
cheias, algumas fundações tornaram-se guardiões temporárias para
dar uma melhor qualidade de algumas crianças. Principalmente as
que precisam de tratamento de saúde. Nós temos uma visita
agendada ao hospital infantil semana que vem...
— Eu quero ir! — Rebecca falou de boca cheia. — Desculpe.
— e engoliu.
Bebi meu café com cuidado ao ver Alex pegar o jornal
universitário. Rebecca pegou um croissant, colocou a mão na
minha coxa, apertando e nos preparamos.
— Meu Deus! — Alex abaixou o jornal. — Rebecca
Silverstone! — olhou chocado para sua filha. — Você quer me
matar!
— Não seja tão dramático, pai.
— Você está acusando a faculdade de ser racista!
— Racista, homofóbica, machista, sexista, xenofóbica e eu
posso listar ainda mais. É uma faculdade para branco, ricos e de
elite, que tem o discurso hipócrita de ser uma universidade para
todos. — Rebecca ficou ereta no lugar. — Não quero te matar.
— O reitor é meu amigo.
— Bom que pode pedir a ele para universidade dar uma
resposta. — Abriu um sorrisinho maroto.
— Ele pode cortar verbas do jornal. — Alex esfregou o rosto.
— Não pode não.
— E por que não? — Alex cruzou os braços.
— Sou uma Silverstone e a minha família é uma incrível,
grande e perfeita doadora da universidade, sou uma aluna particular
e olha o mais engraçado? Meu pai é muito amigo do reitor! —
Rebecca pegou um bolinho. — Você queria que eu fosse uma
jornalista maravilhosa, ousada e digna de um Pulitzer! Essa é a
minha versão de jornalista ousada e maravilhosa.
— E muito linda. — Beijei sua bochecha.
Blake sorriu orgulhosa e Alex grunhiu, mas acabou sorrindo.
— Não é justo, pai. A universidade tem um discursinho falso
de ser o maior centro de bolsas estudos do país, que famílias como
a nossa financiam e lá é um centro de bolsas de estudos para
pessoas brancas que eu posso citar exemplos que tiraram notas
muito menores em vestibulares e passaram na frente nas
entrevistas. — Rebecca defendeu sua posição com paixão. — Meu
futuro substituto só conseguiu entrar porque a tia dele foi
governanta durante muitos anos de um dos chefes de departamento.
Eu acessei as notas e as cartas de recomendação dele. São
exemplares, mas ele saiu de uma escola da periferia e seu primeiro
pedido foi negado e em seguida aceito com a intervenção do Sr.
Mayers. Ou a universidade assume que é racista, ou aceita mais
negros ou muda o discurso. Eu quero uma resposta e um
posicionamento. Ainda tenho muitas coisas para irritar a
universidade.
Alex dobrou o jornal e olhou para Rebecca com um sorriso.
— Eu vou pressionar o conselho para uma resposta. Estou
orgulhoso de você.
Rebecca abriu um sorriso enorme.
— Obrigada, pai. Também estou orgulhosa de mim mesma.
Cutuquei a Rebecca porque ela precisava contar aos pais que
seus livros seriam publicados ainda esse ano, pelo menos o
primeiro.
— Vou publicar meus livros. — Rebecca falou como se não
fosse nada demais. Alex se engasgou com que estava mastigando.
— Vou publicar de forma independente, tenho um editor, revisor e
agente. Dependendo de como for, vou participar de umas feiras
literárias no final do ano.
— Uau, Rebecca! — Blake bateu palmas. — Parabéns, minha
filha! Um casamento e uma publicação, que ano maravilhoso!
— Eu sei, estou muito ansiosa...
Alex estava em choque.
— Você está fazendo planos a longo prazo? — Alex chegou a
gaguejar e eu entendia o sentimento. Quando a conheci, ela se
recusava a fazer planos porque não acreditava na vida. — Bem...
Isso é incrível. — Alex pegou o jornal e escondeu o rosto.
— Você está chorando? — Blake virou para ele e riu. — Por
que você está chorando?
— Ah, pai. — Rebecca saiu do seu lugar e foi abraçá-lo. —
Não chora.
— Não estou chorando, eu nunca choro. — Alex resmungou.
— Estou emocionada também, não se envergonhe. — Blake
beijou a bochecha dele. — A nossa menina é uma mulher de
sucesso.
Rebecca me deu um sorriso maravilhoso e eu me senti ainda
mais apaixonado por ela. Aquela garota mudou minha vida, não
conseguia tirá-la da minha mente nem por um segundo e a cada dia
aprendia o que era ter um relacionamento real. Não era fácil.
Conviver com outra pessoa diariamente, com seus defeitos e
qualidades, era muito difícil. Ainda mais que a Rebecca estava em
uma fase com muita oscilação de humor.
Nos meses a seguir, ela enfrentou o fim do semestre, a ira da
universidade, uma perseguição por parte de alguns alunos e ainda
por cima lidando com seus problemas emocionais. Ela estava muito
ansiosa, agitada, tinha dias que ficava extremamente irritada e
outros dias que chorava muito.
Nós brigamos por coisas realmente bobas, como a mania
dela de deixar os carros sem combustível, de perder a lista de
compras que não deveria sair da geladeira ou a comida da Leona
que ela deixava aberta. Calcinhas limpas por todo lugar, as roupas
que colocava para lavar e esquecia, então quando chegava, não
gostava de ser o cara que reclamava porque eu sabia que ela tinha
que estudar e tinha que mais o que fazer.
Nós fazíamos as pazes no mesmo dia, nunca dormíamos
brigados e ela estava em um descontrole emocional tão grande que
muitas vezes procurava motivos para brigar. Suas palavras eram
duras, cruéis e me deixavam desconfortável porque sabia que
queria apenas externar o que estava ferida. Dizia que estava bem
não me convencia. A Dra. Jones tinha muito trabalho com ela, às
vezes Rebecca regredia tanto que não conseguia ir sozinha e
segurava minha mão a sessão inteira.
Eu podia reconhecer que ela estava lutando contra seus
sentimentos de sentir inferior, de sentir-se incompetente e que não
merecia todas as coisas boas que tinha ao seu redor. Ela queria
provar o tempo inteiro que era muito boa, mais que seu sobrenome
e que seu dinheiro. Todo conjunto de fim da faculdade e o trabalho
com os livros a deixava ansiosa e com crises gástricas bem fortes
que por duas vezes, paramos no hospital.
Nosso relacionamento não era perfeito, nós brigávamos
como qualquer casal, mas nada diminuía meu amor por ela. Todos
os dias acordava apaixonado e adormecia ainda mais. Sempre me
perguntei como meus pais conseguiram permanecer casados por
tanto tempo. Meu pai era grosseiro e falava alto, minha mãe era
louca e complicada, eles viviam no ritmo intenso do restaurante e
mesmo assim, no final do dia, eles dançavam ao som de blues e
bebiam vinho após o restaurante fechar.
Rebecca era o meu par.
— Está realmente bom, amor? — Ela saiu do closet com
um vestido azul claro e ele estava moldado ao corpo, mas não
muito justo. Seu cabelo estava solto, escovado e sua maquiagem
era muito bonita.
Nós passamos a manhã inteira na sua formatura, ela estava
linda vestida de formanda, jogou seu chapéu para o alto e tiramos
muitas fotografias. Fiquei orgulhoso de vê-la se formar. Não fiz
faculdade, aproveitei a experiência com ela.
— Eu acho que está maravilhosa. — Coloquei meu relógio
e ela sorriu.
— Estou nervosa.
— Você discursou para mais de mil pessoas em um
auditório essa manhã com metade do conselho estudantil te
odiando e eles precisaram te aplaudir de pé porque todo restante
aplaudiu. O que é uma festa de formatura oferecida pelos seus pais
com os jornalistas mais importantes do país, cineastas amigos da
sua avó, seus colegas da universidade, toda a minha intrometida
família italiana e a conservadora família da sua mãe?
— Pois é, Marco Antonio! O que pode dar errado? —
Colocou as mãos na cintura e comecei a rir, ganhando um tapa no
ombro. — Vai ser uma catástrofe e eu preciso estar bem vestida.
— O que eu aprendi em mais de um ano de
relacionamento é que o mais importante é se você está sentindo-se
bem com o vestido, porque eu te acho gostosa com qualquer roupa,
principalmente sem. — Me apoiei contra parede e cruzei os braços.
Rebecca virou para frente do espelho e assobiei para sua bunda. —
A visão é ainda melhor por trás. Posso te comer assim mais tarde?
— Vou pensar no seu caso. — Brincou e abriu sua
gavetinha de joias, pegou o colar que dei de presente a ela no
aniversário ano passado. — Coloca em mim? Eu amo esse colar.
Ele me deixa mais feliz e mais segura. Usei-o durante a semana de
provas e deu certo.
— Apesar de acreditar no dom do seu colar, realmente
acho que foi seu cérebro incrível que fez você arrasar nas provas.
— Beijei seu pescoço após fechar o colar.
— Foram meses terríveis. — Rebecca relaxou contra mim.
— Fui cruel com você milhares de vezes. Sinto muito... A
faculdade no último semestre começou a me enlouquecer, ver todos
aqueles bebês, estudar muito, aguentar ataques do jornal, sua ex-
mulher me perseguindo para conseguir sua atenção e eu não sei. A
faculdade é para quem tem a saúde mental em dia o que não era o
meu caso nos últimos meses...
— Você venceu, nós vencemos. Agora eu vou te enfrentar
como uma noivazila, mas eu te amo e quero ser seu marido. —
Rebecca sorriu, virou de frente e me abraçou apertado. — Será uma
noiva linda. E se ir conhecer todos aqueles bebês estava te ferindo,
por que você não me contou? Você só estava alegremente gritando
comigo.
— Me desculpa... O problema é que eu gostei demais.
— Será que vai te fazer bem continuar?
— Agora eu acho que o pior finalmente passou. Vamos
para a festa?
— Vamos comemorar a carreira da mais nova jornalista
incrível que esse mundo já conheceu. — Beijei a pontinha do seu
nariz e depois seus lábios.
— Obrigada por me aguentar por três semestres e me
incentivar a seguir como jornalista, não só como autora, mas olhar
para minha carreira como algo positivo. Eu te amo por ser meu
incentivador todos os dias e por ter me aguentado nos piores
momentos.
— Ao seu dispor.
Nós descemos a escada, apagando as luzes, coloquei mais
água e comida para Leona e fechei as cortinas. Meu telefone tocou
e era uma mensagem da Blake dizendo que fechou o contrato o
Conglomerado Industrial em Chicago. A Price Corporation queria
que a minha empresa treinasse seu chefe de segurança, que era um
ex-SEAL e os demais seguranças de todas as empresas que
pertenciam ao grupo. Era um contrato enorme e de dez anos.
Dez fodidos anos com um dinheiro milionário todo mês,
eu poderia expandir minha empresa para outros estados e oferecer
mais serviços.
— Puta que pariu! — Coloquei a mão no meu coração e
dei meu telefone para Rebecca ler a mensagem. — Nós fechamos o
contrato. Quando pedi para Blake enviar a proposta, foi apenas...
Tentando pescar um peixe grande.
Pedi com raiva, estressado porque Rebecca tinha gritado
comigo que eu tinha medo de expandir porque não confiava em
mim mesmo para sair da zona de conforto da Europa, com medo de
expandir dentro do país. Ela tinha razão. Eu ganhava muito
dinheiro na Itália e Espanha, em diversos empreendimentos porque
os Moretti’s estão espalhados pelo mundo e acabou crescendo pelo
bom serviço, apesar de ter começado com parentes.
Mesmo com os trabalhos do governo para fazer projetos
de segurança e desafiar a segurança criada pelo Pentágono, tinha
medo de oferecer para grandes empresas. Medo de não ter
estrutura, mas a Blake não tinha e a sua filha parecia ter a mesma
veia destemida e apaixonada.
Rebecca entendeu o que era e começou a gritar. Ela se
metia no meu trabalho e torcia por mim como ninguém.
— Parabéns! Eu estou em choque! Ai meu Deus, é um
contrato imenso! — Rebecca pulou em cima de mim.
— Obrigado por me chamar de covarde com muita raiva.
— Provoquei e beijei sua boca.
— Você não é covarde, eu fui escrota. Mesmo assim,
estou aliviada que você fez e conseguiu. Isso vai acontecer com
outras empresas e daqui a pouco não vai existir em um país que não
tenha uma sede da Moretti. — Me deu um beijo. — Vamos
comemorar!
A maré ruim parecia finalmente estar passando. Vencemos
a nossa primeira tempestade que durou longos meses.
Nós vencemos.
Rebecca.

A minha festa de formatura provavelmente foi a mais incrível


de todo o tempo, estava cheia e meus pais pareciam pavões
orgulhosos querendo exibir que a filha se formou na universidade.
Mediante a todas as brigas sobre a minha carreira, os planos,
expectativas e todo restante, entendia muito bem o sentimento, mas
fiquei cansada.
Os amigos deles queriam conversar comigo e me oferecer
empregos, ou saber sobre a minha carreira na escrita.
Um amigo da minha avó estava falando comigo sobre ser o
primeiro a ler meus livros, agarrei o braço do Owen, assistente da
minha avó e sussurrei que ele tinha que me tirar daquela conversa
antes que fingisse um desmaio.
Meus pés doíam, minha cabeça também, queria fazer xixi
e de tanto que ele falava eu bebia o dobro e me sentia tonta. Não
seria de fato um desmaio totalmente falso.
Owen não me deu corda, pedi desculpas, saí de fininho e
quando cheguei a beira do corredor, me senti sem ar. A casa estava
muito cheia, muita gente falando, minha cabeça parecia que ia
explodir.
— Ei, você está bem? — Karen me amparou.
— Acho que está muito quente aqui, estou me sentindo mal
ou estou bêbada. — Soltei uma risadinha porque me sentia muito
bêbada.
— Você comeu? Rebecca... Você está atrasada?
— Não estou grávida de novo... — Respirei fundo. — Eu só
bebi muito e não comi. Acho que preciso comer.
— Acho que sua pressão está baixa, vamos sentar em algum
lugar fresco e eu vou pegar alguma comida. Você não come desde
que horas?
— Eu me formei hoje, você acha que deu tempo de comer
algo além de bananas e barras de cereal?
Karen me levou para o escritório do meu pai, tirei meus
sapatos e me joguei no sofá. Enviei uma mensagem para o Marco,
ele tinha saído para comprar mais gelo e buscar as quiches que
minha mãe esqueceu em uma padaria do outro lado da cidade.
Tinha tanta comida que ela poderia deixar de lado, mas quando a
Blake queria algo, ela conseguia e meu noivo era um genro muito
bonzinho que puxava o saco dela.
Deitei porque o escritório estava girando, provavelmente
ingeri mais espumantes que deveria. Queria beber e comemorar
minha formatura, o grande contrato do Marco, nossa fase calma e
feliz depois dos últimos meses rosnando para o outro.
A culpa era muito mais minha do que ele. Estava me
irritando com qualquer mísera coisa e nervosa, o atacava como uma
louca sem coração. A época de provas e trabalhos me deixou fora
de rumo, ainda lidando com meus sentimentos mistos sobre a Ruth,
a perda do bebê, o bendito Robbie querendo ver o Marco toda
semana para pedir perdão e a ex-mulher dele me seguindo pela
cidade.
Se eu matasse um, merecia uma boa defesa.
Andrea queria ver o Marco e conseguiu, queria mais dinheiro
e choramingar que ele seguiu em frente muito rápido, sequer havia
tentado um relacionamento com ela. Ninguém mandou mentir para
ele. De todas as coisas que o Marco suportava, a mentira não era
uma delas. Mentir podia ser natural para algumas pessoas, até uma
rotina, mas Marco era um soldado e eles não mentiam. A verdade
salva vidas na guerra.
— Oi, você está bem? — Marco abriu a porta com um olhar
assustado. — Karen me disse que estava deitada aqui porque não
estava bem.
— Estou bêbada. — Fechei meus olhos.
— Hum... Bebeu muito espumantes? — Marco sentou-se na
pontinha do sofá. — Quer um balde?
— Ainda não, mas preciso comer. Estou bêbada porque não
comi o dia inteiro... Nós não comemos nada.
Karen abriu a porta carregando uma bandeja.
— Comidinha! Foi difícil desviar da sua mãe e da vovó, mas
disse que precisava de um tempo porque tem muita gente...
— Vou me recuperar... Logo que comer.
Marco e eu atacamos a comida, literalmente não percebemos
o quanto estávamos famintos com um dia atarefado.
Nós saímos cedo, ficamos na minha formatura até o fim da
tarde, atrasou muito do horário programado para começar e eu
fiquei na parte de trás do auditório, ele do lado de fora com a minha
família. Por fim, como oradora, eu tinha que ficar até os últimos
minutos para as fotografias e coordenar a cobertura do evento
através do jornal.
— Uau. Era falta de comida mesmo. — Karen brincou e
comeu uns salgadinhos.
— A regra número um de beber é comer o dobro. — Marco
me provocou. Ele não estava bebendo porque estava dirigindo e
nós não iríamos dormir com meus pais.
— Vai me acompanhar na prova do vestido, minha dama de
honra número um?
Karen saltou em seu lugar e gritou.
— Estou muito ansiosa! Esse casamento será um espetáculo!
Não queria ser o tipo de noiva que só falava sobre o
casamento, mas era difícil não me render quando me perguntavam
sobre as paletas de cores, se já tinha escolhido o vestido, o local, a
decoração e nós decidimos nos casar no quintal dos meus pais
porque a igreja que queríamos estaria em reforma na data. Nossa
lista de convidados estacionou em duzentos e cinquenta pessoas e
já tínhamos contratado a cerimonialista, organizadora e o buffet.
Faltava escolher absolutamente tudo para ser um final de semana
memorável.
— Gente! A festa é lá fora! — Blake abriu a porta do
escritório. — Ainda tem muitas pessoas que querem te parabenizar,
anda, vem. Hoje é seu dia.
Respirei fundo, fui ao banheiro limpar minha boca e usei um
batom que estava no bolso da Karen. Coloquei um sorriso no rosto
e de mãos dadas com o Marco, voltamos para a festa.
Quando chegamos em casa no meio da madrugada, tomei
um banho para tirar o laquê do meu cabelo e a maquiagem pesada
que já estava irritando meus olhos. Enchi a banheira com um pouco
de água morna e relaxei meus pés. O dia inteiro de salto alto me
deixou destruída. Meus dedinhos estavam quase sem circulação.
— Você está cochilando na banheira? — Saltei assustada com
a voz do Marco e sorri sonolenta. — Nunca mais voltou para o
quarto, fiquei preocupado.
— Acho que dormi sim, estou cansada. Pelo menos todas as
minhas obrigações como formanda acabaram. Espero conseguir
dormir o dia inteirinho amanhã.
— Vou tentar deixar. — Marco sorriu e esticou a mão, me
ajudando a sair. Meu calcanhar parecia pegar fogo. Me joguei na
cama, sem cerimônia, com o corpo pesado e fechei os olhos.
Estava formada.
Nunca pensei que acabaria, que passaria pela minha formatura
e sempre era como se eu tivesse esperando algo ruim acontecer que
seria o fim para mim.
Estava orgulhosa de mim mesma por vencer, não só a
faculdade, mas a mim mesma, meus pensamentos sabotadores e
sentimentos confusos. Era a minha primeira faixa de chegada e
ainda havia muitas para atravessar. Podia parecer bobo o
sentimento de ter vencido quando ainda estava começando a minha
vida e era muito jovem, mas só quem tem uma série de crises de
ansiedade e medo entendia o quão importante era vencer um dia
após o outro.
Me dei um diazinho de folga, sem fazer nada além de comer,
dormir e brincar com a Leona. Após a minha pausa do mundo, me
reuni com minha dama de honra e minhas duas madrinhas na
boutique que escolhemos para nossos vestidos. Ainda não tinha
encontrado nenhum modelo que realmente me agradasse, mesmo
mergulhada em trezentas revistas de noivas, sites de tendências e
conselhos de milhares de profissionais, queria me identificar com o
vestido.
O vestido das madrinhas deixei que cada uma escolhesse o
modelo, com a minha aprovação, porque precisava ser o mesmo
tecido e a mesma cor. Já dama de honra, usaria uma cor diferente,
pouco mais clara. Minha dama de honra era minha prima Lisa, que
estava me irritando profundamente ao descartar todos os vestidos
oferecidos porque a fazia parecer gorda demais.
Nicole, minha cunhada e uma das minhas madrinhas, sentou-
se ao meu lado e demonstrou certo desconforto com os comentários
da minha prima. Ela sofreu bulimia por causa de um namorado e
atualmente sentia-se desconfortável com seu corpo. Ela era italiana,
trabalhava em um restaurante italiano e tinha dificuldades de
aceitar seu biotipo corporal, seus problemas hormonais e
emocionais.
Lisa era adolescente, seu corpo ainda estava em transformação
e era perigosa a maneira que ela se enxergava.
— Você não está gorda, você está perfeita e é linda do jeito
que é. Sempre será linda do jeito que for, o que importa é o que
está no seu coração. — Nicole pegou a mão da Lisa. — Por que
está sentindo-se assim?
— Tenho que emagrecer cinco quilos para poder entrar no
grupo das líderes de torcida da escola. Eu não passei em todos os
testes e trotes, foi horrível e a escola inteira riu de mim. — Lisa se
sentou na nossa frente. — Quero muito fazer parte. Com uma bolsa
de estudos por líderes de torcida, vou conseguir entrar na faculdade
de medicina como a minha irmã. Não sou tão inteligente quanto a
Karen para entrar sem uma ajudinha.
— Ah, querida. Você não precisa de submeter a isso. —
Esfreguei seus braços. — Eu vou na sua escola e contar a direção
sobre essa regra estúpida.
Lisa entrou em desespero.
— Não! Elas vão saber que fui eu que contei, por favor, não
faça isso.
— Isso está errado.
— Por favor... — Lisa choramingou na minha frente e olhei
para Nicole.
— Outras meninas podem não ter alguém para conversar. —
Nicole limpou a garganta. — É importante que essa cultura não se
dissemine entre as outras para que não causa doenças físicas e
emocionais. É muito difícil e o processo de cura é longo, você quer
mesmo que alguma amiga sua acabe passando por problemas de
autoestima tão sérios que...
— Possa acabar fazendo o mesmo que a Ruth? — Completei
o que a Nicole hesitou em dizer. — O que essas líderes de torcida
estão exigindo é errado. Eu cresci com o estigma que era magra
demais e muito cabeçuda, além de dentuça, eu não me importava
muito porque me achava bonita, era segura da minha imagem a
maior parte dos dias. É normal você acordar um dia ou outro e
sentir-se completamente insatisfeita com seu corpo, mas não é
normal e muito menos aceitável odiar a si mesma porque outra
pessoa acha que tem direito de dizer algo sobre a sua aparência.
Não permita que isso aconteça com você ou com outra pessoa....
Lisa respirou fundo e olhou para o chão.
— Tudo bem... Você pode contar.
— Seja a garota poderosa que luta contra padrões. Nós não
nascemos em uma forma para sermos iguais. Eu te amo e você é
linda. — Beijei sua bochecha. — Agora pare de me dar trabalho e
vá escolher seu vestido antes que me estresse.
A estilista responsável pela boutique respirou aliviada com a
crise da Lisa abortada. Nicole cruzou seu braço com o meu e deitou
a cabeça no meu ombro.
— Você será uma mãe incrível, meus futuros sobrinhos são
muito sortudos porque na nossa época, não tinha ninguém para nos
dizer isso. As revistas publicaram garotas tamanho trinta e oito
como Plus Size, diversas marcas lançaram seus maiores números
coisas que não passavam pelos meus quadris.
— Se você sempre foi apaixonada pelo Eric, por que se
deixou levar pelas palavras desse garoto imbecil que namorou?
— Porque o Eric nunca ficava comigo, quando voltou estava
casado e eu pensei que o problema era eu. Estava tão desesperada
por amar alguém e se amada que me submeti aquilo.
— O amor de verdade não destrói, ele constrói.
— Hoje eu sei disso.
Meu telefone vibrou com dez fotografias do Marco
escolhendo sua roupa para o nosso casamento. Ele disse que meu
pai estava enlouquecendo-o e que a mãe dele não era de muita
ajuda. Pediu para escolher três dos dez modelos que enviou.
Perguntei quem tirou as fotos e ele disse que a vendedora, parecia
que Marco estava posando para um catálogo. Era difícil escolher e
o meu lado ciumento só pensou que foi a vendedora que o
fotografou.
Não resisti e enviei a pergunta: “ela é bonita?”.
Marco respondeu com um emoji revirando os olhos, fiz um
pequeno beicinho e foi difícil escolher apenas três, ele estava tão
lindo em todos e eu podia imaginá-lo me esperando no final do
tapete vermelho para ser a sua esposa.
Escolhi três e enviei de volta, então, ele teve a cara de pau
de informar que eu não saberia o escolhido até o dia do casamento
já que não podia ver meu vestido. Engraçadinho.
Blake saiu da área de provas com seu vestido de mãe da noiva
e ela estava tão linda! O modelo era perfeito, com um caimento
jovial e sem decote, mas com alças mais finas. Era azul claro,
dentro da paleta de cores do casamento que estava todo em tons
pastéis. Karen saiu com seu vestido ajustado, jogando os cabelos
para o alto e parou na frente do espelho, rodopiando.
— Cheguei! — Mama Moretti entrou na loja animada. — Ai
que lindas! Deixe-me ver você, Nicole? Seu irmão estava tão lindo,
mas o Alex estava tão indeciso que deixou Marco em dúvida.
— Para quem não queria o casamento, meu pai está digno de
uma noiva. — Brinquei e fui chamada, era a minha vez de ver os
dez modelos selecionados para aquela visita.
Entrei sozinha no ateliê, olhando os modelos e um deles fiquei
completamente apaixonada, mas não tinha certeza se ficaria bom
no meu corpo. Eu não queria um modelo de princesa, muito cheio,
com brilhos e esteticamente pesado. Como as cores do casamento
seriam claras, queria que meus dois vestidos fossem bonitos e
minimalistas.
E aquele modelo era lindo.
Com ajuda de duas atendentes, me encaixei no vestido. Estava
um pouco largo, porque foi feito para uma noiva dois números
maior que eu e ela mudou de ideia poucas semanas antes. Nunca
foi usado, estava para venda e custava uma pequena fortuna.
Ajustado com alfinetes, fiquei parada me analisando e senti que era
exatamente aquele. Alças finas, um decote canoa poderoso que
seguia até a faixa de cetim na cintura que estava bem apertada e a
saia que se abria de forma singela até os pés.
Esperei que marcassem a bainha sem tirar os olhos de mim
mesma. A gordurinha da minha axila ficava extremamente evidente
com aquele corte, em qualquer outra época da minha vida, que ela
era menor e praticamente inexistente, jamais usaria uma blusa que
aparecesse e olhando-as, apenas sorri, porque meu decote valia
mais do que qualquer coisa. Marco ficaria louco, poderia ouvi-lo
dizer que não deixaria meus mamilos polêmicos de fora do nosso
casamento.
Com calma para não me desfazer, andei até onde minhas
madrinhas, dama, mãe e sogra me aguardavam bebendo
espumantes. Blake ficou congelada no lugar e abriu seu sorriso
emocionado, levando as mãos ao peito.
— Você está tão linda.
— Então? Esse é o escolhido... Depois de mais de cem
modelos... Eu acho que com as joias que ainda não sei quais irei o
usar, um penteado de meia taça e o segundo vestido penso em algo
bem justo, com um lascado e um decote, aí vou usar o cabelo solto
com alguns cachos.
— A noiva mais linda do mundo. — Blake começou a chorar.
— Não posso acreditar que meu filho vai se casar.... Uma
noiva tão linda. — Minha sogra entrou no embalo do choro. Elas
ficariam uma bagunça completa no casamento se continuassem
chorando a cada etapa.
Com os vestidos escolhidos e as próximas provas agendadas,
segui para meu último compromisso de casamento do dia. Marco
iria ficar duas semanas fora do país e eu não iria junto, porque além
do casamento, tinha diversas reuniões com meu agente literário e
me comprometi em acompanhar a Blake em todas as visitas de
adoção.
Sentiria muita falta dele, mas seria bom para dar um gostinho
de saudade poucas semanas antes do nosso casamento.
As semanas seguintes seguiram em uma correria louca. Marco
estava trabalhando muito, viajando a Chicago várias vezes e em
algumas o acompanhei ou literalmente ficaríamos sem nos
encontrar por vários dias. Ele estava focado no treinamento, se
exercitando e por estar exigindo muito de si mesmo, a dieta em
casa mudou completamente.
No meio disso, meus pais me enviaram uma mensagem com
uma fotografia que fez meu coração transbordar de alegria e amor.
Eles finalmente conheceram meus irmãos. Um menino e uma
menina, de seis e quatro anos respectivamente que nasceram no
Hawaii, mas estavam sob guarda da fundação, seus nomes eram
Kaleo e Kauana.
Estava ansiosa para conhecê-los e aguardando a autorização
de que meus pais realmente podiam entrar com o processo de
adoção. Enquanto isso, cuidei para que Marco não surtasse com o
ritmo de trabalho, não sofresse um ataque cardíaco prematuro e
como ele precisava comer bem e preocupada com o histórico
cardíaco das nossas famílias, fomos a diversos médicos para nos
cuidarmos melhor.
Descobrimos que a pressão arterial dele estava elevada em
diversas consultas, muito agitado, não precisou retornar ao seu
calmante, estava dormindo sem ajuda, mas fomos orientados a
mudar alimentação e que ele precisava pisar no freio. Era difícil
fazê-lo sossegar e descansar, algumas noites nós brigamos porque
ele precisava dormir e não virar a noite trabalhando nos demais
contratos da empresa.
— Eu não estou brincando, Marco Antonio. Contrate alguém
para te auxiliar nisso, se a Lexie está sobrecarregada, significa que
precisa de mais uma pessoa. Você não dorme para dar atenção a
todos os projetos, indo a Chicago o tempo todo, passando horas na
academia treinando o novo pessoal... Pelo amor de Deus.
— Estou cansado. — Marco fechou os olhos por alguns
minutos.
— Sei disso. — Fechei a tampa do seu notebook bem devagar
e peguei, colocando em cima da mesinha do quarto. — Deite-se
direito, vá dormir. São seis horas da manhã... Eu vou sair agora,
quando voltar, é melhor estar nessa cama.
— Tudo bem, se cuida. Qualquer coisa, me liga. —
Murmurou sonolento e o cobri.
Ouvir aquelas palavrinhas, às vezes, eram muito mais
profundas que um eu te amo. Ajeitei sua coberta e beijei sua testa,
sentindo que estava mais quente que o normal, mas não exatamente
com febre. Não ainda. Deixei Leona dormindo ao seu lado e
felizmente fui conhecer meus possíveis novos irmãos.
Rebecca.
Entrei na maternidade infantil procurando meus pais e os
encontrei no terceiro andar. Eles estavam acompanhados de uma
mulher bem alta, que usava um terninho cinza escuro e calça
branca, com uma blusa vermelha.
Blake estava com um macacão preto e sapatilhas, meu pai
com sua clássica camisa jeans, uma camiseta branca, calça jeans e
tênis. Ainda bem que não estava arrumada demais, usando calça
jeans, uma sapatilha vermelha e uma camiseta branca com letras
vermelhas escrito REBECCA ARRASA.
Marco achou em uma loja em Chicago e me deu de presente,
adorava usá-la apesar de ser larga e comprida. Me aproximei deles,
nervosa e sorri. Abracei meus pais, procurando as crianças e olhei
para mulher que me encarava curiosa.
— Oi, eu sou a Rebecca. — Nós trocamos um aperto.
— Sou Scout, a assistente social do caso dos seus pais.
— Então, cadê eles?
— Kauana está internada porque ela está com pneumonia e o
Kaleo veio para um exame.
Ambas as crianças tinham sérios problemas respiratórios.
Kaleo tinha bronquite e Kauana asma, ambos com histórico
hospitalar extenso.
— E o que acontece agora? — Estava tão ansiosa que meu
coração estava batendo forte no peito.
Caramba! Dois irmãos!
— Nós ganhamos a guarda provisória dos dois... O juiz
liberou porque não vamos separar os irmãos. — Meu pai me
explicou. — Kaleo vai para casa conosco hoje... E a Kauana deve
ficar no hospital por mais alguns dias.
Tapei minha boca para não gritar.
— Ai meu Deus! Estou tão emocionada! — Abracei a Blake.
— Eu também... Quando olhei para eles eu senti a mesma
coisa quando te vi pela primeira vez. Encontrei meus filhos.
Nós apenas choramos abraçadas por um tempo e fomos
interrompidas com uma enfermeira saindo de mãos dadas com um
menino que batia na minha cintura. Ele era moreno, com os olhos
puxados e os cabelos lisos espetados porque estavam bem
curtinhos. Era bem magrinho, muito tímido e seus olhos estavam
arregalados. Não podia imaginar o que aquela criança poderia estar
sentindo com pessoas estranhas levando-o para casa.
— Kaleo... Essa é a minha filha mais velha, seu nome é
Rebecca e ela veio te conhecer. — Meu pai abaixou para que
pudesse olhar em seus olhos. Nós aprendemos nas sessões que era
a melhor maneira de passar confiança.
— Oi, Rebecca. — Ele disse timidamente.
— Oi, Kaleo. Estou muito feliz em te conhecer. — Abaixei na
sua frente e ele me deu um rápido abraço, cheio de timidez e se
escondeu atrás da Blake, agarrando a mão dela. Mordi meu lábio
para não chorar ao perceber que ela já tinha conquistado a
confiança dele.
Um médico saiu de um quarto infantil.
— Como está a Kauana? — Blake perguntou ainda segurando
a mão do Kaleo.
— Ela está progredindo bem, você poderá passar a noite com
ela se estiver tudo bem para a sua assistente social.
— É claro que quero ficar. — Blake sorriu e olhou para Scout.
— Eu posso, certo?
— Você deve ficar. — Scout nos deu um sorriso. — Vão
formar uma família linda.
— Obrigada.
Blake parecia um pavão de tão orgulhosa.
— Então, eu posso dormir com o papai hoje se for necessário.
Marco está descansando agora, não vai se importar. Só para dar
uma força com o Kaleo.
— É perfeito, filha. Obrigado. — Meu pai sorriu e Scout
olhou seu relógio.
— Eu vou na uti neonatal, nós temos três bebês lá e eu preciso
dar uma olhadinha neles. Você não chegou a fazer a tour conosco,
não é? Quer vir comigo? — Scout me ofereceu.
— Ah... É claro.
Deixei meus pais com Kaleo no quarto da Kauana, ela era
linda, achei pequena para sua idade e estava dormindo. Dei um
beijinho nela e segui a assistente social até a uti-neo, tirando
minhas joias, colocando em um saquinho e vestindo uma roupa
protetora por cima da minha, sem tênis, de meias e um sapato
cirúrgico.
— A fundação financia a internação das crianças através de
doações. — Scout me explicou. Eu não era idiota. Uma família rica
como a minha era obviamente um alvo para pedir doações e eu
sabia que adoção das crianças foi vigorosamente avaliada, mas em
um tempo realmente curto comparada às outras famílias.
E os meus pais foram claros que não tinham exigências. Eles
apenas queriam conhecer as crianças para sentir a conexão, ao
longo do verão, nós fomos a diversos lares adotivos, tivemos
contatos com crianças lindas e apaixonantes, até participamos de
um festival de verão em uma das casas que conhecemos.
— Olá, pequenininha. — Scout parou ao lado de uma
incubadora. — Como ela passou a noite? — Perguntou a
enfermeira que estava mexendo em alguns tubos.
— Ela foi levada para cirurgia essa madrugada. Está reagindo
muito bem, ela é uma lutadora.
Cheguei mais perto da incubadora e senti que meu coração
parou. Apoiei minha mão no vidro, respirando fundo e me senti
tomada. Era um bebezinho muito pequeninho, a plaquinha dizia
que nasceu com trinta semanas, já estava com duas semanas de
vida e enfrentou uma cirurgia para reparar as veias do seu coração.
Era tão lindinha, mesmo tão pequena e cheia de tubos com um
respirador enorme no seu rostinho.
— O que aconteceu com ela?
— Ela ainda não tem nome... Foi deixada em uma baby box
de uma igreja ainda com o cordão umbilical. Nós a pegamos
porque não há uma casa que possa custear seus tratamentos por
enquanto. Parece que vai ser um longo caminho até seus órgãos se
desenvolverem e poder saber se ela vai ficar bem, mas uma coisa é
certa, crianças que estão doentes não são adotadas. — Scout anotou
algo em sua prancheta.
Não conseguia desviar os olhos dela.
— Rebecca? Sei que é difícil ver um bebê nessas condições,
mas é uma equipe médica maravilhosa. Eles vão cuidar bem dela.
— Scout me deu um sorriso seguro, mas a minha questão era outra.
Meu coração estava diferente, explodindo no peito e senti algo tão
forte e tão mágico que não queria ir embora. — Você está bem,
querida?
— E se um... E se um... Quer dizer, e se um casal quiser
adotá-la? — Gaguejei nervosa.
— Ela ainda não está na lista... Não está classificada como
uma criança que pode sobreviver, mas o processo é o mesmo, na
verdade, não seria tão difícil. Como disse, não querem adotar
crianças doentes, se ela sobreviver, ela pode ter uma doença
cardíaca ou respiratória. Existe a grande chance de ser uma criança
que vai andar, falar, viver normalmente, mas pode ter baixa visão,
asma, bronquites... — Scout estava falando e eu ouvindo
atentamente. — Por quê?
— Eu não sei. Posso chamar meu noivo para vê-la?
— Esse casal que você perguntou...
— Não sei o que estou sentindo, mas eu simplesmente quero
ficar aqui a noite inteira. Eu preciso que o Marco venha vê-la
também... E me dizer que não estou louca.
— Tudo bem, você pode chamá-lo. Vou estar aqui em algum
dos quartos olhando as crianças, sua mãe tem meu número, só me
chamar. — Me deu um sorriso e rapidamente sai, pegando meu
telefone e enviei uma mensagem para o Marco pedindo que me
encontrasse ali, enviando o endereço.
— Oi, filha. Você nunca mais voltou... — Blake apareceu no
corredor. — Fiquei preocupada. Seu pai está contando uma história
para o Kaleo. Ele ainda não quer deixar a irmã... Kauana ainda não
acordou, o médico disse que passou a noite agitada, tossindo e deve
estar cansada. Então, conheceu os bebês?
— Você consegue me descrever como é a sensação... Quando
me viu e agora quando você viu as crianças. Você consegue me
dizer, mãe?
Blake me deu um olhar confuso, analisou bem o meu rosto e
seu olhar mudou.
— Só me explica… Por favor.
— Não tem como explicar. Quando eu te vi, você estava
chorando no colo do seu pai e eu ofereci para te pegar. Eu olhei
para o seu rostinho... Meu coração bateu diferente e tudo que mais
importava em toda minha vida era você. Não podia ir embora e te
deixar sozinha com seu pai... Então, eu não fui embora. Foi a
mesma coisa com as crianças... Eu os vi, eu senti, soube e disse
para o seu pai que não ia embora sem eles. — Blake colocou os
braços ao meu redor. — O que está acontecendo?
Meu coração ainda estava bombeando sangue tão rápido que
me sentia tonta. Comecei a chorar com a cabeça apoiada em seus
ombros.
— Você encontrou esse sentimento, minha filha? Não tenha
medo, está tudo bem. Encontrou?
— Sim.
— Pode me mostrar?
— Ela é tão pequenininha. — Voltei a chorar abraçada com a
Blake. — Não quero ir embora.
— Vamos lá, vamos vê-la.
Nós entramos na uti e devagar, andei até a incubadora que a
bebezinha estava. Blake apoiou a mão no vidro, olhando-a e
desviou o olhar até as informações da mesa. Sabia o que ela estava
pensando e era a mesma coisa que a assistente social me disse. Ela
tinha chances de não sobreviver por ser uma criança com sérios
problemas de saúde.
— Ah, meu amor. — Blake me olhou emocionada. — Ela é
tão lindinha...
A enfermeira nos informou que ela era uma bebezinha
coreana, foi necessário fazer um mapeamento genético para saber
como tratá-la corretamente. Blake e eu ficamos um tempão apenas
olhando-a calminha no respirador.
— Ela é forte, chegou aqui muito pior do que está agora.
Hum, acho que aquele rapaz está te chamando. — A Enfermeira
Charlie apontou e olhei para trás, encontrando Marco descabelado,
com os olhos arregalados e todo desarrumado.
Blake e eu saímos da uti e ele me agarrou.
— Você quer me matar do coração? Eu só vi a sua mensagem
que estava em um hospital, nem me toquei que era uma
maternidade e eu surtei.
— Eu avisei que meus pais estavam aqui. — Beijei seu peito e
seu coração estava acelerado. — Você não estava muito lúcido,
sinto muito. Deveria ter explicado melhor...
— O que aconteceu?
Expliquei com calma que meus novos irmãos estavam em um
dos quartos do hospital que o menino iria embora conosco e a
menina permaneceria internada para tratar da pneumonia. Informei
que me ofereci para dormir com meu pai na primeira noite do
Kaleo em casa, ele concordou que iríamos.
— Quero que conheça alguém. Você pode abrir seu coração?
— Segurei suas mãos e beijei cada uma.
— Estou sempre de coração aberto. — Marco aceitou ser
levado para dentro.
Vesti nele a roupa cirúrgica, tirou os sapatos, colocou as
meias cirúrgicas e me seguiu até a incubadora da pequenininha. Ele
parou bem ao lado, ainda segurando minha mão, observando-a por
um longo tempo e me olhou nos olhos. Me perguntou com seu
olhar se era o que estava pensando e balancei a cabeça que sim, não
só pensando, como sentindo.
Seus lindos e perfeitos olhos azuis ficaram marejados, me
puxou para seus braços e nós dois olhamos para menininha no
respirador, ela mexeu a mãozinha e a boquinha. Era tão branquinha
que suas veias apareciam, sua pele era fininha e estava
descascando. Seu cabelinho era muito fino, muito escuro e um
contraste imenso a sua pele.
Seus olhinhos estavam fechados e a enfermeira disse que
ela não abriu ainda.
— Oi, olá. Você deve ser o noivo. — Scout voltou para
perto de nós. — Sou Scout, a assistente social.
— É um prazer conhecê-la.
— Eu acho que isso é o que estou pensando?
— Nós ainda temos que conversar... Mas sim. — Marco
respondeu por nós. Olhei para o seu rosto. — Totalmente sim. —
Acariciou meu rosto.
— Nós podemos conversar... Basta me ligar. Sou uma
pessoa de fácil acesso.
Foi difícil ir embora. Não queria ir, mas não era possível
passar a noite na uti e nem teria autorização para isso. Meu pai
precisava levar Kaleo para casa e o horário de visitas estava no fim.
A Blake queria que conversássemos com o advogado antes de
tomar qualquer decisão, ela agendou uma reunião para o dia
seguinte, porque era o único horário que ele tinha antes da sua
agenda ficasse tomada por oito semanas para novos clientes.
Marco me seguiu até em casa, entramos na garagem
praticamente ao mesmo tempo e ele deixou o carro dele mais perto
da saída porque iríamos para casa do meu pai. Nossas mãos se
encontraram antes mesmo que os nossos olhares. Paramos de frente
ao outro e sorrimos.
— Eu não sei explicar o que senti.
— Também não sei explicar, mas ela é tão pequena, tão
frágil e eu só queria protegê-la de todos aqueles tubos. Como
explicar isso?
— É muito louco. — Marco me abraçou.
— Será que é por causa do bebê que perdemos?
— É diferente agora. Eu realmente... Foi ela. Quando a vi,
meu coração bateu diferente. Não queria ir embora... Não queria
deixá-la.
Marco e eu entramos em casa e nos sentamos no sofá,
conversamos sobre a pequena menina e ambos compartilhamos o
sentimento que não importava se ela iria sobreviver ou não, nós
precisávamos estar com ela. Concordamos em encontrar com o
advogado, nos preparar e dispor para ficar com ela independente do
seu futuro.
Queríamos lutar por ela e dar a chance de uma vida.
— Nós podemos pagar os melhores médicos e
tratamentos, vamos dar isso a ela? — Segurei a mão do Marco.
— Nós vamos dar a chance de vida a ela. — Marco se
comprometeu e seu telefone tocou. — É o seu pai. — Atendeu a
chamada. — Oi, Alex. Sim, é claro. Nós vamos passar no
shopping... Hum, sim. Crianças gostam de batatas fritas e bife.
Certo... Nós vamos arrumar nossas coisas e vamos passar no
shopping. — E encerrou a chamada. — Seu pai disse que o Kaleo e
a Kauana não têm muitas roupas, estão todas de baixa qualidade e
não tem brinquedos, ele está preocupado que não tenha nada
atraente para eles nessa primeira noite.
— Então vou arrumar nossas coisas rapidinho e vamos ao
shopping.
Subi a escada correndo, me sentindo diferente, era como
se um único contato com aquele bebezinho tivesse transformado a
minha vida e estava muito ansiosa para voltar para o hospital.
Arrumei uma pequena mala com roupas para passar a noite, outra
para sairmos amanhã e para passarmos o dia. Guardei o terno,
gravata, colete e gravata do Marco com muito cuidado, o
computador, telefones e iPad.
Marco adiantou as coisas da Leona, que não podia nos ver
pegando as coisas dela que se sentava na porta e não saia até
sairmos. Ela amava passear. Ficando mais tempo em casa,
caminhava com ela no parque, era uma curta distância porque a
bichinha não aguentava muito.
Saímos de casa pouco tempo depois, passamos em um
shopping e entramos em uma loja infantil comprando brinquedos
para as crianças.
Leona estava dentro do casaco do Marco, presa como se
estivesse em um canguru, com o rostinho de fora e olhando tudo
como uma curiosa que era. Felizmente ela não era do tipo que latia
muito. Seu latido era baixo, rouco, devido a predisposição de
problemas respiratórios que a raça dela tinha.
Fiquei tão descontrolada descobrindo um universo infantil
que desconhecia que comprei milhares de coisas. Entre brinquedos
bobos, me preocupei em jogos estimuladores para o
desenvolvimento. Deixei Marco escolhendo os brinquedos do
Kaleo e escolhi os brinquedos da Kauana.
Nos encontramos no caixa e com sacolas nos braços,
entramos em uma loja de roupas e precisei a pedir ajuda a uma
vendedora para encontrar algumas roupas adequadas e no tamanho
certo porque não fazia ideia.
— Acho que exageramos... A guarda é provisória. —
Comentei no carro, começou a chover e a visão da estrada estava
bem ruim.
— Falta pouco para ser definitiva, quando eles permitem
levar as crianças para casa, é porque já é definitivo. Vão avaliar, se
acontecer algum problema nesse período, se vão se adaptar... —
Marco se ajeitou no banco. — Caramba... Quanta chuva.
— Nós vamos chegar bem... — Coloquei a mão na sua
perna.
Foi tenso chegar na casa dos meus pais, logo na primeira
na noite do Kaleo em casa, uma chuva assustadora. Meu pai abriu a
garagem logo que entramos no quintal e saímos do carro protegidos
da chuva. Ele apareceu na porta da cozinha e Kaleo estava com o
polegar na sua boca e a mão agarrada na calça dele.
— Caramba! Vocês compraram muita coisa! — Meu pai
ficou assustado com as sacolas. — Eu sabia que você não iria se
controlar.
— Quem precisa se controlar? — Brinquei com o olhar
espantado do meu pai.
Marco começou a fazer o jantar e eu subi com meu pai
para arrumar um dos quartos, o mais próximo do quarto deles, para
arrumar provisoriamente para Kaleo. Mesmo tímido, aceitou minha
ajuda para tomar banho, peguei uma roupinha de dormir
confortável, vestindo-o e passando uma loção de criança. Nós
abrimos alguns brinquedos, ele escolheu um boneco grande do
Capitão América para ficar e descemos para comer.
— Você gosta de batatas? — Coloquei-o sentado em cima
de algumas almofadas para ficar mais alto na cadeira.
— Ele é o quê seu? — Apontou para o Marco tirando os
bifes do forno.
— Noivo. Vou me casar com eles em algumas semanas.
— Então ele vai ser seu marido?
— Isso mesmo.
— E você vai ser minha irmã? — Me olhou curioso e
sorri, sentando ao seu lado.
— Espero que sim, de todo meu coração.
— Então tá bom. E eu gosto de batatas, a Kau que não
gosta. Ela é chata para comer qualquer coisa. Ela ama nuggets. —
Me explicou e segurei sua mão.
— Você vai comer tudo? Porque o Marco cozinha muito
bem e depois, nós vamos brincar um pouquinho e dormir.
— Não vou ver a Kau hoje?
— Nós vamos ligar para Blake e saber como ela está, o
que acha?
Meu pai e Marco estavam nos observando interagir com
carinho e tudo que realmente pensava era no pequeno bebezinho
lutando para sobreviver no hospital.
Marco.

Mais de um ano atrás estava parado naquela mesma praia em


Ibiza, olhando Rebecca de biquíni, tomando sol e bebendo.
Ninguém sabia sobre nós, estávamos apenas juntos, sem entender o
que estava acontecendo e completamente apaixonados.
Dessa vez estava sozinho, olhando o mar e aguardando
minha esposa me ligar. Rebecca e eu nos casamos no civil há duas
semanas e nosso casamento religioso será amanhã. Estava ansioso
e chateado que a viagem atrasou tanto que chegaria em cima da
hora para o nosso jantar de ensaio.
Meu telefone tocou e imediatamente atendi.
— Oi, amor. — Sorri ao ver o rostinho da Rebecca. — Você
está tão linda. Não conseguimos nos falar ontem...
— Eu consegui dormir no hospital essa noite. Eles me
autorizaram passar a noite com ela. — Rebecca estava falando
bem baixinho. — Ela é linda, Marco. A saturação dela não caiu
em momento nenhum... Se continuar assim, vai sair dos aparelhos.
— Nós trocamos um sorriso.
— Coloque-a na câmera.
Rebecca se aproximou da incubadora e filmou a menininha
que ainda não estávamos autorizados a nomear e devido nosso
interesse em adotá-la. Juiz Hunter pediu que ela não fosse
nomeada até a guarda definitiva.
Nós só a teríamos mediante guarda definitiva por conta do seu
estado clínico. Ela já tinha um mês e meio de vida, mas, ainda não
estava respirando sozinha. Felizmente, não precisou de mais
nenhuma cirurgia até o momento.
Todos achavam que a sua não evolução era prova que não
sobreviveria.
— Oi, lindinha. Soube que você dormiu bem... Gostou da
companhia essa noite? Espero te ver sem esse respirador enorme
fora do seu rostinho lindo em breve.
— Ela vai vencer essa semana. — Rebecca virou a câmera
para seu rosto. — Vá trabalhar porque vou te esperar no nosso
jantar de ensaio. É melhor você estar aqui, Marco Antonio!
— Eu vou, prometo. Te amo. — Me despedi sorrindo. Rebeca
ficou chateada com o atraso do meu retorno, mas estava lidando
com a mesma postura de sempre: fingindo estar brava e no fundo,
confiando em mim.
A empatia e compreensão dela era uma das muitas partes
que amava.
Olhei a hora, era o momento de enfrentar minha última
reunião para assegurar o contrato e voar para Londres, passar na
Price Corp e em seguida, voar para casa. Não haveria muito tempo
para pausas e conversas, portanto, entrei no carro com Eric e nós
corremos para seguir a agenda.
Blake não estava me acompanhando porque ser minha
sogra lhe dava a vantagem de tirar uma longa licença maternidade.
Ela tinha bons motivos, dois filhos pequenos e a sua filha
mais velha casando-se. Estava atarefada, ocupada, apaixonada e
totalmente empolgada com as mudanças. E eu mais ainda. Não
conseguia dormir pensando na Rebecca vestida de noiva, em como
seria a nossa festa de casamento e eu estava muito apaixonado com
a ideia de ser um marido.
Rebecca me irritava todos os dias. Ela me tirava do sério tanto
quanto me fazia rir. No final de dia, nós estávamos rindo e aos
beijos, mesmo que ainda tivéssemos vontade de torcer o pescoço
do outro. Sabia que nem sempre seriam flores, nós já
experimentamos momentos que não foram coloridos e muito
menos floridos, teriam muito mais ao longo da vida e a amava tanto
que enfrentaria outras zonas de guerra por ela.
E por aquela menininha que entrou nas nossas vidas de
paraquedas. Todos os dias orava para que ela sobrevivesse,
melhorasse, não tivesse falsas esperanças e me dispus em chamar
os melhores pediatras do país para cuidar dela.
O juiz entendeu que poderia parecer uma espécie de
compra, então, ele não aceitou diretamente, pediu que fizéssemos
em doação para fundação responsável pelas contas médicas. Não
havia nenhum casal, além de nós, interessados nela. Nos grupos de
apoio que frequentamos, tentaram nos desencorajar e o próprio
advogado tentou nos convencer para outra criança.
Blake e Alex conversaram francamente conosco se iríamos
aguentar o impacto dela não sobreviver e que talvez fosse melhor
buscar outra criança.
Nós dissemos não.
A lindinha iria sobreviver e seria nossa filha. Ela já era a
nossa filha.
— Oi linda, já estou em Londres. Você deve estar na sua
despedida de solteira... Que sortuda. Eu vou beber com Eric
durante o voo... Eu te amo.
Deixei uma mensagem de voz para Rebecca e guardei meu
telefone, nós decolamos e meu padrinho pegou várias garrafinhas
de uísque do avião que alugamos na volta para casa. Começamos a
beber e eu tive que ouvir o pequeno DeLucca me dar conselhos
matrimoniais, como ele era a pessoa que vacilava muito, Lexie
vivia brava com ele e por isso tinha muito que dizer.
Bebi tanto que apaguei metade do voo.
Acordei assustado com a risada do Eric e ele estava em
chamada de vídeo com a Rebecca, me filmando dormindo e
provavelmente roncando bastante. Chutei a perna dele por ser chato
e acabei rindo. Rebecca estava bêbada, dançando com a Lexie em
cima de uma mesa.
— Sou o padrinho, pedi a senha do Wi-fi do avião para
comissária de bordo. Rebecca deveria estar muito irritada por não
ter notícias nossas.
— Parece que elas estão se divertindo. — Resmunguei ao
ver a roupa da Rebecca.
Como sempre, era curta e decotada, eu tinha a sorte de ter
uma mulher muito gostosa. Algumas vezes ela ficava chateada por
ter engordado um total de doze quilos desde que nos conhecemos,
era linda antes, mas agora tinha o corpo de uma mulher adulta.
Corpo de uma mulher real. Eu era completamente apaixonado pela
sua bunda e seus mamilos polêmicos aumentaram de tamanho para
minha grande felicidade.
Rebecca mudou muito nos últimos meses, estava centrada,
ainda tinha dias que ficava para baixo e acabava por ficar ranzinza,
mas vencia, erguia a cabeça, saía da cama e lutava. Estava saindo
mais com a Elena, minha irmã e até mesmo com a Lexie. Tinha
dias de pura alegria, que dançava na sala de calcinha e camiseta,
que enchia a casa com sua linda voz e eu gostava de ligar o
gravador sempre que estava cantando.
Havia dias que ela ficava nervosa com o lançamento do
livro que fingia que nada estava acontecendo no universo e fazia a
torta de tudo, recheava com carne e frango com um monte de
coisas que nem sempre combinavam. Ela me enlouquecia, falava
sem parar sobre qualquer coisa, menos do que importava e no dia
seguinte voltava do ponto de partida com um gás que não
conseguia acompanhar.
Ela era tão enlouquecedora, imperfeita e ao mesmo tempo
perfeita. Era tão incrível.
Nós não falávamos da Ruth em casa, apenas na terapia e
sinceramente, era o suficiente para mim. Não conseguia ter a
mesma empatia que a Rebecca tinha. Tão empática que ainda se
culpava, não entendia e havia tantas lacunas nessa história que nem
a polícia conseguia entender a confusão.
Kerry foi indiciado, mas não preso. E a investigação
morreu ali. Alguns e-mails da Ruth corroboram para a história e a
Dra. Jones não dizia um diagnóstico porque ela não podia, mas
dava a entender o que todos nós sabíamos: Ruth precisava de
ajuda.
Nosso trabalho era fazer a Rebecca entender e aceitar que não
teve culpa. Nós ainda estávamos trabalhando na sua autoestima
sobre ser importante, ser amada, embora ela não dissesse mais que
sentia como um descuido, já que seu relacionamento com seus pais
melhorou consideravelmente. Na verdade, todos nós melhoramos
com a nossa forma de relacionar.
Alex e eu ainda gostávamos muito de implicar com outro, mas
definitivamente não queríamos mais nos agredir. Ele estava em
uma fase muita calma, mesmo com duas crianças pequenas que
eram verdadeiras pestinhas com muita energia. Kaleo era agitado,
adorava brincar de lutinha comigo e eu estava ensinando-o a jogar
bola já que o Alex não era muito bom nisso.
Kauana era mais calma, embora entrasse nas artes do seu
irmão. Ela era apaixonada pela Rebecca e devia pensar que minha
esposa pendurava a lua.
Essas primeiras semanas das crianças em casa foram
divertidas.
Rebecca e eu mal dormimos no nosso apartamento, ela
passava a manhã trabalhando no livro, a tarde ficava no hospital e
noite nós íamos ficar com seus irmãos porque queríamos criar laços
com eles também. Blake ainda não queria que o restante da família
participasse até que fosse definitivo.
Todos estavam curiosos, embora, mal-humorados e
magoados.
As crianças serão apresentadas a família no casamento. Nós
decidimos que eles iriam entrar com as alianças e com as flores. A
guarda definitiva estava prestes a sair e eu já gostava muito dos
meus pequenos cunhados. Chegaram para trazer ainda mais alegria
e amor.
Pousamos em Detroit em segurança, passei no apartamento
para deixar a mala, tomar um bom banho, me arrumar, fazer a
barba e concordei que o louco do Eric cortasse meu cabelo.
— Você não pode estragar meu cabelo no dia do meu
casamento. Eu vou enfiar a tesoura no seu olho, estou falando a
verdade. — Sentei-me em uma cadeira no banheiro.
— Só vou aparar as pontinhas. — Eric estava muito feliz e
tentado em me sacanear. — Serei um bom padrinho, prometo.
— Eu ainda posso te enfiar a porrada, você não deixou de ser
o Pequeno DeLucca só porque cresceu e ganhou alguns músculos.
— Ui. Que medinho. — E cortou um pedaço.
Fiquei sentado, esperando a merda que seria, porque de
tão ruim, era só raspar. Rebecca ia arrancar meu fígado e nosso
primeiro dia de casamento seria totalmente brigados porque ela me
pediu para cortar o cabelo e esqueci. Normalmente eu era a pessoa
que infernizava quando ela esquecia algo importante, então, ela não
deixaria passar nem por todo chocolate do universo.
Quando Eric terminou, penteei e até que não ficou ruim.
— Você tem sorte, garoto.
— Não ia estragar o rosto do bonitão.
— Limpa o cabelo do chão.
— Ei, por quê?
— Sou seu chefe e sou o noivo, limpe o chão. — Falei o bem
devagar.
Eric me deu um olhar mal, foi até o primeiro andar e pegou a
vassoura, pá, limpou tudo e terminou de se arrumar. Ninguém
mandou me filmar dormindo.
Rebecca estava ligando, irritada, sabia que não estava
bêbada, não só porque tínhamos o jantar de ensaio, mas porque
podíamos ser chamados para o hospital a qualquer momento. Dirigi
até a casa dos pais da Rebecca com tranquilidade e um pouco
acima da velocidade permitida.
— Seus sogros sabem como dar uma festa. — Eric comentou
do meu lado. — Gosto de você, mas vou atrás da minha esposa.
Fiquei duas semanas ao seu lado sem vê-la. Está foda a saudade. —
Pulou fora do carro e ri, entrando pela cozinha e Rebecca saiu
correndo, quase atropelando sua avó e me preparei para o impacto.
Abraçá-la depois de duas semanas me fez feliz. Me fez sentir
completo.
— Porra, que saudade. — Apertei-a ainda mais, beijei sua
bochecha, a pontinha do nariz e por fim, seus maravilhosos lábios.
— Você voltou! Ai que saudade! Ano que vem eu vou tirar
férias e vou com você. — Segurou meu rosto e me abraçou
apertado. — Nós vamos nos casar amanhã!
— Eu nunca mais vou passar seu aniversário longe de você.
— Acariciei seu rosto perfeito.
— Combinado. — Rebecca ficou na ponta dos pés e me deu
um beijo nos lábios muito comportado. — Quero tanto você que
nós vamos dar um jeito de subir e ter uma rapidinha no meu antigo
quarto como fizemos no meu aniversário do ano passado.
— Combinado.
A avó da Rebecca reclamou que ela estava monopolizando
minha atenção. Quis dizer que ficar duas semanas longe de casa
não estava me fazendo ter interesse em falar com qualquer pessoa.
Rebecca entendeu bem o meu olhar e me beliscou, mandando sorrir
e cumprimentar seus familiares.
— Marco! Marco! — Kaleo entrou na cozinha correndo.
Abaixei e ele me abraçou. — Você voltou! Alex me deu uma luva
de boxe! Vamos lutar?
— Oi, pequeno homem! — Beijei sua bochecha. — Vamos
fazer isso depois? Agora eu tenho de cumprimentar todo mundo e
temos que ensaiar o casamento amanhã.
— Tudo bem, vou esperar! Blake disse que vou levar sua
aliança, que serei seu pequeno melhor homem. Eu sou um homem?
— Vai ser! Agora, bate aqui!
O quintal estava um pouquinho cheio com nossas famílias
espalhadas e já muito acostumados com as diversas festas em
comum. Andamos pelas mesas, cumprimentando os convidados.
Rebecca estava tão linda usando um curto vestido branco
e um véuzinho de noiva no cabelo, o sorriso nunca deixava seus
lábios. Nossa primeira festa, ela teve um ataque de pânico, crise de
choro e uma rapidinha no quarto para acalmar. Eu sentia a
felicidade dela de longe. Todos sentiram o quanto a “garotinha”
que conheci no passado se transformou em um mulherão incrível.
Após o jantar oferecido pelos meus sogros, nos arrumamos
para ensaiar. Meu papel era entrar e cumprimentar todos os
convidados que estavam sentados e me posicionar. Eric ficaria ao
meu lado, um degrau abaixo.
Rebecca tinha escolhido a Nicole para entrar primeiro,
mas para não parecer que ela era par do Eric, trocou com sua prima
Karen. Eu não tinha um segundo padrinho e decidimos deixar
assim. Pensei em colocar algum primo, mas, aquele lugar era do
DeLucca que não estava mais entre nós.
Não era realmente próximo de mais ninguém.
Convidei todos os meus amigos da Marinha e alguns de
infância, mas ninguém realmente seria um bom padrinho. Era algo
bem pessoal.
Após a Nicole, era a vez da Lisa e ela segurava um pequeno
buquê. Se posicionou pouco abaixo da Karen e então, Alex estava
de braços dados com a Rebecca. Ensaiamos mais duas vezes e tudo
que realmente aconteceu foi aumentar a minha ansiedade para o dia
seguinte.
— Ei, tá todo mundo indo embora e meus pais estão
distraídos... É agora ou nunca. — Rebecca pegou minha mão e me
puxou para escada.
— Blake! Karen! — Kauana estava na escada e nos impediu
de passar.
— O quê? Não faça isso! — Rebecca sussurrou.
— O que está havendo? — Falei baixo também.
— Blake! — Kauana gritou e a Leona apareceu correndo,
latindo, se balançando de felicidade com a bagunça na escada.
— Não querem que a gente durma junto porque dizem que dá
azar. — Rebecca tentou passar pela Kauana, que com sua pele
morena, olhos castanhos e cabelinho lisinho bloqueou feito uma
mini-soldado. — Eu te dou uma boneca por semana se você me
deixar passar sem gritar. — Rebecca a olhou nos olhos.
A pequena sorriu.
— Tudo bem. — Kauana desceu os degraus saltitando.
Pegamos a Leona para ela não ficar latindo do lado de fora e
dedurando nossa posição. Entramos no quarto da Rebecca aos
beijos e...
— Dá azar. — Karen nos assustou. — Estava me arrumando
para dormir com a noivinha safada quando vocês entraram cheios
de tesão. Pode saindo, Marco Antonio. Guarde esse fogo para
amanhã à noite. — Karen abriu a porta do quarto. — Um beijo e
tchau.
— Que droga, sua rata sorrateira. São duas semanas longe do
outro! — Rebecca me agarrou e eu não conseguia parar de rir. —
Não é justo.
— Amanhã. Um beijo e tchau.
— Eu te amo, amor. Até amanhã... — Beijei a Rebecca de um
jeito até que a Karen ficou tossindo para me expulsar. — Eu te
amo.
— Serei a de branco.
— Não se atrase. — Beijei a pontinha do seu nariz.
Peguei a Leona, era muito injusto dormir sozinho no final das
contas. Blake estava no corredor me aguardando para me indicar o
quarto iria que dormir.
— Precisa de companhia? — Apontou para Leona no meu
colo.
— Não posso dormir com a noiva, vou dormir com a Leona.
— Rebecca subornou a Kauana uma boneca por semana?
Estou tentando educar essas crianças. Vocês não podem fazer isso
com a pequena lindinha quando ela chegar em casa.
Sorri sem graça. Não seria um péssimo pai. Foi...
— Foi o desespero.
— Vá para o seu quarto dormir porque amanhã você será um
marido e em algumas semanas será pai. Você tem que descansar.
— Blake abriu a porta de um quarto de hóspedes.
— Estou ansioso para tudo isso!
— Sei disso. — Blake parou na porta e soltei a Leona na
cama. Minha mala estava no canto e minha roupa do casamento
esticada e passada em um manequim de pé no canto. — Obrigada
por fazer parte da minha família. Você chegou para nos completar.
— Eu que agradeço profundamente por me dar a benção de
me casar com uma mulher tão incrível quanto a sua filha. Vocês me
completaram.
Blake sorriu e me deixou sozinho, troquei de roupa, desforrei
a cama tirando as milhares de almofadas e arrumei um cantinho
para Leona dormir. A porta precisaria ficar entreaberta para ela não
ficar presa, porque Alex deixava comida e água para ela em todo
lugar. A casa era enorme, não tinha piscina e nenhum lugar
perigoso para ela cair, portanto, não era perigoso deixá-la solta.
Deitei-me na cama e olhei para o teto.
Era a segunda vez que seria o marido de alguém.
Era a primeira vez que eu amava completamente a ideia de ser
um marido pelo resto da minha existência.
Rebecca.

Ergui o rosto do travesseiro e olhei a hora no despertador.


Marcava quatro da manhã e meu telefone estava vibrando... Karen
rolou para o lado acordando, pegou meu telefone e me entregou.
Ela tinha o sono mais leve de todo universo e meu coração acelerou
ao identificar o número do andar do hospital.
— Olá? — Atendi temerosa.
— Oi, Rebecca. Sou, a Enfermeira Jackie da uti-neo, tudo
bem?
— Bem, você vai me dizer. O que aconteceu?
— É uma boa notícia... Seus nomes entraram no sistema
como contato familiar. — Sentei-me na cama na mesma hora. —
Acabei de atualizar e vi, porque eu ia ligar para o responsável por
ela. Ela abriu os olhos essa noite.
— O quê?
— Está acordada de olhos abertos... Os médicos querem falar
com vocês, fizeram uns exames e pelo que sei, é bom.
— Esse é o melhor presente de casamento da minha vida.
Estou saindo de casa e chego aí em meia hora. — Encerrei a
chamada e sai da cama, corri ao banheiro para fazer xixi e peguei
uma calça jeans, mas não tinha uma blusa para ir ao hospital, todas
eram arrumadas demais.
— Você está fugindo? — Karen perguntou da cama.
— Não. Ela abriu os olhos, nos colocaram como contato de
emergência e os médicos querem falar conosco. — Abri a porta do
quarto de sapatilhas, calça, sutiã e uma bolsa pendurada nos
ombros. — Vou acordar o Marco e sair. Nós voltamos a tempo,
prometo.
— Vou com vocês... Poderei fazer perguntas, vá acordá-lo e
nos encontramos lá embaixo. Você vai só de sutiã rosa?
— Não, sua louca. Vou pegar uma blusa no armário da minha
mãe.
Karen sentou-se na cama e sorriu.
— Você está chamando-a de mãe o tempo todo agora...
— Ela é a mãe que vida quis me dar. Eu só nasci em outro
corpo... Estava traçado no destino que a minha história seria assim.
Não vou perder a Blake se chamá-la de mãe, ela é minha e
ninguém vai poder tirar.
Karen correu para me abraçar, quase me derrubando e ri.
— Fico feliz que tenha finalmente entendido que a morte mãe
biológica foi um acaso, um descuido, porque ela deveria ter feito
tratamento adequado. Você não é o azar, as pessoas não morrem
por sua causa... Você é a sorte. Te amo, prima!
— Não me faça ficar totalmente emocional e chorona no dia
do meu casamento. — Bati nela e comecei a chorar. — Te odeio,
Karen.
Atravessei o corredor e entrei no quarto do Marco, ele estava
acordado e brincando com a Leona.
— Uma festinha de família sem a mamãe? — Fingi estar
brava.
— Eu pensei que você ia vir... — Marco me puxou para cama.
— Por que está de jeans? Terei o prazeroso trabalho de tirar...
— Ela abriu os olhos. — Me afastei um pouco e ele parou de
agarrar minha bunda.
— Ela abriu? Nós temos que ir até lá agora! — Marco quase
me jogou no chão e comecei a rir. Expliquei que a enfermeira me
ligou e nós realmente tínhamos que passar lá.
Deixei-o se arrumado e de fininho entrei no quarto dos
meus pais. Minha intenção era passar quieta até o armário da
Blake, pegar uma blusa e sair, mas, parei próxima a cama
completamente apaixonada ao ver a Kauana dormindo entre eles.
Meu pai era um bobo com as crianças, literalmente
enrolado no dedo mindinho delas, na verdade, a família inteira. Nós
temos ficado juntos, compartilhando muitos momentos e eu não
queria perder um segundo dos meus irmãos.
— Está tudo bem? — Blake acordou com meus
movimentos no seu closet. Vesti uma blusa, falando baixinho o que
tinha acontecido e ela decidiu ir também. Esperei que se vestisse,
saímos de fininho do seu quarto e enviou uma mensagem para meu
pai ter uma noção onde estávamos quando acordasse.
Peguei uma banana na cozinha e encontramos Marco no
banco do motorista com a Karen empolgada, já ligada no 220w e
falando pelos cotovelos. Entrei no lado do carona, rindo, porque o
olhar meio alterado do Marco era o indicativo que ele não estava
acordado o suficiente para processar o que a minha prima falava.
Conversar com ele pela manhã era um caso perdido, já estava
acostumada.
Não demoramos a chegar na maternidade, fomos
autorizados a subir com a ordem de silêncio. Marco e eu entramos
para vê-la acordada.
— Ai meu Deus, ela é tão linda! Olha esses olhinhos
puxadinhos... — Suspirei e coloquei minha mão no vidro,
abaixando para falar com ela. — Oi meu amor, bom dia.
— Nós também ficamos encantados. — Jackie parou ao
nosso lado. — Já avisei ao Dr. Fisher que já chegaram. Hoje é o
grande dia?
— Obrigada. Sim, é. Melhor presente...
— Oi lindinha. — Marco abaixou ao meu lado e ficamos
surpresos que pareceu que ela estava procurando o som da nossa
voz. — Ela tá virando o rosto! Está com reflexo?
O Dr. Fisher entrou na uti e sorriu ao nos ver, dando a boa
notícia que ela abriu os olhos e estava respondendo os reflexos
principais. Ele a examinou bem na nossa frente, passando o dedo
de leve em seus pés e ela os encolhia na hora, abria e fechava as
mãos e acompanhava com os olhos o movimento dos dedos dele
diante seu rosto.
Comecei a chorar, olhei para minha mãe do lado de fora e
abri um sorrisão.
— Ela ainda não está respirando sozinha e as funções
hepáticas não estão completas, mas esse foi um avanço que eu
sinceramente não esperava. Nós repetimos todos os exames dela
essa madrugada, o resultado já deve estar no prontuário...
— As chances dela aumentaram? — Marco perguntou e
colocou as mãos nos meus ombros.
— De noventa por cento de chance de não sobreviver,
agora ela tem setenta por centro. Respirando sozinha, ela fica com
trinta por centro, respondendo hepaticamente, liberada para casa
após alguns dias de observação de quadro clínico. É claro que ela
vai precisar de um acompanhamento laboratorial intenso nos
primeiros meses de vida, mas saindo de risco, o resto é gol. —
Sorriu e me olhou. — Coloque as luvas e segure a mãozinha. Diz
que ela tem uma família esperando-a. Parece que ter uma família
era o milagre que ela esperava...
Rapidamente peguei um par de luvas com a enfermeira e
me sentei na poltrona, enfiando minha não no buraco redondo da
incubadora e segurei a mãozinha dela. Era tão pequena, tão
delicada e sua pele ainda parecia tão fininha.
— Oi, pequena. Espero que possa ser sua mãe pela vida
inteira... Por favor, lute que nós estamos lutando por você. —
Passei meu polegar bem de leve nos seus dedinhos. — Vamos
vencer juntas, está bem? Sempre vou estar lutando com você.
Marco colocou um par de luvas e conversou com ela,
falando sobre como estava ansioso em finalmente segurá-la. Nós
ficamos meia hora tocando-a bem de leve, próximo a incubadora
em seguida, era hora de sair para que as enfermeiras pudessem
fazer a rotina matinal.
Era muito difícil deixá-la, mas fui autorizada a passar a
noite com ela após o dia ter sido ruim, quase sem esperanças, mas
ela se recuperou e não caiu mais. Minha menininha era uma
heroína.
Karen estava conversando com o Dr. Fisher e nos explicou
sobre os exames, a esperança encheu meu coração ao ponto de
transbordar. Tudo ia ficar bem.
Saímos do hospital cheios de sorrisos. Não conseguia
parar de falar dela. Marco dirigia e me olhava, sorrindo e quando
estacionamos na garagem, minha prima saiu e minha mãe também,
nos deixando sozinhos e conversando empolgados.
— Vamos subir? Acho que posso dormir mais uma
horinha...
Ao invés de voltar para o meu quarto, entrei no dele, tirei
minha roupa e ficamos juntinhos. Não daria tempo de fazer nada,
porque a qualquer momento alguém iria me chamar para começar a
arrumação.
Senti falta dele nessas duas semanas, a cama ficava muito
vazia e eu senti dificuldade de pegar no sono por não o ouvir
respirar ao meu lado, se mexer e sempre me tocar. Mesmo
dormindo, ele me procurava na cama, me abraçava e esse carinho
sonolento me fez sentir solitária. Mesmo assim, fiquei bem.
Essas duas semanas foram bem ocupadas com toda
organização do casamento. Tomei a decisão de trocar a capa da
série dos livros, as paletas de cores, precisamos criar um website
para que os leitores pudessem me conhecer e meu blog foi migrado
para dentro dele. Fiz um ensaio profissional e depois faria outro
com os livros.
Além de todo tempo possível que passava com a Scout, a
bebezinha, o advogado da adoção. Era muita entrevista, formulário,
grupo de apoio e o Marco participou de tudo de longe, se
desdobrando para estar presente no processo e claro, trabalhar.
Foi intenso, desafiador, mas conseguimos.
Nós nos casamos na prefeitura no começo do mês e
fizemos um jantar. Meu pai se meteu em todo processo da festa,
mas ele não se meteu no processo civil, o que achei estranho.
Deduzi que as crianças estavam ocupando a sua mente para pensar
em mim o que era ótimo.
No meio do meu jantar de casamento, minha avó
Catherine estava alegremente com seu namorado bonitão e mais
jovem, ambos com os cabelos vermelhos bem vivos contando das
gravações do seu último filme quando meu avô Bryan soltou a
pergunta que não era da conta dele: E o acordo nupcial?
Meus avós maternos não eram ricos, nunca foram. Antes
de morarmos nessa casa, nós morávamos em um pequeno
apartamento no centro. Meu pai cresceu em uma família rica, mas
ele não era, principalmente depois de romper com seu pai. Minha
avó Catherine ajudava, porque ele não ganhava o suficiente para
nos sustentar. Quando ele a Blake se casaram, ambos trabalhavam
fora e ela o apoiou para que ele ficasse em casa e publicasse seu
primeiro livro.
Meu pai fez tanto sucesso que logo a nossa vida mudou.
Eu tinha uns seis anos quando nos mudamos para um apartamento
maior e oito quando nos mudamos para essa casa. Ele fez o próprio
dinheiro e a Blake também, trabalhando muito. Obviamente eu fui
uma filhinha do papai até meus vinte e um, recebi a herança do
meu avô por ser, até então, sua única neta e minha mãe controlava
o dinheiro me dando mesadas depois que saí de casa aos dezenove.
Com vinte e um, passei a controlar o dinheiro, bem, mais ou
menos.
Meu pai ainda controlava porque era muito dinheiro e eu
não queria fazer besteira. Não senti a necessidade de fazer um
acordo... Marco e eu sequer conversamos sobre isso. Nós fizemos
seguros de vida, testamentos, mas não um acordo. Ele basicamente
bancava nossa vida, eu pagava minhas contas pessoais e tinha
liberdade de comprar minhas coisas, ambos concordamos de um
orçamento por mês e não passávamos dele por nenhum motivo.
Tudo era calculado, luz, gás, combustível, alimentação,
cartões de créditos, impostos e etc. Nós tínhamos um limite de
delivery, de compras pessoais e até um fundo para medicamentos.
Dinheiro não dava em árvore. Ele não herdou nada, pelo contrário,
trabalhava muito para ter o que tinha. Se esforçava física e
emocionalmente para ter o seu salário no final do mês.
O dinheiro que meu avô deixou seria usado para um bom
motivo, mas não para meu uso. Pretendia criar um fundo para
garantir a vida escolar dos meus futuros filhos e estava
financiando a faculdade da Rachel, irmã da Ruth. Tinha o propósito
de usar esse dinheiro para investir em educação.
— Espero que tenha instruído sua filha a fazer um acordo,
Alex. Nada contra você, Marco.
Meu pai que não podia perder a oportunidade de ser
grosso, terminou de cortar a carne da Kauana, que ainda se
recuperava da pneumonia, virou e disse:
— O dinheiro é dela, isso não é da conta de nenhum de
vocês.
Meu pai estava se esforçando. Ele ainda tinha muita
dificuldade de aceitar algumas coisas, mesmo assim, estava
percebendo que nós conseguimos conversar mais. E com uma
conversa séria, franca, ele entendia e respeitava. Jogar a bomba no
colo dele para explodir realmente não era uma boa ideia. Ele
finalmente estava me enxergando como uma mulher adulta,
vencendo o processo na sua mente e gostava muito da nossa atual
relação.
— O que você está pensando? — Marco acariciou meu
cabelo e abri os olhos.
— No quanto meu pai mudou.
— Alex, a noiva. — Marco provocou.
Meu pai parecia histérico como uma noiva.
E falando nele...
— Você ainda está deitado? Cinco minutos lá embaixo! —
Apontou para o relógio. — Precisamos sair para buscar as caixas
de champanhe que estão gelando na casa da minha mãe, o buffet já
está na cozinha e eles trouxeram os suportes e os freezers. — Meu
pai invadiu o quarto. — E você, Rebecca, pode dormir por mais
meia hora. A equipe do salão chega em quarenta minutos, sua mãe
vai subir para te acordar e tomar o café.
E fechou a porta.
— Por que nós pagamos uma fortuna para cerimonialista
com seu pai fazendo isso de graça?
— Não faço a mínima ideia...
— Volte a dormir... Nós nos casamos em seis horas.
— Eu te amo, Sr. Moretti.
— Também te amo, Sra. Moretti.
Marco sai do quarto e continuei deitada, de olhos
fechados, cochilando e acordando a cada barulhinho do lado de
fora. Podia ouvir as crianças correndo no corredor com a Leona, a
voz da Blake e meu pai agitado. Marco entrou e saiu do quarto
umas duas vezes até minha mãe vir me acordar. Ela estava com
uma máscara facial, de bobs no cabelo e com Kauana ao seu
encalço.
— Bom dia, amor. Decidi te deixar dormir até o último
minuto possível para poder descansar. Precisa aparentar estar
descansada. Estão te aguardando para fazer as sobrancelhas, lavar o
cabelo e a massagem, em seguida vai fazer as unhas e a
maquiagem. — Sentou-se na pontinha da cama e abri meus braços
para Kauana.
Karen entrou no quarto com Lisa e Nicole. Ambas
carregavam bandejas e eu tive um café da manhã maravilhoso com
minha mãe, madrinhas e damas. Minha sogra estava enfiada na
cozinha, supervisionando a equipe que veio do restaurante porque
um casamento de um italiano precisava de comidinhas
tradicionais.
Meu dia da noiva foi tranquilo, não vi mais o Marco, mas
ouvia sua voz pela casa. Eric estava em algum lugar pela casa,
perturbando-o. Sei que a família do Marco ficou sentida que eu não
convidei a Lexie como madrinha, mas, a Nicole era irmã do Marco
e eu não queria ter muitas madrinhas. Adorava a Lexie de coração,
considerava minha amiga, porém, entre ela e a minha prima... A
Karen foi a minha escolha.
Lexie não ficou chateada, ela entendia que Nicole era irmã
do Marco e tinha que ser nossa madrinha, assim como minha prima
que era a pessoa que representava a minha infância. Ela ganhou a
tiara de amiga da noiva. Para não deixar a Nicole desconfortável,
achou melhor se arrumar em outro lugar, mas estaria comigo
durantes as fotografias.
A massagem foi super necessária para acalmar meus
nervos. Quanto mais perto do casamento chegava, mais ansiosa
ficava e estava me segurando para não roer minhas unhas. A
manicure toda hora tirava minha mão da boca e a cabeleleira ficou
tão à vontade que dava com a escova na minha cabeça sempre que
começava a me sacudir na cadeira.
— Está tudo bem lá fora? — Mordi meu lábio ansiosa e
olhei para minha mãe através do espelho. Blake colocou meu
almoço, que era só um conjunto de salada e frango, com azeitonas
e tomates cerejas.
— Está tudo perfeito e a decoração tão perfeita... — Blake
suspirou. — É o casamento dos sonhos.
— Estou tão nervosa! — Me abanei para não chorar.
— Não chora, suas pálpebras vão ficar inchadas e a
maquiagem ruim. — Jane abaixou o rosto na direção do meu. —
Seu cabelo está quase pronto. Falta muito pouco, coma e relaxa.
Peguei meu prato, comi quase a metade forçada, porque
estava muito ansiosa para comer. Para me relaxar e tirar minha
mente do foco, fiquei passando fotos da minha bebezinha lindinha.
Todos diziam que ela não iria sobreviver, que era muito feia porque
tinha quase todas as suas veias bem aparentes, a pele muito clara,
muito fina e com a região dos olhos mais escuras.
Ninguém olhava para ela e arrulhava. Não ainda, mas
iriam. Ela seria um bebê muito lindo porque sentia no meu coração
que nós venceríamos. Mal via a hora de segurá-la em meus
braços... Ela ainda era muito frágil para ser colocado no colo.
Meu cabelo ficou muito bonito, mas a maquiagem era
simplesmente perfeita... Levantei para colocar as joias que minha
avó Catherine me deu de presente. Todas elas eram bem bonitas,
não chamativas para ornar com meu vestido. Usando minha
lingerie de lua-de-mel e foi preciso a ajuda das minhas madrinhas
para colocar meu vestido.
A fotógrafa dos bastidores passou a maior parte do dia
comigo e a equipe de filmagem retornou, porque eles saíram para
que ficasse nua.
Fiquei parada na frente do espelho em estado de choque
porque me sentia a noiva mais bonita do mundo inteiro. Precisei
sair do meu estado de torpor para me reunir com minhas
madrinhas, dama de honra, minha mãe que não conseguia parar de
chorar.
Não estavam deixando que olhasse pela janela e enquanto
estava cedo demais para descer, pedi para fazer umas fotos
especiais somente com minhas avós, depois com minha mãe e
minha irmãzinha.
Foi o tempo o suficiente para ouvir as músicas de entrada.
Marco deveria estar entrando, cumprimentando nossos convidados
e parando no seu lugar no altar, para me esperar. Com cuidado,
desci as escadas segurando meu vestido e minhas madrinhas
arrumando o restante do tecido.
Parei na entrada dos fundos, minhas madrinhas se
arrumaram para entrar e segui para varanda, meu pai começou a
chorar. Ele segurou minhas mãos, beijou ambas e ficou chorando,
me encarando emocionado.
— Você é a noiva mais linda do mundo inteiro. — Me
abraçou apertado.
— Obrigada, papai.
— Está pronta para o primeiro dia do resto das suas vidas?
— Sim, estou ansiosa. Definitivamente muito pronta para
ser uma esposa.
Estava realmente mais que pronta para passar o resto dos
meus dias ao lado do Marco. E nesse pensamento, segurei o braço
do meu pai, desci os degraus e dois rapazes abriram as portas de
parreira que impedia os convidados de me ver. Dei o primeiro
passo para o meu futuro com um grande sorriso no rosto.
Rebecca.

Dei uma pequena paradinha no meio do caminho para admirar


bem o Marco. Estava tão bonito que perdi o ar, mesmo com seu
rosto todo amassado de choro. Aquele homem já era o meu marido
e nós estávamos trocando os nossos votos na frente dos amigos e
familiares. Meu pai me entregou a ele, segurando seu braço, nós
sorrimos para o outro e ele deu um beijinho na pontinha do meu
nariz.
Paramos em frente ao Padre Richard e nossa cerimônia
começou. Eu seria uma noiva muito ruim se dissesse em voz alta
que a cerimônia não parecia terminar nunca.
O Padre Richard era da igreja que a família do Marco.
Provavelmente estava chegando a um século de vida e por mais que
sua mensagem fosse emocionante, me fez chorar e estava
parecendo um panda e não uma noiva. Sua ministração ultrapassou
mais de uma hora do programado e comecei a ficar nervosa com o
restante da cerimônia e festa.
Felizmente alguém sussurrou no ouvido dele que passou
do tempo. Marco e eu escrevemos nossos votos para lermos ao
outro sozinhos, na nossa noite de núpcias. Nos comprometemos
com promessas que seriam difíceis de cumprir no dia-a-dia para
que tivéssemos a consciência de tentar.
Assistimos meus irmãos entrando com as alianças e
fizemos nossas promessas tradicionais para o nosso casamento.
Sabia que nunca esqueceria o Marco deslizando a aliança pelo
meu dedo e beijando. Esperava que ele esquecesse a minha vez,
porque tremia tanto que precisou apoiar meus dedos. O Padre
Richard nos declarou marido e mulher pelos seus poderes da igreja
e nos autorizou para beijar.
Joguei meus braços nos ombros do Marco, ele me pegou
pela cintura e nos beijamos. Foi como o nosso primeiro beijo. Um
dos beijos mais importantes das nossas vidas e nunca cansaria de
beijá-lo porque era tão gostoso que os dedinhos dos meus pés
dobravam e mal via a hora das nossas núpcias.
Nós nos afastamos quando as palmas ficaram altas demais
e alguém brincou puxando meu vestido. Virei para o lado e peguei
meu buquê de peônias, rosa claro e ergui para o alto, sorrindo para
os aplausos e gritos.
Oficialmente uma mulher muito bem casada. Era um dos
dias mais felizes da minha vida.
Nossas mães choravam abraçadas, sorrindo, cheias de
lenços e meu pai estava com os olhos vermelhos. Eles foram os
primeiros a nos abraçar apertado, enchendo de beijos, em seguida
veio a Lexie e o Eric, logo havia uma fila de pessoas querendo nos
dar um cumprimento cheio de felicidade. Tio Benny, o responsável
pela cozinha da Trattoria Moretti me pegou no colo e rodopiou,
dando boas-vindas a família. Ainda precisava me acostumar com o
jeito esfuziante da minha nova família.
Eles eram o avesso completo da minha, que comedida, me
deram abraços e beijinhos. Vovó Catherine estava tão linda, ela era
tão conservada e feliz, eu a amava muito. Quase todas as minhas
melhores memórias ela está presente. Vovó Sarabeth estava mais
emocionada, embora estivéssemos meio distantes da outra devido
aos seus comentários que me incomodavam. Já Vovô Bryan me
manteve em seus braços, com seu cheiro de charuto e hortelã.
Mesmo com nossos problemas de relacionamento, amava
a minha família. Tommy estava com Marina Niara, sua namorada
brasileira linda, minha tia com um sorriso apaixonado no rosto,
dizendo que meu primo podia se empolgar, casar e ter filhos. Niara
era negra, minha avó fez um escândalo ao descobrir que meu primo
não só estava namorando uma mulher negra como estava morando
com ela.
Nos encontramos poucas vezes, ela não falava muito bem
inglês e confundia algumas palavras, mas era simpática e queria ter
sua genética com aquela bunda enorme e dura. Pedi para apertar,
não aguentei a curiosidade.
A minha festa de casamento foi a mais linda e a mais incrível
de todas que participei na minha vida. Fiz uma surpresa para o
Marco, tocando e cantando uma música que dizia muito sobre nós.
I Choose You da Sara Bareilles falava exatamente do quanto nosso
relacionamento era jovem e passou por momentos que nos fizeram
escolher ao outro.
O amor que existia era algo nosso, era apenas entre nós e
era perfeito.
Marco chorou quando me viu entrar, chorou durante a música,
nós choramos durante a nossa dança e ficamos coladinhos,
balançando de um lado ao outro. Ele foi dançar com sua mãe e eu
dancei com meu pai chorão.
— Quem diria, Sr. Alexander Silverstone... Está me saindo
um belo de um chorão.
— Você está tão linda de noiva... É impossível não chorar. —
Me deu um sorriso alegre com os olhos marejados. — Estou
honrado em te levar até o altar e orgulhoso de tudo que passou, se
tornando essa linda mulher. Obrigado por me perdoar, por me
ensinar todos os dias a como ser um pai melhor. Eu te amo muito,
Rebecca.
— Nós dois precisávamos nos ajustar. Também estava errada,
obrigada por ser paciente e ter dado o seu melhor ao me criar. —
Fiquei na ponta dos pés e lhe dei um beijo na bochecha. — Mamãe
está derretendo de tanto chorar.
Meu pai virou para ela, que aguardava sua vez de dançar e
sorrimos. Enquanto Marco dançava com a minha mãe, dancei com
Kaleo no meu colo, rodopiando pela pista para fazê-lo rir.
Após o fim da fase cerimonial, troquei meu vestido para um
justo, decotado, longo, com um lascado que ia até quase a cintura.
Estava usando um shortinho branco por baixo, com as bordas da
meia de renda aparecendo e um sapato branco bem mais alto do
que o anterior.
— Puta merda... Que gostosa! — Marco me rodopiou e ele
estava sem terno, só com o colete e a camisa dobrada até os
cotovelos. — Que bunda, senhoras e senhores. — Passou a mão e
apertou. — Minha mulher tem a bunda maravilhosa.
— Não é porque casamos que você tem acesso irrestrito a
minha bunda.
Marco fez uma expressão de horror.
— Então por que nos casamos? — Levou a mão ao peito.
— Engraçadinho. Leve a sua esposa para a pista de dança
agora mesmo.
— Não se acostume em mandar em mim.
— Sempre mandei em você. — Pisquei e ele me levou para
dançar.
Foi divertido ver a minha família inteira aproveitando a festa,
a comida estava maravilhosa, a bebida também, embora não
estivesse bebendo. Apenas dei alguns goles nos brindes e o restante
apenas água ou batidas com pouco álcool. Não queria perder um
segundo da minha festa de casamento passando mal.
No meio da madrugada, meu cabelo estava uma bagunça,
suada e dançando com as poucas pessoas que restavam na minha
festa. Karen, Nicole e Lexie dançavam comigo e em uma das
minhas rodopiadas, reparei Marco se afastando para atender ao
telefonema. Ele parecia preocupado e saí do meu lugar,
atravessando o gramado. Desviei da minha mãe alegrinha, meu pai
já estava dormindo com as crianças e eu não fiquei chateada.
— O que está havendo? — Toquei suas costas.
— Estou feliz em ouvir isso, sim, obrigada. — Encerrou a
chamada e enfiou o telefone no bolso.
— Ei, amor. O que foi?
Marco me deu um abraço apertado.
— Era do hospital, eles tentaram seu telefone e não
conseguiram. — Me afastei com medo do que iria ouvir. — Ela
evacuou sozinha. Sem estímulo... Eles foram trocar a fraldinha dela
e viram.
— Ai Meu Deus! — Gritei pulando no lugar. — Totalmente
sozinha?
— Totalmente. Ela está vencendo! — Nós trocamos um
abraço apertado, num impulso de felicidade que só nós dois
sabíamos o que era.
Ninguém nos entendia, estava tudo bem, porque
entendemos um ao outro. Marco era tão meu melhor amigo que
compartilhou o amor pela nossa pequena sem mesmo ter lhe dito
algo.
Meu coração encheu de alegria, queria ir até lá, mas eles não
iriam permitir a entrada e não podia causar problemas. Tinha que
respeitar o horário de visitas para minha completa insatisfação.
— Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. Não só
porque é o nosso casamento, mas porque encontrei a minha
aventura, o meu romance ideal, a minha vontade de viver e de
construir uma vida boa, plena e saudável. — Segurei as golas do
meu marido. — Nunca imaginei que nadar praticamente pelada em
uma piscina me daria um marido.
— Seus mamilos polêmicos me conquistaram.
— Sério mesmo, Sr. Engraçadinho?
— Fiquei obviamente interessado quando te vi nadando
pelada, mas, não faria nada além de chamar sua atenção... Acho
que ainda iria te irritar por um tempo até que saísse da minha
mente, mas aí nós nos beijamos e eu não consegui esquecer teu
beijo. Tive a certeza de que tudo seria diferente quando fui atrás de
você na boate, dormiu no meu quarto e nós não fizemos nada além
de uns beijos carinhosos na cama. — Marco me agarrou. — Eu
soube ali que a minha vida tinha mudado.
— Sinto que atravessamos uma ponte imensa até aqui.
— Relaxa... Nós temos muitos anos de casados pela frente
e devemos atravessar pontes ainda maiores. — Beijei seus lábios.
— Se eu te beijar todos os dias, não importo o caminho que
precisamos percorrer.
Não consegui conter meu sorriso emocionado. Ele era tão
doce por dizer aquelas palavras.
Nós dormimos na casa dos meus pais e só dormimos, porque
assim que deitei na cama, toda sexy com uma das minhas
camisolas de núpcias, pensei que fecharia meus olhos por trinta
segundos enquanto ele não saía do banheiro.
Fazia quase vinte e quatro horas acordada, mas, quando acordei
com Marco roncando no meu ouvido e o relógio informando que
era nove da manhã, percebi que meus segundinhos se
transformaram em longas horas.
Acordei-o devagar, fazendo promessas sexuais para quando
chegássemos em casa e nos arrumamos. Vesti uma calça jeans
boyfriend, tênis branco, uma camisetinha até o umbigo que era
branca com listras vermelhas. Prendi meu cabelo em um rabo de
cavalo bagunçado e fizemos nossas malas, guardando tudo que
estava espalhado e descemos para tomar café com meus pais e
irmãos.
Nós iriamos para o hospital passar todo tempo possível
com a bebezinha e em seguida, voltar para o nosso apartamento.
Blake estava de ressaca, meu pai nem tanto, empolgado, ajudando
as crianças a comer, lendo jornal e começamos a fofocar sobre a
festa.
— Não fala dos meus pais. — Blake meu pai de empurrou de
brincadeira.
— Eles levaram quase toda a mesa de docinho! — Meu pai
riu. Kaleo mordeu seu waffle e me deu um sorriso. — Se eu não
peço para equipe guardar as caixas dos noivos e as nossas, seus
pais iam levar tudo. A sua mãe levou metade de um dos bolos para
casa.
— A sua mãe bebeu uísque numa garrafa neon rosa. — Blake
lhe deu a língua.
— Meus avós são peculiares. — Dei de ombros rindo da
discussão. — Sobrou muita comida e muito docinho, a gente vai
enjoar de comer. Relaxa, pai. Deixa de ser implicante.
— Mesmo assim... Eles tinham que ter esperado todo mundo
comer. Ainda estavam servindo os doces... Inclusive, muito bons.
— Foi o Marco que escolheu, ele é mais exigente por não
gostar tanto porque eu queria todos.
— Vocês estão falando... Meu tio Benny deve pesar quase
duzentos quilos, eu tive que carregá-lo até o táxi, bêbado e já
roncando. Coitada da minha tia... Todo mundo bebeu e comeu
muito, isso é um fato. — Marco sorriu e segurou minha mão, me
inclinei na cadeira e lhe dei um beijo. — Se não desse tanto
trabalho organizar, poderíamos casar todos os anos.
— Faremos uma renovação de votos para comemorarmos
vinte e cinco anos juntos. — Blake estava com os olhinhos
brilhando. — Nós não tivemos condições de fazer uma grande festa
de casamento e todo ano decidimos sempre por viajar.
— Adorei a festa. — Kaune pegou uma uva. — Você estava
linda como uma princesa. Meu vestido era tão bonito!
— Você que era a verdadeira princesa. — Apertei seu
narizinho.
— Por que vai embora hoje?
— Eu preciso ir para minha casa, assim que as coisas se
acalmarem, venho buscar vocês dois para conhecer minha casa e
passar o final de semana comigo. Assim que a Scout permitir que
vocês podem dormir comigo, tá bom?
— Tudo bem!
Foi difícil me despedir das crianças, queria ficar mais tempo
com elas e ao mesmo tempo a minha vida precisava continuar a ser
vivida. Saímos da casa dos meus pais direto para o hospital,
demoramos muito a sermos autorizados a entrar e andei de um lado
ao outro, confusa, ansiosa, roendo minhas unhas que ainda estavam
perfeitas e quando a enfermeira apareceu, toda bagunçada, pensei
no pior.
— Não foi com ela, está tudo bem. Foi com outro bebê e o
andar ficou fechado... — A Enfermeira Maggie me deu um sorriso
tranquilo. Minhas pernas quase falharam de alívio e Marco me
apoiou. — Ela está bem e a Scout está em algum lugar, vou avisá-
la, pediu para chamar quando chegassem.
Nós subimos e antes de entrar na uti, eu vi um casal chorando
no canto e o Dr. Fischer conversando com eles. Segurei a mão do
Marco, não precisava de mais explicações. Aquele bonito e jovem
casal perdeu seu filho que estava internado naquela uti. Dr. Fischer
se afastou e a mulher estava simplesmente desolada, chorando
abraçada consigo mesma e o marido encostou na parede,
escorregando até o chão.
— Você não vem? —Marco já estava vestido com a proteção
e luvas.
— Vou pedir que avisem a Scout que estamos aqui, vai na
frente. — Apontei para o balcão das enfermeiras, ele sorriu, entrou
e eu pedi que avisassem a assistente social. Olhei para mãe
chorando e minhas pernas me levaram até a ela. Parei na sua frente
e a abracei. — Eu sinto muito. — Ela me abraçou de volta,
chorando com força. — Realmente sinto muito.
Não sei por quanto tempo fiquei abraçada com a mãe, mas eu
só a soltei quando a mãe dela chegou e tomou meu lugar. Scout
estava encostada em uma parede distante, me olhando com pesar.
Não queria processar os pensamentos que estavam surgindo e me
sabotando. Engessei um sorriso no rosto e andei até a ela.
— Feliz casamento, parabéns! — Me deu um sorriso alegre.
— Recebi uma ligação do juiz essa manhã e ele me deu novidades,
porque foi informado do quadro clínico da menina.
— Outro casal a quer?
— Não. Infelizmente para ela, não é uma criança disputada.
As funções hepáticas dela preocupam, pais não querem crianças
doentes. Estou sendo cruel e verdadeira, para ser completamente
honesta... — Scout me puxou para um canto em silêncio. —
Ninguém espera que ela vá sobreviver. — Olhou ao redor. — O
Juiz deu a guarda a vocês, mas ele espera que isso só dê a ela
carinho e conforto nessas semanas que ele entende que ela ainda
terá de vida. Ou se ela acabar por se tornar criança sem
desenvolvimento... Que não fale, não ouça e não ande.
— Ai Meu Deus! Ele nos deu a guarda por que acha que ela
vai morrer?
— Basicamente. Eu sei que vocês dois tem muita fé que ela
vai passar por isso e é surpreendente o quanto ela evoluiu nas
últimas semanas. — Scout segurou minha mão. — Mantenham a
fé.
— Ela vai sobreviver e esse Juiz vai engolir o que está
pensando, aquela menina é uma lutadora. — Apontei para a uti. —
Então... Eu vou te avisar para ficar ciente porque sei que está me
dando essas informações como cortesia, mas eu vou acionar o
advogado que está nos acompanhando para garantir que quando
essa menina receber alta, estiver linda e saudável, esse Juiz que
acredita firmemente que ela não vai sobreviver, resolva tirá-la de
mim.
Scout me deu um abraço.
— Você é uma garota esperta e é assim mães leoas lutam.
Enviei todas as papeladas para seu advogado. Ele deve ligar a
qualquer momento.
— Obrigada, Scout. — Sorri em agradecimento.
Me preparei para entrar na uti, acenei para uma mãe que
estava olhando fixamente para incubadora e me deu um sorriso de
volta. Marco estava sentado na poltrona e bateu a mão na sua coxa,
me sentei em seu colo e a olhei dormir pacificamente. Ela encolheu
as perninhas e esticou, um movimento que não fazia. Olhei para o
Marco com alegria, aquele mínimo movimento era muito.
— Nós amamos você, querida. — Toquei sua mãozinha. —
Mal vejo a hora de te levar para casa. Continue lutando... Porque
um moço chamado Juiz Jackson Cooper disse que você é a nossa
filhinha agora.
Marco me segurou apertado e olhei em seu rosto perfeito com
o respirador.
— Todo mundo diz que você não vai conseguir, mas eu sei
que você vai. Continua lutando porque tem duas pessoas aqui que
acreditam em você. — Acariciei sua mãozinha.
— Nós acreditamos em você, lindinha.
Era horrível vê-la com aquele respirador enorme no rosto,
tinha fé que em breve iríamos nos livrar dele também. Nós ficamos
sentadinhos ali, sem perder um segundo do tempo disponível no
horário de visitas.
Quando saímos, andamos de mãos dadas até o carro em silêncio.
Marco estava me encarando, preocupado e assim que sentei no
banco do carona, respirei fundo e comecei a chorar. Não consegui
segurar a dor no peito que me impedia até de respirar direito.
Marco estava tentando me consolar, tentando entender... Saber
que ela só nos foi dada porque poderia morrer a qualquer momento
era muito doloroso. Acreditava nela, no seu potencial, ela já tinha
avançado tanto e eu sabia que era só o começo. E se depois eles
decidissem tirar ela de nós? Ela era minha.
— Nós vamos tê-la para sempre. — Marco esfregou minhas
costas. — Vamos nos assegurar juridicamente. Sabíamos que seria
difícil. A Scout deixou claro que nosso relacionamento era muito
jovem para ser aprovado, vamos usar isso ao nosso favor, porque
assim como você, não vou desistir dela.
— Vamos... Falar com o advogado antes de irmos para casa?
Eu acho que vou me sentir mais tranquila.
— É claro, vamos até lá agora.
— Obrigada, amor.
Marco ligou o carro e nos colocou em trânsito para o
escritório do advogado e ele estava ocupado, mas eu fiz o que não
gostava de fazer. Usei meu sobrenome para que ele cancelasse
qualquer horário que estivesse para poder nos atender. A assistente
dele já deveria saber sobre os papéis da adoção apesar de ter ficado
um pouco nervosa comigo.
Sentia uma força dentro de mim que nada poderia me parar.
Marco.

— Tudo entre nós é tão rápido. — Rebecca comentou com a


cabeça encostada no banco. O sinal estava fechado e estava
olhando-a. — Eu não me arrependo de nada. Sou apaixonada por
essa sintonia que o tempo realmente não importa. — Respirou
fundo e segurei sua mão, ainda havia uma imensa fila de carros na
nossa frente. — Quero que saiba que realmente acredito nela, eu já
a amo e se... Entenda bem, e se, ela não vencer... Eu vou sofrer. Eu
vou chorar como a mãe que eu consolei. Vai doer. Preciso que
entenda isso.
— Eu sei, amor. Tenha fé.
— Não sei se é bom ou ruim, mas tenho tanta fé nela. Uma fé
que nunca tive em ninguém... Nem em mim mesma. Você sabe
disso... Quando me conheceu eu nem fazia planos porque sequer
acreditava que ia romper o ano viva. Não só rompi, como casei e
agora sou mãe. — Soltei a sua mão para continuar dirigindo. — Eu
sou mãe. Me tornei mãe quando descobri que estava grávida,
continuei me sentindo uma mãe mesmo quando o perdi e agora,
nós a temos.
— Sei que é agridoce. Tivemos fé em nós e você em si
mesma... Vencemos. Nós vamos continuar vencendo porque já
perdemos, é hora de ganhar.
Rebecca acariciou minha coxa.
— Que lua-de-mel interessante... Uma visita ao hospital e
agora ao advogado.
— Não tem problema, linda. A mini-linda é mais importante e
espere só quando chegarmos em casa. — Apertei sua coxa e subi
um pouco mais só para provocá-la e fazê-la sorrir. — Espero que
não esteja com planos de sair de casa.
— Amanhã você tem que estar em Chicago e eu uma reunião
com meu editor... Mas nós temos um encontro muito sensual no
nosso lugarzinho quando voltarmos a noite. — Debruçou-se sobre
o banco e me deu um beijo.
Não demoramos muito para estacionarmos no escritório do
advogado. Nós estivemos ali vezes o suficiente para sabermos para
onde irmos. A assistente disse que ele estava nos esperando na sala
de reuniões, segurei a mão da Rebecca, entramos na sala. Dave
ficou de pé, nos parabenizou pelo casamento e indicou onde nos
sentarmos.
— O Juiz deu a guarda definitiva para vocês, precisam
preencher as informações para as certidões de nascimento. Vocês
têm certeza? O Juiz não escondeu que deu essa criança a vocês por
puro desencargo de consciência e pelos esforços em lutar por ela,
mas apesar de toda estrutura financeira, vocês são recém-casados,
um relacionamento jovem, então, ele protelaria por mais tempo.
Inserir uma criança em um recém-casamento é loucura. — Dave
separou as folhas.
— Nós sabemos, estamos cientes e vamos seguir em frente.
— Peguei a caneta. — Onde temos que assinar?
— Primeiro... O nome?
Rebecca me encarou, mordeu o lábio.
— Nós decidimos que o nome dela será Emma Silverstone
Moretti. — Rebecca respondeu muito orgulhosa.
— Muito bem. — Dave digitou em seu computador. Havia
uma papelada imensa para responder, assinar, carimbar e ele
imprimiu o formulário de registro dela, com o nome que
escolhemos, nossos nomes e assinamos. — A certidão será
entregue dentro de alguns dias. Parabéns, papais.
— Obrigada, Dave.
Saímos do escritório felizes. Mesmo conta todas as
probabilidades, estávamos muito felizes. Era como ter um peso a
menos nos ombros, o medo de ela não ser nossa era grande. Não
estava me importando que ela só foi nos dada porque ninguém
acreditava na sua sobrevivência, certamente a fundação queria
cortar seus custos médicos e então, dá-la para o casal com boa vida
financeira foi a melhor solução.
Nós pagaríamos se ela não sobrevivesse...
E eu terei o maior prazer de pagar a conta do hospital quando
ela estiver indo para casa conosco.
Nós chegamos em casa e era muito bom estar na minha casa,
meu chuveiro, minha cama e minha esposa nua. Rebecca quis
vestir uma camisola nupcial, se arrumar toda e eu simplesmente a
puxei para cama, ainda molhada, cabelo pingando e encharcando os
lençóis porque os travesseiros já não estavam na cama. Não
precisava que ela usasse a lingerie mais sexy para me convencer
sobre as nossas núpcias.
Só precisava dela.
Agarrei seus peitos, chupando os mamilos, ouvindo seus
gemidos e levei minha mão para entre suas pernas.
— Você depilou tudo? — Afastei minha boca do seu peito. —
Tirou tudo? — Olhei para baixo. — Por que? — Normalmente ela
deixava uma pequena trilha que era bem atraente. Aquilo era
novidade. — Inovando para lua-de-mel?
Rebecca estava perdida e em seguida, arfou.
— Foi a depiladora porque eu não disse a ela como gostava.
Por quê? Você gosta assim? — Respirou fundo e voltou a me
beijar. — Além do mais, você se depila e eu não falo nada.
— Eu gosto de todo jeito. Tanto que eu vou... — Desci
trilhando beijos na sua barriga e afastei seus joelhos, dando uma
boa lambida na sua boceta molhada.
Rebecca agarrou meu cabelo e gemeu alto, me dediquei a deixá-la
louca, gritando, com o corpo tremendo e suas coxas querendo me
enforcar porque não sabia como lidar com o prazer.
Duas semanas eu estava com toda potência.
Meu pau estava tão duro que doía. Rebecca sempre ficava
muito apertada quando ficávamos sem sexo por algum tempo, com
cuidado, empurrei meu pau pelas suas dobras. Ela gemeu e me
segurou, arranhando meus braços e me inclinei para frente,
totalmente dentro, beijando sua boca, engolindo seus gemidos.
— Eu te amo, senti tanto a sua falta... — Rebecca mordeu
meu lábio.
— Eu te amo para sempre. — Chupei seu pescoço de
propósito, queria deixá-la cheia de pequenas marquinhas. Rebecca
gozou, mordendo meu ombro e puxei fora, não pronto para gozar
ainda. — Vira e empina a bunda. — Estapeei sua nádega.
— Ai, porra.
Fiquei parado só olhando para sua bunda perfeita e
devagarzinho, empurrei dentro, assistindo entrar e sair. Rebecca
choramingou, empinando ainda mais, levou a mão para trás e
segurou minha coxa, enfiando as unhas e me mantendo o mais
próximo. Agarrei sua cintura firme, apertando e gozei fundo.
— Se você não estiver ok com os remédios, acabamos de
engravidar. — Rebecca caiu deitada e riu. — Foi a gozada com
gosto.
— Você é tão idiota. — Continuou rindo e nos abraçamos. —
Fizemos uma bagunça e estou com fome.
— Então vamos comer, ajeitar isso aqui e partiremos para a
próxima rodada.
Rebecca arqueou a sobrancelha.
— Quer compensar duas semanas em uma única noite? Vou
andar amanhã?
— Talvez? — Fiz um pequeno beicinho. — Mas podemos
encarar tudo pela metade, que tal? Uma semana hoje e uma semana
amanhã? — Arregalei os olhos de brincadeira.
Rebeca caiu na risada.
— Vamos nos alimentar primeiro... Vou me limpar.
Troquei os lençóis enquanto ela estava no banheiro, descemos
enrolados em roupões, abri um vinho e encontrei na minha
geladeira queijos, salame e fiz um pequeno prato com frios.
Rebecca separou umas frutas, acendeu velas e fizemos um
piquenique na sala. Enchi mais a sua taça quando esvaziou. Ela
encolheu as pernas e mordi sua coxa de leve, arrastando meu nariz
pela sua pele macia.
Nós ficamos sentados ali, ouvindo música, comendo e
conversando por horas. Nunca fui um homem falador, que
cultivava um assunto até conhecer a Rebecca. A gente falava sobre
tudo, sobre qualquer coisa e perdemos totalmente a noção da hora,
rindo e brincando, falando do casamento e comentando os
momentos mais engraçados.
Rebecca engatinhou para cima de mim.
— Foi o melhor casamento da minha vida e eu me casaria
com você todos os dias, mas é muito caro, dá muito trabalho, mas
quando a gente se irritar com o outro vamos invocar nossos... Puta
merda, nossas cartas. — Saiu correndo do meu colo e foi até a
mesa da entrada, onde deixamos os envelopes das nossas cartas. —
Vamos ler uma do outro?
— Eu corrigi essa carta milhões de vezes para ser tão bom
ortograficamente como você, mas, foi de coração.
— Deixa de ser bobo.
Rasguei o envelope dela e puxei a folha azul clara dobrada e
com sua letra perfeita escrita com sua caneta de glitter prata.

“Marco,
De todas as coisas que já escrevi na vida, jamais imaginei
que escreveria meus votos de casamento. E aqui estou eu, sentada
no seu lado da cama, sentindo seu cheirinho enquanto você está na
Europa trabalhando para sustentar nossa vida maravilhosa. Disse
que você tinha que ir, porque a saudade poucos dias antes do
nosso casamento seria bom, agora me arrependendo de não ter
cancelado tudo para ir atrás de você.
Sonho todos os dias com a nossa vida, que sempre foi
maravilhosa, mesmo com os altos e baixos, com as brigas, as
turbulências emocionais e aí... Nós estamos dando um passo tão
grande e tão bonito para sempre!
Prometo que vou te amar incondicionalmente mesmo quando
desejar não te ver. Vou cuidar de você nos dias ruins, nos dias
bons e tenho a confiança que serei cuidada por você como já sou.
Prometo estar ao seu lado na saúde e na doença, nos dias alegres
e tristes, na riqueza e na pobreza. Prometo ser sua mulher, sua
amiga, sua amante e mãe dos seus filhos.
Prometo me esforçar para termos uma vida maravilhosa
todos os dias da minha vida. Eu te amo e sou grata pela sua
existência. Feliz em ser sua mulher, me sinto honrada de ser a sua
esposa.
Com amor,
Rebecca Silverstone Moretti”.
Mais uma vez meus olhos estavam cheios de lágrimas. Essa
garota me fazia chorar o tempo inteiro. Ela terminou minha carta
com o rosto todo molhado e nos abraçamos. Acariciei seu rosto,
beijando a pontinha do seu nariz e sua boca macia, sentindo o gosto
do vinho na sua língua, chupando devagarzinho. Rebecca soltou o
nó do meu roupão, sentando-se em meu colo e abri o seu, expondo
seus peitos.
Era o momento de consumar nosso casamento mais uma
vez.
Foi difícil sair da cama no dia seguinte, não queria mesmo,
mas eu tinha um avião para pegar e um dia inteiro de reuniões na
Price Corp para fiscalizar os novos seguranças. O CEO tinha
algumas dúvidas, queria algumas sugestões e eles pareciam estar
enfrentando um problema de segurança pessoal e seu chefe de
segurança me pediu auxílio. Era importante estar lá, mesmo que a
minha vontade era não sair de casa para não deixar minha esposa.
Não queria me sentir um marido ruim que estava viajando
vinte e quatro horas após o casamento. Rebecca e eu marcamos a
data ciente que minha agenda estava muito apertada no final de
setembro.
Beijei suas costas, sua nuca e saí da cama. Ela estava
completamente apagada, abraçada ao travesseiro e não acordou
durante meu banho, me vesti com o terno, colete, gravata e calça
que ela deixou separado e passado. Peguei as meias e ri da gaveta
de calcinha dela toda aberta e parecia que algo havia explodido.
Arrumei minha bolsa e o telefone da Rebecca vibrou na
cabeceira.
— Oi? Ah... Oi. Sim, é claro. — Sentou-se e estava com os
olhos bem abertos. — E os batimentos? Ah... Sério?
— O que houve?
— Estão ligando para dizer que ela não evoluiu, mas também
não piorou. — Rebecca ajoelhou na cama. — Ficou... Bem a noite
inteira.
— Isso é maravilhoso.
— Você está atrasado, vai. Vão cancelar seu voo se não
estiver lá. — Rebecca me deu um beijo.
— Vou te ligar em vídeo para poder vê-la.
— Se cuida, eu te amo.
— Não apronte nada sem mim. — Beijei sua boca, peguei
minhas coisas e saí de casa. Encontrei com alguns vizinhos saindo
para trabalhar como eu.
Deixei meu carro no estacionamento do aeroporto,
atravessando o saguão apressado quando uma pessoa parou na
minha frente.
— Você está me seguindo? — Gritei com o susto ao ver
Andrea parada na minha frente.
— Não, bobinho. — Ela ergueu a capa de uma revista. —
Parabéns pelo seu lindo casamento com a herdeira fofa. — Sorriu e
desviei dela. — Também me casei. — Andrea gritou atrás de mim
e virei.
— Foda-se?
— Grosso. Está tudo bem, segui em frente. — Ela falou com
uma voz calma e vi um homem muito mais velho que nós dois
parar ao seu lado. — Amor! Esse é o meu ex-marido, Marco
Antonio Moretti e ele é quem tem a empresa de segurança que te
falei.
— Ah, é claro. Eu vou entrar em contato... Rompi o contrato
com a minha empresa e estou precisando uma nova.
Aquilo parecia pegadinha. Andrea parecia se divertir.
— Tudo bem... Eu tenho que entrar em um avião em cinco
minutos. — Apontei para a porta de saída. — Até mais.
— Tchau, tchau. — Andrea deu um aceno sorrindo e deu um
beijo no velho. Nada contra, mas ele era realmente muito velho.
Que diabos foi aquilo? Andrea sempre foi louca, daquela vez,
ela parecia ter superado na loucura. Quem se importava?
Certamente eu que não. Nosso casamento foi um erro, ela quebrou
minha confiança com a mentira, gastou rios de dinheiro e acabou.
Ela estava com um homem provavelmente quarenta anos mais
velho e eu muito feliz e bem casado com uma mulher incrível.
Me casar com Andrea foi um erro.
Me casar com a Rebecca foi a melhor escolha da minha vida.
Rebecca.

— Está frio lá fora e agora eu preciso ir encontrar com o Tio


Tommy para uma reunião. Volto amanhã no mesmo horário e
espero ter boas notícias como hoje. — Acariciei a mãozinha dela e
Emma me encarou, me olhando e eu só orava para que saísse do
respirador. — Te amo muito, meu amor.
Era tão difícil não poder segurá-la. Soprei um beijinho e saí
antes de ser expulsa, recolocando meu casaco. Estava toda de preto,
com um casaco de moletom, leggin, tênis plataforma e uma bolsa
sacola. Assinei meu horário de saída na maternidade.
A conversa com o Dr. Fischer sobre o atual estado clínico
dela foi bastante esclarecedora.
Duas semanas após se tornar oficialmente nossa, ela tinha
mais chances de sobrevivência do que quando a conhecemos. Sua
pele não parecia mais tão transparente, seus olhinhos bem menos
amarelos e sua boquinha despontando uma corzinha rosada linda.
Seu narizinho estava menos inchado, ficando arrebitado, lindo.
Seus genes coreanos eram maternos, seus genes americanos eram
paternos e nós fizemos um mapeamento genético mais completo
para saber o que esperar dela.
Ficava no hospital todos os dias, conversando com os
médicos, buscando entender seus exames e orando muito para sua
recuperação. Quando anunciamos no grupo de apoio que
recebemos a guarda definitiva, todos se solidarizavam, se dispondo
a estar conosco quando ela falecesse.
Marco e eu ignoramos. Realmente ignoramos. Emma ia
sobreviver.
Entrei no meu carro e dirigi até o café onde meu primo estava
me aguardando. Ele já estava com um café na mesa, mexendo no
seu telefone e ficou de pé quando me viu. Trocamos um abraço
apertado e me sentei na sua frente.
— Acabei de sair do hospital. Marco está em Nova Iorque e
eu estou sozinha para resolver milhares de coisas. Me perdoa o
atraso, então, como você está?
— Estou bem, conte-me você. Casada e mãe... Quem diria, a
nossa pequena Becca. — Tommy sorriu. — O que quer de mim?
— Meu livro ia ser lançado esse ano, mas por questões
burocráticas e porque meu agente quer alçar um lançamento na
feira do livro de Nova Iorque, nós decidimos criar um plano de
marketing maior. O orçamento não deu para muita coisa,
contratamos uma equipe para gravar o booktrailer, a locação vai ser
aqui mesmo, mas eu pensei em ousar um pouco e escrever uma
música exclusivamente para a história. É aí que você entra.
— Uau. É maravilhoso! — Tommy se inclinou. — Orçamento
apertado? Você herdou uma bolada do seu avô.
— Eu sou casada e a mãe, tenho um plano familiar. — Pedi
um café. — Além do mais, não é porque herdei uma bolada que eu
vou gastar tudo assim. Tenho uma filha agora e o dinheiro tem um
propósito. Enfim, vai me ajudar ou não? É claro que será pago!
— Claro que sim! É uma ideia maravilhosa! Só temos que
organizar meus horários porque estou ensinando música em um
centro comunitário. Ajudando alguns jovens com as chances de
bolsas de estudo.
— É mesmo? Por que não me fala mais sobre isso?
Meus ouvidos de jornalista ficaram completamente atentos.
Como jornalista, tinha a obrigação de colher informações para o
futuro. Não me senti mal por usar meu primo e gravar o que me
contou, ninguém precisaria saber que ele foi uma fonte.
Combinamos uns horários para trabalharmos em uma
música, enviei partes que importavam no meu livro para que
pudesse ler e se inspirar. Terminada nossa reunião, olhei meu
telefone e não havia mensagens do Marco. Estranho…
Passei no shopping para comprar as decorações de
Halloween que minha mãe pediu e fui para casa, me sentindo
magoada. Nós mal casamos e mal nos falamos essa semana.
Compreendia que era seu trabalho, eu sabia que ia ser apertado,
mas porra... Não podia responder minhas mensagens?
Ele me ligava na hora da visita, fazíamos chamadas de
vídeo para que ele pudesse vê-la e não falávamos direito depois.
Marco ia ganhar um soco assim que o visse novamente.
Entrei em casa e Leona apareceu correndo, fazendo festa.
— Rosa? — Chamei da entrada. Peguei a Leona. — A
Rosa já foi, amor?
Me deparei com um imenso buquê de rosas no meio da
sala.
— Seu papai mandou rosas para compensar o fato que é
um idiota?
— Eu sou um idiota? — Soltei um grito assustada e
agarrei a Leona, nós duas quase caímos em cima das flores. Marco
me puxou pelo casaco, rindo da minha reação. — Surpresa!
Dei um soco bem dado no braço dele.
— O que aconteceu com você essa semana? — Briguei e
ele estava rindo. — Não estou achando graça, Marco Antonio!
— Vai achar. — Tirou o telefone do bolso. Comecei a rir
ao ver a tela toda quebrada. — Fui treinar com o telefone no bolso,
ganhei um chute certeiro do Eric em uma demonstração de
imobilização e só ouvi o barulho.
— Aí é perigoso, uma coisa é cair no chão, assim um
vidro poderia ter cortado sua veia e você sangrado até morrer.
— Uau, a paranoia maternal pousou firme na sua cabeça.
— Marco continuava rindo. — Não consegui tempo para comprar
outro, o botão de atender as chamadas era bem mais fácil do que
ficar digitando. Como você milagrosamente não quebrou seu
telefone ainda, decidi deixar você rir de mim.
— Bem que achei que sua imagem estava estranha e
pensei que fosse a câmera suja. — Sorri e peguei o aparelho. —
Acho que não tem conserto.
— Já vi que não tem... Um atendente me disse que era
mais vantagem comprar um novo.
— Adorei as flores, obrigada. — Beijei seu pescoço. —
Não sabia que você viria para casa hoje e combinei um jantar com
meus pais. Eles querem atualização da Emma e as crianças querem
me ver.
— Não tem problema, o que pensou em preparar?
Abri um sorrisinho sem graça.
— Mandei um belo pedido para minha sogra... Ela vai
entregar daqui a pouco.
— Você é muito cara de pau. — Marco apertou meu nariz
e sorri. Beijei sua boca e aos beijos, paramos no sofá.
— Meu Deus... Sou uma mãe que não sabe cozinhar. Ser
uma esposa que não sabe cozinhar é tipo, dane-se, você sabe,
somos adultos, comemos frutas, salada, o que for fácil. Não é assim
com uma criança. — Marco estava muito distraído beijando meu
pescoço e tentando tirar meu casaco. — Preciso fazer um cursinho
básico de culinária. Quando a Emma vier para casa... O que ela vai
comer? Não posso ser uma mãe de comida congelada. Ela tem que
ter lembranças boas de comida de mãe como eu tenho.
— Nós temos que decidir isso agora? — Ele gemeu
quando o empurrei. — Não vai dar tempo de fazer o que você quer
e depois de uma semana longe, trabalhando em Nova Iorque e mal
falando comigo, você vai ter que se esforçar.
Marco se deitou no sofá e exibiu um sorriso lindo, quase
não resisti e me joguei nele. Amava aquele sorriso safado. Me
deixava toda acesa sem ter feito basicamente nada. Sabia muito
bem o que podia fazer quando abria aquele sorrisinho... Olhei-o
esticado, o volume nos seus jeans, a barriga perfeita e os braços
torneados...
— É só vir aqui.
— Se esforce. Vou pesquisar um curso de culinária e você
arrume a mesa. Pedi lasanha, pizza e aquela carne gostosa que
serviu no nosso casamento. Ah, ela vai mandar aquela entrada de
frios variados. Já transferi o pagamento porque não queria aceitar...
— Ordenei subindo a escada para buscar meu computador. As
portas dos outros quartos estavam abertas e suspirei ao ver a zona.
Um quarto era basicamente depósito da casa, tinha roupas limpas,
roupas de cama, toalhas e várias caixas de roupas para doação.
Blake sempre doava roupas e era um ato que aprendi com
ela, mas eu tinha que sair e levar logo. Ainda mais que tinha muitos
casacos e a temporada fria estava chegando. O outro quarto tinha
milhares de caixas do Marco. Nós precisávamos dar um jeito
naquilo tudo, arrumar o escritório e deixar o outro quarto para
Emma. Nas duas vezes que Nicole ficou aqui em casa porque
bebemos até tarde, ela dormiu no sofá.
Esse apartamento estava pequeno ou nós dois éramos
acumuladores? O quarto principal era o único realmente grande,
sem grandes armários pela casa, onde as pessoas guardavam as
coisas do dia-a-dia? Os dois ambientes não tinham nada além de
uma janela grande... Ai ser adulto era um saco. Se eu não fosse
casada e tivesse apenas morando sozinha, ia ligar para o meu pai,
abrir e porta e dizer: “me ajuda?”.
— Olhando a bagunça que temos que arrumar?
— Precisamos dar um jeito nisso antes da Emma vir morar
conosco.
Marco encostou na parede e enfiou as mãos no bolso.
— E se a gente se mudar para uma casa? Cresci brincando
com meus primos e vizinhos... E você cresceu em uma vizinhança
adorável.
— É verdade. Quer morar perto dos seus parentes?
— Deus me livre, eles não vão sair lá de casa. Pensei em
um bairro como dos seus pais. Tem excelente escolas lá... Ouvi seu
pai falando que a vizinhança é antiga e lá é tão calmo. Às vezes
nossos vizinhos são barulhentos e não podemos fazer nada. O que
acha?
— E o nosso planejamento financeiro?
— Podemos dar uma olhada, ter uma noção de valores...
Já pensou criarmos a nossa filha em uma casa, ter um pouco mais
de privacidade e não estar tão no centro de tudo?
— É uma boa ideia.
— Vamos começar a procurar?
— Vamos... Mas tem ser a casa. Assim como foi olhar
para o outro, para nossa filha a casa tem que ser do mesmo jeito.
Marco sorriu.
— Combinado. Agora fecha essas portas, as pestinhas dos
seus irmãos mexem em tudo e tem algumas facas nas minhas
coisas. — Me deu um beijo e foi para o nosso quarto.
Puxei as portas e tranquei, peguei meu notebook e
pesquisei um cursinho de culinária básico. Descobri que tinha um
pertinho de casa, que durava um mês e ensinava comidas do dia-a-
dia e alguns pratos mais elaborados, ensinando a “química básica
de uma boa cozinha”. Anotei certinho para passar lá no dia
seguinte e a campainha tocou, desci a escada já ouvindo as crianças
me gritarem.
Abri a porta ri surpresa, ambos estavam fantasiados.
— Eles escolheram as roupas. — Meu pai entrou com uma
mochila. — Tudo que uma criança pode precisar na rua.
— É tão engraçado vê-los assim... Tão pais.
— Nós já passamos por isso com você, espertinha. —
Blake me abraçou apertado. — Você ficou lá em casa tanto tempo
antes do casamento que agora estou sofrendo com sua ausência.
— A mamãe urso quer todos os filhos debaixo das asas. —
Meu pai provocou e me abraçou também.
Me sentei no chão para brincar com meus irmãos, cheia de
saudades deles e o Marco desceu, cumprimentando meus pais,
serviu vinho para os adultos e prometeu suco para as crianças se
comessem tudo. Todos ficaram na sala, conversando, bebendo e as
crianças fazendo suas graças. Quando o jantar chegou, Marco foi
receber e arrumar a mesa.
— Pizza no jantar, Rebecca? Pedi que fizesse algo
saudável. — Blake brigou comigo.
— E a salada não é saudável?
— Crianças não podem comer pizza no jantar.
Ops. Precisava anotar tudo isso...
— Como vai ser a vida da Emma sendo filha de um
italiano sem comer pizza?
— Rebecca... — Meu pai suspirou e sorri.
As crianças amaram comer pizza e lasanha, até repetiram,
só de vê-los com o rosto tomado de queijo e molho de tomate valia
a pena. Para compensar, Marco fez vagem e ralou uma cenoura,
fazendo-os comer mais coisas saudáveis já que ambos rejeitaram as
folhas verdes.
No passado, só de pensar em jantar com meus pais era um
estresse e passou a ser um dos meus momentos favoritos na vida.
As semanas do mês de outubro passaram em uma rotina
tranquila. Terapia, estudo, trabalho, curso de culinária, reuniões e
passando todo tempo possível no hospital. Emma não apresentou
grandes avanços, ela estava estabilizada no mesmo quadro clínico,
mas ela respondia neurologicamente o que era um alívio.
Dr. Fischer ainda não descartava que ela tivesse algum
problema permanente, entendia que ele não podia nos dar falsas
esperanças.
Todos os dias meu propósito era poder segurá-la além da
sua mãozinha e sem luvas. Queria tanto tê-la em meus braços que
doía. Até sonhava e acordava desejosa, ansiosa para tê-la em meus
braços. No dia de Halloween, me fantasiei e andei pelo bairro dos
meus pais com meus irmãos.
— Devagar, Kauana! Cuidado com as pedras! — Chamei sua
atenção. Kaleo estava correndo ao meu redor em círculos. Eles
tinham muita energia, chegava ser enlouquecedor. — Toque a
campainha uma única vez. — Orientei ao passarmos pelos portões
dos Pattersons em frente da casa dos meus pais.
A casa era linda, sempre fui apaixonada pela fachada de pedras, o
chafariz, o jardim lindíssimo na frente e a garagem rústica.
— Oi, Sra. Patterson! — Sorri para senhorinha que abriu a
porta. — Já conheceu meus irmãos?
— Ah eu já. Sua mãe me apresentou esses dias... Estavam
indo para escola. Como vão?
— Doces ou travessuras? — Kauana pulou no lugar com sua
fantasia de fada. Kaleo era uma mistura de todos os heróis que ele
gostava em uma única fantasia. E eu era uma fada maior porque
minha irmãzinha queria que usássemos fantasias iguais.
— Muitos doces! Podem pegar o quanto quiser! — A Sra.
Patterson abriu a porta e mostrou a vasilha de doces. Ainda bem
que as crianças não esqueceram sobre pegar um de cada. — Ah
menina vou sentir falta disso. Quer um cookie? — Me ofereceu um
prato e peguei. Os cookies dela eram os melhores.
— Sentir falta por quê?
— Estamos nos mudando para Nova Iorque. Meu filho está
preocupado, meu marido já tem oitenta anos e está difícil morar em
uma casa tão grande, com tantas escadas e minha nora está grávida.
Ela não tem mãe e eu quero ajudar.
— Ah, poxa! Vamos sentir saudades...
— Nós vamos vender a casa. Se souber alguém interessado...
Meu filho a reformou em pouquíssimo tempo. Vamos levar os
móveis, porque ele comprou uma casa maior e nossas coisas estão
novas.
— Eu aviso se souber. — Sorri e olhei para sala bonita,
peguei a mão dos meus irmãos. — Obrigada. Agradeçam, crianças.
— Obrigada, tchau e tchau. — Kauana era tão fofa que queria
mordê-la por inteiro.
Terminei de andar com as crianças no bairro e entrei pelos
fundos na casa dos meus pais. Blake estava com a câmera na mão e
insistiu por mais fotografias na varanda.
Queria tanto que a Emma estivesse ali comigo... Iria
fantasiá-la e ela seria a bebê mais fofa do mundo inteiro.
Contei a Blake sobre a mudança dos vizinhos, ela se
comprometeu de convidá-los para jantar antes de se mudar e liguei
para o Marco, pedindo que olhasse a casa antes de entrar na casa
dos meus pais. Se ele gostasse, quem sabe poderíamos fazer uma
oferta. Era totalmente fora dos preços de casa que olhamos, nós não
estabelecemos uma meta, mas também não iríamos comprar uma
casa muito cara.
— Seu pai está muito nervoso com o lançamento do novo
livro...
— Entendo, está fora do mercado de lançamentos há anos e as
pessoas estão muito acostumadas ao estilo dele nas séries. Lançar
um livro com outro universo, outra série... Corajoso.
— Ele não quer se aposentar ainda.
— Nem deve, é muito jovem e agora tem mais bocas para
sustentar. — Brinquei e olhei meu telefone. — O andar da uti
estava tão bonitinho decorado de Halloween.
— Você vai ter uma boa notícia em breve, intuição de mãe.
Confia em mim. — Blake me serviu vinho. — Vocês dois não vão
comer doces até jantar.
— Posso assistir televisão? — Kauana perguntou e tirou sua
tiara. — Está coçando.
— Quero brincar! Cadê o Marco? — Kaleo estava com
energia de sobra.
— Ele está chegando... Vai assistindo televisão enquanto não
chega, que tal?
Enquanto Blake ligava a televisão e colocava em um canal
infantil na sala, fiquei na cozinha bebendo vinho e passando as
fotos da Emma. As últimas ela parecia diferente, mais espertinha,
com mais carinha de bebê e não mais de doentinha.
Estava desesperada por uma boa notícia e sentindo tanto
medo. Fechei meus olhos e me permiti chorar, colocando minha
aflição para fora porque precisava ter fé. Precisava de muita fé e
força para que Emma sentisse que ela tinha pais que a amava
muito.
— Eu amei a casa. Por que está chorando? — Marco entrou
pelos fundos e tirou o casaco. Ele olhou a foto da Emma aberta e
me deu um sorriso compreensivo, logo me abraçando. — Vai ficar
tudo bem, não piorar também é uma vitória.
— Sei disso... Só queria que ela estivesse aqui conosco.
— Nós teremos uma boa notícia em breve, confie em mim. —
Beijou minha testa.
Rebecca.

Uma semana após o Halloween, Marco entrou em contato


com os Patterson para saber sobre a venda e eles imediatamente
ficaram animados porque poderiam vender a casa para pessoas
conhecidas. O filho dele nos ligou, disse que poderíamos resolver
sem corretores, apenas entre advogados e foi o que fizemos. Após a
mudança na segunda semana de novembro, poderíamos entrar logo
que a venda fosse finalizada.
Conhecia a casa de ponta a ponta, porque cresci brincando no
quintal deles, a Sra. Patterson tomou conta de mim muitas noites
que meus pais precisaram trabalhar e eu era o tipo de criança que
mexia em tudo, então, conhecia os cômodos. Só estavam diferentes
porque a casa foi bem reformada para não perder seu valor de
mercado. Todos os quartos tinham closet planejados, luzes
embutidas e climatização.
O quarto principal era o maior, com banheiro e closet.
Os demais quartos, que eram quatro, compartilhavam um
banheiro entre eles com ligações internas. O primeiro andar tinha
sala de estar, jantar, cozinha e uma antessala bem separadas. Atrás
tinha uma área de lavanderia, varanda e um quintal com gramado
bem menor que dos meus pais, mas era bonito e tinha duas árvores.
Em cima da garagem tinha um apartamento pequeno que eles
construíram quando a irmã da Sra. Patterson morou com eles
muitos anos atrás.
Estava reformado e era bonito. Nós pensamos que talvez a
Nikki pudesse morar ali enquanto tinha medo de sair de casa. Ela
era muito dependente e enquanto queria ter seu espaço, morria de
medo de dormir sozinha. Entendia bem, os primeiros meses fora de
casa, dormia com a luz acesa e um taco de beisebol ao lado.
Qualquer mínimo barulho pulava da cama.
Marco olhou bem ao redor.
— Eu gosto da casa e você?
— Acho que ela é linda. Podemos apenas clarear os armários
da cozinha e do escritório, são muito escuros e eu também mudaria
o papel de parede das salas... — Comentei olhando ao redor.
— O valor da casa está muito bom, entre nós, eles poderiam
pedir mais. Parece que o garoto não entende muito do mercado
imobiliário ou eles querem apenas vender. Como são conhecidos...
Vim aqui com um avaliador, engenheiro e um arquiteto como o Sr.
Silverstone pediu, tudo aprovado.
— Pode fechar a compra. — Marco afirmou.
Pedimos a opinião dos meus pais, porque eles conheciam a
vizinhança e Marco sempre morou em apartamento enquanto
solteiro. Nós não queríamos fazer nenhuma besteira e concluímos
que não havia nada errado em pedir conselhos de quem era mais
experiente. Meu pai sendo ele mesmo, quis verificar
milimetricamente a casa e fez umas exigências meio loucas, que
tinham sentido no final das contas.
— Nós podemos entrar assim que finalizarmos? — Perguntei
ao advogado.
— Logo que ele aprovar, já deixaram as chaves com os
advogados... Eu vou colocar o apartamento de vocês a venda.
— Obrigada, Martin.
— Feliz participar desse momento. Eu estava lá quando seus
pais casaram e olha só você, Rebecca. Casada e comprando sua
primeira casa.
Sorri toda boba e nós saímos da casa, parando no jardim de
mãos dadas.
— Nós temos a nossa casa de família. — Marco me abraçou
orgulhoso e feliz. — Tenho a minha casa de família. Quando
arrastei o DeLucca pelo deserto, eu simplesmente pensei que nunca
teria uma vida tão boa quanto meus pais tiveram. Foi a única vez
que me arrependi de ido para zona de guerra... Por quarenta e oito
horas, ele lutou para sobreviver e me fez prometer que eu
conseguiria. Não prometi, porque não acreditava, mas eu consegui.
Seja lá onde estiver, aquele filho da puta deve estar muito feliz.
Se existia um sentimento de plenitude mais gostoso que
aquele... Ainda não conhecia. As duas semanas seguintes foram
loucas. Dei uma decoradora para mobiliar a casa, trocar papéis de
parede e convoquei nossa numerosa família para nos ajudar.
Quando os armários e paredes estavam prontos, foi a vez de faxinar
a casa inteira. Contei com o auxílio da Rosa, nossas mães, tias,
primas na arrumação e os homens no quintal. Meu pai colocou
luzes lindas no jardim e o Tio Benny uma churrasqueira a lenha
maravilhosa no quintal dos fundos.
Nós compramos mesas e cadeiras para o quintal
especialmente para os dias que receberíamos nossas famílias.
Minha mãe tirou licença do trabalho e mergulhou de cabeça na
arrumação, precisamos correr, porque nosso apartamento mal ficou
dois dias a venda. Pensamos que teríamos tempo, sairíamos com
calma, mas de repente, ficamos sem lugar.
Mobiliar uma casa inteira era trabalhoso, bem, os quartos
ficaram vazios, não havia pressa, mas todo restante foi preenchido
e decorado porque eu era uma garota sortuda que tinha uma família
intrometida muito disposta a ajudar. Essa era uma das vantagens de
me casar com um italiano com uma família numerosa.
Minha avó Sarabeth costurou colchas lindas para meu novo
sofá, minha avó Catherine me deu quadros e cada um deu um toque
especial a nossa casa. Deixei toda minha agenda de lado, me
dividindo entre a casa e a Emma. Quando nós finalmente nos
mudamos e meus primos garantiram que não havia uma única caixa
a ser desmontada, combinei um jantar de ação de graças para
retribuir todo amor que nossa família nos deu.
Sem eles aquela mudança em tempo recorde não teria sido
possível. Meu pai foi o líder, suas listas foram úteis e ele distribuiu
as tarefas e separou em grupos. Todo mundo teve o que fazer e foi
até divertido, embora um falatório sem fim. Nossa família era
singular, mas era minha e eu os amava muito.
— Quantos perus serão necessários? — Olhei para Marco
enchendo um único carrinho com perus enormes.
— São quarenta pessoas... Quantos você acha?
— Vamos dar conta de cozinhar para quarenta pessoas?
— Vou assar os perus no restaurante e usar o carro do Tio
Benny para transportar. Minha mãe vai fazer metade dos
acompanhamentos, minha tia outra metade e o meu tio vai fazer as
sobremesas. Nós ficamos com a despesa, as bebidas, a arrumação e
as saladas. Ah, sua mãe disse que vai fazer aquela torta
maravilhosa de milho e frango. — Pegou mais dois e nós
empurramos o carrinho adiante.
— Hum... Talvez devêssemos pegar as mesas dos meus pais.
Não vai ter lugar para todo mundo... Por que fui oferecer? —
Choraminguei.
— É o certo. Temos que agradecer pela casa, sem eles,
estaríamos dormindo nos seus pais e arrumando a mudança até ano
que vem.
— Verdade.
Nós demoramos horas no mercado e era muito estranho estar
em outra região da cidade, tão longe da confusão e dos prédios
altos, encontrando conhecidos e seguindo um caminho totalmente
diferente. Estava friozinho, um vento gelado de cortar os lábios e
nós fizemos muitas viagens do carro até a nossa nova cozinha.
Marco saiu para levar os perus para seu tio temperar e preparar
porque faltavam apenas alguns dias para nosso evento.
Liguei para meu pai, ele estava na nossa casa quando saímos
porque me deu um dos pianos da sua casa. Tinha dois porque um
era dele e outro era do meu avô, a pessoa que passou o gosto para
toda família. Quando ele morreu, minha avó não aguentou ficar na
casa, ela chorava e sofria muito de saudade, então, se mudou para
um lugar menor e bem pertinho. Ela não parou mais em casa, vive
intensamente para o trabalho e não parou de produzir filmes e
documentários.
Conhecendo-a como conheço, ela nunca irá parar. Falei com
meu pai sobre a organização e claro que ele estava dentro.
— Tenho umas tendas aqui na garagem, vou lavar e procurar
as peças, pode ajudar se estiver tão frio quanto está hoje. Podemos
fazer algumas fogueiras se o Marco não se importar...
— Será ótimo, pai. Obrigada pela sua ajuda...
— Alguma notícia do hospital?
— O andar ainda estava fechado, outro bebezinho deve ter
morrido... Talvez eles liberem a visita mais tarde.
— Isso é triste.
— Estou ansiosa, acho que vou ligar de novo. Te amo, beijos.
Encerrei a chamada e fui ao banheiro, ao retornar, meu
telefone informava uma ligação perdida e era justamente do
hospital. Era difícil não começar a tremer e temer pelo pior. Quem
falou comigo apenas disse para ir até lá imediatamente sem entrar
em detalhes. Peguei minha bolsa e as chaves do meu carro, jogando
as botas no banco do carona porque não daria tempo de vestir e saí
às pressas.
Esperava que nenhum policial me parasse por estar dirigindo
no limite da velocidade permitida. Um dia inteiro do andar fechado
e aquela ligação estava criando todas as paranoias. Meus maiores
medos tomaram força e encheram meu coração de negatividade.
Assim que estacionei, enviei uma mensagem de áudio ao Marco,
calcei as botas e sai correndo.
Parei em frente a uti olhando a incubadora da Emma vazia.
Foi um choque e meu coração quebrou.
— Ah... Não. Não! Meu Deus... Não.
— Ei, ei calma! — Enfermeira Jackie me segurou. — Vem
comigo, acalme-se.
— Cadê a minha filha? — Chorei sequer ouvindo o que ela
me dizia.
Meus pés estavam pesados e ela me arrastava com determinação.
Estava quase sem ar, querendo parar e ela me puxou até um lugar
com a placa berçário.
— Ela está ali. — Enfermeira Jackie apontou.
Segui seu dedo e parei, congelada. Dr. Fischer estava com um
grupo de médicos, todos falando e anotando coisas, pareciam
discutir algo de forma suave. Em seus braços estava a minha filha.
A minha tão linda e pequena Emma.
— Ei, Emma. A mamãe chegou! — Dr. Fischer comemorou,
minhas pernas estavam bambas. — Jackie, coloque a Rebecca
sentada antes que caia. — Brincou e alguém me sentou em um
poltrona. Meus lábios tremiam tanto que batiam um no outro. —
Olha só quem está respirando sozinha e não precisa mais de
nenhum aparelho ajudando-a... — Andou até a mim. — Adivinha
quem está com os leucócitos perfeitos, o fígado funcionando sem
medicação, os rins trabalhando a todo vapor e o pulmão também?
Seu coração segue perfeito... — Cantarolou e ajoelhou com ela a
minha frente. — Nós passamos os últimos dias já cientes da
estabilização dela, mas não queríamos dar esperanças enquanto ela
não conseguisse sair dos aparelhos...
Alguém envolveu um avental cirúrgico em mim e passou
álcool nas minhas mãos e braços. Estava em choque. Dr. Fischer a
passou para meus braços, enroladinha em uma manta com o
símbolo do hospital.
As lágrimas estavam caindo e molhando minha roupa.
— Oi filha...
— Esse é o seu bebê milagre. Esses médicos estão aqui para
ver e atestar pessoalmente a vitória da pequena Emma. — Dr.
Fischer acariciou a cabecinha dela.
— Oi meu amor...
Emma estava em meus braços. Ela era tão leve ainda, tão
pequenininha, mas estava com o rostinho perfeito de um bebê, o
cabelinho preto, liso, espetado para todas as direções. Continuei
chorando, emocionada, incrédula e incapaz de desviar o olhar. Ela
ficou quietinha no meu colo, dormindo e só agradeci por ela ter
vencido.
Fiquei tanto tempo olhando-a que não percebi a chegada do
Marco, só quando tocou em mim e ajoelhou na minha frente. Ele
estava chorando de novo.
— As mulheres dessa família têm o dom de me fazer chorar.
— Ele beijou a cabecinha dela. — Oi, meu amor. Olha só para
você...
— Achei que tivesse acontecido algo pior... Eu cheguei e ela
não estava lá. — Voltei a chorar e escondi o rosto no pescoço dele.
— O Dr. Fischer quer conversar conosco...
Entreguei Emma ao Marco, admirada pela forma carinhosa e
cuidadosa que ele a pegou sem medo. O olhar dele era de amor.
Passaria o resto da minha vida encantada com aquela cena.
Nós precisamos deixá-la em um bercinho.
— Neurologista, cardiologista e cirurgião geral já deram alta.
Eu ainda quero observá-la por pelo menos mais dois dias e se tudo
correr bem. Esperamos que todos os exames finais confirmem que
ela está pronta para ir para casa, vocês terão a Emma no dia de ação
de graças. — Dr. Fischer sorriu porque voltei a chorar. — É muita
emoção em um só dia. A enfermeira percebeu que ela estava
respirando fora do ritmo dos aparelhos ontem após a sua visita.
Retiramos, passamos a noite observando, foi uma questão tempo
para ela... É como se ela estivesse dando todos os passos de uma
vez, com calma e agora chegou o momento. Fizemos exames hoje,
amanhã vamos repetir e depois. Você pode dormir com ela aqui...
Precisa de roupas e fraldas, qualquer coisa só me chamar. — Dr.
Fischer se afastou com seu bipe tocando. — Ah, a nutricionista vai
vir falar com vocês sobre a fórmula e os bicos de mamadeira.
Olhei para meu marido e sorri muito.
— Eu já quero ficar.
— Vou até uma loja comprar o que for preciso e volto, está
bem? — Garantiu com o mesmo sorriso.
Abracei ao Marco tão apertado. Ele foi o único que
compartilhou minha fé e amor pela Emma. Não duvidou e não me
deixou duvidar. Nós não quebramos a nossa corrente.
— Ela vai para casa! Sinto como se a minha vida estivesse
completa agora.
— Dirigi até aqui com o coração tão acelerado que pensei que
fosse infartar. — Marco beijou minha testa, nariz e boca. — Eu te
amo, Rebecca.
Marco saiu rápido para poder voltar rápido, esperei a
nutricionista sentada com Emma em meus braços. Eu não queria
deixá-la dormir no bercinho do hospital, apenas comigo. Jackie
apareceu sorrindo e sentou-se ao meu lado, explicando com
suavidade como trocar a fralda, as melhores pomadas e eu peguei
as marcas, tamanho, enviando para o Marco.
— Estou te dando uma boa aula porque sei que é marinheira
de primeira viagem. Em casa você pode comprar um suporte, aqui
no hospital não tem, mas essa é a temperatura ideal para o banho
dela. — Instruiu como segurar, a cabecinha dela estava um pouco
mais firme, mesmo assim era escorregadio e fiquei nervosa. — É
assim mesmo, está indo muito bem.
Emma chorou no banho e até chorando, era a mais linda.
Provou que seus pulmões estavam ótimos. Sequei-a bem e coloquei
a fralda com uma pomada para assadura, enrolando na manta
porque ainda não tinha roupas.
Jackie me deu uma lista de coisas necessárias para
comprar, dando marcas, nomes e tamanhos. Ela era uma santa.
Enviei para o Marco e pedi que comprasse uma caixa de chocolate
em forma de agradecimento porque não era obrigação dela.
Quando a nutricionista chegou, me deu uma aula completa
sobre amamentação, os melhores bicos e não me fez sentir uma
idiota porque não entendia nada. Ela foi calma e paciente, explicou
que iam inserir uma nova dieta para ela e mostrou a fórmula. Tirei
uma foto da mamadeira, dos bicos e do pacote de leite para o
Marco comprar. Ele estava em um shopping seguindo a lista e as
orientações que mandei, como ainda faltava um tempo para
escurecer, pedi que procurasse uma lavanderia e lavasse umas
roupinhas para que ela pudesse usar.
Voltei a sentar na poltrona com ela no meu colo, acariciei sua
cabecinha e tirei uma foto dela acordada nos meus braços e enviei
para meus pais, sogra e cunhada. Liguei em chamada de vídeo para
Karen, Lexie e Elena ao mesmo tempo, mostrando com orgulho a
minha filha vencedora.
— É isso aí, garota. As mulheres Silverstone não desistem da
vida. — Acariciei seu narizinho, ela enrugou o rosto e ensaiou um
sorriso de nervoso. — Aí que linda. Você é literalmente a lindinha
da minha vida.
Meu telefone estava enlouquecido, vibrando ao meu lado, mas
estava muito ocupada hipnotizada pela minha filha. Fazia cada
beicinho, movimentava as mãozinhas, ficava me encarando,
prestando atenção na minha boca e cantei baixinho, ela se mexeu,
já acostumada com aquela música.
— Voltei. — Marco falou bem baixinho para não incomodar
os outros bebês. — Consegui um quarto. Perguntei na recepção se
ela tinha que ficar no berçário e aí o Dr. Fischer liberou a
transferência para uma acomodação. Já deixei as coisas lá...
— Ouvi dizer que alguém vai para o quarto? — Jackie
apareceu. — Vou levar até lá. Trouxe o leite? Daqui a pouco ela
vai querer mamar e vou ensinar como fazer.
Andei pelo corredor segurando-a acompanhada pela Jackie e
Marco, que abraçava a nós duas. Emma era famosa, porque muitos
médicos e enfermeiras queriam vê-la. Entramos em um quarto em
frente a estação das enfermeiras, me senti mais segura com tanta
gente ao redor e ao mesmo tempo com um pouco de privacidade.
— Comprei só o básico que me informou, mas tem tanta
coisa. Temos que voltar lá e fazer o enxoval completo dela... Eles
têm uma lista, decorações, é imenso e incrível. — Reparei que
todas as roupas estavam lavadas. — Acabou enchendo uma cesta e
achei que era melhor lavar logo.
— Nós definitivamente teremos que fazer compras para ela
com urgência. Ela vai embora em dois dias.
— Amanhã podemos pedir para sua mãe ficar com ela um
pouco e vamos resolver. Tenho uma reunião em chamada de vídeo
em seguida o Eric pode me representar, vou ligar para ele daqui a
pouco.
Marco foi lavar as mãos e escolhi uma roupinha. Uma calça
rosa, meias branquinhas e um body branco com um ursinho na
frente. Ficou tão linda, tirei uma foto e segurei a chupeta, pensando
se ela seria uma criança cativa da chupeta, se eu a queria com
chupeta, mas... Ela não tinha o acalento do seio. Pedi para Marco
esterilizar os bicos, chupetas, peguei uma toalhinha e a segurei
conversando com ela.
Jackie me ensinou como preparar a fórmula, quatro médicos
entraram no quarto para assistir Emma mamar comigo pela
primeira vez. Ela empurrava com a língua no começo, chorou,
virou o rosto e insisti, pingando um pouquinho de leite na sua
boquinha. Soltou sons de estalo começando a ficar inquieta e
achamos melhor trocar o bico, pegando um ainda menor.
Marco estava ao meu lado, extremamente atento e quando a
Emma sugou, todo mundo comemorou. Ela chegou a soltar o bico
assustada e a acalmei com o bico novamente. Marco estava
filmando e nos abraçamos, olhando-a mamar, puxando o leite
lentamente e a mamadeira foi esvaziando. Ela não bebeu mais de
100 ml, mas, era uma conquista.
— Essa menina me surpreende todos os dias. — Dr. Fischer
foi o último a sair do quarto. — Parabéns, papais.
— Obrigada por não ter desistido dela como muitos não
desistiram. — Agradeci de coração ao médico que era o único que
não nos julgava por manter a fé nela.
— Você é tão forte e corajosa como a sua mãe. — Marco a
pegou do meu colo. — Vou te contar uma história para dormir...
Hoje é a nossa primeira noite de muitas. Temos a vida inteira pela
frente...
Recostei no sofá, apoiei meus pés na poltrona ficando bastante
confortável para assistir meu marido fazer a nossa filha dormir pela
primeira vez.
Marco.

— Bom dia. — Rebecca beijou os pés da Emma. — Você


dormiu duas horas direto. Que incrível, florzinha da mamãe! —
Ergui meu telefone e tirei uma foto. — Mamãe vai ter um banho
porque você vomitou e a vovó vai tomar conta de você enquanto eu
e o papai saímos para comprar suas coisinhas. Você vai embora
para casa hoje, não é maravilhoso?
— Bom dia! — Blake entrou no quarto sorridente. —
Desculpe o atraso... As crianças estão em casa porque é dia de dar
graças, então, Alex achou que elas precisavam ajudá-lo no café da
manhã. Imagina a bagunça?
Rebecca sorriu para sua mãe e elas trocaram um abraço.
— Olha só o amor da vovó! Lindinha toda vida, minha
gostosinha! — Blake arrulhou para Emma, que se sacudia no
berço. — Saí, Rebecca. Que coisa... Vocês não iam sair?
Desapareçam, anda.
— Ela precisa tomar banho.
— Eu sei cuidar de um bebê. — Blake continuou sorrindo. —
Dê tchau para a mamãe! Tchau, mamãe.
— Qualquer coisa...
— Tchau, Rebecca. — Blake riu porque Rebecca não saiu do
lugar.
— Amor você pode ir sozinho? — Me olhou aflita.
— Sem chances de brigar comigo se comprar algo errado? —
Cruzei meus braços achando graça da sua cara de medrosa.
— Tudo bem... Mãe, me liga. Te amo. — Se debruçou sobre o
berço. — Eu te amo, filha.
— Tchau, amor. Papai te ama. — Beijei sua cabecinha.
Segurei a mão da Rebecca bem firme e andamos pelo hospital
até a saída. Rebecca estava usando um vestidinho cinza bem
curtinho, meias pretas, botinhas e ela parecia tão linda, exalando
paixão, sorrisos lindos e uns sua pele parecia até brilhar mesmo
com o tempo frio. Abri a porta do carona para ela e dei um beijo na
sua boca. A mamãe mais gostosa do mundo.
Dei a volta e nos levei até a maior loja de bebês do outro lado
da cidade. Foi indicada pelos pais do grupo de apoio, todos eles
foram nos visitar quando a Scout anunciou que a Emma não só
estava muito bem saudável como iria para casa. Eles trouxeram
presentes e dicas, a maioria ali ainda não tinha adotado nenhuma
criança, outros sim, mas a única coisa que pedi a Rebecca nesse
processo era que nós não comprássemos absolutamente nada.
Foi um sofrimento terrível quando perdemos o bebê. Foi
difícil com todas as roupinhas e sapatinhos que Rebecca comprou,
o quadrinho das ultrassonografias e cada pequeno item naquele
apartamento foi motivo de muito choro e muita dor. Eu tinha muita
fé na luta da Emma, muita certeza que venceria, mas a Rebecca não
iria sobreviver se a nossa filha morresse.
Era por isso que nós não tínhamos absolutamente nada em
casa.
Quando recebi o áudio da Rebecca, nervosa, chorando,
dizendo que fomos chamados no hospital depois de um dia inteiro
do andar fechado, eu pensei no pior. Levei mais tempo que o
normal para me movimentar. Fiquei estático, sem ar, confuso,
sentindo uma dor no peito paralisante. Foi preciso que Eric me
perguntasse o que estava acontecendo, tive um estalo e corri,
porque Rebecca quebraria em infinitos pedaços se a notícia fosse
ruim.
Dirigi como um louco, estacionei de qualquer jeito e quando a
vi segurando a Emma foi como se eu pudesse realmente respirar
depois de muito tempo. Pude segurar minha filha, tocá-la de
verdade... Ela estava há tanto tempo naquele hospital, lutou
bravamente, deu um belo olé em todos que não acreditaram nela,
venceu seu próprio corpo com determinação e não podia estar mais
orgulhoso.
Nós passamos dois dias inteiros com ela no hospital,
aprendendo a cuidar dela e era tão pequenininha. Fiquei nervoso
durante o banho, mas me saí muito bem nas trocas de fraldas.
Rebecca era do tipo mãe urso que não estava deixando ninguém
chegar perto do seu filhote, quase precisava disputar a tapas para
pegar a minha filha.
Estacionei em frente à loja e olhei para fachada.
— Preparado? — Rebecca tirou da bolsa a imensa lista de
compras.
Nós pedimos para uma diarista limpar o quarto mais
próximo ao nosso, colocar um papel de parede azul bem clarinho e
as demais coisas nós iremos comprar. O quarto tinha um closet,
mas, pelo que entendemos diante de todos aqueles pais era preciso
muito mais.
Nós andamos até os carrinhos, pegamos um e entramos na
loja. Ficamos paralisados no lugar, olhando ao redor e era
simplesmente um shopping de dois andares da babylândia.
— Estou completamente perdida. — Rebecca agarrou meu
braço. — Como uma criança tão pequena precisa de tantas coisas?
— Ela conferiu a lista de duas páginas.
— Vamos seguir os itens na lista através das placas dos
corredores.
— Por que não vamos para os itens maiores como os
mobiliários? Se eles tiverem de pronta entrega, podemos pedir para
Tommy vir buscar com a caminhonete dele. — Rebecca sugeriu e
concordei, empurrando o carrinho até a parte de mobiliários.
A parte boa era que éramos do tipo indecisos.
Encontramos um berço que viraria cama, era redondo, com
rodinhas e um trocador da mesma marca.
Rebecca escolheu um tapete rosa bem claro, enquanto pegava
uns quadrinhos de bichinhos e porta-retratos, a loja informou que
conseguiria entregar no final do dia e pedi para o Alex receber.
Ficamos mais de uma hora escolhendo itens de decoração, em
seguida, pegamos a cadeirinha, o moisés. Passamos o dia inteiro,
comprando roupas, fraldas, acessórios e um carrinho não foi o
suficiente.
Esse era o maior problema de não ter nada. Nós
precisávamos de absolutamente tudo.
Alex recebeu o berço e chamou um montador, naquele
momento estávamos correndo contra o tempo. Encontramos uma
espécie de berço que acopla na cama e não pensamos duas vezes
antes de comprar, ela ainda caberia nele por algum tempo e ficar
bem próxima de nós.
Quatro carrinhos mais tarde, nós parecíamos ter a lista e
mais um pouco. Como as fraldas ali estavam mais baratas, nós
aproveitamos a promoção. Rebecca ainda estava presa nas roupas,
meias, toalhas e enquanto ela ficava nisso, peguei brinquedos,
mordedores e quando fomos para o caixa, o gerente chegou a ficar
próximo e ajudando a empacotar.
Levamos tudo para nossa casa e ainda tínhamos uma horinha
para voltar para o hospital. Com Alex e o montador no quarto dela,
pendurei os quadrinhos na parede, deixei as prateleiras para
decoração.
— Vocês podem ir, nós vamos cuidar de tudo. — Alex
garantiu. — As crianças estão com minha mãe e a noite a casa vai
estar cheia. Sua mãe está vindo, vamos deixar o quartinho dela pelo
menos ajeitado para sua primeira noite.
— Minha irmã está vindo para ajudar, obrigado.
— Eu sou um vovô!
— Marco! — Rebecca gritou da sala. — Está na hora, vamos!
Ela desceu para fazer uma lavagem rápida e secagem em uma
manta, gorro, meias e luvas. Instalei a cadeirinha no carro e prendi
o moisés, testei duas vezes que estava bem firme e no momento
que estava saindo da garagem, minha mãe, meus tios e irmãs
entraram no quintal com seus carros.
Acenamos e voltamos para o hospital, encontrando a
Blake com a Emma na poltrona.
— Ela ficou tão bem hoje! — Blake comemorou.
— Acabou de acordar?
— Sim, chorou um pouquinho e agora está bem.
Rebecca quase me atropelou para pegar a Emma. Ela tirou a
fila, porque iria pegá-la.
— A mamãe voltou. Você foi uma boa menina para a vovó?
A Enfermeira Jackie entrou no quarto.
— Papelada da alta e o Dr. Fischer vai vir aqui conversar com
vocês. — Entregou a prancheta com os papéis. — Podem prepará-
la para ir embora e arrumar as coisinhas.
Abri a mala de rodinhas que trouxe, guardando as roupinhas
dela e a Blake escolheu uma nova roupa, separei a manta, os
sapatinhos, luvas e gorro na cama, uma nova fralda e pomadas. Nós
compramos uma bolsa de couro preta com um ursinho rosa
bordado.
Terminei de arrumar a bolsa conforme Blake me orientava,
guardando a mala e observei a Rebecca trocá-la com calma.
Li os papéis que foram deixados e assinei a alta da minha
filha. Não podia acreditar que finalmente estava levando-a para
casa.
— Olha que princesa linda! — Dr. Fischer entrou na sala. —
Estou liberando, mas quero vê-la semana que vem no meu
consultório. Vamos acompanhá-la por enquanto, está bem?
— Está ótimo, obrigada. — Rebecca embalou a Emma com
habilidade. — Viu, amor? Vamos para casa. Vovô está arrumando
seu quartinho e por enquanto vai dormir com o papai e a mamãe.
— Obrigado, Dr. Fischer. — Apertei sua mão bem firme.
Dei uma olhada no quarto para ver se não estava nada para
trás, peguei ambas as bolsas e saímos do quarto nos deparando com
a equipe médica inteira ali para se despedir dela. Todos queriam
dar uma olhadinha no bebê milagre e dar adeus.
Comprei cestas de frutas e chocolates para equipe, em
especial para Dr. Fischer e a Enfermeira Jackie.
Sair daquele lugar era incrível.
Aplaudiram quando entramos no elevador, porque não
queriam assustar a Emma. A equipe estava muito feliz pelo sucesso
de uma paciente. Blake apertou o botão do elevador para o térreo.
No estacionamento, ela foi para seu carro e Rebecca colocou a
Emma na cadeirinha.
Imediatamente começou a chorar.
— Mamãe está aqui, amor. Fique calma, o papai não pode
dirigir se você ficar no colo. — Rebecca a acalmou. Coloquei a
mala atrás e a bolsa da bebê no banco da frente junto com a bolsa
Rebecca. Emma continuou chorando. — Aqui... Que tal sentir a
mãozinha da mamãe?
Ajustei meu retrovisor e olhei para Rebecca totalmente focada
na Emma. Ela ergueu o olhar e me deu o sorriso que me apaixonei.
Podia lembrar de um jeito bem clichê, em câmera lenta, ela saindo
o elevador ao lado da Blake, com o cabelo jogado de lado, um sexy
vestido preto e um sorrisão nos lábios, batendo palmas e
implicando com sua mãe sobre os executivos que estavam olhando-
as no elevador.
Nunca iria imaginar que aquela mulher linda era a filha da
Blake. A pessoa que fiz questão de irritar porque me recusei
acreditar que estava atraído por ela. Não podia sequer aceitar estar
interessado. Sentado no escuro, me senti um pervertido olhando-a
se despir, descer os degraus e na escuridão, mergulhar na piscina.
Estava hipnotizado, tomado... Entregue.
Estava errado por não me pronunciar e avisar que ela não
estava sozinha, quando fiz, ela sequer me ouviu e então fiquei
chateado que estivesse sendo tão imprudente.
— Vamos para casa?
— Vamos. Estamos prontas. — Rebecca continuou sorrindo.
Estava levando minha esposa e filha para casa.
Nunca dirigi com tanta calma, consciente do trânsito e atento
a todos os detalhes. Quando entrei no meu quintal, admirei minha
casa mais uma vez. Toda vez que entrava na minha nova rua,
olhava as casas com paixão e ligava a seta para entrar na minha
casa. Uma linda casa de cinco quartos que tinha uma pequena rua
de pedras, vagas para visitantes e uma garagem para dois carros
grandes.
Gostava da parede de mármore, a porta muito alta, as janelas
grandes, a chaminé de pedras e o jardim ornado por toda casa.
Ficava parado e pensando, caramba, comprei aquela casa com meu
dinheiro, fruto do meu trabalho, para viver com minha esposa e
filha.
E com espaço o suficiente para mais filhos.
Cresci vivendo em cima de um restaurante. Ao longo dos
anos, meus pais foram prosperando, nós nos mudamos para uma
boa casa, mesmo assim, era tudo muito desorganizado. Quando fui
para marinha, deixei a ideia de ter a minha própria casa de lado
porque não estava vivendo no país e nem tinha ninguém para
compartilhar uma casa.
Estacionei na garagem, dando a volta rapidamente para
ajudar Rebecca a sair com Emma no moisés e peguei as bolsas.
— Olha só quem chegou!
A minha cozinha estava cheia, mas eu achei realmente
estranho que minha família não avançou de uma vez em cima de
nós. Rebecca colocou o moisés em cima da ilha da cozinha e a
família se agrupou ao redor.
Tio Benny me abraçou emocionado e sorri.
— Ela deve estar quase com fome... — Rebecca tirou a manta
porque estava quentinho dentro de casa.
— Vamos terminar nosso imenso jantar de ação de graças. —
Blake voltou a comandar a cozinha.
Subi para o quartinho da Emma, estava limpo e arrumado.
Rebecca colocou Emma no berço, olhamos em seu quarto e
enquanto ainda estava calma, coloquei as roupas do hospital para
lavar e Rebecca terminou de arrumar o quarto. A minha cozinha
estava uma bagunça, meus tios falando, nossas mães cozinhando,
minha irmã arrumando o quintal com meu sogro e eu lavando
roupas de bebês para colocar na secadora.
Rebecca ficou arrumando o quarto com os itens que
compramos e fiz umas cinco lavadas de roupas, colocando para
secar e dobrando até o último minuto possível. Tomei banho e me
arrumei, recebi alguns familiares, acendemos as fogueiras e ajudei
a terminar de arrumar as mesas.
Não demorou muito para a família estar no quintal, barris
de vinho, comidas espalhadas e eu subi para verificar minha
esposa.
— Ela dormiu e eu vim tomar banho. — Rebecca estava nua
no banheiro. — Mamou 150ml direto, troquei sua fralda, a roupa e
dormiu de chupeta.
— Está exausta, não é? — Abracei-a apertado.
— Muito... Eles estão aqui por nós, porque nos amam e se eu
cochilar na mesa, me cutuque e me acorde. Não vou beber ou eu
vou cair dura de sono. — Abriu o chuveiro para a água esquentar.
— Vou descer com a babá eletrônica e dar atenção a nossa
família. — Beijei seus lábios. — Eu te amo, mulher gostosa.
— Essa mulher gostosa está fedendo a leite. — Sorriu e me
empurrou. — Te amo também. Agora vai lá, já desço, prometo.
Quando desci, me sentei um pouco, sentindo cansaço e ao
mesmo tempo muita gratidão. Rebecca desceu meia hora depois,
com o cabelo molhado, maquiada e usando um vestido vinho, de
bolinhas brancas, de manga longa, até os pés, de sapatos pretos e
sentou-se ao meu lado, já ligando a câmera para olhar a Emma
dormindo.
— Esse ano nós temos muito que agradecer. — Cochichou e
deitou a cabeça no meu ombro. — Definitivamente o melhor ano
da minha vida: nosso casamento e nossa filha. — Beijou minha
bochecha.
— Minha vida ficou melhor quando você chegou e sou muito
grato desde então.
Rebecca me deu o mesmo sorriso lindo, emocionado,
apaixonado e fiquei mais uma vez maravilhado. Aquele sorriso era
o meu combustível para viver melhor.
Rebecca.

— Ela dormiu? — Entrei no quarto devagar e ri. Marco estava


quase dormindo e se assustou com minha pergunta mesmo que
muito baixinha. Emma estava no berço acoplado, com a mão na
boca e mexendo as perninhas.
— Emma odeia dormir. — Marco murmurou sonolento.
Tirei minha roupa, joguei no cesto de roupa suja e ele
assobiou, entrei no banheiro louca para um banho quente e me
aquecer. Liguei o chuveiro só do lado quente, me enfiando dentro e
lavei meu cabelo. Mesmo frio, estava necessitada, não lavava desde
a noite de ação de graças e estava uma mistura de baba, leite, suor
de noites não dormidas e precisava de um momento para ficar
sozinha.
Ser mãe de um bebê de três meses era literalmente o maior
desafio da minha vida. Estávamos em casa há poucos dias, Emma
dormia pouco, ainda estávamos lutando que ela bebesse mais e não
tantas vezes, então, o Dr. Fischer pediu para trocarmos a fórmula.
Apenas hoje ela mamou tanto quanto uma criança da sua idade
mama e foi uma alegria.
Vesti uma camisola, passei creme hidratante e engatinhei na
cama para me deitar em cima do Marco. Ele passou o dia inteiro
com a Emma enquanto precisei sair para minha última reunião do
ano sobre meu livro.
Música finalizada, trailer gravado, faltava editar e começar
todo trabalho de marketing para as feiras de livros no meio
semestre do ano que vem. Estava ansiosa, preocupada e morrendo
de medo de que minha queda fosse grande porque meu agente
queria algo tão pomposo que sabia que não era exatamente pelo
meu potencial e sim por ser uma Silverstone.
Marco me abraçou apertado por um tempo, ficamos apenas
juntinhos e observando-a divertir-se sozinha no seu cantinho. Ouvi
as patinhas da Leona e ela estava amando a nova casa, a escada era
menos íngreme e escorregadia, ela subia e descia o tempo todo.
Entrou no quarto saltitando e subiu no sofazinho, o lugarzinho que
amava dormir.
Depois de várias semanas com meus pais, ela finalmente
foi devolvida – as crianças não queriam devolvê-la, mas não ia
deixar minha filha mais velha com eles nem por todo choro do
mundo.
— Ela é tão linda. — Era impossível não me apaixonar ainda
mais a cada segundo. Emma era perfeita. — Foi muito trabalhoso?
— Não muito, segui o conselho da minha mãe e dormi sempre
que ela dormiu. Estou menos cansado... Mas já é nove da noite e
ela parece não estar inclinada a dormir.
— Trouxe filé com fritas para você, estava uma delícia.
— Esposa incrível...
Peguei Emma e beijei sua barriguinha, descendo a escada com
ela no colo e sentindo Marco tão perto que se eu caísse, seria em
cima dele.
— O que foi isso?
— Não quero que desça essa escada com sono... Quando eu
não estiver em casa, suba com a mamadeira bem quente, quando
ela acordar, vai estar morna do jeito que gosta.
Olhei-o desembalar o jantar que trouxe da rua e pegar um
prato.
— O papai tá ficando paranoico. — Cantarolei para Emma e
ignorei-o.
— Você pode escorregar com ela ou sozinha, os dois cenários
são ruins.
— O que deu em você hoje?
— Só estou cuidando de vocês. — Me deu um sorriso e
começou a comer.
Beijei a cabecinha da Emma, olhando-o desconfiada e
começamos a conversar sobre a minha reunião. Estava oficialmente
de licença maternidade até fevereiro, iria me dedicar integralmente
a cuidar da minha filha.
Rosa pediu para se aposentar e nós decidimos não manter
ninguém fixo em casa, porque não sentia que havia necessidade.
Fechamos um pacote com uma empresa de limpeza e o restante
seria por nossa conta, se não desse certo, veríamos alguém.
O tempo que ficaria sem focar no livro, decidi alinhar meus
outros projetos, se conseguisse. Não queria colocar muita pressão
em mim mesma e aproveitar a benção de ter apoio para ficar um
tempo com a Emma.
Marco terminou de comer e eu ainda senti que estava estranho
durante aquela semana e a outra inteira. Ele não estava me
contando o que estava incomodando, continuava carinhoso,
apaixonado, dividindo integralmente os cuidados da Emma – ele
era o melhor da madrugada, mas eu me preocupava com sua
privação de sono.
Reservei um final de semana inteiro para ser apenas nós –
dormindo, comendo e descansando. E nos reconectando como das
porque andávamos cansados demais.
Para não ter que sair, decidi fazer umas comprinhas básicas de
coisas que gostamos de comer. Ainda teríamos que fazer compras
de natal, já que esse ano passaremos com nossas famílias na nossa
casa. Apenas meus pais, meus irmãos, minha avó Catherine, a mãe
e irmã dele. No dia vinte e cinco decidimos ficar em casa, abrir
presentes com meus irmãos e a Emma.
Decoramos a casa com luzes natalinas lindas, uma nova
árvore e enfeites com fotos da Emma porque eu era aquele tipo de
mãe.
Arrumei a Emma toda empacotada. Ela detestava o gorro, mas
era preciso e ignorei seu choro. Coloquei-a na cadeirinha no banco
de trás, mantive meus olhos nela chorando e na rua, dirigindo pelas
ruas de dentro do bairro até o mercado mais próximo. Por estar
olhando muito para o retrovisor, reparei que havia um carro atrás
de mim e ele entrou no mercado também. Poderia ser um vizinho,
como não poderia.
Coloquei Emma dentro do carro no bebê conforto, tirei seu
gorro no mercado e ela parou de chorar, chegando a me dar um
beicinho magoado. O gorro não a machucava, era macio, ela só não
gostava. Empurrei o carrinho, colocando alguns queijos, presunto
de parma, um saco de batata frita e quando peguei um pacote de
carne, olhando, minha visão periférica capturou um homem grande,
de camisa preta, calça jeans, também fingindo olhar as coisas.
Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para o Marco.
“Você está estranho, mas não me falar que colocou um dos
seus grandalhões na minha cola é demais. O que está havendo?”.
— Oi, Frank. Diga ao Marco que estou bem. — Passei pelo
grandão que ficou vermelho. — Como vai a sua esposa?
— Está bem, senhora. — Me deu um aceno.
Peguei um frango e coloquei junto com a carne no carrinho,
daria para fazer fritinho para comer com fondue de queijo. Emma
estava me olhando e sorri, ela moveu a boquinha, com um sorriso
lindo e bateu as pernas. Estava feliz com seu ganho de peso. Sua
primeira consulta após internação foi cheia de elogios... Para quem
não queria mamar, agora ela era o bebê gulosinho, porque não
podia ver a mamadeira.
— Mamãe já está terminando.
— Rebecca Silverstone Moretti! — Elena virou o corredor e
gritou. — Cadê a lindinha da titia?
— O que você está fazendo aqui, maluca? — Abracei-a
apertado.
— Minha mãe pediu para comprar umas coisinhas, te vi
passar no corredor de biscoitos. — Elena me respondeu sem
desviar os olhos da Emma. Pegou no pezinho dela coberto com um
sapatinho de tecido e arrulhou. — Você casada e mãe, que
loucura!
— Não é? Engraçado e eu amo tudo isso. Não sabia que
estava na sua mãe, podia ter ido lá me ver. Seu padrasto melhorou?
— E já quer ir esquiar de novo, acredita? Não aguento aqueles
dois.
Elena e eu fizemos nossas compras juntas e eu esqueci de
pegar meu telefone, no caixa, ao terminar de pagar, coloquei as
compras para sairmos e ia dar uma carona a Elena, que não sabia
dirigir. Até brinquei que o que gastava de táxi, já tinha quatro
carros na garagem.
Nós conversamos no caminho e eu fiquei feliz de conversar
com uma amiga. Ela foi atrás para Emma não sentir-se sozinha e
mesmo assim minha filha fez a gentileza de continuar chorando.
Nós descarregamos o carro e ela prometeu vir almoçar comigo na
segunda-feira, quando Marco estivesse no trabalho.
— Eu vou para casa e, me liga se precisar de mim. — Elena
me deu um beijo na bochecha e foi andando para sua casa.
Coloquei Emma no bebê conforto que se mexia e tocava uma
musiquinha, devolvi o do carro e ao voltar, morri de fofura ao ver
Leona deitada ao lado, com a cabecinha entre as pernas da Emma.
Enquanto minha filha estava calma, aproveitei para adiantar meu
jantar romântico.
— Você está com fome agora? — Falei com a Emma. Ela se
mexeu, chupando a mãozinha e sorri, começando a preparar sua
mamadeira.
Peguei-a e me acomodei no sofá, com minha fiel Leona
deitada ao meu lado. Emma bateu com o pé na cabeça da Leona,
pensei que fosse morder, mas a minha filha canina simplesmente
mudou de posição.
Acariciei sua cabecinha rapidamente e voltei a apoiar a
mamadeira. Logo que ela terminou, deixei a mamadeira na cozinha
e subi com ela para seu quarto, trocando de roupa, a fralda e a fiz
dormir na cadeira de balanço. Leona apareceu bocejando, toda se
esticando e se enroscou aos meus pés. Deixei as duas dormindo no
quartinho da Emma...
Leona aceitou a irmãzinha tão bem.
Antes de vir para casa, demos a ela diversas roupinhas usadas
da Emma para cheirar, ela dormiu junto das roupas e quando
chegou, ficou um pouco ciumenta com Marco e passou. Ela sobe
na cama quando estou com a Emma e não faz nada, dorme junto e
uma vez até lambeu os pés da Emma que chorou de susto, então a
Leona correu para o outro lado.
Com a babá eletrônica ligada, voltei a preparar o jantar, era
sexta-feira e eu queria um tempo sozinha com meu marido.
Primeiro para arrancar a pele dele fora por colocar Frankie para me
seguir, depois iria decidir se faríamos sexo apaixonado como eu
desesperadamente precisava.
Fiquei menstruada, indisposta e nós ainda adicionamos um
bebê que detestava dormir de madrugada. Sexo era uma lembrança
do mês de novembro. Será que ele estava estranho por isso?
Nossa vida sexual era ativa, não era a primeira vez que
ficávamos mais de uma semana sem ser íntimos. Acontecia de
estarmos cansados ou simplesmente não acontecia. Fiquei
pensando, cheia de paranoias e uma ansiedade terrível dominando a
minha cabeça. Será que ele sentia falta do começo intensamente
sexual?
— Chega de ser maluca, Rebecca! — Briguei comigo mesma
e bati a porta da geladeira. Marco passou pela porta da cozinha e
arqueou a sobrancelha. — O que deu em você?
— Eu te amo? — Fez uma careta. — Muito brava?
— Depende. Por que o Frankie está me seguindo? —
Coloquei minhas mãos na cintura. Marco mordeu o lábio e ele
ficava sexy daquele jeito. — Não faça essa cara de homem gostoso,
agora estou brigando com você.
— Cara de homem gostoso? — Marco riu e continuei séria.
— Olha... Tudo mudou. Eu já vivia em um estado de alerta e
preocupação quando era apenas nós... Com a Emma é tudo mais
intenso. Fico no trabalho preocupado com vocês... Não sabe
quantas paranoias surgem na minha cabeça por minuto. — Chegou
mais perto e me abraçou. — Aí eu pensei em todas as coisas que
poderia acontecer com vocês em casa, ao precisar sair e ao... —
Coloquei minha mão na sua boca.
— E eu sou a pessoa paranoica.
— Está me contaminando. — Beijei seus lábios e o abracei.
— Não quero um guarda-costas... Emma e eu ficaremos bem.
— Ficamos abraçados por um tempo. — Estou preparando um
fondue de queijo, com carne, frango e alguns presuntinhos. Vou
assar as torradinhas e pegar o vinho, sobe, tome um banho e desça
aqui que temos um encontro.
— Um encontro sexy e quente? — Apertou minha bunda e
beijou meu pescoço, me agarrando de um jeitinho gostoso, me
pressionou contra o balcão e enfiando a mão na minha nuca, beijou
minha boca. Senti falta daquele beijo tão impressionante e ele me
pegou firme, colocando no balcão, tirando minha blusa e meu sutiã
numa puxada só. — Acho que nosso encontro vai começar agora
mesmo.
— Por favor, não pare. — Tirei a blusa dele, abri o cinto, a
calça e ela caiu no chão. Marco se afastou o suficiente para puxar
minha calça e meias, levando minha calcinha junto. E se dedicou a
me deixar pronta para recebê-lo. — Nós vamos conversar depois.
— Você pode falar montando em mim. Deus, como senti sua
falta! — Marco gemeu e empurrou dentro. Sim... Como senti falta
dele. — Tão gostosa... Toda minha.
Nós namoramos na cozinha e quase derrubamos as taças na
ilha, caindo no chão no final e rimos como dois idiotas.
— Ah, o quão bom é ficarmos juntos assim mesmo no chão da
cozinha? — Deitei minha cabeça em seu peito. — Sei que foi tudo
muito rápido, que a Emma caiu de paraquedas na nossa vida e ela
só nos foi dada porque o Juiz acreditava que ela morreria em pouco
tempo. Foi um casamento e uma adoção, nós ainda estamos nos
ajustando a um bebê e sei que haverá dias que nós vamos dormir
sem ajuda.
— Não estou preocupado ou chateado com isso, Rebecca.
Amo a nossa vida, não me importo com tudo que foi rápido, agora
é perfeito. Sinto como se a minha vida estivesse no caminho certo...
Assim como você ficou cansada, eu também fiquei... Aquela
garotinha é uma maratona. — Marco me deu um beijo. — Vamos
tomar um banho e voltar para o nosso encontro.
Tomei banho primeiro, enquanto ele olhava a Emma que
chorou um pouco e desci imediatamente, recolhendo nossas roupas,
colocando para lavar e limpei todas as superfícies com álcool para
voltar a fazer nossa comida.
Enrolada apenas em um roupão, ouvi a Emma chorar de
novo e antes que subisse, Marco entrou no quarto, trocou a fralda
dela e não demorou muito para minha pequena aparecer de
camisetinha, fralda, meias e os cabelos para o alto no colo do papai
que ela adorava.
Emma dava uns lindos sorrisos para o Marco que me deixava
ainda mais apaixonada. Vê-la no colo dele me deixava louca e com
os ovários explodindo.
Ele sentou-se no banquinho do outro lado da ilha, com ela
olhando para todo lado com seus olhos arregalados e puxados. Seus
cabelos eram muito lisos e muito finos, que quando dormia, sempre
ficavam em pé. Emma estava pesando cinco quilos, apenas um
abaixo da média esperada e estava certa de que em pouco tempo
iria acompanhar as crianças da sua faixa-etária.
Nós observamos que em casa, ela estava brincando com as
mãos, sorrindo e quando brincamos, com ela gritava, sorria e
sacudia as pernas. Marco deu a ela um brinquedinho, incentivando
a segurar e enquanto derretia o queijo, observei Emma se esforçar
muito para conseguir. Ela pegou e nós evitamos gritar, mas
comemoramos, o que a fez sorrir e babar muito.
Marco pegou um paninho e secou a boca dela, rindo.
Terminei de derreter o queijo, arrumei tudo na sala mesmo,
usando a mesinha do centro e nos sentamos nas almofadas no chão.
Marco pegou o bebê conforto eletrônico, deixou desligado mesmo,
colocando a Emma com seu brinquedinho. Liguei a televisão em
um canal de músicas, deixando baixo e nós comemos com nossa
pequena muito interessada em nós, na televisão, no próprio pé e nas
mãos.
Por um tempo na minha vida, pensei que jamais fosse viver
aquele momento. A minha própria casa, meu marido e minha filha.
Era a realização de um sonho que pensei ser impossível, porque
não acreditava mais em mim mesma e na minha própria vida.
Toda turbulência que passei após a Ruth me fez mais
fraca, me levou a um caos e eu estava perdida. Estava ferida. E
então... Tudo se fez novo. A Ruth merecia ter uma vida boa como a
minha. Merecia ter um bom marido, alguém que a amasse por ser
quem ela era e que ela se amasse acima de qualquer coisa.
Esperava que onde quer que ela tivesse, me perdoasse porque
já tinha perdoado todas as coisas loucas e confusas que envolveram
a sua morte. Nós merecíamos mais e não enxergamos naquele
momento. Sempre iria lamentar pela decisão que tomou de tirar sua
vida, ia sentir sua falta todos os dias, mas estava feliz em viver
minha vida. Completamente e loucamente cheia de alegria por ter
uma boa vida para viver.
Estava incrivelmente apaixonada pela deliciosa experiência
que era viver.
Rebecca.
— Oi, Rebecca. — Kauana entrou na minha cozinha usando
um vestido azul marinho e o cabelo todo em pé. — Pode pentear
meu cabelo, por favor? — Esticou a mãozinha com uma escova. —
O papai faz todas as tranças tortas e eu quero uma trança holandesa
como a mamãe faz.
— É mesmo? O papai tentou pentear seu cabelo hoje?
— Nada estava bom para a pequena rainha da exigência. —
Meu pai passou pela porta carregando um peru enorme. — Trouxe
para assar aqui.
— Meu forno está ocupado... Perai, vou arrumar o cabelo
dela.
— Dou meu jeito aqui na cozinha. Cadê minha neta?
— Está dormindo com o pai... Ela realmente fez a festa da
madrugada essa noite. Dormiu das 19h à 00h sem pausa e depois só
dormiu às 3h, acordou as 6h e voltou a dormir às 9h. Marco ficou
com ela porque eu só me levantei para as mamadas. — Peguei a
escova e levei Kauana para o banheiro para fazer seu cabelo.
Cada vez que ela chamava meus pais de papai e mamãe
derretia por dentro. Eles começaram sozinhos, após a volta de uma
das sessões da psicóloga e agora que a guarda era definitiva, minha
família estava completa.
— Graças a Deus, estou linda.
Kauana respirou aliviada de um jeito engraçado olhando-
se no espelho. Ela era muito vaidosa e dramática, era engraçado
que meu pai ficava completamente maluco com as exigências dela.
Sempre um batom novo, uma maquiagem, a primeira vez que
tomei conta dela na minha própria casa e ao tomar banho, ela
mexeu em todas as minhas maquiagens, mastigando meus batons e
enfiando seus dedinhos pequenos nas minhas sombras.
Aprendi a lição e meu closet era uma área proibida.
Eu tinha que me preparar para o momento que a Emma
chegasse a essa idade. Ela parecia ser uma criança brincalhona,
adorava rir e sacudir as pernas. Eu amava cada movimento seu,
cada risada, cada chorinho, porque ela sobreviveu, lutou e venceu.
A fundação que cuidava dela veio vê-la duas vezes e a Scout
também. Voltei para cozinha após ligar a televisão e deixar a
Kauana na sala com uma boneca.
Meu pai estava descascando batatas e olhando algo no
fogo. Fiquei na soleira da porta refletindo o quanto meus irmãos
mudaram a sua vida. Claro que sua agitação ainda irritava a família
inteira, era natal e ele estava liberado ser o rei da organização.
Tanto que estava fazendo o purê, cozinhando cenouras, assando um
bolo de carne para colocar o peru no forno.
Minha mãe passou pela porta dos fundos com os braços
cheios de presentes e Kaleo estava ao seu lado, quieto, até que a
Kauana apareceu na cozinha tripudiando que ela podia assistir
televisão e ele não, porque estava de castigo. Kaleo sentou-se no
canto com um boneco e cruzou os braços emburrado.
— Só mais meia-hora. — Blake sussurrou para meu pai.
— Tudo bem. — Meu pai deu um beijo nela e sorriram.
Não falei nada, apenas peguei as vagens e comecei a lavar
sem me meter na educação dos meus irmãos porque eu era a pessoa
que os estragava completamente. Sorvete depois do café, pizza no
jantar e televisão por mais de duas horas quando meus pais não
estavam por perto. Eles bagunçavam comigo, pulavam na cama,
faziam guerra de travesseiro e nós só mobiliamos os quartos para
que eles pudessem dormir na minha casa, mas no final, eles
dormiam conosco na cama e a Emma no seu bercinho em anexo.
Marco acordava chutado e esmagado.
E em pensar no meu marido, ele apareceu na cozinha com
o rosto todo amassado de sono e uma Emma chorando
copiosamente no seu colo. Ela estava limpa, apenas com fome e
com o cabelo em pé.
— Papai dormiu demais e te deixou com fome? — Peguei-
a no colo e estava com cheirinho de cama, leite e o perfume do pai
dela misturado com seu próprio. Ela agarrou meu cabelo e chupou
meu queixo.
— Um bom pai não deixa a filha com fome. — Meu pai
implicou.
Marco começou a fazer a mistura da fórmula... Vê-lo
preparar a mamadeira, ficar com a Emma e fazê-la dormir era tão
sexy. Emma já estava usando uma mamadeira maior e com
dobrinhas lindas em apenas algumas semanas em casa.
— Nunca deixei meus filhos com fome.
— Deixava a Rebecca a base de biscoitos e sucos até que
eu chegasse em casa. — Blake cutucou meu pai e ri, balançando a
Emma bastante impaciente pela sua mamadeira. Marco terminou e
ajeitei-a, ela começou a sugar com o rostinho ficando
imediatamente calmo e com a mãozinha segurando a minha. —
Tão linda mamando tanto. Olha só... Nem parece aquela criança
que mal sugava o bico.
— Agora ela morde até o dedo. — Marco beijou a
cabecinha da Emma. — Me acordou com alguns chutinhos, não
chorou, só quando falei com ela que abriu o berreiro. Ei amigo,
vamos jogar?
Kaleo saiu correndo e meus pais nem tiveram tempo para
impedir e apenas ri.
— Vocês precisam aprender a respeitar castigos! — Meu
pai ficou todo irritadinho só porque foi o Marco que levou o Kaleo.
— Essa criança vai ser mimada e sem limites. — Revirei os olhos
com a Emma mamando.
— Minha filha será uma princesa de tão educada. Nós
estragamos os seus filhos, não a minha. Eu mimo os meus irmãos, a
minha filha eu educo, assim como vocês vão estragar a Emma
porque são avós muito bobos.
Meu pai veio todo empolgado para pegá-la e Blake o
empurrou, pegando antes.
— Já estava na fila. Oi lindinha da vovó! Tão linda e tão
gostosinha, vovó te ama tanto! — Saiu com minha filha da cozinha,
lavei a mamadeira e voltei a cozinhar com meu pai.
Quando minha sogra e minha cunhada chegaram, elas
imediatamente pegaram a Emma. Meus irmãos estavam correndo
no quintal dos fundos, tão agasalhados que não sabia como
conseguiam andar.
Marco fez uma grande bola de neve e jogou no Kaleo com
força, ele caiu de cara na neve e se levantou rindo. Meu pai saiu
para colocá-los para dentro, porque não queria que ficassem
gripados. Calcei minhas botas de neve e parei na varanda, fazendo
uma bola e jogando no Marco.
Encostei na coluna, olhando-o bater na neve do casaco e
calça, andando na minha direção e com toda aquela luz branca,
seus olhos ficavam mais claros, seus cabelos estavam molhados e
apenas sorri. Ele me prensou contra coluna, me agarrando, gelado e
beijei sua boca ficando arrepiada.
Estava no período fértil e tudo que pensava era em pular
nele vinte quatro horas ao dia. Marco espiou a janela da cozinha,
sorriu e me puxou de fininho para garagem. Nós ficamos aos beijos
dentro do carro, estava no colo dele com a blusa aberta quando
Nicole bateu na janela com a Emma chorando em seu colo. Nós
começamos a rir e fechei minha blusa, abrindo a porta e saindo.
— Seus pais ficam de pegação e te deixam chorando. —
Nicole debochou.
— Nós estamos improvisando. — Sorri sem nenhuma
vergonha.
— Não estou julgando. — Nicole sorriu e ao estar em
meus braços, Emma parou de chorar. — Ela só queria você mesmo
porque está limpa e sem fome.
— Você queria a mamãe, filha?
— O papai também queria a mamãe. — Marco brincou no
banco de trás do carro e sorri, me inclinando e o beijei. — O papai
quer a mamãe o tempo todo... — Deu uma mordidinha no meu
pescoço.
— Simplesmente parem. — Nicole fez um som de vômito
e saiu de perto.
Marco e eu estamos aprendendo a lidar com o quesito
sexual com um bebê pequeno que exigia muita atenção. Emma
ainda dormia conosco na cama, eu não estava preparada para deixá-
la sozinha em seu quarto. Primeiro que ela ainda acordava bastante
e segundo que eu acordava toda hora para ver se ela estava
respirando.
Nós não fazemos sexo com ela no mesmo quarto, não
importava se ela era pequena e não entendia, isso estava fora de
cogitação. Passamos a ser criativos, então, sexo na banheira, no
outro quarto, no sofá, em qualquer lugar para não atrapalhar o sono
dela ou não haveria momento de comunhão entre papai e mamãe.
Enquanto arrumamos a ceia de natal, as avós ficaram na
sala com a Emma deitada de bruços para estimular seus
movimentos com brinquedos. Cada vez que ela chorava querendo
ficar comigo ou porque me perdia de vista, meu lado mãe idiota
ficava feliz porque significava que ela sentia amor e conforto
comigo.
Ela me via como sua mamãe.
Claro que cada vez que Marco sorria para ela, Emma se
derretia de amor e sorria de volta. A garotinha do papai lhe dava
tantos sorrisos que lindos e por enquanto, seria apenas ela. Não era
louca e não queria outro filho tão cedo.
Só de imaginar ter a Emma pequena, engravidar e ter dois
bebês pequenos de uma vez só em casa queria arrancar meus
cabelos e sair correndo. Dava muito trabalho. Ainda mais para nós
dois que não tínhamos experiência, preparo, nada. Caímos de
cabeça e estávamos usando conselhos das nossas mães, fóruns na
internet e a nossa intuição.
Uma criança pequena era cansativo.
O dia de natal foi mágico e eu iria me dedicar para que
todos os anos fossem tão incríveis quanto aquele ano. No anterior,
Marco e eu estávamos sofrendo tanto que no mês de dezembro
sequer comemoramos seu aniversário. Esse mês, não só
comemoramos, como fizemos um ensaio fotográfico caseiro.
A fotografia do Marco sorrindo para o bolo com trinta e
três velas, com uma Emma com os olhos arregalados, bolhas de
baba na boca e eu ao lado, rindo feito uma idiota que os olhos
chegavam a ficar pequenos, era a minha favorita. Representava
bem o espírito de alegria e felicidade que habitava na nossa
família.
Os meses de inverno fiquei recolhida em casa, escrevendo
um novo livro, cuidando da minha filha, metendo meu nariz no
jornal da universidade e escrevendo com artigos como freelancer
para o jornal da cidade – com um codinome. Estava fazendo uma
série de denúncias no meio estudantil e por irritar muitas pessoas,
Marco não queria que usasse meu nome e não queria prejudicar o
lançamento do meu livro.
Assim que o tempo esquentou o suficiente, coloquei um
vestidinho branco com bolinhas pretas, curto, justíssimo e arrumei
minha filha de dez meses para ir ao parque. Emma amava olhar as
crianças brincando, o sol de fim de tarde e ela sempre dormia. A
parte boa de morar em um lugar totalmente residencial era que
conseguia fazer passeios tranquilos. Amarrei a correia da Leona no
carrinho e nós três fomos andando pela calçada.
Emma evoluiu muito nos últimos meses, ela cresceu,
ganhou peso, seu cabelinho caiu, cresceu apesar das noites no qual
ficou gripadinha e febril. O inverno foi um pesadelo sair com ela de
casa, então, evitamos ao máximo. Leona soltou uns latidos roucos
para uns pássaros que voaram com a nossa aproximação e Emma
soltou uma gargalhada. Ela era tão linda e brincalhona, sempre
sorridente e com olhar gentil.
Entrei na área do parque e sentei um banco vazio, tirei
Emma do carrinho e a peguei no colo, sorrindo. Beijei sua
bochecha gordinha e ela apontou para Leona, querendo descer para
engatinhar e não deixei. Coloquei-a sentadinha no meu colo e
peguei seu leãozinho, sacudindo e imediatamente agarrou,
mordendo e babando. Mostrei seus brinquedos, ofereci água e
andei pelo parque, usando o escorrega para fazê-la rir. Filmei suas
gargalhadas e gritos.
Minha vida era infinitamente melhor com ela. No passado,
jamais imaginaria que essa menina chegaria para me fazer tão feliz.
Emma tinha disposição para brincar embora nós nos
preocupamos bastante quando ficava congestionada e ficava meio
sem ar. Nós a levamos ao médico uma vez por mês, ela não
apresentava nenhum problema no seu desenvolvimento, apenas
respiratórios. Quando ela gripou, não dormia. Ficava desesperada
vigiando sua respiração...
— Olha só que linda, oi menina. — Uma mulher estava no
banco próximo ao meu carrinho. Sentei-me no banco, dei um
sorriso para a mulher e ajeitando a Emma e peguei a mamadeira,
dando-lhe. — Katie, devagar! Oh, que linda. Não mama mais no
peito? Ou você é dessas mães que deixou o peito de lado para não
cair? Eu entendo, os meus caíram e foi um pesadelo. O que está
fazendo para perder o peso do pós-parto? Estou vendo que ainda
tem uns quilinhos para ir... Mora aqui? Algumas mães fazem
ginástica na academia da outra rua.
Olhei-a e fiquei quieta.
— Eu mesma demorei meses para voltar ao meu corpo e
só engordei cinco quilos, fui uma grávida realmente magra,
realmente bonita, mas aquela barriga... Foi um pesadelo me livrar.
Faço ioga, pilates e muita aeróbica... Vejo que você é bem cheinha
agora... Já foi magra um dia?
O que a fazia pensar que eu precisava emagrecer? Ela
estava simplesmente julgando meu corpo como de um possível
pós-parto e quem disse que queria fazer qualquer coisa? Era a
segunda vez que uma mãe aleatória me abordava com assunto de
maternidade mais como crítica do que realmente uma conversa.
Leona começou a latir, pulando fora do cestinho do
carrinho que ela ficava e olhei para ver o Marco atravessar o
parque.
— O papai chegou! — Comemorei e ao ouvir a palavra
papai, minha filha ficou em alerta. Virei-a em direção ao Marco e
ela gritou de alegria. Ele andou fazendo gracinha para fazê-la rir
ainda mais e esticar os braços.
— Hum, esse é o pai? — A mulher não tinha se tocado. —
Ela é japonesa.
Minha filha era coreana!
— Boa tarde, querida. — Dei um aceno, entreguei Emma
ao Marco que fez um monte de arrulhos e beijos. Emma chamou
atenção de todas as mães, de tanto que gritava e eu vi a reação das
demais.
Era sempre assim quando Marco estava com ela no colo e
entendia, mal conseguia sobreviver de tanto tesão.
Marco me deu um beijo nos lábios e um sorriso, peguei
Leona no colo, a bolsa da Emma e empurrei o carrinho ao lado do
meu marido conversando com a nossa filha todo bobo. Ele
estacionou o carro um pouco longe, provavelmente porque não
sabia que lado estava e andamos devagar, apreciando a paisagem, o
tempo bom e beijei o braço do meu marido.
— A mamãe resolveu colocar as pernas para jogo, você
deveria ter ligado para o papai...
Andei um pouquinho na frente e ele assobiou, abri a porta
do carona deixando minha bolsa, me inclinei só para que visse o
quanto ele podia subir atrás. Marco colocou Emma na cadeirinha e
Leona pulou do lado, na cadeirinha dela, sentando-se como a
mocinha comportada. Ela nunca foi adestrada, era só uma boa
menina.
Emma já ficava sozinha no banco de trás, com seu banco
entre nós e ao me sentar no meu lugar, Marco assumiu a direção
com a mão na minha coxa.
— Que mamãe linda e gostosa... — Brincou comigo e
Emma gritou. — Você é lindinha do papai. Que sorriso lindo,
filha...
Olhei sobre meu banco e Emma estava com o rosto todo
babado, com o sorrisão e chutou meu banco repetidamente.
— A mãe do meu lado me ofereceu aulas na academia
porque aparentemente eu tenho um peso extra do pós-parto e disse
que parei de amamentar porque meus peitos caíram. — Sorri e
segurei a mão dele. — Como foi no trabalho hoje?
— Foi tudo bem... Consegui sair mais cedo e eu pensei em
buscar minha mulher e filha para jantar. Quer ir em algum lugar
especial ou no restaurante da minha mãe?
— Podemos ir ao restaurante, sua mãe vai adorar vê-la e o
seu tio vive pedindo para ver a Emma. E eu poderia comer o menu
inteiro.
— Não esqueça do seu peso pós-parto. — Ele me
provocou e dei um soco no seu braço. Marco riu e a Emma
também, Leona rosnou porque ninguém podia encostar nele sem
que reagisse. — Esse tempo todo aprendemos que cada pessoa
reage de uma forma, principalmente na educação dos filhos e
vimos que cada mãe age de um jeito. Ela apenas deduziu e quis
fazer amizades.
Que péssima maneira!
Chegamos ao restaurante e como ainda estava vazio,
passamos para os fundos para ficarmos com a Leona a vontade.
Nicole apareceu empolgada, pegando a sobrinha e logo todos
estavam ao redor dela. Marco fez nossos pedidos e nos sentamos,
conversando e bebendo vinho.
Minha sogra serviu petiscos, pegou a neta e não soltou
mais. Estar em uma fase realmente boa com o Marco e a nossa
filha me fazia muito feliz, mas, quando o Eric e a Lexie passaram
pela porta, sorridentes, gritando que estavam grávidos, senti um
arrepio correr pela minha espinha.
E foi o mesmo arrepio quando a Ruth morreu. Um arrepio
que me avisou que a minha vida iria mudar. Estava tudo perfeito.
Então, o que poderia acontecer?
Abracei a Lexie, realmente feliz pelo seu bebê. Emma
teria um priminho para brincar! Enquanto abraçava a Lexie, vi o
olhar da Nicole e sofri só com a dor ali. Ela não voltou mais para a
sala de jantar privada e disfarcei, pedindo licença para ir ao
banheiro, andei pela lateral do restaurante e subi a escada para o
escritório.
— Oi... Você não voltou mais. — Abri a porta e ela secou
o rosto. — Ah, querida. Eu sinto muito... Mas você sabia que isso
poderia acontecer. — Sentei-me na cadeira na sua frente e peguei
suas mãos.
— Esse não é o problema. — Nicole sussurrou e secou o
rosto. — Você lembra do jantar que ofereceu na sua casa? O
último?
— Sim, é claro.
— Eric e eu conversamos lá por horas... Quando cheguei
em casa, algum tempo depois, ele apareceu lá. Estava bêbado,
briguei com ele por dirigir embriagado e dei espaço para entrar,
então, ele se sentou no meu sofá, falando da nossa adolescência...
— Nicole fixou seu olhar no chão. — Foi como ter o Eric de volta.
Nós falamos por horas e ele voltou a beber. Eu sei que eu tinha que
mandá-lo embora, colocar em táxi e acabar com aquilo. Não
consegui e aproveitei a situação... Nós nos beijamos e...
— Nicole!
— Aconteceu no sofá mesmo... Ele acordou depois de
mim, nem lembrava como foi parar lá, ficou nervoso e me
implorou para não falar. Não lembrava mesmo. Olhei em seus
olhos e ele simplesmente não lembrava... — Nicole voltou a chorar
compulsivamente. — Tentei conversar com ele e não lembrava.
Deixei de lado porque era melhor daquele jeito, fingir que aquela
noite nunca aconteceu e... — Ela abriu a gaveta e tirou um
envelope bem amassado, me entregando. — Estou fodida, Rebecca.
Abri e tirei a folha.
— Puta que pariu! Você está grávida! — Nicole tapou
minha boca. — Meu Deus, e agora?
— E agora? A esposa dele está grávida, ele é casado e o
que aconteceu foi errado. Eu errei porque estava sóbria. A culpa é
minha, fodi tudo porque não consigo superá-lo e agora... Ele não
pode saber. Ninguém pode saber por que isso vai rachar nossa
família inteira, vai destruir o casamento dele e ela está grávida.
— O que você vai fazer?
— Não sei... Mas vou ter o bebê. Não posso sequer pensar
na ideia...
— Não sei o que te dizer, mas seu irmão precisa saber, ele
vai te ajudar.
— Vai acabar com a amizade e o trabalho deles... Eric é
padrinho da sua filha. Não pode contar a ninguém, Rebecca.
— Não posso esconder isso do meu marido, eu nunca
menti para ele, nós não temos segredos. — Gaguejei nervosa e sem
ter ideia sobre o que pensar.
— Sinto muito, mas você não pode contar ou vai destruir
tudo. — Nicole se afastou. — Não conte ou tudo que acontecer
será sua culpa.
Minha vida estava perfeita demais.
Marco.

Saltei na cama, assustado com algum sonho que


provavelmente estava caindo e olhei ao redor. O quarto estava
escuro e estava sozinho. Joguei a coberta de lado, vestindo minha
calça do pijama sem cueca mesmo e me perguntei onde estava
minha mulher. Empurrei a porta do quarto da Emma e minha filha
estava dormindo pacificamente em seu berço, Leona na poltrona e
nada da Rebecca. Olhei nos outros quartos, desci a escada devagar
e ouvi sua voz.
— Passei as últimas semanas me sentindo mal, realmente
pesada por guardar esse segredo, mas... Decidi contar para o seu
irmão. Você pode me odiar, pode continuar me xingando dizendo
que sou egoísta porque tenho a vida perfeita. Eu te amo, Nicole.
Sempre vou amar, no passado ignorei alguém que precisava de
ajuda por não ter prestado atenção e agora que tenho outra pessoa
que precisa, não vou ignorar. Não posso te ajudar sozinha. Eu e o
seu irmão iremos te ajudar. Nós somos a sua família e nós te
amamos... Se você quiser contar antes de mim, vou contar a ele
depois da minha festa de lançamento... Sinto por ser assim. Todos
merecem honestidade nessa história, mesmo que doa, não será
minha culpa. Não vou aceitar que me acuse de algo que não tive
participação. Não vou te deixar sozinha nessa... Beijos.
Rebecca estava falando ao telefone, suspirou e apoiou o
aparelho na bancada. Voltei para o quarto, pensando no que
poderia estar escondendo de mim. Nós nunca escondemos algo do
outro. Era uma das coisas de que me orgulhava no nosso
relacionamento. Não existia segredos. Nós éramos os melhores
amigos do outro.
Voltei para cama, me cobri e fechei os olhos ao ouvi-la
retornar para o quarto, deitando-se do seu lado da cama e
imediatamente me abraçou apertado.
O que a minha irmã estava fazendo Rebecca esconder de
mim? A cabeça dela deveria estar uma bagunça. Rebecca não sabia
lidar com segredos e culpas, ela costumava ficar confusa e com
medo de magoar quem está ao seu redor.
— O que está acontecendo? — Perguntei na escuridão do
quarto. Rebecca suspirou e me apertou ainda mais e segurei sua
mão. — Você foi ao médico duas vezes esse mês. Está doente?
Está grávida? Minha irmã está te pedindo segredo e te chamando
de egoísta por quê?
Rebecca suspirou.
— Ah, Marco. Você me ouviu?
— Senti sua falta na cama e fui te procurar. Amor, o que
houve?
— Sua irmã me colocou numa teia de aranha problemática.
Estou preocupada e não posso guardar esse segredo, pelo menos
não de você. Tenho implorado para ser razoável. Entendo que ela
não consegue... Agora está me acusando de ser egoísta porque
tenho um marido lindo e uma filha perfeita. — Rebecca sentou-se
na cama. — Disse que ia te contar depois, só não aguento mais e
ela está com uma ideia maluca de ir embora, sumir e não deixar
rastros. Ela é sua irmã, sabe como desaparecer porque
aparentemente, você disse a ela como.
Me sentei na cama e virei para Rebecca entendendo a sua
preocupação. Nicole era impulsiva, dada a ações bem intensas e
sabia que suas ameaças nem sempre eram vazias.
— Por favor, entenda que ela precisa de ajuda e nós não
podemos causar o caos na família. Temos que ir com calma... —
Encarei a Rebecca bem sério. Não estava gostando daquilo. —
Nicole está grávida.
Imediatamente fiquei calmo.
— Ela é adulta, pelo amor de Deus! E um bebê é uma benção,
se ela está com medo, irei ajudá-la! É claro que irei! Linda, você
me conhece.
— Não é só isso... Nicole está esperando um filho do Eric. Ela
está grávida apenas uma semana a menos que a Lexie. — Rebecca
mordeu o lábio e saí da cama tão rápido que derrubei meu
despertador no chão. — Não grita, não acorda a Emma! — Tapou
minha boca desesperada para nossa filha continuar dormindo.
Respirei fundo algumas vezes e lentamente tirou a mão da
minha boca.
— Me explica com calma. — Pedi entredentes.
Rebecca soltou a bomba devagar, contando com detalhes que
não queria saber, mas era importante para compreender o quadro
geral. Fiquei tão chateado que ela segurou um problema daquele
semanas antes do lançamento do seu livro. Irritado que não me
contou imediatamente, chateada com a Nicole por se achar no
direito de envolver minha mulher na sua bagunça, por engravidar
de um homem casado, por dormir com ele estando sóbria e ciente,
puto com o Eric por não deixar minha irmã em paz e viver sua vida
com a Lexie que era a única vítima.
— Não quis falar nada até a Lexie chegar ao quinto mês...
Não quis que ela passasse pelo mesmo que eu. Vai sofrer muito e
fiquei com tanto medo, me sentindo tão responsável. — Rebecca
estava desolada. Ela amava a Lexie. — Não consegui olhar nos
olhos dela, mal respondo suas mensagens e estou com ódio do Eric.
Também estou muito magoada com a Nicole mesmo sabendo que
está ferida e por isso está me ferindo. E o que a Nicole fez... Ela
sabia que ele não estava consciente... Foi um...
— Você devia ter me contado... São anos de relacionamento
confiando no outro integralmente. Nós nunca... Poxa, Rebecca. —
Passei a mão no meu cabelo.
— Eu sei. Sinto muito e espero que me perdoe, não fiz de
maldade. Só fiquei perdida... Totalmente perdida. Chegou a um
ponto que a minha mente estava me sabotando de novo e fiquei
encurralada nos meus medos. O que ia fazer?
Respirei fundo e voltei para cama. Rebecca subiu em cima
de mim.
— Vou te obrigar a me perdoar.
— Não pode fazer isso. — Ainda estava chateado.
— Não tive escolha, sua irmã me envolveu nisso e como ela é
sua irmã, você tem que me perdoar. Por favor, Marco. Entenda o
meu lado... Não queria ser a portadora da notícia que vai destruir o
casamento da Lexie. — Rebecca deitou-se em mim. — Não queria
que ela se estressasse tanto ao ponto de perder o bebê. Seria uma
devastação...
— Nicole está com quantas semanas?
— Quinze... Foi na noite do último jantar que demos aqui.
Fiquei quieto, acariciando suas costas e beijei o topo da sua
cabeça.
— E eu pensando que toda sua aflição nas últimas semanas
era por causa do livro. — Abracei-a e ela ficou tensa. Hum, havia
algo mais?
— Também é! — Rebecca me surpreendeu com sua crise de
choro. — Me desculpa, não sei por que estou chorando! —
Comecei a rir e sequei seu rosto. — O lançamento virou uma bola
de neve enorme, milhares de seguidores, milhares de expectativas e
críticos correndo atrás de mim. Juntou com essa história da sua
irmã... — Suspirou e me abraçou. — Estou apavorada! E se tudo
der errado? E se for um fracasso? E se eles me compararem ao meu
pai?
— Você é talentosa e será um sucesso, isso são apenas os
seus nervos. Vai ficar tudo bem, confia em mim. E nunca mais na
sua vida esconda algo assim de mim... Esse peso não era seu para
ser carregado sozinho. Nós fizemos uma promessa na frente de um
padre, de um juiz, dos nossos pais e na frente um do outro que
compartilharemos a vida nas coisas boas e ruins. Não vamos mudar
isso, por favor.
— Eu me senti tão mal todos os dias... — Rebecca me olhou
nos olhos. — O que vamos fazer?
— Nós? Nada. Eu vou dar um prazo para Nicole contar, se ela
não fizer, eu conto e coloco os três para resolver a vida. Ela tem
que contar ao Eric que ele é o pai e ele tem que assumir a sua
responsabilidade porque a criança não tem nada a ver. Realmente
lamento pela Lexie. São três adultos... Você não é responsável pelo
fim do casamento de ninguém, nem pela ruptura de uma família e
muito menos serviu de cama para os dois.
Estava tão puto que Nicole fez a Rebecca sentir-se
responsável por isso que precisava me controlar antes de falar com
minha irmã. Ela usou do medo da Rebecca de machucar outra
pessoa para manter-se escondida, para se isentar da sua
responsabilidade e queria quebrar a cara do Eric. O que ele foi
fazer lá? Se bebeu demais, o caminho dele tinha que ser direto para
casa e não para minha irmã!
Rebecca ficou em cima de mim, sem sono e eu beijei seu rosto
em diversos lugares. Os beijos nos levaram a outra coisa mais
interessante, que adorávamos fazer e assim ela finalmente dormiu
com um sorriso nos lábios. Nós fizemos amor porque ela precisava
sentir que estávamos bem ou que ficaríamos bem. Minha chateação
iria passar, porque inevitavelmente entendia seu lado e esperava
que nunca mais repetisse.
Voltei a cochilar, ainda abraçado com ela, mas acordamos
ao ouvir Emma chamar. Minha filha era tão esperta que não
acordava e chorava, estava começando a nos chamar porque
entendia que iríamos aparecer. Várias vezes vemos pelo vídeo que
ela havia acordado, ficava brincando ou debruçada chamando a
Leona com a mãozinha para fora do berço.
Foi difícil convencer a Rebecca que a Emma estava pronta
para dormir em seu quarto. Ela ainda levantava milhares de vezes
apenas para verificar se nossa menina estava bem, respirando e a
paranoia maternal da Rebecca tinha vida própria.
Saí da cama, vesti minha roupa e fui até o quartinho dela.
Leona pulou da poltrona, se esticando, bocejando e pulou nas
minhas pernas. Abaixei e fiz um carinho na sua cabeça e peguei a
Emma, que sonolenta, me deu um sorriso preguiçoso e deitou a
cabeça no meu ombro.
Desci com ela no colo, já encontrando Rebecca enrolada
em um roupão preparando a primeira mamadeira do dia. Mais tarde
ela comeria seu café da manhã. Minha bolotinha comia bem, era
meu maior orgulho. Suas pernas e braços gordinhos eram
deliciosos e dedicava boa parte das nossas brincadeiras em fingir
que estava mordendo, para fazê-la gritar de rir.
Minha vida ficou infinitamente melhor depois que a
Emma chegou. Dormia muito menos, comia bem apenas se ela já
estivesse dormindo, trocava fraldas como um mestre e ao chegar
em casa, o sorriso das suas mulheres da minha vida me fazia sentir
o homem mais sortudo do universo.
— Vamos voltar para cama? — Rebecca estava cheia de sono
e segurando Emma, que mamava e segurava sua mamadeira,
erguendo os pés para o alto.
— Vem cá. — Abracei as duas mulheres da minha vida. —
Vamos descansar bastante porque você tem que estar bem mais
tarde. Hoje é o dia do lançamento da sua carreira.
— Eu não teria conseguido sem você. É sério... Você ficou em
casa para me dar essas semanas de trabalho... Foi incrível.
Obrigada!
— Nós somos uma família e é isso que fazemos pelo outro.
Quantas noites você me deu suporte no trabalho mesmo com a
Emma ainda muito pequena?
— Eu sei, te amo.
— Agora vou poder ler o livro?
— Só a noite... — O sorriso dela era de quem estava
aprontando algo.
— O que você fez? — Apertei sua bunda, ela saltou rindo e
Emma riu também.
— Papai é engraçadinho... Ih, alguém ainda está com sono...
— Rebecca falou baixo e olhei para Emma mamando e fechando os
olhos. — Vamos para cama porque alguém vai nos dar mais
algumas horinhas…
Mais tarde, estava com a Emma no colo, limpando sua
boquinha babada enquanto Rebecca estava fazendo a leitura do
prólogo e do primeiro capítulo do seu livro. Blake estava ao meu
lado, secando o rosto e Alex estava hipnotizado. Rebecca tinha
uma voz bonita, ela estava encantando a todos com suas palavras e
o silêncio reinava no salão cheio. Havia vários pôsteres dos livros
pelas paredes e ao seu lado no palco, uma grande foto dela
segurando um exemplar.
Seu primeiro livro era sobre um casal, que se conheceu na
Itália, se apaixonou em Ibiza, ficaram noivos em Napa e
construíram sua vida com altos e baixos. Ela mudou alguns
aspectos para primeira história, colocando nas páginas o seu amor
por mim e o quanto nós nos esforçamos para criar um
relacionamento bonito e saudável. Cada palavra que saía da sua
boca, me fazia amá-la ainda mais por ter a incrível habilidade de
escrever com tanta sensibilidade e amor.
Rebecca fechou o livro após encerrar o último capítulo e todos
ficaram de pé, aplaudindo com louvor. Emma ficou assustada,
ameaçou chorar, mas depois bateu palmas porque nós a ensinamos
para cantar parabéns em algumas semanas. Ela gritou de alegria,
sacudindo-se no meu colo e olhou para sua mãe no palco, dando
tchau. Minha esposa estava sorrindo e com os olhos cheios de
lágrimas.
Alex se aproximou para ajudá-la a descer com seus saltos
muito altos e assim que seus pais deram espaço, abracei-a bem
apertado com a Emma entre nós. Ela reclamou e puxou o cabelo da
Rebecca, querendo ir em seu colo. Beijei minha esposa, orgulhoso
e não deu tempo para mais nada. Havia muito mais pessoas
querendo falar com ela e com o cronograma apertado.
— E agora? — Rebecca perguntou ao Harry, seu agente.
— Autografar as cinquenta senhas que fornecemos e em
seguida, hora de comemorar! Pode se direcionar com seu marido
para a casa dos seus pais. — Harry olhou em seu relógio. — As
fotos com os livros serão apenas com o fotógrafo oficial, não
podem fazer selfies.
— Meus dedos estão prontos, vamos lá! — Rebecca
sorriu, me deu mais um beijo e devolveu a Emma. Foi andando
sendo abordada por várias pessoas e reparei que sua bunda ficava
muito atraente naquela calça cinza.
— A mamãe é linda. — Beijei a cabecinha da Emma, que
sorriu de volta, chamando sua mãe.
Como deduzi, Nicole não apareceu no evento. Liguei para seu
telefone umas quinhentas vezes, mas ela não me atendeu. Reparei
que Lexie apareceu sozinha, estava acariciando sua barriga e
falando com sua sogra quando me aproximei. Tia Anna pegou a
Emma, arrulhando e aproveitei que estava distraída com minha
filha para perguntar a minha assistente aonde estava seu marido.
— Ele me deixou aqui e disse que voltaria a tempo, mas
não está me atendendo. Será que aconteceu algum problema na
empresa?
Peguei meu telefone e conferi o aplicativo da empresa.
— Não que eu saiba.
Enviei uma mensagem para o Eric, querendo saber onde
estava. Ele me enviou de volta, pedindo para me afastar de quem
estivesse, porque iria me ligar. Disfarcei e pedi a Lexie para olhar a
Emma, procurando um cantinho tranquilo e parei próximo aos
banheiros.
— O que aconteceu?
— Estou fodido, cara. — Eric estava chorando. — Meu
casamento vai acabar. A Lexie nunca vai me perdoar. — Soluçou e
suspirei.
— A Nicole já te falou? — Encostei minha cabeça na
parede.
— Você sabia? — Eric gritou com sua voz de choro.
— Soube essa madrugada.
— Não lembro de nada... Nada vem a minha mente. Não
posso ter feito algo que não lembro. Sei que bebi muito naquela
noite, mesmo assim, lembraria se fizesse sexo. — Ele parecia estar
quase sem ar. — Minha mulher vai ficar devastada. Eu não fiz
isso...
— Sei que é uma situação complicada, Eric. Está no seu
direito fazer um exame de DNA, se assim sentir que é o melhor.
— A Nicole não inventaria tudo isso...
Àquela altura do campeonato já não duvidava de nada.
— Como vou contar isso a minha mulher? Ela vai me
matar. Jamais faria isso com a Lexie... Não intencionalmente, de
todo meu coração.
— Eu te mataria, mas você precisa ser honesto. Conte
logo... Vem aqui buscá-la e conte antes que ela descubra ou a
Nicole conte na sua frente.
Eric ficou alguns minutos chorando e disse que voltaria para
buscar a Lexie.
Voltei para o salão, pegando minha filha que estava chorando
e imediatamente dei-lhe atenção necessária para acalmá-la. Lexie
olhou seu telefone, dizendo que Eric estava quase chegando para
buscá-la e o sorriso em seu rosto me deixou devastado. Aproveitei
para me afastar e assistir a Rebecca autografando seus livros e
posando para fotografias.
Vê-la tão sorridente, com o fruto de muita dedicação e
trabalho nas mãos de muitas pessoas me deixava tão feliz e
orgulhoso. Rebecca merecia todo amor e reconhecimento, porque
ela era uma mulher incrível, uma mãe apaixonada e uma esposa
maravilhosa.
Emma e eu éramos muito sortudos.
Três anos depois.

— Mamãe! Meu picolé caiu no chão! — Emma chorou no


quintal, olhei pela janela da cozinha e seu picolé era uma poça azul
derretendo no chão da varanda. Seu cabelo que estava preso
minutos atrás, estava molhado e todo grudado na sua testinha. Suas
bochechas estavam vermelhas devido ao calor e porque estava
correndo com seu pai no quintal dos fundos. — Mamãe! Posso ter
outro?
— Vem aqui buscar, espertinha. — Acenei da janela. Ela
estava ganhando mais um apenas porque o seu caiu no chão. Abri o
freezer, peguei um de chiclete azul, seu sabor favorito e lhe
entreguei. Ela estava toda molhada. Curiosa sobre o que os dois
estavam aprontando no quintal, sequei minhas mãos e a segui para
fora.
Marco estava lavando o carro, era um dia atípico de muito
calor, abafado ao ponto que sabia que iria chover muito mais tarde
e meu lindo marido estava todo molhado. E molhando a nossa
filha. Só não briguei com ele com medo da Emma ficar resfriada
porque ela parecia muito feliz, chupando picolé e pulando nas
poças de água no gramado. Encostei na pilastra e suspirei.
Meu marido era tão lindo.
Sem camisa, com uma bermuda cinza, toda colada ao corpo,
esfregava o capô do carro com uma esponja cheia de espuma. Ele
me viu, abriu seu sorriso maroto e me deu uma piscadela bonita.
Emma ficou pulando sem parar e Leona estava preguiçosamente
deitada na sombra, sem se importar com a bagunça. Era muito lady
para se sujar.
O bebê mexeu e imediatamente levei a mão para minha
barriga, sentindo o local que estava chutando com muito prazer.
Nós estávamos esperando um menino, que como a minha primeira
gravidez e a Emma, não foi planejado, mas recebido com muita
alegria. Marco desconfiou primeiro, fiquei irritada, com seios
doloridos e chorando por qualquer coisa. Fizemos um teste juntos e
descobrimos que a nossa família iria aumentar.
Nós conversamos sobre filhos no último ano, pensando que
talvez devêssemos ter um bebê, mas, era só conversa na cama antes
de dormir. Nada realmente profundo ou concreto. Quando
aconteceu, mais uma vez, foi por obra do destino e o que mais
aprendi nesses últimos anos da minha vida foi a aceitar o meu
destino, mesmo que no caminho nem sempre fosse sobre coisas
boas e momentos de felicidade.
É necessário olhar para vida com amor, entender suas
adversidades, absorver, amadurecer e deixar fluir. Não sei quem
disse que viver era uma arte, complexa e intensa, mas essa pessoa
compreendeu o significado da vida.
— Rebecca! — Kauana saiu pela porta da minha cozinha. —
Oi.
— Oi, princesa.
Atrás dela, apareceram meus pais e o Kaleo.
— Vou levar os dois ao shopping para assistir um filme e
brincar no play. Posso levar a Emma? — Minha mãe se adiantou e
imediatamente abaixou, beijando minha barriga. Meu pai me deu
um beijo na bochecha, sorrindo e acariciou minha barriga também.
Ambos estavam felizes com o neto.
Na verdade, meus pais eram os melhores avós do universo
porque proporcionam a minha filha momentos incríveis. Emma
cresceria com boas lembranças e o bebê também.
— Emma! Quer ir ao shopping?
Ela imediatamente parou de pular com o rosto todo azul.
Correu em direção a mim e a segurei antes que sujasse quem já
estava pronto para sair. Avisei aos meus pais que daria um jeito na
pestinha para sair e subi com ela para dar um banho, pentear seu
cabelo e colocar uma roupa agradável. Com quatro anos, Emma
tinha energia de sobra. Raramente ficava parada e tomar banho era
uma arte quase impossível sem esforço.
Meia hora mais tarde, voltei com ela para sala pronta. Sem
sequer parecer tímida ou preocupada, foi andando de mãos dadas
com minha mãe e só olhou para trás porque gritei seu nome e me
despedi.
Emma entrou na minha vida para que pudesse entender os
verdadeiros significados de pequenas coisas no dia-a-dia. Um
simples olá, a importância de um beijo de boa noite e me levantar
no meio da noite para cobrir o pequeno serzinho que me ensinava
sobre fé, paixão, compreensão e amor todos os dias.
Ela me fazia ser uma pessoa melhor todos os dias, porque era
meu dever como mãe renascer a cada minuto para que ela possa se
tornar uma mulher forte no futuro. Com seu pai era a mesma coisa.
Marco mudou muito ao longo dos últimos anos e para melhor.
Quase seis anos juntos, com quase quatro de casados, nosso
relacionamento estava em uma fase ainda mais gostosa.
Com a gravidez, todos os nossos momentos eram preciosos
porque estávamos vivendo algo diferente. A Emma veio pronta,
passamos por toda tensão do seu desenvolvimento e cura no
hospital, após perder um bebê nos nossos primeiros meses juntos,
essa gravidez era de muito zelo e amor.
— Rebecca? — Marco me chamou do nosso quarto e com
muita preguiça, subi as escadas novamente. A louça que estava
lavando ainda estava pela metade na pia e me bateu uma vontade
de me deitar e ficar com meus pés para o alto. — Quer tomar um
banho comigo? — Ele já estava nu. — Vi a Emma saindo. —
Balançou as sobrancelhas.
— Só se for na banheira. — Falei em tom de lamento. —
Meus pés estão doendo...
— Vou cuidar de você.
Marco preparou um banho delicioso e ao invés de me excitar,
toda massagem e carinho me deu sono. Acabei dormindo,
necessitada de um cochilo poderoso e quando acordei, estava
escuro e meu marido estava ao meu lado assistindo televisão.
Estava tão baixa que não me incomodou. Tentei virar de lado, mas
com a barriga, ele precisou me ajudar a girar. A experiência da
gravidez em sua maior parte era agridoce.
Ficar enorme e sem locomoção não era exatamente a parte
mais agradável.
— Dormi muito?
— Sim. Emma já está dormindo... Seus pais comeram com as
crianças na rua, ela voltou com os pés imundos e o cabelo suado.
Dei um banho nela, ela te deu um beijo e um na barriga, dando um
beijinho no irmão. — Sorriu e esfreguei minha barriga que estava
coçando. Marco colocou a mão nela, escorregando na cama e
beijando.
Sempre soube que ele amaria a barriga porque quando a
Nicole ficou grávida, ele idolatrou a barriga dela. Mesmo com todo
caos que cercou a gestação da sua sobrinha, a linda Isabella, ele
amou cada segundo. No fim, ficou tudo bem. Não imediatamente...
Lexie não aceitou a história que o Eric não lembrava – e
honestamente, também não aceitaria, era difícil lidar com o
assunto. Ela saiu de casa e veio morar conosco, no pequeno
apartamento em cima da garagem porque eu era a sua única amiga
que não era exatamente parente dos DeLucca e dos Moretti. Jamais
a deixaria sozinha, não em um momento tão delicado. Por mais que
Nicole tenha assumido seus atos, Lexie precisou de um tempo.
Eric esteve no nascimento dos seus dois filhos, com apenas
alguns dias de diferença. Lexie deu à luz a um menino, seu nome
era Ronald e nós o chamamos de Rony. Marco e eu éramos os
padrinhos... Já Nicole deu à luz a Isabella, uma princesa lindíssima
que também era madrinha e o Marco o tio-padrinho mais orgulhoso
do universo.
A família inteira se dividiu com o caso. O que aconteceu foi
grave. A mãe do DeLucca acusou a Nicole de estupro e ela ficou
profundamente ofendida porque nem a sua mãe ou irmão a
defenderam, mas seu Tio Benny bateu no peito que ela jamais faria
algo e que o Eric estava mentindo para não perder seu casamento.
Foram agendadas umas mil reuniões de família para discutir.
As festas de todo final de semana tiveram um fim por um tempo.
Eric jurou que apesar de amar a Nicole, após conhecer a Lexie, ele
entendeu que seu amor era amizade, fraterno e a tinha com muito
carinho e consideração. Sentia falta da sua melhor amiga e por isso
tentava se manter por perto...
Eric nunca denunciou a Nicole, mas por insistência da Lexie,
eles fizeram um teste de DNA. Na minha opinião, que ninguém
perguntou, mas compartilhei com o Marco mesmo assim, o Eric
estava errado em manter-se próximo da Nicole sabendo que ela
mantinha sentimentos profundos por ele e ela... Sem palavras. No
lugar da Lexie, jamais teria aceitado que meu marido foi abusado
sexualmente e gerou uma criança.
Um filho com a melhor amiga que nunca me aceitou? Minha
mente entraria em completo parafuso. Lexie era uma pessoa
infinitamente melhor que eu, porque soube encontrar o perdão. O
casamento deles voltou às boas apenas há alguns meses.
Nicole nos surpreendeu com a sua decisão de deixar
Isabella sob os cuidados do pai e da madrasta, se mudando para
Itália e não tinha intenção de retornar. Não ia negar que julguei sua
decisão de deixar a filha para sair de perto do pai, porque não podia
imaginar um mísero segundo da minha vida sem a Emma, mas, ela
aparentava estar feliz vivendo em uma pequena cidade próxima a
Sicília.
Para falar a verdade, não sabia se a Nicole um dia amou a
ideia de ser mãe ou ao seu bebê. Às vezes cometia o deslize em
pensar que ela queria uma chance com o Eric, imaginando que ao
engravidar, ele finalmente ficaria com ela e não somente assumisse
a responsabilidade do bebê. Eric nunca deixou de dizer que amava
sua esposa e queria seu casamento de volta, atualmente, ele a Lexie
criavam as duas crianças em uma casa que compraram aqui na rua.
A amizade do Marco com Eric ficou abalada por um tempo,
nós acolhemos a Lexie, mas ele nunca deixou de dar suporte a sua
irmã. Após o nascimento das crianças, toda família voltou às boas
comemorações e a Lexie foi incrível em dizer para Nicole que
queria que os irmãos crescessem juntos e se amassem. Ela estava
disposta a passar por cima da sua dor para dar ao seu filho uma
irmã.
Emma amava brincar com seus primos e os dois eram
extremamente queridos por mim.
Meu relacionamento com a Nicole nunca mais foi o
mesmo, embora trocamos mensagens e conversamos, a amizade
ruiu. Ela sempre seria bem-vinda na minha casa, só não havia mais
intimidade.
— Estou com fome. — Cortei a conversa do Marco com o
bebê que parecia sentar-se alegremente na minha bexiga.
— Imaginei que ficaria, dormiu bastante. Ah, você está me
devendo uma lavada de louça. — Me provocou e fiz um beicinho.
— Estou grávida de oito meses do seu filho, não tenho um
desconto?
— Só por causa disso. — Sorriu, se inclinou e me deu um
beijo. — Vou buscar o seu jantar. E não... Nada de doces. —
Negou antes mesmo que pudesse pedir. Marco era mal com a regra
da comida. Minha tendência a doces foi cortada logo no começo,
fiz uma dieta bem insuportável porque a Dra. Taylor achou que
estava desenvolvendo diabetes gestacional.
Me ajeitei melhor na cama, colocando alguns travesseiros
atrás de mim e quando ele voltasse, colocaria alguns nos meus pés.
Ao contrário de todas as grávidas que conheci, não estava inchando
muito, exceto se ficasse muito tempo fazendo esforço.
Enquanto aguardava meu marido subir com minha comida,
olhei minhas redes sociais e respondi alguns comentários sobre
meu próximo livro a ser lançado. Desde que uma plataforma de
streaming escolheu minha trilogia para fazer uma série, me tornei
mundialmente conhecida e meus livros estavam sendo traduzidos
para vários países. De vez em quando vinha gente de todo lugar
mandando mensagens que precisava traduzir para entender.
Isso me fazia sentir a mulher mais realizada do mundo.
Conseguia me sustentar com a escrita, nunca ficava enjoada de
escrever e a minha mente estava sempre criando histórias nos
momentos mais inusitados. Muitas vezes acordei de madrugada
para gravar um sonho ou rascunhei um plot atrás da lista do
mercado enquanto a Emma corria pelos corredores.
Amava a minha vida e cada segundo dela.
As semanas seguintes se passaram com a tranquilidade de um
fim de gestação. Em meu plano de parto, o bebê poderia nascer a
qualquer momento. Seu quartinho estava pronto, a mala da
maternidade também e eu mais que pronta para colocá-lo para fora
porque não aguentava mais o calor excessivo, me sentir pesada e
controlar a ansiedade de conhecer seu rostinho.
— Mamãe! — Emma me gritou pela milésima vez no dia. —
Mamãezinha! — Insistiu e sorri no meu lugar da cama. Ouvi seus
pés batendo contra o chão. — Mãe? Estou te chamando... —
Cantarolou com as mãos na cintura e sorri.
— O que você quer?
— Cookies, por favor. — Sorriu do seu jeitinho lindo. A
franja dela estava tão grande que batia nos olhos. Fiz sinal para se
aproximar, peguei um grampo e prendi seu cabelo, amarrando seu
rabo de cabelo um pouco mais firme. O cabelinho dela era tão liso
que era difícil mantê-lo preso.
— Está na hora do lanche?
— Hum, eu não sei. Está?
— Sim, está. — Beijei a pontinha do seu nariz. — O que você
quer beber? Leite, suco ou achocolatado?
— Chocolate morninho. — Ela era tão fofa que apertei suas
bochechas. — Aí, mamãe!
Levantei-me com dificuldade, sentindo meu ventre pesar e me
apoiei na parede atrás da cama para ter equilíbrio. Senti uma
pontada, levei minha mão para baixo, segurando minha barriga e
senti a minha calça molhar.
— Ah... Você está fazendo xixi? — Emma saltou assustada.
— Amor, chama o papai, por favor?
Emma arregalou os olhos e saiu correndo, gritando
desesperadamente pelo Marco de uma forma cômica e anunciando
aos quatro cantos “Papai! A mamãe fez xixi!”. Ouvi o barulho na
escada e Marco apareceu correndo, me olhando ainda no mesmo
lugar com uma poça aos meus pés.
— Chegou a hora! — Abri um sorriso que não durou muito.
A minha primeira contração chegou não muito tempo depois e
foi dolorosa. As seguintes foram uma história de horror. Pensei que
a minha gestação relativamente tranquila seria o indicativo de um
parto tranquilo. Nós optamos pelo parto natural, deixando a cesárea
apenas se eu ou o bebê tivéssemos algum problema inesperado.
Dezoito horas depois que chegamos ao hospital, finalmente
tive dilatação o suficiente para meu bebê nascer. A parte de
empurrar era incrível comparada as longas horas de dor. Marco
ficou ao meu lado e minha mãe estava lá para fotografar os
primeiros minutos de vida do meu filho fora da minha barriga.
Antonio Alexander Silverstone Moretti, um nome tão grande
quanto a realeza, nasceu com quase quatro quilos e com um choro
potente. Cabeludo como eu, foi colocado em meus braços no meio
do meu mar de lágrimas cheias de amor. Fiz uma criança
incrivelmente linda. Beijei seus dedinhos e fiquei orgulhosa que ele
não precisou de nenhum cuidado médico imediato.
— Nós fizemos isso. — Marco beijou minha testa.
Nós fizemos uma linda história de amor bem real.
Sua vida é preciosa.
Você é incrível.
FIM
Mari Cardoso tem 28 anos, nasceu em Cabo Frio e
atualmente mora no Rio de Janeiro com sua mãe, uma gata
e um cachorro. Formada em fotografia, trabalha como
fotografa e design gráfico, com uma loja de papelaria
online.
Até o momento, possui algumas histórias publicadas
na Amazon e estas são:
Em Outra Vida
A Valentia do Amor
Caminhos do Coração
Legalmente Apaixonados
Bem Me Quer
Uma Segunda Chance Para o Amor
O Melhor Presente
Suas redes sociais:
www.instagram.com/amaricardoso
www.twitter.com/autoramari

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