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2020
Mari Cardoso
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida
sem autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser
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meio eletrônico e mecânicos sem autorização por escrito da autora.
Salvo em casos de citações, resenhas e alguns outros usos não
comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes,
personagens, alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes
são frutos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é apenas espelho da
realidade ou mera coincidência.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1
— Feliz ano novo! — As pessoas explodiram de alegria ao
redor jogando serpentinas e com as mãos para o alto. Marco me
puxou pela cintura, nós rodopiamos em meio à multidão e nos
beijamos. Um grupo bêbado e animado esbarrou em nós e quase
caímos, mas ele se recuperou rápido, me colocou no chão e saímos
de perto.
Caminhamos de braços dados pelas calçadas apinhadas de
pessoas e bebemos nosso vinho diretamente na boca da garrafa,
rindo feito dois bobos e voltamos para o nosso hotel. Meus pais
estavam no restaurante e muito bêbados, quando a Blake tropeçou e
riu, segurei-a e trocamos um abraço apertado de feliz ano novo.
Abracei meu pai, desejando um bom ano para nossa
família e minha cunhada, Nicole, estava louca na pista de dança
com um estranho. O irmão dela ficou de olho e para dar uma
ocupação, pedi que pegasse um prato de comida que estava com
fome. Minha sogra também estava bêbada. O que aconteceu no
período que fomos olhar a bola da Times Square?
Meu pai nos surpreendeu com uma viagem de ano novo em
família. Ele estava tentando limpar sua imagem conosco, provando
seu desejo de mudar e não mais nos machucar com suas reações
extremistas, que nos amava e queria manter nossa família unida.
Ele convidou minha sogra e cunhada, porque agora elas eram a
minha família.
Para implicar, Marco disse que não ia pagar um centavo da
viagem, mas desde que chegamos ele e meu pai estão discutindo
sobre a carteira.
Marco me deu um prato cheio de comida e mais uma taça
de vinho, nós sentamos na mesa reservada para nossa família e
comemos.
— Qual é o seu desejo de ano novo? — Cochichei bem
baixinho no ouvido do Marco. — Eu desejei um ano de muita
felicidade e amor para nós dois.
— Desejei o dobro disso aí e um pouco mais. — Marco me
deu um beijo gostoso nos lábios. — Desejei que nosso novo ano
seja cheio de boas coisas. Esse ano bastou. Na nossa viagem nós
vamos começar o ano com o pé direito.
— Nós já começamos. — Ergui minha taça e brindamos.
Começar o ano em Nova Iorque com nossa família foi muito
divertido. Passeamos no dia seguinte e fiz compras de roupas, não
participei da corrida louca do Black Friday porque não sai da cama,
mas, estava satisfeita com as roupinhas novas que fiz o Marco me
dar de presente.
Ao voltarmos para Detroit, marquei um encontro com a
Elena para colocarmos nossos assuntos em dia e eu precisava
atualizá-la sobre as últimas descobertas da Ruth.
Marco estava trabalhando intensamente para manter sua
agenda livre para nossa viagem e nós ficaremos uma semana
aproveitando ao outro, curtindo a praia e colocando meu bronzeado
em dia. Estava ansiosa para ficarmos sozinhos, meu período de
repouso e sem sexo estava terminando.
Oficialmente já estava liberada para o sexo, nós tentamos
e senti muita dor, não terminamos o momento e a Dra. Taylor
pediu para relaxar, tentar ficar calma e talvez aguardar mais uns
dias para tentar novamente.
Decidimos deixar para a viagem, por isso, marquei de
encontrar a Elena no shopping. Nós íamos fazer compras, ela
queria minha ajuda para comprar vestidos de “menininha” para um
encontro e roupas íntimas bonitinhas.
— Oi, garota! — Elena me abraçou apertado. — Você está
linda.
— Você também! Seu cabelo está tão cacheado!
— Fiz a transição capilar, mas não aguentei ficar com o
cabelo dividido em duas texturas e cortei logo. Parece tão mais
leve! Você também está usando mais natural agora?
— Normalmente seco o cabelo escovando, agora estou apenas
secando e deixando como ele é. Gosto assim, ele não é realmente
ondulado, apenas grosso e cheio, então amasso com as mãos. Meu
pai diz que fica muito parecido com a minha mãe biológica e eu
gosto. — Dei o braço a Elena e nós entramos no shopping.
Escolhi uma loja de biquínis e pegamos alguns modelos
diferentes, experimentando e a vendedora me explicou como usar
alguns que favoreciam bastante meu novo corpo. Desde que
comecei a namorar com o Marco, parei de malhar, meu único
exercício era o sexo e engordei uns bons quilos.
Meu corpo de adolescente desapareceu de vez após o
aborto, porque engordei os três restantes para fechar dez quilos.
Estava com mais peito, mais bunda, mais culote, mais celulite e
estava pouco me importando. Me sentia linda, gostosa, desejada e
claro, tinha dias que as dobras da minha barriga me tiravam do
sério, mas estava me dedicando amar meu corpo e manter minha
mente sã.
Era o corpo de uma mulher real e definitivamente não
queria me encaixar nos padrões. Não existia padrão quando se
tratava do corpo de uma mulher
Somos diferentes, com biotipos diversos e belezas únicas.
Mulheres não foram feitas para serem iguais, vestirem o mesmo
número e parecerem feitas na mesma forma.
Elena era mais baixa que eu e tinha seios generosos, ela
estava linda com os modelos brancos que a vendedora deu a ela e
acabei comprando um igual, não ia dar muito certo me bronzear
com ele, mas ficaria bem bonito para passear no final da parte. Nós
passamos para as roupas íntimas e achei um bom momento para
falar sobre tudo que descobri sobre a Ruth.
— Espera aí! — Elena abriu a porta do meu provador e eu
estava nua, segurando um espartilho. — Ela e o Derek? Nas suas
costas? Uau.
— Kerry mencionou que ela era má com você
propositalmente. — Olhei-a através do espelho.
— Sim, ela era uma vaca. — Elena concordou. — Era do
tipo ciumenta e possessiva. Queria ter você e sua amizade única e
exclusivamente para ela. Ruth queria que vocês duas fossem
apenas uma dupla, nada de um trio. Você é do tipo gentil e
preocupada com o que os outros pensam, tinha uma postura
diferente no caos e a Ruth era muito ciumenta com isso, sempre
percebi.
— E eu nunca percebi.
— Porque você é muito empática, Rebecca. Você amava a
Ruth como sua melhor amiga e era capaz de olhar para um
mundinho além de vocês duas. Era isso que ela parecia não querer,
eu não sei exatamente, mas toda vez que ela me dava um fora longe
de você era como se criasse um muro para nunca te perder. Quem
mais aguentava as possessividades dela? Só você. — Elena me
ajudou a fechar o espartilho. Amava o Marco, mas aquela merda
estava muito apertada para bancar a garota sexy. Precisava de um
número maior.
Ruth realmente me afastava de todos e acabava seguindo
porque não queria me indispor com ela. Me afastei dos meus pais,
dos meus primos e de outros amigos da escola.
— Tão empática que não consegui olhar para o que ela
estava sentindo.
— E ela olhou para o que você estava sentindo? Eu olhei?
Alguém mais ao seu redor? Isso é normal. Não estamos
programados para ficar vinte e quatro horas ao dia tentando
entender os sentimentos dos outros. Vivemos ocupados com nossos
próprios problemas, presos nos nossos sentimentos e eu estou
dizendo isso porque é verdade. — Elena abriu o espartilho e
respirei fundo. — Ser melhor amigo não é ser babá ou psicólogo.
Ruth tinha problemas que só um médico poderia lidar, não você.
Assim como você entendeu seus traumas depois da terapeuta. Eu
mesma entendi que meu trauma de relacionamentos foi porque meu
pai me deixou aos cinco anos. Tenho medo de confiar nos homens.
— Entendo seu ponto de vista.
— Estou me formando para ser uma engenheira civil, um
erro meu seria catastrófico em muitas casas e prédios. E por isso
que eu digo, seu número de sutiã aumentou, florzinha.
— Parece que sim. — Sorri marota. — Estou conversando
muito com a minha terapeuta sobre tudo que descobri, eu queria
falar com o Derek, dizer umas boas verdades mesmo que pareça
não fazer sentido.
— A Ruth tinha defeitos, ela podia ser uma vaca comigo,
mas, ela estava muito ferida. — Ruth colocou as mãos nos meus
ombros e nos encaramos através do espelho. — Ela acumulou
coisas horríveis ao longo dos anos e guardou dentro dela, quando
explodiu, foi tarde demais. Eu sinto muito que você tenha que
passar por tudo isso de novo. Você sabe o caminho e
principalmente sabe que nada foi sua culpa.
— Vou chegar lá, estou seguindo esse caminho de paz e
confiança, mas agora, com o bebê, o ferimento do Marco e tudo
isso ao mesmo tempo senti como se estivesse carregando demais ao
invés de simplesmente viver a minha vida.
Conversar com a Elena me fez sentir o gostinho
maravilhoso de ter uma tarde com uma amiga, algo que não tinha
desde que a Ruth morreu. Nós fizemos nossas compras, comemos
um lanche bem gorduroso e que diminuiria minha vida em anos,
mas, era gostoso e não estava me importando.
Elena foi de táxi para o shopping, então, dei uma carona
para ela até seu dormitório e em seguida, dirigi empolgada até a
empresa do Marco. Ele estava ocupado, mas eu ia encher o saco da
Blake.
Passei pela recepcionista e eu soltei um grito, derrubando
a chave do carro e minha bolsa ao ver o homem que atirou no
Marco saindo de uma das salas. Por um segundo, ouvi o som do
disparo e os sons de dor agoniantes que o Marco soltava.
— Está tudo bem, calma. — Eric me pegou no meio do
corredor. — Ele está aqui com seus agentes de reabilitação e um
dos passos é pedir desculpas para quem ele feriu. Marco aceitou
encontrar com ele.
— Eu sinto muito. — Robbie me olhou assustado com meu
grito.
— Acho melhor irmos agora, Robbie. — Um dos homens
tocou o ombro dele e eles passaram por mim.
Me soltei do Eric, recolhi minhas coisas no chão, empurrei a
porta da sala do Marco e ele até se assustou.
— Encontrar com o atirador? — Gritei e bati a porta fechada.
— Rebecca... — Marco deu a volta na sua mesa. — Não era
para você encontrar com ele. Sei que não está preparada... — Ele
me abraçou apertado. — Mas eu sim e ele precisava me ver para
seguir em frente no seu tratamento.
— Ele atirou em você! Atirou bem na minha frente... E agora
é só pedir desculpas? E se você tivesse morrido? E se aquela
maldita bala tivesse acabado com a sua vida ou com a minha que
estava bem atrás de você? — Briguei com ele e me afastei. Não
queria seu abraço. — Vê-lo de novo, me deu um susto. Eu não
sabia... Não viria aqui se soubesse. — Gaguejei ainda nervosa. —
Você deveria ter me dito, estou tão chateada porque ele não é
confiável. Ele te machucou e precisou de cinco pessoas para contê-
lo no chão!
— Não queria te deixar preocupada.
— Não quero que esconda as coisas de mim, não quero esse
homem perto de você, com ou sem reabilitação. — Estava irritada
demais para ouvir e aceitar qualquer desculpa que pudesse me dar.
Dei meia volta, deixando-o sozinho e passei para sala da
minha mãe, no final do corredor e abri sem bater. Ela estava
digitando concentrada e se assustou comigo.
— Ele é inacreditável.
— Presumo que dessa vez não seja seu pai.
— Não. É o Marco Antonio! Ele aceitou ver o atirador,
aceitou as desculpas assim tão simples! Poxa vida! Estou tão
chateada e se eu soubesse, não viria aqui hoje porque eu não estou
pronta para vê-lo e muito menos desculpar. Aquele homem quase
tirou o Marco de mim, não quero perdoá-lo. — Me joguei no sofá
do escritório da Blake. — Na verdade, eu vim aqui para saber o que
está esperando da reunião com a psicóloga? Devo me preparar?
— A primeira reunião com seu pai foi muito tranquila, nós
falamos muito das nossas expectativas com o aumento da família e
agora ele quer conhecer a nossa família. Já foram visitar nossa casa
duas vezes, preenchemos milhares de formulários, mostramos
vídeos de família e eles investigam absolutamente tudo que
respondemos perguntas sobre o passado e mais! Foi exaustivo. —
Blake saiu da sua cadeira e sentou-se ao meu lado. — Basta ser
você mesma que eles verão que seu pai e eu podemos ser
excelentes pais para uma criança.
— E quando nós poderemos finalmente conhecer alguém?
— Essa é a última etapa, se formos realmente aprovados, nós
seremos levados a diversos orfanatos. Nós não definimos idade ou
etnia...
— Isso é estranho, como crianças em vitrines...
— Eu sei, só não queria escolher alguém pela cor, idade ou
algo do tipo. Pensamos que iremos olhar e nos identificar. A
assistente social vai nos orientar e acompanhar em cada passo... O
nosso advogado acredita que como não escolhemos uma faixa
etária, nós vamos conseguir ter um processo rápido, a maioria dos
casais querem crianças que possam parecer da família,
principalmente que sejam bebês, o que não é nosso caso. — Blake
segurou minha mão. — Quanto ao Marco, ele entende que o
Robbie estava em um surto psicótico, confuso e sofrendo de
estresse pós-traumático. Marco também teve o mesmo problema,
ele não feriu ninguém, mas é estressante e é muito difícil manter o
controle.
Cruzei meus braços e fiz um pequeno beicinho
completamente em desacordo.
— Tente ser compreensiva.
— Eu seria se ele tivesse me dito.
— Hum, então além dele encontrar o homem que o feriu, está
chateada que não falou nada?
— Sim e assim teria me preparado psicologicamente para o
encontro. Acho que estou meio irritada por vários motivos hoje e
acabei explodindo com isso.
— Foi um trauma para você... Eu não posso imaginar ver o
seu pai levando um tiro, se ferindo gravemente e eu ter que lidar
com isso. Acho que entraria em pânico! Você ainda aguentou
firme.
Depois de atrapalhar a concentração da minha mãe no
trabalho, voltei de mansinho para sala do Marco. Ele estava
sentado na sua cadeira, atrás da mesa e olhando para janela. Fechei
a porta atrás de mim e encostei nela, preocupada em ter ido longe
demais. Nós raramente discutimos, todas as vezes eram irritantes e
nunca dormimos brigados.
— Deveria ter dito. — Marco suspirou. — Sinto muito. Fiquei
preocupado que não reagisse bem e acabei não falando, mas eu
tinha que ter respeitado o seu tempo.
— E eu não deveria ter gritado com você.
— Tudo bem... Você foi a pessoa a me ver ferido, sangrando e
jogado no chão. Se fosse o contrário, a pessoa que atirou em você
sequer estaria vivo para começo de conversa. — Sentei-me em seu
colo e acariciei seu rosto. — Não prestei queixa, mas o hospital
sim, eles são obrigados por lei. Consegui que o Robbie fosse
internado e está sendo tratado, ele está muito confuso, revivendo
episódios de combate e muito assustado com seus sentimentos.
— Juro que quero ter um bom coração com ele, mas te
machucou e isso é difícil. Não quero vê-lo. — Beijei seus lábios.
— Estou feliz que você tem um bom coração por nós dois. Vamos
para casa?
Assim que chegamos em casa, Marco quis ir malhar e me
arrastou junto, porque eu ia ficar deitada no sofá comendo
chocolate e eu estava ficando muito sedentária. Vesti um short
curtíssimo de ginástica, um top cinza no qual meus peitos estavam
praticamente pulando e eu reparei que precisava comprar roupas
para academia maiores. Não estava ruim, Marco só ia ter algumas
das suas veias tentando explodir.
Cheguei à academia e estava cheia pelo horário. Encontrei
Marco pegando peso com um vizinho, conversando e ele já estava
todo inchado e suado. Acenei e soprei um beijinho, me alongando e
pelo espelho, ele ergueu a sobrancelha, me olhando de cima abaixo.
Me inclinei para frente, me esticando e ele quase deixou o peso cair
no chão.
Liguei a esteira, caminhei por meia hora antes de começar a
correr por uma hora. Parei quando estava quase morrendo sem ar e
com minhas coxas queimando. Marco me pegou pelo braço, me
levou até a área dos pesos e me fez repetir algumas vezes, quando
ele se distraiu, comecei a enrolar até me jogar no chão e dizer que
estava morrendo.
Esperei que terminasse de malhar deitada contra um monte de
colchões, atrapalhando sempre que alguém queria pegar um.
Quando ele finalmente terminou, estava faminta, irritada e cansada.
Não sei porque estava com raiva dele por me fazer malhar quando
estava com fome, queria deitar e talvez meus hormônios ainda
estavam se ajustando no meu corpo ou estava de tpm.
— Não quis minha companhia para tomar banho? Eu fiz o
jantar...
— O quê?
— Lasanha que a Rosa deixou congelada, enfiei no forno e
arrumei a mesa.
— Estou chateada e não sei porque.
— São seus hormônios. — Marco me abraçou e me empurrou
de volta para o chuveiro. — Sua roupinha estava tão curta e
apertada... Tão gostosa. — Apertou minha bunda e me molhou toda
de novo.
— Minhas pernas estão ardendo. Você quer que eu emagreça?
Por isso insistiu tanto que fosse até a academia?
Marco me olhou assustado.
— Claro que não, desculpa se te fiz pensar assim! Eu não
quero que emagreça, eu te amo e vou te amar de todo jeito. —
Marco acariciou meu rosto. — É que você está sempre reclamando
sobre subir as escadas e dizendo que está sem fôlego, só quis te dar
um incentivo.
— Estou sedentária sim e pareço que vou morrer quando
carrego peso, subo escadas, mas, estou bem com meu corpo. Sei
que engordei bastante desde que começamos a namorar...
— E quem se importa? Você está muito gostosa... Mal vejo a
hora de quebrarmos nosso jejum.
— Somente na viagem ou não vai ter graça!
— Se doer, você precisa me dizer. Não quero te machucar.
— A Dra. Taylor disse que é normal... Nós vamos nos ajustar.
— Abracei-o apertado. — Nós vamos ficar bem.
Eu estava desesperadamente querendo acreditar naquilo.
Rebecca.
“Marco,
De todas as coisas que já escrevi na vida, jamais imaginei
que escreveria meus votos de casamento. E aqui estou eu, sentada
no seu lado da cama, sentindo seu cheirinho enquanto você está na
Europa trabalhando para sustentar nossa vida maravilhosa. Disse
que você tinha que ir, porque a saudade poucos dias antes do
nosso casamento seria bom, agora me arrependendo de não ter
cancelado tudo para ir atrás de você.
Sonho todos os dias com a nossa vida, que sempre foi
maravilhosa, mesmo com os altos e baixos, com as brigas, as
turbulências emocionais e aí... Nós estamos dando um passo tão
grande e tão bonito para sempre!
Prometo que vou te amar incondicionalmente mesmo quando
desejar não te ver. Vou cuidar de você nos dias ruins, nos dias
bons e tenho a confiança que serei cuidada por você como já sou.
Prometo estar ao seu lado na saúde e na doença, nos dias alegres
e tristes, na riqueza e na pobreza. Prometo ser sua mulher, sua
amiga, sua amante e mãe dos seus filhos.
Prometo me esforçar para termos uma vida maravilhosa
todos os dias da minha vida. Eu te amo e sou grata pela sua
existência. Feliz em ser sua mulher, me sinto honrada de ser a sua
esposa.
Com amor,
Rebecca Silverstone Moretti”.
Mais uma vez meus olhos estavam cheios de lágrimas. Essa
garota me fazia chorar o tempo inteiro. Ela terminou minha carta
com o rosto todo molhado e nos abraçamos. Acariciei seu rosto,
beijando a pontinha do seu nariz e sua boca macia, sentindo o gosto
do vinho na sua língua, chupando devagarzinho. Rebecca soltou o
nó do meu roupão, sentando-se em meu colo e abri o seu, expondo
seus peitos.
Era o momento de consumar nosso casamento mais uma
vez.
Foi difícil sair da cama no dia seguinte, não queria mesmo,
mas eu tinha um avião para pegar e um dia inteiro de reuniões na
Price Corp para fiscalizar os novos seguranças. O CEO tinha
algumas dúvidas, queria algumas sugestões e eles pareciam estar
enfrentando um problema de segurança pessoal e seu chefe de
segurança me pediu auxílio. Era importante estar lá, mesmo que a
minha vontade era não sair de casa para não deixar minha esposa.
Não queria me sentir um marido ruim que estava viajando
vinte e quatro horas após o casamento. Rebecca e eu marcamos a
data ciente que minha agenda estava muito apertada no final de
setembro.
Beijei suas costas, sua nuca e saí da cama. Ela estava
completamente apagada, abraçada ao travesseiro e não acordou
durante meu banho, me vesti com o terno, colete, gravata e calça
que ela deixou separado e passado. Peguei as meias e ri da gaveta
de calcinha dela toda aberta e parecia que algo havia explodido.
Arrumei minha bolsa e o telefone da Rebecca vibrou na
cabeceira.
— Oi? Ah... Oi. Sim, é claro. — Sentou-se e estava com os
olhos bem abertos. — E os batimentos? Ah... Sério?
— O que houve?
— Estão ligando para dizer que ela não evoluiu, mas também
não piorou. — Rebecca ajoelhou na cama. — Ficou... Bem a noite
inteira.
— Isso é maravilhoso.
— Você está atrasado, vai. Vão cancelar seu voo se não
estiver lá. — Rebecca me deu um beijo.
— Vou te ligar em vídeo para poder vê-la.
— Se cuida, eu te amo.
— Não apronte nada sem mim. — Beijei sua boca, peguei
minhas coisas e saí de casa. Encontrei com alguns vizinhos saindo
para trabalhar como eu.
Deixei meu carro no estacionamento do aeroporto,
atravessando o saguão apressado quando uma pessoa parou na
minha frente.
— Você está me seguindo? — Gritei com o susto ao ver
Andrea parada na minha frente.
— Não, bobinho. — Ela ergueu a capa de uma revista. —
Parabéns pelo seu lindo casamento com a herdeira fofa. — Sorriu e
desviei dela. — Também me casei. — Andrea gritou atrás de mim
e virei.
— Foda-se?
— Grosso. Está tudo bem, segui em frente. — Ela falou com
uma voz calma e vi um homem muito mais velho que nós dois
parar ao seu lado. — Amor! Esse é o meu ex-marido, Marco
Antonio Moretti e ele é quem tem a empresa de segurança que te
falei.
— Ah, é claro. Eu vou entrar em contato... Rompi o contrato
com a minha empresa e estou precisando uma nova.
Aquilo parecia pegadinha. Andrea parecia se divertir.
— Tudo bem... Eu tenho que entrar em um avião em cinco
minutos. — Apontei para a porta de saída. — Até mais.
— Tchau, tchau. — Andrea deu um aceno sorrindo e deu um
beijo no velho. Nada contra, mas ele era realmente muito velho.
Que diabos foi aquilo? Andrea sempre foi louca, daquela vez,
ela parecia ter superado na loucura. Quem se importava?
Certamente eu que não. Nosso casamento foi um erro, ela quebrou
minha confiança com a mentira, gastou rios de dinheiro e acabou.
Ela estava com um homem provavelmente quarenta anos mais
velho e eu muito feliz e bem casado com uma mulher incrível.
Me casar com Andrea foi um erro.
Me casar com a Rebecca foi a melhor escolha da minha vida.
Rebecca.