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Sinopse

Da autora da lista de best-sellers do New York Times, Kendall Ryan, vem


um romance independente sobre um pai solteiro e a nova vizinha, por
quem ele se apaixona.

Ontem à noite foi a noite mais embaraçosa da minha vida.


Eu era aquela garota.
Você sabe, a garota totalmente bêbada que comemora seu trigésimo
aniversário com suas duas melhores amigas – que são bem-casadas. E quanto
mais eu bebia, mais queria fazer algo imprudente para comemorar.
E com “imprudente”, me refiro ao homem sexy e sedutor vestindo
terno, em pé e perto do bar. Imagine o tipo dele – alto, moreno e bonito. Eu
tinha certeza de que ele era areia demais para o meu caminhãozinho, mas eu
tinha bebido o suficiente para que esse fato parecesse não ter importância. Eu
não sou gorda, fique sabendo, mas fica claro que gosto de batata frita, então…
Ele me levou para casa e a nossa transa estava sendo a melhor de toda a
minha vida. Bem, até sermos interrompidos inesperadamente.
Não há nada como ser interrompida no meio do caminho por uma
vozinha perguntando: “O que você está fazendo com meu pai?”
Preferia estar morta… eu pensei.
Venha ver como o homem em quem montei como quem monta um
touro no rodeio se tornou meu senhorio.


Sumário

Sinopse
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Epílogo
Epílogo Bônus
Agradecimentos
Sobre a Autora


Kate

— Eu preciso transar hoje.


Jessie riu enquanto Rebecca entregava uma rodada de doses de
tequila. Eu virei a dose, fiz uma careta e pus a língua para fora, tentando não
tossir.
— É muito ruim — eu disse com um gemido e com a bebida
queimando na minha garganta.
— Toma. — Jessie enfiou uma fatia de limão na minha boca.
Depois da nossa segunda (ou foi a terceira?) rodada de doses de tequila,
eu praticamente já tinha confirmado continuar tão ruim com bebidas quanto
era na época da faculdade.
E sim, eu sabia que provavelmente já era velha demais para beber doses
de tequila, mas estava determinada a recuperar parte da juventude com
minhas duas melhores amigas antes de, oficialmente, completar trinta anos à
meia-noite.
— Feliz aniversário, Kate — disse Rebecca, entregando-me uma
Corona dessa vez.
— Aos trinta anos. — Jessie sorriu enquanto brindávamos com as
garrafas.
— Trinta e sem teto — acrescentei, tomando um gole grande. Jessie
sacudiu a cabeça.
— Você não é sem-teto. Você só… Não tem onde morar.
Rebecca e eu rimos, acostumadas ao constante otimismo dela. Minha
colega de quarto tinha acabado de ficar noiva, e algumas semanas atrás, ela
quis conversar comigo para dizer que eu estava sendo despejada. Senti um nó
na garganta quando pensei em nossa conversa. Aparentemente, ela e seu
noivo não me queriam segurando vela o tempo todo. O que era
compreensível, mas não me deixou menos chateada ter que sair do
apartamento, que ficava no fim da mesma rua onde havia meu café favorito e
minha loja de frozen yogurt. É como dizem… O importante é estar em um
lugar bem-localizado.
— Como está a busca? — perguntou Rebecca, enfiando uma fatia de
limão na sua cerveja.
— Fiz um depósito caução em um apartamento esta semana — eu disse,
tomando um gole. — Só preciso dar uma olhada nele amanhã pra ter certeza
de que o proprietário não é um psicopata.
Encontrei o apartamento por meio de um anúncio online. Parecia
promissor, espaçoso, com boa iluminação e um recanto agradável onde eu
poderia montar um escritório. Escrevo uma coluna semanal de fofocas de
sucesso e por trabalhar em casa, um lugar confortável para escrever era uma
parte importante da minha residência.
— Já chega de papo de adulto. — Jessie passou o braço por meus
ombros. — Estamos aqui para celebrar.
— Mais uma cerveja e eu vou estar oficialmente bêbada — disse
Rebecca, examinando o bar. — Isso significa que deveríamos encontrar um
cara agora, antes que o álcool faça efeito.
Rebecca, Jessie e eu tínhamos sido colegas de quarto na
faculdade. Jessie era uma monogâmica em série que se casara quando
tínhamos vinte e quatro anos, e Rebecca havia se casado com seu namorado
de longa data no ano passado. Desde o casamento, eles vinham tentando me
juntar com todos os caras disponíveis em um raio de oitenta quilômetros.
Eu não me importava com detalhes, desde que o cara não esperasse ter
algo sério. Eu gostava da minha vida do jeito que era e vivia segundo meu
lema: em time que está ganhando não se mexe. Além disso, depois de ver
minha irmã enfrentar um divórcio bem pesado com o homem que parecia ser
o amor de sua vida, eu não estava com muita pressa de me casar.
Eu olhei ao redor, no bar. Havia muitos caras, mas ninguém que me
despertasse interesse. Eu precisava encontrar alguém que estivesse
procurando a mesma coisa que eu. Diversão, sexo casual. Sem compromisso.
Estava prestes a desistir quando o vi. Perdi o fôlego e meu coração
pulou de alegria. Ele estava encostado no bar, bebericando uma cerveja
casualmente. Parecia ter quase quarenta anos, e acredite, era o pacote
completo. Alto com cabelo curto e escuro e um sorriso matador. Vestia um
terno perfeitamente alinhado, como se tivesse acabado de sair do escritório.
Eu babava por caras de terno bonito, e a julgar pelo caimento da peça,
eu tinha a sensação de que ele ficaria ainda melhor sem terno.
Ele riu, revelando um maxilar perfeito e maçãs do rosto como as de um
modelo de capa de revista. Engoli em seco, sentindo um leve arrepio
percorrer minha espinha enquanto o imaginava me abraçando com aqueles
bíceps fortes.
Era o homem mais gostoso que eu já tinha visto, e parecia que ele se
encaixaria melhor na capa de uma revista do que bebendo uma Heineken em
um bar chamado Bucky’s. Mordi o lábio, sem conseguir parar de me imaginar
em cima dele e comemorando meu aniversário sentada em seu…
— Kate, olá.
Rebecca passou a mão na frente de meu rosto. Eu estava praticamente
babando por causa do Sr. Perfeito, esquecendo totalmente que minhas amigas
estavam ali.
— Desculpe — Eu ri, meneando a cabeça na direção dele. — Acho que
encontrei meu Cara pra hoje. Mas não olhem ao mesmo t…
Antes que eu pudesse terminar a frase, Jessie e Rebecca estavam
esticando o pescoço para dar uma olhada nele. Mentalmente bati a palma da
minha mão na minha testa esperando que ele não tivesse notado as duas
olhando fixamente.
— Nossa! Ele é gato — sussurrou Rebecca, virando-se.
— Ele tem algo diferente.
Ela estava certa. Ele tinha uma vibração, um apelo sexual que
praticamente pulsava no ar entre nós.
— Se esse algo é uma grande protuberância dentro da calça, então, sim.
— Jessie acrescentou. Rebecca assentiu.
— Bem, ele é muito alto. Estou pensando que as coisas podem ser
proporcionais.
— Acho que ele acabou de sorrir para nós — disse Jessie, sorrindo.
Eu dei uma rápida olhada. Ele estava olhando em nossa direção, com
certeza. Merda.
— Ele está fora do meu alcance?
— Você é linda — disse Rebecca, sinceramente. — Ele teria sorte de
namorar você.
Eu balancei a cabeça.
— Não namorar. Só sexo para comemorar o aniversário. Estou
procurando um cara pra hoje, não um cara pra sempre.
— Mas sério, olhe para ele. Porra. Eu faria tanta coisa se não fosse
casada… — Jessie mordeu o lábio.
— Exatamente. Ele não merece nota dez. Merece nota onze. E eu sou…
Eu olhei para a minha roupa, um vestido de festa preto que mal
escondia minhas curvas.
Eu não era gorda. Era gostosona. Curvilínea. Grande. Robusta, se
preferir. Mas sim, dava pra notar que eu gostava de batatas fritas. E que comia
as batatas fritas com molho.
Rebecca me empurrou discretamente pelas costas, me tirando da minha
introspecção.
— Você é linda.
— Vá lá e diga oi — disse Jessie, pegando minha cerveja vazia e me
dando um empurrãozinho.
Normalmente, eu era tímida demais para me aproximar de um cara
bonito e de cair o queixo como aquele, mas a última dose de tequila que
bebemos aparentemente tinha afastado meu bom senso e soltado minha
língua. Era meu aniversário, e no mínimo teria que rolar uma pegação. Eu não
tinha depilado as pernas e me enfiado em um vestido bem apertado para nada.
Fiz a mim mesma um breve discurso de motivação e estava pronta para
me aproximar quando percebi que ele não estava mais lá. Porra. Perdi minha
chance? Fiquei decepcionada.
— Com licença — disse alguém com uma voz grave atrás de mim. Eu
me virei e me senti corar. Ele estava ali, com mais de um metro e oitenta de
altura, e sorria. Para mim. — Eu sou o Hunter — disse ele, estendendo a
mão. — Achei que melhor do que ficar trocando olhares em meio a um monte
de pessoas, eu deveria me apresentar.
Ele era sexy, engraçado e direto? Fiquei totalmente encantada.
Coloquei minha mão na dele.
— Eu sou a Kate.
Sem timidez, olhei diretamente nos olhos castanhos intensos dele,
sentindo um arrepio pelo corpo com o toque dele. Ele tinha mãos grandes e
fortes, e um aperto firme. Eu estava tendo dificuldade para parar de pensar no
que aquelas mãos grandes poderiam fazer quando percebi que ele estava
falando comigo.
— Posso te pagar uma bebida?
— Claro. — Sorri sedutoramente, quase não acreditando que as coisas
estivessem indo tão bem. Eu provavelmente tinha muito carma bom
acumulado pra conseguir esse cara. Antes de se virar para pedir as bebidas,
ele correu os olhos por minhas curvas, observando meu vestido preto curto
que deixava muito pouco para a imaginação. Eles desligaram o ar-
condicionado? Uma onda de calor desceu das minhas bochechas até o peito e
foi parar entre minhas pernas.
— O que você vai beber? — perguntou ele. Seus lábios carnudos e
sorriso de astro de cinema faziam com que tudo o que ele dissesse parecesse
safadeza.
— Pode ser qualquer coisa — eu disse, tentando manter a calma. — Só
não tequila.
— Eu vi que você estava tomando uma dose mais cedo. Acho que
nunca vi alguém fazer uma careta tão feia quanto a sua. — Ele riu, e eu levei
a mão ao quadril, fingindo estar ofendida.
— Você é sempre tão gentil assim com as mulheres que conhece nos
bares?
— Acho que é por isso que ainda estou solteiro. — Ele sorriu, fazendo
um sinal para o barman.
Eu ri, imaginando como era possível que aquele cara fosse solteiro.
Depois de um minuto, ele se virou com dois martinis.
— Então, qual é a ocasião? — Ele ergueu o copo, fazendo um brinde.
— É meu aniversário de trinta anos — eu disse, encostando meu copo
no dele e tomando um gole.
— Feliz Aniversário. Então, como é a sensação de fazer trinta anos?
— Vou te contar à meia-noite. — Eu sorri, olhando para ele de cima a
baixo. — Mas tenho a sensação de que vai ser demais.
Jesus, Kate! É por isso que eu não devo beber tequila. Perdi todas as
minhas inibições.
Fiquei com receio de ter sido muito direta, mas Hunter não pareceu se
importar. Ele me observava atentamente com um olhar sexy e profundo, às
vezes olhando para meus lábios enquanto falava comigo. O que ele havia
acabado de me perguntar? Ah sim, se eu tinha algum passatempo interessante.
Respirei fundo e sorri.
— Sim, na verdade, eu amo cozinhar.
— Que coincidência. Eu amo comer.
Rindo, eu sacudi a cabeça.
— Você sabe que suas cantadas são péssimas, não é?
Ele sorriu para mim, um incrível sorriso de dentes muito brancos
indicando que ele estava se divertindo comigo e nem um pouco incomodado
por eu estar zombando dele.
— Estou feliz por termos nos encontrado hoje, apesar de você precisar
exercitar seu charme — acrescentei.
— E você está se oferecendo para ajudar? — Ele riu, estreitando os
olhos.
Eu contraí os lábios, olhando para ele.
— Depende. O que ganho com isso?
— A satisfação de saber que eu não estarei por aí, soltando cantadas
horrorosas em alguma garota desavisada?
Dei de ombros.
— Justo.
Ele tomou outro gole de sua bebida, me observando por cima da borda
do copo.
— Por onde começamos?
Eu bati meu dedo na lateral do copo, avaliando-o friamente.
— Você vai ter um trabalhão.
Ele sorriu.
— Já percebi.
Depois de colocar meu copo no bar, eu me virei para encará-lo
completamente. Foi como dar de cara com um modelo de capa de revista.
Engoli em seco.
— Vamos começar com… — Meu olhar se fixou maliciosamente no
dele. — Em que você está pensando agora?
Hunter não respondeu na hora. Seu olhar desceu novamente, passando
por meu decote e depois subindo para meus lábios, retornando lentamente aos
meus olhos.
— Quero saber como uma mulher como você pode estar solteira aos
trinta anos. E quero saber se seu gosto é tão bom quanto sua aparência.
Senti o rosto esquentar. Está bem, então. Talvez ele fosse bom de
charme.
— Só isso? — Perguntei, um pouco sem fôlego.
— Eu quero ouvir os barulhos que você faz na cama. E outras coisas
bem inapropriadas sobre as quais não devemos falar na primeira vez em que
vemos alguém.
— Entendi — foi tudo o que eu consegui responder. Hunter se inclinou
um pouco mais na minha direção, nossos joelhos se tocaram sob o balcão.
— Você conseguiu perceber em que estou pensando, e em quais áreas
eu vou precisar de mais ajuda?
O clima entre nós era de forte tensão. Estava mesmo quente demais ali,
e eu me sentia derreter por dentro. De um jeito bom, não do modo “vou passar
mal”.
— Percebi bem. — Tomei outro gole da minha bebida antes de voltar a
pousá-la no balcão. Hora de falar de um assunto mais seguro. — Então, os
martínis, o terno. — Fiz um gesto para a roupa dele, tentando manter minha
mente na conversa e longe do corpo de Hunter. — Você é um empresário
poderoso?
— Não exatamente. — Ele deu outra risada baixa e sexy, esfregando a
mão na nuca. — Sou engenheiro civil da prefeitura. Sabe como é, cuido dos
projetos de construção e de transporte público. Coisas bem empolgantes —
acrescentou ele com sarcasmo. Eu sorri, aliviada por ele não ser um
executivo. Já dormi com vários deles, o suficiente para nunca mais repetir a
experiência. Secos e chatos, empolgantes como uma batata assada.
— Não, eu acho ótimo.
— A maioria das mulheres se desliga do papo assim que eu
digo transporte público.
— Bem, eu não sou a maioria das mulheres — eu disse com um sorriso,
olhando em seus olhos novamente.
— Percebi isso. — Ele manteve os olhos nos meus antes de tomar outro
gole de seu martini. Normalmente, eu era muito confiante e relaxada, mas
aquele homem… ele era sensual em outro nível.
— Eu tenho que admitir — disse ele, inclinando-se mais ainda — que
só pedi os martínis para impressioná-la. Eu costumo tomar cerveja.
Tentei não deixar o queixo cair. Ele estava tentando me
impressionar? Eu não esperava isso.
— Então, o que você faz? — perguntou ele, interrompendo meus
pensamentos.
— Eu escrevo uma coluna de fofocas.
Normalmente, os caras se desligam da conversa quando digo isso,
pensando ser um trabalho banal ou um passatempo. Mas Hunter assentiu com
interesse, ouvindo cada palavra que eu dizia. E a tensão sexual entre nós
crepitava como um fogo baixo, só esperando para ser reavivada.
— Isso é muito mais interessante do que o meu trabalho. Como você
entrou nisso?
Dei de ombros.
— Sempre amei escrever. Eu não me imaginava necessariamente
escrevendo sobre celebridades, mas um amigo meu me ofereceu uma vaga
para este trabalho, e eu tinha um talento nato, então é o que faço até hoje.
— Parece engraçado.
— Você se surpreenderia. — Coloquei meu copo vazio no balcão. —
Passo muito tempo sentada sozinha no meu apartamento de calça de moletom,
checando histórias. Mas não me entenda mal, eu amo o que faço.
A conversa fluiu facilmente entre nós, ficamos ali, conversando,
flertando e rindo por mais uma hora, e eu percebi que não me divertia tanto há
muito tempo.
Seus olhos eram misteriosos e atraentes, e era delicioso conversar com
um homem tão simpático e que realmente parecia estar interessado no que eu
tinha a dizer e não no que eu poderia fazer por ele. Eu nem precisava de uma
conexão tão boa, pois estava só querendo me divertir, não um parceiro para a
vida.
Mas, ainda assim, foi legal. Ele terminou de tomar seu martini.
— Vamos pedir outra rodada?
Antes que eu pudesse responder, alguém trombou em minhas costas, e
eu apoiei uma mão no peito de Hunter para me equilibrar. Por baixo da
camisa, ele era firme e musculoso; era óbvio que ele não estava pegando leve
na academia.
Engoli em seco, tentada a agarrar a camisa dele e puxá-lo para mim. Em
vez disso, eu me afastei, pensando que deveria me recompor. Eu normalmente
não me envolvia facilmente com um cara, mas havia algo nele que fazia meu
coração palpitar como se eu fosse adolescente. Eu não queria outra bebida…
Queria Hunter. Além disso, temia que mais uma rodada com ele me levaria de
divertidamente alegrinha a vergonhosamente bêbada.
— O que acha de sairmos daqui? — Eu disse maliciosamente.
Ele pareceu pego de surpresa por um segundo, mas rapidamente se
recompôs.
— Nós também poderíamos fazer isso.
Nervosa e animada, disse a Hunter que o encontraria na saída do bar e
fui falar com Jessie e Rebecca. Elas estavam encolhidas em um canto do bar e
obviamente observavam a coisa toda.
— Ele parece estar super na sua! — disse Jessie com entusiasmo
enquanto eu caminhava até elas.
— Nós vamos para a casa dele — sorri. Pelo menos, esperava que
estivéssemos indo, porque eu estava meio sem lar no momento. E tinha
certeza de que ficar no sofá de sua quase ex-colega de quarto não era legal.
— Vai com tudo, garota. — Rebecca deu um tapinha na minha
bunda. Eu as puxei para um rápido abraço em grupo.
— Amo vocês, meninas!
— Conte tudo pra gente amanhã — disse Jessie, fazendo um gesto para
que eu fosse em direção à porta.
Hunter estava na rua me esperando com um táxi. Ele abriu a porta
para mim e eu entrei, pensando que nunca tinha conhecido alguém tão
gostoso que também fosse tão gentil. Eu notei bem a nossa proximidade
quando nos sentamos na parte de trás do táxi, com a tensão aumentando
devido aos momentos que viriam. Incapaz de me conter, eu me encostei nele,
bem aconchegada. Seu peito firme pressionou meu ombro, e eu arfei quando
ele me abraçou. Meu corpo reagiu instantaneamente, sentindo um calor nas
partes íntimas.
Ele desceu os dedos ao longo do meu ombro e do meu braço, um toque
tão inocente, mas ainda assim com a promessa de que muito mais estava por
vir. Delicadamente acariciei sua coxa musculosa, deslizando o olhar pelo
corpo dele enquanto fazia isso. Se o volume em suas calças fosse um sinal,
ele era muito bem-dotado.
Engoli em seco, repentinamente zonza de desejo. A coragem líquida que
eu havia bebido estava fazendo efeito. Se ele conseguia fazer com que eu me
sentisse daquele jeito, totalmente vestida em um táxi, fiquei imaginando o que
ele poderia fazer no quarto.
Foi uma viagem curta, mas quando chegamos ao sobrado em estilo
colonial de Hunter, já não aguentava mais esperar. Ele enfiou a chave na porta
e fez uma pausa.
— É melhor eu te avisar. Tenho que pagar a babá.
— A babá? — Minha mente, um pouco confusa com todas as doses de
tequila, não estava entendendo direito. Isso era algum fetiche sexual
esquisito?
— Eu tenho uma filha — disse ele, parecendo nervoso. — Tudo bem?
Normalmente, eu não gostava muito de crianças. Mas estava bêbado e
estava imaginando Hunter nu havia duas horas, então não estava disposta a
criar caso pelo fato de ele ter filhos.
— Claro. Tudo bem pra mim — eu disse rapidamente, e ele soltou um
suspiro de alívio.
Nós entramos, e eu espiei enquanto ele pagava a babá. Havia fotos dele
com uma pequena garota de cabelos escuros. Por um momento, tentei
imaginar a mãe. Mas eu não estava ali para saber de sua história de vida.
Estava ali para ganhar dar continuidade a uma tradição chamada sexo para
comemorar o aniversário.
Quando a babá olhou para mim enquanto eu observava as fotos, eu fiz o
melhor que pude para dar a impressão de que conhecia o lugar, e que Hunter e
eu não estávamos prestes a ter uma noite super incrível de sexo
casual. Depois de falar baixinho com Hunter por alguns minutos, ela
finalmente vai embora.
Ele tirou o blazer, e vi o peito bem-definido e os bíceps esticados sob o
tecido de sua camisa. Caminhei em direção a ele, mais do que pronta para
começar meu aniversário de forma épica.
Se era assim que eu comemoraria meu trigésimo aniversário, aquele
estava prestes a ser o começo de um ano muito bom.


Hunter

Talvez tenha sido a música. Talvez o fato de eu mal ter jantado e ter
bebido, sendo que eu nunca bebia muito, para começo de conversa. Ou talvez
eu tivesse ficado reprimido, depois de passar seis meses sem beber, indo a
festas de chá e fazendo tranças no cabelo da minha filha de quatro anos. Seja
qual fosse o motivo, havia apenas um pensamento em minha mente na
primeira vez em que olhei para a Kate, no outro lado do bar.
Eu quero ela.
E assim que eu a vi dentro daquele vestido grudado, sem nem sequer
fingir que não estava me notando? Tive muitas ideias sobre como extravasar
aquela energia reprimida. Agora estávamos ali, de pé na minha sala de estar,
cercados por fotos da minha filha. Que era bem o oposto de um afrodisíaco.
Quando saímos do táxi, percebi que o assunto minha filha não tinha
surgido em nossas conversas no bar — e que estávamos prestes a dar de cara
com a babá. Não havia nenhuma maneira de fugir disso.
As garotas com quem eu tinha encontros casuais não lidavam bem com
a minha situação de pai solteiro. Mas as mães solteiras, por outro lado,
adoravam! A ideia de ter um homem dedicado aos filhos, as deixava
ofegantes por dias. Mas para os rolos casuais sem compromisso? Para essas, o
fato de eu ser pai indicava duas coisas: ou eu era um imbecil irresponsável
que não conseguia se envolver adequadamente ou era um viciado total em
compromisso e tentava atraí-las para a minha armadilha com minha linda
filha de quatro anos carente e que precisava de uma mãe nova. De qualquer
forma, nunca dava muito certo. Mas até o momento, Kate estava lidando bem
com toda a situação.
Então ela atravessou a sala em minha direção e um único pensamento
invadiu minha mente.
Porra, ela é sexy.
Todas aquelas curvas e o sorriso natural, aliado à confiança? Eu era
maluco por mulheres confiantes que sabiam exatamente o que queriam.
— Feliz aniversário — eu sussurrei, pousando as mãos em sua cintura e
puxando-a para mim.
O fato de aquele ser, provavelmente, um caso de uma noite e nada mais,
não significava que eu queria fazer tudo correndo. Muito pelo contrário, para
falar a verdade. Eu queria saborear e aproveitar cada minuto. Começando com
o beijo perfeito.
— É quase meia-noite — ela murmurou, com os lábios a poucos
centímetros dos meus.
Levando uma mão a sua bochecha, guiei sua boca até a minha, selando
nossos lábios em um lento e suave beijo.
Ela reagiu perfeitamente, abrindo a boca em um convite silencioso para
que a minha língua deslizasse contra a dela. Minhas mãos encontraram
aquelas curvas cobertas pelo vestido preto oferecido que eu estava admirando
mais cedo — e Deus! — tê-la sob meu toque era ainda melhor do que eu
poderia imaginar. Macia e quente, muito convidativa.
Dei mais um beijo lento em seus lábios e me afastei para observar sua
reação. Raramente fazia esse tipo de coisa. Mas tê-la comigo era surreal… e
eu estava a excitando demais saber o que provavelmente estava prestes a
acontecer.
— Quer beber alguma coisa? — Perguntei, deslizando a mão em sua
cintura. Se ela tivesse mudado de ideia ou quisesse ir mais devagar, queria
que ela soubesse que estava tudo bem, por mim.
— Consigo pensar em outras coisas que preferiria estar fazendo com
minha boca — respondeu ela, com uma voz baixa e sensual, enquanto
passava os dedos sobre meu peito.
Deus, eu amo uma mulher que sabe o que quer.
Sem conseguir dizer nada, levei a mão à nuca dela, guiando seu rosto ao
meu para outro beijo gostoso. Ela me abraçou e pressionou o quadril contra o
meu, alinhando-se perfeitamente com minha ereção, que crescia depressa.
Enquanto nossas línguas se moviam com mais urgência, lentamente eu
a guiei pelo corredor em direção às escadas. Nossa respiração estava pesada e
laboriosa, e a cada passo mais perto de meu quarto, meu pau ficava mais duro.
Tinha certeza de que ela podia senti-lo contra sua barriga quando entramos
em meu quarto.
Encostei Kate contra a parede, deslizando os dedos sob a barra de seu
vestido para sentir a pele macia e quente de suas coxas. Ela gemeu baixinho, e
eu levei os dedos para a frente de sua calcinha, meu pau latejando ao sentir o
calor dela contra minha mão. Puxando a calcinha para o lado, eu a senti
molhada e lentamente deslizei um dedo para dentro, fazendo com que Kate
jogasse a cabeça para trás, sentindo prazer, mas bateu com força na parede.
— Ai, porra! Você está bem? — Fiz uma pausa, inclinando-me um
pouco para verificar se ela não estava machucada.
— Sim, estou bem. Não doeu, foi apenas o barulho — ela respondeu,
rindo.
Sorrindo, me inclinei para a frente novamente para beijá-la.
Conforme o beijo ficava mais quente, com sua língua pressionando a
minha, ela começou a desabotoar minha camisa com uma facilidade
surpreendente. Logo depois, ela estava puxando as mangas para baixo e
jogando a camisa no chão.
— Impressionante — murmurei, descendo os lábios para seu pescoço,
sugando e mordiscando sua pele. Ela tinha um gosto doce e um leve cheiro de
baunilha.
— Não é o meu primeiro rodeio. — Ela suspirou, levando as mãos ao
meu cinto.
Eu sorri. Dois podem jogar este jogo.
Subindo seu vestido até a cintura, tirei a calcinha com uma mão e a
outra retomou a tarefa de dar prazer ao ponto úmido e macio no meio de suas
coxas. O desejo de esfregá-la e acariciá-la até que ela estivesse se
contorcendo, choramingando e fora de controle era tão forte, que eu estava
quase tremendo.
Deus, faz muito tempo.
Quando minha mão encontrou o ponto entre suas pernas, ela mordeu o
lábio e soltou um gemido baixo. Puxando meu cinto, seus dedos deslizaram
brevemente sobre o zíper da minha calça, antes de puxá-lo para baixo e
revelar o contorno do meu pau — duro como pedra — totalmente marcado
pela minha cueca boxer preta. Sua respiração ficou mais irregular, e sabia que
ela estava pronta para mais.
Parando para puxar o vestido mais para cima, eu o tirei e joguei no
chão. Kate abriu seu sutiã, que foi jogado com o resto das roupas. Puxando-a
para mais perto, me deliciei com a sensação de seus seios em meu peito,
enquanto ela puxava o elástico de minha cueca.
De repente, a necessidade de estar dentro dela me dominou. Eu a guiei
até a cama, tirando a cueca nos dois passos que dei para me unir a ela.
Deitando em cima dela, eu voltei a beijar seu pescoço, alinhando meu quadril
com o dela, enquanto ela abria as pernas para me receber. Mas antes que
pudesse deslizar meu pau latejante e ansioso no meio de toda aquela carne
molhada, ela espalmou as mãos no meu peito, me fazendo deitar na cama.
Eu mencionei que gosto de uma mulher que sabe quando tomar o
controle?
Eu me deitei na cama e Kate subiu em cima de mim.
— Tudo bem? — ela perguntou.
— Estou mais do que feliz em deixar você aí em cima. — Minhas mãos
exploraram seus seios, acariciando-os.
— Afinal, é meu aniversário — respondeu ela, com um sorriso safado.
— Excelente ponto. — Peguei uma camisinha da mesa do lado da
minha cama, rasguei a embalagem com os dentes e a entreguei para ela. —
Você quer colocar em mim?
— Com prazer — ela sussurrou, fazendo arrepios de todos os tipos
percorrerem minha espinha.
Seus dedos habilidosos fizeram um trabalho rápido com o preservativo.
Colocando uma mão em seu quadril e outra em meu pau inchado, eu me
direcionei para dentro de sua boceta apertada, gemendo com ela, sentindo o
tão aguardado prazer. Ela mais parecia um forno. Tão quente e tão sexy, ali,
em cima de mim.
Rapidamente encontramos nosso ritmo, meu quadril se movimentando
em um ritmo constante, enquanto ela se balançava por cima. Foi o paraíso, o
paraíso puro. Ela era incrível — tão apertada, calorosa e convidativa. E os
gemidos sensuais e roucos que ela dava acabavam com minha resistência.
Foi a melhor transa casual da minha vida. Seus gemidos aumentaram
quando encontrei aquele lugar especial dentro dela, e repetia os movimentos
com meu pau.
Ela deixou suas mãos sobre meu abdômen e jogou a cabeça para trás,
entregando-se ao prazer.
— Assim, mulher sexy. Goze no meu pau — eu murmurei.
Mas eu ouvi alguma coisa… e não foi outro de seus gemidos.
Não, foi algo que me fez congelar, meus quadris perdendo o ritmo no
meio do ato.
O rangido causado por passos no corredor. Pés descalços no piso de
madeira.
E então, uma voz fininha perguntou:
— O que você está fazendo com o meu papai?
PORRA!
Em pé, na porta aberta, minha filha de quadro anos — Maddie —
vestindo seu pijama de unicórnio, com seus olhos arregalados, segurava seu
ursinho de pelúcia favorito.
— Porra, ai, meu Deus, porra. Eu sinto muito! — Kate rapidamente saiu
de cima de mim, agarrando o cobertor mais próximo para cobrir seu corpo nu.
— Oi, docinho. O que você está fazendo de pé? — eu disse com a voz
mais calma, desesperadamente cobrindo minha ereção que morria depressa
embaixo de um travesseiro.
Kate estava correndo pelo quarto tentando encontrar suas roupas. De
repente, a maneira desesperada com que estávamos fazendo aquilo pareceu
incrivelmente idiota.
— Papai está bem. Volte para seu quarto e me espere lá, está bem?
Maddie fez uma careta, mas obedeceu, fazendo uma cara feia na direção
de Kate, e então se virou e foi para seu quarto.
Mas Kate não pareceu notar, pois finalmente encontrou sua calcinha e
estava se vestindo mais rápido do que eu pensei ser humanamente possível.
Ela poderia ter, literalmente, conquistado o recorde mundial em se vestir.
Enfiei as mãos nos cabelos, deixando escapar um profundo suspiro.
Merda, por que não pensei em trancar a porta? Devíamos estar fazendo mais
barulho do que pensei, para acordar Maddie. Ela costumava ter o sono
pesado.
— Olha, Kate, eu estou tão…
Antes que eu pudesse terminar, ela correu para fora do quarto e, vinte
segundos depois, ouvi a porta da frente ser aberta e fechada em seguida.
Suspirei, enterrando meu rosto nas mãos. Perfeito, apenas perfeito para
caralho. Outra aventura casual arruinada por ser pai solteiro.
Eu estava acostumado com alguns encontros ruins de vez em quando,
como ser interrompido pelo telefonema da babá avisando que minha filha
tinha vomitado, mas aquilo? Foi diferente de tudo o que eu já havia
experimentado. Eu tinha sido pego em flagrante, no ato, fazendo coisa feia —
apesar de não haver nada feio em Kate, e eu estava chateado por não ter
conseguido ver todas as partes de todos os ângulos.
Era oficial. Minha filha de quatro anos era uma empata-foda.
Suspirando de novo, fui ao armário e vesti uma calça de moletom com
uma camisa antes de juntar o resto das minhas roupas e colocá-las no cesto.
No banheiro, eu lavei as mãos e me olhei no espelho, passando os dedos pelos
cabelos, para dar um jeito de não ficar tão óbvio que eu tinha sido pego
transando com uma desconhecida… pela minha filha.
Muito elegante.
Eu era pai. Precisava ser melhor do que isso. Mais forte. Manter minhas
prioridades sob controle. E minha prioridade, definitivamente, era minha
filha.
Abri a porta do quarto de Maddie, e a encontrei enrolada em sua cama,
olhando para mim com os olhos arregalados e confusos.
— Papai, o que aquela moça estava fazendo com você? — Ela
perguntou, esfregando os olhos com as mãozinhas.
— O papai e aquela moça estavam apenas fazendo coisa de adulto
juntos, só isso. Vou te contar mais sobre isso quando você for mais velha, está
bem? — E não no meio da madrugada, depois de você ter visto algo que,
inevitavelmente, vai marcar você pelo resto da vida.
Maddie franziu a testa, mas assentiu, e eu soube que era algo que ela se
lembraria de perguntar de manhã. Nem em sonho eu tinha pensado em ter
essa conversa com ela antes dos próximos dez anos. Então, pensei que deveria
verificar os livros sobre paternidade e descobrir o que é normal dizer sobre
sexo às crianças dessa idade. Não queria que ela fosse uma daquelas crianças
que acreditam que as cegonhas trazem os bebes, quando ela tivesse quinze
anos. Mas uma criança de quatro anos me parece um pouco pequena demais
para saber tudo sobre a coisa toda.
Segundos depois, Maddie rolou para o lado e fechou os olhos. Dei um
beijo em sua testa e, depois de acomodá-la, saí do quarto para me preparar
para dormir. Depois de escovar os dentes e jogar um pouco de água fria na
cara, eu me deitei para dormir, mas minha mente não parava quieta.
Não conseguia acreditar que as coisas tinham começado tão bem, mas
tinha acabado tão mal. Fazia tanto tempo desde a minha última aventura
casual, que nem sequer sabia dizer se já tinha imaginado que algo parecido
com o que havia acontecido naquela noite pudesse acontecer. Reformulando:
definitivamente, nunca imaginei que minha filha me flagraria fazendo sexo
intenso com alguém que eu mal conhecia.
Percebi que na única vez em que me arrisquei, me dei mal. Havia razões
pelas quais pais solteiros não faziam coisas como aquela. Coisas loucas assim
aconteciam.
Suspirando, virei meu travesseiro, tentando relaxar e ficar confortável.
Mas sabia que não dormiria bem aquela noite. Não conseguia parar de recriar
aquele momento várias e várias vezes, o completo choque de estar em êxtase
absoluto em um momento e no momento seguinte… no constrangimento
absoluto.
E a pior parte era que Kate realmente parecia legal. Mesmo que ela não
fosse o amor da minha vida, nossa química era difícil de negar e não teria me
importado em transformar nossos encontros casuais em algo regular.
Pelo menos, uma ideia fez com que eu me sentisse melhor enquanto
tentava dormir, sem conseguir.
Pelo menos eu nunca mais vou ter que ver Kate.


Kate

— Você está brincando, certo? — Rebecca perguntou, olhando pasma


para mim, por cima do latte dela. Acabara de contar como minha noite de
aniversário com Hunter havia ido de sonho a pesadelo.
— Quem me dera. — Resmunguei, massageando minhas têmporas.
Além de não conseguir esquecer a imagem da filha dele de quatro anos,
horrorizada, ainda estava enfrentando uma baita ressaca causada pela tequila.
— Eu provavelmente assustei aquela garotinha para sempre. É assim que é ter
trinta anos? Todos os caras têm filhos agora?
Rebecca tampou a boca com a mão, incapaz de reprimir uma risada.
— Vamos, não é engraçado — eu disse, mas sua risada foi contagiante,
e não evitar, acabei sorrindo também. — Certo, é um pouco engraçado, sim.
Ou será assim que minha cabeça deixar de doer como se fosse explodir.
— O que você fez quando ela te viu? — Rebecca perguntou,
recompondo-se.
— Bem, depois da minha desmontada nada elegante, eu corri para fora
da casa o mais rápido que pude. — Estremeci com a lembrança, enquanto
bebia meu café. — Sério, eu provavelmente quebrei algum recorde mundial
do Guinness.
— Pelo menos vai achar um apartamento hoje — ela disse, com um tom
consolador.
Assenti, feliz por aquele dia ter um lado positivo.
— Graças a Deus. Estou tão cansada de procurar apartamentos.
Antes desse eu fui ver outros cinco lugares, e todos eram um desastre.
Um não tinha janelas, o outro era basicamente do tamanho do meu armário
atual. Se o lugar de hoje não desse certo, eu entraria oficialmente em pânico.
— Falando em apartamento, nós precisamos ir para lá — falei, olhando
em meu telefone.
Rebecca concordou em ir comigo para conhecer o espaço e o senhorio.
Eu já tinha assistido a muitos episódios de Law & Order: SVU para saber que
não era uma boa ideia fazer coisas assim sozinha.
Vinte minutos depois, nos aproximávamos do endereço que eu havia
recebido no e-mail da imobiliária.
— Que fofo. — Rebecca sorriu enquanto atravessávamos o bairro,
apontando para uma casa em estilo artesão com um jardim amplo. — Eu amo
que todos têm um quintal.
Era mais residencial do que estava acostumada, mas não me importei.
Na verdade, isso era bom, na minha opinião. O apartamento que eu escolhi
ficava acima da garagem, o que era diferente, mas eu não estava sendo muito
exigente no momento. Soube que muitos jovens casais e pais de primeira
viagem estavam se mudando para aquela região, o que tornaria o lugar
agradável e tranquilo para eu trabalhar.
Enquanto observava as casas passando, um sentimento desconfortável
tomou conta de mim. Eu me sentia estranha, como se já tivesse vindo aqui
antes. Tudo parecia estranhamente familiar, o que não fazia sentido, porque eu
nunca tinha estado ali.
— Conhecemos alguém que mora aqui? — Olhei pela janela, tendo um
grande momento de déjà vu.
— Não que eu saiba. — Rebecca respondeu, negando com a cabeça. —
O GPS diz que estamos bem perto.
Ela parou em uma curva. Quando descemos do carro, continuei
olhando, incomodada por não conseguir me lembrar se já estivera ali antes.
Nós descemos o quarteirão e viramos a esquina, e então, eu vi.
— Não é aquela casa ali, é? — perguntei com um nó se formando na
boca do meu estômago.
— Sim, é. — Rebecca garantiu olhando no endereço marcado no GPS.
— Por quê?
Meu peito se contraiu e tomei um susto. Estava com dificuldade para
respirar. Que sorte, a minha. Queria sair correndo, mas minhas pernas
continuavam andando para a frente, minha mente atordoada demais para fazer
qualquer coisa que fosse, mas segui Rebecca.
— Kate? O que há de errado? — Ela me olhou de um jeito estranho
quando paramos em frente a casa.
— Olha, talvez a gente deva ir… — Mas antes que eu pudesse terminar
a minha frase, a porta da frente se abriu.
Era Hunter.
Rebecca ficou boquiaberta e meu coração parou. Pensei que acabaria
desmaiando.
Este lugar, o apartamento em que deixei um cheque caução, pertencia a
Hunter. O homem com quem tive uma noite incrível no meu aniversário –
bem, isso até a filha dele nos flagrar — era o senhorio, e eu estava em pânico,
mas calada.
Nós três ficamos boquiabertos pelo que pareceu uma eternidade.
Rebecca olhando para mim e para Hunter. Felizmente, ela recuperou a
compostura rapidamente.
— Oi — ela disse, estendendo a mão para Hunter. — Eu sou Rebecca.
Só estou aqui para ajudar Kate com o apartamento.
Mesmo enquanto eles trocavam um aperto de mãos, eu podia senti-lo
me observando, mas se recusou a olhar em meus olhos. Como aquilo podia
estar acontecendo? Estava com muita ressaca para saber o que fazer. A
imobiliária só havia se referido a ele como proprietário, e eu não tinha
pensado em perguntar seu nome. O carma bom que eu pensei que tinha não
existia, pelo visto.
— Sou Hunter — ele disse a Rebecca, soltando a mão dela.
Aproveitei a oportunidade para olhá-lo. Ele estava vestindo uma calça
jeans e uma camiseta branca. Suas feições pareciam ainda mais nítidas à luz
do sol, o contorno de seu rosto ganhando mais destaque devido ao sorriso de
derreter corações. Ele tinha a barba por fazer, bem sexy, e seus cabelos
escuros estavam despenteados como se ele estivesse passando as mãos por
eles.
Mas foram os olhos dele que me pegaram. Profundos e castanhos, além
de incrivelmente expressivos. Se ele tinha se incomodado com os
acontecimentos da noite anterior, disfarçou muito bem. Na verdade, ele
parecia ter acabado de sair de uma sessão de fotos.
Tentei não pensar em como eu estava com minha legging preta de ficar
em casa e o moletom largo. Eu ainda estava de ressaca demais para me
importar em tomar um banho, então, provavelmente, ainda cheirava a álcool.
Graças a Deus, eu tinha passado um pouco de rímel antes de sair de casa.
— Então — disse ele, voltando a olhar para mim, sua boca esboçando
um leve sorriso. — Você quer ver a casa?
Ainda sem palavras, só consegui encará-lo. Nós íamos apenas fingir que
aquilo não era uma coincidência totalmente estranha?
A pior parte foi que, apesar de estar totalmente aterrorizada, percebi que
meu coração estava bem feliz só por estar perto dele. Não conseguia esquecer
o que tinha ocorrido antes de ser forçada a fugir de sua casa, com vergonha…
a parte em que estava tendo a transa mais alucinante da minha vida.
Uma lembrança passou pela minha mente, das mãos dele em volta da
minha cintura, me puxando contra ele, de seus dedos delicadamente puxando
meus cabelos quando ele me puxou para beijá-lo.
Respirei fundo. Pelo amor de Deus. Balancei a cabeça um pouco,
obrigando-me a voltar à realidade. Ainda não tinha respondido à pergunta de
Hunter, mas felizmente Rebecca estava mais controlada do que eu.
— Claro que queremos ver. Parece ótima. — Ela disse, com um sorriso
digno de candidata de concurso de beleza. — Vá na frente.
Enquanto ele caminhava na nossa frente, Rebecca me deu uma olhada e
mexeu a boca, sem emitir som, mas dizendo: Segure sua onda. Eu sabia que
estava sendo totalmente esquisita, mas dava para me julgar? Eu estava em
estado de choque.
Ele nos levou até a garagem e destrancou uma porta lateral.
— Esta será a sua entrada privada — disse ele, subindo as escadas. — É
totalmente separada da casa, então não se preocupe, porque você não vai nos
incomodar.
Ele sorriu para mim e retribuí, ainda tímida. A entrada podia ser
separada, mas estaríamos apenas a alguns metros de distância um do outro. O
que significava que nos veríamos diariamente.
Quando chegamos ao topo da escada, quase me esqueci do quanto não
queria estar ali. O lugar era lindo. Era pequeno, mas bem definido e
incrivelmente limpo. Havia pisos de madeira escura e enormes janelas que
enchiam o espaço de luz natural. A cozinha totalmente equipada tinha um
pequeno recanto em frente à janela, que seria um local perfeito para minha
mesa.
— Eu mesmo reformei o espaço — disse ele, passando a mão ao longo
da bancada de granito na cozinha.
— É mesmo? — Rebecca perguntou. — Isso é incrível. Você trabalha
com construção?
— Não. — Ele encolheu os ombros. — Acho que apenas sou bom com
as minhas mãos.
Eu podia assegurá-la disso. Hunter sabia fazer muito mais com aquelas
mãos do que instalar pisos de madeira.
Apesar de eu querer odiá-lo e sair correndo, meu cérebro catalogou
todos os detalhes únicos do local — os puxadores de cristal nos armários, as
prateleiras embutidas na sala de estar. Ele realmente se dedicou para tornar a
casa um lugar único. Fui até a janela e soltei um suspiro de excitação quando
vi um pequeno lago no quintal. Isto não poderia ser mais perfeito. Eu queria
muito viver aqui. Porra.
— Eu vou deixar vocês olharem tudo — disse ele, afastando-se.
Eu não conseguia olhar para ele ainda, então murmurei algo e assenti.
Como eu poderia viver alise não podia nem olhar para o meu senhorio, muito
menos ter uma conversa com ele?
Quando ele já desceu as escadas, agarrei o braço de Rebecca.
— Me tire daqui — implorei.
— Vamos, você sabe que essa casa é incrível — respondeu, puxando o
braço para que eu a soltasse. — Eu gostaria de poder morar aqui. Olha para
aquele lago. É adorável. E a cozinha é perfeita para você cozinhar. Você viu a
adega pequena que ele fez? — Ela foi até lá, fazendo sinal para que a
seguisse.
Concordei, sem me mexer.
— Eu sei. É lindo e perfeito. Mas podemos também falar sobre como a
filha dele viu meu corpo nu pulando em cima do pai dela, também nu, ontem
à noite?
— OK, sim — disse Rebecca, séria, balançando a cabeça. — Tem isso,
eu sei. Mas as memórias desaparecem. E você nunca vai encontrar outro lugar
tão legal assim.
Não queria admitir, mas ela tinha razão. Se quisesse morar aqui, eu
precisava esquecer tudo o que havia acontecido com Hunter.
— OK, vou pensar nisso — suspirei, e então olhei em volta novamente,
já planejando como arrumaria meus móveis. — Vai ser muito difícil deixar
passar.
— Apenas fale com Hunter sobre isso — disse Rebecca, enquanto
descíamos as escadas. — Talvez a filha dele nem lembre da noite passada.
Levantei uma sobrancelha para ela. Duvidava seriamente que a criança
se esqueceria de algo tão traumático, especialmente depois de ver como ela
reagiu. Ela provavelmente não gostava da ideia de uma nova mulher aparecer
para tirar o pai de perto dela. E eu entendia, mas não melhorava a situação em
nada. A última coisa de que eu precisava era entrar em conflito com uma
criança.
Hunter estava esperando por nós quando saímos da casa.
— Eu vou esperar no carro — disse Rebecca, rapidamente, acenando
para Hunter e voltando pela calçada.
Assim que eu e Hunter ficamos sozinhos, finalmente olhei nos olhos
dele, sentindo meu coração bater freneticamente no peito. Meu Deus, ele era
sexy. Havia algo em seus olhos que tornava impossível desviar o olhar.
Engoli, incapaz de acabar com a estranha mistura de constrangimento e
desejo.
Jesus, Kate. Mentalmente me repreendi. Controle-se.
— Então… — eu disse quebrando o silêncio constrangedor.
— Ontem à noite foi…
— Sim — eu sorri, sem jeito.
Fizemos uma pausa, então nós dois começamos a rir.
— Escute, ambos somos adultos — disse ele, erguendo as mãos. — Se
você gostar da casa, é sua. Nós podemos esquecer o que aconteceu ontem.
— Eu adorei a casa — admiti. — Você fez um trabalho incrível com as
reformas.
— Obrigado. Olha, eu preciso de um locatário e você precisa de uma
casa para alugar. Não há razão para deixarmos as coisas estranhas — disse
ele, sorrindo.
Hesitei.
— Sua filha me odeia?
Ele passou as mãos pelo cabelo e riu, mas percebi que foi um riso
forçado. Tinha certeza de que não foi nada engraçado para ele ter que explicar
o que tinha acontecido, quando a colocou de volta na cama.
— Não, ela não te odeia. Só não está acostumada a ver mulheres por
aqui.
Tive dificuldades para acreditar que Hunter tivesse problemas para levar
mulheres para a cama. Mas por não querer continuar sem teto, decidi acreditar
nele.
— Tudo bem — sorri, estendendo a mão. — Vamos fechar negócio.
Quando ele pegou minha mão, meu estômago revirou. Uma corrente
elétrica passou entre nós, quase como se nossos corpos estivessem se
lembrando do que havíamos feito há doze horas.
Eu sabia que não estava apenas concordando em me mudar porque a
casa era perfeita. Havia algo em Hunter, que tornava impossível dizer não a
ele.
Soltei sua mão e fomos para dentro para preenchermos a papelada, e eu
torci para não estar cometendo um grande erro.



Hunter

Alguns dias depois de Kate confirmar que queria a casa, eu estava


sentado na sala com Maddie, lendo o jornal, enquanto ela montava o último
conjunto de Lego que eu havia comprado. Como engenheiro civil, eu
considerava importante comprar para minha filha tantos projetos de
construção quanto bonecas.
Olhei para Maddie e não pude deixar de sorrir ao ver o olhar firme e
determinado dela. Ela era muito boa em solucionar problemas, minha
filhinha, e eu amava desafiar sua mente com diferentes brinquedos educativos
e jogos. Ensinava que o fato de um garoto chamá-la de bonita não significa
que ela precisa dividir seu cupcake. E muitas outras lições importantes da
vida. Mas eu preferiria ter esperado mais vinte anos para ter com ela a
conversa que tínhamos tido na noite anterior.
— Como está indo, querida? — perguntei, colocando o jornal no colo.
— Bom — ela respondeu, sem olhar para mim, colocando um Lego
azul em cima do outro, com habilidade. Olhando para a estrutura na frente
dela e a pilha de Legos a sua direita, ela cuidadosamente pegou uma peça
vermelha e continuou o lento processo de decidir onde encaixá-la.
Eu ri e estava prestes a retomar a leitura das queixas sobre os pontos de
ônibus da cidade, quando ouvi um estrondo baixo e um som alto e estridente
na frente de casa.
Colocando o jornal sobre a mesa de canto, eu me levantei e fui até a
janela para ver o que estava acontecendo.
Uma van de porte médio, estava estacionada na frente da minha casa. E
assim que foi totalmente estacionada, de dentro dela, saiu Kate, do lado do
motorista, virando-se para ter certeza de que havia parado corretamente.
Uma mulher que gosta de fazer as coisas sozinha é muito amor.
Meus batimentos cardíacos aceleraram ao vê-la, e rapidamente desviei o
olhar rapidamente e sacudi a cabeça. Normalmente, eu não era o tipo de
homem que fica excitado só de olhar para as mulheres na rua. Mas ao ver
Kate novamente, depois dos momentos que havíamos compartilhado em seu
aniversário… bem, digamos apenas que eu estava tendo dificuldade para não
pensar besteira.
Passando os dedos pelos cabelos, eu me virei para chamar a atenção de
Maddie.
— Parece que nossa nova vizinha chegou com um monte de coisas.
Devemos sair para conhecê-la e ajudá-la a carregar algumas?
— Nossa nova vizinha é uma menina? — Maddie perguntou, com a voz
alta e animada.
— Sim, nossa vizinha é uma moça muito legal. Acho que você vai
gostar muito dela — respondi, calmamente.
E imploro a Deus para que você não a reconheça em plena luz do dia.
Maddie deixou cair os Legos que estava segurando, e saiu correndo
alegremente até o armário para calçar os sapatos.
Enquanto eu ia até a porta e calçava meu tênis, comecei a entrar em
pânico com a possibilidade de Maddie reconhecer Kate, e da sua reação.
Quais eram as chances de Maddie ter conseguido ver o rosto de Kate? Maddie
não falava sobre o ocorrido há alguns dias, e parte de mim esperava que
houvesse uma boa chance de ela ter esquecido aquilo para sempre. Ou pelo
menos até ser mais velha e fazer terapia.
Nós saímos pela porta da frente e encontramos Kate abrindo a porta de
trás da van, revelando pilhas e pilhas de caixas de papelão alinhadas na frente
de um amontoado de móveis. À primeira vista, parecia muita coisa para uma
pessoa, mas como eu poderia saber? Se eu e Maddie nos mudássemos agora,
precisaríamos de uma van com pelo menos o dobro do tamanho da de Kate.
Quando Maddie e eu chegamos ao meio-fio, Kate já havia começado a
sua tentativa de tirar as caixas da van, ficando na ponta dos pés para alcançar
a mais alta. Seus dedos alcançaram apenas o fundo, e por mais que ela
esticasse os braços, ficou claro que ela simplesmente não era capaz de
alcançar a caixa.
Fiquei parado ali, observando por um segundo a mais do que deveria,
me divertindo com a luta dela e achando tudo uma graça, quando Kate se
virou e nos viu ali de pé, olhando para ela.
Merda. Agora pareço um idiota.
— Ei, vizinha, precisa de uma mão?
Eu me aproximei para ajudá-la, levantando facilmente a caixa da pilha e
saindo de seu caminho. Uma onda de aborrecimento tomou conta do rosto de
Kate, embora eu só a conhecesse há poucos dias, tinha certeza de que havia
muita determinação e independência dentro dela.
— Quanto tempo vocês iam ficar me observando sofrer? — Ela
perguntou, colocando as mãos na cintura e inclinando a cabeça para o lado.
Eu sabia que tínhamos conversado sobre ser adultos e esquecer aquela
noite, mas caramba, como ela era sexy, mesmo quando estava um pouco
brava.
— Bem, eu não queria questionar sua capacidade e os tipos de
contorções que poderia fazer para alcançar a caixa. — Sorri, levantando uma
sobrancelha para ela.
Kate sorriu e passou os dedos pelos cabelos, e minha mente voltou à
forma como ela se livrou do vestido. Os seios saltando suavemente com o
movimento.
Jesus, Hunter. Foco.
— O que ela está fazendo aqui? Ela se esqueceu da calcinha?
A voz de Maddie me tirou do transe, trazendo-me de volta à realidade.
Porra.
Lancei um olhar de desculpas a Kate, e me virei para repreender
Maddie.
— Não, querida, ela não esqueceu nada. É a Kate. Ela é nossa nova
vizinha. Ela vai morar no apartamento acima da garagem.
Maddie franziu a testa, cruzando os braços, contrariada.
— Mas ela estava machucando você, papai.
Eu percebi, ao olhar em seu rosto, que ela estava à beira de um colapso,
e eu sabia que precisava fazer algo – e rápido. Uma criança de quatro anos
tendo um chilique no primeiro dia de alguém no apartamento novo? Não era
nada bom para uma nova inquilina.
— Lembre-se, nós conversamos sobre isso. Papai e Kate estávamos
trocando carinhos especiais, coisa de adultos. Não é para crianças, por isso
Kate teve que sair.
Tentar reexplicar tudo na frente de Kate era embaraçoso. Rapidamente
olhei para ela com outro olhar de desculpas. Felizmente, embora ela parecesse
tão horrorizada quanto eu, ela me deu um sorriso amarelo e se virou para falar
com Maddie.
— Seu papai está certo. É algo sobre o qual você aprenderá quando for
mais velha — disse Kate, calmamente, inclinando-se e acenando com a
cabeça. Maddie fez uma careta para nós dois, balançando a cabeça e bufando
de novo.
— Mas eu quero saber agora — disse, resmungando.
Era hora de jogar com as armas pesadas.
— Agora não é hora de falar sobre carinho especial de adultos. Agora,
precisamos de uma garota grande para nos ajudar a levar algumas coisas de
Kate para o apartamento dela. Se você não é uma menina grande, então acho
que você deve entrar e ficar lá dentro. — Eu disse com minha voz mais
calma.
Maddie ficou desanimada e rapidamente se recuperou.
— Não, eu sou uma menina grande. Posso ajudar! — Com um olhar
determinado, ela marchou até a parte de trás da van e esticou os braços para
carregar alguma coisa.
Crise evitada. Por enquanto.
Nós três passamos a meia hora seguinte carregando as caixas até o
apartamento de Kate, dando os objetos mais leves para Maddie, para que ela
continuasse se sentindo incluída.
Afinal, Kate não tinha muita coisa. Parecia muita coisa empilhada nos
fundos da van. Mas quando estava tudo na sala do apartamento que eu tinha
passado os últimos dois anos reformando e fazendo ajustes, não. Eu gostei da
ideia de alguém preencher aquele espaço vazio com vida. Havia vasos de
planta tomando sol perto da janela da frente, utensílios de cozinha nos
balcões.
Depois de tudo descarregado, coloquei Maddie em seu quarto com um
livro para seus quarenta e cinco minutos de silêncio. Ela havia deixado de
cochilar alguns meses atrás, mas descobri que dar algum tempo de inatividade
para ela – especialmente depois de um dia agitado – a impedia de ficar
temperamental no fim da tarde.
Eu me sentei na beira da cama de Maddie e alisei seu cabelo sobre a
orelha.
— Eu já volto, tudo bem, Mads? Eu só preciso dar as chaves do
apartamento para a Kate.
E fazer o meu melhor para não pensar nela nua.
— Você vai ter outro momento especial de carinho para adultos com
ela? — Maddie franziu a testa.
Suspirei. Essa criança não perdoa nada.
— Não, querida. Nós não vamos fazer aquilo de novo. Eu só vou falar
com ela. Volto já.
Dei um beijo na testa de Maddie e deixei seu quarto antes que ela
pudesse fazer mais perguntas sobre aquele maldito momento de carinho para
adultos. Eu tinha a sensação de que aquela frase me assombraria até ela se
formar na faculdade.
Tirando as chaves do apartamento de Kate da tigela da cozinha,
rapidamente verifiquei meu reflexo no espelho do corredor antes de subir.
Talvez nunca mais nos envolvêssemos, mas eu não podia negar minha atração
por ela. Alisei meu cabelo bagunçado, que ainda não tinha sido penteado, e
passei pela porta, pronto para finalmente falar com a minha nova vizinha sem
a observação dos olhos de águia da minha filha.
Quando cheguei na porta da casa de Kate, a porta estava entreaberta,
por isso bati levemente antes de empurrá-la.
— Kate? — Chamei, entrando. — Eu só queria deixar as chaves e ver
se você precisa de alguma coisa.
— Um segundo! — Sua voz veio do quarto, acompanhada pelo som de
caixas deslizando pelo chão de madeira.
Fechando a porta, fui até a sala de estar, onde Kate já havia começado a
montar uma estante de livros e separar as caixas. Antes que pudesse dar uma
olhada nos livros de que ela gostava, ela apareceu com o rosto corado e
pequenas gotas de suor na testa.
— Obrigada por trazer as chaves. Eu teria esquecido completamente
delas por conta de todo o caos da mudança. — Ela riu e enxugou a testa com
as costas da mão.
A combinação de seu rosto corado e a voz levemente sem fôlego me
levou de volta para aquela noite em meu quarto. Seu corpo sexy pressionando
o meu, seus lábios em minha pele. Senti uma pressão dentro da minha calça,
então rapidamente vaguei pela sala, com receio de que ela pudesse notar a
ereção e entender tudo errado.
Não que eu não queria que ela pensasse que eu estava interessado. Mas
a última coisa que eu queria, era parecer um senhorio tarado atacando sua
inquilina.
— Não se preocupe — disse levemente, caminhando até a estante de
livros. — Parece que você esteve ocupada. Estou impressionado.
Eu me virei e sorri para ela, enquanto gesticulava para a estante recém-
montada, e poderia jurar que ela corou um pouco.
— Bem, quando moramos sozinhos, temos que cuidar de nós mesmos
— ela respondeu, levantando uma sobrancelha de modo brincalhão.
Ela caminhou até o outro lado oposto da estante, e acabei tendo a
impressão de que estávamos circulando um para o outro, testando os limites
físicos de nossa dinâmica. Dei um passo em direção a ela.
— Não duvido que você seja mais do que capaz. Mas saiba que se
precisar de qualquer coisa, estou sempre disponível.
— Cuidado. Qualquer coisa é uma oferta bem grande. — Ela esboçou
um sorriso tímido.
— Estou falando sério. Qualquer coisa. — Segurei seu olhar por alguns
segundos a mais do que o apropriado. Deus, o que eu não daria para
pressioná-la contra a parede agora.
Kate sorriu e riu baixinho, antes de se virar e colocar o cabelo atrás da
orelha.
Talvez eu tenha ido longe demais, mas eu estava sendo sincero. Mesmo
que nossa conexão não fosse séria, como pensei – eu já estava me sentindo
um pouco protetor com ela. Era uma mulher solteira, e precisava de um
homem para um trabalho, e uma parte de mim queria ser aquele homem.
Passando meus dedos pela estante, deixei meu olhar vagar pelas caixas
espalhadas no chão da sala. Livros, material de cozinha, bugigangas… Nossa!
— Nossa! — disse enquanto olhava uma caixa muito maior em um
canto da sala. — Você tem uma enorme coleção de vinil.
Andei em direção a ela, meus olhos maiores a cada segundo.
— Você gosta de vinil? — Ela perguntou, abrindo um sorriso.
— Muito. Você se importa se eu der uma olhada?
— Fique à vontade.
Quando peguei a caixa, comecei a olhar os títulos, todos guardados em
capas imaculadas. Eu já achava Kate legal e sexy, mas isso? Isso a estava
elevando a um nível totalmente novo.
— Billie Holiday, Miles Davis, os Beatles… você tem todos os
clássicos — eu disse, incapaz de esconder a surpresa e admiração em minha
voz. Eu não conseguia acreditar que Kate gostava tanto de música… ou que
nosso gosto musical fosse tão parecido.
Ela parou ao meu lado, na frente da caixa.
— Comecei a colecionar quando tinha dezesseis anos. Depois que
comecei, não consegui parar. Fugiu um pouco do meu controle. — Ela riu,
revirando os olhos.
— Não, não, isso é incrível. Realmente foda. — Estava tão chocado que
não conseguia ser mais articulado. — Paul Simon? Eu amo esse álbum. — Eu
me virei para ela com olhos arregalados, balançando a cabeça, incrédulo.
— Se quiser algum deles emprestado, pode pegar. Normalmente, eu
guardo a minha obsessão com discos para mim, mas agora que você sabe,
acho que está tudo revelado, ou fora da capa, neste caso. Então, fique à
vontade. E se você quiser vir aqui para ouvir, estou bem perto.
— Sim, claro, isso seria ótimo. Maddie também adora essas coisas.
Merda. Nada como mencionar sua filha para cortar o clima.
— Talvez uma reuniãozinha com música ajude a fazer com que ela
goste de mim — Kate disse, abrindo um sorriso torto.
— Não, ela gosta de você. Ela só está… se ajustando.
Que boa maneira de explicar a situação.
— Bem, eu espero que ela não tenha traumas para o resto da vida. —
Kate disse e nós dois rimos sem jeito, e lutei para não me lembrar de Kate nua
pela décima vez.
— Ela vai ficar bem — eu disse, colocando o disco de volta na caixa.
— Isso me lembra que é melhor eu ir. O tempo da leitura da Maddie está
acabando, e ela vai ficar chateada se eu não estiver em casa quando ela
acabar.
Isso e se eu ficasse mais tempo no apartamento de Kate, não podia
garantir que não daria em cima dela.
— Certo, claro. Obrigada pela visita — disse ela, caminhando até a
porta.
Quando saí, me virei para acenar meio desajeitado e dobrei a esquina da
garagem, com o coração batendo rápido. Kate acenou de volta, sorrindo
delicadamente e fechando a porta.
De volta a minha casa, eu tinha mais ou menos dez minutos antes que
Maddie saísse correndo do quarto, insistindo que não precisava mais ficar em
silêncio. Usei esse tempo para reordenar meus pensamentos.
Já sabia que estava em apuros no que dizia respeito àquela mulher. Por
mais que eu quisesse esquecer o que tinha acontecido entre nós, toda vez que
estava perto dela, minha mente lembrava da imagem de seu corpo nu — e de
senti-la molhada e quente. E aquela coleção de vinil? Não estava ajudando em
nada também. Ela era sexy e interessante. E morava a poucos metros de mim.
Eu tinha que encontrar uma solução para toda aquela energia sexual
reprimida e rápido.



Kate

O ar condicionado do apartamento decidiu morrer no dia mais quente


do ano, até agora. Pior, eu estava lutando para ajeitar a fita que usei para
enrolar meu tapete cinza.
Tinha me mudado havia alguns dias, mas entre escrever minha coluna e
várias longas reuniões com meu editor, eu mal tinha ficado no apartamento –
nem tinha terminado de desempacotar tudo. Agora, depois de uma tarde
organizando os móveis e desembalando caixas naquele calor, eu estava
suando como se tivesse acabado de correr uma maratona.
Tentei me motivar pensando que poderia tomar um drinque quando
terminasse tudo, porque definitivamente precisava de um. Não me dou bem
com o calor – o único lugar onde gostava de calor e suor era no quarto.
Apesar do problema com o ar condicionado, estava animada por ver o
apartamento tomando forma. Odiava admitir isso, mas estava começando a
curtir a vida em um bairro residencial. Havia muito silêncio e eu estava
dormindo como nunca. Talvez estivesse ficando velha e chata, mas ver os
patinhos nadando no lago do quintal era o meu novo passatempo favorito.
Era um ótimo apartamento, e se conseguisse guardar tudo, estaria
finalmente acomodada.
Havia apenas uma maneira de lidar com a situação, se não quisesse
derreter de calor. Tirei a camiseta molhada e os shorts, optando por ficar
apenas de calcinha e sutiã, e joguei um pouco de água fria no rosto.
Tirei o som portátil do fundo de uma caixa e coloquei para tocar minha
playlist “feliz”. Nunca tinha vivido em um lugar só meu antes, mas tinha a
sensação de que seria agradável. Especialmente se eu pudesse ficar de
calcinha pela casa ouvindo Bruno Mars sempre que tivesse vontade.
Olhei pela janela entre as persianas e notei o carro de Hunter na
garagem. Não o via desde o nosso último encontro estranho, quando Maddie
notou que a mulher que estava montando em seu pai era sua nova vizinha. A
gente terminou a noite normalmente, mas ainda assim a estranha sensação de
desconforto não ia embora.
Ele e eu quase nos encontramos um outro dia, quando eu estava
entrando no carro para encontrar meu editor, mas fingi não vê-lo. Eu disse a
mim mesma que não o estava evitando. Estava apenas ocupada e sem tempo
para conversar.
Como se tivéssemos combinado, Hunter saiu pela porta da frente
levando o lixo, e pulei para longe da janela com o coração acelerado.
Certo, então talvez eu realmente o estivesse evitando. Mas parecia que
não era capaz de ficar perto daquele homem sem fazer papel de boba, então
não estava com pressa de vê-lo.
Uptown Funk começou a tocar e sorri. Era a música perfeita para me
fazer esquecer todo o drama do Hunter. Sim, eu sabia que ela tocava demais
em todos os lugares, mas eu ainda a amava e não conseguia ficar parada
quando ela tocava. Eu podia ser uma mulher de trinta anos, mas ainda não
sabia dançar.
Estava entrando no refrão, fazendo minha melhor encenação do
videoclipe e segurando uma colher de pau como microfone, quando ouvi uma
voz atrás de mim. Girei e, no meio do impulso, vi Hunter parado na porta.
Nós nos encaramos por um momento, enquanto ele observava a cena.
E não foi uma cena bonita. Eu estava de sutiã de algodão branco e uma
calcinha verde-neon, com estampa de pinguins.
— Ai meu Deus! — gritei quando Hunter ficou boquiaberto. Procurei
minha camiseta.
— Merda. Sinto muito — disse ele, virando-se para a parede, enquanto
eu vestia uma camiseta. — Eu não sabia… A porta estava aberta. — Ele disse,
ainda de costas enquanto eu vestia o short.
Ah, sério? Era a segunda vez em uma semana em que eu precisava
correr para vestir minhas roupas na frente de Hunter.
— Estava quente, então abri a porta. Acho que a esqueci aberta — falei,
aterrorizada e tentando ignorar minhas bochechas em chamas. Não poderia ter
feito um papelão maior na frente dele, nem se tivesse tentado.
— Desculpe — ele disse novamente, assim que desligou a música. —
Eu estava vindo checar o ar condicionado. Ele tende a parar em dias quentes
como hoje.
— Sim, eu notei — falei, abanando meu rosto suado. Ainda estava me
recuperando do choque, mas consegui abrir um sorriso. — Mas obrigada por
vir verificar. Meu último senhorio teria me deixado morrer de calor, não
consertava nada.
— Não se preocupe — Hunter sorriu. — Eu sei que pode ficar bem
quente aqui. Você se importa se eu der uma olhada?
— De maneira alguma — e apontei para a caixa de fusíveis na parede.
Ele desligou o ar-condicionado, apertou alguns botões e depois se
abaixou para religar o ar-condicionado, que imediatamente funcionou.
Sorri quando o ar frio passou por mim.
— Isso foi incrível!
Fiz contato visual com Hunter e meu estômago deu uma cambalhota.
— Eu costumo usar roupas — acrescentei, rapidamente, esperando que
meu rosto não estivesse tão vermelho quanto parecia. — Mas estava quente,
então você sabe como é. E começou a tocar essa música.
Jesus, Kate, cale a boca.
Ele riu.
— Não se preocupe com isso. A culpa é minha por ter vindo sem avisar.
Eu deveria ter ligado primeiro.
— Então… — eu disse, desesperada para mudar de assunto. — Como
está Maddie?
— Está bem — ele sorriu, e seus olhos se iluminaram como sempre,
quando ele falava sobre ela. Apesar de não gostar muito de crianças, tinha que
admitir que aquela menininha era bem adorável. — Ela está assistindo a um
filme na minha cama.
— Então ela te expulsou? — Levantei uma sobrancelha.
— Mais ou menos isso. Ela é muito persuasiva. — Ele riu.
— Nesse caso, você quer ficar e tomar uma cerveja? — Ele olhou pela
janela. — Tudo bem se você não puder deixar Maddie sozinha… — falei,
mas ele me interrompeu.
— Não, ela ficará bem por alguns minutos. Uma cerveja seria ótimo, na
verdade.
Fiz sinal para ele se sentar no sofá, enquanto fui pegar duas cervejas na
geladeira. Se realmente quiséssemos ser amigos, eu precisava passar algum
tempo conhecendo Hunter como pessoa, não só o cara sexy que eu tinha
conhecido em um bar. Mas com ele vestindo jeans e camiseta, seria mais fácil
falar do que fazer.
Entreguei uma cerveja para ele, que tomou um gole grande.
— Dia longo no trabalho? — perguntei.
— Está tão óbvio assim?
— Você parece um pouco tenso, só isso.
— Então, ela é linda e observadora — disse ele e meu coração deu um
pulo.
Olhei para minha garrafa de cerveja, e de repente fiquei sem palavras.
Ainda assim, poderia pensar em algumas coisas que gostaria de fazer com
Hunter, e a maioria delas não exigia roupas.
— Então… — disse, ansiosa para colocar minha língua em um assunto
seguro. — O que há de novo no transporte?
— Nada emocionante — ele sorriu e tomou outro gole. — Estamos
tentando cumprir um prazo e não está indo bem. Mas sério, você não quer
ouvir sobre isso. Até eu estou entediado com o assunto.
— Tá, então, o que há de novo na vida? Algum rolo com alguém? —
Fiz uma pausa, percebendo o que estava dizendo, então adicionei
timidamente: — Bem, com alguém além de mim.
Depois de um momento de silêncio, nós dois rimos e o alívio tomou
conta de mim. Parecia, finalmente, que tínhamos vencido a estranheza da
situação.
— Não muito. Você bateu recordes naquela noite.
— Não foi meu melhor momento — eu disse, ainda rindo.
— Pelo menos você nunca vai esquecer o seu trigésimo aniversário —
ele sorriu.
— Graças a Deus, terei essa memória para sempre.
Ainda sorrindo, ele passou a mão pelo cabelo escuro. Eu o observava,
tentando não me distrair com aqueles olhos expressivos e com a perfeição de
seus lábios carnudos e dentes brancos e retos, que apareciam quando ele
sorria.
Nunca tinha me excitado com os lábios de um cara antes, mas tinha algo
em Hunter que tornava impossível não pensar em beijá-lo. Eu tinha
consciência de que estávamos próximos o suficiente para que eu pudesse abrir
a perna e montar nele. Tentei lutar para normalizar minha respiração, mesmo
quando imaginei suas mãos em meu quadril, me puxando para mais perto
contra seu corpo. Não ajudou muito eu saber exatamente como era a
sensação, ainda podia sentir suas mãos na minha pele, sua boca me possuindo.
Porra.
Por sorte, Hunter interrompeu meus pensamentos antes que as coisas
ficassem muito safadas.
— E você? — Ele perguntou. — Qual é a fofoca mais recente das
celebridades?
— Isso é informação privilegiada — eu sorri timidamente. Na verdade,
não era, mas não acreditei que ele estaria interessado em saber quem Jennifer
Aniston estava namorando agora.
— Ok, me deixe adivinhar. Taylor Swift tem um novo namorado e
Justin Bieber passou vergonha em alguma casa noturna.
Eu ri.
— Acertei? — Sorrindo, ele tomou outro gole de cerveja.
— Não imaginei que você fosse um cara por dentro das fofocas de
celebridades — eu disse, rindo.
— Eu tenho uma filha. Ela tem apenas quatro anos, mas de alguma
forma, ela sabe tudo.
— Isso é impressionante. Talvez eu deva contratá-la para ser minha
assistente — sorri abertamente.
— Ela estaria dizendo a você como escrever sua coluna no primeiro dia.
Eu ri e tomei um gole de cerveja, voltando a sentir calor. Não podia
negar que o frio na barriga continuava presente, apesar de meus esforços para
manter as coisas platônicas.
Nunca me senti assim antes com um cara, principalmente depois de
como nossa noite terminou. Na verdade, mesmo quando as coisas iam bem
com um cara, eu geralmente ficava entediada em uma ou duas semanas. Mas
nenhum de nós teve a chance de ir até o fim naquela noite, então talvez eu só
estivesse sexualmente frustrada. Em poucas semanas, a tensão diminuiria e eu
tinha a esperança de não ficar me imaginando na cama com ele a cada cinco
minutos.
— Acho melhor eu voltar para ver se Maddie não colocou fogo na casa.
— Ele se levantou e se espreguiçou, e sua camisa subiu o suficiente para eu
dar uma olhada em seu abdômen duro.
Mordi o lábio. Não, Kate. Mentalmente me repreendi. Aquele era
exatamente o tipo de coisa em que eu precisava parar de pensar. Pena que eu
ainda conseguia me lembrar como era tocar aquele abdômen, enquanto ficava
em cima dele.
— A gente se vê — sorri, tentando fingir que não estava me lembrando
da sensação causada pelo pau dele dentro de mim, e o levei até a porta.
— Obrigado pela cerveja — disse ele, e em seguida acrescentou um
sorriso malicioso. — E me avise se precisar de alguma coisa aqui em cima.
Pelo que vi quando cheguei, você parece estar se divertindo bastante até
agora.
— Você não tem permissão para contar aquilo a ninguém. — Dei um
tapa em seu ombro e soltei uma risada.
— Ok, meus lábios estão selados. — Ele sorriu antes de descer as
escadas.
Depois que ele se foi, desabei no sofá, tentando me recuperar da
montanha-russa que era a minha atração por Hunter. Mas era bom saber que
conseguíamos nos divertir juntos sem ir para a cama.
Resolvi me esforçar ainda mais para fazer com que nosso
relacionamento fosse estritamente de proprietário e inquilina. Afinal, eu era
uma pessoa com fobia de compromisso, clássica: eu não era capaz nem me
comprometer com um gato ou uma cor de batom. O que sairia de bom se me
envolvesse com um cara que tinha uma filha? Eu não podia ter a
responsabilidade de ser um modelo bom para ela, e não seria justo com ele e
nem com ela passar dos limites no nosso relacionamento, principalmente
porque as coisas entre nós não durariam.
Por mais que eu quisesse tirar minha roupa e terminar o que tínhamos
começado na semana anterior, eu queria manter o apartamento, por mais fofo
e solícito que Hunter fosse.



Hunter

— Não, não, não, não vou deixar você usar isso em um encontro. —
Kate disse, cruzando os braços e balançando a cabeça.
Eu tinha acabado de sair do meu quarto para perguntar o que ela achava
da minha roupa casual para sair para beber e ver onde isso vai dar. Mas com
base no seu olhar horrorizado, eu estava completamente inadequado.
— O que há de errado? — Perguntei indicando minha calça cáqui e
camisa xadrez azul. Não chegaria ao ponto de me chamar de especialista em
moda, mas não achei que estivesse tão ruim assim.
As sobrancelhas de Kate se ergueram, seus olhos se arregalaram com
desaprovação.
— Calça cáqui? — Ela exclamou. — Para sair para beber?
— É uma calça bacana — disse na defensiva, passando as palmas das
mãos pela calça.
Kate suavizou o rosto por um momento, descruzando os braços e
suspirando.
— É bacana — disse, inclinando-se para a frente no sofá, para tomar
outro gole da taça de vinho. — Se você vai à igreja em um domingo e depois
a um piquenique. Mas você vai a um encontro. Eu imploro, tente de novo. —
Ela disse com autoridade, franzindo as sobrancelhas com um olhar
determinado.
— Tudo bem — murmurei, virando para voltar para as escadas. Mas
tinha que admitir que uma parte de mim estava se divertindo, lembrando do
jeito com que ela me repreendeu por causa de minhas cantadas naquela noite
no bar.
— Vá colocar um jeans. Escuros, por favor! — Ela chamou quando eu
dobrei a esquina para o meu quarto. — E nada muito folgado.
Desabotoando minha camisa, não pude deixar de sorrir e balançar a
cabeça por perceber que Kate estava bem à vontade me dando ordens. Nós
erámos vizinhos havia apenas algumas semanas, mas parecia que nos
conhecíamos há anos. Apesar de termos começado de uma maneira difícil, era
bom ter outro adulto por perto com quem beber. Apenas ter alguém para
conversar e rir fazia a casa ficar menos quieta.
O único pequeno problema era Maddie. Não que ela não gostasse de
Kate, mas ainda suspeitava daquela troca de carinhos entre adultos, então era
algo que tínhamos que abordar com calma. Naquela noite, no entanto, Maddie
estava com os avós dela, sendo super mimada.
Quando ficou claro que a mãe de Maddie não faria parte de sua vida, fiz
questão de me mudar para mais perto de meus pais. Sinceramente, tê-los por
perto era uma dádiva de Deus. Eu amava muito a minha vida com Maddie e
não trocaria nosso tempo juntos por nada no mundo, mas o fato é que eu
precisava de ajuda às vezes, por mais que eu gostasse de brincar de casinha e
usar tiaras.
De pé, olhando para o armário, procurei alguma camisa que fosse mais
adequada para sair para beber. Depois de jogar um jeans escuro na cama,
continue procurando, e finalmente encontrei uma blusa de lã cinza.
Rapidamente troquei de roupa e voltei para a sala de estar, pronto para ser
insultado por Kate novamente.
Parei em frente ao sofá, onde ela estava esperando por mim com uma
taça de vinho na mão. Sorrindo, ergui uma sobrancelha, curioso, e ela
rapidamente colocou a taça na mesa de canto. Antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa um pouco provocante, ela deu um grito estridente, batendo
palmas e assentindo com aprovação.
— Agora sim! Está perfeito. A calça jeans é ótima e essa blusa… — Os
olhos de Kate deslizaram pelo meu peitoral e ombros, sua expressão mudando
pouco, apenas o suficiente para eu sentir uma leve tensão entre nós. — É
ótimo — ela disse, rapidamente, olhando em meus olhos e forçando um
sorriso.
— Fico feliz que você tenha aprovado. — Sorri.
Ela riu e bateu com as costas da mão em meu braço. Mesmo quando ela
se acomodou no sofá, tranquila, eu ainda podia sentir a tensão entre nós.
— Ei, seu telefone tocou enquanto você estava se arrumando. Eu não
olhei quem era, por mais intrometida que quisesse. — Ela ergueu as
sobrancelhas, com um sorriso safado se abrindo.
— Mais uma taça de vinho e você vai estar invadindo meu telefone sem
pensar duas vezes — peguei o aparelho e digitei a senha.
Era um texto de Heather, a mulher com quem eu me encontraria para
beber em trinta minutos, me dizendo ter tido uma emergência no trabalho e
que não seria capaz de me encontrar hoje.
Suspirei.
— Bem, espero que você não tenha planos para o resto da noite. Meu
encontro foi cancelado e de jeito nenhum vou perder a chance de me divertir
numa noite sem criança.
Kate ficou chocada e rapidamente mudou, parecendo mais irritada.
— Mas que droga é essa? — Ela disse, ficando de pé. — Ela te deu um
bolo, minutos antes do encontro?
— Para ser justo, tenho certeza de que dar bolo é não aparecer. Pelo
menos ela teve a gentileza de me avisar que tinha acabado antes de começar.
— Peguei minha taça de vinho e me sentei no sofá.
Kate fez cara de indignada.
— Por que você não parece surpreso? Nem bravo? — Ela andou pela
sala de estar, enquanto gesticulava freneticamente.
— Porque eu não estou — disse, entre goles de vinho. — Não seria a
primeira vez que uma pessoa analisa minhas redes sociais e descobre que sou
pai. — E é por isso, que às vezes é melhor deixar essas coisas um pouco mais
agitadas, como pegar alguém de surpresa em um bar…
— Isso é besteira. — Ela zombou, jogando-se na almofada do outro
sofá, a testa franzida em frustração. — Então, você acha que ela cancelou
porque você tem uma filha?
— Talvez, talvez não. Mas acontece com mais frequência do que você
imagina. Espere aí. Esse também não é seu grilo? — Eu lancei a ela um olhar
de dúvida.
— Bem, não. É só que… não procurando nada sério. — Ela se
atrapalhou em suas palavras, obviamente nervosa com minha pergunta. —
Com ninguém. — Acrescentou ela, mais para si mesma do que para mim.
Lancei a ela um olhar incrédulo.
— Então, você está me dizendo que se eu quisesse ter um caso com
você, puramente sexual, sem compromisso, você toparia? — Enquanto eu
falava, inclinei o corpo em direção a ela, consciente da tensão entre nós.
Ela olhou para mim, com os olhos arregalados, por um momento.
— Você e eu temos idade suficiente para saber que isso seria uma ideia
terrível.
Eu segurei seu olhar por um tempo, as lembranças daquela primeira
noite em que nos conhecemos passando pela minha mente. Talvez ela
estivesse certa. Talvez uma aventura casual com a minha nova inquilina fosse
uma ideia terrível. E ainda assim… talvez fosse exatamente o que nós dois
precisávamos. Eu me levantei e peguei nossas taças de vinho vazias.
— Sexo casual ou não, eu acabei de ter um encontro cancelado, e isso
só pode significar uma coisa.
— Que coisa? — perguntou ela, cruzando uma perna perfeitamente
esculpida em cima da outra.
— É hora de pedir comida.

Mais duas taças de vinho e uma pizza grande com cogumelos e


azeitonas depois, Kate e eu estávamos sentados à mesa da cozinha, com
lágrimas escorrendo por nosso rosto, enquanto ríamos.
— Você não fez isso — disse ela, com o rosto vermelho, enxugando
uma lágrima do canto do olho.
— O que mais eu deveria fazer? Maddie tinha feito cocô nas calças, nós
dois estávamos no meio da floresta e minha pressa para sair de casa no nosso
dia de contato com a natureza foi tanta que eu tinha esquecido de pegar mais
uma muda de roupas para ela. — Eu balancei as mãos, em forma de rendição.
Era a velha história do minha filha fez cocô nas calças, então eu tive
que amarrar uma camiseta minha em volta de sua cintura, fazendo uma
tanga, para que assim ela ficasse pelo resto de nossa caminhada.
Normalmente, eu não conseguia contar essa história em um primeiro
encontro.
— Você é inacreditável — disse Kate, em meio a risos, balançando a
cabeça e girando a taça de vinho. Suas bochechas estavam rosadas devido ao
riso e ao vinho, os cabelos caíam soltos sobre os ombros, ligeiramente
despenteados, e agora ela estava bem embriagada. Eu sabia que ela era uma
coisa de louco desde o momento em que a vi no bar, naquela noite, mas
naquele momento, ela não era apenas sexy. Ela era bonita.
— Então, me diga, Kate — eu disse, inclinando a cabeça para o lado e
olhando para ela. — Como uma garota como você acabou vindo morar nesta
casa? Você largou algum pobre coitado e o deixou se virar sozinho em um
apartamento da parte alta da cidade, que vocês costumavam dividir? —
Definitivamente era o vinho me deixando ousado, fazendo as perguntas que
vinha guardando há semanas.
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Não, não foi nada tão excitante nem dramático, pelo menos não para
mim. Minha colega de quarto acabou de ficar noiva e acontece que casais
recém-noivos não querem uma outra pessoa morando no apartamento,
segurando vela o tempo todo.
Eu balancei a cabeça, compreendendo.
— Isso faz sentido, eu acho. Então, você não abandonou ninguém?
Você é apenas uma pessoa com total fobia de compromisso?
— Bem, eu não diria que tenho fobia de compromisso, embora meus
amigos talvez dissessem — disse ela, dando de ombros.
Recostando-me na cadeira, cruzei os braços e lancei a ela um olhar
demorado.
— Me dá a impressão de que você é solitária — eu disse, num tom
baixo.
— E é por isso que existem os bares — ela arqueou uma sobrancelha e
me lançou um olhar espertinho.
— Touché.
Ficamos em silêncio por algum tempo, observando um ao outro com
olhares suaves e curiosos. Quanto mais eu conhecia aquela mulher, mas eu
queria conhecer, mas não sabia — exatamente — para onde aquilo tudo
estava indo.
— É melhor eu ir — disse ela com um suspiro, olhando para o relógio
pendurado na parede atrás de mim. Eu me virei para conferir a hora, e me
surpreendi ao ver que era quase meia-noite. Droga. Era mais tarde do que
esperava.
— Bem, obrigado por me ajudar a escolher as roupas, mesmo que o
encontro não tenha acontecido — eu disse, enquanto estávamos de pé e Kate
juntava suas coisas.
— De nada — ela respondeu, passando a bolsa pelo ombro. — Sinto
muito de novo por aquela vaca ter cancelado.
— Não, eu não acho que ela seja uma vaca. Apenas teve medo de
começar algo que poderia se tornar muito real.
Kate olhou para mim surpresa.
— Eu não sei se isso é indireta ou se estamos ambos bêbados.
Nós rimos, enquanto andávamos em direção à porta da frente, onde
Kate parou antes de abri-la.
— Eu me diverti muito essa noite — disse ela, olhando para os pés e
prendendo uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Quando ela olhou para mim, nossos olhos se encontraram e a energia
voltou entre nós novamente — e de repente, não pude mais ignorar.
Segurei seu rosto com as mãos e a puxei em direção a mim, fazendo
com que nossos lábios se encontrassem em um beijo lento e sensual. Quando
nos separamos, ela não reagiu por um segundo, e deixou claro no olhar que
estava mesmo surpresa. Mantendo minha mão em sua bochecha, olhei em
seus olhos, buscando por um sinal de que ela também queria aquilo.
Sem dizer uma palavra, ela deixou a bolsa cair e envolveu meu pescoço
em um abraço, pressionando seu corpo no meu. Tomei sua boca novamente,
aprofundando o nosso beijo quando ela entreabriu os lábios. Minhas mãos
pousaram em seu quadril, saboreando sua forma suave e flexível, enquanto as
mãos dela subiam por minha nuca, seus dedos indo em direção ao meu
cabelo.
Um pequeno gemido escapou de seus lábios, enquanto eu posicionava
meu joelho entre suas pernas, sentindo o calor por cima de meu jeans. Meu
pau respondeu com uma contração, com vontade de ser libertado, de estar
dentro dela novamente. Para terminar o que tínhamos começado.
Enterrei meus dedos em sua pele, desejando poder arrancar as camas de
roupas entre nós. Nossas línguas se moviam mais rápido e com mais urgência,
e nossa respiração ficou pesada. Cada centímetro do meu corpo parecia
tomado por uma corrente elétrica perto dela, e quando nos beijávamos, era
como acionar a energia no máximo.
De repente, ela se afastou, recuando para trás deixando um espaço
dentre entre nossos corpos. Por um momento, ficamos ali, respirando
ofegantes, olhando um para o outro com os olhos arregalados e procurando
algo.
— Eu, uh… eu tenho que ir — ela gaguejou, e em seguida, pegou sua
bolsa do chão, rapidamente abriu a porta e saiu, batendo-a para fechá-la.
Eu podia ouvir seus passos enquanto ela subia as escadas, o som da
porta do apartamento abrindo e fechando. Fiquei na porta por um momento,
minha mente presa na eletricidade daquele beijo.
Assim que recuperei o fôlego e minha mente se acalmou, voltei para a
cozinha e comecei a lavar a louça. Enquanto estava enxaguando as taças de
vinho, pensei no olhar de Kate antes de ela sair correndo pela porta.
Era choque? Era o olhar de alguém que queria mais, mas sabia que não
devia? Eu não sabia o que significava e não sabia para onde aquilo estava
indo — mas havia uma coisa que eu sabia.
Era que queria fazer aquilo de novo e terminar o que começamos.



Kate

Rapidamente passei uma escova no cabelo e verifiquei meus dentes,


tirando as manchas de batom, antes de sair correndo pela porta. Tinha que ir
até a cidade para uma reunião com o meu editor de manhã, e estava com
medo. Ele já estava no meu pé a semana toda para que eu terminasse minha
coluna, e a última coisa que eu precisava era me atrasar. Fiquei tão distraída
com a mudança e com a organização da casa que estava tendo dificuldade
para me sentar e trabalhar. E para ser sincera, minha atração por Hunter
também não ajudava.
Depois do nosso beijo, fiquei tão excitada e inquieta que me revirei na
cama a noite toda. Quanto mais eu pensava sobre aquilo, mas eu queria jogar
tudo para o alto e ver aonde a atração nos levaria. Depois da noite passada, a
ideia de ceder à tentação chamada Hunter era poderosa demais para resistir.
Por que não me arriscar? Ele disse que não precisávamos levar nada a sério.
Éramos ambos adultos que tinham necessidades. Além disso, nunca fui de
deixar negócios inacabados.
Distraída, pensava nas opções ao longo da reunião. Foi difícil me
concentrar em alguma coisa e parar de pensar na proposta de Hunter. Ele
estava falando sério? Realmente queria uma aventura casual? Mas minha
reunião transcorreu sem problemas e tomei isso como um bom presságio.
Naquela noite, depois de tomar banho e me trocar, decidi ir à casa de
Hunter para conversar por alguns minutos. Tinha se tornado parte do meu
ritual e eu aguardava ansiosamente por aquele momento do dia. Enquanto
passava um pouco de rímel, me ocorreu que ele poderia ter feito aquele
comentário sobre nós casualmente, por conta do vinho, ou por ter acabado de
levar um fora. Talvez parecesse boa ideia em teoria, mas quando chegasse a
hora, ele poderia decidir que não estava interessado o suficiente para
confundir as coisas do nosso relacionamento.
Irritada o ver como a mão que segurava o pincel do rímel tremia, deixei
o rímel de lado e respirei fundo. Acalme-se, disse para mim mesma.
Eu não era daquele jeito. Nunca fiquei sentada pensando o que um cara
imaginava de mim. No passado, quando as coisas não davam certo com
alguém, eu sempre achava que era melhor assim. Sabia que estava indo para o
próximo capítulo da minha vida feliz e fazia isso sem me arrepender.
Na verdade, eu sentia um pouco de orgulho em dizer que nunca tinha
sofrido por amor. Nunca fui o tipo de mulher que tinha medo de dizer o que
pensa, ou que se preocupava com o que o cara pensava — e não pretendia
começar agora.
Com a minha determinação renovada, respirei fundo e calcei minhas
sandálias. Parando antes de sair pela porta, torci para estar fazendo a coisa
certa.
Hunter abriu a porta na primeira batida. Eu ainda me surpreendia ao vê-
lo tão sensual todas as vezes — e naquela noite não foi diferente.
— Oi — falei, sorrindo.
— Ei, Kate. Tudo bem?
Respirei fundo ao olhar dentro de seus olhos escuros e sensuais, e vi um
sorriso abrir em seu rosto. Eu estava prestes a abrir a boca e despejar tudo o
que estava pensando, quando a cabeça de Maddie apareceu na porta.
— Ah, é ela — disse, voltando para dentro com uma carranca.
— Maddie — Hunter disse com tom de repreensão, mas ela já havia se
afastado. Ele se virou para mim com um sorriso de desculpas. — Me desculpe
por isso. Está tudo bem?
Meu sorriso enfraqueceu. Eu era muito idiota. Por que achei que
poderia entrar e falar sobre meus sentimentos? Obviamente, Maddie estava
em casa. Eu precisava me controlar. Estava deixando meu desejo por Hunter
atrapalhar meu bom senso.
— Ei — eu sorri, mudando de tom. — Eu só vim perguntar se você
estaria disponível para uma bebida depois do trabalho, mais tarde.
— Eu gostaria, sim, mas estamos no meio de um dilema aqui — disse
ele, apontando para dentro.
— Está tudo bem? — Horrorizada, fiz uma careta. Não só tinha metido
os pés pelas mãos, mas agora estava interrompendo algum tipo de emergência
familiar. Que ótimo.
— Não, desculpe, nada disso. Eu não quis parecer dramático. É mais
uma emergência de cozinha do que uma emergência real. — Ele riu e me
senti aliviada.
— Eu não como mais glúten agora — Maddie voltou, segurando um
livro de receitas. — Mas ele não sabe fazer nenhuma receita. — Ela apontou
para Hunter, que riu.
— Eu sugeri pelo menos cinco coisas, e você não quer nenhuma delas
— respondeu ele, meio divertindo-se, meio desesperado.
Ele me lançou um olhar suplicante.
— Todas pareciam ruins — a menininha enrugou o nariz.
Ela era realmente muito fofa quando não estava olhando para mim com
raiva. Eu podia ver a semelhança com o pai, nos olhos escuros com cílios
mais escuros, e cabelos castanhos tão macios que não conseguiam decidir se
queriam ser lisos ou anelados.
— Eu também não como glúten — disse, esperando que talvez pudesse
ser útil pela primeira vez. — Eu poderia ajudar vocês. Cozinho o tempo todo.
— Isso seria incrível — disse Hunter, rapidamente, com alívio em seu
rosto. — Nós estamos às voltas com isso há uma hora.
Maddie olhou para mim com desconfiança, mas não disse nada. Hunter
fez sinal para mim e eu o segui até a cozinha, onde uma sacola de compras
estava sobre o balcão.
— Tenho um monte de coisas sem glúten — disse ele, tirando vários
itens da bolsa. Nós analisamos as compras. Havia espaguete sem glúten,
algumas batatas e um saco de quinoa. Levantei uma sobrancelha para ele. Só
isso?
— Eu não tenho ideia do que estou fazendo — admitiu.
— Não se preocupe — disse, olhando para o que ele tinha comprado. —
Eu tenho uma ideia.
— Faça o que for preciso. — Ele ergueu as mãos. — Eu fico te devendo
muito. Qualquer coisa que você quiser, é seu.
Tirei coisas dos armários e as arrumei no balcão, preparando uma
receita. Sabia que podia ser muito difícil cozinhar refeições inteiras sem
glúten e eu estava impressionada por Maddie querer experimentar coisas
novas. Secretamente, esperava que cozinhar para eles me desse mais pontos
tanto com Hunter quanto com Maddie.
Enquanto procurava mel no armário, percebi que os dois estavam me
encarando.
— Vocês dois podem ir relaxar. Está tudo sob controle — disse,
virando-me para afastá-los depois de pegar peitos de frango na geladeira.
Maddie correu para o quintal, onde começou a chutar uma bola de
futebol.
— Desculpe, ela ainda está um pouco estranha com você — Hunter
disse.
— Não tem problema nenhum. — Falei, tentando afastar a preocupação
dele. — Ela me deixa em estado de alerta. — Para ser sincera, agora que o
susto tinha passado, estava começando a achar tudo meio engraçado. Eu
gostava de ver que Maddie tinha personalidade.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar? — Ele ofereceu. Ainda
usava as roupas de trabalho, um terno azul-escuro com uma camisa branca de
botões, que lhe caíam muito bem. Ele estava vestindo um terno na noite em
que o conheci.
A única coisa que ele poderia fazer para ajudar a apagar aquele incêndio
seria me jogar em cima da mesa da cozinha, mas é claro que eu não podia
dizer isso.
— Está tudo bem. Posso ser um pouco mandona na cozinha, então
provavelmente é melhor que você não testemunhe isso.
E mais do que qualquer coisa, eu precisava que ele saísse dali para que
eu pudesse me concentrar em cozinhar o jantar, em vez de pensar em lamber
sua salsicha.
— Por que isso não me surpreende? — ele riu.
Eu também sou mandona no quarto, mas você já sabe disso, pensei,
mas mordi a língua. Haveria tempo de sobra para conversas safadas depois.
Isto é — se tudo corresse do jeito que eu esperava.
Tentei não pensar nisso, enquanto cortava as batatas e fritava o frango.
Por sorte, ficar na cozinha me ajudou a acalmar minha libido hiperativa.
Fiquei surpreendente à vontade na cozinha de Hunter, e foi bom cozinhar para
alguém, para variar. Eu amava experimentar novas receitas, mas era menos
emocionante quando não havia ninguém para compartilhar. Cozinhar para um
é bem chato. Então, muitas noites, eu evitava.
Uma hora depois, tinha preparado uma refeição completa, e eu esperava
conseguir agradar minha amiguinha cheia de ressalvas, pelo menos. Minha
versão de frango frito, temperado com mel e alho, salada de batatas e um bolo
de chocolate sem farinha de sobremesa.
Hunter insistiu para que eu ficasse e comesse com eles, e eu não tinha
recusado.
— Está incrível — disse ele, depois de engolir um pedaço de frango. —
Isso é sem glúten?
— Sim. Eu venho fazendo isso há anos. E obrigada — sorri para ele,
nossos olhos se encontrando. Meu pulso disparou, como se eu estivesse
correndo.
Rapidamente, desviei o olhar, esperando que Maddie não tivesse
notado. Estava esperando que ela e eu pudéssemos colocar nosso
relacionamento na direção certa, e ela me pegar babando por seu pai não
ajudaria muito. Felizmente, ela estava olhando para seu prato com
desconfiança. Eu vi quando ela cravou o garfo na comida e deu uma pequena
mordida. Seus olhos se arregalaram, e ela foi mastigando e deu outra mordida.
— O que achou, Maddie? — perguntei. Ela claramente não percebeu
que eu estava olhando para ela, porque imediatamente parou de mastigar e
encolheu os ombros.
— Está bom — disse ela em um tom evasivo.
Tive que segurar uma risada. Talvez eu pudesse conquistá-la, se
continuasse a alimentá-la.
— Então, Maddie, como é a pré-escola? — perguntei.
— Conte a ela sobre seu projeto da feira de ciências — Hunter disse.
Os olhos de Maddie se iluminaram de um jeito que eu nunca tinha visto
antes, enquanto ela contava que eles estavam aprendendo sobre pegadas
fossilizadas de dinossauros.
— Fizemos nossos próprios fósseis, colocando nossas mãos em argila e,
na próxima semana, vamos ao museu para ver ossos de dinossauro de
verdade! — disse ela, animada, e seu entusiasmo era contagiante.
— Isso é incrível — sorri abertamente.
Ela continuou a descrever fósseis de dinossauros com muito mais
paixão do que já tinha visto. Até sabia os nomes certos dos dinossauros que
eu nunca tinha ouvido falar.
Depois que comemos, Maddie correu para fora para continuar
brincando. Eu a observei pela janela por um minuto, e não pude deixar de
sorrir. Ela estava praticando cambalhotas, e com um olhar de pura
determinação, o que era adorável. Ela podia não confiar em mim ainda, mas
eu me parabenizei por começar a furar aquela barreira.
E passar um tempo com eles foi mais divertido do que eu esperava, o
que só me deixou mais atraída por Hunter. Geralmente, eu não gostava de
homens que já eram pai, mas definitivamente a paternidade caía bem nele.
Sua filha era bem-comportada, e ele era carinhoso com ela, mas firme. Ele era
um homem de verdade, com responsabilidades, uma casa e uma criança, e
algo no fato de ele ter as coisas em ordem em sua vida era extremamente
excitante para mim. Era um tipo de afrodisíaco de pai solteiro que eu nunca
havia experimentado antes.
Eu me virei da janela, de modo a ficar de frente para Hunter, com
alguns centímetros nos separando.
— Maddie é muito teimosa para lhe dizer isso, mas ela amou sua
comida. Ela nunca limpa o prato como fez hoje, quando eu cozinho. Está
certo que eu mal sei fazer nuggets de frango congelado.
Eu sorri, mais tocada do que eu esperava ficar ao ouvir que Maddie
havia gostado.
— Espero que isso compense o trauma pelo qual fiz ela passar.
Hunter riu.
— Eu diria que ela te perdoou. Mas sério, obrigado mesmo. Você
salvou minha vida.
Houve um momento de silêncio. Era agora ou nunca e eu sabia que
tinha que torcer para ele estar na mesma sintonia. Se não estivesse, pelo
menos eu saberia que tinha sido sincera. Eu respirei fundo.
— Então, escute. Talvez eu esteja entendendo errado, mas no caso de eu
não estar… — Olhei para ele nos olhos, com o coração acelerando. Tentei
pensar em outra maneira educada de dizer aquilo, e então decidi
simplesmente dizer. — Nós, claramente, temos uma atração…
Deus, por que meu estômago está embrulhado? Era como ser aluna do
primeiro colegial de novo, imaginando se um garoto gostava de mim.
Indo adiante, completei:
— Talvez seja um pouco não convencional, mas acho que somos
maduros o suficiente para ter uma relação apenas física, sem deixar que as
coisas percam o rumo. — Além disso, está ficando cada vez mais difícil não
pular em cima de você toda vez que te vejo.
Meu coração estava aos pulos, e esperei, incapaz de entender sua
reação. Disse a mim mesma que tudo bem se ele não estivesse interessado.
Havia muitos outros homens por aí, certo?
Mas meu rosto permaneceu calmo, enquanto ele me observava, e eu
fiquei cada vez mais preocupada.
Podia haver muitos outros homens, mas nenhum deles era como Hunter.



Hunter

Ai, droga. A combinação das palavras que Kate tinha acabado de dizer e
o fogo ardente em seus olhos fizeram muitos pensamentos safados tomarem
minha mente.
Depois da rapidez com que ela tinha fugido naquela noite, no meio dos
nossos amassos, eu imaginei que a porta estivesse fechada para qualquer coisa
física entre nós. Eu tinha adorado tê-la aqui, adorei vê-la cozinhar, e passei a
noite dizendo a mim mesmo que não haveria problema se as coisas fossem
estritamente platônicas.
Mas depois de ela me dizer claramente que queria começar a fazer sexo
casual, claramente eu estava errado. E também claramente, eu estava total e
completamente dentro da ideia de fazer sexo de qualquer tipo com aquela
mulher. Casual, comprometido, tântrico — eu não me importava. A ereção
que se mantinha praticamente o tempo todo perto dela estava pronta para
mergulhar, literalmente.
Eu gemi e passei as mãos pelos cabelos.
— Você está me matando aqui. Sabe disso, certo?
— Você vai me contar o que está pensando? — Kate apoiou os
cotovelos no balcão à minha frente, inclinando-se para a frente o suficiente
para me dar a visão perfeita de seu decote, causando uma agitação dentro da
minha calça.
— Eu estou pensando que a última coisa que gostaria de fazer agora
seria dar uma de pai e levar minha filha para a cama dela — respondi, com a
voz baixa e grave.
— Que bom que você está a fim — ela murmurou, com seu olhar
percorrendo meu corpo lentamente.
— Você vem depois das nove da noite? — Se eu pudesse, teria
pressionado ela contra a parede ali mesmo, mas a última coisa de que eu
precisava era que Maddie nos pegasse uma segunda vez.
— Por que você não vai à minha casa, onde sabemos que não teremos
nenhum… visitante inesperado? — ela respondeu, aproximando-se de mim
no balcão, para que eu pudesse sentir o calor da sua pele perto da minha.
Gemi novamente e esfreguei a nuca.
— Eu gosto de estar em casa quando Maddie está dormindo. Mas a
porta do meu quarto tem tranca, então não seremos interrompidos novamente.
Eu prometo — adicionei, virando-me e olhando profundamente em seus
olhos.
Kate suspirou e mudou de posição. Eu praticamente conseguia ver as
engrenagens em funcionamento em sua mente. Por favor, não deixe minha
filha ser a única coisa que te impeça.
— Tudo bem — disse ela, sorrindo suavemente. — Vejo você às nove.
Logo depois que Kate saiu, chamei Maddie para começar sua rotina
noturna. Felizmente, o fato de Kate ter feito o jantar e mais meia hora extra de
brincadeira no quintal tinham sido o suficiente para cansar Maddie, então ela
ficou boazinha e obediente enquanto tomava banho e escovava os dentes.
Colocando Maddie na cama, afastei seus cabelos ainda úmidos para
longe da testa e lhe dei um beijo.
— Boa noite, querida. Tenha lindos sonhos.
— Pode deixar, papai. — Ela respondeu bocejando e rolando para o
lado. — Boa noite.
Lentamente saí do seu quarto, deixando a porta entreaberta. Ela gostava
de dormir com a porta entreaberta e a luz do corredor acesa.
Andando rapidamente até o banheiro para me refrescar, verifiquei o
relógio. Oito e cinquenta. Eu ainda tinha algum tempo para limpar a
cozinha… e talvez escovar os dentes.
Depois de colocar os pratos na lava-louças, limpei o balcão o mais
rápido que consegui antes de voltar ao banheiro. Também escovei os dentes e
verifiquei meu reflexo mais uma vez. Na minha opinião, parecia o mesmo de
sempre — mas passei os dedos pelos cabelos várias vezes para garantir.
Por que de repente eu estava nervoso?
Enquanto pensava se deveria acender uma ou duas velas para melhorar
o ambiente, ouvi uma batida suave na porta — meu pau já ficou em alerta.
Vamos lá.
Abri a porta da frente e encontrei Kate parada ali, com um sorriso
diabólico no rosto e o cabelo um ponto mais despenteado do que antes.
1
— Estava esperando que você aparecesse com um trench coat e nada
mais por baixo — murmurei, guiando-a para dentro.
Quando ela passou por mim, senti um leve cheiro de um perfume
delicioso, e não pude deixar de sorrir para mim mesmo. Pensar em Kate em
seu apartamento, a poucos metros de distância, preparando-se toda para o
nosso encontro era bem sexy.
— Um trench coat? Cara, está claro que você precisa transar mais. —
Ela riu, virando e arqueando uma sobrancelha para mim. Mesmo com uma
roupa simples, como legging e blusa de lã, ela era sexy, e eu mal podia
esperar para colocar minhas mãos em todas as curvas dela.
— Essa é a ideia. — Respondi, deslizando meu braço em volta de sua
cintura e puxando-a para mim. Fechei a porta da frente, e com uma mão em
sua cintura, deixei meus dedos passarem gentilmente pela sua bunda perfeita.
Ela arfou um pouco e abafou um pequeno suspiro.
— Não perde tempo, pelo visto. — Ela passou a mão pelo meu peito e
barriga, parando um pouco antes da protuberância crescente em meu jeans.
— Espero há muito tempo por isso — rosnei, sentindo minha
necessidade de tê-la crescer a cada segundo. Peguei a mão dela e a levei para
o meu quarto, tomando o cuidado trancar direito a porta.
Melhor prevenir do que remediar.
Quando me virei, o olhar de Kate foi para a minha ereção, impossível
de disfarçar.
— Isso é para mim? — Ela sorriu.
— Acho que você sabe que é — respondi, pigarreando.
— Venha aqui, grandão. Acho que devemos estabelecer algumas regras
básicas antes. — Ela se sentou na beira da cama e fez sinal para eu me juntar
a ela.
— OK. Em que estava pensando?
— Só quero ter certeza de que estamos na mesma sintonia em relação a
tudo. — Ela disse quando eu me sentei ao seu lado.
Minha pele ainda parecia formigar de tanto desejo, mas ela estava certa,
precisávamos conversar sobre o que estava prestes a acontecer.
— Bem… — ela disse, jogando a cabeça para trás e olhando para o teto.
— Depois daquela noite… daquele beijo quente e totalmente inesperado…
Acabei percebendo que claramente temos química. E se você está a fim de
algo casual, e eu estou a fim de algo casual, então por que negar a nós dois
algo casual poderia ser mutuamente benéfico?
Eu sorri, incapaz de não olhar para o peito dela.
— Você faz parecer que estamos entrando em uma transação comercial.
— E é meio isso. — disse ela, inclinando-se para mim. — Quando não
há compromisso, é preciso ter certeza de que cada pessoa está recebendo
exatamente o que precisa, nada mais, nada menos.
— Parece que você já fez isso antes — lancei a ela um olhar
provocante.
— Por acaso, sexo casual é meu forte — ela respondeu com uma
piscada. — Mas não, eu nunca fiz isso. Oficialmente, pelo menos. Eu sou
mais o tipo de mulher que passa uma ou duas noites com um cara. Três ou
quatro, se ele valer a pena. — Ela riu e me fez rir com ela. Pensar que ela
fazia sexo com outros homens me deu vontade de socar uma parede.
Não que eu fosse possessivo ou me sentisse ameaçado por causa de sua
experiência. Pelo contrário, ficou claro – então, mais do que nunca, que ela
sabia exatamente o que queria.
Eu, por outro lado, embora não fosse novo em relacionamentos casuais,
tinha um lado que sempre se perguntava se uma conexão como aquela poderia
se tornar algo mais sério. Algo duradouro. Alguém que amasse Maddie tanto
quanto eu amo.
Mas eu sabia que no minuto em que insinuasse querer alguém para me
aceitar totalmente — me amar e amar minha filha — Kate pegaria o primeiro
ônibus para fora da cidade. Ela não se comprometeria, e se isso era tudo o que
teria dela, então eu aceitaria o que ela me desse.
Pigarreei, percebendo que ela estava aguardando minha resposta.
— Tudo bem. — Eu disse, apoiando as mãos atrás do corpo. — Então,
o que exatamente você precisa? Quero cuidar para que você se sinta
confortável.
— Só acho que é melhor sermos sempre sinceros quando nos
comunicarmos — ela respondeu, séria. — No momento em que um de nós
começar a mentir sobre o que queremos ou evitarmos uma conversa real, é
quando tudo isso se quebra e se torna mais confuso do que precisa ser.
Eu assenti. Sinceridade. Eu poderia fazer isso.
— Concordo, plenamente. Algo mais?
— Hmm. — Ela inclinou a cabeça de um lado para o outro. — Talvez
sem passar a noite juntos? Dormir agarradinho à noite é uma maneira infalível
de pegar sentimentos.
Pegar sentimentos? Do jeito que ela falava, parecia uma doença.
— Sem passar a noite. Entendi. Além disso, com Maddie, passar a noite
provavelmente não seria uma boa ideia, de qualquer forma.
— Exatamente. — Kate assentiu, mudando sua posição na cama de
modo a ficar completamente de frente para mim. — Alguma outra regra
básica que você gostaria de estabelecer?
Eu sorri, achando o olhar dela atento no meu rosto adorável e
incrivelmente sexy.
— Acredito que seja o suficiente. Honestidade e sem passar a noite.
Inclinei seu queixo em direção ao meu, roubando um beijo doce e
quando seus lábios se abriram, aprofundei o beijo. A sensação da língua dela
explorando a minha me deixou duro de novo. Foi como se meu corpo tivesse
memória muscular e soubesse que estávamos prestes a fazer tudo de novo.
Afastando-me por um segundo, encontrei seus olhos.
— Você vai me contar se você quiser levar as coisas para um… lugar
mais excêntrico, certo? Você não vai apenas me dizer para sufocá-la no calor
do momento sem que nós dois tenhamos conversado sobre isso primeiro,
certo?
Ela riu.
— Asfixia não é bem meu fetiche, mas sim, vamos falar sobre isso
antes de entrar em novo território. Algum fetiche seu de que eu deveria estar
ciente?
— Apenas o normal. Eu particularmente gosto de oral.
— Hmm, um homem que gosta de boquetes. Estou surpresa.
Eu ri.
— Receber é bom, mas na verdade eu quis dizer dar.
Ela piscou como se estivesse surpresa.
— Ah.
— Eu tenho pensado nisso há semanas. O seu gosto, os sons que você
vai fazer. A rapidez com que eu poderia fazer você gozar para mim —
murmurei, beijando seu pescoço.
Kate soltou um gemido suave e cheio de desejo, aproximando os lábios
dos meus. Eu me inclinei e nossas bocas se encontraram num beijo quente e
suave.
Ela gemeu baixinho e nossos beijos se tornaram mais rápidos, mais
urgentes. Eu a puxei para cima de mim, abrindo suas pernas sobre meu
quadril, para que ela ficasse montada em mim enquanto eu ficasse sentado na
cama, apoiando a nós dois. Voltei a beijar seu pescoço, mordiscando
suavemente o lóbulo da orelha enquanto deslizava a mão por baixo da blusa
para soltar seu sutiã.
Assim que o fecho foi aberto, ela rapidamente puxou a blusa e o sutiã
para cima e os jogou no canto do quarto. Minhas mãos se moveram pelo seu
corpo quente, dando uma atenção especial a seus seios, massageando
suavemente e esfregando seus mamilos entre meu polegar e indicador.
Aproveitei a sensação, já que a nossa última vez tinha sido tão rápida.
Ela gemeu, arqueando a espinha e jogando a cabeça para trás. Afastei a
boca de seu pescoço, passando a língua ao longo de sua clavícula e
mergulhando em seus seios. Ela tinha um cheiro delicioso. Um perfume
feminino quente com um traço de baunilha. Sua respiração ficou pesada
quando ela começou a balançar o quadril sobre o meu, fazendo com que meu
pau ficasse mais duro a cada segundo, com o atrito das nossas roupas.
— Tire isso — disse ela, saindo do meu colo e puxando meu cós.
Depois de desfivelar meu cinto, ela desceu a calça jeans e enfiou a mão na
minha cueca para puxar meu pau.
Nós nos beijamos de novo, mais rápido e mais intensamente do que
antes, fazendo com que eu soltasse gemidos e rosnados baixos, enquanto Kate
passava a mão ao longo do meu pau.
Jesus. Já fazia um bom tempo que uma mulher não me masturbava.
— Isso é incrível.
Enquanto ela continuava com o movimento, tirei minha camisa e a
joguei de lado. Nós nos deitamos na cama, gemendo e respirando com
dificuldade, e eu enfiei a mão dentro da calça dela e, com meus dedos, logo
encontrei o calor e a umidade entre suas coxas. Passei meus dedos,
esfregando delicadamente.
— Você está muito molhada — sussurrei, minha voz rouca devido ao
incrível movimento que ela fazia.
— E seu pau parece uma pedra — ela sussurrou de volta. — E eu tinha
me esquecido de como seu pau é bonito.
— Bonito? — A palavra interrompeu o movimento dos meus dedos.
Ela riu, olhando para a mão e diminuindo o movimento que fazia.
— Sim. Veja.
Enquanto a mão dela deslizava pelo meu pau duro, olhei para baixo,
tentando ver o que ela via. Um pênis vermelho de vinte centímetros de ereção
e grosso, a ponto de os dedos dela nem mesmo conseguirem se fechar ao
redor dele. Mas bonito? Não era para tanto.
— Alteração no nosso acordo. Não vamos usar a palavra “bonito”
nunca mais em relação a qualquer uma das partes do meu corpo, muito menos
para o meu pau — disse, pressionando meus lábios nos dela.
— Combinado.
Eu podia ter ficado assim para sempre, nós dois indo devagar,
aproveitando o prazer mais do que tínhamos feito antes. Mas era nossa
primeira vez fazendo sexo sem interrupções, e não deixaria que tudo
terminasse com uma punheta.
Eu me afastei dela, fiquei de pé e me livrei de meu jeans. Inclinando-me
lentamente, tirei a legging de Kate, saboreando cada momento enquanto
revelava cada vez mais a sua pele macia e firme.
— Você é tão sexy — murmurei, observando-a antes de me deitar com
ela na cama.
Eu estava mais do que pronto para a noite que estava esperando desde a
primeira vez em que colocado meus olhos nela.



Kate

Eu mal conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Depois que


Hunter colocou Maddie na cama, voltei e não demorou muito para as coisas
ficarem quentes e intensas. A ansiedade só me fez querer mais, e mal
tínhamos fechado a porta quando começamos a nos despir.
Deixei escapar um gemido suave, enquanto a língua de Hunter passava
sobre meu mamilo. Por sorte, ele era tão bom quanto eu me eu lembrava da
noite no meu aniversário. Ele foi para o outro seio, me provocando com a
língua enquanto suas mãos deslizavam para o cós da minha calcinha. Eu
arqueei as costas, esperando seus dedos deslizarem por mim, mas em vez
disso, ele levou a mão para a parte interna da minha coxa.
Eu vou perder o controle se ele não me tocar em breve.
Ele afastou a cabeça no meu peito, olhando em meus olhos enquanto
tirava a mão da minha coxa e a levava para dentro da minha calcinha de renda
preta. Ele se movimentava devagar antes de deslizar suavemente um dedo
para dentro da minha vagina úmida. Soltei um suspiro quando ele me
acariciou com mais firmeza, a tensão crescendo dentro de mim. Hunter me
observou, seu olhar profundo e sexy intenso no meu, e foi deslizando dois
dedos, e soltei um grito de prazer. Seus dedos me tocavam nos pontos certos,
e eu sabia que não aguentaria por muito tempo.
E então, sua boca foi descendo, deixando beijos molhados em meu
ponto principal sensível, até encontrar meu clitóris e dar uma chupada firme.
Meu quadril se afastou da cama por um instante, pois a sensação era
muito boa. Não houve nenhum toque desajeitado, nenhum toque hesitante.
Ele sabia exatamente o que estava fazendo, e caramba! O homem tinha uma
língua talentosa.
Em poucos minutos, eu estava morrendo de prazer, choramingando
baixinho enquanto a língua percorria o caminho mais delicioso sobre a minha
carne quente.
Eu gemi seu nome e cada músculo do meu corpo se contraiu, meu
quadril se balançou com o movimento de seus dedos dentro de mim. Pouco
antes de eu perder o controle, ele afastou a mão. Eu soltei um gemido,
ansiando por mais.
— Preciso estar dentro de você, quando você gozar —murmurou,
colocando um beijo contra a parte interna da minha coxa.
Ele desceu mais na cama, enquanto eu tentava recuperar o fôlego, e
deslizou minha calcinha para baixo, jogando-a no chão em seguida.
Ficou de joelhos, relevando o pênis mais absolutamente perfeito.
Incapaz de me conter, sentei-me e estendi a mão para pegá-lo, acariciando-o
lentamente por toda a sua extensão. Ele gemeu de prazer, e eu o empurrei de
volta para a cama, ficando em cima dele. Desci o corpo, beijando seu peito,
passando minha língua em seus mamilos. Corri minha língua por seu
abdômen, e parei antes de passá-la sobre a cabeça de seu pênis.
Ele puxou o ar quando eu o tomei na boca, passando a língua sobre a
ponta sensível. Movi minha boca lentamente, tomando mais e mais dele a
cada vez. Olhando para ele, encontrei seus olhos enquanto o acomodava
totalmente em minha boca, até seu pênis atingir a parte dos fundos da minha
garganta. Seu corpo inteiro ficou tenso, e eu notei que ele estava perto.
— Você está me matando — disse em um gemido.
Olhei para cima e o encontrei apoiado nos cotovelos, me observando
com uma expressão de adoração. Eu adorei fazer aquilo por ele, fazendo com
que ele se sentisse bem daquele jeito. Quanto mais eu o conhecia, mas sabia
que ele não tinha muitos momentos de prazer como aquele.
Hunter nos reposicionou, me deixando embaixo dele, abriu minhas
pernas e pegou uma camisinha.
Na última vez, ele ficou deitado enquanto eu rolei para cima ele, mas
agora foi diferente. Ele manuseou o preservativo depressa e depois seguiu
para meu ponto principal. Pressionando o corpo para a frente, ele me
penetrou. Nós soltamos um gemido juntos, com o meu corpo estremecendo
com a invasão deliciosa.
— Você é tão deliciosa — ele gemeu novamente, deslizando rápido.
Ambos estávamos quase lá, e não seria preciso muito esforço para nos mandar
para a beira do precipício onde estávamos, praticamente, de pé. — Tão
quente.
Arqueei minhas costas, para que pudesse levá-lo mais longe, querendo
senti-lo completamente dentro de mim. Ele se moveu devagar, com cuidado a
princípio, e isso estava me deixando louca de desejo. Ele saiu completamente
por um momento e estendi a mão para ele, precisando dele de volta,
precisando da conexão para permanecer inteira. Ele pegou meus braços e os
colocou acima da minha cabeça, antes de se mergulhar profundamente em
mim de novo, com um movimento que me deixou sem fôlego.
— Hunter!
Gritei, enquanto ele me penetrava mais e mais rápido. Balançado o
quadril contra ele, com o prazer crescendo novamente em meu corpo. Eu
estava gemendo alto, entregue ao momento e ele estendeu a mão para cobrir
minha boca, o que só me excitou mais. Eu observei enquanto ele se movia em
cima de mim, enquanto o calor corria através de mim. Ambos estávamos
correndo em direção à linha de chegada, e eu não podia fazer nada para parar.
Envolvendo a cintura dele com as pernas, para que nossos corpos estivessem
entrelaçados o mais próximo que pudessem, eu finalmente soltei, não segurei
nada quando meu corpo se contraiu contra o dele, e nós dois gozamos.
Nenhum de nós se moveu enquanto tentávamos recuperar o fôlego, o
peito de Hunter subindo e descendo contra o meu. Após um minuto, ele virou
a cabeça para mim e me beijou antes de se deitar do meu lado.
Deitando-se na cama, ele disse:
— Isso foi…
— Valeu a pena esperar? — perguntei, sorrindo.
— Definitivamente, valeu a pena esperar. Não me lembro de você ter
emitido tantos sons da última vez.
Eu bati nele, de brincadeira.
— Você não pareceu se importar.
Ele sorriu, passando o braço ao redor de meus ombros.
Eu me enrolei nele, colocando o braço em seu peito. Identidade. Estava
preocupada com a falta de jeito depois do sexo, mas estávamos tão
confortáveis ali que me senti tentada a deitar e adormecer.
Eu não era assim. Geralmente depois que terminava de fazer sexo com
um cara, eu ia embora o mais rápido possível. Trocar carinho também não era
o que eu fazia, mas com Hunter parecia tão natural. Eu fechei os olhos,
passando as mãos ao longo de seu abdômen firme. Eu sabia que precisava
voltar para o meu apartamento, então me forcei a me sentar.
— É melhor eu sair daqui — disse, saindo da cama, procurando minhas
roupas.
Ele assentiu, e pensei ter visto a decepção passar pelo seu rosto.
— Mas foi ótimo — acrescentei, enquanto vestia minha camisa. — Pelo
menos desta vez, eu não preciso fugir com vergonha.
— Isso é um baita avanço. — Ele sorriu, vestindo a camiseta e uma
cueca.
Nós descemos as escadas, até a porta da frente, na ponta dos pés,
tomando cuidado para não acordar Maddie com nossos passos. Praticamente
prendi a respiração até estar do lado de fora — eu poderia dizer com
segurança que nunca mais queria que ela me visse em uma posição
comprometedora com seu pai.
— Boa noite, Kate — disse ele, encostando-se no batente da porta.
Ele estava tão lindo ali, que não pude resistir. Segurei sua camiseta e o
puxei para um último beijo. Mesmo depois de tudo o que tinha acontecido, eu
ainda sentia minha pele arrepiar e meu estômago revirar. A língua dele
escorregou dentro da minha boca e agarrei sua camiseta com mais força.
Quando ele finalmente, recuou, tive que recuperar o fôlego. Jesus, Kate,
você acabou de fazer sexo. Precisava me afastar dele antes que começasse a
tirar minhas roupas novamente.
— Boa noite — eu disse, dando um passo para trás.
— Te vejo amanhã?
Balancei a cabeça sorrindo, enquanto ele fechava a porta delicadamente.
Praticamente flutuei até meu apartamento, deixando escapar um suspiro
satisfeito, quando deitei na cama. Mentalmente me parabenizei por tomar a
decisão certa.
Por que nós tínhamos hesitado em fazer aquilo? A maioria dos caras
com quem eu dormi nem sabia onde o clitóris ficava, e os que sabiam, não
sabiam o que fazer com ele quando o encontravam. Mas Hunter… ele era
diferente. E algumas das coisas que ele sabia fazer com a língua deveriam ser
ilegais.
Eu ainda estava saboreando as lembranças quando meu telefone tocou.
Acho que poderíamos ter quebrado a cama.
Dei risada. Aparentemente, Hunter ainda estava pensando naquilo
também.
Isso não foi nada. Eu acho que você vai precisar de uma cama nova
até o final disso.
Sorri para mim mesma, quando apertei enviar. Totalmente valeu a pena.
Adormeci sorrindo. Hunter era sexy, incrível na cama e divertido. Eu
não podia acreditar que tinha pensado que seria complicado. Agora, além de
ter um ótimo apartamento e um ótimo senhorio, eu estava vivendo a poucos
passos da melhor pessoa com quem já tinha transado.



Hunter

Kate se assustou enquanto entrou na minha cozinha, com os olhos


arregalados direcionados para o corte na minha mão.
— Hunter, ai, meu Deus, o que aconteceu?
— Estou bem, estou bem. Só estava tentando fazer cookies. — Disse,
pegando algumas toalhas de papel para absorver o sangue. Aplicando pressão
no corte, levantei a mão à minha frente. — Viu? Tudo bem.
— Mas não tem nenhum passo na receita de cookies que exija uma
faca! — ela exclamou, largando a bolsa no balcão e olhando em volta para
descobrir o que tinha dado errado. — Você estava tentando abrir uma casca de
ovo com a faca?
Era verdade, minha mão estava sangrando profundamente, mas parecia
que ela estava exagerando um pouco. Ainda assim, vê-la surtar com o meu
bem-estar era meio sexy.
— Olha, quando eu pedi sua ajuda com a venda dos cookies de Maddie
para a escola, eu não estava querendo suas críticas — eu disse, erguendo as
sobrancelhas para ela. — Claramente, os meus cookies são um fracasso.
— Quando concordei em ajudá-lo, não sabia que você não entendia
nada do assunto — disse ela, colocando as mãos no quadril enquanto
inspecionava os ingredientes alinhados no balcão. Ela começou a observar
todos eles, separando os ingredientes secos dos molhados, e então bateu
palmas e olhou triunfante para mim. — Pronto! — ela disse, sorrindo,
enquanto amarrava um avental em volta da cintura.
— Você trouxe seu próprio avental? — Eu ri. Essa mulher é uma coisa
de louco.
— Vou preferir ignorar sua palhaçada. Eu decidi fazer uma torta em vez
de cookies. — Ela respondeu, colocando manteiga em uma tigela.
— O que você está fazendo aqui? — Maddie perguntou a Kate,
entrando na cozinha pela entrada do quintal, onde estava brincando.
— Maddie, seja legal com a nossa vizinha. Kate está aqui para ajudar
— eu disse, levantando uma sobrancelha para minha filha, enquanto
procurava itens de primeiros socorros para mim.
— Não, está tudo bem. É uma pergunta razoável. — Kate sorriu, tirando
o cabelo do rosto com as costas da mão. — Bem, Maddie, estou aqui para
ajudar com a sua venda de bolos. Seu pai estava fazendo cookies, mas não
deu certo. Então agora estou fazendo uma torta.
Maddie assentiu, olhando para mim antes de se virar e observar Kate
medir uma xícara de farinha e despejar sobre a manteiga gelada.
— Torta tem glúten? — Maddie perguntou, franzindo o nariz.
— Não essa — respondeu Kate, virando a embalagem do saco de
farinha para Maddie olhar. — Estou usando uma farinha sem glúten para a
massa, por isso não vai te causar incômodo. Nem a mim — disse ela, com
uma piscada.
Maddie sorriu e subiu em um dos banquinhos do balcão para observar
Kate mais de perto. Kate misturou a farinha e a manteiga, ficando um pouco
de lado para que Maddie conseguisse ver tudo melhor. Kate quebrou um ovo
sobre a massa, misturando ainda mais antes de se virar para Maddie.
— Ei, Maddie, acha que pode me ajudar? — Kate perguntou.
Os olhos de Maddie se arregalaram quando ela assentiu.
— Lave suas mãos primeiro — eu disse, e Maddie desceu do
banquinho. Rapidamente foi até o banheiro de hóspedes.
— Está tudo bem? — Kate se virou para mim. — Acho que deveria ter
checado com você antes de perguntar a Maddie. É que ela pareceu bem
interessada. Além disso, imaginei que seria bom que ela finalmente
esquecesse toda aquela coisa de adultos uma vez por todas. Quero dar uma
nova lembrança para substituir aquela.
Nós dois rimos.
— Está mais do que bem — falei. — Só espero que ela não tenha
herdado minhas habilidades de chefe, ou a falta delas.
Não podia acreditar na facilidade com que Maddie parecia estar se
aproximando de Kate. Quando Maddie voltou correndo para a cozinha, Kate
rolou a massa de torta, e elas a colocaram na assadeira juntas. Por ser uma
pessoa sem jeito para crianças como Kate me disse que era, não havia como
negar que — quando se tratava de deixar minha filha ajudá-la a fazer uma
torta, ela era ótima.
Por um momento, eu apenas observei, sob o pretexto de limpar a
bagunça que tinha feito no balcão. Mas, na verdade, era uma coisa tão rara ter
uma mulher cozinhando na minha casa, ouvindo os risos da minha filha
enquanto elas trabalhavam juntas, que eu queria ficar olhando. Eu não havia
namorado ninguém com seriedade suficiente para garantir momentos
domésticos como aquele.
Kate e Maddie fizeram o recheio da massa juntas, e Kate cortou fatias
de maçã dentro de uma tigela e Maddie despejou açúcar e suco de limão sobre
elas. E eu fiz o meu melhor para não ficar em cima, mas estava totalmente
fascinado com a facilidade com que elas se aproximaram. Algo que sempre
me incomodou era o fato de Maddie não ter muitas figuras femininas em sua
vida, além da avó e de suas professoras — e estava claro que ela estava se
divertindo.
As duas continuaram a montar a torta, cozinhando fatias de maçã no
fogão, acrescentando mais ingredientes que eu não conhecia à mistura e
colocando o recheio na assadeira. Fiquei chocado com a concentração de
Maddie durante todo o tempo, e como ela ouvia Kate. Parecia que tínhamos
encontrado um novo passatempo para Maddie explorar quando fosse mais
velha.
Assim que elas colocaram a torta no forno, Maddie se virou para mim,
com um olhar triunfante.
— Você viu isso, papai? Eu e Kate fizemos uma torta! — Ela sorria de
orelha à orelha, com farinha grudada no rosto e espalhada por toda a roupa.
— Eu vi. Ótimo trabalho, querida. — Estendi a mão para cumprimentá-
la com um toque, e ela retribuiu.
— Eu mal posso esperar para provar — disse Maddie, praticamente
pulando de emoção.
— Enquanto isso — falei, tirando farinha de seu cabelo — vá se limpar
para podermos sair para vender a torta.
— Kate pode ir com a gente? — Maddie perguntou, olhando para mim
com os olhos suplicantes e arregalados.
— Bem… — olhei para Kate e de volta para Maddie. — Isso é com a
Kate. É sábado e provavelmente ela tem outros planos.
— Por favooor, venha com a gente, Kate. — Maddie pediu, jogando a
cabeça para trás e projetando o lábio inferior. — Eu quero dizer a todos que
ajudei você a fazer a torta. Ninguém vai acreditar que ele fez — acrescentou
ela, apontando o polegar em minha direção.
Ah, sim, nada como uma crítica da sua filha para incendiar as coisas
com a pessoa com quem você está ficando.
Franzi a testa e olhei para Kate.
— Você não precisa ir. Já nos ajudou muito.
— Eu adoraria ir. De jeito nenhum vou deixar você levar todo o crédito
pela nossa torta incrível — ela disse, e piscou.
Maddie soltou um grito animado, pulando pela cozinha enquanto falava
sobre todas as pessoas que Kate encontraria na venda de bolos. Kate e eu
demos risada, vendo Maddie surtar, e eu me aproximei para ficar ao lado de
Kate.
— Não quero que você se sinta obrigada — disse a ela, com a voz
baixa. — Vou dar um banho rápido na pequena e será fácil inventar uma
desculpa para você. As vendas de bolo da pré-escola não são um item em
nossa negociação recente.
Ela sorriu, arqueando uma sobrancelha esculpida em minha direção.
— Eu não estou fazendo isso porque me sinto obrigada por estar
transando com você — ela sussurrou, observando Maddie para ter certeza de
que ela não pudesse ouvir. — Estou fazendo isso porque sua filha me pediu e
estamos começando a nos conhecer. Além disso, eu estava falando sério
quando disse que não vou deixar você levar todo o crédito.
Eu sorri e encolhi os ombros.
— Você é quem sabe. Só não venha chorar para mim quando estiver
morrendo de tédio no evento da pré-escola.

Uma hora depois, Kate bateu na porta da frente novamente. Havia


acabado de tomar um banho, vestia um jeans com blusa vermelha leve e
sandálias. Ela parecia boa o bastante para uma foda agora.
Quando saiu para trocar de roupa e terminar uma pequena matéria antes
de irmos para a venda de bolos, ela me deu instruções rigorosas sobre quando
verificar a cor da torta e como saber se ela estava pronta. Dei um banho
rápido em Maddie e a vesti, e fui seguindo as instruções de Kate da melhor
forma que pude. Meu único fracasso foi deixar um lado da torta ficar um
pouco mais escuro do que o outro — um fato de que Maddie não deixou que
eu me esquecesse, por mais que Kate tenha dito que estava tudo bem.
— Mas, papai, Kate e eu fizemos uma torta incrível e você estragou
tudo! — Maddie protestou, com aquele olhar que me dizia que ela estava a
cerca de dois minutos de ter um chilique.
E eu pensei que estava indo muito bem.
— Você está certa. Você e a Kate fizeram um ótimo trabalho com a
torta, mas como a Kate disse, a torta está muito boa. Mesmo que um dos lados
esteja um pouco mais marrom do que o outro — falei, calmamente. Alisei o
cabelo de Maddie para trás, mas ela franziu o rosto e se afastou de mim,
cruzando os braços, contrariada.
Olhei para Kate me desculpando. De repente, levá-la conosco para a
venda de bolos não parecia ter sido uma boa ideia. Estava prestes a abrir a
boca para avisar a Maddie que a nossa vizinha não iria conosco, se ela não
mudasse de atitude, quando Kate se aproximou de Maddie, agachando-se para
que as duas ficassem na mesma altura.
— Eu acho que esta torta vai estar ainda mais gostosa por que seu pai
nos ajudou. Você e eu nos divertimos muito fazendo ela juntas, e seu pai
ajudou muito ao tirá-la do forno — disse ela, com uma expressão séria, depois
se inclinou um pouco mais para perto de Maddie. — E você quer saber de um
segredo? — Maddie assentiu e se inclinou. — Eu gosto da massa um pouco
mais marrom de um lado. — Kate sussurrou.
Os olhos de Maddie se arregalaram e ela olhou para Kate por um
momento, antes de se virar para mim.
— Eu acho que você se saiu bem, papai — disse Maddie, timidamente,
olhando para o chão.
Minha nossa, não acredito nisso.
— Obrigado, é muito gentil da sua parte dizer isso — lancei a Kate um
olhar agradecido. — Agora, quem está pronta para uma venda de bolos?
Nós três entramos no meu carro, com Kate segurando a torta no banco
da frente, enquanto eu afivelava o cinto de Maddie em seu assento no banco
traseiro. Durante todo o trajeto até a escola, Maddie falava sobre seus amigos;
o que as mães deles estavam fazendo e o que estavam querendo comprar.
Kate escutou educadamente, demonstrando interesse em todos os momentos
certos, enquanto olhava para mim de vez em quando com um sorriso
acolhedor.
Fiz o meu melhor para ouvir e responder a Maddie durante a viagem,
mas estava em dúvida sobre ter levado Kate conosco. Muitas das mães na pré-
escola estavam… superenvolvidas, tanto na vida de seus filhos quanto na vida
de outros pais. Eu era um dos dois pais solteiros da pré-escola, e digamos
apenas que de nós dois, eu era o mais cobiçado. Eu não queria que houvesse
inveja rolando quando as mães solteiras pensassem que eu estava de
namorada nova.
Quando chegamos à escola, o gramado da frente já estava lotado de pais
e filhos, ao redor de uma longa mesa de madeira — com fileiras de assentos à
mostra. Maddie rapidamente viu seus amigos e arrastou Kate e eu até eles, e
eu apresentei Kate aos outros pais como nossa vizinha.
— Kate teve a gentileza de fazer essa torta para nós, com a ajuda de
Maddie, é claro — disse. — Eu sou um caso perdido quando se trata de
cozinhar.
— Quando entrei, ele estava tentando abrir um ovo com uma faca.
Kate riu, já encantando os outros pais. Todos eles riram e começaram a
me provocar sobre minha falta de habilidade na cozinha, sem poupar nenhum
detalhe, contando até que eu já tinha levado cookies comprados dizendo que
eu os tinha feito.
— Nós teríamos acreditado se você tivesse se lembrado de remover a
etiqueta de preço — disse minha amiga Sandra, rindo.
Sandra era mãe de Ashley, que era a melhor amiga de Maddie. As duas
já estavam rindo e provando todos os bolos e biscoitos alinhados na mesa,
tagarelando como só as garotas de quatro anos conseguem.
Quando eu estava prestes a dar uma resposta, alguém me deu um
tapinha no ombro. Eu me virei e vi uma pequena mulher de jeans apertado e
uma camiseta que a escola tinha feito para os pais. Ela estava com um
sorrisão aberto para mim e jogou o cabelo sobre o ombro antes de falar.
— Hunter, eu não sabia que você estaria aqui! Você cozinhou alguma
coisa? — perguntou ela, com uma voz alta e animada.
— Ei, June, como vai? Não, desta vez eu tive que chamar reforços.
Eu recuei para dar lugar a Kate na conversa. June deu uma rápida
olhada em Kate, abriu outro sorrisão e estendeu a mão.
— Ah, oi, desconhecida! Eu sou June, a mãe de Erika. Como você
conheceu o nosso Hunter? — perguntou ela, olhando rapidamente no rosto de
Kate e depois para o meu, e de volta em Kate.
Nosso Hunter?
— Eu sou vizinha dele — respondeu Kate, sorrindo e apertando a mão
de June. — Eu não sabia que ele tinha tanta fama por ser um péssimo
cozinheiro.
June continuou sorrindo, mas algo nos olhos dela mudou. Eu me senti
desconfortável com o jeito com que ela estava olhando para Kate. June tinha
insinuado estar interessada em mim já há algum tempo, e julgando pelos
olhares que ela estava lançando em direção a Kate, imaginei que os
sentimentos não tinham mudado, apesar de eu nunca ter mostrado nenhum
interesse por ela.
— Bem, Hunter — June disse, com a voz atingindo um tom mais sério.
— Você sabe que pode me ligar a qualquer hora, se precisar de alguma coisa.
Estou sempre aqui para lhe oferecer meus serviços — acrescentou ela,
erguendo ligeiramente as sobrancelhas. Enquanto ela falava, apoiou a mão no
meu braço, apertando-o ligeiramente.
— Obrigado, June, eu agradeço mesmo. — Sorri educadamente. June
assentiu e deu outro aperto no meu braço, antes de se afastar para monitorar
alguns pestinhas tentando lamber os cupcakes.
— Eu não sabia que você era tão popular aqui — disse Kate,
observando Maddie e Ashley olhando os brownies a poucos metros de nós.
— Sim, o lance de pai solteiro meio que faz com que eu me destaque —
respondi, enquanto seguíamos em direção a Maddie.
— Parece que você é uma mercadoria muito disputada por aqui — disse
Kate.
— Eu acho que sim. Acho que as mães ficam felizes por ver alguns pais
de vez em quando.
Nós andamos em silêncio por um tempo, observando Maddie e
ocasionalmente conversando com outros pais. Kate continuava a ser
encantadora e extrovertida — mas entre as nossas conversas, percebi que algo
a incomodava. De repente, me senti mal por tê-la levado ali. Tinha certeza de
que ir a uma venda de bolos da pré-escola era a última coisa que ela queria
fazer em uma tarde de sábado.
Ótimo, afaste sua ficante mostrando a ela sua vida chata. Parabéns,
Hunter.
Maddie escolheu os assados que queria e nós entramos na fila para
pagar. Kate estava comigo na fila, enquanto Maddie corria pelo gramado
junto com Ashley e alguns outros amigos. Fiquei feliz ao ver que ela gastava
muita energia antes de ir para casa.
— Ei — disse Kate, cruzando os braços e baixando a voz. — Só porque
estamos brincando não significa que você não pode namorar. Claramente,
June está atraída por você, e tenho certeza de que muitas outras mães também
estão. Se é isso que você quer, vá fundo. Eu só vou… sumir de vez, sem
ressentimentos.
Suas palavras me atingiram como um chute direto na virilha. Não
esperava por essa.
— Kate, eu…
Antes que eu pudesse terminar, Maddie veio correndo até mim, me
abraçando pelas pernas e rindo.
— Segura, estou segura! — Ela gritou, rindo histericamente enquanto
suas amigas formavam um círculo em torno de nós, claramente irritadas por
não poderem pegar Maddie na brincadeira. Dei a Kate um olhar para me
desculpar, e me virei para Maddie.
— Mais cinco minutos, OK? Está quase na hora de irmos.
— Ah, tudo bem — Maddie disso, ainda segurando minhas pernas e
inclinando-se para mim, optando por ficar ao meu lado em vez de correr e
aproveitar os últimos cinco minutos com sua melhor amiga.
Nós pagamos pelos dois brownies e pela fatia de bolo, felizes por
descobrir que todas as fatias da nossa torta de maçã tinham sido vendidas.
— Eu te disse que um pouco de marrom na torta a deixa mais
interessante. — Kate se abaixou e disse para Maddie. Elas sorriram uma para
a outra, e Maddie correu para lhe dar um pequeno abraço.
Quando voltamos, coloquei Maddie em seu quarto para que passasse
um tempo em silêncio. Quando voltei para a cozinha, encontrei Kate parada
na frente da pia, limpando a bagunça deixada ao fazer a torta mais cedo.
— Você não tem que fazer isso — disse, me juntando a ela na pia.
— Eu fiz a bagunça. Faz sentido que eu limpe tudo — respondeu ela,
tirando os últimos pedaços da massa crocante da assadeira.
Delicadamente, peguei a assadeira e a tigela de suas mãos.
— Eu não acho que é assim que as coisas são.
Kate me deixou lavá-los e saiu do caminho, virando-se para ficar ao
meu lado enquanto se inclinava contra o balcão.
— Eu agradeço muito por toda a sua ajuda hoje — eu disse, colocando
os copos de medição na máquina de lavar louça. — E não consigo imaginar o
que teríamos feito sem você.
— Sim, claro. Não se preocupe com isso. Foi divertido — ela
respondeu, encolhendo os ombros com um sorriso.
— Além disso, voltando ao que você estava falando antes, sobre June…
Ela tem dado em cima de mim há um tempo, e não tem sido muito sutil. Se eu
quisesse sair com ela, já tinha feito isso. Não estou interessado.
Kate assentiu, mas não olhou para mim, olhou para a sala atrás de mim.
— Bem, mesmo que não seja ela, saiba que estou bem com isso. Com
você namorar outra pessoa.
Ela estava tentando ser legal. Mas por que aquilo me deixava irritado?
Respirei fundo, tentando manter a voz calma.
— Vou me lembrar disso.



Kate

Olhei pela janela, procurando algum sinal de Hunter. Era dia de sol, e eu
esperava que ele estivesse do lado de fora brincando com Maddie ou
cuidando do quintal. Não o via desde a venda de bolos e não conseguia tirá-lo
da minha cabeça.
Tentei meditação e yoga, mas depois da minha primeira posição de cão,
eu desisti. Até considerei sair para correr, mas decidi que não estava tão
desesperada assim para esquecê-lo.
Algo me incomodava por dentro, me deixava desconfortável, mas não
conseguia identificar o que era e o porquê. Pensei, que talvez, se pudesse vê-
lo, finalmente seria capaz de me concentrar e descobrir o que estava
acontecendo. Quando tentei me distrair com o trabalho, minha mente
continuou à deriva, então decidi limpar a cozinha.
Normalmente, a limpeza e a organização me relaxam, mas quando
terminei de limpar as bancadas, estava mais ansiosa. Sim, nós tivemos
momentos ótimos na venda de bolos, mas de repente eu estava me sentindo
meio louca.
Coloquei os pratos na máquina e peguei o frasco de detergente,
percebendo que estava olhando fixamente para o nada — vagando
completamente por vários minutos. Depois de fechar a máquina, apertei start
e fui embora, determinada a tirá-lo da minha cabeça.
Poucos minutos depois, eu me sobressaltei… havia espuma por toda
parte.
Porra. Estou perdendo o controle. Respirei fundo, preocupada por não
estar mais neurótica, e sim, psicótica. Fosse o que fosse, eu tinha uma cozinha
cheia de espuma e água que precisava ser limpa.
Sim, queria, sim, chamar a atenção de Hunter, mas não dessa maneira.
Havia apenas uma coisa que eu poderia fazer — chamar Hunter. Ele
chegou em alguns minutos, lindo e sexy vestindo jeans e camisa branca, que
ficava perfeita em seus braços musculosos.
— Merda — disse ele quando entrou, largando sua caixa de ferramentas
no chão. A cozinha estava cheia de água e bolhas de sabão.
— Eu sinto muito. Não tenho ideia do que aconteceu. — Fiquei atrás
dele, enquanto examinava a máquina. Ele parou, a abriu e verificou o que
ocorria lá dentro.
— Está tudo bem, só foi detergente demais — disse, se levantando. —
Quanto você colocou?
Dei os ombros, sem querer admitir que estava tão distraída pensando
nele a ponto de ter despejado meio frasco de detergente lá dentro.
— Sinto muito por incomodar você. Só fiquei preocupada que tivesse
quebrado a máquina ou algo assim — sorri, me desculpando, esperando que
ele não me achasse uma completa idiota que não sabia usar uma lava-louças.
— Sem problemas. Eu não estava fazendo nada — passou a mão pelo
cabelo, fazendo com que seu bíceps se flexionasse.
Prendi a respiração e me forcei a desviar o olhar.
— Eu acho que vou limpar tudo — peguei um esfregão e algumas
toalhas. — Obrigada novamente pela ajuda.
— Posso ficar por aqui e ajudar.
— Você tem certeza? Não quero acabar com a sua tarde.
— Você não acabou com nada. Maddie está brincando na casa de uma
amiga e só volta daqui meia hora.
Deixei o esfregão de lado e joguei uma das toalhas para Hunter.
Esfregar o chão da minha cozinha não era a atividade física que eu tinha em
mente para nós — nas minhas fantasias.
Logo após terminarmos de limpar a bagunça, Hunter se agachou para
inspecionar nosso trabalho. Ele limpou o suor da testa, e sua camisa se
levantou levemente, revelando seu abdome definido. Ele parecia ter saído de
um comercial de desodorante.
— O que foi? — Ele sorriu.
Droga. Fui pega babando por ele.
Antes que tivesse tempo de processar o que estava acontecendo, estava
rastejando pelo chão para me ajoelhar na frente dele. Sem dizer nada, Hunter
levantou meu queixo e uniu nossas bocas em um beijo ardente. Quando
entreabri meus lábios de modo convidativo, sua língua deslizou contra a
minha.
Deus, esse homem. Ele era a perfeição.
Suas mãos agarraram meu quadril, puxando-me para mais perto
enquanto sua língua acariciava a minha. Então, ele me puxou para cima,
enquanto se sentava no chão.
Quando nos beijamos, deslizei minha mão por seu corpo, pressionando
seu pau sobre a calça jeans. Ele gemeu quando coloquei a mão para dentro,
envolvendo-a em torno dele e acariciando lentamente até que pude senti-lo
pulsando em minha mão. Ele era tão grosso que eu não conseguia fechar os
dedos ao redor dele, e ele soltou grunhidos baixos enquanto eu o acariciava
— apertando ainda mais forte e passando o dedo sobre a cabeça sensível.
— Porra — ele grunhiu, levantando o quadril em direção ao meu toque.
— Eu quero você — murmurei.
— Tire a roupa — sua voz era um grunhido áspero e fez meu corpo se
arrepiar.
Enquanto Hunter arrancava a camisa e empurrava os jeans e a boxer
para baixo, eu tirei a minha roupa. Em seguida, ele levantou minha blusa,
pegando o fecho do meu sutiã e liberando meus seios.
Ele me beijou novamente, enquanto segurava meus seios com as mãos,
acariciando-se delicadamente. Beliscou um mamilo com os dedos e eu fechei
meus olhos, sentindo a sensação se espalhar por meu corpo e descer entre
minhas pernas — e sabia que já estava molhada. Ele se moveu para o outro
seio e soltei um gemido baixo.
Estendi a mão para tocá-lo novamente, e senti-lo tão comprido e grosso
me deixou ainda mais louca de desejo. Me movi para ficar em cima dele,
passando as pernas em volta de sua cintura, deslizando para a frente até sua
ereção pressionar meu ponto central.
Balancei meu quadril contra ele, sentindo-o pressionar-se contra mim
mais um pouco. Ele me puxou com força, sua mão segurando meu cabelo na
parte de trás da minha cabeça, enquanto continuava a me beijar.
Incapaz de resistir por muito tempo, recuei e sussurrei:
— Preciso de você dentro de mim.
Ele me levantou novamente, uma mão segurando meu quadril e a outra
minha bunda, então nos abaixou no chão. Gemi de prazer quando ele
pressionou o pênis contra minha vagina úmida, esfregando apenas a ponta de
seu pau em mim. Gemi seu nome baixinho, empurrando meu quadril para a
frente, em busca de mais. Ele continuou a me provocar, pressionando apenas
a ponta o tempo todo, enquanto eu me contorcia embaixo dele. Passei as mãos
por seus ombros, tentando me aproximar ainda mais.
— Preservativo? — Ele perguntou.
Em circunstâncias normais, eu teria me sentindo constrangida por sair
correndo nua até meu quarto na frente de um homem, mas nada naquela
situação era normal. Eu queria ele. Bem aqui. Agora mesmo.
Segundos depois, voltei com o preservativo.
Hunter se preparou e depois me puxou para perto novamente. Olhando
em meus olhos, por um momento antes de entrar em mim, movendo-se mais a
cada impulso. Respirei fundo quando ele se enterrou em mim, cravando
minhas unhas em seus ombros.
— Você é tão gostosa — disse ele, com a voz baixa e rouca, enquanto
se aquietava, aproveitando a sensação de estar enterrado em mim.
Ele segurou minha bunda, empurrando-se ainda mais fundo. Ofeguei, e
cada parte do meu corpo se apertou. Fechando os olhos, eu gritei, fazendo
meu quadril se balançar contra ele. Nós estávamos tão frenéticos. Não tinha
certeza se era porque sua filha estaria em casa a qualquer momento ou porque
estávamos tão desesperados um pelo outro.
— Hunter — gemi, respirando fundo com o prazer me tomando o corpo
todo.
Minutos depois, um forte orgasmo me tomou, roubando meu fôlego e
fazendo meu corpo se contrair com força.
— Nossa, nossa. Porra — ele gritou, ainda estocando em mim. — Vou
gozar.
— Sim — gritei, puxando seu quadril contra o meu.
Sua respiração mudou e ele enterrou o rosto em meu pescoço enquanto
gozava. Nós respiramos ofegantes por alguns minutos, nossos corpos
escorregadios de suor. Hunter se abaixou e afastou o cabelo da minha testa
enquanto me aproximava dele.
— Nossa, isso foi inesperado. — Ele sorriu para mim e me deu um
beijo suave nos lábios.
— Sim, quando vi, já tinha acontecido — eu ri.
Assim que ele me ajudou a me levantar do chão, nós juntamos nossas
roupas e Hunter jogou o preservativo fora, lavando as mãos na pia.
Parei ao ouvir o som de um carro parando na entrada da garagem e
então, uma porta se abriu.
— Merda. Acho que Maddie chegou. — Ele sorriu desculpando-se
enquanto espiava pela janela.
— Não precisa se desculpar — eu disse, me vestindo rapidamente. —
Obrigada por consertar a máquina de lavar louças… e o resto do meu
encanamento. — Sorri para ele, enquanto ele vestia as roupas.
— Conte comigo quando precisar — ele riu. — É só me ligar se
precisar de ajuda com isso ou qualquer outra coisa, de novo.
Hunter se dirigiu para a porta e depois se virou.
— Além disso, gostaria de agradecer novamente por tudo na venda de
bolos. Significou muito para Maddie.
Eu sorri, tocada ao ouvir que ela tinha gostado.
— Claro, foi divertido para mim também.
Ele olhou nos meus olhos por um momento e meu coração se acelerou.
Como ele fazia isso? Era como se toda vez que olhasse para mim, eu me
esquecesse de tudo, menos dele. Depois de um último sorriso caloroso, ele se
virou e desceu as escadas.
Assim que fechei a porta, me inclinei contra ela e deslizei para baixo,
fiquei sentada no chão. Cobri a cabeça com as mãos. O que era aquilo? É
assim que outras pessoas fazem? Estragam a máquina de lavar louças para
chamar atenção de um cara?
Não podia negar. Eu sabia por que estava perdendo a cabeça.
Não queria que Hunter namorasse outras pessoas.
A verdade estava ali, fria, dura e feia. Estava chateada por ter falado
para ele que não havia problema se ele saísse com outras mulheres da escola
de Maddie.
Eu gostei de cozinhar com eles… gostei muito. Era bom estar perto
dele, e não apenas por ele saber o que fazer no quarto. Eu até gostei de sair
com Maddie, agora que estávamos nos entendendo.
Eu me levantei e olhei pela janela, sem saber como lidar com a minha
situação.
Merda. Eu estava fodida. Nunca tinha me sentido assim antes, tão louca
e desesperada por um cara com quem estava fazendo sexo.
Era assim que outras mulheres se sentiam quando gostavam de um
cara?
Não sabia exatamente o que estava acontecendo entre nós, mas não
esperava por essa reviravolta.



Hunter

— Lá vem o submarino Maddie voltando de sua jornada pelo oceano —


ri, guiando o brinquedo de plástico, de uma extremidade da banheira para a
outra, fazendo sons enquanto o pequeno barco azul flutuava.
— Eba! — Maddie gritou, jogando os braços para dentro e fora da água
com emoção.
Banhos matinais não faziam parte da nossa rotina habitual, mas
tínhamos ficado acordados até tarde jogando bingo na noite anterior, e eu
tinha me esquecido completamente da hora do banho. Só lembrei de manhã
cedo, quando ela foi para a minha cama para se aconchegar. Um beijo no topo
de sua cabeça, e eu notei que era hora de levar o submarino Maddie para outra
viagem.
— Para onde foi o barco desta vez, papai? — Ela perguntou, olhando
para mim com os olhos brilhantes e animados.
Deixando o brinquedo balançar à sua frente, coloquei um pouco de
xampu na mão e passei em seus cabelos. Enquanto o xampu entrava embaixo
dos meus dedos, gentilmente esfreguei seu couro cabeludo, sorrindo ao ver as
bolhas que se formaram em toda sua cabeça.
— Bem, ouvi dizer que viajou até a Islândia desde a última vez que o
vimos.
— Islândia?
— Hum.
— Na Islândia é muito frio, papai?
— É, mas não tão frio quanto a Groelândia. Acredita nisso?
Seus olhos se arregalaram quando ela olhou para o pequeno barco azul e
balançou a cabeça, negando. Então pegou o brinquedo e começou a conversar,
perguntando quanto tempo havia demorado para chegar à Islândia, se havia
visto algum castelo de gelo quando chegou lá.
Enxaguei o xampu de seu cabelo, sorrindo enquanto ela espirrava água
e brincava. Era um daqueles momentos em que eu sabia que deveria ficar
atento à hora, para não chegar atrasado à escola e ao trabalho, mas não
conseguia me apressar. Não dava para ignorar momentos incrivelmente
preciosos como aquele.
Se alguém tivesse me dito, há cinco anos, que a minha vida seria
completamente alterada por uma pequena, que um bebê entraria em minha
vida — eu teria dito que esse alguém era louco. Mas a partir do momento em
que a mãe de Maddie me disse que estava grávida, eu soube que minha vida
nunca mais seria a mesma.
Ao olhar para a foto do ultrassom, eu me apaixonei. E quando ficou
claro que eu cuidaria de Maddie sozinho, optei por fazer isso sem pensar duas
vezes. Não havia outra opção para mim.
Minha filhinha se tornou o centro do meu mundo, no momento em que
soube de sua existência. Por mais que minha vida pessoal tenha sido alterada
por eu estar ocupado criando minha filha, cada segundo que eu passava ao seu
lado era mais do que valioso. Maddie era tudo para mim e nada poderia tirar o
que tínhamos.
A gravidez obviamente foi uma surpresa para nós dois, mas a mãe de
Maddie não teve interesse. Agora ela morava do outro lado do país e ligava
uma vez por ano, no aniversário de Maddie.
Quando terminei de tirar o sabão de seu corpo, ajudei Maddie a se secar
e puxei o ralo para drenar a água banheira. Eu a vesti rapidamente e arrumei
seu cabelo, antes de vestir as minhas roupas do trabalho. Escovamos os dentes
juntos no meu banheiro. Logo estávamos ambos prontos para começar o dia, e
enquanto caminhávamos pelo corredor até a porta, verifiquei o relógio da
cozinha. Mesmo com o tempo extra no banho, estávamos no horário certo.
Quando saí pela porta da frente, meu olhar se desviou até o apartamento
acima da garagem. Não conseguia parar de lembrar daquele dia, no
apartamento de Kate, quando acabamos no chão da cozinha. Não que
estivesse reclamando.
Eu havia ficado surpreso por ver alguém tão experiente na cozinha
deixar a máquina de lavar louça transbordar daquele jeito por engano… mas
se por isso acabamos fazendo um sexo incrível no chão da cozinha, tudo bem.
Tudo faria sentido. E eu não era o tipo de cara que recusava uma rapidinha na
cozinha. Não tinha certeza absoluta de que um homem assim existisse. Fazer
sexo incrível, não importava onde.
Deixando os pensamentos eróticos de lado, ajudei Maddie a se
acomodar e me sentei no banco do motorista.
— Vamos para a escola.

Quando cheguei ao escritório, uma pilha enorme de papéis estava à


minha espera na mesa. Suspirando, me sentei e comecei a trabalhar
imediatamente. As rotas de ônibus do lado oeste da cidade precisavam ser
organizadas, os trilhos de trem precisavam de manutenção, buracos nas
estradas precisavam ser tampados… E eu só conseguir pensar em transar com
Kate.
Foco, Hunter, foco.
Felizmente, o resto do dia passou num piscar de olhos, e logo era hora
de buscar Maddie na casa de sua melhor amiga. Tive a sensação que minha
última reunião do dia demoraria mais do que o normal, então marquei para
Maddie ficar com Ashley. Era apenas uma das muitas habilidades que tive
que aprender rapidamente como pai solteiro.
Na volta para casa, Maddie perguntou o que teríamos para o jantar, e
começou a choramingar quando eu disse que comeríamos frango com
brócolis, um de nossos jantares normais de semana.
— Por que você não pode fazer o mesmo jantar gostoso que Kate fez
quando veio?
— A vizinha Kate é uma cozinheira muito melhor do que eu —
respondi, checando a reação de Maddie no retrovisor. Ela não parecia
convencida.
— Bem, por que você não pede para ela vir e cozinhar para nós de
novo?
Você não tem ideia do quanto quero convidá-la.
— Kate nos ajudou muito ultimamente. Tem sido muito legal da parte
dela, mas não queremos abusar de sua gentileza.
— Papai, o que significa “abusar”?
Suspirei.
— Eu só quero dizer que não podemos esperar que ela nos faça jantares
o tempo todo. Temos que aprender a fazer sozinhos.
Além disso, ela deixou bem claro — um tempo atrás — que não estava
interessada em algo sério, e a última coisa que quero fazer é usar minha filha
para que ela sinta obrigação de fazer o que quer que seja.
Maddie ficou em silêncio por um tempo, olhando pela janela do carro.
Alguns minutos depois, ela suspirou e murmurou para si mesma.
— Mas eu odeio brócolis.

Passei todo o jantar até a hora de Maddie dormir procurando uma


desculpa para mandar mensagem para Kate sem parecer completamente
desesperado.
Poderia pedir a receita daquela refeição que Maddie tinha amado —
mas prometi a mim mesmo que não usaria minha filha como desculpa.
Poderia conferir se a lava louças estava funcionando bem, mas estava claro
que o problema da máquina tinha sido armado. Não queria provocá-la com
isso.
No momento em que coloquei Maddie na cama, estava completamente
sem saída e pronto para mandar um simples “oi” para Kate.
Dei um beijo na testa de Maddie, dizendo que a amava e me repreendi
diante daquela situação. Essa princesinha era a única pessoa que realmente
importava na minha vida. Por mais que minha nova inquilina fosse divertida,
eu era pai antes de mais nada. Maddie e eu éramos um só, e a longo prazo, eu
precisaria de uma mulher que aceitasse isso.
— Boa noite, papai — Maddie disse suavemente, com as pálpebras
fechando.
Meu coração se apertou quando olhei para a pequena forma enrolada
nos cobertores.
— Boa noite querida. Até amanhã.
Fui até meu quarto e peguei o celular. Checando a tela, fiquei surpreso
ao ver que tinha recebido uma mensagem de Kate.
Você está aí?
Sua mensagem foi mais direta do que o habitual. Algo poderia estar
errado. Liguei para ela imediatamente, temendo que ela estivesse em apuros.
— Olá — ela sussurrou, sua voz quase não saiu.
— Kate, oi, está tudo bem? — Tentei manter a voz calma. A última
coisa que ela precisava era achar que eu estava assustado.
— Eu ouvi um barulho. Acho que pode ter alguém… ou algo… aqui.
Você acha que poderia vir e dar uma olhada?
Em poucos minutos, estava entrando pela porta da frente da casa, que
estava destrancada, e entrei no apartamento escuro.
Talvez eu devesse ter pego um taco de beisebol ou algo assim.
— Kate? — chamei, com meus olhos ainda se ajustando a escuridão.
— Aqui — ela respondeu.
Seguindo sua voz, entrei na sala de estar para encontrá-la encolhida no
sofá, coberta até o queixo. Seus olhos estavam bem arregalados — e colados
em um filme de terror na televisão. Por um lado, pensei que ela parecia
mesmo assustada, mas depois da encenação com a máquina de lavar? Não
tinha tanta certeza.
— O que você está assistindo? — Perguntei, minha voz neutra. Se ela
estivesse realmente apavorada, eu não queria dar a impressão de que estava
tirando sarro dela.
— Bem — ela disse, se virando para mim e arregalando ainda mais os
olhos. — Esse filme apareceu na TV e no começo não parecia que seria
assustador, só parecia bem interessante, então eu continuei assistindo. E, uh,
bem… ele me assustou bastante, então ouvi um barulho do outro lado do
apartamento e agora você está aqui.
Ela disse tudo de uma vez, fazendo sua explicação sair em um fluxo
rápido — quase como se a tivesse ensaiado nos últimos dez minutos. Sorri.
— Isso parece horrível — disse, um pouco irônico, pegando o controle
e desligando a televisão. — Vamos começar tirando os gritos e os zumbis da
TV.
— Boa ideia — respondeu ela, se mexendo sob o cobertor.
— Bem, acho que só há uma coisa a fazer — falei, enfiando as mãos
nos bolsos de trás.
— O quê? — Ela franziu a testa, com os olhos ainda arregalados.
— Acho melhor você ir dormir na minha casa.
Seus olhos se arregalaram ainda mais.
— Podemos fazer isso?
— Nós vamos colocar um alarme para que você possa fugir cedo. —
Não que a gente vá dormir muito.
— Será a mais curta fuga de todos os tempos.
— Pelo menos há uma boa chance de ninguém te ver.
Ambos rimos.
— Sim, acho que dormir na sua casa seria bom — respondeu, sentando
e prendendo o cabelo atrás da orelha.
— Bom — sorri. — Agora saia desse cobertor, para que possamos ir
antes que o zumbi no seu quarto encontre a gente.
Ela revirou os olhos, mas me seguiu até a porta, onde calçou os sapatos.
Fomos rapidamente para a minha casa, passando nas pontas dos pés pela porta
do quarto de Maddie e entrando no meu. Ali dentro, fechei e tranquei a porta.
Nunca mais cometo aquele erro.
Eu me virei e Kate me abraçou, pressionando os lábios nos meus, com
uma suavidade surpreendente.
— Obrigada por me resgatar — disse ela, entre beijos, passando as
mãos sobre meu peito e ombros.
— Estou feliz por você ter me chamado. — Levei as mãos para sua
cintura. — Nunca se sabe os maníacos que estão por aí.
— Hum — murmurou ela, enquanto minha boca se movia para seu
pescoço, mordiscando suavemente a pele abaixo da orelha. Ela emitiu um
som baixo e cheio de desejo, e puxou os botões da minha camisa lentamente,
soltando um por um.
Enquanto seus dedos se ocupavam em tirar minha camisa, deslizei as
mãos sobre seus peitos, para abrir o fecho do sutiã. Terminamos nossas
tarefas ao mesmo tempo, parando para puxar as camisas e jogá-las no chão.
Então, guiei Kate até a beirada da cama, onde tirei lentamente sua
legging preta, curtindo cada parte nua de seu corpo. Assim que ela ficou sem
calça, tirei meu jeans. Com os olhares fixos um no outro, tiramos as roupas
intimas e ficamos ali por um momento, nos observando.
— Venha aqui — minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia
quando peguei sua mão e a puxei para meu peito. A sensação de sua pele
contra a minha era excelente, e todas aquelas curvas eram o suficiente para
fazer minha boca salivar com a oportunidade de explorar cada centímetro de
seu corpo.
Levantei-a em meus braços, e ela respondeu envolvendo meu quadril
com as pernas. Sua boca encontrou a minha em um beijo faminto, quando me
abaixei na cama.
Deitando-a de volta, arrastando minha língua pelo pescoço e sobre seus
seios, onde parei brevemente para chupar seus mamilos — e ela se ajeitava
nos travesseiros. Kate gemeu ao sentir minha língua rolando por sua pele, me
deixando ainda mais ansioso para continuar movendo-a ainda mais para
baixo. Arrastando meus lábios por seu corpo, parei antes de chegar ao meu
destino, indo para a parte interna de sua coxa.
Kate suspirou impaciente e riu baixinho.
— Você é tão… ai…
Antes que ela pudesse terminar a frase, comecei a beijar entre suas
pernas, passando a língua sobre o ponto sensível. Estava ainda mais molhada
do que eu pensei e o calor de sua excitação me excitou ainda mais.
Continuei passando a língua em sua vagina, sugando suavemente seu
clitóris — fazendo-a respirar com mais e mais força. Os gemidos de Kate se
tornaram mais intensos, até ela perder o controle e o orgasmo tomar conta de
seu corpo, fazendo suas costas se arquearem.
Quando sua respiração voltou ao normal, ela se apoiou nos cotovelos,
levantando uma mão e fazendo um gesto para mim.
— Venha aqui — ela sussurrou. Aproximando meu rosto, alinhei meu
corpo ao dela, abaixando até que pudesse sentir seus seios pressionando meu
peito.
Estava morrendo de vontade de penetrá-la profundamente, mas
felizmente ainda tinha neurônios suficientes para levar a mão à mesa de
cabeceira e pegar um preservativo. Depois que estava protegido, senti o braço
de Kate me envolver, enquanto ela me guiava para a posição. Nossas bocas
ficaram juntas enquanto eu me afundava nela. Kate deu um gemido de prazer,
e se ajeitou para acomodar meu pênis.
Suspiramos quando deslizei lentamente dentro dela, centímetro por
centímetro. Incapaz de me segurar, mesmo se quisesse, bombeei meu quadril
e ela levantou com cada impulso dado, combinando nossos ritmos. Estávamos
ficando bons nisso — em encontrar o ritmo perfeito com uma maneira fácil e
rápida, tanto dentro quanto fora do quarto. Tudo com ela parecia muito fácil.
Nossa respiração se acelerou. Os gemidos de Kate ficaram mais
frequentes, atingindo um nível de intensidade que me dizia que deveria cobrir
a boca dela com a mão novamente. Levei a mão de volta para seu peito,
massageando-o e rolando o mamilo entre os dedos, enquanto ela passava as
unhas nas minhas costas, ocasionalmente puxando meu cabelo.
— Você é… incrível — ela sussurrou sem fôlego, arqueando as costas
novamente em seu segundo orgasmo.
Eu a senti se contrair e sabia que o meu momento também se
aproximava. Mas as damas sempre vinham primeiro.
— Goze para mim — murmurei e dentro de segundos, ela respirou
fundo e seu corpo todo tremeu. — Assim… — Eu a penetrei mais forte,
encontrando o ângulo que a fez desmoronar.
Só precisei disso para gozar também, observando-a relaxar em meus
braços. Eu me contorci dentro dela, enchendo o preservativo quando um
orgasmo poderoso tomou conta de mim, fazendo-me xingar baixinho.
Quando abri os olhos, Kate estava me olhando maravilhada com um
leve sorriso.
Ofegantes, nos ajeitamos na cama, cobertos por uma fina camada de
suor. Assim que me acomodei no travesseiro, Kate virou de lado, apoiando a
cabeça no cotovelo. Eu me virei para olhá-la e encontrei um olhar travesso,
com uma sobrancelha arqueada.
— O que é esse olhar? — Perguntei, procurando entender sua
linguagem corporal e rolando para o lado.
— Acho que estou apaixonada por essa festa do pijama.



Kate

— Brindemos à vida de adulto.


Jessie sorriu, segurando uma margarita. Rebecca tinha acabado de ser
promovida no trabalho, Jessie estava comorando seu sexto aniversário de
casamento na próxima semana, e eu finalmente havia me estabelecido depois
da mudança.
Nós três não nos víamos há algumas semanas, então planejamos um dia
juntas, com manicure e pedicure, massagem, compras e agora um happy hour
no meu restaurante mexicano favorito.
Era sábado, estava quente e estávamos sentadas no pátio, observando as
pessoas se aproximarem do local. Por não vê-las desde que me mudei, elas
não tinham a menor ideia do que estava acontecendo com Hunter. Tentei
evitar a conversa, porque nem eu sabia exatamente o que poderia contar a elas
— especialmente porque eu ainda não tinha entendido nosso relacionamento.
— Então, como está o cara do sexo de aniversário? — Rebecca
perguntou, como se pudesse ler meus pensamentos.
Minhas bochechas queimaram. Deus, o que havia de errado comigo? Eu
me sentia como uma adolescente tendo que responder sobre sua paixão
secreta. Decidi ir na defensiva e tentar ignorar.
— Vamos apenas dizer que valeu a pena esperar — sorri, esperando que
elas não quisessem muitos detalhes.
— Ai, meu Deus! Vocês ficaram juntos? — Rebecca exclamou, levando
a mão para tampar a boca.
Jessie parou de comer um taco, boquiaberta.
— Vocês fizeram sexo? — Ela perguntou incrédula.
— Como não nos contou antes? — Rebecca perguntou, tomando a
margarita.
— Só tipo… aconteceu… — parei. — Algumas vezes.
— Oh meu Deus! — Rebecca gritou novamente. Um grupo de pessoas
que passava pela rua se virou para nos olhar.
— Vocês estão fazendo um escândalo — disse em voz baixa,
levantando uma sobrancelha para ela. — Poderiam não gritar?
— Não posso acreditar que você está fazendo sexo com seu senhorio —
disse Jessie, e finalmente deu uma mordida em seu taco.
— Bem, parece ruim quando você fala desse jeito — franzi as
sobrancelhas. — Nós somos amigos. Amigos que assistem a filmes e
ocasionalmente fazem sexo no chão da minha casa.
— No chão? — Jessie estava rindo agora.
— Isso foi uma vez. — Sorri ao me lembrar. — Nas outras vezes,
chegamos à cama.
— Espere um minuto — Rebecca levantou a mão. — O que você quer
dizer com assistir a um filme? Vocês estão mesmo saindo? Não é só sexo?
— Mais ou menos. Ele é divertido — dei os ombros. — E a filha dele é
legal. — Jessie e Rebecca trocaram olhares. — O que foi? — Perguntei,
terminando minha margarita. Eu não tinha me preparado para me envolver
com um cara com filhos e isso estava começando a me assustar. Felizmente, a
margarita era forte.
— A filha que flagrou vocês? Vocês todos se entenderam agora?
— Olha, é só amizade. Não é nada demais. Não estamos namorando.
Jessie acenou o garçom para nossa mesa.
— Precisamos de mais três, por favor. — Ela se virou para mim. — Isso
é insano. Você nunca gosta de ninguém.
— Não gosto dele — disse. — Quero dizer, eu gosto como amiga. Mas
disse a ele para sair com outras pessoas.
— Kate! — Rebecca estava gritando novamente.
— O quê? — Perguntei, desesperada. Não gostei de elas estarem me
pressionando. Duas pessoas podiam sair e curtir a companhia uma da outra
sem precisar namorar. Era isso o que estávamos fazendo.
— Você finalmente gosta de alguém e diz para ele sair com outras
pessoas? — Jessie perguntou.
— Olha, dissemos um ao outro no começo, é apenas casual. Você me
conhece — Aceitei outra bebida trazida pelo garçom. — Não estou
procurando algo sério.
— Mas o que você quer disso? — Jessie me lançou um olhar sério.
O que eu queria? Alguns orgasmos? Mal podia responder àquela
pergunta, muito menos explicar para as minhas amigas o que estava sentindo.
— Como você conseguiu fazer com que a filha dele gostasse de você?
— Rebecca levantou a sobrancelha para mim. — Pelo que soube da última
vez, ela tinha te expulsado da casa deles.
— Fiz um jantar para eles e ajudei com uma venda de bolos — disse,
tomando um grande gole da minha margarita. — Ela se afeiçoou a mim. —
Parei. — Mas não sabe o que estou fazendo com seu pai, o que poderia mudar
a maneira como ela se sente. — Jessie e Rebecca trocaram olhares
novamente. — Vocês duas, podem parar com isso, por favor? — Perguntei.
— Odeio falar isso para você Kate, mas parece que você e Hunter estão
namorando. Ou, no mínimo, tendo sentimentos um pelo outro. — Rebecca
disse, colocando a mão sobre a minha.
— Pare com isso, só estamos ficando. — Puxei minha mão e cruzei os
braços.
— Não tem problema em namorar alguém — Jessie disse, se apoiando
em um cotovelo. — Não precisa se assustar. Mas é o que você está fazendo.
Cozinhar, assistir filmes, passear. Isso é tudo namoro.
— Nós amamos você e achamos você incrível e só queremos que seja
feliz. E parece que Hunter te faz feliz. Por que não ir atrás disso? — Rebecca
assentiu.
Pensei que falar com minhas amigas me ajudaria a esclarecer as coisas,
mas elas só tinham deixado tudo mais complicado. Eu nunca tinha namorado
ninguém, só tinha relações casuais. Não gostava da ideia de compromisso.
Hunter e eu estávamos nos divertindo agora, mas o que aconteceria
daqui a alguns anos quando a diversão passasse e a realidade viesse? Acabaria
como minha irmã, em um divórcio amargo. Ela também tinha se apaixonado.
Ela e o ex pareciam o casal perfeito, e agora não conseguem ficar na mesma
sala juntos. E nossos pais não tiveram um bom relacionamento. Depois de
tolerar um ao outro por muitos anos, eles finalmente se divorciaram quando
minha irmã e eu éramos adolescentes.
Isso foi exatamente o que passei minha vida tentando evitar. Odiava a
ideia de amar alguém, dar tudo de mim num relacionamento e depois ver tudo
dar errado.
Várias margaritas depois, Rebecca e eu dividimos um táxi do
restaurante para casa. Enquanto olhava pela janela, mergulhei fundo nos
pensamentos sobre a situação com Hunter.
— Olha, sei que essas coisas te assustam, mas namorar é divertido.
Sério, ser casada é divertido. — Ela interrompeu meus pensamentos, tocando
meu ombro. — Você não está cansada de encontros ruins com sexo
decepcionante?
Dei os ombros. Realmente não tinha pensado nisso antes, mas depois de
Hunter, eu não tinha interesse em sair com mais ninguém. Sabia que estava
em negação. Gostava de Hunter, mas não sabia como lidar com isso.
Normalmente, quando as coisas ficavam complicadas, eu caía fora. Mas em
vez de querer evitá-lo, eu queria vê-lo sempre.
Quando o táxi parou na frente da casa de Hunter, Rebecca me deu um
tapinha leve no joelho.
— Sei que você vai se entender — ela sorriu.
— Obrigada, mãe — eu sorri, saindo do carro. Fiz uma pausa e me virei
para ela. — Mas sério, você é a melhor.
Eu me inclinei no assento para dar um abraço rápido nela e observei o
táxi descer o quarteirão. Assim que entrei em casa, vesti uma calça de
moletom e uma camiseta confortável, e me deitei na cama.
Depois de passar alguns minutos pensando e um pouco corajosa, graças
à última margarita, decidi mandar uma mensagem para Hunter.
Ei, quer assistir a um filme na minha casa?
Andei pelo apartamento, esperando a resposta, e olhei pela janela. A luz
do quarto dele estava acesa, então era um bom sinal. Meu telefone tocou
indicando que ele tinha respondido.
Na verdade, tenho um encontro, com a mulher da venda de bolos.
Talvez amanhã?
Olhei para o meu celular, meu coração batendo forte. Joguei o celular
na cama e coloquei as mãos sobre o rosto, caindo de volta na cama, quase me
sentindo enjoada.
O que eu estava fazendo? Aquilo era insano. Eu o havia incentivado a
conhecer pessoas. Não tinha o direito de ficar chateada…, mas estava. Não
queria que ele namorasse outras pessoas, como poderia dizer isso a ele? Não
quero estar em um relacionamento, mas também não quero que você inicie
um relacionamento com mais ninguém. Ele me acharia ridícula, e com razão.
Puxei um travesseiro sobre o rosto e gritei, enquanto tentava não
imaginar Hunter em seu encontro.



Hunter

— Mais vinho, senhor? — O garçom perguntou, felizmente


interrompendo o que estava se tornando o pior encontro da minha vida. O
restaurante italiano encantador costumava ser um dos meus restaurantes
favoritos, a mistura perfeita de elegância e não muita formalidade, e presumi
que seria uma excelente escolha para um primeiro encontro. Mas naquele
momento, eu queria sair e nunca mais voltar.
— Sim, por favor, seria ótimo — respondi, tentando ignorar o fato de
que June havia passado a última meia hora falando sobre os problemas
intestinais de sua filha e tomando uma taça de vinho branco atrás da outra.
Acho que ela estava na taça número seis, e eu estava começando a pensar que
ficar bêbado seria ótimo para sobreviver ao restante daquele desastre.
— Você está rapidamente se tornando o meu garçom favorito — June
falou, cutucando o braço do jovem com cara de assustado. Aparentemente, ela
estava um pouco mais alterada do que imaginou e o cutucou mais forte do que
pretendia, fazendo-o derramar um pouco de vinho na toalha branca da mesa.
— Peço desculpas — o garçom disse, claramente em pânico, tirando
uma toalha do bolso e secando a mesa.
— Ooopa! — June riu e tomou outro gole de seu vinho.
— Nós nos desculpamos. Não se preocupe com isso, obrigado. —
Lancei um olhar de desculpas e acenei para o garçom. Com uma cara
preocupada, ele terminou de enxugar a toalha e saiu correndo.
— Então, e você? Já tem alguma ideia sobre a escola de ensino
fundamental na qual vai matricular Maddie? — June perguntou, voltando sua
atenção para mim. — Está claro que você tomou a decisão certa em relação à
pré-escola. Muitos pais ignoram isso, não pensam que precisam de uma boa
base na educação, mas acho que às vezes é fácil esquecer como os próximos
passos são importantes…
Aparentemente, eu me perdi completamente na última parte da
conversa, sem saber como saímos do assunto cocô e entramos no assunto
escola.
Abri a boca para responder, mas June continuou falando algo sobre a
importância de moldar nossas filhas para o sucesso o mais cedo possível.
Involuntariamente, comecei a me afastar de conversa novamente. Eu
concordava com o que ela dizia, na maior parte do tempo, mas nós estamos
falando de nossos filhos há tanto tempo, que eu estava começando a pensar
que era a única coisa que tínhamos em comum.
— Eu não sei. O que você acha? Hunter? — June estava olhando com
expectativa para mim, as sobrancelhas praticamente tocando seus cabelos, de
tão levantadas que estavam.
— Sinto muito. Devo ter divagado por um momento. O que você estava
dizendo?
Em qualquer outra situação, eu teria inventado uma desculpa, mas
naquele momento, realmente não me importei em fazer isso. Ela estava
desconfortável e eu estava infeliz. Não fazia sentido disfarçar a realidade,
certo?
— Estava pensando o que você pensa sobre escolher escolas públicas
ou privadas. Há escolas especificas, internatos… há tantas opções…
— Para falar a verdade, ainda não pensei sobre isso. Só estou tentando
ficar em dia com as coisas da rotina diária. Acabamos de começar na pré-
escola — respondi, fazendo o melhor para parecer normal e interessado. Se
Kate estivesse sentada na minha frente agora, garanto que estaríamos nos
divertindo muito.
— Uh, você está certo. Essa coisa de pai solteiro não é brincadeira. —
Ela assentiu, inclinando-se para mim com os cotovelos na mesa. — Você sabe
que estou sempre aqui, se precisar de alguma coisa.
— Eu agradeço por isso June. Mas estou me virando bem por enquanto.
Ela assentiu novamente, levantando lentamente uma sobrancelha.
— Suponho que você tenha alguma ajuda extra. Eu me lembro da moça
da venda de bolos. Kara, certo?
Aqui vamos nós.
— Kate — respondi, friamente. Deixe o fogo se espalhar.
— Kate, certo. Aquilo foi muito gentil da parte dela, fazer aquela torta
para vocês. Seus inquilinos sempre foram tão solícitos e… envolvidos?
— Kate é especial, com certeza — me ouvi dizendo.
A sobrancelha de June se arqueou ainda mais. Estava claro que ela
estava tentando fazer o interesse parecer inocente, mas dava para adivinhar,
pela expressão dela, que estava desconfiada. E sinceramente, ela tinha todos
os motivos para estar. Não que eu fosse admitir isso. Eu não queria que os
pais da escola da minha filha pensassem que eu era um cara solteiro com uma
amiga colorida.
— Kate acabou me dando uma ajuda grande — acrescentei, ostentando
minha melhor expressão de pai estressado. — E Maddie gosta muito dela —
Sem falar que Kate é engraçada, brilhante, confiante, sexy, praticamente tudo
o que eu poderia querer em uma parceira.
— Muito especial para você e Maddie — disse June, com uma voz
quase doce demais. — Talvez eu a roube de você. Estou sempre procurando
uma ajudante melhor. — Ela piscou, claramente enganada a respeito da
natureza da ajuda que Kate me dava. Mas eu não quis corrigi-la.
Abri um sorriso amarelo e tomei outro gole do vinho. Antes que June
pudesse me irritar ainda mais em questões sobre Kate, o garçom chegou com
nossas refeições. Quando ele colocou a entrada na minha frente, o cheiro de
erva-doce e da manteiga perfeitamente dourada subiu do prato — derretendo
todas as minhas frustrações com June.
E daí que eu estava em um encontro idiota com uma mulher que só
queria falar sobre a escola das nossas filhas? E daí que ela tinha pedido uma
salada Caesar em um restaurante famoso por sua massa artesanal? Eu estava
com minha linguiça e uma massa à minha frente, e naquele momento, isso era
tudo o que importava.
Se Kate estivesse aqui, ela teria pedido algo interessante, como o
ravióli de abóbora ou a berinjela com queijo. Ela teria me deixado
experimentar um pouco de sua comida, e eu teria abalado as estruturas dela
com essa linguiça artesanal… E depois abalaria as estruturas dela com
minha própria linguiça.
OK, talvez a minha comida não fosse a única coisa que importava.
À medida que a hora passava, June conseguiu se tornar ainda mais
entediante. Quando ela esgotou completamente o assunto escola de nossas
filhas, passou a falar sobre seu novo filme favorito, ao qual ela tinha assistido
na semana passada.
— Eu amo qualquer filme sobre cavalos — disse, empurrando um
croûton pelo prato. — Coloque um cavalo em um filme e vou amar. Você já
viu Cavalo de Guerra? Se não, precisa. Imediatamente. É incrível.
Assenti, enfiando um enorme pedaço de linguiça na boca, então ficou
claro que não poderia responder educadamente. Nunca tinha visto filmes
sobre cavalos em minha vida, e não estava querendo começar tão cedo.
— Qual foi o último filme que você viu? — June perguntou, piscando.
Minha mente imediatamente voltou para a última vez em que eu tinha
visto Kate, quando ela estava enrolada no sofá, fingindo estar assustada com
um filme de terror. Foi provavelmente a chamada mais criativa que já recebi
em toda a minha vida…, mas, mesmo assim, uma chamada normal. E não é o
tipo de coisa que você menciona no primeiro encontro, por pior que ele esteja
sendo.
— Provavelmente algo com princesas ou animais falantes — disse,
recostando-me na cadeira. — Não tenho tempo para filmes adultos hoje em
dia.
— Filmes adultos? — June abriu um sorriso malicioso.
Merda.
— Não, não foi isso que quis dizer. Não sou um cara que curte pornô.
Não que seja errado assistir a esse tipo de filme, não necessariamente, é que
eu não assisto. Mas não foi isso que eu quis dizer. Quis dizer filmes não feitos
para crianças.
Não sabia por que estava divagando tanto. Quem se importava com o
que essa mulher pensava? Eu não, com certeza não. Mas a última coisa de que
eu precisava era que ela contasse aos outros pais que eu era viciado em
pornografia. Não seria muito bom para mim. E o mais importante, não seria
bom para Maddie.
Jesus, eu só quero que essa noite termine.
— Hmm, não se preocupe, eu entendo. — June levantou a taça de vinho
e deu uma piscada.
Ótimo. Acho que posso adicionar “pervertido” à lista de coisas pelas
quais sou conhecido entre os pais na escola.
Ri sem jeito, me esforçando para dizer algo e mudar de assunto. Antes
que pudesse dizer alguma coisa, o garçom voltou perguntando se gostaríamos
de ver o cardápio de sobremesa depois de ver nossos pratos quase vazios.
Pelo amor de Deus, que esse encontro termine antes da sobremesa.
— Hoje, não — June respondeu ao garçom, enrugando o nariz,
decepcionada. Ele assentiu educadamente e levou nossos pratos. — Desculpe
por decidir por você. Minha babá mandou uma mensagem dizendo que
preciso voltar.
— Não se preocupe. Eu também preciso ir — respondi, grato por aquele
jantar estar terminando. — Está tudo bem?
— Oh, sim, está tudo bem — ela insistiu. — A babá só tem uma…
prova de matemática ou algo assim amanhã. É o que ganho por contratar uma
estudante de colégio da vizinhança.
Se não soubesse das intenções de June, teria pensado que ela estava
tentando se livrar de mim. Acho que não sou o único a achar esse encontro
um fracasso.
Quando o garçom voltou com nossa conta, insisti em pagar. Meus
modos podem ser arcaicos, mas deixar a mulher pagar no primeiro encontro
não era algo que eu aceitava. Kate me mataria se me ouvisse agora.
Quando terminamos nosso vinho, June e eu fomos para o
estacionamento onde esperei até seu táxi aparecer, então trocamos um abraço
desconfortável. Ela usava muito perfume, o que achei bem sufocante. Bem
diferente da fragrância sutil de Kate.
Assim que o táxi partiu, fui para meu carro. Não tinha percebido que ela
tinha ido de táxi para o restaurante, e de repente fez sentido o fato de ela ter
bebido tanto vinho. Provavelmente estava um pouco nervosa por eu
finalmente ter aceitado seu convite. E, além disso, que mãe solteira não
desejaria relaxar um pouco de vez em quando — mesmo que isso significasse
tomar algumas taças de vinho no jantar?
No caminho de volta para casa, relembrei todas as vezes em que havia
pensado em Kate durante o jantar. Eu me senti um pouco injusto com June,
pelo fato de não ter me interessado em saber mais dela naquele tempo que
passamos juntos, mas não pude evitar.
Toda vez que pensava sobre o que eu queria em uma mulher, Kate
imediatamente surgia em minha cabeça. O sexo casual, sem compromisso,
podia ser o sonho de todo homem, mas com o modo com que estávamos indo
— de repente me pareceu ser uma péssima ideia.
Talvez fosse por causa de Maddie. É claro que eu queria um modelo
feminino para ela, e queria que ela tivesse o amor de uma mãe.
Claro, havia livros para pais e artigos que poderiam me ensinar as
coisas certas para dizer a minha filha quando ela começasse o caminho para a
vida adulta. Mas no fundo, no fundo, eu tinha a sensação de que tudo isso
significaria muito mais vindo de alguém que não fosse um homem, alguém
que tivesse vivido tudo em primeira mão. Alguém que amasse minha filha
tanto quanto eu amava. E por mais que eu quisesse, aquela mulher não seria
Kate, provavelmente. Deixar de ser uma ficante e passar a ser madrasta era
um grande salto e eu não podia permitir que Maddie se apegasse
emocionalmente a Kate, se ela não fosse ficar.
Quando entrei na garagem, olhei para a janela de Kate. A luz estava
apagada, o que significava que ela estava fora ou que tinha dormido cedo. De
qualquer forma, fiquei um pouco decepcionado por saber que não poderia ir
até sua casa por alguns minutos, para contar como meu encontro tinha sido
horrível.
Entrei, paguei e agradeci à babá antes de levá-la até a porta da frente.
Maddie estava dormindo há cerca de uma hora, e eu não queria acordá-la para
dizer boa noite.
Quando tirei a roupa suja, enfiando o jeans escuro no cesto, eu me dei
conta. Todos aqueles pensamentos envolvendo Kate não tinham a ver com
Maddie. Não completamente, pelo menos.
Tinham a ver comigo. Eu era o único que precisava de outra pessoa,
alguém que preenchesse as lacunas. Havia uma pessoa na minha vida, que
estava perto para me apoiar, que era engraçada e brilhante, sexy demais, uma
verdadeira parceira.
Sentei-me na beira da cama, cobrindo o rosto com as mãos e esfregando
os olhos. O único problema dos novos sentimentos era que Kate não queria
nada com eles. Ela deixou perfeitamente claro, desde o início, que não estava
procurando nada sério — muito menos com alguém que tinha uma filha.
“Pegando sentimentos”, ela disse.
Porra. Porra. Porra.
Por mais que eu desejasse que Kate mudasse de ideia, para algo mais do
que apenas foder como amigos, não queria ser o tipo de cara que concorda
com sexo casual e depois de algumas noites quentes acaba surtando. Nós
concordamos que nosso lance não seria nada sério. E tenho que honrar esse
acordo.
Mas tinha que fazer algo com meus sentimentos. E rápido.



Kate

— Martini forte, por favor. — Gritei para o barman, acima do barulho


da multidão.
Era uma noite de quarta-feira e eu tinha ido cobrir uma festa de
lançamento de um cantor promissor. De acordo com o meu editor, haveria
grandes fofocas para conseguir na festa, mas até agora tudo o que eu tinha
feito tinha sido comer muitas bolinhas de queijo de cabra e ouvir música pop
ruim por uma hora. O cantor tinha apenas dezoito anos e eu já havia me
esquivado de muitos grupos de adolescentes bêbados para uma única noite.
Decidi que precisava beber alguma coisa para aguentar até o fim da noite.
Bebi meu martini enquanto caminhava pela festa. Pensei em Hunter e
tentei imaginar o que ele estava fazendo. A última vez em que nos falamos,
ele estava se preparando para um encontro com aquela vadia da escola de
Maddie.
OK, ela não era uma vadia. Mas eu odiava imaginá-lo com ela. E por
mais que estivesse morrendo de vontade de saber como tinha sido, não
perguntaria a Hunter de jeito nenhum. Eu me recusei a parecer uma namorada
carente, principalmente porque não éramos namorados, e ainda mais porque
eu mesma o havia incentivado a marcar um encontro.
Alguém me deu um tapinha no ombro, interrompendo meus
pensamentos.
— Ei, linda — disse alguém quando me virei. Era Andy, um colega
colunista.
Eu me retraí ao vê-lo. Nós ficávamos juntos algumas vezes, geralmente
depois de beber demais nesses eventos. Ele era atraente e divertido para sair,
mas eu odiava quando ele me chamava por apelidinhos.
— Oi, Andy. — Sorri quando ele me puxou para um abraço.
— Não vejo você tem um tempo. — Ele sorriu, demorando demais o
olhar em meu decote. — Você está ótima.
Falamos de nossas vidas, depois que Andy pediu outra rodada de
martínis. Geralmente eu ficava feliz em vê-lo, ele era divertido e fácil de lidar
— mas naquela noite, nossa conversa foi estranha. Eu não estava com
vontade de flertar e certamente não estava com vontade de ir para casa com
ele. Na verdade, quanto mais eu conversava com Andy, mais sentia falta de
Hunter.
Merda. Eu estava realmente no fundo do poço.
Eu disse a Andy que precisava ir ao banheiro, mas na verdade só queria
ficar sozinha com meus pensamentos por alguns minutos.
Ultimamente, estava pensando muito sobre relacionamentos. Todo esse
tempo, pensava que evitando um relacionamento, eu estava sendo forte e
independente, mas na realidade – eu só tinha medo de crescer. Estava velha
demais para estar naquela festa, velha demais para continuar com medo da
vida. Era hora de tomar decisões adultas e me arriscar. Sim, eu vi minha irmã
sofrer, mas isso não significava que eu também sofreria. E se acontecesse,
paciência, eu sobreviveria. Isso é o que uma mulher verdadeiramente forte e
independente faz.
Eu me olhei no espelho do banheiro. Por muitos anos, perdi a chance de
ter uma conexão real com as pessoas por estar com medo. Mas agora estava
pronta.
Animada com minha nova decisão, sorri para mim mesma. Saí do
banheiro, tomei mais um gole do martini e olhei pela festa de novo, na
esperança de encontrar um romance entre o popstar e outra pessoa — ou até
mesmo uma briga. Odiava ir embora sem qualquer coisa para minha coluna.
Não encontrei nada, e meu celular vibrou no bolso. Peguei e atendi:
— Alô?
— Kate, é o Hunter — ele parecia assustado, e eu não consegui ouvir o
resto do que ele disse, por conta dos barulhos da festa.
— Nossa! Devagar — disse, saindo rapidamente para a varanda, onde
um grupo de modelos estava fumando. — O que aconteceu?
— Maddie está no hospital.
Levei um susto e tampei a boca com a mão, em estado de choque.
— Ela está bem? — perguntei, indo para a porta.
— Eu ainda não tenho certeza. Acabamos de chegar aqui e os médicos
estão olhando. — Ele parecia prestes a perder o controle. — Acho que só
queria que você soubesse.
— Estou indo — falei, saindo pela porta da frente.
—Tudo bem, parece que você está ocupada. Você não precisa — ele
disse, mas o interrompi.
— Hunter, já estou a caminho. Chegarei em breve.

Cheguei no hospital em tempo recorde e praticamente subi as escadas


voando. Quando vi Hunter na sala de espera, corri até ele.
— Como ela está? — perguntei, tentando recuperar o fôlego.
— Ela está em cirurgia — respondeu ele, com a preocupação marcando
seu rosto. — Disseram que é o apêndice dela. É um procedimento simples e
que não há nada com que me preocupar.
Dava para ver que ele não estava convencido. Eu só podia imaginar
como um pai se sentia com um filho passando por uma cirurgia.
Eu o abracei com força. Ele me abraçou também, e apoiei a cabeça em
seu peito. Sentia-me tão confortável ao me apoiar nele assim, tanto que
continuei não querendo que o momento acabasse.
— Ela vai ficar bem — disse, recuando para olhar em seus olhos.
Odiava a dor e a angústia que via neles. — Passei pela mesma cirurgia
quando tinha a idade dela.
— Obrigado por ter vindo. — Ele estendeu a mão para afastar uma
mecha de cabelo do meu rosto. Nós formos para a sala de espera e nos
sentamos nas duras cadeiras de plástico.
— Claro que vim. Não queria que você ficasse sozinho. — Ele olhou
nos meus olhos e meu coração acelerou. Agora não era a hora de dizer a ele o
que eu tinha percebido, mas estar aqui com ele era muito bom. — Você já
comeu alguma coisa? — Perguntei, olhando no relógio, eram quase nove da
noite.
— Na verdade, não — ele passou a mão pela nunca. — Eu me esqueci
completamente disso.
— Vou buscar alguma coisa — levantei.
— Não, você não precisa — disse ele, mas continuei de pé.
— Por favor, é o mínimo que posso fazer.
Ele sorriu quando peguei minha bolsa e saí pelas portas. Dez minutos
depois, voltei com um sanduíche e algumas frutas da cafeteria.
— Alguma novidade? — perguntei quando soltei a bolsa.
— A cirurgia já acabou — respondeu ele, sorrindo. — Ela está bem,
apenas se recuperando, e poderei vê-la daqui a pouco.
— Obrigada, Deus. Fazia tempo que não sentia tanto medo. — Deixei
escapar um suspiro de alívio e sorri de volta para ele.
— Ter você aqui significou muito — respondeu ele quando entreguei a
comida. — Desculpe se interrompi seu encontro.
Confusa, olhei para ele por um momento, depois balancei a cabeça.
— Ah, não, não foi um encontro. Foi uma festa idiota do trabalho. —
Ele assentiu e pude ver o alívio em seu rosto. Olhei para ele por um momento
e fiquei feliz. Perceber que Hunter estava com ciúmes me deu um frio na
barriga. — Fiquei contente por você ter me ligado — acrescentei, incapaz de
conter o sorriso.
Queria dizer a ele como era importante para mim estar ali para dar
apoio a ele e a Maddie, por ser incluída em momentos como este, mas não
sabia como dizer isso. Então, dei outro abraço nele e me derreti sentindo seus
braços em envolverem. Formos interrompidos pela médica se aproximando.
— Os pais de Maddie? — Perguntou a médica.
— Apenas eu — Hunter se levantou.
Fiquei ao seu lado, nossos dedos entrelaçados enquanto a médica me
dispensou e olhou diretamente para Hunter com preocupação nos olhos.
— Maddie está acordada agora. Ela está bem. A visitação é para apenas
para a família, se o senhor quiser vê-la agora. — Ela fez sinal para o corredor.
— Obrigado de novo. Provavelmente vou passar a noite aqui, enquanto
Maddie se recupera — Hunter disse, virando-se para mim.
— Sim, é claro — balancei a cabeça. — Vou vigiar a casa.
Sorri, mas meu coração estava triste. Não queria sair sem eles e ir para a
casa vazia. Apertei a mão de Hunter de novo antes de partir.
Quando entrei na garagem, a casa parecia enorme e ameaçadora no
escuro, sem as luzes acesas. Normalmente, quando eu chegava, via Maddie
assistindo TV ou jogando na sala de estar. Senti uma pontada de solidão,
quando saí do carro e caminhei pelo apartamento. Estava tão acostumada a tê-
los por perto, que não tinha percebido como poderia ser quando eles fossem
embora.
Ali dentro, deitei na minha cama, olhando para o teto. Meu celular
tocou e esperando que fosse Hunter, atendi rapidamente sem olhar para o
visor.
— Hunter? — Disse sem pensar.
— Quem é Hunter? — Era minha irmã, Kayla.
— Desculpe, ninguém. Como você está?
Entre me mudar e tudo o que havia acontecido com Hunter, não falava
com ela há algumas semanas.
— Bem — disse. — Há muito tempo não tenho notícias suas.
— O que há com você? — Perguntei. — Você parece meio alegre.
— Eu não posso estar alegre? — perguntou ela, rindo.
Mordi meu lábio. Não queria dizer isso, mas acho que não a via feliz
desde antes do divórcio.
— Tudo bem, tudo bem — ela disse, antes que eu pudesse responder. —
Conheci alguém.
Eu me sentei na cama, com os olhos arregalados. Foi o segundo
telefonema surpreendente que tive aquela noite.
— O quê?! Me conte tudo!
— Kate, ele é incrível — ela disse, praticamente desmaiando ao
telefone. — O nome dele é Tyler. É doce, atencioso e prestativo. Tudo o que
Jim não era, basicamente.
— Como assim? — Sempre achei que ela e Jim pareciam um ótimo
casal. Sinceramente, nunca tinha entendido de fato o motivo pelo qual as
coisas não tinham dado certo. — Eu pensei que Jim fosse muito bom.
Ela suspirou.
— Olha, Kate, há muita coisa que não contei sobre Jim e eu. Houve
problemas desde o começo e eu não quis admitir. Fingi que éramos um casal
perfeito para que ninguém notasse que não éramos ótimos um para o outro.
Fiquei chocada. Eu nunca tinha escutado minha irmã falar dessa
maneira sobre Jim. Ele sempre pareceu legal em eventos familiares, mas acho
que nunca o conheci muito bem.
— Então você acha que as coisas são diferentes agora? Com Tyler?
— Totalmente. Sério, nunca me senti assim antes. Sei que parece
loucura, mas ele é uma ótima pessoa, e me entende. — Eu podia dizer que
sabia o que ela estava dizendo. Olhando para trás, percebi que ela nunca disse
coisas assim sobre Jim. Apenas presumi que tudo era ótimo porque eles
pareciam bem felizes. Kayla interrompeu meus pensamentos. — Acho que eu
o amo, Kate.
— Uau, isso é incrível — disse, indo até a janela. Olhei
automaticamente para a janela de Hunter e então me lembrei que ele não
estava lá. — Sério, estou muito feliz por você.
Nós conversamos sobre tudo o que havia acontecido com ela e Tyler e
então eu disse que precisava dormir.
Depois que desliguei, me enrolei de novo na cama. Eu estava mesmo
muito feliz pela minha irmã. Depois de tudo o que ela tinha passado com Jim,
merecia encontrar alguém que fosse bom. E se depois do divórcio ela foi
corajosa o suficiente para tentar novamente, então eu não tinha motivo para
ter medo.
Não sabia como, mas precisava encontrar uma maneira de contar a
Hunter como eu me sentia. Só esperava que não fosse tarde demais.



Hunter

Abri a porta do freezer e tirei uma caixa amarela de picolés,


vasculhando as embalagens para encontrar o sabor certo. Maddie tinha
chegado em casa do hospital há alguns dias, e eu logo entendi que cores ela
preferia. Ela não gostava muito do de uva e odiava o de limão, dos outros ela
gostava bastante.
Meu olhar pousou em um picolé que parecia ser vermelho, então o tirei
da caixa e levantei contra a luz. Através da embalagem fina, pude ver um leve
tom vermelho. Aleluia. Morango era o favorito da Maddie.
Entrei na sala de estar, onde ela estava enrolada em um cobertor grosso
e felpudo no sofá, ainda vestindo o pijama e com o cabelo despenteado.
Desembrulhei o picolé e o entreguei para ela, colocando um guardanapo em
seu colo.
— Tenha cuidado para não começar a pingar — disse, prendendo seus
cabelos atrás da orelha.
— Eu sei — ela disse, baixinho, sem tirar os olhos da televisão.
Distraidamente, ela levou o picolé à boca, errando na primeira tentativa e
sujando o queixo de vermelho.
Tirando o guardanapo de seu colo, limpei seu queixo e ri de sua
distração. Os médicos tinham avisado que ela precisaria de muito descanso
após a cirurgia, mas naquela manhã, percebi que ela estava um pouco melhor
— pela forma com que ela estava encantada com seus desenhos animados.
Nos primeiros dias em casa, ela mal conseguia manter os olhos abertos o
suficiente para prestar atenção neles. Mas agora estava viciada novamente. Já
sabia que teria que ser firme, para ela voltar aos horários normais quando
estivesse recuperada.
— Vou pegar outro guardanapo — disse, beijando o topo de sua cabeça
antes de voltar para a cozinha.
Acontece que não havia nada mais aterrorizante no mundo do que ter
que levar seu filho para o hospital. Aprendi do jeito mais difícil. Mesmo
depois de os médicos me assegurarem de que ela ficaria bem, que a sua
cirurgia era totalmente rotineira e fácil, eu não conseguia deixar de me sentir
impotente diante da situação.
Ficar sentado naquela sala de espera, enquanto estranhos abriam minha
filha, sem poder fazer nada além de esperar e tentar não enlouquecer…, Eu
achava que era uma pessoa calma e racional, mas com base nos sentimentos
caóticos que passavam pela minha mente durante esse tempo, estava
começando a questionar tudo o que pensava sobre mim mesmo. A única coisa
que não questionei? O fato de Maddie significar tudo para mim. Ela era o meu
mundo, era meu trabalho garantir que nada ruim acontecesse a ela. E ponto
final.
Depois de pegar outro guardanapo, voltei para a sala e me sentei ao seu
lado. Coloquei o guardanapo no colo, sorrindo para o fato de o picolé estar
pela metade.
— Papai, podemos comer outra coisa que não seja sopa no jantar hoje?
— Maddie perguntou, ainda olhando para a televisão.
— O que você quer comer? — Fiquei tentando me lembrar dos
alimentos que tínhamos. Estava fazendo o meu melhor para fazer refeições
leves e nutritivas com o que havia.
— Podemos pedir pizza sem glúten? — Ela olhou para mim com os
olhos largos e esperançosos.
Eu sorri. Parecia que alguém estava começando a se sentir melhor,
afinal.

Alguns dias depois, ficou claro que Maddie e eu precisávamos sair de


casa. Tínhamos acabado com o estoque de picolés e nossa dispensa precisava
ser abastecida. E por mais que amássemos passar horas juntos, eu sabia que
ela queria ver o rosto de outra pessoa e ouvir outras vozes, pra variar. E eu
sabia exatamente quem chamar.
Depois de alguns toques, a ligação foi atendida, e uma voz, da qual eu
não tinha percebido sentir tanta falta, atendeu.
— Hunter, oi. Como está Maddie?
— Olá, Kate. Ela está muito melhor. Obrigado por perguntar. — Não
conseguia controlar meu sorriso. Porra, estava com saudade do som da sua
voz.
— A incisão dela está bem? Não há sinais de infecção? Nenhum efeito
colateral estranho da anestesia?
— Você andou pesquisando no Google e se estressando, não é?
Nós dois rimos.
— Olha — ela disse com um tom sério. — Essa é a primeira cirurgia da
minha vida há muito tempo, e eu me preocupo muito com essas coisas. Os
hospitais estão repletos de infecções e todos os tipos de outras coisas que
podemos pegar.
Eu sorri. Como Kate consegue ficar cada vez melhor cada vez a
conversamos?
— Bem, é muito gentil de sua parte se preocupar, mas ela está bem.
— Bom, fico feliz por ouvir isso. Precisei de todo o autocontrole que
tinha para não enviar mensagens a cada cinco segundos.
— Você pode mandar uma mensagem sempre que quiser, Kate. Você
sabe disso, certo?
Ela fez uma pausa e por um segundo, temi ter falado demais.
Seja como for, é verdade. Nosso lance podia ser casual, mas correr para
o hospital para ver como as coisas estavam quando minha filha teve que fazer
uma cirurgia de emergência não era exatamente o que se esperaria de um
lance casual.
— Eu sei, eu só não queria incomodar.
— Entendo — disse, lentamente. — Mas só para deixar registrado, você
não teria incomodado. Nem um pouco. — Um longo silêncio se estendeu e eu
realmente comecei a me preocupar com a possibilidade de tê-la assustado. —
Kate? Você ainda está aí?
— Desculpe, sim, estou aqui — sua voz estava mais baixa, mais tímida
do que o habitual. — Isso foi… gentil, Hunter.
— É verdade. Olha, eu liguei para ver se você quer ir com Maddie e
comigo até o parque, de tarde. Estamos ficando um pouco loucos aqui. Além
disso, ela adoraria ver você. — Tive que aliviar o clima antes de Kate desligar
e passar a me ver como um grudento, pensando que eu não sabia manter um
relacionamento casual com uma mulher.
— Eu adoraria — ela respondeu. — A que horas você está pensando em
sair?
— O que acha de irmos às três?
— Três horas é perfeito. Encontro você na porta da frente.
— Estou ansioso.
Depois que desligamos, fui contar as novidades para Maddie.
— Adivinha? — Perguntei, entrando na sala e parando ao lado da
televisão.
— O quê?
— Você e eu vamos ao parque mais tarde. E acabei de falar com a nossa
vizinha Kate, e ela disse que vem com a gente.
— Sério? — Maddie se virou para olhar para mim, os olhos arregalados
e as sobrancelhas levantadas. Eu estava começando a ficar encantado ao ver
como ela gostava de ficar com Kate.
— Sim.
— Oba! — Ela gritou, saltando do sofá e chutando o cobertor para
longe.
— Você sabe o que isso significa, não é? — perguntei, levando as mãos
ao quadril. Ela balançou a cabeça. — É hora de você tirar o pijama.
Maddie e eu passamos as próximas duas horas arrumando a sala e nos
preparando para o passeio, limpamos o local da incisão e o mantivemos
protegido. Ela parecia animada para vestir roupas diferentes, e quando a
ajudei a amarrar seu tênis — percebi por seu olhar que ela estava mais do que
pronta para brincar lá fora.
Às três horas em ponto, Kate bateu à nossa porta. Fui atender com
Maddie logo atrás, e no momento em que abri a porta, Maddie correu para
abraçar Kate pela cintura.
— Oi, oi — Kate disse, claramente tocada pelo abraço. Ela olhou para
mim e sorriu, arregalando os olhos.
— Estou me sentindo muito melhor — disse Maddie, soltando Kate e
recuando para olhá-la. — Eu tomei muitos picolés.
— Picolés, sério? Que inveja! Não tomo picolés há muito tempo —
respondeu Kate, sacudindo a cabeça.
Enquanto as duas conversavam na porta, pendurei a mochila no ombro,
dentro da qual estavam todas as coisas que eu precisaria para limpar a incisão
de Maddie – caso precisássemos delas – bem como água, um casaco para o
caso de ela sentir frio e barras de cereais, se ela sentisse fome. Eu sabia que
estava exagerando um pouco, mas eu também ainda estava me recuperando
da cirurgia dela.
Maddie e Kate continuaram conversando durante todo o trajeto de carro
até o parque, com Maddie explicando como era o hospital e exatamente como
era quando ela acordava. Eu adorei ver que ela estava muito animada falando
sobre toda a experiência e gostei de ver a atenção que Kate dispensava. Eu
temia que Maddie pudesse ter ficado um pouco traumatizada com tudo aquilo,
mas ela estava melhorando mais rápido do que eu esperava — tanto física
quanto emocionalmente.
No parque, Maddie nos levou a sua parte preferida, onde ela
rapidamente encontrou outra garotinha da sua idade para brincar e contar
sobre sua estada no hospital. Kate e eu ficamos observando as duas
conversando e rindo por um tempo, até subirem ao topo do escorregador,
onde riram um pouco mais.
Chamei Maddie e disse que ela tinha que ir com calma — sem correr e
sem pular, já que ainda estava se recuperando.
— Esqueci como é fácil fazer amigos nessa idade — Kate disse com um
sorriso, cruzando os braços.
— É bom sair e tomar um pouco de ar fresco — suspirei e estendi os
braços. — Parece que não falo com outro adulto há meses.
— Bem, isso não é bem verdade — disse Kate, esfregando o braço. —
Como foi seu encontro?
— Encontro?
— Com June — respondeu ela, abaixando a cabeça e me olhando,
incrédula.
Merda.
— Ah, certo. Meu encontro com June. Deus, o fato de eu ter me
esquecido completamente dele me faz um idiota completo?
— Só meio idiota, eu acho — Kate riu. Talvez fosse coisa da minha
cabeça, mas poderia jurar que ela pareceu aliviada.
— Aceito isso. — Olhei para ela com um sorriso amarelo. — Bem, o
encontro não foi ótimo, se já não ficou claro. — Ri, passando a mão pela
nuca.
— O que aconteceu?
— Ela não fez nada de errado. Nós simplesmente não temos nada em
comum além de nossas filhas.
Kate inclinou a cabeça, lançando a mim um olhar de soslaio.
— Isso, para mim, parece ser uma coisa bem importante para se ter em
comum com alguém.
— Você acha que isso resolveria tudo, não é? — Abri um sorriso
irônico para ela. — Mas acontece que deixar dois pais solteiros na mesma
mesa de jantar não é uma receita infalível para um romance.
— Não acho que a receita infalível existe — disse, olhando para baixo.
— Talvez não, mas eu percebi uma coisa naquele encontro.
— O quê?
— Que eu senti sua falta.
Kate parou de repente, olhando para mim com os olhos arregalados e
assustados, claramente surpresa.
— Hunter…
— Não se preocupe, eu sei. Eu não estou tentando te pressionar para um
relacionamento. O que temos é casual. Estritamente físico. É só que… eu
estaria mentindo se dissesse que meu encontro de merda não me fez desejar
que fosse você a pessoa dividindo comigo aquele jantar. Não a June.
— Não é que eu não…
— Olha, mesmo, você não precisa explicar. Não estou pedindo mais
nada. É só que algumas vezes, eu gostaria que você quisesse a mesma coisa.
Mas eu não sou o tipo insistente. Você deixou claro o que quer. Eu só preciso
aceitar. Está tudo bem.
Kate abriu a boca para falar, mas antes que pudesse, Maddie voltou
correndo com uma energia surpreendente.
— Papai, eu posso comer alguma coisa? — Perguntou, pegando minha
mão e puxando.
— Claro, um segundo.
Puxei a barra de cereal da mochila e entreguei a ela, que rapidamente
abriu e deu uma grande mordida. Quando olhei no relógio, entendi por que ela
estava com tanta fome. Eram quatro e meia, a hora em que costumava tomar
um picolé antes do jantar.
Preciso mesmo colocar nossa rotina nos trilhos de novo.
— Você está se sentindo cansada, Maddie? — Perguntei.
— Eu não estou cansada — respondeu, franzindo as sobrancelhas e
olhando para mim com um olhar teimoso.
— OK, pode brincar mais um pouco — respondi.
Maddie saiu correndo para dar a volta no balanço, e reencontrar sua
nova amiga.
— As pessoas no trabalho foram compreensivas em relação a tudo o
que aconteceu com Maddie? — Kate perguntou.
Sorri, feliz por ela ter mudado de assunto. Nós continuamos
conversando pelo resto do tempo no parque e durante a volta de carro para
casa. Tudo parecia estar de volta ao normal, e eu torci para que ela se
esquecesse de minha pequena confissão.
Eu não tinha me arrependido de dizer a Kate como estava me sentindo.
Só queria que nós quiséssemos as mesmas coisas. Mas ela deixou claro desde
o começo o que queria, e isso não incluía compromissos de longo prazo e uma
criança.
Independentemente de como eu estivesse começando a me sentir, ou do
que quisesse, apenas uma coisa estava clara: eu precisava superar tudo aquilo.



Kate

O que vocês dois estão fazendo hoje?


Esperei que Hunter respondesse enquanto eu pesquisava, na internet,


coisas divertidas para fazer na cidade. Eu precisava mostrar para ele como me
sentia, e como a comunicação não era muito bem o meu ponto forte, decidi
mostrar em vez de falar. Estava pronta para tudo: relacionamento,
compromisso e até mesmo tentar a maternidade. E que maneira melhor de
mostrar isso do que planejando um encontro divertido com ele e com
Maddie?
Vamos ficar aqui hoje. Está bem?

Me encontrem na frente da casa em trinta minutos. Tenho uma ideia.


Sorri para mim mesma, enquanto me arrumava, escolhendo um vestido
leve de verão que era bonito e adequado para um passeio em família. Depois
de muita pensar, decidi levá-los ao zoológico. Havia uma exposição especial
com filhotes de raposa sobre a qual eu tinha ouvido, e achei que Maddie
gostaria de vê-los. Sabia o quanto ela tinha adorado ver esqueletos de
dinossauros, e torci para ela ficar empolgada da mesma maneira para ver
animais vivos.
Esperei na frente, nervosa, batendo os pés, torcendo para não ter sido
espontânea demais. Mentalmente me repreendi. Onde estava minha
confiança? O dia seria ótimo. Todas as dúvidas passaram pela minha cabeça
quando Hunter saiu de casa com uma camisa preta e calça jeans. Ela estava
muito sexy, como sempre, e eu tive que resistir à vontade de beijá-lo.
Maddie correu atrás dele, vestindo uma saia rosa com uma camiseta
cinza na qual se lia POW! em grandes letras brancas.
— Roupa legal — eu disse, sorrindo. Era perfeita para ela.
— Obrigada — ela sorriu, colocando uns óculos escuros.
Segurei uma risada, olhando para Hunter. Seus olhos castanhos
expressivos se iluminaram com um sorriso que fez meu coração disparar.
— Ei — disse, protegendo meus olhos do sol. — Obrigada por
concordar com os planos de última hora.
— É sempre bom ter alguma emoção — ele sorriu pra mim.
Seus olhos desceram e subiram por meu corpo, observando meu
vestido. Prendi a respiração quando seu olhar parou por um momento em
meus seios, que estavam pressionados contra o fino tecido. Senti meus
mamilos endurecerem e torci para que ele não notasse. Meu olhar permaneceu
nele por alguns segundos, e então percebi que Maddie estava olhando para
nós.
— OK — disse rapidamente, desviando os olhos de Hunter. — E aí,
vocês estão prontos para uma aventura?
Comecei a andar em direção ao meu carro, mas Hunter balançou a
cabeça e apontou para o dele.
— Cadeirinha do carro — disse.
Ah, certo. Acho que ainda tenho muito para aprender. Entrei e ele abriu
a porta do banco de trás para Maddie.
— Aonde vamos? — Maddie perguntou, desconfiada.
— É surpresa. Mas prometo que vai ser divertido.
Hunter afivelou o cinto de Maddie no banco de trás, e então assumiu o
volante. Quando nos aproximamos do zoológico, olhei para trás e vi Maddie
encostada na janela, tentando descobrir onde estávamos. Quando viramos a
esquina, ela se animou.
— Vamos ver as raposas?
— Como você sabe da exposição? — Levantei uma sobrancelha para
Hunter.
— Todo mundo sabe! — ela exclamou.
Eu ri, estava muito aliviada por ela estra animada com aquilo que nem
me importei com o fato de a surpresa ter sido arruinada.
Quando entramos no zoológico, Maddie praticamente correu para a
exposição das raposas. Ficamos atrás do vidro olhando as raposinhas, com as
orelhas grandes apontadas para cima.
— Você gosta delas? — perguntei a Maddie, que estava pressionando o
rosto contra o vidro e acenando para elas.
— Elas são legais — respondeu, sem desviar o olhar.
— Você quer brincar com uma? — Ela se virou para mim com a boca
aberta, aparentemente sem palavras. — Eu comprei um bilhete especial para
que você possa fazer isso — disse, tirando o bilhete da bolsa.
Seus olhos se arregalaram e ela olhou para Hunter. Ele levantou as
mãos.
— Não olhe para mim. Tudo isso foi coisa da Kate.
Ele sorriu para mim quando Maddie ficou boquiaberta.
— Vamos, vamos — fiz sinal para a entrada.
Os funcionários do zoológico nos levaram a uma sala especial. Maddie
estava muito animada, pulando de ansiedade, e naquele momento eu senti
muito orgulho de mim mesma. Quando eles finalmente trouxeram a raposa
bebê, Maddie soltou um gritinho. Eu sorri para Hunter, enquanto ela
levantava uma mão hesitante para acariciar o pelo macio. A mão de Hunter
pressionou a parte inferior das minhas costas.
— Que incrível. Obrigado por tornar isso possível.
— O prazer é meu. Estou me divertindo.
— Não tanto quanto ela — disse, apontando para Maddie, que gritou de
emoção quando o pequeno animal lambeu a mão dela.
— Ninguém nunca se divertiu tanto — ri, pegando meu celular para
tirar uma foto.
Quando ela terminou, Maddie veio correndo até nós e passou os braços
em volta da minha cintura, e disse que aquele era o melhor dia que ela já tinha
vivido.
Chocada, eu a abracei também. Sabia que ela estava animada, mas não
esperava por isso. Lágrimas inesperadas surgiram em meus olhos e
rapidamente as controlei. Controle-se, Kate. Aparentemente, eu andava muito
emotiva.
Enquanto andávamos pelo zoológico, eu não conseguia parar de sorrir.
Passar um tempo com Hunter e Maddie foi ainda mais divertido do que
esperava. Era tão natural ficar com eles assim, e não conseguia parar de
imaginar nós três fazendo essas coisas todo fim de semana.
Chegamos à exposição dos grandes felinos, onde a leoa havia acabado
de ter um filhote. Uma multidão enorme estava reunida em frente, e quando
finalmente conseguimos chegar perto, pudemos ver a mãe com seu bebê.
— Esse é o pai — eu disse, apontando para o leão que estava tomando
sol nas proximidades.
Observei Maddie quando ela se inclinou contra o corrimão, e toda
aquela conversa sobre bebês, mães e pais fez surgir uma pergunta. As pessoas
ao nosso redor acham que sou a mãe de Maddie?
Ao pensar nisso, senti o estômago revirar, e percebi que estava torcendo
para que fosse exatamente isso o que elas pensavam. Normalmente, eu não
era muito sensível, mas pensar em nós três como uma família me dava uma
sensação muito boa por dentro. A ideia de pertencer a um grupo — de ter o
meu grupo — parecia melhor do que eu imaginava.
Eu observei Hunter, enquanto ele estava agachando contando coisas
sobre os leões para Maddie. Seus cabelos escuros tinham crescido um pouco,
desde que eu o havia conhecido, e ele ostentava a barba por fazer no rosto
bem-desenhado.
O calor se espalhou por meu corpo enquanto eu o observava. Eu o
queria mais naquele momento do que na primeira noite em que o conheci, um
cara bonito e gostoso num bar qualquer. Agora, ele era muito mais que isso.
Ele se levantou e olhou para mim. Quando nossos olhos se encontraram,
um arrepio tomou conta de mim. O que aquele homem tinha, que destruía
todas as minhas defesas?
Esperando deixar de lado toda a emoção que que estava sentindo, sugeri
que fôssemos andar no pequeno trem que passava pelo zoológico. Maddie
ergueu os braços como se estivesse em uma montanha russa, e no final do
passeio de trem, meu rosto doía de tanto rir.
Quando terminamos, era quase hora de fechar.
— Estou morrendo de fome — declarou Maddie, enquanto íamos em
direção ao carro.
— Se vocês quiserem, eu sei de alguns bons lugares para jantar por
aqui. Seria um prazer — disse, enquanto Hunter acomodava Maddie no banco
de trás.
— Você já fez o suficiente, Kate — Hunter disse, enquanto se
acomodava no banco da frente.
— Eu quero — sorri. — Além disso, preciso continuar com suas aulas
de gastronomia.
— Bem, se for educativo, não posso dizer não, certo? — Ele abriu um
sorriso torto.
Eu ensinei a ele o caminho de um dos meus restaurantes veganos
favoritos. Era difícil agradar às crianças, especialmente com comida saudável,
mas eu tinha um pressentimento de que Maddie iria gostar. Principalmente
por saber que eles tinham um extenso menu sem glúten.
Quando nos sentamos à mesa, levantei meu copo de água.
— Brindemos ao grande dia que tivemos!
— Foi incrível — disse Maddie, enquanto os copos tilintavam.
Ela pegou o cardápio, segurando-o de cabeça para baixo. Virei o menu
na posição certa e li para ela algumas opções, sentindo o olhar de Hunter em
mim enquanto ajudava Maddie a escolher um macarrão com queijo sem
glúten. Quando a comida chegou, Hunter e Maddie comeram com vontade.
— Está muito bom mesmo — disse Hunter, demonstrando surpresa na
voz enquanto dava uma segunda mordida em seu sanduíche.
Maddie parecia igualmente impressionada. Terminamos nossas
refeições dividindo um cupcake vegano. E senti uma ponta de tristeza quando
saímos do restaurante. Eu não estava pronta para deixar a noite acabar, mas
não achei que pudesse mantê-los comigo por mais tempo.
Quando chegamos em casa, Maddie saltou do carro e começou a correr
para dentro.
— Maddie, o que você tem a dizer para a Kate? — Hunter perguntou
antes de entrar.
Ela parou no meio do caminho, voltando e olhando para mim, e então
correu e me deu um abraço.
— Obrigada — disse, com a cabeça apoiada em minha barriga.
— De nada — acariciei seus cabelos, com meu coração cheio de
alegria.
Depois que ela entrou, Hunter me acompanhou até a porta da minha
casa.
— Obrigado por hoje. Nós nos divertimos muito — ele sorriu para
mim, e senti um calor por dentro de novo. — Eu tenho um pressentimento de
que Maddie vai falar de hoje por um tempo.
Eu me inclinei contra a batente da porta. Seus lábios pareciam tão
gostosos que precisei de todo o meu autocontrole, para não beijá-lo.
— Eu também me diverti muito — sorri, demorando mais do que o
necessário.
Fiquei me perguntando se deveria contar e ele agora como estava me
sentindo, deixar tudo claro de uma vez, mas não consegui pensar nas palavras
certas. Era um momento perfeito, eu só teria que dizer.
Deus, eu era péssima naquilo. Não era à toa que eu nunca tinha tido um
relacionamento. Precisava descobrir o jeito certo de dizer a ele como me
sentia, antes de perder totalmente a cabeça.
— Bem, boa noite — finalmente disse, incapaz de lidar com o silêncio
por mais tempo.
— Boa noite.
Seu olhar parecia tão intenso no meu, quase magnético, como se eu não
pudesse desviar os olhos dos dele. Senti que ele esperava que eu dissesse
alguma coisa, mas meu coração estava batendo tão forte que não achei que
conseguiria pronunciar as palavras. Rapidamente entrei e sorri para ele mais
uma vez, e então fechei a porta.
Enquanto subia as escadas para meu apartamento, suspirei. Não foi o
momento mais fácil. Ele provavelmente estava esperando que eu desse o
primeiro passo, mas eu estraguei tudo sendo totalmente desajeitada.
Ao passar pela janela, notei a luz acesa no quarto de Hunter. Outra
pontada de tristeza tomou conta de mim, por não estar indo para casa com ele
e Maddie. O dia tinha sido tão divertido e confortável, quase como se
fôssemos uma família de verdade.
Eu esperava que ele entendesse o que eu estava tentando dizer,
planejando o dia, mas sabia que precisava criar coragem para dizer como me
sentia – antes de perdê-lo.



Hunter

Hoje foi totalmente inesperado. Nunca teria imaginado que Kate,


justamente ela, poderia planejar um passeio tão perfeito para crianças.
Observar sua empolgação enquanto entrávamos no zoológico e víamos
Maddie se encantar com as raposas — foi, sinceramente, um dia como há
muito eu não vivia.
Talvez fosse uma loucura minha pensar nisso, mas era verdade. Até
Kate entrar em nossas vidas, eu não havia percebido como queria um
relacionamento com uma mulher.
É claro que queria um relacionamento com a mesma mulher que, antes
de se envolver comigo, me fez prometer que teríamos uma relacionamento
casual e que falava em evitar desenvolver sentimentos como se fosse uma
doença fatal. Deus, como eu queria que ela quisesse as mesmas coisas que eu.
Depois do dia que tivemos, não me surpreendeu a rapidez com que
Maddie dormiu. Quando saí de seu quarto, fechando a porta silenciosamente,
peguei a babá eletrônica, que raramente usava, porque queria ir até a casa de
Kate para agradecer mais uma vez e dizer boa noite.
O dia tinha sido muito tranquilo, apesar de, recentemente, eu ter
admitido ter sentimentos por ela. Estava preocupado com a possibilidade de
tê-la assustado, mas depois do dia que tivemos, parecia que talvez ela tivesse
deixado aquilo de lado.
Bati na porta de Kate e dentro de instantes, ela abriu, sorrindo. Apesar
de termos passado o dia inteiro juntos, fiquei um pouco impressionado com
sua beleza. Seu cabelo estava preso em uma trança solta, e ela vestia uma
calça de yoga e camiseta de tecido macio. Mesmo com roupas casuais, ela era
sexy. E o jeito com que ela estava olhando para mim, com aquele sorriso doce
e aquela expressão de quem sabia o que eu estava pensando, fez meu coração
bateu rápido.
— Maddie está dormindo? — perguntou, dando um passo para o lado
para me deixar entrar.
— Quase não consegui mantê-la acordada por tempo suficiente para
escovar os dentes — falei, mostrando a babá eletrônica.
Apesar de já ter ido à casa de Kate outras vezes, ver como ela havia
ajeitado as coisas me deixava feliz. Quando coloquei o anúncio do pequeno
apartamento acima da garagem no jornal, imaginava alguém solitário e triste
moraria aqui, alguém que nem sequer chamaria minha atenção, exceto uma
vez por mês para pagar o aluguel e fazer reparos necessários. Mas Kate tinha
dado vida nova ao espaço que costumava ser vazio. E eu não sabia se ainda
estava falando do apartamento ou do meu coração.
Desde os utensílios impecáveis de cozinha até sua coleção de discos
incríveis, incluindo seu sorriso e seu apelo sexual, Kate foi uma total e
completa surpresa para mim. Sinceramente, eu não conseguia imaginar minha
vida sem ela.
— Posso pegar algo para você beber? Água? Vinho? Comprei uma
garrafa de vinho tinto, alguns dias atrás, que acho que deve ser bom, apesar de
ter custado apenas seis dólares. — Ela entrou na cozinha e pegou uma garrafa
escura com um rótulo branco, e leu a descrição.
— Uma taça de vinho seria ótimo. — Eu a segui até a cozinha e me
sentei no banco. Ela colocou a garrafa no balcão e tirou um abridor da gaveta.
— Precisa de ajuda para abrir a garrafa?
— O dia em que eu precisar de um homem para abrir um vinho para
mim, paro de beber — ela zombou, tirando a rolha da garrafa com facilidade.
— Mas obrigada por perguntar, mesmo assim — acrescentou, com um
sorriso.
Depois de pegar duas taças do armário, Kate nos serviu e se sentou à
mesa comigo. Agradeci e peguei a taça de sua mão, notando que nossos dedos
tinham se tocado naquele momento.
— Um brinde para as mulheres independentes — eu disse, erguendo
minha taça no ar.
Kate sorriu, arqueando uma sobrancelha de modo brincalhão e
inclinando a cabeça.
— E para os homens seguros o suficiente para deixá-las assim — disse
ela, tilintando sua taça na minha.
Sorri em resposta e tomei um gole do vinho, enquanto Kate fazia a
mesma coisa. Estava mais doce do que eu esperava e não tinha exatamente
gosto de vinho, mas ainda assim era bom.
— Suco de uva. Esse vinho tem o mesmo gosto de um suco de uva —
Kate disse, balançando a cabeça e girando o líquido dentro da taça.
— Nada de errado com uma garrafa de suco de uva de seis dólares —
respondi, abrindo um sorriso tranquilizador. Kate deu de ombros e tomou
outro gole. — Então, hum… só queria agradecer por hoje — disse, tentando
colocar meus pensamentos em ordem antes de assustá-la. — A mãe de
Maddie não quis cuidar dela, e quanto mais minha filha cresce, mas eu me
quero que ela tenha boas figuras femininas em sua vida. Então, passar esse
tempo com você, principalmente hoje… significa muito. Eu sei que você não
está realmente interessada em coisas de criança, o que entendo
completamente, mas ainda assim você se saiu muito bem.
Kate olhou para mim com os olhos arregalados e as sobrancelhas
levantadas. Então, ela riu baixinho, olhando para as mãos e balançando a
cabeça.
— Era isso o que eu queria te mostrar hoje. Não queria apenas contar
para você em palavras, eu queria que visse o que quero, como eu me sinto em
relação a Maddie… e a você. — Ela olhou para mim, seus olhos encontraram
os meus com uma ternura que eu nunca tinha visto. — Eu me apaixonei por
você — disse ela, com os olhos ainda fixos nos meus. — Por vocês dois. Eu
sei que vocês são um e é isso o que quero. Não achei que queria isso para o
meu futuro. Sempre achei que estar em uma relação seria como estar
amarrada. Não tinha ideia de como poderia ser bom, como se finalmente
tivesse encontrado meu lugar, o espaço ao qual pertenço. — Minha garganta
estava apertada de emoção, mas Kate não tinha acabado. — Assim que te
conheci e vi como meu futuro poderia ser, tudo ficou muito claro. Eu quero
mais.
Estendi a mão e segurei as mãos dela, passando os polegares sobre os
nós dos dedos.
— Você não tem ideia de como é bom ouvir você dizer isso. — Levei
seus dedos aos meus lábios, absorvendo as palavras dela. Era tudo o que eu
sempre quis. — Vamos — disse, ainda segurando sua mão, enquanto me
levantava.
— Para onde…
Ela se levantou e começou a falar, mas antes que pudesse terminar a
frase, eu a puxei para mim e pressionei meus lábios contra os dela. Ela
suspirou, seu corpo relaxando contra o meu enquanto me abraçava. Um beijo
lento se tornou três ou quatro mais rápidos.
— Vamos — eu disse novamente, de repente me afastando e
conduzindo Kate até a porta da frente. Ela balançou a cabeça e me seguiu,
com a boca ligeiramente aberta durante o caminho até minha casa.
Quando entramos, subimos as escadas e passamos silenciosamente pelo
quarto de Maddie em direção ao meu. Kate e eu poderíamos estar na mesma
sintonia, mas eu ainda não tinha falado com Maddie sobre nada disso, e a
última coisa que queria era assustá-la novamente.
Quando entramos no meu quarto, fechei a porta atrás de mim, tomando
o cuidado – como sempre – de trancá-la.
Eu me virei e a encontrei sentada na beira da cama. Nossos olhos se
encontraram e ela estendeu a mão para mim, virando-a e mexendo o dedo
indicador em direção a si mesma, me chamando. Meu pau inchou dentro da
minha calça, enquanto eu ia em sua direção, minha mente tomada por todas as
coisas que eu queria fazer com ela.
Era forte saber que ela sentia o mesmo que eu.
Eu me deitei com ela na cama, me apoiando em seu corpo. Nossas
bocas com urgência, nossos corpos se movendo um contra o outro. Ela passou
as mãos pelas minhas costas, em meu pescoço, emaranhando os dedos em
meu cabelo. Segui com meus lábios até a pele macia na curva de seu pescoço,
e Kate gemeu baixinho. Meu pau se animou novamente com os sons que ela
fazia, e de repente odiei o fato de ainda estarmos vestidos.
Sentando-me, eu puxei Kate comigo, levantando a barra de sua camisa.
Ela levantou os braços, enquanto eu puxava o tecido para cima, revelando seu
sutiã rosa-claro e rendado. Não pude evitar, gemi baixinho ao ver seus seios
perfeitos voltados para mim.
Ela sorriu, tirando minha camisa também. Passou os braços em volta do
meu pescoço e nos beijamos novamente, e estendi a mão para abrir o fecho de
seu sutiã. Em poucos segundos, encontrei o fecho e nós suspiramos quando
ela pressionou os seios contra a minha pele nua.
Perfeita. Ela era pura perfeição.
Minha língua se movimentou contra a dela e peguei seu seio,
massageando-o gentilmente e beliscando o mamilo entre os dedos. Kate
gemeu baixinho, movendo a mão pela minha coxa até a crescente ereção
dentro da minha calça.
Eu gemi sentindo seus dedos sobre o meu pau, e rapidamente fiquei
frustrado com o tecido entre nós. Enquanto Kate continuava esfregando meu
pau, duro como pedra, deslizei meus dedos por baixo do cós de sua calça,
descendo para tocar sua calcinha molhada.
Ela respirou ofegante quando meus dedos encontraram sua pele úmida.
Depois de alguns momentos, eu precisava de mais e tirei minha mão de
dentro da calça dela, fazendo-a gemer baixinho. Descendo sua legging, corri a
língua por sua coxa enquanto abaixava centímetro por centímetro,
mordiscando suavemente sua pele macia. Quando a legging já tinha sido
retirada, puxei sua calcinha e a joguei no chão. Em um movimento rápido,
tirei minha calça e minha cueca, deixando meu pau livre e latejando de
vontade de penetrá-la.
Kate deitou de costas e abriu as pernas, me convidando para me
aproximar. Eu me abaixei sobre ela, me alinhando no ponto certo entre suas
pernas.
— Eu quero você dentro de mim — ela sussurrou, deslocando o quadril
para roçar a cabeça de meu pau.
— Camisinha?
— Eu tomo pílula. E confio em você — respondeu ela, balançando a
cabeça.
Olhando bem dentro dos olhos dela, eu a penetrei, penetrando-a
lentamente, centímetro por centímetro. Quando eu estava completamente
dentro dela, Kate suspirou e fechou os olhos, deleitando-se com o prazer de
estar totalmente preenchida.
Levei meus lábios aos dela, enquanto mexia o quadril devagar e
gentilmente, no início, com nossos beijos macios e doces. Kate mexeu o
quadril no ritmo do meu movimento e, quando estabelecemos um ritmo, nós
dois gememos de prazer.
Quando senti que seu corpo estava tenso e vi que ela estava chegando
perto do orgasmo, usei a mão para pressionar seu clitóris, um movimento que
sempre a deixava louca. No momento em que apliquei pressão, ela jogou a
cabeça para trás com um suspiro que rapidamente se transformou em gemido.
Observá-la sentir prazer e ouvir seus sons me excitou ainda mais,
fazendo com que minhas bolas ficassem tensas e que a pressão aumentasse na
base de minha espinha. Somente quando ela começou a relaxar, seu corpo se
contraindo ao redor do meu pau, eu a acompanhei no orgasmo, com ondas de
prazer tomando nós dois.
Quando as ondas diminuíram, eu rolei de costas e me deitei na cama,
nós dois estávamos ofegantes.
— Isso… foi… incrível… — ela disse, arfando, passando a mão sobre
meu peito.
— Você é incrível — eu disse, acariciando cada centímetro de sua pele
sedosa, indo para os ombros, para a curva de seu quadril, sua coxa. Kate rolou
de lado e apoiou o cotovelo na cama para segurar a cabeça com o braço, com
um brilho nos olhos.
— Um bom final para um bom dia, não acha?
— Totalmente — eu me inclinei e beijei as costas de sua mão.
Ela sorriu, depois se inclinou para mim e me deu um beijo longo e
demorado.
— Eu já volto — disse, levantando da cama e indo para o banheiro.
Enquanto Kate se limpava, fiquei deitado na cama olhando para o teto,
com um braço apoiado atrás da cabeça. Ainda não conseguia acreditar que ela
realmente queria mais, depois de ter jurado que nunca mudaria de ideia.
Parecia quase bom demais para ser verdade.
Rolei para o lado e olhei para meu celular no criado-mudo. Um
pensamento me ocorreu e senti um nó na boca do estômago.
Ainda era preciso conversar com Maddie. Apesar de aparentemente ela
gostar muito de Kate e eu obviamente gostar muito da presença dela na vida
da minha filha — a última coisa que eu precisava era que Maddie se sentisse
confusa. Minha filha e eu nunca tínhamos conversado sobre o que aconteceria
se eu tivesse um relacionamento, e quanto mais eu pensava sobre isso, mas
me preocupava com a forma com que ela encararia essa situação.
Kate voltou do banheiro e subiu na cama, ao meu lado, aconchegando o
corpo junto ao meu.
— O que você está pensando? — perguntou, passando os dedos pela
minha mandíbula.
— Nada — eu disse, ainda olhando para o teto. Kate não disse nada e
eu notei que ela olhava para mim, e sabia que tinha que dizer algo. — Na
verdade, acabei de me lembrar. É melhor programarmos um alarme para a
manhã, para que possamos levantar antes que Maddie acorde.
Kate afastou a mão do meu cabelo. Eu me virei para olhar para ela e
fiquei surpreso ao ver seu rosto magoado. Ela sabia que eu era pai, que tinha
obrigações. Em seguida, ela me deu um sorriso de lábios contraídos e
assentiu.
— Falaremos sobre isso de manhã.
Dei um beijo suave em sua testa antes de me virar para pegar o celular.
Ajustei um alarme para cinco e meia, com a mente tomada de preocupação
pensando em como o futuro se desenrolaria.



Kate

Olhei pela janela, perdida em pensamentos. Eu ainda não conseguia


acreditar que tinha contado a Hunter como me sentia e que ele sentia o
mesmo. Fazia menos de vinte quatro horas, e ainda estava me recuperando da
novidade. Era tão perfeito, que eu ainda não tinha me convencido totalmente
de que não era bom demais para ser verdade.
E, no entanto, uma certa dúvida me incomodava. Quando ele acionou o
alarme para que eu fosse embora pela manhã, eu fiquei magoada, mas tentei
argumentar comigo mesma pensando que ele não queria que Maddie
descobrisse as coisas daquela maneira. Ela provavelmente teria lembranças
traumáticas se me visse sair do quarto de Hunter pela manhã, e compreendi.
Mas não pude deixar de me perguntar se o fato de ele fazer isso significava
algo completamente diferente. Ele não tinha certeza se queria começar um
relacionamento? Ou ele não via um futuro para nós?
Sabia que estava sendo um pouco infantil, mas não pude evitar.
Aparentemente, é o que acontece quando você tem sentimentos por alguém.
Você se torna completamente irracional. Eu estava determinada a não deixar
minha imaginação hiperativa me puxar para baixo, principalmente porque
Hunter havia me mandado uma mensagem para me chamar para ir à casa
dele. Presumi que ele queria discutir o que havia acontecido ontem à noite,
mas ele não adiantou o assunto.
Espirrei um pouco de perfume em meus pulsos e os esfreguei. Eu estava
tentando ficar calma, mas na verdade, estava nervosa. Nunca havia feito o que
fiz ontem, e estava com medo de ser rejeitada ou de tudo, de alguma forma,
dar errado.
Escovei os dentes e desci as escadas, procurando ser positiva. Toquei a
campainha, ajeitando os cabelos enquanto esperava que ele abrisse.
Quando Hunter abriu a porta, meu coração se acelerou ao vê-lo. Mesmo
depois de tudo o que tinha acontecido, eu ainda ficava impressionada ao ver
como ele era atraente. E não era apenas pelo corpo quente e sorriso matador,
mas pela alegria que eu sentia sempre que ele estava por perto.
— Ei, entre — ele gesticulou para mim, e eu o segui.
— Onde está Maddie? — perguntei quando entrei na sala de estar,
esperando vê-la.
— Ela foi à uma festa de aniversário na casa de um amigo — ele
respondeu, levando-me para o sofá.
Eu me acomodei, passando as mãos na saia ansiosamente enquanto ele
se sentava do meu lado. Por mais nervosa que eu estivesse, ainda conseguia
ficar distraída perto de Hunter. Ele havia tirado a barba recentemente, o que
deixava sua mandíbula bem-desenhada ainda mais proeminente, e o cheiro de
loção pós-barba pairou no ar entre nós. Eu conseguia ver seu bíceps definido
por baixo da camiseta, e na caminhada até o sofá tive um vislumbre de seu
bonito traseiro dentro da calça jeans.
Ele sorriu, o que me deu vontade de beijá-lo naquele momento. Mas não
fiz isso.
Conversaríamos primeiro.
— Então… — disse ele, esfregando a mão na nuca. — Ontem à noite…
— Quando ele parou por um momento, meu coração se acelerou. Então, ele
respirou fundo e continuou. — Eu só queria que nós dois alinhássemos o que
estamos esperando disso tudo. Eu gosto de você de verdade. Gostei desde o
começo, mas sabia que você não queria se envolver nem ter algo sério. Então,
acho que só estou me perguntando se você quis mesmo dizer tudo o que disse
ontem à noite.
Cheguei mais perto dele no sofá. Meus pensamentos e emoções estavam
correndo a toda velocidade, mas senti minha ansiedade desaparecer. Ele
queria que nossa relação fosse tão séria quanto eu queria.
— Claro que quis dizer tudo aquilo — disse, colocando uma mão em
cima da dele para reforçar. — Estou pronta para isso. Eu quero estar ao seu
lado você. E ao lado de Maddie. Sei que sempre disse que não queria um
relacionamento, mas só dizia isso porque estava com medo. E obviamente não
tinha encontrado a pessoa certa.
Um sorriso surgiu em seu rosto e ele me abraçou, correndo os dedos ao
longo do meu ombro. Seus olhos encontraram os meus e senti um arrepio.
— Se vamos embarcar nessa, eu quero tudo.
— Tudo. É seu. — Meu coração estava acelerado.
Estava pronta para deixar todos os meus medos e dúvidas para trás e
entrar em um relacionamento com Hunter — e Maddie. Agora que estávamos
ali, minhas preocupações quase pareciam ridículas. Do que eu tinha tanto
medo? Estar com Hunter era a coisa mais fácil do mundo.
Ele se inclinou para me beijar, seus lábios carnudos pressionando os
meus.
Depois de alguns beijos deliciosos, eu me afastei.
— Se vamos fazer isso, quero fazer certo. Antes de seguirmos, acho que
devemos contar a Maddie. — Ela tinha se aproximado de mim, mais do que
esperava, então torcia para que não fosse um problema.
— Sim, acho que sim — ele suspirou, com a preocupação tomando seu
rosto.
— Hunter, você está com medo da sua própria filha? — Levantei uma
sobrancelha para ele.
— O que posso fazer? Ela é intimidante. — Ele sorriu, depois estendeu
a mão para prender meu cabelo atrás da orelha. — Mas, falando sério, não
importa como ela reaja quando contarmos, tudo ficará bem. Ela vai se
acostumar. Além disso, ela gosta muito de você. Espero que você entenda
minha ansiedade, é só que fomos apenas eu e ela durante todos esses anos.
Ele me puxou para perto de modo que minha cabeça ficou apoiada em
seu peito. Meu coração quase explodiu quando olhei para ele.
— Eu sei, Hunter. Não se preocupe, tudo vai dar certo.
Eu suspirei, permitindo-me relaxar em seus braços. Para o bem de
todos, eu esperava que ele estivesse certo.

— Maddie, o jantar está pronto — Hunter chamou pela porta dos


fundos.
Ela havia sido trazida pela mãe de uma amiga bem a tempo do jantar.
Nós pedimos comida no restaurante mexicano favorito dela, e eu tinha saído
para comprar ingredientes para fazer sundaes com calda quente. Nós
achávamos que se a alimentássemos com boa comida, ela estaria mais
receptiva ao nosso relacionamento.
Ela veio correndo e abriu um sorriso quando viu a comida.
— Por que vocês compraram isso? — Ela perguntou, e o sorriso feliz se
transformou em uma cara de desconfiada.
— Nós só queríamos fazer algo especial. — Hunter sorriu,
despenteando os cabelos dela. Se ela ainda estava desconfiada, manteve o
silêncio.
Enchi seu prato carne de taco, feijão e arroz.
— Como foi a festa, Maddie? — perguntei quando nos sentamos para
comer. Pensei que a prepararíamos com comida primeiro, depois falaríamos
sobre a novidade em nosso relacionamento, passando de senhorio e inquilina
para namorado e namorada.
— Eu pulei em um pula-pula — respondeu, animada, depois de engolir
um bocado de arroz.
— Que bacana. — Sorri para ela. — Eu tinha medo de pula-pula até os
seis anos.
— Eu não tenho medo de nada — disse Maddie, com orgulho.
— Sabe de uma coisa? Acredito em você — falei.
Logo que terminamos o jantar, comecei a arrumar as coisas o preparar
os sundaes.
— Então, nós temos chocolate e sorvete de baunilha, granulado, calda,
amendoim e cerejas. — Mostrei a ela as várias opções.
— Incrível. — Ela sorriu, ficando na ponta dos pés para dar uma olhada
melhor.
— Quais coberturas você quer? — Hunter perguntou, colocando sorvete
em uma tigela para Maddie.
— Eu quero que Kate faça o meu — respondeu ela, olhando para mim.
Hunter riu, levantando as mãos.
— Eu acho que ela não confia mais na minha comida, agora que você
apareceu. — Ele me entregou a tigela. Eu estava achando ótimo estar com
eles assim, e esperava que Maddie sentisse o mesmo.
— Calda e confeitos? — Perguntei a Maddie, que concordou com
entusiasmo.
Depois de prepararmos nossos sorvetes, Hunter e eu trocamos um olhar.
Agora era a hora perfeita para contar. Respirei fundo, mentalmente me
preparando para o pior cenário possível.
— Então, Maddie, temos algo para lhe dizer — Hunter começou
delicadamente.
— O quê? — Ela parou com a colher no meio do caminho para a boca,
com sorvete pingando dos lados, e depois a abaixou.
— Bom, Kate e eu temos passado muito tempo juntos… — Tentei
manter o sorriso estampado no rosto, mas na verdade só queria que ele falasse
logo. Paciência normalmente não era meu forte. Felizmente, ele continuou em
seguida. — Nós gostamos muito um do outro e estamos em um
relacionamento agora. Então você vai ver Kate muito mais por aqui.
Houve um momento de silêncio.
— É isso? — Maddie perguntou, pegando a colher novamente e
levando-a à boca. — Dãã. Eu sabia disso. — Ela fez uma pausa. — Acho
legal. — Hunter e eu trocamos olhares, depois caímos na gargalhada. — O
que foi? — Maddie perguntou com um olhar perplexo. — Vocês são
estranhos.
Sorrindo estupidamente e controlando a risada, mergulhei minha colher
no sorvete e a levei à boca. As coisas poderiam ter começado de forma não
convencional, mas eu tinha a sensação de que estávamos caminhando para um
final muito feliz.



Hunter

6 meses depois

O cheiro de gengibre e especiarias se espalhou no ar quando entrei pela


porta da frente, com uma sacola plástica de compras na mão. A porta se
fechou e encontrei Kate e Maddie ao redor da mesa, focadas na construção de
uma casa de massa de gengibre sem glúten.
— Como estão minhas meninas? — Perguntei, colocando a sacola de
doces na mesa e me inclinando para beijar o topo da cabeça de Maddie.
— Você se lembrou de pegar os docinhos vermelhos? — Maddie
perguntou, olhando para mim como se sua pergunta fosse a coisa mais séria
que ela já tinha me perguntado e como se minha vida dependesse daquela
resposta.
— Sim, senhora — respondi, dando a volta na mesa para beijar Kate. —
Eu tenho uma coisinha para você também — adicionei.
— Ah, obrigada, querido — disse Kate, quase sem tirar os olhos da sua
tarefa. Ela estava apertando uma enorme bisnaga de cobertura branca,
meticulosamente dispondo o creme açucarado entre duas fatias de massa.
Assim que terminou de passar a cobertura, colocou o tubo na mesa e
delicadamente pressionou as duas partes, uma na outra. — Certo, Maddie,
agora nós só precisamos esperar essa última parede secar e então será hora de
decorar.
Maddie assentiu silenciosamente, seus olhos concentrados na cobertura
recém-feita.
— Que tal um pouco de chocolate quente enquanto esperamos? —
Ofereci, desembrulhando os doces da sacola.
— Oba! — Maddie rapidamente desceu da cadeira e correu para a
dispensa, para me ajudar a pegar os ingredientes do chocolate quente.
Quando Maddie estava longe e não podia nos ouvir, apoiei uma mão no
ombro de Kate e perguntei.
— Como ela ficou enquanto estivesse fora? Ela está te obedecendo,
certo? Não está dando trabalho?
— O fato de eu ter me mudado para cá não significa que as coisas vão
mudar entre Maddie e eu. Ela é perfeita. Você não precisa mesmo se
preocupar com a gente — Kate respondeu depois de rir e balançar a cabeça.
Soltei um suspiro de alivio. Kate havia se mudado para nossa casa na
semana passada. Imaginei que poderia ser necessário um período de
adaptação para todos nós, mas até agora, as coisas estavam correndo bem.
— Sei que você está certa. Eu só me preocupo as vezes, sabe? Este
ainda é um território novo para todos nós.
— Bem, eu agradeço pela preocupação, mas acredite, tudo está perfeito
— Kate sorriu, e eu me inclinei para beijá-la novamente, dessa vez um pouco
mais demorado do que antes.
— Papai! — Maddie gritou. — Venha me ajudar a fazer chocolate
quente!
Eu interrompi o beijo e Kate deu uma risadinha.
— Acho que é algo a que nós teremos que nos acostumar, não?
— Seria de se pensar que já estaríamos acostumados a ser
interrompidos a essa altura — eu disse, piscando. Nós dois rimos e fui até a
geladeira pegar o leite.
— Ei, papai?
— Sim, Maddie?
— Kate vai viver conosco para sempre?
Merda. Quando Kate e eu decidimos que ela deveria se mudar para a
nossa casa, tivemos uma conversa com Maddie sobre isso, mas ela não teve
muitas perguntas na época. Kate havia dito que achava que isso era um bom
sinal, mas eu estava preocupado. E agora Maddie estava vindo com perguntas
assim? Eu não tinha certeza de qual seria a reação dela, independentemente
do que respondesse.
— Esse é o plano — respondi, ligando o fogo baixo e colocando a
colher de pau no balcão. — Tudo bem para você? Eu sei que conversamos
sobre isso antes e você disse que estava tudo bem, mas também está tudo bem
se você estiver com medo agora.
Maddie balançou a cabeça, olhando para os dedos dos pés.
— Não, eu não estou com medo — disse, pegando um pedaço de
cobertura preso na sua camisa.
— Então o que é, querida?
— Eu estou gostando muito porque ela está morando com a gente.
— Eu também — respondi sorrindo, me agachando e puxando Maddie
para um abraço.
Mexendo o chocolate pela última vez, tirei três canecas do armário.
Enquanto despejava o líquido nelas, Maddie acompanhou de perto, colocando
um punhado de mini marshmallows dentro de cada uma.
— Você quer uma bengala doce no seu? — Perguntei, abrindo a
embalagem e tirando um mini doce vermelho e branco dali.
— Não, é nojento — Maddie respondeu, balançando a cabeça
vigorosamente.
— Bom, eu quero uma — coloquei uma bengala na beirada da caneca.
— Kate, você quer uma bengala doce em seu chocolate quente?
— Não, é nojento — ela respondeu.
Maddie e eu rimos.
— Viu? Eu te disse. — Maddie levantou as sobrancelhas, colocando as
mãos na cintura.
Talvez eu não estivesse tão preparado para essa coisa de duas contra
um, como eu pensava. Já tinha sido bem difícil com uma mulher na casa, com
duas, muito mais. Eu estava em séria desvantagem.
Levei as canecas de Kate e Maddie até a mesa, enquanto Maddie se
acomodava na cadeira ao lado de Kate de joelhos, para ter uma visão melhor
da casa.
— Está pronta? — Maddie perguntou.
— Quase — Kate sorriu. — Enquanto isso, por que não começamos a
abrir esses sacos de doces?
— Vou pegar algumas tigelas — disse.
Enquanto caminhava pela cozinha em direção ao armário, Maddie e
Kate continuavam tagarelando atrás de mim, e suas risadinhas e gargalhadas
me faziam sorrir.
Kate e Maddie começaram a decorar a casa, Maddie indicando os
lugares onde queria colocar uma goma de mascar e Kate passando um pouco
de cobertura no lugar exato. Elas eram uma ótima equipe. Kate foi paciente
com Maddie, que mudava de ideia no último segundo, e Maddie prestava
atenção a tudo o que Kate dizia. Isso era lindo. Eu não poderia ter escolhido
uma mulher melhor para a minha filha seguir como exemplo. Kate era forte,
confiante e independente, todas as coisas que eu queria que Maddie fosse.
No momento em que davam seus últimos retoques, cerca de meia hora
depois, a casa de pão de gengibre parecia perfeita — e as duas estavam
completamente cobertas de glacê e açúcar.
— O que você achou papai? — Maddie perguntou, quando elas
terminaram, orgulhosamente esticando os braços em torno de sua criação.
— Vocês duas fizeram um ótimo trabalho.
Ela sorriu, olhando para a casa com orgulho. De repente, olhou para
Kate.
— Quando vamos comer isso?

Algumas horas depois, colocamos Maddie na cama e formos para nosso


quarto. Eu fiz questão de fechar a porta, mas não precisava trancar. Maddie
agora batia quando precisava de alguma coisa.
Enquanto eu trocava de roupa, Kate estava no banheiro, tirando os
últimos vestígios de glacê das mãos.
— Eu não sei se um dia vou conseguir tirar o açúcar das unhas — disse,
tirando uma escova de unhas da gaveta e esfregando as pontas dos dedos.
— Isso significa que você será ainda mais doce do que já é — respondi,
jogando meu jeans no cesto e tirando a camisa. Kate bufou.
— Isso é super brega, querido.
— As piadas de tiozinho fazem parte do pacote — dei de ombros. —
Está arrependida por ter se mudado?
Ela sorriu, com o olhar percorrendo meu corpo nu lentamente. Ela se
aproximou de mim e passou as mãos pelos meu bíceps, antes de me passar os
braços ao redor de meu pescoço.
— Nem um pouco.
Eu a puxei para perto, inclinando seu queixo para cima para encontrar o
meu, e tomei seus lábios em um beijo doce. Meu pau se contraiu ansioso na
cueca. E a julgar pelo olhar no rosto de Kate, ela também sentiu.
Ela arqueou uma sobrancelha, pressionando seu corpo um pouco mais
contra o meu.
— Como você está, grandão?
Deixei minhas mãos descerem pelas costas, até seu traseiro perfeito,
tomando suas nádegas nas mãos e apertando, fazendo-a arquear as costas,
esfregando seu corpo no meu.
— Eu acho que você sabe como estou — rosnei, levando meus lábios
até seu pescoço, passando pelo ponto abaixo de sua orelha.
— Por que você não me mostra? — Ela disse sem fôlego, arrastando as
unhas pelas minhas costas, aumentando meu desejo.
Rosnei de novo contra seu pescoço, com meu pau agora louco para sair
da cueca e pressionando sua barriga. Soltei suas nádegas, tirei a blusa dela,
abri rapidamente o fecho do sutiã e libertei seus seios macios e cheios.
Tomando um dos mamilos na boca, chupei suavemente e Kate gemeu,
correndo os dedos pelo meu cabelo.
Enquanto eu continuava beijando e chupando seu seio, movi minhas
mãos para a cintura, desabotoando seu jeans e puxando o zíper para baixo.
Levando-a para a nossa cama, puxei Kate para cima de mim, com as
pernas dela ao redor de meu quadril. Tomando meu pau em suas mãos
delicadas, ela me guiou para dentro enquanto descia, me deixando entrar
centímetro por centímetro, e nós dois começamos a gemer. Quando estava
totalmente dentro dela, Kate se inclinou, levando os lábios aos meus e, por
um momento, nenhum de nós se moveu, saboreando a delícia de estarmos
unidos.
Quando nossos lábios se separaram, levei a mão ao seu rosto, e meus
olhos procuraram os dela.
— Há algo que eu quero lhe dizer — sussurrei, passando o polegar por
sua pele.
— O que é? — Ela sussurrou de volta, virando o rosto para poder beijar
minha mão.
Fiz uma pausa, absorvendo sua beleza como se fosse a primeira vez
novamente. Seu cabelo, seus olhos, seus lábios cheios e carnudos… ela era
tudo. Nunca pensei que encontraria alguém que pudesse aceitar a mim e a
Maddie, juntos, e de alguma forma, consegui convencer o universo a me dar
Kate. Não conseguia entender por que tinha sido tão sortudo, e não conseguia
mais manter meus sentimentos escondidos.
— Eu te amo — falei, olhando profundamente em seus olhos. — E eu
quero você para sempre.
Seus olhos se arregalaram por um momento, depois brilharam com
lágrimas não derramadas. Ela ficou em silêncio por mais alguns segundos, e
logo depois deu uma risada.
— Eu também te amo — disse ela, sorrindo e secando o canto do olho.
— Mas para sempre é muito tempo. Tem certeza?
— Para sempre não será suficiente. — Eu a puxei para outro beijo, uma
corrente elétrica passando por nós. Nossas bocas se moviam rapidamente e
com urgência num beijo, enquanto nossos corpos encontravam um ritmo
prazeroso.
Kate balançou o quadril sobre mim, enviando ondas imediatas de prazer
por todo o meu corpo.
— Sim, assim. Desse jeito — eu gemi, levando uma mão a sua bunda
para guiar seus movimentos e a outra entre as pernas para esfregar seu
clitóris.
Seus gemidos ficaram ainda mais altos, e os meus ficaram mais
profundos, nossa respiração se tornou irregular. Quando Kate chegou mais
perto do orgasmo, seus olhos não deixaram os meus. Minha nossa! Eu seria
capaz de observá-la a noite toda daquele jeito, com o prazer estampado no
rosto.
Para sempre definitivamente não seria tempo suficiente.



Kate

Eu nunca pensei que seria o tipo de pessoa a querer um vestido branco e


fofo. Primeiro, por causa do preço, e segundo, era pouco prático. Terceiro, era
desconfortável e desagradável, e algo que só usaria uma vez. Parecia um
desperdício total.
No entanto, quando chegou a hora de planejar nosso grande dia, uma
parte nova de mim, até então desconhecida, começou a expressar suas
opiniões. Eu disse a Hunter que aquele seria um momento discreto, um
simples churrasco no quintal e com todos de quem gostávamos. Mas quanto
mais avançávamos no planejamento, mais específicos meus desejos se
tornavam.
De repente, o quintal passou a não ser suficiente, mas o salão de festas
era muito frio. Um terninho era algo a ser usado em funerais, mas um vestido
de verão era casual demais. Ele tinha sido calmo e complacente com todos os
meus pedidos, e foi assim que acabamos no salão nos fundos de nosso
restaurante favorito — eu, com um deslumbrante vestido branco que custou a
mesma coisa que meu primeiro carro. Havia uma pequena pista de dança, e
cerca de cinquenta dos nossos amigos e familiares mais próximos se reuniram
conosco.
E quanto ao vestido branco, a vida é uma só, pessoal. Naquele
momento, eu me senti como uma princesa, e não de um jeito de moça
conformada, mas em uma explosão de felicidade, do tipo eu finalmente
encontrei meu Príncipe Encantado.
Olhei para o outro lado do salão e vi Maddie vasculhando a sacola de
presentes que deixei para ela, conversando alegremente com os pais de
Hunter e com minha mãe.
O dia tinha sido perfeito. Nossa cerimônia foi curta e linda, e agora um
suave jazz tomava o espaço, enquanto os garçons circulavam com taças de
champanhe borbulhante em pequenas bandejas de prata. Eu não conseguia
parar de sorrir.
Quando Jessie e Rebecca se levantaram para ir para a frente do salão, eu
senti cheiro de problemas. Jessie sorria seu sorriso travesso, que eu conhecia,
e Rebecca se balançava ao seu lado, tagarelando por conta do champanhe.
O medo tomou conta de mim. O que elas estavam aprontando? Aquilo
era para ser um evento de família.
Jessie bateu uma colher contra a taça, chamando a atenção de todos.
O olhar de Hunter encontrou o meu e ele estava sorrindo. Deus, esse
homem. Ele parecia tão feliz, tão cheio de vida. Seus olhos brilhavam, o
cabelo estava bem penteado e o terno preto lhe caía muito bem. Achava que
nunca me acostumaria com sua beleza.
— Pedimos a atenção de vocês, por favor — disse Jessie. —
Gostaríamos de dizer algumas palavras para a noiva e para o noivo. — A
multidão se acalmou, e todos olharam para Jessie quando ela endireitou os
ombros e levantou o queixo. — Primeiro, temos que dar parabéns a Hunter.
— Ela olhou diretamente para ele enquanto falava, e Rebecca sorriu. — Por
conquistar nossa amiga que morria de medo de compromisso. Ela só estava
procurando uma história para apenas uma noite, mas estamos muito felizes
por ela ter encontrado uma história para a vida inteira.
A reação da plateia, encantada, acalmou um pouco minha vergonha.
Nada como revelarem a seus sogros que você adorava se envolver com caras
por apenas uma noite.
— Felicidades para Kate e Hunter! — Rebecca disse, e todos
aplaudiram.
A mão de Hunter encontrou a minha embaixo da mesa e ele a apertou.
— Algum arrependimento?
— Nem um — respondi com convicção. Não deixaria o discurso de
Jessie e Rebecca me intimidar. Eu tinha medo de compromisso, antes. Mas
Hunter mudou tudo.
— Amo você, amor — ele murmurou, inclinando-se.
— Amo você mais.
Logo, aperitivos foram servidos às mesas e minhas amigas voltaram a
se sentar. Mais tarde haveria jantar e dança, e então, Hunter e eu passaríamos
a noite em um hotel chique, enquanto Maddie ficaria com seus avós. E no
mês que vem, faríamos nossa lua-de-mel — uma viagem de sete noites para a
Escócia, com a qual eu sonhava há meses.
Mas não foi o vestido, nem a festa, nem a lua-de-mel o que mais me
entusiasmava. Era a ideia de passar uma vida inteira sendo a esposa de Hunter
e a mãe de Maddie que fazia meu coração quase explodir.
— Papai! — Maddie veio correndo para a mesa onde estávamos
sentados. — Olha o que eu tenho! — Ela levantou a sacola de presentes. — É
um livro de colorir de princesa.
— Kate comprou tudo isso para você — Hunter assentiu, acariciando
seu ombro.
— Obrigada, Kate! — Ela olhou para mim com os olhos brilhando.
— De nada, minha linda. Fiz isso porque queria que você também se
divertisse hoje.
Hunter sorriu, observando nossa interação.
— E mais tarde, quando você estiver cansada, vovó e vovô vão levar
você para casa, está bem?
— Eu não estou cansada — insistiu Maddie. — Eu quero dançar. —
Hunter e eu rimos enquanto a observamos se remexer com seu vestido de
festa com babados. — Kate? — Maddie me chamou, e sua expressão se
tornou séria. — Agora que você se casou com meu pai, significa que você é
minha mãe?
Senti um frio na barriga quando olhei para Hunter, esperando alguma
ajuda. Mas ele só sorriu.
— Hum, bem, eu adoraria ser sua mãe. Você não nasceu da minha
barriga, mas eu te amo muito e…
— Ah, ótimo — Maddie disse rapidamente. — Então eu posso começar
a chamar você de mamãe?
Minha garganta se apertou quando as lágrimas se acumularam em meus
olhos.
— Você gostaria de me chamar assim?
— Sim! — Maddie respondeu vibrando.
Eu puxei seu corpinho para perto, abraçando-a, e podia jurar que meu
coração tinha triplicado de tamanho.
— Eu adoraria que você me chamasse de mamãe.
Depois, ela saiu correndo, deixando Hunter e eu nos encarando com
lágrimas nos olhos. Ele levou a mão ao meu rosto, me observando com os
olhos cheios de emoção.
Demorei muito tempo para aprender o que uma criança de quatro anos
já sabia. Uma mãe é alguém que leva você ao zoológico, beija seus
machucados e faz biscoitos de chocolate para você. Alguém que passou os
dias cuidando para que você se sinta feliz e amado.
Maddie estava certa. Eu era a mãe dela agora. Sorri para Hunter,
incapaz de conter a alegria.
— Que coisa incrível.
Ele assentiu.
— Você nasceu para isso. — Seu olhar ficou mais intenso e fixo no
meu, como se me quisesse, ao mesmo tempo, me acalmar e dizer que eu me
daria muito bem. Beijei os lábios dele rapidamente. — História para apenas
uma noite, hein? — Ele perguntou, recordando as palavras de Jessie.
Eu revirei os olhos.
— Obviamente, meu plano não deu certo.
— Eu diria que deu muito certo.
Mais uma vez ouvindo o tilintar de um talher contra o vidro, voltei a
beijar Hunter.



Kate

— Um pouco mais para a esquerda — disse para Hunter, mexendo o


quadril. — Assim! Perfeito.
Ele se ajustou e continuou acariciando a parte interna da minha coxa.
— Eu só quero que você se sinta confortável, baby.
Mesmo depois de quase um ano de casados, ainda tínhamos muito fogo,
como sempre. E isso não mudou mesmo quando eu estava grávida de nove
meses e com os hormônios me dando a libido de uma adolescente. O
problema era que nem sempre conseguíamos encontrar uma posição
compatível com minha barriga gigantesca. Eu comentei que teria gêmeos?
Hunter moveu a mão para baixo e acariciou exatamente onde eu queria.
— Você está tão molhada, amor — ele sussurrou e soltei um gemido.
Ele continuou, pronto para me penetrar, quando senti uma pontada de dor na
barriga. Eu arfei, levando a mão à barriga. — O que foi? — perguntou, com
preocupação clara em sua voz. — São os bebês?
A dor diminuiu e deixei escapar um suspiro de alívio.
— Está tudo bem, continue — disse.
Demoramos quinze minutos para encontrar a posição perfeita, e de jeito
nenhum eu desistiria de gozar agora. Hunter não parecia convencido, então
peguei seu pênis duro e o direcionei de cima para baixo. Movi meu quadril
para a frente, pronta para ele me penetrar, quando senti mais uma onda de dor.
— Merda — sem fôlego porque a dor aumentou.
— Acho que é melhor irmos ao hospital — disse ele, saindo da cama e
começando a se vestir.
— Eles só vão nascer na próxima semana — protestei, balançando a
cabeça.
Ele levou a mão ao meu rosto, prendendo meu cabelo atrás da orelha.
— Vamos, acho que devemos dar uma olhada nisso. Eu não quero você
sentindo
— Não, estou bem. Acho que é um alarme falso — disse, balançando a
mão para afastar a preocupação dele. — Só vou descansar um pouco.
Hunter não estava convencido e me ignorou. Tirou minha bolsa do
armário e pegou minhas roupas do chão.
— Você precisa se vestir — disse, enfiando meus pés pelas aberturas da
calcinha e puxando a peça para cima. Então, ele pegou o celular. Seus pais
concordaram em ficar com Maddie quando fôssemos para o hospital, e
estavam aguardando o aviso.
Com relutância, vesti o resto das minhas roupas e me sentei na cama,
esperando enquanto Hunter terminava de falar com sua mãe. Quando ele
desligou, pegou minha bolsa.
— Eu vou carregar o carro enquanto eles vêm — disse ele, inclinando-
se para beijar o topo da minha cabeça.
Durante a gravidez, Hunter havia ficado muito nervoso. Todas as vezes
em que eu andava muito rápido ou tropeçava na calçada — o que infelizmente
acontecia muito —, ele corria até mim, para ter certeza de que os bebês e eu
estávamos bem. Pensei que ele seria o mais controlado, porque já tinha
passado por isso antes. Eu, por outro lado, fiquei surpreendentemente calma
durante os últimos nove meses, com exceção das reações causadas pelos
hormônios furiosos e do desejo incontrolável por chocolate e picles.
Mas de repente, eu não tinha tanta certeza. Eu não me sentia pronta para
trazer duas vidas ao mundo.
Era tarde demais para desistir dessa coisa toda?
Descobrimos que eu estava grávida alguns meses depois do casamento.
Pouco depois, eu adotei Maddie legalmente, e quando contamos a ela sobre os
novos irmãos, pensamos que ela ficaria chateada. Agindo como sempre agia,
Maddie se mostrou madura em relação a tudo e estava ansiosa para conhecer
os dois. Ela já tinha feito uma lista de atividades que eles poderiam fazer
juntos, quando os gêmeos crescessem. Até lá, ela tinha uma lista de coisas
que poderia fazer para nos ajudar. Ela nos lembrou de que com dois bebês por
perto, não haveria tanto tempo para nós dois termos nossos momentos de
carinho de adultos, então, ela cuidaria dos irmãos para que pudéssemos fazer
isso.
Hunter subiu as escadas correndo. Sem fôlego, ele me ajudou a ficar de
pé.
— Vamos para o carro para que possamos ficar prontos. — Ele inspirou
profundamente. — Eles devem chegar a qualquer momento. — Mordi o lábio
sem me mexer. — Kate? — perguntou ele, finalmente parando por um
momento para me observar. — São as contrações? Dói muito para andar? —
Eu balancei a cabeça para ele, negando. — O que é, então?
Ele se aproximou e me abraçou.
— Eu assisti a um monte de reality shows — falei, sentindo as lágrimas
virem.
— Do que você está falando? — perguntou ele, confuso.
— Sabia que dizem que precisamos ouvir Mozart durante a gravidez
para que o bebê seja mais inteligente? Bem, eu não fiz isso. Eu acabei
assistindo a muito reality shows, e agora os gêmeos vão ser burros e é minha
culpa. — Escondi o rosto nas mãos, enquanto Hunter me abraçava com mais
força. — Eu já sou uma mãe ruim.
OK, eu sabia que provavelmente estava meio histérica, mas não
conseguia me controlar. A realidade de estar prestes a colocar duas vidas no
mundo estava pesando sobre mim, mais do que nunca. Aquilo era ser adulto
em um nível totalmente novo. Eu estava mesmo pronta?
— Ei, eles não serão burros — disse ele, delicadamente, acariciando
meu ombro. — Eles serão ótimos. E você vai ser uma ótima mãe. Você já é,
amor. Veja como é com Maddie. — Não convencida, assenti. Outra contração
me tomou e apertei a mão de Hunter até a dor passar. — Vamos, temos que ir
— disse ele, segurando minha mão e me guiando pelo corredor.
— Não, eu não estou em trabalho de parto — disse, balançando a
cabeça. — Eu ainda tenho uma semana. — De repente, senti algo entre
minhas pernas. Olhei para Hunter. — Acho que minha bolsa acabou de
estourar — disse, sem acreditar.
Ele entrou em ação, levantando-me e me levando pela escada. Seus pais
chegaram quando ele estava me ajudando a entrar no carro. Eles acenaram
para nós, enquanto nos afastávamos, e a mãe de Hunter já chorava de
felicidade.
Eu ainda estava em estado de choque quando fomos para o hospital. É
claro que eu estava preparada para aquele momento — nós tínhamos ido a
todas as aulas, lido todos os livros que deveríamos ler. Compramos dois
berços e um carrinho duplo, e tínhamos uma cômoda cheia de minúsculas
roupas recém-lavadas. Hunter e eu tínhamos treinado como embalar um bebê
cerca de mil vezes. Mas agora que finalmente estava acontecendo, eu me
sentia completamente despreparada.
Chegamos ao hospital em tempo recorde. Hunter queria correr para
dentro para buscar uma cadeira de rodas, mas insisti em ir andando.
— Sério, Kate? — Ele perguntou, enquanto eu saía do carro.
— Eu consigo fazer isso — bufei, apoiando uma mão no carro por um
momento, quando uma contração veio. Santo Deus!
— Fique aí — ele disse. — Estou falando sério. Não se mova.
Não gostava de ser repreendida, mas decidi ceder. Afinal, um
relacionamento envolve aceitar ajuda do outro. Foi um longo caminho, mas
finalmente aprendi essa lição. Às vezes eu precisava deixar minha
independência de lado e permitir que Hunter assumisse a liderança.
As coisas dentro do hospital pareceram um furacão, e pareceu que
apenas alguns segundos depois de vestir um avental e ser sentada em uma
cama, a dor se intensificou depressa. Eu não me considero uma covarde, mas
aquilo não era brincadeira. Quando a dor ficou quase insuportável, a
enfermeira me deu um sorriso simpático.
— Está quase na hora de empurrar — disse ela, com entusiasmo.
Outra onda de dor tomou meu corpo. Por que ela estava tão feliz? Senti
vontade de estapear aquela vaca.
Hunter me ofereceu alguns pedaços de gelo para mastigar, seguindo
instruções da enfermeira. Eu recusei.
— Eu mudei de ideia sobre tudo isso — falei ofegante, olhando
freneticamente para Hunter. Sua expressão era de perplexidade, ainda
segurando os pedaços de gelo. Aquilo era insuportável. Onde eu tinha me
metido, inferno?
— Vai ficar tudo bem, amor. Você consegue fazer isso — ele disse,
segurando minha mão com firmeza.
— Por que você fez isso comigo? — Gemi.
O médico entrou na sala, junto com duas enfermeiras que começaram a
preparar dois berços.
Minhas partes íntimas pareciam estar em chamas. Olhei para Hunter e
tentei me acalmar, encarando seus olhos intensos e escuros. Seu rosto estava
tomado de preocupação, e agarrei sua mão a cada onda de dor. Eu tentei dizer
a mim mesma que tudo isso seria uma história engraçada, assim que minhas
partes parassem de arder.
Alguns momentos depois, meus joelhos foram levantados e me
disseram para empurrar, apesar de eu não saber como.
— Você está indo muito bem — disse Hunter. Eu soltei grunhidos em
resposta. Se eu não estivesse do tamanho de uma baleia, teria pulado da cama
e sairia correndo dali. — Apenas continue olhando para mim.
Olhar para Hunter era a única coisa que me mantinha sob controle,
então mantive os olhos fixos nos dele enquanto fazia força.
Depois de mais alguns empurrões, justamente quando estava prestes a
desistir e viver como uma mulher grávida pelo resto da vida, um bebê nasceu.
Gritos estridentes encheram a sala e eu senti vontade de soluçar de alívio.
— Ele é perfeito — a enfermeira disse animadamente depois de
observá-lo.
— Um já foi, falta o outro — disse o médico, sorrindo para Hunter.
Porra.
Depois de fazer força mais várias outras vezes, o segundo bebê ficou na
posição certa e finalmente desceu.
Exausta, relaxei até as enfermeiras os trazerem para mim, um de cada
vez. Dei uma olhada neles e comecei a chorar. Eles eram tão pequenos e
adoráveis. Meu coração estava tão cheio que parecia prestes a explodir.
Hunter se inclinou e passou o dedo pelas bochechas minúsculas.
— Eles são nossos — ele sussurrou, feliz.
Tentei controlar meu sistema hidráulico, mas não consegui e chorei. Os
bebês eram perfeitos demais. Eu não conseguia acreditar que já tinha
duvidado que quisesse uma família. Aquela era, de longe, a melhor coisa que
eu já tinha feito.
Observei Hunter olhando para os nossos bebês e pensei que seria
incrível quando Maddie os conhecesse.
Tive muitas dúvidas ao longo do caminho — sobre namoro, casamento
e constituir família — mas aquele momento ofuscou todas elas. Aquela era a
minha família, o meu mundo, meu tudo, e era absolutamente perfeita.


Kate

— Acho que os amo mais quando estão dormindo. — Olhei para o


quarto onde nossos gêmeos de seis meses, Simon e Miles, estavam dormindo
em seus berços. — Isso é ruim? — perguntei para Hunter, que estava ao meu
lado, com uma mão em minha cintura.
— De modo nenhum. Você é incrível, baby. Você deveria descansar um
pouco também.
— Eu amo quando você fala coisas safadas comigo — sussurrei,
abrindo um sorriso. As sobrancelhas de Hunter se ergueram e ele deu uma
risada baixa. Puxei sua mão, indo para o nosso quarto. — Dizer para uma mãe
que não tem dormido muito que ela pode tirar uma soneca é praticamente uma
preliminar.
Sorrindo, ele me seguiu até a cama, onde eu logo desabei confortável,
posicionando a cabeça em seu bíceps quando ele se aconchegou ao meu lado.
Maddie estava com minha mãe e com a mãe de Hunter em uma sessão
de fotos, para uma boy band popular que estava na cidade para um show à
noite. Eu pedi alguns favores no trabalho e consegui passes privados para o
evento. Maddie ficou emocionada.
Até aquele momento, tínhamos uma manhã caótica cheia de
mamadeiras e trocas de fraldas, canções de ninar e diarreia explosiva — tudo
somado, um sábado comum. Na minha vida anterior, eu estaria bebendo e
provavelmente conversando com minhas melhores amigas. Mas agora eu
estava aqui, criando dois pequenos seres humanos com o amor da minha vida.
Não era ruim, embora eu costumasse reclamar às vezes, principalmente
quando não tomava banho — nem dormia — por mais de dois dias.
— Feche os olhos e descanse. Se eles acordarem, eu cuido de tudo.
Um sorriso preguiçoso permaneceu em meus lábios quando meus olhos
se fecharam. Eu gostava da sensação de estar ao lado de Hunter, seu corpo
firme aquecendo o meu.
Sem seu tom firme, amor encorajador e toda a sua ajuda, eu não teria
chegado tão longe. A maternidade era difícil. Foi, com certeza, uma das
coisas mais gratificantes que já fiz, mas também uma das mais desafiadoras.
Graças a Deus, meu doce marido me mantinha firme.
Maddie acabou sendo uma irmã mais velha incrível. Estávamos
preparados para o pior — ela tinha sido filha única por cinco anos e sabíamos
que seria normal um pouco de ciúmes em relação aos bebês. No entanto,
Maddie lidou com tudo como uma profissional.
Somando tudo, a vida era incrível. Batizamos nossos bebês, com os
nomes de nossos cantores preferidos misturados. Eu comecei a trabalhar de
novo, meio período, depois de quatro meses em casa com eles. Ao longo de
todo o tempo, Hunter continuou sendo o homem incentivador e incrível, por
quem me apaixonei. Eu era uma sortuda e sabia disso.
Com um sorriso sonolento e satisfeito, fechei os olhos deixando os
sentimentos felizes me acalmarem e me levarem a um sono reparador.


Muito obrigada a minha equipe incrível, incluindo Daniele Sanchez,
que é uma publicitária e deusa do marketing. Para Alyssa Garcia, a melhor
assistente executiva no mundo. O que eu faria sem você? Nem quero pensar.
E para a minha equipe de edição — Elaine York e Becca Mysoor, gratidão
enorme por terem me ajudado a moldar a história. E para Pam Berehulke, por
suas edições sempre excelentes.
Um agradecimento gigante a todos os blogueiros por seus incansáveis
esforços para postar avaliações e participar de book tours. Vocês abalam
minhas estruturas. Gosto demais de vocês!!
Um enorme abraço de urso para todos os meus leitores. Eu sou
abençoada por fazer isso para ganhar a vida, e eu não seria nada sem vocês.
Obrigada.
E por último, ao meu marido John. Você acredita em mim, você me
levanta e empurra para ter sucesso além dos meus sonhos mais loucos. Às
vezes, os super-heróis não usam capas. O meu veste um terno e gravata — e
muitas vezes, tem dois bebês nos braços. Te amo, querido.


Kendall Ryan é autora best-seller do New York Times, Wall Street
Journal e USA Today, com mais de duas dúzias de livros, Kendall já vendeu
mais de 2 milhões de livros e já foram traduzidos para diversos países.
Ryan foi destaque em publicações como USA Today, Newsweek e
InTouch Magazine. Já foi destaque nas listas de best-sellers mais de três
dúzias de vezes.
Ela vive no Texas com o marido e dois filhos.


Notas

[←1]
trench coat é um estilo de casaco, normalmente usado em épocas de frio e como um
sobretudo.

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