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Isso era o que meu pai sempre dizia, "Seja você mesma, Tasha. Você é um
Ηλιαχτίδα μου (raio de Sol). Não se pode conter o Sol, só permitimos que
ele brilhe e ilumine nossas vidas. Brilhe até ofuscar os olhos de quem
champanhe desde que decolamos. Tenho uma teoria de que ela está se
mentirosa.”
Não estou nem um pouco orgulhosa com o que estou fazendo, juro
que mentir não é do meu feitio, mas quando se trata do meu trabalho, já
mostrei que sou capaz de tudo, como me enfurnar numa situação que não tem
nada a ver comigo, por exemplo. Mas era isso ou então o constrangimento de
Bruce Mackenzie publicamente me causaria sérios danos no site e Lili iria à
loucura com os números despencando.
Um bom exemplo disso, foi quando um blogueiro famosinho falou
mal do nosso site, o chamando de forçado e nada criativo. É claro que ele
estava enganado quanto a isso, temos provas de que o 14 Dias Casados é
uma inovação no ramo de relação no e-commerce, mas, ainda assim, tivemos
alguns resultados que quase fizeram Lili infartar. Isso porque a crítica desse
blogueiro fez com que algumas pessoas facilmente influenciáveis
concordassem com ele e cancelassem alguns pacotes em andamento. Houve
reembolsos, mas perdemos clientes e isso nos desanimou um bocado, ainda
mais porque foi bem no início dessa empreitada. Mas obviamente
conseguimos passar por essa crise.
Ter um negócio independente, acontece essas crises. E para você
evitar que essa crise vire uma bola de neve, é preciso fazer qualquer coisa.
Por isso que estou aqui no Havaí com o homem dos sonhos de muitas
mulheres canadenses, e homem também, diga-se de passagem, para que a
minha empresa não passe por mais uma crise dessas onde afetaria
diretamente os nossos números.
Não sou nenhuma expert em finança igual a Lili, mas conheço
números. Devo saber identificá-los quando subtraídos ou somados,
multiplicados ou até mesmo congelados, ainda mais para uma empresa onde
os números sempre rodam. Mas agora, tudo o que conheço parece ser o
número 14, martelando e piscando na minha mente igual uma placa neon de
circo.
Poucas coisas na vida, desde meu antigo relacionamento conturbado
com Perseus, me deixaram tão instigada, vivida e intimidada. Quando entrei
naquele avião com Bruce Mackenzie, percebi que as coisas não seriam
simples para mim, isso porque ele não é um simples cliente, e sim, um
acompanhante.
“Meu marido temporário de mentirinha.”
Parece a maior peça que o universo poderia pregar comigo, me
colocando para sentir na pele o que é o 14 Dias Casados. E como se não
fosse o bastante, ainda estou com este homem que claramente não queria
estar aqui.
Não sei qual é a de Bruce, mas vou descobrir. Ele diz que não queria
fazer algo do tipo, e que respeita o espaço entre nós até que ambos
ficássemos confortáveis para o próximo passo. Reconheço que isso é mesmo
muito cavalheiro, não me enganei sobre este ponto ainda no avião, mas há
algo que ainda não compreendo, porém crio várias teorias. É algo que devo
observar melhor, porque significa que ele pode ser um tipo de cliente que o
site não está habituado. Então além de fazer o papel de Erin ao testar os
serviços do resort e fingir ser alguém que nem mesmo Bruce conhece, agora
tenho que estudar um tipo de persona bem diferente que costumamos lidar no
site.
É o tipo de experiência mais louca que estou tendo na vida, e,
projetado por mim mesma.
O feitiço literalmente virou contra a feiticeira.
Quis deixar Bruce sozinho no quarto para vir comprar um vestido
bonito para a Festa da Hula mais tarde, mas ele fez questão de me
acompanhar porque além de lindo ele é gentil e atencioso e isso tem me
deixado de coração quentinho. Por isso tenho bufado e relutado contra mim
mesma.
Céus, por que me mandar um homem desses, justo agora?
Por que me enfiar numa situação dessa onde conquistá-lo seria minha
última opção, porém, tem sido uma grande vontade?
— Πιάσε, Τάσα! (Se controla, Tasha!) — urro baixinho para mim
mesma, enquanto estou ao lado de Bruce no elevador que desce.
Ele me olha de relance e arqueia uma sobrancelha intrigado.
— Amo e odeio quando você faz isso — murmura e fico observando
sua linda boca mover enquanto completa: — É divertido e bonito, mas
também parece que você está me dizendo um palavrão e não quer que eu
saiba disso.
Não evito a gargalhada, é algo que Erin e Lili tipicamente me diriam
por causa desse meu tique de nervoso que é falar em grego.
— É só para não perder o costume. Além de que pensar alto é algo
inevitável às vezes — explico a ele, que está de braços cruzados forçando a
musculatura peitoral e dos seus bíceps que ficam à mostra depois da manga
curta da sua blusa.
A minha vontade é de olhar cada curvinha, cada ressalto que se
forma naquele braço e me contenho antes que ele perceba isso.
Olho fixamente para a porta de metal à nossa frente e pisco tentando
expulsar a vontade de passar as pontas dos meus dedos por ali.
— Talvez você devesse me ensinar um pouco de grego nessas duas
semanas — sugere voltando a me olhar, é quando paro de olhar a porta de
metal e olho para ele com uma empolgação vibrante.
— Grego é uma língua muito bonita de se aprender — aviso.
O elevador para e então a porta de metal abre, mas nem ele ou eu
saímos de imediato.
— Bom, a professora perfeita para isso eu já tenho, não é?
Antes que eu responda, ele sai do elevador e me deixa para trás com
a pulguinha atrás da orelha.
Assim como estive investindo em flertadas com ele durante o voo,
Bruce parece finalmente ter afrouxado as rédeas e se rendido ao nosso
prolongado encontro no Havaí. A princípio não parece nada demais, mas
veja bem, algumas horas atrás ele nem queria ter embarcado naquele voo,
sinto isso.
Algo o fez mudar de ideia drasticamente sobre tudo. Tenho pensado
em algo, mas parece impossível, então paro de pensar no que parece óbvio,
mas muito difícil também de acontecer.
Bruce para e vira me esperando sair do elevador.
— Você não vem? — diz, mas quase não ouço bem quando
vislumbro no canto dos seus lábios um sorriso sinuoso.
Um convite maravilhoso para segui-lo onde for.
Há um aglomerado de lojinhas de butique espalhadas no que parece
uma praça de alimentação no resort.
“Este lugar é quase uma cidade”, penso.
Elas são estreitinhas, me fazendo lembrar de Londres, mas
extremamente refinadas e muito convidativas. Vou na frente olhando de
vitrine em vitrine, e Bruce me segue com as mãos enfiadas nos bolsos da
calça jeans.
Porque ele quer "parecer o mais invisível possível", para que eu me
sinta à vontade na hora da compra e olhar tudo com calma. Não questionei,
mas adorei.
Embora ele tivesse tido a oportunidade de ter ficado na suíte, aqui
está ele, me seguindo igual um segurança particular...
Igual a um marido superprotetor.
Entro em uma lojinha de vestidos sofisticados, com um aroma doce e
então começo a olhar alguns vestidos dispersos nas araras. Confesso que
quando arrumei minha mala para o Havaí, não pensei especificamente em me
vestir para causar uma boa impressão. Eu nem sei como me vestir bem, às
vezes uso vestido e tênis. Erin diz que é a coisa mais antiquada para uma
empresária usar, mas o que posso fazer?
Não tenho noção nenhuma de moda e isso pode assustar o Bruce.
Faz anos que não vou a um encontro.
Ok, talvez esteja generalizando demais, já fui sim, no máximo, a dois
encontros, mas nunca passaram de um jantar catastrófico. Isso significa que,
desde meu primeiro namorado, que se tornou noivo e agora ex-noivo, não
fiquei com mais ninguém de nenhum jeito. Então, por mais que não tenha
noção nenhuma de moda, sei que posso parecer cafona para um cara como
Bruce Mackenzie e eu normalmente nunca ligaria para isso, mas de repente
agora resolvi me importar com o que um homem pode achar das minhas
roupas nada atraentes.
A atendente oferece a ele uma vasta opção de bebidas quando ele
senta em um divã para me esperar escolher algo por horas, isso se eu não
partir logo para outra. Mas a questão é que há tempos não vou em um
encontro e nem sei o que usar. O pior é que quero usar algo que agrade
Bruce.
Uma mulher com aparência de top model se aproxima com um
sorriso escancarado.
— Olá, precisa de ajuda para algo específico? — pergunta a moça.
Foi como se Deus tivesse ouvido meus pensamentos e mandado um
anjo do céu.
E que anjo!
Ela parece ser tipicamente como alguém que Bruce levaria a um
jantar.
Fico incomodada com este pensamento, sou extremamente segura das
coisas que faço, e comigo mesma, mas há coisas, possivelmente traumas de
autoconfiança implementadas por minha mãe em mim, que me fazem olhar
para uma mulher dessas e, às vezes, desejar ser como ela.
De qualquer forma, retribuo o sorriso e agradeço a sua ajuda.
— Hoje vai ser a Festa da Hula e acabei de chegar ao resort com
meu marido. — Aponto com a cabeça na direção que Bruce está sentado,
tomando um chá.
“Que homem fino!”
— Quero usar algo que seja a cara da festa, mas também bonito o
suficiente para agradá-lo.
Quando volto a olhar para a mulher, noto que há algo diferente em
sua expressão. Talvez ter dito que aquele homem sentado seja o meu marido
a fez sentir algo semelhante à inveja, mas não quero pensar desta forma.
“Bruce nem é meu marido de verdade.”
— Muito bem, há umas peças incríveis que você possa gostar. Venha
— diz e então me conduz a uma série de vestidos longos e estampados. —
Essas são as peças queridas para uma Festa de Hula na praia. São longos,
sensuais e românticos.
Vestido longo, ok.
Acho que a última vez em que vesti um vestido longo foi no meu
noivado e era extremamente desconfortável. Não consigo evitar uma careta
com a lembrança e ela sorri.
— Temos curtos também. São bem confortáveis, a propósito —
enfatiza a mulher.
Olho para os diversos vestidos e não sei mesmo qual escolher.
— Acho que vou testar alguns — digo indecisa e perdida.
— Ótimo, fique à vontade! — Ela me deixa sozinha para que eu faça
a minha escolha.
No decorrer do processo, que não demora muito, fiquei com pena de
Bruce ali me esperando, mas ele parecia bastante concentrado em seu chá e
na minha procura pelo vestido ideal.
Pego uns cinco vestidos, e mesmo que fique na dúvida, não terei
problema em levar todos e pagar com meu cartão de crédito.
Antes que eu vá para o provador, encontro Bruce me observando com
uma especulação intrigante. Admito que ainda não estou acostumada com sua
aparência.
Toda vez que vejo aquela composição de cabelo negro e sedoso, a
mecha caindo sobre a testa sensualmente e a barba charmosa, consigo perder
o fôlego muito rápido, em questão de segundos. É normal sentir atração por
um homem bonito, mas não este tipo de atração.
Já vi muitos homens bonitos, e tive algumas oportunidades de sair
ganhando, mas nenhum deles me olharam tão profundamente como Bruce me
olha, como se ele estivesse se esforçando para desvendar todos meus
segredos e isso não é nada bom, porque é como se ele soubesse o que estou
escondendo dele, uma farsa.
Pigarreio e me aproximo dele cautelosamente, como quem vai fazer
um pedido audacioso, porque apesar de tudo, gosto da sua companhia e não
é algo que me incomoda. Além de que, como serão 14 dias ao seu lado,
preciso fazer com que a nossa relação seja boa para que possamos
aproveitar tudo.
— Você já assistiu Project Runaway? — pergunto a ele que dá um
sorriso xoxo.
— Está me perguntando se eu assisto um programa de moda? —
retruca incrédulo.
— Sim, mas acho que todo mundo conhece o Project Runaway. Só
que me refiro a ideia do programa, juízes julgando produções diferentes. —
Mostro a ele a bagunça de vestido nos meus braços. — Neste caso, vou
experimentar os vestidos e você vai opinar o que acha.
As sobrancelhas dele se arqueiam em surpresa.
— Certo, eu topo. Isso pode ser muito interessante, Tasha.
Percebo que a atendente nos olha de relance e faço uma careta para
ele.
“Tasha?
Você me chamou de Tasha?
Estamos aqui como um casal recém-casado e você não usa
pronomes melosos e fofinhos porque é o que todo mundo espera?”
Não demora muito e ele parece entender o recado.
Bruce tenta consertar o erro.
— Meu amor, vou sim — diz levantando, acentuando um pouco mais
o tom de voz para que as moças ali ouçam e entendam o recado. — Vamos
brincar de Project Runaway.
Olhamos para elas que sorriem sem jeito, uma até fica vermelha e
quando entramos no provador que fica em um cômodo separado do que
estávamos, advirto Bruce:
— Sei que isso pareceu muito idiota da minha parte, mas é assim que
casais recém-casados se comportam. Eles são melosos e cafonas deixando
as pessoas ao redor constrangidas ou com inveja.
Ele parece ficar curioso.
— Você já foi casada? — pergunta naturalmente e acho que minha
reação o deixa envergonhado. — Desculpa, é que você pareceu falar com
uma propriedade.
— Todo mundo conhece alguém que já se casou. — Interrompo, antes
que comece a parecer que já fui noiva.
Sim fui noiva, mas fui tão magoada que tento evitar falar deste
ocorrido. Sem contar que ele não precisa saber desse detalhe; ao menos não
agora.
Eu poderia fazê-lo a mesma pergunta, mas não quero soar insensível.
Já falei que o conheço por ser uma figura pública e a última coisa que
gostaria de fazer é de deixá-lo desconfortável por ser uma insensível. Mas
eu não sou, não em sã consciência.
— Mas, se estamos nos apresentando como um casal aonde vamos,
devemos nos comportar como um — explico a ele.
— Você tem razão — diz e então, os olhos dele brilham na
expectativa de esperar por algo.
Ele quer que eu fale em grego como fiz mais cedo, mas não faço. Não
quero que fique maçante, além de que, quando acontecer, ele tem que se
deliciar com isso.
— Não vou demorar — digo enquanto entro em uma das cabines do
provador.
Para tirar a roupa que estou vestindo, é fácil, mas alguns vestidos são
uma confusão que me deixa perdida. Como o primeiro vestido, por exemplo,
não sei onde enfiar os braços ou a cabeça e fico até com vergonha de
mostrar a Bruce.
O segundo é um vestido longo, de alças finas e decote padrão, com a
cintura marcada, a sua cor é verde militar e as flores da estampa são de
pétalas brancas.
É lindo e ficou perfeito.
Por alguma razão, decido não mostrar esse também, mas por um bom
motivo, amei como ele ficou em mim.
Ainda há mais três e decido mostrá-los a Bruce, mesmo sabendo qual
será a minha escolha.
O primeiro vestido que irei apresentar a ele é laranja curto, de fenda
e com recorte na diagonal logo acima do colo. Há um detalhe de cordinhas
nas costas que não alcanço, por isso mal consigo fechar o vestido e fico
frustrada. Ele tem um caimento bonito no meu corpo, mas é muito complexo
e já sei que não conseguirei vesti-lo sozinho.
Ouço a voz de Bruce do lado de fora:
— Tudo bem aí?
— Sim! — respondo imediatamente. Estou fazendo com que ele
espere horrores. — Só estou tendo um pequeno problema com o zíper.
Três segundos de silêncio e então ele pergunta:
— Quer ajuda?
A ideia dele traçando as cordinhas ao longo das minhas costas me
desestabiliza. Quero e não quero este contato.
— Acho que consigo — digo sem pensar muito.
Ouço a sua voz mais próxima do outro lado da cabine:
— Pode contar comigo, meu amor. Sou seu marido e sirvo para essas
coisas — respalda com satisfação e uma corrente elétrica corre pelo meu
corpo.
Antes que eu pense melhor, abro a porta com uma mão enquanto a
outra segura a parte da frente do vestido que ainda está frouxo. Encontro
Bruce de frente para a porta da minha cabine, como eu imaginava. Ele dá
uma analisada demorada no meu vestido e puxa o ar pela boca entreaberta.
“Ele está contendo um suspiro”.
Ouso dizer antes dele:
— É incrível como você aprende rápido. Talvez devesse mesmo
investir e ensinar grego para você. Aposto que como CEO da Mackenzie
Enterprises, consiga me pagar depois dessas duas semanas se quiser
continuar a ter aulas.
Espero que ele não aceite essa proposta. Não tenho tempo para aulas
de idiomas, senão teria mesmo investido nisso há tempos. Mas, para Bruce,
possivelmente conseguiria um horário na minha agenda lotada.
— Eu não sabia que você era gananciosa, senhora Mackenzie.
“Oh, céus!
Ele acabou de me chamar de senhora Mackenzie ou estou apenas
delirando?
Bruce está mesmo levando isso a sério.”
Sinto um arrepio percorrer minha espinha e ele nota o efeito que isso
me causou.
— Gosta quando eu te chamo assim?
— Você está mesmo levando isso a sério — comento ainda
atordoada.
Ele dá um sorriso de soslaio.
— E tem como não levar a sério com uma esposa exigente como
você?
Abro a boca para dizer algo, mas não consigo, ele é bom nisso e está
começando a despertar outras coisas.
Subitamente Bruce fica sério e ordena quase que rude:
— Vira.
Pisco surpresa, mas obedeço sem hesitar.
Ele está analisando aquelas cordas complicadas e sinto quando ele
pega as pontas.
— Esse vestido é lindo, mas parece complicado. Como você
esperava fechar isso sozinha?
Antes que eu responda, puxa as cordas com força, me impulsionando
para trás a ponto de quase colar em seu corpo, puxando meu fôlego e fazendo
meu coração bater rápido demais. Até que, inesperadamente sinto seu hálito
muito perto do meu ouvido, e estremeço quando sussurra:
— Você é uma esposa muito teimosa.
Então ele faz o que tem que fazer e solto uma risadinha muxoxa
porque estou sem reação.
“Puta merda!”
Estou completamente sem chão depois disso.
Bruce está levando isso muito a sério e nem faz 24 horas desde que
nos conhecemos. Não consigo imaginar o que poderá acontecer daqui 14
dias.
Fecho os olhos para evitar que meu corpo transpareça mais do que
deve, porém, toda vez que sinto seus dedos ágeis traçarem as cordas nas
minhas costas, um arrepio corre por meu corpo e sou invadida por
pensamentos dele percorrendo por todo meu corpo, em lugares que ninguém
toca há muito tempo.
“Há tanto tempo, que Perseus foi o primeiro e último.”
Há um nó engatado na minha garganta que só some quando ele
termina. O silêncio é desconfortável, mas possibilita sentir uma terceira
presença entre nós, algo invisível, mas tangível, a ponto de me fazer tatuar o
roçar de seus dedos sobre minha pele. Viro para Bruce, ele sorri com glória
e um brilho eterno nos olhos.
— Fiz certo agora, Tasha? — pergunta com a voz arrastada.
Engulo em seco.
Isso tudo foi uma provocação, uma maneira de me alertar que, se
exigir muito, ele vai dar o máximo, e o máximo pode ser um perigo para nós
dois...
Para mim.
— Sim, você fez — digo atordoada me afastando dele.
“Mas o que foi isso?”
Seu toque parece ser letal.
“Quero senti-lo...”
Não, estou aqui a trabalho.
Ele é meu cliente e nem sabe disso...
“Talvez por isso, devo dar a ele toda a experiência que o 14 Dias
Casados promete.”
Bruce com certeza está fazendo isso porque investiu dinheiro para
estar aqui, assim como eu também, na visão dele, então tenho que arcar com
os flertes. Preciso retribuir na mesma intensidade, mas preciso
principalmente fazer isso, porque não quero me arrepender do momento que
tenho em mãos.
Respiro fundo e murmuro:
— Seus dedos são bem ágeis. Será que é tão rápido para desamarrar
quanto amarrar isso? — indico as cordinhas do vestido.
Ele dá um sorrisinho perverso.
— Eu poderia ser mais hábil o rasgando do que desamarrando —
provoca com um olhar lascivo.
O fogo me domina e o pensamento disso acontecendo me chicoteia
então arfo.
Estou imaginando coisas que eu ficaria muito envergonhada caso ele
pudesse ler mentes e agradeço que não, mas sinto como se ele pudesse.
Bruce Mackenzie deve ser acostumado a deixar mulheres assim, com
pernas bambas, mas sou diferente. Faz tempo que não saboreio isso, e agora
que está acontecendo de novo, fico extremamente assustada, mas tenho que
seguir.
“São só 14 dias, mas já temo pelo que ocorrerá nas próximas
horas.”
No fim, acabei escolhendo o vestido laranja e o verde longo. E, já no
balcão de pagamento, sou surpreendida por Bruce que se mete sacando da
carteira seu cartão de crédito que deve conter milhares de dólares.
Ele me lança um olhar que transmite confiança e ouço uma atendente
suspirar.
— Eu pago, é um presente meu para você, meu amor — diz com um
sorriso orgulhoso enquanto tenta impressionar a mim e as atendentes.
Eu poderia intervir, poderia mesmo mostrar o poder que tenho de
pagar minhas próprias aquisições, no entanto, Bruce é inteligente e mais
rápido que eu nessa hora. Somos um casal e devo aceitar esse presente, me
sentir grata por ele ser atencioso e muito romântico comigo.
Alargo um sorriso e me encosto mais nele, sorrindo e beijando a sua
face.
Bom, eu também sei provocar.
Um simples beijo pode aflorar a sua imaginação, porque um simples
beijo pode tocar lugares escondidos e depravados.
— Amo como você cuida de mim — digo com uma voz fofa,
sorrindo igual uma mulher apaixonada e as outras atendentes suspiram.
É por isso que pessoas solteiras compram os pacotes do 14 Dias
Casados. Elas querem viver esse momento, sem a responsabilidade de um
relacionamento sério depois disso e caso seja promissor, é sorte das
grandes, e amaríamos colocar na página inicial do nosso site, os casais que
deram certo depois dessa experiência.
“Será que Bruce e eu poderíamos...?”
Não... Não!
Seguro o riso.
Estou longe de ser a mulher ideal para ele, por isso, quando
deixamos a butique para trás, peço para que ele me deixe sozinha desta vez,
pois vou ao salão fazer unhas e cabelo.
A princípio, parece que estou me contradizendo, mas preciso bancar
a par perfeita para o Bruce nessa experiência e jamais me apaixonar.
••••
O vestido laranja deixou Bruce muito tentado e com uma lembrança
marcante, mas é o verde longo que escolho para a noite da Hula.
Quando volto para a suíte, já era tarde. Não curto salões de beleza,
pois todo processo demora muito e se você chega atrasada ou não marca
horário, é preciso esperar a sua vez.
E foi o que aconteceu comigo.
Precisei esperar um lugar desocupar, porque não fui a única a pensar
em se embelezar para a Hula. Quando deixei o local com toda aquela
cacofonia de fofocas e secadores de cabelo, o céu já estava escurecendo lá
fora, e me apressei.
Cheguei ao quarto e não encontrei Bruce, mas um bilhete deixado
sobre a cama:
Estarei te esperando na Festa da Hula, estou ansioso para
descobrir a sua escolha. Mas seja qual for, sei que estará esplêndida.
Bruce
E era isso...
Ele deixou a suíte mais cedo para que eu fizesse uma surpresa.
O vestido laranja pode ser ousado e marcante, mas é o longo o
escolhido. Quero deixar o curto para outra ocasião, quando parecer o
momento certo.
Deixo a nossa suíte às pressas.
Quando se é uma pessoa focada no trabalho, o atraso está longe do
nosso vocabulário. Odeio fazer meus clientes na reunião esperarem, odeio
fazer minhas amigas esperarem e odeio pensar em fazer Bruce esperar
porque não quero que ele fique chateado.
Quero impressioná-lo...
Quero fazê-lo pensar que o site acertou em cheio quando "uniu" o
meu perfil ao seu e deu compatível, e que não foi coincidência de apenas um
algoritmo.
A noite no Havaí é de tirar o fôlego, o céu foi pincelado em laranja,
rosa e violeta, mesclando os tons, formando uma pintura abstrata que
explode no céu e tira o fôlego. Se olhar direitinho, pequenas estrelas brilham
como purpurinas jogadas sobre aquele quadro infinito dando um espetáculo
aos hóspedes do motivo do resort se chamar Sunshine.
“Eu consegui, pai!”, é o que consigo pensar nessas horas.
Todo momento lindo e único que vivo na minha vida, gosto de
lembrar a ele que estou vivendo livremente. Na minha cabeça e no meu
coração, meu pai ocupa um espaço especial que me conforta e me preenche.
“Ele sempre será o meu melhor amigo.”
Sempre o levarei para ver a beleza do mundo ao meu lado.
Meu pai está morto, mas em mim, ele continua vivo.”
Atravesso a área da piscina que durante a noite fica linda com as
luzes que enaltece aquele azul anil. As palmeiras ganham mais agitação,
dançando uma música que somente a natureza pode tocar, mas se parar para
ouvir bem, você a escuta assobiar no nosso ouvido. Em meio a isso, ouço
sons de ukulele e tambores; pessoas felizes e vida pulsando. Então vejo as
luzes coloridas das lâmpadas que enfeitam, e vejo fogo em tochas indicando
o caminho.
Está um clima agradável, mas o calor reina ali, como se bombeasse
todo o sangue deste órgão enorme que é a Festa da Hula.
Há pessoas dispersas em mesas rústicas, bebendo e rindo, assim
como casais e grupos de turistas. Procuro por Bruce.
No fundo, há um tablado com os músicos tocando felizes e as
mulheres com saias de palha, tops floridos e coroas de flores, sorrindo o
tempo todo e remexendo o quadril de um jeito que não sabia ser possível.
E como um imã que me puxa, encontro Bruce sentado sozinho em uma
mesa mais distante de toda aquela agitação, tomando calmamente um drink.
Ele está e não está na festa, e parece ansioso. Enquanto ele não me vê, o
admiro de longe. A beleza desse homem é inegável, já falei isso muitas
vezes, mas esta noite ele resolveu pentear o cabelo todo para trás, está de
bermuda branca e uma blusa folgada de mangas cumpridas também na cor
branca. Parece um anjo, mas também um demônio perigoso.
Bruce é gentil e humilde, mas o poder que tem nas mãos está
estampado em seu olhar, no seu jeito e em tudo que faz.
Quando me encontra, ele muda e parece fascinado, assim como eu
também estou. E eu crio um mantra, “preciso resistir a primeira noite.”
Mas como?
Como ficar longe daqueles dedos que mal me tocaram e já pareciam
brasas me queimando?
Como ficar longe dos lábios que parecem convites?
Como escapar daquele olhar lascivo que penso em outras mil formas
provocativas de me olhar?
Se não tenho uma resposta para isso, é porque não poderei lutar por
muito tempo contra a tentação de resistir a Bruce Mackenzie.
BRUCE
Ir às compras com mulheres é uma loucura total. Você anda em
círculos, espera e precisa dar uma opinião que no fim não irá fazer diferença
nenhuma. Com muita sorte, se a loja for atenciosa com namorados e maridos
porque seus lábios são macios e gostosos de beijar. Ele enfia sua língua
beijo é tão sensual que sinto meu corpo todo queimando e implorando pelo
toque dele como estava fazendo agora a pouco. Mas Bruce enfia seus dedos
que eu queria pegar as massagistas, mas juro que nunca passou isso pela
minha cabeça, estava muito focado. Mas quando estava massageando Tasha
chegar no meio de suas pernas e provocá-la até que ela me pedisse por mais.
Não aconteceu nada disso, e quando percebi que ela estava
dormindo, eu só a deixei de lado descansando em paz. Mas confesso ter sido
difícil pegar no sono. Isso porque ela estava com seu belo par de seios à
mostra, e porque fiquei lembrando do nosso beijo. Aquele beijo gostoso que
só os lábios macios dela foram capazes de me fazer sentir a vida voltando a
chama de novo. Explorei sua boca com a minha língua, minha vontade era de
deitá-la sobre uma daquelas mesas e fodê-la ali mesmo.
Não aconteceu, mas sonhei com algo do tipo.
Quando o sol começou a nascer, me certifiquei que ela estivesse
acomodada para que eu fosse tomar um café puro e fazer uma ligação
importante.
Dei uma rápida espiada e Tasha dormia igual a um bebê. Exalando
pura inocência, nem parecia a mesma mulher da Festa da Hula.
Ela tem um espírito livre que me cativa e a sua felicidade após
ganhar o presente que a dei, pareceu genuína demais e extremamente
chocante. Foi como se ela realmente tivesse me dito "Sim". Então fico
convencido a dar a ela mais que o serviço do pacote Gold pode oferecer.
Tento não fazer muito barulho quando me troco para ir à praia. Deixo
um bilhete para ela antes de sair, imaginando que a primeira coisa que ela
irá procurar quando acordar, será eu. Entretanto, espero que ela não se
importe com as coisas que tenho em mente, mas se gostou do anel, irá amar o
que quero preparar. Tasha conseguiu me convencer de que esses dias podem
ser os melhores desse ano, e por isso, achei que precisava falar com alguém
muito específico.
Vou até o salão de refeição que está preenchido pelo delicioso aroma
de pães fresquinhos, cappuccino, frutas e bacon. Fico sentado na mesa mais
distante para que os murmurinhos aleatórios não me atrapalhem e peço ao
garçom que me dê somente uma xícara de café; preciso me despertar para o
resto do dia. Não dormi bem essa noite, mas espero receber uma carga de
energia por conta da cafeína e da água gelada do mar, pois pretendo me jogar
nele assim que sair daqui.
Apanho meu celular e procuro na agenda pelo contato de Christopher.
Sou o irmão do meio, logo, tenho mais proximidade com ele e, ao mesmo
tempo, um senso autoritário. Ele prefere a mim a Mathew, mas nem sempre
foi assim. Chris começou a ter preferências quando Mat passou a mudar
drasticamente por conta do trabalho duro e consequentemente, da traição.
Chris diz que não temos culpa por Abigail ter colocado um par de galhas na
sua cabeça, assim como as trigêmeas também não tem e eu concordo com
isso. Quase sempre nos desentendemos por querer sempre o melhor para Mat
e as meninas. Mas meu irmão mais velho tem muita responsabilidade e
sentimentos reprimidos.
Espero que um dia Mathew encontre alguém capaz de iluminar as
sombras que o perseguem, assim como espero que Christopher volte a
acreditar no amor.
E por falar em Christopher, ele atende no terceiro toque:
— Olha só quem resolveu ligar — provoca do outro lado da linha
— Você é um covarde. Quando voltar, vamos conversar direito sobre
isso. Julie nunca teria tramado nada disso sozinha! — digo rispidamente,
cerrando os punhos.
— Calma lá, irmão. Você está no Havaí, não está?
Pisco atordoado. Não liguei para reclamar, embora a minha primeira
ação tenha sido ameaçar Christopher. Tento ficar tranquilo e lembrar do
motivo que me fez ligar para ele.
— Eu não queria, Chris. Não queria mesmo. Julie tem andado muito
com você e juntos ficam tramando para cima de mim.
— Está esquecendo que você prometeu a ela que faria isso — diz
num tom sério, e mentalizo os olhos extremamente verdes ficando duros; de
toda a nossa família, Chris teve a sorte de herdar a tonalidade mais clara e
marcante dos olhos verdes. — Não fique aí se lamentando como se fosse um
pobre coitado! — argumenta e sinto vontade de agarrar o colarinho da sua
blusa para fazê-lo me respeitar e me ouvir. Infelizmente, estou longe demais
para isso.
— Não vim lamentar, vim agradecer. Se você não fosse tão bocudo,
deixaria eu falar.
— Agradecer? — meu irmão repete perplexo.
Confesso que até eu estou, mas não desminto o que acabei de falar.
— É, eu sei. Que grande reviravolta em poucas horas, não é? Mas
gostei da Tasha. Estamos nos dando bem e vou ficar essas duas semanas por
aqui.
— Tasha — repete mais uma vez, mas desta vez não foi uma pergunta
é como se ele estivesse pensando em alto, tentando se lembrar do nome.
Eu não ficaria surpreso se ele revelasse que não sabe nem quem é a
Tasha. A grande intermediária de tudo isso, foi a minha pequena grandiosa
Julie. Ela deve saber de Tasha mais do que eu, mas espero que a própria não
precise saber disso nunca. A minha "esposa" está certa que eu a escolhi
assim que vi o quão compatíveis somos. Mas agora estou aqui, cheio de
orgulho falando dela para meu irmão mais novo, porque acho que gostei
dela.
— E como está a minha filha? — pergunto embora minha Julie tenha
ficado sob a responsabilidade de Mathew, que joga tudo nas costas de
Rachel, a babá.
— Por que você não liga para ela? — indaga com brutalidade.
Chris sempre tem esses picos de rebeldia que me preocupa quando
está perto de Julie. Mas por sorte, minha menininha não é facilmente
influenciável.
— Porque essa hora ela está na escola, seu idiota! — Franzo o cenho
no instante em que o meu café chega.
Agradeço ao garçom e dou um gole, arriscando queimar até a língua
com o líquido fumegante.
— Rachel está cuidando dela. Não se preocupe, Julie está bem. Você
sabe que ela derrotaria você, Mat e eu facilmente, não é?
Dou um sorriso orgulhoso ao imaginar isso. Algum dia, Julie poderá
se tornar CEO da Mackenzie Enterprises também, se assim desejar. Ela
conseguiria carregar nas costas o que é necessário três homens adultos
fazerem; seu senso financeiro, administrativo e criativo aos 13 anos é de
ficar realmente chocado. Onde estiver, sei que Melissa está orgulhosa da sua
filha.
— Julie só quer que eu siga em frente. Acha que todo ser humano só
é completo quando encontra sua outra metade. Talvez ela tenha medo que eu
vire um amargurado igual a Mat.
“Às vezes eu também tenho esse receio.”
— Ela tinha que ser filha da Melissa, mesmo.
Ouço a risada triste de Christopher. Melissa era sua melhor amiga e
foi ele quem me apresentou a ela.
— Se fosse somente uma Mackenzie, duvido muito que pensaria uma
coisa dessas.
— Ensinei Julie a esperar o melhor das pessoas e sempre ser
otimista. Conheço a minha filha, por isso prometi embarcar nessa aventura.
— É, mas agora está aí porque seu pau latejou no exato segundo que
viu a Tasha, não foi?
“Sim, quase isso.” Mas não revelo esse detalhe.
— Afinal de contas, que nome é esse?
— É uma abreviação de Natasha. — Sorrio em como Tasha combina
perfeitamente com ela e soa muito exótico. — Ela é grega.
Christopher soa com uma surpresa fascinada através da ligação.
— Então quer dizer que a Deusa do Amor flechou seu pobre coração
mortal?
— Não pira, Chris. Mas ela é legal, teria sido muita sacanagem se eu
tivesse dado um bolo nela ainda em Vancouver.
— De fato. E agora você está no Havaí com uma pessoa compatível
com você. Finalmente você vai sair da seca depois daquelas duas que você
trepou quase um século atrás!
— Não enche. Espero que não esteja dizendo essas coisas imorais na
frente da Julie.
— Cara, que tipo de tio você acha que eu sou?
Ele tem razão, apesar de toda a irresponsabilidade, Chris é um tio
exemplar. Ele é louco pelas trigêmeas, mas sempre teve uma ligação
especial com Julie. Ser tio para ele é uma das melhores coisas que tem feito
recentemente; já vi Chris deixar encontros para trás para fazer companhia
para uma Julie entediada quando eu estava extremamente ocupado, e já o vi
assumir uma postura paterna quando se trata da negligência de Mathew com
as trigêmeas.
Sei que posso contar com ele para tudo, principalmente quando o
assunto é Julie. Por isso, peço para que ele deixe para ela um recado, o
cérebro brilhante dela nunca erra.
Termino a ligação com Christopher e como o café está quase frio,
tomo tudo num gole só. Pago a conta e solicito ao garçom um tratamento
exclusivo de refeição; peço que levem para o chapéu de palha um café da
manhã caprichado.
Vou começar a fazer o dia de Tasha valer a pena a partir dali.
Sigo para a praia e no meio do caminho noto alguns olhares
femininos na minha direção. Chris teria usado isso ao seu favor, mas estou
aqui como um homem casado e feliz, e mesmo que não fosse o caso, respeito
minha acompanhante. Embora imagino que nunca iria rolar nada além dessas
secadas de olhar que elas dão. Sempre fui o mais romântico dos meus
irmãos, o mais reservado. Então para mim, sexo bom é aquele que exala
putaria, mas com uma conexão arrebatadora. E é essa conexão que há tempos
que não sinto, mas me faz hesitar por parecer algo totalmente novo.
No entanto, não é algo da qual esteja adormecido para sempre. Sinto
que sou capaz de sentir essa conexão de novo, mas não quero ficar com
achismo, quero estar certo disso.
Quando deixo minhas coisas na mesa do chapéu de palha, entro na
água só de sunga e resmungo com a água fria, que leva para bem longe de
mim toda a preguiça e cansaço que seguiu de um dia corrido e algumas noite
mal dormidas. Pois conforme a viagem se aproximava, mal conseguia pregar
os olhos. Espero no mínimo recuperar o sono aqui, mas para isso, teria ao
menos que confiar mais em mim e aceitar que Tasha e eu dividiremos a
mesma cama.
Fico por ali mergulhando, observando o horizonte e pensando em
coisas aleatórias, quando de repente, encontro Tasha sentada sob o nosso
chapéu de palha, falando ao telefone e de óculos escuros. Encaro como um
bom momento para sair do banho e ir até ela. Até porque não irá demorar
muito para que nosso café chegue.
Estou ansioso e animado para saber o que ela gostaria de fazer no
resto do dia. Teremos de ser muito criativos.
Duas semanas no Havaí pode acabar sendo cansativo, se você não
souber onde procurar diversão. Mas se eu ficasse preso em uma ilha com
Tasha, acho que teríamos diversão para dar e vender. Falo assim porque ela
está se sentindo atraída por mim, posso ver e sentir conforme seu corpo
reage ao meu olhar, a minha aproximação e ao meu toque.
“Tasha gosta quando eu toco nela”, mas vou esperar que ela me
revele isso, para que eu tenha a liberdade de fazer com mais propriedade.
....
Faço Tasha entrar na água um tempinho depois que terminamos o café
da manhã. Na verdade, senti que ela estava me provocando quando tirou
sutilmente o vestido branco bem na minha frente e exibiu seu corpinho
delicioso, como um show particular. A cor do seu biquíni combina com a
minha blusa de botões, mas não é para isso que estava olhando quando ela
está paralisada ali, com as mãos na cintura observando as ondas quebrarem
na margem.
Pode ser uma grande besteira e machista demais surgir com este
pensamento, mas Tasha de biquíni é a provocação mais perfeita que pode
existir. Isso porque o dia lindo combina perfeitamente com seu cabelo ruivo
e os olhos verdes, além das sardas discretas que respinga por todo seu
corpo. Estou aqui parado a observando terrivelmente perto demais a ponto
de não poder colocar as mãos.
O bumbum redondinho de Tasha parece caber perfeitamente em
minhas mãos, mas na parte dos seios acho que eles sobrariam entre meus
dedos. Ela tem uma cintura incrível e belas pernas sensuais. Estou gamado
em seu corpo, e a pego surpreendentemente no colo só para ter a desculpa de
tê-la mais uma vez em meus braços, reivindicando aquele toque que tanto me
fascina e me tira do eixo.
— NÃO, BRUCE! — grita entre risadinhas e esperneia, mas também
não faz mais do que isso. — ME LARGA!
— Vamos curar essa ressaca, senhora Mackenzie.
Entro com ela no mar, e a deixo em pé antes que uma onda nos acerte.
A animação dela me contagia e ficamos empurrando um ao outro; ela cai
sobre mim diversas vezes, na beira do mar, amassando seus seios contra
mim, com seu peso estimulante. Vez ou outra ela segura a parte de cima do
biquíni que ameaça ser arrancado, ou então apostamos corrida dentro da
água e batemos braços e pernas até alcançar uma parte onde as ondas não
são violentas.
Quando cansa de ficar nadando, Tasha vira e fica boiando de barriga
para cima, com olhos fechados enquanto saboreia a vitamina C e o banho de
sal do mar, que dizem revitalizar a saúde e levar para longe energias ruins.
Tasha parece um mar inteiro de coisas boas, e de repente, quero mergulhar
nela.
— Você é linda — digo de supetão, a fazendo me olhar incrédula.
— Eu não sabia que você era cego — rebate esnobando a verdade
daquilo.
— Deveria ser menos cruel com você, e aceitar que é uma mulher de
beleza incrível.
Ela dá uma risadinha sem jeito e recordo que na noite anterior, Tasha
explicou de forma triste a forma como as suas inseguranças foram resultado
do tratamento oferecido da própria mãe.
Há quanto tempo Tasha não deve ouvir um elogio?
Ela foi há tanto tempo negligenciada, que marcou a sua autoestima de
uma forma que não a faz acreditar em mais ninguém.
— O que você quer com isso, Bruce Mackenzie? — pergunta
desconfiada.
— Assim você me ofende. Será que não posso elogiar minha mulher?
— Você está mesmo envolvido no papel.
Franzo o cenho.
— Não deveria? Gostaria de conhecer você melhor, me aproximar
mais de você. Parece até que não queria estar aqui.
Tasha muda de posição após meu comentário acusatório. Seu olhar é
especulativo na minha direção.
— Você também não parecia muito a fim de embarcar nessa viagem
— exprime o pensamento e não consigo disfarçar minha cara lavada de quem
realmente não queria estar aqui. — Ia me deixar sozinha no aeroporto, não
ia?
Pisco atordoado, pois a verdade é como uma inimiga cruel na
maioria das vezes. Mas me sinto culpado também, e só piora as coisas
quando ela confessa ter tido essa impressão desde o início.
— Não achei que fosse verdade, ainda mais por não ter visto uma
foto sua sequer. Mas aí vi você e não consegui resistir.
Ela pisca, ainda está incomodada com alguma coisa quando olha em
direção à praia. Estou começando a ficar cansado de bater as pernas debaixo
da água, teremos de sair em breve antes que comece a dar câimbra, mas
Tasha quer saber mais.
— Ainda não entendo o motivo de tornar isso tudo tão real.
Sorrio em desdém.
— Bem, você mesma disse assim que chegamos que se somos um
casal aqui, então teremos de parecer como um. Deixou isso bem claro na
butique também.
— Eu sei, mas... Tem medo que as pessoas descubram que você está
aqui por causa do site? — pergunta inesperadamente.
Não sei por que, mas de repente Tasha começa a lembrar aquelas
repórteres investigativas que fazem perguntas bastante específicas.
Tudo o que conheço do site 14 Dias Casados, é que pessoas solteiras
costumam usá-lo para curtir uma lua de mel, depois romper sem
compromisso algum o que parece uma experiência de desejo comum, mas
medo irrefreável. Casamento não é tão horrível assim, no entanto, estar
envolvido como um dos clientes do site pode ser ruim para a minha imagem
séria. Christopher é quem desempenha o papel de garanhão, e não sei por
que ainda não comprou um dos pacotes.
— O que esse tipo de pergunta significa? — acabo perguntando,
assumindo a mesma postura dela.
Tasha dá de ombros.
— Estou apenas curiosa. Você é uma pessoa pública, não quero que
tenha vergonha de mim.
Não entendo por que ela está dizendo essas coisas, mas me aproximo
dela. Mais um pouco e acho que começaremos a nos afogar, então sou
rápido:
— Eu jamais teria vergonha de você, afinal é linda e uma mulher
rara. Por que acha que eu dei um anel para você?
Ela não diz nada a princípio, então faço as honras.
— Vamos fazer essas pessoas acharem que somos de fato casados.
Vamos curtir essa experiência, como você diz. Temos o Havaí só para nós.
— Temos? — Seus olhos brilham igual ao de uma criança que
descobriu ter sorvete no congelador.
Balanço a cabeça em direção à praia.
— Vamos, quero te mostrar uma coisa.
Então voltamos a nadar para fora da água, vou logo atrás de Tasha.
Fico com a impressão que ela desconfia de mim, mas não consigo
compreender o que isso poderia causar tanto interesse nela. Falei a verdade,
ou meia verdade, eu não poderia dizer a ela que a minha filha me meteu
nessa. Só que o mais importante é ela saber que estou aqui por ela, e que os
próximos dias na ilha serão incríveis.
Tasha pode não ter acordado de ressaca, mas percebo que nossa
conversa de ontem ainda ressoa no seu humor. De repente ela ficou muito
insegura, e o fato de eu a ter elogiado deve ter despertado algo como a
descrença que eu posso dar a ela atenção exacerbada que não teve quando
mais nova.
Não sei o que é, mas acho que há algo além das negligências da mãe
que ela não quer me contar.
••••
Levo Tasha para fazer trilha, vamos com as mesmas roupas que
estávamos na praia, pois se trata de uma excursão improvisada. Nos
juntamos a um grupo de turistas, e antes que a gente saísse para a rota, ela
tira da bolsa uma câmera profissional e pendura no pescoço. Ela diz que o
equipamento é usado para a o trabalho dela, já que precisa convencer
pessoas através de imagens persuasivas a fecharem contrato com agências de
viagem. Às vezes, ela vende essas fotos, por isso tira foto de tudo, do
momento em que saímos até a hora em que nos metemos na vegetação
pomposa da trilha oferecida pelo resort.
Conhecemos algumas plantas regionais e uns animais fofos. Dois
macacos nos chamam atenção quando eles se interessam pelas frutas que
levamos especialmente para eles. Tasha dá a câmera para um senhor quase
da mesma idade do meu pai para tirar uma foto nossa, brincando com os dois
macaquinhos apoiados em nossos ombros. Julie teria amado isso assim como
as trigêmeas. Depois disso os animais somem de barriga cheia.
Retornamos para o chapéu de palha e a nossa mesa é composta por
iguarias e suco natural para o almoço. É um serviço ótimo, enquanto temos
como fundo o mar bem ali, perto de nós. Zombo dela por ter dormido durante
a massagem que fiz.
— Sou fraca para isso, mas foi muito bom. Então você pode fazer
massagem em mim sempre que quiser — diz em sua defesa depois que toma
pelo canudo o seu suco de morango.
Eu não deveria sexualizar este simples ato de beber algo pelo
canudo, mas noto que Tasha tem uma língua habilidosa quando ela puxa o
canudo com a pontinha da língua a enroscando nele e puxando para o
mistério da sua boca.
Preciso pigarrear para recompor a postura.
— Ao menos sei que o curso de massagem foi um bom investimento
de tempo — comento, e ela me olha de forma divertida e franzida.
— Porque o investimento de dinheiro com certeza não fez nenhuma
diferença, não é? — soa sarcástica e franzo os olhos.
— Mas você amou. Estava até gemendo. — Isso foi antes dela
dormir igual a uma pedra. Mas enfatizo a palavra para constrangê-la. Tasha
começa a ficar vermelha igual a um tomate enquanto se emburra.
— Cala a boca! — Me estapeia no ombro esquerdo com uma força
que o som estala no ar.
Algumas pessoas nos olham chocadas, mas logo nos ignoram.
— Aí! — Massageio onde ela me bateu, então digo um pouco
provocativo: — Sempre ouvi dizer que ruivas são um perigo. Costuma ser
sempre agressiva assim?
— Eu sou um amor de pessoa, mas não teste a minha paciência, muito
menos o meu bom humor — avisa arqueando a sobrancelha
ameaçadoramente.
— Acho que vamos ver de tudo esses dias.
— Será que um dia verei Bruce Mackenzie de um jeito que ninguém
mais viu?
— Você já está vendo, Tasha. Faz tempo que não saio com alguém e
me sinto tão à vontade.
Ela pisca atordoada e algo parece incomodá-la. Ela fica um pouco
pensativa, fixando o olhar na superfície da mesa enquanto formula uma
pergunta:
— O que fez você ir atrás de alguém pelo site? Imagino que você
deve ter a oportunidade de conhecer tantas mulheres incríveis.
Bebo um gole da minha água e acho que assim como eu falei dos
meus pais na noite anterior, está na hora de eu falar de Julie.
— A minha filha me incentivou.
— Bruce Mackenzie, o pai solteirão mais cobiçado de Vancouver.
Odeio ser chamado assim, mas não digo nada a Tasha, pois isso é
tudo culpa dos tabloides que tentam romantizar o fato de eu ter me tornado
alguém sozinho com uma filha incrível após a morte de Melissa. Digo a mim
mesmo que não devo me prender a ela, pois o futuro de Julie depende de
mim e não devo cair em depressão, por isso continuo forte e confesso que na
maioria das vezes é complicado.
O luto nunca é superado, mas se acalma, como um rio em paz no final
de uma tardezinha.
— Falei algo de errado? — pergunta preocupada após perceber meu
súbito abalo.
Balanço a cabeça dela e tento sorrir.
— Minha filha se chama Julie, tem 13 anos e queria muito que eu
estivesse aqui — explico.
— Bom, não sabia o nome dela. — A expressão de Tasha fica
passível e ela pisca duas vezes, adotando então um tom de voz mais sútil: —
Eu sinto muito pela mãe da Julie. Imagino que vivenciar esse lance de lua de
mel traga lembranças que podem deixá-lo mal.
Solto um forte suspiro, como se o fardo deste assunto tivesse saído
de cima dos meus ombros.
“Tasha também sabe de Melissa, todo mundo de Vancouver sabe,
mas não consigo imaginar o que mais da minha vida ela deve saber.”
— Às vezes sim, às vezes não. Mas há tempos decidi seguir em
frente e só fiquei um pouco mais exigente. Não devo mais procurar somente
uma mulher ideal para mim, devo procurar uma mulher que seja uma ótima
mãe para Julie também.
Algo se contrai no rosto dela. Tasha deve ser aversiva a ideia de
filhos, mas já que teve uma experiência ruim com a mãe, é esperado que ela
queira no mínimo fazer tudo ao contrário do que presenciou.
— Você deve ser um pai incrível. Ela tem muita sorte de ter você —
comenta com um brilho nos olhos.
Poderia supor que estivesse até querendo chorar. Lembro que ela
mencionou o pai ter morrido quando tinha 15 anos.
“Caramba, como Tasha e eu somos fodidos emocionalmente, com
nossos dramas pessoais que fazem o nosso mundo ficar de cabeça para
baixo.”
— Eu tento dar o meu melhor — digo por fim.
Tasha apanha de sua bolsa a sua câmera profissional, liga e aponta a
lente na minha direção.
— Vamos lá, isso é um vídeo — começa a dizer empolgada. — Dê
um sorriso e diga a Julie como você está feliz em estar no Havaí.
No começo fico sem jeito, mas já fiz isso tantas vezes que sei como
olhar para uma câmera e fazer isso. Me debruço um pouco mais sobre a
mesa e olho fixamente para a lente, que me olha com pequenos olhos, mas
são os olhos castanhos da minha pequena que visualizo ali.
— Julie, obrigada pelo incentivo de vir para o Havaí. Prometo trazê-
la na próxima, enquanto isso, papai vai aproveitar um pouco com a nova
amiga.
Subitamente roubo a câmera das mãos de Tasha e aponto na direção
dela. Ela fica de olhos arregalados na minha direção, esbravejando alguma
coisa e tentando esconder o rosto. Ela fica tão tímida que desta vez não se
importou em ser chamada de "amiga". Mas vamos ser convenientes, não
sabemos como Julie reagiria ao me ver chamando uma mulher que acabei de
conhecer há um dia, de esposa.
— Oi, Julie. Sou a Nata–Tasha. — Acena e se atrapalha enquanto
começo a rir, a deixando zangada. — Não estranhe se o seu pai não voltar
inteiro para Vancouver! Me dá isso aqui!
Ela reivindica a câmera de volta e a desliga, guardando na bolsa.
— A ideia foi sua — digo me recuperando do momento cômico que
foi ver Tasha, a grega, envergonhada. — Como pode ser tão boa fingindo ser
a minha esposa, mas não sabe reagir para uma garota de 13 anos.
Sua resposta é dar de ombros depois falar de modo banal.
— Sei lá. Não levo jeito com crianças. Vai que ela não goste de mim
também quando ver isso... “Se” ver.
Ela se importa com a aprovação da minha filha, interessante.
— Julie não é uma criança. É uma pré-adolescente e tenho certeza
que vocês se dariam super bem. Você é exatamente o tipo de mulher que ela
adoraria se espelhar, gentil, independente e engraçada.
A faço abrir um sorriso.
— Obrigada. — É o que ela diz antes de voltar para sua comida e
disfarçar o fato de ter ficado sem reação diante disso.
Como eu já havia dito, Tasha não sabe reagir a elogios. Mas eu farei
com que ela se acostume aos meus. E independente de como terminarmos
essa viagem, eu iria fazê-la conhecer Julie, a outra parte da minha vida.
Nos deitamos nas espreguiçadeiras, sempre juntos. Ela volta a tirar o
vestido branco, ficando só de biquíni, exibindo seu corpinho espetacular.
Pedimos duas cervejas e ficamos ali, tomando sol e voltamos para o
mar como um casal de apaixonados. Ora ela prendia as pernas na minha
cintura e me beijava, ora se agarrava nas minhas costas e ficava pendurada
igual ao macaquinho que vimos mais cedo.
O fato é que no nosso segundo dia no Havaí, Tasha e eu já havíamos
ficado inseparáveis, trocando beijos e carícias.
Levar isso tudo a algo mais íntimo e quente era só questão de tempo.
Mas confesso que eu queria mesmo era começar agora.
TASHA
Fizemos um passeio maravilhoso antes do almoço e passamos
fizemos um vídeo engraçado para ela, mas a verdade é que passei o dia todo
golfe.
Não posso julgá-los.
Acho que gosto de Britney também, às vezes ela lembra um pouco a
Erin e isso me faz sentir mais em "casa", mas sendo honesta, meu principal
interesse é basear a minha pesquisa neste casal, já que acabei ocupando um
lugar não idealizado para mim durante esta viagem. Além do mais, Britney é
bem mais tagarela do que eu então as coisas fluem naturalmente.
Como por exemplo, em alguns minutos com ela no carrinho de golfe,
já descobri que ela foi casada três vezes e um mês antes de vir para o Havaí
com Oliver, terminou um namoro de seis meses. Agora, ela está
extremamente apaixonada, capaz de fazer qualquer coisa por ele, palavras
dela.
— E como você descobriu o site 14 Dias Casados? — pergunto
soando despretensiosa. Acontece, que eu já estava executando o trabalho de
Erin naquele momento.
— Ah, quem não conhece? — Me olha como se eu fosse um bichinho
burro. — Há poucos sites de relacionamentos que são famosos, 14 Dias
Casados é um deles. O único que não parece uma cópia barata dos outros. Se
quisermos, podemos vivenciar isso aqui como se fosse o maior sonho de
nossas vidas, e então, depois viver como se nada tivesse acontecido.
— Mas você quer que Oliver se apaixone por você, não quer?
Ela dá uma risada alta, daquelas quase desesperada demais e me dá
um tapinha no ombro.
— Sua bobinha, ele já está apaixonado! Eu vou contar um segredo
para você. — A loira se empertiga em minha direção e sussurra, embora nem
precisasse: — Os franceses amam as americanas. — Então ela remexe o
quadril fazendo um movimento muito sugestivo que logo compreendo.
— Ah, isso é bom, Britney.
Os rapazes voltam da quinta tacada e então mudamos de assunto para
avançarmos mais uns metros no campo de golfe que parece interminável.
Bruce está muito atraente em sua blusa polo e calça branca. Ele é muito bom
no esporte, inclusive, fico curiosa para saber do seu histórico; sendo
conhecido como o esporte dos ricos, não me surpreende que ele seja craque,
porém, vez ou outra o flagro olhando com muito carinho para o taco.
Deve ter alguma história que o faça ser muito bom no golfe.
Quando fizermos outra parada e ficarmos sozinhas mais uma vez no
carrinho, ouso perguntar o que tanto me intriga junto com Bruce. Ele não me
deixou esquecer de fazer uma pergunta, porque ele sentia que a relação de
Britney com Oliver era um tanto ambígua.
— Então, Britney, como funciona esse lance de compatibilidade?
Me comporto como uma leiga, mas há dois fatores intrigantes:
1- Tecnicamente, eu devo saber como funciona, pois estou
ali devido o site;
2- Fundei o site.
— Bem, se você paga pela assinatura mensal, terá direito a
aritmética do site que fará uma busca de dados pelas pessoas mais próximas
ao seu perfil. Foi como encontrei Oliver. Primeiro eu o achei bonito, depois
vi que era francês.
— E vocês foram compatíveis em que?
Ela dá de ombros e faz uma cara de desleixo.
— Não fomos. Quer dizer, não antes de eu alterar todo meu perfil
para ficar bem igual ao dele. Tínhamos poucas coisas em comum, mas queria
que ele me achasse ideal.
Essa informação me choca e me pega desprevenida.
“Temos uma impostora!
Não, temos duas impostoras!”
Mas vai, o meu caso foi por um bom motivo e é até perdoável.
Mas o dela?
Preciso saber mais sobre o assunto. Não posso tirar conclusões
precipitadas também, embora esteja bem óbvio que aconteceu uma falsidade
ideológica.
— Pelo amor de Deus! Não faça essa cara. O que eu fiz está errado,
mas também serve de exemplo. Você não precisa ser 100% compatível com
a pessoa para dar certo. O site está enganado sobre isso.
Fico revoltada, mas tento não transparecer.
“Como ousa dizer isso?”
Não existe relacionamento certo ou errado, é 8 ou 80, e o 14 Dias
Casados é para aqueles que estão cansados de não encontrarem a sua outra
metade da laranja, a alma que encaixe e se conecte com a sua perfeitamente.
Não temos culpa se Britney mentiu na descrição do seu perfil, mas
certamente quando eu voltar para Vancouver, terei de fazer uma reunião com
Erin e Lili para tomarmos alguma providência a respeito disso. Devemos
evitar a qualquer custo as ações de reembolso, que em suma pode significar
que o cliente não ficou satisfeito.
Entretanto, Britney não é um caso isolado, mas também é um dos
poucos.
— Não estou dizendo nada — rebato em minha defesa. — Mas
Oliver já sabe?
— Não, mas já deve ter percebido algo de estranho. Só que ele é
educado demais para me dar um pé na bunda e voltar sozinho para Los
Angeles.
— Talvez essa viagem seja o que vocês tanto precisavam.
— Quero fazê-lo perceber que apesar das diferenças, ele pode ser
feliz ao meu lado — diz num tom sério, depositando seus sentimentos em
cada palavra. — Poderemos ser um casal igual a você e Bruce.
Forço um sorriso encantador para ela, mas coitada, mal sabe que ela
está na fita melhor do que a minha relação indefinida com Bruce. Mas em
nossa defesa, nos damos bem e somos parecidos em muita coisa, um casal
compatível. Preciso dizer isso a ela.
— Bruce e eu somos muito parecidos. É uma questão de sintonia,
com o passar do tempo você e o seu parceiro vão identificando os pontos
comuns ou se adaptando aos defeitos um do outro.
E digo isso baseado na minha experiência amorosa de anos que vivi
com Perseus. Éramos o oposto em tudo, mas havia algo maior que nos
tornavam bons amantes. Mas claro que isso lá na frente pesou de um jeito
doloroso, o peso da culpa não caí só para ele. Fui traída em dose dupla.
— Ah, que perfeito! — exclama unindo as mãos. — Isso é tão
romântico, Tasha.
— A lua de mel me deixa inspirada.
Realmente, não lembro de ser tão romântica assim. Mas, nunca fui
cética demais em relação a amores e paixões da vida, só tinha medo de
quebrar a cara de novo. Sou romântica sim, mas sou prevenida.
Bruce e Oliver voltam, e quando fazemos a próxima parada, eles nos
obrigam a participar de uma rodada. O que na verdade não gera muito
esforço da nossa parte, pois Britney e eu achávamos que eles nunca nos
chamariam para uma tacada pelo menos.
Em um canto, Oliver tenta ensinar Britney mas ele não parece muito
paciente toda vez que ela faz escândalo por raspar a grama do campo com
suas tacadas fortes. Mas rapidamente me distraio daquele cenário quando
Bruce se coloca atrás de mim, com o seu corpo roçando no meu e seus
braços em volta de mim, agarrando minhas mãos com desvelo enquanto
agarro o cabo do taco.
A minha primeira tentativa é um fracasso total, sou afobada e com
isso coloco muita força em meus braços, o que faz meu corpo girar muito e o
meu taco arrancar um punhado de areia e grama. Fico envergonhada pela
minha falta de jeito, ainda mais fazendo isso na frente de Bruce, que mais
parece um profissional.
— Se você nunca fez isso antes, tá tudo bem, vou ajudar você, meu
amor — murmura no pé do meu ouvido e estremeço, até porque ainda não me
sinto habituada a Bruce Mackenzie me chamando de um jeito tão carinhoso e
apaixonante. Até que ele soa de uma forma mais provocadora. — Eu sei que
você tem mãos suaves e leves, então, pegue daquele jeitinho que só você
sabe.
Inspiro o ar quente em minha volta e entro em combustão. Lembro
dele idealizando nós dois transando atrás de uma dessas moitas e gostei da
ideia. Este lugar é enorme, não acho que alguém nos pegaria à noite, a essa
distância principalmente. Mas teríamos de tomar cuidado com os animais
noturnos.
Atrás de mim, grudado ao meu corpo, Bruce começa a me conduzir e
me atento a cada movimento seu.
— Gire o seu corpo suavemente, se quiser fazer uma tacada precisa.
— Me instrui, agarrando minha cintura e simulando o movimento que me
aconselhou. — Deixe as pernas um pouco esticadas.
Sinto quando ele passa sutilmente a mão safada dele entre minhas
pernas, cutucando a minha intimidade.
Minha primeira reação é olhar espantada para Britney e Oliver, mas
eles estão de costas para nós enquanto ensaiam também, mas de um jeito
mais tradicional. Por isso, minhas pernas relaxam e aproveito para deliciar
os dedos de Bruce me tocando ao ar livre, com companhia há uns seis metros
de nós dois.
— Incline o bumbum para trás, meu amor — ordena e eu obedeço,
então sussurra no meu ouvido. — É assim que vou te foder mais tarde.
Parece mentira, mas sempre que ouço Bruce me dizer essas
safadezas, fico excitada na hora. Queríamos ser um casal de mentirinha que
parecesse real demais, e estamos levando isso bem a sério quando o assunto
é relação sexual.
Olho para ele por cima do ombro, me sentindo desejada só pela
forma como ele me olha.
“Safado!”
— Não vá esquecer — imploro com uma cara de pidona, então sinto
seus dedos deixarem a minha intimidade sobre a calcinha, e colar seus
lábios aos meus em um beijo suave e sensual.
— Faça a sua tacada agora.
Não há como não resistir a este professor.
Fico na mesma posição que ele me deixou, e quando apoia a bolinha
na grama, procuro meu ponto de equilíbrio e então seguindo as suas
instruções, eu acerto a bola e estreito os olhos para vê-la voar na claridade,
mas ela não voa para muito longe. Fico feliz de qualquer jeito e pulo de
animação, até saltar no colo de Bruce e dar um beijo profundo nele.
— Esses dois sabem como comemorar.
Ouço Britney dizer e sorrio entre os lábios de Bruce.
— Peguem leve aí, o Oliver já está ficando desconfortável — brinca.
— Sabia que o nosso segundo idioma no Canadá é francês? — Bruce
diz, me deixando no chão, mas ainda marcando posse com suas mãos
másculas agarradas a minha cintura.
— Você fala francês? — Britney pergunta surpresa, verbalizando o
que também questiono na hora, mas preciso fingir costume com as
habilidades de Bruce.
— Não, eu não falo. Mas o meu amor aqui está querendo me ensinar
grego. — Me abraça, pousando sua cabeça sobre o meu ombro; tão
romântico e engraçado.
“Ah, facilmente apaixonável.”
— Você é grega, Tasha? — Oliver pergunta com uma certa
fascinação.
Na verdade, todos me olham desse jeito quando falo a minha
nacionalidade, parece que gregos só é coisa de filme.
— Nai eímai — digo.
— Olha, pelo sorriso no seu rosto não acho que você mandou a gente
ir para aquele lugar — Britney diz desdenhosa e gargalho.
— Não, mas eu falei, "Sim, eu sou" — traduzo minha fala anterior.
— Olha só... Uma grega, uma americana, um canadense e um francês.
— A loira analisa. — Essa é a viagem mais maneira de toda minha vida.
Então ela gira o corpo e faz a sua tacada. A bola de Britney voa
longe e ela vibra, pulando nos braços de Oliver que ri, mas fica um pouco
sem reação.
Eles dois são engraçados juntos e se fizessem mais um esforço,
aposto como Britney rapidinho se tornaria verdadeiramente compatível com
Oliver, porque mesmo de longe, é fácil perceber a força de vontade dele
para estar aqui com ela, mesmo sendo muito diferentes, e Britney o ama por
isso.
••••
Bem depois, quando acabamos, Bruce e eu voltamos para o quarto
quando nos despedimos do casal que conhecemos ainda naquela manhã.
Trocamos algumas informações a respeito de Britney e Oliver e ficamos
particularmente chocados com o depoimento dos dois para nós. E não
estamos fofocando, mas apenas trocando informações. Casais fazem muito
isso, até mesmo os de mentirinha.
— Não fizemos muitos esforços, mas aqui estamos nós, nos dando
muito bem — Bruce diz.
Sorrio torto porque é em um momento como este que minha mentira
me pega pela garganta e tenta me sufocar.
— Espero poder ajudá-los enquanto estivermos por aqui. — Acabo
revelando enquanto tiro o meu tênis, sentada na beira da cama.
— Tipo uma operação cupido? — pergunta num tom incrédulo.
— Não, mas fazê-los perceber e valorizar a singularidade de cada
um deles — digo me sentindo bastante envolvida.
— Isso foi profundo, Tasha — Bruce diz de fato muito surpreso,
enquanto senta ao meu lado, só de calça.
— É que ser compatível vai além do óbvio. Duas pessoas podem ser
diferentes, mas se elas se respeitam e se entendem mesmo assim, pode haver
compatibilidade.
Ele se apoia nos braços quando se estica na cama.
— O nosso perfil foi compatível um com o outro. Então será que
poderíamos ter as nossas diferenças? — pergunta bastante envolvido no
assunto.
Dou de ombros.
— Mas é claro. Ninguém é parecido de forma meticulosa. — Me
ajeito sentando de frente para ele. — Vamos ver, pizza com azeitona ou sem
azeitona?
— Sem. — Bruce faz uma careta.
— Eu prefiro com. Humor ácido ou moderado?
— Ácido.
— Moderado. Ser teimoso ou pragmático?
— Pragmático, sempre.
Aponto meu dedo na direção dele como se tivesse o pegado no pulo.
— Aí estaria o possível motivo de nossas futuras discussões. Sou
teimosa e não me orgulho disso, é algo mais forte do que eu. Gostaria muito
de ser pragmática, mas não consigo.
— Você, teimosa? — Franze os olhos, bastante incrédulo.
— Ainda não me conhece o suficiente, Bruce Mackenzie. — Faço
uma carinha atrevida.
— Temos mais onze dias pela frente, acha que não terei uma opinião
formada sobre você até lá?
— Mas, nos conhecemos pelo site e combinamos de comprar o
pacote Gold. Você já deveria ter uma opinião sobre mim, não acha?
Ele pisca meio atordoado e dá um riso desengonçado.
Bruce diz que este encontro é a cegas, mas, o site não traz esse
propósito, há não ser que você seja radical demais e decida investir em uma
viagem ao lado de uma pessoa que não sabe nem qual é a cor do cabelo. E,
sinceramente, isso nem faz a cara de Bruce. Então suponho cada dia mais,
que ele foi colocado nessa pelas mãos de uma outra pessoa.
Mas quem?
O irmão cafajeste, ou o irmão que foi traído?
Não quero ser indelicada e ter que fazer essa pergunta subitamente,
mas, ainda assim, decido testá-lo:
— Relaxa, nem tivemos tanto tempo assim de conversar pelo site —
digo passando a mão pela sua coxa. — Mas lembra quando eu contei a você
sobre o boné que carrego comigo desde minha infância.
Bruce arqueia as sobrancelhas e faz uma expressão engraçada, de
quem está tentando lembrar com afinco.
— Não acredito que você já esqueceu! — exclamo fazendo uma cara
de chateada.
— É claro que eu lembro!
“Mentiroso!”
Eu nunca conversei com Bruce pelo site. Eu nunca contei a ele sobre
o meu chapéu surrado que ganhei do meu pai quando criança. Eu não sou a
única mentirosa aqui, e pelo visto, a minha teoria acaba de ser concretizada.
— Qual era a cor dele? — pergunto provocando e Bruce pisca com
urgência.
— Eu gostaria de dizer a cor da sua calcinha neste momento, Tasha.
— Muda de assunto, fugindo do que poderia ser um mata-leão.
Ele me alcança, funga meu pescoço, beija e mordisca cada pedacinho
dele, me atiçando, me tirando a concentração.
— Lembra do que eu disse no golfe? Por que não nos preocupamos
com isso?
Minha respiração muda, estou ficando hipnotizada pelos lábios
macios dele contra a minha pele. Mas se eu tivesse estabilidade o suficiente
para o momento, diria a ele que o meu chapéu não é supérfluo demais para
ser deixado de escanteio. Não digo que a sua fala foi insensível demais
porque o mesmo homem que me deu aquele presente, está morto desde meus
15 anos. Mas não é culpa dele. Foi eu quem tocou no assunto, e o coitado
mal faz ideia do que estou falando.
Contudo, pensar nisso me deixa com o coração um pouco doloroso,
mas é Bruce quem está no controle de mim agora. É ele que vem com a sua
língua áspera que desliza do meu ombro até a curva do meu pescoço quando
abaixa a alça do meu vestido, disfarçando a dor que às vezes quer fazer
morada, mas aí Bruce não deixa. E então uma mão sua desliza para dentro do
meu cabelo, puxando com força o couro cabeludo, enquanto a outra afaga a
minha intimidade por cima da calcinha.
Abro as minhas pernas um pouco mais, me sentindo quente e já
molhada pelos toques e carícias de Bruce. Jogo minha cabeça para trás no
mesmo instante em que solto um gemido rouco, e acho que isso o
desestabiliza, pois Bruce me pega por trás como se eu fosse uma boneca de
pano e me guia até a uma mesa ali perto, onde me debruça sobre ela e se
afasta de mim repentinamente por uns dez segundos.
Quando volta com a camisinha já em volta do seu membro, vem
abaixando a minha calcinha e sem avisos, sinto a sua língua passar na minha
entrada.
Solto um gemido alto.
Amo sentir a sua língua quentinha contra minha pele, a sua barba
raspando na minha entrada e o interior das minhas coxas, a forma como ela
faz círculos, girando e girando, me leva a loucura. Eu não consigo evitar de
rebolar enquanto ele me chupa; me sinto tão devassa com ele.
Infelizmente, não é dessa vez que Bruce me fará gozar somente com
um oral. Ele para e eu choramingo.
— Para você ver que não esqueço das coisas tão fácil.
Não sei qual a situação ele se refere, mas não tenho tempo de
raciocinar nada direito quando ele mete de uma só vez em mim e solto um
grito quando ele sai e entra com mais força, gemendo tão gostoso.
— Lembre-se do que eu ensinei, Tasha.
Meu nome em sua boca durante o sexo me deixa arrepiada, é como se
o simples ato de dizê-lo o deixasse louco.
Faço o que aprendi mais cedo durante a partida de golfe, abro as
pernas um pouco mais, inclino o meu bumbum para trás; estou de quatro, mas
não muito.
Naquela posição, quando Bruce entra de novo em mim, parece que
ele toca meu ponto sensível com o pau dele que entra fundo e então sai por
completo, até ele repetir esse movimento de novo e de novo, de forma
angustiante e deliciosa.
— Mais rápido — peço, mas pelo visto a teimosa aqui não sou eu
quando Bruce continua.
Então quando ele entra de novo, o aperto dentro de mim, ele geme
alto e puxa o ar entre os dentes.
— Caralho! — ruge. — Faz isso de novo, Tasha.
— Só se você me foder com força depois — digo o olhando por
cima do ombro.
— Qualquer coisa, meu bem. Tudo que você quiser.
Ele entra em mim de novo e fica parado, enquanto sente a pressão
muscular que forço na minha intimidade, gemendo cheio de tesão. Faço isso
por uns segundos, até que ele me pega pela cintura com força e realiza meu
desejo.
Sem avisar, Bruce enfia em mim com mais força, fazendo meu
pequeno corpo querer entrar em combustão. Na posição em que estamos,
sinto que vou atingir o nirvana, ou morrer de tão acelerado que está meu
coração, conforme vou sentindo cada centímetro do membro dele me
preencher.
A mesinha em que estou apoiada vai saindo do lugar, de tão forte que
ele me penetra.
— Isso, Bruce! Mais, mais! — peço, como se fosse possível.
“Mas nada parece impossível para Bruce Mackenzie.”
Ele parece determinado a me comer somente naquela posição, pois
não faz menção alguma em parar. O que não acho ruim, pois mais uma vez,
nos encaixamos muito bem desse jeito.
O homem acaba se mostrando uma máquina quando o ritmo das
estocadas não mudam. Bruce me penetra com tanta força que sinto que irei
partir no meio e a sensação de prazer é tão forte, que ser partida ao
meio seria a expressão mais próxima do que estou sentindo, essa sensação
tão gostosa que chega a ser doloroso.
Preciso ficar nas pontas dos pés quando sinto que estou chegando ao
meu limite e meu corpo começa a rugir e estremecer. Aperto o membro de
Bruce mais uma vez, e o sinto inchar; ele também está chegando ao seu
limite.
Dessa vez, gozamos juntos, com nossos gemidos entrelaçados; sinto o
corpo dele sofrer alguns espasmos enquanto eu enfraqueço.
Antes de ir ao banheiro e se livrar do preservativo, Bruce me dá um
beijo terno e me jogo na cama, esperando por ele que volta com uma toalha
presa a cintura. Quando ele se senta na beirada da cama, sorri de um jeito
bobo que me motiva.
— O que é engraçado? — pergunto a ele, que mexe seu indicador de
mim para ele.
— Isso. Nós dois passamos tanto tempo recusando esse tipo de
relação por nos tornamos exigentes e priorizando outras coisas... E agora
estamos aqui, nos conhecendo melhor, mas agindo como se fizéssemos isso
há tempos um com o outro.
— Você acredita em destino? — pergunto a ele, que me olha de
forma cética.
— Não, mas gostaria. Acha que o destino nos uniu aqui por algum
motivo?
“Ah, sim, o destino me trouxe aqui por algum motivo. Pois eu não
estava predestinada a isso, pelo menos não estava nos meus planos.”
— Se nos uniu por um motivo, certamente tem a ver com sentir muito
prazer — digo sensualmente e ele sorri.
— E é logo você a estar aqui, a mulher mais devassa que conheço.
— Diz o homem que é uma máquina de sexo.
Bruce dá de ombros.
— Foi você quem pediu para eu ir mais rápido.
Rimos e então depois de um tempo, vou para o banheiro tomar uma
ducha. Fico por ali e me toco, sentindo a diferença dos meus hormônios há
muito tempo desacordados, finalmente agindo em meu corpo. Por exemplo,
meus seios estão mais sensíveis e hoje pela manhã, apareceu uma espinha no
meu queixo que tenho escondido com um corretivo. Não sou muito adepta a
maquiagens, mas nessas horas não tem para onde fugir.
Qualquer dia desses, preciso retornar minha ligação para Erin, acho
que ela já deve estar ficando preocupada, no entanto, Bruce e eu estamos
grudados na maior parte do tempo.
Exceto pela manhã do nosso quarto dia, onde aproveito para deixar
Bruce sozinho e ir até umas lojinhas do centro da ilha para comprar umas
lingeries bonitinhas. Chamo Britney para me acompanhar, com a desculpa de
que não gostei das que a minha estilista separou para a minha lua de mel. Ela
fica muito maravilhada com a minha mentira de eu ter uma estilista, e tenta
dar o máximo dela durante a minha escolha. Mas a verdade é um pouco mais
constrangedora. Isso porque separei pijamas fofinhos para a viagem, sem a
pretensão de seduzir um magnata da imobiliária canadense, tanto que na
noite anterior, precisei ir dormir com a blusa de Bruce para não ter que usar
um dos meus pijamas. Não posso fazê-lo pensar que não separei coisas
atraentes para ele, porque não separei mesmo.
No entanto, com sorte, Britney parece ter um gosto muito bom para a
coisa, então acabo comprando calcinha fio-dental, baby-dolls de cetim,
body's rendados, cinta-liga, espartilho e outras coisas que não estavam nos
meus planos como óleo corporal para massagens eróticas, lembrando que
Bruce é um deus da massagem, algemas e um treco que prometia uma
sensação refrescante quando massageada a parte intima.
Basicamente, posso chamar isso de kit de sobrevivência sexual por
duas semanas e espero usar o mais rápido possível.
BRUCE
No nosso quarto dia no Havaí, Oliver me deu uma ideia que
passando rápido demais, já que tudo ao lado dela é mais simples e divertido
algum jeito. Com isso, posso considerar a noite passada como a melhor até
então. Mesmo estando muito confusa sobre o que tudo isso pode significar,
ela não voltou. Mas acho que não quero saber dela, não agora, que o meu
mundo foi virado do avesso de um jeito que me sacode fazendo meu sangue
pulsar com força no meu cérebro, me deixando com a impressão de que ele
lugar que eu jamais largaria mão, mas enquanto estive no Havaí, achei que
poderia trocar este lugar facilmente e viver para sempre nas ilhas.
Acontece que não estive pensando direito. Estava completamente
fora de mim do início ao fim.
No caminho de casa, percebi que me envolver na lua de mel de
mentirinha proporcionado pelo site, subiu a minha cabeça e me fez delirar.
Mas agora, estar em casa me exprime novas sensações que também são
comuns.
Resolvi desprezar o que aconteceu nos últimos dias. Talvez esteja
magoado demais para permitir sentir outra coisa, mas prefiro voltar a manter
os pés no chão. O que tinha de acontecer no Havaí, ficou no Havaí; essa é a
minha vida, preciso voltar a focar nela. Posso esquecer Tasha e tudo o que
aconteceu lá.
Não sei se isso é uma maneira indireta de perdoá-la, mas é o que
parece certo.
Chega de viver uma vontade minha há tempos adormecida. Não estou
desesperado, posso esperar mais um pouco. Eu só quero voltar com a minha
vida como ela era antes.
Mas, infelizmente, não me lembro de muita coisa antes de Tasha.
Tudo o que eu tenho na cabeça é ela, tudo o que eu quero é ela, mas não
posso ter por que tenho medo de ter conhecido alguém diferente.
Porra, estou acostumado a conhecer mulheres que inventam perfis
falsos, jeitos e estilos só para me agradarem; elas pesquisam a minha vida na
internet, acompanham meus passos e depois aparecem de um jeito que faz
parecer que o destino nos uniu. Mas graças a Deus eu tenho Christopher que
por ser um mulherengo, conhece muito bem diversos perfis e me alerta.
Estou ansioso para saber a opinião dele sobre Tasha, mas antes,
preciso ver minha filha. A única mulher no mundo que nunca vai me magoar,
que nunca vai errar comigo porque tudo o que ela faz é por mim.
Chego no arranha-céu onde moramos e cumprimento os funcionários
que há dias não me viam, mas possuem uma expressão curiosa na minha
direção, até imagino o porquê, por isso evito olhar para meu celular que só
tem vibrado desde que cheguei ao aeroporto de Vancouver. Evito
principalmente pegá-lo porque a minha tela de bloqueio é uma foto minha
com a Tasha e estou com muita pena de tirá-la dali. No entanto, quando pego
o elevador privado que é todo de aço verde e dourado que dará a torre dos
Mackenzie, preciso fazer esse sacrifício.
O que eu puder fazer para me desfazer das lembranças com Tasha,
irei fazer. Mas dói, e é uma tarefa quase impossível de fazer. Não tenho
coragem de apagar as nossas fotos e nem os vídeos, não tenho forças para
apagar o seu contato. Por mais que eu queira fingir que o que aconteceu no
Havaí, ficou no Havaí, não consigo.
E é isso o que tem me dado dores de cabeça.
Aperto o botão do meu apartamento e o impulso do elevador me faz
ter uma leve vertigem. Quando estive no voo, passei mal também. Fiquei
preocupado em como todo aquele estresse estava afetando meu corpo. Fazia
tempo que eu não tinha uma dor de cabeça dessas.
É por isso que eu sei que os meus planos de agir como se nada
tivesse acontecido, não dariam certos.
O meu apartamento é o segundo, sendo de Mathew o primeiro e o de
Christopher, o terceiro e último. Não havíamos dividido aqueles imóveis de
acordo com a idade, mas também porque Chris adora dar festas e quanto
mais ele estivesse longe de perturbar as trigêmeas, melhor. Foi o que Mat
disse. Mas, sendo vizinho de teto do meu irmão mais novo, posso afirmar
que ele se comporta bem.
Infelizmente, há noites que ele não sabe se conter e trepa com as suas
ficadas de um jeito muito exagerado que fico com medo de Julie ouvir. Mas
ela é uma pré-adolescente, vive com fone no ouvido e às vezes vai até
dormir com eles, não consigo reclamar muito sobre isso, o aparelho acaba
sendo um ótimo aliado contra ruídos eróticos vindo do apartamento do tio
mais querido dela.
Acho que eu só tenho pensado na minha filha desde o momento em
que cheguei. Não tive a oportunidade de falar com ela enquanto estive no
Havaí, mas agora estou aqui então poderíamos ter várias conversas.
Mas é Julie, ela vai perguntar e me colocar contra a parede. Uma
versão mais nova de Melissa e Tasha quando o assunto é falar demais,
perguntar demais e ser muito autêntica.
O elevador para e a porta dupla abre, revelando o hall minimalista
do meu apartamento, com quadros alegres e mobílias de ferro e madeira.
“Como é bom estar em casa”, penso.
Empurro minhas malas para dentro do corredor e sou animado por
uma voz empolgadas e familiar:
— Ele chegou! Ele chegou!
Nem me dou tempo de preparar quando Julie surge sorridente e pula
nos meus braços, exatamente como ela sempre gostou de fazer, mas mais
ainda quando tinha sete anos. Agora ela tem quase 14, seu aniversário será
daqui um mês, e não pula muito em meus braços com tanta frequência, acha
que excesso de carinho é brega e fica tentando encontrar uma namorada para
mim.
— Que saudade, minha princesa! — A aperto em meus braços e ela
protesta quando falo o apelido dela de infância.
— Pai, você está me sufocando — diz com a voz abafada em meu
ombro.
— Oh, me desculpe, minha querida. — A deixo no chão e seguro em
seus braços enquanto me inclino para a frente e a observo melhor.
Meu Deus, Julie sempre foi a cara da Melissa. Ela tem o meu sorriso,
mas os olhos, o rosto, o nariz e a personalidade lembram muito a falecida
mãe. Esses detalhes logo depois que Melissa faleceu foi um tanto difícil para
mim; Julie era muito pequena, mas entendia o que havia acontecido e me
desculpava todas as noites, um pouco a Julie e um pouco a Melissa.
A morte da minha esposa quase foi a minha ruína, mas felizmente,
Julie sempre foi a minha salvação.
— Você cresceu tanto nesses últimos dias — comento enquanto
analisava cada centímetro do rosto dela... Havia alguma coisa... — Está
diferente, meu amor.
Ela revira os olhos.
— Passei gloss, pai. E um pouquinho de rímel nos cílios — diz como
se a minha ignorância a deixasse entediada.
— E essa produção toda é para mim? — pergunto me sentindo.
— Sim, mas depois vou precisar ajudar a Rachel com as trigêmeas.
Nós vamos até o Stanley Park tomar sorvete.
Passo a mão em seu cabelo solto e partido ao lado, castanhos
exatamente como os de Melissa eram.
— Papai mal chegou e você já vai.
Ela faz uma carinha que já sei o que vem por aí.
Pedi a Christopher que não dissesse nada, mas Julie tem acesso à
internet, não é difícil que ela tenha visto alguma coisa minha com Tasha em
um desses sites de fofoca.
— Pai, o senhor precisa descansar um pouco. Eu sei que não tem
sido fácil, então me desculpe por ter te metido nessa — diz tristinha
enquanto tira a poeira invisível do meu ombro.
— Não foi culpa sua, meu amor. Ninguém tem culpa quando o outro
ser humano age de má fé.
Ela estreita aqueles olhos negros e pequenos na minha direção e diz:
— Não acho que Tasha tenha feito algo ruim, mas você precisa lidar
com toda situação que fizeram em cima disso — explica como uma adulta
esperta, mas sempre mantendo o seu jeito doce e cuidadoso de falar.
Minha pequena adulta.
— Que situação? — indago.
Ela não me responde porque uma terceira voz surge vindo da
cozinha:
— Para que você tem a porra de um celular se não responde às
mensagens e não atende nenhuma ligação? — Christopher diz com a sua
habitual falta de noção e carranca matinal.
Levanto e aponto o dedo na sua direção.
— Não use palavrões quando Julie estiver por perto — alerto.
— Tudo bem, pai. Sempre ouço palavrões na escola. — Dá de
ombros com normalidade e o canalha do meu irmão mais novo alarga o
sorriso achando aquilo engraçado.
— Como é? — Isso me deixa surpreso.
— É isso mesmo, mas não os pronuncio, é feio demais. — Faz uma
careta e Christopher se aproxima.
— É feio ainda mais para uma garota da sua idade. Mas quando você
aprender que pronunciar alguns é libertador, você não vai mais querer parar
— meu irmão diz.
— Chris... — chamo sua atenção.
— O que? — Arregala aqueles olhos verdes e o sorriso debochado.
“Vai se foder”, falo mentalmente e ele parece me entender. É coisa
de irmão, um dom que vem com a gente.
— Posso deixar vocês dois conversando agora — diz e fica na ponta
dos pés para me beijar na bochecha. — Rachel e as trigêmeas estão me
esperando lá embaixo.
— Tudo bem, querida. Estava com muita saudade. — Beijo o topo da
cabeça dela que tem cheiro de baunilha.
— Eu também, papai. Mal vejo a hora de assistir um filme e comer
pipoca com o senhor. — Os olhos dela brilharam só de dar ideia.
Filme e pipoca é uma das nossas programações favoritas juntos.
Ela acena para Chris e vai até o elevador. Ficamos olhando até que
ela esteja dentro e as portas fecham.
— Malandrinha. Armou tudo e no final sai sorrateiramente deixando
toda a bagunça para mim — Chris reclama de braços cruzados ainda com os
olhos no elevador.
— Você vai mesmo culpar uma menina de 13 anos? Vai negar agora
que não teve dedo nisso também?
Ele ergue as mãos em rendição.
— Calma aí, como poderíamos imaginar também que daria errado?
Estreito os olhos em sua direção de forma especulativa. Christopher
é um canalha mesmo, mas é considerado dentre nós o mais manipulador pela
sua beleza jovial. Ele parece ter saído dessas revistas de modelo por conta
dos seus músculos bem trabalhados e do rostinho bonito que é uma mistura
perfeita dos nossos pais.
O pior de tudo é que o desgraçado sabe disso, e por isso, é arrogante
e enxerido, e as mulheres o amam por isso. Deve ter alguma beleza em ser
um cafajeste como Chris, mas juro que não compreendo. Já cheguei a vê-lo
trazer duas mulheres para o seu apartamento e gastar quase dez mil numa
noite só; era demais para a imagem dos Mackenzie, mas isso foi o que ele
ganhou e se deu ao ter passado por dois casamentos desastrosos.
Ele costumava acreditar fortemente no amor, já hoje já não sei mais
se tem as mesmas convicções.
— Primeiro, nem deveriam ter me enfiado numa coisa dessas —
retruco.
— Mas você foi.
— É, eu fui. Costumo cumprir as promessas que faço a Julie.
— Cara, é melhor um pássaro na mão do que dois voando. — Se
aproxima e dá dois tapinhas no meu ombro, depois me dá um abraço
amigável. — Mas é uma pena que não tenha dado certo, mas ainda acho que
você precisa pensar melhor sobre tudo isso.
Quando ele afasta, lembro de algo:
— Que situação é essa que Julie mencionou? — pergunto incrédulo.
Christopher faz uma careta e volta para a cozinha. O meu
apartamento é conceito aberto, igual ao de Mathew, como temos filhas, é
preciso ter um bom ângulo de todos os cômodos e saber o que está
acontecendo.
Ele vai até o meu armário onde guardo uns destilados e pega uma
garrafa de uísque.
— Madison Brown está magoada, irmão — diz enquanto pega três
copos e me pergunto onde está Mathew e se o terceiro é para ele, — A
gatinha veio a público dizer o que aconteceu e se diz muito triste e
arrependida de ter escolhido o Paris Fashion Week, mas que já ia entrar em
contato pedindo outra chance a você.
Contorno a ilha de granito branco da cozinha moderna e pego o copo
que ele me serve.
— E parece que ela fez a caveira da Tasha para o mundo. Dizendo
que ela é uma dissimulada e manipuladora, tanto que conseguiu fazer você
acreditar que ela era a Madison Brown. Mas na verdade você não sabia de
nada, nem quem era uma ou quem era a outra. — Gesticula exageradamente e
sorri. — Cara, você é o meu novo herói.
Fecho os olhos lentamente enquanto processo o peso dessa
responsabilidade. Isso significa que, por ter vindo a público, terei de me
retratar com Madison, preciso me posicionar e dizer o que penso a respeito
de Tasha.
“Droga, Tasha!”
Me pergunto como ela estaria enfrentando esse novo caos em sua
vida.
— E o pai e a mãe? — pergunto pegando o copo de uísque, mas não
conseguindo tomar um gole daquilo sequer.
Estou de estômago vazio e embrulhado. As doses que tomei na noite
anterior ainda estão no meu organismo, bem como os conselhos do barman.
— Ah, boa pergunta. — Chris senta do outro lado do balcão, de
frente para mim. — Mamãe já sabia que você tinha viajado com uma mulher
para o Havaí, mas aí o Fernandes ligou dando a eles os parabéns pela nova
membro da família e a mamãe perguntou que porra você andava escondendo
dela. Já papai ficou feliz por você.
Não consigo deixar de sorrir.
Mamãe sempre tão ciumenta e odiando ser a última a saber das
coisas; ela é uma sogra difícil de se conquistar, Melissa foi a única que
conseguiu essa proeza. Mas meu pai sempre foi mais liberal com a gente em
relação à nossa vida pessoal, ele diz que devemos aproveitar mesmo. No
entanto, quando se trata das netas ele é um herói em armadura de bronze. Na
última vez em que o vi, por exemplo, ele estava puto da vida com Mathew
que não passou a Páscoa com as trigêmeas.
Ficamos bem irritados também.
— Não sei por onde começar — digo por fim, completamente
perdido.
— Tente fazer o que Julie aconselhou. Descanse um pouco e pense
sobre isso depois.
Olho para o terceiro copo vazio.
— Mathew não vem?
— Deveria, mas é Mat. Só Deus sabe o que ele está fazendo. — Meu
irmão bebê um pouco do uísque e completa: — Deveria estar com a gostosa
da babá, mas com certeza deve estar no escritório.
— Mais respeito com a Rachel, idiota — digo afastando o copo. —
Preciso deitar, peça que Marlene não mexa em minhas malas. Eu mesmo me
ocupo com isso depois.
Marlene é a nossa empregada, que está mais para governanta. Ela
vive com a gente e foi a que mais me ajudou a cuidar da Julie. Sou grato a
ela e por isso a colhi aqui em casa com um emprego e todos os benefícios
que ela merecia. Imagino que deve estar em um dos quartos ocupada com os
deveres.
Quando me afasto da ilha da cozinha rumo ao meu quarto,
Christopher me detém com uma pergunta inesperada:
— Você estava gostando mesmo dela?
Percebo o quão genuíno foi, e quão ele espera pela resposta
verdadeira.
Viro de lado e penso numa resposta. Talvez descobrisse melhor só
agora que não estamos mais tão perto e que fui magoado; este sentimento
pode mudar mais rápido do que eu esperaria. No entanto, penso nos dias que
vivemos juntos no Havaí.
Pensar na resposta faz o meu coração doer, mas mantenho a firmeza.
— Como nunca havia gostado de alguém desde Melissa. — Há dor
em minha voz.
Ele assente e percebo que engole seco.
A minha falecida esposa era a sua melhor amiga. Foi através dele
que a conheci e fiquei louco por Melissa. A sua morte foi um eterno luto
para mim, só Chris e Mat sabem o quanto sofri e me abstive de tudo por
causa da dor e vazio que me acompanharam por tanto tempo.
Se usei essas palavras para dizer o quanto me envolvi com Tasha,
Christopher deve imaginar que a coisa é mais séria do que ele esperava.
— Bom descanso — diz e vou para o meu quarto.
Marlene caprichou na arrumação. Lembro de ter deixado isso aqui
uma zona quando estava me arrumando de última hora para a viagem. Agora
está tudo muito bem arrumado; no lado esquerdo, a cama ampla coberta por
um jogo de lençóis cinzas e com dossel de bronze, flanqueada por criado-
mudo de madeira e abajures lustrosos, do outro lado do quarto, uma enorme
TV e um sofá de três lugares. Há uma porta para o closet e banheiro, e corro
para a vista que tenho dali do meu quarto.
A janela é ampla, um painel de vidro que me mostra uma Vancouver
imaculada ao fundo. Vejo os arranha-céus e os prédios menores, à esquerda
está o Park onde as meninas vão passear. Mas fico mesmo imaginando que,
em algum desses lugares à minha vista, Tasha deve morar.
Ela também é de Vancouver. E só Deus sabe o quão eu agradeci por
não saber o seu endereço, porque o contato eu já tenho e precisarei ser forte
para não ligar ou mandar mensagem, ainda não tenho coragem de apagá-lo.
Mas não quero pensar o que eu iria precisar conter caso tivesse o seu
endereço.
Antes de dormir, me imagino batendo à sua porta.
Odeio ter que me importar tanto.
••••
Naquela noite, Julie e eu assistimos dois filmes e comemos pipoca.
Pergunto como foi a semana dela e peço que me conte detalhadamente por
que quero evitar o assunto da Tasha e a confusão que Madison causou.
Antes disso, havia procurado na internet alguma coisa a respeito e
alguns sites falavam sobre o imobiliário milionário que levou o golpe de
uma empresária e partiu o coração de uma modelo iniciante, tudo numa
mistura só. Todos eles diziam basicamente o que Christopher já havia me
dito mais cedo. Mas havia alguns detalhes que eu não sabia, como na última
entrevista dela a um blog de fofoca, Madison diz que não entendia como
pude acreditar tão facilmente que Tasha não era ela.
Toda história parecia confusa demais e, por fim, acabo percebendo
algo ao qual vim ignorando desde que eu deixei o Havaí: a culpa é tão minha
quanto a de Tasha. O fato de só nós sabermos que eu não tomava frente das
decisões daquele encontro, tornava todo caso confuso e cheio de pontas
soltas.
Um prato cheio para os detetives online de prontidão.
No outro dia, logo no café da manhã, recebo uma visita de Mathew. É
pleno domingo, mas o cara está todo social e vive com aquela carranca
habitual de quem está tendo um dia estressante no trabalho.
Estou na mesa que fica ao lado da janela que vai do chão ao teto,
dando uma visão incrível para o centro de Vancouver. O vejo entrando
enquanto não largo meu café e Julie está colada ao seu celular. Talvez a
gente deva conversar um pouco melhor sobre o uso excessivo do aparelho,
mas só quando esta maré abaixar.
— Olha só ele, se não é o Mackenzie mais cobiçado do momento —
chega falando. — Desse jeito você deixa o Chris triste.
Apoio a xícara na mesa.
— Pelo visto você acordou de bom humor.
Ele para a uns metros e fecha a cara. Mathew é o mais velho de nós,
mas quase não parece ao julgar pela aparência arrogante e máscula dele. Na
verdade, o julgam como vinho, quanto mais velho, melhor. Ele tem a barba
num tom gradiente entre o preto e alguns pelos brancos, não liga em mostrar
que está envelhecendo. Para essas coisas Mat é bruto igual ao nosso pai. Ele
é alto igual Chris e todo musculoso, mas faz tempo que não o vejo treinando.
— Na verdade, Bruce, eu não estou de bom humor. — Cruza os
braços e suspiro já sabendo o que viria aí. — Enquanto você foi tirar férias
no Havaí com sabe–lá–quem, fiquei por aqui segurando sozinho as pontas
do nosso conglomerado imobiliário.
— E Christopher? — Franzo o cenho para ele, preocupado.
— Chris precisa de juízo naquela cabeça dura ou juro que compro as
ações dele. E não acho que ele irá hesitar. Graças a Hillary não enlouqueci
nesses últimos dias. — Se irrita.
Faço uma careta, como se o nome de Hillary me fizesse lembrar de
algo muito azedo. Ela não é a minha pessoa mais favorita no mundo, mas tem
um ótimo olhar para os negócios; ela sempre dá as melhores ideias de
estratégia e criatividade, porém, as suas ações dentro da empresa não dão
nem para ela sequer mandar em um andar da Mackenzie Enterprises.
— Você teria que vender as suas ações se quisesse comprar as de
Christopher — digo por fim e volto a tomar o meu café.
Mathew fecha os olhos e respira fundo para não surtar na frente de
Julie, ou quem sabe, para não me estressar mais do que já estou porque com
certeza ele sabe o que está conhecendo.
— Escuta, vou precisar de você focado. Daqui duas semanas vamos
ter a convenção de hotelaria, vai estar todo mundo lá e precisamos mostrar o
nosso novo projeto, Bruce.
Sinto que o café amargo alfineta bem meu cérebro, fecho os olhos
com força e engulo um palavrão ali na frente de Julie.
“Puta merda!”
A Convenção Anual de Hotelaria marca um evento no ano onde os
nomes mais prestigiados no ramo imobiliário mostram seus projetos para o
público e imprensa. A Mackenzie Enterprises é uma das mais aguardadas da
noite, porque fomos pioneiras no evento e sempre trazemos inovações
principalmente em parceria com os melhores engenheiros, ou seja, esse
evento é muito importante para Mat porque ele passa quase um ano
planejando novos modelos de construção e esse ano não será diferente. O
mesmo para Christopher, que o ajuda e é seu alicerce durante a construção
do projeto.
Eu como formado em advocacia, peso mais para o lado burocrático
da empresa. Por isso sei que, se Mat quisesse comprar as ações de Chris, ele
não só teria que vender as ações dele, mas como também teria que ralar
muito para conseguir isso.
— Eu sei — digo a ele. — Segunda vou para o escritório e ficar por
dentro dos últimos preparativos. Não se preocupe, está tudo em ordem.
Mas Mathew me olha de um jeito especulativo.
— Está mesmo? Será que a sua cabeça não está no Havaí ainda?
Apoio os antebraços sobre a mesa e fico o encarando também.
Nós dois podemos ter nossas desavenças, não tanto quanto ele tem
com Christopher, mas como Chris é o mais novo, sempre foi Mat e eu, para
tudo. Ele só se distanciou mais de mim quando foi traído e mudou
completamente; às vezes sinto falta daquele nosso companheirismo, mas
acredito que Mathew tem muito ainda a aprender depois disso. A começar
como lidar com as trigêmeas.
— Aquilo não foi nada. — É só o que consigo dizer e quando olho
de rabo do olho, vejo que atrai a atenção de Julie que me olha de um jeito
desconfiado.
— De um jeito ou de outro, dê um jeito nisso, cara. — Aponta o dedo
para mim como um aviso. — Ou então essa coisa vai tirar o foco do que
verdadeiramente importa no dia da convenção.
Disso tenho certeza e ele sabe muito bem do que está falando porque,
na época em que Abigail o traiu, mesmo tendo sido seis meses antes, a
imprensa lembrou, e era só o que eles sabiam perguntar a Mathew que ficou
louco e terminou bêbado na cozinha. Tivemos que socorrê-lo e tirá-lo pelas
portas dos fundos.
— Mathew, relaxa. Já estou pensando em tudo, eu só preciso respirar
um pouco. — Solto um suspiro pesado.
Ele troca o peso dos pés e relaxa mais a postura de irmão valente.
— Qualquer coisa, sabe onde eu moro — diz, mas entendo, “quando
quiser conversar de irmão para irmão enquanto bebemos uma cerveja,
sabe onde eu moro”. Duvido muito que o encontre por lá.
Ele acena para minha filha:
— Olá, Julie.
— Oi, tio Mat.
— Fique de olho no seu pai.
— O tempo todo — diz sorrindo.
— Tenham um bom dia.
Mathew vira e vai embora. Ele chama o elevador, em segundos já
está dentro dele e antes mesmo que a porta esteja se fechando, Julie larga o
celular e desaba a costa no encosto da cadeira.
— É tudo culpa minha — diz cabisbaixa.
Viro para ela e levanto o seu queixo.
— Eu já disse, isso não é culpa sua. Você sempre tem as melhores
intenções e eu sempre irei ouvir o que o seu coração diz.
— Mas fui eu que inventei isso e ainda fui despreparada. Deveria ter
tomado todos os cuidados possíveis, eu só queria que o senhor tivesse
alguém.
Abro um sorriso e pela primeira vez o meu coração se enche.
— Meu bem, eu tenho você.
Seu sorriso é genuíno.
— Aí, pai, deixa de ser tão babão! — reclama e fico surpreso; a
minha Julie está crescendo mesmo. — Você sabe o que eu quis dizer. O
senhor precisa de uma namorada, ou então vai viver encalhado.
— Eu gostava mais de você quando não conhecia essas palavras —
protesto e ela começa a rir.
— Vai aguentando. Além do mais, tenho tios incríveis para
aumentarem o meu vocabulário. — Levanta e começa a tirar a mesa.
Julie odeia ter que ver Marlene tendo trabalho com coisas simples
que normalmente podemos fazer.
Reviro os olhos.
— Que sorte as trigêmeas terem a mim como tio — comento e sinto
um beijo seu no topo da minha cabeça.
— E eu tenho sorte de ter você como pai.
Olho para cima e abro um sorriso. Julie sempre vai ser a minha
maior certeza na vida.
— Eu amo você, Julie.
Ela se afasta com os pratos em mãos, enquanto pego as xícaras da
mesa, ela já está a caminho da cozinha quando vira.
— Ah, e o único coração que o senhor precisa ouvir aqui é o seu —
aconselha e vai para a cozinha.
Parte minha está abobalhado com a sua maturidade.
Desde quando Julie fala coisas tão sensatas?
Desde quando os conselhos de uma garota de 13 anos me deixaram
tão pensativo sobre tudo o que venho sentindo?
Não sei se isso é a vida me mostrando um sinal, e Julie o anjo que eu
deveria ouvir. De qualquer forma, se eu ouvir o meu coração, sou capaz de
chorar.
TASHA
“Há males que vêm para o bem.”
Se eu ouvisse essa frase três semanas atrás, poderia dizer que a
pessoa que a fala teria que ser de um desenvolvimento emocional acima da
média para poder ver o lado bom do caos e as coisas boas que ele traz.
Mas acho que agora compreendo.
Sentada de frente para o gráfico que Lili nos mostra em uma TV de
tela plana da nossa sala de reuniões, consigo compreender o que a desgraça
final da minha viagem com Bruce ao Havaí resultou, números...
Números crescendo constantemente.
Sejam eles em número de seguidores, ou a quantidade de vezes que o
nome do site 14 Dias Casados foi pesquisado na internet.
Estamos no holofote.
Eu também sou assunto, mas de um jeito nada agradável. E essa
reunião é para justamente observarmos o que resultou isso tudo, um site de
relacionamentos na boca do povo e uma empreendedora com fama de
golpista. Não sei se dá para ficar pior, mas repetindo mais uma vez, há males
que vêm para o bem.
— Tivemos uma procura significativa de clientes interessados no
pacote Gold em menos de uma semana! — Lili revela ao lado da tela,
vestindo seu terninho feminino e com o seu cabelo black power amarrado.
— Também obtivemos um lucro de 30% e esse número só irá aumentar
enquanto Tasha estiver na mídia.
Os olhares pesam sobre mim e olho de volta com reprovação.
A nossa equipe de seis pessoas se uniu rapidamente para essa
conversa que eu vinha procrastinando desde que voltei para o trabalho como
se nada tivesse acontecido. Mas nove dias depois, aqui estamos discutindo
sobre o futuro da empresa e como a minha imagem está afetando a ela
diretamente.
— Você deu uma parada com os vídeos no Instagram — diz Ryan,
gerente de RH que contrata os melhores estagiários.
Ele é nova-iorquino e tem um jeito bem excêntrico com o seu cabelo
rosa e os olhos repuxados.
Desliza o seu dedo com anéis sobre a tela do iPhone e provoca:
— Cansou da vida de blogueira, foi?
Reviro apenas os olhos.
Ele adora uma discórdia, mas o pior tipo de pessoa que poderia
desejar uma desavença, seria comigo, a sua chefe.
— Não tenho me sentido bem — digo entediada, sentada de um jeito
desleixado na cadeira giratória.
— Eles querem saber se você irá comparecer à convenção de
hotelaria de luxo. — Erin franze o cenho ao meu lado, de um jeito calculista.
Eu sei por que todos estão me olhando deste jeito e se dirigindo a
mim desta maneira.
Basicamente, desde que voltei para Vancouver nunca precisei ficar
tão ativa nas minhas redes sociais como tenho ficado nos últimos dias.
Primeiro, com a ajuda das minhas amigas nos bastidores, precisei reportar o
que havia acontecido para eu me meter naquela viagem com Bruce. Achei
que os ataques parariam e que eu seria entendida, mas só fez piorar.
Fui acusada de muitas coisas, mas principalmente, de apática por não
ter me importado com os sentimentos de Bruce e não o ter alertado quanto
antes sobre o que estava acontecendo.
E por falar em Bruce, o cara simplesmente resolveu sumir do mapa.
Ele também deu uns pronunciamentos, mas foi vago e breve, não parece ter
alimentado muito a curiosidade dos fofoqueiros de plantão porque ele é
muito requisitado ainda para uma explicação melhor. De qualquer forma, ele
age com abnegação e acontece que não só os curiosos ficam na mão, mas eu
também.
— E por que eu apareceria? — pergunto incrédula.
— O site tem muitas parcerias com hotéis que estarão presentes no
evento, Tasha. — Erin explica de um jeito efusivo; acho que nem ela está
mais aguentando o fato de eu estar nas nuvens nos últimos dias. — É
esperado que a equipe por trás do 14 Dias Casados vá prestigiá-los, e
depois, atualizarmos as informações aos clientes sobre as novidades que
virão por aí.
— E eu preciso mesmo ir? Temos você para isso, é a nossa porta-
voz.
Erin abre a boca para falar, mas é Ryan que se mete.
— Você precisa ir por vários fatores óbvios, queridinha — Ryan diz
mordiscando a cabeça da caneta fazendo o seu anel de casado reluzir.
Ele veio morar em Vancouver depois que se casou com o seu marido.
— Uma delas é como você deve aparecer gostosa e mostrar para o
Mackenzie o que ele está perdendo.
— Ah, nem comece — protesto e ele se diverte com a minha falta de
humor.
— A imprensa vai estar louca e com certeza vai perguntar. Será um
ótimo momento para se retratar e ao mesmo tempo, dar um gelo em Bruce —
Erin explica.
— E por que eu faria exatamente isso? — pergunto abismada.
O que eu mais queria é que ele conversasse comigo e me fizesse
acreditar que as coisas estavam bem de novo entre nós.
— Porque se Bruce está agindo como se nada tivesse acontecido,
está na hora de você fazer a mesma coisa — Lili diz.
Erin repuxa a boca em um sorriso triste e completa:
— Está na hora de colher os frutos da árvore que você sacudiu.
Fico olhando atentamente para minha equipe enquanto esperam uma
resposta minha, mas ainda tenho dúvidas.
— Se eu der um gelo em Bruce, as pessoas não iriam perder o
interesse em saber mais sobre o site?
— Acontece que o site ganhou a visibilidade que já deveria. — Lili
explica. — Ele está "na moda", e as pessoas não sabem falar sobre outra
coisa. — Faz aspas com os dedos no ar.
— Pelo menos não ganhou uma imagem ruim como a minha —
comento.
— Bem, isso é relativo. — Erin diz com um sorriso sem graça. —
Ao mesmo tempo que ganhamos novos admiradores e clientes, também
ganhamos opiniões adversárias ao nosso negócio.
— É um risco? — pergunto preocupada.
A última coisa que gostaria de saber é que, por causa de mim e das
minhas ideias mirabolantes, acabei dando o fim do site e emprego de muitos.
Felizmente, Erin dá um sorriso reconfortante e sagaz.
— Fale bem ou fale mal, mas fale. Já ouviu esta frase, Tasha?
Aceno e ela continua:
— Você foi até o Havaí e encontrou em toda essa situação o tesouro
perdido que só vai enriquecer o site.
Ryan interfere:
— É claro, com a taxa que a dona do site em si sofre e sofrerá
gradativamente com isso, que no caso é você.
Arqueio as sobrancelhas em surpresa.
Tudo bem que eu faria tudo por meu trabalho, mas a minha imagem
está começando a se vincular ao site, se as pessoas me odeiam, elas irão ver
o nosso negócio de outra forma. Ninguém sabe separar as coisas de outra
forma hoje em dia, os juízes da internet são muito bons nisso inclusive.
No entanto, parece que a minha equipe já tem tudo planejado. Sei
disso melhor quando Erin levanta e começa a mostrar o gráfico que ela criou
a respeito da nossa imagem comercial.
— As pessoas têm duas fases: a primeira, elas julgam algo que
parece errado, ficam raivosas e expressam isso na internet, a segunda, é que
depois de um pedido de desculpas e uma repaginada no visual, eles
começam a entender que você é uma nova pessoa e não aquilo que a mídia
mostrou no primeiro momento.
— É aí que você entra na convenção. Vai se desculpar em frente às
câmeras e responder o máximo de perguntas que fizerem. — Lili
complementa o plano. — Se Bruce tem se mantido em silêncio até agora,
nada será diferente no dia do evento. Então você fará o mesmo em relação a
ele. As pessoas vão ver que cada um está seguindo a sua vida e deixarão de
atacar você e o site de forma negativa.
Pisco atordoada quando isso parece o que tenho entendido.
— Então não devo procurá-lo?
As duas balançam a cabeça.
— Não. Para o seu bem e do site — Erin diz com uma calma
pungente.
Não sei por que isso me dói, mas dói muito. Quero ignorar essa dor
que me incomoda logo que o pensamento de desistir de Bruce corre pela
minha cabeça. Não é como se eu tivesse esperanças entre nós dois, mas
esperava que mantivéssemos ao menos um relacionamento amigável, e eu
sinceramente não vejo o motivo dele me afastar, mesmo depois de tudo.
Será que ele teria mesmo a capacidade de ignorar tudo o que
sentimos?
Não quero acreditar que de um jeito ou de outro, com o fim das duas
semanas no Havaí, Bruce pensava em se afastar como tem se afastado
gradativamente agora.
— Tasha, isso precisa ser feito ao menos por cinco meses. É o tempo
máximo que as pessoas levam para esquecer das coisas — Erin explica,
sentida pela minha situação.
“Ela sabe que eu gosto dele.”
— A equipe de Bruce deve estar o aconselhando a fazer a mesma
coisa, sabia? CEO's odeiam ter que ver suas vidas íntimas associadas a
imagem de sua empresa, ainda mais quando ela envolve outras pessoas de
peso por trás. E a Mackenzie tem Mathew e Christopher, além de Thomas, o
patriarca da família.
Ela consegue me deixar pensativa. Por muito tempo pensei que isso
ficaria tão feio por parecer insensível demais e ambicioso, mas agora parece
que Bruce e eu temos questões em comum a tratar, nosso trabalho.
E eu não estava errada quando pensei que ele faria qualquer coisa
pela empresa assim como eu fiz, mas agora ele está mais focado e parece
finalmente com os pés no chão.
Precisamos arrumar a bagunça que fizemos.
Quando estou prestes a dar a minha resposta para isso, duas batidas
leves na porta me atrapalham e ela abre. Pela fresta, a secretária coloca a
cabeça e pede desculpas pelo incômodo, mas volta a sua atenção para mim:
— Senhorita Alexander, você tem visitas.
Viro para ela com cenho franzido.
— Não fiquei de receber visitas hoje. De quem se trata?
A mulher faz uma carinha de cachorro sem dono. Deve estar
preocupada em como irei reagir a sua resposta.
— Ela não quis falar, disse que deveria ser uma surpresa — diz e
ressalta logo em seguida: — Mas ela parece muito com a senhorita.
Arregalo os olhos na hora.
“Não, ela não teria a coragem de vir até o meu trabalho!”
— Ok, já estou indo. — Levanto e a secretária fecha a porta. Olho
para a minha equipe e forço um sorriso. — Obrigada por terem
comparecido, prometo que em breve darei uma resposta.
Antes de eu sair, Lili e Erin me barram. Elas estão com uma cara
fechada e de poucos amigos.
“Elas conhecem toda a minha história e sabem de quem se trata.”
— Podemos ir com você. — Lili diz. — Faz um mês que comecei as
aulas de boxe, mas já tenho um soco bem preciso.
Olho para os dedos dela assustada, vendo em sua expressão que
poderia ser capaz de machucar alguém para me manter protegida.
— Tá tudo bem. Dessa aí eu sei exatamente como cuidar — digo em
um tom entediado.
— Eu sempre quis pular no pescoço dela — Erin confessa e não me
surpreendo pelo seu jeitinho agressivo.
Mas sei que ela nunca faria algo do tipo.
— Não terá problema, meninas. Mas juro que qualquer coisa eu
grito.
Elas não parecem muito confiantes disso, mas deixam rolar.
— Vamos ficar por perto — Lili diz.
Aceno para elas e me despeço da equipe.
Pela primeira vez no dia me sinto com energia, mas ao mesmo tempo
cansada em ter que lidar mais uma vez com a minha irmã possessiva que não
sabe o significado da palavra limites.
E para Charissa ter que vir até o meu local de trabalho, é porque ela
não me atormentou o suficiente ainda.
A encontro no meu escritório, de frente para a enorme janela que dá
para a Robson Street, mas não é para o moderno centro comercial que
Charissa está olhando. Logo abaixo da ampla tela de vidro, há uma longa
mesa de canto, com alguns livros e quadros espalhados em sua extensão. A
observo olhando cada um, quando um riso sôfrego escapa os pulmões.
— Nenhum quadro da sua família — comenta dispensando
formalidades.
Olho automaticamente para a foto do nosso pai no centro da mesa.
Embora eu saiba que ela esteja falando da ausência de uma foto dela e da
nossa mãe.
— Tenho uma foto do pai bem ali. — Mesmo que ela esteja de costas
para mim, aponto para a foto dele, uma que tiramos no Dia dos Pais e ele
estava fazendo o que mais gostava de fazer, pescar.
Charissa solta um som de desprezo e fecho a porta atrás de mim,
sabendo que Erin e Lili estão há duas mesas perto do cômodo.
— Ele nos abandonou quando ainda éramos adolescentes.
Fecho os olhos pacientemente, sabendo que isso é algo que a nossa
mãe implementou na cabeça de Charissa ainda nova. No passado, ouvir isso
me deixava muito mal, agora consigo conter melhor a fúria que me
transpassa ao ouvir tal alucinação.
— Papai foi morto durante o trabalho dele, Charissa — refuto, e nem
sei por que ainda me dou o trabalho de relembrar. — Você sabe disso. E
nunca entendi por que começou a acreditar no contrário.
A faço virar bruscamente na minha direção. Mágoa e raiva iluminam
seus olhos tão parecidos com os meus; verdes e expressivos.
— Era uma profissão perigosa! — exclama duramente. — Mamãe e
eu o alertamos diversas vezes que corríamos o risco de ficar sem ele. —
Quando ela dá um sorriso irônico, sei o que vem em seguida com a sua voz
de desprezo: — Mas ele preferiu ser o herói que você sempre quis que ele
fosse. Fazer você acreditar que outras vidas eram mais importantes que a
dele mesmo.
Engulo farpas, mas não perco a voz.
— Papai era um sonhador. Ser policial sempre foi o sonho dele, e ele
acreditava sim que valia a pena se arriscar por outras pessoas.
— Bem, se você o apoiava por isso, está feliz por ele estar morto
agora? — diz com desprezo e um arrepio frio percorre minha espinha.
— Você sempre vai usar isso contra mim porque não tem mais nada o
que jogar na minha cara, não é?
Ela dá um sorriso sagaz com aquele seu bocão preenchido de batom
vermelho. Só então percebo que fiz uma pergunta besta quando ela rebate:
— Na verdade, Natasha, apareci aqui para te fazer uma pergunta. —
Dá dois passos em seu sapato de salto alto, os ombros bem aprumados e me
olha como se eu fosse um inseto: — Quem é a golpista agora?
— Você — friso com vontade e ela mostra os dentes branquinhos e
alinhados.
— Tão ressentida. Vamos lá, confesse que encontrou de novo a
galinha dos ovos de ouro e aproveitou a oportunidade.
Cruzo os braços diante dela.
Posso ser a mais nova e um pouco mais baixa; não tenho a mesma
crueldade dela, mas não tenho medo de Charissa e posso ser tão víbora
quanto ela.
— Eu não sou você, Charissa — cuspo as palavras. — Não queira
me diminuir diante de uma situação que você e a Madison criaram para cima
de mim.
— Ah, Natasha, o mundo é dos espertos. Não colocamos você nessa
situação, você se colocou. A tadinha da Madison tem sido bem recepcionada
pelas pessoas enquanto você aí, sendo bombardeada.
— Eu, mas o meu site, não — digo com um sorriso vitorioso
estampado no rosto.
Ela me olha incrédula enquanto ando até a minha mesa de vidro
ostentando um iMac e sento na minha cadeira de escritório.
— Você achou mesmo que não nos colocaria nos holofotes com todo
o barraco que armaram?
Vejo uma onda de inveja contorcer seus lábios em desgosto e sorrio
com isso.
— Que bom para você, conseguindo sucesso usando outras pessoas
para isso.
— Desde o início não foi a minha intenção usar Bruce e Madison.
Teríamos feito de outro jeito se vocês duas não tivessem organizado todo
esse escândalo. Mas, é como você lida com a situação, não é? Usa outras
pessoas e passa por cima delas. Foi o que você fez comigo — disparo
ficando sem fôlego no final, mas pronta para outra partida.
Seu sorriso cruel volta a se abrir, doloroso, mas satisfatório.
— Você nunca vai esquecer aquilo, não é? Me julga por conta do que
ficou para trás.
Fico séria, espalmo as minhas mãos sobre a mesa e me inclino para a
frente.
— Julgo porque você me atingiu onde mais doía. Eu te amava,
Charissa — digo com a voz afetada quando as lembranças do passado me
atingem. — Sempre acreditei que você nunca seguiria os passos da nossa
mãe, mas me enganei feio.
— Eu não sou ela. Sou algo melhor, não vivo frustrada e não tive e
nunca terei uma filha tão decepcionante.
— Fala de você? Porque olhe para mim. Levei muita porrada na
vida, mas não acho que esteja na minha pior fase.
Minhas palavras são piores que facas de dois gumes, mas Charissa
não me dá escolha. Se ela me ataca, eu preciso atacar duas vezes pior. Já não
sou a mesma garotinha que ela conheceu anos atrás quando me traiu, me
magoou e marcou uma guerra entre nós duas.
Mas não sei o que aconteceu. Pois mesmo depois de ter conquistado
aparentemente o que mais me fazia feliz, ela continua insatisfeita. Estreito os
olhos para ela quando uma dúvida cruel me inquieta:
— Todos esses esforços... Você causando esses nossos reencontros
indesejáveis depois de anos... — Suavizo a voz: — O que foi, Charissa?
Perseus está falindo?
Isso não a deixa contente, por isso a minha "amável" irmã pula na
minha mesa e bate uma mão sobre o vidro que estremece. Ela mostra seus
dentes como um animal que foi atormentado em seu ninho. Por um momento,
espero a sua língua serpentear para fora antes dela dar o bote.
— VOCÊ NÃO É DIGNA DESTA VIDA. DEVERIA VIVER DE UM
JEITO POBRE COMO SEMPRE GOSTOU. VOCÊ DIZ QUE EU ROUBEI
ALGO QUE ERA PRECIOSO PARA VOCÊ, MAS VOCÊ ROUBOU A
VIDA DOS MEUS SONHOS!
Eu já podia ver Erin e Lili correndo para o meu escritório e pulando
em cima de Charissa, mas nada acontece.
Fico imóvel, mas impenetrável diante das suas acusações. Ao menos
é o que eu quero mostrar a ela, pois por dentro estou enjoada e tonta com a
inveja escancarada de Charissa. Ela sempre foi perfeita, a preferida da
nossa mãe e agora me fala essas coisas. É até difícil de acreditar.
Pisco e ergo o queixo diante dela.
— Eu não roubei nada. Eu trabalhei duro. Coisa que você deveria
aprender a fazer — pronuncio com calma e elegância.
A porta atrás de Charissa é aberta abruptamente revelando Lili e Erin
afoitas, exalando ira.
— Algum problema por aqui? — A voz potente e intimidadora de
Lili preenche o ambiente.
Embora o silêncio, havia uma guerra entre olhares de irmãs que
sofrem com uma relação abalada.
— Não, Lili. Inclusive, a minha irmã já está de saída — digo sem
desviar o olhar.
A princípio, tenho a impressão de que Charissa nunca terminará
aquele contato visual porque ela nunca gosta de perder ou arredar o pé. No
entanto, parece que enfrentá-la só dá o gás que ela espera para continuar a
sua jornada.
— Eu trabalho duro, irmãzinha. Só que do meu jeito — diz baixinho
para mim, quase como uma ameaça.
Normalmente, isso não significaria muita coisa, mas Charissa
trabalhou de fato muito duro quando me roubou Perseus e através dele
conseguiu manter a vida de luxo que sempre sonhou.
Afinal de contas, foi um choque para ela e a nossa mãe quando
descobriram que Perseus era herdeiro de uma fortuna avaliada em milhões;
foi impossível de acreditar que aquela garotinha com jeito de moleca
conseguiu seu príncipe encantado, que estava mais para um príncipe de um
desastre de fadas. Foi quando elas formaram um complô contra mim, minha
própria mãe incentivou minha irmã a seduzir meu noivo porque ela o
merecia mais do que eu. Perseus foi fraco com a carne, além de ter
demonstrado que não me amava. Sofri por muito tempo com aquela traição,
mas tirei o melhor disso.
E agora, pelo visto, a mulher ambiciosa o levou à falência. E não sei
o que Charissa quer me perseguindo desta maneira. Se ela me pedisse um
emprego na empresa, seria mais fácil.
Mas por que eu acho que ela ainda envolverá Bruce mais a fundo
nisso?
Conheço a minha irmã e ela não o procuraria à toa também.
E é somente quando Charissa sai, que, aquele enjoo que sentia
esmagando minhas entranhas, fazendo tudo parecer ruim, sobe trazendo de
volta as coisas que tinha no estômago. Viro o mais rápido que consigo e
vomito dentro da lixeira. Ouço Erin fazendo um barulho de nojo enquanto as
mãos de Lili massageiam as minhas costas.
Vomito muito para a minha surpresa, mas assim que termino, Erin tem
o prazer em comentar:
— Eu entendo. Também tenho vontade de vomitar até as tripas
quando vejo essa Diaba. Tome. — Passa a caixinha de lencinhos que tenho
ali.
— Obrigada. — Pego um e limpo minha boca.
— O que ela queria? Ouvimos o grito da doida lá de fora — Erin diz
mostrando toda a sua aversão com Charissa.
— Me provocar, mas não sei, isso não é normal. Tem alguma coisa
que ainda não estou entendendo — digo atordoada me apoiando no encosto
da cadeira.
— Você disse que ela e Madison são amigas — Lili ressalta ficando
à frente da minha mesa ao lado de Erin. — Já sabemos que a Madison está
adorando tudo isso porque além de estar se saindo como vítima, está
ganhando mídia. Mas e a Charissa?
— Não sei, Lili, de verdade. Mas acho que ela e o marido estão indo
à falência — comento.
O casamento deles foi a coisa mais escandalosa que Vancouver
poderia apreciar. Custou tão caro que foi um dos casamentos mais ostentado
naquele ano. A lua de mel foi em Mikonos, na Grécia.
O casamento que eu planejava ao lado de Perseus não chegava nem
na metade do que foi gasto. Às vezes fico me perguntando se ele se
arrepende de ter feito essa besteira, mas como nunca pediu desculpa ou me
procurou, duvido muito.
— Bom, então diga a ela que não estamos com vagas abertas. Nem
para terceirizados! — Erin exclama.
Dou um sorriso xoxo para ela.
— Vamos colocar esse aviso na nossa porta — digo e elas riram.
Mas Lili logo fica séria e trata de assuntos mais importantes:
— E então, você tomou a sua decisão?
Eu sabia sobre o que ela queria saber. Isso no momento era mais
importante do que qualquer outra coisa, pois o evento é daqui uma semana.
Mas depois dessa visita horripilante da minha irmã, tenho uma
resposta para isso.
••••
Estou dentro de um vestido longo e preto bem acetinado, com uma
pequena faixa brilhante na cintura e de uma alça só no ombro direito. Coloco
as minhas melhores joias e faço um coque para que elas ficassem bem
visíveis esta noite. Em outras palavras, para que todos vissem o quão bem-
sucedida eu sou e não preciso dar golpe nenhum em homem rico.
Juro que mais cedo quase pensei em desistir da ideia.
Nos últimos dias não venho me sentindo bem, é muita carga de
estresse, tanto que as meninas até me pouparam de toda correria do trabalho.
Mas eu me empenhava mesmo estando a maior parte do tempo em casa.
Com muita insistência de Erin e Ryan, consegui relaxar e me achar
preparada para o evento. Me preparei por uma semana para esta noite, então
não tem como errar.
Erin contratou uma limusine, então chegaríamos com tudo no evento.
Quando o carro já está lá embaixo me esperando, Erin me avisa e preciso
sair às pressas, mas antes passo no apartamento de Lili e toco sua
campainha. Somos vizinhas então nesses passeios em grupo quase nunca vou
sozinha.
A minha CEO do setor financeiro aparece deslumbrante em um
vestido verde com camadas suaves. O seu cabelo está cheio de tranças e
amarrado no topo da cabeça em um rabo de cavalo poderoso. Lili é
um mulherão, ela sempre parece estar pronta para qualquer coisa, e nada
parece a abalar.
— Uau! — Babo nela. — Humilha menos, Lili.
Ela revira os olhos e fecha a porta do seu apartamento.
— Menos, Tasha. Bem menos, tá? — diz a mulher que é linda, mas
não acredita quando a melhor amiga diz isso.
Assim como eu, Lili tem um sério problema em se declarar linda e
gostosa. Às vezes a gente até sabe disso, mas não gostamos de declarar em
voz alta ou não acreditamos quando alguém reconhece.
Pegamos o elevador e descemos. Lili e eu atraímos olhares por onde
passamos. Mas quando chegamos na limusine e o motorista abre a porta,
ficamos babando também por uma Erin em um vestido vermelho com
detalhes em dourado que a faz ser mais temida do que o seu sarcasmo.
— Algo me diz que vamos abalar as estruturas do Mackenzie
Enterprises — declara animada.
O caminho para o prédio dos Mackenzie não é tão longo, porém,
Vancouver é agitada a noite e precisamos lidar com trânsito às sete horas da
noite. Mas não parece ser um problema quando minhas amigas e eu ficamos
rindo e conversando todo o trajeto.
Amo como elas me fazem esquecer o nervosismo e o incomodo
constante.
É só chegar mais perto do arranha-céu dos Mackenzie, que meu
coração acelera e começo a suar mais do que o normal. Queria ter controle
da situação, mas mesmo tendo planejado tudo, não sei como irei me sair e
como as coisas vão correr durante a noite.
O motorista estaciona a limusine na frente do prédio e mesmo dentro
do carro protegido por janelas escuras, a onda de flashes me dão náuseas.
— Tudo bem, Tasha? — Erin pergunta com cuidado.
Balanço a cabeça e olho para as minhas cúmplices.
— Responder às perguntas da imprensa e deixar nítido que Bruce e
eu não temos nada. — Traço o plano antes de sair da limusine.
— Evitá-lo o máximo possível lá dentro, só para ter mais veracidade
nas suas palavras — Lili lembra.
Respiro fundo.
— Ok, eu consigo.
“Eu vou tentar resistir a Bruce. Vou tentar não me atirar em seus
braços e sentir seu cheiro e seu toque mais uma vez.”
Preciso lembrar que vivi por muito tempo sem isso, então consigo me
conter mais um pouco. Mas só é ruim quando as tentações têm nome e
endereço.
— Vamos! — Soo a mais confiante que consigo e dou uma
empurradinha na porta para o motorista saber que ele já pode abri-la.
No instante que coloco meu pé para fora e saio da limusine, meu
nome explode em vozes aleatórias e uma chuva de flashes me cegam à
medida que vou avançando no tapete vermelho que mostra o caminho para
dentro do prédio.
Preciso colocar a mão na frente do rosto e de algum lugar surge um
segurança com quase dois metros de altura para me proteger até eu estar
segura dentro do prédio. E quando as vozes ficam distantes e não sinto mais
as luzes explodirem em cima de mim, dou um suspiro aliviada. Sei que esses
são os meus 15 minutos de fama, mas não esperava mesmo que fosse algo tão
intenso. Já posso me sentir uma celebridade.
Logo atrás vem Erin e Lili. Sendo Erin a acenar para os fotógrafos e
vir sorrindo mesmo depois daquilo parecer um ataque. Ela ama aparecer,
não é à toa que é ótima no ramo de marketing pessoal, onde usa sua imagem
para promover o trabalho.
— Olhe só para nós, parecemos as três espiãs demais — comenta e
Lili ri.
— Vê se você não banca a Cameron Diaz e não tenta chamar muita
atenção — aconselha Lili. — Temos que ser profissionais hoje.
— Querida, não respondo por mim depois do meu segundo drink.
— Bom, então nem comece o primeiro.
Enquanto as duas discutem, fico observando o bom gosto
arquitetônico e decorativo do interior da construção Mackenzie. É tudo
muito moderno e sofisticado, puxado para um ambiente mais clean e
aconchegante, dando a entender que há famílias ali pagando uma fortuna para
morar naquele arranha-céu. No entanto, este modelo é o mesmo dos vários
outros que há espalhado pelo país, e em outros países também como Estados
Unidos e no Reino Unido.
Avançamos em direção a festa conforme o tapete vermelho vai nos
guiando. Assim que chegamos ao salão onde acontecerá a festa, precisamos
dizer nossos nomes para poder passar. Me pergunto se Bruce sabia que meu
nome estaria na lista, mas duvido muito, pois não fui barrada.
Entramos no evento e a primeira coisa que percebo é a quantidade
absurda de ternos. Há tantos homens aqui que nem sei se conseguirei ver
Bruce no meio da multidão. Mas há setores para cada empresa, e cada uma
se destaca de um jeito diferente para chamar atenção com os seus projetos. E
é claro que de um jeito mais exclusivo, o stand da Mackenzie Enterprises
segue no foco do evento, com a sua enorme maquete do que parece ser um
novo modelo de arranha-céu.
Mas nem dá tempo de eu ir prestigiar os parceiros do site, sou
surpreendida por uma leva de repórteres e suas equipes apontando câmera e
microfones em minha direção. Olho assustada para as meninas, mas elas
fazem apenas sinal de joinha.
A primeira fase do plano começa agora e mal sei por onde começar.
— Tasha, por que decidiu fingir que era a acompanhante
compatível de Bruce?
— É verdade que você queria fazer da Mackenzie a parceria mais
lucrativa do site?
— Você e Madison se odeiam?
— Está feliz com toda a repercussão que o site ganhou?
— Você está apaixonada por Bruce?
— Vocês ainda se falam?
Eram tantas perguntas que mal sabia por onde começar. Mas priorizei
aquelas que deveriam ser respondidas e que teriam importância na história.
— Não queria que ele recebesse um bolo então, para que ele
tivesse a melhor experiência com o site, fingi ser a acompanhante
compatível dele. Eu admito. Mas nunca quis usá-lo.
“Eu nunca cogitei fazer parceria com a Mackenzie. Nossas marcas
não têm a mesma filosofia ou estilo.”
“Não odeio a Madison e peço perdão pelo transtorno.”
“Bruce e eu nos respeitamos, mas achamos melhor deixar as coisas
do jeito que estão. Seguimos em frente com as nossas vidas.”
Às vezes, parece que as perguntas não irão terminar, mas respondo o
necessário e só consigo sair dali quando Lili me puxa, encerrando a sessão
de entrevista. Mal respondi dez perguntas e já sei que nunca darei para ser
uma celebridade, é cansativo e chato. Até porque a maioria das perguntas
são inconvenientes demais.
Sou parabenizada pelas minhas amigas quando elas acham que fui
bem. Aproveitamos então para prestigiar algumas parcerias e conhecer
outras futuras. Nos distraímos por alguns minutos e conseguimos nos divertir,
parece até que tenho a sensação de dever cumprido.
“Foi mais fácil do que eu pensei”, cogito. Mas aí meus pensamentos
me contradizem.
Eu não esperava e nem estava o procurando, mas foi quase um puxão
quando meus olhos avançaram na direção de Bruce alguns metros, sendo
bajulado por devoradores que não o deixavam em paz. De qualquer forma,
ele estava lá todo sorridente, sociável e lindo com o seu terno; nem parece
que sente as mesmas dores que eu, a mesma saudade e o mesmo desejo em
tê-lo de volta.
Olhar para Bruce agora é perceber que tudo o que vivemos no Havaí
foi real. É sentir uma dor inesperada brotar em meu peito e abrir um buraco
bem no meio dele. Eu sei o que isso é, mas é muito tarde e um momento ruim
perceber que estou apaixonada por Bruce.
Lembro de como ele ficou doido para ouvir isso de mim, mas acho
que agora não acreditaria mais em minhas palavras e é isso o que me dói
mais. A vontade que eu tenho é de sair deste lugar e nunca mais vê-lo, por
vergonha e amor a mim mesma.
Odeio que o único lugar onde na verdade eu gostaria de estar agora,
e não posso, é em seus braços.
Saio do seu campo de visão, pois mesmo com toda esta minha
vontade, seria melhor se ele não me visse, até porque a vida parece estar
melhor e normal sem mim.
BRUCE
Não me arrumava deste jeito desde o jantar de gala no resort
surpreendente ao mesmo tempo como tudo me faz lembrar ela, desde o terno
que estou vestindo ao simples fato de como o Sol se põe, preenchendo o céu
não aguentam a vida agitada da cidade, por isso preferem ficar mais
caminhar mais alguns quarteirões para chegar no local que marquei com
Christopher. É final de verão, mas ainda faz muito calor e não me aguento
mais ficar dentro dessa roupa do trabalho, de onde desci e vim me preparar
FIM.
Acima de tudo e todos, agradeço a Deus por minha vida, minha
família e por mais um sonho que se realiza.
Agradeço à minha família que me motivou a compartilhar minhas
histórias com o mundo e que está sempre do meu lado.
Dani, obrigada por tudo. Sem palavras. Saber a hora de parar de
escrever quando as ideias não fluíam e só desfrutar do tempo em família foi
e sempre será o caminho.
Madrinha, mil vezes obrigada por me ajudar a controlar minha
ansiedade quando eu estava uma pilha de nervos.
Nossa, como amo todos vocês!
Agradeço muito à Assessoria Fox por toda orientação e apoio.
Penélope, muito obrigada por toda paciência e atenção comigo e com meu
livro. Independentemente do horário, você sempre esteve disposta a me
ajudar.
Agradeço ainda à Leticia Tagliatelli que fez um trabalho impecável
de revisão.
Agradeço às autoras dos Grupos FNL e SL por me acolherem e pelo
apoio na divulgação do meu trabalho.
Um agradecimento especial às leitoras que acompanham minhas
histórias no Wattpad, vocês foram fundamentais para que este livro fosse
publicado.
Um grande beijo,
Alba Luccas.
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