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Copyright © 2021 ALBA LUCCAS

Capa: Thaís Oliveira


Revisão: Leticia Tagliatelli
Diagramação: Fox Assessoria

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de


qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios
(tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.2018.
NOTA DA REVISORA

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa,


porém no decorrer da história poderão ser encontrados termos e gírias, além
de objetos que não estão de acordo com a Gramática Normativa para
demonstrar a informalidade do texto e deixá-lo mais fluido.
Quem está casado há algum tempo já pensou pelo menos uma vez na
vida em como seria voltar a ser solteiro e poder fazer tudo que dá na telha
sem dar satisfações a ninguém, mas e quando os solteiros começam a pensar
em como deve ser compartilhar a vida com alguém?
Essa foi a grande ideia que rendeu o primeiro milhão de dólares para
Tasha Alexander.
Depois de ser abandonada pelo noivo, que se casou com sua irmã,
ela aposta cada centavo que recebeu de herança de uma tia-avó na criação
de um ousado negócio online diferente de tudo que já se ouviu falar.
O site, 14 Dias Casados, garante uma experiência de duas semanas
ao lado de um perfil extremamente compatível com você.
Duas semanas de lua de mel e cumplicidade que você jamais vai
esquecer.
E foi assim que pouco mais de dois anos depois de uma ideia que
parecia absurda, Tasha garantiu a tão sonhada independência e todas as
vantagens que vem com ela.
Quando Bruce completou 38 anos, ele recebeu do irmão um pacote
cinco estrelas para o Havaí por duas semanas com direito a uma
acompanhante, mas era culpa da sua filha, Julie, ele estar parado em frente
ao balcão do check-in daquela companhia aérea esperando por uma
completa estranha que ele nunca viu uma foto sequer.
A menina de 13 anos é o centro do seu universo e sua melhor amiga,
e foi graças a ela que ele conseguiu suportar a perda do grande amor da sua
vida.
Julie fez com que o pai prometesse, mas o plano de Bruce era apenas
se desculpar com a moça pela armação da sua filha e reembolsar a estranha
por suas despesas.
Mas isso foi antes de ver aquela ruiva de olhos verdes...
Foi antes de Bruce ver Tasha Alexander pela primeira vez.
Mas o que Bruce nem imagina é que Tasha não é exatamente a mulher
que ele deveria encontrar para uma lua de mel romântica no Havaí por duas
semanas.
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO
Direcione sua câmera ou clique aqui
TASHA
Tenho um nome comum, Natasha, mas sempre preferi ser

chamada de Tasha, pois é um nome incomum e eu sou uma pessoa incomum.

Isso era o que meu pai sempre dizia, "Seja você mesma, Tasha. Você é um

Ηλιαχτίδα μου (raio de Sol). Não se pode conter o Sol, só permitimos que

ele brilhe e ilumine nossas vidas. Brilhe até ofuscar os olhos de quem

duvidar de você, minha filha".


É por isso que viro de primeira quando chamam Tasha, meu
nome combina perfeitamente com a mulher que me tornei.
Levei várias rasteiras da vida, mas levantei.
Meu pai me ensinou a levantar sempre e tentar de novo, e persistente
posso dizer que sou. Venci a vida na teimosia e nunca parei de lutar com ela.
Algumas vezes ela venceu, como quando levou meu pai cedo demais. Outras,
posso dizer que dei o troco. Afinal, agora posso afirmar com convicção que
consegui conquistar meu castelo e a minha própria coroa.
A minha maior conquista, para ser mais exata.
E sendo honesta, tenho muita sorte de ser bem-sucedida aos 28 anos
de idade, mas admito que o início da minha jornada não foi nada fácil.
Precisei ser azarada nove vezes, para na décima tentativa acertar em cheio,
há um azar extra que eu particularmente odeio relembrar, mas não se encaixa
na categoria profissional, e sou louca por meu trabalho. Posso falar o dia
todo sobre ele, mas a vida corrida me impede.
Precisei acordar cedo para não perder o voo para o Havaí.
É um perrengue chique que até gosto de passar, no entanto, quando
envolve trabalho se torna mais sério e responsável. O que deveria ser
relaxante e divertido, acaba sendo o oposto, mas é necessário.
É o custo que se paga para dar a "melhor conexão entre a marca e o
cliente", segundo Erin, minha melhor amiga, diretora de Marketing e
principal porta-voz da minha empresa.
Ela me liga bem cedo, quando estou atrapalhada com a mala da
viagem e o café da manhã. Logo que atendo, sou pega pela sua dispensa de
cumprimentos matinais.
— Você ainda não está no aeroporto? — pergunta com espanto na
voz, mas mesmo do outro lado da linha, posso visualizar seu rosto contraído
em desaprovação.
Erin é apenas um ano mais velha que eu, e por isso está sempre me
dando sermões.
Coloco a ligação no viva-voz para poder agilizar as coisas enquanto
conversamos. Sento na beira da cama mastigando o último pedaço de
croissant enquanto enfio os pés nas sapatilhas confortáveis e elegantes
demais para quem vai ao Havaí.
— Não estou acostumada a fazer tarefas que normalmente são
designadas a você — respondo e a ouço bufar. — Você é a mestre das
hotelarias e companhias aéreas, sabe fazer isso melhor do que ninguém.
— Nossa, agradeço mesmo o elogio, senhorita Alexander.
É fácil identificar o sarcasmo de Erin, mas quando se dirige formal
demais a terceiros, mascarando a sua personalidade atrevida de modo
decepcionante, compreendo que oscilações de humor vem por aí.
— Mas estou em outro continente para fazer pesquisas pessoalmente
de uma nova hotelaria que poderemos estar fechando parceria muito em
breve. Até lá, você faz o meu papel.
— Não acho ruim, mas tenho meu próprio ritmo. Estou em processo
de adaptação.
— Você não tem tempo para isso. O voo não vai te esperar. — Tcs,
estala a língua. — Criar 14 Dias Casados foi fácil, e executar isso tudo
detrás de uma mesa parece mais fácil ainda...
— Não, não é fácil, e você sabe disso — interrompo, levantando em
um ímpeto e desamassando o vestido.
Saio do meu quarto e as malas já estão na sala, só preciso de um
copo de água.
— Eu sei, só quero te deixar irritada. Mas entenda o que estou
propondo, a chance de descansar um pouco no Havaí enquanto analisa de
perto como são os serviços prestados na prática.
— Bem, aí começa a melhorar... Férias e trabalho. O Havaí sempre
foi o lugar perfeito também.
Erin deve estar dando um sorriso enorme do outro lado da linha. Sei
que podemos parecer estar discutindo, mas é nosso jeito de nos manter em
alerta.
— É por isso que vamos começar a mandar nossos clientes Gold
para lá. E acho que você, como a CEO disso, irá observar os serviços
oferecidos aos assinantes do pacote mais caro do site e reajustar algumas
coisas se necessário.
— A ideia era isso não precisar acontecer a partir do momento que
fechamos um contrato com a rede de hotelaria de lá. Mas, ok. — Pego minha
bolsa que está sobre a ilha da cozinha, penduro a alça no ombro e avanço até
as malas posicionadas no hall do meu apartamento. — Estou indo, me manda
o perfil da pessoa que contratou o pacote Gold.
— Certo, até depois.
A ligação é encerrada e chamo um Uber.
Deixo a luz do apartamento apagada e saio o deixando trancado por
14 dias. Mas Lili, minha outra amiga que é contadora e CEO de finanças do
site, ficou de dar um pulinho no final de semana e verificar se está
tudo ok com meu apartamento. Erin e ela têm a cópia da chave para
emergências.
A vantagem de você ter um negócio bem-sucedido, ainda mais
quando ele envolve viagens e hospedagens, é que você consegue viajar
quase sempre. Sente climas diferentes, experimenta comidas exóticas, se
depara com diversas culturas, atualiza o feed no Instagram e conhece o
mundo.
Esse é o papel da Erin, que assim que criei o site, começou a bombar
no seu Instagram de turismo. Ela contabiliza um total de 50 milhões de
seguidores, é um intermédio perfeito entre o site e o seu nicho, pessoas que
amam viajar e gostaria de fazer isso com uma boa companhia.
Depois que pego o elevador e chego ao térreo, já me deparo com o
Uber à minha espera em frente ao prédio que moro.
Sou uma mulher de descendência grega vivendo em Vancouver, com
tanta história a contar que mal caberia nesta bagagem.
— Bom dia! — digo radiante ao motorista que corresponde na
mesma intensidade e me ajuda com a mala enquanto a posiciona no porta-
malas.
Sento logo no banco de trás e observo a tela do celular na espera do
perfil que Erin ficou de me mandar.
Talvez esteja um pouco nervosa, faz muito tempo que não faço o que
estou prestes a fazer. Na época que lancei o site, fiz questão de usar o que
sobrou do investimento do site para "acompanhar" nosso primeiro cliente.
Foi uma experiência incrível, mas também única. Depois disso fiquei
ocupada como nunca na minha vida e graças a Deus conheci Erin para
executar essa tarefa.
O 14 Dias Casados foi uma empreitada ousada no ramo de negócios
online, mas certamente um diferencial em meio a tantos outros sites de
relacionamento pelo mundo. Ele tem como proposta oferecer a duas pessoas
compatíveis a experiência de viver por duas semanas a tão famigerada lua
de mel.
A princípio, parece uma ideia louca, mas há dois anos várias pessoas
do mundo assinam nossos pacotes para se aventurar com o possível amor da
sua vida. Embora muito estranhamente, após todo o levantamento de dados
nesses últimos anos, chegamos à conclusão que solteiros são mais propícios
a usarem o site. Alguns até se casam e vão para uma lua de mel de verdade
depois disso, mas outros preferem a diversão.
Tinha tudo para dar errado, mas não foi a primeira vez que
embarquei no ramo do empreendedorismo.
Quando falei que fui azarada nove vezes, é porque tentei nove vezes
um tipo de negócio próprio e que foram por água abaixo. Precisei me frustrar
muito e ficar quebrada financeiramente para chegar à conclusão que
precisava fazer algo diferente.
O 14 Dias Casados foi literalmente a luz no fim do túnel, e hoje em
dia somos referência até mesmo no cenário pop.
Quando estamos deixando os arranha-céus de Vancouver para trás,
meu celular apita com uma nova mensagem, é Erin com o perfil do cliente
que contratou o serviço. Assim que abro o arquivo, me deparo com o layout
do site, temos acesso a ele como administrativo. Deslizo o dedo duas vezes
e me deparo com uma foto que me faz sobressaltar.
“Espere aí, conheço esse rosto!”
Não que eu seja a pessoa mais social de Vancouver, certamente há
outras, como a própria Erin, por exemplo, mas é impossível procurar por um
apartamento nos arranha-céus da cidade e não conhecer os irmãos
Mackenzie. Eles são feras no ramo imobiliário de luxo e assumiram a função
de CEO no patrimônio que o pai ergueu. Claro que além da beleza, charme e
o rio de dinheiro correndo na conta bancária dos irmãos, eles parecem sofrer
de relacionamentos suscetíveis ao fracasso. Quer dizer, não sou a melhor
pessoa para falar de relacionamentos bem-sucedidos, porém, cada um tem
um drama amoroso realmente chocante.
Eis o que sei, o mais novo foi casado duas vezes com mulheres
lindas, e parece que após o fracasso dos relacionamentos, resolveu adotar a
galinhagem. O mais velho, foi traído pela esposa com quem tem trigêmeas,
na época foi um escândalo público porque paparazzis a flagraram saindo do
motel com outro cara, lembro até hoje de como Erin veio me contar a
notícia, já que dificilmente fico por dentro das últimas. E por fim, mas não
menos importante, o Mackenzie do meio, ou como está aqui no perfil: Bruce
Mackenzie, 38 anos e solteiro.
Foi ele quem comprou nosso pacote Gold, em breve embarcarei no
mesmo voo e me hospedarei no mesmo hotel que ele para avaliar
pessoalmente o serviço exclusivo do site. De qualquer forma, apenas sei que
ele também não teve um relacionamento próspero, mas porque sua esposa
faleceu em um acidente de esqui. Foi uma tragédia, e aparentemente, ele está
tentando levar a vida amorosa adiante.
Deslizo a página um pouco mais para baixo e vejo que não há muita
descrição em seu perfil. Na verdade, não há nada além do nome e idade.
Há muitos casais que compram os pacotes do site para receber
desconto no voo e hospedagem, por isso não precisam se preocupar com
descrições em tornar um perfil completo, ou em encontrar uma companhia
compatível. Talvez este seja o propósito de Bruce Mackenzie, mas não deixa
de ser estranho.
Atônita, resolvo ligar para Erin que atende no terceiro toque.
— Isso está certo? — pergunto de imediato e ela sabe exatamente ao
que estou me referindo.
— É, tive o mesmo surto de surpresa que você. Precisei enviar até
para Lili que também ficou espantada. Ela disse que Bruce Mackenzie é tão
podre de rico que poderia facilmente passar duas semanas nas Ilhas
Maldivas que não deixaria um furo em sua conta bancária.
— E se for algum tipo de perfil fake? — Essa ideia começa a causar
uma inquietação diferente dentro de mim, mas Erin logo me conforta.
— Impossível, os dados dele foram inseridos no site. É realmente
Bruce Mackenzie contratando os serviços do 14 Dias Casados. — Ri quando
faz esta observação.
Ouço carros ao fundo, ela deve estar indo a algum lugar a pé.
Estou em choque!
O meu queixo cai e sustento por tempo demais a surpresa enquanto
Erin me passa mais algumas informações, mas não a ouço porque me perco
na foto de perfil de um dos homens mais populares de Vancouver.
Bruce é a princípio, notável pela barba bem-feita e cabelo escuro,
que desliza em fios um pouco abaixo das orelhas.
A sua foto de perfil não parece que foi meticulosamente escolhida, e
sim, pega do banco de dados do Google; é uma foto profissional, dá para ver
parte do seu terno e gravata. Seus olhos verdes estão sérios e as grossas
sobrancelhas levemente franzidas dão um ar de intimidação.
“Rudemente lindo!”
Nunca tive a oportunidade de conhecê-lo, nenhum Mackenzie, aliás,
mas homens com seu reconhecimento profissional, financeiro e visual
geralmente são uns canalhas. Isso me faz estranhar ainda mais seu
envolvimento com o site 14 Dias Casados.
E se ele estiver com interesse em fechar parceria com o site?
Afinal de contas, eles comandam um grande conglomerado
imobiliário no Canadá, talvez saiba de um hotel que seria bastante promissor
para nossos negócios. No entanto, fazer um perfil para isso no site e executar
a reunião em um aeroporto não é o jeito mais comum de se fazer um acordo
entre duas empresas de sucesso.
Por fim, tomo uma decisão com Erin ainda na linha:
— Acho que hoje irei conhecer Bruce Mackenzie.
Ela dá uma longa arfada.
— Tente não ficar tão amiga dele, é possível que ele seja irresistível
e talvez não curta muito relacionamentos monogâmicos. — Dá uma risadinha
de zombaria e complementa: — Há não ser que você esteja a fim de um
trisal também.
— Erin, já disse que você é ridícula?
Uma gargalhada explode do outro lado da linha, estranhamente ser
chamada de "chata", "ridícula" ou "bruxa" é o mesmo que um elogio para
ela.
Erin tem um espírito livre igual ao meu, e por isso nos damos tão
bem. Estou com saudade dela, mas Lili tem me feito companhia nesses
últimos dias sempre que pode. Lili tem uma personalidade completamente
diferente da nossa, mas ainda assim, nos damos naturalmente bem.
— Eu sei, sou incrível. Apenas me diga que você está levando os
equipamentos que deixei para você?
Imagino a sua cara de deboche enquanto fala.
— Sim, câmera, carregador, notebook estão tudo aqui. — Dou um
rápido aceno com a cabeça como se ela pudesse ver onde está a mala com as
coisas que precisarei usar para trabalhar. — Prometo tirar foto até das
conchas.
— É claro, precisamos de conteúdo. Mas você vai arrasar, não há
nenhum obstáculo que seja alto o suficiente para impedir Natasha Olívia
Alexander Demetriou! — profere como um grito de guerra.
Meus lábios repuxam em um sorriso solene.
— Eu sei, sou incrível — repito suas palavras, me sentindo segura o
suficiente para usá-las.
Poucos segundos depois encerramos a ligação e não aviso a ela o
que estava pensando. Pode ser coisa da minha imaginação fértil, talvez
Bruce Mackenzie queira mesmo usufruir do pacote Gold do nosso site e eu
que estou sendo cética demais em relação a isso.
Ele tem 38 anos, significa que provavelmente não deve mais ter
aquele ímpeto para todas as etapas de conhecer uma pessoa nova; a perda da
mulher ainda deve ser uma dor constante na sua vida, e pode ter usado o 14
Dias Casados para reverter isso.
Fico ansiosa agora para chegar ao aeroporto e conhecê-lo.
***
Assim que chegamos à enorme construção de aço e vidro, que reflete
a luz do dia igual a uma joia, me aprumo no assento de trás para não perder
mais tempo assim que pararmos.
Erin é uma afobada, já eu sou responsável e bastante pontual com
meus compromissos, mas compreendo a sua preocupação, estou fazendo o
trabalho dela, afinal de contas. Eu também ficaria preocupada se a deixasse
como a diretora executiva da empresa. Temos nossas qualidades, e todas
elas se encaixam perfeitamente em nossos cargos.
O motorista me ajuda a sair, e enquanto retira a minha mala, dou uma
rápida respirada no ar frio, mas não tanto, deixado pelos resquícios do
inverno.
Vancouver está se preparando para entrar na primavera, mas agora
irei dar um pulo até o Havaí onde o clima subtropical predomina o ano todo.
No entanto, neste período, está mais seco.
Daqui os arranha-céus da cidade parecem pequenos, e se sobressai
do resto da cidade como brotos de aço que crescem rápido demais. Mesmo
distante da zona do centro, a cacofonia de carros, trens, sirenes e tudo o que
se pode imaginar, vai ficar para trás em alguns minutos.
O motorista me deseja boa viagem e agradeço. Antes mesmo que ele
parta, já estou abrindo caminho rumo a parte interna do aeroporto.
No caminho, percebo alguns olharem em minha direção; sei que não
é por causa do meu vestido branco tubinho, mas sim, por causa do meu
cabelo vermelho como fogo, e das sardas pintadas em meu rosto como
estrelas dispersas no espaço. É natural, e por isso chama bastante atenção, já
que não sou apta de muita maquiagem e sempre fiz questão de mostrar a
minha real aparência.
Quando as pessoas me olham desse jeito, admiradas, lembro das
milhares de vezes que minha mãe brigou comigo por eu não ser "feminina o
suficiente" e que "eu deveria ser mais como minha irmã, Charissa". E eu, de
fato, sempre me mantive longe de todo estereótipo de como uma garota deve
se vestir, se comportar e falar desde criança.
Tanto que era facilmente confundida com um moleque,
principalmente quando colocava o velho boné azul do meu pai na cabeça.
Eu queria ser como os pássaros que voam livres. Gostava de ficar
com o cabelo bagunçado, vestir roupas leves, sujar as mãos, me pendurar em
árvores e brincar de jogos que normalmente dizem ser "coisa de menino e
não de menina".
Eu gostava, e ainda gosto, de ser livre.
Meu pai sempre sentiu orgulho disso em mim, mas infelizmente ele
não está mais presente para me lembrar sempre disso.
E é engraçado, pois agora eu vou mesmo voar. Irei embarcar em um
avião rumo ao Havaí, porque não precisei usufruir de aparência exacerbada
demais para conquistar o meu lugar ao sol.
Sei que aonde estiver, meu pai se orgulha muito de mim.
Gostaria de poder dizer o mesmo a respeito da minha mãe. Não falo
com ela há anos e nunca tivemos uma boa relação. Geralmente o filho mais
novo sempre recebe todo amor, mas comigo não foi assim.
Ambrosia, me sinto mais confortável em chamá-la pelo nome, sempre
deu mais atenção, carinho e amor para Charissa, minha irmã mais velha. Ela
sempre foi o oposto de mim, tudo o que minha mãe queria que eu fosse, bela
e delicada. Até mesmo o nome significa beleza e graça, para completar o
pacote.
Acontece que elas se dão bem e devem estar bem, então tudo certo.
Tento não me culpar pelo que aconteceu, mas só agora sei que desde sempre,
era nítido que eu acabaria sozinha.
É péssimo ser arrebatada por esses pensamentos enquanto atravessa
o aeroporto. Contudo, costumo dizer a mim mesma que a vida é cruel, mas
que com o tempo a gente entende que ela sempre prepara o melhor. Seja de
maneira pequena ou grandiosa.
Quando alcanço a escada rolante, volto ao meu foco.
Há muitas pessoas aqui hoje, mas não indo para o Havaí, imagino eu.
Falta três meses para as férias, então foi uma ótima jogada Bruce Mackenzie
ter se interessado em viajar nesta temporada.
Mas o Havaí nunca está vazio.
Como fiz o check-in online, o apresento no balcão, consigo fazer o
despacho da bagagem e ir para a sala de embarque da primeira classe.
Assim que chego, faço uma inspeção bem cautelosa, e não vejo ninguém
parecido com Bruce Mackenzie. Seria fácil reconhecê-lo ali, em meio a
tantos outros passageiros, mas não o encontro.
Sento em uma das confortáveis poltronas e espero. Uma funcionária
dali vem me atender, mas não quero nada. Não costumo comer muito antes de
embarcar no avião, além do mais, o nosso voo não irá demorar para sair e é
esse ponto que me preocupa.
Estamos prestes a embarcar e nada de Bruce Mackenzie.
E se ele desistiu?
Ah, significa também que terei que largar tudo!
Todo trabalho para chegar aqui, todo trabalho que aconteceu pelos
bastidores para comprar as passagens, reservar o hotel e até mesmo aluguel
de transporte, tudo isso iria pelo ralo. Mas obviamente, ele teria que pagar
uma multa pela falta de respeito.
Algo que não faria nenhuma cosquinha na sua fortuna, o que é mais
inacreditável!
Sentada, balanço os pés até o portão da sala de embarque da
primeira classe ser liberada e espero todos saírem.
E se ele estiver trancado no banheiro?
Antes de seguir os outros, faço um teste rápido e paro uma das
funcionárias.
— Moça, será que não há mais ninguém da primeira classe a
embarcar? — pergunto com receio da resposta.
Quando ela balança a cabeça, recebo uma fisgada dentro de mim.
— Não, senhora. Falta apenas você...
Quando ela faz menção em me conduzir para dentro do corredor que
nos leva para o avião, percebo pelo canto do olho uma outra figura entrando
na sala de embarque. Viro sutilmente e é ele.
Bruce Mackenzie chegou, e ele está exausto, certamente precisou
correr para chegar até aqui e não perder o voo.
— Oi, também vou embarcar — diz com uma mecha do seu cabelo
caindo sobre a testa.
Ele está respirando pesado, o que indica que correu bastante para
chegar aqui.
Quando se aproxima, estende o bilhete para a aeromoça.
Fico olhando descaradamente para ele, pois me surpreende que este
mesmo homem vestido casualmente, de jeans e blusa de algodão, possa ser
aquele homem temível da foto de perfil do site. Bruce parece leve, mas um
pouco inquieto nesse momento.
Ele deve ser uns quinze centímetros mais alto que eu e seu nariz é
anguloso, mas pequeno. Preciso ressaltar que a boca rosa contrasta
perfeitamente com a barba escura e os olhos verdes.
A moça que irá passar 14 dias com ele é extremamente sortuda, ao
julgar pela aparência dele.
Bruce é tão lindo que até mesmo a aeromoça ruboriza um pouco.
Ele me pega o olhando e dá um sorriso sem jeito, antes de voltarmos
a olhar para a mulher e perceber que agora é ela quem sorri de forma
abobalhada.
— Estou vendo aqui que você vai viajar através do voucher
fornecido pelo 14 Dias de Casados. — O sorriso dela abre, mas ele pisca
atordoado, envergonhado, eu diria. Ela me olha com o rosto brilhante. —
Vocês estão juntos, então?
Agora Bruce me olha de outra forma, parece espantado e surpreso.
Aquela boca sensual abre para dizer alguma coisa, mas não sai nada.
Não consigo dizer nada enquanto penso, “Bruce Mackenzie acabou
de levar um bolo, e um terrível engano está acontecendo.”
Ele abre os braços como se tivesse sido derrotado e revela para ela.
— Não sei, isso é quase um encontro às cegas.
Prendo o ar.
“O que, ou quem, poderia fazer com que este homem ficasse em
uma situação tão embaraçosa como essa?”
Meus pensamentos se refazem rapidamente.
“Talvez ele tenha perdido uma aposta e foi obrigado a aceitar
qualquer coisa que desafiassem, ou então, ele está tão desesperado para
encontrar alguém antes dos 40, que resolveu simplesmente se jogar.”
Engulo o que parece ser um chumaço de algodão pelo que estou
prestes a fazer. Seja lá o que for, aparentemente o CEO da Mackenzie
Enterprises foi enganado. E eu, como dona do site responsável por ele estar
aqui, a última coisa que quero é que ele saia detonando a minha empresa
pelo golpe, ou que as poucas pessoas em volta espalhem tal cena pela
internet e caia na boca dos jornais de fofoca.
— Bruce Mackenzie? — sibilo seu nome e ele pestaneja os cílios em
surpresa exacerbada. Estendo minha mão para um cumprimento formal. —
Sou Natasha Alexander, ou melhor Tasha Alexander como prefiro ser
chamada, e eu vou para o Havaí com você.
Ele fica paralisado por alguns segundos que parecem minutos, mas
aperta a minha mão. É constrangedor para mim, pois imagino que ele saiba
quem sou, ou que se decepcionou muito ao ver que a pessoa não é a mesma
que ele esperava.
— Venham. Há assentos especiais para vocês dois — diz a aeromoça
empolgada, nos chamando para acompanhá-la.
Bruce ainda está calado, olhando para mim, então para na porta do
avião. Nada o impede de desistir agora, mas ele hesita. Há algo palpável
entre nós dois e não sei dizer se há uma certa relutância, como se ele
estivesse lutando contra isso ou porque sabe quem seria seu par e que estou
mentindo descaradamente. E agora, mesmo que Erin tenha aconselhado,
gostaria muito de ser a mulher escolhida como perfil perfeito para desfrutar
dos 14 dias sem problema algum ao lado dele.
— Você não quer fazer isso? — pergunto antes de tudo.
Pigarreando, o CEO parece voltar ao seu estado normal, apruma os
ombros e adota a expressão de segurança segundos atrás abalada.
— Sim, eu quero. Você quer? — Devolve a pergunta que soa sensual
demais pela forma suave como a faz.
“Há uma possibilidade dele não ser um canalha igual ao irmão
mais novo.”
Balanço a cabeça e respondo:
— Sim, eu quero.
“Sim, quero saber o que o fez buscar os pacotes do 14 Dias
Casados.
Sim, quero saber porque ele pareceu ter mudado de ideia a respeito
da viagem e por isso chegou atrasado.
Sim, quero saber porque tendo todas as chances de desistir dessa
coisa que não tem nada a ver com ele, Bruce Mackenzie resolveu
continuar.
Mas quero principalmente entender, o motivo de eu estar fazendo
essa loucura. Porque estou tão ansiosa para entrar neste avião com ele e
passar 14 dias de casados no mesmo quarto de hotel e na mesma cama que
ele.”
Atravessamos o corredor tensos.
Fato!
Disfarço fingindo pegar algo na bolsa, só para que passe na minha
frente, mas ele para e me espera como um cavalheiro. Faço sinal para que
passe pela segurança que vou logo em seguida. Aproveito para
discretamente admirar as costas largas e todos os músculos do corpo
perfeito deste homem, enquanto ele passa a bagagem de mão na esteira de
raio-x e retira o cinto para passar pelo detector de metais. Faço o mesmo,
mas sem ter que tirar nada porque estou de vestido.
Não consigo parar de olhar para esse homem.
Como alguém pode ser tão bonito assim, gente?
— Τι υπέροχο πισινό, ο Επουράνιος Πατέρας μου! (Que bunda
maravilhosa, meu Pai Celestial!)
— Disse alguma coisa? — Vira para mim terminando de fechar o
cinto e sorri, mostrando aqueles dentes branquinhos e enfileirados.
Que boca!
Só então percebo que falei grego literalmente para ele. Faço um
gesto que não com a cabeça e sorrio de volta.
Entramos no avião juntos, mas agora é ele quem está atrás de mim.
Com muita gentileza, pega minha bagagem de mão e coloca no
compartimento acima dos assentos destinados a nós na primeira classe.
Serão seis horas de voo e não faço a menor ideia do que estou
fazendo, mas digo a mim mesma que estou fazendo isso em nome da
credibilidade da minha empresa.
Rio para mim mesma quando minha consciência responde, “Sua
mentirosa sortuda!”
BRUCE
A moça sentada ao meu lado está na sua segunda taça de

champanhe desde que decolamos. Tenho uma teoria de que ela está se

sentindo desconfortável com a minha presença ou então com toda a situação,

por isso acaba descontando no álcool.


Não a julgo, também estou tenso com tudo isso desde que descobri
que Julie, minha filha de 13 anos, armou tudo isso para mim.
Sim, uma adolescente muito espertinha e ousada me inscreveu em um
site maluco de relacionamento e agora estou aqui. Mas sei que isso também
tem dedo do meu irmão mais novo, Christopher, o que significa que iremos
conversar de irmão para irmão quando voltar para Vancouver.
Agora é tarde demais para tomar qualquer outra decisão, além de que
quando cheguei e encontrei Natasha, fiquei tão hipnotizado por essa mulher
que nem consegui raciocinar direito.
Confesso que isso é algo muito raro de acontecer comigo.
Sou um homem de 38 anos, carrego a grande responsabilidade de ser
um dos CEO's da Mackenzie Enterprises e ser pai e mãe de uma garota de 13
anos, desde que perdi minha esposa naquele dia terrível que mudou para
sempre a vida da nossa família.
Não tenho tempo para encontros às cegas, o que foi praticamente o
que aconteceu. Pensei realmente em desistir dessa ideia mirabolante, mas
havia prometido a Julie.
E quer saber?
Eu teria sido um completo imbecil se tivesse recusado esta
oportunidade.
Já vi muitas mulheres bonitas, mas Tasha, como ela me disse que
prefere ser chamada, tem uma beleza exótica. E o que realmente me fascinou
é que ela não parece ser consciente do quanto é linda.
O fato dela estar aqui a inclui na categoria de mulheres românticas,
mas não parece uma mulher desesperada por um relacionamento.
Ela não tem o perfil de mulher que buscaria ajuda de um site para
viver uma aventura.
Há algo nessa história que não se encaixa...
Não estou dizendo que é preciso estar desesperado para contratar
esse tipo de serviço....
Bem, na verdade, acho que sim.
Jamais em sã consciência recorreria a essa loteria do amor, se é que
posso chamar assim.
Não posso ser hipócrita, não tem como algo assim ser mais que uma
aventura envolvendo sexo e diversão depois cada um volta para suas vidas
no mundo real.
Mas admito que quero mesmo entender as razões por trás disso para
ela.
O que fez Tasha fazer essa escolha?
Uma grande desilusão amorosa?
Admito que ela me intriga.
Esses olhos que parecem ver dentro de mim, o sorriso de menina que
ela dirige a todos, a meiguice que ela tenta esconder.
Tasha Alexander é um mistério para mim.
Gostei de notar que ela quase não usa maquiagem. Seu cabelo é
longo e de uma tonalidade vermelho cobre, os olhos são discretamente
verdes e o rosto pincelado de sardas que dão a ela um certo ar de rebeldia.
A observando agora sorrindo e cumprimentando todos os
funcionários pelos quais passamos com gentileza. Me faz sorrir ver como um
faxineiro parece embasbacado com uma mulher tão bem-vestida e linda
desejando bom dia a ele. O pobre homem nem consegue responder, fica
surpreso, mas logo em seguida, sorri de volta com uma expressão de quem
ganhou o dia.
Ela parece ser uma mulher doce, o tipo de mulher que conseguimos
enxergar sinceridade em suas ações. Pelo menos foi a impressão que tive,
mas me detenho deste pensamento quando começamos a conversar durante o
voo.
— Você não é de falar muito, não é? — pergunta me observando
quando já estamos acomodados lado a lado em nossos assentos.
Ela está certa, enquanto não conheço a pessoa suficientemente bem,
não sou de falar muito, prefiro ouvir e observar, mas não sou um cara
reservado ao extremo. Costumo conversar sobre tudo quando ganham minha
confiança, mas não digo isso a Tasha, digo outra coisa:
— Na verdade, estou pensando no que falar.
Ela se esgueira um pouco pra mais perto de mim.
— Achei que você fosse desistir e me deixar plantada esperando por
você — diz em tom de humor, mas não descarto a possibilidade de tê-la
deixado mal com a minha visível tentativa de não tentar.
— Isso não seria nada cavalheiro da minha parte — digo com a
educação que meus pais me ensinaram.
Ela estreita seus olhos para mim.
— Cavalheiro? Isso ainda existe?
Dou uma risada espontânea.
Ela é divertida e faz tempo que uma mulher não tem esse efeito em
mim.
Muito tempo mesmo...
Então ela é uma daquelas mulheres que não acredita em homens
decentes?
Talvez essa viagem de 14 dias seja realmente interessante.
— Você pode ficar assustada com a quantidade de cavalheiros que
ainda existem por aí. Não somos uma espécie em extinção, ainda. Também
não digo que somos milhões, contudo, se souber onde procurar vai ver que
existimos. Garanto a você — argumento brincando.
Ela abre um sorriso bobo que estremece tudo dentro de mim, o que
me faz me preocupar com as reações que ela consegue provocar em mim
apenas com um sorriso.
“Essa mulher...”
— E eu tive a sorte de encontrar você, então — responde convicta e
assim que se dá conta do que disse ao flertar comigo, pisca exageradamente
e tenta consertar: — Porque claro, se você fosse o oposto, teria que me jogar
deste avião.
— Então como poderia ter concordado com tudo isso, se mal sabia
quem encontraria? — pergunto curioso, só espero não ter soado rude.
Tasha se ajeita na poltrona grande e estupidamente confortável, como
todas as dos voos de primeira classe.
Fico bastante impressionado que o site 14 Dias Casados consiga algo
do tipo com tão pouco tempo no mercado, como pude constatar na
investigação que mandei meu advogado e amigo Jack fazer. Ele me mostrou
resultados altamente competitivos na pesquisa que fez. Os índices de
satisfação dos clientes são mais impressionantes ainda e com um aparato
especial para os casais que escolhem pelo pacote Gold.
Me pergunto quanto Tasha precisou gastar de suas economias para
isso, já que a minha intenção era vir apenas para me desculpar pelo engano e
pagar tudo que a desconhecida deve ter desembolsado com o pacote Gold.
Mas não foi o que aconteceu...
Mal consegui ter controle sobre minhas atitudes quando vi Tasha
sorrindo pela primeira vez e aqui estou eu.
Ela me analisa cautelosamente e pisca. Se fosse qualquer outra
mulher, diria que estava tentando me seduzir, mas, na verdade, Tasha só está
sendo ela mesma. O que é um perigo.
— Quem disse que eu não o conheço? — rebate com outra pergunta.
“Ah, sim, é claro.”
Antes que eu caia em frustração de uma expectativa que mal sabia
existir, Tasha replica:
— Você é Bruce Mackenzie, CEO da Mackenzie Enterprises e deve
nadar em milhões de dólares. Você é uma figura pública, por isso sei quem é.
Mas não se preocupe, não sou esse tipo de mulher que você está começando
a pensar que sou.
— Não estou pensando nada — admito rapidamente com aquela
acusação e ela rir demostrando que não acredita no que digo.
— Mesmo se estivesse, não estou aqui pelo seu dinheiro. Tenho um
emprego incrível que me garantiu a independência e a oportunidade de viajar
o mundo todo quando eu quiser. E o melhor de tudo isso, eu amo o que eu
faço e tenho orgulho de dizer que nunca vou precisar de um marido para
pagar minhas contas. Eu mesma pago.
Arqueio as sobrancelhas, surpreso com sua franqueza e por eu ter me
enganado mais uma vez ao seu respeito.
Tasha não é meiga e romântica, talvez seja lá no fundo, mas agora ela
parece mesmo com uma mulher poderosa, que sabe o que quer e dificilmente
fica intimidada, não acredito que isso seja efeito dos espumantes que andou
tomando. Conheço mulheres que em seu lugar, só falariam coisas vagas e
usariam a sinceridade como último recurso.
— E você trabalha com o quê? — É estranho que possivelmente ela
já saiba tanto sobre mim e eu não saiba nada dela.
Tasha abre um sorriso de orelha a orelha, mostrando seus dentes
branquinhos e alinhados.
— Trabalho com pessoas e turismo.
— Ah, então vai se dar bem no Havaí.
— Quem vai para lá pensando o contrário?
— Tem razão.
— πάντα έχω (Eu sempre tive) — sussurra para si mesma mais uma
vez naquele idioma.
— Você sempre usa essa língua diferente, o que é? O que você quis
dizer?
— Eu sempre tenho razão, e é grego, meu idioma materno.
Isso explica muita coisa.
Chega até ser engraçado que uma mulher linda dessas seja grega,
afirmando muitas coisas que falam sobre associar beleza aos deuses gregos.
— É a primeira vez que levo uma grega para sair — comento.
— Somos exigentes, senhor Mackenzie. É bom que faça valer a pena.
— Ergue a taça do champanhe e dá um gole da bebida espumante.
Algo me diz que essa mulher vai me dar trabalho.
“Por Deus, Julie, onde foi que você me meteu?”
Ao menos Tasha não bebe mais, acho que nossa conversa a deixou
mais confortável em relação a tudo, mas temos conversado menos agora.
Isso porque estou nervoso ao seu lado, pensando que iremos dividir o
mesmo quarto, a mesma cama...
Puta merda, viver literalmente uma lua de mel!
Que site sacana e genial!
Estou solteiro há tantos anos, vez ou outra, sinto falta de ter uma
companhia todos os dias. Alguém para abraçar e beijar, conversar por horas
sem fim e ver filme agarradinho.
Minha mãe diz que já é hora de considerar me casar de novo, mas
não acho que as coisas devem funcionar assim. Não quero ter uma decepção
amorosa igual Mathew teve. Não quero viver amargurado por isso, e deixar
de dar atenção necessária a minha filha. Sem contar que meu coração ainda
está quebrado e estou remendando os pedaços aos poucos.
Já fui casado, na verdade, muito bem casado, mas isso já faz muito
tempo. Conheci minha esposa Melissa através de Christopher, eles eram
muitos amigos desde a adolescência e ela muito boa esquiadora, tanto que
acabou virando competidora. Eu a conheci e acho que foi amor à primeira
vista. Nos casamos e então tivemos Julie, mas infelizmente poucos anos
depois ela morreu esquiando. O que só mostrou o quanto a vida é irônica,
pois ela nos foi roubada fazendo o que mais amava e sabia fazer com
perfeição.
Demorou dois anos até que me envolvesse com outras mulheres, mas
era só sexo casual. Nenhuma delas era boa demais igual Melissa, e isso me
tornou muito exigente com o passar do tempo. Minha pequena Julie sempre
foi um anjo na minha vida, me fez continuar a ser um homem íntegro e justo.
Por ela, movo montanhas e embarco numa jornada com uma desconhecida,
que parece louquinha e muito atraente.
A esta hora, Christopher deve estar rolando de rir e Mathew achando
isso tudo a decisão mais estúpida que já tomei na vida. Imagino que meus
pais já devem saber que estou indo para o Havaí, eles só não sabem por qual
motivo. Somos uma família unida, e temos uma base incrível de criação; não
gosto de mentir para meus pais, mas essa é uma situação difícil de explicar,
que certamente o canalha do Christopher terá o prazer de noticiar.
Algumas horas depois, Tasha sacode minha perna esquerda, é um
movimento tão automático que ela nem se dá conta dos seus dedos sobre
minha calça jeans e que fico paralisado com o toque delicado deles rente ao
meu joelho, ocasionando um friozinho familiar há um tempo esquecido.
— Veja, chegamos! — diz animada apontando na janela redonda para
as ilhas lá embaixo.
Iremos aterrissar em Oahu, onde há mais opções de resorts, hotéis,
restaurantes e casas noturnas. Ficaremos hospedados no resort Sunshine,
onde o nome faz toda referência ao espetáculo do pôr-do-sol que se pode
assistir da vista panorâmica à beira-mar do resort.
A cada hora que passa, fico mais acostumado à presença de Tasha,
mas não sei o que irá acontecer. Ela não parece ser do tipo que ignora nosso
papel aqui, sua intenção foi de vir para cá, me conhecer e trepar.
Não é para isso que pessoas desconhecidas, porém compatíveis, de
acordo com a proposta da empresa, se unem em sites de relacionamento?
Não seria louco de negar a ela algo do tipo, se ela quisesse, mas
acho difícil que consigamos tirar algo promissor disso no final. Não vai ser
um encontro de 14 dias de um site de relacionamento que vai finalmente me
fazer encontrar alguém com a capacidade de saber lidar comigo, com a
minha vida agitada e o meu passado traumático que resultou em um coração
ferido.
Olho para ela de relance e percebo que estou sendo um canalha
pensando desse jeito.
E se a coitada estiver esperando exatamente o oposto?
Ela é nova, bonita, deve sonhar com a improbabilidade de engatar
um romance nessas circunstâncias e ter uma boa história para contar às
amigas ou no casamento.
“Vamos lá, Tasha, queira só umas noites regada de muito álcool e
sexo”, penso.
Ela sorri e sorrio de volta, parece que não sou o único a estar
pensando em coisas pessoais demais a ponto de exibir um sorriso sem graça
pela primeira vez.
Finalmente chegamos em solo e desembarcamos no aeroporto de
Oahu. Lindas moças havaianas vestindo trajes típicos colocam colares de
flores em nossos pescoços e nos dão as boas-vindas em inglês e havaiano.
Tasha adora e agradece animadamente.
Ela me diz que esses colares se chamam lei e que são um símbolo do
Havaí para o resto do mundo, mas que na cultura havaiana eram utilizados
até para firmar acordos de paz entre tribos.
Ela vê meu olhar admirado e confuso e diz em seguida erguendo as
sobrancelhas avermelhadas, quase no mesmo tom do seu cabelo:
— Fiz meu dever de casa, só isso.
Pelo seu entusiasmo, parece que faz tempo que ela não tira férias
também.
Tasha e eu vamos pegar nossas malas e ela vai na frente porque sem
perceber, anda um pouco rápido demais, mas não ligo e tenho a chance de
admirá-la melhor.
Ela não é alta, não deve ter mais que 1 metro e 65 centímetros, mas
tem belas pernas. Seu corpo tem curvas nos lugares certos e é difícil não
ficar admirando.
Mas seu bumbum...
Nossa, me sinto um cafajeste pensando em como pode ser tão
redondinho e perfeito, e toda vez que dá um passo, ele faz um movimento
hipnotizante debaixo daquele tecido do seu vestido tubinho.
Paro de olhar para que isso não acabe ficando depravado demais.
Ela faz menção de pegar a única mala que trouxe, mas me adianto e
pego para ela que sorri para mim. Logo em seguida, pego a minha mala
também e coloco tudo no carrinho de bagagem que sempre tem nos
aeroportos. Então descemos juntos com outras pessoas no amplo elevador a
caminho do estacionamento onde iremos encontrar o carro alugado pelo site.
O aluguel de transporte também vem incluso no pacote Gold, por isso,
imagino que Julie precisou mesmo da ajuda de Christopher, já que seus
serviços como babá na Torre Mackenzie jamais pagariam uma coisa dessas.
Não, minha filha não precisa trabalhar, pois já nasceu herdeira de um
grande patrimônio e aos 13 anos nunca seria obrigada a isso. Mas, sempre
priorizei na educação da Julie a importância de dar valor às pessoas, nunca
ao dinheiro. Por isso apoiamos tantas causas filantrópicas. Quem tem muito
não pode se omitir de sua responsabilidade social.
Julie aprendeu desde cedo o quanto as gerações da nossa família
trabalharam duro para construir o que temos, afinal educação financeira
começa a se aprender dentro de casa. Ela sempre ganhava cheques em seus
aniversários para comprar o que quisesse, mas a ensinei a guardar metade de
tudo sempre ou a investir em algo que multiplicasse o valor.
Ela aprendeu com meu irmão, Mathew, como poderia investir e
gostou da seriedade com a qual o tio mais velho agendou uma reunião com
ela para conversarem a respeito. Isso a estimulou a querer ter seu próprio
dinheiro, trabalhando como babá no arranha-céu onde moramos, a Torre
Mackenzie.
Eu nunca a impediria disso, na verdade, todos nós ficamos até
orgulhosos dessa decisão. São muito raras as ocasiões que me lembro dela
ter recorrido a mim ou aos tios e avós pedindo dinheiro. Nós daríamos a ela
sem titubear, se fosse o caso, mas ela gosta de saber que conquistou por
mérito próprio.
Julie e eu temos uma conexão tão especial. Ela, às vezes, se antecipa
e vem me buscar no trabalho para passarmos mais tempo juntos. Vou a todos
os seus jogos de hóquei e vibro demais em todos eles. Seu time perdendo ou
ganhando, nós comemoramos e nos divertimos. Ela nunca desanima e sempre
diz que só por ter feito o melhor já valeu a pena.
Minha filha é uma menina extraordinária e só me culpo, por ela ser
responsável demais para a idade. Sei que é por minha causa, por sermos só
nós dois e ela acreditar que precisa cuidar de mim. Eu já disse a ela
milhares de vezes que esse é o meu dever, não o dela. Mas isso não impede
dela me tirar na marra do escritório que temos em casa, vez ou outra quando
estou com o prazo apertado de um novo empreendimento e esqueço que
preciso dormir como todo mundo.
Julie briga comigo, me arrasta para meu quarto e me cobre depois de
me desejar boa noite com um beijo na testa.
Eu a amo mais do que tudo e saber que o fato de eu estar sozinho a
afetou a ponto dela usar seu dinheiro pensando na minha felicidade me
preocupa muito, mas, ao mesmo tempo, demonstra porque ela tem o cargo de
minha melhor amiga, o que faz de mim o pai mais orgulhoso do mundo por
ter a filha mais incrível do mundo.
Faço uma nota mental de comprar algo muito especial para minha
filha nessa viagem, é o que Melissa faria, sei disso.
Nunca ficamos tanto tempo longe um do outro e essa parte foi a parte
mais difícil de aceitar de todo esse plano mirabolante de Julie.
O sinal sonoro do elevador me desperta dos meus pensamentos e as
porta abrem.
Assim que chegamos ao primeiro piso do aeroporto, atravessando o
enorme hall até as portas automáticas, sou surpreendido pela mão de Tasha
que segura a minha. Sua pele está fria ainda do avião, mas seu toque é
gostoso, macio demais a ponto de despertar qualquer imaginação
inapropriada.
A olho procurando uma resposta.
— Esta é a nossa lua de mel, somos um casal, então devemos parecer
um casal — a ruiva explica de forma convencida, rindo de si mesma.
Subitamente lembro das vezes em que desejei experimentar isso mais
uma vez e agora que estou aqui...
Por que não entrar na onda?
Então seguro sua mão com mais firmeza e começamos a rir desta
encenação. Quem nos visse, poderia achar mesmo que somos um casal feliz
recém-casado, rumo a nossa lua de mel.
***
Estamos em um Troller branco, já dirigi um desse da vez em que
fomos passar férias em família em Cancún.
Julie dava uns gritinhos sempre que passávamos em vielas desiguais
ou não asfaltadas e foi divertido, o que me faz lembrar que não fazemos isso
há tempos e precisamos viajar em família outra vez.
Tasha coloca seus óculos de sol e se delicia com a brisa limpa e
gostosa do Havaí conforme avançamos com o carro rumo ao resort. Sei
disso porque é inevitável não a olhar vez ou outra. É incrível como seu
cabelo ruivo balança e parece perfeito com aquele contraste de cor azul e
verde; uma pintura rara.
O Resort Sunshine não fica tão longe de toda agitação de Oahu.
Entramos no lugar quando passamos por um enorme portão de boas-
vindas e seguimos por uma pequena estrada que parece uma floresta
particular do resort. Mesmo daqui, avançando em um jipe potente, cercados
por árvores e o som de pássaros, dá para ouvir o som perfeito das ondas
quebrando poucos metros daqui.
Quando alcançamos a fachada do resort que é a junção de três blocos
de edifícios composto por enormes janelas francesas e palmeiras em sua
volta, prendo o fôlego ao perceber que estava precisando mesmo de algo do
tipo, e que mais uma vez, o site caprichou em sua escolha.
— Uau, Erin arrasou!
Ouço Tasha dizer enquanto tira os óculos fascinada pelo lugar.
— Quem é Erin, Tasha? — pergunto fazendo um caminho sinuoso em
frente à entrada do resort.
Ela me olha com as sobrancelhas arqueadas e hesita, acho que
acabou de dizer algo que não gostaria.
— É a minha melhor amiga, ela que teve a ideia do pacote Gold —
explica, me mostrando um sorriso nervoso.
Algo me diz que ela ou está mentindo ou não está me contando toda a
verdade, mas guardo este detalhe para mim.
— Ah, entendo.
Entendo mesmo, mas ainda não sei se fico bravo ou agradeço Julie e
Christopher pelo feito.
Quando saltamos para fora do jipe, entrego a chave ao manobrista e
ajudo Tasha com a mala.
O hall do resort é composto por colunas brilhantes de mármore, no
chão há tapetes que reconheço ser indianos, vasos decorativos de luxo e
pendurado sobre nossas cabeças uns lustres de cristais. As palmeiras
também dão um show do lado de dentro, intensificando o cheiro cítrico e
natural do lugar.
Há um grupo de turistas asiáticos prontos para saírem em expedição
do lugar, com suas câmeras penduradas no pescoço.
Somos surpreendidos por um casal de funcionários que seguram
respectivamente outros colares com flores coloridas, nos deixando ainda
mais com cara de turistas no Havaí.
— Bem-vindos ao Havaí! — dizem e agradecemos.
Fazemos o check-in na recepção, e quando digo meu nome, a mulher
loira atrás do balcão abre um sorriso e pergunta discretamente, mas sem
esconder sua empolgação:
— Ah, então vocês são o casal que escolheram o resort Sunshine no
pacote Gold do site 14 Dias Casados?
Olho discretamente para Tasha que segura o riso.
— É, somos nós — digo por fim.
Tasha e eu nos entreolhamos, e não sei para ela, mas para mim isso
chega a ser um pouco constrangedor. É a segunda vez que nos fazem essa
pergunta e espero que seja a última.
Não quero ser arrogante agora, mas é sábio que os Mackenzie não
precisam fazer muitos esforços para levar uma mulher para sair e usar um
site de relacionamento é a última coisa que faríamos. Eu jamais teria feito
isso por vontade própria e estar aqui com Tasha é algo totalmente
inesperado, até mesmo impensado para mim, dias atrás.
A recepcionista faz todo processo que dura poucos minutos com a
sua agilidade e o sistema moderno do lugar. Assim que recebemos a chave
do quarto 1040, percebo que Tasha reivindicou a sua mala de volta e então
entramos mais ainda no resort.
Há uma enorme fonte dentro dele, tão grande que parece até uma ilha
com a vegetação que decora seu centro e no laguinho, há carpas douradas
nadando na água cristalina. Crianças brincam ao redor da fonte, e lembro das
minhas sobrinhas, as trigêmeas Morgan, Rose e Jocelyn, mais conhecida
como Jojo, filhas do Mathew.
Amo minhas sobrinhas e meu irmão, mas ultimamente ele e eu temos
divergido em muitas coisas, principalmente em como ele tem priorizado o
trabalho no último ano e como consequência disso tem negligenciado as
meninas.
Assim que voltar para Vancouver, precisarei tentar mais uma vez
conversar com ele sobre isso. Somos os Mackenzie, tivemos uma criação
exemplar dos nossos pais e tento espelhar isso na criação de Julie, não quero
que as trigêmeas cresçam com um abismo afetivo com o pai.
Depois que a mãe abriu mão da guarda das meninas, o que chocou
toda família, elas precisam ainda mais de Matthew do que antes. Mas meu
irmão mais velho vem deixando todo o dever de criar e educar suas filhas
nas mãos de Rachel, a babá.
Na verdade, Rachel é muito mais do que isso para as meninas e toda
família sabe disso, mas a questão é que minhas sobrinhas têm pai e mãe. Não
sou uma autoridade em psicologia infantil, mas sei que crianças que crescem
com pais ausentes tem tendências a serem agressivas e retraídas socialmente.
Pensar nisso me deixa enfurecido com Mat.
Eu nunca vi Abigail como um exemplo de amor maternal, mas meu
irmão sempre foi um bom pai e precisa ser novamente.
Tasha pergunta alguma coisa ao perceber que estou distraído,
respondo que não é nada e vemos um homem sorridente vir em nossa
direção. Ele é pouca coisa mais baixo que eu, está bem-vestido em seu terno
azul-marinho, tem a pele negra e cabelo curto. Certamente é o gerente do
resort, e já se aproxima me estendendo a mão para um cumprimento.
— Eu seria louco se não o conhecesse — diz com uma admiração
estampada nos olhos. — Bruce Mackenzie, da Mackenzie Enterprises, bem-
vindo ao Havaí, sou Robert Thompson, gerente deste lugar. É uma honra tê-
lo hospedado em nosso resort.
— É um prazer, senhor Thompson.
Quando solto sua mão, puxo Tasha para mais perto pela cintura sem
nenhum precedente e sinto seu corpo tremer com a pegada que surpreende
tanto eu quanto ela.
Gosto da forma como a minha mão se encaixa em sua cintura,
posando muito próximo ao seu quadril. Uma sensação quente e boa de tê-la
junto a mim desse jeito me invade.
— Essa é Tasha Alexander, viemos passar duas semanas no resort.
Ele sorri para ela como se já conhecesse o nome, mas não diz nada.
Então se cumprimentam.
— Me sigam, irei levá-los até a suíte 1040.
Ela faz várias perguntas sobre o resort e o gerente responde a todas
muito orgulhoso do status de melhor resort das ilhas havaianas, enquanto
subimos o elevador panorâmico que nos permite ter uma ideia melhor da
grandiosidade e beleza do lugar.
— Acha que o pacote Gold foi um bom negócio? — Tasha pergunta a
Robert.
Ele se esgueira para mais perto como quem vai contar um segredo e
nos sussurra:
— O melhor, e não digo isso só porque este é o meu trabalho, não. —
Volta a posição normal e desamassa com as mãos o terno impecável. — O
Sunshine no pacote Gold em parceria com o site inclui absolutamente todos
os serviços do resort.
— Isso parece incrível — digo admirado.
O site deve ser mesmo um fenômeno para ter pacotes tão
competitivos no mercado turístico associado a um serviço de
relacionamentos tão incomum.
— Quem teve essa ideia genial criou um novo conceito de negócios,
senhor Mackenzie. Descobri que as CEO's são três jovens mulheres que
começaram do zero e hoje tem um verdadeiro império de e-commerce de
turismo — argumenta e sorri para nós dois, mas demorando o olhar sobre
Tasha.
Admito que isso me incomoda um pouco e tento ignorar a sensação
de posse sem lógica alguma.
É só olhar para Tasha para saber que ela vai fazer tudo parecer
divertido e especial, então devo me esforçar também.
Robert vai na frente nos mostrando o caminho.
Sei que durante esses 14 dias, teremos o gerente à nossa disposição
aqui dentro. Ele poderia estar apenas nos bajulando, mas se estudou bastante
para estar neste cargo, deve saber quem são os Mackenzie. Quem conhece o
mínimo de mercado imobiliário, conhece o nome da minha família, isso
inclui a forma como fechamos nossos negócios e como tratamos as pessoas
subordinadas ou não a nós. O sobrenome Mackenzie é respeitado onde quer
que vá, porque temos negócios no mundo todo.
Após o gerente apertar o botão do décimo segundo andar e o
solavanco nos impulsionar para cima, parece que pela primeira vez, desde o
aeroporto, sou arrebatado pela realidade da situação ou talvez seja a forma
como elevadores são desconfortáveis, mas fico preocupado em como irei
fazer esses 14 dias não serem embaraçosos.
Não sou ator, por isso temo não conseguir sustentar essa encenação
por muito tempo.
A porta de metal abre e o corredor das suítes é largo e bem
iluminado pelas luzes douradas embutidas no teto. Seguimos Robert e o
tapete bordado que se estende até o final do corredor, então paramos em
frente a porta em que ficaremos por duas semanas. Estou tremendo, e
agradeço por Tasha não estar segurando a minha mão nesse momento.
— É aqui. — Robert entrega a chave a ela. — Que os 14 dias no
Havaí sejam incríveis para o casal.
— Obrigado — Tasha e eu falamos em uníssono.
— Desejo aos dois uma excelente estadia e que sejam muito felizes
no tempo que passarem no Sunshine Resort. — Robert sai e nos deixa a sós
de novo.
Tasha me olha com expectativa enquanto faz suspense com o cartão-
chave já enfiado na porta.
— Pronto? — Tasha pergunta.
— Primeiro as damas — digo sem saber o que dizer quando começo
a ser atormentado por lembranças de um passado aonde já fui muito feliz.
Há tempos tento não associar nada a Melissa, mas é impossível.
Vivemos uma vida juntos, então as coisas facilmente me lembram dela. Em
nossa lua de mel, eu a carreguei nos braços e entramos juntos onde
passaríamos a noite de núpcias.
Preciso conter a vontade de fazer o mesmo com Tasha, afinal ela não
é a Melissa. Além de que não estamos casados de verdade, só fingindo por
14 dias.
“Só fingindo...
Não se esqueça disso, Bruce Mackenzie.”
O quarto em que ficaremos hospedados tem dois cômodos. O
primeiro é uma sala com quatro poltronas e uma mesa de centro, tapetes cor
de areia e duas lindas pinturas que vão do teto ao chão com imagens de
deuses mitológicos havaianos. A arte nos faz parar diante delas e ficamos
algum tempo admirando o trabalho do artista. Eles realmente souberam
compor a decoração do ambiente.
A porta que dá para a ampla sacada mostra que temos uma vista
privilegiada para o mar. O chão é revestido de tábuas corridas, que contrasta
com a parede branca e os vasos com plantas.
Deixo a minha mala por ali quando Tasha também deixa a dela e abre
uma porta dupla que revela o quarto de casal. Ela caminha para dentro dele e
paro embaixo da soleira, escorado na quina da porta enquanto ela avalia o
armário e o banheiro que a ouço dizer que é enorme. Há uma janela que está
escondida atrás das cortinas grandes e verde. As paredes aqui são cinzas e
há um painel de madeira polida logo atrás da cama servindo de cabeceira.
Quando volta, Tasha senta na beirada da cama e fica me olhando,
parece um convite, mas tenho pensado apenas em uma coisa:
— Não tem um sofá aqui — comento.
— E você não pretende dormir na cama?
Há uma resposta simples para isso, “Sim, eu poderia dormir.” Mas
não esperava achar a minha acompanhante atraente demais a ponto de temer
dormir ao seu lado. Não sou nenhum pervertido, mas também não quero
deixá-la com uma impressão ruim de mim.
Demoro um pouco para respondê-la, mas acabo sendo sincero:
— Eu sei que nossos perfis foram analisados como compatíveis, mas
você está certa que quer dividir a cama comigo? — Preciso fazer essa
pergunta a ela.
— Está arrependido? — responde com outra pergunta e seu tom de
voz muda para algo muito diferente do entusiasmo anterior, soa mais
magoado. — Eu sei que posso não ser o que você esperava, mas...
— Não, eu não estou decepcionado, Tasha. De jeito nenhum. —
Pigarreio e enfio as mãos nos bolsos da calça. Falar a verdade sempre é o
melhor caminho e para mim, a verdade sempre foi algo muito importante. —
Mas não nos conhecemos direito, não quero deixá-la desconfortável no
primeiro dia. Eu não sei o que esperar de tudo isso, mas desde que te vi no
aeroporto, senti o desejo de te conhecer melhor. E é isso que eu quero no
momento.
Parece que dei uma tacada de mestre, porque ela volta a sorrir e eu
nem sabia o quanto isso me faria bem.
Ela balança a cabeça concordando, tateia algo na cama e surge
segurando o que parece ser um panfleto.
— Bem, não quero deixá-lo dormir no chão — diz suavemente
balançando o papel entre os dedos. — Temos 14 dias de bobeira pela frente,
e aqui está toda a programação do hotel durante essas duas semanas. Se não
for para nos conhecermos melhor durante este tempo, porque estamos aqui,
não é mesmo?
Eu sou um idiota, mais uma vez estou agindo de forma insensível e
egoísta.
Eu já havia pensado na possibilidade de Tasha estar mais envolvida
nisso do que eu, porque ela não sabe que estou aqui porque minha filha e
meu irmão tramaram para cima de mim. Ela acha que estou aqui porque me
interessei mesmo por ela no site, e não por conta da minha consciência
pesada ou porque vê-la me fez agradecer por minha filha ter feito a mala e
colocado meu passaporte nela caso eu mudasse de ideia depois que visse a
moça que ela escolheu para mim. E eu mudei mesmo de ideia no fim das
contas.
Não posso ser um cretino hipócrita, foi por causa dela que entrei
naquele avião, dos seus olhos verdes que parecem ver dentro de mim, do seu
sorriso que me hipnotiza de um jeito assustador e delicioso ao mesmo tempo.
Eu nunca tive esse encanto por ruivas que desde a faculdade ouço meus
amigos falarem serem incríveis, mas essa ruiva aqui tem um efeito
perturbador em mim. Bastou ouvir a voz dela se apresentando que desejei
passar 14 dias ao lado dela.
— Você tem razão — digo derrotado e ela abre um sorriso.
— πάντα έχω (Eu sempre tive) — diz em grego mais uma vez.
— Agora eu sei o que significa isso, espertinha.
— Eu sempre tenho razão, Bruce — insiste em traduzir do mesmo
jeito, mas não consigo resistir a forma que meu nome desliza em seus lábios
como uma carícia.
Poucos minutos depois já estamos desfazendo as malas.
O hotel oferece esse serviço, mas como a vi fazendo por conta
própria, fiz o mesmo. Tasha está animada para irmos praia e passarmos a
tarde por lá até ficarmos bronzeados à Festa Hula que terá esta noite.
Quanto a mim, estou interessado em conhecer melhor minha nova
esposa em nossa lua de mel no Havaí, mesmo sem nunca ter te dado um anel.
TASHA
“Tasha Alexander, de uma CEO influente a uma cínica

mentirosa.”
Não estou nem um pouco orgulhosa com o que estou fazendo, juro
que mentir não é do meu feitio, mas quando se trata do meu trabalho, já
mostrei que sou capaz de tudo, como me enfurnar numa situação que não tem
nada a ver comigo, por exemplo. Mas era isso ou então o constrangimento de
Bruce Mackenzie publicamente me causaria sérios danos no site e Lili iria à
loucura com os números despencando.
Um bom exemplo disso, foi quando um blogueiro famosinho falou
mal do nosso site, o chamando de forçado e nada criativo. É claro que ele
estava enganado quanto a isso, temos provas de que o 14 Dias Casados é
uma inovação no ramo de relação no e-commerce, mas, ainda assim, tivemos
alguns resultados que quase fizeram Lili infartar. Isso porque a crítica desse
blogueiro fez com que algumas pessoas facilmente influenciáveis
concordassem com ele e cancelassem alguns pacotes em andamento. Houve
reembolsos, mas perdemos clientes e isso nos desanimou um bocado, ainda
mais porque foi bem no início dessa empreitada. Mas obviamente
conseguimos passar por essa crise.
Ter um negócio independente, acontece essas crises. E para você
evitar que essa crise vire uma bola de neve, é preciso fazer qualquer coisa.
Por isso que estou aqui no Havaí com o homem dos sonhos de muitas
mulheres canadenses, e homem também, diga-se de passagem, para que a
minha empresa não passe por mais uma crise dessas onde afetaria
diretamente os nossos números.
Não sou nenhuma expert em finança igual a Lili, mas conheço
números. Devo saber identificá-los quando subtraídos ou somados,
multiplicados ou até mesmo congelados, ainda mais para uma empresa onde
os números sempre rodam. Mas agora, tudo o que conheço parece ser o
número 14, martelando e piscando na minha mente igual uma placa neon de
circo.
Poucas coisas na vida, desde meu antigo relacionamento conturbado
com Perseus, me deixaram tão instigada, vivida e intimidada. Quando entrei
naquele avião com Bruce Mackenzie, percebi que as coisas não seriam
simples para mim, isso porque ele não é um simples cliente, e sim, um
acompanhante.
“Meu marido temporário de mentirinha.”
Parece a maior peça que o universo poderia pregar comigo, me
colocando para sentir na pele o que é o 14 Dias Casados. E como se não
fosse o bastante, ainda estou com este homem que claramente não queria
estar aqui.
Não sei qual é a de Bruce, mas vou descobrir. Ele diz que não queria
fazer algo do tipo, e que respeita o espaço entre nós até que ambos
ficássemos confortáveis para o próximo passo. Reconheço que isso é mesmo
muito cavalheiro, não me enganei sobre este ponto ainda no avião, mas há
algo que ainda não compreendo, porém crio várias teorias. É algo que devo
observar melhor, porque significa que ele pode ser um tipo de cliente que o
site não está habituado. Então além de fazer o papel de Erin ao testar os
serviços do resort e fingir ser alguém que nem mesmo Bruce conhece, agora
tenho que estudar um tipo de persona bem diferente que costumamos lidar no
site.
É o tipo de experiência mais louca que estou tendo na vida, e,
projetado por mim mesma.
O feitiço literalmente virou contra a feiticeira.
Quis deixar Bruce sozinho no quarto para vir comprar um vestido
bonito para a Festa da Hula mais tarde, mas ele fez questão de me
acompanhar porque além de lindo ele é gentil e atencioso e isso tem me
deixado de coração quentinho. Por isso tenho bufado e relutado contra mim
mesma.
Céus, por que me mandar um homem desses, justo agora?
Por que me enfiar numa situação dessa onde conquistá-lo seria minha
última opção, porém, tem sido uma grande vontade?
— Πιάσε, Τάσα! (Se controla, Tasha!) — urro baixinho para mim
mesma, enquanto estou ao lado de Bruce no elevador que desce.
Ele me olha de relance e arqueia uma sobrancelha intrigado.
— Amo e odeio quando você faz isso — murmura e fico observando
sua linda boca mover enquanto completa: — É divertido e bonito, mas
também parece que você está me dizendo um palavrão e não quer que eu
saiba disso.
Não evito a gargalhada, é algo que Erin e Lili tipicamente me diriam
por causa desse meu tique de nervoso que é falar em grego.
— É só para não perder o costume. Além de que pensar alto é algo
inevitável às vezes — explico a ele, que está de braços cruzados forçando a
musculatura peitoral e dos seus bíceps que ficam à mostra depois da manga
curta da sua blusa.
A minha vontade é de olhar cada curvinha, cada ressalto que se
forma naquele braço e me contenho antes que ele perceba isso.
Olho fixamente para a porta de metal à nossa frente e pisco tentando
expulsar a vontade de passar as pontas dos meus dedos por ali.
— Talvez você devesse me ensinar um pouco de grego nessas duas
semanas — sugere voltando a me olhar, é quando paro de olhar a porta de
metal e olho para ele com uma empolgação vibrante.
— Grego é uma língua muito bonita de se aprender — aviso.
O elevador para e então a porta de metal abre, mas nem ele ou eu
saímos de imediato.
— Bom, a professora perfeita para isso eu já tenho, não é?
Antes que eu responda, ele sai do elevador e me deixa para trás com
a pulguinha atrás da orelha.
Assim como estive investindo em flertadas com ele durante o voo,
Bruce parece finalmente ter afrouxado as rédeas e se rendido ao nosso
prolongado encontro no Havaí. A princípio não parece nada demais, mas
veja bem, algumas horas atrás ele nem queria ter embarcado naquele voo,
sinto isso.
Algo o fez mudar de ideia drasticamente sobre tudo. Tenho pensado
em algo, mas parece impossível, então paro de pensar no que parece óbvio,
mas muito difícil também de acontecer.
Bruce para e vira me esperando sair do elevador.
— Você não vem? — diz, mas quase não ouço bem quando
vislumbro no canto dos seus lábios um sorriso sinuoso.
Um convite maravilhoso para segui-lo onde for.
Há um aglomerado de lojinhas de butique espalhadas no que parece
uma praça de alimentação no resort.
“Este lugar é quase uma cidade”, penso.
Elas são estreitinhas, me fazendo lembrar de Londres, mas
extremamente refinadas e muito convidativas. Vou na frente olhando de
vitrine em vitrine, e Bruce me segue com as mãos enfiadas nos bolsos da
calça jeans.
Porque ele quer "parecer o mais invisível possível", para que eu me
sinta à vontade na hora da compra e olhar tudo com calma. Não questionei,
mas adorei.
Embora ele tivesse tido a oportunidade de ter ficado na suíte, aqui
está ele, me seguindo igual um segurança particular...
Igual a um marido superprotetor.
Entro em uma lojinha de vestidos sofisticados, com um aroma doce e
então começo a olhar alguns vestidos dispersos nas araras. Confesso que
quando arrumei minha mala para o Havaí, não pensei especificamente em me
vestir para causar uma boa impressão. Eu nem sei como me vestir bem, às
vezes uso vestido e tênis. Erin diz que é a coisa mais antiquada para uma
empresária usar, mas o que posso fazer?
Não tenho noção nenhuma de moda e isso pode assustar o Bruce.
Faz anos que não vou a um encontro.
Ok, talvez esteja generalizando demais, já fui sim, no máximo, a dois
encontros, mas nunca passaram de um jantar catastrófico. Isso significa que,
desde meu primeiro namorado, que se tornou noivo e agora ex-noivo, não
fiquei com mais ninguém de nenhum jeito. Então, por mais que não tenha
noção nenhuma de moda, sei que posso parecer cafona para um cara como
Bruce Mackenzie e eu normalmente nunca ligaria para isso, mas de repente
agora resolvi me importar com o que um homem pode achar das minhas
roupas nada atraentes.
A atendente oferece a ele uma vasta opção de bebidas quando ele
senta em um divã para me esperar escolher algo por horas, isso se eu não
partir logo para outra. Mas a questão é que há tempos não vou em um
encontro e nem sei o que usar. O pior é que quero usar algo que agrade
Bruce.
Uma mulher com aparência de top model se aproxima com um
sorriso escancarado.
— Olá, precisa de ajuda para algo específico? — pergunta a moça.
Foi como se Deus tivesse ouvido meus pensamentos e mandado um
anjo do céu.
E que anjo!
Ela parece ser tipicamente como alguém que Bruce levaria a um
jantar.
Fico incomodada com este pensamento, sou extremamente segura das
coisas que faço, e comigo mesma, mas há coisas, possivelmente traumas de
autoconfiança implementadas por minha mãe em mim, que me fazem olhar
para uma mulher dessas e, às vezes, desejar ser como ela.
De qualquer forma, retribuo o sorriso e agradeço a sua ajuda.
— Hoje vai ser a Festa da Hula e acabei de chegar ao resort com
meu marido. — Aponto com a cabeça na direção que Bruce está sentado,
tomando um chá.
“Que homem fino!”
— Quero usar algo que seja a cara da festa, mas também bonito o
suficiente para agradá-lo.
Quando volto a olhar para a mulher, noto que há algo diferente em
sua expressão. Talvez ter dito que aquele homem sentado seja o meu marido
a fez sentir algo semelhante à inveja, mas não quero pensar desta forma.
“Bruce nem é meu marido de verdade.”
— Muito bem, há umas peças incríveis que você possa gostar. Venha
— diz e então me conduz a uma série de vestidos longos e estampados. —
Essas são as peças queridas para uma Festa de Hula na praia. São longos,
sensuais e românticos.
Vestido longo, ok.
Acho que a última vez em que vesti um vestido longo foi no meu
noivado e era extremamente desconfortável. Não consigo evitar uma careta
com a lembrança e ela sorri.
— Temos curtos também. São bem confortáveis, a propósito —
enfatiza a mulher.
Olho para os diversos vestidos e não sei mesmo qual escolher.
— Acho que vou testar alguns — digo indecisa e perdida.
— Ótimo, fique à vontade! — Ela me deixa sozinha para que eu faça
a minha escolha.
No decorrer do processo, que não demora muito, fiquei com pena de
Bruce ali me esperando, mas ele parecia bastante concentrado em seu chá e
na minha procura pelo vestido ideal.
Pego uns cinco vestidos, e mesmo que fique na dúvida, não terei
problema em levar todos e pagar com meu cartão de crédito.
Antes que eu vá para o provador, encontro Bruce me observando com
uma especulação intrigante. Admito que ainda não estou acostumada com sua
aparência.
Toda vez que vejo aquela composição de cabelo negro e sedoso, a
mecha caindo sobre a testa sensualmente e a barba charmosa, consigo perder
o fôlego muito rápido, em questão de segundos. É normal sentir atração por
um homem bonito, mas não este tipo de atração.
Já vi muitos homens bonitos, e tive algumas oportunidades de sair
ganhando, mas nenhum deles me olharam tão profundamente como Bruce me
olha, como se ele estivesse se esforçando para desvendar todos meus
segredos e isso não é nada bom, porque é como se ele soubesse o que estou
escondendo dele, uma farsa.
Pigarreio e me aproximo dele cautelosamente, como quem vai fazer
um pedido audacioso, porque apesar de tudo, gosto da sua companhia e não
é algo que me incomoda. Além de que, como serão 14 dias ao seu lado,
preciso fazer com que a nossa relação seja boa para que possamos
aproveitar tudo.
— Você já assistiu Project Runaway? — pergunto a ele que dá um
sorriso xoxo.
— Está me perguntando se eu assisto um programa de moda? —
retruca incrédulo.
— Sim, mas acho que todo mundo conhece o Project Runaway. Só
que me refiro a ideia do programa, juízes julgando produções diferentes. —
Mostro a ele a bagunça de vestido nos meus braços. — Neste caso, vou
experimentar os vestidos e você vai opinar o que acha.
As sobrancelhas dele se arqueiam em surpresa.
— Certo, eu topo. Isso pode ser muito interessante, Tasha.
Percebo que a atendente nos olha de relance e faço uma careta para
ele.
“Tasha?
Você me chamou de Tasha?
Estamos aqui como um casal recém-casado e você não usa
pronomes melosos e fofinhos porque é o que todo mundo espera?”
Não demora muito e ele parece entender o recado.
Bruce tenta consertar o erro.
— Meu amor, vou sim — diz levantando, acentuando um pouco mais
o tom de voz para que as moças ali ouçam e entendam o recado. — Vamos
brincar de Project Runaway.
Olhamos para elas que sorriem sem jeito, uma até fica vermelha e
quando entramos no provador que fica em um cômodo separado do que
estávamos, advirto Bruce:
— Sei que isso pareceu muito idiota da minha parte, mas é assim que
casais recém-casados se comportam. Eles são melosos e cafonas deixando
as pessoas ao redor constrangidas ou com inveja.
Ele parece ficar curioso.
— Você já foi casada? — pergunta naturalmente e acho que minha
reação o deixa envergonhado. — Desculpa, é que você pareceu falar com
uma propriedade.
— Todo mundo conhece alguém que já se casou. — Interrompo, antes
que comece a parecer que já fui noiva.
Sim fui noiva, mas fui tão magoada que tento evitar falar deste
ocorrido. Sem contar que ele não precisa saber desse detalhe; ao menos não
agora.
Eu poderia fazê-lo a mesma pergunta, mas não quero soar insensível.
Já falei que o conheço por ser uma figura pública e a última coisa que
gostaria de fazer é de deixá-lo desconfortável por ser uma insensível. Mas
eu não sou, não em sã consciência.
— Mas, se estamos nos apresentando como um casal aonde vamos,
devemos nos comportar como um — explico a ele.
— Você tem razão — diz e então, os olhos dele brilham na
expectativa de esperar por algo.
Ele quer que eu fale em grego como fiz mais cedo, mas não faço. Não
quero que fique maçante, além de que, quando acontecer, ele tem que se
deliciar com isso.
— Não vou demorar — digo enquanto entro em uma das cabines do
provador.
Para tirar a roupa que estou vestindo, é fácil, mas alguns vestidos são
uma confusão que me deixa perdida. Como o primeiro vestido, por exemplo,
não sei onde enfiar os braços ou a cabeça e fico até com vergonha de
mostrar a Bruce.
O segundo é um vestido longo, de alças finas e decote padrão, com a
cintura marcada, a sua cor é verde militar e as flores da estampa são de
pétalas brancas.
É lindo e ficou perfeito.
Por alguma razão, decido não mostrar esse também, mas por um bom
motivo, amei como ele ficou em mim.
Ainda há mais três e decido mostrá-los a Bruce, mesmo sabendo qual
será a minha escolha.
O primeiro vestido que irei apresentar a ele é laranja curto, de fenda
e com recorte na diagonal logo acima do colo. Há um detalhe de cordinhas
nas costas que não alcanço, por isso mal consigo fechar o vestido e fico
frustrada. Ele tem um caimento bonito no meu corpo, mas é muito complexo
e já sei que não conseguirei vesti-lo sozinho.
Ouço a voz de Bruce do lado de fora:
— Tudo bem aí?
— Sim! — respondo imediatamente. Estou fazendo com que ele
espere horrores. — Só estou tendo um pequeno problema com o zíper.
Três segundos de silêncio e então ele pergunta:
— Quer ajuda?
A ideia dele traçando as cordinhas ao longo das minhas costas me
desestabiliza. Quero e não quero este contato.
— Acho que consigo — digo sem pensar muito.
Ouço a sua voz mais próxima do outro lado da cabine:
— Pode contar comigo, meu amor. Sou seu marido e sirvo para essas
coisas — respalda com satisfação e uma corrente elétrica corre pelo meu
corpo.
Antes que eu pense melhor, abro a porta com uma mão enquanto a
outra segura a parte da frente do vestido que ainda está frouxo. Encontro
Bruce de frente para a porta da minha cabine, como eu imaginava. Ele dá
uma analisada demorada no meu vestido e puxa o ar pela boca entreaberta.
“Ele está contendo um suspiro”.
Ouso dizer antes dele:
— É incrível como você aprende rápido. Talvez devesse mesmo
investir e ensinar grego para você. Aposto que como CEO da Mackenzie
Enterprises, consiga me pagar depois dessas duas semanas se quiser
continuar a ter aulas.
Espero que ele não aceite essa proposta. Não tenho tempo para aulas
de idiomas, senão teria mesmo investido nisso há tempos. Mas, para Bruce,
possivelmente conseguiria um horário na minha agenda lotada.
— Eu não sabia que você era gananciosa, senhora Mackenzie.
“Oh, céus!
Ele acabou de me chamar de senhora Mackenzie ou estou apenas
delirando?
Bruce está mesmo levando isso a sério.”
Sinto um arrepio percorrer minha espinha e ele nota o efeito que isso
me causou.
— Gosta quando eu te chamo assim?
— Você está mesmo levando isso a sério — comento ainda
atordoada.
Ele dá um sorriso de soslaio.
— E tem como não levar a sério com uma esposa exigente como
você?
Abro a boca para dizer algo, mas não consigo, ele é bom nisso e está
começando a despertar outras coisas.
Subitamente Bruce fica sério e ordena quase que rude:
— Vira.
Pisco surpresa, mas obedeço sem hesitar.
Ele está analisando aquelas cordas complicadas e sinto quando ele
pega as pontas.
— Esse vestido é lindo, mas parece complicado. Como você
esperava fechar isso sozinha?
Antes que eu responda, puxa as cordas com força, me impulsionando
para trás a ponto de quase colar em seu corpo, puxando meu fôlego e fazendo
meu coração bater rápido demais. Até que, inesperadamente sinto seu hálito
muito perto do meu ouvido, e estremeço quando sussurra:
— Você é uma esposa muito teimosa.
Então ele faz o que tem que fazer e solto uma risadinha muxoxa
porque estou sem reação.
“Puta merda!”
Estou completamente sem chão depois disso.
Bruce está levando isso muito a sério e nem faz 24 horas desde que
nos conhecemos. Não consigo imaginar o que poderá acontecer daqui 14
dias.
Fecho os olhos para evitar que meu corpo transpareça mais do que
deve, porém, toda vez que sinto seus dedos ágeis traçarem as cordas nas
minhas costas, um arrepio corre por meu corpo e sou invadida por
pensamentos dele percorrendo por todo meu corpo, em lugares que ninguém
toca há muito tempo.
“Há tanto tempo, que Perseus foi o primeiro e último.”
Há um nó engatado na minha garganta que só some quando ele
termina. O silêncio é desconfortável, mas possibilita sentir uma terceira
presença entre nós, algo invisível, mas tangível, a ponto de me fazer tatuar o
roçar de seus dedos sobre minha pele. Viro para Bruce, ele sorri com glória
e um brilho eterno nos olhos.
— Fiz certo agora, Tasha? — pergunta com a voz arrastada.
Engulo em seco.
Isso tudo foi uma provocação, uma maneira de me alertar que, se
exigir muito, ele vai dar o máximo, e o máximo pode ser um perigo para nós
dois...
Para mim.
— Sim, você fez — digo atordoada me afastando dele.
“Mas o que foi isso?”
Seu toque parece ser letal.
“Quero senti-lo...”
Não, estou aqui a trabalho.
Ele é meu cliente e nem sabe disso...
“Talvez por isso, devo dar a ele toda a experiência que o 14 Dias
Casados promete.”
Bruce com certeza está fazendo isso porque investiu dinheiro para
estar aqui, assim como eu também, na visão dele, então tenho que arcar com
os flertes. Preciso retribuir na mesma intensidade, mas preciso
principalmente fazer isso, porque não quero me arrepender do momento que
tenho em mãos.
Respiro fundo e murmuro:
— Seus dedos são bem ágeis. Será que é tão rápido para desamarrar
quanto amarrar isso? — indico as cordinhas do vestido.
Ele dá um sorrisinho perverso.
— Eu poderia ser mais hábil o rasgando do que desamarrando —
provoca com um olhar lascivo.
O fogo me domina e o pensamento disso acontecendo me chicoteia
então arfo.
Estou imaginando coisas que eu ficaria muito envergonhada caso ele
pudesse ler mentes e agradeço que não, mas sinto como se ele pudesse.
Bruce Mackenzie deve ser acostumado a deixar mulheres assim, com
pernas bambas, mas sou diferente. Faz tempo que não saboreio isso, e agora
que está acontecendo de novo, fico extremamente assustada, mas tenho que
seguir.
“São só 14 dias, mas já temo pelo que ocorrerá nas próximas
horas.”
No fim, acabei escolhendo o vestido laranja e o verde longo. E, já no
balcão de pagamento, sou surpreendida por Bruce que se mete sacando da
carteira seu cartão de crédito que deve conter milhares de dólares.
Ele me lança um olhar que transmite confiança e ouço uma atendente
suspirar.
— Eu pago, é um presente meu para você, meu amor — diz com um
sorriso orgulhoso enquanto tenta impressionar a mim e as atendentes.
Eu poderia intervir, poderia mesmo mostrar o poder que tenho de
pagar minhas próprias aquisições, no entanto, Bruce é inteligente e mais
rápido que eu nessa hora. Somos um casal e devo aceitar esse presente, me
sentir grata por ele ser atencioso e muito romântico comigo.
Alargo um sorriso e me encosto mais nele, sorrindo e beijando a sua
face.
Bom, eu também sei provocar.
Um simples beijo pode aflorar a sua imaginação, porque um simples
beijo pode tocar lugares escondidos e depravados.
— Amo como você cuida de mim — digo com uma voz fofa,
sorrindo igual uma mulher apaixonada e as outras atendentes suspiram.
É por isso que pessoas solteiras compram os pacotes do 14 Dias
Casados. Elas querem viver esse momento, sem a responsabilidade de um
relacionamento sério depois disso e caso seja promissor, é sorte das
grandes, e amaríamos colocar na página inicial do nosso site, os casais que
deram certo depois dessa experiência.
“Será que Bruce e eu poderíamos...?”
Não... Não!
Seguro o riso.
Estou longe de ser a mulher ideal para ele, por isso, quando
deixamos a butique para trás, peço para que ele me deixe sozinha desta vez,
pois vou ao salão fazer unhas e cabelo.
A princípio, parece que estou me contradizendo, mas preciso bancar
a par perfeita para o Bruce nessa experiência e jamais me apaixonar.
••••
O vestido laranja deixou Bruce muito tentado e com uma lembrança
marcante, mas é o verde longo que escolho para a noite da Hula.
Quando volto para a suíte, já era tarde. Não curto salões de beleza,
pois todo processo demora muito e se você chega atrasada ou não marca
horário, é preciso esperar a sua vez.
E foi o que aconteceu comigo.
Precisei esperar um lugar desocupar, porque não fui a única a pensar
em se embelezar para a Hula. Quando deixei o local com toda aquela
cacofonia de fofocas e secadores de cabelo, o céu já estava escurecendo lá
fora, e me apressei.
Cheguei ao quarto e não encontrei Bruce, mas um bilhete deixado
sobre a cama:
Estarei te esperando na Festa da Hula, estou ansioso para
descobrir a sua escolha. Mas seja qual for, sei que estará esplêndida.
Bruce
E era isso...
Ele deixou a suíte mais cedo para que eu fizesse uma surpresa.
O vestido laranja pode ser ousado e marcante, mas é o longo o
escolhido. Quero deixar o curto para outra ocasião, quando parecer o
momento certo.
Deixo a nossa suíte às pressas.
Quando se é uma pessoa focada no trabalho, o atraso está longe do
nosso vocabulário. Odeio fazer meus clientes na reunião esperarem, odeio
fazer minhas amigas esperarem e odeio pensar em fazer Bruce esperar
porque não quero que ele fique chateado.
Quero impressioná-lo...
Quero fazê-lo pensar que o site acertou em cheio quando "uniu" o
meu perfil ao seu e deu compatível, e que não foi coincidência de apenas um
algoritmo.
A noite no Havaí é de tirar o fôlego, o céu foi pincelado em laranja,
rosa e violeta, mesclando os tons, formando uma pintura abstrata que
explode no céu e tira o fôlego. Se olhar direitinho, pequenas estrelas brilham
como purpurinas jogadas sobre aquele quadro infinito dando um espetáculo
aos hóspedes do motivo do resort se chamar Sunshine.
“Eu consegui, pai!”, é o que consigo pensar nessas horas.
Todo momento lindo e único que vivo na minha vida, gosto de
lembrar a ele que estou vivendo livremente. Na minha cabeça e no meu
coração, meu pai ocupa um espaço especial que me conforta e me preenche.
“Ele sempre será o meu melhor amigo.”
Sempre o levarei para ver a beleza do mundo ao meu lado.
Meu pai está morto, mas em mim, ele continua vivo.”
Atravesso a área da piscina que durante a noite fica linda com as
luzes que enaltece aquele azul anil. As palmeiras ganham mais agitação,
dançando uma música que somente a natureza pode tocar, mas se parar para
ouvir bem, você a escuta assobiar no nosso ouvido. Em meio a isso, ouço
sons de ukulele e tambores; pessoas felizes e vida pulsando. Então vejo as
luzes coloridas das lâmpadas que enfeitam, e vejo fogo em tochas indicando
o caminho.
Está um clima agradável, mas o calor reina ali, como se bombeasse
todo o sangue deste órgão enorme que é a Festa da Hula.
Há pessoas dispersas em mesas rústicas, bebendo e rindo, assim
como casais e grupos de turistas. Procuro por Bruce.
No fundo, há um tablado com os músicos tocando felizes e as
mulheres com saias de palha, tops floridos e coroas de flores, sorrindo o
tempo todo e remexendo o quadril de um jeito que não sabia ser possível.
E como um imã que me puxa, encontro Bruce sentado sozinho em uma
mesa mais distante de toda aquela agitação, tomando calmamente um drink.
Ele está e não está na festa, e parece ansioso. Enquanto ele não me vê, o
admiro de longe. A beleza desse homem é inegável, já falei isso muitas
vezes, mas esta noite ele resolveu pentear o cabelo todo para trás, está de
bermuda branca e uma blusa folgada de mangas cumpridas também na cor
branca. Parece um anjo, mas também um demônio perigoso.
Bruce é gentil e humilde, mas o poder que tem nas mãos está
estampado em seu olhar, no seu jeito e em tudo que faz.
Quando me encontra, ele muda e parece fascinado, assim como eu
também estou. E eu crio um mantra, “preciso resistir a primeira noite.”
Mas como?
Como ficar longe daqueles dedos que mal me tocaram e já pareciam
brasas me queimando?
Como ficar longe dos lábios que parecem convites?
Como escapar daquele olhar lascivo que penso em outras mil formas
provocativas de me olhar?
Se não tenho uma resposta para isso, é porque não poderei lutar por
muito tempo contra a tentação de resistir a Bruce Mackenzie.
BRUCE
Ir às compras com mulheres é uma loucura total. Você anda em
círculos, espera e precisa dar uma opinião que no fim não irá fazer diferença

nenhuma. Com muita sorte, se a loja for atenciosa com namorados e maridos

exaustos com a pesquisa feminina minuciosa de ficar bem-vestida e calçada,

você é cortejado com bebidas e um banquinho confortável.


Eu tive essa sorte quando Tasha entrou na primeira loja para escolher
suas roupas para esta noite, mas foi algo agradável aos olhos e divertido de
se apreciar.
Era notório seu desconforto e completa falta de conhecimento diante
de tantas opções, ao ponto de precisar de um conselho da atendente. Ela
tinha substituído o vestido branco tubinho por um shortinho jeans e uma
regatinha, salientando partes do seu corpo que poderiam facilmente
confundi-la com uma garota de 19 anos, ela parece dispensar atividades
físicas e talvez mal tenha tempo para isso. Mas tudo nela aparenta
naturalidade, e gosto disso.
Como Tasha já havia mencionado no aeroporto, “se somos um casal,
devemos agir como um”. Às vezes, esqueço desse detalhe e tento ao máximo
não soar idiota ou como alguém que está forçando a barra com ela. Mas ela
me lembra que esse detalhe é importante, e acabamos passando por uma
situação engraçada.
Confesso que sorrio mais do que o normal quando estou com Tasha e
até agora, somente Julie tem esse efeito sobre mim, tanto que fico
imaginando que minha doce e carismática filha amaria conhecê-la.
Fui intimado a opinar sobre as opções de vestidos de Tasha, mas a
verdade é que não importa o que ela vestia, continuava irresistível. Até
porque depois do vestido laranja e da forma como a deixei vermelha e
desestabilizada com as minhas provocações de um marido à altura, não
consegui reparar muita coisa. Fico pensando na sua reação, em como seu
corpo fica quando está muito perto do meu, ou a chama que acende em seus
olhos quando digo algo provocante.
Estamos tentando ter a experiência de um casal de verdade em lua de
mel, mas acho que em poucas horas deu para sentir algo tangível demais
entre nós dois, que faz toda a encenação parecer real demais. Ou talvez seja
apenas a ausência de ter uma mulher dessa maneira, tão íntima, mesmo não
sendo.
Quando ela me dispensa para ir ao salão, não hesito. Digo que vou
voltar para a suíte, mas não faço isso. Na verdade, vou para bem longe dali e
do resort.
Peguei o jipe e dirigi até o centro da ilha, onde há praças, lojas e
restaurantes. Não há muitas opções, mas as que têm são sem dúvidas as mais
requintadas.
O Havaí é para quem pode gastar, e modéstia à parte, eu posso fazer
isso sem me preocupar. No entanto, não gosto de esbanjar o quão rico eu
sou, é um princípio que ensino até mesmo a Julie. Não costumo gastar à toa,
com extravagâncias desnecessárias, mas hoje à tarde enquanto Tasha estava
no salão, foi a primeira vez que comprei algo sem necessidade alguma.
Comprei por comprar, porque queria que tivesse algum significado e fizesse
parte do que estamos vivendo.
“Ela não faz ideia disso!”
••••
Me precipitei e fui para o local da Festa da Hula antes que ela
chegasse. Até porque já estava anoitecendo e o pôr-do-sol ia dar seu
espetáculo em alguns minutos. Percebi que Tasha se atrasaria então deixei a
suíte toda a sua disposição para que ela se arrumasse com calma e sem a
constante sensação de estar sendo observada.
Quando tenho receio de ser o primeiro da festa, já me deparo com
casais e grupos de turistas sentados em frente ao palco onde acontece o show
havaiano.
Escolhi uma mesa mais privada, perto do mar e com uma boa vista
para a apresentação. Estou animado e ansioso, e isso parece um encontro.
Um verdadeiro primeiro encontro desde que Melissa se foi.
Tentei mesmo com as outras duas, mas não foi nada comparado ao
que estou sentindo neste momento. Ansiedade me consome e fico limpando o
suor das mãos no meu calção branco.
— Vai pedir alguma coisa, senhor? — pergunta um garoto magro,
alto, cabelo escuro e pele bronzeada; deve ser naturalmente havaiano.
Eu gostaria muito de esperar Tasha para começarmos as honras da
nossa primeira noite no Havaí, mas assim como ela procurou conforto em
taças de espumante durante o voo para cessar o nervosismo, sinto que é a
minha vez de fazer o mesmo.
— Um copo de uísque, por favor — peço e ele abre um sorriso
brilhante.
— É para já, senhor.
Enquanto minha bebida não chega, aprecio o som que um grupo de
homens tocam, um ritmo dançante de Hula que fazem as dançarinas mexerem
seus quadris de uma forma hipnótica. São belas mulheres, e é fácil descobrir
por que meu irmão Christopher ficou louco quando conheceu uma, da vez
que viajou para o Havaí também. Ele a pediu em casamento depois de três
meses juntos, mas no mês seguinte, estavam se separando.
Chris descobriu que a sua esposa já era casada, e isso foi um
escândalo para a nossa família. Depois disso ele engatou em outro
casamento nada duradouro, e o que temos agora após dois casamentos
fracassados, é o Mackenzie caçula mulherengo.
Amo meus irmãos e enfatizo isso sempre que posso. Christopher é o
meu irmãozinho, sempre o defenderei e sei que poderei contar com a sua
urgência de viver e ser forte em tudo, mas é muito libertino e inconsequente
após assumir a postura de 'galinha'. Isso acaba refletindo muito em mim e em
Mathew quando se trata da mídia, mas quem nos conhece a fundo, sabe que
somos completamente diferentes.
Tasha já me conhece por ser essa figura pública de Vancouver, e
achou que estaria a julgando como interesseira ainda dentro do avião. Fiquei
um pouco preocupado com aquilo; trabalho muito na minha integridade e não
gostaria mesmo de ser encarado desse jeito. Não julgo pessoas por elas não
serem da mesma classe social que eu. Na realidade, você poderia se
surpreender em como posso ser ingênuo quanto a isso, nunca sei quem está
ao meu lado por interesse, pois sempre espero o melhor das pessoas.
Quando o garçom jovem me traz a bebida, poucos segundos após o
segundo gole, vejo Tasha surgir uns metros de distância, logo na entrada da
festa, mas é como se a abertura dos meus olhos tivesse se expandido e agora
ela é tudo o que enxergo. Ela é iluminada pelas chamas douradas das tochas,
dando vida e intensidade ao seu cabelo ruivo jogado de lado, salientando
ondas sedosas.
Tasha está radiante no seu longo vestido verde, e mesmo tendo a pele
clara, agora diante das luzes das chamas, ela parece ter sido beijada por
ouro. O gosto do uísque até fica mais forte no meu paladar, como se fosse
tudo o que precisasse para saborear a personificação de uma bebida tão
requintada.
Acho que estou me afogando na minha própria baba.
Tasha é um espetáculo de mulher e nem faz esforço para isso. Ela
mal reconhece o poder visual que tem.
Seus passos até chegar aonde estou são cautelosos e sedutores, como
se ela estivesse fazendo suspense a dar cada um deles. E quando ela se
aproxima mais, percebo que, na verdade, ela está desfilando no que parece
ser uma das suas escolhas de hoje.
Não lembro dela ter me mostrado este mais cedo, talvez quisesse
fazer surpresa e conseguiu.
Quando ela me alcança, tenho até uma leve confusão em levantar e
querer arrastar a mesa comigo, o que faz barulho e as pessoas ao redor
olham. Peço desculpa e Tasha começa a rir.
— Não sabia que Bruce Mackenzie era tão desastrado! — comenta
em tom de zombaria.
Puxo o ar, desamasso a blusa e recomponho a postura.
— Somente quando vejo belas mulheres. — Estendo a mão
convidando a sua, que logo repousa sobre a minha. Seus dedos são tão
delicados e imagino que ela ficará linda com o que preparei. — Mas
confesso que estava esperando ver você vestida de laranja. — Me refiro ao
vestido que ajudei a fechar, ocasionado um momento provocador entre nós
dois.
Quente, aquilo foi tão quente e ela ficou gostosa demais nele.
Sim, gostosa.
Há certos momentos que não dá para evitar certas safadezas porque
fica impossível de conter. E Tasha não é nenhuma tola, imagino eu. Ela
também sabia o que estava acontecendo, e quando exigiu que eu agisse igual
um marido de verdade, eu não esperava que ela descartasse a possibilidade
de haver situações lascivas demais a ponto de nos deixar verdadeiramente
constrangidos.
A ajudo então a se sentar puxando a cadeira e quando ela está bem
acomodada, ajudo a levá-la para mais perto da mesa.
“Ah, o cavalheirismo ainda existe, sim.”
— Eu não imaginei que você fosse gostar tanto dele — diz com a voz
surpresa e ao mesmo tempo chocada.
— Deve ser porque sei exatamente como amarrá-lo e desamarrá-lo.
— Não consigo evitar o comentário, é mais forte que eu. Além de que Tasha
e eu demos início a esse tipo de interação mais cedo.
Ela arqueia as finas sobrancelhas ruivas em contradição:
— Vale lembrar que você mencionou que o rasgaria.
— Desculpa se aquilo soou agressivo. — Comprimo os lábios
levemente envergonhado.
Às vezes, quando estou muito envolvido em algo, faço coisas no
automático, sem pensar. E por isso, posso parecer um ignorante ou um
cafajeste, depende muito da situação.
Em resposta, Tasha sorri salientando as bochechas avermelhadas.
Seus olhos verdes esta noite parecem inocentes demais, tímidos e ao mesmo
tempo, implorando por alguma coisa que ainda não sei.
— Não precisa se desculpar por isso. Além do mais, se você
realmente o rasgasse, e não sei em qual situação você faria isso, não foi algo
que saiu do meu bolso mesmo. — Ela dá de ombros, me desafiando.
Dou um riso xoxo pela sua cara de pau, mas Tasha está certa.
— Você gosta de bancar a esperta, não é? — questiono com um olhar
ameaçador.
Tasha inclina seu corpo mais para cima da mesa redonda e pequena a
ponto de deixar a distância entre nós dois muito curta. Seus peitos ficam
mais volumosos naquele decote.
— Eu não gosto de perder, senhor Mackenzie. Levo meu trabalho
muito a sério e faço tudo por ele. Então sou objetiva e preciso ser muito
esperta para isso.
Analiso seus olhos verdes que estão fixos aos meus, esperando
qualquer desafio.
— Você me faz lembrar meu irmão, Mathew — comento não sei por
que, não costumo falar da minha família em primeiros encontros, mas
geralmente todo mundo já sabe de nós. — Ele é viciado em trabalhar. Isso é
bom e ruim.
— Trabalho pode ser uma ótima terapia, em algumas ocasiões.
— Eu achava que o trabalho era o motivo de muitas terapias.
Ela dá de ombros e se afasta.
— Eu disse apenas em algumas ocasiões.
Pego meu copo com uísque e fico girando até perguntar:
— E o que fez você achar que o seu trabalho é uma terapia? — Tomo
um gole da bebida e ela pisca.
Tasha dá um sorriso sem graça e balança a cabeça espantando
alguma lembrança ou ideia.
— Quantos copos disso aí preciso beber para responder a sua
pergunta? — Aponta com o queixo para meu uísque.
Olho para o líquido âmbar e penso, “geralmente, não fico bêbado
com facilidade, tenho experiência com isso e conheço meu limite, mas
quanto a Tasha, não sei.”
— Para você? Talvez um. Mas indico um coquetel, isso aqui é forte
demais — digo tomando outro gole.
— Então pare, não quero carregar ninguém de volta para o quarto.
— E se você for a pessoa a ser carregada?
— Bom, aí eu vou dever uma para você. — Dá por vencida, batendo
a palma da mão na mesa.
— Ótimo. — Abro um sorriso e chamo o garçom que começou me
atendendo. — Um Bloody Mary para a minha amada esposa.
O rosto de Tasha contorce e acho que não fiz uma boa escolha.
— Entendi o seu truque. Você me quer bêbada — reforça
desconfiada.
— Estou curioso para saber quantos coquetéis depois, você aceitará
dançar Hula com as meninas no palco.
Ela olha para a performance por cima dos ombros e quando volta a
me olhar, mostra um sorriso malicioso
— É aí que você se engana. Sou uma excelente dançarina, não
preciso de um incentivo alcoólico para isso — revela e me empolgo com a
ideia.
“Tasha não tem medo de se jogar e eu amo isso.”
Quando a bebida dela chega, resolvo dar um passo às descobertas.
Espero que ela fique mais solta com os goles, mas Tasha é tagarela e
curiosa.
— Você gostou? — pergunto com curiosidade.
Tasha revira os olhos e arfa, passando a língua nos lábios.
“Puta merda!”
Por que ela tinha de fazer isso?
Foi tão sexy que a minha cabeça não evita flashes de cenas quentes
que me fazem remexer sobre a cadeira para que meu pau não seja de alguma
forma atiçado pelo uísque e por esta ruiva dos olhos verdes.
— Amei, está perfeito.
Me debruço mais ainda sobre a mesa, cruzando os braços na
superfície e ela faz o mesmo. Há um curto espaço entre nós dois, que lembra
muito um casal recém-casado vivendo a sua lua de mel, não podemos
esquecer desse detalhe enquanto estivermos por aqui.
— Estou curioso sobre você — digo por fim, piscando
languidamente enquanto observo seus lábios e a forma retraída que ela reage
a isso. — Sou uma pessoa pública, e você sabe mais de mim do que eu sei
de você.
— Não sei nada sobre você! — rebate afoita, como se tivesse sido
ofendida. — Se sei algo, sei por que foi o que outra pessoa escreveu ou
falou. Mas quem melhor do que você mesmo para falar de si?
Fico em silêncio porque ela tem razão. Odeio que certas pessoas
considerem os Mackenzie como três garotos que só conquistaram o que
possuem hoje porque tivemos o privilégio de já nascer em berço de ouro.
Bom, talvez seja isso mesmo. Mas ralamos e danos duro para não
sermos só mais uma família de grande sobrenome na classe alta de
Vancouver. E se eu pudesse ter a mesma oportunidade e confiança que estou
tendo e sentindo agora de frente para Tasha, eu diria o seguinte:
— Bem, então bem aqui a sua frente está Bruce Mackenzie. O
verdadeiro Bruce Mackenzie, CEO da Mackenzie Enterprises. Um homem
que gosta das coisas justas e não mede esforços quando o assunto é família.
Tenho uma filha de 13 anos que é a coisa mais linda e esperta que já
conheci.
— Então você é pai. — Aquilo não era uma pergunta, era uma
afirmação.
Percebo que Tasha sorri docemente quando soube deste fato.
— Não sou o mais perfeito, mas tento ser o melhor.
— Pois eu acho que a sua filha tem muita sorte em tê-lo como pai.
Sorrio com esmero, sempre fui elogiado por ter conseguido criar
Julie sozinho, mas houve vezes que senti muita falta de Melissa. Mas quando
juntos, Julie e eu gostamos de fazê-la presente.
— Eu tive uma boa criação ao lado dos meus irmãos. Meus pais
sempre nos mostraram os valores das pessoas e não do dinheiro. Tento
passar a mesma educação à minha filha.
Ela balança a cabeça em concordância e admiração.
Me aprumo no banco e pego o meu uísque.
— Agora é a sua vez — digo com a voz arrastada de curiosidade.
A princípio, parece que ela não irá me dizer nada, mas Tasha morde
os lábios e pisca um pouco. Está pensando no que dizer e no que não dizer.
Mas tudo bem, não vou julgá-la. Às vezes, ao falar de mim, também preciso
ser cauteloso nas palavras e nos fatos.
— É que não tenho muito o que falar. Trabalho na área do turismo, no
e-commerce e sou grega. Moro no Canadá há quase cinco anos e amo meu
trabalho. Vivo para ele e por mim. Acho que juntos podemos nos dar a vida
que sempre sonhamos, e o poder da minha independência ilumina partes
obscuras da minha vida.
Me espanto.
— Partes obscuras? — repito embasbacado; é quase impossível que
toda essa animação que irradia dela esconda uma mancha escura.
Tasha dá um sorriso amarelo e brinca com a base da sua taça chique.
Ela me olha e pisca vagarosamente.
— É bom deixar para outro momento. Não vamos deixar essa noite
com um clima fúnebre.
Embora diga isso, fico mais curioso para saber sobre a vida desta
ruiva, que espreita segredos escondidos atrás dos afiados olhos verdes. Não
irei forçá-la a dizer o que não quer, além de invadir a sua privacidade,
estarei estragando o resto da nossa primeira noite no Havaí.
Acho que é então o momento perfeito para dar a ela o que preparei.
— Comprei algo para você. Para nós, mas achei que o seu deveria
ser mais caprichado.
Subitamente o rosto dela muda, seus olhos brilham como os de uma
criança que descobre que vai ganhar um presente. Levanto para retirar
melhor de dentro do bolso o que comprei. A primeira surpresa está solta no
meu bolso, e quando sinto o material sólido, pequeno e frio, fico aliviado em
saber que não o perdi.
Estendo para Tasha o pequeno círculo de ouro branco e ela leva as
mãos à boca em choque.
— Já que devemos parecer mesmo com um casal, seria estranho se
não tivéssemos uma aliança, não é? — Mostro a ela meu dedo na mão
esquerda, mostrando que me adaptei ao papel.
— BRUCE MACKENZIE, VOCÊ É LOUCO! — grita com um
sorriso que reflete nos olhos.
Agora me sinto bem sabendo que a deixei feliz.
Dou de ombros.
— Venha, me dê a sua mão.
Tasha estende sua esquerda para mim e a pego com delicadeza.
Coloco o anel de ouro branco em seu dedo anelar e ela consegue alargar o
sorriso mais ainda.
— Agora você é minha esposa. Mas, melhor do que um anel de
casada, é o anel de noivado.
Agora, parece que falei uma coisa absurda. A princípio, parece que
ela não confia em mim, até que tiro a caixinha de veludo do outro bolso e
mostro a ela, abrindo então cuidadosamente, sempre olhando a sua reação.
Tasha está petrificada, mas também não é para tanto. O anel é de
diamante, uma simples pedra, mas vale quase o preço de três casais
comprando o pacote Gold.
— Bruce... — Fica sem palavras.
— Posso? — pergunto pegando o anel e segurando a sua mão
esquerda, já preenchida no dedo anelar pelo anel de casada.
Tasha está tão sem palavras que apenas balança a cabeça.
Desta vez, uso um pouco mais de cuidado para colocar o anel com a
pedra em seu dedo. Percebo que Tasha está tremendo e o sorriso some. Ela
está muito séria e fico preocupado.
— Exagerado?
Ela maneia a cabeça e admira o anel, esticando as mãos no alto.
— É perfeito. Desse jeito vou querer me casar mesmo com você —
brinca.
— Mas é seu. Um presente meu, para você.
Tasha pisca e dá um sorriso brando.
— Obrigada.
— Acho que agora parecemos um casal de verdade — comento, e ela
fica vermelha instantaneamente, o que acho engraçado. — O que foi?
A segunda rodada do coquetel dela chega, Tasha agradece, dá um
gole e responde:
— Nem tanto — sibila. — Não estamos demonstrando nenhum tipo
de afeto em público. Não nos beijamos e nem nos abraçamos. Acho que
podemos ser do tipo acanhados, mas casais em lua de mel jamais fazem isso.
Estreito meus olhos em sua direção.
— Ainda acho que você já foi casada alguma vez.
— Estou casada com você agora, teoricamente. — Lembra,
sacudindo os dedos com animação.
Percebo que começo a gostar da proposta do site que nos
possibilitou estar aqui. Ser marido de Tasha por duas semanas é algo que eu
gostaria muito de experimentar.
Quando o ritmo da música muda e alguns casais levantam para
dançar agarrados, tenho uma ideia.
Levanto e ergo a minha mão na intenção dela aceitar o convite:
— Vamos dançar?
Tasha não hesita, empolgada segura minha mão e levanta com um
sorriso bobo. A levo para o tablado onde os casais dançam. A música é
romântica, mas com uma pegada sensual. Precisamos ficar coladinhos se
queremos estar no ritmo do som. Peço licença antes de colocar minhas mãos
nela, em sua cintura macia. Sinto que ela prende o ar e olha no fundo dos
meus olhos, então passa seus braços em volta do meu pescoço. Há um laço
invisível entre nós dois, o puxo para mais perto e Tasha vem junto. Ela dá
um gritinho e não contenho o riso.
— Você vai me mostrar o que sabe — ordeno a desafiando.
— Então prepare seus pés, meu amor — avisa.
Ela pega a minha mão esquerda, dançamos juntos e é muito fácil
esquecer tudo ao nosso redor. Tasha mexe o quadril conforme o soar dos
tambores e nossos passos vão para frente e para trás.
Em dado momento, ela e eu recebemos colares e coroas de flores
para ficarmos mais a cara do Havaí.
As coisas ficam divertidas mesmo quando ouso virá-la de costas
para mim, grudadinha em meu corpo. Sinto que ela fica tensa no início, mas
depois vai relaxando, tanto que joga seus braços por trás dos meus ombros e
a infernizo passando as pontas dos meus dedos pela parte interna do seu
braço, terminando em sua axila e fazendo cosquinhas. Consequentemente, a
ouço explodir em uma risada espontânea e contagiante. Felizmente, Tasha
não se desgruda de mim, então me permito continuar a desbravar suas curvas
ali, em meio a música havaiana, calor e suor.
Acaricio um pouco acima da costela, bem rente aos seios. Faço com
que ela sentia que meus dedos sabem exatamente o que estão fazendo e ao
mesmo tempo, não. Porque não passam disso, de algo incompleto com gosto
de quero mais e Tasha vai fantasiar como seria meus dedos se apossando
dos seus seios. Avanço para baixo, cada vez mais, até encontrar seu quadril.
Ela havia parado de rebolar quando a colei em meu corpo, mas, como não
estou com uma ereção, faltando muito pouco para ter uma. Remexo o quadril
de Tasha, a fazendo roçar em meu calção, não tão próximo do meu pau
porque não quero parecer tarado demais em nossa primeira noite, mas sim,
fazê-la sentir que poucas coisas a mantém longe disto.
Ficamos um bom tempo assim, coladinhos. Repito a dose mais duas
vezes, dos meus dedos percorrendo pelo seu braço, e se alinhando a cada
curva do seu corpo, conduzindo seu quadril esbelto e gostoso.
“Caramba, que raba esta mulher tem!”
Depois disso, como sinal de desapontamento por parar com os
toques, sinto as unhas dela cravarem em minhas omoplatas por cima da blusa
de linho. Parece que Tasha está tendo seus desejos reprimidos e não está
gostando nenhum pouco disso.
— Vou ser sincera, Bruce — começa a falar com a voz lasciva.
Abaixo minha cabeça até seus ombros para ouvi-la melhor.
— Faz tempo que não saio com ninguém e muito menos me envolvo.
Sou exigente, admito, mas como resistir a um homem que vem ao Havaí
comigo e dança Hula deste jeito?
— Estou despertando algo em você que eu não deveria? — pergunto
me fazendo de bobo.
Tasha vira e me mostra um sorriso.
— Você está me deixando confusa sobre o que eu quero, mas acho
que um pouco de demonstração de afeto em público não faria mal a ninguém.
Como se o fato de eu estar tocando seu corpo em público para todo
mundo ver não fosse o suficiente. No entanto, entendo a entrelinhas do seu
pedido. Agarro então a sua cintura de volta e a trago para mais perto.
— Ah, entendi. Você quer um beijo?
Posso sentir o uísque esquentar meu coração e bombear o sangue
com força na direção do meu pau.
Esta mulher está me deixando louco!
Ela balança a cabeça.
— Um beijo digno de casamento depois do sim — ressalta com a voz
carregada e trêmula do que parecia ser prazer.
Fico me perguntando quanto tempo Tasha estava ignorando este tipo
de aproximação, pois parece ter chegado ao seu limite.
Os homens Mackenzie são cavalheiros e educados, mas não sabem
resistir a uma mulher bonita. É como uma faísca implorando para se tornar
em labaredas. E ela conseguiu superar todas as expectativas que me
interessam logo no primeiro encontro, é inteligente, espontânea, espírito
livre e temos química...
Muita na verdade.
Provavelmente por nossos perfis serem compatíveis no site, não
devo esquecer que é por este motivo que estamos aqui.
Teoricamente, Tasha é a mulher ideal para mim.
Então a beijo ardentemente, mas não porque os algoritmos do site
apontam nossa afinidade. Eu a beijo porque é o que eu quero fazer mais do
que qualquer outra coisa no mundo agora.
TASHA
B ruce me beija e a primeira coisa que sinto é sua barba fazendo
cócegas em mim e então os seus lábios. Fico tonta no primeiro toque, isso

porque seus lábios são macios e gostosos de beijar. Ele enfia sua língua

dentro da minha boca sem rodeios, me reivindicando por completo. O seu

beijo é tão sensual que sinto meu corpo todo queimando e implorando pelo

toque dele como estava fazendo agora a pouco. Mas Bruce enfia seus dedos

dentro do meu cabelo e parece até um animal feroz faminto enquanto me

beija e mordisca meu lábio.


Ele fica perdido e desesperado, pois logo não sabe onde me tocar.
Aperta minha cintura e então o meu quadril. Esquecemos que estamos com
plateia em volta, mas não faz diferença, está todo mundo bêbado e se
pegando também. Seria um desperdício não estarmos no clima.
— Estamos dando um show — digo entre seus lábios.
— Infelizmente, o show de verdade não carece de plateias —
respalda e fico tonta com o seu comentário.
O que ele gostaria que eu esperasse disso?
— Você sabe como deixar uma mulher curiosa, Bruce Mackenzie.
Ele se aproxima do meu ouvido e sussurra:
— Sou melhor ainda em torturar mulheres curiosas.
Não sei como ele poderia fazer isso, mas deixo a minha mente
divagar e fico quieta.
Em apenas um dia ele já me deu mais presentes do que eu imaginava.
O peso do anel em meu dedo faz esse casamento de mentira parecer tão real
que só quero fazer o que normalmente uma mulher casada faria com seu
amado marido, tudo. No entanto, preciso me controlar. Como disse a ele, faz
tempo que não me envolvo com ninguém, não estava em meus planos vir para
o Havaí e me sentir extremamente atraída por alguém.
Mas isso é só um beijo, não há nada de inofensivo, não é?
Meu corpo e mente parecem dizer algo totalmente contrário. Eu
quero o Bruce só para mim, e sei que ele me quer também porque está
tremendo e me apertando, como se quisesse me tomar ali mesmo.
Não quero imaginar o que poderíamos fazer dividindo a mesma
cama. A vontade é grande, faz tanto tempo que não faço nada, mas preciso
ser forte na primeira noite.
Por mais que pareçamos casados, a verdade é que não somos. Bruce
diz que, no fim das contas, é um presente para relembrar o início dessa nossa
baita experiência, duas pessoas estranhas que se conheceram e se
conectaram de verdade, a despeito de todas as probabilidades de tudo dar
errado.
Mas não acho que isso seja uma regra para qualquer um que
embarque na aventura que é o 14 Dias Casados. Porém, entendo a
necessidade de Bruce fazer tudo isso parecer sério demais. O exemplo disso
está quando nos deparamos com o gerente do resort, Robert Thompson que o
reconheceu de imediato, e acho que para essas pessoas, saber que um
Mackenzie está recorrendo a um site de relacionamentos é no mínimo
intrigante.
No entanto, as coisas vão ficando mais interessantes e estou ficando
certa de que deveria ser eu mesma a entrar naquele avião com Bruce.
“Mas eu não estou à procura de um amor!”
Isso tem me incomodado, confesso, até porque já sofri uma grande
desilusão amorosa. Desde Perseus, não estive com outro homem e ele foi a
minha única experiência.
Nada de sexo, nada de pernas trêmulas, nada de borboletas na
barriga e coração acelerado...
“Até eu passar um dia com Bruce Mackenzie, ele me tocar e me
beijar!”
Não quero me precipitar com este pensamento, mas ele me comprou
vestidos e um anel de diamante, me olha com um desejo contido e me toca
com tanto carinho e paixão, ao mesmo tempo, que eu não consigo conter meu
próprio corpo.
Eu sabia que quando ele me chamasse para dançar ficaria um tanto
nervosa no início, mas se ele se mostrasse um bom dançarino também,
formaríamos um bom par. E quando ele me leva para a pista de dança e me
beija, estou sentindo calor e a minha palpitação está acelerada. O mundo ao
meu redor gira e o efeito do coquetel começa a me subir à cabeça. Sinto suas
mãos me segurando para não cair ou porque está louco pelo simples ato de
me tocar e me beijar com vontade. Seus passos me conduzem e seu cheiro
amadeirado e bastante masculino me embebeda de outra forma.
Não conseguimos separar nossos lábios e nem queremos isso.
••••
Quando voltamos para a suíte, é estranho. Isso porque a mesma
sensação intensa e ardente nos acompanha desde a festa lá embaixo. A minha
primeira reação é ir para o banheiro, trancar a porta e tomar um banho.
Preciso molhar ao menos o corpo, sentir o que Bruce fez comigo com apenas
uma dança e um beijo.
Quando estou despida e ligo o chuveiro, toco a minha intimidade,
encharcada e inchada, implorando por atenção. Eu não queria, mas acabo
molhando meu cabelo também, preciso fazer esse descontrole ir embora.
Ao menos quando termino, estou cheirosa e limpa. A camada de suor
e o cheiro de álcool, cigarro e fumaça foram embora deixando espaço a um
aroma limpo, levemente adocicado e sexy.
Deixo o banheiro e pego Bruce sentado na beira da cama, esperando
que eu saia. Ele morde o lábio quando me vê só de toalha e passo direto por
ele sem falar nada. Sinto seu olhar me seguindo, um tanto tenso.
Não sei o que ele espera, mas me demoro no closet, escolhendo a
roupa de dormir. Não havia tantas opções e não trouxe nada sexy demais
porque não esperava dividir a cama com outro homem. Acabo de fato tão
envolvida em um dilema entre meus pijamas, que só me dou conta de que
estou só quando o chuveiro é ligado.
Dou uma olhada em direção a porta, imaginando Bruce nu, a água
escorrendo pelo seu corpo, percorrendo caminhos pecaminosos, onde não
consigo imaginar direito porque ou pode ser incrível demais ou
decepcionante demais.
Fico na sala, observando a decoração quando o ouço sair do
banheiro. Vou para a sacada e fico observando a praia dali. Estou com o meu
pijama de short e blusa branca, e espero que Bruce não ache simples demais.
Faço uma nota mental de comprar lingeries. Ele tem que ver que vim
preparada para ficarmos íntimos e não para trabalhar.
Ouço a porta do quarto abrir.
— Vamos dividir a cama? — pergunta ainda da porta e viro para ele.
— Eu não vejo por que não — digo mal conseguindo pensar nisso,
mas tentando soar normal.
— Então, fico com o lado direito.
O acompanho até o quarto.
Ele deita no lado que escolheu e fico do outro lado. Somente quando
deito, é que sinto todo o stress que foi este dia.
“Meu Deus, estamos menos de 24 horas aqui e parece que já se
passaram dois dias!”
Minhas costas quase gritam de dor e meus pés agradecem por
finalmente não estarem pisando em nada. Bruce me ouve gemer de dor e diz
na direção do teto:
— Sei bem o que está sentindo, também estou morto!
— Eu só queria saber, o que uma mulher como eu poderia fazer para
ganhar uma massagem nos pés do meu amado marido — cantarolo, tentando
um pouco de sorte.
— Você quer massagem nos pés? — pergunta virando para mim de
lado, se apoiando no cotovelo.
— Em qualquer lugar que estiver doendo — choramingo.
— Bom, então deixa comigo. — Levanta, vai ao banheiro e quando
volta, tem um creme em mãos. — Já fiz um curso de massoterapia, sabia?
Fique deitada de costas.
— Isso é novidade — digo e então o obedeço.
Antes mesmo que ele não mande, quando estou de costas para ele,
tiro minha blusa, a coloco sobre meus seios e então deito.
O silêncio dele é ensurdecedor.
— Eu ia mesmo pedir para você fazer isso. Deixe seus braços ao
lado do corpo e relaxe. Nada de ombros tensionado.
Já fui outras vezes à spa's, por isso sei que ele está fazendo certo e
que o certificado de massoterapia não parece ser mentira. Bom, ao menos
isso será muito bom para mim agora.
Quando Bruce despeja o creme nas minhas costas, tenho um lapso de
susto com o conteúdo espesso e frio. Quando ele começa a espalhá-lo, me
contorço toda dando gritinhos, ora pelo creme frio, ora pelos dedos
másculos de Bruce que deslizam em minha costa, desbravando cada parte.
Ele é tão bom que esqueço um pouco do beijo e dos seus toques, mas é
pensando neles que dou uns cochilos. Bruce demora com a massagem e
despeja mais creme ali, ele parece estar com muita energia para isso,
diferente de mim, que está derrotada e cada vez mais entregue à exaustão.
Em dado momento acabo dormindo e só percebo quando me dou
conta que Bruce já está em meus pés massageando.
Não interfiro e volto a adormecer.
Se ter um marido é receber esse tipo de massagem sempre que
quiser, me pergunto por que não fui atrás de um antes?!
••••
Consigo dormir feito um anjo e tenho sonhos estranhos, mas meu
sono é pesado demais para lembrar com detalhes.
Em algum momento da noite acordo de barriga para cima, com meus
seios à mostra.
— Droga! — resmungo assim que me dou conta que dormi tão
pesado que não vesti minha blusa de volta, então faço isso na primeira
oportunidade.
Olho para o lado e vejo Bruce dormindo feito uma pedra.
Será que ele viu alguma coisa?
De qualquer forma, são apenas seios e o meu nem é tão bonito assim.
Bruce é um cavalheiro, um cavalheiro que deixou a suíte pela manhã,
não avisou aonde iria e eu nem sequer tenho seu número.
Não nos atentamos a este detalhe até agora, até porque enquanto
enfurnados nesta ilha e neste resort, não teremos para onde ir. No entanto,
Bruce se mostra atencioso quando encontro um recadinho deixado por ele
sobre a mesa de canto na sala.
Bom dia, desci para pegar o melhor lugar para nós na praia.
Estarei te esperando para o nosso primeiro café da manhã neste
paraíso, minha amada esposa.
Não consigo conter o riso bobo.
Bruce está mesmo se esforçando para ser o melhor marido de
mentirinha que pode existir, ou talvez ele esteja empenhado em me
conquistar, mas duvido muito dessa teoria. Sou de longe o seu biotipo,
provável que na conversa e no jeito de pensar, mas dificilmente na
aparência.
Ok, confesso que talvez tenha usado meu celular antes de dormir e
pesquisado um pouquinho sobre a vida amorosa de Bruce. Falando assim
agora parece que sou uma stalker possessiva, mas está na internet para
qualquer um ver, e em minha defesa, foi mais para fins de relação social,
espero que ele não tenha a mesma ideia que eu e venha pesquisar meu nome
no Google ou nas redes sociais, pois se ele fizer isso meu disfarce vai então
por água abaixo, ou então, seria suficientemente estranho que a CEO
responsável do site por estarmos aqui tenha resolvido embarcar nessa
situação. Mas é uma situação muito improvável.
De qualquer forma, descobri que a falecida esposa de Bruce, era uma
esquiadora profissional, que acabou falecendo fazendo o que mais amava.
Isso faz tanto tempo, que hoje a filha deles tem 13 anos. Mas até agora ele
apenas mencionou a filha não entrou em detalhes da vida dela.
Melissa, esse era o nome dela, era uma mulher superelegante e
carismática. Possuía um belo cabelo, pele bronzeada e um sorriso lindo de
iluminar corações; não havia uma foto sua que não fosse em eventos com os
Mackenzie, vestindo roupas da alta costura e joias caríssimas. Porém, uma
em específico dela vestindo flanelinha enquanto babava na filha ainda bebê
ao lado de Bruce, era de aquecer o coração.
Eles pareciam tão felizes, tão normais e em sintonia.
O que aconteceu a eles foi uma tragédia, uma perda irreparável.
Bruce deve ter ficado de luto por muito tempo, mas encontrei alguns
sites de dois anos atrás noticiando quando ele tentou sair com outras
mulheres, mas a notícia dizia que Bruce continuava um cara, "triste e
desolado, incapaz de amar de novo e entregar seu coração mais uma vez".
A morte da sua esposa ainda o assombra, e acho que por estarmos
aqui vivenciando essa lua de mel, o faça sentir coisas que somente ele é
capaz de entender, abrindo memórias há tempos engavetadas.
Precisava conversar sobre isso com ele, apesar da delicadeza do
assunto, mas é por cautela, não quero ser indelicada ou brincar com seus
sentimentos.
Preciso descer!
Me arrumo para o café e para a praia. Coloco meu biquíni azul-
marinho, que eu achava que não teria tempo de usá-lo, e então visto por cima
dele um vestidinho branco soltinho; calço sandálias confortáveis e enfio
algumas coisas necessárias em minha ecobag. Faço um coque no meu cabelo,
acabei dormido com ele molhado, e coloco um chapéu preto na cabeça para
disfarçar a confusão que ele está.
Tranco a nossa suíte assim que saio e tapo os olhos com óculos de
sol. Já do lado de fora, passo por jardinagens incríveis e assimétricas,
esbanjando verde e paz por toda extensão. As piscinas estão lotadas, mas
são as crianças que fazem a festa. Quando alcanço a plataforma que separa o
concreto do resort da areia fofinha e limpa da praia, percebo Robert vindo
em minha direção, bastante sorridente, bem como um gerente deve ser.
— Bom dia, senhora Mackenzie. — Cumprimenta usando o
sobrenome de Bruce, porque já que estamos casados, é assim que eu deveria
me chamar. Mas não estamos casados, e eu ainda sou Alexander, então este
detalhe ainda soa estranho, mas muito empolgante.
— Bom dia, senhor Thompson. — Também uso seu sobrenome. —
Viu meu marido por aí?
— Claro, ele está no décimo segundo chapéu de palha, mas acho que
o vi entrando no mar agora a pouco.
Olho em direção às ondas que quebram com calma na baía, mas não
vejo nenhum rosto conhecido.
— Ah, bem, obrigada. — Sorrio agradecida, mas ele me detém.
— Me desculpe, senhora Mackenzie, mas não sabia que você e Bruce
estavam casados.
Franzo o cenho.
— Você me conhece? — Fico intrigada com a forma como ele
pareceu bastante perplexo.
— Bem, você é a CEO do site 14 Dias Casados, não é? Quando o
resort fechou contrato com o site, pesquisei um pouco a respeito para saber
quem seria a responsável por trás da nossa nova parceria.
Robert parece mesmo ter feito a lição de casa, mas não posso julgá-
lo, só mostra que é um profissional dedicado e eu teria feito o mesmo. Mas
não estou assustada o suficiente até ele complementar:
— E sabe, meio que lembrei, que a suíte 1040 foi reservada para um
casal do seu site, que está no nome de Bruce Mackenzie.
Congelo.
“Mas que bisbilhoteiro!”
Fico em um beco sem saída, a minha única opção agora parece contar
a verdade a ele, mas acho que o nervosismo do momento apenas me
impulsiona a mentir mais ainda.
— Senhor Thompson, tenho um site que disponibiliza pacotes
incríveis que oferecem os melhores serviços e dá a real experiência de viver
uma lua de mel. — Dou de ombros, desdenhosa. — Não entendo por
que não usar o site 14 Dias Casados para isso. Além do mais, muitos casais
recém-casados fazem o que estamos fazendo.
Os olhos pretos do homem abrem em compreensão e surpresa.
Mesmo sob o dia quente, ele está com seu terno imaculado. Robert leva a
mão esquerda ao peito e se inclina um pouco para a frente de maneira sutil.
— Mil desculpas, senhora Mackenzie. Só achei estranho como a
união de vocês foi tão discreta. Aposto que o senhor Fernandes teria dado
essa lua de mel a vocês como um presente.
Conheço este nome...
Fernandes é o dono do resort Sunshine, e estivemos em reunião
semanas atrás para fechar a parceria, quer dizer Erin esteve em reunião com
ele eu apenas participei por telefone. Não culpo Robert pela confusão,
apesar de se mostrar curioso, admito que eu também sou curiosa. Mas isso
pode ser problemático, então preciso que ele seja cauteloso ao espalhar essa
informação por aí.
Me aproximo dele e digo um pouco baixinho:
— Eu ficaria grata se você não comentasse com mais ninguém. Bruce
não quer que as pessoas sejam indelicadas, porque você deve saber sobre o
que aconteceu a sua antiga esposa. Ele precisa viver este momento sem
ninguém opinando.
O homem balança a cabeça com veemência.
— Entendo perfeitamente, senhora Mackenzie. Estarei aqui para o
que vocês precisarem.
Sorrio a ele, que soa bastante confiante.
— Tudo bem então, até mais.
Me despeço dele e entro na praia, com os meus órgãos sendo
pressionados pelo medo de ser desmascarada e a terrível mania de mentir
que adotei há um dia. Não sou essa pessoa, juro que não sou. Minha
consciência está pesada, e sei que quanto mais mentiras, pior a situação fica
para o meu lado.
Preciso falar com Erin urgentemente!
Quando alcanço o chapéu de palha que Robert me indicou, percebo
que os óculos Ray-ban e a necessaire com as coisas de Bruce estão ali em
um amontoado com a sua toalha e uma blusa azul escura de botões. Deixo
minha bolsa e o chapéu logo ao lado das coisas dele e pesco meu celular
rapidamente. Mal havia me dado conta que estou tremendo, que minha
aceleração mudou e meu buço está suado.
“É nisso que dá ser uma terrível mentirosa!”
Sento em uma das espreguiçadeiras e fico olhando para o mar
azulzinho, que parece querer se infiltrar com o azul anil do céu no horizonte.
Busco o contato de Erin na minha agenda e ligo para ela. A atendente
me informa que essa ligação me custará caro, já que estou no Havaí e Erin,
em algum lugar da Europa. Onde ela está deve ser quase fim de tarde ou
alguma coisa assim, mas ela tem um toque especial quando se trata de mim
ou Lili ligando para ela, isso significa que não importa o horário, ela tem
que atender!
Erin não demora para atender e diferente da última vez em que liguei,
agora ela parece estar em um lugar calmo e sua voz soa divertida do outro
lado da linha.
— Oi, amiga, como está sendo no Havaí? Conseguiu ao menos ligar a
câmera? — Zomba de mim.
Acabo lembrando que ainda preciso fazer o trabalho de Erin, por
isso fico calada, e ela estranha.
— Oi? Ainda está aí? Estou ouvindo o som do mar, deve estar
terrível aí para você.
Ainda não, mas talvez em algum momento fique. Engulo em seco,
como se tivesse atolado a boca na areia. Não sei por onde começar, mas
opto pelo princípio.
— Erin, aconteceu um terrível engano. Quero me matar por estar
sendo uma pessoa tão horrível. — Não esperava soar tão desesperada e isso
a assusta.
— Tasha, o que houve?
Fico imaginando suas grossas sobrancelhas franzindo, e aquele
rostinho redondo dela que está sempre sarcástico, ficar preocupada.
— Eu conheci Bruce Mackenzie — começo a falar devagar, para que
ela consiga acompanhar as informações seguintes. — O perfil compatível
com o dele não apareceu e fiquei preocupada porque nunca nos aconteceu
este tipo de coisa com quem pagou pelo Gold. Mas eu o ouvi dizer que era
um encontro às cegas, então ele não sabia quem esperar e eu...
— Puta merda!
Erin é esperta, nem precisei explicar tudo para que ela entendesse
aonde eu queria chegar, mas continuo:
— Falei que era a acompanhante dele. Acho que armaram para ele,
pois acreditou em mim e até agora está perdidinho. — Solto um suspiro,
imaginando como a pessoa que o meteu nessa reagiria ao descobrir que sou
uma farsa. — Mas estamos indo bem. Só que nunca menti tanto na minha
vida, e isso vai ser uma catástrofe lá na frente. — Pauso, não ouço nada
pelos próximos segundos, a não ser a respiração ofegante de Erin, que
finalmente explode:
— SUA SAFADA! VAI TREPAR COM O GOSTOSO DO BRUCE
MACKENZIE! — Literalmente grita, tanto que afasto o celular do ouvido
para proteger meu tímpano.
— Não é bem assim que a banda toca, Erin.
— Quem vai tocar vai ser você, Tasha. Uma “flauta” bem cobiçada e
podre de rica!
— Para de usar essas analogias broxantes. — Reviro os olhos.
“Não aceito estarmos falando do pau do Bruce.”
— Me conta, vocês já transaram, não transaram? — Me ignora e
continua com sua curiosidade pervertida.
Eu já deveria imaginar que isso iria acontecer.
— Não. Somos respeitosos um com o outro. Ele parece se sentir
incomodado por estar aqui, mas eu meio que tenho o forçado a curtir tudo e
viver a experiência. Quero que ele tenha uma boa impressão do site quando
essas duas semanas passarem.
— Tasha, você é uma mulher incrível e super gostosa, ele vai sair do
Havaí apaixonado! — profetiza.
Também tenho esse pensamento louco, mas parece muito distante da
minha realidade. E com isso, lembro de um detalhe da noite passada que me
fez ir à Lua e voltar. Ergo as mãos e vejo os dois anéis, parece até mentira.
— Erin, ele me deu um anel de noivado, com uma pedra de diamante
linda.
Ela grita mais uma vez.
— E um anel de casamento. Comprou até para ele um, para deixar
mais realista a nossa relação.
Outro grito histérico vindo da Europa.
— Isso significa que em pouco tempo vocês estarão fazendo amor, já
que estão levando esse lance super a sério.
— É isso o que me assusta — confesso baixinho, quando a longe,
vejo uma figura alta e cheia de músculos sair do mar. — E se a gente ficar?
E se a gente se gostar? Quando chegarmos em Vancouver, a verdade virá à
tona.
Erin solta um suspiro.
— Tasha, relaxa. Quem meteu ele nessa, deve esperar que ele se
apaixone mesmo. Pouco importa quem era a outra pessoa. Posso dar uma
conferida aqui e saber quem era, ok?
Me parece ótimo, mas não a respondo de imediato porque estou
ocupada demais vendo Bruce se aproximar do nosso chapéu de palha. O sol
reflete em sua pele molhada, dando um brilho, foco em seus músculos e aos
seus gominhos que são tantos que mal posso contar. Traço um caminho reto
do seu abdome trincado até o cós da sua sunga escura e justa nas coxas
grossas e compridas. Me perco no volume que faz ali embaixo e de repente
fico o imaginando duro e apontando para cima, com meus dedos em volta
dele e ficando todo lambuzado por mim.
Sinto uma vertigem e a minha boca se encher.
“Porra!”
— Tasha? — Erin me tira daqueles devaneios impuros.
— É uma ótima ideia. Assim que der eu ligo de volta. Preciso
desligar agora, tchau.
Me apresso para desligar a ligação e mal ouço Erin se despedir. Sei
que ela vai ligar para Lili e contar o que está acontecendo aqui no Havaí, e é
bom que duas cabeças estejam trabalhando para tornar essa situação menos
errada o possível.
Quando Bruce chega, deixo o celular longe e sorrio para ele que me
dá um rápido beijo de bom dia na boca, rompendo algo dentro de mim e
aquecendo meu coração. Passa a mão no cabelo negro úmido, o penteando
para trás e agora mais perto, a presença do seu corpo seminu me deixa
desequilibrada, com uma coceirinha entre as pernas e a vontade de ficar só
o admirando.
— Bom dia, como está se sentindo? — pergunta com a sua voz
sedutora, carregada de energia matinal.
— Bom dia, estou me sentindo bem, mas muito faminta.
“Em todos os sentidos, senhor Mackenzie.”
— É claro que está. Acho que daqui a pouco chega o café da manhã
que pedi para nós.
Pega a toalha, enxuga o cabelo e volta a largá-la sobre a mesa.
Parece até que quer se exibir para mim só porque é um gostoso.
— Você saiu bem cedo — comento.
— Assim como você, estava fazendo uma ligação também. Com
quem estava falando? Se eu não estiver sendo muito intrometido, desculpa.
Espero que ele não perceba que fico nervosa, mas tento disfarçar
sorrindo e mantendo uma postura tranquila.
— Erin, minha amiga que me incentivou a estar aqui.
— Achei que eu teria sido o incentivo — respalda fazendo o
dramático.
— Também. — Pisco e pergunto devagar: — E eu fui o seu?
Bruce dá um sorriso de lado charmoso e as suas pupilas dilatam.
— Com certeza.
Isso é mais do que eu poderia esperar. Já cheguei a imaginar essa
possibilidade, mas descartei por conta de sua impossibilidade, mas agora
com ele falando isso, não dá para não confiar na sua palavra.
Somos interrompidos por dois funcionários que trazem nosso café da
manhã recheado. O cheiro de café, frutas e pães mesclam ao cheiro salgado
do mar. Bruce senta na beira da minha espreguiçadeira enquanto eles
organizam tudo.
— Está bom assim, senhor? — um deles pergunta.
Em resposta, Bruce pousa sua mão sobre a minha perna, me fazendo
dar um salto contido pela surpresa do contato físico. Exibe um sorriso de
satisfação e fica massageando ali, como uma massagem tântrica. O toque
continua enviando arrepios gelados por todo meu corpo, e a sensação dos
seus dedos sobre mim, faz minha vulva pulsar como um vulcão que volta à
ativa.
— Está perfeito. O que você achou, meu amor? — ele me pergunta e
estou tentando me recompor.
Sinto meu rosto esquentar e meus olhos não escondem o quão estou
surpresa por esse toque carinhoso e instigante.
Preciso pigarrear para voltar ao normal.
— Ótimo — digo olhando na direção dele, que me encara também.
— Deve estar muito gostoso.
Por fim, aperta minha coxa e para de me tocar. Fico com uma
angústia enorme, porque esperava que ele continuasse e subisse mais seus
dedos. Me tocando em todos os lugares, mas parece que Bruce faz isso de
propósito, porque com certeza ele me viu babando por ele enquanto saía do
mar igual a um Poseidon.
— Excelente! Vamos comer. — Levanta e começa e se servir,
enquanto me sinto abandonada naquela espreguiçadeira.
Bruce age como nada tivesse acontecido
— Sklirós ilíthios — resmungo em grego baixinho, e desta vez ele
não me ouve dizer idiota cruel.
Bruce não sabe o tipo de desejo que está despertando em mim.
BRUCE
Fiz Tasha dormir apenas com o poder de uma boa massagem. Sei
que não perdi tempo quando investi nas aulas de um mês. Christopher dizia

que eu queria pegar as massagistas, mas juro que nunca passou isso pela

minha cabeça, estava muito focado. Mas quando estava massageando Tasha

na noite passada, tudo o que eu queria era lambuzá-la e massageá-la até

chegar no meio de suas pernas e provocá-la até que ela me pedisse por mais.
Não aconteceu nada disso, e quando percebi que ela estava
dormindo, eu só a deixei de lado descansando em paz. Mas confesso ter sido
difícil pegar no sono. Isso porque ela estava com seu belo par de seios à
mostra, e porque fiquei lembrando do nosso beijo. Aquele beijo gostoso que
só os lábios macios dela foram capazes de me fazer sentir a vida voltando a
chama de novo. Explorei sua boca com a minha língua, minha vontade era de
deitá-la sobre uma daquelas mesas e fodê-la ali mesmo.
Não aconteceu, mas sonhei com algo do tipo.
Quando o sol começou a nascer, me certifiquei que ela estivesse
acomodada para que eu fosse tomar um café puro e fazer uma ligação
importante.
Dei uma rápida espiada e Tasha dormia igual a um bebê. Exalando
pura inocência, nem parecia a mesma mulher da Festa da Hula.
Ela tem um espírito livre que me cativa e a sua felicidade após
ganhar o presente que a dei, pareceu genuína demais e extremamente
chocante. Foi como se ela realmente tivesse me dito "Sim". Então fico
convencido a dar a ela mais que o serviço do pacote Gold pode oferecer.
Tento não fazer muito barulho quando me troco para ir à praia. Deixo
um bilhete para ela antes de sair, imaginando que a primeira coisa que ela
irá procurar quando acordar, será eu. Entretanto, espero que ela não se
importe com as coisas que tenho em mente, mas se gostou do anel, irá amar o
que quero preparar. Tasha conseguiu me convencer de que esses dias podem
ser os melhores desse ano, e por isso, achei que precisava falar com alguém
muito específico.
Vou até o salão de refeição que está preenchido pelo delicioso aroma
de pães fresquinhos, cappuccino, frutas e bacon. Fico sentado na mesa mais
distante para que os murmurinhos aleatórios não me atrapalhem e peço ao
garçom que me dê somente uma xícara de café; preciso me despertar para o
resto do dia. Não dormi bem essa noite, mas espero receber uma carga de
energia por conta da cafeína e da água gelada do mar, pois pretendo me jogar
nele assim que sair daqui.
Apanho meu celular e procuro na agenda pelo contato de Christopher.
Sou o irmão do meio, logo, tenho mais proximidade com ele e, ao mesmo
tempo, um senso autoritário. Ele prefere a mim a Mathew, mas nem sempre
foi assim. Chris começou a ter preferências quando Mat passou a mudar
drasticamente por conta do trabalho duro e consequentemente, da traição.
Chris diz que não temos culpa por Abigail ter colocado um par de galhas na
sua cabeça, assim como as trigêmeas também não tem e eu concordo com
isso. Quase sempre nos desentendemos por querer sempre o melhor para Mat
e as meninas. Mas meu irmão mais velho tem muita responsabilidade e
sentimentos reprimidos.
Espero que um dia Mathew encontre alguém capaz de iluminar as
sombras que o perseguem, assim como espero que Christopher volte a
acreditar no amor.
E por falar em Christopher, ele atende no terceiro toque:
— Olha só quem resolveu ligar — provoca do outro lado da linha
— Você é um covarde. Quando voltar, vamos conversar direito sobre
isso. Julie nunca teria tramado nada disso sozinha! — digo rispidamente,
cerrando os punhos.
— Calma lá, irmão. Você está no Havaí, não está?
Pisco atordoado. Não liguei para reclamar, embora a minha primeira
ação tenha sido ameaçar Christopher. Tento ficar tranquilo e lembrar do
motivo que me fez ligar para ele.
— Eu não queria, Chris. Não queria mesmo. Julie tem andado muito
com você e juntos ficam tramando para cima de mim.
— Está esquecendo que você prometeu a ela que faria isso — diz
num tom sério, e mentalizo os olhos extremamente verdes ficando duros; de
toda a nossa família, Chris teve a sorte de herdar a tonalidade mais clara e
marcante dos olhos verdes. — Não fique aí se lamentando como se fosse um
pobre coitado! — argumenta e sinto vontade de agarrar o colarinho da sua
blusa para fazê-lo me respeitar e me ouvir. Infelizmente, estou longe demais
para isso.
— Não vim lamentar, vim agradecer. Se você não fosse tão bocudo,
deixaria eu falar.
— Agradecer? — meu irmão repete perplexo.
Confesso que até eu estou, mas não desminto o que acabei de falar.
— É, eu sei. Que grande reviravolta em poucas horas, não é? Mas
gostei da Tasha. Estamos nos dando bem e vou ficar essas duas semanas por
aqui.
— Tasha — repete mais uma vez, mas desta vez não foi uma pergunta
é como se ele estivesse pensando em alto, tentando se lembrar do nome.
Eu não ficaria surpreso se ele revelasse que não sabe nem quem é a
Tasha. A grande intermediária de tudo isso, foi a minha pequena grandiosa
Julie. Ela deve saber de Tasha mais do que eu, mas espero que a própria não
precise saber disso nunca. A minha "esposa" está certa que eu a escolhi
assim que vi o quão compatíveis somos. Mas agora estou aqui, cheio de
orgulho falando dela para meu irmão mais novo, porque acho que gostei
dela.
— E como está a minha filha? — pergunto embora minha Julie tenha
ficado sob a responsabilidade de Mathew, que joga tudo nas costas de
Rachel, a babá.
— Por que você não liga para ela? — indaga com brutalidade.
Chris sempre tem esses picos de rebeldia que me preocupa quando
está perto de Julie. Mas por sorte, minha menininha não é facilmente
influenciável.
— Porque essa hora ela está na escola, seu idiota! — Franzo o cenho
no instante em que o meu café chega.
Agradeço ao garçom e dou um gole, arriscando queimar até a língua
com o líquido fumegante.
— Rachel está cuidando dela. Não se preocupe, Julie está bem. Você
sabe que ela derrotaria você, Mat e eu facilmente, não é?
Dou um sorriso orgulhoso ao imaginar isso. Algum dia, Julie poderá
se tornar CEO da Mackenzie Enterprises também, se assim desejar. Ela
conseguiria carregar nas costas o que é necessário três homens adultos
fazerem; seu senso financeiro, administrativo e criativo aos 13 anos é de
ficar realmente chocado. Onde estiver, sei que Melissa está orgulhosa da sua
filha.
— Julie só quer que eu siga em frente. Acha que todo ser humano só
é completo quando encontra sua outra metade. Talvez ela tenha medo que eu
vire um amargurado igual a Mat.
“Às vezes eu também tenho esse receio.”
— Ela tinha que ser filha da Melissa, mesmo.
Ouço a risada triste de Christopher. Melissa era sua melhor amiga e
foi ele quem me apresentou a ela.
— Se fosse somente uma Mackenzie, duvido muito que pensaria uma
coisa dessas.
— Ensinei Julie a esperar o melhor das pessoas e sempre ser
otimista. Conheço a minha filha, por isso prometi embarcar nessa aventura.
— É, mas agora está aí porque seu pau latejou no exato segundo que
viu a Tasha, não foi?
“Sim, quase isso.” Mas não revelo esse detalhe.
— Afinal de contas, que nome é esse?
— É uma abreviação de Natasha. — Sorrio em como Tasha combina
perfeitamente com ela e soa muito exótico. — Ela é grega.
Christopher soa com uma surpresa fascinada através da ligação.
— Então quer dizer que a Deusa do Amor flechou seu pobre coração
mortal?
— Não pira, Chris. Mas ela é legal, teria sido muita sacanagem se eu
tivesse dado um bolo nela ainda em Vancouver.
— De fato. E agora você está no Havaí com uma pessoa compatível
com você. Finalmente você vai sair da seca depois daquelas duas que você
trepou quase um século atrás!
— Não enche. Espero que não esteja dizendo essas coisas imorais na
frente da Julie.
— Cara, que tipo de tio você acha que eu sou?
Ele tem razão, apesar de toda a irresponsabilidade, Chris é um tio
exemplar. Ele é louco pelas trigêmeas, mas sempre teve uma ligação
especial com Julie. Ser tio para ele é uma das melhores coisas que tem feito
recentemente; já vi Chris deixar encontros para trás para fazer companhia
para uma Julie entediada quando eu estava extremamente ocupado, e já o vi
assumir uma postura paterna quando se trata da negligência de Mathew com
as trigêmeas.
Sei que posso contar com ele para tudo, principalmente quando o
assunto é Julie. Por isso, peço para que ele deixe para ela um recado, o
cérebro brilhante dela nunca erra.
Termino a ligação com Christopher e como o café está quase frio,
tomo tudo num gole só. Pago a conta e solicito ao garçom um tratamento
exclusivo de refeição; peço que levem para o chapéu de palha um café da
manhã caprichado.
Vou começar a fazer o dia de Tasha valer a pena a partir dali.
Sigo para a praia e no meio do caminho noto alguns olhares
femininos na minha direção. Chris teria usado isso ao seu favor, mas estou
aqui como um homem casado e feliz, e mesmo que não fosse o caso, respeito
minha acompanhante. Embora imagino que nunca iria rolar nada além dessas
secadas de olhar que elas dão. Sempre fui o mais romântico dos meus
irmãos, o mais reservado. Então para mim, sexo bom é aquele que exala
putaria, mas com uma conexão arrebatadora. E é essa conexão que há tempos
que não sinto, mas me faz hesitar por parecer algo totalmente novo.
No entanto, não é algo da qual esteja adormecido para sempre. Sinto
que sou capaz de sentir essa conexão de novo, mas não quero ficar com
achismo, quero estar certo disso.
Quando deixo minhas coisas na mesa do chapéu de palha, entro na
água só de sunga e resmungo com a água fria, que leva para bem longe de
mim toda a preguiça e cansaço que seguiu de um dia corrido e algumas noite
mal dormidas. Pois conforme a viagem se aproximava, mal conseguia pregar
os olhos. Espero no mínimo recuperar o sono aqui, mas para isso, teria ao
menos que confiar mais em mim e aceitar que Tasha e eu dividiremos a
mesma cama.
Fico por ali mergulhando, observando o horizonte e pensando em
coisas aleatórias, quando de repente, encontro Tasha sentada sob o nosso
chapéu de palha, falando ao telefone e de óculos escuros. Encaro como um
bom momento para sair do banho e ir até ela. Até porque não irá demorar
muito para que nosso café chegue.
Estou ansioso e animado para saber o que ela gostaria de fazer no
resto do dia. Teremos de ser muito criativos.
Duas semanas no Havaí pode acabar sendo cansativo, se você não
souber onde procurar diversão. Mas se eu ficasse preso em uma ilha com
Tasha, acho que teríamos diversão para dar e vender. Falo assim porque ela
está se sentindo atraída por mim, posso ver e sentir conforme seu corpo
reage ao meu olhar, a minha aproximação e ao meu toque.
“Tasha gosta quando eu toco nela”, mas vou esperar que ela me
revele isso, para que eu tenha a liberdade de fazer com mais propriedade.
....
Faço Tasha entrar na água um tempinho depois que terminamos o café
da manhã. Na verdade, senti que ela estava me provocando quando tirou
sutilmente o vestido branco bem na minha frente e exibiu seu corpinho
delicioso, como um show particular. A cor do seu biquíni combina com a
minha blusa de botões, mas não é para isso que estava olhando quando ela
está paralisada ali, com as mãos na cintura observando as ondas quebrarem
na margem.
Pode ser uma grande besteira e machista demais surgir com este
pensamento, mas Tasha de biquíni é a provocação mais perfeita que pode
existir. Isso porque o dia lindo combina perfeitamente com seu cabelo ruivo
e os olhos verdes, além das sardas discretas que respinga por todo seu
corpo. Estou aqui parado a observando terrivelmente perto demais a ponto
de não poder colocar as mãos.
O bumbum redondinho de Tasha parece caber perfeitamente em
minhas mãos, mas na parte dos seios acho que eles sobrariam entre meus
dedos. Ela tem uma cintura incrível e belas pernas sensuais. Estou gamado
em seu corpo, e a pego surpreendentemente no colo só para ter a desculpa de
tê-la mais uma vez em meus braços, reivindicando aquele toque que tanto me
fascina e me tira do eixo.
— NÃO, BRUCE! — grita entre risadinhas e esperneia, mas também
não faz mais do que isso. — ME LARGA!
— Vamos curar essa ressaca, senhora Mackenzie.
Entro com ela no mar, e a deixo em pé antes que uma onda nos acerte.
A animação dela me contagia e ficamos empurrando um ao outro; ela cai
sobre mim diversas vezes, na beira do mar, amassando seus seios contra
mim, com seu peso estimulante. Vez ou outra ela segura a parte de cima do
biquíni que ameaça ser arrancado, ou então apostamos corrida dentro da
água e batemos braços e pernas até alcançar uma parte onde as ondas não
são violentas.
Quando cansa de ficar nadando, Tasha vira e fica boiando de barriga
para cima, com olhos fechados enquanto saboreia a vitamina C e o banho de
sal do mar, que dizem revitalizar a saúde e levar para longe energias ruins.
Tasha parece um mar inteiro de coisas boas, e de repente, quero mergulhar
nela.
— Você é linda — digo de supetão, a fazendo me olhar incrédula.
— Eu não sabia que você era cego — rebate esnobando a verdade
daquilo.
— Deveria ser menos cruel com você, e aceitar que é uma mulher de
beleza incrível.
Ela dá uma risadinha sem jeito e recordo que na noite anterior, Tasha
explicou de forma triste a forma como as suas inseguranças foram resultado
do tratamento oferecido da própria mãe.
Há quanto tempo Tasha não deve ouvir um elogio?
Ela foi há tanto tempo negligenciada, que marcou a sua autoestima de
uma forma que não a faz acreditar em mais ninguém.
— O que você quer com isso, Bruce Mackenzie? — pergunta
desconfiada.
— Assim você me ofende. Será que não posso elogiar minha mulher?
— Você está mesmo envolvido no papel.
Franzo o cenho.
— Não deveria? Gostaria de conhecer você melhor, me aproximar
mais de você. Parece até que não queria estar aqui.
Tasha muda de posição após meu comentário acusatório. Seu olhar é
especulativo na minha direção.
— Você também não parecia muito a fim de embarcar nessa viagem
— exprime o pensamento e não consigo disfarçar minha cara lavada de quem
realmente não queria estar aqui. — Ia me deixar sozinha no aeroporto, não
ia?
Pisco atordoado, pois a verdade é como uma inimiga cruel na
maioria das vezes. Mas me sinto culpado também, e só piora as coisas
quando ela confessa ter tido essa impressão desde o início.
— Não achei que fosse verdade, ainda mais por não ter visto uma
foto sua sequer. Mas aí vi você e não consegui resistir.
Ela pisca, ainda está incomodada com alguma coisa quando olha em
direção à praia. Estou começando a ficar cansado de bater as pernas debaixo
da água, teremos de sair em breve antes que comece a dar câimbra, mas
Tasha quer saber mais.
— Ainda não entendo o motivo de tornar isso tudo tão real.
Sorrio em desdém.
— Bem, você mesma disse assim que chegamos que se somos um
casal aqui, então teremos de parecer como um. Deixou isso bem claro na
butique também.
— Eu sei, mas... Tem medo que as pessoas descubram que você está
aqui por causa do site? — pergunta inesperadamente.
Não sei por que, mas de repente Tasha começa a lembrar aquelas
repórteres investigativas que fazem perguntas bastante específicas.
Tudo o que conheço do site 14 Dias Casados, é que pessoas solteiras
costumam usá-lo para curtir uma lua de mel, depois romper sem
compromisso algum o que parece uma experiência de desejo comum, mas
medo irrefreável. Casamento não é tão horrível assim, no entanto, estar
envolvido como um dos clientes do site pode ser ruim para a minha imagem
séria. Christopher é quem desempenha o papel de garanhão, e não sei por
que ainda não comprou um dos pacotes.
— O que esse tipo de pergunta significa? — acabo perguntando,
assumindo a mesma postura dela.
Tasha dá de ombros.
— Estou apenas curiosa. Você é uma pessoa pública, não quero que
tenha vergonha de mim.
Não entendo por que ela está dizendo essas coisas, mas me aproximo
dela. Mais um pouco e acho que começaremos a nos afogar, então sou
rápido:
— Eu jamais teria vergonha de você, afinal é linda e uma mulher
rara. Por que acha que eu dei um anel para você?
Ela não diz nada a princípio, então faço as honras.
— Vamos fazer essas pessoas acharem que somos de fato casados.
Vamos curtir essa experiência, como você diz. Temos o Havaí só para nós.
— Temos? — Seus olhos brilham igual ao de uma criança que
descobriu ter sorvete no congelador.
Balanço a cabeça em direção à praia.
— Vamos, quero te mostrar uma coisa.
Então voltamos a nadar para fora da água, vou logo atrás de Tasha.
Fico com a impressão que ela desconfia de mim, mas não consigo
compreender o que isso poderia causar tanto interesse nela. Falei a verdade,
ou meia verdade, eu não poderia dizer a ela que a minha filha me meteu
nessa. Só que o mais importante é ela saber que estou aqui por ela, e que os
próximos dias na ilha serão incríveis.
Tasha pode não ter acordado de ressaca, mas percebo que nossa
conversa de ontem ainda ressoa no seu humor. De repente ela ficou muito
insegura, e o fato de eu a ter elogiado deve ter despertado algo como a
descrença que eu posso dar a ela atenção exacerbada que não teve quando
mais nova.
Não sei o que é, mas acho que há algo além das negligências da mãe
que ela não quer me contar.
••••
Levo Tasha para fazer trilha, vamos com as mesmas roupas que
estávamos na praia, pois se trata de uma excursão improvisada. Nos
juntamos a um grupo de turistas, e antes que a gente saísse para a rota, ela
tira da bolsa uma câmera profissional e pendura no pescoço. Ela diz que o
equipamento é usado para a o trabalho dela, já que precisa convencer
pessoas através de imagens persuasivas a fecharem contrato com agências de
viagem. Às vezes, ela vende essas fotos, por isso tira foto de tudo, do
momento em que saímos até a hora em que nos metemos na vegetação
pomposa da trilha oferecida pelo resort.
Conhecemos algumas plantas regionais e uns animais fofos. Dois
macacos nos chamam atenção quando eles se interessam pelas frutas que
levamos especialmente para eles. Tasha dá a câmera para um senhor quase
da mesma idade do meu pai para tirar uma foto nossa, brincando com os dois
macaquinhos apoiados em nossos ombros. Julie teria amado isso assim como
as trigêmeas. Depois disso os animais somem de barriga cheia.
Retornamos para o chapéu de palha e a nossa mesa é composta por
iguarias e suco natural para o almoço. É um serviço ótimo, enquanto temos
como fundo o mar bem ali, perto de nós. Zombo dela por ter dormido durante
a massagem que fiz.
— Sou fraca para isso, mas foi muito bom. Então você pode fazer
massagem em mim sempre que quiser — diz em sua defesa depois que toma
pelo canudo o seu suco de morango.
Eu não deveria sexualizar este simples ato de beber algo pelo
canudo, mas noto que Tasha tem uma língua habilidosa quando ela puxa o
canudo com a pontinha da língua a enroscando nele e puxando para o
mistério da sua boca.
Preciso pigarrear para recompor a postura.
— Ao menos sei que o curso de massagem foi um bom investimento
de tempo — comento, e ela me olha de forma divertida e franzida.
— Porque o investimento de dinheiro com certeza não fez nenhuma
diferença, não é? — soa sarcástica e franzo os olhos.
— Mas você amou. Estava até gemendo. — Isso foi antes dela
dormir igual a uma pedra. Mas enfatizo a palavra para constrangê-la. Tasha
começa a ficar vermelha igual a um tomate enquanto se emburra.
— Cala a boca! — Me estapeia no ombro esquerdo com uma força
que o som estala no ar.
Algumas pessoas nos olham chocadas, mas logo nos ignoram.
— Aí! — Massageio onde ela me bateu, então digo um pouco
provocativo: — Sempre ouvi dizer que ruivas são um perigo. Costuma ser
sempre agressiva assim?
— Eu sou um amor de pessoa, mas não teste a minha paciência, muito
menos o meu bom humor — avisa arqueando a sobrancelha
ameaçadoramente.
— Acho que vamos ver de tudo esses dias.
— Será que um dia verei Bruce Mackenzie de um jeito que ninguém
mais viu?
— Você já está vendo, Tasha. Faz tempo que não saio com alguém e
me sinto tão à vontade.
Ela pisca atordoada e algo parece incomodá-la. Ela fica um pouco
pensativa, fixando o olhar na superfície da mesa enquanto formula uma
pergunta:
— O que fez você ir atrás de alguém pelo site? Imagino que você
deve ter a oportunidade de conhecer tantas mulheres incríveis.
Bebo um gole da minha água e acho que assim como eu falei dos
meus pais na noite anterior, está na hora de eu falar de Julie.
— A minha filha me incentivou.
— Bruce Mackenzie, o pai solteirão mais cobiçado de Vancouver.
Odeio ser chamado assim, mas não digo nada a Tasha, pois isso é
tudo culpa dos tabloides que tentam romantizar o fato de eu ter me tornado
alguém sozinho com uma filha incrível após a morte de Melissa. Digo a mim
mesmo que não devo me prender a ela, pois o futuro de Julie depende de
mim e não devo cair em depressão, por isso continuo forte e confesso que na
maioria das vezes é complicado.
O luto nunca é superado, mas se acalma, como um rio em paz no final
de uma tardezinha.
— Falei algo de errado? — pergunta preocupada após perceber meu
súbito abalo.
Balanço a cabeça dela e tento sorrir.
— Minha filha se chama Julie, tem 13 anos e queria muito que eu
estivesse aqui — explico.
— Bom, não sabia o nome dela. — A expressão de Tasha fica
passível e ela pisca duas vezes, adotando então um tom de voz mais sútil: —
Eu sinto muito pela mãe da Julie. Imagino que vivenciar esse lance de lua de
mel traga lembranças que podem deixá-lo mal.
Solto um forte suspiro, como se o fardo deste assunto tivesse saído
de cima dos meus ombros.
“Tasha também sabe de Melissa, todo mundo de Vancouver sabe,
mas não consigo imaginar o que mais da minha vida ela deve saber.”
— Às vezes sim, às vezes não. Mas há tempos decidi seguir em
frente e só fiquei um pouco mais exigente. Não devo mais procurar somente
uma mulher ideal para mim, devo procurar uma mulher que seja uma ótima
mãe para Julie também.
Algo se contrai no rosto dela. Tasha deve ser aversiva a ideia de
filhos, mas já que teve uma experiência ruim com a mãe, é esperado que ela
queira no mínimo fazer tudo ao contrário do que presenciou.
— Você deve ser um pai incrível. Ela tem muita sorte de ter você —
comenta com um brilho nos olhos.
Poderia supor que estivesse até querendo chorar. Lembro que ela
mencionou o pai ter morrido quando tinha 15 anos.
“Caramba, como Tasha e eu somos fodidos emocionalmente, com
nossos dramas pessoais que fazem o nosso mundo ficar de cabeça para
baixo.”
— Eu tento dar o meu melhor — digo por fim.
Tasha apanha de sua bolsa a sua câmera profissional, liga e aponta a
lente na minha direção.
— Vamos lá, isso é um vídeo — começa a dizer empolgada. — Dê
um sorriso e diga a Julie como você está feliz em estar no Havaí.
No começo fico sem jeito, mas já fiz isso tantas vezes que sei como
olhar para uma câmera e fazer isso. Me debruço um pouco mais sobre a
mesa e olho fixamente para a lente, que me olha com pequenos olhos, mas
são os olhos castanhos da minha pequena que visualizo ali.
— Julie, obrigada pelo incentivo de vir para o Havaí. Prometo trazê-
la na próxima, enquanto isso, papai vai aproveitar um pouco com a nova
amiga.
Subitamente roubo a câmera das mãos de Tasha e aponto na direção
dela. Ela fica de olhos arregalados na minha direção, esbravejando alguma
coisa e tentando esconder o rosto. Ela fica tão tímida que desta vez não se
importou em ser chamada de "amiga". Mas vamos ser convenientes, não
sabemos como Julie reagiria ao me ver chamando uma mulher que acabei de
conhecer há um dia, de esposa.
— Oi, Julie. Sou a Nata–Tasha. — Acena e se atrapalha enquanto
começo a rir, a deixando zangada. — Não estranhe se o seu pai não voltar
inteiro para Vancouver! Me dá isso aqui!
Ela reivindica a câmera de volta e a desliga, guardando na bolsa.
— A ideia foi sua — digo me recuperando do momento cômico que
foi ver Tasha, a grega, envergonhada. — Como pode ser tão boa fingindo ser
a minha esposa, mas não sabe reagir para uma garota de 13 anos.
Sua resposta é dar de ombros depois falar de modo banal.
— Sei lá. Não levo jeito com crianças. Vai que ela não goste de mim
também quando ver isso... “Se” ver.
Ela se importa com a aprovação da minha filha, interessante.
— Julie não é uma criança. É uma pré-adolescente e tenho certeza
que vocês se dariam super bem. Você é exatamente o tipo de mulher que ela
adoraria se espelhar, gentil, independente e engraçada.
A faço abrir um sorriso.
— Obrigada. — É o que ela diz antes de voltar para sua comida e
disfarçar o fato de ter ficado sem reação diante disso.
Como eu já havia dito, Tasha não sabe reagir a elogios. Mas eu farei
com que ela se acostume aos meus. E independente de como terminarmos
essa viagem, eu iria fazê-la conhecer Julie, a outra parte da minha vida.
Nos deitamos nas espreguiçadeiras, sempre juntos. Ela volta a tirar o
vestido branco, ficando só de biquíni, exibindo seu corpinho espetacular.
Pedimos duas cervejas e ficamos ali, tomando sol e voltamos para o
mar como um casal de apaixonados. Ora ela prendia as pernas na minha
cintura e me beijava, ora se agarrava nas minhas costas e ficava pendurada
igual ao macaquinho que vimos mais cedo.
O fato é que no nosso segundo dia no Havaí, Tasha e eu já havíamos
ficado inseparáveis, trocando beijos e carícias.
Levar isso tudo a algo mais íntimo e quente era só questão de tempo.
Mas confesso que eu queria mesmo era começar agora.
TASHA
Fizemos um passeio maravilhoso antes do almoço e passamos

praticamente a metade do dia nessa parte do paraíso. Falamos sobre Julie e

fizemos um vídeo engraçado para ela, mas a verdade é que passei o dia todo

esperando por esse momento, onde Bruce e eu finalmente iríamos para o

quarto e colocaríamos essa tensão sexual para fora.


Estamos no mar e estou abraçada a Bruce, sendo impulsionada mais
e mais toda vez que ondas frias e espumantes nos atingem. Toco seus
músculos que tanto desejei, e, vez ou outra, beijo sua boca sem nenhum
pudor.
Estou com os lábios inchados, e a sensação da sua barba me
acariciando predomina em mim no rastro de beijos que ele deixa dos meus
lábios ao pescoço. Parecemos um casal apaixonado, que não desgruda
nunca. O fato é que a gente se curtiu e se conectou rápido demais e tudo foi
ficando ainda mais intenso cada dia que passa aqui, no Havaí.
Caso contrário, nunca teríamos iniciado isso.
Mas somos dois adultos, e não estamos mais na fase de reprimir
nossos desejos. Eu tenho os meus motivos, e ele os dele, mas não podemos
nadar contra a maré. Acredito que aceitamos o fato que passaremos mais
doze dias ilhados aqui, então seria melhor aceitar o destino. Digo isso
porque vim parar aqui de forma inusitada e não deveria estar nos braços de
Bruce, mas estou.
“Erin não vai acreditar!”
Quando estou com as pernas entrelaçadas à cintura de Bruce, nos
beijamos mais uma vez. Acho que me viciei em seu beijo voraz e, às vezes
gentil, desde a noite passada, mas desta vez, sinto como se ele fosse meu.
Tanto que nem me incomodo quando ele se vê com liberdade para me pegar
pelo bumbum, apertar e massagear aquela área redondinha sem pudor.
Mordo meus lábios com o ato, e vejo os olhos dele brilhando de prazer por
debaixo dos cílios pretos e molhados.
Bruce é um homem muito lindo e seria zero condições resistir a ele
por duas semanas.
Sinto o volume da bermuda dele ganhar vida, mas aqui debaixo da
água fica um pouco difícil de sentir com mais detalhes, então eu me aperto a
ele o deixando com o rosto repleto de lascivo, enquanto me olha de forma
especulativa, porque mesmo o sentindo agora, não consigo mais nem sequer
mentir a mim mesma que ele tem o pau do tamanho do meu mindinho.
“Fico tão curiosa.”
— Acho que já está na hora de voltarmos para nosso quarto — diz
vagarosamente, esperando que eu compreenda a mensagem.
É claro que compreendo!
Não consigo ficar mais um segundo aqui, tão perto dele, sem poder
fazer nada.
— É a melhor ideia que você já teve hoje.
Se estivéssemos só nós dois na praia, provavelmente transaríamos
aqui mesmo, à beira do mar, mas precisamos ser realistas, é melhor estar
dentro de um quarto quando não se sabe o que virá pela frente.
Mas quando estamos saindo da água e vamos até o guarda-sol em
formato de chapéu de palha para pegar nossas coisas, Bruce me surpreende
me abraçando por trás e me prende à mesa.
— Estou vendo que você ficou tensa de repente — diz sendo bastante
observador.
Quero muito isso e não consigo mais mentir para mim mesma. Então
decido ser sincera com ele:
— Bruce, faz muito tempo que não faço nada disso.
— Tudo bem, posso ser cuidadoso como se fosse a sua primeira vez
— afirma acariciando meu cabelo úmido.
“Por favor, não me faça lembrar do dia que perdi minha
virgindade.”
Fecho os olhos tentando afastar o pensamento. Feliz por ele querer
sexo gentil, mas triste por ele querer sexo gentil também.
— Não precisamos pegar muito leve — digo como se estivéssemos
fechando um contrato.
Bruce esboça um sorriso convencido.
— Isso não estava nos meus planos, meu amor. — Beija meu ombro.
Uma das mãos de Bruce que estava em minha barriga, começa a
descer sutilmente pela linha do meu umbigo. Fico olhando com expectativa
exasperada até que ele para bem rente à beira da calcinha do meu biquíni.
— O que você está fazendo? — pergunto com a voz enfraquecida e o
coração a mil.
— Preparando você — sussurra no meu ouvido.
Fico hesitante, já estava me sentindo superpreparada para ser comida
por Bruce, pois é o que eu mais queria. Eu só não esperava que ele decidisse
me masturbar bem ali, ao ar livre.
Olho ao redor um pouco preocupada com as pessoas por perto. São
poucas, mas estão distantes, e sei por que ele está fazendo isso, os chapéus
de palha têm esse nome porque longas palhas caem sobre o chapéu como
cortinas, deixando visível somente a parte da frente, onde o serviço chega.
Por isso não me oponho quando os dedos de Bruce invadem minha calcinha
e ele começa pela primeira coisa que sente, meu clitóris.
Engulo um gemido assim que ele começa a acariciar aquela área
sensível e que está inchada de tanto prazer. Ele toca o lugar com delicadeza,
pois sabe que tem que ser cuidadoso ali, isso permite que revire os olhos e
fique tonta, sentindo o ar querendo me deixar cada vez que ele faz um
movimento inesperado voltando em seguida para uma sequência de círculos.
— Bruce... — gemo seu nome.
Ele solta uma lufada de seu hálito quente no meu ouvido e estremeço.
O dedo do meio de Bruce desce para a minha entrada encharcada
com as suas carícias. Tão molhada que ele desliza facilmente com o dedo
por ali, brincando e voltando para o meu clitóris. Fico tonta só com essa
combinação de toques que ele faz.
— Estou doido para provar o sabor dela, Tasha. Dormi pensando em
como sua boceta deve ser deliciosa — sussurra com a voz carregada de
prazer.
Eu não consigo dizer nada, porque nessa hora seu dedo me invade,
aperto os olhos com força e fico contendo o gemido que quer explodir na
minha garganta.
— Aaah... — geme deliciosamente e sinto que vou explodir, mesmo
com o seu dedo parado ali. — Tão quentinha... Tão macia... Abra as pernas.
Não hesito diante da sua ordem. Se nesse momento ele colocasse seu
pau para fora, arrastasse minha calcinha para o ladinho e me penetrasse, eu
realmente não me importaria. Deitaria nessa mesa e o deixaria fazer o resto,
eu só precisava sentir Bruce Mackenzie dentro de mim.
O dedo dele começa a se movimentar dentro de mim, e a palma da
sua mão acaricia de forma habilidosa meu clitóris.
Estou sendo masturbada da melhor maneira por este homem!
Seguro com força as dobras da mesa que mesmo estando presa a
areia, começa a tremer. Sinto como se Bruce já estivesse me fodendo, mas é
só ele me masturbando com maestria.
Meus pés afundam na areia e me abro um pouco mais. Passo um dos
braços por trás, segurando com força o cabelo de Bruce. O barulho dele me
masturbando começa a ficar inconfundível, e é nessa hora que agradeço ao
som do mar ser superior do que a minha boceta lubrificada sendo penetrada
por um dedo longo e másculo, que faz um movimento diferente e encontra
meu ponto G.
— Isso, Bruce! Mais... mais forte — choramingo e ele me obedece.
Imagino que é o seu pau dentro de mim e esfrego minha bunda nele,
que está duro atrás de mim.
“Como eu quero isso!”
Sinto algo maior tomando forma dentro de mim. Mas Bruce para de
movimentar seu dedo e se afasta de mim, como se ele fosse o gás e eu o
balão que murcha assim que ele se vai. Fico me sentindo na mão, angustiada
por estar chegando tão perto e não alcançar lugar nenhum.
Olho para ele por cima do ombro, confusa e desamparada:
— O que... Mas... Por que parou? Estava quase lá! — Acho que
nunca fiquei tão indignada na minha vida.
Odeio o sorriso sagaz que ele tem no rosto, como se fosse detentor
de todo meu prazer.
“E bom, ele estava sendo mesmo.”
Ainda assim, estamos ofegantes pelo cansaço que a excitação está
nos proporcionando.
— Não vou fazê-la gozar aqui, porque quando isso acontecer, quero
te ouvir gritando meu nome.
Balanço a cabeça ainda revoltada, mas não consigo competir contra
isso por muito tempo, até porque compreendo Bruce.
— Agora sim você está pronta.
Sorrio sentindo várias coisas, uma delas eu acabo comentando:
— Nem acredito que deixei você fazer isso comigo em uma praia do
Havaí... Em um lugar público.
— Sempre há uma primeira vez para tudo — diz dando de ombros,
mas orgulhoso do feito.
— Se você já faz isso com os dedos... — Pauso imaginando o quanto
ele deve ser bem-dotado pelo volume enorme na bermuda.
— E o que você imagina, minha esposa linda? — pergunta
sensualmente, passando a ponta dos seus dedos pela extensão do meu ombro,
descendo por meu braço e despejando arrepios por todo trajeto.
— Não é bom falar agora. Deixarei você me mostrar primeiro.
Bruce se aproxima como quem vai contar um segredo.
— Eu vou dar o que minha mulher fogosa e insaciável quer. Vamos
para o quarto.
“Nossa!”
Nem sei pelo que fico mais surpresa, se pela declaração ou porque
acabou de me chamar de fogosa. Logo eu, que estive negando sexo durante
anos. No entanto, não posso negar que aquele monstro que tanto temi ser
acordado por Bruce, finalmente está entre nós.
Mesmo depois de ter ganhado uma masturbação e quase ter gozado
no seu dedo, ainda falta algo...
Falta a parte principal.
Bruce segura firme a minha mão e fico cheia de expectativas sobre o
que me espera.
Penso no que quase fizemos sexo ali mesmo na praia. Nunca imaginei
ser capaz de algo assim e admito que a expressão dele me excita ainda mais.
Não seria algo que ele negaria, mas é aquela regra, Bruce é uma pessoa
pública e ser flagrado fazendo sexo na praia seria manchete em vários
jornais.
Voltamos para dentro do resort, molhados e sujos de areia, deixando
rastros por onde passamos e ganhando olhares de julgamento. Parecemos
apressados para alguma coisa, como se estivéssemos perdendo tempo e
confesso ter medo de que em um estalar de dedos, Bruce ou eu nos
arrepender dessa ideia.
Mas é difícil, quando a carne fala mais alto.
Mal entramos na suíte, ouço Bruce fechar a porta e sinto quando ele
puxa a cordinha do meu biquini, fazendo com que a peça fique parcialmente
solta, deixando então meus seios livres. Bruce me vira para ele e me pega
em seu colo, prendendo minhas pernas na sua cintura. Ele me deixa sentada
em uma daquelas mesas de canto, alta o suficiente para que eu fique à sua
altura.
— Quis muito colocar a boca neles, Tasha — diz enquanto termino
de tirar aquela peça.
A boca quente de Bruce abocanha primeiro meu seio direito,
chupando e passando a língua no bico depois morde me causando dor. Mas é
uma dor gostosa que protesto em gemidos altos e roucos. Sinto seu rosto frio
contra minha pele quente e o cabelo úmido roçando em mim me deixando
alucinada. Seus dedos indicador e polegar instigam o outro bico, e dentro de
mim parece que minha alma está relutando para sair do corpo. Minha boceta
coça em seu interior pulsante com cada carícia dele, principalmente quando
avança com a boca para o outro seio, invertendo a dinâmica.
Quando acho que ele vai terminar ali, Bruce me surpreende traçando
um caminho de uma linha reta invisível com a língua quentinha na minha
barriga. Assim que chega a minha virilha, ele me olha e diz:
— Salgadinha, toda temperada pelo mar. Mas qual será o sabor que
você esconde aqui, hein?
Sinto o polegar dele massagear por cima do tecido e arfo.
Com uma calma que me deixa louca, retira minha calcinha, inclino o
quadril para cima para ajudá-lo no processo e fico preparada sobre a
mesinha. Estou um pouco de mal jeito, mas faz parte do processo. Antes que
termine com aquela tortura de tirar a minha calcinha em câmera lenta, Bruce
segura meus tornozelos e abre as minhas pernas, exibindo toda a minha
intimidade para si. Uma onda quente percorre pelo meu pescoço; estou um
pouco envergonhada, mas o tesão é tão grande que não ligo de estar
arreganhada para ele. A visão de Bruce olhando deslumbrado para mim é
melhor ainda, posso quase vê-lo salivar.
— Você parece meu banquete — diz sensualmente.
Ele muda a posição de suas mãos, segurando a parte interna das
minhas pernas e chegando mais perto do meu centro, começando a tortura.
Bruce leva a ponta do seu nariz até a parte interna da minha coxa, inalando
meu cheiro misturado a maresia. Passa calmamente, sem pressa, roçando sua
barba também, que é a arma secreta de todo seu arsenal de tortura, e isso me
mata.
— Você não estava mentindo quando disse que é muito bom em
torturar — diz com a voz pesada, tentando conter o choro da minha ânsia de
tê-lo me chupando.
— Eu nunca minto, Tasha. — diz com a voz rouca.
“Vai embora, peso na consciência, agora não!”
Quando acho que Bruce finalmente vai colocar a sua boca em mim,
ele contorna a minha virilha e começa a inalar a outra coxa. Estremeço
soltando um gemido de frustração e dá uma risadinha.
— Você está muito ansiosa, minha ruiva.
— EU SÓ QUERO QUE VOCÊ CHUPE LOGO A MINHA
BOCETA! — grito e puxo Bruce pelo cabelo na direção do alvo certo.
Ele dá uma risada gutural muito gostosa.
— Me chupa, por favor...
O homem com um sorriso triunfante me obedece e quando sua língua
quente toca pela primeira vez minha boceta, percebo que ele estava faminto
e muito ansioso por isso. A aspereza e agilidade dela me deixam
embriagada, sua barba fica roçando em meu clitóris arrancando de mim
gemidos descontrolados, uma sensação inquietante e muito ruim de domar.
Como se não fosse o suficiente, Bruce começa a fazer uns
barulhinhos de quem está se deliciando com meu gosto. E mesmo que
estejamos tão concentrados aqui, neste ato, já estou louca para me agarrar ao
seu pau, chupá-lo e lambuzá-lo todo.
Quero retribuir o prazer que ele está me dando.
— Deliciosa — sibila ofegante com a voz abafada contra mim.
— Bruce... Eu... — mal consigo formular a frase correta quando sinto
meu interior vibrar e esquentar.
Quando ele percebe o que está acontecendo, não para, só acelera o
ritmo da sua língua e força a barba contra meu clitóris judiado.
— BRUCE! BRUCE! — grito seu nome como ele queria que eu
fizesse ao gozar e como estou sentindo minha alma pular para fora do corpo,
perco a razão. — Droga! Aaah... — Minhas pernas estremecem como nunca.
— Porra de boceta gostosa! — diz ofegante, mal conseguindo
respirar quando levanta.
Ele está encharcado com meu líquido, tanto que a barba dele chega a
brilhar.
— Poderia ficar o dia todo fazendo isso.
Se aproxima e me ajeita, me colocando de novo sentada sobre a
mesinha e então me beija. Ele tem meu cheiro e gosto agora, e quer que eu
prove tudo, pois me dá um beijo agressivo e faminto, com direito a língua e
muita saliva. Fico tão desesperada por beijá-lo que perco o ritmo, mas não
significa não que estejamos conectados.
Bruce e eu estamos exalando coito, selvageria e putaria.
Amo isso!
— Venha — diz ao me pegar com delicadeza em seus braços e me
levar até o quarto.
É incrível como Bruce vai de um homem educado e cavalheiro, a um
safado sem pudor, então volta a ser um fofo novamente. Essas oscilações de
personalidade são verdadeiramente excitantes para mim.
Ele me senta na cama que foi organizada após o serviço de quarto
passar por aqui. Faço uma cara de pidona para ele e avanço em sua direção
antes que ele tome posse mais uma vez de mim. Fico de joelhos no chão e
espalmo minhas mãos em suas pernas subindo.
— Minha vez — digo de uma forma sedutora.
Instintivamente, Bruce passa a mão direita no meu cabelo, como
permissão para eu prosseguir com aquilo.
Encaro o volume por detrás do pano e meu coração acelera. Me sinto
como uma cachorra no cio por desejar tê-lo dentro de mim de todas as
formas. Mas foda-se, já fiquei muito tempo na seca.
Abaixo a sunga molhada de Bruce, seu membro salta e quase levo
literalmente uma surra de pênis bem na minha cara. Sobressalto e o tapa
passa longe, arrancando gargalhadas de mim e do Bruce.
— É a coisa mais linda que eu já vi — digo fascinada, tocando na
extensão como se fosse algo precioso e raro.
Mas a quem estou querendo enganar?
Este é o segundo pau que vejo ao vivo na minha vida e é claro que
estou besta e apaixonada por ele, até porque o pau grosso e cabeçudo de
Bruce me faz salivar e ao mesmo tempo pensar, “Como diabos isso vai
caber em mim? Mas vai ter que caber!”
Lambo o líquido salgadinho que escapa da sua glande e ele arfa,
fechando os olhos com força. Jogo a cabeça para trás, a fim de ver cada
detalhe da sua reação. Faz tempo que não chupo um pau, então dá para
imaginar o quanto estou salivando por este pau.
A minha língua desliza da cabeça até a base, tento torturá-lo como
fez comigo, mas como Bruce disse minutos atrás, sou "fogosa" e insaciável.
Abocanho a cabeça rosada molhando e deslizo minha língua, caprichando
nos movimentos com ela. Vou avançando com cuidado, caso contrário, tenho
a impressão que o pau do Bruce poderia arrombar a minha boca. Fico
num vai e vem viciante, lambuzando todo seu membro e me engasgando
quando chego no talo.
— Aaah, Tasha... — geme, com a boca exageradamente aberta, olhos
fechados e a cabeça jogada para trás. — Que boquinha gostosa, puta que
pariu!
Automaticamente Bruce segura meu cabelo como se fosse amarrá-lo
em um rabo de cavalo e ordena.
— Mãos para trás.
Obedeço.
— Agora fique paradinha e abra mais a boca para seu marido.
“Meu marido...”
Oh, céus, e pensar que isso só está acontecendo por causa de um
destino improvável e uma lua de mel inventada.
Eu amo meu site!
Quando estou do jeitinho que Bruce pediu, ele começa a foder minha
boca. É ele agora quem está movendo o quadril para a frente e para trás,
metendo tudo na minha boca, me fazendo engasgar, salivar e ficar louca de
tanto prazer que lacrimejo. Eu não sabia que era possível sentir tanto tesão
assim.
— Que boca gostosa! Vai engolir todo meu pau. Não era isso o que
você queria?
Provo dele sem pressa, mas faminta até que habilmente Bruce para
de foder minha boca, me pega pela cintura e me joga na cama como se eu
fosse feita de pano. Ele vai até a mala dele que está ao lado do closet e
começa a caçar alguma coisa que logo identifico ser o papel laminado.
“Ele trouxe camisinha.”
Bruce vem para a cama, que já está toda ensopada por causa do meu
cabelo molhado.
— Eu não ia conseguir resistir por muito tempo — confesso.
— Que bom, porque eu também não.
Bruce segura minhas pernas enquanto se encaixa entre elas. Fico tão
pequena diante de dele que pareço até um brinquedo. Ele brinca um pouco na
minha entrada, me atiçando, provando daquela tortura. Ele é tão
sadomasoquista com si mesmo, mas eu não gosto, na verdade, até gosto, só
não aguento mais toda essa tortura. Impulsiono meu quadril para baixo e ele
recua.
— Cuidado, meu amor. Você não vai querer se machucar. Aliás, faz
tempo, não faz?
Faz muito tempo, mas nem me importo com isso agora. No entanto,
Bruce se mostra mil vezes mais cuidadoso do que eu e vai me penetrando
com calma, abrindo minha boceta que começa a arder. Mesmo estando
lubrificada, há uma certa dificuldade em ser penetrada e Bruce parece sentir
isso também ao fazer uma cara de dor. Jogo minha cabeça para trás, mordo
os lábios e aperto os olhos. É uma dor gostosa e aproveito cada segundo
dela.
Quando ele está todo dentro de mim, Bruce debruça para me dar
tempo de me acostumar com seu tamanho e me beija docemente, em meio a
tanta putaria escancarada. Retribuo o beijo na mesma intensidade, até
começar a sentir sua língua entrar a minha boca sensualmente. Faço a minha
se enroscar na dele também.
— Você é tão gostosa — diz entre meus lábios. — Eu vou fazer isso
com você todo dia.
Dou a ele um sorriso esperançoso.
— É bom que faça.
Então ele começa a movimentar seu quadril e dentro de mim seu pau
começa a se mexer devagar até ir ganhando força gradativamente. É uma
delícia, e nesse entra e sai sinto que vou perdendo a consciência. Não
demora muito até que Bruce agarre minha cintura para meter com mais força,
e os meus seios balançarem no mesmo ritmo que a gente.
Senti-lo estocando dentro de mim é delirante; estou gemendo alto e
ele está urrando, com direito a veias ficando saltada na extensão do seu
pescoço.
— GOSTOSA! — grita.
Bruce me ajuda e mudamos de posição sem precisar nos mover
muito. Bastou Bruce me colocar sentada em seu colo e vou sentado nele bem
devagarinho, sentindo agora de forma alucinante seu pau me preencher por
completo. Agora nós dois trabalhamos nos movimentos, eu para cima e para
baixo, e ele segurando minha cintura, me ajudando a manter o ritmo. Desse
jeito estamos mais próximos e por isso voltamos a nos beijar, mas se
depender de Bruce, ele poderia me beijar e lamber meu pescoço tudo ao
mesmo tempo, pois a sensação da sua barba roçando minha pele faz toda a
diferença.
Era o que precisava para sentir chegar ao meu limite mais uma vez,
com aquela bola crescendo dentro de mim, até explodir em uma onda de
alívio.
— OH, MEU DEUS, BRUCE! — grito quando chego ao meu ápice,
perdendo o controle das pernas e desfalecendo em seus braços.
Noto que Bruce também vai gozar quando fecha os olhos e sua
expressão de prazer se intensifica dentro de mim, inclusive parece aumentar
ainda mais de tamanho. Então, chega ao ápice do prazer também, e assim que
relaxamos, caímos na cama exaustos, mas com o corpo colado ao meu e a
cabeça deitada sobre o peito dele.
Mantenho os olhos fechados e isso tudo parece surreal.
Primeiro, porque acabei de tirar o atraso num sexo para lá de
selvagem com Bruce Mackenzie. Segundo, não estava em meus planos foder
nessa viagem, e agora eu sei que terei transas por mais doze dias!
Como vou aguentar esse homem?
— No que está pensando? — pergunto depois de uns segundos de
silêncio, enquanto recupero meu fôlego.
Bruce solta um suspiro longo e satisfeito enquanto fica fazendo
círculos carinhosamente na extensão da minha costa. Desse jeito serei
obrigada a ficar excitada por ele de novo.
— Estou pensando que, ainda bem que não ignoramos essa atração
tão forte que sentimos um pelo outro. Não esperava ficar tão conectado
assim como me sinto com você, mas estou grato por ter te conhecido, minha
ruiva.
— Pensei que fosse só eu a me sentir assim — admito surpresa,
depois que ele reconhece antes de mim.
Mas uns segundos passam e ouço Bruce dizer algo que me anima:
— Agora sim começa nossa lua de mel.
BRUCE
“Seria possível se apaixonar na primeira transa?”
Sinceramente, fico me perguntando isso por horas porque como
Christopher diria, acho que gamei em Tasha.
Eu já estava suficientemente encantado por ela e seu jeito autêntico,
engraçado e fofo de ser, e agora descubro que a mulher é simplesmente um
monstro na cama.
Não tem como voltar para Vancouver com reclamações para cima de
Julie e Chris. Ok, talvez faça um pequeno desabafo, mas estou tão satisfeito,
que irei dar cinco estrelas na veracidade do site.
Tenho flashes das lembranças tão recentes da minha tarde selvagem
ao lado de Tasha.
Caralho, ela é tão gostosa e se entrega à safadeza de um jeito que
aquele rosto angelical esconde perfeitamente o ser lascivo que habita dentro
dela.
O som dos gemidos dela ainda são como sinfonias ressoando na
minha cabeça, toda vez que chamava pelo meu nome, era uma carícia
invisível bem na minha espinha que ela enviava; os seios, a bunda, a
boceta...
Puta que pariu, tudo nela me deixou louco!
Não digo isso só porque sou homem e como todos pensam, os
homens ficam excitados por qualquer rabo de saia. Eu não sou esse tipo de
cara.
Como sempre costumo enfatizar, depois de Melissa a minha vida
amorosa e sexual se tornou um desastre porque particularmente tinha medo e
fiquei mais exigente, nada me atraia o suficiente. Ficar com alguém por
necessidades da natureza masculina, é completamente diferente de ficar com
alguém que se sente realmente atraído.
A conexão aumenta, e tudo se torna mais gostoso e difícil até mesmo
de colocar em palavras.
Sinto isso quando estou com Tasha, o que honestamente é estranho
pois mal a conheço, mas sinto que a conexão de afeição veio primeiro, e
então a de carne e por último, mas não menos importante, a conexão de alma.
E eu ainda não sei o que ela pensa de tudo isso, não sei mesmo.
Ela não me pareceu nem um pouco hesitante quando sugeri que
transássemos. Na verdade, se bem me lembro, com um pouco da ajuda do
mar e dos nossos amassos, ambos começamos a compartilhar carícias
sugestivas demais.
Então aconteceu...
Tasha e eu fodemos pesado.
Suspeito que os hóspedes vizinhos presenciaram um momento muito
quente do dia vindo da suíte 1040, mas não chegamos a mostrar sinal algum
de arrependimento. O que me deixa aliviado.
Depois do sexo, tomamos um banho decente e me encarrego de
ensaboar o corpinho lindo de Tasha, dos pés à cabeça, mas não fizemos
nada. Depois do dia agitado, de muito sol e um sexo bem-feito, onde ela
gozou duas vezes, teria sido três, se eu tivesse ido até o final com a
masturbação que fiz na praia, mas fica para outro dia, Tasha está exausta e
isso está bastante visível.
Ligo para o serviço de quartos que, enquanto sobe, aproveito para
virar o colchão que deixamos molhado.
“Escondendo a prova de uma foda doida.”
Tasha me ajuda, e ela fica vermelha quando vemos o que fizemos.
— Vou dizer à camareira que você e a sua boceta encharcada fizeram
isso — digo apontando para os lençóis molhados que tiramos e colocamos
no cantinho do quarto.
— Diga, e eu enfio isso goela abaixo em você. — Ameaça com o
abajur e olho espantado.
— Você não é tão legal como mostra ser — comento brincando e fico
feliz dela entrar na onda.
Há tempos que não me divirto assim, quer dizer, com uma mulher,
claro.
Tenho meus irmãos e a gente fala bobagem sempre que pode, mas
com Tasha é diferente. Digo isso porque tem a Hillary do meu trabalho, uma
das nossas sócias minoritárias, ela é louca por mim e não esconde a vontade
que tem de se envolver seriamente comigo. A gente costumava sair para
jantar, mas também nunca passou disso; eu sentia que com ela, as coisas
nunca iriam para a frente. Seria forçado demais.
Além de que Julie e nenhum dos meus irmãos gostam dela, o que para
mim é um pouco complicado.
Para o bem ou para o mal, preciso que tenha no mínimo, uma
aprovação da parte de Julie.
Sei que isso parece estranho quando aparentemente uma garota de 13
anos parece mover o mundo de um homem de 38 anos. Mas Julie é meu
mundo e quando falei dela para Tasha, foi como ter visto uma luz diferente
se acender em seu rosto; admiração, curiosidade, bondade.
Tudo isso eu vi no rosto dela quando falei da minha filha, e ainda
fizemos um vídeo para ela a comando da ruiva.
Eu sei o que eu digo, até o final desta aventura, sinto que essa mulher
vai me virar do avesso.
Quando a camareira troca nossos lençóis e finalmente podemos
deitar na cama e descansar, me aninho a ela, que está abraçada ao meu braço
que passa por cima do seu corpo, a protegendo de tudo. Vejo o anel que dei a
ela brilhar enquanto acaricia meu braço. Sinto quando ela fica mole, se
entregando rápido demais ao sono e quando não sei se ela está acordada ou
dormindo, murmuro baixinho:
— Que bom que é você que está aqui.
E como não ouço nenhuma resposta, sei que ela adormeceu, então
faço o mesmo.
••••
Tasha e eu dormimos muito. Já era noite quando pregamos os olhos,
mas acordamos às duas da manhã, brincamos um pouquinho e voltamos a
dormir de novo. Mais uma vez, foi louco, só que um pouco rápido.
Eu já estava acordado e com uma puta ereção. Juro que tive sonhos
com ela, e quando acordei, aquela bunda tesuda estava roçando no meu pau.
Foi muito automático, porque logo depois ela acordou e sentiu algo
cutucando sua raba. Foi quando ela soltou um gemido e não me contive.
Precisei tocá-la só para me certificar de que ela também estava a fim e para
a minha surpresa, Tasha estava muito a fim.
Embora esteja latejando de prazer, com meu membro chegando a
ficar dolorido, me dedico a dar prazer somente a Tasha.
Minha palavra é um tiro que não tem como voltar atrás, disse que a
faria gozar somente a tocando em um outro momento, e uso a situação a favor
disso.
Levo meus dedos para dentro da calcinha dela sentindo sua excitação
e quando começo a tocá-la, Tasha dá início a reboladas sacanas no meu pau,
me instigando, me querendo.
Brinco com o seu clitóris inchado.
— Aí, aí... — choraminga.
E antes que eu enfiasse meus dedos nela, Tasha vira abruptamente de
frente para mim e pega meu pau, o colocando para fora da calça moletom e
me masturbando.
Não consigo evitar o sorriso.
— Vamos fazer assim, então?
— Sim. Você me toca e eu toco você — diz docemente e isso me
deixa bastante excitado.
Por debaixo do edredom, nossos braços se mexem enquanto as mãos
fazem todo trabalho. Quando a penetro com dois dedos, ela me dá um sorriso
sacana e revira os olhos.
Preciso dizer quão quente e apertadinha ela é, além de macia. O
interior de Tasha é um lugar sagrado e desejável, e poderia ficar dentro dela
o dia todo.
Ainda tem sua mão de fada, com dedos tão pequenos e macios, se
movendo para cima e para baixo, me fazendo urrar.
Como queria essa boquinha gostosa mais uma vez em mim, me
lambendo todo e se engasgando. Aquilo foi tão lindo e depravado que será
difícil de esquecer.
Falando desse jeito nem pareço eu mesmo, mas assim como Tasha
passou bastante tempo acanhada, eu também fiquei, e por isso, não me
importo nenhum pouco em liberar tudo nela.
Tenho mais certeza disso ainda quando ficamos nos encarando por
tempo demais, mesmo na penumbra, fazemos uma ligação invisível e fico
arrepiado.
Por fim, acabo gozando na sua mão, e ela, nos meus dois dedos,
apertando com tanta força que achei que iria arrancá-los.
Ela rasga um riso quando digo isso em voz alta.
Nos lavamos, tomamos um pouco de água e voltamos a nos beijar na
cama. Mas o sono volta, e só acordamos às nove, morrendo de fome.
Chegamos tão cedinho para o café da manhã, que os funcionários
ainda estão terminando de organizar tudo. Mas também não somos os únicos
ali. Assim que ocupamos uma mesa próxima às janelas, um casal ao lado
sorri para a gente e de forma educada, retribuo. Tasha me olha um pouco
confusa porque não os conhecemos, mas ali estão eles, nos olhando e
cochichando.
Um garçom vem nos atender e Tasha capricha no pedido. Bacon,
ovos mexidos e torrada amanteigada.
— O que foi? — Olha de forma especulativa. — Você tirou de mim
toda energia, agora estou com muita fome!
— Fico feliz que você se alimenta bem e não é neurótica com essas
coisas — enfatizo orgulhoso.
— Bom, fico neurótica se não como — diz dando de ombros. — Mas
também prezo por uma alimentação saudável, senhor Mackenzie.
Tasha e eu ficamos ali, conversando e esperando o café da manhã
chegar. Enquanto isso, trocamos carinhos; não consigo resistir às suas mãos
macias e tão leves, e tenho sentido a constante vontade de proteger Tasha de
tudo.
Ficamos relembrando da noite anterior de forma sutil, mesmo assim,
ela fica vermelha sem conseguir disfarçar que algo está a deixando muito
envergonhada. E ela não faz ideia disso, mas toda vez que fica desse jeito, a
sua beleza se multiplica.
Estamos conversando quando ouvimos o casal ao lado parecer travar
uma discussão. Ela parecia querer uma coisa, e ele outra. De qualquer
forma, a mulher loira dos olhos azuis e bastante bronzeada acena na nossa
direção. Franzo o cenho enquanto tento entender o que está acontecendo e
Tasha murmura algo enquanto o homem ao lado da mulher loira parece
constrangido.
Será que eles me reconheceram?
Inesperadamente, a mulher que tenta se comunicar com a gente
levanta de supetão e caminha na nossa direção.
Tasha e eu nos entreolhamos.
“Que coisa estranha.”
— Oi, casal! — diz superanimada, exibindo um sorriso de dentes tão
brancos e assimétricos que parecem falsos. — Me desculpem o incomodo,
sou Britney e aquele é meu namorado, Oliver.
Olho para ele de relance, que parece inquieto enquanto coça a nuca e
acena rapidamente.
Tasha e eu deixamos que ela chegue ao ponto.
— Não conseguimos deixar de perceber que vocês vieram no mesmo
voo que a gente. — Olha rapidamente para a mão de Tasha e faz uma cara de
quem está derretida, levando a mão ao peito. — Awn, estão em lua de mel?
Olho atônito para Tasha.
“O que está acontecendo?”, fico me perguntando, mas ela parece
estar mais confusa ainda.
— Sim, nos casamos recentemente — Tasha diz por fim, mostrando
um sorriso gentil.
Fico surpreso por ela não ter optado contar a verdade e me sinto
grato por isso. Acho que Tasha entende a minha necessidade de tornar isso
real, e não uma miragem de um site de relacionamento que Julie e meu irmão
resolveram arriscar sem meu consentimento.
— Ah, meus parabéns! — diz emocionada e Tasha e eu agradecemos.
— Oliver e eu nos conhecemos em um site de relacionamento, dá para
acreditar?
“Ah, dá sim.”
— Jura? Qual site? — Tasha pergunta empolgada, aparentemente
muito interessada e isso faz com que Britney sente a nossa mesa.
Ótimo!
Mas enquanto não entender a dela, vou ficar calado. Não gosto de
muitas exposições, ainda mais para com pessoas desconhecidas. Tasha tem
sido a única exceção esses dias.
— 14 Dias Casados, já ouviram falar?
Balançamos a cabeça negando, mentindo simultaneamente...
— Bom, é simplesmente a coisa mais genial inventada! OLIVER,
VENHA AQUI! — grita para o namorado.
O homem levanta muito contra sua vontade, e então se junta a nós,
mas força um sorriso.
Para alguém que está somente há três dias no Havaí, Oliver parece
derrotado!
— Oi, desculpem a Britney. Ela acha que estamos nos esbarrando
muito por aí e por isso achou que seria legal nos aproximar e fazer algumas
atividades de casais — o homem dispara, finalmente revelando as intenções
da loira.
A princípio, não sei o que pensar, parece forçado demais e muito
inconveniente. Se dependesse de mim, ficaria todos os dias sozinho com
Tasha, mas Britney fala algo interessante:
— Não acho que foi ao acaso. Primeiro no avião, depois na Festa da
Hula, então na trilha e agora aqui. Além de que somos vizinhos de quarto!
Tasha e eu nos entreolhamos um pouco sem graça. Não sei por qual
razão ela mencionou este último detalhe, ainda mais transpassando um
sorriso malicioso na hora. Não seria nada difícil eles terem nos ouvido e por
isso fala assim. Mas isso não parece incomodar Tasha, que se interessa
muito rápido pelo casal estranho.
— E de que forma este site uniu vocês? — pergunta se fazendo de
desentendida, o que acho engraçado.
Não sabia que ela era tão curiosa.
— Bom, estava de bobeira por lá e encontrei Oliver. Em pouco
tempo descobrimos que nossos perfis eram compatíveis e acabamos
comprando um dos pacotes — Britney explica, enrolando um cacho de
cabelo no dedo.
— Legal, muito interessante — comento como se não soubesse nada
disso. — E estão gostando?
Oliver abre a boca para falar, mas Britney é tagarela demais.
Conheço pessoas como ela, Tasha também fala muito, mas não a ponto de me
incomodar. Mas observo bem e noto que Oliver não parece muito feliz, ele
se prepara para responder à pergunta, mas Britney não dá chance.
— É claro que estamos! Está tudo tão perfeito!
O sorriso de Tasha se alarga.
— Que felicidade! É realmente incrível que tenha dado certo.
— E de onde os pombinhos são? — Britney continua com o
interrogatório.
— Vancouver — respondemos em uníssono.
— Eu sou americana, do Texas.
Só quando ela menciona isso, percebo o sotaque sulista.
— Oliver é francês, dá para acreditar?!
Olho de relance para o homem caucasiano, de olhos azuis, com
entradas no cabelo curto escuro e de fios grisalhos aqui e ali. Ele é magro,
mas alto. Deve ser uns cinco anos mais velho que eu. Um francês. Não me
surpreende que ele esteja um pouco recluso, e que o jeito escandaloso de
Britney o deixe um pouco assustado.
— Você não tem sotaque — ressalto na direção dele, esperando que
ele fale um pouco.
— Dois anos morando nos Estados Unidos, Los Angeles.
— Eu sei o que vocês devem estar pensando — Britney diz, mas, na
verdade, não estava pensando em nada naquele momento. — Como um
francês igual a Oliver não conseguiu uma pretendente em Hollywood?
Também fiquei me perguntando a mesma coisa!
Tasha dá de ombros.
— Nem sempre o verdadeiro amor está tão perto assim — diz como
uma boa conselheira amorosa, uma mulher com uma bagagem cheia de
experiências. Mas sabemos que Tasha teve uma vida bem parada
amorosamente falando. — Mas se for para estar, tem que esperá-lo aparecer.
— Ainda dizem que nada cai do céu — comento olhando para Tasha,
encantado pela sua fala.
Ela abre um sorriso doce.
— Vocês são tão fofos... e, como se chamam? — pergunta Britney.
— Eu sou Tasha e este é o meu marido, Bruce.
— Isso é perfeito. Encontrar alguém que se ama e quer noivar, casar
e ter filhos. — Solta um suspiro sonhador e então fica vermelha. — Oliver e
eu nos conhecemos no site e ele me pediu em namoro antes da viagem.
Arqueio as sobrancelhas em surpresa. É por isso que ele parece
arrependido de algo. Os franceses são normalmente reservados demais, não
gostam de muito escândalo e Britney tem se mostrado o oposto disso.
Começo a achar que ela mentiu no seu perfil, Oliver viu e se encantou, mas
ao chegar aqui deve ter se decepcionado bastante.
Este foi meu medo, antes de decidir que eu daria o reembolso a
minha acompanhante, antes também de ver quem era a minha esposa de
mentirinha durante essas duas semanas.
Tasha e eu nos olhamos.
— Bom, a gente deseja muita felicidade a vocês. Que possam se
encontrarem nessa viagem — digo na tentativa de encerrar o assunto e voltar
a ficar a sós com Tasha.
Britney agradece e Oliver fica calado, pensativo.
— Hoje à tarde o campo de golfe vai estar liberado. Demos sorte de
vir para cá uma semana depois da inauguração dele — diz para mim. —
Podemos dar algumas tacadas enquanto as meninas se conhecem melhor.
“Não, cara, valeu! Mas minha esposa e eu estamos vivendo a nossa
lua de mel de mentirinha e seria muito chato tirar o foco da razão pela
qual estamos aqui.” Isso é o que quero dizer a Oliver, no entanto, também
não quero que Tasha se enjoe de mim. Seria legal que ela tivesse uma
colega, uma presença feminina com quem contar no resort. Além de que
Oliver parece perturbado com alguma coisa, e normalmente assim como as
mulheres têm a intuição muito boa, nós homens sabemos quando um outro
está em "perigo".
— Pode ser — digo na hora que o nosso café da manhã chega e o
casal levanta.
— Nos vemos às 16:00 horas — diz e acena antes de sair.
— ATÉ BREVE, AMIGOS! — Britney grita acenando para nós
enquanto sai dali seguindo Oliver, que anda em passos largos e apressados.
Pisco atordoado e Tasha balbucia alguma coisa, completamente
perdida também.
— Mas o que foi isso? — pergunta louca para querer rir.
Respiro fundo e olho para o banquete em nossa mesa. Está tudo muito
cheiroso e com uma cara boa. Só então percebo minha barriga roncar,
também estou faminto.
— É uma das coisas engraçadas que se encontram em resorts.
— Tipo em filme de comédia romântica onde sempre tem aquele
casal cômico que vive fazendo loucuras?
— É. Mas Oliver parecia pedir socorro em silêncio. — Pego uma
banana que veio de cortesia e começo a descascá-la.
— E por que você acha isso?
Dou de ombros.
— Porque sou homem e sei quando outro está em apuros. — Mordo
um pedaço e Tasha revira os olhos dando atenção para o seu café da manhã.
— Uma coisa é certa, demos a sorte grande. — Lança um olhar
charmoso e tenho que concordar.
O fato de ser a Tasha a estar aqui comigo, é como ganhar na loteria.
••••
O campo de golfe é um infinito mar verde, calmo e vazio. Exceto
pelas pessoas que estão ali para praticar o esporte, que em suma, são
homens da idade do meu pai, senão mais novos. E eles se vestem de um jeito
engomadinho que às vezes me dói nos nervos. Não sou muito ligado a essas
coisas, diferente de Christopher. Julie também é simples e objetiva quando
se trata disso, priorizamos coisas mais valiosas e que está cada dia mais
difícil ser levado a sério.
Mas viemos nos encontrar com Britney e Oliver, como foi
combinado. Depois do nosso primeiro encontro no café da manhã, Tasha
falou mais umas três vezes deles, deixando a entender de que ela havia
mesmo gostado do casal. Me senti um pouco desconfortável, admito, mas
resolvi dar uma trégua, por Tasha. Se ela estava animada para a tarde de
golfe, eu também estava.
Ela ficou simplesmente radiante em seu vestido azul-claro, soltinho e
de botões. Calçava um tênis branco da All Star, e achei tão jovial e
descolado que foi impossível não sorrir.
Ela tem um ótimo gosto.
Estamos atravessando o campo bem coladinhos, com ela segurando
meu antebraço.
— Essas moitas estão me dando ideias — digo em voz alta e ela me
olha espantada.
— E você não vai compartilhar comigo?
—Você é a peça principal, minha querida.
— Bruce Mackenzie! — Estapeia meu braço e nem faz cócegas. —
Em plena luz do dia?
— Não! Poderíamos fugir para cá a noite. Fazer um piquenique e
depois um sexo bem gostoso. — Minha voz sai até rouca só de verbalizar a
ideia.
— Humm, é realmente bastante tentador.
— Tenho outras ideias também, mas prefiro fazer surpresa.
Avistamos Britney e Oliver. Ela acena dando pulinhos e o namorado
tenta disfarçar o incômodo, organizando os tacos que já estão muito bem-
organizados no carrinho de golfe. Quando nos aproximamos, ela dá um pulo
para abraçar Tasha com força e me afasto para evitar ser o seu alvo também.
— Vocês vieram mesmo — Oliver diz impressionado.
— Por que eles não viriam, meu nenezinho? — Britney faz biquinho
na direção dele ao deixar a voz mais infantil.
Oliver me olha como se eu soubesse a resposta ou soubesse qual
seria a resposta dele.
— Vamos indo, temos uma hora e meia com o carrinho — informa e
entramos no pequeno veículo.
Oliver vai dirigindo, e eu sento ao seu lado. Peço que Tasha segure
bem, pois o chão dos campos de golfe é bastante desiguais, então vez ou
outra, tudo sacode de forma inesperada.
Um sacolejo aqui e um sobressalto ali.
Quando finalmente chegamos ao ponto onde iremos iniciar a nossa
partida, Tasha e Britney continuam no carrinho pegando sombra; o sol está
de matar hoje e consequentemente faz muito calor. Coloco meu chapéu preto
e as luvas enquanto Oliver e eu nos afastamos das meninas.
Ele me passa o taco da minha escolha e me aqueço.
Esse esporte me faz lembrar do meu pai. Ele gosta muito de golfe,
mas passou a ser o seu esporte favorito somente depois dos 50 anos, quando
poucas coisas na vida começaram a de fato agradá-lo e eu com meus irmãos
assumimos a responsabilidade da Mackenzie Enterprises. Então um tempo
depois, ele descobriu o Parkinson, foi um choque para todos nós,
principalmente para ele. Mas meu pai é um homem forte, e tem encarado isso
como um novo desafio de vida a ser superado.
É impossível estar aqui e não lembrar dele, sentir a sua falta e em
como quando mais novo, costumávamos nos divertir muito em campos de
golfe com esse.
— Você pode dar a primeira tacada — Oliver diz e não hesito.
Posiciono a bola branquinha e ajusto meus pés para a minha primeira
tacada. Acerto, e ela voa longe, quase próximo de uma caixa de areia. Ouço
Oliver assobiar e as meninas aplaudirem como boas telespectadoras.
— Muito bom, vamos ver até qual tacada a sorte estará do seu lado
— Oliver diz de forma competitiva e sorrio.
Ele lança uma bola muito boa também, então pegamos o carrinho e
vamos até a onde está a minha bola. Faço outra tacada, mas não coloco muita
força como na primeira vez. Depois disso alcançamos a de Oliver, e
enquanto andamos até a bola, resolvo despertar o meu lado curioso; um dos
motivos pelo qual aceitei estar aqui, na verdade.
— Como estão as coisas com Britney? — pergunto e ele me olha
despretensiosamente.
— Bem, por quê?
— Ela não é o que você esperava, não é? — É uma pergunta
inconveniente, mas nós homens somos pragmáticos e Oliver não hesita:
— Sim e não. Ela é linda, mas está longe de ser a mulher que me
descreveu no site e com quem passei uma semana conversando.
— Vocês decidiram namorar com uma semana de conversa? — Fico
incrédulo.
É até hipócrita da minha parte ficar surpreso assim, em dois dias no
Havaí com Tasha já transamos e, às vezes, digo que ela flechou o meu
coração, em tom de brincadeira, claro. Mas fico com medo de virar
realidade, não sei se estou pronto para gostar de outra pessoa como gostei de
Melissa.
— O relacionamento moderno é assim, meu caro — Oliver diz e
agacha para pegar a bola dele. — Você se apaixona rápido demais,
depositando todas suas expectativas na pessoa baseado em algum
relacionamento exemplar que viu no Instagram. Mas aí, não é nada do que
você esperava e fica frustrado.
— Você parece doido para pular do barco — comento e Oliver dá
uma risada nasalada.
— É, acho que sim. Mas não vou sacanear Britney a este ponto.
— E nem pedir reembolso do site? — pergunto em tom de humor e
Oliver acha graça.
— Não, o pacote deles é incrível, mas não tem culpa se há pessoas
de má índole prontas para mentir.
Passo a língua em meus lábios e olho de relance para Tasha. Em
nenhum momento achei que ela estivesse mentindo para mim, desde o nosso
voo ela foi bem objetiva e deixou claro seu papel ali. Ela é verdadeira e
como eu disse, o meu bilhete premiado.
— Parabéns mesmo pela esposa que tem. Pois com todo respeito,
Tasha é tipo uau, é a mulher que vi em Britney, mas foi tudo golpe.
— Tira o olho, cara — digo sério e ele ri.
Oliver se prepara para a tacada e cruzo os braços enquanto o assisto.
— Mas o que você vai fazer com isso agora?
Ele se prepara e quando encontra a postura perfeita, me olha e
responde:
— Vou transar com essa mentirosa até acordar um desses vulcões.
Rio alto, e por alguma razão, apesar da idade, Oliver me lembra
muito Christopher.
Não me assusto, homens são como bichos.
E Oliver é um bicho magoado.
TASHA
— Olha só para eles... Já se deram super bem. Veja como se

divertem! — Britney diz extasiada e surpresa com a rapidez que Bruce e

Oliver engataram em uma conversa que os fizeram esquecer até da partida de

golfe.
Não posso julgá-los.
Acho que gosto de Britney também, às vezes ela lembra um pouco a
Erin e isso me faz sentir mais em "casa", mas sendo honesta, meu principal
interesse é basear a minha pesquisa neste casal, já que acabei ocupando um
lugar não idealizado para mim durante esta viagem. Além do mais, Britney é
bem mais tagarela do que eu então as coisas fluem naturalmente.
Como por exemplo, em alguns minutos com ela no carrinho de golfe,
já descobri que ela foi casada três vezes e um mês antes de vir para o Havaí
com Oliver, terminou um namoro de seis meses. Agora, ela está
extremamente apaixonada, capaz de fazer qualquer coisa por ele, palavras
dela.
— E como você descobriu o site 14 Dias Casados? — pergunto
soando despretensiosa. Acontece, que eu já estava executando o trabalho de
Erin naquele momento.
— Ah, quem não conhece? — Me olha como se eu fosse um bichinho
burro. — Há poucos sites de relacionamentos que são famosos, 14 Dias
Casados é um deles. O único que não parece uma cópia barata dos outros. Se
quisermos, podemos vivenciar isso aqui como se fosse o maior sonho de
nossas vidas, e então, depois viver como se nada tivesse acontecido.
— Mas você quer que Oliver se apaixone por você, não quer?
Ela dá uma risada alta, daquelas quase desesperada demais e me dá
um tapinha no ombro.
— Sua bobinha, ele já está apaixonado! Eu vou contar um segredo
para você. — A loira se empertiga em minha direção e sussurra, embora nem
precisasse: — Os franceses amam as americanas. — Então ela remexe o
quadril fazendo um movimento muito sugestivo que logo compreendo.
— Ah, isso é bom, Britney.
Os rapazes voltam da quinta tacada e então mudamos de assunto para
avançarmos mais uns metros no campo de golfe que parece interminável.
Bruce está muito atraente em sua blusa polo e calça branca. Ele é muito bom
no esporte, inclusive, fico curiosa para saber do seu histórico; sendo
conhecido como o esporte dos ricos, não me surpreende que ele seja craque,
porém, vez ou outra o flagro olhando com muito carinho para o taco.
Deve ter alguma história que o faça ser muito bom no golfe.
Quando fizermos outra parada e ficarmos sozinhas mais uma vez no
carrinho, ouso perguntar o que tanto me intriga junto com Bruce. Ele não me
deixou esquecer de fazer uma pergunta, porque ele sentia que a relação de
Britney com Oliver era um tanto ambígua.
— Então, Britney, como funciona esse lance de compatibilidade?
Me comporto como uma leiga, mas há dois fatores intrigantes:
1- Tecnicamente, eu devo saber como funciona, pois estou
ali devido o site;
2- Fundei o site.
— Bem, se você paga pela assinatura mensal, terá direito a
aritmética do site que fará uma busca de dados pelas pessoas mais próximas
ao seu perfil. Foi como encontrei Oliver. Primeiro eu o achei bonito, depois
vi que era francês.
— E vocês foram compatíveis em que?
Ela dá de ombros e faz uma cara de desleixo.
— Não fomos. Quer dizer, não antes de eu alterar todo meu perfil
para ficar bem igual ao dele. Tínhamos poucas coisas em comum, mas queria
que ele me achasse ideal.
Essa informação me choca e me pega desprevenida.
“Temos uma impostora!
Não, temos duas impostoras!”
Mas vai, o meu caso foi por um bom motivo e é até perdoável.
Mas o dela?
Preciso saber mais sobre o assunto. Não posso tirar conclusões
precipitadas também, embora esteja bem óbvio que aconteceu uma falsidade
ideológica.
— Pelo amor de Deus! Não faça essa cara. O que eu fiz está errado,
mas também serve de exemplo. Você não precisa ser 100% compatível com
a pessoa para dar certo. O site está enganado sobre isso.
Fico revoltada, mas tento não transparecer.
“Como ousa dizer isso?”
Não existe relacionamento certo ou errado, é 8 ou 80, e o 14 Dias
Casados é para aqueles que estão cansados de não encontrarem a sua outra
metade da laranja, a alma que encaixe e se conecte com a sua perfeitamente.
Não temos culpa se Britney mentiu na descrição do seu perfil, mas
certamente quando eu voltar para Vancouver, terei de fazer uma reunião com
Erin e Lili para tomarmos alguma providência a respeito disso. Devemos
evitar a qualquer custo as ações de reembolso, que em suma pode significar
que o cliente não ficou satisfeito.
Entretanto, Britney não é um caso isolado, mas também é um dos
poucos.
— Não estou dizendo nada — rebato em minha defesa. — Mas
Oliver já sabe?
— Não, mas já deve ter percebido algo de estranho. Só que ele é
educado demais para me dar um pé na bunda e voltar sozinho para Los
Angeles.
— Talvez essa viagem seja o que vocês tanto precisavam.
— Quero fazê-lo perceber que apesar das diferenças, ele pode ser
feliz ao meu lado — diz num tom sério, depositando seus sentimentos em
cada palavra. — Poderemos ser um casal igual a você e Bruce.
Forço um sorriso encantador para ela, mas coitada, mal sabe que ela
está na fita melhor do que a minha relação indefinida com Bruce. Mas em
nossa defesa, nos damos bem e somos parecidos em muita coisa, um casal
compatível. Preciso dizer isso a ela.
— Bruce e eu somos muito parecidos. É uma questão de sintonia,
com o passar do tempo você e o seu parceiro vão identificando os pontos
comuns ou se adaptando aos defeitos um do outro.
E digo isso baseado na minha experiência amorosa de anos que vivi
com Perseus. Éramos o oposto em tudo, mas havia algo maior que nos
tornavam bons amantes. Mas claro que isso lá na frente pesou de um jeito
doloroso, o peso da culpa não caí só para ele. Fui traída em dose dupla.
— Ah, que perfeito! — exclama unindo as mãos. — Isso é tão
romântico, Tasha.
— A lua de mel me deixa inspirada.
Realmente, não lembro de ser tão romântica assim. Mas, nunca fui
cética demais em relação a amores e paixões da vida, só tinha medo de
quebrar a cara de novo. Sou romântica sim, mas sou prevenida.
Bruce e Oliver voltam, e quando fazemos a próxima parada, eles nos
obrigam a participar de uma rodada. O que na verdade não gera muito
esforço da nossa parte, pois Britney e eu achávamos que eles nunca nos
chamariam para uma tacada pelo menos.
Em um canto, Oliver tenta ensinar Britney mas ele não parece muito
paciente toda vez que ela faz escândalo por raspar a grama do campo com
suas tacadas fortes. Mas rapidamente me distraio daquele cenário quando
Bruce se coloca atrás de mim, com o seu corpo roçando no meu e seus
braços em volta de mim, agarrando minhas mãos com desvelo enquanto
agarro o cabo do taco.
A minha primeira tentativa é um fracasso total, sou afobada e com
isso coloco muita força em meus braços, o que faz meu corpo girar muito e o
meu taco arrancar um punhado de areia e grama. Fico envergonhada pela
minha falta de jeito, ainda mais fazendo isso na frente de Bruce, que mais
parece um profissional.
— Se você nunca fez isso antes, tá tudo bem, vou ajudar você, meu
amor — murmura no pé do meu ouvido e estremeço, até porque ainda não me
sinto habituada a Bruce Mackenzie me chamando de um jeito tão carinhoso e
apaixonante. Até que ele soa de uma forma mais provocadora. — Eu sei que
você tem mãos suaves e leves, então, pegue daquele jeitinho que só você
sabe.
Inspiro o ar quente em minha volta e entro em combustão. Lembro
dele idealizando nós dois transando atrás de uma dessas moitas e gostei da
ideia. Este lugar é enorme, não acho que alguém nos pegaria à noite, a essa
distância principalmente. Mas teríamos de tomar cuidado com os animais
noturnos.
Atrás de mim, grudado ao meu corpo, Bruce começa a me conduzir e
me atento a cada movimento seu.
— Gire o seu corpo suavemente, se quiser fazer uma tacada precisa.
— Me instrui, agarrando minha cintura e simulando o movimento que me
aconselhou. — Deixe as pernas um pouco esticadas.
Sinto quando ele passa sutilmente a mão safada dele entre minhas
pernas, cutucando a minha intimidade.
Minha primeira reação é olhar espantada para Britney e Oliver, mas
eles estão de costas para nós enquanto ensaiam também, mas de um jeito
mais tradicional. Por isso, minhas pernas relaxam e aproveito para deliciar
os dedos de Bruce me tocando ao ar livre, com companhia há uns seis metros
de nós dois.
— Incline o bumbum para trás, meu amor — ordena e eu obedeço,
então sussurra no meu ouvido. — É assim que vou te foder mais tarde.
Parece mentira, mas sempre que ouço Bruce me dizer essas
safadezas, fico excitada na hora. Queríamos ser um casal de mentirinha que
parecesse real demais, e estamos levando isso bem a sério quando o assunto
é relação sexual.
Olho para ele por cima do ombro, me sentindo desejada só pela
forma como ele me olha.
“Safado!”
— Não vá esquecer — imploro com uma cara de pidona, então sinto
seus dedos deixarem a minha intimidade sobre a calcinha, e colar seus
lábios aos meus em um beijo suave e sensual.
— Faça a sua tacada agora.
Não há como não resistir a este professor.
Fico na mesma posição que ele me deixou, e quando apoia a bolinha
na grama, procuro meu ponto de equilíbrio e então seguindo as suas
instruções, eu acerto a bola e estreito os olhos para vê-la voar na claridade,
mas ela não voa para muito longe. Fico feliz de qualquer jeito e pulo de
animação, até saltar no colo de Bruce e dar um beijo profundo nele.
— Esses dois sabem como comemorar.
Ouço Britney dizer e sorrio entre os lábios de Bruce.
— Peguem leve aí, o Oliver já está ficando desconfortável — brinca.
— Sabia que o nosso segundo idioma no Canadá é francês? — Bruce
diz, me deixando no chão, mas ainda marcando posse com suas mãos
másculas agarradas a minha cintura.
— Você fala francês? — Britney pergunta surpresa, verbalizando o
que também questiono na hora, mas preciso fingir costume com as
habilidades de Bruce.
— Não, eu não falo. Mas o meu amor aqui está querendo me ensinar
grego. — Me abraça, pousando sua cabeça sobre o meu ombro; tão
romântico e engraçado.
“Ah, facilmente apaixonável.”
— Você é grega, Tasha? — Oliver pergunta com uma certa
fascinação.
Na verdade, todos me olham desse jeito quando falo a minha
nacionalidade, parece que gregos só é coisa de filme.
— Nai eímai — digo.
— Olha, pelo sorriso no seu rosto não acho que você mandou a gente
ir para aquele lugar — Britney diz desdenhosa e gargalho.
— Não, mas eu falei, "Sim, eu sou" — traduzo minha fala anterior.
— Olha só... Uma grega, uma americana, um canadense e um francês.
— A loira analisa. — Essa é a viagem mais maneira de toda minha vida.
Então ela gira o corpo e faz a sua tacada. A bola de Britney voa
longe e ela vibra, pulando nos braços de Oliver que ri, mas fica um pouco
sem reação.
Eles dois são engraçados juntos e se fizessem mais um esforço,
aposto como Britney rapidinho se tornaria verdadeiramente compatível com
Oliver, porque mesmo de longe, é fácil perceber a força de vontade dele
para estar aqui com ela, mesmo sendo muito diferentes, e Britney o ama por
isso.
••••
Bem depois, quando acabamos, Bruce e eu voltamos para o quarto
quando nos despedimos do casal que conhecemos ainda naquela manhã.
Trocamos algumas informações a respeito de Britney e Oliver e ficamos
particularmente chocados com o depoimento dos dois para nós. E não
estamos fofocando, mas apenas trocando informações. Casais fazem muito
isso, até mesmo os de mentirinha.
— Não fizemos muitos esforços, mas aqui estamos nós, nos dando
muito bem — Bruce diz.
Sorrio torto porque é em um momento como este que minha mentira
me pega pela garganta e tenta me sufocar.
— Espero poder ajudá-los enquanto estivermos por aqui. — Acabo
revelando enquanto tiro o meu tênis, sentada na beira da cama.
— Tipo uma operação cupido? — pergunta num tom incrédulo.
— Não, mas fazê-los perceber e valorizar a singularidade de cada
um deles — digo me sentindo bastante envolvida.
— Isso foi profundo, Tasha — Bruce diz de fato muito surpreso,
enquanto senta ao meu lado, só de calça.
— É que ser compatível vai além do óbvio. Duas pessoas podem ser
diferentes, mas se elas se respeitam e se entendem mesmo assim, pode haver
compatibilidade.
Ele se apoia nos braços quando se estica na cama.
— O nosso perfil foi compatível um com o outro. Então será que
poderíamos ter as nossas diferenças? — pergunta bastante envolvido no
assunto.
Dou de ombros.
— Mas é claro. Ninguém é parecido de forma meticulosa. — Me
ajeito sentando de frente para ele. — Vamos ver, pizza com azeitona ou sem
azeitona?
— Sem. — Bruce faz uma careta.
— Eu prefiro com. Humor ácido ou moderado?
— Ácido.
— Moderado. Ser teimoso ou pragmático?
— Pragmático, sempre.
Aponto meu dedo na direção dele como se tivesse o pegado no pulo.
— Aí estaria o possível motivo de nossas futuras discussões. Sou
teimosa e não me orgulho disso, é algo mais forte do que eu. Gostaria muito
de ser pragmática, mas não consigo.
— Você, teimosa? — Franze os olhos, bastante incrédulo.
— Ainda não me conhece o suficiente, Bruce Mackenzie. — Faço
uma carinha atrevida.
— Temos mais onze dias pela frente, acha que não terei uma opinião
formada sobre você até lá?
— Mas, nos conhecemos pelo site e combinamos de comprar o
pacote Gold. Você já deveria ter uma opinião sobre mim, não acha?
Ele pisca meio atordoado e dá um riso desengonçado.
Bruce diz que este encontro é a cegas, mas, o site não traz esse
propósito, há não ser que você seja radical demais e decida investir em uma
viagem ao lado de uma pessoa que não sabe nem qual é a cor do cabelo. E,
sinceramente, isso nem faz a cara de Bruce. Então suponho cada dia mais,
que ele foi colocado nessa pelas mãos de uma outra pessoa.
Mas quem?
O irmão cafajeste, ou o irmão que foi traído?
Não quero ser indelicada e ter que fazer essa pergunta subitamente,
mas, ainda assim, decido testá-lo:
— Relaxa, nem tivemos tanto tempo assim de conversar pelo site —
digo passando a mão pela sua coxa. — Mas lembra quando eu contei a você
sobre o boné que carrego comigo desde minha infância.
Bruce arqueia as sobrancelhas e faz uma expressão engraçada, de
quem está tentando lembrar com afinco.
— Não acredito que você já esqueceu! — exclamo fazendo uma cara
de chateada.
— É claro que eu lembro!
“Mentiroso!”
Eu nunca conversei com Bruce pelo site. Eu nunca contei a ele sobre
o meu chapéu surrado que ganhei do meu pai quando criança. Eu não sou a
única mentirosa aqui, e pelo visto, a minha teoria acaba de ser concretizada.
— Qual era a cor dele? — pergunto provocando e Bruce pisca com
urgência.
— Eu gostaria de dizer a cor da sua calcinha neste momento, Tasha.
— Muda de assunto, fugindo do que poderia ser um mata-leão.
Ele me alcança, funga meu pescoço, beija e mordisca cada pedacinho
dele, me atiçando, me tirando a concentração.
— Lembra do que eu disse no golfe? Por que não nos preocupamos
com isso?
Minha respiração muda, estou ficando hipnotizada pelos lábios
macios dele contra a minha pele. Mas se eu tivesse estabilidade o suficiente
para o momento, diria a ele que o meu chapéu não é supérfluo demais para
ser deixado de escanteio. Não digo que a sua fala foi insensível demais
porque o mesmo homem que me deu aquele presente, está morto desde meus
15 anos. Mas não é culpa dele. Foi eu quem tocou no assunto, e o coitado
mal faz ideia do que estou falando.
Contudo, pensar nisso me deixa com o coração um pouco doloroso,
mas é Bruce quem está no controle de mim agora. É ele que vem com a sua
língua áspera que desliza do meu ombro até a curva do meu pescoço quando
abaixa a alça do meu vestido, disfarçando a dor que às vezes quer fazer
morada, mas aí Bruce não deixa. E então uma mão sua desliza para dentro do
meu cabelo, puxando com força o couro cabeludo, enquanto a outra afaga a
minha intimidade por cima da calcinha.
Abro as minhas pernas um pouco mais, me sentindo quente e já
molhada pelos toques e carícias de Bruce. Jogo minha cabeça para trás no
mesmo instante em que solto um gemido rouco, e acho que isso o
desestabiliza, pois Bruce me pega por trás como se eu fosse uma boneca de
pano e me guia até a uma mesa ali perto, onde me debruça sobre ela e se
afasta de mim repentinamente por uns dez segundos.
Quando volta com a camisinha já em volta do seu membro, vem
abaixando a minha calcinha e sem avisos, sinto a sua língua passar na minha
entrada.
Solto um gemido alto.
Amo sentir a sua língua quentinha contra minha pele, a sua barba
raspando na minha entrada e o interior das minhas coxas, a forma como ela
faz círculos, girando e girando, me leva a loucura. Eu não consigo evitar de
rebolar enquanto ele me chupa; me sinto tão devassa com ele.
Infelizmente, não é dessa vez que Bruce me fará gozar somente com
um oral. Ele para e eu choramingo.
— Para você ver que não esqueço das coisas tão fácil.
Não sei qual a situação ele se refere, mas não tenho tempo de
raciocinar nada direito quando ele mete de uma só vez em mim e solto um
grito quando ele sai e entra com mais força, gemendo tão gostoso.
— Lembre-se do que eu ensinei, Tasha.
Meu nome em sua boca durante o sexo me deixa arrepiada, é como se
o simples ato de dizê-lo o deixasse louco.
Faço o que aprendi mais cedo durante a partida de golfe, abro as
pernas um pouco mais, inclino o meu bumbum para trás; estou de quatro, mas
não muito.
Naquela posição, quando Bruce entra de novo em mim, parece que
ele toca meu ponto sensível com o pau dele que entra fundo e então sai por
completo, até ele repetir esse movimento de novo e de novo, de forma
angustiante e deliciosa.
— Mais rápido — peço, mas pelo visto a teimosa aqui não sou eu
quando Bruce continua.
Então quando ele entra de novo, o aperto dentro de mim, ele geme
alto e puxa o ar entre os dentes.
— Caralho! — ruge. — Faz isso de novo, Tasha.
— Só se você me foder com força depois — digo o olhando por
cima do ombro.
— Qualquer coisa, meu bem. Tudo que você quiser.
Ele entra em mim de novo e fica parado, enquanto sente a pressão
muscular que forço na minha intimidade, gemendo cheio de tesão. Faço isso
por uns segundos, até que ele me pega pela cintura com força e realiza meu
desejo.
Sem avisar, Bruce enfia em mim com mais força, fazendo meu
pequeno corpo querer entrar em combustão. Na posição em que estamos,
sinto que vou atingir o nirvana, ou morrer de tão acelerado que está meu
coração, conforme vou sentindo cada centímetro do membro dele me
preencher.
A mesinha em que estou apoiada vai saindo do lugar, de tão forte que
ele me penetra.
— Isso, Bruce! Mais, mais! — peço, como se fosse possível.
“Mas nada parece impossível para Bruce Mackenzie.”
Ele parece determinado a me comer somente naquela posição, pois
não faz menção alguma em parar. O que não acho ruim, pois mais uma vez,
nos encaixamos muito bem desse jeito.
O homem acaba se mostrando uma máquina quando o ritmo das
estocadas não mudam. Bruce me penetra com tanta força que sinto que irei
partir no meio e a sensação de prazer é tão forte, que ser partida ao
meio seria a expressão mais próxima do que estou sentindo, essa sensação
tão gostosa que chega a ser doloroso.
Preciso ficar nas pontas dos pés quando sinto que estou chegando ao
meu limite e meu corpo começa a rugir e estremecer. Aperto o membro de
Bruce mais uma vez, e o sinto inchar; ele também está chegando ao seu
limite.
Dessa vez, gozamos juntos, com nossos gemidos entrelaçados; sinto o
corpo dele sofrer alguns espasmos enquanto eu enfraqueço.
Antes de ir ao banheiro e se livrar do preservativo, Bruce me dá um
beijo terno e me jogo na cama, esperando por ele que volta com uma toalha
presa a cintura. Quando ele se senta na beirada da cama, sorri de um jeito
bobo que me motiva.
— O que é engraçado? — pergunto a ele, que mexe seu indicador de
mim para ele.
— Isso. Nós dois passamos tanto tempo recusando esse tipo de
relação por nos tornamos exigentes e priorizando outras coisas... E agora
estamos aqui, nos conhecendo melhor, mas agindo como se fizéssemos isso
há tempos um com o outro.
— Você acredita em destino? — pergunto a ele, que me olha de
forma cética.
— Não, mas gostaria. Acha que o destino nos uniu aqui por algum
motivo?
“Ah, sim, o destino me trouxe aqui por algum motivo. Pois eu não
estava predestinada a isso, pelo menos não estava nos meus planos.”
— Se nos uniu por um motivo, certamente tem a ver com sentir muito
prazer — digo sensualmente e ele sorri.
— E é logo você a estar aqui, a mulher mais devassa que conheço.
— Diz o homem que é uma máquina de sexo.
Bruce dá de ombros.
— Foi você quem pediu para eu ir mais rápido.
Rimos e então depois de um tempo, vou para o banheiro tomar uma
ducha. Fico por ali e me toco, sentindo a diferença dos meus hormônios há
muito tempo desacordados, finalmente agindo em meu corpo. Por exemplo,
meus seios estão mais sensíveis e hoje pela manhã, apareceu uma espinha no
meu queixo que tenho escondido com um corretivo. Não sou muito adepta a
maquiagens, mas nessas horas não tem para onde fugir.
Qualquer dia desses, preciso retornar minha ligação para Erin, acho
que ela já deve estar ficando preocupada, no entanto, Bruce e eu estamos
grudados na maior parte do tempo.
Exceto pela manhã do nosso quarto dia, onde aproveito para deixar
Bruce sozinho e ir até umas lojinhas do centro da ilha para comprar umas
lingeries bonitinhas. Chamo Britney para me acompanhar, com a desculpa de
que não gostei das que a minha estilista separou para a minha lua de mel. Ela
fica muito maravilhada com a minha mentira de eu ter uma estilista, e tenta
dar o máximo dela durante a minha escolha. Mas a verdade é um pouco mais
constrangedora. Isso porque separei pijamas fofinhos para a viagem, sem a
pretensão de seduzir um magnata da imobiliária canadense, tanto que na
noite anterior, precisei ir dormir com a blusa de Bruce para não ter que usar
um dos meus pijamas. Não posso fazê-lo pensar que não separei coisas
atraentes para ele, porque não separei mesmo.
No entanto, com sorte, Britney parece ter um gosto muito bom para a
coisa, então acabo comprando calcinha fio-dental, baby-dolls de cetim,
body's rendados, cinta-liga, espartilho e outras coisas que não estavam nos
meus planos como óleo corporal para massagens eróticas, lembrando que
Bruce é um deus da massagem, algemas e um treco que prometia uma
sensação refrescante quando massageada a parte intima.
Basicamente, posso chamar isso de kit de sobrevivência sexual por
duas semanas e espero usar o mais rápido possível.
BRUCE
No nosso quarto dia no Havaí, Oliver me deu uma ideia que

acabei colocando em prática logo no dia seguinte.


Quando Tasha saiu com Britney, me programei para fazer tudo
funcionar como vinha planejando. Seria uma surpresa a mais para Tasha, por
isso, Oliver só contaria a namorada à noite, para não correr o risco dela dar
com as língua nos dentes e sair contando as coisas para Tasha antes do
combinado.
Preciso fazer com que ela aja conforme meus planos, por isso,
começo logo cedo, bem antes do café da manhã.
— Vamos à praia? Podemos tomar café lá — digo sem muita
expectativa.
— Parece ser ótimo, vou me arrumar. — Segue para o closet e aviso
no caminho.
— Leva tudo o que você precisar para passarmos o dia na praia,
minha linda. Não vamos voltar cedo para o quarto.
— Hummm... Vou me bronzear por igual hoje. Adorei!
Ela começa a organizar as coisas dentro de uma bolsa artesanal, que
parece caber mil mundos ali dentro. Eu não preciso de muito, mas confesso
estar ansioso. Preparei isso tudo pensando na nossa diversão e numa maneira
de aproveitar o dia, mas é algo além do que o resort oferece, então aposto
que Tasha irá gostar.
Quando ela fica pronta, saímos do quarto, seguro sua mão que exibe
os anéis de noivado e casado, e por onde passamos atraímos olhares. Tasha
e eu temos algo que nos faz parecer naturalmente conectados, como duas
almas de vidas passadas que finalmente se encontraram. Mas não estou
querendo dizer com isso que ela é o amor da minha vida ou que estou
perdidamente apaixonado por ela, mas, simplesmente é algo na vida que
acontece, conexão.
Você pode estar sentado num café comendo seu croissant e de repente
um cachorro para e fica o observando, vocês se olham e de repente, sente
que aquele cachorro pode ser seu melhor amigo, ou então, quando você
simplesmente gosta tanto de um lugar aleatório que decide chamá-lo de seu.
É isso o que sinto referente a Tasha.
A conheci no aeroporto e assim que bati os olhos nela, achei a coisa
mais linda que já vi desde Melissa e Julie. Então ela abriu a boca para falar
e percebi que gostava de estar com ela por ser natural, inteligente, engraçada
e cheia de personalidade, mesmo sendo um doce de mulher; além do brinde
de ser extremamente gostosa e uma safada na cama. Ainda não me acostumei
a ideia de estar transando com ela todo dia praticamente, porque toda vez
que vejo aquela mulher nua e entro nela, é como se fosse a primeira e última
vez.
Na verdade, ainda nem acredito que ela cedeu a mim. Achava que
fosse durar tempo demais, mas assim como eu, Tasha estava no limite.
— A praia fica para lá — diz olhando para trás e apontando na
direção oposta, mas seus passos continuam me seguindo.
— Eu sei, mas hoje vamos a um lugar diferente.
— É que eu achei que você quisesse ir à praia, e só há uma praia
ligada ao resort.
— Bom, então não queira me fazer estragar a surpresa — digo e por
fim, a olho esperando sua reação.
As íris verdes de Tasha brilham como de uma criança.
— Surpresa? O que é? — pergunta inocentemente e gargalho.
— É uma surpresa, sua boba. — Aperto a ponta do nariz e ela
estapeia a minha mão. — Se eu contar, deixará de ser.
— E falta muito?
Balanço a cabeça.
— Só precisamos andar mais um pouco — informo.
A praia do resort fica para trás quando pegamos uma trilha que corta
um bosque todo arborizado por palmeiras e outras plantas tropicais. Há uma
bela árvore com flores amarelas lindas, pego uma e coloco atrás da orelha
de Tasha, que fica charmosa. Preciso registrar isso.
— Não se mexa — digo a ela que congela na pose, com o cabelo
ruivo jogado para o lado e um olhar profundo para a câmera do meu celular.
— Você sabe que tenho uma câmera profissional, não é? — diz
quando estou tentando focar na imagem.
— Sei sim, mas quero ter uma em mãos — digo um tanto distraído,
então encontro o foco perfeito e rapidamente capto aquele momento. —
Pronto.
Ela não pede para ver a foto, apenas volta a fazer o caminho da trilha
e isso me intriga.
— Quer ver como ficou? — pergunto em seu encalço.
— Não, obrigada. Me olhar no espelho já é o suficiente.
Não evito a curiosidade que me agarra neste momento e pergunto de
um jeito inconformado:
— Por que você é tão insegura em relação a sua aparência?
Ela ignora, banalizando o assunto.
— Eu só não ligo muito para essas coisas — responde com os olhos
colados ao chão.
Preciso conhecer muito de Tasha ainda durante esses dias, mas já sei
que ela não está sendo totalmente verdadeira, embora aprecie muito o fato
dela não ser uma narcisista louca como já tive o desprazer de conhecer
algumas anteriormente.
— Mas você é linda, tem noção disso?
— Quando você fala, é quando eu menos acredito.
Arregalo os olhos em ofensa, e ela fica inquieta depois que percebe
o que acabou de falar.
— Quer dizer, não estou insinuando que você está mentindo para
mim, mas, olha só para você.
— O que tem eu? — Fico a observando corar enquanto tenta
organizar os pensamentos.
— Bem, é que você é Bruce Mackenzie. Nunca imaginei nem sequer
trocar algumas palavras com você e agora estamos aqui... Vivendo um
relacionamento temporário devido um site, transando feito coelhos e de
repente você fica aí me fazendo surpresas.
Dou um sorriso convencido e um pouco desconcertado, confesso que
me sinto lisonjeado.
— Então chegamos à conclusão que você deu a sorte grande —
comento e ela me olha chocada.
— Onde estava esse seu lado arrogante esse tempo todo?
— Você que o despertou. Mas fique sabendo que para mim, também
tem sido surreal e uma honra viver essa experiência com você, Tasha.
— Espero que ache isso até o fim — diz com uma carinha triste, eu
diria.
— Por que eu não acharia isso?
Ela dá de ombros e exibe um sorriso reconfortante.
— Sei lá, talvez você descubra alguma mania minha da qual não irá
se agradar.
— E você tem? — Arqueio a sobrancelha pela suposição um tanto
sugestiva.
— Nenhuma que faça você perder o encanto por mim, pelo menos.
Rimos e então aceleramos os passos pela trilha. Antes de chegarmos
a uma curva sinuosa, tapo os olhos de Tasha porque sei que estamos bem
perto.
— Estou começando a ficar seriamente ansiosa, Bruce — diz
tateando o caminho que está livre à sua frente.
— Confia em mim, você vai gostar.
Então andamos mais uns poucos metros e o som do mar fica mais
audível, bem como quando atingimos o limite do bosque e pisamos na areia
fofa.
— Voltamos à praia? — pergunta e acho graça da sua confusão.
— Não, mas estamos em uma. Cuidado.
A conduzo para uma outra parte que nos levará até a surpresa e
quando ela ouve o som dos nossos passos sobre as ripas, reconhece de
imediato:
— Isso é um píer?
— Muito bem, esposa. Aqui.
Paramos.
— Pronta?
— Vai logo! — exaspera.
— Sempre apressada — digo em seu ouvido.
Quando tiro as minhas mãos, deixo que Tasha veja o enorme
transporte náutico que flutua na água ancorado ao píer, brilhando como uma
joia e exibindo toda a sua onipotência em três andares bem distribuídos por
mais de 22 metros de comprimento. Lá dentro, sentados ao sol e tomando
espumantes em taças de cristais logo pela manhã, Oliver e Britney acenam
para nós.
Eles também irão fazer parte.
— Uau, você é rico mesmo! — exclama exageradamente
impressionada e gargalho.
— Na verdade, Oliver também é rico e juntos decidimos alugar essa
belezinha durante o dia todo.
Ela vira na minha direção um tanto chocada.
— É nosso durante o dia todinho?!
— Isso mesmo.
Tasha começa a pular de alegria e me abraça.
— Que incrível!
— Vamos? — Pego a sua mão e a conduzo para entrar a bordo do
iate.
O capitão nos cumprimenta, então passamos pelo corredor e
encontramos Oliver e Britney na proa toda decorada com estofados de couro
cinza, uma mesa posta com quatro cadeiras e um café da manhã recheado nos
esperando. O casal que já está muito bem acomodado exibe sorrisos na
nossa direção e assim que entramos a loira é a primeira a pular no pescoço
de Tasha.
— E então, o que você achou?
— É perfeito!
— Temos que aproveitar enquanto esses dois garanhões nos
proporcionam essa vida de luxo. — Lança uma piscadela para Tasha e então
acena para mim, não se importando nem um pouco se ouvimos ou não.
Observo Tasha revirar os olhos para mim disfarçadamente e sei o
que isso significa. No dia após presenteá-la com os anéis e pagar os
vestidos, Tasha deixou explícito seu desconforto diante da minha bondade e
oferta; acontece que ela não queria deixar a impressão de estar aproveitando
de mim, que a sua independência financeira a permitia viver sem a
necessidade de ter um homem que pudesse contar para comprar ao menos as
suas calcinhas.
Ela alegou que não tem nada contra quem vive dessa forma, mas
lutou bravamente para conquistar sua independência, e sente prazer e orgulho
em poder desfrutar disso.
— Então você tem dedo nisso também? — Tasha pergunta a Oliver
quando ele se aproxima.
— Pardon madame — pede desculpas em francês e Tasha sorri
timidamente.
“Ahg, malditos franceses sedutores.”
— Mas hoje pensamos em dar o melhor dia a vocês no Havaí.
Gostou da surpresa?
— Eu amei!
— Por que não foi uma surpresa para mim também? — Britney
pergunta fazendo beiço.
— Porque você me obrigaria a dizer.
Britney dá uma risada que fanha pela intensidade.
— É verdade. Fico no pé deste homem o dia todo, teria suspeitado
logo de primeira.
Rimos, mas fico preocupado.
Britney é possessiva e isso assusta Oliver durante o resto do dia, mas
o satisfaz na cama à noite, palavras dele.
— Prontos? Vamos dar partida agora mesmo — diz o capitão todo
uniformizado, com barba branca e olhos azuis.
— SIM, CAPITÃO! — grito na sua direção, tentando soar mais alto
que o som do mar.
Quando ele se afasta, Britney murmura baixinho e encolhida:
— Ele parece o capitão do filme Titanic. Tomara que não nos mate.
— Um iceberg fez o Titanic afundar, lindinha — Oliver a corrige.
— Ah!
Tasha e eu nos sentamos à mesa, rindo de como Britney é divertida e
Oliver um gentleman, que acaba combinando perfeitamente com ela, mesmo
que eles não saibam disso ainda.
Mal nos sentamos e o iate dá partida para longe do píer e da margem.
Ele é tão pesado que em dado momento, parece que estamos em terra firme
quando começa a se movimentar e as ondas já não causam tanta ânsia assim.
Nos primeiros minutos, Tasha já devorou uma torrada e duas
bananas. Ela está faminta, mas não consegue comer muito além disso, pois
acha que a sua cabeça está começando a rodar. Oliver, prevenido como é,
oferece a ela um remédio para dor de cabeça e ela agradece. Ela não
consegue segurar a curiosidade por muito tempo e pergunta:
— Com o que você trabalha, Oliver?
— Eu sou programador, trabalho desenvolvendo softwares para
grandes empresas, assim com a criação de aplicativos.
Tasha arqueia as sobrancelhas surpresa enquanto ouço mais uma vez
a história que Oliver me contou.
— Eu não sabia que essa área era tão promissora.
— Bom, é sim. Dá para viver bem e já estou há muito tempo nesse
ramo. Mas, na verdade, minha maior conquista financeira vem do aplicativo
que criei para designers e programadores encontrarem trabalhos. Eles pagam
uma taxa e recebem um leque maior de funcionalidades e visibilidade no
aplicativo.
— Nossa!
— Pois é. O mundo está cada vez mais tecnológico e com isso,
pessoas do mundo todo estão precisando desses profissionais que, devido à
grande concorrência, acabam não tendo a oportunidade que gostaria no
mercado.
— Isso é bem legal, Oliver. Parabéns pelo incentivo.
— Obrigado, Tasha. — Agradece com um sorriso débil no rosto.
Pigarreio alto e me ajeito na cadeira.
— Deveríamos ter proibido o assunto trabalho antes de entrar a
bordo, não acham? — pergunto levemente incomodado com aquela exclusão.
— Ah, querido, é culpa minha — Tasha diz com a mão no peito,
levemente dramática. — Fiquei curiosa. Inclusive, Britney, o que você faz da
vida também?
A minha vontade é de revirar os olhos, mas me seguro. Tasha sabe
como tagarelar, e ainda me chama uma duas vezes pior para tagarelar junto.
Não sou o único a pensar isso, pois Oliver me olha como quem pede
socorro.
— Eu sou atriz! — diz com propriedade.
— Atriz? — Quem indaga sou eu, pois confesso ficar surpreso.
— Sim! Bom, você ainda não me viu atuando por aí porque nunca
consegui um papel em filmes, mas já participei de muitas peças!
— Broadway? — Tasha pergunta realmente interessada.
— Não, peças locais do Texas. Mas quando voltarmos para os
Estados Unidos, vou com Oliver para Los Angeles, quem sabe não consiga
finalmente algo por lá?!
Logo depois disso é a minha vez de falar por alto com o que eu
trabalho e Tasha faz o mesmo sem dar muitos detalhes também.
Terminamos de tomar nosso café da manhã e acho que ainda estou
levemente incomodado com Oliver e suas tentativas de puxar assunto com
Tasha, como se ele estivesse bastante interessado nela.
Veja bem, nunca disse que Tasha é propriedade minha, não deveria
ser problema meu o fato dela atrair muitos olhares masculinos e
consequentemente, se achar interessada por algum deles. Mas estamos numa
lua de mel, que mesmo sendo de mentira e temporário, deveria ao menos ser
respeitosa, por isso fico me doendo e fecho a cara por um tempo, troco
poucas palavras e evito ao máximo parecer sociável demais. Não a culpo
por isso, mas ela também dá atenção demais a ele.
Porém, Tasha é observadora como eu e já percebeu que há algo de
errado comigo. Assim que ficamos mais longe da margem e ancoramos para
nadar e passear de jet ski, deixamos Oliver e Britney na proa para
descermos rumo ao quarto onde Tasha resolveu trocar de biquíni.
Ela não perde tempo em me interrogar:
— O que está acontecendo, Bruce?
— Como assim? — Faço de desentendido e, quando ela pede para eu
amarrar a parte de cima do biquíni, revela:
— Você ficou estranho do nada. Mas tenho uma teoria, só que não
quero dizer por que pode soar patético demais.
— Não se preocupa, pode dizer.
A princípio, ela hesita, mas logo supõe:
— Você por acaso não seria um ciumento possessivo que não aceita
sequer ver a sua mulher tendo uma simples conversa com outro homem?
Sinto que fui atingido bem no estômago, pois sempre repudiei
atitudes do tipo. Naquela hora, terminei de amarrar seu biquíni e a virei para
mim com as mãos em sua cintura.
— Não, eu não sou — digo sério, olhando para ela. — Mas também
não gosto do jeito que os homens olham para você, principalmente Oliver.
Tasha franze o cenho bastante incrédula, mas ela não sabe o que eu
sei. Evitei contar a ela que Oliver procurava uma mulher igual a ela, e por
isso, o jeito de Tasha desperta o interesse dele. Sei que ele não seria louco
de dar em cima de uma mulher que se diz casada, muito menos de Tasha, que
é essa mulher. De qualquer forma, me incomoda e me deixa em estado de
alerta.
— Bruce Mackenzie, está com ciúme de mim? — pergunta
suavemente, sorrindo de um jeito brincalhão, mas lindo.
— Não deveria? Você é minha mulher. Ainda que seja de mentira, é
a minha mulher.
— É, eu sou — diz com uma voz lancinante. — E só eu posso
fazer isso com você. — Me empurra, caio de costas sobre a cama e
calmamente com as pernas me flanqueando, engatinha sobre mim. — Só com
você. — Então mordisca meu pau por cima da bermuda e estremeço, já o
sentindo ficar duro quando todo meu sangue começa a bombear naquela área.
— Não trouxe camisinha — aviso irritado pelo descuido após sair
tão apressado do resort, mas Tasha exibe um sorriso travesso e logo se
empertiga até a sua bolsa e saca de lá um papel laminado que reconheço de
imediato. — Sua safada! — digo com um sorriso orgulhoso.
— Eu imaginei que fossemos precisar, peguei no meio das suas
coisas sem avisar. Problemas? — pergunto por fim manhosa.
— Nenhum pouco, meu amor. — Abaixo a minha bermuda e o meu
pau pula para fora.
Sem avisos, Tasha engole meu pau com aquela sua boca safada e
macia. Ela está muito gulosa hoje, indo até o falo e me levando a loucura
quando faz um movimento de sucção na cabeça. Gemo alto, sabendo que
estamos em um iate, cercados por água, com outros tripulantes a bordo, e é
isso que me deixa mais instigado ainda.
A minha mão está em seu cabelo e acelero o ritmo a fazendo se
engasgar, mas ela não para e está me deixando todo lambuzado e excitado
para caralho enquanto faz uns barulhos que ficam presos em sua garganta. A
cada chupada, parece que Tasha empina aquela bunda linda dela mais ainda
e tudo o que eu quero é comê-la de quatro mais uma vez.
Parece que ela não vai largar nunca mais o meu pau, e só o tira da
boca para admirar seu belo trabalho.
— Ele é tão lindo, tão delicioso — diz enquanto bate uma para mim,
quase arrancando meu pau.
— Aaaah, Tasha! — urro de prazer.
Então ela me solta e se mostra habilidosa quando desenrola a
camisinha em meu membro com bastante agilidade.
— Venha, me deixe entrar em você — peço completamente rendido,
mas ela já está se ajustando em cima de mim e fico tonto.
“Não, ela não vai fazer isso”, penso enquanto enlouqueço e assisto
tudo em câmera lenta.
Tasha alinha meu membro duro e latejante em sua entrada, e
vagarosamente, vai sentando em mim quando arrasta a calcinha de seu
biquíni para o ladinho. À medida que sinto o seu interior apertadinho e
macio me engolindo, vou gemendo de prazer e ela contendo o que poderia
ser um gemido alto e alucinante.
— Mulher, deste jeito você vai me matar! — protesto, mas muito
satisfeito e extasiado quando ela senta engolindo tudo.
— Ainda não — diz de um jeito provocativo, com malícia estampada
em seu rosto.
Depois que estou completamente dentro dela, Tasha começa a subir e
descer, rebolando, se enroscando calmamente, sentindo cada centímetro meu
dentro dela. Levo minhas mãos ao meu cabelo e puxo com força porque essa
mulher não pode ser real. Tão doce e boba, linda e sagaz, sem conta que é
um furacão que só tem me surpreendido cada vez mais. Me inclino um pouco
para a frente, coloco seus lindos seios para fora e fico acariciando aqueles
bicos rosadinhos enquanto sinto que ela me aperta, o que me faz gemer alto.
Ela já percebeu o quão fico louco apenas com este movimento que faz.
— Você é uma deusa grega, sabia? — digo a ela, que abre um
sorrisinho.
— Para de falar e apenas sinta o quanto desejo só você, Bruce —
ordena como costumo fazer com ela.
— Sim, senhora.
Quero que Tasha sente em mim com força, mas tanta força que terei a
sensação que ela vai arrancar meu membro. Porém, não demoro para
perceber o que ela está fazendo, enquanto está sentando em mim sem muita
pressa, passando aquelas unhas que traçam caminhos pecaminosos por meu
abdômen e braços.
“Tasha está me torturando.”
Exatamente como faço com ela que chega a implorar para fodê-la
com mais força.
Ela se debruça um pouco mais sobre mim e começa a passar a sua
língua quente em meu pescoço, me provocando. Chega perto da minha boca,
mas nunca me beija.
Tento capturar sua língua, mas acabamos ficando naquele embate de
línguas eróticas se deliciando, e enquanto isso ela não para de mexer o
quadril em nenhum segundo.
— Vamos lá, minha deusa — peço com carinho, mas nunca deixando
a putaria de lado. — Soca essa bucetinha em mim.
E finalmente, Tasha me obedece.
A mulher se apruma de um jeito e começa a subir e descer em um
movimento desumano, fazendo o som do seu bumbum bater contra minhas
coxas de maneira selvagem. A disposição de Tasha naquela posição chega a
me assustar.
“Céus, que mulher!”
Suas mãos espalmam em minha barriga para que ela encontre apoio e
invista na sentada. Sei que estamos ancorados e o balanço do mar aqui
embaixo é mais nítido, mas sinto que estamos sacudindo este iate.
Tasha está ficando extremamente suada e vermelha, ressaltando ainda
mais a sua beleza. Os gemidos que escapam da sua boquinha são fantásticos
e queria poder gravá-los para ficar ouvindo o dia todinho. Ao invés disso,
apenas seguro sua cintura com força e começo a mexer meu quadril na
tentativa de ir mais fundo.
Sinto que com aquela minha pegada, tiro toda sanidade de Tasha. O
corpo dela fica todo tenso e o vermelho do seu rosto se espalha por todo seu
corpo. Tasha está gozando, e ela deixa isso mais nítido ainda quando aperta
meu pau com mais força e geme alto, urrando e choramingando, tudo ao
mesmo tempo.
— Bruce... Bruce! — repete meu nome no ápice do prazer, tendo
espasmos e sendo anestesiada quando toda aquela sensação varre por seu
corpo deixando rastros.
— Tão gostosa — digo quando ela tem seu momento.
Como ainda não gozei, mas estou quase lá, tomo controle do ritmo e
mesmo exausta, Tasha ainda tenta se mover, porém, eu estava no pique da
coisa. Ela é tão pequena perto de mim que faço isso sem esforço algum, fico
fazendo com que ela sente em mim, até que eu sinta aquela energia louca me
dopar, fazendo minha cabeça rodopiar e o meu sangue ferver. Meu gemido
sai tão alto que chega a me assustar, mas não me incomoda. Aperto os olhos,
mas logo o abro de novo a tempo de ver Tasha fazer uma carinha de prazer
por sentir meu líquido esquentá-la, mesmo que protegido.
Me sento com ela ainda sobre mim e dou um beijo doce e grato por
ser ela ali. Também dou uma rápida chupada em cada seio seu, só porque
são deliciosos e ela estremece.
— Ansiosa por fazermos de novo, meu marido — diz sorrindo e
afundando o rosto no meu peito com as bochechas vermelhas.
Acho lindo vê-la corar apesar de ser tão bem resolvida com sua
sexualidade.
— Depois de um mergulho no mar já estarei pronto para outra, minha
esposa — confesso que ela me desgastou, inclusive vou até subir e comer
alguma coisa para recuperar minhas energias.
Ela arregala os olhos lembrando de algo importante.
— Britney e Oliver estão nos esperando! — exclama, saindo de cima
de mim e se ajeitando.
— Não temos culpa se temos uma vida sexualmente ativa — digo
tirando a camisinha e jogando numa lixeira ali.
— Vai usar isso como desculpa?
— Não. — Faço uma careta, a minha vida sexual nunca foi assunto
de terceiros. — Vamos dizer que o seu biquíni deu um nó complicado.
Quando estamos subindo, Tasha me para no meio do caminho e me
olha de um jeito pidão:
— Ei, esquece esse lance do Oliver. Ele está tentando se adaptar a
Britney, mas dá para ver que gosta de verdade dela.
Solto um suspiro forte porque esse assunto estava voltando a me
incomodar e Tasha acabou de dizer algo que me conforta um pouco.
— Tudo bem. — Dou um beijo na boca dela e a pego pela mão. —
Vamos nadar um pouco.
Encontramos Britney deitada em uma boia amarela e Oliver em outra
vermelha, distraídos com as nuvens e seus formatos. Vendo assim de longe,
percebo que Tasha tem razão, Oliver parece fazer mais esforço agora para
ficar ao lado dela do que dois dias atrás, quando os conhecemos.
— UHU, CASAL! — Britney grita acenando para nós assim que nos
vê enquanto segura um drink, abaixa os óculos de sol e nos olha por cima da
armação: — Vocês demoraram. Estavam aprontando, não é? — pergunta num
tom sugestivo.
— O meu biquíni deu um nó complicado — Tasha diz ficando
vermelha, mal sabendo disfarçar.
— Aham, sei. Seu biquíni deu um nó.
Se insistíssemos no assunto, seria pior, então tratamos de entrar logo
na água.
Por um momento, quando paro dentro do mar, fecho os olhos e sinto o
sol me acalmar.
Estar aqui com Tasha tem sido bom demais.
Nem acredito que demorou tanto para algo do tipo acontecer comigo,
mas não sei a quem exatamente devo agradecer. Certamente, sinto que vivi
com tanto medo de me envolver com outra pessoa, que a vida simplesmente
riu na minha cara e fez com que eu conhecesse alguém que me faria
arrepender de todas minhas recusas.
Mas, se tivesse aceitado todas as outras, Julie e Christopher nunca
teriam sentido a necessidade de me colocar nessa situação, aí eu nunca teria
conhecido Tasha. Mas que bom que a conheci, e que bom que o site 14 Dias
Casados existe.
TASHA
Nem preciso dizer que tivemos um dia maravilhoso.
Sei que o iate foi ideia do Bruce com o Oliver, mas preciso ressaltar
o esforço do meu "maridinho" em tornar cada momento da nossa lua de mel
em algo especial e inesquecível. Confesso ter ficado encantada, mas com um
pouquinho de inveja; sou meio competitiva, então na arte de surpreender ele
estava um passo à frente, mas acho que não demorou muito para as coisas
igualar.
Nem eu esperava transar naquele iate e sei o que você deve estar
pensando, levei uma camisinha, então esperava sim. Mas, em minha defesa
para que eu não seja hipócrita como uma boa mentirosa que tenho sido, a
questão é que eu esperava que Bruce fosse querer transar, então me atentei a
algo que ele nem deu bola.
O coitado estava tão ansioso para me mostrar a surpresa que
esqueceu do principal.
Mas assumi as rédeas daquela relação e foi isso o que nenhum de nós
dois esperávamos. Eu trepei com Bruce igual uma louca, uma selvagem e o
domei igual uma leoa.
Pelo resto do dia naquele iate, a gente comeu, se divertiu, deu uns
amassos e descansamos, mas sempre sou assolada pelas lembranças da
nossa transa.
Confesso que o pensamento de sexo casual me assustava, por isso
nunca mais me envolvi com ninguém além de Perseus. Antes, nunca encarei
sexo como algo casual, é se entregar a alguém e só conseguiria me entregar
se estivesse realmente muito envolvida, certa que seria algo promissor e
seguro. Mas reconheço que quebrei este paradigma pessoal há uns dias e o
motivo: Bruce Mackenzie.
Mas em minha defesa, sinto que com Bruce não foi algo casual. Estou
gostando de verdade de Bruce, mas evito pensar na palavra apaixonada por
mais que meu coração me responda que é o que está acontecendo. Com a
gente foi tudo muito intenso e muito rápido e seria cem por cento verdadeiro,
se não estivesse mentindo para ele.
Ele é um homem incrível e não só me refiro ao vigor sexual ou a
beleza desse homem que mais parece ter saído de um conto de fadas, mas
tudo nele sinto que me fascina de um jeito que ainda não entendo.
Bruce é cheio de tenacidade, mal consigo pontuar seus defeitos,
embora eles existam com certeza. Afinal, ninguém é perfeito e estamos
vivendo dentro da bola da perfeição que é uma lua de mel em um lugar
paradisíaco, longe do mundo real e de todos os problemas que estão à nossa
espera quando sairmos daqui. O mais impressionante ainda é como me sinto
tão bem na companhia dele, como se conhecêssemos há muito mais tempo, o
que quase nunca acontece comigo.
Apenas uma coisa me intriga em Bruce, o ciúme que ele parece sentir
do Oliver no que diz respeito a mim. A forma como ele não esconde que isso
não apenas o incomoda, mas que é possível que ele entre em confronto físico
se tiver uma confirmação me deixa muito confusa.
Parece óbvio que o ciúme está associado a um sentimento de posse,
mas eu percebo que no caso de meu marido há uma conexão afetiva ainda
mais forte, e talvez Bruce sinta mesmo algum carinho por mim, afinal de
contas ele me mostrou que é romântico e como ele sabe ser amoroso depois
do nosso sexo selvagem.
É tão fofo quando ele me abraça e acaricia meu cabelo depois de
estarmos esgotados na cama. Adoro como ele corre as mãos fortes por
minhas costas e me mantem perto do seu peito. Confesso que este gesto ele
me faz me sentir protegida como nunca me senti antes.
Sinto que nossos corpos se correspondem e se entendem, mas nossas
emoções podem estar evoluindo de uma forma que não planejamos.
Ele me deseja e eu o desejo demais, mas e quanto a gostar de mim de
verdade?
Não consigo imaginá-lo me querendo só para si, muito menos
achando que sou dele. Não temos absolutamente nada sério para que ele
chegue nesse nível, mas aconteceu.
Bruce ficou quase o dia inteiro sentindo ciúme de mim e aquilo foi
quase o cúmulo, mas lá no fundo, adorei esse sentimento de ser desejada e
protegida por Bruce.
Antes do dia perfeito terminar, registro uma foto com meu celular o
pôr-do-sol, e depois várias na câmera profissional de Erin.
Confesso que foi difícil me despedir do passeio, mas só quando
voltamos para o resort é que nos demos conta do quão exausto estávamos.
Já a noite, durante o jantar, revejo as fotos da minha galeria e
descubro muitas fotos boas daquele dia, e muitas delas eram de Bruce
sempre sorrindo. Percebo que ele sorri com os olhos e que as suas íris são
de uma cor exótica, avelã. Inesperadamente, meu coração dá um solavanco e
me pego sorrindo de um jeito bobo.
Esse homem é lindo demais e tão bom que parece ilusão.
Rapidamente solto o celular, como se ele tivesse me dado um
choque. Toda vez que estou me sentindo como um balão de ar nas nuvens,
subindo, a realidade vem e puxa a minha cordinha, me trazendo para o chão
e destruindo toda minha perspectiva com Bruce.
O ruim da mentira, é que ela não se sustenta por muito tempo e
quando formos embora deste paraíso e do que estamos vivendo, ele vai
querer manter contato. Sei que vai porque sou a primeira pessoa com quem
ele se envolveu profundamente desde a falecida esposa, e sei que eu também
vou querer procurá-lo porque não me envolvo com ninguém desde meu
fatídico noivado. Mas aí ele vai descobrir que esse tempo todo, não era eu
para estar vivendo essa aventura ao seu lado.
Vai caber a Bruce perdoar tudo isso ou não, relevar as minhas
mentiras e então viver uma realidade, seja de amigos ou amantes.
Mas fico com medo.
Fico com medo quando penso que ele poderia romper esse laço para
sempre. E então, para aliviar mais a tensão, costumo lembrar que ele também
está mentindo, sendo um maldito cafajeste ficando comigo quando deveria
estar com sua verdadeira acompanhante compatível.
Preciso conversar com Erin, o mais rápido possível!
••••
Consigo escapar de Bruce de manhã, após o café. Ele fica na área
externa perto da piscina lendo e checando os e-mails, como ele diz, “O
trabalho não para”. E foi o mesmo que um soco porque desde que
chegamos, nem sequer lembrei de abrir meu e-mail e ver a caixa de
mensagens. Não respondi nenhuma mensagem de texto do meu celular e
deixei no modo avião na maior parte do tempo, olha que normalmente não
consigo ficar nem por 8 horas sem falar sobre trabalho. Mas como uma boa
mentirosa, tinha medo de Bruce acabar vendo algo que me entregasse logo
de cara, só que agora não dá mais para adiar.
Tento não ficar num ponto cego para evitar surpresas. De onde estou,
posso ver Bruce, e ele pode me ver também, mas não ouvir o que estou
falando. Ligo para Erin que agora deve estar de volta a Vancouver e fico
imaginando, se fosse ela a estar no meu lugar, ou seja, fazendo o trabalho
dela, será que teria feito o mesmo que eu?
Será que Bruce teria se mostrado tão interessado, como tem se
mostrado para mim?
Fico tão imersa a este pensamento que nem me dou conta quando Erin
atende à ligação numa empolgação só:
— Você sumiu! Você está transando com Bruce Mackenzie —
premedita subitamente.
— Oi para você também, melhor amiga. Estou com saudade, tudo
bem com você? — soo sarcástica. — Como vai a nossa empresa? Lili está
indo regar as minhas plantinhas e pegar as minhas correspondências? Você
está na Europa ou já voltou para Vancouver?
Do outro lado da linha, a ouço bufar.
Além dela, consigo ouvir o som de um aquecedor, teclas e
impressoras em atividade; Erin está no escritório.
— Eu entendi, eu entendi... Mas só porque você se deu o trabalho de
perguntar, vou responder o que conseguir na ordem, sim, estou bem e também
com saudade, a empresa vai bem e com novos parceiros na Alemanha e
Portugal. Você sabe que a Lili é uma incógnita ambulante e quando aparece
só sabe falar de números então não sei se ela está testando as suas
habilidades botânicas e sim, estou em Vancouver — diz afoita e solta um
suspiro cansativo no final.
Eu deveria me irritar, mas não consigo lidar com o temperamento de
Erin. Ela é engraçada e dificilmente está de baixo-astral, fico imaginando
Erin responder minhas perguntas enquanto enumera tudo nos dedos e fica de
um lado para o outro gesticulando inquietamente. Com isso, fico rindo e a
saudade aperta.
Ter Britney aqui não preenche completamente o vazio da falta que me
faz uma confidente. Erin e Lili são como irmãs para mim e não tem nada que
a gente não comente uma com a outra, por isso ela pergunta as coisas tão
descaradamente assim porque sabe que vou responder. E sinceramente, não
ter para quem contar essas coisas está me deixando louca.
Um bom exemplo da nossa irmandade, foi quando estávamos em uma
festa e um homem ficou pegando no meu pé a noite toda. Acontece que Erin
sabia o que estava acontecendo e ela estava flertando com um cantor
conhecido no cenário pop. Por isso, precisava que Lili e eu ficasse por perto
até que ela pegasse pelo menos o contato. Mas eu estava ficando
extremamente desconfortável, não queria ir embora e deixá-la sozinha.
Inesperadamente, ou não, aliás, verdadeiras amigas são como heroínas, Erin
surgiu e disse para o nojento me deixar em paz, que eu gostava de meninas e
por fim, me deu um beijo que foi o suficiente para afastá-lo. Lili passou por
meses nos sacaneando, Erin perdeu a oportunidade de se envolver com outro
famoso e eu fiquei grata. Foi algo muito embaraçoso e só me fez ter mais
certeza ainda da minha heterossexualidade.
Então como um agrado da nossa amizade verdadeira, onde jamais
conseguiria mentir, disparo as informações para Erin:
— Bruce e eu estamos transando há uns cinco dias. Ele é incrível, me
fez engolir todos os julgamentos que fiz dele pela capa antes de conhecê-lo.
Ontem fizemos um passeio de iate que ele alugou e foi muito bom. — Ouço
Erin vibrar do outro lado. — Tudo está sendo muito bom, mas uma completa
mentira.
Estremeço quando o pensamento volta, “O balão de ar mais uma vez
é puxado pela cordinha da realidade”.
— Erin, não sei o que fazer. Não sei como posso contornar essa
situação sem que ela pareça menos terrível no final — desabafo nitidamente
desesperada. — Você conseguiu ver o perfil da mulher que deveria ter se
encontrado com ele?
— Olha, isso foi um pouco difícil, mas não impossível — diz num
tom frustrado. — Os dados dos usuários são mantidos em sigilo total, mas
para cada um a um tipo de código. De qualquer forma, não achei que seria
justo invadir a privacidade de ambos assim de um jeito evasivo, isso foi a
parte difícil porque quis muito ir mais a fundo. — Dá uma risadinha
diabólica e reviro os olhos, “Erin fofoqueira”. — Então só busquei pelo
que estava na superfície.
Automaticamente lembro da Conexão de Usuários.
Todo perfil no site 14 Dias Casados, quando se conecta com outro
usuário, fica um coraçãozinho interligado ao perfil da pessoa com a qual foi
dado como compatível.
“Mas é claro!”
— Madison Brown, 24 anos, estadunidense, mas veio para
Vancouver na adolescência. Ela trabalha como modelo, foi agenciada há
pouco tempo e isso diz respeito do motivo por não ter comparecido. Eram
duas semanas ao lado de Bruce Mackenzie no Havaí ou a Fashion Week de
Paris.
Tadinha, viveu um verdadeiro dilema...
Eu, no início da minha carreira, teria feito o mesmo que ela, afinal de
contas, seria a única certeza que agarraria com toda vida e determinação.
Erin continua, como se estivesse lendo uma manchete:
— Ela é carismática, mas gosta de ser reservada porque é bastante
tímida. Só fala quando é essencial e não costuma ser insistente; se considera
espírito livre, mas prefere ser metódica. — Por fim, Erin dá uma risadinha e
completa: — Olha só, vocês são e não são parecidas ao mesmo tempo.
— Deve ter dado 70% de compatibilidade — suponho pensando
alto.
— Exatamente! — confirma.
— Antes de embarcar, Bruce disse que era praticamente um encontro
às cegas. Tive minhas teorias porque é muito arriscado fazer algo do tipo,
então joguei uns verdes para ele que só confirmou o que eu já suspeitava:
Bruce também está mentindo para mim.
— Ah, que ótimo! Menos mal, não é? Assim todo mundo leva culpa
— exaspera.
— Não é tão simples, porque há chances de eu estar sendo enganada
também. Mas a minha intuição diz que alguém o meteu nessa situação.
Alguém muito próximo a ele. Talvez tenha perdido uma aposta, ou qualquer
coisa do tipo que o faça arriscar a esse ponto.
— Tasha, isso já é impossível de saber.
— Eu sei, mas e se de repente foi um dos irmãos? Bruce vive falando
do irmão mais novo, Christopher. E pelo que eu já percebi, ele tem cara de
quem faria algo do tipo.
— Quer que eu dê um jeito de encontrá-lo e perguntar? — sugere
como se fosse muito simples.
Amo o jeito desenrolado de Erin em lidar com as pessoas, não é à
toa que ela é a porta-voz principal do site. Mas às vezes isso é um problema
social para ela também.
— Não! Isso só vai apressar o que tenho medo de acontecer. Porque
se foi Chris, ele vai dizer a Bruce que está com a mulher errada esse tempo
todinho.
Mesmo com aquela alegação, apenas uma coisa chama a atenção de
Erin:
— Chris... Nossa, Tasha, já está tão íntima dos seus futuros cunhados
— diz maliciosamente.
— Cala a boca, Erin. Isso é sério!
Ela ri se divertindo com a minha irritação.
— Não se preocupa, podemos dizer que era você esse tempo
todinho, e que usufruiu de outra identidade porque estava testando seu site.
— Mas a Madison Brown é real, os dados são dela!
— Ela trocou o Bruce pela Fashion Week! Pelo amor de Deus! O
cara vai ficar arrasado ao saber disso!
Fecho os olhos contendo o estresse e tentando não a culpar por estar
sendo tão radical. Erin não conhece Bruce muito bem, e por isso, sei que ele
nem ligaria para Madison, mas ficaria extremamente chateado comigo e com
razão.
— Tudo bem, Erin — digo exausta.
— O que? Posso fazer então? — pergunta atônita.
— Não! Tudo bem e é só isso. Eu já sei o bastante, obrigada. —
Esfrego os olhos com meus dedos até a minha visão ficar manchada e escura
por uns breves segundos. Ouço Erin soltar um suspiro pesado, ela faz isso
somente quando está de fato preocupada.
— Você vai ficar bem?
— Vou sim. Irei aguentar até o fim e depois, só Deus sabe o que será
de mim.
— Você está em boas mãos, literalmente, então aproveita. Se ele se
apaixonar, saberá te perdoar rápido.
— Suas ideias são tão mirabolantes — digo revirando os olhos. —
Obrigada por ser você, mesmo assim.
— Eu sei, você me ama. Vê se curte o Havaí e esse homem, pelo
amor de Deus!
A gente fica rindo um pouco e então nos despedimos.
Fico sentindo um certo vazio por um tempinho e colo o celular no
peito como se a ausência de Erin fosse completamente preenchida pela
ligação que acabamos de terminar.
Fazer Bruce se apaixonar, que besteira!
Além de que seria muito cruel da minha parte. Nunca usei pessoas
para sair de uma situação complicada, ou vice-versa e usar os sentimentos
de alguém é pior ainda. Mas apaixonado ou não, acho que Bruce jamais me
perdoaria.
Então para afastar essa sensação ruim que me consome a cada
encurtada de tempo que dá na nossa lua de mel, aproveito para pesquisar o
nome de Madison Brown no Instagram. A princípio, vejo em sua Bio que
concede os principais dados do site, 24 anos e modelo.
As últimas postagens nos stories são registros dela nos bastidores ou
compartilhando vídeos que seguidores fizeram dela em seu catwalk e a
marcaram. A mulher tem simplesmente as pernas mais belas que já vi em
toda minha vida, eu diria que ela tem a altura de Bruce, e de resto, bom, é
compreensível ela estar na carreira que exerce.
Me sinto um passarinho depenado perto de Madison Brown. A
mulher é simplesmente um espetáculo, pele morena, olhos azuis, cabelo
sedoso e castanhos. A boca dela é bastante carnuda e o seu olhar é de matar.
Madison é magra, o padrão das passarelas, mas possui curvas bem-feitas e
seios durinhos e pequenos.
“Ela é toda enxuta.”
Paro na hora de ficar futricando seu perfil, mas gostaria de ver mais.
Então olho para Bruce, a fim de encontrar qualquer distração senão aquela
humilhação. A mulher me colocaria no chinelo facinho, facinho.
Será que Bruce me escolheria ao invés dela?
“Ahg, é tão ruim ser insegura dessas coisas fúteis. Obrigada,
mamãe, por ter destruído a minha autoestima.”
Mas isso é conversa para outra hora, agora preciso voltar para Bruce
e sentir de novo a sensação que sou sua esposa de verdade, que essa vida é
real e que ele jamais me trocaria por um rostinho bonito e mais novinho.
“Apenas quatro anos mais novo, rum.”
••••
Somos convidados para uma festa.
Na verdade, Oliver e Britney nos convidaram para uma noite
badalada na ilha de Oahu. Bruce e eu aceitamos sem hesitar, pois já
estávamos recuperados da exaustão do dia anterior que passamos no iate,
sob o sol escaldante do Havaí e dentro da água salgada. Com isso, preciso
ressaltar que de fato, conseguimos pegar um bronze, as maçãs do rosto de
Bruce estão rosadas, fazendo um lindo contraste entre a pele e a barba
escura.
Durante a manhã ficamos rindo da marca que seu calção deixou,
fazendo as pernas dele ficarem de duas cores.
Fiquei com a marca do biquíni e isso pareceu deixá-lo muito tentado,
mas passei o dia todo me fazendo de difícil porque tinha planos para aquela
noite que prometia ser quente e bastante animada. Até porque coloquei meu
vestido laranja que ele tanto gostou. Bruce soube assim que me viu que
estava fazendo aquilo de propósito, para deixá-lo louco. E mesmo que ele
tentasse qualquer coisa, não foi possível, Britney e Oliver bateram em nossa
porta assim que fiquei pronta.
— Você está tão linda! — dizemos uma para a outra em uníssono e
depois rimos.
Oliver e Bruce se cumprimentam casualmente. Olho de relance para
ver a reação do meu esposo que um dia atrás estava morrendo de ciúme, mas
olhando agora para ele parece que havia esquecido o que o deixou tão
chateado e fico mais aliviada, pois Oliver gosta de Britney, só não sabe
disso ainda.
Descemos juntos para o estacionamento, decidirmos ir no Troller que
alugamos e acontece uma coisa que não esperávamos.
— Engraçado, o site que nos ofereceu o pacote de serviço também
nos alugou um jipe igualzinho a este — Britney comenta dando leves
batidinhas na lataria do carro, fazendo Bruce e eu nos entreolharmos
desconfiados. No entanto, a fala da loira foi tão ingênua que ela mal ligou os
pontos, apenas achou uma baita coincidência.
De qualquer forma, vou na frente ao lado do Bruce enquanto o outro
casal veio no banco de trás. Mal havíamos chegado ao local e Britney estava
toda animada, nos contagiando com a sua empolgação e nos pré-aquecendo
de toda agitação noturna. Subitamente, me deu muita vontade de encher a
cara e dançar até não aguentar mais, porém, tenho de pegar leve com a
bebida, afinal posso falar coisas que não devem quando não estiver sóbria o
suficiente e não lembrar de nada no outro dia.
Mas dançar estava em meus planos, então faria Bruce suar bastante.
A boate se chama Closer e está localizado no coração do centro do
pequeno povoado de Oahu. Bruce deixa o carro no estacionamento privado
do estabelecimento, cercado por muros altos, e aparentemente o lugar está
lotado. Para chegarmos na boate precisamos subir uma rampa na lateral por
onde os carros sobem e descem para estacionar.
Quando alcançamos a entrada principal, sou invadida pelo cheiro de
iguarias assadas que preenchem toda ruela que está bastante movimentada,
seja por pessoas em circulação ou pelas fumaças que opacam a vista. Não há
nenhum glamour ou organização, mas a vivacidade daquele lugar é palpável
e real, e isso faz toda a diferença.
Bruce segura minha mão com firmeza, para que não me desencontre
dele, mas aí chegamos à boate e mostramos nossa identidade para o
segurança com quase dois metros de altura e cabeça raspada. Ele acena para
nós e dá passagem para que avancemos na bilheteria.
Passamos pelas cordas vermelhas e entramos no local, pagando pela
área VIP. A primeira coisa a notar é a música latina que toca tão alto que
reverbera por toda minha espinha, retumbando no meu peito, instigando meu
quadril a se render ali mesmo e Britney parece sentir o mesmo.
Olho em volta, encantada pelas luzes multicoloridas e a decoração
tropical, nos lembrando sempre que apesar de toda modernidade do local,
ainda estamos no Havaí.
Precisamos passar por aquele aglomerado de pessoas que dançam no
meio da festa e subir a escada que nos leva até a área VIP, um mezanino
arrumadinho por cortinas e sofás baixos de capitonê, de todas as cores. Meu
cabelo está uma bagunça e parece que acabei de passar por uma guerra para
chegar ali, mas foi quase isso tanto que precisei ignorar os pisoes que levei.
Quando olho para Bruce, ele parece levemente desconfortável.
— Não gostou? — Me agarro a um braço seu.
Ele balança a cabeça negando.
— Eu só me desacostumei a ir em lugares assim. Faz muito tempo
que não vou a uma boate.
Imagino que seja a rotina de pai, mesclada a vida de CEO.
Realmente, é bastante trabalhoso, mas teremos de tirar o melhor disso.
Dou um sorriso a ele.
— Prometo que você vai gostar. Só fica aqui comigo — peço
acariciando sua barba com um pedido irrecusável.
— Mas não quero ir a lugar algum — argumenta, então dou um beijo
cálido em seus lábios e me sinto muito tentada a aprofundá-lo.
Aquela música, aquele clima, Bruce aqui comigo...
Parece perfeito!
Nos acomodamos em um dos sofás e pedimos drinks, mas Britney
quer que a gente inicie com o pé direito, cada um virando uma dose de
tequila e me animo.
— Aos apaixonados no Havaí — diz quando erguemos as doses para
brindar. — E Oliver, por favor, se ver que estou exagerando, me pare. Não
quero passar vergonha.
— Acho que posso dizer o mesmo a Bruce — digo olhando na
direção dele que fica incrédulo.
— UM BRINDE! — gritamos e então viramos.
A bebida desce queimando minha língua e então a garganta, fazendo
tudo pegar fogo, mas de um jeito excitante. Depois disso nossos drinks
chegam e preciso lembrar de pegar leve.
Nos primeiros goles ainda estamos fazendo caretas.
Oliver e Bruce estão conversando sobre carros e Britney e eu ainda
estamos meio acanhadas no sofá, dançando discretamente. Mas não dura
muito tempo quando uma música famosa e dançante começa a tocar em sua
forma remixada e nós duas descemos para a pista de dança. Nos
embrenhamos entre as outras pessoas e dançamos conforme a batida. Como
não sou acostumada a exercícios físicos, uso a dança como única desculpa
de vida saudável, mas acho que sei fazer isso bem.
— Oliver está estranho — Britney desabafa meio tristinha quando a
música começa a chegar perto do fim. — Já faz uns dois dias que ele tem me
evitado.
— Será que não é impressão sua?
— Eu menti para ele, Tasha. É compreensível que esteja chateado,
mas eu só queria ser aceita.
— Talvez você precise ser honesta com ele.
“Olha quem fala!
Não sou nenhuma Guru do amor, mas sou uma boa conselheira, só
que daquelas que nunca coloca em prática o que aconselha os outros a
fazer.”
— Eu vou ser, mas não agora. Estou muito envolvida para levar um
pé na bunda.
“Eu também me sinto do mesmo jeito!”
É por isso que me dei tão bem com ela em poucas horas, somos duas
mentirosas e sabemos que iremos sofrer com isso então nos conectamos, mas
Britney jamais poderá saber da minha mentira, essa é a única diferença entre
nós duas.
— Ele está aqui com você e isso deve significar alguma coisa —
comento a confortando, porque é o que eu gostaria que alguém fizesse
comigo.
“E a única que sabe do meu segredo, está no Canadá.”
— Você acha? — Seus olhos chegam a brilhar.
— Sim, mas conte a verdade ao Oliver quando tiver oportunidade.
Ele é um homem reservado então vai ser sempre da maneira dele, talvez isso
faça você pensar o contrário porque demonstraria de um jeito mais
chamativo. Mas, é... Tenho certeza que ele gosta de você.
Parece que funciona quando a vejo voltar ao seu estado normal, pelo
menos uma de nós duas iria se dar bem.
Ficamos por ali até tocar duas músicas. Preciso subir e Britney vem
em meu encalço.
Quando voltamos para a área VIP, só está Oliver no sofá com o seu
drink.
— Mais uma rodada de tequila? — Britney sugere e concordamos.
— Onde está o garçom deste lugar, hein? — indaga afoita saindo então a
procura de um.
Sento ao lado de Oliver, mas não tá perto. Sinto falta de alguém.
— Onde está o Bruce?
— Banheiro.
— Ah, sim.
Sorrio, mas a atmosfera fica estranha logo em seguida. Ainda não
havia ficado sozinha assim com ele, ainda mais depois de saber por Bruce
que Oliver procurava em Britney uma mulher como eu, e que ele parecia
muito interessado. Ver por essa perspectiva agora que está só nós dois aqui,
me deixa muito incomodada, mas ao mesmo tempo, não me acanho.
Uma coisa é certa, tenho o pressentimento que Oliver só está usando
Britney, já que ela alega que mentiu para encontrá-lo e que ele está chateado
por ela não ser o que ele esperava. Outra pessoa em seu lugar teria dado o
fora deste lugar o quanto antes, mas ele não. O francês insiste em ficar, e isso
só pode significar duas coisas, ou ele vai usar Britney até partir seu coração
no final ou vai revelar que sempre gostou dela.
Do outro lado da área VIP, vejo a loira tentando se aproximar do
balcão. Ela é baixa, por isso tem uma certa dificuldade em ser vista, mas
logo tenta se embrenhar por debaixo daquelas pessoas.
Dou um sorriso genuíno, e comento:
— Ela gosta muito de você.
Sinto os olhos estupidamente azuis de Oliver em mim, mas não o
encaro de volta.
— Não sei, Tasha. Não consigo acreditar que essa mulher é a mesma
que eu conheci no site — lamenta.
“Que engraçado, Bruce poderia dizer a mesma coisa, se ele ao
menos soubesse quem era a sua verdadeira companhia.”
— Mas você gosta dela, não gosta? — Olho para ele então e me
atrapalho. — Desculpa soar tão inconveniente. Vocês parecem bem opostos
mesmo, mas se está ainda aqui é porque deve gostar dela.
Ele pisca duas vezes para mim completamente imóvel.
— Então eu deveria ir embora?
— NÃO! — grito exasperada, virando o corpo em sua direção. —
Não quis dizer isso, mas acho que vejo uma insistência da sua parte. Você
está tentando, não está? Converse com ela a respeito, diga como se sente.
Vejo a postura de Oliver relaxar, e consequentemente, soltar um
suspiro pesado.
— Sinceramente? Tenho pensado que ela é você — diz isso com os
olhos azuis fixos em mim e tomo um susto que não consigo deixar não
transparecer na hora.
Pisco tão atordoada que as luzes coloridas do lugar me deixam
confusa e o mundo em minha volta parece me engolir.
— Perdão por te dizer isso. Sei que não é correto. Esperava
conhecê-la e ver que a Britney do perfil estaria comigo aqui, mas
infelizmente as coisas não saíram como imaginei. Não tenho culpa se Britney
fez uma propaganda enganosa. Sei que ela não foi sincera no perfil que teve
compatibilidade com o meu. Estou tão cansado de tentar encontrar a pessoa
certa.
Ignoro o que ele disse sobre mim e respondo tentando mediar a
situação:
— O fato dela não ser quem você esperava, não te impede de
conhecer a pessoa que ela é de verdade. E do pouco que a conheço tive a
impressão que a Britney é uma boa pessoa. — Nem sei como, mas consigo
dizer isso, como se as suas palavras não tivessem me deixado atônita. —
Você acha que poderia parar de tentar e dar uma chance a ela? Afinal, vocês
vieram até aqui. Talvez a vida te prepare uma surpresa.
Ele faz uma expressão descrente, mas tenta sorrir depois.
— Então você acha que Britney e eu somos certos um para o outro?
Assim como você é perfeita para Bruce — pergunta curioso e sorrio.
— Quem sabe? E se você quer saber, nós duas somos bem parecidas.
Ela só é um pouco mais extravagante, mas isso não é um problema, é?
O francês sorri e balança a cabeça.
— Não é, só não estou acostumado.
— No amor a gente se acostuma aos defeitos quando as qualidades
as obliteram.
— Sim, é verdade. — Inesperadamente repousa uma mão em meu
joelho. — Obrigado pelo conselho, preciosa Tasha.
Eu fico sem reação por alguns segundos.
Olho para ele confusa e o vejo ainda com o mesmo sorriso, mas um
olhar sugestivo que revela interesse e desejo.
Eu olho para a mão dele e a afasto com educação, mas deixando
clara a mensagem de que "não quero que faça isso novamente".
Mesmo depois de tudo o que eu disse, mesmo depois dele parecer
concordar comigo e com sua namorada uns metros daqui, Oliver está
flertando comigo e só percebo agora que ele deixa isso explícito
corporalmente.
No fim, Bruce estava certo sobre ele. Preciso interromper este
contato antes que outra pessoa veja, antes que Bruce ou Britney vejam. Mas
é quando meu marido surge, deixando Oliver pálido e sua postura muda
ficando muito mais tensa de repente.
Espero que ele não tenha visto ou, caso Bruce tenha visto, que o fato
de eu não ter reagido rapidamente e tirado a mão da minha perna não deixe a
impressão que estava incentivando e gostando do que Oliver fez.
— Você foi rápido — Oliver comentou engolindo em seco.
Olho para Bruce e a sua expressão séria demais, quase assombrosa
me assusta.
— Queria que eu tivesse demorado mais para dar tempo de alisar
minha esposa? — Bruce pergunta sendo direto e meu queixo cai.
— Que isso, Bruce? Só estávamos conversando — argumenta o
francês, envergonhado.
— Poderia conversar sem tocar nela. — Aponta em direção ao meu
joelho, onde estava a mão de Oliver antes, que fica sem resposta. — Eu
saquei qual é a sua, e aviso, não mexa com uma mulher casada.
— Fica tranquilo, amigo. Isso tudo foi um engano, mas não irá mais
acontecer — profere Oliver.
— Não sou seu amigo e espero mesmo que nunca mais se atreva a
colocar sua mão nela ou vou arrebentar sua cara e quebrar todos os ossos
dessa sua mão. — Bruce estende a mão para mim e fico confusa, mas não
hesito. — Venha, Tasha. Vamos embora daqui.
A princípio, não digo nada. Sair dali subitamente deve ser uma forma
de contornar aquela situação que poderia ter acabado de um jeito pior. Não
interferi entre os dois porque não achei necessário; Oliver tinha que parar de
ser inconveniente desse jeito com alguém comprometido, e Bruce precisava
abrir os olhos dele. Mas me preparei caso notasse que Bruce fosse partir
para cima do francês.
No caminho, antes mesmo de sair da área VIP, nos deparamos com
Britney que vem nossa direção sorridente:
— Aonde vão? Consegui outra rodada de tequila e vamos já ser
servidos! — Assim que vê que a animação não é recíproca, seu riso morre.
— Ué, gente, vocês estão com uma cara de enterro. O que aconteceu?
Meu coração dá um solavanco.
Mesmo diante das mentiras, Britney gosta mesmo de Oliver. Ela
precisava saber que ele poderia ser um cretino, mas não gostaríamos de
romper algo que ainda estava tomando forma.
— Faz tempo que não venho a um lugar desses, Britney. Me
desculpa, mas não me sinto bem, precisamos voltar para o resort — Bruce
diz e ele só não mente na parte de quão desacostumado está com esse tipo de
ambiente.
— Ah, tudo bem. Não tem problema, vamos ficar bem por aqui e
pegar um táxi.
— Fico feliz que tenha compreendido.
— Espero que melhore. A gente se vê outra hora. — Dá um abraço
amigável em nós dois e então nos afastamos em disparada.
Subitamente estamos saindo da boate. Voltar para a rua e deixar de
ouvir o som alto é como se meus tímpanos voltassem ao normal. Estamos
descendo a ruela em direção ao estacionamento, com Bruce agarrado a mim
o tempo todo e me sustentando dos trôpegos. Ainda não acredito que nossa
noite acabou em menos de uma hora, e tudo porque Oliver viu em mim
exatamente o modelo perfeito que ele acreditou que encontraria em Britney.
É uma situação louca, mas também super comum de se encontrar em
sites de relacionamentos. Já quiseram nos processar por algo do tipo certa
vez, mas não nos responsabilizamos pelos perfis fakes.
Caminhamos em silêncio até o Troller e me sinto incomodada por
Bruce não ter dito nada ainda, nem eu também, porque nem sei por onde
começar.
O estacionamento está vazio de pessoas e ao mesmo tempo cheio de
carros. Parece um bom cenário para conversar.
— Obrigada por não ter contado a verdade a Britney — digo ao
cruzar os braços numa tentativa de afastar o frio noturno. — Pelo menos não
hoje. Acredito que Oliver não seja um cara ruim também, ele só está meio
perdido, tentando entender o que fazer com a situação.
Bruce para ao lado do carro, encostando nele e enfiando as mãos no
bolso da calça enquanto encara o chão. Vejo as mechas escuras cobrirem o
rosto como cortinas, o deixando mais jovial.
— Aquele filho da puta! — pragueja baixinho. — Eu disse que ele
ficou de olho em você. O cretino não tem um pingo de vergonha na cara e dá
em cima de uma mulher comprometida na cara dura!
Bruce está me referindo como a sua mulher oficial e toda aquela sua
chateação faz parecer o cenário do nosso relacionamento algo real. Mas
entendo sua irritação, eu não ficaria menos chateada se a situação fosse ao
contrário.
— Estávamos conversando sobre Britney — alego assim que ele dá
tempo.
— E ele resolveu tocar em você daquele jeito? Olhar para você
daquele jeito?
O assunto é sério, mas outro detalhe acaba roubando de mim um
sorriso bobo.
— Está com ciúme de novo — ressalto e ele vira de supetão, irado.
— Eu estou morrendo de ciúme, Tasha! — confessa com a voz rouca.
— Estamos aqui como um casal, certo? Por que eu deveria aprovar outro
cara tocando em você?
Eu não deveria, mas isso está me deixando excitada. Ver Bruce com
raiva é muito sexy e selvagem.
— Ok, mas já passou. Você deixou o recado dado. — Mantenho a
calma o tempo todo e me aproximo afagando os seus braços tensos. —
Acalme-se, tudo bem? Estou aqui com você, e só irei me dedicar a você. —
Beijo sua boca suavemente após essa promessa.
Bruce desgruda seus lábios dos meus com brutalidade para me
encarar de um jeito penetrante e lascivo. Há um brilho de puro desejo
naqueles olhos.
— Você é minha? — Sua voz soa selvagem, gutural e sexy, o que me
desestabiliza.
— Sim, eu sou. Nenhum outro homem vai me tocar do jeito que você
me toca, Bruce — digo aquelas palavras que parecem a promessa de um
futuro promissor ao seu lado.
Posso ter soado exagerada demais, mas sei o que quero e quero
Bruce como nunca desejei alguém nesses últimos anos.
Minhas palavras proferidas olhando fixamente para ele surtem um
efeito que me pega de surpresa. Sei que para aquela noite desejava causar
um impacto em Bruce, deixando-o louco, mas o papel se inverte e de
repente, é Bruce que está com as rédeas, é ele que tem o poder de me
enlouquecer.
Ele me leva para a parte traseira do carro e me encosta na lataria
enquanto me beija avidamente. Não sei se já é o efeito da tequila e dos
drinks, mas há um fogo entre nós dois que me deixa cega. Eu só quero que
ele me agarre e me beije. Aqui, a céu aberto, nos fundos de um
estacionamento lotado, só penso em Bruce me possuindo.
Parece que seu pensamento se conecta ao meu, quando sinto seus
dedos em mim.
— Você gosta de se sentir desejada, não gosta? — pergunta entre
meus lábios. — Mas só eu posso fazer isso.
Bruce abaixa, levanta meu vestido e coloca a minha calcinha de lado,
para então apoiar uma perna minha sobre seu ombro e começar a me chupar.
Ele está tão desesperado, que começo a achar que está depositando toda a
raiva que sentiu lá dentro aqui, na minha vulva.
Preciso tapar a boca para abafar meus gemidos caso alguém
aleatório apareça. Mas fica difícil quando ele me penetra com dois dedos,
entrando e saindo de mim com urgência enquanto lambe e chupa meu clitóris.
— Bruce... — gemo. — Por quê? Pare, pare!
Me conheço, não vou conseguir ser discreta aqui.
— Não, você não quer que eu pare — diz e ele está certo, afinal.
Agarro seu cabelo e o ajudo enquanto esfrega sua cara na minha
intimidade. Ao longe, ouço vozes, e ao invés de entrar em desespero, fico
mais excitada com a ideia de estar sendo chupada com pessoas ali pertinho
de nós, mal fazendo ideia do que estava acontecendo. Mas para isso ir até o
fim e nada vergonhoso acontecer, preciso conter meus gemidos.
Bruce se afasta tirando a sua boca de mim só para me olhar ali de
baixo e sua barba está com o meu líquido e o meu cheiro.
“Ahh!”
— Só eu posso ter isso aqui — diz possessivo, mas de um jeito
sensual demais enquanto enfia com mais força seus dedos em mim. — Diga
que você é minha.
— Eu sou sua — sussurro.
Como uma deixa, Bruce move seus dedos com mais força e apoia a
outra mão no carro para ganhar equilíbrio. Jogo minha cabeça para trás e
abro a boca, sentindo o gosto do ar noturno, do gosto do beijo de Bruce, e do
prazer querendo escapar a todo custo.
— Goza para mim, meu amor — Bruce diz quando sente o meu
interior apertar. — Vem para mim, Tasha.
Explodo em seus dedos.
Uma onda forte me varre e se desfaz no meu ponto baixo, me
deixando tonta, mas Bruce volta a chupar meu clitóris e a sensação se tornar
quase interminável. Minhas pernas estremecem e engulo todo gemido que
queria expressar só para ele.
Calmamente, vou recuperando a compostura e Bruce lambe os dedos
que o ajudaram no processo. Ele ajeita minha calcinha e coloca meu vestido
no lugar. Ao longe, aquelas vozes cessam quando partem no carro.
Sou beijada por Bruce que tem meu sabor e cheiro. Estou nele e
marquei meu território.
“Faça Bruce se apaixonar”, a voz de Erin mais cedo ressoa na
minha mente.
Mas, e se ele já estiver apaixonado?
BRUCE
Estou tendo dificuldades em me reconhecer nesses últimos dias.
Coisas estranhas vêm acontecendo comigo no que diz respeito a muita coisa,

mas principalmente quando se trata de Tasha. Preciso confessar também que

essas coisas veem me causando certo incômodo, porque os dias estão

passando rápido demais, já que tudo ao lado dela é mais simples e divertido

e com isso, parece que o tempo voa.


Mas este é o problema...
Quando essa história de lua de mel de mentirinha acabar e voltarmos
para as nossas vidas rotineiras de Vancouver, sei que vou sofrer de
abstinência de Tasha porque deixei que ela entrasse na minha vida de uma
forma que venho evitando deixar outras mulheres entrar há muito tempo.
Pareço meio contraditório falando isso agora, mas é que no começo
não achei que fosse ser algo tão intenso assim. Pensei, “vou conseguir, serão
apenas alguns dias de pura diversão e depois tudo voltará ao que era”.
Mas subestimei Natasha Alexander, e agora me encontro tão envolvido que
sinto um ciúme besta que ridiculariza minha imagem para ela e para Oliver.
Não sou um homem possessivo e ciumento ao extremo. Sou muito
seguro das coisas que quero e tenho, confio demais no meu potencial e que
dificilmente poderia ser substituído. Mas não foi algo que consegui evitar
quando vi Oliver acariciando o joelho de Tasha, ainda mais sabendo que ela
faz o tipo dele.
Fiquei louco!
Quase cedo, para falar a verdade.
O meu instinto foi selvagem e territorialista, só queria tirá-la dali e
deixar a ele um aviso. Mas como Tasha disse, Oliver é um homem bom. Eu
não esperava mesmo que ele fosse se alterar ou partir para cima de mim, o
que deixou toda coisa mais estranha ainda.
Eu não queria dizer a Tasha que estava arrependido por ter agido
daquele jeito impulsivo, no final das contas, até porque meu ciúme a deixou
animadinha, e rendeu o oral que fiz no estacionamento.
Quando voltamos para o resort, teve sexo no banheiro e outro antes
de dormir.
Mas não vou pedir desculpas a Oliver. O fato de ter agido como um
ciumento, controlado, pois mantive a postura, não tira o erro de Oliver. Ele é
quem deve desculpas a mim, a Tasha, e principalmente, a Britney.
Ela precisa se abrir logo para ele, embora seja óbvio que mentiu
desde o início; mas a verdade ela sempre traz pontos positivos e um deles
pode ser que Oliver finalmente aceite começar do zero com a loiraça que é
extremamente gamada nele.
Naquela noite, fui dormir pensando em como dar outra noite
inesquecível a Tasha. Ela estava toda animada em curtir a boate, e acho que
tinha planos em me provocar a noite toda para me deixar na vontade. Mas
tudo foi por água abaixo e agora eu só queria ter um jeito de recompensá-la.
Felizmente, no outro dia quando saímos para o Brunch, enquanto
Tasha ficava indecisa com a bancada de opções, ela ficou louca com a torre
de macarons, o gerente Robert Thompson vem me cumprimentar.
— Como está sendo a estadia de vocês no Sunshine, senhor
Mackenzie? — Seu sorriso parecia inabalável, sempre em exposição.
— Incrível. Tem muita coisa boa para fazer, então fico feliz que
iremos ficar mais uma semana aqui. Assim dá para curtir tudo — avalio de
forma sincera.
— O senhor já deu uma passadinha em nosso cassino?
— Vocês têm um cassino? — Sou pego de surpresa e o gerente acha
graça.
— Não é grande demais como aqueles de Las Vegas, mas temos um
salão só de jogos.
— Isso parece bastante tentador.
— Deveria ir lá com a sua esposa, a senhora Mackenzie. Inclusive,
meus parabéns pelo casório.
— Obrigado, Thompson.
Ele acena e de repente parece lembrar de algo importante.
— O senhor Fernandes irá dar um jantar de gala esta noite para seus
hóspedes masters. Isso significa que você e a sua esposa estão convidados
para comparecerem.
— Comparecer onde? — A voz de Tasha surge do meu lado e ela
enrosca seu braço ao meu.
— Ao jantar de gala oferecido pelo senhor Fernandes, madame — o
gerente resume.
— Vai ser coisa chique então, não é?
— Clássica, eu diria. — Dá uma piscadela, dando a dica que
poderíamos esperar para essa noite.
— Preciso ir atrás de algo à altura, então — Tasha diz com a mão no
peito.
— A madame sabe que aqui temos as melhores boutiques para isso.
— Robert oferta e então volta sua atenção para mim. — O senhor Fernandes
vai ficar muito feliz em saber que você está aqui, senhor Mackenzie.
— Mal vejo a hora de encontrá-lo. — Dou um sorriso forçado e me
viro para Tasha. — Já se decidiu?
— Sim, só estou esperando você.
Aceno e me viro para o gerente, apertando sua mão.
— Obrigado pelo aviso, tenha um ótimo dia, Thompson.
— Igualmente, senhor.
Sou o primeiro a virar, com Tasha ao meu lado completamente
confusa enquanto escapamos para a bancada onde o brunch foi servido.
— O que acabou de acontecer? — Tasha pergunta ao perceber
rapidamente o meu incômodo.
Não estou muito contente com isso, conheço Fernandes por conta da
sua franquia de hotelaria. Ele quase já foi um concorrente forte da
Mackenzie Enterprises mas decidiu investir em resorts em ilhas
paradisíacas. Ele não é inimigo e nem amigo, fica no meio termo; somos
melhores mantendo contato quando o assunto são negócios, e por essa razão
ele conhece os três irmãos CEO's da Mackenzie, e principalmente, o seu
fundador, mais conhecido como o meu pai.
Explico isso a Tasha, que trava.
— Está preocupado que isso chegue aos ouvidos da sua família? Que
está aqui com uma mulher que conheceu na internet? — pergunta magoada.
— O problema não é você, Tasha. Tenho certeza que todos ficariam
encantados com você. Mas, a situação é um pouco mais complicada do que
parece — digo mal sabendo como contar a ela uma parte triste da minha
história.
— Tudo bem, posso ouvir — diz pacientemente, mas não sei se estou
pronto para falar mais da minha vida para ela.
De um jeito mal-educado, a deixo sozinha na bancada e sento em uma
mesa próxima às janelas francesas.
Volto a bater naquela tecla de novo, estou me aproximando muito
dela, como se estivesse certo de que a quero para a minha vida toda. Mas,
não sei se estou pronto para amar de novo, não sei se meus sentimentos
permanecerão os mesmos quando voltarmos para Vancouver. Sei que gosto
de Tasha e gostaria de poder contá-la essas coisas sem que a deixasse
magoada, porque não sei o que ela sente. Ela acha que de fato estive a
procurando no site para tentar a sorte no amor, é a lógica de como isso
funciona.
Ou será que somos, afinal, como Oliver e Britney?
Ela senta de frente para mim e posiciona na mesa seu pratinho com as
coisinhas que escolheu. Percebo que Tasha gosta muito de doce, mas doce
não é muito bem a cara que ela faz no momento.
— Eu ainda não entendo com que intenção você veio — a ruiva diz
com a voz afetada.
“Puta merda, logo pela manhã!
Ótimo jeito de começar o dia, deixando uma mulher segura como
ela, preocupada.”
Mas esse é o problema.
“Eu não queria vir.”
Então as mesmas intenções de Tasha, não são as mesmas das minhas.
Não quero começar dizendo que na verdade isso tudo foi coisa de uma
garota de 13 anos, porque ela se sentiria mal, usada e confusa. Então opto
por algo pior, que mexe comigo, mas que certamente é a melhor forma de
explicar para ela o motivo disso poder começar a ficar bastante complicado
para mim.
Antes, molho as palavras com o chá que escolhi. Camomila para
aliviar a tensão da noite passada, mas que será muito útil para o dia de hoje
também.
— Você sabe que já fui casado e que uns anos atrás eu... — O final
da frase trava. É sempre difícil falar sobre Melissa e a forma repentina que
ela nos deixou.
A mão de Tasha pousa sobre a minha para me reconfortar. Olho para
ela e vejo que o semblante magoado deu espaço a algo mais empático e
gentil.
— Ei, não precisa falar se for tão forte para você — diz suavemente,
como se estivesse pisando em ovos. — Eu ouvi falar sobre, e é claro que sua
versão vale mais do que todas as outras, mas eu sei. Eu sei, Bruce. Não
precisa se torturar assim.
Ela tem razão, a morte de Melissa saiu em todos os jornais e
principalmente em Vancouver, foi manchete nos quatros cantos da cidade.
Mas mais ainda porque eu havia virado um pai solteiro e cobiçado, algo que
odiei ser rotulado.
Eu queria que Tasha soubesse de Melissa por mim, de um jeito mais
verdadeiro e direto. Só que eu não consigo. Faz anos que ela se foi, mas
ainda sou atormentado pelo seu fantasma que não me deixa simplesmente
seguir minha vida. Tudo que me dediquei foi para ver Melissa feliz, então
tudo que vejo e faço remete a ela.
Estou bastante feliz por estar aqui com Tasha, estou mesmo. Mas não
consigo ignorar meus sentimentos que sempre voltam para minha falecida
esposa; às vezes, tenho a sensação que nunca mais irei me apaixonar
novamente, ou então, que a vida irá me tirar mais uma vez meu mundo todo
quando decidir amar outra vez.
Essa é a parte complicada que eu deveria contar a ela, mas decidi
não verbalizar a situação para Tasha. Não agora, pelo menos.
— Acontece que há muitos anos eu não me relacionava com ninguém,
e a minha família já estava ficando preocupada — continuo a falar de um
outro ponto. — Eles me apresentaram todo tipo de mulher que poderiam ser
ótimas pretendentes, mas não me interessei.
— Mas aqui está você, com alguém que mal conheceu na internet e já
foi marcando um encontro de lua de mel no Havaí.
— Desculpa se isso a ofende.
Tasha balança a cabeça e dá um sorriso afetado.
— Tudo bem, só quero saber o que o jantar do Fernandes tem a ver
com isso tudo. Do que você tem medo, Bruce?
“Tenho medo de que isso precise ir além do que estamos
vivenciando, e eu não conseguir dar o que ela merece.”
Quero dizer isso, mas não consigo. Então foco em ser pragmático ao
responder a sua pergunta:
— Há uma possibilidade de Fernandes ligar para meus pais e
parabenizá-los pelo filho do meio ter se casado — revelo pensando na
situação, que apesar de tudo, seria até cômica. — Aí a minha mãe do jeito
que é vai ligar muito histérica para mim, só que eu não vou atender porque
não sei como enfrentá-la, então ela vai tentar com um dos meus irmãos
pedindo explicação, Christopher, para ser mais exato porque foi a ele quem
eu contei.
“Quem ajudou a me colocar nessa”, penso
— Ele vai dizer o que houve e ela vai achar que eu pirei de vez
porque um site de relacionamento é o lugar menos improvável para alguém
da nossa família encontrar um relacionamento sério e digno de uma boa
história nos tabloides.
— Isso não seria uma boa história? — Tasha questiona indicando as
coisas à nossa volta.
É ao Havaí que ela se refere.
Dou uma risada e ela me acompanha.
— Você tem razão, já é uma boa história a se contar.
Ela fica me olhando intensamente com aqueles olhos verdes e cruza
os braços sobre a mesa. Por um momento, acho que ela vai romper para
querer aliviar a barra para mim, mas aí ela me coloca contra a parede de
novo:
— Por que então veio, se sabia que seria julgado por sua família?
Dou de ombros.
Ela é muito boa nisso; uma doce mulher com um espírito perigoso. O
fogo do seu cabelo já deveria revelar a personalidade forte que aquele
sorriso meigo e o olhar gentil escondem.
— Não achei que fosse dar certo — respondo.
— Por isso que se atrasou para o voo?
— Sim! — minto, mas eu já estava mentindo e omitindo muitas
coisas. — Sim, foi por isso que me atrasei.
Tasha acena e então parece relaxar mais um pouco. Para alguém de
38 anos, estava parecendo um inexperiente com isso.
— Então tudo bem. Vamos a esse jantar à noite e independente do
que aconteça, vamos nos divertir. Combinado? — Estende sua mão para que
eu aperte, em forma de acordo.
Estico meu braço e aperto sua mão macia e pequena, que cubro
completamente com a minha.
— Combinado.
••••
Eu não vim preparado para um jantar de gala. Até encontro umas
coisas sociais na minha mala, mas não bom o suficiente para algo chique
onde provavelmente muita gente julgaria as vestes alheias. Sou péssimo com
essas coisas, mas preciso fazer um esforço.
Aproveito que Tasha se separa de mim para ir às compras e faço o
mesmo. Vou até uma das lojinhas do resort e procuro pelo stylist disponível.
Quando me vê, ele já sabe que estou perdido e que a ocasião em questão se
trata do jantar de gala do senhor Fernandes, o que torna mais fácil saber o
que devo vestir.
Fico por uma hora ali, e quando saio, já é para levar o terno
completo que consegui, protegido por uma capa grande. Compro um sapato
social também, com uma fivela de ouro, segundo o vendedor. Não é como se
eu tivesse trazido um sapato social para o Havaí, esse pensamento nem se
quer passou pela minha cabeça.
À noite, quando estou ajeitando a gravata borboleta no espelho da
sala da suíte, sou surpreendido pelo reflexo de Tasha que surge atrás de
mim, me engasgo, paraliso e fico com o coração acelerado.
Viro só para ter certeza que não estou vendo coisas, mas é real. A
mulher está simplesmente a coisa mais deslumbrante que já vi na vida com
seu vestido longo rosinha cintilante, decotado e sustentado por alças finas,
com o caimento do tecido sinuoso, acentuando suas curvas perfeitamente.
Miro em seu rosto que foi levemente maquiado, mas o foco está em seus
lábios pintados de vermelho; para completar, seu cabelo está amarrado em
um coque elegante, com algumas mechas caindo romanticamente que
escondem um par de brincos que brilham como estrelas.
— Uau! — É o que consigo dizer quando a olho de cima a baixo.
— Você parece impressionado, senhor Mackenzie — diz parada do
outro lado, se exibindo para mim.
— Acho que impressionado não seria a expressão correta. Estou
maravilhado. — Respiro fundo e dou um sorriso bobo. — Você está linda
demais, Tasha.
Ela sorri sem graça, como sempre, tão desacostumada a elogios. Mas
confesso gostar deixá-la assim, vermelha e sem jeito toda vez que elogio sua
doce e linda aparência.
— Obrigada, você também está muito bonito. — Dá passos sutis em
minha direção e ela está alguns centímetros alta por causa do salto. — Um
verdadeiro gentleman.
Quando me alcança, seus dedos ajeitam minha gravata borboleta,
olho para seus anéis e percebo como eles ficam bem ressaltos com aquela
sua produção. Parece que Tasha foi mergulhada no brilho da Lua e que o seu
cabelo mesmo sendo natural pigmentou o prateado. Sem contar que ela está
deslumbrante nesses tons de rosa e prata.
Seu cheiro me deixa inebriado, doce e ao mesmo tempo cítrico. Me
perco completamente nela e acho que estou apaixonado. Não há outra
explicação para o tamanho de fascínio que estou sentindo neste momento por
Tasha.
“Uma semana!”
Faz exatamente uma semana desde que a vi e tive o prazer de mudar
de ideia sobre esta viagem.
Nunca havia tomado uma decisão tão rápida em toda a minha vida!
Depois que perdi Melissa, sabia que seria difícil me adaptar a uma
nova pessoa, me apaixonar de novo. E, que quando isso acontecesse, seria
um processo lento, que passaria por muitas etapas de reconstrução
emocional. Mas não, aqui estou diante de uma mulher que conheci há uma
semana devido uma armação da minha filha; vivendo aventuras e
compartilhando experiências da vida. Ver Tasha deste jeito era só o que
faltava para meu coração dar mais uma mexida e eu soubesse o que está
acontecendo.
— Tudo bem? — pergunta me tirando daqueles devaneios.
— Ah, sim... Eu... — Dou uma tossida para disfarçar a voz fraca. —
Ainda estou meio entorpecido.
Ela dá uma risada e revira os olhos descrente.
— Até parece que você nunca viu uma mulher bem-arrumada. Você
parece ser do tipo que atrai modelos.
— Você é uma modelo. Linda desse jeito não há câmeras que
resistam a você.
Os braços dela envolvem meu pescoço.
— Bem, então se for para sua família saber que você está dando uma
de casado no Havaí, é bom que eu esteja bem apresentada, não é?
Ainda tem esse detalhe, e conhecendo a minha família, não tenho
dúvidas de que eles ficariam encantados com a beleza de Tasha, que
transparece exatamente o tipo de pessoa incrível que ela é.
Ela me dá um selinho, para que não borre seu batom vermelho.
— Certamente, a altura — comento e ela bate em meu braço.
— Convencido! É bom irmos logo.
Tasha pega sua bolsa de mão que é prateada e juntos saímos da suíte.
Tranco a porta e a entrego a chave para que guarde em sua bolsa. Passamos
em frente à suíte onde Britney e Oliver estão hospedados e nos
entreolhamos.
— Você os viu mais cedo? — pergunta.
— Não, nenhum dos dois — respondo.
— Será que está tudo bem entre eles?
Percebo sua preocupação e dou de ombros.
— Não sei — soo frio e desinteressado.
Tasha também não toca mais no assunto.
Talvez eu esteja desconfortável ainda com o que aconteceu, mas em
parte, gostaria de ver os dois e saber que está tudo bem.
Pegamos o elevador e descemos para o salão onde será o jantar. O
lugar está incrivelmente elegante e chique, que por um momento sinto que saí
do Havaí e voltei para um dos hotéis de luxo de Vancouver. Mas vindo de
Fernandes não me surpreende nenhum pouco todo o exagero.
Os lustres são de cristais e as mesas estão cobertas por toalhas
brancas, ornamentadas com tulipas que pendem dos jarros. Um grupo de jazz
toca ao fundo e há muitos sommelier à disposição. No caminho há vários
outros convidados, todo mundo muito bem-vestido, e, no meio deles,
encontramos Britney e Oliver. É claro, eles também estão ali pelo site e o
pacote Gold, são hóspedes masters. No entanto, muito confusamente, eles só
acenam de longe e logo desviam a atenção deles, nos ignorando.
— Será que finalmente conversaram? — Tasha pergunta baixinho,
como se eles pudessem nos ouvir.
— Ou será que Oliver contou o que aconteceu ontem e ambos estão
ligeiramente envergonhados? — suponho e Tasha me olha de canto.
Ela abre a boca para responder, mas somos surpreendidos por outra
figura que surge em nossa direção com braços estendidos e um sorriso largo
no rosto. Não consigo impedir a sua aproximação, muito menos fingir que
não o vi. Fernandes chega com toda a sua animação e desenvoltura.
— Meu caro Mackenzie! — exclama em um cumprimento exagerado.
— Que honra, você estar em meu resort.
— Não tive tempo de avisá-lo. — Dou aquele sorriso repuxado de
carisma, algo que sempre preciso fazer com os amigos do ramo imobiliário.
— E eu imagino o porquê — diz olhando com aqueles olhos azuis e
curiosos na direção de Tasha. — Casado, hein? E Thomas não me avisou
nada! Nem Pat deixaria algo do tipo passar!
— Pois é. Tem coisas que a vida não espera — comento e acho que
pego mais a mim de surpresa do que a ele quando faço esse comentário.
Ele balança o dedo na minha direção e comprime aqueles olhos
amendoados.
— Você está diferente desde a última vez em que o vi — analisa. —
Fico feliz que esteja dando novas oportunidades na vida, meu jovem.
Meu sorriso treme.
Meus pais com certeza devem ter dito alguma coisa a ele. Fernandes
já é um senhor idoso, que além de gostar muito de amar os netos, adora saber
da vida alheia, igual meus pais, minha mãe, para ser mais exato.
— Mas como você se chama, minha jovem? — Direciona a palavra
agora a Tasha.
— Sou Tasha Alexander. É um prazer conhecê-lo, senhor Fernandes.
— Estica a mão para ele, que não pega de imediato.
— Seu nome é familiar para mim, mocinha.
Percebo que Tasha fica tensa.
Será que deveria me preocupar?
— Trabalho no ramo de turismo. Deve ter visto meu nome em algum
lugar por aí dessa área. Já agenciei muitas viagens para este resort —
explica, sempre mantendo o sorriso doce.
Como um bom velho, Fernandes processa aquela informação
lentamente, até o seu cérebro captar a informação por completo:
— Ah, sim! — Pega a mão dela e aperta. — É um prazer conhecê-la
também, senhora Mackenzie — enfatiza meu sobrenome e isso a fez corar.
— É uma mulher muito linda e Bruce um homem de sorte.
— Obrigada.
Ele volta para mim.
— Bom, senhor Mackenzie, espero que possam curtir a noite, ela
será bastante longa. Aproveitem! — Acena formalmente e então vai
cumprimentar os outros convidados.
Sinto que tiraram um boi das minhas costas quando sua presença se
vai. Percebo que Tasha continua sorrindo e que suas bochechas ainda estão
rosadas.
— Que senhor gentil.
— Ele deixou você vermelha. Não sabia que tinha interesse em
homens bem mais velhos — comento e ela fecha a cara.
— Me erra, Bruce.
Acho graça da sua irritação.
— Venha, vamos procurar a melhor mesa.
Conseguimos uma em um lugar estratégico, perto o suficiente da pista
de dança, dos músicos e garçons. Daqui, somos vistos com facilidade, então
não demora até que sejamos atendidos e fazemos nosso pedido. Um tempinho
depois, o sommelier aparece com algumas de suas opções exclusivas para
aquela noite. Tasha degusta uns com elegância e vinho parece combinar
perfeitamente com ela. Quando se encanta por um, é o que eu peço.
A nossa garrafa chega antes da comida. Fazemos um brinde a uma
semana que já se completou, tornando assim os dias mais curtos desta nossa
viagem.
— Eu nem acredito que uma semana já passou — comenta após o
primeiro gole. — Ao mesmo tempo parece que nos conhecemos há tanto
tempo!
— Em pensar que na nossa primeira noite aqui já fui dando dois
anéis — comento relembrando o que pareceu no começo um exagero.
— Você se joga de cabeça com seus compromissos, não há nenhum
mal nisso.
— Aquilo não assustou você?
— Só um pouquinho — diz mostrando com os dedos o seu
pouquinho. — Mas sabe? Eu sempre gostei de me aventurar. A rotina sempre
me assustou e o óbvio nunca me agradou. Deve ser por isso que fui tão
julgada. — Dá outro gole na bebida e esqueço da minha, me debruçando
sobre a mesa e ficando curioso.
— Tem a ver com você ter insegurança com a sua aparência também?
— pergunto delicadamente, para que não seja interpretado como rude.
Tasha pisca duas vezes e morde o canto do lábio inferior, muito
tentador, mas aquilo significava que ela estava pensando se contava ou não.
— Eu tenho uma irmã mais velha, Charissa. E sempre fomos o oposto
uma da outra. A minha mãe a "treinava" para se encaixar na alta sociedade
para quando encontrasse um marido rico, mas eu sempre fui como um
passarinho. Livre. — Fita a haste da taça enquanto conta a parte obscura da
sua infância. — Eu fui a decepção da minha mãe. Nunca fiz nada do que ela
pedia, nunca liguei em ter que me preparar para um casamento e servir um
marido. Em que século ela acha que vivemos?! Mas, foi o estopim para ela
me tratar como um lixo. Só que eu tinha meu pai, então as coisas não eram
tão ruins assim.
Vejo que ela sorri, mas seu sorriso não chega até o seu olhar.
— Não eram ruins, até ele morrer e eu me sentir completamente
sozinha.
BRUCE
Tasha perdeu o pai aos quinze anos. É o que ela diz e, ao mesmo
tempo, tenta não dizer. As suas barreiras emocionais a impedem de dar os

seguintes passos na história, do momento mais triste da sua vida. E pela

primeira vez, sei muito bem o que ela está sentindo.


— Ele era policial e atuava mais nos subúrbios da cidade. Estava
acontecendo uma troca de tiro e ele viu uma garotinha apavorada — conta
com a voz pesada e o olhar distante, segurando a sua taça de vinho e as
lágrimas que ameaçavam escorrer. — Ele foi salvá-la, mas foi baleado
durante o processo. — A ponta do seu nariz começa a ficar vermelha,
quando uma lágrima escorre e ela limpa apressadamente com um dedo. —
Não teve muita chance.
— Tasha, querida. — Alcanço sua mão e a seguro com força. —
Sinto muito mesmo pela perda.
Ela dá um sorriso tristonho.
— Sabe, meu pai e eu tínhamos muito em comum. Éramos
determinados em tudo o que fazíamos e sempre insistimos naquilo que
acreditávamos. Eu sempre costumo pensar que, no lugar dele, eu teria feito a
mesma coisa.
— Bem, era o dever dele, não é? — Percebo só depois o quanto
minha fala é insensível, ainda mais quando ela me olha de um jeito frio e
duro.
— Não foi o que minha mãe pensou por anos. — Dá o último gole em
sua primeira taça de vinho e passa a língua nos lábios, deixando o vermelho
do seu batom mais vivido. — Ela o condenou um bobo por ter achado que
conseguiria bancar o herói, e um egoísta por não ter pensado na gente quando
resolveu se meter na frente de balas para salvar uma garotinha indefesa.
Charissa estava sofrendo assim como eu, mas não demorou até que o
pensamento pútrido da minha mãe a sucumbisse também.
Encho a sua taça de novo enquanto ela dá uma pausa.
— Eu não me encaixava ali. Não conseguia suportar ouvir todas
aquelas coisas sobre meu pai, mesmo depois de morto. — Pega a taça e
antes de virar na boca o líquido, completa: — Foi a minha primeira
conquista na vida, deixar pessoas ruins para trás. E não me diga que elas são
minha família, porque eu sei que são, estarei aqui para elas no final das
contas, mas... Eu gosto de mim, Bruce. Se o lar não me aceita, ali não é o
meu lar.
Concordo vagarosamente com a cabeça e percebo dolorosamente que
a história de Tasha é bastante triste, talvez bem mais que a minha, tendo um
drama familiar que não sou capaz de competir, não que isso seja uma
competição, mas eu achava que ela não poderia entender meus sentimentos
em relação a Melissa, e agora eu sei que ela entende muito mais do que eu
esperava.
— Eu sinto muito mesmo, Tasha, por tudo. Não sei o que dizer
porque tenho pais que se amam e tem uma linda história de amor juntos,
então, seria inútil dizer que entendo.
— Tudo bem, não quero que sinta pena de mim.
— Não! — exaspero veementemente. — Juro que não estou sentindo
pena, eu só... Estou surpreso que uma mulher tão alegre, linda e de bem com
a vida tenha vivido esses momentos de tensão quando mais nova.
Ela dá um risinho triste, pega os meus dedos e acaricia com o seu
polegar o dorso da minha mão.
Sempre tão carinhosa e misteriosa.
Sim, Tasha é uma mulher misteriosa de tirar o fôlego e eu amo como
ela vai me contando aos pouquinhos sobre a sua vida, em como ela vai se
tornando mais especial a cada palavra que diz.
— Você disse certo, quando mais nova. Agora eu sou uma mulher que
está realizada na vida, então não tem para quê ficar me martirizando com o
passado. A única coisa que sinto falta mesmo, é do meu amado pai. Eu era
muito nova quando o perdi, então sinto que não pudemos ter muito tempo
juntos. Mas sempre penso que ela está comigo, vendo todas minhas
conquistas e me aplaudindo por isso.
Dou um sorriso a ela, por ser tão madura.
— Certamente, querida. — Pego a sua mão e deposito um beijo
demorado ali em seus dedos, beijando cada um. — Ah, Tasha! — Suspiro,
colocando sua mão macia e pequenina em minha face. — Se desse, eu
beijava o seu coração agora também.
Ela dá de ombros.
— Eu me contento com você beijando cada parte do meu corpo,
senhor Mackenzie. — Revela com um olhar apaixonante e sou devastado por
uma onda de calafrios, como se estivesse despencando de um penhasco.
Sorrio em resposta, tentado com aquela ideia.
Também bebo um pouco mais do meu vinho e me aprumo para contar
uma história, na tentativa de quebrar o gelo.
— Quer saber como meus pais se conheceram? — pergunto e vejo
um brilho nos seus olhos depois de toda sua história. — Bem, antes, sinta-se
privilegiada. Poucas pessoas conhecem a história real deles.
— Conta logo!
“Sempre apressada”, penso.
— Bem, minha mãe veio de uma família da alta sociedade e naquele
tempo as moças tinham que se preparar para o casamento ideal, com o cara
que a sua família achasse ideal.
Tasha revira os olhos.
— Veja só a mesma história se repete, mas em famílias diferentes! —
comenta e eu sabia que ela veria semelhança.
— Pois é, mas naquele tempo, era costume. A minha mãe era uma
Tasha da vida. — Quando faço referência ao seu nome, ela dá um sorriso de
acalentar corações. — Uma mulher de espírito livre, que ligava para pessoas
e não status. Mas a minha mãe era um passarinho enjaulado, passou muito
tempo sendo uma, até conhecer meu pai.
Percebo nitidamente quando as pupilas dela dilatam ao suspirar por
imaginar a história que vem por aí. Tasha apoia os cotovelos sobre a mesa e
apoia o queixo nas mãos, ansiando pela continuação.
Ao fundo, o jazz flui junto com a narração que faço.
— O meu pai sempre foi apaixonado por construção. Ela o conheceu
quando o pai dela pagou uma reforma na estufa que eles tinham em casa, e
que convenientemente, era o lugar dela favorito para as suas leituras. Mamãe
diz que dentre meus irmãos, eu sou o que mais a lembro ele mais novo, então
digamos que foi amor à primeira vista.
— Convencido — rebate aos risos pela minha arrogância.
— Mas daí você já percebe que foi um amor proibido. O meu pai era
ajudante de pedreiro, sempre fazendo bicos aqui e ali. Era o pesadelo dos
pais da minha mãe, mas nem isso os impediram de seguirem firmes e fortes
com o que sentiam. Foi preciso os dois fugirem, e a minha mãe foi
deserdada. Independente de tudo, estava proibida de voltar para casa.
— Que horror! — exclama chocada.
— Foi um pesadelo para eles verem os Mackenzie se erguendo. —
Tomo um gole do meu vinho e completo: — Tudo acontece no seu tempo.
Algumas coisas podem doer, mas não é para sempre. A minha mãe foi
deserdada da sua família, mas construiu uma linda. Ela não perdeu nada e
meus pais só tiveram a ganhar.
— Isso é lindo, Bruce. Desse jeito vou ter que me apaixonar por
você — confessa de um jeito sugestivo.
— Se eu a chamar para uma dança, o quão ficará mais apaixonada
por mim? — pergunto a convidando indiretamente para uma dança quando a
música fica mais romântica.
— Se você não pisar no meu pé, talvez eu fique muito.
Rimos juntos, então levanto e ajeito o botão do meu terno preto.
— Madame? — Estico minha mão e ela coloca a sua mão sobre a
minha delicadamente.
— Sir. — Levanta.
A levo para a pista de dança onde outros casais dançam. Isso me faz
lembrar da primeira vez em que dançamos assim, juntinhos, mas acanhados.
Demos o nosso primeiro beijo então, e acho que foi ali onde tudo começou.
Eu só não fazia ideia do quão intenso isso se tornaria.
Seguro sua cintura e a deixo coladinha a mim enquanto dançamos no
ritmo da música. Suas mãos estão em meus ombros e nossos olhos colados.
Eu poderia olhar para Tasha sempre, que não me cansaria, ela é tão
magnética que surte um efeito vicioso em mim. Acho que depois daquelas
descobertas, e de seu recente comentário, sou instigado a fazer uma pergunta
que me persegue há poucos dias:
— Tasha, o que você está achando de mim?
Ela me olha de um jeito sem entender bem o que quero saber e me
pergunta:
— Você quer saber a parte sincera, ou como a sua mulher de
mentirinha do Havaí? — pergunta me provocando.
— De um jeito sincero, sempre.
Acenando, ela desvia seus olhos dos meus e observa o enorme lustre
que pende sobre nossas cabeças. Quando volta, parece que suas esmeraldas
foram banhadas pelo brilho dos cristais.
— Bem, eu acho que você está quebrado e tenta disfarçar isso, mas
não consegue. Eu ainda acho confuso como veio parar aqui, mas, acredito
que você tem esperança de se encontrar amorosamente mais uma vez. É
arriscado querer fazer desse jeito, mas Bruce, só uma louca não ficaria
encantada pelo homem que você é. — Seus dedos começam a passar por
meu rosto e cabelo conforme ela vai falando, fecho meus olhos para tatuar
este momento. — Sou suspeita a dizer, mas, se eu disser que não me
apaixonaria por este homem carinhoso, inteligente, justo e gentil, estaria
mentindo.
Quando abro meus olhos de volta, é como se eu estivesse vendo um
anjo bem na minha frente.
— E você está? — Arrisco a pergunta e ela dá de ombros, com um
sorriso travesso.
— Não é meio cedo para perguntar isso?
Sorrio sem jeito
— Desculpa, é que você me deixou curioso.
Os lábios dela se aproximam dos meus, e a ouço dizer:
— Eu não vou hesitar em dizer, quando eu estiver.
Estremeço.
— Então não está?
Ela dá de ombros.
— É tudo um processo, Bruce Mackenzie. Não é só você que está
juntando seus caquinhos.
Mais uma vez, Tasha me deixa curioso.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, mas ela não responde
quando vê o nosso pedido chegar.
— Ahg, finalmente! Já estava morrendo de fome!
Subitamente ela para a dança e me puxa para a mesa que foi
preenchida com o nosso pedido. Fico pensando no que Tasha disse e
percebo que ela não me contou o que aconteceu depois que ela deixou a casa
da mãe. Não diz por que resolveu cortar definitivamente aquele laço que
poderia ter se realinhado com o passar do tempo. Fico então me perguntando
o que poderia ter acontecido para deixá-la tão quebrada.
Ela já disse que não se envolve com ninguém há anos, então será que
seria um antigo amor que a magoou profundamente?
Quero apostar nisso e me aprofundar nas minhas dúvidas, mas, além
de não parecer nenhum pouco interessada em prosseguir naquele assunto,
outra coisa nos chama atenção, uma rosa amarela foi posta junto ao nosso
pedido, com um recado que a deixa chocada ao ler em voz alta:
“Mon chéri (Querida), Tasha
Minhas sinceras desculpas pelo ocorrido na noite passada, eu não
queria
deixá-la desconfortável, muito menos aborrecer Bruce, seu
marido.
Gostaria de agradecer pelos conselhos, Britney e eu estamos nos
entendendo melhor.
Você tinha razão, eu gosto dela, só precisava olhar com mais
carinho.
Aceite essa rosa amarela como meu pedido de desculpas e um
sinal que
adoro a sua amizade e a de Bruce também.
Abraços, Oliver.”
Ficamos em silêncio por cinco segundos e olhamos automaticamente
para a mesa onde o casal está. Ambos pareciam assistir a nossa reação, e
então, sorrindo, erguem suas taças para um brinde a distância. Tasha e eu
correspondemos e voltamos a atenção para a nossa mesa.
— Nossa — diz ainda em choque. — Que noite, não é?
Concordo vagarosamente, aliviado por Oliver ter se desculpado e
finalmente entendido que Britney é sua companhia compatível, sim.
— E ela só está começando — comento
O que não é mentira.
Depois que Tasha e eu comemos a deliciosa refeição do chefe, ela
decide esperar a sobremesa para dar continuidade nos vinhos. Mas ela não
precisa de álcool para se divertir, e sim, ser apenas um complemento, pois o
resto da noite no salão, Tasha chega a esquecer da bebida enquanto dança.
Principalmente quando Britney se junta só para dar um oi e então sumir com
Oliver.
Isso me dá uma ideia, pois é justamente o que quero fazer com Tasha.
••••
Digo a Tasha que quero a levar em um lugar novo, aposto que ela não
sabe do cassino. Então em poucos segundos estamos fora de toda aquela
agitação do salão, tiro meu terno e à medida que avançamos no longo
corredor, os murmurinhos, de conversas aleatórias, o jazz e o cheiro de
comida vão ficando para trás. Ouço as risadinhas de empolgação de Tasha
quando apresso os passos e ela mal consegue me acompanhar por causa do
salto, a pego no colo de supetão a jogando sobre meu ombro igual a um saco
de batatas.
— BRUCE! — grita, se esperneia, mas está gargalhando como uma
adolescente. — Me deixa no chão, Bruce!
— Calada! — Estapeio seu bumbum e algumas pessoas ali perto
olham chocadas quando passo com uma mulher sobre meu ombro.
Mas não ligo.
Naquele momento, sinto que existe apenas Tasha, eu e o que estamos
vivendo. E nada e nem ninguém poderá estragar esse momento.
Quando chegamos ao cassino, é um mundo completamente diferente.
A primeira coisa a perceber, é o cheiro proeminente de charutos, do mais
caro, e então a meia luz do lugar que é decorado o mais próximo que se pode
de um cassino real, estilo Las Vegas. Há mesas de poker espalhadas no
primeiro setor, e no outro, várias de máquinas de jogos que brilham e fazem
zoada.
Percebo que Tasha fica animada igual a uma criança que chega no
parque de diversões.
— Um cassino! Eles têm um cassino aqui!
— Pois é, Fernandes, sabe como ganhar dinheiro, canalha. Já esteve
em um antes?
— Não mesmo. Eu tenho uma amiga, Lili, que cuida das minhas
finanças. Ela simplesmente me mataria se soubesse que estou em um cassino.
— Você não precisa contar — digo em um tom malicioso que ela me
devolve no olhar.
— Será que você está com sorte no jogo, como está para o amor,
querido? — pergunta ficando de frente para mim e avançando mais ainda
para dentro do lugar.
Tasha e eu começamos sentando em mesas de poker e perdemos
algumas vezes. Não apostamos muita coisa porque pelo andar da carruagem,
parece mesmo que a nossa sorte só estava no amor.
Mas será?
De qualquer forma, Tasha fica perdida, então a levo em uma mesa
famigerada, e explico o jogo um pouco antes de apostarmos nosso dinheiro.
— Tá vendo esses números nas casas vermelhas e pretas? São onde
as apostas mais altas são feitas, chama-se inside bets. Você escolhe um
número e espera que ganhe. As probabilidades são menores, mas se ganhar,
ganha uma bolada — digo bem próximo ao seu ouvido, como se estivesse
contando um segredo para ganhar aquele jogo.
O cassino, as pessoas, o jazz ao fundo, Tasha ali bem coladinha a
mim...
É uma sensação excitante.
— Você pode apostar também nas outside bets. As probabilidades
são maiores, mas o ganho não compensa bem — desdenho.
— Então vamos apostar nelas. Não é bom arriscarmos logo de cara
— conclui a ruiva de forma estratégica.
— A ficha é sua.
Deixo que ela pegue o jeito da coisa sozinha, sentindo a sensação de
jogar pela primeira vez em um cassino.
Como irá apostar na parte externa, explico a ela que as outside são
compostas por três grupos de números. Onde ela apostar, e se a bola cair em
um dos números da casa escolhida, ela ganha. A jogabilidade é simples,
difícil é estar com a sorte ao lado. E embora eu não me sentisse muito
sortudo para aquela ocasião, a confiança de Tasha já era o suficiente para
mim.
Ela coloca trinta dólares em fichas sobre a mesa na segunda casa.
Outras pessoas estão apostando também na outside. Faço uma conta rápida
mentalmente, e concluo, não muito certo, que o vencedor sairia com uns
trezentos de fichas.
O croupier encerra as apostas e gira a roleta, colocando logo em
seguida a bola que gira e gira, entrando naquele redemoinho que nunca se
afunila. Ansiosamente, Tasha segura meu braço com força, quase torcendo o
pano da minha blusa de linho branco. Percebo que cada um tem a sua torcida
individual, o modo de esperar aquela roleta parar, mas isso vai acontecendo
lentamente.
É uma verdadeira tortura, até que ela pare por completo.
Percebemos a bola paradinha, bem abaixo do número 28. Quem
apostou no terceiro grupo, comemora. Tasha fica cabisbaixa enquanto vê
nossas fichas ganhando um novo dono.
— Isso é um cassino, baby — argumento afagando seus braços para
consolá-la. — Podemos ir de novo se você quiser.
— Odeio esse jogo. Será que podemos fazer outra coisa? — Faz
bico, visivelmente irritada.
— Então você não gosta de perder?
— Quem gosta de perder dinheiro? — retruca indiferente.
— Não é sobre gostar, e sim, saber perder. — Passo o braço atrás do
seu pescoço e me atrevo a segurar sua mão, onde nossos dedos se
entrelaçam.
Levo Tasha em outros jogos, mas ela apenas prefere ficar me
assistindo muito concentrado no poker e blackjack, onde ela diz que seria
um verdadeiro desastre. Enquanto o jogo rola de forma bem calculista, ela
aceita uma taça de champanhe e fica sentada de frente para a mesa onde
outros homens me acompanham. Estou concentrado no jogo, mas não deixo
de admirá-la; aonde vai, Tasha é a mais linda.
Acabo perdendo mais um jogo e começo a desistir. De qualquer
forma, eu não me sinto muito competitivo esta noite, tampouco ela. Só
parecíamos um casal animado, que se beijava mais do que jogava.
Acontece que em cada rodada, por quase ou por ganhar, já era
motivo para beijá-la de um jeito apaixonante.
Os poucos que estavam ali, já nos chamavam de pombinhos.
— Os pombinhos vão apostar na casa 7?
— Os pombinhos vão apostar mais moedas?
— Os pombinhos poderiam focar no jogo?
Tasha e eu achávamos graça. Mas precisamos obedecer ao último
pedido, então procuramos um lugar menos cobiçado ali.
A ala das máquinas estava quase vazia, e ficamos apostando algumas
moedinhas, puxando a alavanca aqui e ali; perdendo toda vez. O que me
deixou puto, mas ela gostava de insistir, como mencionou mais cedo.
— Você é uma ruiva teimosa — sussurro em seu ouvido.
— A moeda é minha, vou continuar tentando.
— E o que vai fazer quando suas moedas acabarem, meu amor?
Tasha não me responde de tão concentrada que está. Com ela
debruçada sobre a máquina, com aquele bumbum gostoso arrebitado em
minha direção, decido que é um bom jeito de começá-la fazer pensar em
como poderíamos aproveitar a nossa sorte, caso as moedas acabem.
Me aproximo dela e passo minhas mãos em seus braços, costas,
então desço na parte nua de suas costas e fico traçando círculos suaves que a
deixam arrepiada. Seu corpo não consegue mentir, embora ela ainda tente
manter o foco na hora de puxar a alavanca e implorar por sua sorte naquela
noite. Mas gostaria mesmo era que Tasha começasse a implorar por mim,
como costuma fazer toda vez que a torturo quando a penetro devagarinho.
Seguro então a sua cintura e faço um movimento sugestivo, mas muito
sutil. Meus dedos estão sem controle, tanto que eles agarram os glúteos dela,
sentindo-os macios. Me debruço um pouco mais e sussurro em seu ouvido:
— Que droga de vestido longo — choramingo e ela ri.
— Se controle, Bruce. Aqui não... — briga, mas também não me
detém.
— Não estou fazendo nada demais, só estou tocando minha linda
esposa. Será que não posso?
— Você está querendo outra coisa — supõe.
— Isso não é mentira.
Minhas mãos bobas sobem e agarram os seios dela, tão macios e
gostosos. Ela solta um som de frustração e sei que não é por minha causa.
— Droga, as minhas moedas acabaram.
Viro Tasha para mim e digo:
— Azar no jogo, sorte no amor.
Ela solta uma risada gostosa e me abraça, permitindo que eu a segure
e faça com que fique sentada sobre a máquina que brilha e faz barulho atrás
dela. Mas é perfeito, ela fica na minha altura e me abraça com força
enquanto nos beijamos sensualmente, com direito a língua e mordidas.
— Vamos ser expulsos daqui — comenta entre beijos.
— Quer voltar para a suíte?
— Sim, por favor.
A ajudo descer e caminhamos rumo à saída do cassino.
Acho que juntando o dinheiro que apostamos, devemos ter gastado
uns 300 dólares, e consequentemente, o perdido. Acho que Christopher e
Mathew teriam amanhecido só para rirem na cara da sorte e dizer, “haha,
quem está na vez agora!”.
Isso é tão a cara deles!
Estou com saudade dos meus irmãos e da minha filha, mas com Tasha
aqui, cada tempo e dinheiro gasto vale à pena. E gosto como ela se
compromete em ajudar, fazer com que as despesas fiquem divididas e assim,
todo mundo feliz.
Quero muito que Julie a conheça, porque é o tipo de mulher que eu
quero que a minha filha se torne quando crescer, embora ela já esteja muito
nesse caminho.
Quando estamos voltando para a suíte, me embebendo em
pensamentos lascivos e carinhosos a respeito de Tasha, me surpreendo com
este detalhe, quero mostrá-la a minha vida.
Quero apresentá-la aos meus irmãos, as minhas sobrinhas e aos meus
pais. Eu não sei qual será nosso rótulo, mas tenho me importado apenas com
o que tenho sentido; e mesmo que ela não tenha admitido estar apaixonada,
sei que está a um passo.
Já tive a oportunidade de me apaixonar antes, e quando Tasha me
olha é com paixão, ela me toca com carinho, sorri de um jeito iluminado e se
entrega totalmente, não me parece outra coisa, a não ser o fato que seus
sentimentos estão agarrados a mim.
Pretensioso pensar desta forma?
Talvez.
Mas eu tenho gostado dela, muito mesmo e seria muito doloroso
descobrir que estou errado na minha teoria. Ainda depois de me entregar
tanto de um jeito que vim evitando todos esses anos.
Chegamos à nossa suíte, Tasha segue para a sacada, abre as portas e
deixa as cortinas arreganhadas. Ela se debruça sobre a balaustrada e fica
admirando o horizonte. Largo meu terno sobre uma das poltronas e enfio as
mãos nos bolsos da calça enquanto caminho até ela, admirando o sopro
noturno balançar as mechas soltas do seu cabelo.
— Eu não sabia que precisava disso — diz baixinho, quase mal a
ouço.
— É uma vista muito linda.
— Não, Bruce. Eu não falo da vista. — Vira para mim e percebo que
seus olhos estão marejados. — Eu falo de você. Eu não sabia que precisava
de alguém para me dar carinho e atenção do jeito que você me dá.
Aquele frio e sensação de montanha-russa volta a me preencher.
— Tivemos nossos corações partidos, mesmo que de formas
diferentes, mas nos recusamos a amar de novo por tanto tempo que... — Faz
uma pausa e fica pensativa.
“O seu coração já foi partido”, mas não é um bom momento para
saber como.
— Eu havia esquecido como isso era bom... E agora aqui com você
estou com medo disso acabar.
— Não precisa acabar — digo tentando confortá-la, escondendo uma
mecha do seu cabelo atrás da orelha.
Mas Tasha dá um sorriso triste. Ela não parece acreditar muito nisso.
— Você ainda vai me querer depois que a lua de mel acabar? —
pergunta fanhosa.
Sorrio para ela e me aproximo, dando um beijo suave em seus lábios
quentes e macios. Encosto a minha testa na dela e fecho os olhos, sentindo
seu cheiro, seu toque e a pressão da sua boca contra a minha.
— Eu quero você toda hora, Tasha. Quero agora e depois. — Faço a
promessa com a voz rouca.
Sinto seu pequeno corpo estremecer e não é do frio.
— Faça amor comigo, Bruce.
Há muitas coisas nesse mundo capazes de eu negar, mas isto,
certamente não é uma delas.
Fazer amor com Tasha deixava de ser uma transa casual, para uma
relação íntima profunda, com nossos sentimentos entrelaçados. Fazer amor, é
a forma mais carnal de dizer que está apaixonado.
Então acho que não resta mais dúvidas a respeito disso...
Tasha e eu nos apaixonamos.
TASHA
Não sei se foi certo pedir para Bruce fazer amor comigo, mas foi
quase uma necessidade sentir que ele é meu e que eu estava entregue a ele de

algum jeito. Com isso, posso considerar a noite passada como a melhor até

então. Mesmo estando muito confusa sobre o que tudo isso pode significar,

devo confessar que é uma sensação gostosa sentir como se eu estivesse

acordando algo há muito tempo desacordado.


Além de termos feito amor enlouquecidamente ontem à noite, também
contei a ele durante o jantar uma parte do meu passado que me atormenta.
Ele ficou extremamente chocado com o que eu disse sobre minha mãe e
muito empático quando contei sobre meu pai. Bruce descobriu que também
compartilho da dor da perda; sofro com isso há anos, marcado em mim como
uma tatuagem, mas que seguir em frente foi algo que fiz especialmente para
meu pai, assim como Bruce segue em frente com a filha para que a sua
falecida esposa seja confortada em algum lugar onde estiver.
Nessas horas, não me sinto ruim por lembrar dela. Na verdade, fico
imaginando o quão felizes eles deveriam ser juntos porque Bruce faz
absolutamente tudo para agradar e deixar claro seus sentimentos.
Ele é carinhoso e muito atencioso a tudo, a cada detalhe. Mesmo
após a morte, acho que Melissa deve ter lamentado horrores por ter se
afastado para sempre de Bruce.
Perdê-lo não deve ser fácil e é este sentimento que quero afastar de
mim, tentando não o tornar real, afinal já perdi muita coisa também.
Mas em contrapartida a todos esses dilemas, suposições e
inseguranças, chego à conclusão que preciso de um dia só para mim
no spa do resort. A minha vida sexual nunca esteve tão ativa, com isso,
descobri que estava enferrujada e há momentos em que mal consigo andar.
Culpa do meu sedentarismo e de Bruce com todo seu potencial e habilidade
em me tomar de todas as formas possíveis.
Enquanto tirava um tempinho só para mim, Bruce se arrumou e não
deu muitos detalhes do que faria, mas também não fiz muita questão de saber.
Não sou sua namorada e nem esposa de verdade, então ele não me deve
satisfação, além de ter o seu direito de ir e vir. Por isso, estou tranquila
sabendo que, mesmo apaixonada por Bruce e temendo muito como nosso
futuro pode se desenrolar, eu consigo confiar nele.
Confio mesmo depois de tudo o que passei...
Pela traição que tive e depois viver desconfiada do amor.
Ele deveria saber, penso, “mas agora não, no momento certo ele
irá saber.”
O spa do resort fica em um prédio adjacente ao que nos hospedamos
e sua construção é mais tropical do que o hotel.
Logo na entrada há muitas palmeiras e flores de cores vivas que se
espalham em uma entrada harmoniosa, lembrando muito um santuário pelas
fontes, além dos arcos de plantas e o cheiro de natureza que faz o cheiro dali
ser chamativo e muito tranquilizador. Já me sinto em paz só de colocar os
pés naquele lugar.
Duas moças vestidas de branco me cumprimentam e uma de cabelo
escuro me guia até o interior, para fazer a escolha do pacote das sessões.
O interior do lugar é mais bonito ainda, reconfortante e onipotente
com suas colunas e toda a construção de pedras que parecem ser velhas
como as montanhas daquela ilha. Ao fundo, ouço o som de água fluindo de
um riacho e algo muito parecido como o doce som de uma harpa; é como se
eu estivesse no céu.
Escolho o pacote master, onde vou usufruir de todas as massagens,
terei alguma prioridade na fila e um quarto só para mim, quando desejar
descansar por mais tempo. Há banheiras de hidromassagem e posso entrar
em uma delas. Fico sabendo da existência de uma sauna, e por uma razão
óbvia lembro automaticamente de Bruce e tento afastar aquele pensamento
devasso que me arremete no exato segundo, me deixando vermelha e com um
sorriso bobo no rosto. Mas seria interessante ficar a sós com ele numa sauna,
só de toalha, suados e não conseguindo resistir ao calor e a toda pele
exposta.
Afasto Bruce dos meus pensamentos e foco apenas em relaxar.
A princípio, tenho uma certa dificuldade em conseguir relaxar. A
massagista diz que estou muito tensa, e meus músculos precisam receber
comandos do meu cérebro que, na verdade, estou relaxada.
— Você precisa alcançar a sua paz interior para que seu corpo
entenda que não está em estado de alerta, mas sim, de relaxamento —
explica a mulher, tão dócil e gentil.
— Tudo bem — digo um pouco confusa.
“Paz interior?
O que é isso?”
Não é como se a minha vida fosse uma constante guerra, mas amo
trabalhar.
Amo mesmo.
Gosto de precisar focar a minha vida apenas a isso, gosto de toda
aquela correria e no final do dia saber que a qualidade do meu sono será
ótima pois é um reflexo da minha proatividade diária. Gosto de fazer
projetos e vê-los dando certo, gosto das reuniões e dos telefonemas, mas é
desgastante para caramba.
E muito antes de embarcar nesta aventura com Bruce, sabia que
precisava de algo do tipo, mas nunca tinha tempo. Aí acontece a coisa mais
inconveniente da minha vida, e de repente eu tô tipo "nem aí" para meu
trabalho e só estou finalmente num spa porque andei transando demais.
Que vida essa minha!
Mas aí mãos de anjos me tocam aqui e ali, puxam e repuxam, me
levam ao céu e me fazem encontrar finalmente a paz que necessitava muito
antes de toda essa loucura. Não é como as massagens de Bruce que sempre
parecem bem sugestivas; as mãos femininas me tocam com agilidade
profissional e a necessidade de me fazer relaxar.
Pego no sono tantas vezes que, horas depois quando as sessões de
massagem terminam, preciso ir para a banheira de hidromassagem e me
recuperar um pouquinho, só então quem sabe, dormir um pouquinho.
Coloco meu biquíni verde e entro na hidromassagem que fica em um
ambiente clean; há outras banheiras ali também, mas cada uma é separada de
forma mais "privada" por grandes vasos de flores e acho que há mais de uma
em funcionamento.
Contudo, presto atenção na vista maravilhosa para o mar que é
possível ter dali. Um pouco depois que me acomodo, uma das funcionárias
vem me trazer uma bandeja com frutas e comidinhas leves; não faz muito meu
estilo, mas hoje é um dia daqueles para se sentir bem e saudável.
Logo quando vou comer o segundo morango, ouço uma voz dizer:
— Há lugares que nunca é grande o suficiente quando se está
predestinado a dar de cara com aquela pessoa.
Olho em direção da voz que pertence à Britney, e logo ela surge atrás
de um daqueles vasos, cruzando os braços sobre a beira da banheira onde
também está de molho, com um biquíni amarelo que realça seu bronzeado
conquistado no nosso passeio de iate.
— Britney, oi! — Cumprimento. — Parece que pensamos na mesma
coisa.
A americana assente sorrindo, mas aquele sorriso não chega aos
olhos estupidamente azuis.
— Mas com certeza não estamos aqui pela mesma razão — confessa
com um timbre de voz diferente. — Você deve estar aqui para recompor as
energias da noite passada, já eu estou aqui porque pareceu o único lugar
onde Oliver e eu não cruzaremos nossos caminhos.
“Isso parece ruim.”
— Contou a ele a verdade? — pergunto hesitante, temendo ser
insensível.
Ela dá um sorriso tristonho e balança a cabeça.
A boca dela estremece quando o choro parece ser mais forte que a
sua vontade de resistir. Ela nem sequer me olha nos olhos, mas já sei que
Britney está sofrendo.
— Não foi bem dizer a verdade, estava mais para uma confissão que
me envergonho muito. Mas mesmo sendo diferentes, gostei muito dele, e não
entendo por que ele não gostou de mim. — Se esforça para não soluçar,
embora estivesse se debulhando em lágrimas que se perdiam na
hidromassagem.
— Ele gosta de você, Britney... Te respeita e pensou principalmente
em você quando decidiu simplesmente não a abandonar aqui. — Tento ser
honesta agora que decisões sérias foram tomadas, mas é o que é. — É difícil
entender os sentimentos alheios, mas o amor se instala de um jeito
inesperado, nem sempre acontece como queremos ou com quem queremos.
Tenho propriedade neste assunto, pois amava Perseus, ele sempre foi
meu primeiro amor e me entreguei a ele, mas nunca foi recíproco. Ele nunca
esteve ali para mim, e se esteve, foi por um curto tempo.
— Uau, você é mesmo boa nisso — diz enquanto seca as lágrimas,
mas tenta sorrir para se reconfortar de algum jeito.
Talvez eu seja mesmo...
Queria colocar em prática esses meus conselhos, saber como dizer a
mim mesma o quão seria melhor dizer a verdade a Bruce o mais cedo
possível.
Britney e eu rimos, mas venho pensando muito sobre isso tudo nos
últimos dias.
E se o 14 Dias Casados tivesse uma psicóloga que auxiliasse o casal
durante o processo de "conhecimento"?
Algo como uma Terapia de Casal online, que os ajudassem a ter mais
confiança, caso a pessoa do perfil a deixasse com um pé atrás. Nas opiniões
de usuário, há alguns que deixaram estrelinhas abaixo da média
acompanhado de comentários maldosos em como foi frustrante conhecer
alguém no site; pois como já frisei, Britney e Oliver não são um caso
isolado, sempre acontece de ter um perfil fake, o catfish ficar muito
decepcionado e virar um juiz da marca, onde a sua principal missão é
detonar a imagem da empresa.
Temos muita dor de cabeça com isso e sempre fazemos reuniões para
contornar situações como essa. Mas agora que essa ideia surgiu, não vou
hesitar em comentá-la com Erin e Lili quando voltar para Vancouver.
Casais precisam ser ouvidos, e não é necessário ter anos de
convivência para que algo do tipo aconteça. Às vezes, as partes individuais
precisam ser trabalhadas para que o conjunto dê certo, então pode ser um
lado até estratégico para aumentar a nossa clientela e confiança no site dos
possíveis futuros usuários.
Fico tão pensativa que mal me dou conta do silêncio entre Britney e
eu. Mas ela pergunta:
— Bruce ainda está chateado com Oliver? Eu diria que ele está
louco para jogar golfe, mas não acho que tenha tanta coragem de chamá-lo
— diz cuidadosamente, temendo que a resposta fosse negativa.
Não conversamos muito sobre isso na noite passada, não tivemos
tempo. Mas sei o que Bruce pensa.
— Ele está aliviado que Oliver tenha se desculpado e que vocês
finalmente resolveram isso. Mas acho que Bruce precisa de um tempo ainda.
Britney balança a cabeça e não me olha, prefere ver a água
borbulhando.
— É claro. Loucura minha achar que Bruce iria querer conversar
com um cara que estava flertando com a esposa dele — diz magoada.
— O que você acha disso? — pergunto um pouco acanhada; é um
campo sensível onde estamos entrando.
Ela fica pensativa por uns segundos e a deixo refletir melhor sobre
como poderia verbalizar os seus sentimentos. Britney pode ser extrovertida e
sempre parecer ser de alto-astral, mas ela é humana e sensível. Estou vendo
isso melhor agora.
— Sabe, eu quase desisti. — Sua voz vacila na primeira frase e ela
pestaneja as sobrancelhas até afastar mais lágrimas. — Eu já fui trocada
muitas vezes, Tasha. "Você serve só pra trepar", a maioria dos meus ex's me
diziam ao romper comigo. E agora estraguei tudo, então não tenho muito o
que achar.
Vejo um brilho escorrer pela face dela, mas ela a limpa rapidamente.
Britney não é uma mulher de demonstrar suas emoções, deve reprimir com o
seu jeito animado e o sorriso radiante. Mas só um coração partido pode
fazer a alma chorar e derrubar o mais forte.
— Eu sinto muito por tudo, Britney — lamento.
— Mas tudo bem. Ao menos ele quer ser meu amigo, Oliver me acha
muito divertida. — Sorri. — Além do mais, acho que tirei conclusões muito
precipitadas sobre meus sentimentos em relação a ele. Às vezes é fácil
confundir desejo com paixão, acho que foi isso que aconteceu.
Penso sobre o que Britney acabou de falar, meus sentimentos por
Bruce se equilibram em uma linha muito tênue entre desejo e paixão, mas
agora que ela tem certeza do que está sentindo, eu queria ter a mesma
segurança das coisas que sinto.
— E o que vai acontecer agora?
Ela dá de ombros.
— Não queremos perder o pacote Gold, então é provável que a gente
fique até o fim da viagem, mas vivenciando isso de um jeito diferente.
Fico surpresa.
— Você acha que essa é a melhor solução?
— Talvez não, mas vamos ficar só mais uns dias. Ou até comprarmos
a passagem, o que pode acontecer amanhã mesmo, não sei.
Para disfarçar a dor, Britney evita ao máximo falar sobre Oliver, ao
invés disso ela se concentra no jantar de gala da noite passada e elogia meu
visual. É estranho, mas também não sei o que conversar com ela, é como se a
nossa mentira fosse a única coisa que estivesse nos unindo, e agora sinto que
Britney e eu estamos distantes. No entanto, sei que um sentimento de inveja
repuxa o meu âmago, por ela ter tido a coragem que não tive. Sendo assim, a
única diferença é que ela subiu um degrau, e eu continuei parada sem
avançar na escadinha da honestidade.
••••
Me reencontro com Bruce em nossa suíte.
Ele estava relaxando um pouco em meio as trilhas, junto com turistas
japoneses; foi o que ele disse e ao ver pela sua animação, parece que foi
divertido. Ele me mostra as fotos que tirou durante a caminhada, conto a ele
a minha conversa com Britney e que fim levou então o caso dela com Oliver.
Bruce fica arrasado, gostávamos deles juntos mesmo sabendo que
não daria muito certo. Mas ainda assim, ele revela que gostaria poder
reencontrar o francês em algum momento da sua vida para relembrar de uma
forma mais cômica essa viagem louca.
Espero que ele possa dizer o mesmo de mim, mas tenho receio de
Bruce se tornar um Oliver, e não me dar chance alguma.
Mas estamos bem, não há nada nos atrapalhando e fico me sentindo
segura quanto a nós dois, mas só quando Bruce consegue me deixar longe
dos pensamentos, caso contrário, fico me martirizando por tempo demais e
isso não é bom.
— Vamos descer para tomar um chá da tarde juntos? — convido.
É fim de tardinha, e tomaríamos nosso chá enquanto assistíamos da
nossa sacada o sol se pôr.
— Ou podemos pedir daqui — propõe.
— E perder mais uma noite de Hula? — indago com uma expressão
provocativa, e ele acha graça.
Mas daqui do alto já é possível ouvir a banda se preparando para a
festa que começaria em poucas horas.
— Isso parece um convite tentador, mas só se você disser que vai
dançar comigo de novo.
Me afasto da cadeira e inclino em sua direção, colocando as mãos
em seus joelhos e sibilando perto demais:
— O que faz você achar que irei recusar uma proposta dessas?
Dá de ombros, mostrando resistência aos meus lábios tão próximos
aos dele.
— Você nem aguentou a noite passada e hoje já foi correndo aos
massagistas profissionais, sendo que eu podia muito bem fazer você ficar
relaxada.
Ele tem razão, mas sabia onde aquelas massagens dele terminariam e,
muito contra a minha vontade, precisei ignorar a oferta e não me render aos
charmes de Bruce.
— Eu queria algo mais profissional. Ter toda experiência, sabe? —
explico e ele solta uma risada anasalada.
— Bem, eu posso ser profissional — rebate um tanto desafiador,
passando seus dedos no canto do meu seio.
— É claro que pode — digo sarcasticamente e dou palmadinhas em
sua coxa. — Vamos, se arrume logo!
Deixo Bruce para trás e vou me produzir para a Festa da Hula. Não
demora muito ele vem atrás de mim, e desta vez por estarmos mais
próximos, nos ajudamos com a produção. Escolho as roupas dele, calça
branca e blusa azul-marinho de botões. Bruce fica muito lindo com blusa de
botões, dando a ele um ar totalmente despojado do homem executivo que
todos estão acostumados a ver. Já ele acaba escolhendo para mim um vestido
branco de várias camadas leves, formando um caimento solto e bem
romântico. Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e passo gloss nos
lábios, deixando a atenção máxima para o perfume.
Chamo Bruce para uma foto na frente do espelho no banheiro e
ficamos lindinhos. Não sei se algum dia poderei postar estas fotos, mas
espero que sim. Ele agarrado a minha cintura enquanto sorrio feliz em seus
braços; foto bem iluminada e focada, com nós dois na centralização do
registro. É uma foto perfeita e ela está no meu celular. Ele pede que eu envie
para ele e não hesito.
— Vai colocar na tela de descanso do seu celular, é? — pergunto
assim que ele recebe a foto.
Bruce demora para responder, dando atenção a tela do celular.
— Está bom assim para você? — diz mostrando a tela de bloqueio
que agora é a nossa foto e rio alto.
— Você não existe, Bruce Mackenzie! — Dou um selinho nele para
não o molhar de gloss.
Ele me olha incrédulo.
— E você está me devendo um beijo de verdade, Tasha Alexander.
Sei que em algum momento daquela noite, Bruce vai me cobrar este
beijo, e eu certamente pagarei com toda vontade.
Deixamos a suíte e pegamos o elevador.
Já é noite quando descemos para a parte externa do resort, a caminho
da Festa da Hula, como fizemos há uma semana exatamente. Mas há uma
diferença gritante para as duas ocasiões.
Lembro que naquela noite, mais cedo, havíamos selado um acordo de
agirmos como um casal porque queria parecer a pessoa que veio interessada
nesta "lua de mel", e porque Bruce não queria transparecer que depois de
todos esses anos, precisou recorrer então a um famigerado site de
relacionamentos.
Nos beijamos naquela noite, dançamos por horas e ele me fez
massagens nos pés. Ele não me era estranho porque eu ouvi falar muito sobre
ele na mídia, mas tinha muito a conhecer, e me surpreende que eu, uma
completa desconhecida, tenha despertado tamanho cômodo, a ponto dele me
dar um anel de noivado.
Noivado de mentira, mas o anel é real que sempre me pego olhando
para o brilho do diamante.
Só queríamos nos divertir e já que estávamos ali, tentaríamos
aproveitar ao máximo e bom, foi o que de fato fizemos. Pois agora, a
caminho da Festa do Hula, onde nosso lance começou, Bruce e eu temos algo
indefinido, mas percebo que não me importo muito com isso porque estamos
gostando demais da companhia um do outro, e isso reflete no nosso humor e
nos traumas do passado, os afastando como Dementadores por causa da luz
que emanamos quando estamos juntos.
E quando estamos passando pelo hall do resort de mãos dadas e
emanando aquela luz, sinto subitamente as minhas pernas fraquejarem
quando de uma forma improvável e assustadora, a escuridão consome toda a
minha luz, me derrubando e puxando todo o meu fôlego.
Vejo a personificação da escuridão que me persegue há anos, cabelo
tão ruivo quanto o meu e olhos verdes tão parecidos com os meus me
encarando de um jeito que não vejo há uns quatro anos. Pisco tão rápido
achando ser alucinação minha, algum tipo de paranoia por estar tão
envolvida no momento perfeito que acaba de ser destroçado pela imagem de
Charissa impaciente na entrada do resort.
“ELA ESTÁ AQUI”, a minha mente grita. “MINHA IRMÃ,
CHARISSA, ESTÁ AQUI!”
Travo no mesmo instante porque não consigo dar mais um passo
sequer na direção dela, que era justamente para onde estávamos indo. Bruce
para e me olha confuso, só que é nítido meu espanto, devo parecer louca e
amedrontada demais e por isso ele olha preocupado para a pessoa parada
uns vinte metros de nós, mas que logo começa a andar em nossa direção em
passos destemidos e raivosos.
“Sempre tão perfeita... Sempre tão forte e cruel.”
Charissa é cruel, igualzinha nossa mãe, foi por isso que me afastei
dela.
— Tasha?
A voz de Bruce me puxa para a realidade.
Ele está confuso, mas também afoito diante do meu surto.
— O que aconteceu? Quem é essa mulher?
Não consigo falar. Minha língua está presa e certamente irá
permanecer por mais tempo assim porque essa é a primeira vez que a vejo
desde quando partiu meu coração, desde quando ela acabou com a nossa
irmandade.
— Olá, irmãzinha — diz assim que se aproxima o suficiente. — Há
quanto tempo não a vejo.
Seu sorriso é diabólico e, ao mesmo tempo, doce demais. Mas havia
alguma coisa em seu olhar que parecia magoado, e eu não entendo como que
ela pode estar mais magoada que eu.
Não entendo principalmente o que Charissa faz aqui.
Como não digo nada, Bruce tenta intermediar:
— Ah, você então é a irmã...
— O que você está fazendo aqui? — pergunto friamente o
interrompendo.
Não quero que ela troque uma palavra com Bruce. Não quero que ele
sequer fique a olhando. E não me importo se isso parece possessivo demais,
mas para o meu próprio bem, eu não quero.
“Isso de novo, não!”
Ela pisca suavemente e de repente seu sorriso de víbora some, dando
espaço a uma expressão mais perdida, como se eu estivesse confundindo
seus pensamentos.
— Fiquei sabendo que se casou e vim dar pessoalmente os parabéns,
já que não teve a decência de comunicar a sua amada irmã pela conquista —
explica olhando de mim para Bruce.
Fico atordoada, mas olho de relance para Bruce que está parado
entre nós duas, perdidinho. Não é difícil que alguma foto nossa tenha vazado
na mídia e Charissa tenha resolvido dar uma de irmã ciumenta, mas tenho
medo da presença dela. Não confio mais em sua pessoa.
— Você sabe muito bem por que jamais faria tal convite novamente
— rebato rispidamente, com o pavor de vê-la dando espaço a ira que
alimentei depois do que ela fez.
— Isso é fácil de saber — diz com uma calma terrível. — Difícil é
enumerar a ordem dos porquês isso jamais aconteceria.
— Será que você poderia nos dar um tempo? — É Bruce quem fala,
me salvando, ou pelo menos tentando. — Você a deixou desconfortável.
Charissa o olha com dó, de cima a baixo e seus olhos ficam
vermelhos, ameaçando chorar. Bruce hesita diante do teatro dela, mas eu não
fico nem um pouco convencida.
— Talvez você queira ficar e ouvir também, senhor Mackenzie.
Meu ser estremece lá do fundo, e, muito assustadoramente, de repente
sei o que ela vai dizer. E com isso meus olhos ficam marejados e não evito
de olhar para Bruce que agora está petrificado olhando para Charissa como
se ele soubesse que havia algo de errado comigo...
Com nós.
“Não, por favor”, quero implorar.
Mas do mesmo ninho que a minha mãe se criou, Charissa também
cresceu. E agora ela está aqui, por alguma razão que não entendo, prestes a
acabar comigo na frente de Bruce.
Quando ela me olha com desprezo, sei que vai começar a me afundar
na lama.
— Tasha é uma mentirosa. Ela não é quem diz ser, você está sofrendo
um golpe — cospe de uma vez só. — Madison Brown, era para ser a garota
a vir para o Havaí com você, e não a Tasha.
Ele me olha de cima a baixo, completamente chocado e
desacreditado também. Mas acho que o pavor em meus olhos revela mais do
que eu gostaria, a verdade.
— Eu não sei o que ela queria com você mentindo desse jeito, mas é
isso. Eu vim pela integridade de Madison, que é amiga minha, e pela
verdade, que um cara bom como você merece saber.
Por dias eu achei que a minha mentira seria um choque para Bruce
quando ela viesse à tona, mas eu não imaginava que Charissa a transformaria
em uma bomba colossal quando desse uma versão dela completamente
distorcida. E não consigo dar a minha versão porque eu só penso em Bruce,
que está perdido nesse monte de conversas confusas e revelações dolorosas.
Ele engole em seco.
— Eu não deveria, mas você parece estar sofrendo com isso também
— diz com a voz baixa enquanto seu coração se partia. — Então é tudo
verdade?
Pisco para ele fazendo algumas lágrimas rolarem. Mas quando eu
tento falar, a minha voz está pesada e estranha; Charissa roubou a minha
noite perfeita, roubou a minha voz e me roubou uma vida que eu achava que
seria perfeita...
Agora ela está me roubando Bruce.
— Escuta, Bruce... Eu posso explicar. Você precisa me ouvir, mas
com calma, em outro lugar.
— Diz para ele que você é a dona e fundadora do site 14 Dias
Casados. — Charissa acaba de colocar a cereja no bolo e pisa sobre ele: —
Diga que ele não passa de uma cobaia sua.
— O quê?! Não, não... Bruce. Por favor. — Me aproximo dele e ele
recua dois passos.
Charissa também já está exagerando!
— Que porra é essa que ela está dizendo, Tasha? — rosna baixinho,
enraivecido, mas sem parecer um descontrolado.
Tem gente olhando tudo, abismada com o que estão ouvindo.
— A Madison não apareceu no embarque no aeroporto e eu não
queria deixá-lo sozinho. — Resumo de um jeito que ele possa saber que
desde o começo pensei nele e na reputação do site.
“Meu Deus!”
De repente, acho que mereço isso. Pensei em me meter nessa só para
salvar a reputação do site, jamais em como Bruce se sentiria esquecido e
solitário ao ser abandonado no aeroporto.
— Como se você ligasse para os outros! — Charissa se mete. —
Olha para mim! A sua única irmã e você não entra em contato comigo há
quatro anos. Você não se dá o mínimo de trabalho de telefonar nem para
nossa pobre mãe!
Aponto o dedo na direção dela:
— VOCÊ, MELHOR DO QUE NINGUÉM, CONHECE MEUS
MOTIVOS. NÃO TEM O DIREITO DE ESTAR AQUI, NEM DE VIR ME
JULGAR OU COBRAR QUALQUER COISA DE MIM. VOCÊ ME TRAIU
DA FORMA MAIS LEVIANA POSSÍVEL E NOSSA MÃE ENCOBERTOU
TUDO! — Me pego gritando, me sentindo liberta pela raiva que acumulei
por ela já há tanto tempo e nunca a liberei.
— Não vim aqui por você — profere com calma. — Vim por ele e
pela Madison, como falei somos amigas. Sempre suspeitei que o mundo
fosse pequeno demais para pessoas grandes. Mas você é pequena, Tasha.
Sempre foi.
— Não fale assim com ela! — Bruce me defende e uma centelha de
esperança surge, mas logo se apaga.
— Mas ela mentiu para você! — minha irmã exaspera sendo
exagerada, como se importasse de fato com Bruce.
Contudo, Charissa sempre foi gananciosa, herdou o gene da nossa
mãe, e só há uma coisa que ela pensa, dinheiro e dinheiro.
Bruce olha para mim.
— Mentiu, mas uma hora eu descobriria isso, não é? — Se aproxima
de mim, me fazendo aquela pergunta dolorosa; por um instante acho que vai
me tocar a bochecha e entender o que eu fiz.
“Eu achei que ele entenderia.”
— Porque você também sabe que eu menti. Sabe que, se eu
acreditasse que era você esse tempo todo quando não era para ser... Sabia
que eu não planejei e nem gostaria de estar nessa viagem.
— Você também não foi totalmente sincero comigo. — Franzo o
cenho, sem ter argumentos para me explicar.
— E isso não te incomodou em momento algum? — Parece incrédulo
agora.
“Não, porque eu só queria oferecer a ele a incrível experiência de
estar no Havaí com a parceira compatível. Queria mostrá-lo que fez
errado ao subestimar o meu site, e que ele poderia ser muito grato aos 14
Dias Casados.”
Queria poder falar isso, mas não consigo.
— Gostei de estar aqui com você. Não queria estragar tudo. Achei
que encontraria um jeito de consertar as coisas, mas nunca achei um caminho
que não te magoasse. Eu sabia que perderia tudo isso que construímos e eu
não queria perder você.
— Você me feriu de uma forma que eu jamais vou esquecer, Tasha?
— diz rasgando o meu coração em dois.
— Então, é isso... Eu perdi tudo. — Reconheço baixinho.
Bruce respira fundo e bagunça o cabelo escuro. Tentando recompor
alguma coisa que se remexia dentro dele, causando inquietação e desespero.
— Pelo amor de Deus, Tasha. Alguma coisa foi verdade? — A
pergunta me estremece.
— Claro que foi, Bruce! — Me aproximo dele para que somente ele
me ouça: — Você viu e sentiu. Como eu poderia mentir sobre isso?
Ele dá de ombros.
— É que você é muito boa em mentir, não suspeitei de nada. Eu fui o
grande trouxa nisso tudo.
O seu rosto está vermelho e o cabelo, um ninho. Parece que esteve
brigando consigo mesmo, mas é para mim que ele aponta o dedo e dispara
rompendo meu coração em mil pedaços:
— Esta viagem acaba por aqui. — Sua voz está embargada e se
afasta socando tudo no meu estômago o que eu merecia por enganá-lo por
uma semana.
Um grito acompanhado de um soluço prende na minha garganta
enquanto vejo uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos anos,
virando as costas. Porque de alguma forma, eu sempre perdia aquilo que
mais gostava.
Parecia uma maldição a me perseguir.
Tapo a boca com as mãos, chocada demais para acreditar que tudo
aconteceu mais rápido do que eu esperava, mal me dando tempo de me
preparar para este aterro emocional que estou sentindo.
Quero culpar Charissa, mas sei que a grande culpada disso tudo sou
eu. O caos sempre me seguiu e eu sempre o deixei entrar.
— Eu sou a sua irmã, se quiser, pode chorar no meu ombro. —
Charissa ousa dizer aquilo como se realmente ligasse para o que eu sentisse.
— Vai para o inferno, Charissa.
— Eu sou a única pessoa que você tem aqui.
Olho para ela com escárnio, ainda sem entender por que veio me
destruir em uma ilha onde eu poderia viver completamente isolada do
mundo. E é um terror que Charissa esteja aqui, tomando tudo de mim mais
uma vez, incansavelmente.
— Está enganada — digo a ela. — Mas se você fosse mesmo minha
irmã no real sentido da palavra, saberia disso.
A deixo para trás, não me importando com mais nada porque um
furacão acabou de passar pela minha vida e varreu tudo o que eu achava
estar se reajustando, tudo aquilo que eu achava que finalmente seria
preenchido foi arrancado de mim subitamente, me fazendo sangrar.
Vou atrás de Britney, pois sei que é a única pessoa ali capaz de me
abraçar agora que o meu mundo tem desmoronado.
BRUCE
Faz umas duas horas que me tranquei na suíte, estou sozinho e
não tenho notícias da Tasha desde então, e mesmo tendo a chave do quarto,

ela não voltou. Mas acho que não quero saber dela, não agora, que o meu

mundo foi virado do avesso de um jeito que me sacode fazendo meu sangue

pulsar com força no meu cérebro, me deixando com a impressão de que ele

irá explodir a qualquer momento.


Nada do que ouvi lá embaixo faz sentido. Estou fadado a acreditar na
mentira de Tasha, mas condenado também a aceitar que ela me usou por
algum motivo que eu não entendo. Fui enganado por uma mulher que não
deveria estar aqui comigo, mas que teve audácia o suficiente para vir e me
manipular com todo o seu poder de sedução.
Não me sinto menos idiota agora, e só de pensar que deixei que ela
entrasse na minha vida facilmente só por parecer que estava ali
por minha causa e que seus interesses por mim eram verdadeiros, estremeço
irritado comigo mesmo.
“Otário!”
Baixei todas aquelas proteções sentimentais que me manteriam
afastado de qualquer outra pessoa, pois acreditei que Tasha seria algo
promissor. Mas fui usado e enganado.
Fico pensando nisso por tanto tempo que essa realidade maldita
começa a me abraçar de um jeito que então possa ser só nós dois ali, mas
não gostaria que fosse assim. Não entendo por que estou tão abalado com o
que Tasha me fez; eu também menti, afinal. E ela sabe que eu estava
mentindo desde o começo, pois sabia que era estranho eu não ter a contido
logo no aeroporto.
Se fosse eu a tomar rédeas do meu perfil no site, teria a barrado no
exato segundo e dito:
— Não, você não é a minha acompanhante compatível.
Mas eu não sabia de absolutamente nada. Não sabia que a mulher que
deveria estar comigo, na verdade, se chama Madison Brown. Estava tão
desinteressado nisso tudo, que nem me dei o trabalho de perguntar a Julie ou
Christopher sobre a mulher que eu teria que encontrar no aeroporto.
Eu simplesmente fui, mas não parece agora ter sido uma boa escolha.
Faço algo que eu deveria ter feito desde o início, pesquiso o nome de
Tasha no Google, mas há poucas informações sobre ela. Ainda não há um
relatório sobre ela no Wikipedia, mas encontro um site jovem e descolado,
que fala dos jovens empreendedores que apostaram no e-commerce e agora
nadam em dinheiro por causa disso. Há uma matéria somente para Tasha, e
ela fala sobre como foi fundar o site 14 Dias Casados e como mantém a sua
equipe unida, fazendo toda empresa rodar de forma séria e criativa.
Cada linha que eu leio daquela matéria é um soco no estômago,
principalmente quando alguns parágrafos intercalam entre fotos dela no que
parece ser o seu escritório, vestindo terninho preto e adotando uma pose
filantrópica de uma mulher independente que cresceu na vida, séria e
visivelmente inabalável.
Assim como eu, não acho que ela recorreria a sites de
relacionamentos para encontrar alguém, ainda mais sendo
proprietária do site. A Tasha desta foto na verdade parece que não se
entregaria a alguém da mesma forma que se entregou a mim.
“Você foi cobaia dela”, falou a irmã mais velha.
Isso ficou me perseguindo por horas e eu não conseguia acreditar.
Mas Tasha estava tão perdida e assustada que comecei a acreditar que fosse
isso mesmo, embora eu não tenha dado a ela chance o suficiente de se
explicar.
Mas eu fiquei magoado, muito mesmo, mas sobretudo, irritado
comigo, por ter deixado as coisas chegarem a este ponto. Porque lendo agora
a matéria que fala sobre Tasha, percebo que eu poderia ter feito isso a
qualquer instante, já que ela fez o mesmo comigo por eu ser uma figura
pública, não duvido nada.
Saio da página e decido ligar para Christopher. Tomo essa decisão
de supetão, mas não tenho quem contatar agora, preciso compartilhar esta
frustração e revelação que tem me assolado de uma forma esmagadora.
Ele atende o telefone já no final, quando eu acho que foi besteira
ligar uma hora dessas para ele, afinal deve ser madrugada em Vancouver.
— Bruce, isso lá são horas? — resmunga nitidamente com a voz
sonolenta e rouca devido ao sono pesado.
Mas não me importo, liguei para Christopher por um motivo, e o
ressalto no mesmo instante:
— Você sabia que não era ela e não me contou nada! — disparo e o
outro lado da linha fica silencioso, mas consigo imaginar meu irmão pulando
das cobertas. — Eu mostrei a foto da Tasha e você não me avisou nada. —
Uso um tom ríspido, que demonstra minha ira.
Com isso, acho que Chris percebe que a situação pode ser delicada,
pois eu quase nunca fico irado. Contudo, lembro que no meu segundo dia na
ilha, mandei uma foto de Tasha para ele, que foi cúmplice de Julie nessa
loucura toda. E o meu irmão sabia que eu estava em mãos erradas.
— Por que não me contou que Madison Brown era a mulher para
estar aqui comigo? — Levanto da cama e ando em direção a sacada, lá
embaixo, a Festa da Hula acontece, e Tasha e eu não estamos dançando
agarrados e felizes.
Ouço Chirs bufar do outro lado da linha, provavelmente sentado na
beira da cama enquanto tenta assimilar meu desespero e as acusações que
disparo.
— Olha, eu errei, ok? Deveria ter alertado você enquanto era cedo,
mas você me pareceu bem demais. Disse que tinha gostado dela e até
agradeceu! Como eu poderia simplesmente jogar um balde de água fria logo
que o sol brilha para você de novo, irmão?
Começo a acreditar que ter ligado empolgado para Christopher foi
um erro naquele dia. Mas eu estava fascinado com Tasha e queria que ele
soubesse
— Isso teria me poupado de muita coisa, você sabe disso.
Ele sabe por que dentre nós três, eu sou conhecido como romântico e
sensível. Perdi minha esposa e vivo como um pai solteiro viúvo que tenta se
acertar na vida de novo, então ser enganado desse jeito destrói comigo por
várias razões que ele e Mathew jamais vão entender.
— Julie sabe disso? — pergunto receoso.
A minha filha tem só 13 anos, não quero que ela se sinta culpada pelo
que está me acontecendo.
— Contei a ela, mas mesmo que eu não contasse, ela ficaria sabendo.
Vocês foram flagradas no aeroporto antes de embarcar para o Havaí.
— Não conte a ela o que está acontecendo por aqui. Deixe que eu
mesmo explico melhor quando chegar.
— Você vai voltar? — pergunta titubeante.
Gaguejo.
— Eu ainda não sei o que vou fazer, mas certamente não quero ficar
por mais tempo nesta ilha.
— Quer que eu veja o próximo voo para Vancouver?
— Não precisa, tomo conta disso
— Bruce? — meu irmão chama minha atenção seriamente do outro
lado da linha. — Eu meti você nessa e devo tirá-lo também. Vou ver o que
consigo e mando repostas em breve.
Eu poderia recusar a oferta, poderia xingar Christopher por
ele ter me colocado nessa, como acabou de admitir. Mas é o meu irmão mais
novo e Julie o adora, não consigo aceitar um impasse entre nós. Além de que
não estou com cabeça para ficar fuçando sites de viagens para dar o fora o
mais rápido possível desta situação.
— Valeu. — Agradeço.
— Qualquer coisa é só me ligar. Não acho que conseguirei dormir
depois dessa — confessa e acredito nele, imagino que esteja com alguma
mulher na cama, pois só assim para o seu sono não ser totalmente priorizado
também.
Nos despedimos e agradeço mais uma vez a ele pela ajuda, apesar de
ter me sacaneado.
Christopher não se torna menos mentiroso que Tasha, mas aí eu
também estaria culpando Julie, minha filha. Ao tempo que não seria justo
deixá-la de fora dessa, não consigo inclui-la, embora eu pudesse usar a
desculpa de que ela é só uma garotinha ainda e não sabe o que está fazendo.
Mas quem enraizou isso tudo foi Tasha e é ela quem eu culpo.
••••
Sigo para o bar do resort.
Não sei exatamente como encontrei este lugar, ainda não o conhecia,
mas quando achei que estava ficando perturbado demais com a presença
fantasmagórica de Tasha na suíte, resolvi perambular pelo lugar; temendo
cruzar o caminho dela sempre, mas, de alguma forma, eu sabia que ela estava
chorando escondida em algum lugar, depois de ter passado por tamanho
constrangimento no hall do resort, depois de ver que tinha me perdido.
Mas vi o lugar quase vazio e me sentei em frente ao balcão. Pedi um
uísque, mas já estou no meu terceiro copo. Não, não estou bêbado, mas já me
sinto mais leve agora do que minutos atrás. Gosto de como o ambiente aqui é
calmo e acolhedor, um pouco sombrio e solitário, perfeito demais para quem
se encontra no fundo do poço. Já sei que não estou aqui porque vi e gostei,
estou aqui porque este lugar me atraiu, como uma sereia atrai o marujo para
o fundo do mar, igual a Tasha que me atraiu para o alto de uma montanha e
depois me jogou lá de cima.
A luz que eu estava conhecendo se tornou isso, um lugar mal
iluminado e tocando jazz deprimente, somente o barman para me fazer
companhia e me observar definhando rapidamente a cada copo de uísque.
— Noite difícil, senhor? — pergunta o homem branco, de estatura
mediana e uma careca brilhante.
Ele parecia melhor do que eu, mesmo limpando os copos de uma
estante inteira, um por um.
Fiquei observando os movimentos dele e pensei em não o responder.
Já era constrangimento demais para mim, não sei o que vai ser quando eu
voltar para Vancouver e saber que todos achavam que estava vivendo um
romance lindo no Havaí, e então, ser revelado de forma vergonhosa que tudo
não passava de mentiras.
Mas vi empatia nos olhos daquele homem, e me perguntei se eu era
só mais um dentre tantas pessoas que ele já viu sentar ali e beber até perder
o sentido da realidade. Esta noite, não quero ser essa pessoa, mas também
não significa que estou longe demais em me tornar.
Estou de braços cruzados sobre o balcão envernizado quando olho
para ele entre algumas mechas de cabelo que cresceram nesses últimos dias
e agora me caem nos cílios.
— Já tive noites piores — respondo calmo, mas sendo alfinetado
pelas lembranças da noite em que Melissa morreu.
Ele não diz nada em seguida, mas fica acendendo e limpando os
copos de um jeito paciente e perfeccionista, como se aquilo fosse terapia
para si.
— Então por que toda essa melancolia? — pergunta por fim, parando
seu trabalho quando ficou curioso.
Arqueio uma sobrancelha.
— Não gosto de estranhos se metendo na minha vida — digo
rudemente, não me orgulhando, mas também sem muita paciência para
conversa fiada.
— Bom, eu também não gosto de estranhos vindo ao meu bar com
suas vidas deprimidas e espalhando tristeza em um ambiente tão alegre —
profere com normalidade, e franzo o cenho para ele.
— Este bar não é seu. — pontuo amargamente. — E já vi bares em
becos de Vancouver mais animados que isso.
Acho que este cara está comprando intriga comigo, mas ele sorri
diante do que eu disse. Não pareço ter soado intimidador e ofensivo o
suficiente para ele deixar as suas conversinhas de lado.
— Você não está enxergando as coisas com clareza. Alguma coisa
está consumindo você por dentro, tornando o seu mundo em cinza e preto —
comenta de volta, como se entendesse o que eu estivesse sentindo.
Dou uma risada desdenhosa.
— Você não sabe nada sobre a minha vida — digo, mas receio que
esteja certo.
O barman dá de ombros e coloca o copo na estante. Ele pega outro,
mas larga o pano sobre o ombro e anda na minha direção, colocando o copo
perto do meu.
— É verdade, mas sei que as pessoas sofrem o tempo todo. Você não
é o único a sentar aqui e ficar se embebedando porque as coisas têm sido
sôfregas demais. — Olha ao redor e faz uma careta. — Mesmo estando no
Havaí.
Por um momento, lembro automaticamente de Oliver. Imagino que ele
tenha vindo até aqui, bebido e desabafado para este homem curioso. Pensar
nele agora me faz perceber que passamos por um golpe muito semelhante,
mas o dele foi tratado de forma mais honesta, enquanto a mim, precisei cair
de cabeça e depois sofrer as consequências disso. Só por não ter tido o
mesmo instinto que o francês.
Ele pega uma garrafa de uísque e começa a encher o copo,
lentamente.
— Mas, há dores que não mensuram outras dores. Então seja lá o que
estiver sentindo, e você diz que não dói tanto quanto outras dores que já
teve, é porque há solução para seu problema.
Pisco para ele atordoado porque por um momento, uma fração de
segundos, cogitei perdoar Tasha porque o que estava sentindo por ela é
maior do que a dor que me consome agora. Entretanto, não consigo levar
isso adiante quando o medo de continuar sendo enganado me persegue; afinal
de contas, ser um Mackenzie tem seus lados negativos e posso dizer que as
relações frustradas de Christopher é um exemplo do que estou falando.
Mas, sei lá, não consigo imaginar Tasha me usando por interesse.
Quando ela me deixou isso claro no avião, eu acreditei, mas agora tenho
certeza daquilo porque ela já é rica o suficiente para bancar sua própria
viagem para o Havaí, comprar seus anéis de diamantes, roupas caras e
alugar um iate por dois dias até, se assim quiser.
Fico olhando para o uísque que continua enchendo o copo e percebo
que o barman mal olha para o que está fazendo.
— É muito uísque, vai transbordar — alerto.
Sem muita pressa, ele se detém calmamente.
— Este copo é para um antigo cliente que vem todo dia aqui, na
mesma hora.
Olho espantado para a quantidade de uísque.
— E ele bebe tudo isso?
O homem abre um sorriso contagiante, embora não me afete em nada.
— Não bebia, mas como não resolveu seus problemas, se lamúria
todos os dias sobre como isso tem custado caro a ele nos dias de hoje.
— Está tentando me dar uma lição de moral?
Ele maneia a cabeça e dá de ombros.
— É que tem coisas que, em excesso, fazem mal. Então não tente se
encher do que vai te transbordar e consequentemente, te destruir.
— Mas isso tem duplo sentido. — Arqueio as costas, envolvido no
assunto.
— Ah, mas aí você terá que descobrir. A vida é sobre lições, e não
respostas.
O barman dá um sorriso de gato e fico olhando para ele como se
fosse maluco. Mas, agora, começo a pensar que ele tem razão.
Não posso negar meus sentimentos por Tasha, e ela estava certa,
também não posso negar as coisas que senti vindo dela. Tudo parece real, ao
tempo que não. A minha vontade é de odiá-la e excluí-la para sempre da
minha vida, mas não consigo. Sei que se eu fizer isso, viverei um eterno
inferno de novo e serei consumido pelo duvidoso “e se...”
Então sei que não preciso viver uma constante tristeza por causa do
que Tasha me aprontou, mas sim, tentar descobrir o que pretendo fazer com
isso. E sei que ficarei melhor quando voltar para Vancouver em algumas
horas. Christopher me mandou minutos atrás uma mensagem, meu voo está
previsto para daqui duas horas e preciso correr contra o tempo.
Mas antes, tenho que encontrá-la e ter uma conversa séria.
— Acabei por aqui — digo enquanto tiro notas de cinquenta da
minha carteira e sem contar, largo no balcão.
Quando estou levantando, um homem inquieto surge ao meu lado,
com aparência deplorável por conta da tristeza escancarada em seu rosto.
Mas me surpreende que ele só pega o copo de uísque sobre o balcão e se
afasta para uma mesa nos fundos.
Olho para o barman que esperava a minha reação.
— Eu falei que sou dono do bar. Conheço meus clientes, melhor que
ninguém.
Percebo que ele me assusta um pouco, então deixo o bar e volto um
pouco trôpego para a suíte, em passos lentos e pesados. Não achava que
ficaria tonto o suficiente, mas ainda tenho consciência e por isso sei o que
estou fazendo.
Decido não sair atrás de Tasha porque seria como andar em círculos.
Voltar para a nossa suíte é a melhor opção quando sei que ela poderia
aparecer a qualquer momento para fazer as malas, porque as minhas já estão
feitas.
Confesso que o meu único receio no momento, é cruzar o caminho de
Tasha, a irmã que ela não suporta e ainda não sei o motivo por que não tive
tempo de saber; ou porque Tasha mais uma vez decidiu esconder a verdade
de mim. Mas acho que entendo o motivo de sua aversão com a irmã mais
velha.
Charissa é como uma versão mais amarga e cínica de Tasha. Mesmo
com as suas tentativas de parecer gentil demais por ter vindo em nome da
amiga e da minha integridade, não consigo esquecer a forma como ela
entregou Tasha com tanto escárnio, o desprezo no olhar ao julgá-la e o
vitimismo forçado na tentativa de fazer a irmã mais nova parecer a vilã
perfeita.
Me coloquei na posição de defender Tasha, mesmo sendo arrasado
pelas verdades cuspidas em meus pés. O olhar de Tasha falou mais do que
gostaria, e eu só queria tirá-la dali, mas aí meu chão começou afundar e
afundar, até eu não conseguir estender a mão para ela, mas fugir por aquele
túnel escuro que se abriu para mim.
Quando chego à suíte, é como eu imaginei.
Encontro Tasha sentada acanhada na beira da cama, encarando
minhas malas com as mãos unidas em seu colo. A minha presença não parece
surtir muito efeito nela, ou talvez nem tenha me notado ainda.
Vê-la aqui e deste jeito me faz querer abraçá-la e alinhá-la em meu
peito, acariciar seu cabelo sedoso e dizer que tudo vai ficar bem...
Que nós vamos ficar bem.
Mas já não tenho tanta certeza disso, e tento ficar lembrando do que
o barman me disse, mas é como tinta fresca, se eu tocar, sei que vou me
manchar e que não vou me livrar tão cedo disso tudo.
— Eu não queria que as coisas tivessem chegado a este ponto —
começa dizendo com a voz embargada, e mesmo sobre a penumbra, consigo
ver o seu rosto inchado e vermelho de tanto chorar. — Senti muito medo que
chegássemos a este ponto, na verdade. Mas eu sempre soube que cedo ou
tarde, eu ia acabar merecendo isso tudo.
Agora, não sinto vontade de correr dela, mas também não consigo
chegar perto demais. Então sento em uma poltrona da sala, com os cotovelos
apoiados em meus joelhos e dedos entrelaçados. Fito o chão, não consigo
olhá-la enquanto organizo os pensamentos.
— Por que você fez isso, Tasha? — pergunto com um nó na garganta.
Ela demora um pouquinho para responder.
— Eu não queria que levasse um bolo e...
— Você já disse isso. — Interrompo. — Mas quero saber como? Por
quê?
Reúno forças e olho para ela. Tasha parece um fantasma do outro
lado da suíte, ainda mais quando levanta e fica andando de um lado para o
outro, toda tensa. Mas consegue explicar.
— Eu vinha para o Havaí fazer o trabalho da minha amiga que
também é porta-voz do site. Ela cuida de toda burocracia turística e precisa
de conteúdo para o perfil dela nas redes sociais. Mas ela não podia vir,
então fiquei responsável pelo trabalho dela. Precisávamos conferir de perto
como estava sendo também os serviços do resort em parceria com o site,
referente principalmente ao pacote Gold.
Quando ela fala daquele jeito, parece outra pessoa...
A Tasha que conheci, mas com uma história completamente diferente.
— Quando descobri que era você, foi difícil de acreditar, mas por
ser de grande influência no ramo imobiliário, esperava que tivesse uma boa
experiência com o site, e que pudesse se interessar futuramente por alguma
parceria com a marca, ou que simplesmente falasse bem dela. E quando vi
que a moça não apareceu, a minha primeira reação foi não o deixar sozinho.
Fazer você vivenciar toda experiência que o site promete.
Coço a minha barba, intrigado por no fim, a sua irmã estar certa
sobre eu ser um tipo de experimento.
— Então você está aqui porque quer dar uma boa impressão ao seu
site — ressalto, mas soa como uma pergunta.
— Estou aqui porque queria dar a você a chance de viver as duas
melhores semanas da sua vida.
Dou uma risada incrédula.
— Estava dando certo, Tasha. Até se tornar um inferno. — Meu
comentário a faz parar subitamente e avançar três passos na minha direção,
saindo da penumbra vorazmente.
— Você também não é nenhum santo, Bruce! — Bate os pés me
acusando. — Ia enganar a pobre coitada da Madison com a história que
gostou dela, quando na verdade, sabe-lá-Deus quem enfiou você nessa.
A ruiva se aproximou mais com seus olhos verdes que se tornaram
tão afiados.
— Você me enganou também. E se eu fosse sua parceira compatível?
Você estaria aqui me enganando, agindo como se soubesse quem era eu
desde o início.
Me empertigo diante da sua acusação que traz verdades
constrangedoras
— Eu contei a minha versão. Conte a sua agora. — Cruza os braços,
parecendo uma mãe que espera o filho confessar que foi ele a quebrar o
vaso.
Engulo em seco e solto um suspiro pesado, envergonhado também
pelo que irei admitir.
— Julie, a minha filha me cadastrou no site e pagou o pacote Gold.
Ela estava à frente de tudo, mas acho que Christopher tem um dedo nisso
também.
Ela arqueia as sobrancelhas surpresa.
— A sua filha é genial.
Pisco desorientado, me sentindo mal por ela também.
— Ela só quer que eu volte a ser feliz com outra pessoa. Julie ama a
mãe, mas até ela entende que preciso seguir em frente e voltar a ter alguém
ao meu lado — explico com a voz embargada porque tudo o que envolve
Julie, me emociona o suficiente.
— A culpa não é dela, Bruce. Se você tivesse se interessado, não
teria deixado toda situação tão embaraçosa para você e para ela — Tasha
diz com calma, nem parecia que estávamos jogando verdades na cara um do
outro minutos atrás a ponto de ser tão ofensivo.
— Eu prometi que viria e eu vim.
— Você tomou essa decisão no último minuto do segundo tempo,
Bruce — ressalta amargamente.
Com isso, levanto e avanço na sua direção. Ela não recua, mas
percebo tremer quando me aproximo. Já não sei o que Tasha sente por mim,
mas a respiração dela fica acelerada e não sei se devo avaliar como algo
bom. De qualquer forma, o seu gloss já não brilha mais em seus lábios.
— Tomei a minha decisão quando vi você, Tasha — revelo e os
olhos dela brilham, cheios de parcelas de culpa. — A única certeza que eu
tinha para essas duas semanas, é que eu queria passá-las ao seu lado.
Ela pisca e faz com que lágrimas escapem de seus olhos que ficam
vermelhos pela dor que transborda de si.
— Eu só nunca imaginaria que o mesmo motivo que me fez vir, seria
o mesmo que me faria ir embora — digo as palavras mais difíceis.
— Você s-sabe que não precisa ser assim — gagueja.
— Eu não queria que fosse. Mas tenho coisas a zelar agora, estou
muito confuso e chateado demais para continuar.
— Tudo bem. — Balança a cabeça com veemência. — Eu entendo se
quiser partir, mas não sei se terei coragem de olhá-lo mais uma vez, Bruce.
Sabendo que eu afastei você de mim. Todos vão saber o que eu fiz.
Tasha limpa as lágrimas e tentar ficar estável, mas ela está quebrada
e não consegue disfarçar os buracos que fez em si mesma...
Que fez em mim.
Dou um sorriso triste.
— Seremos um desses casais que não deu certo com o fim da lua de
mel — ressalto este detalhe.
Me aproximo dela, escondo uma mecha atrás da sua orelha, e então
deposito um beijo em sua testa. Tasha estremece com o toque e solta um
soluço. Sinto as suas mãos segurarem meus pulsos com força, como se isso
fosse me fazer ficar.
Me afasto dela, temendo voltar atrás com a minha decisão.
— Não se preocupa, não vou dar uma estrela no seu site — digo
sentido, mas se esse foi o seu medo desde o início, quero que ela saiba que
conseguiu.
— Bruce... — Seus lábios vermelhos e inchados, infelizmente não
por meus beijos, proferem meu nome carinhosamente uma última vez, mas
cheio de lamentações.
Pego minhas malas e luto contra a vontade de ficar e ignorar as
minhas dores.
“Você precisa resolver os seus problemas”, a voz do barman ressoa
na minha cabeça, mas não quero resolver nada agora. Eu só quero voltar
para casa, para a minha filha e entender o que eu fiz com o meu coração.
Antes de partir, paro na porta e a olho uma última vez. É triste saber
que a última imagem que terei dela é esta, Tasha parada na sala da nossa
suíte, se debulhando em lágrimas, fazendo o nosso caso ir do céu ao inferno.
Quero dizer adeus, mas não tenho coragem. Não sei o que acontecerá
a ela quando eu sair por esta porta, e sinceramente, não quero pensar muito
sobre isso, senão vou acabar ficando.
Mas não posso porque agora não é sobre Tasha, é sobre mim.
TASHA
É difícil sentar e fazer as malas, mas já faz um tempinho desde
que Bruce foi embora e eu fiquei sozinha. Aproveitei a solidão para desabar,

enquanto afundava em suas palavras que me sufocavam por horas e na sua

partida que me deixou sem chão.


Eu já sabia que quando isso acontecesse ficaria arrasada, mas não
esperava mesmo que fosse tão intenso, a ponto de me deixar a par dos meus
sentimentos somente agora que não o tenho mais em meus braços. É uma bela
rasteira para se levar da vida após esconder a verdade dele por tempo
demais.
Oito dias pode se considerar muito, para quem tinha pouco tempo
juntos. Em algum momento, achei que poderíamos conseguir alongar o
nosso time quando voltássemos para Vancouver.
Mas Bruce cortou a corda invisível do tempo com uma tesoura e
tomou seu rumo sem mim.
Fora isso, estou uma confusão, tem tanta coisa para fazer, tanta coisa
para sentir; estou triste pelo fim entre Bruce e eu, estou envergonhada com o
que as pessoas irão pensar de mim “porque elas vão saber sobre isso”, o
que a família de Bruce irá achar disso, e estou com raiva de Charissa
principalmente.
Não quero vê-la nunca mais, mas sei que deve estar perambulando
pelo resort após seu showzinho. Sei que logo em breve irá embora porque só
veio me humilhar e não passar férias. Me pergunto o que ela vai ganhar com
isso e condeno o universo por ser tão engraçadinho ao revelar que Charissa
e Madison são amigas.
Amigas!
Como eu podia ser tão azarada a esse nível?
Fico inconformada como as coisas dão quase sempre erradas para
mim. O site 14 Dias Casados foi a única coisa boa e promissora que me
aconteceu em anos. Por isso sou capaz de fazer qualquer coisa pela minha
marca, inclusive machucar o coração de alguém que já estava se curando,
mas juro que não foi essa minha intenção.
Nunca na vida eu imaginaria que algo assim fosse acontecer. Não
entrei naquele avião com a pretensão de me apaixonar por Bruce ou iludi-lo,
por isso fui sincera com ele antes de partir e falei que de certa forma, ele era
a minha missão.
Dar a Bruce a melhor experiência e não envolver sentimentos.
Mas sabemos agora que isso foi impossível.
— Acho que era só isso — Britney diz voltando do armário onde
minhas roupas estavam penduradas e agora ela volta somente com um casaco
cor marfim. — Já deu uma olhada no banheiro?
— Já. Não tem nada lá — digo a ela e levanto do chão onde estava
sentada dobrando as roupas dentro da mala.
Sento na beirada da cama, mas nem parece que horas atrás estive
no spa, agora o peso da culpa pesa em minhas costas e só melhora quando
me deito.
Britney veio me socorrer minutos depois que Bruce partiu, mas eu já
tinha ido à procura dela horas antes, quando Charissa achou que eu ficaria
sozinha no resort.
Foi muito embaraçoso ter que contar a ela a farsa que Bruce e eu
éramos como casal, como não queríamos assumir que estávamos ali pelo site
e como eu também o enganei para ter que causar uma boa impressão. Ela
ficou chocada, pois éramos tão reais e um belo exemplo. Mas ainda assim a
americana se compadeceu muito com a minha situação, pois nossas histórias
amorosas no Havaí não se diferem muito, então compramos nossas
passagens e ela veio me ajudar com as malas.
Isso mesmo, nossas passagens.
A americana vai aproveitar para dar o fora do Havaí também, já que
Oliver iria partir para a França em algumas horas.
— Obrigada, Britney, por estar aqui e ter se tornado uma amiga —
expresso o máximo que consigo.
Ela sorri para mim quando fecha minha mala e senta ao meu lado.
— Eu sei como está se sentindo. Ninguém merece passar por isso
sozinho então estarei aqui para ajudar você.
— Sentirei sua falta — confesso de modo inesperado, mas tenho
sentido muito isso.
— Own, eu também. Bem que poderíamos ficar mais uns dias aqui e
aproveitar a nossa nova vida de solteiras, não é? — brinca conseguindo
arrancar uma risada de mim.
— Eu sempre fui solteira. Bruce nunca foi meu. — reflito. — Mas
esteve muito perto de ser.
— Acha que ele se apaixonou?
Dou de ombros porque é difícil ter certeza quando não o ouvi
verbalizar isso. Desde o começo achei impossível Bruce ficar tão
interessado por mim, mas ele bagunçou a perspectiva que eu tinha dele a meu
respeito. E agora que ele foi embora extremamente magoado, sei que algum
sentimento seu eu sacudi.
— Espero que não. Será melhor para ele — respondo por fim.
— Mas, e você? — a loira pergunta cautelosa. — Você se apaixonou
pelo Bruce?
Sinto a minha garganta queimar e meus olhos molharem.
“Eu só estarei apaixonada, se disser que estou.”
A única pessoa para quem eu devo mentir agora, será pra mim
mesma, assim me pouparei de muitas dores também.
— Talvez eu estivesse apaixonada, mas talvez seja muito provável
que eu estivesse apenas sentindo desejo. Lembra? Desejo e paixão são
facilmente confundidos?
Britney faz uma cara duvidosa.
— É, mas desejo não deixa ninguém chorando que nem uma criança
no chão. — Se refere a mim. — Não seria mais fácil admitir que está
apaixonada?
— E sofrer por um cara que não quer me ver nem pintada de ouro?
— retruco rapidamente. — Não, obrigada.
— Mentir para si mesma não ameniza toda a situação, Tasha.
Ela tem razão, mas não é sobre isso que estou me sentindo mal.
Posso conviver com a minha própria mentira, mas não sei se algum dia eu
me perdoaria por ter deixado Bruce arrasado. Sinto que a imagem dele indo
embora vai me perseguir por tempo demais, porque é uma das coisas que
tenho pensado muito.
— Você precisa descansar. — Britney bate o martelo após ficarmos
um tempinho em silêncio. — Teremos uma longa viagem amanhã de manhã.
— Por que você não dorme aqui? — pergunto a ela.
Imagino que não será fácil ter que dormir no mesmo quarto com o
cara que ela também acabou magoando.
— Você me aceitaria como sua colega de quarta esta noite? —
pergunta fazendo uma carinha de cachorro sem dono.
— É claro!
Britney me abraça, mas logo levanta animada.
Acho que acabei de salvá-la de uma noite sem fim.
— Obrigada, Tasha! Vou pegar as minhas coisas e já volto.
Iremos para o aeroporto cedo, mas vamos pegar voos diferentes. Só
que não iremos nos desgrudar até lá, é melhor assim, a viagem de volta já
será solitária o suficiente.
Quando Britney sai para pegar as coisas dela, fico pensando se seria
bom eu ligar para Erin e contar o que aconteceu, mas ao invés de ligar,
mando apenas uma mensagem de texto.
Eu: "A casa caiu"
É tarde demais essa hora em Vancouver, não espero que ela me
responda, mas não demora muito meu celular vibra de volta.
Erin: "Você tá muito ferrada."
Reviro os olhos, sensibilidade passa longe do vocabulário de Erin,
mas sei que ela também não falou por mal. É só o jeito dela de lidar com as
situações complicadas da vida. Mas ela também não mentiu, eu
tô muito ferrada.
Eu: "Charissa está aqui, ela estragou tudo. Acredita que ela e
Madison são amigas?"
Erin: "Que história é essa?"
Imagino minha melhor amiga surtando do outro lado da linha e meus
olhos começam a pesar.
Eu: "Estarei voltando para Vancouver bem cedo, te explico
quando chegar."
Erin: "Tasha, que loucura! Vou chamar Lili e vamos preparar
tudo para sua chegada."
Sorrio sentindo meu coração quentinho. Pelo menos tenho amigas que
me amam e me conhecem melhor que tudo no mundo. Porque quando Erin diz
que vai "preparar tudo", significa que ela e Lili vão chegar em casa e checar
se tudo está bem. Como a situação é delicada, provavelmente já deixarão um
remédio com água a minha espera, o assunto do trabalho será deixado de
lado porque se tem uma coisa que priorizamos além do trabalho, é a forma
que estamos nos sentindo.
Eu: "Obrigada, amiga. Mal vejo a hora de reencontrar vocês."
Britney chega na hora e preciso me despedir de Erin. Dou boa noite a
ela, mesmo sabendo que lá já deve ser quase dia.
Mesmo quando apagamos as luzes e nos ajeitamos para dormir,
é tão estranho. Há um peso ao lado da cama, mas não é Bruce. Me assusto
com a rapidez que me acostumei aos seus toques noturnos e mesmo não
estando aqui, seus dedos passeando em minhas costas são lembranças
palpáveis; parece até que posso sentir a ponta dos dedos dele roçando em
minha pele e me fazendo estremecer. Mas agora é tudo muito solitário e
lúgubre demais.
Não consigo pregar os olhos, mesmo tão cansada de chorar e sentir
tanto por tudo isso. Sou confortada pela insônia que não é uma boa
companhia, mas é a única coisa que me abraça pela madrugada. Ouço até
mesmo Britney levantar e chorar baixinho no banheiro.
Coitada, ela tem se mostrado forte para ter que me amparar, pois
estou visivelmente abalada e fico me sentindo mal por saber que não pude
dar a ela o mesmo ombro amigo. Enquanto ela sofria, estava agarrada a
Bruce vivendo um conto de fadas, mas aí a bruxa apareceu e fez meu
príncipe me deixar.
Essa não é uma história de amor feliz, pelo visto.
••••
Acordo com círculos escuros ao redor dos olhos. Nunca dormir tão
mal nesses últimos anos como na noite anterior; fiquei tendo pesadelos e
acordando subitamente, esperando encontrar Bruce, mas sua ausência sempre
piorava meu sono. Era como se estivesse sofrendo abstinência por ele.
Mas tudo estava prestes a acabar.
Britney e eu devolvemos as chaves na recepção e pedi para ela não
se preocupar que faríamos um reembolso pela interrupção abrupta da
viagem, tanto a ela como para Oliver, assim como a insatisfação pelo
ocorrido, embora essa questão não estivesse nos termos. Os deixei livres de
pagarem uma taxa também, era um péssimo momento para cobranças.
Ela me agradeceu muito depois de eu insistir nisso e como Oliver já
havia partido mais cedo, ela ficou de avisá-lo por mensagem também.
— Vamos olhar pelo lado bom, essa foi a maior loucura que já
aconteceu em nossas vidas — diz enquanto estávamos dentro do táxi, nada
de jipes amarelos dessa vez. Ela completa com um sorriso largo: — E
caramba! Eu conheci a dona do site 14 Dias Casados!
— É uma pena que você tenha descoberto o desastre que eu sou.
— Não como amiga — diz e rimos da situação.
A melhor forma de lidar com a desgraça é assim, rir dela.
A caminho do aeroporto, trocamos nossos contatos e Britney fala um
pouco sobre seus planos para o futuro. Ela irá se dedicar a vida de atriz
agora, e como tem motivos, se dedicará a papéis dramáticos, pois sabe no
que pensar para chorar com facilidade nas audições. Ela é tão engraçada e
fico feliz que tenhamos nos conhecido durante esta viagem louca.
Quando chegamos ao aeroporto, ela precisa correr contra o tempo, já
que o voo para o Texas sairá primeiro que o meu. Passamos por todo o
processo até chegar ao portão dela, onde nos abraçamos e choramos.
— Se cuida, Tasha — diz enquanto me abraça forte e quando se
afasta, percebo que os olhos azuis dela voltaram a sorrir junto com a boca
carnuda. — Eu amei conhecer você.
— Eu também, espero poder vê-la em breve, Britney — digo com
lágrimas nos olhos.
E assim ela parte para a sua Terra natal.
Fico vendo através dos painéis de vidro o avião dela decolar e daqui
uns minutos será eu a estar sobrevoando também.
Mas olhar as coisas daqui é como ver todos os dias anteriores se
desfazendo em migalhas. Chego a me perguntar, “meu Deus, será que foi
real?”
O rumo que as coisas tomaram rapidamente na mesma proporção que
um relâmpago atinge um chão faz o meu estômago embrulhar e me perguntar
também, "por que as coisas tinham que ser assim?
Quero ser empática e compreensível, me colocar no lugar de Bruce e
perceber que eu também ficaria tão magoada quanto ele, se fosse ao
contrário. Mas há uma parte de mim que acha que ele poderia ter evitado
esse fim ao me perdoar, só que isso já seria demais. As coisas não estão sob
meu controle e em algum momento, nada vai acontecer como eu planejo.
Nada acontece como no trabalho, e Bruce demonstrou que nunca teria
tomado as mesmas decisões que eu.
Sou mais inexperiente com isso do que eu pensava. Posso dizer que é
culpa do tempo que me abstive de passar por coisas do tipo, mas agora volto
a lembrar o motivo por ter lutado tanto contra essas relações. E foi incrível
como Bruce me fez esquecer dos motivos e pensar que tudo poderia ser bom
de novo, e aí, me fazer voltar à estaca zero.
Lembro que no meu noivado passei muito tempo me culpando pelo
que tinha acontecido, mas fiquei melhor quando percebi que na verdade,
aquilo nunca foi culpa minha. Só que agora não tenho para onde fugir, o que
aconteceu entre Bruce e eu foi culpa minha, sim.
E por alguma obra do destino que adora zombar da minha cara, uma
presença pesada e negativa senta ao meu lado. Olho de relance só para ver o
cabelo de fogo para saber quem era e um nó se prende na minha garganta no
mesmo instante.
— Que desânimo. Nem parece que passou os melhores dias da sua
vida no Havaí — Charissa diz. — Estava bem acompanhada ao lado daquele
homem, por isso eu sei que foi.
Respiro fundo e olho para ela.
A minha irmã diabólica, que está de óculos escuros e jaqueta de
couro mesmo aqui, no calor que nem sequer o ar-condicionado dá conta. Ela
parece uma cavaleira do apocalipse, surgindo para destruir meu mundo.
— Você é tão cínica — acuso rispidamente enquanto observo com
nojo aquele sorriso atroz dela. — O que você ganha com tudo isso, hein,
Charissa?
Seu sorriso morre e leva a mão ao coração, como se tivesse a
ofendido. Mas é tudo parte da sua personalidade dissimulada.
— Assim você me ofende, irmãzinha — choraminga fazendo bico. —
Será que eu não podia vir e pegar de volta o momento que você roubou de
Madison?
— Eu não roubei nada! Ela preferiu desfilar em Paris a vir se
encontrar com Bruce.
— Ou seja, você fingiu ser assim mesmo alguém que não é.
— Nunca neguei meu nome a Bruce. Estávamos bem até você
aparecer, Charissa. E talvez teríamos conversado sobre isso de um jeito
menos catastrófico.
Ela tira os óculos, se empertiga na cadeira ao meu lado e recuo para
que o seu nariz arrogante de tão empinado que é, não tocasse em mim. Mas
os seus olhos sempre tão afiados me ferem; eles sempre me feriram.
Charissa sempre foi assim, inabalável, feita de mármore e elegância, tudo
nela exalava um poder de intimidade que eu não tinha. A nossa mãe
costumava dizer quando éramos mais novas, que isso faria os homens nos
dar o que quiséssemos.
Então eu fui lá e fiz diferente, trabalhei duro para que eu me desse o
que eu quisesse.
— Não me culpe por seus erros, Natasha — diz meu nome com
desprezo. — Você sempre fez as coisas do jeito errado, e eu tinha que ir lá e
mostrar como se fazia.
Sinto vontade de pular no pescoço dela.
— Você me rouba tudo, essa é a verdade. Você sempre foi a
queridinha da mamãe, mas nunca suportou o fato de eu não precisar dos
conselhos dela para brilhar, não é? — comento também com o mesmo
veneno que ela usa contra mim. — Não gosto de você aqui, porque toda vez
que vejo você, você me rouba alguma coisa. A minha paz, a minha
felicidade, o meu homem.
Charissa me roubou Perseus, por isso não suporto sua presença, não
suporto ouvir a sua voz e nem a olhar. Tudo nela me lembra ele e o dia em
que o tomou de mim.
— Bruce não era o seu homem — frisa com maldade.
— Eu nunca disse que era.
Com minha frieza, ela se afasta e volta a colocar os óculos. Por um
momento acho que vai levantar e me deixar em paz, mas Charissa ainda não
terminou de me incomodar.
— Também vou embarcar no voo de Vancouver — comenta me
fazendo olhá-la com surpresa e ela volta a sorrir. — Espero que estejamos
sentadas uma do lado da outra.
— Espero que o avião caia.
— Seria um favor que ele faria a você — profere com sagacidade.
— Não sabe o trabalho que a espera em Vancouver.
Pisco atordoada, mais uma vez com medo do que ela poderia ser
capaz de fazer.
— O que você fez? — pergunto receosa.
Charissa balança a cabeça em reprovação.
— Você empatou uma linda história de amor ao tomar o lugar de
Madison. Vai ter que lidar com isso agora.
É a única coisa que ela me diz antes de levantar e me deixar confusa
com essa história, que poderia ser a minha ruína.
Charissa pode ser cruel e gananciosa, mas tudo o que ela faz tem um
propósito. Cada palavra dela esconde um campo minado, ela me joga nele e
diz para eu encontrar o caminho certo.
E se ela diz isso, é porque a dor de cabeça só está começando. E irei
descobrir quando chegar em Vancouver, onde achei que estar em casa seria o
melhor refúgio para tudo.
Entretanto, me enganei...
Quando chegarmos em Vancouver, um furacão irá varrer a cidade e
ele se chama Charissa Alexander.
••••
Consigo um feito inédito no avião, dormir feito uma pedra durante a
viagem. Esqueci até mesmo a presença de Charissa algumas cadeiras atrás
de mim, mas acho que o fato dela ter ficado bem longe de mim durante o voo
me permitiu ficar sossegada pela leva de tempo que duramos no céu.
Acordo com a visão dos arranha-céus lá embaixo e das outras
construções que transformam Vancouver em uma cidade agitada, erguida em
concreto e aço, vidro e cinza; muito cinza e azul, quase nenhuma cor além
disso, exceto pelo verde das árvores, mas nada comparado a riqueza tropical
do Havaí que foi deixada para trás.
É como acordar de um sonho lindo, despertada por um tapa e cair na
realidade sendo invadida pela angústia de ter que enfrentar de novo uma
vida que você sabe que no mundo dos sonhos, estava sendo mais fácil. Não
estou querendo dizer que a minha vida é horrível, mas é um contraste gritante
com o que estava vivenciando dias atrás.
E estar voltando sem Bruce é saber que algo deu muito errado.
Trocamos apenas os números de telefone, mas sei que ele nunca vai
me mandar uma mensagem.
Meu endereço?
Nem tive tempo de dá-lo, mas não espero que ele bata na minha
porta.
Quando aterrissamos, Charissa some mim piscar de olhos,
literalmente. Só tive tempo de ver a minha irmã me olhar por cima do ombro
e piscar para mim como um lembrete do que me aguarda. Depois não a vi
mais quando se misturou em meio à multidão.
Melhor assim.
Arrasto as malas com ajuda do carrinho de metal. Pego a escada
rolante e percebo que de certa forma, estava com saudade da agitação da
cidade, desse vai e vem desgovernado da rotina de quem mora em
Vancouver. Porém estou em outro ritmo, meu bronze e o brilho natural no
meu cabelo mostram que estive bem melhor que eles nos últimos dias, só não
há nenhuma expressão no meu rosto que mostra que estou feliz ou revigorada
para voltar com a rotina após um período de sol e mar.
Quando saio do aeroporto passando pela porta dupla automática,
vejo rapidamente dois rostos conhecidos me aguardando próximo a um carro
vermelho. De um lado está Erin com seus saltos para disfarçar a baixa
estatura, porque o que ela não tem de altura, tem de sarcasmos e ironia, com
o seu estilo despojado e moderno, óculos escuros tampando os olhos e o
cabelo curtinho. Do lado do motorista está Lili, sempre reluzente com a sua
pele morena e cabelo cacheado da cor do céu noturno, ela tem um estilo mais
street e descolado, mas sempre é levada a sério onde quer que vá.
Sempre lembro da vez em quase nos tornamos inimigas por eu ser
uma vizinha inconveniente demais para ela. Mas foi só Lili adoecer que
cuidei dela e nos conhecemos melhor. Viramos amigas e não pude resistir em
chamá-la para fazer parte do meu time, afinal Lili é muito profissional.
O carro vermelho por exemplo, é dela, e foi comprado quando
percebeu que o seu patrimônio finalmente seria maior mesmo que investisse
em um automóvel que não a deixasse de mãos abanando; ela é ótima no ramo
da economia.
Ambas acenam para mim e sorrio contendo as lágrimas.
“Estou em casa”, penso.
Acho que elas percebem a mesma coisa, pois vem correndo em
minha direção. Abraço cada uma delas bem apertado, sentindo nosso laço de
amizade vibrando.
Lili empurra o carrinho com minhas malas.
— Você está parecendo a Ariel após ficar atolada na beira da praia.
Ruiva e queimada pelo sol — Erin diz e gargalho.
— Estava morrendo de saudade também, Erin — ressalto e ela dá um
sorriso convencido.
— E que história é essa de cassino? — Lili pergunta subitamente,
como se estivesse prestes a me dar uma bronca.
Essas são as minhas amigas, companheiras e leais, mas também
honestas que amam me dar um puxão de orelha. Elas são tudo o que Charissa
nunca foi para mim.
— E como você sabe sobre o cassino? — rebato.
— Sou eu que cuido da sua vida financeira, lembra? Chegou um
extrato para mim de que você havia comprado 100 dólares em fichas. Espero
que ao menos tenha ganhado o dobro.
Fico em silêncio, lembrando de como aquela noite foi divertida ao
lado de Bruce, e como sai de bolsos vazios.
— Droga, você não ganhou nada. — Ela percebe.
— Lili, a única coisa que a Tasha ganhou foi ter que ir para a cama
com Bruce Mackenzie. — Erin ousa me zombar.
— Ah, cala a boca! — Chuto o tornozelo dela.
— Erin, você é a pior amiga que alguém pode ter. — Lili franze o
cenho.
— Eu sei, vocês me amam. — Faz uma carinha fofa.
Quando alcançamos o carro, Erin vai abrir o porta-malas enquanto
Lili e eu colocamos as minhas malas ali dentro. Então entramos no carro,
Lili ao volante, eu ao lado dela e Erin no banco de trás. Mas a pequena se
aproxima e fica no meio entre nós com o seu jeitinho curioso.
Lili mal dá a partida e Erin exclama:
— Conta logo como foi que tudo aconteceu. Desde o começo porque
você sabe que amo detalhes.
A caminho de casa eu conto tudo às meninas, detalhe por detalhe e
elas me escutam atentamente. Nunca pensei que conseguiria fazer Erin ficar
por mais de cinco minutos calada, mas ela ficou e ouviu tudo. Lili também
ficou bastante surpresa com as extravagâncias que Bruce fez para me
agradar.
Conto também sobre Britney e Oliver, parte que as deixou chocadas
também. Revelo que nós duas nos tornamos amigas, mas que o caso deles me
fez pensar sobre a possibilidade de uma psicóloga virtual para casais em
nosso site; Erin anotou isso em seu bloco virtual e continuo me ouvindo.
Quando cheguei a falar sobre o desastre que tem sido desde a noite
anterior, Erin e Lili ficaram em um silêncio macabro. Só de ouvir o nome de
Charissa eles estremeciam junto comigo.
Mas o pior acontece quando Lili entra com o carro no
estacionamento e guarda o carro em sua vaga. Consegui terminar a tempo de
deixá-las a par de toda a situação, para o inesperado que viesse a seguir.
— Agora que sabemos de tudo, temos que pensar em algo que livre a
sua barra. — Lili diz receosa e travo.
— Livrar a minha barra do quê?
Elas se entreolham e percebo não gostar disso.
— O que aconteceu? Vocês duas tratem de me contar logo! — Não
aguento mais surpresas.
Erin toma a frente.
— Madison levou toda a situação para a mídia. Ela está usando isso
para se promover.
— As palavras golpista e oportunista são as mais pesquisadas na
rede associadas ao seu nome, Tasha, e não sabemos ainda o quanto isso
afetará a 14 Dias Casados — Lili completa.
— Isso é loucura! — exaspero sentindo apenas raiva.
— É, mas ela e Bruce estão sendo vistos como as vítimas e você, a
vilã. — Erin dá de ombros. — É tipo novela mexicana, onde você toma o
lugar da mocinha, mas descobriram que na verdade você sempre foi a
megera.
— Eu não sou nada disso! — grunho e Erin assenti.
— Sabemos, por isso vamos ajudar você a passar por essa — diz
Lili.
De repente, sou assombrada pela voz de Charissa ainda no
aeroporto:
— Você empatou uma linda história de amor ao tomar o lugar de
Madison. Vai ter que lidar com isso agora.
Minhas entranhas chegam a se contorcer.
Não é Madison que está querendo me destruir, é Charissa, minha
própria irmã.
BRUCE
Voltar para casa sempre é uma sensação agridoce. Não importa
onde eu esteja, por mais paradisíaco que o lugar for, Vancouver é a minha

casa; é desta agitação que eu gosto, da vida corrida e cheia de energia. É um

lugar que eu jamais largaria mão, mas enquanto estive no Havaí, achei que

poderia trocar este lugar facilmente e viver para sempre nas ilhas.
Acontece que não estive pensando direito. Estava completamente
fora de mim do início ao fim.
No caminho de casa, percebi que me envolver na lua de mel de
mentirinha proporcionado pelo site, subiu a minha cabeça e me fez delirar.
Mas agora, estar em casa me exprime novas sensações que também são
comuns.
Resolvi desprezar o que aconteceu nos últimos dias. Talvez esteja
magoado demais para permitir sentir outra coisa, mas prefiro voltar a manter
os pés no chão. O que tinha de acontecer no Havaí, ficou no Havaí; essa é a
minha vida, preciso voltar a focar nela. Posso esquecer Tasha e tudo o que
aconteceu lá.
Não sei se isso é uma maneira indireta de perdoá-la, mas é o que
parece certo.
Chega de viver uma vontade minha há tempos adormecida. Não estou
desesperado, posso esperar mais um pouco. Eu só quero voltar com a minha
vida como ela era antes.
Mas, infelizmente, não me lembro de muita coisa antes de Tasha.
Tudo o que eu tenho na cabeça é ela, tudo o que eu quero é ela, mas não
posso ter por que tenho medo de ter conhecido alguém diferente.
Porra, estou acostumado a conhecer mulheres que inventam perfis
falsos, jeitos e estilos só para me agradarem; elas pesquisam a minha vida na
internet, acompanham meus passos e depois aparecem de um jeito que faz
parecer que o destino nos uniu. Mas graças a Deus eu tenho Christopher que
por ser um mulherengo, conhece muito bem diversos perfis e me alerta.
Estou ansioso para saber a opinião dele sobre Tasha, mas antes,
preciso ver minha filha. A única mulher no mundo que nunca vai me magoar,
que nunca vai errar comigo porque tudo o que ela faz é por mim.
Chego no arranha-céu onde moramos e cumprimento os funcionários
que há dias não me viam, mas possuem uma expressão curiosa na minha
direção, até imagino o porquê, por isso evito olhar para meu celular que só
tem vibrado desde que cheguei ao aeroporto de Vancouver. Evito
principalmente pegá-lo porque a minha tela de bloqueio é uma foto minha
com a Tasha e estou com muita pena de tirá-la dali. No entanto, quando pego
o elevador privado que é todo de aço verde e dourado que dará a torre dos
Mackenzie, preciso fazer esse sacrifício.
O que eu puder fazer para me desfazer das lembranças com Tasha,
irei fazer. Mas dói, e é uma tarefa quase impossível de fazer. Não tenho
coragem de apagar as nossas fotos e nem os vídeos, não tenho forças para
apagar o seu contato. Por mais que eu queira fingir que o que aconteceu no
Havaí, ficou no Havaí, não consigo.
E é isso o que tem me dado dores de cabeça.
Aperto o botão do meu apartamento e o impulso do elevador me faz
ter uma leve vertigem. Quando estive no voo, passei mal também. Fiquei
preocupado em como todo aquele estresse estava afetando meu corpo. Fazia
tempo que eu não tinha uma dor de cabeça dessas.
É por isso que eu sei que os meus planos de agir como se nada
tivesse acontecido, não dariam certos.
O meu apartamento é o segundo, sendo de Mathew o primeiro e o de
Christopher, o terceiro e último. Não havíamos dividido aqueles imóveis de
acordo com a idade, mas também porque Chris adora dar festas e quanto
mais ele estivesse longe de perturbar as trigêmeas, melhor. Foi o que Mat
disse. Mas, sendo vizinho de teto do meu irmão mais novo, posso afirmar
que ele se comporta bem.
Infelizmente, há noites que ele não sabe se conter e trepa com as suas
ficadas de um jeito muito exagerado que fico com medo de Julie ouvir. Mas
ela é uma pré-adolescente, vive com fone no ouvido e às vezes vai até
dormir com eles, não consigo reclamar muito sobre isso, o aparelho acaba
sendo um ótimo aliado contra ruídos eróticos vindo do apartamento do tio
mais querido dela.
Acho que eu só tenho pensado na minha filha desde o momento em
que cheguei. Não tive a oportunidade de falar com ela enquanto estive no
Havaí, mas agora estou aqui então poderíamos ter várias conversas.
Mas é Julie, ela vai perguntar e me colocar contra a parede. Uma
versão mais nova de Melissa e Tasha quando o assunto é falar demais,
perguntar demais e ser muito autêntica.
O elevador para e a porta dupla abre, revelando o hall minimalista
do meu apartamento, com quadros alegres e mobílias de ferro e madeira.
“Como é bom estar em casa”, penso.
Empurro minhas malas para dentro do corredor e sou animado por
uma voz empolgadas e familiar:
— Ele chegou! Ele chegou!
Nem me dou tempo de preparar quando Julie surge sorridente e pula
nos meus braços, exatamente como ela sempre gostou de fazer, mas mais
ainda quando tinha sete anos. Agora ela tem quase 14, seu aniversário será
daqui um mês, e não pula muito em meus braços com tanta frequência, acha
que excesso de carinho é brega e fica tentando encontrar uma namorada para
mim.
— Que saudade, minha princesa! — A aperto em meus braços e ela
protesta quando falo o apelido dela de infância.
— Pai, você está me sufocando — diz com a voz abafada em meu
ombro.
— Oh, me desculpe, minha querida. — A deixo no chão e seguro em
seus braços enquanto me inclino para a frente e a observo melhor.
Meu Deus, Julie sempre foi a cara da Melissa. Ela tem o meu sorriso,
mas os olhos, o rosto, o nariz e a personalidade lembram muito a falecida
mãe. Esses detalhes logo depois que Melissa faleceu foi um tanto difícil para
mim; Julie era muito pequena, mas entendia o que havia acontecido e me
desculpava todas as noites, um pouco a Julie e um pouco a Melissa.
A morte da minha esposa quase foi a minha ruína, mas felizmente,
Julie sempre foi a minha salvação.
— Você cresceu tanto nesses últimos dias — comento enquanto
analisava cada centímetro do rosto dela... Havia alguma coisa... — Está
diferente, meu amor.
Ela revira os olhos.
— Passei gloss, pai. E um pouquinho de rímel nos cílios — diz como
se a minha ignorância a deixasse entediada.
— E essa produção toda é para mim? — pergunto me sentindo.
— Sim, mas depois vou precisar ajudar a Rachel com as trigêmeas.
Nós vamos até o Stanley Park tomar sorvete.
Passo a mão em seu cabelo solto e partido ao lado, castanhos
exatamente como os de Melissa eram.
— Papai mal chegou e você já vai.
Ela faz uma carinha que já sei o que vem por aí.
Pedi a Christopher que não dissesse nada, mas Julie tem acesso à
internet, não é difícil que ela tenha visto alguma coisa minha com Tasha em
um desses sites de fofoca.
— Pai, o senhor precisa descansar um pouco. Eu sei que não tem
sido fácil, então me desculpe por ter te metido nessa — diz tristinha
enquanto tira a poeira invisível do meu ombro.
— Não foi culpa sua, meu amor. Ninguém tem culpa quando o outro
ser humano age de má fé.
Ela estreita aqueles olhos negros e pequenos na minha direção e diz:
— Não acho que Tasha tenha feito algo ruim, mas você precisa lidar
com toda situação que fizeram em cima disso — explica como uma adulta
esperta, mas sempre mantendo o seu jeito doce e cuidadoso de falar.
Minha pequena adulta.
— Que situação? — indago.
Ela não me responde porque uma terceira voz surge vindo da
cozinha:
— Para que você tem a porra de um celular se não responde às
mensagens e não atende nenhuma ligação? — Christopher diz com a sua
habitual falta de noção e carranca matinal.
Levanto e aponto o dedo na sua direção.
— Não use palavrões quando Julie estiver por perto — alerto.
— Tudo bem, pai. Sempre ouço palavrões na escola. — Dá de
ombros com normalidade e o canalha do meu irmão mais novo alarga o
sorriso achando aquilo engraçado.
— Como é? — Isso me deixa surpreso.
— É isso mesmo, mas não os pronuncio, é feio demais. — Faz uma
careta e Christopher se aproxima.
— É feio ainda mais para uma garota da sua idade. Mas quando você
aprender que pronunciar alguns é libertador, você não vai mais querer parar
— meu irmão diz.
— Chris... — chamo sua atenção.
— O que? — Arregala aqueles olhos verdes e o sorriso debochado.
“Vai se foder”, falo mentalmente e ele parece me entender. É coisa
de irmão, um dom que vem com a gente.
— Posso deixar vocês dois conversando agora — diz e fica na ponta
dos pés para me beijar na bochecha. — Rachel e as trigêmeas estão me
esperando lá embaixo.
— Tudo bem, querida. Estava com muita saudade. — Beijo o topo da
cabeça dela que tem cheiro de baunilha.
— Eu também, papai. Mal vejo a hora de assistir um filme e comer
pipoca com o senhor. — Os olhos dela brilharam só de dar ideia.
Filme e pipoca é uma das nossas programações favoritas juntos.
Ela acena para Chris e vai até o elevador. Ficamos olhando até que
ela esteja dentro e as portas fecham.
— Malandrinha. Armou tudo e no final sai sorrateiramente deixando
toda a bagunça para mim — Chris reclama de braços cruzados ainda com os
olhos no elevador.
— Você vai mesmo culpar uma menina de 13 anos? Vai negar agora
que não teve dedo nisso também?
Ele ergue as mãos em rendição.
— Calma aí, como poderíamos imaginar também que daria errado?
Estreito os olhos em sua direção de forma especulativa. Christopher
é um canalha mesmo, mas é considerado dentre nós o mais manipulador pela
sua beleza jovial. Ele parece ter saído dessas revistas de modelo por conta
dos seus músculos bem trabalhados e do rostinho bonito que é uma mistura
perfeita dos nossos pais.
O pior de tudo é que o desgraçado sabe disso, e por isso, é arrogante
e enxerido, e as mulheres o amam por isso. Deve ter alguma beleza em ser
um cafajeste como Chris, mas juro que não compreendo. Já cheguei a vê-lo
trazer duas mulheres para o seu apartamento e gastar quase dez mil numa
noite só; era demais para a imagem dos Mackenzie, mas isso foi o que ele
ganhou e se deu ao ter passado por dois casamentos desastrosos.
Ele costumava acreditar fortemente no amor, já hoje já não sei mais
se tem as mesmas convicções.
— Primeiro, nem deveriam ter me enfiado numa coisa dessas —
retruco.
— Mas você foi.
— É, eu fui. Costumo cumprir as promessas que faço a Julie.
— Cara, é melhor um pássaro na mão do que dois voando. — Se
aproxima e dá dois tapinhas no meu ombro, depois me dá um abraço
amigável. — Mas é uma pena que não tenha dado certo, mas ainda acho que
você precisa pensar melhor sobre tudo isso.
Quando ele afasta, lembro de algo:
— Que situação é essa que Julie mencionou? — pergunto incrédulo.
Christopher faz uma careta e volta para a cozinha. O meu
apartamento é conceito aberto, igual ao de Mathew, como temos filhas, é
preciso ter um bom ângulo de todos os cômodos e saber o que está
acontecendo.
Ele vai até o meu armário onde guardo uns destilados e pega uma
garrafa de uísque.
— Madison Brown está magoada, irmão — diz enquanto pega três
copos e me pergunto onde está Mathew e se o terceiro é para ele, — A
gatinha veio a público dizer o que aconteceu e se diz muito triste e
arrependida de ter escolhido o Paris Fashion Week, mas que já ia entrar em
contato pedindo outra chance a você.
Contorno a ilha de granito branco da cozinha moderna e pego o copo
que ele me serve.
— E parece que ela fez a caveira da Tasha para o mundo. Dizendo
que ela é uma dissimulada e manipuladora, tanto que conseguiu fazer você
acreditar que ela era a Madison Brown. Mas na verdade você não sabia de
nada, nem quem era uma ou quem era a outra. — Gesticula exageradamente e
sorri. — Cara, você é o meu novo herói.
Fecho os olhos lentamente enquanto processo o peso dessa
responsabilidade. Isso significa que, por ter vindo a público, terei de me
retratar com Madison, preciso me posicionar e dizer o que penso a respeito
de Tasha.
“Droga, Tasha!”
Me pergunto como ela estaria enfrentando esse novo caos em sua
vida.
— E o pai e a mãe? — pergunto pegando o copo de uísque, mas não
conseguindo tomar um gole daquilo sequer.
Estou de estômago vazio e embrulhado. As doses que tomei na noite
anterior ainda estão no meu organismo, bem como os conselhos do barman.
— Ah, boa pergunta. — Chris senta do outro lado do balcão, de
frente para mim. — Mamãe já sabia que você tinha viajado com uma mulher
para o Havaí, mas aí o Fernandes ligou dando a eles os parabéns pela nova
membro da família e a mamãe perguntou que porra você andava escondendo
dela. Já papai ficou feliz por você.
Não consigo deixar de sorrir.
Mamãe sempre tão ciumenta e odiando ser a última a saber das
coisas; ela é uma sogra difícil de se conquistar, Melissa foi a única que
conseguiu essa proeza. Mas meu pai sempre foi mais liberal com a gente em
relação à nossa vida pessoal, ele diz que devemos aproveitar mesmo. No
entanto, quando se trata das netas ele é um herói em armadura de bronze. Na
última vez em que o vi, por exemplo, ele estava puto da vida com Mathew
que não passou a Páscoa com as trigêmeas.
Ficamos bem irritados também.
— Não sei por onde começar — digo por fim, completamente
perdido.
— Tente fazer o que Julie aconselhou. Descanse um pouco e pense
sobre isso depois.
Olho para o terceiro copo vazio.
— Mathew não vem?
— Deveria, mas é Mat. Só Deus sabe o que ele está fazendo. — Meu
irmão bebê um pouco do uísque e completa: — Deveria estar com a gostosa
da babá, mas com certeza deve estar no escritório.
— Mais respeito com a Rachel, idiota — digo afastando o copo. —
Preciso deitar, peça que Marlene não mexa em minhas malas. Eu mesmo me
ocupo com isso depois.
Marlene é a nossa empregada, que está mais para governanta. Ela
vive com a gente e foi a que mais me ajudou a cuidar da Julie. Sou grato a
ela e por isso a colhi aqui em casa com um emprego e todos os benefícios
que ela merecia. Imagino que deve estar em um dos quartos ocupada com os
deveres.
Quando me afasto da ilha da cozinha rumo ao meu quarto,
Christopher me detém com uma pergunta inesperada:
— Você estava gostando mesmo dela?
Percebo o quão genuíno foi, e quão ele espera pela resposta
verdadeira.
Viro de lado e penso numa resposta. Talvez descobrisse melhor só
agora que não estamos mais tão perto e que fui magoado; este sentimento
pode mudar mais rápido do que eu esperaria. No entanto, penso nos dias que
vivemos juntos no Havaí.
Pensar na resposta faz o meu coração doer, mas mantenho a firmeza.
— Como nunca havia gostado de alguém desde Melissa. — Há dor
em minha voz.
Ele assente e percebo que engole seco.
A minha falecida esposa era a sua melhor amiga. Foi através dele
que a conheci e fiquei louco por Melissa. A sua morte foi um eterno luto
para mim, só Chris e Mat sabem o quanto sofri e me abstive de tudo por
causa da dor e vazio que me acompanharam por tanto tempo.
Se usei essas palavras para dizer o quanto me envolvi com Tasha,
Christopher deve imaginar que a coisa é mais séria do que ele esperava.
— Bom descanso — diz e vou para o meu quarto.
Marlene caprichou na arrumação. Lembro de ter deixado isso aqui
uma zona quando estava me arrumando de última hora para a viagem. Agora
está tudo muito bem arrumado; no lado esquerdo, a cama ampla coberta por
um jogo de lençóis cinzas e com dossel de bronze, flanqueada por criado-
mudo de madeira e abajures lustrosos, do outro lado do quarto, uma enorme
TV e um sofá de três lugares. Há uma porta para o closet e banheiro, e corro
para a vista que tenho dali do meu quarto.
A janela é ampla, um painel de vidro que me mostra uma Vancouver
imaculada ao fundo. Vejo os arranha-céus e os prédios menores, à esquerda
está o Park onde as meninas vão passear. Mas fico mesmo imaginando que,
em algum desses lugares à minha vista, Tasha deve morar.
Ela também é de Vancouver. E só Deus sabe o quão eu agradeci por
não saber o seu endereço, porque o contato eu já tenho e precisarei ser forte
para não ligar ou mandar mensagem, ainda não tenho coragem de apagá-lo.
Mas não quero pensar o que eu iria precisar conter caso tivesse o seu
endereço.
Antes de dormir, me imagino batendo à sua porta.
Odeio ter que me importar tanto.
••••
Naquela noite, Julie e eu assistimos dois filmes e comemos pipoca.
Pergunto como foi a semana dela e peço que me conte detalhadamente por
que quero evitar o assunto da Tasha e a confusão que Madison causou.
Antes disso, havia procurado na internet alguma coisa a respeito e
alguns sites falavam sobre o imobiliário milionário que levou o golpe de
uma empresária e partiu o coração de uma modelo iniciante, tudo numa
mistura só. Todos eles diziam basicamente o que Christopher já havia me
dito mais cedo. Mas havia alguns detalhes que eu não sabia, como na última
entrevista dela a um blog de fofoca, Madison diz que não entendia como
pude acreditar tão facilmente que Tasha não era ela.
Toda história parecia confusa demais e, por fim, acabo percebendo
algo ao qual vim ignorando desde que eu deixei o Havaí: a culpa é tão minha
quanto a de Tasha. O fato de só nós sabermos que eu não tomava frente das
decisões daquele encontro, tornava todo caso confuso e cheio de pontas
soltas.
Um prato cheio para os detetives online de prontidão.
No outro dia, logo no café da manhã, recebo uma visita de Mathew. É
pleno domingo, mas o cara está todo social e vive com aquela carranca
habitual de quem está tendo um dia estressante no trabalho.
Estou na mesa que fica ao lado da janela que vai do chão ao teto,
dando uma visão incrível para o centro de Vancouver. O vejo entrando
enquanto não largo meu café e Julie está colada ao seu celular. Talvez a
gente deva conversar um pouco melhor sobre o uso excessivo do aparelho,
mas só quando esta maré abaixar.
— Olha só ele, se não é o Mackenzie mais cobiçado do momento —
chega falando. — Desse jeito você deixa o Chris triste.
Apoio a xícara na mesa.
— Pelo visto você acordou de bom humor.
Ele para a uns metros e fecha a cara. Mathew é o mais velho de nós,
mas quase não parece ao julgar pela aparência arrogante e máscula dele. Na
verdade, o julgam como vinho, quanto mais velho, melhor. Ele tem a barba
num tom gradiente entre o preto e alguns pelos brancos, não liga em mostrar
que está envelhecendo. Para essas coisas Mat é bruto igual ao nosso pai. Ele
é alto igual Chris e todo musculoso, mas faz tempo que não o vejo treinando.
— Na verdade, Bruce, eu não estou de bom humor. — Cruza os
braços e suspiro já sabendo o que viria aí. — Enquanto você foi tirar férias
no Havaí com sabe–lá–quem, fiquei por aqui segurando sozinho as pontas
do nosso conglomerado imobiliário.
— E Christopher? — Franzo o cenho para ele, preocupado.
— Chris precisa de juízo naquela cabeça dura ou juro que compro as
ações dele. E não acho que ele irá hesitar. Graças a Hillary não enlouqueci
nesses últimos dias. — Se irrita.
Faço uma careta, como se o nome de Hillary me fizesse lembrar de
algo muito azedo. Ela não é a minha pessoa mais favorita no mundo, mas tem
um ótimo olhar para os negócios; ela sempre dá as melhores ideias de
estratégia e criatividade, porém, as suas ações dentro da empresa não dão
nem para ela sequer mandar em um andar da Mackenzie Enterprises.
— Você teria que vender as suas ações se quisesse comprar as de
Christopher — digo por fim e volto a tomar o meu café.
Mathew fecha os olhos e respira fundo para não surtar na frente de
Julie, ou quem sabe, para não me estressar mais do que já estou porque com
certeza ele sabe o que está conhecendo.
— Escuta, vou precisar de você focado. Daqui duas semanas vamos
ter a convenção de hotelaria, vai estar todo mundo lá e precisamos mostrar o
nosso novo projeto, Bruce.
Sinto que o café amargo alfineta bem meu cérebro, fecho os olhos
com força e engulo um palavrão ali na frente de Julie.
“Puta merda!”
A Convenção Anual de Hotelaria marca um evento no ano onde os
nomes mais prestigiados no ramo imobiliário mostram seus projetos para o
público e imprensa. A Mackenzie Enterprises é uma das mais aguardadas da
noite, porque fomos pioneiras no evento e sempre trazemos inovações
principalmente em parceria com os melhores engenheiros, ou seja, esse
evento é muito importante para Mat porque ele passa quase um ano
planejando novos modelos de construção e esse ano não será diferente. O
mesmo para Christopher, que o ajuda e é seu alicerce durante a construção
do projeto.
Eu como formado em advocacia, peso mais para o lado burocrático
da empresa. Por isso sei que, se Mat quisesse comprar as ações de Chris, ele
não só teria que vender as ações dele, mas como também teria que ralar
muito para conseguir isso.
— Eu sei — digo a ele. — Segunda vou para o escritório e ficar por
dentro dos últimos preparativos. Não se preocupe, está tudo em ordem.
Mas Mathew me olha de um jeito especulativo.
— Está mesmo? Será que a sua cabeça não está no Havaí ainda?
Apoio os antebraços sobre a mesa e fico o encarando também.
Nós dois podemos ter nossas desavenças, não tanto quanto ele tem
com Christopher, mas como Chris é o mais novo, sempre foi Mat e eu, para
tudo. Ele só se distanciou mais de mim quando foi traído e mudou
completamente; às vezes sinto falta daquele nosso companheirismo, mas
acredito que Mathew tem muito ainda a aprender depois disso. A começar
como lidar com as trigêmeas.
— Aquilo não foi nada. — É só o que consigo dizer e quando olho
de rabo do olho, vejo que atrai a atenção de Julie que me olha de um jeito
desconfiado.
— De um jeito ou de outro, dê um jeito nisso, cara. — Aponta o dedo
para mim como um aviso. — Ou então essa coisa vai tirar o foco do que
verdadeiramente importa no dia da convenção.
Disso tenho certeza e ele sabe muito bem do que está falando porque,
na época em que Abigail o traiu, mesmo tendo sido seis meses antes, a
imprensa lembrou, e era só o que eles sabiam perguntar a Mathew que ficou
louco e terminou bêbado na cozinha. Tivemos que socorrê-lo e tirá-lo pelas
portas dos fundos.
— Mathew, relaxa. Já estou pensando em tudo, eu só preciso respirar
um pouco. — Solto um suspiro pesado.
Ele troca o peso dos pés e relaxa mais a postura de irmão valente.
— Qualquer coisa, sabe onde eu moro — diz, mas entendo, “quando
quiser conversar de irmão para irmão enquanto bebemos uma cerveja,
sabe onde eu moro”. Duvido muito que o encontre por lá.
Ele acena para minha filha:
— Olá, Julie.
— Oi, tio Mat.
— Fique de olho no seu pai.
— O tempo todo — diz sorrindo.
— Tenham um bom dia.
Mathew vira e vai embora. Ele chama o elevador, em segundos já
está dentro dele e antes mesmo que a porta esteja se fechando, Julie larga o
celular e desaba a costa no encosto da cadeira.
— É tudo culpa minha — diz cabisbaixa.
Viro para ela e levanto o seu queixo.
— Eu já disse, isso não é culpa sua. Você sempre tem as melhores
intenções e eu sempre irei ouvir o que o seu coração diz.
— Mas fui eu que inventei isso e ainda fui despreparada. Deveria ter
tomado todos os cuidados possíveis, eu só queria que o senhor tivesse
alguém.
Abro um sorriso e pela primeira vez o meu coração se enche.
— Meu bem, eu tenho você.
Seu sorriso é genuíno.
— Aí, pai, deixa de ser tão babão! — reclama e fico surpreso; a
minha Julie está crescendo mesmo. — Você sabe o que eu quis dizer. O
senhor precisa de uma namorada, ou então vai viver encalhado.
— Eu gostava mais de você quando não conhecia essas palavras —
protesto e ela começa a rir.
— Vai aguentando. Além do mais, tenho tios incríveis para
aumentarem o meu vocabulário. — Levanta e começa a tirar a mesa.
Julie odeia ter que ver Marlene tendo trabalho com coisas simples
que normalmente podemos fazer.
Reviro os olhos.
— Que sorte as trigêmeas terem a mim como tio — comento e sinto
um beijo seu no topo da minha cabeça.
— E eu tenho sorte de ter você como pai.
Olho para cima e abro um sorriso. Julie sempre vai ser a minha
maior certeza na vida.
— Eu amo você, Julie.
Ela se afasta com os pratos em mãos, enquanto pego as xícaras da
mesa, ela já está a caminho da cozinha quando vira.
— Ah, e o único coração que o senhor precisa ouvir aqui é o seu —
aconselha e vai para a cozinha.
Parte minha está abobalhado com a sua maturidade.
Desde quando Julie fala coisas tão sensatas?
Desde quando os conselhos de uma garota de 13 anos me deixaram
tão pensativo sobre tudo o que venho sentindo?
Não sei se isso é a vida me mostrando um sinal, e Julie o anjo que eu
deveria ouvir. De qualquer forma, se eu ouvir o meu coração, sou capaz de
chorar.
TASHA
“Há males que vêm para o bem.”
Se eu ouvisse essa frase três semanas atrás, poderia dizer que a
pessoa que a fala teria que ser de um desenvolvimento emocional acima da
média para poder ver o lado bom do caos e as coisas boas que ele traz.
Mas acho que agora compreendo.
Sentada de frente para o gráfico que Lili nos mostra em uma TV de
tela plana da nossa sala de reuniões, consigo compreender o que a desgraça
final da minha viagem com Bruce ao Havaí resultou, números...
Números crescendo constantemente.
Sejam eles em número de seguidores, ou a quantidade de vezes que o
nome do site 14 Dias Casados foi pesquisado na internet.
Estamos no holofote.
Eu também sou assunto, mas de um jeito nada agradável. E essa
reunião é para justamente observarmos o que resultou isso tudo, um site de
relacionamentos na boca do povo e uma empreendedora com fama de
golpista. Não sei se dá para ficar pior, mas repetindo mais uma vez, há males
que vêm para o bem.
— Tivemos uma procura significativa de clientes interessados no
pacote Gold em menos de uma semana! — Lili revela ao lado da tela,
vestindo seu terninho feminino e com o seu cabelo black power amarrado.
— Também obtivemos um lucro de 30% e esse número só irá aumentar
enquanto Tasha estiver na mídia.
Os olhares pesam sobre mim e olho de volta com reprovação.
A nossa equipe de seis pessoas se uniu rapidamente para essa
conversa que eu vinha procrastinando desde que voltei para o trabalho como
se nada tivesse acontecido. Mas nove dias depois, aqui estamos discutindo
sobre o futuro da empresa e como a minha imagem está afetando a ela
diretamente.
— Você deu uma parada com os vídeos no Instagram — diz Ryan,
gerente de RH que contrata os melhores estagiários.
Ele é nova-iorquino e tem um jeito bem excêntrico com o seu cabelo
rosa e os olhos repuxados.
Desliza o seu dedo com anéis sobre a tela do iPhone e provoca:
— Cansou da vida de blogueira, foi?
Reviro apenas os olhos.
Ele adora uma discórdia, mas o pior tipo de pessoa que poderia
desejar uma desavença, seria comigo, a sua chefe.
— Não tenho me sentido bem — digo entediada, sentada de um jeito
desleixado na cadeira giratória.
— Eles querem saber se você irá comparecer à convenção de
hotelaria de luxo. — Erin franze o cenho ao meu lado, de um jeito calculista.
Eu sei por que todos estão me olhando deste jeito e se dirigindo a
mim desta maneira.
Basicamente, desde que voltei para Vancouver nunca precisei ficar
tão ativa nas minhas redes sociais como tenho ficado nos últimos dias.
Primeiro, com a ajuda das minhas amigas nos bastidores, precisei reportar o
que havia acontecido para eu me meter naquela viagem com Bruce. Achei
que os ataques parariam e que eu seria entendida, mas só fez piorar.
Fui acusada de muitas coisas, mas principalmente, de apática por não
ter me importado com os sentimentos de Bruce e não o ter alertado quanto
antes sobre o que estava acontecendo.
E por falar em Bruce, o cara simplesmente resolveu sumir do mapa.
Ele também deu uns pronunciamentos, mas foi vago e breve, não parece ter
alimentado muito a curiosidade dos fofoqueiros de plantão porque ele é
muito requisitado ainda para uma explicação melhor. De qualquer forma, ele
age com abnegação e acontece que não só os curiosos ficam na mão, mas eu
também.
— E por que eu apareceria? — pergunto incrédula.
— O site tem muitas parcerias com hotéis que estarão presentes no
evento, Tasha. — Erin explica de um jeito efusivo; acho que nem ela está
mais aguentando o fato de eu estar nas nuvens nos últimos dias. — É
esperado que a equipe por trás do 14 Dias Casados vá prestigiá-los, e
depois, atualizarmos as informações aos clientes sobre as novidades que
virão por aí.
— E eu preciso mesmo ir? Temos você para isso, é a nossa porta-
voz.
Erin abre a boca para falar, mas é Ryan que se mete.
— Você precisa ir por vários fatores óbvios, queridinha — Ryan diz
mordiscando a cabeça da caneta fazendo o seu anel de casado reluzir.
Ele veio morar em Vancouver depois que se casou com o seu marido.
— Uma delas é como você deve aparecer gostosa e mostrar para o
Mackenzie o que ele está perdendo.
— Ah, nem comece — protesto e ele se diverte com a minha falta de
humor.
— A imprensa vai estar louca e com certeza vai perguntar. Será um
ótimo momento para se retratar e ao mesmo tempo, dar um gelo em Bruce —
Erin explica.
— E por que eu faria exatamente isso? — pergunto abismada.
O que eu mais queria é que ele conversasse comigo e me fizesse
acreditar que as coisas estavam bem de novo entre nós.
— Porque se Bruce está agindo como se nada tivesse acontecido,
está na hora de você fazer a mesma coisa — Lili diz.
Erin repuxa a boca em um sorriso triste e completa:
— Está na hora de colher os frutos da árvore que você sacudiu.
Fico olhando atentamente para minha equipe enquanto esperam uma
resposta minha, mas ainda tenho dúvidas.
— Se eu der um gelo em Bruce, as pessoas não iriam perder o
interesse em saber mais sobre o site?
— Acontece que o site ganhou a visibilidade que já deveria. — Lili
explica. — Ele está "na moda", e as pessoas não sabem falar sobre outra
coisa. — Faz aspas com os dedos no ar.
— Pelo menos não ganhou uma imagem ruim como a minha —
comento.
— Bem, isso é relativo. — Erin diz com um sorriso sem graça. —
Ao mesmo tempo que ganhamos novos admiradores e clientes, também
ganhamos opiniões adversárias ao nosso negócio.
— É um risco? — pergunto preocupada.
A última coisa que gostaria de saber é que, por causa de mim e das
minhas ideias mirabolantes, acabei dando o fim do site e emprego de muitos.
Felizmente, Erin dá um sorriso reconfortante e sagaz.
— Fale bem ou fale mal, mas fale. Já ouviu esta frase, Tasha?
Aceno e ela continua:
— Você foi até o Havaí e encontrou em toda essa situação o tesouro
perdido que só vai enriquecer o site.
Ryan interfere:
— É claro, com a taxa que a dona do site em si sofre e sofrerá
gradativamente com isso, que no caso é você.
Arqueio as sobrancelhas em surpresa.
Tudo bem que eu faria tudo por meu trabalho, mas a minha imagem
está começando a se vincular ao site, se as pessoas me odeiam, elas irão ver
o nosso negócio de outra forma. Ninguém sabe separar as coisas de outra
forma hoje em dia, os juízes da internet são muito bons nisso inclusive.
No entanto, parece que a minha equipe já tem tudo planejado. Sei
disso melhor quando Erin levanta e começa a mostrar o gráfico que ela criou
a respeito da nossa imagem comercial.
— As pessoas têm duas fases: a primeira, elas julgam algo que
parece errado, ficam raivosas e expressam isso na internet, a segunda, é que
depois de um pedido de desculpas e uma repaginada no visual, eles
começam a entender que você é uma nova pessoa e não aquilo que a mídia
mostrou no primeiro momento.
— É aí que você entra na convenção. Vai se desculpar em frente às
câmeras e responder o máximo de perguntas que fizerem. — Lili
complementa o plano. — Se Bruce tem se mantido em silêncio até agora,
nada será diferente no dia do evento. Então você fará o mesmo em relação a
ele. As pessoas vão ver que cada um está seguindo a sua vida e deixarão de
atacar você e o site de forma negativa.
Pisco atordoada quando isso parece o que tenho entendido.
— Então não devo procurá-lo?
As duas balançam a cabeça.
— Não. Para o seu bem e do site — Erin diz com uma calma
pungente.
Não sei por que isso me dói, mas dói muito. Quero ignorar essa dor
que me incomoda logo que o pensamento de desistir de Bruce corre pela
minha cabeça. Não é como se eu tivesse esperanças entre nós dois, mas
esperava que mantivéssemos ao menos um relacionamento amigável, e eu
sinceramente não vejo o motivo dele me afastar, mesmo depois de tudo.
Será que ele teria mesmo a capacidade de ignorar tudo o que
sentimos?
Não quero acreditar que de um jeito ou de outro, com o fim das duas
semanas no Havaí, Bruce pensava em se afastar como tem se afastado
gradativamente agora.
— Tasha, isso precisa ser feito ao menos por cinco meses. É o tempo
máximo que as pessoas levam para esquecer das coisas — Erin explica,
sentida pela minha situação.
“Ela sabe que eu gosto dele.”
— A equipe de Bruce deve estar o aconselhando a fazer a mesma
coisa, sabia? CEO's odeiam ter que ver suas vidas íntimas associadas a
imagem de sua empresa, ainda mais quando ela envolve outras pessoas de
peso por trás. E a Mackenzie tem Mathew e Christopher, além de Thomas, o
patriarca da família.
Ela consegue me deixar pensativa. Por muito tempo pensei que isso
ficaria tão feio por parecer insensível demais e ambicioso, mas agora parece
que Bruce e eu temos questões em comum a tratar, nosso trabalho.
E eu não estava errada quando pensei que ele faria qualquer coisa
pela empresa assim como eu fiz, mas agora ele está mais focado e parece
finalmente com os pés no chão.
Precisamos arrumar a bagunça que fizemos.
Quando estou prestes a dar a minha resposta para isso, duas batidas
leves na porta me atrapalham e ela abre. Pela fresta, a secretária coloca a
cabeça e pede desculpas pelo incômodo, mas volta a sua atenção para mim:
— Senhorita Alexander, você tem visitas.
Viro para ela com cenho franzido.
— Não fiquei de receber visitas hoje. De quem se trata?
A mulher faz uma carinha de cachorro sem dono. Deve estar
preocupada em como irei reagir a sua resposta.
— Ela não quis falar, disse que deveria ser uma surpresa — diz e
ressalta logo em seguida: — Mas ela parece muito com a senhorita.
Arregalo os olhos na hora.
“Não, ela não teria a coragem de vir até o meu trabalho!”
— Ok, já estou indo. — Levanto e a secretária fecha a porta. Olho
para a minha equipe e forço um sorriso. — Obrigada por terem
comparecido, prometo que em breve darei uma resposta.
Antes de eu sair, Lili e Erin me barram. Elas estão com uma cara
fechada e de poucos amigos.
“Elas conhecem toda a minha história e sabem de quem se trata.”
— Podemos ir com você. — Lili diz. — Faz um mês que comecei as
aulas de boxe, mas já tenho um soco bem preciso.
Olho para os dedos dela assustada, vendo em sua expressão que
poderia ser capaz de machucar alguém para me manter protegida.
— Tá tudo bem. Dessa aí eu sei exatamente como cuidar — digo em
um tom entediado.
— Eu sempre quis pular no pescoço dela — Erin confessa e não me
surpreendo pelo seu jeitinho agressivo.
Mas sei que ela nunca faria algo do tipo.
— Não terá problema, meninas. Mas juro que qualquer coisa eu
grito.
Elas não parecem muito confiantes disso, mas deixam rolar.
— Vamos ficar por perto — Lili diz.
Aceno para elas e me despeço da equipe.
Pela primeira vez no dia me sinto com energia, mas ao mesmo tempo
cansada em ter que lidar mais uma vez com a minha irmã possessiva que não
sabe o significado da palavra limites.
E para Charissa ter que vir até o meu local de trabalho, é porque ela
não me atormentou o suficiente ainda.
A encontro no meu escritório, de frente para a enorme janela que dá
para a Robson Street, mas não é para o moderno centro comercial que
Charissa está olhando. Logo abaixo da ampla tela de vidro, há uma longa
mesa de canto, com alguns livros e quadros espalhados em sua extensão. A
observo olhando cada um, quando um riso sôfrego escapa os pulmões.
— Nenhum quadro da sua família — comenta dispensando
formalidades.
Olho automaticamente para a foto do nosso pai no centro da mesa.
Embora eu saiba que ela esteja falando da ausência de uma foto dela e da
nossa mãe.
— Tenho uma foto do pai bem ali. — Mesmo que ela esteja de costas
para mim, aponto para a foto dele, uma que tiramos no Dia dos Pais e ele
estava fazendo o que mais gostava de fazer, pescar.
Charissa solta um som de desprezo e fecho a porta atrás de mim,
sabendo que Erin e Lili estão há duas mesas perto do cômodo.
— Ele nos abandonou quando ainda éramos adolescentes.
Fecho os olhos pacientemente, sabendo que isso é algo que a nossa
mãe implementou na cabeça de Charissa ainda nova. No passado, ouvir isso
me deixava muito mal, agora consigo conter melhor a fúria que me
transpassa ao ouvir tal alucinação.
— Papai foi morto durante o trabalho dele, Charissa — refuto, e nem
sei por que ainda me dou o trabalho de relembrar. — Você sabe disso. E
nunca entendi por que começou a acreditar no contrário.
A faço virar bruscamente na minha direção. Mágoa e raiva iluminam
seus olhos tão parecidos com os meus; verdes e expressivos.
— Era uma profissão perigosa! — exclama duramente. — Mamãe e
eu o alertamos diversas vezes que corríamos o risco de ficar sem ele. —
Quando ela dá um sorriso irônico, sei o que vem em seguida com a sua voz
de desprezo: — Mas ele preferiu ser o herói que você sempre quis que ele
fosse. Fazer você acreditar que outras vidas eram mais importantes que a
dele mesmo.
Engulo farpas, mas não perco a voz.
— Papai era um sonhador. Ser policial sempre foi o sonho dele, e ele
acreditava sim que valia a pena se arriscar por outras pessoas.
— Bem, se você o apoiava por isso, está feliz por ele estar morto
agora? — diz com desprezo e um arrepio frio percorre minha espinha.
— Você sempre vai usar isso contra mim porque não tem mais nada o
que jogar na minha cara, não é?
Ela dá um sorriso sagaz com aquele seu bocão preenchido de batom
vermelho. Só então percebo que fiz uma pergunta besta quando ela rebate:
— Na verdade, Natasha, apareci aqui para te fazer uma pergunta. —
Dá dois passos em seu sapato de salto alto, os ombros bem aprumados e me
olha como se eu fosse um inseto: — Quem é a golpista agora?
— Você — friso com vontade e ela mostra os dentes branquinhos e
alinhados.
— Tão ressentida. Vamos lá, confesse que encontrou de novo a
galinha dos ovos de ouro e aproveitou a oportunidade.
Cruzo os braços diante dela.
Posso ser a mais nova e um pouco mais baixa; não tenho a mesma
crueldade dela, mas não tenho medo de Charissa e posso ser tão víbora
quanto ela.
— Eu não sou você, Charissa — cuspo as palavras. — Não queira
me diminuir diante de uma situação que você e a Madison criaram para cima
de mim.
— Ah, Natasha, o mundo é dos espertos. Não colocamos você nessa
situação, você se colocou. A tadinha da Madison tem sido bem recepcionada
pelas pessoas enquanto você aí, sendo bombardeada.
— Eu, mas o meu site, não — digo com um sorriso vitorioso
estampado no rosto.
Ela me olha incrédula enquanto ando até a minha mesa de vidro
ostentando um iMac e sento na minha cadeira de escritório.
— Você achou mesmo que não nos colocaria nos holofotes com todo
o barraco que armaram?
Vejo uma onda de inveja contorcer seus lábios em desgosto e sorrio
com isso.
— Que bom para você, conseguindo sucesso usando outras pessoas
para isso.
— Desde o início não foi a minha intenção usar Bruce e Madison.
Teríamos feito de outro jeito se vocês duas não tivessem organizado todo
esse escândalo. Mas, é como você lida com a situação, não é? Usa outras
pessoas e passa por cima delas. Foi o que você fez comigo — disparo
ficando sem fôlego no final, mas pronta para outra partida.
Seu sorriso cruel volta a se abrir, doloroso, mas satisfatório.
— Você nunca vai esquecer aquilo, não é? Me julga por conta do que
ficou para trás.
Fico séria, espalmo as minhas mãos sobre a mesa e me inclino para a
frente.
— Julgo porque você me atingiu onde mais doía. Eu te amava,
Charissa — digo com a voz afetada quando as lembranças do passado me
atingem. — Sempre acreditei que você nunca seguiria os passos da nossa
mãe, mas me enganei feio.
— Eu não sou ela. Sou algo melhor, não vivo frustrada e não tive e
nunca terei uma filha tão decepcionante.
— Fala de você? Porque olhe para mim. Levei muita porrada na
vida, mas não acho que esteja na minha pior fase.
Minhas palavras são piores que facas de dois gumes, mas Charissa
não me dá escolha. Se ela me ataca, eu preciso atacar duas vezes pior. Já não
sou a mesma garotinha que ela conheceu anos atrás quando me traiu, me
magoou e marcou uma guerra entre nós duas.
Mas não sei o que aconteceu. Pois mesmo depois de ter conquistado
aparentemente o que mais me fazia feliz, ela continua insatisfeita. Estreito os
olhos para ela quando uma dúvida cruel me inquieta:
— Todos esses esforços... Você causando esses nossos reencontros
indesejáveis depois de anos... — Suavizo a voz: — O que foi, Charissa?
Perseus está falindo?
Isso não a deixa contente, por isso a minha "amável" irmã pula na
minha mesa e bate uma mão sobre o vidro que estremece. Ela mostra seus
dentes como um animal que foi atormentado em seu ninho. Por um momento,
espero a sua língua serpentear para fora antes dela dar o bote.
— VOCÊ NÃO É DIGNA DESTA VIDA. DEVERIA VIVER DE UM
JEITO POBRE COMO SEMPRE GOSTOU. VOCÊ DIZ QUE EU ROUBEI
ALGO QUE ERA PRECIOSO PARA VOCÊ, MAS VOCÊ ROUBOU A
VIDA DOS MEUS SONHOS!
Eu já podia ver Erin e Lili correndo para o meu escritório e pulando
em cima de Charissa, mas nada acontece.
Fico imóvel, mas impenetrável diante das suas acusações. Ao menos
é o que eu quero mostrar a ela, pois por dentro estou enjoada e tonta com a
inveja escancarada de Charissa. Ela sempre foi perfeita, a preferida da
nossa mãe e agora me fala essas coisas. É até difícil de acreditar.
Pisco e ergo o queixo diante dela.
— Eu não roubei nada. Eu trabalhei duro. Coisa que você deveria
aprender a fazer — pronuncio com calma e elegância.
A porta atrás de Charissa é aberta abruptamente revelando Lili e Erin
afoitas, exalando ira.
— Algum problema por aqui? — A voz potente e intimidadora de
Lili preenche o ambiente.
Embora o silêncio, havia uma guerra entre olhares de irmãs que
sofrem com uma relação abalada.
— Não, Lili. Inclusive, a minha irmã já está de saída — digo sem
desviar o olhar.
A princípio, tenho a impressão de que Charissa nunca terminará
aquele contato visual porque ela nunca gosta de perder ou arredar o pé. No
entanto, parece que enfrentá-la só dá o gás que ela espera para continuar a
sua jornada.
— Eu trabalho duro, irmãzinha. Só que do meu jeito — diz baixinho
para mim, quase como uma ameaça.
Normalmente, isso não significaria muita coisa, mas Charissa
trabalhou de fato muito duro quando me roubou Perseus e através dele
conseguiu manter a vida de luxo que sempre sonhou.
Afinal de contas, foi um choque para ela e a nossa mãe quando
descobriram que Perseus era herdeiro de uma fortuna avaliada em milhões;
foi impossível de acreditar que aquela garotinha com jeito de moleca
conseguiu seu príncipe encantado, que estava mais para um príncipe de um
desastre de fadas. Foi quando elas formaram um complô contra mim, minha
própria mãe incentivou minha irmã a seduzir meu noivo porque ela o
merecia mais do que eu. Perseus foi fraco com a carne, além de ter
demonstrado que não me amava. Sofri por muito tempo com aquela traição,
mas tirei o melhor disso.
E agora, pelo visto, a mulher ambiciosa o levou à falência. E não sei
o que Charissa quer me perseguindo desta maneira. Se ela me pedisse um
emprego na empresa, seria mais fácil.
Mas por que eu acho que ela ainda envolverá Bruce mais a fundo
nisso?
Conheço a minha irmã e ela não o procuraria à toa também.
E é somente quando Charissa sai, que, aquele enjoo que sentia
esmagando minhas entranhas, fazendo tudo parecer ruim, sobe trazendo de
volta as coisas que tinha no estômago. Viro o mais rápido que consigo e
vomito dentro da lixeira. Ouço Erin fazendo um barulho de nojo enquanto as
mãos de Lili massageiam as minhas costas.
Vomito muito para a minha surpresa, mas assim que termino, Erin tem
o prazer em comentar:
— Eu entendo. Também tenho vontade de vomitar até as tripas
quando vejo essa Diaba. Tome. — Passa a caixinha de lencinhos que tenho
ali.
— Obrigada. — Pego um e limpo minha boca.
— O que ela queria? Ouvimos o grito da doida lá de fora — Erin diz
mostrando toda a sua aversão com Charissa.
— Me provocar, mas não sei, isso não é normal. Tem alguma coisa
que ainda não estou entendendo — digo atordoada me apoiando no encosto
da cadeira.
— Você disse que ela e Madison são amigas — Lili ressalta ficando
à frente da minha mesa ao lado de Erin. — Já sabemos que a Madison está
adorando tudo isso porque além de estar se saindo como vítima, está
ganhando mídia. Mas e a Charissa?
— Não sei, Lili, de verdade. Mas acho que ela e o marido estão indo
à falência — comento.
O casamento deles foi a coisa mais escandalosa que Vancouver
poderia apreciar. Custou tão caro que foi um dos casamentos mais ostentado
naquele ano. A lua de mel foi em Mikonos, na Grécia.
O casamento que eu planejava ao lado de Perseus não chegava nem
na metade do que foi gasto. Às vezes fico me perguntando se ele se
arrepende de ter feito essa besteira, mas como nunca pediu desculpa ou me
procurou, duvido muito.
— Bom, então diga a ela que não estamos com vagas abertas. Nem
para terceirizados! — Erin exclama.
Dou um sorriso xoxo para ela.
— Vamos colocar esse aviso na nossa porta — digo e elas riram.
Mas Lili logo fica séria e trata de assuntos mais importantes:
— E então, você tomou a sua decisão?
Eu sabia sobre o que ela queria saber. Isso no momento era mais
importante do que qualquer outra coisa, pois o evento é daqui uma semana.
Mas depois dessa visita horripilante da minha irmã, tenho uma
resposta para isso.
••••
Estou dentro de um vestido longo e preto bem acetinado, com uma
pequena faixa brilhante na cintura e de uma alça só no ombro direito. Coloco
as minhas melhores joias e faço um coque para que elas ficassem bem
visíveis esta noite. Em outras palavras, para que todos vissem o quão bem-
sucedida eu sou e não preciso dar golpe nenhum em homem rico.
Juro que mais cedo quase pensei em desistir da ideia.
Nos últimos dias não venho me sentindo bem, é muita carga de
estresse, tanto que as meninas até me pouparam de toda correria do trabalho.
Mas eu me empenhava mesmo estando a maior parte do tempo em casa.
Com muita insistência de Erin e Ryan, consegui relaxar e me achar
preparada para o evento. Me preparei por uma semana para esta noite, então
não tem como errar.
Erin contratou uma limusine, então chegaríamos com tudo no evento.
Quando o carro já está lá embaixo me esperando, Erin me avisa e preciso
sair às pressas, mas antes passo no apartamento de Lili e toco sua
campainha. Somos vizinhas então nesses passeios em grupo quase nunca vou
sozinha.
A minha CEO do setor financeiro aparece deslumbrante em um
vestido verde com camadas suaves. O seu cabelo está cheio de tranças e
amarrado no topo da cabeça em um rabo de cavalo poderoso. Lili é
um mulherão, ela sempre parece estar pronta para qualquer coisa, e nada
parece a abalar.
— Uau! — Babo nela. — Humilha menos, Lili.
Ela revira os olhos e fecha a porta do seu apartamento.
— Menos, Tasha. Bem menos, tá? — diz a mulher que é linda, mas
não acredita quando a melhor amiga diz isso.
Assim como eu, Lili tem um sério problema em se declarar linda e
gostosa. Às vezes a gente até sabe disso, mas não gostamos de declarar em
voz alta ou não acreditamos quando alguém reconhece.
Pegamos o elevador e descemos. Lili e eu atraímos olhares por onde
passamos. Mas quando chegamos na limusine e o motorista abre a porta,
ficamos babando também por uma Erin em um vestido vermelho com
detalhes em dourado que a faz ser mais temida do que o seu sarcasmo.
— Algo me diz que vamos abalar as estruturas do Mackenzie
Enterprises — declara animada.
O caminho para o prédio dos Mackenzie não é tão longo, porém,
Vancouver é agitada a noite e precisamos lidar com trânsito às sete horas da
noite. Mas não parece ser um problema quando minhas amigas e eu ficamos
rindo e conversando todo o trajeto.
Amo como elas me fazem esquecer o nervosismo e o incomodo
constante.
É só chegar mais perto do arranha-céu dos Mackenzie, que meu
coração acelera e começo a suar mais do que o normal. Queria ter controle
da situação, mas mesmo tendo planejado tudo, não sei como irei me sair e
como as coisas vão correr durante a noite.
O motorista estaciona a limusine na frente do prédio e mesmo dentro
do carro protegido por janelas escuras, a onda de flashes me dão náuseas.
— Tudo bem, Tasha? — Erin pergunta com cuidado.
Balanço a cabeça e olho para as minhas cúmplices.
— Responder às perguntas da imprensa e deixar nítido que Bruce e
eu não temos nada. — Traço o plano antes de sair da limusine.
— Evitá-lo o máximo possível lá dentro, só para ter mais veracidade
nas suas palavras — Lili lembra.
Respiro fundo.
— Ok, eu consigo.
“Eu vou tentar resistir a Bruce. Vou tentar não me atirar em seus
braços e sentir seu cheiro e seu toque mais uma vez.”
Preciso lembrar que vivi por muito tempo sem isso, então consigo me
conter mais um pouco. Mas só é ruim quando as tentações têm nome e
endereço.
— Vamos! — Soo a mais confiante que consigo e dou uma
empurradinha na porta para o motorista saber que ele já pode abri-la.
No instante que coloco meu pé para fora e saio da limusine, meu
nome explode em vozes aleatórias e uma chuva de flashes me cegam à
medida que vou avançando no tapete vermelho que mostra o caminho para
dentro do prédio.
Preciso colocar a mão na frente do rosto e de algum lugar surge um
segurança com quase dois metros de altura para me proteger até eu estar
segura dentro do prédio. E quando as vozes ficam distantes e não sinto mais
as luzes explodirem em cima de mim, dou um suspiro aliviada. Sei que esses
são os meus 15 minutos de fama, mas não esperava mesmo que fosse algo tão
intenso. Já posso me sentir uma celebridade.
Logo atrás vem Erin e Lili. Sendo Erin a acenar para os fotógrafos e
vir sorrindo mesmo depois daquilo parecer um ataque. Ela ama aparecer,
não é à toa que é ótima no ramo de marketing pessoal, onde usa sua imagem
para promover o trabalho.
— Olhe só para nós, parecemos as três espiãs demais — comenta e
Lili ri.
— Vê se você não banca a Cameron Diaz e não tenta chamar muita
atenção — aconselha Lili. — Temos que ser profissionais hoje.
— Querida, não respondo por mim depois do meu segundo drink.
— Bom, então nem comece o primeiro.
Enquanto as duas discutem, fico observando o bom gosto
arquitetônico e decorativo do interior da construção Mackenzie. É tudo
muito moderno e sofisticado, puxado para um ambiente mais clean e
aconchegante, dando a entender que há famílias ali pagando uma fortuna para
morar naquele arranha-céu. No entanto, este modelo é o mesmo dos vários
outros que há espalhado pelo país, e em outros países também como Estados
Unidos e no Reino Unido.
Avançamos em direção a festa conforme o tapete vermelho vai nos
guiando. Assim que chegamos ao salão onde acontecerá a festa, precisamos
dizer nossos nomes para poder passar. Me pergunto se Bruce sabia que meu
nome estaria na lista, mas duvido muito, pois não fui barrada.
Entramos no evento e a primeira coisa que percebo é a quantidade
absurda de ternos. Há tantos homens aqui que nem sei se conseguirei ver
Bruce no meio da multidão. Mas há setores para cada empresa, e cada uma
se destaca de um jeito diferente para chamar atenção com os seus projetos. E
é claro que de um jeito mais exclusivo, o stand da Mackenzie Enterprises
segue no foco do evento, com a sua enorme maquete do que parece ser um
novo modelo de arranha-céu.
Mas nem dá tempo de eu ir prestigiar os parceiros do site, sou
surpreendida por uma leva de repórteres e suas equipes apontando câmera e
microfones em minha direção. Olho assustada para as meninas, mas elas
fazem apenas sinal de joinha.
A primeira fase do plano começa agora e mal sei por onde começar.
— Tasha, por que decidiu fingir que era a acompanhante
compatível de Bruce?
— É verdade que você queria fazer da Mackenzie a parceria mais
lucrativa do site?
— Você e Madison se odeiam?
— Está feliz com toda a repercussão que o site ganhou?
— Você está apaixonada por Bruce?
— Vocês ainda se falam?
Eram tantas perguntas que mal sabia por onde começar. Mas priorizei
aquelas que deveriam ser respondidas e que teriam importância na história.
— Não queria que ele recebesse um bolo então, para que ele
tivesse a melhor experiência com o site, fingi ser a acompanhante
compatível dele. Eu admito. Mas nunca quis usá-lo.
“Eu nunca cogitei fazer parceria com a Mackenzie. Nossas marcas
não têm a mesma filosofia ou estilo.”
“Não odeio a Madison e peço perdão pelo transtorno.”
“Bruce e eu nos respeitamos, mas achamos melhor deixar as coisas
do jeito que estão. Seguimos em frente com as nossas vidas.”
Às vezes, parece que as perguntas não irão terminar, mas respondo o
necessário e só consigo sair dali quando Lili me puxa, encerrando a sessão
de entrevista. Mal respondi dez perguntas e já sei que nunca darei para ser
uma celebridade, é cansativo e chato. Até porque a maioria das perguntas
são inconvenientes demais.
Sou parabenizada pelas minhas amigas quando elas acham que fui
bem. Aproveitamos então para prestigiar algumas parcerias e conhecer
outras futuras. Nos distraímos por alguns minutos e conseguimos nos divertir,
parece até que tenho a sensação de dever cumprido.
“Foi mais fácil do que eu pensei”, cogito. Mas aí meus pensamentos
me contradizem.
Eu não esperava e nem estava o procurando, mas foi quase um puxão
quando meus olhos avançaram na direção de Bruce alguns metros, sendo
bajulado por devoradores que não o deixavam em paz. De qualquer forma,
ele estava lá todo sorridente, sociável e lindo com o seu terno; nem parece
que sente as mesmas dores que eu, a mesma saudade e o mesmo desejo em
tê-lo de volta.
Olhar para Bruce agora é perceber que tudo o que vivemos no Havaí
foi real. É sentir uma dor inesperada brotar em meu peito e abrir um buraco
bem no meio dele. Eu sei o que isso é, mas é muito tarde e um momento ruim
perceber que estou apaixonada por Bruce.
Lembro de como ele ficou doido para ouvir isso de mim, mas acho
que agora não acreditaria mais em minhas palavras e é isso o que me dói
mais. A vontade que eu tenho é de sair deste lugar e nunca mais vê-lo, por
vergonha e amor a mim mesma.
Odeio que o único lugar onde na verdade eu gostaria de estar agora,
e não posso, é em seus braços.
Saio do seu campo de visão, pois mesmo com toda esta minha
vontade, seria melhor se ele não me visse, até porque a vida parece estar
melhor e normal sem mim.
BRUCE
Não me arrumava deste jeito desde o jantar de gala no resort

Sunshine, onde tive uma noite incrível com Tasha. É perturbador e

surpreendente ao mesmo tempo como tudo me faz lembrar ela, desde o terno

que estou vestindo ao simples fato de como o Sol se põe, preenchendo o céu

com a tonalidade do cabelo dela.


Faz praticamente duas semanas que não a vejo ou muito menos tenho
notícias dela. Além de que as pessoas ao meu redor tentam ao máximo evitar
falar no que aconteceu; todos sabem que por trás do meu jeito reservado,
existe uma parte sensível que por muito tempo é facilmente quebrável.
Agora, eles devem imaginar como devo estar uma pilha de emoções após
todo o alarde do Havaí.
Tenho uma filha incrível que basta sorrir para mim que encontro paz.
Tenho sobrinhas que alegram o meu dia e meus irmãos são o oposto um do
outro, mas me distraem cada um a seu modo e me fazem não pensar em
Tasha. Mathew ocupa meu dia com nossa rotina exigente de trabalho ou
Chris com seu bom humor e irreverência. Meus pais também agem comigo
como se este episódio não houvesse acontecido.
Percebo o esforço de todos, igualmente como eles se dedicaram ao
máximo para fazer eu ficar bem após a morte da Melissa. A única diferença
agora é que estou bem, posso seguir como se nada tivesse me acontecido,
mas este é o erro, só sou bom em fingir quando tenho coisas em comum com
a situação, e agora no caso, não consigo fingir que não suporto Tasha e não
quero vê-la nem pintada de ouro.
Não é o que eu sinto de verdade.
Tivemos uma reunião na semana passada com os CEO's da empresa,
e durante esses dias enquanto o assunto da Tasha não minimizar, terei
um staff só para mim que irá me ajudar num monte de coisa. Hillary sabe
bem como tomar frente disso, e pelo que entendi, a profissional vai me guiar
para que eu não diga ou faça nada que prejudique a imagem da empresa.
— Precisamos lembrar que você também mentiu para Tasha e
possivelmente para Madison caso ela tivesse ido para o Havaí com você —
Hillary ressalta.
Nunca estive com essa Madison e nem a conheço direito, mas ela já
conseguiu abalar com todas as estruturas do meu mundo de uma forma
negativa.
— Acho que ela quer grana e fama para estar atacando dos dois
lados — Mathew comentou na nossa mesa de reunião, há uma semana.
— Então por que ela faz parecer que a Tasha é a golpista? — Foi a
vez de Christopher perguntar.
Mathew respondeu entediado:
— Porque assim fica mais fácil para ela conseguir aprovação do
público e engajamento.
— Isso faz todo sentido. — Meu irmão mais novo reflete.
Ouvimos um suspiro desdenhoso de Hillary e ela gira na cadeira.
— Vocês têm dedo podre para mulher, viu?
Aquele seu comentário nos fez olhar para ela com ira e surpresa, mas
em mim doeu mais pois Melissa jamais mereceu entrar para esta lista. E
quando ela olhou para mim, acho que viu o que eu senti naquela hora.
— Com exceção de Melissa, claro. Me desculpe, Bruce.
Christopher a fuzilava com os olhos, pois nenhum dos meus irmãos
gostavam dela, mas Chris era o mais expressivo quanto a isso. E toda vez
que alguém tocava no assunto dos seus dois casamentos, ele se transformava.
Deve doer o fato de ter se entregado tanto por uma mentira.
Sei bem como ele se sente.
No mais, foi decidido que eu deveria esquecer Tasha. As pessoas
não sabem separar as coisas então, se a minha imagem vai de mal a pior, a
da empresa também vai. Mas é incrível e injusto como a minha não está tão
deteriorada pelo fato de eu já ter perdido uma mulher antes. Posso ter
mentido também, mas eles usam várias desculpas para não me condenar tanto
quanto ela e ao ver por essa lente, parece que a internet prefere atacar a
mulher ao invés do homem.
Mas é só o mundo sendo machista, como sempre.
Felizmente, consegui me manter muito ocupado com os preparativos
para o evento. Temos uma equipe só para isso, mas como queria me distrair,
ajudei ao máximo no que consegui. A lista de convidados, por exemplo,
contém nomes e marcas, e encontrei o nome do site 14 Dias Casados no
meio. Não foi algo proposital, por isso não posso culpar ninguém, essa lista
foi feita há um mês, e há muitas redes hoteleiras que fazem parceria com o
site, mas é difícil saber se ela estará lá. Por isso fico mais nervoso do que
eu esperava para esta noite.
Todo ano fazemos este evento e tanto meus irmãos como eu tomamos
a liderança da noite, sendo os anfitriões mais esperados. Só que dessa vez é
diferente porque há uma pessoa muito específica que eu gostaria muito de
ver, mas não posso. Haverá muitas câmeras e olhares apontados para
qualquer movimento que faremos, e, como a meu staff aconselhou, essa
história não pode ser prolongada, porque precisamos desassociar a minha
vida pessoal da marca da Mackenzie Enterprises, que não tem nada a ver
com a minha vida amorosa.
Deixo Julie com Rachel e as trigêmeas e então desço para o evento.
Assim que saio do elevador, já encontro rostos conhecidos e outros
não, mas eles sempre me sorriem, pois sabem quem eu sou. Começo a
cumprimentar uns e outros. Paro para as entrevistas e driblo as que são
referentes a Tasha, Madison e o site 14 Dias Casados, o que no caso são as
maiorias. No entanto, uma delas me chamam atenção:
— Senhor Mackenzie, você sabia que Tasha Alexander se encontra
no seu evento? — uma repórter pergunta.
Continuo sorrindo e mantenho a postura, finjo ignorar aquela
pergunta e que ela principalmente não me afetou.
Mas, porra, “A Tasha está aqui!”
Fico animado, mas muito preocupado com o que isso pode resultar.
Então por causa desta informação, começo a procurar desesperadamente por
fios de cabelo ruivo que me chamassem atenção.
Quando fujo das entrevistas, procuro outros amigos de trabalho,
concorrência, para distrair a mente, mas sempre me pego procurando,
suspeito demais para alguém descobrir o que tanto me inquieta. E por um
momento me questiono o que estou fazendo, se tentando encontrá-la ou
fugindo dela.
Depois de um tempo, encontro cabelo vermelho e olhos verdes, um
rosto familiar; mas não o rosto familiar que eu tanto queria ver. Primeiro, me
questiono como Charissa veio parar aqui, não lembro de tê-la convidado. E
segundo, quando percebi que ela está de mãos dadas com Perseus, a coisa
toda começa a fazer sentido.
“Maldito mundo pequeno!”
Charissa é mulher de Perseus, herdeiro de várias propriedades na
Europa e que vem negociando nos últimos meses conosco um imóvel no
interior da França equivalente a três campos de futebol.
Os dois sorriem para mim, mas me esforço para ignorar a presença
dela. Infelizmente não posso fingir que não os vi, pois eles já vêm em minha
direção, como se já estivessem à minha procura.
— Senhor Mackenzie! — Ele aperta a minha mão em um
cumprimento. — É uma honra conhecê-lo pessoalmente. A noite está
deslumbrante.
— Obrigado, Perseus. Imagino que tenha vindo até o evento para
encontrar o dono perfeito do imóvel na França. — Soo um pouco indelicado,
mas o quanto mais evitar Charissa, melhor.
— Com todo respeito, mas o dono perfeito já está bem à minha
frente. — Alarga o sorriso persuasivo e dou um fraco, a tempo de mostrar
que não estou tão interessado assim.
— Mathew e Christopher devem ter uma opinião melhor sobre isso.
— Possivelmente, mas adoraria ter a sua também — insiste. — Ah,
esta é a minha esposa, Charissa. Mas aposto que já a conhece devido aos
últimos acontecimentos.
Olho dele para ela, tentando compreender o que isso deveria
significar. Mas Charissa também é rápida e logo estende a sua mão para um
cumprimento; não posso nem recuar porque senão outras pessoas virão isso,
e serei retratado como um mal-educado e esnobe.
— É bom revê-lo em uma situação mais leve, senhor Mackenzie —
diz exibindo um sorriso tímido. — Sinto muito pelo que a minha irmã fez.
— Eu sinto muito mais — digo, embora não devesse dizer nada de
acordo como fui orientado pelo staff.
— Sabe, a minha irmã sempre foi muito competitiva, o tipo de
pessoa que faria de tudo para ser a melhor. Não me surpreende que ela tenha
o usado para alavancar na mídia com o site.
— Meu bem... — Perseus pragueja sem jeito ao perceber a
indelicadeza da mulher.
— Perdão! — Ela rapidamente tenta se retratar. — É que... Nossa...
Minha mãe e eu não aguentamos lidar com o tipo de pessoa ambiciosa que
Tasha se tornou.
Estreito os olhos para ela e recordo da forma como Tasha a olhou
naquela noite em que surgiu e entregou a própria irmã. Fiquei grato, mas ao
mesmo tempo muito aborrecido por ela ser tão ruim com a irmã mais nova.
De qualquer forma, lembro de uma história que Tasha me contou, a
mãe delas nunca foi boa com Tasha, porque a única ambiciosa além da mãe
oportunista, era a filha mais velha. Então ressalto algo que nunca me fez
sentido:
— Sabe, a sua irmã nunca me contou o que fez vocês duas ficarem
tão distantes — digo calmamente enquanto analiso os seus traços tão
parecidos com os de Tasha, mas mais maduro e impenetrável.
Mas a mulher parece ficar surpresa.
— Ah, só seguimos destinos diferentes.
— Com certeza Tasha não seguiu o caminho ganancioso que a mãe de
vocês julgava ser certo.
Meu comentário parece deixá-la sem palavras. Tasha me contou
pouca coisa sobre o seu passado, mas com certeza o que me disse já era o
suficiente para eu descobrir quem era a negligenciada e não compreendida
nesse drama familiar que não sei por qual motivo, estava me metendo.
É por isso que Charissa alarga um sorriso sagaz.
— Você a defende tanto. Está apaixonado?
“Sim, estou louco pela Tasha. Morrendo de saudade dela e na
minha cabeça, nada disso que ela fala faz sentido, pois não era a mulher
que eu conheci no Havaí.”
Pisco e dou um sorriso doloroso. É ruim não poder dizer a verdade a
ninguém, por enquanto.
— Aproveitem a festa. — É tudo o que eu digo antes de dar as costas
para eles e seguir um outro rumo.
Mas juro que ouvi um, "Viu? Você o assustou!", e tenho certeza que
se tratava de Perseus corrigindo a esposa e o seu jeito impulsivo de ser.
Sigo para a festa e agora sabendo que Charissa está aqui, duvido
muito que Tasha continue no evento. Depois do que aconteceu no Havaí, a
inimizade pela irmã deve ter só aumentado e ainda não sei o que esperar das
irmãs Alexander.
A minha única certeza no momento, é que preciso fazer o nosso
projeto alavancar e brilhar os olhos da imprensa e concorrência. Tenho que
conversar com o maior número possível de agentes do ramo imobiliário,
para que eles tenham interesse em divulgar os novos planos que temos para a
Mackenzie Enterprises.
Devo admitir que temos ignorado as propostas de Perseus, no
entanto, querer ampliar as nossas franquias para a Europa sempre foi um
desejo meu e dos meus irmãos.
Mas no interior da França?
Talvez fosse uma situação perfeita para criarmos o nosso primeiro
resort com campos de golfe, este sempre foi o desejo do nosso pai, mas não
sei.
É arriscado e talvez a gente comece mesmo a pensar melhor na
oferta.
Mas não hoje.
Um tempo depois, preciso subir ao tablado criado para exibir sobre
uma mesa e dentro de uma cúpula de vidro, o nosso mais novo projeto para
os arranha-céus da Mackenzie. No momento em que subimos ao palco, ouço
apenas uma ovacionada seguida de aplausos calorosos que preenchem todo
salão.
Olho para alguns rostos no front, mas logo volto a minha atenção
para os meus irmãos que estão bastante animados para aquela apresentação.
Mathew começa com os cumprimentos, agradece a presença de todos
e dá uma introdução sobre o que o evento deste ano representa para nós.
Fico no meu canto, odeio muita exposição e falar em público, entretanto, não
a ponto de me incomodar e me manter distante; mas se der para evitar, evito.
Meus irmãos ficam um bom tempo explicando o novo projeto do
nosso empreendimento, que consiste em um arranha-céu pensado para os
jovens, com piscinas amplas e áreas para festas, o que aumentaria o
interesse de aluguel para eventos. É um show arquitetônico e de uma visão
tanto promissora pensada nos jovens que tanto vem para Vancouver.
— Esperamos que seja uma noite para mover futuros negócios
promissores, e fazer novas amizades — Mathew complementa e sorri com
aquele seu jeito galanteador, apesar de ser sério na maior parte do tempo,
ele consegue arrancar suspiros e todo o alvoroço dos convidados que
aplaudem cada frase que ele diz.
Com um gesto, ele faz a banda voltar a tocar um jazz dançante e
divertido, ao mesmo tempo que o público se dispersa como formigas
amontoadas. Mas em um campo quase escuro do salão, uma silhueta parada e
feminina me chama atenção. Desta vez não tem como errar, é Tasha. E ela
parece paralisada demais ao cruzar seu olhar com o meu ao perceber que eu
a vi ali, mesmo no fundo e na penumbra.
Sou varrido por calafrios dos pés à cabeça, fazendo meu coração
bater de um jeito errado e as mãos tremerem.
Droga, ela me deixa tão fora de mim de um jeito deliciosamente
caótico!
A minha vontade é de voar até ela sem perdê-la de vista, mas tudo o
que faço é piscar e tentar não ser flagrado.
Desço do palco certo de que me manteria afastado dela, mas tudo o
que tenho na cabeça é a imagem dela parada igual a uma obra de arte,
deslumbrante e extremamente chamativa. Mesmo que eu não a encontrasse
ali, alguém a encontraria por mim; afinal de contas, eventos como este é
cheio de homens solteiros atrás de alguém capaz de aceitar um anel.
Tasha nunca me pareceu desesperada, mas me bate um medo dela
encontrar em outra pessoa um bom motivo para me esquecer.
Devo não mostrar que me importo, mas me importo para caralho e
isso me destrói.
Quando percebo, já estou fazendo o caminho que me leva até ela e
agradeço a Deus por ela não estar mais lá, porém, dói. Tasha está fugindo de
mim e com razão. Deve ter no mínimo recebido orientações semelhantes às
minhas, afinal de contas, precisamos fazer com que nossas marcas fiquem na
mídia, mas de uma forma positiva.
Passo os dedos na minha barba por fazer e aceito que talvez seja
melhor assim. Mas quando viro, a encontro de novo, parada diante de uma
luz pálida no fundo do salão e vejo apenas a sua silhueta se afastando para
longe. Me pergunto se estou tendo alucinações, mas ainda não coloquei uma
gota de álcool na boca. Ainda assim, decido seguir o rastro que ela deixa
com seu perfume que tanto senti saudade nos últimos dias.
O caminho que ela pega leva para os fundos da festa, passando por
um longo corredor solitário, exceto pelos funcionários que transitam por ali
apressadamente vez ou outra, sem perceber a minha presença. Nada de
convidados e imprensa, só Tasha e eu quando ela me convida para um lugar
misterioso, mas logo o espaço externo amplo e ventilado mostra que ela me
trouxe para um ambiente mais privado, longe de toda aquela agitação.
Pisco desorientado porque foi como em um piscar de olhos, antes eu
estava lá dentro me recusando a interagir com Tasha, mas agora estou aqui
diante dela, completamente imóvel. Parece um sonho, e parece que não
conseguirei ficar longe dela por muito tempo.
Vê-la aqui me traz uma sensação de alívio inexplicável, mas não
consigo ficar feliz quando nenhum sorriso curva seus lábios gostosos. Na
verdade, Tasha está séria demais...
Um tanto preocupada, eu diria.
Mas é ela quem toma iniciativa na conversa.
— Você não deveria estar aqui — alerta com uma voz dolorosa.
Percebo que seu corpo está tenso e que ela emagreceu, o que me
preocupa.
Tentei afastar o pensamento de que Tasha pudesse estar sofrendo, eu
mal conseguia imaginá-la chorando pelo que aconteceu. Mas ao vê-la agora,
me sinto culpado por ver seu estado; nem mesmo a maquiagem consegue
disfarçar o círculo roxo e fundo que se formou ao redor dos olhos.
Pigarreio para que a minha voz não vacile o suficiente.
— Acho que nós não deveríamos estar aqui. — Enfio as mãos no
bolso, ora tremendo pelo vento noturno e ora tremendo pela presença dela.
— Mas aqui estamos — analisa o óbvio, mas é nítido o nervosismo.
— Ainda assim, acho que você não sumiu só porque o aconselharam a isso.
Ainda está chateado comigo, não é?
Pisco rapidamente, não sabendo o que fazer de imediato. Mas as
mentiras nos fizeram nos afastar, então espero que agora a honestidade nos
marque um tipo de tratado de paz entre nós dois.
— Estou chateado porque não sei o que fazer, e mesmo que eu
soubesse, não poderia fazer o que eu quero — desabafo.
— Isso parece horrível.
— E é. Alguma coisa dentro de mim não aceita o fim que tivemos, e
isso me impede de conseguir perdoar você.
Ela engole em seco.
— Poderíamos simplesmente esquecer tudo e começar do zero.
Balanço a cabeça em negação.
Imagino que Tasha tenha escolhido vir até aqui para uma revanche,
uma barganha que deixaríamos para trás as mágoas plantadas um pelo outro.
No entanto, tenho regado este sentimento e já não sei se é hora de podar.
Então afirmo isso.
— Não posso. Já fiz isso muitas vezes, Tasha. Eu perdi uma vez o
amor da minha vida e recomecei. Mas recomeços para mim sempre foram
dolorosos de certa forma, porque eu sempre tinha que deixar alguma coisa
para trás — confesso uma parte minha que não gosto de mostrar a mais
ninguém. — Se eu for recomeçar de novo, terei de deixar algo para trás.
— Entendo. — Balança a cabeça com veemência e dá um sorriso
forçado e triste. — Então eu acho que isso é uma despedida de verdade
agora, não é?
A pergunta parte o meu coração.
Não poderia esperar que ela pulasse em meus braços durante este
encontro improvisado.
— Eu não queria que você sumisse — digo o que acho, e isso a faz
rir de um jeito lunático, mas contido.
Tasha se aproxima de mim em passos lentos e predatórios. Não
recuo, e acho que também não respiro direito.
— Eu vou sumir. Porque tudo aquilo que já gostei profundamente,
tomou algo de mim, e depois me pediu para que eu ficasse como se nada
tivesse acontecido.
Quando ela está perto de mim, vejo seus olhos verdes brilharem
intensamente.
— Você tomou o meu coração, Bruce. E agora não pode pedir para
eu não sumir só porque não quer se machucar mais do que já está. Acha que
eu não estou machucada também? — pergunta, mas não me dá tempo de
responder. — Levar um fora de você e ficar, é tortura que eu faria comigo
mesma.
Acho que perco o fôlego quando Tasha diz que tenho o seu coração.
Isso é um tipo de declaração com despedida, o pior tipo de combo que pode
existir.
— Tasha...
— É nítido qual são os nossos deveres. Mas isso não irá durar muito
tempo, Bruce. Depois podemos ver como ficaremos, mas se você não quiser
recomeçar, por que eu ficaria?
Engulo as palavras que parecem arrogantes demais, mas elas
escapam do mesmo jeito:
— Porque você gosta de mim.
Tasha parece decepcionada com a minha resposta.
— Eu gosto de você, Bruce, mas antes de tudo me amo. E você está
confuso e já me deu um fora duas vezes, não acho que continuar me
humilhando para ter a sua aceitação seria o certo.
Sinto algo estranho diante da sua fala que explode subitamente e me
faz revidar com um pouco mais de grosseria.
— O que você espera de mim? A minha mulher morreu há poucos
anos e eu tenho tentado me estabilizar, não posso simplesmente decidir em
questões de minutos se quero realmente algo com alguém que me enganou e
se tornou potencialmente uma pessoa de pouca confiança! — cuspo as
palavras rispidamente.
Ela trava seu maxilar tão forte que achei que estava impulsionando o
seu cabelo ruivo arder em chamas como raiva por eu ter falado daquele
jeito. No entanto, inesperadamente Tasha fica com os ombros baixos e uma
expressão chorosa. Acho que peguei muito pesado.
“Burro! Burro! Burro!”
— Perdão, eu não queria...
— Sim, você quis — diz duramente. — Acabou de deixar bem claro
o que pensa de mim, e o quão facilmente influenciado você é, porque, Bruce,
eu nunca o bajulei. Aquela Tasha que você conheceu no Havaí, é a mesma
Tasha que está aqui na sua frente, mas você não me enxerga e talvez nem
enxergue a você mesmo.
— O que quer dizer com isso? — pergunto com a voz fraca.
— Quero dizer que este cara que está me dizendo essas coisas, não é
o mesmo cara que eu conheci no Havaí e se dispôs a parecer um homem
apaixonado. Você estava indo além do que as aparências pediam. Eu senti,
Bruce. Mas agora fecha os seus olhos para você mesmo.
É como ouvir Julie dizer para eu ouvir meu coração, só que de um
outro jeito. Não ouço a minha filha e não ouço Tasha, quero continuar frígido
com as minhas escolhas, mas estou fazendo isso por ela.
— Se você então continua sendo a mesma e eu estou mudado, isso
significa que nunca poderei dar aquilo que você realmente quer — digo
determinado. — Você não me merece, Tasha, porque é boa demais para mim.
Eu sou uma confusão de sentimentos antigos que sempre voltam para me
assombrar e não sei se algum dia serei capaz de amar você sem saber
separar as coisas.
Ela estremece diante das minhas palavras.
Percebo que a pele dela se arrepia com o frio que passou entre nós,
mas duvido muito que seja só isso. Agora Tasha sabe o que eu sinto, que sou
mais complexo do que ela imaginava, e que principalmente, nunca soube
superar a morte de Melissa.
— Eu não pretendo tomar o lugar dela, Bruce. Gostaria de ter um só
para mim, mas agora entendo todas as desculpas que você arranja para me
manter o mais distante possível. Tem medo que eu a apague da sua história,
mas eu nunca faria isso.
— Então percebe a gravidade agora?
Ela acena e pisca atordoada, mas fica encarando o chão.
Me pergunto se está chorando ou evitando que eu veja qualquer
resquício de olhos marejados.
— Eu só quero saber se você teria me afastado se as coisas tivessem
terminado diferente no Havaí.
Balanço a cabeça.
— Eu não sei, Tasha. Talvez eu pudesse acreditar que daríamos
certo, mas, muitas coisas contribuíram para que eu voltasse a ficar inseguro
em relação aos meus sentimentos.
Quando ela levanta a cabeça e limpa o rosto, confirma o que eu já
imaginava.
— Entendo, no fim, é tudo culpa minha — diz se recompondo. —
Nem estou no dever de exigir tanto.
— Você só quer consertar as coisas. — Tento apaziguar.
— E pelo visto fui horrível nisso — diz com um humor deprimente.
— Mas eu queria ver você. Eu precisava falar com você e tentar, nem que
fosse a última vez.
— Fico feliz que tenha me procurado. Eu queria vê-la também.
Precisava deixar algumas coisas claras.
— Ah, pode apostar que ficou bem claro, sim!
Rimos, mas não estamos felizes. Somos um aglomerado de confusão
e sentimentos reprimidos pelo medo.
— Espero poder rir disso tudo com você algum dia, Tasha.
Ela abre um sorriso e se aproxima de mim com cautela, apoiando as
mãos em meus ombros. Mesmo que esteja de salto, consegue ficar uns
centímetros abaixo de mim, mas isso não a impede de alcançar perfeitamente
o meu rosto e depositar ali no meu rosto próximo a barba, um beijo gentil de
despedida. Igual dei um nela quando deixei o resort.
— Não demora — murmura e então se afasta suavemente, igual um
vento que passa deixando apenas uma lembrança sútil de que passou por ali.
Quando olho para trás, Tasha já sumiu do meu campo de visão
rapidamente. Me pergunto se isso foi real mesmo, ou se estou sonhando. Mas
a forma como ela tem esperança em mim, em nós, mesmo depois da nossa
breve discussão, não consigo entender como pode ser tão otimista.
Tasha vai me esperar, mas no canto dela, sem fazer alarde algum.
Não sei se devo confiar muito nisso, afinal de contas, não sei quanto tempo
posso demorar e muito menos se os sentimentos dela permanecerão os
mesmos.
Mas sei que, mesmo confuso e envolto em um emaranhado de
sentimentos antigos e novos, preciso mais uma vez recomeçar por mim, bem
como ela me aconselhou.
Preciso deixar algo para trás, e farei isso, mesmo odiando.
TASHA
São dias e semanas deprimentes que seguem após a convenção
onde levei dois foras de Bruce e ele mostrou ser mais complexo do que eu

imaginava. Talvez tivesse doído menos se eu tivesse seguido à risca os

conselhos de Erin e Lili, mas precisava falar com ele e quando o vi à

vontade só aumentou ainda mais.


É claro que foi doloroso ouvir tudo aquilo, mas não esperava que ele
ainda estivesse tão devastado pela morte de Melissa mesmo depois de anos.
Não posso julgar os sentimentos dele e devo ser compreensiva.
Mas, caramba, já faz tanto tempo!
Não consigo entender por que ele não se permite amar de novo, mas
imagino que não seja medo de uma decepção amorosa, e sim, medo de
perder mais uma vez alguém que tanto ama.
Não é como se eu tivesse dito que esqueceria dele completamente de
agora em diante. Acho que deixei bem claro que independente do tempo, o
esperaria porque gosto dele de verdade, mas não sou detentora do tempo e
das coisas que surgem com ele.
Acho quase impossível querer estar tanto com alguém quanto eu quis
estar com Bruce. Duvido muito que outro homem desperte em mim o que ele
foi capaz de me fazer sentir.
E eu não tenho tido notícias dele há semanas.
Acredito que o tempo é o melhor remédio para curar um coração
partido e sentimentos confusos.
“Seria arriscado demais esperar por ele?”
No entanto, é fácil deixar esse assunto de lado quando tenho uma
família maluca que tem dado as caras aos pouquinhos, atazanando minha
vida como quem não quer nada, mas é muito suspeito.
No dia da convenção, eu vi Charissa e Perseus desfilando pelo
evento como um casal feliz, evitei os dois ao máximo, mas me surpreendi ao
perceber que, na verdade, eles estavam ali pelos Mackenzie, e não por mim.
Foi estranho, mas decidi deixar para lá, deveria ser um alívio Charissa não
estar pegando no meu pé, ainda mais acompanhada por Perseus.
Um mês depois, quando estou voltando do trabalho, recebo outra
visita inesperada, e desta vez ela me espera na entrada do prédio onde moro.
É fácil reconhecer aquele cabelo ruivo que Charissa e eu herdamos, os olhos
verdes e profundos emoldurados por um rosto já marcado pelo tempo com as
linhas de expressão.
Mas é incrível como ela continua bonita e mantem aquela aura de
alguém que está no comando e no controle de tudo o tempo todo. Mamãe
sempre foi um exemplo de mulher forte que nunca abaixa a cabeça, até
mesmo quando o papai morreu, não lembro de tê-la visto chorar.
Eu poderia dizer que ela tem sangue frio e é impassível até mesmo
nas situações mais terríveis. Cresci conhecendo seus princípios e empatia
passa longe do seu vocabulário. Não acho difícil que apenas Charissa fosse
capaz de algum dia arrancar lágrimas dela, pois a minha irmã sempre foi a
filha perfeita, a sua favorita.
A única pessoa no mundo capaz de ouvir e obedecer cegamente...
Sempre.
Ela nunca em todos esses anos se preocupou em estabelecer qualquer
contato comigo. Nem sequer um único telefonema nos últimos Natais e
aniversários, e eu fiz o mesmo, tentei ignorar a família onde eu nunca
signifiquei grande coisa.
Por isso, encontrá-la aqui depois de tanto tempo sem nos ver é uma
verdadeira surpresa.
— Da última vez em que a visitei, você morava em um loft de um
prédio caindo aos pedaços na Downtown Eastside. — Lembra com
desprezo, dispensando cumprimentos formais. — Sei que não temos uma boa
relação, mas naquele tempo rezei para que você não parasse em um daqueles
grupos de mendigos que ficavam na esquina onde você morava.
— Trabalhei duro para que isso não acontecesse — retruco sem
cumprimentá-la, afinal ela preferiu me atacar jogando uma época difícil da
minha vida na minha cara.
Já investi dinheiro em muitas coisas, e nenhuma delas deu tão certo
quanto o site 14 Dias Casados. Sei que devo agradecer à minha tia-avó que
fez o que papai teria julgado correto e justo ao deixar uma herança de valor
considerável para mim, mas sempre achei que foi um lance de sorte
finalmente algo ter dado certo.
Mamãe sorri e olha em volta.
— Eu percebo isso, Natasha.
Parece que ela e Charissa preferem me chamar assim, mesmo que eu
não gostando.
— Você deu um salto muito grande na vida e conquistou tudo de um
jeito honesto. Meus parabéns.
O correto deveria ser eu agradecendo e dando um sorriso de gato por
finalmente ter a aprovação da minha mãe e o seu reconhecimento de forma
positiva, mas depois de todos esses anos ela me aparece e então só consigo
pensar em uma coisa:
— O que faz aqui? — pergunto mantendo os cinco metros de
distância entre nós duas.
Ela arqueia as sobrancelhas em uma surpresa ofendida.
— Eu sou a sua mãe, não posso fazer uma visita? — pergunta como
se fosse óbvio.
Contenho a risada dessa conversa fiada.
— Você não me faz uma visita há cinco anos. Não é estranho que eu
pergunte da sua aparição inesperada. — Estreito os olhos refletindo melhor.
— Até porque não lembro de ter passado a você o meu novo endereço.
Ela revira os olhos.
— Convenhamos, Natasha... Hoje em dia é fácil encontrar tudo na
internet! — pragueja.
— Isso pode explicar. Mas achei que pudesse ter um dedo da
Charissa. Vocês duas andam muito interessadas em me visitar ultimamente.
Mamãe deixa a indiferença de lado e paralisa ao ouvir falar sobre
Charissa. Na verdade, ela não faz uma cara muito boa, e por alguma razão,
temo o pior. Até ela explicar:
— É por causa da sua irmã que estou aqui.
A observo atentamente e não sei se devo de fato me preocupar.
— Aconteceu alguma coisa?
Olhando em volta, mamãe hesita depois diz vindo na minha direção.
— Não acho que aqui seja um bom lugar. Será que podemos subir?
Quando ela se aproxima sob a luz fluorescente do térreo, percebo
que mamãe além de estar com a aparência abatida e que o efeito da idade
finalmente a alcançou, por mais maquiagem que use, também aparenta
cansaço e olhos inchados, como se tivesse chorado recentemente. E, mesmo
parecendo essa mulher feita de mármore, vê-la desse jeito me desestabiliza
porque eu não sei o que poderia tê-la afetado a esse ponto.
Ela pode me ter feito muito mal, mas não sou uma pessoa ruim e não
posso esquecer o tanto que ela já fez por mim. Querendo ou não, temos um
laço que mesmo afetado pelo tempo ainda não se rompeu.
— Tudo bem, vamos — digo ao tomar a minha decisão.
Mostro a ela o elevador e o chamo.
Quando entramos na caixa metálica, aperto o botão do andar de onde
moro e as portas nos trancam ali, sinto a atmosfera entre nós duas pesar,
tornando a presença da minha mãe um desconforto palpável. Não sei se ela
sente o mesmo, mas é tão forte que fico certa que sim.
Aperto os olhos para o solavanco do elevador não me deixar mal.
Ultimamente nem a escada e muito menos o elevador tem me ajudado a fazer
o caminho de volta para casa. Não sei o que é isso que venho sentindo, mas
não tenho andado muito bem desde a noite da convenção. Mesmo sem
colocar um pingo de álcool na boca, vomitei na limusine, passei o outro dia
super indisposta e tem sido assim desde então.
Já ouvi dizer que estou sofrendo por amor, mas não acho que isso
seja sobre o que sinto em relação a Bruce. Irei ver o que é, em breve.
Quando o elevador para, saímos dele, guio a minha mãe até a porta
de casa e uma vozinha na minha cabeça diz que isso é uma péssima ideia.
“E se ela estiver aqui para avaliar a minha situação depois vir de
novo e de novo até pedir para dividir o mesmo teto que eu?
Grrr.”
Poderia muito bem simplesmente recusar esse pedido de um jeito
muito educado, mas caramba, ela é a minha mãe!
Aposto que para Charissa isso doeria bem menos.
De qualquer forma, caço o meu molho de chaves dentro da minha
bolsa e assim que encontro, destranco a porta do meu apartamento que
apesar de ser decorado de um jeito bem feminino e de bom gosto, também é
um dos metros quadrado mais caros e valorizados da cidade. Eu me
apaixonei pela vista e pelo amplo espaço quando entrei aqui com a corretora
pela primeira vez e como Erin e Lili me disseram fiz por merecer morar em
um lugar como esse.
Meu apartamento tem a minha cara e mostra que vivo muito bem
sozinha, tendo tudo do jeito que gosto e quase sempre perfeitamente
arrumado.
Entro direito na sala e fico reparando na reação da minha mãe que
olha com uma curiosidade descarada os cômodos ali da entrada. Depois do
hall, à esquerda, está a cozinha toda planejada de inox, com um balcão com
pedra de mármore branco a separando da sala de estar com sofás de tom
rose, estantes altas preenchidas de livros e objetos de decoração que não
consigo evitar de comprar pela internet completam o cenário. Mas é a vista
para o Stanley Park que destaca a cidade como portuária que chama atenção
dela.
Assim que se aproxima da janela, a mulher afaga seus braços
interrompendo o arrepio que aquela vista causa.
— Eu sempre a subestimei, mas acho que é aqui onde percebo que
você realmente alcançou o topo, sendo você mesma.
Pisco atordoada, mas confesso que sinto uma comichão na pontinha
do meu coração que se agrada com esta observação.
— A única pessoa que precisava acreditar em mim, era eu mesma —
comento e ela se vira com um sorriso sagaz.
— Querida, não comece com esses discursos. Sabemos como o
mundo funciona, a questão é, quem terá sorte e audácia o suficiente para
entrar no ritmo?
— Bem, eu tive sorte, sim, mas sempre fiz as coisas do jeito justo
como deve ser feito.
Ela estreita os olhos para mim e volta na minha direção.
— Então você não quis dar o golpe naquele tal de Bruce?
Arqueio as sobrancelhas surpresa, enquanto ela sorri de um jeito
exagerado e senta no sofá.
— Ah, Natasha. Eu acompanhei tudo. Você estava na mídia e de
repente não está mais, imagino que precisou de muito autocontrole para não
enlouquecer com essa gente atacando você feito animais selvagens.
Quando percebo que ela só está comentando o que viu na mídia e não
me julgando pelo que me acusavam, sento no outro sofá de frente para ela e
percebo que por mais que sejamos diferentes e Charissa seja uma cópia da
nossa mãe, a visita dela é diferente, o que me deixa menos tensa.
— Charissa está envolvida nisso. Ela ajudou Madison a distorcer os
fatos — revelo voltando a sentir aquele nojo.
Mamãe parece ficar exausta com este assunto.
— Pensa que eu não sei? Se aquela Madison não se cuidar, irá se
tornar um reflexo perfeito da sua irmã. — Mamãe volta a olhar para a vista
de fora e balança a cabeça em reprovação enquanto pensa, para então
verbalizar depois de soltar um suspiro pesado: — Charissa fugiu do meu
controle há muito tempo. É até besteira eu achar que ela me obedeceria
mesmo depois de adulta, mas sei que tenho uma parcela de culpa nisso.
Parece que estou tendo alucinações!
Mamãe que era antes uma bruxa má, reconhece agora seus erros com
amargura. Isso me faz ter a impressão de que, após perder tudo e terminar
sozinha, finalmente percebeu a realidade em sua volta.
Lembro que ela disse que Charissa é o motivo da sua visita, então me
inquieto.
— O que aconteceu a ponto de fazê-la vir me procurar?
Mamãe me observa por um instante. Está considerando se vale a
pena ou não me contar o que a fez vir me procurar e espero que não desista.
Mesmo que eu não tenha nada a ver com a vida de Charissa, me sinto
curiosa. Talvez mamãe tenha as respostas que eu precisava e que
explicassem o motivo da minha irmã ter voltado a me infernizar subitamente.
Ela brinca com os anéis no dedo, respira fundo e então revela:
— A sua irmã e Perseus estão falidos e desesperados por dinheiro.
Ela quis envolver você de alguma forma nisso, mas parece que viram a
oportunidade perfeita em Bruce Mackenzie.
A minha boca abre em surpresa.
— Perseus está no pé de Bruce há semanas, querendo convencê-lo a
comprar a propriedade deles no interior da França. Mas parece que o acordo
não está indo para frente.
— E por que isso parece ser mais complicado do que aparenta? —
Desconfio, pois é comum os negócios andarem desse jeito. Mas algo se
esconde por trás dessa informação.
Ela se prepara para dar a informação preciosa:
— Porque eles vão aplicar um golpe em Bruce. A propriedade está
cheia de dívidas e há mais manutenção a fazer em toda extensão do que eles
alegam. Isso significa que Perseus e Charissa irão vender a propriedade por
um preço alto, mas que dizem ser justo, só que quando Bruce for ver mais a
fundo, descobrirá que gastará mais dinheiro do que esperava e que deu um
valor alto demais para uma propriedade que está em ruínas.
Meu queixo cai de vez e tapo a boca para que não pareça surpresa
demais, mas estou. A princípio, isso parece o tipo de coisa impossível de
acontecer, ainda mais vindo de Perseus que conheço desde a adolescência.
No entanto, não duvido nada que Charissa tenha conseguido fazer a cabeça
dele.
— Bem, aposto que Bruce vai perceber isso e procurá-los de alguma
forma — suponho, mas a mulher na minha frente parece desesperada.
Ela engole um choro e fico sem reação.
Eu nunca vi minha mãe chorar, nem mesmo no enterro do nosso pai.
— Eu não quero que a sua irmã vá presa — choraminga. — Tentei
convencê-la de todo jeito a abaixar o valor e dizer a verdade a Bruce, mas
ela é tão cabeça dura!
Pisco sem saber o que fazer, mas ergo minhas mãos pedindo calma
antes que ela desabe em lágrimas na minha sala.
— Calma, tudo bem? A senhora não pensou em alertar o Bruce?
Faz um mês que não ouso falar o nome dele, de repente, ele volta a
ser assunto da conversa e razão pelo qual meu coração dispara acelerado.
— Não, eu... — Pisca os olhos para secar rapidamente as lágrimas e
conter as emoções. — Eu não sei como chegar em um homem como ele,
então achei que você saberia o que fazer.
— Eu não falo com ele faz um mês. Bruce não confia mais tanto
assim em mim.
— Diz a ele a verdade, que é a única maneira de fazer a sua irmã não
vender a propriedade por um valor injusto. É o mesmo que estar o roubando.
Acha que isso não dará em nada?
Balanço a cabeça.
— Nem sei o que pensar.
Surpreendentemente, é ela quem avança na minha direção e espalma
as mãos em meus joelhos. Ela fica me olhando ali de baixo, como se
estivesse implorando a mim.
— Sei que você a odeia por ter tomado Perseus de você, mas isso já
faz muito tempo e você está vivendo uma vida incrível agora. Não queira
viver o resto dela sabendo que poderia ter impedido sua irmã de viver os
próximos anos atrás das grades.
Isso parece horrível, o que me deixa entre a cruz e a espada. Não sei
mesmo como me aproximar de Bruce com uma bomba dessa e quanto mais
pudesse me manter afastada de Charissa, mas eu ficaria. Só que agora tudo
parece me empurrar para ela.
Me levanto precisando respirar melhor.
— Não a odeio e não sinto mais nada por Perseus. É só...
Complicado. Não confio na Charissa e por isso não sei como eu poderia
ajudá-la.
— Faça ao menos por Bruce. Faça com que ele veja a verdade antes
mesmo de criar expectativas — aconselha.
— Terei que pensar nisso melhor.
— Sim, é claro. Sem pressão, só não deixe ser tarde demais.
Afirmo com a cabeça e massageio minha nuca que fica dolorida com
aquele peso.
— Vou ver o que consigo fazer.
Ela assente e pega a bolsa mostrando que seu tempo de visita acabou
após fazer o que veio. No entanto, ela vem em minha direção e me olha de
um jeito bastante observador, enquanto um sorriso tenta curvar seus lábios.
— Você está tão... Diferente.
— É, eu mudei muito nesses últimos anos — comento sem muito
interesse nesse detalhe.
A última coisa que eu precisava, era ouvi-la falar sobre a minha
aparência.
— Não, não é isso. Você está com um jeitinho diferente. Uma luz,
uma energia... — enfatiza deixando um suspense do que seria sua conclusão
diante disso.
Sorrio porque desde que eu me lembro, mamãe nunca foi uma pessoa
sensitiva. Vê-la falar desse jeito é engraçado.
— Bem, a senhora também está diferente — digo que não acredita
muito nas minhas palavras.
— Estou ficando velha e chata. Ainda bem que as minhas duas filhas
já são grandinhas, mas dói minha cabeça só de lembrar que a outra está se
metendo em confusão.
Um filme passa na minha cabeça, muito rápido a ponto de eu
conseguir visualizar apenas algumas imagens, mas nelas, mamãe nunca me dá
carinho e atenção, tudo fica para Charissa. Lembro da dor que era saber que
ela não gostava de mim por eu ser do jeito que era, com espírito livre e sem
me importar ainda cedo com casamentos por interesse. E agora que ela está
aqui, sinto que sou aquela garotinha de novo, querendo seu colo.
— Você merece essa vida, Natasha. — Seus dedos magros e longos
organizam alguns fios de cabelo que me caem no rosto. — Tudo o que vem
fácil, vai embora fácil. É por isso que está fadada a ter o melhor, porque
lutou muito por isso.
Sinto meus olhos lacrimejarem, mas não quero chorar na frente dela,
mesmo que já esteja vendo que fiquei emocionada. Mas quando minha mãe
me abraça, não consigo ser forte por mais tempo e deixo as lágrimas rolarem
porque esse é um abraço que sempre me fez falta, e sempre lamentei por não
ter o privilégio de tê-lo.
— Algum dia, espero que me perdoe — continua a falar enquanto me
aperta com força. — Mas não sei o quanto a machuquei, e por isso, vou
entender se levar tempo demais.
— Eu só queria que você tivesse me enxergado. — Uso com ela as
mesmas palavras que usei com Bruce.
Por mais que eu não admita, sou uma pessoa carente. Ter perdido
muito cedo o único que me dava amor e atenção, fez de mim uma pessoa
insegura, que precisava ter atenção de qualquer um que me rondasse.
Me afasto dela e ela limpa as minhas lágrimas.
— Perdão por ter sido uma cega, mas a gente sempre falha. E uma
das falhas mais dolorosas, é aquela que temos com nossos filhos. Espero que
um dia você seja uma mãe que eu nunca fui para você.
Sorrio para ela.
Tenho medo de soar indelicada demais ao dizer, "Sim, não cometerei
os mesmos erros que você", porque é nítido que ela está fazendo um esforço
para resolver aquele impasse entre nós duas que de acordo com as coisas
que já me aprontou, (como ajudar Charissa a tirar Perseus de mim, por
exemplo), eu nem deveria ter estômago para olhar para a sua cara.
Mas não sei, alguma coisa mudou agora e não sei o que é.
— Tudo bem. — É o que eu consigo dizer.
Depois disso eu ofereço um copo de água que ela aceita. Não temos
muito o que falar, mas ela me diz que está hospedada em um hotel aqui por
perto e que recentemente conseguiu um emprego em um salão de beleza;
mamãe sempre foi louca por cuidados capilares. Eu não digo muito sobre
minha vida, pois tenho receio que use qualquer informação contra mim. Mas
eu gostaria de poder tê-la como confidente, só que seria um processo longo
até isso ser possível.
Não dá nem quinze minutos quando ela termina sua visita. Mamãe
sempre foi uma mulher objetiva, de poucas palavras e mais atitudes. Tanto
que mais tarde, já a noite enquanto cutuco a comida porque não tenho
conseguido ingerir nada nos últimos dias, olho para a sala só para ter certeza
que a sua visita não foi um sonho. Penso muito no que Charissa e Perseus
querem aprontar para cima de Bruce e fico com os nervos atiçados.
Acabo entrando em um verdadeiro dilema entre contar ou não; passar
pelo constrangimento dele me ignorar ou ser agradecida infinitamente por tê-
lo alertado.
Mas é engraçado como no fim, minha família e Bruce acabaram
envolvidas. E tudo obra do acaso, onde ajudei a arquitetá-lo.
••••
No final de semana, consigo um tempinho para passear com Lili no
Stanley Park. Ela é minha vizinha, então não tenho como fugir. Além do mais,
havia acordado com disposição, então coloquei minha roupa de exercícios,
calcei meu tênis esportivo e descemos a escada.
Confesso que foi a morte, já estava cansada antes mesmo de chegar
ao térreo, mas consegui.
Fiquei durante a semana toda pensando se seria bom contar às
meninas o que estava acontecendo, mas havia muita coisa que eu não
entendia sobre como Bruce seria prejudicado com o golpe que o casal queria
aplicar nele. Então quando estamos caminhando dentro do Park, conto tudo a
Lili, desde a visita inesperada da minha mãe que rendeu um momento
dramático entre nós duas no final, ao plano de Charissa.
— Cala boca! — foi a expressão mais próxima que Lili encontrou
para dizer que aquilo era uma mentira.
— Pois é. E eu achando que ela estava armando uma para cima de
mim.
— Bem, aparentemente ela tentou, não é? Mas viu que era mais fácil
e promissor ir em Bruce — concluiu enquanto diminuímos os passos da
caminhada conforme a conversa ficava interessante.
— Você consegue entender o porquê? — pergunto querendo ficar
mais imersa na situação.
Lili comprime os lábios.
Ela é uma mulher muito bonita, é difícil não parar de olhar para ela.
— Qualquer profissional do ramo imobiliário tem como sonho agir
na Europa. Perseus deve saber disso, então está jogando com tudo em cima
de Bruce. Que propriedade é essa?
Dou de ombros, mas lembro de uma em especial. Faz tanto tempo,
mas arrisco.
— Bem, de acordo com o que a minha mãe disse, aposto que deve
ser a propriedade do interior da França. O lugar já estava abandonado desde
a época em que ficamos noivos. Se ela diz que ele está devendo e tem muita
coisa a fazer lá, é porque Bruce vai sair no prejuízo.
— Ele pode até falir, Tasha — ressalta e estremeço. — A única
coisa capaz de fazer Bruce arcar com o prejuízo, seria vendendo a
propriedade pelo valor justo, e a parte das ações dele na Mackenzie.
“Aí Bruce perderia o trabalho e o seu poder de decisão dentro da
empresa.”
— Lili, não posso deixar isso acontecer!
Sinto a minha pele pinicar e começar a suar frio.
— Muita calma, Tasha. Você não pode ir atrás de Bruce do nada e
acusar a sua irmã de algo do tipo sem provas. Precisa analisar algumas
coisas primeiro.
— Tipo? — pergunto afoita
Lili solta um suspiro, sabendo que eu não desistiria.
— Bem, primeiro tem que ver se a Mackenzie está mesmo mostrando
interesse na propriedade. Depois, pesquisar sobre o local na internet e
extrair o máximo de informação. Mas para a equipe dele não ter identificado
de primeira todos os pontos negativos dessa compra, é possível que
Charissa ou Perseus alteraram informações, o que já é cadeia na certa.
Por isso que mamãe estava desesperada. Isso faz a minha barriga
doer e toco no ponto acima do meu ventre; meu corpo todo tem reagido de
um jeito estranho a esses estresses.
— Não posso deixar que Bruce caia nesse golpe, e nem que Charissa
seja presa, apesar de...
— Dela merecer muito? — Lili me interrompe com um pouco mais
de agressividade. — Desculpa, amiga, mas se ela está fazendo isso com
Bruce, logo irão buscar outra isca.
“Não...”
Meu Deus, onde fomos parar?
Toda essa situação me deixa doente. Eu gostaria de poder consertar
tudo e fazer com que todos terminassem bem, mas não tenho esse poder, e a
única coisa que me resta a fazer e está ao meu alcance, pode ser humilhante e
uma luta sem ganho algum. Eu não ganharia nada com isso, mas também não
quero perder.
Isso faz a minha cabeça girar e o meu estômago dar um nó, mas nada
vem. De repente parece que algo pesa dentro de mim e não consigo ficar em
pé, fazendo eu me agachar no chão.
Quando foi a última vez que me alimentei bem, sem colocar tudo para
fora de novo?
Quando foi que esse desconforto me deixou e minhas noites ficaram
mais tranquilas?
Por que tenho estado tão emocional nos últimos dias, a ponto de
querer a minha mãe por perto?
Por que tenho me sentido assim?
Sinto as mãos de Lili me erguerem.
— Ok, já chega. Você precisa ir ao médico.
— Estou bem — minto, porque sou uma teimosa.
— Não está coisa nenhuma. Vou ligar pra Erin nos encontrar.
— Lili, não precisa disso.
— Precisa, sim! — exclama como uma mãezona. — Há semanas
você vem dizendo que vai ao médico, mas não vai. Estamos preocupadas
demais com você e cansadas demais em vê-la assim.
Bufo e não tenho com o que relutar, estou tão fraca que mal consigo
impedi-la de me guiar para fora do Park.
Como dito, Lili liga para Erin que vêm nos buscar no Park em seu
carro. É quando conto a ela sobre minha mãe e o que Charissa e Perseus
estão planejando fazer com Bruce. Erin adora uma quentinha, então fica
vibrante quando escuta o que eu conto. No entanto, sei que este assunto irá
morrer ali dentro do carro, mas nenhuma das duas me incentivam a tomar
alguma atitude.
A minha saúde é a única coisa que as preocupam no momento.
Quando chegamos ao médico, fico surpresa por perceber o quão fico
preocupada com o resultado depois que ele me pede uma enxurrada de
exames. Ainda mais quando o médico me faz uma pergunta que me deixa de
pernas bambas:
— Tasha, quando foi a sua última menstruação?
“Boa pergunta, doutor!”
Mas nem eu sei responder, sorrio sem jeito, digo que não sei, mas é
mentira. Acho que sei muito bem quando foi a minha última menstruação e
isso começa a me preocupar.
Isso não seria possível, seria?
Bruce e eu fomos bastante cuidadosos, e...
“Puta merda!”
Transamos tantas vezes que nem tenho tanta certeza disso.
Mas quando volto para a sala de espera e sento com as minhas
amigas, elas percebem minha tensão. Não conto nada sobre o motivo disso,
afinal de contas, seria um choque para as duas também.
Fico olhando para o chão, delirando.
“Não posso ser mãe, não posso ser mãe.”
Fico repetindo para mim mesma porque se eu estiver realmente
grávida, Bruce é o pai e ele não acreditaria em mim, acharia que seria outro
golpe. Então eu me tornaria uma mãe solteira e a criança cresceria sem saber
quem é o seu pai.
“Espero que você seja uma mãe que eu nunca fui para você.”
Mamãe falou da última vez em que me visitou e aquilo não me tocou
tanto como tem tocado agora. Ela disse que eu estava diferente, será que
queria dizer que eu já estava com uma aparência de grávida, mas não
enxergava isso o suficiente para entender o que ela queria dizer?
“Não, preciso afastar esses pensamentos porque é óbvio que não
estou grávida.”
Mas aí o médico bonitão de cabelo grisalho reaparece com um
sorriso enorme nos olhos e já sei que o imprevisível aconteceu.
— Parabéns, Tasha, você está grávida.
Lili e Erin saltam da cadeira.
— PUTA MERDA! — gritam.
O médico olha com reprovação
— Perdão, perdão. — Erin se apressa. — Mas, Tasha, como isso
aconteceu?
— Isso é óbvio, não é Erin? — Lili rebate revirando olhos.
— Sim, eu sei! Mas como você deixou isso acontecer? — diz
apontando para a minha barriga.
Percebo que continuo calada, assustada demais para dizer qualquer
coisa.
Por sorte, o médico me salva.
— Aconselho que peguem leve com a Tasha. Ela está muito
desidratada, precisa se alimentar corretamente para se manter saudável e
fazer o feto se desenvolver bem. Aconselho a encontrar um obstetra, mas vou
receitar algumas vitaminas para você e um remédio de enjoou. Certo?
Balanço a cabeça em afirmativa.
Ele volta para sua sala e me receita essas coisas de grávida.
Sento na cadeira, mas não consigo digerir aquela informação por
completo, embora uma vozinha dentro de mim esteja gritando:
“EU VOU SER MÃE!”
Começo a fazer a mesma pergunta de Erin.
Como deixei isso acontecer?
Como vou contar a Bruce?
Como vou cuidar de uma outra vida?
Sem conseguir responder as perguntas, percebo que estou chorando.
Sinto os braços de Erin e Lili me confortando.
Ficamos um tempinho ali até o médico voltar com as receitas e me
desejar boa sorte. Ele diz que vai querer me ver em breve, pois ficarei
intercalando entre ele e a obstetra.
Uma obstetra!
Nem acredito que tudo vai mudar na minha vida por causa de um
serzinho que está crescendo dentro de mim.
Quando estamos no elevador, fecho os olhos para pensar no seu
coraçãozinho batendo, no seu corpinho se formando e no quão conectados
estamos.
Toco o ponto acima do meu ventre, onde imagino ele ou ela estar e
espero senti-lo mexer, mas é muito cedo. Então sorrio, porque aquele vazio
deixado por mágoas antigas e recentes começa a ser preenchido por um amor
que sei que será incondicional.
De repente estou chorando de novo, porque a ficha cai e me sinto
mais feliz do que nunca.
Viro para Lili e Erin, e digo toda boba:
— Eu vou ser mãe.
BRUCE
Sete meses depois...
Mamãe nos convida para um final de semana em sua casa. Meus
pais moram próximo às montanhas, eles dizem que já são velhos demais e

não aguentam a vida agitada da cidade, por isso preferem ficar mais

próximos à natureza, que é calmo e bonito.


Não posso julgá-los, tenho 38 anos e já tenho essa vontade de me
isolar, porém, Julie está em uma fase muito importante da sua vida e quanto
mais ela estiver próxima dos amigos e dos investimentos culturais e
educacionais, irei apoiar.
Mas um dia espero ter uma casa perto das montanhas.
Imagino que a mamãe iria amar, mesmo que só queira paz agora, ela
não consegue evitar de se preocupar com os filhos. Então quanto mais perto
dela, melhor.
Christopher, Julie e eu viemos no mesmo carro, enquanto Mathew e
as trigêmeas viriam em outro com Rachel, a babá.
— O que falta para ele pedir essa mulher em casamento? — Chris
indaga enquanto dirige o seu Audi.
— Amá-la? Ter algum tipo de atração? — retruco sentado ao seu
lado enquanto observa a baía se afunilando conforme avançarmos em
direção às montanhas.
— Ele já tem o principal, alguém que ame as suas filhas. Rachel é
louca pelas trigêmeas e faz tudo por elas. Se ele investir, pode fazê-la se
apaixonar.
Olho para meu irmão de um jeito divertido. Sempre imaginei que
debaixo da imagem de homem libertino que se tornou, existe ainda seu
romantismo encantador.
Nós, Mackenzie, somos conhecidos por nosso coração mole quando
se trata de amor, por isso, não acho difícil meus irmãos se entregarem mais
uma vez a alguém.
Bem como eu já fiz...
Só espero que eles tenham mais sorte do que eu.
— E você acha mesmo que Mathew ainda não é louco pela Abigail?
— questiono.
— Ele não é louco por ela. Ele é louco que ela seja a mãe das
meninas — ressalta um assunto delicado entre nós.
Como irmãos de Mat e tios das trigêmeas, ficamos extremamente
desconfortáveis quando o assunto vem à tona.
— Sabemos muito bem que Abigail foi o estopim de tudo para o
comportamento atual do Mathew. Agora parece que os dois estão em uma
disputa de quem ignora mais as próprias filhas, quem é mais frio e
indulgente.
Solto um suspiro pesado pois já tive muitas desavenças com Mathew
a respeito da criação das trigêmeas. Ele foi pai logo depois de mim e quando
as meninas ainda eram bebês, aconteceu todo aquele escândalo. Não acho
que seja saudável para a relação deles as coisas continuarem desse jeito,
pois já sofriam demais com a separação dos pais.
— Semana passada, Morgan estava chorando porque ele não foi na
apresentação dela na escolinha. — Julie conta do banco de trás, sem tirar os
olhos da tela do seu tablet.
— Isso é conversa de adultos, mocinha — censuro olhando por cima
do ombro.
Ela dá de ombros.
— Eu já tenho 14 anos, posso ouvir esta conversa. Ainda mais
quando se trata das trigêmeas. — Me dá uma olhada afiada e diz: — Sou
filha única, então devo agir como a irmã mais velha de alguém.
Christopher solta uma risada desdenhosa e pergunta:
— Está achando ruim ser filha única, Julie? Acha que é legal ficar
ouvindo duas pessoas que não se resolvem e não sabem o que quer o tempo
inteiro?
Olho para ele surpreso.
— Eu não sabia que você era tão creti...
— Cuidado com essa boca perto da Julie, irmão — adverte, achando
graça da situação.
O fuzilo com o olhar.
Christopher é insuportável na maioria das vezes.
— E você sabe que estou só te irritando — trata de se explicar. — A
minha vida anda parada ultimamente, o único drama que tenho é o da vida de
vocês.
— Estou muito bem resolvido — respaldo me ajeitando no branco de
couro. — Não precisa mesmo se dar o trabalho.
Ele me avalia de relance.
— Você ficou irritado, isso significa que ainda está mal e precisa de
mim.
— Escuta, em que momento essa conversa passou a ser sobre mim?
Até onde lembro, estávamos falando sobre Mathew! — exaspero tentando
fugir daquele assunto o mais rápido possível.
— Ah, sim. Estávamos falando do Mat — relembra, mas não disse
nada por uns trinta segundos, até que: — Julie, pesquise qual as melhores
cidades para passar uma temporada em família.
— Para já!
Fico olhando desconfiado para os dois e o complô que formam
rapidamente ali dentro do carro.
— O que isso significa? — pergunto esperando que um dos dois
respondam.
— Mat precisa de descanso e mais tempo com as filhas. Ele com
certeza não teria jogo de cintura para lidar com elas sozinho, então levaria
Rachel junto.
Pisco até entender que isso seria uma espécie de ideia para uni-los.
Não é muito diferente do que aprontaram comigo ao me inscrever naquele
site com a intenção de fazer eu dar certo com alguém. Mas como faz tempo
que não toco mais nesse assunto e decido continuar do jeito que está.
Deixo a ele apenas um aviso:
— Pare de envolver Julie nessas coisas. Você sabe como Mathew é,
já temos muitas desavenças sobre isso.
— É pelas trigêmeas, Bruce. Ele precisa fazer algo antes que seja
tarde demais.
O pior é que ele tem razão.
Christopher pode ser um libertino, que às vezes nos dói nos nervos
quando ele decide agir como um cara irresponsável. Mas nosso irmão é
cheio de tenacidade, e principalmente, tem um coração tão puro que jamais
irei entender por que ele não teve muita sorte no amor.
Amo meus irmãos, são meus melhores amigos, e por eles, seria capaz
de arriscar qualquer doideira para vê-los felizes.
Pelo resto da viagem de carro, Julie nos lista as cidades que
pesquisou na internet.
A casa dos meus pais é rodeada por pinheiros, guardada por
montanhas rochosas que nesta temporada do ano estão secas, mas no inverno
ficam com neve até os pináculos delas.
O rio Sutton passa bem em frente, no píer há o barco que meu pai usa
para passear com a minha mãe e um bote que usa para pescar, que se tornou
a sua atividade favorita depois que deixou a empresa nas nossas mãos, mas
ele nunca faz a atividade sozinho, devido a sua condição de saúde.
Passamos pelo caminho sinuoso e arborizado que nos leva até a
fachada da casa. Estacionamos o carro ao lado do SUV de Mathew, que
chegou primeiro.
Mal saio do carro e já vejo as trigêmeas correrem na varanda que
circunda a casa com um alpendre vitoriano.
Mamãe surge afoita na porta de casa, demonstrando interesse na
nossa chegada.
Christopher vai na frente e a dá um abraço acalorado nela. Depois
que termina, é a minha vez de cumprimentar a minha mãe.
— Oi, mãe. — Cumprimento assim que subo a varanda. — Você está
simplesmente deslumbrante hoje.
Visualizo o seu visual, roupas confortáveis e um kimono estampado,
seu cabelo ruivo.
Sim, parece que ultimamente ruivo tem me perseguido mais do que o
normal.
Seu cabelo está solto e cheio de cachos, mas ficando cada vez mais
ralinho. Ela passou sombra dourada nas pálpebras dos olhos e um batom cor
vinho nos finos lábios, como sempre, cheia de joias que papai a presenteou
ao longo dos anos em que passaram juntos.
Ela estreita seus olhos para mim, me avaliando.
— Que papo mais furado, Bruce, sempre estou deslumbrante — diz
sacudindo o dedo com anéis de ouro na minha direção, mas um sorriso logo
ressurge. — Como vão os meus meninos?
Respondemos a ela em uníssono que estamos bem.
Ela me abraça e sinto seu perfume gostoso e nostálgico que nunca
deixou de usar. Não há nada melhor que um abraço materno, onde sempre
será como voltar para casa.
Mamãe foi uma pessoa crucial nos últimos meses para mim. Ela sabe
o quanto fiquei mal por ter me afastado da Tasha depois da noite da
convenção e ela ter literalmente sumido, mas acho que assim é melhor para
nós dois. Só que sinto falta, muita falta mesmo.
— Julie andou me mandando mensagens esses dias — diz cautelosa
enquanto tira a poeira invisível dos meus ombros. — Ela está preocupada
com você, diz que não tem dormido bem. O que está acontecendo, Bruce?
“Tasha, está acontecendo”, sinto vontade de dizer, mas dou apenas
de ombros.
— Eu vou ficar bem, mãe. — Forço um sorriso.
— É por causa dela, não é? — insiste.
Solto um suspiro, cansado de tocar nesse assunto, mas querendo falar
sempre que possível também. Eu só não quero ser um fardo para a minha
família, então fico poupando a todos da minha vida pessoal.
— Não acha que está na hora de seguir o que seu coração realmente
quer? — aconselha, mas já ouvi muito isso.
— Meu coração não sabe o quer, este é o problema — digo
entediado. — Mas vou ficar bem, já superei coisas piores.
Dou um beijo nela e me afasto.
Entro na casa onde eles se mudaram há oito anos. Ela é toda de
madeira, estilo vitoriana, os móveis são clássicos e a casa toda é
aconchegante por seguir uma linha de "lar", segundo papai, que odeia todo
aquele minimalismo dos nossos apartamentos em Vancouver.
Atravesso a sala, passo pela porta de correr e observo papai
conversando com Mathew em um cantinho debaixo de uma árvore enquanto
as trigêmeas passam correndo de novo, agora com Julie e Rachel em seu
encalço.
— Filho! — Papai me cumprimenta de longe e desço para dar um
abraço nele. — Fico feliz que tenha vindo. Mat estava me contando como
você está muito ocupado com o trabalho nesses últimos meses.
— Sim, é verdade. — Enfio as mãos nos bolsos da calça jeans. — Já
que Mat e Chris estão ocupados com o projeto do novo arranha-céu, gostaria
de investir em uma outra empreitada.
— Hum, isso é bom — papai afirma para meu alívio.
— Você está falando da propriedade francesa? — Mathew quer
saber.
— Ela mesmo. — Aceno e dou um sorrisinho convincente.
— E como foi a viagem? Acha que será um investimento promissor?
— papai fica curioso.
Papai não está por dentro dos nossos projetos e geralmente pedimos
opiniões dele quando estamos de fato inseguros com alguma coisa. Ele acha
melhor assim, afinal de contas, não foi à toa que se aposentou.
Papai já trabalhou demais.
— Ah, o lugar é simplesmente lindo. Os turistas e até os próprios
franceses iriam amar um resort com campos de golfe naquela área —
presumo ressaltando a minha última viagem que fiz a França para ver de
perto a propriedade.
Porém, não consigo contar a eles que antes de ir até a França, recebi
um e-mail estranho de uma pessoa impossível de identificar que falava para
eu ter cuidado, pois havia uma possibilidade de Perseus e Charissa estarem
me dando golpe com informações alteradas a respeito da propriedade que
estava endividada a mais de vinte anos.
Achei suspeito, mas tive que verificar com meus próprios olhos indo
até um cartório local. O casal ficou extremamente envergonhado ao acharem
que eu não me aprofundaria na busca por informações, quando na verdade
foi o e-mail anônimo que me salvou. De qualquer forma, não assinamos
todos os papéis de compra.
Ainda preciso me decidir e o casal ainda tem que abaixar o preço.
Christopher entra na conversa, já com uma cerveja na mão.
— A Europa é um sonho nosso — respalda com os olhos brilhando
em interesse. — Você já tem o meu apoio nesse projeto, cara.
— Valeu, irmão.
— O meu também, Bruce — Mathew diz e o observo com um sorriso
débil porque faz tempo que não vejo meu irmão tão relaxado assim, de
moletom e calça jeans. — Sabe que iremos nos reunir no final e fazer isso
acontecer.
— Bem, então hoje o almoço em família vai ser em comemoração ao
novo projeto da França! — papai sibila sorridente e animado.
— Aí, vocês já estão falando de trabalho — mamãe reclama
enquanto surgia com as trigêmeas saltitantes, Julie cansada e a babá cheia de
energia.
— Se a senhora quiser, podemos falar sobre a vida do Bruce. —
Christopher sugere com provocação. — Tem sido bem mais interessante.
— “Eu vou matar você” — sussurro e ele gargalha.
Mas é claro que esse assunto não vem à tona para todos ali, mesmo
que estivéssemos em família, no entanto, sinto uns olhares duvidosos na
minha direção. Acho que todos gostariam de saber, o que poderia ter
acontecido a Tasha ou porque mesmo sofrendo por ela, preferi não ir atrás.
Devo confessar que, mesmo minha mãe sendo exigente quando o
assunto se trata de mulheres para os seus filhos, ela não se mete muito no
meu caso complicado com a Tasha. Ela sabe que o meu problema é uma
questão de tempo e superação. Não duvido que ela me instigasse a procurar
a ruiva que conseguiu fazer com que eu abrisse o meu coração mais uma vez.
Não contente, Chris continua:
— Podemos também falar sobre Mat.
— O que tem eu? — indaga irritado.
— Nada, só achei que teríamos algo de interessante a conversar —
Chris provoca.
“Ele está procurando encrenca com Mathew.”
Me coloco entre os dois, só por precaução caso Mat decida pular no
pescoço de Chris e sair no soco com ele. Mamãe não merece ver isso.
Felizmente, as provocações terminam por ali.
Passamos um dia agradável e tranquilo. É muito bom ver as meninas
tendo esse contato com a natureza e se desconectando um pouco. No entanto,
para minha surpresa, mais tarde enquanto preparo os marshmallows na
cozinha para a fogueira que Mat e Chris preparavam à beira do rio, Rachel
aparece chateada.
— Eu não sei mais o que fazer com o seu irmão, Bruce. Não sei
mesmo.
— Aconteceu alguma coisa? — Deixo os marshmallows de lado e
dou atenção a ela.
Tenho muito apreço por Rachel pelo simples motivo dela amar tanto
as minhas sobrinhas. Ela é só a babá, mas na maioria das vezes age como
mãe e pai, tudo ao mesmo tempo. A admiro muito e embora não tenhamos
uma certa aproximação, quando se trata das trigêmeas e Mathew, nos unimos.
— As trigêmeas estão chateadas porque durante o dia todo aqui, ele
não tirou um minuto para brincar com elas. E nem posso duvidar disso,
porque estive com elas o dia todo e tudo o que eu vi foi o Mathew distante,
como sempre.
Coço minha barba diante da situação complicada de Mathew com as
meninas e Rachel.
— Rachel, você sabe o quanto já conversamos sobre isso. Eu não sei
mais o que falar para Mat e temo que isso cause um grande conflito entre nós
dois.
Ela espalma as mãos sobre a pedra da ilha na cozinha e me olha
quase com uma súplica.
— Tudo o que queria era que Mathew entendesse que as trigêmeas
não têm nada a ver com o que Abigail fez a ele. Tudo o que ele faz para
mostrar que superou a ex-esposa, reflete na relação deles. Mathew tem que
entender que está na hora de se preocupar em ser um bom pai e não um bom
partido que Abigail trocou — desabafa e nem tenho como discordar.
Rachel está certa em tudo, no entanto, não tenho tempo de rebater
qualquer coisa, pois a imagem paralisada de Mathew na soleira da porta me
deixa sem reação. Não sei em que parte ele começou a ouvir, mas pela sua
cara, ouviu o suficiente.
— Sinta-se à vontade para continuar me detonando na frente do
Bruce, se tiver coragem — diz.
Preciso me colocar entre eles para defendê-la de qualquer ataque
dele.
— Mathew, Rachel disse que as meninas sentem a sua falta. Isso não
toca você?
— Droga, eu já estou aqui, não estou?
Rachel sai de trás de mim.
Ela não o teme, já é acostumada ao temperamento do meu irmão.
— Está e não está, Mathew — pondera a dizer. — Este é o momento
perfeito para você se reaproximar das meninas, mas não está aproveitando.
— Nada do que eu faço é o suficiente! — meu irmão exaspera.
— Talvez porque você não esteja fazendo o suficiente. — Se
aproxima dele e me alerto para qualquer coisa. — Você precisa ver o que é
suficiente para elas e não para você.
Como quem dá xeque-mate, Rachel passa por Mathew com o
benefício da dúvida. Preciso virar o rosto para que ele não me veja achar
graça pelo fato de existir uma mulher que não tema aquela sua carranca
habitual.
Ouço Mat dar um suspiro pesado e vir para perto do balcão, onde ela
estava minuto atrás antes de voltar para as trigêmeas.
— Seria mais fácil demiti-la se as trigêmeas não fossem tão
apegadas a sua companhia.
Dou uma risadinha e volto para os marshmallows.
— Você não a demitiu ainda porque ela ama as suas filhas e acredita
muito em você — alego.
— A única coisa que Rachel acredita, é que se eu não fizer nada,
daqui uns tempos ela vai me comer em um guisado.
— Então por que não começa a fazer alguma coisa antes que ela
realmente faça isso? — pergunto e o olho sobre meu ombro, esperando uma
resposta.
Mathew fica pensativo.
Sei que por trás desse homem viciado em trabalho e magoado, existe
um cara lutando para melhorar, só que a maneira dele.
— É complicado, Bruce. — Me olha de um jeito que diz mil coisas
diferentes. — Você sabe que é.
Não digo nada porque sei do que ele está falando.
Todo mundo espera alguma coisa de nós. Todo mundo espera que
sejamos perfeitos em uma área, só porque já somos bons demais em outras.
Mas aqui vai uma informação valiosa, nós, Mackenzie, temos alguma coisa
contra sentimentos que são reprimidos.
Mathew precisou reprimir seus sentimentos por Abigail e aprender a
superá-la, hoje ele nem sabe mais o que sente. Eu precisei reprimir meus
sentimentos por Tasha, entender o que de fato tínhamos e já faz oito meses
que não a vejo desde então.
— Sim, eu sei — digo a ele por fim.
Às vezes gostaria de poder bater em Mathew por causa das suas
negligências, mas entendo que as coisas não devem estar sendo fáceis para
ele.
••••
Estar nas casas dos pais é bom, mas voltar para casa é melhor ainda.
Julie sabe bem o que quero dizer com isso. Tivemos um final de semana
muito agradável em família, mas escapamos de muito confronto, como o caso
da Rachel com Mathew, por exemplo.
Estar em casa é saber que nenhum desses problemas irá me
incomodar; não até eles serem trazidos para dentro da minha casa.
Como tive apoio do meu pai e irmãos para investir na propriedade na
França, decido enviar um e-mail para Perseus explicando minha oferta. Eu
sei que ele está indo à falência, mas precisamos agir com honestidade nos
negócios, é pegar ou largar.
Passo a semana toda resolvendo essa questão, e não sei se é por
conta de todo o estresse, mas, certa noite, acabo tendo um sonho estranho e
intenso com Tasha que me deixa desestabilizado.
No sonho, ela está com um longo vestido vermelho e com um sorriso
genuíno, enquanto eu fico chorando aos seus pés pedindo perdão o tempo
todo. Quando de repente Julie surge com uma criança, um garotinho de uns
três anos em seu encalço. A minha filha pede para eu não ser igual a Mat, ela
pede para que eu fique e não os esqueça. Mas fico me sentindo culpado e
muito triste; a sensação é tão forte que acordo sendo arrasado por essas
emoções, tanto que nem consigo voltar a dormir.
Então decido ir ver o Sol nascer, colocar meu tênis de correr e ir
para o Stanley Park clarear as ideias. É uma caminhada de 30 minutos, até
chegar lá. Se eu considerar o fato de que ainda é muito cedo e não tem quase
ninguém transitando pelas calçadas, posso até chegar em 25 minutos. Mas
vou caminhando tranquilo, o que significa que chego em 40 minutos, na
verdade.
Quando alcanço o Park, começo a correr, mantenho um ritmo até
alcançar o percurso que serpenteia o rio. Corro tentando esquecer aquele
sonho, mas o rosto de Tasha nunca some.
Dói ter que ficar negando meus sentimentos e não sei por quanto mais
irei segurar.
Eu a amo, mas não sei se ela sente o mesmo por mim. Se ainda pensa
em mim ou se já tem outro. Este último pensamento me deixa louco, queria
muito que ela não tivesse desistido de mim e me arrependo pelas coisas que
disse a ela na noite da convenção.
Tasha estava certa, poderíamos ter recomeçado e eu deveria ter a
ouvido.
Quando cruzo a passagem indo em direção ao oeste do Park, é como
se ela tivesse ouvido meus pensamentos e vindo ao meu encontro.
Não é loucura, é real.
Tasha está sentada em um banco com uma de suas amigas, está
bebendo água e tem o cabelo preso em um rabo de cavalo; suas bochechas
estão cheias e ela tem um aspecto saudável, bem melhor do que a última vez
em que a vi.
No entanto, essa não é a única coisa nela que parece ter ganhado
volume, e me espanto ao perceber uma protuberância em sua barriga. Não é
um enchimento qualquer, preciso me aproximar para ter certeza do que estou
vendo, mas a minha cabeça lateja querendo dar voltas.
— Tasha?!
Ela parece se espantar com a minha presença.
Quando levanta e fica de frente para mim, percebo melhor a barriga
pontuda que o casaco de exercícios mal consegue esconder.
“Ela está grávida.”
— Oi... você... — Me aproximo completamente sem reação, talvez
isso explique o sumiço dela. Passo os dedos em meu cabelo suado. — Meu
Deus, Tasha. Você está grávida! — Sorrio sem jeito.
Ela está linda, e o sonho que eu tive...
Será?
No entanto, sua expressão não parece das melhores. Subitamente me
surpreendo quando ela dá as costas e se apressa para ir embora com seus
tornozelos inchados.
“Algo não está certo”, penso comigo mesmo.
Me apresso para alcançá-la.
— Ei, o que foi? — pergunto confuso, não sabendo suportar seus
olhos furiosos para mim.
— Você é tão cara de pau em me perguntar isso! Se tivesse
respondido os meus e-mails e não tivesse mudado de número, saberia!
— O que eu saberia?
— Esquece, Bruce. Passar bem.
Ela me contorna e sai em disparada, mesmo com aquele peso em sua
barriga. Penso rápido nos e-mails dela que ignorei por razão de, sem tempo
e sem cabeça para o que eu achava ser mais dor de cabeça; mas trocar de
número...
Percebo agora que foi muito indelicado da minha parte.
— Tasha! — insisto mais uma vez em seu encalço.
Me aproximo dela com cautela, a minha presença está causando um
tipo de reação nela que está começando a me deixar nervoso.
— Tasha, não estou entendendo. Por favor, você precisa se acalmar.
Já lidei com uma mulher grávida antes e ao ver pelo barrigão dela, já
deve estar muito perto de dar à luz. Por isso, sei que ela não deveria estar
tão nervosa a esse nível...
Isso não é nada bom.
— Sai para lá, cara! — a amiga dela pede com agressividade,
imagino que seja aquela Erin de quem ela tanto me falou.
Mas a ruiva não a escuta e volta para mim com tudo.
— Você não me atendeu. Eu tentei entrar em contato com você, mas
nunca houve respostas — diz rispidamente. — Agora você precisa lidar com
a minha indiferença também.
Ela está me odiando por isso e com razão. Mereço estar passando
por isso, mas não consigo evitar o pensamento que me ocorre, todo aquele
leque de informações que percorre minha cabeça quando olho para a sua
barriga e flashbacks de nós juntos no Havaí começam vir à tona.
— É meu? — pergunto automaticamente, um pouco lerdo e assustado.
Ela dá um sorriso triste e seus olhos para mim parecem vazios neste
momento.
— Não importa de quem é — rebate friamente.
— É claro que importa, Tasha. Que conversa fiada é essa?
Ela parece se sentir ofendida com a minha pergunta e aponta o dedo
para mim, me condenando:
— Você me ignorou todo esse tempo! Não tem direito de surgir do
nada e fazer perguntas como se estivesse no seu direito!
— Tasha, querida, por favor... — a amiga dela começa a implorar,
preocupada pelo estresse que ela está tendo.
— Errei, Bruce, mas não justifica também o que você fez comigo.
Engulo a dor que aquilo me causa, pois ela acaba de me acertar mil
socos no estômago apenas com palavras.
— É tarde demais para pedir desculpas? — pergunto um tanto
sôfrego.
Ela não responde, começa a se contorcer e segurar a sua barriga
como se ela fosse cair. Seu rosto todo se comprime em dor e eu me apresso.
A seguro para que não caia enquanto volto a deixá-la sentada no
banco.
— Com quantas semanas ela está? — pergunto a Erin que está aflita.
— Quarenta semanas — responde com o nervosismo timbrado na
voz. — Nos últimos quatro meses ela ficou de repouso absoluto devido à
suspeita de descolamento de placenta. É a primeira vez que ela teve
permissão para sair.
“Jesus!”
Paraliso, fico olhando para Erin como se estivéssemos pensando a
mesma coisa e digo:
— Então ela está entrando em trabalho de parto. — Não é uma
pergunta, é uma afirmação.
— O meu carro não está tão longe daqui — Erin diz já saindo em
disparada.
Mas não consigo ficar parado esperando que ela o alcance e venha
nos buscar. Simplesmente pego Tasha no colo com todo cuidado e ando
apressadamente com ela em meus braços até alcançarmos o carro de Erin. O
momento é tão delicado, que ela não me recrimina mais e Erin não parece
estar furiosa comigo. Temos o mesmo objetivo agora, chegar ao hospital.
Com a ajuda de Erin, a colocamos no banco de trás e me posiciono
ao lado dela. Eu literalmente não quero mais deixá-la depois disso.
Felizmente, Erin se mostra uma excelente motorista quando nos tira
do Stanley Park e dirige agilmente pelas ruas movimentadas.
Ela buzina, faz curvas muito fechadas, xinga em um momento e
outrora pergunta se Tasha está bem. Mas confesso ficar meio preocupado, os
lábios dela estão ficando roxos, deixando nítido a falta de oxigênio porque
não está sabendo suportar a dor.
— ELA PRECISA DE ANESTESIA, AGORA! — grito para Erin
que pisa fundo.
Quando alcançamos o hospital, ela estaciona o carro de qualquer
jeito e já sai pedindo ajuda aos gritos na porta do lugar.
— Chegamos. Vai ficar tudo bem. — Tento confortá-la.
Ela faz uma careta, está passando por outra contração fortíssima.
— É um menino — inesperadamente diz e não sei o que quer me
dizer com isso, já que estava me poupando de informações minutos atrás.
Lembro do sonho, onde Julie aparecia com um garotinho a seguindo.
Não sei por que estou fazendo essas associações, mas não consigo acreditar
que seja de outra pessoa. Quero acreditar que não, mas ela não parece estar
com outro cara.
É só ela e o bebê.
Quando me dou conta após essa revelação, já há pessoas de branco o
suficiente para ajudá-la a sair do carro e colocá-la em uma maca. Saio
depressa também indo logo atrás dela.
Erin vem junto e seguimos para as salas mais próximas, pois Tasha
não tem muito tempo. A amiga dela consegue passar na minha frente e isso
faz com que eu seja barrado na porta da sala de emergência pelo segurança.
— Você é o pai? — pergunta.
“Também me pergunto isso!”
Erin reaparece me puxando pelo braço.
— Sim, ele é — diz e avançamos pelo corredor branco e pálido.
— Obrigado. — Agradeço a ela, mas uma chama se acende em mim.
— Eu sou mesmo o pai?
Quando ela me olha com escárnio, acho que a resposta é não.
— Olha, eu só disse que você é o pai para te deixarem passar.
Sinto um balão se esvaziar.
“Então de fato eu não sou o pai.”
— Mas, por quê? — Fico curioso.
Sem diminuir o ritmo dos passos, Erin responde com mais calma:
— Porque ela precisa de você. E se tem uma hora para consertar as
coisas, a hora é agora.
“Ela tem razão.”
Entramos na sala, mas Erin prefere ficar do lado de fora enquanto
passa as informações que sabe a uma enfermeira sobre o pré-natal de Tasha,
já que ela não andava com os documentos naquela manhã. Ela me diz que
não está preparada psicologicamente para assistir um parto, mas eu já tenho
experiência. Então entro na sala, uma das enfermeiras pede para que eu
higienize as mãos, e me entrega luvas, jaleco e touca para que não haja
riscos de contaminação para ela e o bebê.
O parto vai ser normal, parece que ela se preparou por muito tempo
para esse momento e seguiu tudo à risca. Mesmo com o problema do
deslocamento de placenta, parece que agora não há riscos de um parto
normal após a recuperação.
— Nove centímetros de dilatação — a médica que a toca diz. —
Tasha, eu preciso que você comece a fazer força, querida.
Ela concorda.
Me aproximo, dou minha mão para que ela segure e aperte com a
força que desejar. Fico surpreso e aliviado por ela não me mandar embora.
Me inclino até o seu ouvido:
— Você vai conseguir. Eu acredito em você. — A motivo.
Então ela dá o primeiro impulso para baixo, segurando por cinco
segundos e então solta. Ela realmente se preparou para esse momento e sabe
exatamente o que fazer.
Ela volta a repetir o movimento e tenta alongar os segundos que faz
força.
— Isso, querida. Eu já estou vendo a cabecinha dele — a médica diz.
Fecho meus olhos enquanto absorvo os gritos dela iguais aos de uma
guerreira e a sua força igual a de uma leoa.
Seis minutos passam, a ouço soltar um som de alívio e um choro
explode na sala. Olho fascinado enquanto a médica segura um pequeno
serzinho choroso.
— Paizinho, você quer cortar o cordão? — a médica pergunta.
Procuro algum sinal de aprovação em Tasha. Ela está sorrindo e
chorando, e com um único movimento de cabeça me faz tomar frente desta
grande missão.
Me aproximo do bebê, seguro o cordão umbilical de um lado e a
tesoura do outro. Corto emocionado o que conecta fisicamente os dois, mas
sei que a conexão entre eles será mais que apenas um órgão.
Pego o pequeno no braço, o aninho até me aproximar de Tasha e
deixá-lo sentir a presença da mãe.
— Parabéns, mamãe — murmuro em seu ouvido.
— Oi, meu amor.
A ouço dizer baixinho para o bebê que só se acalma ao ouvir a voz
dela.
— Mamãe esperou tanto tempo para te ver.
Tenho um sorriso bobo no rosto e já nem consigo segurar as lágrimas
que caem freneticamente de pura alegria.
— Meu Deus, ele tem seu nariz — comento e ela sorri.
Parece um sonho, mesmo que o bebê não seja meu, aparentemente.
Mas sou trazido de volta à realidade quando uma inquietação começa a
deixar tudo diferente ali dentro.
— A PRESSÃO DELA ESTÁ AUMENTANDO
CONSIDERAVELMENTE! — alguém grita e outra toma o bebê dos meus
braços. — Senhor, peço que aguarde lá fora.
— O que está acontecendo? — pergunto nervoso.
— Princípio de eclampsia. O senhor precisa esperar lá fora!
Pisco atordoado e não consigo digerir muito bem aquela informação
até que estejam a tirando da sala de parto.
— PARA ONDE ESTÃO A LEVANDO? — grito já no corredor e
Erin surge logo ao meu lado.
Ninguém diz nada, mas é nítido quando vão para a sala de
emergência.
Me ajoelho no chão sentindo um turbilhão de coisas, não percebi
quando comecei a chorar, mas estou soluçando feito uma criança porque não
quero perder Tasha.
Sinto mãos me consolarem e é Erin.
— Eu não quero perdê-la. Que droga! Eu cometi o maior erro da
minha vida, senti falta dela todos os dias e percebi o quanto a amava, mas eu
não fiz nada. Eu não fiz nada.
— Você vai dizer isso a ela — Erin diz em lágrimas também. — Vai
dar tudo certo, Bruce. Ela vai ficar bem e você vai dizer isso pessoalmente a
ela.
É o que eu quero acreditar.
TASHA
Foi desesperador.
Não presenciei tudo conscientemente, mas sei que em dado
momento, estive muito perto da morte.
Felizmente, tudo deu certo e não poderia estar mais feliz.
Mesmo exausta, não consigo dormir, estou com muita adrenalina e
entusiasmo com a chegada do meu filho e o meu novo status de mãe.
Ainda não me acostumei a isso, mas acho que a ficha só vai cair
quando meu pequeno começar a me chamar de mãe.
Sei que ele mal nasceu e já tenho pensado nessa etapa que vai
demorar um pouquinho para chegar, mas confesso que estou ansiosa com
todo o desenvolvimento e já orgulhosa de antemão com o que iremos viver,
isso não significa que antes não tenha sonhado com esse momento. Dar à luz
é algo único que apesar de toda dor, é extremamente divino.
Não consigo me expressar em palavras como estou me sentindo
orgulhosa por ter superado o parto normal, algo que era um fantasma para
mim, mesmo com toda a minha insistência em querer vivenciar as coisas o
mais natural possível.
Houve um momento que achei que não conseguiria e que pediria
arrego, mas estava sentindo meu bebê cada vez mais perto de vir para meus
braços.
Por meses temi ser mais uma vez julgada pelas pessoas na internet e
dessa vez falarem que estou dando o golpe da barriga, por isso, parte do meu
sumiço se dá a esse detalhe.
Assim que dei à luz, Lili já estava no hospital com as minhas coisas e
as do bebê. Erin deve ter avisado a ela quando entrei na sala de emergência.
Me pergunto se a minha mãe foi avisada ou Charissa.
As duas sabiam da minha gravidez, no entanto, Charissa estava mais
preocupada em vender a propriedade da França para Bruce a se importar
com a irmã grávida, mas mamãe é uma exceção à parte. Ela me visitava
quando podia, demonstrou apreço pelo bebê e cuidou de mim muitas vezes.
Sou muito grata a companhia que ela me fez, mas ainda temos muito o que
reconstruir em nossa relação. Ainda mais agora, que tenho um bebê
pequenino.
Um bebê que é de Bruce e ele mal faz ideia.
Encontrá-lo no Park foi pura ironia do destino, pois quando ele me
ignorou por muito tempo, resolvi devolver da mesma forma. Estive furiosa
com ele, mas não esperava de fato sentir tanto apreço ao vê-lo. Ele é pai do
meu filho e o homem que eu amo, mas achava que deixá-lo distante de mim e
do bebê, seria o melhor.
— Que bom que irá amamentá-lo, Tasha. É um passo muito
importante para criar a conexão entre mãe e filho — a enfermeira diz
docemente enquanto instruí como amamentar meu bebê.
— Ele está faminto — comento com um sorriso débil ao vê-lo
apavorado para pegar o bico do meu peito à procura de comida.
Fui avisada que a amamentação seria um processo doloroso, mas
caramba...
Sinto meu filho se alimentar de mim.
Eu sou a fonte dele, assim como ele sempre será a minha agora.
Enquanto ele se alimenta, tento não chorar ou gritar com a dor da
sucção. Me distraio enquanto admiro cada detalhe seu, os dedinhos
delicados e frágeis, os fiozinhos de cabelo ruivo que sustenta fragilmente
sobre a sua cabeça. Sem contar que ele é todo peludinho, igual ao pai.
Só quando o bebê está bem alimentado e dormindo, peço para que a
enfermeira chame Bruce para mim. Ela sai logo em seguida.
É impressionante como ele chega em questão de segundos e imagino
como deve ter esperado por esse momento. Bruce passa pela porta
cautelosamente, encolhido e com os olhos confusos. Ele não sabe se olha
para mim ou para o bebê.
— Oi — diz já com os olhos cheios de lágrimas. — Como se sente?
Balanço a cabeça primeiro para conter o soluço em vê-lo desse jeito.
Confesso que ainda é uma surpresa para mim que ele continue aqui.
— Estou bem. Foi uma loucura, mas deu tudo certo.
— Você nos deu um susto — comenta sorrindo sem jeito.
Isso reflete em meus lábios e um nó se forma na minha garganta.
Toda minha gestação foi sem a presença de Bruce e sei que tanto ele
quanto eu somos culpados, isso porque não fomos honestos um com o outro,
nem com nós mesmos.
Então decido que essa é a melhor hora para termos a conversa que
deveríamos ter tido há meses.
— Sabe, naquela sala antes de perder noção de tudo, só implorava
para que algo tocasse em seu coração e cuidasse do bebê, caso eu... Enfim
— comento contendo as emoções, mal conseguindo ter coragem de
completar o pensamento. — Mas pensei melhor e cheguei à conclusão que
você merece saber, porque ele precisa de alguém que eu saiba que vai estar
lá para ele.
— Tasha, está tudo bem. — A mão gentil dele faz carinho em meu
rosto e paro para saborear aquela sensação que ficou um tempo ausente e
tanto desejei. — Eu amo você e fui um burro egoísta achando que estava
fazendo a coisa certa. O que eu sinto por você é tão forte, que qualquer coisa
que tenha traços seus, sei que me fará feliz e completo. Como este bebê.
Olho para o pequeno serzinho no berço e concluo dolorosamente:
“ELE É SEU FILHO!”, meu subconsciente grita.
Começo a rir por sua inocência e ingenuidade por ser tão
benevolente, foi por isso que me apaixonei por ele. Bruce me deu todos os
motivos para tratá-lo com indiferença, mas agora, mesmo depois de quase
ter morrido, sei que é errado mantê-lo longe do próprio filho.
Então revelo com a voz embargada:
— Ele é seu, Bruce. Este bebê é seu filho.
Observo sua reação e vejo que primeiro, ele é assolado por surpresa
depois alegria exacerbada.
Bruce alarga um sorriso de orelha a orelha.
— Você pode não acreditar nisso, mas não estive com outro homem
desde que nós... — Nem sei como terminar a frase.
— Eu sei que sou o pai, pude sentir essa certeza. Só estava
esperando você confirmar.
Respiro fundo.
— Eu tentei te contar, Bruce... Tentei de verdade... Mas você não
parecia aberto a conversas e entendi que estava se sentindo ferido, traído.
Por isso temi como reagiria ao saber que teríamos um filho.
Ele se inclina na minha direção e segura meu rosto com carinho para
que eu olhe com firmeza.
— Tasha, amo você fortemente, tudo o que eu precisava era de um
salto de coragem. Me perdoe por ter sido esse idiota, mas prometo que vou
fazer tudo diferente.
Dou um sorriso desencorajador.
— Você não precisa dizer essas coisas só porque tem um bebê agora,
Bruce.
Isso o deixa ofendido.
— Pelo amor de Deus, Tasha. Já sei que vou ter que ralar muito com
você, não é? — supõe de um jeito divertido que me faz rir. — Sua boba, eu
amaria você e esse bebê mesmo que ele não fosse meu. Quero ter a chance
de tê-la na minha vida de novo, porque foi você que me deu a esperança de
ser feliz mais uma vez. Reconheço que fui um babaca, mas estava ferido.
Achei que seria usado, mas sei que agora foi tudo diferente. Por favor,
Tasha, não me faça perder isso. Eu gostaria muito de viver isso com vocês.
Lágrimas rolam pelo meu rosto porque consigo sentir sua
sinceridade, meu coração bate tão forte que parece que vai explodir, mas é
uma sensação boa demais para ser verdade.
— Então vamos recomeçar? Porque também quero que você me
perdoe se algum momento eu o machuquei, nunca foi a minha intenção,
Bruce.
— Eu preciso dizer mais alguma coisa, Tasha? Só seja minha.
— Eu sempre fui, Bruce. Sempre fui sua — confesso entre lágrimas.
Bruce me beija de um jeito gentil e quase desesperador ao mesmo
tempo, tanto que consigo sentir em seus lábios o medo que o perpetuou em
me perder. Mas agora as coisas parecem voltar ao seu eixo. Fico feliz que
ele tenha entendido tudo agora, mesmo tarde, mas o suficiente para merecer
meu perdão, meu coração
Ele não sai de perto de mim desde então. Não temos agido como se
tivéssemos passado meses sem nos falar e isso é bom, porque torna o
ambiente mais leve e familiar.
“Família.”
Mesmo que tenhamos algo indefinido, Bruce e eu temos uma família
agora. Ele, nosso filho e eu.
— Você precisa descansar — diz assim que nos recuperamos
daquela conversa intensa.
— Tenho medo de fechar meus olhos e isso tudo ser um sonho —
murmuro com a voz rouca e pesada, além das pálpebras dos olhos que não
consigo mais manter abertas.
— Se fosse um sonho, toda aquela dor que sentiu teria te feito
acordar, não acha? — sugere com humor e me permito gargalhar.
— É verdade. — Meu olhar para ele recai com satisfação e alívio.
— Eu nem acredito que você está aqui.
— Eu sei. Também tenho medo que seja tudo um sonho — confessa.
Estremeço ao sentir os dedos dele mais uma vez acariciar meu
cabelo sujo de suor. Ele vem fazendo esse carinho em mim desde o momento
em que tive o bebê.
Sinto algo dentro de mim se apertar e impulsionar um sentimento
angustiante e apavorante quando penso na possibilidade disso tudo terminar.
— Bruce, promete que você estará aqui quando eu acordar? — reluto
mais um pouco com os meus olhos, mas consigo vê-lo incrédulo diante do
meu pedido.
— Eu não vou sair daqui, Tasha. — Encontra minha mão e a aperta
com uma força gentil e protetora. — Não irei nunca mais perder você de
vista.
Fecho meus olhos e sorrio, querendo lembrar disso em meus sonhos
mais profundos.
— Que bom, porque também não quero — pronuncio antes de
adormecer.
Caio em um sono profundo, mas que dura questão de poucos minutos.
Estou exausta, mas meu instinto de mãe fala mais alto e acordo sobressaltada
só para ver se o meu filho está bem. O encontro acordado, mostrando seus
pequenos olhos verdes enquanto pisca tentando se adaptar ao novo mundo, a
novidade que é mexer as perninhas e os bracinhos fora da minha barriga,
mas é por isso que ele é mantido enrolado em uma manta, para que ainda
tenha a sensação de estar presinho dentro de mim.
A minha barriga surpreendentemente voltou a ficar seca e um pouco
flácida, mas ainda é estranho olhar para baixo e não ver mais aquele
barrigão.
A gravidez foi uma experiência sensacional para mim e adoraria
poder voltar a senti-la.
Olho para o lado, percebo que Bruce caiu no sono sobre o sofá que
há no canto direito próximo a porta e a luz do quarto foi reduzida para que
não incomodasse tanto assim. Olho para o relógio e vejo que já são nove
horas da noite, tive meu bebê às nove da manhã.
Nem acredito que tudo foi num dia só.
Não demora muito e Erin aparece com uma bandeja com comida para
mim. Ela sorri quando vê que estou acordada e deposita o conteúdo sobre a
mesinha ao lado.
— Bem, mocinha, devo alertá-la que seu cardápio ainda precisa ser
o mais saudável possível — diz após revelar a sopa cheia de legumes.
Faço uma cara feia.
Ok, talvez deva admitir essa parte chata da gestação que vai se
estender até a fase da amamentação. Foi muito difícil me desprender das
porcarias que amava comer, às vezes até podia tomar sorvete ou comer um
hambúrguer, mas há meses que não tomo refrigerante ou que não como
nuggets. Entretanto, a dieta saudável me ajudou a não ter problemas comuns
que podem surgir na gestação, mas que seriam um empecilho no parto
normal.
Me ajeito na cama para receber o prato fumegante da sopa que Erin
coloca sobre o suporte em minha frente. Aprendi a gostar dessas comidas,
mas não sei se também a fome de dragão me fez comer essas coisas com
mais facilidade. A minha barriga ronca no mesmo instante que o cheiro bem
temperado da sopa atiça meu estômago.
— Estou faminta! — murmuro pegando a colher. — Será que não vai
rolar nem uma fatia de bolo como sobremesa?
Em resposta, Erin me mostra uma maçã.
— Argh, que sem graça. — Faço uma careta e ela sorri.
— Não tem para onde fugir é comida de hospital — retruca olhando
por cima do ombro em direção a Bruce dormindo no sofá. — Caramba, ele
ainda está aqui.
— Não acho que vá embora — Olho para ele que dorme
serenamente.
— Na maioria dos casos, o homem some na primeira oportunidade
que descobre que é pai.
— Saiba que Bruce tem caráter o suficiente para não fazer algo do
tipo — defendo.
— Não está mais aqui quem falou — retruca de forma surpresa
depois diz baixinho: — Mas lembro que você desejou que ele ficasse de pau
mole para sempre caso não quisesse assumir.
Me engasgo com a lembrança de Erin. Pior que o amaldiçoei caso
ele não assumisse o filho, mas estava tão brava naquele tempo com Bruce
porque ele não estava respondendo meus e-mails. Grávida com os
hormônios à flor da pele, só desejei que um meteoro caísse na cabeça dele,
cada vez que ele me ignorava. Até eu decidir parar de tentar chamar a
atenção dele porque já estava sendo ridículo demais e não precisava de um
homem para criar o meu filho. No fim era só uma questão psicológica para a
criança mesmo, que temia ver crescer sem uma presença paterna. Mas eu
sozinha poderia dar conta da minha responsabilidade.
E aí, aconteceu quando menos esperava e no momento certo.
A vida é mesmo uma caixinha de surpresa. Nem mesmo um mágico
tem tantas cartas na manga quanto as coincidências da vida.
— Estou grata que ele esteja aqui, Erin — afirmo olhando para ele
com amor e carinho.
Estou mais que grata, estou orgulhosa que Bruce não tenha me
decepcionado no fim, mesmo depois de todas minhas tentativas de fazê-lo
saber do bebê.
E por falar no meu bebê, ele começa a ficar inquieto no berço. Mal
dou cinco colheradas na minha sopa, ele começa a choramingar e se remexer
dentro da manta.
— Acho que ele quer sua sopa — Erin diz e depois começou a falar
com a voz fininha enquanto o paparicava. — Oi, neném lindo da titia!
De uma coisa eu sei, jamais vai faltar amor a ele.
Os grunhidinhos do bebê fazem Bruce acordar. Ele se espanta quando
percebe que estou acordada e Erin me fazendo companhia. Senta, passa a
mão no rosto, aperta os olhos duas vezes e pronto, já está acordado o
suficiente.
— Oi. — Se aproxima e cumprimenta Erin.
— Olá, a enfermeira me disse que seu jantar chegará daqui a pouco.
— Tudo bem, obrigado. Mas nem estou com muita fome. — Olha
para mim, acaricia minha perna por cima do lençol e mantém seu olhar
apaixonante em minha direção. — Conseguiu descansar?
Faz tanto tempo que ansiava por um toque dele, por mais singelo que
fosse. Agora vendo a mão dele ali com um relógio de ouro logo abaixo,
ornando seu pulso, me sinto vibrar com sua masculinidade. Nem gostaria de
saber o que eu sentiria caso reparasse tempo demais em seus outros atributos
além daqueles dedos incríveis.
— Uns 30 minutos, eu acho.
— Você é mãe agora, o descanso acabou para você — Erin diz,
porque o que ela não tem de sutileza, tem de honestidade.
— Se quiser posso contratar uma babá — Bruce propõe.
Erin e eu nos entreolhamos depois dou um sorriso gentil a Bruce.
— Eu e as meninas já discutimos sobre isso — começo a explicar.
— Eu decidi que passarei seis meses me dedicando ao bebê. Posso trabalhar
em home office até lá e fazer reuniões on-line. Até pensei na possibilidade
de ter uma babá, mas quero estar 100% para ele nos primeiros meses pelo
menos.
Bruce me analisa por um tempo e então alarga um sorriso que chega
aos seus olhos encantadores.
— Tudo bem, é uma ótima escolha, na verdade. Posso remarcar toda
a minha agenda para os próximos 12 meses e ficar com vocês.
— Bruce, eu...
— Na verdade, gostaria muito que você se mudasse para minha casa
— sugere inesperadamente, conseguindo me deixar calada e completamente
espantada com a oferta.
— Wow, calma aí, cara — Erin, minha melhor amiga, logo a mais
ciumenta, o repreende com uma cara feia. — Não pode chegar do nada
fazendo a ela esse tipo de convite.
— Assim como descobri que seria pai de novo? — retruca e acho
que percebo uma fagulha entre os dois.
Erin tem um temperamento forte, Bruce é reservado, mas ela está
lidando com um pai que só quer proteger sua família.
— Tudo bem, Erin. — Tento tranquilizá-la antes que ela volte a
recriminá-lo como fez durante minha gestação.
Eu diria que Erin cogitou odiá-lo, mas nas últimas horas imagino que
esteja começando a mudar de opinião.
— Precisamos ir com calma. Quero poder curtir um pouco o bebê em
casa e o quarto que preparei para ele.
Os olhos de Bruce chegam a brilhar iguais aos de uma criança.
— Então você vai aceitar? — pergunta entusiasmado.
Sorrio para ele.
— Este assunto está aberto à discussão. — Olho para Erin de um
jeito ríspido. — Entre “nós” dois.
Ela bufa e revira os olhos, erguendo as mãos em rendição.
— Já sei, estou sobrando ao atrapalhar o momento família. Mas eu
cheguei primeiro, Tasha, sou a sua melhor amiga — declara enciumada.
— Isso vale para o Bruce ou para o bebê? — pergunto.
— Para os dois. — Beija o topo da minha cabeça e faz um carinho na
bochecha do meu filho. — Eu preciso ir. Tchau, Bruce.
— Até logo, Erin — diz num tom provocativo.
É meio tarde para esses dois começarem um pé de guerra.
Quando ela chega na porta, avisa antes de sair:
— Ah, e pelo amor de Deus. Deem logo um nome para o menino! —
Sai afobada, mas sem bater à porta com força.
Olho para Bruce esperando uma resposta e ele apenas dá de ombros.
— O que você escolher — diz e concluiu convencido: — Já mostrou
ter um ótimo gosto, mesmo.
Sorrio para ele e sua arrogância que vez ou outra dá as caras. Fico
feliz que tenha esse ar apaixonante e carinhoso entre nós dois, e não farpas
como se houvesse um pandemônio, como temi que fosse acontecer.
O bebê choraminga mais um pouco e então o pego no colo
cuidadosamente. Bruce se detém com a sua mão ali, em prontidão para
qualquer deslize meu. Ele já fez isso muitas vezes, pois além de Julie, tem
mais três sobrinhas, mas dá tudo certo.
Ele me ajuda a aninhar o bebê confortavelmente em meu colo, coloco
meu seio para fora do roupão e o ajudo a pegá-lo.
— Hum, já vi que esse rapazinho e eu teremos muitos problemas ao
brigar por você — comenta divertidamente num tom enciumado.
— Então nós estamos bem? — pergunto cheia de expectativas.
Ele se aproxima de mim para me olhar melhor nos olhos enquanto
declara:
— Tasha, você não sabe o quanto me arrependi de aceitar um
recomeço ao seu lado. E todos esses meses estive sendo engolido por um
orgulho que me só me deixava diferente e eu não era aquilo. — Pega minha
mão com delicadeza, abaixa a cabeça para beijar os dedos e disfarçar as
lágrimas que não tem mais controle. — Quando estou com você, sou uma
pessoa melhor. Esperei tempo demais para sentir isso tudo mais uma vez e
não posso deixar de perder essa oportunidade. Eu amo você... Amo mesmo e
não vou mais esconder isso nem de mim e muito menos de você, Tasha
Alexander.
Mordo o lábio para conter o soluço, mas nada impede minhas
lágrimas de rolarem.
— Eu também amo você, Bruce. Fico feliz que esteja aqui — digo
com a voz embargada, sufocada pelo choro de felicidade que me arremete.
— Eu sempre estarei. Você vai precisar me aturar por muitos e
muitos anos, meu amor. — Se inclina e me dá finalmente um beijo cálido,
suave e apaixonante.
Por um tempo achei que jamais provaria seu beijo ou que sentiria
meu coração bater igual as asas de um beija-flor. Me culpei tanto por afastá-
lo, quando na verdade enfrentávamos fantasmas diferentes.
Amo Bruce a ponto de não conseguir expressar em palavras o que
sinto, o amo tanto que acho que minha história começa a partir daqui, com
nosso brotinho de felicidade em meus braços.
“Meu Benjamin.”
— Benjamin — digo orgulhosa, com um olhar empolgante em sua
direção ao ter feito essa descoberta. — Ele vai se chamar Benjamin.
Se eu disser que não fiz uma pesquisa pesada sobre nomes e seus
significados, estaria mentindo. Benjamin é um dos meus favoritos, além de
ser bonito, significa "Filho da felicidade", e assim como meu nome.
Gostaria muito que o dele tivesse um significado bonito.
— É perfeito — Bruce diz e se esgueira até o bebê que mama
fazendo suas bochechas gordinhas e rosadas se sobressaírem. — Oi,
Benjamin. Papai finalmente está aqui.
Nosso filho trouxe a felicidade há tempos reprimida e agora é uma
nova história ao seu lado.
••••
A família de Bruce recebe com felicidade e carinho o novo membro
da família. Todos ficam com os ânimos à flor da pele, eletrizantes e
apaixonados por Benjamin.
Fico bastante surpresa quando a mãe de Bruce e Julie aparecem para
nos visitar. Fico chocada como a mãe dele é extremamente bonita, mesmo
aos 70 anos, e Julie é a cópia de Melissa.
Pat, a mãe de Bruce, fica emocionada toda vez que vê o neto e mostra
através de fotos ser a cara do filho quando bebê.
— Ele é definitivamente seu filho — comenta assim que coloca os
olhos em Benjamin.
— Vovó! — Julie tenta alertá-la.
— Ué, mas estou mentindo? Cara de um, fucinho de outro.
— Pelo menos não restam dúvidas. Como você se sente, Julie,
sabendo que tem um irmãozinho?
Ela abre um sorrisão.
— Estou muito feliz, Tasha. Sem contar que finalmente meu pai
parece bem —diz o olhando com paixão.
A mãe de Bruce alarga um sorriso, parecendo concordar:
— Bruce nunca me decepcionou com suas escolhas, ele sabe disso
— afirma mais para o filho do que para mim.
Thomas também está todo babão principalmente por ter um neto, já
que foi muito agraciado com netas. Os tios de Benjamin também olham por
essa mesma lente e quando nos visitam no outro dia, logo depois de Pat e
Julie, Mathew e Christopher ficam admirados.
— Bruce, você sabe que ele tem que torcer para os Lakers, não é? —
Mathew sugere.
— Já vou providenciar uma roupinha para ele — Bruce enfatiza.
— Será que Rachel aceita trabalhar como babá para vocês —
Christopher pergunta, mas Mat é mais rápido.
— Ela trabalha cuidando das minhas filhas, seu babaca.
— Pode ser uma proposta tentadora para ela que já está farta de você
— o Mackenzie mais novo provoca mais uma vez.
Fico olhando aquela discussão um tanto curiosa, então olho para
Bruce e ele cochicha um:
— Depois te explico...
Fiquei nervosa sobre como a família de Bruce me receberia, mas a
minha principal preocupação foi como Julie me aceitaria, já que seu pai quis
assumir um relacionamento comigo assim que deixamos a maternidade. No
entanto, para meu alívio, a garota é simplesmente amável e incrível; me
recebeu com muito carinho e mostrou estar apaixonada por Benjamin.
Eu disse que não precisava de uma babá, mas tenho Julie agora de
qualquer jeito, e ela tem experiência com a coisa, mesmo que seu irmãozinho
seja o mais novo.
Ficamos exatamente três dias na maternidade, até que Bruce nos leve
de volta para meu apartamento onde mal vejo a hora de inaugurar o quartinho
de Benjamin.
Erin levou um vestidinho leve e branco, para combinar exatamente
com a roupinha de Benjamin que escolhi para a saída dele da maternidade.
Erin e Lili vão na frente, abrindo a porta do meu apartamento com
pressa e um ânimo um tanto exagerado.
Quando chego na porta, sou surpreendida por toda família Mackenzie
a nossa espera em meu apartamento. Eles não fazem barulho algum para não
assustar Benjamin, mas os sorrisos em seus rostos revelam mais que vozes e
aplausos.
— Espero que não se sinta incomodada, querida. Resolvemos dar
boas-vindas — a mãe de Bruce trata de explicar logo.
— Tudo bem, obrigada pela surpresa.
— Rachel, esse é o novo filho do tio Bruce? — uma garotinha
pergunta a uma mulher ao seu lado, linda e com um olhar gentil.
Percebo que há mais duas igual a ela, então concluo serem as
trigêmeas de Mathew.
— É sim, querida.
— Podemos brincar com ele? — pergunta a segunda gêmea toda
animada fazendo todos ali acharem graça.
— Por enquanto, não, meu amor. Ele está muito novinho — a babá
responde com mais carinho do que eu poderia esperar de uma babá.
— Papai, queremos um irmãozinho! — a terceira gêmea exige.
Christopher ri tanto que se engasga, atraindo um olhar mortal de
Mathew que fica calado, mas quem toma fala é o patriarca da família.
— Essa é a família dos meus sonhos — diz na minha direção com um
sorriso aberto e acolhedor.
— Igualmente, pai — Bruce rebate surgindo ao meu lado, passando o
braço ao meu redor.
Como não me sentir amada e aceita ao mesmo tempo?
Não digo a nada a Bruce, mas me sinto bem por ele estar me
permitindo viver momentos gostosos como esse. Além de ser incrível como
a chegada de Benjamin mudou nossas vidas num estalar de dedos. Sou grata
ao meu filho, que tornou possível a paz reinar mais uma vez entre Bruce e eu,
fazendo finalmente o amor ser maior que tudo.
***
Agora com essa vida de mãe corrida, tenho muitos momentos para
classificar como o meu favorito, mas certamente, o que eu mais gosto e sinto
que é meu momento, é quando Bruce chega do trabalho e faz amor comigo.
Ele foi tão paciente ao esperar o puerpério passar, tanto que esperou
mais um pouco só para ter certeza que eu já estava bem para voltarmos à
atividade.
O sexo entre nós ficou melhor do que nunca. Gosto que Bruce não se
importe com as curvas que ganhei depois da gravidez; na verdade, isso o
excita muito.
Às vezes quando não me sinto disposta o suficiente, ele que vem e
faz todo o trabalho, me levando à loucura mesmo que esteja morta de casada.
Depois, quando ele menos espera, o recompenso também.
Isso tudo tem mostrado o quão as coisas ficaram perfeitas entre nós.
Até mesmo a mídia recepcionou bem as notícias, eles adoram mulheres
grávidas e como escondi com medo de ser julgada, agora sou usada como um
exemplo do que a hostilidade das pessoas pode fazer com outra pessoa.
Não nos pronunciamos muito a respeito, queríamos mesmo era paz.
Tomamos cuidado para não vazar a informação que Bruce só soube da
gestação nos últimos minutos, é algo que ele culpa até hoje.
Mamãe às vezes vem me visitar, mas ela já percebeu que Bruce não
curte muito sua presença, então ela só aparece quando ele está no trabalho.
Ela diz que Charissa e Perseus estão focados no dinheiro que pegaram
quando Bruce comprou a propriedade deles pelo valor significativo, eles
têm medo deles não se controlarem e irem à falência de novo.
Certamente, falência é para onde eu não irei nos próximos anos.
Em uma manhã de semana quando estou em reunião on-line com a
minha equipe, Lili me informa:
— Já faz um ano que seu caso com o Bruce no Havaí fez a internet
explodir com a história. Acontece que agora todo mundo está vendo como
uma linda história de amor e tem gente desesperada para encontrar a cara
metade no site.
— Lili, isso é ótimo! — comemoro.
— Pois é, o 14 Dias Casados deixou de ser apenas uma marca na
mídia, para se tornar uma marca de interesse. Só este mês vendemos dez
pacotes Gold, fora os outros pacotes disponíveis
A equipe explode em aplausos, mas faço apenas joinha. Benjamin
está dormindo no Moisés logo na sala.
— Obrigada, Tasha, por ter dado o impulso que precisávamos! —
Erin diz do outro lado da tela e reviro os olhos.
“Ela e seus comentários ácidos de sempre.”
— Erin, você tem algo a nos dizer? — pergunto a ela, lembrando que
havia uma notícia bombástica a nos contar nessa reunião em específico.
— Ah, é verdade. Bem, estão preparados? — Se apruma na cadeira e
faz um leve suspense. — Uma famosa emissora ficou interessada na proposta
do site e quer comprar ações na empresa para ter o direito de fazer um
reality show baseado no 14 Dias Casados.
Evito um grito tampando a boca rapidamente, mas me levanto e fico
dando pulinhos de alegria com essa novidade.
14 Dias Casados, na TV?!
— Eles querem usar o nome e a mesma proposta do site. Vão
transmitir o programa em mais 23 países e fazer uma divulgação pesada —
Erin explica a oferta, contendo a emoção, coisa que eu já nem mais
conseguia controlar. — Tasha, eles querem começar as gravações o mais
rápido possível, então tudo vai depender de você e a disponibilidade para
estar presente na reunião com os produtores.
Balanço a cabeça com urgência.
— Sim, sim! Por Deus, Erin, agende para amanhã, se possível! —
exclamo afobada.
— Ótimo — afirma sorridente. — Vamos fazer o 14 Dias Casados
entrar para a história.
Quando a reunião termina, só quero ir para sacada do meu
apartamento e gritar de felicidade, mas tudo o que faço é alcançar Benjamin
e acariciar sua bochecha enquanto dorme serenamente.
“O filho da felicidade.”
Tenho a constante impressão que tudo passou a dar certo na minha
vida quando ele nasceu.
Animada, pego meu celular e conto a novidade a Bruce. Agora tudo o
que eu faço, ele está incluído, afinal minha vida agora só faz sentido com
Benjamin e ele.
Eles são a minha família, assim como Julie.
Ainda tenho medo de acordar e tudo ser um sonho, mas é real.
A vida real também pode ser perfeita.
BRUCE
Termino meu café em Downtown e preciso me apressar para

caminhar mais alguns quarteirões para chegar no local que marquei com

Christopher. É final de verão, mas ainda faz muito calor e não me aguento

mais ficar dentro dessa roupa do trabalho, de onde desci e vim me preparar

para uma tarefa que requer muita atenção.


Olho para o relógio em meu pulso e são exatamente 18h:15min. Hoje,
não irei dormir com Tasha, então não preciso me preocupar em chegar cedo,
preciso ir para casa e fazer alguns ajustes.
Ela só vai passar a morar comigo quando Benjamin estiver prestes a
completar um ano, palavras dela.
Parece que ela não consegue se desprender do quartinho dele, por
isso, temos planejado juntos um outro para ele, agora que sabemos
exatamente as cores que chamam sua atenção, assim como os animais e
objetos que gosta, para ser pintado na parede.
Mas não é por isso que estou aqui hoje, atravessando quatro
quarteirões em pleno calor de Vancouver, de terno e tudo enquanto tento não
me atrasar para o encontro com Chris. Hoje viemos juntos para o trabalho,
por isso estou completamente dependente dele com transporte, mas o filho da
mãe saiu antes de mim.
Parece que é proposital!
Mathew e eu amamos carros, mas Christopher adora motocicletas. Eu
ficaria extremamente puto se ele me aparecesse com a Harley dele, mas com
sorte, vejo o seu Audi estacionado em frente à Tiffany, exatamente como
solicitei.
Entro na joalheria e já encontro meu irmão flertando com uma das
funcionárias. Ele se mostra muito interessado por um bracelete de ouro
masculino, mas sei que é só charme.
— Ah, aí está ele — diz para a vendedora morena que abre um
sorriso gentil. — Será que vai comprar um anel de diamante? — pergunta
para ela lançando um olhar galanteador.
Ela continua a sorrir, como é instruída a fazer em qualquer situação
ocorrida no trabalho.
— Eu compraria bom senso para você, mas ninguém encapsula e
vende ainda, o que é uma pena pra alguém que tem um irmão canalha — digo
sarcasticamente
— Está com raiva porque saí mais cedo e fiz você
andar uns quarteirões? — indaga com um sorriso perverso.
— Estou com raiva porque você saiu e precisamos remarcar o
horário de encontro.
— Você não quis me dizer o que era. Fez suspense demais, então
achei que seria bom você provar do próprio veneno — explica ajeitando os
botões do seu terno cinza.
— Não tenho muito tempo, Chris. Eu disse isso a você. — Tento não
me irritar com ele, embora as nossas brigas nunca passem de trocadilhos e
sarcasmo puro.
Minhas discussões com Chris são mais saudáveis que as com Mat,
que são sempre intensas e ele tem todo aquele porte físico que às vezes temo
me atirar uma geladeira.
— Tá, então o que é tão importante que não pode ser esperado? —
pergunta em deboche.
Não faço suspense quando o revelo:
— Irei pedir a Tasha em casamento amanhã, quando a família estiver
toda reunida.
Os olhos verdes de Christopher ficam esbugalhados pela surpresa.
Ele logo mostra os dentes bonitos quando sorri feliz com a novidade. Mas
depois ele dá um ar de derrotado ao esclarecer:
— Claro! Como não imaginei isso antes? — Olha ao redor. —
Tiffany, tava na cara o tempo todo... E eu achando que você compraria para
mim sei lá, um desses relógios.
Olho para o balcão de relógios que reluzem em dourado.
— Você tem uns cinco desses, Chris.
— É verdade — assente, mas ainda mantem a expressão de confuso.
— E por que estou aqui mesmo?
— Porque você foi o único que se casou mais vezes nessa família —
explico enfiando as mãos nos bolsos enquanto vejo seu rosto contorcer em
desaprovação.
— Eu achei que você fosse dizer que sou seu irmão favorito. E eu só
me casei duas vezes — diz mostrando dois dedos para enfatizar essa
informação.
— Mat e eu uma vez. Você ganhou.
Bufa.
— Quero ver no que eu serei útil.
Ando em direção a mesa de anéis e viro para ele.
— Achei que você também gostaria de relembrar os velhos tempos,
já que também me ajudou a encontrar o anel perfeito para Melissa.
Dizer isso o deixa um pouco desestabilizado. Os dois eram muito
amigos e, por mais que Chris não confesse, sou seu irmão e o conheço muito
bem. Sei que ele já flertou com a minha ex-mulher antes dela me conhecer,
mas não deu certo então ele seguiu em frente. Chris nunca desrespeitou nosso
relacionamento e Melissa virou uma irmã para ele, principalmente depois
que Julie nasceu.
Mas dizer isso o deixou mais tocado e um pouco calado, refletindo
sobre o que esse momento pode representar para mim. Somos atendidos por
um joalheiro careca e baixinho, ele nos atende com excelência e mostra toda
sua gama de anéis, um mais perfeito que o outro.
Quando estamos os avaliando, Christopher comenta:
— Achei que você tinha dado um anel de noivado para ela no Havaí.
Dou um sorriso divertido ao relembrar a ocasião e que Tasha havia
me dito que o escondeu dentro da sua bolsinha de anticoncepcional para não
ter mais que olhar para ele.
— Aquilo fazia parte da encenação. Recomeços precisam de coisas
novas, não é?
Ele mal responde quando o joalheiro surge com um anel que parece
ser perfeito.
Pela primeira vez, depois de muitos, presto atenção em casa detalhe
do anel que o homem de mãos enluvadas nos dá:
— Este é de ouro branco e de diamantes com 20 pontos centrais.
Me curvo para vê-lo melhor. Seu designer dá uma sensação
harmoniosa aos olhos, e consigo visualizá-lo perfeitamente no dedo elegante
de Tasha.
Chris assobia logo atrás de mim.
— É uma belezinha — comenta.
— Vou levar — digo sem exceções.
— É uma ótima escolha, senhor — diz o joalheiro muito feliz com a
minha compra, claro.
Pago a compra sem muito alarde, pois tudo o que consigo ver é Tasha
com este anel de noivado real.
Pedi-la em casamento é um desejo meu desde que descobri a
existência do Benjamin, mas que só deixei procrastinar porque ela estava
completamente entregue a cuidar do nosso filho e não queria tirar toda
atenção dele.
Estou todo animado quando de repetente, saindo da Tiffany,
Christopher faz um comentário estranho que me deixa surpreso:
— Tomara que a irmã da Tasha não roube você também.
Paro antes de chegarmos ao carro.
— O que? — pergunto a ele que me olha arrependido. — O que a
Charissa teria a ver com isso?
Não consigo evitar o sentimento aversivo. Embora eu tenha fechado a
compra com Perseus após ele ajustar o preço da propriedade na França,
ainda fervo em raiva quando lembro que ele e Charissa iam me dar um
golpe. Mas graças um e-mail, que mais tarde descobri ser de Tasha, fui mais
a fundo na compra e descobri as alterações de informações.
— Ela nunca te contou? — pergunta paralisado e quando percebe que
estou perdido, Chris fica tenso. — Olha, cara, não acho correto ser eu a
contar e muito menos ser o pivô de um novo possível desentendimento entre
vocês.
— Devo me preocupar? — pergunto calmamente.
Ele pensa um pouco e então revela:
— Tasha já foi noiva de Perseus, há muito tempo. Mas Charissa o
seduziu e o tirou da irmã, porque, de repente, Perseus herdou uma fortuna e
ficou podre de rico, mas logo virou um cretino, pelo visto.
Parece até que me deram um tapa.
“Tasha e Perseus já foram noivos!”
E por incrível que pareça, essa informação parece tão estranha e
desconecta que não consigo sentir nada além de um fastio só de pensar que o
babaca do Perseus já esteve com a minha Tasha. Mas outra informação
congela o meu cérebro, Charissa traiu a própria irmã. Isso explica o motivo
de Tasha não ir muito com a cara dela, mas parece que as tentativas da irmã
mais velha em aplicar golpe continuam até os dias de hoje.
— Porra, cara. Não diz para ela que foi eu que te contei —
Christopher diz todo preocupado e destrava o carro.
Pisco atordoado voltando ao mundo real.
— Eu só não consigo entender como não descobri isso antes —
comento.
— É como eu disse, já faz tempo demais — diz abrindo a porta do
motorista. — E a essa altura já dá para perceber quem se deu melhor.
Balanço a cabeça para fingir que nunca soube disso. É tão estranho
que não consigo acreditar, mas de qualquer forma fico aliviado em saber que
não é nada grave o suficiente que me faça ficar decepcionado com Tasha.
Estamos vivendo nossa melhor fase juntos, então sei que não há nada com o
que me preocupar.
Eu a amo e seus relacionamentos do passado não me interessam.
— Por isso sempre digo que não se deve passar por cima de ninguém
— digo e entro no Audi.
Agora é saber me controlar até o outro dia e não contar a Tasha que
quero me casar com ela.
••••
O clima é de família e paz quando embarcamos rumo à casa dos
meus pais logo cedo. Julie vai atrás com Benjamin preso na cadeirinha e
Tasha está ao meu lado no banco do passageiro enquanto dirijo. Ela olha
toda vez para trás e fica admirando nosso filho que se diverte com a
paisagem lá fora.
— Acho que verde é a nova cor favorita dele — Julie comenta toda
boba.
Minha filha cresceu demais!
No último ano ela fez 14 e agora fez 15 anos, num piscar de olhos.
Infelizmente, me mantive tão ocupado em esquecer Tasha, que acabei
não conseguindo acompanhar o último ano de Julie. Quando me dei conta,
ela já estava indo para o primeiro ano do colegial, andando com novos
amigos, mudando de gostos e de aparência. Mas ela continua sendo minha
Julie determinada e extrovertida, que sempre sonhou em ter uma família
grande.
— Será que isso explica o motivo dele ter enfiado o dedo no olho do
Chris? — pergunto e Julie começa a gargalhar ao relembrar o ocorrido.
— Eu tenho os olhos verdes e isso nunca me aconteceu — Tasha diz.
— É porque você é linda e a mãe dele — justifico com o que parecia
óbvio para mim, mas Tasha debocha.
— Ah, com certeza ele deve saber conscientemente disso.
Mas não vai demorar muito para que sim.
Benjamin está com seis meses, mas é um bebê muito esperto e ativo.
Ele já aponta para as coisas que chamam sua atenção, engatinha e senta
sozinho. Começou a tentar balbuciar algumas coisas e adora quando alguém
canta para ele. É um bebê encantador e que veio literalmente para aquecer
nossos corações.
— E aí, estamos chegando? — Tasha pergunta pela terceira vez sem
tirar os olhos da pista.
É a primeira vez que ela vai à casa dos meus pais.
— Acho que mais uns dez minutos de estrada — avalio o caminho
que já conheço de cor.
— Então eles não moram, mas se escondem — comenta
divertidamente.
— Desde o início essa foi a intenção deles. Paz e sossego.
— E agora estamos indo para lá fazer barulho.
— É o único barulho que eles aprovam, querida. E eles estão
morrendo de saudade de você e do Benjamin.
Sinto que ela me olha com esmero e uma surpresa genuína por eu ter
revelado aquilo.
— Sério? — pergunta com carinho.
Sorrio porque eles falam coisas incríveis dela o tempo todo, mas
acho melhor que ela ouça isso deles.
— Considerando que eles não veem vocês há duas semanas, então
sim, estão morrendo de saudade.
Desde que assumimos um relacionamento com a chegada de
Benjamin, Tasha passou a ser a única nora da minha mãe e do meu pai. No
entanto, eu sabia que eles aguardavam por este momento desde que
descobriram que estava no Havaí com uma possível pretendente. Afinal de
contas, pais da idade deles querem seus filhos casados e dando netos de dois
em dois anos, no mínimo. Essa última exigência deixa Christopher louco.
Pelo menos Mat deu a eles três netas de uma só vez. Mas acho que
pelo menos Pat e Thomas jamais reclamariam dele ter um quarto filho ou
filha.
Quando chegamos finalmente à casa dos meus pais, Tasha prende o
fôlego e não segura o sorriso.
A casa é extremamente bela, mesmo.
Lembro que a última vez em que estive nela, foi dias antes de
encontrar Tasha no Park e descobrir que ela estava grávida. Não é à toa que
meus pais convocaram essa reunião.
Na verdade, era para ser só um dia, mas os convenci de que
poderíamos passar a pernoite aqui e ouvir os grilos, as corujas e a calmaria
do rio a noite. Proporcionar novos sentidos a Benjamin.
Seria um final de semana muito bom em família, mas confesso que
também pensei que seria uma ótima oportunidade para pedir Tasha em
casamento, com as pessoas mais importantes da minha vida reunida em um
dos meus lugares favoritos de Vancouver.
— Essa casa chega a ser ridícula de tão linda! — Tasha diz assim
que sai do carro.
— Podemos ter uma dessa daqui 30 anos também — sugiro quando
ela está ao meu lado.
— Por que esperar tanto tempo? — pergunta me olhando de um jeito
encorajador.
— É verdade. Não é bom ficar dando tempo às coisas, não é, Tasha?
— provoco.
Às vezes ficávamos tirando sarro do que nos aconteceu um ano atrás.
Era sinal de que superamos tudo aquilo.
— Me diga você, Bruce Mackenzie.
A puxo pela cintura e dou um beijo em sua boca deliciosa. Tasha
passa seus braços pelo meu pescoço e sinto que me fecha em seu mundo
particular, me fazendo inalar melhor seu cheiro, me deixando hipnotizado
por seu corpo.
Tudo nela me deixa louco.
Só nos conhecemos mais de um ano, mas parece que vivi a
eternidade toda ao seu lado.
Uma voz de dentro da casa me faz me afastar dos lábios dela:
— OLHA QUEM CHEGOU! — mamãe grita enquanto vem ao
encontro de Julie que havia pegado Benjamin da cadeirinha e leva até ela. —
Só faltavam vocês.
Ela reivindica o netinho em seu colo e fica o aninhando até o
momento em que subimos a varanda e a cumprimentamos felizes pelo
reencontro.
Quando é a vez de abraçar Tasha, mamãe não poupa agrados a ela.
— Estou muito feliz que esteja aqui, querida. Estive a semana toda
ansiando em revê-la, como está indo?
— Vou bem, Pat. A sua casa é realmente muito linda e encantadora.
— Tasha se dirige a eles de um jeito mais casual, não se refere aos meus
pais como senhor ou senhora; exigência deles, pois já estão acostumados a
ela.
— Cuidei para que o quarto onde você e Bruce vão dormir ficasse o
mais aconchegante possível — informa no mesmo instante em que Mat e
Chris aparecem ao lado de papai pela lateral da varanda.
— Por favor, lembre-se de que temos crianças na casa — Mathew
diz mais para mim em um tom carrancudo. — Não precisamos ficar ouvindo
ruídos depravados durante a noite.
— Mathew Mackenzie! — mamãe o reprova fazendo papai e Chris
acharem graça.
— Pelo menos você tem a Rachel aqui e eu que não tenho ninguém?
— Christopher diz frustrado.
— Como assim eu tenho a Rachel? — Mathew vira um tanto
ofendido para o nosso irmão mais novo que não perdia nenhuma
oportunidade em irritá-lo.
Mas Christopher não tem medo de nada, perigo e aventura correm em
suas veias. Por isso, ele só abre um sorriso charmoso quando se encosta na
parede e cruza os braços intensificando os músculos que trabalha arduamente
para conquistá-los.
— Você tem, só não percebeu ainda a maravilha bem diante dos seus
olhos — provoca com desejo, o que faz Mathew cerrar os punhos e tensionar
o maxilar.
Estava mesmo vendo isso?
Mathew, com ciúme da babá?
Papai interfere naquela minidiscussão.
— Acalmem os ânimos, meninos. Não queremos assustar a bela
Tasha, não é? — Passa por Mat e Chris que ainda se fuzilam com olhares e
então alcança a ruiva para um abraço carinhoso. — Bem-vinda, querida.
Sinta-se em casa.
— Obrigada, Thomas. Mas não se preocupe, já estou acostumada aos
meninos — o conforta.
E é verdade, Mathew e Christopher vão ao apartamento de Tasha
sempre que possível, às vezes a gente toma vinho e ficamos conversando por
horas, principalmente quando Erin e Lili se juntam a nós. Com isso, Tasha já
está sabendo lidar melhor com os meus irmãos e eles a adoram também.
— Você quer dizer, acostumada ao comportamento selvagem deles?
— mamãe pergunta surpreendendo a todos nós, inclusive Mat e Chris. — O
que foi? Vocês não sabem ficar mais de dez minutos sem se alfinetar.
Ela reclama levando Benjamin para longe daquele furdunço.
— Deserde Chris que tudo ficará bem — Mat provoca e o nosso
irmão mais novo o estapeou na cabeça.
Quando meu irmão pensa em avançar, o impeço rapidamente:
— Mat, preciso conversar com você.
— Depois que eu acabar com a raça deste pirralho — o ameaça, mas
não consigo evitar o sorriso quando isso soa nostálgico, lembrando nossa
infância.
— Vamos logo, cara. Preciso te pedir uns conselhos.
Subitamente, Mat para e me olha curioso.
Quando não estamos conversando sobre o trabalho ou em como ele
trata as trigêmeas, estou então pedindo conselhos de Mathew. É uma coisa
rara, mas que quando acontece, é porque não sei de fato o que fazer.
Esse olhar para mim significa, “sua vida está perfeita, que tipo de
conselho você poderia querer de mim?”
Deixo aquela pergunta no ar e faço suspense, despertando seu
interesse de irmão mais velho e superprotetor.
Dou um beijo na cabeça de Tasha e aviso:
— Vou conversar com Mat rapidinho, fique à vontade.
— Tudo bem — diz me olhando desconfiada. — Já disse que você
parece meio ansioso hoje?
— Pareço, é?
— Sim. — Tasha me analisa mais um pouco. — Está fazendo tudo às
pressas, como se estivesse sem tempo.
— Talvez eu esteja mesmo.
Aproveitando que a maioria se foi e ficamos só nós ali, Tasha
aproveita para me olhar de um jeito safado e provocador.
— Espero que tenha tempo para mim essa noite — diz sensualmente,
quase como uma cobrança enquanto pega minhas mãos e as coloca em sua
cintura, mas as deslizo para baixo, até que esteja apertando aquele seu
bumbum gostoso.
— Para você eu tenho todo tempo do mundo, meu bem.
A beijo com carinho, mas mordo seu lábio como uma promessa de
que isso pode ficar bom mais tarde.
“E irá!”
Tasha vai atrás de Benjamin que está com a família.
Entro na casa e procuro por Mat, que encontro me esperando no pé
da escada, de braços cruzados e pensativo. Ele resmunga alguma coisa sobre
Tasha e eu não ficarmos melosos demais em frente à família, mas o ignoro
até porque depois de falar o que quero contar a ele, com certeza dirá que
Tasha e eu ficaremos mais do que melosos esta noite.
Mathew e eu vamos para a sacada do andar superior que foi
planejado por nosso pai, mas de acordo com o que mamãe queria. É uma
área ampla com espreguiçadeiras e mesas de centro, onde ela adora pegar o
sol de manhã e tomar chá no final da tarde. Daqui, podemos ver a nossa
família lá embaixo conversando e divididos entre admirar a vista e ficar
paparicando Benjamin.
— Qual é o problema agora? — pergunta cruzando os braços ao
adotar aquela sua postura de irmão autoritário.
— Arranjo tantos problemas assim? — pergunto primeiro, me
sentindo até ofendido.
Ele dá de ombros.
— Da última vez, você me ligou inesperadamente dizendo que tinha
um filho. Então, sim. Não que Benjamin seja um problema, mas você é
sempre uma caixinha de surpresas.
Não consigo evitar o riso.
— Achei que Chris fosse o irmão imprevisível.
— Nada disso, Christopher é o irmão que você sabe exatamente o
que vai fazer, mas não sabemos como.
— É verdade — confirmo admirado com a nossa capacidade de se
conhecer tão bem.
— Mas não me trouxe aqui para falar disso, não foi? — analisa
cuidadosamente.
Assim como decidi não enrolar Christopher, decido ser direto com
Mathew também.
— Irei pedir Tasha em casamento esta noite. Uns dias atrás descobri
que ela já foi noiva de Perseus, mas não foi adiante porque ele a traiu com
Charissa — digo relembrando o assunto que tem me deixado inseguro nos
últimos dias. — Estou com medo que o pedido desperte lembranças ruins do
passado e não torne o momento tão bom quanto eu espero.
Mathew arqueia as sobrancelhas surpreso.
— Caramba, você criou mesmo uma situação complexa nesta sua
cabeça — diz e avançou mais uns passos na sacada.
O acompanho e então ficamos escorados na proteção de madeira.
— Mas ela não é você, Bruce. Desde que Melissa se foi, você temeu
seguir em frente com medo das lembranças do passado — ressalta
cirurgicamente, me deixando atônito.
— Mas, não estou falando sobre Melissa.
— A questão aqui não é se ela vai ter flashbacks do passado com
Perseus, e sim, se você não terá flashbacks com Melissa. Tasha nunca
pareceu ligar o suficiente para Perseus.
— Então acha que o problema sou eu?
Mathew ri da pergunta idiota.
— Acho que sim. Está mais que na hora de você aceitar que,
enquanto Tasha quer ser feliz ao seu lado, você está aí, tentando arranjar
desculpas.
— Não é desculpa! — intervenho de imediato. — É só... Talvez
esteja nervoso demais. Medo dela dizer não, eu acho.
— O que está te deixando assim? O que ainda te deixa na dúvida?
Olho para Mat e pisco languidamente.
Ele tem razão, é uma insegurança idiota, ainda mais por eu estar
refletindo em Tasha inseguranças minhas que não diz respeito a ela, e sim,
somente a mim.
Por meses enfrentei fantasmas que me impediram de ir atrás dela e
agora preciso afastá-los de vez.
Eu disse que Mathew é bom com conselhos e bufo porque ele acabou
de levantar uma outra questão que me aflige:
— Se eu pedir Tasha em casamento e ela aceitar, acabará ocupando
um lugar que antes era de Melissa. Não sei como Julie vai reagir.
— Eu vou amar!
Uma terceira voz nos assusta e viro para encontrar Julie parada na
soleira da porta me olhando de um jeito iluminado.
Perco a voz e a compostura.
Mathew ri ao meu lado pela presença inesperada de Julie que vinha
nos espionando, mas fico sem reação diante da minha filha.
Sei que Julie foi quem mais me ludibriou para arranjar uma
namorada e então me casar. Mas ela sempre quis fazer isso por mim e me
perguntava como ela se sentiria com uma nova mulher ocupando o status que
antes pertenceu a sua mãe. E falar de coisas que já envolveram Melissa, é
um campo particularmente muito sensível, mas ela vem e me prova o
contrário.
— Não se importa se eu pedir Tasha em casamento? — pergunto sem
tirar os olhos de cada reação sua.
— Pai, eu só quero que o senhor seja feliz. Adoro a Tasha e o
presente que vocês me deram, que foi o Benjamin. É o dever de vocês selar
este compromisso.
— Mas e a sua mãe?
Julie dá um sorriso triste, mas ela por inteira parece calma e feliz.
— Ela sempre estará com a gente. Ninguém vai tomar o lugar dela e
o que ela significou para nós, mas a vida continua.
Quando percebo que Julie chora, meu coração se parte em mil
pedaços.
— Foi assim que conseguimos superar, lembra? A vida continua, pai.
Ergo meus braços em um convite para um abraço e Julie vem
correndo para entrelaçar seus braços ao meu redor com muita força. Beijo o
topo da sua cabeça e apoio o meu queixo ali.
— Eu amo você, obrigada por ser o meu Norte — digo para ela com
a voz embargada.
— Também amo você, papai. Amo você, Benjamin e a Tasha. Vocês
são a minha família.
Meu coração dá um solavanco e aquece com essa revelação. Antes
mesmo de eu pedir uma opinião de Julie, ela já havia aceitado a ideia.
Essa garota sempre está além de nós, além de mim.
Julie é divina.
Sinto uma palmadinha atrás do meu ombro e vejo Mathew se
aproximar com um sorriso orgulhoso.
— Deixe o passado para trás, siga seu coração sempre e peça a mão
dessa mulher em casamento logo de uma vez!
Sorrio para o meu irmão que sabe me ouvir quando estou tendo
minhas crises.
— Não irei hesitar.
••••
Estamos no lado externo de casa para o jantar em família que todos
nós preparamos. Nós, homens, ficamos com a comida, e as mulheres com a
parte da decoração; Tasha e Rachel estão mais próximas do que nunca, já
que a babá da trigêmeas sempre as levam para visitar Benjamin nos finais de
semana. As duas prepararam a longa mesa com toalhas brancas e sobre ela,
penduraram luzes natalinas que ao serem acesas, deram um ar mais bonito ao
ambiente.
Mamãe retira do armário suas melhores louças e as organiza sobre a
mesa para cada um de nós, junto aos talheres e taças de cristais para quando
os adultos forem servidos.
Papai tem a melhor adega da família, tanto que Christopher é louco
para saquear uma das relíquias que ele tem, mas às vezes parece que nosso
pai tem mais ciúme das suas caríssimas garrafas de vinho do que da nossa
mãe. Isso a deixa irritadíssima quando falamos desse jeito.
Ao fundo, Julie comanda ao playlist que vez ou outra toca músicas
românticas que rapidamente, entendo como um sinal para me agachar e pedir
Tasha em casamento. Começo a achar que Julie está mais ansiosa do que eu,
no entanto, o peso da caixinha com o anel em meu bolso me deixa
constantemente louco. Espero todos comerem a sobremesa que é a torta de
maçã da mamãe para finalmente fazer o grande pedido.
Rachel e Tasha retiram os pratos sujos, mas continuamos ali,
conversando. Até que, com a ajuda dos meus queridos irmãos que já sabem
de tudo, a oportunidade perfeita vai surgindo.
— Eu quero propor um brinde — Mathew diz erguendo sua taça com
vinho e logo o acompanhamos. — Um brinde a nossa amável família e aos
novos membros que fazem parte dela — diz olhando para Tasha que ruboriza
no exato segundo. — Muitas coisas aconteceram desde o último ano. Mas
nada acontece ao acaso e tenho certeza que você, Tasha, foi o melhor acaso
que poderia ter acontecido ao meu irmão.
O sorriso de Tasha é tão largo que mal consegue se conter em seu
rosto.
— Bruce, quer dizer alguma coisa? — Mat pergunta me dando o
apoio que eu precisava.
Mathew sabia que eu estava à beira de um colapso.
Deixo a taça sobre a mesa e pigarreio. Viro na direção de Tasha que
está linda em um vestido preto tubinho, sandálias de salto alto e o cabelo
penteado para o lado.
Pigarreio mais uma vez.
— Sim, eu... Bem. Eu quero dizer, sim — começo a falar olhando
atentamente para aquele par de íris que me apaixonei há um ano e poucos
meses. Percebo que a forma como me posiciono a deixa tensa e tímida, e
continuo: — Embora ache que palavras nunca serão o suficiente para
expressar o que de fato sinto... Tasha, tudo em mim exala você. Não há um
dia que eu acorde e não tenha a certeza que é você quem eu quero para o
resto da minha vida. Não há um dia que eu pense no futuro e não imagino
você não estando nele. Palavras não são o suficiente, mas quando digo que
quero viver cada experiência ao seu lado, viver e envelhecer, espero que
você entenda que isso é amor. — Ouço um suspiro e alguém chorar. Não sei
de onde vem, mas talvez seja de Tasha porque ela chora igual uma criança
já. — Eu te amo, Tasha Alexander e quero poder chamá-la de minha
esposa por toda a minha vida.
Me ajoelhar é só uma questão de habilidade, já que preciso tirar a
caixinha e revelar o anel de diamantes, e quando faço isso, arranco suspiros
dos meus pais, de Rachel, das trigêmeas e de Tasha, que tapa a boca para
conter a surpresa iminente.
— Você aceitaria ser minha mulher? Quer casar comigo? — Ouço
mamãe dizer alguma coisa, mas não consigo prestar muita atenção porque
tenho só olhos e ouvidos para a reação de Tasha, que já chora e sorri, tudo
ao mesmo tempo.
— Sim, eu aceito! — declara e depois se joga em meus braços para
um aperto. — Eu amo você, amo muito!
Pego sua mão direita que está tremendo, mas com muita delicadeza
enfio o anel em seu dedo anelar e como havia imaginado, ficou perfeito.
Aplausos e felicitações explodem na nossa mesa de jantar quando
nossa família comemora a novidade.
Tasha e eu vamos nos casar!
Felizmente deu tudo certo, nada foi como eu temia e principalmente,
estou tranquilo e só tenho pensado no agora...
No nosso futuro.
— Parabéns e seja bem-vinda à família, querida. — Papai é o
primeiro a abraçar Tasha, mas para mim ele diz: — Você merece meu filho,
parabéns.
Uma parte minha se emociona porque sei a razão disso.
— Obrigado, pai. — O abraço.
— Você me fez acreditar fortemente que meus filhos ainda
encontrarão o amor para a vida toda! — mamãe comenta ao abraçar Tasha e
para mim, ela diz com orgulho: — Você será mais feliz do que desejou,
Bruce. Anote isso.
“Eu já estou sendo mais feliz do que imaginei.”
— Eu sabia que isso ia acontecer! — Rachel diz animada com os
olhos vermelhos de choro. — Estou muito feliz por vocês!
— Obrigado, Rachel.
— Eu não vou sair do seu pé tão cedo! — Complementa olhando
para Tasha que sorri.
Quando Mathew e Christopher vem nos parabenizar, deixo logo
avisado:
— Prontos para a missão de padrinhos do noivo?
Eles parecem ficar animados com a proposta.
— Eu farei você ter a melhor despedida de solteiro de Vancouver! —
Christopher diz, fazendo Tasha dar uma revirada de olho.
— Parabéns, Tasha. — É a vez de Mat dizer. — Você acabou de ficar
noiva do único Mackenzie que presta.
— Ei! — Chris protesta e quando acho que vai limpar a barra para o
lado dele, pergunta: — Mas e o Benjamin aqui?
Rimos enquanto ele dança com o meu filho nos braços.
Está aí uma imagem que espero ver um dia, Chris e o seu filho ou
filha.
Mas perco a noção de tudo quando Julie vem falar com Tasha.
Primeiro, ela a abraça fortemente, apertando os olhos que tremem com a
ameaça de chorar.
— Eu ganhei uma nova mãe e uma melhor amiga para a vida toda! —
diz fazendo Tasha ir às lágrimas. — Obrigada por ter escolhido meu pai.
— Oh, meu bem. — Tasha mal consegue conter a emoção. —
Obrigada por me aceitar na sua família — diz a ela, mas logo vira para falar
a todos: — Obrigada por me aceitarem.
E parece que depois disso, foi dada a largada para todo tipo de
debate a respeito de casamento. As conversas que se seguiram eram sobre
vestidos, os melhores locais de Vancouver para uma cerimônia, como seria a
entrada ou se já tínhamos em mente algum lugar para a lua de mel.
E a resposta é, não.
Eu acabei de pedir Tasha em casamento, mas vamos levar tempo até
decidir tudo. Quero que ela esteja ao menos morando comigo quando
decidirmos subir ao altar, mas também teremos de ver uma data disponível
para celebrarmos a nossa união.
Não consigo me desgrudar dela em nenhum segundo, nem mesmo
depois que Benjamin dorme no colo de Rachel que parece ter soníferos nos
braços. Às vezes tentamos contornar o rumo da conversa porque não
gostamos de ser o centro das atenções, mas mamãe nos obriga a falar sobre o
casamento conforme as ideias vão surgindo.
Bom para mim, pois isso me faz pegar Tasha pela mão e guiá-la para
dentro da casa, sem ninguém nós incomodar.
A levo para o segundo andar, até nosso quarto que está mal
iluminado pela penumbra da noite que invade a janela aberta.
— Finalmente, a sós. Eu disse que teria tempo para você, não disse?
— pergunto com minha testa encostada à dela.
— Eu só nunca imaginaria que você me pediria em casamento —
confessa.
— Como Mathew disse, eu sou assim, cheio de surpresas.
— E um convencido, também! — Passa carinhosamente os braços ao
meu redor. — Eu sempre direi sim para tudo, Bruce.
Olho para ela com desejo que já é evidente e a tensão sexual entre
nós dois se intensifica.
— Até se eu pedir para ser minha, agora mesmo?
Ela balança primeiro a cabeça e me dá um beijo.
— Sim, agora mesmo. Eu sou sua, para sempre.
Como uma ordem, pego Tasha em meu colo e a deito em nossa cama
temporária, me equilibrando sobre ela enquanto fico beijando cada parte do
seu rosto, até ir descendo para o queixo e a linha da mandíbula, o pescoço...
— E eu te darei esses beijos para sempre — digo conforme vou
beijando e arrancando dela gemidos gostosos.
Desço para a sua clavícula e o colo, até chegar na curva dos seios
fartos que adquiriu com a gestação. Eles ficaram mais belos ainda com o
aumento natural das mamas.
— Não haverá um dia, que você não se sentirá amada — murmuro
abaixando as alças do seu vestido e abocanhando um dos seus seios, a
fazendo engolir um gemido, pois não podemos ser barulhentos aqui.
Chupo seu outro seio e deixo que uma mão minha vagueie em direção
a sua intimidade. Meu dedo enxerido ultrapassa o pano leve da sua calcinha
e alcanço a sua bocetinha molhada e pulsante. Não me surpreenderia se toda
aquela declaração, o pedido e os meus toques agora contribuíssem para que
Tasha estivesse facilmente suscetível a me dar aqui, na casa dos meus pais,
com eles lá embaixo conversando e a porta do nosso quarto destrancada.
Quando a penetro com um dedo, Tasha arfa e expande mais a
abertura das suas belas pernas.
— Bruce... — Se delicia com meu nome naqueles lábios sedutores,
porque ela sabe que isso me deixa louco.
Seu interior macio e quentinho faz meu pau latejar como nunca,
sentindo o que ele irá experimentar em breve. Fico brincando com o bico do
seio de Tasha, o lambendo vorazmente e então lentamente a levo do céu a
terra.
— Tudo isso é meu — urro para ela enquanto aumento as estocadas
do meu dedo nela e meu pau implora para se libertar da calça.
Me coloco de pé só para ter que tirá-lo e assim tenho uma bela visão
de Tasha sobre a cama, com o vestido arregaçado para baixo dos seios os
deixando expostos e a barra da peça levantada até cintura, deixando visível
a calcinha que ainda está ali, mas que ela logo tira sensualmente enquanto me
toco a admirando.
— Você é a coisa mais linda dessa vida... A minha deusa grega.
Ela acha graça do trocadilho e então abre as pernas para mim,
mostrando toda sua perfeição feminina.
— Nossa primeira vez como noivos. — Lembra.
Me deito sobre ela e apoio meu pau na sua entrada.
Há tempos Tasha e eu andamos tendo relação sem camisinha, pois
ela começou a usar o DIU, então as coisas têm sido extremamente deliciosas
para nós.
— Minha noivinha — digo com meus lábios colados aos dela e então
a penetro.
Tasha gosta quando eu a fodo com força, mas desta vez, fazemos
amor lentamente.
Ao menos é como começamos...
Fico entrando e saindo dela para que ela prove cada centímetro meu
e toda vez que entro, ela revira os olhos, arfa e geme. Sinto que ela se
contrai com meu pau a penetrando, nesse vai-e-vem viciante.
Amo a forma como Tasha ficou mais gostosa após virar mãe. Tudo
nela é extremamente sexy e maravilhoso, desde a forma como é uma mãe
atenciosa até a forma seus seios e os quadris se alargaram.
Amo minha noiva de todas as formas e o jeito que faço amor com ela,
deixa isso bem claro. Porque faço de um jeito como se precisasse disso,
como se estivesse conectado além do corpo, mas com a alma.
— Você será sempre minha — digo quando aumento as estocadas. —
E eu, só seu.
— Fica comigo para sempre — pede. — Ah, Bruce...
Não podemos demorar.
Me ajeito em uma posição em que seguro o quadril de Tasha com
firmeza e me elevo, para penetrá-la com mais força.
O som do sexo é inconfundível e o cheiro entrega, mas minha única
preocupação ali é dar prazer a esta mulher, agora e para sempre.
— Ah, Tasha! — urro seu nome como um lobo em Lua cheia.
Ela segura o lençol com força quando está chegando ao ápice e
morde os lábios tão forte que poderia ser capaz de feri-los. Sinto tudo nela
se contrair, me apertando e me levando à loucura. Também não consigo
segurar por mais tempo.
Chego ao orgasmo sentindo toda aquela onda indescritível me atingir,
estremeço e me arrepio todo.
Isso é só metade do que Tasha faz comigo.
Me abaixo para dar nela um beijo carinhoso em seu sorriso de
felicidade.
— Eu te amo, Bruce. Que bom que você escolheu ser nós dois para
sempre — diz apaixonadamente.
— Tudo o que eu preciso está aqui, Tasha e não vou mais perder
isso... Nunca mais. Amo você com cada batida do meu coração.
Mesmo na penumbra, vejo outra lágrima escorrer pelos olhos de
Tasha e fico aliviado em saber que é lágrima de felicidade.
Tasha e Benjamin rescreveram uma nova história para a minha vida,
onde tudo finalmente faz sentido.
TASHA
Vou me casar com o grande amor da minha vida.
Nem acredito que isso irá acontecer, estou explodindo de felicidade
e nervosismo ao mesmo tempo.
Irei me casar com o homem que amo e que me faz bem, mas também
fico olhando para trás, receosa de que alguma coisa empate a minha
felicidade e que tudo se torne algo momentâneo.
Mas, esta é a minha vida.
Está na hora das coisas darem finalmente certo no amor para mim
porque eu mereço, sei que mereço. Estou tão realizada que não poderia
desejar outra vida, e, exatamente agora apesar de todas as dores que senti,
não gostaria que as coisas fossem diferentes.
Bruce e eu vamos nos casar em Banff, na província de Alberta. Seria
incrível nos casar com a imagem das montanhas ao fundo ainda coberta de
neve até os seus pináculos, fazendo um contraste incrível entre o inverno que
dava espaço à primavera, fazendo com que os pinheiros ficassem
espetaculosos também. Além do mais, queríamos que fosse antes de
Benjamin completar um ano.
Então hoje, finalzinho de março, Bruce e eu iremos trocar nossos
votos e alianças, e ser marido e mulher.
Estou tão emocionada, mas não consigo chorar porque o fato de
saber que estou de maquiagem me faz contê-la.
Tadinha da maquiadora, precisou retocar minha maquiagem suave
umas três vezes já.
Estou na suíte que foi separada hoje especialmente para mim.
Estamos hospedados no The Fairmont Banff Springs Hotel, o que é nada
mais, nada menos do que um castelo na beira de um lago azul turquesa,
rodeado por montanhas de gelo, exatamente como queríamos.
Estamos há três dias aqui, com nossos padrinhos e madrinhas,
relaxando para o grande dia de hoje.
Benjamin veio junto, claro, mas ele passou mais tempo com Rachel e
Julie, que nos deram esse Vale Night nos dias que antecederam o casamento
e o dia da cerimônia também, mas agora ele está na cama dormindo, se
preparando para mais tarde.
Sorrio ao admirá-lo ali tão sereno, fazendo parte de um sonho antigo
meu.
Da janela do meu quarto, tenho uma vista excepcionalmente linda
para a área externa onde acontecerá a cerimônia, com uma vista incrível
para as montanhas e o lago logo abaixo. Está tudo pronto e os convidados
estão chegando aos poucos, por isso já estou com meu vestido, que é rústico
e ao mesmo tempo elegante, com rendas e decote, pedras e cetim.
O meu cabelo já foi preso e ornamentado com sutis raminhos de
flores. Daqui, já irei descer para subir ao altar com Bruce, que não vejo
desde cedo, pois decidimos nos casar à tardezinha, quando o pôr-do-sol
reflete uma luz dourada nas montanhas e no lago.
Duas batidas na porta me tiram daquele torpor que é delirar nesse
sonho que se tornou realidade.
— Entre! — ordeno ainda parada em frente à enorme janela,
observando em como o clima hoje está maravilhoso.
Ouço o estalar de um salto fino percorrendo o assoalho, imaginando
que seja Lili ou até mesmo Erin, mas a presença é quase familiar para mim, e
só me dou conta quando me cumprimenta:
— Oi, irmã.
Viro abruptamente surpresa para encontrar Charissa parada no meio
do quarto, me analisando de cima a baixo, para revelar depois um sorriso
que parece verdadeiro.
— Você está linda de noiva.
— Charissa? — chamo seu nome para ter certeza que isso não é um
sonho.
O meu espanto parece diverti-la.
— O que foi? Não esperava que eu viesse? Se arrependeu depois
que me mandou o convite?
Dentre os 150 convidados, Charissa e Perseus eram dois deles. Foi
algo que decidi por livre e espontânea vontade; apesar de tudo, ela
continuava sendo a minha irmã.
Bruce foi um fofo e entendeu.
— Na verdade, achava que você não viria. Estou surpresa em vê-la
aqui.
Ela faz uma cara de indiferença e troca o peso dos pés.
Charissa está espetacular com seu vestido verde com mangas longas
e bufantes, o cabelo amarrado num rabo de cavalo, mas sem nenhum frizz.
— É, eu sei. Também estou surpresa, mas não vim aqui como sua
convidada. Vim apenas como irmã.
— Não vai ficar para o casamento? — Algum cantinho meu ficou
magoado quando ela balança a cabeça confirmando a minha pergunta. —
Então...
— Eu só vim te ver — diz rapidamente me interrompendo. — E
desejar meus parabéns por ter conseguido... Tudo.
Meneio a cabeça, exausta desse assunto que sempre tratamos quando
nos encontramos.
— Charissa, não quero falar sobre isso...
— Relaxa, não vim encher seu saco. — Olho em direção a janela,
onde sabia que estava tudo arrumado para acontecer a cerimônia. — Quem
vai levar você até o altar? — pergunta com a voz dura.
Eu sabia que por trás daquela dureza, havia um sentimento reprimido
de ressentimento, saudade e tristeza. Sei disso porque, toda vez que lembro
desse detalhe, também sinto as mesmas coisas.
— O pai de Bruce vai me levar — digo tranquilamente por saber,
afinal, que um pai e avô incrível como Thomas me acompanharia.
Charissa dá um sorriso triste.
Lembro que na época em que se casou, um amigo seu a levou até o
altar; fiquei sabendo que nossos tios ficaram decepcionados e
envergonhados por ela ter me roubado Perseus, isso a fez se afastar de todo
mundo, fazendo com que Perseus e mamãe fossem a sua única família.
— Que sorte a sua. Mas, se papai estivesse vivo, aposto que seria
incrível — confessa engolindo em seco e fazendo meu coração disparar. —
Por muito tempo achei que ele havia escolhido aquele destino para si
mesmo, fiquei muito chateada. Porém, no dia do meu casamento, senti muita
falta dele. — Ela me olha com os olhos lacrimejados. — Você também
sente?
— O tempo todo — digo com a voz embargada.
— Mas você está rodeada de pessoas que não odeiam você. E, além
do mais, tem a sua própria família agora — diz olhando em direção a
Benjamin que está dormindo na cama, acho que é a primeira vez em que o
vê. — Ele é muito fofo. Imagino que seja também muito espertinho. —
Minha irmã funga, mas rapidamente tenta disfarçar o soluço. — Que droga,
você sempre foi a mais inteligente e adorável, todo mundo gostava de você
naturalmente.
Isso me deixa espantada e me aproximo dela confusa com o rumo da
sua conversa.
— Charissa...
— Sabe, Tasha? Você sempre achou que eu era a favorita da mamãe e
de todo mundo por ser bela, mas e daí? Você sempre conseguiu as coisas que
queria sem esforço algum, era trabalhoso, mas você fazia parecer tão fácil.
Não consigo dizer nada. Tenho a impressão que isso é algo que
Charissa sempre me deveu por me fazer acreditar que eu era insuficiente,
que ela era melhor e que eu não teria nada na vida por não ser igual a ela.
Mas agora estamos aqui, e a deixo desabafar.
— Você costumava dizer que não enxergávamos você e que somente
papai foi capaz de te dar atenção. Mas você não sabe, Tasha, que a sua luz
própria era tão forte, que nos cegava, porque eu não conseguia ser igual a
você. E eu tentei ofuscar a sua luz de todo jeito. Tentei te culpar pela morte
do papai e tirei Perseus de você porque de algum jeito, ver você no fundo do
poço me fazia sentir que finalmente estávamos iguais.
“Meu Deus!”
Mal consigo respirar com essas revelações.
Charissa, a minha irmã forte como mármore e fria como gelo, estava
chorando na minha frente enquanto conversava comigo de um jeito nunca
feito antes.
— Isso me fez aprender muitas coisas, dentre elas, que você jamais
me perdoaria — conclui.
Avanço três passos em sua direção completamente revoltada com a
sua conclusão.
— Falar isso é um absurdo, Charissa. Não vê a mamãe? Estamos
bem agora.
Ela dá uma risadinha xoxa.
— E talvez ela tenha se aproximado porque viu qual das duas filhas
se deu bem na vida — supõe de um jeito perverso.
Meu sangue ferve.
Ela tem esse talento de me deixar sensível e ao mesmo tempo, irada.
— É a mamãe, Charissa. Ela sempre foi tão orgulhosa quanto você.
Os olhos dela ficam surpresos quando a comparo.
— Jamais teria me pedido desculpas se não estivesse de fato
arrependida. E ela só se aproximou porque precisava que eu tirasse você de
uma encrenca. Ela se importa, Charissa.
— Para você é fácil falar isso quando as coisas estão indo bem
demais, não é? — Seus lábios estremeceram e recuo incrédula.
— Bruce comprou a propriedade na França. Isso não foi o suficiente
para vocês?
— Não é disso que eu falo, Tasha. Estamos recomeçando, mas é
difícil para mim quando eu sei que jamais terei a sorte de ser tão querida
como você é — explica de um jeito pessimista.
Às vezes, nem toda inveja é sobre o que você tem, e sim, sobre o que
você é. E Charissa nunca sentiu inveja pelas coisas que conquistei, mas pelo
amor que sempre tive dos outros por ser eu mesma e isso me quebra.
Não fico triste, mas sinto pena por ela nunca ter se encaixado em um
lugar, por só ter desabafado isso tarde, quando poderia ter sido honesta
comigo antes que me roubasse algo. Antes que eu tivesse mágoa demais dela
para esquecer e trabalhar arduamente em cima.
Seguro as mãos dela que estão trêmulas. Ela se surpreende com o
meu toque e fica me olhando espantada, enquanto sorrio suavemente.
Apesar de tudo, estou orgulhosa e feliz que Charissa finalmente se
abriu e foi sincera.
— Nesse último ano, uma das coisas que descobri é que nunca é
tarde demais para tentar algo enquanto houver um amanhã — digo a ela,
inspirada com toda aquela situação e cenário. — Se você é sincera e
autocomplacente hoje, amanhã você terá um pouco do meu coração,
Charissa... E depois mais um pouco, porque confiança não se conquista, ela
se constrói. Sempre senti sua falta, porque você é a minha irmã.
Vejo o rosto dela se contorcer enquanto evita as lágrimas, aperto suas
mãos um pouco mais para pedir:
— Fique, Charissa. Mude sua história, mude você. Nunca conseguirá
ser querida querendo consertar as pessoas, mas sim, a si mesma.
Ela limpa uma lágrima com aspereza e alinha os ombros.
— Não estou quebrada para ser consertada — afirma friamente.
— Mas em algum momento, você foi impedida de ser você mesma.
Nunca quis ser aquela mulher que a nossa mãe desejou.
— Então isso não é culpa minha — diz puxando suas mãos de volta.
— Ela fez a sua cabeça, não foi?
Pisco chocada em como Charissa tem a capacidade de fazer tudo
parecer mais complexo.
— Eu já não me importo mais com o passado, Charissa. Já deixei
muita coisa para lá. Decidi que devo olhar as coisas agora pela janela do
presente. Deveria tentar o mesmo.
— Eu nunca achei que você me perdoaria por qualquer coisa que fiz
— alega.
Balanço a cabeça por suas conclusões precipitadas.
— Então é bom você aproveitar que estou perdoando. Chega de
intrigas, Charissa. Eu tenho um filho, seu sobrinho e neto da nossa mãe. Eu
não posso deixá-lo crescer longe da família materna dele.
Quando digo isso, ela volta a olhar para Benjamin, agora, com mais
carinho. Percebo também que Charissa deixou todas aquelas suas máscaras
de chumbo cair quando deixo claro que eu preciso dela perto de mim e do
meu filho e que mesmo depois de tudo, estava disposta a perdoá-la e
esquecer tudo.
Bruce e eu havíamos recomeçado, então eu também tinha que acertar
essas contas pendentes.
Os lábios de Charissa estremecem quando um choro sôfrego a atinge.
Automaticamente, a abraço e ela corresponde de um jeito forte, necessitado
e assustado. Em todos esses anos, a amizade de Erin e Lili me foram o
suficiente, elas preenchiam aquele buraco que Charissa havia deixado em
mim, mas nunca parei para me perguntar como ela se sentia, se toda a
ganância e Perseus eram suas únicas companhias.
Pensar que a minha irmã sentiu tudo isso que me disse de forma
reprimida por todos esses anos me deixa triste demais por ela, mas se
Charissa decidir que também pode recomeçar, ficarei aliviada e feliz.
Então ela me afaga.
— Me desculpa, Tasha, por tudo. Mas principalmente por ser uma
péssima irmã. Espero que você não me odeie e que possa me dar uma chance
de ver Benjamin crescer.
Viro o rosto, mas duas lágrimas pesadas caem dos meus olhos. O seu
último pedido deixa perceptível que Charissa tem um coração mole e muito
carinho para dar.
— Eu nunca odiei você, Charissa. Eu a amo e estou mais que feliz
que você esteja aqui tendo essa conversa comigo. — Me afasto dela e
encaro seus olhos vermelhos de tanto chorar. — Você deixou meu dia
completo. Tudo está perfeito agora, em seu devido lugar.
Ela dá um sorriso e apalpa minhas lágrimas com cuidado para que
não borre toda minha maquiagem.
— Que droga, você me fez estragar minha maquiagem,
mas você continua impecável — murmura como uma irmã mais velha boba e
isso aquece meu coração. — E eu também estou feliz, Tasha. Acho que me
senti assim há tanto tempo que mal sei contar.
— São recomeços, Charissa e eles nem sempre são tristes.
Ela parece começar a concordar com isso.
Depois que está mais tranquila e acomodada, se aproxima de
Benjamin e brinca com os dedinhos dele. Vê-los assim parece uma cena que
imaginei bastante quando meu filho veio ao mundo. Era estranho quando eu
tinha tudo, mas às vezes em determinados momentos, sentia que faltava algo.
Agora eu sei que era Charissa e fico feliz que, finalmente, fizemos as
pazes.
••••
Ouço a marcha nupcial assim que desço da minha suíte e fico
esperando na área interna a hora perfeita para entrar. Preciso esperar os
convidados se acomodarem, os padrinhos e madrinhas se organizarem perto
do altar, e preciso esperar também eu achar que estou pronta para dar o
primeiro passo.
Quando acho que estou sonhando, o peso do buquê de lírios e flores
do campo me lembram que é real. Já fiz umas dez preces a Deus para que
tudo saia do jeito que ensaiamos, para que não trave ou caia no caminho.
Controlo minha respiração e inspiro e expiro lentamente. Fico
contando números, me concentro na música e em meus pés.
Como uma mão amiga, Thomas vem me ajudar a ficar calma.
— Você está linda e lá fora está parecendo um conto de fadas.
Independente do que aconteça, saiba que já está suficientemente perfeito,
filha — diz, mas me surpreendo mesmo quando ele me chama de filha.
Ele pega minha mão com sutileza e faz com que eu segure em seu
antebraço.
— Eu sempre quis que Pat tivesse uma menina, mas quando não foi
mais possível, jurei que as minhas noras seriam como filhas para mim, assim
como minhas netas são um presente de Deus. Então espero que não se
incomode com isso — finaliza a fala mostrando um sorriso vergonhoso.
Sinto o choro vindo mais uma vez, e uma dor latejante ao lembrar do
meu pai. Mas fico feliz por tamanho carinho que recebo de graça.
— Tudo bem, eu gosto. — O tranquilizo.
— Ótimo, querida — diz acariciando o dorso da minha mão em seu
antebraço. — Então respire fundo, você não quer que Bruce espere por mais
tempo, não é?
Não, eu não quero...
Tudo o que eu começo a pensar é só em Bruce quando dou os
primeiros passos em direção a área externa do hotel, passando pelo arco
com cortinas de flores que abrem quando surgimos no sopé da cerimônia e
visualizo os convidados em pé me olhando emocionados. Aperto a manga do
terno de Thomas, bem como meus dedos dos pés que estão tensos.
Caminhamos pelo tapete vermelho na horizontal enquanto o som dos
violinos entoa minha entrada.
Engulo em seco no começo, completamente nervosa, mas começo a
ver rostos familiares que me fazem sorrir, Ryan do trabalho, mamãe,
Charissa, Fernandes...
Britney e Oliver!
Meu coração dá um solavanco de felicidade, eles vieram mesmo.
Quando dobramos e ficamos de frente para o altar, vejo Bruce me
esperando, e é quando perco tudo e fico completamente cega. Ele é meu
único ponto de luz que me guia por este caminho que me deixa nervosa, mas
nem estou mais com tanto medo.
Bruce está lindo e impecável me esperando com aquele sorriso
encantador e o olhar apaixonante, só para mim; uma visualização perfeita do
meu futuro, que já me deu mais do que eu poderia imaginar.
Vejo Julie com Benjamin no colo e meu peito se enche.
Ao fundo, logo atrás do arco de rosas brancas que completa a
decoração do altar, as montanhas de gelo e o lago azul é o cenário perfeito
para eu achar que estou vivendo um sonho.
Vejo Erin, Lili e Rachel de um lado como minhas madrinhas, todas de
rosa, enquanto Mathew e Christopher ocupam seus lugares de padrinhos,
completamente bobos por mais uma conquista do irmão.
Bruce me dá um sorriso galanteador quando o alcanço e Thomas diz:
— Confio que você fará dessa mulher a mais feliz do mundo, meu
filho. Vocês merecem este momento. — Se abraçam e juro ter ouvido um
soluço vindo do patriarca dos Mackenzie.
Bruce também não se mostra menos emocionado, mas ele consegue
manter a postura.
— Obrigado, pai — diz sorrindo abobalhado.
— Aqui está. — Entrega minha mão a Bruce. — Agora é com você.
Antes mesmo de Thomas se afastar, Bruce já está beijando a minha
mão e dizendo baixinho:
— Você está um espetáculo, meu amor.
— Você também, querido.
Quando viramos para o altar, o padre nos abençoa e então começa a
dar início à cerimônia. Ele diz coisas lindas sobre o amor, família e amigos.
Enquanto isso, tudo vai passando como um filme na minha cabeça.
Bruce e eu ficamos de mãos dadas o tempo inteiro, nervosos e
ansiosos pelo tão aguardado aceito, mas ele sabe que já tem o
meu sim sempre.
O pôr-do-sol cintila em dourado nos pináculos das montanhas
quando finalmente nos casamos e somos declarados marido e mulher.
Palmas e assobios preenchem o ambiente quando Bruce e eu
dizemos aceito. Nosso primeiro beijo como casados é forte e cheio de
paixão. Somos um só agora e não teremos mais dúvidas sobre nossos
sentimentos.
Passamos pelos convidados que jogam arroz sobre nós enquanto
fazemos o caminho até o hotel de volta. Acenamos para os convidados, mas
agora precisamos ser só nós dois antes de voltar para a comemoração e os
convidados.
Bruce me leva para dentro, mas continua me conduzindo até outra
porta que dá para um lado diferente da área externa do hotel. É um jardim
mais privado, longe de toda a agitação da cerimônia que acabou de
acontecer.
Percebo que estou sorrindo demais quando alcançamos a balaustrada
e preciso dizer finalmente algo a Bruce que só ele irá lembrar:
— Eu nunca me senti tão feliz na minha vida. Esse é o segundo
momento que nunca irei me esquecer.
— E qual é o primeiro? — pergunta incrédulo.
— O nascimento de Benjamin, seu bobo! — digo como se fosse
óbvio e ele sorri.
Ele ajeita uma mecha do meu cabelo e me olha de um jeito sereno
que enche o meu coração.
— Se isso for um sonho, por favor, não me acorde — protesta
suavemente. — Ter você na minha vida foi a melhor coisa que me aconteceu
em anos, Tasha, e quando eu disse que seria para sempre, não estava
blefando. — Segura minha mão com força. — Quero você para mim, sempre
e sempre. Porque eu nunca senti uma coisa tão forte assim.
Sorrio mais ainda, se isso é possível.
— Sempre, querido. Assim estou completa, tenho tudo o que me
faltava, o seu amor e Benjamin. Nosso amado Benjamin. Julie também vai
ser a minha amiga para vida toda.
— Você tem todos nós, Natasha Mackenzie — verbaliza meu novo
sobrenome agora.
— Que loucura, não é? — digo aos risos e o choro que contenho. —
E sou grata por tudo isso. Sou grata, Bruce, por você não ter desistido de
nós.
Ele fecha os olhos por um momento, asfaltando do pensamento o
risco que foi quase ter pedido Benjamin e eu.
— Morreria todos os dias, Tasha, se toda essa felicidade tivesse
escorrido das minhas mãos. Sou grato por você ter me aceitado de volta,
mesmo depois de tudo.
Dou de ombros.
— Bem, ando sendo bem benevolente, sabe? — brinco e ele me olha
de um jeito sugestivo.
— Eu vi a Charissa. Antes de ir te esperar no altar, fui cumprimentá-
la, mas não trocamos muitas palavras. Imagino que vocês tenham
conversado, não é?
Solto um suspiro.
Tremo na base quando lembro que depois do pedido de noivado, ele
me pediu para contar a história de Perseus e como Charissa ficou entre nós
dois; tive medo dele ficar chateado, mas Bruce se mostrou mais uma vez ser
adulto o suficiente quanto a isto. Então digo:
— É um alívio saber que as coisas estão finalmente no seu eixo
depois de muito tempo. Tanto Charissa quanto a minha mãe merecem uma
segunda chance e agora com Benjamin... Eu só quero que ele tenha a família
por perto.
Bruce balança a cabeça em compreensão e completa:
— Mas mesmo que não tivesse, ele sempre terá a nós.
Ele me beija na testa em um ato de carinho e paixão.
— Eu amo você, Bruce. Obrigada por ser minha âncora.
Eu gostaria de passar o resto do dia ali com ele. Gostaria de ficar só
com Bruce enquanto aproveitamos aquele dia que será para sempre, nosso.
Mas temos uma festa a comandar, amigos e familiares a socializar. Por isso,
não nos demoramos ali no jardim, voltamos para dentro do hotel e seguimos
para o salão onde será o jantar e logo ao lado, tem a pista de dança, onde
algumas crianças já se mostram mais animadas que os adultos.
Sentamos em uma mesa reservada só para nós dois, com outras duas
perto que são reservadas à família de Bruce e outra para a minha.
Fico tão feliz que mamãe e Charissa estejam aqui também. Benjamin
está com a tia, que mostra jeito para com crianças.
Antes de todos serem servidos, Mathew levanta e propõe um brinde,
bem como da primeira vez na noite em que Bruce me pediu em casamento.
— Em noites como essa, nos juntamos para celebrar especialmente o
amor — diz com toda sua desenvoltura e posição de liderança. — Um
sentimento que exercemos desde o momento em que nascemos, porque o
amor está nos olhos de uma criança, até aos olhos de um ancião. Podemos
amar muitas coisas, mas há aqueles amores que são para a vida toda... Para
a sua vida. Em seu tempo certo. — Ergue a sua taça mais alto e o
acompanhamos. — Por isso, um brinde a Bruce e Tasha. Vocês me
mostraram muita coisa com a força inabalável do amor de vocês. Mostraram
que não importa o tempo, quando se encontra a pessoa certa, você só quer
uma coisa, que cada momento da sua vida, seja ao lado dessa pessoa. Então,
um brinde a vocês.
— Um brinde! — repetimos em uníssono.
Fico toda arrepiada com as palavras de Mathew. Ele parece muito
com Charissa em questão de dureza e frieza, mas, ele já foi casado um dia e
sabe muito bem o que estamos sentindo neste momento, por isso fala com
tanta propriedade.
É incrível como até mesmo um homem como ele, é capaz de mostrar
sensibilidade, mas é como mencionou, hoje estamos celebrando o amor e
estamos aqui hoje porque acreditamos nele.
Por isso, dançamos e curtimos a noite toda em celebração não só do
amor que Bruce e eu sentimos, mas também, do amor que todos guardam
dentro de si, esperando a pessoa certa que será digna de um coração nobre.
BRUCE
Se alguém me dissesse, há dois anos, que numa viagem às cegas,
armada por minha filha Julie, na época com 13 anos, e meu irmão

Christopher, que eu encontraria o amor da minha vida, daria uma gargalhada

tão alta que cansaria meus pulmões.


Eu iria esnobar esta hipótese e chamaria quem fosse o informador do
futuro, de louco.
Aquele Bruce do passado certamente iria rir disso tudo e não
acreditaria em nada deste cenário que estou vivendo, porque seria difícil
aceitar que eu voltei a me apaixonar e na situação mais improvável da minha
vida. Seria como um quebra-cabeça com peças disformes uma das outras,
afinal nunca esperei algo do tipo. Mas certamente, nunca é sobre como isso
acontecerá e sim, com quem.
Ter Tasha ao meu lado me faz ficar cada dia mais apaixonado por
ela, é como acreditar que o impossível é possível, sim.
Mesmo depois de dois anos, podemos voltar para o mesmo lugar
onde nos conectamos e nos apaixonamos, para ter uma lua de mel
inesquecível e agora real.
Olho para ela acomodada na poltrona ao meu lado da primeira
classe. Percebo que ficou tensa desde que entramos no avião, toco
gentilmente sua perna e me aproximo dela, puxando seu queixo em minha
direção para que me encarasse; como imaginei, aqueles olhos verdes estão
aflitos e sei exatamente o motivo.
— Ele vai ficar bem. Benjamin está em boas mãos. — Tento
reconfortá-la.
Tasha solta um suspiro e tenta tirar sua preocupação quando sacode a
cabeça.
— Eu sei, eu sei. Mas é que... — Olha para a janelinha do avião e
reflete: — Nunca estive longe dele por muito tempo. Como posso saber que
ele não irá sofrer com a minha ausência também?
Decidimos que a nossa lua de mel duraria apenas sete dias, por causa
de Benjamin. Ele completou um ano há duas semanas, foi uma festa linda
entre família e amigos. Ainda assim, continua sendo um bebê.
Começou a andar habilmente há pouco tempo e Tasha o amamenta,
embora ele coma de tudo e não seja totalmente independente do leite
materno; mas compreendo minha esposa.
A conexão dela com Benjamin vai além das minhas compreensões e
por isso, sou empático quanto a preocupação dela.
Me ajeito na poltrona, o incômodo de Tasha começa a me preocupar
também. É claro que estou preocupado com Benjamin sem nós por perto,
mas estou confiante de que ele se dará super bem sob os cuidados de Rachel
e Julie, além dos tios e a minha mãe que se instalou em nosso apartamento
para ajudar durante os próximos dias. Ainda assim, não acho que será legal
levar Tasha para bem longe se ela continuar desse jeito.
— Podemos sair antes que o avião decole... — começo a sugerir e
ela me agarra pelo pulso.
— Não! Tudo bem — alerta com os olhos arregalados, mas logo
adota uma postura mais tranquila. — Eu consigo... Benjamin também vai
conseguir, ele é um bebê forte.
Sorrindo para ela, me aproximo e beijo sua boca quente e suave.
— Ele é tão forte quanto eu ou você. Sabe que se depender de Chris
e Mat, ele vai se esquecer de nós rapidinho, não sabe? — Arranco dela uma
risada ao lembrar dos tios babões que nosso filho tem. — Papai logo vai
fazer companhia a mamãe lá em casa também, todos estarão juntos para que
Benjamin não se sinta sozinho.
Aquilo parece confortá-la, mas logo exibe um biquinho.
— Poxa, não quero que ele esqueça da mãezinha dele — choraminga
e ri.
— Não tem como esquecer você, meu amor. — Fungo a curva do seu
pescoço e ela estremece. — Tanto nós quanto ele iremos aprender a lidar
com essa questão de um jeito mais evoluído. Mesmo com a distância,
estaremos unidos.
Ganho um sorriso apaixonante da minha querida esposa e me sinto
bem por saber que minhas palavras a reconfortam de todos os jeitos. Tasha
confia em mim de olhos fechados, por isso minha palavra tem peso para ela.
Soltando um suspiro de alívio, Tasha encosta a cabeça no meu ombro
e diz:
— Você sempre me acalma, sabia?
Sorrio orgulhoso de mim mesmo, é o tipo de coisa que amo ouvir
dela. Passo meu braço por cima do seu ombro enquanto afago seu braço
esquerdo.
— Se sente melhor, então? — pergunto de volta.
— Sim. Mas talvez você precise me dizer isso outras vezes, meu
oráculo — brinca me fazendo rir da comparação.
— É a nossa lua de mel, merecemos um pouquinho de descanso, não
acha?
Ela solta um suspiro de exaustão.
— Nem me diga!
Além do casamento que tomou muito do nosso tempo, tínhamos
também nossos negócios para tocar. Tasha, por exemplo, tinha que
acompanhar as gravações do reality show inspirado em seu site. Ela fazia
tudo on-line, mas tomava uma boa parte da sua energia, bem como o próprio
site. E quanto a mim, precisei ficar viajando para a França umas duas vezes
por mês para acompanhar a construção do resort em volta da propriedade
que comprei de Perseus.
— Seriam duas semanas se o 14 Dias Casados estivesse
patrocinando a nossa lua de mel — comenta em tom de humor.
— Você é a dona, deveria ter pensado nisso.
— Acha que Benjamin suportaria mais uma semana sem nós por
perto? — pergunta me olhando enquanto espera por uma resposta prática.
Mas penso, não é como se Benjamin tivesse nos roubado algo, mas
certamente a vida de pais nos tirou muito tempo juntos.
— Daqui a um ano, faremos outra viagem de uma semana — afirmo.
— Então todo ano voltaremos para o Havaí?
Dou de ombros.
— Havaí, Maldivas, Cancún... O que você achar melhor. — Olho
para ela que tem um brilho nos olhos com aquela ideia e dou uma piscada.
— Merecemos, não merecemos?
— Com certeza! — Ri toda empolgada com a ideia e encosta de
novo a cabeça em mim.
Aproveito para fazer carinho em seu cabelo ruivo e penso que faria
de tudo para proteger a minha família, daria a vida por minha mulher e meus
filhos. Ela sabe disso, e diz a mesma coisa sempre que possível. O nosso
amor com o tempo se fortalece como correntes, que não nos prende, mas nos
mantém unidos e fortes.
O avião decola e já não tem mais o que fazer.
Felizmente, Tasha começa a se desprender daquelas amarras de
mãe superprotetora e começa a se distrair com as nuvens até pegar no sono.
Logo faço o mesmo, acordamos cedo para pegar o voo, mas fomos dormir
tarde para aproveitar cada minutinho com Benjamin. Até mesmo quando ele
foi dormir, ficamos o admirando por mais tempo.
Somos assim, dois pais babões. Julie e Benjamin são nosso grande
orgulho e confiamos nos dois mais do que tudo.
Quando juntos, os dois também mostram uma forte conexão e me
sinto feliz por dar a Julie o que ela sempre quis, uma família. Ainda fico
emocionado como ela recebeu Tasha em nossas vidas de braços abertos e a
tem como uma mãe.
Tenho muito a agradecer a minha filha, pois se não fosse por ela e a
sua insistência, acho que nada disso teria acontecido.
Seria uma probabilidade perdida no espaço-tempo.
Voltar para o Havaí é como rever um filme, muitas cenas passam na
minha cabeça, mas todas elas são nostálgicas demais. Imagino que para
Tasha a sensação seja a mesma, não é à toa que decidimos passar a nossa lua
de mel no resort Sunshine, de novo.
Só que desta vez, o nosso status de casados é real.
Parece que nada mudou desde a última vez em que estivemos aqui.
Na verdade, olhamos tudo agora com mais familiaridade, mesmo dois anos
depois.
Chegamos ao resort, para a minha surpresa, somos recepcionados
por Robert Thompson e todo seu carisma de gerente assim que fazemos
o check-in.
Ele nos olha com aprovação, como quem dissesse, "agora sim".
Quero nem lembrar que, da última vez em que estivemos neste Hall,
Charissa apareceu causando maior furdunço com a irmã.
— Bem-vindos ao resort Sunshine, senhor e senhora Mackenzie —
diz inclinando seu corpo sutilmente em uma reverência.
— É muito bom estar de volta, Thompson — digo a ele.
— Imagino que sim, senhor. O quarto 1040 aguarda por vocês.
Tasha me olha com uma surpresa exagerada.
— O mesmo quarto em que ficamos antes? — pergunta com os olhos
brilhando.
— Tudo bem para você?
— Foi uma ótima ideia. — Segura a minha mão e a aperta.
— Fiquem à vontade. Estarei à disposição de vocês para qualquer
coisa — avisa.
— Obrigado, Thompson.
Embora o Havaí não tenha mudado em nada, o resort Sunshine parece
ter feito umas mudanças significativas em questão de decoração. Antes o que
era algo tropical e clássico, agora se tornou mais moderno e sofisticado.
Fernandes deve ter trocado a equipe que cuida de todo interior local,
pois conseguiu prender nossa atenção.
Sinto Tasha ficar ansiosa à medida que nos aproximamos da nossa
suíte. Meu coração também bate na boca, pois é uma sensação que estou
retornando para casa ou que estou reencontrando um velho amigo.
Quando entramos na suíte, algumas coisas também estão diferentes,
mas consigo sentir que este lugar de alguma forma ainda é nosso e que ele
presenciou momentos incríveis entre Tasha e eu.
— Nossa, é como rever um filme — comenta indo em direção à
sacada.
Deixo nossas malas no canto da sala e vou até ela, a abraçando por
trás enquanto sentimos a maresia se embrenhar entre nós, trazendo ar puro e
salgado, cheio de lembranças.
— O que você achou que iria acontecer? — pergunto um tanto
curioso.
Tasha pensa um pouco, afinal de contas, já faz tempo desde a
primeira vez em que estivemos aqui, mas ela consegue lembrar.
— Eu sabia que seria uma loucura, mas quis aproveitar cada
momento, mesmo achando que não daria em nada. No começo, claro... Aí
depois você foi me domando... — Os dedos dela passeiam pela extensão do
meu antebraço enquanto revelava: — Fui ficando viciada em você, em cada
toque e beijo, no seu cheiro e no seu abraço. — Virando o rosto, seus olhos
encontram os meus, cheios de luxúria. — Eu me apaixonei por você antes
mesmo de perceber o que tinha acontecido. Fazia muito tempo que não sentia
nada parecido.
É impossível não sentir meu corpo pulsar diante das suas lembranças
que me afetam com desejo. Estar aqui de novo com Tasha, é recordar como
me libertei para sentir de volta prazer e paixão, tão forte que era capaz de
doer; ainda é.
Lembro de como fiquei louco por ela quando a vi no aeroporto.
Depois que nos beijamos na Festa da Hula, e então, naquela manhã depois de
um banho no mar que fizemos sexo até ficarmos exauridos, aqui mesmo,
nesta suíte. Foi louco e me sinto particularmente louco agora, como se
aqueles dias tivessem voltado.
Amo o nosso presente.
Amo tudo o que construímos juntos, mas gosto de pensar na novidade
que foi voltar a sentir aquelas coisas por alguém, foi explosivo. E toda vez
que eu tocava Tasha, sentia que era mais real do que eu imaginava.
— Isso deixou você excitado, querido? — pergunta dando risadinha
e me tirando dos meus pensamentos, fazendo eu perceber que apertava
maliciosamente o seu corpinho gostoso enquanto a empurrava contra meu
pau latejante.
— Um pouco fora de mim, talvez. — Dou de ombros, fingindo
ingenuidade. — Mas você também tem feito um ótimo trabalho — comento
ao vê-la roçando seu bumbum lindo em minha intimidade, que só queria
encontrar liberdade neste momento e se afundar em Tasha.
— Que tal relembrarmos os velhos tempos? — diz virando para mim
e agarrando meu pau.
Tasha e eu não temos mais nenhum pudor entre nós dois.
Nenhuma vergonha.
Já fizemos de tudo e já conversamos sobre tudo, então saber que
somos um casal tão conectado e que sabe exatamente o que quer, deixa as
coisas entre nós dois mais divertidas.
O parapeito da sacada é de concreto e alto o suficiente para ninguém
ver o que ela faz logo em seguida. Tasha se ajoelha diante de mim e começa
a abrir a minha calça, sem muito tempo, coloca meu membro latejante para
fora, duro e salivante.
Ela o pega delicadamente já subindo, descendo nele com aquela sua
mão macia, me olhando ali debaixo igual uma submissa prestes a realizar
todos os meus desejos. Tasha faz uma cara de pidona, mas ela ainda não me
engole e só fica me atiçando.
— Lembra daquela vez que a gente foi até a boate Closer e você me
chupou no estacionamento? — pergunta com a voz sensual, me fazendo
estremecer com aquela deliciosa lembrança. — Eu disse que iria ficar
devendo uma a você.
Dou uma risadinha.
— Meu bem, tenho certeza que já estamos quites há muito tempo. E
se bem me lembro, acho que eu estou te devendo isso agora — comento
alucinado pela massagem que ela está fazendo em mim.
A sua outra mão livre agarra meu traseiro e ela aperta.
Dizem que ruivas são safadas demais, Tasha faz essa teoria soar
verdadeira e parecer um elogio diante das coisas que ela já me mostrou na
cama desde que assumimos um relacionamento.
— Não. Certa vez você me disse que o que aconteceu no Havaí,
ficaria no Havaí — respalda, passando a ponta da língua na minha glande,
me fazendo urrar. — Agora que estamos no Havaí, vamos terminar o que
começamos.
Não preciso dizer mais nada, pois não irei negar aquilo a ela, que
está com tanta vontade e eu querendo senti-la me engolir todinho, cada
centímetro...
Até o talo.
Apoio minhas mãos no parapeito da sacada e arquejo quando ela
engole tudo, indo até o fundo, se demorando e então voltando.
Ainda em nossas noites aqui, Tasha sabia o que fazer para me
enlouquecer, agora dois anos depois, suas habilidades só melhoraram e ela é
perfeita no que faz.
A minha querida esposinha tem uma língua muito safada. Ela é tão
gulosa que me coloca por inteiro dentro da sua boca em um vai-e-
vem enlouquecedor.
— Aah, caralho! — grunho baixinho para não chamar atenção quando
ela faz um movimento de sucção no meu pau e reviro os olhos.
— Não grite demais, meu amor — ordena.
— Eu só queria poder gritar — digo passando a mão em seu cabelo e
a agarrando com força.
Abaixo a cabeça e fecho os olhos, a imaginando sob mim, de pernas
abertas e bem molhadinha, então me afundo dentro dela lentamente.
A boca de Tasha me dá quase a mesma sensação, mas com um pouco
de dentes, já que ela ama me morder. Outro detalhe que também me provoca.
Quando ela começa uma série de movimentos repetidos numa
velocidade frenética, sinto meu pau latejar e inchar dentro da sua boca, além
de toda aquela explosão de sensação que cresce em mim. Depois jorra tudo
dentro dela, me aliviando e a fazendo salivar por cada gota.
— Porra, Tasha. — Deliro quando ela passa a língua nos lábios, não
deixando escapar nenhuma gota do que gozei nela.
— Como sempre, delicioso, meu amor.
Após aquela rapidinha na sacada, puxo Tasha para meus braços e
admiro bem sua beleza que parece perfeita para o Havaí.
— Você não sabe o quanto sou grato por ter o privilégio de receber
essas coisas de você — ressalto algo que ela já deveria estar cansada de
ouvir; mas se declarar nunca é demais.
— Nunca vai se cansar de mim?
— Não brinquei com os meus votos quando disse que a queria para
sempre.
— Que bom, porque eu também não.
A levo para dentro do quarto e a deixo sobre a cama.
Fazemos amor exatamente como havíamos feito dois anos atrás. Só
que agora, tão mais conectados e unidos do que antes.
••••
Na nossa primeira noite, já nos preparamos para a Festa da Hula, que
recepciona os novos grupos de turistas que chegaram naquela manhã e Tasha
e eu somos dois deles. Desta vez viemos mais preparados, então não
precisamos correr atrás de algo apropriado. Mesmo assim, damos uma volta
pelo resort, só por curiosidade.
Não parece, mas sete dias é pouco tempo, então temos que aproveitar
tudo ao máximo.
Já arrumados para a festa, damos um passeio na beira da praia
enquanto assistimos ao pôr-do-sol, com os pés afundados na areia e a nossa
união apalpando o ar.
Tasha e eu nos sentamos na areia branquinha, ao som das ondas
quebrando na margem e da Hula que se iniciava uns metros daqui. Enquanto
as gaivotas sobrevoam e o dourado reflete no cabelo cor de fogo de Tasha.
Solto um forte suspiro, possivelmente, emocionado demais com tudo.
A loucura que foi esses últimos anos, acho que não teria palavras o
suficiente para descrevê-los, mas aqui estamos nós.
— Um milhão por seus pensamentos — Tasha desafia e olho para ela
com um sorriso vitorioso.
— Então já vai preparando seu bolso, porque estou pensando
exatamente sobre tudo — revelo.
— Sobre tudo? Isso é possível? — indaga incrédula.
— Bem, na minha cabeça, sim. É fácil, na verdade. Como se fosse
uma retrospectiva, sabe?
Ela olha em direção ao horizonte pintado de vermelho e laranja,
amarelo e um pouco de azul, e pergunta:
— A vista inspira você?
— Esta vista, você, a nossa história... Tudo isso me inspira a voltar
sempre no tempo. Do ponto de partida onde tudo parecia estar dando errado,
mas quando já estava encaminhando para dar tudo certo.
— Você precisa confessar, a nossa história de amor não foi nada
normal. — Ri e a acompanho, pois não era mentira. — E eu nunca gostei de
coisas normais demais, sabia? Acho que a forma como nos encontramos,
ajudou para que eu me jogasse mais ainda no que estávamos vivendo.
— Verdade. Eu lembro de você segurando a minha mão quando
chegamos ao Havaí — relembro. — Você queria que parecesse bastante real.
— E funcionou, não é? Você realmente fez tudo parecer tão real, que
não consegui sair daquela realidade paralela. E você também me deu um
anel de noivado, do nada. Então acho que você estava tão envolvido quanto
eu! — reafirma.
— Ah, pode apostar. Fiquei louco quando vi você naquele aeroporto.
Eu senti que fosse dar certo, no fim das contas.
Tasha une os joelhos e abraça as pernas encostando seu queixo ali,
ficando extremamente pensativa e calada. Ajeito as mechas do seu cabelo
que o vento bagunçou.
— Um milhão pelo pensamento. — Devolvo o desafio e ela dá um
sorriso sutil.
Mas Tasha não me responde de imediato. Ela fecha os olhos e curte o
momento. Curte aquele tempo que nos é dado; uma vida que cogitamos não
viver devido os nossos desencontros e sei exatamente como ela se sente.
Um dia, isso quase não nos pertenceu, mas aqui estamos nós,
abraçados a um momento que tememos perder para sempre.
Não importa onde, como ou quando, mas desde que estivéssemos
juntos...
Nós quase nos perdemos.
Inesperadamente, quando já estava acostumado ao silêncio de Tasha,
ela diz:
— Dizem que tudo é questão de tempo para curar um coração
partido, ou uma dor que punge na alma. O tempo pode ser um bom remédio
para muitas coisas, mas há certas ocasiões em que é mais sobre a pessoa do
que o próprio tempo.
Ela me olha com o rosto iluminado e um brilho comum em seus olhos
que ficam marejados. Não sei o que passa naquela cabeça, mas de qualquer
forma, Tasha tenta colocar em palavras.
— Fiquei tão enfeitiçada por você, que se tivesse me pedido em
casamento naquele tempo em que estivemos aqui, eu teria aceitado, Bruce.
Estava quebrada, me abstendo de qualquer sentimento amoroso, e você
chega e muda todos meus princípios. Deveria ser até crime.
Seu último comentário me puxa uma risada animada.
— Graças a você, aprendi a perdoar a minha mãe e a Charissa.
Graças a Benjamin, todos nós nos permitimos tentar mais uma vez, e acredito
que não houve nenhum arrependimento.
— Com certeza não, meu amor. — Me aproximo mais ainda dela e
envolvo seu corpo encolhido em meus braços, no meu universo particular. —
Tenho certeza que todos estão felizes o suficiente, principalmente nós dois.
Beijo o topo da sua testa carinhosamente e ela afaga.
— Sim, principalmente nós dois — repete minhas palavras, para dar
mais ênfase ao sentimento mútuo.
O celular de Tasha vibra e ela pega mostrando a tela que informa
uma videochamada de Julie.
O sorriso no rosto dela fica largo e atende no exato segundo.
— Oi, meus amores! — Julie vibra do outro lado da chamada. —
Como foi a viagem?
— Bem, estamos até na praia vendo o pôr-do-sol. Olha.
Tasha muda a câmera e mostra o horizonte para Julie que fica de
queixo caído.
— Meu Deus, é lindo! Da próxima vez eu vou com vocês.
— Estaremos abertos a discussões sobre isso, mocinha — rebato e
ela faz biquinho.
— E o seu irmão? — Tasha pergunta e dá para perceber a tensão em
sua voz.
— Tá tudo bem por aqui. Ele já está até dormindo. — Julie anda um
pouco pelo que parece ser o corredor do nosso apartamento e então entra em
um quarto escuro, mas logo mostra Benjamin adormecido em uma caminha
com ursinhos. — Já faz uns vinte minutos que ele pegou no sono. Tio Chris
estava aqui e Erin também, então eles deram uma canseira nele. Isso tudo é
exaustão.
— E quanto a sua avó? — pergunto.
— Na sala, assistindo TV.
Tasha solta um suspiro de alívio ao meu lado.
— Que ótimo que está tudo bem. Contamos com você, Julie.
Ela bate continência de um jeito divertido.
— Pode deixar! Está tudo bem por aqui, não se preocupem com nada
— começa a falar baixinho, para não acordar Benjamin. — É um sonho que
vocês estejam aí, só que agora oficialmente casados.
— Igualmente, fada madrinha — Tasha brinca, fazendo Julie ter que
engolir o riso do outro lado para não soar escandalosa demais.
— Amamos você, princesa — digo tomando o celular da mão de
Tasha. — Mas agora é só minha rainha e eu. Tchauzinho. — Desligo a
ligação e Tasha fica me olhando espantada.
— O que foi? Combinamos que não teria nada de crianças.
— Você é muito individualista, Bruce Mackenzie.
— Sou sim. Você é toda minha durante esses sete dias — digo a
apertando de novo em um abraço. — Só minha.
Tasha e eu ficamos por minutos ali, mas assim que anoitece, Tasha e
eu vamos curtir a Festa da Hula.
Ficamos relembrando das nossas aventuras pela ilha, das fotos que
tiramos que agora fazem parte da nossa coleção de quadros, os vídeos feitos
para Julie, inclusive, fazemos outro para mostrá-la também, além de querer
manter em nossa memória.
Lembramos de Britney e Oliver, de Fernandes e até mesmo do
Troller amarelo que nos acompanhou naquela época.
Tasha e eu ficamos tirando da gaveta todas essas memórias e
percebendo que desde o início, nosso destino já estava entrelaçado, só
precisávamos de um pouco mais de reflexão para então, nos curarmos e
ficarmos prontos um para o outro.
Depois das memórias, vamos viver o presente.
Convido minha eterna esposa para dançar sob o luar, ao som das
ondas quebrando e de ukuleles invadindo nossa mente e nossos corpos
unidos. Foi exatamente assim, há dois anos, que senti que Tasha seria
diferente.
Foi aqui, com ela, que descobri que é possível amar de novo e me
curar daquilo que a vida havia me tirado de tão importante.
Eu a amo e viverei para que a nossa história seja sempre um final
feliz.
BRUCE
Faz um lindo dia no interior da França, justamente o dia em que
escolhi para todos celebrarmos juntos a inauguração do nosso primeiro

resort no continente europeu.


Estão todos aqui do jeito que imaginei, desde as amigas de Tasha, até
mesmo à Charissa e Perseus, antigo dono da propriedade.
A inauguração do nosso primeiro resort na França reúne minha
família, amigos e a magnata francesa, além da imprensa bastante interessada
em cobrir o evento que marca a trajetória da construção do lugar que foi
concluída em um ano, respeitando a propriedade original e a cultura
francesa, onde tudo aqui remete a um estilo clássico, vitoriano e sofisticado.
Temos um edifício, na verdade, quase um castelo, onde os hóspedes
se sentirão em uma realeza, com salão de festa, salão de jantar e de jogos,
temos uma entrada ampla com colunas de mármore e um corredor exibindo
as mais belas pinturas, igualmente os famosos museus. E na área externa,
muito espaço arborizado para curtir em família como se estivessem em um
conto de fadas, com piscinas naturais e um minicampo de golfe, este último
detalhe meu pai amou.
Benjamin corre pela grama verdinha e aparada do lugar, fazendo com
que Julie o persiga entre os convidados, e sua risada explodir de um jeito
encantador atraindo muitos olhares de admiração para ele.
O garoto é a cara da Tasha e devo admitir que, agora aos dois anos
de idade, tem mostrado também bastante da personalidade incrível dela.
Isso tudo observo enquanto estou dando entrevista para repórteres
animados com toda aquela recepção de comes e bebes liberados. Até
porque, as próprias perguntas deles ficam alternando entre trabalho e vida
pessoal.
— Senhor Mackenzie, como foi para você e os seus irmãos essa
nova conquista? — pergunta um repórter.
— Tem sido um sonho realizado. Agora que alcançamos este
objetivo, temos novos a planejar — respondo.
— E a sua família, como lida com um empreendimento tão longe, já
que moram em Vancouver? — pergunta uma mulher, que disse ser de um site
de entretenimento.
— Parece ser uma boa oportunidade para comprar uma propriedade
mais intimista para eles aqui por perto — brinco. — Mas a minha esposa
tem o trabalho dela em Vancouver e a minha filha Julie está prestes a
concluir o colegial, então as férias na França vai ter que esperar mais um
pouco.
— Quais são os novos planos da Mackenzie?
Olho de relance para meus irmãos no outro lado, dando suas próprias
entrevistas.
— Isso é confidencial, mas Mathew e Christopher são as grandes
mentes por trás dos nossos projetos incríveis.
— O que você acha do site 14 Dias Casacos ter se tornado um
fenômeno após o ocorrido entre você e a sua esposa naquela época?
— Acho perfeito. Tasha merece todo reconhecimento do mundo por
seus esforços. Ela é uma mulher maravilhosa em tudo o que faz e tenho muito
orgulho em poder chamá-la de minha esposa.
Não é à toa que falar sobre ela parece ser mais fácil do que o
trabalho, eu não tenho medo de me declarar para Tasha em frente às câmeras.
— E quanto aos seus irmãos? — pergunta outra repórter um tanto
tímida. — Eles não pretendem também encontrar o amor de suas vidas?
Olho mais uma vez aos dois. Mathew está concentrado enquanto deve
estar falando algo muito importante. Christopher está jogando charme para as
lentes que o filmam e capturam a sua imagem a cada clique.
Dou um sorriso orgulhoso pelos homens que cada um de nós nos
tornamos, mas especialmente, por saber que apesar de ainda não terem
encontrado a outra metade deles, os dois priorizam o amor. Lá no fundo, eu
sei que o amor para eles vence tudo.
— Em breve — afirmo.
Depois de muitas entrevistas, consigo me desviar da imprensa e saio
à procura da minha família. Cumprimento alguns convidados e encontro
primeiro meus pais a caminho da tenda onde vi Tasha da última vez.
Meus pais não poderiam estar mais felizes. Eles já vieram muitas
vezes para a França, mas agora trouxemos o nome Mackenzie para um dos
lugares preferidos deles no mundo todo.
Eu abraço meu pai enquanto mamãe acaricia meu rosto, acho que
para ela, sempre serei aquele garotinho. Consigo ver isso em seus olhos.
— Estamos muito orgulhosos de você, querido — mamãe diz.
— Você e seus irmãos conseguiram fazer mais do que eu em todos os
anos que comandei a Mackenzie — papai comenta.
— O senhor foi o alicerce para que tudo isso fosse possível, pai.
Também é mérito seu.
Ele me sorrir, mas é para mamãe que diz:
— Está vendo, Pat? Criamos mesmo um menino de ouro! — profere
todo orgulhoso e devo admitir que não há sensação melhor do que essa.
— Vocês já estão aí, babando ovo deste cara? — Christopher surge
todo enciumado.
— Não acha que está velho demais para ficar sentindo esse ciúme
bobo? — pergunto a ele.
— Ele é caçula, Bruce, gosta de atenção — mamãe enfatiza se
aninhando a Christopher.
— E eu sou o mais bonito, o mais legal e o mais amado — diz o
idiota do meu irmão.
Reviro os olhos.
— Bem, então deixe que eu vá atrás das minhas virtudes. — Despeço
dos meus pais, do meu irmão e continuo a ir atrás de Tasha.
Cumprimento mais convidados e à medida que me aproximo, vou
ouvindo e identificando a voz de Julie e os balbucios de Benjamin que são
palavras ainda difíceis de decifrar naquele momento, porém, já entendemos
bastante coisas. Ele está começando a querer falar, então está sempre
emitindo sons e palavras distorcidas de um idioma que só os bebês
entendem, eu acho.
Tasha está debaixo de uma tenda, se refrescando com limonada,
aproveitando a sombra do lugar. Ela está belíssima em seu vestido azul anil
e com um chapéu bege, enquanto conversa com Rachel que deixou as
trigêmeas brincarem enquanto ela fica ali fazendo companhia a minha
mulher.
Quando as duas percebem minha aproximação, parecem mudar de
assunto rapidamente.
Tasha me oferece um sorriso.
— Sorte a minha que tenho amigas presentes, porque hoje você está
muito requisitado — desabafa.
— Eu sou seu todos os dias, meu bem. Hoje é uma daquelas
exceções. — Beijo seu rosto e dou um sorriso a babá das meninas. — Olá,
Rachel. Está gostando da França?
A mulher abre um sorriso.
— É tão lindo quanto nos filmes — diz maravilhada. — As meninas
estão amando também.
Observo as trigêmeas brincarem com Benjamin, agora que Julie o
largou no chão. Amo as minhas sobrinhas, assim como amo ser pai, ser tio é
incrível.
Vivo me desentendendo com Mathew por pegar demais em seu pé e
convencê-lo a ser um pai mais presente, só que às vezes, só às vezes mesmo,
compreendo o trauma do meu irmão mais velho.
Ele amava Abigail, mãe das meninas e após a traição ele ficou
desolado. Mathew não suporta a ex-mulher, e como uma obra do destino, as
meninas são exatamente a cara dela. Acho que elas devem lembrá-lo de uma
época boa, que logo se tornou infernal na vida dele, mas as palavras de
Rachel ainda estão frescas, “Tudo o que eu queria era que Mathew
entendesse que as trigêmeas não têm nada a ver com o que Abigail fez a
ele’’, foi o que ela me disse magoada, na casa dos meus pais dias antes de
Benjamin nascer. Rachel tem razão, mas, mesmo depois de tanto tempo, ele
continua rancoroso.
Lembro de uma coisa que Mathew me disse ainda em Vancouver.
— É verdade que você inscreveu Mat como motorista consciente do
mês da escolinha das meninas? — pergunto um tanto duvidoso, mas Tasha ri
e Rachel faz uma expressão de deboche.
— Ele precisa de mais tempo com as meninas, não precisa? Foi a
melhor estratégia que encontrei.
— Mat não parece muito contente com isso.
— Querido, ele nunca está contente com nada — Tasha comenta. —
Quem sabe uma van cheia de menininhas não melhore o humor dele?
Começamos a rir quando, convenientemente, meu irmão mais velho
se aproxima de nós, percebendo exatamente o que estava acontecendo.
— Qual bunda eu devo chutar? — pergunta mal-humorado. — Vocês
estão nitidamente falando de mim.
Tasha se cala e eu também, mas se havia uma pessoa mais corajosa
do que eu para enfrentar Mathew, essa pessoa é Rachel.
— Estávamos comentando em como será divertido vê-lo ir para o
trabalho de van ao invés de uma Lamborghini porque precisa deixar e pegar
as suas filhas e as amiguinhas delas na escolinha.
Mat fica sério demais a encarando, mas a babá não dá o braço a
torcer.
— Você ainda vai me pagar por todas essas coisas que faz sem a
minha permissão — declara meu irmão, mas seu tom não era muito
assustador; parecia que com Rachel ele até tentava morder, mas só latia.
O sorriso dela se alarga.
— Ah, é? E como você vai fazer isso? Descontando do meu salário?
Dobrando o meu horário? Me demitindo?
Percebo Mathew ficar tenso com sua última sugestão. Acho que não
existe mais para as meninas um mundo sem Rachel.
— Vá em frente.
Em resposta, Mathew solta apenas um suspiro e me lança um olhar
quase de ajuda. Enfio apenas as mãos nos bolsos da calça enquanto assisto
um Mackenzie desconfortável. Somente ela parece ter o dom de fazê-lo parar
de mostrar os dentes.
— Você deveria estar com as meninas — diz ele por fim.
— Deveria, mas as meninas estão crescendo, Mathew, logo não
precisarão mais de mim ou você vai continuar precisando de mim?
— Não sou eu que preciso de você, são as meninas.
Tasha e eu ficamos apenas observando aquela minidiscussão.
— Olhe para elas, Mat. Tem certeza que estou aqui por causa delas?
Mesmo que tenha sido uma ordem para meu irmão, olho para as
trigêmeas brincando. Elas já estão de fato bem crescidinhas, com seus dez
anos de idade.
Muito em breve, os serviços de Rachel não serão mais necessários e
talvez Mathew consiga perceber a diferença que ela faz em sua família. Ele é
tão bobo, que não se deu conta que Rachel poderia ser uma mulher perfeita
para ele, se não fosse tão escroto na maior parte do tempo.
— Sim — insiste na resposta, mas havia algo que ele não queria
aceitar e que o incomodou mais que tudo.
Rachel dá um sorriso afetado.
— Vamos ver até quando você não vai perceber a realidade.
Ela quer que o meu irmão admita que ele precisa dela. Não num
sentido amoroso, mas quase que paternal.
“Mathew precisa de Rachel porque ela fez em anos o que ele não
foi capaz de fazer pelas próprias filhas.”
Tasha ajuda aquele clima a se amenizar ao pegar Rachel pela mão.
— Venha, não quebra a cabeça com isso, você está na França.
Sem dizer nada, apenas deixando para meu irmão um olhar de aviso,
as duas se afastam e ficamos só nós dois.
O primeiro garçom que passa ali com uma bandeja cheia de drinks
refrescantes, Mathew pega logo um e dá um gole exagerado.
Sorrio porque conheço meu irmão. Muitas coisas o tiram do sério,
mas nenhuma delas o deixam tão louco quanto Rachel. E antes que eu
comente alguma coisa, é Mathew que diz primeiro:
— Essa mulher me deixa com os nervos à flor da pele.
— Percebe-se, cara.
Mathew fica indignado.
— O pior de tudo é que ela sabe disso. Sabe do efeito que tem sobre
mim, e principalmente, que eu jamais a demitiria. Não enquanto as minhas
filhas a quiserem por perto, mas, porra…
Ficamos em silêncio por algum segundo e reparo que, por mais que
Tasha tenha levado Rachel para longe, ele não tira os olhos da babá.
— Você gosta dela — concluo, o fazendo me olhar abismado.
— Não, não gosto. Rachel está longe de fazer meu tipo.
— Você disse que Abigail fazia o seu tipo…
— Não toque no nome dela perto de mim. — Me interrompe com o
seu dedo grosseiro e ameaçador apontado na minha direção. — Muito menos
para deboches.
— Estou querendo dizer com isso que a pessoa ideal às vezes é quem
você menos espera ser — argumento olhando para Tasha e pensando em toda
a nossa trajetória.
Agora é Mat que dá um sorriso debochado.
— Nem todo mundo tem a sua sorte, irmão.
Dou de ombros, ciente do quão exigente e fechado para novas
possibilidades eu havia me tornado. Meus irmãos passam pelo mesmo
problema, mas cada um com seus traumas e histórias diferentes.
— Não foi sorte, foi libertação. Deveria experimentar.
Isso parece fazê-lo pensar mais um pouco.
Diferente de mim, Mathew não perdeu um grande amor, e sim, foi
traído. São dores diferentes, mas nele doeu como brasa; e até os dias de hoje
dói, principalmente porque ambos tiveram três filhas de uma só vez.
O meu irmão tem medo de ser machucado mais uma vez, mas sei que
ainda é possível amar de novo.
Eu tive a minha segunda chance e sei que, um dia, irei vê-lo
novamente ser tão feliz quanto eu sou agora.

FIM.
Acima de tudo e todos, agradeço a Deus por minha vida, minha
família e por mais um sonho que se realiza.
Agradeço à minha família que me motivou a compartilhar minhas
histórias com o mundo e que está sempre do meu lado.
Dani, obrigada por tudo. Sem palavras. Saber a hora de parar de
escrever quando as ideias não fluíam e só desfrutar do tempo em família foi
e sempre será o caminho.
Madrinha, mil vezes obrigada por me ajudar a controlar minha
ansiedade quando eu estava uma pilha de nervos.
Nossa, como amo todos vocês!
Agradeço muito à Assessoria Fox por toda orientação e apoio.
Penélope, muito obrigada por toda paciência e atenção comigo e com meu
livro. Independentemente do horário, você sempre esteve disposta a me
ajudar.
Agradeço ainda à Leticia Tagliatelli que fez um trabalho impecável
de revisão.
Agradeço às autoras dos Grupos FNL e SL por me acolherem e pelo
apoio na divulgação do meu trabalho.
Um agradecimento especial às leitoras que acompanham minhas
histórias no Wattpad, vocês foram fundamentais para que este livro fosse
publicado.
Um grande beijo,
Alba Luccas.
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