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LIVRO 1

Sinopse
Ele é arrogante e precisa de um bebê herdeiro.
Ela é desastrada e tagarela e foi inseminada por engano.
Os dois se odeiam, vivem brigando, mas terão que se unir para criar
o bebê inesperado.
Beatriz sempre foi a menina certinha que sonhava em se casar com
o homem perfeito. No entanto, uma ida ao ginecologista mudou tudo. Duas
mulheres com o mesmo nome.
Uma troca de exames.
Três meses depois, um bebê na mulher errada.
Giovanni sempre quis ser pai, mas ao descobrir um câncer, seu
sonho foi adiado. Guardando seu material genético, ele achou que no fim
daquele pesadelo teria a família ideal. No entanto, foi traído pela esposa e
abandonado pelos amigos. A única coisa que lhe restou foram os bebês
guardados. Então, quando seu telefone toca e ele descobre que sua ex estava
estragando tudo novamente, simplesmente surta.
Sem esperança.
Sem filhos.
Até descobrir que um deles foi colocado em uma estranha por
engano. Eles se odeiam, mas todo esse ódio pode se transformar em paixão.
1
Você já se imaginou em uma situação que mais parecia uma cena de
filme ou série de TV?
Bem, eu estava em uma bem agora.
Era um verdadeiro absurdo, um pesadelo maluco que acontecia em
câmera lenta no qual eu não estava entendendo nada, mesmo que as pessoas
envolvidas falassem o meu idioma.
Tudo o que eu podia fazer era encarar o chefe da clínica de
fertilização me dizendo, com o rosto em pânico, que eu estava grávida de
um estranho.
Pior, esse mesmo cara, o qual só encontrei uma vez e já foi
desagradável, estava bem do meu lado.
Nesse momento, eu só pensei estar em um sonho maluco, no qual
deveria ser um pesadelo, mas que naquele momento até era cômico.
Giovanni Mancini era um belo homem, com seus trinta e oito anos,
cabelos lisos e loiros, tinha uma barba bem-feita e elegante, se vestia como
um verdadeiro príncipe, mas a arrogância era de um cavalo selvagem.
Confesso que, quando esbarrei nele, tudo o que pude pensar era que
achava que era um Deus grego, que por sorte me salvou de um tombo,
então… ele abriu a boca, falou grosserias e eu o chutei. Minha mãe sempre
me dizia: você é como um asno enfurecido, deve tomar cuidado, porque não
tenho dinheiro para advogados.

Jurei que nunca mais olharia no rosto do diabo, mas aqui estava ele,
ao meu lado, olhando para o médico, como se fosse sufocá-lo.
— Você está me dizendo — Se levantou da cadeira, ao lado. — Que
meu único filho está na barriga dessa destrambelhada?
— O que você disse? — Levantei com fogo nos olhos. Ele me
encarou, raivoso, com aquele azul intenso que tira o ar de qualquer mulher.
Eles estavam até vermelhos. — Destrambelhada? — Botei as mãos na
cintura, o encarando, sem medo. — Quer levar outro chute?
— Você, senta aí, depois conversamos. — Apontou para que eu
voltasse à cadeira.
— Você não manda em mim. — Meu ódio aumentava
gradativamente. Quanto mais o ouvia, mais o odiava.
— Mulher — Respirou fundo, tentando se acalmar. — Fique longe
das minhas bolas, sente-se na cadeira, e me deixe matar esse imbecil.
— Eu também quero enforcar ele. — Olhei para o baixinho, que
estava em pânico, atrás da mesa de vidro. — Vim fazer um exame de rotina
e vocês me… me colocam o DNA desse idiota?
— Juro que se meu bebê não estivesse dentro de você, eu a...
— Você o quê? — Afastei a cadeira, indo em sua direção. Eu queria
intimidá-lo. Provar que não sou como as outras, que o suportam calado.
Giovanni deu passos para trás, pensando que se livraria tão facilmente. Não
importa se ele tem quase o dobro da minha altura, ou que seus ombros
largos sejam uma parede ou que seu lindo rosto seja intimidador, quando
me olha com tanta raiva, esse babaca aprenderia que não sou uma qualquer.
— Primeiro, meu nome é Beatriz. Segundo, não me irrite com toda a sua
arrogância. Terceiro, serei eu quem vai dar as cartas, porque tem uma
criança na minha barriga que eu não queria.
— Eu não quero que seja a mãe, mas o que posso fazer?
Olhei para o pequeno, que engoliu em seco e disse:
— Você tem rios de dinheiro, processe essa clínica e saia da minha
frente.
Simplesmente deixei o arrogante para trás, saindo da sala,
totalmente transtornada. As lágrimas, que eu não sei de onde saíram,
rolavam sobre o meu rosto. Corri para pegar o elevador, e quando entrei,
Giovanni Mancini também entrou. Eu desejei sair dali, pois não aguentaria
ficar naquela lata de sardinha, com esse babaca, no entanto, as portas se
fecharam e não pude fugir.
O loiro ficou me encarando por um bom tempo, enquanto me
encolhi no fundo, limpando as lágrimas. Eu nunca fui de chorar por nada,
nem quando caí de bicicleta, mas tudo em mim estava mudando, desde
aquele dia fatídico.
— Desculpe. — O tom educado me surpreendeu. O cara de terno
pareceu desconfortável. Ele pigarrou e virou para o outro lado, ficando lado
a lado comigo. Não falei uma palavra, nem fiz som algum. — Essa situação
é inusitada, estou nervoso e preocupado. Jamais pensei que algo assim
pudesse acontecer, então… me perdoe.
— Não acho que precise de muito para que você seja arrogante e
um babaca. — murmurei.
Ele ouviu. Consegui ver que não gostou.
— Estou tentando ser gentil.
— Porque estou grávida de um filho seu, caso contrário, seria um
idiota. — Levantei o nariz. — Não que esteja sendo um príncipe.
— Mulher, eu não sei o que quer que eu faça!
— Fique longe.
— Impossível!
Cruzei os braços e o encarei.
— Não gosto de você.
— Também não morro de amores pelo senhor.
— Olha — Respirou fundo. — Sou arrogante, idiota, babaca e
muitas outras coisas, mas…
— Mas?
— Hoje em dia, sou infértil. — Isso me quebrou. Óbvio que um
homem que guardava sêmen em uma clínica de fertilização tem um porquê,
mas eu não pensava nisso naquele momento. Além disso, meu ódio por esse
homem me cegava. — Essa é a minha única oportunidade de ter um filho.
— Não consegui me manter firme. Apesar de teimosa, não sou um monstro.
— Não posso ficar longe, eu… vamos esquecer o que aconteceu, só…
vamos decidir com mais calma.
Três meses atrás
— É, ricaça, eu vou entrar aqui. ” — Sussurrei, com um sorriso no
rosto. Toda vez que venho para os exames de rotina nesta clínica, recebo
olhares de desprezo ou estranheza.
Claro que uma professora do primeiro grau não tinha dinheiro
suficiente para bancar uma consulta em um lugar como esse, mas ser amiga
de uma médica que trabalha neste lugar ajuda muito.
Eu não gosto de aceitar favorecimento como esse só porque é
minha amiga ou parente, no entanto, da última vez que fui no ginecologista
com meu plano, fui tratada tão mal que fui expulsa do consultório. Por quê?
Não levo desaforo para casa.
Então a Mila, uma das minhas melhores amigas, que trabalha neste
lugar chiquérrimo, me convidou e disse que seria totalmente grátis, não
pude recusar.
— Beatriz Miller. — Me sinto toda importante quando dou meu
nome na recepção.
— A doutora Goodner não está atendendo hoje, mas ela deixou
marcada para outra médica.
— Espera, Mila não vem? — Bati os saltos no piso de mármore,
pensando. — Droga! Sempre faço com ela.
— Não se preocupe, o doutor Jackson está esperando no terceiro
andar.
Tive que aceitar, pois não perderia esse dia. É apenas rotina, não vai
fazer mal. Subi pelo elevador, que dava para ver todos os andares, pelas
paredes de vidro.
Quando cheguei, dei passos para fora, indo até o balcão, dei meu
nome e esperei. Quase no mesmo instante meu nome foi chamado e isso me
alegrou.
— Está tudo pronto, senhora Miller.
— Miller. — Corrigi, mas não acho que ele ouviu direito.
— Pode começar com os preparativos, serei rápido.
O doutor nem me olhou no rosto, algo que não desgostei. Quanto
mais rápido for, menos constrangida fico. Na verdade, odeio ficar de pernas
abertas para um ginecologista homem. Sei que é algo profissional e tudo
mais, contudo, odeio.
Os homens com quem já saí nunca prestaram atenção no que eu
tinha entre as pernas, apenas usaram e foram embora. Hoje em dia, não
cometo mais esses erros, ficando na minha, sem esperar e nem ir atrás de
nada. Além disso, minha personalidade sempre estraga as coisas, então é
mais fácil.
Fui até o banheiro, me preparei e voltei para a sala, onde o médico
se preparava. Passei, calada, deitei e só esperei tudo acabar. Sempre fecho
os olhos e imagino que estou em outro universo, em um mundo onde não
estou exposta para um estranho.
Dessa vez as coisas estavam diferentes, achei estranho, pensei em
falar, porém, ele começou a falar.
— Como está se sentindo dessa vez?
Ótimo, conversar com o médico que está vendo a minha…
— Muito bem, obrigado. — Merda! Isso ficou estranho.
— Não se preocupe, dessa vez vai dar certo.
— Vai? — Franzi o cenho.
— Você é jovem e saudável, com certeza vai ficar bem, mas
recomendo que descanse, não se estresse, se alimente adequadamente.
O quê? O que esse homem está falando?
— Doutor, porque preciso descansar, o senhor está vendo algo…
— Para o procedimento dar certo, é melhor que descanse. Os
hormônios podem influenciar, vou receitar vitaminas.
Merda! Eu sabia que algum dia essa coisa… Deus, minha vó
morreu de câncer de útero, não posso acreditar.
— Doutor, devo me preocupar, fazer outros exames? — Minha voz
estava trêmula, quase desesperada.
— Não, não deve se preocupar. Isso é só um conselho a mais. Você
já deve saber.
Deus, vou matar esse homem.
— Certo, só descansar!
— Já terminei, fique um pouco nessa posição para aumentar as
chances de dar certo.
— Certo.
Eu nem notei todo o procedimento. Quando esse homem abriu a
boca e começou a dizer essas coisas, eu só me desesperei. Não posso negar
que continuo desesperada. Não confio nesse velho. Tenho que falar com a
Mila.
— Pode ir ao banheiro se arrumar, vou levar os materiais.
O barulho da porta me fez sair do lugar. Olhei em volta e tentei me
acalmar. Aquele lugar ficou pequeno para as minhas paranoias. Comecei a
duvidar da capacidade desse médico.
— Aposto que ele é um maluco. Um velho que já não sabe de nada.
— Peguei as roupas e comecei a me vestir. — Faço exames periódicos, caso
estivesse com algum problema, Mila me diria. — Parei e olhei no espelho
do banheiro. — É isso. Ele é um doido. Só encheu a minha cabeça de
paranoias.
Coloquei algumas mechas do meu cabelo para trás e sorri, tentando
me convencer disso. Saí da sala esperando nunca mais olhar no rosto
daquele homem. Eu o mataria, só por ter colocado essas coisas na minha
cabeça. Ao esperar o elevador, bati o salto no chão e ele chegou, fui
caminhar para dentro, esbarrei em uma perua alta.
Ela nem pediu desculpas, apenas ignorou a minha existência. Como
estava agitada, apenas fui embora.
Olhei o monitor, onde ficavam os números dos andares, pensando
que levaria horas até chegar no meu destino.
As portas se abriram, saí sem pensar em nada. Ao passar pela porta
giratória de vidro, outra vez, esbarrei em alguém.
Dessa vez, quase caí e beijei o chão. A pessoa me segurou com
força, impedindo que isso acontecesse.
Fiquei assustada, meu coração foi à boca e ao encarar seus olhos
azuis, senti que morri e fui para o céu.
O homem, que tinha o dobro do meu tamanho, ombros largos e uma
barba bem feita, sexy, me encarou de volta, surpreso, tão confuso quanto eu.
Apenas segurei forte em seus ombros, que com certeza eram bem definidos.
Senti que o ar havia sumido, a língua paralisou e não pensei em mais nada a
não ser em como aquele estranho era lindo, como um anjo.
— Você é maluca? — As palavras demoraram a chegar nos meus
ouvidos e levou alguns segundos até eu entender. O estranho ainda me
segurava, tipo aquelas cenas de filme, onde o casal está agarrado, um ao
outro, depois de um esbarrão. — Garota, olha para onde anda, ou vai se
desmanchar no chão, e isso seria humilhante.
O arrogante me soltou, depois que levantei. Olhei para ele, agora
com outros olhos, pensando que o esmagaria com as minhas mãos.
— Você entra na minha frente, como um idiota, esbarra em mim e
ainda me ofende? — Meu sangue começou a esquentar. — Seu babaca
arrogante, quem pensa que é?
— Giovanni Mancini. — Arrumou o terno, perfeitamente alinhado
ao seu belo corpo. — E foi você quem esbarrou em mim.
— Eu? — Fechei as mãos com tanta força que o sangue parou de
circular. Dei passos em sua direção, o fazendo recuar, algumas vezes. —
Acabei de ter uma consulta maluca, onde milhares de possibilidades
estranhas podem acontecer, uma siliconada, assim como você, esbarrou em
mim e não pediu desculpas, e como se não fosse suficiente, um playboy
arrogante aparece na minha frente, como uma avalanche, e sou eu a
culpada?
A voz alterada chamou a atenção das pessoas ao meu redor. O
arrogante estava me olhando com estranheza, com uma das sobrancelhas
levantada.
— Isso só comprova que é uma destrambelhada.
Sem pensar, chutei o covarde, que no mesmo instante, gemeu de
dor. Olhei para ele e refleti. Cometi um erro. Então, me desesperei e saí dali
o mais rápido possível, deixando-o na porta da clínica, como se nada tivesse
acontecido.
2
— Que nostalgia. — A voz grave foi irônica. Olhei para o playboy
e revirei os olhos. — Espero que não me chute outra vez, ou vou ter que te
processar.
— Giovanni, você não me conhece, mas sabe do que sou capaz,
então, por que ainda me provoca? — Falei com um falso sorriso no rosto.
— Vamos! — Ele pegou na minha mão, praticamente me
arrancando do lugar.
— Wow! — Parei, puxando o braço. O loiro me encarou,
impaciente. — Quem pensa que é para me puxar assim?
— Vamos ter essa conversa outra vez? — Ele se irritou. — Temos
que conversar. E não pretendo fazer isso aqui no meio da rua.
— Querido, se me puxar desse jeito outra vez, vou arrancar suas
bolas.
— Querida, se não me obedecer, vou colocá-la em meus ombros e
carregá-la até o carro.
Estávamos em uma batalha de provocações e olhares, em frente ao
prédio onde minha vida acabou de mudar para sempre. Algumas pessoas
notaram o clima tenso.
Meu coração começou a bater forte, as emoções à flor da pele
estavam me deixando nervosa e com vontade de chorar sem motivo
aparente.
— Não me chame de querida, pois não sou sua querida! —
Comecei a me abanar. — Segundo, não vou a lugar algum com você.
— Sim, você vai! — Os olhos azuis eram como uma tempestade no
mar aberto. — Meu filho está dentro de você. Como se não bastasse eu ter
um bebê com uma estranha, essa mulher é o meu pior pesadelo. Deus só
pode estar me punindo por tudo o que fiz de errado.
— Acha que estou feliz? — O desespero bateu. Não foi como eu
descobri, mas também foi ruim. — Eu odeio você. É uma pessoa
insuportável, arrogante e egocêntrica, meu bebê terá o DNA de um babaca.
Quanto mais me abanava, mais calor eu sentia. Giovanni me olhava
como se eu fosse a coisa mais bizarra que ele já viu.
— Certo, fiquei calma. — Dessa vez o arrogante diminuiu o tom
ríspido. — Você não pode ficar exaltada. Não se aborreça.
Do nada, uma crise de risos me bateu e logo se juntou ao desespero,
o que me levou a chorar como uma idiota.
— Como não quer que eu me aborreça se você é um idiota
arrogante? — Eu quis parar de chorar, mas foi o gatilho para me
desmanchar em lágrimas.
— Por favor, não chore, não sei o que fazer quando isso acontece.
— Porque você é um egoísta.
— Sou tudo de ruim, pelo que parece, mas não pode se alterar. — O
homem se aproximou, sem saber o que fazer. — Vamos... sair... desse lugar.
— Não quero ir com você. — Deus, por que não paro de chorar?
— Beatriz — Notei o quanto odiou falar o meu nome. Limpei as
lágrimas, respirando fundo, pois parecia que não iria ter fim. — Eu não
gosto de você, você me odeia, nós dois já sabemos disso, porém, vamos ter
um bebê e teremos que fazer isso juntos.
— Só pode ser punição divina. — Murmurei.
— Não podemos conversar no meio da rua, então... por favor, entre
no meu carro e vamos para um lugar onde podemos conversar.
— Você me irrita, não posso ficar ao seu lado, o bebê sente.
O loiro revirou os olhos e respirou fundo.
— Por favor!
Pensei e acertei. Querendo ou não, estamos no mesmo barco e não
posso ser tão dramática. Afinal, ele é o pai do bebê que eu não escolhi ter, e
aparentemente, o homem não pode ter mais filhos.
— Certo.

Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa em vir com Giovanni a


um restaurante tão chique como esse. Saí do carro sentindo um arrepio
estranho. O arrogante era até educado, quando queria, abrindo a porta e me
conduzindo para dentro do lugar.
Assim que pus os pés no restaurante, fui observada por muitas
pessoas, tanto por quem trabalhava lá quanto por alguns clientes.
Eu quis me enfiar em um buraco. Não sabia o que fazer, o que dizer,
nem como resolveria essa situação.
Ao chegar à mesa, ele me ajudou a sentar, afastando a cadeira. Meu
coração ficou pequeno. Jamais pensei que algo assim pudesse acontecer.
Meu plano era me formar, pagar a faculdade, arranjar um emprego e
os filhos ficariam para um futuro bem distante, contudo, uma ida à clínica e
um bebê apareceu. Eu nem aproveitei a parte boa do sexo.
— Bem — Ele começou, cruzando as mãos em cima da mesa. O
loiro estava tão nervoso quanto eu. — Nenhum de nós dois imaginou que
isso poderia acontecer.
— Quem em sã consciência sonharia com isso?
Provocá-lo era um instinto. Eu nem media as palavras. Parecia que
o filtro do meu cérebro sumia toda vez que o encontrava.
— Que tal deixarmos de lado todo o ódio que nutrimos um pelo
outro?
— Estou tentando, mas não consigo. — Era verdade. Eu não
conseguia e isso era ruim. Significava que nós dois nos odiaríamos para
sempre.
— Vamos com calma. — O encarei e fiquei surpresa com o
controle, e mudança, dele. — Bea... Beatriz...
— Porque toda vez que fala o meu nome, você fica assim? —
Cerrei os olhos, com raiva.
— Sabe porque o médico confundiu e inseminou você?
Tentei lembrar, mas no momento eu estava tão furiosa e
desesperada que pouco pude ouvir.
— Porque... — Balbuciei.
— Porque minha ex se chama Beatriz. — Claro, é até
compreensível. Mas não justifica. Eu não queria ser inseminada. — Essa
mulher me machucou de muitas formas. E o pior de tudo foi usar meu
sêmen sem meu consentimento. Já tínhamos nos separado, ela achou que
isso me faria mudar de ideia, mas deu tudo errado. Perdi tudo o que tinha,
todas as chances de ter um filho, até você aparecer. — Certo, ele tinha um
bom ponto. Será que ele sempre é um babaca ou só quando fica irritado?
Não! Óbvio que ele é sempre o babaca. Tem uma história triste, mas não
justifica o modo de agir e falar com as pessoas. — Olha, eu sei que fui
grosso com você.
— Olha, ele admite. — Ironizei.
Vi que o tirei do sério outra vez.
— Sou muito exigente, gosto de controlar...
— Pontos ruins.
— Você quer parar de me interromper? — Ficou irritado.
— Olha, não sou como as mulheres que vivem ao seu redor.
— Percebi. — Zombou.
— Não fico calada, não levo desaforo para casa, sou irônica a
maioria do tempo, odeia ser comandada...
— Ou seja, o destino uniu, para sempre, duas pessoas que são quase
tão iguais, que se repelem e não aguentam estar no mesmo lugar que o
outro.
Perceber isso me deixou quente de novo, trazendo a garota chorona
de volta.
— Deus só pode estar me punindo. — Me abanei.
— Você quer fazer o favor de parar de chorar e se abanar? —
Giovanni olhou para os lados, com medo de que as pessoas nos ouvissem.
— Como não vou me desesperar, se você e eu nos odiamos?
— Temos que achar uma alternativa, pois não vou abrir mão de
estar com meu filho.
— Vou acabar maluca.
— Sou eu quem vai enlouquecer. Você é impossível de tolerar. —
Levantei uma das sobrancelhas e o encarei com ódio. Poderia pular no
pescoço do idiota e enfiar o garfo em sua garganta.
— Eu sou insuportável? — Giovanni notou que as palavras não
ficaram apenas na sua cabeça, então deu um sorriso falso.
— Assim como você, às vezes não filtro minhas palavras.
— Então comece a tomar cuidado, ou meu bebê vai nascer sem um
pai.
— Bea... triz.
— Me chame de Triz, se for melhor para você. — Cerrei os olhos.
— Obrigado. — Revirei os olhos, cruzando os braços, encostando
na cadeira, pedindo a Deus que tudo isso seja um pesadelo. — Triz,
podemos fazer um acordo.
— Que tipo de acordo? — Franzi o cenho.
Giovanni pensou, pigarreou e se aprumou. — Você é jovem,
inteligente e não planejou esse bebê.
— Humm...
Continuei esperando o que mais ele diria. Com certeza vou desejar
matar ele no final da frase.
— No meu caso, é a única vez que posso ter um filho. Penso que
possamos achar uma saída para não precisarmos conviver constantemente
um com o outro. Pois será ruim, uma criança crescer em um ambiente no
qual os pais se odeiam. — Apoiei na mesa, ficando mais perto dele. Óbvio
que não sou de ferro. Esse homem é tudo de ruim, no qual eu poderia
imaginar, mas o desgraçado é lindo. Tem um olhar que me faz estremecer.
A voz grave é excitante e o corpo todo malhado. Como um homem tão
babaca pode residir em um frasco tão bonito? — Não se irrite, apenas me
ouça.
— Me diz uma coisa — me estiquei para chegar mais perto e
sussurrei: — No final dessa frase, vou desejar matar você? — Pela
expressão dele, notei que sim. — Antes que comece a dizer algo que me
faça pular no seu pescoço, vou dizer uma coisa. — Giovanni me encarou
sério, com o olhar intenso que quase me desmontou. — Você pode ter rios
de dinheiro, ter uma boa justificativa triste, parecer um ator de cinema, mas
vou passar o resto da minha vida na cadeia, deixando nosso filho aos
cuidados da minha mãe, caso você seja idiota o suficiente para propor algo
absurdo como comprar meu filho.
— Não seria isso. — Continuei o encarando de perto.
— Ok.
— Acho que teremos que achar uma forma de nós darmos bem. —
Óbvio que ele iria propor algo absurdo como comprar meu bebê.
— Vamos fazer o seguinte: volto para a minha casa, tomo um bom
banho, me enrolo no meu colchão macio, choro desesperadamente e
resolvemos depois, quando eu encontrar uma forma de aceitar que estou
grávida de um babaca estranho que me irrita até quando respira.
— Você tem um dia.
— Um dia? — Repeti.
— Sim, você terá um dia para si, depois, vai ter que me suportar até
esse menino, ou menina, completar sua maioridade e assumir o meu lugar.
Sem pensar, o puxei pela gravata, aproximando nossos rostos. Não
sei o porquê, mas meu coração foi à boca, não parei de encará-lo enquanto
ele sorria. Um belo sorriso sexy que me desmoronou.
— Odeio quando as pessoas comandam a minha vida.
— Odeio quando uma mulher não faz o que mando.
— Tome cuidado ou vou matar você.
— Sinceramente, estou começando a gostar disso.
— A é?
Giovanni se aproximou. Ficou tão perto da minha boca que pensei
que me beijaria, mas o babaca só estava me provocando.
— Agora, bem agora, com você tão perto, senti um desejo fora do
comum.
— O quê? — Me assustei, voltando para o meu lugar.
— No final das contas, podemos nos dar bem.
— Fiquei bem longe de mim.
— Muito pelo contrário, eu estou em todos os lugares. — Não sei
se isso é uma provocação ou era seu lado dominante falando. — No seu
trabalho, casa, quarto, banheiro. Quero estar a todo momento com você,
enquanto meu filho estiver na sua barriga.
— Vou pedir uma medida protetiva, você não me provoca.
— Não ouse me afastar do meu bebê.
— Meu bebê!
— Nosso bebê! — A curva em seus lábios me irritou.
— Vou embora, já que não temos mais nada para falar.
Levantei-me, tentando ignorá-lo.
— Levo você para a sua... casa.
— Vou de táxi.
— Vai comigo. — Também levantou, fechando o botão do terno.
— Prefiro ir andando.
— Você vai comigo.
— Quem pensa que é?
Giovanni afastou a cadeira, veio até mim, sem medo de que eu o
chutasse novamente.
— O pai do seu filho. — Disse olhando no fundo dos meus olhos.
— Infelizmente.
3
— Se precisar de alguma coisa, é só ligar. — A voz desse homem
me dá vontade de vomitar. Se eu pudesse, faria isso bem ali, no carro
conversível, só para ver qual seria a reação dele.
— Preciso de uma coisa, mas não sei se você vai ser capaz de me
dar. — Tentei esconder o sorriso que nascia dentro de mim. Provocar
Giovanni estava se tornando uma diversão.
— Consigo coisas que você não faz ideia. — Cerrei os olhos,
notando a conotação sexual na essência dessa frase. Um arrogante safado.
Ótimo, um combo completo.
— Quero que fique o mais longe de mim, consegue?
Respirando fundo, ele disse:
— Tenha um bom dia, querida. — Esticou-se para abrir a porta para
mim. Dei uma risada que o fez parar no meio do caminho, ao voltar para o
seu lugar.
— Não sou sua querida.
— Nenhum pouco. — Estreitou os olhos. — Cuide-se. Meu filho
depende disso.
— Não me lembra dessa tragédia. — Bufei.
Ainda não consigo acreditar que sou tão azarada que fui inseminada
por engano com o DNA de um cara como Giovanni Mancini.
— Quer saber, pelo bem-estar dele, vou levar suas críticas na
brincadeira. Mas não me faça perder a cabeça.
— Eu estou perdendo a cabeça, mas… para não ser a chata, vou
tentar… eu disse tentar — enfatizei. — Não o provocar tanto.
— Tanto?
— Também não vamos exagerar. Você merece.
Ficamos um tempo ali, encarando um ao outro, esperando que
alguém chegasse para nos acordar daquele pensamento. Porém, a pessoa no
meio do nosso caminho foi minha mãe. Assim que a avistei, entrei em
pânico.
— O que foi, aconteceu alguma coisa? — Meu coração ameaçou
falhar; minha mãe era a pessoa mais teimosa e crítica que eu já conheci. Ela
era uma mulher manipuladora, usava meu amor e coração mole para fazer
todos os seus gostos. Quando descobrisse sobre o bebê e toda essa
confusão, eu estava completamente ferrada. — Triz, você está sentindo
alguma coisa?
Giovanni praticamente me sacudiu. Encarei ele, com muita raiva,
mas sua expressão preocupada quebrou esse sentimento.
— Minha mãe. — Falei, fechando a porta do carro. — Não posso
sair agora.
O homem olhou para o lado de fora, tentando entender.
— Por quê?
— Como “por quê?” — Bati de leve na sua mão, que segurava o
meu braço. — Há três meses eu fui inseminada, fiquei grávida de um
babaca ricaço, acha pouco?
O vi revirar os olhos.
— É romântico como fala de mim. — Debochou.
— Meu Deus. — Comecei a me abanar, pensando em tudo o que
aconteceria a partir dali. — Mamãe é uma mulher extremamente religiosa,
ela quase me colocou no convento para ser uma freira. Ela vai me matar! —
Eu odiava chorar. Odiava mesmo, mas desde que o bebê surgiu na minha
barriga, era a coisa que eu mais fazia. — A culpa é sua.
— Como a culpa é minha se eu nem transei com você?
— Deus me livre. — Não seja hipócrita, você até gostaria.
— Gostaria de estar na minha cama.
— Vamos deixar as provocações de lado. — Disse, tentando refletir.
— Com a minha mãe aqui, não posso sair. Ela vai me questionar. Eu não sei
mentir sem um bom plano, então me tira daqui. Tenho que pensar em
alguma coisa antes de enfrentar a fera.
— Uau, você é bem exagerada. — Revirou os olhos.
— Acha que estou brincando? — Irritei-me. — Quando eu falar a
ela que estou grávida, a última coisa que ela vai querer saber é da clínica de
fertilização. Ela diz que isso é do diabo, e que só o sexo é permitido para a
reprodução.
— Então está grávida do diabo.
— Sinceramente, acho que sim.
Algo novo aconteceu. Não brigamos. Na verdade, até rolou um
sorriso.
— Então, vai voltar para casa depois que o nosso filho nascer e
você dizer que adotou.
— Meu Deus, eu não pensei nessa parte.
O carro começou a sair do lugar, mas não percebi de cara. Estava
tão presa aos pensamentos que me esqueci do tempo ou da realidade.
— Isso pode ser facilmente resolvido. Até facilita as coisas. — A
sua voz me tirou dos pensamentos. Olhei para ele sem entender o que isso
significava. — Você vem morar comigo.
Claro. Claro. Uma piada. Óbvio que é uma piada.
A crise de risos voltou e não soube parar. Enquanto o carro era
guiado pelas ruas da cidade, meus olhos lacrimejaram de tanto que ri da
situação.
— Você até que é engraçado.
— Não sou, e isso não foi uma piada.
— Claro que sim.
— Não!
— Giovanni — Ainda levei na brincadeira. — Se ficarmos sob o
mesmo teto, vamos acabar matando um ao outro.
— Vou ficar perto do meu filho.
— Vai me irritar a todo o momento.
— É uma ótima oportunidade de nós conhecermos.
— Não está falando sério.
— Triz… — Esperei mais alguma palavra que me faria cair na
gargalhada. — O que vai dizer à sua mãe? — Ele me lembrou do problema.
— Que fez uma coisa que ela vai odiar.
— A culpa não foi minha.
— Também não foi minha. — Cruzei os braços, frustrada. — Tive
câncer. Essa foi a única forma de ter um filho, pois passei por muitas
quimioterapias que me deixaram infértil, então, não me culpe.
— Que tipo de câncer?
Mesmo não gostando de Giovanni, ele é o pai do meu filho. Uma
hora ou outra, vamos ter que conversar sobre muitas coisas.
— Leucemia. — O tom de voz, como se algo estivesse errado e
triste, me fizeram perder a rigidez. Sempre sou teimosa ou briguenta. Isso
parece instantâneo perto dele, porém, tenho que lembrar dos fatos no qual o
trouxeram até aqui. Nós dois estamos sendo obrigados a ficarmos juntos.
Ele é do jeito que é, e eu sou desse jeito: briguenta. — Minha ex não queria
ter um filho na época. Respeitei, então decidi procurar a clínica. Achei que
tudo ficaria bem depois que venci o câncer, mas agora estou em um buraco.
Separada. Traído e com meu único embrião em uma mulher que me odeia.
Com essa eu fiquei triste. Estou sendo difícil de propósito.
— Certo, me desculpe por ser tão rude, arrogante e irônica. — Ele
sorriu. Seu rosto não estava como antes. Sempre que o encarava, via o
homem bruto que falava asneiras para me irritar, contudo, parecia
conformado e o sorriso o deixou ainda mais bonito. — Consigo reconhecer,
Giovanni.
— Também estou sendo arrogante, me perdoe.
— AÍ, MEU DEUS!
Ele freou, parando o carro de uma só vez, me puxando para frente,
mesmo com o cinto de segurança me protegendo, senti meu coração na
mão.
— O que aconteceu?
— Você quer me matar? — Bati em seu braço, diversas vezes, com
raiva, mas não tão forte. — Não faz isso.
— Achei que algo ruim tinha acontecido, sua louca. Não faz isso.
— Você quem freou o carro.
— Acha que estou de brincadeira aqui? — Voltou a ficar com raiva.
— A minha única chance de ter um bebê está dentro de você. Esse filho é
tudo o que tenho, então não me assusta.
Ficamos parados, encarando um ao outro, até que o carro de trás
buzinou e ele voltou a dirigir.
— Desculpe, eu não sabia que você iria me pedir desculpas e
admitir que é um idiota.
— É impressionante. — Disse para mim mesmo, balançando a
cabeça. — Estou tentando ser legal. Não quero brigar com você. Odeio a
situação em que estamos, mas quero melhorar nossa relação.
— Claro, pelo bebê. — Fui irônica.
— Pelo meu filho. — Confirmou. — Será que um dia poderemos
ser amigos?
— Acho difícil, nossas personalidades não se dão bem.
— Porque você me provoca.
Fingi estar ofendida, mas, na verdade, quis rir.
— É divertido.
— Claro que sim. — Ele sorriu. — Está com fome?
— Querido, estou sempre com fome, ainda mais agora.
Parece que fiz alguma piada, pois Giovanni abriu um largo sorriso.
— Você é interessante. — Franzi o cenho. — Não posso chamá-la
de querida, mas você pode me chamar assim.
— Sou eu quem dita as regras.
— Ah, é? — Por um momento, o observei. Giovanni é um bom
partido, se não fosse tão grosseiro. Se eu parasse para avaliá-lo de cima a
baixo, o calor que eu sentiria não seria por tensão ou nervosismo. — Duas
pessoas controladoras?
— Uma, no caso eu, você só obedece.
— Ah, pode acreditar nisso, se quiser, mas vamos entrar em um
debate eterno.
O carro estacionou em uma vaga qualquer, na rua. A tarde estava
chegando, o sol tornou o céu alaranjado, misturando-se com o azul.
Estávamos em uma praça, onde muitas pessoas caminhavam, passeavam
com crianças e cachorros, e havia barracas de comida.
Fiquei animada, pois meu estômago estava vazio.
Saímos do carro e tudo foi estranho. Encarando o homem, eu não
sabia o que dizer ou fazer. Ele estava de terno, todo alinhado, mas decidiu
tirar o blazer e ficar apenas com a camisa branca.
Um erro, eu diria, pois assim eu conseguia ver melhor o seu corpo,
que se encaixava bem naquela roupa.
— Triz — chamou minha atenção. — Se continuar me olhando
assim, vou achar que você quer transar comigo.
Arregalei os olhos, aproximando-me e punindo-o com um pequeno
tapa.
— Fala baixo. — Ele riu, e eu fiquei vermelha de vergonha. — Não
é nada disso. Na verdade, quero morrer virgem, ao transar com você.
A gargalhada debochada dele chamou a atenção de quem passava
por nós, deixando-me ainda mais constrangida. Fui forçada a acompanhá-lo
na brincadeira para que ninguém achasse estranho.
— Você é virgem? — Seu olhar pervertido aumentou meu calor. —
Isso não será um problema?
— Eu não sou virgem. — Sussurrei, quase ofendida. — Só foi uma
forma de falar.
— Ah, deixei você nervosa e excitada.
— Quer saber? — Senti vontade de desaparecer. — Vou arranjar
uma forma de ir embora. Não precisa se incomodar comigo.
Quando tentei me afastar, Giovanni me puxou pela cintura, fazendo
com que nossos corpos se chocassem. Encarei seus belos olhos azuis.
Ele me avaliou dos pés à cabeça, seu calor fez minhas pernas
falharem e meu coração acelerar.
— Não pode fugir justo quando estamos nos dando tão bem. — Foi
impossível não olhar para seus lábios que chamavam o meu nome. Quis
esquecer de tudo e me agarrar a ele.
— É uma trégua temporária. — Respondi hipnotizada.
— Você disse que estava com fome.
— Eu estou.
— Então não pode ir. — Deus, eu não vou suportar isso. Como não
desejar esse babaca, sabendo que ele é tão… droga! Agora eu estou
pensando nele sem roupa, em cima de mim, colado ao meu corpo.
— Certo, mas… — O empurrei. Fiquei tão desconcertada que mal
pude olhá-lo no rosto. — Uma distância mínima de um metro.
— Triz…
— O quê? — Questionei entre os dentes, enquanto ele ria de mim.
— Comida fresca. — Pisquei algumas vezes até entender. —
Vamos, eu não posso deixar o meu filho com fome. — Me pegou pela mão,
praticamente me arrastando pela praça.
Passamos pelas pessoas, que ficaram nos encarando, e dei um
sorriso tímido. Paramos e tratei de puxar a minha mão com sutileza.
— Só lembrando. — Falei perto o suficiente para só ele me ouvir.
— Da próxima vez que me agarrar, vou chutar as suas bolas. — Dei um
sorriso, que foi acompanhado por ele. — Lembra como foi bom.
— Sabe, até gosto de você.
— Ah, é? — Continuei com o sorriso amarelo.
— Me irrita e me excita. — Levantei uma das sobrancelhas,
surpresa. — Mas não ouse tocar nas minhas bolas. — Semicerrei os olhos.
— A não ser, é claro, que seja com as mãos. Bem delicada. Assim é mais
gostoso.
— Se algum dia eu puser as mãos nas suas bolas, as esmago.
— Você gosta de sexo selvagem?
— Você quer parar de falar essas coisas. — Fiquei inquieta,
pensando e imaginando coisas que eram proibidas para nós dois. —
Seremos minimamente respeitosos um com o outro.
— Tudo bem. — Concordou.
Fiquei nervosa com o que acabou de acontecer. Não sabia como
uma briga levou a essa conversa.
— Me surpreende você querer comer em um lugar como esse.
Observei tudo ao meu redor. Tinha food trucks de todos os tipos ali.
Pessoas sentadas em bancos perto de mesas, comendo todo tipo de
gostosuras que me deixaram com água na boca. Até voltei a ver a figura de
Giovanni, que me encarava confuso.
— Algum problema com a minha escolha?
— Claro que não, eu achei ótimo, mas é uma surpresa. Logo você,
um homem de negócios, acostumado a frequentar restaurantes chiques,
vindo a um parque para comer… coisas tão simples como… aquilo. —
Olhei para uma das mesas e não soube identificar o que era. Alguma fritura,
empanada, com carne e muita cebola.
— Triz, eu não sou um monstro que odeio lugares-comuns; na
verdade, prefiro. Vivo cercado por coisas banais, e vir aqui me relaxa.
— É surpreendente. — Ficar olhando para as mesas fez meu
estômago roncar. — Estou quase atacando a comida daquele homem.
— Não! — Ele me tirou dali, puxando-me para outro lugar. — Você
não pode comer fritura.
— Não posso?
— Não, só vai comer alimentos naturais.
— Desde quando se tornou meu nutricionista?
— Desde o momento em que aquele imbecil te inseminou com meu
bebê.
— Vamos voltar a brigar?
O loiro parou abruptamente e olhou nos meus olhos.
— Estou cuidando de vocês.
— Pedi a sua ajuda?
— Sim, você pediu. Ainda temos muito o que resolver.
Provavelmente vamos brigar até essa criança nascer, mas agora, só quero te
levar para um lugar que não prejudique as minúsculas veias do coração do
meu filho.
Revirei os olhos, aceitando.
Perto de uma enorme árvore, tinha um food truck de comidas
naturais. Não sou contra os alimentos saudáveis, mas confesso que vivi uma
boa parte da minha vida comendo porcaria.
Giovanni foi até lá e comprou a nossa comida. Fiquei parada, bem
onde ele me deixou, observando como ele controlava tudo, inclusive o que
eu comia.
Pior era esquecer o quão grosso ele era e começar a apreciar apenas
o que tem por fora. Só agora percebi que ele tem uma bunda bonita, que
fica perfeita nessa calça. A camisa branca desenhava seu corpo, mostrando
os bíceps. Isso me fez suar, e quando me dei conta, já estava me abanando.
Disfarcei quando ele voltou. Seria humilhante deixar transparecer o
quanto me sentia atraída. Como se já não bastasse ter um filho na minha
barriga, não vou ter seu pau dentro de mim.
Mas não custa imaginar. Imaginar com seriedade. Você nua na cama
enorme, sendo observada por aqueles olhos azuis. Esse homem deve ser um
Deus sem roupa. Com certeza tem uma pegada forte. Aposto que te deixaria
mole, no colchão.
— Por que está se abanando?
— Hã? — Fiquei tonta.
— A noite que faz isso quando está nervosa.
— Para de ficar me vigiando. — Peguei a comida da sua mão, com
raiva. Talvez assim disfarce o meu desejo momentâneo.
Saímos dali, sentando em uma mesa próxima do carro. Eu estava
perdida em meus devaneios, me culpando por ter imaginado aquela cena.
— Então, o que vai dizer à sua mãe?
Quase me engasguei.
— Não sei. Nada do que eu disser será suficiente. Ela vai surtar.
— Se você passar por estresse, meu filho fica estressado.
— Está bem preocupado com o bebê. — O encarei. — Ele ainda é
um grão pequeno, nem sabe o que está acontecendo.
— Mas você sabe. — Me encarou, preocupado. — Olha. Não quero
contratar ninguém, mas me preocupo. Essa é minha única chance de ter um
filho. Tudo o que consigo pensar é... — Ele se perdeu nos pensamentos. —
Tudo pode acontecer. Você pode perder o bebê. Se… se eu causar estresse,
então me afasto, se alguém ou outra coisa te estressa, então eu me afasto.
Vou cuidar dessa criança. Vou fazer com que ela nasça. Eu preciso disso.
A emoção em seu olhar me pegou de jeito. No fundo, ele está tão
assustado quanto eu.
— Não vou perder o bebê. — Peguei em sua mão. — Eu sou assim,
estressada. Me irrito fácil, porém, sou forte. — Agora sou eu quem me
perdi nos pensamentos. — Não sabia que isso poderia acontecer. Não
planejei. Nem tenho um namorado.
— Isso é bom. — Pisquei algumas vezes.
— Ah, é? — Franzi o cenho.
— Quero dizer, eu acho que pode ser bom focar no bebê. — Foi a
primeira vez que o vi desconfortável.
— Minha mãe será um problema.
— Não tem como voltar, você já está grávida, e não foi culpa nossa.
— O problema vai além do engano ou inseminação. Isso é só a
ponta do iceberg. Ela vai achar um milhão de coisas. — Ela era uma boa
mãe, mas adorava me passar na cara todos os meus erros. — Ela não vai
entender.
— Então está tudo bem, você transar e ficar grávida?
— Tenho que namorar, casar, só assim para ela ficar satisfeita.
— O casamento é demais para mim.
— Seria um pesadelo para mim.
— Eu quem estaria em um pesadelo. — murmurou. Pela forma que
o olhei, percebeu que eu ouvi. — Não foi o que eu quis dizer.
— Sei. — Não dava para continuar brigando com ele. No momento,
tínhamos que encontrar uma forma de resolver isso.
— Então vamos ter que mentir. — Giovanni ficou sério. Continuei
devorando meu sanduíche, porque de barriga vazia eu ficava um porre. —
Você e eu somos um casal. — Me engasguei com a comida, o que me fez
tossir. — Beatriz! — Preocupou-se.
— Estou chegando à conclusão de que você quer me matar. — Ele
me passou a garrafa com água, mas não tirou a sensação da garganta.
— Olha para mim! — Estranhamente, ele pegou no meu rosto e me
fez olhar em seus olhos azuis. — Sua mãe vai achar estranho, mas o que ela
vai mais aceitar, uma inseminação ou um descuido no sexo?
— Sexo, com você? — Fiquei tão nervosa que senti o rosto arder de
vergonha.
— Vamos dizer que nos conhecemos há um tempo. Você não disse
nada, pois queríamos ver se iria dar certo. Então… houve um acidente com
o preservativo. — Comecei a me abanar. Eu já estava imaginando a cena.
— Estávamos felizes e depois de um tempo vamos nos separar. Mas
continuaremos unidos. Pelo nosso filho.
— Não vai dar certo. — O calor ficou tão intenso que deixei a
comida de lado para usar as duas mãos. Então ele as pegou.
— Não sou muito paciente, mas sou um bom mentiroso.
— Não me diga!
— Ela vai acreditar.
— Ela vai matar você.
— Posso me sacrificar pelo menos, amorzinho. — Apertou minhas
bochechas.
— Ou eu vou matar você. — Bati nele, e ele sorriu.
Do nada, Giovanni se aproximou, ficou perto do meu rosto,
deixando meu coração na boca. Eu não pude fazer nada além de encarar a
sua boca, que se curvou em um sorriso safado.
— A melhor parte é que vou poder te puxar quando quiser, e você
não poderá me chutar. Vou poder beijar a sua boca e provar que é uma
implicância fajuta só porque está excitada e não sabe como se livrar disso.
— Eu odeio você. — Mas no momento eu não consigo expressar
essa raiva, porque você está a poucos passos da minha boca.
— Vai ser divertido.
— Nunca vamos nos dar bem.
— Acho que tem uma possibilidade.
— Vou te odiar até o fim.
4
Isso só pode ser uma punição divina. Claro! Joguei pedra na cruz.
Só pode.
Já não tinha lágrimas para serem derramadas, mas meu corpo
sempre me surpreendia. Justo quando meus hormônios estão à flor da pele e
eu tenho uma prova para aplicar.
Não consigo, simplesmente, esquecer ou parar de pensar em toda
essa história. Como se desse.
Tem um bebê crescendo dentro da minha barriga. Um filho que não
escolhi, de um homem arrogante e egocêntrico que não me deixa em paz!
A cada dez minutos o idiota me manda mensagem, só para me
lembrar da sua existência. Merda! Estou presa a esse babaca para sempre?
É aí que volto a chorar como uma desesperada. Não importa o quão
forte ou destemida eu seja, isso ainda me deixa amedrontada. Com vinte e
sete anos, eu queria me concentrar no trabalho, na minha vida, apesar de
viver com a minha mãe religiosa que não me deixa em paz.
Meu Deus! Eu ainda tenho que contar a ela!
— Professora! — Uma das minhas alunas levantou a mão. — Você
está chorando?
A garotinha de sete anos me olha com o cenho franzido, confusa,
assim como eu.
Nunca vim para a escola — detalhe: uma escola católica —
chorando. Sempre sou alegre e divertida, então é fácil entender o quanto
elas estavam confusas.
— Não, eu só estou com alergia. — Deus, me perdoe por estar
mentindo em uma escola católica.
Tudo culpa do imbecil do Giovanni. Se não me lembrasse do meu
destino sem volta, eu não precisaria mentir para crianças.
“Porque não está me respondendo?”
Novamente o celular vibra, em cima da mesa de madeira. Eu já
sabia quem era e ler, novamente, as suas mensagens me deixavam ainda
mais furiosa.
Eu estava dando um gelo nele, pensando que assim ele entenderia o
recado, mas parece que não.
“Você quer parar de me mandar mensagem a essa hora do dia!”
Digitei as palavras com tanta força e raiva que poderia afundar a
tela do telefone.
“Estou no trabalho. Se o senhor é tão rico que não precisa trabalhar,
saiba que eu preciso.”
Bati com ele na mesa, chamando a atenção das alunas, que estavam
concentradas na prova.
Mais uma vez vibrou.
Desgraçado. Aposto que vou sangrar pelo nariz de tanto ódio que
estou sentindo por esse homem.
Eu quis ignorar, mas depois da primeira mensagem, era impossível
parar.
“Perdoe-me, não quero atrapalhar” — aposto que essa parte foi
irônica — “Sim, senhorita, eu também trabalho. Só que me preocupo com
meu bebê, agora que sei da sua existência.”
“Se me importunar demais, vou fugir com esse filho e nunca mais
vai saber dele.”
“Não seja louca.” Louca! Eu? “Mandaria todos a sua procura. Seja
lá para onde for.”
“Sou bem criativa, senhor Mancini.”
“Sou bem obstinado, senhorita. Então não me provoque.”
“Eu quem está o provocando?”
“Achei que estava no trabalho, senhorita.”
“Você quem está me atrapalhando.”
“Agora que sei que está muito bem protegida, irei voltar ao
trabalho, mas deve informá-la que passarei em sua casa, à noite, para um
jantar. Devemos deixar claro as nossas exigências e limites.”
“Eu diria que o meu limite é ter você a alguns quilômetros, sem
mensagens ou telefonemas.”
“Está levando isso na brincadeira?”
“Estou farta das suas exigências.” E quero te matar por estar me
atrapalhando. “É obcecado por controle. Deve saber que odeio isso.”
“Vamos discutir isso mais tarde, tenha um bom dia.”
“Para o senhor também.”
Ainda fiquei observando a tela do celular por um tempo, achando
que o idiota mandaria mais alguma coisa, contudo, ele saiu. Fico feliz. Esse
homem existe para me atormentar.
Me pergunto como vou suportá-lo. Está claro que odiamos
reciprocamente, mas no meio disso há um filho, no qual não pedimos,
porém, acabou acontecendo.
No fim, mesmo discutindo, consigo sentir pena do maldito. Sim, ele
me importuna, irrita e faz meu sangue ferver, contudo, ele foi traído, por
conta de uma doença, está infértil e a oportunidade de ser pai, depois de
tudo, foi praticamente jogada no lixo. Por obra do destino — algo que ainda
questiono. — meu útero comporta o único embrião que gera seu herdeiro.
Muitas dúvidas cercam a minha mente sobre isso. Giovanni é um
bruto controlador. Ele não me deixa em paz, mas não posso julgá-lo. Aposto
que está com medo. Vive preocupado que essa pequena esperança,
simplesmente, acabe, o deixando sem nada.
Sim, há outras formas de ser pai, porém, até eu entendo que um
filho de sangue é o sonho de qualquer homem.
Não seja coração mole, Beatriz. Ele é um babaca, vive te tratando
como uma idiota, não deixe que essa história triste a consuma.
— Já terminei. — A garota loira, de olhos verdes, colocou o pedaço
de papel na minha frente, trazendo-me de volta à realidade.
Foi assim que decidi esquecer isso, por enquanto. Não posso deixar
que essa coisa atrapalhe o meu trabalho.
Assim que todas acabaram, peguei meu material e saí da sala, indo
para a diretoria do colégio. Ali, só meninas estudavam. Já fui uma aluna.
Quase doutrinada a ser uma freira, mas isso não era o meu forte.
Minha personalidade tempestuosa e o pecado pela carne não me
permitiam viver uma vida de castidade.
Assim que passei pela porta e coloquei minhas coisas em cima da
mesa, ouço uma conversa bastante interessante. Sei que isso também é
pecado, mas não sou eu quem está fofocando em uma escola de freiras.
— Ela se separou do marido, está se relacionando com um garoto
mais jovem. — Meus ouvidos atentos foram atraídos. — A irmã Maria,
quando ficou sabendo, não gostou. Ela esperou, não sabia se deveria tomar
uma providência, mas agora, decidiu demitir a Megan. — Megan! A
professora de matemática. — Sabe como ela é rígida. Ouvi a conversa.
Rolou uma conversa sobre valores morais e o quanto isso era ruim para a
imagem da escola. Uma professora divorciada, namorando um garoto. Sabe
como são essas famílias tradicionais. Eles estão de olho em tudo.
E foi aí que a questão da gravidez voltou à minha mente. Óbvio que
não tive culpa, mas era um ponto complicado. Se tenho medo do que minha
mãe vai pensar, imagina a irmã Maria. Com certeza os pais das minhas
alunas não vão gostar nada dessa novidade.
Nervosa, peguei meu telefone e saí dali, praticamente correndo.
Desci as escadas, indo para um lugar aberto, no meio do prédio que
comportava a casa das freiras e o colégio. Passei a andar de um lado para o
outro, sem saber o que fazer. Olhei o celular e a única pessoa em quem
podia confiar era Mila.
Aquele lugar não era o melhor para se ter essa conversa. Enquanto
discava o número, fui para outro lugar, bem mais distante. Perto de uma
árvore de maçã.
— Bia, como está?
A voz dela até estava animada, mas eu não tinha a mesma
animação.
— Ferrada. — falei sem pensar. — Perdoe-me Deus pelas palavras.
— Corrigi. — Minha vida toda está uma bagunça. Grávida, sozinha e com
um babaca obsessivo que não me deixa em paz. — Minha voz dramática e
desespero até poderia ser cômica, contudo, eu estava realmente perdida.
— Aí, amiga, eu sinto muito. — Perdi as contas de quantas vezes a
ouvi pedindo perdão. Eu não estava chateada. Não foi sua culpa, porém,
Mila pensava diferente. — Se eu tivesse ido, naquele dia, à clínica, isso não
teria acontecido.
— Não precisa se desculpar, o erro não foi seu. — comecei a me
abanar, como sempre. — Agora, acabo de ouvir sobre uma colega. São
casos totalmente diferentes, mas acredito que seja tratado da mesma forma.
— Do que está falando?
— Uma colega de trabalho se separou e começou um
relacionamento com um cara mais novo. — comecei a roer as unhas. — Foi
demitida. Você sabe o quanto esse lugar é rigoroso.
— Não acho que isso esteja certo. A escola não deve se meter na
vida pessoal das pessoas.
— Mila, essa escola católica é um exemplo. Os pais são fanáticos e
exigem total disciplina dos funcionários. — O calor aumentava a cada vez
que eu pensava. — Assim como vai ser difícil contar a minha mãe que
estou grávida, será duas vezes mais explicar que não fui eu quem transou
com o babaca do Giovanni, mas sim um erro no laboratório.
— Claro, as regras morais.
— Quem aqui vai querer uma professora grávida, solteira, vítima de
um procedimento que eles consideram errado?
— Isso só piora as coisas.
— Estou perdida. A minha mãe tem orgulho por eu ser uma
professora dessa escola. Agora estou grávida de um estranho que não
suporto e vou perder o emprego.
— Bia, isso não é o fim do mundo. Sei que é uma consequência de
um erro, mas não tem como voltar. O que vai fazer, dar o bebê ao
Giovanni?
— Mila!
Fiquei espantada com a ousadia.
— Eu sei que não, por isso falei.
— O que sei é que estou perdida e não sei como consertar as coisas.
— Fica calma. Se puder. Não pode se estressar. Você tem que
pensar no bebê. Existem milhares de escolas. Não vai perder tudo o que
lutou para conseguir.
— Espero que não.
5
Giovanni
Desde o dia em que me ligaram da clínica de fertilização, onde
guardei o material para ter um filho, dizendo que minha ex-esposa usava o
que era meu para um plano maléfico que nos faria voltar a ter um amor, não
durmo direito.
No início, pensei que, apesar do que fez, eu ainda tinha alguns
materiais extras para um futuro casamento. Contudo, tudo piorou assim que
coloquei os pés naquele lugar.
O destino brincou, e estava brincando comigo. Sei que sou um
homem difícil. Que posso ser arrogante e egocêntrico, mas isso é demais.
Essa situação só pode ser um plano divino para me enlouquecer.
Tudo o que eu queria era ter um filho, e agora eu tenho, mas não
com uma esposa, não com o amor da minha vida, mas sim com uma louca
que me faz ter dor de cabeça, me provoca e me odeia.
Essa é a única oportunidade que tenho para ser pai, contudo, esse
bebê vem com uma avalanche chamada Beatriz.
Eu odeio esse nome. Agora mais do que tudo.
Respirei fundo, parando o carro em frente à pequena casa da
senhorita encrenca. Essa mulher enlouquece qualquer um. Ela está parada
na calçada, de braços cruzados, emburrada. Já sei que vamos passar esse
jantar todo brigando.
Tenho que confessar que até é excitante. Olhando direito, até que a
mulher é bonita. Cabelos ondulados, pele branca, quase pálida, olhos
grandes, verdes, e um corpo violão.
Não é como uma top model, super magra. Ela tem seios fartos,
lindos, confesso, um quadril avantajado, belas pernas, pena que o gosto por
moda peca.
Claro, não vou julgar a mulher. Ela não tem tantas condições como
eu ou as mulheres com quem saio, contudo, poderia ser menos… Brega.
Ela andou até aqui, como se tivesse pisando em ovos. Respirei
fundo, preparando meus ouvidos para ouvir milhares de palavras de ódio.
Saí do carro e passei para o outro lado, abrindo a porta para ela,
que, por incrível que pareça, não disse uma palavra. Triz me olhou, parecia
com medo. Achei muito estranho, assim como o meu interesse em sentir
seu perfume.
Antes de voltar ao meu lugar, vi uma mulher baixinha, espiando da
porta. Era a mãe dela, ou seja, a avó do meu filho. Só de pensar que terei
que conviver, e compartilhar meu herdeiro, com essas desconhecidas, sinto
dor de cabeça.
Entrei no carro, coloquei o cinto e esperei, mas nada saiu. Ela
continuou zangada, virou o rosto, com os braços cruzados.
— Devo me preocupar com seu silêncio? — Levantei uma das
sobrancelhas.
— Apenas dirija. — Se limitou a pronunciar.
Entendi o recado. Liguei o motor e dirigi pela cidade, indo para um
ótimo restaurante que sempre frequento.
Aquilo era só o começo e tenho que me esforçar. Essa desconhecida
está grávida do meu filho. O único que terei, do meu sangue, então
devemos conviver. Sei que perco a paciência quando as coisas não saem
como o planejado, contudo, nós dois devemos ter uma boa convivência.
Ao chegar no destino, saí do carro, abrindo a porta para que Triz
saísse. Ela me encarou surpresa, vendo minha mão estendida. Quando
resolveu pegá-la, senti como se a mulher tivesse me tirado uma fração da
força que eu tinha. Foi estranho. Meu coração acelerou e fiquei confuso.
Tentei entender o que foi aquilo, olhando em seus olhos, que também
estavam confusos, então, ela voltou a ser a mulher que me tirava do sério.
— Vai ficar na minha frente ou posso passar? — Lembrei que seu
temperamento era bem forte. Não entendo como essa mulher consegue
mudar, drasticamente, o meu humor. Respirei fundo, me afastando. Dei as
chaves ao manobrista, que logo saiu com o carro.
Pousei minha mão atrás de sua costa, sem tocar, necessariamente,
mas foi o bastante para a deixar arisca, franzindo o cenho, questionando-me
com o olhar.
— Senhorita encrenca, acho melhor botar um sorriso no rosto, ou
vão pensar que estou forçando você a estar aqui. — Sussurrei em seu
ouvido.
Devo confessar que era divertido olhar no rosto avermelhado. Eu
não sabia se era raiva ou timidez. Então ela começou a se abanar, um sinal
de que estava nervosa.
— Não posso dizer que estou gostando disso.
— Você gosta de alguma coisa?
Os grandes olhos verdes tomaram um brilho incomum. Ela ficou
furiosa. Deu para perceber. Andou na minha frente, subindo as escadas. Dei
um sorriso orgulhoso. Era bom provocá-la.
Fui em sua direção. Falei que tinha uma reserva e logo fomos
conduzidos para a mesa.
A ajudei a sentar, o que me fez ficar perto do seu pescoço, sentindo
seu doce perfume. Um arrepio tomou meu corpo, assim como o dela.
Acredito que todo esse ódio tenha despertado um novo desejo.
Fui até o meu lugar e sentei, enquanto ela, desconfiada, apenas me
observou. Sem tirar os olhos dela, chamei o garçom, pedindo bebidas, claro,
sem álcool para a minha nova querida.
— Não acho que precisava me trazer a esse lugar. — Olhou em
volta. — O food truck da última vez era bem melhor.
— Também aprecio aquele ambiente, mas não é apropriado para a
conversa que teremos.
— Pelo que me lembro, quando fui a um restaurante com você, eu
quis matar você.
— Você tem uma personalidade assassina.
— Você me irrita só com o olhar.
Sorri. Uma onda de satisfação tomou o meu corpo. Quando voltei a
olhá-la nos olhos, disse:
— Triz, eu posso ser um idiota, babaca, ignorante e tudo de ruim,
mas sei que você sente todo esse ódio por mim, por simplesmente se atrair.
— Deus! — Ela riu de deboche, algo que acompanhei. — Seu ego
chega à atmosfera.
— Conheço as mulheres e sei quando as excito.
Ela voltou a se abanar. Estava começando a gostar disso.
— Tudo o que sinto por você é… raiva. — Desviou o olhar,
bebendo um pouco de água.
— Você é uma bela mulher. — Seu rosto ficou vermelho. Ela
evitava me olhar nos olhos. — Tem muitos atributos. Belos seios, uma
bunda linda onde posso dar tapas e esperar que fique tão vermelha quanto
seu rosto agora.
Nervosa, Triz se acomodou na cadeira. Sim, ela estava excitada.
— Por que viemos aqui?
Mudou de assunto.
— Bem, vamos ter um filho.
— É, meu corpo, cheio de mudanças, sabe bem disso.
— Tudo o que fazemos quando nos encontramos é brigar.
— Você é impossível. Como não brigar.
— Eu diria que podemos usar todo esse ódio na cama. Será uma
noite maravilhosa.
— Gosto mais de você quando implica. — Me chutou com seus
saltos.
— Mulher, você quer parar de me chutar todas às vezes que nos
encontramos. — Doeu um pouco. Isso me fez sair do personagem.
— O que deseja, Giovanni Mancini? — Cerrou os olhos, pondo as
mãos na mesa e me encarou.
A olhei por inteira, com um sorriso pervertido, que foi muito bem
entendido.
— Precisamos ser, no mínimo, amigos. — Fui direto. — Sei que
somos diferentes, que brigamos sempre, acho que você é a principal
culpada disso. — Ela me chutou de novo, o que me deixou ainda mais
irritado. — É insuportável, mas temos que nos dar, minimamente, bem.
Pelo nosso filho.
Ela voltou a ficar de cara fechada, cruzou os braços e pensou.
— Estou ferrada, sabia? — Triz estava trazendo de volta a mulher
grávida, emocional, que me tirava do sério. — E a culpa é do universo.
Respirei fundo, encostando na cadeira.
6
Beatriz
Esse homem quer me enlouquecer. Ele vive para isso. Confesso que
prefiro quando ele é arrogante. Posso suportar isso, mas quando me olha
daquele jeito, dos pés à cabeça, prestando atenção aos detalhes, quase me
despindo, fico toda excitada. O desgraçado tem razão. Estou excitada.
Culpo o bebê e os hormônios. Eu nunca tive essa libido. Nem sabia que era
um sintoma.
Entretanto, me recuso a sentir isso por ele. Não posso desejar esse
homem. Ele é insuportável. Como se já não fosse o bastante, não paro de
pensar na minha situação no trabalho e em casa. Tive que mentir para a
minha mãe. Claro que não sou puritana, óbvio que minto às vezes, porém,
não para ela, na cara dura, em uma situação como essa.
Para passar por essa situação e dizer a ela que estou grávida, tenho
que incorporar essa mentira. Primeiro, disse que estava saindo com um
cara, que já fazia um tempo e que estávamos namorando. Minha mãe não
acreditou muito. Me olhou com atenção, julgando, e por fim, decidiu
acreditar. Ela me conhece bem. Se eu namorasse, ela saberia. Por isso tive
que inventar muita coisa. Coisas essas que serão questionadas no meu
julgamento final.
Dizer a ela que estou grávida de um estranho e que isso foi um
acidente da clínica, a faria enlouquecer. Primeiro, diria que esse bebê é do
diabo, que isso é errado. Depois, sairia gritando para os quatro cantos sobre
esse acontecido, iria até a clínica e montaria um barraco. Poderia até
implicar com Giovanni. Mesmo que ele seja esse ogro, não merece passar
por isso. Afinal, nenhum de nós dois tem culpa nisso.
— Você vai chorar de novo? — A forma como falou me deixou
furiosa. Parecia que não se importava. Na verdade, ele só se importa com o
que é bom para ele. — Sei que tudo isso é uma confusão. Eu queria mudar
esse fato, mas não posso. Tudo o que quero é facilitar as coisas. Esse bebê
vai nascer, vai ser nosso filho. Não podemos nos odiar para sempre.
— Eu sei. — Deixei os ombros caírem. Eu estava cansada. Não
queria mentir, não queria fazer um drama, porém, nada parecia dar certo. —
Se você acha que meu emocional é um problema, é porque não sabe como é
viver com tudo isso. Esse bebê está dentro de mim. Sou filha de uma mãe
solteira, católica, que quase me tornou uma freira. O maior orgulho da
minha mãe é eu lecionar na escola católica. O problema é que esse lugar é
extremamente rigoroso. Se descobrirem que estou grávida, solteira, e ainda
por cima ser uma fertilização… nada comum, elas vão me despedir.
— Mas isso não é permitido. — Ele disse, franzindo o cenho. —
Não podem te demitir por algo pessoal.
— Eu disse que a escola é católica, regida por freiras?
Giovanni revirou os olhos.
— O que vai fazer? — Sua pergunta me deixou com raiva.
— Sua barriga vai crescer, vão descobrir. Se são tão rígidas, isso vai
acabar acontecendo.

— Vai! — Me abanei, sentindo o calor aumentar. — Pior, tem a


minha mãe. — Ele fez um barulho quase inaudível. — Tive que mentir.
Falei estarmos namorando. Ela vai surtar quando descobrir que estou
grávida. Na cabeça dela, isso só pode acontecer depois do casamento.
— Isso não pode estar acontecendo comigo. — Encostou-se na
cadeira.
— Sou eu quem deve dizer isso. — Me irritei. — Você tem tudo.
Trabalho, dinheiro, não precisa se preocupar com uma mãe rígida e um
trabalho em risco.
— Querida, você está grávida do meu herdeiro, acha que não terá
tudo o que for possível eu dar?
— Não quero seu dinheiro. — O olhei com muito ódio.
— Não, mas vai ter. — Do que esse homem está falando. Vai me
obrigar? — Meu filho não vai crescer no subúrbio, ele terá uma mansão
inteira para ele, terá babá…
— Nenhum estranho toca no meu filho. — Quanto mais ele falava,
mais calor eu sentia e isso me fazia abanar sem paciência.
— Desculpa, a senhora deseja algo para o calor?
Giovanni riu da situação, deixando o garçom confuso.
— Não, isso é emocional. Acho que é o bebê. Desde que minha
noiva descobriu a gravidez, ela se sente… — O olhei com tanto ódio que
poderia agarrar seu pescoço e enforcá-lo ali mesmo. — Um calor fora do
comum.
— Ah, então… não precisa?
— Água! — Falei. — Mais água.
— Mais água para a minha noiva.
Chutei, novamente, a perna do babaca. Ele fez uma careta e eu
gostei. Assim que o garçom se foi, ele disse:
— Quer arrancar um pedaço de mim?
— Tirar esse sorriso convencido do seu rosto. — Encostei a cadeira.
O calor já tinha sumido. — Que história é essa de noiva? Aqui somos…
— Você mesmo disse, sua mãe não vai gostar.
— Namoro falso é a única coisa que…
— Eu não quero casar com você, só teremos que nos suportar.
Ser… amigos? — Giovanni se aproximou. — Ou vamos nos odiar até ele
ter 18 anos. Como vai crescer com os pais que não se suportam?
O maldito tinha razão. Na verdade, estou implicando com ele. Na
realidade, estou com medo. Medo do seu mundo, do meu e do que vai
acontecer.
— Você tem razão. — Cruzei os braços. — Prometo que não vou
mais implicar.
— Ótimo. Obrigado.
— Mas você tem que colaborar.
— Não me chuta.
— Não me provoca.
— Se quiser apagar o fogo, pode me ligar.
Arregalei os olhos, sentindo o rosto queimar.
— Já falei que sempre estou com fome? — Desviei do assunto. Ele
riu, pediu ao garçom que trouxesse o cardápio.
Ficamos em silêncio até que a comida fosse servida. Os belos pratos
encheram meus olhos e logo ataquei. Senti que ele me observava, mas eu
não estava sendo mal-educada. Na verdade, se estivesse em casa, minha
mãe faria uma reza em agradecimento.
— Então, por onde começamos?
Franzi o cenho confusa. Olhei para ele, que esperava uma resposta,
e disse:
— Você não sabe como começar?
O idiota riu de mim. Uma gargalhada que me fez sentir
constrangida.
— Pelo menos gosto do seu senso de humor.
— Vou fazer você engolir esse garfo.
— Me refiro a nos conhecer. — Explicou.

— Você quer me conhecer? — Cerrei os olhos.


— Você compartilha metade do DNA do meu futuro filho, então,
acho que é compreensível nos conhecer.
O maldito tem razão. Meu medo era ele perceber que a parte pobre
do nosso filho é um defeito. Se bem que eu o enforcaria se ousasse pensar.
— Sou metade latina, metade inglesa. Minha mãe veio para a
Europa quando ainda era adolescente. Ela é extremamente religiosa e
rigorosa. Tenho o sangue quente, se já não percebeu. Odeio chorar, mas
desde que fiquei grávida isso se tornou comum. Como de tudo se não for
cru. Tenho alergia a frutos do mar. Um pouco de miopia, mas uma grande
inteligência.
Ele ficou impressionado. Deu para perceber.
— Olha, você resumiu bem.
— Odeio rodeios.
— Nisso somos parecidos.
Arregalei os olhos, e abusando do humor, falei:
— Pelo menos isso.
Giovanni riu, olhou para o prato e partiu seu pedaço de carne. O
observei, esperando o seu lado da conversa.
— Triz, eu sou um homem muito ocupado, mas agora, depois do
que aconteceu comigo, tento viver o máximo que posso, quando não estou
na empresa. — Isso é estranho. Uma conversa civilizada? — Passei toda a
minha vida sendo educado para assumir os negócios da família. Fui para o
colégio interno, depois, faculdade. Nunca tive a oportunidade de realmente
viver a vida. Então, casei. Pensei que tudo seria perfeito. Teríamos muitos
filhos e nunca os faria ficar tão sozinhos quanto já fui, nos meus tempos de
criança. — Ele parou de falar. Estava pensando em algo. Fiquei curiosa.
Essa era a primeira vez que realmente não brigamos e estávamos
conversando sem rodeios ou provocações. — Então veio o câncer. — A
história triste! Apesar de achar o homem um grande babaca, não resisto a
uma história triste. — Tentei superar. Fiz todos os tratamentos e nada
funcionou. Pensei que morreria. Foi quando tentamos guardar os materiais
para um possível futuro que ainda era incerto. Beatriz… a minha ex. Ela
ficou, no início, do meu lado. Até ela me trair. Eu estava no fim do
tratamento. Quase curado. Ainda tentei entender aquela traição. Era muita
pressão e...
— Não justifica! — Me pronunciei. Isso era um verdadeiro
absurdo. — Você estava doente. Sofrendo. Isso não é justo.
Giovanni me olhou com surpresa. Depois sorriu, continuando.
— Nos separamos. Ela não aceitou.
— Não! — Fiquei pasma. — Mas foi ela quem o traiu.
— Ela não se importava comigo. Só com o dinheiro que eu tinha.
— Que babaca! — Mordi os lábios. — Agora entendo o ódio.
— Sei que nunca vou ser digno de realmente feliz. — Ele chamou
minha atenção. — A esposa que eu tinha era uma traidora. Os filhos com
que sonhei… nunca vou ter. Bem… vou ter um bebê…
— Comigo. — Concluí. Pensei nessa situação. Eu não parei para
pensar na sua versão.
— Tudo o que quero agora é cuidar do meu filho. — Me
surpreendendo, ele tocou em minha mão. Que estava sobre a mesa. — Isso
significa cuidar de você.
— Não quero seu dinheiro. — Fiquei desconfortável com seu toque.
Sei que o homem estava se esforçando, mas seu toque me deixou quente. —
Podemos fazer isso dar certo, mas não…
— Triz — Respirou fundo. — Não quero brigar. Não quero
discordar, porém, não abro mão de cuidar de você e do meu filho. Uma casa
maior, onde ele, ou ela, pode brincar. Segurança. Quero que vocês tenham
de tudo.
— Cresci muito bem onde estou. — Não importa o quanto sua
história é triste, não quero mudar a minha vida.
— Não. Vamos. Brigar. — Deu um sorriso amarelo. — Veremos o
que vai acontecer.
— Nada vai acontecer!
— Vamos continuar o jantar.
Sei que sou muito difícil, mas não mudo de ideia. Comemos e
tentamos não brigar. Era um grande esforço. Esse homem adora me
provocar, contudo, aos poucos, vi que Giovanni Mancini era mais do que só
um babaca.
Ao sair do restaurante, fomos em silêncio para o carro. Notei que
meu celular descarregou. Não tinha como ligar. Ao nos aproximarmos da
minha casa, algo estava errado. Tinha polícia, bombeiros e vizinhos.
— O que está acontecendo? — Me preocupei.
— Algum incêndio. — Falou o óbvio.
— Minha casa! — Paralisei. — Mãe!
Saí do carro às pressas, deixando a porta aberta.
— Beatriz! — Ela me chamou. Assim que a avistei, fui até ela,
dando-lhe um abraço.
Olhei para a nossa humilde casa, totalmente queimada pelas
chamas, e chorei.
— O que aconteceu?
— Acabei dormindo. — Minha mãe quase chorando, disse. —
Esqueci o fogão…
Ela desmanchou. Seu rosto já estava inchado de chorar.
— Triz! — Ouvi a voz de Giovanni atrás de mim. — Vai ficar tudo
bem.
6
Beatriz
Eu não sabia o que fazer. Quando achei que não podia piorar, tudo
piorou. Desde o momento em que descobri que estava grávida, tudo mudou,
bagunçou e me empurrou para um furacão.
Naquela noite, no início, pensei que só teria que suportar Giovanni
e todo o seu empenho em me irritar. Confesso que até comecei a entender o
homem. Ele tinha alguns pontos bons, mesmo que muito bem escondidos.
Mas assim que voltamos para a minha casa, vi que meu pesadelo estava
apenas começando. Minha mãe já tinha esquecido coisas no fogão antes,
mas desta vez as coisas tomaram outro rumo.
Ao ver tudo o que tínhamos, devastado pelas chamas, meu coração
afundou. Não tínhamos o que fazer nem a quem recorrer. Foi então que
Giovanni entrou em cena:
— Senhora Miller, não se preocupe. — Ele se aproximou dela e
segurou sua mão, e eu só quis puxá-lo para longe. Aquela não era a hora de
bagunçar ainda mais as coisas, mas o senhor Mancini tinha outros planos.
Deixando-me sem reação, ele continuou: — Sou Giovanni. Giovanni
Mancini, o noivo da sua filha. — Meus olhos quase saltaram das órbitas.
Sussurrei que éramos apenas namorados, não noivos. — Sei que não nos
conhecemos, mas teremos muito tempo para isso. Agora, precisamos sair
daqui.
Eu o encarei com tanto ódio que poderia estrangulá-lo. Minha mãe
estava na frente e não podia ver meu rosto enfurecido.
Atordoada, agora estou encarando a enorme sala da mansão de
Giovanni. Não disse uma palavra. Não fui contra. Não respondi às
perguntas da minha mãe sobre o porquê de não ter mencionado um
namorado, e agora, noivo.
— Beatriz, o que está acontecendo com você? — Minha mãe puxou
meu braço, trazendo-me de volta à realidade e deixando-me ainda mais
assustada. — Namorado. Noivo. Onde isso vai parar?
— Mãe, acabamos de perder tudo o que tínhamos. — Respirei
fundo, me sentindo cansada e confusa. Não fazia ideia do que fazer. —
Amanhã podemos conversar sobre isso.
— E onde ficaremos, nessa enorme casa? — Ela parecia tão
desesperada quanto eu.
— Eu não sei.
— Não se preocupem. — Giovanni surgiu do nada. Ele até parecia
despreocupado. Claro, não foi a sua vida que se tornou cinzas. — Esta é a
Beth, ela vai lhes mostrar o quarto de hóspedes. Podem tomar um banho, há
algumas roupas disponíveis. Amanhã resolveremos tudo.
Cruzei os braços, pensando em pular nele e desmentir todas as suas
mentiras, mas eu estava ferrada e tinha que suportar todo esse circo.
— Muito obrigado, meu jovem. — Minha mãe deu um sorriso
carinhoso, mas eu sabia que, por dentro, ela estava se mordendo. —
Amanhã resolveremos algumas dúvidas. — Ela olhou para mim, uma
indireta clara.
Eu respondi com um sorriso tímido e preocupado. Conhecia minha
mãe, e ela iria cair em cima de mim, principalmente de Giovanni.
As duas mulheres de meia-idade saíram da nossa frente, nos
deixando a sós e me dando a liberdade de chegar perto dele, dar um tapa em
seu ombro e olhá-lo como se quisesse arrancar seus olhos.
— Desde quando somos noivos? — Sussurrei. Apesar da casa ser
enorme, temia que alguém nos ouvisse. — Como se já não bastasse estar
sem casa, perder tudo o que eu tinha, estar grávida, agora estou entrando em
uma mentira sem fim.
— Você tem um espírito violento, sabia? — Reclamou. — Foi você
quem disse que sua mãe não aceitaria outra coisa.
— Eu disse, mas não significava que deveríamos aumentar a
mentira.
— Será por pouco tempo. Não vamos precisar casar.
— Espero que você convença a minha mãe, pois pelo que imagino,
ela irá nos enfiar em uma igreja antes que essa criança nasça.
— Eu nunca me casaria com você. — Ele jogou isso na minha cara,
como se fosse uma piada. Seu sorriso de deboche me irritou.
— Não mesmo, mas não precisa usar esse tipo de palavras.
— Você é a pessoa que mais me odeia no mundo, não é? — Ele
cerrou os olhos.
— O que vou fazer aqui, Giovanni? — Pus as mãos na cintura.
Logo minha barriga iria crescer, não teria casa, provavelmente perderia meu
emprego e estava mentindo para minha mãe.
— Como eu disse, vou resolver tudo.
— Não quero que resolva a minha vida.
— Por favor, não vamos brigar aqui, especialmente com a sua mãe
e todos os outros empregados podendo nos ouvir.
— Só por isso eu não te mato. — Peguei em sua gravata, fingindo
arrumar, mas apertando-a. — Espero que não estrague tudo.
— Beatriz. — Ele me fez largar o tecido.
— Quem é essa mulher? — Uma voz desconhecida soou atrás de
mim, assustando-me. Assim que pude enxergar, vi uma mulher loira, bem
mais velha que minha mãe, com roupas finas e um rosto que parecia ter
passado por milhares de procedimentos estéticos. — Giovanni, filho?
Ótimo, a mãe dele!
— Mãe, essa é a Beatriz. Já conversamos sobre ela.
A mulher me olhou dos pés à cabeça com desdém, o que me irritou.
— E o que ela está fazendo em nossa casa?
Consegui ver o nojo que sentia de mim. Isso fez meu sangue ferver.
— Parece que a má educação vem de berço. — Sussurrei, só para
ele ouvir.
— Não começa, Triz. — Disse entre os dentes. — Mãe, aconteceu
uma tragédia na casa delas, então as trouxe para cá.
— Para cá? — Parecia que eu era uma estátua em sua frente, pois a
mulher nem se dava o trabalho de disfarçar. — Por quê?
— Mãe. — Ele foi até ela. Eu estava quase estourando de tanto
ódio. — Eu disse o que aconteceu. Não vou deixar meu filho em uma
situação complicada.
— Se quiser, posso ir embora. Posso ficar na casa de um amigo. —
Na verdade, até tentei convencê-lo.
— Eu já disse que não! — Giovanni virou-se e me encarou,
impaciente.
— Olha, eu não disse nada antes porque estávamos na frente da
minha mãe, mas agora que vejo que a sua não quer e nem se importa
conosco, vou dizer.
— Triz…!
— Você não manda em mim, não decide por mim e...
— E? — O homem avançou tão rápido que me assustei. — Garota,
eu não estou nem aí para isso. Você carrega meu bebê, então eu vou
resolver tudo. Você e sua mãe ficam aqui. Não existe “mas”, não quero
ouvir suas provocações.
— Quem pensa que é para falar assim comigo? — O encarei. Tive
que olhar de baixo para cima, pois ele era bem maior que eu. — Você não
me comanda, Giovanni Mancini.
— Você não sai dessa casa, Beatriz Miller.
A luta que travamos foi interrompida pelo som da voz da loira, que
eu ainda nem sabia, nem fazia questão de saber, seu nome.
— Vocês dois parecem duas crianças.
— A única criança aqui, mãe, é o meu filho, na barriga dessa
mulher irritante. — Ele me provocou.
Foi então que percebi o que estava fazendo. Ele estava tão perto de
mim que podia sentir sua respiração. Fiquei nervosa e envergonhada.
Comecei a me abanar, me sentindo uma idiota. Então, tratei de me afastar.
— Odeio você. — Murmurei.
— Também não morro de amores por você, mas temos que achar
uma saída.
— Por que disse que somos noivos? Quer enlouquecer a mulher?
— O que você disse. — Fomos novamente interrompidos pela loira.
— Noivos?
— Mãe, por favor, amanhã conversamos sobre. — Ele pegou em
minha mão, surpreendendo-me, e me levou pelo corredor.
— O que está fazendo? — Me assustei, tentando me soltar. —
Giovanni!
— Você vem comigo. — Ele parou e me olhou nos olhos, me
fazendo engolir em seco. Então, percebendo que me assustei, me soltou e se
afastou. — Desculpe, eu só quero que venha comigo.
Balancei a cabeça, concordando.
7
Giovanni
Tudo deu muito errado. Quando pensei no jantar, quis me
aproximar dela, mas as coisas saíram do controle, o que odeio, e trouxe para
a minha casa. Mas o que eu poderia fazer?
A casa onde moravam foi totalmente queimada pelas chamas. Elas
não tinham para onde ir, e eu não deixaria meu filho na rua.
Na verdade, tinha um “vizinho” bem simpático que veio para cima
da Triz, prestar solidariedade; contudo, eu não gostei nada dele. Algo me
dizia que o imbecil estava de olho em outra coisa e eu não conseguiria
dormir pensando no que aquele idiota poderia fazer com a mãe do meu
filho.
Não é ciúmes, isso é ridículo; mal conheço ela, e nos odiamos. A
questão é que preciso cuidar desse bebê e nada melhor do que trazê-la para
a minha casa.
Eu sabia que não podia exigir nada. Elas estavam em uma situação
ruim, mas se era para mentir, não custava ter que suportar as duas por um
bom tempo. Talvez consigamos nos conhecer melhor e criar uma relação
que não seja à base do ódio.
Ao entrar em um dos quartos de hóspedes, eu a encarei. Ela havia
sentado na beira da cama, preocupada, assim como eu. Como eu estava
nervoso, não conseguia ficar quieto, andando de um lado a outro.
— Olha, o que quero é cuidar de vocês dois. Vou ser o pai dessa
criança. Concordamos em nos dar bem. — Me expliquei.
— Posso até entender, mas você sempre age como um imbecil. —
Parei e a encarei, sério. A mulher nem ligou. Apenas empinou o nariz, certa
do que disse. — Estou extremamente nervosa, ansiosa e com medo. Tudo o
que tínhamos foi perdido no incêndio. Eu já não sei mais o que fazer, e não
gosto quando um desconhecido tenta tomar a frente e fazer o que bem
entende.
— Olha, eu sei que sou difícil e tenho mania de controle, mas
entenda que essa situação é diferente. — Parei, gesticulando com a mão.
Triz se levantou e veio até mim, olhando em meus olhos. — Prometi ser
paciente, contudo, não dá quando começa a agir como dono da situação. Eu
não gosto quando as pessoas me tratam dessa forma.
— Ok, mas o que faria nessa situação? — Parecia uma pergunta
sem resposta. — Quero você por perto.
— Você quer? — Levantou uma das sobrancelhas e cruzou os
braços. — Já está apaixonado, porque saiba que não sinto o mesmo.
— Agora é você quem está usando o humor para fugir do assunto.
— Que assunto? — Franziu o cenho. — Tudo o que quero é ficar
tranquila. Acordar desse pesadelo e voltar para a minha vida.
— Nosso filho é um pesadelo para você? — Cerrei os olhos,
chateado.
— Giovanni, eu me refiro ao geral. Não queria ter um bebê, mas
vou ter. Não queria que fosse de um estranho, mas é. Eu não queria que
minha casa pegasse fogo, mas aconteceu. — Ela desviou o olhar, chateada.
— Não vê que isso é muito para mim?
Parando para pensar, ela tinha razão. Nós dois estamos sendo
forçados a viver uma vida que não escolhemos.
— Por isso quero ajudar. — Peguei em seus ombros, fazendo-a
olhar para mim. — Esse filho é meu. Querendo ou não, estamos ligados
eternamente. Brigar não resolve as coisas, mas você deve concordar que
posso, e devo, ajudar você a arrumar as coisas.
Ela deixou seus ombros caírem, fazendo uma cara de decepção.
— Como vamos fazer isso? — Pensou. — Somos tão diferentes.
Sempre brigamos. Nossas famílias, pelo que vi, não vão se dar bem.
— Claro que vão.
— Desculpa, mas você viu como a sua mãe me olhou?
Revirei os olhos ao respirar fundo.
— Minha mãe é assim, não é pessoal.
— Sim, é pessoal. — E novamente discordamos. — Sou pobre,
meio latina, não tive a mesma educação que você. Óbvio que ela vai me
odiar. Vai odiar a minha mãe. É como se tudo isso fosse impossível.
Senti que estava preocupada. Eu também fiquei. Afinal, tudo isso
era verdade.
— Não importa, nossas diferenças não podem afetar a convivência
do nosso bebê. — Peguei em sua mão. Apesar de sempre brigarmos, Beatriz
me faz sentir uma sensação estranha. Ela é linda, apesar de teimosa.
Quando fico muito perto dela, como agora, sinto que desejo beijar essa sua
boca maldita. Seu doce perfume me confunde e quando paro para prestar
atenção nos detalhes, passo muito tempo focado nisso. Assim como agora.
Não paro de encarar seus belos lábios cor de rosa. É hipnotizante. —
Prometo que serei mais sensível. Se há diferenças entre nós, devemos
cuidar para mudar esse fato.
— Não podemos mudar esse fato, Giovanni. — Seu rosto tomou
uma cor rosada que me fez sorrir. — No fundo, você ainda é o babaca, e eu
sou a implicante.
— Pelo menos admitimos.
Dessa vez eu consegui tirar algum sorriso dos seus lábios. Contudo,
não deveríamos nos concentrar nisso. Era uma parceria, não romance.
— Vou cuidar para resolver tudo. — Ela se afastou ou acabaríamos
nos beijando. — Quero voltar para casa quanto antes.
— Você não vai voltar para aqueles escombros. — Fui firme.
— Giovanni. — Ao pronunciar meu nome, quis chamar minha
atenção, como uma bronca, e isso me fez rir.
— Vamos cuidar disso aos poucos, mas saiba que desejo o melhor
para o nosso filho.
A mulher era dura na queda.
— Nossos problemas estão só começando. — Cruzou os braços,
pensativa.
— Minha mãe não vai engolir fácil essa história.
— Sei como deter o coração de uma mulher.
— Há é? — Pôs as mãos na cintura. — Pois se prepare para
enfrentar um vulcão. Se acha que sou difícil, não faz ideia de como é minha
mãe.
Isso me preocupou. Se Beatriz é tão complicada, como será a mãe
dela?
— Está tentando me por medo? — Cerrei os olhos ao me
aproximar.
— Estou tentando te preparar.
— Então vai ter que me dizer tudo o que sua mãe gosta. — Dei um
sorriso.
— Por quê? — Franziu o cenho. — Quer suborná-la?
— Nada melhor do que agradar à sogra.
Seu sorriso caiu.
— Droga! Você disse que somos noivos.
— O que tem isso? — Claro que é uma problemática, mas vou
focar na realidade.
— O que tem? — Ela começou a bater os pés no piso. — Minha
mãe não é boba, ela sabe das coisas. Vai perceber que não nos gostamos,
que não temos intimidade. Deus, como vou contar que estou grávida?
— Nisso você tem razão. — Pensei.
— Não me diga. — Foi irônica.
— Para fazer um bebê, temos que transar…
— Não vamos ter essa conversa. — Claramente ficou tímida.
— Precisamos de muito argumento, Triz, então temos que bolar
uma história.
— Está vendo no que me enfiou?
— Ou podemos dizer a verdade.
— Aí ela vai surtar ainda mais.
Revirei os olhos, sem paciência.
— Então o que você quer?
— Eu não sei… — Ficou nervosa. — Não faço ideia.
— Vamos continuar com o nosso plano. — Novamente me
aproximei dela, que me olhou com estranheza. Peguei em seu ombro,
ficando de frente, pensando. — Se já transamos, você não tem porque não
dormir comigo.
— O QUÊ? — Ela se afastou, abismada.
— Você quer que ela acredite ou não? — Ela me enganou com
espanto sem saber o que responder. — Não se preocupe, a cama é enorme,
cabe nós dois, e ninguém vai entrar no quarto durante a noite.
— Não estou gostando dessa história. Aonde quer chegar?
— Você não vai dormir comigo, só na mesma cama.
— Isso não vai dar certo.
Encarando seu rosto, vi o quanto ficou constrangida. Um sorriso
safado cresceu em meu rosto.
— Tem medo de não resistir?
— Se tocar em mim, eu mato você.
— Não precisa de aviso, mas fique sabendo que estou do lado, caso
precise de alguém para apagar o fogo.
Ela ameaçou me chutar outra vez, mas fui mais rápido.
8
Beatriz
Não sei o que estou fazendo. Nem sei por que aceitei. Isso é a
receita para o desastre.
— Deus, onde vim parar. — Só ele para me ajudar, apesar de que
minhas ações não estão sendo nada cristãs. — Sei que estou devendo.
Acredite, sei que estou fazendo muita coisa errada. O senhor está me
julgando, não está? — Falar sozinha nesse banheiro enorme e chique pode
ser considerado loucura. — Olha… — Olhando para o teto, tento imaginar
que realmente estou falando com ele. Será que é possível? — Do nada eu
vim parar nesse furacão. Quando vi os dois pontinhos naquele teste de
gravidez, achei que fosse um sonho, uma paranoia, ou o mais lógico, algum
tipo de câncer. — Lembro da minha reação naquele dia. Chorei como uma
criança machucada, então, a ligação. Não sei se foi o senhor, tentando me
acalmar, e não estou reclamando, mas… Grávida desse homem? — Ok,
Giovanni tinha seus defeitos, mas não era tão péssimo. — Ele me irrita. Me
provoca. Adora me meter nessas confusões. Mente. Me manipula. Quer me
comandar. — Olhei-me no espelho. Estava com os cabelos bagunçados, o
rosto manchado, pois chorei muito ao ver minha casa totalmente queimada.
Agora, estou na casa do homem que é pai do meu bebê, e não transamos.
Não! Ele nem me tocou direito. — Isso é alguma lição?
Três batidas fortes na porta do banheiro me trouxeram à realidade.
Coloquei a mão no peito e fui até ela. Assim que abri, vi Giovanni Mancini,
com seus belos cabelos ondulados, bagunçados, um sorriso no rosto,
segurando uma camisa branca.
— Espero que sirva. — Tinha algo em seu olhar que me deixou
envergonhada.
— Você quase me matou de susto. — Reclamei.
— Sabe que não é minha intenção. Nunca mataria a mãe do meu
bebê.
— Você está estranho. — Franzi o cenho.
— Estou? — O sorriso safado cresceu, eu não pude deixar de notar.
— Tira esse sorriso do rosto. — Peguei a roupa. — Se me atacar
durante a noite, vai acabar sem as bolas.
— Querida, eu não preciso atacar ninguém. — Com toda a
intimidade do mundo, ele se escorou na parede, ainda me encarando. — São
as mulheres quem me atacam.
— Sou bem diferente.
— Admita. — Se aproximou. — Todo esse seu ódio é puro desejo.
— Vou tomar banho. — Fechei a porta na sua cara.
— Não adianta esconder. — O ouvi gritando do outro lado. — Sua
calcinha é a prova.
Voltei a olhar para o teto, deixando os ombros caírem, cansada.
— Está vendo. — Deus era meu único amigo ali. — Dai-me forças,
pois eu não sei se vou aguentar.
Meu coração não estava quieto. Aquela casa não era minha. A mãe
de Giovanni claramente me odiou. Como se não bastasse, tenho que fingir
que somos um casal.
Tirei a roupa, deixando-as cair no chão. Entrei no box e liguei a
água, que caiu sobre meu corpo, relaxando os meus músculos.
Contudo, minha mente foi minha pior inimiga. Assim que comecei
a passar o sabão, ela caminhou para longe, me fazendo imaginar Giovanni,
todo nu, entrando e me olhando com fogo nos olhos. Meu coração foi à
boca. Ele me alisou e me colocou contra a parede. Olhei em seus olhos e
quase não podia respirar. O desejei. Desejei que me beijasse, então, voltei à
realidade, vendo que estava sozinha.
— O que foi isso? — Fiquei pasma. — Não! Você não pode sonhar,
ou fantasiar, essas coisas. Eu te proíbo.
Com essa bronca, voltei a tomar banho, me apegando à realidade,
pois não queria fantasiar com ele novamente.
Ao sair do box, me enxuguei e novamente me perdi. Aquele era o
seu banheiro. Onde ficava o seu mais íntimo. Não importa se o homem é ou
não, um babaca, ele também é um grande gostoso.
— Desculpa Deus, mas é verdade.
Eu não deveria, mas acabei fuçando as coisas. Encontrei coisas
básicas, nada que revelasse muito. Desisti da investigação, voltando a me
trocar, então, com a sua enorme camisa no corpo, olhei-me no espelho e me
enxerguei.
— Estou seminua! — Arregalei os olhos, chocada. — Vou dormir
ao lado daquele homem, seminua?
Meu coração foi à boca. Não sabia o que fazer. Tentei pensar em
alguma coisa. Corri até a porta, com muita vergonha, e o chamei.
— Giovanni — Dei um sorriso tímido. Ele estava de costas,
olhando algo no telefone, sem camisa e ao virar, tive que engolir em seco. O
desgraçado é lindo. Lindo é pouco. Seu abdômen malhado me deixou sem
palavras. Ele se aproximou, e tentei lembrar das palavras. — Estou
agradecida pela camisa. — Eu senti meu rosto queimar de vergonha. —
Mas acho que não é suficiente.
— Não é? — Falou, confuso.
— É que… Não cobre muito. Preciso de alguma coisa a mais. —
Esperei que ele decifrasse.
Foi uma péssima ideia. O sorriso safado do seu rosto denunciava
seus pensamentos pecaminosos.
— Eu sabia que você iria pedir. — Voltou a se escorar na porta. —
Pensei que fosse demorar mais tempo.
— Seu safado, estou pedindo uma calça. — Bati no seu ombro, de
leve. Ele soltou uma gargalhada que me contagiou. Droga! Ele não é tão
ruim. — Uma calça, Giovanni.
— Saiba que sempre estarei disponível para colocar essa calça no…
— Nem se fosse o último homem da Terra.
Dessa vez ele debochou de mim.
— Há é mesmo? — Duvidou.
— Você não me atrai. A única coisa que sinto quando olho para
você é raiva.
Merda! Por que estou mentindo?
Pior, por que ele está me olhando assim?
Me surpreendendo, Giovanni empurrou a porta para entrar, me
colocando contra a parede com facilidade. Meu coração disparou. Senti um
frio na barriga e congelei. Seus olhos desceram até meus seios e depois para
o resto do corpo. Deu para perceber que ele gostou do que viu. Assim como
gostei do seu calor. Já não tinha forças para resistir. As pontas dos seus
dedos me torturaram, quando, propositalmente, percorreu a abertura dos
botões. Me contorci. O corpo inteiro se arrepiou, quase me impedindo de
respirar.
— Fala isso outra vez. — Sussurrou perto do meu rosto. Seus lindos
olhos azuis me encararam com tanto desejo que me assustei. — Não precisa
sentir vergonha. Somos humanos. Desejo é normal.
— Não sou como você.
Estava difícil fingir que aquilo não estava me atingindo.
— Você pode ter sido criada por uma mãe muito religiosa, mas você
não é santa. — Me segurei na parede, pois achei que iria cair. — Mas não
precisa se preocupar. Nossa relação nunca chegará a esse ponto. A única
coisa que nos liga é essa bebê. Claro, se quiser sexo, estou disponível, mas
saiba que estou passando longe de romance.
— Não me surpreende.
— Não sabe o que passei.
— Pensa que o que aconteceu com você justifica ser tão arrogante?
— Não, e não é por isso que sou arrogante.
— Então há outra razão?
— A mulher que amei me traiu quando eu mais precisava. — Seu
olhar mudou bruscamente. Agora ele estava com raiva. — Amigos? Eu
achei que tinha. Mas no fim, todos me abandonaram. — Certo, essa parte eu
não sabia. Pelo que parece, a sua mágoa vai além do romance frustrado. —
O ser humano é assim. Quando mais precisamos, eles nos abandonam.
— Isso não é verdade.
— Há não?
— Nem todo mundo é mau-caráter. — Giovanni se afastou,
confuso. — Pode ser que as pessoas ao seu redor tenham te magoado, mas
nem todo mundo é assim. Eu não sou assim.
— Eu nem conheço você.
— Sim, nós dois não nos conhecemos, mas temos algo em comum.
Pelo nosso filho. — Peguei em sua mão. — Estamos nisso juntos. Não
podemos fugir, e nem quero. Você tem seus defeitos, e eu tenho os meus. —
Pensei e acabei percebendo que pode haver uma razão para tudo o que está
acontecendo. — Devemos parar de brigar. Ou, pelo menos, diminuir. Vamos
nos conhecer melhor, mas deve me prometer que não vai ser arrogante e
que não será um mandão. Isso me dá nos nervos.
Ele acabou sorrindo.
— Acha que vamos conseguir?
— Vamos tentar, mas você tem que colocar uma camisa.
Giovanni franziu o cenho, confuso.
— Por quê?
— Porque não sou de ferro e não quero cometer esse pecado. —
Aos poucos ele percebeu e caiu na risada, o que me deixou constrangida e
irritada. — Para de rir.
— Relaxa, não vou fazer você pecar. Vou pegar a sua calça.
10
Ao despertar, senti-me acolhida pelo colchão macio e pelas cobertas
quentinhas. Instantaneamente, não me lembrei onde estava, mas logo que
abri os olhos, vi o abajur e a realidade veio à tona.
Assustada, sentei na cama, olhando tudo ao meu redor, ainda
confusa. O lugar ao meu lado estava vazio, o que me trouxe alguma dúvida,
mas essa dúvida foi selada quando o vi. Giovanni veio da varanda, de seu
quarto, em meio às cortinas brancas, sem camisa, usando apenas a calça de
moletom.
Eu juro que tentei, mas não consegui desviar meus olhos daquela
obra-prima chamada corpo escultural. O maldito tinha um charme, um
sorriso safado e um corpo perfeito. Pelo que sei, ele se dedicou ao físico
após o câncer e devo admitir, ele fez um ótimo trabalho.
Deus! Me ajude a resistir a isso. Será apenas por alguns meses. Não
me deixe esquecer e pecar.
— Bom dia, querida. — Disse com um belo sorriso safado no rosto.
É claro que o homem viu meus malditos olhos no seu corpo
perfeito. Aposto que estava fazendo de propósito.
Concordamos em não brigar. Esse era o começo da nossa relação
como pais, e não queríamos viver como inimigos opostos. Contudo, isso
não impedia uma provocação velada, como essa, me torturando.
— Giovanni, quantas vezes vou dizer que não sou sua querida? —
Resolvi cair na real, levantando da cama. Tentei não olhar para ele. —
Acordou cedo ou dormiu demais?
— Você é minha noiva, sempre será, minha querida. — Ele
respondeu com sarcasmo. — Devemos combinar o que diremos e como
agiremos na frente de todos.
— Devemos? — Assustei-me.
— É claro. — Ele franziu o cenho. — Minha mãe sabe de tudo, é
claro. Ela estava comigo o tempo todo, sabia da história, mas pedi que ela
não dissesse nada a ninguém.
— Falando na sua mãe, acho que ela me odeia.
— Ela não odeia você.
— Sim, ela odeia. — Voltei a encará-lo. — Não sei se é de família,
mas aquele olhar… — Deixei no ar. — Acha mesmo que ela vai permitir
essa mentira?
— Minha mãe não odeia você. — Ele insistiu, vindo até mim. —
Ela só quer me proteger. Passamos por muita coisa. Depois da… Beatriz, as
coisas não ficaram bem para mim. — Ele baixou a cabeça. — Aquela
mulher me magoou quando eu estava frágil e... confesso que perdi a
esperança. — Giovanni ficou esquisito, do nada. A tristeza estava em seu
rosto, mesmo que não me olhasse diretamente. — Pensei ser melhor morrer
de uma só vez.
Fiquei chocada com a revelação. Me senti mal por achá-lo um
babaca, mas ele também não colabora.
Sem pensar, fui até ele.
— Não diga isso. — Peguei em sua mão, o fazendo me olhar, com o
cenho franzido. — Está me fazendo sentir mal por achá-lo um idiota.
Ele sorriu. Um sorriso verdadeiro e bonito.
— Às vezes sou mesmo um idiota.
— Gosto da sinceridade.
— Sabe, podemos nos dar muito bem.
— Você acha. — Falei irônica.
— Nem sempre brigamos, você é engraçada, eu posso deixar o ogro
que habita em mim, se você deixar a provocadora que habita em você.
— Está me acusando?
— Quero ser claro. — Inesperadamente, tocou em meu rosto. Não
sei, contudo, meu corpo estremeceu com seu toque. — Regra número 1:
seremos sinceros. — Não consegui reunir palavras para dizer, pois meu
coração foi à boca. — Regra número 2: mesmo que nos chateemos, vamos
fazer as pazes. Se eu fizer algo que te chateie, você me dirá. — Concordei
com a cabeça. — Regra número 3: você não vai me bater ou chutar. Meu
médico vai achar que estou namorando uma lutadora de MMA.
Foi impossível não rir.
— Só faço isso quando passa dos limites.
— Então vou tentar não passar.
— Vou tentar não chutar você.
— Beijos, acho que são permitidos, em público.
Arregalei os olhos.
— O quê?
— Ué, somos um casal apaixonado que está esperando um bebê,
beijo é a coisa mais leve que fizemos.
— Não transamos. — Achei uma ofensa.
— Querida, ninguém sabe disso.
Ele tem razão.
— Certo, mas sou eu quem vai beijar você.
O idiota sorriu. Um largo abrir de boca safado.
— Gosto de mulheres decididas.
— Giovanni!
— Tem que saber que: ao deixar a parte ogre de lado, minha
personalidade bem-humorada e safada ganha lugar.
— Você só tem essas duas?
— Você tem mais alguma que não seja chata? — Eu quis bater nele,
ele viu, então pegou meus braços e riu. — Leve na brincadeira.
— Certo. — Puxei o braço. — Mas sou eu quem decide quando
beijamos.
— Por mim tudo bem. — Deu de ombros. — Agora vamos, temos
que tomar café.
Lembrar da realidade não me fez bem. O mundo do outro lado da
porta me engoliria.
— Deus! — Comecei a imaginar milhares de situações onde minha
mãe me mata por estar mentindo ou grávida, sem ter casado.
— O que foi? — Ele se assustou.
— Minha mãe. — Comecei a me abanar, com a possibilidade de
encontrá-la. — Ela vai querer saber como conheci você, porque nunca os
apresentei, como fiquei grávida. Acho que ela vai matar nós dois.
— Relaxa — Ele pegou em minha mão, me fazendo olhar em seus
profundos olhos azuis. — Sei como conquistar minha sogra.
— Acha isso divertido? — Me irritei.
— Não, acho que será um bom desafio. Apenas me assista.
11
A pressão da noite passada voltou. O mundo aqui fora estava
assustador. Minha casa pegou fogo, meu corpo estava mudando e as roupas
que eu vestia não eram minhas.
Bem, eram, mas foram compradas por Giovanni. Eu nem queria
saber como e quando ele comprou, contudo, aqui estou eu com um vestido
florido de fundo branco e um belíssimo salto baixo, indo em direção à
enorme sala de refeições da imensa e belíssima mansão do pai do meu bebê.
Aos poucos, estamos nos conhecendo e deixando as diferenças de
lado. Contudo, vamos entrar em uma nova jornada que será difícil para
mim. Mentir para a minha mãe é um dos pontos que mais estou odiando.
Minha vida mudou completamente depois que descobri que estava
grávida. Agora, não tenho onde morar, devo mentir para todo mundo e
fingir que esse estranho é o amor da minha vida, sendo que mal nos
conhecemos.
— Lembre-se, ela é bem exigente e religiosa, e mesmo que seja
bondoso conosco, vai cair em cima de você.
— Não se preocupe, querida. — Ele pegou em minha mão, a
apertando, trazendo meu corpo para mais perto dele. Minha mente e corpo
não conseguiram resistir a isso. Me senti quente, pegando fogo, pensando
em me abanar, contudo, se Giovanni já sacou que faço isso quando estou
nervosa, minha mãe conhece todas as minhas manias, e não posso dar essa
bola. — Sou bom com as mães.
— O que está fazendo? — Questionei, entre os dentes, enquanto
sorria. Essa casa está cheia de desconhecidos e todos devem pensar que
realmente somos um casal. — Por que está me segurando assim?
— Gosto do seu perfume. — Ainda estávamos atrás da porta. Em
poucos minutos encontraríamos as duas mães, que nos esperavam, e
prometi não chutá-lo. — Se acostume, pois um casal vive grudado.
— Odeio grude.
— Admita. — O sorriso voltou, me deixando hipnotizada. O
homem é mesmo irresistível. Vestido informal, tirando da minha mente a
imagem de empresário arrogante. Foi impossível resistir. Olhá-lo dos pés à
cabeça me deixou excitada. — Você gosta desse calor. Fica quente toda vez
que estamos assim, colados.
— Achei que tinha prometido não me provocar.
— Acha que a verdade é uma provocação.
— Como pode saber da verdade? — Cerrei os olhos.
— Sei quando uma mulher me deseja, pequena, e se não parar de
me olhar assim, vou esquecer que somos dois desconhecidos e perderei a
cabeça em cima daquela cama.
— Deixa de ser safado. — O empurrei. — Vai ver que minha mãe
vai matar você.
— Aposto que conquisto ela nesse café.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Aposto que não. Melhor, se bem a conheço, dirá que não é
preciso ficar aqui. Temos parentes na cidade, eles nos acolherão.
— Você não vai sair dessa casa. — A forma como disse essas
palavras e como me olha me deixou impressionada. Seu lado controlador
está voltando.
— Não é você quem decide. — Provoquei.
— Lembre-se das regras, Triz.
— Estou lembrada, mas você deve saber que: se eu sou teimosa,
você ainda não sabe o quanto minha mãe é.
Parece que o convenci. Balançando a cabeça, ele arrumou a roupa,
perfeitamente alinhada, e abriu a porta.
— Veremos. — Disse antes de sermos capturados pelos olhares de
nossas mães, que já não pareciam estar bem. — Bom dia, família.
Meu coração gelou. O olhar materno me fez engolir a língua. Uma
das coisas que eu sabia que ela iria questionar é: “onde você dormiu?”
Eu nem tinha como esconder ou o que dizer.
— Giovanni. — A loira disse, com um sorriso amarelo.
— Mãe. — Ele respondeu.
— Beatriz!
Meu corpo inteiro ficou arrepiado com o tom de voz.
— Espero muito que isso seja um pesadelo. — Sussurrei, chegando
mais perto dele. — Me acorde agora!
— Sinto muito, querida, mas isso é bem real.
— Não! — Fui dramática. — Se ela vier atrás de mim, seja um bom
pai e entre na minha frente.
— Não exagere, você não tem cinco anos.
— Sempre serei uma menininha assustada, do lado dela.
— O que vocês dois estão sussurrando? — Minha mãe saiu de onde
estava e veio para a frente. Não sei o porquê, mas peguei na mão de
Giovanni, esperando encontrar alguma proteção. Ele me olhou, surpreso,
então se voltou para elas, sorrindo. — Sei que essa é a sua casa, mas queira
entender que não os conheço, não sei o que está acontecendo e nem o que
fez com a minha filha. — O olhar dela deixou a todos preocupados. — Que
história é essa de noivo?
— É, Giovanni, explique. — A loira, que com certeza me odeia,
completou, jogando seu olhar matador para nós. Por sorte minha mãe não
pode ver.
— Senhora Miller, é um prazer finalmente conhecê-la. — Ele nos
levou para dentro da sala. Eu nem quis me largar dele. Não faço ideia do
porquê acho ele um protetor. Eu só estava com medo da minha mãe. — As
coisas… bem, não era assim que eu queria conhecer a minha sogra.
Meu coração começou a palpitar no peito, senti a pressão que era
estar na frente da minha mãe, ao lado dele, contando toda essa mentira.
— Mãe? — Com a pergunta, tentei me esconder para não
responder. Eu sabia o que viria. Uma enorme bronca. Uma mulher não deve
dormir com um homem…
— Como onde? — Giovanni disse. Nesse momento, eu só quis me
dissolver. — Comigo, claro.
Para ele, isso era bem normal, mas para minha mãe, era um
absurdo.
— O que disse?
Puxei sua mão para que viesse para mais perto, assim, permitindo
que o alertasse.
— Eu avisei que dormir no mesmo quarto não agradaria.
— Senhora, ela é minha noiva e...
— Deus, isso não pode estar acontecendo! — Se sou exagerada, é
porque ele não conhece Margareth.
— Algum problema com isso, somos noivos?
A loira, que estava na minha frente, me encarava com desprezo. Eu
realmente não gostava dela.
— Minha mãe acredita que um casal não deve dormir na mesma
cama até o casamento.
— Isso é tão arcaico. — Se pronunciou, a loira.
— Senhora, não tem com o que se preocupar. — Claro que não. Se
ela estava exagerando agora, imagina quando descobrir sobre o bebê. —
Sou um homem bem responsável.
— Ela vai matar você. — Sussurrei.
— Deixe-me contar sobre nosso… relacionamento.
— Filho, sei que pode ser um ótimo homem, mas não o conheço. —
A casca-grossa estava parecendo. — Até ontem, eu nem sabia que minha
filha estava saindo com alguém. Do nada, você diz serem noivos, nos traz
para sua casa e os dois dormem juntos.
— Pensamos bem diferente, mas Triz falou ser devido à forma
como fomos criados, e eu realmente entendo isso, porém, somos, acredito
eu, jovens, e... em nosso mundo, coisas assim não acontecem. Ainda mais
com o amor que sentimos.
Peguei um suco de laranja, para disfarçar meu nervosismo.
— Amor? — Ela cerrou os olhos. — Você a ama?
— Não sabe o quanto. — Foi firme.
— Então, como isso aconteceu?
— Temos uma longa história. E... isso é, particularmente, doloroso
para mim.
— Doloroso?
— Sim, o que vou dizer é... traumático, mas vai fazer sentido.
12
Giovanni
Não sei por que estou fazendo isso. Essa mulher chegou em minha
vida e mudou tudo. Obviamente, não sou santo, mentir não é difícil, o
problema é fazer isso em minha vida pessoal. Tenho que dizer que essa
estranha é o novo amor da minha vida e que desejo casar com ela só para
não ficar longe do meu filho.
A mãe dela é tão desconfiada e teimosa quanto a própria Beatriz. A
mulher parece desconfiar de tudo e ainda tem essa besteira de não dormir
junto até depois do casamento. Em que ano ela pensa que estamos?
Minha mãe não está gostando nada disso. Sentada no outro lado da
mesa, ela me lança um olhar mortífero que com certeza vai me cobrar mais
tarde.
— Veja — eu estava entre as duas. Pensei que, quanto mais perto
dela e a olhando nos olhos, mais real irá parecer. Isso sempre funciona. —
Eu não fazia ideia de que conheceria a sua filha, mas devo admitir que o
destino brincou conosco. — Com o cenho franzido, ela prestava atenção aos
detalhes. — Há um tempo, perdi todas as esperanças. Fiquei doente, passei
por muita coisa. Achei que fosse morrer.
— Jesus, o que você teve?
Pareceu preocupada. Achei engraçado, pois, há dois minutos, ela
me olhava como se fosse agarrar-me pelo pescoço e enforcá-lo.
Curiosamente, igual à filha.
— Câncer. — Muitas pessoas, ao ouvir essa palavra, ficam
horrorizadas, e agora, eu entendo o porquê. Ter essa doença me fez abrir os
olhos e descobrir muita coisa. No início, pensei que, fazendo os
tratamentos, eu podia me recuperar facilmente, então a coisa desandou, fiz
diversos tratamentos e nada mudou, minha vida já era um fardo, contudo,
imaginei que superaria, mesmo assim. Só que isso foi o início da minha
falta de esperança. Ser traído, abandonado, deixado pelos amigos e depois,
roubado. O que minha ex fez, roubando meus espermatozoides, foi a gota
d’água. Então, magicamente, essa nova Beatriz, apareceu em minha vida.
— Eu era casado, na época. Mas as coisas mudaram rápido. O câncer quase
me derrubou. Nessa época eu ainda tinha esperanças de que… tudo voltaria
ao normal. — a mulher me ouvia com tanta atenção que me surpreendi. Eu
sabia que minha mãe não estava nada feliz com essa conversa. Desde que
fiquei curado, não conversamos sobre ou tocamos nesse assunto.
Entretanto, aqui estou eu usando esse assunto delicado para amolecer o
coração de uma mulher rígida. — Mas não voltou.
— O que houve com a sua esposa?
— Ela me traiu, justamente quando mais precisava.
— Deus!
— É, Deus, sei que é bem religiosa, Beatriz falou isso. — Ela
confirmou com a cabeça e um sorrisinho tímido. Peguei em sua mão, a
encarando nos olhos. — Nesse tempo, acho que rompi com Deus.
— O quê? — A mulher franziu o cenho. — Filho, eu não o conheço
bem e sua história é comovente, mas não culpe Deus por tudo isso.
— Bem, não é, exatamente, sobre ele que quero falar. — Desviei.
— Mas confesso que o destino brincou conosco. Ele me trouxe a sua filha,
quando prometi a mim mesmo que jamais deixaria outra mulher entrar em
minha vida. — Até o momento, eu não estava mentindo. Na verdade,
mentir era melhor do que contar a verdade. Porém, como todos sabemos,
uma boa mentira é aquela que mistura um pouco da verdade. — Ela é uma
luz no final do túnel. Depois do câncer, pensei que jamais construiria uma
família, mas agora tenho a chance. — Ela deu um sorriso e seus olhos
brilharam. — Tenho certeza que acredita em milagres.
— Com certeza. — Respondeu feliz.
— É isso que Beatriz significa para mim. — Sei que é golpe baixo,
mas farei de tudo para que ela fique comigo. Somos totalmente opostos,
mas ligados por um elo que jamais pode ser quebrado: um filho. —
Acredite, isso me surpreendeu. Depois dos procedimentos pelos quais
passei, acreditava que não podia ter um filho, no entanto… — Senti as
mãos de Triz em minha coxa. Ela apertou, cravando suas unhas em mim.
Virei-me, com o intuito de reclamar, mas a mulher exibia um sorriso e um
olhar que dizia: é melhor parar por aí. Contudo, eu não estou pronto para
terminar meu teatro. — Um milagre aconteceu.
— Mais um? — Ficou empolgada.
Quanto mais eu avançava, mais Triz me apertava, me fazendo pegar
em sua mão e puxá-la.
— Vamos ter um filho. — Falei de uma só vez.
A mãe dela arregalou os olhos, ficou pálida, enquanto a filha me
puxou.
— Juro que vou matar você. — Sussurrou no meu ouvido.
— É melhor dizer de uma vez.
— Melhor para quem? — Começou a se abanar.
— Beatriz, você está grávida? — Perguntou, ainda em choque.
— Sim. — Respondeu cautelosa.
— Mas… mas, vocês… — ela levantou. — Vocês não casaram
ainda.
— Como eu já disse, vamos fazer isso. Só estamos esperando o
nosso filho nascer.
— Beatriz! — De repente, ela ficou furiosa. — Como você pode?
— Foi… um acidente. — Achei estranha a reação. Parecia que a
filha tinha quinze anos e que ficaria de castigo. — Vou matar você. — se
referiu a mim.
— Já chega desse teatro! — Minha mãe, finalmente, se pronunciou.
Todos nós a encaramos. Minha conversa, na noite anterior, foi bastante
clara. Ela não pode interferir ou desmentir tudo o que falei. — Vocês vêm
em minha casa e montam esse… circo. — Se levantou. — Acha que isso é
fácil para nós? Falar sobre isso.
— Com certeza não é, mas é sobre mim e minha filha. — Elas
começaram uma briga, excluindo a nossa existência.
— Elas estão brigando por nossa causa. — Triz falou baixinho.
— É, estou percebendo.
Apenas fiquei observando, sem saber o que fazer. Temia que minha
mãe contasse toda a verdade.
— Não se preocupe, minha filha e eu sairemos da sua bela casa,
agora mesmo. — Bateu o pé.
— Não! — Levantei, chateado. — Ela não sairá dessa casa.
— Giovanni! — Triz também levantou, chateada.
— Sinto muito, por tudo o que passou, mas não podemos ficar aqui.
Essa não é nossa casa, e não posso aceitar que vivamos sob o mesmo teto.
Ainda tem um filho? — Minha paciência está se esgotando. — Você sabe o
que fez, rapaz?
— Sei exatamente o que fiz. — Eu realmente estava tentando não
ser um grosseiro com a mulher. — Por isso resolverei esse problema.
— Mãe, não precisa fazer tudo isso. — Pediu.
— Vamos sair dessa casa agora, e depois, teremos uma conversa.
Apertei as mãos com tanta raiva que podia explodir. Eu não sou
conhecido por ter tanto autocontrole e paciência. Apenas me dirigi a
mulher, centro dessa confusão.
— Beatriz, podemos conversar? — Não foi exatamente um pedido.
Eu saí dali, com raiva, esperando que ela viesse atrás de mim.
13
Beatriz
Eu sabia que tudo ia desandar. Avisei, mas ele não me ouviu. Deixei
minha mãe e a loira que me odeia para trás, seguindo Giovanni, que não
estava nada bem.
O corredor era extenso, e o vi entrando em uma sala, empurrando a
porta com todo o ódio do mundo.
Assim que passei, ele a fechou. Senti meu coração na mão. Seu
olhar me congelou.
— Eu disse que ela não ia gostar. — Comecei. — Usou sua doença
para manipular?
— Olha aqui, menina, eu estou tentando. Estou me esforçando
muito. Acha que quis falar tudo aquilo?
— Não deveria. — Me aproximei, olhando nos olhos. — Jogou a
bomba da gravidez sem antes falar comigo.
— Por que age como uma criança amedrontada.
— Não sou uma criança.
— Sim, você é.
Ele estava a poucos passos de mim. Me desafiando. Seu rosto
enfurecido não me assustava.
— Eu não pedi para estar aqui, ou que inventasse toda essa história.
— Sim, você pediu. — Apontou o dedo. — Pediu quando falou que
não podia dizer a verdade. Quando decidiu ter medo da sua mãe, ao
enfrentar a realidade. Eu não quero mentir. Não quero me casar com você.
Toda essa história está me cobrando muito, inclusive a paciência.
— Está sem paciência? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Pode me odiar, me achar grosso e arrogante, mas, apesar do erro,
você tem muito mais vantagens do que eu.
— Onde você vê essa vantagem?
— Facilmente, quando penso que você tem um lindo futuro pela
frente, para se casar com o amor da sua vida, ter quantos filhos quiser,
enquanto eu estou preso a você, pois para mim essa é a conta. — Seu olhar,
repleto de emoção, me fez recuar. — Acha que quero mentir ou manipular?
— Não consegui pensar direito com ele me olhando daquele jeito. — Ainda
não entende o quanto isso é importante. Eu não tive escolha. Não permiti
que isso acontecesse. Fui traído, abandonado, roubado, e a única chance de
ter um filho está com você. Sabe por que entrei na sua história? Porque não
quero que você se afaste, quero você sob o meu olhar, não para controlar
você, mas porque não vou ter outro filho. Não vou ver o exame do
ultrassom, o coração dele, a barriga crescer, ele chutar ou nascer. Essa é a
minha única oportunidade, e não me importo com o que tenho que fazer
para conseguir isso, eu só peço que não cobre mais de mim, pois estou
dando o meu melhor. — Eu sempre me concentrei no Giovanni arrogante e
possessivo e me esqueço de que também é um homem. Tudo o que disse era
verdade. Mexia com meu emocional. Meu coração estava esmagado com
toda essa pressão, quase me fazendo chorar. — A única coisa que peço é
que fique. Você pode dormir em outro quarto, sua mãe pode me odiar. Não
vamos nos casar, isso é apenas uma encenação. Sei que nunca vai gostar de
mim, mas não me afaste do meu filho.
Isso eu não posso fazer. Não importa o quanto ele seja rude. No
fundo, há um homem machucado e com medo.
— Não vou fazer isso. — Peguei em sua mão, tocando em seu rosto
e olhando nos olhos. — Me perdoe por tudo o que aconteceu. Nossas vidas
são diferentes. Somos diferentes, e nossas mães… não se dão bem e a
minha… ela não é fácil.
— Você é adulta. É quem escolhe, não sua mãe.
— Não quero brigar com ela. — Franzi o cenho. — Você iria contra
a sua mãe?
— Se isso desrespeitar a minha vida, não a dela, então, não importa
o que minha mãe pensa, o deseja, sou eu que tomo as minhas decisões. —
Respirei fundo, soltando ele. Obviamente, estava certo, só que para mim as
coisas não eram tão fáceis. — Minha mãe também não gosta de você.
— Eu já percebi.
— E mesmo assim eu tomei minha decisão. Quero você e meu filho
comigo. Será o desafio. Depois que ele nascer, podemos achar uma forma
de compartilhar esses momentos. Não vou interferir em sua vida, só peço
que me entenda.
— Eu entendo. — Baixei a cabeça. — Não se preocupe, vou
convencê-la.
O azul de seus olhos se iluminou. Giovanni se tornava ainda mais
irresistível com um sorriso de alegria em seu rosto. Me surpreendendo, ele
me abraçou forte. Agarrei seu pescoço e fui inundada pelo seu perfume.
Não pude evitar. Fechei os olhos e deitei minha cabeça em seu ombro.
Aquele se tornou meu lugar preferido. Não pude evitar. Seu
perfume me deixou mole e excitada, o que me deixou assustada.
***
— Mãe. — Entrei no quarto onde ela passou a noite, com o coração
na mão. Eu nunca fui contra ela. Sempre fiz o que ela pedia; contudo, dessa
vez eu não podia simplesmente fazer os seus gostos. Assim que passei pela
porta, a vi se arrumando, pegando as poucas coisas que trouxe.
— Vamos sair logo dessa casa. — Ela disse, apressada. — Você e
eu ainda temos que conversar sobre essa sua…
— Se quiser ir, então vá, mas eu ficarei aqui.
Confesso que isso acelerou os meus batimentos cardíacos. Tentei
parecer firme, mesmo estando nervosa. Ela parou, instantaneamente, o que
estava fazendo, me olhando com surpresa.
— O que você disse?
— A senhora ouviu bem. — Respirei fundo, levantando a cabeça.
— Ficarei.
— Você não sabe com quem está se metendo.
— Você é mãe, agora, eu também serei. — Aproximei-me dela. —
Giovanni e eu teremos um filho. Acha mesmo que vou ignorar tudo isso, só
pelos seus princípios?
— Beatriz!
— Não importa o quão chateada vá ficar. Nem se irá me punir. Sou
uma mulher, não uma menina. Meu filho merece ter um pai. Giovanni pode
não ter outro filho, e não vou tirar isso dele. — Com o rosto assustado, ela
me ouviu. — Amo você. Depois do que aconteceu em nossa casa, não
temos para onde ir. Ficarei ao lado dele. Com nosso filho.
— Sabe o que vai acontecer com você? — Veio até mim. Eu já até
previa o drama. — Grávida antes do casamento. Vai perder seu emprego.
— Mãe, eu amo o que faço, mas só estou lecionando naquela escola
por sua causa. Há milhares de escolas onde posso ensinar. Não posso viver
a minha vida baseada nos seus gostos. Eu nunca farei isso com o meu filho.
— Bea…
— Não, a senhora não irá me convencer. — Sinceramente, eu já
queria dizer isso há muito tempo. — Vou continuar amando e respeitando a
senhora, mas deve respeitar a minha escolha.
— O que aconteceu com a minha filha?
— Ela cresceu.
Eu precisava sair daquele lugar antes que a coragem esvaísse das
minhas veias. Meu coração estava na boca e a pele ardia como brasa.
Giovanni tinha razão. Eu não posso deixar que minha mãe comande a
minha vida.
Na verdade, foi até libertador. Sempre quis dizer isso, só não sabia
como.
14
Minha mente estava tão atordoada que entrei naquele quarto, onde
passei a noite e que não era meu, desesperada, batendo a porta atrás de
mim.
Respirei fundo, acreditando que assim voltaria aos batimentos
cardíacos normais. Fechei os olhos e tentei me acalmar. Nunca fiz isso
antes, ir contra os desejos da minha mãe. Agora pareço uma garotinha
assustada, esperando a bronca, e ela virá, só que dessa vez não vou ficar
presa no quarto pensando nas besteiras que fiz, pois já era adulta e sabia que
o que fiz não era um absurdo.
Sempre fui a menina boazinha que tirava notas altas, ia à igreja todo
domingo, estudava no colégio de freiras e que nunca teve um namorado
sério.
A minha primeira vez foi com um garoto da minha idade na época,
dezessete anos, ele era meu vizinho e tinha uma personalidade quase igual à
minha. Não foi do jeito que eu imaginava, mas naquela época eu estava
sedenta, pois todo mundo falava sobre sexo. Explicava sobre sexo e fazia
sexo, menos eu.
Foi um ato rebelde que minha mãe nunca ficou sabendo.
Sempre tive que usar roupas largas, longas e que não mostrassem
muito, pois seria comparada a uma vadia. Estudei para ser professora,
leciono no mesmo colégio em que estudei. Isso era o orgulho da minha
mãe, mas devo confessar que viver minha vida baseada nos gostos dela me
deixa deprimida.
— Você está bem? — A voz de Giovanni me despertou. Abri os
olhos e ele estava parado no meio do quarto.
— Não! — Me afastei da porta.
— Devo me preocupar? — Franziu o cenho.
— Não, acho que vai passar. É uma adrenalina que nunca senti. —
Ele riu. Encarando-o, não pude deixar de lembrar da primeira vez que nos
vimos. Ele foi grosso, um babaca, e eu simplesmente o chutei. Agora,
estranhamente, toda vez que ele estava comigo, eu sentia um conforto e
sensação de estar segura. — Você tem razão.
— Tenho? — Ficou impressionado. — Meu Deus, você está
quebrada?
Claro, humor.
— Estou falando sobre mim e minha mãe. — Expliquei. — Sempre
fiz o que ela queria. Fui a filha ideal, na qual ela sempre se gabava na
igreja. Tenho vinte e sete anos e nunca tive a liberdade de escolher as
coisas, ou de viver uma aventura.
— Acredito que agora esteja vivendo.
— Estou, e a culpa é sua.
— Minha?
— Sim… essa é a primeira vez que digo não a ela, meu coração
parece que vai pular do corpo.
Giovanni permaneceu na minha frente, com uma expressão de
quem estava gostando de me ver surtando.
— Triz, você é jovem, uma linda mulher. — Pegou em meu braço,
olhando-me nos olhos. — Tem todo o direito de escolher o que fará ou o
melhor para a sua vida.
— Bem, parando para pensar, não tenho tanta liberdade assim. —
Pensei no bebê. — Afinal, daqui a alguns meses, não estou reclamando,
claro, vai sair um bebê de mim e não acho que será tão fácil arrumar um
momento em que eu possa sair e escolher fazer algo.
Ele tinha algo escondido naqueles olhos azuis que me hipnotizava.
Jamais pensei que isso pudesse acontecer. Gostar do senhor arrogante?
— Estou aqui.
— É, estou vendo.
— Esse filho também é meu. Quando ele nascer, não vou querer
ficar um minuto longe dele, teremos babás, você não ficará presa.
— Não quero que estranhos cuidem do meu filho. — Franzi o
cenho.
— Certo, vamos conversar sobre isso depois.
— Temos um depois, porque…
— Triz, temos muito o que fazer. — Giovanni parou tão perto do
meu rosto que pensei que ele iria me beijar. Involuntariamente, senti o
desejo absurdo de beijá-lo, ao encarar seus belos lábios. Aquela sensação
estranha na minha barriga confundiu meu cérebro, porém, logo ele percebeu
estar próximo demais. — Vamos, vou te levar para comprar as suas coisas.
— Comprar minhas coisas? — Fiquei confusa. — Sinceramente,
acho que meu salário não vai dar. Talvez algumas peças de roupas. Falando
nisso, tenho que buscar meus documentos. Pelo menos, o que sobrou. Ai
meu Deus, eu tenho que…
— Você fala demais. — Novamente me encarou, me assustando. —
Vou resolver tudo isso. Agora, vamos cuidar do básico.
— Vamos?
— Tenho que desenhar para você? — Aí está o arrogante
novamente. Ele percebeu. — Desculpe. Quero dizer, eu vou dar tudo a
você. Vamos cuidar dos seus documentos, depois.
— Você vai me dar? — Não gostei nada dessa ideia. — Olha, está
sendo gentil e paciente, mas me dar coisas não é o que quero.
— E o que quer? — Cerrou os olhos. — Isso não é caridade, estou
fazendo isso porque me importo, porque está grávida do meu filho e porque
a partir de hoje, terá tudo o que quer.
— Não quero nada disso. As pessoas podem confundir as coisas e
achar que sou interesseira.
— Não me importo com o que as pessoas dizem.
— É o que estou vendo. — Coloquei a mão na cintura. — Mas…
— Esse seu “mas” me irrita. — Falou entre os dentes, irritado.
— Giovanni…
— Beatriz, por favor, apenas vamos. — O homem estava se
esforçando e eu estava parecendo uma chata.
— Certo, mas vou pagar tudo o que você me der. — Ele riu
debochado. — Está debochando de mim? — Cerrei os olhos.
— Não, longe de mim. — Esse homem pensa que sou idiota. —
Confesso que acho engraçado. Você é irritante, tagarela e me irrita, mas não
deixo de gostar de você.
Certo, ele me pegou nessa.
— Você gosta de mim? — Fiquei boba.
— Sabe, o que falei para a sua mãe. — Veio para mais perto. —
Não é totalmente mentira.
— Qual parte?
— A parte em que falo que você mexeu com a minha vida e que me
faz pensar em um futuro bom.
O que tem nesse homem que me faz quebrar desse jeito. Devo
lembrar que isso é só um disfarce. Apesar de sermos pais da mesma criança,
não somos um casal.
— Você tem belas palavras, mas não vou cair na sua. — Levantei o
nariz.
— As mulheres sempre dizem que sou bom de lábia. — Riu.
— Você é, porém, sou boa em reconhecer e me afastar de encrenca,
então, vamos logo.
15
Entrei naquela loja sabendo que não conseguiria pagar nada do que
fosse comprado ali. Parecia que ele estava fazendo de propósito.
Assim que passamos, as vendedoras voaram em cima de Giovanni,
como um falcão esfomeado com os olhos arregalados. Olhei para elas com
tanto ódio que ficaram constrangidas.
As peças de roupas eram mais caras que meu salário como
professora, e reclamei.
— Giovanni. — Chamei-o com um sorriso tímido, pois estávamos
na frente das mulheres.
— Sim, querida. — Ele se abaixou para que eu pudesse falar em
seu ouvido e cautelosamente, dando um sorriso amarelo, falei:
— Essas mulheres vão arrastar você para dentro de algum provador
e vão tirar a roupa bem na sua frente.
— Isso é excitante. — Ele me provocou.
Puxei-o pela gola da camisa.
— Não se atreva a me provocar aqui. — O sorriso safado me
deixou furiosa. — A segunda coisa é: eu não posso pagar por nada que tem
aqui, então acho melhor irmos a outro lugar.
— Que parte de "eu vou dar tudo" você não entendeu? — Ele
tentou se soltar, mas não deixei.
— Que parte de "vou devolver todo o seu dinheiro" você não
ouviu?
— Não quero o seu dinheiro.
— Por quê? — Cerrei os olhos. — Acha que sou pobre demais?
— Porque serei eu quem vai dar tudo à mãe do meu filho.
— Não quero o seu dinheiro.
— Eu sei, por isso não estou odiando você, mesmo que esteja se
esforçando para me provocar.
— Algum problema? — Uma delas perguntou, me forçando a soltá-
lo, voltando ao normal.
A loira tinha quase o dobro do meu tamanho, tinha pernas longas e
magras, uma cintura de se invejar, diferente de mim que tenho curvas mais
destacadas. Com certeza ele cairia de cara em cima dela do que em mim.
Espera um minuto, por que estou pensando nisso?
— Na verdade — ele me olhou e eu o encarei de volta. Eu só queria
que soubesse que se ele aprontasse, se veria comigo. — Quero um guarda-
roupa completo para a minha noiva. — Arregalei os olhos. Ele falou mesmo
que sou a noiva dele? — Bem, no momento queremos tamanhos variados,
pois ela está grávida. — Minha cara ficou no chão, de tanta vergonha. As
mulheres me encararam, como se não acreditassem no que estavam
ouvindo. — Depois que nosso filho nascer, podemos trocar tudo, não é?
A pergunta foi dirigida a mim, e respondi baixinho, com um sorriso
amarelo, esperando que elas não nos ouvissem.
— O que está fazendo?
— Apenas confirme.
— Você quer me provocar?
— Prometemos não fazer isso.
— Elas não param de me encarar, acha mesmo que vão acreditar no
que falou.
— Triz — Ele se aproximou. — Você está ao meu lado, estou
comprando um guarda-roupa completo para você, ainda acha que não vão
acreditar?
— Até o final dessa compra — Comecei a me abanar. Ele revirou
os olhos, pois sabia que eu estava nervosa. — Vou perder a cabeça.
— Então, meninas, podemos começar?
***
— Por que disse aquilo a elas? — Fiquei mais aliviada depois que
saímos da loja. Foi estranho e desconfortável ser observada e julgada por
mulheres tão perfeitas. Não sou um terço do que elas são e tenho certeza. —
Não precisava ter dito aquilo.
Na verdade, estou com um pouco de vergonha. Depois que a
adrenalina passa e você revê tudo o que fez e o que disse, bate aquela
sensação de que você precisa de um buraco para se enterrar. Ainda mais
quando ele fica me olhando, fixamente, buscando algo que não sei o que é.
— Se temos que fazer isso, é melhor irmos nos acostumando.
— Não acho que precise. Aquelas mulheres nem nos conhecem.
— Serve para se acostumar.
Franzi o cenho, confusa.
— Já pensou em como terminar? — Não sei o porquê, mas isso me
incomodou. Óbvio que vamos terminar com essa mentira. Na verdade, acho
que nem deveríamos ter começado. Contar a verdade, agora que enfrentei
minha mãe, seria o mais justo. Evitaria situações como essa. — Você está
certo, mais uma vez.
— Se continuar fazendo isso, vou achar que você enlouqueceu.
Revirei os olhos.
— Estou falando sério. — Estávamos em uma mesa, na varanda
elegante e bonita de um restaurante. Com o piso de madeira e o corrimão de
vidro transparente, conseguíamos ter uma vista linda da cidade, ainda mais
por ser em um andar alto. O vento levava meus cabelos. O dia claro
iluminava o rosto de Giovanni, o tornando mais bonito do que já era. Se
ficasse prestando atenção nele, por muito tempo, talvez me sentiria atraída
pelo babaca. — Contar toda essa história vai nos cobrar muito. Aceito ficar
na sua casa, até o bebê nascer, mas não precisamos mentir para ninguém.
Agora que estou mais confiante, apesar do meu receio em dizer tudo à
minha mãe. Aposto que ela não vai ficar na sua casa, depois de tudo.
— Já contamos essa história, não vou voltar atrás. — Ele pareceu
chateado e com razão. Eu criei toda essa mentira.
— Bem, contamos para a minha mãe, não para os demais. Além
disso, será melhor para você, o homem que não acredita mais no amor. Você
estará livre. Também não precisamos dormir no mesmo quarto, é muito
pessoal.
E perturbador. Como dormir sabendo que tem um gostoso ao lado?
Giovanni ficou nervoso. Vi que não parou de mexer os pés. Ele
estava pensando.
— Vamos deixar como está. — Decidiu. Franzi o cenho achando
estranho. Foi ele quem me culpou por estarmos fazendo isso. — É o melhor
a se fazer.
— Mas, Giovanni…
— Vou ligar para a minha assistente, ela marcará uma consulta para
você e um ultrassom. — Disse ao se levantar.
Por um momento, achei que ele estava fugindo.
16
Entrar em um consultório se tornou meu pior pesadelo. Só de ver as
paredes brancas, os assentos confortáveis e as mulheres esperando serem
chamadas, me dava claustrofobia.
Parecia que eu havia embarcado em um sonho louco onde eu sabia
que tudo era uma armação da minha mente, mas não conseguia acordar.
Encarei a mulher na minha frente, ela estava linda em um vestido branco,
chique, com joias penduradas em seus dedos, braço e pescoço. Todas as
mulheres ali eram elegantes, muito bem-educadas e com dinheiro no bolso.
Só eu que já tive uma vida humilde. E não tenho vergonha disso.
O destino colocou em meu caminho um acidente que me fez parar
ali. O arrogante pai do bebê é quem bancava aquela aventura e eu ainda não
estava satisfeita. Parecia que eu era apenas uma barriga de aluguel para ele.
Involuntariamente, comecei a me abanar, sentindo como se as
paredes estivessem se fechando e me apertando.
— Pare de fazer isso. — Giovanni se pronunciou baixinho, perto do
meu ouvido. — Não está calor.
— Está. — Não liguei para o que ele falou ou reclamou. — É como
se eu estivesse esperando aquele maluco. Como se fosse um pesadelo,
passando sob os meus olhos novamente. Você não sabe o que é isso, não foi
você quem esteve naquele lugar.
— Aquele lugar está sofrendo um grande processo por esse erro, e
não estávamos procurando fazer um bebê, ele já está pronto.
— Giovanni, não sabe ser sensível, eu estou entrando em pânico. —
Reclamei.
O homem pegou em minhas mãos, me impedindo de continuar me
abanando. Olhou nos meus olhos com muita raiva.
— Respira fundo. — Ele disse calmo. — Você não está sozinha.
Vamos saber como está o nosso bebê, então não precisa se preocupar.
— Beatriz Miller. — A mulher chamou meu nome.
— É a nossa vez.
Apertei a mão dele, que ainda segurava a minha, pensando em ir
embora.
— É melhor se certificar de que não há outra Beatriz. — Falei.
— Não há outra, Beatriz Miller, aqui.
— Como você sabe?
— Triz!
Respirei fundo, levantando. Eu sabia que tudo isso era paranoia
minha, mas não consegui evitar.
Entramos na sala. A paleta de cores era a mesma do lado de fora.
Curiosamente, não soltei a mão dele. Giovanni podia ser o maior babaca
que já conheci, contudo, parecia ser a minha única rocha. Perto dele, me
sinto segura e confiante, apesar de muitas vezes brigarmos.
Sentei na cadeira, em frente à médica obstetra e não abri a boca.
Giovanni tomou o seu lugar, falando e perguntando tudo. Minha mente
estava embaçada. Não escutei muita coisa da conversa.
— Vamos fazer o ultrassom.
Pisquei duas vezes para voltar à realidade.
— Certo. — Falei.
— Minha noiva está um pouco ansiosa. — Giovanni disse. — Está
preocupada com o bebê.
— Vamos tirar essa preocupação agora, e depois podemos falar
mais sobre tudo, a partir daqui.
Eu me deitei na maca, enquanto a médica aplicava o gel frio na
minha barriga.
O aparelho de ultrassom foi cuidadosamente posicionado sobre o
meu ventre e a obstetra começou a deslizá-lo suavemente, procurando pelo
nosso pequeno ser que estava dentro de mim.
Meu coração estava na boca, olhei para o lado e vi Giovanni, tão
ansioso quanto eu.
Eu podia sentir o coração batendo mais rápido, a ansiedade
tomando conta de mim. Giovanni apertou minha mão com mais força,
oferecendo seu apoio silencioso.
De repente, um som maravilhoso ecoou pela sala. Era o som do
coração do nosso bebê, um som que eu nunca pensei que fosse ouvir tão
claramente. Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu tentava
absorver cada batida, cada sopro de vida que vinha de dentro de mim.
A obstetra sorriu e apontou para a tela, revelando uma imagem
borrada, mas maravilhosa. Eu podia distinguir o contorno de um pequeno
ser, tão frágil e perfeito. Era o nosso bebê, nosso pequeno milagre em
formação.
Giovanni segurou a respiração, seus olhos fixos na tela. Seus dedos
tremiam um pouco enquanto ele tentava processar a emoção do momento.
Eu pude ver o amor e a alegria transbordando em seu rosto, refletindo
exatamente o que eu estava sentindo.
Enquanto a obstetra continuava o exame, movendo o aparelho e
mostrando-nos cada detalhezinho do nosso bebê em desenvolvimento, uma
sensação estranha e acolhedora preenchia meu peito.
Era mais do que ansiedade. Olhei para nossas mãos unidas e a senti
formigar. Eu queria soltar, pensando em me livrar daquela estranha
sensação, contudo, não pude. Ele estava sendo um ótimo parceiro e aquele
era um momento único.
— Não dá para acreditar nisso. — O ouvi dizer. — É o meu filho.
Nosso filho. — Olhou para mim. — Ele é real.
— É, ele é.
— Esse bebê vai mudar a minha vida.
— Já está mudando.
— Vou cuidar de vocês.
Ele apertou minha mão, carinhosamente. Não pude deixar de sorrir.
Ficamos nos encarando, esquecendo de onde estávamos. Algo mudou. Eu
sempre o achei um idiota que se esforçava para não me irritar, mas agora,
não o via dessa forma.
17
Dias depois...
— Que lugar é esse? — Confesso que o novo Giovanni estava me
deixando confusa e surpresa. Às vezes ele tinha um momento de lucidez,
onde voltava a ser aquele ogro arrogante de sempre, mas na maioria do
tempo até que estava sendo legal de conhecer. Ele me disse que
precisávamos nos conhecer melhor, longe de tudo e todos, para termos uma
relação mais amigável, e confesso que realmente nos tornamos mais do que
opostos. Depois do que aconteceu com minha mãe, ela resolveu fazer um
drama de filha desvirtuosa e pecadora. Sendo uma mulher ligada a Deus,
não deveria fofocar, ainda mais sobre a filha, mas foi exatamente o que ela
fez. Fiquei em choque quando algumas colegas me mandaram mensagens,
perguntando sobre o bebê, coisa que não falei a ninguém que não fosse a
Mila. Agora, estávamos em uma casa de campo, enorme e clássica, com
estrutura de madeira escura, um modelo arquitetônico muito moderno e
enormes paredes de vidro, que nos permitiam ver o belo jardim, o campo
bem aparado e um lago pequeno. Eu diria que aquilo era um sonho,
contudo, já esperei acordar disso há muito tempo.
— É para cá que venho quando quero descansar e ficar longe de
confusão.
— Realmente é um bom lugar.
— Acredito que aqui, sem os julgamentos alheios, podemos ficar
mais próximos.
— O quão próximo você quer ficar? — Cerrei os olhos, tentando
não rir, pois estava um pouco tímida. Estamos nesse jogo há um tempo.
Éramos bem próximos. O considerava um amigo que a cada dia me fazia
esquecer do homem arrogante que conheci. — Não acha que dormir no
mesmo quarto, na mesma cama, não é próximo suficiente?
— Não estou falando disso.
— E do que estamos falando?
Giovanni me encarou, sabendo que o questionava de propósito.
— Você realmente me conhece? — Levantou uma de suas belas
sobrancelhas? — Conheço o suficiente sobre você para saber como vamos
criar um filho?
Nisso ele tinha razão.
— Certo, você tem razão.
— Sabe, estou acostumado com você me criticando e provocando.
Quando diz que tenho razão, meu ego inflama.
— Então devo parar. — Sorri. — Você já se acha demais.
— Vamos, vou mostrar o quarto.
— Não precisamos dormir juntos, não é?
Ele franziu o cenho, parando antes de subir no degrau.
— Do que tem medo?
— Não tenho medo, só que… — Lembrar dele sem camisa ou de
toalha me deixa quente. — Já está me cedendo um lado da sua cama, já que
aqui estamos sós, não acho que seja necessário dormirmos juntos.
Ele não pareceu acreditar. Bem, eu também não estava falando toda
a verdade. Durante esse pouco tempo, acabei esquecendo algumas vezes
que não éramos um casal de verdade. Que vê-lo sem camisa é um pecado
capital no qual eu quero me jogar de cabeça.
— Não se preocupe, doce flor, você terá um quarto só para si.
Confesso que fiquei aliviada.
— Certo.
***
Era noite, ele ligou a lareira externa, que fica no meio da varanda,
com sofás de madeira e acolchoados fofos. Eu o olhava pela janela de vidro.
Não sabia que ele podia ficar ainda mais gato. Nem sei por que, mas a
gravidez me acendeu um fogo fora do comum. Por isso não posso ficar no
mesmo quarto que ele, ou ficar o observando por muito tempo. “Qual é,
Beatriz. Nunca pode pensar nessas coisas. Não deve imaginar esse homem
pelado. Ele é o pai do seu filho, mas vocês não transaram. Não vão fazer
isso nunca.”
— Triz! — Meu coração foi à boca, pois não percebi que ele entrou
na casa. — Você está bem?
— Estou ótima. — Virei rápido, tentando disfarçar meu
constrangimento.
— Vamos — Estendeu a mão. — Acendi a lareira, podemos ficar lá
fora.
— Você não parece ser do tipo que gosta de lugares assim.
Recusei a sua mão, pois achava que iria derreter. Passei em sua
frente, indo para a saída. Ele achou estranho. Quando o virei, pois achava
que ele viria comigo, Giovanni estava me olhando cético.
— Acho que não me conhece direito.
— Como vou conhecer? — Finalmente veio até mim. Saímos dali,
indo para os sofás. — Nosso primeiro encontro foi caótico.
— Você me chutou.
— Você esbarrou em mim. — Acusei.
— Não me lembro disso. — Franziu o cenho. — Lembro de você
tropeçar e quase cair. Se não fosse por mim, teria ido ao chão.
— Eu estava nervosa. Quando o médico falou aquelas coisas, achei
que estava doente, não que tinha passado por um processo de fertilização.
— Nunca falamos sobre isso. — Parou. — Na verdade, eu quis
esquecer aquele dia.
— Eu também. — Sentei.
— Quando me ligaram da clínica, lembro de ter estourado no
telefone. — Giovanni sentou-se no oposto de mim. — Fiquei furioso.
Peguei o carro e fui até lá. Quis matar Beatriz por ter feito isso.
— Esse sentimento é mútuo. Graças a ela, o médico confundiu
nossos nomes e colocou em mim o seu bebê.
— Sinceramente, eu até prefiro. — Me surpreendeu. — Você é uma
pessoa incrível. Às vezes brigamos, mas… Se fosse escolher, escolho você
para ser a mãe do meu filho. — Você não pode dizer essas coisas a mim,
seu babaca. Não pode mexer com os sentimentos de uma grávida. — Sei
que só faz um mês que nos conhecemos, mas… Até gosto quando me
provoca.
— Por que está dizendo essas coisas?
— Porque estamos sendo francos e precisamos nos conhecer.
Mordi os lábios, pois isso não era nada bom. Meu coração e corpo
não estavam fortes o bastante para resistir.
— Gosto quando é gentil e me agrada.
— Claro que sim.
— Mas odeio quando saímos e as pessoas me olham como se eu
fosse um fantasma.
— Um fantasma bonito.
Minhas bochechas coraram e o olhei surpresa.
— Por que diz isso?
— Gosto quando fica tímida quando ouve meus elogios.
— Não é só com você, então não se acha.
— Ah, não? — Levantou uma das sobrancelhas.
— Vamos conversar sobre o que exatamente?
— Nossos gostos.
Apesar de mudar de assunto, ele ainda me olhava com algo secreto
no olhar.
— Você é uma pessoa observadora, conhece muito de mim, mas eu
não sei nada sobre seus gostos.
— Gosto de lugares calmos, odeio perguntas bobas, bebo
socialmente, odeio clichês…
— Mas o que você quer para o futuro? — Ele me olhou. — Apesar
de estarmos mais próximos, ainda somos bem diferentes. Você é meu
oposto. Tem tudo o que quer. Adora estar no controle. Já eu, odeio receber
ordens.
— Interessante você dizer isso, pois é exatamente o que sua mãe faz
com você.
— Não estamos aqui para falar sobre a minha mãe.
— Quero saber se ela, mesmo agora estando afastada, pode
interferir na nossa relação. Na criação do nosso filho. — Apesar dela ser
difícil, não gosto quando o tema é criticar minha família. — Olha, ela é
difícil. Não aceitou nem nossa suposta relação. Nem quero brigar
constantemente. Sei que é sua mãe e será avó do nosso bebê, contudo, tenho
princípios diferentes dos dela. Veja o que ela fez com você.
— O que ela fez comigo? — Meu sangue ferveu.
— Sim, Triz. — Confirmou. Sua voz se alterava a cada palavra. —
Me diga, quantas vezes ela te impediu de fazer o que desejava? — Minha
respiração começou a se elevar. — Vai gostar quando ele desejar criá-lo da
mesma forma que criou você.
— Isso não vai acontecer. O filho é meu, não dela.
— Então, caso eu não deseje criá-lo com os parâmetros da igreja,
você não será contra?
— Por que faria isso?
Acabei me levantando e indo até ele, que também se levantou.
— É só um exemplo.
— Pensou em algo bastante pessoal, para usar como exemplo.
— Certo, estudos. Quer que ele ou ela só frequente escolas cristãs,
ou pode ser como toda criança?
— Óbvio que não forçarei nada disso. Sei como é ruim.
— Ótimo.
— Giovanni — Cutuquei seu peito. — Não sou como minha mãe. E
acho que você odeia ela. Me pergunto por quê.
— Não odeio sua mãe. — Deu um passo para trás. — Só que ela
parece ser bem difícil. Tenho medo dela… Não sei… Afastar vocês de mim.
Ele pareceu sincero. Contudo, ainda me preocupo com essas
suspeitas em relação a ela. Apesar dos pesares, é minha mãe.
— Isso não vai acontecer. Não sou tão cética ou manipulável. Nós
dois temos muito o que conversar, mas sobre isso, não deve se preocupar.
Ele se calou, não moveu um músculo.
18
Minha cabeça está atordoada. As coisas estão se complicando e
escalonando muito rápido. Quando ele me pediu para ficar, não quis ir
contra a minha mãe. Giovanni estava certo em dizer que sou uma pessoa
que depende da aprovação dela, e isso me chateia. Foi difícil tomar aquela
decisão. Nossa relação ficou abalada e mal nos falamos agora. Entendo o
seu receio e o empenho em tornar tudo em algo especial.
Não quero ser a pessoa que destrói o sonho de um homem, ainda
mais sabendo que ele nunca mais, pelo menos não como imaginava, teria
um filho. Sei que Giovanni quer viver essa paternidade e estar ao lado do
filho em cada passo.
Contudo, temo que esse atrito com minha mãe vá me colocar no
meio de uma situação complicada. Amo minha mãe, apesar de tudo. Ela
será a avó do meu filho e sei o quanto ela é dura. Giovanni não escolheu a
mim para ser a mãe do seu filho. Essa é a única forma de ser pai, e admito
que estou gostando de conhecer esse homem dedicado.
Tudo isso me deixa nervosa. Estou com calor e os pés doendo de
tanto que caminho no quarto, pensando nessa situação.
Já é noite. Estou no quarto ao lado do dele. Há uma janela de vidro,
me possibilitando ver o lado de fora. Estou vestida com uma camisola de
seda, com renda, e por cima, um tecido também de seda, que cobre o meu
corpo, para que eu não fique tão exposta.
Ao chegar perto da janela e olhar para baixo, vejo Giovanni,
também intrigado. Acredito que ele esteja tomando alguma bebida. O
observando dali, sinto o desejo de ir até ele e foi isso que fiz, saindo do
quarto.
Meus pés descalços na madeira escura e fria me dão um frio na
barriga, o que é estranho.
Ultimamente, sempre que vou até Giovanni e encaro seus olhos,
essa sensação estranha me toma, me deixando confusa.
Ao descer as escadas, um vento frio me toma, fazendo com que eu
me cubra. A cada passo que dou, meu coração acelera.
Nossa conversa foi decisiva. Eu tinha que deixar claro o que eu
pensava e sentia. É natural que não saibamos o que fazer ou como agir,
ainda mais sendo pessoas que mal se conheciam.
— Giovanni. — O chamei.
Ele virou, assustado, segurando uma pequena garrafa de cerveja.
— Algum problema?
Deus, ele está sem camisa.
Até me desconcentro com ele, lindo peitoral malhado, despido, me
chamando.
Isso é uma malvadeza. Logo agora que estou me sentindo toda
quente, excitada e com vontade de perder a cabeça e logo ir para cama com
esse babaca, que me provocou no passado, falou que não estava aberto para
nenhum relacionamento, não que eu queira, mas… nada de transar com ele
e depois ficar com clima estranho.
No fim, não será como se vocês terminassem e cada um fosse para
um lado. O caso aqui era outro. Estaríamos unidos para sempre, então é
melhor prevenir.
Acho que fiquei observando depois, pois quando voltei a enxergar
seu rosto ele estava rindo de mim.
— Você não tem uma camisa. — Cruzei os braços, chateada. Quem
sabe assim desfaço o quão envergonhada estou.
— Tenho várias, mas gosto de ficar assim.
Obviamente ele estava gostando da situação. Giovanni ama me
provocar e me deixar abalada, sem palavras.
— Está frio, e... acho melhor vestir algo.
— Está preocupada comigo? — Se aproximou, se exibindo.
Respirei fundo e evitei encará-lo.
— Não, só penso que não precisa ficar resfriado, pois vivemos
juntos e eu odeio ficar doente ou cuidar de um doente.
Ele não se convenceu. Na verdade, aumentando o meu desespero,
ele agiu amigável, pondo seus braços em meus ombros e me puxando para
mais perto.
— Admita. — Falou ao meu ouvido. Olhei para o céu, buscando
uma ajuda divina. — Você se sente atraída.
— Porque estávamos falando sobre isso? — Me soltei dele e me
afastei. Acredito que sair do quarto foi um erro.
— É apenas uma conversa.
— Uma conversa com esse teor e tom.
— Qual foi, você está tímida?
— Acho que bebeu demais. — Cerrei os olhos.
— Dei dois goles, acredite, não fez nem cócegas.
— Então é idiota assim sem o álcool?
— Pode me xingar. — Disse rindo. Eu quero um buraco para me
jogar dentro. — Sei que é um sintoma.
— Um sintoma? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Quando está nervosa ou quer esconder algo, você se abana ou
me xinga, esperando que eu siga seu tom e briguemos, aí você tem uma
razão para sair correndo.
Fiz uma expressão de choque, pois o idiota estava certo.
— Isso não é verdade.
— Ok. — Revirou os olhos. — Mas voltando ao assunto…
— Nada de assunto, vou para o quarto.
Tentei ir e fui impedida. Giovanni pegou em meu braço. Ficamos a
poucos centímetros um do outro, encarando-nos olho a olho. Meu coração
ficou na boca. Eu quis beijá-lo. O calor era só a ponta do iceberg, eu estou
excitada. Aposto que é o bebê. Ele está mexendo com a minha cabeça e
hormônios.
— Pode fugir. — Encarei seus lábios, correndo o risco de perder a
razão. Aquela loção pós-barba me deixou tonta. — Mas se quiser apagar
esse fogo que tem dentro de você, estou na porta ao lado.
— Você gosta de me provocar, não é?
— Com certeza.
— Saiba que se brigarmos mesmo, eu sou uma pessoa difícil.
Imagina só como será se formos mais além e estragarmos tudo.
— É só sexo.
Fiquei pasma. Só sexo? Não acho que eu possa pensar só em sexo
quando estou com alguém. Tem que haver um sentimento.
— Não, obrigada. — O fiz me soltar. Foi difícil, pois estava
hipnotizada com aqueles olhos azuis me puxando para mais perto. — Farei
tudo certo dessa vez. Você e eu somos amigos. Vou deixar essa parte para
um futuro namorado e marido.
— Namorado? — Giovanni me olhou estranho. Tinha algo nos seus
olhos que eu não soube dizer o que era. — Tem alguém em vista?
Franzi o cenho, achando estranha a pergunta.
— Talvez. — Não era verdade, mas queria saber o que ele iria falar.
— Hum… você não disse isso antes. Ele sabe que está grávida?
Estranhamente, acho que ele está com ciúmes. Desviou sua atenção
e ficou sério.
— Sabe, eu contei…
— Contou tudo? — Me questionou com a voz grossa, o que me
deixou assustada. — Tudo? Sobre a clínica e…
Não sei o porquê, mas gostei disso. Ele estava levando a sério.
Ficou chateado. Achei estranho, contudo, estava gostando.
— Somos próximos há um tempo. — Deus, as mentiras não
paravam. Pelo menos dessa vez não feria ninguém. Era só uma história
bolada pela minha cabeça. Já que ele me provoca ficando sem camisa, não
faz mal eu o provocar com uma história falsa. — Confio nele e ele me
garantiu que nunca diria a ninguém.
— Isso é perigoso. Um erro. Não quero que volte a vê-lo.
Arregalei os olhos. Não foi um conselho ou pedido, foi uma ordem.
— Você não quer? — Cruzei os braços. — Com que direito diz
isso?
— Número um, o bebê dentro de você também é meu. Número
dois, estamos fingindo ser noivos, se alguém descobrir, vai saber que tudo é
uma farsa.
— Hum… Algo me dizia que isso era uma desculpa. Quero saber
até onde ele vai. — Não vai acontecer. Ele disse que vai esperar tudo
acabar. Por enquanto somos apenas amigos, mas se…
— Beatriz, ouça. — Ele me interrompeu, parecendo nervoso. —
Vamos fazer um acordo.
— Acordo?
— Sim. — Confirmou. — Nós dois não vamos sair com ninguém,
nem mesmo escondido. Isso é perigoso, não quero ter mais dor de cabeça.
Você está grávida, não gosto de pensar que outro homem está tocando em
você.
Há mesmo?
— Giovanni, você sabe que não somos nada além de amigos que
compartilham um filho?
— Isso é importante.
— Por que está agindo tão estranho? Não quer que eu namore?
— Não, de forma alguma. — Fiquei o encarando sem saber o que
pensar. Isso é um absurdo. — Apenas vamos esperar. Me sinto mais
confiante assim.
Será que isso significa alguma coisa? Deve ser coisa da minha
cabeça. Obviamente que é apenas o homem controlador falando.
Ele se acha dono de mim?
— Se eu quiser sair com alguém, mesmo que escondido, você não
vai me impedir. Então, boa noite.
Dei as costas e saí dali, tentando entender o que acabou de
acontecer.
19
Entrei na mansão, segurando um cupcake que comprei na cafeteria.
Voltar ao trabalho era uma forma de me distrair.
Minha barriga não parava de crescer e a fome não passava.
Acredito que seja o DNA da minha família. Somos muito comilões.
Era estranho estar aqui. Essa não era a minha casa, eu estava
longe da minha mãe, mas confesso que sem ela por perto, me sinto mais
livre.
Posso comer o que desejo, sair quando quero, sem dar explicações
a ninguém.
Quer dizer, a quase ninguém.
Giovanni ama me rastrear. Parece que tem medo que eu fuja com
nosso filho.
A casa estava silenciosa. Não tinha ninguém ali. Contudo, roupas
estavam espalhadas pelo chão, indo em direção às escadas.
Eu nunca vi essa casa desse jeito, até parece que passou um
furacão.
Achando estranho, subi os degraus com bastante cuidado. Desde
que a barriga começou a crescer, tenho tido medos como: cair da escada,
bater o carro, torcer o pé. Estou ficando paranoica. É o que o Giovanni
idiota diz. Como se ele também não tivesse.
A cada passo que eu dava, mais estranho ficava. Roupas
masculinas e femininas espalhadas pelos cantos. Um sutiã, que não era
meu, estava pendurado no corrimão.
Peguei a peça com bastante cuidado, prestando atenção na renda.
Ruídos começaram a vir de um dos quartos.
Na verdade, são gemidos. Arregalei os olhos, dando passos até a
porta entreaberta. Era seu quarto. Meu coração ficou na mão. Assim que a
abri, vi o que eu jamais pensei em ver.
Giovanni estava transando com duas loiras peitudas, que mais
pareciam atrizes pornôs. Arregalei os olhos, chocada.
— GIOVANNI! — Berrei. Eles não pararam o que estavam fazendo,
mas ele me notou.
— Triz, achei que estava trabalhando.
Assistir aquilo foi como estar no inferno. Desviei meus olhos, mas
não consegui evitar.
— O que está fazendo? — Entrei lá, batendo nele com a bolsa que
ainda estava em meu braço. — Para com isso agora!
— Espera, o que está fazendo? — Ele arrancou a minha bolsa.
— Giovanni! — Fiquei furiosa. Aquilo era uma traição tremenda.
Acordei toda suada, desesperada. Olhando para os lados, vendo o
quarto escuro. A cama vazia, ao meu lado, me fez entrar em pânico.
Levantei dela, procurando a luz do abajur. Ao acender, percebi que
ainda estava na casa de campo. Comecei a me abanar, sem saber o que
fazer. Afastei as mechas do meu cabelo, tentando entender o que estava
acontecendo.
— Droga, por que tive esse sonho maluco? — Essa deve ser a
minha punição por mentir para ele. Obviamente que o carma vinha de
alguma forma. — Por que me preocupo? Se ele quiser ficar com outras
mulheres… — Notei que esse era o meu problema. Por isso sonhei. Pensar
em Giovanni com outra pessoa me deixa furiosa.
Saí do quarto, sem pensar duas vezes, e abri a porta ao lado. O
quarto estava escuro. Eu sabia que ele estava ali. Dei passos silenciosos. O
observei dormindo, depois, passei para o outro lado e mesmo que eu
soubesse que não tinha ninguém ali, tive que afastar as cobertas, por
curiosidade.
— Obviamente que não tem ninguém. — Falei a mim mesma. —
Mas, por que isso me incomoda? — Não faz sentido. — O homem é livre,
tem o direito de sair com quem quiser. Assim como eu tenho. — É, pensar
na realidade era mais fácil do que aceitá-la. — Mas eu não quero que saia.
Com ninguém. Nenhuma mulher. Se eu te pegar com alguma vadia, vai se
ver comigo. Seu babaca. — Fiquei ali, parada. O observando dormir.
Apesar de estar escuro, podia ouvir sua respiração. Pensei em voltar para o
meu quarto, contudo, era mais seguro ficar ali, com ele. Então, afastei os
lençóis e me deitei ao seu lado. Esperava que ele não acordasse, ou faria
perguntas que não quero responder. — Isso é mesmo uma merda. —
Sussurrei. — Como posso me sentir assim?
Decidi calar a minha boca e deixar meus questionamentos para
outra hora.
Ao me deitar e cobrir meu corpo, senti seus braços me acolherem.
Eu não sabia se ele estava acordado. Não disse uma palavra. Foi estranho;
contudo, eu gostei. Encaixada perfeitamente ali, senti sua respiração no meu
pescoço, fazendo com que meu coração acelerasse. Fechei os olhos,
tentando afastar aquela sensação estranha. No entanto, meu coração
amoleceu, acendeu um sentimento que eu não sabia como negar.
20
Giovanni
Acordei com um doce aroma em meu nariz. A cama estava quente e
confortável. Apertei um corpo quente e macio e, então, notei que algo
estava errado.
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foram as mechas onduladas
do cabelo escuro de Beatriz. Ela estava ali, abraçada comigo, como se
fôssemos um casal de namorados. Tentei lembrar de quando isso havia
acontecido, pois não notei, nem a vi entrando e deitando ao meu lado.
Uma parte de mim riu e achei engraçado. Ontem, quando
conversamos, ela pareceu chateada, não levou a sério a conversa que
tivemos, afinal, era apenas provocação.
A outra parte ficou assustada, pois estou gostando. Na verdade, não
é só dormir com ela, é conviver com ela nesses últimos dias. Beatriz me
importuna, me deixa furioso, como se tivesse interesse romântico, coisa que
não vou permitir que aconteça. Essa mulher mudou tudo em pouco tempo.
Ela me dará um filho, mas não deveria ser assim. Eu não tenho que me
importar tanto com alguém que não vai passar de uma amizade prolongada.
Tinha amigos e amigas, mas não sentia nada além do normal por
eles. Já Beatriz. Bem… Penso nela o tempo todo. Com quem está. Como
está.
Culpo essa preocupação ao bebê. Afinal, ela o carrega na barriga e
devo proteger meu filho, contudo, quando coisas como essa, dela na minha
cama, acontece, meu coração idiota aquece e diz para trazê-la mais para
perto.
Balancei a cabeça para voltar à realidade. Tentei me soltar, pois
meu braço estava sobre ela. Com cuidado, o tirei, saindo de fininho.
Quando já estava em pé, olhei para ela e, mais uma vez, perdi-me nos
pensamentos.
Essa mulher realmente me enlouquece. Começa me irritando,
chutando e dizendo o quanto sou um idiota, depois vem e me prende a ela
em toda a sua loucura.
Que história é essa de namorado secreto? Por que não me disse
antes?
Achei que fôssemos parceiros. Prometemos sempre contar tudo um
para o outro. Claro que sua vida pessoal não deveria ser da minha conta,
mas essa criança é meu filho e tudo o que o afeta, me diz respeito.
Não posso deixar um estranho perto da mãe dele. E se não for
confiável? E se o machucar?
Não! Nenhum idiota vai chegar perto de Beatriz. Nem que eu tenha
que cometer algumas loucuras. Sim! Vou afastar esse desconhecido.
Qualquer um que se aproxime.
Mas é pelo bebê, não é?
— Obviamente. — Respondi a mim mesmo com o cenho franzido.
— Afinal, estou mantendo distância de relacionamentos. Nada de amor.
Beatriz é insuportável. Ama me provocar. Brigamos todas às vezes que
conversamos. Não vou esquecer disso.
Mas até que a danada é bonita e sensual.
Acabei prestando muita atenção nela, dormindo, na cama onde
passamos a noite.
Devo admitir que isso é excitante. Tem uma mulher na minha cama
e ela é muito gostosa. Aqueles seios são um prato muito sedutor. E a bunda.
Já tive ereções pensando nisso. Fodendo ela, batendo em sua bela bunda,
deixando sua pele avermelhada, enquanto ela gemia como uma louca.
Para! Você vai ficar de pau duro.
Deixei isso de lado para me concentrar na realidade. Sim, me sinto
atraído por ela. Não posso negar, mas nada irá acontecer entre nós dois, a
não ser ter um filho.
Bem… e em algum momento ela quiser sexo… Não! Fique longe
desse corpo sedutor. Ele vem com uma personalidade difícil. Você ouviu o
que ela disse. Se algo der errado entre nós, arriscará a convivência com
nosso filho. Vamos brigar o tempo todo.
Contudo, se pensa que vou esquecer disso, está muito enganado.
Uma das melhores coisas do meu dia é passar nessa sua cara linda o quanto
você é fraca. Dormir na minha cama? Isso vai ser divertido.
21
Beatriz
Me espreguicei, tentando acordar. O colchão macio abraçava meu
corpo, deixando-me relaxada. Então, lembrei da noite passada. Assustada,
sentei na cama, olhando para o lado e notando que estava sozinha.
O lado estava bagunçado, mas sem pistas de Giovanni. Olhei para
os lados, tentando achar alguma coisa dele, contudo, eu estava só.
Por um lado, isso é bom, mas por outro, sabia que ele me
questionaria. É claro que ele não deixaria isso passar, ainda mais depois da
conversa de ontem.
Joguei meu corpo para trás, deitando novamente, e sem pensar,
peguei seu travesseiro. Aquele perfume era ótimo.
— Beatriz, você está perdida. — Disse a mim mesma, lamentando.
— Pare de fazer isso. Ele é um idiota, o pai do seu filho, que nem se
preocupou em saber se você estava bem. Bem... na noite passada ele fez
isso. — Lembrar da noite passada me deixou perdida e confusa. — Foi
bom. Nunca me senti tão confortável. — Um sorriso idiota nasceu em meu
rosto, que logo tratei de tirar. — Não! Lembre-se do babaca. Lembre-se do
homem arrogante e dominador que quer te controlar.
Levantei da cama. Olhei para a cena e me culpei. É claro que
Giovanni vai me importunar o dia todo.
Esse pesadelo idiota. Quem colocou aquilo na minha cabeça?
E, por que me importo?
Esse homem deve ter transado com milhares de mulheres. Ele tem
essa pinta. Um cafajeste.
Claro, tem a parte triste da sua vida. Aquilo eu não devo esquecer.
O coitado passou por um momento ruim. Perdeu os amigos. Falsos amigos.
E a vadia que o traiu. Odeio muito essa mulher. Foi ela quem me enfiou
nessa confusão. Se não fosse por seu ato maluco, eu não estaria aqui.
Contudo, depois de ouvir o coração do meu filho, de olhar nos
olhos de Giovanni e ver aquele brilho, não me imagino sem os dois. Vou ter
um bebê. Isso é louco. Sempre me imaginei em uma casa de três quartos,
dois andares e um jardim onde meus filhos iriam brincar. Dois ou três
filhos, no mínimo. E um cachorro.
É, mas agora esse sonho está um pouco longe da minha realidade.
Balancei a cabeça para sair daquele pensamento. Eu tinha que sair
daquele quarto. Vestir uma roupa e descer. Deus, ele vai falar. Aposto que
vai abrir aquele sorriso safado que me faz desejar chutar ele.
Afastando esse sentimento, saí dali, indo para o quarto onde eu
deveria estar. Fui ao banheiro, fiz minha higiene, penteei o cabelo e escolhi
uma roupa.
Desci as escadas de madeira, respirei fundo, sentindo o aroma do
café que vinha da cozinha. Essa era outra qualidade que eu não fazia ideia
de que ele tinha. Cozinhar. Confesso que há partes dele que gosto.
No final, demorei para andar até lá. Estava insegura e tentando me
preparar para ouvir milhares de provocações.
Passei e o vi. Estava de costas, mas com certeza sentiu minha
presença.
— Bom dia. — Agi como se nada tivesse acontecido. Quanto mais
natural for, mais ele me deixa em paz.
— Bom dia. — Virou-se, já com um largo sorriso. — Teve uma boa
noite.
É claro que ele vai tocar no assunto.
— Dentro do possível.
— Dentro do possível? — Levantou uma das sobrancelhas. Ele pôs
em minha frente um copo com suco, no qual eu agradeci. — Então foi bom
ou ruim?
— Está preocupado com meu sono? — Por que não muda de
assunto?
— Muito. — Sentou-se na cadeira à minha frente. A mesa estava
linda, com frutas, pão, queijo e muitas outras coisas. — Afinal, tudo o que
acontece com você é importante e devo ficar ciente.
— Enfim, eu estou bem, obrigada por se preocupar. — Peguei um
iogurte. — O que vamos fazer hoje? Não acha melhor voltarmos?
Ele fez um silêncio, o que me fez encará-lo. Giovanni encostou-se à
cadeira, com o cenho franzido e os olhos semicerrados. Senti-me nervosa,
quis me abanar, mas se fizesse, ele saberia que estava me deixando abalada.
— Vamos por partes.
— Por partes?
— Eu fiquei surpreso com sua visita durante a noite.
— Acho melhor falarmos sobre outro assunto.
— Não, acho que vou ficar nesse.
— O que passou, passou.
O sorriso safado no canto da sua boca. Isso me deixou com raiva,
mas me controlei.
— Ontem, você… disse que não iria para a minha cama.
— Giovanni, não começa.
— Vou terminar, querida.
— Faz de tudo para me provocar, não é? — Cerrei os olhos.
— Você adora me dizer o quanto sou idiota, que nunca vai precisar
de mim, então, durante a noite, onde estou vulnerável, você entra no meu
quarto, sem que eu perceba, e faz aquilo que disse que não faria.
Revirei os olhos.
— Olha, eu tive um pesadelo, fiquei… um pouco receosa, não quis
dormir sozinha, mas não se preocupe, nunca mais vou até a sua cama e...
— Não diga nunca, eu gostei.
— Está reclamando. — Apontei.
— Estou curioso, não significa que estou reclamando.
— O que quer de mim?
Depois da pergunta, curiosamente, ele me olhou por inteira,
causando uma sensação de arrepio no meu corpo.
— Com o que sonhou?
Engoli em seco.
— Um filme antigo. Casa do lado, ou casa abandonada, algo assim.
— Quer dizer que você acha que essa casa é assombrada?
Mentiras. Desde que conheci esse homem, minto tão bem que até
eu acredito.
— O que vamos fazer aqui? Não acha que passamos muito tempo...
— Quer fugir de mim ou da casa?
— Os dois, vale?
— Beatriz, eu te trouxe aqui para podermos conversar, nos
conhecer, mas você está se fazendo de difícil.
— Você parece que me conhece muito bem.
— Conheço sua parte irritante.
Ele tem razão, eu sou difícil.
— Certo, mas… o que faremos para nos conhecermos mais? —
Franzi o cenho. — Já convivemos. Isso já não é muita coisa.
— Quer que sejamos francos. — Pegou a xícara de café. —
Devemos falar sobre o que faremos quando o bebê nascer.
— Hum… acho que eu ainda tenho que arrumar um lugar para
ficar.
— Você tem a minha casa. — Fez parecer minha fala um absurdo.
— Não vamos ficar na sua casa para sempre. — Dei de ombros.
— Por que não?
— Porque é a sua casa.
— Pode ser a de vocês, afinal, não quero ficar longe do meu filho.
— Vamos voltar a essa briga?
— Não, se você cooperar.
— Giovanni, não podemos morar com vocês, não vai dar certo. —
Ele não gostou do que ouviu. — Veja, apesar de nos esforçarmos, não
damos certo juntos. Sempre brigamos, algo acontece e estraga tudo. Além
disso, sua mãe me odeia, minha mãe odeia toda essa situação. Concordei
em ficar com você, mas acha que vamos fazer isso até nosso filho ter 18
anos?
Notei o quanto isso o estressou. Por isso nunca vamos dar certo. Ele
é teimoso, assim como eu. E sempre quer fazer tudo sozinho, tomar a
iniciativa e da forma que mais o agrada.
— Certo, então será minha vizinha.
— O quê? — Dei uma risada, achando que era brincadeira. — Acha
mesmo que posso ser sua vizinha? Meu salário mal paga minhas compras.
— Já falei que lhe darei tudo, incluindo a casa.
— Giovanni…
— Estou tentando resolver nossos problemas. — Ele me
interrompeu, levantando a mão. — Você não quer ficar em minha casa, ok.
Eu quero ficar perto do meu filho, então, o melhor a se fazer é morarmos
próximos, assim não fico longe dele e você não mora comigo.
Somos de realidades diferentes. Ele não sabe o quanto isso me
incomoda.
— Sinceramente, não gosto dessa ideia.
— Beatriz! — O homem disse meu nome da mesma forma como
minha mãe faz, quando quer me dar uma bronca.
— Veja, eu sou bem humilde, você tem muito dinheiro. Sempre
estamos em conflito.
— Por que você é teimosa?
— E você é controlador.
— Por favor, eu não quero brigar. — Pegou em minha mão, que
estava sobre a mesa. Giovanni me encarava nos olhos, me forçando a fazer
o mesmo. Essa era a prova viva de que sempre iríamos brigar. Em qualquer
situação. — Sempre que começamos a discordar, brigamos. Não quero que
isso volte a acontecer. Você tem razão, sempre brigamos, mas um de nós
tem que abrir mão da razão. Não quero viver assim. Eu gosto de você. Me
diverte e faz esquecer dos problemas. A única coisa que peço é que me
entenda. Prometo que farei o mesmo. Essa será a minha primeira promessa.
— Promessa?
— Sim, sempre que formos entrar em conflito, eu abro mão da
razão. — Ele ainda estava grudado na minha mão. Isso não me fazia bem.
Meu coração acelerou, comecei a encará-la, unidas, o que me fez sentir um
formigamento. — Só estamos conversando.
— Certo. — Tirei minha mão da mesa. — Posso concordar com a
casa. Vamos ver como será.
— Ótimo, então, vamos terminar o café e depois conversamos.
22
Após aquela conversa, decidi parar de lutar contra as ideias mirabolantes de
Giovanni. Ele é um homem muito determinado e teimoso, nada do que digo
o convence do contrário. Decidi pensar: se ele é o pai do meu filho e quer
me dar tudo, mesmo que eu não o peça, não vou lutar contra, pois minha
moralidade não é nada perto da teimosia dele.
Isso iria custar uma boa parte da minha paciência e neurônios.
Agora tenho que focar no futuro e no meu filho. Ele irá precisar de uma
mãe que não esteja maluca por conta do seu pai.
Agora, estamos em uma enorme lancha particular, onde Giovanni
nos levava para algum lugar que nem perguntei. Afinal, ele não iria se
importar se eu dissesse sim ou não. Porém, até que estava sendo relaxante e
libertador.
O vento levava meus cabelos e o sol me abraçava. O céu azul me
encantava, mas confesso que a melhor vista desse lugar é onde ele estava:
pilotando o barco. O homem podia se esforçar, contudo, não conseguiria ser
menos do que um gato.
Com uma bermuda branca e uma blusa de botões aberta, mostrando
aquele monumento que era seu corpo, seus cabelos voando com o vento e
os óculos escuros, estava me deixando excitada. Eu sei que tenho que parar
com isso. O vê-lo como um simples cara que me saciaria sexualmente é um
erro, contudo, não posso evitar.
Acredito que o babaca faz isso de propósito, só para ver até onde eu
iria.
— Gosto quando me olha assim, mas você mesma disse que nunca
me desejaria, então pare de fazer isso.
Suas palavras me trouxeram de volta à realidade, onde fiquei mais
vermelha que um tomate. Eu sabia que, assim que ele percebesse, cairia em
cima de mim com seu sarcasmo e perversidade.
— Eu pararia se fechasse logo essa blusa.
Ele riu, se achando. Obviamente. Um homem que tem a beleza dele
não temeria ou teria vergonha de mostrar o que tem. Aposto que todas que o
querem sempre acabam em sua cama.
— Não vai rolar, mas se continuar me olhando assim, vou esquecer
do que prometemos e vou cair em cima de você.
Cair em cima de mim?
Fiquei nervosa, senti aquele desejo idiota de me abanar, pois o
calor, junto com o sol, estava me transformando em uma fornalha.
— Vamos mudar de assunto. — Olhei para o mar azul, que me
deixou de boca aberta. — Você está me levando para alguma ilha no meio
do mar? — O ouvi rir da minha pergunta. — Saiba que gosto do oceano e
tudo mais, só que tenho aquele medo irracional de me perder e ficarmos
perdidos, igual nos filmes.
— Não se preocupe, princesa, não vai se perder no oceano.
— Espero que sim, pois se acontecer, vou matar você e me
alimentar de você.
— Ah, é?
Virei-me novamente para encará-lo.
— Estou grávida, sou a prioridade, e como você é o pai, seu dever é
nos proteger e fornecer um modo de sobrevivência.
— É justo. — Eu queria ver seus olhos, porém, não conseguia, por
conta do óculos. — Mas por que pularia para o canibalismo se tem um mar
inteiro com peixes?
— Não sou boa pescadora, já você, eu teria tanto ódio que acabaria
te matando de qualquer maneira.
Aos poucos, ele foi parando, me forçando a olhar em volta. Não
havia nada. A terra firme estava a milhas dali, me deixando insegura e com
medo.
— Não precisa se preocupar. — Ele saiu e veio até onde eu estava,
sentada no sofá confortável da lancha. — Não traria você aqui se eu não
soubesse que voltaríamos, além disso, o barco é rastreado, se algo
acontecer, vamos ser encontrados.
— Meu filho, você nunca assistiu aos filmes em que, do nada, uma
tempestade chega e nos carrega para longe? — Notei que ele franziu o
cenho, abrindo um sorriso. — Na melhor das situações, somos levados para
uma ilha em algum lugar. Na pior das situações, caímos no mar
tempestuoso e algum animal mitológico nos come vivo. E se
sobrevivermos, eu como você.
— Ainda bem que estamos no mundo real e nada disso vai
acontecer. — Ele estendeu a mão para mim.
— Espero que sim, pois não estou de brincadeira quando digo que
vou matar você.
— Acredite, eu sei.
Peguei em sua mão e ele me levou para a parte de trás da lancha,
onde podíamos sentar, sentindo o sol e o mar em nossos pés. A primeira
vista, pensei que algum animal marítimo nos comeria, mas depois foi até
relaxante. Podia apostar que Giovanni me achava uma chata. Eu também
me sinto uma.
Como prometi a mim mesma ser mais aberta e compreensiva,
pudemos conversar sobre muitas coisas. Acredito que esse foi seu objetivo.
Me levar para um lugar isolado onde eu não pudesse fugir e falar tudo o que
ele quisesse saber.
— Você não frequentou um colégio comum em nenhum momento?
— Ele levantou uma das sobrancelhas. Giovanni abandonou os óculos, me
permitindo ver para onde ele estava olhando.
— Minha mãe dizia que me juntar com os meninos não seria o
certo, mas por um tempo, eu estudei em colégios comuns, foi aí que eu
pude fazer outras coisas.
— Outras coisas? — Dei um sorriso safado.
— Não sou santa, e sim, quando ganhei um pouco de liberdade,
procurei ver o que mais estava perdendo.
— Acredito que estava sedenta.
— Eu cometi erros. — Dei de leve em seu ombro, o fazendo rir. —
Por um lado, foi bom, pois aí tive certeza de que nunca seguiria a vida
religiosa.
— Imagino como seria se você tivesse se tornado uma freira.
— Há é? — Cruzei os braços.
— Você tocaria fogo na irmandade.
— Seu babaca. — Apesar de não aprovar seu comentário, eu ri.
Não tinha como ficar chateada. Seus comentários sarcásticos e
engraçadinhos me faziam bem. — Isso não durou muito. Minhas
experiências não deram em nada. Depois, foquei em estudar e entrar na
faculdade. Então, me tornei professora. Agora, aqui estou eu, com você, um
quase desconhecido, e grávida.
— Não fala isso. — Revirei os olhos. — Assim fico com pena de
você.
— Não quero a sua pena.
— Como não? — Esse idiota nunca vai me levar a sério. — As
únicas vezes que realmente ganhou liberdade, não as aproveitou bem. Não
gostou nenhum pouco do sexo?
— Está falando sério que vamos conversar sobre isso?
— Sim, estou interessado.
— Não vou falar sobre isso.
— Só prova que estou certo.
— Isso não prova nada. — Cruzei os braços, chateada. Era terrível
parecer a boba. — Mas não precisa se preocupar, afinal, não ficarei grávida
para sempre.
— Hum…
E novamente me veio à mente aquela história mirabolante.
— Conheci um cara legal que realmente pode dar certo. — Me
escorei nos braços, apoiados no chão do barco. Meus pés relaxavam na
água enquanto eu olhava para o horizonte. O silêncio de Giovanni me
agradou. Só assim para ele calar a boca. — Você vai gostar dele. É um
homem muito correto, com boas intenções. Confesso que nosso primeiro
encontro foi bem diferente, mas depois…
— Quando exatamente vocês se encontraram? — Evitei encará-lo,
pois iria rir e poderia estragar tudo. — Antes ou depois que nós nos
conhecemos?
— Isso importa?
— Muito.
— Não acho que isso seja da sua conta.
— Primeiro, foi você quem começou a falar sobre ele. — O tom
começou a mudar. Fiquei curiosa para saber o porquê ele odiava tanto essa
história. Minhas suspeitas são que seu lado controlador não gosta da ideia
de não poder opinar na minha vida particular. — Segundo, todas as pessoas
que entrarem na sua vida são meio que da minha conta.
— Há é? — Levantei a sobrancelha. Quero ver até onde ele vai. —
Então está bem. — Dei de ombros. — Tomás é um homem ótimo, educado,
tem um trabalho humilde, comparado a você.
— Hum…
O babaca estava mesmo prestando atenção.
— Entendeu bem a situação e... foi um fofo. Disse estar disposto a
ficar comigo, mesmo estando nessa confusão. Ele sempre quis ser pai…
— Esse bebê é meu. — Interrompeu, seco. — Nada de Tomás, nada
de outros homens em sua vida.
— O quê? — Fiquei chateada. — Acha que vai me prender?
— Não quero prender você. — Deu de ombros. — Só não quero
que outro homem seja pai do meu filho.
— Qualquer pessoa com quem eu me relacionar, automaticamente,
será padastro do nosso filho. — Parece que isso só veio à tona agora, pois
Giovanni me olhou com tanto ódio que podia me afogar nesse mar. — Você
não fará o mesmo que minha mãe.
— Está me comparando a ela? — Se ofendeu e isso foi outro ponto
que não gostei.
— Sim, uma pessoa que só pensa em si, que me prende e não me
deixa ter a vida que tanto quero.
Levantei, com raiva, e ele me seguiu. Ficamos frente a frente. Dessa
vez, eu estava vermelha e era de raiva.
— Não estou prendendo você.
— Então terá que aceitar que vou namorar, terei as experiências que
nunca tive, vou noivar e casar. A única coisa que eu e você teremos em
comum é essa criança.
Eu quis ir embora, mas, infelizmente, estávamos presos nesse lugar,
rodeados por água e sem terra à vista.
Fui surpreendida por ele, que me pegou nos braços, sem me dar
chance de reação, e pulou na água.
Eu não sabia o que fazer ou como reagir, estava com medo, me
apeguei a ele, esperando não morrer afogada, apesar de saber nadar.
Quando voltamos à superfície, estávamos abraçados e eu com muita raiva.
— Seu babaca, idiota, o que pensa que está fazendo? — O empurrei
para longe de mim, contudo, Giovanni pegou em meu braço e me segurou.
— Acha que pode dizer essas coisas na minha cara e eu não vou
fazer nada.
— O que fará? Vai me prender na sua torre?
— Não quero que ninguém chegue perto de você.
— Então vai ter que me prender, mesmo.
Tentei me soltar, contudo, seus enormes braços me prenderam ao
seu corpo forte. Por um bom tempo, só pude observar seus belos olhos
claros, cheios de raiva, então o meu cérebro começou a esquecer das
barreiras e o quanto Giovanni era um idiota.
Sem que eu pudesse reagir, ele me beijou. No início, fiquei
surpresa, mas depois o correspondi. Dei passagem para ele continuar, passei
os braços sobre seu pescoço, o beijando, desesperada. Aquilo encheu meu
corpo de desejo, me fazendo esquecer quem ele era e o que fez. Suguei seus
lábios com tanta voracidade que fiquei sem ar.
Ao perceber o meu erro, afastei sua boca da minha.
— O que está fazendo? — Meu rosto queimava de vergonha e
excitação. Como se já não fosse difícil resistir ao seu belo corpo malhado,
agora ele também estava me beijando.
— Não sabe o que é um beijo? — O sorriso pervertido me deixou
ainda mais chateada.
— Não faça mais isso.
— Você gostou.
— Odiei.
— Mentira. — Não consegui parar de encarar sua boca, que sorria
para mim.
Provando que a carne é fraca, novamente me afundei naqueles belos
lábios safados, que me acolheram e puxaram para perto. O desgraçado era
bom. Apertou meu corpo, me fazendo gemer. A essa altura, meu corpo
pegava fogo e tudo o que eu mais queria era tirar a roupa.
— Não! — Tentei impedir que fosse mais longe. — Você tem que
parar com isso.
— Foi você quem me beijou.
— Foi você quem começou.
— E você continuou.
— Quero sair desse lugar.
Giovanni me soltou. Nadei até o barco e subi pelas escadas. Não
conseguia me sentir segura. Meu coração batia tão rápido que tive medo.
Não pude encará-lo depois dali. Estava com vergonha e sentindo
que perderia a noção. Com certeza, esse homem consegue me enlouquecer.
23
O carro voltava para casa, ou melhor, para a casa dele, que era
pequeno para o que eu estava sentindo. Meu coração não parou um
segundo, batendo como se estivesse correndo uma maratona. Ainda podia
sentir seus braços fortes me prendendo, seu corpo quente e acolhedor, e o
pior, seus lábios ardilosos me beijando.
Eu queria de novo. Queria beijar o babaca. Foi tão bom. Isso me
deixou excitada até agora. Deus, não vou conseguir resistir a isso.
Por sorte, estávamos perto do fim. Eu podia fugir e esquecer...
Claro, dormimos no mesmo quarto. Na verdade, acho que nem é
preciso, já que minha mãe não está mais na mansão. Vou pedir para dormir
em outro lugar.
— Vai ficar chateada até quando?
Obviamente, ele iria me provocar mais.
— Quem disse que estou chateada? — Não quis olhá-lo. Era bem
óbvio que eu estava chateada. Com ele. Comigo. Com tudo.
— Está em silêncio, olhando pela janela, desde o píer — olha, ele
presta atenção aos detalhes. — Estou ficando com medo. Você nunca ficou
calada, devo ir ao hospital?
— Olha aqui. — Bati de leve nele. Afinal, eu não era doida.
Imagina esse maluco bater em algum carro conosco aqui dentro. — Foi
você quem começou com isso.
— E você gostou.
— Odiei.
— Vamos deixar de mentir. — Respirei fundo, cruzando os braços e
voltando a prestar atenção no trajeto. — Nós nos beijamos e foi bom. —
Não quis me pronunciar, mas o desgraçado estava certo. Agora quero
provar do veneno outra vez. Isso só deve ser os hormônios. — Não precisa
ficar chateada por conta disso.
— Não estou chateada por isso.
— Então por quê?
— Você!
— Eu?
— Não é óbvio? — Prestando atenção ao caminho, o vi franzir o
cenho. — Sempre me provoca. Me beijou e fica me provocando.
— Sabe por que faço isso?
— Porque é um idiota?
— Porque você é marrenta, teimosa e adora jogar na minha cara
que não gosta de mim, então… me retribui.
— Foi um reflexo.
Ele deu uma gargalhada.
— Você tem bons reflexos. — Fez piada. — Mas falando sério.
— Ah, você consegue ser sério?
— Ok, vamos falar sobre isso.
— Quero esquecer isso.
Estou cansada disso.
— Certo, mas saiba que...
— Não precisa ficar repetindo. Prometi estar aqui e vou estar. — O
interrompi.
Giovanni me encarava, sem dizer uma palavra. Então me soltou, e
saímos dali.
Respirei fundo e coloquei um sorriso em meu rosto, tentando
parecer tranquila.
— Finalmente. — Disse a mãe de Giovanni, parecendo realmente
aliviada. — Pensei que estenderiam a viagem.
— Não. Já estava na hora. — Ele respondeu, passando por mim,
indo para o corredor.
— Giovanni. — Minha mãe o interrompeu. Ele parou, com o cenho
franzido. Eu também achei estranho. Ainda mais com o tom de voz calmo e
o sorriso gentil. — Quero me desculpar. Da última vez eu fui muito grossa.
— Arregalei meus olhos. Isso nunca aconteceu. Minha mãe nunca admitia
que estava errada. — Na verdade, os dias longe da minha filha foram bons
para eu refletir.
— Que bom. — Ele disse. Obviamente, parecia chateado e a culpa
é minha.
— Por isso estou aqui e trouxe meu irmão, Theo. — Apresentou.
A conversa o forçou a voltar. Fui até onde ele estava, pensando no
que estava prestes a acontecer. Algo assim nunca havia acontecido antes.
— Muito prazer.
— O prazer é meu. — Dei um sorriso para meu tio, que sempre foi
como um pai para mim.
— Mãe, como soube que estaríamos de volta hoje? — Perguntei,
curiosa.
— Na verdade, ela está aqui há dois dias.
— Dois dias? — Fiquei novamente surpresa. Logo cutuquei
Giovanni. — Tem alguma coisa errada. — Murmurei, tentando disfarçar.
— Claro, mais algum problema.
— Viemos tratar do casamento.
— O quê? — Disse nervosa.
— Claro, essa situação já está se prolongando demais. Sua barriga
está crescendo e não é bom uma mulher de respeito ter um filho antes do
casamento.
— Sua mãe vive em que ano? — Ele murmurou.
Comecei a me abanar, sentindo um nervosismo crescer.
— Mãe, combinamos que seria depois que o bebê nascesse. —
Falei, dando um sorriso nervoso. — Não precisa apressar.
— Na verdade, eu concordo com a sua mãe. — Meu tio se
pronunciou, se aproximando. — Criei você como se fosse uma das minhas
filhas e não farei diferente. Quero que casem logo.
Giovanni e eu nos encaramos. Estávamos perdidos. Ele se
aproximou um pouco e sussurrou em meu ouvido.
— Acho melhor dizer a seu tio que não haverá mais casamento.
Afastei-me chocada, o encarando com surpresa. Ele simplesmente
saiu dali e foi para o quarto.
— O que aconteceu? — Meu tio perguntou, confuso.
Olhei para eles, sem saber o que dizer. Apenas ri, nervosa.
— Giovanni está cansado. Ele prefere tratar disso amanhã. — Dei
uma desculpa.
— Claro. — Concordaram.
— Desculpe. — O abracei forte, ele beijou meu rosto, depois foi a
vez da minha mãe. — Mas eu também estou cansada. Tenho que tomar um
banho. Amanhã conversamos.
Eu queria saber o porquê ele estava sendo tão radical. Claro que não
chegaríamos a casar, mas isso não significa que precisamos acabar com
tudo agora. Justo agora.
— O que está fazendo?
Entrei no quarto, bati a porta e o observei, de costas, tirando a
camisa. Ele nem se deu ao trabalho de me olhar.
— Esse é o meu quarto, estou cansado e não quero brigar.
Irritada, fui até ele e fiquei em sua frente, mas isso não o impediu
de me ignorar e continuar tirando a roupa.
— Eu também não quero, mas você...
— Cansei. — Me interrompeu. — Cansei de brigar. De me explicar
e tentar. Você nunca vai gostar de mim. Sempre irá arranjar alguma coisa
para brigar. Não é isso que quero. Não quero que meu filho cresça no meio
disso tudo.
De alguma forma, meu coração ficou pequeno. Giovanni estava
desistindo de tudo.
— Então quer que eu saia da sua casa agora?
— Não foi isso que eu disse.
— Disse que está cansado. — Apontei, o empurrando. — Então,
devo deixar você descansar.
— Olha aqui. — Pegou meus pulsos e me fez olhá-lo nos olhos. —
Não vê que é você que começa as brigas?
— Por que você me irrita?
— Eu não quero mais irritar você, mas sair daqui você não vai.
— O que quer de mim, então?
— Que cale a boca.
Giovanni me soltou e passou por mim, indo para o banheiro. Não
consegui pensar direito.
Meus olhos se encheram de lágrimas, por alguma razão, mas não as
deixei cair. Ouvi a porta sendo fechada. Olhei para o quarto, a cama e
nossas coisas. Sei que sou difícil. Eu o avisei. Contudo, não quero me
afastar dele. Tudo o que fiz foi por medo de me entregar a ele, e como não
consigo pensar direito, acabo brigando. E bem que ele me provoca.
— Não está na hora de brigar. Já chega de brigar. — Parei. Virei e
olhei a porta do banheiro. Talvez eu estivesse louca ou desesperada, mas
comecei a tirar minha roupa. — Sei que eu deveria ficar longe de encrenca.
Que esse homem vai acabar comigo, mas agora, não posso pensar em outra
coisa.
Joguei o vestido no chão, assim como estão as roupas dele, e andei
até a porta. Pus minha mão na maçaneta e pensei muito antes de girar. Eu
podia estar cometendo o pior erro da minha vida, mas toda a raiva que sinto
por ele é por conta dessa maldita atração. Talvez se saciar essa fome agora,
eu possa, finalmente, me dar bem com o maldito.
E foi assim que a girei, com o coração na boca e abri.
— Acho que tenho a solução para que a gente não brigue mais.
24
A cama estava tão quente que eu nem queria sair dela. Meu corpo
estava relaxado, minha mente tranquila, e aos poucos me lembrei da noite
passada, com a ajuda de um certo pervertido que no momento estava
beijando meu pescoço, enquanto suas mãos adentravam o lençol que cobria
meu corpo nu.
Ignorei tudo o que nos mantinha em lados opostos, a situação em
que nos conhecemos, e prestei atenção apenas no momento. Talvez por isso
eu estivesse tão estressada e brigássemos tanto. Eu estava com medo de me
envolver, sempre o afastando, brigando por nada, mesmo que ele não
estivesse pensando em me irritar.
— Não deveria fazer isso.
— Por que não? — Virei-me. Giovanni estava determinado a me
provocar tão cedo. — Você não quer?
— Não cansa? — Sua barba, crescida, fazia cócegas em meu
pescoço. — Pensei que iria trabalhar cedo.
— Sou o chefe, vou quando quero. — Pôs a mão em meu pescoço e
me beijou. Lento, suave, quase apaixonado. Em poucos minutos, o homem
estava sobre o meu corpo, arrastando o lençol, ficando entre as minhas
pernas. Devo admitir que Giovanni sabia como mexer com uma mulher. —
E não, eu não canso.
Giovanni devorou minha boca, à qual retribuí com a mesma
intensidade. Pude perceber que ele já estava pronto. Essa é a primeira vez
que transo com um homem que me faz sentir tanto tesão de verdade.
Abri mais as minhas pernas para dar passagem para ele. Ao
posicionar seu pau na minha entrada úmida, Giovanni me penetrou devagar.
Ele é grande. Aos poucos me preencheu. Deixei um gemido escapar.
Apoiado na cama, ele saía e entrava de mim, lentamente, me
deixando toda molhada. Seu sorriso pervertido, que antes me zangava,
agora me excitava.
Nos perdemos naquela dança sensual, em que meu corpo se
inundava de excitação, me fazendo gemer baixinho. Giovanni gostava
disso. Aos poucos, ele também perdia seus limites, estocando mais forte.
Cada vez que seu pau se chocava com minha buceta molhada, criava um
som erótico que ecoava pelo quarto.
Giovanni me beijou, depois o meu pescoço e por fim, gemeu ao
meu ouvido, enquanto estocava em mim, formando uma sensação de
satisfação dentro do meu ventre. Em pouco tempo eu já estava pronta para
gozar. Ofegante, como se estivesse correndo uma maratona, cravei minhas
unhas em suas costas enquanto derretia em mais um orgasmo delicioso, em
que tentei não fazer muito barulho, mas foi bem audível para ele, que
ganhou mais confiança para continuar, até despejar dentro de mim o seu
gozo.
Depois, ficamos por um momento grudados, esperando nos
recuperar.
***
Meu corpo estava relaxado, e meu rosto doía de tanto rir, boba.
Também me sentia um pouco envergonhada. Contudo, não posso me
concentrar nisso.
Saímos do quarto e fomos tomar café. Eu quase me esqueci do que
nos esperava. Assim que chegamos, todos estavam nos esperando. Eles até
haviam acabado de comer.
Isso me deixou corada, pois o motivo do atraso foi um sexo matinal
maravilhoso.
— Bom dia. — A mãe de Giovanni disse, dando um sorriso
pequeno. — Pensei que não tomariam café conosco.
— Passamos um pouco da hora. — Ele respondeu.
Só as paredes sabem o porquê do atraso.
— Filha, você está tão linda.
Minha mãe estava estranha. Enquanto Giovanni afastou a cadeira
para eu sentar, eu a observei. Ele sentou ao meu lado. Estava alegre.
Obviamente, conseguiu o que queria, mas confesso que também sempre o
desejei.
— Sua mãe está um pouco estranha. — Ele sussurrou ao meu
ouvido.
— Também percebi.
— Vejo que os dois estão felizes. — Ela continuou. — Como está o
bebê?
— Bem, muito bem. — Respondi.
— Sei que acabamos de nos conhecer. — Meu tio se pronunciou.
Sua presença era um mistério. Apesar de ter me criado como um pai, depois
que me tornei adulta, ele não se envolvia em nada que não fosse
extremamente importante. — E sei que é cedo, ainda nem passamos das dez
horas.
— Tio, o que exatamente quer dizer com isso? — Perguntei,
franzindo o cenho. — Ontem disse estar ansioso pelo casamento, mas isso
não tem tanta pressa.
— Até ontem, sua mãe nem queria ficar na minha casa. —
Giovanni voltou a sussurrar no meu ouvido. Ri para disfarçar.
— Acho que devemos nos preocupar.
— Você é como uma filha para mim, e a sua mãe… me explicou a
situação.
— Situação? — Giovanni se pronunciou, confuso.
— Ela está certa em estar chateada. Você não disse que estava
saindo com alguém e, de repente, aparece grávida.
— Foi um acidente no percurso.
O sarcasmo do pai do meu bebê não iria agradar meu tio.
— Acredito que seja, e só sairei daqui com uma data para o
casamento.
— Meu Deus. — Sussurrei. — Achei que não podia piorar.
— Na verdade, estou aberto para escolher uma data.
A fala de Giovanni quase me fez engasgar. Eu estava tomando uma
água, esperando me acalmar, porém, isso só piorou.
— Do que está falando? — Perguntei, entre soluços.
Não sei o que deu na cabeça dele. Concordamos que era só uma
mentira que nunca chegaria a ser concretizada. Apesar do sexo, eu não
sabia se queria me casar com ele.
Nunca daríamos certo.
— Seu tio quer uma data, e eu estou disposto a fazer isso. Pelo bem
da sua honra.
— Isso é mais uma das suas piadas? — Cheguei perto dele.
— Não. — Respondeu, baixo. — Mas tenho que ter um tempo para
dizer um dia. Trabalho muito, ainda temos que ir às consultas, não quero
estressar a minha noiva.
Dei um sorriso tímido.
— Onde está o anel? — Meu tio olhou para as minhas mãos, que
estavam sobre a mesa.
Tratei logo de as esconder.
— O anel? — Giovanni e eu nos olhamos. — Acredita que Beatriz
vive esquecendo de colocar? — Ele é rápido em inventar uma mentira. —
Sempre tenho que lembrá-la, acredito que está na cabeceira ou na
penteadeira.
— É, acho que está lá. — Reforcei.
— Eu sempre digo que você é uma cabeça de vento. — Minha mãe
disse, ao sorrir.
— Tome café, Beatriz. — Olhei para o homem e quis entender o
que tinha em mente. — Temos que sair.
— Temos? — Estava atônita.
— Sim.
25
Eu estava mais nervosa do que antes. Parece que nossa mentira
estava se tornando uma bola de neve. Não tinha como escapar disso.
Sem falar na bipolaridade de Giovanni, que ontem mesmo estava
caindo fora, e hoje estava todo alegrinho, dizendo estar disposto a achar
uma data. Obviamente que tinha a ver com nosso passo indo direto para o
sexo, contudo, não esperava que ele dissesse aquilo. Só pôs fogo na
história.
— Posso saber que história é essa de "estou disposto"? — Saímos
de casa alguns minutos. Indo de carro para algum lugar que não perguntei.
Sentada no banco do passageiro, ao seu lado, franzi o cenho tentando
entendê-lo. — Eu não esperava essa mudança da minha mãe. Ela trouxe
meu tio e veio com essa pressa toda, mas você resolveu entrar na
brincadeira.
— Se você é teimosa, imagina como será o resto da família.
Por incrível que pareça, o homem estava alegre. Dizia as palavras
com um bom humor suspeito.
— Você está estranho. — Cerrei os olhos. — Ainda não
conversamos sobre o que aconteceu…
— Acho que deu para entender.
— É? — Cruzei os braços. — O que você entendeu?
— Toda a sua raiva sobre mim é um desejo reprimido, que agora,
está desperto e solto.
— Você se acha, não é? — Me senti um pouco envergonhada e um
sorriso no rosto, pois até que era verdade. Depois do que fizemos, parece
que somos meio que um casal. Era estranho, contudo, ótimo. — Foi um
momento sensível. Você geralmente me irrita, mas agora acho que dá para
levar na brincadeira.
— Isso quer dizer que domei você?
— Me domou? — Encarei o homem, com uma dúvida na cabeça:
ele acha que me ganhou?
— Você é uma tempestade que agora sei como controlar.
Dei um sorriso de deboche.
— Claro, porque sexo resolve tudo.
— Depois de tirar a sua roupa, a sua boca só se abre para gemer
gostoso.
— Certo, vamos voltar ao assunto da minha família. — Comecei a
ficar vermelha. Era involuntário. — O que vamos fazer agora? Você deu
uma desculpa, mas eles vão insistir.
— Quem disse que foi uma desculpa?
Parei atônita, sem entender.
— Claro que foi uma desculpa, só para não ouvirmos mais eles
argumentarem o quanto isso é errado. — Levei na brincadeira, pois seria
um absurdo pensar que Giovanni realmente pensa em casar comigo. —
Você até falou isso na noite passada.
— Estava com raiva. — Ele explicou. — Você me irrita e provoca.
Fica falando sobre esse seu... babaca que flerta com você — é, eu ainda não
desmenti essa história, contudo, vendo que isso o irrita, não falarei nada
ainda. O que mais me preocupa é essa sua ideia maluca de casamento. —
Beatriz — Pôs a mão na minha perna. O observei, sentindo um nervosismo
crescer. Eu não sabia o que ele estava falando. — Considero o quanto
somos diferentes. Que geralmente brigamos, mas, no fundo, podemos fazer
dar certo.
— Espera, o que vamos fazer dar certo? — O nervosismo começou
a me bater. O calor aumentou e minha mão abanava meu pescoço. — Está
me deixando assustada.
— Beatriz, nós podemos nos casar e realizar esse desejo da sua
mãe.
— O quê! — Não dava para acreditar no que ouvi. — Isso ainda é
um sonho? Acho que estou na cama.
— Não exagera, não estou brincando.
— Giovanni, querido — Dei um sorriso de deboche. — O sexo
atrofiou sua mente ou simplesmente esqueceu que sempre estamos em
conflito? — Ele revirou os olhos e respirou fundo. — Foi ótimo. Na
verdade, quero fazer outras vezes, mas casar de verdade? Não acha que
vamos derrubar aquela casa chique?
— Acho que o nosso quarto será palco de muitos shows.
— Está de brincadeira? — Fiquei chateada. — Não pode levar isso
na brincadeira. Olha o nosso futuro. Nosso filho. Se brigarmos feio,
podemos estragar tudo. É isso que quer?
— Não, e entendo o seu medo.
— Tem certeza?
— Beatriz, eu quase morri e fui abandonado por todos que amei. —
Não use essa desculpa comigo. Sabe que sempre caiu na sua. — Quando
soube que teria, finalmente, um filho, fiquei feliz, mas... triste. — É, nós
dois sentimos isso. — Você realmente é difícil. Eu sou controlador.
— Uma junção perigosa.
— Mas... não acha que podemos superar isso?
— Giovanni, você acha que pode me suportar por muito tempo?
Ele não respondeu imediatamente, apenas pensou.
— Quero tentar.
— E se der errado?
— Vamos prometer que seremos adultos e faremos o melhor para o
nosso filho.
— Você está muito positivo.
— Estou mais feliz do que triste.
Parei por um momento e pensei no que falou. O homem tinha um
sorriso no rosto. Não consegui ficar furiosa com ele. Lá, no fundo, gostava
do babaca. Ainda mais agora. Será que seria um erro ignorar tudo e tentar?
Afinal, agora que transamos e eu vi o quanto é bom, não consigo
mais voltar. Sempre que o olho, enxergo o homem que desejo.
— Está feliz? — Perguntei calma, ainda surpresa.
— Muito. — O sorriso me quebrou. — Vamos ter um filho e agora
tenho esperança de que dê certo.
Olhei para frente. O carro corria a rua e eu não sabia o que fazer.
— Certo, eu também estou, mas com medo. — Tenho que ser
sincera e realista. — Veja tudo o que aconteceu. Temo que estraguemos
tudo. Então, vamos nos odiar.
— E se isso não acontecer?
— E se acontecer?
Giovanni apertou minha mão, carinhosamente e disse:
— Não vamos pensar nisso agora. Vou dar um tempo para pensar.
Até lá, temos que interpretar esse papel, como se já tivéssemos tudo certo.
— Um tempo para mim? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Sim. — Olhou-me de relance. — Sei que vai aceitar. Casaremos
antes que nosso bebê nasça.
— Está muito confiante. — Sorri, boba.
— Foi assim que superei o câncer. Se venci a morte, acho que posso
vencer sua teimosia.
26
— Giovanni, por que estamos nessa loja? — Cocei a cabeça e sorri
envergonhada. Estávamos em uma joalheria, e duas das vendedoras,
sorridentes, olhavam para nós. — Por que essas duas estão nos encarando
com esses sorrisos estranhos?
Me apeguei aos seus braços. Não sabia que iríamos vir até esta loja.
— Seu tio reclamou sobre o anel de noivado, então vou comprar
um. — Disse como se não fosse nada de mais.
— Está exagerando.
— Não estou.
Ele me olhou como se eu tivesse dito algum absurdo. Eu retribuí
com o mesmo olhar.
— É um plano para me irritar?
— Não quero que meu bebê fique estressado, então, não.
— Está usando ele para me manipular?
O sorriso em seu rosto foi a resposta.
— Mais ou menos, só que você é muito teimosa, tenho que te
pressionar.
— Ainda com a ideia do casamento de verdade?
— Sim, agora mais do que nunca.
— O que fará quando eu estiver surtando e estressada com você?
Giovanni me olhou no fundo dos meus olhos e sorriu. O homem
mudou do dia para a noite. Sexo muda as pessoas.
Tenho que admitir que eu também estou... animada e gosto mais
dele agora, contudo, não me sinto segura para mudar os meus planos e ir
direto para o altar com um estranho que até ontem era só mais um babaca
que esbarrou em mim.
— Vou calar essa sua boquinha com um beijo longo e demorado. —
Disse tudo isso aproximando seu rosto do meu. Não consegui parar de olhar
a sua boca onde ontem estava em outro lugar, me agradando e muito. —
Depois, se ainda estiver... estressada e não parar de falar sobre o quanto isso
vai dar errado. — Revirei os olhos. — Vou tirar toda a sua roupa e te f*der
no mesmo instante, mudando tudo o que sairá dessa boquinha bonita.
Arregalei os olhos, sentindo meu rosto arder de vergonha.
— Seu safado, não fala essas coisas na frente de outras pessoas.
Me soltei dele, apressada, esperando que ninguém tivesse ouvido. O
cafajeste riu de mim, sabendo que conseguiu o que queria.
— Já entendi.
— Meninas. — Ele falou e automaticamente as duas vieram até
nós. — Tragam todos os anéis de noivado, com os mais variados tamanhos
de diamante.
Arregalei os olhos quase tossindo, pois não estava esperando por
isso.
— Giovanni, querido. — Voltei a me aproximar. — Aceito o anel,
mas não exagera.
— Beatriz, você é a mãe do meu filho, estou pensando seriamente
em me casar com você, então quero dar o melhor anel dessa loja.
Não consegui pensar direito, as duas saíram da nossa frente,
fazendo o que ele pediu. A loja era grande e imponente, com lustres de
cristal, sofás clássicos e estandes de vidro reforçado. Havia muitas joias ali,
colares, anéis, pulseiras e outras peças, que me deixaram de boca aberta.
— Essa não é a minha realidade. — Me abanei. — Tem certeza que
quer fazer isso?
— Só saímos daqui quando um anel estiver em seu dedo.
— Você está me deixando ansiosa.
— Impressionante, não é?
Franzi o cenho. Minha mão doía de tanto que estava nervosa.
— Você exagera sempre?
— Não estamos brigando.
Isso até pode ser verdade, mas meu desejo era pular em seu
pescoço.
— Quem disse que não vou punir você depois que saímos daqui?
O homem abriu um sorriso de orelha a orelha. Desejei bater nele.
— Vou gostar disso então.
As mulheres voltaram, com algumas peças em algum tipo de cofre.
Giovanni me puxou para o sofá, e elas colocaram em cima de uma mesa de
vidro. Com chaves, elas abriram, expondo os belos anéis com pedras
enormes.
— Uau! — Foi o que eu disse, impressionada. — Isso é demais.
Giovanni prestou atenção em todas as peças, enquanto minhas mãos
suavam e meu coração acelerava.
Colocou uma das mãos no queixo enquanto a outra escolhia o anel.
Então, ele me olhou, sorriu e pegou um deles.
Olhei para o anel. Ele é lindo, rose gold, com pedras de diamante
grandes, que me deixou sem ar.
— Esse se parece com seus olhos.
Fiquei surpresa com o que falou. Dei um sorriso e não me opus
quando ele pegou minha mão e colocou o anel no meu dedo.
Meu coração acelerou, minha respiração ficou frenética e um
enorme arrepio tomou conta do meu corpo. Confesso que fiquei
emocionada. Mesmo que não fosse nada de mais, que nós dois não somos
apaixonados ou amantes de longa data.
Ele me inferniza tanto que acabei me afeiçoando a ele. E tem o
bebê. Claro que tudo isso conta. Acredito que eu deva parar de resistir a
tudo isso. Giovanni está certo. Sou eu e meu medo que podem nos afastar e
não quero que tudo acabe.
Seu sorriso era enorme, ele acariciou meu rosto e foi aí que percebi
que também sorria.
— É bonito. — Fiquei boba.
— Fica perfeito em você. — O encarei. — Assim como você é
perfeita. — Me impressionou. — Só um pouco teimosa.
— Um pouco?
— Não quero exagerar.
— Sério?
Ele riu.
— Esse é o escolhido. — Ele disse às moças. — Ficou perfeito.
27
— Certo, já estou indo. Pela expressão que Giovanni fez, a coisa
era séria. Ele até se animou com a compra do anel. Estávamos em um
restaurante próximo. Algo muito estranho o mudou. Sei que nosso passo
entre os lençóis daquela cama nos abriu os olhos para uma nova
experiência; no entanto, ele era outra pessoa. Mesmo ainda me provocando,
ficou um doce. Eu confesso que às vezes sinto vontade de abusar da sua
paciência, culpa do hábito; contudo, meus olhos também estavam mudando
em relação a ele.
Agora, em minha frente, estava o pai do meu bebê que não era tão
babaca quanto achei que ele era. Assim que desligou o celular, voltou até
onde eu estava. Confesso que fiquei preocupada. Pensei que, depois da ida à
joalheria, daria uma chance a esse novo homem que estava roubando meu
coração e outras partes do meu corpo. Farei de tudo para não brigar. Tenho
que deixar esse lado marrenta e ser compreensiva.
— O que houve?
— Um problema no trabalho. — Respirou fundo, pensando. —
Tenho que ir à empresa.
— Certo. — Levantei rápido. Eu também quero voltar e tirar esses
saltos. Além disso, estou preocupada com o meu trabalho. Usei minhas
férias atrasadas para pensar nesse assunto e achar uma maneira de explicar
a minha situação à madre, contudo, no fundo, estou desanimada. Sempre
que penso no trabalho, me sinto sem forças. São muitas regras, sorrisos
falsos e temas proibidos. Quando fui trabalhar lá, foi por um desejo da
minha mãe, não meu. Então, agora, penso que devo arranjar outro lugar
para lecionar. Seria mais uma decepção para a minha mãe, porém, desde
que conheci Giovanni, penso mais em mim e no bebê, do que no que minha
mãe quer. — Posso pegar um táxi e voltar...
— Não precisa. — Pegou em minha mão. — Quero passar mais
tempo com você. Posso resolver esse problema e depois podemos sair. —
Seu olhar me impediu de insistir no contrário. — Pode vir comigo e logo
resolvo isso.
— Para o seu trabalho?
— Sim, por que não? — Franziu o cenho.
— É que... Seria uma boa ideia?
— Você fica no meu escritório. Ninguém vai importunar você.
***
Desde que o conheci, me impressiono com a vida e riqueza de
Giovanni. Não tenho ambição quanto a isso. Na verdade, tenho medo de
parecer que quero o seu dinheiro. Estou bem sendo uma professora e
vivendo em uma casa simples. Vivi minha vida rodeada de muito amor e
conforto. Jamais precisei ser ambiciosa e querer mais do que tinha.
Contudo, meu destino cruzou com um homem muito rico; rico é um apelido
fofo. A mansão é a ponta do iceberg.
Desde que nos encontramos, venho tendo muitas experiências.
Conheci o homem debaixo desse terno, só que a cada passo que eu dava,
mais uma porta se abria e me surpreendia.
Fomos de carro até a empresa. Subimos pelo elevador exclusivo. As
pessoas que trabalham ali mal olhavam no meu rosto. Agradeci, pois ficaria
tímida com a troca de olhares.
O prédio é lindo, com paredes de vidro, escadas e salão aberto onde
muitas pessoas iam e vinham.
Mulheres magras, lindas, de salto alto, passavam por todos os
lugares. Isso me deixou nervosa. Não consigo não me comparar.
Nunca fui tão insegura como agora.
Aposto que Giovanni se atrai por essas supermodelos sexy.
— O que está pensando? — Sua voz me tirou dos pensamentos.
Haviam acabado de sair do elevador. Passamos por um corredor,
onde muitas dessas mulheres trabalhavam. Elas estavam atrás de seus
balcões, nas mesas, e dessa vez, me notaram. Vi que seus olhares confusos.
Sussurros.
— O pré-requisito é ser gostosa?
Por dentro fiquei um pouco chateada. Não com ele, mas com a
situação que me deixava sem graça.
— O que?
Ele ficou confuso. Me olhou com o cenho franzido.
— Suas funcionárias parecem que saíram de uma passarela. —
Expliquei.
Entramos na sala, de parede transparente, com Giovanni dando um
sorriso que me fez desejar chutá-lo.
— Não sou eu quem escolhe as funcionárias. E dou valor ao
currículo. Nem olho para a beleza.
— É uma piada? — Disse como se fosse um absurdo. — Você está
me dizendo que nunca olhou para os peitos ou bunda de uma dessas
mulheres?
Giovanni parou, olhou em volta e coçou a cabeça.
— Vai me julgar por algo bobo e do passado?
Todos os homens são iguais.
— Não, só estou observando que seu local de trabalho é bem...
Como posso dizer? — Pensei em tantas coisas que seria censurado. — É
um campo minado.
— Ciúmes? — Ele estava se achando.
— Acho melhor tomar cuidado, Mancini, ou vou arrancar suas
bolas.
O safado deu uma gargalhada que chamou a atenção de todas.
Fiquei brava e nervosa.
— Isso vai ser interessante.
— O que vai ter que resolver? — Olhei ao redor, preocupada com
as mulheres nos encarando. — Espero que não seja uma dessas peitudas
presa em algum buraco.
— Beatriz! — Pegou em meu queixo, fazendo-me olhá-lo. — Sou
profissional. Respeito os meus limites no trabalho. Na verdade, é uma regra.
Nada de namoro ou outra coisa no trabalho. Além disso, essas mulheres são
genéricas. Gosto muito mais de... — Ele me olhou dos pés a cabeça, com
um sorriso safado. — Curvas e uma bunda grande.
— Você é um safado.
— Seu safado. — Me beijou.
— Vai logo. — Bati de leve em seu ombro. — Ou vou me sentir
mal perto dessas mulheres.
— Você é mil vezes mais gostosa do que elas.
— Muito convincente.
Ele se foi, me deixando aqui, olhando sua sala de escritório, no
mais alto andar do edifício chique, com uma janela de vidro que ia do teto
ao chão.
Tudo ali era elegante e reluzente. Fiquei exposta aos olhares
daquelas mulheres. Me senti uma intrusa. Sou uma intrusa ali. Nervosa,
passei a andar de um lado para o outro, assisti a cidade lá de cima, e sentei
em sua cadeira, girando como uma maluca.
— O quanto esse homem é rico? — Pensei sozinha. — Sabe, a
mansão é enorme, tem todo o luxo que jamais vi, e esse prédio... — Parei e
encarei o teto. — Esse lugar é só uma parte da sua riqueza.
— Bom dia, o que está fazendo aqui? — Uma ruiva chegou, me
olhando confusa, dos pés à cabeça. Ela também é linda, como uma atriz de
filme. — Você…
— Sou acompanhante do Giovanni. Ele me deixou aqui. Disse ter
algo para resolver.
Odiei como essa intrometida me olhou. Quase esnobe.
— Ah, acompanhante. — Deu de ombros.
Pela ironia e o olhar de desdém, aposto que é uma daquelas que é
afim do chefe, mas como ele mesmo disse, não permiti esse tipo de coisa no
trabalho.
— Algum problema?
— Não, já vi milhares de acompanhantes dentro desse escritório. —
Cruzou os braços. — Só não mexa em nada e se roubar algo, as câmeras
vão mostrar.
Fiquei perplexa com sua ousadia.
— Olha aqui. — Me levantei, me aproximando. — Não preciso
fazer nada disso. Tenho o suficiente para viver, e se eu fosse você, ficaria
calada.
— Querida, olha para você. — Ela me provocou. Eu estava a ponto
de pular na vadia. — Sou a assistente dele há anos. Sei bem como ele te
trata e vai durar pouco. Seu tipo... Não dura muito.
Meu sangue ferveu. A única coisa que pensei foi bater na piranha,
mas não, não me rebaixei.
— Vamos ver quem vai durar mais. — Rebati.
Peguei minha bolsa e saí dali, bufando.
Aposto que a vadia se sentiu orgulhosa.
Vou matar Giovanni assim que ele chegar em casa.
***
Ao chegar na mansão, minha mãe logo percebeu que eu estava
furiosa. Veio atrás de mim, mas não queria dizer nada a ninguém. Ainda
furiosa, busquei por um lugar no qual ninguém me importunasse.
Aquela não era a minha casa, eu não entendia como tudo
funcionava e nem onde podia ou não ficar. Contudo, eu já estive no
escritório daquela casa. Era o escritório dele.
Andei pelo corredor e girei a maçaneta, percebendo estar aberto.
Fechei a porta atrás de mim e tentei relaxar. Pensar no que faria.
Obviamente, ele não foi o culpado pelo que aquela mulher falou.
Bem... pensando bem, ele foi, sim, mas eu estava tentando não sentir raiva
do babaca.
Claro que já pensei na possibilidade de ele sair com muitas
mulheres. Era só o olhar que logo se sabia disso. Apesar da arrogância, o
idiota era lindo e homem. Qualquer mulher que passar na sua frente, e for
do seu gosto, fará uma visita a sua cama.
— Não mais. — Andei de um lado a outro, pensando. — Nenhuma
outra terá essa sorte. — Certo, estava com ciúmes. Isso me corroía como
ácido. Afinal, ele tinha me levado a uma joalheria e prometido que tornaria
aquela mentira uma verdade. Eu não quero brigar. Não vou suportar e
estragar tudo, como sempre. Mas ele me paga.
Meu telefone tocou, na bolsa. Tinha certeza de que era ele,
Giovanni. Apenas peguei. Recusei a chamada e mandei uma mensagem
dizendo: "Estou em casa. No seu escritório. Venha logo."
Posso apostar que vem correndo.
***
Meus pés cansaram de esperar em pé. Tirei os saltos e sentei na sua
cadeira giratória. Eu contei as horas e a cada minuto que passava, mais
furiosa eu ficava. Estava tentando me acalmar antes que ele chegasse,
contudo, o olhar, as palavras daquela mulher, me corroíam por dentro.
Eu nem fazia ideia de que era tão ciumenta.
Ouvi a porta ser aberta e logo os olhos azuis dele, me encararam.
— Beatriz... — Veio até mim, assustado. — Você me assustou. O
que aconteceu? Por que não me esperou?
Senti um pouco de culpa por o ter preocupado. Sei o quanto esse
filho é importante para ele.
— Eu estava furiosa. Não consegui ficar naquele lugar. — Me
levantei, indo em sua direção. — Aquela ruiva me tirou do sério. Você e seu
passado me tirou do sério.
Ele parou e pensou.
— Que ruiva?
— Não se faça de bobo. — Cerrei os olhos. — A linda assistente
super magra e insuportável.
— Margareth?
— Não parei para perguntar. — Apertei os punhos. — Na verdade,
usei toda a força do meu corpo para sair dali sem matá-la.
— O que ela fez? — Dessa vez ele ficou sério. Seu olhar mudou tão
rápido que me assustou. — O que aconteceu?
— Não tenho nada a ver com seu passado. — Comecei.
— O quê?
— Tem o direito de sair com quem quiser, antes de mim. —
Levantei o nariz. — Mas o olhar dela. Aquelas palavras. Ela achou que eu
fosse uma das suas peguetes.
— Ela disse isso?
— Em outras palavras. Só que bem arrogante.
— Isso não é educado, nem profissional.
— Sinceramente, acho que ela tem o fetiche de pegar você.
Cruzei os braços, com cara de poucos amigos. Giovanni, diferente
de mim, notou o quanto isso me desagradou. Seu sorriso abriu de orelha a
orelha.
— Mia ciúmes? — Me puxou pela cintura. — Uau, você realmente
mudou.
— Estou ofendida, é diferente.
— Claro, vou aceitar essa versão.
— Acha engraçado? — Franzi o cenho. — Poderia ter jogado
aquela ruiva da janela do prédio.
— Irei tomar providências em relação a ela.
— Ah é? — Levantei uma das sobrancelhas. — Olha, não gosto da
ideia dessa mulher trabalhar. Com certeza ela quer algo com você. E não foi
educada. Me irritou, mas... você não vai demiti-la, vai? — Me preocupei.
Mesmo estando furiosa e querendo matar a mulher. Ser a causa da
demissão me deixaria de consciência pesada.
— Ela foi antiprofissional e mal-educada. É justo.
Umedeci os lábios e, nervosa, disse:
— Olha, ela pode precisar do emprego, não precisa fazer isso.
Posso esquecer, se você não ficar olhando ela, quando estiver no trabalho.
— Você acabou de dizer que iria matá-la, agora está a defendendo?
Sim, sou contraditória.
— É que eu não quero que a mulher fique sem o emprego. Isso
seria ruim. Nós não sabemos as condições dela.
Giovanni cerrou os olhos, com um sorriso no rosto.
— Você me impressiona.
— Sou humana, e Deus me ensina a perdoar. — Expliquei. — Mas
não quer dizer que vou te perdoar se, por acaso, sair da linha.
— Então eu posso me ferrar? — Se ofendeu.
— Se sair dos trilhos, vai ser morto.
Deu uma gargalhada.
— Já disseram que você é bem violenta? — Beijou meu pescoço
causando arrepios. — Lembra do que eu prometi?
— Você me prometeu? — Não me lembrava, mas suspeitei que era
algo pervertido, pois ele começou a me agarrar.
— Você me preocupou, quase achei que era grave.
— Sou um pouco dramática.
— Que bom que assumi.
Ele me pôs encostado a mesa, me beijando, sugando meus lábios
com velocidade. Me derreter em seus braços e molhar a calcinha era fácil,
no meu estado atual, ainda mais com um homem como ele.
Giovanni me virou de costas, subiu o vestido enquanto me apoiava
na mesa. Seus dedos se entrelaçaram no tecido, que foi rapidamente
arrancado.
— O que fez?
— Isso está me atrapalhando.
O ouvi abrindo o freche da sua calça. Olhei para o lado e o vi tirar
para fora o seu belo pau chio de veias e com a ponta rosada. Minha boca
ficou cheia de água. Eu nunca fiz isso, mas estava com essa vontade agora.
Contudo, suas grandes mãos puxaram minha bunda, me deixando
bem empinada. Depois, ele passou dois dedos sobre minha boceta
encharcada, causando um enorme arrepio que me tirou da terra.
— Bem molhada, como eu gosto.
— Via logo. — pedi quase desesperada. — Não precisa ter pena.
— Gosto de ouvir isso.
Então ele se posicionou. Me torturou, colocando metade e saindo,
indo mais fundo e saindo, até que estava todo dentro de mim. Senti minhas
pernas falharem. Eu gemi, sem pudor e sem medo de que alguém nos
ouvisse.
Então, ele apertou minha bunda e se moveu para frente e para trás,
devagar. Senti as paredes da minha boceta contrair seu pau dentro dela. Eu
ri, com tanto desejo sendo transbordado. Giovanni gostou, deu um tapa na
minha bunda, no qual eu não estava preparada, então dei um pequeno grito,
me fazendo tapar a boca com a mão.
— Gosto quando mostra para mim todo o seu prazer. — Ele disse.
— Então geme gostoso, enquanto goza no meu pau.
Esse homem está me enlouquecendo. Eu nunca fui assim, mas
agora só penso nele me fodendo sem pena.
— Vamos, me fode. — Disse manhosa.
— É assim que eu gosto.
Me segurei quando seu corpo se chocou contra o meu, com força.
Assim como ele pediu, gemi sem pudor. Esperava que ninguém estivesse
por perto, ou nos pegaria, transando dentro do seu escritório.
Eu estava tão fogosa e passei a rebolar e chocar minha boceta
contra ele, que riu, deu outro tapa, mas dessa vez eu estava esperando. Na
verdade, isso me excitava e incentivava mais.
— A menina boazinha não existe mais.
— A culpa é sua.
— Se continuar apertando meu pau, com essa sua boceta gostosa,
vou acabar gozando cedo.
Nossos corpos fazia um barulho que ecoava pelo ambiente. Se
minha mãe nos pegasse agora, diria que a filha santinha havia morrido.
Me surpreendendo, ele parou, saiu de dentro de mim e puxou, para
que ficasse cara a cara. Giovanni me beijou, mordeu meus lábios e sorriu.
— Quer olhar no seu rosto quando tiver gozando.
Ele, então, me colocou em cima da mesa onde trabalhava. Abri as
pernas e dei um sorriso safado. Seus olhos estavam vermelhos. Seu enorme
pau me chamava. Estava brilhante.
Ao me penetrar de novo, senti um pouco de dor, mas nada que não
fosse suportável. Fiz um biquinho, encostei-me na mesa, enquanto ele
segurou minhas pernas, me fodendo com gosto. Eu o via entrando e saindo,
transformando meu corpo em chama viva.
Meu corpo pulava com as estocadas fortes. Um raio passou por
mim, fazendo com que eu me segurasse mais forte. Eu estava prestes a
gozar, e ele também. Seu pau pulsava dentro de mim. Com dois dedos
comecei a me masturbar. Minha boceta estava tão encharcada que escorria.
Isso o excitou. Enquanto eu mordia os meus lábios, pois gemeria alto, ele
não descansou, socando com força.
Minha alma foi transportada para outro lugar. Os espasmos me
fizeram contorcer de prazer. Melei todo seu pau, que jorrou dentro de mim.
28
Três meses depois...
— Olha só ele mexendo. — Giovanni está bobo, com os olhos na
minha barriga e sua mão sentindo o nosso filho mexer. Aquele menino será
igual ao pai, impossível. Não para de mexer. Dia, noite, às vezes mal
consigo dormir. Não estou reclamando. Na verdade, quando aconteceu da
primeira vez, eu chorei de emoção. Já Giovanni, parece um bobo, deitado
no meu peito, com a sua mão na minha barriga, sorrindo. — Aposto que
será um bom jogador.
— Acho que você tem que deixar esse clichê. — Eu adoro ir contra
seus pensamentos. É um bom debate. — Ele pode ser bem quieto. Calado.
Como eu, no colégio.
— Você? — Deu uma gargalhada. — Calada?
Notei o deboche.
— Giovanni, você quer dizer alguma coisa?
Ele levantou e me encarou.
— Querida, você é tudo, menos quieta e calada.
— Eu disse que; no colégio. — Pontuei.
— Claro. — Fez que aceitou. — Temos que ir.
— Ir para onde?
O homem novamente me encarou, como se eu fosse um absurdo.
— Temos os preparativos para o casamento. O bolo, os doces.
— Não quero ir, na verdade, só de pensar, fico enjoada.
Ele revirou os olhos.
— Não precisa provar, posso fazer esse papel. — Giovanni saiu do
sofá e tentou me levantar, mesmo que eu estivesse com preguiça. Os seis
meses estavam sendo um verdadeiro desafio. Me sinto cansada, inchada e
sem ânimo. — Além disso, tanto doce faria mal para o nosso filho.
— Por que precisamos de tudo isso? — Franzi o cenho. — Um
simples papel. Não precisa de uma festa. Eu odeio festas. Vou estar uma
bola no vestido.
— Minha mãe fez questão.
— A noiva sou eu. — O lembrei.
— Triz. — Quando ele me chamava assim, significava que iria
apelar. — Minha mãe faz questão. Ela diz que é um momento para mostrar
que dei a volta por cima.
Cerrei os olhos e me aproximei dele.
— Sua mãe contou que nós dois nos odiávamos, que fui inseminada
por engano e que tudo isso começou com uma mentira para que minha mãe
não surtasse.
— Falando nisso, não acha que já está na hora de dizer à sua mãe
sobre o erro…
— É melhor deixar a tempestade guardada, Giovanni.
— Você não quer que sua mãe saiba, e eu quero que minha mãe
fique feliz.
Revirei os olhos e respirei fundo.
— Você sabe que ela me odeia e que só aceitou esse casamento
porque estou grávida.
— Não começa. — Ele pegou em minha mão, arrastando para o
quarto. — Não gosto de ouvir você dizendo isso.
— Mas é verdade. — Me defendi. — Olha, sou uma boa pessoa.
Faria questão de me aproximar dela, contudo, ela não me deixa.
— Minha mãe ficou assim depois que meu pai morreu, e depois que
fiquei doente, ela sofreu. — Ele ficou triste. — Ainda acho que é culpa
minha.
— Não diz isso, aposto que ela está mais alegre agora.
Obviamente. Ela pode me odiar, mas toda vez que olha para minha
barriga ou vê o ultrassom, abre um sorriso de orelha a orelha.
— Espero que sim.
***
— Esse é o bolo de morango com glace. — A mulher colocou o
prato com o pedaço de bolo suculento na nossa frente.
Estávamos em um bufê muito famoso. Tudo ali era lindo e eles
cuidariam das comidas e bebidas. Confesso que me animei quando cheguei,
no entanto, olhar para o pedaço de doce me deixou enjoada.
Giovanni estava devorando todos os pratos e doces, eu fiquei com
inveja. Amo doce, mas desde que engravidei, não posso nem chegar perto.
— Toma cuidado, não quero que seu peitoral malhado suma depois
do casamento.
Giovanni me lançou um olhar semi cerrado que me fez rir.
— Você não gostou de nenhum deles?
A mulher, que estava cuidando do cardápio, apresentando os pratos
para Giovanni, me encarou, com o cenho franzido. Desde que sentei nessa
cadeira a única coisa que faço é observar. Até sinto vontade de comer algo,
porém, logo sinto um nó na garganta.
— Não, eu só fico enjoada quando como doces.
— Devido ao bebê. — Explicou Giovanni, que estava se
aproveitando do bolo de glacê e morango. — Esse é ótimo.
— Não gosto de glacê. — Interferi.
Ele me encarou confuso.
— Mas você nem vai comer.
— É, mas vou saber. — Afirmei. — O casamento é meu e seu.
— Certo, sem glacê.
— Acho que o melhor é o de frutas vermelhas e bolo de baunilha.
— Fui direta.
— É, aquele foi ótimo. — Olhou para o pedaço, quase todo
decorado. — Mas o de limão também estava excelente.
— Azedo demais.
— Você nem provou.
— Já provei.
— Esse não.
— O de frutas vermelhas e bolo de baunilha, Giovanni.
Ele teve até medo.
— Vai ser esse que ela disse.
A mulher ficou assustada. Ele é um homem muito indeciso, mas sei
bem como essa coisa de casamento funciona. Já fui a todos das minhas
primas.
— Já os doces, você decide. — Falei me levantando.
— Há, achei que também iria escolher, sem considerar o meu
paladar. — O olhar que o lancei foi assassino. Logo entendeu o recado. —
Ótimo, já tenho os meus vencedores. — Levantou da cadeira, animado.
***
Ao chegar em casa, tirei os saltos. Eu odiava usar esses sapatos.
Como as grávidas ricas aguentam isso?
Giovanni estava guardando o carro. Mesmo não andando muito,
meus pés doíam. Antes de chegar à escada, Jéssica apareceu.
Eu não gostava, nem desgostava da mulher. Todas às vezes que me
olhava era como se guardasse um ódio sem igual. Nunca disse nada contra.
Pelo menos não em voz alta.
— Como foi a prova do bufê?
Ela sendo educada?
— Giovanni ficou responsável por isso.
— Você não escolheu nada?
— O bolo. — Estava prestes a subir a escada quando senti outro
chute. Acredito que fui um pouco exagerada, pois não estava esperando,
pois Jéssica ficou preocupada ao ponto de me segurar e olhar com
preocupação.
— O que aconteceu? — Olhou para meu corpo. — Está sentindo
algo?
— Só um chute. — Dei um sorriso tímido.
— Ah.
Ela é uma mulher muito durona. Mesmo querendo se aproximar,
seu orgulho não deixava. Acho que só é uma forma de proteção, assim
como Giovanni falou.
— Quer sentir?
Seus olhos azuis, surpresos, me encaram com dúvida.
— Posso?
Peguei a sua mão e coloquei em minha barriga. Ela ficou
desconfiada, mas ao sentir o neto chutar, abriu um sorriso enorme.
Eu não seria a pessoa do contra que fica na defensiva. Mesmo a
mulher sendo bem antipática, era a avó do meu filho.
— Sei que não gosta muito de mim. — Fui direta. — Mas seremos
uma família. Eu nem fazia ideia de que algo assim poderia acontecer,
contudo, aqui estamos nós.
— Não é que não goste de você. — Ela ficou séria, mas continuou
com a mão na minha barriga. — Meu filho sempre toma decisões
equivocadas e acaba se machucando. Tudo o que quero é que ele seja feliz.
— Também quero isso. — Baixei a cabeça. — Estou tão
preocupada quanto a senhora, mas estamos dispostos a fazer com que isso
dê certo.
— Esse bebê salvou o meu filho. — Salvou? — Ele estava
deprimido e não acreditava mais que algo bom pudesse acontecer, então
recebeu aquela ligação e depois dali tudo mudou.
— É, tudo mudou para mim também.
— Desculpe se a ofendi, alguma vez. Tudo o que quero é ver essa
casa feliz, e se você trazer isso para cá, vou te amar como uma mãe.
— Fico feliz.
Me surpreendendo, ela me abraçou. Fiquei parada, sem saber o que
fazer. Do nada, Giovanni apareceu, ficou tão surpreso quanto eu, e depois
sorriu.
— Acho que isso é um sonho. — Falou, fazendo com que a mulher
se afastasse.
— Onde você estava? — A mãe arrumava a roupa, envergonhada.
Devo me sentir ofendida?
— Bem, estou subindo, preciso de um banho. — Falei.
28
Meu coração está acelerado, e sinto uma mistura de nervosismo e
felicidade enquanto me visto para o meu casamento. Minha barriga já está
bastante redonda, com sete meses de gravidez, e a sensação de carregar o
nosso bebê só torna esse momento ainda mais especial. A história que vivi
com Giovanni é mesmo confusa e surpreendente, cheia de altos e baixos.
Lembro-me bem de como tudo começou, e é difícil acreditar que
um dia nos odiamos. A princípio, parecia que não havia nada que pudesse
nos unir. Nossos temperamentos fortes e nossas personalidades colidiam
constantemente, mas descobrimos que toda aquela raiva vinha de um desejo
sem igual, que, quando provado, mudou tudo.
Como foi que vim para aqui?
É tudo tão irreal que me assusto. Até ontem estávamos brigando
como loucos que matariam um ao outro se pudessem.
Ainda bem que deixamos nossas diferenças de lado para nos
concentrar no nosso filho, ou estaríamos em pé de guerra até hoje.
Naquele vestido, mesmo sendo o mais lindo que já vi, eu me sinto
como um balão. Claro que não vou me queixar do meu filho, mas confesso
que eu queria esperar para depois que meu filho nascesse. Contudo, minha
mãe estava desesperada para corrigir o erro que ela pensava que eu tinha
cometido.
Da janela do quarto, posso ver os preparativos para a cerimônia, e é
uma cena linda e emocionante. Tudo está decorado com tanto carinho e
cuidado. Minha mãe está aqui comigo, e apesar de estar emocionada,
percebo um pouco de decepção em seu olhar. Ela sempre sonhou com um
casamento na igreja para mim, mas a situação de Giovanni tornou isso
impossível.
— Mãe, não fica assim.
— É que eu sonhei com você entrando na igreja, toda linda, com
um véu enorme. Agora, está casando no jardim dessa casa, que apesar de
linda, não é uma igreja. Sem falar na sua barriga.
Revirei os olhos e respirei fundo.
— Eu disse que preferia fazer isso depois que nosso filho nascesse,
mas a senhora insistiu.
— É uma vergonha ter uma filha solteira e grávida.
Meus olhos quase saíram das órbitas quando os revirei mais uma
vez.
— Giovanni já foi casado, por lógica, não podemos casar na igreja.
— Esse é outro problema. — Resmungou.
— Já chega, a senhora não vai colocar pedras no meio da minha
felicidade. Não já basta estarmos casando?
— Se está feliz. — Deu de ombros.
— Vou estar feliz quando me casar, e a senhora, vai se mudar para a
casa que ele lhe deu.
Amo a minha mãe, contudo, ela ama dar pitaco na minha vida.
Pensando nisso, Giovanni e eu planejamos dar uma casa a ela, não muito
longe daqui, para que ela não desconfiasse de que queremos viver em paz,
sem seus comentários e reclamações.
— Está me expulsando? — Franziu o cenho.
— Não — Mentir é um pecado, Beatriz. Mas pensar em expulsão é
demais. — É só um presente que a senhora sempre quis. Além disso, já
moramos com a mãe dele…
— Então ela pode viver com o neto e eu não?
Drama!
— Mãe, está na hora do meu casamento.
Mudei de assunto.
Quando finalmente saio do quarto, estou pronta para subir ao altar.
Meu tio, que sempre foi como um pai para mim, está ao meu lado,
emocionado também. Ele me criou desde pequena, e este momento é tão
importante para ele quanto para mim.
Meu coração vai à boca quando olho para as pessoas nos bancos,
que se levantaram para me observar caminhar até o altar. Fico nervosa,
nunca gostei de ser o centro das atenções.
Respire e não pense nisso.
Giovanni está lindo, como sempre. O sorriso de orelha a orelha me
deixa sem graça e vermelha. Meus olhos marejados, mas não permitirei que
as lágrimas caiam, pois estragariam minha maquiagem.
Com cuidado, ele me leva até Giovanni. Nossos olhos se
encontram, e posso ver o amor refletido em seu olhar. A confusão e as
desavenças do passado parecem tão distantes agora, e sei que estamos
prontos para começar essa nova fase juntos.
Enquanto caminho em direção a Giovanni, sinto a presença do
nosso bebê dentro de mim, como se ele também estivesse compartilhando
esse momento conosco. A ansiedade e a felicidade se fundem em um
sentimento indescritível, e eu sei que o nosso amor é genuíno e forte.
Nossas mãos se tocam, ele me ajuda a subir no altar.
— Você está linda.
— Pareço uma bola enrolada em um pedaço de pano chique.
— O quê?
— Mas vou me conformar.
Ele ri. Ouvimos o sermão e peço que acelerem as coisas, pois eu
não posso ficar muito tempo em pé, meus joelhos cansam, e na hora do
"sim", Giovanni e eu nos encaramos, dizendo as palavras emocionadas de
amor. Então, um burburinho estraga nosso momento.
Olhamos para trás e uma mulher apareceu.
— Não! — Ele fala.
A olhei confusa.
— Quem é aquela?
— Beatriz.
Beatriz? A outra?
Então me lembro. Esbarrei nela. Foi a ignorante que planejou tudo
aquilo.
— Esse casamento não pode acontecer. — Ela diz, furiosa, vindo
até nós. Giovanni fica em minha frente. Temi que a maluca avançasse sobre
mim.
— Saia daqui, antes que eu chame a polícia.
— O que está acontecendo aqui? — Minha mãe brota atrás de mim.
— Deus — Jessica passa a mão pelo rosto, sabendo o que iria
acontecer. — Beatriz, saia daqui.
— Esse bebê é meu. Fui eu quem o pedi. Mas eles colocaram nela.
— A louca fala.
Fico pálida. Todo mundo está ouvindo o que ela disse.
— Giovanni, eu vou surtar. — Sussurro para ele.
— Do que essa maluca está falando?
— Vocês não sabem? — Os olhos da mulher estão vermelhos. —
Essa… piranha, foi inseminada no meu lugar. Esse filho devia ser meu.
Estou torcendo para as pessoas acharem que ela é louca e que não
acreditem nessas palavras.
— O que isso significa?
— Mãe, não é nada. Ela só é maluca.
***
— Que história é essa de inseminação?
Tudo deu errado, no final das contas. Deus diz para não mentirmos,
pois a mentira tem perna curta, mas sempre acreditamos que vai dar certo.
No meu caso não deu.
Nosso casamento aconteceu. Já estamos casados, contudo, a festa
que planejamos não rolou. Os convidados ficaram… confusos e minha mãe,
furiosa. Ela me puxou para um canto e começou a me interrogar.
Olhei para Giovanni como se tivesse desistido de argumentar
contra. Então, ele começa a contar a história, deixando minha mãe chocada.
Na cabeça dela, isso é um absurdo. Como se a mentira já não fosse uma
decepção para ela.
— Não precisa ficar assim, Beatriz não queria mentir para a
senhora. — Balancei a cabeça, sabendo que minha mãe não notaria. Isso
não era verdade, eu realmente disse para escondermos essa… situação. —
Fui eu quem planejou tudo, pois ela me falou o quanto a senhora ficaria
chateada.
— Eu estou mais do que chateada agora, mocinho, estou me
sentindo traída.
Uma das coisas que mais odeio em minha mãe, além de se
intrometer na minha vida, é seu drama. Ela sempre quer ser a mulher certa e
que nunca cometeu erros, jamais admitiria, e isso me deixa furiosa.
— Vamos aos fatos, eu não conhecia Giovanni até esse bebê
aparecer na minha barriga. Eu não quis lhe dizer, pois sabia que surtaria e
faria um drama, como se já não tivesse fazendo isso. Realmente mentimos
para sustentar o fato de que nosso filho foi um erro médico, já que na sua
cabeça, isso é um absurdo.
— Onde foi parar a filha que criei? — Olha para o céu, se
lamentando.
— Cresceu, mãe, e você está me estressando, como se já não
bastasse tudo o que me aconteceu.
Estou furiosa e ninguém, nem mesmo a minha mãe, tem o direito de
me julgar nesse momento.
— Ok, vamos com calma. — Giovanni pega em minhas mãos e me
olha nos olhos. Fico com raiva, não estou no clima. — Vamos sair daqui.
Não quero que fique chateada ou estressada. Isso pode fazer mal para o
bebê.
Concordo, mas tenho algo em mente.
— Lembra daquela praça de quando você me levou, da primeira
vez? — Ele pensa, tentando lembrar. — Quero voltar lá."
Parece que nada do que fizemos para esconder tudo isso deu certo.
Foi uma perda de tempo, mas devo confessar que me aproximar dele
usando essa desculpa foi até benéfico para nós dois.
— Então, está mais calma?
Estávamos sentados no mesmo banco em que nos sentamos da
última vez. Eu estava com fome e nenhuma daquelas comidas da festa me
deixava com desejo de comê-las, mas o sanduíche dessa barraca fazia
milagres.
— Minha mãe me estressa, eu só queria sair de perto dela.
— É, agora todos sabem a verdade.
— Por que aquela mulher teve que aparecer do nada?
Me questionei. Se eu não estivesse com essa enorme barriga,
mataria a loira.
— Desculpe, os seguranças não estavam preparados para a aparição
de Beatriz.
Ouvir esse nome me deixava com raiva.
— Vou mudar de nome. — Falei.
— Vai? — Ele riu.
— Ouvir ele, você falando, me deixa furiosa.
— Não precisa ficar, vou pedir uma medida protetiva. Ela não vai
poder se aproximar da gente de novo.
— Como ela pode dizer aquelas coisas? Que nosso filho, o meu
filho, tinha que ser dela? — A comida me relaxava, só que, lembrar, fazia o
efeito contrário. — Tudo isso é culpa dela.
— É, a culpa é dela. — Pareceu desanimado.
— Porém, se não fosse por isso, não teria conhecido você, nem
estaria ansiosa para o nascimento do nosso filho. — Peguei em sua mão.
— Beatriz — Olhou em meus olhos. Soltei o sanduíche que já
estava na metade. — Triz — O homem estava estranho. Parecia guardar
algum segredo. — Não menti quando disse que você é o meu milagre. —
Sempre me sentia tímida quando ele falava essas coisas. Eu não estava
acostumada a ouvir essas palavras vindas da sua boca. — Pensei que ia
morrer. Depois, pensei que ficaria sozinho e depois, que não teria um filho
meu. Então você apareceu.
— O bebê apareceu primeiro. — O fiz rir.
— É, nosso menino. — Acariciou meu rosto. Meu coração se
tranquilizou. Mesmo que nosso começo tenha sido complicado, hoje ele é
realmente o amor da minha vida. — Eu amo você. — Nunca ouvi essa
palavra vindo dele. Obviamente que seu afeto era demostrado por atitudes,
mas ouvir isso me deixava contente e emocionada. — Jamais pensei que
diria isso novamente.
— Jamais pensei que ouviria isso de você. — Falei sem pensar,
então me toquei. — Eu também amo você. Só que no início pensei que te
odiaria até o fim dos meus dias.
— Eu pensava o mesmo. — Rimos. — Olha, não importa o quanto
será difícil, nem o quanto você é teimosa e adora me provocar. Vou sempre
amar você e nosso filho.
— É, espero que isso seja uma promessa cumprida, pois sou bem
complicada. Assim como você é.
— Estou melhorando.
— Tenho que admitir que sim. — Seu sorriso aqueceu meu coração.
— Também amo você, Giovanni.
***
Semanas depois
A dor intensa das contrações me consome enquanto seguro a mão
de Giovanni com força. Estamos no quarto do hospital, ansiosos e
emocionados com a chegada iminente do nosso filho. Minha respiração está
acelerada, e o suor escorre pelo meu rosto, mas o olhar de Giovanni em
mim é como um raio de conforto em meio a todo o desconforto.
— Você está fazendo muito bem, Beatriz. Eu estou aqui com você,
sempre estarei. — Ele diz, com a voz embargada pela emoção.
Seus olhos brilham com lágrimas contidas, e sinto meu coração se
derreter ao vê-lo tão sensível e entregue ao momento.
Respiro fundo, tentando controlar a dor, e sorrio para ele entre uma
contração e outra.
— Se eu for um pouco ignorante, é porque não me dou bem nessas
situações e vou acabar te odiando, mas isso vai durar até o bebê finalmente
sair de dentro de mim.
Ele riu de mim, o que me fez sorrir também.
— É, eu sei. — Beijou o meu rosto.
As horas passam como um borrão, mas finalmente chega o
momento de empurrar. A equipe médica me instrui, e Giovanni está ao meu
lado, encorajando-me com cada esforço que faço. Sinto sua mão apertando
a minha, e é como se todo o universo estivesse contido naquele toque.
E então, o choro do nosso bebê preenche a sala, e meus olhos se
enchem de lágrimas de alegria e alívio. A enfermeira o coloca nos meus
braços, e é como se eu estivesse segurando um milagre em minhas mãos.
Giovanni se inclina para ver nosso filho melhor, e lágrimas
escorrem livremente pelo seu rosto. É uma cena tão emocionante que meu
coração se enche de ainda mais amor por ele.
— Bem-vindo ao mundo, pequeno. Nós te amamos muito. — Diz
Giovanni com a voz embargada.
Naquele momento, um filme passa na minha cabeça, lembrando da
primeira vez que o vi. Depois, do dia em que estávamos lado a lado naquela
sala, ouvindo o absurdo que acabou acontecendo. Eu o odiava, era um
ignorante, porém, acabei descobrindo que ele é um amor. O meu amor e não
há nada no mundo que me faça pensar diferente.
Com muito cuidado, ele toca a bochecha do bebê, e uma conexão
tão profunda parece se estabelecer entre eles em um instante. Eu nunca
imaginei que veria Giovanni tão emocionado, mas aqui está ele, segurando
nosso filho com todo o amor e ternura que existe em seu coração.
Minhas lágrimas se misturam com as dele enquanto nossos olhares
se encontram, cheios de gratidão e felicidade. Agora, todas as diferenças e
dificuldades que enfrentamos se tornam insignificantes diante do milagre
que temos em nossos braços.
— Obrigado, Beatriz, por me dar o maior presente da minha vida.
Eu te amo. — Ele sussurra, e um sorriso radiante ilumina seu rosto.
— Eu te amo também, Giovanni.
Assim, juntos e emocionados, começamos essa nova jornada como
pais, com a certeza de que o amor que compartilhamos só se multiplicará
com a presença do nosso filho em nossas vidas. E, no meio de tantas
emoções, sei que estamos prontos para enfrentar todos os desafios que a
paternidade nos reserva, unidos pelo amor que floresceu em nosso coração.
LIVRO 2
Sinopse
Ele é um safado de carteirinha.
Ela, uma nerd tímida.
Um bebê inesperado.
Um encontro inusitado, um esbarrão e um celular caído no
chão.
Aaron era um cafajeste de carteirinha, com milhares de
mulheres em seu telefone, mas em um dia fatídico ele se atrasou
para o primeiro dia na nova empresa, como CEO, e esbarrou em
uma mulher misteriosa, deixando seu celular cair, sem que perceba.
Alisson era uma mulher tímida e neutra, que gostava de
viver sua vida o mais calmo possível, porém, ao ser esbarrada por
um homem de terno escuro e arrogante, tudo muda. Ela viu a
oportunidade de se vingar ao notar seu celular no chão. Contudo,
ela não sabia quem era o homem de terno e ao descobrir que se
tratava do seu chefe, a nerd ficou uma pilha de nervos, sabendo que
estava mexendo com uma casa de abelhas.
Ela lhe devolveu o celular, os dois começam a trocar
mensagens, e dali, surgiu uma obsessão sem tamanha. Ele quer
saber que era a mulher que estava o enlouquecendo e ela, pretendia
se esconder a qualquer custo, só que o destino mais uma vez
brincou com os dois, levando eles a ficar cara a cara, e quando o
segredo foi revelado, um novo jogo começou.
Ele não esperava se apaixonar pela nerd, ela nunca pensou
que ficaria grávida do chefe, mas não tinha como voltar atrás,
agora, os dois tinham que lidar com as consequências desse
encontro louco que gerou esse bebê inesperado.
CAPÍTULO 1
Aaron
Aaron estava atrasado. Ele odiava estar atrasado, mas naquele
momento nada estava dando certo para o playboy bilionário, que havia
acabado de assumir a TEC Corporation, empresa de tecnologia do pai.
Apesar de ter experiência com isso, no momento ele se via tendo
que ficar entre seus trabalhos, já em andamento, o hospital, onde seu pai
estava internado, e a nova responsabilidade com a empresa.
Ele andava estressado, deixou boa parte da vida para se dedicar a
isso. Não reclamava, pois, sua maior preocupação era a saúde de seu pai,
que no exato momento, oscilava. A mãe não saia do perto do marido, com
quem era casada há mais de quarenta anos. Ele não tinha irmão ou irmã,
não tinha tios por perto, e seus avós já tinham morrido.
O único que podia fazer algo, era ele mesmo, e jamais reclamaria de
nada disso.
Aaron era jovem, com seus trinta e sete, viveu a regalia de ser filho
herdeiro de um homem muito bem-sucedido. Estudou no melhor colégio, na
melhor faculdade. Viveu bem com a sua mesada.
Atualmente, era conhecido por ser um galinha, porém, isso não o
incomodava, na verdade, às vezes era um babaca por se exibir por tal coisa.
Então, ao sair do apartamento de luxo e avistar o seu carro novo,
esportivo e caríssimo, não funcionar, ficou puto.
— Só pode ser brincadeira. — Ele se irritou. — Quanto custou esse
carro? Até parece que comprei na esquina. — Aaron pegou o telefone, em
meio aos papéis, dentro da sua mala e ligou para o homem responsável por
ficar de olho na manutenção do veículo. Ele lhe daria um esporro, se não
estivesse super atrasado para uma reunião. — Serei breve — disse ao se
controlar. — Por sua causa, a porra do meu carro está morto, e a agora,
tenho que me virar para chegar na merda da empresa, onde trabalho. — Ele
respirou fundo, não queria alongar a história, se estressaria. — Quero que
conserte essa merda, para que eu não fique mais irritado. — O homem, do
outro lado da linha, nem deu um pio. — Infelizmente vou ter que ir de
metrô, pois não tenho saco para ficar acenando para a porra de um táxi!
Aaron desligou, pôs o telefone no bolso da calça, e saiu dali,
bufando.
Ele nada tinha contra transporte público, só achava chato ter que se
entrosar com outras pessoas, ou ser encarado por uma estranha qualquer.
Além disso, seu carro estaciona na garagem do prédio, vai no seu ritmo, era
tudo mais fácil.
Correndo contra o tempo, Aaron entrou na estação subterrânea e
por sorte já vinha o trem, ele se enfiou lá dentro, e olhou as horas.
Mesmo sabendo que ele era o chefe e todos estavam ali por ele, que
se atrasar dois minutos, não faria mal, Aaron se irritou, suou e ficou
inquieto. Ele rezou para que os sete minutos de viagem passassem logo,
entretanto, em uma das paradas, o vagão parou, muitas pessoas entraram e
foi aí que ele se irritou mais.
— Merda, esse transporte público não… — fechou os olhos,
respirou fundo e sentiu tudo voltar ao seu lugar, indo para a próxima
estação. — Você é o chefe, não precisa se irritar. — Ele sussurrou. As
pessoas ao seu lado até podem estar o achando maluco.
Seu celular tocou, bem no momento em que ele estava próximo à
parada. Só deu tempo dele o pegar, checar a mensagem e o colocar
novamente no bolso, então as portas se abriram, mais pessoas iam sair,
então, com pressa e querendo ser o primeiro, Aaron começou a andar para
fora, sem perceber que havia outro alguém na sua frente. Ele esbarrou na
pessoa, saiu e disse um singelo “desculpa”, quase inaudível.
Correndo dali, ele subiu as escadas, saiu na rua, e próximo dali
estava a empresa em que agora trabalhava. Outros funcionários chegavam.
Ninguém o conhecia ainda. A única barreira a ser cruzada ali era a porta
giratória, onde chegava ao hall de entrada. Ele nem disse um bom dia à
recepcionista, pegou o cartão de acesso e passou direto.
CAPÍTULO 2
Alisson
O dia começou bem difícil para Alisson. Ela dormiu tarde porque
estava empolgada criando um software, portanto se atrasou pela manhã, não
tomou café e perdeu o primeiro metrô. Ficou vinte minutos esperando o
próximo e, quando ele chegou, já estava atrasada em dobro.
Apesar de ter acordado quase a pouco tempo, seu corpo ainda
estava cansado. E, depois do trabalho, ainda iria correr com sua amiga Mia,
que estava a forçando a fazer essa atividade todos os dias depois do
trabalho.
Agora Alisson estava quase correndo para chegar a tempo para o
seu turno no emprego. Seu chefe não era tão ruim, mas odiava atrasos. E,
mesmo sabendo que Victor não diria nada a ele sobre isso, ela não podia
arriscar.
Quando o vagão parou na sua estação, ela estava bem na porta,
olhando o celular e contando os segundos. Ela pôs o primeiro pé na frente,
esperando sair sem se desequilibrar, mas do nada alguém a empurrou, a
fazendo cair, poucos passos fora do vagão.
Ela caiu quase de cara no chão, deixou cair sua bolsa e celular,
olhou para cima e viu um idiota andando, quase correndo, para o mesmo
caminho que ela iria. O carinha era alto, cabelos escuros, não deu para ver
seu rosto, ele nem parou para a ajudar, já que foi o culpado. A tira colo,
usava uma pasta, seu terno era chique, entretanto, na confusão, deixou seu
aparelho telefônico cair.
Alisson olhou uma última vez para ele, depois para seus pertences,
alguém a ajudou a se levantar. Ela foi educada, deu obrigado, pegou os dois
aparelhos e desejou voltar no tempo para bater com aquele celular, na
cabeça do idiota.
Ela também pensou: não é porque sou uma nerd gótica, às vezes
tímida, que devo ser tratada dessa forma.
Alisson respirou fundo, arrumou sua roupa e voltou para o seu
destino. Saiu da estação com ódio nos olhos. Ainda teve que caminhar
alguns metros para chegar ao prédio onde ela trabalhava.
Claro, ele parecia ser importante, a única empresa desse porte ali
era a TEC Corporation, então se arriscou ao perguntar a sua amiga
recepcionista, assim que passou pela porta giratória.
— Molly, Bom dia. — Ela sorriu, encostando-se na bancada que
ficava antes de apresentar os crachás e passar pelo roleta. — Sei que deve
ser difícil de perceber quem é todo mundo que passa por aqui, mas… —
Alisson lembrou do cara. Sua bunda era perfeita, estava muito elegante,
mesmo que sua visão, daquele ângulo, era bem baixa. — Sabe se um idiota
de terno, segurando uma pasta, passou por aqui. Ele tem cabelos escuros,
bem aparados, uma bunda bonita.
Molly riu no mesmo instante. Ela tentou lembrar, mas eram muitas
pessoas que passavam por ali todos os dias.
— Sinceramente, as características que você acabou de descrever é
bem comum. — Molly ainda tentou mais uma vez, porém, uma cópia exata
passava na sua frente, só que na versão mais baixa. Muitos homens de terno
caro, arrogante e bonitos, passam por aquela porta. — Olhe ao redor. Tem
muitos desse tipo aqui.
— Claro, você está certa. — Alisson olhou o dispositivo nas mãos e
pensou em cometer essa loucura. Ela era boa em invadir a privacidade de
um celular ou computador, mas sabia o quanto isso era errado. — Obrigada,
Molly! Agora, tenho que ir, ou me atrasarei ainda mais.
Ela passou por todos, indo ao seu setor. Assim que entrou pela
porta, olhou todos que ali trabalhavam. Alisson deu um obrigado silencioso
para o amigo, tentou disfarçar para que seu superior não a visse entrar
atrasada, apesar dela saber que passando seu crachá na máquina, na entrada,
ele saberia do seu delito, ela só queria evitar tomar uma bronca naquela
hora.
Alisson pôs a bolsa perto da cadeira, no chão. Sentou-se no seu
lugar e começou com o trabalho, mas antes seu colega disse:
— Você tem sorte de ser a melhor no que faz, Alisson. Se não fosse
assim, o senhor Cooper te colocaria na rua.
— Nem me atrasei tanto. — tentou se defender.
— Mas ele é paranoico com isso e eu já te cobri duas vezes. —
Esticou-se para a observar.
Ela retribuiu seu favor com um sorriso.
Sua atenção hoje estava no celular que pegou. Ela devolveria para o
babaca, mas antes tinha que descobrir mais quem ele era. Para isso ela teria
que entrar naquele telefone e descobrir de quem era aquela bunda perfeita.
Alisson deixou sua investigação para outra hora. No horário do
almoço tentaria descobrir o nome ou o rosto, pelo menos, do senhor
arrogante.
***
Alisson pegou o aparelho e foi almoçar. Sento-se na cantina do
prédio, pediu o seu prato, recosto suas costas na cadeira e começou a
vasculhá-lo. Ela sempre foi boa com equipamentos de softwares. Já se
colocou em situações horríveis, todavia hoje era boa no que fazia. Por isso
que trabalhava nessa empresa, que era a pioneira em proteção de dados
aqui, nos Estados Unidos.
Sua curiosidade falava mais alto do que a moral de não mexer no
que não era seu.
Era fácil invadir o celular e, logo de cara, viu um papel de parede
fofo: um cachorrinho branco bem pequeno que está olhando diretamente
para a câmera.
Ela pensou em como um cara tão bruto como aquele poderia ter um
animal de estimação. Deveria ser proibido. Esse cachorro deve estar
precisando de ajuda.
Seu pedido chegou e ela almoçou enquanto olhava a galeria.
Esperava não ter nada tão comprometedor. Deus me livre ver um nude de
um desconhecido! Segundos depois pensou ser uma enorme mentira. Ela até
que estava curiosa.
Ela abriu as fotos e foi passando uma por uma, vendo pessoas em
festas, duas senhoras que poderiam ser sua mãe e avó, e um senhor que ela
achou já ter visto em algum lugar. Nada de muito importante. Até chegar
em uma selfie.
Puta merda! É ele!
Alisson até se engasgou com a bebida. O cara era lindo. Não! Lindo
é pouco. A foto era dele depois da academia. Nossa! Suado fica um pecado.
Seus cabelos pretos estavam caídos sobre o seu rosto quase pálido e seus
olhos azuis, pareciam penetrar a sua alma.
Ela arrastou o dedo para o lado, a fim de ver se haviam outras fotos
dele. Constatou que, Graças a Deus, têm muitas. O senhor arrogante tinha
músculos incríveis e ficava perfeito de terno.
Observou o horário e notou que seu tempo de refeição estava
acabando. Ela optou por deixar para vasculhar mais coisas depois que saísse
do trabalho.
Alisson guardou o celular no bolso e voltou para o seu trabalho.
Sua mente não saiu do homem que viu nas fotos. Sabia que ele
tinha sido um idiota, contudo não podia deixar de apreciar sua beleza. Será
que é tão arrogante e imbecil como aparenta? Poderia estar tão atrasado e
distraído, que nem tenha me visto em sua frente.
Não! Não posso arranjar desculpas para ele.
Alisson pensava que, apesar de ser pequena, não era insignificante e
o arrogante só foi um babaca. Homens assim se acham o topo do mundo e
ela pensou que ele precisava de uma lição.
Deixarei isso para lá, descobrirei quem ele é e lhe devolverei o
telefone, porém não como o deixou quando derrubou.
***
Ela chegou em casa e colocou sua roupa de corrida. Não era de
fazer muitos exercícios, mas Mia pretendia ficar com o corpo definido e não
queria fazer isso sozinha. Só corria para relaxar, já que não tinha ninguém
para ver o resultado de tanto esforço.
Não demorou muito para ela chegar batendo na porta do
apartamento.
— Vamos logo! Temos que correr o dobro hoje. Não resisti e comi
duas fatias de torta. — avisou desanimada.
— O quê? — Ela só pode estar alucinando. — Você quer me
matar?
— Deixe de ser sedentária! — a puxou pelo braço até a fazer passar
pela porta.
Mesmo não querendo correr tanto, saiu de casa. Como estava com
muita coisa na cabeça, usaria esse tempo para pensar em uma forma de
fazer o gato arrogante pagar por ter a deixado no chão.
***
Alisson se encontrava na banheira, quando pegou novamente o
celular para o vasculhar e descobrir mais sobre o homem. Queria achar seu
nome, porém ela não conseguia ser tão fora da lei e ir direto à sua caixa de
mensagens ou e-mail.
Mia sempre falava que Alisson sofria da “síndrome” de ser certinha
demais. E era verdade. Apesar dela conseguir entrar em muitos
computadores e redes de dados, Alisson nunca faria isso. Já se ferrou uma
vez ao ser culpada por algo que não fez, e hoje tinha esse trauma.
Decidiu ligar para alguém e rezou para que essa pessoa o chamasse
pelo nome. A quantidade de contatos femininos era enorme. E não era para
menos, já que ele era lindo. Lógico que pegava todas que queria. Ela podia
apostar que com uma ou duas chamadas, alguma delas atenderia,
desesperada para sair com ele novamente.
Alisson resolveu colocar sua teoria em prática, clicando em um
número com o nome de “Ariana”. A ligação começou a chamar uma, duas
vezes...
— Aaron! — falou a voz feminina muito empolgada, no outro lado
da linha.
Um sorriso de satisfação tomou o seu rosto.
— Desculpe! Não é o Aaron. — tentou desfaçar a voz para o caso
de, futuramente, isso ser usado contra ela.
— Quem é e por que está me ligando do celular do Aaron? —
perguntou furiosa.
Alisson pensou um pouco na resposta e sua mente diabólica
organizou um roteiro fora do comum para a menina sem graça.
— Eu queria ouvir a voz da vadia que está atrás do meu namorado.
Queria lhe avisar para ficar longe dele se não quiser perder seus peitos
falsos e todas as plásticas mal feitas do seu rosto. — falou em um tom
irritada e bem mais alto do que normalmente falava.
Ela não fazia ideia de onde aquela ideia veio, mas se demora mais,
acabaria rindo e pondo tudo a perder.
— Olhe aqui, querida! Se o seu namorado fica atrás de mim, a
culpa não é minha. — rebateu alterada.
— Meu Aaron não fica atrás de mulheres; são as vadias que ficam
atrás dele. Espero que esse recado sirva de lição, e não chegue perto do meu
homem! E pode dizer a todas as suas amigas que farei o mesmo com elas
caso as veja a cem metros dele. — Desligou a chamada.
Deus! O que deu em mim e por que fiz isso?
Seu coração batia a mil por hora, como se estivesse prestes a sair
pela boca.
Agora sabia como se chamava o dito cujo. Mas, Aaron do quê?
Fuçou ainda mais o telefone e nada achou que ligue esse nome ao seu
sobrenome. Talvez amanhã ela o investigasse na empresa.

***
Diferente do dia anterior, Alisson acordou cedo e nem tomou café.
Depois do banho, colocou roupas que não eram muito chamativas, pois
nunca gostou de chamar a atenção para o seu corpo. Saiu na rua e andou até
o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, estava o celular.
Alisson descobriria quem era o Aaron antes do almoço e o entregaria o
aparelho depois.
A única pessoa naquela empresa que sabia até os segredos mais
sujos dos chefões, era Ágatha. Ela era uma das secretárias dos executivos
que ficavam no topo do prédio. Se tinha alguém que poderia descobrir ou
saber quem era o bundão, esse alguém era Ágatha.
Alisson entrou no metrô com esperanças de que ele estivesse ali,
confuso, em busca dela ou do seu celular, mas era óbvio que não estava.
Talvez tenha sido algo inusitado para ele.
Ao sair, no mesmo lugar onde ontem caiu, lembrou da raiva que
sentiu. Alisson não era vingativa, mas estava gostando de se vingar do
babaca.
Ela passou pela recepção, foi até o seu armário e colocou a caixa no
fundo dele, com medo de que alguém a visse e a denunciasse quando o
telefone estivesse nas mãos do dono. Em seguida, seguiu para a cantina e
pediu um café expresso.
Logo avistou Ágatha, que estava sentada com outras duas
secretárias, tendo uma conversa bem animada. Alisson não era amiga delas.
Na verdade, a quantidade de amigos que tinha, podia ser contado nos dedos.
Para todas essas pessoas, ela era a garota estranha, igual era no ensino
médio.
Embora esteja em boa forma, não tinha roupas chamativas ou sexy e
optava por não usar brincos ou colares. Contudo, fazia algumas tatuagens
quando sentia vontade.
Ágatha, por outro lado, era uma mulher linda, de trinta e dois anos,
que vestia roupas chiques e estava sempre de saltos. Ela mexia no seu
cabelo liso, de cor escura, como se estivesse em um comercial e Alisson
admirou a sua beleza enquanto andava até elas.
— Alisson, como vai? — ela perguntou sendo simpática.
Ainda por cima, a mulher tem simpatia.
— Estou muito bem, Ágatha. Obrigada! — Deu um sorriso tímido.
— Como vocês estão? — perguntou só por perguntar, pensando que seria
bom começar a conversa desse jeito.
Elas sorriram e falaram, juntas, que estavam ótimas.
— Meninas, eu queria perguntar se vocês já viram um homem por
aí. Sei que seu primeiro nome é Aaron, que ele tem pelo menos 1,90 de
altura, cabelos negros, olhos azuis…
— Tem pinta de arrogante? — Ágatha acrescentou.
— Sim. — ela se empolgou ao ouvir a melhor qualidade do senhor
misterioso. — Você já o viu por aí?
— Se eu já vi? Menina, quem não viu esse homem? E, que homem
lindo! É um deus grego, mas muito estressado e mal-humorado. Está
sempre dando ordens e sendo arrogante.
Por isso Alisson deduziu que poderia ser um dos grandões e que
não era uma boa pessoa. Isso até tirou um peso das suas costas. Assim não
precisava se sentir mal.
— Quem é ele, Ágatha? — questionou, bastante curiosa, sentando-
se no meio delas.
— É o mais novo chefe, querida. Aaron Spacter. O filho de Robert
Spacter, assumiu a empresa depois que o pai sofreu o acidente e ficou em
coma.
Puta merda! Alisson congelou por dentro. Ela podia apostar que o
babaca era executivo, sentava em uma das melhores cadeiras daquela
empresa, mas ser o novo CEO?
— Você está bem? — perguntou ao observar a garota pálida,
ficando mais pálida ainda. — Ele te fez algo?
— Não. Eu só o vi por aí. Parecia que tinha comido algo estragado.
— Ela estava tentou pensar em tudo o que lhe aconteceu e fez.
— Ele está assim desde que assumiu os negócios. — Revirou os
olhos. — O que tem de lindo, tem que mal-educado.
— Ok, meninas. Tenho que trabalhar agora. Obrigada pela
informação! — Levantou-se e saiu de perto delas.
Meu Deus! Aaron é o CEO da TEC Corporation?!
Naquele momento ela se questionava sobre suas atitudes. Claro que
Aaron merecia perder alguns neurônios por conta do que fez, porém,
provocar o chefe? Alisson já sentiu na pele o que era provocar um grandão.
O conflito no seu peito acelerou seu coração, pôs a ansiedade no
seu nível mais alto. Ela se preguntava se devia ou não entregar aquele
celular.
Não posso desistir agora. Afinal, ele não saberá quem sou e não
sabe nem que existo. Pensou tentando se acalmar e se convencer de que
nada de ruim lhe aconteceria.
Então, ela decidiu parar de pensar em bobagens e voltar ao trabalho,
mas falhou muitas vezes, pois sua mente não parava de se perguntar se era
isso mesmo que ela queria fazer.
Alisson olhava as horas a cada dois minutos. No final do dia, estava
exausta de tanto pensar no que faria. Então, voltou ao armário, o abriu,
pegou a caixa e olhou para ela por alguns minutos. Agora tenho que
devolver. Afinal, Aaron não vai saber quem sou. Talvez nem se importe.
É, talvez eu seja insignificante para ele!
Ela voltou a se irritar com a possibilidade de Aaron não se afetar
por nada. Estava na hora de fazê-lo baixar a sua arrogância, não só com ela,
mas com todos ali.
— Molly, uma moça me entregou este pacote agora a pouco e pediu
para o entregar ao Aaron Spacter. Ela parecia muito irritada e nem quis
entrar. — Alisson odiava mentir. Não que não fizesse isso com frequência,
mas com o que já passou, mentir sempre a fazia morder a linguá e esperar
pelo pior. — Quem é Aaron Spacter? — era muito sem-vergonha. Alisson
estava se profissionalizando com essa coisa de mentir e ser fingida. Pôs a
culpa disso tudo em Aaron.
— Lembra do homem por quem você me perguntou ontem e eu
também não sabia quem era? — Sendo ainda mais mentirosa, ela fingiu
tentar lembrar e depois confirmou com a cabeça. — É ele, o novo chefe.
Dizem que é muito arrogante.
Aaron era muito famoso por essa atitude, no entanto, não parecia
ser um brutamonte quando falou com a piranha no telefone.
— Entendi. Então, você pode entregá-lo?
— Pedirei para que Milla entregue. Ela é secretária dele.
— Coitada! — Ela pensou em voz alta.
Alisson seguiu seu caminho. Não conseguia parar de pensar no
bundão que se esbarrou ontem. Se ela soubesse que era o chefe, não teria
invadido sua privacidade. Porém, ela não diria nada a ninguém. Essa
historia tinha que morrer com ela.
CAPÍTULO 3
Aaron
Aaron teve o dia cheio. Muitas reuniões, lidar com funcionários e
ainda tinha papéis para avaliar e assinar. Sua cabeça doía, seu corpo estava
exausto, mesmo ele não tendo feito esforço físico. Aaron não lembrava do
dia em que sua exaustão mental ultrapassou esses limites.
Claro que ele não podia reclamar, apesar de tudo, estava grato pelo
que tinha, mas estava começando a pensar se não deveria passar algumas
responsabilidades, de suas próprias empresas, para outro administrador,
ficando com a carga da TEC Corporation.
Ele olhou para o relógio em seu pulso e constato serem sete e meia.
Era hora de ir embora e nem estava perto de terminar o que tinha para fazer.
Sendo assim, acabou optando por deixar o restante dos afazeres para o dia
seguinte.
Esse trabalho, assim como os demais, estava-o matando e ainda se
preocupava com o estado do seu pai, que se encontrava em coma há dois
meses.
Os médicos não tinham uma previsão de quando — e se — ele
acordaria. Aaron não queria perdê-lo. Era um bom pai e sempre esteve ao
seu lado, mesmo quando ele cometia algum erro.
Agora, a sua obrigação era cuidar dos negócios da família. Algo
que estava o estressando muito. Vivia com dor de cabeça e com as
preocupações invadindo sua mente, fazendo-o perder a razão.
Notou que na empresa, todos estavam correndo dele. Também…
Aaron estava sempre dando ordens e de mau-humor. Ele imaginava que,
com toda a certeza, seus funcionários o odiavam. Pior era que ele só estava
ali a uma semana.
Ele lembrou que no dia anterior havia esbarrado em alguém no
metrô e nem parou para ajudar a pessoa. Estava tão cheio e atrasado para
uma reunião, que isso não passou pela sua cabeça. Até agora.
Aaron escutou batidas leves na porta e observou a sua secretária
entrar. Ainda não havia decorado o nome da moça. Na verdade, ele não
decorava nomes de mulheres, porque costumava a sair com tantas, que
todos se misturavam. A loira entrou com um pacote na mão. Aaron não
conseguiu tirar os olhos do azul forte da embalagem e tentou pensar o que
seria.
— Senhor Spacter, alguém pediu para lhe entregar isto. — Colocou
a caixa sobre a mesa.
— Quem pediu? — Com o cenho franzido, ele tentou imaginar
quem seria.
Aaron se questionou se, com tanta coisa na cabeça, esqueceu que
havia encomendado algo ou que alguém tivesse algo para lhe entregar,
porém, não encontrou essa informação na cabeça.
— Não sei, senhor. Foi entregue na recepção. A pessoa nem quis
entrar para entregar e demonstrava estar chateada. — Exibiu preocupação
no rosto.
Curioso, ele pegou o pacote, olhou ele todo e não sabia se alguém
lhe entregaria algo nesse estado. Quem me entregaria isso?
A mulher saiu da sala, fechou a porta e o homem decidiu abri de
uma vez o pacote. Primeiro, ele encontrou um papel com algumas letras
escrita: para o senhor bundão.
Aaron não sabia se era uma piada de mal gosto de algum
funcionário. Na verdade, era até provável, mas como não tinha remetente,
ele não poderia saber quem entregou o pacote.
Ao abrir, encontrou um celular. Na verdade, o seu celular. Isso o
deixou surpreso. Ele havia perdido o aparelho no dia anterior. Não sabia se
no metrô ou na porta da empresa. Agora ele estava ali, em suas mãos.
Ainda duvidando do conteúdo, ele resolveu ligar a tela e lá estava
seu cachorro no papel de parede. Era mesmo o seu celular. Aaron encostou-
se na cadeira, abriu um leve sorriso e pensou: mulher irritada? Claro, foi a
moça do dia anterior, em que esbarrei.
Estava cada vez mais esquisita a situação.
Até aquele momento ele não sabia se era bom ou ruim ela ter o
devolvido. Sua preocupação, quando descobriu sobre a perda do aparelho,
era se alguém o pegou e roubou seus dados. Claro que ele mantinha as
coisas separadas. Havia outro onde era restrito ao trabalho, mas aquele era
seu celular pessoal, onde seus contatos, fotos de família e dele mesmo,
estavam arquivadas.
Aaron resolveu vasculhar, pesando que assim poderia descobrir
quem ou se, encontrava alguma mudança. Apesar de o aparelho ter uma
senha, ele não se surpreenderia se algum espertinho tivesse invadido a sua
privacidade. Além disso, a TEC Corporation era uma empresa de tecnologia
que trabalhava com isso. Seria muita ironia o CEO da empresa sofrer esse
tipo de violação.
Mais surpreendente do que receber seu celular de volta com um
possível roubo de dados, era ler a mensagem que acabou de chegar.
“Então, bundão… Gostou do que fiz no seu celular? Talvez, na próxima vez, preste mais
atenção e não esbarre em pessoas aleatórias no metrô, deixando-as com a bunda no chão.”

Talvez pela ironia ou pelo cansaço em seu corpo, mas ele sorriu ao
ler isso. Seja lá quem for, tem bom humor. Contudo, logo notou que pode se
tratar de alguém perigoso que o hackeou para conseguir informações suas.
“Você, estranha, está tentando me chantagear para me roubar mais coisas?”
O mais irônico de tudo era que ele comandava uma empresa que
tenta evitar esse tipo de situação. Se o dono foi uma vítima, imagine os
clientes.
Ele pensou que talvez a pessoa esteja querendo o derrubar ou
provar que a empresa não realizava um bom trabalho. O que ele não podia
permitir.
O engraçado era que ele não foi respondido. Seu tom de rispidez
deve ter assustado o provável hacker. Ele pensou.
Decidido a deixar essa história de lado, Aaron guardou o telefone.
Estava cansado e não pensava muito bem quando sua cabeça estava cheia.
Aaron encarou a mesa com a pilha de papéis, respirou fundo,
encostou a cabeça, por alguns minutos, na cadeira e decidiu levá-los para
casa.
Como um idiota curioso, pegou o telefone às pressas assim que o
sentiu vibrando.
“Senhor bundão, se eu quisesse prejudicar você ou roubar seus dados, não precisaria me esforçar
tanto. Além do mais, devolvi seu aparelho. Deveria me agradecer por ser mais gentil que o senhor.”

Ele não soube dizer se isso o tranquilizava.


“Não posso agradecer a uma pessoa que não conheço e que, principalmente, pegou meu número de
telefone, sem que eu permitisse. ”
Não obteve resposta.
Assim que chegou no térreo, seu motorista já estava à sua espera.
Entrou no carro, ainda pensando no acontecido. Suas roupas estavam cheias
de glitter, por conta da presepada armada pela estranha.
Como se esse acontecimento fora do comum já não fosse
preocupante, ele ainda tinha a preocupação com o seu pai, que estava em
uma cama de hospital. Eles não sabiam se ele iria acordar ou não. Desde o
seu acidente, Aaron se martirizava por não ter lhe ajudado da forma como
queria e por não ter sido mais presente. Algo que, provavelmente, teria
evitado todo esse problema. Era por isso que ele estava tão dedicado agora.
“Posso até sentir sua arrogância de onde estou. Entendo que é um homem ocupado, mas deveria ser
mais gentil às vezes. Assim, talvez, fosse procurado por afeição, e não por interesse de piranhas
siliconadas. ”
Sinceramente, ela não estava errada, por isso ele riu do sarcasmo.
Não foi nada demais, apenas uma provocação descabida, porém era algo
que o alegrou.
“Quem é você e qual é o seu nome? Estou achando que é uma adolescente rebelde que acha que
pode brincar com um estranho.”
“Alguns diriam que, de acordo com minha estatura e tipos de roupas que uso, poderia ser realmente
uma adolescente. Mas, não se preocupe! Não será processado por abuso de menores. E, quanto ao
meu nome, nunca saberá. Não queria nem que sua boca suja o pronuncie. Para meios de
comunicação, pode me chamar de Bird.”
“Que criativo! ”
“Não sou mesmo. Por isso falei algo que estou vendo em um pôster, no metrô.”
“Acha que sendo irônica comigo vai me punir pelo que fiz? Porque não estou exatamente irritado.
Achei que fosse alguém perigoso, mas vejo que é apenas uma mulher que deseja um pouco de
atenção. E, para falar a verdade, estou me divertindo.”
“Está me chamando de egocêntrica? É você quem está se aproveitando do meu tempo.”
“Foi você quem começou a mandar mensagens, passarinho.”
“Foi uma péssima ideia.”

A conversa que começou estranha estava o distraindo do dia tedioso


que tive. Aaron acabou achando que o passarinho estava mais irritado do
que ele.
“Desculpe-me por ter a derrubado ontem. Foi uma grosseria não ter a ajudado. Na verdade, isso
teria acabado com o mistério, passarinho. Você me deixou curioso para saber qual é o seu rosto.”

Ela não o respondeu imediatamente e ele se surpreendeu pela sua


espera ansiosa. Nem notou que o carro já tinha estacionado na garagem do
prédio e ele confessava que queria continuar a troca de mensagens.
No elevador, ficou tentando imaginar a mulher com quem
conversava. Se ele não tivesse sido tão desatento e, como ela mesma disse,
um bundão, poderia saber sua identidade.
Assim que abriu a porta, Hunter veio muito feliz ao seu encontro.
Esse Poodle foi um presente da sua mãe. Ela disse que ele era muito
solitário. Claro… Não sabia sobre as visitas femininas frequentes ao seu
apartamento.
Como um idiota, pegou o aparelho telefônico assim que ele vibrou
no bolso. Apesar de saber que era estranho e que possivelmente essa mulher
invadiu sua privacidade, ele estava gostando daquilo.
“Está, mesmo, pedindo desculpa?”
“Nem sempre sou um bundão. E admito que errei. Se nos encontrarmos novamente, posso até te
pagar um café como um pedido de desculpa.”
“Não vai rolar. Mas, talvez, se chamar algumas das muitas mulheres de sua agenda, elas
poderão te fazer companhia.”
“Não se preocupe! Meu interesse é puramente investigativo. Não queria que me interprete mal.”

Sua curiosidade, de fato, estava ficando aguçada. Essa mulher


conseguiu o prender em uma conversa enquanto as outras só falavam em
roupas e bolsas caras.
“Fico feliz. Eu nunca serei mais uma em sua lista. Uma longa lista. E não pensei nisso, mas
devo continuar no anonimato. ”

Ele riu, sentou-se no sofá e encarou o celular como se, em meses,


estivesse fazendo a coisa mais empolgante.
Esse passarinho acha que conseguirá resistir a mim?
“É impressão minha ou está com medo?”
“Não conte piadas, bundão! Não tenho medo de você. Acontece que prefiro me manter a uma
distância segura. ”
“Claro. Porque tem medo de não resistir.”
“O seu egocentrismo chega na atmosfera, bundão.”
O mais interessante de tudo era que ele não desejava parar de falar
com ela. Ele ainda nem havia tirado os sapatos ou afrouxou a gravata; só
conseguia olhar para a tela e esperar pela sua resposta.
“Torço para me esbarrar em você outra vez, somente para te ouvir falar essas coisas olhando em
meu rosto.”
“Espero que isso nunca mais volte a acontecer. Não sou alguém confiante o bastante para
dizer na cara tudo que penso.”

Essa mensagem o fez rir.


“Tenho que ir, senhor bundão. Amanhã acordarei cedo, e ainda tenho que terminar um
trabalho.”
“Logo agora, que estava ficando animado.”
“Boa noite, senhor bundão!”
“Gostou mesmo da minha bunda. Não para de falar dela.”
“Já vi melhores.”
“Vou acreditar em você.”

A falta de resposta o deixou frustrado, no entanto, acabou o


lembrando do quanto isso era ridículo. Nem fazia ideia de quem era a
mulher e já queria ser amigo dela?
Deixou o celular de lado e foi para o banho a fim de esfriar seu
corpo e buscar o relaxamento. Em nenhum momento ele deixou de pensar
na estranha com quem ele esbarrou.
Começou o dia pensando que ele seria mais um estressante e chato,
mas até que a surpresa o deixou feliz.
***
Assim que acordou, lembrou-se do celular e, como um tolo,
verificou se tinha mais alguma mensagem da mulher misteriosa. Não tinha.
Ele achou decepcionante, e se irritou consigo mesmo por pensar assim.
Resolveu cuidar de tudo para começar seu trabalho. Tomou banho,
colocou um terno cinza e arrumou os cabelos em frente ao espelho.
Seu pai sempre se orgulhou de ser o pioneiro no ramo de proteção
de dados. Era um leigo no assunto, mas um mestre em administrar.
Com o crescimento da internet, também cresceram novas
oportunidades de roubar. Era por isso que a TEC Corporation se
especializou nessa área e hoje trabalhava com diversas empresas, bancos e
pessoas que fazem parte desse meio digital.
Depois de pegar os papeis que trouxe ontem para casa, enfiou-se no
elevador, que desceu até o estacionamento. Seu motorista já estava à sua
espera. Quando entro no carro, resolveu dar atenção aos documentos. Na
noite anterior não conseguiu resolver nada, pois só pensava na estranha,
mas hoje resolveu esquecê-la e focar em trabalhar.
Chegou rápido à sede de Nova York, já que estava o mantendo
ocupado, lendo os diversos formulários e novos contratos.
Saiu do veículo e parou antes de passar pela porta da frente. Apesar
de poder entrar pelo subterrâneo, gostava de chegar por aqui para passar
pela recepção e conferir as coisas. Contudo, seu objetivo naquele dia era
encontrar uma pessoa específica, mesmo sabendo que era tolice.
Assim que notou o quão ridículo era o que estava fazendo, passou
pela porta giratória e foi direto ao seu escritório. Era claro que o passarinho
irritante não fazia parte do seu quadro de funcionários.
— Bom dia, senhor Spacter! — sua secretária o cumprimentou com
um belo sorriso no rosto.
Ele tentou lembrar do seu nome, porém, naquela manhã sua mente
resolveu brincar com ele. Ela sempre o deseja um bom dia, mas nunca foi
retribuída.
— Bom dia, senhorita! — Passou por ela, lendo o papel que estava
em sua mão. — Você poderia me trazer um café, por favor? — Colocou
suas coisas sobre a mesa.
— Claro, senhor. — ela deu um sorriso assustado que o fez franzir
o cenho. — Aqui estão os papeis para a análise. — o avisou antes de sair.
“Ótimo! ” Mais papeis!
Alguma força maior que tomou o seu corpo o fez pegar o celular do
bolso. Ele tentou, a todo custo, tirar todo o glitter dele, na noite passada.
Buscou as mensagens de ontem.
“Ser simpático não faz o meu tipo. As pessoas me olham como se eu fosse um estranho.”

A falta de resposta o irritou, novamente, e o fez guardar o aparelho.


Tentou se concentrar somente nos papéis. Até que ele vibrou.
“É isso que dá ser mal-educado com todo mundo. Se continuar assim, bundão, pode ser o
chefe do ano.”

Apesar da demora, ela finalmente respondeu, e, como um idiota, ele


olhou a mensagem no mesmo instante.
“Senhor bundão”. Aaron estava começando a se acostumar com
esse apelido. Não eram amigos, tampouco queria que fossem, apesar dele
estar curioso para saber quem ela era.
“O que a senhorita Passarinho está fazendo agora?”

Ela o mandou uma foto e ele viu que estava no metrô. Não enviou
uma dela, mas sim de uma senhora dormindo, sentada no banco da frente.
“A senhora parece simpática, mas queria uma foto sua.”
“Está ficando obsessivo com esse assunto. Não terá uma foto minha. Contente-se com a
senhora simpática!”

Ela tinha razão: ele estava começando a insistir demais nessa


questão. Deveria se concentrar no trabalho. Entretanto, agora, que estavam
conversando de novo, era difícil apenas ignorá-la.
“Tem razão. Vou começar a ignorá-la, passarinho.”
“Não seria o primeiro. Então, tudo bem.”

“Claramente, não vou fazer isso até que me mostre algo com o qual eu me contente.”
Surpreendentemente, sua tela foi invadida por uma foto do seu dedo
do meio. Era pouco, mas conseguia ver que sua pele era pálida, com uma
tatuagem, e que sua unha estava pintada de azul, combinando com sua cor.
Isso o agradou.
“Gostei da tatuagem. É muito sexy. Gostaria de saber se outras partes do seu corpo também são."
“Vai ficar só com a mão, senhor bundão.”
“Você é a mulher mais difícil que conheço. Geralmente, não preciso fazer nada para que as mulheres
tirem as calcinhas.”

“Isso, na verdade, é uma honra. Eu nunca faria tal coisa com um pervertido como você.”
“Só está dizendo isso porque está longe, e não na minha frente. Acredite: eu lhe agradaria muito,
passarinho. Tanto que desejaria repetir.”
“Nunca vai acontecer.”
“Agora é você quem está me subestimando. Tome cuidado ao me provocar!”

“Vai ter que ficar com a ideia de que nunca vai me encontrar, de que jamais serei uma das
idiotas que ficam no seu pé e de que nunca me faria perder cabeça a ponto de ficar com você.”

Toda essa provocação estava o deixando louco. Ninguém nunca


falou assim com Aaron antes, ou o recusou. Essa mulher pode ser uma
lunática, porém estava o motivando a provar o oposto.
“Espero ter a oportunidade de provar o contrário, passarinho.”
CAPÍTULO 4
Alisson

Alisson não sabia por que mandou mensagens para ele, nem por que
conversaram. Era loucura! Aaron era seu chefe, um egocêntrico safado.
Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar
tudo que estava acontecendo.
Ela tinha que confessar que ele era engraçado, embora seja irritante.
E, apesar de saber disso, ainda queria receber e responder suas mensagens.
Não podia negar que sentiu um pouco de medo e que até agora
estava sentindo. Ela não fez nada demais, porém, com a fama de chefe que
ele tinha, devia se prevenir e não dar muita pinta, para não arriscar topar
com ele e ser reconhecida de alguma forma.
O pior era que assim que virou o quarteirão, o viu. Ele estava lindo,
trajando um terno cinza. Sua bunda ficava maravilhosa na roupa mais justa
e seus cabelos estavam muito bem penteado. O homem era lindo, quase um
deus. Se não fosse tão arrogante...
Ela ficou feliz quando o viu entrar no prédio. E, para disfarçar,
esperou alguns minutos do lado de fora.
Quando trabalhava, as horas se passavam e ela nem percebia.
Gostava muito do que fazia e de onde trabalhava. Era a única mulher no seu
setor e uma das melhores no ramo, assim como Victor.
Depois de ser um cavalheiro ao ajudar Agatha e Milla, ele se tornou
o queridinho delas. Era sempre bem-educado, um bom ouvinte, nunca era
desrespeitoso com ninguém, e todas o achavam fofo.
Só o observou de onde estava. Geralmente, eles se viam no
restaurante, na hora do almoço. Só não quando estavam com preguiça,
pouca fome, e optava por comer algo na lanchonete da empresa.
Mas hoje, em uma tentativa inútil de fugir dos seus pensamentos,
ela escolheu ir com ele e suas novas amigas. Era estranho estar no mesmo
lugar que as secretárias. Elas eram simpáticas e nunca a olharam estranho,
porém, eram como espécimes totalmente diferentes.
Enquanto Alisson estava com uma camiseta simples, uma calça
jeans surrada e bota preta, de couro fosco, elas estavam usando um vestido
bonito, saltos altos, e estavam com os cabelos bem feitos, além da
maquiagem elegante. Até pareciam madames, pela forma de agir.
— Vocês não sabem como está sendo estranho o meu trabalho hoje.
— Falou Milla. Ela parecia empolgada com a novidade que contaria as
amigas.
Ela era a secretária de Aaron. Portanto, querendo ou não,
infelizmente, Alisson ficou curiosa com a fofoca.
— Por quê? — Perguntou Agatha. — O idiota do seu chefe fez
alguma coisa? Queria dizer... mais alguma coisa?
— Ele está de bom humor. — Comentou surpresa, com um sorriso
nos lábios pintados de vermelho. — Desejou um bom dia para mim, pediu
“por favor” quando quis um café e não estava tão grosso como sempre. Será
que o pai dele morreu?
— Credo, Milla! Talvez ele só esteja revendo como trata os
funcionários ou tenha transado com alguém ontem. — Disse Agatha,
fazendo com que Alisson engasgasse com o suco.
Todas olham para ela, e Victor riu da sua cara. Nenhum deles
sabiam realmente o que aconteceu.
— Seria alguma namorada? — Questionou Milla, pensativa.
— Não mesmo. — Alisson respondeu sem pensar. Então notou o
erro e os olhares estranhos. — Vocês mesmas dizem que o homem é um
arrogante. Como arranjaria uma namorada que o suportasse? —
Argumentou após a gafe.
— Pode até ter razão, Alisson. Mas, já viu o homem? — Perguntou
o óbvio. — Ele é lindo de morrer e tem muito dinheiro. Aposto que seu
telefone está repleto de número de mulheres. Ontem, por exemplo, uma
delas foi ao seu escritório. Estava tão irritada que nem esperou que eu
anunciasse sua chegada. — Alisson se mordeu para saber quem era.
— Então, essa está descartada como candidata. — Ironizou Ágatha.
— Ele ficou chateado e nem sabia do que ela estava falando. —
Milla continua pensativa.
Alisson se sentiu animada e no direito de cometer mais um erro. Ela
não podia dar pinta ou comentar algo que o fizesse imaginar que ela estava
por perto, mas a lógica fugiu naquele momento, a fazendo pegar o celular e
mandar uma mensagem.
“Deve ter sido divertido lidar com a loira oxigenada ontem. ”

Surpreendendo-se, Aaron respondeu rápido, como se já esperasse


pela sua mensagem.
“Então, foi você mesmo. Saiba que ela ainda está me irritando. Por que disse que era minha
namorada? Todos sabem que não namoro. ”
“Foi exatamente por isso que eu disse. Gostaria de ter visto as caras dos dois.”
“Não foi nada engraçado ter que aturar as bobagens dela quando me procurou.”

Alisson não sabia se ele estava irritado ou só comentando.


“Quem sabe, na próxima, eu esteja por perto para ver como vai reagir à outra mulher
irritada por alguma coisa que eu tenha dito sobre você?”
“Um momento...”
Os três pontinhos no final de sua mensagem a irritaram, pois, o
restante estava demorando uma eternidade para chegar.
“Como sabe que ela esteve ontem no meu escritório? Está me espionando, comprando informações
ou...? ”

Só agora ela refletiu sobre o que fez. Antes Aaron achava que ela
era uma estranha da rua, mas agora sabe que estava mais próxima dele do
que imaginava. Alisson se irritou consigo mesma e desejo se bater.
“Acho que falei demais.”

Desejou apagar as mensagens, achando que assim ele se esqueceria,


porém, o estrago já estava feito.
“Você trabalha para mim, não é, passarinho?”
“Você ainda não sabe quem sou, então espero que isso não me traga problemas, bundão.
Além do mais, não estou cometendo um crime, não é?”
“Se sou seu chefe, não admito que fale comigo dessa forma e exijo vê-la agora.”
Ela já fez muita merda na vida e gostava de achar que era
inteligente, só que fazer isso foi demais. Agora estava quase ferrada.
Rezava para que ele não a procure na empresa só para a demitir.
“Acho que está convencido demais, Aaron. Não pode me exigir isso. Apesar de ser meu
chefe, não sabe quem sou, e não vou dar a você a oportunidade de me demitir.”
“Não queria demitir você, só saber, finalmente, qual era o rosto da mulher que está me deixando
louco. ”
“Eu estou te deixando louco? Não me conte piadas! É você quem está se importando muito
com esse mistério. Além do mais, não vou acreditar que não me demitirá, já que até o momento o
que sei sobre você é que não se permite ser desafiado por um funcionário. O que quer dizer que não
vou dizê-lo quem sou, bundão.”

O momento de silêncio só a deixou ainda mais nervosa. Não


gostava de situações como essa, onde se sentia pressionada, mas devia
admitir que a culpa era sua.
“Tudo bem, passarinho. Mas saiba que vou descobrir quem é, querendo ou não, e provarei que sou
de confiança, que não vou demiti-la.”
“Boa sorte, então! Não sou fácil de ser achada. E, mesmo se estiver no mesmo lugar que eu,
nunca imaginará quem sou.”
“É um desafio?”
“Não, Aaron. Não é um desafio. Agora, deixe-me voltar ao trabalho!”

Guardou o celular no bolso e retornou ao prédio sozinha. Ela não


queria que, de alguma forma, ele tivesse tempo de a achar.
Antes de passar pela recepção, ela o viu encostado na parede de
mármore, olhando para todas as pessoas que passam pelo hall.
Filho da mãe!
Respirando fundo, enfiou-se no meio de um grupo de funcionários
que trabalhava nos escritórios do andar de cima e tentou, a todo custo, não
olhar para ele. Sentiu um frio na barriga incomum quando passou ao seu
lado, mas, como já sabia, ele nunca olharia para ela. Nem a notaria quando
passasse ao seu lado.
Alisson não era uma desajeitada horrorosa, só sabia seu lugar. Sua
beleza era comum, seu espirito era de uma garota tímida. Já esteve ao lado
de homens como ele e foi ignorada. Homens como Aaron não ficavam com
garotas como Alisson.
Eles preferiam mulheres elegantes, super magras, com roupas sexy,
cabelos longos, muito bem tratados, usando salto, uma beleza única que
chamava atenção.
Claro, isso não devia chateá-la. Ela jamais desejaria nada que não
podia ter. Sua autoestima estava negativa, essa semana. Geralmente estava.
Então, vivia sua vida comum, saindo com seus amigos quando não estava
com preguiça. Corria com sua melhor amiga, mega magra e bonitona,
porém, sabia que nunca chegaria aos pés de chamar a atenção de um
homem bonito e rico como Aaron Spacter.
Os nerds ficava com nerds, porém, até isso estava sendo difícil
ultimamente. Claro que contava o tédio que ela tinha em sair e se dedicar a
outra pessoa. Ela pensava que se não estava animada, outra pessoa não
conseguiria animá-la. Além do mais, passou mais de vinte anos sozinha,
sem um namorado, não fazia diferença.
***
Hoje, correr com Bia tagarelando sem parar no seu ouvindo, a
salvou de ficar pensando em Aaron Spacter, seu chefe arrogante. Ele era
como um parasita em seu cérebro, que perturba até os seus sonhos.
No entanto, agora ela estava na frente da televisão, olhando para
algo que passava, e não parava de pensar nele. Estava exausta, e nem
mesmo o banho a relaxou depois daquele episódio no trabalho. O que nem
havia sido grande coisa.
Uma parte dela deseja ser notada, aparecer em seu escritório e dizer
na sua cara linda tudo que pensava, mas a outra parte, medrosa e tímida,
gritava no seu ouvido, dizendo o quanto seria ridículo e errado chamar a
atenção do chefe depois de tudo que fez. Não era uma boa ideia.
Não se importava se o bundão dissesse que não a demitiria e que
não foi grande coisa o que ela falou a ele durante este tempo. Sabia que se a
visse pessoalmente e concluísse que a Bird não era grande coisa, com
certeza se enfureceria e a mandaria embora.
Seu coração foi à boca quando o celular vibrou ao seu lado. Era ele,
seu nome. Ou melhor, o apelido que ela havia lhe dado. Estava grande e
claro na tela.
Ela lutou para não deixar a curiosidade tomar conta, só que era
impossível resistir quando a segunda mensagem chegou.
“O que está fazendo, passarinho?”
“Se estiver de acordo, podemos sair e conversar pessoalmente.”
Ótimo! Ele quer conversar. Mas Aaron sabia qual seria a sua
resposta.
“Aaron, não vai conseguir me convencer a mudar de ideia. Então, NÃO!”
“Odeio mulheres difíceis. Deve saber que nossa amizade pode acabar se não me der mais do que
pistas. Não sou de gostar quando não sei das coisas ou com quem estou falando.”

Amizade?
“Primeiro: somos amigos? Segundo: como está acostumado a sempre estar no comando,
deve saber que o mundo não gira em torno de você, bundão. Acho que vai ter que lidar com isso ou,
simplesmente, pararemos de nos falar.”
A ideia era boa. Não podiam ser amigos porque ela achava que não
fazia amizades com tanta facilidade. Por isso ficou surpresa ao ver que ele a
considera uma amiga. Acima de tudo, não podia se esquecer de quem era
Aaron Spacter. Apesar de ser um cara que vive, aparentemente, estressado
com tudo e que pode ser um homem legal, não era um qualquer, e sim seu
chefe.
Na prática, ela não era muito de falar e não gostava quando brigava
com as pessoas. Portanto, ela se sentia confortável apenas em falar com ele
por mensagens. Dizer na cara dele tudo que pensava era algo que nunca
aconteceria.
“É o que você quer? Porque não queria forçá-la a nada. E, sim, estou curioso. Mas não pense que
estou exigindo nada! Todos pensam que Aaron Spacter é só mais um cara babaca que usa as
pessoas, mas não sou sempre um idiota, passarinho. Se acha isso demais, posso simplesmente me
esquecer de tudo, e nunca mais terá que se preocupar comigo.”

Merda! Não era o que ela queria, mesmo. Na verdade, não sabia o
que queria.
“Não queria ser a pessoa que te julga, Aaron. Não sei como agir em relação a isso. Você não
é tão babaca quanto pensei ser, mas ainda é meu chefe. E nem nos conhecemos.”
O que estou falando?! Ele não é um futuro pretendente.
“Quer dizer... Não faço amigos com facilidade e não costumo confiar nas pessoas.”

Ela não obteve uma resposta rápida. Alisson acabou achando que
ele desistiu e acabou pensando ser melhor assim. Alisson não devia ter
começado com essa brincadeira. Tinha que ter evitado toda essa confusão.
“Também tenho dificuldade em confiar, passarinho, e entendo o que pode estar sentindo. Você é a
única pessoa que realmente fala o que deseja, sem medo de ser rude ou me irritar. Gosto disso e não
queria perder nossa interação interessante.”
Interessante?! Achei que ele odiasse.
“Não fica chateado quando falo essas coisas? Achei que não gostasse.”
“Se fosse com qualquer outra pessoa, eu odiaria, mas você, passarinho, tem algo que muda isso em
mim. Faz eu gostar de conversar e de ouvi-la dizer o quanto sou errado.”

E, novamente, ele se surpreende.


“Então... Somos amigos?”
“É estranho, porque você era meu chefe. Então…”
“Sabe o que é mais estranho? Esbarrar em alguém, ela me achar um escroto, depois me devolver o
celular que deixei cair, conversarmos um com o outro como se fôssemos íntimos e nem a conhecer.”

Estranho também era gostar de falar com ele ou sorrir como uma
idiota só porque quer ser seu amigo.
Alisson começava o achar estranho a cada dia ou a cada mensagem.
Aaron era seu chefe e, mesmo dizendo querer a sua amizade, nada mudaria
esse fato. Portanto, para que ela não fosse punida futuramente por algo que
faça, era melhor se esquecer disso.
“Deve estar entediado. Conversar com uma estranha em plena sexta-feira é algo quase deprimente.
Quando se pensa em alguém como você, mesmo sendo um bundão, imagina-se que não estaria
sentado em um sofá digitando mensagens para alguém que nem conhece.”

E, mais uma vez, ela ficou sem uma resposta imediata. O pior era
que não queria parar de conversar com ele, embora saiba quão estranho era
tudo isso.
“Já faz um tempo que não saio para me divertir, passarinho. Com meu pai em coma e com todas as
responsabilidades em cima de mim, é difícil achar um momento só meu. É difícil até ir ao escritório,
porque sempre espero uma ligação me dizendo que ele não resistiu.”
“Sinto muito, Aaron. Sei sobre o acidente, só que de nada, além disso.”
“Eu deveria estar no lugar dele agora, mas me recusei a ir ao evento. E, como ele não poderia
deixar de comparecer lá, foi. Mas queria tanto que eu tivesse ido. Agora, por minha causa, meu pai
pode não resistir.”

Alisson não fazia ideia do porquê Aaron estava a contando essas


coisas, mas ver um pouco mais do homem arrogante e descobrir que ele não
era isso tudo, estava sendo bom, mesmo que no meio dessa história toda
haja algo tão terrível.
“Aposto que ele não pensará assim quando acordar. Você não queria que aquele acidente
tivesse acontecido. Ninguém poderia adivinhar. Então, deve parar de se culpar. Coisas assim
acontecem.”
“Por que está me falando essas coisas? Mal me conhece. Acha que sou a pior das pessoas e, mesmo
assim, está dizendo algo para fazer eu me sentir melhor?”

Ela não sabia se esse era o Aaron arrogante ou o que não acredita
no que ela falou, por não se achar merecedor daquelas palavras. Ela ficou
em cima do muro, sem saber o que responder com exatidão.
“Apesar de não confiar muito nas pessoas, sempre tento dar a melhor parte de mim. E não
acho que alguma força superior tenha causado tal acidente para lhe punir. Espero que acredite em
minhas palavras.”
“Não se ofenda, passarinho! Só não estou acostumado a ouvir alguém dizer algo ao meu favor. Não
sou a melhor pessoa do mundo, e muitos que estão ao meu redor só querem se aproveitar. É por isso
que estou gostando de você: não é assim.”

Acho que ele não soube se expressar. Sim! Quis dizer que gosta da
minha sinceridade.
“Gosto de conversar com você.”

Claro. Agora sim.


“Ok, Aaron. Já está tarde e ainda tenho que trabalhar.”
“Trabalhar? É sexta à noite. Como vai trabalhar?”

Um sorriso saiu da sua boca ao ler a mensagem, que chegou em


poucos segundos. Se ela disser o que faria, logicamente ele ligaria os
pontos. E Alisson não daria tudo de mão beijada ao seu chefe bundão.
“É um projeto pessoal. Nada de tão importante.”
“Sabe, passarinho? Esse seu mistério só me deixa ainda mais curioso e motivado a te achar.”
“Não entendo como não pode deixar isso para lá e seguirmos com nossa “amizade” em
anonimato. Sinto-me mais confronte para dizer as verdades na sua cara se eu não correr o risco de
você aparecer do nada na minha porta ou me demitir no trabalho.”
“Vou repetir mais uma vez, passarinho: não quero demiti-la, somente acabar com a fantasia que
minha cabeça insiste em criar. Se eu não soubesse que a minha secretaria era tão medrosa, pensaria
que seria ela querendo me enlouquecer por tudo que já fiz.”
“Não fantasie! E, eu não sou a Milla. A coitada morre de medo de ser demitida quando você
chega na empresa como um vilão da Disney, buscando uma desculpa para ser grosso com todos.”
“É o que todos pensam de mim? Ótimo! Já não bastava meu pai me achando um idiota, os
funcionários acham que sou um bosta.”
“Bem... Confesso que também achei isso quando me derrubou outro dia. Mas, fique
tranquilo! Você era um bundão que não gosta de ser tão bundão e tenta mudar quando as pessoas
reclamam.”
“Fico feliz que não me odeie totalmente, estranha. Mas, ainda assim, sou uma péssima pessoa. E isso
irrita a mim mesmo. Na verdade, só percebi graças a você. E não acho que conseguirei a confiança
deles após meus ataques de fúria.”
“Um dia de cada vez, Aaron. Só precisa ser mais educado e menos babaca.”

Ela deveria desligar o celular e deixar para falar com ele em outra
hora, porém não conseguia tirar os olhos da tela, esperando por uma
mensagem sua. Ela sentia essa necessidade como se o cara fosse alguém
importante ou algo do tipo.
“Boa noite, passarinho! Pode ir trabalhar no seu projeto pessoal enquanto eu tento, de alguma
forma, contentar-me com a ideia de nunca saber quem é você.”
“Boa noite, Aaron!”

Foi difícil desligar o celular. Nas outras vezes que eles


conversaram, terminaram as conversas com alguma provocação, briga ou
com ele ameaçando a achar de alguma maneira, mas sua última mensagem
de hoje a deixou pensativa.
CAPÍTULO 5
Aaron

Aaron se perguntava o que estava acontecendo com ele. Desde que


começou a conversar com aquela estranha, não parava de pensar nela ou em
como ela poderia ser, na cor de seus olhos, dos cabelos, em como se veste...
As únicas coisas que sabia dela até o momento era que tinha uma
tatuagem, que sua pele era pálida, que trabalha na sua empresa e que era
tímida. Mas, por trás do seu anonimato, era sincera e provocante.
Todo esse mistério estava o deixando louco; e nenhuma mulher
nunca conseguiu isso de dele. Ele estava fascinado por ela como se fosse
uma necessidade, saber sua identidade, seu nome, onde vive e com quem.
Ele não achava que o passarinho tivesse algum namorado, mas pode
ter algum pretendente.
Hoje, mesmo, sentiu que deveria sair do seu escritório só para
buscar por uma pessoa que ele nem sabia quem era.
Era loucura. Achou estar ficando louco.
O pior de tudo era que sempre queria mais dela: mais informações e
mais uma mensagem.
Ela foi a primeira mulher que o fez dizer tudo aquilo sobre ele,
porque a maioria com quem já saiu só falam banalidades, enchendo o seu
saco e o fazendo desejar que as horas passem rápido. Diferentemente do
que a estranha causa nele.
Em qual departamento ela trabalha? RH? Era uma secretária?
Assistente pessoal? Técnica de manutenção? Era um mistério.
Hoje Aaron teria uma visitação com um dos seus novos clientes. O
homem era daqueles que não acreditava nas novas tecnologias, mas,
ironicamente, precisava de proteção virtual para os seus dados. Tudo hoje
em dia girava em torno delas, como a internet. Se não souber guardar
adequadamente os dados da sua empresa, seja banco, construtora, etc.,
corre-se o risco de ser roubado pelos hackers ou, como os antigos os
chamam, “piratas virtuais”. Essa gente rouba tudo que as pessoas têm.
Apesar de ser difícil gerir números e dados de outras empresas, seu
pai foi um homem muito cuidadoso e sabia que, para não errar, teria que
sempre inovar e buscar novas maneiras de proteger tais informações.
Sua cabeça oscilava entre o trabalho, o novo cliente e a estranha do
celular. Passou a frequentar espaços onde os funcionários frequentavam e a
observar tudo e todos. Até mesmo agora, no elevador social, procuro por
respostas.
As mulheres lindas com seus terninhos e vestidos justos estavam
caladas. Ele não era o único homem ali, mas ninguém, nem mesmo o cara
de óculos estranhos, disse um “pio”.
Segundo a estranha, todos o acham um vilão. E ela tinha razão.
Desde que pôs os pés neste lugar, ele havia sido um bundão. Fui muito
bem-educado, com os melhores princípios, e tudo mais, porém quando se
estressava ou de saco cheio, estourava e não pensava muito nas pessoas ao
seu redor.
Agora, ele não queria ser um tarado que tentava ver partes dos
corpos de suas funcionárias. Sendo assim, tentou impedir que seus olhos de
procurarem por um pulso com uma tatuagem de pássaros voando. É difícil.
Você é um tarado, Aaron!
Ela diria isso. Ele riu do seu próprio pensamento e do da mulher
que, ultimamente, estava o tirando o juízo.
Ele deu graças a Deus quando chegou ao seu andar. O clima no
elevador estava estranho. As pessoas ficavam assim quando estavam perto
dele. O que só comprovava que ele era um homem odiável.
— Bom dia, senhor Spacter! — Milla o cumprimentou, entregando-
o seu café antes mesmo dele entrar no escritório. — A visita com o senhor
Phill está marcada para daqui a dez minutos. Ele insiste para que o senhor o
acompanhe.
“Ótimo!” Como se Aaron já não tivesse outras coisas para fazer!
Phill era o dono de uma das maiores empresas de publicidade do
país, e já fazia um tempo que ele e seu pai estavam conversando sobre um
acordo. O homem demorou para aceitar que uma empresa como a TEC
Corporation poderia proteger o seu dinheiro. Até parecia que ainda vivia no
século passado, onde tudo era armazenado em gavetas e escrito em papéis
que só juntavam poeira. No novo século, tudo que fazem, até mesmo
criação de projetos, era colocado em HD’s ou em bancos de dados.
Empresas como a dele dependem de servidores modernos para nada ser
perdido.
Contudo, o que era para facilitar, também pode ser uma porta para
roubos. Antes alguém tinha que passar por um segurança armado para pegar
a papelada que poderia arruinar um negócio, como contratos e muito mais,
porém, para que algo fosse roubado de uma empresa, era necessário apenas
um bom conhecimento e ferramentas capazes de alcançar computadores até
do outro lado do mundo. Ninguém está seguro de ser roubado, no entanto, a
TEC Corporation tentava impedir que coisas assim acontecessem, usando
pessoas tão boas quanto, esses ladrões virtuais.
— Ok, Milla. Prepare tudo para mais tarde! — avisou, tentando não
ficar de mau-humor só porque um velho amigo de seu pai precisa da sua
presença para acreditar que a TEC Corporation conseguia fazer o seu
trabalho: cuidar do patrimônio virtual de um bilionário qualquer. —
Remarque a reunião das 10 horas para às 14 horas! Farei o possível para
isso acabar logo.

***
— É muita tecnologia. — O homem estava abismado com a sala
onde era armazenada milhares de combinações numéricas que representam
os dados de cada empresa para a qual eles trabalhavam. — Nunca vi nada
igual.
— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de
empresas com quem temos parcerias. — Observou atentamente o senhor
Phill, que se esticava, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala.
— Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de
climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais,
nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.
— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? —
Levantou as sobrancelhas grossas ao o olhar.
— Claro. — Colocou um sorriso no rosto, sendo que ele não estava
nada feliz. — Sabemos como é importante manter tudo em ordem, para
nada dar errado, Phill. As manutenções são constantes, e não é só na sede
que temos este extenso equipamento que está vendo. — Ele o acompanhou
para fora do local, indo em direção à sala onde os engenheiros e técnicos
trabalhavam. — Em Los Angeles está o que meu pai chama de “cérebro”. É
parecido com o que acabou de ver, só que cinco vezes maior; e os
servidores se comunicam entre si, permitindo que saibamos de tudo em
tempo real, tanto em Nova York, quanto em Los Angeles.
Sua expressão era de surpresa, o que alegrava Aaron. Ele era tão
difícil quanto convencer um certo passarinho a o encontrar pessoalmente.
Mas, diferentemente de como era com ela, ele pretendia conseguir fechar o
negócio com esse homem.
— Seu pai tinha razão. — chamou sua atenção. — Você é bom nos
negócios e um ótimo negociador.
— Nunca ouvi meu pai falar essas coisas sobre mim. — Lembrou-
se da sua última briga, antes dele sair irritado do seu apartamento e ir à festa
que Aaron devia ter ido.
— Ele sempre reconheceu a sua capacidade. Mas, não pode mentir,
dizendo que não é um imprudente com as mulheres. As notícias saíam sobre
você nos noticiários de fofoca. — brincou.
— É. Eu não posso. — Sentou-se ainda mais culpado.
Estavam entrando na sala onde todos trabalham para manter tudo
em ordem. Sem os engenheiros, não eram nada. Aaron ainda não sabia
como funciona essa parte, mas também não precisava. Ele cuidava da
administração e deixava essa área para os que amavam as coisas confusas
que estavam nas telas dos computadores. O local não era tão fechado e
todos estavam em seus lugares, com vários monitores, fios, e com uma
climatização especial. Ele nunca entrou ali. Cooper era o chefe desse setor,
e era ele quem nos explicaria tudo.
— Bem... É aqui onde tudo acontece, Phill. Este é Cooper, chefe do
setor, e quem realmente sabe o que acontece nessa sala.
O homem baixinho, quase careca, e de sorriso, que foi de orelha a
orelha, cumprimentou o nosso visitante e logo começou a sua palestra sobre
todo o processo. Aaron deveria prestar atenção nisso também. Não porque
iria o ajudar a convencer Phill a os contratar, e sim porque gostaria de saber
mais sobre tudo, já que agora era ele quem administrava a TEC
Corporation. O problema era que passou o tempo inteiro tentando achar
alguém que não queria ser achada. Poderia deixar isso de lado e respeitar o
anonimato dela, porém era impossível impedir os seus olhos de buscar por
ela, mesmo não sabendo como achá-la.
Estava difícil parar de pensar nessa mulher ou na possibilidade dele
estar sendo enganado e, na verdade, está conversando com um estranho que
sente a necessidade de brincar ele. Apesar da foto que recebeu do seu pulso.
Cooper e Phill estavam andando pelo espaço em sua frente
enquanto ele nem escutou o que eles dizem. Até que uma coisa no meio do
caminho chamou a sua atenção. Embora não tenha inspecionado este lugar,
ele sabia que aqui dentro não havia tantas mulheres. Cooper o disse uma
vez que dentre todos os engenheiros diurnos, só há uma mulher. E Aaron
estava a uns passos dela agora. O mais interessante de tudo era que sua
nuca, a cor dos seus cabelos e sua pele clara não lhe eram tão estranhos.
Ele podia estar ficando louco, já que passou fantasiar ultimamente.
O passarinho que o perturbava era anônimo, portanto sua cabeça tentava, a
todo custo, moldar uma pessoa física para ele. Mas tinha que confessar, em
algum momento, já viu tais características.
Tudo estava começando a ficar estranho, pois ela pareceu perceber
que ele a encarava; tocou na nuca com desconforto. Um de seus colegas o
encarou com estranheza.
Quando percebeu o quão ridículo estava demonstrando ser, afastou-
se, indo de encontro aos dois homens que passeavam pelo setor de
monitoramento.
Pegou o seu celular e digitou uma mensagem para à mulher que
estava o deixando louco.
“Você é culpada por estar me deixando louco, passarinho. Passei a manhã toda andando
pela empresa e foi impossível não a procurar em cada canto. Deve, pelo menos, dizer para mim em
qual setor trabalha, só para me libertar dessa loucura.”
Obvio que ela não o diria, mas, mesmo assim, pediu. O mais
interessante foi ouvir uma notificação chegar em um celular, dentro daquela
sala. Era um barulho sutil e breve que esquentava seus miolos.
Achou que estava ficando louco mesmo.
— Devo confessar que não intendi muito bem o que disse, mas me
passou muita segurança. — falou Phill, o trazendo voltar à realidade.
A verdade era que a história com a estranha estava o deixando tão
fora de si, que se irritava. Assim, decidiu que o melhor para a sua sanidade
mental era esquecê-la. Nunca se encontrariam e ela continuaria brincando
com minha cabeça. Já estou cheio.
— Podemos terminar o nosso tour agora. Estou convencido de que
a melhor coisa a se fazer era contratar os serviços daqui.
Confirmou com a cabeça. Ele pensou que precisava voltar ao seu
trabalho, às reuniões intermináveis e à sua breve paz.
Ao passar novamente pela mulher em frente ao computador, que
pareceu concentrada na tela, sentiu outra vez aquela sensação de
semelhança.
— Isso já está indo longe demais. — falou a si mesmo,
condenando-se.
***
A reunião foi mais do que chata, foi quase insuportável.
Ele já esteve em muitos lugares o assunto lhe desse muito sono ou
onde o palestrante que estava o passando a sua ideia, não parecesse bom no
que fazia.
Mesmo dizendo que se esqueceu da mulher, sua mente idiota o
traia. Na verdade, ele não para de pensar na funcionária que viu mais cedo,
na sala dos computadores. Ele devia ter falado algo e, pelo menos, visto o
seu rosto.
Ao pegar o seu telefone, que havia deixado de lado, viu uma única
mensagem. Era da anônima.
“Acho que isso passou dos limites. Nós dois não podemos ser amigos e você ainda insiste em me
conhecer. E, mesmo eu sabendo que não é tudo aquilo que os outros falam, ainda me sinto confiante
em apenas conversarmos por mensagens. Acredite: não sou nada interessante. E você é meu patrão.
Querendo ou não, é melhor que as coisas continuem como estão: relação de chefe e funcionária. Foi
culpa minha começarmos, e até gosto de conversar com você, mas o problema é que isso esteja
atrapalhando o meu e o seu trabalho. Então, creio que o melhor a fazermos é parar de escrever um
com o outro.”

Ele teve que reler a mensagem várias vezes para acreditar no que
estava escrito. Não era para ser nada de mais, pois ela era uma pessoa
anônima com quem ele se esbarrou há alguns dias.
Como se, em um passe de mágica, eu fosse me esquecer de tudo! E,
olha que nem foi grande coisa.
Ele olhou as horas e constatou que já deveria estar saindo do
escritório. Mas, infelizmente, seu corpo demorava a reagir e o silêncio se
tornou estranho.
Uma nova mensagem chegou em seu celular, que estava sobre a
mesa, e ele correu para ver quem era o remetente. Decepcionou-se por não
ser de quem ele esperava ser.
“Já faz um tempo que não nos vemos. Que tal aproveitarmos que estou na cidade e conversarmos um
pouco?”
CAPÍTULO 6
Alisson
O que está acontecendo comigo? Alisson pensou que Aaron Spacter
sabia como deixar uma pessoa maluca.
Como se a amizade que ela dizia ter com o chefe, fosse algo tão
importante e vital para a sua vida!
Ele estava a poucos centímetros dela, naquela sala escura, encarando
a sua nuca, causando arrepios pelo seu corpo todo e outras reações idiotas
que desejou rejeitar a todo custo.
Seu chefe era charmoso, e ver suas fotos a deixou boba.
Ela sentiu que ele estava a poucos passos dela e seu perfume sutil a
deixou de quatro, no chão. Mas não como da última vez.
Ele estava frustrado, assim como ela. Por isso decidiu acabar de vez
com a brincadeira. Ela foi a culpada por começar, então pensou que devia
acabar com ela.
Saiu atrasada do trabalho, já imaginando que perderia o metrô e não
chegaria cedo em casa. Assim que pôs os pés para fora do prédio, Aaron
saiu com uma expressão raivosa, no rosto.
Seu coração quase saltou pela boca e desejou ir até ele.
Não era como se tivessem sido semanas ou meses de conversa, mas o
pouco que conversaram um com outro foi suficiente para a abalar por esse
“término” idiota.
Ela fez todo o caminho até a estação, pensando no que ele faria, se
era por sua causa o seu mau-humor e se, em algum momento, eles iriam se
esbarrar outra vez ou ele insistiria em continuar mantendo contato.
Depois do que ela o envio, Alisson não obteve respostas. Ela não
deveria estar desejando isso, mas mentiria se dissesse que não estava.

***
Apesar de ter passado o dia todo sentada, seu corpo estava cansado,
insistindo para entrar na banheira e ficar lá até o outro dia. No entanto, Mia,
como uma fiel e pontual amiga, bateu em sua porta com o maior sorriso do
mundo e com uma empolgação fora do comum.
Apesar de serem vizinhas e dela estar ao seu lado durante todos os
cinco anos em que Alisson mora em Nova York, ela ainda se impressionava
com a ideia de que eram amigas.
Mia era linda e confiante. Mas, também... Pudera! A mulher tem um
metro e setenta de altura, cabelos naturalmente ruivos, corpo esbelto e
autoconfiança. Tudo que falta em mim. Alisson pensou.
Claro... Ela não era horrorosa, nem acreditava em um conceito ou
tipologia. Sua magreza era um mistério, já que sempre comia o mais
variado cardápio de gorduras, e seus cabelos eram pretos, lisos, naturais e
bem tratados em casa. Só não gostava de sair para comprar roupas. Algo
que Mia não deixava de lado e sempre passava na sua cara.
— Sabe, Alisson? Você deveria me dar uma porcentagem do seu
salário. — Sentou-se no sofá, para esperar Alisson, que não estava nada
animada. — É uma das pessoas mais inteligentes que conheço, se não for a
mais, é bonita e tem dinheiro para dar e vender. Sei quanto ganha um
engenheiro na sua área. Eu pesquisei.
— Quer dinheiro emprestado? Eu já te ofereci. Foi você quem não...
— É brincadeira, sua ridícula. — Revirou os olhos e deixou o sorriso
voltar, iluminando seu rosto cheio de sardas. — Na verdade, estou meio que
em um trabalho.
Alisson parou o que estava fazendo para prestar atenção no que ela
iria dizer. Essa era mais do que uma novidade, era um milagre. Claro que
Mia era esforçada e tentava, de diversas formas, arrumar um dinheiro por si
só, porém ela tinha que admitir que não conseguia, de jeito algum, deixar
para trás a boa vida de uma filha de magnata.
— Trabalho? — Levantou as sobrancelhas. — Você?
— Posso saber que surpresa é essa? — Questionou ofendida. —
Sempre trabalhei. Fui personal trainer, fui vendedora em uma das lojas da
GUCCI e até para aquela mulher que dava dicas de moda.
— Você durou mais ou menos quanto tempo em cada uma dessas
profissões? — Perguntou, tirando sarro dela. — Mia, você realmente se
esforça para ficar no trabalho, mas sempre diz que ficou chato depois de
duas semanas.
— Não pode me culpar pela última vez. A mulher poderia trabalhar
na loja mais chique da cidade, mas as roupas... Meu deus! Eram horrorosas.
— Fez cara feia.
— O que é dessa vez? — deixando a amiga contar a sua história,
Alisson voltou a se arrumar em frente ao espelho. Pelo que ela conhecia da
amiga, contaria uma longa história que duraria todo o percurso da corrida.
— Contadora do seu pai? Porque sempre diz que quer ser independente, só
que não sai do apartamento que ele te deu e não para de comprar no cartão
ilimitado. Mia, você não... — Ela jogou uma das almofadas em Ali, que riu.
— Ok. Levarei a sério.
— Uma das minhas antigas amigas da loja me levou a uma agência.
E lá, eu... — um alerta apitou na cabeça de Alisson que logo se virou para a
olhar com desconfiança. Ela bem sabia quem era essa amiga, e imaginou
que não deveria ser boa coisa. — O que foi? Por que está me olhando como
se fosse me dar uma bronca?
— Que amiga foi essa? — Perguntou com calma, aproximando-se
dela.
— Sei que Victória não é a pessoa mais confiável, mas...
— “Confiável” não deveria estar na mesma frase que o nome dessa
mulher. — Falou entre os dentes. — Você se esqueceu que quase foi presa
porque ela colocou drogas na sua bolsa? Sem falar da joia cara que fez
todos pensarem que você roubou.
— Eu não me esqueci disso, mas a perdoei. Além do mais, fui bem
recebida e aceita, enquanto ela foi rejeitada. — Contou com muita alegria.
— Meu primeiro cliente é lindo de morrer e tenho que...
— Mia Alencar, do que está falando?
Preocupar-se com ela já fazia parte do combo em ser amiga daquela
maluca. Realmente, ela a tinha como uma irmã e não queria vê-la metida
com coisas erradas. Seu pai até a ligava para perguntar como estava a filha,
já que a garota insistia em não falar com ele, mesmo que ele a bancasse.
— É algo sério e seguro, Alisson; nada demais. — Nem se importou
com a cara feia da amiga, só sorriu e se preparou para contar a longa
história. — Eu não estava confiante para falar a verdade e tinha as minhas
ressalvas, mas depois que a mulher me explicou tudo, dei credibilidade a
esse trabalho. Funciona assim: eu sempre estarei disponível para sair com
caras ricos para onde eles quiserem me levar. — A forma calma e
empolgada como ela falou essa frase, assustou e paralisou Alisson.
Ela já sabia que sua amiga era maluquinha, só que isso era loucura,
uma maluquice digna de Mia.
— Não me olhe com essa cara! Eu não serei prostituta, apenas sair
com eles como uma acompanhante.
— Vou ligar para o seu pai e pedir para que ele te interne. — Alisson
não conseguia nem pensar direito, ficou agoniada e furiosa. — Ficou louca?
Esse é um modo de punir sua família ou a mim?
— Nem ouse ligar para o meu pai! Se ligar, a nossa amizade acaba
agora. — Reclamou, levantando-se. — Eu estava empolgada para te contar,
mas devia ter adivinhado que alguém tão sem graça como você, não
entenderia a real situação.
— Real situação? — Debochou. — É loucura, Mia. Sair com homens
ricos por dinheiro? Eu já ouvi falar nisso. Está se iludindo se pensa que
ficará só na amizade.
— Está me ofendendo. — Afirmou brava.
— Desculpe! Mas, o que quer que eu pense quando fala que será uma
acompanhante? — As duas estavam alteradas.
Sua cabeça já ameaçava doer por conta de Aaron; e agora, com essa
conversa, ela nem ameaçava mais e partiu logo para o ataque.
— Quer saber? Não vou mais sair com você. Já me colocou muita
preocupação e está agindo como uma mimada sem juízo.
— Quer saber, Alisson? Você está sendo tão sem juízo quanto eu. —
Provocou, levantando o nariz e indo em sua direção. — Mente para si
mesma e acha que esconde sua insegurança em relação aos homens, mas a
sua recusa em se revelar para o homem que gosta e com quem conversa é a
prova disso. Sempre foi assim, até mesmo com a nossa amizade, quando se
recusava a aceitar ser minha amiga.

Quando Mia ficava com raiva, falava muitas besteiras, como agora.
Alisson deveria estar acostumada com suas piadas e deboche, só que ela
acabou tocando em uma ferida ainda aberta.
— Não é porque ele é seu chefe. Não é porque não gosta de fazer
compras, que se veste assim; é porque se vê desse modo e gosta de não ser
atraente ou chamativa, pois tem medo de ser usada e traída, como foi no
passado.
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de
lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — ela tentou reprimir a
insegurança e a decepção que a tomou depois do que sua amiga disse. —
Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão
em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não
faria isso com você.
O arrependimento de Mia foi evidente, contudo não mudou de ideia.
Alisson saiu da sua frente e foi até o banheiro. Estava muito cansada para
continuar brigando. Ela queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo
“trabalho” não era confiável.
Logicamente, ela não podia julgar nada que não conhecia, porém,
sabia quando algo ia dar errado. Muitas meninas já se envolveram com
essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumavam
achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim,
saírem vencedores.
Ela não sabia se Aaron era como essas pessoas, já que mal o conhecia
e agora nem daria mais para o conhecer. Teve que acabar com essa loucura
antes de sair magoada dela.
Ele estava louco para encontrá-la, no entanto, assim que pusesse seus
olhos azuis nela, ficaria decepcionado. Alisson tomou hoje como um teste.
Quando ele se aproximou, naquela sala, ainda assim não pensou que
a garota com quem conversava, pudesse estar em um espaço escuro,
olhando para um computador e vestida como uma estranha.
Ela não se via em vestidos chamativos, com brilhos, não se sentia
segura com seu corpo, nem achava que alguém se agradaria dela.
Alisson nunca sofreu abusos, nem nada. No entanto, chamou a
atenção de uma pessoa errada que usou da sua inocência e curiosidade para
a colocar no meio de um furacão.
Sua mãe, como uma mulher religiosa, quando isso aconteceu, disse
que a culpa era da pobre Alisson, por ser inconveniente, perguntar demais,
não ir à igreja, e muito mais. Usou esse acontecimento para a punir e a fazer
acreditar que o erro foi dela, não de outra pessoa. E, desde esse dia, ela fez
com que Alisson usasse roupas que cobrisse mais o corpo, o cabelo
comprido, nunca blusas com decote, jamais saltos... E muitas outras regras
sem sentido.
Essas coisas não têm relação com o que aconteceu e ela não devia ter
feito o que a mãe queria, no entanto, sempre foi submissa. E, com o tempo,
acabou se acomodando e se acostumando com a forma de vida com a qual
começou a lidar.
Alisson foi para Nova York para ter mais liberdade, mas a mãe
arranjou um emprego aqui e continuou a exigir modos e vestimentas
específicas. Então teve um dia em que ela não suportou tanta coisa e
brigaram. Desde então, não se falaram mais.
Mia sabia de toda essa história e sempre a apoiou, só que agora a
usou contra a amiga.
Entrar na banheira quente não a relaxou, já que sua cabeça não para
de pensar em Aaron e no que escreveu para ele.

Como, em tão pouco tempo, apeguei-me tanto a alguém?


Ainda por cima, é o meu chefe arrogante.
No fim das contas, Alisson sentiu que Mia estava certa: sou tão
solitária e medrosa, que afasto as pessoas para não me decepcionar.
Conversar com Aaron, apegar-se e depois descobrir que ele se
arrependeu por tudo, seria terrível. Além do mais, o passado ainda a
corroía.
Pensando bem, onde pararíamos com essa amizade louca?
Aaron Specter era seu chefe, um homem bonito, importante e muito
arrogante. Ela não queria mais problemas para a sua vida chata. Não mais
do que os já tinha.
Ficou tão distraída com seus pensamentos, que só se ligou que ainda
estava na banheira, quando notou seus dedos enrugarem.
Ela pensou que hoje seria mais uma noite em que ficaria até meia-
noite na frente do seu monitor, tentando melhorar o seu sistema de
monitoramento e rastreio de dados que estava inventando. Na verdade, ela
precisava de um servidor adequado para o seu desenvolvimento. Seu
computador não tinha a capacidade ideal para criar algo desse tipo, mas o
protótipo já estava esboçado, esperando apenas as finalizações numéricas.
Quando estivesse pronto, seu sistema poderá ser implementado por
bancos de dados, como os da TEC Corporation. Dentro dele, tudo seria
monitorado, desde início, quando os dados são armazenados, ao fim,
quando as informações são modificadas ou retiradas. Ela o chamava de
soldados, pois protegia, vigiava e iria atrás das pistas caso algo desse
errado, para não perder as informações.
Depois de colocar seu pijama confortável e ficar em frente ao
computador no qual trabalhava em casa, passou um bom tempo apenas
encarando o objeto em sua frente. Sabia o que devia fazer, só não estava
tomando a iniciativa. Parecia que os conflitos do dia permaneceram a
impedindo de continuar.
Qual é, Alisson? Você já fez isso antes. Um problema não é tão maior
quanto sua inteligência e determinação.
A sua automotivação não ajudou, porém, seu telefone tocou ao seu
lado, fazendo seu coração quase sair pela boca.
Ele nunca me ligou. Aaron nunca me ligou.
Ela imaginou que aquilo talvez fosse um sonho estranho em que sua
noite estava se tornando um filme de suspense e drama esquisito.
Quase desmaiou com a respiração frenética e o coração batendo mais
rápido do que um motor de carro. O pior era que seu corpo simplesmente
tomou a iniciativa de pegar o celular e atender a chamada quando ela estava
quase caindo.
Por alguns segundos, a linha ficou muda e ela achou que poderia ter
sido um engano dele ou que algo no sistema dele tenha, simplesmente,
ligado para o seu número. Contudo, logo ouviu sua voz grossa e rouca no
ouvido, fazendo os pelos do seu corpo ficarem arrepiados.
— Eu sei que você disse que era melhor pararmos de conversar, e eu
mesmo cheguei à conclusão de que era o certo a se fazer, mas não consegui
parar de pensar em você, apesar de não te conhecer.
Ela não disse e nem diria um “pio”. O ouvir dizer essas coisas só
aumentava a idiotice dentro dela, pois o sorriso bobo logo tomou conta do
seu rosto.
— Sabe, passarinho? Nenhuma mulher no mundo conseguiu chegar
tão longe. Claro... eu amo a minha mãe e avó. Mas fora essas duas,
nenhuma outra me fez perder o juízo. Confesso que o mistério aumenta
mais o meu interesse e a vontade de falar com você todos os dias. Quero
saber onde está, o que faz ou até contá-la sobre a reunião chata e a loucura
que acabei de fazer. Dispensei a mulher com quem eu teria uma noite
fantástica de sexo. — Ela não estava preparada para ouvir isso. Nem sabia
como reagir. — Enquanto ela falava sobre tudo que aconteceu em Paris, eu
só pensava em você, nas suas ironias.
— Provavelmente, eu reviraria os olhos. — Assim que percebeu que
falou, calou a boca com um tapa.
Alguns diriam que ela era exagerada. Contudo, ela nunca tinha
ouvido a sua voz, nem ele a sua. Esse passo a trouxe uma imensa
insegurança, como, por exemplo: e se, em algum momento, ele a escutar
falar no trabalho e a descobrir?
— Eu fiz isso e ela não se importou. — Riu, esquecendo-se de tudo
que acabou de pensar. — Gostei da sua voz. Pelo menos agora sei que não é
um velho tarado que está brincando comigo.
— Claro. Até porque você é uma jovem indefesa. — Ironizou.
Quem ela estava querendo enganar? Alisson queria conversar com
ele, mesmo com medo. Ela queria correr o risco. Provavelmente, não
voltaria à sala de monitoramento. E, pelo que ela sabia, as vozes no sistema
eletrônico se modificavam.
— Achei que estivesse o enlouquecendo.
— Você está. Mas o estrago já foi feito. Pelo menos quero ter uma
amiga sincera na vida. — E, novamente, se achando uma idiota, sorriu
como se ele tivesse dito algo romântico ou bobo. — Quem sabe, algum dia,
você perca o medo e confie em mim para se mostrar?
— Nunca vai acontecer, Aaron. — Levantou-se da cadeira e foi até o
sofá. Como a noite já estava perdida, não adiantaria desligar o telefone e
tentar terminar o seu trabalho. — Mas gosto de saber que é um homem
esperançoso.
— Você é má. Sabia? — A fez sorrir mais uma vez. — Mas, tudo
bem. Contanto que continuemos conversando, posso suportar o seu
mistério, passarinho.
— Por que me chama assim?
— Seu codinome é Bird. Só o melhorei. Fica mais excitante falar
“passarinho”. — Usou uma voz sedutora.
Automaticamente, suas bochechas coraram só por imaginá-lo falar
perto do seu ouvido.
— Aposto que está envergonhada agora.
— E, como sabe disso? — Sentiu-se constrangida.
— Se é tímida o bastante para não me dizer quem é, deve ser duas
vezes mais quando o assunto muda para algo mais... safado.
— Não sou tão inocente, bundão. — Essa saiu sem pensar.
Normalmente, ela só o chamava assim por mensagem. Falar em voz alta foi
estranho.
— Está vendo? Você tem uma obsessão pela minha bunda. Deve ser
o desejo de tocá-la. É excitante. — Aaron não tinha limites e, mesmo a
milhares de quilômetros distância dela, não deixava de a provocar arrepios
ou vergonha por algo que nem era tão safado, mas que ela não estava
acostumada a ouvir. — Se bem que a moça da cantina tem um fetiche pela
minha bunda. Você é a Catarine?
Não dava para ter uma conversa séria com ele. Alisson não segurou a
gargalhada. O sonoro som da sua gargalhada também corroborava para que
ela continuasse rindo. Seus olhos até lacrimejaram.
— Não. Eu não sou a Catarine, nem trabalho no refeitório. Se
estivéssemos brincando de quente ou frio, você estaria na geladeira. —
disse ainda tentando se recuperar.
— Você é uma mulher impossível. Vou acabar achando que é fruto da
minha imaginação. — Ironizou. — Mas, como eu disse, vou respeitar sua
escolha.
— Obrigada, Aaron! — Enfatizou o seu nome. — Por que dispensou
a garota? Ela estava tão chata, que preferiu conversar com uma estranha? —
ela achou estranho o silêncio do outro lado da linha e até pensou que seu
aparelho estava com defeito. — Aaron? Ainda está aí?
— Sim. Claro. Desculpe! É que não sei o que responder. Na verdade,
eu só queria que o jantar terminasse, para ligar para você e conversarmos.
Ali não negou que havia gostado da resposta. Afundou-se no sofá
fofo e sorriu como uma boba por ter sido, minimamente, especial para
alguém. Mas logo se lembrou que nunca passaria disso e que Aaron, apesar
de não ser tão idiota, era seu chefe gato. Nunca se conheceriam
pessoalmente.
— Tenho que desligar. — Avisou desanimada, mas disfarçando, para
que ele não percebesse seu estado. — Ainda não terminei o meu projeto
particular.
— Você não é uma psicopata, né? — Ele tinha o dom de a fazer rir.
— Por que estou começando a achar esquisito esse projeto pessoal.
— Se eu fosse uma assassina, você estaria morto agora.
— Está certa. — Admitiu. — Então, boa noite, passarinho!
— Boa noite, Aaron!
Quando desligou a chamada, ainda estava com o sorriso bobo nos
lábios. Gostou quando ele a chama pelo apelido; era fofo.
CAPÍTULO 7
Alisson
Alisson achava tudo aquilo errado, e mesmo assim continuava
fazendo. Não que estivessem cometendo algum delito ou pecado, mas ela
sentia dentro de si que quanto mais ela conversava com Aaron, mais
gostava e isso era extremamente ruim para ela.
Duas semanas de intensas conversas com seu chefe, Aaron Spacter,
mostraram para ela o quanto era idiota e boba. Bem, era assim como ela se
sentia.
Em primeiro lugar: claramente, ela estava se apegando a ele e, se
arriscava a dizer, gostando dele. Aaron era um babaca egocêntrico e,
quando se estressava, era arrogante com todos que estavam em sua frente.
Desde que começaram as conversas, isso foi diminuindo um pouco, assim
como o desejo dele de encontrá-la.
Alisson gostava de ver que o chefe que todos odiavam, no fundo,
não era tão odiável. Sempre que ele estava entediado ou tinha novidades,
mandava mensagens de textos ou a ligava quando chegava em casa. Eles
falavam sobre muitos assuntos, como, por exemplo, dos pais dele ou da
vida boemia que ele tinha antes de tudo acontecer.
Era estranho para ela falar sobre coisas que nunca falou
abertamente com ninguém, nem mesmo com Mia, que ainda estava
chateada com a amiga, mesmo tendo sendo ela a errada. Alisson também
estava chateada com ela, afinal, o que falou ficou remoendo na sua cabeça.
O pior de tudo para ela era notar o quanto estava ansiosa para ouvir
a voz dele, receber uma mensagem sua ou vê-lo no trabalho, mesmo que ele
não saiba quem ela era.
Ela se sentia completamente ferrada, e com razão.
Seu dia foi cheio hoje e a única mensagem que recebeu foi um
“Bom dia, passarinho! ”
Ela não podia reclamar, pois também não conseguiu um tempo para
o responder ou pensar no que aconteceria no fim do dia.
Agora, entrando em casa, colocou as chaves em cima do móvel,
jogo sua bolsa sobre o sofá como se ela fosse uma almofada, foi direto ao
quarto escolher um pijama fofo e entrou no banheiro. Seus pés doíam,
mesmo que ela trabalhasse 100% do tempo sentada, em uma cadeira.
Como suas lentes de contato estavam a incomodando, tirou-as e
resolveu ficar com seus óculos de reserva. No ensino médio, ela odiava usar
tal acessório, o qual se unia ao aparelho dentário, tornando-a motivo de
piada. Por isso se isolou e se colocou na pior situação em que já esteve.
Não que ela fosse rebelde ou cometesse loucuras. Mas, fazer
amizade com pessoas de caráter duvidoso não pareciam uma má ideia para
ela quando eles se assemelhavam, aparentemente, com a garota.
Por essa razão, hoje se reservava, tanto em relacionamentos — o
que nunca tive — quanto em amizades, não se entregando totalmente. Mia
era a única que já chegou perto o bastante dela. Ela era sua vizinha, e foi
assim que se conheceram.
Assim que chegou para morar naquele apartamento, o qual alugou
após brigar com sua mãe pela milésima vez, Mia estava enlouquecendo
com o aparelho de som que havia comprado, principalmente por não saber
como configurá-lo, e os vizinhos estavam reclamando do alto barulho que
ele fazia.
Então, pela sua paz, resolveu deixar as caixas da mudança de lado e
bateu em sua porta para tentar acabar com o ruído. Era algo simples para
Alisson, porém difícil para a garota que só tinha um ano a mais que ela de
idade. Depois disso, ela a ajudou a colocar tudo no lugar em seu
apartamento novo e comeram uma pizza no fim da noite.
Não se tornaram amigas logo de cara, porque, como ela mesma
disse, não confiava facilmente nas pessoas. Mas Mia foi tão insistente em
ficar do seu lado, jantar no chão, dizendo que era mais confortável, e a
irritar com suas dicas de moda, que ela acabou se apegando a essa nova
amizade.
A verdade era que Alisson não se sentia como a pessoa mais
interessante do mundo e confiante. E, por ser assim, afastava-se das
pessoas, ficando no escuro, sozinha e solitária. Claro... essa era uma opção.
Em Los Angeles, por exemplo, um dos seus antigos colegas gostava dela,
só que ela nunca quis nada com ele. Já aqui, Victor e Mia eram seus
amigos, porém, ela tinha que confessar que sempre boicotava as relações
que tinha.
Aaron Spacter era algo novo e divertido que a animava e a deixava
empolgada, fazendo com que ela desejasse nunca mais parar de conversar
com ele.
Ela imaginava que se fosse qualquer outro, Alisson não hesitaria em
conhecê-lo de perto. Mas, infelizmente, era seu chefe, muito rico, poderoso
e saia em capas de revistas com as mais lindas modelos.
Ele era tão lindo que ela se sentia sufocada e para não começar a
viajar demais, preferia o ter como amigo. Lógico que o mistério sobre ela
atiçava os seus pensamentos; só que nada além disso.
Além do mais, ela achava que assim que ele a visse, iria descobrir o
quão sem graça ela era, com certeza, não teria mais interesse de conversar.
Enquanto a água aquecida tentava relaxar seu corpo, sua mente
imbecil se lembra da imagem sexy do seu chefe saindo do prédio mais cedo.
Estava sorridente e conversava com o motorista. Ela não sabia o
porquê de ele não usar a garagem do edifício onde trabalhavam, já que seria
mais prático e reservado. O homem era um mistério para ela.
O barulho em seu celular a despertou dos pensamentos absurdos.
Ela ainda estava com espuma pelo corpo e ficou chateada por ter que sair
do seu momento. Se fosse Aaron, com certeza reclamaria sobre isso.
Impressionantemente, ela conseguia ser respondona, irônica e
provocativa pelo telefone. E achava que seria difícil de fazer pessoalmente.
Enrolada na toalha, abriu a bolsa, toda desajeitada, e pegou o
aparelho. Não era ele, e sim seu superior, o senhor Cooper.
Alisson respirou fundo e revirou os olhos. Ela tinha acabado de
chegar do trabalho e estava cansada. O que esse homem quer comigo a esta
hora?
— Senhor Cooper, a que devo a honra? — Foi simpática, mas
irônica.
— Preciso de você urgentemente, Alisson. Estamos sendo
invadidos. — Falou apressadamente, ofegante. — É a melhor que temos, e
o chefe está uma pilha de nervos com essa questão. Derrubaram o sistema e,
a cada minuto que se passa, podemos perder tudo que lutamos para guardar.
Só pode ser uma piada. Como derrubaram as nossas defesas?
— Ok. Estou voltando para a empresa. Só preciso colocar uma
roupa.
Amaldiçoo seja quem for que tenha feito tal coisa.
— Não, Alisson! Não foi em Nova York, e sim em Los Angeles.
Estamos indo te buscar. Chegaremos aí em quinze minutos.
— O quê?! — Ela olhou para o celular, ainda assustada. Do que ele
está falando? — Senhor, eu... — A ligação caiu.
Alisson estava parada, encarando o celular e amaldiçoando mais
uma vez o idiota que fez isso. Ela não tinha um minuto de folga, sem que o
planeta e as forças do universo a colocasse em mais uma confusão.
A mulher correu para o quarto e tentou escolher algo para usar. Era
em momentos como esse que ela se julgava por não escutar Mia, que tinha
razão sobre suas roupas. Porém, por sorte, ela a fez comprar algumas peças
que considerou “melhorzinhas”.
A calça jeans escura e a blusa com poucos detalhes a ajudaram a
ficar... menos “Alisson desajustada”. Pegou seu casaco, pois estava fazendo
frio lá fora e não sabia como estaria em Los Angeles, apesar do clima de lá
ser mais quente do que era em Nova York.
Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e pegou os óculos, não
queria ter o trabalho de colocar as lentes. O par de botas, com um leve salto,
era sua marca registrada e completava o seu arranjo. Só teve tempo de
pegar o celular e fechar as portas, pois a mensagem de Cooper, bastante
apressado, logo chegou no seu celular.
Assim que saiu para a rua, viu o carro escuro que ele usa,
estacionado do outro lado. Correu para entrar nele e seguiram para o
destino.
Dentro do veículo, seu superior a explicou mais sobre o ocorrido.
Ela sabia o estrago que um dano do tipo pode fazer em todo o sistema. E se
fossem hackers, os problemas se multiplicariam, pois, qualquer dado
roubado poderia dar um prejuízo de milhões de dólares.
Com tudo que estava acontecendo, sua cabecinha fora da terra não
pensou muito bem em como chegariam em Los Angeles rápido o suficiente
para ajudar nessa falha. Claro que existiam engenheiros lá que poderiam
corrigi com facilidade, no entanto o que Cooper a explicou era que o chefe
desejava alguém de Nova York para dar um suporte extra.
Quando passaram pela entrada do aeroporto, entraram na pista de
lançamento, ela notou uma coisa fora do comum: a grande e luxuosa
aeronave da família Spacter.
Era o transporte mais rápido para eles, só que algo a dizia que nada
acabaria bem. E, unindo essa ideia ao pensamento de que o chefe precisava
de alguém para o auxiliar, ela chegou à conclusão óbvia: Aaron estava os
esperando lá dentro e ela ficaria cara a cara com ele.
Seu coração estava praticamente saindo pela boca, suas mãos
suavam e sua respiração acelerada, a agoniava.
— Tem medo de avião, Alisson? — Perguntou Cooper, vendo o seu
estado.
Não seu idiota, mas de quem está dentro daquela aeronave.
— Não. Eu só estou ansiosa e... Com um pouco de medo sim; devo
confessar. — Mas não era pelo motivo que ele acreditava.
O homem com quem ela conversou por semanas estava dentro do
transporte e, provavelmente, sob estresse. Explodiria de raiva o caminho
todo. Algo que estragaria tudo que construíram, porque nem o fato de
conhecê-lo melhor agora, diminuiria a sua raiva se ele a tratasse como
sempre tratou os que trabalhavam na empresa.
Ela saiu do carro sentindo como se o chão fosse feito de lava. O frio
na barriga quase a paralisava.
O seu superior foi o primeiro a subir na aeronave, e só isso foi
suficiente para ela ouvir a arrogância do homem. Alisson teve que respirar
fundo antes de colocar os pés dentro do pequeno avião.
Arrumou os óculos e se virou em direção à poltrona de couro macia
onde se sentou.
Aaron a encarou. Estava, claramente, sob pressão, mas apenas a
observou.
A garota piscou algumas vezes, saindo do transe. Ela estava perto
da janela enquanto ele estava a duas cadeiras dela, podendo a ver com
muita facilidade. Ser encarada tão de perto e com tanta raiva, era difícil. Ela
achava que seu coração iria parar a qualquer minuto.
— Por que demoraram tanto? — Perguntou para Cooper, que estava
sentado de frente para ele. — Como uma coisa dessa pôde acontecer
conosco, Cooper? Logo conosco?
— A... Eu não sei... Senhor, ainda temos que saber onde foi a falha
ou se...
— Pare de gaguejar, homem! — Pediu irritado.
Alisson conseguia o observar à distância, e ele sabia. Por isso a
encarou, a fazendo desviar dos seus olhos azuis, congelantes.
A aeronave deu partida e eles ouviram o tempo todo o quanto tudo
isso era culpa dos incompetentes que trabalhavam para ele. Ela sabia que
qualquer chefe, responsável por milhares de dólares de seus clientes,
surtaria como Aaron, mas nada a fazia pensar que ele poderia usar um
pouco mais de delicadeza. Ninguém ali naquele avião era responsável por
isso. Coisas assim eram suscetíveis, não dava para ser 100% confiável.
Alisson não queria que ele a reconhecesse. A única coisa que
pensava em fazer era jogar o celular para que ela calasse a boca.
Ela teve que respirar fundo e tentar ignorar as suas palavras.
Resolveu encarar o lado de fora, esperando que isso a relaxasse, porém, a
todo o momento ela perdia o controle dos seus olhos e o encarava com
muita raiva. Aaron, também a encarava em certos momentos. Eles ficaram
nesse jogo de olhares, até que o piloto anunciou que já estavam perto de
descer.
O bom foi que, assim que desceram, Aaron fechou a boca e não
disse mais uma palavra. Eles foram em um carro que já os esperavam, e
Alisson sentou bem longe dele. Cooper teve que ser essa barreira, o homem
já estava nervoso com certeza iria ouvir um bocado, depois disso, mesmo
Aaron sabendo que a invasão nos servidores de Los Angeles não era culpa
de nenhum do dois.
***
Alisson considerou que essa noite foi uma das piores que já teve.
Contudo, não podia exagerar, dizendo que foi “a pior”, pois já tinha passado
uma ou duas noites e uma detenção para menores. E comparar uma prisão a
uma sala de computadores logo após escutar tudo que ela não queria da
boca de um homem que nem sabia quem ela era, seria loucura.
O que aconteceu foi uma pequena invasão no sistema, que colocou
em risco não só a segurança dos dados, mas também da confecção de dados
que levam as informações dos servidores aos monitores de segurança. Se
uma coisa estiver fora do lugar ou comprometida, arrisca tudo que já
fizeram.
A pane no sistema causado pelos invasores deu um prejuízo de
alguns milhões, com os quais Aaron teria que arcar. Portanto, mesmo ela
não querendo apoiar toda a arrogância dele, ela entendia o porquê do seu
estresse.
Com tudo resolvido e com seu rosto parecendo o de um zumbi, ela
voltou para o carro e esperou pelos seus dois chefes desesperados.
Seu corpo estava entrando em pane também. Sem a quantidade de
sono correto, seu cérebro não trabalhava bem. Ela considerava sorte por
trabalhar bem sobre pressão.
— Não sei como o meu pai conseguia trabalhar com isso, com tanto
estresse. — Ele disse, do lado de fora do veículo.
Alisson estava com sono e cansada, encostou sua cabeça no vidro
do caro e o encarou do lado de fora. Era impressionante como ele conseguia
ser o arrogante e o gato sexy. Mesmo também tendo passado a noite
acordado, com toda essa confusão, Aaron, diferente dela, estava até bem.
Claro, eu fiz todo o trabalho duro.
— Graças a Deus resolvemos tudo. — Complementou.
— Vamos cuidar para que nada assim volte a acontecer! — Falou o
seu superior.
— Isso não pode, mesmo, acontecer de novo. — Apesar de menos
irritado, Aaron andava inquieto, com as mãos na cintura. E, em alguns
momentos, massageou a têmpora, indicando que estava com dor de cabeça.
— O prejuízo não foi pouco e temos que melhorar a segurança. O sistema
não pode parar, porque pode afastar os investidores e os clientes.
— Vamos resolver o problema, senhor.
Depois que eles entraram no automóvel, ela deu graças a Deus outra
vez.
Não fazia ideia de como seriam as coisas a partir dali. E ela só
queria dormir.
Alisson nem percebeu quando o carro voltou ao aeroporto da
cidade, e o avião já sendo preparado para o embarque.
A sua cabeça estava dolorida, mas não por causa da invasão à TEC
Corporation, e sim por conta de Aaron. De um lado, a sua mente dizia que o
que aconteceu serviu para provar que ele era o oposto dela e que às vezes
ele a irritava; por outro lado, a sua parte quase racional a dizia que nada
importava, pois ela só era uma funcionária que, também, era a amiga
anônima do chefe.
Todavia, os dois lados entravam em acordo ao chegar à conclusão
de que apesar de Aaron ser seu amigo — somente seu amigo —, um
sentimento estranho e perturbador crescia nela.
Realmente, ela estava chateada com tudo que ouviu.
Saindo do carro, foi direto para o avião, sentando-se no mesmo
lugar de antes e encostando a cabeça na janela. Ela sentiu como se alguém
estivesse a observando, e já sabia quem era. Por essa razão, não ousou olhar
de volta.
Seus conflitos nunca acabariam se ela não pusesse um fim nele. Já
passou por uma situação assim e não deu certo.
Contudo, quando queria, Aaron era insistente. Ele acharia estranho
se, do nada, Alisson parasse de responder suas mensagens e ligações.
Já em Nova York, ela pode respirar fundo e esquecer tudo que
aconteceu. Seu nível de sonolência estava afetando os comandos do seu
corpo e ela tentou, infinitas vezes, continuar lutando.
— Alisson! — Seu nome foi dito pela boca sexy e voz grave de
Aaron, despertando-a para a realidade.
Ela virou-se e encontrou seus olhos azuis, estudando suas
expressões e jeito. Seu cenho franzido denunciava os seus pensamentos:
notou o quanto sou estranha.
— Devo pedir desculpa apropriadamente. — Ela se surpreendeu e
achou estranho. — Normalmente, fico furioso e perco a noção das coisas. E
esse problema... Bem... Ele foi demais para mim. — Alisson não disse
nada. Tanto por estar surpresa quanto por saber que, possivelmente, ele
lembraria da sua voz. — Você é uma ótima funcionária. Também, peço
perdão por ter lhe tirado tão tarde de sua casa e a feito ir conosco para Los
Angeles. E... — Estranhamente, ele parou de falar, como se algo o tivesse
assustado.
Aaron ficou paralisado, a olhando com espanto e naquele momento
Alisson não conseguia entender o porquê. Talvez o sono na sua cabeça e o
estresse tenha tirado um pouco da sua sanidade e realidade.
— Alisson, eu.... Eu não devia ter estourado tanto. Sou assim; todos
sabem. E... Sei que sou odiado na empresa por conta da minha
personalidade.
Ela franziu o cenho, achando estranho. Começou a ficar
preocupada, pois, de uma hora para a outra, Aaron passou de chefe
sonolento pedindo desculpa a uma funcionária, para o Aaron assustado e
maluco que ela conhecia.
— Desculpe-me, Alisson! Espero que o que ocorreu não tenha
estragado o que pensa sobre mim. — Estendeu a mão para a cumprimentar.
Ele a olhava nos olhos, seu corpo estava a pouco passos dela, e
Alisson não entendia o que estava acontecendo com ele.
Ainda confusa, ela encarou sua mão estendida, pensando se tocaria
ou não nela. Ela nunca esteve a poucos centímetros dele. Bem... Não depois
do esbarrão.
Toda a insegurança apareceu, junto com a sensação de nervosismo e
ansiedade. Por impulso, retribuiu o gesto, sentindo um calafrio estranho.
Seu leve cumprimento era estranho e chamava a sua atenção, assim como a
dele, que encarava as mãos unidas e depois a olhou nos olhos.
Talvez o sono tenha feito Alisson esquecer de um detalhe no qual
Aaron jamais esqueceu, desde que eles se conheceram. Claro, muitas
pessoas podem ter tatuagens, o seu passarinho era uma pessoa comum, só
que unindo todas as informações e fatos, ele chegou à conclusão de que seu
mistério tinha sido resolvido.
Ela não disse nada, desde o início dessa viagem, estava com medo
de que ele ouvisse a sua voz e a reconhecesse, mesmo que as únicas vezes
que eles conversaram foram por telefone e o som da sua voz se modificava.
Cooper, por obra de Deus, apareceu, quebrando a magia que era
fitar o azul dos olhos de Aaron.
— Podemos ir agora? — Ele nos encarou.
Ela decidiu acabar com a tortura de segurar em sua mão e se
afastou, sentindo o seu coração quase sair pela boca. Na sua cabeça, não
tinha como Aaron a reconhecer, já que ele jamais olhou em seu rosto, nem
quando esbarou nela
Alisson entrou no carro, desejando que tudo acabasse o quanto
antes. Cooper fez o mesmo, ficando entre os dois. O caminho todo pareceu
uma eternidade.
Seu sexto sentido e visão periférica a disseram que Aaron estava a
observando. O que aumentou a sua desconfiança.
Já no meio do trajeto, ela chegou à conclusão de que dali a alguns
quilômetros eles estariam no edifício onde ela morava. E, mesmo tento total
certeza de que seu chefe não a descobriu, não queria que soubesse seu
endereço.
Era uma tolice, pois se ele soubesse quem ela era, só bastaria
verificar os seus registros na empresa para saber essa informação.
Quando, finalmente, estava no fim do seu trajeto, saiu do veículo
como se estivesse atrasada para alguma coisa, fechou a porta e atravessou a
rua.
Antes de entrar no prédio, deu uma última olhada para o carro, que
ainda estava parado onde ela desceu.
Só rezo para que essa situação nunca mais aconteça.
CAPÍTULO 8
Aaron
Aaron queria ter tido uma noite comum, na qual sairia com um
amigo, beberia dois copos da mais forte bebida e correria até sua casa para
falar com a mulher que estava na sua cabeça há semanas.
Algo assim nunca tinha acontecido na sua vida e, até o momento,
ele não sabia se estava fascinado só pelo mistério que cerca o passarinho
fujão ou se, realmente, estava se apegando afetivamente à mulher tímida e
sensível.
Ele nunca precisou fazer muito mais do que dois ou três elogios, um
jantar sedutor e uma noite de sexo maravilhoso para conquistar alguém.
Mas essa anônima, que ele não conhecia pessoalmente e que insistia em se
esconder dele, estava mudando tudo que ele acreditava sobre
relacionamentos e sentimentos.
Naquela noite, tudo mudou. Foi a primeira vez que ele passou por
uma situação estressante como aquela. Claro que ele já administrou muitas
empresas depois que se formou, no entanto, a TEC Corporation tem o seu
nome, sangue; e tudo que faziam era, basicamente, proteger o dinheiro de
outras empresas.
Pode ser exagero falar dessa forma, mas quando se tem dados
cruciais sobre os negócios de grandes empreendimentos corporativos,
estavam se tratando de informações mais do que importantes; são
informações que valem milhões.
A quantidade exata de dinheiro que Aaron perdeu em uma única
noite não era tão gigantesca, já que seu pai, sendo muito esperto, guardou
uma reserva para momentos como esse. Sabemos que as novas tecnologias
estão sempre em crescimento, desenvolvimento, e que constantemente
existiriam riscos.
O problema para ele foi lidar com o pane da forma mais exagerada
e irritada possível. Não importava se estavam seguros de processos ou de
perda de dinheiro, porque as pessoas os contratavam por um motivo: não
serem roubadas por piratas cibernéticos.
Quando o alerta chegou até ele, Aaron não sabia o que fazer e ficou
ansioso e preocupado. Ele pensou que se seu pai estivesse acordado, estaria
decepcionado com ele, mas não pelo ocorrido em Los Angeles, e sim por
ter lidado com a situação da pior forma possível.
Aaron sabia que, em algum momento, o destino o puniria; e foi
exatamente o que aconteceu.
Cooper era um ótimo administrador de tecnologias cibernéticas e
lidava diretamente com os mais inteligentes da área.
Por conta disso, a sede de Nova York estava em constante
crescimento. Só que era em Los Angeles que estava a maior e mais
complexa sede da empresa, onde se guardava milhares de dados todos os
dias. A cada seis meses, o local passava por ajustes, consertos, e tudo mais.
A última vistoria foi há menos de três meses. O que contribuiu para o deixar
muito mais irritado, pois o que foi ajustado recentemente, não foi o bastante
para impedir a invasão.
O pior de tudo para Aaron nem foi perder cinco milhões ou ter
corrido o risco de perder clientes importantes, mas sim ficar cara a cara com
a pessoa que ele mais queria estar e ter sido o pior dos piores na frente dela.
Ele não percebeu quando se encontraram pela primeira vez na
aeronave.
Alisson era reservada e permaneceu no seu lugar.
Ele percebeu o quanto ela estava desconfortável em estar na sua
presença. Ele também estava. Foi impossível não surtar quando sua cabeça
estava a mil, com cada neurônio doendo.
Sentiu-se nervoso com o que estava acontecendo.
A noite foi agitada e não tiveram um segundo de descanso. Quando
as coisas estavam resolvidas, graças a todos que estavam envolvidos na
linha de frente do problema, Aaron percebeu que tinha cometido um erro
não só com a garota, mas também com Cooper, que estava fazendo o seu
trabalho, como sempre.
E, apesar de não pedir desculpa com muita frequência, ele o fez
devido ao seu comportamento. Ninguém ali tinha culpa pelo ocorrido, e os
dois tinham despencado de Nova York a Los Angeles de uma hora para
outra, com a finalidade fazer o que os incompetentes da cidade não
conseguiram.
Embora ele não tenha a reconhecido de cara, algo na mulher de
cabelos pretos, olhos claros e de uma imensa timidez já o chamava a sua
atenção.
Ele não lhe dirigiu nenhuma grosseria. Algo que foi impressionante,
já que o mesmo não a acontecia como conhecia Milla, sua secretária.
Ele a encarou encantado, mas, até então, não sentiu nada de
especial, justamente por estar louco pela desconhecida do celular.
Entretanto, quando viu seu pulso, tudo mudou e ele se sentiu
paralisado. Alisson não escondeu dele a tatuagem, porque, talvez, não
tivesse a notado ou se lembrado de que uma vez mandou uma foto da sua
mão em que ela ficou à mostra. A qual não saía da cabeça de Aaron.
A mulher que tanto o perturbava, estava em sua frente,
provavelmente, com raiva e com medo, olhando-o da forma mais doce que
podia e o deixando encantado e preocupado. Ele não queria, de forma
alguma, soltar seu braço, porém Cooper, infelizmente, chegou para
atrapalhar o contato.
Nesse momento, ele não sabia o que fazer, o que dizer ou como
consertar as coisas. Só entraram no carro.
Aaron ainda a observou, esperando alguma reação sua, só que nada
aconteceu.
Pelo menos ela o deu a oportunidade de saber onde mora, caso ele
precise aparecer como um louco na sua porta.
Após chegar em casa, tomou um banho e pensou bastante nisso.
Finalmente, ele sabia quem era o passarinho; mas ela não sabia disso.
Aos olhos de Aaron, ela era mais linda do que ele imaginava. Suas
roupas podiam não a valorizar, porém, o passarinho era sim uma obra de
arte.
Depois do que aconteceu, não ele recebeu mais mensagens ou
telefonemas dela. Muito diferente de como foi nas duas semanas em que
conversaram diariamente; no almoço, na janta, na cama ou no escritório.
Coisa que o preocupou.
Alisson! Agora sei o seu nome. Ele também procurou saber mais
sobre ela o máximo que pode.
Vinte e seis anos, distante da mãe, tinha mestrado em uma das
melhores universidades de Nova York e trabalhava na TEC Corporation
desde que se formou. Ela era exemplar, com um ótimo desempenho, e a
melhor engenheira de softwares que tinham. Era por esse motivo que
Cooper a chamou naquela noite trágica. Pelo menos serviu para alguma
coisa.
Encontrá-la era o que ele mais queria. E, para não a assustar,
decidiu permanecer no seu lugar, fingindo que não sabia de nada. Ele
pensou que atitude iria o ajudar a consertar o que fez. Aaron pensou que
talvez pudesse conquistá-la dessa forma. Mas, como trazê-la para perto de
mim?
Provar que não era tão idiota, seria difícil; ainda mais estando tão
distante, com tantas barreiras, e sem assustá-la.
Claro! O problema com os terroristas cibernéticos!
Unindo o último ao agradável, Aaron imaginou que precisavam de
uma barreira mais segura e inteligente. Como iriam consertar todas as
falhas, nada melhor do que escolher Alisson para isso.
Ele, então, pegou o telefone e apertou o botão que chamava pela
secretária. Milla atendeu nos primeiros toques.
— Sim, senhor!
— Chame Alisson Willians urgentemente. Peça para que ela venha
à minha sala o quanto antes! — Pediu firmemente, tentando não demonstrar
que estava muito ansioso.
— Claro, senhor Spacter. Assim que ela chegar, eu a mandarei
direto para o seu escritório.
— Ótimo.
Como um idiota, assim que colocou telefone de volta no lugar, ele
ficou nervoso e ansioso. Arrumou a mesa umas três vezes, ajeitou seu terno
perfeitamente no lugar, assim como o seu cabelo, que não precisava de tanta
atenção.
Ela estava demorando mais do que ele imaginava e não conseguia,
de nenhuma forma, se concentrar, durante o tempo todo, nos papéis que
estavam sobre a sua mesa.
Alisson, do outro lado da porta, sentiu como se seu coração
estivesse na mão. Ela tentava imaginar o que Aaron queria com ela. Se
descobriu seu segredo e queria a demitir.
As batidas leves na porta o fizeram pegar o primeiro papel em sua
frente e se concentrar nele.
Aaron não fazia ideia do porquê seu coração batia como um tambor
ou por qual razão a sua respiração estava frenética.
Ele deixou a folha sobre a mesa e a observou entrar na sala, tímida
com as bochechas rosadas e pele pálida. Ela estava tão assustada e nervosa
quanto ele.
Aaron tentou imaginar a mesma mulher que tanto o provocava e
debochava, nas mensagens que lhe enviava. Ali, bem na sua frente, ela não
existia.
— Algum problema? — Finalmente ouviu sua voz. Era bom. No
outro dia, Alisson não disse uma palavra; talvez pelo medo de ser
descoberta.
Mal sabia ela que foi sua tatuagem que a denunciou. Na verdade,
era bem lógico que a única mulher nesta empresa que poderia burlar a
segurança de sua senha seria alguém como Alisson.
— Um dos grandes, Alisson. — Pôs um sorriso de satisfação no
rosto.
Aaron tentou controlar a sua satisfação ao notar o quão assustada
estava. Ela parecia um coelho na toca do lobo que não sabia o perigo que
estava correndo.
— Sente-se! Precisamos conversar.
— Sobre o quê, exatamente? — Perguntou desconfiada, com um
sorriso tímido. — Fiz algo de errado?
— Não. Na verdade, você é a solução. — Levantou-se.
Ela estava nervosa, assim como ele. Aaron teve que reorganizar as
palavras para não parecer estranho. Mais do que estava sendo.
— Sente-se! Irei explicar.
Eles estavam a alguns centímetros de distância um do outro. Dava
para sentir seu perfume sutil, o calor do seu corpo e fitar seus olhos verdes
claros. Algo que o dava uma sensação de satisfação.
Para quebrar o contato, ela se sentou na cadeira, em frente à sua
mesa, desconfiada, tentando organizar a sua cabeça.
— Passamos por uma situação difícil em Los Angeles. Novamente,
peço desculpa.
Ela murmurou algo, contudo ele não conseguiu ouvi-la. Sendo
assim, continuou.
Para diminuir a sua ansiedade, passou a andar de um lado a outro,
esperando conseguir formar frases mais inteligentes.
— O que queria dizer é que, claramente, precisamos aperfeiçoar o
nosso sistema para que nada daquilo volte a acontecer.
— Concordo. Mas, o que tenho a ver com isso?
A garota pensou que estava tendo um ataque cardíaco.
Frases inteligentes, Aaron! Frases inteligentes!
— Vi o seu currículo, presenciei como foi excelente no seu trabalho
e confio em você. Pensei em colocá-la como chefe na equipe que irá reparar
os danos sofridos e desenvolver um método de barreira mais efetivo para a
nossa empresa.
— O quê?! — Questionou surpresa, virando-se na cadeira para o
observar. — Por que eu? Tem tantos outros que...
— Quero você, Alisson. — Respondeu rapidamente, antes que ela
arranjasse outra desculpa. — No trabalho. Quero que seja você.
Ele pigarrou nervoso.
— Por que fui boa no trabalho? — Desconfiada, cerrou os olhos,
como ele sempre a imaginou fazendo ao responder algumas das suas
perguntas.
— Sim, Alisson. Ao pesquisar sobre você e sua formação, unindo
ao que passamos, concluí que é a melhor para essa tarefa. — Respondeu
naturalmente.
— Por que confia em mim? — Novamente, o olhou questionando a
sua escolha.
Estava começando a ficar interessante. Aaron mal conseguia
disfarçar o quanto estava gostando disso. Entretanto, Alisson só pensava em
sair daquela sala, o mais rápido possível.
— Desculpe-me, senhor Spacter! Mas, existe alguma razão para,
além disso, o senhor me escolher? – Desconfiou. Ela era uma mulher
esperta, claro que ficaria com a pulga atrás da orelha.
Claro que existia, mas ele não diria tão facilmente.
— Só a razão de que é a mais adequada e compatível comigo
possível. — Continuou respondendo de forma natural.
— Compatível?
— Sim. Compatível. — Enfatizou.
Sua língua coçou para a chamar pelo apelido e ele agradeceu à sua
parte racional por tomar conta dele, no momento.
— Ok. E, como será isso? — Levantou-se.
— Deve ir até Los Angeles amanhã. Ficará hospedada em um dos
meus hotéis. Espero que em poucos dias conclua o trabalho. Afinal, não
queremos mais um prejuízo.
Ela não estava convencida. E hoje, diferentemente de ontem, sua
blusa longa esconde a tatuagem.
— Ok, senhor Spacter. Farei o que pediu.
— Fico feliz. — Realmente, estava.
Vou pegar você, passarinho, e nem vai perceber que está presa na
minha teia.
CAPÍTULO 9
alisson
Alisson achava que ir naquela viagem com Aaron foi um erro.
Depois daquela ocasião, ele começou a ficar estranho, tanto no trabalho,
quanto nas mensagens que ela ainda não respondeu.
“Espero que tenha uma ótima noite de sono, passarinho.”
“O dia está radiante, mas confesso que se estivesse aqui, seria duas vezes melhor.”

Ela tinha que concordar que essa relação entre eles, era estranha, e
que ser chamada à sua sala uns dias depois de chegarem de Los Angeles, foi
quase um filme de terror.
Óbvio que Alisson achava estar exagerando.
Sempre teve dificuldade de saber se alguém estava rindo dela,
tirando sarro ou se estava interessado; também de identificar as reações e
expressões sociais.
Isso porque ela se reservou quanto a esses aspectos. Porém, achou
que com Aaron seria diferente, já que ele estava sempre a dizendo tudo e
não tinha medo de dizer quase nada.
Mesmo que ela tenha o ajudado em Los Angeles e seja boa no que
fazia, ela achou estranho ser escolhida para a nova função.
Alisson não era de se gabar, mas era Cooper que sempre afirmava
esse fato.
Quando ela ainda estava na faculdade, ele a procurou e a ofereceu
sua atual vaga na TEC Corporation.
Alisson ficou lisonjeada e grata. Na época, não pensava que algum
dia alguém a daria tal oportunidade depois do que aconteceu no seu
passado.
Aaron e ela não conviveram juntos, não se encontraram, e tudo que
sabiam um do outro era o que revelaram na ligação e mensagens.
Quando ela entrou em seu escritório e ele a olhou tão intensamente,
com brilhos nos olhos e com um sorriso irresistível, seu coração só faltou
pular do peito. Sentiu-se envergonhada e medrosa. Coisa que o anonimato e
a distância entre eles não a causa.
Por um momento, ela desconfiou que ele soubesse quem ela era,
mas, no fim, convenceu-se de que fez o possível para não lhe dar pistas
sobre sua identidade.
Por um instante naquela sala ela pensou se algum dia eles ficariam
juntos e no fim, chegou à conclusão que esse pensamento era ridículo.
Jamais aconteceria.
Esse homem lindo e rico nunca ficaria com alguém tão sem graça
como você, Alisson.
Agora ela estava preparada para pegar o avião para ir passar a
semana em Los Angeles. Aaron disse que ela ficaria em um dos seus hotéis,
a surpreendendo e a instigando a investigá-lo mais. Alisson descobriu que o
senhor Spacter era mais que o filho do dono da empresa onde ela
trabalhava; era um grande administrador de empresas, tendo sob seu
domínio uma rede de hotéis e restaurantes muito famosos.
A família de Alisson, por parte de mãe, morava em Los Angeles, e
ela poderia ficar na casa de um deles.
Contudo, achou que seria desconfortável, pois sempre que os
visitava, passava por momentos constrangedores; sem falar nos seus primos
babacas, que estavam constantemente a irritando e a provocando por conta
de Rodrigo, um amigo de infância que eles sempre diziam que gostava dela.
A viagem foi tranquila. Pelo menos dessa vez ela não estava a
poucos passos do seu chefe bonitão e arrogante que a encarava
estranhamente.
Depois de pousar, pegou um táxi para ir ao hotel onde ficaria. Ela
achou que o lugar trazia boas e más lembranças, de quando ela não queria ir
às aulas, fugia delas e passava o dia nos shoppings ou na praia de Santa
Mônica.
Ela não se divertia fazendo coisas que adolescentes normais faziam,
no entanto, a solidão e as belas paisagens a confortavam.
Agora ela estava novamente apreciando a vista da cidade onde
aconteciam as mais loucas histórias. Desde quando se formou, não voltou
mais para a cidade. E, da última vez, com o problema e Aaron estressado,
ela estava tão preocupada em não ser descoberta ou com sono, que não
conseguiu pensar direito.
Algo dentro dela estava com medo. Não sabia o porquê.
Além do mais, desde aquele dia, não falou com ele. Enquanto uma
parte sua sentia falta da sua voz, a outra estava desconfiada demais para
pensar em dizer algo ao telefone.
Quando o táxi estacionou na frente do hotel e ela saiu dele, olho
para o edifício, achando que foi ao lugar errado. Ao ver algumas fotos que
têm na internet sobre essas propriedades, percebeu que essa era a mais
luxuosa e cara de todas. Cinco estrelas. Muitas estrelas para alguém como
ela — pensou.
Ficou tão boba que demorou um tempo para tomar a iniciativa de
entrar lá. Suas roupas não eram tão horríveis, porém se comparadas às das
mulheres chiques que saiam dali com bolsas de grife, ela pensou que estava
mais parecendo uma sem-teto.
— Eu devia ter ouvido Mia na questão das vestimentas. —
Murmurou ao entrar no local, com bastante vergonha e desejando enfiar a
cara em um travesseiro. — Oi. Bom dia! Eu sou a Allison… — Deu um
sorriso simpático para a recepcionista, que a olhou de cima a baixo,
incrédula. — Acho que a reserva é neste hotel. Eu trabalho para...
— Alisson! — A voz animada de Milla atrás dela causou arrepios
em seu corpo.
Ela se virou e se deparou com a garota de cabelos loiros e corpo
esbelto usando um vestido lindo, apesar de ser o tradicional uniforme das
secretarias.
— Graças a Deus, você chegou! O chefe está uma...
— Aaron está aqui!? — Perguntou apavorada. — Quer dizer... O
senhor Spacter.
— Sim. E está uma pilha de nervos. — Ignorou sua reação. — A
história do vazamento mexeu mesmo com o homem. Ele disse que não quer
perder uma etapa do processo. Sabe como são os ricos: gostam de controlar
tudo.
O sorriso em seu rosto mascarava a sua surpresa, medo e raiva dele.
Essa história estava muito estranha.
— Fascinante.
Alisson continuou sorrindo, enquanto tentava organizar sua mente.
Ele não podia ter feito isso.
Milla, ignorou tudo, a puxando para junto do seu corpo.
— Alisson, está na reserva do Aaron Spacter. — A recepcionista,
que antes a olhava com desdém, avisou.
Para Milla, que estava bem vestida e linda, ela sorriu como se
estivesse diante de uma estrela de cinema.
— Claro. O quarto Gold. — A morena disse.
— O que é o quarto Gold? — Sussurrou para a secretária.
— Estamos no topo do castelo. O chefe, que é o dono daqui,
colocou a gente nos maiores e mais luxuosos quartos. — Explicou
animadíssima.
Alisson ficou pasma. Por que tudo isso está acontecendo?
— Exagerado. — Explanou o seu pensamento em voz alta.
— Não vou reclamar. A vista lá de cima é linda, o serviço de quarto
é o melhor e você vai amar a cama. — A empolgação dela não alegrava a
Alisson em nada.
Assim que foram para o elevador, ela sentiu o efeito de tudo. Aaron
ficaria com ela por uma semana em um dos melhores hotéis da cidade e
estava exagerando, os colocar em quartos super luxuosos. Além do mais,
ele não a comunicou que estaria na cidade durante o período de trabalho.
Será que esse era o seu plano inicial?
A todo o tempo, Milla tagarelava sobre o hotel e sobre o quanto
estava amando ficar aqui. Enquanto Alisson só tentou entender o que estava
acontecendo.
Assim que as portas foram abertas, seu coração acelerou. Tudo era
lindo e muito grande. Era um corredor simples, mas com três portas e
extenso.
— Vamos ser colegas de portas. A primeira porta é onde estou, a
segunda é a sua e aquela, lá no fim, a maior, é onde o chefe arrogante está.
— Seu coração gelou, assim como sua cabeça. — Aaron é um péssimo
chefe que agora está agindo estranhamente. Talvez essas atitudes
recompensem tudo que ele fez.
— Você é a secretária dele. Por que está na última porta? — Suou
frio.
— Não sei. Mas, esse é um problema? — Questionou com as
sobrancelhas juntas.
— Não. — Sorriu. — Só achei estranho.
Ela não podia, simplesmente, achar que Aaron, de alguma forma,
descobriu sua real identidade, entretanto tinha que confessar que era
esquisito o que estava ocorrendo.
Deixando de lado tais pensamentos, para se concentrar no trabalho,
ela entrou no quarto onde ficaria e deixou sua mala no chão.
Não teve um voo muito longo, porém não dormiu muito bem na
noite passada, com todos os problemas em sua cabeça.
Tinha que o responder em alguma hora; só estava deixando os seus
sentimentos e conflitos ficarem mais calmos
***
A reunião com os integrantes da equipe de aperfeiçoamento foi
ótima. Todos se entrosaram e não houve desencontros de sugestões.
Alisson podia deixar a sua marca na solução do problema,
colocando no projeto a ideia que teve para o seu próprio sistema de
rastreamento virtual.
Estava tudo indo bem, até que um intruso passou pela porta no fim
da reunião, colocando medo nos rostos dos presentes. Ela não entendeu,
imediatamente, de quem se trata.
Ele não ficaria parado os olhando ou, melhor dizendo, monitorando.
Aaron era uma boa pessoa, e Alisson sabia que não estava como
antes: estressado e arrogante com todos.
Na verdade, o senhor Spacter ou, como ela gostava de chamá-lo,
bundão, sorriu e distribuiu gentileza, passando por ela como se a própria
não estivesse em sua frente.
Quando ela o encarou, encontrou um brilho em seu olhar e uma
informação ainda não clara para ela. Conviver cara a cara com seu chefe era
difícil, pois, apesar de tudo que já sabia, gostava do idiota. Ela queria dizer-
lhe quem era, porém, o receio de não receber dele olhares tão acolhedores
quanto os de agora, a travava.
No momento ela estava no bar do grande hotel, olhando para o
celular e pensando no que diria a ele, mas foi surpreendida novamente por
uma mensagem sua.
“Está me dando um gelo, não é, passarinho? ”

Mesmo não sendo nada de mais, ela sorriu com sua pergunta.
Durante o dia foram poucas as vezes que o viu, e agora a pouco ele a
ignorou, como pensava que faria ao saber que era Allison Williams.
“Bem... Não estou o evitando. Só estou com dúvida.”
“Que tipo de dúvida. Pode me falar tudo. Vou tentar ajudá-la.”
“Você é a dúvida, Aaron. Não sei se posso continuar com nossas conversas por
mensagens.”
“Ótimo! Então, vamos nos encontrar. Aí você e eu conversamos cara a cara.”

Revirou os olhos e sorriu, desanimada. Já fazia um tempo que ele


não a pedia isso.
“Vejamos essa situação! Nós nos encontramos, você olha no meu rosto, vê que sou
totalmente diferente do que imaginou e para imediatamente de conversar comigo. Claro... É meu
chefe e somos amigos. Aparentemente, não devo ter medo da sua reação. Mas, assim que nos
vermos, não serei mais a pessoa com quem conversa.”
“Vamos com calma, passarinho! Vejamos! Você é alguém incrível, divertida e companheira. Eu faço
merda o dia inteiro e te digo bobagens que nunca falaria para mulher alguma. Também me faz
pensar em você em momentos nos quais tenho que me concentrar. O que penso a seu respeito não
mudará só porque vamos nos encontrar. Não sou tão superficial quanto imagina.”
“Não sei no que pensar, Aaron. Sempre fui a garota estranha. Para os poucos amigos que
tenho, limito-me a dizer algo que está em minha superfície. O que te falei foi mais do que disse à
minha psicóloga. Não sei como agir na frente de alguém como você.”
“Não tem que agir de uma forma específica para me agradar, passarinho. Eu gosto de você do jeito
que é, mesmo nunca tendo estado perto o suficiente para olhar em seus olhos. Ou, talvez já olhei e
não soube que é você.”

Por que estou fazendo isso? Para Alisson conversar com ele sobre
esse assunto era estranho, pois sua relação entre eles era puramente de
amizade. Eis o problema para ela. De todas as formas possíveis, ela não
conseguia separar as coisas, como fazia normalmente com todos.
“Então, pense nesta situação: o que faria se, agora, eu pudesse ir até você e dissesse
quem sou?”
Palavras simples para uma pergunta complexa para ela. Alisson
odiaria ver em seu rosto desprezo; ainda mais se descobrisse gostar dele
mais do que deveria.
“Só poderá descobrir se vier.”
Ela leu e releu sua resposta diversas vezes para saber se tinha
entendido mesmo. Ele queria a ver agora, e ela pode ir, já que estavam no
mesmo hotel.
A ansiedade bateu na porta e o copo de água na sua frente não
resolveu o problema. Nem se fosse álcool resolveria.
Ela desligou o celular e saiu de onde estava. Não se sentiu bem o
suficiente para dizer mais nada.
Resolveu, então, sair para caminhar um pouco. E, no caminho até a
saída, encontrou a pessoa de quem estava fugindo. Sempre estou fugindo
dele.
Aaron estava lindo, com uma blusa branca simples, uma calça
escura e os cabelos bagunçados, como se tivesse acabado de sair do banho.
Ele guardou o celular no bolso e, quando a olhou, a fez sentir que seu peito
iria se abrir em dois.
Ela tentou mandar oxigênio para o seu cérebro, para poder tomar
uma atitude, e foi bombardeada por pensamentos confusos que a deixaram
com a língua presa.
— Alisson, você está bem? — Aproximou-se com o sorriso mais
lindo nos lábios.
— Eu... eu não... — Gaguejar era um constrangimento para ela;
principalmente sendo na frente do homem por quem achava que tinha
sentimentos fortes. — Estou saindo para um passeio noturno. — Respondeu
nervosa, tentando se afastar o mais rápido possível.
— Para falar a verdade, também preciso sair. — Foi atrás dela,
fazendo-a parar e o olhar assustada. — Não se incomodaria se eu fosse com
você, não é?
Alisson achava que o mundo e as forças superiores estão brincando
com ela.
— Quer que caminhemos juntos? — Perguntou confusa, tão
ofegante que até pareceu ter corrido uma maratona.
— Se não for um incômodo, sim. — Confirmou com a maior
tranquilidade.
— Tudo bem. — Ela não ideia do porquê concordou, mas sabia que
foi um erro.
Ela estava tentando fugir dele e o idiota se convidou para passear
com ela.
Alisson pensou que as coisas só iriam se resolver quando,
finalmente, ela lhe dissesse quem era.
Ao sair do hotel luxuoso com o cara que era dono dele e lindo de
morrer, muitas mulheres no caminho praticamente babaram por ele. Ela não
tinha como julgá-las, porque sempre se pegava fazendo o mesmo. Só que
diferentemente delas, Alisson achava que não tinha chances com Aaron. Ela
era apenas uma funcionária que estava ali para um trabalho.
— Então, o que perturba você? — Ele questionou, a trazendo de
volta à realidade.
Notou que o assunto entre eles era limitado, pois tudo que tinha a
dizer, ele praticamente já sabia.
— Parece preocupada.
— Estou nervosa com o trabalho. — Achou um assunto novo.
Não era totalmente mentira, já que no seu emprego existia um chefe
que quer, a todo custo, descobrir quem era a mulher que lhe mandava
mensagens.
— É muito importante para mim essa tarefa. Nunca estive no lugar
onde estou agora.
— Você é ótima no que faz. Não tem com o que se preocupar.
— Eu não diria isso. — Deu um sorriso nervoso. — Aliás, no dia
em que me colocou como chefe da equipe daqui, em Los Angeles, não
mencionou que viria. Talvez esteja preocupado com o que posso fazer... sei
lá... E que eu prejudique alguma coisa.
Era verdade que sua timidez às vezes a impede de falar algo,
enfrentar uma pessoa, e tudo mais, porém algo dentro dela tomou a
iniciativa para dizer tais palavras.
— Não falei porque não achei necessário, Alisson. — Franziu o
cenho.
Eles estavam caminhando pela calçada. Havia poucos carros na rua,
pessoas andando ao redor, e a noite estava iluminada, tanto pelas luzes da
cidade, quanto pelo céu.
— Confesso que desde a nossa vinda para resolver o problema com
o vazamento, pesquisei seu currículo. É uma das melhores na TEC
Corporation. Cooper tem muitos elogios e recomendações sobre você.
Admito que estou impressionado com a agilidade e eficiência que usou para
interromper o nosso problema.
Gostou do ouvir isso, não conseguiu impedir o seu sorriso. Pelo
menos ele reconhece a sua capacidade. Já era algo.
Logo percebeu que deveria achar defeitos na interação, não coisas
boas.
— Minha intenção em vir não foi para te vigiar ou apontar defeitos,
e sim para participar do processo.
— Desculpe-me, senhor Spacter! Mas não acho que vá entendê-lo.
— Foi irônica, surpreendendo-se pela sua coragem. O que está havendo
comigo? — Quero dizer... eu não sabia que se interessava pela área ou que
entendia bem sobre softwares.
— Pode conversar comigo como se eu fosse uma pessoa comum do
seu dia a dia. Prefiro que me chame de Aaron. — Sorriu, a deixando boba
pela beleza que era o seu sorriso tão de perto. — E, não, Alisson. Não
entendo sobre desenvolvimento de softwares. Mas você sim, e quero me
inteirar sobre o assunto, já que agora sou eu quem comando a empresa.
— O que quer dizer? — O olhou confusa.
— Bem... está claro para mim que cuidar da TEC Corporation é
algo difícil, pois sempre há preocupações ou problemas que não saberei
explicar para os meus investidores e clientes. Não vou mais deixar que algo
como aquela invasão ocorra, e participar desse processo agora é uma forma
que tenho de descobrir mais sobre o que fazemos na empresa. Como é a
chefe do projeto, espero que não seja uma pedra no seu caminho a minha
presença.
Alisson não sabia o que falar. Ele estava dizendo que ficaria ao seu
lado e que conversariam o tempo todo. Consequentemente, descobriria
sobre ela.
A onda de ansiedade bateu forte, quase a fazendo parar de andar. O
pior era ser encarada por ele, que estava à espera de uma resposta.
O que faço? O que faço?
— Você é o chefe. Não tenho como dizer “não”. — Respondeu
finalmente, com receio e vergonha.
— Como falei, Alisson... — ela achou estranha a forma como seu
nome saiu da boca dele. — Não estou aqui para ser tratado como o chefe, e
sim como Aaron.
— Como quiser... — Alisson não parou de encara-lo, tentando
entender o porquê de tudo aquilo. — Aaron.
CAPÍTULO 10
alisson
Alisson não parava de pensar na noite passada onde teve uma
conversa bem estranha com seu chefe/amigo.
Ela se perguntava se isso não significa que ele sabia quem ela era, o
que a deixava extremamente preocupada. Aaron ainda era uma incógnita
para Alisson. Ela se questionava se, a possibilidade dele ter a descoberto e
não dizer nada, ser uma pista de que ele não se importa ou que ela estava
exagerando. Também pensava que ele realmente a quisesse só como uma
amiga, o que era bem lógico, pois ele nunca demonstrou interesse extra pela
estranha.
Isso a deixou acordada por um bom tempo, pois pensava que ela não
estava só o enxergando como um amigo, ou chefe, como deveria, mas como
algo além.
Alisson se martirizava, pois sabia que esse erro tinha sido dela.
Afinal, foi ela quem começou com tudo isso, que confundiu as coisas e
agora estava perdida.
Se fosse possível, Alisson voltaria no tempo e a impediria de
começar com isso. Estava segura em seu canto, antes do babaca ter
esbarrado nela e se colocado em seu caminho.
Ela também se perguntava do porque ele está agindo tão estranho.
Aaron não era gentil, nem paciente, porém, desde seu encontro naquele
avião, ele vinha sendo um cara bondoso e companheiro. O chefe realmente
estava com algum problema.
— Você deveria ter ficado de boca fechada. — Reclamou consigo
mesma. — Não deveria ter mandado aquelas mensagens. Não podia entrar
na vida do homem desse jeito. É óbvio que Aaron não vai te olhar como
uma mulher com quem sairia. Afinal, porque você quer que ele te olhe
assim?
Alisson não era mais a mulher que ela achava ser. Se surpreendeu até
com a forma como o respondeu. Normalmente ela soaria frio e engoliria a
língua.
Agora, depois de tomar um bom banho, colocou uma calça jeans
escura, uma blusa preta de alça fina, simples, uma jaqueta da mesma cor
das suas botas de cano curto.
Essa não era a Alisson de sempre. Aquela mulher pouco se importava
com a aparência, só pegava as peças de roupa e colocava no corpo.
Sua lógica estava certa. Era uma burrice. Contudo, nada a impedia de
colocar um brilho labial que a deixasse mais bem apresentável ou de manter
os meus cabelos soltos para que sua imagem no espelho não ficasse tão sem
graça.
Aaron estava a transformando em uma tola.
Ela então saiu do quarto e desceu para tomar pelo menos um café
antes de começar o trabalho.
O fim de semana estava quase dando tapinhas nas suas costas e ela
não sabia o que faria durante esse período.
Alisson se considerava tão chata que provavelmente ficaria no quarto
luxuoso, assistindo TV e trabalhando em seu protótipo.
Ele estava bem no fim da experiência, precisando apenas ser testado.
Algo que ela começaria a fazer, aos poucos. Alisson era inteligente, mas
tímida. Apresentar essa ideia a alguém seria um desafio. Esperava que o seu
lado profissional fosse quem tomasse as rédeas da apresentação, a jogando
para frente e falando toda a sua ideia para algum grandão.
Ela encontrou Milla toda sorridente indo em sua direção e a puxando
para dentro da cafeteria e escolhendo um lugar, no qual a pobre se sentou.
Tudo naquele lugar era lindo e chique. Tinham até a opção de tomar
café da manhã no quarto, com um serviço excelente, só que Alisson achava
deprimente demais fazer uma refeição olhando para as paredes, mesmo que
lindas.
— Sei que estamos aqui a trabalho e que o chefe não é o melhor do
mundo. — Falou ela ao se sentar ao lado Alisson, à mesa. — Mas, a
primeira reunião dele de amanhã será via internet e, provavelmente, vai
durar cerca de duas a três horas. Depois estarei livre.
Milla não era sua amiga, elas mal se falavam, mas com a nova
realidade, estavam se aproximando. Ela era totalmente diferente de Alisson:
bonita, loira e sensual, além de muito empolgada, o que Alisson achava
cansativo.
Tudo o que Alisson queria era se enfiar no quarto e esquecer o
mundo, inclusive, o próprio chefe. Ela não deveria ter aceitado essa
proposta, apesar de ser boa para a sua careira. A mulher não conseguia
parar de pensar em Aaron, que estava desejando se aproximar dela a
qualquer custo, e tudo isso piorava ao descobrir que seus olhos procuravam
pelo dele, queriam estar com ele, e sempre que Aaron aparecia, seu coração
quase pulava do peito.
— Que tal darmos um passeio pelas ruas mais lindas, famosas, e,
quem sabe, no fim do dia, pararmos na praia para ver o pôr do sol?
A alma antissocial de Alisson gritava ao ouvir isso. Só que ela
acabou pensando: se eu ficar aqui, não conseguirei parar de imaginar meu
chefe safado, além do mais, ele está no quarto ao lado do meu, então será
impossível não pensar nele. Além do mais, me distrair com outra pessoa,
talvez me faça cair na realidade.
A proposta não agradava a Alisson, porém, teve que aceitar para
fugir dela mesma.
— Sabe? Meus primos me chamaram para um passeio. Nós duas
podemos fazer isso e, no fim da noite, jantarmos no melhor lugar que serve
massas aqui, na cidade.
Antes mesmo dela chegar ao fim do seu raciocínio, Milla já estava
batendo palminhas e aceitando o convite. No fundo da alma Alisson julgava
a pobre garota que ficava animada com tudo.
— Ótimo. Agora tenho que me conter e não surtar na frente do chefe.
— Sussurrou, olhando para algo atrás de Alisson. — Bom dia, senhor
Spacter! — Ficou sorridente.
— Bom dia, Milla! — A voz dele causou arrepios na mulher, quase a
paralisando e fazendo com que seu coração congelasse. — Bom dia,
Alisson! — A encarando, puxou uma cadeira e se sentou com elas.
Alisson não conseguiu impedir que seus olhos o analisasse dos pés à
cabeça. Estava lindo em um terno cinza, que caia bem em seu corpo
definido. Alisson se condenou por suspirar por Aaron tão descaradamente.
Como um homem pode ficar lindo a cada minuto?
— Bom dia, senhor Spacter! — Respondeu tímida.
Aaron riu de leve, e nenhuma das duas entendeu o porquê.
— Como falei ontem, pode me chamar pelo nome. — Alertou. Sua
voz sexy encantou até Milla.
— Bem...O dia hoje será intenso. — A loira quebrou o silêncio
perturbador que ficou. —Tem a reunião com os técnicos e...
— Reserve o segundo período do dia para que eu acompanhe a
senhorita Willians no debate com os engenheiros!
Alisson quase engasgava com o café quente. Ela não queria essa
invasão, ainda mais vindo de Aaron.
— Alisson, tem algum plano para o jantar?
A mulher parou no tempo, olhou para Aaron e tentou entender o
porquê da pergunta. Achava que tinha feito algo de errado na vida passada.
— Jantar? — Inquiriu finalmente, tentando achar uma desculpa
razoável. Bem, ela tinha, acabou de convidar Milla para um passeio, com o
intuito de se livrar do Aaron, mas esse homem tinha o poder de mudar as
coisas.
Ela fitou a colega e ela desviou o olhar, passando a mexer no pão.
Alisson quis matá-la por não a ajudar a sair dessa.
— Na verdade, não. — Ela odiava mentir, e ele sabia disso. Dar uma
simples desculpa não colaria, porque geralmente ela confundia as palavras e
acabava sendo sincera.
O problema agora era que: seu chefe estava jogando com ela ou
queria a investigar para saber se ela era ou não a pessoa com quem ele
conversa?
— Fico feliz. Gostaria de discutir mais sobre o projeto. — Se
mordendo por dentro, ela tentou engolir o café. — Milla me passou a ideia
inicial que você bolou com os engenheiros de Los Angeles. Achei
interessante, mas confesso que não entendi muita coisa.
— Oh, sim. Claro. — Deu um sorriso tímido e constrangido. —
Posso esclarecer todas as suas dúvidas sem tirar tanto do seu tempo...
Aaron. — Ela não desistiria de tentar fugir dele.
— Ótimo. Mas ainda quero jantar com você. Ou seria um problema,
Alisson? — Ele a analisou com uma sobrancelha levantada.
Ele a encarou nos olhos, franziu o cenho e no fundo deles, deu a
entender que estava dizendo: tem medo de jantar comigo, senhorita
Willians.
— Não. Sem problemas.
***
Alisson acabou descobrindo que Aaron estava mesmo interessado em
entender sobre seu projeto.
Antes de sua chegada, todos estão animados e falantes, só que assim
que ele passou pela porta e se sentou com eles, em frente à bela mesa de
vidro, tudo mudou.
Foi ela quem teve que quebrar o silencio.
O chefe fazia muitas perguntas, empolgando a mulher. Quando falava
sobre trabalho, nada parava a sua língua. Ao perceber a sua felicidade,
constatando que não era só por conta da ideia a ser debatida ter partido dela,
mas também porque Aaron estava a ouvindo enquanto mantinha um sorriso
simpático e olhos atentos.
Quando acabaram a reunião, ela sentiu a pressão do fim do dia cair
sobre seus ombros.
Não achou necessário participar do jantar para o explicar algo a mais,
pois tudo tinha ficado bem claro.
Começaria a trabalhar no sistema logo na segunda-feira, e ele estava
de acordo. O que reforçaria ainda mais a sua certeza de que era esquisito o
seu desejo de com ela.
Voltar ao hotel a deixou nervosa, pois nunca esteve a sós em um
automóvel com o chefe. Seu perfume incrível a deixava louca para abrir a
boca e lhe dizer toda a verdade.
Não seja uma idiota. O homem só está querendo saber como vamos
lidar com o seu dinheiro.
Ela praticamente fugiu dele, assim que o carro estacionou em frente
ao hotel.
Alisson precisava se recuperar e, quem sabe, conseguir não sutar. Ela
buscava por uma desculpa para lhe dar e não ir ao jantar.
Ficou feliz quando subiu sozinha no elevador até o quarto, porém
quando já estava tirando as roupas do corpo, batidas na porta a fizeram
sentir seu coração pular no peito. Estava descalça e, por sorte, ainda não
tinha tirado a calça jeans. Ela teve que pôr a blusa para atender seja lá quem
for.
Torcendo para ser Milla, respirou fundo e girou a maçaneta. Os olhos
atentos do seu chefe a paralisaram. Ele tinha tirado a parte de cima do terno,
ficando apenas com a blusa branca. Com as mãos encostadas na parede e os
cabelos bagunçados, parecia uma alucinação perfeita.
— Só estou aqui para a lembrar do nosso jantar. — Deu um sorriso.
Droga! Ele não vai desistir.
— Claro. — Manteve um sorriso no rosto, desejando matá-lo. —
Tem certeza de que quer passar a noite falando sobre softwares?
— Bem... vou estar acompanhado de uma bela mulher muito
inteligente. Acho que nunca tive um jantar melhor.
É isso: frases que deixam no ar a dúvida sobre ele saber ou não
sobre mim.
— Acho que exagerou na “bela”.
— Na verdade, não, mas confesso que devia ter usado um adjetivo
melhor para a denominar, senhorita Willians.
O que está acontecendo com esse homem? Será que bateu a cabeça
ou é mesmo um jogo?
— Vou me preparar, então.
Ele a encarou por alguns segundos. A mensagem não dita estava ali.
Qual é o sentido de tudo?
Aaron era o mais lindo homem que ela já viu, era rico, importante e
saia com as mais lindas modelos de capas de revistas. Alisson se perguntava
o porquê ele estava interessado nela. Isso se fosse um interesse.
Já cogitou estar entendendo errado a intenção dele, porém, apesar
dela não ter experiência alguma em relação aos caras, sabia que tinha algo a
mais no seu olhar. Ou, talvez fosse sua mente fantasiando coisas. Ela achou
que era mais provável mesmo. Além do mais, o assunto da noite seria sobre
trabalho.
— Espero você lá embaixo. — Recosta-se.
***
Alisson estava tão nervosa que suas mãos soavam e não conseguia
pensar direito. Colocou o vestido mais bonito que trouxe, já que não tinha
cogitado estar em uma ocasião como essa. Não imaginava que algo assim
pudesse acontecer.
Para falar a verdade, ela não usava muito vestidos; dava preferencias
a blusas e calças. Mas os poucos que tinha eram até bonitos, só que não
para um jantar com Aaron Spacter.
O que ela escolheu, não se comparava aos das belas mulheres que
estavam nesse hotel. Ele não tinha estampa — o que chamaria muita
atenção — e sua cor, como sempre, escura. Ele cobria todas as partes
importantes, Alisson odiava roupas mais abertas – que mostrassem sua
coxa, muito das suas costas e seios, ela não os consideravam bonitos para se
mostrar. Como era consideravelmente baixa, ela sempre estava com suas
botas escuras, com salto ou não, o que de longe parecia uma mescla de
mulher fofa e de uma adolescente meio gótica.
Ela ainda não tinha ido ao restaurante do hotel, e ficou feliz ao ver
que era bem reservado. A mulher entrou abismada com a beleza do lugar e
com os que o frequentava. Alisson se sentiu tímida ao passar por eles,
claramente ela não fazia parte daquele lugar.
O metre a levou até a mesa onde Aaron já a espera. Não tinha como
confundi-lo. Ele estava usando roupas escuras; uma camisa meio aberta.
Nossa! Que homem lindo!
Ela sentia que estar a passos de Aaron Spacter era assustador e
empolgante. A fragrância que ele usava, invadiu o seu corpo, deixando-a
fora de si.
Seu chefe arrogante a olhou dos pés à cabeça, e o sorriso em seu
rosto só a deixou ainda mais quente por dentro. Ele se deu ao trabalho de se
levantar e puxar a cadeira para ela. Tentou sussurrar, dizendo que não era
preciso, entretanto, não o viu se importar.
Estranhamente, a respiração dele em seu pescoço a deixou mais
nervosa. Ela estava quase acabano com a personagem e perguntando na cara
dura qual era a dele.
É uma tortura. Com certeza uma tortura.
Ela pensou que Aaron não deveria a tratar dessa forma, porque fazia
com que ela se sentisse mal por insistir em não lhe dizer que era a anônima
com quem ele conversava a semanas.
— Está linda. Mas não é uma surpresa para mim, porque não precisa
de muito para estar deslumbrante. — Elogiou gentilmente. Foi impossível
não ficar envergonhada.
— Não entendo porque diz isso, quando sei que é só por simpatia. —
Trouxe de volta a Alisson de ontem, que não o via só como o chefe.
Ela se condenou por isso. Se continuasse assim acabaria chamando a
sua atenção. Porém, algo em Aaron a forçava a responde-lo dessa forma.
Como lembrar apenas que ele era seu chefe e que deveria esquecer a
intimidade que os dois tinham?
— Não é só simpatia. Não minto quando falo que é linda. Talvez o
problema seja seu em não se reconhecer assim. — Usou uma pitada de
graça, levando-a a rir, tanto por diversão, quanto por vergonha. — Ou pensa
que estou sendo malvado com você?
—Está? —Questionou sorridente.
Lá está de novo o olhar que dizia algo sem precisar de palavras, o
sorriso com segundas intenções e o silêncio que às vezes nem era
constrangedor. Era como se Aaron soubesse que estava falando com uma
amiga na qual ele podia confiar e provocar.
— Não. — Continuou a encarando. — Não gosto de ser malvado
com você.
O que ele quis dizer com isso?
— Bem... você disse que tinha dúvidas. —Desviou seu olhar do dele.
O vinho foi servido, o garçom pegou os pedidos e saiu, os deixando a
sós novamente. Era o que ela mais temia.
— Pode ser complicado para quem não entende do assunto, mas acho
que tudo foi bem trabalhado hoje, na reunião. — Complementou.
— Devo confessar que foi mais uma desculpa para jantar com você.
—Revelou, a surpreendendo.
Agora, sim, o seu coração tinha motivos para saltar do peito e pegar o
primeiro voo para o céu. Ela quase perdeu a língua, no entanto algo lá no
fundo despertou a garota que não temia Aaron Spacter.
— Ah, é? E, por quê, exatamente, quer uma desculpa para jantar
comigo? — Cerrou os olhos.
Surpreendentemente, o sorriso em seu rosto cresce. Era tão lindo que
ela não parou de encara-lo
— Ah, Alisson! — Depois de beber um gole do vinho caro, a olhou
nos olhos. — É uma jovem interessante e inteligente. Corro o risco de dizer
que parece alguém... alguém que me enlouquece às vezes.
O coração de Alisson falhou um segundo e ela não conseguia
disfarçar o nervosismo.
Ele a observou com cumplicidade e Alisson não desviou o olhar do
dele. É agora que tudo complica.
— Tem uma irmã? — Questionou, mesmo sabendo a resposta.
— Não. Não é uma irmã. Muito pelo contrário. É alguém fascinante.
Ele sabe! Claro que ele sabe, ou não diria nada disso.
Ela se encostou na cadeira, ainda o encarando. Alisson se perguntava
da onde estava vindo aquela força para suportar tudo aquilo.
Conhecer seu chefe pelo celular que ele deixou cair, não era comum.
E a garota não era burra. Se Aaron estava levando as coisas para
outro lado, ela não podia cair na dele. Primeiro: era seu chefe. Segundo: era
Aaron Spacter. Seu celular era recheado de números de mulheres.
— Mas, vamos falar sobre suas dúvidas primeiro! — Pegou a taça
bonita e bebericou o drink para eliminar a pressão que estava sentindo na
sua garganta.
— Você é solteira?
Alisson quase se engasgou com a pergunta inusitada. Já era
constrangedor demais ter que jantar com ele, e agora ela estava o vendo
fazer perguntas pessoais. Logicamente, ele sabe de muita coisa pessoal sua;
coisas que talvez ninguém sabia sobre ela. Portanto, essas perguntas eram
certeiras. Ele estava jogando verde para colher maduro.
— Sobre o trabalho...— respondeu, tentando se recuperar.
— Claro. Mas ainda quero a resposta. — A encarou.
Ela queria mata-lo, ou no mínimo, jogar aquele vinho em cima dele.
Aaron não era bobo, e ela também não. Podia não saber muito sobre a vida
social, mas sabia quando alguém estava brincando com ela.
— Explique mais sobre o que pensa para o projeto!
— Bem... não. — Colocou a taça de volta sobre a mesa, com medo
de quebrá-la em sua mão. — Não tenho namorado. E, sobre o projeto, acho
que entramos de acordo em relação às novas barreiras.
— Fico feliz. — Lançou um sorriso safado que tanto ela imaginou
por dias, enquanto ele a mandava aquelas mensagens de duplo sentido. —
Sobre ser solteira e sobre o trabalho... — ela não percebeu, mas tinha
acabado de revirar os olhos para ele, que riu da situação.
Depois que percebeu seu gesto, se condenou por tê-lo feito em sua
frente.
— Alisson, realmente gosto de você. Involuntariamente, reage às
minhas bobagens. É o que eu procurava.
— Em uma funcionária? — Sentiu suas bochechas arderem.
— Em tudo. — Está vendo? São exatamente essas coisas que me
fazem pensar que ele sabe de mim. — Mas, falando sério... você acha que
isso realmente será o bastante?
Concentre-se, Alisson! Não deixe ele te enlouquecer!
— Como assim o bastante? — Se mexeu no lugar.
— Somos uma empresa de proteção de dados e, há menos de uma
semana, fomos invadidos, o sistema ficou fora do ar e corremos o risco de
perder uma boa parte do que protegemos. Preocupo-me se algo do tipo
possa acontecer de novo, e com mais força.
Esse era o ponto que ainda a preocupa. Ele estava certo. Não importa
quantas portas pudessem criar para evitar invasões, porque iriam
constantemente correremos o risco de serem roubados.
— Serei sincera. Não existe um sistema infalível e vamos correr
riscos sempre, tanto por hackers desconhecidos, quanto por pessoas de
dentro.
Ele franziu o cenho.
— Como assim? Acha que nossos funcionários podem nos roubar?
— Se assustou.
— Aaron, ninguém está seguro neste mundo, muito menos de modo
online. O que guardamos é valioso de várias formas, tanto para a venda de
informações para se obter vantagens, quanto para chantagens. — Apesar da
confiança no que iria dizer, se sentia receosa. — Veja! Você não pode saber
o que as pessoas podem ou não fazer, mas pode evitar. É claro que
aperfeiçoar o sistema é uma saída muito boa, assim como constantes
mudanças nele, tornando as ações dessas pessoas mais difíceis. Porém...E
se, mesmo assim, elas conseguirem?
— Aí seremos prejudicados. Somos a empresa que é contratada para
evitar essas situações, agora você me diz que também somos suscetíveis a
isso? — Aaron tinha razão em ficar preocupado. — Achei que poderia
dormir tranquilo hoje, mas você me abriu a mente.
— Eu sei. Desculpe! — Sorriu. — Aaron, os engenheiros de
softwares trabalham dia e noite, todos os dias, para impedir que esses erros
aconteçam. Mas são muitas informações para um ser humano. Máquinas
são ágeis e de fácil vulnerabilidade. No entanto, podemos nos assegurar.
— Como? — Seu cenho franzido e respiração acelerada só indicam
que o assunto o preocupou mais do que ela podia imaginar. — Você mesma
disse que é inevitável.
— Sim. Mas...— Droga! Alisson estava se mordendo, pois diversas
vezes ela havia comentado que estava trabalhando em um projeto pessoal.
Ela meio que tinha uma ideia extra, com esse protótipo novo, porém, daria
muita bandeira sobre sua identidade anônima que ela vinha usando para
conversar com Aaron. Todavia, era uma boa ideia, um bom projeto, uma
hora ou outra ela teria que revelar isso e ser Aaron o primeiro a ouvir, seria
uma boa oportunidade. — Trabalho com a ideia de proteção por rastreio. —
Aaron se confundiu ao ouvir o que ela disse. — Sabendo que tudo isso é
inevitável, pensei em dar aos dados um tipo de DNA. Por exemplo, uma
pessoa quando é assassinada... desculpe-me por estar usando essa analogia!
— Ele voltou a sorrir finalmente. — Enfim... é deixado um rastro do
suspeito e da vítima. Penso em usar algo assim para dar mais segurança a.
…aos sistemas futuros.
Ela estava com medo e nervosa, esperando ele a cortar ou não gostar
da ideia, apesar de ser ótima e inovadora. Embora já existam algo do tipo,
ela pensava em colocar alguma coisa a mais na minha criação, um toque
pessoal e inovador.
— Você é incrível. — Seu elogio a pegou de surpresa. Ela não sabia
se ficava surpresa ou envergonhada. — Sua sugestão seria dar vida aos
dados? Aí, quando eles forem mortos, deixarão pistas?
Era impressionante o poder que ele tinha de oscilar o seu humor.
— Aquela foi uma analogia, Aaron. — Segurou-se para não revirar
os olhos outra vez. — Funcionará como um rastreio e localizador, além de
dizer de qual IP veio o ataque. Já há sistemas para isso, mas o nosso teria
em cada micro dado um código escondido que, quando ligado a um servidor
via internet, mandaria um sinal à deriva, como as boias.
— Entendi. Só queria ver sua reação. — Aaron tinha o poder de levar
tudo na brincadeira. Bem, naquele dia as coisas não foram tão divertidas
para ele, mas agora, parecia estar relaxado. — Sabe, Alisson? Você é uma
pessoa interessante.
— Jura?!— Pegou a taça e tomou um gole da bebida. O vinho era,
mesmo, muito bom. — As pessoas me chamam de excêntrica.
O garçom finalmente chegou com o prato principal. Ela não se
considerava esfomeada, entretanto não comia nada muito satisfatório há um
tempo. Além disso, seu cérebro, quando trabalhava duas vezes mais,
gastava toda a energia do seu corpo.
— Você me lembra alguém especial para mim. — Alguém especial?
Quem será dessa vez?
Os dois conversavam bastante nas horas vagas. A interação devia ter
acabado muito antes, só que ela não conseguiu parar de pensar nele. Às
vezes se pegava brigando consigo mesma ao sentir uma enorme
insegurança por não saber se ele saiu ou não com alguém. Loucura! Eu não
sou ninguém para ter ciúme de Aaron Spacter.
— Ela é inteligente, senão não teria conseguido invadir meu celular.
Com isso, ela colocou de volta a taça em cima da mesa. Não era bom
segurar algo tão frágil quando seu corpo começava a ficar tenso.
— Ainda me pergunto como ela conseguiu. Mas você, uma mulher
inteligente que trabalha com essas coisas, deve imaginar como. Enfim...
estou enfrentando um dilema, um problema quase sem solução.
Alisson começou a suar frio, seu coração estava na boca e nem a
comida na sua frente conseguiu a distrair. Seus pés estavam inquietos e mal
conseguia pensar direito.
— Deve ser algo pessoal. Não tem que me dizer nada.
Ela queria se livrar da conversa, não saberia o que dizer.
— Preciso de um conselho. E acho que, apesar das circunstâncias e
de você trabalhar comigo, podemos ser.… amigos. Não é, Alisson? — Ele a
encarou como se soubesse que suas palavras eram como facas em seu
coração. Aaron sorriu, pegou a sua taça, bebeu um gole, sem tirar os olhos
delas, enquanto Alisson o observava, claramente nervosa. — Não tenho
muitas amigas.
— Jura? — Foi rápida na fala, como se debochasse, então se lembrou
que não estava digitando e sim falando ao vivo com o bundão.
— Confesso que não sou o melhor e mais santo homem do mundo.
— Deu de ombros. — Já fiquei com muitas mulheres, e meu celular tem
números de algumas das quais nem me lembro mais dos rostos. E, para falar
a verdade, nunca me importei com isso. Até agora.
Não pode cair na dele, Alisson. Aaron Spacter é um safado. Quer se
decepcionar mesmo? Ela repetia em sua cabeça as palavras para que não se
esquecesse que não deveria falar nada comprometedor. Não podia se
esquecer de que alguma palavra a mais ele saberia quem era a Bird.
— Já gostou tanto de alguém, a ponto de não tirar a pessoa da
cabeça? — Questionou.
Não tinha como não ficar pensativa e ter seu coração apertado ao
ouvir isso. Aaron estava lhe revelando algo? Ou isso era um teste?
A verdade era que quando ela lhe mandou a primeira mensagem, quis
provocá-lo, falar aquilo que não podia ou não tinha coragem de dizer na sua
cara. Todavia, ela se sentia ferrada agora ao descobrir que seus sentimentos
se misturavam e que se deixou levar pela aparência bonita e simpatia que
ele a mostrou durante esse tempo.
— O que, realmente, quer me dizer com tudo isso? — Bem nervosa,
ela perguntou.
Ela não saberia como reagir se ele dissesse que sabia exatamente
quem ela era e o que fez. Alisson não achava mais que Aaron a demitiria, já
que não tinha feito nenhuma barbaridade, porém seria estranho trabalhar em
uma empresa onde o chefe era alguém a quem ela nutria esse sentimento
forte e tolo no qual nenhum outro já havia despertado em seu coração.
— Eu queria saber, de alguma forma, como convencer uma mulher
que não é como as que já saí um dia, que não sou tão péssimo e que gosto
de verdade dela.
Alisson ficou confusa. Não sabia como traduzir o seu olhar e
palavras. Ela era péssima em perceber as coisas ao seu redor, mas não
achava que um homem como ele também nutria sentimentos por ela, sendo
que ele nem sabia quem era a anônima.
— Acredite: sei que sou um idiota que a irrita muitas vezes e a
provoca. Fico imaginando suas reações no outro lado da linha, onde está, o
que está fazendo... Algo que acontece em horas que nem queria que
acontecesse.
— Seu passado te condena. — Falou sem pensar, vendo-o levantar
seu olhar para ela. — Quer dizer... baseando-se no que você falou. Talvez
ela só esteja achando que não é nada do que imagina e que você irá perder o
interesse em breve.
— Não vou! — Falou como se tivesse se ofendido.
— Pode garantir? — Perguntou mais irritada do que deveria.
— Sim. Eu posso. — Levantou a voz. — Quando quero transar
casualmente, é fácil de lidar e identificar, mas desejo muito mais dessa
mulher, não só sexo.
Deseja?!
— O que deseja realmente, Aaron? — Cerrou os olhos.
O pior era que ela esqueceu de levar o diálogo na esportiva, e agora
parecia que estavam discutindo mesmo. Aparentemente, óbvio.
— Eu quero... — Seu olhar vago e mudez repentina a deixou
frustrada.
Já estava na hora dela acabar com esse jantar, embora não tenha
comido nada.
— Quero que seja diferente, pois me sinto assim. — Complementou
antes que Alisson tomasse a iniciativa de se levantar e ir embora. — Não
têm muitas pessoas no mundo que me entendam e que me perdoem tão
facilmente; e essa mulher me prendeu a ela. Mas não só pelo anonimato, e
sim pelas coisas que fala, como age e pelo quanto me compreende, mesmo
que eu seja o homem mais errado que ela conheça.
E, outra vez, a Alisson boba apareceu. Sem saber o que dizer,
permaneceu em silêncio, com a cabeça cheia e os pensamentos confusos.
— Desculpe-me, Alisson! — A encarou. — Estraguei o nosso jantar.
— Ela estava estática, tentando decidir se falava ou não, só que naquele
momento ela não achava que seria uma boa ideia. — Mas, acho que ainda
podemos comer. Certo?
Ele tem razão: eu o perdoo facilmente. Irritantemente fácil.
— Acho que deve mostrá-la o que deseja e agir de alguma forma. —
Ela nem sabia o porquê disse isso. Saiu naturalmente da sua boca.
— Você acha? — O sorriso safado estava estampado nele novamente,
a irritando e a fazendo desejar jogar vinho em seu rosto.
— Vamos jantar! — Ajeitou-se em meu lugar. — Temos muito o que
fazer amanhã
CAPÍTULO 11
Aaron
Unir o útil ao agradável foi a parte fácil para Aaron, difícil mesmo
era ficar de boca fechada, sem fazer nada, mesmo quando estava na frente
daquilo que ele mais queria.
Ele não era novato nisso, sabia quando uma mulher se interessava
ou o provocava só com o olhar. Contudo, Alisson era complicada, parecia
gostar de o torturar. Ao mesmo tempo que era tímida, tinha uma língua
solta, que o atiçava.
Ficou nítido para ele que os dois já se conheciam e que ela
desconfiava de que ele havia descoberto sua identidade. Aaron não quis
disfarçar tanto, mas ela temia dizer a ele que era o passarinho que tanto o
perturbava.
Ele ficou impressionado com a formalidade e cumplicidade entre
eles, naquele jantar, Alisson era uma mulher incrível quando ela não estava
se escondendo dentro de si para não ser descoberta.
Aaron não negava, ele gostou disso. Era como um jogo, embora ele
soubesse que era errado fazer disso um jogo.
Alisson era inteligente, interessante, bonita e tudo mais que ele
ainda queria descobrir. Porém, como ela mesma disse ontem, Aaron tinha
que mostrar o que realmente queria. Atitudes são mais importantes do que
simples palavras ditas na hora da emoção.
Hoje, depois da reunião, ele pensaria no iria fazer. Era difícil
decidir. Aaron conhecia Alisson mais do que já conheceu outra mulher. No
entanto, não sabia de tudo e tinha medo de pisar na bola, estragando tudo.
A sala com paredes de vidro e mesa para umas catorze pessoas era
extensa demais para ele. Alisson estava na ponta oposta à sua, concentrada
no computador, enquanto eles escutavam um dos seus colegas explicar algo
no qual ele não estava interessado.
Ele não conseguia parar de observa-la. De óculos, Alisson ficava
ainda mais bonita.
— Então... alguma pergunta? — Perguntou o rapaz com óculos de
fundos de garrafa e camisa xadrez.
Todos olharam para ele, inclusive a nerd no qual ficou toda a
palestra concentrado. Aaron odiava ficar tão distraído e não saber o que
dizer.
— Não, Tomás. Ficou tudo bem... explicado. — Ele estava odiando
ter a atenção de todos, naquela hora.
Ele a encarou por alguns segundos, deixando-a envergonhada a
ponto de desviar o olhar do dele.
— Agora, que tudo está claro, acho que a reunião acabou. —
Comunicou, não aguentando mais ficar na sala com tanta gente.
Obviamente, era importante o que estavam fazendo e que ele tinha
dito que gostaria de estar presente em todo o processo, contudo descobriu
que era impossível se concentrar no trabalho quando estava tão perto e tão
longe de Alisson.
As pessoas arrumaram suas coisas no lugar onde estavam e, pouco a
pouco, saíram da sala.
Deu para ver que Milla estava ansiosa, pois a loira tinha um tique
nos pés quando desejava que algo acabasse logo ou quando estava irritada.
A todo o momento, Alisson esteve concentrada. Foram poucas as
vezes que seus olhares se encontraram. O que o deixou louco. Ele não sabia
até quando essa situação iria permanecer assim ou até onde podia aguentar
sem colocá-la contra a parede e beijar seus lábios naturalmente vermelhos.
— Acredito que esse foi o último compromisso do dia. — falou
Milla, o distraindo do que estava pensando.
Ele a agradeceu mentalmente, pois parecia um psicopata, de tão
obcecado pela garota do computador.
— Alisson e eu marcamos de sair um pouco; nada demais. Porém,
acho que...
— Você e Alisson?! — Ele franziu o cenho, confuso.
Com isso, a mulher de olhos verdes levantou seu olhar, com as
bochechas rosadas, prestando atenção na conversa
— Um passeio pelos pontos turísticos de Los Angeles? —
Perguntou ele, ainda encarando a baixinha. Alisson sabia que era um
questionamento não do seu chefe, mas do bundão.
— Sim. Alisson nasceu aqui e eu estou curiosa para ver todos os
lugares, até mesmo a calçada da fama. — Milla quase dava pulinhos de
felicidade, o que irritava Aaron, ele achava sua personalidade enjoativa.
O seu interesse era observar as reações do passarinho, que se
transformou em uma Alisson diferente de quando estavam a sós. Ele achava
isso maravilhoso, como se ela tivesse duas personalidades.
— Espero que possamos sair sem....
— É sábado. Não tem com o que se preocupar. — Ele se levantou,
pegando seu blazer do terno, que estava nas costas da cadeira. — Espero
que se divirtam.
Alisson o encarou. Era impressionante o quanto se tornava
intimidadora quando desconfiava de algo ou queria o questionar.
— Desejo o mesmo, senhor Spacter.
Beatriz abriu a porta interrompendo a conversa.
— Aaron, eu estava procurando por você. — Ela também se
empolgou, quase o fazendo revirar os olhos.
A loira o seguia desde o dia em que chegou na cidade. Era uma das
suas advogadas. Ou melhor dizendo, da empresa. Seus olhares e gestos não
eram estranhos, contudo não despertavam mais nenhum interesse da parte
dele, que estava totalmente de joelhos por uma certa nerd teimosa. —
Podemos conversar enquanto almoçamos?
Sua pergunta não foi engraçada ou uma piada para gerar algum
sorriso nos seus lábios, mas sabia que Alisson, no exato instante, estava
revirando os olhos. Ela já a viu fazer isso diversas vezes quando Beatriz
estava presente.
— É muito importante? — Perguntou curioso. O último ataque
ainda era um problema judicial então era provável que fosse esse o tema da
conversa. — Não me diga que vamos ter que reembolsar mais pessoas!
— Não. Mas o assunto é delicado. — Aproximou-se mais.
Milla e Alisson já estavam de saída, mas antes de passar pela porta,
o passarinho curioso o encarou estranhamente, quase o fazendo uma
pergunta ou dando um aviso silencioso. O que tirou dele mais um sorriso.
— Tudo bem. Vamos logo!
***
Aaron sabia que não seria fácil e rápido resolver a questão da
invasão, a qual o rendeu uma dor de cabeça que não previu. E agora, Aston,
dono da Investment Still, estava no seu pé e quase fora da lista de clientes
da TEC Corporation.
Os dados roubados lhe trouxeram prejuízos, assim como para
Aaron, que perdeu uma quantia considerável de dólares. O homem foi uma
vítima tanto quanto ele, mas como sua empresa era responsável por não
deixar que coisas assim acontecesse com outras empresas, a carga estava
mais pesada em suas costas.
Ele não tinha medo de perdê-lo. O problema não era esse, e sim
perdermos a confiança dos clientes.
Quando assinam um contrato, Aaron dava a palavra de que nada
aconteceria com informações cruciais de cada empresa com quem
trabalhava.
Todos os dias guardavam milhares de dados da melhor forma, da
mais sofisticada, para, no fim, hackers tentarem estragar tudo. As
investigações começaram, e o que sabiam até agora era que eles poderiam
ser de outro país. O que tentaram roubar, derrubando o sistema, foram os
dados da Investment Still.
Graças à agilidade de Alisson e dos demais funcionários, nada tão
prejudicial foi levado, mas derrubar o sistema prejudicava tanto quanto
levar informações.
Depois de uma conversa esclarecedora com Zayn, outro dos
advogados que trabalhavam para a empresa, ele estava do lado de fora do
hotel, olhando as estrelas e pensando no que faria. Aaron passou a maior
parte do tempo imaginando onde e com quem estava Alisson.
Ele sabia, melhor do que ninguém, que nada tinha sido esclarecido,
que as palavras estavam guardadas na sua garganta e que nada entre eles foi
oficializado. Mas o pouco que Aaron disse ontem foi significante para que
ela soubesse sobre o que ele sentia, apesar do seu receio em relação a
Aaron.
O que posso dizê-la para que confie em mim finalmente?
— Aaron! — A voz de Beatriz o trouxe um desconforto.
Hoje, no almoço, ela se ofereceu para ele diversas vezes e o homem
a ignorou. Agora, novamente, estava em sua frente, com um vestido
vermelho colado ao corpo, com lábios pintados da mesma cor e com os
cabelos loiros soltos.
Ele não era cego, portanto, sabia que ela era linda, muito sensual e
que provocaria coisas nele que os levaria a transar a noite toda. Todavia,
seus sentimentos descobertos recentemente por Alisson o impediam de
olhar para a mulher com desejo.
— O que está fazendo ao lado de fora do hotel, a esta hora?
— Tomando um ar. — respondeu sem graça. Não estava a fim de
dar satisfação para ninguém. — Na verdade, eu já estava pensando em
entrar. Estou exausto.
— Ainda é cedo. — Franziu o cenho. — Não gostaria de me
acompanhar em um drink?
— Os dois copos de whisky que tomei com Zayn já me foram
suficientes. — Ele sentiu uma tensão no seu pescoço.
— Aaron! — Continuou insistindo. Se existia algo que ele mais
odiava isso era “insistir”. — O que está acontecendo? Você está me
ignorando. Não me lembro de ser assim a...
— Isso mudou. E, por favor, não me faça dizer o que não quer
ouvir, Beatriz! — Recostou-se no carro, desejando sair da situação o mais
rápido possível.
— É a nerd, não é? — Colocou as mãos na cintura e o olhou feio.
— Deixe-me adivinhar! Ela não caiu na sua teia ainda e não ficará
conformado até dormirem juntos.
Ele ficou com muita raiva do que ela disse. Tudo bem que as
mulheres o achavam um galinha ou idiota, mas não quando a questão era
Alisson.
— Deveria tomar cuidado, Beatriz, ou poderá perder seu emprego.
— Advertiu furioso. — Não importa o porquê. Só aceite que não vai dormir
na mesma cama que eu agora, nem nunca mais!
Era difícil alguém o deixarem irritado dessa forma. Aaron sabia que
era arrogante no trabalho, quando se estressava, só que essa conversa o
causou uma dor de cabeça que ele não esperava.
Quando andou em direção à entrada do hotel, um carro parou em
frente ao prédio. De dentro dele saiu Alisson e Milla, lindas e sorridentes. O
vestido simples e preto dela, que não valoriza o seu belo corpo, o deixou
com o coração inquieto.
Era ridículo quão apaixonado ele estava. A mulher nem precisava o
seduzir ou o querer, para que seu cérebro se prendesse a ela como uma cola.
Tinha que confessar que estava feliz ao vê-la chegar.
Contudo, essa sensação durou pouco, pois logo um homem alto, de
jaqueta preta e calça jeans rasgada também saiu do veículo, abraçando-a e a
beijando.
A única coisa que conseguiu fazer foi assistir aquela cena, incrédulo
e com muita raiva.
CAPÍTULO 12
Alisson
Quando Alisson decidiu sair e revisitar com Milla as ruas por onde
tanto andou quando era mais jovem, não sabia que seu fim de noite seria
assim.
Seus primos eram ótimos, muito engraçados, a tratavam como uma
irmã mais nova e não a olhavam como o restante da família. O problema era
que decidiram fazer uma surpresa com a qual ela não se sentiu confortável:
rever Rodrigo.
O cara era legal, já foram muito amigos e ele nunca a fez mal
algum. A questão era que sempre quis algo a mais com ela. E Alisson nunca
lhe deu abertura para isso.
No jantar, eles conversaram e beberam vinho. Ela estava
começando a gostar da noite, até que Rodrigo pediu para as levar ao hotel.
Milla aceitou por ela. Eles se entrosaram bem e Alison achou que,
finalmente, ele tinha esquecido o seu interesse não correspondido por ela.
No entanto, foi só chegar na porta do hotel, para ela descobrir que
seu amigo se tornou também um homem decidido.
O beijo que ele deu nela, era totalmente inesperado, e Alisson
estava perdida, sem saber como reagir. Ela não tinha dado a entender, em
momento algum durante o jantar, que o queria. Nem poderia, já que passava
quase o tempo em Aaron.
Não queria deixá-lo constrangido, mas seu impulso agiu primeiro e
ela o afastou rápido. Sentiu como se sua língua estivesse morta, pois era
difícil pensar em algo. Reuniu o máximo de forças e coerência possível para
dizer algumas palavras.
— Não era para ter acontecido. — Ela ficou assustada e
constrangida.
— Achei que... que estava...
— Desculpe! Não posso mentir. Não gosto de você nesse sentido.
— Seus olhos se desviaram um pouco e encontraram Aaron a encarando,
chocado. — Tenho que ir. Desculpe!
Sentiu o impulso de ir até Aaron, mas outra coisa estranha tomou
conta das suas ações e praticamente correu para dentro do hotel. Tudo o que
ela mais temia estava acontecendo. Seus sentimentos pelo chefe ficaram
evidente, seu intuito era fugir, correr para bem longe.
Alisson desejou que o elevador não estivesse ocupado e que Aaron
não viesse atrás dela. Porém, o destino parecia estar contra a sua pessoa.
Assim que entrou no elevador e se virou para apertar os botões,
Aaron apareceu do nada, entrando também e ficando ao seu lado.
O pior era que Milla não deu sinal de vida ainda. O que significava
que o chefe e Alisson estavam presos no elevador até o andar onde estavam
hospedados.
Ela sentiu que seu coração iria explodir e sair pela boca, como se
recusasse ficar naquela situação.
Alisson tentou respirar fundo e pensar em coisas boas. Entretanto, o
perfume e a presença do homem que a perturbava a todo o momento
estavam a prendendo à realidade. Ela olhou para o número no alto da porta,
esperando que já estivessem próximos e assim, podendo fugir dele.
— Por que ainda estamos fazendo isso, Alisson? — Sua pergunta a
deixou ainda mais nervosa. — Achei que eu havia deixado as coisas claras
na noite passada, mas ainda está me deixando louco. — Ela abriu a boca
para dizer algo, mas nada saiu dela. — É frustrante estar nessa situação
quando nós dois sabemos quem é um a outro. — Novamente, abriu a boca e
não conseguiu dizer nada. Ela esperava ter uma reação melhor, só que a
medrosa estava no comando. — O que vai me dizer? Que não sabe que sei
sobre você?
— Como assim eu sei que você sabe? — Perguntou, já sabendo a
resposta. Sua lerdeza a atacou no pior momento. — Você... sabe? Como
sabe?
Aaron cerrou os olhos e se aproximou dela, a forçando a se encostar
na parede. Alisson não sabia se isso era uma alucinação ou realidade. O
chefe a olhou no fundo dos olhos e pode ver até a sua alma.
O homem, praticamente ficou sobre ela, sua respiração acelerou,
assim como a de Alisson. Ela sentiu seu coração afundar no peito, suas
mãos suando e não tinha respostas para dar.
Isso não pode está acontecendo. Ele sabe quem sou? Mesmo assim
me olha como um lobo feroz?
— Alisson! — Disse próximo ao seu rosto, a deixando sentir o
calor do seu corpo. — Não quero mais brincar de gato e rato. Você já me
irritou o bastante lá fora. Eu sei que não deveria sentir ciúme de um babaca
como aquele, porém, me sinto como se tivesse sido traído. Ontem te falei
tudo aquilo e você apenas me ignorou; me fez ver você aos beijos com
outro cara, na frente do meu hotel.
Encarar seus olhos azuis, quase cinzas, a deixou em choque, não só
pelo que falou, mas também pela sua presença imponente.
Ela imaginou como seria quando Aaron a descobrisse, mas nada se
comparava a realidade.
Alisson sentiu seu corpo pegar fogo. Estava com raiva e desejo.
Como ele pode ficar todo esse tempo, sabendo quem ela era, sem dizer que
já sabia?
Certo, Aaron deu pistas, porém, ela não seria boba de chegar até ele
e dizer alguma coisa. Agora, a mulher se sentia mais do que uma tola, mas
burra, por continuar com esse fingimento, sem saber que não precisava mais
se esforçar para se esconder dele.
— Eu... eu não... não queria o beijo. — Explicou nervosa. — Nada
aconteceu entre mim e Rodrigo, só que não pude evitar. – Alisson então
deixou a inocência e medo de lado, para confronta-lo, afastando seu grande
corpo com as mãos, o mais forte possivel. – Seu idiota, você sabia quem eu
era e não disse nada? — A realidade parecia estar voltando e fazendo com
que ela enxergasse as coisas. — Você estava fingindo o tempo todo?
— Jura? É sobre isso que quer conversar agora? — Também estava
irritado. — Você sai, chega com um homem que eu nem sabia que existia,
beija ele e depois culpa a mim de ter fingido?
— Não beijei ele; foi ele quem tomou a iniciativa. E, não. Eu não
gostei. Aaron, você e eu conversamos por muito tempo e você não me disse
nada sobre já saber quem sou. Por quê?
— Por quê? Eu não queria colocá-la em uma péssima situação ou
forçá-la a me contar algo que ainda não estava segura para dizer. Mas eu
disse o que queria com você e... Está me irritando, e não como sempre faz,
Alisson. — Passou as mãos sobre o cabelo, Aaron estava suando de tão
nervoso.
Aaron não queria culpa-la por aquilo, na verdade, ele não sabia o
porquê.
Então, continuou a encarando, impaciente sem saber como reagir ou
o que dizer. Alisson também se sentia assim. As portas do elevador se
abriram e nenhum dos dois saiu.
— Não sei por que está zangado. Rodrigo sempre foi um amigo
para mim, apesar do seu interesse. E estou confusa quanto ao motivo de
tudo isso, Aaron. — Falou parecendo estar correndo em uma maratona, de
tão ofegante. — Como me descobriu? — Era um ponto importante. — Por
qual razão está me cobrando ciúmes?
Ele não a respondeu de imediato, somente a pegou pelo braço sem
muita força e a puxou para fora do elevador. Esse contato só a fez sentir
arrepios pelo corpo e seu coração estava prestes a sair pela boca.
Alisson não disse uma palavra, nem o impediu de levá-la. Ela
estava travada, era bom e ruim tudo aquilo. Finalmente os dois estavam
sendo claros um com o outro, só que ela achou que não estava preparada.
Ou melhor, ela nunca estaria. Então, Alisson viu Aaron indo em direção ao
seu quarto, pegando o cartão de acesso e abrindo a porta.
Quando já estavam lá dentro, ele fechou a porta, ela quase parou de
respirar e sentiu que alguém a congelava com o olhar. Alisson voltou a
encarar Aaron, ele estava com a cara fechada, claramente furioso.
— No dia em que viemos para Los Angeles, depois que invadiram e
derrubaram o sistema, você não se precaveu; nem agora. — Apontou para a
tatuagem em seu pulso. Alisson se odiou. Como ela não lembrava da foto?
— Sua tatuagem, Alisson. Não se lembra de nada?
O metrô... A senhora... A foto do dedo do meio... como pude ser tão
idiota e me esquecer disso? Ok. Foi minha culpa. Como não me lembrei do
que fiz?
— Então, sabe da verdade há um bom tempo e não fez nada? —
Ainda estava pensativa, se martirizando.
O mais engraçado era que, apesar do seu coração estar gritando e
quase falhando, não estava sendo tão ruim ou o fim do mundo, como
previa.
Então, ao respirar fundo, para pensar direito, ela notou que a reação
de Aaron era totalmente contraria do que ela imaginava. Na sua cabeça tola,
ela pensava que ele a olharia com desdém, que perdesse seu interesse. Não
era isso que estava acontecendo.
— Como não fiz nada? — Perguntou como se a resposta fosse
óbvia. — Escolhi especificamente você para o trabalho, coloquei-a próxima
de mim e jantamos juntos. — Alisson realmente se sentia uma idiota por
não notar que todas as reações estranhas dele, era por já sabem quem ela
era. — Passarinho, eu… não faço ideia do que fez comigo. Não… não era
para ser desse jeito. Eu não me apaixono, isso nunca aconteceu, então você
aparece e muda toda a minha vida. — Ela não parava de olhar em seus
olhos azuis. Estava mesmo achando que era um sonho. — Você tira o caos
do meu mundo. Quando conversamos, tudo desaparece. Não percebi
quando aconteceu.
— Aaron, eu jamais pensei que algum dia isso poderia acontecer.
— Seu coração batia forte, as palavras estavam confusas na sua cabeça.
Jamais ouviu ninguém dizer essas coisas e... nem sabia porque logo o seu
chefe iria gostar dela, dessa forma.
— Alisson — Ele se aproximou, olhando em seus olhos, tocando
em seu rosto, fazendo com que ela sentisse seu corpo arrepiar. O local onde
tocou, pegava fogo, mal conseguia respirar. — Eu arranjaria Milhões de
desculpas só para te trazer a este lugar. — Revelou firmemente, como se
tivesse orgulho do seu feito. — Você é incrível, não só inteligente. Sempre
que estamos juntos, esqueço o homem arrogante que todos odeiam.
O perfume que ele usava, a inebriava. Seu toque pegava fogo,
fazendo com que seu coração pulasse no peito. Aaron a puxou pela cintura.
Ela foi como se não tivesse poder sobre ele. Não conseguia parar de olhar
no azul de seus olhos, achando que estava hipnotizada.
— Não queria ser a pessoa que vai forçá-la a algo, ou nada
parecido, mas... não sei o que tem, Alisson, mas consegue me enlouquecer
facilmente. — Ele a beijou tão desesperado que a fez dar um passo para
trás.
Aquele beijo despertou nela a fome que jamais pensou em sentir.
Alisson se agarrou nele, sentindo seu corpo inteiro se derreter. Aaron
apertou a sua cintura, a trazendo para mais perto e sentindo seus dedos
afundarem em seus cabelos.
Diferentemente de Rodrigo, Aaron a tirava do chão em que seus pés
estavam apoiados. Ela sentiu a parede nas suas costas, assim como todo o
resto que vem com o beijo inusitado.
Os dois sentiram o calor aumentar, a necessidade de finalmente
estares juntos, o que levou Aaron ao coloca-la encima do móvel e adentrar
o vestido, com suas mãos. Alisson suspirou, sentiu um frio na barriga e um
desejo crescente dentro dela. Então ela lembrou que não podia deixar que
ele fosse além.
— Aaron! — O afastou, mesmo não querendo. — Você é meu
chefe. Não pode acontecer.
A moral e o desejo lutavam dentro dela, travando uma briga que
estava a desmontando. Por um lado, ela queria esquecer de tudo e se jogar
de cabeça nisso, mas sua parte racional dizia que isso era errado.
Aaron Spacter era um cara lindo, charmoso e sedutor, só que
também era um safado que coleciona mulheres em sua agenda de contatos.
— Não coloque esse fato como uma barreira entre nós, Alisson! Por
favor, não! — Pediu quase implorando.
Seu beijo a calou outra vez. O primeiro não diminuiu o desejo e o
sabor de “queria mais”.
O problema para Alisson era que ela desejava o seu chefe cafajeste
e arrogante que a enlouquecia.
Seu estomago borbulhava de sentimentos. Olha-lo nos olhos era
difícil, pois sentia que ele poderia enxergar o quanto ele a afetava. Aquele
beijo já tinha traduzido esse sentimento. Apesar de conhecer mais de Aaron
do que esperava, ele ainda era seu chefe bonitão, sua cabeça repetia a ideia
de que depois de ter o que desejava ele iria deixa-la, assim como deixou as
outras.
— Não consegui tirá-la da minha cabeça e não durmo sem pensar
ou sonhar com você. Desde o dia em que te vi, notei o quanto era especial e
que tinha que pegá-la para mim.
— Por que eu, dentre tantas mulheres lindas com quem sai? — Ela
sentiu a ansiedade voltar com força. — O mistério pode ter o feito pensar
dessa forma. Logo vai enjoar de mim e continuar com sua lista interminável
de mulheres. Não serei uma delas.
Pegando a determinação que ela não tinha, o afastou e saiu da
parede onde estava enquanto eles se beijaram.
— Sei melhor do que ninguém que meu passado me condena. —
Falou atrás dela. — Mas não desmereça os meus sentimentos! Nunca iria
tão longe se não a quisesse e não estivesse apaixonado.
Alisson sentiu seu coração palpitar com as palavras ditas por sua
boca. Ela não estava esperando por isso.
Não o escute!
— Você nem sabia quem eu era. Como pôde se apaixonar? —
Virou-se, descobrindo que foi um erro. Observá-lo de longe era mais fácil
do que ela imaginava.
Seus sentimentos por ele eram fortes e não podia negar o que estava
gritando dentro do seu peito. Para a tola garota era fácil entender o que ele
dizia, porém para a Alisson que um dia foi usada por um espertalhão, ela
sabia que nada era tão fácil e que ninguém se apaixonaria por alguém tão
sem graça como ela; ainda mais se essa pessoa for Aaron Spacter.
— Durante o período em que passamos conversando, eu não sabia
quem você era. Isso me faz pensar que o seu receio é muito mais um
problema seu em confiar do que uma dúvida quanto à veracidade dos meus
sentimentos.
Alisson achou estar alucinando ao olhar em seus olhos e ver seus
sentimentos transbordando. Ninguém nunca lhe falou as coisas que Aaron
tinha acabado de falar; nem nunca a beijou com tanto desejo. Também
nunca se sentiu tão bem ao estar com alguém, como se sentia com ele.
— Não foi você quem foi preso por confiar em quem não devia. —
As palavras saíram da sua boca com tanta facilidade, que nem percebeu que
estava as pronunciando.
Ele ficou surpreso, assim como todos ficavam quando essa história
vinha à tona. Ela nunca gostou de falar sobre o assunto, de um período que
apagou da sua vida. Contudo, nada seria real ou sincero se ela não o
contasse.
Sentou-se na beirada da cama macia onde ele dormia. O que
bastava para a deixar fora do ar. O clima mudou drasticamente.
— Como falei, aconteceu há um bom tempo. Eu tinha quinze anos e
não sabia que pedir a ajuda de um homem para me ensinar a mexer no meu
laptop novo me traria tal consequência.
— Não encontrei isso nos seus registros.
Ela o encaro. Ele fez uma pesquisa sobre mim enquanto eu não
sabia que ele tinha me descoberto?
— Não pode me culpar. Não queria me dar detalhes sobre você.
Quis garantir que te acharia caso sumisse de vez.
— Enfim... no fim não deu em nada o inconveniente e ele foi
apagado pelo FBI. — Explicou após revirar os olhos.
— FBI?
— Quer me deixar explicar? — Cruzou os braços, irritada com a
situação.
Era terrível para ela se lembrar e falar sobre esse assunto. Então, se
sentir irritada era um dos efeitos colaterais.
— O nome dele era Issac; tinha um trinta e cinco na época e
frequentava a cafeteria que minha mãe tinha aqui, em Los Angeles. Quando
eu saía do colégio, ia lá ajudá-la. Foi assim que o conheci. Todos sabiam
que ele era bom com tecnologias e minha mãe me incentivou a pedi-lo
ajuda, pois eu era muito tímida.
— Era? — Foi irônico.
— Foi ele quem me ensinou uma boa parte do que conheço sobre
sistemas e, com o tempo, nós nos tornamos amigos. Nada bizarro. Mas um
dia ele me pediu para usar meu notebook, porque o dele estava dando
defeito, e, como uma idiota que confiava nele, não me opus. O dia acabou
normalmente, mas assim que amanheceu, os agentes bateram na minha
porta e me prenderam como se eu fosse uma criminosa perigosa. — Um
deles, ao colocar as algemas nela, sem necessidade, e a machucou. No
momento, todos estavam apontando o dedo na sua cara e não queriam saber
das suas lágrimas. — Claro que não tinha sido eu. Foi complicado explicar
o que ocorreu, estando desesperada e com medo de passar a vida na cadeia
por hackear e roubar o FBI.
— Eu sinto muito. — Sentou-se ao seu lado, na cama.
— Issac não era a pessoa que achamos que fosse. Esse nem era o
nome dele. Foi difícil achá-lo e me inocentar, mas quando aconteceu,
apagaram minha ficha e nunca mais falei sobre essa história.
Alisson não fazia ideia de que diria tudo, nem que o encontraria um
dia, mas foi bom lhe contar.
— Sinto muito por você, Alisson. Confiar nas pessoas é algo com o
qual não sabemos se vamos ou não nos decepcionar um dia, mas viver com
medo de se abrir para algo, não acho que a fará bem. — Aaron uniu suas
mãos na dela, a forçando a olhar no seu rosto.
Seu gesto a deixou feliz e confortável, assim como o olhar em seus
olhos outra vez. Antes eles estavam como uma tempestade, e agora
pareciam um céu azul.
— Passei anos me afastando de encrenca, esquecendo-me de que
um dia fui enganada, escondendo-me disso por muito tempo... E quer que
eu me abra e confie outra vez em alguém? Logo no cara mais safado e
errado que conheço? — Brincou.
Ele não ficou feliz.
— Não sou esse tipo de pessoa. — Levantou-se, transparecendo o
quanto estava nervoso. — Sim. Já fiz muita coisa errada e já fiquei com
muitas mulheres...
— Eu diria milhares, de acordo com o que vi no seu celular. —
Complementou.
— Não exagere! — Aperou os olhos. — Alisson, não sou santo; sou
arrogante e muitas vezes deixo a minha pior personalidade vir à tona
quando estou sob pressão. No entanto, não queria conquistá-la e depois
esquecê-la, como se fosse mais uma na minha lista.
— Jura? — Ergueu as sobrancelhas.
— Acredite em mim, Alisson! Eu não estaria insistindo tanto,
dedicando-me e fazendo de tudo se não a quisesse de verdade. — Parou de
andar de um lado a outro, segurando em suas mãos e fitando o fundo dos
seus olhos, a levando a voltar a sentir o frio na barriga e a ansiedade que a
deixavam nervosa. — Não vou insistir, se realmente não quiser. Mas
prometo que farei o meu melhor para que, algum dia, confie em mim. Só
não queria perder tudo que estou sentindo, pois era algo que nunca senti por
ninguém.
— Aaron, você é meu chefe. — Apesar do medo, Alisson se sentia
uma boba ao ouvir o que ela nunca ouviu de ninguém. — Seria estranho e
errado.
— Não, Alisson. Não seria. — Colocou um sorriso nos lábios.
Seus dedos na pele dela deixou um caminho de calor que se espalha
pelo seu corpo quanto mais descia.
— Não vamos misturar as coisas. É bem comum isso acontecer no
mundo coorporativo. — Argumentou.
— É?
— Minha mãe era a secretária do meu pai. — Respondeu com um
sorriso provocante de canto.
Involuntariamente, ela sorriu. Aaron achava que foi um convite e
ela não reclamou quando seus lábios macios tomaram os seus com bastante
intensidade e desejo. Ele a fez deitar na cama e também sobre o seu
pequeno corpo.
Uma chama ardente se acendeu. O alerta na sua cabeça estava
apitando a lembrando que não poderia se deixar levar tão facilmente.
Aaron estava certo: não poso continuar me afastando das pessoas
pelo resto da minha vida. Mas, se ele não era um cara comum, quer dizer
que começarei com o meu maior desafio.
— Acho que já está tarde. — o afastou de novo, fazendo-o respirar
fundo, claramente desaprovando a ideia. — Não será fácil lidar com você,
Aaron, e espero que, se realmente quiser algo, possa ter paciência.
— Farei o que for preciso para ter você.
Apesar de ter uma parte medrosa dentro de si, algo lhe dava
segurança naquilo.
CAPÍTULO 13
Alisson
Alisson estava totalmente perdida, com tudo que aconteceu entre ela
e Aaron ontem. Era bem óbvio que cada coisa que ele dizia ou dava a
entender, significava que sabia quem ela era. Só que era mais fácil fingir
que nada disso estava acontecendo.
Seus sentimentos pareciam uma sopa no fogão: quentes e misturados;
ela não sabia se daria em algo bom ou sem graça.
Estava torcendo para que os dois conseguissem se resolver, pois
nunca se sentiu assim antes, como se tivesse pulado de um avião.
— O sistema será reiniciado, vamos adaptar sua nova ideia e esperar
que o problema com os hackers seja resolvido. — Falou Bruno, um dos
líderes da TEC Corporation, em Los Angeles.
— Devemos começar os testes prévios, para saber se o software se
adaptar à grande quantidade de informações que chegam e saem. Se
funcionar, teremos o nosso próprio sistema de rastreamento de dados e, com
sorte, espantar os futuros ladrões. — Ela prestava atenção no painel em sua
frente.
Alisson estava feliz pelo que estava acontecendo. Uma das suas
maiores ideias estava sendo colocada em prática pela empresa onde
trabalhava. Era um prestígio, e tanto.
— Ainda temos o problema com os servidores. Quando eles são
derrubados, ficam off-line. Isso nos prejudica tanto quanto sermos
invadidos. — Ficou pensativo.
— Temos que monitorar os servidores tanto quanto monitoramos o
sistema. O desligamento à distância serve como um modo de segurança
para a empresa. Se voltarmos a usar o método de desligamento presencial,
corremos o risco de não conseguir salvar os dados se algo acontecer na
sede.
— Você tem razão. Mas, talvez, possamos arranjar uma solução
futuramente.
Os dois estavam na sala dos servidores, onde havia grandes caixas,
com três metros de altura e um e meio de largura, ocupando um espaço
enorme; quase dois terços de um campo de futebol.
Da plataforma em que estavam, conseguiriam ver uma boa parte
delas. O local era protegido por dentro e por fora, e só quem tinha acesso a
ele eram os poucos funcionários, os que mantinham a manutenção daqui.
Agora, que estavam colocando o projeto para funcionar, ela não tinha
tanto trabalho para fazer, mas ficaria presente até que tudo estivesse em
ordem, esperando que seu sistema de rastreio funcionasse muito bem.
— Vou deixá-lo responsável pelo resto. Se houver algo que não possa
resolver, pode me ligar, e virei o mais rápido que puder. — Levantou-se da
cadeira. — Mas acho que tudo ficou claro.
— Sim, senhorita Williams. Podemos continuar daqui. — A
cumprimentou.
Alisson achava estranho que as coisas estivessem indo bem, porque
geralmente nada de tão empolgante ou importante perdurava por muito
tempo na sua vida.
Ela desceu as escadas de metal e se retirou pela porta reforçada que
só era aberta com o acesso dos crachás que os funcionários tinham. Assim
que saiu do prédio, pensou no que faria no restante do dia. Não era mais tão
cedo, nem tão tarde. O sol ainda iluminava a cidade e continuaria assim por
um tempo.
— Achei que teria que entrar neste lugar e te roubar de lá. — A voz
de Aaron soou atrás dela, a surpreendendo.
— Algum problema? Precisa de algo?
— Preciso de um longo tempo com você agora, que esclarecemos sua
identidade. — Aproximou-se com o sorriso de sempre no rosto.
Aaron estava informal. Vê-lo em um jeans e em uma camisa simples
a fazia suspirar. Seu cabelo estava bagunçado. Não precisava de mais nada
para saber que esse homem era quase perfeito.
Quase, pois ainda tinha uma personalidade difícil.
— Vamos sair daqui! — A puxou pela mão.
— Espere, Aaron! O que está fazendo? — Puxo-o, fazendo-o soltar
sua mão. — Não somos um casal feliz e comum.
— O que quer dizer? Tem vergonha de mim? — Ela franziu o cenho
e ele olhou como se estivesse ofendido.
— Eu? Com vergonha de você? — Ironizou. — A questão é que sou
sua funcionária aqui. Seria bem estranho se vissem nós dois de mãos dadas
no prédio onde estou trabalhando e do qual você é o dono.
— Está colocando as barreiras de novo, Alisson. — Pôs as mãos na
cintura, chateado.
— Escute! Você é o cara bonitão e rico; eu sou Alisson, a nerd. Pode
não ser nada demais para você, porém para mim muda muita coisa. As
pessoas me olhariam como a mulher que quer se aproveitar do chefe. —
Essa questão a deixou acordada por um bom tempo ontem. Mulheres são
julgadas o tempo todo, por cada passo que dão.
Ela, Alisson Williams, uma pessoa simples e totalmente diferente do
Aaron, aparecendo, do nada, namorando o chefe? Daria o que falar.
— É com isso que está se preocupando? Com o que vão pensar? —
Aproximou-se dela de novo e a olhou no fundo dos seus olhos. Alisson se
sentiu acuada. — Vivi um bom tempo sendo alvo de fofocas e de manchetes
que só mostravam o meu pior lado. Sei como é ruim ser julgado. Mas não
estamos cometendo um crime e ninguém tem o direito de se meter ou dar
opinião sobre nossa vida. Quer, mesmo, desistir de nós por conta disso?
Ela sabia que ele estava certo, entretanto, a medrosa dentro dela
insistia em não querer aceitar o seu conselho facilmente.
— Não. Mas podemos ir devagar e não mostrar para todos ainda
sobre nós. — Respondeu após respirar fundo.
— Tudo bem, passarinho. Nós podemos deixar a nossa relação
guardada só para nós, por enquanto.
***
Quando ela andava pelas ruas de Los Angeles, geralmente era de
cabeça baixa, esperando não tropeçar ou chegar logo em casa. Com Milla, a
deixou cansada de ouvi-la dizer o quanto a cidade era fantástica, e tudo
mais. E com Aaron, como sempre, as coisas eram diferentes. Ele a divertia
com algumas piadas, comentários irônicos ou com aquele olhar sedutor.
Eles passaram por alguns lugares muito frequentados por ela, quando
mais jovem, e ele a fez diversas perguntas que não teve medo de responder,
diferentemente de como era com as demais pessoas.
Era assustador para ela o quanto esse homem a mudava. Alisson
estava começando a achar que ele tinha completo poder sobre ela.
Quando estavam juntos, não havia problema algum, mas era só parar
e pensar no que aconteceria no futuro, que sua ansiedade batia.
Ela não era uma garota tola que tinha medo de tudo, só que ao pensar
que ela era uma simples engenheira de software enquanto ele era o dono da
TEC Corporation onde ela trabalhava, a deixava amedrontada.
Aaron estava certo ao dizer que ela não podia deixar de viver essa
felicidade por medo do que vão pensar sobre eles. Porém, Alisson já foi
acusada injustamente antes, e foi péssimo. Uma situação que gerou uma
desconfiança e medo nela inexplicável.
Ela não se achava nada elegante e atraente, então o interesse de
Aaron parecia sem sentido.
— Está pensando de novo naquele assunto? — Perguntou-lhe,
segurando sua pipoca doce e a encarando. Ela achou que Aaron podia ler
seus pensamentos.
— Não me acha sem graça? Sou tão... sem graça? — Questionou
insegura.
Alisson também se perguntava o porquê dela não se sentir
envergonhada, como sempre era, ao fazer uma pergunta ou dizer qualquer
bobagem. Talvez a experiência de o conhecer anonimamente e ver que
mesmo assim Aaron gostar dela tenha lhe dado confiança para isso.
— Impressiono-me sempre com sua insegurança. — Afirmou com
um sorriso de canto.
Eles estavam na praia, sentados sobre a areia, e o sol estava se pondo.
Ele não estava muito longe de Alisson, e com o laranja se misturando ao
azul, atrás dele, parecia irresistível.
— Não, Alisson. Você não é sem graça. É divertida, inteligente,
linda, carinhosa e muito mais coisa que eu poderia dizer a noite inteira. Não
é sem graça. — Ela nunca ouviu elogios de alguém. Talvez dos professores
na faculdade, mas nunca em questão de agradar visualmente alguém.
Naquele momento ela ficou envergonhada, porém, feliz. Seus olhos
bastavam para que ela sentisse que tudo o que ele dizia era verdade. A
tempestade em seu peito se acalmou. Era estranho e agradável. — Mas
temos muitas coisas que nos diferenciam. Não posso negar. Você é mais
sensível, tem uma inteligência superior à minha... E isso também me deixa
inseguro, pois eu mesmo sei que vou estragar as coisas com você. — seu
olhar caiu e ela sorriu como uma boba. — O que mais gosto é da sua
sinceridade. Sempre me diz o que pensa, como está se sentindo e não finge
gostar de mim pelo que sou. Na verdade, se não fosse pela minha
insistência, não estaríamos aqui.
— Por que sou covarde? — Pensou em voz alta.
— Porque sabe dos meus defeitos e teme que eu a magoe. — Aaron a
encarou novamente. — Nunca quis tanto uma coisa. As mulheres com
quem eu saía, só pensavam no que eu poderia lhes dar. Você é totalmente o
inverso.
— Não quero o seu dinheiro.
Um dos seus medos era que, por conta do seu passado, todos pensem
que ela seduziu o chefe para pegar o dinheiro dele; quando, na verdade, não
se interessava se ele era rico ou do mesmo nível social que ela.
— Não, Alisson. E seu receio de ser vista comigo diz isso. — Tocou
em sua mão e a apertou com carinho. — Quando começamos a conversar,
eu não sabia que tinha encontrado alguém que pudesse gostar do que sou,
sendo dessa forma, como conhece. — Brincou. — Pela primeira vez, posso
ser o Aaron de verdade, não a pessoa que pensam que sou. Também não
temo dizer o que quero ou o que sinto. Coisa que nunca aconteceu. Assim
que te vi com aquele homem, achei que tinha perdido quem que tanto me
faz bem.
Alisson não era de ficar emotiva tão rápido, mas suas palavras
mexeram com o seu emocional.
— Eu já disse que não quero nada com Rodrigo. — Reforçou.
— Eu sei. É que imagino você me deixando ao notar o quanto sou
babaca. — Deu um sorriso, apesar de transparecer que nada teve graça para
ele.
— Aaron! — Levantou o seu rosto com um toque sutil, fazendo-o
olhar em seus olhos. Era estranho ver tanta emoção no azul das suas irises.
Ela sentiu como se seu coração fosse parar e que explodiria por
dentro. O frio na barriga só comprova que já estava perdidamente
apaixonada por ele.
— Eu sei que é um babaca arrogante, e, mesmo assim, gosto de você.
Seu sorriso sincero finalmente surgiu, transformando-a em gelo
derretido. Foi ela quem tomou a iniciativa de beijá-lo desta vez, sem pressa,
pois queria que durasse.
— Se continuar a me enlouquecer desse jeito, passarinho, posso pedi-
la em casamento ainda hoje. — Falou assim que seus lábios se separaram.
— Não exagere! — Ironizou.
— Não estou exagerando.
Não deveria ter sido nada demais, porque ela sabia que ele estava
brincando, mas algo em seu peito a deixou assustada. Era bom demais para
ser verdade. E o medo, involuntariamente, tomou conta.
Aaron se levantou e estendeu a mão para que ela o acompanhasse.
— Vamos! Ainda temos um jantar para completar a noite.
CAPÍTULO 14
Alisson
Ela jamais imaginou que isso poderia acontecer. Quando começou a
mandar mensagem para o chefe, seu intuito era irritá-lo, só para ensiná-lo
que não podia ser tão babaca.
Depois, descobriu que ele não era tão ruim e estava gostando tanto
de conversar que esqueceu seu objetivo. Quando percebeu estar indo longe
demais, já era tarde. Aaron já estava caçando ela pela empresa e sua
insegurança atrapalhou tudo.
Ela ainda se sentia uma menina tola apaixonada por um cara rico
que tinha todo o poder sobre ela. Ainda pensava que as coisas iriam dar
errado, porém, seu rosto estava doendo de tão feliz que estava.
O jantar foi divertido, ele contou mais sobre a sua família e aos
poucos ela também se soltou, contando um pouco sobre seu passado.
O que mais impressionava Alisson era que nada foi um tabu. Ela
não teve medo de dizer, não se sentiu forçada. Aaron era seu cúmplice e
sempre tirava sarro da situação ou transformava cada palavra em duplo
sentido.
Aaron não queria a força a nada e nem acelerar as coisas, mas
Alisson estava subindo pelas paredes, ele, apenas com suas palavras,
olhares e toques, a atiçava. Teve medo de que se ficasse mais um pouco ao
lado dele, perderia a cabeça e se entregaria a isso em dois minutos.
Alisson havia acabado de tomar banho, estava com o roupão e
deitada na cama. Ela ouviu o telefone vibrar ao seu lado e como uma idiota
ela o pegou as pressas.
“Mesmo não tendo passado nem uma hora, já estou com saudades,
passarinho. “
Alisson soltou um sorriso bobo, sentindo seu coração vibrar.
"Exagerado. "
"Passou todo esse tempo fingindo que não sabia quem sou e agora
nem pode ficar dois minutos longe?"
"Você não sabia o quanto isso me cobrou, passarinho."
"Me mantive ocupado."
"Acredite, mesmo você estando a quilômetros, estava na minha
cabeça."
"Claro, sua imaginação fértil."
"Ponha fértil nisso."
"Até então, tento imaginar aquilo que eu ainda não vi. Sabe…
tenho muitas ideias."
"Ideias?"
"Homens têm a imaginação fértil."
"Não viaja muito, pode se decepcionar."
"Nunca vou me decepcionar."
"Olha, essa é uma conversa que não vou gostar de ter."
"Certo, você é muito certinha."
Ela parou no tempo pensando que não iria agradar em nada o
Aaron. Ele estava acostumado com as mais belas e magras mulheres. Ela
não era tão sensual, não usava roupas provocativas e sexo… o sexo não era
nada extraordinário.
"Não sou tão surpreendente. Algo mais perto do simples."
Os pontos na tela do celular quase não tinham fim. No final, não
chegou mensagem alguma.
— Você tinha que ser tão “Alisson”? — Era um medo válido, não
se arrependeu, porém, não gostou de deixar claro sua insegurança. Afinal,
era algo pessoal e Aaron sempre levava isso como uma fuga. — Estou
certo, não é? — Baixou o celular, ficando com a questão na cabeça. — Só
transei uma ou duas vezes. Foi horrível, quase desisti de fazer outras vezes.
— Batidas na porta a assustaram. Alisson olhou em direção a ela com medo
de quem seria do outro lado. Bem, ela sabia quem poderia ser. Ela se
levantou e com passos curtos, se aproximou dela. Seu coração estava na
boca, pensando em si, sentiu que estava desarrumada demais. Então ela
girou a maçaneta e a abriu, foi encarada pelos olhos azuis e frio de Aaron.
— Porque veio até aqui a essa hora. — Se fez de desentendida.
A primeira coisa que fez foi entrar e fechar a porta, ainda olhando
em seus olhos. Alisson se preocupou, não sabia o que ele iria fazer.
Então, ainda sem dizer uma palavra, Aaron a agarrou e a beijou, a
surpreendendo. Alisson só aceitou aquilo, pois não resistiria a sua boca
esfomeada que sempre tirava o ar dos seus pulmões. Ela passou a mão
sobre o seu pescoço, sentindo as mãos dele em seu corpo, descendo e se
aventurando em lugares que poucos, ou quase nenhum, exploraram. Então,
Alisson parou o beijo e o encarou.
— O que está fazendo? — Seu coração batia a mil, seu corpo
tremia. Estava quase perdendo a razão e simplesmente se entregando. Além
disso, ela não era tão boba.
— Provando para você que é, para mim, a mulher mais atraente que
conheço.
— Mais atraente é exagero. — Ironizou.
— Alisson, nem sempre se precisar ser uma top model para atrair
um homem. — Ele se irritou. Aaron mal se segurava de tanto desejo, não
entendia o porquê de tanta insegurança. — Você é a chama que queima meu
corpo, a tentação na qual não paro de pensar, está na minha cabeça a todo o
momento e me excito só com seus beijos. — Ela sentiu suas bochechas
arderam. Aaron não estava mentindo e ali, ela quis tirar tudo aquilo e se
entregar. — Gosto de você. Muito além disso, eu diria. Estou pegando fogo
agora só de pensar que está apenas com esse roupão.
Parando, finalmente, para analisá-lo, Alisson percebeu que seu
chefe estava sem camisa, vestindo apenas uma calça de moletom cinza.
Aquilo a atiçou ainda mais, fazendo com que ela sentisse um desejo fora do
comum.
Os pelos, no peito, o corpo em forma, os braços fortes, isso tudo a deixou
extremamente excitada.
— Não sou tão experiente nisso. — Confessou, um pouco
envergonhada.
— Não se preocupe. — Aaron deu um sorriso perverso que
hipnotizou Alisson, ao menos tempo em que ele abria o roupão, devagar. —
Posso fazer todo o trabalho.
Alisson deixou que ele continuasse, afinal, já estava atiçada o
suficiente. Ela nem pensava mais na possibilidade dele perder o interesse,
queria sentir aquele momento, pois já não queria empecilhos no meio do
caminho.
Lentamente, Aaron foi afastado o tecido do seu corpo, beijando seu
pescoço enquanto fazia isso. Alisson sentiu frio na barriga enquanto ficava
cada vez mais excitada.
Ele deixou que a peça caísse no chão, a despindo de uma só vez,
fazendo com que Alisson se arrepiasse, mas ela deixaria de ser tímida,
agarrando ele e o beijando, fazendo com que seus corpos se tocassem,
finalmente.
Aaron a segurou e levou para a cama, sem dar folga a sua boca e
sentindo que estava quase explodindo por dentro.
Contudo, ele não iria tão cedo ao pote, queria prová-la, sentir seu
corpo se deter por completo.
— Eu quis fazer isso desde o minuto em que a vi. — Disse, olhando
em seus olhos e beijando sua carne, enquanto sua mão o auxiliava. Alisson
suspirou com a novidade. Das últimas vezes não foi tão demorado e
excitante assim, mas nada com Aaron era simples e ela estava gostando de
cada coisinha. — Porra! — Ela se assustou com o palavrão, achou que tinha
algo errado.
— O que foi? — Seu coração ficou pequeno no peito.
— Tem tatuagem sexy pelo corpo? — Alisson então o encarou e
não achou que ele estava brincando. — Ao menos tempo que gosto e fico
ainda mais excitado por você, fico imaginando que outro cara viu partes do
seu corpo e ficou tão duro quanto eu.
Alisson sorriu como uma boba. Jamais pensou que ouviria isso.
— Não foi um cara, mas sim uma mulher.
— Isso alivia o meu coração. — Ela revirou os olhos. — Se tiver
aquela na espinha, vou me fantasia fodendo você de costas enquanto
encarro a porra da sua tatuagem excitante.
Ela ficou ainda mais envergonhada com isso.
— É, eu tenho uma tatuagem assim. — Confessou o enlouquecendo
de vez.
O abrir de boca dela foi pelo seu beijo na sua barriga, descendo
ainda mais, enquanto ele estava entre suas pernas, abrindo passagem e
fazendo com que o frio na barriga voltasse.
Alisson nunca recebeu uma oral e estava com medo do que viria.
Ela não pensava em mandar parar, naquelas circunstâncias já estava
entregue ao desejo. Sentiu seu coração ficar na boca ao sentir seus lábios
tão quentes que a fez derrete ao senti-los na sua intimidade.
Aaron sabia o que estava fazendo e naquele momento estava
faminto. Esperou isso por muito tempo e não decepcionaria a mulher que
tanto o enlouquecia. Alisson suspirou ao fechar os olhos. Ela se entregou
inteiramente aquela sensação gostosa no seu ventre. Não podia ser
comparado as outras vezes em que estava com um homem. Aquilo já
começou totalmente diferente. Aaron se preocupava com ela, com seu
prazer e não só com ele.
O coração corria uma maratona enquanto sua cabeça viajava. Isso a
fez se segurar na cama, gemia sem pudor e suspirava de desejo. Pensou
estar sendo jogada do alto de uma nuvem quando explodiu de desejo
enquanto Aaron a torturava com sua magnífica boca na qual parecia
faminta.
Quando acabou o trabalho, Alisson achou que já tinha chegado ao
seu limite, sem nem ter chegado tão longe. Ele a beijou com urgência. Seu
corpo sobre o dela, parecia ter o dobro do tamanho. Alisson abraçou seu
corpo, ele ainda estava com a calça, e desesperado para tirá-la.
— Esperei muito tempo por isso. — O olhar que ele lançou a fez
parecer pequena. Alisson se afundou no colchão. Seu coração voltou a
trabalhar como um motor prestes a correr mais uma vez. — Agora você é
minha, passarinho.
Alisson se arrepiou toda. Já tinha imaginado ele a chamando assim
durante um sexo, que estava sendo duas vezes melhor do que a sua fantasia.
Aaron tirou aquela peça de roupa com tanta rapidez que a
impressionou. Apesar do nervosismo, tudo o que seu corpo pedia era mais
um pouco dele. Alisson nem se importava se estava sendo uma devassa,
queria logo o prato principal.
Aaron se tocou a olhando de cima. Sentiu que só com isso poderia
gozar, mas não perderia essa oportunidade. Alisson estava receptiva. Sentiu
seu pau na entrada da sua boceta encharcada. Ele entrou lentamente,
curtindo a sensação boa que era finalmente ter aquela que ele mais
desejava. Naquele momento o mundo parou e nenhum dos dois se
preocupou com mais nada.
Alisson abriu sua boca ao ser invadida por ele. Aaron era perfeito
para ela. Se encaixou perfeitamente. Dentro de si, Alisson sentiu o desejo,
novamente, tomar seu corpo e pediu por mais.
— Vamos, bundão, me dê tudo de si. — Provocou, agradando à fera
dentro dele.
— Não me provoca, passarinho, ou vai se arrepender. — Disse ao
pegar as suas mãos e prendê-las no topo da cabeça, sobre a cama. — Não
faz ideia do quanto me imaginei fodendo você desse mesmo jeito.
— Dessa vez é bem real. — Alisson achava que pegaria fogo.
Estava tão quente que começou a se incomodar. — Seu desafio agora é me
fazer gozar de novo.
— Aceito, só não espere que eu seja delicado. — Disse bem perto
do seu rosto. Olhando nos olhos de Alisson, Aaron viu uma chama que o
atiçava. Ele nunca imaginou que encontraria seu par perfeito. — Está me
surpreendendo, passarinho, jamais pensei que uma nerd fosse ser tão
deliciosa e provocante, quanto é.
Aaron continuou mantendo suas mãos presas enquanto a beijava e
um vai e vem vagaroso, que esquentava as coisas ainda mais.
Alisson jogou a cabeça para trás, deixando que ele beijasse seu
corpo enquanto sentia ele revirar seu corpo por inteiro. Estava tão gostoso
que ela riu ao ficar anestesiada com aquela sensação, mas logo sentiu uma
onda mais forte e intensa quando Aaron quase saiu por completo e a invadiu
com força, a fazendo dar um grito de surpresa e prazer.
Ela não estava preparada para aquele primeiro impacto, nem da
segunda vez, mas entendeu que ele queria mais força e era bom o que fazia.
Aaron libertou sua mão e segurou sua cintura, levantando e
apertando ela, só para poder fodê-la com mais força e rapidez, a fazendo dar
pulos na cama.
A olhando de cima, Aaron achou que estava tendo uma visão do
paraíso, notando que ela mudava de cor, seus cabelos bagunçados, seu
corpo com algumas tatuagens. Alisson se apoiou nos cotovelos, encarando
o homem que ela mais amava com uma expressão de fera selvagem que a
engolia por inteira.
Não pode conter os gemidos de prazer. Nem sabia se poderiam ser
ouvidos. Alisson jogou a cabeça para trás, Aaron apoiou-se na cama,
facilitando as coisas.
Ele sentiu seu pau escorregar dentro dela, de tão molhada que
estava. Ouvir seus gemidos era como o som do paraíso. Alisson não fazia
ideia do efeito que causava nele. Até então, o sexo que ele fazia com outras
não se comparava a transar com alguém por quem nutria um sentimento de
paixão.
Ela sentiu seu corpo pesar. Estava se derretendo por dentro, Aaron a
forçou a olhar em seus olhos, pois queria os ver quando chegasse ao ápice.
Seus corpos suavam e o coração acelerado. Quando ela sentiu
novamente a sensação no fundo do seu ventre, ele estocou mais forte, e ela
gemeu mais alto e os dois se entregaram ao orgasmo ao mesmo tempo.
Alisson sentiu seu gozo a preencher por dentro e ele não saiu até que tivesse
derramado tudo dentro dela.
CAPÍTULO 15
Alisson
Uma semana depois
— Por que não quer que eu te leve até o seu apartamento? —
Perguntou Aaron, com o cenho franzido e um pouco frustrado. — Está com
medo de que alguém tenha nos seguido ou que eu pense que é uma
bagunceira? Já que sou a pessoa mais organizada que pode encontrar.Seria
um prazer ajudá-la nos deveres domésticos. — Argumentou, tentando, pela
milésima vez, a convencer a deixá-lo subir para o apartamento.
Eles chegaram há trinta minutos e ele ainda não aceitou que não
subiria. Ela queria um tempo a sós para refletir sobre o que estava
acontecendo.
A viagem foi muito boa, ela quase não parava de sorrir. A noite tinha
sido maravilhosa, Aaron a desdobrou inteira, porém, sentia que precisava
desse tempo.
— Relaxe, Aaron! Não vou fugir. — Revirou os olhos. — Vamos nos
ver amanhã, no trabalho. Não tem com o que se preocupar. E você mesmo
disse que pretende ir ao hospital ver seu pai.
— Ok, Alisson. Tem razão. Mas pensar em ficar longe de você até
amanhã me deixa frustrado. — ele fez uma cara de coitada que a fez rir. —
Não sei se vou conseguir.
— Conseguiu por tanto tempo. Como,dessa vez, pode ser diferente?
Ela não sabia que ele era tão dramático, mas estava gostando dessa
atenção.
Beijou o seu rosto levemente, pretendendo ir em seguida, porém
Aaron foi mais rápido e a prendeu a ele, beijando intensamente os seus
lábios. Estava se tornando um vício. Ela só esperava não se arrepender por
estar se entregando tanto.
— Podemos nos falar por mensagens. — Afastou-se o máximo
possível dele, para não desistir de sair do carro.
— Não tem mais graça depois que provei do seu beijo e aroma
excitante. — Falou com um olhar provocante.
— Pelo amor de Deus! Não diga essas coisas na frente de outras
pessoas! — ficou envergonhada.
O motorista já devia ter ouvido ou visto coisas piores do que ela e
Aaron se beijando e falando essas coisas, no banco de trás do carro, porém
ela não era igual às mulheres com quem ele costumava sair.
— Relaxe! Guillis não se importa mais com o que faço. — Sorriu.
Ela abriu a porta do automóvel, sentindo o seu rosto arder. Não
estava acostumada, nem sabia se acostumaria a ouvir tais coisas dele.
Antes de fechar a porta, ainda o encarou por alguns segundos. Seu
sorriso pervertido não saiu de sua boca e seu olhar percorreu todo o seu
corpo, a deixando em chamas, novamente.
— Tenha um bom dia, bundão!
— Ainda vamos conversar sobre sua obsessão pela minha bunda. —
Brincou.
Alisson entrou no prédio, sentindo no seu peito uma felicidade nunca
vivida por ela antes. Estava em êxtase e confiante de que tudo daria certo.
Rezava por isso.
Ela não percebeu quando aconteceu, mas Aaron a prendeu a ele e
deixou Alisson completamente apaixonada.
Há um tempo, estava furiosa por ele ter se esbarrado em nela e a
deixado no chão como uma fruta podre, só que agora ela estava ansiosa
para o ver outra vez, sentir seu perfume, seus lábios macios e suas mãos
pervertidas no seu corpo, e ser dele novamente, como da última vez.
Alisson subiu até seu andar com um sorriso bobo no rosto, como se
tivesse acabado de ganhar um prêmio e tanto. Estiveram juntos por uma
semana em Los Angeles; jantamos em muitos lugares e ela o levou a
cafeterias e restaurantes que costumava frequentar quando ela morava na
cidade. Também contou tudo que a deixava triste, empolgada,
envergonhada, e Alisson conheceu o Aaron que ela não sabia que existia.
As noites ao seu lado, tão longe de casa, pareceu o paraíso na terra.
Aaron lhe ofereceu o melhor sexo da sua vida e não conseguia parar de
pensar nisso.
Os dois estavam mais unidos do que nunca, contudo ainda existia
algo a dizia que isso duraria pouco. Talvez fosse um lado seu que ainda
estava receoso ou que não confia totalmente no chefe arrogante.
Alisson pensava que essa parte dela sempre a boicotava, porém
estava certo quando dizia que ela não era a típica mulher com quem Aaron
Spacter saía; começando pelas roupas de adolescente rebelde.
Alisson só tinha uma coisa certa em sua cabeça: nunca me tornarei
algo que não sou, só para agradar alguém, inclusive Aaron. Mas olhando
para si, naquele momento, sentiu o desejo de mudar algumas coisas. Ela
gostava da forma despojada e confortável, porém, depois que finalmente
ficou com o cara por quem estava apaixonada, despertou o desejo, nela
mesma, de vestir algo mais bonito e elegante. Ela imaginava Aaron a
comendo com o olhar, o sorriso pervertido que tomaria o seu a fez sorrir
com a possibilidade.
Se Mia estivesse em sua frente, diria que agora ela estava se sentindo
mais livre e confiante. Por isso a mudança.
Assim que as portas do elevador se abriram, ela viu sua amiga
andando de um lado a outro, com os olhos inchados de tanto chorar.
Mia olhou para ela e praticamente correu para um abraço forte.
Em todo o tempo longe, Alisson pensou nela e sentiu saudade, mas
imaginava que ela não queria falar com ela.
Seu abraço foi seguido por mais lágrimas. Isso deixou Alisson
assustada.
— O que aconteceu com você? — perguntou, ainda agarrada a ela.
— Claramente, está nervosa. Estou preocupada.
Quando Mia se afastou, olhou em seus olhos. Mal dava para ver seus
lindos olhos cor de esmeralda.
— Você estava certa. Eu cometi um erro e agora não sei o que fazer.
— as vezes Mia era muito exagerada, mas Alisson não achava que daquela
vez era exagero.
Ela acabou não entendendo nada. Puxou a amiga para o seu
apartamento, deixando a mala de lado, a fazendo se sentar no sofá, Alisson
pegou um copo de água e se sentou ao seu lado.
— Explique melhor! — Entregou-lhe o copo. — O que aconteceu?
— Estou grávida.
Alisson ficou paralisada. A palavra “grávida” fez um eco na sua
cabeça e ela não mascarou a sua surpresa e o sorriso nervoso.
— Grávida? Como assim? De quem? Como? — ela tinha tantas
dúvidas, que seu cérebro estava confuso.
— Não disse a você antes, pois sabia que me julgaria. Mas tinha
aceitado aquele convite de ir à agência para sair com caras. — Encarou o
vidro com a água. — Conheci ele por acaso, em uma festa chique na qual
entrei de penetra. — Essa não era uma novidade. As aventuras de Mia iam
além da normalidade. — Na verdade, eu falei de quem sou filha e eles me
liberaram. — Respirou fundo para ouvir uma longa história da amiga. —
Você sabe que tenho um ponto fraco.
— Só um? Achei que tivesse uma lista. — Encostou-se no sofá e
colocou a mão na cabeça, sentindo que o dia acabou para ela.
Ela pode ser a amiga mais desleixada do mundo, entretanto Alisson a
amava como uma irmã. Tudo que lhe acontecia, mexia diretamente com ela.
— Não é hora de me julgar. — Reclamou.
— Desculpe! Vou deixar para o final. — Deu um falso sorriso.
Ela não se importou e continuo a sua história.
— Os caras mais velhos têm um charme único, e eu não sabia que
aquele homem era tão... sedutor. — Alisson não estava ali para julgar
ninguém, só que seria difícil guardar os seus comentários e o julgamento só
para o final. — Nós conversamos, ele foi gentil e tudo mais que um
príncipe poderia ser. Eu também não sabia que ele era amigo do meu pai. E,
depois de dois meses saindo e transando como loucos, descobri que é
casado.
— O QUÊ?! — ela achou que seu choque era uma surpresa para Mia,
pois se afastou um pouco e colocou a mão sobre o peito. — Casado? Como
não viu isso? Ou, como nunca lhe fez perguntas do tipo “você é solteiro”?
— Alisson, eu vim até você porque é minha amiga. Não me julgue
por esse erro! — Fez um bico.
— Se eu não a jugar, serei uma péssima amiga. — Cruzou os braços.
— Ok, Mia. Entendo que não sabia, mas podia ter se prevenido, usado
preservativo. Agora está grávida de um homem casado. — Sussurrou a
última parte, mesmo que mais ninguém estivesse me ouvindo.
Era uma grande ironia, pois a própria Alisson cometeu esse erro.
— Ele está tentando se separar há alguns meses e a bruaca não quer
deixá-lo livre. Só que não muda o fato de ele não me querer mais. —
Debulhou-se em lágrimas outra vez.
Alisson respirou fundo ao fechar os olhos e abraçou a amiga. Mia
era louca e espalhafatosa, no entanto era sua amiga. E devia ajudá-la.
— Você contou a ele? — perguntou ao se separar dela.
— Não. Ele não quer mais nada comigo, dizendo que sou a filha do
seu amigo e que não quer arranjar briga com meu pai.
— Não importa se ele quer ou não. É direito desta criança ser
acompanhada pelos pais, apesar de toda a loucura. — Levantou-se.
Esses assuntos eram um problema para Alisson, emocionalmente
falando, porque seu pai abandonou a ela e sua mãe. Foi difícil crescer
sabendo que foi rejeitada.
— Não pode deixar que esta criança cresça achando que é indesejada
por uma das partes. E espero que esse homem não te magoe ainda mais, ou
eu... irei expô-lo na internet.
O sorriso nos lábios de Mia a animou. Apesar dos pesares, desejava
sua felicidade.
— Eu sei que tenho que falar. Só estou com medo e tentando achar
um apoio. — ficou tristonha.
Alisson se agachou para ficarem da mesma altura e a olhou nos
olhos, que estavam mais nítidos, tentando transmitir todo o carinho que
sentia por ela.
— Não vou mentir que achei tudo um grande erro, mas como sua
amiga, não permitirei que ninguém te magoe, muito menos agora, com este
bebê. — Limpou o seu rosto e imaginou que seu filho iria nascer como ela,
que era uma ruiva de quase dois metros e com sardas fofinhas. — Vou estar
sempre ao seu lado, mesmo que seja louca e, às vezes, malvada.
— Desculpe-me pelo que falei! Foi no calor do momento. Eu estava
magoada com o que Robert fez.
— Robert de quê? — Cerrou os olhos.
Ela também a encarou a amiga, sabendo o que ela queria fazer.
— O quê? Só quero saber com quem estamos lidando.
— Não quero que o prejudique. Apesar de ele ser um idiota, acho
que... — Seu silêncio a apavorou. Só faltava estar apaixonada por um
homem casado. — O nome dele é Robert Miller. Não faça nada que...
— Relaxe, Mia! Só quero saber quem é o idiota. — Levantou-se. —
Se esse Miller for um babaca, acho que terei permissão para fazer algo, não
é?
— Como se fosse cometer um crime! — Debochou.
— Nunca se pode duvidar de uma hacker raivosa.
Ela riu.
***
Enquanto Mia dormia ao seu lado, na cama, Alisson estava no
computador. Ela não era de stalkear pessoas usando os seus conhecimentos
de informática, todavia faria o possível para ajudar a amiga. E, para isso,
tinha que saber sobre o tal homem.
Quando digitou seu nome no Google, a sua tela foi invadida por
várias notícias sobre ele e imagens suas, assim como da sua esposa. Robert
era lindo e não era tão velho. Quarenta e seis anos, porte atlético e rosto de
galã de novela. Só não era mais bonito do que Aaron. Ninguém se
comparava a ele, na sua opinião.
Dono de uma petrolífera, o cara era muito rico. Muito rico mesmo.
Ele se casou com a atual esposa há quinze anos, era filho único e não tinha
filhos. Ainda não.
Onde você foi se meter, Mia?
Uma foto sua chamou a atenção. Ele estava ao lado do pai de Mia,
confirmando a informação de que eles se conheciam.
Seu celular tocou e ela logo o atendeu, sem ver quem estava ligando.
Não queria que a amiga acordasse.
— O que você fez comigo, passarinho? — Indagou Aaron em um
suspiro. — Não parei de pensar em você por um segundo. O que está
fazendo?
— Stalkeando Robert Miller. — Respondeu sem pensar. — Não era
para eu ter falado isso.
— O quê?! Por quê? — era óbvio que o homem curioso não deixaria
essa passar. Nem que ela dissesse que o assunto era particular.
Só se sentiria ruim por compartilhar informações que não eram suas.
— O que o Robert fez com você? — Perguntou, sendo autoritário.
— Relaxe, Aaron! Não foi comigo que ele mexeu; foi com minha
amiga Bia. — Explicou após revirar os olhos, pela sua preocupação
exagerada. — Quer saber? Acho que um cara como você, importante e
galinha, conhece bem o tipo do idiota. Conhece ele?
— A... Como assim galinha e “tipo”? — ficou confuso. — Você tem
que me dar mais informações.
— Conhece ou não o idiota? — Irritou-se, sussurrando para não
acordar Mia.
— Sim. Mas, por que está irritada e sussurrando? — Perguntou
desconfiado.
— Porque a minha amiga está dormindo aqui, ao meu lado, depois de
ter comido um pote de sorvete de baunilha e chorado como se sua vida
estivesse acabando. — Continuou sussurrando. — Diga o que sabe dele!
Ele sempre foi um babaca traidor ou brincar com as mulheres, fora do
casamento, é típico no relacionamento de chefes coorporativos?
— Primeiro: não sou desse tipo. Assumir nosso namoro me torna
automaticamente só seu. — Namoro! Essa palavra a deixou arrepiada e
menos raivosa. — Segundo: Robert Miller traiu Stefany com sua amiga? —
A surpresa ficou nítida em sua voz. — É uma loucura. Ele se gaba por ser
certinho. Eu já sabia. Não dá para ser tão certinho.
— O que quis dizer, Aaron? — Se ele estivesse ao seu lado, veria
seus olhos estreitos tentando matá-lo por falar essas coisas. — Quis dizer
que...?
— Eu me expressei mal, querida. Eu quis falar que esse homem não
parecia ser do tipo trai. Mas eu entendo muito bem os seus motivos. Stefany
é o diabo em pessoa, está alongando o divórcio há meses e não é nenhuma
santa. Seu interesse é na fortuna de Robert.
— Então, ele quer se separar dela realmente? — ficou pensativa, mas
não se confirmou com isso. — Vou precisar da sua ajuda.
— Para quê? — ficou desconfiado de novo.
— Mia tem uma péssima notícia para dar ao Robert. E, por conta da
amizade dele com Heitor, pai dela, ele a deixou. Ou, melhor dizendo,
magoou ela e não quer mais vê-la.
— Sabe? Fiquei mais feliz depois de saber que o senhor certinho não
é tão certinho. — ela podia apostar que estava sorrindo.
— Não sei porquê. A lista dos seus pecados é quase infinita, Aaron.
— Largou o computador na cabeceira. — Ouça bem! Eu posso estar
apaixonada por você, mas se ousar me magoar, farei da sua vida um
inferno. — A coragem para confessar veio da raiva ao imaginá-lo a traindo.
Seu silêncio a assustou e a fez achar que falou algo terrível.
— Eu estava esperando você admitir há muito tempo, passarinho. —
se tranquilizou ao ouvir sua voz exibida. — Nunca farei nada que me faça
perder o que me faz tão feliz.
— Espero que não. — Afirmou.
— Nunca!
— Boa noite, bundão! Amanhã o dia será longo.
Algo nela a fez acreditar que o safado estava com um sorriso de
orelha a orelha.
— Boa noite, passarinho! Não consigo conter o desejo de ir até sua
casa e te beijar por inteira.
— Boa noite, Aaron! Vou desligar. — E assim fez.
Ele tinha uma facilidade enorme de transformar uma conversa
comum em uma profanidade.
CAPÍTULO 16
Aaron
O dia estava cansativo. Reunião, conferência. Aaron notou que desde
que voltou, e finalmente acertou as coisas com Alisson, eles não se viam.
Não que ele não quisesse ou que não pensasse nela a cada segundo
daquele longo dia que não acabava.
Ele olhou para a mesa do seu escritório, viu os papéis sobre ela e
imaginou Alisson, bem ali, aberta para ele. Aaron fechou os olhos sorrindo,
pensando no seu toque, no perfume e no seu rosto envergonhado. Aquilo
fez seu pau dar o ar da graça.
— Maldito passarinho. — riu e pegou o telefone que se comunicava
com sua secretária. — Quero Alisson Wiliams na minha sala, o mais rápido
possível. — disse, usando o tom mandão e arrogante, pois sabia que a
mulher iria transmitir a mensagem de urgência e curiosa/assustada como
Alisson era, em dois minutos entraria pela porta desesperada.
Aaron, inquieto, levantou-se da cadeira, andou pela sala, arrumou
alguns objetos já em seu devido lugar, olhou para o lado de fora e viu o sol
se por. Os funcionários já estavam trocando de turno, a secretária já estava
quase de saída, ele só queria que a namorada viesse o mais rápido possível e
se fosse ele a chamando, ela desconfiaria.
Como bem já sabia, Alisson entrou pela porta com os olhos confusos,
claramente achando que tinha feito algo de errado.
— senhorita Gonçalo, pode ir. A conversa aqui é particular. — ele
estava usando desse mistério para por preocupação na menina.
Milla não era tão boba assim, e estava começando a perceber as
coisas, mas naquele momento, o tom do chefe a preocupou. Antes de sair,
olhou para Alisson e viu que a mulher também estava preocupada, sem
entender o que ele queria.
Assim que ficaram a sós, ela se aproximou dele, cerrou os olhos e
Aaron não conseguiu disfarçar o riso.
— Seu idiota, achei que realmente era importante. — ela disse
chateada, batendo de leve nele, que a colocou contra a porta, assim que a
fechou. — Aaron!
— É algo extremamente importante. — falou antes de beijá-la. —
Você me provocar até nos meus pensamentos.
— Você deveria ser menos previsível. — Alisson ainda estava furiosa
por ele ter feito ela achar que algo ruim aconteceu, mas não conseguia
resistir a ele. A mulher se derretia todas às vezes que ele a tocava. — Para
Aaron, não podemos fazer isso aqui.
— Você me viu mandando a secretária ir embora?
— É nosso trabalho. É melhor não misturar.
Ele riu quase debochando dela. Alisson o encarou tão feio que ele
teve medo.
— Querida, não sei se você percebeu, mas eu me apaixonei por
uma funcionária, que me mandava mensagem provocativa — Alisson iria
protestar, mas ele não deixou. — Transamos enquanto estavam em uma
viagem de trabalho.
— Está jogando isso na minha cara? — dessa vez ela se irritou de
verdade. — seu idiota.
— Não quero ofender você, só estou explicando que já misturamos
muito e eu quero continuar misturado. Em cima da minha mesa.
— E se eu não estiver afim? — ela cruzou os braços e o encarou.
Aaron já era calejado. Um safado de carteirinha.
Ele simplesmente a pegou e a carregou até sua mesa. Alisson ficou
realmente nervosa. Era perigoso. Seu medo era de alguém entrar e pega
dois.
— Meu pau já estava acordado. — Alisson o viu abrir a camisa,
mostrando seu belo peitoral, depois tirou o cinto e abriu a calça. — Então
vou ter que fazer o trabalho todo sozinho, mas terá que ver.
Ela arregalou os olhos e pegou na sua mão, o impedindo de
continuar.
— Ficou maluco?
— Não, passarinho, eu só estou muito excitado e quero provocar
você. — ele riu. — Não mente para mim — Aaron a pegou pelos pulsos,
não muito forte, a trouxe para perto e olhou em seus olhos. Ele sabia que ela
queria. Só bastava um toque e beijo para ela se acender. — Sei que você
quer isso.
Alisson odiava admitir que Aaron a deixava acesa só com um sorriso,
mas não tinha como negar. Assim que ela viu ele abrindo a calça, sentiu o
meio das pernas umedecer.
Foi ela quem o agarrou pela camisa e o beijou ali, o fazendo se
encaixar entre as suas pernas, na qual ele fez questão de apertar. Naquele
dia, ela escolheu um vestido estampado, preto com detalhes em banco, sua
bota de couro, e os cabelos soltos. Aaron tinha se apaixonado pelo seu estilo
despojado e rebelde meio gótica.
Sem dizer uma palavra, Aaron enfiou as mãos debaixo do vestido,
chegou a sua calcinha e a puxou com força. Com o susto, Alisson se afastou
e o olho nos olhos.
— Por que fez isso? — ela estava chateada pela atitude, mas muito
excitada para parar o processo.
— É o meu jeito. — O sorriso safado no canto da boca só a fez pegar
mais ódio dele, então Aaron a puxou para mais perto. Alisson se apoiou na
mesa, sem saber o que esperar. Ela nunca havia feito sexo desse jeito. Na
verdade, Aaron foi seu primeiro em quase tudo. Era provável que
conhecesse seu corpo melhor que ela mesma. — Se eu não estivesse tão
desesperado, chuparia essa boceta até você gritar gozando na minha boca.
Ela nem sabia o que dizer. Aquele homem era bom em tudo o que
fazia. Alisson só ficou parado, apoiando-se e vendo ele afastar mais o
tecido que ela cobria o corpo, baixando a cueca e mostrando aquele pau
enorme que chamava por ela. Só de olhar ela se molhava toda. Então, a
provocando, Aaron esfregou seu membro na boceta unida dela, a fazendo
suspirar. Alisson nem se lembrava de onde estavam. Sentindo seu corpo
arrepiar por inteiro. Aaron gostava dela ser só dele. Nunca ninguém
explorou aquele corpo, seus suspiros, o líquido que escorria dela.
Ali começou a ficar maluca, sua respiração falhava com a sensação
gostosa. Sem aguentar mais um segundo, Aaron se posicionou na sua
entrada e escorregou para dentro, a fazendo gemer baixinho, mordendo os
lábios.
Ele a invadiu pouco a pouco. Inclinou-se sobre ela e começou com
estocadas devagar, saboreando aquele canto quente que tanto o enlouquecia.
Ele já transou com muitas mulheres. Foi bom, prazeroso, mas nada se
comparava a ser só de uma mulher. Saber que ela o amava e que seria só
dele, isso, sim, era o real prazer da coisa.
Aaron a beijou, segurou seu corpo e a levou até o sofá que ficava no
canto da sala. Então ela estava sobre ele, sentada bem no seu pau. Era a
primeira vez dela assim, mas seu corpo parecia saber os movimentos lentos
que deixava seus corpos ainda mais quente.
Alisson gemia no seu ouvido enquanto descia e subia, cada vez mais
rápido, pois seu corpo exigia mais prazer. Aaron encostou-se no sofá, ela se
apoiou no estofado. Aaron já tinha feito isso muitas vezes, mas não se
sentiu preparado para aquela sentada no seu pau, que latejava de tanto
prazer. Ele assistiu Alisson jogar a cabeça para trás, sem deixar um segundo
de se esfregar nele com tanto desejo que quase o fazia esquecer da
realidade.
— Porra, mulher, assim você vai acabar me matando. — ele mal se
aguentava ali. Pegou-a pelo quadril e a ajudou a subir e a descer, gemendo
assim como ela, como dois loucos. — As tímidas são as que mais me
surpreendem.
Ele não conseguiu se segurar. Simplesmente explodiu dentro dela,
forte, como se sua alma tivesse saído do corpo, assim como Alisson que se
desmanchou no seu colo.
Ela sentiu seu corpo ser preenchido por dentro. Não quis perder nada.
Os dois não queriam se separar. Se beijaram longamente, enquanto ainda
estavam dentro um do outro. Alisson nunca experimentou o sexo daquele
forma e estava amando.
CAPÍTULO 17
Alisson
Um mês depois
— Este é o décimo vestido que você me faz colocar. Espero que
esteja bom, porque não vai rolar mais uma oportunidade. — ela falou à
Mia, que estava sentada em um sofá macio e confortável, em frente ao
provador onde ela já tinha entrado diversas vezes. — É por isso que odeio
fazer compras.
— Se fosse só pegar um vestido e pagar, não teriam provadores na
loja, Alisson. — criticou, olhando cada detalhe da roupa que ela estava
vestindo.
Alisson sabia que era importante, por isso estava nervosa, apesar de
estar com Aaron a um bom tempo. Ela só não gostava de tirar e por uma
peça na qual Alisson considerava boa. Porém, seu gosto era peculiar, por
isso chamou a amiga, que estava a fazendo se arrepender. Mia estava
demorando e a torturando por saber que ela odiava os, porém, a ruiva
amava provar roupas.
Alisson achava que mesmo ela estando grávida, a mataria se a
forçasse a colocar outra peça.
— No outro dia, você reformou o seu guarda-roupa. Por que está tão
chata agora? — Perguntou.
— Deve estar perdendo a memória, pois me lembro bem de quase ter
matado você e Aaron. — Cruzou os braços.
Mia se levantou do sofá e foi em sua direção. Elas estavam em uma
das mais chiques lojas de Nova York, comprando mais um vestido para o
seu jantar com Aaron. E era ela quem estava decidindo o que Alisson
levaria ou não para a ocasião, já que seu gosto por moda falava mais alto
quando alguém dizia “compras”.
Alisson odiou se lembrar da semana passada, quando os dois a
levaram para comprar coisas. Ela sentia que a culpa tinha sido dela, pois fui
a morena quem teve a ideia, só que se arrependeu logo na entrada do local,
quando as vendedoras a olharam com desdém e acharam que eles eram um
casal que estava fazendo uma caridade para Alisson.
Ela não se importava com as roupas que vestia, mas até ela teve que
concordar que devia mudar seu estilo; ainda mais saindo com Aaron
Spacter. Não queria que as pessoas a olhassem como aquelas vendedoras
loiras a olharam.
— Alisson, hoje é seu aniversário. E, apesar de muito brega, é uma
mulher linda. — Mexeu na roupa na qual ela estava vestindo. — Terá um
jantar romântico, em um restaurante chique e lindo, e estará com um dos
caras mais gatos de Nova York. Amo você! Por isso estamos neste lugar.
— Quer dizer que só está me torturando porque me ama? — Foi
irônica. — Posso ser dramática, mas até a mulher da recepção está achando
estas trocas de roupas exageradas.
Além do mais, Alisson estava estranha essa semana. Não era o
trabalho, nem o namorado, mas se sentia estranha, como se algo tivesse
mudado. As manhãs ficaram enjoativas, às vezes deixava de comer, pois
não suportava o cheiro da comida. Seu corpo também mudou, ela só não
sabia o que.
— Esse está ótimo. — finalmente se agradou. — Olha esses peitos.
— Mia não parou de encarar o busto dela, que realmente estava enorme. —
Não me lembro de você ter peitos grandes.
— Não me lembro de ter perguntado. — foi sarcástica, tirando da
amiga, um revirar de olhos.
— O que Deu em você? — Sussurrou irritada. — Está mais chata do
que o normal. — isso era verdade. Alisson estava nervosa com tudo e
nenhum pouco feliz. — Tomou café sem açúcar.
— Quero sair desse lugar. — expressou impaciência. — esse vestido
está me sufocando.
— Muito estranha. — Balançou a cabeça, encarando a amiga e
pensando no que poderia ser. — Espero que o sexo, hoje a noite, melhore
seu humor.
Alisson fuzilou a amiga com os olhos. Ela sabia que estava
insuportável, também queria saber o que estava acontecendo com ela
mesma.
Mia se afastou, Alisson foi tirar a roupa e ao entrar no provador,
sentiu o mundo girar, tendo que se segurar na parede.
— Merda, o que está acontecendo? — Sussurrou.
Ela não queria alarmar ninguém. Talvez fosse fome. Alisson não
comeu nada pela manhã.
Depois de respirar fundo ela tirou a peça de roupa e se vestiu com as
que veio. Saiu tentando ficar calma e não dar pinta, ou Mia iria dar um dos
seus sermões. Ultimamente ela estava assim, chata e responsável.
***
Alisson tentou trabalhar em paz, sem sentir vertigem, ou até comer
algo, mas sempre que sentia o cheiro da comida, seu estômago revirava.
Ela não sabia se o jantar seria uma boa ideia. Toda a comida voltaria
do seu estômago. Alisson foi a uma farmácia e comprou um remédio que
pudesse amenizar as coisas. Precisava comer algo, ou não iria parar em pé.
— Pode ser algo mais sério, deveria ir ao médico. — a moça disse a
ela, como se a mesma não soubesse.
— Não tenho tempo para isso agora. — Na verdade, Alisson estava
preocupada mesmo. O humor, a tontura e o enjôo. Ela devia estar deixando
algo passar.
— Está grávida? — a loira recebeu um olhar mortífero dela. Não era
algo cogitável. Isso não. — Tontura, enjôo, notou se a sua regra…
— Eu não estou grávida. — Ela falou rude, quase engolindo a
mulher, que logo se calou. Então ela notou o seu erro. — Desculpa. — Se
sentiu mal. — É que ultimamente estou assim. Não consigo controlar o meu
humor. Deve ser estresse. O trabalho me estressa.
— Desculpa, não queria chateá-la.
Alisson parou no tempo e refletiu a informação. GRÁVIDA!? Então,
ela percebeu que faltava algo importante. Olhou a data no celular, olhou por
muito tempo e tentou imaginar que tudo naquilo estava errado. Isso não
pode ser real.
— Não posso estar grávida. — murmurou sem acreditar. — Eu
deveria ter menstruado a cinco dias.
Não posso estar grávida do meu chefe!
— Temos teste aqui, se quiser. — A mulher ficou comendo de dizer
isso, mas viu o pânico no rosto de Alisson.
— Certo, eu não estou grávida, é só um… vou fazer o teste, mas vai
dar negativo. — era o que ela repetia para não aceitar a alternativa. Ficaria
no chão se descobrisse estar grávida de Aaron.
A mulher deu o teste a Alisson e indicou o banheiro. Ela estava
muito agitada. Com medo. Rezava para ser só uma hipótese maluca. Até
desejou estar gripada, tudo menos grávida.
Alisson fez o que tinha na descrição do produto. Fez em dois de uma
só vez, só para não errar.
O tempo estipulado pelo produto a deixou impaciente. As horas até o
jantar se aproximavam e a única coisa que ela pensava era: não pode ficar
grávida do chefe bundão. Claro que vocês namoram escondido de todos,
mas não pode aparecer grávida. O que iria parecer?
Quando os minutos passaram, Alisson demorou para olhar o
resultado. Ela sabia que existia a possibilidade, afinal, uma ou duas vezes os
dois não se precaveram, porém, como tinha alguns problemas hormonais,
pensou que a possibilidade de engravidar dele, eram baixas. Claro que ela
deveria ter tomado alguma coisa. Alisson se sentia uma idiota por isso.
Então, respirando fundo, ela pegou os testes e olhou, formando
lágrimas nos olhos ao ver que deu positivo.
Seu coração foi à boca. Deu vontade de chorar. Não podia ser
verdade. Aaron era o amor da sua vida. Se fosse só isso tudo estaria bem,
apesar da surpresa, mas não. Nada na vida de Alisson Williams era tão
simples. Aaron Spacter era seu namorado, mas também chefe. Algumas
pessoas já achavam estranho ele sempre pedir que ela fosse ao seu
escritório, quase sempre. Aaron também saia do alto do seu castelo só para
conversar com ela na cantina.
Como ele iria reagir quando falasse que iria ter um filho dele?
Merda! Será que ele pode pensar que é um golpe?
Não, Aaron não faria isso comigo. Porém, as pessoas não pensam
como ele. Claro que vão cogitar que estou dando um golpe do baú.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, mais uma vez. Pegou aqueles
resultados e saiu do banheiro. Alisson passou pela mulher e segurou as
lágrimas. Ela só não sabia se era de felicidade, medo ou tristeza.
— Desculpa ter sido grossa. — falou realmente envergonhada. —
Estava certa. Estou grávida.
— É muito ruim? — a mulher ainda quis saber.
Não sabe o quanto.
— Não é o fim do mundo, mas é complicado. — foi sincera. — Isso
pode explicar o humor.
— Algumas mulher sentem isso, pois os hormônios estão a flor da
pele. Deve consultar o médico. Acredite, vai descobrir muito mais.
Claro, ela também iria descobrir como o seu namorado/chefe iria
reagir a notícia. Aaron era um amor. Nunca esteve tão amoroso e romântico,
porém, ainda era o homem que não tinha tais responsabilidades, nunca falou
sobre filhos, não deixou de ser o homem libertino. Agora tinha que lidar
com essa nova realidade.
***
Alisson pós o vestido que Mia escolheu. Era vermelho, alça fina,
todo de seda, o corte valorizava as suas curvas, mostrava uma parte do
busto e das costas.
Em frente ao espelho, Alisson olhou para o conjunto e se imaginou
daqui a alguns meses. Óbvio que aquela era a sua consequência. A alguns
meses atrás ela jamais se imaginaria grávida de um ricaço. Era uma menina
tímida que teve o desprazer de topar com um safado que se tornou o seu
amor.
Daqui a alguns minutos ela iria estar em um jantar romântico para
comemorar o seu aniversário de vinte e sete anos, com o homem mais lindo
que já viu. Um cara divertido de trinta e sete que parecia ser um moleque.
Alisson tentava imaginar uma reação positiva e que isso não o fizesse
questionar o que sentia por ela.
A campainha tocou e Alisson sentiu seu coração bater forte. Respirou
fundo ao caminhar até a porta. Antes de abrir, sentiu um frio na barriga.
Ao abrir a porta, encontrou os olhos azuis de Aaron a comendo por
inteira. Seu sorriso safado despertou a menina tímida dentro dela. Ele se
aproximou, puxou pela cintura e tascou um beijo que lhe roubou o ar.
Alisson abraçou seu corpo, sentiu seu perfume e ali esqueceu dos
problemas.
— Ver você desse jeito me dá vontade de desistir e ficar aqui, tirando
a sua roupa toda e te amando. — ela gostava da perversão em suas palavras.
— Podemos fazer isso. — ela riu, com os braços enrolados sobre o
seu pescoço. — Estou sem fome.
— Não me dá bola, passarinho, ou realmente posso cogitar. — Aaron
notou que algo estava estranho nela. Apesar de não ser como ele, sempre
rindo de tudo, Aaron sentia quando algo estava errado. — Aconteceu
alguma coisa?
Alisson encarou seus olhos azuis e sabia que não podia mentir. Aaron
sabia que ela odiava mentir e quando fazia, dava pistas.
— Não é um bom dia. — confessou. — Na verdade, estou com
medo.
— Medo de quê? — ele Franziu o cenho, preocupado. — O que
houve, Alisson?
Seu coração foi à boca. Alisson não queria contar assim, mas não
conseguiria passar por essa noite sem contar logo de cara.
— Não é nada grave. — Começou, então se afastou dele. Pensou na
melhor forma de dizer isso a ele. — Estava estranha, mais cedo. Fui a
farmácia esperando compra algo para enjôo e… sai de lá com outra notícia.
— Está me deixando nervoso, Alisson. — E ele realmente estava.
Seus olhos estudaram Alisson, minuciosamente, e não encontrou defeito.
— Como eu disse, não é grave.
— Então vá direto ao ponto. — Alisson viu que ele estava
preocupado, e ela, nervosa.
— Estou grávida. — Disse de uma vez, fazendo com que Aaron
parasse no tempo. Ele a encarou, sua cabeça fervilhava com a informação.
— Você odiou, não foi? — Agora era ela quem estava preocupada. — A
culpa foi minha. Afinal, não fazia sexo com frequência. Não… desculpa.
— Porque está me pedindo desculpas? — Apesar da surpresa, Aaron
abriu um sorriso inesperado. — Está me dizendo que ao invés de eu dar um
presente a você, é você quem está me dando?
— Espera, isso não é ruim? — Sussurrou surpresa. — Achei que
fosse odiar. Nunca nem tocou no assunto. Acreditei que fosse me culpar.
— Fui eu quem pôs essa semente em você. — ele foi até ela, pegou
em seu rosto e a beijou de leve em seus lábios. — Alisson, amo tanto você.
Não sabe o quanto estou feliz.
— Está? — inesperadamente ela também se animou. Seu coração se
encheu de esperança e alegria. — Mas… você é meu chefe.
— Há, pelo amor de Deus, isso de novo não. — cortou o clima.
— Querendo ou não, meu medo é válido.
— Eu não disse que não era.
— Aaron, estou grávida do meu chefe. As pessoas não sabem sobre
nós, o que vão achar de mim?
— Não é a opinião das pessoas que importa, Alisson.
— Eu sei. — Respirou fundo, baixando os ombros. — Olha, tem algo
errado com meu lado emocional, esses dias, não tem como simplesmente
anular isso. Eu amo você.
— E eu amo você. — segurou em suas mãos. — Sou um safado que
está apaixonado. Jamais imaginei que teria um filho, mas… vou ter um
filho.
— Das nerd dos computadores. — ela lembrou.
— Do meu passarinho. — Ele levantou seu queixo. — Se alguém
ousar magoar o meu amor, juro que vai se ver comigo.
— Aaron! — De repente, tudo mudou. Alisson olhou para Aaron e só
conseguiu sentir calor. — Ainda é meu aniversário.
— Planejei um jantar no topo de um dos maiores e difíceis dessa
cidade.
— Desmarca. — Disse. Aaron ficou sem intender. — Estou ficando
excitada. Gosto quando fala essas coisas.
— Vamos pular para o sexo?
— Estou vestido uma calcinha de renda vermelha e fiz uma depilação
especial.
Aaron encarou Alisson com surpresa e felicidades.
— Acho que estou criando um monstro sexual.
Ele fechou a porta atrás de si e atacou Alisson, a pegando pelo braço
e a levando para o quarto.
CAPÍTULO 18
alisson
Quando o dia amanheceu depois daquela noite emocionante e cheia
de surpresas, Alisson se sentiu mais relaxada, contudo, ainda estranha.
Aaron já não estava mais na cama bagunçada, mas ela sabia que ele estava
por ali em algum lugar. A primeira coisa que fez, depois de levantar, foi ir
ao banheiro, molhar o rosto e escovar os dentes. Ela se olhou no espelho e
sentiu como se seu coração estivesse novamente acelerado.
Alisson tinha se esquecido do seu novo estado e na noite passada,
usou o sexo para esquecer aquele assunto, mesmo sabendo que ele estaria
lá, ao amanhecer.
Ela cuspiu e lavou a boca. Depois, pensou que daqui a pouco sua
barriga começaria a crescer e dentro dela estava um serzinho minúsculo que
era parte dela e de Aaron.
Não importava o que ele diria, ainda sentia medo do falatório. Claro
que ele não sabia como era ser julgada dessa forma. Era homem, rico e
todos tinham medo dele, já Alisson era uma simples engenharia de
software, que mesmo sendo bem-sucedida e ter um bom salário, não se
comparava a fortuna acumulada dos Spacter.
Ela ficou ali, parada, tentando achar uma saída, só que não tinha.
Mesmo amedrontada, ela também estava feliz. Alisson sempre foi sozinha.
Mesmo tendo sua mãe e primos, ela nunca foi compreendida por nenhum
deles. Só por Aaron, e ela ainda não sabia o porquê.
Aaron deveria ser o oposto que não a entenderia nenhum pouco,
porém, ele entendia seu medo, apesar de não senti-lo, entendia seu tique
nervoso, seu olhar de julgamento, a vergonha que sentia quando o ouvia
falar safadeza, até mesmo como o seu cérebro era maluco das ideias. Aaron
gostava dela do jeito que era e isso lhe rendia bons sorrisos de satisfação.
Ele deveria ser o primeiro a achar que ela era uma simples louca que
invadiu sua privacidade e mudou a sua vida. Ela pensou que ele a rejeitaria
por não ser nada comparada às outras. Alisson se perguntava se ele
realmente sabia o que estava fazendo, pois não tinha mais volta.
Então, ela tocou em sua barriga. Sabia que era pequena e que seu
bebê ainda era um grão pequeno, e pensou que nunca mais estaria sozinha.
Ele sempre estaria lá. Aaron sempre estaria lá.
— Alisson! — Ela se assustou com o chamado dele. Estava
destruída. — Você está bem?
Ela sorriu, sabendo que ele estava preocupado. Alisson abriu a porta
e encarou Aaron, com um sorriso no rosto.
— Relaxa, Aaron, só estava lavando o rosto. — ela se aproximou
dele, que a puxou pela cintura, e pôs os braços sobre seu pescoço.
— Você ficou ainda mais linda, depois que descobri que está
carregando um bebezinho nosso. — Alisson se impressionou com o novo
namorado. Ele nem parecia o cara que esbarrou nela naquele metrô.
— Exagerado. — Revirou os olhos.
— Fiz o café.
— Não achou que vou comer algo.
— Há, não!? — Levantou uma das sobrancelhas.
— Estou um pouco enjoada. Mesmo com o remédio.
— Temos que ir ao médico.
— Não precisa exagerar, Aaron.
— Não pode ficar sem comer. — Aaron não gostava de cobrar, mas
sabia da teimosia dela. — Por você e nosso filho.
— Está muito responsável e chato, depois que descobriu do bebê.
— Quero cuidar da minha família.
Alisson pensou: somos uma família?
— Ainda nem passamos do namoro.
— Não, pulamos para "ter um filho".
É, pulamos. Alisson perdeu a graça da coisa ao notar o quão rápido
isso aconteceu.
— Ainda tenho trabalho hoje. — Lembrou, achando que isso a
salvaria.
— Não antes de comer alguma coisa, passarinho. — Ele a pegou pela
mão e a guiou para fora do quarto, indo para a cozinha, mesmo que ela
ainda não tivesse vestido uma roupa decente. — Vou ao hospital hoje,
poderia ser uma desculpa para você também ir.
— Visitar seus pais? — Ela teve que dar um sorriso sem graça. Na
verdade, estava com medo disso também. Afinal, uma funcionária que
engravidou do chefe?
— Não, para uma consulta, mas isso também. — Ele não percebeu o
quanto ela ficou sem graça. — Minha mãe está louca para conhecer você.
— Eu!? — Alisson tinha sentado à mesa. Aaron a serviu um copo
com suco de laranja, um prato com ovos e tinha a opção das panquecas com
calda de chocolate. Alisson estava descobrindo que seu namorado também
era bom na cozinha. — Deus, nem quero imaginar ela descobrindo o quão
rápido as coisas aconteceram.
— Rápido? — Aaron riu. Ele sentou-se ao seu lado, observando que
ela ainda não tinha tocado em nada. — Demorou semanas, apenas para
ficarmos cara a cara.
— Por que não era para rolar nada com o chefe, mas ele é insistente.
— Não está me ofendendo. — Ela revirou os olhos. — Além do
mais, foi você quem roubou o meu coração. Queria mesmo fugir disso?
Alisson apoiou os cotovelos na mesa e o encarou, orgulhosa.
— Acha que eles vão gostar de mim? — Não tinha como negar:
estava receosa.
— Se eu amo você, meus pais vão se apaixonar. Além do mais, era
uma preocupação de ambos a minha libertinagem. — Ela riu. — Alisson,
não existe uma palavra que possa dar significado ao que sinto por você. —
Ele pegou em suas mãos e a olhou nos olhos. Alisson sentiu seu coração
aquecer. Era bom finalmente olhar dentro do azul dos seus olhos. — Em
pouco tempo você se tornou meu mundo. Agora, vamos ter um bebê e…
sinceramente, achei que estaria desesperado. Não sou mais o Aaron de
meses atrás que se estressava com tudo.
A morena sentiu que seu coração estava pequeno com as palavras
que ouviu. Jamais imaginaria que ouviria algo assim de alguém. Ela pensou
que nunca namoraria, muito menos, ter um filho.
— Também amor você, senhor bundão.
Aaron se esticou para beijar seus lábios, mas foram interrompidos
pelo telefone tocando. Ele pensou em ignorar, contudo, poderia ser
importante. Aaron pegou o aparelho e viu que era a sua mãe, então atendeu
imediatamente.
Alisson não sabia quem era, porém, o viu mudar de expressão
rapidamente. Achou que tinha sido algo grave.
— O que aconteceu? Você está bem?
— Meu pai acordou. — Revelou surpreso. Alisson pode respirar
aliviada. — Minha mãe disse que ele quer me ver.
— Claro. Você tem que o ver. — se levantou da cadeira e lhe deu um
abraço.
— Você irá comigo. — Alisson o encarou, assustada.
— Acha que é uma boa ideia? Você deve querer um momento a sós
com sua família.
Seria a primeira vez que ela veria sua mãe e seu pai. Era quase
inevitável não ficar nervosa; ainda mais depois de seu pai ter acordado após
meses em coma.
— É a minha namorada, vamos ter um filho. Você também é da
família.
Desde o que aconteceu no passado, Alisson e sua mãe não tinham
uma boa relação. Seu pai as abandonou e a família que restava, estava
dividida em: os que a julgavam, por não estarem totalmente convencidos da
sua inocência; e os que confiavam nela. Na última categoria estavam seus
primos e a mãe deles.
Dava para ver no rosto de Aaron o quanto estava emocionado. Quem
o olhava de fora, não achava que ele passava de ser o cara arrogante que
não ligava para mais ninguém, porém, o Aaron genuíno era sentimental,
cuidadoso, preocupado e que todos os dias fazia com que Alisson o amasse
mais.
Ele não era perfeito e o egocentrismo ainda vivia dentro dele, mas
estava gostando de ver que, aos poucos, essa sua parte era deixada de lado.
Gostava ainda mais de pensar que era por causa dela.
As pressas, os dois se arrumaram e mesmo ansioso e amedrontada,
Alisson estava alegre. Até aquele momento ela não estava mais pondo
barreiras. Além do mais, já não podia colocar pedras no caminho dessa
nova relação, o bebê viria e ela iria precisar do seu amor.
Ao chegar no hospital, ela sentiu novamente um frio na barriga.
Nunca teve um namorado antes e nunca precisou ser apresentada para os
pais de alguém, só que neste instante estava entrando na vida deles, no meio
de um acidente. Só esperava que não a odiassem.
Uma das coisas que mais ela colocava no meio dessa completa
felicidade em seu relacionamento era a forma de vida luxuosa em que
Aaron vivia. O hospital era mais uma coisa que mostrava que ele era cem
vezes mais rico do que ela, que quitou a dívida do seu apartamento
recentemente. O quarto particular ficava no sexto andar, e assim que
estavam a alguns passos da porta, ela paralisou.
— Acho melhor você entrar sozinho. É um momento familiar. —
Comunicou receosa.
Aaron a olhou no fundo dos meus olhos, lendo os seus pensamentos.
Ele sabia que as coisas estavam indo rápido demais para ela, e não a
forçaria a entrar.
— É muito para você? — Perguntou calmamente, como se
compreendesse o seu dilema.
— É uma situação nova e não sei se vão gostar de mim. — Sentiu-se
nervosa. — Geralmente, tenho que me esforçar bastante para que as pessoas
não me olhem com desdém.
— Meus pais não são esse tipo de pessoas, Alisson. — Acariciou o
seu rosto. — Apesar do filho ser, às vezes, um idiota, eles são bons. Além
do mais, vai ser a mãe dos netos deles.
— Está usado o plural. — O fez rir.
— Achou que não vamos parar no primeiro.
— Vamos cuidar desse primeiro. — Ela beijou seu rosto. — Vai na
frente. — O incentivou. — Vou ficar por perto.
Aaron não insistiu. Respirou fundo antes de abrir a porta e entrar. Ela
o observou. Logo sua mãe notou sua presença. O abraçou forte, claramente
emocionada. Alisson achou bonito. Queria ter uma relação boa com a mãe,
ainda mais agora.
Aaron se emocionou ao ver seu pai, a quem ele deu um abraçou. Já o
ouviu falar o quanto se culpava pelo acidente. Encostada a porta, Alisson
imaginou que ele seria um bom pai. Até aquele momento ela não tinha
pensado no futuro. Seu coração aquecido, fez brotar lágrimas em seus
olhos. Alisson não era tão emotiva e culpava o bebê por isso.
— Mãe, pai, esta é Alisson, minha namorada. — Aaron deu espaço
para que eles vissem ela, que ficou envergonhada ao se intrometer naquele
momento.
Ela sentiu seu coração acelerar. Deu passos em direção a eles e Aaron
entrelaçou seus dedos nos dela.
Primeiro os dois se entreolham e, depois, voltam a os observar,
curiosos.
— É um prazer, Alisson. — A mulher estendeu a mão para
cumprimentá-la.
Para não ficar constrangedor, apertou levemente. Achou que ela
percebeu a sua timidez.
— Bem que desconfiei que algo estava acontecendo. — Ela sorriu.
— Aaron estava diferente do que como o conheço.
— Alisson sabe como mudar uma pessoa tão difícil como eu. — Ele
brincou, levando-a a rir de nervoso.
— Ela é linda, mas espero que não estejamos a deixando
constrangida. — Falou seu pai.
Sabe quando você está em um lugar e as pessoas estão falando de
você, mas você não sabe como agir ou falar? Pois bem. Estou nessa
situação.
— Ela é um pouco tímida. — Afirmou Aaron
— Um pouco. — Falou, ainda mantendo o mesmo sorriso.
— Pai, estou muito feliz por ter voltado e que tenha conhecido
Alisson. — Era estranho, pois ela não sabia o que dizer. — Tem outra coisa.
— Alisson sentiu seu coração frio, pois sabia o que ele diria. — Vamos ter
um bebê.
Alisson quiser matar Aaron no mesmo instante. Ela não achava que
era uma boa hora para isso.
— É! — Foi o que conseguiu dizer, sem graça.
— Espera, vou ser avô? — O homem se confundiu. Ela poderia
aposentar que o homem estava a julgado. — Acho que morri e fui para o
céu.
— Robert! — Reclamou a mãe, fazendo Alisson rir. — Deus, isso
é… — ela pareceu emocionada, não furiosa. Alisson não sabia se isso era
bom ou não. — Vem cá, querida. — E a abraçou.
Aaron ficou animado, mas o olhar que Alisson lançou dizia: vou
matar você!
— Ali, está nervosa. Ela acha que as pessoas vão nos julgar, pela
rapidez ou…
— Aaron! — Ele riu da situação, enquanto ela, queria se enfiar em
um buraco.
— Por que? — A mãe ficou com dúvida.
— O amor da minha vida é a nerd que salvou a empresa e… odeia a
ideia de que sou o chefe.
— Querida, não é a primeira vez que isso acontece com um Spacter.
— A mulher era simpática, mas Alisson não perdoaria Aaron. — Fui
secretária do Robert.
— Meu único amor. — Ele completou.
Pelo menos os pais eram compreensivos.
Aaron sabia que estava em apuros, contudo, achou melhor tirar de
vez esse elefante enorme que Alisson achava ter.
CAPÍTULO 19
Alisson
Alisson estava nervosa e ansiosa esses dias. Ela trabalhava e tentava
não perceber os olhares e fuxico. Eles ainda não tinham oficializado
formalmente para todo mundo, só para os pais de Aaron e até Milla sabia,
afinal, ela era a secretária do seu namorado e ele adorava chamá-la a
qualquer momento.
Alisson estava feliz, se acostumando com a ideia de que tinha um
bebê crescendo dentro dela.
Mia estava adorando e até planejava as coisas para os bebês, fazendo
com que Alisson se sentisse um pouco mal por não estar empolgada para
pensar no detalhe, mas então lembrava: ainda é cedo para essas coisas. Mia
é exagerada. Com o tempo você também vai ficar empolgada com essas
coisas.
Bem, ela realmente estava amando o seu bebê, contudo, não achava
que iria ser como Mia.
O dia começou até que bem. Aaron a levou de casa para o trabalho,
afinal, eles viviam juntos agora. Ele até planejava comprar uma casa, a
contragosto de Alisson, pois dizia que agora que iriam ter um bebê o mais
lógico era morarem juntos, em uma casa típica.
— O que vai fazer hoje à noite? — Perguntou. Aaron estava do outro
lado da mesa de um restaurante na qual a levou para comer. Aos poucos
Alisson estava tomando ciência de que sua alimentação deveria ser
adequada, pois tudo o que ela comia ia para seu filho.
Ela tinha respondido a uma mensagem de Milla. Uma de muitas que
hoje já tinha recebido.
Apesar da amiga estar estranha, depois que descobriu sobre sua
relação com o chefe, Mia continuava como antes. Ela queria ir na balada
com as outras garotas, mas queria arrastar Alisson também.
— O pessoal me chamou para um happy hour depois do trabalho.
Isso não faz meu estilo, mas como você ficará ocupado e Mia também, com
seu problema chamado Robert Miller, pensei em aceitar o convite.
Não tinha nada demais nesse convite. Provavelmente ela ficaria por
umas meias horas e depois arranjaria uma desculpa para ir embora.
— Oh! Um happy hour. — Pareceu não ter gostado da ideia. — As
secretarias vão? — Sua curiosidade colocou um sorriso no rosto dela.
Aaron era bem ciumento, mas do tipo que lidava com essas questões
sem impedir Alisson de nada. Além do mais, era bem provável que ela
arrancaria a sua língua se ele pensasse em fazer algo do tipo.
— Sim. Eu não iria se Milla não tivesse insistido por um dia inteiro.
— Ela realmente se esforçou para convencer Alisson.
— Só lembrando: você tem um bebê dentro dessa barriguinha bonita
e sexy, então, nada de álcool ou ficar perto de fumantes.
Alisson levantou uma das sobrancelhas, encostou-se a cadeira e o
encarou.
— Sou péssima em entender muitas coisas de cunho social, porém,
sei bem o que uma grávida pode ou não pode fazer, Aaron.
— Eu não disse que não pode. — Deu de ombro, só para desfaça.
— Seu compromisso vai acabar muito tarde?
Ela também não estava gostando nada de sua reunião fora de hora.
Ela sabia que os executivos trabalham dia e noite, mas uma pessoa em
específico estava a deixando com um ciúme que achou nunca sentir. Uma
das advogadas que trabalhava para a TEC Corporation já tinha sido amante
dele. Ele disse que ficou com ela somente duas vezes após um dia cansativo
e alguns copos de whisky. Porém, Alisson conhecia uma mulher obstinada e
o seu namorado, que era lindo e rico. Alisson não desconfiava da sua
lealdade e amor por ela, só que, como já disse antes, confiança não era
muito o seu forte.
— Na verdade, eu nem queria ir a essa reunião. Foi meu pai que
insistiu. Apesar de não poder comparecer lá, ele disse que conversaria com
Zayn, um dos advogados, e que eu precisarei ir a esse encontro. Farei de
tudo para que termine cedo.
— Então, quem sabe possa me salvar depois do seu compromisso?
— Salvá-la? No seu happy hour? Com seus amigos? — Sua
desconfiança ou mal entendimento a fazendo rir.
Aaron sabia que ela não gostava quando os dois estavam na frente
das pessoas com quem trabalhavam.
Só que esse segredo também não a agradava totalmente. Além do
mais, sua barriga iria crescer e o bebê sairia. Eles não podiam manter as
coisas escondidas. Talvez discretas, contudo, não abriria mão do conforto
que era viver sua vida despreocupada, temendo que alguém os visse juntos.
Não podia colocar esses defeitos na frente da sua felicidade. Não
viveria com medo de ser julgada. Bem ou mal, eles falariam e não achava
que era ela quem devia lidar com isso.
— No lado de fora, dentro do carro, no escuro? — Questionou
irônico.
— Não, Aaron. Não quero mais que seja assim. Tem razão: não
podemos continuar nos escondendo. Quero poder estar com você, sem
medo.
No mesmo instante, o maior e mais lindo sorriso surgiu no rosto dele,
iluminando até seus olhos azuis. Ninguém nunca a olhou como ele, ou a
desejou como ele a desejava. Algo que a deixava transbordando de alegria.
— Será um prazer salvá-la de sua torre. — Brincou antes de beija-la
novamente.
***
Alisson era uma pessoa que poderia ser considerada chata, e admitia
sem vergonha. Lugares lotados, com música alta e com pessoas se
esfregando na pista de dança não faziam o seu estilo. Alisson Williams era a
nerd que ficava em casa, em plena sexta-feira, assistindo à Netflix e
comendo besteiras.
Mia tentou muitas vezes — sem sucesso — a levar a lugares assim,
só que na época ela achava que era um pensamento louco.
Todavia, desde que Aaron e ela começaram a namorar, ela vinha
pensando diferente. Ele era um homem de trinta e sete anos, rico, baladeiro
e saía com mulheres lindas nada comparadas a ela.
Bem, as coisas correram como uma maratona sem descanso e eles
pularam de um casal recente que curtiram a vida a dois, para pais de uma
criança. Então ela achava que a parte baladeira seria difícil, depois que o
bebê nascesse.
Alisson odiava isso. Muitas pessoas e música alta, entretanto, teve
medo de dizer não e ser considerada uma chata que mudou completamente
por causa do interesse do chefe nela. Seria algo rápido, depois Aaron
chegaria e a levaria para casa. Nada de estresse.
Ao chegar, todos foram para a área VIP, onde as meninas pediram
alguns drinks, enquanto Alisson ficou com a água. Elas acharam estranho.
Como já previa, ela não interagiu tanto quanto as outras, Victor estava no
sofá a sua frente. Ele não parava de encará-la, já tinha bebido seu primeiro
copo e pediu o segundo. Alisson ficou desconfortável. Não sabia o que ele
queria e nem estavam conversando. Acabou achando que foi um erro
aceitar o convite e que preferia o sofá quente e a TV ligada.
Alisson não entraria no assunto "namorada do chefe" nem no "estou
grávida". Todos saberiam em breve e ela odiava falar coisas pessoais da sua
vida. Só Aaron sabia sobre seus monstros, seu íntimo.
— Você não gosta deste tipo de lugar, não é, Alisson? —Perguntou
Victor, sentando-se ao seu lado, querendo puxar assunto.
Eles nunca tinham saído antes, e não foi por falta de convite. Ele era
uma pessoa legal, mas só conviviam juntos na empresa.
— Não mesmo. — Balançou a cabeça, em discordância. — Achei
que fosse gostar de experimentar. Se a música estivesse um pouco mais
baixa e as pessoas não estivessem me olhando como se eu fosse uma
estranha, poderia até ser legal.
— Também não é o meu estilo. — Falou de cabeça baixa.
— Então, por que veio? — Questionou surpresa.
Embora ela saiba que ele era quase um terceiro membro no ciclo de
amizade das garotas, no convívio com elas, não sabia que as duas o
manipulavam para ir a um lugar que não quisesse.
— Por sua causa. — Demonstrou timidez.
Alisson ficou surpresa com sua resposta, não sabia o que dizer. Ela
tentou pensar em algo, quando Milla e a outra garota se levantaram e a
puxando para junto delas.
— Nós vamos ao banheiro. — Ela avisou ao Victor, que ficou tão
confuso quanto ela.
Antes que a sequestrasse para o banheiro, Alisson lançou para ele um
sorriso de “desculpa”. Ainda não tinha entendido muito bem a sua confissão
e apostava que as meninas ouviram.
Passaram por um amontoado de pessoas que bebiam e dançavam na
pista de dança. Era provável que ela ficasse com cheiro de álcool.
— Garota, eu tinha que ter te avisado. Acho que chegamos tarde
demais. — Milla falou assim que chegaram no corredor que levava ao
banheiro. Aqui podiam andar sem ter que esbarrar em alguém.
— Do que está falando? Avisar o quê? — Tentou limpar os pingos de
bebidas que ficaram sobre ela. — Que essa balada é.… grudenta?
— Que Victor é afim de você.
Se Alisson estivesse bebendo ou comendo algo, teria se engasgado.
Era impossível abrir mais ainda os olhos. Achou que foi uma piada.
— Claro que não. Somos só colegas de trabalho. — Deu um sorriso
nervoso. — Além do mais, nunca saímos. Ele não dá a entender que...
Os olhares que delas lançaram foi quase uma frase que dizia: “É sério
que você não percebe? ”
— Ele te cobre quando você se atrasa, convida você para almoçar,
para sair e jantar.... É você quem nunca aceita. — As duas se revezaram
para pronunciar as frases.
Alisson pensou em contestá-las, dizendo que era só gentileza dele,
quando, de repente, lembrou-se de outros fatos que elas poderiam não saber,
como, por exemplo, das rosas que ele deu ontem, no seu aniversário, junto
com um poema romântico que ela fofo.
— Ai! Estou ferrada. — Constatou em voz alta. — Eu não... não
quero magoá-lo.
Alisson nunca esteve nessa situação antes. Na verdade, ultimamente,
as coisas tinham acontecido descontroladamente na sua vida.
Quando olhava para Victor, via nele um irmão mais velho, não um
interesse romântico.
Quando Aaron e ela começaram a conversar, ela também não o via
dessa forma, mas as coisas saíram dos trilhos e agora sabia que o amo
realmente. Na verdade, ela tinha em sua barriga o fruto desse amor.
Ouvir tal novidade a deixou chateada com ela mesma.
— Ele é um cara legal, fofo e muito doce. Vocês formariam um casal
lindo. — Opinou Natasha, amiga de Milla.
Bem, a loira me encarou sabendo que existia uma enorme barreira
arrogante que impediria ainda mais disso de acontecer.
— Mas não gosta dele desse jeito, não é? — Milla falou, a olhando
profundidade, com uma frase pronta na qual ela não precisava dizer em voz
alta.
— Nunca o vi com esses olhos. Ele é como um irmão para mim, e
não posso enganá-lo. — Ficou preocupada. — Além do mais, não estou
disponível para um relacionamento ou tentativa.
— Está namorando? — Natasha sussurrou, mesmo sabendo que ele
não poderia as ouvir.
— Sim. — Respondeu em um suspiro. — Eu estava planejando
revelar hoje ou amanhã, no máximo, mas agora estou com medo de magoar
os sentimentos de Victor.
— Não pode controlar essas coisas, Alisson. —Tocou
carinhosamente em seu braço. — É inevitável não magoar uma pessoa que
gosta de você e não tem seus sentimentos correspondidos.
Ela tem razão: é inevitável.
Alisson chegou a conclusão de que não podia mais viver escondida
das pessoas ou colocar Aaron nessas situações por mais tempo. Saber sobre
seu colega de trabalho a deixou mal. Foi uma péssima hora para descobrir
que outro alguém gostava dela.
— Tem razão. Não posso enganar Victor. Gosto dele como amigo e
nunca rolaria nada entre nós. Nem sei como Aaron conseguiu isso de mim.
— Ficou pensativa, falando em voz alta.
Quando percebeu, encarou as duas meninas, vendo elas a avaliando
com atenção.
— Aaron do quê? — Perguntou Natasha.
Para Milla, isso não foi uma surpresa, mas Natasha ficou abismada.
Dizer ao Aaron para disfarçar era uma perda de tempo, porque ele
sempre estava encarando quando se olhavam a distância.
— Ok. Vou dizer de uma vez, e espero que não pensem mal de mim.
— Ficou nervosa. — No passado, quando eu nem sabia quem Aaron era,
nós nos esbarramos na frente da empresa. Ele foi grosso, eu fiquei puta, ele
deixou o celular cair e eu o achei. Quando o devolvi, nós começamos a
conversar. Ele ainda não sabia quem eu era e agora estamos juntos. —
Falou tão rápido que ela mesma achou que elas não tivessem a ouvindo ou
entendendo.
Entretanto, os olhos arregalados de Natasha disseram outra coisa.
— Você está namorando o senhor arrogante? — Indagou quase
gritando.
— Ele não é mais assim. — Defendeu ele.
— Você e o chefe? — Como previsto, Milla não era boba e já
desconfiava. — Como?
— Bem... não importa. O que quero saber é como dizer de uma
forma menos... constrangedora que não estou disponível para Victor.
— Ok, ok. Um assunto de cada vez. — Natasha tentou se acalmar e
pensar. — Não tem jeito mais fácil. Só espero que não seja aqui.
— Você tem razão. Aqui e agora não. — Concordou.
A ansiedade bateu nela, a deixando com as mãos suadas.
“Seu príncipe acabou de chegar. ”
Quando leu a mensagem de Aaron, ficou animada. Poderia sair da
situação na qual se envolveu, dizendo que iria embora.
Só que naquele momento a morena estava nervosa, e Aaron
perceberia.
— O que vai fazer? — Natasha cruza os braços e a analisou com uma
sobrancelha erguida.
Algo nela mudou assim que Alisson falou sobre seu namoro com o
chefe. Ela não achou que seria ela a pessoa que a julgaria, muito menos
Milla. E, de fato, Milla não estava a julgando, estava preocupada, assim
como Alisson.
— Quer saber? É melhor eu ir embora. — Falou, reagindo de alguma
forma. — Podem dizer ao Victor que tive um imprevisto e que amanhã
poderemos conversar.
— Ok. Boa sorte amanhã! — Milla beijou o seu rosto.
Ela não recebeu uma despedida de Natasha, e nem queria. Ficou
chateada com sua mudança e queria sair o mais rápido possível do lugar.
Aaron pode desconfiar de algo, e como não conseguia mentir para
ele, teria que lhe contar o porquê da minha pressa em ir embora.
Ela voltou à pista, por onde tinha que passar para chegar na saída.
Estava odiando cada momento no meio desse amontoado de pessoas e deu
graças a Deus quando, enfim, pode andar em segurança.
Logo encontrou o colega de trabalho no meio do caminho. Ele estava
encostado na parede, com as mãos no bolso, como se a esperasse.
Seu coração estava prestes a sair pela boca quando ele andou em sua
direção.
— Por que sempre foge, Alisson? — Questionou ao seu ouvido.
Ela se sintiu acuada com sua aproximação e o frio na minha barriga a
avisando que a medrosa estava a caminho.
Então respirou fundo e tirou a coragem do fundo do seu ser.
— Desculpe, Victor! Tenho que ir agora. — Avisou, sendo simpática
e tentando não demonstrar os seus sentimentos.
— É difícil sempre estar de acordo com você, nos seus termos, sem
saber se vai me enxergar em algum momento. — Alisson sentiu seu coração
bater mais rápido. Ele estava muito perto, a fazendo sentir-se
desconfortável.
— Do que está falando? — Continuou nervosa.
— Esperei por tanto tempo para dizer que amo você, e está tentando
fugir.
Ela se surpreendeu ao ser agarrada por ele. Alisson tentou se afastar,
empurra-lo, no entanto, não conseguiu.
— Alisson, eu bebi um pouco para criar coragem.Tem que ser agora.
— Largue-me, Victor! Eu não quero ouvir. — Estava quase entrando
em desespero por conta da força que ele usa para a prender.
— Eu preciso de você e te quero mais do que como uma amiga. E
não quero o seu “não”. Sei que é medrosa e que se envergonha, mas te amo
da forma que é. Eu...
— Nós não podemos ficar juntos. Estou em um compromisso.
Desculpe-me magoá-lo! Precisa me soltar agora.
Quanto mais tentava se manter longe dele, mais ele a apertava. Já
estava quase sem fôlego, quando o viu beijar sua boca. Uma sensação
estranha e desesperadora despertou nela.
Havia pessoas ao redor, só que era como se ninguém notasse o que
estava acontecendo entre eles.
Alisson virou o rosto para o impedir de continuar, mas ele insistiu.
Não deu para culpar a bebida, porém ela nunca o viu dessa forma.
Algo forte e muito furioso o empurrou para longe e ela quase caio no
chão, sentindo que um lado da sua roupa não cobria o seu corpo. Teve que
usar a mão para tapar o buraco.
Aaron estava furioso, colocando Victor contra a parede, e as pessoas
ao redor assistiam à cena, assustadas.
— Aaron, não faça isso!— Correu até ele, chamando sua atenção. O
que não o fez soltar seu funcionário. — Por favor, vamos embora, Aaron!
— Praticamente teve que gritar seu nome para que fosse notada.
Quando ele a olhou, estava quase soltando fogo pelos olhos. Deu
para ver até suas veias, de tão estressado que estava.
Soltando Victor rudemente, pegou na mão dela, que estava sobre seu
ombro, e saiu quase a arrastando para fora da boate. A adrenalina estava em
seu corpo, a impedindo de sentir o momento.
Seu namorado estava tão irritado, que nem a ouviu reclamar do
aperto de sua mão na dela.
— O que estava acontecendo lá dentro? — Perguntou assim que
saíram de lá, a olhando nos olhos e quase a botando medo.
Ele soltou a sua mão e esperou pela resposta.
— Por que aquele idiota estava agarrando você?
— Devia ter lhe perguntado enquanto o pressionava contra a parede.
— ficou brava com seu tom de desconfiança. — Por que está se voltando
contra mim? Eu não queria nada daquilo. Eu pedi para que ele me deixasse
ir, mas ele nem ouvia o que eu falava.
Aaron estava ofegante. Passando a mão pelos seus cabelos negros,
afastou-se.
Ela não queria pensar que ele achava que isso era culpa sua.
— Desculpe-me, Alisson! Eu não... — Aos poucos suas emoções
voltam ao normal.
Seus olhos tempestuosos se acalmaram e ele a abraçou. Foi um gesto
que a deixou tranquila e fez com que ela se sentisse protegida. Alisson o
mataria se pensasse que fui ela quem quis o beijo.
— Não pensei muito quando o vi te agarrando e...
— Vamos embora, por favor! — Pediu de novo.
— Tudo bem. Vou levá-la para a minha casa. Perdão! — Mostrou-se
preocupado.
Ela tinha se esquecido que um pedaço do seu corpo estava exposto.
Foi ele quem notou e a deu o seu blazer.
CAPÍTULO 20
Aaron
Alisson não era mulher de sair e trair o namorado. Aaron ralou muito
para conseguir chegar o mais próximo que pude dela, e, do nada, ele a viu
agarrada a um estranho que estava a beijando.
A primeira coisa que se passou pela sua cabeça foi “ilusão”; que
tudo que ele queria era exibir a mulher que amava, mas que estava sendo
corno.
Aaron podia ter matado aquele homem se não fosse por ela. Ele
estava tão maluco, que realmente achou que estivesse sendo enganado.
Até olhar em seus olhos verdes e ver neles a frustração e o medo.
Ele não fazia ideia de quem era o cara, mas não podia culpá-la.
Alisson, claramente, estava desconfortável e querendo se livrar do homem
quando Aaron chegou. Colocar a culpa nela seria um erro e uma burrice.
Ele tentou se concentrar na rua enquanto dirigia de volta para casa. O
clima acabou totalmente e não falaram uma palavra sequer durante o
percurso.
Quando ela falou do seu desejo de revelar o namoro para todos, ele
ficou em êxtase. Algo que nunca tinha acontecido.
Aaron se viu feliz por ter alguém, uma pessoa a quem seria leal e
com quem se casaria. Logo eles teriam um filho.
Agora, no seu apartamento, o silêncio ainda o incomodava. Ele não
sabia o que dizer, o que perguntar; tinha medo de abrir a boca e que
grosserias saiam dela, os levando a brigar.
— Ainda está bravo? — Ela se aproximou.
Seu olhar de cautela o deixou mal. Ele mesmo sabia o quanto era
rude com as pessoas. Mas com Alisson tudo era diferente, até seu cuidado
com as palavras.
— Não acha que provoquei aquilo, não é?
— Não, Alisson. Eu sei o quanto fui indelicado e como fiquei bravo
com você, quando, na verdade, não teve culpa. — Sentiu-se inquieto.
Ciúme nunca foi o seu forte, pois sempre foi decidido e seguro de si.
Não sabia o que estava o deixando com uma sensação amarga na boca.
— Eu tentei ir embora e esperava que nós dois nos encontrássemos, e
saíssemos de lá, mas não sabia que Victor seria tão... Não sei exatamente
como defini-lo. — Ficou pensativa.
— Conhece aquele homem? — Franziu o cenho. — Não é apenas um
idiota que atravessou ocasionalmente o seu caminho? — Essa pergunta a
deixou ainda mais receosa.
Lidar com um evento assim era fácil, mas se Alisson o conhecia, quer
dizer que o encontraria outras vezes. Isso, sim, era difícil de lidar.
— Victor trabalha comigo na TEC Corporation. — Confirmou após
respirar fundo e se afastar para se sentar no sofá da sala.
Aquela sensação estranha e horrível voltou, o deixando fervendo por
dentro.
— Eu o tinha como um irmão e nunca passamos de simples apertos
de mãos ou almoços juntos, os quais sempre eram acompanhados de outras
pessoas. Quando ele foi conosco ao happy hour, achei que fosse por conta
das meninas. Mas, então, aquilo aconteceu e...
Aaron nunca se sentiu inseguro assim. Ele sabia do seu amor, do seu
filho, mas existia dentro de si um homem fraco que imaginava que em
algum momento poderia perder o amor do seu passarinho.
— E o quê? — Perguntou impaciente.
— Aaron, você está muito chateado e agitado. Estou me sentindo
pressionada. — Fez uma cara feia.
— Como não quer que eu fique chateado, sendo que encontrei a
minha namorada agarrada a outro homem em uma balada, sabendo que eles
vão se ver todos os dias? — Usou mais raiva do que devia.
Alisson se levantou com o rosto avermelhado. Algo que acontecia
quando ela ficava irritada.
— Da forma como está falando, até parece que gostei de ser forçada
a beijar uma pessoa que achei que fosse meu amigo. — Cruzou os braços e
o olhou nos olhos.
Agora foi ele quem estava se sentindo sob pressão.
— Ok. Desculpe! É que não lido bem com situações como essa e
estou aprendendo que é difícil não sentir ciúme de você. — Explicou, ainda
alterado.
— Victor trabalha ao meu lado, mas quando me agarrou, destruiu
toda a confiança que eu tinha nele. Não importa se estava bêbado. Eu pedi
para que me soltasse e me deixasse ir. Se não fosse por você, só Deus sabe
o que ele teria feito. Parece que sou fraca se comparada a um homem. —
Ela também falou rápido, quase que desesperadamente, quando estava com
medo ou furiosa. No momento ele não sabia qual das duas emoções estava
sentindo.
— Alisson, perdão! — Pediu, baixando a guarda. — Eu não devo
brigar com você. Tenho que lidar com o ciúme. Sei que merece minha total
confiança, até mesmo se eu estiver de olhos vendados. — Pegou sua mão
com carinho.
Essa não foi a primeira quase briga dele e ela sabia o quanto ele era
difícil e idiota. Já se acostumou. Não era porque se sentia vulnerável e
enciumado, que Aaron devia descontar na pessoa que gostava dele, mesmo
com seus defeitos.
— Não gosto quando não sei das coisas. Eu não sabia que aquele
idiota trabalhava com você, nem porque a agarrou.
— Milla me contou que Victor sempre gostou de mim, só que nunca
percebi. Ou não queria perceber. Não tenho interesse algum nele, tratava-o
como um colega e nem aceitava os seus convites para sair.
— Ele tem sentimentos por você e, simplesmente, forçou-a a beijá-
lo? — A conversa não estava o deixando menos preocupado. Parecia que a
noite não acabaria bem para ele. — Desculpe, Alisson! Não me sinto
confortável com isso.
— Com outro cara gostando de mim? — Franziu o cenho.
— Com ele te olhando todos os dias e trabalhando a menos de um
metro de você, dentro da minha empresa.
Aaron sempre foi o cara desprendido de sentimentos românticos e
nunca namorou. Sua coleção de mulheres, como Alisson já sabia, era
enorme. Sempre foi o canalha e, agora, estava se sentindo como um cara
que pode ter a namorada roubada. Talvez seja carma por tudo que já fez.
— Não tem com o que se preocupar, Aaron. — Tocou
carinhosamente em seu rosto. — É com você que estou e com quem quero
ficar. Não gosto de mais ninguém. E, com você, apesar das dores de cabeça,
sinto-me segura. A atitude de Victor, por mais bêbado que estivesse, fez eu
me sentir triste e traída. Nunca mais vou confiar nele. Também não quero
que isso seja um problema na nossa relação. Ainda mais agora com o nosso
filho.
Sim, ele lembrou. Aquele babaca não só feriu seu amor, mas também
o filho.
Perceber que tinha medo de perder tudo isso, o assustou. Nunca foi
apegado a ninguém que não fosse da sua família, e, de repente, essa garota
atrevida estava na sua vida, tornando tudo mais agradável.
Ele a abraçou com força, como se não recebesse esse contato há dias.
Como ela era bem menor do que ele, sua cabeça ficava em seu queixo. Era
bom sentir seu corpo quente junto ao seu e se sentiu vivo como nunca antes.
— Mesmo confiando em você, não quero que esse homem esteja ao
seu redor.
— Posso lidar com Victor, Aaron. — Respirou em seu peito.
— Mas eu não.
Ela se afastou e o encarou, estranhando o que ele disse.
— O que quer dizer?
— Não sei. Só sei que não permitirei que ele continue perto de você.
Essa não era uma discussão, embora ela, novamente, estivesse
irritada. Alisson poderia perdoar as pessoas facilmente, porém Aaron
Spacter era babaca demais para ser tão bondoso.
— Aaron! — Falou, ainda o encarando. — Não pode misturar as
coisas. O que acontece fora do trabalho, não pode interferir com o que
fazemos na TEC Corporation.
— Você é o meu anjo doce, mas eu ainda sou um mundano, Alisson.
Não vamos discutir. Eu sou o chefe e sei o que devo fazer. — Ela o encarou
feio, pensando que poderia argumentar mais. — Pense no que poderia ter
acontecido. Estava sozinha. Alisson… ele não aceitaria o seu não. O que
faria? Poderia machucar você e nosso filho.
Então ela deixou cair a máscara furiosa. Aaron tinha razão. Agora ela
não estava mais sozinha.
—Está certo, mas isso ainda pode ser visto por um lado ruim. —
Pensou. — É o chefe e eu a funcionária. Já será estranho o suficiente.
Quando mexer os pauzinhos, mudar as coisas por minha causa, as pessoas
vão me odiar. Excluir só por estar com você.
— Pense na segurança do nosso bebê. Pouco me importo se terá
alguém comentando. Devo proteger minha família. — Alisson voltou a
encarar seus olhos azuis, dessa vez, mais alegre. Família era uma palavra
que lhe agradava.
— Sabe? Eu contei à Milla e à Natasha sobre nós dois. Como eu
previa, vi olhares fora do comum para a Alisson que todos nem notam. Se
fizer o que pensa em fazer, as pessoas irão associar sua atitude a nós dois. E
só vai piorar o modo de me tratarem.
— Milla te tratou com desdém ou a ofendeu? — Ficou mais
interessado nessa parte.
— Não, Aaron. Milla é uma ótima amiga, e para falar a verdade ela
meio que sabia. Foi Natasha, a secretária que sempre se exibe para você,
que não gostou nenhum pouco do que ouviu. Acho que ela pensou o que
imaginei que pensariam desde o momento em que você e eu nos acertamos.
Esse era um medo recorrente dela, pois não era muito confiante de si.
O que dificultava muito as coisas entre eles.
— Nunca notei aquela mulher e nunca notarei — Sentiu-se frustrado
novamente. — Alisson, eu te amo! Sempre será você. Mas vai colocar tudo
entre nós para não vivermos por completo. Por que isso te importa tanto?
Não basta o que sentimos um pelo outro?
Aaron sabia que ela não agia assim por mal, apenas se preocupa com
o modo como irão tratá-la ou com o que vão dizê-la só porque estavam
juntos. No entanto, essa preocupação os impedia de fazer muitas coisas,
inclusive de dar prosseguimento ao relacionamento.
— Não quero mais me esconder. Essa decisão não mudou, Aaron. —
Disse com mais calma. — Quero ser livre e poder viver com você. Sair,
almoçar, além do mais, será inevitável quando o bebê chegar.
Aaron passou suas mãos pela cintura dela e a puxou para um beijo.
Alisson Acariciou seu rosto, arranhou, de leve, o seu pescoço, o fazendo rir.
— Não importa o quanto tente. Ainda sou medrosa em relação a isso.
Mas não vou mais deixar que meus medos atrapalhem a gente. No entanto,
se demitir Victor por algo que me envolve, a atitude dos outros comigo
mudará. E eu já fui a garota que era tratada diferente na escola.
Ele respirou fundo e beijou sua testa. Alisson e ele tiveram vidas
diferentes até o momento, e ele sabia que devia respeitar os seus medos.
— Faremos do seu jeito. Não precisa temer. — Acariciou suas
bochechas. Sua pele estava avermelhada, e não era de raiva. — Não vou
demitir o idiota, mas não o quero por perto. Espero que Cooper resolva esse
impasse sem gerar muitos problemas.
No mesmo instante, ela deu um belo sorriso, exibindo covinhas que
tanto amava. Ele não sabia como podia amar tanto alguém que conheceu tão
inusitadamente.
— Preciso de um banho. — Avisou.
A mente pervertida de Aaron logo formou uma frase e Alisson
esperou para ouvi-la.
— Sei de duas mãos extras que podem ajudá-la com isso.
Ela revirou os olhos. Ele gostava quando ela fazia.
— Sinceramente, acho que devemos aproveitar antes que o bebê
nasça. — Aaron Franziu o cenho preocupado. — Vai dar trabalho e não sei
se teremos tempo, entre trabalho e bebê, de fazer sexo.
— Nem brinca com essas coisas, passarinho.
— Quem disse que estou brincando, bundão.
Aaron gostava de ouvi-la dizendo isso. Ele a pegou no colo e a levou
em direção ao banheiro.
CAPÍTULO 21
Alisson
Alisson estava decepcionada com o que houve ontem. Ela jamais
achou que seu colega faria algo assim. Victor foi um babaca. Ele não estava
tão bêbado, e usou daquela oportunidade para machucar Alisson.
Ela botou na cabeça que já era hora de mudar. Deixa de ser a menina
boba que não percebia as coisas e que era medrosa sempre.
Óbvio que a mulher enfrentaria algumas pedras em seu caminho. Ela
não mudaria do dia para a noite, contudo, com o bebê em seu ventre vinha
também responsabilidades extras.
Alisson não sabia como seriam as coisas. Tinha uma péssima relação
com a mãe e não achava que isso mudaria depressa. Por enquanto, se
concentraria em se manter sã, saudável e longe de encrenca.
Amaria seu filho, seu namorado e trabalharia com o que gostava de
fazer. O resto que se dane!
Mesmo com tanta determinação, Alisson se via ansiosa, com as mãos
suando e o peito batendo forte, só por estar entrando pela porta principal ao
lado do homem que amava e pai do seu bebê. "Senhor arrogante", como as
meninas costumavam chamar.
Aaron não era o homem todo estressado que eles conheciam e com
quem todos convivem. Agora, graças à recuperação do seu pai, ele era o
homem que tanto ela amava.
Não era perfeito, apesar de parecer às vezes, mas não esbravejava
com tanta facilidade.
— Não se esqueça! Amanhã vamos à casa dos meus pais. Eles
insistem. — Falou ao seu ouvido antes de beijar o seu rosto.
Ele estava um gato hoje. Terno azul, gravata escura, cabelo soltos ao
vento e os olhos brilhavam.
A recepcionista não parava de os encarar como se fossem animais
exóticos. Molly e Alisson conversavam quando ela chegava e reclamava
sobre o ritual idiota de segurança. O qual entendia bem atualmente, pois
trabalhava com dados muito importantes. Serem roubados era uma
preocupação que se estendia até com quem frequentava o lugar.
— Tudo bem.
— E o almoço será no Hallsy. Espero você lá às 12 horas. Sabe como
sou pontual. — Estava se comportando como um pai quando deixa os filhos
na porta da escola. — Na verdade, vou com você até...
— Não será necessário. — Deu dois tapas leves em seu ombro. —
Não precisa exagerar.
— Quero ver como trabalha. — Franziu o cenho.
— Já viu quando levou aquele senhor à sala dos computadores. —
Alisson queria ir embora da recepção o mais rápido que pudesse.
— Quer fugir de mim, passarinho? — Fazia um tempo que ele não a
chamava assim. Era fofo e a trazia dar um sorriso, por ser carinhoso.
— Tem como fugir de você, bundão? — Ele retribuiu o sorriso —
Além disso, o meu chefe não gosta de atrasos. Nós nos vemos no almoço.
Ela pensou que iria demorar a se acostumar com essa rotina. A partir
deste momento, Aaron e ela estavam, oficialmente, namorando. As pessoas
iriam começar a saber e, talvez, mudassem a forma de a tratavam. Algo que
ela não queria que acontecesse.
Ela não fugia de ser vista com ele, só era discreta.
***
Alisson quase tinha se esquecido de Victor, com toda a história com
Aaron. Mas logo quando entrou na sala, esse acontecimento veio à tona.
Todos os dias, quando chegava, conversavam e trocavam ideias. Ele
ficava a poucos metros dela, em uma mesa repleta de fios e telas de
computadores, assim como a sua. E hoje estava em seu lugar habitual,
olhando-a como se estivesse brigado feio e ela fosse a culpada.
Culpar a bebida não justificativa sua atitude. Alisson poderia até
entender que gostava romanticamente dela, mas ter a agarrado à força foi
algo que odiou; ainda mais agora, que parece culpa-la ou ter raiva por
algum motivo.
Ela nunca quis tanto que um dia de trabalho acabasse logo. Gostava
do que fazia e se sentia feliz aqui, entretanto estava acuada hoje, culpando-
se pela situação.
Então ela resolveu se concentrar no que estava fazendo, processando
mais uma pilha de dados, colocando-a no servidor e a transferindo para um
lugar seguro na rede.
Estar sempre de olho nos monitores ajudava a saber o fluxo de
informações e contribui para a segurança. Estava contente porque sua ideia
estava dentro do sistema.
Demorou a notar que o fim da manhã tinha chegado. Só percebeu
quando olhou para os lados e não viu as pessoas que estariam trabalhando
se não fosse meio-dia. Os horários são diferentes para cada turma, e ela
ficou na primeira, de três funcionários, que sairia primeiro.
Aaron, assim como Cooper, tem amor pela pontualidade. Atrasada
cinco minutos, ela se levantou e se dirigiu até a porta. Dois dos seus colegas
estavam com seus fones de ouvidos, trabalhando, e seu superior estava
sentado à sua mesa, em uma superfície um pouco mais alta de onde
ficavam.
Quando saiu do local, sentiu seu estômago esfriar ao ouvir a voz de
Victor. Ela era naturalmente medrosa, mas a sensação que a tomou neste
momento, com ele a passos dela, foi outra coisa.
— O chefe? — Indagou num tom de deboche, aproximando-se ainda
mais. — Nunca imaginei que fosse este tipo de pessoa, Alisson.
— Que tipo de pessoa acha que sou, Victor? —Perguntou raivosa,
escondendo os seus medos embaixo de uma confiança que não tinha.
— Estive por quatro anos ao seu lado, dando flores a você e quase
implorando para que saísse comigo. Mas quando, finalmente, tive a
oportunidade de dizer que gosto de você, descobri que está com alguém de
alto nível. Sinceramente, achei que fosse diferente das outras que trabalham
nesta empresa.
Ela esperou ser julgada, mas não desse jeito, muito menos por Victor,
a quem ela considerava um irmão.
— Sabe, Victor? Eu o considerava alguém especial, um irmão mais
velho, e nunca te dei segundas intenções. Não aceitar seus convites não é
algo que devia ter sido visto como uma recusa, porque eu nem sabia como
você se sentia em relação a mim. — Encarou-o, sentindo a raiva aumentar
no seu sangue. — Com certeza iríamos conversar sobre isso e nos resolver.
No entanto, tomou uma atitude que não gostei, pois não me respeitou; e no
momento está me ofendendo, usando este tom e tais palavras.
— Claro, Alisson. Porque você é sensível demais para ouvir a
verdade. —Falou com ironia. — Aposto que o cara se diverte com sua
inocência. Só tenha em mente que não terá mais chance alguma comigo
quando ele te dispensar ao enjoar de você!
Suas palavras malvadas a chocaram e a deixaram mal; não por terem
sido só para a magoar, mas também porque, lá no fundo, seu medo era de
que Aaron me largue.
— Tome cuidado com o que fala à minha namorada, senhor Garcia!
— A voz grave de Aaron soou ao seu ouvido, causando-a um frio na barriga
misturado com adrenalina. Na última vez em que os três estiveram frente a
frente, ele estava quase enforcando Victor. — A pedido de Alisson, não
tomei providência em relação a você, mas agora acho que passou de todos
os limites.
— Aaron, por favor...
— Não, Alisson! Não podemos permitir que esse homem continue a
ofendendo ou a machucando de alguma forma. — Cortou-a. — Não
importa o que pensem. — Aaron andou até eles, encarando Victor, como se
fosse mata-lo. — Ninguém trata a minha mulher desse jeito. E não vou
permitir que continue aqui, agindo desse jeito.
O medo de Alisson era de que os dois brigasse. Isso seria muito ruim.
— Não se preocupe, senhor Spacter! Não estarei mais ligado à sua
empresa a partir de hoje.
Ela se surpreendeu com sua atitude. Ele está se demitindo?
— Fico feliz. — Disse Aaron friamente.
Ele a pegou pela mão e, praticamente, arrastou-a até o elevador. As
portas se fecham quando ela ainda encarava Victor, surpresa.
— Desculpe-me pelo atraso! — Tentou voltar a ser a Alisson de
antes. — Eu não sabia que Victor seria tão...
— Babaca? — Completou.
— Espero que isso acabe logo; não só com ele, mas com todos. —
Reclamou com ela mesma. — Não quero temer ser vista com você nos
corredores ou ser abordada para ouvir ofensas como aquela.
— Seja quem for, Alisson, terá que lidar comigo. — Alertou
firmemente, arrumando sua gravata, que estava um pouco frouxa.
— Aaron, não fale desse jeito! — Olhou com o cenho franzido.
Ele a encarou, sem saber do que, exatamente, ela estava falando.
— As pessoas já acham que você é um tirano. Se tomar partido
sempre, com rispidez e grosseria, vão odiá-lo ainda mais.
O sorriso no canto de sua boca a deixou orgulhosa. Querendo ou não,
bravo ou pervertido, o homem era lindo.
***
Estando com Aaron vinha junto o combo “nervosismo”, “vergonha”
e “frio na barriga”. E ela estava com os três neste exato momento.
O vestido amarelo-claro e solto, com tiras nas costas, não a deixava
vulgar; no máximo, uma jovem recatada. Só que não importava. Alisson
estava nervosa com o fato de pisar no mármore branco que tinha na casa
dos pais dele.
Ele disse: “É um jantar formal. Não tem com o que se preocupar”.
Então, Mia a fez colocar um vestido bonito que comprou em uma grife que
ela não sabia o nome, e ele bateu na sua porta com o terno mais lindo e
polido que ela já o viu usando.
A mansão era uma das mais lindas do condomínio de luxo que ela
nem sabia da existência até agora. Já chegando no local, foram as grades
douradas, com um arabesco lindo, um caminho de pedra, como era em
filmes de gente rica, e um jardim perfeito, muito bem cuidado. A porta de
madeira branca a deixou babando.
Foram recepcionados por um mordomo. Aaron colocou uma mão nas
suas costas, guiando-a para dentro e a perturbando com o calor que ele
emanava.
Alisson pensou que não ia aguentar até o fim da noite.
— Oi, querida. — Cumprimentou a simpática senhora, mãe de
Aaron, ao a abraçá-la. Ela estava deslumbrante. — Estávamos ansiosos para
rever você. Robert não está cem por centro, mas exigiu que a convidasse
para um jantar.
Como foi na outra vez, sorriu, disfarçando o nervosismo, e tentou
formular uma frase que não fosse constrangedora.
— Estou feliz por estar aqui. — Afirmou com calma e consistência.
O senhor Robert era um homem lindo, assim como o filho. Ao pensar
que, no futuro, ele ficaria como o pai, com os cabelos grisalhos e um
charme natural, a deixava ainda mais quente.
— Você disse que seria um jantar simples. Por que parece que todos
vão a uma festa? — Sussurrou para o seu namorado.
Ele deu um leve sorriso.
— Para os meus pais, sempre é uma festa. Estes são os trajes que eles
usam normalmente.
Agradeço por ele ter a respondido no mesmo tom que ela usou.
— Quer dizer que vou ter que usar roupas chiques até em casa? —
Perguntou surpresa, olhando-o com dúvida. — Se alguém nos ver, vão
pensar que sou sua empregada ou uma sem-teto para quem está fazendo
caridade.
Sua gargalhada a deixou nervosa e constrangida, principalmente
quando seus pais olharam surpresos e sorriram como se não tivessem visto
nada demais. Na sua cabeça, pensava que estavam rindo dela.
— Você é a melhor, Alisson. — Ele disse, mas não em um sussurro
dessa vez.
— Não me mate de vergonha, Aaron! — Reclamou, disfarçando ao
mesmo tempo.
— Eu já tinha gostado de você, mas agora estou amando. — Falou o
pai dele, anda com certa dificuldade e estava recebendo a ajuda da esposa.
— Não são muitas mulheres que Aaron nos apresentou; ainda mais uma que
me fez tão feliz. — Beijou a sua mão.
Ela o acho fofo, entretanto suas bochechas ardem e pode sentir o
constrangimento estampado em sua cara.
Conversar sobre vastos assuntos não fazia o seu estilo, mas a mãe de
Aaron era mais parecida com Alisson do que a própria imaginou.
Os quatro conversaram sobre muitas coisas. Seu namorado contou
aos pais como a conheceu e, consequentemente, que era uma engenheira na
TEC Corporation. Eles não acharam estranho, nem nada, a nossa história.
Foram pessoas legais.
Aos poucos ela perdeu a timidez. Contou como estava sendo a gestão
e nessa parte, a cabecinha nervosa dela, imaginou que, ao olhar deles, ela
estava acelerando muito as coisas. Na realidade, na visão de qualquer um,
porém, se os dois estavam felizes, era o que importava.
O cardápio era como imaginou que seria: nomes difíceis e coisas que
nunca comeu na vida. Geralmente, comia muita besteira, já que odiava
cozinhar.
Alisson estava mais relaxada do que esperava. Ouvir como os pais de
Aaron se apaixonaram, a fez se sentir feliz. E depois do que Mary falou, de
como foi quando Robert sofreu o acidente, sentiu o quanto eles se amavam.
Ela esperava que tivesse o mesmo com Aaron.
A noite terminou com um gosto de “quero mais”. Era engraçado, pois
no início ela queria se enfiar em um buraco para não ir a esse jantar.
— Eu disse que não seria um bicho de sete cabeças. — Aaron dirigiu
de volta à sua casa.
— Não falei que seria.
O bom de estar com ele era: seja em qualquer situação ou briga,
sempre vamos acabar rindo e fazendo as pazes. Era como estar namorando
um amigo com quem não tinha medo de brincar ou de dizer alguma coisa.
CAPÍTULO 22
Alisson
Dois meses depois
Se alguém dissesse a Alisson, há meses atrás, que ela estaria usando
um vestido de noiva, prestes a se casar com o seu chefe hoje, ela diria que
era uma piada de mal gosto. Mas lá estava ela, em frente a um espelho
enorme, completamente de branco e segurando um buquê. Daqui a meia
hora estaria entrando em uma igreja.
Ela não esperava pelo pedido. Pensou que mesmo estando grávida
dele, poderia permanecer com o status namorado. Alisson não era daquelas
que pensavam em ter uma família ou casar só porque estava esperando um
bebê. Ela não parava de sorrir, naquele momento, e nem pensou duas vezes
antes de aceitar. Já estava na hora da menina tímida e medrosa se aposentar.
Em alguns meses, muitas coisas aconteceram. Conheceu o homem da
sua vida, teve seu projeto implementado na empresa onde trabalhava,
descobriu que estava grávida, finalmente conversou com sua mãe e
colocamos todas as mágoas para fora.
Aaron sempre a apoiava e gostava de ouvir sobre coisas que ele não
entendia. Ainda falava que ela seria a pessoa que o ajudaria a nunca mais
ser roubado. Até o momento, não sofreram mais com roubos ou
paralisações no sistema.
O projeto de Alisson vinha crescendo, aos poucos. Ela tinha a chave
que guardava a sua maior relíquia e com ela, tudo estava seguro.
Os pais de Aaron saíram em uma nova lua de mel e hoje estavam de
volta, para o casamento.
Ela estava orgulhosa de si mesma por tomar decisões cruciais sem ter
medo de errar.
Aaron mudou a sua vida para melhor e ela gostava de pensar que
também fez o mesmo com ele.
— Você está linda. — Mia a elogiou com lágrimas nos olhos.
Alisson olhou para a sua amiga e ela estava linda com aquela barriga
crescendo, igual a sua. Ainda não era muito perceptível a de Alisson, além
do mais, o vestido que a amiga escolheu, com muitos tecidos soltou, sem
destacar a barriga, ajudava a disfarçar. Porém, Alisson não se importava
com isso. Na verdade, passou a conversar com seu bebê, agradecendo por
nunca mais ter que ficar só.
— É. Mas estou ansiosa. Quando vamos para a igreja? — Perguntou
impaciente. — Já estou começando a sentir o mesmo que sentia antes de
conhecer Aaron, e não quero ser aquela mulher de novo.
— Relaxe, Alisson! Aaron já é seu. Vocês só vão oficializar as
coisas. — Falou com naturalidade. — Aproveite o momento!
Aproveitar.
Ela estava se controlando, mas sabia que assim que entrasse pela
porta da igreja, desejaria sair de lá correndo.
Ela não sabia que era tão festivo e trabalhoso se casar. Aaron
resolveu tudo, em um estalar de dedos. Ele até quase escolheu o vestido da
noiva.
Voltando a se olhar no espelho, lembrou-se do dia em que ele a pediu
em casamento. Primeiro, estava estranho, suando frio e claramente nervoso.
Ela achou que ele terminaria tudo.
Estavam bem, felizes e transando pela casa nova, mas, do nada, ele se
fechou, ficou pensativo e a deixou uma pilha de nervos.
Alisson já estava planejando um roteiro quando ele organizou o
jantar.
Pensou consigo mesma: “Você não vai chorar! Apesar de amá-lo,
não pode chorar. Ele vai ficar emotivo e isso só vai piorar as coisas.”
Suas mãos suavam, seu estômago ia mal e nem podia tomar um
vinho, por causa do bebê. O pior foi que ela achou toda a sua dedicação em
organizar o ambiente, de mal gosto. Se era para terminar, que fosse rápido e
sem dor.
Mas, então, ele se embolou na hora. Ela estava quase terminando em
seu lugar. E quando o viu pegar a caixinha, ajoelhar-se e fazer a pergunta,
seu instinto foi bater nele. Foi sonoro, rápido e deixou sua pele vermelha.
Quando ele a olhou, ela estava quase se debulhando em lágrimas.
Ainda disse: “Porra, Aaron! Você quase me matou. Achei que fosse
terminar comigo. ”
Nesse instante, ele riu, levantou-se do chão e a abraçou, ainda
sorrindo.
Bem... ela aceitou o pedido depois de vê-lo a fazer a proposta mais
uma vez, já que tinha esquecido de respondê-lo.
— Está na hora. — Disse a sua mãe, que está com lágrimas nos
olhos. Enquanto ela revirou os meus.
— Todas vocês vão chorar no meu casamento? — Questionou sem
ser rude, mas sendo dramática.
— No meu caso, estou chorando de alegria e surpresa, pois nunca
imaginei que minha amiga fosse se casar um dia, sendo tão estranha. —
Mia chorava e limpa seu pranto com um lenço. — Isso é porque estou
sensível ultimamente. Você está linda neste vestido.
— Ok, Mia. Entendi. — Suspirou.
— Vamos, amor! Ou vai se atrasar mais do que o normal.
***
Ela sabia que o seu noivo era o cara mais lindo que poderia existir.
Mas, com aquela roupa, esperando no altar… Alisson não podia imaginar
que ele pudesse ficar duas vezes mais gato.
Ela não queria se concentrar nas pessoas a olhando como se ela fosse
uma estranha dando passos curtos para fazer uma cena na entrada da igreja.
Somente se prendeu a ele, que sorria para ela, sabendo exatamente como ela
estava se sentindo.
Alisson começou a ficar emotiva. Ela prometeu a si mesma que não
ficaria, mas lá estava ela, tentando controlar as emoções. Caso deixasse
uma lágrima cair, culparia o bebê.
Deveria ser um ritual comum de casamento, e ela já tinha dito várias
vezes para Aaron o quanto achou ridículo tudo isso, mas foi pega pela
emoção.
Ao seu lado estava sua mãe e Mia, perto do altar. Sua amiga era a
madrinha de casamento.
Nunca estive mais feliz.
Quando, finalmente, estavam cara a cara, não conseguiu disfarçar o
sorriso de satisfação, alívio e felicidade.
— Eu não o escolhi, mas ficou linda neste vestido. — Deu um sorriso
de orelha a orelha.
— Não seja exibido! — Reclamou.
Ela respirou fundo e os dois ficaram frente a frente com o padre que
conduziria a cerimônia. Alisson não prestou muita atenção no que ele dizia,
somente se manteve de mãos dadas com seu quase marido, repassando nas
lembranças todos os momentos constrangedores, engraçados e românticos,
pensando no quanto era sortuda e grata.
Alisson foi pega de surpresa quando o padre começou as perguntas.
Seu noivo sorriu, repetiu o que ele falou e apertou suas mãos com carinho,
só para saber se o que estamos vivendo era real ou não. Ela também não
acreditava, pois era surreal o que tinha passado até ali.
Depois dela responder “sim”, foi a vez dele. Já nos votos, ela se
emocionou mais do que esperava. Aaron sabia onde tocar para a deixar
sensível.
O beijo fechou com chave de ouro a cerimônia. Ela estava feliz
porque não precisava mais estar na frente de todos, sendo o centro das
atenções.
— Agora sou todinho seu, senhora Spacter. — Aaron falou ao seu
ouvido, a causando arrepios e um sorriso no rosto. — Acho que vou pedir
para pularmos para a lua de mel.
— Quando vai deixar de ser tão pervertido? Estamos em uma igreja.
— Sussurrou constrangida.
— “Multiplicai-vos! ” Está na bíblia, Alisson.
— Não sei se lembra — ela sussurrou — Já pulamos para essa parte.
— Tocou na barriga, o fazendo tocar também.
Os olhos de Aaron brilhavam ao notar que seu filho ou filha, crescia
dentro da barriga da mulher que amava.
— Não faz ideia do quão feliz estou.
— Sabe que quase me matou quando inventou de fazer essa surpresa.
— Eu morria junto. — Beijou seu rosto. — Desculpa, eu me
empolguei.
— É, eu sei.
— Estou ansioso para o ver nascer.
CAPÍTULO 23
Aaron
Semanas depois
Assim como Alisson, Aaron não imaginou que estaria casado e
prestes a ser pai, meses atrás.
Claro que os anos de vida devassa poderia ter o rendido tal coisa,
mas ele sempre se cuidou, e perdeu totalmente o sentido, ao conhecer
Alisson.
Ele achava que não podia se sentir mais feliz do que já estava.
Alisson era seu porto seguro e sem ele, pensava que não conseguiria viver.
Agora, os dois estavam dentro de um consultório esperando o
ultrassom do seu bebê, que eles ainda não sabiam se seria menina ou
menino. Bem, no fundo do seu peito, Aaron torcia por um menino, não por
não gostar de garotas, mas por pensar que o mundo lhe jogaria um carma
nunca antes visto.
Aaron já foi conhecido por ser um cafajeste. Nunca repetiu uma
mulher em sua cama, antes de Alisson. Pensar que sua garotinha poderia ser
uma delas, no futuro, o enchia de medo.
Óbvio que ele não rejeitaria se fosse o caso, e nem diria nada disso a
sua esposa, só pensava que seria mais fácil cuidar de um garoto do que de
uma garota. Na verdade, assim que completasse seus quinze anos, ele iria
por guardas atrás dela, só para não ter que se preocupar com pervertidos,
como um dia ele já foi.
Alisson estava deitada, e eles esperavam uma imagem sair no
monitor. Bem, nenhum dos dois saberia identificar nada naquela tela,
porém, tentariam.
— Prontos para saber o sexo do bebê? — A mulher perguntou, tão
animada quanto ele.
— Sim! — Falou ele, quase pulando.
— Não repara na ansiedade do pai, ele quase não dormiu a noite. —
Alisson brincou, o fazendo a encarar. — Sei que quer um menino.
— Não é uma preferência. — Mentiu só para agradá-la.
— É sim. — Falou para a médica. — O motivo é bem simples. —
Alisson tinha o poder de entender Aaron sem ao menos ele dizer uma
palavra. — Me casei com o homem mais safado de Nova York e agora ele
teme que se for menina, os futuros homens vão atacar a nossa filha.
— Está lendo a minha mente? — Franziu o cenho, preocupado com a
precisão e segurança dela.
— Conheço um olhar preocupado e alma arrependida, amor. — A
médica devia estar achando tudo aquilo engraçado. — Não se preocupe.
— Há, não? — Levantou uma das sobrancelhas.
— Nenhuma filha minha cairá nos braços de um cafajeste.
Aaron riu, achando que realmente era possível. Afinal, Aaron se
rendeu aos encantos da nerd dos computadores.
— Desculpa, mas… o anel em seu dedo diz que até você se encantou
com o charme de um cafajeste.
— O anel em meu dedo significa que consegui o que nenhuma outra
conseguiu. — Ele pensou: essa mulher me dá medo. — Consertei o maior
cafajeste dessa cidade.
Ele riu, pois era verdade.
— Bem, papais, eu já tenho o resultado que estão esperando. — A
médica falou, trazendo de volta toda a atenção de Aaron. — É um menino.
Ele nem conseguiu disfarçar o alívio que sentiu, fazendo com que
Alisson revirasse os olhos.
— Dessa vez você escapou. — Ele riu novamente. — O trabalho vai
ser todo meu, já que tenho que educá-lo para ser um homem amoroso e
romântico.
— Quem disse que eu não posso ensinar isso ao meu filho? — Se
ofendeu.
— Eu não disse que não podia. — Levantou uma das sobrancelhas.
Aaron tentou ver no monitor o seu bebê, mas só conseguiu enxergar
um monte de borrão.
— Dá para ver se ele tem um bumbum protuberante? — Alisson
arregalou os olhos e a médica riu. — A mãe tem um certo amor pela minha
bunda, é provável que isso passe para o nosso filho.
— Aaron! — Ficou constrangida.
— É verdade.
— Até o momento ele tem um bumbum normal.
— Não liga para ele, sempre brinca com as coisas. — Alisson lhe
enviou uma mensagem silenciosa que dizia: vou matar você quando
chegarmos em casa.
***
Aaron estava destruído com os papéis que deveria revisar, quando um
dos seus seguranças adentrou o seu escritório.
Depois do ultrassom, os dois voltaram ao trabalho. Alisson insistia
em continuar trabalhando, como sempre fez, e não seria Aaron a impedir.
O homem estava sério, era só um segurança da empresa que cuidava
de toda a proteção do lugar, contudo, naquele momento o homem estava
estranho.
Aaron não recebia esse tipo de visita sem um bom motivo, além do
mais, coisas assim não precisavam de sua permissão ou avaliação, por isso,
Aaron achou estranho, encostando-se na cadeira.
— Desculpe, interrompê-lo, senhor Spacter, mas recebemos essas…
imagens, e… é preocupante.
Aaron imediatamente se assustou.
— Que imagens? — O homem alto lhe entregou o envelope, que
rapidamente foi aberto. Aaron, inicialmente, não entendeu, mas olhando e
pensando devagar, percebeu o que estava acontecendo. Ali estava fotos dele
e de Alisson, em muitos momentos e lugares. Aaron sentiu seu coração
afundar no peito. — Quem enviou isso?
— Não teve remetente. — Explicou. — Na verdade, se prestar
atenção a última foto, verá um recado.
Desesperado, Aaron buscou pela imagem e novamente se assustou.
"É só um aviso. Estamos de olho em vocês"
Ele precisou de um tempo para se acalmar, mas não conseguiu no
final das contas. Alguém estava os observando. Seguindo e ameaçando.
Aaron não podia acreditar nisso.
— Quero que aumente a segurança. — Disse ao se levantar,
amedrontado.
— Já estou fazendo isso. — Revelou.
— Ficará responsável pela minha segurança particular. — Ele mal
conseguia pensar direito. — Vai pôr os melhores homens nosso. Nada pode
acontecer com a minha esposa, ouviu. Faça o impossível, para proteger ela
e meu filho.
— Sim, senhor.
— Chame a polícia. — Aaron olhou as horas. A esse momento
Alisson ainda estava em sua sala. — Não quero deixar nada passar.
O segurança saiu da sala, deixando Aaron nervoso. Ele pegou todas
as fotos, pôs de volta no envelope e saiu dali, o mais rápido que pode.
— Já está de saída, senhor. — Milla quase corria atrás dele.
— Sim, tenho que pegar a Alisson e ir para casa. — Respondeu,
nervoso.
Milla não entendeu nada, mas não questionou. Ele esperou o elevador
descer no andar em que Alisson trabalhava, saiu de lá, apressado e quase
correu até ela.
Todo aquele setor foi reformado, a sala de vigilância era bem segura,
entretanto, Aaron sentiu como se nada ali o deixasse mais tranquilo.
Cooper o viu chegando e achou estranho, mesmo sabendo que ali
trabalhava a esposa do chefe.
— Algum problema…
— Onde está Alisson? — Aaron varreu o lugar e não a encontrou.
Sentiu como se seu coração tivesse parado. — Cooper, onde ela está? —
Perguntou mais uma vez, dessa vez, furioso, dizendo cada palavra entre os
dentes.
O homem, baixinho, engoliu em seco, suando.
— Saiu para…
— Aaron! — A voz dela soou em seus ouvidos o tranquilizando. O
rosto dela estava confuso e chateado, por achar que ali, parado em sua
frente, estava o Aaron arrogante. — O que está fazendo aqui?
Ele foi até ela, a abraçando forte. Aos poucos conseguiu respirar
direito, sua mente esfriou.
— Temos que voltar para casa. — Finalmente disse algo.
— O que houve? — Ela olhou em seus olhos e viu o pânico. — O
que aconteceu, Aaron.
— Amor, vamos para casa agora.
Alisson era do tipo que brigava ou fazia muita pergunta, antes de
fazer o que ele queria, quando achava que deveria, mas ali, olhando em seus
olhos, ela achou melhor ir sem questionar.
CAPÍTULO 24
Alisson
Aquelas fotos mexeram com os dois, mas desde então, com a
segurança redobrada, não houve mais contato ou fotos. Alisson não
conseguiu ficar quieta. Aaron também não, mas ela tentou disfarçar, pois o
marido já estava uma pilha de nervos.
Nos meses restantes, ele voltou a ser o velho bundão arrogante,
porém, quando percebia, ou quando via em seu olhar o julgamento, pedia
perdão e seguia em frente.
Alisson decidiu trabalhar mais em casa, só que não parava de pensar
no que viu nas fotos, em quem seria, e inúmeras possibilidades se passaram
em sua cabeça. Os Spacter eram ricos, conhecidos e cuidavam de dados
importantes. Isso era um prato cheio para golpistas interessados em achar
algum ponto fraco.
Alisson então, sem dizer nada, começou a se precaver, antes que o
bebê nascesse. Ela não ficaria em paz, pois ficaria a todo o momento
preocupada com a sua segurança.
A sala de vigilância que ela montou, em um dos vários quartos
daquela enorme casa que Aaron havia comprado, dava para ver tudo
naquele lugar. O lado de fora era totalmente equipado e vivia sincronizado
com a segurança. Caso algo ruim estivesse por vir, todos saberiam e
poderiam evitar.
Pelo menos, era na teoria.
Quando Ian nasceu, ela sentiu em seu peito um amor fora da
realidade. Claro que amava o marido, isso já era uma novidade, e antes dele
nascer, Alisson se preocupava se conseguiria ser como as mães comuns, que
eram clichês, amava tirar fotos fofas, falar sobre suas descobertas em
relação a crianças, contudo, assim que começaram as contratações, seu
coração foi a boca, ela suou frio, não pelo parto, mas por saber que em
poucas horas seu pequeno estaria em seus braços.
Aaron ficou bem mais preocupado que ela. Ele andava de um lado
para o outro, tentando pensar, achar algo que nem ele sabia o que era, então,
Alisson gritou: "Aaron! Relaxa e me ajuda a entrar no carro."
Ele correu em sua direção, e ela riu por saber que não seria ele quem
colocaria o bebê para fora.
Ian nasceu muito bem, acolhido por todos da família, que os
visitaram no hospital. Aaron não conseguiria parar de encarar o filho, como
se ainda não acreditasse no que estava vendo.
Ele se tornou um pai babão que não deixava os dois sozinhos em
casa. Aaron sentiu como se estivesse completo.
Agora, com quatro meses, Alisson estava subindo pelas paredes e se
surpreendia com a falta de interesse sexual do marido.
Depois do banho, ela achou que o encontraria na cama. Ian
finalmente dormiu, ela estava um pouco insegura com o corpo, achando que
era isso que tinha esfriado a relação.
Quando não o viu, saiu à sua procura, já com o discurso pronto.
Então, ao se aproximar do quarto do bebê, o achou, sentado na poltrona,
com Ian em seus braços, contando uma história.
— Sabe, o papai vai ter que ensinar a você a como encontrar o amor
da sua vida. — Ela chegou calada, distante o bastante para não ser
percebida, encostou-se na parede e o ouviu. — Vai ser difícil. Pode
demorar, mas não desista. Conheci sua mãe assim: ela era minúscula, eu
nem a enxerguei. Foi o destino que me colocou uma garota teimosa e
vingativa em meu caminho. — Alisson ria ao se lembrar. — Dica número
um: se for esbarrar em uma baixinha nerd, tenha um celular no bolso. —
Ela teve que conter o sorriso. — Se não fosse por ele, você não estaria aqui
agora. Eu seria um idiota, ainda, as pessoas me odiariam. — Alisson pensou
em como estaria se não tivesse pego aquele celular. Talvez, estivesse em
casa, com uma roupa largada, assistindo TV. — Conselho número dois: se a
nerd te mandar mensagem, responda. Ela será o amor da sua vida, então se
esforce para ser engraçado ou, no mínimo, sedutor.
Quando não ouviu mais a sua voz, esticou-se para olhar o que ele
estava fazendo. Aaron colocou Ian no berço, alisou seu rostinho e o deixou
dormir. Ela se escondeu novamente, e quando passou por ela, viu que era a
oportunidade de pegá-lo.
— Bela história de ninar. — Aaron não se assustou, mas ficou
surpreso. Ele varreu seu corpo por inteiro e abriu um largo sorriso sedutor.
— Você está sexy na camisa branca. — Ela saiu da onde estava,
passou seus braços sobre seu pescoço e o beijou. Aaron a agarrou com
força, retribuindo no mesmo instante. — Alisson — Aaron encarou seus
olhos verdes e deu um leve sorriso. — Ian dormiu.
— É, depois da conversa que tiveram, ele ficou um pouco cansado.
— Alisson, ele dormiu. — No fundo do seu olhar estava a mensagem
que ela tanto queria ouvir. — Está na hora dos papais brincarem na cama.
— Disse ao pegá-la pelo braço.
***
Um barulho acordou Alisson, no meio da madrugada. Ela, primeiro,
se sentou na cama, passou a mão nos cabelos e achou estranho. Então,
novamente o barulho. Não foi um sonho. Seu coração se apertou. Ela olhou
para o equipamento que monitorava o bebê e logo se levantou, acendendo
um abajur.
— Aaron! — O chamou, baixo, mas ele não ouviu. — Aaron, acorde.
— Dessa vez, Alisson usou as mãos, desesperada, tentando não fazer
barulho. Aaron então acordou, estava confuso e demorou a entender. —
Tem alguma coisa errada. Vou buscar o Ian.
Então saiu. O quarto do bebê não era longe, ela não suportaria estar
tão distante do seu filho. Ao entrar em seu quarto, ouviu vozes do lado de
fora, então olhou pela janela e viu homens de preto, estava arrastando um
dos seguranças da família.
Ali ela se desesperou. Pegou o filho no colo e correu de volta para o
quarto.
— Alisson…
— Aaron, estão invadindo a casa. — Disse desesperada. O homem
tentou entender, porém, confuso, franziu o cenho. — Acorda, tem pessoas
ao redor da casa. Derrubaram um dos seguranças.
— O que!? — Então ele também ficou desesperado. — Ali,
Alisson… fica aqui…
— Não, você não vai sair daqui. — Agarrou seu braço. A esse
momento, Ian já estava choramingando. Haviam atrapalhado o seu sonho.
— Temos que chamar a polícia.
Então as vozes ficaram mais altas, no outro andar. Viram que luzes
foram acesas e tinha alguém subindo as escadas.
Alisson tentou ser mais rápido. No quarto, tinha um botão de alerta.
Ela correu e o apertou. Nesse momento os outros seguranças foram
alertados, e a polícia também foi chamada.
— Amor, você tem que sair daqui. — Aaron não sabia o que fazer.
Pensou em abrir a janela, mas não tinha como sair por ela. Aí, um dos
encapuzados entrou no quarto.
— Olá, família Spacter. — Disse o estranho, a sua voz estava
distorcida pela máscara. Alisson ficou paralisada, com seu filho nos braços,
que estava inquieto e chorando. Aaron correu até eles, tentando os proteger.
— É bom revê-los.
Nos rever?
Alisson começou a pensar. Porque diria isso, quem seria?
— Quem é você, e o que quer? — Aaron perguntou, furioso. Alisson
o segurou, com medo de que fizesse algo.
Outros dois apareceram, todos encapuzados e com armas, os fazendo
sair do quarto, devagar. Ian não parava de chorar, talvez sentindo a
instabilidade. Alisson estava a ponto de chorar. Jamais imaginou que algo
assim pudesse acontecer. Aaron estava nervoso, irritado e com medo de que
machucassem a sua família.
Todos desceram para sala, eles não se separaram, e Alisson ainda
pensava em quem poderia ser aquele homem.
— Agora que estamos aqui, vamos dizer o que queremos. — Um
deles disse. Estava difícil para ela respirar. Seus nervos tremiam, ela sentia
que um deles não parava de encara-la. — Não estaríamos aqui, se não fosse
pela barreira que montou no sistema da TEC Corporation. — Então é isso
que querem! Ela pensou. Aaron estava se sentindo um merda por não ter
previsto isso. — Quero que libere o acesso.
Com a implementação no sistema, ficava mais difícil invadi-lo.
Quando entravam no sistema, sem permissão, os invasores eram levados
para um tipo de labirinto virtual e quebrando o contato.
Alisson criou tudo isso. Trabalhou duro, durante a gravidez, e... agora
estava vendo isso se voltar contra ela.
— Quanto vocês querem? — Aaron foi direto. — Digam a quantia.
— Quero que liberem o acesso. - Reforçou o homem.
Alisson já imaginava que o centro da história não era um valor dado
por eles. Alguém queria informações.
Ela sabia que informações valiam como ouro, no mundo corporativo.
Por isso, teve tanto trabalho nos últimos meses.
— Não será mais fácil se livrar tendo o dinheiro em mãos? — Ele
perguntou. Aaron não estava entendendo as coisas como ela estava.
Então, o mais alto dos quartos, se irritou, tirou a máscara e se
revelou. Alisson arregalou os olhos. Não podia acreditar. Victor!
Aaron também estava surpreso, mesmo sabendo do caráter duvidoso.
— Você! — Se pudesse, Aaron iria com tudo para cima dele, porém,
Victor estava com o orgulho machucado, seus olhos estavam vermelhos de
tanta raiva. — Desgraçado.
Victor estava completamente diferente da última vez que se viram.
Sua barba estava maior, seu cabelo bagunçado, e até sua personalidade não
era a mesma.
Ele estava todo de preto, assim como os outros, só que diferente
deles, o homem, que antes era seu amigo, estava desnorteado, segurando
uma arma nas mãos e a apontando para o casal.
Ian, inquieto, chorava nos seus braços. Alisson sentiu seu coração
pequeno. Ao olhar no fundo dos olhos dele, viu que o ódio dele poderia
machucar seu bem maior: a sua família.
— Achou que se livraria de mim, tão fácil? — Alisson não disse uma
palavra. Viu nos olhos dele que planejava algo ruim.
— Porra, Victor, não foi isso que planejamos. — O outro se irritou.
Os colegas, ficaram furiosos com ele. Parecia que o plano estava
saindo dos trilhos. Alisson rezava para que todos, do lado de fora,
estivessem prontos para ajuda-los a sair daquela situação.
— Fiquei quieto. — Parecia que estava fazendo tudo por conta
própria agora. — Terá o que prometi, mas eu terei a minha vingança.
Vingança! Aaron sempre teve razão. Victor estava com o orgulho
ferido.
— Que porra de vingança. — Os Spacter só assistiam a briga,
enquanto os quatro se desentendiam. Alisson olhou as horas, pensou que a
segurança já estava por perto. Só que a presença de Victor mudava um
pouco as coisas. Ele não veio roubar nada. Era a peça que se encaixava. Ele
os vigiou todo esse tempo e não porque queria os roubar. Victor estava
louco e talvez culpasse eles por ter estragado a sua carreira. — Vamos pegar
o que planejamos e sair.
Ele, indo contra tudo, levantou a arma e a apontou para Aaron, que
estava na frente.
— Deus, não. — Ela se assustou, assustando o filho em seu colo. —
Por favor. Não precisa disso.
— Libera a porra do acesso! — Quase berrou, fazendo Alisson
tremer.
— Seu desgraçado — Aaron estava com medo, mas não por ele e sim
por sua família. — Darei o que quer, contudo, deixaria a minha esposa e
filho, em paz.
O idiota não respondeu, só continuou a encarando nos olhos e
sorrindo.
— Aaron, fica com o Ian. — Ela pediu.
Ele não gostou do que ouviu. Aaron olhou para Alisson e perguntou,
só com o olhar, se ela estava ficando louca. Preferia que fosse ele, o que se
arriscaria.
— Posso fazer isso por você. — Argumentou.
— Não, não vai saber, tem que ser eu. — Ela olhou em seus olhos e
reafirmou o que disse, pois não queria insistir. Aaron pegou o filho nos
braços, temia que o pior acontecesse. Estava desesperado. — O que querem
que eu faça? — Se pôs à disposição.
— Queremos algo específico. — Um deles respondeu e ela sentiu as
instruções.
Seu corpo arrepiou todo. Por sorte pôs outra roupa e não estava tão
exposta. Alisson só queria que tudo aquilo terminasse logo.
Ela sentou-se em frente ao seu computador, onde trabalhava, e
nenhum dos homens teve o cuidado de vigiar o que ela faria, achando que
Alisson fosse uma boba. Um grande erro!
O que estava em jogo, ali, não era milhares de dólares, mas sim a sua
família. Alisson poderia não ser a melhor do mundo, contudo, faria de tudo
para que seu filho e marido, estivessem seguros.
Ao mesmo tempo que fazia o que pediram, Alisson tentava se
comunicar com alguém de fora. Seu escritório era enorme e era ali onde ela
monitorava todo, inclusive o sistema da TEC Corporation. Começou a
compartilhar, com a segurança, o que estava acontecendo dentro da casa.
Alisson só se preocupava com uma coisa: Victor. Ele era um dos
cabeças. Eram quem deu a informação de tudo, e aquele que tinha motivos
para se vingar. Ela até pensou se da primeira vez, não tinha sido ele o
culpado da invasão.
Ela sentiu seu coração pequeno ao sair de perto do marido e do filho.
Não pode prever o que estava por vir. Nada do que fez, impediu que
entrassem na casa e roubassem a sua liberdade.
Ela viu quando o desgraçado se aproximou. Se existia alguém que
poderia descobrir o que ela fazia, era ele. Então, fechou a aba, mesmo ainda
dando acesso a quem estava de fora, e terminou o serviço.
Ela os entregou o pen drive e achou que aquilo bastava. As
informações valiam muito. Derrubaria uma empresa. Seja lá para quem for,
essa pessoa conseguiria o que quer.
Alisson se levantou, saiu do escritório, acompanhado pelos
mascarados e Victor, e voltou para onde Aaron estava. Então, tudo saiu dos
planos.
Victor a segurou com força, com arma em punho, enquanto os outros
se surpreenderam.
— Saiam pelos fundos, como planejado. — Ele disse, agarrando a
mulher, que estava entrando em pânico. Alisson olhou para Aaron, que
estava apavorado. Ela dizia com o olhar: não faça nada.
— Não! — Foi o que conseguiu dizer.
— Victor, solta ela. — Aaron tentou se aproximar, mas teve a arma
apontada para a sua cabeça.
— Não, por favor, não machuque ele. — Ela pediu, sentindo seus
olhos cheios de água.
Aaron ficou em pânico, sem saber o que fazer. Estava com o filho,
sua esposa, presa por um dos idiotas que invadiram a sua casa. Ele temia
que o babaca a machucasse.
— Se quer machucar alguém, machuque a mim. — Pediu
desesperado. — Quer se vingar? Faça comigo, mas deixe ela em paz.
Os dois estavam desesperados, com medo. O filho chorava e os
capangas ainda permaneceram por perto.
— Esqueça essa merda de vingança. — Pediu um deles. — Se os
matar, não vamos conseguir a porra do dinheiro. Vamos embora.
— Eu já disse para ir sem mim. — Alisson não sabia o que ele faria.
Já tinha dado o que podia. Acreditava que Victor estava ficando louco.
— FAZ ESSA COISA CALAR A BOCA. — Alisson ficou com o
coração pequeno ou ver a arma apontada para o seu filho. Sentiu que
morreria, não conseguia pensar nem respirar.
— O que você quer de mim? — Se desesperou, chorando, enquanto
via seu marido e filho como alvo.
Os outros já não estavam mais ali, haviam fugido. Um burburinho do
lado de fora chamou a atenção de Victor que se virou para ver o que era e
foi atingido por um tiro bem na testa, caindo nos pés de Alisson, que gritou
com o susto.
Ela olhou para o corpo no chão e só conseguia chorar. Alisson correu
até seu marido, o abraçando forte, e dedilhando em lágrimas.
— Está tudo bem, passarinho. — Ele a abraçou forte. Aaron não
sabia se realmente estavam a salvo, mas ficou aliviado por ela estar ali. Ian
chorava, Aaron limpou as lágrimas do rosto dela e a beijou. — Estamos
bem agora.
A polícia entrou na casa, vasculhando todos os cantos. Nenhum dos
dois esqueceria aquele dia, nunca mais. Alisson não conseguiu parar de
tremer e chorar, mas sabia que estava tudo bem, com a polícia ao seu redor.
FIM
Depois do ocorrido, Alisson e Aaron tiraram férias do trabalho. Eles
nunca mais foram os mesmos. Ela ainda tinha pesadelos a noite, Aaron
ainda temia sair de casa, porém, para o pequeno Ian as coisas só duraram
uma única noite.
Com certeza não ficaram mais naquela casa. Eles preferiram arrumar
outra, bem distante, com muita segurança. Aaron levou Alisson para uma
longa viagem, tentando assim, fazê-la esquecer o que aconteceu. Só que se
nem ele conseguiu esse feito, quem dirá Alisson, que pensou muitas vezes
no que aconteceria se a polícia não tivesse chegado a tempo.
Os demais envolvidos foram achados, com o tempo, e os dados
roubados, nunca foram usados.
Toda a família se preocupou. Ninguém esperava por isso e a empresa
passou por uma varredura para que nenhum outro funcionário pudesse
tentar o mesmo.
Alisson assistia as ondas quebrarem na praia, enquanto Aaron e Ian
brincavam na área. Os três estavam próximos. Ela estava feliz.
Aaron encarou a esposa, sorrindo. O filho, quanto mais crescia, mais
se parecia com ele.
— Sabe o que andei pensando? — Ela sabia que viria uma piada ou
ideia pervertida, dessa pergunta.
— O que? — Esperou.
— Vamos ter uma menina dessa vez. — Alisson ficou surpresa, riu,
achando que ele estava viajando. — Não sabe o quão feliz estou. Amo ser
pai. Acho que é um trabalho gratificante.
— Gratificante!?
— Mesmo que eu corra o risco de perder os cabelos, quando ela
completar dezoito anos, quero ter uma garota, que se pareça com você.
Alisson não o respondeu de imediato. Ela se aproximou e beijou seu
rosto, sentiu seu perfume e depois olhou em seus olhos azuis.
— Tudo bem, bundão. — Ele sorriu. Fazia um tempo que não ouvia
essa palavra. — Eu te amo.
— Também amo você, passarinho.
Fim

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