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O Bebê Inesperado Do Bilionário Arrogante Box Filho Secreto
O Bebê Inesperado Do Bilionário Arrogante Box Filho Secreto
Sinopse
Ele é arrogante e precisa de um bebê herdeiro.
Ela é desastrada e tagarela e foi inseminada por engano.
Os dois se odeiam, vivem brigando, mas terão que se unir para criar
o bebê inesperado.
Beatriz sempre foi a menina certinha que sonhava em se casar com
o homem perfeito. No entanto, uma ida ao ginecologista mudou tudo. Duas
mulheres com o mesmo nome.
Uma troca de exames.
Três meses depois, um bebê na mulher errada.
Giovanni sempre quis ser pai, mas ao descobrir um câncer, seu
sonho foi adiado. Guardando seu material genético, ele achou que no fim
daquele pesadelo teria a família ideal. No entanto, foi traído pela esposa e
abandonado pelos amigos. A única coisa que lhe restou foram os bebês
guardados. Então, quando seu telefone toca e ele descobre que sua ex estava
estragando tudo novamente, simplesmente surta.
Sem esperança.
Sem filhos.
Até descobrir que um deles foi colocado em uma estranha por
engano. Eles se odeiam, mas todo esse ódio pode se transformar em paixão.
1
Você já se imaginou em uma situação que mais parecia uma cena de
filme ou série de TV?
Bem, eu estava em uma bem agora.
Era um verdadeiro absurdo, um pesadelo maluco que acontecia em
câmera lenta no qual eu não estava entendendo nada, mesmo que as pessoas
envolvidas falassem o meu idioma.
Tudo o que eu podia fazer era encarar o chefe da clínica de
fertilização me dizendo, com o rosto em pânico, que eu estava grávida de
um estranho.
Pior, esse mesmo cara, o qual só encontrei uma vez e já foi
desagradável, estava bem do meu lado.
Nesse momento, eu só pensei estar em um sonho maluco, no qual
deveria ser um pesadelo, mas que naquele momento até era cômico.
Giovanni Mancini era um belo homem, com seus trinta e oito anos,
cabelos lisos e loiros, tinha uma barba bem-feita e elegante, se vestia como
um verdadeiro príncipe, mas a arrogância era de um cavalo selvagem.
Confesso que, quando esbarrei nele, tudo o que pude pensar era que
achava que era um Deus grego, que por sorte me salvou de um tombo,
então… ele abriu a boca, falou grosserias e eu o chutei. Minha mãe sempre
me dizia: você é como um asno enfurecido, deve tomar cuidado, porque não
tenho dinheiro para advogados.
Jurei que nunca mais olharia no rosto do diabo, mas aqui estava ele,
ao meu lado, olhando para o médico, como se fosse sufocá-lo.
— Você está me dizendo — Se levantou da cadeira, ao lado. — Que
meu único filho está na barriga dessa destrambelhada?
— O que você disse? — Levantei com fogo nos olhos. Ele me
encarou, raivoso, com aquele azul intenso que tira o ar de qualquer mulher.
Eles estavam até vermelhos. — Destrambelhada? — Botei as mãos na
cintura, o encarando, sem medo. — Quer levar outro chute?
— Você, senta aí, depois conversamos. — Apontou para que eu
voltasse à cadeira.
— Você não manda em mim. — Meu ódio aumentava
gradativamente. Quanto mais o ouvia, mais o odiava.
— Mulher — Respirou fundo, tentando se acalmar. — Fique longe
das minhas bolas, sente-se na cadeira, e me deixe matar esse imbecil.
— Eu também quero enforcar ele. — Olhei para o baixinho, que
estava em pânico, atrás da mesa de vidro. — Vim fazer um exame de rotina
e vocês me… me colocam o DNA desse idiota?
— Juro que se meu bebê não estivesse dentro de você, eu a...
— Você o quê? — Afastei a cadeira, indo em sua direção. Eu queria
intimidá-lo. Provar que não sou como as outras, que o suportam calado.
Giovanni deu passos para trás, pensando que se livraria tão facilmente. Não
importa se ele tem quase o dobro da minha altura, ou que seus ombros
largos sejam uma parede ou que seu lindo rosto seja intimidador, quando
me olha com tanta raiva, esse babaca aprenderia que não sou uma qualquer.
— Primeiro, meu nome é Beatriz. Segundo, não me irrite com toda a sua
arrogância. Terceiro, serei eu quem vai dar as cartas, porque tem uma
criança na minha barriga que eu não queria.
— Eu não quero que seja a mãe, mas o que posso fazer?
Olhei para o pequeno, que engoliu em seco e disse:
— Você tem rios de dinheiro, processe essa clínica e saia da minha
frente.
Simplesmente deixei o arrogante para trás, saindo da sala,
totalmente transtornada. As lágrimas, que eu não sei de onde saíram,
rolavam sobre o meu rosto. Corri para pegar o elevador, e quando entrei,
Giovanni Mancini também entrou. Eu desejei sair dali, pois não aguentaria
ficar naquela lata de sardinha, com esse babaca, no entanto, as portas se
fecharam e não pude fugir.
O loiro ficou me encarando por um bom tempo, enquanto me
encolhi no fundo, limpando as lágrimas. Eu nunca fui de chorar por nada,
nem quando caí de bicicleta, mas tudo em mim estava mudando, desde
aquele dia fatídico.
— Desculpe. — O tom educado me surpreendeu. O cara de terno
pareceu desconfortável. Ele pigarrou e virou para o outro lado, ficando lado
a lado comigo. Não falei uma palavra, nem fiz som algum. — Essa situação
é inusitada, estou nervoso e preocupado. Jamais pensei que algo assim
pudesse acontecer, então… me perdoe.
— Não acho que precise de muito para que você seja arrogante e
um babaca. — murmurei.
Ele ouviu. Consegui ver que não gostou.
— Estou tentando ser gentil.
— Porque estou grávida de um filho seu, caso contrário, seria um
idiota. — Levantei o nariz. — Não que esteja sendo um príncipe.
— Mulher, eu não sei o que quer que eu faça!
— Fique longe.
— Impossível!
Cruzei os braços e o encarei.
— Não gosto de você.
— Também não morro de amores pelo senhor.
— Olha — Respirou fundo. — Sou arrogante, idiota, babaca e
muitas outras coisas, mas…
— Mas?
— Hoje em dia, sou infértil. — Isso me quebrou. Óbvio que um
homem que guardava sêmen em uma clínica de fertilização tem um porquê,
mas eu não pensava nisso naquele momento. Além disso, meu ódio por esse
homem me cegava. — Essa é a minha única oportunidade de ter um filho.
— Não consegui me manter firme. Apesar de teimosa, não sou um monstro.
— Não posso ficar longe, eu… vamos esquecer o que aconteceu, só…
vamos decidir com mais calma.
Três meses atrás
— É, ricaça, eu vou entrar aqui. ” — Sussurrei, com um sorriso no
rosto. Toda vez que venho para os exames de rotina nesta clínica, recebo
olhares de desprezo ou estranheza.
Claro que uma professora do primeiro grau não tinha dinheiro
suficiente para bancar uma consulta em um lugar como esse, mas ser amiga
de uma médica que trabalha neste lugar ajuda muito.
Eu não gosto de aceitar favorecimento como esse só porque é
minha amiga ou parente, no entanto, da última vez que fui no ginecologista
com meu plano, fui tratada tão mal que fui expulsa do consultório. Por quê?
Não levo desaforo para casa.
Então a Mila, uma das minhas melhores amigas, que trabalha neste
lugar chiquérrimo, me convidou e disse que seria totalmente grátis, não
pude recusar.
— Beatriz Miller. — Me sinto toda importante quando dou meu
nome na recepção.
— A doutora Goodner não está atendendo hoje, mas ela deixou
marcada para outra médica.
— Espera, Mila não vem? — Bati os saltos no piso de mármore,
pensando. — Droga! Sempre faço com ela.
— Não se preocupe, o doutor Jackson está esperando no terceiro
andar.
Tive que aceitar, pois não perderia esse dia. É apenas rotina, não vai
fazer mal. Subi pelo elevador, que dava para ver todos os andares, pelas
paredes de vidro.
Quando cheguei, dei passos para fora, indo até o balcão, dei meu
nome e esperei. Quase no mesmo instante meu nome foi chamado e isso me
alegrou.
— Está tudo pronto, senhora Miller.
— Miller. — Corrigi, mas não acho que ele ouviu direito.
— Pode começar com os preparativos, serei rápido.
O doutor nem me olhou no rosto, algo que não desgostei. Quanto
mais rápido for, menos constrangida fico. Na verdade, odeio ficar de pernas
abertas para um ginecologista homem. Sei que é algo profissional e tudo
mais, contudo, odeio.
Os homens com quem já saí nunca prestaram atenção no que eu
tinha entre as pernas, apenas usaram e foram embora. Hoje em dia, não
cometo mais esses erros, ficando na minha, sem esperar e nem ir atrás de
nada. Além disso, minha personalidade sempre estraga as coisas, então é
mais fácil.
Fui até o banheiro, me preparei e voltei para a sala, onde o médico
se preparava. Passei, calada, deitei e só esperei tudo acabar. Sempre fecho
os olhos e imagino que estou em outro universo, em um mundo onde não
estou exposta para um estranho.
Dessa vez as coisas estavam diferentes, achei estranho, pensei em
falar, porém, ele começou a falar.
— Como está se sentindo dessa vez?
Ótimo, conversar com o médico que está vendo a minha…
— Muito bem, obrigado. — Merda! Isso ficou estranho.
— Não se preocupe, dessa vez vai dar certo.
— Vai? — Franzi o cenho.
— Você é jovem e saudável, com certeza vai ficar bem, mas
recomendo que descanse, não se estresse, se alimente adequadamente.
O quê? O que esse homem está falando?
— Doutor, porque preciso descansar, o senhor está vendo algo…
— Para o procedimento dar certo, é melhor que descanse. Os
hormônios podem influenciar, vou receitar vitaminas.
Merda! Eu sabia que algum dia essa coisa… Deus, minha vó
morreu de câncer de útero, não posso acreditar.
— Doutor, devo me preocupar, fazer outros exames? — Minha voz
estava trêmula, quase desesperada.
— Não, não deve se preocupar. Isso é só um conselho a mais. Você
já deve saber.
Deus, vou matar esse homem.
— Certo, só descansar!
— Já terminei, fique um pouco nessa posição para aumentar as
chances de dar certo.
— Certo.
Eu nem notei todo o procedimento. Quando esse homem abriu a
boca e começou a dizer essas coisas, eu só me desesperei. Não posso negar
que continuo desesperada. Não confio nesse velho. Tenho que falar com a
Mila.
— Pode ir ao banheiro se arrumar, vou levar os materiais.
O barulho da porta me fez sair do lugar. Olhei em volta e tentei me
acalmar. Aquele lugar ficou pequeno para as minhas paranoias. Comecei a
duvidar da capacidade desse médico.
— Aposto que ele é um maluco. Um velho que já não sabe de nada.
— Peguei as roupas e comecei a me vestir. — Faço exames periódicos, caso
estivesse com algum problema, Mila me diria. — Parei e olhei no espelho
do banheiro. — É isso. Ele é um doido. Só encheu a minha cabeça de
paranoias.
Coloquei algumas mechas do meu cabelo para trás e sorri, tentando
me convencer disso. Saí da sala esperando nunca mais olhar no rosto
daquele homem. Eu o mataria, só por ter colocado essas coisas na minha
cabeça. Ao esperar o elevador, bati o salto no chão e ele chegou, fui
caminhar para dentro, esbarrei em uma perua alta.
Ela nem pediu desculpas, apenas ignorou a minha existência. Como
estava agitada, apenas fui embora.
Olhei o monitor, onde ficavam os números dos andares, pensando
que levaria horas até chegar no meu destino.
As portas se abriram, saí sem pensar em nada. Ao passar pela porta
giratória de vidro, outra vez, esbarrei em alguém.
Dessa vez, quase caí e beijei o chão. A pessoa me segurou com
força, impedindo que isso acontecesse.
Fiquei assustada, meu coração foi à boca e ao encarar seus olhos
azuis, senti que morri e fui para o céu.
O homem, que tinha o dobro do meu tamanho, ombros largos e uma
barba bem feita, sexy, me encarou de volta, surpreso, tão confuso quanto eu.
Apenas segurei forte em seus ombros, que com certeza eram bem definidos.
Senti que o ar havia sumido, a língua paralisou e não pensei em mais nada a
não ser em como aquele estranho era lindo, como um anjo.
— Você é maluca? — As palavras demoraram a chegar nos meus
ouvidos e levou alguns segundos até eu entender. O estranho ainda me
segurava, tipo aquelas cenas de filme, onde o casal está agarrado, um ao
outro, depois de um esbarrão. — Garota, olha para onde anda, ou vai se
desmanchar no chão, e isso seria humilhante.
O arrogante me soltou, depois que levantei. Olhei para ele, agora
com outros olhos, pensando que o esmagaria com as minhas mãos.
— Você entra na minha frente, como um idiota, esbarra em mim e
ainda me ofende? — Meu sangue começou a esquentar. — Seu babaca
arrogante, quem pensa que é?
— Giovanni Mancini. — Arrumou o terno, perfeitamente alinhado
ao seu belo corpo. — E foi você quem esbarrou em mim.
— Eu? — Fechei as mãos com tanta força que o sangue parou de
circular. Dei passos em sua direção, o fazendo recuar, algumas vezes. —
Acabei de ter uma consulta maluca, onde milhares de possibilidades
estranhas podem acontecer, uma siliconada, assim como você, esbarrou em
mim e não pediu desculpas, e como se não fosse suficiente, um playboy
arrogante aparece na minha frente, como uma avalanche, e sou eu a
culpada?
A voz alterada chamou a atenção das pessoas ao meu redor. O
arrogante estava me olhando com estranheza, com uma das sobrancelhas
levantada.
— Isso só comprova que é uma destrambelhada.
Sem pensar, chutei o covarde, que no mesmo instante, gemeu de
dor. Olhei para ele e refleti. Cometi um erro. Então, me desesperei e saí dali
o mais rápido possível, deixando-o na porta da clínica, como se nada tivesse
acontecido.
2
— Que nostalgia. — A voz grave foi irônica. Olhei para o playboy
e revirei os olhos. — Espero que não me chute outra vez, ou vou ter que te
processar.
— Giovanni, você não me conhece, mas sabe do que sou capaz,
então, por que ainda me provoca? — Falei com um falso sorriso no rosto.
— Vamos! — Ele pegou na minha mão, praticamente me
arrancando do lugar.
— Wow! — Parei, puxando o braço. O loiro me encarou,
impaciente. — Quem pensa que é para me puxar assim?
— Vamos ter essa conversa outra vez? — Ele se irritou. — Temos
que conversar. E não pretendo fazer isso aqui no meio da rua.
— Querido, se me puxar desse jeito outra vez, vou arrancar suas
bolas.
— Querida, se não me obedecer, vou colocá-la em meus ombros e
carregá-la até o carro.
Estávamos em uma batalha de provocações e olhares, em frente ao
prédio onde minha vida acabou de mudar para sempre. Algumas pessoas
notaram o clima tenso.
Meu coração começou a bater forte, as emoções à flor da pele
estavam me deixando nervosa e com vontade de chorar sem motivo
aparente.
— Não me chame de querida, pois não sou sua querida! —
Comecei a me abanar. — Segundo, não vou a lugar algum com você.
— Sim, você vai! — Os olhos azuis eram como uma tempestade no
mar aberto. — Meu filho está dentro de você. Como se não bastasse eu ter
um bebê com uma estranha, essa mulher é o meu pior pesadelo. Deus só
pode estar me punindo por tudo o que fiz de errado.
— Acha que estou feliz? — O desespero bateu. Não foi como eu
descobri, mas também foi ruim. — Eu odeio você. É uma pessoa
insuportável, arrogante e egocêntrica, meu bebê terá o DNA de um babaca.
Quanto mais me abanava, mais calor eu sentia. Giovanni me olhava
como se eu fosse a coisa mais bizarra que ele já viu.
— Certo, fiquei calma. — Dessa vez o arrogante diminuiu o tom
ríspido. — Você não pode ficar exaltada. Não se aborreça.
Do nada, uma crise de risos me bateu e logo se juntou ao desespero,
o que me levou a chorar como uma idiota.
— Como não quer que eu me aborreça se você é um idiota
arrogante? — Eu quis parar de chorar, mas foi o gatilho para me
desmanchar em lágrimas.
— Por favor, não chore, não sei o que fazer quando isso acontece.
— Porque você é um egoísta.
— Sou tudo de ruim, pelo que parece, mas não pode se alterar. — O
homem se aproximou, sem saber o que fazer. — Vamos... sair... desse lugar.
— Não quero ir com você. — Deus, por que não paro de chorar?
— Beatriz — Notei o quanto odiou falar o meu nome. Limpei as
lágrimas, respirando fundo, pois parecia que não iria ter fim. — Eu não
gosto de você, você me odeia, nós dois já sabemos disso, porém, vamos ter
um bebê e teremos que fazer isso juntos.
— Só pode ser punição divina. — Murmurei.
— Não podemos conversar no meio da rua, então... por favor, entre
no meu carro e vamos para um lugar onde podemos conversar.
— Você me irrita, não posso ficar ao seu lado, o bebê sente.
O loiro revirou os olhos e respirou fundo.
— Por favor!
Pensei e acertei. Querendo ou não, estamos no mesmo barco e não
posso ser tão dramática. Afinal, ele é o pai do bebê que eu não escolhi ter, e
aparentemente, o homem não pode ter mais filhos.
— Certo.
***
Diferente do dia anterior, Alisson acordou cedo e nem tomou café.
Depois do banho, colocou roupas que não eram muito chamativas, pois
nunca gostou de chamar a atenção para o seu corpo. Saiu na rua e andou até
o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, estava o celular.
Alisson descobriria quem era o Aaron antes do almoço e o entregaria o
aparelho depois.
A única pessoa naquela empresa que sabia até os segredos mais
sujos dos chefões, era Ágatha. Ela era uma das secretárias dos executivos
que ficavam no topo do prédio. Se tinha alguém que poderia descobrir ou
saber quem era o bundão, esse alguém era Ágatha.
Alisson entrou no metrô com esperanças de que ele estivesse ali,
confuso, em busca dela ou do seu celular, mas era óbvio que não estava.
Talvez tenha sido algo inusitado para ele.
Ao sair, no mesmo lugar onde ontem caiu, lembrou da raiva que
sentiu. Alisson não era vingativa, mas estava gostando de se vingar do
babaca.
Ela passou pela recepção, foi até o seu armário e colocou a caixa no
fundo dele, com medo de que alguém a visse e a denunciasse quando o
telefone estivesse nas mãos do dono. Em seguida, seguiu para a cantina e
pediu um café expresso.
Logo avistou Ágatha, que estava sentada com outras duas
secretárias, tendo uma conversa bem animada. Alisson não era amiga delas.
Na verdade, a quantidade de amigos que tinha, podia ser contado nos dedos.
Para todas essas pessoas, ela era a garota estranha, igual era no ensino
médio.
Embora esteja em boa forma, não tinha roupas chamativas ou sexy e
optava por não usar brincos ou colares. Contudo, fazia algumas tatuagens
quando sentia vontade.
Ágatha, por outro lado, era uma mulher linda, de trinta e dois anos,
que vestia roupas chiques e estava sempre de saltos. Ela mexia no seu
cabelo liso, de cor escura, como se estivesse em um comercial e Alisson
admirou a sua beleza enquanto andava até elas.
— Alisson, como vai? — ela perguntou sendo simpática.
Ainda por cima, a mulher tem simpatia.
— Estou muito bem, Ágatha. Obrigada! — Deu um sorriso tímido.
— Como vocês estão? — perguntou só por perguntar, pensando que seria
bom começar a conversa desse jeito.
Elas sorriram e falaram, juntas, que estavam ótimas.
— Meninas, eu queria perguntar se vocês já viram um homem por
aí. Sei que seu primeiro nome é Aaron, que ele tem pelo menos 1,90 de
altura, cabelos negros, olhos azuis…
— Tem pinta de arrogante? — Ágatha acrescentou.
— Sim. — ela se empolgou ao ouvir a melhor qualidade do senhor
misterioso. — Você já o viu por aí?
— Se eu já vi? Menina, quem não viu esse homem? E, que homem
lindo! É um deus grego, mas muito estressado e mal-humorado. Está
sempre dando ordens e sendo arrogante.
Por isso Alisson deduziu que poderia ser um dos grandões e que
não era uma boa pessoa. Isso até tirou um peso das suas costas. Assim não
precisava se sentir mal.
— Quem é ele, Ágatha? — questionou, bastante curiosa, sentando-
se no meio delas.
— É o mais novo chefe, querida. Aaron Spacter. O filho de Robert
Spacter, assumiu a empresa depois que o pai sofreu o acidente e ficou em
coma.
Puta merda! Alisson congelou por dentro. Ela podia apostar que o
babaca era executivo, sentava em uma das melhores cadeiras daquela
empresa, mas ser o novo CEO?
— Você está bem? — perguntou ao observar a garota pálida,
ficando mais pálida ainda. — Ele te fez algo?
— Não. Eu só o vi por aí. Parecia que tinha comido algo estragado.
— Ela estava tentou pensar em tudo o que lhe aconteceu e fez.
— Ele está assim desde que assumiu os negócios. — Revirou os
olhos. — O que tem de lindo, tem que mal-educado.
— Ok, meninas. Tenho que trabalhar agora. Obrigada pela
informação! — Levantou-se e saiu de perto delas.
Meu Deus! Aaron é o CEO da TEC Corporation?!
Naquele momento ela se questionava sobre suas atitudes. Claro que
Aaron merecia perder alguns neurônios por conta do que fez, porém,
provocar o chefe? Alisson já sentiu na pele o que era provocar um grandão.
O conflito no seu peito acelerou seu coração, pôs a ansiedade no
seu nível mais alto. Ela se preguntava se devia ou não entregar aquele
celular.
Não posso desistir agora. Afinal, ele não saberá quem sou e não
sabe nem que existo. Pensou tentando se acalmar e se convencer de que
nada de ruim lhe aconteceria.
Então, ela decidiu parar de pensar em bobagens e voltar ao trabalho,
mas falhou muitas vezes, pois sua mente não parava de se perguntar se era
isso mesmo que ela queria fazer.
Alisson olhava as horas a cada dois minutos. No final do dia, estava
exausta de tanto pensar no que faria. Então, voltou ao armário, o abriu,
pegou a caixa e olhou para ela por alguns minutos. Agora tenho que
devolver. Afinal, Aaron não vai saber quem sou. Talvez nem se importe.
É, talvez eu seja insignificante para ele!
Ela voltou a se irritar com a possibilidade de Aaron não se afetar
por nada. Estava na hora de fazê-lo baixar a sua arrogância, não só com ela,
mas com todos ali.
— Molly, uma moça me entregou este pacote agora a pouco e pediu
para o entregar ao Aaron Spacter. Ela parecia muito irritada e nem quis
entrar. — Alisson odiava mentir. Não que não fizesse isso com frequência,
mas com o que já passou, mentir sempre a fazia morder a linguá e esperar
pelo pior. — Quem é Aaron Spacter? — era muito sem-vergonha. Alisson
estava se profissionalizando com essa coisa de mentir e ser fingida. Pôs a
culpa disso tudo em Aaron.
— Lembra do homem por quem você me perguntou ontem e eu
também não sabia quem era? — Sendo ainda mais mentirosa, ela fingiu
tentar lembrar e depois confirmou com a cabeça. — É ele, o novo chefe.
Dizem que é muito arrogante.
Aaron era muito famoso por essa atitude, no entanto, não parecia
ser um brutamonte quando falou com a piranha no telefone.
— Entendi. Então, você pode entregá-lo?
— Pedirei para que Milla entregue. Ela é secretária dele.
— Coitada! — Ela pensou em voz alta.
Alisson seguiu seu caminho. Não conseguia parar de pensar no
bundão que se esbarrou ontem. Se ela soubesse que era o chefe, não teria
invadido sua privacidade. Porém, ela não diria nada a ninguém. Essa
historia tinha que morrer com ela.
CAPÍTULO 3
Aaron
Aaron teve o dia cheio. Muitas reuniões, lidar com funcionários e
ainda tinha papéis para avaliar e assinar. Sua cabeça doía, seu corpo estava
exausto, mesmo ele não tendo feito esforço físico. Aaron não lembrava do
dia em que sua exaustão mental ultrapassou esses limites.
Claro que ele não podia reclamar, apesar de tudo, estava grato pelo
que tinha, mas estava começando a pensar se não deveria passar algumas
responsabilidades, de suas próprias empresas, para outro administrador,
ficando com a carga da TEC Corporation.
Ele olhou para o relógio em seu pulso e constato serem sete e meia.
Era hora de ir embora e nem estava perto de terminar o que tinha para fazer.
Sendo assim, acabou optando por deixar o restante dos afazeres para o dia
seguinte.
Esse trabalho, assim como os demais, estava-o matando e ainda se
preocupava com o estado do seu pai, que se encontrava em coma há dois
meses.
Os médicos não tinham uma previsão de quando — e se — ele
acordaria. Aaron não queria perdê-lo. Era um bom pai e sempre esteve ao
seu lado, mesmo quando ele cometia algum erro.
Agora, a sua obrigação era cuidar dos negócios da família. Algo
que estava o estressando muito. Vivia com dor de cabeça e com as
preocupações invadindo sua mente, fazendo-o perder a razão.
Notou que na empresa, todos estavam correndo dele. Também…
Aaron estava sempre dando ordens e de mau-humor. Ele imaginava que,
com toda a certeza, seus funcionários o odiavam. Pior era que ele só estava
ali a uma semana.
Ele lembrou que no dia anterior havia esbarrado em alguém no
metrô e nem parou para ajudar a pessoa. Estava tão cheio e atrasado para
uma reunião, que isso não passou pela sua cabeça. Até agora.
Aaron escutou batidas leves na porta e observou a sua secretária
entrar. Ainda não havia decorado o nome da moça. Na verdade, ele não
decorava nomes de mulheres, porque costumava a sair com tantas, que
todos se misturavam. A loira entrou com um pacote na mão. Aaron não
conseguiu tirar os olhos do azul forte da embalagem e tentou pensar o que
seria.
— Senhor Spacter, alguém pediu para lhe entregar isto. — Colocou
a caixa sobre a mesa.
— Quem pediu? — Com o cenho franzido, ele tentou imaginar
quem seria.
Aaron se questionou se, com tanta coisa na cabeça, esqueceu que
havia encomendado algo ou que alguém tivesse algo para lhe entregar,
porém, não encontrou essa informação na cabeça.
— Não sei, senhor. Foi entregue na recepção. A pessoa nem quis
entrar para entregar e demonstrava estar chateada. — Exibiu preocupação
no rosto.
Curioso, ele pegou o pacote, olhou ele todo e não sabia se alguém
lhe entregaria algo nesse estado. Quem me entregaria isso?
A mulher saiu da sala, fechou a porta e o homem decidiu abri de
uma vez o pacote. Primeiro, ele encontrou um papel com algumas letras
escrita: para o senhor bundão.
Aaron não sabia se era uma piada de mal gosto de algum
funcionário. Na verdade, era até provável, mas como não tinha remetente,
ele não poderia saber quem entregou o pacote.
Ao abrir, encontrou um celular. Na verdade, o seu celular. Isso o
deixou surpreso. Ele havia perdido o aparelho no dia anterior. Não sabia se
no metrô ou na porta da empresa. Agora ele estava ali, em suas mãos.
Ainda duvidando do conteúdo, ele resolveu ligar a tela e lá estava
seu cachorro no papel de parede. Era mesmo o seu celular. Aaron encostou-
se na cadeira, abriu um leve sorriso e pensou: mulher irritada? Claro, foi a
moça do dia anterior, em que esbarrei.
Estava cada vez mais esquisita a situação.
Até aquele momento ele não sabia se era bom ou ruim ela ter o
devolvido. Sua preocupação, quando descobriu sobre a perda do aparelho,
era se alguém o pegou e roubou seus dados. Claro que ele mantinha as
coisas separadas. Havia outro onde era restrito ao trabalho, mas aquele era
seu celular pessoal, onde seus contatos, fotos de família e dele mesmo,
estavam arquivadas.
Aaron resolveu vasculhar, pesando que assim poderia descobrir
quem ou se, encontrava alguma mudança. Apesar de o aparelho ter uma
senha, ele não se surpreenderia se algum espertinho tivesse invadido a sua
privacidade. Além disso, a TEC Corporation era uma empresa de tecnologia
que trabalhava com isso. Seria muita ironia o CEO da empresa sofrer esse
tipo de violação.
Mais surpreendente do que receber seu celular de volta com um
possível roubo de dados, era ler a mensagem que acabou de chegar.
“Então, bundão… Gostou do que fiz no seu celular? Talvez, na próxima vez, preste mais
atenção e não esbarre em pessoas aleatórias no metrô, deixando-as com a bunda no chão.”
Talvez pela ironia ou pelo cansaço em seu corpo, mas ele sorriu ao
ler isso. Seja lá quem for, tem bom humor. Contudo, logo notou que pode se
tratar de alguém perigoso que o hackeou para conseguir informações suas.
“Você, estranha, está tentando me chantagear para me roubar mais coisas?”
O mais irônico de tudo era que ele comandava uma empresa que
tenta evitar esse tipo de situação. Se o dono foi uma vítima, imagine os
clientes.
Ele pensou que talvez a pessoa esteja querendo o derrubar ou
provar que a empresa não realizava um bom trabalho. O que ele não podia
permitir.
O engraçado era que ele não foi respondido. Seu tom de rispidez
deve ter assustado o provável hacker. Ele pensou.
Decidido a deixar essa história de lado, Aaron guardou o telefone.
Estava cansado e não pensava muito bem quando sua cabeça estava cheia.
Aaron encarou a mesa com a pilha de papéis, respirou fundo,
encostou a cabeça, por alguns minutos, na cadeira e decidiu levá-los para
casa.
Como um idiota curioso, pegou o telefone às pressas assim que o
sentiu vibrando.
“Senhor bundão, se eu quisesse prejudicar você ou roubar seus dados, não precisaria me esforçar
tanto. Além do mais, devolvi seu aparelho. Deveria me agradecer por ser mais gentil que o senhor.”
Ela o mandou uma foto e ele viu que estava no metrô. Não enviou
uma dela, mas sim de uma senhora dormindo, sentada no banco da frente.
“A senhora parece simpática, mas queria uma foto sua.”
“Está ficando obsessivo com esse assunto. Não terá uma foto minha. Contente-se com a
senhora simpática!”
“Claramente, não vou fazer isso até que me mostre algo com o qual eu me contente.”
Surpreendentemente, sua tela foi invadida por uma foto do seu dedo
do meio. Era pouco, mas conseguia ver que sua pele era pálida, com uma
tatuagem, e que sua unha estava pintada de azul, combinando com sua cor.
Isso o agradou.
“Gostei da tatuagem. É muito sexy. Gostaria de saber se outras partes do seu corpo também são."
“Vai ficar só com a mão, senhor bundão.”
“Você é a mulher mais difícil que conheço. Geralmente, não preciso fazer nada para que as mulheres
tirem as calcinhas.”
“Isso, na verdade, é uma honra. Eu nunca faria tal coisa com um pervertido como você.”
“Só está dizendo isso porque está longe, e não na minha frente. Acredite: eu lhe agradaria muito,
passarinho. Tanto que desejaria repetir.”
“Nunca vai acontecer.”
“Agora é você quem está me subestimando. Tome cuidado ao me provocar!”
“Vai ter que ficar com a ideia de que nunca vai me encontrar, de que jamais serei uma das
idiotas que ficam no seu pé e de que nunca me faria perder cabeça a ponto de ficar com você.”
Alisson não sabia por que mandou mensagens para ele, nem por que
conversaram. Era loucura! Aaron era seu chefe, um egocêntrico safado.
Talvez seja a falta do que fazer ou a solidão. Só isso para justificar
tudo que estava acontecendo.
Ela tinha que confessar que ele era engraçado, embora seja irritante.
E, apesar de saber disso, ainda queria receber e responder suas mensagens.
Não podia negar que sentiu um pouco de medo e que até agora
estava sentindo. Ela não fez nada demais, porém, com a fama de chefe que
ele tinha, devia se prevenir e não dar muita pinta, para não arriscar topar
com ele e ser reconhecida de alguma forma.
O pior era que assim que virou o quarteirão, o viu. Ele estava lindo,
trajando um terno cinza. Sua bunda ficava maravilhosa na roupa mais justa
e seus cabelos estavam muito bem penteado. O homem era lindo, quase um
deus. Se não fosse tão arrogante...
Ela ficou feliz quando o viu entrar no prédio. E, para disfarçar,
esperou alguns minutos do lado de fora.
Quando trabalhava, as horas se passavam e ela nem percebia.
Gostava muito do que fazia e de onde trabalhava. Era a única mulher no seu
setor e uma das melhores no ramo, assim como Victor.
Depois de ser um cavalheiro ao ajudar Agatha e Milla, ele se tornou
o queridinho delas. Era sempre bem-educado, um bom ouvinte, nunca era
desrespeitoso com ninguém, e todas o achavam fofo.
Só o observou de onde estava. Geralmente, eles se viam no
restaurante, na hora do almoço. Só não quando estavam com preguiça,
pouca fome, e optava por comer algo na lanchonete da empresa.
Mas hoje, em uma tentativa inútil de fugir dos seus pensamentos,
ela escolheu ir com ele e suas novas amigas. Era estranho estar no mesmo
lugar que as secretárias. Elas eram simpáticas e nunca a olharam estranho,
porém, eram como espécimes totalmente diferentes.
Enquanto Alisson estava com uma camiseta simples, uma calça
jeans surrada e bota preta, de couro fosco, elas estavam usando um vestido
bonito, saltos altos, e estavam com os cabelos bem feitos, além da
maquiagem elegante. Até pareciam madames, pela forma de agir.
— Vocês não sabem como está sendo estranho o meu trabalho hoje.
— Falou Milla. Ela parecia empolgada com a novidade que contaria as
amigas.
Ela era a secretária de Aaron. Portanto, querendo ou não,
infelizmente, Alisson ficou curiosa com a fofoca.
— Por quê? — Perguntou Agatha. — O idiota do seu chefe fez
alguma coisa? Queria dizer... mais alguma coisa?
— Ele está de bom humor. — Comentou surpresa, com um sorriso
nos lábios pintados de vermelho. — Desejou um bom dia para mim, pediu
“por favor” quando quis um café e não estava tão grosso como sempre. Será
que o pai dele morreu?
— Credo, Milla! Talvez ele só esteja revendo como trata os
funcionários ou tenha transado com alguém ontem. — Disse Agatha,
fazendo com que Alisson engasgasse com o suco.
Todas olham para ela, e Victor riu da sua cara. Nenhum deles
sabiam realmente o que aconteceu.
— Seria alguma namorada? — Questionou Milla, pensativa.
— Não mesmo. — Alisson respondeu sem pensar. Então notou o
erro e os olhares estranhos. — Vocês mesmas dizem que o homem é um
arrogante. Como arranjaria uma namorada que o suportasse? —
Argumentou após a gafe.
— Pode até ter razão, Alisson. Mas, já viu o homem? — Perguntou
o óbvio. — Ele é lindo de morrer e tem muito dinheiro. Aposto que seu
telefone está repleto de número de mulheres. Ontem, por exemplo, uma
delas foi ao seu escritório. Estava tão irritada que nem esperou que eu
anunciasse sua chegada. — Alisson se mordeu para saber quem era.
— Então, essa está descartada como candidata. — Ironizou Ágatha.
— Ele ficou chateado e nem sabia do que ela estava falando. —
Milla continua pensativa.
Alisson se sentiu animada e no direito de cometer mais um erro. Ela
não podia dar pinta ou comentar algo que o fizesse imaginar que ela estava
por perto, mas a lógica fugiu naquele momento, a fazendo pegar o celular e
mandar uma mensagem.
“Deve ter sido divertido lidar com a loira oxigenada ontem. ”
Só agora ela refletiu sobre o que fez. Antes Aaron achava que ela
era uma estranha da rua, mas agora sabe que estava mais próxima dele do
que imaginava. Alisson se irritou consigo mesma e desejo se bater.
“Acho que falei demais.”
Amizade?
“Primeiro: somos amigos? Segundo: como está acostumado a sempre estar no comando,
deve saber que o mundo não gira em torno de você, bundão. Acho que vai ter que lidar com isso ou,
simplesmente, pararemos de nos falar.”
A ideia era boa. Não podiam ser amigos porque ela achava que não
fazia amizades com tanta facilidade. Por isso ficou surpresa ao ver que ele a
considera uma amiga. Acima de tudo, não podia se esquecer de quem era
Aaron Spacter. Apesar de ser um cara que vive, aparentemente, estressado
com tudo e que pode ser um homem legal, não era um qualquer, e sim seu
chefe.
Na prática, ela não era muito de falar e não gostava quando brigava
com as pessoas. Portanto, ela se sentia confortável apenas em falar com ele
por mensagens. Dizer na cara dele tudo que pensava era algo que nunca
aconteceria.
“É o que você quer? Porque não queria forçá-la a nada. E, sim, estou curioso. Mas não pense que
estou exigindo nada! Todos pensam que Aaron Spacter é só mais um cara babaca que usa as
pessoas, mas não sou sempre um idiota, passarinho. Se acha isso demais, posso simplesmente me
esquecer de tudo, e nunca mais terá que se preocupar comigo.”
Merda! Não era o que ela queria, mesmo. Na verdade, não sabia o
que queria.
“Não queria ser a pessoa que te julga, Aaron. Não sei como agir em relação a isso. Você não
é tão babaca quanto pensei ser, mas ainda é meu chefe. E nem nos conhecemos.”
O que estou falando?! Ele não é um futuro pretendente.
“Quer dizer... Não faço amigos com facilidade e não costumo confiar nas pessoas.”
Ela não obteve uma resposta rápida. Alisson acabou achando que
ele desistiu e acabou pensando ser melhor assim. Alisson não devia ter
começado com essa brincadeira. Tinha que ter evitado toda essa confusão.
“Também tenho dificuldade em confiar, passarinho, e entendo o que pode estar sentindo. Você é a
única pessoa que realmente fala o que deseja, sem medo de ser rude ou me irritar. Gosto disso e não
queria perder nossa interação interessante.”
Interessante?! Achei que ele odiasse.
“Não fica chateado quando falo essas coisas? Achei que não gostasse.”
“Se fosse com qualquer outra pessoa, eu odiaria, mas você, passarinho, tem algo que muda isso em
mim. Faz eu gostar de conversar e de ouvi-la dizer o quanto sou errado.”
Estranho também era gostar de falar com ele ou sorrir como uma
idiota só porque quer ser seu amigo.
Alisson começava o achar estranho a cada dia ou a cada mensagem.
Aaron era seu chefe e, mesmo dizendo querer a sua amizade, nada mudaria
esse fato. Portanto, para que ela não fosse punida futuramente por algo que
faça, era melhor se esquecer disso.
“Deve estar entediado. Conversar com uma estranha em plena sexta-feira é algo quase deprimente.
Quando se pensa em alguém como você, mesmo sendo um bundão, imagina-se que não estaria
sentado em um sofá digitando mensagens para alguém que nem conhece.”
E, mais uma vez, ela ficou sem uma resposta imediata. O pior era
que não queria parar de conversar com ele, embora saiba quão estranho era
tudo isso.
“Já faz um tempo que não saio para me divertir, passarinho. Com meu pai em coma e com todas as
responsabilidades em cima de mim, é difícil achar um momento só meu. É difícil até ir ao escritório,
porque sempre espero uma ligação me dizendo que ele não resistiu.”
“Sinto muito, Aaron. Sei sobre o acidente, só que de nada, além disso.”
“Eu deveria estar no lugar dele agora, mas me recusei a ir ao evento. E, como ele não poderia
deixar de comparecer lá, foi. Mas queria tanto que eu tivesse ido. Agora, por minha causa, meu pai
pode não resistir.”
Ela não sabia se esse era o Aaron arrogante ou o que não acredita
no que ela falou, por não se achar merecedor daquelas palavras. Ela ficou
em cima do muro, sem saber o que responder com exatidão.
“Apesar de não confiar muito nas pessoas, sempre tento dar a melhor parte de mim. E não
acho que alguma força superior tenha causado tal acidente para lhe punir. Espero que acredite em
minhas palavras.”
“Não se ofenda, passarinho! Só não estou acostumado a ouvir alguém dizer algo ao meu favor. Não
sou a melhor pessoa do mundo, e muitos que estão ao meu redor só querem se aproveitar. É por isso
que estou gostando de você: não é assim.”
Acho que ele não soube se expressar. Sim! Quis dizer que gosta da
minha sinceridade.
“Gosto de conversar com você.”
Ela deveria desligar o celular e deixar para falar com ele em outra
hora, porém não conseguia tirar os olhos da tela, esperando por uma
mensagem sua. Ela sentia essa necessidade como se o cara fosse alguém
importante ou algo do tipo.
“Boa noite, passarinho! Pode ir trabalhar no seu projeto pessoal enquanto eu tento, de alguma
forma, contentar-me com a ideia de nunca saber quem é você.”
“Boa noite, Aaron!”
***
— É muita tecnologia. — O homem estava abismado com a sala
onde era armazenada milhares de combinações numéricas que representam
os dados de cada empresa para a qual eles trabalhavam. — Nunca vi nada
igual.
— Todos os anos essa ala cresce para acompanhar o número de
empresas com quem temos parcerias. — Observou atentamente o senhor
Phill, que se esticava, tentando ver até onde vão os equipamentos da sala.
— Tudo é monitorado vinte e quatro horas por dia e temos um sistema de
climatização para que os servidores não se danifiquem. Além do mais,
nossos funcionários são capacitados para resolver qualquer problema.
— E vocês cobrem qualquer prejuízo se isso acontecer? —
Levantou as sobrancelhas grossas ao o olhar.
— Claro. — Colocou um sorriso no rosto, sendo que ele não estava
nada feliz. — Sabemos como é importante manter tudo em ordem, para
nada dar errado, Phill. As manutenções são constantes, e não é só na sede
que temos este extenso equipamento que está vendo. — Ele o acompanhou
para fora do local, indo em direção à sala onde os engenheiros e técnicos
trabalhavam. — Em Los Angeles está o que meu pai chama de “cérebro”. É
parecido com o que acabou de ver, só que cinco vezes maior; e os
servidores se comunicam entre si, permitindo que saibamos de tudo em
tempo real, tanto em Nova York, quanto em Los Angeles.
Sua expressão era de surpresa, o que alegrava Aaron. Ele era tão
difícil quanto convencer um certo passarinho a o encontrar pessoalmente.
Mas, diferentemente de como era com ela, ele pretendia conseguir fechar o
negócio com esse homem.
— Seu pai tinha razão. — chamou sua atenção. — Você é bom nos
negócios e um ótimo negociador.
— Nunca ouvi meu pai falar essas coisas sobre mim. — Lembrou-
se da sua última briga, antes dele sair irritado do seu apartamento e ir à festa
que Aaron devia ter ido.
— Ele sempre reconheceu a sua capacidade. Mas, não pode mentir,
dizendo que não é um imprudente com as mulheres. As notícias saíam sobre
você nos noticiários de fofoca. — brincou.
— É. Eu não posso. — Sentou-se ainda mais culpado.
Estavam entrando na sala onde todos trabalham para manter tudo
em ordem. Sem os engenheiros, não eram nada. Aaron ainda não sabia
como funciona essa parte, mas também não precisava. Ele cuidava da
administração e deixava essa área para os que amavam as coisas confusas
que estavam nas telas dos computadores. O local não era tão fechado e
todos estavam em seus lugares, com vários monitores, fios, e com uma
climatização especial. Ele nunca entrou ali. Cooper era o chefe desse setor,
e era ele quem nos explicaria tudo.
— Bem... É aqui onde tudo acontece, Phill. Este é Cooper, chefe do
setor, e quem realmente sabe o que acontece nessa sala.
O homem baixinho, quase careca, e de sorriso, que foi de orelha a
orelha, cumprimentou o nosso visitante e logo começou a sua palestra sobre
todo o processo. Aaron deveria prestar atenção nisso também. Não porque
iria o ajudar a convencer Phill a os contratar, e sim porque gostaria de saber
mais sobre tudo, já que agora era ele quem administrava a TEC
Corporation. O problema era que passou o tempo inteiro tentando achar
alguém que não queria ser achada. Poderia deixar isso de lado e respeitar o
anonimato dela, porém era impossível impedir os seus olhos de buscar por
ela, mesmo não sabendo como achá-la.
Estava difícil parar de pensar nessa mulher ou na possibilidade dele
estar sendo enganado e, na verdade, está conversando com um estranho que
sente a necessidade de brincar ele. Apesar da foto que recebeu do seu pulso.
Cooper e Phill estavam andando pelo espaço em sua frente
enquanto ele nem escutou o que eles dizem. Até que uma coisa no meio do
caminho chamou a sua atenção. Embora não tenha inspecionado este lugar,
ele sabia que aqui dentro não havia tantas mulheres. Cooper o disse uma
vez que dentre todos os engenheiros diurnos, só há uma mulher. E Aaron
estava a uns passos dela agora. O mais interessante de tudo era que sua
nuca, a cor dos seus cabelos e sua pele clara não lhe eram tão estranhos.
Ele podia estar ficando louco, já que passou fantasiar ultimamente.
O passarinho que o perturbava era anônimo, portanto sua cabeça tentava, a
todo custo, moldar uma pessoa física para ele. Mas tinha que confessar, em
algum momento, já viu tais características.
Tudo estava começando a ficar estranho, pois ela pareceu perceber
que ele a encarava; tocou na nuca com desconforto. Um de seus colegas o
encarou com estranheza.
Quando percebeu o quão ridículo estava demonstrando ser, afastou-
se, indo de encontro aos dois homens que passeavam pelo setor de
monitoramento.
Pegou o seu celular e digitou uma mensagem para à mulher que
estava o deixando louco.
“Você é culpada por estar me deixando louco, passarinho. Passei a manhã toda andando
pela empresa e foi impossível não a procurar em cada canto. Deve, pelo menos, dizer para mim em
qual setor trabalha, só para me libertar dessa loucura.”
Obvio que ela não o diria, mas, mesmo assim, pediu. O mais
interessante foi ouvir uma notificação chegar em um celular, dentro daquela
sala. Era um barulho sutil e breve que esquentava seus miolos.
Achou que estava ficando louco mesmo.
— Devo confessar que não intendi muito bem o que disse, mas me
passou muita segurança. — falou Phill, o trazendo voltar à realidade.
A verdade era que a história com a estranha estava o deixando tão
fora de si, que se irritava. Assim, decidiu que o melhor para a sua sanidade
mental era esquecê-la. Nunca se encontrariam e ela continuaria brincando
com minha cabeça. Já estou cheio.
— Podemos terminar o nosso tour agora. Estou convencido de que
a melhor coisa a se fazer era contratar os serviços daqui.
Confirmou com a cabeça. Ele pensou que precisava voltar ao seu
trabalho, às reuniões intermináveis e à sua breve paz.
Ao passar novamente pela mulher em frente ao computador, que
pareceu concentrada na tela, sentiu outra vez aquela sensação de
semelhança.
— Isso já está indo longe demais. — falou a si mesmo,
condenando-se.
***
A reunião foi mais do que chata, foi quase insuportável.
Ele já esteve em muitos lugares o assunto lhe desse muito sono ou
onde o palestrante que estava o passando a sua ideia, não parecesse bom no
que fazia.
Mesmo dizendo que se esqueceu da mulher, sua mente idiota o
traia. Na verdade, ele não para de pensar na funcionária que viu mais cedo,
na sala dos computadores. Ele devia ter falado algo e, pelo menos, visto o
seu rosto.
Ao pegar o seu telefone, que havia deixado de lado, viu uma única
mensagem. Era da anônima.
“Acho que isso passou dos limites. Nós dois não podemos ser amigos e você ainda insiste em me
conhecer. E, mesmo eu sabendo que não é tudo aquilo que os outros falam, ainda me sinto confiante
em apenas conversarmos por mensagens. Acredite: não sou nada interessante. E você é meu patrão.
Querendo ou não, é melhor que as coisas continuem como estão: relação de chefe e funcionária. Foi
culpa minha começarmos, e até gosto de conversar com você, mas o problema é que isso esteja
atrapalhando o meu e o seu trabalho. Então, creio que o melhor a fazermos é parar de escrever um
com o outro.”
Ele teve que reler a mensagem várias vezes para acreditar no que
estava escrito. Não era para ser nada de mais, pois ela era uma pessoa
anônima com quem ele se esbarrou há alguns dias.
Como se, em um passe de mágica, eu fosse me esquecer de tudo! E,
olha que nem foi grande coisa.
Ele olhou as horas e constatou que já deveria estar saindo do
escritório. Mas, infelizmente, seu corpo demorava a reagir e o silêncio se
tornou estranho.
Uma nova mensagem chegou em seu celular, que estava sobre a
mesa, e ele correu para ver quem era o remetente. Decepcionou-se por não
ser de quem ele esperava ser.
“Já faz um tempo que não nos vemos. Que tal aproveitarmos que estou na cidade e conversarmos um
pouco?”
CAPÍTULO 6
Alisson
O que está acontecendo comigo? Alisson pensou que Aaron Spacter
sabia como deixar uma pessoa maluca.
Como se a amizade que ela dizia ter com o chefe, fosse algo tão
importante e vital para a sua vida!
Ele estava a poucos centímetros dela, naquela sala escura, encarando
a sua nuca, causando arrepios pelo seu corpo todo e outras reações idiotas
que desejou rejeitar a todo custo.
Seu chefe era charmoso, e ver suas fotos a deixou boba.
Ela sentiu que ele estava a poucos passos dela e seu perfume sutil a
deixou de quatro, no chão. Mas não como da última vez.
Ele estava frustrado, assim como ela. Por isso decidiu acabar de vez
com a brincadeira. Ela foi a culpada por começar, então pensou que devia
acabar com ela.
Saiu atrasada do trabalho, já imaginando que perderia o metrô e não
chegaria cedo em casa. Assim que pôs os pés para fora do prédio, Aaron
saiu com uma expressão raivosa, no rosto.
Seu coração quase saltou pela boca e desejou ir até ele.
Não era como se tivessem sido semanas ou meses de conversa, mas o
pouco que conversaram um com outro foi suficiente para a abalar por esse
“término” idiota.
Ela fez todo o caminho até a estação, pensando no que ele faria, se
era por sua causa o seu mau-humor e se, em algum momento, eles iriam se
esbarrar outra vez ou ele insistiria em continuar mantendo contato.
Depois do que ela o envio, Alisson não obteve respostas. Ela não
deveria estar desejando isso, mas mentiria se dissesse que não estava.
***
Apesar de ter passado o dia todo sentada, seu corpo estava cansado,
insistindo para entrar na banheira e ficar lá até o outro dia. No entanto, Mia,
como uma fiel e pontual amiga, bateu em sua porta com o maior sorriso do
mundo e com uma empolgação fora do comum.
Apesar de serem vizinhas e dela estar ao seu lado durante todos os
cinco anos em que Alisson mora em Nova York, ela ainda se impressionava
com a ideia de que eram amigas.
Mia era linda e confiante. Mas, também... Pudera! A mulher tem um
metro e setenta de altura, cabelos naturalmente ruivos, corpo esbelto e
autoconfiança. Tudo que falta em mim. Alisson pensou.
Claro... Ela não era horrorosa, nem acreditava em um conceito ou
tipologia. Sua magreza era um mistério, já que sempre comia o mais
variado cardápio de gorduras, e seus cabelos eram pretos, lisos, naturais e
bem tratados em casa. Só não gostava de sair para comprar roupas. Algo
que Mia não deixava de lado e sempre passava na sua cara.
— Sabe, Alisson? Você deveria me dar uma porcentagem do seu
salário. — Sentou-se no sofá, para esperar Alisson, que não estava nada
animada. — É uma das pessoas mais inteligentes que conheço, se não for a
mais, é bonita e tem dinheiro para dar e vender. Sei quanto ganha um
engenheiro na sua área. Eu pesquisei.
— Quer dinheiro emprestado? Eu já te ofereci. Foi você quem não...
— É brincadeira, sua ridícula. — Revirou os olhos e deixou o sorriso
voltar, iluminando seu rosto cheio de sardas. — Na verdade, estou meio que
em um trabalho.
Alisson parou o que estava fazendo para prestar atenção no que ela
iria dizer. Essa era mais do que uma novidade, era um milagre. Claro que
Mia era esforçada e tentava, de diversas formas, arrumar um dinheiro por si
só, porém ela tinha que admitir que não conseguia, de jeito algum, deixar
para trás a boa vida de uma filha de magnata.
— Trabalho? — Levantou as sobrancelhas. — Você?
— Posso saber que surpresa é essa? — Questionou ofendida. —
Sempre trabalhei. Fui personal trainer, fui vendedora em uma das lojas da
GUCCI e até para aquela mulher que dava dicas de moda.
— Você durou mais ou menos quanto tempo em cada uma dessas
profissões? — Perguntou, tirando sarro dela. — Mia, você realmente se
esforça para ficar no trabalho, mas sempre diz que ficou chato depois de
duas semanas.
— Não pode me culpar pela última vez. A mulher poderia trabalhar
na loja mais chique da cidade, mas as roupas... Meu deus! Eram horrorosas.
— Fez cara feia.
— O que é dessa vez? — deixando a amiga contar a sua história,
Alisson voltou a se arrumar em frente ao espelho. Pelo que ela conhecia da
amiga, contaria uma longa história que duraria todo o percurso da corrida.
— Contadora do seu pai? Porque sempre diz que quer ser independente, só
que não sai do apartamento que ele te deu e não para de comprar no cartão
ilimitado. Mia, você não... — Ela jogou uma das almofadas em Ali, que riu.
— Ok. Levarei a sério.
— Uma das minhas antigas amigas da loja me levou a uma agência.
E lá, eu... — um alerta apitou na cabeça de Alisson que logo se virou para a
olhar com desconfiança. Ela bem sabia quem era essa amiga, e imaginou
que não deveria ser boa coisa. — O que foi? Por que está me olhando como
se fosse me dar uma bronca?
— Que amiga foi essa? — Perguntou com calma, aproximando-se
dela.
— Sei que Victória não é a pessoa mais confiável, mas...
— “Confiável” não deveria estar na mesma frase que o nome dessa
mulher. — Falou entre os dentes. — Você se esqueceu que quase foi presa
porque ela colocou drogas na sua bolsa? Sem falar da joia cara que fez
todos pensarem que você roubou.
— Eu não me esqueci disso, mas a perdoei. Além do mais, fui bem
recebida e aceita, enquanto ela foi rejeitada. — Contou com muita alegria.
— Meu primeiro cliente é lindo de morrer e tenho que...
— Mia Alencar, do que está falando?
Preocupar-se com ela já fazia parte do combo em ser amiga daquela
maluca. Realmente, ela a tinha como uma irmã e não queria vê-la metida
com coisas erradas. Seu pai até a ligava para perguntar como estava a filha,
já que a garota insistia em não falar com ele, mesmo que ele a bancasse.
— É algo sério e seguro, Alisson; nada demais. — Nem se importou
com a cara feia da amiga, só sorriu e se preparou para contar a longa
história. — Eu não estava confiante para falar a verdade e tinha as minhas
ressalvas, mas depois que a mulher me explicou tudo, dei credibilidade a
esse trabalho. Funciona assim: eu sempre estarei disponível para sair com
caras ricos para onde eles quiserem me levar. — A forma calma e
empolgada como ela falou essa frase, assustou e paralisou Alisson.
Ela já sabia que sua amiga era maluquinha, só que isso era loucura,
uma maluquice digna de Mia.
— Não me olhe com essa cara! Eu não serei prostituta, apenas sair
com eles como uma acompanhante.
— Vou ligar para o seu pai e pedir para que ele te interne. — Alisson
não conseguia nem pensar direito, ficou agoniada e furiosa. — Ficou louca?
Esse é um modo de punir sua família ou a mim?
— Nem ouse ligar para o meu pai! Se ligar, a nossa amizade acaba
agora. — Reclamou, levantando-se. — Eu estava empolgada para te contar,
mas devia ter adivinhado que alguém tão sem graça como você, não
entenderia a real situação.
— Real situação? — Debochou. — É loucura, Mia. Sair com homens
ricos por dinheiro? Eu já ouvi falar nisso. Está se iludindo se pensa que
ficará só na amizade.
— Está me ofendendo. — Afirmou brava.
— Desculpe! Mas, o que quer que eu pense quando fala que será uma
acompanhante? — As duas estavam alteradas.
Sua cabeça já ameaçava doer por conta de Aaron; e agora, com essa
conversa, ela nem ameaçava mais e partiu logo para o ataque.
— Quer saber? Não vou mais sair com você. Já me colocou muita
preocupação e está agindo como uma mimada sem juízo.
— Quer saber, Alisson? Você está sendo tão sem juízo quanto eu. —
Provocou, levantando o nariz e indo em sua direção. — Mente para si
mesma e acha que esconde sua insegurança em relação aos homens, mas a
sua recusa em se revelar para o homem que gosta e com quem conversa é a
prova disso. Sempre foi assim, até mesmo com a nossa amizade, quando se
recusava a aceitar ser minha amiga.
Quando Mia ficava com raiva, falava muitas besteiras, como agora.
Alisson deveria estar acostumada com suas piadas e deboche, só que ela
acabou tocando em uma ferida ainda aberta.
— Não é porque ele é seu chefe. Não é porque não gosta de fazer
compras, que se veste assim; é porque se vê desse modo e gosta de não ser
atraente ou chamativa, pois tem medo de ser usada e traída, como foi no
passado.
— Saia do meu apartamento e só volte quando deixar essa loucura de
lado! Caso contrário, nossa amizade acaba aqui. — ela tentou reprimir a
insegurança e a decepção que a tomou depois do que sua amiga disse. —
Está sendo malvada porque odeia quando estou contra você. Até tem razão
em algumas coisas, mas, como minha amiga, não deveria dizê-las. Eu não
faria isso com você.
O arrependimento de Mia foi evidente, contudo não mudou de ideia.
Alisson saiu da sua frente e foi até o banheiro. Estava muito cansada para
continuar brigando. Ela queria ajudá-la, pois, claramente, seu novo
“trabalho” não era confiável.
Logicamente, ela não podia julgar nada que não conhecia, porém,
sabia quando algo ia dar errado. Muitas meninas já se envolveram com
essas coisas e nada terminou bem para elas, pois os homens costumavam
achar que podem usar e abusar delas, prometendo-as tudo só para, no fim,
saírem vencedores.
Ela não sabia se Aaron era como essas pessoas, já que mal o conhecia
e agora nem daria mais para o conhecer. Teve que acabar com essa loucura
antes de sair magoada dela.
Ele estava louco para encontrá-la, no entanto, assim que pusesse seus
olhos azuis nela, ficaria decepcionado. Alisson tomou hoje como um teste.
Quando ele se aproximou, naquela sala, ainda assim não pensou que
a garota com quem conversava, pudesse estar em um espaço escuro,
olhando para um computador e vestida como uma estranha.
Ela não se via em vestidos chamativos, com brilhos, não se sentia
segura com seu corpo, nem achava que alguém se agradaria dela.
Alisson nunca sofreu abusos, nem nada. No entanto, chamou a
atenção de uma pessoa errada que usou da sua inocência e curiosidade para
a colocar no meio de um furacão.
Sua mãe, como uma mulher religiosa, quando isso aconteceu, disse
que a culpa era da pobre Alisson, por ser inconveniente, perguntar demais,
não ir à igreja, e muito mais. Usou esse acontecimento para a punir e a fazer
acreditar que o erro foi dela, não de outra pessoa. E, desde esse dia, ela fez
com que Alisson usasse roupas que cobrisse mais o corpo, o cabelo
comprido, nunca blusas com decote, jamais saltos... E muitas outras regras
sem sentido.
Essas coisas não têm relação com o que aconteceu e ela não devia ter
feito o que a mãe queria, no entanto, sempre foi submissa. E, com o tempo,
acabou se acomodando e se acostumando com a forma de vida com a qual
começou a lidar.
Alisson foi para Nova York para ter mais liberdade, mas a mãe
arranjou um emprego aqui e continuou a exigir modos e vestimentas
específicas. Então teve um dia em que ela não suportou tanta coisa e
brigaram. Desde então, não se falaram mais.
Mia sabia de toda essa história e sempre a apoiou, só que agora a
usou contra a amiga.
Entrar na banheira quente não a relaxou, já que sua cabeça não para
de pensar em Aaron e no que escreveu para ele.
Ela tinha que concordar que essa relação entre eles, era estranha, e
que ser chamada à sua sala uns dias depois de chegarem de Los Angeles, foi
quase um filme de terror.
Óbvio que Alisson achava estar exagerando.
Sempre teve dificuldade de saber se alguém estava rindo dela,
tirando sarro ou se estava interessado; também de identificar as reações e
expressões sociais.
Isso porque ela se reservou quanto a esses aspectos. Porém, achou
que com Aaron seria diferente, já que ele estava sempre a dizendo tudo e
não tinha medo de dizer quase nada.
Mesmo que ela tenha o ajudado em Los Angeles e seja boa no que
fazia, ela achou estranho ser escolhida para a nova função.
Alisson não era de se gabar, mas era Cooper que sempre afirmava
esse fato.
Quando ela ainda estava na faculdade, ele a procurou e a ofereceu
sua atual vaga na TEC Corporation.
Alisson ficou lisonjeada e grata. Na época, não pensava que algum
dia alguém a daria tal oportunidade depois do que aconteceu no seu
passado.
Aaron e ela não conviveram juntos, não se encontraram, e tudo que
sabiam um do outro era o que revelaram na ligação e mensagens.
Quando ela entrou em seu escritório e ele a olhou tão intensamente,
com brilhos nos olhos e com um sorriso irresistível, seu coração só faltou
pular do peito. Sentiu-se envergonhada e medrosa. Coisa que o anonimato e
a distância entre eles não a causa.
Por um momento, ela desconfiou que ele soubesse quem ela era,
mas, no fim, convenceu-se de que fez o possível para não lhe dar pistas
sobre sua identidade.
Por um instante naquela sala ela pensou se algum dia eles ficariam
juntos e no fim, chegou à conclusão que esse pensamento era ridículo.
Jamais aconteceria.
Esse homem lindo e rico nunca ficaria com alguém tão sem graça
como você, Alisson.
Agora ela estava preparada para pegar o avião para ir passar a
semana em Los Angeles. Aaron disse que ela ficaria em um dos seus hotéis,
a surpreendendo e a instigando a investigá-lo mais. Alisson descobriu que o
senhor Spacter era mais que o filho do dono da empresa onde ela
trabalhava; era um grande administrador de empresas, tendo sob seu
domínio uma rede de hotéis e restaurantes muito famosos.
A família de Alisson, por parte de mãe, morava em Los Angeles, e
ela poderia ficar na casa de um deles.
Contudo, achou que seria desconfortável, pois sempre que os
visitava, passava por momentos constrangedores; sem falar nos seus primos
babacas, que estavam constantemente a irritando e a provocando por conta
de Rodrigo, um amigo de infância que eles sempre diziam que gostava dela.
A viagem foi tranquila. Pelo menos dessa vez ela não estava a
poucos passos do seu chefe bonitão e arrogante que a encarava
estranhamente.
Depois de pousar, pegou um táxi para ir ao hotel onde ficaria. Ela
achou que o lugar trazia boas e más lembranças, de quando ela não queria ir
às aulas, fugia delas e passava o dia nos shoppings ou na praia de Santa
Mônica.
Ela não se divertia fazendo coisas que adolescentes normais faziam,
no entanto, a solidão e as belas paisagens a confortavam.
Agora ela estava novamente apreciando a vista da cidade onde
aconteciam as mais loucas histórias. Desde quando se formou, não voltou
mais para a cidade. E, da última vez, com o problema e Aaron estressado,
ela estava tão preocupada em não ser descoberta ou com sono, que não
conseguiu pensar direito.
Algo dentro dela estava com medo. Não sabia o porquê.
Além do mais, desde aquele dia, não falou com ele. Enquanto uma
parte sua sentia falta da sua voz, a outra estava desconfiada demais para
pensar em dizer algo ao telefone.
Quando o táxi estacionou na frente do hotel e ela saiu dele, olho
para o edifício, achando que foi ao lugar errado. Ao ver algumas fotos que
têm na internet sobre essas propriedades, percebeu que essa era a mais
luxuosa e cara de todas. Cinco estrelas. Muitas estrelas para alguém como
ela — pensou.
Ficou tão boba que demorou um tempo para tomar a iniciativa de
entrar lá. Suas roupas não eram tão horríveis, porém se comparadas às das
mulheres chiques que saiam dali com bolsas de grife, ela pensou que estava
mais parecendo uma sem-teto.
— Eu devia ter ouvido Mia na questão das vestimentas. —
Murmurou ao entrar no local, com bastante vergonha e desejando enfiar a
cara em um travesseiro. — Oi. Bom dia! Eu sou a Allison… — Deu um
sorriso simpático para a recepcionista, que a olhou de cima a baixo,
incrédula. — Acho que a reserva é neste hotel. Eu trabalho para...
— Alisson! — A voz animada de Milla atrás dela causou arrepios
em seu corpo.
Ela se virou e se deparou com a garota de cabelos loiros e corpo
esbelto usando um vestido lindo, apesar de ser o tradicional uniforme das
secretarias.
— Graças a Deus, você chegou! O chefe está uma...
— Aaron está aqui!? — Perguntou apavorada. — Quer dizer... O
senhor Spacter.
— Sim. E está uma pilha de nervos. — Ignorou sua reação. — A
história do vazamento mexeu mesmo com o homem. Ele disse que não quer
perder uma etapa do processo. Sabe como são os ricos: gostam de controlar
tudo.
O sorriso em seu rosto mascarava a sua surpresa, medo e raiva dele.
Essa história estava muito estranha.
— Fascinante.
Alisson continuou sorrindo, enquanto tentava organizar sua mente.
Ele não podia ter feito isso.
Milla, ignorou tudo, a puxando para junto do seu corpo.
— Alisson, está na reserva do Aaron Spacter. — A recepcionista,
que antes a olhava com desdém, avisou.
Para Milla, que estava bem vestida e linda, ela sorriu como se
estivesse diante de uma estrela de cinema.
— Claro. O quarto Gold. — A morena disse.
— O que é o quarto Gold? — Sussurrou para a secretária.
— Estamos no topo do castelo. O chefe, que é o dono daqui,
colocou a gente nos maiores e mais luxuosos quartos. — Explicou
animadíssima.
Alisson ficou pasma. Por que tudo isso está acontecendo?
— Exagerado. — Explanou o seu pensamento em voz alta.
— Não vou reclamar. A vista lá de cima é linda, o serviço de quarto
é o melhor e você vai amar a cama. — A empolgação dela não alegrava a
Alisson em nada.
Assim que foram para o elevador, ela sentiu o efeito de tudo. Aaron
ficaria com ela por uma semana em um dos melhores hotéis da cidade e
estava exagerando, os colocar em quartos super luxuosos. Além do mais,
ele não a comunicou que estaria na cidade durante o período de trabalho.
Será que esse era o seu plano inicial?
A todo o tempo, Milla tagarelava sobre o hotel e sobre o quanto
estava amando ficar aqui. Enquanto Alisson só tentou entender o que estava
acontecendo.
Assim que as portas foram abertas, seu coração acelerou. Tudo era
lindo e muito grande. Era um corredor simples, mas com três portas e
extenso.
— Vamos ser colegas de portas. A primeira porta é onde estou, a
segunda é a sua e aquela, lá no fim, a maior, é onde o chefe arrogante está.
— Seu coração gelou, assim como sua cabeça. — Aaron é um péssimo
chefe que agora está agindo estranhamente. Talvez essas atitudes
recompensem tudo que ele fez.
— Você é a secretária dele. Por que está na última porta? — Suou
frio.
— Não sei. Mas, esse é um problema? — Questionou com as
sobrancelhas juntas.
— Não. — Sorriu. — Só achei estranho.
Ela não podia, simplesmente, achar que Aaron, de alguma forma,
descobriu sua real identidade, entretanto tinha que confessar que era
esquisito o que estava ocorrendo.
Deixando de lado tais pensamentos, para se concentrar no trabalho,
ela entrou no quarto onde ficaria e deixou sua mala no chão.
Não teve um voo muito longo, porém não dormiu muito bem na
noite passada, com todos os problemas em sua cabeça.
Tinha que o responder em alguma hora; só estava deixando os seus
sentimentos e conflitos ficarem mais calmos
***
A reunião com os integrantes da equipe de aperfeiçoamento foi
ótima. Todos se entrosaram e não houve desencontros de sugestões.
Alisson podia deixar a sua marca na solução do problema,
colocando no projeto a ideia que teve para o seu próprio sistema de
rastreamento virtual.
Estava tudo indo bem, até que um intruso passou pela porta no fim
da reunião, colocando medo nos rostos dos presentes. Ela não entendeu,
imediatamente, de quem se trata.
Ele não ficaria parado os olhando ou, melhor dizendo, monitorando.
Aaron era uma boa pessoa, e Alisson sabia que não estava como
antes: estressado e arrogante com todos.
Na verdade, o senhor Spacter ou, como ela gostava de chamá-lo,
bundão, sorriu e distribuiu gentileza, passando por ela como se a própria
não estivesse em sua frente.
Quando ela o encarou, encontrou um brilho em seu olhar e uma
informação ainda não clara para ela. Conviver cara a cara com seu chefe era
difícil, pois, apesar de tudo que já sabia, gostava do idiota. Ela queria dizer-
lhe quem era, porém, o receio de não receber dele olhares tão acolhedores
quanto os de agora, a travava.
No momento ela estava no bar do grande hotel, olhando para o
celular e pensando no que diria a ele, mas foi surpreendida novamente por
uma mensagem sua.
“Está me dando um gelo, não é, passarinho? ”
Mesmo não sendo nada de mais, ela sorriu com sua pergunta.
Durante o dia foram poucas as vezes que o viu, e agora a pouco ele a
ignorou, como pensava que faria ao saber que era Allison Williams.
“Bem... Não estou o evitando. Só estou com dúvida.”
“Que tipo de dúvida. Pode me falar tudo. Vou tentar ajudá-la.”
“Você é a dúvida, Aaron. Não sei se posso continuar com nossas conversas por
mensagens.”
“Ótimo! Então, vamos nos encontrar. Aí você e eu conversamos cara a cara.”
Por que estou fazendo isso? Para Alisson conversar com ele sobre
esse assunto era estranho, pois sua relação entre eles era puramente de
amizade. Eis o problema para ela. De todas as formas possíveis, ela não
conseguia separar as coisas, como fazia normalmente com todos.
“Então, pense nesta situação: o que faria se, agora, eu pudesse ir até você e dissesse
quem sou?”
Palavras simples para uma pergunta complexa para ela. Alisson
odiaria ver em seu rosto desprezo; ainda mais se descobrisse gostar dele
mais do que deveria.
“Só poderá descobrir se vier.”
Ela leu e releu sua resposta diversas vezes para saber se tinha
entendido mesmo. Ele queria a ver agora, e ela pode ir, já que estavam no
mesmo hotel.
A ansiedade bateu na porta e o copo de água na sua frente não
resolveu o problema. Nem se fosse álcool resolveria.
Ela desligou o celular e saiu de onde estava. Não se sentiu bem o
suficiente para dizer mais nada.
Resolveu, então, sair para caminhar um pouco. E, no caminho até a
saída, encontrou a pessoa de quem estava fugindo. Sempre estou fugindo
dele.
Aaron estava lindo, com uma blusa branca simples, uma calça
escura e os cabelos bagunçados, como se tivesse acabado de sair do banho.
Ele guardou o celular no bolso e, quando a olhou, a fez sentir que seu peito
iria se abrir em dois.
Ela tentou mandar oxigênio para o seu cérebro, para poder tomar
uma atitude, e foi bombardeada por pensamentos confusos que a deixaram
com a língua presa.
— Alisson, você está bem? — Aproximou-se com o sorriso mais
lindo nos lábios.
— Eu... eu não... — Gaguejar era um constrangimento para ela;
principalmente sendo na frente do homem por quem achava que tinha
sentimentos fortes. — Estou saindo para um passeio noturno. — Respondeu
nervosa, tentando se afastar o mais rápido possível.
— Para falar a verdade, também preciso sair. — Foi atrás dela,
fazendo-a parar e o olhar assustada. — Não se incomodaria se eu fosse com
você, não é?
Alisson achava que o mundo e as forças superiores estão brincando
com ela.
— Quer que caminhemos juntos? — Perguntou confusa, tão
ofegante que até pareceu ter corrido uma maratona.
— Se não for um incômodo, sim. — Confirmou com a maior
tranquilidade.
— Tudo bem. — Ela não ideia do porquê concordou, mas sabia que
foi um erro.
Ela estava tentando fugir dele e o idiota se convidou para passear
com ela.
Alisson pensou que as coisas só iriam se resolver quando,
finalmente, ela lhe dissesse quem era.
Ao sair do hotel luxuoso com o cara que era dono dele e lindo de
morrer, muitas mulheres no caminho praticamente babaram por ele. Ela não
tinha como julgá-las, porque sempre se pegava fazendo o mesmo. Só que
diferentemente delas, Alisson achava que não tinha chances com Aaron. Ela
era apenas uma funcionária que estava ali para um trabalho.
— Então, o que perturba você? — Ele questionou, a trazendo de
volta à realidade.
Notou que o assunto entre eles era limitado, pois tudo que tinha a
dizer, ele praticamente já sabia.
— Parece preocupada.
— Estou nervosa com o trabalho. — Achou um assunto novo.
Não era totalmente mentira, já que no seu emprego existia um chefe
que quer, a todo custo, descobrir quem era a mulher que lhe mandava
mensagens.
— É muito importante para mim essa tarefa. Nunca estive no lugar
onde estou agora.
— Você é ótima no que faz. Não tem com o que se preocupar.
— Eu não diria isso. — Deu um sorriso nervoso. — Aliás, no dia
em que me colocou como chefe da equipe daqui, em Los Angeles, não
mencionou que viria. Talvez esteja preocupado com o que posso fazer... sei
lá... E que eu prejudique alguma coisa.
Era verdade que sua timidez às vezes a impede de falar algo,
enfrentar uma pessoa, e tudo mais, porém algo dentro dela tomou a
iniciativa para dizer tais palavras.
— Não falei porque não achei necessário, Alisson. — Franziu o
cenho.
Eles estavam caminhando pela calçada. Havia poucos carros na rua,
pessoas andando ao redor, e a noite estava iluminada, tanto pelas luzes da
cidade, quanto pelo céu.
— Confesso que desde a nossa vinda para resolver o problema com
o vazamento, pesquisei seu currículo. É uma das melhores na TEC
Corporation. Cooper tem muitos elogios e recomendações sobre você.
Admito que estou impressionado com a agilidade e eficiência que usou para
interromper o nosso problema.
Gostou do ouvir isso, não conseguiu impedir o seu sorriso. Pelo
menos ele reconhece a sua capacidade. Já era algo.
Logo percebeu que deveria achar defeitos na interação, não coisas
boas.
— Minha intenção em vir não foi para te vigiar ou apontar defeitos,
e sim para participar do processo.
— Desculpe-me, senhor Spacter! Mas não acho que vá entendê-lo.
— Foi irônica, surpreendendo-se pela sua coragem. O que está havendo
comigo? — Quero dizer... eu não sabia que se interessava pela área ou que
entendia bem sobre softwares.
— Pode conversar comigo como se eu fosse uma pessoa comum do
seu dia a dia. Prefiro que me chame de Aaron. — Sorriu, a deixando boba
pela beleza que era o seu sorriso tão de perto. — E, não, Alisson. Não
entendo sobre desenvolvimento de softwares. Mas você sim, e quero me
inteirar sobre o assunto, já que agora sou eu quem comando a empresa.
— O que quer dizer? — O olhou confusa.
— Bem... está claro para mim que cuidar da TEC Corporation é
algo difícil, pois sempre há preocupações ou problemas que não saberei
explicar para os meus investidores e clientes. Não vou mais deixar que algo
como aquela invasão ocorra, e participar desse processo agora é uma forma
que tenho de descobrir mais sobre o que fazemos na empresa. Como é a
chefe do projeto, espero que não seja uma pedra no seu caminho a minha
presença.
Alisson não sabia o que falar. Ele estava dizendo que ficaria ao seu
lado e que conversariam o tempo todo. Consequentemente, descobriria
sobre ela.
A onda de ansiedade bateu forte, quase a fazendo parar de andar. O
pior era ser encarada por ele, que estava à espera de uma resposta.
O que faço? O que faço?
— Você é o chefe. Não tenho como dizer “não”. — Respondeu
finalmente, com receio e vergonha.
— Como falei, Alisson... — ela achou estranha a forma como seu
nome saiu da boca dele. — Não estou aqui para ser tratado como o chefe, e
sim como Aaron.
— Como quiser... — Alisson não parou de encara-lo, tentando
entender o porquê de tudo aquilo. — Aaron.
CAPÍTULO 10
alisson
Alisson não parava de pensar na noite passada onde teve uma
conversa bem estranha com seu chefe/amigo.
Ela se perguntava se isso não significa que ele sabia quem ela era, o
que a deixava extremamente preocupada. Aaron ainda era uma incógnita
para Alisson. Ela se questionava se, a possibilidade dele ter a descoberto e
não dizer nada, ser uma pista de que ele não se importa ou que ela estava
exagerando. Também pensava que ele realmente a quisesse só como uma
amiga, o que era bem lógico, pois ele nunca demonstrou interesse extra pela
estranha.
Isso a deixou acordada por um bom tempo, pois pensava que ela não
estava só o enxergando como um amigo, ou chefe, como deveria, mas como
algo além.
Alisson se martirizava, pois sabia que esse erro tinha sido dela.
Afinal, foi ela quem começou com tudo isso, que confundiu as coisas e
agora estava perdida.
Se fosse possível, Alisson voltaria no tempo e a impediria de
começar com isso. Estava segura em seu canto, antes do babaca ter
esbarrado nela e se colocado em seu caminho.
Ela também se perguntava do porque ele está agindo tão estranho.
Aaron não era gentil, nem paciente, porém, desde seu encontro naquele
avião, ele vinha sendo um cara bondoso e companheiro. O chefe realmente
estava com algum problema.
— Você deveria ter ficado de boca fechada. — Reclamou consigo
mesma. — Não deveria ter mandado aquelas mensagens. Não podia entrar
na vida do homem desse jeito. É óbvio que Aaron não vai te olhar como
uma mulher com quem sairia. Afinal, porque você quer que ele te olhe
assim?
Alisson não era mais a mulher que ela achava ser. Se surpreendeu até
com a forma como o respondeu. Normalmente ela soaria frio e engoliria a
língua.
Agora, depois de tomar um bom banho, colocou uma calça jeans
escura, uma blusa preta de alça fina, simples, uma jaqueta da mesma cor
das suas botas de cano curto.
Essa não era a Alisson de sempre. Aquela mulher pouco se importava
com a aparência, só pegava as peças de roupa e colocava no corpo.
Sua lógica estava certa. Era uma burrice. Contudo, nada a impedia de
colocar um brilho labial que a deixasse mais bem apresentável ou de manter
os meus cabelos soltos para que sua imagem no espelho não ficasse tão sem
graça.
Aaron estava a transformando em uma tola.
Ela então saiu do quarto e desceu para tomar pelo menos um café
antes de começar o trabalho.
O fim de semana estava quase dando tapinhas nas suas costas e ela
não sabia o que faria durante esse período.
Alisson se considerava tão chata que provavelmente ficaria no quarto
luxuoso, assistindo TV e trabalhando em seu protótipo.
Ele estava bem no fim da experiência, precisando apenas ser testado.
Algo que ela começaria a fazer, aos poucos. Alisson era inteligente, mas
tímida. Apresentar essa ideia a alguém seria um desafio. Esperava que o seu
lado profissional fosse quem tomasse as rédeas da apresentação, a jogando
para frente e falando toda a sua ideia para algum grandão.
Ela encontrou Milla toda sorridente indo em sua direção e a puxando
para dentro da cafeteria e escolhendo um lugar, no qual a pobre se sentou.
Tudo naquele lugar era lindo e chique. Tinham até a opção de tomar
café da manhã no quarto, com um serviço excelente, só que Alisson achava
deprimente demais fazer uma refeição olhando para as paredes, mesmo que
lindas.
— Sei que estamos aqui a trabalho e que o chefe não é o melhor do
mundo. — Falou ela ao se sentar ao lado Alisson, à mesa. — Mas, a
primeira reunião dele de amanhã será via internet e, provavelmente, vai
durar cerca de duas a três horas. Depois estarei livre.
Milla não era sua amiga, elas mal se falavam, mas com a nova
realidade, estavam se aproximando. Ela era totalmente diferente de Alisson:
bonita, loira e sensual, além de muito empolgada, o que Alisson achava
cansativo.
Tudo o que Alisson queria era se enfiar no quarto e esquecer o
mundo, inclusive, o próprio chefe. Ela não deveria ter aceitado essa
proposta, apesar de ser boa para a sua careira. A mulher não conseguia
parar de pensar em Aaron, que estava desejando se aproximar dela a
qualquer custo, e tudo isso piorava ao descobrir que seus olhos procuravam
pelo dele, queriam estar com ele, e sempre que Aaron aparecia, seu coração
quase pulava do peito.
— Que tal darmos um passeio pelas ruas mais lindas, famosas, e,
quem sabe, no fim do dia, pararmos na praia para ver o pôr do sol?
A alma antissocial de Alisson gritava ao ouvir isso. Só que ela
acabou pensando: se eu ficar aqui, não conseguirei parar de imaginar meu
chefe safado, além do mais, ele está no quarto ao lado do meu, então será
impossível não pensar nele. Além do mais, me distrair com outra pessoa,
talvez me faça cair na realidade.
A proposta não agradava a Alisson, porém, teve que aceitar para
fugir dela mesma.
— Sabe? Meus primos me chamaram para um passeio. Nós duas
podemos fazer isso e, no fim da noite, jantarmos no melhor lugar que serve
massas aqui, na cidade.
Antes mesmo dela chegar ao fim do seu raciocínio, Milla já estava
batendo palminhas e aceitando o convite. No fundo da alma Alisson julgava
a pobre garota que ficava animada com tudo.
— Ótimo. Agora tenho que me conter e não surtar na frente do chefe.
— Sussurrou, olhando para algo atrás de Alisson. — Bom dia, senhor
Spacter! — Ficou sorridente.
— Bom dia, Milla! — A voz dele causou arrepios na mulher, quase a
paralisando e fazendo com que seu coração congelasse. — Bom dia,
Alisson! — A encarando, puxou uma cadeira e se sentou com elas.
Alisson não conseguiu impedir que seus olhos o analisasse dos pés à
cabeça. Estava lindo em um terno cinza, que caia bem em seu corpo
definido. Alisson se condenou por suspirar por Aaron tão descaradamente.
Como um homem pode ficar lindo a cada minuto?
— Bom dia, senhor Spacter! — Respondeu tímida.
Aaron riu de leve, e nenhuma das duas entendeu o porquê.
— Como falei ontem, pode me chamar pelo nome. — Alertou. Sua
voz sexy encantou até Milla.
— Bem...O dia hoje será intenso. — A loira quebrou o silêncio
perturbador que ficou. —Tem a reunião com os técnicos e...
— Reserve o segundo período do dia para que eu acompanhe a
senhorita Willians no debate com os engenheiros!
Alisson quase engasgava com o café quente. Ela não queria essa
invasão, ainda mais vindo de Aaron.
— Alisson, tem algum plano para o jantar?
A mulher parou no tempo, olhou para Aaron e tentou entender o
porquê da pergunta. Achava que tinha feito algo de errado na vida passada.
— Jantar? — Inquiriu finalmente, tentando achar uma desculpa
razoável. Bem, ela tinha, acabou de convidar Milla para um passeio, com o
intuito de se livrar do Aaron, mas esse homem tinha o poder de mudar as
coisas.
Ela fitou a colega e ela desviou o olhar, passando a mexer no pão.
Alisson quis matá-la por não a ajudar a sair dessa.
— Na verdade, não. — Ela odiava mentir, e ele sabia disso. Dar uma
simples desculpa não colaria, porque geralmente ela confundia as palavras e
acabava sendo sincera.
O problema agora era que: seu chefe estava jogando com ela ou
queria a investigar para saber se ela era ou não a pessoa com quem ele
conversa?
— Fico feliz. Gostaria de discutir mais sobre o projeto. — Se
mordendo por dentro, ela tentou engolir o café. — Milla me passou a ideia
inicial que você bolou com os engenheiros de Los Angeles. Achei
interessante, mas confesso que não entendi muita coisa.
— Oh, sim. Claro. — Deu um sorriso tímido e constrangido. —
Posso esclarecer todas as suas dúvidas sem tirar tanto do seu tempo...
Aaron. — Ela não desistiria de tentar fugir dele.
— Ótimo. Mas ainda quero jantar com você. Ou seria um problema,
Alisson? — Ele a analisou com uma sobrancelha levantada.
Ele a encarou nos olhos, franziu o cenho e no fundo deles, deu a
entender que estava dizendo: tem medo de jantar comigo, senhorita
Willians.
— Não. Sem problemas.
***
Alisson acabou descobrindo que Aaron estava mesmo interessado em
entender sobre seu projeto.
Antes de sua chegada, todos estão animados e falantes, só que assim
que ele passou pela porta e se sentou com eles, em frente à bela mesa de
vidro, tudo mudou.
Foi ela quem teve que quebrar o silencio.
O chefe fazia muitas perguntas, empolgando a mulher. Quando falava
sobre trabalho, nada parava a sua língua. Ao perceber a sua felicidade,
constatando que não era só por conta da ideia a ser debatida ter partido dela,
mas também porque Aaron estava a ouvindo enquanto mantinha um sorriso
simpático e olhos atentos.
Quando acabaram a reunião, ela sentiu a pressão do fim do dia cair
sobre seus ombros.
Não achou necessário participar do jantar para o explicar algo a mais,
pois tudo tinha ficado bem claro.
Começaria a trabalhar no sistema logo na segunda-feira, e ele estava
de acordo. O que reforçaria ainda mais a sua certeza de que era esquisito o
seu desejo de com ela.
Voltar ao hotel a deixou nervosa, pois nunca esteve a sós em um
automóvel com o chefe. Seu perfume incrível a deixava louca para abrir a
boca e lhe dizer toda a verdade.
Não seja uma idiota. O homem só está querendo saber como vamos
lidar com o seu dinheiro.
Ela praticamente fugiu dele, assim que o carro estacionou em frente
ao hotel.
Alisson precisava se recuperar e, quem sabe, conseguir não sutar. Ela
buscava por uma desculpa para lhe dar e não ir ao jantar.
Ficou feliz quando subiu sozinha no elevador até o quarto, porém
quando já estava tirando as roupas do corpo, batidas na porta a fizeram
sentir seu coração pular no peito. Estava descalça e, por sorte, ainda não
tinha tirado a calça jeans. Ela teve que pôr a blusa para atender seja lá quem
for.
Torcendo para ser Milla, respirou fundo e girou a maçaneta. Os olhos
atentos do seu chefe a paralisaram. Ele tinha tirado a parte de cima do terno,
ficando apenas com a blusa branca. Com as mãos encostadas na parede e os
cabelos bagunçados, parecia uma alucinação perfeita.
— Só estou aqui para a lembrar do nosso jantar. — Deu um sorriso.
Droga! Ele não vai desistir.
— Claro. — Manteve um sorriso no rosto, desejando matá-lo. —
Tem certeza de que quer passar a noite falando sobre softwares?
— Bem... vou estar acompanhado de uma bela mulher muito
inteligente. Acho que nunca tive um jantar melhor.
É isso: frases que deixam no ar a dúvida sobre ele saber ou não
sobre mim.
— Acho que exagerou na “bela”.
— Na verdade, não, mas confesso que devia ter usado um adjetivo
melhor para a denominar, senhorita Willians.
O que está acontecendo com esse homem? Será que bateu a cabeça
ou é mesmo um jogo?
— Vou me preparar, então.
Ele a encarou por alguns segundos. A mensagem não dita estava ali.
Qual é o sentido de tudo?
Aaron era o mais lindo homem que ela já viu, era rico, importante e
saia com as mais lindas modelos de capas de revistas. Alisson se perguntava
o porquê ele estava interessado nela. Isso se fosse um interesse.
Já cogitou estar entendendo errado a intenção dele, porém, apesar
dela não ter experiência alguma em relação aos caras, sabia que tinha algo a
mais no seu olhar. Ou, talvez fosse sua mente fantasiando coisas. Ela achou
que era mais provável mesmo. Além do mais, o assunto da noite seria sobre
trabalho.
— Espero você lá embaixo. — Recosta-se.
***
Alisson estava tão nervosa que suas mãos soavam e não conseguia
pensar direito. Colocou o vestido mais bonito que trouxe, já que não tinha
cogitado estar em uma ocasião como essa. Não imaginava que algo assim
pudesse acontecer.
Para falar a verdade, ela não usava muito vestidos; dava preferencias
a blusas e calças. Mas os poucos que tinha eram até bonitos, só que não
para um jantar com Aaron Spacter.
O que ela escolheu, não se comparava aos das belas mulheres que
estavam nesse hotel. Ele não tinha estampa — o que chamaria muita
atenção — e sua cor, como sempre, escura. Ele cobria todas as partes
importantes, Alisson odiava roupas mais abertas – que mostrassem sua
coxa, muito das suas costas e seios, ela não os consideravam bonitos para se
mostrar. Como era consideravelmente baixa, ela sempre estava com suas
botas escuras, com salto ou não, o que de longe parecia uma mescla de
mulher fofa e de uma adolescente meio gótica.
Ela ainda não tinha ido ao restaurante do hotel, e ficou feliz ao ver
que era bem reservado. A mulher entrou abismada com a beleza do lugar e
com os que o frequentava. Alisson se sentiu tímida ao passar por eles,
claramente ela não fazia parte daquele lugar.
O metre a levou até a mesa onde Aaron já a espera. Não tinha como
confundi-lo. Ele estava usando roupas escuras; uma camisa meio aberta.
Nossa! Que homem lindo!
Ela sentia que estar a passos de Aaron Spacter era assustador e
empolgante. A fragrância que ele usava, invadiu o seu corpo, deixando-a
fora de si.
Seu chefe arrogante a olhou dos pés à cabeça, e o sorriso em seu
rosto só a deixou ainda mais quente por dentro. Ele se deu ao trabalho de se
levantar e puxar a cadeira para ela. Tentou sussurrar, dizendo que não era
preciso, entretanto, não o viu se importar.
Estranhamente, a respiração dele em seu pescoço a deixou mais
nervosa. Ela estava quase acabano com a personagem e perguntando na cara
dura qual era a dele.
É uma tortura. Com certeza uma tortura.
Ela pensou que Aaron não deveria a tratar dessa forma, porque fazia
com que ela se sentisse mal por insistir em não lhe dizer que era a anônima
com quem ele conversava a semanas.
— Está linda. Mas não é uma surpresa para mim, porque não precisa
de muito para estar deslumbrante. — Elogiou gentilmente. Foi impossível
não ficar envergonhada.
— Não entendo porque diz isso, quando sei que é só por simpatia. —
Trouxe de volta a Alisson de ontem, que não o via só como o chefe.
Ela se condenou por isso. Se continuasse assim acabaria chamando a
sua atenção. Porém, algo em Aaron a forçava a responde-lo dessa forma.
Como lembrar apenas que ele era seu chefe e que deveria esquecer a
intimidade que os dois tinham?
— Não é só simpatia. Não minto quando falo que é linda. Talvez o
problema seja seu em não se reconhecer assim. — Usou uma pitada de
graça, levando-a a rir, tanto por diversão, quanto por vergonha. — Ou pensa
que estou sendo malvado com você?
—Está? —Questionou sorridente.
Lá está de novo o olhar que dizia algo sem precisar de palavras, o
sorriso com segundas intenções e o silêncio que às vezes nem era
constrangedor. Era como se Aaron soubesse que estava falando com uma
amiga na qual ele podia confiar e provocar.
— Não. — Continuou a encarando. — Não gosto de ser malvado
com você.
O que ele quis dizer com isso?
— Bem... você disse que tinha dúvidas. —Desviou seu olhar do dele.
O vinho foi servido, o garçom pegou os pedidos e saiu, os deixando a
sós novamente. Era o que ela mais temia.
— Pode ser complicado para quem não entende do assunto, mas acho
que tudo foi bem trabalhado hoje, na reunião. — Complementou.
— Devo confessar que foi mais uma desculpa para jantar com você.
—Revelou, a surpreendendo.
Agora, sim, o seu coração tinha motivos para saltar do peito e pegar o
primeiro voo para o céu. Ela quase perdeu a língua, no entanto algo lá no
fundo despertou a garota que não temia Aaron Spacter.
— Ah, é? E, por quê, exatamente, quer uma desculpa para jantar
comigo? — Cerrou os olhos.
Surpreendentemente, o sorriso em seu rosto cresce. Era tão lindo que
ela não parou de encara-lo
— Ah, Alisson! — Depois de beber um gole do vinho caro, a olhou
nos olhos. — É uma jovem interessante e inteligente. Corro o risco de dizer
que parece alguém... alguém que me enlouquece às vezes.
O coração de Alisson falhou um segundo e ela não conseguia
disfarçar o nervosismo.
Ele a observou com cumplicidade e Alisson não desviou o olhar do
dele. É agora que tudo complica.
— Tem uma irmã? — Questionou, mesmo sabendo a resposta.
— Não. Não é uma irmã. Muito pelo contrário. É alguém fascinante.
Ele sabe! Claro que ele sabe, ou não diria nada disso.
Ela se encostou na cadeira, ainda o encarando. Alisson se perguntava
da onde estava vindo aquela força para suportar tudo aquilo.
Conhecer seu chefe pelo celular que ele deixou cair, não era comum.
E a garota não era burra. Se Aaron estava levando as coisas para
outro lado, ela não podia cair na dele. Primeiro: era seu chefe. Segundo: era
Aaron Spacter. Seu celular era recheado de números de mulheres.
— Mas, vamos falar sobre suas dúvidas primeiro! — Pegou a taça
bonita e bebericou o drink para eliminar a pressão que estava sentindo na
sua garganta.
— Você é solteira?
Alisson quase se engasgou com a pergunta inusitada. Já era
constrangedor demais ter que jantar com ele, e agora ela estava o vendo
fazer perguntas pessoais. Logicamente, ele sabe de muita coisa pessoal sua;
coisas que talvez ninguém sabia sobre ela. Portanto, essas perguntas eram
certeiras. Ele estava jogando verde para colher maduro.
— Sobre o trabalho...— respondeu, tentando se recuperar.
— Claro. Mas ainda quero a resposta. — A encarou.
Ela queria mata-lo, ou no mínimo, jogar aquele vinho em cima dele.
Aaron não era bobo, e ela também não. Podia não saber muito sobre a vida
social, mas sabia quando alguém estava brincando com ela.
— Explique mais sobre o que pensa para o projeto!
— Bem... não. — Colocou a taça de volta sobre a mesa, com medo
de quebrá-la em sua mão. — Não tenho namorado. E, sobre o projeto, acho
que entramos de acordo em relação às novas barreiras.
— Fico feliz. — Lançou um sorriso safado que tanto ela imaginou
por dias, enquanto ele a mandava aquelas mensagens de duplo sentido. —
Sobre ser solteira e sobre o trabalho... — ela não percebeu, mas tinha
acabado de revirar os olhos para ele, que riu da situação.
Depois que percebeu seu gesto, se condenou por tê-lo feito em sua
frente.
— Alisson, realmente gosto de você. Involuntariamente, reage às
minhas bobagens. É o que eu procurava.
— Em uma funcionária? — Sentiu suas bochechas arderem.
— Em tudo. — Está vendo? São exatamente essas coisas que me
fazem pensar que ele sabe de mim. — Mas, falando sério... você acha que
isso realmente será o bastante?
Concentre-se, Alisson! Não deixe ele te enlouquecer!
— Como assim o bastante? — Se mexeu no lugar.
— Somos uma empresa de proteção de dados e, há menos de uma
semana, fomos invadidos, o sistema ficou fora do ar e corremos o risco de
perder uma boa parte do que protegemos. Preocupo-me se algo do tipo
possa acontecer de novo, e com mais força.
Esse era o ponto que ainda a preocupa. Ele estava certo. Não importa
quantas portas pudessem criar para evitar invasões, porque iriam
constantemente correremos o risco de serem roubados.
— Serei sincera. Não existe um sistema infalível e vamos correr
riscos sempre, tanto por hackers desconhecidos, quanto por pessoas de
dentro.
Ele franziu o cenho.
— Como assim? Acha que nossos funcionários podem nos roubar?
— Se assustou.
— Aaron, ninguém está seguro neste mundo, muito menos de modo
online. O que guardamos é valioso de várias formas, tanto para a venda de
informações para se obter vantagens, quanto para chantagens. — Apesar da
confiança no que iria dizer, se sentia receosa. — Veja! Você não pode saber
o que as pessoas podem ou não fazer, mas pode evitar. É claro que
aperfeiçoar o sistema é uma saída muito boa, assim como constantes
mudanças nele, tornando as ações dessas pessoas mais difíceis. Porém...E
se, mesmo assim, elas conseguirem?
— Aí seremos prejudicados. Somos a empresa que é contratada para
evitar essas situações, agora você me diz que também somos suscetíveis a
isso? — Aaron tinha razão em ficar preocupado. — Achei que poderia
dormir tranquilo hoje, mas você me abriu a mente.
— Eu sei. Desculpe! — Sorriu. — Aaron, os engenheiros de
softwares trabalham dia e noite, todos os dias, para impedir que esses erros
aconteçam. Mas são muitas informações para um ser humano. Máquinas
são ágeis e de fácil vulnerabilidade. No entanto, podemos nos assegurar.
— Como? — Seu cenho franzido e respiração acelerada só indicam
que o assunto o preocupou mais do que ela podia imaginar. — Você mesma
disse que é inevitável.
— Sim. Mas...— Droga! Alisson estava se mordendo, pois diversas
vezes ela havia comentado que estava trabalhando em um projeto pessoal.
Ela meio que tinha uma ideia extra, com esse protótipo novo, porém, daria
muita bandeira sobre sua identidade anônima que ela vinha usando para
conversar com Aaron. Todavia, era uma boa ideia, um bom projeto, uma
hora ou outra ela teria que revelar isso e ser Aaron o primeiro a ouvir, seria
uma boa oportunidade. — Trabalho com a ideia de proteção por rastreio. —
Aaron se confundiu ao ouvir o que ela disse. — Sabendo que tudo isso é
inevitável, pensei em dar aos dados um tipo de DNA. Por exemplo, uma
pessoa quando é assassinada... desculpe-me por estar usando essa analogia!
— Ele voltou a sorrir finalmente. — Enfim... é deixado um rastro do
suspeito e da vítima. Penso em usar algo assim para dar mais segurança a.
…aos sistemas futuros.
Ela estava com medo e nervosa, esperando ele a cortar ou não gostar
da ideia, apesar de ser ótima e inovadora. Embora já existam algo do tipo,
ela pensava em colocar alguma coisa a mais na minha criação, um toque
pessoal e inovador.
— Você é incrível. — Seu elogio a pegou de surpresa. Ela não sabia
se ficava surpresa ou envergonhada. — Sua sugestão seria dar vida aos
dados? Aí, quando eles forem mortos, deixarão pistas?
Era impressionante o poder que ele tinha de oscilar o seu humor.
— Aquela foi uma analogia, Aaron. — Segurou-se para não revirar
os olhos outra vez. — Funcionará como um rastreio e localizador, além de
dizer de qual IP veio o ataque. Já há sistemas para isso, mas o nosso teria
em cada micro dado um código escondido que, quando ligado a um servidor
via internet, mandaria um sinal à deriva, como as boias.
— Entendi. Só queria ver sua reação. — Aaron tinha o poder de levar
tudo na brincadeira. Bem, naquele dia as coisas não foram tão divertidas
para ele, mas agora, parecia estar relaxado. — Sabe, Alisson? Você é uma
pessoa interessante.
— Jura?!— Pegou a taça e tomou um gole da bebida. O vinho era,
mesmo, muito bom. — As pessoas me chamam de excêntrica.
O garçom finalmente chegou com o prato principal. Ela não se
considerava esfomeada, entretanto não comia nada muito satisfatório há um
tempo. Além disso, seu cérebro, quando trabalhava duas vezes mais,
gastava toda a energia do seu corpo.
— Você me lembra alguém especial para mim. — Alguém especial?
Quem será dessa vez?
Os dois conversavam bastante nas horas vagas. A interação devia ter
acabado muito antes, só que ela não conseguiu parar de pensar nele. Às
vezes se pegava brigando consigo mesma ao sentir uma enorme
insegurança por não saber se ele saiu ou não com alguém. Loucura! Eu não
sou ninguém para ter ciúme de Aaron Spacter.
— Ela é inteligente, senão não teria conseguido invadir meu celular.
Com isso, ela colocou de volta a taça em cima da mesa. Não era bom
segurar algo tão frágil quando seu corpo começava a ficar tenso.
— Ainda me pergunto como ela conseguiu. Mas você, uma mulher
inteligente que trabalha com essas coisas, deve imaginar como. Enfim...
estou enfrentando um dilema, um problema quase sem solução.
Alisson começou a suar frio, seu coração estava na boca e nem a
comida na sua frente conseguiu a distrair. Seus pés estavam inquietos e mal
conseguia pensar direito.
— Deve ser algo pessoal. Não tem que me dizer nada.
Ela queria se livrar da conversa, não saberia o que dizer.
— Preciso de um conselho. E acho que, apesar das circunstâncias e
de você trabalhar comigo, podemos ser.… amigos. Não é, Alisson? — Ele a
encarou como se soubesse que suas palavras eram como facas em seu
coração. Aaron sorriu, pegou a sua taça, bebeu um gole, sem tirar os olhos
delas, enquanto Alisson o observava, claramente nervosa. — Não tenho
muitas amigas.
— Jura? — Foi rápida na fala, como se debochasse, então se lembrou
que não estava digitando e sim falando ao vivo com o bundão.
— Confesso que não sou o melhor e mais santo homem do mundo.
— Deu de ombros. — Já fiquei com muitas mulheres, e meu celular tem
números de algumas das quais nem me lembro mais dos rostos. E, para falar
a verdade, nunca me importei com isso. Até agora.
Não pode cair na dele, Alisson. Aaron Spacter é um safado. Quer se
decepcionar mesmo? Ela repetia em sua cabeça as palavras para que não se
esquecesse que não deveria falar nada comprometedor. Não podia se
esquecer de que alguma palavra a mais ele saberia quem era a Bird.
— Já gostou tanto de alguém, a ponto de não tirar a pessoa da
cabeça? — Questionou.
Não tinha como não ficar pensativa e ter seu coração apertado ao
ouvir isso. Aaron estava lhe revelando algo? Ou isso era um teste?
A verdade era que quando ela lhe mandou a primeira mensagem, quis
provocá-lo, falar aquilo que não podia ou não tinha coragem de dizer na sua
cara. Todavia, ela se sentia ferrada agora ao descobrir que seus sentimentos
se misturavam e que se deixou levar pela aparência bonita e simpatia que
ele a mostrou durante esse tempo.
— O que, realmente, quer me dizer com tudo isso? — Bem nervosa,
ela perguntou.
Ela não saberia como reagir se ele dissesse que sabia exatamente
quem ela era e o que fez. Alisson não achava mais que Aaron a demitiria, já
que não tinha feito nenhuma barbaridade, porém seria estranho trabalhar em
uma empresa onde o chefe era alguém a quem ela nutria esse sentimento
forte e tolo no qual nenhum outro já havia despertado em seu coração.
— Eu queria saber, de alguma forma, como convencer uma mulher
que não é como as que já saí um dia, que não sou tão péssimo e que gosto
de verdade dela.
Alisson ficou confusa. Não sabia como traduzir o seu olhar e
palavras. Ela era péssima em perceber as coisas ao seu redor, mas não
achava que um homem como ele também nutria sentimentos por ela, sendo
que ele nem sabia quem era a anônima.
— Acredite: sei que sou um idiota que a irrita muitas vezes e a
provoca. Fico imaginando suas reações no outro lado da linha, onde está, o
que está fazendo... Algo que acontece em horas que nem queria que
acontecesse.
— Seu passado te condena. — Falou sem pensar, vendo-o levantar
seu olhar para ela. — Quer dizer... baseando-se no que você falou. Talvez
ela só esteja achando que não é nada do que imagina e que você irá perder o
interesse em breve.
— Não vou! — Falou como se tivesse se ofendido.
— Pode garantir? — Perguntou mais irritada do que deveria.
— Sim. Eu posso. — Levantou a voz. — Quando quero transar
casualmente, é fácil de lidar e identificar, mas desejo muito mais dessa
mulher, não só sexo.
Deseja?!
— O que deseja realmente, Aaron? — Cerrou os olhos.
O pior era que ela esqueceu de levar o diálogo na esportiva, e agora
parecia que estavam discutindo mesmo. Aparentemente, óbvio.
— Eu quero... — Seu olhar vago e mudez repentina a deixou
frustrada.
Já estava na hora dela acabar com esse jantar, embora não tenha
comido nada.
— Quero que seja diferente, pois me sinto assim. — Complementou
antes que Alisson tomasse a iniciativa de se levantar e ir embora. — Não
têm muitas pessoas no mundo que me entendam e que me perdoem tão
facilmente; e essa mulher me prendeu a ela. Mas não só pelo anonimato, e
sim pelas coisas que fala, como age e pelo quanto me compreende, mesmo
que eu seja o homem mais errado que ela conheça.
E, outra vez, a Alisson boba apareceu. Sem saber o que dizer,
permaneceu em silêncio, com a cabeça cheia e os pensamentos confusos.
— Desculpe-me, Alisson! — A encarou. — Estraguei o nosso jantar.
— Ela estava estática, tentando decidir se falava ou não, só que naquele
momento ela não achava que seria uma boa ideia. — Mas, acho que ainda
podemos comer. Certo?
Ele tem razão: eu o perdoo facilmente. Irritantemente fácil.
— Acho que deve mostrá-la o que deseja e agir de alguma forma. —
Ela nem sabia o porquê disse isso. Saiu naturalmente da sua boca.
— Você acha? — O sorriso safado estava estampado nele novamente,
a irritando e a fazendo desejar jogar vinho em seu rosto.
— Vamos jantar! — Ajeitou-se em meu lugar. — Temos muito o que
fazer amanhã
CAPÍTULO 11
Aaron
Unir o útil ao agradável foi a parte fácil para Aaron, difícil mesmo
era ficar de boca fechada, sem fazer nada, mesmo quando estava na frente
daquilo que ele mais queria.
Ele não era novato nisso, sabia quando uma mulher se interessava
ou o provocava só com o olhar. Contudo, Alisson era complicada, parecia
gostar de o torturar. Ao mesmo tempo que era tímida, tinha uma língua
solta, que o atiçava.
Ficou nítido para ele que os dois já se conheciam e que ela
desconfiava de que ele havia descoberto sua identidade. Aaron não quis
disfarçar tanto, mas ela temia dizer a ele que era o passarinho que tanto o
perturbava.
Ele ficou impressionado com a formalidade e cumplicidade entre
eles, naquele jantar, Alisson era uma mulher incrível quando ela não estava
se escondendo dentro de si para não ser descoberta.
Aaron não negava, ele gostou disso. Era como um jogo, embora ele
soubesse que era errado fazer disso um jogo.
Alisson era inteligente, interessante, bonita e tudo mais que ele
ainda queria descobrir. Porém, como ela mesma disse ontem, Aaron tinha
que mostrar o que realmente queria. Atitudes são mais importantes do que
simples palavras ditas na hora da emoção.
Hoje, depois da reunião, ele pensaria no iria fazer. Era difícil
decidir. Aaron conhecia Alisson mais do que já conheceu outra mulher. No
entanto, não sabia de tudo e tinha medo de pisar na bola, estragando tudo.
A sala com paredes de vidro e mesa para umas catorze pessoas era
extensa demais para ele. Alisson estava na ponta oposta à sua, concentrada
no computador, enquanto eles escutavam um dos seus colegas explicar algo
no qual ele não estava interessado.
Ele não conseguia parar de observa-la. De óculos, Alisson ficava
ainda mais bonita.
— Então... alguma pergunta? — Perguntou o rapaz com óculos de
fundos de garrafa e camisa xadrez.
Todos olharam para ele, inclusive a nerd no qual ficou toda a
palestra concentrado. Aaron odiava ficar tão distraído e não saber o que
dizer.
— Não, Tomás. Ficou tudo bem... explicado. — Ele estava odiando
ter a atenção de todos, naquela hora.
Ele a encarou por alguns segundos, deixando-a envergonhada a
ponto de desviar o olhar do dele.
— Agora, que tudo está claro, acho que a reunião acabou. —
Comunicou, não aguentando mais ficar na sala com tanta gente.
Obviamente, era importante o que estavam fazendo e que ele tinha
dito que gostaria de estar presente em todo o processo, contudo descobriu
que era impossível se concentrar no trabalho quando estava tão perto e tão
longe de Alisson.
As pessoas arrumaram suas coisas no lugar onde estavam e, pouco a
pouco, saíram da sala.
Deu para ver que Milla estava ansiosa, pois a loira tinha um tique
nos pés quando desejava que algo acabasse logo ou quando estava irritada.
A todo o momento, Alisson esteve concentrada. Foram poucas as
vezes que seus olhares se encontraram. O que o deixou louco. Ele não sabia
até quando essa situação iria permanecer assim ou até onde podia aguentar
sem colocá-la contra a parede e beijar seus lábios naturalmente vermelhos.
— Acredito que esse foi o último compromisso do dia. — falou
Milla, o distraindo do que estava pensando.
Ele a agradeceu mentalmente, pois parecia um psicopata, de tão
obcecado pela garota do computador.
— Alisson e eu marcamos de sair um pouco; nada demais. Porém,
acho que...
— Você e Alisson?! — Ele franziu o cenho, confuso.
Com isso, a mulher de olhos verdes levantou seu olhar, com as
bochechas rosadas, prestando atenção na conversa
— Um passeio pelos pontos turísticos de Los Angeles? —
Perguntou ele, ainda encarando a baixinha. Alisson sabia que era um
questionamento não do seu chefe, mas do bundão.
— Sim. Alisson nasceu aqui e eu estou curiosa para ver todos os
lugares, até mesmo a calçada da fama. — Milla quase dava pulinhos de
felicidade, o que irritava Aaron, ele achava sua personalidade enjoativa.
O seu interesse era observar as reações do passarinho, que se
transformou em uma Alisson diferente de quando estavam a sós. Ele achava
isso maravilhoso, como se ela tivesse duas personalidades.
— Espero que possamos sair sem....
— É sábado. Não tem com o que se preocupar. — Ele se levantou,
pegando seu blazer do terno, que estava nas costas da cadeira. — Espero
que se divirtam.
Alisson o encarou. Era impressionante o quanto se tornava
intimidadora quando desconfiava de algo ou queria o questionar.
— Desejo o mesmo, senhor Spacter.
Beatriz abriu a porta interrompendo a conversa.
— Aaron, eu estava procurando por você. — Ela também se
empolgou, quase o fazendo revirar os olhos.
A loira o seguia desde o dia em que chegou na cidade. Era uma das
suas advogadas. Ou melhor dizendo, da empresa. Seus olhares e gestos não
eram estranhos, contudo não despertavam mais nenhum interesse da parte
dele, que estava totalmente de joelhos por uma certa nerd teimosa. —
Podemos conversar enquanto almoçamos?
Sua pergunta não foi engraçada ou uma piada para gerar algum
sorriso nos seus lábios, mas sabia que Alisson, no exato instante, estava
revirando os olhos. Ela já a viu fazer isso diversas vezes quando Beatriz
estava presente.
— É muito importante? — Perguntou curioso. O último ataque
ainda era um problema judicial então era provável que fosse esse o tema da
conversa. — Não me diga que vamos ter que reembolsar mais pessoas!
— Não. Mas o assunto é delicado. — Aproximou-se mais.
Milla e Alisson já estavam de saída, mas antes de passar pela porta,
o passarinho curioso o encarou estranhamente, quase o fazendo uma
pergunta ou dando um aviso silencioso. O que tirou dele mais um sorriso.
— Tudo bem. Vamos logo!
***
Aaron sabia que não seria fácil e rápido resolver a questão da
invasão, a qual o rendeu uma dor de cabeça que não previu. E agora, Aston,
dono da Investment Still, estava no seu pé e quase fora da lista de clientes
da TEC Corporation.
Os dados roubados lhe trouxeram prejuízos, assim como para
Aaron, que perdeu uma quantia considerável de dólares. O homem foi uma
vítima tanto quanto ele, mas como sua empresa era responsável por não
deixar que coisas assim acontecesse com outras empresas, a carga estava
mais pesada em suas costas.
Ele não tinha medo de perdê-lo. O problema não era esse, e sim
perdermos a confiança dos clientes.
Quando assinam um contrato, Aaron dava a palavra de que nada
aconteceria com informações cruciais de cada empresa com quem
trabalhava.
Todos os dias guardavam milhares de dados da melhor forma, da
mais sofisticada, para, no fim, hackers tentarem estragar tudo. As
investigações começaram, e o que sabiam até agora era que eles poderiam
ser de outro país. O que tentaram roubar, derrubando o sistema, foram os
dados da Investment Still.
Graças à agilidade de Alisson e dos demais funcionários, nada tão
prejudicial foi levado, mas derrubar o sistema prejudicava tanto quanto
levar informações.
Depois de uma conversa esclarecedora com Zayn, outro dos
advogados que trabalhavam para a empresa, ele estava do lado de fora do
hotel, olhando as estrelas e pensando no que faria. Aaron passou a maior
parte do tempo imaginando onde e com quem estava Alisson.
Ele sabia, melhor do que ninguém, que nada tinha sido esclarecido,
que as palavras estavam guardadas na sua garganta e que nada entre eles foi
oficializado. Mas o pouco que Aaron disse ontem foi significante para que
ela soubesse sobre o que ele sentia, apesar do seu receio em relação a
Aaron.
O que posso dizê-la para que confie em mim finalmente?
— Aaron! — A voz de Beatriz o trouxe um desconforto.
Hoje, no almoço, ela se ofereceu para ele diversas vezes e o homem
a ignorou. Agora, novamente, estava em sua frente, com um vestido
vermelho colado ao corpo, com lábios pintados da mesma cor e com os
cabelos loiros soltos.
Ele não era cego, portanto, sabia que ela era linda, muito sensual e
que provocaria coisas nele que os levaria a transar a noite toda. Todavia,
seus sentimentos descobertos recentemente por Alisson o impediam de
olhar para a mulher com desejo.
— O que está fazendo ao lado de fora do hotel, a esta hora?
— Tomando um ar. — respondeu sem graça. Não estava a fim de
dar satisfação para ninguém. — Na verdade, eu já estava pensando em
entrar. Estou exausto.
— Ainda é cedo. — Franziu o cenho. — Não gostaria de me
acompanhar em um drink?
— Os dois copos de whisky que tomei com Zayn já me foram
suficientes. — Ele sentiu uma tensão no seu pescoço.
— Aaron! — Continuou insistindo. Se existia algo que ele mais
odiava isso era “insistir”. — O que está acontecendo? Você está me
ignorando. Não me lembro de ser assim a...
— Isso mudou. E, por favor, não me faça dizer o que não quer
ouvir, Beatriz! — Recostou-se no carro, desejando sair da situação o mais
rápido possível.
— É a nerd, não é? — Colocou as mãos na cintura e o olhou feio.
— Deixe-me adivinhar! Ela não caiu na sua teia ainda e não ficará
conformado até dormirem juntos.
Ele ficou com muita raiva do que ela disse. Tudo bem que as
mulheres o achavam um galinha ou idiota, mas não quando a questão era
Alisson.
— Deveria tomar cuidado, Beatriz, ou poderá perder seu emprego.
— Advertiu furioso. — Não importa o porquê. Só aceite que não vai dormir
na mesma cama que eu agora, nem nunca mais!
Era difícil alguém o deixarem irritado dessa forma. Aaron sabia que
era arrogante no trabalho, quando se estressava, só que essa conversa o
causou uma dor de cabeça que ele não esperava.
Quando andou em direção à entrada do hotel, um carro parou em
frente ao prédio. De dentro dele saiu Alisson e Milla, lindas e sorridentes. O
vestido simples e preto dela, que não valoriza o seu belo corpo, o deixou
com o coração inquieto.
Era ridículo quão apaixonado ele estava. A mulher nem precisava o
seduzir ou o querer, para que seu cérebro se prendesse a ela como uma cola.
Tinha que confessar que estava feliz ao vê-la chegar.
Contudo, essa sensação durou pouco, pois logo um homem alto, de
jaqueta preta e calça jeans rasgada também saiu do veículo, abraçando-a e a
beijando.
A única coisa que conseguiu fazer foi assistir aquela cena, incrédulo
e com muita raiva.
CAPÍTULO 12
Alisson
Quando Alisson decidiu sair e revisitar com Milla as ruas por onde
tanto andou quando era mais jovem, não sabia que seu fim de noite seria
assim.
Seus primos eram ótimos, muito engraçados, a tratavam como uma
irmã mais nova e não a olhavam como o restante da família. O problema era
que decidiram fazer uma surpresa com a qual ela não se sentiu confortável:
rever Rodrigo.
O cara era legal, já foram muito amigos e ele nunca a fez mal
algum. A questão era que sempre quis algo a mais com ela. E Alisson nunca
lhe deu abertura para isso.
No jantar, eles conversaram e beberam vinho. Ela estava
começando a gostar da noite, até que Rodrigo pediu para as levar ao hotel.
Milla aceitou por ela. Eles se entrosaram bem e Alison achou que,
finalmente, ele tinha esquecido o seu interesse não correspondido por ela.
No entanto, foi só chegar na porta do hotel, para ela descobrir que
seu amigo se tornou também um homem decidido.
O beijo que ele deu nela, era totalmente inesperado, e Alisson
estava perdida, sem saber como reagir. Ela não tinha dado a entender, em
momento algum durante o jantar, que o queria. Nem poderia, já que passava
quase o tempo em Aaron.
Não queria deixá-lo constrangido, mas seu impulso agiu primeiro e
ela o afastou rápido. Sentiu como se sua língua estivesse morta, pois era
difícil pensar em algo. Reuniu o máximo de forças e coerência possível para
dizer algumas palavras.
— Não era para ter acontecido. — Ela ficou assustada e
constrangida.
— Achei que... que estava...
— Desculpe! Não posso mentir. Não gosto de você nesse sentido.
— Seus olhos se desviaram um pouco e encontraram Aaron a encarando,
chocado. — Tenho que ir. Desculpe!
Sentiu o impulso de ir até Aaron, mas outra coisa estranha tomou
conta das suas ações e praticamente correu para dentro do hotel. Tudo o que
ela mais temia estava acontecendo. Seus sentimentos pelo chefe ficaram
evidente, seu intuito era fugir, correr para bem longe.
Alisson desejou que o elevador não estivesse ocupado e que Aaron
não viesse atrás dela. Porém, o destino parecia estar contra a sua pessoa.
Assim que entrou no elevador e se virou para apertar os botões,
Aaron apareceu do nada, entrando também e ficando ao seu lado.
O pior era que Milla não deu sinal de vida ainda. O que significava
que o chefe e Alisson estavam presos no elevador até o andar onde estavam
hospedados.
Ela sentiu que seu coração iria explodir e sair pela boca, como se
recusasse ficar naquela situação.
Alisson tentou respirar fundo e pensar em coisas boas. Entretanto, o
perfume e a presença do homem que a perturbava a todo o momento
estavam a prendendo à realidade. Ela olhou para o número no alto da porta,
esperando que já estivessem próximos e assim, podendo fugir dele.
— Por que ainda estamos fazendo isso, Alisson? — Sua pergunta a
deixou ainda mais nervosa. — Achei que eu havia deixado as coisas claras
na noite passada, mas ainda está me deixando louco. — Ela abriu a boca
para dizer algo, mas nada saiu dela. — É frustrante estar nessa situação
quando nós dois sabemos quem é um a outro. — Novamente, abriu a boca e
não conseguiu dizer nada. Ela esperava ter uma reação melhor, só que a
medrosa estava no comando. — O que vai me dizer? Que não sabe que sei
sobre você?
— Como assim eu sei que você sabe? — Perguntou, já sabendo a
resposta. Sua lerdeza a atacou no pior momento. — Você... sabe? Como
sabe?
Aaron cerrou os olhos e se aproximou dela, a forçando a se encostar
na parede. Alisson não sabia se isso era uma alucinação ou realidade. O
chefe a olhou no fundo dos olhos e pode ver até a sua alma.
O homem, praticamente ficou sobre ela, sua respiração acelerou,
assim como a de Alisson. Ela sentiu seu coração afundar no peito, suas
mãos suando e não tinha respostas para dar.
Isso não pode está acontecendo. Ele sabe quem sou? Mesmo assim
me olha como um lobo feroz?
— Alisson! — Disse próximo ao seu rosto, a deixando sentir o
calor do seu corpo. — Não quero mais brincar de gato e rato. Você já me
irritou o bastante lá fora. Eu sei que não deveria sentir ciúme de um babaca
como aquele, porém, me sinto como se tivesse sido traído. Ontem te falei
tudo aquilo e você apenas me ignorou; me fez ver você aos beijos com
outro cara, na frente do meu hotel.
Encarar seus olhos azuis, quase cinzas, a deixou em choque, não só
pelo que falou, mas também pela sua presença imponente.
Ela imaginou como seria quando Aaron a descobrisse, mas nada se
comparava a realidade.
Alisson sentiu seu corpo pegar fogo. Estava com raiva e desejo.
Como ele pode ficar todo esse tempo, sabendo quem ela era, sem dizer que
já sabia?
Certo, Aaron deu pistas, porém, ela não seria boba de chegar até ele
e dizer alguma coisa. Agora, a mulher se sentia mais do que uma tola, mas
burra, por continuar com esse fingimento, sem saber que não precisava mais
se esforçar para se esconder dele.
— Eu... eu não... não queria o beijo. — Explicou nervosa. — Nada
aconteceu entre mim e Rodrigo, só que não pude evitar. – Alisson então
deixou a inocência e medo de lado, para confronta-lo, afastando seu grande
corpo com as mãos, o mais forte possivel. – Seu idiota, você sabia quem eu
era e não disse nada? — A realidade parecia estar voltando e fazendo com
que ela enxergasse as coisas. — Você estava fingindo o tempo todo?
— Jura? É sobre isso que quer conversar agora? — Também estava
irritado. — Você sai, chega com um homem que eu nem sabia que existia,
beija ele e depois culpa a mim de ter fingido?
— Não beijei ele; foi ele quem tomou a iniciativa. E, não. Eu não
gostei. Aaron, você e eu conversamos por muito tempo e você não me disse
nada sobre já saber quem sou. Por quê?
— Por quê? Eu não queria colocá-la em uma péssima situação ou
forçá-la a me contar algo que ainda não estava segura para dizer. Mas eu
disse o que queria com você e... Está me irritando, e não como sempre faz,
Alisson. — Passou as mãos sobre o cabelo, Aaron estava suando de tão
nervoso.
Aaron não queria culpa-la por aquilo, na verdade, ele não sabia o
porquê.
Então, continuou a encarando, impaciente sem saber como reagir ou
o que dizer. Alisson também se sentia assim. As portas do elevador se
abriram e nenhum dos dois saiu.
— Não sei por que está zangado. Rodrigo sempre foi um amigo
para mim, apesar do seu interesse. E estou confusa quanto ao motivo de
tudo isso, Aaron. — Falou parecendo estar correndo em uma maratona, de
tão ofegante. — Como me descobriu? — Era um ponto importante. — Por
qual razão está me cobrando ciúmes?
Ele não a respondeu de imediato, somente a pegou pelo braço sem
muita força e a puxou para fora do elevador. Esse contato só a fez sentir
arrepios pelo corpo e seu coração estava prestes a sair pela boca.
Alisson não disse uma palavra, nem o impediu de levá-la. Ela
estava travada, era bom e ruim tudo aquilo. Finalmente os dois estavam
sendo claros um com o outro, só que ela achou que não estava preparada.
Ou melhor, ela nunca estaria. Então, Alisson viu Aaron indo em direção ao
seu quarto, pegando o cartão de acesso e abrindo a porta.
Quando já estavam lá dentro, ele fechou a porta, ela quase parou de
respirar e sentiu que alguém a congelava com o olhar. Alisson voltou a
encarar Aaron, ele estava com a cara fechada, claramente furioso.
— No dia em que viemos para Los Angeles, depois que invadiram e
derrubaram o sistema, você não se precaveu; nem agora. — Apontou para a
tatuagem em seu pulso. Alisson se odiou. Como ela não lembrava da foto?
— Sua tatuagem, Alisson. Não se lembra de nada?
O metrô... A senhora... A foto do dedo do meio... como pude ser tão
idiota e me esquecer disso? Ok. Foi minha culpa. Como não me lembrei do
que fiz?
— Então, sabe da verdade há um bom tempo e não fez nada? —
Ainda estava pensativa, se martirizando.
O mais engraçado era que, apesar do seu coração estar gritando e
quase falhando, não estava sendo tão ruim ou o fim do mundo, como
previa.
Então, ao respirar fundo, para pensar direito, ela notou que a reação
de Aaron era totalmente contraria do que ela imaginava. Na sua cabeça tola,
ela pensava que ele a olharia com desdém, que perdesse seu interesse. Não
era isso que estava acontecendo.
— Como não fiz nada? — Perguntou como se a resposta fosse
óbvia. — Escolhi especificamente você para o trabalho, coloquei-a próxima
de mim e jantamos juntos. — Alisson realmente se sentia uma idiota por
não notar que todas as reações estranhas dele, era por já sabem quem ela
era. — Passarinho, eu… não faço ideia do que fez comigo. Não… não era
para ser desse jeito. Eu não me apaixono, isso nunca aconteceu, então você
aparece e muda toda a minha vida. — Ela não parava de olhar em seus
olhos azuis. Estava mesmo achando que era um sonho. — Você tira o caos
do meu mundo. Quando conversamos, tudo desaparece. Não percebi
quando aconteceu.
— Aaron, eu jamais pensei que algum dia isso poderia acontecer.
— Seu coração batia forte, as palavras estavam confusas na sua cabeça.
Jamais ouviu ninguém dizer essas coisas e... nem sabia porque logo o seu
chefe iria gostar dela, dessa forma.
— Alisson — Ele se aproximou, olhando em seus olhos, tocando
em seu rosto, fazendo com que ela sentisse seu corpo arrepiar. O local onde
tocou, pegava fogo, mal conseguia respirar. — Eu arranjaria Milhões de
desculpas só para te trazer a este lugar. — Revelou firmemente, como se
tivesse orgulho do seu feito. — Você é incrível, não só inteligente. Sempre
que estamos juntos, esqueço o homem arrogante que todos odeiam.
O perfume que ele usava, a inebriava. Seu toque pegava fogo,
fazendo com que seu coração pulasse no peito. Aaron a puxou pela cintura.
Ela foi como se não tivesse poder sobre ele. Não conseguia parar de olhar
no azul de seus olhos, achando que estava hipnotizada.
— Não queria ser a pessoa que vai forçá-la a algo, ou nada
parecido, mas... não sei o que tem, Alisson, mas consegue me enlouquecer
facilmente. — Ele a beijou tão desesperado que a fez dar um passo para
trás.
Aquele beijo despertou nela a fome que jamais pensou em sentir.
Alisson se agarrou nele, sentindo seu corpo inteiro se derreter. Aaron
apertou a sua cintura, a trazendo para mais perto e sentindo seus dedos
afundarem em seus cabelos.
Diferentemente de Rodrigo, Aaron a tirava do chão em que seus pés
estavam apoiados. Ela sentiu a parede nas suas costas, assim como todo o
resto que vem com o beijo inusitado.
Os dois sentiram o calor aumentar, a necessidade de finalmente
estares juntos, o que levou Aaron ao coloca-la encima do móvel e adentrar
o vestido, com suas mãos. Alisson suspirou, sentiu um frio na barriga e um
desejo crescente dentro dela. Então ela lembrou que não podia deixar que
ele fosse além.
— Aaron! — O afastou, mesmo não querendo. — Você é meu
chefe. Não pode acontecer.
A moral e o desejo lutavam dentro dela, travando uma briga que
estava a desmontando. Por um lado, ela queria esquecer de tudo e se jogar
de cabeça nisso, mas sua parte racional dizia que isso era errado.
Aaron Spacter era um cara lindo, charmoso e sedutor, só que
também era um safado que coleciona mulheres em sua agenda de contatos.
— Não coloque esse fato como uma barreira entre nós, Alisson! Por
favor, não! — Pediu quase implorando.
Seu beijo a calou outra vez. O primeiro não diminuiu o desejo e o
sabor de “queria mais”.
O problema para Alisson era que ela desejava o seu chefe cafajeste
e arrogante que a enlouquecia.
Seu estomago borbulhava de sentimentos. Olha-lo nos olhos era
difícil, pois sentia que ele poderia enxergar o quanto ele a afetava. Aquele
beijo já tinha traduzido esse sentimento. Apesar de conhecer mais de Aaron
do que esperava, ele ainda era seu chefe bonitão, sua cabeça repetia a ideia
de que depois de ter o que desejava ele iria deixa-la, assim como deixou as
outras.
— Não consegui tirá-la da minha cabeça e não durmo sem pensar
ou sonhar com você. Desde o dia em que te vi, notei o quanto era especial e
que tinha que pegá-la para mim.
— Por que eu, dentre tantas mulheres lindas com quem sai? — Ela
sentiu a ansiedade voltar com força. — O mistério pode ter o feito pensar
dessa forma. Logo vai enjoar de mim e continuar com sua lista interminável
de mulheres. Não serei uma delas.
Pegando a determinação que ela não tinha, o afastou e saiu da
parede onde estava enquanto eles se beijaram.
— Sei melhor do que ninguém que meu passado me condena. —
Falou atrás dela. — Mas não desmereça os meus sentimentos! Nunca iria
tão longe se não a quisesse e não estivesse apaixonado.
Alisson sentiu seu coração palpitar com as palavras ditas por sua
boca. Ela não estava esperando por isso.
Não o escute!
— Você nem sabia quem eu era. Como pôde se apaixonar? —
Virou-se, descobrindo que foi um erro. Observá-lo de longe era mais fácil
do que ela imaginava.
Seus sentimentos por ele eram fortes e não podia negar o que estava
gritando dentro do seu peito. Para a tola garota era fácil entender o que ele
dizia, porém para a Alisson que um dia foi usada por um espertalhão, ela
sabia que nada era tão fácil e que ninguém se apaixonaria por alguém tão
sem graça como ela; ainda mais se essa pessoa for Aaron Spacter.
— Durante o período em que passamos conversando, eu não sabia
quem você era. Isso me faz pensar que o seu receio é muito mais um
problema seu em confiar do que uma dúvida quanto à veracidade dos meus
sentimentos.
Alisson achou estar alucinando ao olhar em seus olhos e ver seus
sentimentos transbordando. Ninguém nunca lhe falou as coisas que Aaron
tinha acabado de falar; nem nunca a beijou com tanto desejo. Também
nunca se sentiu tão bem ao estar com alguém, como se sentia com ele.
— Não foi você quem foi preso por confiar em quem não devia. —
As palavras saíram da sua boca com tanta facilidade, que nem percebeu que
estava as pronunciando.
Ele ficou surpreso, assim como todos ficavam quando essa história
vinha à tona. Ela nunca gostou de falar sobre o assunto, de um período que
apagou da sua vida. Contudo, nada seria real ou sincero se ela não o
contasse.
Sentou-se na beirada da cama macia onde ele dormia. O que
bastava para a deixar fora do ar. O clima mudou drasticamente.
— Como falei, aconteceu há um bom tempo. Eu tinha quinze anos e
não sabia que pedir a ajuda de um homem para me ensinar a mexer no meu
laptop novo me traria tal consequência.
— Não encontrei isso nos seus registros.
Ela o encaro. Ele fez uma pesquisa sobre mim enquanto eu não
sabia que ele tinha me descoberto?
— Não pode me culpar. Não queria me dar detalhes sobre você.
Quis garantir que te acharia caso sumisse de vez.
— Enfim... no fim não deu em nada o inconveniente e ele foi
apagado pelo FBI. — Explicou após revirar os olhos.
— FBI?
— Quer me deixar explicar? — Cruzou os braços, irritada com a
situação.
Era terrível para ela se lembrar e falar sobre esse assunto. Então, se
sentir irritada era um dos efeitos colaterais.
— O nome dele era Issac; tinha um trinta e cinco na época e
frequentava a cafeteria que minha mãe tinha aqui, em Los Angeles. Quando
eu saía do colégio, ia lá ajudá-la. Foi assim que o conheci. Todos sabiam
que ele era bom com tecnologias e minha mãe me incentivou a pedi-lo
ajuda, pois eu era muito tímida.
— Era? — Foi irônico.
— Foi ele quem me ensinou uma boa parte do que conheço sobre
sistemas e, com o tempo, nós nos tornamos amigos. Nada bizarro. Mas um
dia ele me pediu para usar meu notebook, porque o dele estava dando
defeito, e, como uma idiota que confiava nele, não me opus. O dia acabou
normalmente, mas assim que amanheceu, os agentes bateram na minha
porta e me prenderam como se eu fosse uma criminosa perigosa. — Um
deles, ao colocar as algemas nela, sem necessidade, e a machucou. No
momento, todos estavam apontando o dedo na sua cara e não queriam saber
das suas lágrimas. — Claro que não tinha sido eu. Foi complicado explicar
o que ocorreu, estando desesperada e com medo de passar a vida na cadeia
por hackear e roubar o FBI.
— Eu sinto muito. — Sentou-se ao seu lado, na cama.
— Issac não era a pessoa que achamos que fosse. Esse nem era o
nome dele. Foi difícil achá-lo e me inocentar, mas quando aconteceu,
apagaram minha ficha e nunca mais falei sobre essa história.
Alisson não fazia ideia de que diria tudo, nem que o encontraria um
dia, mas foi bom lhe contar.
— Sinto muito por você, Alisson. Confiar nas pessoas é algo com o
qual não sabemos se vamos ou não nos decepcionar um dia, mas viver com
medo de se abrir para algo, não acho que a fará bem. — Aaron uniu suas
mãos na dela, a forçando a olhar no seu rosto.
Seu gesto a deixou feliz e confortável, assim como o olhar em seus
olhos outra vez. Antes eles estavam como uma tempestade, e agora
pareciam um céu azul.
— Passei anos me afastando de encrenca, esquecendo-me de que
um dia fui enganada, escondendo-me disso por muito tempo... E quer que
eu me abra e confie outra vez em alguém? Logo no cara mais safado e
errado que conheço? — Brincou.
Ele não ficou feliz.
— Não sou esse tipo de pessoa. — Levantou-se, transparecendo o
quanto estava nervoso. — Sim. Já fiz muita coisa errada e já fiquei com
muitas mulheres...
— Eu diria milhares, de acordo com o que vi no seu celular. —
Complementou.
— Não exagere! — Aperou os olhos. — Alisson, não sou santo; sou
arrogante e muitas vezes deixo a minha pior personalidade vir à tona
quando estou sob pressão. No entanto, não queria conquistá-la e depois
esquecê-la, como se fosse mais uma na minha lista.
— Jura? — Ergueu as sobrancelhas.
— Acredite em mim, Alisson! Eu não estaria insistindo tanto,
dedicando-me e fazendo de tudo se não a quisesse de verdade. — Parou de
andar de um lado a outro, segurando em suas mãos e fitando o fundo dos
seus olhos, a levando a voltar a sentir o frio na barriga e a ansiedade que a
deixavam nervosa. — Não vou insistir, se realmente não quiser. Mas
prometo que farei o meu melhor para que, algum dia, confie em mim. Só
não queria perder tudo que estou sentindo, pois era algo que nunca senti por
ninguém.
— Aaron, você é meu chefe. — Apesar do medo, Alisson se sentia
uma boba ao ouvir o que ela nunca ouviu de ninguém. — Seria estranho e
errado.
— Não, Alisson. Não seria. — Colocou um sorriso nos lábios.
Seus dedos na pele dela deixou um caminho de calor que se espalha
pelo seu corpo quanto mais descia.
— Não vamos misturar as coisas. É bem comum isso acontecer no
mundo coorporativo. — Argumentou.
— É?
— Minha mãe era a secretária do meu pai. — Respondeu com um
sorriso provocante de canto.
Involuntariamente, ela sorriu. Aaron achava que foi um convite e
ela não reclamou quando seus lábios macios tomaram os seus com bastante
intensidade e desejo. Ele a fez deitar na cama e também sobre o seu
pequeno corpo.
Uma chama ardente se acendeu. O alerta na sua cabeça estava
apitando a lembrando que não poderia se deixar levar tão facilmente.
Aaron estava certo: não poso continuar me afastando das pessoas
pelo resto da minha vida. Mas, se ele não era um cara comum, quer dizer
que começarei com o meu maior desafio.
— Acho que já está tarde. — o afastou de novo, fazendo-o respirar
fundo, claramente desaprovando a ideia. — Não será fácil lidar com você,
Aaron, e espero que, se realmente quiser algo, possa ter paciência.
— Farei o que for preciso para ter você.
Apesar de ter uma parte medrosa dentro de si, algo lhe dava
segurança naquilo.
CAPÍTULO 13
Alisson
Alisson estava totalmente perdida, com tudo que aconteceu entre ela
e Aaron ontem. Era bem óbvio que cada coisa que ele dizia ou dava a
entender, significava que sabia quem ela era. Só que era mais fácil fingir
que nada disso estava acontecendo.
Seus sentimentos pareciam uma sopa no fogão: quentes e misturados;
ela não sabia se daria em algo bom ou sem graça.
Estava torcendo para que os dois conseguissem se resolver, pois
nunca se sentiu assim antes, como se tivesse pulado de um avião.
— O sistema será reiniciado, vamos adaptar sua nova ideia e esperar
que o problema com os hackers seja resolvido. — Falou Bruno, um dos
líderes da TEC Corporation, em Los Angeles.
— Devemos começar os testes prévios, para saber se o software se
adaptar à grande quantidade de informações que chegam e saem. Se
funcionar, teremos o nosso próprio sistema de rastreamento de dados e, com
sorte, espantar os futuros ladrões. — Ela prestava atenção no painel em sua
frente.
Alisson estava feliz pelo que estava acontecendo. Uma das suas
maiores ideias estava sendo colocada em prática pela empresa onde
trabalhava. Era um prestígio, e tanto.
— Ainda temos o problema com os servidores. Quando eles são
derrubados, ficam off-line. Isso nos prejudica tanto quanto sermos
invadidos. — Ficou pensativo.
— Temos que monitorar os servidores tanto quanto monitoramos o
sistema. O desligamento à distância serve como um modo de segurança
para a empresa. Se voltarmos a usar o método de desligamento presencial,
corremos o risco de não conseguir salvar os dados se algo acontecer na
sede.
— Você tem razão. Mas, talvez, possamos arranjar uma solução
futuramente.
Os dois estavam na sala dos servidores, onde havia grandes caixas,
com três metros de altura e um e meio de largura, ocupando um espaço
enorme; quase dois terços de um campo de futebol.
Da plataforma em que estavam, conseguiriam ver uma boa parte
delas. O local era protegido por dentro e por fora, e só quem tinha acesso a
ele eram os poucos funcionários, os que mantinham a manutenção daqui.
Agora, que estavam colocando o projeto para funcionar, ela não tinha
tanto trabalho para fazer, mas ficaria presente até que tudo estivesse em
ordem, esperando que seu sistema de rastreio funcionasse muito bem.
— Vou deixá-lo responsável pelo resto. Se houver algo que não possa
resolver, pode me ligar, e virei o mais rápido que puder. — Levantou-se da
cadeira. — Mas acho que tudo ficou claro.
— Sim, senhorita Williams. Podemos continuar daqui. — A
cumprimentou.
Alisson achava estranho que as coisas estivessem indo bem, porque
geralmente nada de tão empolgante ou importante perdurava por muito
tempo na sua vida.
Ela desceu as escadas de metal e se retirou pela porta reforçada que
só era aberta com o acesso dos crachás que os funcionários tinham. Assim
que saiu do prédio, pensou no que faria no restante do dia. Não era mais tão
cedo, nem tão tarde. O sol ainda iluminava a cidade e continuaria assim por
um tempo.
— Achei que teria que entrar neste lugar e te roubar de lá. — A voz
de Aaron soou atrás dela, a surpreendendo.
— Algum problema? Precisa de algo?
— Preciso de um longo tempo com você agora, que esclarecemos sua
identidade. — Aproximou-se com o sorriso de sempre no rosto.
Aaron estava informal. Vê-lo em um jeans e em uma camisa simples
a fazia suspirar. Seu cabelo estava bagunçado. Não precisava de mais nada
para saber que esse homem era quase perfeito.
Quase, pois ainda tinha uma personalidade difícil.
— Vamos sair daqui! — A puxou pela mão.
— Espere, Aaron! O que está fazendo? — Puxo-o, fazendo-o soltar
sua mão. — Não somos um casal feliz e comum.
— O que quer dizer? Tem vergonha de mim? — Ela franziu o cenho
e ele olhou como se estivesse ofendido.
— Eu? Com vergonha de você? — Ironizou. — A questão é que sou
sua funcionária aqui. Seria bem estranho se vissem nós dois de mãos dadas
no prédio onde estou trabalhando e do qual você é o dono.
— Está colocando as barreiras de novo, Alisson. — Pôs as mãos na
cintura, chateado.
— Escute! Você é o cara bonitão e rico; eu sou Alisson, a nerd. Pode
não ser nada demais para você, porém para mim muda muita coisa. As
pessoas me olhariam como a mulher que quer se aproveitar do chefe. —
Essa questão a deixou acordada por um bom tempo ontem. Mulheres são
julgadas o tempo todo, por cada passo que dão.
Ela, Alisson Williams, uma pessoa simples e totalmente diferente do
Aaron, aparecendo, do nada, namorando o chefe? Daria o que falar.
— É com isso que está se preocupando? Com o que vão pensar? —
Aproximou-se dela de novo e a olhou no fundo dos seus olhos. Alisson se
sentiu acuada. — Vivi um bom tempo sendo alvo de fofocas e de manchetes
que só mostravam o meu pior lado. Sei como é ruim ser julgado. Mas não
estamos cometendo um crime e ninguém tem o direito de se meter ou dar
opinião sobre nossa vida. Quer, mesmo, desistir de nós por conta disso?
Ela sabia que ele estava certo, entretanto, a medrosa dentro dela
insistia em não querer aceitar o seu conselho facilmente.
— Não. Mas podemos ir devagar e não mostrar para todos ainda
sobre nós. — Respondeu após respirar fundo.
— Tudo bem, passarinho. Nós podemos deixar a nossa relação
guardada só para nós, por enquanto.
***
Quando ela andava pelas ruas de Los Angeles, geralmente era de
cabeça baixa, esperando não tropeçar ou chegar logo em casa. Com Milla, a
deixou cansada de ouvi-la dizer o quanto a cidade era fantástica, e tudo
mais. E com Aaron, como sempre, as coisas eram diferentes. Ele a divertia
com algumas piadas, comentários irônicos ou com aquele olhar sedutor.
Eles passaram por alguns lugares muito frequentados por ela, quando
mais jovem, e ele a fez diversas perguntas que não teve medo de responder,
diferentemente de como era com as demais pessoas.
Era assustador para ela o quanto esse homem a mudava. Alisson
estava começando a achar que ele tinha completo poder sobre ela.
Quando estavam juntos, não havia problema algum, mas era só parar
e pensar no que aconteceria no futuro, que sua ansiedade batia.
Ela não era uma garota tola que tinha medo de tudo, só que ao pensar
que ela era uma simples engenheira de software enquanto ele era o dono da
TEC Corporation onde ela trabalhava, a deixava amedrontada.
Aaron estava certo ao dizer que ela não podia deixar de viver essa
felicidade por medo do que vão pensar sobre eles. Porém, Alisson já foi
acusada injustamente antes, e foi péssimo. Uma situação que gerou uma
desconfiança e medo nela inexplicável.
Ela não se achava nada elegante e atraente, então o interesse de
Aaron parecia sem sentido.
— Está pensando de novo naquele assunto? — Perguntou-lhe,
segurando sua pipoca doce e a encarando. Ela achou que Aaron podia ler
seus pensamentos.
— Não me acha sem graça? Sou tão... sem graça? — Questionou
insegura.
Alisson também se perguntava o porquê dela não se sentir
envergonhada, como sempre era, ao fazer uma pergunta ou dizer qualquer
bobagem. Talvez a experiência de o conhecer anonimamente e ver que
mesmo assim Aaron gostar dela tenha lhe dado confiança para isso.
— Impressiono-me sempre com sua insegurança. — Afirmou com
um sorriso de canto.
Eles estavam na praia, sentados sobre a areia, e o sol estava se pondo.
Ele não estava muito longe de Alisson, e com o laranja se misturando ao
azul, atrás dele, parecia irresistível.
— Não, Alisson. Você não é sem graça. É divertida, inteligente,
linda, carinhosa e muito mais coisa que eu poderia dizer a noite inteira. Não
é sem graça. — Ela nunca ouviu elogios de alguém. Talvez dos professores
na faculdade, mas nunca em questão de agradar visualmente alguém.
Naquele momento ela ficou envergonhada, porém, feliz. Seus olhos
bastavam para que ela sentisse que tudo o que ele dizia era verdade. A
tempestade em seu peito se acalmou. Era estranho e agradável. — Mas
temos muitas coisas que nos diferenciam. Não posso negar. Você é mais
sensível, tem uma inteligência superior à minha... E isso também me deixa
inseguro, pois eu mesmo sei que vou estragar as coisas com você. — seu
olhar caiu e ela sorriu como uma boba. — O que mais gosto é da sua
sinceridade. Sempre me diz o que pensa, como está se sentindo e não finge
gostar de mim pelo que sou. Na verdade, se não fosse pela minha
insistência, não estaríamos aqui.
— Por que sou covarde? — Pensou em voz alta.
— Porque sabe dos meus defeitos e teme que eu a magoe. — Aaron a
encarou novamente. — Nunca quis tanto uma coisa. As mulheres com
quem eu saía, só pensavam no que eu poderia lhes dar. Você é totalmente o
inverso.
— Não quero o seu dinheiro.
Um dos seus medos era que, por conta do seu passado, todos pensem
que ela seduziu o chefe para pegar o dinheiro dele; quando, na verdade, não
se interessava se ele era rico ou do mesmo nível social que ela.
— Não, Alisson. E seu receio de ser vista comigo diz isso. — Tocou
em sua mão e a apertou com carinho. — Quando começamos a conversar,
eu não sabia que tinha encontrado alguém que pudesse gostar do que sou,
sendo dessa forma, como conhece. — Brincou. — Pela primeira vez, posso
ser o Aaron de verdade, não a pessoa que pensam que sou. Também não
temo dizer o que quero ou o que sinto. Coisa que nunca aconteceu. Assim
que te vi com aquele homem, achei que tinha perdido quem que tanto me
faz bem.
Alisson não era de ficar emotiva tão rápido, mas suas palavras
mexeram com o seu emocional.
— Eu já disse que não quero nada com Rodrigo. — Reforçou.
— Eu sei. É que imagino você me deixando ao notar o quanto sou
babaca. — Deu um sorriso, apesar de transparecer que nada teve graça para
ele.
— Aaron! — Levantou o seu rosto com um toque sutil, fazendo-o
olhar em seus olhos. Era estranho ver tanta emoção no azul das suas irises.
Ela sentiu como se seu coração fosse parar e que explodiria por
dentro. O frio na barriga só comprova que já estava perdidamente
apaixonada por ele.
— Eu sei que é um babaca arrogante, e, mesmo assim, gosto de você.
Seu sorriso sincero finalmente surgiu, transformando-a em gelo
derretido. Foi ela quem tomou a iniciativa de beijá-lo desta vez, sem pressa,
pois queria que durasse.
— Se continuar a me enlouquecer desse jeito, passarinho, posso pedi-
la em casamento ainda hoje. — Falou assim que seus lábios se separaram.
— Não exagere! — Ironizou.
— Não estou exagerando.
Não deveria ter sido nada demais, porque ela sabia que ele estava
brincando, mas algo em seu peito a deixou assustada. Era bom demais para
ser verdade. E o medo, involuntariamente, tomou conta.
Aaron se levantou e estendeu a mão para que ela o acompanhasse.
— Vamos! Ainda temos um jantar para completar a noite.
CAPÍTULO 14
Alisson
Ela jamais imaginou que isso poderia acontecer. Quando começou a
mandar mensagem para o chefe, seu intuito era irritá-lo, só para ensiná-lo
que não podia ser tão babaca.
Depois, descobriu que ele não era tão ruim e estava gostando tanto
de conversar que esqueceu seu objetivo. Quando percebeu estar indo longe
demais, já era tarde. Aaron já estava caçando ela pela empresa e sua
insegurança atrapalhou tudo.
Ela ainda se sentia uma menina tola apaixonada por um cara rico
que tinha todo o poder sobre ela. Ainda pensava que as coisas iriam dar
errado, porém, seu rosto estava doendo de tão feliz que estava.
O jantar foi divertido, ele contou mais sobre a sua família e aos
poucos ela também se soltou, contando um pouco sobre seu passado.
O que mais impressionava Alisson era que nada foi um tabu. Ela
não teve medo de dizer, não se sentiu forçada. Aaron era seu cúmplice e
sempre tirava sarro da situação ou transformava cada palavra em duplo
sentido.
Aaron não queria a força a nada e nem acelerar as coisas, mas
Alisson estava subindo pelas paredes, ele, apenas com suas palavras,
olhares e toques, a atiçava. Teve medo de que se ficasse mais um pouco ao
lado dele, perderia a cabeça e se entregaria a isso em dois minutos.
Alisson havia acabado de tomar banho, estava com o roupão e
deitada na cama. Ela ouviu o telefone vibrar ao seu lado e como uma idiota
ela o pegou as pressas.
“Mesmo não tendo passado nem uma hora, já estou com saudades,
passarinho. “
Alisson soltou um sorriso bobo, sentindo seu coração vibrar.
"Exagerado. "
"Passou todo esse tempo fingindo que não sabia quem sou e agora
nem pode ficar dois minutos longe?"
"Você não sabia o quanto isso me cobrou, passarinho."
"Me mantive ocupado."
"Acredite, mesmo você estando a quilômetros, estava na minha
cabeça."
"Claro, sua imaginação fértil."
"Ponha fértil nisso."
"Até então, tento imaginar aquilo que eu ainda não vi. Sabe…
tenho muitas ideias."
"Ideias?"
"Homens têm a imaginação fértil."
"Não viaja muito, pode se decepcionar."
"Nunca vou me decepcionar."
"Olha, essa é uma conversa que não vou gostar de ter."
"Certo, você é muito certinha."
Ela parou no tempo pensando que não iria agradar em nada o
Aaron. Ele estava acostumado com as mais belas e magras mulheres. Ela
não era tão sensual, não usava roupas provocativas e sexo… o sexo não era
nada extraordinário.
"Não sou tão surpreendente. Algo mais perto do simples."
Os pontos na tela do celular quase não tinham fim. No final, não
chegou mensagem alguma.
— Você tinha que ser tão “Alisson”? — Era um medo válido, não
se arrependeu, porém, não gostou de deixar claro sua insegurança. Afinal,
era algo pessoal e Aaron sempre levava isso como uma fuga. — Estou
certo, não é? — Baixou o celular, ficando com a questão na cabeça. — Só
transei uma ou duas vezes. Foi horrível, quase desisti de fazer outras vezes.
— Batidas na porta a assustaram. Alisson olhou em direção a ela com medo
de quem seria do outro lado. Bem, ela sabia quem poderia ser. Ela se
levantou e com passos curtos, se aproximou dela. Seu coração estava na
boca, pensando em si, sentiu que estava desarrumada demais. Então ela
girou a maçaneta e a abriu, foi encarada pelos olhos azuis e frio de Aaron.
— Porque veio até aqui a essa hora. — Se fez de desentendida.
A primeira coisa que fez foi entrar e fechar a porta, ainda olhando
em seus olhos. Alisson se preocupou, não sabia o que ele iria fazer.
Então, ainda sem dizer uma palavra, Aaron a agarrou e a beijou, a
surpreendendo. Alisson só aceitou aquilo, pois não resistiria a sua boca
esfomeada que sempre tirava o ar dos seus pulmões. Ela passou a mão
sobre o seu pescoço, sentindo as mãos dele em seu corpo, descendo e se
aventurando em lugares que poucos, ou quase nenhum, exploraram. Então,
Alisson parou o beijo e o encarou.
— O que está fazendo? — Seu coração batia a mil, seu corpo
tremia. Estava quase perdendo a razão e simplesmente se entregando. Além
disso, ela não era tão boba.
— Provando para você que é, para mim, a mulher mais atraente que
conheço.
— Mais atraente é exagero. — Ironizou.
— Alisson, nem sempre se precisar ser uma top model para atrair
um homem. — Ele se irritou. Aaron mal se segurava de tanto desejo, não
entendia o porquê de tanta insegurança. — Você é a chama que queima meu
corpo, a tentação na qual não paro de pensar, está na minha cabeça a todo o
momento e me excito só com seus beijos. — Ela sentiu suas bochechas
arderam. Aaron não estava mentindo e ali, ela quis tirar tudo aquilo e se
entregar. — Gosto de você. Muito além disso, eu diria. Estou pegando fogo
agora só de pensar que está apenas com esse roupão.
Parando, finalmente, para analisá-lo, Alisson percebeu que seu
chefe estava sem camisa, vestindo apenas uma calça de moletom cinza.
Aquilo a atiçou ainda mais, fazendo com que ela sentisse um desejo fora do
comum.
Os pelos, no peito, o corpo em forma, os braços fortes, isso tudo a deixou
extremamente excitada.
— Não sou tão experiente nisso. — Confessou, um pouco
envergonhada.
— Não se preocupe. — Aaron deu um sorriso perverso que
hipnotizou Alisson, ao menos tempo em que ele abria o roupão, devagar. —
Posso fazer todo o trabalho.
Alisson deixou que ele continuasse, afinal, já estava atiçada o
suficiente. Ela nem pensava mais na possibilidade dele perder o interesse,
queria sentir aquele momento, pois já não queria empecilhos no meio do
caminho.
Lentamente, Aaron foi afastado o tecido do seu corpo, beijando seu
pescoço enquanto fazia isso. Alisson sentiu frio na barriga enquanto ficava
cada vez mais excitada.
Ele deixou que a peça caísse no chão, a despindo de uma só vez,
fazendo com que Alisson se arrepiasse, mas ela deixaria de ser tímida,
agarrando ele e o beijando, fazendo com que seus corpos se tocassem,
finalmente.
Aaron a segurou e levou para a cama, sem dar folga a sua boca e
sentindo que estava quase explodindo por dentro.
Contudo, ele não iria tão cedo ao pote, queria prová-la, sentir seu
corpo se deter por completo.
— Eu quis fazer isso desde o minuto em que a vi. — Disse, olhando
em seus olhos e beijando sua carne, enquanto sua mão o auxiliava. Alisson
suspirou com a novidade. Das últimas vezes não foi tão demorado e
excitante assim, mas nada com Aaron era simples e ela estava gostando de
cada coisinha. — Porra! — Ela se assustou com o palavrão, achou que tinha
algo errado.
— O que foi? — Seu coração ficou pequeno no peito.
— Tem tatuagem sexy pelo corpo? — Alisson então o encarou e
não achou que ele estava brincando. — Ao menos tempo que gosto e fico
ainda mais excitado por você, fico imaginando que outro cara viu partes do
seu corpo e ficou tão duro quanto eu.
Alisson sorriu como uma boba. Jamais pensou que ouviria isso.
— Não foi um cara, mas sim uma mulher.
— Isso alivia o meu coração. — Ela revirou os olhos. — Se tiver
aquela na espinha, vou me fantasia fodendo você de costas enquanto
encarro a porra da sua tatuagem excitante.
Ela ficou ainda mais envergonhada com isso.
— É, eu tenho uma tatuagem assim. — Confessou o enlouquecendo
de vez.
O abrir de boca dela foi pelo seu beijo na sua barriga, descendo
ainda mais, enquanto ele estava entre suas pernas, abrindo passagem e
fazendo com que o frio na barriga voltasse.
Alisson nunca recebeu uma oral e estava com medo do que viria.
Ela não pensava em mandar parar, naquelas circunstâncias já estava
entregue ao desejo. Sentiu seu coração ficar na boca ao sentir seus lábios
tão quentes que a fez derrete ao senti-los na sua intimidade.
Aaron sabia o que estava fazendo e naquele momento estava
faminto. Esperou isso por muito tempo e não decepcionaria a mulher que
tanto o enlouquecia. Alisson suspirou ao fechar os olhos. Ela se entregou
inteiramente aquela sensação gostosa no seu ventre. Não podia ser
comparado as outras vezes em que estava com um homem. Aquilo já
começou totalmente diferente. Aaron se preocupava com ela, com seu
prazer e não só com ele.
O coração corria uma maratona enquanto sua cabeça viajava. Isso a
fez se segurar na cama, gemia sem pudor e suspirava de desejo. Pensou
estar sendo jogada do alto de uma nuvem quando explodiu de desejo
enquanto Aaron a torturava com sua magnífica boca na qual parecia
faminta.
Quando acabou o trabalho, Alisson achou que já tinha chegado ao
seu limite, sem nem ter chegado tão longe. Ele a beijou com urgência. Seu
corpo sobre o dela, parecia ter o dobro do tamanho. Alisson abraçou seu
corpo, ele ainda estava com a calça, e desesperado para tirá-la.
— Esperei muito tempo por isso. — O olhar que ele lançou a fez
parecer pequena. Alisson se afundou no colchão. Seu coração voltou a
trabalhar como um motor prestes a correr mais uma vez. — Agora você é
minha, passarinho.
Alisson se arrepiou toda. Já tinha imaginado ele a chamando assim
durante um sexo, que estava sendo duas vezes melhor do que a sua fantasia.
Aaron tirou aquela peça de roupa com tanta rapidez que a
impressionou. Apesar do nervosismo, tudo o que seu corpo pedia era mais
um pouco dele. Alisson nem se importava se estava sendo uma devassa,
queria logo o prato principal.
Aaron se tocou a olhando de cima. Sentiu que só com isso poderia
gozar, mas não perderia essa oportunidade. Alisson estava receptiva. Sentiu
seu pau na entrada da sua boceta encharcada. Ele entrou lentamente,
curtindo a sensação boa que era finalmente ter aquela que ele mais
desejava. Naquele momento o mundo parou e nenhum dos dois se
preocupou com mais nada.
Alisson abriu sua boca ao ser invadida por ele. Aaron era perfeito
para ela. Se encaixou perfeitamente. Dentro de si, Alisson sentiu o desejo,
novamente, tomar seu corpo e pediu por mais.
— Vamos, bundão, me dê tudo de si. — Provocou, agradando à fera
dentro dele.
— Não me provoca, passarinho, ou vai se arrepender. — Disse ao
pegar as suas mãos e prendê-las no topo da cabeça, sobre a cama. — Não
faz ideia do quanto me imaginei fodendo você desse mesmo jeito.
— Dessa vez é bem real. — Alisson achava que pegaria fogo.
Estava tão quente que começou a se incomodar. — Seu desafio agora é me
fazer gozar de novo.
— Aceito, só não espere que eu seja delicado. — Disse bem perto
do seu rosto. Olhando nos olhos de Alisson, Aaron viu uma chama que o
atiçava. Ele nunca imaginou que encontraria seu par perfeito. — Está me
surpreendendo, passarinho, jamais pensei que uma nerd fosse ser tão
deliciosa e provocante, quanto é.
Aaron continuou mantendo suas mãos presas enquanto a beijava e
um vai e vem vagaroso, que esquentava as coisas ainda mais.
Alisson jogou a cabeça para trás, deixando que ele beijasse seu
corpo enquanto sentia ele revirar seu corpo por inteiro. Estava tão gostoso
que ela riu ao ficar anestesiada com aquela sensação, mas logo sentiu uma
onda mais forte e intensa quando Aaron quase saiu por completo e a invadiu
com força, a fazendo dar um grito de surpresa e prazer.
Ela não estava preparada para aquele primeiro impacto, nem da
segunda vez, mas entendeu que ele queria mais força e era bom o que fazia.
Aaron libertou sua mão e segurou sua cintura, levantando e
apertando ela, só para poder fodê-la com mais força e rapidez, a fazendo dar
pulos na cama.
A olhando de cima, Aaron achou que estava tendo uma visão do
paraíso, notando que ela mudava de cor, seus cabelos bagunçados, seu
corpo com algumas tatuagens. Alisson se apoiou nos cotovelos, encarando
o homem que ela mais amava com uma expressão de fera selvagem que a
engolia por inteira.
Não pode conter os gemidos de prazer. Nem sabia se poderiam ser
ouvidos. Alisson jogou a cabeça para trás, Aaron apoiou-se na cama,
facilitando as coisas.
Ele sentiu seu pau escorregar dentro dela, de tão molhada que
estava. Ouvir seus gemidos era como o som do paraíso. Alisson não fazia
ideia do efeito que causava nele. Até então, o sexo que ele fazia com outras
não se comparava a transar com alguém por quem nutria um sentimento de
paixão.
Ela sentiu seu corpo pesar. Estava se derretendo por dentro, Aaron a
forçou a olhar em seus olhos, pois queria os ver quando chegasse ao ápice.
Seus corpos suavam e o coração acelerado. Quando ela sentiu
novamente a sensação no fundo do seu ventre, ele estocou mais forte, e ela
gemeu mais alto e os dois se entregaram ao orgasmo ao mesmo tempo.
Alisson sentiu seu gozo a preencher por dentro e ele não saiu até que tivesse
derramado tudo dentro dela.
CAPÍTULO 15
Alisson
Uma semana depois
— Por que não quer que eu te leve até o seu apartamento? —
Perguntou Aaron, com o cenho franzido e um pouco frustrado. — Está com
medo de que alguém tenha nos seguido ou que eu pense que é uma
bagunceira? Já que sou a pessoa mais organizada que pode encontrar.Seria
um prazer ajudá-la nos deveres domésticos. — Argumentou, tentando, pela
milésima vez, a convencer a deixá-lo subir para o apartamento.
Eles chegaram há trinta minutos e ele ainda não aceitou que não
subiria. Ela queria um tempo a sós para refletir sobre o que estava
acontecendo.
A viagem foi muito boa, ela quase não parava de sorrir. A noite tinha
sido maravilhosa, Aaron a desdobrou inteira, porém, sentia que precisava
desse tempo.
— Relaxe, Aaron! Não vou fugir. — Revirou os olhos. — Vamos nos
ver amanhã, no trabalho. Não tem com o que se preocupar. E você mesmo
disse que pretende ir ao hospital ver seu pai.
— Ok, Alisson. Tem razão. Mas pensar em ficar longe de você até
amanhã me deixa frustrado. — ele fez uma cara de coitada que a fez rir. —
Não sei se vou conseguir.
— Conseguiu por tanto tempo. Como,dessa vez, pode ser diferente?
Ela não sabia que ele era tão dramático, mas estava gostando dessa
atenção.
Beijou o seu rosto levemente, pretendendo ir em seguida, porém
Aaron foi mais rápido e a prendeu a ele, beijando intensamente os seus
lábios. Estava se tornando um vício. Ela só esperava não se arrepender por
estar se entregando tanto.
— Podemos nos falar por mensagens. — Afastou-se o máximo
possível dele, para não desistir de sair do carro.
— Não tem mais graça depois que provei do seu beijo e aroma
excitante. — Falou com um olhar provocante.
— Pelo amor de Deus! Não diga essas coisas na frente de outras
pessoas! — ficou envergonhada.
O motorista já devia ter ouvido ou visto coisas piores do que ela e
Aaron se beijando e falando essas coisas, no banco de trás do carro, porém
ela não era igual às mulheres com quem ele costumava sair.
— Relaxe! Guillis não se importa mais com o que faço. — Sorriu.
Ela abriu a porta do automóvel, sentindo o seu rosto arder. Não
estava acostumada, nem sabia se acostumaria a ouvir tais coisas dele.
Antes de fechar a porta, ainda o encarou por alguns segundos. Seu
sorriso pervertido não saiu de sua boca e seu olhar percorreu todo o seu
corpo, a deixando em chamas, novamente.
— Tenha um bom dia, bundão!
— Ainda vamos conversar sobre sua obsessão pela minha bunda. —
Brincou.
Alisson entrou no prédio, sentindo no seu peito uma felicidade nunca
vivida por ela antes. Estava em êxtase e confiante de que tudo daria certo.
Rezava por isso.
Ela não percebeu quando aconteceu, mas Aaron a prendeu a ele e
deixou Alisson completamente apaixonada.
Há um tempo, estava furiosa por ele ter se esbarrado em nela e a
deixado no chão como uma fruta podre, só que agora ela estava ansiosa
para o ver outra vez, sentir seu perfume, seus lábios macios e suas mãos
pervertidas no seu corpo, e ser dele novamente, como da última vez.
Alisson subiu até seu andar com um sorriso bobo no rosto, como se
tivesse acabado de ganhar um prêmio e tanto. Estiveram juntos por uma
semana em Los Angeles; jantamos em muitos lugares e ela o levou a
cafeterias e restaurantes que costumava frequentar quando ela morava na
cidade. Também contou tudo que a deixava triste, empolgada,
envergonhada, e Alisson conheceu o Aaron que ela não sabia que existia.
As noites ao seu lado, tão longe de casa, pareceu o paraíso na terra.
Aaron lhe ofereceu o melhor sexo da sua vida e não conseguia parar de
pensar nisso.
Os dois estavam mais unidos do que nunca, contudo ainda existia
algo a dizia que isso duraria pouco. Talvez fosse um lado seu que ainda
estava receoso ou que não confia totalmente no chefe arrogante.
Alisson pensava que essa parte dela sempre a boicotava, porém
estava certo quando dizia que ela não era a típica mulher com quem Aaron
Spacter saía; começando pelas roupas de adolescente rebelde.
Alisson só tinha uma coisa certa em sua cabeça: nunca me tornarei
algo que não sou, só para agradar alguém, inclusive Aaron. Mas olhando
para si, naquele momento, sentiu o desejo de mudar algumas coisas. Ela
gostava da forma despojada e confortável, porém, depois que finalmente
ficou com o cara por quem estava apaixonada, despertou o desejo, nela
mesma, de vestir algo mais bonito e elegante. Ela imaginava Aaron a
comendo com o olhar, o sorriso pervertido que tomaria o seu a fez sorrir
com a possibilidade.
Se Mia estivesse em sua frente, diria que agora ela estava se sentindo
mais livre e confiante. Por isso a mudança.
Assim que as portas do elevador se abriram, ela viu sua amiga
andando de um lado a outro, com os olhos inchados de tanto chorar.
Mia olhou para ela e praticamente correu para um abraço forte.
Em todo o tempo longe, Alisson pensou nela e sentiu saudade, mas
imaginava que ela não queria falar com ela.
Seu abraço foi seguido por mais lágrimas. Isso deixou Alisson
assustada.
— O que aconteceu com você? — perguntou, ainda agarrada a ela.
— Claramente, está nervosa. Estou preocupada.
Quando Mia se afastou, olhou em seus olhos. Mal dava para ver seus
lindos olhos cor de esmeralda.
— Você estava certa. Eu cometi um erro e agora não sei o que fazer.
— as vezes Mia era muito exagerada, mas Alisson não achava que daquela
vez era exagero.
Ela acabou não entendendo nada. Puxou a amiga para o seu
apartamento, deixando a mala de lado, a fazendo se sentar no sofá, Alisson
pegou um copo de água e se sentou ao seu lado.
— Explique melhor! — Entregou-lhe o copo. — O que aconteceu?
— Estou grávida.
Alisson ficou paralisada. A palavra “grávida” fez um eco na sua
cabeça e ela não mascarou a sua surpresa e o sorriso nervoso.
— Grávida? Como assim? De quem? Como? — ela tinha tantas
dúvidas, que seu cérebro estava confuso.
— Não disse a você antes, pois sabia que me julgaria. Mas tinha
aceitado aquele convite de ir à agência para sair com caras. — Encarou o
vidro com a água. — Conheci ele por acaso, em uma festa chique na qual
entrei de penetra. — Essa não era uma novidade. As aventuras de Mia iam
além da normalidade. — Na verdade, eu falei de quem sou filha e eles me
liberaram. — Respirou fundo para ouvir uma longa história da amiga. —
Você sabe que tenho um ponto fraco.
— Só um? Achei que tivesse uma lista. — Encostou-se no sofá e
colocou a mão na cabeça, sentindo que o dia acabou para ela.
Ela pode ser a amiga mais desleixada do mundo, entretanto Alisson a
amava como uma irmã. Tudo que lhe acontecia, mexia diretamente com ela.
— Não é hora de me julgar. — Reclamou.
— Desculpe! Vou deixar para o final. — Deu um falso sorriso.
Ela não se importou e continuo a sua história.
— Os caras mais velhos têm um charme único, e eu não sabia que
aquele homem era tão... sedutor. — Alisson não estava ali para julgar
ninguém, só que seria difícil guardar os seus comentários e o julgamento só
para o final. — Nós conversamos, ele foi gentil e tudo mais que um
príncipe poderia ser. Eu também não sabia que ele era amigo do meu pai. E,
depois de dois meses saindo e transando como loucos, descobri que é
casado.
— O QUÊ?! — ela achou que seu choque era uma surpresa para Mia,
pois se afastou um pouco e colocou a mão sobre o peito. — Casado? Como
não viu isso? Ou, como nunca lhe fez perguntas do tipo “você é solteiro”?
— Alisson, eu vim até você porque é minha amiga. Não me julgue
por esse erro! — Fez um bico.
— Se eu não a jugar, serei uma péssima amiga. — Cruzou os braços.
— Ok, Mia. Entendo que não sabia, mas podia ter se prevenido, usado
preservativo. Agora está grávida de um homem casado. — Sussurrou a
última parte, mesmo que mais ninguém estivesse me ouvindo.
Era uma grande ironia, pois a própria Alisson cometeu esse erro.
— Ele está tentando se separar há alguns meses e a bruaca não quer
deixá-lo livre. Só que não muda o fato de ele não me querer mais. —
Debulhou-se em lágrimas outra vez.
Alisson respirou fundo ao fechar os olhos e abraçou a amiga. Mia
era louca e espalhafatosa, no entanto era sua amiga. E devia ajudá-la.
— Você contou a ele? — perguntou ao se separar dela.
— Não. Ele não quer mais nada comigo, dizendo que sou a filha do
seu amigo e que não quer arranjar briga com meu pai.
— Não importa se ele quer ou não. É direito desta criança ser
acompanhada pelos pais, apesar de toda a loucura. — Levantou-se.
Esses assuntos eram um problema para Alisson, emocionalmente
falando, porque seu pai abandonou a ela e sua mãe. Foi difícil crescer
sabendo que foi rejeitada.
— Não pode deixar que esta criança cresça achando que é indesejada
por uma das partes. E espero que esse homem não te magoe ainda mais, ou
eu... irei expô-lo na internet.
O sorriso nos lábios de Mia a animou. Apesar dos pesares, desejava
sua felicidade.
— Eu sei que tenho que falar. Só estou com medo e tentando achar
um apoio. — ficou tristonha.
Alisson se agachou para ficarem da mesma altura e a olhou nos
olhos, que estavam mais nítidos, tentando transmitir todo o carinho que
sentia por ela.
— Não vou mentir que achei tudo um grande erro, mas como sua
amiga, não permitirei que ninguém te magoe, muito menos agora, com este
bebê. — Limpou o seu rosto e imaginou que seu filho iria nascer como ela,
que era uma ruiva de quase dois metros e com sardas fofinhas. — Vou estar
sempre ao seu lado, mesmo que seja louca e, às vezes, malvada.
— Desculpe-me pelo que falei! Foi no calor do momento. Eu estava
magoada com o que Robert fez.
— Robert de quê? — Cerrou os olhos.
Ela também a encarou a amiga, sabendo o que ela queria fazer.
— O quê? Só quero saber com quem estamos lidando.
— Não quero que o prejudique. Apesar de ele ser um idiota, acho
que... — Seu silêncio a apavorou. Só faltava estar apaixonada por um
homem casado. — O nome dele é Robert Miller. Não faça nada que...
— Relaxe, Mia! Só quero saber quem é o idiota. — Levantou-se. —
Se esse Miller for um babaca, acho que terei permissão para fazer algo, não
é?
— Como se fosse cometer um crime! — Debochou.
— Nunca se pode duvidar de uma hacker raivosa.
Ela riu.
***
Enquanto Mia dormia ao seu lado, na cama, Alisson estava no
computador. Ela não era de stalkear pessoas usando os seus conhecimentos
de informática, todavia faria o possível para ajudar a amiga. E, para isso,
tinha que saber sobre o tal homem.
Quando digitou seu nome no Google, a sua tela foi invadida por
várias notícias sobre ele e imagens suas, assim como da sua esposa. Robert
era lindo e não era tão velho. Quarenta e seis anos, porte atlético e rosto de
galã de novela. Só não era mais bonito do que Aaron. Ninguém se
comparava a ele, na sua opinião.
Dono de uma petrolífera, o cara era muito rico. Muito rico mesmo.
Ele se casou com a atual esposa há quinze anos, era filho único e não tinha
filhos. Ainda não.
Onde você foi se meter, Mia?
Uma foto sua chamou a atenção. Ele estava ao lado do pai de Mia,
confirmando a informação de que eles se conheciam.
Seu celular tocou e ela logo o atendeu, sem ver quem estava ligando.
Não queria que a amiga acordasse.
— O que você fez comigo, passarinho? — Indagou Aaron em um
suspiro. — Não parei de pensar em você por um segundo. O que está
fazendo?
— Stalkeando Robert Miller. — Respondeu sem pensar. — Não era
para eu ter falado isso.
— O quê?! Por quê? — era óbvio que o homem curioso não deixaria
essa passar. Nem que ela dissesse que o assunto era particular.
Só se sentiria ruim por compartilhar informações que não eram suas.
— O que o Robert fez com você? — Perguntou, sendo autoritário.
— Relaxe, Aaron! Não foi comigo que ele mexeu; foi com minha
amiga Bia. — Explicou após revirar os olhos, pela sua preocupação
exagerada. — Quer saber? Acho que um cara como você, importante e
galinha, conhece bem o tipo do idiota. Conhece ele?
— A... Como assim galinha e “tipo”? — ficou confuso. — Você tem
que me dar mais informações.
— Conhece ou não o idiota? — Irritou-se, sussurrando para não
acordar Mia.
— Sim. Mas, por que está irritada e sussurrando? — Perguntou
desconfiado.
— Porque a minha amiga está dormindo aqui, ao meu lado, depois de
ter comido um pote de sorvete de baunilha e chorado como se sua vida
estivesse acabando. — Continuou sussurrando. — Diga o que sabe dele!
Ele sempre foi um babaca traidor ou brincar com as mulheres, fora do
casamento, é típico no relacionamento de chefes coorporativos?
— Primeiro: não sou desse tipo. Assumir nosso namoro me torna
automaticamente só seu. — Namoro! Essa palavra a deixou arrepiada e
menos raivosa. — Segundo: Robert Miller traiu Stefany com sua amiga? —
A surpresa ficou nítida em sua voz. — É uma loucura. Ele se gaba por ser
certinho. Eu já sabia. Não dá para ser tão certinho.
— O que quis dizer, Aaron? — Se ele estivesse ao seu lado, veria
seus olhos estreitos tentando matá-lo por falar essas coisas. — Quis dizer
que...?
— Eu me expressei mal, querida. Eu quis falar que esse homem não
parecia ser do tipo trai. Mas eu entendo muito bem os seus motivos. Stefany
é o diabo em pessoa, está alongando o divórcio há meses e não é nenhuma
santa. Seu interesse é na fortuna de Robert.
— Então, ele quer se separar dela realmente? — ficou pensativa, mas
não se confirmou com isso. — Vou precisar da sua ajuda.
— Para quê? — ficou desconfiado de novo.
— Mia tem uma péssima notícia para dar ao Robert. E, por conta da
amizade dele com Heitor, pai dela, ele a deixou. Ou, melhor dizendo,
magoou ela e não quer mais vê-la.
— Sabe? Fiquei mais feliz depois de saber que o senhor certinho não
é tão certinho. — ela podia apostar que estava sorrindo.
— Não sei porquê. A lista dos seus pecados é quase infinita, Aaron.
— Largou o computador na cabeceira. — Ouça bem! Eu posso estar
apaixonada por você, mas se ousar me magoar, farei da sua vida um
inferno. — A coragem para confessar veio da raiva ao imaginá-lo a traindo.
Seu silêncio a assustou e a fez achar que falou algo terrível.
— Eu estava esperando você admitir há muito tempo, passarinho. —
se tranquilizou ao ouvir sua voz exibida. — Nunca farei nada que me faça
perder o que me faz tão feliz.
— Espero que não. — Afirmou.
— Nunca!
— Boa noite, bundão! Amanhã o dia será longo.
Algo nela a fez acreditar que o safado estava com um sorriso de
orelha a orelha.
— Boa noite, passarinho! Não consigo conter o desejo de ir até sua
casa e te beijar por inteira.
— Boa noite, Aaron! Vou desligar. — E assim fez.
Ele tinha uma facilidade enorme de transformar uma conversa
comum em uma profanidade.
CAPÍTULO 16
Aaron
O dia estava cansativo. Reunião, conferência. Aaron notou que desde
que voltou, e finalmente acertou as coisas com Alisson, eles não se viam.
Não que ele não quisesse ou que não pensasse nela a cada segundo
daquele longo dia que não acabava.
Ele olhou para a mesa do seu escritório, viu os papéis sobre ela e
imaginou Alisson, bem ali, aberta para ele. Aaron fechou os olhos sorrindo,
pensando no seu toque, no perfume e no seu rosto envergonhado. Aquilo
fez seu pau dar o ar da graça.
— Maldito passarinho. — riu e pegou o telefone que se comunicava
com sua secretária. — Quero Alisson Wiliams na minha sala, o mais rápido
possível. — disse, usando o tom mandão e arrogante, pois sabia que a
mulher iria transmitir a mensagem de urgência e curiosa/assustada como
Alisson era, em dois minutos entraria pela porta desesperada.
Aaron, inquieto, levantou-se da cadeira, andou pela sala, arrumou
alguns objetos já em seu devido lugar, olhou para o lado de fora e viu o sol
se por. Os funcionários já estavam trocando de turno, a secretária já estava
quase de saída, ele só queria que a namorada viesse o mais rápido possível e
se fosse ele a chamando, ela desconfiaria.
Como bem já sabia, Alisson entrou pela porta com os olhos confusos,
claramente achando que tinha feito algo de errado.
— senhorita Gonçalo, pode ir. A conversa aqui é particular. — ele
estava usando desse mistério para por preocupação na menina.
Milla não era tão boba assim, e estava começando a perceber as
coisas, mas naquele momento, o tom do chefe a preocupou. Antes de sair,
olhou para Alisson e viu que a mulher também estava preocupada, sem
entender o que ele queria.
Assim que ficaram a sós, ela se aproximou dele, cerrou os olhos e
Aaron não conseguiu disfarçar o riso.
— Seu idiota, achei que realmente era importante. — ela disse
chateada, batendo de leve nele, que a colocou contra a porta, assim que a
fechou. — Aaron!
— É algo extremamente importante. — falou antes de beijá-la. —
Você me provocar até nos meus pensamentos.
— Você deveria ser menos previsível. — Alisson ainda estava furiosa
por ele ter feito ela achar que algo ruim aconteceu, mas não conseguia
resistir a ele. A mulher se derretia todas às vezes que ele a tocava. — Para
Aaron, não podemos fazer isso aqui.
— Você me viu mandando a secretária ir embora?
— É nosso trabalho. É melhor não misturar.
Ele riu quase debochando dela. Alisson o encarou tão feio que ele
teve medo.
— Querida, não sei se você percebeu, mas eu me apaixonei por
uma funcionária, que me mandava mensagem provocativa — Alisson iria
protestar, mas ele não deixou. — Transamos enquanto estavam em uma
viagem de trabalho.
— Está jogando isso na minha cara? — dessa vez ela se irritou de
verdade. — seu idiota.
— Não quero ofender você, só estou explicando que já misturamos
muito e eu quero continuar misturado. Em cima da minha mesa.
— E se eu não estiver afim? — ela cruzou os braços e o encarou.
Aaron já era calejado. Um safado de carteirinha.
Ele simplesmente a pegou e a carregou até sua mesa. Alisson ficou
realmente nervosa. Era perigoso. Seu medo era de alguém entrar e pega
dois.
— Meu pau já estava acordado. — Alisson o viu abrir a camisa,
mostrando seu belo peitoral, depois tirou o cinto e abriu a calça. — Então
vou ter que fazer o trabalho todo sozinho, mas terá que ver.
Ela arregalou os olhos e pegou na sua mão, o impedindo de
continuar.
— Ficou maluco?
— Não, passarinho, eu só estou muito excitado e quero provocar
você. — ele riu. — Não mente para mim — Aaron a pegou pelos pulsos,
não muito forte, a trouxe para perto e olhou em seus olhos. Ele sabia que ela
queria. Só bastava um toque e beijo para ela se acender. — Sei que você
quer isso.
Alisson odiava admitir que Aaron a deixava acesa só com um sorriso,
mas não tinha como negar. Assim que ela viu ele abrindo a calça, sentiu o
meio das pernas umedecer.
Foi ela quem o agarrou pela camisa e o beijou ali, o fazendo se
encaixar entre as suas pernas, na qual ele fez questão de apertar. Naquele
dia, ela escolheu um vestido estampado, preto com detalhes em banco, sua
bota de couro, e os cabelos soltos. Aaron tinha se apaixonado pelo seu estilo
despojado e rebelde meio gótica.
Sem dizer uma palavra, Aaron enfiou as mãos debaixo do vestido,
chegou a sua calcinha e a puxou com força. Com o susto, Alisson se afastou
e o olho nos olhos.
— Por que fez isso? — ela estava chateada pela atitude, mas muito
excitada para parar o processo.
— É o meu jeito. — O sorriso safado no canto da boca só a fez pegar
mais ódio dele, então Aaron a puxou para mais perto. Alisson se apoiou na
mesa, sem saber o que esperar. Ela nunca havia feito sexo desse jeito. Na
verdade, Aaron foi seu primeiro em quase tudo. Era provável que
conhecesse seu corpo melhor que ela mesma. — Se eu não estivesse tão
desesperado, chuparia essa boceta até você gritar gozando na minha boca.
Ela nem sabia o que dizer. Aquele homem era bom em tudo o que
fazia. Alisson só ficou parado, apoiando-se e vendo ele afastar mais o
tecido que ela cobria o corpo, baixando a cueca e mostrando aquele pau
enorme que chamava por ela. Só de olhar ela se molhava toda. Então, a
provocando, Aaron esfregou seu membro na boceta unida dela, a fazendo
suspirar. Alisson nem se lembrava de onde estavam. Sentindo seu corpo
arrepiar por inteiro. Aaron gostava dela ser só dele. Nunca ninguém
explorou aquele corpo, seus suspiros, o líquido que escorria dela.
Ali começou a ficar maluca, sua respiração falhava com a sensação
gostosa. Sem aguentar mais um segundo, Aaron se posicionou na sua
entrada e escorregou para dentro, a fazendo gemer baixinho, mordendo os
lábios.
Ele a invadiu pouco a pouco. Inclinou-se sobre ela e começou com
estocadas devagar, saboreando aquele canto quente que tanto o enlouquecia.
Ele já transou com muitas mulheres. Foi bom, prazeroso, mas nada se
comparava a ser só de uma mulher. Saber que ela o amava e que seria só
dele, isso, sim, era o real prazer da coisa.
Aaron a beijou, segurou seu corpo e a levou até o sofá que ficava no
canto da sala. Então ela estava sobre ele, sentada bem no seu pau. Era a
primeira vez dela assim, mas seu corpo parecia saber os movimentos lentos
que deixava seus corpos ainda mais quente.
Alisson gemia no seu ouvido enquanto descia e subia, cada vez mais
rápido, pois seu corpo exigia mais prazer. Aaron encostou-se no sofá, ela se
apoiou no estofado. Aaron já tinha feito isso muitas vezes, mas não se
sentiu preparado para aquela sentada no seu pau, que latejava de tanto
prazer. Ele assistiu Alisson jogar a cabeça para trás, sem deixar um segundo
de se esfregar nele com tanto desejo que quase o fazia esquecer da
realidade.
— Porra, mulher, assim você vai acabar me matando. — ele mal se
aguentava ali. Pegou-a pelo quadril e a ajudou a subir e a descer, gemendo
assim como ela, como dois loucos. — As tímidas são as que mais me
surpreendem.
Ele não conseguiu se segurar. Simplesmente explodiu dentro dela,
forte, como se sua alma tivesse saído do corpo, assim como Alisson que se
desmanchou no seu colo.
Ela sentiu seu corpo ser preenchido por dentro. Não quis perder nada.
Os dois não queriam se separar. Se beijaram longamente, enquanto ainda
estavam dentro um do outro. Alisson nunca experimentou o sexo daquele
forma e estava amando.
CAPÍTULO 17
Alisson
Um mês depois
— Este é o décimo vestido que você me faz colocar. Espero que
esteja bom, porque não vai rolar mais uma oportunidade. — ela falou à
Mia, que estava sentada em um sofá macio e confortável, em frente ao
provador onde ela já tinha entrado diversas vezes. — É por isso que odeio
fazer compras.
— Se fosse só pegar um vestido e pagar, não teriam provadores na
loja, Alisson. — criticou, olhando cada detalhe da roupa que ela estava
vestindo.
Alisson sabia que era importante, por isso estava nervosa, apesar de
estar com Aaron a um bom tempo. Ela só não gostava de tirar e por uma
peça na qual Alisson considerava boa. Porém, seu gosto era peculiar, por
isso chamou a amiga, que estava a fazendo se arrepender. Mia estava
demorando e a torturando por saber que ela odiava os, porém, a ruiva
amava provar roupas.
Alisson achava que mesmo ela estando grávida, a mataria se a
forçasse a colocar outra peça.
— No outro dia, você reformou o seu guarda-roupa. Por que está tão
chata agora? — Perguntou.
— Deve estar perdendo a memória, pois me lembro bem de quase ter
matado você e Aaron. — Cruzou os braços.
Mia se levantou do sofá e foi em sua direção. Elas estavam em uma
das mais chiques lojas de Nova York, comprando mais um vestido para o
seu jantar com Aaron. E era ela quem estava decidindo o que Alisson
levaria ou não para a ocasião, já que seu gosto por moda falava mais alto
quando alguém dizia “compras”.
Alisson odiou se lembrar da semana passada, quando os dois a
levaram para comprar coisas. Ela sentia que a culpa tinha sido dela, pois fui
a morena quem teve a ideia, só que se arrependeu logo na entrada do local,
quando as vendedoras a olharam com desdém e acharam que eles eram um
casal que estava fazendo uma caridade para Alisson.
Ela não se importava com as roupas que vestia, mas até ela teve que
concordar que devia mudar seu estilo; ainda mais saindo com Aaron
Spacter. Não queria que as pessoas a olhassem como aquelas vendedoras
loiras a olharam.
— Alisson, hoje é seu aniversário. E, apesar de muito brega, é uma
mulher linda. — Mexeu na roupa na qual ela estava vestindo. — Terá um
jantar romântico, em um restaurante chique e lindo, e estará com um dos
caras mais gatos de Nova York. Amo você! Por isso estamos neste lugar.
— Quer dizer que só está me torturando porque me ama? — Foi
irônica. — Posso ser dramática, mas até a mulher da recepção está achando
estas trocas de roupas exageradas.
Além do mais, Alisson estava estranha essa semana. Não era o
trabalho, nem o namorado, mas se sentia estranha, como se algo tivesse
mudado. As manhãs ficaram enjoativas, às vezes deixava de comer, pois
não suportava o cheiro da comida. Seu corpo também mudou, ela só não
sabia o que.
— Esse está ótimo. — finalmente se agradou. — Olha esses peitos.
— Mia não parou de encarar o busto dela, que realmente estava enorme. —
Não me lembro de você ter peitos grandes.
— Não me lembro de ter perguntado. — foi sarcástica, tirando da
amiga, um revirar de olhos.
— O que Deu em você? — Sussurrou irritada. — Está mais chata do
que o normal. — isso era verdade. Alisson estava nervosa com tudo e
nenhum pouco feliz. — Tomou café sem açúcar.
— Quero sair desse lugar. — expressou impaciência. — esse vestido
está me sufocando.
— Muito estranha. — Balançou a cabeça, encarando a amiga e
pensando no que poderia ser. — Espero que o sexo, hoje a noite, melhore
seu humor.
Alisson fuzilou a amiga com os olhos. Ela sabia que estava
insuportável, também queria saber o que estava acontecendo com ela
mesma.
Mia se afastou, Alisson foi tirar a roupa e ao entrar no provador,
sentiu o mundo girar, tendo que se segurar na parede.
— Merda, o que está acontecendo? — Sussurrou.
Ela não queria alarmar ninguém. Talvez fosse fome. Alisson não
comeu nada pela manhã.
Depois de respirar fundo ela tirou a peça de roupa e se vestiu com as
que veio. Saiu tentando ficar calma e não dar pinta, ou Mia iria dar um dos
seus sermões. Ultimamente ela estava assim, chata e responsável.
***
Alisson tentou trabalhar em paz, sem sentir vertigem, ou até comer
algo, mas sempre que sentia o cheiro da comida, seu estômago revirava.
Ela não sabia se o jantar seria uma boa ideia. Toda a comida voltaria
do seu estômago. Alisson foi a uma farmácia e comprou um remédio que
pudesse amenizar as coisas. Precisava comer algo, ou não iria parar em pé.
— Pode ser algo mais sério, deveria ir ao médico. — a moça disse a
ela, como se a mesma não soubesse.
— Não tenho tempo para isso agora. — Na verdade, Alisson estava
preocupada mesmo. O humor, a tontura e o enjôo. Ela devia estar deixando
algo passar.
— Está grávida? — a loira recebeu um olhar mortífero dela. Não era
algo cogitável. Isso não. — Tontura, enjôo, notou se a sua regra…
— Eu não estou grávida. — Ela falou rude, quase engolindo a
mulher, que logo se calou. Então ela notou o seu erro. — Desculpa. — Se
sentiu mal. — É que ultimamente estou assim. Não consigo controlar o meu
humor. Deve ser estresse. O trabalho me estressa.
— Desculpa, não queria chateá-la.
Alisson parou no tempo e refletiu a informação. GRÁVIDA!? Então,
ela percebeu que faltava algo importante. Olhou a data no celular, olhou por
muito tempo e tentou imaginar que tudo naquilo estava errado. Isso não
pode ser real.
— Não posso estar grávida. — murmurou sem acreditar. — Eu
deveria ter menstruado a cinco dias.
Não posso estar grávida do meu chefe!
— Temos teste aqui, se quiser. — A mulher ficou comendo de dizer
isso, mas viu o pânico no rosto de Alisson.
— Certo, eu não estou grávida, é só um… vou fazer o teste, mas vai
dar negativo. — era o que ela repetia para não aceitar a alternativa. Ficaria
no chão se descobrisse estar grávida de Aaron.
A mulher deu o teste a Alisson e indicou o banheiro. Ela estava
muito agitada. Com medo. Rezava para ser só uma hipótese maluca. Até
desejou estar gripada, tudo menos grávida.
Alisson fez o que tinha na descrição do produto. Fez em dois de uma
só vez, só para não errar.
O tempo estipulado pelo produto a deixou impaciente. As horas até o
jantar se aproximavam e a única coisa que ela pensava era: não pode ficar
grávida do chefe bundão. Claro que vocês namoram escondido de todos,
mas não pode aparecer grávida. O que iria parecer?
Quando os minutos passaram, Alisson demorou para olhar o
resultado. Ela sabia que existia a possibilidade, afinal, uma ou duas vezes os
dois não se precaveram, porém, como tinha alguns problemas hormonais,
pensou que a possibilidade de engravidar dele, eram baixas. Claro que ela
deveria ter tomado alguma coisa. Alisson se sentia uma idiota por isso.
Então, respirando fundo, ela pegou os testes e olhou, formando
lágrimas nos olhos ao ver que deu positivo.
Seu coração foi à boca. Deu vontade de chorar. Não podia ser
verdade. Aaron era o amor da sua vida. Se fosse só isso tudo estaria bem,
apesar da surpresa, mas não. Nada na vida de Alisson Williams era tão
simples. Aaron Spacter era seu namorado, mas também chefe. Algumas
pessoas já achavam estranho ele sempre pedir que ela fosse ao seu
escritório, quase sempre. Aaron também saia do alto do seu castelo só para
conversar com ela na cantina.
Como ele iria reagir quando falasse que iria ter um filho dele?
Merda! Será que ele pode pensar que é um golpe?
Não, Aaron não faria isso comigo. Porém, as pessoas não pensam
como ele. Claro que vão cogitar que estou dando um golpe do baú.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, mais uma vez. Pegou aqueles
resultados e saiu do banheiro. Alisson passou pela mulher e segurou as
lágrimas. Ela só não sabia se era de felicidade, medo ou tristeza.
— Desculpa ter sido grossa. — falou realmente envergonhada. —
Estava certa. Estou grávida.
— É muito ruim? — a mulher ainda quis saber.
Não sabe o quanto.
— Não é o fim do mundo, mas é complicado. — foi sincera. — Isso
pode explicar o humor.
— Algumas mulher sentem isso, pois os hormônios estão a flor da
pele. Deve consultar o médico. Acredite, vai descobrir muito mais.
Claro, ela também iria descobrir como o seu namorado/chefe iria
reagir a notícia. Aaron era um amor. Nunca esteve tão amoroso e romântico,
porém, ainda era o homem que não tinha tais responsabilidades, nunca falou
sobre filhos, não deixou de ser o homem libertino. Agora tinha que lidar
com essa nova realidade.
***
Alisson pós o vestido que Mia escolheu. Era vermelho, alça fina,
todo de seda, o corte valorizava as suas curvas, mostrava uma parte do
busto e das costas.
Em frente ao espelho, Alisson olhou para o conjunto e se imaginou
daqui a alguns meses. Óbvio que aquela era a sua consequência. A alguns
meses atrás ela jamais se imaginaria grávida de um ricaço. Era uma menina
tímida que teve o desprazer de topar com um safado que se tornou o seu
amor.
Daqui a alguns minutos ela iria estar em um jantar romântico para
comemorar o seu aniversário de vinte e sete anos, com o homem mais lindo
que já viu. Um cara divertido de trinta e sete que parecia ser um moleque.
Alisson tentava imaginar uma reação positiva e que isso não o fizesse
questionar o que sentia por ela.
A campainha tocou e Alisson sentiu seu coração bater forte. Respirou
fundo ao caminhar até a porta. Antes de abrir, sentiu um frio na barriga.
Ao abrir a porta, encontrou os olhos azuis de Aaron a comendo por
inteira. Seu sorriso safado despertou a menina tímida dentro dela. Ele se
aproximou, puxou pela cintura e tascou um beijo que lhe roubou o ar.
Alisson abraçou seu corpo, sentiu seu perfume e ali esqueceu dos
problemas.
— Ver você desse jeito me dá vontade de desistir e ficar aqui, tirando
a sua roupa toda e te amando. — ela gostava da perversão em suas palavras.
— Podemos fazer isso. — ela riu, com os braços enrolados sobre o
seu pescoço. — Estou sem fome.
— Não me dá bola, passarinho, ou realmente posso cogitar. — Aaron
notou que algo estava estranho nela. Apesar de não ser como ele, sempre
rindo de tudo, Aaron sentia quando algo estava errado. — Aconteceu
alguma coisa?
Alisson encarou seus olhos azuis e sabia que não podia mentir. Aaron
sabia que ela odiava mentir e quando fazia, dava pistas.
— Não é um bom dia. — confessou. — Na verdade, estou com
medo.
— Medo de quê? — ele Franziu o cenho, preocupado. — O que
houve, Alisson?
Seu coração foi à boca. Alisson não queria contar assim, mas não
conseguiria passar por essa noite sem contar logo de cara.
— Não é nada grave. — Começou, então se afastou dele. Pensou na
melhor forma de dizer isso a ele. — Estava estranha, mais cedo. Fui a
farmácia esperando compra algo para enjôo e… sai de lá com outra notícia.
— Está me deixando nervoso, Alisson. — E ele realmente estava.
Seus olhos estudaram Alisson, minuciosamente, e não encontrou defeito.
— Como eu disse, não é grave.
— Então vá direto ao ponto. — Alisson viu que ele estava
preocupado, e ela, nervosa.
— Estou grávida. — Disse de uma vez, fazendo com que Aaron
parasse no tempo. Ele a encarou, sua cabeça fervilhava com a informação.
— Você odiou, não foi? — Agora era ela quem estava preocupada. — A
culpa foi minha. Afinal, não fazia sexo com frequência. Não… desculpa.
— Porque está me pedindo desculpas? — Apesar da surpresa, Aaron
abriu um sorriso inesperado. — Está me dizendo que ao invés de eu dar um
presente a você, é você quem está me dando?
— Espera, isso não é ruim? — Sussurrou surpresa. — Achei que
fosse odiar. Nunca nem tocou no assunto. Acreditei que fosse me culpar.
— Fui eu quem pôs essa semente em você. — ele foi até ela, pegou
em seu rosto e a beijou de leve em seus lábios. — Alisson, amo tanto você.
Não sabe o quanto estou feliz.
— Está? — inesperadamente ela também se animou. Seu coração se
encheu de esperança e alegria. — Mas… você é meu chefe.
— Há, pelo amor de Deus, isso de novo não. — cortou o clima.
— Querendo ou não, meu medo é válido.
— Eu não disse que não era.
— Aaron, estou grávida do meu chefe. As pessoas não sabem sobre
nós, o que vão achar de mim?
— Não é a opinião das pessoas que importa, Alisson.
— Eu sei. — Respirou fundo, baixando os ombros. — Olha, tem algo
errado com meu lado emocional, esses dias, não tem como simplesmente
anular isso. Eu amo você.
— E eu amo você. — segurou em suas mãos. — Sou um safado que
está apaixonado. Jamais imaginei que teria um filho, mas… vou ter um
filho.
— Das nerd dos computadores. — ela lembrou.
— Do meu passarinho. — Ele levantou seu queixo. — Se alguém
ousar magoar o meu amor, juro que vai se ver comigo.
— Aaron! — De repente, tudo mudou. Alisson olhou para Aaron e só
conseguiu sentir calor. — Ainda é meu aniversário.
— Planejei um jantar no topo de um dos maiores e difíceis dessa
cidade.
— Desmarca. — Disse. Aaron ficou sem intender. — Estou ficando
excitada. Gosto quando fala essas coisas.
— Vamos pular para o sexo?
— Estou vestido uma calcinha de renda vermelha e fiz uma depilação
especial.
Aaron encarou Alisson com surpresa e felicidades.
— Acho que estou criando um monstro sexual.
Ele fechou a porta atrás de si e atacou Alisson, a pegando pelo braço
e a levando para o quarto.
CAPÍTULO 18
alisson
Quando o dia amanheceu depois daquela noite emocionante e cheia
de surpresas, Alisson se sentiu mais relaxada, contudo, ainda estranha.
Aaron já não estava mais na cama bagunçada, mas ela sabia que ele estava
por ali em algum lugar. A primeira coisa que fez, depois de levantar, foi ir
ao banheiro, molhar o rosto e escovar os dentes. Ela se olhou no espelho e
sentiu como se seu coração estivesse novamente acelerado.
Alisson tinha se esquecido do seu novo estado e na noite passada,
usou o sexo para esquecer aquele assunto, mesmo sabendo que ele estaria
lá, ao amanhecer.
Ela cuspiu e lavou a boca. Depois, pensou que daqui a pouco sua
barriga começaria a crescer e dentro dela estava um serzinho minúsculo que
era parte dela e de Aaron.
Não importava o que ele diria, ainda sentia medo do falatório. Claro
que ele não sabia como era ser julgada dessa forma. Era homem, rico e
todos tinham medo dele, já Alisson era uma simples engenharia de
software, que mesmo sendo bem-sucedida e ter um bom salário, não se
comparava a fortuna acumulada dos Spacter.
Ela ficou ali, parada, tentando achar uma saída, só que não tinha.
Mesmo amedrontada, ela também estava feliz. Alisson sempre foi sozinha.
Mesmo tendo sua mãe e primos, ela nunca foi compreendida por nenhum
deles. Só por Aaron, e ela ainda não sabia o porquê.
Aaron deveria ser o oposto que não a entenderia nenhum pouco,
porém, ele entendia seu medo, apesar de não senti-lo, entendia seu tique
nervoso, seu olhar de julgamento, a vergonha que sentia quando o ouvia
falar safadeza, até mesmo como o seu cérebro era maluco das ideias. Aaron
gostava dela do jeito que era e isso lhe rendia bons sorrisos de satisfação.
Ele deveria ser o primeiro a achar que ela era uma simples louca que
invadiu sua privacidade e mudou a sua vida. Ela pensou que ele a rejeitaria
por não ser nada comparada às outras. Alisson se perguntava se ele
realmente sabia o que estava fazendo, pois não tinha mais volta.
Então, ela tocou em sua barriga. Sabia que era pequena e que seu
bebê ainda era um grão pequeno, e pensou que nunca mais estaria sozinha.
Ele sempre estaria lá. Aaron sempre estaria lá.
— Alisson! — Ela se assustou com o chamado dele. Estava
destruída. — Você está bem?
Ela sorriu, sabendo que ele estava preocupado. Alisson abriu a porta
e encarou Aaron, com um sorriso no rosto.
— Relaxa, Aaron, só estava lavando o rosto. — ela se aproximou
dele, que a puxou pela cintura, e pôs os braços sobre seu pescoço.
— Você ficou ainda mais linda, depois que descobri que está
carregando um bebezinho nosso. — Alisson se impressionou com o novo
namorado. Ele nem parecia o cara que esbarrou nela naquele metrô.
— Exagerado. — Revirou os olhos.
— Fiz o café.
— Não achou que vou comer algo.
— Há, não!? — Levantou uma das sobrancelhas.
— Estou um pouco enjoada. Mesmo com o remédio.
— Temos que ir ao médico.
— Não precisa exagerar, Aaron.
— Não pode ficar sem comer. — Aaron não gostava de cobrar, mas
sabia da teimosia dela. — Por você e nosso filho.
— Está muito responsável e chato, depois que descobriu do bebê.
— Quero cuidar da minha família.
Alisson pensou: somos uma família?
— Ainda nem passamos do namoro.
— Não, pulamos para "ter um filho".
É, pulamos. Alisson perdeu a graça da coisa ao notar o quão rápido
isso aconteceu.
— Ainda tenho trabalho hoje. — Lembrou, achando que isso a
salvaria.
— Não antes de comer alguma coisa, passarinho. — Ele a pegou pela
mão e a guiou para fora do quarto, indo para a cozinha, mesmo que ela
ainda não tivesse vestido uma roupa decente. — Vou ao hospital hoje,
poderia ser uma desculpa para você também ir.
— Visitar seus pais? — Ela teve que dar um sorriso sem graça. Na
verdade, estava com medo disso também. Afinal, uma funcionária que
engravidou do chefe?
— Não, para uma consulta, mas isso também. — Ele não percebeu o
quanto ela ficou sem graça. — Minha mãe está louca para conhecer você.
— Eu!? — Alisson tinha sentado à mesa. Aaron a serviu um copo
com suco de laranja, um prato com ovos e tinha a opção das panquecas com
calda de chocolate. Alisson estava descobrindo que seu namorado também
era bom na cozinha. — Deus, nem quero imaginar ela descobrindo o quão
rápido as coisas aconteceram.
— Rápido? — Aaron riu. Ele sentou-se ao seu lado, observando que
ela ainda não tinha tocado em nada. — Demorou semanas, apenas para
ficarmos cara a cara.
— Por que não era para rolar nada com o chefe, mas ele é insistente.
— Não está me ofendendo. — Ela revirou os olhos. — Além do
mais, foi você quem roubou o meu coração. Queria mesmo fugir disso?
Alisson apoiou os cotovelos na mesa e o encarou, orgulhosa.
— Acha que eles vão gostar de mim? — Não tinha como negar:
estava receosa.
— Se eu amo você, meus pais vão se apaixonar. Além do mais, era
uma preocupação de ambos a minha libertinagem. — Ela riu. — Alisson,
não existe uma palavra que possa dar significado ao que sinto por você. —
Ele pegou em suas mãos e a olhou nos olhos. Alisson sentiu seu coração
aquecer. Era bom finalmente olhar dentro do azul dos seus olhos. — Em
pouco tempo você se tornou meu mundo. Agora, vamos ter um bebê e…
sinceramente, achei que estaria desesperado. Não sou mais o Aaron de
meses atrás que se estressava com tudo.
A morena sentiu que seu coração estava pequeno com as palavras
que ouviu. Jamais imaginaria que ouviria algo assim de alguém. Ela pensou
que nunca namoraria, muito menos, ter um filho.
— Também amor você, senhor bundão.
Aaron se esticou para beijar seus lábios, mas foram interrompidos
pelo telefone tocando. Ele pensou em ignorar, contudo, poderia ser
importante. Aaron pegou o aparelho e viu que era a sua mãe, então atendeu
imediatamente.
Alisson não sabia quem era, porém, o viu mudar de expressão
rapidamente. Achou que tinha sido algo grave.
— O que aconteceu? Você está bem?
— Meu pai acordou. — Revelou surpreso. Alisson pode respirar
aliviada. — Minha mãe disse que ele quer me ver.
— Claro. Você tem que o ver. — se levantou da cadeira e lhe deu um
abraço.
— Você irá comigo. — Alisson o encarou, assustada.
— Acha que é uma boa ideia? Você deve querer um momento a sós
com sua família.
Seria a primeira vez que ela veria sua mãe e seu pai. Era quase
inevitável não ficar nervosa; ainda mais depois de seu pai ter acordado após
meses em coma.
— É a minha namorada, vamos ter um filho. Você também é da
família.
Desde o que aconteceu no passado, Alisson e sua mãe não tinham
uma boa relação. Seu pai as abandonou e a família que restava, estava
dividida em: os que a julgavam, por não estarem totalmente convencidos da
sua inocência; e os que confiavam nela. Na última categoria estavam seus
primos e a mãe deles.
Dava para ver no rosto de Aaron o quanto estava emocionado. Quem
o olhava de fora, não achava que ele passava de ser o cara arrogante que
não ligava para mais ninguém, porém, o Aaron genuíno era sentimental,
cuidadoso, preocupado e que todos os dias fazia com que Alisson o amasse
mais.
Ele não era perfeito e o egocentrismo ainda vivia dentro dele, mas
estava gostando de ver que, aos poucos, essa sua parte era deixada de lado.
Gostava ainda mais de pensar que era por causa dela.
As pressas, os dois se arrumaram e mesmo ansioso e amedrontada,
Alisson estava alegre. Até aquele momento ela não estava mais pondo
barreiras. Além do mais, já não podia colocar pedras no caminho dessa
nova relação, o bebê viria e ela iria precisar do seu amor.
Ao chegar no hospital, ela sentiu novamente um frio na barriga.
Nunca teve um namorado antes e nunca precisou ser apresentada para os
pais de alguém, só que neste instante estava entrando na vida deles, no meio
de um acidente. Só esperava que não a odiassem.
Uma das coisas que mais ela colocava no meio dessa completa
felicidade em seu relacionamento era a forma de vida luxuosa em que
Aaron vivia. O hospital era mais uma coisa que mostrava que ele era cem
vezes mais rico do que ela, que quitou a dívida do seu apartamento
recentemente. O quarto particular ficava no sexto andar, e assim que
estavam a alguns passos da porta, ela paralisou.
— Acho melhor você entrar sozinho. É um momento familiar. —
Comunicou receosa.
Aaron a olhou no fundo dos meus olhos, lendo os seus pensamentos.
Ele sabia que as coisas estavam indo rápido demais para ela, e não a
forçaria a entrar.
— É muito para você? — Perguntou calmamente, como se
compreendesse o seu dilema.
— É uma situação nova e não sei se vão gostar de mim. — Sentiu-se
nervosa. — Geralmente, tenho que me esforçar bastante para que as pessoas
não me olhem com desdém.
— Meus pais não são esse tipo de pessoas, Alisson. — Acariciou o
seu rosto. — Apesar do filho ser, às vezes, um idiota, eles são bons. Além
do mais, vai ser a mãe dos netos deles.
— Está usado o plural. — O fez rir.
— Achou que não vamos parar no primeiro.
— Vamos cuidar desse primeiro. — Ela beijou seu rosto. — Vai na
frente. — O incentivou. — Vou ficar por perto.
Aaron não insistiu. Respirou fundo antes de abrir a porta e entrar. Ela
o observou. Logo sua mãe notou sua presença. O abraçou forte, claramente
emocionada. Alisson achou bonito. Queria ter uma relação boa com a mãe,
ainda mais agora.
Aaron se emocionou ao ver seu pai, a quem ele deu um abraçou. Já o
ouviu falar o quanto se culpava pelo acidente. Encostada a porta, Alisson
imaginou que ele seria um bom pai. Até aquele momento ela não tinha
pensado no futuro. Seu coração aquecido, fez brotar lágrimas em seus
olhos. Alisson não era tão emotiva e culpava o bebê por isso.
— Mãe, pai, esta é Alisson, minha namorada. — Aaron deu espaço
para que eles vissem ela, que ficou envergonhada ao se intrometer naquele
momento.
Ela sentiu seu coração acelerar. Deu passos em direção a eles e Aaron
entrelaçou seus dedos nos dela.
Primeiro os dois se entreolham e, depois, voltam a os observar,
curiosos.
— É um prazer, Alisson. — A mulher estendeu a mão para
cumprimentá-la.
Para não ficar constrangedor, apertou levemente. Achou que ela
percebeu a sua timidez.
— Bem que desconfiei que algo estava acontecendo. — Ela sorriu.
— Aaron estava diferente do que como o conheço.
— Alisson sabe como mudar uma pessoa tão difícil como eu. — Ele
brincou, levando-a a rir de nervoso.
— Ela é linda, mas espero que não estejamos a deixando
constrangida. — Falou seu pai.
Sabe quando você está em um lugar e as pessoas estão falando de
você, mas você não sabe como agir ou falar? Pois bem. Estou nessa
situação.
— Ela é um pouco tímida. — Afirmou Aaron
— Um pouco. — Falou, ainda mantendo o mesmo sorriso.
— Pai, estou muito feliz por ter voltado e que tenha conhecido
Alisson. — Era estranho, pois ela não sabia o que dizer. — Tem outra coisa.
— Alisson sentiu seu coração frio, pois sabia o que ele diria. — Vamos ter
um bebê.
Alisson quiser matar Aaron no mesmo instante. Ela não achava que
era uma boa hora para isso.
— É! — Foi o que conseguiu dizer, sem graça.
— Espera, vou ser avô? — O homem se confundiu. Ela poderia
aposentar que o homem estava a julgado. — Acho que morri e fui para o
céu.
— Robert! — Reclamou a mãe, fazendo Alisson rir. — Deus, isso
é… — ela pareceu emocionada, não furiosa. Alisson não sabia se isso era
bom ou não. — Vem cá, querida. — E a abraçou.
Aaron ficou animado, mas o olhar que Alisson lançou dizia: vou
matar você!
— Ali, está nervosa. Ela acha que as pessoas vão nos julgar, pela
rapidez ou…
— Aaron! — Ele riu da situação, enquanto ela, queria se enfiar em
um buraco.
— Por que? — A mãe ficou com dúvida.
— O amor da minha vida é a nerd que salvou a empresa e… odeia a
ideia de que sou o chefe.
— Querida, não é a primeira vez que isso acontece com um Spacter.
— A mulher era simpática, mas Alisson não perdoaria Aaron. — Fui
secretária do Robert.
— Meu único amor. — Ele completou.
Pelo menos os pais eram compreensivos.
Aaron sabia que estava em apuros, contudo, achou melhor tirar de
vez esse elefante enorme que Alisson achava ter.
CAPÍTULO 19
Alisson
Alisson estava nervosa e ansiosa esses dias. Ela trabalhava e tentava
não perceber os olhares e fuxico. Eles ainda não tinham oficializado
formalmente para todo mundo, só para os pais de Aaron e até Milla sabia,
afinal, ela era a secretária do seu namorado e ele adorava chamá-la a
qualquer momento.
Alisson estava feliz, se acostumando com a ideia de que tinha um
bebê crescendo dentro dela.
Mia estava adorando e até planejava as coisas para os bebês, fazendo
com que Alisson se sentisse um pouco mal por não estar empolgada para
pensar no detalhe, mas então lembrava: ainda é cedo para essas coisas. Mia
é exagerada. Com o tempo você também vai ficar empolgada com essas
coisas.
Bem, ela realmente estava amando o seu bebê, contudo, não achava
que iria ser como Mia.
O dia começou até que bem. Aaron a levou de casa para o trabalho,
afinal, eles viviam juntos agora. Ele até planejava comprar uma casa, a
contragosto de Alisson, pois dizia que agora que iriam ter um bebê o mais
lógico era morarem juntos, em uma casa típica.
— O que vai fazer hoje à noite? — Perguntou. Aaron estava do outro
lado da mesa de um restaurante na qual a levou para comer. Aos poucos
Alisson estava tomando ciência de que sua alimentação deveria ser
adequada, pois tudo o que ela comia ia para seu filho.
Ela tinha respondido a uma mensagem de Milla. Uma de muitas que
hoje já tinha recebido.
Apesar da amiga estar estranha, depois que descobriu sobre sua
relação com o chefe, Mia continuava como antes. Ela queria ir na balada
com as outras garotas, mas queria arrastar Alisson também.
— O pessoal me chamou para um happy hour depois do trabalho.
Isso não faz meu estilo, mas como você ficará ocupado e Mia também, com
seu problema chamado Robert Miller, pensei em aceitar o convite.
Não tinha nada demais nesse convite. Provavelmente ela ficaria por
umas meias horas e depois arranjaria uma desculpa para ir embora.
— Oh! Um happy hour. — Pareceu não ter gostado da ideia. — As
secretarias vão? — Sua curiosidade colocou um sorriso no rosto dela.
Aaron era bem ciumento, mas do tipo que lidava com essas questões
sem impedir Alisson de nada. Além do mais, era bem provável que ela
arrancaria a sua língua se ele pensasse em fazer algo do tipo.
— Sim. Eu não iria se Milla não tivesse insistido por um dia inteiro.
— Ela realmente se esforçou para convencer Alisson.
— Só lembrando: você tem um bebê dentro dessa barriguinha bonita
e sexy, então, nada de álcool ou ficar perto de fumantes.
Alisson levantou uma das sobrancelhas, encostou-se a cadeira e o
encarou.
— Sou péssima em entender muitas coisas de cunho social, porém,
sei bem o que uma grávida pode ou não pode fazer, Aaron.
— Eu não disse que não pode. — Deu de ombro, só para desfaça.
— Seu compromisso vai acabar muito tarde?
Ela também não estava gostando nada de sua reunião fora de hora.
Ela sabia que os executivos trabalham dia e noite, mas uma pessoa em
específico estava a deixando com um ciúme que achou nunca sentir. Uma
das advogadas que trabalhava para a TEC Corporation já tinha sido amante
dele. Ele disse que ficou com ela somente duas vezes após um dia cansativo
e alguns copos de whisky. Porém, Alisson conhecia uma mulher obstinada e
o seu namorado, que era lindo e rico. Alisson não desconfiava da sua
lealdade e amor por ela, só que, como já disse antes, confiança não era
muito o seu forte.
— Na verdade, eu nem queria ir a essa reunião. Foi meu pai que
insistiu. Apesar de não poder comparecer lá, ele disse que conversaria com
Zayn, um dos advogados, e que eu precisarei ir a esse encontro. Farei de
tudo para que termine cedo.
— Então, quem sabe possa me salvar depois do seu compromisso?
— Salvá-la? No seu happy hour? Com seus amigos? — Sua
desconfiança ou mal entendimento a fazendo rir.
Aaron sabia que ela não gostava quando os dois estavam na frente
das pessoas com quem trabalhavam.
Só que esse segredo também não a agradava totalmente. Além do
mais, sua barriga iria crescer e o bebê sairia. Eles não podiam manter as
coisas escondidas. Talvez discretas, contudo, não abriria mão do conforto
que era viver sua vida despreocupada, temendo que alguém os visse juntos.
Não podia colocar esses defeitos na frente da sua felicidade. Não
viveria com medo de ser julgada. Bem ou mal, eles falariam e não achava
que era ela quem devia lidar com isso.
— No lado de fora, dentro do carro, no escuro? — Questionou
irônico.
— Não, Aaron. Não quero mais que seja assim. Tem razão: não
podemos continuar nos escondendo. Quero poder estar com você, sem
medo.
No mesmo instante, o maior e mais lindo sorriso surgiu no rosto dele,
iluminando até seus olhos azuis. Ninguém nunca a olhou como ele, ou a
desejou como ele a desejava. Algo que a deixava transbordando de alegria.
— Será um prazer salvá-la de sua torre. — Brincou antes de beija-la
novamente.
***
Alisson era uma pessoa que poderia ser considerada chata, e admitia
sem vergonha. Lugares lotados, com música alta e com pessoas se
esfregando na pista de dança não faziam o seu estilo. Alisson Williams era a
nerd que ficava em casa, em plena sexta-feira, assistindo à Netflix e
comendo besteiras.
Mia tentou muitas vezes — sem sucesso — a levar a lugares assim,
só que na época ela achava que era um pensamento louco.
Todavia, desde que Aaron e ela começaram a namorar, ela vinha
pensando diferente. Ele era um homem de trinta e sete anos, rico, baladeiro
e saía com mulheres lindas nada comparadas a ela.
Bem, as coisas correram como uma maratona sem descanso e eles
pularam de um casal recente que curtiram a vida a dois, para pais de uma
criança. Então ela achava que a parte baladeira seria difícil, depois que o
bebê nascesse.
Alisson odiava isso. Muitas pessoas e música alta, entretanto, teve
medo de dizer não e ser considerada uma chata que mudou completamente
por causa do interesse do chefe nela. Seria algo rápido, depois Aaron
chegaria e a levaria para casa. Nada de estresse.
Ao chegar, todos foram para a área VIP, onde as meninas pediram
alguns drinks, enquanto Alisson ficou com a água. Elas acharam estranho.
Como já previa, ela não interagiu tanto quanto as outras, Victor estava no
sofá a sua frente. Ele não parava de encará-la, já tinha bebido seu primeiro
copo e pediu o segundo. Alisson ficou desconfortável. Não sabia o que ele
queria e nem estavam conversando. Acabou achando que foi um erro
aceitar o convite e que preferia o sofá quente e a TV ligada.
Alisson não entraria no assunto "namorada do chefe" nem no "estou
grávida". Todos saberiam em breve e ela odiava falar coisas pessoais da sua
vida. Só Aaron sabia sobre seus monstros, seu íntimo.
— Você não gosta deste tipo de lugar, não é, Alisson? —Perguntou
Victor, sentando-se ao seu lado, querendo puxar assunto.
Eles nunca tinham saído antes, e não foi por falta de convite. Ele era
uma pessoa legal, mas só conviviam juntos na empresa.
— Não mesmo. — Balançou a cabeça, em discordância. — Achei
que fosse gostar de experimentar. Se a música estivesse um pouco mais
baixa e as pessoas não estivessem me olhando como se eu fosse uma
estranha, poderia até ser legal.
— Também não é o meu estilo. — Falou de cabeça baixa.
— Então, por que veio? — Questionou surpresa.
Embora ela saiba que ele era quase um terceiro membro no ciclo de
amizade das garotas, no convívio com elas, não sabia que as duas o
manipulavam para ir a um lugar que não quisesse.
— Por sua causa. — Demonstrou timidez.
Alisson ficou surpresa com sua resposta, não sabia o que dizer. Ela
tentou pensar em algo, quando Milla e a outra garota se levantaram e a
puxando para junto delas.
— Nós vamos ao banheiro. — Ela avisou ao Victor, que ficou tão
confuso quanto ela.
Antes que a sequestrasse para o banheiro, Alisson lançou para ele um
sorriso de “desculpa”. Ainda não tinha entendido muito bem a sua confissão
e apostava que as meninas ouviram.
Passaram por um amontoado de pessoas que bebiam e dançavam na
pista de dança. Era provável que ela ficasse com cheiro de álcool.
— Garota, eu tinha que ter te avisado. Acho que chegamos tarde
demais. — Milla falou assim que chegaram no corredor que levava ao
banheiro. Aqui podiam andar sem ter que esbarrar em alguém.
— Do que está falando? Avisar o quê? — Tentou limpar os pingos de
bebidas que ficaram sobre ela. — Que essa balada é.… grudenta?
— Que Victor é afim de você.
Se Alisson estivesse bebendo ou comendo algo, teria se engasgado.
Era impossível abrir mais ainda os olhos. Achou que foi uma piada.
— Claro que não. Somos só colegas de trabalho. — Deu um sorriso
nervoso. — Além do mais, nunca saímos. Ele não dá a entender que...
Os olhares que delas lançaram foi quase uma frase que dizia: “É sério
que você não percebe? ”
— Ele te cobre quando você se atrasa, convida você para almoçar,
para sair e jantar.... É você quem nunca aceita. — As duas se revezaram
para pronunciar as frases.
Alisson pensou em contestá-las, dizendo que era só gentileza dele,
quando, de repente, lembrou-se de outros fatos que elas poderiam não saber,
como, por exemplo, das rosas que ele deu ontem, no seu aniversário, junto
com um poema romântico que ela fofo.
— Ai! Estou ferrada. — Constatou em voz alta. — Eu não... não
quero magoá-lo.
Alisson nunca esteve nessa situação antes. Na verdade, ultimamente,
as coisas tinham acontecido descontroladamente na sua vida.
Quando olhava para Victor, via nele um irmão mais velho, não um
interesse romântico.
Quando Aaron e ela começaram a conversar, ela também não o via
dessa forma, mas as coisas saíram dos trilhos e agora sabia que o amo
realmente. Na verdade, ela tinha em sua barriga o fruto desse amor.
Ouvir tal novidade a deixou chateada com ela mesma.
— Ele é um cara legal, fofo e muito doce. Vocês formariam um casal
lindo. — Opinou Natasha, amiga de Milla.
Bem, a loira me encarou sabendo que existia uma enorme barreira
arrogante que impediria ainda mais disso de acontecer.
— Mas não gosta dele desse jeito, não é? — Milla falou, a olhando
profundidade, com uma frase pronta na qual ela não precisava dizer em voz
alta.
— Nunca o vi com esses olhos. Ele é como um irmão para mim, e
não posso enganá-lo. — Ficou preocupada. — Além do mais, não estou
disponível para um relacionamento ou tentativa.
— Está namorando? — Natasha sussurrou, mesmo sabendo que ele
não poderia as ouvir.
— Sim. — Respondeu em um suspiro. — Eu estava planejando
revelar hoje ou amanhã, no máximo, mas agora estou com medo de magoar
os sentimentos de Victor.
— Não pode controlar essas coisas, Alisson. —Tocou
carinhosamente em seu braço. — É inevitável não magoar uma pessoa que
gosta de você e não tem seus sentimentos correspondidos.
Ela tem razão: é inevitável.
Alisson chegou a conclusão de que não podia mais viver escondida
das pessoas ou colocar Aaron nessas situações por mais tempo. Saber sobre
seu colega de trabalho a deixou mal. Foi uma péssima hora para descobrir
que outro alguém gostava dela.
— Tem razão. Não posso enganar Victor. Gosto dele como amigo e
nunca rolaria nada entre nós. Nem sei como Aaron conseguiu isso de mim.
— Ficou pensativa, falando em voz alta.
Quando percebeu, encarou as duas meninas, vendo elas a avaliando
com atenção.
— Aaron do quê? — Perguntou Natasha.
Para Milla, isso não foi uma surpresa, mas Natasha ficou abismada.
Dizer ao Aaron para disfarçar era uma perda de tempo, porque ele
sempre estava encarando quando se olhavam a distância.
— Ok. Vou dizer de uma vez, e espero que não pensem mal de mim.
— Ficou nervosa. — No passado, quando eu nem sabia quem Aaron era,
nós nos esbarramos na frente da empresa. Ele foi grosso, eu fiquei puta, ele
deixou o celular cair e eu o achei. Quando o devolvi, nós começamos a
conversar. Ele ainda não sabia quem eu era e agora estamos juntos. —
Falou tão rápido que ela mesma achou que elas não tivessem a ouvindo ou
entendendo.
Entretanto, os olhos arregalados de Natasha disseram outra coisa.
— Você está namorando o senhor arrogante? — Indagou quase
gritando.
— Ele não é mais assim. — Defendeu ele.
— Você e o chefe? — Como previsto, Milla não era boba e já
desconfiava. — Como?
— Bem... não importa. O que quero saber é como dizer de uma
forma menos... constrangedora que não estou disponível para Victor.
— Ok, ok. Um assunto de cada vez. — Natasha tentou se acalmar e
pensar. — Não tem jeito mais fácil. Só espero que não seja aqui.
— Você tem razão. Aqui e agora não. — Concordou.
A ansiedade bateu nela, a deixando com as mãos suadas.
“Seu príncipe acabou de chegar. ”
Quando leu a mensagem de Aaron, ficou animada. Poderia sair da
situação na qual se envolveu, dizendo que iria embora.
Só que naquele momento a morena estava nervosa, e Aaron
perceberia.
— O que vai fazer? — Natasha cruza os braços e a analisou com uma
sobrancelha erguida.
Algo nela mudou assim que Alisson falou sobre seu namoro com o
chefe. Ela não achou que seria ela a pessoa que a julgaria, muito menos
Milla. E, de fato, Milla não estava a julgando, estava preocupada, assim
como Alisson.
— Quer saber? É melhor eu ir embora. — Falou, reagindo de alguma
forma. — Podem dizer ao Victor que tive um imprevisto e que amanhã
poderemos conversar.
— Ok. Boa sorte amanhã! — Milla beijou o seu rosto.
Ela não recebeu uma despedida de Natasha, e nem queria. Ficou
chateada com sua mudança e queria sair o mais rápido possível do lugar.
Aaron pode desconfiar de algo, e como não conseguia mentir para
ele, teria que lhe contar o porquê da minha pressa em ir embora.
Ela voltou à pista, por onde tinha que passar para chegar na saída.
Estava odiando cada momento no meio desse amontoado de pessoas e deu
graças a Deus quando, enfim, pode andar em segurança.
Logo encontrou o colega de trabalho no meio do caminho. Ele estava
encostado na parede, com as mãos no bolso, como se a esperasse.
Seu coração estava prestes a sair pela boca quando ele andou em sua
direção.
— Por que sempre foge, Alisson? — Questionou ao seu ouvido.
Ela se sintiu acuada com sua aproximação e o frio na minha barriga a
avisando que a medrosa estava a caminho.
Então respirou fundo e tirou a coragem do fundo do seu ser.
— Desculpe, Victor! Tenho que ir agora. — Avisou, sendo simpática
e tentando não demonstrar os seus sentimentos.
— É difícil sempre estar de acordo com você, nos seus termos, sem
saber se vai me enxergar em algum momento. — Alisson sentiu seu coração
bater mais rápido. Ele estava muito perto, a fazendo sentir-se
desconfortável.
— Do que está falando? — Continuou nervosa.
— Esperei por tanto tempo para dizer que amo você, e está tentando
fugir.
Ela se surpreendeu ao ser agarrada por ele. Alisson tentou se afastar,
empurra-lo, no entanto, não conseguiu.
— Alisson, eu bebi um pouco para criar coragem.Tem que ser agora.
— Largue-me, Victor! Eu não quero ouvir. — Estava quase entrando
em desespero por conta da força que ele usa para a prender.
— Eu preciso de você e te quero mais do que como uma amiga. E
não quero o seu “não”. Sei que é medrosa e que se envergonha, mas te amo
da forma que é. Eu...
— Nós não podemos ficar juntos. Estou em um compromisso.
Desculpe-me magoá-lo! Precisa me soltar agora.
Quanto mais tentava se manter longe dele, mais ele a apertava. Já
estava quase sem fôlego, quando o viu beijar sua boca. Uma sensação
estranha e desesperadora despertou nela.
Havia pessoas ao redor, só que era como se ninguém notasse o que
estava acontecendo entre eles.
Alisson virou o rosto para o impedir de continuar, mas ele insistiu.
Não deu para culpar a bebida, porém ela nunca o viu dessa forma.
Algo forte e muito furioso o empurrou para longe e ela quase caio no
chão, sentindo que um lado da sua roupa não cobria o seu corpo. Teve que
usar a mão para tapar o buraco.
Aaron estava furioso, colocando Victor contra a parede, e as pessoas
ao redor assistiam à cena, assustadas.
— Aaron, não faça isso!— Correu até ele, chamando sua atenção. O
que não o fez soltar seu funcionário. — Por favor, vamos embora, Aaron!
— Praticamente teve que gritar seu nome para que fosse notada.
Quando ele a olhou, estava quase soltando fogo pelos olhos. Deu
para ver até suas veias, de tão estressado que estava.
Soltando Victor rudemente, pegou na mão dela, que estava sobre seu
ombro, e saiu quase a arrastando para fora da boate. A adrenalina estava em
seu corpo, a impedindo de sentir o momento.
Seu namorado estava tão irritado, que nem a ouviu reclamar do
aperto de sua mão na dela.
— O que estava acontecendo lá dentro? — Perguntou assim que
saíram de lá, a olhando nos olhos e quase a botando medo.
Ele soltou a sua mão e esperou pela resposta.
— Por que aquele idiota estava agarrando você?
— Devia ter lhe perguntado enquanto o pressionava contra a parede.
— ficou brava com seu tom de desconfiança. — Por que está se voltando
contra mim? Eu não queria nada daquilo. Eu pedi para que ele me deixasse
ir, mas ele nem ouvia o que eu falava.
Aaron estava ofegante. Passando a mão pelos seus cabelos negros,
afastou-se.
Ela não queria pensar que ele achava que isso era culpa sua.
— Desculpe-me, Alisson! Eu não... — Aos poucos suas emoções
voltam ao normal.
Seus olhos tempestuosos se acalmaram e ele a abraçou. Foi um gesto
que a deixou tranquila e fez com que ela se sentisse protegida. Alisson o
mataria se pensasse que fui ela quem quis o beijo.
— Não pensei muito quando o vi te agarrando e...
— Vamos embora, por favor! — Pediu de novo.
— Tudo bem. Vou levá-la para a minha casa. Perdão! — Mostrou-se
preocupado.
Ela tinha se esquecido que um pedaço do seu corpo estava exposto.
Foi ele quem notou e a deu o seu blazer.
CAPÍTULO 20
Aaron
Alisson não era mulher de sair e trair o namorado. Aaron ralou muito
para conseguir chegar o mais próximo que pude dela, e, do nada, ele a viu
agarrada a um estranho que estava a beijando.
A primeira coisa que se passou pela sua cabeça foi “ilusão”; que
tudo que ele queria era exibir a mulher que amava, mas que estava sendo
corno.
Aaron podia ter matado aquele homem se não fosse por ela. Ele
estava tão maluco, que realmente achou que estivesse sendo enganado.
Até olhar em seus olhos verdes e ver neles a frustração e o medo.
Ele não fazia ideia de quem era o cara, mas não podia culpá-la.
Alisson, claramente, estava desconfortável e querendo se livrar do homem
quando Aaron chegou. Colocar a culpa nela seria um erro e uma burrice.
Ele tentou se concentrar na rua enquanto dirigia de volta para casa. O
clima acabou totalmente e não falaram uma palavra sequer durante o
percurso.
Quando ela falou do seu desejo de revelar o namoro para todos, ele
ficou em êxtase. Algo que nunca tinha acontecido.
Aaron se viu feliz por ter alguém, uma pessoa a quem seria leal e
com quem se casaria. Logo eles teriam um filho.
Agora, no seu apartamento, o silêncio ainda o incomodava. Ele não
sabia o que dizer, o que perguntar; tinha medo de abrir a boca e que
grosserias saiam dela, os levando a brigar.
— Ainda está bravo? — Ela se aproximou.
Seu olhar de cautela o deixou mal. Ele mesmo sabia o quanto era
rude com as pessoas. Mas com Alisson tudo era diferente, até seu cuidado
com as palavras.
— Não acha que provoquei aquilo, não é?
— Não, Alisson. Eu sei o quanto fui indelicado e como fiquei bravo
com você, quando, na verdade, não teve culpa. — Sentiu-se inquieto.
Ciúme nunca foi o seu forte, pois sempre foi decidido e seguro de si.
Não sabia o que estava o deixando com uma sensação amarga na boca.
— Eu tentei ir embora e esperava que nós dois nos encontrássemos, e
saíssemos de lá, mas não sabia que Victor seria tão... Não sei exatamente
como defini-lo. — Ficou pensativa.
— Conhece aquele homem? — Franziu o cenho. — Não é apenas um
idiota que atravessou ocasionalmente o seu caminho? — Essa pergunta a
deixou ainda mais receosa.
Lidar com um evento assim era fácil, mas se Alisson o conhecia, quer
dizer que o encontraria outras vezes. Isso, sim, era difícil de lidar.
— Victor trabalha comigo na TEC Corporation. — Confirmou após
respirar fundo e se afastar para se sentar no sofá da sala.
Aquela sensação estranha e horrível voltou, o deixando fervendo por
dentro.
— Eu o tinha como um irmão e nunca passamos de simples apertos
de mãos ou almoços juntos, os quais sempre eram acompanhados de outras
pessoas. Quando ele foi conosco ao happy hour, achei que fosse por conta
das meninas. Mas, então, aquilo aconteceu e...
Aaron nunca se sentiu inseguro assim. Ele sabia do seu amor, do seu
filho, mas existia dentro de si um homem fraco que imaginava que em
algum momento poderia perder o amor do seu passarinho.
— E o quê? — Perguntou impaciente.
— Aaron, você está muito chateado e agitado. Estou me sentindo
pressionada. — Fez uma cara feia.
— Como não quer que eu fique chateado, sendo que encontrei a
minha namorada agarrada a outro homem em uma balada, sabendo que eles
vão se ver todos os dias? — Usou mais raiva do que devia.
Alisson se levantou com o rosto avermelhado. Algo que acontecia
quando ela ficava irritada.
— Da forma como está falando, até parece que gostei de ser forçada
a beijar uma pessoa que achei que fosse meu amigo. — Cruzou os braços e
o olhou nos olhos.
Agora foi ele quem estava se sentindo sob pressão.
— Ok. Desculpe! É que não lido bem com situações como essa e
estou aprendendo que é difícil não sentir ciúme de você. — Explicou, ainda
alterado.
— Victor trabalha ao meu lado, mas quando me agarrou, destruiu
toda a confiança que eu tinha nele. Não importa se estava bêbado. Eu pedi
para que me soltasse e me deixasse ir. Se não fosse por você, só Deus sabe
o que ele teria feito. Parece que sou fraca se comparada a um homem. —
Ela também falou rápido, quase que desesperadamente, quando estava com
medo ou furiosa. No momento ele não sabia qual das duas emoções estava
sentindo.
— Alisson, perdão! — Pediu, baixando a guarda. — Eu não devo
brigar com você. Tenho que lidar com o ciúme. Sei que merece minha total
confiança, até mesmo se eu estiver de olhos vendados. — Pegou sua mão
com carinho.
Essa não foi a primeira quase briga dele e ela sabia o quanto ele era
difícil e idiota. Já se acostumou. Não era porque se sentia vulnerável e
enciumado, que Aaron devia descontar na pessoa que gostava dele, mesmo
com seus defeitos.
— Não gosto quando não sei das coisas. Eu não sabia que aquele
idiota trabalhava com você, nem porque a agarrou.
— Milla me contou que Victor sempre gostou de mim, só que nunca
percebi. Ou não queria perceber. Não tenho interesse algum nele, tratava-o
como um colega e nem aceitava os seus convites para sair.
— Ele tem sentimentos por você e, simplesmente, forçou-a a beijá-
lo? — A conversa não estava o deixando menos preocupado. Parecia que a
noite não acabaria bem para ele. — Desculpe, Alisson! Não me sinto
confortável com isso.
— Com outro cara gostando de mim? — Franziu o cenho.
— Com ele te olhando todos os dias e trabalhando a menos de um
metro de você, dentro da minha empresa.
Aaron sempre foi o cara desprendido de sentimentos românticos e
nunca namorou. Sua coleção de mulheres, como Alisson já sabia, era
enorme. Sempre foi o canalha e, agora, estava se sentindo como um cara
que pode ter a namorada roubada. Talvez seja carma por tudo que já fez.
— Não tem com o que se preocupar, Aaron. — Tocou
carinhosamente em seu rosto. — É com você que estou e com quem quero
ficar. Não gosto de mais ninguém. E, com você, apesar das dores de cabeça,
sinto-me segura. A atitude de Victor, por mais bêbado que estivesse, fez eu
me sentir triste e traída. Nunca mais vou confiar nele. Também não quero
que isso seja um problema na nossa relação. Ainda mais agora com o nosso
filho.
Sim, ele lembrou. Aquele babaca não só feriu seu amor, mas também
o filho.
Perceber que tinha medo de perder tudo isso, o assustou. Nunca foi
apegado a ninguém que não fosse da sua família, e, de repente, essa garota
atrevida estava na sua vida, tornando tudo mais agradável.
Ele a abraçou com força, como se não recebesse esse contato há dias.
Como ela era bem menor do que ele, sua cabeça ficava em seu queixo. Era
bom sentir seu corpo quente junto ao seu e se sentiu vivo como nunca antes.
— Mesmo confiando em você, não quero que esse homem esteja ao
seu redor.
— Posso lidar com Victor, Aaron. — Respirou em seu peito.
— Mas eu não.
Ela se afastou e o encarou, estranhando o que ele disse.
— O que quer dizer?
— Não sei. Só sei que não permitirei que ele continue perto de você.
Essa não era uma discussão, embora ela, novamente, estivesse
irritada. Alisson poderia perdoar as pessoas facilmente, porém Aaron
Spacter era babaca demais para ser tão bondoso.
— Aaron! — Falou, ainda o encarando. — Não pode misturar as
coisas. O que acontece fora do trabalho, não pode interferir com o que
fazemos na TEC Corporation.
— Você é o meu anjo doce, mas eu ainda sou um mundano, Alisson.
Não vamos discutir. Eu sou o chefe e sei o que devo fazer. — Ela o encarou
feio, pensando que poderia argumentar mais. — Pense no que poderia ter
acontecido. Estava sozinha. Alisson… ele não aceitaria o seu não. O que
faria? Poderia machucar você e nosso filho.
Então ela deixou cair a máscara furiosa. Aaron tinha razão. Agora ela
não estava mais sozinha.
—Está certo, mas isso ainda pode ser visto por um lado ruim. —
Pensou. — É o chefe e eu a funcionária. Já será estranho o suficiente.
Quando mexer os pauzinhos, mudar as coisas por minha causa, as pessoas
vão me odiar. Excluir só por estar com você.
— Pense na segurança do nosso bebê. Pouco me importo se terá
alguém comentando. Devo proteger minha família. — Alisson voltou a
encarar seus olhos azuis, dessa vez, mais alegre. Família era uma palavra
que lhe agradava.
— Sabe? Eu contei à Milla e à Natasha sobre nós dois. Como eu
previa, vi olhares fora do comum para a Alisson que todos nem notam. Se
fizer o que pensa em fazer, as pessoas irão associar sua atitude a nós dois. E
só vai piorar o modo de me tratarem.
— Milla te tratou com desdém ou a ofendeu? — Ficou mais
interessado nessa parte.
— Não, Aaron. Milla é uma ótima amiga, e para falar a verdade ela
meio que sabia. Foi Natasha, a secretária que sempre se exibe para você,
que não gostou nenhum pouco do que ouviu. Acho que ela pensou o que
imaginei que pensariam desde o momento em que você e eu nos acertamos.
Esse era um medo recorrente dela, pois não era muito confiante de si.
O que dificultava muito as coisas entre eles.
— Nunca notei aquela mulher e nunca notarei — Sentiu-se frustrado
novamente. — Alisson, eu te amo! Sempre será você. Mas vai colocar tudo
entre nós para não vivermos por completo. Por que isso te importa tanto?
Não basta o que sentimos um pelo outro?
Aaron sabia que ela não agia assim por mal, apenas se preocupa com
o modo como irão tratá-la ou com o que vão dizê-la só porque estavam
juntos. No entanto, essa preocupação os impedia de fazer muitas coisas,
inclusive de dar prosseguimento ao relacionamento.
— Não quero mais me esconder. Essa decisão não mudou, Aaron. —
Disse com mais calma. — Quero ser livre e poder viver com você. Sair,
almoçar, além do mais, será inevitável quando o bebê chegar.
Aaron passou suas mãos pela cintura dela e a puxou para um beijo.
Alisson Acariciou seu rosto, arranhou, de leve, o seu pescoço, o fazendo rir.
— Não importa o quanto tente. Ainda sou medrosa em relação a isso.
Mas não vou mais deixar que meus medos atrapalhem a gente. No entanto,
se demitir Victor por algo que me envolve, a atitude dos outros comigo
mudará. E eu já fui a garota que era tratada diferente na escola.
Ele respirou fundo e beijou sua testa. Alisson e ele tiveram vidas
diferentes até o momento, e ele sabia que devia respeitar os seus medos.
— Faremos do seu jeito. Não precisa temer. — Acariciou suas
bochechas. Sua pele estava avermelhada, e não era de raiva. — Não vou
demitir o idiota, mas não o quero por perto. Espero que Cooper resolva esse
impasse sem gerar muitos problemas.
No mesmo instante, ela deu um belo sorriso, exibindo covinhas que
tanto amava. Ele não sabia como podia amar tanto alguém que conheceu tão
inusitadamente.
— Preciso de um banho. — Avisou.
A mente pervertida de Aaron logo formou uma frase e Alisson
esperou para ouvi-la.
— Sei de duas mãos extras que podem ajudá-la com isso.
Ela revirou os olhos. Ele gostava quando ela fazia.
— Sinceramente, acho que devemos aproveitar antes que o bebê
nasça. — Aaron Franziu o cenho preocupado. — Vai dar trabalho e não sei
se teremos tempo, entre trabalho e bebê, de fazer sexo.
— Nem brinca com essas coisas, passarinho.
— Quem disse que estou brincando, bundão.
Aaron gostava de ouvi-la dizendo isso. Ele a pegou no colo e a levou
em direção ao banheiro.
CAPÍTULO 21
Alisson
Alisson estava decepcionada com o que houve ontem. Ela jamais
achou que seu colega faria algo assim. Victor foi um babaca. Ele não estava
tão bêbado, e usou daquela oportunidade para machucar Alisson.
Ela botou na cabeça que já era hora de mudar. Deixa de ser a menina
boba que não percebia as coisas e que era medrosa sempre.
Óbvio que a mulher enfrentaria algumas pedras em seu caminho. Ela
não mudaria do dia para a noite, contudo, com o bebê em seu ventre vinha
também responsabilidades extras.
Alisson não sabia como seriam as coisas. Tinha uma péssima relação
com a mãe e não achava que isso mudaria depressa. Por enquanto, se
concentraria em se manter sã, saudável e longe de encrenca.
Amaria seu filho, seu namorado e trabalharia com o que gostava de
fazer. O resto que se dane!
Mesmo com tanta determinação, Alisson se via ansiosa, com as mãos
suando e o peito batendo forte, só por estar entrando pela porta principal ao
lado do homem que amava e pai do seu bebê. "Senhor arrogante", como as
meninas costumavam chamar.
Aaron não era o homem todo estressado que eles conheciam e com
quem todos convivem. Agora, graças à recuperação do seu pai, ele era o
homem que tanto ela amava.
Não era perfeito, apesar de parecer às vezes, mas não esbravejava
com tanta facilidade.
— Não se esqueça! Amanhã vamos à casa dos meus pais. Eles
insistem. — Falou ao seu ouvido antes de beijar o seu rosto.
Ele estava um gato hoje. Terno azul, gravata escura, cabelo soltos ao
vento e os olhos brilhavam.
A recepcionista não parava de os encarar como se fossem animais
exóticos. Molly e Alisson conversavam quando ela chegava e reclamava
sobre o ritual idiota de segurança. O qual entendia bem atualmente, pois
trabalhava com dados muito importantes. Serem roubados era uma
preocupação que se estendia até com quem frequentava o lugar.
— Tudo bem.
— E o almoço será no Hallsy. Espero você lá às 12 horas. Sabe como
sou pontual. — Estava se comportando como um pai quando deixa os filhos
na porta da escola. — Na verdade, vou com você até...
— Não será necessário. — Deu dois tapas leves em seu ombro. —
Não precisa exagerar.
— Quero ver como trabalha. — Franziu o cenho.
— Já viu quando levou aquele senhor à sala dos computadores. —
Alisson queria ir embora da recepção o mais rápido que pudesse.
— Quer fugir de mim, passarinho? — Fazia um tempo que ele não a
chamava assim. Era fofo e a trazia dar um sorriso, por ser carinhoso.
— Tem como fugir de você, bundão? — Ele retribuiu o sorriso —
Além disso, o meu chefe não gosta de atrasos. Nós nos vemos no almoço.
Ela pensou que iria demorar a se acostumar com essa rotina. A partir
deste momento, Aaron e ela estavam, oficialmente, namorando. As pessoas
iriam começar a saber e, talvez, mudassem a forma de a tratavam. Algo que
ela não queria que acontecesse.
Ela não fugia de ser vista com ele, só era discreta.
***
Alisson quase tinha se esquecido de Victor, com toda a história com
Aaron. Mas logo quando entrou na sala, esse acontecimento veio à tona.
Todos os dias, quando chegava, conversavam e trocavam ideias. Ele
ficava a poucos metros dela, em uma mesa repleta de fios e telas de
computadores, assim como a sua. E hoje estava em seu lugar habitual,
olhando-a como se estivesse brigado feio e ela fosse a culpada.
Culpar a bebida não justificativa sua atitude. Alisson poderia até
entender que gostava romanticamente dela, mas ter a agarrado à força foi
algo que odiou; ainda mais agora, que parece culpa-la ou ter raiva por
algum motivo.
Ela nunca quis tanto que um dia de trabalho acabasse logo. Gostava
do que fazia e se sentia feliz aqui, entretanto estava acuada hoje, culpando-
se pela situação.
Então ela resolveu se concentrar no que estava fazendo, processando
mais uma pilha de dados, colocando-a no servidor e a transferindo para um
lugar seguro na rede.
Estar sempre de olho nos monitores ajudava a saber o fluxo de
informações e contribui para a segurança. Estava contente porque sua ideia
estava dentro do sistema.
Demorou a notar que o fim da manhã tinha chegado. Só percebeu
quando olhou para os lados e não viu as pessoas que estariam trabalhando
se não fosse meio-dia. Os horários são diferentes para cada turma, e ela
ficou na primeira, de três funcionários, que sairia primeiro.
Aaron, assim como Cooper, tem amor pela pontualidade. Atrasada
cinco minutos, ela se levantou e se dirigiu até a porta. Dois dos seus colegas
estavam com seus fones de ouvidos, trabalhando, e seu superior estava
sentado à sua mesa, em uma superfície um pouco mais alta de onde
ficavam.
Quando saiu do local, sentiu seu estômago esfriar ao ouvir a voz de
Victor. Ela era naturalmente medrosa, mas a sensação que a tomou neste
momento, com ele a passos dela, foi outra coisa.
— O chefe? — Indagou num tom de deboche, aproximando-se ainda
mais. — Nunca imaginei que fosse este tipo de pessoa, Alisson.
— Que tipo de pessoa acha que sou, Victor? —Perguntou raivosa,
escondendo os seus medos embaixo de uma confiança que não tinha.
— Estive por quatro anos ao seu lado, dando flores a você e quase
implorando para que saísse comigo. Mas quando, finalmente, tive a
oportunidade de dizer que gosto de você, descobri que está com alguém de
alto nível. Sinceramente, achei que fosse diferente das outras que trabalham
nesta empresa.
Ela esperou ser julgada, mas não desse jeito, muito menos por Victor,
a quem ela considerava um irmão.
— Sabe, Victor? Eu o considerava alguém especial, um irmão mais
velho, e nunca te dei segundas intenções. Não aceitar seus convites não é
algo que devia ter sido visto como uma recusa, porque eu nem sabia como
você se sentia em relação a mim. — Encarou-o, sentindo a raiva aumentar
no seu sangue. — Com certeza iríamos conversar sobre isso e nos resolver.
No entanto, tomou uma atitude que não gostei, pois não me respeitou; e no
momento está me ofendendo, usando este tom e tais palavras.
— Claro, Alisson. Porque você é sensível demais para ouvir a
verdade. —Falou com ironia. — Aposto que o cara se diverte com sua
inocência. Só tenha em mente que não terá mais chance alguma comigo
quando ele te dispensar ao enjoar de você!
Suas palavras malvadas a chocaram e a deixaram mal; não por terem
sido só para a magoar, mas também porque, lá no fundo, seu medo era de
que Aaron me largue.
— Tome cuidado com o que fala à minha namorada, senhor Garcia!
— A voz grave de Aaron soou ao seu ouvido, causando-a um frio na barriga
misturado com adrenalina. Na última vez em que os três estiveram frente a
frente, ele estava quase enforcando Victor. — A pedido de Alisson, não
tomei providência em relação a você, mas agora acho que passou de todos
os limites.
— Aaron, por favor...
— Não, Alisson! Não podemos permitir que esse homem continue a
ofendendo ou a machucando de alguma forma. — Cortou-a. — Não
importa o que pensem. — Aaron andou até eles, encarando Victor, como se
fosse mata-lo. — Ninguém trata a minha mulher desse jeito. E não vou
permitir que continue aqui, agindo desse jeito.
O medo de Alisson era de que os dois brigasse. Isso seria muito ruim.
— Não se preocupe, senhor Spacter! Não estarei mais ligado à sua
empresa a partir de hoje.
Ela se surpreendeu com sua atitude. Ele está se demitindo?
— Fico feliz. — Disse Aaron friamente.
Ele a pegou pela mão e, praticamente, arrastou-a até o elevador. As
portas se fecham quando ela ainda encarava Victor, surpresa.
— Desculpe-me pelo atraso! — Tentou voltar a ser a Alisson de
antes. — Eu não sabia que Victor seria tão...
— Babaca? — Completou.
— Espero que isso acabe logo; não só com ele, mas com todos. —
Reclamou com ela mesma. — Não quero temer ser vista com você nos
corredores ou ser abordada para ouvir ofensas como aquela.
— Seja quem for, Alisson, terá que lidar comigo. — Alertou
firmemente, arrumando sua gravata, que estava um pouco frouxa.
— Aaron, não fale desse jeito! — Olhou com o cenho franzido.
Ele a encarou, sem saber do que, exatamente, ela estava falando.
— As pessoas já acham que você é um tirano. Se tomar partido
sempre, com rispidez e grosseria, vão odiá-lo ainda mais.
O sorriso no canto de sua boca a deixou orgulhosa. Querendo ou não,
bravo ou pervertido, o homem era lindo.
***
Estando com Aaron vinha junto o combo “nervosismo”, “vergonha”
e “frio na barriga”. E ela estava com os três neste exato momento.
O vestido amarelo-claro e solto, com tiras nas costas, não a deixava
vulgar; no máximo, uma jovem recatada. Só que não importava. Alisson
estava nervosa com o fato de pisar no mármore branco que tinha na casa
dos pais dele.
Ele disse: “É um jantar formal. Não tem com o que se preocupar”.
Então, Mia a fez colocar um vestido bonito que comprou em uma grife que
ela não sabia o nome, e ele bateu na sua porta com o terno mais lindo e
polido que ela já o viu usando.
A mansão era uma das mais lindas do condomínio de luxo que ela
nem sabia da existência até agora. Já chegando no local, foram as grades
douradas, com um arabesco lindo, um caminho de pedra, como era em
filmes de gente rica, e um jardim perfeito, muito bem cuidado. A porta de
madeira branca a deixou babando.
Foram recepcionados por um mordomo. Aaron colocou uma mão nas
suas costas, guiando-a para dentro e a perturbando com o calor que ele
emanava.
Alisson pensou que não ia aguentar até o fim da noite.
— Oi, querida. — Cumprimentou a simpática senhora, mãe de
Aaron, ao a abraçá-la. Ela estava deslumbrante. — Estávamos ansiosos para
rever você. Robert não está cem por centro, mas exigiu que a convidasse
para um jantar.
Como foi na outra vez, sorriu, disfarçando o nervosismo, e tentou
formular uma frase que não fosse constrangedora.
— Estou feliz por estar aqui. — Afirmou com calma e consistência.
O senhor Robert era um homem lindo, assim como o filho. Ao pensar
que, no futuro, ele ficaria como o pai, com os cabelos grisalhos e um
charme natural, a deixava ainda mais quente.
— Você disse que seria um jantar simples. Por que parece que todos
vão a uma festa? — Sussurrou para o seu namorado.
Ele deu um leve sorriso.
— Para os meus pais, sempre é uma festa. Estes são os trajes que eles
usam normalmente.
Agradeço por ele ter a respondido no mesmo tom que ela usou.
— Quer dizer que vou ter que usar roupas chiques até em casa? —
Perguntou surpresa, olhando-o com dúvida. — Se alguém nos ver, vão
pensar que sou sua empregada ou uma sem-teto para quem está fazendo
caridade.
Sua gargalhada a deixou nervosa e constrangida, principalmente
quando seus pais olharam surpresos e sorriram como se não tivessem visto
nada demais. Na sua cabeça, pensava que estavam rindo dela.
— Você é a melhor, Alisson. — Ele disse, mas não em um sussurro
dessa vez.
— Não me mate de vergonha, Aaron! — Reclamou, disfarçando ao
mesmo tempo.
— Eu já tinha gostado de você, mas agora estou amando. — Falou o
pai dele, anda com certa dificuldade e estava recebendo a ajuda da esposa.
— Não são muitas mulheres que Aaron nos apresentou; ainda mais uma que
me fez tão feliz. — Beijou a sua mão.
Ela o acho fofo, entretanto suas bochechas ardem e pode sentir o
constrangimento estampado em sua cara.
Conversar sobre vastos assuntos não fazia o seu estilo, mas a mãe de
Aaron era mais parecida com Alisson do que a própria imaginou.
Os quatro conversaram sobre muitas coisas. Seu namorado contou
aos pais como a conheceu e, consequentemente, que era uma engenheira na
TEC Corporation. Eles não acharam estranho, nem nada, a nossa história.
Foram pessoas legais.
Aos poucos ela perdeu a timidez. Contou como estava sendo a gestão
e nessa parte, a cabecinha nervosa dela, imaginou que, ao olhar deles, ela
estava acelerando muito as coisas. Na realidade, na visão de qualquer um,
porém, se os dois estavam felizes, era o que importava.
O cardápio era como imaginou que seria: nomes difíceis e coisas que
nunca comeu na vida. Geralmente, comia muita besteira, já que odiava
cozinhar.
Alisson estava mais relaxada do que esperava. Ouvir como os pais de
Aaron se apaixonaram, a fez se sentir feliz. E depois do que Mary falou, de
como foi quando Robert sofreu o acidente, sentiu o quanto eles se amavam.
Ela esperava que tivesse o mesmo com Aaron.
A noite terminou com um gosto de “quero mais”. Era engraçado, pois
no início ela queria se enfiar em um buraco para não ir a esse jantar.
— Eu disse que não seria um bicho de sete cabeças. — Aaron dirigiu
de volta à sua casa.
— Não falei que seria.
O bom de estar com ele era: seja em qualquer situação ou briga,
sempre vamos acabar rindo e fazendo as pazes. Era como estar namorando
um amigo com quem não tinha medo de brincar ou de dizer alguma coisa.
CAPÍTULO 22
Alisson
Dois meses depois
Se alguém dissesse a Alisson, há meses atrás, que ela estaria usando
um vestido de noiva, prestes a se casar com o seu chefe hoje, ela diria que
era uma piada de mal gosto. Mas lá estava ela, em frente a um espelho
enorme, completamente de branco e segurando um buquê. Daqui a meia
hora estaria entrando em uma igreja.
Ela não esperava pelo pedido. Pensou que mesmo estando grávida
dele, poderia permanecer com o status namorado. Alisson não era daquelas
que pensavam em ter uma família ou casar só porque estava esperando um
bebê. Ela não parava de sorrir, naquele momento, e nem pensou duas vezes
antes de aceitar. Já estava na hora da menina tímida e medrosa se aposentar.
Em alguns meses, muitas coisas aconteceram. Conheceu o homem da
sua vida, teve seu projeto implementado na empresa onde trabalhava,
descobriu que estava grávida, finalmente conversou com sua mãe e
colocamos todas as mágoas para fora.
Aaron sempre a apoiava e gostava de ouvir sobre coisas que ele não
entendia. Ainda falava que ela seria a pessoa que o ajudaria a nunca mais
ser roubado. Até o momento, não sofreram mais com roubos ou
paralisações no sistema.
O projeto de Alisson vinha crescendo, aos poucos. Ela tinha a chave
que guardava a sua maior relíquia e com ela, tudo estava seguro.
Os pais de Aaron saíram em uma nova lua de mel e hoje estavam de
volta, para o casamento.
Ela estava orgulhosa de si mesma por tomar decisões cruciais sem ter
medo de errar.
Aaron mudou a sua vida para melhor e ela gostava de pensar que
também fez o mesmo com ele.
— Você está linda. — Mia a elogiou com lágrimas nos olhos.
Alisson olhou para a sua amiga e ela estava linda com aquela barriga
crescendo, igual a sua. Ainda não era muito perceptível a de Alisson, além
do mais, o vestido que a amiga escolheu, com muitos tecidos soltou, sem
destacar a barriga, ajudava a disfarçar. Porém, Alisson não se importava
com isso. Na verdade, passou a conversar com seu bebê, agradecendo por
nunca mais ter que ficar só.
— É. Mas estou ansiosa. Quando vamos para a igreja? — Perguntou
impaciente. — Já estou começando a sentir o mesmo que sentia antes de
conhecer Aaron, e não quero ser aquela mulher de novo.
— Relaxe, Alisson! Aaron já é seu. Vocês só vão oficializar as
coisas. — Falou com naturalidade. — Aproveite o momento!
Aproveitar.
Ela estava se controlando, mas sabia que assim que entrasse pela
porta da igreja, desejaria sair de lá correndo.
Ela não sabia que era tão festivo e trabalhoso se casar. Aaron
resolveu tudo, em um estalar de dedos. Ele até quase escolheu o vestido da
noiva.
Voltando a se olhar no espelho, lembrou-se do dia em que ele a pediu
em casamento. Primeiro, estava estranho, suando frio e claramente nervoso.
Ela achou que ele terminaria tudo.
Estavam bem, felizes e transando pela casa nova, mas, do nada, ele se
fechou, ficou pensativo e a deixou uma pilha de nervos.
Alisson já estava planejando um roteiro quando ele organizou o
jantar.
Pensou consigo mesma: “Você não vai chorar! Apesar de amá-lo,
não pode chorar. Ele vai ficar emotivo e isso só vai piorar as coisas.”
Suas mãos suavam, seu estômago ia mal e nem podia tomar um
vinho, por causa do bebê. O pior foi que ela achou toda a sua dedicação em
organizar o ambiente, de mal gosto. Se era para terminar, que fosse rápido e
sem dor.
Mas, então, ele se embolou na hora. Ela estava quase terminando em
seu lugar. E quando o viu pegar a caixinha, ajoelhar-se e fazer a pergunta,
seu instinto foi bater nele. Foi sonoro, rápido e deixou sua pele vermelha.
Quando ele a olhou, ela estava quase se debulhando em lágrimas.
Ainda disse: “Porra, Aaron! Você quase me matou. Achei que fosse
terminar comigo. ”
Nesse instante, ele riu, levantou-se do chão e a abraçou, ainda
sorrindo.
Bem... ela aceitou o pedido depois de vê-lo a fazer a proposta mais
uma vez, já que tinha esquecido de respondê-lo.
— Está na hora. — Disse a sua mãe, que está com lágrimas nos
olhos. Enquanto ela revirou os meus.
— Todas vocês vão chorar no meu casamento? — Questionou sem
ser rude, mas sendo dramática.
— No meu caso, estou chorando de alegria e surpresa, pois nunca
imaginei que minha amiga fosse se casar um dia, sendo tão estranha. —
Mia chorava e limpa seu pranto com um lenço. — Isso é porque estou
sensível ultimamente. Você está linda neste vestido.
— Ok, Mia. Entendi. — Suspirou.
— Vamos, amor! Ou vai se atrasar mais do que o normal.
***
Ela sabia que o seu noivo era o cara mais lindo que poderia existir.
Mas, com aquela roupa, esperando no altar… Alisson não podia imaginar
que ele pudesse ficar duas vezes mais gato.
Ela não queria se concentrar nas pessoas a olhando como se ela fosse
uma estranha dando passos curtos para fazer uma cena na entrada da igreja.
Somente se prendeu a ele, que sorria para ela, sabendo exatamente como ela
estava se sentindo.
Alisson começou a ficar emotiva. Ela prometeu a si mesma que não
ficaria, mas lá estava ela, tentando controlar as emoções. Caso deixasse
uma lágrima cair, culparia o bebê.
Deveria ser um ritual comum de casamento, e ela já tinha dito várias
vezes para Aaron o quanto achou ridículo tudo isso, mas foi pega pela
emoção.
Ao seu lado estava sua mãe e Mia, perto do altar. Sua amiga era a
madrinha de casamento.
Nunca estive mais feliz.
Quando, finalmente, estavam cara a cara, não conseguiu disfarçar o
sorriso de satisfação, alívio e felicidade.
— Eu não o escolhi, mas ficou linda neste vestido. — Deu um sorriso
de orelha a orelha.
— Não seja exibido! — Reclamou.
Ela respirou fundo e os dois ficaram frente a frente com o padre que
conduziria a cerimônia. Alisson não prestou muita atenção no que ele dizia,
somente se manteve de mãos dadas com seu quase marido, repassando nas
lembranças todos os momentos constrangedores, engraçados e românticos,
pensando no quanto era sortuda e grata.
Alisson foi pega de surpresa quando o padre começou as perguntas.
Seu noivo sorriu, repetiu o que ele falou e apertou suas mãos com carinho,
só para saber se o que estamos vivendo era real ou não. Ela também não
acreditava, pois era surreal o que tinha passado até ali.
Depois dela responder “sim”, foi a vez dele. Já nos votos, ela se
emocionou mais do que esperava. Aaron sabia onde tocar para a deixar
sensível.
O beijo fechou com chave de ouro a cerimônia. Ela estava feliz
porque não precisava mais estar na frente de todos, sendo o centro das
atenções.
— Agora sou todinho seu, senhora Spacter. — Aaron falou ao seu
ouvido, a causando arrepios e um sorriso no rosto. — Acho que vou pedir
para pularmos para a lua de mel.
— Quando vai deixar de ser tão pervertido? Estamos em uma igreja.
— Sussurrou constrangida.
— “Multiplicai-vos! ” Está na bíblia, Alisson.
— Não sei se lembra — ela sussurrou — Já pulamos para essa parte.
— Tocou na barriga, o fazendo tocar também.
Os olhos de Aaron brilhavam ao notar que seu filho ou filha, crescia
dentro da barriga da mulher que amava.
— Não faz ideia do quão feliz estou.
— Sabe que quase me matou quando inventou de fazer essa surpresa.
— Eu morria junto. — Beijou seu rosto. — Desculpa, eu me
empolguei.
— É, eu sei.
— Estou ansioso para o ver nascer.
CAPÍTULO 23
Aaron
Semanas depois
Assim como Alisson, Aaron não imaginou que estaria casado e
prestes a ser pai, meses atrás.
Claro que os anos de vida devassa poderia ter o rendido tal coisa,
mas ele sempre se cuidou, e perdeu totalmente o sentido, ao conhecer
Alisson.
Ele achava que não podia se sentir mais feliz do que já estava.
Alisson era seu porto seguro e sem ele, pensava que não conseguiria viver.
Agora, os dois estavam dentro de um consultório esperando o
ultrassom do seu bebê, que eles ainda não sabiam se seria menina ou
menino. Bem, no fundo do seu peito, Aaron torcia por um menino, não por
não gostar de garotas, mas por pensar que o mundo lhe jogaria um carma
nunca antes visto.
Aaron já foi conhecido por ser um cafajeste. Nunca repetiu uma
mulher em sua cama, antes de Alisson. Pensar que sua garotinha poderia ser
uma delas, no futuro, o enchia de medo.
Óbvio que ele não rejeitaria se fosse o caso, e nem diria nada disso a
sua esposa, só pensava que seria mais fácil cuidar de um garoto do que de
uma garota. Na verdade, assim que completasse seus quinze anos, ele iria
por guardas atrás dela, só para não ter que se preocupar com pervertidos,
como um dia ele já foi.
Alisson estava deitada, e eles esperavam uma imagem sair no
monitor. Bem, nenhum dos dois saberia identificar nada naquela tela,
porém, tentariam.
— Prontos para saber o sexo do bebê? — A mulher perguntou, tão
animada quanto ele.
— Sim! — Falou ele, quase pulando.
— Não repara na ansiedade do pai, ele quase não dormiu a noite. —
Alisson brincou, o fazendo a encarar. — Sei que quer um menino.
— Não é uma preferência. — Mentiu só para agradá-la.
— É sim. — Falou para a médica. — O motivo é bem simples. —
Alisson tinha o poder de entender Aaron sem ao menos ele dizer uma
palavra. — Me casei com o homem mais safado de Nova York e agora ele
teme que se for menina, os futuros homens vão atacar a nossa filha.
— Está lendo a minha mente? — Franziu o cenho, preocupado com a
precisão e segurança dela.
— Conheço um olhar preocupado e alma arrependida, amor. — A
médica devia estar achando tudo aquilo engraçado. — Não se preocupe.
— Há, não? — Levantou uma das sobrancelhas.
— Nenhuma filha minha cairá nos braços de um cafajeste.
Aaron riu, achando que realmente era possível. Afinal, Aaron se
rendeu aos encantos da nerd dos computadores.
— Desculpa, mas… o anel em seu dedo diz que até você se encantou
com o charme de um cafajeste.
— O anel em meu dedo significa que consegui o que nenhuma outra
conseguiu. — Ele pensou: essa mulher me dá medo. — Consertei o maior
cafajeste dessa cidade.
Ele riu, pois era verdade.
— Bem, papais, eu já tenho o resultado que estão esperando. — A
médica falou, trazendo de volta toda a atenção de Aaron. — É um menino.
Ele nem conseguiu disfarçar o alívio que sentiu, fazendo com que
Alisson revirasse os olhos.
— Dessa vez você escapou. — Ele riu novamente. — O trabalho vai
ser todo meu, já que tenho que educá-lo para ser um homem amoroso e
romântico.
— Quem disse que eu não posso ensinar isso ao meu filho? — Se
ofendeu.
— Eu não disse que não podia. — Levantou uma das sobrancelhas.
Aaron tentou ver no monitor o seu bebê, mas só conseguiu enxergar
um monte de borrão.
— Dá para ver se ele tem um bumbum protuberante? — Alisson
arregalou os olhos e a médica riu. — A mãe tem um certo amor pela minha
bunda, é provável que isso passe para o nosso filho.
— Aaron! — Ficou constrangida.
— É verdade.
— Até o momento ele tem um bumbum normal.
— Não liga para ele, sempre brinca com as coisas. — Alisson lhe
enviou uma mensagem silenciosa que dizia: vou matar você quando
chegarmos em casa.
***
Aaron estava destruído com os papéis que deveria revisar, quando um
dos seus seguranças adentrou o seu escritório.
Depois do ultrassom, os dois voltaram ao trabalho. Alisson insistia
em continuar trabalhando, como sempre fez, e não seria Aaron a impedir.
O homem estava sério, era só um segurança da empresa que cuidava
de toda a proteção do lugar, contudo, naquele momento o homem estava
estranho.
Aaron não recebia esse tipo de visita sem um bom motivo, além do
mais, coisas assim não precisavam de sua permissão ou avaliação, por isso,
Aaron achou estranho, encostando-se na cadeira.
— Desculpe, interrompê-lo, senhor Spacter, mas recebemos essas…
imagens, e… é preocupante.
Aaron imediatamente se assustou.
— Que imagens? — O homem alto lhe entregou o envelope, que
rapidamente foi aberto. Aaron, inicialmente, não entendeu, mas olhando e
pensando devagar, percebeu o que estava acontecendo. Ali estava fotos dele
e de Alisson, em muitos momentos e lugares. Aaron sentiu seu coração
afundar no peito. — Quem enviou isso?
— Não teve remetente. — Explicou. — Na verdade, se prestar
atenção a última foto, verá um recado.
Desesperado, Aaron buscou pela imagem e novamente se assustou.
"É só um aviso. Estamos de olho em vocês"
Ele precisou de um tempo para se acalmar, mas não conseguiu no
final das contas. Alguém estava os observando. Seguindo e ameaçando.
Aaron não podia acreditar nisso.
— Quero que aumente a segurança. — Disse ao se levantar,
amedrontado.
— Já estou fazendo isso. — Revelou.
— Ficará responsável pela minha segurança particular. — Ele mal
conseguia pensar direito. — Vai pôr os melhores homens nosso. Nada pode
acontecer com a minha esposa, ouviu. Faça o impossível, para proteger ela
e meu filho.
— Sim, senhor.
— Chame a polícia. — Aaron olhou as horas. A esse momento
Alisson ainda estava em sua sala. — Não quero deixar nada passar.
O segurança saiu da sala, deixando Aaron nervoso. Ele pegou todas
as fotos, pôs de volta no envelope e saiu dali, o mais rápido que pode.
— Já está de saída, senhor. — Milla quase corria atrás dele.
— Sim, tenho que pegar a Alisson e ir para casa. — Respondeu,
nervoso.
Milla não entendeu nada, mas não questionou. Ele esperou o elevador
descer no andar em que Alisson trabalhava, saiu de lá, apressado e quase
correu até ela.
Todo aquele setor foi reformado, a sala de vigilância era bem segura,
entretanto, Aaron sentiu como se nada ali o deixasse mais tranquilo.
Cooper o viu chegando e achou estranho, mesmo sabendo que ali
trabalhava a esposa do chefe.
— Algum problema…
— Onde está Alisson? — Aaron varreu o lugar e não a encontrou.
Sentiu como se seu coração tivesse parado. — Cooper, onde ela está? —
Perguntou mais uma vez, dessa vez, furioso, dizendo cada palavra entre os
dentes.
O homem, baixinho, engoliu em seco, suando.
— Saiu para…
— Aaron! — A voz dela soou em seus ouvidos o tranquilizando. O
rosto dela estava confuso e chateado, por achar que ali, parado em sua
frente, estava o Aaron arrogante. — O que está fazendo aqui?
Ele foi até ela, a abraçando forte. Aos poucos conseguiu respirar
direito, sua mente esfriou.
— Temos que voltar para casa. — Finalmente disse algo.
— O que houve? — Ela olhou em seus olhos e viu o pânico. — O
que aconteceu, Aaron.
— Amor, vamos para casa agora.
Alisson era do tipo que brigava ou fazia muita pergunta, antes de
fazer o que ele queria, quando achava que deveria, mas ali, olhando em seus
olhos, ela achou melhor ir sem questionar.
CAPÍTULO 24
Alisson
Aquelas fotos mexeram com os dois, mas desde então, com a
segurança redobrada, não houve mais contato ou fotos. Alisson não
conseguiu ficar quieta. Aaron também não, mas ela tentou disfarçar, pois o
marido já estava uma pilha de nervos.
Nos meses restantes, ele voltou a ser o velho bundão arrogante,
porém, quando percebia, ou quando via em seu olhar o julgamento, pedia
perdão e seguia em frente.
Alisson decidiu trabalhar mais em casa, só que não parava de pensar
no que viu nas fotos, em quem seria, e inúmeras possibilidades se passaram
em sua cabeça. Os Spacter eram ricos, conhecidos e cuidavam de dados
importantes. Isso era um prato cheio para golpistas interessados em achar
algum ponto fraco.
Alisson então, sem dizer nada, começou a se precaver, antes que o
bebê nascesse. Ela não ficaria em paz, pois ficaria a todo o momento
preocupada com a sua segurança.
A sala de vigilância que ela montou, em um dos vários quartos
daquela enorme casa que Aaron havia comprado, dava para ver tudo
naquele lugar. O lado de fora era totalmente equipado e vivia sincronizado
com a segurança. Caso algo ruim estivesse por vir, todos saberiam e
poderiam evitar.
Pelo menos, era na teoria.
Quando Ian nasceu, ela sentiu em seu peito um amor fora da
realidade. Claro que amava o marido, isso já era uma novidade, e antes dele
nascer, Alisson se preocupava se conseguiria ser como as mães comuns, que
eram clichês, amava tirar fotos fofas, falar sobre suas descobertas em
relação a crianças, contudo, assim que começaram as contratações, seu
coração foi a boca, ela suou frio, não pelo parto, mas por saber que em
poucas horas seu pequeno estaria em seus braços.
Aaron ficou bem mais preocupado que ela. Ele andava de um lado
para o outro, tentando pensar, achar algo que nem ele sabia o que era, então,
Alisson gritou: "Aaron! Relaxa e me ajuda a entrar no carro."
Ele correu em sua direção, e ela riu por saber que não seria ele quem
colocaria o bebê para fora.
Ian nasceu muito bem, acolhido por todos da família, que os
visitaram no hospital. Aaron não conseguiria parar de encarar o filho, como
se ainda não acreditasse no que estava vendo.
Ele se tornou um pai babão que não deixava os dois sozinhos em
casa. Aaron sentiu como se estivesse completo.
Agora, com quatro meses, Alisson estava subindo pelas paredes e se
surpreendia com a falta de interesse sexual do marido.
Depois do banho, ela achou que o encontraria na cama. Ian
finalmente dormiu, ela estava um pouco insegura com o corpo, achando que
era isso que tinha esfriado a relação.
Quando não o viu, saiu à sua procura, já com o discurso pronto.
Então, ao se aproximar do quarto do bebê, o achou, sentado na poltrona,
com Ian em seus braços, contando uma história.
— Sabe, o papai vai ter que ensinar a você a como encontrar o amor
da sua vida. — Ela chegou calada, distante o bastante para não ser
percebida, encostou-se na parede e o ouviu. — Vai ser difícil. Pode
demorar, mas não desista. Conheci sua mãe assim: ela era minúscula, eu
nem a enxerguei. Foi o destino que me colocou uma garota teimosa e
vingativa em meu caminho. — Alisson ria ao se lembrar. — Dica número
um: se for esbarrar em uma baixinha nerd, tenha um celular no bolso. —
Ela teve que conter o sorriso. — Se não fosse por ele, você não estaria aqui
agora. Eu seria um idiota, ainda, as pessoas me odiariam. — Alisson pensou
em como estaria se não tivesse pego aquele celular. Talvez, estivesse em
casa, com uma roupa largada, assistindo TV. — Conselho número dois: se a
nerd te mandar mensagem, responda. Ela será o amor da sua vida, então se
esforce para ser engraçado ou, no mínimo, sedutor.
Quando não ouviu mais a sua voz, esticou-se para olhar o que ele
estava fazendo. Aaron colocou Ian no berço, alisou seu rostinho e o deixou
dormir. Ela se escondeu novamente, e quando passou por ela, viu que era a
oportunidade de pegá-lo.
— Bela história de ninar. — Aaron não se assustou, mas ficou
surpreso. Ele varreu seu corpo por inteiro e abriu um largo sorriso sedutor.
— Você está sexy na camisa branca. — Ela saiu da onde estava,
passou seus braços sobre seu pescoço e o beijou. Aaron a agarrou com
força, retribuindo no mesmo instante. — Alisson — Aaron encarou seus
olhos verdes e deu um leve sorriso. — Ian dormiu.
— É, depois da conversa que tiveram, ele ficou um pouco cansado.
— Alisson, ele dormiu. — No fundo do seu olhar estava a mensagem
que ela tanto queria ouvir. — Está na hora dos papais brincarem na cama.
— Disse ao pegá-la pelo braço.
***
Um barulho acordou Alisson, no meio da madrugada. Ela, primeiro,
se sentou na cama, passou a mão nos cabelos e achou estranho. Então,
novamente o barulho. Não foi um sonho. Seu coração se apertou. Ela olhou
para o equipamento que monitorava o bebê e logo se levantou, acendendo
um abajur.
— Aaron! — O chamou, baixo, mas ele não ouviu. — Aaron, acorde.
— Dessa vez, Alisson usou as mãos, desesperada, tentando não fazer
barulho. Aaron então acordou, estava confuso e demorou a entender. —
Tem alguma coisa errada. Vou buscar o Ian.
Então saiu. O quarto do bebê não era longe, ela não suportaria estar
tão distante do seu filho. Ao entrar em seu quarto, ouviu vozes do lado de
fora, então olhou pela janela e viu homens de preto, estava arrastando um
dos seguranças da família.
Ali ela se desesperou. Pegou o filho no colo e correu de volta para o
quarto.
— Alisson…
— Aaron, estão invadindo a casa. — Disse desesperada. O homem
tentou entender, porém, confuso, franziu o cenho. — Acorda, tem pessoas
ao redor da casa. Derrubaram um dos seguranças.
— O que!? — Então ele também ficou desesperado. — Ali,
Alisson… fica aqui…
— Não, você não vai sair daqui. — Agarrou seu braço. A esse
momento, Ian já estava choramingando. Haviam atrapalhado o seu sonho.
— Temos que chamar a polícia.
Então as vozes ficaram mais altas, no outro andar. Viram que luzes
foram acesas e tinha alguém subindo as escadas.
Alisson tentou ser mais rápido. No quarto, tinha um botão de alerta.
Ela correu e o apertou. Nesse momento os outros seguranças foram
alertados, e a polícia também foi chamada.
— Amor, você tem que sair daqui. — Aaron não sabia o que fazer.
Pensou em abrir a janela, mas não tinha como sair por ela. Aí, um dos
encapuzados entrou no quarto.
— Olá, família Spacter. — Disse o estranho, a sua voz estava
distorcida pela máscara. Alisson ficou paralisada, com seu filho nos braços,
que estava inquieto e chorando. Aaron correu até eles, tentando os proteger.
— É bom revê-los.
Nos rever?
Alisson começou a pensar. Porque diria isso, quem seria?
— Quem é você, e o que quer? — Aaron perguntou, furioso. Alisson
o segurou, com medo de que fizesse algo.
Outros dois apareceram, todos encapuzados e com armas, os fazendo
sair do quarto, devagar. Ian não parava de chorar, talvez sentindo a
instabilidade. Alisson estava a ponto de chorar. Jamais imaginou que algo
assim pudesse acontecer. Aaron estava nervoso, irritado e com medo de que
machucassem a sua família.
Todos desceram para sala, eles não se separaram, e Alisson ainda
pensava em quem poderia ser aquele homem.
— Agora que estamos aqui, vamos dizer o que queremos. — Um
deles disse. Estava difícil para ela respirar. Seus nervos tremiam, ela sentia
que um deles não parava de encara-la. — Não estaríamos aqui, se não fosse
pela barreira que montou no sistema da TEC Corporation. — Então é isso
que querem! Ela pensou. Aaron estava se sentindo um merda por não ter
previsto isso. — Quero que libere o acesso.
Com a implementação no sistema, ficava mais difícil invadi-lo.
Quando entravam no sistema, sem permissão, os invasores eram levados
para um tipo de labirinto virtual e quebrando o contato.
Alisson criou tudo isso. Trabalhou duro, durante a gravidez, e... agora
estava vendo isso se voltar contra ela.
— Quanto vocês querem? — Aaron foi direto. — Digam a quantia.
— Quero que liberem o acesso. - Reforçou o homem.
Alisson já imaginava que o centro da história não era um valor dado
por eles. Alguém queria informações.
Ela sabia que informações valiam como ouro, no mundo corporativo.
Por isso, teve tanto trabalho nos últimos meses.
— Não será mais fácil se livrar tendo o dinheiro em mãos? — Ele
perguntou. Aaron não estava entendendo as coisas como ela estava.
Então, o mais alto dos quartos, se irritou, tirou a máscara e se
revelou. Alisson arregalou os olhos. Não podia acreditar. Victor!
Aaron também estava surpreso, mesmo sabendo do caráter duvidoso.
— Você! — Se pudesse, Aaron iria com tudo para cima dele, porém,
Victor estava com o orgulho machucado, seus olhos estavam vermelhos de
tanta raiva. — Desgraçado.
Victor estava completamente diferente da última vez que se viram.
Sua barba estava maior, seu cabelo bagunçado, e até sua personalidade não
era a mesma.
Ele estava todo de preto, assim como os outros, só que diferente
deles, o homem, que antes era seu amigo, estava desnorteado, segurando
uma arma nas mãos e a apontando para o casal.
Ian, inquieto, chorava nos seus braços. Alisson sentiu seu coração
pequeno. Ao olhar no fundo dos olhos dele, viu que o ódio dele poderia
machucar seu bem maior: a sua família.
— Achou que se livraria de mim, tão fácil? — Alisson não disse uma
palavra. Viu nos olhos dele que planejava algo ruim.
— Porra, Victor, não foi isso que planejamos. — O outro se irritou.
Os colegas, ficaram furiosos com ele. Parecia que o plano estava
saindo dos trilhos. Alisson rezava para que todos, do lado de fora,
estivessem prontos para ajuda-los a sair daquela situação.
— Fiquei quieto. — Parecia que estava fazendo tudo por conta
própria agora. — Terá o que prometi, mas eu terei a minha vingança.
Vingança! Aaron sempre teve razão. Victor estava com o orgulho
ferido.
— Que porra de vingança. — Os Spacter só assistiam a briga,
enquanto os quatro se desentendiam. Alisson olhou as horas, pensou que a
segurança já estava por perto. Só que a presença de Victor mudava um
pouco as coisas. Ele não veio roubar nada. Era a peça que se encaixava. Ele
os vigiou todo esse tempo e não porque queria os roubar. Victor estava
louco e talvez culpasse eles por ter estragado a sua carreira. — Vamos pegar
o que planejamos e sair.
Ele, indo contra tudo, levantou a arma e a apontou para Aaron, que
estava na frente.
— Deus, não. — Ela se assustou, assustando o filho em seu colo. —
Por favor. Não precisa disso.
— Libera a porra do acesso! — Quase berrou, fazendo Alisson
tremer.
— Seu desgraçado — Aaron estava com medo, mas não por ele e sim
por sua família. — Darei o que quer, contudo, deixaria a minha esposa e
filho, em paz.
O idiota não respondeu, só continuou a encarando nos olhos e
sorrindo.
— Aaron, fica com o Ian. — Ela pediu.
Ele não gostou do que ouviu. Aaron olhou para Alisson e perguntou,
só com o olhar, se ela estava ficando louca. Preferia que fosse ele, o que se
arriscaria.
— Posso fazer isso por você. — Argumentou.
— Não, não vai saber, tem que ser eu. — Ela olhou em seus olhos e
reafirmou o que disse, pois não queria insistir. Aaron pegou o filho nos
braços, temia que o pior acontecesse. Estava desesperado. — O que querem
que eu faça? — Se pôs à disposição.
— Queremos algo específico. — Um deles respondeu e ela sentiu as
instruções.
Seu corpo arrepiou todo. Por sorte pôs outra roupa e não estava tão
exposta. Alisson só queria que tudo aquilo terminasse logo.
Ela sentou-se em frente ao seu computador, onde trabalhava, e
nenhum dos homens teve o cuidado de vigiar o que ela faria, achando que
Alisson fosse uma boba. Um grande erro!
O que estava em jogo, ali, não era milhares de dólares, mas sim a sua
família. Alisson poderia não ser a melhor do mundo, contudo, faria de tudo
para que seu filho e marido, estivessem seguros.
Ao mesmo tempo que fazia o que pediram, Alisson tentava se
comunicar com alguém de fora. Seu escritório era enorme e era ali onde ela
monitorava todo, inclusive o sistema da TEC Corporation. Começou a
compartilhar, com a segurança, o que estava acontecendo dentro da casa.
Alisson só se preocupava com uma coisa: Victor. Ele era um dos
cabeças. Eram quem deu a informação de tudo, e aquele que tinha motivos
para se vingar. Ela até pensou se da primeira vez, não tinha sido ele o
culpado da invasão.
Ela sentiu seu coração pequeno ao sair de perto do marido e do filho.
Não pode prever o que estava por vir. Nada do que fez, impediu que
entrassem na casa e roubassem a sua liberdade.
Ela viu quando o desgraçado se aproximou. Se existia alguém que
poderia descobrir o que ela fazia, era ele. Então, fechou a aba, mesmo ainda
dando acesso a quem estava de fora, e terminou o serviço.
Ela os entregou o pen drive e achou que aquilo bastava. As
informações valiam muito. Derrubaria uma empresa. Seja lá para quem for,
essa pessoa conseguiria o que quer.
Alisson se levantou, saiu do escritório, acompanhado pelos
mascarados e Victor, e voltou para onde Aaron estava. Então, tudo saiu dos
planos.
Victor a segurou com força, com arma em punho, enquanto os outros
se surpreenderam.
— Saiam pelos fundos, como planejado. — Ele disse, agarrando a
mulher, que estava entrando em pânico. Alisson olhou para Aaron, que
estava apavorado. Ela dizia com o olhar: não faça nada.
— Não! — Foi o que conseguiu dizer.
— Victor, solta ela. — Aaron tentou se aproximar, mas teve a arma
apontada para a sua cabeça.
— Não, por favor, não machuque ele. — Ela pediu, sentindo seus
olhos cheios de água.
Aaron ficou em pânico, sem saber o que fazer. Estava com o filho,
sua esposa, presa por um dos idiotas que invadiram a sua casa. Ele temia
que o babaca a machucasse.
— Se quer machucar alguém, machuque a mim. — Pediu
desesperado. — Quer se vingar? Faça comigo, mas deixe ela em paz.
Os dois estavam desesperados, com medo. O filho chorava e os
capangas ainda permaneceram por perto.
— Esqueça essa merda de vingança. — Pediu um deles. — Se os
matar, não vamos conseguir a porra do dinheiro. Vamos embora.
— Eu já disse para ir sem mim. — Alisson não sabia o que ele faria.
Já tinha dado o que podia. Acreditava que Victor estava ficando louco.
— FAZ ESSA COISA CALAR A BOCA. — Alisson ficou com o
coração pequeno ou ver a arma apontada para o seu filho. Sentiu que
morreria, não conseguia pensar nem respirar.
— O que você quer de mim? — Se desesperou, chorando, enquanto
via seu marido e filho como alvo.
Os outros já não estavam mais ali, haviam fugido. Um burburinho do
lado de fora chamou a atenção de Victor que se virou para ver o que era e
foi atingido por um tiro bem na testa, caindo nos pés de Alisson, que gritou
com o susto.
Ela olhou para o corpo no chão e só conseguia chorar. Alisson correu
até seu marido, o abraçando forte, e dedilhando em lágrimas.
— Está tudo bem, passarinho. — Ele a abraçou forte. Aaron não
sabia se realmente estavam a salvo, mas ficou aliviado por ela estar ali. Ian
chorava, Aaron limpou as lágrimas do rosto dela e a beijou. — Estamos
bem agora.
A polícia entrou na casa, vasculhando todos os cantos. Nenhum dos
dois esqueceria aquele dia, nunca mais. Alisson não conseguiu parar de
tremer e chorar, mas sabia que estava tudo bem, com a polícia ao seu redor.
FIM
Depois do ocorrido, Alisson e Aaron tiraram férias do trabalho. Eles
nunca mais foram os mesmos. Ela ainda tinha pesadelos a noite, Aaron
ainda temia sair de casa, porém, para o pequeno Ian as coisas só duraram
uma única noite.
Com certeza não ficaram mais naquela casa. Eles preferiram arrumar
outra, bem distante, com muita segurança. Aaron levou Alisson para uma
longa viagem, tentando assim, fazê-la esquecer o que aconteceu. Só que se
nem ele conseguiu esse feito, quem dirá Alisson, que pensou muitas vezes
no que aconteceria se a polícia não tivesse chegado a tempo.
Os demais envolvidos foram achados, com o tempo, e os dados
roubados, nunca foram usados.
Toda a família se preocupou. Ninguém esperava por isso e a empresa
passou por uma varredura para que nenhum outro funcionário pudesse
tentar o mesmo.
Alisson assistia as ondas quebrarem na praia, enquanto Aaron e Ian
brincavam na área. Os três estavam próximos. Ela estava feliz.
Aaron encarou a esposa, sorrindo. O filho, quanto mais crescia, mais
se parecia com ele.
— Sabe o que andei pensando? — Ela sabia que viria uma piada ou
ideia pervertida, dessa pergunta.
— O que? — Esperou.
— Vamos ter uma menina dessa vez. — Alisson ficou surpresa, riu,
achando que ele estava viajando. — Não sabe o quão feliz estou. Amo ser
pai. Acho que é um trabalho gratificante.
— Gratificante!?
— Mesmo que eu corra o risco de perder os cabelos, quando ela
completar dezoito anos, quero ter uma garota, que se pareça com você.
Alisson não o respondeu de imediato. Ela se aproximou e beijou seu
rosto, sentiu seu perfume e depois olhou em seus olhos azuis.
— Tudo bem, bundão. — Ele sorriu. Fazia um tempo que não ouvia
essa palavra. — Eu te amo.
— Também amo você, passarinho.
Fim