Você está na página 1de 124

PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Copyright © 2018 by April Kroes.

Sentimentos Ocultos
2º Edição
Capa: April Kroes
Diagramação: April Kroes

Revisão: Fernanda Schmitt


Todos os direitos desta obra reservados à April Kroes.
Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de
banco de dados ou processo similar, sem a permissão dos detentores dos
copyrights.
Texto fixado conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (Decreto Legislativo n° 54, de 1995).

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Sumário

Sumário

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Epílogo
Agradecimentos

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Amar uma pessoa significar querer envelhecer com ela.”


Albert Camus

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Eu não quero um coração partido.


Eu não quero ser nenhuma garota de coração partido.”
Broken Hearted Girl – Beyoncé

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Deitada em minha cama, eu encaro o teto branco do meu quarto. O


silêncio me permite ouvir o som dos ponteiros do relógio no criado-mudo ao
meu lado. Conto mentalmente cada segundo que se passa, até que o som
estridente ecoa direto em meus ouvidos.
Estico a minha mão e bato no despertador fazendo-o parar de gritar.
Minha cabeça dói, tudo em mim dói.
Confiança quebrada de fato é algo que te destrói.
Ontem havia sido um longo e péssimo dia. Eu ainda me encontro
tentando assimilar o que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas, mas
sempre que paro para pensar, eu tento me enganar falando para mim mesma
que não passou de uma pegadinha, mas então minha mente viaja até o
apartamento do meu ex-namorado e eu me deparo com aquela cena.
Ver seu namorado aos beijos com outra não é uma grande coisa. Foi
uma terrível e dolorosa coisa.
— Cheryl, você vai se atrasar. Não pense que eu a deixarei sair mais
cedo na sexta! — Luke grita, do outro lado da porta.
— Dane-se — retruco, alto o suficiente para ele ouvir.
Não sei porque eu esperava o mínimo de respeito do meu adorável
irmão depois do que aconteceu ontem. Como conseguir acordar bem após
uma noite trágica?
Empurro o lençol que me cobre, forçando meu corpo a se levantar da
cama e faço meu caminho até o banheiro.
Tiro a única peça de roupa que ainda me cobre, além da minha
PERIGOSAS
PERIGOSAS

calcinha, e, ao olhar para minha mão e me deparar com a camisa do Kalel, eu


a jogo longe. Por que diabos eu ainda vesti a maldita camisa dele?

Eu ligo o chuveiro e entro embaixo dele. Fecho meus olhos sob a água
quente e corrente, me obrigo a afastar meus pensamentos de tudo o que
aconteceu por apenas esse momento.
— Tudo bem, Cheryl, é um novo dia — murmuro para mim mesma.

Os risos de Luke vindos da cozinha me fazem ter a certeza de que ele


não está só.
— É só mais um mês de namoro, o que você espera que eu faça além
de lhe comprar chocolate e rosas? — Luke diz.
Entro na cozinha e vejo Evan, em pé, encostado na porta da geladeira
com uma tigela de cereais em mãos, enquanto leva uma colher até a boca.

— Hey, Cheryl — Evan me cumprimenta sorrindo.


— Você por acaso não tem comida na sua casa? — pergunto,
levantando uma de minhas sobrancelhas.
— Evan passou a noite aqui, larga de ser careta, Cheryl — Luke
resmunga.
— Ele sempre passa as noites aqui — informo.
Eu já estava ficando incomodada com Evan morando mais em nosso
apartamento do que no dele. Certo que ele é praticamente da família, já que
PERIGOSAS
PERIGOSAS

fomos criados juntos, ele é melhor amigo do Luke e nada meu. E é por esse
motivo que ele passar todas as noites aqui me incomoda.

— Eu estava cansado demais para ir para casa — Evan contesta em sua


própria defesa.
Solto uma risada sarcástica e o afasto com as minhas próprias mãos da
porta da geladeira para abri-la.
— Você mora no andar de cima, Evan. — Pego a caixa de leite na
geladeira e, ao constatar que ela está vazia, viro-me para encará-lo. — Se ao
menos comprasse o cereal que você come e o leite que você toma, tudo bem.
Mas você tem a cara de pau de deixar a caixa vazia na geladeira!
— Não foi ele, Cher, foi eu! — Luke intervém em defesa.
Olho para Luke e caminho em sua direção.
— Sabe o que dar para Alisson? Nada! Porque é isso que vocês,
homens, fazem por nós além de partir nossos corações, nada! — grito,
batendo a caixa de leite vazia na bancada à sua frente.
Eu não havia percebido o quão histérica e frágil eu estou até me dar
conta de que eu estou envolvida nos grandes braços de Luke, enquanto ele
me acalma.
— Shhh, Cheryl, está tudo bem. É só uma caixa de leite, nós vamos ao
mercado fazer compras mais tarde, tudo bem?
Não é só uma caixa de leite, idiota. É meu coração! Me contenho e não
digo isso em alto e bom som.
Apesar da nossa diferença de idade e das nossas brigas casuais de
irmãos, ele está sempre ali para mim, me acolhendo e me protegendo. Luke
tem sido responsável por mim desde que nossos pais morreram em um

PERIGOSAS
PERIGOSAS

acidente de carro há dois anos. Ele deixou de ser meu irmão mais velho de 25
anos para ser o pai de uma menina de 22 anos, que agora está chorando por
ter sido traída.
Embora Luke ache que o motivo do meu choro é a caixa de leite, Evan
me olha como se estivesse enxergando a minha alma, ou talvez enxergando o
quão partido meu coração foi.
E eu não quero ser a garota do coração partido que acabo de ver nos
olhos de Evan.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Mais que palavras.


É tudo que você tem que fazer para tornar isso real.”
More Than Words – Extreme

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Luke resolveu me dar folga depois de achar que eu me derramei em


lágrimas por uma caixa de leite. Esse era o lado bom de trabalhar para o meu
próprio irmão na sua loja de softwares. Luke é um gênio quando se trata de
informática, mas quando se trata de mim, é um belo desastre. Nem se
estivesse menstruada eu choraria por uma caixa de leite, e todo mundo
saberia isso, menos Luke.
— Eu aposto que sei o que você tem — Evan diz, sentado no outro sofá
e olhando diretamente para mim.
— O que você ainda faz aqui? — pergunto, ríspida.
Apesar da sua constante presença pela minha casa na infância, Evan e
eu nunca tentamos alguma aproximação, até agora.
— Eu vi você chegar ontem, e passou tão rápido pela sala que não me
viu deitado no sofá — ele comenta, apoiando os cotovelos nas coxas e o
queixo entre as mãos. — Você estava chorando. Ele te machucou, eu sei. Eu
sinto isso, Cher. Não é amor se a pessoa machuca a outra.
— Você não sabe de nada, Evan. Me diga, o que você sabe sobre amar
alguém? — atiro, sem pensar duas vezes.
Seu corpo retrai, ele afasta o queixo das mãos e encosta no sofá,
soltando um longo suspiro.
— Eu sei muito mais do que pode parecer, e se me tratar assim fizer
você sentir-se melhor, tudo bem. Use-me como um saco de pancadas.
Por que ele faria isso?
— Por quê? — finalmente pergunto.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Evan arqueia a sobrancelha e me olha, confuso.


— Não somos amigos, apenas nos aturamos por causa do Luke e você é
sempre gentil comigo quando eu estou sendo grossa o tempo todo. Por que
sempre está vendo algo bom em mim em relação a você quando não existe?
— Porque você é uma boa pessoa, Cheryl, e eu prometi ao seus pais
que cuidaria de vocês. Você querendo ou não, eu me importo. E você
gostando ou não, eu vou continuar dormindo no seu sofá, bebendo o seu leite
e comendo cereal — ele informa.
A simples menção aos meus pais faz meus olhos lacrimejarem
novamente.
— Oh, merda — ouço-o rosnar do outro lado.
Em segundos, Evan está ajoelhado em minha frente.
— Eu não queria fazer você chorar ao lembrar-se deles, me perdoe,
Cheryl — ele diz em um tom terno e segura em minha mão gelada.
Meu corpo treme com esse contato, sua mão é quente e macia.
— Ele me traiu, eu fui até a casa dele e o vi com outra. Eu achei que ele
me amasse, eu achei que... — Palavras me faltam e um soluço alto escapa da
minha boca. — Você já pode jogar na cara que avisou, e o Luke também.
— Oh, Cher, eu jamais faria isso. Vê-la sofrer não é algo bonito de se
ver — Evan murmura.
— Eu estou bem, está tudo bem.
Eu não sei a quem eu estou tentando convencer disso, se é a ele ou eu
mesma.
— Você não está com cara de quem está bem — ele retruca, me

PERIGOSAS
PERIGOSAS

analisando, enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Afasto a minha mão da dele e seco meu rosto. Ele ainda está parado em
minha frente, seus olhos me estudam com curiosidade e eu aproveito para
observá-lo também. Nunca tinha parado para notar Evan. Até agora.
Acho que todas as vezes em que eu dirigi a palavra a ele, minha mente
automaticamente projetou aquele garotinho magrelo com o cabelo caído no
rosto e de sorriso torto. Mas, olhando-o agora, eu me repreendo por não tê-lo
olhado melhor antes.
Evan é muito bonito. Ele tem a cor bronzeada perfeita em sua pele,
cabelos longos presos em um belo coque samurai, olhos castanhos e
impecáveis braços musculosos. Mas o que esperar de um cara que trabalha
em uma academia?
— Cheryl, você me ouviu? — Evan pergunta, abanando a mão em
frente ao meu rosto.
— Huh? — indago.
— Você está me olhando por muito tempo, vou começar a achar que
estava me cobiçando — ele diz em um tom brincalhão.
Minhas bochechas esquentam por ter sido pega no flagra. Por mais que
ele esteja brincando, eu sei que passei tempo demais o olhando.
— Não está na hora de você voltar para o seu apartamento e ir
trabalhar?
Ele balança a cabeça, negando, e se levanta para sentar-se ao meu lado
no sofá.
— Eu faço os meus horários, essa é a vantagem de ser personal
particular — ele informa.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Então você não trabalha na academia? — pergunto.


— Trabalho apenas para mim, Cheryl. Eu frequento a academia, mas
sem nenhum vínculo de trabalho. Tenho as minhas próprias clientes.
A sua explicação me faz refletir que eu não sei absolutamente nada
sobre quem ele é e o que faz. Não sei nem mesmo a sua idade.
— Eu acabei de perceber que não sei muito sobre você — admito. — É
estranho, não? Duas pessoas que cresceram juntas não saberem nada uma
sobre a outra.
— Eu sei tudo sobre você, Cheryl — afirma, me pegando de surpresa.
— Sabe? Como o que, por exemplo? — indago, franzindo minha testa.
— Você gosta de tomar achocolatado no café da manhã. Quando não
trabalha, anda pela casa com uma camisa horrível e meias grandes e
coloridas, sem mencionar seu cabelo, que parece os raios solares quando você
acorda, pois tem fios para tudo que é lado. Já pensei em perguntar se você
leva um choque ao acordar — diz, gesticulando com as mãos os raios de sol
em volta da cabeça, e isso me faz rir. — Eu estou te distraindo, gosto disso.
— Certo, senhor sabe-tudo-sobre-mim. Quantos anos você tem? —
pergunto.
— Você está falando sério que não sabe a minha idade? — ele indaga,
incrédulo.
Assinto, culpada, e encolho meus ombros.
— Nós não somos amigos, Evan. Estranho é você saber tudo sobre
mim e não eu não saber nada sobre você — comento.
— É, você tem razão — diz, desanimado.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu acho que vou voltar para o meu quarto. Não pretendo sair de lá
pelo resto do dia, quem sabe pela próxima semana — informo, levantando-
me do sofá.
— Cheryl, não é o fim do mundo só porque um babaca não soube
valorizá-la. Você sabe... Merece mais do que isso.
Eu sei que ele está certo, mas ainda é recente e dói.
— Bom, é recente, Evan. Você não esquece alguém da noite para o dia.
Se você sabe algo sobre o amor, certamente entende o que é isso.
— Não é amor, Cheryl. Isso que você sente é comodismo, sempre foi.
Mas você ainda vai se apaixonar de verdade e, quando isso acontecer, você
vai sentir. Vai sentir o quanto é diferente amar alguém e receber o mesmo em
troca. Isso se chama reciprocidade.
Assinto, incapaz de responder algo. Por mais duras que sejam as suas
palavras, mais uma vez ele está certo.
— Você vai ficar bem? — ele pergunta quando não obtém respostas.
— Eu vou ficar — afirmo, e, devagar, caminho em direção ao corredor
que leva ao meu quarto.

— Cheryl? — Evan me chama antes que eu desapareça totalmente pelo


corredor.
Recuo um passo e coloco meu rosto para fora da parede do corredor.
— Sim? — indago.
— Nós podemos ser amigos? — ele pergunta.
Sua pergunta é tão inocente que me faz sorrir.
— Nós podemos tentar ser amigos, Evan. Você parece ser legal —

PERIGOSAS
PERIGOSAS

admito.

— Nada de melhores amigos, ok? — ele diz, e, sem entender, eu


confirmo com um aceno.
— Apenas amigos normais.
Ele sorri satisfeito e, mais uma vez, me faz sorrir também. Talvez ser
meu amigo seja mesmo importante para Evan, assim como seria para os meus
pais.

— Evan?
Ele levanta a cabeça, esperando pelas minhas próximas palavras.
— Será que você pode ir comigo no mercado? Sabe, comprar a caixa
de leite que você tomou... — pergunto e novamente sou presenteada com seu
sorriso.
— Por que não? E não foi eu, foi o Luke — ele intervém em sua
própria defesa.
— Não adianta, eu sempre vou acusar você.

O caminho para o mercado foi calmo e silencioso, a música era quase


inaudível, mas quando More Than Words do Extreme começou a tocar, Evan
ganhou a minha atenção.
Ele cantava baixinho e batia a ponta dos dedos no volante em perfeita
sincronia com a música. Se eu já estava impressionada com os sorrisos de
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Evan antes, agora estou mais impressionada ainda com o timbre da sua voz, e
em silêncio, eu apreciei seu show particular até chegarmos no mercado.

— Você tem uma lista de compras? — ele pergunta enquanto empurra


o carrinho vazio de compras ao meu lado.
— Foi uma ideia repentina, então não tenho — confesso.
Evan para de andar, e isso me faz morder meu lábio em nervoso à
espera de uma reclamação, mas, ao invés disso, ele dá de ombros e toma o
caminho à minha frente.
— O que você está fazendo parada aí atrás? Temos uma compra a
fazer. — Ele me chama, gesticulando com a mão, e eu o sigo. — Vamos por
partes, comida primeiro!
Sorrio e balanço a cabeça, concordando.
Enquanto seguimos em frente e eu encho o carrinho de tudo que eu
preciso, eu me pego observando Evan.
É estranho você conviver praticamente uma vida inteira com uma
pessoa e saber exatamente nada sobre ela. E, perto dele, eu me sinto no
escuro.

— O que você gosta de fazer quando não está trabalhando? Além de


dormir no meu sofá, é claro — pergunto repentinamente.
Ele me olha, intrigado, por um instante e finalmente responde:
— Eu gosto de viver, Cheryl, experimentar fazer tudo o que posso e
que está ao meu alcance.
— O que você já fez?
Minha curiosidade sempre incomodou Kalel, mas com Evan é

PERIGOSAS
PERIGOSAS

diferente... Ele não parece se sentir incomodado com as minhas perguntas.

— Eu tenho uma lista de coisas que gostaria de fazer antes de morrer.


Cada vez que faço um item, eu risco da lista — ele explica.
— Posso ver a sua lista um dia? — pergunto para a sua surpresa.
— Você pode riscar qualquer item um dia.
Nossos olhos se encontram e Evan sorri convidativamente para mim.
Ignoro a vibração que reverbera dentro de mim com o contato dos seus olhos.

— Eu adoraria, Evan — respondo ao seu convite.


Seguimos em frente. Ele, empurrando o carrinho. Eu, o enchendo de
perguntas. Explorar a minha curiosidade sobre Evan está se tornando o
principal do meu dia e me fazendo esquecer aos poucos o acontecimento da
noite passada.
Cada vez que Evan responde às minhas perguntas, mentalmente eu
anoto tudo para não esquecer cada palavra que ele me diz, como, por
exemplo, a sua idade.
Evan tem 26 anos, é personal e todas as manhãs sai para correr no
Central Park. Ele está entrando em uma sociedade com seu irmão de 22 anos
para, juntos, abrirem uma academia.
Ah, e ele é completamente viciado em cafeína. Não teve muitas
namoradas, apenas duas, e esses dois relacionamentos não deram certo.
Temos muitas coisas em comum, assim como não temos em muitas
outras, e isso é bom por um motivo: equilibrará as coisas entre nós.
Evan me cativou por dar valor a detalhes e gestos simples. Para muitos,
é apenas uma conversa simples. Para nós, é diferente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Nós somos dois velhos amigos, não tão amigos assim, correndo atrás
do tempo perdido. E, bom, isso já é um bom e grande começo.

— Sempre quis saber a utilidade disso — Evan diz, chamando a minha


atenção.
Viro-me para olhá-lo e tenho quase certeza de que a minha risada
escandalosa chama a atenção de todos que estão no mesmo setor que nós.
Evan tem em mãos uma caixinha de absorventes internos aberta,
olhando com curiosidade para os pinos de absorventes, até que enfia um no
nariz.
— Acho que isso pode me ajudar em dias de resfriado.
Mais uma vez eu rio, observando-o enquanto brinca com seu mais novo
brinquedo. Percebi, então, que Evan tem esse dom de me fazer rir mesmo
quando não tem a intenção.

Nós guardamos todas as compras quando voltamos para o meu


apartamento, e, em agradecimento, eu faço uma lasanha para o almoço.
Nós dois sabemos que não é apenas um simples obrigado por causa das
compras, ele sabe que o que fez é muito mais do que me fazer companhia. Eu
aprecio isso.
— Obrigada por isso, foi divertido — agradeço mais uma vez enquanto
o acompanho até a porta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Evan recebeu uma ligação do irmão e precisava encontrá-lo, e uma


parte de mim não quer deixá-lo ir.

— Você sabe onde me procurar quando precisar de um dia divertido,


pode ser que eu esteja no seu sofá ou no meu apartamento.
— Acho que as chances de te encontrar no meu sofá são maiores do
que as de encontrá-lo em qualquer outro lugar — zombo, o fazendo sorrir, e
descubro que eu gosto disso.
Gosto de vê-lo sorrir. É tão bonito quando ele o faz.
— Eu preciso ir, nos vemos por aí ou no meu sofá — digo, me
despedindo dele com um breve aceno.
— Até mais, Cher.
É com esse “até mais, Cher” que eu sei que Evan estará presente em
todos meus dias. Até mesmo quando eu não o quiser por perto, porque é isso
que amigos fazem um pelo outro.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Não preciso do seu amor.


Porque eu já chorei o bastante.”
IDGAF – Dua Lipa

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

A primeira coisa que eu notei nas semanas que se passaram foi:


Eu não uso mais a camisa de Kalel para dormir.
E só notei isso ao fazer uma faxina no meu quarto e na minha vida.
Enchi uma caixa com roupas que não uso mais, entre elas estava a camisa
dele, que irá para doação junto com as minhas roupas. A parte da doação foi
ideia de Evan.
A mudança na minha vida começou comigo me afastando de tudo
aquilo que me atrasa, e isso inclui as amizades em comum que eu tinha com
Kalel, ou seja, todas. Essas amizades não me acrescentavam em nada, e
aprendam: se a pessoa é sua amiga de verdade, ela vai se importar com você,
assim como irá te contar que sua cabeça está enfeitada com belos chifres. O
que não foi o meu caso.
Também não penso mais nele. Essa foi a segunda coisa que percebi e,
por incrível que pareça, não me incomodou.
Todas as manhãs eu acordo cedo para fazer companhia a Evan em sua
corrida matinal no Central Park, até que não é tão ruim sair para correr antes
do trabalho.
As coisas entre nós estão mudando aos poucos, começando pela parte
em que eu encontro a caixa de leite cheia na geladeira. A primeira coisa que
Evan aprendeu sobre mim foi: não me enfureça pela manhã. Talvez ele já
soubesse disso e compactuasse com Luke para me irritar propositalmente.
Acabamos de chegar da nossa corrida quando a campainha toca. Ainda
é muito cedo e nós nunca recebemos visitas, como Evan sempre está aqui,

PERIGOSAS
PERIGOSAS

ouvir a campainha tocar é estranho.


— Quem será? — eu pergunto, enquanto preparo meu achocolatado.

— Eu atendo — Evan diz, levantando-se da cadeira e saindo da cozinha


no mesmo segundo.
— Às vezes eu me esqueço que temos campainha em casa — confesso.
— Eu também — Luke concorda. — Você se importa se ficar sozinha
hoje na parte da tarde? — ele pergunta.

— Você sabe que não — respondo, virando-me para olhá-lo. — Mas


preciso que você passe na livraria e compre uns livros para mim. Eu estou
ficando louca esse semestre.
— Você é inteligente, Cheryl. Se você quer muito uma coisa, não há
nada que você não consiga. — Ele repete as mesmas palavras que nossos
pais diziam para me motivar.
Eu estudo Astronomia, sempre tive uma fascinação pelo céu e as
estrelas. E embora Evan esteja me ajudando com algumas matérias e me
mantendo distraída do nervosismo, eu não consigo me conter. Sempre fiquei
nervosa em dias de provas e nossos pais sempre disseram que, se eu quisesse,
eu conseguiria, porque eu sou inteligente e determinada. Acho que eles
estavam certos.
— Obrigada, você é o melhor.
— Eu sei — ele afirma, convencido.
Sorrio com desdém e, ao terminar de preparar meu achocolatado, sento-
me ao lado de Luke para finalmente tomar meu café da manhã.
Algumas pessoas como Evan, por exemplo, não funcionam bem sem
cafeína. Já eu, não funciono bem sem achocolatado.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Ele está demorando — Luke comenta, poucos minutos após eu me


sentar ao seu lado.

— Deve ser alguma visita para ele e o porteiro deve ter informado que
ele vive aqui. O que não é uma mentira — pontuo.
— Mas, para isso, seríamos avisados, não? — pondera.
E, claro, ele tem razão.
— Eu vou vê-lo.

Dou um último gole em meu achocolatado e levanto-me da cadeira.


Faço meu caminho em direção à sala e, de longe, ouço vozes alteradas.
— Eu não devo explicações a você!
É Kalel. Ouvir a sua voz faz o meu corpo tremer. Se passaram duas
semanas desde o nosso término. Passar tempo com Evan está me fazendo tão
bem que eu havia esquecido que uma parte de mim ainda lamenta pelo fim do
meu namoro.
Mas Evan me ensinou e me fez entender que eu sou forte e
independente e que não preciso de homem algum para ser feliz. Como
sempre, ele estava certo. Então, eu ignorei todas as mensagens e ligações de
Kalel e mudei o número do celular, mas jamais pensei que ele teria a cara de
pau de vir até aqui.
— E eu disse para você não colocar mais os pés aqui. Eu vou proibir a
sua entrada nesse prédio, a sua presença não é bem-vinda — Evan diz, não
com a sua voz habitual, mas sim com uma voz grossa e brava.
Eu nunca havia escutado ele falar assim.
Apresso meus passos em direção à porta. Kalel tem seus punhos
fechados enquanto encara Evan, e isso me faz temer e entrar na frente dos
PERIGOSAS
PERIGOSAS

dois em questão de segundos.


— O que está acontecendo aqui? E que merda você faz aqui, Kalel? —
pergunto, rangendo meus dentes ao encará-lo.
No primeiro e segundo dia após nosso término, eu achei que ficar cara
a cara com ele me faria querer tê-lo de volta na minha vida. Mas, vendo-o
agora, percebo que me enganei.
Eu me sinto livre, coisa que não sentia quando estava com ele. Kalel
sempre me mantinha presa em sua própria bolha.
— Eu precisava ver você. Nós precisamos conversar, Cher — ele
murmura, agora em um tom mais ameno.
— Nós não temos nada para conversar, Kalel. Você não deveria estar
aqui!
— Ouça o que ela está falando e dê o fora, babaca — Evan retruca.
Kalel rosna e, esquecendo-se que eu estava no meio dele, avança um
passo em direção a Evan. Espalmo minhas duas mãos no peito de Kalel e
tento empurrá-lo para trás.
— Defendendo o seu novo amigo, Cheryl? — Kalel indaga com
desdém.
— Sim, estou defendendo o meu amigo de um idiota como você —
retruco, ríspida, e o empurro com toda a força que tenho para longe da porta.
Kalel solta uma risada seca e me encara.
— Agora eu entendi. Ele nunca sai do seu apartamento e, enquanto
você estava comigo, trepava com ele após eu deixá-la em casa. As coisas
fazem muito sentido agora.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu não tenho tempo de dizer qualquer coisa, pois Evan já está


avançando em cima de Kalel e se atracando com ele no corredor.

— Evan, pare! — grito quando o vejo acertar mais um soco no olho de


Kalel, que revida, acertando-o no maxilar.
Meus gritos mandando-os parar chamam não só a atenção de Luke,
mas, ao que parece, do prédio inteiro.
Luke consegue afastar e segurar Evan. Já o porteiro, tem seus braços
em volta de Kalel.
— Acabou o show, podem voltar para as suas casas — grito,
espantando as pessoas à nossa volta.
— Que diabos aconteceu aqui? — Luke pergunta, olhando para Kalel e
para mim.
— Esse babaca traiu a sua irmã e ainda vem aqui para chamá-la de
vadia — Evan entrega.
— Isso é verdade, Cheryl? — Luke pergunta, com os olhos fixos em
Kalel.
Passo minhas mãos no rosto e, ao afastá-las, olho para os quatro
homens em minha volta: meu irmão, Evan, Kalel e o porteiro.
— Seria mentira se ela dissesse que não está trepando com esse aí —
Kalel sibila.
Solto um grunhido e, em passos firmes, caminho em direção à ele.
Fecho a minha mão e, juntando toda a minha raiva, frustração, minhas
lágrimas derramadas por ele e tudo que eu senti ao vê-lo com outra, ergo o
meu braço e levo meu punho fechado em direção ao seu nariz.
— Nunca mais fale assim comigo, seu babaca! — grito, ignorando a
PERIGOSAS
PERIGOSAS

dor que estou sentindo na mão, e o acerto novamente.


Kalel urra de dor e sangue começa a escorrer do seu nariz. Balanço a
minha mão no ar e me afasto para conter a minha vontade de socá-lo
novamente.
— S-ua, sua... — As palavras se perdem em sua boca, ele leva a mão
até o nariz, o segurando. — Você quebrou o meu nariz! — ele grita.
— Eu deveria ter quebrado a sua cara, seu infeliz — grito de volta. —
Leve-o daqui e nunca mais o deixe voltar novamente.
— Sim, senhorita Prinsloo — o porteiro diz, em uma tentativa falha de
esconder o sorriso do rosto.
Espero que eles saiam e entro no meu apartamento com Luke e Evan.
— Você está bem? — Luke pergunta, envolvendo seus braços em
minha volta.
Eu o abraço, porque é exatamente do seu abraço protetor que eu preciso
agora.
— Eu estou bem agora — digo, soltando um suspiro em seguida. — Eu
estou bem.

— Por que você não me contou o que ele fez? — ele pergunta ao me
soltar.
— Porque eu não queria te preocupar — confesso.
— Eu teria acertado muito mais do que o olho dele. Deveria ter deixado
Evan acabar com ele — ele grunhe, frustrado.
— Oh, meu Deus, Evan! — exclamo, virando-me para olhá-lo, sentado
no sofá com a cabeça jogada para trás. — Você está bem?

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu apenas fui acertado no olho. Ele tem um nariz quebrado, então,


sim, eu estou bem, Cher — ele responde de olhos fechados.

Sorrio satisfeita, não por saber que ele tem um olho prestes a adquirir
um roxo, mas por ter quebrado o nariz de Kalel.
— A próxima vez que for entrar em uma briga, certifique-se de não
deixar a minha irmã bater por você — Luke diz, estendendo um saco de gelo.
Lhe lanço um olhar repreendedor e pego o saco da sua mão.

— Acho que isso vai doer um pouco — murmuro.


Cautelosamente, encosto o saco de gelo nas pálpebras de Evan, que
solta um gemido baixo com o contato do material gelado em sua pele.
— Está doendo?
Ele nega com a cabeça, colocando em seguida sua mão por cima da
minha. Meus olhos demoram na sua mão e seguem o caminho pelo seu braço
torneado até chegar em seu rosto.
Sorrimos um para o outro quando nossos olhares se encontram, uma
parte dentro de mim está aliviada por ele estar lidando bem com o que havia
acabado de acontecer e a outra parte... Está desconfortável com a culpa pelo o
que havia acontecido.
Luke pigarreia, chamando a minha atenção para si.
— Eu preciso trabalhar e você também, Cheryl. Acho que Evan sabe se
cuidar sozinho.
Pela primeira vez eu vejo Luke demonstrar ciúmes. Só não sei se é em
relação à minha proximidade com Evan ou apenas ciúmes do seu melhor
amigo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Fico com a segunda opção, já que nem mesmo ciúmes de Kalel, Luke
tinha.

— Anda logo, Cheryl — Luke me apressa.


— Sempre mandão — resmungo, revirando meus olhos. — Você vai
ficar bem? — pergunto a Evan.
— Não se preocupe, Cher, eu estou bem — ele afirma.
E isso basta para que eu possa trabalhar despreocupada.

Antes de me deixar sozinha na loja, percebo o quanto Luke está


inquieto. Ele se aproxima, prestes a perguntar alguma coisa, e recua, com
medo da resposta. Seria engraçado se não fosse Luke.
— Dá para você parar de ficar pra lá e pra cá? Está tirando minha
concentração do livro — ralho, irritada.

— Desculpe — ele murmura, parecendo arrependido.


Marco a página do livro antes de fechá-lo, e me viro para encarar Luke.
— Pergunte — eu o incentivo.
— Como você sabe que eu quero perguntar algo?
Reviro meus olhos diante à sua pergunta.
— Como se não fosse óbvio. Ande, pergunte — insisto.
— Está acontecendo alguma coisa entre você e o Evan? — ele
PERIGOSAS
PERIGOSAS

pergunta, dessa vez sem rodeios.


— Huh, direto demais — murmuro.

— Você não precisa responder se quiser. É que ele é o meu melhor


amigo, você é a minha irmã e você sabe... Uau, isso é estranho — ele
murmura, fazendo uma pausa em seguida.
Seus olhos me fitam com precisão e, soltando um suspiro frustrado, ele
completa:

— Não quero ter que socar a cara dele por partir seu coração.
Deito a minha cabeça para o lado e sorrio. Não me lembro a última vez
que Luke soou tão protetor.
— Nós somos amigos, apenas amigos — me apresso em explicar. — E,
mesmo que não fossemos amigos, Evan jamais faria isso comigo por dois
motivos. Um, ele não é o Kalel, é muito melhor do que ele. Dois, ele sabe o
que está em jogo ao se meter comigo e tenho certeza que não vai colocar a
amizade de vocês em risco.
Minha explicação traz alívio ao rosto de Luke.
— Relaxa, irmãozinho, eu só estou roubando seu melhor amigo e isso é
tudo o que está acontecendo — concluo.
— Dessa parte eu também não gosto — Luke resmunga, me fazendo
sorrir. — Você está bem?
— Se você me perguntasse isso há duas semanas quando achou que eu
estava chorando por uma caixa de leite, a minha resposta seria não, mas hoje
eu estou muito mais do que bem.
A culpa atinge seus olhos, e vê-lo se sentindo assim me corrói, pois não
é culpa dele se eu não contei a ninguém o que havia acontecido. Me
PERIGOSAS
PERIGOSAS

aproximo e abro meus braços para abraçá-lo. Seus braços me aceitam e me


envolvem em um aperto genuíno.

— Eu sinto muito por não ter percebido, Cheryl — ele se desculpa.


— Você não tem culpa se eu tenho um péssimo dedo para escolher um
namorado — brinco, tentando amenizar.
— É verdade — ele concorda.
Me afasto do seu abraço e levemente soco seu braço. Ele finge uma
cara surpresa por ter sido “levemente nocauteado” e sorri.
— Você tem um belo soco.
Não é um elogio, é uma ironia, mas ainda assim eu aprecio.
— Kalel que o diga — retruco.
— Eu amo você, Cheryl, e nunca vou me perdoar se alguém machucá-
la de novo.
— Acho que eu te amo também — brinco, ele ri e novamente me
prende em seu abraço protetor.
Gostaria que Luke soubesse que nunca mais eu vou me machucar com
os homens. Eu aprendi a maior de todas as lições de um namoro: se você ama
alguém e esse alguém está te traindo, essa pessoa não te ama e não merece
suas lágrimas.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Fique comigo.
Me proteja, me abrace carinhosamente.
Kiss Me – Ed Sheeran

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Ciclos precisam ser fechados para novos serem iniciados.


Refleti sobre isso enquanto ia para casa. Se não fosse meu término, eu
não teria a chance de me aproximar de Evan.
Sempre pensei que o dia em que terminasse com Kalel eu não iria
conseguir seguir em frente sem ele. Foram dois anos da minha vida ao lado
de um homem, o qual eu jurava que seria o meu futuro marido, mas eu estava
errada. É claro que eu estava.
No início, eu não sabia ao certo se queria estar de fato com ele, mas, de
uma forma até estranha, meus pais foram com a cara dele e isso somou uns
pontos. Kalel simplesmente chegou semanas antes do pior momento da
minha vida, e quando eu soube do acidente dos meus pais, ele se tornou tudo
o que eu precisava.
Kalel foi meu melhor amigo, meu confidente e a pessoa que me
levantou. Acho que isso cooperou para eu me afeiçoar e me apaixonar por
ele.
Mas agora tudo que eu sinto em relação a ele é vazio. Eu achei que não
conseguiria colocar o corpo para fora da cama e, bom, aqui estou eu,
pensando em qual filme assistir com o melhor amigo do meu irmão.
Eu prefiro séries, enquanto ele prefere filmes. Nós não nos tornamos
melhores amigos, mas somos os amigos que sempre deveríamos ter sido.
— Eu ainda não acredito que você está roubando meu melhor amigo —
Luke resmunga. — Hoje era noite de videogame, você sabia disso?
Sim, eu sabia.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Não pode ser noite de videogame e filme? — proponho.


— Sem chances, Cher, você passou as últimas semanas com ele. — Ele
balança a cabeça, negando a minha proposta.
— Tudo bem. Você acha que Alisson gostaria de passar um tempo
comigo?
Luke para bruscamente o carro e me olha surpreso.
— Você quer passar um tempo com a minha namorada? — ele indaga.

— Por que não? — respondo, dando de ombros.


— Isso seria muito bom — Luke diz com um sorriso no rosto, e volta a
ligar o carro. — Alisson está na casa dos avós essa semana, mas tenho
certeza que na próxima semana ela está livre, você sabe... Caso ainda queira
passar um tempo com ela.
— Eu quero — afirmo, percebendo, então, que isso o deixa
extremamente feliz.
Ao entrar no estacionamento do nosso prédio, Luke reduz a velocidade
e vira-se para mim.

— Gosto disso, Cheryl, de como está vivendo agora. Alisson é legal e


acho que você irá gostar dela, é importante para mim que você queira se
aproximar dela e do Evan. Você é a minha irmã e está acima de qualquer
pessoa na minha vida.
Sorrio, incapaz de responder qualquer coisa diante à sua declaração.
Eu apenas deveria ter feito isso antes.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Não rolou videogame e filme, não tinha espaço para Cheryl no meio de
Luke e Evan.
Luke estava certo quando disse que eu havia roubado Evan a tempo
demais nas últimas semanas. Eles mal ficaram juntos, então os deixei a sós na
sala e vim para o meu quarto. Aproveitei para colocar alguns trabalhos da
faculdade em dia.
Quando voltei para a sala, Luke já não estava mais presente, apenas
Evan, que dormia. Aproximei-me do sofá que ele descansava serenamente,
me agachei ao seu lado e, cautelosamente, ergui a minha mão até seu rosto e
toquei o leve inchaço abaixo do seu olho.
Eu deveria ter socado mais o Kalel por isso.
Um suspiro cansado escapa dos lábios carnudos de Evan. A semana
inteira ele vem reclamando de estar exausto, mas mesmo cansado e mal
dormindo por conta da academia que está abrindo, ele ainda tem tempo para
mim.
Isso é o que mais me cativa nele. Evan sempre vem me ver quando
chega exausto, não por pena do que aconteceu, mas por ele se importa
comigo. Tudo o que nós nos tornamos em duas semanas é algo que
deveríamos ter sido há muito tempo. Nós sempre deveríamos ter sido amigos.
Sempre.
E agora, enquanto o observo dormindo em pleno final da tarde de uma
sexta-feira em meu sofá, eu percebo uma coisa. Evan sempre esteve aqui,

PERIGOSAS
PERIGOSAS

nunca me abandonou, até mesmo quando eu não o queria por perto. Quando
meus pais sofreram o acidente de carro, lá esteve ele, no hospital e na nossa
fatídica decisão de desligar os aparelhos. Ele também esteve no enterro ao
lado de Luke e, de longe, mantendo seu olhar protetor em mim.
Dois anos depois, ele continuou mantendo esse mesmo olhar. Ele
estava aqui o tempo todo e eu só precisava enxergá-lo. Evan não estava
dormindo no sofá do meu apartamento porque ficava com preguiça de subir
uma leva de escadas para dormir em sua cama confortável, ele dormia
porque, mesmo eu o mantendo distante e o isolando da minha vida, ele ainda
cuidava de mim, muito mais do que Luke cuidava desde que nossos pais
morreram.
Então eu percebo que eu poderia ter me apaixonado facilmente por
Evan nesse momento.
Tento não pensar sobre isso agora e, ao afastar minha mão do rosto de
Evan, sou surpreendida pela sua mão, que segura a minha.
Que ótimo, eu havia sido pega o observando.
— Não vá, é tão bom — ele sussurra, com a voz rouca, e acaricia seu
próprio rosto com a minha mão.

— T-tudo bem — balbucio.


Uma pontinha de um sorriso preguiçoso permeia em seus lábios.
— Me mantenha acordado, Cheryl — ele pede.
— O que nós vamos fazer amanhã? — pergunto.
É sábado e eu não estou disposta a ficar em casa, não dessa vez.
— Motel cinco estrelas — ele informa.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Abro a boca, o olhando incrédula, e afasto minha mão do seu rosto para
acertar um tapa em seu braço.

— Como assim um motel, seu cretino? — esbravejo.


Ele ri e se senta no sofá. Evan tem um senso de humor e uma
personalidade que é o ponto chave para nos darmos bem. É como se ele
soubesse que minha vida precisa um pouco de leveza e humor.
— O que você gostaria de fazer, Cheryl?

Nesse momento? Eu gostaria muito de beijá-lo, Evan, mas isso


estragaria tudo que nós construímos até aqui.
— Qualquer coisa que não seja ficar em casa.
Evan me olha, pensativo, em seguida se levanta do sofá e caminha em
direção à porta.
Meu olhar o acompanha, ele abre a porta e vira-se para me olhar. Sua
cabeça maneia em direção ao corredor.
— Você simplesmente vai embora? — Arqueio uma de minhas
sobrancelhas, em busca de resposta.

— Eu acho que sou um ser humano que precisa se alimentar e que


precisa de um banho — diz ele, para a minha surpresa.
— Você vai se alimentar em sua própria casa? — pergunto, perplexa, e,
confuso, ele assente.
Talvez ele não percebesse que passa mais tempo em meu apartamento
do que no seu próprio.
— Eu vou com você — digo, ficando de pé no mesmo segundo.
— Mas eu não te convidei — ele retruca, com um meio sorriso no rosto

PERIGOSAS
PERIGOSAS

e abre a porta.

Ignorando-o, levanto do chão e o sigo quando ele sai do meu


apartamento.
— Eu não lembro de tê-lo convidado alguma vez para o café da manhã,
o jantar e os almoços no final de semana. Na verdade, eu nem lembro se o
convidei para entrar.
Evan ri. A verdade é que ele estava tão acostumado com as minhas
implicâncias quanto eu com as deles, se não houvesse implicâncias não
seriamos nós.
Fazemos o caminho até o andar de cima pelas escadas. Não são tantos
degraus assim e tanto Evan quanto eu somos impacientes demais para esperar
o elevador.
— Nossa, que apartamento limpo e organizado — murmuro, logo após
entrar no seu apartamento.
— Eu moro mais no seu apartamento, esqueceu?
Balanço a cabeça negativamente.
— É impossível esquecer, Evan, você ocupa meu sofá e o deixou
menos fofo com esse tamanho todo — provoco.
— Você não se importou hoje enquanto me observava dormindo — ele
atira de volta.
Resolvo ignorá-lo e olho ao redor com curiosidade. O apartamento de
Evan é tão organizado que eu realmente fico surpresa por não ter vestígios de
roupa espalhada, poeira e até mesmo insetos. Me aproximo da estante onde
há várias fotos dele com sua família e até mesmo dele com Luke em jogos de
futebol.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nossa, vocês pareciam uns ratinhos — digo, rindo, e pego o porta-


retratos em mãos. — Olha só para você, tão lindo, nem parece essa coisa que
é hoje...
Evan caminha em minha direção e pega o porta-retratos da minha mão
e o coloca de volta no lugar.
— Você é irritante, Cheryl — ele resmunga e caminha em direção à
cozinha.
Eu o sigo e me sento na banqueta de frente para ele. Fico observando-o
enquanto ele começa a retirar ingredientes do armário e da geladeira para
preparar uma lasanha.
— Não acredito que você vai cozinhar para mim! Em dois anos, é a
primeira vez que não vai ser eu a pessoa a cozinhar para mim mesma —
comento.
— Quem disse que eu estou cozinhando para você? Estou me
alimentando, hoje eu já levei um soco por você, então isso compensa a
comida — ele retruca.
Enrugo meu nariz e cruzo os braços o encarando. Ignorando-me, Evan
sai da cozinha e, quando retorna, tem um caderno e caneta em mãos.
— É algum tipo de caderno de receita? — pergunto.
— É bem mais legal do que isso.
Ele encosta-se na bancada da cozinha, folheia algumas folhas do
caderno, até parar no que interessa. Eu o observo curiosa para saber o que há
de interessante escrito ali.
Encarando a folha pensativo, Evan risca algo nela e coloca o caderno
em cima da bancada, virado para mim. Meu olhar para na primeira linha.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer.


— Meio mórbido isso, não? — retruco.

— Fica quieta, Cheryl, e leia, vamos riscar algum item amanhã. Apenas
escolha — ele diz, dando-me as costas.
Enquanto Evan começa a preparar a lasanha, eu leio atentamente cada
item da lista.
Perdoar alguém.

Fazer uma road trip coast na América.


Visitar as pirâmides do Egito.
Saltar de paraquedas.
Aprender a gostar de vinho.
Beijar uma estranha.
Correr uma meia maratona.
Sair para noitada e ir trabalhar no dia seguinte.
Começar um negócio.

Ir a um show que não gosto.


Ir a um clube de strip.
Visitar todos os continentes pelo menos uma vez.
Comprar um bilhete para o primeiro avião do dia sem saber para onde
vou.
Ver o pôr e o nascer do sol, sem dormir.
Viver uma história de amor inacreditável.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Casar com a garota dos meus sonhos.


Observar o céu com um telescópio.

Ter o melhor encontro da minha vida.


Ter um filho.
Fazer tatuagens.
A quantidade de itens riscados é impressionante, mas não tão
impressionante quanto as últimas palavras adicionadas na lista.

Lista da Cheryl.

— Você está me deixando participar da sua lista? — pergunto, sem


conter minha empolgação.
— Eu disse que poderíamos fazer isso juntos — ele responde, virando-
se para me olhar.
— Não, você disse que poderíamos riscar um item juntos qualquer dia
— eu o corrijo.
— Mas agora eu quero que você risque muito mais do que um item,
Cheryl. O que você gostaria de fazer antes de morrer? — ele pergunta e eu
dou de ombros sem saber ao certo o que eu gostaria de fazer. — Pense bem,
Cher, nós só vivemos essa vida uma vez e você está recomeçando a sua
agora.
— Gosto das coisas que você adicionou na sua lista e se eu fosse criar a
minha própria lista, colocaria todos os itens que você ainda não riscou. Isso
seria roubar a sua lista, Evan.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nós faremos isso juntos, apenas acrescente o que você gostaria de


fazer além do que já temos — ele me incentiva.

Olho mais uma vez para a folha preenchida na minha frente e volto a
olhar para Evan. Ele sorri em expectativa, o que me faz sorrir também.
Pegando a caneta, eu acrescento o primeiro item que me vem à cabeça.
Solto uma risada baixa ao imaginar a cara de Evan ao ler esse item.
— Do que você está rindo? — ele pergunta e tenta espiar o que eu
escrevi.
Puxo o caderno, o trazendo para o meu peito, e olho para Evan.
— Você não tem uma lasanha para fazer? — retruco.
— Cheryl Prinsloo, cuidado com o que você coloca nessa lista — ele
me alerta, cruzando os braços.
Um sorriso travesso permeia em meu rosto.
— Eu estou vivendo, Evan Walters, apenas viva comigo.
Evan torce o nariz, mas concorda sem se opor quanto a isso.
Em silêncio, concluo a minha lista, enquanto ele termina de preparar a
lasanha e a coloca no forno. Sentando-se em minha frente na bancada, Evan
toma o caderno de minha mão e começa a ler a lista.
— Mas que merda, Cheryl — ele solta um grunhido, perplexo com o
meu primeiro item.
Nadar nua na praia.
— O quê? — Dou de ombros. — É apenas uma curiosidade, você não
precisa fazer isso se não quiser.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele não me responde, apenas solta um suspiro e volta a ler a minha


lista, dessa vez em voz alta.

Passar um dia inteiro a comer comida lixo sem culpas.


Fazer um test-drive seguido de sexo num carro de luxo.
Estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Passar 48 horas desligada do mundo.

Apaixonar-me perdidamente por alguém que sinta na mesma


intensidade.
Adotar um animal de estimação.
Dormir sob as estrelas.
Ir à um cassino em Las Vegas.
Após terminar de ler, ele me encara, arqueando uma de suas
sobrancelhas.
— Test-drive e sexo em um carro de luxo? — ele indaga, com um
sorriso zombeteiro.
— Argh! Você é irritante — ralho e puxo o papel das suas mãos. — Eu
também tenho necessidades, Evan, gosto de sexo tanto quanto...
— Eu já entendi, Cheryl — ele brada, me interrompendo.
Eu rio, porque não consigo me segurar quando Evan se importa mais
com a minha vida sexual do que meu irmão.
Ele apoia os cotovelos na bancada e inclina o rosto na direção do meu.
Seus olhos intensos estão fixos nos meus e apenas esse olhar me causa um
formigamento no meio das pernas.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Há coisas na sua lista que nós não podemos fazer, Cheryl — ele
murmura baixo, fazendo uma pausa em seguida para deixar um leve sorriso
malicioso tomar conta dos seus lábios. — A não ser que você queira fazer o
test-drive comigo.
Oh sim, eu quero, por favor.
Balanço a cabeça afastando meus pensamentos propícios demais em
relação a Evan. Inclino ainda mais meu rosto na direção do dele e balanço
minhas sobrancelhas, o fazendo rir. Estamos tão próximos que a ponta do
meu nariz está perto de tocar o nariz dele.
— Evan, Evan, você não me atrai — minto, olhando diretamente nos
seus olhos escuros penetrantes.
Se tem algo que mudou na minha vida em relação a ele enquanto o
observo dormindo, é o quanto ele me atrai.
Ele morde o lábio, tentando segurar um sorriso, mas é tarde demais. Eu
conheço quando Evan quer sorrir, e esse é um desses momentos.
Evan levanta seu braço direito e o traz na direção do meu rosto, sua
mão afaga com delicadeza minha bochecha e a ponta do seu nariz
definitivamente toca o meu. Solto um suspiro baixo, meus olhos caem para
seus lábios, sinto uma pressão na barriga. A única coisa que eu desejo nesse
momento é que ele realmente me beije.
Ele ri e afasta a mão do meu rosto, mas ainda mantém seu rosto
próximo ao meu.
— Você acabou de esperar por um beijo meu, Cheryl. Admita que se
sente atraída por mim — ele diz.
Eu o empurro e, ao erguer o olhar, lá está ele. O maldito sorriso

PERIGOSAS
PERIGOSAS

convencido que ele carrega constantemente.

— Beijar você é como beijar o Luke. Estranho, nojento e sem aquelas


coisas.
Mais uma vez, aqui estou eu, mentindo.
— O que seria aquelas coisas? — ele pergunta, curioso.
— Aquele reboliço no estômago, não sinto isso faz tempo. No começo
sentia com o Kalel, mas com o tempo deixou de ser um beijo com essas
coisas e tornou-se apenas um beijo — explico, desviando meu olhar do dele.
— Eu disse, não era amor — pondera.
— Você disse que amou alguém. Esse alguém o amou também? —
pergunto, querendo saber mais do que apenas a sua resposta fácil: eu já amei
alguém.
— Eu ainda amo esse alguém, Cheryl, desde os meus quinze anos. Ela
não sabe, mas ela não precisa saber para se tornar verdadeiro o que eu sinto.
Algum dia eu espero que essa reciprocidade seja verdadeira — ele
simplesmente diz, sem rodeios e sem desviar o olhar do meu.
— Por 11 anos você espera que ela o ame de volta? — indago,
descrente, e ele assente. — E se ela não o amar de volta? Vai esperar por
mais quanto tempo?
Um suspiro escapa da sua boca e seus ombros caem.
— Eu tenho uma meta. Se até meus 27 anos ela não me amar também,
eu desisto, porque eu tenho que me amar também, Cheryl.
Aceno com a cabeça, concordando. Esse parecia ser o mantra de Evan:
ame os outros, mas também ame a si mesmo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— E as outras garotas? Como você conseguia se relacionar com elas se


ama outra?

— Você é mesmo curiosa — ele diz, cruzando os braços. Seu olhar


desvia do meu e ele divaga para longe. — Eu tento não pensar nela, porque
ela nunca pensou em mim também. Eu sinto essas coisas que você fala
quando beijo outras garotas, Cheryl, eu me sinto atraído, eu me excito e eu
sinto os toques e beijos...

— Mas apenas seus sentimentos estão todos ligados a ela — completo


por ele.
— Sempre a ela — ele admite.
Ficamos em silêncio até o forno apitar e no silêncio permanecemos
enquanto comemos. Vez ou outra eu o olho e, muitas dessas vezes, eu o pego
olhando para mim também.
— Depois dessa lasanha, nunca mais irei cozinhar, saiba disso — digo,
interrompendo o silêncio.
— Eu sabia que não deveria alimentar você — ele brinca.
— Segunda, quarta e sexta? — sugiro, balançando minhas
sobrancelhas. — Diz que sim, por favor.
— Terça, quinta e sábado — ele propõe.
— E domingo — contraponho.
Evan bufa e, em seguida, sorri.
— Certo, você lava a louça nos meus dias — ele conclui.
— Tudo bem — concordo sem me opor, não tenho nada contra lavar
louça.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Voltamos a ficar em silêncio, que é interrompido por um bocejo que


escapa da minha boca.

— Bom, acho que já vou. Meu corpo pede banho e cama — digo.
— Eu tenho um banheiro e uma cama — Evan intervém
sugestivamente.
— Evan, se você tem uma cama, por que diabos dorme no meu sofá?
— Finalmente pergunto o que sempre quis saber. Ele hesita por segundos e
eu completo: — Não venha me dizer que é porque o meu sofá é confortável,
acredito que sua cama seja muito melhor e eu vou provar isso agora — digo,
determinada.
Sem esperar por sua resposta, me levanto da banqueta e saio andando
por todos os cômodos do seu apartamento, até encontrar a porta que levava
ao seu quarto. Evan não me segue pelo tour em seu apartamento, então tomo
a liberdade de entrar em seu próprio quarto e me jogar de costas na cama.
É confortável, o colchão é de mola e o lençol cheira a sabão. Ele
realmente não dorme em casa e seu apartamento é impecavelmente limpo.
Não demora muito para Evan aparecer no quarto. Parado de pé próximo
à porta, ele sorri e se aproxima da cama, em seguida deita-se ao meu lado e
dobra o braço para colocá-lo em baixo da cabeça.
— Sua cama é confortável até demais — comento.
— Seu sofá é mais — argumenta, sorrindo.
— Evan, tem uma coisa que eu queria te perguntar. — Ele coça a
garganta, dando-me liberdade para perguntar o que quer que fosse. — Mais
cedo você disse para o Kalel algo sobre tê-lo avisado para não voltar mais.
Ele já havia me procurado antes? — pergunto.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Ele solta um suspiro longo e, pelo canto do olho, vejo seus lábios se
repuxarem em desgosto pela simples menção ao nome do Kalel.

— Na mesma noite que você chegou em casa chorando, ele lhe


procurou. Soube que havia algo errado quando a ouvi. Você quase nunca
chora. Pode estar sempre brava e chorar de saudades dos seus pais, mas
chorar daquela forma? Nunca. Eu sei que você o ama, mas ele não a merece,
Cher.

— Eu sei e já não sei se o amo mais, Evan. Ele se tornou uma parte feia
da minha vida, é o meu passado e isso aqui — digo, fazendo menção com as
mãos à tudo em minha volta, mais precisamente a ele — é o meu presente.
Estou trabalhando para ser uma nova e melhor Cheryl.
— Eu gosto do seu novo “eu” — ele comenta, me fazendo sorrir. —
Mas não deixo de achar isso estranho.
— O que é estranho? — pergunto, virando-me de frente para olhá-lo
melhor.
— Nós sendo amigos e você deitada na minha cama — ele diz, fazendo
uma pausa e me olha pelo canto do olho. — E olha que você nem está nua
ainda — ele completa em um tom brincalhão.

— Você é um idiota, Evan Walters — resmungo.


— Eu estou falando sério, Cheryl Prinsloo — ele retruca.
Não sei por qual motivo eu tive vontade de sorrir, então aperto os
lábios tentando conter e lhe dou um leve empurrão para o lado.
Eu nem cheguei perto de movê-lo do lugar e isso é frustrante. Evan
vira-se de frente para mim, nossos olhares se encontram e nós apenas ficamos
assim, parados olhando um para o outro. A maneira como seus olhos me

PERIGOSAS
PERIGOSAS

fitam causa um formigamento em minha barriga. Tento evitar esse contato,


direcionando meu olhar para seus lábios, mas isso só piora.

Eu não deveria sentir vontade de beijá-lo, mas não só sinto, como eu


quero.
Acho que ele sente o mesmo, pois, no mesmo segundo, volta a deitar-se
de barriga para cima e encara o teto.
— Preciso ir para casa — murmuro, um tanto desanimada.

Ele vira seu rosto para me olhar por um breve instante e, se eu fosse
ele, não diria as próximas palavras, mas eu sei que ele fará.
— Não me importaria se você ficasse — ele sussurra.
Um meio sorriso surge em meus lábios. Embora uma parte minha,
aquela irracional que se sente atraída por Evan, queira ficar, a racional me
lembra que somos amigos e eu não posso estragar isso por sentir vontade de
beijá-lo. Ainda ontem eu amava o Kalel, não?!
— Sobre a lista... Qual item você escolheu para começar? — ele
pergunta.
— Acho que você vai ter que esperar para ver. Mas adianto logo que
você vai precisar de tempo e paciência para me esperar acordar amanhã.
— Eu sou a paciência em pessoa. Espero há 11 anos pelo amor de uma
garota, se lembra? — ele retruca, com um sorriso presunçoso no rosto.
Por um momento, pego-me pensando no quão sortuda ela é. Não por ter
o amor de Evan, mas pela pessoa que ele é.
— Tudo bem, senhor paciência, nos vemos amanhã às 11 horas em
ponto. 11 para combinar com seus 11 anos de espera — provoco-o,
levantando-me da cama. — O verei pela madrugada habitando meu sofá?
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Hoje não — ele informa, para meu desapontamento e surpresa.


— Então... Boa noite, Evan.

— Boa noite, Cher. Bons sonhos, ou melhor, sonhe com a sua imensa
atração por mim — ele zomba.
Me despeço de Evan e, minutos depois, ao entrar em meu apartamento
e olhar para o sofá vazio, eu sinto falta da sua presença constante em meu
apartamento.

Pela primeira vez, desejo que esse sofá esteja ocupado por ele, porque
nada além de Evan supriria o buraco vazio em meu sofá da sala.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

Eu encarava a lista enquanto relia mais uma vez cada item adicionado
por Cheryl. Não havia chance alguma de realizarmos juntos a maioria deles.
Há duas opções. E uma delas é Cheryl se apaixonar por mim e juntos
riscaremos os itens ou ela fará com outra pessoa e simplesmente irá riscar um
item.
Sozinha.
Odeio pensar nessa hipótese de ela riscando algum item com alguém
que não seja eu.
Nadar nua na praia? Sem chances de ela fazer isso com outra pessoa.
Fazer um test-drive e sexo em um carro de luxo? Mas nem se eu
estivesse morto.
Apaixonar-se perdidamente por alguém que sinta na mesma
intensidade? Ao menos que esse cara seja eu.

— Merda — rosno, destacando a folha do caderno e a dobrando antes


de colocar em meu bolso.
É desconcertante pensar nesses três itens sem querer realizar cada um
deles com Cheryl. Tanto quanto quero riscar os itens da minha lista com ela,
desejo que ela queira fazer o mesmo comigo.
Gostaria que ela soubesse que existe alguém que a ama em uma
intensidade que ela jamais será amada por outro um dia.
Eu a amo em segredo, em silêncio e sem medo, e a perdoo por não

PERIGOSAS
PERIGOSAS

perceber isso. Eu a perdoo por não sentir o mesmo, a perdoo por todas as
vezes que me machucou mesmo sem intenção e sem saber que estava fazendo
isso, assim como a perdoo por todos os dias em que partiu meu coração ao
beijar outro.
Perdoar alguém é o primeiro item da minha lista que eu risquei ao lado
de Cheryl sem que ela notasse.
Por onze anos, Cheryl Prinsloo me tem e nem mesmo sabe disso.
Às onze horas em ponto, a campainha do meu apartamento toca. Lá
está ela em um vestido verde, que se realça em sua pele clara e com seu
cabelo castanho escuro preso em um rabo de cavalo.
Cheryl sorri ao me ver e aperta a alça da mochila que está em suas
costas, seus olhos cor de mel têm brilho. Por dentro meu peito infla ao se dar
conta de que posso ser a razão por trás desse brilho em seus olhos novamente.
Então mais uma vez eu a perdoo por ter meu coração e não se dar conta
disso.
Porque por amor nós perdoamos e apoiamos, assim como por amor, nós
também dizemos adeus quando é preciso.
E eu só espero não precisar dizer adeus a Cheryl quando essa lista
acabar.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Cegamente, eu vim a você.


Sabendo que você sopraria uma vida nova para dentro de mim.”
Find Me – Boyce Avenue

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

— Então, como estou? — pergunto a Evan, parada em frente a porta do


seu apartamento.
Ele me inspeciona demoradamente, me deixando aflita pela demora de
responder uma coisa simples.

— Não está nada mal — ele finalmente diz, me fazendo revirar os


olhos.
Levou esse tempo todo só para dizer que eu não estou nada mal?
— Você também não está nada mal, dá pro gasto — retruco.
Ele ri, pega dois capacetes em cima do sofá e caminha em minha
direção.
— Você está bonita, Cheryl, mas vai mesmo usar um vestido para
andar de moto? — ele indaga.
Estreito meus olhos e ele encolhe os ombros. Tenho certeza que, se
pudesse, eu já teria o matado apenas com o olhar.

Eu sempre tive pavor a motos. Ao barulho que elas fazem e ao grande


índice de acidentes e mortes. Tudo isso me apavora.
— Eu continuo achando que não é uma boa ideia — friso mais uma

PERIGOSAS
PERIGOSAS

vez, apertando a alça da mochila, aflita, enquanto encaro a sua moto preta.

Eu não desisti de usar o vestido, mas por cima dele, Evan me fez vestir
a sua jaqueta de couro preta, alegando que eu sentiria frio. Ele também vestia
uma e isso o deixava mais atraente ainda.
— Cheryl, andar de moto não é ruim. Para de ser medrosa, e essa
belezinha aqui é excepcional, é uma Harley — ele soa empolgado ao frisar o
modelo da moto, mas eu não ligo para o modelo ser o melhor ou não.
Eu simplesmente odeio motos e só.
— Eu realmente não gosto, Evan. Tenho 24 anos e um carro —
resmungo e giro a chave do meu carro no dedo. — Além do mais, minha
mochila está pesada depois que você a encheu com suas coisas.
O que não é uma mentira por completo. Evan já tinha feito a sua
própria mochila, mas como não dá para levar as duas na moto, decidimos
colocar nossas coisas em uma só.
— Legal, mas você não vai dirigir hoje — ele diz, tomando a chave da
minha mão e a guardando no bolso da jaqueta.
— Eu que escolhi o item, então eu também deveria escolher como
vamos — intervenho.
Evan me ignora e coloca o capacete em minha cabeça.
Não temos muito o que fazer em relação às nossas listas, a maioria dos
itens restantes da lista de Evan é romanticamente relacionado a garota que ele
ama. Já os itens da minha lista...
Bom, eu não me importaria de riscar cada um com ele. Porque eu
cegamente confio em Evan Walters.
Mas por ora o primeiro item que riscaremos será comprar um bilhete
PERIGOSAS
PERIGOSAS

para o primeiro avião do dia sem saber para onde vamos.


Após verificar mais uma vez se o capacete está apertado o suficiente
para não sair da minha cabeça, Evan passa a perna na moto e sobe.
— Evan, se alguma coisa acontecer comigo, um arranhão...
— Eu já entendi — ele me interrompe, ao pegar seu capacete que está
em cima do banco de trás da moto e batendo a mão no espaço livre, e ele me
olha.

Solto um suspiro ao me dar por vencida, não há chances de ele desistir


da moto.
— Venha logo, Cheryl.
Sem hesitar, seguro no braço de Evan e passo uma de minhas pernas
pela moto, sentando-me. Antes que ele possa ligar a moto, eu me antecipo em
colar meu corpo em suas costas, deslizo meus braços para frente e envolvo a
sua cintura em um forte aperto.
— Calma, Cheryl, nós nem saímos do lugar ainda — ele diz, rindo.
— Então eu acho melhor você sair antes que eu desista — sugiro,
encostando a minha cabeça em suas costas e fechando os olhos.

— E lá vamos nós, Cher.


O motor da moto ruge ao ser ligado, e eu me aperto ainda mais ao
corpo de Evan quando ele dá partida pelas ruas de Boston.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

A moto para e quando abro meus olhos, nós estamos no estacionamento


do aeroporto Logan.

Salto da moto sem esperar que Evan a desligue e retiro o capacete. Eu


estava me sentindo claustrofóbica.
— Eu não acredito que você manteve os olhos fechados durante o
caminho inteiro, por quase duas horas — ele diz, desapontado.
— Desculpa se o meu medo fala mais alto — digo, encolhendo meus
ombros.
— Esse passeio era para te ajudar nisso, você não pode deixar seu
medo te impedir de experimentar coisas novas. Andar de moto é uma
sensação completamente diferente, o frio na barriga, o vento batendo no
rosto... — Ele faz uma pausa e me olha. — Mas acho que fiz uma péssima
escolha em vir de moto. Se tem alguém que deve desculpas aqui, esse alguém
sou eu.
Vê-lo arrependido faz com que eu me sinta culpada.
— Você não pode dizer que foi uma péssima ideia ao menos que eu
tenha dito que não gostei. Fizemos apenas um caminho e ainda temos um
longo caminho na volta, huh? — digo, mordendo meu lábio.
Ele sorri satisfeito em resposta e estende a mão para pegar o meu
capacete.
— O que você acha de ir comprando as nossas passagens enquanto eu
pago o estacionamento? — ele sugere, quando eu lhe entrego o capacete.
— Vai confiar em mim para pegar as nossas passagens?
— Você tem a intenção de ir para algum lugar especifico? — ele
questiona.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Balanço a cabeça negando.


— Eu não tenho motivo algum para não confiar em você, nem mesmo
isso é um motivo. Então arraste essas suas belas pernas até a primeira
companhia que você avistar e compre nossas passagens.
— Exceto pelo belas pernas, você soou tão Luke agora.
— Cheryl...
Ergo minhas mãos no ar, me dando por vencida.

— Já sei, comprar as passagens. Me encontre no primeiro terminal de


embarque para não nos perdermos um do outro — digo, dando-lhe as costas.
A movimentação do aeroporto faz com que eu me apresse para achar
uma fila que não esteja tão cheia para comprar as passagens, e por sorte eu
acho.
Sem destino e sem pretensão alguma de ir a algum lugar sem Evan ao
meu lado, peço à atendente duas passagens para o primeiro voo que ela tenha
disponível. Eu me recuso a olhar as passagens sem Evan ao meu lado, apenas
me encaminho para o primeiro terminal para encontrá-lo.
— Então, para onde vamos? — Evan pergunta com expectativa ao me
ver.
— Eu não sei — admito, ao dar de ombros.
Ele ergue uma sobrancelha, confuso.
— Achei que quisesse descobrir junto comigo para onde vamos —
explico, e estendo o ticket das nossas passagens para ele.
Evan pega o papel das minhas mãos e solta um xingamento baixo
quando checa o nosso destino.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Canadá — Evan murmura, perplexo.


Nós não estávamos preparados para o frio do Canadá.

— O que nós faremos agora?


— Você confia em mim? — ele questiona em voz baixa.
— De olhos fechados — confesso.
Evan sorri e pega em minha mão. Segurando-a firme, ele me puxa em
direção oposta ao terminal de embarque que estamos.
O toque macio e quente da sua mão já ameniza o frio do Canadá que eu
nem cheguei a sentir ainda. E eu não me importaria com o frio se tivesse as
mãos de Evan em contato com a minha pelo resto da nossa viagem.

A primeira coisa que fazemos quando chegamos ao Canadá é comer,


meu corpo necessita de comida. Fazemos uma parada no primeiro fast-food
que achamos, em seguida Evan aluga um carro e nossa segunda parada é em
um brechó.
Não tem como suportar o frio que faz em Vancouver com as roupas que
eu estou usando.
— Você se importa se dividirmos um quarto em um hotel? — Evan
pergunta, enquanto busca um endereço no celular.
— Sério que você está perguntando isso logo para mim? Você dorme
no meu sofá, Evan, não é tão diferente de dividirmos o mesmo quarto.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Inclusive, senti sua falta no meu sofá — confesso.

— Eu também senti falta do seu sofá ontem à noite, Cheryl. — Evan


me olha de soslaio e sorri. — Mas também senti sua falta — ele completa e,
dessa vez, eu quem estou sorrindo.
Fazemos o resto do caminho até o hotel mais próximo em silêncio, não
é bem um hotel, mas, sim, chalés quentinhos e confortáveis.
Eu sou a primeira a tomar banho, troco meu vestido por uma calça
jeans, blusa de manga longa, um moletom confortável que caberia duas de
mim dentro e tênis.
Enquanto Evan toma banho, eu tento me comunicar com Luke para
dizer que estou viva e que está tudo bem, mas pelo visto ele está
incomunicável por hoje. Tentando me prevenir do ataque de preocupação que
Luke daria ao saber que estou em outro país, deixo uma mensagem de voz.
— Hey, sou eu. Estou ligando para que você saiba que eu estou viva.
Bom, até agora eu estou viva. Não estranhe se não encontrar o Evan em
nosso sofá, também não o procure em seu apartamento. Sinto muito
irmãozinho, mas roubei seu melhor amigo de novo. Eu amo você e...

Minha voz se perde com a visão de Evan saindo do banheiro vestindo


apenas uma calça de moletom e com seu peitoral nu. Finalizo a ligação sem
completar meu recado para Luke.
A quantidade de músculos do corpo de Evan me surpreende, é preciso
me conter para não tocar o seu peito nu.
Meu Deus, Cheryl, para de olhá-lo.
— Você está parecendo um urso quentinho — ele zomba, apontando
para o meu moletom que tem um desenho de um panda. — Não sou o Olaf,

PERIGOSAS
PERIGOSAS

mas gosto de abraços quentinhos.

Franzo minha testa e torço meus lábios, me sentindo confusa.

— O que foi? — ele questiona.


— Não faço ideia do que você está falando — confesso.
Ele ri ao caminhar até a cama para pegar seus pertences na minha
mochila.

Lamento ao vê-lo cobrindo seu peito nu ao vestir uma camiseta e jogar


sua jaqueta de couro por cima.
— Frozen, Cheryl, você nunca viu? — ele pergunta.
— Isso é um filme, série? — indago.
— Um desenho animado, sou obrigado a assistir isso toda vez que vou
visitar a Tillie — ele conta, com um sorriso no rosto.
Evan sempre está sorrindo quando fala da sobrinha, filha da sua irmã
mais velha. Ele é tão bom com Tillie que sem dúvidas seria um ótimo pai.
— Você pode ver conosco um dia, se quiser — ele me convida.
— Sério?
Eu estou surpresa e contente ao mesmo tempo.
— Você nunca viu Frozen, então, sim. É sério.
Ele joga uma folha dobrada sobre a cama e eu a pego sabendo do que
se trata, a nossa lista.
— Levante-se, madame, nós temos planos — ele diz, fechando a
mochila, a colocando em suas costas em seguida e puxando o papel das
minhas mãos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Nós temos planos? — friso ao perguntar.


— A partir de agora nós sempre teremos planos, acostume-se — ele
afirma convicto.
— Isso soa bem.
Muito bem.

Evan dirige sem destino, ao menos eu acho que é sem. Não há nada
além da estrada cercada por árvores por onde estamos passando e ele também
não fala para onde estamos indo.
Enquanto ele mantém sua atenção na estrada, eu olho a lista. Estou
curiosa sobre como ele concluiu cada item e não poupo ao perguntá-lo o que
mais me interessa.
— Quando foi que você fez uma road trip?

— Há uns três anos. Logo após Luke e eu nos formarmos, fizemos


juntos, e fomos ao Egito também.
Sua resposta me pega de surpresa, eu me lembro do quanto Luke
morava mais fora do que dentro de casa, mas não imaginava que ele se
aventurava tanto assim.
— Então todas as vezes em que Luke ficava dias longe de casa vocês
estavam fazendo algo da sua lista?
Evan dá de ombros e balança a cabeça, concordando.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— A maioria das vezes.


— Clube de strip? — indago.

— Também com Luke, tínhamos dezesseis anos quando fomos — ele


admite.
— Dezesseis anos?! — exclamo perplexa, e ele assente, rindo. — Por
que não me sinto surpresa com isso? — ironizo e volto a olhar para a lista.
— Por que você sabe que nenhum de nós dois somos santos — ele
responde com um meio sorriso no rosto.
— Luke sabe quem é a garota secreta?
Levanto minha sobrancelha, curiosa, e espero pela sua resposta.
— Ele é o meu melhor amigo, Cheryl, é claro que sabe — Evan
responde e hesita antes de prosseguir. — Mas ele também não concordava
com a minha escolha até um tempo atrás.
— Por quê? — questiono, querendo me aprofundar ainda mais nesse
assunto.
Quero descobrir quem é a garota de sorte.

— Informações demais por hoje, Cheryl.


Solto um suspiro, frustrada, e dobro a folha, guardando-a no porta
luvas.
— Nunca comece algo se não vai terminá-lo Evan — resmungo.
— Não era a minha intenção começar, Cheryl, foi você que começou
— ele pontua, colocando um ponto final em nossa conversa.
Perguntar sobre a garota de Evan se tornou uma zona proibida, zona
essa que não quero mais ultrapassar.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

O carro para no acostamento de uma estrada movimentada.


Não no sentido de funcionar, mas, sim, Evan estaciona simplesmente
do nada.
Carros vão e vêm enquanto nós permanecemos parados.
— Não me diga que acabou o combustível no meio do nada?
Ele não me responde. Ao invés disso, pega o celular.

Eu estou quase cogitando ir até o posto de polícia que havia mais à


frente para pedir por ajuda, quando Evan desce do carro com a minha
mochila e abre a minha porta.
— Estamos no lugar certo, venha — ele diz, ajudando-me a sair do
carro.
Tentando conter a aflição que me consume, eu o observo trancar o
carro sem saber o que vinha a seguir. Hesitante, ele segura em minha mão e,
puxando-me devagar pelo acostamento da estrada, caminhamos em linha reta.
— Um pedágio? — pergunto, ao avistar filas de carros esperando a sua
vez de passar.

— Está quente, Cher — ele murmura, sorrindo em expectativa.


— Acho que morrerei de curiosidade antes mesmo de saber o que é —
admito. — Quanto tempo falta? — pergunto, sem conter meu sorriso e minha
ansiedade.
Apesar de estar curiosa, eu gosto do fato de ele estar tentando me
surpreender.
— Só um minuto.
Evan solta a minha mão e caminha até a cabine mais próxima do

PERIGOSAS
PERIGOSAS

pedágio, ele leva minutos conversando com a atendente e aponta na minha


direção, ela diz alguma coisa que o faz sorrir e assentir. E isso me faz querer
saber porque ele está sorrindo para ela da mesma forma que sorri para mim.
Mordo meu lábio e olho a minha volta, tentando não olhar na direção
deles mais uma vez. Não gosto de sentir o que eu estou sentindo em relação a
Evan.
Olho para todas as direções, menos a que ele está e não percebo quando
ele volta para mim.
Volta para mim. Patético, Cheryl.
— Temos pouco tempo, vem!
Ele sorri para mim da mesma forma que estava sorrindo minutos atrás
para outra, enquanto me arrasta. Em outras circunstâncias, eu sorriria de
volta, mas sorrir é a última coisa que consigo, principalmente quando
passamos em frente à cabine e a mulher está nos olhando com um sorriso de
orelha a orelha.
Paramos entre a cabine e a estrada que continua depois dela. Carros
passam disparados e Evan não solta a minha mão por um segundo que seja.
— Bem-vinda a Seattle, Cheryl — ele anuncia.
— Nós estamos no Canadá, Evan — eu o corrijo.
Ele nega e aponta para a placa à frente. Meus olhos arregalam-se ao se
darem conta de onde e do que estamos fazendo.
Nós estamos em dois lugares ao mesmo tempo.
— Isso é incrível, Evan. Não, é mais do que incrível! — exclamo.
Minhas bochechas doem pelo tamanho do sorriso estampado em meu

PERIGOSAS
PERIGOSAS

rosto e, em um impulso, eu me jogo nos braços de Evan. A princípio, era só


um abraço.

Era, até meus lábios pairarem sobre os dele.


Meu coração bate contra o dele, nossos olhos se encontram e eu posso
jurar que ele sente as batidas descompassadas. Nos olhamos durante o que
parece minutos, mas são apenas segundos até sua mão tocar gentilmente
minha bochecha.
Sem esperar outro passo, eu o beijo.
O beijo tão lentamente, desejando que o tempo pare. O calor da sua
respiração forte e intensa sopra em meus lábios e, surpreso ou não, ele me
corresponde, alternando entre afundar sua língua quente em minha boca e
beijar-me suavemente.
Eu estou flutuando e nem mesmo sei voar, mas os lábios de Evan
fazem eu me sentir como se soubesse.
Ele para de me beijar abruptamente e isso faz a minha mente acordar.
Foi um erro e não é justo fazer isso com Evan quando existe alguém pelo
qual seu coração bate.
— Eu sinto muito — consigo dizer, ao me afastar.
— Não sinta, Cheryl...
Já é tarde demais, Evan, eu sinto muito.
Não pelo beijo, mas por ter gostado tanto que eu quero de novo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Se nós vamos fazer isso, então vamos nessa.


Você pode ajeitar meu coração partido se for todo seu.”
More Than Friends – Jason Mraz

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

Não estava preparado para estragar o que eu e Cheryl construímos até


aqui, também não estava indo confidenciar a ela quem é a garota.
Mas eu estou aqui, sentado em uma mesa de uma lanchonete, sorrindo
para ela como se nada tivesse acontecido. Como se o melhor beijo da minha
vida não tivesse acontecido há um par de horas atrás com a minha garota.

Eu juro que tento não olhar para Cheryl enquanto a observo molhar sua
batata frita no molho, mas está se tornando impossível, principalmente pelo
canto da sua boca estar um pouco sujo de molho.
— Evan — ela pigarreia, chamando a minha atenção.
Dou de ombros, sem me importar por ter sido pego no flagra. Foi
escolha dela agir como se o beijo não tivesse acontecido e não minha.
Ela quem disse eu sinto muito, quando não deveria. Também foi ela
que andou de volta até o carro e decidiu ignorar o que eu tentava falar até
pararmos na lanchonete.
— Me passa a lista, Cheryl — peço gentilmente.

Sua testa se franze e ela abre o bolso menor da mochila, pegando nossa
lista e estendendo para mim, junto com uma caneta. Pego a lista da mão dela,
enquanto ela volta a atenção para a batata.
Risco os dois itens que já realizamos.
Comprar um bilhete para o primeiro avião do dia sem saber para onde
vou.
Estar em dois lugares ao mesmo tempo.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Olho mais uma vez para Cheryl e em seguida para o relógio pendurado
na parede da lanchonete. Já estamos a tempo demais em Vancouver e acho
que ela nem se deu conta que daqui há algumas horas será domingo.
Risco mais um item.
Passar um dia inteiro a comer comida lixo sem culpas.
— O que tanto você risca? — ela pergunta e, curiosa, inclina a cabeça
para espiar a lista. — Temos dois itens meu riscado e apenas um seu, isso não
é justo.
— Nós não temos muito o que fazer da minha lista.
Engolindo em seco, ela assente e pega a lista da minha mão.
— Você tinha que se aventurar tanto assim antes de mim? — ela
resmunga. — O que você tatuaria?
Sua pergunta me pega de surpresa. Nunca tinha pensado no que
tatuaria, até agora.
— Não sei — confesso, para seu desapontamento.
— Então nós vamos embora e acabou a lista por hoje? — Sua voz sai
áspera e desanimada.
Balanço a cabeça, assentindo.
Para Cheryl, o beijo estragou toda a graça da lista. Para mim, o beijo é
muito mais que importante que todos os itens já riscados.
E essa é a mais crua verdade.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

A volta para casa é silenciosa e vazia. Não nos falamos durante o voo e
nem quando chegamos ao nosso prédio pela tarde.
Continuamos em silêncio quando pegamos o elevador, até mesmo
quando ela para um andar antes do meu. Cheryl sai com a mochila nas costas
e, cautelosamente, se vira para me olhar.
— Você não vem? — ela pergunta baixinho.
Eu hesito antes de dar um passo à frente, para segurar as portas do
elevador. Ela continua parada, apesar de querer se virar e sair correndo.
— Cheryl, eu gosto de você, então para. Simplesmente para de ignorar
o que aconteceu.
Em silêncio, ela me encara com os olhos saltados. Eu solto a porta do
elevador e dou um passo para trás.
— Eu só não queria que você terminasse a noite sem saber disso.

Eu ainda tenho seis meses até o meu aniversário para esperar por ela e
pacientemente eu esperarei. Apenas preciso fazê-la perceber em seis meses,
que ela pode se apaixonar por mim também. Eu preciso disso, eu preciso
tentar nem que isso signifique que, no final de tudo, meu coração será partido
em dois, mas enquanto houver a esperança que eu senti, eu não vou desistir.
As portas do elevador se fecham devagar, enquanto Cheryl permanece
parada, intacta, no lugar, com os lábios apertados sem saber o que falar.
Ela não me deu uma resposta e eu só queria que ela soubesse.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Cheryl Prinsloo

Cheryl, eu gosto de você, então para. Simplesmente para de ignorar o


que aconteceu. As palavras de Evan entoam em minha cabeça e eu não
consigo processar.
— Eu sou a garota dele — murmuro, perplexa.

Preciso me sentar no sofá para não derramar achocolatado em minha


roupa limpa ao me dar conta da veracidade do que está bem à minha frente.
Ouço o barulho da maçaneta girando e automaticamente viro meu rosto
na direção da porta na esperança de ser ele. Eu não tenho muito o que falar,
mas, ainda assim, gostaria que fosse Evan atrás daquela porta.
Não é ele, mas, sim, Luke.
— Faz tempo que chegou? — ele pergunta, sentando-se ao meu lado.
— Um pouco mais de duas horas. Luke, posso fazer uma pergunta?
Viro meu rosto para olhá-lo. Quero estar olhando-o quando ouvir sua
resposta.
— Desde quando você me pergunta se pode fazer algo? Não me
perguntou quando estava embarcando em um avião para o Canadá — ele
retruca.
— Por que nunca me contou sobre o Evan? — questiono.
— C-como? — ele balbucia, sem desviar o olhar do meu.
— Você sabe ao que me refiro, Evan gosta de mim e você nunca me
contou. Por quê? — insisto, mais uma vez.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Luke hesita, mas responde.


— Não sou eu quem deveria dizer isso a você, Cheryl, era uma coisa
dele e ele é o meu melhor amigo.
— Onze anos, Luke, você me escondeu isso por onze anos! —
exclamo.
Levanto-me do sofá e coloco meu copo em cima da mesa no meio da
sala para encará-lo de perto.

— Você mal o notava. Por anos você namorou outros caras, até mesmo
esfregava o seu namoro com o Kalel na cara dele. Evan não merecia as
migalhas que você tinha para oferecer, Cheryl! — ele grita de volta.
Ótimo, agora estamos gritando um com o outro.
Sinto meus olhos pesarem, eu odeio brigar com Luke. Principalmente
por ele ser tudo que eu tenho.
Luke se levanta e me puxa para um abraço ao ver meus olhos
acumulando lágrimas.
— Sinto muito, Cheryl, mas não cabia a mim contar isso a você — ele
sussurra, com os lábios pressionados em minha cabeça.

— Eu o magoei tanto, Luke, tanto...


— Isso foi no passado — ele ameniza.
Com a cabeça encostada em seu peito, eu a balanço negativamente e
afasto-me dos seus braços.
— Isso estraga tudo — afirmo.
— O que estraga, Cheryl? — Luke pergunta, olhando-me diretamente
nos olhos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu acho que facilmente me apaixonei por Evan — admito,


deixando-o surpreso.

Luke dá um passo para trás e caminha de um lado para o outro da sala,


até que para novamente em minha frente. Erguendo as duas mãos e
segurando em meus ombros, Luke solta um suspiro e me encara sério.
— Conte isso a ele.
Solto uma risada seca. Péssima ideia, sem chances.

— É sério, Cheryl, conte a ele o que você está sentindo — ele repete.
— Por anos eu o magoei, Luke, negligenciei o que ele sentia quando
estava bem na minha cara. Não quero continuar machucando-o, não quando o
tenho tão perto, eu gosto dele.
Meus ombros caem, ao admitir isso tanto para Luke, quanto para mim
mesma.
— Como foram os seus últimos dias com Evan?
— Os melhores dias da minha vida. Eu me senti viva, como há muito
tempo não sentia, eu...

— Ótimo, isso basta — Luke me interrompe, com um meio sorriso no


rosto e, ainda com a mão em meus ombros, ele me guia em direção à porta.
— O que você está fazendo?
Franzo minha testa ao encarar a porta em minha frente. Afastando as
mãos do meu ombro, Luke me afasta da porta para abri-la e me empurra para
fora, trancando a porta em seguida.
— Luke, abre essa porta — peço, girando a maçaneta em vão.
— Só volte para casa quando consertar as coisas, Cheryl — ele diz, alto

PERIGOSAS
PERIGOSAS

o suficiente para que eu possa ouvir do outro lado da porta.

— Eu odeio você — grito, batendo a mão com o punho fechado na


porta.
Ouço sua risada do outro lado e soco mais uma vez a porta.
— Vá logo, Cheryl!
Silenciosamente, caminho pelo corredor em direção às escadas, subo
cada degrau pensando no que vou falar e, quando paro em frente a porta de
Evan, meu coração começa a bater desesperadamente.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

O som da campainha me puxa para fora da cama. Faz horas que eu


estou tentando dormir, mas não consigo não pensar em ir para o sofá do
apartamento de baixo. Meu corpo se acostumou ao sofá desconfortável e
duro, assim como eu me acostumei a presença constante dela na minha vida.

Engulo em seco ao abrir a porta e me deparar com Cheryl em minha


frente.
Ela sorri quando seus olhos encontram os meus. O brilho que eu vejo
em seu olhar não é nada comparado aos olhares que ela me deu nos últimos
dias.
O que há por trás desse olhar, Cheryl?
— Evan, e-eu... — Sua voz se perde, seu olhar recai para seus pés e por
último ela olha em meus olhos mais uma vez. — Eu sou a sua garota? — ela
pergunta, incapaz de acreditar em suas próprias palavras.
Meu aperto na maçaneta da porta se intensifica e reúno todas as minhas
forças para admitir em voz alta, que, sim, ela é a garota por quem eu sou
apaixonado.
— Não responde — ela intervém, antes que eu a respondesse. — É tolo
da minha parte perguntar quando você já fez isso.
Uma risada nervosa escapa dos seus lábios, mas ela não recua.
— Foi divertido. Você melhorou todos os meus dias ruins, você trouxe
vida para a minha vida, Evan Walters. Quando chegamos hoje, eu desejei que
o dia recomeçasse novamente. — Colocando a mão sobre o peito, ela sorri.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu não sei o que há aqui dentro, mas eu quero muito descobrir junto com
você, não estou prometendo amá-lo na mesma intensidade, Evan, mas estou
aqui prometendo tentar deixá-lo entrar e tomar tudo que pode de mim.
Por dentro eu me sinto triunfante, a ponto de precisar me conter para
não beijá-la.
— Eu sei que ainda é cedo para esperar mais do que isso, Cheryl, assim
como sei que um dia não é o suficiente para você simplesmente dizer que me
ama. Mas por ora quero que saiba que eu estou nessa, tanto quanto você quer
estar.
— E agora o que acontece? — ela me fita com os olhos curiosos.
Dou um passo à frente, determinado a acabar com o mínimo espaço que
há entre nós. Para o meu alívio, ela não recua, pois é como se ela estivesse
esperando pelo mesmo que eu.
— Agora eu vou te beijar até o último minuto e quando o minuto
seguinte anunciar um novo dia, eu vou beijá-la novamente, porque isso aqui é
muito mais do que uma lista.
Ela abre a boca surpresa, mas não se move. Seu corpo está parado no
mesmo lugar e seus olhos estão em meus lábios.
Eu ergo uma das minhas mãos e a levo até seu rosto, acaricio sua
bochecha com meus dedos. Seu corpo estremece com meu toque e eu sorrio
por saber que, de alguma forma, Cheryl reage a mim. Não que eu não tivesse
percebido seus olhares, mas isso... Isso é muito mais do que olhares agora, é
contato.
Abaixo meu olhar para a sua boca e inspiro rapidamente, ela inclina o
rosto aproximando-se mais do meu e fecha os olhos. Movo minha mão para o
seu cabelo, puxando levemente, e não demoro para fechar os olhos e encostar
PERIGOSAS
PERIGOSAS

a minha boca na dela. Sua língua pede passagem, fazendo com que meu
corpo todo acorde somente para ela. Cheryl leva a mão até a minha nuca e
chupa a minha língua demoradamente. Eu posso sentir os meus batimentos
cardíacos tomando outras proporções.
Devagar e sem interromper o beijo, abro meus olhos, eu vou levando
seu corpo para trás, até suas costas encostarem na parede ao lado da porta.
Pressiono-a contra a parede com o meu corpo, sua boca se entreabre e um
gemido baixo escapa dos seus lábios.

Eu preciso parar antes que seja tarde demais e, com muita luta, afasto
meus lábios dos dela.
Cheryl me lança um olhar confuso e intenso, seus lábios estão inchados
e vermelhos, seu peito sobe e desce rapidamente por causa da respiração
ofegante.
Sou pego de surpresa quando as suas mãos se fecham em punho na
minha camisa e ela encosta seus lábios nos meus novamente.
Intenso, viciante e incomum, é como eu descreveria o beijo de Cheryl.
— Essa é a hora que nos despedimos e damos boa noite um para o
outro? — ela pergunta ao afastar seus lábios dos meus, e assinto, incapaz de
responder. — Então... Boa noite, Evan — ela sussurra, com sofreguidão.
Beijo a sua bochecha e deslizo meus lábios pelo seu maxilar, subo
minha boca novamente até encostar na sua e levemente beijo seus lábios.
— Essa é a hora em que você entra na minha casa e toma seu lugar ao
lado da minha cama — sussurro, puxando o lábio inferior dela com os dentes
e o soltando devagar.
Ela pressiona a testa na minha e olha para meus lábios, o que me leva a

PERIGOSAS
PERIGOSAS

prender o lábio inferior com os dentes e tomar coragem para me afastar antes
que eu a beije mais uma vez.

Recuo andando para trás, sem tirar meus olhos dela e a trazendo junto
comigo para dentro do meu apartamento.
— Evan? — ela murmura, ofegante, com os lábios semiabertos.
— Sim, Cher?
— Eu acho que quero beijar você de novo — ela diz com um belo
sorriso no rosto, e isso é o suficiente para meus lábios buscarem os dela
novamente.
Se antes Cheryl Prinsloo já havia me arruinado para todas as outras
garotas, agora ela havia me arruinado pelo resto da minha vida.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Inicialmente, eu não queria me apaixonar por você.


Ter a minha atenção era tudo pra você.”
Location - Khalid

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Algo naquela tarde mudou, assim como mudou todos os nossos dias
seguintes.
Nós passamos muito mais tempo juntos do que antes. Nossas noites
começam com um de nós cozinhando, ainda mantemos os dias escolhidos:
ele terça, quinta, sábado e domingo e eu nos dias que restam. Em seguida
vemos filmes ou séries e, de alguma forma, no final de tudo, minha boca
sempre termina colada a dele.
E isso tornou a lista de Evan muito mais fácil.
Luke me deu uma semana de descanso depois de ter me posto para fora
de casa, e é claro que aceitei de imediato.
Eu estou até mesmo familiarizada com a Harley de Evan e embora ele
ame a sua moto, não foi ela que nos trouxe para o nosso passeio hoje, o que
só alimenta o que eu suspeitava, nossa passagem por Malibu não será tão
breve assim.
Porque não é um passeio qualquer, nós estamos na casa dos pais de
Evan. Constato isso ao pararmos em frente à uma casa de praia, Luke me já
tinha me contado uma vez que os pais de Evan tinham uma casa em Malibu.
A porta da casa se abre no exato momento em que saímos do carro.
Eleanor, mãe de Evan, sorri calorosamente ao nos ver chegar.
— Eu não acredito que você estava me trazendo para a casa dos seus
pais e não me avisou — eu cochicho, forçando um sorriso sem jeito para a
mãe de Evan, que acena da casa para nós.
— Tecnicamente essa é a casa dos meus avós — ele murmura em
PERIGOSAS
PERIGOSAS

resposta.
Eu recuo com um passo para trás e o encaro, ele ri e segura minha mão
me trazendo para o seu lado novamente.
— Fica calma, Cheryl, meus pais sempre gostaram de você e da sua
família — ele me assegura e em seguida murmura ainda mais baixo que
antes: — E eu também.
— Você tem certeza que quer fazer isso? Eu sou a irmã do seu melhor
amigo, nós estamos só começando e... — Me perco em minhas palavras, eu
tenho tantos “e” passando em minha cabeça que o que eu realmente quero
falar é:
E se a sua mãe não gostar de mim?
— Você é muito mais do que a irmã do meu melhor amigo, Cher,
confie em mim.
— Tudo bem, eu só estou nervosa — murmuro, ainda insegura.
— Não fique, é só a minha mãe e provavelmente meu pai está em
algum canto da casa trabalhando — ele entoa suavemente e segura em minha
mão.

Em passos firmes, caminhamos até o lobby de entrada da casa jovial


dos seus avós.
— Meu filhinho — sua mãe entoa, abrindo os braços para recebê-lo.
Reprimo um riso e solto a mão de Evan, deixando que ele vá até ela.
— Olha só para você! Parece tão magro, e essas bochechas... Tem
cuidado bem do cabelo, Evan? Parece que faz dias que você não o lava.
— Mãe... — ele intervém.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eleanor o ignora e aperta suas bochechas, ela o trata como se ele ainda
fosse uma criança.

Quando ele consegue se soltar do aperto fraterno de sua mãe que durou
minutos, ele me apresenta, não como uma amiga ou até mesmo conhecida.
Evan me apresenta como sua namorada.
— Eu sabia que isso não estaria longe de acontecer algum dia — a mãe
dele graceja ao me abraçar, com um sorriso que mal consegue disfarçar a
felicidade pelo filho. — Seja bem-vinda a família, Cheryl, apesar de você e
Luke já fazerem parte. Bruce vai adorar a notícia, uma pena que ele tenha
esquecido uns relatórios da empresa e precisou voltar para casa.
— Obrigada, Eleanor, fico feliz em saber que nós temos pessoas como
vocês e Evan por perto.
E eu estou sendo sincera quanto a isso e sou grata principalmente por
Luke, por Eleanor e seu marido terem sido os mais próximos de pais para ele.
— Não vamos ficar parados aqui fora, entrem — ela nos convida a
entrar. — Evan mostre para Cheryl a casa. Ela pode ficar no antigo quarto do
Luke.
— Sim, senhora. — Ele bate contingências como um soldado.
Eleanor nos deixa a sós, enquanto Evan me conduz para dentro da casa.
— Meu irmão tem um quarto aqui? — pergunto, pasma.
— Seu irmão tem um quarto em qualquer lugar em nossa família,
Cheryl, e acredite, os quartos dele são melhores que os meus — Evan
confessa à contragosto.
— É mesmo, bebê da mamãe? Não vai chorar, vai? — retruco, sorrindo
e apertando levemente a bochecha dele.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

O rosto de Evan fica vermelho, o que me faz rir.


— Minha mãe ainda acha que eu sou um bebê, isso acontece às vezes
— ele comenta.
— Jura? Nem percebi — ironizo, rindo. — Sua mãe é incrível, Evan,
eu sou muito grata por terem acolhido o Luke.
— Nós somos uma família, Cheryl, e é isso o que fazemos uns pelos
outros.

Suas palavras aquecem meu coração e eu sorrio, grata por hoje tê-lo em
minha vida.

Fizemos um breve tour pela casa, o último cômodo que entramos foi o
quarto de Evan e é nele que estamos até agora.
— Então eu sou a sua namorada? — indago, enquanto entrelaço seus
dedos nos meus.
— Você acha que nós precisamos conversar? — Ele faz uma pausa
tentando assimilar o que dizer. — Huh, falar sobre isso? Sobre o que estamos
fazendo?
E aí está uma pergunta da qual eu não esperava ser questionada tão
cedo, esperava que não chegasse o momento em que eu tivesse que dar-lhe
uma resposta da qual eu ainda não tenho. E eu não posso fazer isso com
Evan.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Evan, por favor, não pergunte — eu murmuro, aperto a sua mão na


minha e olho em seus olhos. — Não me faça responder algo que eu tenho
medo da resposta, eu ainda não estou pronta para fazer isso.
— Tudo bem — ele sussurra.
Embora Evan saiba que ainda é cedo para que eu possa dizer o que ele
realmente gostaria de ouvir, a decepção está estampada em seus olhos.
— Nós temos o agora e eu não quero perder ou estragar isso.

Evan encosta sua testa na minha e beija a ponta do meu nariz, sua
respiração quente roça em meus lábios enviando uma corrente de eletricidade
por todo meu corpo.
— Nós não estragaremos isso, Cheryl, eu lhe dou a minha palavra —
ele promete.
Mas nós dois sabemos que uma hora sentir por dois cansa e restam dois
meses para o aniversário dele. Querendo ou não, Evan desistiria e eu não
posso ser egoísta impedindo-o disso quando não me sinto capaz de retribuí-
lo, ele já passou anos demais preso a mim e uma hora terei que libertá-lo.
Solto a sua mão e me aninho em seu corpo grande e quente.

— Eu gostaria de morar para sempre em seus braços, Evan.


Ele não me responde, apenas se aconchega encaixando seu corpo
perfeitamente no meu e me abraça.

Perdoar alguém.
Fazer uma road trip coast na América.
Visitar as pirâmides do Egito.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Saltar de paraquedas.
Aprender a gostar de vinho

Beijar uma estranha.


Correr uma meia-maratona.
Sair para noitada e ir trabalhar no dia seguinte.
Começar um negócio.

Ir a um show que não gosto.


Ir a um clube de strip.
Visitar todos os continentes pelo menos uma vez.
Comprar um bilhete para o primeiro avião do dia sem saber para onde
vou.
Ver o pôr e o nascer do sol, sem dormir.
Viver uma história de amor inacreditável.
Casar com a garota dos meus sonhos.
Observar o céu com um telescópio.

Ter o melhor encontro da minha vida.


Ter um filho.
Fazer tatuagens.
Nadar nua na praia.
Passar um dia inteiro a comer comida lixo sem culpas.
Fazer um test-drive seguido de sexo num carro de luxo.
Estar em dois lugares ao mesmo tempo.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Passar 48 horas desligada do mundo.


Apaixonar-me perdidamente por alguém que sinta na mesma
intensidade.
Adotar um animal de estimação.
Dormir sob as estrelas.
Ir à um cassino em Las Vegas.

Eu gravo mentalmente a lista e agora falta poucos itens a serem


riscados, e eu quero todos eles riscados com Evan antes do seu aniversário.
Quero ser a única mulher a riscar algo com ele, para que ele nunca me
esqueça.
Eu vou me marcar dentro de você, Evan Walters, mesmo que não seja
para sempre.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Nós passamos o nascer do sol tentando melhorar as coisas entre


nós.”
Girls Like You – Maroon Five

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

A casa de praia dos meus avós fica em uma área bem reservada de
Cornon Beach, não temos incômodos e isso se torna interessante para Cheryl
depois que a minha mãe decide ir embora.
E eu sei bem o que ela estava fazendo no momento em que inventou a
desculpa de que meu pai havia ligado dizendo que precisava do cérebro
matemático dela. Ela queria nos deixar a sós e bom, conseguiu.
O olhar de Cheryl vagueia à nossa volta, eu sigo o seu olhar e aprecio a
vista. O reflexo da lua refletindo sobre o mar o ilumina, deixando a noite
ainda mais bonita.
— Nada mal para uma noite quente, não concorda? — ela murmura e
volta a me olhar com um sorriso convidativo no rosto.
Balanço a cabeça negativamente, seu olhar diz exatamente o que quer.
— Por favor — ela pede suavemente o que eu nego em pensamentos.
Como continuar negando quando sua boca encosta na minha e suas
mãos deslizam lentamente pelo meu pescoço, até que seus dedos encontram o
botão da minha calça jeans?
— Evan, eu quero muito fazer isso — ela sussurra contra minha boca,
provocando-me com seus lábios.
Solto um grunhido baixo e um sorriso forma-se imediatamente nos seus
lábios. Ela sabe que essa guerra ela havia vencido.
— Cheryl... — começo a protestar, mas ela me silencia ao pressionar
seus lábios nos meus.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Cheryl se afasta e andando de costas enquanto me olha, ela puxa o


zíper da saia para baixo, que desliza por suas belas pernas.

— Te vejo na água então.


Afastando-se cada vez e indo em direção ao mar, ela tira outra peça de
roupa, mais outra e mais outra, até ficar totalmente nua.
Mordo meus lábios observando Cheryl Prinsloo de uma forma que eu
nunca vi antes.

Completamente nua.
— Isso não pode ser real — murmuro pra mim mesmo.
Aperto meus olhos e quando os abro, eu ainda a vejo, ela ainda está
aqui.
Totalmente despida, ela para à poucos passos de entrar na água e me
encara, firmemente e insegura.
Merda.
Eu não quero que ela se sinta insegura e ache que eu não a quero da
mesma forma que ela me quer. Se ela pudesse ver o quão excitado estou por
baixo desse short, jamais duvidaria disso.
Então eu dou um passo à frente, tiro a minha roupa e tentando conter a
minha hesitação, dou mais um passo e respiro fundo.
Por muito tempo eu fantasiei como seria estar com Cheryl e nada se
compara ao agora. Nós estamos aqui, nus, em uma praia em Malibu e prestes
a riscar o segundo item da lista dela depois das 48 horas que passamos juntos
em meu quarto assistindo filme desligados de tudo e todos à nossa volta.
Nadar nua na praia.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Entro na água devagar, Cheryl está de costas para mim e eu aproveito


para abraçá-la de costas.

Seu corpo se molda perfeitamente ao meu, minhas mãos percorrem


cada centímetro do seu corpo o explorando. Mesmo com a água morna,
Cheryl estremece com meus toques. Ela vira-se de frente e lentamente sua
mão sobe pelas minhas costas até tocar minha nuca, sua boca faz uma trilha
de beijos pelo meu pescoço até parar em minha boca.

É aí que eu me rendo, porque beijar Cheryl é como estar no paraíso. E


ela é o meu paraíso.
Ela geme durante o beijo, arrancando um grunhido da minha garganta.
Não posso perder o controle, não posso perder o controle... Dane-se o
controle.
Puxo-a mais perto e Cheryl arfa com o contato da minha rigidez que
pressiona contra ela, minha mão começa a deslizar lentamente para cima da
sua perna, subindo até a parte de trás da coxa. Cerco meu quadril com as suas
pernas e subo minhas mãos até a cintura, e mais uma vez ela geme em minha
boca.

— Evan... — ela murmura, interrompendo o beijo.


— Nós precisamos parar antes que seja tarde demais, mas eu não
consigo — confesso.
— Já é tarde demais para parar, apenas continue, Evan — ela admite a
mais crua verdade por nós dois.
Beijando-me novamente tão intensamente quanto antes, suas mãos se
perdem em meu cabelo o puxando, enquanto sua língua trabalha avidamente
explorando minha boca.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Eu preciso tê-la — eu digo entre o beijo e exalo —, mas não será


aqui e nem agora.

Cheryl solta suas pernas da minha cintura e se afasta, olhando-me meio


confusa, meio admirada e excitada. Seus lábios vermelhos e inchados se
entreabrem soltando um suspiro.
— Você não torna isso fácil, Evan, não quando está terrivelmente sexy
com esses cabelos molhados e com a expressão de quero te foder, Cheryl.
Ela olha para os meus lábios e sorri, eu encho a minha mão de água e
jogo em seu rosto, em seguida a trago para perto novamente, passando meu
braço em volta do seu pescoço e puxando sua cabeça para o meu peito.
Pressiono meus lábios em seu cabelo molhado e sussurro:
— Talvez seja porque eu realmente quero fazer isso, mas não agora.
Apenas torne as coisas mais fáceis para mim antes de ir, Cheryl.
— Pois fixe a ideia de que eu não tenho a intenção de ir à lugar algum,
Evan Walters.
Sorrio e reforço meu aperto, em uma tentativa falha de mantê-la em
mim por mais tempo do que temos.

Eu estava longe de fazer sexo com a irmã do meu melhor amigo na


praia, mas estou muito próximo de riscar mais outro item.
Observar o céu com um telescópio.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Cheryl não sabia que o real motivo para termos vindo de carro havia
sido seu telescópio que eu raptei e quando soube houve dois momentos de
surtos.
Primeiro: “Meu telescópio, sua moto. Não toque no que é meu e talvez
eu não tocarei no que é seu.”
Segundo: “Isso vai ser demais.”
Como entender Cheryl Prinsloo?

— Não teria lugar mais bonito que esse para observar o céu, Evan, a
lua está linda — ela murmura, terminando de montar o telescópio na areia.
Cheryl se posiciona atrás do telescópio e encosta seus olhos na lente.
Paro esse momento em minha mente e gravo a imagem de Cheryl nua
debaixo da minha camisa, enquanto observa as estrelas.
— Anda logo, Evan — ela grita, chamando a minha atenção e
acenando com a mão.
Quando me aproximo, ela me coloca à frente do telescópio e enquanto
eu observo através dele, ouço suas instruções atentamente.
— Consegue ver a constelação?

O som da sua voz empolgada me faz me sentir culpado por não


conseguir responder a sua pergunta, porque estou ocupado demais tentando
adivinhar quais desenhos as estrelas estão formando. É como a nuvem
quando ganha formas de animais e objetos.
— Evan! — ela chama a minha atenção.
Viro meu rosto para o lado, afastando meu olho da lente e a encaro.
— Eu tinha acabado de encontrar um passarinho e você me

PERIGOSAS
PERIGOSAS

interrompeu.

Ela ri balançando a cabeça e olha para o céu, apertando seus olhos


enquanto busca por algo.
— Vai para o telescópio, agora — ela ordena, eu prontamente obedeço,
porque é divertido observar as estrelas. — Vire um pouco para a direita, você
vai ver a constelação de Órion.
— E o que isso significa? — pergunto, curioso, ao captar um grupo de
estrelas.
— É a ascensão cinco horas e com inclinação de cinco graus. O
cinturão de Órion, Evan! Não é incrível? — ela pergunta, saltando na areia
empolgada.
Afasto-me de vez do telescópio para observá-la. Ela está quente demais
agora e se antes eu a queria, agora quero mais ainda.
E dessa vez, não vou me segurar.
Percebendo meu olhar, ela se aproxima e joga os braços ao redor do
meu pescoço, mergulho meu rosto em seu pescoço exalando seu perfume
misturado a maresia, Cheryl tem um cheiro inebriante até mesmo para a
minha sanidade.
— Acho que é uma boa hora para entrarmos — sua voz calma e sexy
sussurra em meu ouvido.
Engulo em seco e assinto.
— Eu sugiro um banho — meu tom sugestivo carregado de malícia não
passa despercebido.
— Huh, banho significa ver você nu novamente e isso soa muito bem.
— Ela sorri atrevida e se afasta, segurando em minha mão e guiando-me para
PERIGOSAS
PERIGOSAS

dentro de casa.
Cheryl ainda será completamente minha, nem que para isso eu espere
por mais onze anos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Porque eu não vejo mais ninguém, ninguém além de você.”


Earned It – The Weekend

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Beijos quentes e molhados. É o que a boca de Evan me transmite


enquanto seus lábios viajam pelo meu pescoço debaixo da água quente do
chuveiro que nos cobre. Uma onda de nervosismo e excitação me atinge,
porque eu sei o que vem a seguir quando seus lábios descem pelo meu
pescoço a caminho do meio dos meus seios.

Fecho os olhos e suspiro baixinho, pressiono minhas pernas uma na


outra, tentando acalmar meu estado de abstinência de Evan.
— Você é tão linda e isso é tão surreal — ele sussurra e seus lábios
macios e quentes envolvem meu mamilo entumecido.
Deixo um gemido baixo escapar dos meus lábios, o incentivando a
continuar. Suavemente, Evan beija, morde e lambe o meu mamilo direito,
dando total atenção a ele e, em seguida, faz o mesmo com o esquerdo.
Minhas pernas viram gelatinas e preciso segurar firmemente em seu ombro
para evitar que eu caia antes mesmo de chegarmos ao finalmente.
Evan afasta seus lábios dos meus seios e levantando seu rosto para me
olhar, ele segura em minhas mãos e ergue meus braços para o alto,
prendendo-os em cada lado da minha cabeça. Seus olhos me penetram de
uma forma que faz com que eu me sinta mais nua do que já estou e isso me
aquece de uma forma que só acontece quando ele está por perto.
— Pegue de mim tudo o que você precisa, Evan — sussurro, quase
como uma súplica.
Um rosnado escapa dos seus lábios em resposta e eu inclino-me para
beijá-lo e dou a ele toda a liberdade para pegar o que precisa.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

Pegue de mim tudo o que você precisa, Evan.


Eu me agarro às suas palavras, enquanto minha língua desliza para
dentro da boca de Cheryl e meu corpo pressiona o seu.

Eu sempre tive medo de que quando eu provasse Cheryl me viciaria, é


como dizer: dessa água não bebereis. Você sabe que não deve beber e ainda
assim bebe, e é exatamente como eu me sinto sobre ela.
Abaixo as mãos de Cheryl, deixando-as livres ao lado do seu corpo, em
seguida desligo o chuveiro e seguro em seu rosto fino com as minhas duas
mãos.
Sob tropeços, eu nos guio para o meu quarto sem desgrudar nossas
bocas. Devagar, eu afasto nossos lábios para deitá-la na cama, ela
choraminga, mas logo para quando eu cubro seu corpo que parece tão
solitário sem o meu para cobri-la.
Cheryl desliza suas mãos pelas minhas costas e abre as pernas para me
acomodar entre elas, meu olhar recai para a sua intimidade que implora por
atenção. Passeio com meus olhos por todo o seu corpo até parar em seu rosto,
meus dedos indicadores descem pelos quadris e escorregam para o ponto
mais sensível.
Eu não sou do tipo que diz palavras sujas em momentos como esse,
principalmente por ser Cheryl, mas ela estar terrivelmente molhada faz com
que eu queira sussurrar coisas sujas em seu ouvido. Entretanto, eu não o faço,
porque é ela e é especial.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Cheryl entreabre os lábios, tornando seus gemidos audíveis e me


deixando ainda mais excitado. Nossos olhos se encontram, enquanto meus
dedos se afundam em sua pele, e não há dúvidas de que nós enxergamos
através um do outro o que há em nosso olhar.
Desejo.
Aprofundo meus dedos arrancando mais gemidos de Cheryl e me
inclino em sua direção, sinto sua respiração quente e irregular batendo em
meus lábios antes de pressionar nossas bocas uma na outra. Sua boca se fecha
na minha, seus lábios traçando os meus com urgência.
— Evan — ela diz, arfando na minha boca e empurrando seu quadril
em meus dedos.
— Sim, Cher? — sussurro, enquanto meus dedos vagueiam pela sua
carne sensível. Seu corpo se contorce embaixo do meu a cada movimento
deles, ela geme e a palavra preciso se perde no meio dos seus gemidos. — Do
que você precisa, babe?
— De tudo que você tem, Evan, agora — ela exige e, mostrando bem o
que quer, ela desliza sua mão pelo meu abdômen até encostar em minha
ereção.

Solto um gemido e retiro meus dedos de dentro dela, sua mão me


provoca ao deslizar por toda extremidade do meu cumprimento. Cheryl
inclina a cabeça e mordisca meu lábio inferior com ternura.
Estico a mão na direção do criado-mudo ao lado da cama e o tateio até
abrir a gaveta. Resgato uma embalagem de preservativo e trago até meus
lábios, sou surpreendido por Cheryl que segura a ponta da embalagem com os
dentes e a rasga enquanto eu a mantenho presa em meus dedos.
— Isso foi sexy, muito sexy — eu digo, e afasto a sua mão para vestir a
PERIGOSAS
PERIGOSAS

preservativo.

Acomodo-me entre as suas pernas e ergo meus olhos para olhá-la.

— Você tem certeza? — pergunto cautelosamente.


— Com toda a minha vida, Evan — admite em um murmuro.
Cheryl passa os lábios em meu queixo, guiando-o até minha orelha,
enquanto eu me guio para dentro dela, suas pernas apertam em torno do meu
quadril. Fecho meus olhos e me movo devagar, degustando-me da sensação
única que é estar dentro dela. Ela geme quando eu empurro, lentamente e
profundamente.
Nossos corpos se fundem em sincronia. Ela me puxa para dentro dela e
eu vou sem hesitar. Ela pede por mais e eu lhe dou.
Porque sentir Cheryl é sentir tudo. E nada para mim é o suficiente além
dela.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Podemos ir para o próximo nível?


Querida, você se atreveria?”
Naked – James Arthur

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Como uma noite mágica.


Por mais fantasioso que seja, era dessa forma que eu enxergava a noite
com Evan e agora, algumas horas após, eu ainda me sinto em êxtase.
E bom, não é da droga que eu estou falando, mas se bem que se
comparado a uma droga, Evan está prestes a se tornar meu maior vício.
— Ainda está acordado? — pergunto baixo, com medo de ele
realmente estar dormindo.
— Sim e você?
Levanto meu rosto para olhá-lo e apoio meu queixo em seu peito.
— Você está falando com a minha alma — digo, sarcástica.
Evan ri rouco e seu rosto vira na direção do relógio em cima do criado-
mudo.
O relógio marca 06:40 da manhã e nós sequer dormimos.
— Eu não dormi, você dormiu? — ele questiona.

Sua pergunta faz a minha testa franzir.


— O sexo comeu o seu cérebro ou algo do tipo? — retruco.
— Nah, engraçadinha.
Apertando a ponta do meu nariz com os dedos, Evan me afasta do seu
corpo para se levantar e puxa-me junto com ele. Levo a coberta que nos
cobria junto, me envolvo nela e o sigo para a varanda do seu quarto. Ainda
está escuro aqui fora e não há nada a ser visto, apenas dá para ouvir o som

PERIGOSAS
PERIGOSAS

das ondas se quebrando no mar.


Evan senta-se na poltrona reclinável, eu me acomodo entre suas pernas,
deito a cabeça em seu peito e nos cubro com a coberta. Ele me abraça
apertado, seu rosto afunda em meu pescoço e ele solta um suspiro que me
provoca uma onda de arrepios.
Sei que ele está sorrindo, porque eu também estou quando sinto seus
dentes na minha pele me causando cócegas. Evan afasta o rosto do meu
pescoço e apoia o queixo em minha cabeça.
— Quando eu era criança gostava de dormir aqui fora ao som das ondas
— ele divaga.
— Quando você deixou de ser criança? — zombo.
— Não querendo me gabar, mas acho que eu sou uma criança bem-
dotada nesse caso — ele pondera, me fazendo inclinar a cabeça para trás e rir.
— Do que você está achando graça, eu estou falando sério, eu acho. Não é
tão ruim assim ou é?
— Novas descobertas sobre Evan Walters, tão seguro de si e muito
bem-dotado.
— Muito, mas muito bem-dotado — ele se gaba.
Sorrio e levando minhas duas mãos até o seu rosto, eu o seguro e trago-
o para um beijo. Ele inclina sua cabeça ansiosamente e salpica beijos em meu
rosto antes de alcançar a minha boca. Quando seus lábios quase, vejamos
bem, eu disse quase, se colam aos meus, ele vira o rosto para frente e sorri.
Resmungo frustrada ao soltar seu rosto e acompanho seu olhar, para ver
o que tomou sua atenção além de mim.
Evan aproxima a boca do meu ouvido, pressiona os lábios em minha

PERIGOSAS
PERIGOSAS

orelha e sussurra:
— Bom dia, Cher, você é o melhor encontro da minha vida.

Então, ele me beija sob a paisagem do nascer do sol que estava


surgindo sobre as águas claras do mar.
Não é só o melhor encontro da vida de Evan, é definitivamente o meu
também, e o melhor dia da minha vida.

1 MÊS DEPOIS

Eu estou ignorando Evan por dias e não é a minha intenção. Não o


ignorando totalmente, mas precisamente a presença dele.

Seria mais fácil se você não me ignorasse


por causa de uma gripe, sério Cheryl? Já
faz três dias e não aguento mais falar com
você por mensagem!
Pelo visto, Luke tê-lo avisado que eu sou o próprio demônio de TPM e
que me torno pior ainda quando estou doente não ajudou. E embora Evan
vivesse dentro do meu apartamento, ele nunca conviveu comigo de fato,
principalmente de TPM.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

É sério Cheryl, eu sinto a sua


falta...
Agora meu coração está se partindo, porque eu sinto tanto a falta dele
quanto ele sente a minha.
Releio sua mensagem mais uma vez e tentando não sorrir por conta
dela, tiro uma selfie, mostrando o quão horrível eu estou.

Querido Evan,
Eu estou descabelada, vestindo um
moletom que roubei do seu guarda-
roupa semana passada e que nem
lembro a última vez que ele soube o
que é ser limpo. Também estou com o
nariz escorrendo uma coisa gosmenta
e nojenta, estou tossindo de cinco em
cinco segundos, tenho olhos de panda
e o pior de tudo EU ESTOU
SANGRANDO. É o suficiente para
você?
Sua resposta chegou minutos depois.

Não, não é o suficiente. Agora, por


favor, abra a porta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Solto um gritinho baixo e me sentindo frustrada, salto da cama e


caminho devagar até a porta.

Me preparo para confrontá-lo por estar aqui quando não o quero que
me veja assim, mas ao abrir a porta, meus planos vão por água abaixo quando
vislumbro o seu sorriso.
— Acho que você subestima demais o que eu sinto por você, embora
você esteja bem feinha, eu ainda gosto de você, talvez mais ainda agora em
meu moletom — ele diz suavemente, e suas palavras se enraízam
profundamente dentro de mim.
Dou um meio sorriso, sabendo que é quase impossível fazê-lo sair do
meu quarto, então dou passagem para ele entrar.
— Você acabou com a minha autoestima nesse exato momento, Evan
— resmungo, ele ri, ignorando-me, e entra no meu quarto com uma sacola
em mãos.
Caminhando em sua direção, olho mais uma vez para a sacola de papel.
— O que há aí? — pergunto, deixando a minha curiosidade falar mais
alto.
Abrindo a sacola, ele tira os absorventes internos que havia pegado no
mercado. Me limito a rir, Evan realmente não existe.
— Eu disse que isso poderia ser útil algum dia — ele pondera.
E, abrindo a embalagem de um absorvente, Evan quebra o espaço que
existia entre nós. Seus olhos preocupados me estudam antes de inclinar o
rosto para frente e pressionar os lábios em minha testa, enquanto
cuidadosamente enfia o pequeno absorvente em meu nariz.
— Problema número um, nariz, resolvido.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Sorrindo, ele se afasta sem mais nenhum traço de preocupação no rosto.


— Então você veio aqui para resolver meus problemas? — pergunto
em um tom zombeteiro e ergo as sobrancelhas.
— Eu vim aqui para cuidar de você e do que você acredita ser um
problema que vá me impedir de te ver — ele retruca.
Dou uma risadinha e jogo meus braços em volta do seu pescoço. Evan
me puxa para o seu colo e caminha comigo até a minha cama, me deitando
sobre ela. Seu corpo cobre o meu, o que é uma péssima ideia para a minha
sanidade mental.
Não é justo estar naqueles dias tendo o corpo musculoso e perfeito de
Evan cobrindo o meu.
— Isso não vai funcionar — murmuro.
— O que não vai funcionar? — ele questiona, sabendo bem o que não
iria funcionar.
Solto um grunhido e o empurro para o lado, tirando-o de cima do meu
corpo.
— Babe, isso já funcionou. Nós vamos ficar aqui deitados, vendo filme
e curtindo mais um dia da sua vida, que por sinal está péssimo ultimamente.
Reviro os olhos e olho para ele com um ar meio hostil, ele ri e segura
em minha mão, a levando até seus lábios.
— Admita que seus dias estão péssimos.
Balanço a cabeça, incerta sobre isso. Nesses três dias, eu percebi algo
muito mais forte do que só sentir falta de Evan. E ficar três dias sem ele, de
longe, foi péssimo e, sim, horríveis.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Eu estou à beira do precipício e prestes a me jogar de cabeça, porque


Evan Walters me tem. Inteiramente e por completo.

Pela forma que Evan me olha curioso, eu sei que devo estar com um
sorriso idiota enquanto o olho, mas decidida a esconder meus pensamentos
dele, eu apenas faço o que ele pediu.
— Bom, você tem razão, meus dias estão sendo péssimos — admito,
contra vontade.
Parabéns, Cheryl, essa é uma ótima forma de esconder que está
apaixonada por alguém.
— Graças a Deus você tem a mim para tornar o resto dos dias
melhores.
Balanço a cabeça, sorrindo ao concordar.
Sem dúvidas graças a Deus. Não porque eu o tenho, mas porque eu,
Cheryl Prinsloo, amo Evan Walters de uma forma que não cabe dentro de
mim. E a partir de agora, nós nos teremos para sempre.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Eu te darei o meu coração.


Porque você é um céu, porque você é um céu cheio de estrelas .”
A Sky Full Of Stars – Coldplay

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Os meses se arrastaram, para o meu alívio e pavor. Hoje é o tão


sonhado aniversário que Evan esperou por 11 anos e, se eu ainda fosse a
antiga Cheryl, eu me odiaria por não tê-lo conhecido e me odiaria ainda mais
por me privar de amá-lo.
E eu o amo, com tudo que há em mim, até mesmo com os meus
defeitos.
Hoje a única coisa que se passa na minha cabeça é o prazo que,
indiretamente, eu tinha para amá-lo também. Ele não sabe o que eu sinto, ou
melhor, sabe e finge que não sabe. Não foi preciso ser dito em voz alta, foi
preciso ser sentido. E sem sombras de dúvidas ele sentiu.
Ele sente o meu amor em cada batida que o meu coração dá quando ele
está perto, em cada beijo, cada gesto de carinho e em todas as vezes em que
vamos para a cama. Não é só sexo, nunca foi. Sempre foi amor. Evan tem
aquela coisa de dizer muito com o olhar. E a maneira como ele me transmite
isso cada vez que me olha é diferente. A forma como meu nome sai da sua
boca é única.

E agora aqui estou eu, às 23:58, em frente à porta do seu apartamento


com um belo presente em mãos, esperando que ele venha me atender.
Um latido ecoa pelo corredor no momento em que Evan abre a porta,
eu tento murmurar algo que acalme a fera em meu colo, mas minhas palavras
se perdem quando meus olhos encontram os de Evan. Forço um sorriso,
tentando não aparentar o quanto eu estou nervosa.
— Feliz aniversário! — exclamo, junto com um latido.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Os olhos de Evan deixam os meus e pairam sobre o pequeno filhote de


Shih-Tzu em meu colo, ele estende a mão para pegá-lo e eu lhe entrego seu
presente que é mais um item a ser riscado de nossa lista.
Evan sorri ao ver o que está gravado em sua coleira.
— Parabéns, papai? — ele indaga, rindo e dando-me espaço para
entrar.
Entro e espero que ele feche a porta.

— Eu não sou clichê, você sabe — começo a falar, enquanto ele se


aproxima. — Mas nós temos umas coisas a serem finalizadas hoje.
Coloco a minha mão no bolso da minha calça jeans e tiro o papel
amassado com a nossa lista. Evan solta o cachorro no chão e me encara por
um instante.
— Claro, é meu aniversário — ele diz, com um leve amargo na voz.
Eu lhe entrego a lista e embora eu saiba que nós dois a memorizamos,
Evan nunca a viu tão riscada como agora.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

EVAN WALTERS

Minhas mãos tremem enquanto meus olhos vagueiam por cada item
riscado na folha.
Perdoar alguém.

Fazer uma road trip coast na América.


Visitar as pirâmides do Egito.
Saltar de paraquedas.
Aprender a gostar de vinho.
Beijar uma estranha.
Correr uma meia-maratona.
Sair para noitada e ir trabalhar no dia seguinte.
Começar um negócio.
Ir à um show que não gosto.

Ir à um clube de strip.
Visitar todos os continentes pelo menos uma vez.
Comprar um bilhete para o primeiro avião do dia sem saber para onde
vou.
Ver o pôr e o nascer do sol, sem dormir.
Viver uma história de amor inacreditável.
Casar com a garota dos meus sonhos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Observar o céu com um telescópio.


Ter o melhor encontro da minha vida.

Ter um filho.
Fazer tatuagens.
Nadar nua na praia.
Passar um dia inteiro a comer comida lixo sem culpas.

Fazer um test-drive seguido de sexo num carro de luxo.


Estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Passar 48 horas desligada do mundo.
Apaixonar-me perdidamente por alguém que sinta na mesma
intensidade.
Adotar um animal de estimação.
Dormir sob as estrelas.
Ir à um cassino em Las Vegas.

P.s.: nós temos um cachorro agora, mas é claro que nós ainda teremos
os nossos filhos. :)

Releio a frase acrescentada por Cheryl mais uma vez antes de dobrar o
papel e olhá-la.
— Isso significa que...
— Eu te amo — ela me corta, sorrindo. — É claro que ainda faltam

PERIGOSAS
PERIGOSAS

poucos itens na lista a serem riscados ainda, mas, pra isso, você terá que me
pedir em casamento, em seguida me levar para Las Vegas e fazer um test-
drive comigo na cidade do pecado.
Meus lábios curvam-se em um sorriso. Eu dou um passo à frente, e
envolvo a cintura de Cheryl com os braços, a trazendo para mim.
— Por um segundo eu achei que era o fim — murmuro, encostando
minha testa na dela. — Nunca mais faça isso com meu pobre coração, Cher.
Ela ri travessa e fica na ponta dos pés para alcançar meus lábios, sua
boca levemente encosta na minha.
— Eu quero dizer que eu sinto muito por tê-lo feito esperar por 11
anos, mas, na verdade, eu não sinto. Porque tudo que vivemos nos últimos
seis meses foi uma construção das pessoas que nós dois nos tornamos um
para o outro hoje. 11 anos é um grande número, mas acredito que nós
teremos anos a mais para compensar tudo isso. Eu o amo com tudo que há em
mim e eu sei que é amor, porque você me ensinou o que é amor de verdade,
me fez conhecer o amor recíproco, você me fez sentir de uma forma que
jamais havia sentido antes. Eu amo você, Evan Walters e acho que você
deveria namorar comigo, talvez casar daqui há alguns anos, não importa
como seja, eu só o quero comigo.
Sua confissão me deixa desnorteado. Se meses atrás alguém me
dissesse que Cheryl Prinsloo entraria pela minha porta e se declararia, eu
riria, mas agora é tudo tão real que me pergunto se realmente não é um sonho
ou uma pegadinha.
E sendo um sonho ou não, ela é minha.
Nossos olhos se encontram e posso ver a paixão, medo e desejo neles,
enquanto ela espera por minha resposta.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Por Deus, sim! Eu vou dizer sim sempre para você, Cheryl. Isso aqui
é muito mais do uma lista com itens a serem riscados, certas coisas não
precisam ser ditas e sim sentidas, eu a amei por tanto tempo e sei que vou
amá-la por muito mais. Eu soube no momento em que seus lábios tocaram os
meus pela primeira vez que isso daria certo, eu só precisava de mais tempo
para você me mostrar o que sente. E agora que eu sei, você está perdida.
— Que bom então, porque eu não me importo de me perder em você —
ela sussurra, me provocando com os lábios quase pressionados nos meus, e
gentilmente eu a beijo com um pouco mais de firmeza que de costume.
Não foi preciso mais do que essas palavras para eu ter a certeza que de
que nós nos perderemos um no outro. Eu quero ser a âncora de Cheryl para
sempre, assim como eu quero segurá-la para nunca mais deixá-la ir.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

“Algumas pessoas querem tudo.


Mas eu não quero absolutamente nada.
Se não for você, querido.”
If I Ain't Got You – Alicia Keys

PERIGOSAS
PERIGOSAS

CHERYL PRINSLOO

Se uma pessoa lhe disser que as coisas mudam com o tempo, acredite, é
a mentira mais deslavada da história.
Velhos hábitos nunca mudam. Meu marido é a prova disso, mesmo
depois de oito anos de casados.

Solto um suspiro baixo ao constatar que a caixa de leite está vazia na


geladeira.
— A caixa de leite está vazia na geladeira? — Evan pergunta,
franzindo a testa ao me ver pegando café.
Reviro meus olhos, ignorando-o. Se tem uma pessoa que deixa a
garrafa de leite vazia na geladeira, essa pessoa é Evan Walters.
Sento-me de frente para Evan, que está alternando entre tomar café e
alimentar Isaac, que está sentado em sua cadeirinha brincando com o próprio
alimento.
Isaac é o nosso segundo filho, ele nasceu há dois anos para alegria de
Evan, que já estava ficando de cabelos brancos por conta da nossa
primogênita de 6 anos. Na cabeça de Evan, nosso filho irá manter os meninos
longe da irmã, mas acho que às vezes ele esquece que um deles irá para a
faculdade primeiro.
— Mamãe, o que é sexo? — Chelsea pergunta curiosa ao meu lado.
Do outro lado da mesa, Evan cospe o café no prato e devolve a xícara a
mesa, para em seguida tomar das mãos da nossa filha o papel velho e
amassado com a lista.
— Test-drive, o que é? — ela continua a soltar as perguntas, com seus
PERIGOSAS
PERIGOSAS

olhos curiosos me fitando.

Olho para Evan em busca de ajuda, mas ele dá de ombros e com um


sorriso provocante no rosto, diz:
— Responde para a sua filha o que é sexo e test-drive, Cheryl, a lista é
sua.
— Sexo é um brinquedo de parque como uma montanha-russa, quando
você chega no ápice da montanha...

— Cheryl! — Evan me repreende, se inclinando sobre a mesa para


cobrir os ouvidos da nossa filha com as mãos.
— Foi a melhor explicação que eu achei — digo, dando de ombros,
sorrindo, e me calo.
Evan afasta as mãos dos ouvidos de Chelsea, que me olha com olhos
brilhando em expectativas e pergunta:
— Montanha-russa é muito legal, mamãe, você pode me levar para
brincar no sexo quando eu voltar da viagem com o tio Luke?
Olho para Evan tentando segurar o riso, seu rosto adquire um tom
vermelho e isso é o suficiente para a minha risada escapar, até mesmo Isaac
sem entender começa a rir, o deixando ainda mais irritado.
Me recomponho e foco a minha atenção em Chelsea.
— Chels, preste bem atenção no que a mamãe vai te falar, tá bem? —
Parando para me olhar, ela assente. — Um dia, quando você se tornar adulta,
fará uma lista como a minha e a do seu pai, e irá entender que brincar na
montanha-russa é o de menos quando algo maior ainda virá. E quando esse
algo chegar, pegue-o, Chelsea, e nunca o deixe ir.
— E como eu vou saber o que é esse algo?
PERIGOSAS
PERIGOSAS

— Você não precisa saber. — Espalmo a minha mão em seu coração e


olhando-a diretamente nos olhos, digo: — Você precisa sentir, bem aqui.

Colocando a mão por cima da minha, ela repete as palavras sentir aqui
e sorri, assentindo.
Evan pigarreia chamando a nossa atenção, deixando claro que apesar de
estar brincando com Isaac, sua atenção estava em nós.

A casa ficou vazia depois que Luke veio buscar Chelsea e depois que
Isaac dormiu. E pela primeira vez vejo um ponto negativo em tirar férias em
família: somos apenas nós três por uma semana agora. A ideia era fazer uma
viagem em família, mas Luke colocou na cabeça de Chelsea que seria mais
divertido ir para Santa Monica do que ir para acampar, e infelizmente ele
conseguiu convencê-la.
— Está calada e com esse olhar... No que você está pensando? — Evan
pergunta, ao sair do banheiro somente com uma toalha enrolado na cintura.
Contemplei a visão privilegiada dos músculos perfeitos de suas costas e
da sua bunda sexy.
— Cheryl? — ele chama, virando-se de frente e isso me distrai ainda
mais.
Olho para o seu caminho da perdição, em seguida para palavra
everything tatuada igual a minha na virilha, depois para os músculos e as
tatuagens do peito e braço, parando finalmente nos seus olhos.
PERIGOSAS
PERIGOSAS

Evan aproxima-se, sorrindo maliciosamente, seus joelhos afundam na


cama e sua mão direita segura firme em meu tornozelo. Ele me puxa,
encaixando-me em seu quadril, e mais uma vez olho para a sua tatuagem.
Sorrio desejando que a toalha caia e desejando tocar a sua tatuagem
com meus lábios.
— Para de me olhar como se eu estivesse nu — ele provoca.
— Gostaria muito que você estivesse nu agora — revido a sua
provação.
Sua mão sobe pela minha perna e para em meu quadril, seus dedos
circulam a minha pele, provocando-me arreios.
— Sabe no que eu estava pensando? — pergunto. Ele balança a cabeça,
negando. — Que é engraçado em pensar que a pessoa que nos faz falta agora
é o item que completou a nossa lista.
— Você é impossível, eu não quero imaginá-la brincando de montanha-
russa, Cheryl — ele grunhe, soltando sua frustração.
Dou risada e puxo-o para mim.
— Acredite, nem eu — admito, roçando meus lábios nos dele. — Você
é o algo maior na minha vida, Evan. Eu amo olhar para aquela lista e ver o
que nos tornamos graças a ela.
— Eu te amo, Senhora Walters, e acho que agora eu vou levá-la para
andar na minha montanha-russa, porque eu estou mais que pronto para isso.
Seus lábios me presenteiam com um lindo sorriso travesso. Evan
inclina a cabeça, abaixando-se e me beija com ternura, para em seguida cobrir
meu corpo com o seu, envolvendo-me apertado com os braços de uma forma
que fazia com que eu me sentisse sempre amada e protegida.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Sentir todos os sentimentos ocultos que Evan sentiu por mim era tudo o
que eu precisava para ter o que eu tenho hoje e nós dois sabíamos que palavra
alguma caberia a nós se não everything. Mas hoje, de alguma forma, a
tatuagem feita no nosso primeiro ano juntos se encaixa perfeitamente ao que
somos agora.
Nós somos tudo que precisamos.

PERIGOSAS
PERIGOSAS

Agradecimentos

Esse conto é para todos aqueles que pediram por mais de Chevan, é
para todos que me apoiam todos os dias e que me motivam a continuar.
Obrigada aos leitores, parceiros e amigos que me acompanharam até
aqui. Nós nos vemos novamente em breve, muito em breve...

PERIGOSAS

Você também pode gostar