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O Bebê do Cowboy
2020
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Copyright© LF Freitas
Sinopse
Playlist
Prólogo
Capítulo um – Sucessão de ruínas
Capítulo dois - Invasor
Capítulo três - Invasora
Capítulo quatro - Reconhecimento
Capítulo cinco - Maldito cowboy!
Capítulo seis – Conflitos
Capítulo sete - Descoberta
Capítulo oito - Lembranças evitadas
Capítulo nove - Trégua
Capítulo dez – Disputa
Capítulo onze - Ajuda
Capítulo doze - Susto
Capítulo treze - Acompanhante
Capítulo catorze - Apenas um simples beijo
Capítulo quinze – Nuvens
Capítulo dezesseis – Confissão
Capítulo dezessete - Tempestade
Capítulo dezoito - Abrigo
Capítulo dezenove – Incêndio
Capítulo vinte - Apenas o agora
Capítulo vinte e um – Presente especial
Capítulo vinte e dois – Dias de paz
Capítulo vinte e três – Pesadelo
Capítulo vinte e quatro – Salvamento
Capítulo vinte e cinco - Onde deveríamos estar
Epílogo
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Contatos da autora
Sinopse
Tudo na minha vida sempre foi na base do impulso, seguindo
meus instintos. Era um homem do interior, um cowboy que seguia os
passos do pai e amava a vida na fazenda. Era lá que eu sonhava em
viver junto à mulher que eu amava e aos filhos que eu acreditava que
teríamos... Mas as coisas não aconteceram exatamente assim.
Após uma traição e separação, fui abrigado pelo meu patrão na
casa de férias que seu filho havia praticamente abandonado. O plano
era ficar por lá até minha nova moradia ficar pronta, para reiniciar uma
vida solitária. Até que alguém apareceu por lá sem aviso.
Alice, neta do meu patrão, decidiu passar alguns meses na
fazenda. Tinha perdido o emprego, saído de um relacionamento
tumultuado e... estava grávida.
Éramos apenas duas crianças da última vez que nos vimos, ela
era uma garotinha teimosa, metida a jogar futebol com os meninos.
Vivíamos discutindo, eu não a suportava e isso era recíproco. Quem
diria que ela ao crescer se tornaria uma mulher tão linda que, embora
ainda tão petulante, fosse capaz de mexer tanto com o meu corpo... e
com o meu coração?
Playlist
MARCELO
ALICE
*****
Seis dias depois...
*****
Capítulo dois - Invasor
ALICE
*****
Capítulo três - Invasora
MARCELO
Um mês antes...
*****
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Capítulo quatro -
Reconhecimento
ALICE
*****
MARCELO
*****
Capítulo cinco - Maldito
cowboy!
ALICE
*****
*****
Capítulo seis – Conflitos
MARCELO
Naquele dia, não voltei a ver a neta do patrão. Não
que isso fosse uma questão ou eu estivesse esperando vê-
la, apenas reparei que ela pareceu passar o dia inteiro
dentro de casa. Por mais que ela agora fosse uma mulher
adulta, era difícil desassociá-la daquela menina que mal
chegava aqui e já ia bater perna por toda a fazenda,
geralmente só voltando para casa à noite – e
completamente imunda. Bem, as pessoas crescem e os
interesses mudam.
Agora, eu terminava de dar algumas instruções a um
grupo de empregados da fazenda e voltava para perto de
Hades, quando avistei seu Bernardo chegando em sua
égua. Duquesa era sua maior paixão, já que pertencera à
sua falecida esposa.
— Bom dia, garoto! — ele me cumprimentou, parando
ao meu lado. — Está livre agora? Vou precisar de um favor
seu.
— Bom dia. Não estou, mas não tenho nada de
urgente. O trabalho que faria agora pode ficar para mais
tarde ou para amanhã. Do que precisa?
— Minha neta está começando hoje a trabalhar
comigo. Vai me ajudar com algumas questões
administrativas da fazenda, dentre algumas outras coisas.
Então pedi para ela ir até o centro da cidade, autenticar
alguns documentos no cartório.
— Certo... — continuei olhando-o, tentando entender
onde ele queria chegar.
— E queria que você fosse com ela.
Fiz uma pausa, tentando compreender o pedido.
— Ela não sabe dirigir? Achei que tivesse vindo para
cá em seu próprio carro.
— Ah, ela sabe. E muito bem. Vai com a caminhonete,
aliás.
— Ela esqueceu o caminho até o centro da cidade,
então? Achei que tivesse passado por lá a caminho daqui.
— Claro que não esqueceu. Ainda que tivesse, não há
mistério algum, é praticamente uma estrada só daqui até
lá.
— Não sabe lidar com cartórios então? Se for isso, o
senhor está pedindo ajuda para a pessoa errada, porque
eu também não estou acostumado a essas burocracias.
— Garoto, a Lili sabe muito bem tudo o que tem que
fazer. Tudo o que eu quero é que você a acompanhe.
— E isso por quê?
— Eu já falei que ela não está com o emocional bom.
Olha, se você não puder, posso pedir a Mariana que vá
com ela.
— Não. Eu posso ir. Só achei meio estranho.
— Então obrigado e se apresse, porque ela deve sair
em alguns minutos.
Dito isso, ele deu meia volta com a égua e foi embora.
Ainda fiquei alguns segundos ali parado, sem conseguir
compreender o motivo de tanta preocupação com a neta.
*****
ALICE
*****
MARCELO
Do outro lado da rua, pude ver que um homem na
porta do cartório se aproximou e disse algo no ouvido dela,
e isso imediatamente acendeu-me um alerta. Depois de
todo aquele papo furado sobre sequestradores, nada
poderia me garantir que aquele não fosse um, mas é claro
que essa era uma possibilidade muito remota. Havia 99%
de chance de ser um idiota com alguma cantadinha barata.
Lógico, podiam ser várias outras coisas. Ele poderia
ter perguntado as horas, ter feito a propaganda de alguma
pensão para comer – já que estávamos quase na hora do
almoço –, podia ter pedido uma informação ou meramente
comentado a respeito do tempo. Contudo, logo que ela
entrou e ele se virou em minha direção, pude ver seu rosto
e o reconheci. Diego era um pouco mais velho que eu, mas
estudamos juntos no ensino médio e ele era conhecido na
escola por ser um completo babaca que vivia importunando
as meninas. Uma vez ele se metera a besta com a
Cristiane e isso causou uma briga entre nós dois. Cheguei
a levar alguns socos, mas estava certo de que ele tinha
levado a pior. Até hoje deveria sentir dores na costela
quebrada quando eu o derrubei com um chute. Nunca mais
se meteu com Cristiane, nem com nenhuma outra garota
do colégio até concluirmos os estudos.
Agora, anos depois, ele parecia ainda ser o mesmo
filho da puta inconveniente.
Fiquei ali parado, olhando atentamente para a porta do
cartório, aguardando que Alice saísse. Vi que Diego se
afastou um pouco, indo conversar com alguns caras
sentados em cadeiras na calçada na frente de um bar. Não
duvidava que estivesse tão bêbado quanto eles.
Passou-se cerca de dez minutos, até que Alice
finalmente saiu. Percebi que Diego voltou a se aproximar, e
novamente disse alguma merda no ouvido dela. Dessa vez,
eu não tive qualquer resquício de dúvidas de que seria
algum comentário inconveniente, pois, parecendo furiosa,
Alice se virou de frente para ele, apontando o dedo em sua
cara e respondendo algo. Apressei-me em ir até lá,
chegando no momento em que o verme se ‘defendia’:
— Qual é, gata? Foi só um elogio.
— Então pega esse seu ‘elogio’ e enfia no seu...
— Algum problema aqui, Alice? — falei com a voz alta
e grave, parando atrás dela. Como era no mínimo uns vinte
centímetros mais alto, pude, por cima da cabeça dela,
encarar Diego, que pareceu momentaneamente
desconcertado em me ver.
As costelas ainda deviam doer...
— Foi mal aí, Marcelo, não sabia que você estava com
uma gata nova.
Alice me olhou por um momento, aparentemente
surpresa com a minha intervenção, mas logo voltou-se
para Diego, parecendo não ter gostado nadinha do
comentário.
— Por que pede desculpas para ele quando foi para
mim que você falou um monte de merdas?
— Que monte de merda, gata? Falei que você é
gostosa, tô mentindo, por acaso?
Dei alguns passos, passando à frente de Alice e
ficando cara a cara com Diego.
— Você ouviu. Não é a mim que deve desculpas.
— Eu não vou pedir desculpas a uma mulher por um
elogio. E se ela não é sua namorada, não devo nem
mesmo a você.
— Peça desculpas à moça — repeti de forma
pausada, para ver se ele entendia que minha paciência
estava por um fio.
— Não vou pedir porra nenhuma! — Ele se aplumou,
tentando ficar na mesma altura que eu. Pude sentir pelo
bafo que estava embriagado. Isso explicava o súbito de
coragem.
— Marcelo, vamos embora — ouvi a voz de Alice atrás
de mim, mas ignorei, continuando a encarar Diego.
— Já disse que não vou me desculpar porra nenhuma.
Qual é a sua, cara? Tem certeza de que não está trepando
com a vadiazinha aí... — Eu impedi que ele concluísse a
frase, acertando-o com um soco certeiro bem no meio da
cara.
Ele cambaleou e apenas não caiu porque dois de seus
amigos chegaram para ampará-lo. Contudo, ele pareceu
completamente desnorteado com o soco, não esboçando
qualquer reação.
Eu ia falar mais alguma coisa, mas detive-me ao ouvir
uma voz feminina e desconhecida atrás de mim:
— Menina, você está bem?
Virei-me, encontrando a senhora que costumava
cuidar da banca de jornais, amparando Alice, que estava
com os olhos fechados e uma das mãos sobre a testa.
Aproximei-me, preocupado.
— Alice? Está tudo bem?
Ela abriu levemente as pálpebras e entreabriu os
lábios, parecendo tomar fôlego para responder. Mas antes
que conseguisse, seu corpo cambaleou e ela teria caído se
eu não a tivesse segurado.
— Alice? Alice, acorde! Alice, fale comigo!
Ela não respondeu. Havia perdido a consciência.
Peguei-a nos braços e a tirei dali.
*****
Capítulo sete - Descoberta
MARCELO
Vale das Orquídeas era uma cidade pequena, mas
tínhamos um ótimo hospital municipal, localizado em uma
das ruas do centro. Nem pensei duas vezes antes de levar
Alice até lá.
Ela já começava a recuperar a consciência quando
chegamos, mas ainda assim providenciaram uma cadeira
de rodas e um enfermeiro a levou para dentro. Eu fiquei ali
na recepção, parado como um babaca, esperando por
notícias. Passado algum tempo, uma médica saiu da porta
da enfermaria para onde ela tinha sido levada. Fui até lá,
detendo-a antes que entrasse em outra sala.
— Desculpe, doutora. Eu sou acompanhante da
Alice. Poderia me dar alguma notícia a respeito do quadro
dela?
A médica sorriu.
— Fique tranquilo. Foi apenas uma queda de glicose.
Ela disse que tomou café muito cedo e ainda não almoçou.
Soltei o ar, sentindo uma enorme sensação de alívio.
Tinha sido apenas um desmaio, mas fiquei preocupado em
ser algo mais sério.
— E como ela está agora?
— Bem melhor. Está no soro, logo que terminar ela
estará liberada.
— E ela vai precisar de algum cuidado especial ou
alguma medicação?
— Não, pode ficar tranquilo. Por hoje, recomendo que
ela descanse. Ah, e é claro, não faça mais o que ela fez.
Não pode ficar tantas horas sem se alimentar, ainda mais
nas condições dela.
— Desculpe... condições?
— É. A gravidez. Aliás, parabéns pelo bebê!
Ela apertou o meu ombro, enquanto eu continuei
olhando-a, confuso. Parabéns? Pelo quê? Bebê? Grávida?
Alice estava grávida?
Bem, isso explicava algumas coisas.
Outro paciente chegou e a médica pediu licença, indo
atendê-lo. Continuei ali na recepção parado, recapitulando
aquelas palavras. Até que, em alguns minutos, Alice
retornou, de fato parecendo bem melhor.
— Podemos ir? — ela indagou logo que chegou a
mim.
Balancei a cabeça e saímos calados. Seguimos
caminhando pela rua em direção ao local onde tínhamos
deixado o carro. Até que ela quebrou o silêncio, parecendo
preocupada.
— Está tudo bem com você?
— Eu é que devia perguntar. Foi você quem desmaiou.
— É, mas é você que está com a cara de quem viu
uma assombração.
Já que minha cara denunciava a minha surpresa,
decidi expô-la em voz alta:
— É que... Você está grávida.
— É, eu sei. Qual o problema nisso?
— Mas você disse que veio para cá porque não
tinha nada a perder.
— É, e não tenho.
— Mas e o pai dessa criança?
Ela suspirou, parecendo cansada.
— Não sei se você sabe, mas não é preciso estar
casado para se fazer um filho.
— Claro que eu sei disso. Mas como o cara vai
poder ver o filho?
— Eu acho que ele não está muito interessado
nisso.
Dito isso, ela apressou o passo, caminhando à
minha frente. E eu me senti um idiota pela minha
indiscrição. Contudo, era estranho demais conceber que
um homem – se é que merecia ser chamado assim – podia
não se importar com o fato de ter um filho.
Ela destravou a caminhonete e ia abrir a porta do
lado do motorista, mas fui rápido ao levar a minha mão até
lá para detê-la.
— Não, nem pensar. Eu dirijo — comuniquei.
Como esperado, ela não pareceu gostar nadinha
disso.
— Eu nos trouxe até aqui em segurança, não é?
— Isso foi antes de você ter um desmaio no meio da
rua. Imagina se tem isso no volante?
— Foi só uma queda de glicose. Tomei uma bolsa
inteira de soro, estou ótima agora.
— Ótima ou não, não vamos arriscar. Ainda mais
com você... do jeito que está.
Ela ergueu uma sobrancelha, me olhando com uma
expressão levemente incomodada.
— E qual seria “o jeito que eu estou”?
— Você sabe. Está grávida.
— E daí? No que isso me impede de dirigir?
— Pelo amor de Deus, moça. Apenas pare de
querer transformar tudo em uma discussão e me dê essa
chave.
— Não vou te dar nada. Já disse: eu vim dirigindo, e
vou voltar da mesma forma. Ou você senta no banco do
carona ou, se preferir, vá sozinho a pé.
Sem esperar por respostas ela empurrou a minha
mão e abriu a porta. Dei a volta, entrando pelo outro lado
antes que ela cumprisse a ameaça de me deixar a pé.
— Não tem motivos para ser tão teimosa! —
reclamei, enquanto colocava o cinto.
— Na verdade, você é que não tem motivos para
julgar que eu não tenho capacidade para dirigir.
— Quem falou em capacidade? Estou falando de
condições.
— Vê se entende: eu não estou doente.
— Mas você acabou de passar mal, pode passar de
novo e se colocar em risco. Está grávida, porra! Pensa no
seu filho.
Ela me encarou de forma séria por um momento e
cheguei a ter a esperança de que fosse voltar atrás em sua
teimosia. Porém, não foi o que aconteceu. Ela apenas
voltou a virar o rosto para frente e deu a partida no veículo.
— Por que diabos você é tão teimosa? —
resmunguei, também olhando para a frente.
— Não sei. Me responda você: por que diabos é tão
ignorante?
— É ignorância agora pensar na sua segurança?
— Já disse que não preciso nem de babá e nem de
guarda-costas. Sou bem grandinha e sei me cuidar muito
bem.
Decidi que não valia mais a pena discutir e optei por
ficar calado. Ela, aparentemente, decidiu o mesmo. E todo
o trajeto até a fazenda foi feito por nós no mais absoluto e
incômodo silêncio.
*****
ALICE
*****
Minha ideia inicial era caminhar, mas havia tanto o que
eu queria rever ainda naquele dia, que decidi que seria
mais eficaz ir a cavalo. Sendo assim, segui direto até o
estábulo. Lá reencontrei Antônio, mais um funcionário
antigo do meu avô, que há muitos anos cuidava dos
cavalos. Como era a primeira vez que eu o via desde que
cheguei à fazenda, ainda passei alguns minutos
conversando com ele, contando que tinha vindo para ficar
por um tempo mais longo, e perguntando sobre a família
dele. Ele contou, todo orgulhoso, que seu filho tinha ido
para São Paulo estudar e estava quase concluindo a
faculdade de Direito.
Após algum tempo conversando, perguntei:
— Algum cavalo disponível para mim? Queria dar uma
volta pela fazenda.
— Claro, garota. Tem preferência por algum?
Ah... eu tinha! Mas não acreditava que minha favorita
estivesse disponível.
— Meu avô deve ter saído com a Duquesa, né?
— Ah, não. Ele levou o Duque. Costuma alternar entre
os dois, para não cansar muito os animais. Hoje a Duquesa
saiu pela manhã.
Duque e Duquesa eram os xodós do meu avô – e, até
alguns anos, da minha avó também. Os dois tinham quase
a minha idade, o que para um cavalo já era considerado
como uma idade mais avançada. Eles estavam ótimos de
saúde, mas era importante reduzir aos poucos a carga de
atividade física, para evitar maiores desgastes.
— Se ela já saiu hoje, melhor que descanse agora,
não é? — comentei.
O senhor Antônio, contudo, negou.
— O senhor Bernardo exagera um pouco na
preocupação. Duquesa está ótima, não vai se cansar se
fizer um passeio leve. Apenas não exagere.
— Não pretendo exagerar — concluí, feliz.
Ele foi preparar a Duquesa para mim, e retornou
minutos depois, trazendo-a já selada. Aproximei-me, indo
cumprimentá-la.
— E aí, garota? Quanto tempo. Você agora já é uma
jovem senhora, não é? — fazia carinho nela enquanto
falava. — Será que está a fim de me acompanhar em um
passeio? Se não estiver disposta, não tem problema, viu?
Ela mexeu a cabeça contra minhas mãos, como se
pedisse para intensificar o carinho. Parecia que também
tinha sentido a minha falta. Sorri, entendendo aquilo como
um sim.
*****
Capítulo oito - Lembranças
evitadas
ALICE
Havia muito tempo que eu não ia ali, mas tudo
continuava do mesmo jeitinho como eu me lembrava.
Pouca coisa mudara. A maioria dos funcionários
permaneciam os mesmos, com exceção de alguns que se
aposentaram e outros mais jovens que entraram no lugar.
Os meus lugares favoritos continuavam lá. O lago,
onde eu amava mergulhar, seguia tão límpido e convidativo
como sempre foi. Estava bem quente nesse dia e eu
confesso que fiquei tentada a das uns mergulhos, mas
achei melhor deixar para outro momento. Passei, também,
pelo enorme flamboyant vermelho próximo ao lago. Aquele
costumava ser o meu local favorito quando criança, mas as
lembranças dele ainda eram tão fortes que não quis parar
ali. Memórias boas também podem nos trazer sofrimento
às vezes.
Segui, então, para o meu segundo lugar preferido. O
campinho de futebol onde tudo tinha começado. Desmontei
de Duquesa e me aproximei, reparando que, como nos
velhos tempos, o lugar era tomado por crianças da região.
Conforme me aproximava, notei que o grupo era formado
por oito crianças – seis meninos e duas meninas – além de
um adulto que, à primeira vista, não reconheci. Ao contrário
dele que logo que me viu abriu um largo sorriso.
— Mas vejam só! Quem é vivo sempre parece! — ele
falou alto para que eu, mesmo ainda a certa distância,
ouvisse. Estava formando um círculo com as crianças,
treinando passes de bola.
Olhando-o um pouco melhor, enfim me lembrei. Estava
agora crescido – assim como eu – mas não tinha mudado
tanto assim. Ainda tinha os mesmos cabelos castanhos e
cacheados e os mesmos olhos azuis realçados pela luz do
sol. Cassio era cinco anos mais velho que eu, e confesso
que, no auge dos meus treze, catorze anos, ele era o que
as meninas hoje chamariam de crush. Não apenas por ser
lindo, mas porque ele era muito legal comigo, e sempre
chamava a atenção dos meninos que implicavam com a
minha vontade de jogar futebol.
E, bem... ele era o meu ídolo mais próximo naquele
esporte também. E meu primeiro instrutor, mesmo que de
forma ainda um pouco amadora.
— Algumas coisas não mudam, não é? — brinquei.
Ele veio até mim e nos abraçamos. — Como você está?
— Ótimo. Melhor agora, revendo você. — Para
qualquer pessoa que não o conhecesse, aquilo poderia
soar como um estilo pseudo-galanteador adepto a
cantadas baratas. Mas não era isso. Cassio tratava todas
as pessoas com igual gentileza e simpatia. — Tenho
acompanhado sua carreira. Nunca duvidei que você iria
voar tão alto, garota.
— Se acompanha, já deve saber que não fui tão alto
assim, não é?
— A notícia que tive é que você se desligou da equipe,
mas não sei os motivos. Confesso que andei perguntando
ao senhor Bernardo, mas ele não me deu detalhes, disse
que você me contaria quando chegasse.
Suspirei profundamente.
— Não me desliguei da equipe. Na verdade, fui
desligada. O contrato foi reincidido por eles, não por mim.
— Por que fizeram isso? Você está na sua melhor
fase.
— Aparentemente não estou mais. Jogadoras grávidas
costumam representar prejuízos para a equipe.
Ele deu um passo para trás, olhando para a minha
barriga. Então voltou a me olhar no rosto, parecendo em
choque.
— Não é possível, menina. Você está grávida?
Ah, claro... ele ainda me chamaria assim, mesmo que
eu já tivesse os meus vinte e dois anos. A adolescente
apaixonada em mim não gostava muito disso. Mas a
mulher adulta apenas achou fofo.
— É, estou. E vou permanecer por aqui até o bebê
nascer, e... então decidirei o que fazer.
— Espero que decida voltar a jogar. O esporte não
pode perder alguém como você.
Pensei em dizer que lamentava que tivessem perdido
– ou nem mesmo chegado a ganhar – alguém como ele.
Cássio, desde moleque, era um jogador além da média,
mas nunca chegara a jogar profissionalmente. Segundo
meu avô me contara, hoje ele ganhava a vida como
instrutor infantil e trabalhava em uma escolinha de futebol
em uma cidade vizinha, mas não abria mão de dar aulas
gratuitas a crianças daqui. Meu avô deixava que ele usasse
o campinho da fazenda para isso. Aparentemente era o
que fazia no momento.
— Esses são seus novos alunos? — perguntei,
apontando para o grupo de crianças que agora continuava
o treinamento sozinhas.
— Parte deles. Muitos deles ajudam os pais no
trabalho das terras, então só podem treinar uma vez por
semana. Por isso montei três grupos semanais. São vinte e
cinco crianças ao todo.
— Nossa. Já poderia criar a sua própria escola.
— O plano é esse. Não uma escola, mas um centro
comunitário. Já tenho o local para isso, só preciso
conseguir alguns patrocinadores para conseguir manter
tudo, contratar funcionários e tudo mais. Quero expandir
para outros esportes, então vou querer contratar outros
professores.
— Nossa, que ideia maravilhosa, Cassio. Tenho
certeza de que você vai conseguir, e que será um enorme
sucesso. Vai conseguir ajudar muitas crianças com isso.
Muito mais do que já ajuda ou ajudou.
— E quem sabe alguns deles se tornem profissionais
como você virou?
— Ah... no momento estou meio que aposentada.
— Está de licença-maternidade, é diferente. Anda,
vem, vou te apresentar para as crianças.
Antes que eu pudesse responder ele começou a me
puxar campo adentro. Logo que me aproximei das
crianças, elas me olharam, todas fazendo uma expressão
de surpresa. Fiquei pensando sobre se teriam me
reconhecido, quando uma das meninas confirmou tal
suspeita:
— É a Alice Antunes! — ela vibrou. E os demais a
acompanharam, animados. Olhei para Cassio, sabendo
que ele tinha alguma participação naquilo.
— Andou falando de mim para eles?
— Gravei alguns jogos para eles assistirem. É
importante para crianças conhecerem alguém que veio do
mesmo lugar que eles e chegou a algum lugar.
— Eles não precisam de mim como exemplo. Eles têm
você.
Antes que ele conseguisse responder, fui surpreendida
por um abraço coletivo dado pelos pequenos. Correspondi,
em seguida pedindo que cada um deles me dissesse o seu
nome, o que eles fizeram com um enorme empolgação.
Iniciamos uma conversa bem descontraída, e logo um dos
meninos me pediu para ‘fazer uma demonstração’ para
eles, e tal ideia empolgou a todos. Não poderia negar
aquele pedido, por isso peguei a bola, iniciando uma série
de embaixadinhas. Os pequenos vibraram, e Cassio
também. Contudo, logo a brincadeira foi interrompida
quando alguém subitamente surgiu à minha frente,
agarrando a bola no ar com as mãos, tirando-a do meu
alcance. Mal consegui acreditar quando vi quem era.
— Ei! — protestei.
Mas qual era o problema daquele maldito cowboy?
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MARCELO
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ALICE
Cowboy idiota.
Idiota, idiota, mil vezes idiota!
Como ele podia se meter a querer me dar ordens, ou a
saber o que eu podia ou não fazer?
Aliás, como ele podia falar comigo daquela maneira?
Como podia se meter a me dizer o que era certo ou
errado?
E como podia jogar aquele argumento... justo aquele
argumento contra mim? Era como se ele soubesse da
dimensão das perdas do meu avô. E como se soubesse a
minha parcela de culpa naquilo.
Deixei Duquesa na baia e segui para casa apressada,
subindo as escadas correndo até o meu quarto, onde me
fechei. As lágrimas que lutei tanto para segurar agora
desciam livres pelo meu rosto, assim como as memórias
tomaram a minha mente. Desde que cheguei ali que eu as
vinha evitando, mas agora já estavam incontroláveis.
Lembrar da minha avó não era algo ruim. As
recordações do rosto, da voz, do cheiro dela... tudo isso
aquecia o meu coração. Mas quando elas vinham, quase
inevitavelmente terminavam na forma como ela nos deixou.
Se eu não tivesse insistido tanto para que ela fosse
me ver naquele dia... Ela ainda estaria por aqui.
Aquele cowboy idiota tinha toda a razão. Meu avô
tinha sofrido demais com a perda da mulher que amara
durante toda a vida.
E nada nunca tiraria da minha cabeça que eu tinha
uma parcela de culpa em tudo aquilo.
Deitei-me na cama, abraçando o travesseiro com força
e deixando todo o choro acumulado vir à tona.
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Capítulo nove - Trégua
MARCELO
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Capítulo dez – Disputa
MARCELO
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Capítulo onze - Ajuda
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Capítulo doze - Susto
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MARCELO
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Capítulo treze -
Acompanhante
MARCELO
Conforme o combinado, às oito da manhã eu estava
dentro da caminhonete, parado bem em frente à varanda
da casa, esperando por Alice. Por qualquer razão estúpida,
eu mal havia conseguido pregar o olho naquela noite.
Enganava-me dizendo que era pelo susto passado no dia
anterior com o seu Bernardo, ou pelos problemas na
fazenda que tive ou que ainda teria para resolver naquela
semana, ou mesmo pela obra da minha casa, que estava
levando mais tempo que o programado. Mas no fundo eu
sabia que nada daquilo era verdade. Estava ansioso como
uma porra de um adolescente que iria sair com a garota
que gosta.
Mais do que isso: estava ansioso pelo exame como se
eu tivesse algo a ver com aquela criança.
Logo Alice chegou e, pela primeira vez desde que nos
reencontramos, entrou no carro sem discutir. Ela nem ao
menos insistiu em dirigir, o que era algo inédito. Percebi
pelo seu olhar que ela parecia cansada. É claro! Se eu
estava ansioso por aquela consulta, nem poderia imaginar
como ela estaria.
Liguei o carro e saímos da fazenda, pegando a
estrada.
— Como está o seu Bernardo? — perguntei, não
apenas para puxar assunto, mas também por de fato estar
preocupado.
— Teve um pouco de febre essa noite, mas agora de
manhã está melhor. E de novo insistiu que queria sair.
— Vai ser meio difícil fazê-lo ficar quieto por mais seis
dias.
— Ah, mas vou dar um jeito. Falei para Mariana que,
se for preciso, pode trancá-lo dentro de casa hoje caso ele
insista em sair.
— Não duvido que isso seja realmente necessário. —
Rimos juntos, e eu resolvi mudar de assunto. — Está muito
ansiosa por hoje, não é?
— É. Quero muito saber como está o bebê, e...
descobrir se é ele ou ela, para poder parar de chamá-lo
apenas de “bebê”.
— Já tem ideia dos nomes?
— Já, sim. Sempre tive, aliás.
— Pode me contar quais são? Isso é, se não for algum
tipo de segredo ou coisa parecida.
Mesmo sem olhá-la, percebi que ela sorria.
— Se for menina, será Beatriz. Se for menino,
Bernardo.
Sorri, achando lindas as escolhas.
— Os nomes dos seus avós... É uma merecida e justa
homenagem.
— Então, mas realmente isso ainda é meio que um
segredo. Ainda não contei para o meu avô. Será uma
surpresa para quando o bebê nascer.
— Para quando nascer o Bernardo ou a Beatriz.
Ela sorriu.
— É. Exatamente. Posso contar contigo para esse
segredo?
— Claro. E, só para não correr o risco de falar demais,
quem mais sabe?
— Na verdade, só você. Não contei ainda para mais
ninguém.
Balancei a cabeça, pego de surpresa e sem saber o
que dizer. Podia parecer uma coisa boba, mas era um
pequeno segredo que ela confidenciava apenas a mim.
Senti-me um idiota por ficar tão emocionado com isso, mas
era como eu me sentia.
Ela rapidamente mudou o assunto, falando sobre seu
trabalho na fazenda e contando sobre o problema com um
dos fornecedores. E o trabalho passou a ser o assunto
dentro daquele carro, até que chegássemos à clínica
médica. Ela deu os dados na recepção e nos sentamos
lado a lado na sala de espera, aguardando até que ela
fosse chamada. Percebi que as pernas dela estavam
inquietas e ela as balançava sem parar. Agindo por
impulso, segurei a mão dela com a minha, garantindo logo
que ela me olhou nos olhos:
— Fique calma, vai dar tudo certo.
“Vai dar tudo certo”... Aquele era o tipo de comentário
a ser feito antes de uma competição ou de algum trabalho,
não de um exame pré-natal. No entanto, fiquei feliz quando
Alice respondeu com um sorriso. Mas antes que ela
dissesse qualquer coisa, uma enfermeira se aproximou,
chamando:
— Senhora Alice? Pode vir, por favor? Seu exame
será na sala três.
Ela assentiu e soltou a minha mão, levantando-se.
Antes que pudessem se afastar, no entanto, a enfermeira
olhou para mim e completou:
— O senhor também pode vir. É muito importante para
a mãe ter a presença do pai do bebê nesse momento.
Após jogar aquela bomba, a mulher deu meia volta e
dirigiu-se até a sala citada. Alice e eu nos entreolhamos,
ambos nitidamente constrangidos.
— E...eu... eu... — ela gaguejou, com seu rosto
ficando cada vez mais vermelho. Meus Deus, ela ficava
ainda mais linda assim! — ...peço desculpas por isso. Em
momento algum eu disse a alguém que você seria...
— Não... que isso, Alice. Foi só um engano dela, não é
nada demais.
— Claro... um terrível engano. Mas fica tranquilo, você
não é obrigado a me acompanhar. Imagina, esse tipo de
coisa deve ser meio entediante para um cara como você.
Ela se virou e eu, num impulso, me levantei e a agarrei
pela mão, evitando que ela se afastasse. Minha vontade
inicial era dizer que nada sobre ela e seu bebê poderia ser,
de forma alguma, entediante para mim, mas detive-me a
tempo, sabendo o quanto isso seria extremo. No entanto,
não pude evitar externar o meu próximo pensamento:
— Eu realmente ficaria feliz em acompanhar você.
Claro, caso você queira a minha presença.
Para o meu imenso alívio, ela sorriu e sua resposta foi
a melhor que eu poderia ouvir:
— E eu ficarei feliz em ter a sua companhia. Vai ser
algo importante e eu odiaria estar sozinha.
— Bem, eu não sou o pai da criança, nem um parente
seu, mas... Se a minha companhia servir, será um prazer.
— A companhia de um amigo ajuda muito.
A frase criou em mim sentimentos desencontrados e
um tanto extremos.
Por um lado, eu ficava feliz em ouvir que ela confiava
em mim e me tinha como um amigo. Bem mais feliz do que
eu deveria ficar.
Por outro, uma onda de chateação se apossava de
mim, como se ser apenas amigo dela não fosse o bastante.
Bem mais chateado, também, do que deveria ficar.
Por que diabos tudo o que eu sentia com relação
Àquela mulher parecia ser tão intenso?
*****
ALICE
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Capítulo catorze - Apenas
um simples beijo
MARCELO
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ALICE
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Capítulo quinze – Nuvens
Respirar - Sandy
MARCELO
MARCELO
— Quando eu tinha quinze anos, fui escolhida entre
um grupo de meninas para um time de futebol feminino da
minha cidade. Não era um clube de importância nacional,
mas era algo grande pra mim, até então. Foi a minha
primeira conquista, sabe? Tivemos uma ótima performance
no campeonato estadual da divisão e chegamos à final. Era
um jogo muito importante e eu fiz meus avós jurarem para
mim que estariam lá.
Pensei em fazer um comentário sobre como eles
deviam estar empolgados com isso, mas detive-me ao me
atentar na idade dita por ela. Sabia que ela era apenas um
ano mais nova que eu, então aquele espaço de tempo
batia com o ano de morte de dona Beatriz. Isso, unido a
como ela faleceu, me dava uma dica de onde Alice queria
chegar com aquele relato.
Não estava certo se eu queria que ela chegasse lá,
imaginando a carga de sofrimento que tais lembranças
acarretariam. Mas se ela precisasse desabafar e se
sentisse à vontade para fazer isso comigo, eu iria ouvi-la.
Ela prosseguiu:
— Nós ganhamos aquele jogo, mas lembro do
quanto eu fiquei chateada por meus avós não estarem na
arquibancada. Quando saímos de lá, meus pais me
levaram para almoçar fora, e eu passei o tempo inteiro
reclamando da ausência dos meus avós, por eles terem
prometido que iriam, mas terem falhado comigo. Meu pai
estava meio estranho, mas eu era só uma adolescente
rabugenta imersa em seu próprio drama particular e sequer
dei bola para isso. Depois eu fiquei sabendo que ele tinha
passado o jogo inteiro tentando ligar para os pais, mas os
celulares dos dois só caíam na caixa postal, e por isso ele
estava preocupado e apreensivo, mas não queria passar
essa preocupação para mim, por isso não comentou nada
a respeito durante o jantar. A gente estava quase indo
embora quando o celular do meu pai tocou. Era do hospital,
para avisar sobre o acidente. Meu avô estava ferido e
minha avó, naquele momento, já estava morta.
Ela novamente se calou e eu não soube o que dizer.
Sabia que dona Beatriz tinha morrido em um acidente de
carro, e que na ocasião ela e seu Bernardo estavam a
caminho da casa do filho. Lembro que estava chovendo
muito naquele dia, e cheguei a me perguntar por que eles
não tinham deixado para ir no dia seguinte. Para mim, era
apenas uma visita cotidiana à família, não imaginava que
estivessem indo para um compromisso específico.
Achei que aquele desabafo de Alice fosse apenas
devido às lembranças do dia da morte da avó, já que as
duas eram muito grudadas uma à outra. Contudo, não
imaginava que o pior ainda estaria por vir.
— Todo mundo percebeu minha tristeza pela morte
da minha avó, mas achavam que, como todo luto, em
algum momento se tornaria mais suportável para mim e eu
conseguiria seguir a minha vida. A saudade da minha avó
me dilacerava, mas não era só isso. Eu tinha insistido tanto
para eles irem, enfatizado tanto que queria que estivessem
lá para assistir ao jogo, que eles decidiram pegar a estrada
mesmo com o tempo ruim. Então, eles se arriscaram, para
atenderem aos caprichos de uma neta adolescente
mimada e egoísta.
— Ei, Alice! — chamei a atenção dela. Não podia
permitir que continuasse pensando daquele jeito. — Você
não era mimada e egoísta. Apenas queria as pessoas que
ama por perto em um momento especial. Morava a
duzentos quilômetros daqui, certamente nem sabia que o
tempo aqui estava ruim para pegar a estrada. Você era
uma menina que convidou os avós para assistirem a um
jogo seu. Nada dentro dessa cena faz de você culpada.
— Hoje, adulta, eu consigo olhar para trás e
entender isso. Mas naquele momento eu não entendi.
De alguma forma, eu consegui perceber que aquela
história não terminava por ali. Segurei a mão de Alice junto
à minha, tentando passar a ela um pouco de força para
continuar. Sabia que ela queria falar. Mas do que isso: que
ela precisava colocar aquilo para fora.
— A minha tristeza demorou para passar, mas como
todo mundo achava que era só uma tristeza comum,
ninguém deu atenção demasiada a isso. Meus pais
trabalhavam fora e eu estudava pela manhã, por isso, nos
dias que não tinha treino, ficava sozinha em casa na parte
da tarde. Em um desses dias, a dor dessa tristeza estava
forte demais, então eu cheguei da escola, abri a caixa onde
guardávamos remédios, e... simplesmente peguei todos os
comprimidos que encontrei e engoli. Por uma coincidência
que minha mãe até hoje credita a um milagre de Deus,
nesse dia ela precisou ir para casa no meio do expediente
para pegar um documento importante que tinha esquecido,
e já me encontrou desmaiada. Tudo o que eu lembro é de
tomar os remédios e de acordar já em um hospital, dois
dias depois. Viva, mas entubada e com uma dor de
estômago tão forte que parecia proposital, apenas me
lembrar da merda que eu tinha feito. E me avisar, sem
qualquer sombra de dúvidas, que eu ainda estava viva.
Novamente, ela se calou, e eu me vi subitamente
sufocado naquele relato. Eu via a preocupação de seu
Bernardo com ela como uma mera superproteção, jamais
poderia imaginar que Alice tivesse passado por algo assim.
Como era possível que aquela garota incrível tivesse
um dia pensado em acabar com a própria vida? Como era
possível que tivesse chegado tão perto de conseguir isso?
Queria dizer alguma coisa, mas não consegui. As
palavras pareceram travar em minha garganta, me
sufocando ainda mais, deixando um gosto amargo na
minha boca. Ainda deitado ao lado dela, fitei seu rosto, que
ainda olhava para o céu com um semblante triste, embora
sereno. Apertei sua mão com mais força, tentando
demonstrar que eu estava ali.
Após alguns segundos, ela voltou a falar:
— Fiz anos de terapia depois disso, tive
acompanhamento psiquiátrico, fui medicada... Cheguei a
ficar alguns meses sem jogar, mas quando voltei, o futebol
me ajudou muito a superar essa fase mais tensa da
depressão. Meu avô passou dois meses morando com a
gente, e às vezes ele ia no meio da noite até o meu quarto
só pra ver se eu ainda estava respirando. Minha mãe
passou a ter crises de choro quase diárias, e em todas elas
me fazia jurar que nunca mais faria aquilo novamente. Meu
pai segurou a onda melhor que eles dois, mas eu sei que
minha atitude também o destruiu por dentro. E... bem...
essa é a história de como a minha família passou a vigiar
os meus passos como se eu não pudesse passar cinco
minutos inteiros sozinha sem representar uma ameaça a
mim mesma.
— Eles fazem isso por medo de te perder.
— É. E eu causei esse medo a eles. Mais uma culpa
para o meu currículo.
— Não se sinta culpada. Em maior ou em menor
escala, todos têm medo de perder aqueles que amam. E
não ache que por se preocuparem tanto, eles não confiem
em você. Hoje mesmo, seu avô ouviu que você tinha saído
sozinha e não demonstrou nenhum temor quanto a isso.
Ele sente que você está bem, por isso fica mais seguro.
Mas confesso que agora quem está com medo sou eu,
porque você não parece estar tão bem assim.
Ela virou o rosto, finalmente olhando para mim. Seus
olhos estavam marejados, mas ela incrivelmente abriu um
leve e sincero sorriso.
— Na verdade, eu estou. Sinto saudades da minha
avó, queria que ela estivesse aqui para acompanhar a
minha gravidez e conhecer o bisneto, mas... é apenas isso.
— Jura?
— Juro. Mas... por que você está com medo?
A pergunta feita tão repentinamente não me deu
margem para mentiras.
— Porque me importo com você.
Ela piscou, parecendo pega de surpresa pela
resposta. Ficamos em silêncio por alguns instantes, até
que foi a vez de ela me surpreender, aproximando o rosto
do meu e me beijando. Foi rápido, sem qualquer malícia,
mas pude sentir que havia sentimento ali. Eu já sabia que
eu a atraía, assim como ela a mim. Havia tesão, desejo
entre nós. E pelas nossas conversas e nossos momentos
juntos, sabia também que existia uma amizade. Mas ali,
naquela conversa, naquele beijo, senti que existia algo
mais. Havia um sentimento. Maior que o desejo, maior que
a amizade. Embora eu não soubesse ainda descrever o
que era.
— Você é um homem maravilhoso — ela declarou,
parecendo ler os meus pensamentos. — Merece encontrar
uma mulher maravilhosa e descomplicada.
— E você seria complicada por quê?
— Uma grávida abandonada, desempregada e com
histórico de tentativa de suicídio na adolescência. Não sou
exatamente o pacote dos sonhos de um homem.
— Você é muito mais do que um cara como eu
poderia sonhar. E, sobre ser complicada... me diga quem
não é? Olha só pra mim, encontrei minha esposa na nossa
cama com outro homem bem no dia do nosso aniversário
de casamento.
— Isso faz dela uma pessoa complicada, não você.
Mas... você ainda a ama?
Eu não estava preparado para tal pergunta. No
entanto, a resposta saiu naturalmente:
— Eu achava que sim. Hoje me pergunto se algum
dia cheguei a amá-la de verdade. Nós éramos
acostumados um ao outro, namorávamos desde bem
jovens. Achei que não fosse suportar viver sem ela, mas a
verdade é que às vezes passo dias sem sequer me lembrar
dela.
Ela balançou a cabeça, parecendo entender. E eu
me perguntei até onde ia aquele entendimento. Se
estávamos sendo sinceros, decidi me arriscar na pergunta:
— E você? Ainda ama o seu ex?
Ela desviou os olhos por um momento, parecendo
hesitar na resposta, e isso me destruiu por dentro. Se ela
dissesse que ainda o amava, eu sinceramente não sabia
como iria reagir. Eu apenas não queria ouvir aquilo.
Ela tomou impulso e ergueu o tronco, se sentando.
— Confesso que também estava feliz por passar
dias... ou melhor, semanas sem ao menos lembrar da
existência dele. Mas isso não tem sido mais possível, e
isso não é de uma forma boa.
Repeti o gesto dela, também me sentando. O tom de
voz dela estava carregado de rancor e isso acendeu em
mim um alarme.
— O que quer dizer? Ele te procurou? Está te
ameaçando ou coisa do tipo? — Eu iria caçá-lo até no
inferno caso fosse esse o caso.
— É, ele me procurou. Mas não fez ameaças nem
nada do tipo. Na verdade, ele alega que quer assumir o
bebê.
Como aquele filho da puta se atrevia a isso?
— Depois de tudo o que fez, ele quer que você volte
para ele?
— Não. Ele não falou nada nesse sentido, na
verdade. Disse que quer ser pai e participar da vida do
Bernardo. O pai dele está muito doente, e parece que isso
o fez repensar a própria vida.
— O inferno! — esbravejei, mais alto do que
gostaria. Ela piscou, assustada, então eu abaixei o tom de
voz, embora ainda não fosse capaz de me acalmar. — Ele
mostrou que era um completo filho da puta, e gente assim
não muda da noite para o dia, não importa o que aconteça.
— Bem, pode ser. Eu bloqueei o número dele e tem
dias que não nos falamos, mas... Eu sinceramente tenho
pensado se eu tenho o direito de negar a ele a paternidade
do meu filho. Ele é o pai, afinal de contas.
Ele era o pai...
Pro inferno! Ele era uma porra de um progenitor,
nada além disso!
Não esteve por perto para ampará-la quando ela
desmaiou no meio da rua. Não segurou sua mão quando
fez a ultrassonografia. Não ajudou a preparar o quarto. Não
esteve ao lado dela nas primeiras compras para o bebê.
Não, ele não tinha qualquer direito sobre Bernardo! Não
merecia ter a honra de chamá-lo de filho.
Alice não poderia permitir isso!
Porém, quem era eu para dizer o que ela poderia ou
não fazer? Eu fui o cara que participou de tudo aquilo, mas
o verme ainda era o pai biológico de Bernardo.
Será que ela realmente não sentia mais nada por
ele?
Tentando controlar o ódio que eu sentia por toda
aquela situação, eu me levantei, estendendo a minha mão
para Alice. Ela me olhou, confusa, e eu expliquei:
— É melhor irmos embora, daqui a pouco vai
escurecer e seu avô pode ficar preocupado.
Ela ainda hesitou por um momento, antes de aceitar
a minha ajuda e se levantar.
E fomos embora sem trocar mais nenhuma palavra.
*****
Capítulo dezessete -
Tempestade
“Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão dos meus problemas
Que eu quero esquecer
ALICE
Juro que não sabia onde eu estava com a cabeça
quando contei a Marcelo sobre as mensagens de
Guilherme. Realmente, o que eu esperava que ele fizesse?
Na realidade, no fundo eu sabia bem o que eu
esperava. E me sentia uma completa idiota por isso.
Aqueles beijos tinham sido apenas aquilo: beijos
descompromissados. Eu tinha sentido a reação do corpo
dele, e sabia que ele desejava muito mais, assim como eu.
Mas, no fim, não passaria disso.
Se no início tinha sido difícil compreender ou mesmo
assumir aquilo para mim mesma, agora eu não poderia
mais me enganar: estava apaixonada por aquele maldito
cowboy. Só que, na minha vida, dali em diante não existia
mais o “eu”. Era “nós”: Bernardo e eu. Eu era mãe agora.
Era um pacote, para ser assumido por completo.
Um mês se passou desde aquele dia e nós não
voltamos a nos encontrar. Concentrei-me no trabalho, que
se mostrou bem maior do que eu imaginava. Meu avô era
um ótimo administrador, mas péssimo em organização,
então os armários de seu escritório estavam lotados de
caixas e gavetas abarrotadas de papéis avulsos e sem
qualquer critério de arrumação. Passei a maior parte do
meu tempo tentando organizar tudo aquilo, de forma com
que encontrássemos mais facilmente o que viéssemos a
precisar. Acabei, com isso, adiando o restante da
organização do quarto de Bernardo. E eu ainda tinha tantas
coisas para comprar! Deixaria para o dia da próxima
consulta, que já seria na semana seguinte.
Naquele dia, no entanto, não deu mais para
continuar enfurnada em casa. Meu avô me passou uma
missão. Um amigo, dono de um sítio a vinte minutos dali,
estava precisando de uma máquina que meu avô se
prontificou a emprestar. Ela já estava na caminhonete, e
tudo o que eu precisava fazer era ir até lá, os funcionários
dele pegariam a máquina, e eu voltaria para casa. De
preferência rápido, porque havia uma previsão de chuva
forte para o final da tarde.
Dada a missão, meu avô saiu, e eu demorei bem
mais do que previsto para fazer o mesmo. Tinha apenas
que tomar um banho e me arrumar rapidamente, mas
acabei me detendo ao receber uma nova mensagem no
meu celular, de um número desconhecido.
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MARCELO
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ALICE
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Capítulo dezoito - Abrigo
Home (Lar)
Home” (Lar)
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ALICE
Eu não sabia onde estava com a cabeça para decidir
passar a noite ali.
A ideia tinha vindo à minha mente de forma
completamente desprovida de qualquer segunda intenção.
Era uma necessidade quase vital de continuar com a
companhia de Marcelo. Queria tê-lo ao meu lado para
apaziguar aquele sentimento ruim que tinha tomado conta
de mim quando estava presa dentro daquela caminhonete
em meio à chuva.
Tomei um bom banho quente e vesti uma das roupas
que encontrei no armário do quarto. Marcelo tinha razão:
eu havia crescido consideravelmente desde os meus
catorze ou quinze anos, que devia ter sido a última vez que
vesti aquele short de lycra e a camiseta de banda que eu
escolhi para usar, porque eram as peças mais largas que
encontrei por ali. A camiseta agora virava quase uma baby
look bem justa ao corpo, marcando minha barriga que
estava a cada dia mais evidente. O short também estava
agora bem grudado, mas ainda cabia e estava ótimo para
dormir.
Olhei para a cama de solteiro. Era ali que eu dormiria.
Sozinha. Achei importante enfatizar bem essa informação
na minha mente.
Terminando de me vestir, deixei os cabelos – ainda
molhados – soltos e saí do quarto. Fui seguindo os sons
que ouvia na cozinha e, chegando lá, encontrei Marcelo. Já
havia trocado de roupa, embora os cabelos
permanecessem molhados, e retirava algumas coisas da
geladeira. Quando ele se virou e me viu, pareceu paralisar
por um instante. Não pude evitar reparar que os olhos dele
percorreram todo o meu corpo.
Estiquei os braços, comentando:
— É, você tinha razão: eu dei uma boa crescida desde
a adolescência.
Ele inicialmente pareceu um pouco constrangido, mas
logo disfarçou isso com um sorriso.
— Além de agora ser uma mulher adulta, você está
grávida.
Ele tinha razão. Minha barriga não estava tão grande
assim, mas já de um tamanho suficiente para mostrar a
gravidez. Fora isso, eu tinha sido uma criança de estatura
baixa para a média da idade, além de bem magra. Bem, eu
agora não era uma adulta que pudesse ser classificada
como alta, mas tinha crescido consideravelmente desde os
catorze anos, e o esporte tinha me ajudado a desenvolver
músculos e curvas no corpo.
— Deve estar com fome, não é? — ele perguntou,
mudando estrategicamente de assunto. — Não tenho muita
coisa, mas... Mariana ontem me trouxe um bolo e alguns
pães... e tenho algumas coisas na geladeira, dá para fazer
uns sanduíches, se você gostar.
— Os pães da Mari eu como até puros, são
maravilhosos.
Aproximei-me, ajudando-o a pegar os alimentos e
colocando sobre a bancada da pia.
— Realmente são, mas ela não precisava estar
sempre me trazendo algo.
Eu sabia que era meu avô quem sempre pedia para
Mariana levar algumas coisas para Marcelo. Ele se
preocupava demais com o “garoto” por quem tinha um
amor muito provavelmente bem parecido com o que tinha
por mim.
Eu o ajudei a preparar os sanduíches e seguimos para
a sala, onde nos sentamos um em cada ponta do sofá,
comendo em silêncio. Até que eu decidi quebrá-lo:
— Obrigada por ter ido me ajudar — eu quase tinha
usado a palavra ‘salvar’, que para mim soava bem mais
adequada. — E desculpe por não ter te ouvido quando
disse que seria arriscado ir com a chuva que estava para
cair.
— Se escutasse não seria você, não é? Sempre tão
teimosa...
Apesar das palavras críticas, o tom na voz dele era de
descontração. Porém, eu aceitava a ‘bronca’. Estava
mesmo errada.
— E desculpe ter te tratado daquela forma. Eu estava
nervosa, tensa por coisas que não eram de forma alguma
culpa sua.
— Aquele babaca do Cassio te disse ou fez alguma
coisa?
Eu quase ri diante da pergunta. Estava a cada dia
mais convencida que a implicância dele com o Cassio tinha
uma pequena – ou grande – parcela de ciúmes. Esperava
que não soasse como uma boba por pensar assim.
Contudo, voltei a sentir angústia ao recordar o
verdadeiro motivo da minha tensão.
— O pai do Bernardo voltou a me mandar
mensagens.
Ele se mexeu no sofá e vi uma expressão de
incômodo em seu rosto. Contudo, ele pareceu lutar para
disfarçar isso.
— E aí, você conversaram?
— Não depois daquele dia. Deixei claro para ele que
não quero proximidade alguma, mas... ele parece não ter
entendido.
— E você ainda pensa em permitir que ele assuma o
Bernardo?
— Eu pensei muito a respeito disso. Por um lado, eu
não posso privar meu filho de saber sobre sua origem.
Mas, pelo outro... A mudança súbita do Guilherme não me
convence. Mesmo nos argumentos dele, sinto que ele está
agindo por um senso – ainda que estranho – de obrigação.
E isso não basta para ser um bom pai.
— E, em meio a isso, o que decidiu?
— Que se um dia eu tiver certeza dos sentimentos e
intenções dele, não vou privá-lo de conhecer o filho. E se
for da vontade de Bernardo, quando estiver um pouco
maior, de conviver com o pai, não vou impedir que os dois
se encontrem e até mesmo que passem algum tempo
juntos. Mas não agora. Enquanto ele ainda for um bebê e
enquanto eu não sentir verdade nas intenções de
Guilherme, eu não vou permitir essa aproximação.
— E será que é apenas mesmo no Bernardo que ele
está interessado?
Não pude evitar um leve sorriso ao ouvir aquilo.
Dessa vez, não existia dúvidas de que havia ciúmes ali.
— Eu não sei quais são os interesses dele. Sei
apenas quais são os meus.
Eu o olhei, fazendo com que ele imediatamente
entendesse sobre o que eu me referia. Não sabia se tinha
sido o meu estado emocional abalado por conta do
temporal, ou se eu ainda poderia colocar a culpa nos
hormônios da gravidez. Mas eu não queria mais fazer
rodeios. Éramos dois adultos e existia um inegável desejo
entre nós. Eu já havia provado do gosto de sua boca por
mais de uma vez, o suficiente para saber o quanto era
viciante, e para ter ainda mais certeza de que eu queria
mais. Muito mais. Eu o queria por completo.
Por completo. Muito mais do que apenas uma noite.
Mas se isso não fosse possível, eu não poderia me permitir
deixar de tê-lo o tanto que eu pudesse.
Não sei qual dos dois tomou o primeiro impulso.
Parecia até mesmo que tinha sido sincronizado. Mas
quando me dei conta, o espaço que nos separava naquele
sofá não existia mais. E já estávamos unidos, corpo contra
corpo, com os tecidos de nossas roupas sendo a única
barreira entre nós. E nossas bocas se devoravam com todo
o desejo acumulado.
*****
Capítulo dezenove –
Incêndio
MARCELO
Um verdadeiro incêndio foi iniciado ali, e nenhum de
nós dois parecia inclinado a apagá-lo. Sem afastar nossas
bocas, ousei deslizar as mãos pelas costas dela, por baixo
da camisa e percebi, extasiado, que ela não estava usando
sutiã. Ela não mostrou qualquer resistência a isso, muito
pelo contrário. Sem interromper o beijo, nos ajeitamos, eu
com as costas apoiadas no encosto do sofá e ela sentada
no meu colo, com as pernas afastadas. Seu quadril
pressionava o meu com desejo, fazendo com que eu
sentisse meu pau ainda mais duro. Uma vez que nos
livrássemos daquelas peças de roupa, eu sabia que não
conseguiria parar. Por isso, juntei todo o autocontrole que
ainda me restava para fazer isso nesse momento. Liberei
os lábios dela e ficamos alguns segundos em completo
silêncio, apenas numa troca de olhares enquanto ambos
lutávamos para regularizar a respiração. Que inferno...
Olhar nos olhos dela não tornava aquela pausa nada fácil.
— Melhor irmos com calma, Alice — falei, embora
minha voz quase não tivesse saído. Calma era o que eu
menos queria naquele momento, mas precisava me
controlar.
Ela movimentou a cabeça em uma negativa.
— Pare de me tratar como uma mocinha frágil,
cowboy. Não precisa pensar em consequências agora. Sou
uma mulher adulta, e talvez, como eu disse outro dia, tudo
o que eu queira seja apenas um beijo, ou apenas uma
noite.
Pude ver um misto de desejo e tristeza nos olhos dela.
Eu compreendia, porque também me sentia assim.
— Talvez seja eu que não queira apenas uma noite,
moça. Quero muito mais do que isso. Quero você por
inteira.
— Eu não sou mais apenas eu, cowboy. Sou um
pacote agora.
— Quando disse que te quero por inteira, é porque te
quero por inteira. Todo o pacote. Você e Bernardo.
Ela continuou me olhando em silêncio por alguns
instantes, e percebi que os olhos dela brilhavam,
mostrando que estava emocionada com as minhas
palavras. Sem dizer mais nada, ela avançou sobre mim,
voltando a me beijar.
Entendi ali a concordância dela. A permissão para que
eu não apenas entrasse em seu corpo. Mas em sua vida.
Voltei a deslizar as mãos pelas costas dela, subindo,
levando o tecido da camisa junto. Ela liberou minha boa por
alguns segundos e levantou os braços, permitindo que eu
retirasse a peça de roupa. Voltamos a nos beijar e senti os
dedos dela deslizando sobre os botões da minha camisa,
abrindo-os um a um. Acolhi os seios dela com ambas as
mãos, brincando com os polegares sobre os mamilos. Ela
voltou a interromper o nosso beijo para soltar um gemido
extasiado. Então, pude olhá-la melhor. Os seios eram
firmes e cabiam perfeitamente nas minhas mãos. Não
resisti e levei um deles à boca, enquanto ainda acariciava o
outro com a mão. Gemendo o meu nome, Alice
movimentou o quadril sobre o meu pau, que já doía de
forma insuportável. Alternei mãos e boca entre os mamilos,
inebriado com os gemidos, sussurros e com a forma com
que ela rebolava sobre mim.
Segurando suas coxas firmemente, levantei-me,
levando-a no colo até o quarto que eu vinha usando em
minha estadia naquela casa. Deitei-a sobre a cama e
terminei de me livrar da minha camisa, que já estava com
os botões todos abertos por ela, em seguida, em um só
movimento, livrei-me da calça e da cueca, enquanto
admirava a imagem dela deitada sobre a cama, a barriga já
visível da gravidez, usando apenas o short curto, tendo os
cabelos ainda úmidos espalhados sobre o lençol,
emoldurando o rosto que me fitava com um tesão visível.
Percorrendo os olhos pelo meu corpo, ela mordeu o lábio
inferior, como uma forma de me enlouquecer.
— Não é a primeira vez que me vê sem roupas —
falei, quebrando um pouco a tensão.
Ela riu, olhando diretamente para o meu membro.
— Bem, nessas condições, é a primeira, sim.
Fui para a cama, deitando-me ao lado dela e voltando
a beijá-la. Ela desceu a mão até o meu pau e senti que
explodiria ali naquele momento. Segurei a mão dela,
levando-a acima de sua cabeça.
— Devagar, moça. Você tem me deixado louco desde
o dia em que chegou aqui. Merece ser torturada por isso.
Ela arfou, e eu sabia que chamá-la daquela maneira a
excitava. Percebi isso desde muito antes de chegarmos
àquela situação.
Desci uma trilha de beijos pelo seu pescoço, chegando
aos seios, onde me detive por mais algum tempo. Tomava
um em minha boca, sugando gentilmente um mamilo
enquanto acariciava o outro com a mão. Desci um pouco
mais, demorando mais em sua barriga, enchendo-a de
beijos. Agarrei fortemente o tecido do short e da calcinha,
puxando-os juntos, deixando-a, enfim, completamente nua.
Permiti-me me afastar por um instante, apenas para captar
aquela imagem daquela mulher completamente nua... e
fodidamente linda. Porra, eu não estava me aguentando
mais. Ela se remexeu sobre a cama, mostrando que
também estava aflita para que eu a penetrasse. Mas não
queria que fosse tão rápido assim. Queria antes prová-la
ao máximo, ouvi-la gemer à exaustão. E foi o que eu fiz.
Retornei aos beijos ao redor do seu umbigo, descendo
aos poucos, sem pressa. Afastei suas pernas e usei dois
dedos para abrir os grandes lábios, passando devagar a
língua pelo seu clitóris. Ela arqueou o corpo e arfou alto.
Voltei a lambê-la e senti suas mãos se agarrando aos meus
cabelos enquanto seus gemidos de intensificavam, dando
forma a um mais alto quando a penetrei com o médio e o
indicador, sem parar de explorar seu clitóris com a língua.
Seu gosto, seu cheiro e seus gemidos me deixavam a
cada segundo mais duro, mais louco. Até que veio o mais
alto deles, seguido pelo tremor de seu corpo.
*****
ALICE
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Capítulo vinte - Apenas o
agora
MARCELO
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Capítulo vinte e um –
Presente especial
ALICE
Alguns meses depois...
*****
MARCELO
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Capítulo vinte e dois – Dias
de paz
Depois de você
Os outros são os outros e só”
Os outros – Leoni
ALICE
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Capítulo vinte e três –
Pesadelo
MARCELO
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Minutos antes...
ALICE
— Se não quiser levar um tiro, minha querida, é
melhor colaborar.
Que Guilherme era um grande filho da puta era algo
que eu já tinha conhecimento. Mas algumas coisas ali não
podiam deixar de me causar surpresa. A primeira era que
ele tivesse uma arma. E a segunda é que tivesse a
pretensão de usá-la contra mim para... sei lá o quê.
— O que você quer? — perguntei simplesmente. As
mãos firmes a segurar meu filho, tentando mantê-lo seguro.
— Primeiro, você vai pegar a chave daquele seu
carrinho ridículo. Precisei deixar o meu na estrada do lado
de fora da fazenda. Você vai dirigir nos levando até lá. — O
cano da arma saiu das minhas costas e ele caminhou até
parar na minha frente, ainda com a o revólver apontado
para mim. Olhou-me nos olhos e senti nojo de já ter me
relacionado com aquele porco imundo. — E sem essa cara
patética de medo, ninguém pode desconfiar.
Eu não poderia negar que sentia medo. Na realidade,
estava apavorada. Não por mim, mas pelo meu filho. E por
não fazer ideia do que aquele louco pretendia.
— Pra onde pretende me levar?
Eu não esperava que ele respondesse. Os olhos dele
estavam em brasas e tudo nas ações dele remetiam a uma
psicopatia, e eu não estava certa de que psicopatas
aceitassem contar a uma vítima sobre seus planos. Mas,
para a minha surpresa, esse era o caso dele:
— Fica calma que não pretendo machucar você ou o
moleque, a não ser que você insista em não colaborar.
Preciso de você para alimentar essa coisinha aí até
chegarmos à casa do meu pai. Anda, vamos!
Ele balançou a arma, em um sinal para que eu fizesse
o que ele mandou. Aquilo fez o meu pânico aumentar. Ele
não pretendia levar apenas a mim, mas também o
Bernardo. Ainda assim, insisti:
— Me deixe colocá-lo no berço dele e vou contigo para
onde você quiser.
— Você acha realmente que o meu interesse é em
você? Já disse, só preciso de você para garantir que essa
coisa aí fique viva e, de preferência, sem perturbar durante
a viagem. Ande logo, que estou com pressa.
Quando dei o primeiro passo em direção à mesa onde
estava a minha chave, olhei discretamente para Mariana e
senti um forte alívio ao ver que ela não apenas estava viva,
como começava a despertar. Movi silenciosamente os
lábios esboçando a palavra “calma”, a qual pretendia que
ela compreendesse da forma correta, e ela assim o fez.
Permaneceu imóvel, sem demonstrar que despertara a
consciência. No estado em que estava, eu não duvidaria se
Guilherme voltasse a agredi-la ou mesmo que atirasse
nela.
— Calma, Guilherme — falei, com uma leve ênfase no
nome dele para que Mariana ouvisse e soubesse de quem
se tratava.
Peguei as chaves e saí da casa, sempre com o cano
da arma pressionando minhas costelas. Fomos até o carro
e prendi Bernardo na cadeirinha do banco de trás. Da
forma como minhas mãos tremiam, eu não seria uma boa
motorista, então ao menos precisava dar a ele o máximo
possível de segurança.
— Anda logo com isso! — Guilherme reclamou,
sacudindo a arma. Voltei a reparar que os olhos dele
estavam absurdamente vermelhos. Estaria sob o efeito de
drogas?
Entramos no carro e ele deixou a arma encostada em
minha barriga, enquanto me ordenava começar a dirigir. Ao
passarmos pelo portão, percebi que tio Sebastião olhou
intrigado para o estranho sentado ao meu lado, mas eu
apenas pude acenar para ele, tentando fingir o máximo de
tranquilidade.
— Como conseguiu que te deixassem entrar? —
perguntei entre dentes, logo que passamos dos limites da
fazenda.
— Ninguém me viu entrar.
— E você acha que o porteiro não ficou no mínimo
desconfiado ao te ver sair, sem que tenha autorizado sua
entrada?
— Para o seu próprio bem, eu espero que não. Só
quero chegar com você à casa do meu pai tendo o mínimo
de stress possível.
Chegar à casa do pai dele... que diabos aquele idiota
pretendia com aquilo?
— Será que tenho o direito de saber o que você quer
comigo?
— Já disse que com você eu não quero nada, Alice.
Meu pai está nas últimas e essa é a única chance que eu
tenho de ele mudar aquele maldito testamento. Conhecer o
neto é a condição dele para que eu possa ficar com tudo.
Ah... é claro. Os lamentos pela doença do pai e o
discurso de que isso havia mudado sua visão sobre a vida
eram pura balela. A decisão de subitamente desejar
reconhecer o filho era por causa de uma maldita herança.
Como pude ser tão idiota por sequer ter pensado
nessa possibilidade?
— Aliás, é um moleque, não é? — ele perguntou,
parecendo lembrar-se subitamente de algo. — Contei pro
velho que minha namorada decidiu ter o filho na fazenda
do avô, mas ele realmente acha que mantive contato com
você esse tempo todo. Falei que era um menino, mas foi só
uma aposta. Se for uma menina... que inferno, vai ser um
problema a mais para eu conseguir uma explicação.
— É um menino — falei simplesmente. E eu nem
queria imaginar que tipo de resolução ele teria em mente
caso não fosse. Iria matar o bebê e roubar outro?
— Menos mal.
Eu deveria deixar o silêncio tomar conta do veículo,
especialmente porque a voz dele me irritava ao extremo.
Mas precisava entender qual era o plano daquele louco.
— Qual é exatamente o seu plano? Vai apresentar o
meu filho ao seu pai e depois vai nos trazer de volta?
Porque, assim... você poderia ter pedido isso com mais
educação, não precisava chegar aqui armado e com
ameaças.
Ele riu. Na verdade, gargalhou, de forma
completamente descontrolada. Eu nunca o tinha visto agir
assim.
— Gosto da sua calma e do seu sarcasmo, Alice. Mas,
não. Infelizmente, vocês vão ter que passar um tempo
comigo. Vou ter que assumir a paternidade do moleque e
pegar a guarda dele. Afinal, a herança ficará em parte no
nome dele e vou precisar da guarda para ficar com o
dinheiro. Mas isso só precisa ser no papel. Quando
resolvermos tudo, vocês poderão ir embora. Claro que
faremos um acordo, não vou querer a surpresa de você
entrando na justiça para ficar com o dinheiro, se fizer isso,
saiba que vou tirar de verdade a guarda dele de você.
Tenho o melhor escritório de advocacia do estado à minha
disposição, sabe disso.
Ele realmente estava drogado, mas não parecia ser
apenas isso. Estava claramente desnorteado e
desesperado. Nada naquele plano dele tinha qualquer
chance de dar certo, e ele não precisaria pensar muito para
se dar conta disso. Mas estava completamente fora de si. E
era isso o que me assustava mais.
Segui dirigindo com o cano da arma apontado para
mim, pensando em se Mariana teria conseguido levantar
para pedir ajuda. Ela tinha despertado, mas eu não sabia
se estava bem e se tinha conseguido compreender o que
acontecia. Torcia para que sim. O céu estava cada vez
mais escuro e os trovões não paravam, o que me deixava
ainda mais apreensiva.
Guilherme ordenou que eu parasse logo que
avistamos um carro – que deveria ser o dele – parado na
estrada de terra. Saí do veículo ainda sobre a mira do
revólver. Ele também saiu e exigiu:
— Agora pega esse moleque e vamos seguir no meu
carro.
— Preciso que você tire a cadeirinha — falei, logo que
peguei meu filho nos braços.
— Para de palhaçada, não vamos perder tempo com
isso.
— Vai querer que eu dirija, não é? Vai segurá-lo no
colo a viagem inteira?
O argumento fez com que ele olhasse para Bernardo e
fizesse uma careta. Precisei conter o meu ódio diante de tal
reação. Dava-me nojo pensar que aquele estúpido era o
progenitor do meu filho.
Graças a Deus não era o pai. Esse papel era de
Marcelo e sempre seria.
Convencido, ele começou a soltar a cadeirinha do
banco de trás, parecendo um pouco atrapalhado com isso.
O que era ótimo, porque me ajudava a ganhar tempo.
Marcelo não estava longe dali. Se Mariana tivesse
conseguido ligar para ele, ele teria chances de nos
alcançar e...
E o quê? Guilherme estava armado. E se surtasse de
vez e fizesse uma besteira? E se machucasse Bernardo?
Meu nervosismo aumentou, mas lutei para me manter o
mais serena possível. Enquanto ele transferia a cadeirinha
de um veículo para outro, em qualquer outra situação eu
poderia tentar desarmá-lo. Mas não com o meu bebê ali.
Não o colocaria em risco.
Com a cadeira instalada no outro carro, prendi
Bernardo, deixando-o em segurança, e depositei um beijo
em sua cabeça. Graças a Deus, ele dormia tranquilamente,
completamente alheio a toda aquela situação.
Entramos no carro e eu novamente fui obrigada a
dirigir. Mal recomeçamos a viagem e ele voltou a falar:
— Meu velho não pode saber que estou levando vocês
à força, e ele faz questão de te conhecer, então você vai ter
que interpretar um pouco. Logo que chegarmos lá vamos
ensaiar o seu discurso. Não vai me decepcionar. Lembra
que só quero esse garoto com o propósito de garantir
minha herança, se você foder com isso, não terei qualquer
pena de dar um fim a ele e a você.
— Além de sequestro, também está querendo ser
enquadrado em homicídio? Seu dinheiro não vai te livrar de
responder por esses crimes.
— Farei as coisas sem deixar rastros. Sumo com os
corpos e ninguém vai saber de nada. Aquela sua
empregadinha nem viu o que a atingiu, ninguém me viu
entrar na fazenda, e o porteiro que me viu sair mal teve
tempo de prestar atenção ao meu rosto. Só vai saber
contar que te viu saindo dirigindo o seu próprio carro. Você
é uma fracassada, Alice. Ninguém vai estranhar tanto
assim a ideia de que você simplesmente surtou e decidiu
fugir pelo mundo com seu rebento.
— Ninguém vai acreditar nisso, Guilherme.
— Claro que vai. Farei com que acreditem.
Ele não faria, e eu precisava fazer com que ele
compreendesse isso. Talvez o efeito de seja lá qual droga
ele estivesse usando reduzisse e eu conseguisse fazê-lo
retomar um pouco de lucidez antes de chegarmos ao
nosso destino. Teríamos algumas horas até lá.
— Por que está indo tão devagar, porra? Acelera isso!
— ele ordenou.
Ignorei a ordem, puxando outra pergunta:
— Como conseguiu me encontrar aqui na fazenda?
— Quando te liguei, você chamou a atenção de um
bicho. “Paçoca” — ele bufou, parecendo achar graça. —
Nome ridículo. Não sabia do que se tratava, mas olhei as
fotos antigas do seu facebook e encontrei umas suas com
um vira-lata, na legenda tinha o nome dele e a informação
de que você estava na casa dos seus avós.
— E como sabia onde ficava a fazenda? Nunca veio
aqui antes. — E se eu tinha chegado a mencionar com ele,
em algum momento, o nome da cidade onde ela ficava, eu
duvidava muito que se lembrasse.
— Alguém que tenta se esconder não deveria
conceder entrevistas, querida.
Entrevista... é claro! Eu tinha sido entrevistada há
alguns meses pelos estudantes, e a matéria tinha sido
publicada em um jornal online. Se Guilherme andou à
minha procura, não deve ter sido difícil achar tal
reportagem. Não duvidava que meus pais tivessem
compartilhado o link em suas redes sociais e me marcado,
como faziam com qualquer matéria a meu respeito. Me
stalkeando como estava, Guilherme provavelmente não
teve dificuldades em ver aquilo.
A matéria citava o nome da cidade e do meu avô. Em
Vale das Orquídeas, em qualquer lugar que alguém
parasse perguntando sobre a fazenda do seu Bernardo
Antunes receberia instruções precisas sobre como chegar.
Claro que a intenção inicial de me esconder não era,
de forma alguma, tão radical. Eu não poderia imaginar que
o louco do meu ex pudesse estar interessado em me
sequestrar juntamente com o meu filho.
Mais um trovão forte ecoou dos céus e, quase que ao
mesmo tempo, as primeiras gotas grossas de chuva
começaram a cair sobre o para-brisa. Há poucos meses eu
tinha me visto em uma situação de tempestade enquanto
dirigia naquela mesma estrada, e a reação de pânico tinha
sido inevitável. Agora, a coisa ficava infinitamente pior com
aquele louco apontando uma arma para mim e com o meu
filho no banco de trás. Mas exatamente por isso é que eu
lutava para me manter o mais equilibrada possível. Não
estava sendo fácil. O som da chuva caindo violentamente
sobre a lataria do veículo fazia minhas pernas tremerem.
Foi então que olhei pelo retrovisor e uma onda de
esperança varreu o meu peito. Havia um carro vindo ao
longe, com uma velocidade crescente – alta demais para
as condições da estrada com chuva. Por conta do vidro
embaçado, ainda demorei a reconhecer o veículo, mas
parecia uma caminhonete azul, como a do meu avô.
Porém, a sensação foi subitamente substituída
novamente pelo medo quando Guilherme ordenou,
mostrando também ter visto o mesmo que eu:
— Acelere agora. Se aquele carro nos alcançar, eu
atiro nessa coisinha que está dormindo ali atrás.
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Capítulo vinte e quatro –
Salvamento
“Hold on to me as we go (Prenda-se a
mim enquanto seguimos)
As we roll down this unfamiliar road
(Enquanto passamos por esta estrada
desconhecida)
And although this wave is stringing us
along (E embora esta onda esteja nos
amarrando)
Just know you're not alone (Apenas
saiba que você não está sozinha)
'Cause I'm gonna make this place your
home (Porque vou fazer deste lugar o
seu lar)
MARCELO
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ALICE
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MARCELO
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Capítulo vinte e cinco -
Onde deveríamos estar
Um mês depois...
ALICE
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Epílogo
MARCELO
FIM
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LIVROS DA AUTORA
UM PRESENTE INESPERADO
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O SEGREDO DO CEO
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MAIS QUE AMIGOS
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SEGREDOS E PROMESSAS
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Inglaterra - 1841
Lydia Graham era uma jovem peculiar para a sua época.
Um espírito livre, desprovido de maiores vaidades e das
pretensões comuns às outras mulheres da sociedade.
Por isso, quando descobre que será pedida em casamento
por um Lord para o qual fora prometida ainda bebê, arma
um plano para fugir desse compromisso. Para tal, precisará
forjar um noivado... e o único que pode ajudá-la nisso é
Daniel Brand, seu melhor amigo de infância.
Daniel odeia mentiras, mas encara a farsa, já sabendo que
aquela é a única saída para salvar sua amiga de um
casamento com um homem que ela odeia.
No entanto, com a convivência e a farsa do noivado, Daniel
e Lydia aos poucos vão descobrindo um sentimento que vai
muito além da amizade de infância. Um sentimento novo e
avassalador, que irá abalar suas estruturas e despertar a
ira de outras pessoas.
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DUAS VIDAS
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O TOQUE DE UM ANJO
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