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TABELA DE CONTEÚDOS

NOTA DAS PLAYLISTS


1
WILLA
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WILLA
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RYDER
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WILLA
5
RYDER
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RYDER
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WILLA
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WILLA
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RYDER
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WILLA
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WILLA
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RYDER
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WILLA
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RYDER
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RYDER
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WILLA
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RYDER
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RYDER
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WILLA
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WILLA
30
RYDER
31
WILLA
AGRADECIMENTOS
Para cada mulher que lutou bravamente
e para aquelas que a amaram por isso.
“Não é a incivilidade geral a própria essência do amor?”
– Jane Austen, Orgulho e Preconceito
NOTA DAS PLAYLISTS
No início de cada capítulo, há uma música e um artista que
são sugeridos para fornecer outro meio de conexão
emocional com a história. Não é uma necessidade – para
alguns pode ser uma distração ou, para outros, inacessível e,
portanto, deve ser totalmente ignorado! – nem as letras são
literalmente “sobre” o capítulo. Ouça enquanto lê para ter
uma experiência de trilha sonora ou ouça antes de ler como
uma oportunidade para fazer uma pausa e processar. Se você
gosta de playlists, em vez de pesquisar individualmente
cada música à medida que lê, pode acessar diretamente essas
músicas em uma playlist do Spotify, entrando em sua conta
do Spotify e inserindo “Only When It’s Us (BB # 1)” no
navegador de pesquisa.
1

JÁ ME DISSERAM QUE sou temperamental.


Prefiro ser chamada de tempestuosa. Palavra grande para
uma atleta de futebol, eu sei, mas trabalhe em uma livraria
tantos verões quanto eu, você não pode deixar de ampliar
seu vocabulário.
Tempestuoso: “tipificado por emoção forte, turbulenta ou
conflitante”.
Para melhor ou para pior, sou eu. Willa Rose Sutter, para
ser exata.
Meu pavio é um pouco curto? Claro. Minhas respostas
são ocasionalmente desproporcionais? Às vezes. Eu poderia
aprender a me acalmar aqui e ali, mas me recuso a subjugar
a tempestade dentro de mim. Porque atada
inextricavelmente à minha tormenta está a força da natureza
que é meu impulso. Sou competitiva. E esse é um traço de
personalidade vantajoso. Sou uma aspirante a atleta
profissional, determinada a me tornar a melhor do mundo
em meu esporte. Para ser a melhor, você precisa de
habilidade bruta, mas mais ainda, você precisa estar com
fome. Você tem que querer isso mais do que qualquer outra
pessoa. É assim que sonhos longínquos se tornam realidade.
Então sim. Às vezes, sou um pouco mal-humorada. Sou
brigona e trabalhadora, e gosto de vencer. Eu não me
acomodo. Eu não vou desistir. Nada fica no meu caminho.
É por isso que eu preciso seriamente me recompor,
porque algo está prestes a ficar no meu caminho. Minha
elegibilidade para a partida da próxima semana contra nosso
maior rival está por um fio, graças ao curso de Matemática
de Negócios e o professor infernal.
Estou atrasada para a aula, tentando não mancar por
causa do quanto meus músculos doem depois de um treino
brutal. Correndo pela enorme rampa do auditório, toma
tudo de mim não dizer ai-ai-ai-ai a cada passo que dou.
A sala está lotada, apenas alguns assentos perdidos
restantes na primeira fila.
Um gemido me deixa. Excelente. Eu chego tarde e deixo
isso super óbvio sentando na frente e no centro. Tão
silenciosamente quanto posso controlar com músculos que
estão gritando por ibuprofeno e um banho quente, eu deslizo
para um lugar vazio e silenciosamente extraio meu caderno.
O professor MacCormack continua rabiscando equações
no quadro. Talvez minha entrada tardia não tenha sido
detectada.
— Srta. Sutter. — Ele deixa cair o giz e gira, tirando o pó
das mãos. — Que bom que você se juntou a nós.
Droga.
— Desculpe, professor.
— Pegue o que perdeu com Ryder. — Evitando
completamente minhas desculpas, MacCormack gira de
volta para o quadro e joga o polegar por cima do ombro à
minha direita. — Ele tem minhas anotações.
Meu queixo cai. Já pedi notas ao Mac três vezes neste
semestre, quando tive que faltar para jogos fora da cidade.
Ele deu de ombros e disse que eu precisava “resolver os
problemas e definir minhas prioridades". Esse cara, Ryder,
apenas pega as notas?
Meu temperamento deixa minhas bochechas vermelhas.
As pontas das minhas orelhas ficam quentes, e se chamas
pudessem explodir da minha cabeça, elas estariam.
Finalmente, eu me viro para onde Mac gesticulou,
doentiamente curiosa para ver esse cara que meu professor
favorece com anotações de aula enquanto eu estou lutando
para obtê-las sem ajuda alguma. E eu realmente preciso
dessa ajuda. Eu mal estou segurando um C menos que está
prestes a se tornar um D, a menos que Deus olhe com
benevolência para sua humilde donzela, Willa Rose Sutter, e
faça um bom trabalho para ela em nosso próximo semestre.
A raiva é uma experiência de corpo inteiro para mim.
Minha respiração acelera. Do pescoço para cima, me
transformei em uma pamonha quente. Meu coração bate tão
forte que minha pulsação bate como tambores. Eu estou
lívida. E é com essa raiva de corpo inteiro correndo em
minhas veias que coloco meus olhos no favorito. Ryder,
Guardião das Notas.
Ele usa um boné puxado para baixo sobre o cabelo loiro
escuro desgrenhado. Uma barba sarnenta que não é
terrivelmente longa, ainda, obscurece seu rosto o suficiente
para que eu realmente não saiba como ele é, não que eu me
importe. Seus olhos estão em seu papel, rolando, esquerda-
direita, então eu não posso ver como eles se parecem. Ele tem
um nariz comprido que é irritantemente perfeito e que fareja
distraidamente, como se ele fosse completamente ignorante
de que eu o estou observando e que ele deveria estar
compartilhando aquelas anotações de aula. As anotações que
eu poderia ter usado para evitar ser reprovada nos dois
últimos testes surpresas e em nossa primeira tarefa de
redação.
Meus olhos voltam para MacCormack, que tem a audácia
de sorrir para mim por cima do ombro. Fecho os olhos,
invocando uma calma que não tenho. É isso ou atacar meu
professor com uma raiva cega.
Olhos no prêmio, Willa.
Eu preciso passar nessa matéria para continuar elegível
para jogar. Preciso continuar elegível para jogar porque
preciso jogar todos os jogos, tanto para maximizar as chances
de sucesso do meu time, quanto porque a Lei de Murphy
afirma que os olheiros vêm para os jogos que você perde.
Bem, na verdade, apenas afirma que, se algo puder dar
errado quando for realmente inconveniente, dará. O cenário
do olheiro é a minha versão dele.
O que quero dizer é que preciso das malditas notas e,
para obtê-las, vou ter que engolir meu orgulho e fazer uma
petição explícita a esse idiota que está me ignorando. Eu
limpo minha garganta. Em alto e bom som. Ryder fareja
novamente e vira a página, seus olhos olhando para as
equações no quadro, depois voltando para baixo. Ele se vira?
Assume que me conhece? Diz, oi, em que posso ajudá-la?
Claro que não.
MacCormack continua tagarelando, suas anotações no
quadro-negro e em uma fonte grande e nítida em um
projetor para aqueles que não podem vê-lo ou ouvi-lo bem
para acompanhá-lo. O próximo slide aparece antes que eu
tenha tudo escrito, e fico mais irritada a cada minuto. É como
se Mac quisesse que eu falhasse.
Tomando outra respiração para se acalmar, eu sussurro
para Ryder.
— Com licença?
Ryder pisca. Sua testa franze. Tenho a mínima esperança
de que ele tenha me ouvido e esteja prestes a virar na minha
direção, mas em vez disso, ele vai para uma página anterior
de seu papel e rabisca uma nota.
Me sento estupefata por minutos, antes de lentamente
enfrentar o quadro, a fúria sacudindo meus membros. Meus
dedos se enrolam em volta da minha caneta. Minha mão abre
meu caderno com tanta violência que quase arranco a capa.
Quero gritar de frustração, mas o fato é que tudo o que tenho
controle é o aqui e agora. Então, eu mordo minha língua e
começo a escrever loucamente.
Depois de vinte minutos, MacCormack larga o giz,
depois se vira e se dirige à classe. Na névoa da minha ira, eu
vagamente o ouço questionar. Os alunos levantam as mãos e
respondem, porque eles realmente acompanharam esta
palestra, porque, ao contrário de mim, a maioria deles
provavelmente não tem duas vidas separando-os. Atleta e
estudante, mulher e filha.
Porque eles têm margem para erros, espaço para falhas,
o que eu não tenho. Tenho que ser excelente, e o problema é
que essa pressão está me transformando em um fracasso
absoluto. Bem, exceto futebol. Por cima do meu cadáver, vou
falhar nisso. Todo o resto, porém, vai uma merda. Sou uma
amiga dispersa, uma filha ausente, uma estudante sem
brilho. E se esse professor apenas me desse uma chance, eu
teria uma chance de pelo menos riscar uma dessas falhas da
minha lista.
MacCormack deve sentir meus olhos queimando buracos
nele, porque depois que ele aceita a última resposta, ele se
vira, olha para mim novamente e sorri.
— Professor MacCormack — eu digo entre os dentes
cerrados.
— Por que, sim, Srta. Sutter?
— Isso é algum tipo de brincadeira?
— Lamento, não, essa não é a fórmula correta para
calcular os juros compostos. — Voltando-se para todos, ele
oferece a eles um sorriso que ainda não vi. — Classe
dispensada!
Continuo estupefata por ter sido dispensada por meu
professor, mais uma vez. É a cereja do bolo quando Ryder se
levanta de seu assento, desliza aquelas preciosas notas em
uma bolsa de couro usada e a joga por cima do ombro.
Enquanto ele prende a aba de sua bolsa, seus olhos se
erguem e finalmente encontram os meus. Eles se alargam,
então traçam uma trilha rápida sobre meu corpo.
Os olhos de Ryder são verdes profundos e, droga, essa é
minha cor favorita, o tom preciso de um campo de futebol
intocado. Isso é tudo que tenho tempo para notar antes que
meu ressentimento me cegue para apreciar mais suas
características. Quando seu olhar retorna do meu conjunto
de tênis e moletom, nossos olhos se encontram, os dele se
estreitando enquanto processa qualquer expressão
aterrorizante que eu esteja estampando. Estou furiosa. Tenho
certeza de que pareço uma assassina.
Agora ele reconhece minha existência, depois de me
ignorar tão completamente?
Rolando os ombros para trás, ele se endireita totalmente.
Tudo o que posso pensar é: Uau, esse não é apenas um idiota. É
um idiota alto.
Eu pulo da minha cadeira, varrendo meu caderno da
mesa. Colocando minha caneta no coque bagunçado gigante
no topo da minha cabeça, eu dou a ele um olhar mortal. O
olhar de Ryder se alarga quando dou um passo mais perto e
encontro aqueles olhos verdes nauseantemente perfeitos.
Um longo e intenso olhar para baixo se segue. Os olhos
de Ryder se estreitam. O meu também. Eles lacrimejam,
implorando para que eu pisque. Eu me recuso.
Lentamente, o canto de sua boca puxa para cima. Ele está
sorrindo para mim, o idiota.
E assim, meus olhos se arrastam para sua boca, que está
escondida sob todos aqueles pelos faciais retorcidos. Eu
pisco.
Merda. Eu odeio perder. Eu odeio perder.
Estou prestes a abrir minha boca e perguntar o que é tão
engraçado quando Ryder se afasta e gira suavemente, em
seguida, corre pela rampa do auditório. Eu fico de pé,
tremendo de raiva, chateada com este idiota e seu
comportamento estranho e desdenhoso, até que a sala está
praticamente vazia.
— Anime-se, Srta. Sutter. — MacCormack apaga as luzes,
banhando o auditório com sombras cinzentas e o fraco sol da
manhã que entra pelas janelas.
— Eu realmente não sei como ser alegre quando estou
prestes a reprovar na sua matéria e não posso me dar ao luxo
de fazer isso, professor.
Por um momento, sua máscara de diversão desapegada
desliza, mas está de volta antes que eu possa ter certeza de
que já foi embora.
— Você vai descobrir o que fazer. Tenha um bom dia.
Quando a porta se fecha, e fico sozinha, afundo em meu
assento mais uma vez, o sussurro de fracasso ecoando na
sala.

— Ele realmente foi embora? — Rooney, minha colega de


equipe e de quarto, me encara incrédula.
— Sim. — Eu diria mais, mas estou com muita raiva e sem
fôlego. Estamos fazendo exercícios técnicos e, enquanto
estou na melhor forma da minha vida, as escadas sempre me
derrubam.
— Uau. — Rooney, por outro lado, não perdeu o fôlego.
Decidi que ela é mutante, porque nunca vi aquela mulher
ficar sem fôlego, e não é por falta de tentativa. Nosso
treinador é um sádico clinicamente certificado. — Que
idiota.
Rooney parece uma Barbie em tamanho real. Garota sul-
californiana clássica – pernas quilométricas, pele brilhante e
sardas desbotadas, uma folha de cabelo loiro platinado que
fica para sempre em um rabo de cavalo longo e liso. Ela se
levanta e bebe sua água, parecendo uma modelo de praia
enquanto o sol se põe no céu. Eu, por outro lado, pareço
Dolores Umbridge depois que os centauros a pegaram. Meu
cabelo ressecado balança loucamente do meu rabo de cavalo,
minhas bochechas estão rosa escuro com o esforço e meus
quadris musculosos de futebol estão tremendo com o
esforço. Rooney e eu não poderíamos ser mais opostas, não
só no que diz respeito à aparência, mas também à
personalidade, e talvez seja isso que nos torna tão boas
amigas.
— Sem dúvida, ele é um idiota — eu confirmo. — Mas ele
é o idiota que tem o que eu preciso: anotações de aulas
anteriores e aquelas que sentirei falta quando eu for para
mais duas aulas durante os jogos fora de casa.
Nós duas corremos em direção à próxima seção do
campo para iniciar os exercícios de um toque. Eu corro para
trás primeiro, Rooney sacudindo a bola no ar antes que ela
lance em minha direção. Eu mando de volta, ela vira para
mim, eu mando de volta. Faremos isso até mudarmos de
direção, então é a vez dela.
Rooney toca a bola para mim e eu a coloco de pé.
— Então, se aquele cara não lhe der as anotações, o que
você vai fazer?
— Eu não sei o que fazer. Esse é meu problema. Não vejo
solução para um cara que me ignora totalmente. Eu sei que
posso ser um pouco irritadiça, mas fui educada.
Considerando que ele foi apenas... rude. Eu não entendo por
quê. E eu realmente preciso dessas notas.
Mudando de direção, coloco a bola no pé e chuto
suavemente para o alto, direto na testa de Rooney.
— Honestamente — Rooney diz ao devolver meu passe
com uma cabeçada. — Eu diria que o problema é com seu
professor. Ele é obrigado por nosso contrato de estudante a
acomodar sua programação, e este comportamento é
abertamente hostil aos seus esforços como estudante-atleta.
Se eu fosse você, imprimiria nosso contrato, iria até lá no
horário de expediente e lembraria àquele idiota que ele é
ética e legalmente obrigado a apoiar seu aprendizado
enquanto você ganha mais publicidade e dinheiro para a
faculdade dele, do que seus patéticos trabalhos acadêmicos
jamais contribuíram.
Sim. Rooney se parece com a Barbie, mas ela tem alguma
coisa atrás das orelhas. Ela será uma ótima advogada um dia.
— Pode ser. Mas esse cara é durão, Roo. Acho que ele
tornará minha vida ainda mais miserável se eu fizer isso.
Rooney franze a testa, cabeceando a bola de volta.
— Ok, então mostre a ele o contrato, mas faça bem. Mate-
o com bondade. Faça o que for preciso para ter certeza de que
você estará qualificada para jogar na próxima semana.
Precisamos de você e, honestamente, Willa, acho que se você
não jogar, você entrará em combustão interna.
Quando terminamos nosso exercício, a bola cai sobre
meus pés e eu fico olhando para sua forma familiar. É uma
vista que já vi milhares de vezes – aquela bola preta e branca,
colocada contra a grama verde brilhante, minhas travas de
cada lado dela. O futebol é uma constante na minha vida
quando tudo o mais é imprevisível. Vivo e respiro esse
esporte não só porque quero ser a melhor, mas porque é a
única coisa que me faz continuar às vezes.
Rooney está certa. Não posso perder, não posso ser
inelegível. Vou ter que aguentar e fazer o que for preciso
para passar nesta aula.
— Vamos lá — diz ela, jogando um braço por cima do
meu ombro. — Minha vez de cozinhar esta noite.
Eu finjo um suspiro seco, ganhando seu empurrão áspero
que me faz cambalear para o lado.
— Excelente. Eu precisava de uma boa desintoxicação de
qualquer maneira.
2

MINHA REPUTAÇÃO DE CABEÇA QUENTE é bem conhecida no


campus. Tive algumas discussões durante partidas, bem
como um episódio no primeiro ano, quando uma garota
explodiu com Rooney no refeitório, acusando-a de roubar o
namorado. Eu já tinha escalado a mesa com a intenção de
derrubar aquela mentirosa no chão e acabar com ela com
uma boa queda de cotovelo no estilo WWE1, quando Rooney
felizmente me agarrou pelo colarinho antes que eu pudesse
ser expulsa. Mesmo assim, o incidente me rendeu uma
reputação da qual não fiz nada para desiludir as pessoas.
Manteve quase todos com medo de mim ou me permitindo
uma distância saudável. Isso me convém muito bem.
Mas a verdade é que, por mais que eu corra em defesa
das pessoas que amo, tão pronta como estou para oferecer
um ombro amigo, para lutar e empurrar pela posse da bola
a cada momento que estou em campo, não gosto do conflito
verbal. Acho que sou alérgica a desentendimentos verbais e
conversas desagradáveis. Cada vez que acontecem, fico com
urticária.
É por isso que picadas de coceira de raiva aparecem ao
longo do meu pescoço e peito, enquanto eu sento na mesa do
Professor MacCormack e o vejo ler meu acordo de estudante-
atleta.
— Hm. — Virando a última página, ele gira o documento
em sua mesa e o desliza de volta na minha direção. — Escute,
Sutter. Acredite ou não, eu gosto e respeito você.
1
Sigla para World Wrestling Entertainment, uma das empresas dedicadas a exibir luta livre.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Poderia ter me enganado.
O sorriso malicioso de Mac está de volta. Eu tenho que
sentar em minhas mãos para não bater nele acidentalmente.
— Eu não vou dar essa aula para você. Você escolheu ser
uma estudante atleta e, com isso, vem a responsabilidade de
administrar seu tempo. Você não me disse antes da aula
quando estaria faltando ou que precisaria de anotações. Você
não comunicou até o dia da aula que você perdeu e, em
seguida, pela segunda vez, depois. Isso me diz que essa aula
não é uma prioridade e, francamente, acho que precisa ser.
Este é um curso básico se você quiser estar preparado para
qualquer tipo de gestão de negócios no futuro.
Eu me mexo na minha cadeira. Eu sabia que perderia
aulas por causa dos jogos, mas dizer a ele com antecedência
era assustador. Eu teria que encontrá-lo separadamente,
pedir essas considerações. Parecia... bem, era desconfortável
e, como eu disse, não lido muito bem com confrontos verbais.
— O que me leva a acreditar — continua ele. — que você
é uma daquelas atletas que pensam que não precisa de
educação, que só está entrando e saindo, seguindo em frente.
Isso não funciona na minha matéria.
Abro a boca para dizer que isso é muito injusto, que
adoro aprender o que preciso saber para gestão de negócios.
Que eu realmente quero me sair bem nesta aula e em meus
outros cursos relacionados à especialização, porque sei que
não serei uma atleta profissional para sempre. Quando for
aposentada, espero usar minha plataforma para trabalhos
filantrópicos e quero garantir que eu mesma a administre e
faça um ótimo trabalho. Eu deveria contar a ele tudo isso,
mas não sai nada. Minha mandíbula se fecha e meu
estômago dá um nó acentuado.
MacCormack se inclina, os cotovelos sobre a mesa.
Molduras pretas nítidas obscurecem os olhos azuis do
oceano. Seu cabelo quase preto é bagunçado com estilo, ele
tem uma sombra constante de cinco horas, e se ele não fosse
um titã idiota sabotador que é pelo menos dez anos mais
velho que eu, eu provavelmente o acharia fofo. No momento,
só consigo pensar que ele é o cara que vai arruinar minha
carreira no futebol.
— Você parece chateada — diz ele calmamente.
Eu respiro irregularmente enquanto as lágrimas quentes
ardem em meus olhos. Sem choro, Sutter. Nunca mostre a eles
seu ponto fraco.
— Sinto muito. — eu consigo controlar o nó na minha
garganta. — Eu não sou... eu não falo bem quando… —
Engolindo, eu belisco a ponte do meu nariz e respiro
profundamente. Quando exalo, estou um pouco melhor e
encontro minha coragem. — Eu me importo com essa aula.
Sei que não te mostrei muito bem. Eu deveria ter perguntado
antes do início do semestre, mas nunca tive que fazer isso
antes. No passado, os professores seguravam notas
automaticamente para mim e me enviavam o que eu
precisava.
Mac se recosta em sua cadeira, a testa franzida.
— Bem, eu não sou um desses professores, e se você vai
se tornar uma atleta profissional, tenho novidades para você,
você tem que aprender como começar a se defender.
Eu cambaleio.
— Sim, então, estou ciente dos preconceitos e requisitos
duplicados que as atletas femininas enfrentam e estou
preparada para eles. Mas obrigada pelo sermão de qualquer
maneira.
— Bom. — Ele joga as mãos para cima. — O que quero
dizer é que não estou impedindo seu sucesso a essa aula. Eu
estive aqui, disponível para você, e há um mar de pessoas
naquela sala que você poderia pedir anotações. Eu entreguei
a você Ryder em uma bandeja de prata...
— Uma bandeja de prata? — Eu bato minhas mãos em
sua mesa e me inclino. — Ele me ignorou, totalmente.
— Talvez você não tenha feito o suficiente para se fazer
ouvir. — Mac encolhe os ombros, levantando e varrendo
uma pilha de papéis e seu laptop em seus braços. Ele olha
para o relógio de pulso e depois para mim. — De qualquer
forma, seu sucesso não é minha responsabilidade. Eu dei a
você uma solução para o seu problema. Não estou segurando
sua mão para chegar lá. Arranje um jeito. Fale com ele. Não
sussurre apenas uma vez, então desista e lance-lhe um olhar
mortal.
Meus olhos se arregalam.
— Você tem câmeras nessa sala?
Esse maldito sorrisinho se alarga para um sorriso.
— Apenas olhos atrás da minha cabeça. Que professor
não tem? Vamos, Sutter. Hora da aula.

Desta vez, não sou a única que está atrasada.


MacCormack caminha a passos largos à minha frente,
jogando sua pilha de papéis sobre a mesa com um baque,
conectando seu laptop ao projetor e imediatamente pulando
para a aula. Mais uma vez, o lugar está lotado e, mais uma
vez, o único assento restante é ao lado do idiota alto, Ryder,
Guardião das Notas.
Embora eu estivesse com muita raiva para realmente
processar sua aparência da última vez, reconheço, em
retrospecto, que ele está usando essencialmente a mesma
coisa, uma espécie de uniforme: boné azul-escuro puído,
outra flanela de aparência macia solta sobre o torso e jeans
desbotados. Suas longas pernas esticam-se de sua cadeira e
seus olhos estão baixos, examinando as anotações de aula
desta aula. Mais uma vez, ele me ignora completamente. Eu
caio na minha cadeira, bufando, enquanto abro meu
caderno.
Ao menos dessa vez poderei acompanhar a aula inteira.
Não graças a ele.
Enquanto MacCormack fala, sou sugada para o conteúdo
da aula, porque, como quase me acovardei em contar a ele,
realmente adoro aprender sobre gestão de negócios. Minha
concentração é inabalável. Estou fazendo anotações à direita
e à esquerda. Eu até levanto minha mão e faço a Mac uma
pergunta que ganha seu sorriso surpreso e aprovador. Estou
voltando ao normal. Eu ainda tenho que descobrir como
fazer anotações para o restante do curso que vou perder, mas
por hoje, Willa Rose Sutter está em seu jogo...
Meu braço bateu e minha mão de escrever voa
diagonalmente, enviando um traço de caneta preta em
minhas anotações. Eu viro para a direita, encontrando os
olhos de Ryder. Os dele são irritantemente verdes como da
última vez, e mais uma vez são largos, como se eu o
surpreendesse por existir.
Eu olho para baixo da minha página, então volto para ele.
— Que porra foi isso? — Eu assobio.
Sua boca se abre e, por um segundo, estou estranhamente
distraída com isso. Com sua expressão assustada, aquele
cabelo desordenado e barba desgrenhada, a flanela xadrez
azul e verde que está usando, ele parece um lenhador
interrompido no meio de um balanço. Meu olhar desce de
seus olhos, procurando seu rosto. Tanta coisa está escondida
atrás daquela barba loira. Maçãs do rosto, lábios, um queixo.
Como ele se parece por baixo de tudo isso?
Saindo desses pensamentos bizarros, eu travo os olhos
nele novamente, meu olhar se arregalando de expectativa.
Estou esperando um pedido de desculpas, uma explicação,
qualquer coisa que explique por que ele apenas jogou o
cotovelo em meu braço e me fez estragar minhas anotações.
Mas não vem nada. Sua mandíbula se fecha, seus olhos
se estreitam, e então ele gira para frente, seu foco de volta na
lousa. Mac desliga o projetor, ganhando um gemido de
quase um terço da classe que não estava escrevendo rápido
o suficiente. Isso incluiria a mim, graças ao lenhador idiota
que me distraiu de ler e registrar os últimos minutos.
— Vocês se lembraram — diz Mac para a classe. — que o
formato deste curso é que as primeiras seis semanas são
dedicadas a aprofundar em vocês os fundamentos da
Matemática de Negócios. Estou ensinando teoria e enfiando
na sua garganta. Eu percebo que vocês provavelmente estão
sobrecarregados neste momento.
Um suspiro coletivo seguido por uma onda de
resmungos e sussurros indica que MacCormack pode ser um
instrutor formidável, mas pelo menos conhece seu público.
— Agora estamos no ponto em nosso curso em que você
recebe um parceiro colaborativo para o restante do semestre.
Isso é por duas razões. Um, por causa do tamanho dessa
aula. — diz Mac. — Ao contrário de muitos instrutores, não
estou passando vocês para os monitores. Vocês me têm,
durante todo o semestre, todas as horas de expediente, e a
compensação é que eu reduzo pela metade o número de
trabalhos e projetos que tenho que continuar avaliando
quando os coloco em dupla. Dois, porque qualquer pessoa
que deseja uma carreira nos negócios precisa desenvolver
habilidades essenciais de colaboração, negociação e
compromisso. Saber os números e a teoria econômica é inútil
se você não pode conversar com seus colegas de equipe,
ouvir suas ideias e sintetizar seus insights em uma aplicação
prática e bem-sucedida.
— Embora o foco principal do seu trabalho em equipe
seja o projeto e o teste final — ele continua. — os exames
intermediários estão chegando. Eu sugiro que vocês
comecem mais cedo do que mais tarde, familiarizando-se
com seu parceiro e apoiando o aprendizado um do outro.
Estudem juntos, questionem uns aos outros. Acostume-se
um com o outro. Mesmo que não estejamos nem na metade
do semestre, comece a trabalhar no conceito do seu projeto
assim que formarem os pares. Seu projeto final e exame
respondem por cinquenta por cento de sua nota, então para
aqueles de vocês que estão lutando até agora... — Seus olhos
dançam pela sala, e ele faz questão de levantar as
sobrancelhas quando olha para mim. — Eu sugiro que levem
isso muito a sério. Isso pode aumentar ou diminuir sua nota.
Outro gemido coletivo ecoa pela sala de aula. Mac sorri,
com as mãos nos bolsos.
— Os pares serão anunciados na próxima aula. Tenham
todos um ótimo dia!
Antes mesmo que eu possa colocar a tampa da minha
caneta, Ryder está fora de sua cadeira. Jogando sua bolsa por
cima do ombro, ele sai furioso da sala, tecendo e abrindo
caminho através da multidão que sai lentamente.
Eu me viro lentamente, chocada com o nível de babaquice
desse cara. Quero dizer, dá trabalho ser um idiota tão grande.
— Mas ele é um idiota fofo — diz uma voz.
Eu pulo e giro para a minha esquerda.
— Desculpa. Eu não sabia que estava pensando em voz
alta.
Ela encolhe os ombros e sorri.
— Sem problemas. Eu sou Emily.
— Willa. — De pé, fecho meu caderno e o coloco na
minha mochila.
Seu sorriso se alarga.
— Oh, eu amo esse nome. Como a romancista Willa
Cather?
Eu aceno quando a dor aperta meu peito e penso em
mamãe.
— Sim.
Eu deveria perguntar à Emily se ela faz anotações
minuciosas e se eu poderia me aproveitar dela e copiá-las.
Mas, mais uma vez, meu medo de pedir qualquer coisa a
alguém – ou pior, de ter meu pedido rejeitado – me silencia.
— Bem, tenha um bom dia! — ela diz brilhantemente.
Tenho montanhas de trabalhos escolares, treino para me
preparar para o jogo contra um de nossos competidores mais
difíceis e estou indo para o hospital para saber como foi a
última biópsia de minha mãe. Bom não é o que eu espero que
seja neste dia.
— Obrigada — eu respondo. — Você também.

Já estou acostumada com a rotina do hospital. Os cheiros,


os sons. O barulho de elevadores chegando, tênis rangendo
no linóleo. O barulho das lâmpadas fluorescentes e a mistura
de cheiro de antisséptico e urina. Estranhamente, não odeio
isso. É o lugar que abrigou mamãe no mês passado e, onde
quer que ela esteja, é onde eu quero estar.
— Willa Rose! — Mamãe larga o livro e abre bem os
braços finos para mim.
— Oi mamãe. — Eu sopro um beijo para ela, em seguida,
tiro meu moletom e lavo minhas mãos diligentemente. Os
imunossuprimidos e os universitários são placas de Petri
para mamãe, disse o Dr. B, então eu esfrego até os cotovelos,
seguido de alguns esguichos de desinfetante para as mãos
numa generosa medida.
Finalmente, posso me inclinar e aceitar seu abraço. É forte
e duradouro. Ela junta os dedos nas minhas costas como
sempre e me dá um bom aperto.
— Como foi seu dia querida? — ela pergunta.
Mamãe se recosta e seus olhos encontram os meus.
Quando eu olho para minha mãe, sempre fico grata pelo
lembrete disso, apesar do meu cabelo maluco, sou quase sua
duplicata. Isso me permite fingir que acabei de vir da
mamãe, que sou toda dela.
— Não foi tão ruim. — Me sento suavemente na beira da
cama e olho sua bandeja de comida não comida.
Ela acena com a mão.
— Tem gosto de lixo.
— Mas, mamãe, se você não comer, não terá energia. E
você precisa de sua energia.
Suspirando, ela aperta meus dedos.
— Eu sei. Bárbara, daquele programa evangelístico da
igreja, estará me trazendo canja de galinha caseira mais
tarde.
Deus abençoe aquele programa da igreja porque ele me
ajuda quando não consigo. Eu deveria estar cozinhando
refeições caseiras para minha mãe, não uma doce senhora
luterana chamada Bárbara, mas vou aceitar. Isso nutre
mamãe, e ela geralmente recebe uma visita agradável de um
estranho. Ao contrário de mim, minha mãe não enfia
totalmente o pé na boca quando conversa com outras
pessoas e realmente gosta de conversa fiada.
Mamãe e eu estamos sozinhas e não vejo isso como uma
coisa ruim, apenas como é. Viajamos muito ao longo dos
anos para fazer amizades duradouras e ambas somos
mulheres bastante solitárias. Minha família sempre foi
apenas vovó Rose e mamãe. Vovó Rose morreu quando eu
estava no colégio e ainda sinto sua falta. Ela era um
verdadeiro foguete que amava seus jardins de vegetais e
flores, sempre ganhava no Trivial Pursuit, fumava um
cigarro atrás do outro e xingava como um marinheiro.
Aparentemente, eu herdei seu temperamento.
— Ok. — Pego uma mexerica e começo a descascá-la.
Depois que eu arrancar todas as fibras finas das fendinhas,
mamãe e eu vamos dividi-las. É nossa rotina. — Quais as
novidades? — Meus olhos estão na mexerica enquanto eu
rasgo a casca e envio um spray de raspas para o ar. Estou
preocupada em ver aquela expressão nos olhos de mamãe
quando ela tiver que me contar más notícias.
— Quais são as novidades? — ela pergunta.
Meus olhos se voltam para ela.
— Não se faça de boba, Joy Sutter.
Ela sorri e isso faz seus olhos brilharem.
— A biópsia não foi ótima, mas o Dr. B tem um plano de
jogo para mim. Ele é minha tripla ameaça – cérebro, bolas e
beleza.
Eu empurro minha cabeça para trás, certificando-me de
que ninguém está na porta.
Mamãe ri.
— Ele sabe que estou brincando. Mas eu acho ele o
mundo todo, e ele usa isso totalmente a seu favor, me
levando a fazer coisas como comer minhas refeições e andar
pelos corredores.
— Homem inteligente — murmuro. — Alto, ruivo e
bonito sempre foi seu tipo.
— Eu gosto do que eu gosto. Os ruivos não têm amor
suficiente neste mundo. Agora, fale comigo sobre a vida, a
escola, o time. — Mamãe se mexe na cama e tenta esconder
uma careta. — Eu sinto que não tenho ideia do que está
acontecendo nos dias de hoje.
Conto a ela sobre o pad thai que Rooney tentou fazer na
outra noite, como fez todo o apartamento cheirar a carcaça
de peixe podre e como o macarrão ficou tão duro quando dei
uma mordida que tive certeza de ter rompido um molar.
Mamãe ri até que começa a ter um ataque de tosse. Uma
enfermeira entra, dando um pouco de oxigênio para minha
mãe, enquanto me lança um olhar que diz: Acalme-se, Sutter.
Decidindo que tentarei não fazê-la rir mais daquela
forma durante a noite, conto a mamãe sobre a próxima
partida, a estratégia que estamos adotando para ser mais
ofensiva do que o normal. Temos jogado comigo como a
única atacante, então, se eles forem inteligentes, nosso
adversário tentará me dobrar. Vamos colocar Rooney na
frente comigo como atacante, em vez de sua típica posição
no meio-campo. Se Rooney estiver lá em cima, puxando sua
defesa, espero que ela e eu possamos marcar alguns gols.
— Parece ótimo — diz mamãe. Ela coloca um gomo de
mexerica na boca e sorri. — Os olheiros virão em breve,
mantendo seus olhos em você, certo?
Eu como um gomo de mexerica também.
— Sim — eu digo em torno da minha mordida. — Se eu
puder permanecer elegível.
As sobrancelhas fracas de mamãe se erguem.
— Sinto muito, Willa Rose, eu perdi algo? Você é uma
aluna exemplar e confiável. Suas notas nunca estiveram em
risco antes.
Gemendo, caio de lado até que minha cabeça esteja em
seu colo. As mãos da mamãe vagueiam para o meu cabelo,
tentando ordenar o caos.
— Diga-me querida.
Desabafo. Como eu ingenuamente esperava que o
professor MacCormack agisse como todos os outros
instrutores que tive, e quando percebi que ele não o faria,
fiquei muito nervosa para pedir o que eu precisava. Não
consigo contar a ela sobre o idiota do lenhador antes que
mamãe faça um estalo e sacuda a cabeça.
— Você nunca foi boa em ter conversas difíceis. —
Mamãe suspira. — Não sei onde você conseguiu isso. Se
alguém me pagasse para argumentar, eu o faria.
Suas mãos são tão calmantes, eu deixo meus olhos
fecharem e saborear a sensação de seus dedos, deslizando
ritmicamente pelo meu cabelo. Depois que ela terminar, meu
cabelo rebelde não ficará nem metade mais emaranhado,
mas ficará duas vezes mais inchado. Eu não me importo, no
entanto.
— Você teria sido uma ótima advogada, mamãe. Entre
você e Rooney, estou cercada por personalidades belicosas...
— É isso! — Mamãe pega suas palavras-cruzadas, a
língua de fora enquanto escreve as letras. — Be-li-co-sas. Oh,
Willa, obrigada. Agora posso esfregar no rosto do Dr. B. na
próxima vez que ele vier.
Levanto minha cabeça e encontro seus olhos.
— Então foi o Dr. B que a colocou nas palavras-cruzadas?
— Mamãe está obcecada por elas há algumas semanas, me
enviando mensagens de texto todas as horas do dia e da
noite, quando quer ver se Rooney ou eu sabemos uma
palavra que ela está procurando.
— Bem, ele disse que se eu comesse minhas refeições e
não perdesse mais peso, ele me deixaria sair para o seu jogo
do campeonato.
— Mamãe, temos que passar pelas eliminatórias e
prorrogações...
— Ah. Ah. Ah. — Mama levanta a mão, exigindo silêncio.
— O que eu te ensinei?
Eu suspiro.
— Eu posso fazer qualquer coisa que eu definir em meu
coração e mente.
— Isso mesmo. Você quer aquele jogo do campeonato,
Willa, você vai conseguir. Como eu estava dizendo, se eu
mantiver meu peso alto, posso ir, mas se eu fizer as palavras-
cruzadas do New York Times em um dia, ele vai me levar em
seu carro esporte chique.
Eu me sento ereta, abruptamente.
— Mas é em São José este ano. Não é perigoso? Quero
dizer, a viagem vai te desgastar, e o mundo exterior é um
festim de germes e...
— Willa. — Mamãe entrelaça seus dedos com os meus e
sorri de forma tranquilizadora. — Está bem. Ele é médico, ele
sabe.
Meus ombros estão contraídos, a preocupação torce meu
estômago. Odeio que mamãe esteja doente o suficiente para
precisar ficar no hospital, mas adoro isso aqui, sei que ela
está bem e sendo bem cuidada. No que me diz respeito, a
quero aqui, recebendo os cuidados de que precisa, pelo
tempo que for necessário. Felizmente, vovó Rose nos deixou
economias decentes e a pensão militar de mamãe ajuda. É
para lá que vão praticamente todas as nossas finanças – o
tratamento do câncer, para que ela possa melhorar o mais
rápido possível.
Considerando isso, estou praticamente sozinha
financeiramente, o que não me importo. Durante anos, a
cada verão, trabalhei em uma livraria local – é onde aprendo
palavras como tempestuoso e combativo para adicionar ao meu
vocabulário. Uma livraria independente que também serve
café e assados, ela experimenta um grande impulso para os
negócios durante os meses turísticos de verão, então eu dou
boas dicas, além de um salário por hora decente. O que quer
que eu ganhe durante o verão é minha renda disponível para
o ano letivo. Com toda a minha carona graças às bolsas
acadêmicas e esportivas, além de um orçamento cuidadoso,
passo furtivamente para pagar as despesas mensais de
mantimentos e utilidades no apartamento que divido com
Rooney.
Nos últimos meses, porém, Rooney “acidentalmente”
pagou o aluguel e as contas inteiras, em vez de me deixar
preencher um cheque pela metade e enviá-lo com o dela
como fazíamos antes. Tenho uma suspeita persistente que é
porque a família de Rooney é rica – o pai dela é um grande
produtor em Hollywood – então não é nada para ela, e ela
sabe que estou com um orçamento apertado. Ela negaria até
o dia em que morrer, mas eu estou atrás dela.
— Willa, você está com aquele olhar distante que não tem
nada a ver com o rosto de uma mulher de 21 anos. — A mão
da mamãe está fria e dolorosamente fina, mas eu ainda
inclino minha bochecha ao seu toque. Este não é o primeiro
round dela com câncer, e eu sei que não devo tomar qualquer
momento com ela como garantido. A vida é frágil e, embora
tenha esperança de que mamãe possa vencer isso, nunca
perco a chance de desacelerar e saborear que ela está aqui.
— Você não precisa se preocupar, querida — ela
sussurra. — Estou tomando cuidado. O Dr. B está fazendo
tudo que pode por mim e se preocupa o suficiente por nós
dois, ok? — Sua mão cai e aperta a minha. — Você precisa
viver sua vida. Tudo o que você faz é se exercitar, ir para a
aula, praticar e jogar, depois ficar sentada aqui no hospital,
vendo sua mãe perder o cabelo de novo.
— Pare com isso. — Lágrimas ardem em meus olhos. —
Eu amo Você. Eu quero estar com você.
— Mas você precisa viver, Willa. Para prosperar, não
apenas sobreviver. Saia com Rooney. Use um vestido curto,
exiba aquelas pernas de futebol matadoras. Beije um garoto,
trepe com ele de seis maneiras até domingo – usando
proteção, é claro...
— Mãe! — Minhas bochechas ficam vermelhas. — Você
sabe que eu não namoro.
— Eu não te disse para namorar. Eu disse para você
transar.
— Mãeeee — eu gemo.
— Estou doente há um tempo, mas sabe de uma coisa,
Willa? Eu não sinto que estou perdendo muito. Eu vivi
quando jovem. Fui a shows selvagens e fiz uma mochila nas
costas. Eu saía com poetas beat esquisitos, lia romances
longos e pedia carona. Fumava maconha e olhava para o céu
enquanto andava em caçambas de caminhonetes. Eu me
diverti e trabalhei muito, me alistei, viajei o mundo como
enfermeira. Conheci novos lugares, tive amantes exóticos e
alguns soldados sensuais...
— Mamãe. — Eu balancei minha cabeça. Minha mãe é
bonita, mesmo sem cabelo e um turbante macio em volta da
cabeça. Seus olhos são de um castanho rico como os meus e
arregalados. Suas maçãs do rosto estouram e seus lábios são
carnudos. Eu vi fotos. Mamãe era um bebê quando era mais
jovem. Eu realmente não gosto de pensar sobre ela
transando.
— Você sabe o que estou dizendo, Willa. A vida não vive
sozinha para você e nada nos é prometido. Você tem muito
a oferecer, muito a experimentar. Eu não quero que você a
perca por minha causa.
Eu quero dizer a ela que eu não sentiria falta de tudo que
a vida tem a oferecer se isso significasse que eu poderia tê-la
para sempre. Quero dizer a ela que estou com medo de que
ela esteja mais doente do que parece, que vou me odiar por
passar noites fazendo o que os universitários normais fazem
quando eu poderia ter passado esses momentos fugazes com
ela.
Mas sou eu. Eu não falo sobre coisas desagradáveis como
essa. Então, em vez disso, aperto a mão dela para tranquilizá-
la e digo:
— Tudo bem, mamãe. Eu vou.
3

HÁ EXATAMENTE DOIS ANOS, percebi que minha vida nunca


seria como pensei. A negação é um poderoso mecanismo de
enfrentamento. Depois que fiquei doente, minha psique se
agarrou à negação o máximo que pôde. Mas, eventualmente,
a forte tendência pragmática que existe em minha família
veio bater na minha porta e exigiu que eu encarasse a
realidade.
Não sou seu cara estereotipado de Cali. Eu não surfo ou
digo irado. Cresci em Olympia, Washington, e gostaria de
ainda morar lá, mas papai recebeu uma oferta irrecusável do
Ronald Reagan UCLA Medical Center – RRMC, como a
maioria das pessoas o chama – então aqui estamos.
Tenho saudades da sensação do outono. Sinto falta das
folhas molhadas esmagadas em um tapete escorregadio sob
meus pés. Sinto falta do frio que torna meu nariz rosa e
queima meus pulmões em corridas longas e nevadas. Sinto
falta da escuridão, por mais estranho que possa parecer.
Sinto falta de velas, fogueiras e de me aconchegar com um
livro assim que o sol se põe na hora do jantar.
E eu sinto falta do futebol. Sinto falta do jogo que tinha
certeza de que iria dirigir e cumprir minha vida adulta.
Então, é claro, no aniversário de todos os meus sonhos
irem por água abaixo, Willa Sutter, a estrela em ascensão do
futebol feminino, sentou-se ao meu lado em Matemática de
Negócios. Parecia que o universo estava me chutando bem
onde é importante.
Não ajudou o fato de que ela parecia odiar
inexplicavelmente minhas entranhas. Quando a aula acabou,
ela me lançou um olhar mortal e enfiou uma caneta no cabelo
como se desejasse que fosse uma faca cravando-se no meu
coração. A raiva tingiu suas íris âmbar de um vermelho
acobreado, e uma energia violenta praticamente irradiava
dela. A mulher cujo futuro já foi meu, o futuro que eu daria
qualquer coisa para ter em troca, parecia que queria me
matar e depois fazer de novo, só por diversão. Ficar por perto
para vê-la tentar me derreter com os olhos quando eu não
tinha ideia do que tinha feito para ganhar tanto ódio poderia
ter sido divertido em outra hora, mas não naquele dia.
A próxima aula foi tão ruim quanto. Mais uma vez, ela se
sentou ao meu lado, me deixando intensamente ciente de seu
corpo quase roçando o meu. Sou um cara de tamanho acima
da média. Tenho ombros largos, pernas longas. Eu não cabia
nessas carteiras. Então, não foi necessariamente
surpreendente quando eu me mexi na cadeira e
acidentalmente dei uma cotovelada nela, ganhando seus
olhos malignos novamente.
O que foi surpreendente foi que, quando ela olhou para
mim, exigindo uma explicação, eu realmente quis respondê-
la. E isso realmente diz algo porque não falo uma palavra há
dois anos.
— Ry. — Eu ouço como se estivesse debaixo d'água, fraco
e empenado. É assim que a vida soa com perda auditiva
moderada e severa, nas orelhas direita e esquerda,
respectivamente. A meningite bacteriana surgiu do nada
apenas algumas semanas cruéis antes do início da pré-
temporada na UCLA. Fiquei terrivelmente doente, rápido e,
na próxima vez que acordei, estava no hospital, ouvindo a
voz de minha mãe como um som metálico e distorcido que
mal reconheci. A meningite danificou meu ouvido interno e
os antibióticos também fizeram sua parte.
Não havia nenhuma recuperação de habilidade em um
campo de futebol da Divisão-1 quando meu equilíbrio estava
desequilibrado, e de repente eu não conseguia ouvir meu
nome sendo chamado ou uma bola vindo em minha direção.
Meus aparelhos auditivos pioraram as coisas, e toda a
experiência de tentar tocar novamente parecia um grande
pesadelo.
O treinador foi encorajador. Meus companheiros
apoiaram. Eu fui realista.
Eu deixei minha carreira para trás, atrás do galpão de
bolas, e matei misericordiosamente. Eu pendurei minhas
chuteiras, renunciei à minha bolsa de estudos atlética e segui
em frente. Agora não sou Ryder Bergman, sólido lateral-
esquerdo, titular do primeiro ano destinado à grandeza. Não
mais.
— Ry — Ren tenta novamente. Quer dizer, talvez ele
tenha dito meu apelido. Meu irmão poderia ter dito meu
nome completo com a mesma facilidade e eu simplesmente
não conseguiria entender a maior parte dele. Tento não me
importar mais com detalhes como esse, me perguntar e me
preocupar com o que estou perdendo, mas não é fácil. No
início, a ansiedade era paralisante. Agora é um zumbido
persistente de desconforto.
Eu giro na cadeira da minha escrivaninha e encaro meu
irmão Ren. Como eu, ele é alto, de ombros largos e
compleição grande, mas seu cabelo loiro é tingido de ruivo,
seus olhos são azul-acinzentados como os da mamãe.
Ren é um jogador profissional de hóquei que estava
extremamente ansioso com o recrutamento, convencido de
que seria mandado embora de nós para o outro lado do país.
Para seu imenso alívio, ele conseguiu assinar com LA,
embora, apesar de trabalhar e morar nas proximidades, ele
raramente está em casa durante a temporada. Quando ele
está, geralmente ele está enchendo meu saco.
Eu inclino minha cabeça para o lado e mexo a boca, De
onde você veio?
Ren encosta o ombro no batente da porta, cruzando os
braços. Ele franze a testa, mas ainda fala claramente, então
posso ler seus lábios.
— Dia de folga. O próximo jogo é amanhã.
E? Eu mexo boca.
Com um rolar de olhos, Ren puxa o telefone do bolso e o
balança de um lado para o outro no ar, que depois de dois
anos, é um código para, Pegue seu telefone, idiota, e realmente
fale comigo.
Suspirando, pego meu celular e abro nossa lista de
mensagens de texto.
Eu sei que dia é, ele escreve. Vamos, vou te levar para sair.
O velho Ryder soltou uma risada sem humor, mas tenho
prática em engolir o impulso de fazer um som.
Não, eu digito.
— Maldição — a boca de Ren diz. Por um segundo, me
sinto mal. Ren é o último irmão que sobrou, e ele merece
minha gentileza por ficar comigo. Os outros irmãos
desistiram de tentar me alcançar, me deixando sozinho na
maior parte do tempo. Não é culpa deles. Eu empurrei quase
todo mundo para longe.
Freya ameaçou arrastá-lo para fora se você não vier de boa
vontade, ele escreve.
Eu jogo minhas mãos para cima e gesticulo com a boca,
Que porra é essa?
Ren encolhe os ombros.
— Ela está cansada de suas besteiras. Diz que conhece um
lugar com um bom hambúrguer que não faz muito barulho,
então não vai te dar dor de cabeça.
Um suspiro me deixa, meus polegares digitando, E se eu
não for?
Ren ri e coloca seu telefone no bolso.
— Ela também é sua irmã. Você sabe o que vai acontecer.
Freya é a mais velha. Ela faz meu tipo de teimosia parecer
obstinação infantil em comparação. É melhor deixá-la fazer
o que quer. Vou sentar em um lugar tranquilo, comer, deixá-
los falar perto de mim, e então ela vai me deixar em paz.
Levantando, tiro meu moletom e passo a mão pelo
cabelo, procurando meu boné. Ren considera minha
mudança de guarda-roupa como o sinal do que é, que ao
invés de lutar contra minha irmã armada de força, estou
cedendo a este passeio estúpido. Ele dá um grito de vitória,
um som raro que ainda posso ouvir. Quero dizer que estou
grato por poder ouvi-lo, mas estaria mentindo. Tudo o que
penso quando ouço algo assim é tudo que não penso. O
conselheiro que meus pais me fizeram ver depois que tudo
aconteceu me disse que demora um pouco para ver a vida
como um copo meio cheio novamente.
O copo meio cheio está muito longe.

Para o observador externo, parecemos um bando


tristemente antissocial, com nossos narizes enterrados em
nossos telefones, mas é a única maneira que todos podemos
falar, já que estou aqui. O chat em grupo geralmente consiste
apenas em nós quatro. Freya, seu marido Aiden, eu e meu
irmão Ren.
Às vezes, eles falam em voz alta. Leio seus lábios e depois
respondo ao bate-papo em grupo. Dessa forma, eles podem
conversar como pessoas normais, e eu posso apenas intervir
quando quiser. O que não é frequente. Isso, pelo menos, não
é novo. Sempre fui bem quieto, mesmo antes de perder a
audição.
Aiden bebe sua cerveja e a coloca na mesa. Enquanto me
mostra seu rosto para que eu possa ler seus lábios, ele diz a
todos:
— Alguém pergunte a Ry sobre sua nova amiga na minha
classe.
Meus olhos se estreitam para ele. Sim, Aiden é o professor
MacCormack. Meu cunhado também é meu instrutor, o que,
para mim, seria um conflito de interesses. Matemática de
negócios é um pré-requisito para uma aula que estou
morrendo de vontade de fazer no próximo semestre, que só
acontece uma vez na lua azul, e a aula de Aiden era a única
com vagas. Ele me disse que ficaríamos bem e eu acreditei
nele. Se alguém é um idiota grande o suficiente para
compartimentar e desfrutar de fazer da aula um pesadelo
para mim, é ele.
Freya se levanta e se inclina. Ela bate na minha mão para
ganhar minha atenção.
— Nova amiga? Conta tudo.
Ela é gêmea da mamãe, e tenho a sensação estranha de
minha mãe me cutucando para falar sobre namoradas, como
ela costumava fazer no colégio. O cabelo loiro de Freya está
cortado em um corte curto, seus olhos azuis gelados afiados
como sempre, e ela tem um novo piercing que eu não tinha
notado.
Eu faço um y com meus dedos e levo meu polegar para
minha têmpora.
Os olhos de Freya se estreitam para mim.
— O quê?
Eu sorrio, digitando no chat em grupo, Touro. Seu novo
piercing faz você parecer um touro.
Ren bufa e tenta disfarçar com uma tosse, enquanto
Aiden engasga com sua cerveja. Ninguém fode com Freya.
Exceto eu.
— Seu merdinha. — Ela se inclina sobre a mesa e faz uma
tentativa em vão de torcer meu mamilo. Recostando-se em
sua cadeira, ela ajusta delicadamente o piercing do septo. —
Eu pareço diferenciada.
Mais bufadas e risadas ocupam a mesa. Eu escondo o
meu atrás de um punho, deixando meus ombros tremerem.
O impulso de rir da barriga costumava pressionar minhas
costelas quando finalmente comecei a achar as coisas
engraçadas de novo, mas é outra parte da vida que aprendi
a aceitar e é melhor deixar em silêncio agora.
De repente, a risada morre quando Aiden diz:
— Droga.
A cabeça de Freya se vira na direção que Aiden está
olhando, assim como a de Ren. Willa Sutter entra pela porta,
mas não tenho ideia do que estão dizendo sobre ela. Em um
raro momento, eles se esquecem de ter certeza de que eu
poderia ler seus lábios ou de usar seus telefones.
Bato palmas duas vezes, ganhando sua atenção e três
expressões faciais diferentes de culpa.
— Desculpe, Ry — Ren diz.
Aiden acena com a mão para que eu olhe em sua direção
e leia seus lábios.
— Sutter está aqui. Isso não vai ficar bem.
Freya dá um tapinha na minha mão.
— Quem? Por quê?
Eu jogo minhas mãos, em seguida, aponto para Aiden.
Olhe para ele. Assisti a uma de suas trocas na aula e, embora
tenha perdido a maior parte do que foi dito, vi suas feições
se contraírem, a severidade de sua fala com ela. Aiden
parecia estar sendo duro, e eu meio que me senti mal por
Willa... até que ela me deu olhos de diabo e decidiu que me
odiava. Então eu percebi que Aiden poderia ser tão idiota
com ela quanto ele quisesse. Ela estava sozinha depois disso.
Aiden suspira e pega seu telefone, então todos nós
voltamos para o bate-papo em grupo.
Willa Sutter é o nome dela, uma aluna minha. Eu posso ter sido
um pouco duro com ela. Aiden digita. Mas os atletas intitulados
D-1 são meu calcanhar de Aquiles. Achei que deveria compensá-la
dizendo-lhe para pedir notas a Ry.
Como ela perguntaria a ele? Ren escreve. Ela sabe que ele não
pode ouvi-la?
Aiden baixa os olhos. Culpado.
Um raro bufo de raiva deixa meu peito. Eu bato na mesa,
apontando um dedo em seu rosto. Seu idiota.
Deve ser por isso que ela me odeia, digito. Ela provavelmente
me pediu notas e eu não a ouvi, então ela pensou que eu estava
sendo um idiota, ignorando-a. Agora ela vai nos ver juntos e pensar
que somos melhores amigos que querem arruinar seu GPA.
Calma, Freya digita. Por que ela pensaria que vocês são
melhores amigos?
Porque Aiden me dá as notas para a aula para que eu possa
acompanhar. Meus polegares voam, a raiva crescendo quando
eu percebo a bagunça em que ele nos meteu. Ele fala de costas
para o quadro metade do tempo, e as anotações da aula no projetor
não são abrangentes. Ele não está me fazendo favores, é claro – ele
é legalmente obrigado a tornar o curso acessível – mas ela não sabe
disso.
Ren digita, Então essa garota pensa que ele está te fazendo um
favor e fodendo com ela, já que você não vai compartilhar.
Eu aceno novamente, abaixando meu telefone.
Ren dá a Aiden um olhar incrédulo.
— Você ainda não terminou esta campanha?
Aiden franze a testa em sua cerveja e não diz nada.
Aiden não quer me ver tratado de forma diferente por
causa da minha perda auditiva, e ele está chateado por eu ter
desistido de falar. Eu sei que ele me ama e ele tem boas
intenções, mas ele é muito agressivo neste ponto. Ele está
determinado a me cansar com pessoas que não sabem da
minha perda auditiva e, assim, me importunar para uma
conversa, como se eu ainda pudesse ouvir, até que eu use
aqueles aparelhos auditivos horríveis e comece a falar de
volta.
Não vai acontecer.
Eu gostaria de lembrar ao comitê digito, que esta não é a
primeira vez que Aiden coloca uma mulher em mim e
convenientemente se esquece de dizer a ela que não consigo ouvir
porra nenhuma.
Freya gira e dá um tapa na cabeça de Aiden.
— Eu disse para você parar com isso.
— Eu fiz isso mais uma vez! — ele implora.
— Ele não precisa de um cupido — Freya rosna. — Olhe
para ele. Ele vai transar no momento que quiser.
Todos os três de nós, homens, estremecemos por vários
motivos. Eu não quero minha irmã falando sobre eu
transando, Ren não quer ouvir sobre seu irmão transando, e
Aiden definitivamente não quer ouvir sua esposa
reconhecendo o apelo sexual de seu irmão.
Antes que eu possa dizer mais alguma coisa sobre o
assunto, minha visão periférica, na qual confiei mais do que
nunca nos últimos anos, muda, fazendo-me virar para a
direita.
Willa está a poucos metros de distância, um olhar
incrédulo apertando seu rosto.
— Professor MacCormack? — seus lábios dizem.
Deus, seus lábios. Eles parecem picados por abelha,
impossivelmente macios. Eu odeio ter que fazer isso para
entendê-la, eu tenho que olhar para aquela boca carnuda,
especialmente agora que eu sei que ela não me odeia sem um
bom motivo, o que tornaria odiá-la de volta muito mais fácil.
Ela me odeia porque pensa que eu estava sendo um idiota e
a ignorando.
Muito, muito mais difícil de odiar agora.
— Willa, ei! — Aiden meio que se levanta, mas Freya o
está prendendo dentro da cabine e dando a ele um olhar
mortal. Lentamente, ele afunda de volta em sua cadeira.
O olhar de Willa dança entre nós.
— Uau.
— Willa, isso não é bem o que parece — diz Aiden. — Eu
sei que foi difícil para você sobre as notas, e eu entendo por
que você está confusa sobre por que Ryder as recebe, quando
eu não as dei a você, mas a coisa é...
Sua mão voa para cima.
— Vou passar a desculpa. Você deixou claro que, embora
esse cara tenha recebido um tratamento especial, preciso me
defender sozinha.
Uma loira de pernas compridas está atrás de Willa, sua
sobrancelha franzida em desaprovação.
— Você é um vergonhoso pedaço de merda — diz ela, os
olhos em Aiden. Sua boca começa a voar, então não posso
mais segui-la. Ren está ciente disso e pega seu telefone,
transcrevendo o que ela diz para mim em nosso texto
privado.
“Você não acha que as atletas femininas já têm dificuldade
suficiente? Cada professor nosso fornece o que precisamos, em vez
de nos obrigar a implorar. Tive a impressão de que não é tão difícil
ser um ser humano decente, mas aqui está você, provando que estou
errada. Vai se foder e boa noite.”
Antes que qualquer um de nós pudesse começar a
explicar, a loira alta puxa Willa pelo braço e as vira, em
seguida, sai pela porta.
Ren deixa cair seu telefone, genuinamente
impressionado, e bate palmas enquanto elas vão.
— Droga.
Aiden esfrega o rosto. Não consigo ver sua boca, mas
aposto meu pé direito que ele está dizendo merda baixinho
em repetição.
Freya pega sua cerveja e termina, em seguida, passa a
mão na boca.
— Já disse isso e vou repetir: os homens são idiotas.
Lembre-me, por que eu me casei com você?
Aiden abaixa a cabeça na mesa, mas consegue digitar sua
resposta no chat em grupo. Boa pergunta.

Minha perna balança de nervosismo quando a aula


começa. É quase cômico neste ponto, mas o único assento
que posso ver que está vago está ao meu lado, de novo. Aiden
está tagarelando sobre uma fórmula que eu já peguei o jeito
quando me preparei para a aula ontem à noite, quando Willa
desce a rampa, sacudindo a mochila quase tanto quanto seu
cabelo rebelde que não consegue se decidir entre as ondas ou
cachos.
Ela usa um moletom que afoga completamente seu corpo,
e ela parece sem fôlego, o que significa que ela deve ter
corrido todo o caminho até aqui, já que ela está obviamente
em uma forma incrível. Lentamente, ela para no assento
vago ao meu lado, enquanto Aiden dá uma aula e
intencionalmente ignora sua chegada tardia.
Seus olhos encontram os meus, cheios de ódio. Aquelas
íris âmbar mais uma vez se transformam em cobre raivoso.
Se ela pudesse explodir em chamas, ela o faria.
Ela está impetuosa e irritada. Acho muito mais agradável
do que deveria.
Porque quando perdi minha audição, a vida diária
assumiu uma severa planura bidimensional, da qual ainda
não me recuperei totalmente. Muito do que eu amava foi
perdido para mim – tocar música, competições de futebol,
noites turbulentas com amigos. Estou entediado. Minha vida
social está truncada para alguns amigos que ficaram por
perto e minha família, meu tempo livre gasto trabalhando
compulsivamente, passando tempo na natureza e fazendo
trabalhos escolares. Não é uma existência particularmente
fascinante.
O que significa que Willa Sutter é uma distração bem-
vinda e ela é surpreendentemente fácil de provocar. Sou o
filho do meio em uma ninhada de sete, então sei uma coisa
ou duas sobre provocar. É minha área de especialização, na
verdade.
Eu fico olhando para ela, certificando-me de adicionar
um toque de sorriso à minha expressão. Apenas o suficiente
para irritá-la.
Se a curvatura de seu lábio é qualquer indicação, ela
rosna para mim enquanto se senta em sua cadeira e bate seu
caderno na mesa. Em seguida, ela puxa a capa e bate a caneta
na superfície também. Eu ouço apenas um pouco, mas sinto
a intensidade em todos os seus movimentos.
Eu quase me sinto mal que ela está frustrada, até eu me
lembrar que ela não deu sequer a Aiden ou a mim uma
chance na outra noite para nos explicarmos, não que eu
realmente teria sido capaz de fazer.
Não que ela saiba disso.
Se eu fosse Willa, tão desesperada por essas notas quanto
Aiden me disse que ela está, eu teria me acalmado o
suficiente para ouvir meu professor. Eu teria sido sensato o
suficiente para perceber que era a única maneira de descobrir
o que estava acontecendo e conseguir o que precisava. Mas
sou uma pessoa prática e sensata. Willa Sutter claramente
não é. Se seu temperamento esquentado a mantém fazendo
suposições de merda e vendo o pior em uma pessoa, isso é
problema dela, não meu.
Minha empatia por ela foi longe o suficiente para que,
quando nos separamos no estacionamento depois do jantar,
eu disse a Aiden que ele precisava explicar a situação para
Willa. Ele é quem criou essa confusão em primeiro lugar. Sua
culpa não se estendeu tão longe.
— Você tem voz, Ryder — disse ele. — Use-a.
Idiota.
Eu roubo um olhar para Willa, que parece ter se dobrado,
seus olhos passando várias vezes do quadro para seu
caderno. No meio da aula, ela levanta a mão, parecendo
desafiadora e como se fosse a última coisa que ela queria
fazer. Não consigo ouvir o que ela diz, já que ela está sentada
à minha esquerda, com a boca voltada para Aiden, mas sua
resposta torna mais fácil descobrir.
— A resposta a essa pergunta é uma fórmula que quebrei
na aula duas semanas atrás, Willa. Eu sugiro fazer anotações
quando estiver aqui para que você possa consultá-las.
O que, claro, coloca o foco de Willa mais uma vez em
mim, destinatário talentoso das notas. Eu vou matar meu
cunhado. Freya pode sentir falta de Aiden por um tempo,
mas ela vai superá-lo.
Lentamente, os olhos de Willa vagueiam em minha
direção. Eu não posso deixar de olhar para cima e encontrá-
los. Se olhares matassem, os dela o fariam. As chamas
explodiram em suas íris. Suas bochechas estão manchadas
de rosa. Ela é o retrato de puto. Eu, por outro lado, sou
plácido como um lago. Calmo, calmo, parado. Eu mantenho
seu olhar enquanto ela segura o meu. Pela segunda vez, ela
pisca primeiro, depois se vira para a frente da sala.
O primeiro golpe acontece cinco minutos depois, quando
um cotovelo pontudo acerta minhas costelas. O vento sai de
mim enquanto giro instintivamente em sua direção. Willa
está composta, olhos em seu caderno, anotando as palavras
de Aiden furiosamente.
Ohhh, Sutter. Dois podem jogar este jogo.
Eu finjo esticar minhas pernas e chuto seu pé, sacudindo
sua perna de ser cruzada sobre a outra. Ela tomba para o
lado, quase caindo da cadeira com o impacto. Quando sinto
seu olhar lívido em mim, estou vasculhando minhas
anotações, olhos baixos.
De repente, um braço vem em minha direção e acerta
meu boné. Eu chego atrás do meu assento imediatamente e
o pego. Afastando meu cabelo para trás, puxo meu chapéu
para baixo sobre os olhos. Boné de volta no lugar, eu me viro
para ela e lhe dou um olhar gelado.
— Oops — ela diz com aqueles malditos lábios picados
de abelha. Seus braços abaixaram de sua posição de
alongamento fingida. — Foi mal.
Cansei de fingir que não vou devolvê-la o inferno.
Inclinando-me lentamente em sua direção, vejo seus olhos se
arregalarem, aqueles lábios carnudos se abrem de surpresa.
Mais perto, mais perto até que nossos narizes estejam a
apenas alguns centímetros de distância. Enquanto eu tenho
seus olhos, eu alcanço, encontro um bom pedaço grosso
daquele cabelo selvagem e dou um puxão forte.
— Ai! — sua boca diz, mas eu percebo um barulho fraco.
Considerando o quão fodidos meus ouvidos são, isso
significa que ela deve ter gritado.
Aiden se vira, os olhos disparando entre nós dois. Sou um
filho do meio experiente. Eu sei como me safar de coisas
piores do que isso, então já estou inocentemente anotando
algo nas margens das minhas notas de aula.
Meus olhos enganam um olhar por baixo da aba do meu
boné, enquanto vejo Aiden dizer:
— Srta. Sutter, está tudo bem?
Willa está cuspindo, sua mão ainda segurando seu
cabelo, mas parece que ela está sem palavras.
— Tudo bem então. — Aiden retorna seu foco para a
classe. — Nós vamos parar por aí. Agora é hora de falar sobre
a final. Duas coisas. Qualquer pessoa que fez o dever de casa
antes de se inscrever para a minha aula leu na descrição do
curso que esta prova final é única. Na verdade, é o que mais
me orgulho nesta aula. Empresas de sucesso são
inerentemente colaborativas. Elas exigem trabalho em
equipe, compromisso e unidade de mensagem e propósito.
Portanto, esta prova final envolve trabalhar com seu parceiro
para criar um modelo de negócios abrangente e um plano de
orçamento, bem como para testar em conjunto...
Um gemido maciço o interrompe.
Aiden solta seu sorriso sinistro. O homem tem muito
prazer em torturar alunos.
— Isso vai te ensinar a não pular a descrição do curso
novamente. E não tente escapar disso. Legalmente, é à prova
d'água. Você se inscreveu e, ao fazê-lo, consentiu com os
termos desta aula.
Willa esfrega o rosto, levando-me a pensar que ela pode
ser um daqueles patos azarados que não leram a descrição do
curso.
— Seu parceiro faz um teste escrito. Você pega uma outra
metade de cortesia. Juntos, vocês dois completam a prova
final. — Os olhos de Aiden dançam ao redor da sala. — Eu
ouvi de alunos anteriores que eles ficaram agradavelmente
surpresos com o subproduto natural desse emparelhamento.
Isso os incentivou a trabalhar melhor em conjunto e a estudar
extensivamente, tanto para o exame intermediário quanto
para o exame final. Então, sem mais delongas, tenho pares
colaborativos designados, que colocarei no projetor em
apenas um segundo. — Inclinando-se, Aiden pressiona um
botão em seu laptop, mudando a imagem para um gráfico de
linhas organizado com nomes em duas colunas.
Imediatamente, meus olhos começam a vasculhar, enquanto
o medo enche meu estômago.
Ele não iria. Ele não ousaria.
Com as mãos nos bolsos, Aiden sorri para o mar de
alunos.
— Boa sorte a todos!
Finalmente, eu encontro. Ryder Bergman. Na coluna
adjacente, Willa Sutter.
Filho. da. Puta.
4

NO ENSINO FUNDAMENTAL, quebrei meu tornozelo durante


um jogo e consegui jogar direto na prorrogação.
Obviamente, tenho um alto limiar de dor, uma tolerância ao
sofrimento. Isso, no entanto, está forçando-o.
— Você tem que estar brincando comigo — murmuro.
Lá estamos nós, Ryder e eu, emparelhados para a final.
Não apenas temos que colaborar pelo resto do semestre, mas
também temos que concordar com a ideia de um projeto,
trabalhar juntos e testar cumulativamente bem o suficiente
para garantir que eu seja aprovada. Impossível é o
eufemismo do século.
Ryder suspira e esfrega o rosto.
— Escute — digo a ele. — Eu também não estou
entusiasmada.
Ele não responde. É quase como se ele nem me ouvisse.
Na verdade, parece que ele nunca me ouviu. Sou amiga de
Rooney há tempo suficiente para saber que essa é sua maior
reclamação com os homens: "Eles simplesmente não ouvem,
Willa! Eles não tentam entender.”
Ryder até agora parece completamente típico neste
aspecto.
— Ei. — Eu cutuco seu braço e ganho sua atenção
abrupta. Bem, olá, músculos sobre músculos. Droga.
Ele se endireita na cadeira, virando-se para olhar para
mim. Mesmo à sombra de seu boné, seus olhos são de um
tom injustamente impressionante de verde-grama.
— Qual é o seu problema? — Eu pergunto.
Seu olhar vai para minha boca, então para minhas mãos,
onde estou girando meu telefone na minha mesa. De repente,
sua mão pousa pesadamente sobre a minha, parando meu
movimento inquieto. A respiração sai dos meus pulmões.
Seu aperto é quente, seus dedos longos, sua palma calejada.
Ele está mais perto e eu sinto um leve cheiro de pinheiro e
sabonete macio e limpo.
Seus dedos se enrolam suavemente em torno do meu
telefone antes de Ryder o passar e segurá-lo no meu rosto,
presumindo corretamente que eu uso o Face ID para
desbloqueá-lo. Depois de aberto, ele cria uma nova
mensagem em branco enviada para um número que não
reconheço. Eu fico olhando para baixo, observando aquelas
três bolhas, em seguida, olho para ele, enquanto seus
polegares voam sobre as teclas.
Sou surdo, diz a mensagem. É assim que posso falar com você.
Eu fico boquiaberta. Ele não pode ouvir. Isso explicaria...
bem, muito. Mas ainda assim, mesmo se ele for surdo, não
há defesa para ele me chutar e puxar meu cabelo.
Você começou.
Tudo bem, eu comecei. Porque ele estava sendo um
idiota.
Ele não estava sendo um idiota. Você é a idiota. Ele não podia
te ouvir e você presumiu o pior e o tratou como lixo.
— Ugh — eu gemo, soprando uma lufada de ar pelas
bochechas. Então, pego meu telefone. Estou prestes a enviar
uma mensagem quando sua mão pousa pesadamente na
minha novamente. Eu olho para cima e meu coração dá um
salto estranho. Tem uma intensidade nele. Ele engole a
cadeira em que está sentado, as pernas esticadas muito além
da mesa. Ele apoia o cotovelo em sua superfície e seu bíceps
de lenhador tem seu próprio código postal. Na verdade, ele
é um pouco intimidante. Bem, ele seria. Se eu fosse do tipo
intimidada.
Ryder aponta para o olho, em seguida, coloca um dedo
bem fora da minha boca. Eu tremo com o toque da ponta do
dedo traçando minha bochecha.
— Você pode ler os lábios?
Ele acena com a cabeça, mas com a mão livre, ele gesticula
como as pessoas fazem quando querem que você diminua a
velocidade.
— Lentamente. Se eu falar devagar.
Ele concorda.
— Mas você não fala?
Ele balança a cabeça. Meus ombros caem. Como caralhos
vamos nos comunicar? Só conheço um pouco de linguagem
de sinais americana, porque todas as noites, no verão, após
meu turno na livraria, era babá de uma menina de sete anos,
chamada Lola, que era deficiente auditiva. Mamãe me
ensinou um pouco de ASL que ela aprendeu em seus anos
de enfermagem, e eu memorizei um pouco para cuidar de
Lola, mas você sabe como funciona – use ou perca – e já faz
anos. Eu perdi isso. Na verdade, me lembro de uma
expressão-chave, que Lola e eu usávamos regularmente.
Eu sinto muito. Eu fecho o punho e circulo minha mão
sobre meu coração.
— Eu não sabia — digo a ele. — Eu pensei que você fosse
apenas um lenhador idiota.
Sua boca se contorce de diversão. Olhando para o
telefone, ele digita, Lenhador? O quê, porque eu uso flanela?
— E uma barba. E botas. Você está em Los Angeles,
musculoso, não no noroeste do Pacífico. Como você não está
assando?
Ele inclina a cabeça para baixo e, se não me engano, quase
fiz o idiota sorrir.
É fino, ele digita. Eu não visto nada por baixo.
Minhas bochechas esquentam. O lenhador parece
musculoso. Não é difícil imaginar o abdômen definido e
peitorais de aço escondidos sob o xadrez macio e puído. Eu
o provoquei sobre isso, mas o homem pode usar flanela. Ela
se agarra à curva de seus ombros arredondados, a ondulação
de seu bíceps, mas deixa o suficiente de sua forma para a
imaginação que eu acabei de passar trinta segundos
estupidamente olhando para ele e me perguntando que tipo
de calor ele está colocando sob aquela roupa de lenhador.
Eu paro de encarar, então, para esconder meu rubor,
curvo meu telefone e digito em vez de dizer. Bem, de qualquer
forma. Sinto muito pelo mal-entendido.
Sua resposta é incrivelmente rápida, mas acho que se essa
fosse a única maneira de falar hoje em dia, também tentaria
ser bem rápida. Tudo bem. Um mal-entendido compreensível. E
por falar nisso, no restaurante, foi um jantar em família. Não somos
amigos – MacCormack é meu cunhado. Estou prestes a estrangulá-
lo porque esta situação é inteiramente culpa dele.
Eu olho para cima e fico boquiaberta com Ryder.
— Sério?
Ele acena com a cabeça, então digita, Sim. Culpe o professor
maluco.
Isso faz uma gargalhada escapar. Eu cubro minha boca,
tentando esconder o quão engraçado eu achei.
Além disso, não uso muito libras, escreve ele. Isso é... mais
novo.
Eu leio seu texto, então olho para ele.
— Quer dizer que você nem sempre foi surdo?
Ele franze a testa e bate em meus lábios com o dedo,
deixando minha pele queimando com seu toque. Voltando-
se para o telefone novamente, ele digita: Abra a boca.
Desacelere. Você murmura pior do que meu irmão. Como se sua
mandíbula estivesse fechada.
O lenhador é mandão. Bruto. É extremamente irritante.
Irritação percorre meu corpo, um rubor quente manchando
minhas bochechas. Varrendo meu telefone, eu digito
Desculpe, eu pulei minha lição de elocução esta manhã, Professor
Higgins. Eu não esperava ser abordada por um lenhador com
deficiência auditiva mandão.
Suas sobrancelhas se erguem enquanto seus polegares
voam sobre o telefone. Excelente. Uma resmungona * e * uma
apaziguadora vergonhosa.
Ofegante, bato na mesa e me viro para ele.
— Não sou!
Meu telefone apita. Relaxa, estressadinha. Eu estava
brincando.
Estou apenas um pouco aliviada por ele não estar
realmente me acusando de envergonhá-lo por ser surdo. Eu
franzo a testa enquanto escrevo: Você sempre é assim tão idiota?
Você sempre é tão cabeça quente? ele atira de volta.
Nossos olhos se encontram enquanto os dois telefones
chegam às nossas mesas.
Respirando fundo, decido me elevar acima dos insultos
mesquinhos e começar a trabalhar.
— Como vamos fazer isso? — Eu pergunto.
Ryder dá de ombros e pega o telefone. Você tem um
Macbook?
Eu concordo.
Bom, ele digita. Traga-o para nossa primeira sessão de
trabalho. Podemos sentar um em frente ao outro e enviar
mensagens de texto no Messenger como se estivéssemos
conversando. É estranho no começo, mas você vai se acostumar. A
menos que você queira solicitar um parceiro diferente. Eu entendo
que não é um emparelhamento ideal.
Algo dá um nó em meu peito enquanto leio essas
palavras. Ele se despede tão facilmente. É como se ele
esperasse ser descartado porque alguém poderia achá-lo
inconveniente.
Eu não me importo, se você não se importar, eu escrevo.
O fantasma de um sorriso puxa sua boca enquanto ele lê,
antes de ser apagado por uma expressão estoica. Quando
seus olhos encontram os meus, ele encolhe os ombros
novamente.
Meu telefone apita com uma nova mensagem.
Funciona para mim.

— Você quer dizer que aquele idiota está vindo aqui? —


Rooney grita.
Eu mexo um dedo no meu ouvido que zumbe.
— Sim, Roo. Foi um grande mal-entendido. Quer dizer,
ainda o acho irritante, mas há um motivo pelo qual ele não
me deu as anotações. Ele não conseguia me ouvir.
As sobrancelhas de Rooney se erguem.
— O quê?
— Ele é surdo. MacCormack simplesmente não pareceu
achar importante me dizer quando me indicou Ryder. Ryder
me disse que é a viagem de MacCormack. Em sua mente, as
pessoas boas descobrem isso sendo diligentes e de mente
aberta, e as pessoas más falham porque são prejudicadas no
momento em que Ryder não responde. Eu falhei. Eu presumi
que ele estava me ignorando e praticamente evoluí para lutar
com ele na aula.
— Espera, o quê? — Rooney se senta à mesa da sala de
jantar, enquanto eu refogo camarão, alho e cebolinha na
manteiga. O linguine grosso fica na frigideira ao lado,
misturado com azeite e um pouco de parmesão. Todo o lugar
cheira a Mamãe e ao meu restaurante italiano favorito,
Squisito.
Meu coração afunda um pouco. Já se passou muito tempo
desde que estivemos lá. Talvez eu compre comida para levar
no Squisito e leve para o hospital quando for visitar amanhã.
Mas então eu imagino mamãe tentando comer toda aquela
comida rica e pesada que ela não consegue engolir apenas
para me acalmar, pegando frouxamente seu parmesão de
frango e forçando mordida após mordida.
Talvez eu não vá buscar Squisito.
— Willa?
Eu saio dessa.
— Certo. Bem... eu dei uma cotovelada nele. Eu estava tão
chateada que ele não estava me dando as anotações. Então,
eu dei uma cotovelada nele, ele chutou meu pé, eu tirei seu
boné e ele puxou meu cabelo.
Rooney revira os olhos.
— Você deveria apenas ter falado com ele.
— Eu tentei!
Na verdade. Você falou o mínimo possível – como de costume –
e então presumiu o pior.
Também típico de mim. Mas tenta ter um pai doador de
esperma que nunca se preocupou em conhecê-la, e uma série
de namorados de curto prazo decepcionantes, então veja
onde isso o leva em sua opinião sobre os homens.
Rooney abre a boca, provavelmente para dizer uma
besteira, mas uma batida na porta nos interrompe.
— Ah! — ela grita. — Esse é ele.
Volto minha atenção para o camarão que está
cozinhando.
— Sim, Capitã Óbvio, é sim. Agora vá atender a porta,
por favor. Estou coberta de alho e tenho que adicionar o
vinho branco agora.
Rooney foge da cadeira e vai até a porta, gritando quando
ela olha pelo olho mágico.
— Sabe, eu estava um pouco furiosa da última vez para
notar, mas ele é meio fofo. Pelo menos seus olhos são. Eu
realmente não consigo ver o resto dele.
— Ninguém pode. Ele é incapaz de raspar o rosto ou usar
qualquer coisa além de uma carranca, um boné e flanela.
Agora abra a porta, já.
Rooney a abre e o tempo para enquanto eu espero. Como
será, para Ryder estar no meu apartamento, sentado à minha
frente à mesa enquanto trabalhamos juntos? Ele é rude e mal-
humorado e ainda não me ofereceu as notas, mas, mesmo
assim, ele possivelmente não é tão terrível quanto eu
pensava, considerando que ele realmente não me ouviu.
Mesmo assim, é difícil. É difícil olhar para trás para a
resposta dele e não ficar com raiva, mesmo que haja uma
explicação que torne minha raiva irracional.
Talvez seja porque sinto que Ryder gosta de me irritar e
me tirar do sério. Talvez seja porque eu tenho um
pressentimento de que mesmo que ele não fosse surdo, ele
poderia muito bem ter fingido ter problemas de audição
quando perguntei a ele. Ryder é um provocador, um
antagonista, um pé no saco. Como eu. Eu reconheço quando
vejo um de minha espécie.
Ele entra, bolsa de corpo cruzado sobre o ombro e boné
puxado para baixo. Mais uma vez, lembro que ele não é
apenas um idiota. Ele é um idiota alto. Ombros largos,
pernas longas. Parece que sua presença ocupa metade do
apartamento. Sua cabeça se inclina quando ele se vira para
mim. Rapidamente seus olhos vagam pelo meu corpo, então
para a minha direita, quando ele percebe panelas
bagunçando o fogão.
Nossos olhos se encontram. Os dele são escuros e
intensos enquanto se fixam nos meus. É perturbador.
— O quê? — Eu pergunto.
Ele faz uma pausa, parecendo deliberar antes de acenar
com a mão em direção ao nariz, fingindo saborear um aroma
delicioso. Então, seus dedos tocam seu queixo antes de cair.
Eu conheço esse sinal.
— Cheira bem?
Seus lábios mal se puxam em um sorriso, e ele acena com
a cabeça.
Rooney olha entre nós, perplexa por não estarmos
arrancando as jugulares um do outro. Ainda há tempo para
isso.
— Então, não o odiamos mais?
Minha cabeça gira para ela, e Ryder segue o exemplo.
Seus olhos se estreitam. Ele perdeu o que ela disse.
— Você não pode falar por trás dele, Roo. Diga isso de
novo.
Seus olhos se arregalam.
— De verdade?
Ryder acena com a cabeça.
— Eu disse… — Rooney pigarreia, suas bochechas
ficando rosadas. — Eu disse “então não o odiamos mais?”
Ryder sorri, então dá de ombros, gesticulando em minha
direção, como se dissesse: Depende dela.
Rooney ri nervosamente.
— Ok, eu só vou… — Ela sai correndo da sala. — Me
chame quando o jantar estiver pronto!
Eu franzo a testa para Ryder, em seguida, volto para a
massa, adicionando um toque final de vinho branco e
observando cozinhar. Depende de mim, não é? Como se eu
fosse a responsável por toda essa frustração. Claro, é
principalmente culpa de Mac – ele nos armou para um
grande mal-entendido – mas você está me dizendo que
quando você é surdo, talvez não devesse avisar sua dupla de
mesa sobre isso?
Ele deve a história de sua vida a alguém que já apenas sentou
ao lado dele? Além disso, você deu a ele olhares mortais. A primeira
vez que ele te viu, era assim que você estava olhando para ele.
O som de uma foto sendo tirada me abala. Ryder inclina
o telefone na minha direção, me mostrando uma foto do meu
perfil. Meus olhos estão estreitos, meu foco na comida
enquanto eu sei que secretamente meus pensamentos
estavam girando sobre o idiota que virou fotógrafo furtivo.
Meu cabelo é uma bola gigante na minha cabeça. Cachos
soltos se acumulam em meu pescoço, orelhas e têmporas.
— Quê?
Eu bato em seu ombro, mas ele acena com a mão, como
se dissesse: Não, não, você não entendeu. Apontando primeiro
para a panela onde estou cozinhando, depois para a foto,
especificamente, a metade dela ocupada pelo meu cabelo,
Ryder então coloca seu telefone no balcão, coloca as mãos em
volta da cabeça e faz o gesto estonteante.
O calor sobe pelo meu pescoço.
— A umidade do cozimento tende a fazer meu cabelo
ficar maior, sim, seu idiota.
Ele ergue uma sobrancelha e sorri enquanto seus
polegares voam sobre seu telefone. Meu telefone apita.
Faz maravilhas com ele.
Eu rosno, empurrando seu telefone em seu peito e me
certificando que ele pode ler meus lábios.
— Delete isso. Sua mãe não te ensinou a não tirar foto de
uma senhora sem o consentimento dela?
Meu telefone apita quase imediatamente.
Não sabia que estava lidando com uma senhora.
— Fora da minha cozinha, Bergman. — Eu jogo a mão na
direção da mesa da sala de jantar enquanto pego meu
telefone para digitar. E me deixe ser clara que se você não fosse
meu parceiro obrigatório para esta aula, e meu GPA não estivesse
dependendo do nosso trabalho, eu teria chutado sua bunda para a
calçada cinco minutos atrás.
Meu telefone apita.
Devidamente anotado.
Voltando para a comida, eu jogo o macarrão, o camarão
e um pouco de molho, talvez com mais força do que o
necessário, mas preciso de algo para canalizar minha fúria.
Meu cabelo é um assunto delicado. Estou constantemente me
exercitando e tomando banho, então, embora tudo que leio
sobre como domar ondas grossas e encaracoladas como as
minhas diga que preciso me lavar menos e condicionar mais,
isso simplesmente não é prático para o quão ativa eu sou. Eu
também odeio que meu cabelo rebelde obviamente veio do
doador de esperma, já que o cabelo de mamãe é liso
escorrido. Todos os dias, meu cabelo é uma lembrança do
cara que fodeu e engravidou minha mãe, que não queria
nada comigo. Ryder não sabe de nada disso, mas não
importa. Ele me provocou sobre isso, e agora ele vai pagar.
Eu olho para o recipiente de pimenta de Caiena na
prateleira de temperos. Rapidamente, coloco um pouco em
uma tigela, despejo o molho nela, depois bato e coloco de
lado para servir a Ryder. Apenas o suficiente para fazer sua
língua suar, então fazê-lo cagar fogo por algumas horas.
Atrás de mim, ouço Ryder desfazendo a bolsa na mesa, o
clique de seu laptop na superfície de madeira, a dança de
seus dedos nas teclas. Meu telefone apita.
Presumo que a maior parte disso seja para mim.
Solto uma risada sem humor. A audácia desse cara.
Presunçoso de sua parte, eu digito.
Um som suave o deixa, quase como uma gargalhada.
Arrepios percorrem minha espinha. É muito rude cozinhar na
frente de alguém e não oferecer.
Eu rolo meus olhos. Bem, como você disse, você não está
lidando com uma senhora. Rude é minha especialidade. Começo
uma nova mensagem, digitando, estava planejando alimentá-
lo, Lenhador. Contando que com isso consigo te deixar menos mal-
humorado.
Ele se vira, congelado de perfil. A boca de Ryder se abre
e ele parece que está prestes a dizer algo para mim, ao invés
de digitar, não que eu tenha a impressão de que ele poderia.
Eu fico olhando para o contorno de seus cílios grossos, seu
nariz longo e reto, esperando. Mas ele volta para o
computador e digita: Não estou mal-humorado.
Você está mal-humorado, escrevo de volta. Bem quando
estou prestes a dizer a ela que o jantar está pronto, Rooney
praticamente salta de volta para a sala.
Ela tem um rubor de culpa nas bochechas e fica nervosa
olhando para Ryder. Ela é uma alma transparente, então eu
sempre gosto de cutucá-la quando sei que ela não pode
mentir para salvar a própria bunda.
— Que interessante — digo a ela. — Você sabia
instintivamente quando voltar para comer. É quase como se
você estivesse nos observando por aquela fresta minúscula
na porta do seu quarto.
— Eu sou como um cachorrinho — diz Rooney, jogando
o cabelo por cima do ombro e evitando meus olhos. — Eu
tenho olfato apurado e sei exatamente quando a comida está
pronta, então venho correndo.
— Claro, Roo. — Desligando o fogão, coloco a massa em
três pratos separados, tendo o cuidado de despejar o molho
de Ryder em seu prato. Entregando o dela à Rooney, dou um
tapinha em sua bochecha. — Corra, bisbilhoteira.
O rosto de Rooney cai.
— Ok, eu bisbilhotei. Mas foi como um filme mudo sexy,
todos esses olhares carregados e linguagem corporal sensual.
— Ela se abana. — Vocês são um entretenimento melhor do
que uma partida de tênis silenciosa e suada. Bem, acho que
é silencioso, exceto por todos os grunhidos que eles fazem.
A ideia de grunhir e qualquer coisa suada envolvendo
Ryder estranhamente envia uma onda de calor entre minhas
pernas. Eu poderia me dar um tapa.
— Pare de falar assim. — Eu puxo o rabo de cavalo de
Rooney. — Vá embora.
— Tudo bem — ela diz afetadamente, girando com seu
macarrão. Quando ela está no limiar da porta de seu quarto,
ela se vira, acenando para Ryder. — Tchau! — ela
praticamente grita.
Ryder estremece, então dá a ela um aceno relutante.
Eu coloco seu prato na mesa, em seguida, circulo a mesa
e me sento com o meu.
— Sem alergia a marisco? — Eu pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Droga.
Os olhos de Ryder se estreitam. Quase parece que ele está
reprimindo um sorriso. Ele tira o chapéu, um gesto
surpreendentemente educado e cavalheiresco. Depois de
pentear todo aquele louro grosso e desgrenhado para trás e
prendê-lo com um laço de cabelo, ele mergulha o garfo na
massa.
Eu o observo com uma alegria de Grinch. Mas depois de
duas mordidas, ele está agindo tranquilamente. Ele deveria
estar se contorcendo em suas calças de homem da montanha
agora.
Ele dá outra mordida e mastiga pensativamente. Sem
desconforto. Nada.
Droga. Claro, o lenhador é uma daquelas aberrações
praticamente sem receptores de capsaicina. Sou sortuda
demais.
Os olhos de Ryder estão em seu prato. Eu poderia bater
na mesa, mas não tenho certeza se ele acha isso útil ou
ofensivo. Não sei se acenar funcionará porque seus olhos
estão fechados enquanto ele mastiga um pedaço de
macarrão. Timidamente, deslizo meu pé por baixo da mesa
até que nossos dedos se toquem.
Seus olhos se abrem, então encontram os meus.
— O gosto está bom? — Eu pergunto.
Ele franze a testa, pousando o garfo. Levantando uma
mão, ele a balança de um lado para o outro, o gesto universal
para mais ou menos.
O calor sobe em minhas bochechas. Conforme minha
temperatura dispara, seu sorriso se aprofunda. De repente,
ele se vira em direção ao seu computador, seguido
rapidamente por um ding do Messenger no meu laptop.
Você é divertida de provocar.
Eu franzo o cenho para o laptop enquanto digito, e você é
um pé no saco.
Outro som suave o deixa, enquanto ele se vira em direção
ao macarrão. Eu passo a maior parte da minha refeição
olhando para o topo de sua cabeça, mal saboreando minha
comida.

É uma má ideia, ele digita.


Não, é uma ótima ideia, escrevo de volta.
Nossos olhos dançam sobre nossos laptops um para o
outro, nossas posições refletem imagens de intratabilidade
teimosa do outro lado da mesa. São dez horas. Terminamos
o jantar há duas horas e ainda não chegamos a um acordo
sobre um projeto comercial.
Organizações sem fins lucrativos para crianças com
necessidades especiais. Eu escrevo, Organizações sem fins
lucrativos voltadas para atividades ao ar livre e esportivas para
essas crianças são ainda mais raras e menos bem financiadas. Este
modelo depende não apenas de doadores externos, mas também de
angariadores de fundos para competições esportivas e ao ar livre,
bem como vendas internas que comercializam a criatividade das
crianças – artesanato, arte, produtos de panificação e...
Ninguém paga dez dólares por uma dúzia de biscoitos, ele
digita. E isso é arte infantil, não um Monet em leilão.
Ok, eu escrevo, então talvez essa parte do orçamento seja um
exagero.
Exagero? É delirante. Estou com você em um negócio voltado
para roupas esportivas e atividades ao ar livre e, claro,
equipamentos e treinamento para diferentes necessidades e
habilidades. Mas essa ideia de organização sem fins lucrativos é
uma perda de tempo.
Meus olhos se fixam nos dele enquanto fecho meu laptop
com força.
— Você está sendo obstinado.
Ele arranca o boné, passando as duas mãos pelos cabelos.
Uma sensação estranha toma conta de mim, observando
aqueles dedos longos rasparem seus cachos loiros sujos,
puxando, penteando repetidamente. Os tendões em seus
braços estouram e a maior parte de seu bíceps pressiona
contra as mangas de sua camisa. Com uma mão, ele pega seu
telefone e digita mais rápido do que eu jamais poderia
sonhar em fazer.
Meu telefone apita.
Não estou sendo obstinado. Estou sendo prático. Você também
precisa ser. Você sabe o quão pouco a NWSL2 paga. Você terá que
se sustentar com patrocínios e acordos comerciais inteligentes. Você
está falando como se os negócios não fossem inteiramente sobre
negociação ardilosa e lucro. Isso é *tudo* sobre o que se trata, Willa.
Um grunhido me deixa enquanto eu fico de pé, batendo
as palmas das mãos na mesa, em seguida, me inclino.
— Você é ótimo em empatar ideias, Ryder, mas sabe no
que é péssimo? Oferecer boas.
Me afastando, tiro os dois pratos da mesa e os jogo na pia
com tanta força que posso ter acabado de quebrar um.
Sua crítica sarcástica destacando meu ponto fraco é a
última coisa que eu precisava ouvir. Eu odeio que ele esteja
certo, que a Liga Nacional de Futebol Feminino, embora não
pague de forma ideal, vai abrir portas para mim, portas que
exigirão que eu faça o que sou péssima – negociações difíceis,
tendo conversas agressivas e desconfortáveis sobre
pagamento e percentagens que me fazem urinar da cabeça

2
A National Women's Soccer League é uma liga profissional de futebol feminino dos Estados Unidos.
aos pés e enlouquecer. Eu estou nervosa sobre como vou ter
sucesso e me sustentar durante o jogo, mas eu estou tentando
aprender. As agulhas de Ryder apenas atingiram aquela
parte tenra e insegura dos meus planos para o meu futuro.
Talvez ele tenha dito isso, como quase tudo que ele faz,
provocativamente, apenas para me irritar, mas ele não sabe
como minha pele é sensível, como me sinto quebrável na
maioria das vezes.
Levantando-se lentamente, Ryder pega o telefone da
mesa e o coloca no bolso, em seguida, caminha da mesa de
jantar para a área da cozinha. Ele faz uma pausa, arrastando
o punho sobre o coração, exatamente como eu fiz antes. Eu
sinto muito.
Eu olho para ele. Estou magoada e irritada, irritada
porque, para cada coisa boa que ele tem a dizer, ele tem o
dobro de intensidade. Estou cansada e pronta para dormir
após um dia exaustivo.
— Tanto faz, Ryder. Tenha uma ideia e vamos nos
encontrar na próxima semana.
Sua mandíbula aperta, antes que a máscara legal que ele
usava na aula desça sobre suas feições. Um forte encolher de
ombros é tudo que recebo, antes que ele gire, pegue seu
laptop e o enfie na bolsa. Estou bem treinada para esperar a
decepção dos homens. Tenho certeza de que ele está prestes
a sair por aquela porta sem nem um obrigado. Mas, em vez
disso, ele retorna para a cozinha e me evita até a pia.
Eu me movo para bloqueá-lo, mas sua mão agarra meu
cotovelo. Com muito pouco esforço de sua parte, Ryder me
arrasta em direção ao outro lado da sala. Uma palma sobe.
Fique.
Franzindo a testa, cruzo os braços e olho para ele. Ele se
vira antes que eu possa dizer qualquer outra coisa,
rapidamente jogando a água nos pratos, limpando-os e
usando o triturador de lixo da pia. Ryder se curva para abrir
a porta da máquina de lavar louça e coloca nossos pratos e
talheres lá dentro, então a fecha. Eu o vejo levar as panelas,
utensílios e tigelas que usei para a pia, esguichar sabão neles,
lavar e depois enxaguar. Depois de colocar tudo para secar
na prateleira, ele limpa o balcão, dobra o pano de prato com
precisão militar e o coloca no balcão, exatamente paralelo à
borda.
— Maníaco por limpeza — eu murmuro.
Ryder se vira na minha direção, sem me ouvir, e enxuga
as mãos úmidas na calça jeans.
Nossos olhos se encontram enquanto ele caminha até
mim, me fazendo mais uma vez muito consciente de que ele
é um lenhador muito alto, musculoso, de olhos verdes e
idiota. Alguém que agora sei que tem uma necessidade
neurótica de cozinha limpa e toalhas dobradas em ângulos
nítidos de noventa graus.
Obrigado, ele sinaliza.
Em seguida, ele desliza em volta de mim e me deixa
sozinha na minha cozinha, exceto pelo mais leve fantasma de
seu cheiro – sabão limpo e pinheiros.
Eau de lenhador idiota, não se esqueça disso.
Como se eu pudesse. Deus, este vai ser um longo
semestre.
5

FALEI MUITO DURAMENTE COM ELA. Eu faço isso às vezes. Sou


franco e honesto ao extremo. Digo o que quero dizer quando
estou em uma conversa analítica que merece conclusões
práticas. Mas essa não parece ser a tática mais sábia com
Willa. Eu a irritei quando disse a ela para cair na real sobre o
que é viável no orçamento de um modelo de negócios, mas a
deixei perplexa quando sugeri que o sucesso de sua carreira
no futebol dependia não apenas de sua habilidade bruta no
jogo, mas de significativamente maior pragmatismo.
Não me sinto muito mal, já que ela aproveitou a
oportunidade para uma vingança imediata depois que eu a
provoquei por causa de seu cabelo. Eu sabia que a massa
tinha um gosto um pouco picante, mas tenho um alto limite
para o ardor, pelo menos minha boca tem. Minha bunda, por
outro lado, é tão sensível quanto a de todo mundo, então, em
geral, tomo cuidado para não comer comida apimentada. A
julgar pelo fato de que foi apenas esta manhã que parei de
estremecer quando me sentei, Willa despejou pimenta-
caiena suficiente no meu macarrão para fazer até o amante
de molho picante chorar.
No início, fiquei tentado a rebater, mas o fato é que
minhas respostas imperturbáveis parecem incomodá-la
infinitamente. Apenas manter minha boca fechada e deixá-la
pensar que a pimenta nunca me atingiu é vingança
suficiente.
— Você está quieto. — Aiden está do meu lado bom, e ele
tem prática suficiente para saber quão alto, brevemente e em
que ambientes falar, então eu posso ouvi-lo vagamente.
Estamos correndo em uma trilha escondida na sombra, sem
uma alma por perto, então é um bom lugar para ele testar o
meu ouvido, aquele que é meio decente. O outro é uma causa
perdida.
Aprecio o espírito da crença inabalável de Aiden em
continuar a me tratar como “normal”, mas às vezes acho que
ele se apega à minha “normalidade” um pouco
vigorosamente. Quero dizer que sou o mesmo cara que era
antes de tudo isso acontecer, mas não sou. Sou diferente e,
embora nunca deseje piedade ou tratamento especial, não
me importaria de simplesmente ser mudado. Porque eu sou.
A surdez me mudou, e nunca poderei devolver a ele o jovem
despreocupado de dezenove anos que costumava falar
besteira enquanto jogava videogame, que arrogantemente o
insultava e o colocava para jogar futebol americano no
quintal.
Sei que ele está tentando fazer uma piada, dizendo que
estou “quieto”, mas não acho isso engraçado hoje. Estou
perturbado com esta situação com Willa, confuso com a
rapidez com que ela se encaixa, quão prontamente ela bate,
mas mal consegue aguentar. Eu quero confiar em Aiden
porque, historicamente, ele é bom em conselhos. Mas com
esta situação, Aiden é a última pessoa com quem quero falar
sobre Willa. Ele já está muito investido em nós.
Posso sentir o olhar de Aiden em mim, então dou de
ombros e mantenho meus olhos no caminho. Depois disso,
Aiden não fala enquanto terminamos a segunda metade de
nossa distância.
Eu saboreio o silêncio pacífico enquanto corremos, o que
pode parecer estranho, mas quando você é surdo como eu,
você ainda ouve sons, mas não o suficiente. É
enlouquecedoramente macio, metálico e torto. Às vezes,
gostaria de não ouvir absolutamente nada, para não ser
constantemente lembrado de tudo o que não ouvi.
Embora sempre tenha sido uma pessoa quieta, nunca
pensei que amaria o som do silêncio tanto quanto amo agora.
O silêncio é um alívio, uma pausa na tortura constante de me
esforçar e tentar captar qualquer fragmento de ruído
discernível que eu puder.
Esse silêncio não dura muito.
— Você e Sutter chegaram a algum lugar com seu plano
de projeto? — Aiden me pergunta no momento em que
caímos na grama no final da trilha e começamos a esticar as
pernas.
Eu balanço minha cabeça, em seguida, pego meu telefone
e digito, eu comecei a falar com você novamente depois que você
nos colocou juntos. Você realmente quer trazer isso à tona?
Aiden ri e seus olhos azuis-claros brilham com diversão
doentia. Eu realmente tive que me conter para não
estrangulá-lo durante o primeiro jantar de família que
tivemos depois que ele nos juntou.
— Ela está dificultando a comunicação?
Faço uma pausa, meu queixo lateja enquanto abro meu
telefone. Não. Ela sabe um pouco de linguagem de sinais, eu
digito. Fala lenta e claramente. Não age como se eu estivesse
arruinando a vida dela por fazer par com o cara surdo.
— Bem, isso diz muito sobre ela, no meu livro. Ela está
fazendo o que todas as pessoas deveriam, mas não fazem.
Seu ponto pousa onde ele pretendia, bem no meu esterno.
Eu entendo o que ele está tentando dizer. Viu? Ela não é
alguém que se ressente de você ou desiste de você por causa de como
você está agora.
Aiden se endireita, então muda para esticar a outra
perna.
— Você poderia tentar colocar os aparelhos auditivos.
Fale um pouco com ela...
Eu reviro meus olhos e jogo meu telefone longe.
Terminada a conversa.
Um tapa na terra chama minha atenção. Quando eu olho
para cima, o rosto de Aiden está tenso.
— Ryder, por que você ainda está fazendo isso? Por que
você desistiu deles, parou a terapia da fala...
Eu cortei o ar com a mão. Chega.
— Você está sendo tão teimoso!
Eu arranco meu telefone da grama, a raiva apertando
minha respiração em explosões curtas e dolorosas enquanto
eu digito. Você não tem ideia de como é isso. Os aparelhos tornam
tudo pior – o que é alto é ainda mais alto, o que é baixo ainda não é
audível. E ainda não consigo encontrar o som da minha voz.
— Ry...
Eu fico de pé, com a palma para cima, enquanto digito
com uma mão, Deixe pra lá ou desisto da aula.
— Agora, espere um minuto. — Aiden surge da grama.
— Você precisa dessa aula.
Eu concordo. Mas preciso que você me deixe mais em paz
sobre isso, escrevo.
Seus ombros caem enquanto ele lê minha mensagem,
então seus olhos encontram os meus.
— Ok, cara. Eu sinto muito.
Obrigado, eu sinalizo sarcasticamente, com um tapa na
outra mão.
Eu me surpreendo ao fazer isso porque raramente
sinalizo. O sinal é uma linguagem que funciona de maneira
bem diferente da conversa falada. Quando percebi que era
surdo para sempre, foi impressionante pensar em aprender
um novo idioma, especialmente quando não tinha ninguém
com quem usar. Comprei um livro, assisti alguns vídeos.
Aprendi um pouco caso eu cruzasse aleatoriamente com
alguém como eu.
Então, depois que Willa sinalizou desculpas na aula,
arrisquei na próxima vez que a vi. Ela entendeu meu sinal de
confusão por dizer a ela que a comida que ela estava fazendo
cheirava incrível pra caramba, e isso fez algo no meu peito
torcer com calor. Eu gostava de poder encontrar seus olhos
quando me comunicava com ela, em vez de ter minha cabeça
enterrada no meu telefone, esperando que ela se afastasse de
mim e lesse minhas palavras. Parecia mais próximo, mais
íntimo.
Íntimo? Sério, Ryder?
Eu balanço minha cabeça enquanto caminho em silêncio
com Aiden de volta para o carro. Devo estar tonto da corrida.
Willa e eu somos parceiros colaborativos e talvez tenhamos
algumas coisas em comum – teimosia, experiência no
futebol, amor por camarão scampi – mas é só isso.
Arrancaríamos os olhos um do outro antes de ficarmos
íntimos.
Um toque no meu ombro me tira dos meus pensamentos
— Quer ir ao jogo dela? — Aiden diz.
Você está louco? Eu gesticulo com a boca.
— Provavelmente. — Ele encolhe os ombros. — Eu sinto
que é o mínimo que podemos fazer depois de quase sabotar
a elegibilidade dela...
Eu bato em seu braço. Nós? Balançando meu dedo, eu
digito com uma mão, Ohhh, não. Isso foi tudo você.
Aiden lê seu telefone, então sorri.
— Admite. Você gosta de provocar ela, mesmo que não
fosse sua intenção no início. O fato é que isso não vai te levar
muito longe na formação de equipes neste semestre, então
esta pode ser sua oferta de paz. Você deveria vir, mostrar à
sua parceira de projeto que você não é um completo idiota.
Apenas cinquenta por cento.
Eu o empurro, cambaleando para a lateral do carro. Mas
também não digo não.

Está chocantemente alto no estádio. Eu deveria ter


previsto isso. Eu estupidamente imaginei um jogo de futebol
feminino sendo tão mal frequentado quanto quando eu era
pequeno. Do ponto de vista moral, estou feliz por estar
errado. Para o bem dos meus ouvidos, estou me encolhendo.
As arquibancadas estão lotadas de famílias, estudantes e
muitos moradores locais. Placas decoram as fileiras e aquelas
malditas vuvuzelas explodem de todos os cantos do estádio.
Está anoitecendo e há um toque de frescor no ar que me
lembra tanto do outono em Washington que quase me faz
sorrir.
Eu estaria mentindo se dissesse que sentar aqui não me
faz sentir como se alguém tivesse cortado meu estômago,
tomado um punhado do meu intestino e o retirado. Eu me
sinto vazio e alienado. É errado eu estar deste lado da cerca.
Eu pertenço a um campo, o defensor confiável no fundo. Não
descansando a minha bunda, as pernas balançando,
desejando fazer o que eu amo desde que pude andar,
jogando o jogo.
Já se passaram dois anos. Digo a mim mesmo que superei
minha perda e, na maioria das vezes, sinto que já superei.
Sou uma pessoa prática. Logicamente, racionalmente,
reconheço que minha habilidade está comprometida, minha
oportunidade se foi e isso é realidade. Também sou filho de
minha mãe sueca, que me criou no espírito lagom de sua
cultura – apenas o suficiente, sem excesso ou extravagância,
simplicidade satisfeita. Tive meus anos de grandeza no
futebol, o que foi extravagância o suficiente. Quando eles
acabaram, sim, eu me senti péssimo por um tempo, mas
então aceitei minha vida lagom e segui em frente.
Achei que não tivesse mais lamentado o que perdi, mas
talvez a dor não seja linear. Talvez eu possa aceitar o que
perdi e ainda chorar por isso. Talvez sempre seja assim.
Meu telefone apita. Aiden.
Ela é boa, huh?
Eu encolho os ombros enquanto digito, decente o suficiente.
Nossos olhos se encontram enquanto ele revira os dele.
— Você é um monte de merda — ele diz.
Aiden está certo, estou cheio de merda. Willa não é boa.
Ela não é decente. Ela é de tirar o fôlego. Seus toques são
fluidos, seu movimento sem esforço. Seus poderosos
quadríceps flexionam enquanto ela empurra, gira e engana
cada um dos defensores da USC, passando por eles e
atacando o goleiro. Ela fez quatro gols e não está diminuindo
o ritmo.
Eu mal a reconheci no início, porque ela não estava
afogada em moletom, e seu cabelo não estava em seu coque
usual no topo de sua cabeça. Ela usa um uniforme justo –
uma camisa que abraça seu torso magro e ombros estreitos,
shorts que ficam nos quadris e cortados um pouco acima do
joelho, revelando aqueles musculosos quadríceps definidos
que todo jogador de futebol de verdade desenvolve. Mas o
pior é seu rosto, nu e claro, porque seu cabelo está trançado
firmemente na parte de trás de sua cabeça.
Não foi até as luzes do estádio ricocheteando em sua
testa, maçãs do rosto, aqueles lábios insanamente carnudos,
que eu a reconheci. Agora, vendo sua pontuação e sorriso, eu
juro que vejo seus olhos brilharem daqui. Ela está feliz, e seus
olhos brilham como o sol, a cor luminosa de caramelo
derretido.
Não que eu espere ver essa cor de perto. Eu sou
habilmente talentoso em ganhar aquele âmbar rico, tingido
de vermelho rubi furioso. Irritá-la é fácil e, para uma
distância emocional segura, é preferível.
Mas a voz competitiva dentro de mim coça para provar
que eu poderia facilmente fazer Willa sorrir. Que eu poderia
brincar com ela, provocá-la e falar doçuras até que seus olhos
voltassem a brilhar com a cor de caramelo.
Uma vuvuzela explode perto, interrompendo meus
pensamentos e zumbindo em meu ouvido. Quase
instantaneamente, o zumbido aumenta dolorosamente no
meu ouvido esquerdo, o mais danificado. Freya deve notar
que estremeço porque ela coloca a mão no meu pescoço e
esfrega suavemente. Algumas pessoas podem achar
estranho o conforto da minha família com os corpos uns dos
outros, mas é assim que todos nós somos e faz sentido, dado
que metade de nós foi criada ou estava criando a outra
metade. Freya é como uma segunda mãe – ela esfregou
minhas costas enquanto eu vomitava e limpava minha
bunda quando sujava as fraldas, provavelmente tanto, senão
mais, do que minha própria mãe.
Meu telefone vibra com uma mensagem dela. Nós
podemos ir. Aiden se esquece de como os ambientes barulhentos são
dolorosos para você. Você sabe que ele simplesmente ama você e
quer que você se integre, mas às vezes ele é um idiota.
Eu bufo uma risada silenciosa, respondendo, está tudo
bem. Eu gosto de assistir Willa. Só vou ter uma dor de cabeça
monstruosa depois.
As mãos de Freya param no meu pescoço, e então voltam,
depois que ela digita, Você *gosta* gosta dela?
Suspirando, eu balanço minha cabeça. Eu disse que gosto
de observá-la. Ela é boa. É isso, Frey.
No intervalo, a UCLA ganhou de quatro a um, mas aos
vinte minutos do segundo tempo, a USC conseguiu colocar
mais três na nossa goleira, que precisa de um exame
oftalmológico. As duas equipes agora estão empatadas e não
têm nada que fazer. UCLA é objetivamente melhor.
Nesse ponto, o Velho Ryder estaria falando sem parar.
Antes de perder minha audição, era a única vez que eu falava
tanto quanto o resto dos meus irmãos. Parado na frente da
televisão assistindo a uma partida da Premier League.
Quando eu era mais velho, nos muitos jogos que meus
irmãos jogavam, gritando, torcendo, corrigindo. Eu vi o
campo, peguei o jogo e não tive nenhum problema em gritar
sobre isso.
Os zagueiros de Willa continuam se distanciando da
postura do gol. A goleira está saindo muito da área. A
maldita meio-campista de Willa precisa puxar para cima e
manter a posse de bola por mais tempo. Willa, porém, não
tenho nada a dizer a ela. Nem uma única correção. Ela é
tecnicamente perfeita. Ela está incrivelmente em forma. Ela
equilibra posse e passe perfeitamente. Ela não tem só uma,
mas várias cartas na manga, lançando incontáveis
movimentos para manter seus defensores tropeçando nela.
Ela está correndo há sessenta e cinco minutos e nem está
começando a mostrar fadiga.
O tempo voa enquanto eu a observo, os minutos do jogo
regulamentar diminuindo para apenas alguns antes da
paralisação começar. Willa não é apenas uma jogadora
talentosa, ela é o tipo de atleta que vem uma vez a cada
geração. Se alguém pertence a um campo profissional, é ela.
Uma estranha sensação de orgulho aperta meu peito, que eu
imediatamente rejeito. Willa não é minha para me orgulhar.
Ela nem é minha amiga. Ela é alguém por quem eu posso
torcer, mesmo que ela me deixe louco.
Assim que estou amarrando meus pensamentos com
aquela saudação final organizada, Willa faz um movimento
doentio em torno de um defensor, passando para uma
companheira de equipe que reconheci anteriormente como
sua colega de quarto, Rooney. Rooney toca uma vez de volta
para ela, e em seu primeiro toque, Willa lança a bola no canto
do gol, marcando novamente. Ela garantiu a liderança com
menos de um minuto do tempo restante.
Instintivamente, estou de pé, batendo palmas com todos
os fãs da UCLA. Sem pensar, eu levanto minhas mãos e
coloco meus dedos dentro dos meus lábios, soltando um
assobio longo, estridente e comemorativo que atordoa Freya
e Aiden. Sinto seus olhos em mim, mas não olho para eles.
Eu olho para Willa em campo e me recuso a sequer começar
a analisar o que acabei de fazer.
Willa pula nos braços de suas companheiras de equipe,
que puxam sua trança e batem em sua bunda. Seu sorriso é
largo enquanto ela flutua pelo campo em seus braços.
Quando eles a deixam cair no topo do círculo central, Willa
fica de frente para o estádio, com as mãos nos quadris, o
olhar vasculhando as arquibancadas, como se estivesse
procurando por algo. Não posso dizer se ela encontrou ou
não o que procurava antes de voltar para o campo.
A sensação mais estranha se instala sob minhas costelas.
Meu peito está apertado, queimando, emaranhado. Eu estou
olhando para Willa Sutter, o pé no meu saco que vai de zero
a noventa no “raivometro”, que tira meu boné e faz uma
carranca para mim, mostrando que é por isso que ela tem
uma bolsa integral, não pelo futebol. Estou aqui no jogo dela,
minhas costelas se contraem enquanto meu coração sussurra
sentimentos assustadores e indesejáveis. Viro-me para Freya
e digito: Podemos acabar por aqui? Estou com uma enxaqueca se
formando.
Freya acena com a cabeça, não conseguindo esconder o
sorriso.
— Enxaqueca, hein?
Eu ignoro essa dica não tão sutil e balanço um braço por
cima do ombro. Assim que saímos do estádio, o apito encerra
o jogo.
6

UMA CUTUCADA NO MEU OMBRO me faz erguer os olhos da


minha cadeira na primeira fila da sala de aula. Willa me dá
uma carranca cautelosa, inspecionando enquanto ela se
acomoda ao meu lado, desta vez no meu lado direito. Eu me
sinto enrijecer quando ela abre seu caderno e seu braço,
inadvertidamente, roça o meu. Fechando meus olhos, eu
respiro fundo, relaxando, mas isso só torna a situação ainda
pior.
Um cheiro suave atinge meu nariz. Citrus e protetor
solar, um punhado de flores. Rosas, talvez? É o mesmo que
infundia seu apartamento, até que o aroma de dar água na
boca do que ela estava cozinhando finalmente o dominou.
Eu respiro cautelosamente novamente. Ela cheira a verão,
como uma caminhada por campos de flores silvestres. Eu
imagino isso perfeitamente, Willa rasgando a polpa de uma
laranja da Califórnia com os dentes, espalhada em protetor
solar que não faz nada para parar as sardas que salpicam seu
nariz, uma flor de rosa enfiada em seus cachos selvagens.
O cheiro está afetando meus transmissores de dopamina.
Estou estranhamente calmo e contente. Se eu falasse, agora
diria: Ahhh.
Meus olhos ainda estão fechados, minha mente
embalada, mas posso sentir Willa olhando para mim. Eu sou
muito covarde para encontrar seus olhos. Eu sei que se eu
olhar de volta, ao contrário dos olhares fixos anteriores, este
vai fazer meu coração disparar no meu peito, exatamente
como estava quando eu a assistia em seu jogo.
Willa dá um tapinha na minha mão, antes que eu ouça.
— Ryder?
Meus olhos se abrem quando me assusto, tanto que bato
meu joelho na mesa. A voz de Willa – é a primeira vez que a
ouço. Minha pulsação dispara e troveja pelo meu corpo. Uma
onda de calor sobe pela minha garganta, em seguida, inunda
minhas bochechas.
Sua voz é veludo líquido, luz solar derramada. É lisa e
baixa, e macia nas bordas. É o som mais claro que ouvi desde
que acordei no hospital. Parece epicamente injusto. Por quê?
Por que Willa teve que sentar do meu lado bom, por que ela
teve que ter uma voz que cai naquela janela minúscula de
comprimentos de onda que eu ainda posso pegar?
Por que tinha que ser ela?
Quando nossos olhos finalmente se encontram, os dela
brilham de curiosidade. Ela bate levemente no meu ombro
direito com um dedo.
— Você pode ouvir melhor deste aqui, hein?
Posso ouvir a qualidade de sua voz, mas não consigo
entender tudo enquanto ela fala. Felizmente, ela ainda diz
isso lentamente, e eu observo seus lábios carnudos. Aqueles
lábios macios e carnudos.
Droga.
Eu concordo.
Lentamente, ela se aproxima, apoiando o cotovelo na
minha mesa. Nossos braços pressionam um contra o outro,
enquanto ela encara minha boca, então encontra meus olhos
mais uma vez.
— Por que você não fala, então, Ryder? Se você pode
ouvir algo? Por que você não usa aparelhos auditivos?
Minha mandíbula lateja enquanto eu puxo para trás.
Tirando meu telefone do bolso, digito: Aparelhos auditivos não
são uma panaceia. Falar com eles não é tão simples.
Eu a vejo abrir a mensagem e franzir a testa. Ela faz uma
pausa, encarando as palavras por um longo minuto, então
digita Panaceia. Droga, Musculoso, esse é o vocabulário literário
de alto nível aqui.
Eu olho para cima. Willa está sorrindo gentilmente. Ela
está me dando uma desculpa, não me pressionando para me
explicar.
Se eu não achasse que isso levaria à devastação mundial,
eu a abraçaria por isso. Em vez disso, mando uma mensagem
de volta. Vocabulário literário?
Willa acena com a cabeça.
— Emprego de verão. Trabalhei em uma livraria. Você
aprende palavras incríveis.
Livro favorito, eu digito.
Ela exala pesadamente. Não sei por onde começar. Eu tenho
muitos
Escolha um.
Ela me empurra.
— Você é tão mandão.
Eu sorrio.
Willa bate em sua boca. Enquanto eu a observo, me pego
pensando estranhamente como seria satisfatório arrastar
aquele lábio inferior cheio dela bem entre os meus dentes.
Merda. Péssima linha de pensamento. Eu preciso transar.
Estou sonhando acordado em morder o pé no meu saco que
está sentada ao meu lado.
Meu telefone vibra. Jane Eyre.
Eu torço meu nariz e digito, Rochester é um idiota.
Ele é um herói byroniano, Willa dispara de volta. Torturado,
mal-humorado, sexualmente intenso. Ele está em segundo lugar se
comparado ao Darcy nesse quesito. Jane é a verdadeira estrela de
qualquer maneira. Ela é forte e assumidamente independente.
Eu sorrio com sua resposta, quando tenho aquela
sensação estranha no meu esterno, assim como quando Willa
marcou em seu jogo e eu vi seus olhos brilharem como o sol.
A sensação que fez minha mente girar e apertar meu
estômago.
— Ryder.
Não consigo suprimir meu arrepio quando a ouço dizer
meu nome novamente.
Sua cabeça está inclinada para o lado. Com seu cabelo
frisado e indomável, seus grandes olhos castanhos refletindo
as luzes quentes da sala de aula, ela parece jovem e inocente.
Isso até ela prender o canto daquele lábio picado de abelha
entre os dentes.
Eu levanto meus ombros rapidamente. O quê? Eu
gesticulo com a boca.
Willa se inclina mais perto e cutuca meu peito. Eu
cambaleio, franzindo a testa do meu corpo para a mão dela.
Sua carranca familiar está de volta. Quando ela me cutuca de
novo, desta vez eu a empurro para longe.
— Quando você estava planejando admitir que apareceu
no meu jogo?
Eu abro minha boca, em seguida, fecho-a, virando-me
para o meu telefone. Qual é o problema? Eu estava apenas
curioso para ver do que se tratava todo o hype.
Seu rosto congela enquanto ela lê minha mensagem.
Pegando o telefone, ela digita: E qual é o veredicto?
Meus polegares pairam. Eu deveria desligar isso agora.
Diga algo brando e desinteressado, nada das brincadeiras de
conversa fiada que constantemente fazemos. Mas em vez
disso, meus polegares digitam, você serve.
Um sorriso ilumina seu perfil antes que ela retifique seu
rosto. Digitando rapidamente, ela vira o telefone quando
Aiden começa a palestra.
Meu telefone vibra. Lenhador idiota. Eu pude ver sua camisa
xadrez a cinco quilômetros de distância. Obrigada por ter ido.
O resto da aula, eu a evito cuidadosamente, nossa atenção
à frente enquanto fazemos anotações da aula de Aiden. É
difícil me concentrar, pensando em como meu nome soava,
na memória de sua voz. Mais de uma vez, mordo minha
bochecha, belisco minha pele. Qualquer coisa para trazer de
volta meu foco. Passar meus pensamentos em Willa, nossas
interações e brigas verbais, prestando atenção e elogios
indiretos, é brincar com fogo.
Mas talvez só desta vez valesse a pena se queimar.

Minhas mãos tremem. Mexo as almôndegas mais uma


vez, depois jogo o macarrão na manteiga e na salsa. Meu
coração está em algum lugar no meu estômago, batendo
forte e arruinando meu apetite. Terei sorte se não vomitar no
momento em que Willa entrar pela porta.
Tornou-se um hábito jantar enquanto trabalhamos no
nosso projeto. Frequentemente, eu chego logo depois que
Willa sai do banho pós-treino. Ela está sempre morrendo de
fome, então ela enfia uma barra de proteína na boca
enquanto prepara algo rápido. Algumas vezes eu a ajudei a
acelerar o preparo da refeição, mas brigamos tanto enquanto
fazíamos isso que ela me rebaixou para arrumar a mesa. Ela
cozinhava todas às vezes e na semana passada a voz da
minha mãe começou a me dar lições na minha cabeça,
perguntando onde seu filho feminista tinha chegado, que ele
se sentia confortável em deixar uma estudante atleta em
tempo integral alimentar sua bunda preguiçosa, duas vezes
por semana.
Então, da última vez, me ofereci para recebê-la em minha
casa, revezar fazendo o jantar, e Willa aceitou.
Estou nervoso por tê-la aqui. Estou nervoso para recebê-
la e alimentá-la e ter uma mulher em meu espaço como
nunca tive. Porque as garotas que namorei e trouxe para casa
no colégio eram apenas isso – garotas. As poucas com quem
compartilhei sexo casual até agora na faculdade foram quase
a mesma coisa.
Mas Willa? Willa é uma mulher destruidora de bolas,
cuspidora de fogo e infernal.
Essa não é a única razão pela qual estou tenso.
Provavelmente nem é o motivo predominante. Estou
tremendo nas minhas cuecas porque fiz algo estúpido, ou
talvez brilhante – não tenho certeza ainda. Fui ao
audiologista e fiz o ajuste do aparelho auditivo. Eu me recuso
a usar na minha orelha quase toda arruinada. O aparelho
ainda capta ruídos fortes, gritos com eco que agrava meu
zumbido. Mas aquele em meu ouvido semi-bom valeu a
pena revisitar. O fonoaudiólogo enfatizou que este é o teste
final do aparelho auditivo. Depois disso, ou continuo de
onde parei com o aparelho auditivo, ou tenho que cancelar
para sempre.
Meu cabelo está solto e, felizmente, tende a cair partido
para esse lado, cobrindo minha orelha direita e o aparelho
auditivo colocado atrás dela.
Tucker, um dos meus colegas de quarto, entra.
— Cheira bem.
Quando ele se inclina sobre mim e tenta enfiar o dedo nas
almôndegas, dou um tapa nele.
— Nossa, Ry. Um homem não pode comer?
Tucker é da minha altura, mas tem ainda mais músculos.
Com a pele escura e brilhante, e um cabelo afro que ele está
empenhado em deixar crescer cada vez mais, ele adora irritar
as pessoas quando elas perguntam como ele poderia
cabecear com “todo aquele cabelo”, o que ele obviamente
pode. Uma das muitas razões pelas quais nos damos bem é
porque nós dois gostamos de trollar humanos ignorantes.
Também estudamos juntos e perdemos nossa merda
coletiva quando fomos admitidos na UCLA e entramos no
time de futebol. Éramos companheiros de quarto, já
tínhamos nos mudamos para o dormitório dos atletas, mas
quando tudo deu errado para mim durante o treinamento de
verão e eu deixei o time, Tucker insistiu que continuássemos
morando juntos. Conseguimos um lugar fora do campus e
não paramos de ser colegas de quarto desde então.
Becks entra em seguida, coçando a barriga antes que sua
mão desapareça em suas calças para se ajustar. Ele é um
excêntrico que conheci no primeiro ano de formação de
humanidades. Ele é estranho e engraçado, e faz com que
minha altura de um metro e noventa pareça delicada.
Embora ele não pratique nenhum esporte para a UCLA, o
cara é uma fera para se ter no time de vôlei da liga de
recreação. Ele também é desleixado, evidenciado pelo
apalpamento do saco, especialmente quando avança na
comida.
Eu levanto a mão para sinalizar que ele precisa parar.
— O quê? — ele pergunta.
Aponto meu dedo para sua virilha, para sua mão,
seguido por uma expressão que ele sabe agora o que
significa, Sai daqui porra.
Becks geme.
— Mas cheira tão bem.
Eu faço um movimento de enxotar, em seguida, empurro
Becks e chuto-o de brincadeira na bunda quando ele não sai
da cozinha. Ele e Tucker se jogam no sofá que ocupa a outra
extremidade da sala de estar e de jantar da casa que
alugamos. Eu bato palmas duas vezes para eles, ganhando
sua atenção. Saia, eu murmuro.
— De jeito nenhum. — Tucker joga os pés na mesa de
centro. — Eu vou ficar cem por cento para ver isso.
Eu balanço minha cabeça, puxando meu telefone e
digitando, Não, você não vai. Saia. Ela estará aqui a qualquer
minuto.
Becks olha para o telefone, abrindo o grupo para se juntar
à conversa. Duh. É por isso que estamos aqui. Aposto que ela é
gostosa demais. Vinte e cinco dólares que ela tem uma bunda
redondinha. A fraqueza de Ryder é uma mulher com uma bunda.
Tucker bufa. Vinte e cinco dólares que nosso menino Ryder foi
picado pelo inseto do amor. Ele nunca cozinha almôndegas caseiras
de Mama Bergman para *nós*
A risada de Tucker rapidamente se transforma em um
uivo de dor enquanto eu torço seu mamilo em um aperto
violento. Pego o hacky sack de Becks e o lanço com muita
precisão em suas bolas, ganhando um gemido.
Todo barulho para quando uma batida na porta chama
nossa atenção.
— Eu atendo! — grita Tucker. Ele passa voando por mim,
me empurrando para fora do caminho.
Um grunhido abafado ressoa na minha garganta quando
alcanço Tucker, bem a tempo de empurrá-lo para trás antes
de torcer a maçaneta.
Quando eu abro a porta, não é bem as boas-vindas que
eu esperava oferecer a Willa. Seus olhos se arregalam
quando ela observa a cena. Becks ainda rola no sofá se
segurando. Tucker se encosta na parede onde o joguei.
Willa puxa o lábio entre os dentes e inclina a cabeça. Seu
cabelo está molhado e preso em um coque. Tudo o que vejo
são aqueles grandes olhos castanhos dançando com
diversão, o brilho de suas maçãs do rosto.
— Parecia que uma batalha de gladiadores estava
acontecendo lá dentro.
Eu encolho os ombros, lutando contra o sorriso puxando
minha boca. Sua voz soa ainda melhor do que eu esperava.
Eu ouço o calor de mel no meio e uma nota áspera na parte
inferior, que deve ser de gritos e exercícios. Isso faz com que
um pensamento sujo se prenda ao meu cérebro. O que mais
torna sua voz rouca e sem fôlego? Meu pau incha e as coisas
começam a ficar apertadas dentro da minha calça jeans.
Limpo minha garganta enquanto o constrangimento aquece
minhas bochechas.
Uma visão rápida de quando eu encontrei Becks cagando
funciona. Meus jeans não são mais desconfortáveis, e eu
aceno para ela entrar.
Quando ela está dentro, tenho que passar por Willa para
fechar a porta atrás dela, colocando nossos corpos próximos.
Ela sorri para mim e respira fundo.
Nossos olhos se encontram. Com cuidado, pego meu
telefone, deslizo para abri-lo e digito: Espero que você esteja
cheirando o aroma de almôndegas suecas, não eu, raio de sol.
Seus olhos se arregalam enquanto ela lê, em seguida,
cutuca meu estômago.
— Eu não sou um raio de sol.
Eu bufo uma risada que é só ar. Saiu, chamando-a assim.
É a cor de seus olhos nos raros momentos em que ela não está
lívida, o som de sua voz enchendo meu ouvido. Mas não
posso dizer isso a ela.
Já ouviu falar de sarcasmo, Sutter? Eu digito.
Ela lê o texto e seus olhos escurecem de irritação, as íris
mudando de um rico marrom café para um cobre assassino.
É inebriantemente divertido obter reações dela.
Eu toco um dedo em seu nariz. Ela bate na minha mão e
me empurra. Eu nem mesmo me movo, o que só faz sua
carranca se aprofundar. Tento e não consigo esconder meu
sorriso. Provocada tão facilmente.
Pegando-a pelo cotovelo, direto para a mesa, puxo uma
cadeira, tiro a bolsa de Willa de seu ombro e coloco na
superfície. Eu dou um tapinha no assento suavemente. Senta.
Fique confortável.
Ela senta, aquela carranca ainda apertando seu rosto.
Os dois rapazes se recuperaram o suficiente para se
jogarem sedosamente em suas cadeiras à mesa. Eu dou uma
olhada para os dois, então digito no meu telefone, Diga oi,
então vão embora.
Eles leem seus telefones e, obedientemente, ambos se
levantam.
— Oi — diz Becks. — Eu sou o colega de quarto alto,
negro e bonito–
Tucker dá uma palmada nele.
— Essa é literalmente a minha descrição. Tucker
Wellington ao seu serviço, e esse é Becks. Faça-me um favor,
não aperte a mão dele.
Willa morde o lábio novamente enquanto ela liga seu
laptop, seus olhos dançando entre eles. Algo engraçado
acontece no meu estômago quando vejo que ela dá a ambos
apenas um olhar superficial. Estou confortável o suficiente
em minha masculinidade para reconhecer que nenhum dos
meus colegas de quarto são caras feios. Pelos padrões de
algumas mulheres perturbadas, eles podem até ser
chamadas de atraentes. Willa, ao que parece, não poderia se
importar menos.
— Oi — ela diz, finalmente. — Willa Sutter. Prazer em
conhecê-los.
Depois de dar a eles outro olhar mortal, os caras
finalmente saem. Enquanto eles se afastam atrás de Willa,
Becks imita a ação de sarrar com seus quadris, enquanto
Tucker mostra as duas mãos. Dez entre dez, ele murmura.
Eu os tiro e murmuro: Vai!
Achei que a voz de Willa era o melhor som que eu já tinha
ouvido, mas, mais uma vez, ela prova que estou errado. Sua
risada se instala como sinos de vento em meu ouvido. Pela
primeira vez em anos, quero rir na hora.

Em algum ponto, eu deveria ter considerado a ética


obscura de dizer a alguém que sou surdo e depois deixar de
informá-lo quando corrigi minha audição, mesmo que
apenas parcial e temporariamente.
Eu não queria que Willa soubesse sobre meu aparelho
auditivo, porque não quero que ninguém saiba que ainda
estou tentando descobrir como ouvir e falar novamente.
Porque eu sei o que vem a seguir. Pressão. Pressão para
voltar ao processo auditivo e terapia da fala, pressão para
usar minha voz. E isso não funcionou até agora.
Simplesmente não está funcionando. Ainda não, pelo menos.
Mas agora, me sinto mal, porque eu não percebi até este
ponto – graças à minha merda de audição – que Willa fala
consigo mesma constantemente, e tenho certeza que há muito
disso que ela prefere que eu não ouça.
— Lenhador idiota — ela resmunga. — Jogando fora
outra das minhas ideias que eu só passei – ah, você sabe –
horas pesquisando. — Ela abaixa a voz, imitando como ela
deve imaginar que pareço. É rude e grosseiro. — Hah. Que
ideia estúpida, Willa. Não podemos oferecer uma escala
móvel de pagamento. O que é isso, Rússia comunista?
Mulher de cérebro pequeno.
Abro a boca, prestes a me defender, quando me lembro
que isso vai revelar que a estive espionando. Ela terá todo o
direito de ficar irritada com isso, e por mais que eu goste de
irritar Willa, não tenho certeza se estou preparado para vê-la
tão irritada.
Com cuidado, eu digito uma resposta, com base em onde
paramos em nosso impasse de conversação. Que tal isso:
pegamos o seu conceito de tornar o negócio financeiramente
acessível, mas em vez de oferecer uma escala móvel, oferecemos
operações de serviço, como uma cooperativa. Então, talvez
possamos fazer alguns anúncios patrocinados com marcas
dispostas em troca deles nos equipando para que possamos
presentear as pessoas em circunstâncias atenuantes. O que acha?
Willa franze a testa, suas mãos voando sobre as teclas.
Você está falando sério? Você está realmente considerando um
acordo?
Eu faço uma carranca, digitando de volta, Não é incomum.
Alguns lugares onde eu comprava equipamentos permitiam que
você fizesse isso.
Ela bate na mesa e eu olho para ela.
— Onde você comprou equipamento, Lenhador?
Destruindo diamantes negros. Montando cimeiras. Ursos
pardos lutando. — Ela pisca os cílios.
Minha culpa sobre o aparelho auditivo é rapidamente
compensada por suas nervuras.
Eram principalmente leões da montanha, eu escrevo.
Isso ganha seu sorriso.
Estado de Washington, onde cresci. Hesito, meus dedos
pairando sobre as teclas, antes de finalmente desistir. Quero
administrar minha própria loja assim após a formatura. Oferecer
aluguel e equipamentos à venda e acessíveis em estoque também.
Talvez aprender como ser um guia para pessoas como eu para
caminhadas e passeios de caiaque.
O sorriso de Willa é amplo e genuíno.
— Isso é foda, Bergman.
Eu encolho os ombros. Não é melhor do que jogar futebol
profissional, mas pelo menos era meu plano de
aposentadoria, sem a parte da acessibilidade – essa é uma
adição recente, obviamente. Eu apenas pulei algumas
décadas.
Você quer jogar? Eu digito.
Ela acena com a cabeça.
— Contanto que esses velhos ossos me permitam.
Eu escrevo de volta, tenho certeza que você vai.
Surpreendentemente, não custa desejar sorte a ela na
jornada que eu queria que fosse minha. Willa é uma
trabalhadora árdua, uma atleta brutalmente determinada e
talentosa. Tudo o que posso ser é feliz por ela.
Willa coloca os cotovelos sobre a mesa, apoiando a
bochecha na mão. Ela pisca lentamente, parecendo uma
coruja enquanto boceja.
— Então, o grande ar livre, hein, Maromba...
Eu mando uma mensagem para ela imediatamente.
Maromba?
Ela encolhe os ombros.
— Como o pino da toalha de papel. Músculos. Flanela.
Maromba. Então, por que a vida no deserto? Vem de uma
família ativa ao ar livre?
Felizmente, minha barba esconde o rubor que surge com
seu elogio indireto.
Eu concordo. Não é uma mentira, apenas uma verdade
parcial. Minha família é estereotipada de pessoas que vivem
ao ar livre no noroeste do Pacífico. Só não estou preparado
para compartilhar a verdade sobre como meu plano de
aposentadoria se tornou minha principal carreira.
Willa boceja novamente. Eu olho para o relógio para ver
que já passa das onze. Ela deve estar exausta.
— Eu tenho que ir — ela diz sonolenta.
Eu aceno em reconhecimento. Quando ela se levanta, ela
balança. Eu pulo ao redor da mesa, meu braço envolvendo
sua cintura para firmá-la.
Jesus.
Quer dizer, eu vi Willa em seu unifome no jogo. Eu sei
abstratamente que ela é forte e em forma, mas sentir aqueles
abdominais bem definidos sob seu moletom, a inclinação
estreita de seus quadris, quase me deixa sem fôlego.
Eu pego meu telefone e mando uma mensagem para ela.
Está tarde. Eu vou te acompanhar até em casa.
— Não — ela lamenta, certificando-se de que seu rosto
está inclinado em direção ao meu, para que eu possa ler seus
lábios. — Eu estou com muito sono.
Um suspiro sai de mim. Eu digito, vou te levar de cavalinho,
Sunshine.
Ela balança a cabeça.
— Essa é uma má ideia.
Por quê? Eu gesticulo com a boca, mas ela não responde.
Lentamente, ela sai do meu aperto e cambaleia em
direção ao sofá.
— Vou tirar uma soneca aqui um pouco, depois vou
voltar para casa quando o sol nascer. Quando eu não estiver
tão...
Acho que a palavra era cansaço, que ela murmura
enquanto desaba sobre as almofadas.
Puxando meu cabelo, eu vou em direção a ela. Antes que
eu possa enviar uma mensagem de novo, seus olhos se
fecham. Quando estou agachado no sofá, ela está roncando.
Não vou deixá-la no sofá para que Tucker ou Becks
vagueiem por aqui meio adormecido e façam algo estúpido
como acariciá-la. Cuidadosamente, eu a pego e a carrego
para o meu quarto. Eu a coloco na minha cama e coloco seu
despertador para às seis e meia, colocando seu telefone no
travesseiro, perto de sua cabeça. Acho que isso dá a ela
tempo suficiente antes que a aula comece no campus, que é
às oito da manhã. Felizmente, estou meticulosamente
arrumado e troquei de lençóis ontem à noite, então tudo está
limpo e fresco no meu quarto. Ela deve dormir bem o
suficiente.
Depois de fazer minhas últimas tarefas e fechar a noite,
coloco um alarme para às seis. Jogando-me no sofá com um
cobertor, tento não pensar em Willa Sutter dormindo na
minha cama.
Demoro muito para adormecer.
7

EU SAIO DO SONO meio grogue, gemendo de prazer. O cheiro


que me rodeia é obscenamente excitante. Estou sonhando
com florestas de pinheiros enevoadas e um cara loiro de
flanela que tem que começar a desabotoar lentamente a
camisa quando chega a hora de derrubar uma árvore.
Bem acordada, sento-me e percebo que não estou nem na
minha cama, nem no meu apartamento. Se eu for pelo cheiro
de abeto e cedro infundindo o ar, a organização neurótica do
meu entorno, estou no quarto de Ryder, enrolada em seus
lençóis. Seu corpo nu dormiu aqui.
Não que eu tenha tentado imaginar o corpo nu de Ryder
ou algo assim. Não que eu esteja fazendo isso claramente
agora.
Não. Só não faça isso, cérebro. Não vá lá. Não pense
nisso, sobre a placa sólida que eu sentia sob sua camisa toda
vez que cutucava seu estômago, sobre o quanto eu
provavelmente gostaria de arrastar meus dedos por seu
cabelo louro e sujo. Definitivamente, não pense nesses bíceps
protuberantes, sempre esticando enquanto ele se move. Não
pense sobre eles flexionando enquanto ele se apoia em cima
de mim, empurrando...
— Uau! — Eu caio do colchão, me endireitando. Eu tenho
que sair daqui. Estou me afogando nos hormônios do meu
sonho sexy de lenhador e este quarto é areia movediça.
Quanto mais eu ficar, mais difícil será escapar de seu puxão.
Arrisco sua cama, então, silenciosamente, saio na ponta
dos pés e pego minha bolsa. Uma pilha de papéis amassados
está sobre a mesa, junto com uma nota em seu rabisco
organizado.
As notas do semestre. Toda sua. Leve o pote com o seu nome na
geladeira.
– Ryder
Meu coração fica pegajoso e desce para o estômago. Ele
imprimiu as notas para mim. Uma enorme onda de alívio
por finalmente ter tudo que preciso para esta aula é
rapidamente substituída por suspeita. Não estou
acostumada a gestos genuinamente agradáveis do lenhador.
Eu deveria fazer um pouco de controle de qualidade nesses
bad boys, caso essa seja sua ideia idiota de uma brincadeira
engraçada. Eu folheio cada página com cuidado, esperando
que eles mudem para hieróglifos, mas eles provam estar em
inglês e organizados em ordem cronológica.
Primeiro a deliciosa refeição, depois a hospitalidade de
sua cama, agora essas notas. O lenhador está cheio de
surpresas.
Cuidadosamente, coloco os papéis em minha bolsa,
varrendo sua nota mais uma vez. Pegue o pote com o seu nome.
— Mandão — eu resmungo. Ele pode ser mandão, mas
desta vez estou fazendo o que ele diz, porque aquelas eram
ótimas almôndegas suecas e macarrão talharim que ele fez.
Pote na mão, eu caminho suavemente em direção à porta,
calçando meus tênis, quando dou uma olhada rápida em
direção ao sofá. Ryder ronca baixinho, uma das mãos
pendurada na beirada do sofá. O que ele parece, dormindo?
Quando suas defesas estão baixas, ele é tão enlouquecedor
quanto de se olhar?
Não faça isso, Willa.
Estou em uma bifurcação e sei disso. É aquele momento
em muitos dos livros que li, com dois caminhos. Um é
sombrio. Uma coruja pia por ele. As folhas farfalham. O
outro está iluminado pelo sol. Passarinhos cantam. O
caminho é amplo e bem trilhado.
Um bufo de auto diversão foge de mim. Bem trilhado.
Posso estar dramatizando isso um pouco.
Ainda assim, uma brisa sinistra sussurra no caminho
sombrio que não consigo parar de olhar. Assim soa o perigo. É
a verdade. Posso sentir em meus ossos que nada seguro virá
do que estou tentada a fazer. O problema é que sou eu: tendo
a fazer o que quero primeiro, depois me arrependo.
— Eh, foda-se.
Ignorando meus próprios avisos, volto para o sofá e me
curvo, inspecionando as feições de Ryder. Eu realmente não
me importo com a ideia de uma barba, mas ela me frustra.
Quero ver todo o seu rosto, saber se tem covinhas ou lábios
macios. Eu quero ver quando ele cora e ver sua garganta
balançar enquanto ele engole.
Seu cabelo está em cima dos seus olhos. Cuidadosamente,
eu o afasto e congelo quando vejo algo enrolado em torno de
sua orelha. Sua orelha direita. No seu ouvido bom.
Um aparelho auditivo?
O choque aperta meu estômago. Ele sempre teve isso? Eu
vasculho meu cérebro. Infelizmente, presto muita atenção
aos traços de Ryder. Tanto que posso confirmar que nunca
vi isso preso em sua orelha antes.
— Seu filho da puta — eu sussurro.
Agora, já me sinto confortável em resmungar para mim
mesma na frente de Ryder, porque sei que ele não pode me
ouvir. Talvez isso pareça insensível, mas esses são apenas os
fatos: ele não pode me ouvir e eu tendo a ser uma
resmungona. Se eu puder evitar, prefiro não divagar meus
pensamentos íntimos na frente de outra pessoa para que ela
ouça, mas quando me sinto segura para fazer isso, ajuda
pensar em voz alta.
Durante toda a noite, aquele trapaceiro estava
espionando minhas reflexões pessoais, agindo todo
cavalheiresco, me alimentando com o jantar e puxando
minha cadeira, deixando-me dormir sozinha em sua cama e
preservar minha dignidade.
E foi tudo um estratagema. A raiva revira meu estômago,
o constrangimento aquece minhas bochechas, enquanto
penso sobre os incontáveis pensamentos privados que ele
ouviu. Esse idiota. Aquele alto, de cabelos cor de areia,
sorridente, vestindo flanela, idiota, lenhador, filho da puta.
— Oh, agora é uma guerra, Bergman. É guerra.

Convenientemente, Ryder e eu temos aula juntos hoje.


Tenho trinta minutos entre minha recitação matinal de
literatura e a palestra de Mac. Tempo suficiente para definir
a retribuição número um.
Tive algum tempo para pensar em explicações plausíveis
do porquê Ryder usou seu aparelho auditivo na noite
passada e não me contou. Devo dizer que estou muito
orgulhosa de mim mesma. Consegui persuadir meu
temperamento de uma raiva explosiva a um nível fervente
de irada, limpando minha cabeça o suficiente para fazer
algumas deduções lógicas.
O ouvido bom de Ryder é o ouvido direito. A primeira
vez que me sentei ao lado direito dele na aula e conversamos,
ele agiu... de maneira diferente. Seus olhos seguiram meus
lábios como de costume, mas também me percorreram com
curiosidade. Todo o seu rosto se iluminou quando ele se
inclinou. Talvez ele gostasse de ouvir minha voz e não
soubesse exatamente o que fazer com isso, exceto explorar
mais.
Ele disse em seu jeito conciso de mensagens de texto que
aparelhos auditivos não são a cura para tudo, e eles não
facilitam falar para ele. Sua resposta, e muitos outros
momentos que até agora, infelizmente, tive que suportar
com ele, me levaram a um palpite: Ryder Bergman, sob toda
sua intensidade silenciosa e formidável, é tímido.
E se ele tem vergonha de ser surdo e não falar, por que
não teria vergonha de tentar usar seu frustrante aparelho
auditivo também?
Isso ainda não responde à pergunta de por que ele usava
o aparelho auditivo perto de mim. Por que eu? Pensei em
duas possíveis motivações para seu comportamento:
Um, ele quer achar alguma falha em mim, e ele é um
idiota doente sem escrúpulos sobre como ele ganha esse
material. Opção bastante sombria, mas não fora do reino das
possibilidades. Afinal, ele é um lenhador idiota.
Segundo, ele quer saber como eu sou sem o impacto de
sua surdez, e a ferramenta de que ele precisa para isso é uma
que ele tem vergonha de admitir que ainda usa.
Mas porque ele iria querer isso?
Não tenho ideia do que Ryder pensa de mim, mas sei que,
com seu jeito rude, ele nem sempre parece me achar um
estorvo. O que eu sei é que ele ficou um pouco rude e
enxotou seus amigos sedutores e curiosos na noite passada.
Sei que ele pode ter me irritado até os céus enquanto
discutíamos os detalhes do projeto final, mas ele teve o
cuidado de preparar nossa refeição, preparou um chá de
ervas depois do jantar e serviu pequenos biscoitos suecos
com a marquinha dos seus dedos que eu felizmente consumi
em excesso.
Claro, ele é um tipo espinhoso. Nas palavras da minha
companheira de cabelos rebeldes e feminista durona,
Hermione Granger, ele rotineiramente demonstra “o alcance
emocional de uma colher de chá”. Mas, no final do dia,
aposto minha coleção de chuteiras que Ryder entraria em um
prédio em chamas para salvar um gatinho.
Entre minhas duas opções para sua motivação motriz de
usar aquele aparelho auditivo furtivamente na noite
passada, eu vou com a porta número dois. Acho que, apenas
talvez, Ryder Bergman não me odeie completamente.
E, francamente, embora ele me irrite como o inferno pelo
menos metade do tempo que estou com ele, acho que
também posso não odiar completamente Ryder Bergman.
Pelo menos, o suficiente não para brigar constantemente,
mas em vez disso, cinquenta por cento do tempo. Pelo menos
o suficiente para sorrir um pouco mais um para o outro,
afastar-se das provocações implacáveis e destruidoras. O
suficiente para talvez compartilhar um beijo exploratório se
ele quisesse raspar aquele animal selvagem cobrindo a
metade inferior de seu rosto.
Simplesmente para fins exploratórios, é claro. Nada sério.
Certamente nada emocional.
Porque se eu agisse de acordo com minhas emoções,
daria um tapa nele primeiro. Talvez puxar um pouco a barba
e dar um puxão na orelha boa. Lembrar a ele de que espionar
as pessoas – mesmo que seja porque você está intrigado com
elas – é uma bosta invasiva.
Eu poderia ficar realmente irada em minha vingança,
mas em algum momento, a violência fica entediante.
Essa tática é muito mais divertida.
Minha chegada para a aula é rápida pela primeira vez, e
eu caio na cadeira que estou começando a suspeitar que
Ryder realmente guarda para mim. Mais uma vez, está à sua
direita, e quando me sento e limpo minha garganta
suavemente, isso chama sua atenção imediatamente.
Com cuidado, desfaço o lenço de tricô que usava para que
ninguém no campus recebesse um Olá desses melões
enquanto eu caminhava para a aula. Quando tiro o último
carretel de tecido, os olhos de Ryder se arregalam, antes de
um rubor furioso aparecer no topo de sua barba desalinhada.
Ele pisca rapidamente enquanto seus olhos lutam para não
mergulhar como fizeram no início. Eu dificilmente posso
culpá-lo. Com sua bênção de minha tática retributiva, estou
usando uma das blusinhas de Rooney, em um amarelo
açafrão que faz meus olhos brilharem. Detalhe significativo:
Rooney é dois tamanhos de sutiã menor do que eu. Esta
camisa mal cobre meus mamilos.
A boca de Ryder funciona, antes que ele pegue seu
telefone, digitando furiosamente. Sutter, que porra você está
vestindo?
Eu desbloqueio meu telefone. Roupas, eu escrevo. Por que
a pergunta, Lenhador?
Sua bufada de raiva enquanto ele digita envia um arrepio
de alegria pela minha espinha. Você sabe o que quero dizer.
Eu realmente não sei, eu digito de volta.
Eu dou uma olhada nele. Mais uma flanela do closet.
Muito outonal. Pareceria idiota na maioria dos caras que eu
conheço. Irritantemente, Ryder a usa como um modelo
LLBean quente como o inferno. Nem mesmo tente negar –
você sabe que não está procurando chinelos quando abre
esse catálogo. Você cobiçaria aqueles DILFs3 sexy na seção

3
A sigla inglesa corresponde à expressão crua Dad I'd Like to Fuck (pai que eu gostaria de fuder)
masculina LLBean, também. Qualquer mulher de sangue
quente teria.
A flanela do dia é bordô e xadrez azul-marinho, com uma
linha dourada tênue que combina com minha camisa.
Respiro fundo, bloqueio minha libido e digito: Ei, olhe! Nós
combinamos.
Ryder bufa novamente enquanto me encara. Ele está
exasperado, o que é incrivelmente gratificante. Há um lado
positivo intenso e delicioso em nossas pequenas rixas.
Sempre teve. Cada vez que começamos a brigar, a
eletricidade estala, gerando um puxão crescente entre nós.
Nosso circuito continua se intensificando e, depois de ontem
à noite, sinto como se estivéssemos a um raio de alta
voltagem de explodir um fusível enorme.
Os olhos de Ryder estão em meus lábios, mas parece que
eles estão em toda parte, absorvendo muito mais de mim do
que apenas as palavras que digo. É sempre assim com ele.
Quando estou com Ryder, nunca questiono se ele está
presente ou ouvindo atentamente. Nunca duvido que ele
esteja se esforçando para me entender, que está observando
tudo o que faço e digo, mesmo que isso o irrite. A ironia não
passou despercebida, que ele é o primeiro homem que
realmente me fez sentir ouvida na minha vida e ele não
consegue ouvir uma palavra do que estou dizendo.
Era o que eu pensava até então, Sr. Trapaceiro de
Aparelho Auditivo.
Em uma terceira bufada de raiva, os olhos de Ryder
disparam em minha direção, depois voltam para seu
telefone. Seus peitos estão a um milímetro de dizer bom dia para a
classe.
Seus olhos vão para minha boca e eu sorrio.
— Peitos não falam, Bergman.
Ele aperta a ponte do nariz e respira longa e lentamente.
Quando sua mão cai e sinto que seus olhos estão em mim
novamente, eu olho para baixo, deslizando o dedo de
brincadeira ao longo da barra da minha camisa. Ryder
engole tão alto que os alunos atrás podem ouvi-lo.
Eu olho para ele e vejo seus olhos mergulharem na minha
boca.
— Além disso, eles estão bem. Eu tenho fita adesiva que
os mantém presos. — Meu dedo ainda está ocioso ao longo
da minha camisa, não muito longe do meu mamilo que
endurece rapidamente. Isso está ficando um pouco fora de
controle. As respirações de Ryder são profundas em fortes
lufadas de ar. Eu respiro fundo, estremecendo, e pareço tão
perturbada quanto ele. Limpando minha garganta, eu me
lembro do ponto disso.
Fazendo uma pausa, eu viro a borda do tecido,
mostrando a Ryder uma espiada do aderente duplo e
provavelmente um pedaço do mamilo, para ser honesta. Não
que eu me importe. Sou uma atleta. Passe dez minutos em
um vestiário pré-jogo e você vai entender – venho me
desnudando consensualmente na frente de outras pessoas há
uma década sólida a este ponto. Isso não faz diferença para
mim.
Aparentemente, isso faz diferença para Ryder. Seu
queixo cai. Tenho que me virar para que ele não veja o sorriso
gigantesco de satisfação pintando meu rosto. É bom demais
para deixar passar, então abro meu telefone e digito. Bônus
dessa coisa pegajosa? Eu nem preciso de sutiã.
A cabeça de Ryder cai quando seu punho atinge a mesa
com força.
Pela primeira vez, quando Mac começa a palestra, sou eu
quem está cuidadosamente anotando. Ryder é uma estátua
de pedra à minha esquerda. Eu nem tenho certeza se ele
levanta a caneta. Mas quando as luzes se acendem e a aula
termina, com certeza não fico por aqui para descobrir.

As quarenta e oito horas seguintes são benéficas para


ambas as partes envolvidas. Lembro-me de que a última
coisa para a qual tenho tempo na vida é seduzir homens
rudes da montanha, e Ryder provavelmente se lembra por
que me prefere com calças de moletom da cabeça aos pés.
Eu realmente não sei o que estava pensando, vestindo
aquela camisa reveladora, exceto que meu temperamento é
uma coisa viva e respirando dentro do meu cérebro. Só
ficava me dizendo que tentar fazer os olhos do cara caírem
da cabeça era uma resposta infinitamente mais proporcional
do que, digamos, derramar um laxante em sua garrafa
gigante de aço inoxidável ou, não sei, molhar sua cueca com
pimenta spray. Em comparação, uma provocação na hora
certa parecia praticamente dócil.
Mas agora, com alguns dias para esfriar, eu percebo que
se Ryder aumentou a aposta com o movimento furtivo do
aparelho auditivo, eu simplesmente fui de cabeça com meu
pequeno showzinho. Enquanto espero ele chegar ao meu
apartamento, fico pensando: e agora?
Não tenho mais tempo para pensar, porque alguém bate
na porta. Quando eu abro, me encontro com Ryder,
segurando uma mão sobre os olhos. Meu telefone apita.
Você está vestindo roupas de verdade desta vez?
Eu bato em seu estômago. E recebo um oof suave de
Ryder, quando sua mão cai. Seus olhos verdes estão escuros
com travessura e ele inclina a aba do boné em saudação,
depois passa por mim.
Enquanto giro acompanhando ele, meus olhos se
estreitam. Ele está tramando algo. Eu posso sentir isso.
Talvez eu não tenha considerado minha estratégia tão
longitudinalmente quanto deveria. Eu realmente não pensei
que Ryder iria aceitar minha provocação de alfaiataria e ser
vingativo – há alguma palavra literária para isso – eu meio
que esperava que ele engasgasse com a língua na aula e
deixasse por isso mesmo.
Acho que calculei mal.
Ryder levanta lentamente sua bolsa do ombro e a coloca
sobre a mesa. Eu observo suas mãos enquanto elas soltam a
trava e deslizam para fora de seu computador. É como um
filme pornô de TI esquisito, observar a maneira como o
laptop escorrega de sua bolsa, como as mãos de Ryder se
enrolam na tela enquanto ele o coloca na posição vertical.
Um rubor sobe pelo meu peito e aquece meu pescoço.
Minhas bochechas ficam rosadas. Merda, está quente aqui.
— Certo. — Eu limpo minha garganta.
Ryder ergue os olhos e me dá uma olhada. Com o dedo,
ele delineia minha aparência de moletom da cabeça aos pés,
em seguida, faz mímica de aplausos. Obrigado, ele sinaliza.
— Por favor. — Eu rolo meus olhos. — Não aja como se
você não gostasse do que viu.
Tirando o telefone do bolso, ele digita rapidamente. Sua
mandíbula está tensa, seus olhos focalizados a laser na tela.
Eu não disse que não.
Meus dedos se apertam em torno do meu telefone,
enquanto meu olhar vagueia até o dele. Nossos olhos se
fixam no olhar mais longo do mundo. Isso é até o rosto de
Ryder apertar com preocupação enquanto ele torce o nariz e
cheira.
Eu lanço um olhar por cima do ombro para a cozinha.
— Merda!
Correndo para o fogão, tiro a sopa do fogão, depois passo
a colher de pau no fundo da panela, procurando por
manchas chamuscadas. Felizmente não encontro nenhum.
— Não queimou...
Minha voz morre. Ryder está parado bem atrás de mim,
o calor emanando de seu corpo. Eu fecho meus olhos e não
posso deixar de imaginar que atrás das minhas costas tem na
verdade uma lareira, o estalo de suas chamas me sacudindo
com surpresa. Sou agredida pela fragrância pungente de
pinheiros. Ele cheira a árvore de Natal, o leve fantasma de
neve ainda em seus galhos.
Ryder se inclina, então agarra minha mão que segura a
colher. Meus olhos se abrem enquanto meu corpo fica atento.
Com a outra mão, ele coloca a palma da mão no balcão. Estou
enjaulada.
Eu olho para cima, para que ele possa ver minha boca
quando eu falo, mas antes que eu possa dizer uma palavra,
eu congelo. Seus olhos estão em mim, suas pupilas dilatadas,
apenas um anel de verde floresta em torno deles. Nossas
bocas estão a centímetros de distância, nossa respiração mais
rápida e áspera do que deveria.
— D-desculpe — eu sussurro. Minha língua se lança para
umedecer meus lábios. Os olhos de Ryder baixam, seguindo
seu caminho. — Eu esqueci de desligar o fogão. Mas não
acho que esteja arruinado.
Ryder libera meu pulso e leva a mão ao meu rosto. Eu
recuo, esperando algum toque de provocação ou puxão,
qualquer um de seus muitos toques provocadores. Ele faz
uma pausa e franze a testa.
Eu nunca te machucaria.
Ele não diz isso. Não sinaliza. Não envia texto. Mas as
palavras pairam no ar, tão invisíveis, mas substanciais
quanto a atmosfera crepitante entre nós. Lentamente, seus
dedos deslizam contra meus cachos, colocando-os
suavemente atrás da minha orelha. Seu polegar traça a
concha da minha orelha, descendo pelo meu pescoço.
O oxigênio não enche mais o ar. Ou, se isso acontece, não
consigo encontrar. Arrepios dançam na minha pele
enquanto cada canto negligenciado do meu corpo ruge para
a vida. Meu coração bate em lugares desconhecidos. Meus
dedos das mãos e dos pés. Baixo no meu estômago. Bem
entre minhas pernas.
O polegar de Ryder descansa na minha clavícula. Seus
olhos encontram os meus, me lembrando o quanto ele diz
com os olhos, o quão expressivos eles são. Seus cílios são
grossos e, embora eu os achasse pretos, agora vejo que são
cor de areia, de um marrom rico e esfumaçado. Eles não
piscam quando Ryder se inclina em minha direção. O tempo
é suspenso. Meus lábios se separam enquanto os dele se
aproximam.
Ele congela, um fôlego longe da minha boca. Estou
mergulhada na névoa de pinheiros e virilidade. Minha frente
inteira está queimada pelo calor de seu corpo. Assim que
começo a me inclinar, rompendo a pequena lacuna que resta
entre nós, Rooney invade a porta.
Ela para quando vê Ryder e eu nos separarmos com tanta
violência que quase caio na pia. Seus olhos saltam entre nós
enquanto um sorriso lento e satisfeito levanta sua boca.
— Estou interrompendo algo?
Ryder balança a cabeça, levantando o boné e passando a
mão pelo cabelo, antes de recolocá-lo e puxá-lo para baixo
sobre os olhos.
— Não — eu gerencio. Minha voz não poderia ser mais
rouca. Limpando a garganta, volto para a sopa. — O jantar
está pronto se você estiver com fome.
Ryder pigarreia também e vai até à gaveta dos talheres,
pegando as colheres. Os olhos de Rooney piscam mais uma
vez entre nós enquanto seu sorriso se alarga.
— Obrigada, ainda não estou com fome. Talvez mais
tarde.
No momento em que ela vira a esquina em direção ao seu
quarto, nossos ombros caem de alívio.
8

ISSO NÃO ESTÁ CONSUMINDO meu cérebro a cada minuto livre


que tenho, que não são tantos minutos livres assim, entre
todas as minhas preocupações com mamãe, futebol, minhas
notas, minha carreira, a questão da eternidade, e o porquê de
minha existência.
Ok, está consumindo um pouco meu cérebro. Ryder iria
me beijar?
Ouça, eu sou uma garota durona. Eu sou uma Garota.
Durona. Feminista. Não preciso de um homem para me fazer
feliz, e tenho certeza que não preciso de um para validar meu
valor.
Mas talvez, apenas talvez, eu queira um homem que não
seja apenas um pênis para gozar, mas um amigo de verdade
que me conhece e gosta de mim. Um corpo grande e quente
para me envolver à noite, para segurar minha mão e matar
aranhas e, se eu tiver muita sorte, mexer na minha florzinha
e realmente conseguir um orgasmo com ela. Um homem
ainda não fez isso, e me disseram que sou muito exigente
nesse quesito. Aparentemente, eu sou a culpada por esse
histórico.
É tão errado querer alguém que sabe me atacar tão bem
quanto esfregar minhas costas? Talvez eu esteja um pouco
cansada de ser a grande e corajosa Willa, que faz
malabarismos com tudo. Talvez, apenas talvez, Ryder
Bergman queira ser aquele cara que pega uma ou duas bolas
para mim.
Eu não sei dizer. Tipo, eu realmente não sei dizer. Claro,
ele me dá atenção. Ele conhece minha programação e nos
vemos quase todos os dias da semana e trocamos mensagens
de texto durante todos os outros, mas Mac nos esmagou
como pasta de amendoim e geleia no miserável pão
maravilhoso que é esse curso horrível em que me matriculei.
Estamos praticamente dissolvidos uns nos outros neste
momento, por todo o trabalho que temos que fazer em
conjunto.
Ele provavelmente estava apenas fodendo comigo, como
eu fodi com ele em Matemática de negócios. Mas isso parece
um território perigoso, fingir flertar um com o outro, fingir
sedução. Não fica complicado, quando você está faiscando e
colidindo, constantemente circulando o outro, dois animais
famintos e excitados, diferenciar o que é fato e o que é ficção?
Atualmente, Ryder digita a um milhão de milhas por
hora, como algum técnico do Pentágono que pega muitas
gáspeas e as engole com café com taurina. O homem eleva o
tenso para intenso.
— Ryder?
Eu me sento à sua direita. Ele está no lado comprido da
mesa porque o cara se espalha como nenhum outro,
enquanto eu estou na ponta curta da mesa. Ele deve ser
capaz de me ouvir.
Seus dedos bicam brutalmente as teclas. Ele vai quebrar
essas teclas. Vai submetê-las à sua vontade de digitar.
Seus olhos estão estreitados, em foco. Eu cutuco seu
braço. Ryder continua digitando, mas suas teclas são lentas,
uma monção diminuindo para uma garoa constante.
— Você está bem aí, Abominável Homem das Neves?
Lentamente, ele gira a cabeça na minha direção. Eu
recebo um único aceno de cabeça, antes que ele se vire.
Estamos trabalhando em partes separadas do projeto
final agora, mas, francamente, estou mais preocupada com a
parte de teste. Se for remotamente semelhante ao exame
intermediário que acabamos de fazer e eu mal consegui tirar
um B menos, então preciso melhorar meu jogo. Quando eu
disse isso a Ryder por mensagem ontem, ele concordou que
poderíamos estudar juntos, mas desde que cheguei em sua
casa e comemos em um silêncio bizarramente livre de
brincadeiras, ele está cutucando seu computador como um
louco.
— Vamos estudar, Ryder?
Sua digitação fica ainda mais lenta. Agora é um
gotejamento persistente. Aqueles olhos verdes giram para o
meu rosto e descem para a minha boca, então voltam.
Levantando-se abruptamente, ele alcança sua bolsa, puxa
uma pilha enorme de anotações em papel cartão, em
seguida, caminha até seu sofá.
— …Ok? — Eu olho por cima do ombro. Ryder está
espalhando os cartões em sua mesa de centro em algum
sistema que não compreendo. Tento não olhar, mas falho.
Infelizmente, ele é hipnotizante, os antebraços de um homem
da montanha escapando de sua flanela. Esta noite é branco
com xadrez verde, dourado e azul. Isso deixa seu cabelo mais
loiro, seus olhos mais verdes e seus jeans surrados quando
abraçam suas pernas musculosas.
Esta noite, infelizmente, ele não é apenas um lenhador
idiota. Ele é um lenhador sexy, forte e silencioso, e está me
deixando maluca com esse ato de desligamento. Sinto falta
dos comentários, das brincadeiras, das réplicas. Ele está
apenas... quieto. E de certa forma, sim, tecnicamente Ryder
está sempre quieto, mas esta noite, é como se ele nem
estivesse aqui.
— O que há com você?
Ele levanta a cabeça, tendo ouvido algo, mas o quê, ele
não pode dizer. Eu digo isso de novo, lenta e claramente,
levando Ryder a franzir a testa para mim e puxar seu
telefone.
Nada, Willa. Nós apenas temos uma tonelada de trabalho a
fazer. Vamos estudar ou não?
Carrancuda, eu levanto e pego meu telefone, então meu
caderno enquanto caminho em sua direção. Não perco o
modo como ele desvia os olhos em vez de segurar os meus,
como de costume. Não perco como ele cai no sofá com um
suspiro suave, mas não inaudível.
— Ryder, o que foi?
Seu gemido é um estalo rouco em sua garganta enquanto
ele esfrega o rosto. Quando suas mãos caem, vejo o que perdi
antes. Manchas escuras sob seus olhos. Um tom pálido em
sua pele. Ajoelhando-me suavemente no sofá ao lado dele,
me sento nos calcanhares.
— Você está se sentindo bem?
Ele começa acenando com a cabeça, mas quando seus
olhos encontram os meus, ele para. O aceno de cabeça se
transforma em um tremor.
Não, ele murmura.
A preocupação cai como uma pedra em minhas
entranhas.
— O que há de errado, Lenhador?
Ele esfrega os olhos com a palma das mãos, em seguida,
pega o telefone e digita, Dor de cabeça. Acontece às vezes. Nada
demais. Assim que envia, ele fecha os olhos como se a luz
fraca da lâmpada próxima fosse ofensiva.
Chegando mais perto dele, dou um tapinha em sua mão.
Ele abre um olho e me olha.
O quê? ele sinaliza.
— Sente-se no chão, em frente ao sofá.
Sua testa franze. Ele sinaliza, por quê?
— Vou massagear um pouco o seu pescoço e têmporas.
Minha... — Eu me contenho antes de deixar escapar a
verdade. Minha mãe, quase disse, tem dores de cabeça
horríveis e náuseas por causa do tratamento contra o câncer.
Eu vasculhei a internet quando nada do que o hospital deu
funcionou. Eu li sobre o papel da homeopatia e da hortelã-
pimenta no alívio de náuseas, tensão e dores de cabeça.
Desde então, aprendi a arte da hortelã-pimenta difundida
em um óleo base, esfregada em sua barriga. Para suas dores
de cabeça, eu aplico direto em suas têmporas. Eu dominei
massagear todos os pontos certos para dar alívio a ela.
Limpando minha garganta, eu encolho os ombros.
— Estou bem familiarizada com as dores de cabeça. —
Não é mentira. Conheço bem as dores de cabeça, mas não as
minhas. — Eu uso óleo de hortelã-pimenta para aliviar as
tensões.
As sobrancelhas de Ryder se mexem e eu bato em seu
ombro.
— Pervertido.
Ele olha para o telefone enquanto digita. Deveríamos estar
estudando. E não tenho óleo de hortelã-pimenta.
— Tudo bem. Eu tenho. — Pulando para me levantar,
corro até minha bolsa. Eu mantenho um frasco lá para
quando visitar mamãe no hospital. Algumas enfermeiras
acham que é hocus pocus e sempre confiscam quando eu
deixo lá, então agora eu mantenho comigo o tempo todo.
Ryder me encara com um olhar que não consigo ler. Ele
sente repulsa pela ideia do meu toque se não for cutucada ou
estalada, mas gentileza? A ideia de um gesto amigável em
vez de arrancar sua cabeça é tão terrível? Jesus. Nesse caso,
ele é um obstáculo maior do que eu quando se trata de ser
vulnerável com os outros.
— É só uma massagem na cabeça, Maromba. Relaxa.
Preciso do seu cérebro aguçado para este projeto.
Algo em sua expressão relaxa. Não sei exatamente como
lidar com isso, então, como todos os pensamentos
inquietantes que tenho, engulo a ideia para ficar obcecada
depois
— Sente-se no chão, Ryder.
Um longo suspiro de sofrimento o deixa enquanto ele
escorrega para o chão e encosta as costas no sofá. Eu me
acomodo atrás dele e monto seus ombros. Suavemente
persuadindo sua cabeça para trás, eu despejo uma gota de
hortelã em cada canto, em seguida, esfrego o óleo em suas
têmporas, olhando para seu nariz perfeito maldito. Reto e
longo, é praticamente elegante, algo que você veria em uma
escultura. Suas maçãs do rosto captam a luz e com um
gemido suave, o peso de sua cabeça aumenta em minhas
mãos. Ele está realmente relaxando.
— Viu? Isso não é tão difícil. Você está tenso, Homem das
Montanhas.
Ele suspira novamente, uma expiração longa e cansada.
Alguns minutos de silêncio se passam entre nós enquanto eu
estudo Ryder de cima, ouvindo, observando o que desfaz um
ponto tenso e o que o faz estremecer. Fazendo uma pausa,
ele se afasta, junta os cartões e os reúne em suas mãos.
Quando ele se inclina para trás novamente, ele levanta um.
É uma equação. Uma equação escrita à mão.
Eu bato nele para ganhar seus olhos.
— O que é isso, Ryder?
Ele me olha como se estivesse dizendo está falando sério?
Eu belisco seu ombro, fazendo-o fechar a cara.
— Você sabe o que eu quero dizer. Você escreveu isso?
Todos esses?
Ele dá de ombros, volta para o colo e abre o telefone. De
que outra forma eu iria ajudar você? Não posso perguntar
exatamente em voz alta.
— Ryder… — Minha voz vacila. Ele deve ter passado
horas nisso. Existem pelo menos cem.
Ele me ignora. Tocando na equação, ele encara minha
boca de volta.
— Essa é a fórmula do ponto de equilíbrio. Custos fixos
sobre a diferença entre o preço de venda por unidade e os
custos variáveis por unidade.
Ele dá um tapinha no meu pé, depois aperta. De alguma
forma, sei que significa um bom trabalho. Ele vira o cartão,
mostrando que minha resposta estava certa.
Continuamos na mesma linha – eu desatando seus
músculos, Ryder segurando aqueles cartões no alto para eu
ver. Quando acerto, ganho um leve aperto no pé, quando dá
errado, um peteleco no cartão. Depois de acertar alguns e a
cabeça de Ryder não parecer mais estar presa em um torno,
faço uma pausa com meus dedos emaranhados em seu
cabelo.
— Por que não estou fazendo perguntas também? —
Ryder levanta a mão e guia a minha para continuar
massageando. — Idiota ganancioso.
Pegando o telefone, ele escreve: Você não está fazendo
perguntas porque eu conheço essa merda, e meu tempo é muito
melhor gasto esfregando minha cabeça do que repetindo o que sei.
Eu puxo seu cabelo, mas sinto um sorriso puxando meus
lábios. Ali está o lenhador mal-humorado que conheço.
— Vinte dólares que você não sabe disso tão bem quanto
está se gabando, Ryder.
Ele ergue as sobrancelhas enquanto embaralha as cartas
em suas mãos. Quando ele tem um cartão, ele faz uma pausa
e pega o telefone.
Vinte dólares que eu sei. E você me deve massagens na cabeça
toda vez que estudamos.
Eu faço uma carranca. Essa é difícil. Mas eu não desisto
de apostas. Eu culpo minha natureza competitiva.
Um pensamento surge na minha cabeça. Ryder ainda está
olhando para mim enquanto eu deslizo meus dedos por seu
cabelo, mas desta vez, eu faço diferente. Desta vez, eu raspo
minhas unhas ao longo de seu couro cabeludo.
É como um interruptor ligado. Suas pálpebras caem antes
de se arregalarem novamente, como se ele tivesse sido
atingido por um dardo tranquilizante e estivesse tentando
ficar alerta. Eu passo meus dedos pela lateral de seu pescoço
e os levo até suas clavículas. Sua respiração engata e eu vejo
suas mãos agarrarem o tapete. Eu arrasto um único dedo da
base de seu crânio, para baixo no seu pescoço, e vejo seus
lábios se separarem.
— Claro, Bergman. Responda agora mesmo, e você tem
sua aposta.
Eu levanto o cartão, seguro na frente de seu rosto e vejo
seus olhos tentarem focar através de uma expressão
atordoada. Inclinando-me, coloco meus lábios na concha de
sua orelha direita, com cuidado para ficar o mais baixo que
puder enquanto alto o suficiente para ser ouvida.
— Dez segundos, então você perde. Dez, nove...
Eu sussurro a contagem regressiva em seu ouvido, meus
seios esmagados em suas costas, meus cachos varrendo seu
rosto. Ele respira gaguejando enquanto seus olhos se
estreitam para mim. Ele sabe o que estou fazendo. Sentando-
se, Ryder toma o cartão da minha mão, mas eu apenas me
inclino mais perto enquanto ele olha para ele. Seu peito arfa
e eu deslizo para frente, basicamente me prendendo em suas
costas. Eu esfrego seu pescoço, passo meus dedos mais uma
vez ao longo de suas clavículas.
— Três dois…
Ele bate no chão.
— Um.
Ryder chicoteia a cabeça em minha direção, fúria
faiscando em seus olhos. Estamos nariz com nariz enquanto
eu sorrio lento e satisfeita.
— Classe dispensada, Sr. Bergman.

— Oh, Willa, você é terrível! — Mamãe gargalha e depois


luta contra a tosse.
Limpo meus olhos, meu estômago doendo de tanto rir.
— Você deveria ter visto o rosto dele, mamãe.
Mamãe balança a cabeça.
— Aw, querida. Acho que ele gosta de você.
Minha risada morre.
— Acho que não. Ele me provoca e me atiça muito. Se ele
gosta de mim, ele tem uma maneira engraçada de mostrar
isso.
Colocando um cacho solto atrás da minha orelha, mamãe
sorri.
— Talvez ele esteja com medo. É muito humano atacar
quando estamos com medo.
— Do que ele deve ter medo?
Se alguém tem motivos para ter medo, esse é o meu caso.
Eu não namoro. Eu não confio nos homens. Geralmente, eu
nem gosto deles.
— Bem, Willa, ele é surdo e não fala, não usa linguagem
de sinais. Isso deve ser isolante, indutor de ansiedade, pelo
menos às vezes. Você já tentou viver sem todas as pistas
auditivas que o mundo nos oferece para nos manter seguros,
muito menos ser incapaz de se expressar para aqueles ao seu
redor?
— Não. — Eu franzo a testa. — Você já?
Mamãe acena com a cabeça.
— Anos atrás, em uma das minhas missões, uma
explosão aconteceu. Meus ouvidos zumbiram tanto que foi
tudo o que pude ouvir por dois dias. Quase fui atingida duas
vezes por jipes que se moviam pela base. Senti falta de
pessoas chamando meu nome. Quarenta e oito horas e
quando fui para a cama naquela segunda noite, Willa, eu
estava uma pilha de nervos, exausta e frustrada.
Meu coração parece que está sendo apertado em um
punho tão brutalmente que está prestes a estourar com a
pressão e se liquidificar. Passei a maior parte do tempo com
raiva ou aborrecida com Ryder. Nem uma vez eu realmente
pensei sobre como deve ser a vida para ele. Eu o vejo como
capaz e independente, adaptado à sua vida. Além da
consideração de falar para que ele possa me entender, eu não
trato Ryder de forma diferente do que faria com qualquer
outro fanático por flanela mal-humorado, musculoso, de
barba eriçada.
Mas isso não é exatamente o mesmo que ter empatia, não
é?
— Não, querida — Mamãe diz. — Não é.
Eu suspiro.
— Eu disse isso em voz alta.
— Sim, você disse. Você sempre foi um processador
verbal. — Acariciando minha mão e, em seguida, segurando-
a, mamãe sorri suavemente. — É uma das minhas coisas
favoritas sobre você, como você usa seu coração na manga...
— Não.— Afasto sua mão de brincadeira. Mamãe o
aperta novamente, seu aperto forte.
— Você faz. Sua raiva e seu carinho. Seu amor é tão
explosivo quanto seu temperamento, Willa Rose. Você ama
de forma seletiva e apaixonada. Você luta apenas nas guerras
que estão perto de seu coração.
Depois de um momento de silêncio, encontro seus olhos.
— Eu não sei o que fazer, mamãe.
Ela inclina a cabeça para o lado.
— Sobre o quê?
Eu encolho os ombros com lágrimas nos meus olhos.
— Tudo. O time, minhas notas, meu futuro... ele.
Parece uma avalanche de emoções – toda a pressão, a
ansiedade avassaladora e a expectativa derrubando meu
peito. Eu caio nos braços de mamãe e choro silenciosamente.
Eu me permito fingir que sou uma criança de novo cuja vida
é muito mais simples, segura no abraço de sua mãe enquanto
ela esfrega minhas costas e me acalma.
— Obrigado, mamãe. — Eu engulo minhas lágrimas
finalmente. — Eu vou ficar bem, eu só fico...
— Cansada — Mamãe termina por mim. — Está tudo
bem estar cansada, você sabe.
Algo muda atrás de seus olhos quando ela diz isso. Isso
me preocupa. Estou prestes a pressionar quando uma batida
precede o Dr. B entrar.
O cara é um gostoso. Eu entendo porque mamãe fica
vermelha perto dele. Alto, magro, ele tem uma cabeça cheia
de cabelos loiros-ruivos ondulados que me lembram os anos
20, como um pedaço de tela de cinema. Ele tem olhos verdes
brilhantes que sempre achei quentes e genuínos, e está bem
barbeado como sempre, cheirando a algum tipo de loção
pós-barba viril e sabonete antibacteriano.
Faz um tempo que não pego o cara, então aproveito a
chance enquanto tenho.
— Dr. Bezoozywhatsa-a-atchim!
— Deus te abençoe — Mamãe fala sem palavras.
O Dr. B bombeia o desinfetante para as mãos e me mostra
uma sobrancelha erguida não impressionada. Seu
sobrenome real é um trava-línguas europeu. Bezuidenhout.
Sua pronúncia não é fonética. Ainda não sei como dizer. A
primeira vez que tentei ler o nome dele em seu prontuário,
mamãe realmente pensou que eu tinha espirrado. Agora é a
nossa piada corrente.
— Wilhelmina. — Ele sabe que esse não é o meu nome. É
apenas a sua vingança. Sorrindo, ele me oferece um soco que
eu encontro. — Joy Sutter, parece feliz hoje — diz ele à
mamãe.
Mamãe pisca para mim enquanto ajeita o manto sobre a
camisola do hospital.
— Quem não ficaria, quando a filha está aqui para uma
visita?
Eu deslizo para fora da cama, abrindo espaço para o Dr.
B. Quando ele se aproxima, ele se vira para mim e
gentilmente diz:
— Senhorita Willa, você nos dá licença, rapidinho? Tenho
um assunto confidencial para discutir com sua mãe. Só
demoraremos um minuto.
Meus olhos se estreitam para mamãe. Ela sorri
brilhantemente e acena com a mão.
— Vá. Compre-me um daqueles chás de pêssego doce
que eles nunca querem que eu beba.
— Açúcar puro! — Dr. B diz brincando. — Vai direto para
os quadris, Joy.
Apenas um oncologista e um paciente veterano com
câncer poderiam encontrar humor em sua perda de peso
doentia. Saio, fecho a porta atrás de mim e sinto o pavor subir
pela minha espinha. Não consigo pensar em nenhum motivo
para um pai chutar seu filho para fora do quarto do hospital,
a menos que as notícias naquele quarto sejam do tipo que
você nunca quer que eles ouçam.
Ela está morrendo.
Eu me sinto começando a tremer, o medo subindo pela
minha garganta.
Dentro da sala atrás de mim, tanto a risada da minha mãe
quanto a do Dr. B. ecoam. Quem riria da morte? Sobre
cuidados paliativos e escolhas de fim de vida. Talvez mamãe
não esteja em perigo, afinal?
Dr. B abre a porta, um sorriso fácil em seu rosto.
— Tenha uma boa noite, Sra. Willa — diz ele.
— Você também, Dr. B.
Eu sei que não devo pedir respostas a ele. “Fale com sua
mãe, Srta. Willa” ele me disse inúmeras vezes. “É sua
prerrogativa”.
— O que foi aquilo? — Eu pergunto a ela. Mamãe está
com a língua de fora, os olhos focados nas palavras cruzadas.
— Oh — ela diz com um suspiro. — Alguns planos para
um novo medicamento experimental. Como ainda está em
testes clínicos, ele não pode discutir o assunto com outras
pessoas na sala e blá, blá, blá. Você sabe. Agora venha aqui e
ajude sua senhora com algumas dessas palavras, Willa.
Eu me esforço ao máximo para me concentrar, enquanto
respondo à mamãe e descasco nossa laranja, mas posso sentir
que está se agitando dentro de mim. Ansiedade. Temor.
Estou apavorada que ela esteja morrendo e mentindo para
mim. Estou desesperada para esperar que tudo esteja tão
bem quanto parece – mamãe fazendo suas palavras-
cruzadas, Dr. B passeando despreocupadamente.
É um caos na minha cabeça, um furacão no meu coração.
As emoções colidem, intensificando-se em energia frenética.
Eu sou uma tempestade se formando, o primeiro raio de
eletricidade queimando prestes a pousar.
Existem dois métodos comprovados para difundir Willa
Sutter quando ela está prestes a entrar em erupção: corridas
longas e excruciantes e ficar com cara de merda. Ambos
funcionam da mesma maneira. Eles causam estragos em meu
sistema até que essa energia furiosa seja aterrada e drenada.
Até que estou vazia, tão entorpecida e dissociada, que
desmorono na inconsciência.
Eu sei. Não disse que eram mecanismos de
enfrentamento saudáveis, apenas que se provaram eficazes.
Meu corpo está gasto com a prática de hoje. Se eu tentar
correr, minhas pernas vão desabar debaixo de mim muito
antes de eu conseguir dar um passo. Correr não vai
funcionar. O que significa que esta noite é uma noite para
estragar meu fígado.
Abrindo meu telefone, encontro o número de Rooney e
mando uma mensagem para ela. Nenhuma de nós duas
festeja, mas em uma rara crise, estamos lá uma para a outra,
preparadas para fazer o que for necessário, mesmo que isso
inclua álcool. Eu não bebo muito, e nunca bebo sem pagar o
preço, mas temos um raro dia de descanso amanhã, para que
eu possa passar de ressaca e me recuperando.
Talvez amanhã, eu descubra como retaliar após a última
trapaça de Ryder. Ele se vingou por torturá-lo sexualmente
durante o estudo do cartão e custou-lhe vinte dólares. Sua
resposta madura foi uma almofada gritante que ele colocou
na minha cadeira em Matemática de Negócios. Como
sempre, cheguei um pouco atrasada. Depois de correr direto
para o meu assento, eu caí na cadeira, quebrando o silêncio
mantido para a palestra de Mac com um eco de "peido".
Levou dez minutos para colocar a aula em ordem.
Aquele filho da puta. Ryder teve que se virar e esconder
o rosto no braço todos os dez minutos antes que pudesse me
olhar nos olhos e não cair na histeria. Seus olhos brilharam
com lágrimas de tanto rir, e por baixo de toda aquela barba,
eu enxerguei um largo sorriso. Se sua brincadeira não fosse
além de humilhante e irritantemente inteligente, eu teria
ficado quase feliz por ter colocado um olhar tão vertiginoso
no rosto daquele espertinho que abraçava árvores. Quase.
Em resumo: devo a ele. Uma. Grande. Revanche.
Talvez seja porque ainda estou preocupada com a
almofada de peido, enquanto faço planos com Rooney, mas
um pensamento brilhante me ocorre. Em algum momento
depois que conheci os dois colegas de quarto de Ryder,
contei à Rooney sobre eles. Ela fez a conexão do mundo
pequeno que ela e Becks têm química juntos. Não esperava
por isso. Becks me parece um monte de coisas, inteligente não
sendo uma delas.
Envio uma mensagem de texto à Rooney com meu plano
sinistro. É um exagero, porque não tenho certeza de quão
amigos ela e Becks são além de serem colegas de laboratório.
Ela responde imediatamente. Vou mandar uma mensagem
para ele. Ele saberá para onde ir. Esteja lá em trinta. É uma noite
de vestido vermelho?
Eu fico olhando para o meu telefone, debatendo. Coisas
ruins acontecem no vestidinho vermelho, vestido é um termo
generoso para essa vestimenta. É mais como um top de
tubinho estendido. Mas esta noite, eu quero esquecer de ser
responsável e respeito próprio. Eu quero ser estúpida e
descuidada e não me preocupar com biópsias e GPA e meus
objetivos médios por jogo. Quero ter vinte e um anos, ser
inconsequente e imprudente. Quero dançar com minha
amiga e punir sexualmente um determinado lenhador
vingativo e excessivamente barbudo.
Sim, eu digito de volta. E traga meus sapatos de prostituta
enquanto faz isso.
9

Willa está tentando me matar. É a única explicação para o


que está acontecendo entre nós nas últimas semanas.
Primeiro a camisa em Matemática de Negócios. Eu nunca vi
uma mulher usar essa cor e não parecer que seus rins
estavam falhando, mas o amarelo fez Willa brilhar como um
raio de sol.
Seu cabelo estava penteado para cima e selvagem.
Mechas grossas e onduladas enrolavam-se umas nas outras
e caíam por seus ombros, tênues fios brincando ao longo de
todo o decote.
Não consigo descobrir o que a levou a fazer isso, o que
poderia possivelmente fazer com que ela se vestisse assim.
Essa não é Willa, não é a Willa que eu conheço. Mesmo que
eu estivesse confuso com seu comportamento, mesmo
sentindo falta daquelas calças de moletom enormes e seu
coque frisado, eu tive dificuldade em não responder à
aparência sedutora de seu corpo, e ela sabia muito bem disso.
Eu poderia ter voltado com uma vingança na próxima
vez que estivesse em sua casa. No início, quando ela estava
preocupada com aquela sopa, tive a necessidade irracional
de acalmá-la, de dizer que não me importava se o jantar
estivesse um pouco queimado. Mas eu resisti e mantive meu
plano. Eu a encurralei, inclinei-me, toquei-a até que ela
estivesse uma bagunça luxuriosa em meus braços. Eu não
estava pensando em beijá-la, não realmente. Eu planejava
chegar tão perto, tão perto, até que nossos lábios quase se
encontrassem...
Meu telefone vibra, tirando-me dos meus pensamentos.
Solto a barra carregada que estou levantando em nossa
academia improvisada no porão da casa e o abro.
É um vídeo de Becks. É difícil de ver no início, então eu
inclino para evitar reflexos e aumentar o brilho da tela.
Sombras escuras, luzes estroboscópicas. Obviamente, é um
clube, o que não é surpreendente. É onde Becks mora quase
todas as noites. Duas mulheres dançam, contorcendo-se uma
contra a outra. Uma é alta, pernas quilométricas, uma mecha
de cabelo loiro caindo pelas costas. A outra é mais baixa,
mais compacta, a luz atingindo os músculos definidos de
suas coxas que se estendem até as panturrilhas fortes e
sapatos de salto altos pretos. Ela usa um vestido vermelho
curto. Jesus, isso é mesmo um vestido? Seu cabelo é rebelde,
cachos mal-comportados, castanho caramelo sob as luzes.
Espera.
Antes que eu possa enviar uma mensagem para ele,
Becks envia outra mensagem. Não é Willa? Ela está destruidora,
cara.
Xingo mentalmente, subo correndo os degraus e tomo o
banho mais rápido da minha vida. Onde você está? Eu mando
uma mensagem para ele enquanto pulo no jeans, correndo
loucamente a mão pelo meu cabelo molhado.
Ele responde imediatamente, Club Folle.
Merda. Essa é boa. Dou uma olhada rápida na minha
barba e tento pentear um pouco. Eu provavelmente deveria
aparar a coisa em algum momento. Não há tempo agora.
Vasculhando o armário, encontro uma camisa de botões sem
rugas e a visto. Chaves, telefone, carteira, então estou no
Explorer, voando pela 405 para Culver City. Não é longe,
mas parece eterno, dirigindo para encontrá-la.
Willa não tem sido ela mesma nas últimas semanas, e
estou preocupado. Eu sei que ela está sob muita pressão com
as notas e com a equipe. Certamente não facilito a vida dela.
Trabalhando com ela em nosso projeto, porém, tentei a
entusiasmar, apresentar meus problemas com uma
linguagem mais gentil. Servi biscoitos e chá para ela. Eu
finalmente dei a ela todas as notas do semestre. Tentei não
ser um completa idiota. Eu sei que posso ser um pouco
áspero nas pontas, e posso ver que Willa tem muito a fazer.
Além da estranhamente sedutora e sabotadora
superioridade que temos experimentado nas últimas duas
semanas, tentei ser decente com ela.
A almofada de peido foi longe demais? Quer dizer, ela
mereceu. Ela me fez parecer um idiota pervertido com
aqueles cartões, mexendo na minha cabeça com toques
sensuais, então eu não conseguia nem me lembrar da
fórmula de redução de estoque. Nenhuma parte de mim
estava reduzindo quando ela fez aquela manobra.
E em retaliação, eu a envergonhei na frente de tipo...
quatrocentas pessoas.
Talvez não tenha sido uma resposta razoável.
Antes que eu possa pensar mais sobre isso, eu paro no
clube, jogando minhas chaves para o manobrista e correndo
até a entrada. Estou acenando porque este é o reino de Becks
e se você está com Becks, você está no Club Folle.
Lugares como este são meu pior pesadelo.
Imediatamente, o som estala meus ouvidos e o que é
normalmente um anel metálico persistente se transforma em
tambores de aço terrivelmente altos. Eu aperto os olhos,
tentando minimizar o impacto esmagador das luzes
estroboscópicas enquanto eu deslizo pela multidão.
Felizmente, é fácil de ver. Sou mais alto do que praticamente
todo mundo.
Eu localizo Rooney primeiro, fazendo o tipo de
movimento que minha mãe castigaria minhas irmãs por
apenas tentarem. Quando ela gira, lá está Willa, e agora a
dança de Rooney parece um shuffle puritano em
comparação.
A bunda de Willa balança em círculos hipnotizantes, seus
poderosos quadríceps sustentando seu corpo enquanto ela
se esfrega no chão, então ela se levanta. Suas mãos estão no
ar, revelando ombros definidos e um vislumbre de decote
não muito diferente da manhã da camisa amarela que viveu
na infâmia.
Um suspiro alto me deixa, engolido pelos sons do clube.
Rooney gira, então congela quando seus olhos começam
nos meus pés e percorrem apreciativamente meu corpo.
Quando seu olhar pousa no meu rosto e ela me reconhece,
seus traços mudam de interesse para medo nos olhos
arregalados.
— Oh, merda. — Ela diz isso enfaticamente, com uma luz
estroboscópica azul brilhante brilhando em seu rosto, caso
contrário, eu não teria ideia do que ela acabou de dizer.
Willa está alheia, batendo sua bunda contra a coxa de
Rooney, fazendo Rooney pular no ritmo do movimento de
Willa. Rooney me encara com horror enquanto oscila. Eu
passo ao redor dela e agacho até que Willa e eu estejamos no
mesmo nível.
Os olhos de Willa estão fechados, seu lábio inferior
rechonchudo preso entre os dentes. O suor escorre pelo
pescoço e peito. Rooney consegue esbarrar nela o suficiente
para que Willa abra os olhos e imediatamente os bloqueie
com os meus. Eles se estreitam timidamente enquanto ela me
examina. Quando a compreensão surge, eles se alargam e ela
se levanta.
— Ryder!
Ficar de pé começa a balançar. Antes que Willa possa cair
e se machucar, eu a pego em meus braços, carregando-a em
direção à saída dos fundos que identifiquei no momento em
que entrei. Empurrando a porta, eu a coloco cuidadosamente
no ar da noite e a pressiono contra a parede de tijolos.
Colocando minhas mãos sobre sua cabeça, eu a encaro,
certificando-me de que ela não desmaie enquanto tento
acalmar minha raiva ansiosa.
Ela está bêbada, em um guardanapo de vestido. Existem
homens de merda neste clube, idiotas que tirariam proveito
de sua vulnerabilidade. E se eu não tivesse chegado aqui? E
se alguém tivesse abusado e machucado ela?
Willa está ofegante, com os olhos arregalados.
Lentamente, eles viajam pelo meu corpo. Sua cabeça inclina-
se para o lado, assim como acontece quando está pensando
em algo.
Puxando a cabeça para cima, seus olhos parecem
diferentes esta noite. Uma cor que não consigo descrever.
Então penso. Lava derretida.
— Você parece estranho sem a flanela. — Ela soluça. —
Muito pouco lenhador.
Suas mãos deslizam ao longo do meu peito, causando um
incêndio sob a minha pele, o calor subindo pelas minhas
veias. Eu os empurro instintivamente e dou um passo para
trás.
Willa está chocada com a expressão de seus olhos
arregalados, que começam a mudar. Eu observo sua
transformação enquanto sua mandíbula endurece, seus
olhos de lava derretida se estreitam e se tornam vulcânicos.
Ela está chateada comigo, mas talvez não mortalmente
chateada. Ela ainda está sóbria ao virar o rosto para a luz e
falar com clareza o suficiente para eu ler seus lábios.
— O que você está fazendo aqui, Ryder?
Pego meu telefone, balançando-o para ela. Ela balança a
cabeça.
— Eu não trouxe.
Um sopro raivoso de ar me deixa. Se ela não estiver com
o telefone, não podemos conversar.
— Às vezes me pergunto se você nunca fica com raiva,
Abominável Homem das Neves.
Eu recuo, meus olhos procurando os dela. O que posso
dizer? Como posso explicar todas as coisas distorcidas e
complicadas que sinto e penso sobre ela, especialmente
quando não podemos nem mesmo nos comunicar?
— Você me odeia? — Seus olhos estão úmidos de
lágrimas não derramadas.
Quando eu estava no ensino fundamental, meus irmãos
mais velhos eram grandes fãs de uma série de quadrinhos
brutal na qual eu não tinha nada que meter o nariz. Lembro-
me de bisbilhotar, chegando em uma página inteira horrível
em que o vilão acabara de ser cortado do nariz ao umbigo.
Tive pesadelos por dias e não pude deixar de vê-los por
semanas. Eu me sinto como aquele vilão e o garoto que o viu,
de uma só vez. Violentamente destruído, marcado por
aquele olhar.
Algum tipo de ruído de dor me deixa, e a cabeça de Willa
bate para trás. Eu aperto seu queixo, virando seu rosto para
que ela observe minha boca dizer as palavras
silenciosamente. Ela tem que entender isso. Willa, não. Eu
nunca poderia te odiar. Nunca.
Seus olhos se estreitam.
— Eu não posso, Ryder. Não consigo ler lábios como
você. — Ela soluça novamente. — Eu não posso… — Sua fala
embaralha, e agora sou eu que não consigo entender. Eu bato
a mão na parede, a frustração crescendo porque eu não posso
falar com ela ou ouvir o que ela precisa dizer.
Pego meu telefone e abro o bloco de notas. Ir para casa?
Escrevo.
Ela aperta os olhos, a língua de fora como se ela estivesse
contando com isso para uma melhor concentração.
Acenando com a cabeça, Willa tenta digitar sim, suponho,
mas acaba sendo dun. Quando eu olho para cima, vejo sua
cor desbotando e reconheço o aviso na hora certa. Girando
para fora do caminho, eu tiro o cabelo de seu rosto enquanto
Willa se curva e vomita, esvaziando seu estômago.
Ela soluça e estala, e posso imaginar que ela está
chorando, mesmo que eu não consiga ouvir. Reafirmando
meu aperto em seu cabelo, eu procuro em meu jeans por um
lenço. Sim, um lenço. Um pano ao invés de lenços de papel
dá um abraço na Mãe Natureza. Limpo sua boca quando seu
corpo finalmente para de espasmos e a ajudo a se levantar.
Willa está com os olhos turvos, seus lábios tremendo.
Então seus olhos reviram em sua cabeça, e ela cai em meus
braços.

— Ryder — ela murmura. Eu ouço isso fracamente


porque a trouxe para casa comigo e enfiei aquele aparelho
auditivo na minha orelha não tão fodida imediatamente.
Certos sons são muito altos. Outros, muito quietos. Eu podia
ouvir o espirro de uma pulga e o som do meu cabelo
crescendo, mas ainda tenho que esticar o ouvido para ouvir
sua voz fraca. O aparelho auditivo é frustrante e inadequado,
sim, mas me permite ouvir Willa, um pouco melhor, e estou
grato.
Rooney e Becks estavam se divertindo quando eu saí, o
que significa que os dois estavam uma merda. Becks faz isso
todas as noites, então de alguma forma, mesmo quando ele é
aniquilado, ele ainda está familiarizado e se lembra de tudo.
Rooney, por outro lado, claramente não bebe com frequência
e provavelmente vai querer ser levada para os fundos e levar
um tiro amanhã, devido à dor de cabeça que vai ter.
Eu disse a Becks que estava levando Willa para casa
porque estava nervoso em deixá-la sozinha no caso de ela
passar mal de novo. Em seguida, fiz com que ele prometesse
trazer Rooney aqui se ela tomasse o mesmo caminho que
Willa, ou simplesmente levá-la em segurança para sua casa
quando ela estivesse bem para sair. Ele me prometeu e eu
confio absolutamente nele. Becks pode ser um idiota
absoluto, mas é um bom homem, e ele é companheiro de
laboratório e amigo de Rooney. Ele cuidaria dela.
Willa está cantando para si mesma, algo sobre lagos de
ensopado e montanhas de doces, enquanto eu chuto a porta
do meu quarto e a coloco na minha cama.
— Ah sim. — Ela soluça. — O quarto do pinheiro
seduzente.
Uma pequena risada me deixa que não é totalmente
silenciosa.
Willa chamou isso de quarto do pinheiro seduzente, e
estou morrendo de vontade de saber por quê, mas ela ainda
não consegue encontrar seu telefone e não tem como falar. A
frustração surge dentro de mim, batendo dentro dos meus
pulmões e subindo pela minha garganta. Quando estou com
Willa, quero ter uma voz para fazer perguntas quando ela
disser merdas enigmáticas como essa e, honestamente, Willa
diz um monte de merdas enigmáticas, especialmente
quando ela está resmungando e não acha que estou ouvindo.
O que vou precisar confessar em algum momento.
Lembro-me do que fiz no clube, pego meu telefone e
digito no bloco de notas, Quarto do pinheiro seduzente?
Ela aperta os olhos enquanto lê, então ela se joga de volta
na minha cama.
— Sim.
Isso é tudo que consigo. sim.
Eu rolo meus olhos. Willa se debate na minha cama até
que ela esteja enrolada no meu edredom como um burrito.
Observando-a, desabotoo minha camisa que cheira
levemente a vômito e corpos suados. Eu a jogo no cesto de
roupa suja, em seguida, viro para a cômoda para puxar uma
camiseta quando ouço um barulho estrangulado vindo da
cama.
Dois olhos escuros espiam por cima do edredom.
Enquanto arrasto a camiseta com decote em V sobre a
cabeça e o torso, sinalizo: O quê?
Lentamente, ela puxa o cobertor para que seu rosto fique
livre.
— Ryder, Guardião das Notas. Lenhador idiota do
Condado de Los Angeles, você tem uma parte superior do
corpo fantástica.
Uma risada me deixa. Uma risada real. Eu sinto isso
borbulhar na minha barriga, voar pela minha garganta e
reverberar no ar.
Willa se senta, jogando os cobertores para trás.
— Você apenas riu! Eu acabei de fazer você rir!
Meu coração bate com os nervos. Minha pele se arrepia
de pavor. Estou esperando o inevitável. Para ela dizer que
pareço estranho ou terrível.
Mas ela apenas joga as mãos para cima e grita:
— Wooohoooo!
Eu cubro meus dois ouvidos instintivamente antes que o
aparelho auditivo faça barulho. Willa sai da cama,
tropeçando em seus pés até que ela bate no meu torso e
envolve seus braços em volta de mim. O som abafado pousa
em algum lugar entre meus peitorais antes que Willa pareça
se lembrar de tirar o rosto dela. Apoiando o queixo no meu
esterno, ela olha para mim.
— Eu te fiz rir, Lenhador.
Tento não sorrir, mas falho, sorrindo de orelha a orelha
inútil enquanto aceno.
Lentamente, seus dedos percorrem meu peito, deixando
um rastro de faíscas fervendo sob minha pele. Seus dedos
sobem pela minha garganta e passam pela minha barba. Eles
descansam sobre meus lábios, separando meus pelos faciais
enquanto ela olha para minha boca.
— Este rabo de esquilo é um problema.
Minhas sobrancelhas levantam. Minha barba não é tão
desgrenhada.
É…?
— Não consigo ver sua boca. E suspeito que seja uma
boca bonita. Como uma daquelas bocas que um homem com
cílios como os seus não deve ter.
Ela balança ligeiramente em meus braços, seus olhos se
fechando enquanto ela murmura:
— Eu gostaria que você falasse comigo, Ry.
Eu sei que ela está bêbada e sem filtro, mas suas palavras
caem como um golpe físico. Minhas mãos vão para sua
cintura, para me firmar tanto quanto para corrigir sua
postura vacilante. Meu aperto aumenta quando o som do
meu apelido em sua voz quente e rouca atinge meus ossos e
ecoa.
O medo sobe pela minha espinha. Eu sinto sua jornada
exata, dedos gelados subindo em cada vértebra até agarrar
minha garganta. Está ficando cada vez mais difícil mentir
para mim mesmo quando Willa Sutter está por perto. Dizer
a mim mesmo que meu coração não dispara quando olho
para ela, que essa necessidade não tortura meu corpo. Que
eu não sonho em deslizar minhas mãos sob aqueles moletons
largos que ela sempre usa, sentindo a pele sedosa ao longo
de suas costelas, o punhado macio de seus seios. Que eu
nunca me perguntei como seria dirigir na estrada segurando
as mãos afetuosamente enquanto ainda lançava golpes e
tagarelava besteiras. Que eu não fantasio sobre como
tocaríamos o rádio e eu seria capaz de falar e ouvir sobre ele.
Willa deslizaria sua mão pela minha coxa, e eu teria que
parar e beijá-la até que aquela boca finalmente parasse de
resmungar por tempo suficiente para eu dar toda a atenção
que merecia.
Willa, como minha nêmesis, é seguro. Como minha quase
amiga hostil, um risco administrável. Ou assim pensei. Mas
agora vejo que não é nada disso, e nada remotamente
controlável resulta disso. Nada mesmo.
Sou trazido dos meus pensamentos enquanto seu cabelo
sussurra sobre minha pele. Essas ondas indomadas são do
mesmo marrom rico de seus olhos, com listras vermelhas e
douradas pelas horas passadas diariamente sob o sol da
Califórnia. Eles fazem cócegas em meus braços e peito
enquanto Willa balança em minhas mãos, seus olhos
fechando enquanto ela sorri.
Com cuidado, eu a seguro perto de mim e me dou este
momento que só posso esperar que ela não se lembre,
embora seja um que eu nunca queira esquecer. Eu pressiono
meu nariz em seu cabelo, uma respiração longa e profunda
enquanto eu gravo seu perfume suave na memória – raspas
de laranja e protetor solar no oceano, a maciez pura das
rosas. Dou um beijo suave em sua têmpora...
Merda.
Eu me afasto. Pode ser o mais simples toque de meus
lábios em sua testa, mas estou beijando minha parceira de
projeto bêbada e não tenho o consentimento dela.
— Cale a sua cabeça — ela murmura. — Eu quero você
bem aqui, agora me beije de novo.
Leitora de mentes absurda. Seus lábios queimam a pele
exposta acima da minha camisa, onde ela pressiona um beijo
macio e úmido.
As mãos de Willa se enlaçam em volta do meu pescoço,
como se para chutar o aperto hesitante e reivindicar seu
direito. Seus dedos deslizam ao longo do meu couro
cabeludo, fazendo algum tipo de gemido desesperado sair
de mim. Willa se empurra ainda mais perto da minha frente,
e nós tropeçamos até batermos contra a parede. Minha mão
desce até sua cintura enquanto ela enlaça a perna em volta
do meu quadril. Eu envolvo minha mão em torno da coxa
sólida de ferro e tento respirar firme.
Seu suspiro é uma explosão suave em meu pescoço. Suas
unhas afundam mais forte em meu couro cabeludo enquanto
ela pressiona na ponta dos pés, aqueles lábios picados de
abelha implorando para serem beijados.
— Ryder — diz ela. — Eu exijo ser beijada.
Uma risada silenciosa me deixa. Suavemente, eu aperto
sua mandíbula e meu polegar traça sua boca. Se eu fizer isso,
quem sabe o que vai acontecer, que tipo de controle de danos
será necessário amanhã? Ela está meio adormecida, meio
bêbada. Se e quando eu beijar Willa Sutter, quero que ela se
lembre disso.
Eu pressiono meus lábios em sua têmpora novamente e
sinto um suspiro pesado deixá-la. Sua boca desliza, úmida e
quente ao longo da minha clavícula. Eu respiro fundo,
inclinando minha bochecha contra seu cabelo selvagem,
meus dedos afundando em seu caos. Sua língua gira no oco
da minha garganta. Meus lábios varrem a concha de sua
orelha.
Willa e eu nem estamos nos beijando, não nos lábios, mas
estamos nos movendo, rolando um contra o outro, e isso eu
sei que tem que parar. O que estamos fazendo agora leva
apenas a uma coisa. Uma coisa que absolutamente não pode
acontecer agora.
Quando eu me afasto, Willa o faz também, suas feições se
contraem.
— Por que você parou?
Eu puxo meu cabelo. Minha mão cai e eu balanço minha
cabeça. O cansaço do dia torna meus pensamentos cada vez
mais confusos. Nem sei o que tentaria sinaliza para ela, que
palavras escreveria no meu bloco de notas.
— Você não quer mais? — ela pergunta fracamente.
Seus olhos estão ficando mais pesados e acho que, desta
vez, não haverá ninguém acordando-a. Antes que Willa
pudesse discutir mais, antes que ela pudesse exigir um beijo
ou pedir um passo adiante, seus olhos se fecham e ela cai,
um peso morto em meus braços.
— Dormir — ela diz.
Assentindo, eu a pego. Pela primeira vez, Willa Sutter e
eu concordamos em algo.
10

— OH DEUS. — Piscar dói. Pensar dói. Eu me mexo e esbarro


em algo sólido e imóvel. Seja o que for, cheira a sexo em uma
floresta perene. Cedro. Pinho. Abeto. Estou quente, com um
galho de árvore envolto em mim, outro cutucando minha
bunda. Espera...
Surpreendente, giro dentro do galho da árvore que
percebo ser um braço. É tão pesado que pode muito bem ser
madeira. Ryder está desmaiado, sua boca aberta suavemente
durante o sono. Há manchas sob seus olhos que tenho
certeza que têm tudo a ver com o fato de que ele foi para um
clube chique que Rooney e Becks escolheram, sabe Deus a
que horas da noite. Esse plano saiu pela culatra um pouco.
Eu sei que ambientes barulhentos são um pesadelo para sua
audição. Eu não tive a intenção de atrair Ryder para lá. Becks
deveria apenas enviar uma foto minha sendo terrivelmente
sexy. Em nome da vingança e tudo mais.
Mas em vez de revirar os olhos e dizer que estava
preocupado com a população masculina do Club Folle,
Ryder apareceu furioso e me levou antes que eu desmaiasse
e alguém se aproveitasse disso.
A última coisa que me lembro é de vomitar no beco.
Alguns momentos esporádicos de me esfregar em Ryder
como um gato no cio.
Oh, meu Deus. Eu esfreguei tudo nele. Lembro-me disso
nitidamente agora.
Quer dizer, seu braço está em volta de mim, estamos de
conchinha em sua cama, embora haja seu cavalheirismo de
novo: ele está dormindo em cima dos cobertores em que meu
corpo está praticamente enrolado. Ele não parece se importar
muito que eu o estava tratando como meu poste de dança
pessoal, não é?
Destruindo meu cérebro, tento juntar as peças da noite.
Lembro-me de pular nele como um gatinho na erva de gato.
Eu escalei ele e deslizei meu caminho por seu cabelo
surpreendentemente sedoso. Lembro-me de beijos que não
eram beijos, mas sabores decadentes dos pescoços, gargantas
e rostos um do outro. Eles pareciam mais sexuais e íntimos
do que qualquer tipo de fisicalidade que eu já experimentei.
Lembro-me de quando aquela felicidade desapareceu da
minha pele, como seus quadris pararam contra os meus, sua
mão forte apertou minha cintura. Não foi além disso. Não
me lembro, mas eu sei, porque eu estava vomitando, tonta,
bêbada como um gambá e Ryder Bergman pode ser um filho
da puta ranzinza, mas ele também é um cavalheiro.
Três vivas por isso. Porque, deixe-me dizer-lhe, ontem à
noite, eu o teria beijado como uma idiota com meu hálito de
vômito e felizmente apertado no tronco daquele lenhador se
ele tivesse me deixado.
Um gemido involuntário deixa Ryder. Pode ter algo a ver
com o fato de que estou inconscientemente me balançando,
como uma pequena criatura da floresta que habita em uma
árvore, contra o pedaço de madeira que se estende
proeminentemente de sua calça de moletom em minha
direção.
Esse gemido traz outra parte da noite à minha memória.
Sua risada. Eu o fiz rir e foi lindo.
A mão de Ryder flexiona ao encontrar minha cintura. Um
olho se abre, saudando-me com íris verdes e cílios grossos. É
seguido por um sorriso lento e sexy. Tenho esperança de que
veio para ficar, mas não estou contando com isso. Ele está
atordoado, meio acordado, naquele lugar flexível e relaxado
que eu estava algumas semanas atrás, no meu sonho sexy de
lenhador prestes a derrubar uma árvore.
Ele tateia no alto, nunca quebrando o contato visual
comigo. Com um suspiro suave pelo nariz, ele abre seu
telefone e digita, girando-o para que eu possa ler o bloco de
notas.
Você ronca.
Eu bato em seu ombro enquanto o constrangimento
ruboriza minhas bochechas. Estou ciente disso, mas nem
fodendo vou admitir.
— Não.
Ele balança a cabeça, murmurando, Sim.
Nossos olhos se fixam, e porque sou uma cabeça quente
autossabotadora e punitiva, empurro os cobertores para
baixo e me inclino para mais perto dele. O aperto de Ryder
nunca deixa minha cintura, e o calor de sua palma se infiltra
em meu vestido. Sua mão se achata nas minhas costas e me
puxa ainda mais perto, fazendo Ryder silvar sob sua
respiração quando pressiono minha pélvis contra a dele. Eu
vejo sua mandíbula apertar, seus olhos se fecham antes de
abrir novamente.
Gentilmente, ele usa o braço por baixo do meu pescoço
para me puxar até que estou enfiada nele. Minha cabeça está
em seu ombro, em uma nuvem de cedro e nirvana de abetos.
Eu fico olhando para o bloco de notas enquanto ele digita
furiosamente.
O que está acontecendo? Nas últimas semanas você tem sido...
diferente. Por que você estava vestido assim, em um clube?
Eu olho para ele, escovando meus dedos contra sua barba
agora bastante espessa. Como posso explicar o que tenho
feito sem colocar todas as minhas cartas na mesa? Sem contar
a ele que eu sei sobre o aparelho auditivo e queria vingar-me
dele. Que me empolguei em minha vingança – nós dois – e
agora nem mesmo reconheço onde estamos mais. Não posso
admitir nada disso, porque isso me deixaria exposta e
insanamente vulnerável. Então, como a grande covarde que
sou, mudo de assunto.
— Dormir ao lado dessa coisa foi como ter um ménage à
trois com uma criatura da floresta...
Ryder estala. Uma tosse rouca de uma risada o deixa.
— Não que eu saiba! Sobre sexo a três, assim... — Minhas
bochechas escurecem. Estou vermelha como uma beterraba.
Eu paro de falar antes que mais bobagem saia da minha boca.
Afundando mais profundamente em seus braços, escondo
meu rosto e absorvo cada pequeno ruído de diversão que o
deixa.
A risada de Ryder finalmente desaparece em um suspiro
ofegante. Ele usa o polegar para enxugar uma lágrima do
canto do olho. Em seguida, ele digita novamente, os braços
estendidos para que o telefone seja colocado sobre a minha
cabeça. Isso me dá uma visão muito exclusiva de todos os
músculos e tendões fortes que constituem os braços do
lenhador.
Você não gosta da barba?
Eu olho para cima, vendo que ele não está usando o
aparelho auditivo, e inclino meu rosto para que ele possa ler
meus lábios.
— Eu estou… — Penteando meus dedos por aquele
cabelo loiro macio, eu provoco a ponta do meu indicador ao
longo de seus lábios. — Curiosa. Se faz cócegas. O que está
por baixo...
Seus olhos ficam mais escuros, sua respiração mais
rápida. Inesperadamente, ele aperta os dentes de cada lado
do meu dedo e dança sua língua contra a ponta.
Algo como unghh me deixa enquanto eu descaradamente
me esfrego contra ele. Os olhos de Ryder se fecham. E vamos
de zero a cem em três segundos. Ele está ofegante, estou
balançando contra ele, e agora meu dedo molhado está
descendo por sua garganta, descendo, descendo pelo decote
em V de sua camisa, até que eu o puxo de lado e passo a
ponta úmida e fria ao redor de seu mamilo.
Em algum lugar entre um gemido e um suspiro explode
de sua boca, sons mais fracos que eu absorvo vorazmente.
Nós nos olhamos, compartilhando um estudo longo e
ininterrupto um do outro, rajadas de ar irregulares enquanto
nos movemos. Sua mão desliza pelas minhas costas e segura
minha bunda, facilmente colocando minha perna sobre seu
quadril.
Continuamos exatamente de onde eu tenho certeza que
paramos na noite passada, e é estonteante. Meus dedos do
pé se enrolam. Minhas costas arqueiam. Estou tão perto que
nem quero respirar. Mas então a porta se abre, me fazendo
gritar.
Becks está a três metros de distância, com meias brancas
e isso está queimado em minhas retinas. Eu ainda estou
gritando enquanto Ryder gira para fora da cama, jogando o
edredom sobre mim para que eu esteja coberta em um
movimento suave. Suas palmas duplas ecoam em alguns
gestos que claramente não significam coisas boas expulsam
Becks. Eu observo com um peso não resolvido entre minhas
coxas enquanto ele sai do quarto, calça de moletom preta
baixa em seus quadris, aquele decote em V branco agarrado
a cada músculo longo e definido de suas costas e braços.
Caindo de volta na cama, eu bufo um suspiro
desesperado. Estou bem no limite, tortuosamente perto.
Uma passada do meu dedo e eu cairia. Eu poderia gozar tão
facilmente.
Mas eu quero muito mais do que um orgasmo na ponta
dos dedos, alimentado pela visão de um homem bonito. Eu
quero que Ryder me faça gozar. Para que aconteça quando
forem mais do que apenas dois corpos se chocando. Isso é
um problema, eu não quero ter apenas parte de Ryder
Bergman. Eu não faço isso. Eu não quero mais de ninguém.
Eu não me preparo para desgosto e decepção. Eu pego o que
quero, protejo meu coração e sigo em frente. Ryder parece
operar com a mesma cautela.
O que há de errado comigo? Eu suspiro trêmula e
engasgo com hormônios. Luxúria. Atração sexual
enlouquecida de ódio. Minha mão se espalha pela minha
barriga. Eu não me movo. Eu fico imóvel até que a pulsação
torturante entre minhas coxas diminua e eu estou pensando
direito novamente. Meu coração trava com força, a chave
gira com um clique que soa em meus ouvidos.
Seguro e protegido, mais uma vez.

Enquanto Ryder ainda está no corredor, rasgando Becks


como o idiota que ele é, eu uso meu dedo e a pasta de dente
de Ry para escovar meus dentes. Em seguida, eu uso um de
seus prendedores de cabelo para puxar meu cabelo louco –
sério, como ele olhou para mim esta manhã? – antes de
perceber que esse vestido vermelho precisa ser gravado nos
vergonhosos anais da história dos vestidos de prostituta.
Eu olho para o meu traseiro e fico horrorizada com o
pouco que resta para a imaginação. Não há nenhuma
maneira no inferno de eu passar valsando por Becks,
provavelmente Tucker, e definitivamente Ryder com este
traje. Então, apressadamente, vasculho as gavetas de Ryder,
exalando o incrível perfume de floresta de pinheiros
enquanto procuro. Finalmente, encontro uma camisa preta
que é tão longa e grande que funciona como um vestido. Isso
vai ficar melhor com os saltos de prostituta.
Abrindo a porta com confiança, meu vestido de
guardanapo vermelho dobrado debaixo do braço, eu
caminho para a sala de estar e imediatamente encontro três
pares de olhos masculinos.
Tucker se alarga e depois dança. Becks aperta os olhos
como se estivesse tentando não me ver duas vezes. Mas o
olhar de Ryder começa nos meus sapatos de prostituta, então
lentamente sobe. Um longo e único suspiro o deixa. Sua
expressão é um retrato, intitulado, Por que caralhos eu não
peguei nisso ontem à noite?
Eu vou ser amaldiçoada se eu sei o que está acontecendo
entre nós agora, mas sua luxúria inegável coloca um
pequeno sorriso triunfante no meu rosto. Eu adiciono outro
arranhão na contagem mental que venho mantendo desde o
Portal de Aparelhos Auditivos. Ponto para Willa.
Colocando um cacho rebelde de volta no meu coque,
sorrio para os caras.
— Bom dia, pessoal.
Eu paro ao lado de Ryder, cujo olhar está preso na minha
boca.
— Vou encontrar meu telefone ou comprar um novo, mas
estou com meu laptop, ok?
Ele acena lentamente. Ok, ele sinaliza.
Pego sua mão na minha, aperto com força e saio.
Depois de uma viagem de Uber vergonhosa para casa,
tomo banho e forro meu estômago judiado pela bebida com
algumas torradas e uma xícara de chá fraco. Eu gostaria de
poder tolerar café, mas depois de uma noite desse tipo de
bebida, vou vomitar. Quando os carboidratos e a
insignificante cafeína atingem minha corrente sanguínea,
sinto-me consciente o suficiente para encontrar meu telefone.
Eventualmente, eu o encontro no cesto de roupa suja,
enfiado no bolso da minha calça jeans que usei para ir ao
hospital ontem à noite.
Encontrei, mando uma mensagem de texto para Ryder
imediatamente.
Meu telefone está tocando. Bom. Como você está se
sentindo?
Tão ruim quanto eu mereço. Desculpe, eu estava uma bagunça.
Precisava desabafar.
Você estava bem, ele escreve de volta. Além do vômito. E o
ronco. E seu aperto mortal em meu braço a noite toda.
— Que idiota — murmuro. Bem, óculos de simulação de
embriaguez e tudo mais.
Ai, ele responde. Touché.
Ele tem que saber o quão cheia de merda eu sou. Eu
estava praticamente escalando o Monte Ryder esta manhã,
perseguindo uma vista deslumbrante. Você não faz isso
totalmente sóbria quando acorda com o cabelo todo
emaranhado, hálito de vômito e vestido de puta depois de
fazer papel de boba na noite anterior, a menos que esteja
desesperada por alguém. Ele tem que intuir isso, certo? Que
estou desprezivelmente atraída sexualmente por ele. Apenas
sexualmente.
A maneira como ele estava olhando para mim antes de
eu sair, estou pensando que Ryder está sofrendo por isso
tanto quanto eu. E quando ele descobrir, quando tivermos
que reconhecer essa coisa animal e maravisexy entre nós?
Então o quê?
Ele manda mensagens de novo, me tirando dos meus
pensamentos.
Você checou seu e-mail?
Não, eu digito. Porquê?
Eu vou matar meu cunhado.
Quando abro meu e-mail e leio o que o professor
MacCormack tem a dizer, tenho que me conter para não
jogar meu telefone recém-recuperado na parede. Se eu
sobreviver a este semestre sem ter cometido uma agressão,
será um milagre de Natal.

— Sua proposta é sólida. — MacCormack anda de um


lado para o outro em seu escritório, telefone na mão, dizendo
o que presumo que ele está enviando uma mensagem de
texto para Ryder para que possa segui-lo. — Realmente, é
boa. Meu problema é o seguinte: estou sentindo muita tensão
entre vocês dois e não consigo avaliar um modelo de
negócios irreal. Os parceiros de negócios precisam estar
atentos, confiantes, na mesma página. Agora, anime-se.
Vocês dois não são o único par que me preocupa.
Ryder agarra seu telefone e respira fundo. Ele se inclina,
com os cotovelos nos joelhos, e mesmo com a barba, posso
ver uma carranca puxando sua expressão. Seu boné está de
volta, puxado para baixo. A flanela de lenhador se estende
sobre seus ombros largos. Hoje é um preto clássico – xadrez
verde caçador e preto como tinta. Tem uma aparência
perigosa. Um pouco sinistro.
Cada parte remotamente erógena do meu corpo, dos
meus mamilos traidores e duros ao meu dolorido botão-
mágico, informam meu desejo de ser tomada pelo malandro
que usa xadrez.
Misericórdia, preciso me controlar.
Eu mexo no meu assento e cruzo os braços sobre o peito.
— Estou atribuindo a vocês dois um dia de formação de
equipe — diz Mac.
Eu gaguejo enquanto minhas mãos voam inutilmente no
ar. Isso não pode ser real. Tem que ser uma piada.
Garantindo que estou inclinada em direção a Ryder para que
ele possa ler meus lábios, eu digo:
— Você está falando sério, Mac?
MacCormack concorda com fervor.
— Preciso ver o aumento da camaradagem ou, quando
chegar a data de entrega, não poderei classificar seu projeto
como um plano de negócios viável. Este curso é orientado
profissionalmente. Não é teoria. É a aplicação.
— Ok, entendi, mas...
Meu telefone apita, assim como o de MacCormack.
Caso você tenha esquecido, Willa é uma estudante atleta D-1.
Ela mal tem tempo para dormir e comer as refeições, como está,
Aiden. Não podemos ir mochilando e nos unindo durante o pôr do
sol. Você está sendo um idiota.
Eu sufoco um bufo que morre quando os olhos azuis
gelados de MacCormack pousam nos meus. Ele gira,
jogando um dedo para Ryder, em seguida, envia uma
mensagem para nós dois em seu telefone. Não sou seu cunhado
agora. Eu sou seu professor durão que está aqui para te ensinar, te
orientar. Eu preciso ver camaradagem. Vocês dois têm mais
interesses em comum do que pensam. Ele me lança um olhar
penetrante. Portanto, encontre algum tempo para colocar em dia
trabalhos escolares e criar vínculos. Trarei vocês dois de volta aqui
individualmente para explicar sua experiência.
Os olhos de Ryder estão queimando buracos na cabeça de
Mac. Interesses em comum? Quer dizer, o que Mac sabe de
mim além do fato de que vivo e respiro futebol? Ryder nunca
mencionou que jogava futebol, se é isso que Mac quer dizer.
MacCormack empurra a mesa e bate no relógio, que é sua
versão de Dê o fora do meu escritório. Ele mal consegue nos
tirar da sala rápido o suficiente, enxotando-nos como
galinhas do galinheiro.
— Vocês têm uma semana. Aprendam uns sobre os
outros, fiquem na mesma página ou o projeto de vocês estará
em risco, entendeu?
Antes que Ryder ou eu possamos responder, a porta é
fechada na nossa cara. Ryder bate com o punho uma vez
contra a porta, uma contração de raiva em sua mandíbula me
dizendo que se ele estivesse usando suas palavras, ele estaria
ionizando o ar.
Um baque solitário responde.
— Supere isso. Uma semana.
Meu telefone toca com uma mensagem de Ryder.
Eu te disse. Eu vou matá-lo.
11

EU GOSTARIA DE PODER DIZER QUE Ryder e eu conseguimos


convencer Mac de que ele está fumando uma cepa terrível de
haxixe com restos humanos, mas ele se mostra
imperturbável e só nos lança olhares petrificantes quando o
encurralamos depois da próxima aula.
Entre a carga horária de Ryder, meus estudos, treino e
cronograma de jogo, e ainda, correndo para o hospital à noite
para ver mamãe, que parece um pouco mais animada desde
que aquele medicamento experimental foi jogado em sua
farmacopeia, mal conseguimos cumprir as atribuições
enquanto juntamos um dia para "criar laços".
Ryder executa um truque de mágica e convence Mac a
nos dar uma ausência justificada da aula, visto que é o único
dia que encaixa no meu treino e cronograma de jogos que
podemos fazer funcionar. Concordamos em sair às nove da
manhã para a caminhada do dia, mas antes disso, Rooney e
eu vamos para o campo de treino no início da manhã para
passar a bola e dar alguns lances.
Temos um campo favorito que usamos com frequência,
mas havia outra pessoa lá, então continuamos nossa
caminhada para um campo mais isolado e menos mantido,
normalmente usado para jogos da liga recreativo.
Enquanto caminho com Rooney, tento respirar
profundamente, para liberar a ansiedade que está dando um
nó em meu estômago. Estou nervosa por hoje, mas não sei
exatamente sobre o que estou apreensiva. É que desde minha
noite selvagem, as coisas parecem tensas com Ryder, em
algum sentido inominável, mas palpável. Sim, há uma
tensão sexual óbvia, mas algo mais está acontecendo. Eu
simplesmente não consigo definir o que é.
Ele está um pouco mais mal-humorado do que o normal.
Eu estive mais ocupada. Embora eu pudesse falar com ele
sobre o que aconteceu, isso seria... bem, isso seria
extremamente desconfortável. Eu não faço isso. Eu morreria
e engasgaria com minhas palavras. Também seria difícil, e se
há uma coisa que Willa Rose Sutter não faz com um homem
– amigo ou inimigo – é tentar.
Como e por que acabei assim é um coquetel complexo.
Primeiro, é o ressentimento pelo homem que legou
cinquenta por cento do meu DNA, depois se dirigiu para as
montanhas. Em parte, minha falta de vontade de perseguir
um homem, muito menos um relacionamento sério, é porque
fico enojada com a ideia de que o cara por quem me
apaixonei poderia me rejeitar como o doador de esperma.
Depois, há a parte dois: a perspectiva de minha mãe sobre
os homens. Mamãe não dizia isso com frequência, como ela
achava os homens indignos de confiança. Acho que, do jeito
dela, ela queria que eu formasse minha própria opinião sobre
o sexo oposto. Mas ela me mostrou durante toda a sua vida
adulta que os homens são algo que você usa e descarta, bate
e desiste. Qualquer coisa além disso era apenas um convite à
decepção.
Caminhando com Rooney, meio que ouvindo sua
tagarelice sobre algum trabalho de química que nunca vou
entender – por que, eu perguntei, um estudante de direito
precisa de um diploma de química? Porque ela é uma idiota
masoquista que quer ser uma advogada biomédica, é por isso –
eu me pergunto por que estou tão presa em minha dinâmica
com Ryder. Somos parceiros no projeto. Nós brincamos um
com o outro. Existe alguma tensão sexual. Certo. Qual é o
problema?
Já tentei engavetar, mas não consigo parar de pensar que
em todas essas horas juntos com meu nêmesis-que-virou-
aliado-forçado, em algum lugar ao longo do caminho nos
tornamos amigos. Sim, amigos que rotineiramente estouram
e queimam um ao outro tanto que estamos um pouco
chamuscados nas bordas. Ok, então talvez sejamos mais
aminimigos do que amigos, mas isso é mais do que oposição
direta e veemente. Mesmo assim, e daí? Um homem e uma
mulher não podem ser inimigos que são amigos?
Especialmente quando os dois se mostraram totalmente
alérgicos a manter qualquer coisa a mais?
— Cara, essa bolsa é pesada — Rooney bufa, a única
pausa em seu solilóquio de química. — Quantas bolas você
trouxe?
Pego a bolsa dela e a coloco no ombro. Eu sempre carrego
bolas demais, mas você nunca pode ter muitas,
especialmente com a frequência com que Rooney as acerta
em você.
— Grosseira! — Ela me empurra.
Parece que disse isso em voz alta.
À medida que dobramos a curva para os campos de
recreação, Rooney volta a reclamar sobre química,
especificamente como seu professor corrigiu injustamente
sua revisão de equações balanceadas. Eu congelo e bato a
mão em seu peito.
Um homem está parado bem longe no campo, fazendo
embaixadinha com a bola, a cabeça inclinada daquela
maneira fácil que você faz quando está com a bola sem
esforço, fazendo embaixadinha quando você poderia fazer
isso durante o sono. Seu cabelo está puxado para trás em um
pequeno coque na base do pescoço. Seus pelos loiros faciais
pegam a luz do sol quando ele joga a bola e a acerta nas
costas, firmando-a facilmente entre as omoplatas. A bola
paira perfeitamente até que ele quique em seu ombro. Com
um chute de bicicleta enquanto a bola está no ar, ele a acerta
no gol.
O assobio de Rooney corta o silêncio.
— Bem, oi, e quem pediu na máquina de venda
automática um estranho gostoso?
Eu bato em seu peito novamente. Meu coração está
acelerando.
— Rooney, acho que uma bomba de ar caiu da bolsa. É
melhor você voltar e verificar.
— O quê? — Ela franze a testa. — Como eu poderia ter
deixado cair aquele...
— Rooney?
Ela finalmente percebe o tom perigosamente frágil em
minha voz. Olhando para o campo, Rooney estreita os olhos
e olha por mais tempo.
— Espere, esse é... Puta merda. Puta. Merda.
Não consigo nem mesmo concordar com um aceno de
cabeça.
— Ok, eu vou, uh... eu vou checar minha unha encravada.
Vou ficar aqui atrás.
— Obrigada — eu murmuro.
Estou tão distraída que saio com a bolsa gigante ainda
pendurada no ombro. Eu atravesso o portão para o campo,
de forma egoísta, e talvez errada, tentando ficar o mais
quieta possível. Não consigo imaginar que ele – se este é
Ryder, e aposto meu seio esquerdo que é ele – esteja usando
seu aparelho auditivo. Por quão ativo ele está sendo, pode
facilmente cair.
Enquanto caminho, uma dor lancinante atravessa meu
esterno. É azia, mas cem vezes pior. Agora ele dá lambreta,
sacudindo a bola com a mesma facilidade com que um
filhote de cachorro arremessa um brinquedo e com a mesma
habilidade e consistência a pega. Estou perto o suficiente
para reconhecer aquela barba sarnenta. Esse nariz perfeito. É
ele. É Ryder.
É difícil apreciar a maneira como o short fica na cintura,
como ele usa meias de futebol altas, como fazem todos os
caras gostosos do futebol que são durões demais para
caneleiras, enrugadas nos tornozelos. Suas chuteiras estão
completamente destruídas, o que significa que são
perfeitamente confortáveis. As chuteiras sempre ficam
confortáveis antes da hora de aposentá-las. Seus músculos
pressionam contra sua camiseta, que ele levanta para
enxugar o rosto, revelando a estreita linha de sua cintura, um
pedaço de pele bronzeada e estrias logo acima do short. O
idiota atleta de futebol tem covinhas nas costas. Claro que ele
tem.
Não sei exatamente porque as lágrimas surgem em meus
olhos, ou por que uma sensação avassaladora de traição sobe
pela minha garganta, apertando-a dolorosamente.
De repente, Ryder se vira, arregalando os olhos enquanto
eles me observam. Graças a Deus, a barba ainda está lá. Só
não sei se conseguiria lidar com mais transformação em um
dia.
Instintivamente, Ryder abandona a bola, em seguida,
corre até mim, puxando a bolsa enorme sem esforço do meu
ombro e transferindo-a para o dele. Ele inclina a cabeça,
procurando o telefone no bolso. O que você está fazendo aqui?
Eu leio seu texto e exalo uma respiração longa e irregular.
Lâminas afiadas de emoções conflitantes gravam suas
marcas em minha garganta enquanto tento engolir e, em
seguida, falar.
— Só vim chutar um pouco.
Ryder me estuda, então seus olhos caem para seu
telefone. Por que você parece chateada?
Eu tenho duas escolhas. Posso dizer a ele o que isso
significa para mim. Despejar minhas entranhas. Confessar
minha dor chocante por ele não confiar em mim para ver
além de sua superfície de lenhador ranzinza, que não
consigo entender por que ele é tão bom e por que não joga.
Exigir sua explicação por saber o que o jogo significa para
mim e por manter sua própria conexão profunda com ele
como um segredo bem guardado.
Ou posso fazer o que sempre fiz. Reprimir a dor, ignorar
a verdade incômoda e seguir em frente.
— Estou bem, Ryder.
Ele aperta os olhos e aperta a mandíbula. Ele está prestes
a ficar mal-humorado comigo e falar besteira. Eu não acho
que posso lidar com quaisquer demandas agressivas ou
brincadeiras ardentes esta manhã, então eu o paro,
segurando seu pulso.
— Vejo você em algumas horas, ok?
Antes que ele possa responder, tiro a bolsa de seu ombro
e a carrego de volta para o outro lado do campo. Quando eu
despejo as bolas e aceno para Rooney, mostrando a ela que o
caminho está limpo, sinto os olhos de Ryder em mim.
Digo a mim mesma que não poderia me importar menos
com o que Ryder Bergman faz, muito menos que ele está me
observando. Não quero sua confiança e, particularmente,
não quero conhecê-lo.
É mentira. Felizmente, se você mentir várias vezes a si
mesmo, ela acabará se tornando uma verdade.
Após uma reunião estranha duas horas depois, Ryder e
eu passamos os quarenta e cinco minutos de carro ao longo
da 1-North até a Pacific Coast Highway em silêncio. O
silêncio foi garantido de qualquer maneira, já que Ryder não
pode enviar mensagens de texto e dirigir. Já que me sentei à
sua direita, ele poderia ter usado o aparelho auditivo e eu
poderia ter falado com ele, suponho, mas eu não deveria
saber disso. Outra faceta de sua óbvia desconfiança em mim.
Então ele não confia em você, ele não fala muito. Você é do
mesmo jeito. Você também mantém suas cartas para si. Com o que
você se importa?
Eu não sei. É um replay enfurecedor na minha cabeça: não
sei, não sei, não sei. Deus, estou tão confusa.
Minha testa está colada contra o vidro, absorvendo a vista
até ficarmos borrados por um mar de carros estacionados.
Ryder parece conhecer algum lugar secreto, porque ele
acelera com segurança pela estrada. Tudo o que ouvi é que
Escondido Falls é uma vista de sonhos, mas um pesadelo
quando se trata de estacionamento. Quando ele para o carro
sob um bosque indefinido e sombrio, Ryder pega seu
telefone.
Você ficou quieta. O jeito que dirijo deixou você nervosa?
Eu olho para a mensagem, então me forço a encontrar
seus olhos.
— Não, Ryder. Você dirigiu bem. Fiquei quieta porque
não podemos conversar enquanto você dirige.
Ele mexe com as chaves, depois as deixa cair no colo e
digita: Algumas pessoas não se sentem confortáveis com um
motorista surdo. Eu deveria ter perguntado a você.
Meu estômago fica azedo, a raiva por ele crescendo
dentro de mim enquanto as palavras saem correndo.
— Bem, essas pessoas são uns idiotas, Bergman. Eu sei
que posso ser uma vadia amarga, mas não o vejo como
menos capaz ou seguro porque seus ouvidos não funcionam
como antes, ok?
Não consigo lidar com a expressão em seu rosto ou a
forma como o carro de repente parece uma sauna. Abrindo
minha porta com a mochila na mão, eu olho para a trilha
diante de mim.
Fiz meu dever de casa antes de concordar com essa
caminhada, para que o homem da montanha não decidisse
me torturar com alguma trilha terrivelmente técnica. Parece
que Ryder estava cuidando de mim. A caminhada até
Escondido Falls leva apenas 6,5 km, ida e volta, começando
na saída da Pacific Coast Highway e atingindo seu ápice em
uma cachoeira dramática. Nossa jornada começa no asfalto,
abaixo de um aglomerado de casas ostentosas de Malibu. O
guia online que li prometia que em breve mudaria para a
natureza costeira, e que a beleza exuberante e acidentada das
cataratas é uma recompensa que vale a pena por lidar com o
início estranhamente residencial.
Meu telefone apita. Trouxe água?
Eu encontro seus olhos.
— Sim. E minhas dezoito barras de granola que você
insistiu que eu trouxesse.
Ele sorri enquanto digita. Você não é uma mulher que deve
ser contrariada enquanto está com fome. Considere isso uma
medida de seguro pessoal.
Revirando os olhos, volto em direção à trilha. Eu sinto a
atenção de Ryder em mim novamente, mas ignoro. Subindo
minha bolsa mais alto em ambos os ombros, começo a andar.
Após algumas centenas de metros de subida, passamos
pelas casas e saímos do trecho asfaltado da trilha. Uma placa
diz Escondido Canyon Park, e um caminho de terra nas
proximidades mostra outro marcador: Edward Albert
Escondido Canyon Trail e Waterfall.
Eu me viro por cima do ombro para receber orientação de
Ryder. Ele acena com a cabeça em direção ao caminho de
terra.
Caminhamos em um silêncio que começa frio, graças a
mim e aos meus sentimentos reprimidos. Mas, à medida que
ascendemos e o sol se move mais alto no céu, nossa frigidez
derrete com o calor crescente para um silêncio sociável.
Depois de caminhar por um campo de mostarda-do-campo
e erva-doce, cruzamos um riacho que flui por um matagal
aberto. Ryder pega meu cotovelo, apontando para a
esquerda, para continuarmos rio acima no Canyon
Escondido.
O caminho se amplia. É uma terra nivelada e compacta,
uma trilha segura a seguir que provavelmente não me fará
torcer o tornozelo ou torcer o joelho. Se a treinadora soubesse
que eu estava fazendo trilha, ela me mataria. Duas vezes.
Em algum ponto, minha estatura de um metro e sessenta
e oito começa a ficar aquém dos passos longos e constantes
de Ryder, e ele assume a liderança. A sombra nos dá alívio
do ainda forte sol de novembro, enquanto caminhamos sob
uma copa de árvores. Mas logo estamos ao ar livre
novamente, perambulando por campos de flores silvestres
morrendo. Há algo que as assombra, um mar de cascas e
frutos, a última pétala remanescente em um caule seco e
rachado.
Isso me lembra o que vovó Rose sempre dizia quando
preparávamos o jardim para o inverno, enquanto
arrancávamos plantas, podávamos arbustos e enterrávamos
bulbos. A vida gera a morte, gera a vida. A única coisa que
podemos fazer é honrar a beleza e confiabilidade desse ciclo.
Não posso dizer que ainda vejo a beleza, especialmente
em sua confiabilidade. Eu preferia que a morte não fosse
confiável.
Chegamos a uma travessia de um riacho que
imediatamente posso dizer que não serei capaz de me virar
sozinha. A água está alta e, para passar por ela, será
necessário pular várias pedras que minhas pernas não
alcançam antes que o nível caia o suficiente para eu poder
entrar.
Ryder joga sua mochila em sua frente e por um segundo
eu luto contra uma risada. Ele parece que está grávido e
muito orgulhoso disso. Ele aperta os olhos para mim por
baixo de seu boné enquanto sua boca se contorce. Talvez ele
esteja tentando não rir também. Agachando-se, ele dá um
tapinha nas costas. Vamos, ele murmura.
— Não. — Eu digo bem alto, mostrando a ele minha boca
para que ele me entenda. — Absolutamente não. Estou muito
pesado com nosso equipamento.
Ryder faz algum barulho perto de uma bufada. Olhando
por cima do ombro, seus olhos encontram os meus. Há uma
intensidade que não vi neles antes, uma urgência. Eu ouço, o
que ele diria se pudesse. Posso sentir como isso estrondaria
no ar como um trovão e vibraria em meus ossos.
Willa Sutter. Suba.
Minhas pernas se movem sem meu controle, minhas
mãos envolvem seu pescoço. Sem esforço, Ryder se levanta,
suas mãos largas agarrando minhas coxas. Somos dois fios
energizados que se encontram, fazendo com que a
eletricidade flua livremente entre nós. Faíscas dançam em
minha pele em cada ponto de contato.
A camisa de Ryder está coberta de suor. Eu me inclino
para ele, com fome de tudo sobre ele que não seja
organizado, fresco e abotoado. Ele cheira celestial. Como um
lenhador que acaba de derrubar uma árvore, seus músculos
estão tensos, sua pele úmida. Eu inalo cedro e pinho e algo
inegavelmente masculino. Pressionando meu peito contra
ele, quase gemo. Meus seios estão pesados, meus mamilos
endurecem através de camadas de roupas enquanto raspam
contra os músculos de suas costas. Ele está com calor e o suor
escorre por seu pescoço. Eu tenho o impulso mais estranho
de arrastar minha língua ao longo de sua pele e prová-lo.
Apertando minhas coxas, Ryder está dando algum tipo
de dica. Eu entendo isso como uma dica para segurar com
mais força, então eu aumento meu aperto em torno de seu
pescoço e pressiono minha frente em suas costas. Estou
colada em sua pele. Seus dedos cavam em minhas pernas
enquanto ele me puxa ainda mais perto.
Eu sabia que Ryder era forte – um homem montanhês,
caçador de árvores e escalador de trilhas – mas não esperava
por isso. Ele dá passos uniformes, longos alcances de pedra
em pedra com uma mulher de músculos sólidos em suas
costas e duas sacolas de equipamentos. Ele nem está sem
fôlego quando chegamos ao outro lado da água, e eu deslizo
para baixo em seu corpo.
O ar está denso, não apenas com o calor de um dia
excepcionalmente quente de novembro, mas com algo que
não consigo nomear. Os olhos de Ryder seguram os meus
enquanto ele endireita meu equipamento em meus ombros.
Ele se aproxima, nossas botas uma de frente para a outra. O
sol bate em nós e faz com que todos os pelos loiros de seu
corpo brilhem dourados. Seu peito sobe e desce
pesadamente, enquanto suas mãos seguram meus ombros,
em seguida, deslizam lentamente da minha clavícula até o
pescoço. Grilos cantam na grama e um falcão projeta sua
sombra sobre nós enquanto voa acima. Meu pulso bate na
minha garganta sob o polegar de Ryder. Seus olhos estão na
minha boca, sua cabeça inclinada.
De repente, algo desliza pela grama perto e eu grito tão
violentamente que um coro de tentilhões sai de uma árvore
próxima. Sem pensar, eu me lanço em Ryder, um macaco
petrificado, colado em seu corpo. Suas mãos seguram minha
bunda enquanto ele observa a grama de forma protetora e eu
quase tenho um orgasmo no local.
Maldição, aquele cara parece quente em seu elemento de
homem da montanha. Estou totalmente segura na
estratosfera, observando seus olhos dispararem pela grama.
Ele mataria aquela cobra por mim em um piscar de olhos.
Então ele a espetaria em um galho e a assaria para mim sobre
o fogo, apenas para contrariar a abominação anfíbia.
— Ela se foi? — Eu sussurro.
Seus olhos encontram os meus novamente. Ele inclina a
cabeça.
— Ela se foi? — Eu pergunto mais alto.
Ele concorda. Nossos olhos procuram um ao outro. No
momento em que quase o fizemos, outro quase beijo paira no
ar entre nós. A menos... a menos que ele não fosse fazer isso.
A menos que eu tivesse sujeira no rosto ou meleca.
Ah Merda. E se eu estiver imaginando tudo isso?
Ryder facilmente me segura com um braço e pega o
telefone no bolso. Admito: estou apavorada com o que ele
vai dizer. Ele está prestes a me colocar no lugar? DIzer para
eu parar de olhar sensualmente para sua boca e me esfregar
nele como um coala no cio?
Sou uma evitadora patológica, eu sei disso, mas para
mim, enfrentar emoções dolorosas é como o medo de altura
– no momento em que estou muito perto de uma queda
potencialmente fatal, recuo e saio correndo.
Eu esgueiro-me para fora dos braços de Ryder e passo
por ele. Avançando, posso ouvir o barulho fraco das quedas,
e um odor sulfuroso impregna o ar. É um perfume
preocupante, quebrando a doçura pesada do que acabamos
de fazer. Isso me lembra por que estou aqui, para caminhar
e fazer um checklist para o idiota do MacCormack. Se eu
perder isso de vista, há mais de uma maneira de sair do
curso. Nenhuma dessas formas é remotamente segura.
O próximo quilometro é uma subida gradual, talvez mais
45 a 60 metros, que nos leva às Cataratas do baixo Escondido.
É uma cascata de quinze metros, sua piscina flanqueada por
rochas cobertas de musgo e samambaias orvalhadas. O
cheiro de enxofre é mais forte aqui e muitas pessoas parecem
estar felizes em terminar a viagem neste local tranquilo.
Ryder me disse que poderíamos facilmente chamar isso de
nosso ponto intermediário. Sente-se e relaxe, aproveite a
vista por um tempo e depois volte.
Mas sou competitiva. Adoro um bom desafio e nunca fui
do tipo que vai pelo caminho mais fácil, pelo menos quando
se trata de fazer exigências ao meu corpo. O que li quando
fiz meu reconhecimento para esta missão foi que, para
aqueles que desejam suar pela vista, a cachoeira do alto
Escondido pode ser três vezes mais alta, mas é infinitamente
mais bonita.
À direita das quedas mais baixas, há uma parede
traiçoeira de calcário. Parece que vai ser difícil subir e
completamente louco de escalar no caminho de volta, mas
nós dois estamos usando botas de caminhada, e Ryder disse
que é intuitivo. Segure firme e aproveite a descida, raio de sol.
É de longe a parte mais difícil, um adicional de quase 60
metros em menos de quatrocentos e dois metros. Lutamos
por raízes, contando com um pedaço de corda que nos é
fornecido para um trecho. A certa altura, Ryder precisa se
abaixar e me puxar para cima, até que a escalada finalmente
se torna mais plana, levando-nos para pousar na base da
cachoeira do alto Escondido.
O caminho vira para a esquerda e nós caminhamos por
raízes antigas e massivas, rastejando entre e sobre pedras
igualmente antigas. Então, de repente, minha respiração é
arrancada de mim.
A água ruge, transbordando de uma fortaleza de pedras
cobertas de musgo. Ouvi dizer que não é o melhor fluxo
nesta época do ano, mas o poder da cachoeira ainda é
tangível. Sua batida constante ressoa em meu peito,
enquanto desce pelas rochas e cai em uma grande piscina de
vidro.
Essa vista de tirar o fôlego valeu a pena o trabalho.
Enquanto olho para a água, o movimento atrapalha
minha visão periférica. Eu me viro, apenas para ver Ryder
arrancando sua camisa. Eu engulo um som sufocado,
enquanto meu corpo incinera, todos os meus sentidos
tropeçando como uma parede de ondas. Todos aqueles
músculos que agarrei e cutuquei sob sua camisa, músculos
que vi por um momento fugaz em uma névoa de embriaguez
e queria me dar um soco por não estar sóbria para que
pudesse me lembrar deles...
Lá estão eles. E merda. Ryder é maior do que eu pensava
que era. Ele tem uma graça esguia em seu corpo. Suas roupas
caem fora de seu corpo, sugerindo uma constituição estreita,
mas aquelas camisas de flanela estavam mentindo. Os
ombros de Ryder são poderosos e arredondados, seus
peitorais cortados e oscilando sob sua pele enquanto ele joga
sua camisa. Sua cintura é sólida, todos os seus abdominais
definidos. Muitos caras na faculdade ainda têm corpos de
meninos.
Não o lenhador. O lenhador é um homem. E eu sou uma
mulher. Cujo corpo está derretido e aceso só de olhar para
ele.
Em seguida, vão seus shorts.
Cuecas boxer. Obrigada, Senhor Jesus, cuecas boxer.
Quadríceps poderosos que eu reconheço. Quadríceps de
futebol. Uma cicatriz no joelho. Panturrilhas compridas e
sólidas. Meus olhos estão presos em algum lugar ao redor
das solas de seus pés quando Ryder se mexe, puxando minha
atenção para cima novamente.
Há uma saliência rasa atrás da cachoeira que ele olha,
com as mãos nos quadris. Lentamente, sua cabeça inclina na
minha direção, seus olhos rastreando meu corpo. Uma
sobrancelha se levanta. Você vem, ou o quê, raio de sol?
Droga, é como se ele tivesse se infiltrado no meu cérebro.
Com apenas uma ponta de sua cabeça, uma inclinação de sua
sobrancelha, eu sei exatamente o que aquele idiota quer de
mim.
— Tudo bem — eu bufo, arrancando minha camisa. Estou
com um sutiã esportivo, enquanto me curvo e tiro minhas
botas, em seguida, tiro minhas meias. Finalmente, eu puxo
meu short. Quando eu olho para Ryder, seus olhos estão
escuros, seu olhar viajando pelo meu corpo. Lentamente.
Pacientemente. Como imagino que seriam suas mãos.
Palmas calejadas que se espalhariam pela minha pele,
deslizando pelas minhas panturrilhas, então minhas coxas.
Um aperto forte que abriria minhas pernas e fixaria meus
quadris com força.
Eu engulo.
— Que exercício de construção de equipe, hein?
O olhar de Ryder finalmente encontra o meu. Seu sorriso
é lento. Mas é caloroso e genuíno. E de alguma forma, eu sei
que é tudo para mim.
12

MESMO QUE MINHA AUDIÇÃO FOSSE AGUÇADA, perto das


quedas é difícil falar, quanto mais ouvir. Nós escalamos
nosso caminho até a saliência sob a água e meu corpo está no
inferno. Willa está usando calcinha preta esportiva, claro, um
biquíni modesto, em algum tipo de material elástico.
Envolve sua bunda magnífica que é perfeitamente perfeita –
musculosa, macia, redonda.
Tento desviar os olhos, mas ela escorrega uma vez, e não
tenho escolha a não ser apoiar a mão em seu traseiro e
empurrá-la à minha frente. Minha palma queima de tocá-la,
exatamente como me senti quando ela saltou em meus
braços e quase se mijou com uma pequena cobra de jardim.
Jesus, o corpo dela moldou-se ao redor do meu enquanto eu
a carregava. Seus seios esmagados nas minhas costas, o calor
entre suas coxas rente à minha cintura. Meus dedos ainda
zumbem de segurar suas pernas fortes, sentindo aquela pele
macia e aveludada.
Finalmente, chegamos à saliência atrás da cachoeira.
Willa desce, imediatamente encostada na parede musgosa
da saliência. A água jorra em uma névoa fina, umedecendo
seu cabelo contra o pescoço e as maçãs do rosto. Seus olhos
seguram os meus, seu peito arfando com o esforço da
escalada. Meu próprio peito sobe e desce violentamente.
Meus pulmões puxam por ar do qual eles parecem não se
cansar. Sinto-me tonto, e não é por causa da subida.
Willa desvia o olhar, enfia a mão dentro do sutiã
esportivo e tira o telefone, limpando a frente da água
residual.
— Certo, hora para este questionário esquecido de
“conhecer você”.
Eu gemo em concordância, arrancando meu telefone do
estojo da braçadeira. Eu o uso para correr ou em outras
ocasiões em que preciso estar com as mãos livres e não tenho
bolsos. Willa suspira e cruza as pernas na altura dos
tornozelos enquanto ela passa pela lista.
— Coisas básicas primeiro. Nome completo.
Ryder Stellan Bergman, digito.
Seu telefone apita e ela digita a mensagem. Seu rosto se
ilumina com um sorriso antes de ela olhar para mim.
— Você poderia ser mais escandinavo, Lenhador?
Dou de ombros, digitando, Minha mãe é sueca. Primeira
geração.
Ela franze a testa.
— Mas seu sobrenome também soa sueco. Seu pai não é?
Um sorriso escapa porque eu sei que Willa vai gostar
disso. Meu pai pegou o sobrenome da minha mãe. Bem,
legalmente, está hifenizado no nome de sua família, já que estava
vinculado ao seu diploma, mas ele atende por Bergman. O dele era
horrível e ele gostava mais do dela. Ela disse que era o mínimo que
ele podia fazer, por todas as crianças que ele queria que ela tivesse.
Willa bufa.
— Isso é foda.
Silêncio cai, mas para o rugido da água criando uma
cortina entre nós e o mundo exterior. Sutter é um bom nome.
Acho que você poderia encontrar um cara que aceitaria, eu
escrevo.
Ela lê e toca seu telefone, pensando. Pode ser. Não terei
todas essas crianças para justificar isso, pelo menos por enquanto,
talvez nunca.
Minha pergunta sai pelo telefone antes que eu possa
evitar. Por quê?
Ela levanta a cabeça para que eu possa ler seus lábios.
— Não posso jogar profissionalmente com uma
barriguinha de grávida.
Eu concordo. Claro. Willa vai ter uma vida de atleta
profissional. Ela vai viajar o mundo pela Seleção. Ela fará
parte da equipe olímpica na próxima vez que competir. A
vida dela vai ser muito diferente da minha.
Eu vou admitir, eu estava fodidamente furioso com Aiden
depois que ele puxou a merda da terapia de casal. Eu
conheço meu cunhado. Eu sei exatamente o que ele está
fazendo, e fiquei ressentido com ele este semestre inteiro por
nos empurrar juntos, repetidamente. Eu deixo Willa maluca
com minha entrega direta, minha visão pragmática, minhas
provocações secas e agudas. E Willa é uma dor de
temperamento no meu saco. Ela zomba das minhas camisas
de flanela, me provoca quase que constantemente. Ela me
cutuca por minha rudeza, então me dá um soco no momento
em que mostro meu lado suave.
Apesar de tudo isso, ela é importante para mim, e percebi
que ela precisa de um tipo de tratamento gentil que ela não
vai admitir. Por baixo daquele exterior duro e temperamento
irascível dela está alguém apenas tentando se proteger para
não se machucar. Essa clareza veio pela primeira vez a mim
quando eu a peguei no clube. A maneira como ela olhou para
mim com tanta confiança, como ela se inclinou para mim
como se eu fosse alguém com quem ela pudesse contar,
alguém forte o suficiente para tomá-la como humana e um
pouco carente. Foi uma rara janela para sua vulnerabilidade.
Vê-la parecia um presente.
Mas ela também estava com o rosto de merda e exausta,
e ela acordou na manhã seguinte tão mal-humorada e
divertidamente combativa como sempre, provocando seu
corpo contra o meu, induzindo qualquer reação que ela
pudesse, apenas para me irritar. E então, Deus me ajude, por
apenas um minuto, eu mordi a isca.
No momento em que ela saiu, em seguida, me mandou
uma mensagem de seu apartamento, estávamos de volta ao
que sempre fomos. Inimigos que podem tolerar uns aos
outros, amigos que enlouquecem uns aos outros. Um pouco
de cada. Ambos.
Quem sabe, porra. Deus, estou com dor de cabeça.
O que quero dizer é que o comportamento dela naquela
noite e na manhã seguinte foi uma anomalia, não a norma.
Ler mais aquela noite é delirante, e esse lembrete, esse
lembrete preocupante de que uma atleta de classe mundial,
a próxima grande estrela do futebol feminino, pelo menos
dos Estados Unidos, senão do mundo, não tem espaço em
seu mundo para alguém como eu, é exatamente o que eu
precisava. Porque mesmo que Willa Sutter sentisse qualquer
coisa por mim além de diversão desdenhosa, sou o parceiro
menos compatível para alguém como ela. Eu sou um cara
que quer viver uma vida tranquila na floresta, que quer
passear entre as árvores e fazer fogueiras, e talvez ensinar
algumas crianças surdas e adultos que eles podem ser
independentes, ativos e seguros na natureza.
— Bergman.
Pelo menos acho que é o que ela diz. Minha cabeça
levanta. O quê? Eu gesticulo com a boca.
— Você estava um pouco distraído — ela diz.
Balançando minha cabeça, eu me sento mais reto.
Desculpa. Sua vez. Nome completo. Ponha para fora, raio de sol.
Meu telefone vibra em minhas mãos. Willa Rose Sutter.
Não se atreva a falar mal de um nome do meio bonitinho para um
diabinho como eu. É o nome da minha avó e vou dar um soco na
sua garganta.
Eu fico olhando para essas palavras, dizendo-as dentro
da minha cabeça. Willa. Rosa. Sutter.
É lindo, eu digito.
Willa se assusta. Parece que a peguei desprevenida ao
elogiá-la. Eu sou tão terrível com ela? Eu digo coisas boas
sobre ela, não digo?
Não, seu burro, você não diz. Porque esse é um território
perigoso. Nós não vamos lá.
Verdade, subconsciente. Muito, muito verdade.
Willa finalmente interrompe o olhar para mim com
perplexidade e baixa os olhos para o telefone. Comida favorita.
Espinafre, eu digito.
Ela torce o nariz.
— Claro que seria isso, Homem das Montanhas.
Eu rolo meus olhos. Mais saudável que o seu. Duplo
cheeseburger e uma root beer. Você e Rooney comem isso depois de
dois dias de jogos difíceis. Você está secretamente preocupada que
Rooney vá confessar sua violação da dieta estrita ao treinador
porque ela tem um complexo de culpa que normalmente a impede
de mentir.
O queixo de Willa cai, seus olhos se estreitam enquanto
eles se movem e encontram os meus.
— Você tem me seguido, Bergman?
Um sorriso lento puxa minha boca. Não, eu digito. Mas
você fala, Willa, e eu escuto. Eu te conheço melhor do que você
pensa.
Seu rosto cai enquanto ela digita. Então por que não sei
quase nada sobre você? Meu corpo fica tenso enquanto leio
suas palavras. Por que não sei que você é um jogador de futebol
fodão? Por que você conhece minha comida favorita e meu ritual
pós-jogo, e eu nem sei como você passa seus fins de semana, ou o
que você faz para se divertir? Como isso é justo?
Eu estreito meus olhos para ela, então digito, justo?
Ela joga as mãos para o alto, em seguida, pega o telefone
e digita furiosamente. Sim, justo! Por que eu corro minha boca
em torno de você, por que eu digo a você qualquer coisa sobre minha
vida, só para você usar contra mim, jogar na minha cara e me
provocar a torto e a direito? Então tem você. O que eu tenho para
trabalhar? Um abominável homem das neves fechado, frio e
contido.
Agora volte, eu digito. Eu te conto coisas. Você conheceu meus
amigos, meus colegas de quarto, eu trouxe você para minha casa –
eu nunca faço isso. Você conhece minha programação. Você sabe
que eu odeio copos de manteiga de amendoim.
Ela joga uma pequena pedra em mim, então eu olho para
cima.
— Porque é estranho odiar copos de manteiga de
amendoim. Porque você merece ser envergonhado por odiar
copos de manteiga de amendoim. E eu só vim à sua casa e
conheci Tucker e Becks porque tínhamos que fazer esse
projeto juntos.
Porque essa é a única coisa que nos uniu, Willa! Seu mundo
não é meu mundo. Eu clico em enviar e vejo seu rosto mudar
enquanto ela lê.
De repente, Willa olha para mim, seus olhos apertados.
Seu olhar não pisca e não consigo segurá-lo. Estupidamente,
indulgentemente, meus olhos percorrem seu corpo. A água
corre ao nosso redor, a névoa grudando suas roupas escassas
mais perto de seu corpo, apertando os cachos em seu cabelo.
Deus, ela é perfeita. Musculosa e em forma, e ainda as curvas
suaves de uma mulher. Senti aquelas coxas fortes em minhas
mãos, seus seios firmes esmagados nas minhas costas.
Fecho os olhos, tentando limpar a imagem do meu
cérebro, para apagar o desejo que bagunça meu sistema.
Eu sinto movimento e meus olhos se abrem. O olhar de
Willa brilha enquanto ela fica de quatro, em seguida,
engatinha até mim. Meu coração bate em meus ouvidos, o
calor inunda meu estômago e desce. Estou tenso e
encurralado e não tenho ideia do que Willa está prestes a
fazer.
Ela monta em minhas pernas e eu involuntariamente
prendo a respiração. Passando por mim, ela arranca o caule
de uma planta, depois se senta sobre as ancas, bem em
minhas coxas. Minhas unhas arranham inutilmente a ardósia
sob minhas palmas. Minha pulsação dispara, observando-a
arrancar uma folha e colocá-la em meus lábios.
— Hortelã.
Eu cheiro, dando a ela um olhar suspeito que a faz sorrir.
— Não estou envenenando você, Lenhador, viu? — Ela
enfia uma folha na boca e mastiga feliz. — Você mais do que
ninguém deveria saber o que é isso. Hortelã.
Abro minha boca, sentindo o calor entre suas pernas
deslizar sobre minha coxa. Ela se inclina e coloca a folha na
minha língua, e o ar finalmente sai de mim.
A hortelã pungente explode dentro da minha boca. A
folha faz cócegas enquanto eu mastigo e vejo Willa refletindo
meus movimentos. Sua garganta balança enquanto ela
engole, e a fome aperta dentro de mim. As mãos de Willa
agarram as minhas, em seguida, passeiam pelo meus braços.
Não consigo ouvir minha respiração, mas posso sentir. Eu
posso sentir cada puxão violento de ar, a batida da minha
pulsação ao longo do meu comprimento. A necessidade sobe
até meu peito, aperta minha garganta.
Eu fico olhando para os lábios dela. É preciso um esforço
considerável para não mordê-los.
— O que você quer, Ryder? — sua boca diz.
O que eu quero? Essa não é a questão. A questão é o que
eu posso ter? Eu quero Willa? Claro que sim. Eu posso ficar
com ela?
Ela se inclina mais perto.
— O que você quer?
Passei semanas me controlando. Semanas tentando não
imaginá-la toda vez que fecho os olhos à noite ou passo por
um campo de futebol, ou provo laranjas ou cheiro rosas. Eu
não me toquei uma única vez pensando nela. Eu me contive
a cada momento.
Eu poderia mentir para ela, mandar uma mensagem de
texto com um golpe forte, educadamente tirá-la do meu colo.
Mas eu não quero. O que eu quero? Eu quero ela. Pra.
Caralho. Porra.
Seus olhos são luminosos, claros como a luz do sol e
arregalados, enquanto se movem rapidamente para minha
boca. Meus ombros flexionam enquanto os dedos de Willa os
envolvem.
Ela se arqueia para frente, fazendo seus seios deslizarem
contra meu peito nu. Meus dedos afundam em seu cabelo e
a seguram, nada cavalheiresco em meu toque. Eu me sinto
primitivo. Desesperado. Eu aperto seu cabelo com força e
vejo sua boca se abrir. Aqueles lábios. Eu os observei por
meses, torturado por quão cheios e macios eles parecem,
morrendo de vontade de prová-los. Sento-me em linha reta
e deslizo minha palma em volta do seu pescoço. Minha boca
se abaixa em direção à dela, controlada, lenta. Num
momento estamos separados, no próximo estamos fundidos.
Boom.
Macia como veludo, decadente. A sensação de sua doce
boca é muito melhor do que eu imaginava. Eu suspiro por ar
e roubo o dela. Ela tem gosto de folhas de hortelã e algo doce
que deve ser simplesmente Willa. Eu a puxo mais apertado
para mim, envolvo-a em meus braços, enquanto minhas
mãos sentem tudo que eu mal me permiti imaginar tocar. As
curvas de sua coluna, a saliência de seus quadris, sua cintura.
Cada costela.
Quando eu separo seus lábios e provoco sua língua, ela
geme. Quero jogá-la no chão, arrancar seu biquíni e atacá-la
como um animal, mas se aprendi alguma coisa na vida foi
paciência, é um longo jogo. Então, sou gentil, exploratório.
Nossas línguas se enredam, um beijo exploratório que
começa a sussurrar suavemente e termina em uma boca
aberta implorando por mais. Torna-se um gosto mais
faminto, úmido e quente, lento e preguiçoso. Respirar é uma
obrigação, e me ressinto de sua interferência no melhor beijo
da minha vida.
Os braços de Willa enrolam em volta do meu pescoço. Ela
se pressiona em mim, seu calor sentado no meu colo, onde
estou duro como a porra de uma pedra por ela. Ela suspira
ao sentir isso, e seus dedos arranham meu cabelo. Não posso
deixar de gemer e sentir minha voz enchendo sua boca. É tão
incrivelmente sexy sentir seus sons, dar a ela os meus.
Os lábios de Willa se abrem mais sobre os meus, sua
língua um toque que provoca a minha para encontrar a dela
novamente e dançar. Deslizar, então beliscar, um beijo que
finge ser delicado antes de construir um ritmo como uma
onda, crescendo até o ponto de colapso. Willa se contorce
sobre mim, seu movimento tão natural, seu ajuste tão
perfeito, fomos feitos para fazer isso. Suas coxas se prendem
em volta da minha cintura, seus cotovelos se apoiam em
meus ombros enquanto ela desliza os dedos pelo meu cabelo,
e meu mundo se encaixa nesta pequena extensão de espaço
em que nos tocamos, nos beijamos e sentimos.
Ela rebola e eu rolo meus quadris sob os dela, ofegando
contra sua boca, sabendo que se eu fizer muito mais disso, o
jogo acaba.
Minhas mãos encontram seus ombros e apertam.
Separando-nos, respirando pesadamente, pressiono minha
testa na dela. Willa se inclina para mais, mas eu me afasto
apenas o suficiente para que nossos olhos se encontrem.
Estou além de sobrecarregado. Meu cérebro está
embaralhado, meus sentidos confusos.
Quando Willa se senta, seus olhos procuram os meus. Ela
deve ler minha expressão dilacerada, meu choque. Eu vejo
seus olhos esfriarem e suas paredes subirem. Apertando a
mão dela, busco as palavras certas em meu cérebro,
desejando ser lúcido ou corajoso o suficiente para fazê-la me
dizer por que ela me perguntou o que eu quero, por que
estamos nos beijando quando o caminho até aqui foi um
silêncio pedregoso.
Tudo o que fizemos por meses foram brincadeiras e
estalidos, brincadeiras e cutucadas até que este jogo se
tornasse um perigoso reino de provocação sexual. Aquela
maldita blusa amarela começou tudo, e desde então temos
intensificado brutalmente a libido um do outro, provocando
o corpo um do outro.
Este é apenas o movimento final? Este é o xeque-mate em
nossa superioridade, e agora tudo o que resta é derrubar
cada peça, limpar a história de cada batalha perdida e vitória
do tabuleiro, agora que ela saiu vencedora? Nesse caso,
perdi. Ela me fez beijá-la. Ela me desfez. Eu era uma massa
de vidraceiro em seus braços. Willa ganhou, porra.
Nossos olhos se fixam por uma pequena eternidade, os
dela esfriando ainda mais conforme o tempo se estende. Com
um longo suspiro, Willa me dá um sorriso indiferente, em
seguida, pega seu telefone.
— Vamos, Homem da Montanha. De volta à realidade.
Perguntas mais obrigatórias respondidas
superficialmente, então nossa tarefa está concluída e o
arrependimento é uma pedra em meu peito. Eu conheço sua
comida favorita, seu plano de vinte anos, suas primeiras
lembranças e o último estado em que ela viveu, mas ainda
não sei por que ela me perguntou o que eu queria, por que
apenas nos beijamos e nos tocamos como se o mundo
estivesse acabando. Ainda não sei o que Willa Sutter quer de
mim.
Nossa descida é silenciosa, a luz ainda está alta no céu
enquanto caminhamos para o meu carro. Nossas roupas
estão aquecidas pelo sol, nossa pele pegajosa de suor e das
quedas. Willa inclina sua têmpora contra a janela e encara a
Pacific Coast Highway enquanto eu dirijo e vasculho meu
cérebro para saber como posso obter alguma clareza, alguma
ideia do que porra está acontecendo.
Só então eu dirijo por um outdoor que mostra um pai,
com o braço em volta do filho, e isso me atinge. Pai.
Não costumo aproveitar o fato de que meu pai é médico,
a poucos minutos do campus e da minha casa. Na verdade,
nunca faço isso. Principalmente porque estou condicionado
a não precisar muito dele. Em toda a minha vida, a
necessidade de muitas outras pessoas dele era mais sensível
ao tempo do que a minha, e não quero dizer isso para soar
como uma vítima, é apenas a verdade. Papai é oncologista,
ele é pai de sete filhos, é um marido que ama a esposa e
prioriza o tempo com ela. Ele está no conselho de muitas
coisas para contar, ele até trabalha com outros veteranos em
seu tempo livre inexistente.
Ele é um cara ocupado. Sou o filho do meio de seus sete
filhos, então, mesmo quando se tratava de tempo para a
família, grandes itens da agenda como febre do bebê,
menstruação, primeiros passos e testes reprovados eram
muito mais urgentes do que Ryder esperando com um livro
debaixo do braço para ler com o pai.
Aprendi a ser paciente. Aprendi como encontrar aqueles
fragmentos de tempo quando papai era meu. Eu levantei
cedo para vê-lo se barbear e contar a ele sobre o meu dia. Eu
me arrastei para a cama depois que ele chegou tarde do
trabalho e tomou banho. Apenas cinco minutos
aconchegando-se em seus braços antes de começar a roncar,
era tudo que eu precisava.
Então agora, como um homem adulto com sua educação
em andamento e um plano de vida prático pela frente, digo
a mim mesmo que não deveria precisar do meu pai de forma
alguma. Exceto que eu deveria, e eu faço.
Eu realmente preciso do meu pai.
Meus irmãos e eu não conversamos muito, exceto por
Ren, que tem empatia com os quebra-cabeças femininos, mas
não é particularmente útil. Ele é um touro em uma loja de
porcelana quando se trata de mulheres. Aiden esteve lá para
mim antes, mas ele sabe o que é bom para ele e manteve
distância nos últimos dias, visto que toda essa bagunça é
graças a ele trabalhando como um maldito casamenteiro.
Eu deixo Willa em seu apartamento e a vejo caminhar
lentamente. Ela se vira e me dá um aceno cansado e
indiferente antes de entrar e fechar a porta atrás dela.
Confuso e dilacerado, preocupado por tê-la machucado e
com medo de que ela tenha brincado comigo, sinto o último
colapso emocional desmoronar debaixo de mim. Pego meu
telefone, mandando uma mensagem para papai, Tem dez
minutos para seu filho favorito hoje, velho?
Sua resposta é quase imediata. Sempre tenho dez minutos
para você, Ry. Traga um sanduíche e um chá gelado para o seu
velho. Estamos falando de favoritos.
13

QUE PORRA ACONTECEU?


Lágrimas salpicam meus olhos. Eu bato a porta atrás de
mim, sentindo a necessidade de fazer um rápido esboço do
rosto de Ryder e jogar dardos nele. Isso é seguido por um
puxão oposto para correr atrás dele, puxá-lo pela orelha boa
e arrastá-lo para a minha cama, onde eu teria dele um
orgasmo punitivo após o outro.
Quando ele disse que seu mundo não é o meu, tudo que eu
conseguia pensar era o quão errado ele estava. Ryder é uma
grande parte do meu mundo, para o bem e para o mal. Ele é
meu nêmesis, meu antagonista, meu provocador – palavra
literária perfeita para um momento como este – mas ele não
é apenas alguém tão franco e duro ou tão extremo quanto
meu aminimigo. Ele realmente é meu inimigo amigo.
Alguém com quem posso contar para absorver cada pequena
coisa que digo, encontrar seu ponto fraco e me provocar por
isso. A pessoa que vai notar quando estou com meleca no
nariz, tirar uma foto só para foder comigo, depois a limpa
com a própria mão. O cara que sabe que como três porções
de almôndegas suecas e tem meu cronograma de treinos
memorizado para que possa me atormentar com mensagens
de texto enquanto estou correndo, atrasada para a nossa
aula.
Então, eu chamei ele de mentiroso. Besteira, meu mundo
não é dele. Sentei em seu colo, levantei bem na cara dele e
praticamente o desafiei a me beijar. Era a única maneira que
eu conseguia pensar para expressar todos aqueles
sentimentos nojentos, pegajosos, piegas e impossíveis de
verbalizar que tenho por ele. Para fazer Ryder Stellan
Bergman entender o quanto seu mundo é meu.
Provocá-lo para uma sessão de amasso é como você diz isso a
ele? Ótima lógica, Sutter. Uma comunicação cristalina, bem aqui.
— Oh, cala a boca — murmuro para mim mesma.
Não consigo parar de lembrar daqueles beijos. Cada um
deles está marcado em meus lábios. Beijá-lo e ser beijada, a
maneira confiante como ele inclinou minha cabeça e pegou
minha nuca em sua mão áspera e quente. Ainda posso sentir
sua língua dançando com a minha. Pacientes, traços
constantes que indicam que o lenhador alto, de olhos verdes
e idiota pode ter um truque ou cinco na manga de flanela
com cheiro de pinho quando se trata de momentos sexy.
Não que estejamos aí. Não. Pessoas que levam uns aos
outros à loucura, que torturam, fazem pegadinhas e
provocam uns aos outros, não querem momentos sexy
juntos. Elas não querem se beijar até desmaiar por falta de
oxigênio. Elas não querem se envolver até que cada
centímetro quadrado de sua pele queime e fumegue.
Que raio de jogo Ryder e eu estamos jogando?
Em um minuto estou montando em suas costas com sua
insistência cavalheiresca, no próximo, ele está me dando
uma bronca por causa do meu ponto fraco pelo
cheeseburger. Num momento estamos nos beijando, suas
mãos agarrando minha cintura com um desespero que nunca
senti em um homem, no próximo, estamos nos encarando
como se a outra pessoa estivesse prestes a puxar a corda do
alçapão sob nossos pés.
Ele está fodendo comigo? É apenas uma provocação
horrível em andamento que eu estupidamente comecei em
retaliação pelo aparelho auditivo?
Eu deixo meu equipamento, troco de roupa e pego uma
barra de proteína. Saindo, fecho a porta com força
desnecessária e quase fecho a chave ao trancá-la.
Acalme-se, Sutter.
Balançando a cabeça, tento afastar esses pensamentos
inúteis. Vou ver minha mãe – quero me concentrar nela, não
no meu drama trivial da faculdade. A chuva começa a cair
das nuvens escuras no alto enquanto caminho para o
hospital. Eu viro meu rosto para o céu, implorando para
limpar meu cérebro. Para apagar toda essa preocupação e
absurdo sobre um maldito homem.
Eu seguro uma nova onda de lágrimas confusas e coloco
as mãos em meus olhos, apesar da chuva deslizar nas minhas
bochechas. Eu nem sei o que estou sentindo, só que estou
sentindo bastante. Seja qual for a emoção, é uma dor quente
e pungente que se irradia da minha garganta para o meu
estômago. Isso me lembra da vez em que tomei um gole de
chá escaldante e, em vez de cuspi-lo como um ser humano
são, selei meus lábios e engoli. Exceto que essa queimadura
não se dissipa. É uma coisa viva, um fogo abrasador e
devorador que não tenho ideia de como extinguir.
Minha caminhada até o hospital não demora muito, o que
é bom, pois a garoa se transforma em chuva torrencial. Eu
guincho pelo corredor, água esguichando dos meus tênis,
enquanto entro silenciosamente no quarto da mamãe. Não
quero acordá-la se ela estiver dormindo.
Seus olhos se voltam para o livro que ela apoiou em um
travesseiro no colo.
— My Ántonia de novo?
Ela ergue os olhos ao som da minha voz e fica surpresa.
— Willa! — Vendo minha aparência, seus olhos se
arregalam. — Que porra aconteceu com você?
Depois de uma respiração longa e lenta para tentar
bloquear minhas emoções, vou até a cama dela.
— Tomei chuva no caminho.
Mamãe me dá uma olhada desconfiada.
— Estou vendo. Mas não foi isso que eu quis dizer. Você
parece chateada, Willa Rose. O que está acontecendo?
Não chore. Não chore. Não chore.
— Você se lembra daquele cara da aula que eu te falei?
Meu parceiro de projeto, que usou as táticas furtivas com seu
aparelho auditivo?
— O idiota do lenhador. — Ela se mexe na cama. — Sim.
O que ele fez pra você? Eu tenho que ir bater na bunda de
algum menino maromba por fazer minha Willa chorar?
Isso me faz rir.
— Não. Nós apenas... as coisas estão ficando confusas,
mais intensas. As apostas continuam aumentando, e agora
nem tenho certeza do que estou apostando ou o que estou
tentando ganhar.
Ela inclina a cabeça.
— Oh?
— Estou frustrada. A situação toda é irritantemente
perturbadora. Não quero perder todo esse tempo fritando
meus neurônios por causa disso. Os homens são uma perda
de tempo de qualquer maneira, como ambas concordamos.
Mamãe ergue uma sobrancelha.
— Eu não me lembro exatamente de ter dito isso. Eu te
ensinei que muitos homens são decepções. Mas, também,
que alguns são joias boas e raras em suas espécies. A parte
difícil, e para mim, desencorajadora, é que é difícil saber
quais são quais no início, às vezes por um longo tempo. —
Seus olhos procuram os meus. — Você quer falar sobre isso?
— Nah. — Eu aceno minha mão e engulo o amontoado
de lágrimas de frustração engrossando minha garganta. —
Como eu disse, não quero mais pensar nele. Como você está
se sentindo hoje, mamãe?
O sorriso dela é um pouco forçado, como o meu.
— Oh. Mais ou menos.
Uma resposta perturbadoramente evasiva de uma
mulher com câncer agressivo.
O medo aperta meu estômago e o torce em um nó.
— O que o Dr. B tem a dizer sobre as coisas hoje em dia?
A pausa da mamãe é muito longa. Minhas mãos agarram
meu short molhado, criando uma poça de água fresca nos
ladrilhos aos meus pés.
— Mamãe?
Seu suspiro é pesado. É o que normalmente precede ela
me dizendo algo que eu não gosto.
— Willa, há algo que eu não disse a você que deveria ter
contado. Venha aqui. — Ela dá um tapinha no colchão.
Eu olho para cima e para baixo em meu corpo
encharcado.
— Eu não deveria. Estou encharcada.
— Bobagem. — Mamãe acena com a mão. — Eu tenho
um banho daqui a pouco de qualquer maneira. Isso vai me
aquecer e eles vão mudar minha cama então. Agora, venha
aqui, Willa Rose.
Obedientemente, eu sento no colchão e me aperto contra
mamãe.
Ela olha para mim.
— Preparada?
— Sim, mamãe. Por favor, diga-me.
— Ok, então é sobre o Dr. B.
Eu levanto minha cabeça.
— O que tem ele?
Mamãe morde o lábio.
Sobre o que ela tem que ser tímida?
— Vocês dois... — Eu balanço minhas sobrancelhas. —
Você sabe?
Mamãe ri, e é uma risada que quero lembrar. Não soa
como uma risada doentia. Soa como sua risada antiga, clara
e semelhante a um sino. Seu sorriso é largo quando sua
cabeça se inclina para trás e ela ri.
Minha risada é baixa no início. Mas logo não é mais. É
alto, e não muito diferente da dela, e logo estamos rindo
tanto, estamos chorando e mamãe está se virando,
escondendo a cabeça no travesseiro enquanto se torna uma
tosse forte. Sua tosse passa antes que ganhemos a atenção de
uma enfermeira, e mamãe se aninha no travesseiro,
enxugando os olhos.
— Oh, Willa, você tem um jeito de dizer as coisas. Ufa. —
Mamãe suspira feliz. — Agora, onde eu estava? Oh, certo.
Não, nós não... você sabe.
Eu limpo meus olhos também e volto minha cabeça para
seu ombro.
— Ok, então o que é?
— Você não pode contar a ninguém, Willa, porque está
contornando uma violação da ética. Pode custar tudo a Alex
se a notícia se espalhar.
— O quê?
Os olhos de mamãe procuram os meus enquanto sua voz
abaixa.
— Dr. B, Alex, na verdade, nós já nos conhecíamos.
Servimos juntos em algumas missões, depois nos
encontramos novamente em uma missão de veteranos há
cinco anos. Quando percebemos que morávamos em Los
Angeles, concordamos em manter contato, como amigos,
veja bem. Você já viu ou falou com a esposa dele e entenderá
o porquê.
Eu franzir a testa.
— Mamãe, você é um puta partido, por dentro e por fora.
Você ainda está pegando fogo.
Mamãe ri e segura minha bochecha suavemente.
— Obrigada, querida. Acho que tive algumas décadas
muito boas, mas não importa. A questão é que o conselho de
ética médica argumentaria que Alex não deveria ser meu
médico, já que temos história. Eles diriam que seria fácil para
ele deixar a emoção atrapalhar seus cuidados...
— A última coisa que quero ouvir sobre o seu médico
oncológico, mamãe, é que ele não está apto para cuidar de
você. — O julgamento dele tem sido nublado? — Por que... o
que você estava pensando? — Eu assobio.
Mamãe suspira.
— Ele é totalmente capaz de compartimentar. Não nos
conhecemos bem. Ele é muito sensato, muito honesto comigo.
Eu estou lhe dizendo que iria parecer ruim, não que seja.
Acredite em mim, estou fazendo a coisa certa, deixando que
ele cuide de mim. Alex é o melhor nisso, Willa. Eu sei que é
um pouco obscuro, mas ele precisava fazer isso por mim, e
eu não diria não, dadas suas credenciais.
— Por que ele precisava fazer isso?
Os olhos de mamãe deixam os meus enquanto sua mão
mexe no cobertor que cobre seus joelhos ossudos.
— Eu salvei a vida dele em nossa última excursão juntos,
antes de ele receber alta médica.
Minha boca cai.
— Você salvou a vida dele? Como?
Mamãe morde o lábio inferior carnudo, o original da
réplica que ela me deu.
— Não gosto de pensar nisso com frequência. Foi um dia
horrível.
Eu aperto a mão dela.
— Eu não quero pressioná-la. — Mamãe não fala muito
sobre suas missões, mas sei que levou anos de terapia para
ajudá-la a lidar com muitos gatilhos de TEPT4.
— Está tudo bem, Willa. Só preciso de um minuto. —
Deixando cair a cabeça no travesseiro, mamãe olha para o
teto. — Eu acho que você sabe o suficiente sobre os militares
agora para entender que um médico de combate, sendo parte
de uma equipe de evacuação médica, é um trabalho perigoso
e estressante. Você voa para zonas de conflito, realiza
cuidados médicos que salvam vidas no solo. Balas passando
zunindo por você, explosões, gritos. Se você conseguir
voltar, estará em um helicóptero com corpos gravemente
traumatizados, possivelmente com ferimentos fatais,
trabalhando com o que você tem até estar de volta à base com
tudo de que precisa.
— Não quero entrar em detalhes sobre a missão e como
ela deu errado. Basta você saber que sim. A questão é que
Alex e eu estávamos lá, uma dupla que trabalhou bem em
campo. Éramos ambos excepcionalmente frios, excelentes
compartimentalizadores, trabalhávamos rápido juntos e
tínhamos essa estranha capacidade de nos comunicarmos
sem palavras. Alex estava segurando... — Seus olhos se
fecham com força. — Alex estava tentando salvar a vida de
um soldado quando ele levou uma bala na perna. Isso
estilhaçou seu fêmur, cortando sua artéria femoral, não que

4
Transtorno de estresse pós-traumático.
eu soubesse especificamente na época. Eu o vi ser atingido e
então vi muito sangue.
Eu respiro fundo. Mamãe é um daqueles tipos de
médicos que adoram criar sua filha para entender seu corpo.
Passamos noites conversando sobre livros de anatomia
comigo em seus braços, nas quais ela me ensinou os nomes
em latim para meus ossos e partes do corpo. Isso levou à
minha primeira gafe social quando levantei minha camisa no
jardim de infância, apontei para meu umbigo e disse à classe:
É meu umbilicus!
Tudo isso para dizer, eu sei o significado do que ela está
dizendo. Eu sei que uma artéria carrega sangue do seu
coração para o resto do seu corpo, exceto quando é cortada –
então, ela está bombeando sua fonte de vida para fora do seu
corpo, mais rápido conforme seu pânico aumenta e sua
frequência cardíaca acelera. É um ferimento fatal e uma
morte rápida, a menos que medidas drásticas sejam
tomadas.
— Porra, mamãe.
Mamãe acena com a cabeça.
— Todo mundo já estava rastejando de volta para o
helicóptero. Alex era o último homem a sair, segurando
Williams, que já havia morrido. O capitão gritava para eu
entrar, mas eu não podia deixar Alex, então corri, arranquei
a barra da minha camisa e amarrei o torniquete mais rápido
do mundo na parte superior de sua coxa, depois arrastei sua
bunda de volta para o helicóptero.
Ela tira o vestido do ombro, apontando para a cicatriz feia
em sua omoplata. Uma ferida que infeccionou, ela me disse
anos atrás, quando decidiu que eu tinha idade suficiente
para saber a verdade.
— Uma bala me atingiu e se alojou bem no meu
escapulário, mas nos coloquei em segurança, ilesos.
Estrelas dançam nas bordas da minha visão, alertando-
me para o fato de que estou prendendo a respiração, ouvindo
essa história. Minha expiração é uma grande rajada de ar.
— O que aconteceu?
Mama encolhe os ombros.
— Ambos recebemos tratamento. Alex foi para a cirurgia.
Eu também, mas não com urgência. Minha ferida
infeccionou, não respondeu bem o suficiente inicialmente
aos antibióticos, mas eventualmente, sarou. Eu escapei fácil,
mas Alex perdeu a perna do meio da coxa para baixo. Ele
teve sorte de ter sobrevivido.
Uma exalação trêmula me deixa enquanto novas
lágrimas picam meus olhos. Eu sei que minha mãe é corajosa.
Sempre tive orgulho de dizer, no Dia dos Veteranos, que
minha mãe serviu ao país em lugares que tantas pessoas têm
medo de ir. Mas esta é uma nova profundidade de
compreensão. É o mais específico que ela já foi comigo.
— Mamãe. — Eu afasto minhas lágrimas com a palma da
mão. — Eu não acho que eu disse o suficiente o quanto eu
admiro você. Você é fodona. E corajosa.
Mamãe envolve sua mão na minha e aperta.
— Você me disse muito, Willa. Eu sei que você está
orgulhosa de mim, e eu sei que ser um pirralha de uma mãe
militar solteira não foi fácil, mas você sempre foi um soldado.
Novas escolas, novas casas, novos vizinhos. Você sempre se
recuperava de outra mudança com aquele sorriso largo e seu
cabelo rebelde, caminhando até a porta das crianças com
uma bola de futebol no quadril, batendo nas janelas,
convidando-as para virem jogar.
Sua mão livre coloca um cacho solto atrás da minha
orelha enquanto ela sorri para mim.
— O futebol sempre ajudou você a enfrentar. É o que
conecta você às pessoas, é como você se torna você mesma,
sua confiança e graça. É uma parte tão vital de você.
É verdade. Futebol não é apenas algo em que sou boa. É
tão parte integrante da minha existência quanto minhas
necessidades mais básicas.
Eu me mexo na cama, sentando-me mais reto para que
possamos olhar nos olhos.
— Por que você está me dizendo isso agora, sobre você e
o Dr. B?
Os olhos de mamãe deixam os meus e dançam para a
janela, observando a chuva atingir o vidro e sumir de vista.
— Dinheiro, Willa. O dinheiro não está dando conta.
Você e eu sempre fomos gastadoras modestas. Não somos
pessoas materialistas e somos mulheres simples. Não temos
guarda-roupas enormes ou bolsas cheias de maquiagem,
mas mesmo assim. O câncer de mama custava caro, mas a
leucemia é ainda mais cara. Alex tem trabalhado
incansavelmente com meu seguro para cobrir tudo o que eles
podem, mas também tem me encorajado a considerar sair do
hospital onde será significativamente mais barato. Levando
meus cuidados para casa.
Eu cambaleio. Não vou ao nosso apartamento há dois
meses. Mamãe também não. O lugar precisa de uma limpeza
profunda. Ela vai precisar de cuidados 24 horas por dia.
— Mas como isso funcionaria?
Mamãe suspira.
— Bem, devo começar dizendo a você que subloquei o
apartamento, Willa. Os objetos de valor que você não levou
para a sua casa e de Rooney estão guardados, e os meus
também.
— O quê? Por quê?
Finalmente, ela se afasta da janela e encontra meus olhos
novamente.
— Porque não adiantava pagar por um lugar onde
nenhuma de nós morava.
Eu engulo meu choque e tento me concentrar no assunto
urgente.
— Então, para onde você irá?
Mamãe aperta minha mão de forma tranquilizadora.
— Alex e sua esposa, Elin, querem que eu fique com eles.
Eles têm uma grande família e todos os filhos, exceto dois,
estão fora de casa. Eles estão com síndrome do ninho vazio
com mais espaço sobrando do que eles precisam.
— Alex disse que desde sua lesão, ele gostaria de poder
me agradecer de uma forma que pareça adequada, gratidão
por sua vida. Eu não o vejo como devendo algo a mim, eu
apenas fiz meu trabalho, mas isso é o que ele quer me dar, e,
Willa, estou inclinada a aceitar.
Isso me arrepia. Isso me assusta. Mamãe e eu só moramos
sozinhas, nós duas, exceto nas temporadas em que vovó
Rose vinha para ficar. Quando eu era pequena, eu tinha
babás e vovó Rose, e, eventualmente, fui para a creche, mas
nossa vida, nossas rotinas, nossa casa – sempre foi apenas
nossa. Agora, sempre que tiver vontade de ver minha mãe,
terei de ir na casa de algum estranho? Ela terá privacidade?
Serei capaz de ficar com ela durante o verão?
A mão de mamãe acariciando a minha interrompe meus
pensamentos.
— Minha cara processadora verbal.
— Eu disse isso em voz alta — digo com um suspiro
resignado.
Ela ri.
— Eu sabia que isso iria deixá-la nervosa, mas esperava
que explicar nossa história ajudasse você a se sentir mais
confortável com isso. É principalmente por isso que eu contei
a você. Porque achei que você veria que mereço isso. Fiz o
certo por um amigo e salvei a vida dele. Agora ele está
tentando deixar a minha um pouco mais confortável.
— E eu terei privacidade. Eles têm alguns quartos no
primeiro andar, um dos quais tem entrada separada. Você
não terá nenhuma obrigação de ver ninguém além de mim,
e terei uma enfermeira cuidando de minhas necessidades.
Alex e Elin viverão suas vidas independentemente de mim,
embora Alex, é claro, ainda supervisionará meus cuidados.
Um suspiro pesado me deixa enquanto eu olho para as
minhas mãos.
— Desculpa. Eu me sinto egoísta, meus primeiros
pensamentos são inevitáveis.
— Dificilmente, Willa. — Mamãe agarra minhas
bochechas suavemente e vira meu rosto em sua direção. — É
diferente. Não é fácil. Mas também sei que você entende e
vai apoiar tudo o que eu precisar para me sentir confortável
e ter paz sobre nossas finanças.
Eu aceno, meu rosto ainda descansando em sua mão.
— Eu vou. Eu quero tudo o que te faz feliz e se sentindo
bem, mamãe.
Seus olhos brilham quando ela sorri para mim.
— Eu sei querida. Você nem precisa me dizer. Eu sabia
que você entenderia. — Lentamente, ela me puxa para ela,
até que minha cabeça repouse em seu peito. Seus dedos
vagam pelo meu cabelo, outra tentativa vã de domar sua
selvageria.
— Eu te amo, mamãe — eu sussurro. Eu conto seus
batimentos cardíacos. Sinto gratidão por cada um deles.
Ela pressiona os lábios no meu cabelo, um beijo suave que
é tão reconfortante quanto seus abraços fortes.
— Eu também te amo, minha Willa Rose.
14

O ESCRITÓRIO DO PAPAI ESTÁ UMA BAGUNÇA. Tenho quase


certeza de que é porque o homem não tem nem uma gravata
perdida ou uma caneta-tinteiro em nossa casa. Mamãe
precisa de uma casa tão organizada e minimalista como a
que ela morava até conhecer papai e depois se mudar para
os Estados Unidos.
— Ryder! — Papai está de pé com os braços estendidos.
Coloco nossa comida para baixo e o deixo me abraçar,
abraçando-o de volta. Papai é americano, mas absorveu
muitas das filosofias parentais suecas de mamãe, que é uma
força nutridora da natureza. Ele tirou uma longa licença
paternidade quando cada um de nós nasceu, ficou de joelhos
para brincar conosco sempre que podia. O carinho e a
masculinidade de nossa família não exigem tapas nas costas
ou evitar demonstrações de afeto. Por exemplo, papai dá um
beijo no meu cabelo e depois aperta meu ombro. Ele é tão
alto quanto eu, então ficamos cara a cara quando ele fala. Isso
torna a leitura de seus lábios mais fácil, mas eu também
coloquei o aparelho auditivo, na esperança de que pudesse
lidar com os níveis de ruído do hospital.
Enquanto dá a volta em sua mesa, ele me dá uma olhada.
— Você parece bem, menos essa barba do Pé Grande.
Eu rolo meus olhos. Papai nunca teve barba. Ele odeia a
sensação dela e passou tempo suficiente no exército para se
acostumar com a disciplina diária de um barbear completo.
— Você está se cuidando? — ele pergunta. Sentado, ele
puxa o saco do sanduíche e o abre.
Eu pego meu telefone e digito, Basicamente. As aulas não
são muito estressantes. Estou me exercitando, dormindo
decentemente. O mesmo de sempre.
Ele desliza os óculos da cabeça para ler o telefone. Eu vejo
seus olhos dispararem da esquerda para a direita, em
seguida, vão para os meus.
— O mesmo de sempre, hein? — Erguendo as
sobrancelhas, ele dá uma mordida no sanduíche e mastiga,
depois engole. — As coisas estão tão o mesmo de sempre que
você veio ver seu pai quando o verá na próxima semana no
Dia de Ação de Graças?
Eu encolho os ombros, puxando meu sanduíche e
desenrolando o papel dobrado. Minha mão paira sobre o
meu telefone, debatendo. Finalmente, eu vou em frente.
Como você sabia que amava a mamãe?
Papai pega o telefone e lê. Seus olhos encontram os meus.
Olhos verdes afiados, que ele passou para Axel, para mim e
para Ziggy.
— Por que você pergunta?
Dou de ombros e digito, Uma tarefa para a aula de História
e Filosofia da Civilização Humana.
Os olhos de papai se enrugam e sua boca se contorce.
— É mesmo? — Quando eu não respondo, papai se
recosta e me dá uma olhada. — Bem engraçado, sua mãe e
eu não nos demos muito bem no início. Nós praticamente
nos odiávamos.
Meu estômago embrulha. O saco de papel que estou
segurando amassa na minha mão.
Papai parece não notar.
— Eu estava de folga, fui com alguns amigos para a parte
norte da Suécia, que, como tenho certeza de que você se
lembra de quando nós o visitamos com você ainda pequeno,
é muito menos populosa do que o sul. Não existem grandes
cidades. É bastante rural e espalhada. É bom para esquiar e
ficar abrigado, se é que você me entende.
Eu inclino minha cabeça e dou a ele o olhar de não me enoje
com isso.
Ele ri.
— Vou mantê-lo com classificação livre para menores, eu
prometo. De qualquer forma, depois de um longo dia
esquiando, paramos neste minúsculo restaurante de
montanha para nos aquecer e engolir nosso peso em comida.
Sua mãe estava lá. Como você sabe, era propriedade da
família dela, e ela mais ou menos administrava o lugar
naquela época.
Ele tem um brilho em seus olhos enquanto gira na cadeira
e coloca os óculos de volta na cabeça.
— Ela falou civilizadamente, mas olhou para mim como
se eu fosse um cachorro vira-lata que alguém a fizera engolir
e se alimentar. Isso só me incomodou. Ela não foi a primeira
europeia arrogante que eu encontrei com uma opinião
amarga sobre os soldados americanos. Então, eu a cutuquei
de volta. Eu entendia o suficiente sobre a cultura sueca e
conhecia muitas maneiras de ofendê-la. Eu cometi
propositalmente cada gafe em que pude pensar. Exagerei,
me gabei, não disse obrigado o suficiente, conversei muito
sobre trivialidades. Dizia oi toda vez que a via. Eu a deixei
louca.
Uma risada silenciosa desliza pela minha garganta.
— Mas então ficamos presos por conta da neve. — Papai
sorri. — Não havia como ir a lugar nenhum. Fiquei preso lá
por quatro dias e, nos dois primeiros, tive certeza de que ela
iria envenenar meu café da manhã. Eu não estava
convencido de que não queria cuspir no dela também. Eu
continuei com a tortura, atrasado em todas as refeições,
pedindo todos os tipos de extras para despejar no meu café
e chá, bagunçando meu sueco. Eu deixei uma bagunça em
todos os lugares que fui, sorria demais.
O que posso ouvir de sua risada é profunda e tingida de
nostalgia.
— Mas em algum ponto da terceira noite, ficamos
acordados até tarde. Ficamos um pouco bêbados e ela me
convidou – não para um duelo, é claro, muita agressividade
para uma sueca – educadamente para um jogo de xadrez.
Ele toma um gole de chá gelado e cruza as mãos sobre o
estômago.
— Ela chutou minha bunda, cantou com a vitória. Agora
era ela quem estava cometendo a gafe. Ela não apenas fez seu
convidado perder um jogo, mas o estripou e celebrou na cara
dele, o que vai contra todos os códigos de hospitalidade e
humildade em sua cultura. Ela estava envergonhada e ao
invés de deixar pra lá, eu só continuei falando sobre sua
vitória, provocando-a por ser exibida.
— Ela ficava cada vez mais furiosa à medida que eu
ficava cada vez mais feliz. Quanto mais furiosa ela ficava,
mais calmo eu ficava, e antes que eu percebesse, ela jogou o
jogo de xadrez da mesa, subiu nela e estava me beijando até
perder os sentidos.
Meu queixo cai. Esta não é a história fofa que ouvi em
eventos familiares, mas, novamente, essa anedota teria
escandalizado muitos de nossa família e feito minha avó
sueca desmaiar.
Eu estou corando. Eu pressiono a mão na minha
bochecha para esfriá-la, e isso faz papai rir.
— Sua mãe. — Ele suspira. — Eu soube na hora: eu a
amava. Quer dizer, eu não sabia que sabia naquele momento,
se isso faz sentido. Eu ainda estava muito confuso em minha
frustração com ela. Mas quando eu olho para trás... — Seu
ombro levanta enquanto ele toma seu chá gelado novamente.
— Era isso.
Por quê? Eu mando uma mensagem para ele. Como isso faz
sentido para você? Como você olha para trás e sabe?
Largando sua bebida, papai descansa os braços sobre a
mesa.
— Ódio, inimizade, rivalidade são todas respostas
apaixonadas. Minha teoria pessoal é que eles são expressões
incompletas de uma emoção humana central: o amor. É
como aquela parábola sobre os homens que sentiram partes
diferentes de um elefante e cada um o confundiu com outra
coisa. O amor é um sentimento multifacetado. É tudo menos
unidimensional. Às vezes, quando alguém está apaixonado,
certas emoções e comportamentos, mais do que outros, se
apresentam primeiro.
Abro meu telefone e digito: Essa lógica é assustadora.
Ele se inclina.
— Mas é lógico. Pense nisso. Não nos importamos com
pessoas às quais somos indiferentes. Provocamos e
brincamos e provocamos aqueles que nos irritam e nos fazem
sentir, pessoas que incitam a nossa paixão. É por isso que,
quando se trata de sua mãe, posso olhar para trás e ver que
estava fazendo tudo o que podia para provocá-la, não
porque gostasse de provocá-la...
Eu levanto uma sobrancelha que ganha sua risada.
— Ok, eu gosto de provocá-la um pouco. Mas naquela
época, era porque eu sentia paixão por Elin. E não, a
princípio não ficou claro por que era esse o caso – só porque
batemos de frente com alguém, não significa que estamos
apaixonados pela pessoa – mas quando voltei alguns meses
depois, ela ainda estava lá, eu tinha chances. Todos aqueles
sentimentos confusos e não resolvidos de exasperação e
tensão não eram mais parciais e incompletos. Carinho,
proteção, o impulso de abaixar minhas defesas e amolecer
completavam o quadro, para que eu pudesse ver a verdade:
eu gostava dela.
— Estar perto dela me fez acordar e sentar direito.
Simplesmente existir em sua esfera fazia meu sangue correr
quente, meu coração batia forte. Depois disso, ainda
provocávamos e brincávamos, mas paramos de negar que
nos sentíamos atraídos um pelo outro. Ouvimos nossa
intuição e demos à outra pessoa a chance de ser alguém que
poderíamos amar. Descobrimos que estávamos certos.
Meu apetite é inexistente. Deslizo o saco de papel para o
lado e puxo meu boné para baixo, esperando que meu pai
não veja escrito em meu rosto como essa informação é
perturbadora.
Papai bate na mesa, ganhando minha atenção.
— Você está bem? Você parece triste.
Concordo com a cabeça, tento sorrir de forma
tranquilizadora e abro o saco do sanduíche, me forçando a
atacar minha comida com um foco singular. Eu não posso
sentar aqui e meditar. Isso vai levantar suas suspeitas, se já
não foram levantadas. Eu forço mordida após mordida,
tentando não pensar muito sobre os paralelos abundantes
entre o começo difícil dos meus pais e o começo difícil que
Willa e eu tivemos. A mudança em algum momento quando
eu olhei para a frente de seus comentários sarcásticos sobre a
minha flanela de lenhador, quando eu comecei a descobrir o
que fazia suas íris queimar em vermelho rubi raivoso, mas
também em toffee delicioso, doce com um pingo amargo.
Quando eu comecei a querer segurá-la e protegê-la de tudo
– cobras de jardim, idiotas do clube, professores idiotas que
levam as coisas muito longe academicamente, qualquer coisa
que faça seus olhos escurecerem e aquela faísca de fogo se
extinguir dentro dela.
Terminamos nossa comida enquanto papai me cutuca
para obter mais informações sobre a faculdade, sobre meus
amigos. Ele bate na orelha, depois na boca, olhando para
mim com severidade.
— Sua mãe e eu queremos falar com você sobre o Dia de
Ação de Graças. Vamos fazer a bola rolar nas próximas
etapas, com plano de saúde ou não, embora tenha esperança
de que o plano esteja chegando agora. Nem pense em tentar
escapar disso. Eu conheço seus jeitos de filho do meio
ganancioso e astuto.
Eu franzo a testa para ele por um longo momento, em
seguida, mergulho minha cabeça para digitar e mudar de
assunto, perguntando como Oliver e Ziggy – meu irmão e
irmã mais novos que são os últimos em casa – estão indo.
Pergunto sobre mamãe e seus preparativos culinários de
Ação de Graças para o elenco de milhares de pessoas que
virão. Nós falamos bobagens tanto quanto você pode por dez
minutos, e quando eu me levanto e começo a limpar nossa
bagunça, eu inadvertidamente derramo água em todos os
seus arquivos colocados ao acaso. Nós dois somos rápidos,
arrancando as pastas de papel manilha da superfície de
madeira polida e jogando-as no carpete. Depois de secar a
mesa, me viro e me agacho, concentrando-me em limpar o
excesso de água que ficou em cima dos arquivos.
Sou filho de médico. Eu sei sobre a confidencialidade
médico-paciente e não sou bisbilhoteiro. Sinceramente, tento
não pensar em todas as pessoas doentes de quem meu pai
cuida todos os dias. Câncer é deprimente e egoísta, estou
absorto o suficiente em meu próprio corpo danificado para
não querer pensar em outras maneiras de nosso corpo falhar.
Então não é como se eu estivesse olhando ou mesmo notando
rótulos até que um sobrenome praticamente gritasse comigo.
Sutter.
Sutter, Joy é uma paciente do meu pai e, de acordo com a
página de informações básicas que caiu de sua pasta como se
o universo insistisse para que eu visse, ela está na sala 337.
Levanto-me abruptamente, sentindo a sala girar.
Sutter. É um sobrenome bastante comum. LA é um lugar
enorme. Provavelmente não é uma conexão particular com
Willa. Mas não parece isso. Parece algo que eu deveria saber.
Papai bate no meu ombro suavemente e eu giro.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu concordo. Com calor, eu murmuro, puxando minha
camisa do meu peito como se estivesse me refrescando.
Papai parece satisfeito com isso. Eu o deixei me abraçar
com força mais uma vez antes de me mandar embora. Ando
pelo corredor, contando ladrilhos, dizendo a mim mesmo
para não olhar para os números das portas, nem mesmo
pensar neles. Mesmo que Joy Sutter seja alguém para Willa,
quem sou eu para conhecer? Não é como se Willa tivesse me
dito alguma coisa.
Sua voz atormenta minha cabeça enquanto a memória de
sua raiva, sua frustração, inunda meus pensamentos.
“Por que eu não sei quase nada sobre você?”
Se essa pessoa é alguma coisa de Willa e significa algo
para ela, Willa tem a audácia de dizer merda sobre eu
segurar minhas cartas, quando ela está silenciosamente
carregando um fardo muito mais pesado. Enquanto estou
caminhando e trabalhando meu caminho através desses
pensamentos, ouço um som familiar. Ele é fraco e distorcido,
uma miragem auditiva à distância.
Eu congelo no lugar, girando nos calcanhares quando
ouço o barulho novamente.
Essa é Willa.
Meu corpo instintivamente me leva em direção ao som.
Eu ignoro carrinhos rolantes de computador, evito uma
enfermeira, até que estou do lado de fora de uma porta que
está entreaberta. Não me permito ver o número do quarto,
ainda não. Em vez disso, vejo dois pés enfiados em uma
cama. Um par de tênis encharcados de água que observei se
afastar do meu carro apenas algumas horas atrás.
Willa.
Então ouço a voz dela de uma forma que não ouço mais
ninguém. Não perfeitamente, não exatamente como eu
quero, mas com uma clareza de outra forma estranha para
mim, já que meus ouvidos foram para o inferno.
Aí está a risada dela novamente. Em seguida, outra
palavra. Uma que pousa como uma faca no meu coração.
Mamãe.

Sento-me em meu lugar habitual, esperando por Willa


em nossa primeira aula de matemática de negócios, já que
tudo ficou quente e pesado e soberbamente confuso naquela
maldita caminhada. A sala se enche rapidamente porque
Aiden é conhecido por ser um durão que começa a aula no
horário e não aceita atrasos. O ponteiro dos minutos avança
mais perto da hora. O nervosismo é um peso que envolve
meu corpo, comprimindo meus músculos, apertando minha
garganta. É pavor, não apenas nervosismo. O que Willa está
pensando depois do que aconteceu? E se as coisas ficarem
afetadas e desconfortáveis agora?
Meus olhos examinam o fundo da sala. Talvez ela esteja
sentada lá. Eu podia vê-la fazendo questão de criar distância.
Enquanto aperto os olhos, esticando o pescoço, ouço uma
voz à minha direita.
— Procurando por alguém, Lenhador?
Eu me assusto, mais uma vez batendo meu joelho contra
a mesa, desta vez realmente acertando minha patela. Com
um gemido, deixo cair minha cabeça na superfície da
madeira. A mão de Willa pousa quente nas minhas costas,
dois tapinhas platônicos. Meu telefone vibra e eu o
desbloqueio para ler sua mensagem. Sua audição pode ser uma
merda, mas você ainda tem reflexos de um macaco que usou
cocaína.
Sento-me lentamente, virando-me para ela enquanto
digito de volta: De onde você tirou isso?
Ela olha para a tela, depois para mim, e encolhe os
ombros.
— Quem sabe.
Nossos olhos se fixam e eu roubo a chance de examiná-
los em busca de qualquer insight que eles possam me dar. Eu
vejo o beliscão no canto de seus olhos castanhos chocolate.
Percebo a leve mancha roxa sob seus cílios inferiores. Ela
parece cansada. Preocupada.
Eu começo a digitar, mas a mão de Willa envolve
suavemente meu pulso. Eu olho para ela e a vejo dizer:
— A caminhada foi... estranha.
Eu aceno, guerreando com palavras implorando para
serem ditas. Estranho bom? Muito estranho? Estranhíssimo? Eu
quero sair do meu corpo e fazer isso para sempre estranho?
Removendo seu aperto, Willa oferece sua mão, como se
estivéssemos nos encontrando pela primeira vez.
— Aminimigos ainda?
Eu fico olhando para ela, tentando processar o que ela
disse. Aminimigos? Eu gesticulo com a boca.
Ela acena com a cabeça, a mão imóvel.
— Como nós éramos. Nada mudou.
Meu estômago embrulha. Não sei por que, mas não
parece certo. Nada mudou? Besteira. É diferente entre nós, e
Willa quer fingir que não é. Pior, talvez ela não esteja
fingindo. Talvez, para ela, essa diferença não exista. Pois
bem, terei de mostrar a ela.
Eu envolvo minha mão em torno da dela e vejo sua
respiração engatar, sua coluna se endireitar. Meu coração
bate loucamente contra minhas costelas. Meu polegar patina
ao longo da pele acetinada de seu pulso, sobre seu pulso, que
tropeça sob meu toque. As palavras de papai tecem em
minha mente.
Estar perto dela me fez acordar e sentar direito. Simplesmente
existir em sua esfera fazia meu sangue correr quente, meu coração
batia forte.
Willa está reta como uma vareta, suas pupilas dilatadas.
Seu pulso voa sob meu polegar. Aí está. Confirmação.
Nada mudou, teu cu.
Willa se afasta primeiro.
Preciso de tempo para descobrir como vamos falar sobre
isso, porque com certeza vamos falar sobre isso. Por
enquanto, preciso saber. Preciso saber sobre hoje e amanhã e
se ela está bem. Eu tenho que ver se ela vai se abrir e me
deixar entrar, mesmo que seja apenas um pedaço da verdade
sobre o que está acontecendo em sua vida. Estou preocupado
com ela desde que a ouvi no hospital. Não consigo imaginar
como é, o que ela está sentindo e passando. A mãe dela está
doente. Muito doente.
Eu limpo minha garganta, desbloqueio meu telefone e
escrevo, Planos para o dia de Ação de Graças?
Seu rosto se contrai de perfil antes de ela controlar sua
expressão e se virar para mim.
— Não. Vou passar um tempo com minha mãe.
Onde vocês moram?
Willa tamborila os dedos na mesa e morde o lábio picado
de abelha. Pelo que eu sei, nunca vi Willa Sutter mentir, mas
acho que estou prestes a ver.
LA, ela escreve.
Ah, então ela é uma mentirosa muito ruim. Ela não
consegue nem me olhar nos olhos quando diz isso.
LA é um lugar bem grande, raio de sol. Onde?
Lentamente, seus olhos deslizam para os meus. Ela limpa
a garganta e engole em seco.
— A apenas alguns minutos do campus, na verdade.
Minha mandíbula lateja. Maldito foguete hipócrita de
mulher. Arrebentando minhas bolas por não derramar
minhas entranhas e toda a minha história de vida, quando
ela nem consegue me dizer que sua mãe está gravemente
doente.
Willa apenas apertou minha mão, reclamando nossa
aminimizade distorcida e indireta e mentiu por omissão. Isso
me irrita. Quero que ela confie em mim, confie em mim que,
em vez de peru e recheio em uma reunião familiar, ela vai
comer bife de Salisbury e gelatina nojenta com a mãe. Que,
em vez de ficarem no sofá e reclamar de barriga cheia, elas
vão assistir A Copa do Peru de uma cama estreita de hospital
até que Willa veja sua mãe adormecer.
Eu sei como isso funciona porque a mãe do meu pai teve
câncer nos últimos anos de sua vida. Passei muito tempo
com ela, desde que ainda era muito novo para a escola,
quando papai a acomodou em casa e cuidou dela. Eu me
aconcheguei no colo de Nana, li meus livros infantis
favoritos e a ouvi me contar sobre meu pai quando ele era
pequeno. A cada almoço, Nana suspirava de alegria por não
estar mais comendo aquele lixo do hospital, mas sim as
deliciosas refeições de Elin.
Estou prestes a fazer algo, mesmo que não saiba
exatamente o quê, para sacudir Willa desse padrão duplo e
de sua mentalidade irritante. Antes que eu possa fazer algo
atipicamente impulsivo, a presença de Aiden – não pela
primeira vez – bagunça as coisas e me interrompe.
Batendo sua pasta na mesa, Aiden se vira para a classe e
sorri, um brilho sinistro surgindo através de seus óculos
nerd.
— Teste surpresa!
15

EU NÃO MENTI PARA RYDER, mas não contei exatamente a


verdade também. É que falar sobre sua mãe com câncer é o
tópico de conversa mais desconfortável que posso imaginar
e, como já admiti, diálogos profundos não são a minha praia.
Então, eu disse a ele, em geral, onde “moramos” por
enquanto e que passaria o Dia do Ação de Graças com minha
mãe. Não era mentira. A maldita ala de oncologia do RRMC
não fica longe do campus. No Dia de Ação de Graças, estarei
aconchegada na bunda ossuda de Joy Sutter, tentando não
pensar como se este fosse o último e como sou grata por
ainda ter uma mãe para abraçar.
Desde a conversa inacabada sobre futebol, concluí que a
relação secreta de Ryder com o esporte está ligada à perda
de audição. Diante disso, não tive vontade de esfregar minha
vida futebolística na cara dele. Não mencionei que estaria
treinando bastante e me preparando mentalmente para o
jogo provavelmente mais importante da minha carreira até
agora, as quartas de final da NCAA5. Eu não disse a ele que
estava com o estômago embrulhado, que sinto que não estou
carregando apenas meu próprio sucesso e futuro em meus
ombros, mas de todos os outros em minha equipe. Não
contei a ele que fico petrificada, toda vez que vou para um
jogo fora de casa, com a possibilidade de que voltarei sem
mãe. Eu não disse a ele que meu medo é um tsunami
crescendo e crescendo, e não tenho certeza se vou ficar
intacta quando ele finalmente bater em meu coração.
5
National Collegiate Athletic Association (Associação Nacional de Ligas Universitárias – tradução livre).
Eu não disse a ele nada disso. Mas eu queria.
— Sutter! — A treinadora correu e abaixou a voz, me
olhando. O olhar de que porra mordeu você. — Fale comigo.
Encontro seus olhos e engulo o nó na garganta, revirando
os ombros para trás e colocando o que espero seja um sorriso
determinado no rosto.
— Sinto muito, treinadora. Não vai acontecer de novo.
Ela faz uma careta.
— Minha porta está aberta, Sutter, e francamente não
posso permitir que você não tire vantagem disso, se isso vai
comprometer seu jogo–
— Não vai. — Eu me aproximo com as mãos para cima.
É um apelo, uma garantia. — Eu prometo, estou bem.
Rooney está a alguns metros de distância, os braços
cruzados sobre o peito. Quando encontro seu olhar, ela
levanta dois dedos, apontando-os de seu rosto para o meu.
Estou te observando.
Sim, tenho evitado Rooney, porque ela é parceira no
crime, e quando a merda está difícil, ela me faz encarar e
sentir isso, o que eu simplesmente não quero. O resto da
equipe, gosto muito delas. Nós nos divertimos, mas não sou
próxima de nenhuma delas, não tão próxima quanto dois
quilômetros de largura e centímetros de profundidade de
amizade. Rooney é basicamente a minha única pessoa, e eu
sei que quando despejar tudo isso nela, vai ser extenso e feio.
A treinadora bate nas minhas costas, tirando-me dos
meus pensamentos.
— Venha, então! — Sua voz ressoa no campo de treino.
— Outra meia hora de treino de posse de bola, então
terminamos aqui. Amanhã é o grande dia. Quero que todas
durmam bem, estejam focadas e com energia, entenderam?
Um coro retumbante de Sim, Treinadora ecoa pelo campo.
Mesmo estando no início do outono, é pantanoso na Flórida.
O suor escorre pelo meu rosto e estou morrendo de vontade
de tomar um banho frio e uma longa noite de sono.
Outra meia hora de pequenos espaços lotados de
jogadoras, forçando meu primeiro toque imediato, minha
consciência constante da paisagem mutante entre a bola,
meu time e meu oponente, conforme eu passo e chuto…
então finalmente terminamos. Encharcadas de suor,
esgotadas, saímos do campo, engolindo Gatorade e
tropeçando no ônibus que nos levará de volta ao hotel.
Suspiro enquanto o ar-condicionado nos cumprimenta
no ônibus. Sentada, pressiono minha testa contra o vidro frio
da janela e deixo meus olhos fecharem. Rooney senta ao meu
lado. Sua gentil cutucada me faz recuar dos pensamentos de
cochilar.
Seus olhos castanhos estão tensos de preocupação
enquanto ela envolve seu braço em volta dos meus ombros,
em seguida, me puxa para ela. Não digo uma palavra
porque, com Rooney, nem sempre preciso. Eu apenas deixo
minha mente vazia e vagar, embalada pelo zumbido de um
ônibus na rodovia.
Assim que voltamos ao hotel, ligo para mamãe. Ela
atende após o segundo toque.
— Willa Rose, há quanto tempo.
Eu posso ter puxado meu temperamento da minha avó,
mas eu puxei minha insolência da minha mãe.
— Droga, mamãe. Só queria fazer um check-in.
Há uma tosse úmida no fundo, o farfalhar do tecido
indicando que ela fez o possível para abafá-lo.
— Eu estou bem, Willa. Você precisa relaxar, querida.
Não vou a lugar nenhum ainda.
Ainda. Lágrimas enchem meus olhos. Quando eu pisco,
eles molham meus cílios e escorrem pelo meu rosto.
— É difícil jogar nas férias. Eu só quero estar em casa com
você. Quero nossa comida chinesa para viagem e uma
maratona de comédia de TV de qualidade duvidosa dos anos
90.
— Eu sei. — Mamãe suspira. — Mas o fato é que a vida
está cheia de mudanças. Você gosta da ideia de fazer isso,
mas, Willa, nos últimos anos que fizemos, estávamos ambas
entediados no meio de As patricinhas de Beverly Hills e
acabamos jogando Words with Friends, que ganhei, a
propósito.
— Teu cu que você ganhou.
Mamãe ri e não termina em uma tosse horrível. Isso me
faz sorrir.
— Willa, no seu primeiro dia de pré-escola, você alisou
minha camisa e gritou quando era hora de eu ir, embora
inúmeras vezes antes disso, eu a tenha deixado com a vovó
Rose ou com suas babás.
— Eu me lembro — eu sussurro.
— No começo, eu não consegui entender. Você sempre
ficava feliz por uma nova amiga vir brincar em nossa casa,
sempre feliz por vovó Rose cuidar de você enquanto eu
estava fora, mas isso... isso era diferente. Porque minha saída
significou que você teve que entrar para aquela sala de aula.
Você teve que encontrar o desconhecido e tentar coisas
novas. Não era tanto eu partindo, mas você indo, que a
incomodava. Foi o que você teve que fazer após o adeus que
te deixou maluca, Willa. Isso sempre a deixou maluca. Sabe
o porquê disso?
Limpo meu nariz, piscando para o teto.
— Não.
— Porque então você tem que enfrentar o desconhecido
assustador e quer algo dele. Você tem que viver de braços
abertos para coisas novas. Você tem que arriscar tentar e
falhar. Você tem que desapegar a bagagem do seu passado,
para ter espaço para dar as boas-vindas ao seu futuro.
Inquietação corre por minhas veias. Isso me faz
estremecer.
— Eu já quero algo do meu futuro, mamãe. Quero jogar
profissionalmente e estar na Seleção Feminina. Quero ganhar
a Copa do Mundo e estar na Seleção Olímpica. Eu quero ver
o mundo e aprender sobre ele. Mas... eu simplesmente não
quero ter que abrir mão do que eu sei ou deixar para trás
alguém que eu amo.
Mamãe tosse novamente.
— Você tem que fazer isso. E quando chegar a hora, você
vai. Você vai se recompor, seguir em frente e viver essa bela
vida.
Estamos falando sobre isso sem falar sobre isso. Eu odeio
quando fazemos isso. Mesmo que as palavras não estejam
sendo ditas, ainda sinto como se facas cravassem cada
abertura em minhas costelas. Parece que minha garganta
está queimada e meu coração está se dissolvendo em meu
peito. Um mundo sem minha mãe não é um mundo em que
eu quero estar. Odeio quando ela me faz pensar sobre isso.
Eu odeio o que sei que ela está prestes a me dizer.
— Prometa-me, Willa Rose.
Eu aceno enquanto uma lágrima desliza pela minha
bochecha.
— Eu prometo.

— Você roncou de novo. — Rooney anda pelo quarto do


hotel de topless. Ela não tem vergonha alguma de ficar
pelada tanto que literalmente andaria pelo mundo nua se
isso não a fizesse ser presa. A mulher odeia roupas como eu
odeio conversas de verdade. Isso me assustou no primeiro
ano, mas desde então perdi a sensibilidade e aprendi a não
notar.
Eu bocejo, tentando fazer meus olhos se concentrarem
enquanto eu verifico a hora.
— E? Isso é significativo como? Eu sempre ronco.
— E eu esqueci meus protetores de ouvido.
Eu franzo a testa, porque há uma mensagem no meu
telefone que eu não esperava e porque Rooney dormindo
mal não é o que precisamos no jogo de hoje. Como a
treinadora disse, ela precisa de nós bem descansadas e
prontas para ir.
— Sinto muito, Roo.
Ela acena com a mão, desenterrando um sutiã esportivo
de sua bolsa e finalmente me tirando do meu sofrimento.
Como eu disse, estou acostumada com a sua nudez, mas não
é meu passatempo favorito conversar com minha melhor
amiga enquanto seus faróis acesos indicam exatamente o
quão baixo colocamos a temperatura do ar condicionado na
noite passada.
— Está tudo bem — ela diz. — Eu vou ficar bem. Eu só
preciso de café e não dou a mínima para o que a treinadora
tem a dizer sobre isso.
— Você que sabe, Roo. Eu apoio a sua cafeína, desde que
você se hidrate adequadamente.
— Obrigada. — Rooney cai na cama, em seguida, deita-
se de costas. — Deus, eu sou uma amiga idiota. Aqui estou
eu, reclamando do ronco e da necessidade de café, quando é
você que está com essa merda acontecendo de verdade na
vida. Você não me convidou para o hospital ontem e eu sei
que é porque você está preocupada que seja a sua última...
— Você quer um café do hotel ou devo pedir um
Starbucks? — Eu interrompo.
É por isso que Rooney é famosa. Falar coisas pesadas
como se fosse normal, como ressentimentos são sentidos, não
reprimidos e subsequentemente administrados em
explosões periódicas de palavrões, corridas de vinte
quilômetros e beber uísque.
Rooney suspira.
— Essa porcaria do hotel serve, obrigada. Willa, fale
comigo. Coloque para fora.
Abro uma garrafa de água e despejo metade do conteúdo
na pequena cafeteira do quarto de hotel. Em seguida, coloco
uma cápsula de café na vasilha pequena e fecho-a.
— Eu simplesmente não tenho um bom pressentimento,
Roo. — Limpo minha garganta e engulo um nó de emoção.
— Ela está com pouca energia. Ela não está animada como
estava quando entrou em remissão da última vez. Ela ainda
está doente.
Rooney se senta, enquanto seus olhos encontram os
meus.
— O que isso significa? O que acontece se continuar
doente com câncer?
— Você morre. — Eu limpo meu nariz. — Geralmente é
o que acontece. — Com um suspiro longo e firme, encontro
aquela caixa de ferro em minha psique para a qual ainda
tenho a chave, felizmente. Empurro minhas preocupações
com mamãe, minha dor antecipada, minha ansiedade, tudo
isso, naquele lugar frio e inalcançável. Fecho a porta com
força, giro a chave e enterro-a bem fundo. — Ok, eu não
quero mais falar sobre isso agora. Hoje vou marcar pelo
menos três gols.
Rooney se levanta, conhecendo o procedimento.
— Isso aí.
— Hoje vou elevar o jogo da minha equipe e ser uma líder
em campo.
— Isso mesmo!
Eu travo meus olhos com meu reflexo.
— Hoje, nós vencemos.
Rooney está atrás de mim e coloca as mãos nos meus
ombros.
— Você consegue. Todas nós conseguimos. A menos que
você não saia do meu caminho e me deixe tomar minha
xícara de café de merda, Granger.
Eu dou uma olhada para ela.
— Me chamar de Hermione Granger não é um insulto.
Rooney puxa meu cabelo com carinho.
— Eu sei. Eu não estava tentando te insultar. Eu estava
tentando fazer você sorrir.
Rooney sorri enquanto ela pega sua xícara de café e se
afasta.
— Além do mais. Deixar você com raiva não é mais meu
trabalho. Alguém roubou esse cargo.
Uma carranca puxa minha boca.
— Não é assim conosco.
Rooney bufa uma risada, então toma um gole provisório
de seu café.
— Claro, querida. Continue dizendo isso a si mesmo.
Meu telefone acende novamente, me lembrando de uma
mensagem que recebi há poucos minutos da pessoa a quem
Rooney estava se referindo.
Ryder.
Raio de sol está no Sunshine State. Boa sorte hoje, Willa. Você
vai arrasar.
Essa foi sua primeira mensagem, e foi legal. Eu caminho
até o meu telefone e franzo a testa para a nova. Eu sabia que
ele não suportaria deixar isso com uma nota amigável.
Primeiro, há uma captura de tela de uma imagem do
Google. Uma foto nada lisonjeira de mim, empurrando uma
defensora para contorná-la. Meu rosto parece que estou no
meio de uma merda épica e de um orgasmo de dar cãibras
nos pés. É a foto minha menos lisonjeira que já vi.
Tente não cegar muitas
pessoas com seu esplendor
no campo hoje.
Rosnando, eu desbloqueio meu telefone e digito.

Bom dia para você também, Pé Grande.


Tente não deixar muitos petiscos de Ação de Graças
presos naquele esquilo morto
enrolado em sua boca.

Você gosta da barba. Admita.


Eu sinceramente, profundamente, não gosto.

É diferenciada.
É nojenta.

Estou machucado.

Você precisa ter um coração para machucar, Maromba.

Você sabe que Maromba não é um insulto, certo?


Você está me dizendo que sou uma gostosura barbada.
Que eu pareço forte pra caralho, prestes a explodir
da minha flanela viril.

Vou me concentrar agora em aniquilar


algumas mulheres em um campo de futebol. Então eu vou
voltar para casa e raspar
a monstruosidade para fora do seu rosto.

Ponha a mão nos meus pelos faciais, mulher,


e eu juro que você não vai conseguir sentar
por dias.

Meus olhos se arregalam, minhas sobrancelhas sobem e


eu deixo cair meu telefone. Há uma batida entre minhas
pernas. Meus mamilos são picos tensos espetando minha
blusa.
Rooney sorri afetadamente por causa do café.
— Falando com Ryder?
— Hm? — Finalmente, eu olho em sua direção, cruzando
os braços sobre meus seios latejantes. — O quê? Não. Sim.
Estou bem. Estou indo tomar um banho.
Ela ainda está rindo quando entro na água gelada.
16

AGORA ME LEMBRO POR QUE odeio feriados. Bem, pelo menos


desde que minha audição foi para o inferno.
Caos puro.
Para evitar ainda mais sofrimento para meus ouvidos, os
aparelhos auditivos estão fora do ar, obviamente, mas isso
significa que frequentemente sou pego de surpresa por
corpos e movimentos iminentes. Ontem não foi terrível. A
refeição foi bastante moderada e então partimos para uma
longa caminhada que, embora pacífica e restauradora para
minha sanidade depois de todo aquele barulho, só me fez
sentir ainda mais falta de nossa antiga casa.
Mas hoje, estamos todos na sala de estar, no sofá
incrivelmente grande que minha mãe encomendou de
alguma empresa para famílias com muitos filhos. Tem
capacidade para vinte pessoas, facilmente. O que é bom,
visto que todos os seis dos meus irmãos, três de seus entes
queridos, os dois irmãos do meu pai, suas esposas e seus
filhos estão na sala de estar, se preparando para assistir ao
jogo de Willa.
Quer dizer, eles não pensam assim. Para eles, é apenas a
seleção feminina da UCLA nas quartas de final. Somos uma
grande família do futebol e, embora nem todos aqui tenham
ido para a UCLA, não é difícil apoiar o time feminino, que
orgulha nosso estado.
Sento-me na ponta do sofá mais próxima da gigantesca
TV de tela plana montada sobre a lareira, de costas para
todos os outros. Minha linguagem corporal diz o que minha
voz não diz: não fale comigo, não me toque, deixe-me assistir ao
jogo.
Ren está viajando para uma série de jogos – ele joga mais
tarde hoje à noite, na verdade – mas é como se ele soubesse
que eu só quero ficar sozinho agora, o que significa, é claro,
é hora dele me incomodar.
Meu telefone vibra com sua mensagem. Sua dama parece
pronta para arrebentar.
Eu me permito a indulgência de um gemido de boca
fechada. Tenho feito mais disso desde que conheci Willa.
Ela não é minha dama, eu digito de volta.
Mas é ela, não é? Aquela com a trança? A atacante que marca
todos os gols? Hm. Meio que soa como eu. Impressionante atacante.
Máquina de fazer gols. Se ela não é nada para você, talvez eu deva
convidá-la para sair.
Eu digito de volta: Ela não é nada para mim. Ela é MINHA
amiga e ela está fora dos limites.
Eu posso ver seu sorriso maldito irritante. Ele está
deitado, recebendo massagem, gelo e fita adesiva antes de
seu jogo, sorrindo com aquele sorriso de sabe-tudo. Estamos
muito velhos para fazer reivindicações como essa. Saia com ela ou
ela estará disponível.
Eu chego muito perto de esmagar meu telefone na minha
mão, mas me contento em colocá-lo no bolso e ignorar as
provocações de Ren. Além de Willa, ele sabe melhor como
me irritar.
Willa e sua equipe se dispersam de seu amontoado, e eu
vejo seu corpo compacto cruzar o campo para o círculo
central. Posso sentir seus nervos daqui, ou talvez
simplesmente me lembre de como é. Como seu estômago se
contrai, o leve zumbido em seus membros quando você os
sacode e a adrenalina chamando seu corpo. O zumbido nos
ouvidos, as luzes cegantes do estádio.
O apito soa e Willa gira, passando com eficiência para sua
defensora. Então, ela sai pelo campo e encontra seu lugar na
frente.
Meus sentidos estão focados enquanto eu rastreio Willa
ao longo do primeiro tempo. O estado da Flórida está em
cima dela, mas isso não significa muito para Willa. Mesmo
com duas pessoas sobre ela, seu corpo encontra aquele
pedaço de espaço entre os pés das quatro defensoras e enfia
a agulha. Toque interno, tesoura – um truque que, como
defensor, sempre tentei antecipar, muitas vezes consegui e
outras vezes fui derrotado. Seu espírito de Maradona é
rápido como um relâmpago, um pé rápido na bola se
transferindo para o outro enquanto ela gira, rolando com ela
e aproveitando o ímpeto do oponente.
Willa é a estrela, mas ela traz suas companheiras de
equipe para sua estratosfera. Seus toques são perfeitos, a bola
passando de uma jogadora para outra, bolas longas enviadas
para o espaço que é preenchido com fluidez pelo ataque. Elas
são boas e Willa é excelente.
Meu telefone vibra. Porra, mano. De verdade, se você não for
atrás dela depois disso, eu irei.
Eu puxo a câmera do meu telefone, olho para a tela e viro
o dedo do meio. Assim que clico em enviar para Ren, uma
foto dele chega. Ele está vesgo com a língua de fora.
Ren está cheio de merda. Ele não está perseguindo Willa.
Ele mal consegue convidar uma mulher com quem está
super confortável, muito menos uma virtual desconhecida.
Ren é o rei de enfiar o pé na boca e amar sem ser
correspondido. O que é hilário, porque aonde quer que ele
vá, as mulheres tropeçam nele. Ele simplesmente não sabe o
que fazer. Eu me ofereceria para ajudá-lo com seu jogo, mas
– caso afirmativo – ele me irrita demais para que eu seja tão
legal.
Você foi avisado. Reivindique-a, ou alguém fará isso, ele
manda uma mensagem. E lembre-se, eu sou o mais bonito
então...
Antes que eu possa ameaçar com violência meu irmão,
uma mão gentil no meu ombro me assusta e me faz olhar
para cima. Meus olhos caem para a boca da mamãe.
— Este assento está ocupado? — ela pergunta.
Eu fico olhando para o pedaço de almofada que minha
postura de pernas largas e corpo largo deixaram e tento
deslizar por cima. Assentindo, dou um tapinha no sofá.
Mamãe sorri para mim enquanto se senta e coloca a mão
nas minhas costas.
— Eu sinto sua falta, Ryder. Você não volta para casa
como fazia no ano passado.
Abro meu telefone e escrevo: Sinto sua falta também. Este
semestre foi inesperadamente agitado. Eu empurro minha cabeça
em direção a Aiden, que está tateando furtivamente Freya
que me faz quase vomitar na minha boca. Seu genro favorito
tornou minha vida um inferno.
Mamãe ri baixinho, dando tapinhas nas minhas costas
mais uma vez, em seguida, pegando minha mão na dela.
— Isso é realmente tudo?
Eu olho da TV para a mamãe, porque estou tentando não
perder um momento do jogo, mas também não quero ser
rude com minha mãe. Eu encolho os ombros e murmuro, sim.
Os olhos da mamãe se voltam para a TV e assiste comigo
por um minuto, antes que ela dê um tapinha no meu braço
para que eu leia seus lábios.
— Ela é muito boa, aquela que está na frente. Muito...
geniosa.
Bem quando eu olho para trás, a câmera aumenta o zoom,
pegando Willa lutando pela posse perto do gol. Willa faz um
drible, depois gira, saltando sobre uma defensora. Um toque
final, antes de ela acertar o canto mais distante e marcar.
Todos nós nos levantamos, assobiando e batendo palmas.
Willa joga as mãos para trás, o peito para fora,
glorificando-se no momento em que suas companheiras de
equipe saltam sobre ela, em seguida, rapidamente se
dispersam, quatro delas se dobrando no meio do caminho,
travando os braços, para formar uma superfície plana.
Rooney coloca a mão na orelha e com a outra faz alguns
gestos imitando um DJ. Willa se solta e remexe um pouco os
quadris que imediatamente apertam as coisas sob o meu
zíper. Em seguida, ela se ajoelha, se apoia no ombro e faz um
movimento de breakdance.
Todos na sala riem, exceto mamãe. Os suecos detestam
exibidos, qualquer forma de arrogância ou orgulho, na
verdade. Ela inclina a cabeça como se estivesse tentando
entender o que poderia motivar um humano a se comportar
como Willa.
— Escolha interessante de celebração — diz a mãe.
Minha risada é ofegante, direto pelo nariz. Pegando
minha mão, mamãe se levanta para segurar minha bochecha.
— Bem, você pode não estar tanto em casa, mas
certamente está sorrindo mais. — Seu foco muda para a TV,
depois de volta para mim. — O que quer que esteja
mantendo você mais feliz é uma coisa boa aos meus olhos.
Isso imediatamente levanta minha suspeita. É quase
como se mamãe soubesse que estou conectado à Willa.
Enquanto mamãe sai, procuro Aiden na sala. Ele é o único
que investiu em mim e em Willa. Se ele está tagarelando com
mamãe sobre ela, exagerando a natureza do nosso
relacionamento, talvez eu finalmente tenha que bater nele. Já
demorou muito.
Nossos olhos se encontram. Os dele se alargam. Eles
dançam até a mamãe, que ainda tem um sorriso tímido no
rosto quando ela sai da sala, então eles encontram o meu
mais uma vez. Lentamente, Aiden se desvencilha de Freya
no sofá e começa a se afastar.
Eu olho para a TV. Os segundos finais diminuem para o
intervalo, então não vou perder nada. Hora perfeita para
esmurrá-lo. Aiden parece perceber isso e sai correndo da
sala. Dou-lhe um segundo antes de saltar no sofá,
perseguindo-o. Mas não faz diferença. O pé no meu saco
finalmente vai receber o que merece.

— Que tal isso, se ganharmos o campeonato, poderei


raspar sua barba.
Willa cutuca meu braço. Desde a caminhada, tenho que
me obrigar a contar até três antes de reconhecê-la quando ela
fala comigo. É preciso certo prepapro mental para olhar para
ela sem trair aquele nó complexo de sentimentos que aperta
meu peito. Também tem o benefício adicional de irritá-la.
— Eu sei que você está me ouvindo, Lenhador.
Finalmente, eu viro em sua direção. Inclinando minha
cabeça, finjo pensar sobre isso e, em seguida, murmuro, Não.
— Por favooooor — ela lamenta.
Aiden olha para ela. Ele lançou outro teste para a classe.
Nós dois já terminamos, mas nem todos terminaram.
Eu desbloqueio meu telefone e digito, Você sabe que dizer
que te agradaria me ver sem barba é todo o incentivo de que preciso
para fazer essa coisa crescer indefinidamente, certo?
Willa revira os olhos e digita de volta, Nada sobre olhar
para você me agrada. Eu só quero parar de ter pesadelos com o
Abominável Homem das Neves e Vikings enlouquecidos e de boca
fechada.
Andou sonhando comigo, não é?
As bochechas de Willa ficam vermelhas enquanto ela lê.
Limpando a garganta, ela se endireita na cadeira e digita,
Sim. Eles são o meu material anti-spank. Quando vejo um homem
tão gostoso que só quero pular nele, penso naquele rabo de animal
nodoso em seu rosto, e minha libido murcha, sem mais nem menos.
Eu estreito meus olhos para ela, então digito: Quem são
esses homens gostosos que você está quase pulando?
Ela sorri, preguiçosamente enrola uma mecha de cabelo
em volta do dedo e não responde.
Willa.
Ignorando-me completamente, ela escreve: Precisamos
revisar nossos relatórios individuais sobre nossa caminhada de
casal feliz antes de entregá-los ao Mac. Eu não tenho muito tempo
para ir e voltar, então podemos nos encontrar em sua casa e repassá-
los ao mesmo tempo?
Eu aperto a ponta do meu nariz, então digito, Tudo bem.
Esta noite ou não até o fim de semana, que é o seu jogo, então... hoje
à noite.
Perfeito. Ah, um aviso, a treinadora prometeu nos fazer desejar
estarmos mortas no treino hoje, então estarei irritada e faminta. Eu
gostaria de enviar um pedido formal para as famosas almôndegas
do sueco mal-humorado.
Não estou de mau-humor, digito. Você simplesmente não está
respondendo à minha pergunta.
Aiden recolhe os testes e começa a discutir a tarefa de
leitura que eu já fiz. Willa finge profunda concentração no
que ele está dizendo, antes de finalmente se virar para mim
quando Aiden termina. Segurando meus olhos, ela varre
seus livros em sua bolsa e fecha o zíper. Quando ela se
levanta, vejo toda a sua roupa pela primeira vez e engulo em
seco.
Jeans escuro abraçam suas pernas musculosas,
acomodando baixo em seus quadris. Uma lasca de pele
bronzeada aparece por baixo de um top apertado com flores
minúsculas em todas as cores que me fazem pensar em Willa
– dourado, castanho-avermelhado, carmesim, caramelo. Seu
cardigã é branco cremoso e escorrega de seu ombro
tonificado. Ela está puxando aquela merda de provocação
sexual novamente. Eu faço uma carranca porque funcionou.
Vou ter que sentar nesta mesa por alguns minutos depois
que ela sair para esfriar as coisas.
Sorrindo, ela sobe a bolsa em seu ombro.
— Tchau, Homem da Montanha. Tenho que correr.
Eu fico olhando para ela e tenho que morder minha
bochecha para não gemer porque Willa tem uma bunda que
fica espetacular naqueles jeans. Voltando para minha mesa,
eu esfrego meu rosto.
Depois de um minuto muito importante em que visualizo
a coisa mais revoltante em que posso pensar – e com seis
irmãos inclinados a brincadeiras e vingativos, tenho muito
material –, fico de pé sem me envergonhar, então vou
embora.
Não sei dizer por que atravesso o quadrilátero, quando
normalmente vou direto para casa almoçar depois disso.
Não sei dizer por que caminho até o café do campus que
oferece smoothies, café decente e saladas frescas, o lugar
onde sei que Willa almoça neste dia porque logo depois ela
tem Literatura Feminista e não há tempo para que ela vá para
casa e cozinhe, e ela odeia sanduíches encharcados – todos
ingredientes para almoços embalados, na verdade – com a
força de mil sóis escaldantes...
Não que eu me lembre dela me contando tudo isso.
Não posso dizer por que entrei na fila quando vejo Willa
quatro pessoas à minha frente, mordendo aqueles lábios
carnudos tentadores enquanto lê o menu.
Bem, eu posso. Mas se o fizesse, primeiro teria que
reconhecer a verdade sobre o que estou enfrentando. Que
desde a caminhada, manter Willa na zona do inimigo é mais
difícil do que antes. Que meus sentimentos por ela se
tornaram grandes, assustadores e sérios. Que meu coração
agora dá um salto mortal torto e enervante toda vez que olho
para Willa.
Estou olhando para ela agora. Olhando honestamente.
Sonhando acordado sobre correr meus dedos por seu cabelo,
um emaranhado de ondas e cachos, rodopios marrom
chocolate e caramelo e fitas de framboesa, que pegam o sol
do meio-dia. Assistir a um cara alto, de cabelos escuros e
olhos azuis que não é feio se aproximar dela e passar um
braço em volta de seus ombros.
Meu coração cai para o meu estômago. É estúpido da
minha parte ter assumido que Willa não estava interessada
em ninguém. Mas tudo o que vi é que ela nunca dá uma
segunda olhada para nenhum cara que a observa. Ela não é
louca por garotos, ela nunca sai em encontros, e dadas suas
muitas diatribes anti-masculinas que ela tece em nossas
noites juntos trabalhando no projeto, eu presumi que Willa
mais ou menos verdadeiramente odiava os homens, exceto
eu basicamente, e talvez Tucker e Becks que parecem ter
subido no conceito dela durante nossas noites de projeto em
minha casa.
Esse cara parece ser a exceção. Ele sorri para ela e dá uma
cutucada no cabelo dela. Idiota.
Eu não posso te dizer por que eu faço isso. Por que eu os
observo quando meu coração corrói no ácido do meu ciúme.
Mas não consigo desviar o olhar.
17

— WILLA SUTTER. Olhe para você.


Se sua voz irritante não fosse inesquecível, eu o teria
reconhecido por seu movimento idiota – me dando uma
bronca. Saindo do aperto de seu braço em volta do meu
ombro, eu olho para Luke Masters, um atleta idiota com
quem estupidamente dormi no ano passado. Ele está no time
de basquete. Temos alguns eventos por ano que reúnem os
programas de atletismo feminino e masculino, e desde a
nossa relação em que ele se livrou antes mesmo de eu
acordar e deixou a camisinha no chão, tolerava vê-lo nesses
eventos e nada mais.
Até o verão passado, quando ele e Rooney dormiram
juntos. Rooney não tinha ideia da nossa história, já que eu
sou eu e nunca contei a ela que Luke e eu ficamos juntos. É
estranho, mas essa não é a pior parte. Depois de fazer o
mesmo truque com Rooney, ele disse a todos – em suas
palavras – a aberração entre os lençóis que ela é. Agora, em vez
de tolerá-lo, eu realmente odeio ele.
— Luke, o duque rude. — Eu estendo a mão e belisco seu
mamilo, fazendo-o gritar e dar um passo para trás. — O que
o traz aqui, poluindo a atmosfera com a sua existência?
Ele esfrega o mamilo e me examina.
— Só estou dizendo oi para minha companheira estrela
favorita.
— Ah. — Luke é... vaidoso. Ele gosta de ser visto com as
pessoas certas, para manter a reputação de ter os melhores
contatos, esfregando os ombros com pessoas que ele acha
que o fazem parecer bem.
Fiz um jogo incrível nas semifinais. Marquei três gols e
fiz uma assistência alucinante para Rooney. Eu estava
pegando fogo. Estive no noticiário e dei uma entrevista que
está circulando. Tive uma boa publicidade durante as
eliminatórias, e este último jogo levou para um nível acima.
Como muitos homens antes dele, Luke está aqui para
aproveitar a onda de sangue, suor e lágrimas de uma mulher,
na esperança de poder aproveitar o impulso dela.
— Como foi seu último jogo? — Eu pergunto, dando um
passo à frente quando a pessoa na minha frente também se
aproxima e faz seu pedido. — Ohhh, espere, isso mesmo.
Você perdeu. Novamente.
O rosto de Luke fica amargo.
— Droga, Willa. Você sempre foi tão vadia?
Há um som de arrastamento de algumas pessoas atrás de
mim, mas não olho para trás para ver o que o causou. Eu
tenho um pau para castrar.
— Desde que você contou a todos que quiseram ouvir
sobre minha amiga e sua sexualidade, sim, Luke. Agora–
Um corpo quente pressiona minhas costas, enquanto o
cheiro de uma floresta de pinheiros me envolve. Eu me viro
e tenho que olhar para cima consideravelmente para ver
Ryder. Sua mandíbula está tensa, seus olhos fixos em Luke.
Luke olha de Ryder para mim.
— Quem é esse cara?
Nunca estive nessa situação com Ryder, em que as
pessoas não sabem como ele se comunica. Eu não quero falar
por ele, mas ele claramente não vai falar, também. Os dois
estão travados em um olhar fixo.
— Este é Ryder Bergman, Luke. Ele não ouve bem e não
fala, mas lê os lábios como uma fera. Suponho que ele viu
você me chamar de vadia e decidiu que se você disser isso de
novo, seu rosto vai encontrar o punho de lenhador dele.
A boca de Ryder se contrai como se ele estivesse lutando
contra um sorriso. Ele está usando minha flanela favorita, a
azul e verde que faz seus olhos brilharem. Eu tinha que jogar
a parte lenhador.
Os olhos de Luke finalmente viajam Ryder criticamente.
— Surdo e mudo. Parece o único tipo de pessoa que seria
sua amiga, Willa. Ele não consegue ouvir todas as merdas
estúpidas que você diz e não pode te dizer quão vadia você é
por dizer isso.
Ryder começa a passar por mim, mas consigo entrar em
seu caminho, girando e encarando-o.
— Olhe para mim, Ryder.
A mandíbula de Ryder aperta, a raiva escurecendo seus
olhos.
— Ryder Bergman. Olha. Para. Mim.
Finalmente, ele baixa os olhos. Seu peito ainda arfa, seu
corpo inteiro pronto para saltar e bater em Luke. E seria uma
surra linda. Luke é musculoso, mas esguio em comparação
com o lenhador. Ele não tem nada na construção de Ryder.
Nossos olhos se encontram até que seu olhar mergulha
na minha boca. Eu lentamente entrelaço minha mão com a
dele.
— Não perca seu tempo com alguém assim, ok?
Especialmente não por mim.
De costas para Luke, eu aperto a mão de Ryder. Seus
olhos dançam entre os meus. Seu aperto áspero e calejado
aperta de volta também.
Eu sorrio enquanto o alívio afrouxa meus ombros tensos.
— Vamos, Maromba. O almoço é por minha conta.

Eu nunca soube que tinha um kink por sanduíche, mas


parece que tenho. Ryder come um sanduíche submarino
italiano enorme, as mangas arregaçadas nos antebraços,
enquanto o sol de dezembro incide sobre ele. É totalmente
pornográfico. Eu posso ver cada tendão e músculo
flexionando sob aquela poeira fina de cabelo loiro em seus
braços. Seus dedos são elegantemente longos, mas ásperos
nas juntas, e ele está faltando um pouco na ponta do dedo
indicador esquerdo. Como eu nunca percebi isso? Mesmo
depois do nosso questionário na cachoeira, como ainda há
tantas coisas que eu ainda não sei sobre Ryder Bergman?
Ok, panela, e o que caralhos a chaleira sabe sobre você?
Merda. Essas são metáforas avançadas, mesmo para
mim. Meu astuto subconsciente está cem por cento certo. Eu
retenho muitas coisas de Ryder na maior parte do tempo.
Exceto o grande esforço que faço para queimá-lo e prendê-
lo, eu o trato como qualquer outro cara que conheço. Eu o
mantenho à distância, mantendo-o longe de qualquer coisa
que tenha a ver com meu coração. Bem, na maioria das vezes.
Houve aquele pequeno deslize na cachoeira. Eu poderia tê-
lo deixado um pouco mais perto então.
Eu o vejo lamber a maionese do polegar e me sinto sorrir.
Seus cílios se espalham sobre as maçãs do rosto e, apesar do
volume crescente da barba, ele pelo menos a penteia agora,
revelando um leve indício de suas maçãs do rosto. Quando
ele se inclina para pegar a água, vejo de relance sua camisa
de flanela, abrindo dois botões sensuais. Posso ver a sombra
de seus peitorais, um leve brilho de pelo. Minha mente
vagueia, imaginando se eu desabotoasse sua camisa, a
empurrasse de seus ombros e empurrasse Ryder até que ele
deitasse de costas. Eu montaria em sua cintura e correria
minhas mãos pela pele quente e tensa de seu estômago.
Um ciclista passa zunindo e me tira da minha fantasia
suja. Meus punhos estão cerrados, meus mamilos raspando
contra o material fino do meu sutiã. Estou dolorosamente
ciente de cada centímetro do corpo de Ryder, do quanto
penso sobre sexo quando estou com ele. Provavelmente é
apenas toda essa irritação reprimida, como energia estática
que se partiu e faiscou entre nós por tanto tempo que precisa
de algum lugar para ir, algo para aterrá-la. Nós concordamos
tacitamente em não nos matarmos, então que outra atividade
catártica isso nos resta? O que pode exorcizar essa energia
infernal pulsando entre nós?
Sexo é a única resposta.
Se ele sabe que estou olhando para ele, Ryder não diz
nada. Ele tem estado quieto, até para ele, desde que pedimos
nossa comida e nos sentamos do lado de fora. Ele colocou a
mão nas minhas costas quando saímos e segurou a porta
para mim. Antes que a porta se fechasse atrás de nós, ele deu
a Luke um olhar mortal que fez meus joelhos tremerem um
pouco.
Largando o sanduíche, Ryder tira a sujeira das mãos e
pega o telefone. O meu apita segundos depois.
Quem é aquele idiota?
Eu desbloqueio meu telefone e digito, Uma velha conquista
infeliz.
A mão de Ryder aperta seu telefone enquanto ele lê
minha mensagem. Sua mandíbula aperta. Ele engole como
se tivesse provado algo intragável, e o calor borbulha dentro
de mim. Ryder está com ciúmes?
Interessante.
Eu abro meu telefone novamente e digito, eu tenho várias
assim.
Ryder lê a mensagem. Seus dedos ficam brancos quando
ele olha para mim e segura meus olhos por um longo minuto.
Quando ele olha de volta para seu telefone e digita, meu
estômago dá um nó de antecipação.
Você é uma péssima mentirosa, raio de sol.
Eu mordo meu lábio, tentando esconder meu sorriso. Ok,
então talvez eu não tenha tido tantas, mas as que tive foram
infelizes.
Por que infeliz? ele digita.
Eu respondo Ryder reflexivamente. Porque eles foram
monótonos, sabe.
Minhas orelhas queimam. Um rubor aquece minhas
bochechas. Por que diabos eu acabei de dizer isso a ele?
Seu corpo fica imóvel enquanto ele lê. A mão vazia de
Ryder bate todos os cinco dedos ao longo de sua coxa
enquanto ele responde. Então eles eram imbecis. Imbecis que não
têm ideia do que perderam.
Um chumaço inexplicável de emoção aperta minha
garganta. Eu limpo isso. Então, por algum motivo idiota,
digito e envio: Aparentemente, sou difícil de agradar.
Jesus Cristo. Aparentemente, também estou desprovida
de um filtro. Meu rubor escurece dez vezes.
A testa de Ryder franze. Uma carranca aperta seu rosto.
Besteira.
Um bufo indecoroso escapa quando eu respondo. Não. É
a versão oficial do seu gênero quando se trata de momentos sexy
com Willa Sutter.
Ryder balança a cabeça, seus polegares voando. Caras
dizem essas merdas quando não sabem porra nenhuma sobre
agradar uma mulher. Basta um pouco de tempo e vontade de
aprender. Acredite em mim, Willa, não tem nada a ver com você.
Eu fungo ao ler sua mensagem. Meu coração Grinch
cresce duas vezes mais. Mas meu sorriso malévolo também
aparece. Se meu cabelo pudesse se enrolar em um deleite
perverso como aquele monstro destruidor de Natal, o faria.
Acho que preciso de provas, escrevo. Eu sou uma cética de coração.
A cabeça de Ryder se levanta, seus olhos se estreitando
para mim. Baixando o olhar, ele envia uma breve mensagem.
É esta a sua maneira retrógrada de me seduzir, raio de sol?
Homem arrogante da montanha. Eu quero dizer sim, mas
agora ele apenas me fez parecer uma vadia faminta por sexo,
implorando para ele sacar aquela madeira de lenhador e me
bloquear na próxima semana.
talvez porque você esteja agindo como uma vadia faminta por
sexo, implorando a ele para sacar aquela madeira de lenhador e
bloquear você na próxima semana.
— Cale a boca, pepequinha. — Certamente é minha
pepequinha conversando. Ela se sente vazia e torturada toda
vez que está perto de Ryder. Não serei conduzida por minha
vagina personificada.
Eu abro meu telefone. Por favor, eu digito. Ouvi dizer que
os lenhadores são notoriamente desajeitados quando estão fora da
floresta e no mato.
Ryder lê minha mensagem e revira os olhos. Ele tem a
audácia de enfiar o resto do sanduíche na boca e mastigar,
como um lenhador hipersexual faminto. Minhas coxas
esfregam instintivamente. O vento aumenta e meus mamilos
já apertados beliscam, cutucando minha camisa. Implacáveis
por camadas de sutiã e blusa, eles se tornam gritantemente
óbvios. Ryder levanta os olhos de seu sanduíche e me dá
uma olhada calculista. Seu olhar se fixa no meu peito, mas
ele se recupera rapidamente. Alcançando sua bolsa
transversal, ele puxa um moletom da UCLA e joga em mim.
Avidamente, eu puxo sobre minha cabeça e bufo o
delicioso perfume perene. Eu posso sentir o frizz que seu
capuz causa no meu cabelo e não dou a mínima.
— Obrigada, Ry.
Ele acena com a cabeça, seus olhos fixos nos meus. Seu
olhar dura mais do que o normal.
— Tudo certo? — Eu pergunto.
Ele finalmente pisca, então pega seu telefone e digita em
seu jeito rápido. Estou me perguntando se, depois de usar esse
moletom, vou ser amaldiçoado com o cabelo tão frisado quanto o
seu.
Eu me inclino sobre nossa comida e dou um soco em seu
braço. Quando me sento, faço questão de enfiar os dedos no
meu cabelo maluco e só deixá-lo mais louco.
O rosto de Ryder se quebra em um daqueles raros
sorrisos largos, e meu coração pula uma batida. Ele levanta
a mão na frente de seu rosto, gira os dedos até que eles
fiquem presos um no outro, então os abre como se liberando
uma explosão de magia. É sinal de algo que não conheço.
Um arrepio sobe pela minha espinha, mas não é por
causa da brisa girando na grama, fazendo as folhas
dançarem entre nós. O vento sussurra pelo meu cabelo e cola
a camisa de Ryder em seu corpo. O tempo é suspenso.
— O que isso quer dizer? — Eu pergunto.
Amassando o papel vazio de seu sanduíche e arrumando
nossa bagunça, Ryder desliza sua bolsa em seu ombro e se
levanta. Seus dedos bagunçam meu cabelo enquanto ele sorri
para mim. Então ele se afasta, deixando-me em uma névoa
de perguntas sem resposta e ar com cheiro de cedro.
Maldito lenhador idiota.
— Beckett Beckerson, tire suas mãos nojentas da carne do
taco! — Tucker dá um tapa nos dedos de Becks, então o
empurra, quase fazendo Becks se chocar contra mim quando
fecho a porta da frente.
— Desculpe, Willa — Becks murmura, me endireitando.
— Wilhelmina! — Tucker grita.
Eu faça um toque para ele.
— Eu pedi almôndegas suecas.
Tucker encolhe os ombros.
— Ryder cehgou em casa faz quinze minutos. Ele me
pediu para fazer um sólido para ele e preparar carne de taco.
Huh. Isso é estranho. Odeio admitir, mas não adianta
negar que memorizei a agenda de Ryder. Ele deveria ter
chegado em casa horas atrás.
Becks vai até à geladeira, tirando os ingredientes do taco.
— Você gosta de tacos, certo? — ele pergunta de dentro
da geladeira.
Eu largo minha bolsa na mesa e aceno minha mão, já
fazendo meu caminho em direção ao quarto de Ryder.
— Adoro. Obrigada rapazes.
— Legal. — Tuck acena com a cabeça, balançando ao
ritmo de uma música que está tocando baixinho em seu
telefone.
Bati duas vezes na porta de Ryder e entrei. Ele está em
seu laptop, olhando para algo com fones de ouvido. Ele
parece tão intensamente focado que estou extremamente
curiosa para saber o que ele está assistindo.
Quando eu chego mais perto, ele dá uma segunda
olhada, arregalando os olhos enquanto ele arranca os fones
de ouvido, fecha seu laptop e praticamente se senta nele.
Inclinando minha cabeça para o lado, cruzo os braços
sobre o peito.
— Tudo ok, Maromba?
Ele balança a cabeça e engole ruidosamente. Afastando-
se da mesa, ele agarra meu cotovelo e me conduz para fora
de seu quarto para a área de estar principal. Uma mão me
guiando, ele coloca a outra em seu esterno. Dedos abertos
com o do meio mais alto do que os outros, ele bate no peito.
Como você está? ele sinaliza. E aí?
Eu o notei usando um pouco mais de linguagem de sinais
nas últimas semanas. Ainda conversamos bastante com
nossas mensagens de texto, mas parece que às vezes ele só
quer olhar para mim e ter uma conversa.
— Eu arrasei na entrega do meu artigo final de Literatura
Feminista, é isso. — Ele libera meu cotovelo agora que
estamos longe do que quer que esteja naquele laptop que ele
não quer que eu veja.
Ele sorri e sinaliza, bom!
Becks está organizando pequenas tigelas com todas as
coberturas, Tucker aquecendo tortilhas. Eu olho da cozinha
para Ryder.
— Colocando seus lacaios para trabalhar, hein? O que
aconteceu?
O rosto de Ryder desliza ligeiramente. Sinto muito, ele
sinala. Ele hesita, a frustração beliscando seu rosto enquanto
ele pega o telefone do bolso de trás e digita rapidamente,
Esqueci sobre uma consulta médica. Eu cozinho o jantar para eles
todas as noites. Eles me devem. Você adora tacos, certo?
Algo derrete um pouco dentro de mim. Ele tem razão. Eu
não gosto de tacos. Eu amo eles. Eles eram, até suas
almôndegas suecas, minha comida favorita.
— Sim, tipo isso. — Reflexivamente, pego sua mão e
aperto. — Foi tudo ok no médico?
Tento perguntar de uma forma que não seja invasiva,
mas mostre que me importo porque me importo. Não posso
fingir que não estou investindo no bem-estar de Ryder. Ele
gentilmente puxa uma mecha do meu cabelo, então passa
por mim, indo para a cozinha, digitando enquanto vai. Meu
telefone apita.
Apenas alguns testes, porque a ciência ainda não entendeu
como me tornei tão viril e chocantemente lenhador. Nada sério.
— Lenhador. — Eu bufo uma risada, descarrilada da
minha preocupação.
O jantar está servido e eu gosto dos tacos tanto quanto da
saraivada de insultos lançada entre Tucker e Becks e Ryder
por meio de comida catapultada, mensagens em bate-papo
em grupo, mãos em um gesto enfático.
Eu fico olhando para Ryder, sentindo coisas estranhas e
nada inimigas. O que é tão estúpido. Uma estrada inútil para
seguir. Tenho cabelos com frizz e uma boca suja, não sou
uma mulher que ele deseja. Quer dizer, podemos ter, meio
adormecido e meio bêbado, dado uns amassos. Podemos ter
nos beijado porque nossos cérebros falharam. Ficaríamos tão
pertos sob aquela maldita cachoeira até que nos separamos e
tudo parecia estranho e transformado e misteriosamente o
mesmo.
Gigante, humor seco, sarcástico, aficionado por insultos,
lenhador idiota surgiu como meu tipo para o futuro, mas
Ryder Bergman não é nada além de meu amigo. Talvez um
inimigo que eu pudesse odiar, se ele estivesse pronto para
esse tipo de coisa.
— Willa.
Eu pulo, e minha mente está de volta à mesa.
— Huh?
— Quer mais? — Becks estende a tigela de carne de taco
para mim. Eu fico olhando para ele, sentindo meu apetite
diminuir.
— Não. Não, obrigada. Estou bem.
Os olhos de Ryder estão em mim. Seu cabelo está puxado
para trás em um coque masculino para que não entre no taco,
mas ele tem um pouco de molho no canto da boca. Eu agarrei
minha calça jeans quando um impulso me atingiu para me
afastar da mesa e sentar em seu colo. Para beijar aquele
molho dos lábios de Ryder até que nossas bocas queimassem
por um motivo muito diferente, além das pimentas
habanero.
Seus olhos escurecem enquanto seguram os meus e ele
lentamente abaixa a comida.
— Aqui vamos nós. — Tucker deixa cair suas batatas
fritas de tortilha e enxuga as mãos na calça jeans. — Eles
estão fazendo um de seus olhares fixos. Rápido, pegue o
cronômetro.
Becks puxa seu telefone, configurando-o. Ryder e eu já
nos envolvemos em alguns confrontos infantis de olhares
fixos. Becks e Tucker têm feito apostas historicamente tanto
na duração quanto no vencedor. Mas este não é um desses
momentos. Isso é... algo muito diferente, mesmo que eu não
possa dizer exatamente o quê.
Suas íris são imaculadas, de um verde cintilante. É
injusto. Eu fico olhando para suas profundezas, seus tons de
encostas exuberantes, campos de futebol, esmeraldas
deslumbrantes. Meus olhos começam a lacrimejar por
permanecer abertos por tanto tempo. A mandíbula de Ryder
aperta enquanto suas pupilas dilatam. Um sopro de ar o
deixa e, finalmente, ele pisca.
— Woow! — Becks dá um tapa na mesa, em seguida,
coloca a mão, palma para cima, para Tucker. Tucker
resmunga e joga uma nota de cinco dólares nele.
Eu me viro e lanço uma rodela de limão na cabeça de
Becks.
— Eu deveria inspirar uma aposta maior do que isso,
Beckerson. Estou insultada.
Ryder se levanta, recolhendo pratos e empilhando-os. Eu
ajudo a limpar a mesa, em seguida, seco os pratos que Ryder
lava atordoado, olhando para os ladrilhos backsplash. O que
está acontecendo com meu cérebro e corpo? E Ryder sente o
mesmo? Vazio e cheio ao mesmo tempo, como um balão
prestes a estourar, uma bolha que ficou muito pesada. Algo
entre nós parece incompleto e inevitável. Algo está vindo. Eu
simplesmente não consigo descobrir o que é.
18

MEUS OUVIDOS ZUMBEM. Eu fico olhando para o campo,


atordoada. Nós perdemos. Nós perdemos. As pessoas tentam
me consolar. Banalidades estúpidas e garantias vazias.
Pelo menos você é apenas um júnior.
Sempre há o próximo ano.
Que esforço infernal, Sutter.
Você fez tudo que podia.
Nada o torna melhor. Nada amortece a dor aguda da
decepção. Não apenas perdemos, não jogamos nosso jogo.
Nossa defesa desmoronou, a pobre Sam pegou tantos chutes
a gol que acho que ela quebrou seu recorde pessoal de
defesas em um único jogo.
Rooney e eu estávamos em sincronia, como sempre, mas
parecia que todo mundo estava passando dez metros atrás
de mim ou direto para a minha zagueira. Nosso único gol foi
um tiro longo que dei. Rooney voou pela linha lateral e me
acertou com um lindo passe de fora do pé. Cortei com ele no
primeiro toque e agradeci a Deus pela relativa ambidestria
dos meus pés, porque acertei aquele chute com a esquerda e
o observei passar por cima das mãos da goleira, ondulando
na rede.
E então vi Stanford fazer quatro gols no restante do jogo.
Eu vi Sam defendendo aquele gol aberto como uma mulher
enfrentando um pelotão de fuzilamento. E eu estava
indefesa. Eu estava presa lá na frente, inútil, exceto para
tentar de tudo que pudesse para colocar mais além da goleira
de Stanford. Eu mal conseguia pegar a bola e, quando
consegui, elas se triplicavam. Minhas companheiras
atiraram, alguns no alvo, mas nenhum com força ou sutileza
suficiente para passar furtivamente pela goleira.
Esse sentimento de impotência me corrói. Não diminui
depois da conversa de consolo da treinadora. Não enquanto
arrumo meu equipamento e caminho, com a cabeça
inclinada para o ônibus. Não na viagem de quatro horas para
casa. Não quando estou na ligação com minha mãe no
momento em que Rooney e eu tropeçamos para dentro.
— Você fez o seu melhor, Willa Rose. Você deve estar
muito orgulhosa.
Eu fungo enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Meu melhor não foi bom o suficiente.
— O seu melhor é sempre bom o suficiente — diz mamãe.
— O seu melhor nem sempre significa que as coisas saem
como você deseja.
Limpando minhas bochechas, eu expiro trêmula.
— Eu sei. Eu simplesmente não gosto disso.
A risada de mamãe é rouca, mas familiar.
— Bem, pelo menos você pode admitir.
Uma batida de silêncio se estende pelo telefone. Algo ao
fundo emite um bipe e ouço o murmúrio de vozes baixas.
— Posso ir ver você de manhã?
— Willa, você nunca precisa perguntar.
— Ok — eu sussurro. Eu mordo meu lábio, sufocando
mais lágrimas, engolindo minhas palavras. Palavras que
diriam a ela o quanto eu a queria lá, assobiando nas
arquibancadas, sua voz forte gritando e aplaudindo, me
incentivando. O quanto eu gostaria que ela estivesse em
nosso apartamento, para que eu pudesse rastejar em sua
cama e sentir seus braços em volta de mim, para que eu
pudesse sentir seu perfume de baunilha e chorar por toda a
minha decepção.
Mas eu não consigo. Porque ela não estava bem o
suficiente para sair, apesar do ataque que teve com o Dr. B.
Porque não temos mais uma casa desde que o câncer engoliu
o dinheiro ganhado com dificuldade de minha mãe.
— Willa?
Eu sacudo.
— Desculpe, mamãe. Eu me perdi em pensamentos.
— Willa, tome um banho quente, coma algo nutritivo e
vá dormir. Amanhã é um novo dia e em breve você estará
praticando para a próxima temporada, um passo mais perto
de seus sonhos. Seus sonhos ainda estão lá, esperando que
você reivindique. Seu time pode ter perdido esta noite, Willa,
e você pode ficar triste, mas esta noite você brilhou, minha
estrelinha. Você os impressionou. Não se esqueça de para
onde está indo, ok?
Um leve sorriso puxa minha boca.
— Obrigada mãe. Vejo você pela manhã. Eu amo você.
— Boa noite, Willa Rose. Eu também te amo.
Eu apertei o botão Encerrar no meu telefone. Olhando
para ele, vejo as lágrimas pingarem em sua superfície.
Uma batida na porta me sacode. Quem pode ser? Está
tarde. Tipo, muito, muito tarde. Eu me arrasto e olho pelo
olho mágico.
— Puta merda.
Abrindo a porta, dou um passo para trás. Ryder está de
pé no ar frio da noite, seu boné puxado para baixo, usando o
torturante xadrez azul e verde.
— O idiota teve que usar minha flanela favorita —
murmuro.
Ryder inclina a cabeça e sinaliza: O quê?
— Nada. — Eu aceno para ele entrar. Enquanto Ryder
entra, ele se vira e me encara. Eu fecho a porta, em seguida,
olho para ele, antes que meus olhos percorram lentamente
seu corpo. Em uma das mãos está um saco de potes de pasta
de amendoim, na outra, uma garrafa de uísque.
Eu torço meu nariz para lutar contra a picada
ameaçadora de novas lágrimas e coloco meus olhos na palma
da mão. Ouve-se um farfalhar baixo, o tilintar de doces e
bebidas caindo sobre a mesa. Em seguida, braços quentes me
envolvem com força, puxando-me para perto.
Um soluço feio explode da minha garganta quando eu
caio nele. Eu afundo em seu abraço e choro tanto que meu
peito dói. O aperto de Ryder fica mais forte, fazendo o tecido
gasto de sua manga roçar minha bochecha. Eu pressiono
meu nariz nele, respirando profundamente aquele cheiro
reconfortante de pinheiro e ar fresco, algo rico e limpo e
exclusivamente Ryder.
Eu aperto meu abraço em volta de sua cintura e esmago.
Os braços de Ryder abrangem minhas costas inteiras, sua
mão apertada no meu ombro até que, cuidadosamente, ela
chega ao meu cabelo. Assim como mamãe, seus dedos
afundam em meus cachos emaranhados, brincando com eles.
Isso me faz chorar mais.
— Eu tentei o meu melhor — eu soluço em seu peito.
Ele acena com a cabeça, as mãos deslizando pelo meu
cabelo. Eu sei. Isso é o que seu toque diz. Isso é o que ele me
diz inclinando a cabeça até que sua bochecha encoste no topo
da minha cabeça.
Não posso dizer quanto tempo ele me balança em seus
braços, quanto tempo leva para meus soluços de arrasar o
peito se tornarem soluços silenciosos. Quando ele parece
convencido de que não vou explodir em lágrimas
novamente, Ryder se afasta o suficiente para limpar os
polegares sob meus olhos e tirar um daqueles lenços sempre
presentes do bolso.
Assoando o nariz, olho para ele e guardo o lenço no meu
moletom. Tentando respirar fundo e dar um sorriso que
acaba vacilante, encontro seus olhos.
— Por quê você está aqui?
Ele inclina a cabeça, seus olhos procurando os meus. É
um longo momento que nosso olhar se mantém. Estou com
medo de ler isso. Tenho medo de admitir o que sinto quando
Ryder aparece com minhas comidas reconfortantes e braços
abertos e aquela maneira não dita de me entender.
Quando ele dá um passo à frente, eu dou um passo para
trás. Minha bunda bate contra a borda da mesa enquanto
Ryder se inclina mais perto e minhas coxas se abrem. Ele
levanta a mão e meus olhos se fecham. Estou esperando que
ele me jogue na mesa e, em seguida, arranque minhas
roupas, quando o farfalhar e estalar do plástico faz meus
olhos se abrirem.
Ryder sorri enquanto desembrulha o papel alumínio que
cobre um pote de manteiga de amendoim e leva o chocolate
aos meus lábios.
Tap. Tap.
Ele pressiona a manteiga de amendoim na minha boca
mais uma vez antes de abrir e colocar o chocolate dentro. Eu
mastigo, tentando manter minha irritação com seus jogos de
provocação. É uma luta. Ele me trouxe potes de manteiga de
amendoim e agora está desarrolhando o uísque com os
dentes e cuspindo a rolha na palma da mão. Os pelos dos
meus braços e pescoço se arrepiam. Ele cheira a sexo em uma
floresta, parado entre minhas coxas e me alimentando com
chocolate.
— Você está aqui para fazer eu me sentir melhor — eu
sussurro.
Ele acena com a cabeça, me dando a garrafa. Com a mão
livre, ele gesticula um pouco.
— Sim. — Eu engulo um gole, sem vacilar com a
queimadura. — Bem, um pouco melhor é melhor do que
nada.
Pressionando a garrafa em seu peito, encontro seus olhos.
— Obrigada.
Os olhos de Ryder não deixam os meus enquanto ele
inclina a garrafa para trás e toma um longo gole. É a coisa
mais sexy que um homem já fez na minha frente.
Eu pego sua mão e o puxo comigo, em direção ao sofá.
Com sua envergadura louca, ele agarra os potes de manteiga
de amendoim e os traz também. Ele coloca as guloseimas
quando eu caio no sofá, então Ryder se endireita, os olhos
em mim, desabotoando os punhos das mangas e lentamente
enrolando-as. Não é quase um strip-tease, mas transformou
meus mamilos em brocas sob meu moletom. Minha calcinha
está encharcada. O desejo de ficar nua é insuportável.
Com um longo passo atrás de mim, Ryder cai no canto do
sofá. Tirando as botas, ele abre as pernas e dá um tapinha no
peito.
Meus olhos não tinham olhando tão bem para sua
anatomia. Eu nunca vi Ryder sentar-se assim, e agora eu sei
que ele não apenas se encaixa bem, mas também que Ryder
tem um poste entre as pernas.
Um limpar de garganta me interrompe. É profundo e
pedregoso. Arrepios se espalham pela minha pele e enviam
um choque involuntário pelos meus membros. Quando eu
finalmente levanto meus olhos, Ryder levanta uma
sobrancelha. Ele parece estar trabalhando muito para não rir
de mim.
— Há tantos trocadilhos que eu poderia fazer sobre o seu
bloqueador de toras, Lenhador, mas você me trouxe bebida
e pasta de amendoim, então vou pegar o caminho certo.
Ele revira os olhos e balança a cabeça. Obrigado, ele
sinaliza.
Eu rastejo entre o espaço de suas pernas e coloco minhas
costas em sua frente. Os potes de manteiga de amendoim
pousam com um baque no meu colo, enquanto Ryder traz o
uísque em sua grande mão para equilibrar em um joelho.
Com um suspiro, deixo minha cabeça cair contra seu peito.
É como mergulhar em um banho quente, aquele momento
de êxtase quando a água está quente o suficiente, a
temperatura certa. Pego o uísque dele, bebo outro gole e o
coloco em suas mãos mais uma vez. Ryder arranca com uma
mão. Uma expiração longa e lenta o deixa, e quando eu olho
para cima, ele está olhando para mim.
Bom? ele sinaliza.
Eu concordo.
— Muito bom. Eu preciso de mais amigos se é assim que
eles funcionam.
Isso faz com que sua cabeça se incline para trás com uma
risada fraca. Observando-o, eu deslizo minha palma ao
longo de sua coxa. Sua respiração engata.
A emoção me atinge bem no peito. Parece igual quando
minha bicicleta bateu na sarjeta e me jogou sobre o guidão.
Estou sem fôlego. Atordoada. Sinto um grande alívio depois
de uma experiência de quase morte, quando me sento em
seus braços. Deixando Ryder me tocar, me confortar, não
estou com medo de que meu coração vá quebrar por causa
disso.
O que é isso?
Com os olhos ainda em mim, Ryder pega seu telefone.
Um momento depois, meu bolso vibra.
Você deveria estar orgulhosa, raio de sol. Você foi perfeita.
Eu fico olhando para a mensagem, em seguida, volto para
Ryder enquanto engulo mais lágrimas.
— Obrigada.
Os dedos de Ryder sobem pelo meu braço até que
descansam na base da minha garganta. Suas mãos são
grandes como um jogador de beisebol. Ele poderia esmagar
minha traqueia em um piscar de olhos se quisesse. Ele
poderia quebrar meu pescoço sem nem suar. Estou
vulnerável, enrolada contra seu corpo. Com minha atitude
desesperada e desconfiada de homens, eu deveria estar
pirando.
Mas enquanto seu polegar desliza sobre minha traqueia,
enquanto traça a cavidade da minha garganta, sei com
absoluta certeza que nunca estive mais segura do que estou
com Ryder Bergman.
Ele se mexe e abaixa a cabeça, até que nossas testas se
toquem. A garrafa de uísque cai com um estalo líquido no
sofá, liberando ambas as mãos para percorrer meu corpo, até
minhas bochechas.
Nossos olhos se fixam e eu me recuso a piscar. Eu procuro
o olhar de Ryder enquanto seus polegares acariciam minhas
bochechas, enquanto suas pernas apertam em torno de mim.
Meu corpo vira, então posso deslizar minha mão ao longo de
seu torso e ganhar sua respiração gaguejante. Sobre seus
peitorais, viajando por sua garganta, meus dedos testam o
cabelo macio e espesso de sua barba. Da última vez, fez
cócegas como eu esperava. O que eu não esperava era gostar
tanto.
Agora estou preparada.
A boca de Ryder se abaixa para a minha, a um fio de
cabelo de distância. Eu sei o que ele está fazendo. Ele está
esperando por mim. Ele vai me deixar dar o primeiro passo.
Assim como eu o fiz da última vez.
Justo e honesto.
Eu deslizo meus dedos por seu cabelo sedoso, enrolando
em torno de sua nuca, e o puxo para mim. Aqueles lábios
macios que eu gostaria de poder ver, sentir, provar e morder.
Nosso beijo é lânguido – uma palavra literária para
luxuriosamente lento, saboreando decadentemente. É uma
tortura da melhor variedade. O gemido de Ryder enche
minha boca, o som mais claro além de sua risada que ele já
me deu. Seus dedos apertam em meus cachos, enquanto me
inclino para ele. Sua boca se abre, sua língua encontrando a
minha com golpes suaves e provocantes. Eu agarro seu
cabelo e o puxo para mais perto. Suas mãos inclinam minha
cabeça, controlando o beijo, e estou à mercê de seu toque,
enquanto sua língua atravessa minha boca. Eu ouço os
suspiros que me deixam, os ruídos suplicantes que estou
fazendo.
Eu me viro completamente, com o plano de escarranchar
em seu colo, abrindo sua fivela e finalmente acabar com isso,
mas Ryder para meus movimentos e me prende contra ele.
Um braço sólido abrange minha clavícula enquanto ele se
inclina sobre mim, seus beijos suavizando, a redução gradual
de uma tempestade de vento para uma brisa suave.
Eu alcanço seu pescoço novamente em demanda por
mais. Estou com fome de seus beijos. Eu sou gananciosa. Eu
o quero, e não me importo se isso tornar tudo estranho
amanhã. Ryder resiste ao meu primeiro puxão, mas eu o
puxo teimosamente em minha direção. Cedendo, ele me
puxa para mais perto enquanto nosso beijo se aprofunda.
Um braço ancorado em meu peito, Ryder leva sua mão livre
para baixo em minhas costelas, sobre meu estômago. É um
gesto gentil e reconfortante, mas quero muito mais. Eu
envolvo minha mão sobre a dele e a guio para baixo.
Seus olhos encontram os meus enquanto eu deslizo sua
mão por baixo da minha camisa e choramingo. Eu digo a ele
para que ele saiba.
Sim. Sim. Sim.
Os olhos de Ryder escurecem. Seus dedos vagam
preguiçosamente ao longo do cós do meu moletom.
Provocadoramente lento, eles escorregam por baixo do
elástico, bem por cima da minha calcinha. Minhas coxas
apertam involuntariamente, mas Ryder agarra minha perna,
puxando-a amplamente. Minha postura é aberta, minha coxa
esticada sobre ele, presa entre seu corpo poderoso e o sofá.
Isso me deixa aberta, imóvel, enquanto seus dedos roçam
minha calcinha. Estou terrivelmente molhada e Ryder geme
quando sente o efeito de seu toque.
Respiração explode de meus pulmões, engasgando em
dobro quando um dedo calejado esfrega ao longo do tecido
úmido e encontra meu clitóris, depois abaixa, em todos os
lugares que estou dolorida e vazia, implorando por mais.
— Hmm. — É o mais leve ruído que ressoa em sua
garganta, mas me deixa com um calor de fundição.
O toque de Ryder é medido, exploratório. Ele me observa,
o que me faz estremecer, o que faz minha respiração ficar
presa na garganta antes de acelerar e eu estar dizendo de
novo.
Sim. Sim. Sim.
Eu o beijo enquanto seu toque vai para a borda da minha
calcinha até que a pele quente finalmente encontra a pele
quente. Ambas as nossas bocas se abrem, quando um dedo
longo, depois dois, se enrosca dentro de mim e seu polegar
desliza em meu clitóris. Movimentos suaves e provocantes.
Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. Quero
dizer, em algum canto obscuro da minha mente, meu cérebro
está dizendo Duh, Willa. Você se esfregou nos lençóis e quase
gozou como um trem. Ele mais ou menos disse que sabia o que era
necessário para fazer você gozar. O que você esperava?
Eu nunca tive orgasmo com um homem antes. E agora
acredito em Ryder. Não fui eu. Foram eles. Outros caras
fizeram errado. Eles estavam errados. Eles não eram Ryder,
tão acostumados a se atentar para cada tique e
vulnerabilidade minha, que observar cada movimento meu
é uma segunda natureza para ele. Eles não me provocavam
como se o tempo fosse algo pelo qual eles não tivessem
consideração, como se o prazer deles fosse a última coisa em
que estivessem focados. Eles não pararam e esperaram pelo
menor movimento dos meus quadris para que eu pudesse
perseguir essa sensação, para que eu pudesse escalar e escalar
e...
— Ryder — eu sussurro.
Outro hmm silencioso deixa sua garganta e eu engulo com
meus beijos. A corrente sacode através do meu sistema, uma
luz incandescente dançando na ponta dos meus seios, na
extensão da minha pélvis, em cada centímetro quadrado que
ele toca.
— Eu v-vo… — Eu não posso nem terminar minhas
palavras enquanto arqueio em seu toque. Uma onda de
choque percorre meu corpo enquanto eu empurro em seu
peito, seu braço poderoso me segurando com força. Onda
após onda poderosa, e não para. Os dedos de Ryder
provocam suavemente dentro de mim, seu polegar arrasta,
perfeitamente fraco.
Seu beijo é reverente e eu sinto o sorriso em sua boca
quando ele se afasta. Quando ele tira as mãos da minha calça
de moletom, espero que outro de seus lenços de cavalheiro
apareça. Em vez disso, tenho que fazer uma tesoura em
minhas pernas, enquanto Ryder me olha nos olhos e lambe
cada um de seus dedos para limpar.
— Jesus Cristo. — Minha voz está tão rouca que pareço
ter fumado um maço de cigarros. — Você é um lenhador
sujo.
Ele levanta um ombro, puxando o último dedo com um
estalo. Estou atordoada e me assusto quando meu telefone
toca novamente.
Vamos, raio de sol. Você está cansada. Vá para a cama.
Procuro meu telefone, confiando muito na correção
automática porque Willa pós-orgástica não consegue digitar
porra nenhuma.
Minha vez. É justo.
Ryder franze a testa ao ler o texto. Seus dedos deslizam
sob meu queixo e inclinam minha cabeça para que nossos
olhos se encontrem. Não, ele murmura.
— Então você está à frente!
Ele revira os olhos e digita, Esta não é uma competição, raio
de sol.
— Tudo entre nós é uma competição.
Eu imediatamente me arrependo de ter dito isso.
Historicamente, é verdade. Nós estivemos pescoço e
pescoço, olho por olho. Uma contagem brutal de partidas,
piadas e farpas. Até que algo mudou ao longo do caminho.
O que eu disse faz com que isso e a cachoeira pareçam
táticos, calculados. Sem coração. Por mais que eu desejasse
que fosse, estou começando a temer que não seja. Esse algo
está lá entre nós, tanto quanto me assusta pra caralho.
A expressão de Ryder fecha enquanto ele lê minhas
palavras. Quando ele olha para cima, é como se a chama que
iluminava seus olhos tivesse se apagado. Ele se inclina sobre
o telefone antes que o meu toque.
Você não me deve nada. Eu queria.
Eu fico olhando para as palavras: eu queria.
Ryder se solta de trás do meu corpo, colocando os copos
de uísque e manteiga de amendoim cuidadosamente na
mesa de café. Dou-lhe uma carranca grande e amuada que
ele ignora, respondendo com uma de suas palmas duplas
antes de apontar para o meu quarto.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito e faço uma
carranca para ele, chutando minhas pernas quando ele me
pega em seus braços.
— Não pense que só porque você me deu meu primeiro
orgasmo causado por um homem que você começa a mandar
em mim, Bergman. Sou uma mulher independente, e se você
tem a impressão de que recebo ordens... — Um grande
bocejo me interrompe, diminuindo um pouco o impacto do
meu discurso de que tenho certeza de que ele nem consegue
ouvir. — Tem uma coisa vindo até você.
Ryder sorri enquanto puxa meus lençóis e me coloca na
cama.
— Eu não tomei banho — eu lamento.
Ele tira meu moletom e beija minha testa.
— Eu cheiro mal.
Tira minhas calças de moletom.
— Eu não consigo dormir assim — eu gemo através de
um bocejo.
O cobertor sobe até meu queixo. O beijo mais suave ainda
pressiona meu cabelo enquanto ele respira fundo. Meus
olhos não ficam abertos e o sono me engole.
19

MINHA VISITA À CASA DE WILLA foi impulsiva e instintiva.


Também era extremamente diferente de mim. Tenho a
cabeça fria, metódica e analítica. Eu não faço merdas que não
tenha considerado exaustivamente. Exceto quando se trata
de Willa.
Não me arrependo do que fiz. Eu disse a ela que queria,
e eu queria, porra. Simplesmente não era o melhor momento
para aumentar muito mais as apostas, um dia antes da minha
cirurgia. Estarei fora de serviço na próxima semana, me
recuperando de implantes cocleares que meus pais
finalmente me convenceram no Dia de Ação de Graças de
que poderíamos pagar. Eu recuei, citando o custo
exorbitante, dizendo que fiquei tão surdo e mudo que
poderia durar mais alguns meses até conseguirmos
cobertura médica. Eles me informaram que o seguro havia
finalmente chegado e, com o semestre acabando, o momento
era perfeito.
Bem, foi até eu sair do script na noite passada com Willa.
Se eu a conheço, haverá um tremor posterior do meu último
movimento, e agora, com esta cirurgia, não estarei em
condições de me preparar para o impacto.
O velho Ryder nunca teria feito isso. Ele teria pensado
que este não era um momento prático para aumentar a
aposta entre Willa e ele. Ele teria, em vez disso, enviado a
Willa uma mensagem empática sobre sua perda e, em
seguida, voltado a arengar com ela na próxima vez que a
visse. Este novo e insano Ryder sabia que o momento era
terrível e simplesmente não suportava deixá-la sozinha.
Assistindo o resultado do jogo, sabendo o quão inconsolável
Willa ficaria, ele não podia nem considerar não vê-la.
Eu sabia que ela estaria sozinha. Com sua mãe doente no
hospital, incapaz de confortá-la tarde da noite, eu sabia que
Willa iria para casa com Rooney, que estaria tão abatida
quanto ela. Ela não teria mais ninguém, já que sentia todos
aqueles sentimentos horríveis e pensava aquelas coisas
terríveis que você pensa quando coloca uma tonelada de
pressão sobre si mesmo e sua equipe falha.
Eu só cheguei ao treinamento de verão antes de nossa
temporada de calouros começar na UCLA. Nunca cheguei a
competir aqui, mas competi muito no ensino médio. Perdi
campeonatos estaduais. Eu me culpei. Mas sempre tive um
punhado de membros da família me abraçando, me
distraindo com provocações afetuosas, me incitando a jogar
um jogo, servindo minha comida caseira favorita.
Willa não tem nada disso. E posso saber melhor do que
ninguém o que incomoda Willa Sutter, mas também sei que
ela não lida bem com seus sentimentos. Eu sabia que um
abraço de lenhador, além de um pouco de chocolate e uísque
nunca fazia mal.
Abraços platônicos e comidas reconfortantes se
transformaram em algo muito mais substancial. Eu a toquei,
provoquei aquela pele sedosa, a senti apertar como um torno
em volta dos meus dedos. Eu estava duro como uma rocha,
a pressão crescendo em meu jeans, beijando-a, vendo-a se
desfazer sob meu toque.
Na manhã seguinte à de Willa, eu não conseguia afastar
a memória de quando ela gozou. Seu corpo tremia
suavemente, seu doce hálito explodiu em meus lábios. Ela
era tão linda, e tudo que eu queria fazer era fazê-la gozar cem
vezes mais. Quando acordei, quase enlouqueci e mandei
uma mensagem, mas era horrivelmente cedo quando tive
que ir para o hospital. Escutei o cirurgião me explicar o
procedimento uma última vez, ouvi a contagem regressiva
para a anestesia, a promessa de que estaria fora e alerta em
algumas horas.
Essa é a última coisa de que me lembro.
Eu acordo com uma expressão preocupada e comprimida
no rosto dos meus pais enquanto eles se inclinam sobre mim.
Tenho um palpite de que nem tudo saiu de acordo com o
planejado. Quando eu gemo, não soa diferente do que nos
últimos anos, mas isso era de se esperar. Tenho que me
recuperar antes que o processador auditivo seja encaixado e
conectado aos implantes.
— Älskling. — Querido. A voz da mamãe está perto, e meu
ouvido danificado ainda ouve seu carinho sueco e sabe o que
isso significa.
Eu lambo meus lábios, fazendo um inventário do meu
corpo. Papai dá um tapinha na minha mão e aperta,
chamando minha atenção para que eu observe seus lábios.
— Você foi bem, Ryder. Você ficou muito perturbado
após a anestesia, então eles lhe deram um sedativo. Te
nocauteou como um tranquilizante para cavalos. Parece que
eles não perceberam a nota em seu prontuário de que uma
dose infantil de Benadryl teria bastado. Você sempre foi
fraco para sedativos.
Eu levanto minha mão em um gesto de polegar para
cima, em seguida, polegar para baixo.
Papai levanta o polegar.
— Foi tudo muito bem. O médico está muito satisfeito.
Um suspiro de alívio sai de mim, mas é rapidamente
substituído por preocupação.
Willa.
O pânico me atinge. Eles me deram um sedativo, o que
significa que estive fora mais tempo do que esperava. Eu
planejei checar Willa logo após o procedimento, para ter
certeza de que não a tinha assustado.
Apontando para meu pulso, onde meu relógio
geralmente está, olho para meu pai.
Sua testa franze.
— Há quanto tempo você está inconsciente?
Dou a ele outro sinal de positivo. A mão da mamãe
desliza suavemente pela parte de trás do meu cabelo,
evitando a parte da frente da minha cabeça que está
enfaixada.
— Quase vinte e quatro horas — diz papai.
Eu bato minha mão no colchão. Merda. Porra. Merda,
merda. Willa vai entender tudo errado, eu já sei disso. Ela
acordou ontem de manhã, provavelmente se perguntando se
o que fizemos foi algum tipo de ilusão pós-jogo esquisita,
então quando ela decidiu que não era, ela teve que esperar
que eu estendesse a mão. É uma suposição justa. Ela me
conhece. Normalmente, eu faria.
E fiquei um dia em silêncio pelo rádio.
Telefone, eu murmuro, imitando a ação também.
— Calma, Ryder. — Papai dá um tapinha na minha mão
novamente. — Você precisa descansar, ainda.
Eu balanço minha cabeça e imediatamente me arrependo,
levantando minhas mãos para tocar o inchaço atrás das
minhas orelhas.
Por favor, eu murmuro e então sinalizo.
Mamãe cede, porque ela tem um fraquinho por mim.
— Alex, dê-lhe o telefone. É assim que ele fala. Você o está
silenciando.
Eu suspiro de alívio quando papai resmunga e desenterra
meu telefone do bolso. Girando do meu jeito, eu aperto os
olhos. Nem uma única mensagem de Willa. Não sei se devo
ficar desapontado ou aliviado.
— Sötnos? — Querido, mamãe pergunta. — Tudo está
certo?
Eu digito, posso ir para casa agora? Minha casa.
Mamãe franze a testa.
— Eu queria que você viesse à nossa casa para que eu
pudesse cuidar de você.
— Não é a pior ideia deixá-lo descansar em seu
apartamento por alguns dias, Elin. Beckett disse que estaria
lá para ficar de olho nele, e vamos trazer Joy para casa
amanhã. Vai ser barulhento e um pouco caótico enquanto
arrumamos tudo.
Um barulho de dor pega na minha garganta e chama a
atenção dos meus pais.
O quê? Eu gesticulo com a boca.
Papai puxa uma cadeira em direção à minha cama de
hospital e se senta. Os dedos da mamãe ficam no meu cabelo.
Ela é mais quieta, como eu, mas seu toque diz muito. Estou
aqui. Você está bem.
— A Joy é dos meus dias de militar. Você se lembra do
que eu disse sobre minha última missão quando aconteceu a
lesão na minha perna? — Eu olho para a coxa de papai.
Quando ele está de pé, sua prótese de titânio fica menos
perceptível sob sua calça cáqui afiada, mas sentado, o ponto
em que a transição da perna de músculo para metal fica
óbvio sob o tecido.
Eu dou a ele um sinal de positivo. Acenar com a cabeça
está fora de questão. Minha cabeça dói muito.
— Ela é quem me salvou de sangrar até a morte.
Puta. Merda. A mãe de Willa salvou a vida do meu pai.
— Joy e eu nos encontramos em um evento de veteranos
há cinco anos. Nós conversamos e prometemos manter
contato. Mamãe e eu a encontramos algumas vezes para
compartilhar uma refeição, mas, além disso, não ouvi muito
de Joy. Não até que ela acabou na minha ala de oncologia.
Depois de chutar o traseiro do câncer de mama, ela foi
diagnosticada com leucemia mieloide aguda. Isso acontece
às vezes após o tratamento, infelizmente, é por isso que é
apelidado de leucemia relacionada à terapia.
Jesus. Minha tristeza por esta mulher e por Willa, cuja
mãe tem estado tão doente, cresce dentro de mim.
— Oh, Ryder… — Mamãe enxuga meus olhos e acaricia
minha bochecha. — Um coração tão terno. Você sempre foi
assim. Papai está cuidando dela, não se preocupe. — Seu
olhar simpático se transforma em um sorriso irônico
enquanto ela mexe em minha barba. Tenho certeza de que
parece um inferno no momento, como o resto de mim. Ela dá
um puxão brincalhão no meu cabelo facial. — Você não
saberia que é tão querido. Essa barba, sötnos, é um grande
impedimento.
Eu mostro minha língua para ela e isso a faz rir. Olhando
para papai, tento mostrar a ele que ainda estou seguindo.
— Então — ele continua. — Eu senti... sinto uma profunda
gratidão por Joy. Ela salvou minha vida. — Os olhos dos
meus pais se encontram do outro lado da cama. — Ela está
morrendo, Ryder. Suas despesas médicas são extensas e ela
subloca seu apartamento para economizar custos e poupar
dívidas de sua filha quando ela morrer. Quero que seus
últimos dias sejam passados no conforto e na tranquilidade
de um lar. Eu estarei supervisionando seu cuidado.
Contratamos uma enfermeira paliativa e arrumamos o
quarto de hóspedes onde Nana se hospedou. É a coisa certa
a fazer.
Eu puxo meu telefone, minhas mãos tremendo um
pouco. Claro. Isso é complicado.
Meu pai franze a testa.
— Como?
Willa, eu digito.
Papai torce o nariz.
— E quanto à filha dela? — Seus olhos se arregalam. —
Espere, como você sabe o nome dela?
— Essa é a amiga de Ryder — mamãe diz, acariciando
minha mão. — Não é?
Papai está surpreso.
— Você é amigo dela, Ryder?
— Mais do que amigos, pelo que Aiden diz. — Mamãe
levanta as sobrancelhas. Eu estendo a mão e puxo uma
mecha de seu cabelo loiro na altura dos ombros, fazendo-a
gritar e dar um tapa na minha mão. — Ryder Stellan,
comporte-se.
Eu franzo a testa, digitando, Aiden está cheio de merda, seja
o que for que ele disse a você. A única verdade é que ele tentou
armar para nós durante todo o semestre. Somos apenas
aminimigos.
Mamãe aperta os olhos para o meu telefone.
— Aminimigos. — Ela olha para o papai, a pessoa com
quem ela confia quando encontra uma limitação em sua
compreensão do inglês. Isso é muito raro depois de décadas
morando nos Estados Unidos, mas acontece. — O que isso
significa?
Papai me encara por um longo minuto, um sorriso lento
aquecendo seu rosto.
— Aminimigos são pessoas que passam muito tempo
juntas, mas passam a maior parte do tempo discutindo. Se
eles não brigassem tanto, as pessoas os veriam como amigos
íntimos, talvez até algo mais...
Papai ri.
— Eu deveria saber. Joy sempre foi um foguete. Claro, a
filha dela é como ela, não é?
Mamãe apoia os cotovelos nas grades da cama do
hospital, sorrindo para mim.
— Ela estava muito animada durante o jogo que
assistimos. Muito intenso. Eu me pergunto como isso
funciona com este nosso filho quieto e de humor seco.
Papai se ajeita na cadeira.
— Eu me pergunto...
Eu bato na cama, procurando o botão para levantá-la até
encontrar o certo. Minha mandíbula está cerrada, minha
cabeça lateja, e ambos estão me dando esses olhares irritantes
de diversão simpática.
Por favor, não diga nada ainda para Willa ou sua mãe, eu
mando uma mensagem para eles. Eu não quero chatear Willa.
Ela nem me disse que sua mãe está doente.
Papai lê minha mensagem e depois dá um tapinha na
minha mão.
— Ah, isso torna tudo mais complicado. Talvez seja
aconselhável esperar até que ela esteja pronta para você
saber.
E se ela nunca estiver pronta? digito. Como posso voltar para
casa e evitá-la?
— Bem… — Papai suspira e esfrega a testa. — Talvez o
momento certo se mostre para você. Eu pessoalmente acho
que quanto mais cedo vocês dois forem honestos um com o
outro, melhor. Depois de ir para casa e descansar um pouco,
é claro.
Mamãe acena com a cabeça, seus olhos se estreitaram
criticamente para a minha barba.
— E enquanto você estiver lá, faça a barba, ok?

Eu mando uma mensagem para Willa no momento em


que meus pais me dão um minuto a sós.

Raio de sol. Isso realmente não é uma desculpa,


mas eu tive um procedimento no médico
e a recuperação levou mais tempo do que eu esperava.
Eu queria conversar, considerando a outra noite.
Esta é a primeira oportunidade que tenho.

Eu observo meu telefone, esperando o recibo de leitura e


os três pontinhos, mas nada vem. Embora eu tenha uma
desculpa médica para fazer minhas provas finais mais cedo,
é o fim da semana de testes na escola para todos os outros.
Talvez ela ainda esteja nas finais.
Nenhuma resposta vem enquanto o cirurgião me verifica
mais uma vez, satisfeito com o resultado inicial do
procedimento. Como sou jovem e eles estão otimistas de que
vou me curar rapidamente, disseram-me para voltar em
pouco menos de três semanas, pouco antes do Natal, para
sincronizar o processador com os implantes e aprender como
tudo funciona.
Mamãe e papai me levam para casa, certificando-se de
que estou enfiado na cama e que tenho muitas refeições
caseiras guardadas na minha geladeira. Becks está aqui para
ficar de olho em mim, já que sua família está por perto e ele
gosta de passar tudo, exceto a véspera de Natal, em nossa
casa, e não com eles. Tucker já voltou para casa para as férias.
Adormeço, nocauteado por um nível de exaustão não
muito diferente de quando comecei a ter meningite. Não é
até indefinidas horas mais tarde que eu acordo com uma
batida na nossa porta. Eu ouço o estrondo fraco de Becks, a
melodia aguda de uma voz que eu conheço.
Willa.
Ela entra, franzindo a testa para mim.
— Bem, olá, Frankenstein. Você está lindo.
Arrasto um travesseiro sobre o rosto para me esconder,
mas logo ele se ergue no canto, um grande olho castanho
piscando lentamente enquanto me observa. Willa move o
travesseiro e se senta na beira da minha cama para que eu
possa vê-la e ler seus lábios.
— Maromba, por que você não me contou?
Eu gemo e empurro minha testa em sua coxa. Sua mão
pesa nas minhas costas, então começa a girar em um oito
calmante.
Ela abre o bloco de notas do celular e digita, sei que posso
ser meio bruxa, mas poderia ter ido te buscar, cuspido na sua canja,
colocado um laxante no seu sorvete para lidar com o bloqueio pós-
anestésico.
Eu olho para ela.
— Eu não estou me defendendo muito bem, estou? — ela
diz.
Não, eu murmuro.
Seus olhos seguram os meus, tão lenta e cuidadosamente
Willa desliza os dedos pelo meu cabelo. É tão bom que uma
onda de calor desce pela minha espinha e estremeço.
— Isso é para ajudá-lo a ouvir melhor, espero?
Eu dou a ela um sinal de positivo.
Ela sorri largo e contagiosamente brilhante. Naquele
momento, ela faz jus ao meu apelido. Raio de sol.
— Isso é emocionante! Embora isso irá tirar um pouco do
seu sex appeal. Você trabalha o tipo forte e silencioso muito
bem.
Isso é o que me matou sobre Willa desde o primeiro dia.
Ela brinca e me provoca como se não fosse estranho eu não
falar e não ouvir porra nenhuma. Ela nunca agiu como se
minhas habilidades limitadas de comunicação exigissem
mudanças. É como se ela nunca os tivesse visto como
limitações.
Pego o telefone dela, abro o bloco de notas e digito. Nossa
prova final? Como foi?
— Prova final? — Seus olhos se arregalam. — Qual prova
final?
Eu envolvo a mão em sua coxa e aperto. Tenho noventa e
cinco por cento de certeza de que ela está brincando, mas
com Willa nunca se sabe e, ao contrário dela, preciso de uma
boa nota para me ajudar a garantir meu futuro. Se ela perdeu
sua parte do nosso teste, estou ferrado.
— Oh, sossega o facho, caçador de árvores. Eu peguei e
chutei seu traseiro, principalmente porque seus cartões são
neuroticamente completos. — Ela dá um tapinha nas minhas
costas suavemente. — Então, obrigada por isso.
Eu me mexo na cama porque o fluido está se acumulando
atrás do local da minha incisão e a pressão está agravando.
Ainda estou um pouco tonto e não consigo comer nada além
de picolés. Assistindo minha tentativa de me mover, Willa
puxa aqueles lábios carnudos entre os dentes. Ela parece
estar se esforçando para não rir de mim.
— Aw, você é como um pequeno inseto sonolento. Deixe-
me ajudá-lo.
Se eu tivesse energia para resmungar, eu o faria. Willa se
levanta da cama, agarra minha cintura e me levanta com uma
facilidade surpreendente para uma mulher tão compacta. E
se isso não fosse o suficiente para torcer meu coração, ela
segura a parte de trás da minha cabeça e me puxa para baixo,
rapidamente empurrando outro travesseiro atrás de mim.
— Viu? Aqui. — Ela recua e faz uma reverência. —
Enfermeira Ratchet6, ao seu serviço.
Eu dou a ela um olhar que a faz rir, mais uma vez me
lembrando por que tudo isso valeu a pena. Porque se a risada
de Willa é tão bonita quando minha cabeça está cheia de
lama cirúrgica e inflamação, vai ser de tirar o fôlego quando
tudo finalmente ficar claro. Vou ouvir de novo e nunca vou
tomar esse sentido precioso como garantido.
Obrigado, eu sinalizo.
Ela sinaliza de volta, um pequeno sorriso no rosto, De
nada.
Estou cansado. Minhas pálpebras caem, mas não quero
que mais um minuto se passe antes de falar com Willa. Sobre
tudo, desde a outra noite em seu apartamento, até esta
dolorosa realidade em que sua mãe está prestes a ser
paciente na casa dos meus pais.
Willa sabe a gravidade do prognóstico de sua mãe? Meu
instinto diz não. Eu vi o rosto de Willa se iluminar quando
sua mãe ligou, quando a tela se iluminou com a imagem de
uma mulher cujo sorriso e olhos são idênticos aos dela. Se ela
soubesse que sua mãe estava morrendo ativamente, Willa
não estaria funcionando assim.
Procuro nos lençóis o meu telefone, que se perdeu na
bagunça. Willa se inclina, procurando na cama comigo, e me
6
Enfermeira Mildred Ratched é a principal antagonista do livro de Ken Kesey, no filme de Miloš Forman,
Um Estranho no Ninho e mais recentemente na série de Ryan Murphy, Ratched.
envolve com aquela fragrância suave e viciante dela. Estou
prestes a pressionar meu nariz em seu cabelo, mas ela se
endireita com meu telefone antes que eu possa.
— Aha!
Pegando dela, começo a digitar. Não estou nem na
metade quando o telefone de Willa toca em seu bolso e ela o
puxa para ler a tela. Seu rosto cai enquanto seus olhos
dançam da esquerda para a direita.
O terror se acumula em meu estômago. Não parece uma
boa notícia. O mais delicadamente que posso, dou um
tapinha na cama. Isso chama sua atenção, fazendo seus olhos
se fixarem nos meus.
— Desculpe… — Ela olha para o telefone, em seguida,
olha para o espaço. — Minha mãe... ela acabou de dizer que
hoje é o dia da mudança dela.
Estendo a mão, dividido entre confortá-la e terminar
minha mensagem, mas Willa coloca o telefone no bolso,
arrastando os dedos pelo cabelo e enviando espirais loucas
surgindo em seu rastro.
— Desculpe, Ry, eu tenho que ir agora. Você está bem?
Becks está você?
Minha mão cai, meus ombros caem e tento esconder
minha decepção frustrada. Claro, ela precisa ficar com a mãe,
não a invejo disso, mas agora o que eu faço? Quando eu digo
a ela? Não posso deixar de ir para casa no Natal, mas não
quero dar de cara com Willa e deixá-la cega. Algo me diz que
Willa não se sai bem sendo pego de surpresa.
Willa pega minha mão, apertando antes de soltar. Ela
parece dividida, como se quisesse dizer tantas coisas para
mim quanto eu quero dizer para ela. Mas quando nossos
dedos se desembaraçam um do outro até que nossas mãos
caiam, parece que é o fim. Parece um adeus.
Como posso dizer a Willa que quero que isso seja apenas
o começo?
20

WILLA TEM ME EVITADO tanto quanto eu sabia que ela faria.


Eu a conheço há alguns meses. Eu sei como ela lida com
coisas difíceis. Ela os evita. Ela entrou em contato comigo por
mensagem de texto algumas vezes, mas apenas com suas
provocações e brincadeiras sem sentido de sempre. Isso está
me deixando louco. Eu quero arrancar meu cabelo e gritar,
frustrado com a lacuna enorme em nossa comunicação.
Não posso dizer a ela por mensagem o que está
acontecendo. O assunto é muito sensível, o contexto muito
bizarro. Esta é uma conversa cara a cara. O problema é que
não posso falar com ela ao telefone ou fazer com que ela me
veja pessoalmente.
A uma semana do Natal, minha mãe está tendo um
enfarte. Ainda não cheguei em casa. Willa ainda não está
disponível para me ver e há dias é incapaz de dizer uma coisa
séria. Eu desbloqueio meu telefone e envio a ela a mensagem
que deveria ter enviado um dia depois que ela deixou minha
casa.

Nós precisamos conversar.

Três pontos aparecem quase imediatamente, então,

Maromba, você está terminando


comigo?
Maldição, essa mulher. Eu esfrego meus olhos e respiro
profundamente. Meu telefone vibra novamente.

Você está fazendo aquela coisa onde você


esfrega seus olhos e toma profundas e
centralizantes respirações para que você não
cometa homicídio contra a próxima
estrela mundial do futebol, não é?

Um sorriso relutante puxa minha boca.


Não posso confirmar nem
negar essas alegações.
Sabia. Eu tenho que descer para o meu
apartamento e pegar algumas coisas
para as férias. Estarei por aí até
amanhã ao meio-dia. Quer jantar?
Você pode cozinhar almôndegas para mim.

Eu reviro meus olhos, mas antes que eu possa responder,


uma nova mensagem de texto aparece. Mãe.
Ryder Stellan Bergman, eu pedi uma
coisa de você. Uma. Estar em casa para o
Feriado de Natal. Onde você está?

Um rosnado me deixa. Eu não ouço bem, mas, droga, eu


sinto isso. As mulheres da minha vida vão me deixar louco.

Mãe, sinto muito. Estou tentando


resolver esta situação
com Willa. Ela não quer me ver
para conversarmos.
Os pontos da mamãe aparecem.
Faça ela querer.

Jesus. Eu sou filho da minha mãe. É metade parte da


cultura sueca, parte disposição – ela acha que todos
deveriam ser tão francos e diretos quanto ela e eu. Sem
besteira, sem jogos.

Não é assim que Willa


funciona, mãe.
Eu imaginei.
Eu apenas sinto sua falta.
Casa não é a mesma
sem meu Ryder.

Coloque a culpa um pouco mais forte. Meu telefone vibra


novamente.

Você pode apenas vir para


jantar hoje à noite?
Apenas Ren, Viggo,
Oliver e Sigrid.

Então, basicamente todo mundo.


Exceto Axe, Freya e
sua desprezível outra metade.
Eu suponho que você poderia
pôr dessa maneira.
Ok, mas vou para casa
depois. Eu voltarei a tempo
para o Natal, prometo.
Seus termos são aceitáveis.
Vejo você em uma hora.

Uma hora? Quase jogo meu telefone, porém, lembro que


preciso enviar uma mensagem de volta para Willa.

Minha mãe vai me matar


se eu não aparecer para o jantar em família.
Então, não posso cozinhar para você.
Café da manhã amanhã?
Idiota.
Me faça aqueles pãezinhos de
canela e café fresco, e
você tem um acordo.

Quero ficar chateado com a presunção dela de que vou


me levantar e fazer doces frescos para sua boca inteligente.
Mas nós dois sabemos que vou fazer isso.

Combinado.
Brilhante e cedo, raio de sol.
Mal posso esperar.

Um sorriso estúpido aparece em meus lábios. Eu não


digito, mas está na ponta da minha língua. Também não posso
esperar.

É tão alto quanto eu pensei que seria. Ren e Sigrid –


Ziggy, como a chamamos – são incapazes de falar sem ser
um grito. Viggo e Oliver são gêmeos irlandeses que sempre
brigaram terrivelmente, então eles estão brigando um com o
outro. Ironicamente, enquanto estou prestes a corrigir minha
audição, tudo que quero é silêncio. Esgueirando-me para
longe do caos um pouco antes do jantar, eu subo as escadas
para o meu antigo quarto que está congelado no tempo do
colégio e caio na cama de solteiro.
Suspirando de alívio com o silêncio feliz, fecho meus
olhos. Quando estou adormecendo, me pego imaginando
uma cabana na floresta, ao pé de uma montanha nevada. Um
fogo estalando, algum tipo de ensopado borbulhando na
panela sobre ele. Estou sentado em uma poltrona gasta,
ouvindo aquele estalo calmante da lenha enquanto ela pega
e explode em chamas. Respirando fundo, sinto o cheiro de
madeira queimada e de pinheiros, ervas no ensopado e
aquele bolor úmido de uma cabana. Mas então um novo
perfume perfura tudo. Rosas. Citrino. Protetor solar.
Willa.
Ela desliza a mão ao longo do meu pescoço e seus dedos
massageiam meu couro cabeludo enquanto ela desliza para
o meu colo. Minha respiração me deixa em um longo assobio
de dor enquanto sua bunda balança bem em cima de mim, e
ela enfia os pés no sofá.
Oi, ela diz.
Eu posso ouvi-la. Eu ouço sua voz e é ouro líquido em
meus ouvidos. É um ronronar baixo e suave. Seus olhos
parecem os de um gato selvagem no brilho da lareira,
caramelo e âmbar enquanto a luz do fogo dança em suas íris.
Seu cabelo está selvagem. É o que eu imagino depois que ela
está na cama, dando voltas.
Tudo fica mais espesso sob o zíper da minha calça jeans,
a necessidade aperta no meu estômago. Willa do sonho se
mexe novamente, suas mãos segurando meu rosto. Seus
lábios estão a um sopro de distância, seus olhos fixos nos
meus. Ela se aproxima, mais perto–
Uma batida na porta me faz estremecer. Eu olho para
baixo. Meu pau está furioso, lutando contra minha
braguilha. Estou obviamente, dolorosamente excitado.
Pulando para fora da cama, abro a porta apenas o suficiente
para me esconder atrás dela e vejo papai do outro lado.
O quÊ? Eu gesticulo com a boca.
Papai parece se desculpar.
— Os meninos e Freya saíram para fazer algumas coisas
para mamãe e os gêmeos de Ziggy são pequenos demais para
me ajudar. Joy quer que eu mova sua cama para que ela fique
de frente para as portas de vidro, mas para fazer isso, preciso
mover a cômoda de Nana. Você já está curado o suficiente
agora, mover algo pesado não terá problema.
Eu gemo. Essa coisa pesa toneladas. Juro que é forrado de
chumbo ou tem algum cofre secreto com tijolos de ouro
escondido nele. Não é isso que está me assustando, no
entanto. Willa e eu ainda não conversamos. Conhecer a mãe
dela antes disso parece uma ideia terrível.
Pegando meu telefone, eu digito, isso pode esperar?
O que acontece se a mãe dela disser algo para Willa?
Willa vai me matar por não falar com ela sobre isso, embora
eu tenha tentado de tudo que posso pensar. Eu posso ouvi-
la dizendo isso. Vou te matar, Maromba, vou te matar até morrer.
Papai me lança aquele olhar de decepção com seu filho.
Tenho certeza que ele presume que tenho coragem suficiente
para ter, de alguma forma, armado para Willa falar sobre
tudo isso. Ele estaria errado. Eu aprecio sua fé em mim,
mesmo que seja equivocada.
Eu aceno minha mão, finalmente cedendo. Falar sobre
Nana e olhar para meu pai fez maravilhas com o desconforto
dentro do meu jeans, então eu abro a porta, fecho-a atrás de
mim e sigo meu pai escada abaixo.
Caminhando pelo corredor para encontrar a mãe de
Willa, o medo aperta minha garganta. Estou suando, à beira
do pânico.
Papai diz algo a ela quando entramos na sala que não
consigo ouvir, exceto por seu discurso médico otimista. Uma
voz esfumaçada que é ainda mais difícil de entender diz algo
para papai.
Papai me pega pelo braço, fica do meu lado bom e me
arrasta para perto dele.
— Joy — diz ele em voz alta. — Este é meu filho, bem, um
dos meus filhos, Ryder. Ryder, esta é Joy Sutter, a mãe de
Willa.
Dou uma cotovelada em papai.
Joy se parece com a foto dela no telefone de Willa. Ela se
parece com Willa, mas dolorosamente magra, com um lenço
na cabeça e um par de décadas para ela.
Eu aceno, e sinto a culpa revirar meu estômago. Willa
deve saber sobre isso. Eu quero que ela saiba.
Papai se vira para que eu possa ler seus lábios enquanto
ele se dirige para a mãe de Willa.
— Ryder é surdo, Joy. Ele contraiu meningite há alguns
anos, que danificou ambos os ouvidos, e desde então
passamos muito tempo fazendo seu processamento auditivo
e de fala acontecer. Ele pode ler seus lábios se você falar
devagar e claramente, ou você pode enviar uma mensagem
para ele. Vou te enviar o número dele.
Eu engulo um ruído estrangulado enquanto vejo meu pai
enviar meu celular para a mãe de Willa. Joy apenas sorri,
com as mãos no colo, o telefone na mesinha lateral. Ela se
parece com o gato que comeu o canário.
— Ryder — diz ela claramente. — Prazer em conhecê-lo.
Eu concordo.
— Nós vamos. — Papai olha por cima do ombro para a
cômoda antiga. — Vamos fazer isso, filho.
É um inferno movê-lo, mas o fazemos, antes de destravar
com cuidado as travas da cama de hospital de Joy e girá-la.
Eu posso ver por que ela queria a mudança. Há uma vista
animadora para fora das portas de vidro para o quintal desta
forma. Pode ser dezembro, mas ainda está ensolarado, com
muitas plantas florescendo. Uma rede de futebol está perto
de seu campo de visão. Eu me pergunto se Willa já a usou.
— Obrigada, cavalheiros — ela diz.
— Precisa de alguma coisa, Joy? — Papai se aproxima
dela e põe a mão gentilmente em seu ombro frágil. — Patty
estará em breve para seus remédios, mas se eu puder fazer
qualquer coisa para mantê-la mais confortável agora, é só
dizer.
Joy está olhando para mim.
— Eu só gostaria de um minuto com Ryder, se estiver
tudo bem.
Eu travo meus olhos suplicantes com papai. Ele olha
entre nós enquanto um sorriso ilumina seu rosto. Ele aperta
o ombro de Joy mais uma vez e se aproxima de mim, falando
bem no meu ouvido direito.
— Boa sorte.
Com um tapa nas minhas costas, ele sai e fecha a porta
atrás de si.
— Ryder — Joy aponta para a cadeira perto de sua cama.
— Por favor, junte-se a mim, huh?
Eu ando até ela lentamente, sentando-me cautelosamente
enquanto ela me observa.
— Então você é o lenhador idiota.
Minhas sobrancelhas se erguem.
Levantando uma mão, ela gesticula para que eu me
aproxime. Eu me inclino obedientemente. Suas mãos vão
para minha barba, até minha garganta.
— Faça barulho, Lenhador.
Eu hesito. Ela puxa minha barba. Eu olho para ela.
— Faça. Um. Barulho.
Suspirando, eu cantarolo. Ela leva a mão à minha
garganta, os olhos apertados de concentração. Quando sua
mão cai, ela inclina a cabeça, o gesto tão parecido com Willa.
— Então você voluntariamente não fala. Você poderia se
quisesse.
Hesito por um momento, depois dou de ombros.
— Por que não? Você está envergonhado? Não soa como
você gosta?
Pego meu telefone, mas a mão de Joy está no meu braço.
— Minha visão disparou, filho. Belo efeito colateral do
mais recente tratamento contra o câncer. Fale comigo ou não
iremos muito longe.
O silêncio paira entre nós. Seus olhos perfuram-se em
mim, mesmo quando ela alcança sua mesa de cabeceira. Sua
mão encontra um livro e o desliza pela borda.
O livro cai com um baque suave no meu colo.
— Willa tem lido para mim à noite. Se não acredita em
mim, você pode perguntar a ela. Você e eu nunca vamos
conversar, a menos que você engula seu orgulho e abra essa
boca.
Meu coração bate em meus ouvidos fodidos. A emoção
puxa minha garganta. Ela não pode ver. Eu não posso falar.
Exceto que você pode. Você simplesmente não faz. Porque é
difícil e estranho.
— Alex disse que você fez a cirurgia de implante coclear.
Eu concordo.
— Fale, filho.
Limpando minha garganta, eu consigo soltar:
— Mhmm.
— Isso é melhor. — Ela se mexe cautelosamente na cama.
— Então, você fez aquela cirurgia, com a intenção de
aprender a ouvir com o implante e a falar novamente.
— Mhmm.
Ela sorri.
— Bem, você é educável, pelo menos. Então, agora, até eu
morrer, você e eu podemos trocar perguntas e respostas de
sim ou não. Isso não é muito divertido.
Mais uma vez, ela aponta para o livro. Eu fico olhando
para a capa.
— Orgulho e Preconceito. — Com um brilho nos olhos, ela
se acomoda no travesseiro e puxa o cobertor. — O romance
original de inimigos para amantes. Bem, talvez exceto por
Muito Barulho por Nada de Shakespeare. Por que você não lê
um pouco para mim?
Meus olhos saltam da minha cabeça, minha boca
tentando encontrar as palavras que tenho medo de usar.
— Ouça, Bergman. — Isso me faz sentar direito, o choque
de o jeito que Willa me chamava sair da boca de sua mãe. —
Suas cordas vocais não vão começar a funcionar
magicamente no momento em que seu implante for ativado.
Você deixou esses músculos atrofiarem por anos. Considere
isto um treino. Parece que você pratica esportes, faz
exercícios regularmente. Antes de se exercitar, você sempre
se alonga e se aquece. Você nunca começaria uma atividade
extenuante frio, não é?
Eu balancei minha cabeça lentamente.
— Fale — ela pressiona.
— Mm-mm.
Ela revira os olhos.
— Senhor, você é teimoso. Não pode nem dizer não.
Ouça. Você vai parecer horrível no começo. Mas até a
ativação do implante, não é como se você fosse ouvir o quão
horrível, de qualquer maneira. Serei a única que sabe como
você soava antes de se acertar e estarei morta em algumas
semanas, então para quem vou contar?
A dor golpeia meu coração. Willa vai... Eu não sei o que
Willa vai fazer. Sua mãe soa como seu mundo.
Joy me encara com um olhar intenso.
— Ryder, estou com dor. Eu preciso de uma distração
enquanto Willa está fora. Eu disse a ela para ir buscar
algumas coisas para as férias porque ela estava uma
bagunça, me observando me contorcer como uma minhoca
no anzol. Estou naquele ponto em que os remédios não
ajudam muito, e a cada hora que estou acordada, prefiro não
estar, entendeu?
Sinto-me mal do estômago. Eu odeio câncer. Eu odeio
que ela esteja sofrendo.
— Então leia para mim. Se não fosse por mim, por Willa.
Faca direto no coração. Joy Sutter sabe que ela acabou de
jogar o trunfo.
Com cuidado, chego mais perto da cama de Joy. Um
sorriso lento aparece em seus lábios enquanto seus olhos se
fecham.
— Capítulo Trinta e Dois é onde paramos.
Com as mãos tremendo, abro o livro e viro para a página
marcada. Minha respiração fica presa na garganta quando
um toque suave me assusta. A mão de Joy repousa no meu
pulso.
— Respire fundo.
Eu faço. Uma inspiração lenta e longa.
— E fora.
Eu solto uma exalação constante.
— Agora — seus lábios dizem.
Minha garganta trava na minha primeira tentativa. Eu
limpo mais ou menos, respirando fundo novamente. Meu
estômago aperta, o ar sobe pela minha garganta, e a sensação
há muito esquecida de som vibrando em meu pescoço e
cabeça me assusta quando eu digo:
— E-Elizabeth estava sentada sozinha, a próxima man…
— Minha voz mantém-se firme. Eu engulo, tento de novo,
mas travo. Sua mão aperta de forma encorajadora e eu olho
para sua boca.
— Esses serão seus sons mais difíceis. Aqueles que ficam
no fundo da sua garganta. Manhã. Amanhecer. Palavras
assim. Porra, Willa não será fácil. Continue. Sua voz soa
muito boa para um hiato tão longo.
Lágrimas embaçam minha visão. Eu coloco meus olhos
na palma da mão antes que eles possam transbordar. Joy se
acomoda em seu travesseiro e sorri.
— É hora de ouvir Lizzie negar o pedido de casamento
número um de Darcy.
Eu inclino meus cotovelos no colchão e tropeço nas
palavras. Leio em voz alta até minha voz acabar, até que Joy
esteja dormindo. Seu rosto está em paz e, embora eu saiba
que lhe dei um pequeno presente de distração, sei que ela me
deu o maior presente, de longe. Uma mão para segurar,
enquanto eu finalmente avanço.
21

— DEVAGAR, WILLA — mamãe resmunga. Suas mãos batem


nos lençóis, o que mostra seu desconforto. — Você está com
pressa e eu não consigo entender. Meu cavalheiro leitor é
muito mais deliberado com sua linguagem.
Eu rolo meus olhos, deixando Orgulho e Preconceito cair
no meu colo. Mamãe me disse que um dos filhos do Dr. B,
que está em casa nas férias, lia para ela nas noites que mamãe
obrigatoriamente me expulsava para que eu fizesse coisas
como comer uma refeição sólida e manter o meu treinamento
e exercícios. Eu tenho que admitir que senti meu coração
rancoroso quando ela me contou sobre isso. Um rapaz que
passa as noites de férias com uma mulher doente, lendo
Austen para ela, é o mais doce que existe.
— Bem, talvez o seu cavalheiro leitor deva ler para você.
Mamãe funga.
— Ele vai. Nosso próximo encontro é amanhã.
Isso me faz rir.
— Um encontro, hein? Você está jogando a madura,
mamãe?
O sorriso de mamãe é fraco, mas caloroso.
— Isso seria algo. Ele é bonito. Difícil dizer, já que ele é
tímido, sempre coberto da cabeça aos pés, mas você pode
dizer que há uma captura real de um homem se escondendo
sob todas aquelas camadas de proteção.
Isso aperta meu peito. Isso me faz pensar em Ryder. Eu
sou horrível. Abandonei o café na manhã seguinte que ele
cancelou o jantar porque sou a covarde mais covarde que
existe. Eu estava com medo do que ele iria dizer. Não tenho
ideia de para onde vamos a partir daqui, já que ele chegou
depois das semifinais.
Na verdade, foi você quem chegou lá. Como. Um trem.
— Oh, pelo amor de Deus — murmuro para mim mesma.
— Do que você está falando consigo mesmo agora?
— Nada.
Mamãe aperta o botão para levantar um pouco a cama de
hospital e lentamente se desloca para o lado dela, como se
mover doesse como o inferno.
— Como está o seu lenhador idiota?
— Ainda um idiota — eu resmungo.
É tudo culpa de Ryder. E de seu cunhado estúpido que
nos enviou no dia de formação de nossa equipe que
terminou com amassos na cachoeira. Foi Ryder quem me
seduziu com potes de manteiga de amendoim e uísque, e o
orgasmo mais glorioso do mundo. Agora, cruzamos aquela
fronteira invisível e existimos em algum limbo terrível, longe
do território inimigo.
E se ele quiser voltar para como éramos? Vou ficar presa,
ansiando pelo cara que me arruinou para outros homens,
enquanto ele está feliz quebrando minhas costelas e me
tratando como um espinho platônico ao seu lado. Eu não vou
fazer essa merda. Mas, por outro lado, se ele quiser perseguir
o que quer que tenha começado no meu sofá, eu também não
posso ir lá. Eu não vou abrir meu coração. Eu não posso
pagar. Estou presa e infeliz e sinto uma falta terrível dele, o
que me deixa ainda mais infeliz. Eu não deveria sentir falta
de Ryder. Eu deveria sentir falta de torturá-lo.
— Quais são os seus planos para as férias? — Mamãe
pergunta cansada.
Eu me levanto e coloco o cobertor sobre seu ombro, em
seguida, esfrego suavemente suas costas.
— Acabei de dizer que ele vai ficar na casa de sua
infância, passando um tempo com seus pais e irmãos.
— Você está evitando ele.
Eu gemo enquanto caio de volta na minha cadeira.
— Mãe, podemos não me psicanalisar?
— Ele tentou superar a amizade com você? É por isso que
você está dando um gelo nele?
— Joy Sutter, pare com isso. Eu não estou dando um gelo
nele, apenas deixando as coisas esfriarem um pouco. Somos
inimigos. Há tensão sexual em abundância. Eu o deixo louco,
e ele... ele me apavora.
Mamãe inclina a cabeça, os olhos cerrados de
preocupação.
— Por que ele te apavora?
— Porque eu me importo com ele. Porque não quero
perder nossa amizade diabólica. Prefiro permanecer
aminimigos do que arriscar tentar ser algo mais, para apenas
ter tudo isso tirado. Se eu continuar sendo sua inimiga, só
perco uma parte. Mas se eu tentar com ele, posso perder...
tudo.
— Droga, Rosie. — Isso faz meu coração torcer. Ela me
chamava assim o tempo todo quando era criança. — Você
tem pensado demais.
Eu jogo uma hortelã nela de brincadeira, certificando-me
de que ela saia curta e caia na frente dela.
— Não há muito o que fazer enquanto nas horas vagas.
— Parece muito covarde para mim.
Minha mandíbula se aperta, minha pele eriçada.
— Não me provoque, mãe.
— Oooh, ela está dando uma de mãe comigo. Você está
perdendo. É uma lógica idiota. Não, nem mesmo é uma
lógica idiota, é totalmente ilógico. Você já pensou que depois
de passar meses conhecendo-o, construindo confiança e
segurança, finalmente seu coração está lhe dando luz verde?
Agora você vai ficar sentada lá, parada, e desperdiçar seu
único tanque de gasolina.
Droga. Eu nunca pensei nisso desse jeito.
Mamãe se mexe na cama e tenta esconder uma careta.
Isso me tira dos meus pensamentos.
— O que está acontecendo, mamãe?
Ela suspira.
— Eu simplesmente não consigo ficar confortável.
Tristeza, culpa e preocupação agitam meu estômago.
— O que eu posso fazer?
— Nada. — Mamãe se agarra em seu cobertor e balança
a cabeça. — Nada a ser feito.
Isso não está certo. Eu olho para o meu telefone. Sua
enfermeira está fazendo uma pausa e não deve voltar dentro
de meia hora. Não vou deixar minha mãe tremer de dor por
trinta minutos. Estou consertando isso. Agora.
Pego meu telefone e disco o número que o Dr. B me deu.
Ele atende após o terceiro toque.
— Tudo certo? — ele pergunta.
— Mamãe está com dor. Você pode descer–
— Estou indo.
A linha fica muda antes que eu possa suspirar de alívio.
O Dr. B está abrindo a porta em trinta segundos, sua
atenção em mamãe. Assim que ele está fechando a porta
atrás de si, um grito ecoa no corredor, seguido pela risada de
um homem.
Calafrios sobem pela minha espinha. Eu conheço esse
som. Dr. B congela. A atenção de mamãe dispara da porta
para mim.
Eu olho a porta que leva à casa do Dr. B. Eu não usei
nenhuma vez. Não tenho ideia de como é o resto da casa.
Algumas vezes, ouvi o estrondo de risos, o eco feliz de vozes
em uma cozinha. Parece uma grande família que se senta à
mesa da sala de jantar e passa um tempo. A ideia é
completamente estranha para mim.
Mamãe me vê olhando para a porta.
— Willa, o que há com você?
— Acabei de ouvir algo.
Aí está a risada daquele homem de novo. O cabelo em
meus braços e pescoço arrepiam.
Não estou ciente de mamãe e Dr. B enquanto corro para
fora da porta. Meus passos são suaves no corredor escuro e
silencioso, afastado do resto da casa. Mas, a cada passo que
dou, o ruído aumenta e a luz envia longos feixes pelos pisos
polidos. A cada passo, sou saudada pelos cheiros
perfumados de comida e sons felizes. Eu estou na ponta da
ala, de frente para um grande foyer, cega pela beleza de sua
casa. Paredes brancas arejadas, linhas limpas. Madeira
natural, cortinas de linho, janelas altas.
Estou pasma, assustada por uma bolha da cor da chama
voando por mim, seguida por uma bolha mais alta de
amarelo palha. Em um atraso, meu cérebro processa que é
uma garota ruiva e um garoto loiro, seus pés batendo em
uma bola de futsal, uma pequena bola pesada feita para
praticar toques e controle. É quase perfeito se você quiser
jogar futebol dentro de casa sem quebrar nada. A bola é
muito pesada para se levantar no ar.
Eles passam por mim, sem nem perceber que estou lá, e
desaparecem em uma grande sala aberta à esquerda. Há uma
mesa comprida com algumas pessoas sentadas na outra
extremidade, suas mãos em torno de canecas de chá
enquanto jogam um jogo de tabuleiro. A silhueta de uma
mulher está mais ao fundo da sala, alta, com cabelos loiros
na altura dos ombros. Ela é magra e esguia, e quando ela se
vira de perfil, meu coração fica preso na garganta. Eu
conheço esse nariz.
Meu cérebro está em negação. Eu ouvi sua risada. Ela tem
o nariz dele. Mas isso é impossível. É uma coincidência. O
nariz de Ryder é apenas... bem, é um nariz perfeito. Uma
mulher linda teria um nariz perfeito.
Eu ando timidamente em direção à sala ecoante,
enquanto minhas mãos tremem. Uma das pessoas na mesa
ergue os olhos. Um homem com cabelo castanho escuro e
olhos verdes brilhantes. Desta vez, meu coração está batendo
forte em meus ouvidos. Eu também conheço esses olhos.
Sim, idiota, você conhece. Eles são os olhos do Dr. B. Esse cara
provavelmente é filho dele, de qualquer maneira.
O homem se endireita na cadeira, os olhos fixos em mim
enquanto chama:
— Mãe?
A mulher parece não ouvi-lo. Suas mãos e olhos estão
focados em uma tarefa alimentar.
— Mãe — o homem diz novamente. Há uma mordida em
sua voz que chama sua atenção.
Finalmente, ela ergueu os olhos. Eu fico olhando para ela
enquanto a náusea revira meu estômago. Eu conheço muitos
desses traços. Eu conheço o topo dessas maçãs do rosto. Essa
sobrancelha lisa e alta. Aqueles olhos grandes, exceto os dela,
que são azul mercúrio.
Eu tenho que estar imaginando coisas. Não há como, há
apenas...
A mulher corre em minha direção, o conjunto urgente em
suas feições me lembrando ainda mais de Ryder. Eu tenho
que estar alucinando. É porque sinto falta dele, algo
estúpido, porque estou estressada e solitária. Quero seus
braços de galho de árvore me envolvendo em um abraço
sólido, seu cheiro de pinheiro e cedro, o sussurro de sua
flanela contra minha pele, a pressão de seus lábios em meu
cabelo maluco.
Ela praticamente me arrasta para um assento à mesa e me
senta.
— Pronto, sötnos — ela murmura.
Eu fico olhando para ela atordoada.
— O que você disse?
Ela sorri suavemente.
— É apenas um elogio. — Sua voz está tingida com um
sotaque que não consigo identificar. Suas vogais são
redondas e cadenciadas, suas consoantes pousando na frente
dos lábios franzidos. — Você está bem, Willa?
Concordo com a cabeça lentamente enquanto o
constrangimento queima minhas bochechas e a realidade
afunda. Deus, que vergonha. Eu não tenho nada que estar
aqui. Estou ouvindo sua risada, vendo suas feições nessas
pessoas. Estou imaginando todas essas conexões invisíveis
com Ryder, em uma sala cheia de estranhos que estão
tentando não olhar para mim com curiosidade, mas
principalmente falhando.
Elin coloca sua mão sobre a minha. Esta é a primeira vez
que a conheço, mas não estou surpresa que ela soubesse
quem eu era. Eu me pareço com a mamãe. Eu fico olhando
para ela estupidamente, notando que ela é ridiculamente
bonita.
— Posso pegar alguma coisa para você? — ela pergunta
baixinho.
Uma porta se fecha em algum lugar próximo, atraindo
seus olhos. Eles se alargam e depois voltam para mim. Antes
que eu possa responder, ela envolve um braço em volta de
mim.
— Você parece fraca. Você gostaria de deitar? Eu tenho
um quarto próximo ao de sua mãe que–
— Não. — Eu fico trêmula, mas consigo ficar de pé. — Eu
vou ficar bem, obrigada. Eu sinto muito por ter entrado. Eu
pensei... — A mortificação aperta meu estômago. — Eu estou
indo.
Eu ando para trás, sabendo que estou sendo estranha e
rude. Estou me intrometendo. Estou fora do lugar e
emocionada. Preciso voltar para mamãe e minha pequena
caverna.
Elin se levanta, o rosto contraído de preocupação.
— Por favor, Willa, apenas sente aqui um momento.
— Eu não posso. — Eu começo a me afastar. — Mas
agradeço–
Eu bato violentamente em uma parede humana muito
sólida que me deixa sem fôlego. Quando tropeço para trás,
uma mão se estende e me firma.
Espera.
Pinheiros, homem quente, sabonete limpo. É o cheiro de
Ryder. Eu olho para os pés do homem. São as meias de malha
que ele sempre usa. Seu jeans surrado. Meus olhos viajam
mais alto. Flanela. Minha respiração está voando, meu
coração disparado. Mais alto. Mais alto. Barba de cauda de
esquilo. Nariz perfeito. Olhos verdes.
Lágrimas embaçam minha visão. Os olhos de Ryder
travam com os meus, tensos de preocupação.
— Era você — eu sussurro.
Eu tropeço para trás, fora de seu alcance. Balançando ao
redor, eu olho para todos eles. Sua família. Seus rostos se
parecem com os dele. Culpa. Pena. Tristeza. Todos eles
sabem. Eles estão envolvidos nisso. Volto para Ryder, eu
pisco rapidamente, a descrença correndo por mim como um
frio entorpecente.
Perifericamente, ouço sua mãe levar todos embora. Há
uma porta auxiliar que ela fecha, deixando-nos sozinhos na
entrada. Mesmo sendo enorme, o cômodo parece
dolorosamente pequeno, o espaço entre nós é claustrofóbico.
Eu tenho que sair daqui. Não consigo nem começar a
endireitar isso na minha cabeça.
Recuando, minha mão se atrapalha para a maçaneta da
porta da frente. Eu a abro e corro para fora, correndo tão
rápido quanto humanamente possível. Humilhação,
confusão, traição, rugem em meus ouvidos enquanto dou a
volta na casa. Sentei-me no quarto da mamãe olhando pelas
portas de vidro o suficiente para saber que seu quintal é
ladeado por um bosque onde posso desaparecer.
Estou correndo, mas ouço passos batendo atrás de mim,
chegando até mim. Estou quase nas árvores, tão perto–
— Willa!
Eu suspiro, meu dedo do pé fica preso na terra e eu bato
no chão. Olhando para o céu escuro, engulo em seco como
um peixe fora d'água. Eu tinha que estar imaginando. Não
poderia... não pode...
Ryder cai sobre mim, suas mãos sussurrando sobre o meu
corpo, verificando se há danos. Lágrimas escorrem pelo meu
rosto enquanto eu olho para ele. Nunca senti tantas coisas ao
mesmo tempo. Quando seus olhos encontram os meus
novamente, eles estão transbordando de emoção também.
— Ryder?
Ele faz um barulho que eu nunca ouvi antes – um som
cheio de dor. Suas palmas vão para os olhos, enxugando-os
furiosamente. Eu me sento e agarro seus pulsos, a situação
de alguma forma mudou. Agora estou preocupada com ele.
— O que é?
As mãos de Ryder caem, seus olhos encontram os meus.
— Linda — ele diz calmamente. Sua voz é baixa e rouca
de desuso. É veludo esticado em madeira crua, chá quente
derramado sobre gelo rachado. — Sua voz, é… — Sua voz
falha e ele murmura, então sinaliza, a palavra que eu não
consegui decifrar naquele dia em que comemos fora.
Linda.
Ele pode ouvir. Ele pode falar. Como isso é possível? Foi
a cirurgia? Meus pensamentos confusos se dissolvem
quando um soluço sai do meu peito, porque de repente tudo
que posso fazer é sentir. Feliz por ele. Aliviada. Insanamente
desesperada para tocá-lo. Sua voz e emoção parecem uma
rajada de morteiro que rasgou minhas costelas e destruiu
meu coração.
Pego sua camisa e o puxo para mim. Não é um beijo. É
uma colisão. É o esmagamento de uma boca na outra, uma
demanda por algo que eu nunca acreditei que teria,
desespero para que fosse meu. Seu gemido é alto e
desinibido. Isso ecoa na minha boca quando seus lábios
encontram os meus avidamente, enquanto seus dedos
mergulham em meu cabelo.
Grosseiramente, Ryder me empurra para baixo, seu peso
me ancorando contra a grama. Cotovelos enquadrando meus
ombros, peito contra o meu. Eu o empurro o suficiente para
respirar e agarro seu rosto.
— Diga isso de novo.
— Willa — diz ele imediatamente.
Eu o puxo de volta para mim. Outro beijo punitivo
machuca nossos lábios, estala os dentes. Eu chupo sua
língua, a palma da mão passando através de sua calça jeans.
Eu sou selvagem. Eu preciso dele. Suas mãos voam para
cima da minha camisa, enquanto meus dedos soltam os
botões do jeans. Ele belisca meus mamilos suavemente
enquanto se inclina para o aperto da minha palma. Meus
olhos reviram na minha cabeça.
— De novo — eu sussurro.
Ele respira contra minha pele.
— Willa.
Finalmente, todas as perguntas que precisam ser
respondidas ecoam na minha cabeça e no meu coração. Ele
está falando. Tem que ser a cirurgia que ele escondeu de
mim. Ele escondeu muito de mim.
— Ryder, pare… — Ele se inclina para trás, olhando para
mim em confusão. — Você... você, seu idiota mentiroso! —
Eu grito, loucamente rastejando debaixo dele e puxando
minha camisa para baixo.
Como eu acabei embaixo dele, prestes a implorar para ele
me levar na grama bem aqui, sob as estrelas? Eu fiquei
distraída. Eu me distrai muito quando aquela voz chamou
meu nome. A voz possibilitada pela cirurgia para corrigir
sua audição e habilitar a fala mais uma vez. A cirurgia da
qual eu nunca soube até depois do fato. Assim como eu
nunca soube que seu pai era oncologista, que seu pai era
oncologista da minha mãe. É muito melhor que ele também
não saiba.
— Você sabia?
Ryder se levanta, abotoando sua calça jeans, olhando
para mim. Estou tão acostumada com sua quietude, que o
longo momento que se estende entre nós não me incomoda.
— Willa–
— Me responda. — Tenho que lutar contra o
estremecimento que sua voz envia pelo meu corpo. Ele
afunda nos meus ouvidos, desce pela minha espinha e se
inflama entre as minhas pernas. Eu tenho que ignorar isso.
— Você sabia que ele era o médico da minha mãe? Você sabia
sobre a minha mãe?
Ryder suspira.
— Foi um acidente. Eu o encontrei para almo... — Sua voz
falha, como se a palavra não funcionasse para ele. Ele limpa
a garganta e engole. Seu discurso está hesitante. Cada
palavra soa como trabalho difícil.
Eu empurro minha simpatia de lado. Estou com raiva
dele. É disso que preciso lembrar.
— Eu o encontrei para almoçar e derramei água em sua
mesa — diz ele. — O arquivo dela ficou molhado.
O quintal gira. Ryder estende a mão para me firmar pelo
cotovelo, mas eu me arrasto para fora de seu alcance.
— Por que você não me contou?
Sua boca funciona. Eu vejo seus olhos verdes se
arregalarem.
— Te contar o quê? Que eu sabia que sua mãe estava
doente? Que meu pai era seu médico? Willa, você não me
disse nada. Perguntei sobre sua mãe, sua vida familiar. Você
escondeu isso de mim.
— Não se atreva a me culpar! — Eu marcho até ele e
coloco um dedo em seu peito. — Esse é meu negócio
particular–
— Assim como a prática médica do meu pai!
Eu arranco meu cabelo.
— Quando você soube que iríamos para sua casa, por que
não disse nada?
— Eu tentei — Ryder geme. — Você continuou me
evitando. Eu não poderia te enviar uma mensagem assim.
Não é o suficiente. Não está bom. A profundidade da
omissão que existe entre nós é impressionante. Sinto como se
tudo o que fazia Ryder se sentir seguro tivesse sido
arrancado de mim. Como ele poderia sorrir para mim e falar
comigo e estudar comigo, noite após noite, sabendo de tudo
isso? Saber que ele faria uma cirurgia no ouvido e depois
seria capaz de falar, sem me dizer nada disso. Escondendo o
aparelho auditivo de mim. Escondendo sua própria história
com o esporte que ambos amamos. Que porra Ryder me
disse?
— Willa — Ryder implora. — Entenda, por favor.
Parece que continuo com o processo verbal. Ele dá um
passo em minha direção, mas eu recuo. Seus olhos se
estreitam, sua mandíbula aperta. E antes que ele possa dizer
mais alguma coisa, eu me viro e corro para as árvores.
22

CARAMBA, ESSA MULHER É RÁPIDA.


Willa corre para as árvores, seu corpo ágil cortando as
sombras. Felizmente, eu também mantive meu treinamento
de velocidade, e minhas pernas são cinquenta por cento mais
longas que as dela. Logo, estou bem atrás dela, ouvindo o
suspiro agudo de soluços enquanto ela corre. Odeio que
esses sejam os primeiros sons que ouço dela. Eu odeio que
foi assim que ela descobriu. Mas não posso mudar o passado
e sou um homem prático. Só consigo lidar com o presente e,
tanto quanto possível, com o futuro.
Ela tropeça em uma árvore derrubada e cai
estranhamente, cambaleando por um segundo antes de
decolar novamente. Olhando por cima do ombro, ela está
com os olhos arregalados, ardendo de raiva. Sua cabeça gira
para trás e ela aumenta a velocidade. Estou em vantagem
porque sei onde e como termina a propriedade dos meus
pais. Em breve, ela vai bater direto em uma parede de
privacidade de três metros de altura. Ela ficará encurralada.
A corrida de Willa diminui quando ela avista a cerca. Sua
cabeça balança para a esquerda, depois para a direita.
Quando ela se vira e me encara, seus olhos correm ao redor,
planejando sua fuga.
— Chega, Willa. Chega de fugir. Vamos conversar sobre
isso.
Willa me encara, enxugando a mão instável sob o nariz.
— Não.
— Sim.
Ela balança a cabeça. Tudo bem. Eu posso ser o cara mau.
Irritá-la um pouco. Não é a primeira vez que faço isso. Dois
passos em direção a ela antes que ela soubesse que eu estava
chegando, eu me curvo e a jogo por cima do ombro. Tenho o
cuidado de colocá-la do meu lado esquerdo, mais longe do
meu ouvido bom. Então me lembro que não tenho mais
ouvidos bons e ouvidos ruins. Eu tenho novos ouvidos.
Ambos a ouvem igualmente bem.
Como previsto, ela grita. Eu estremeço, tentando me
proteger o melhor que posso.
— Ponha-me no chão, seu filho da puta mentiroso, de
flanela, galho de árvore, lenhador! — ela grita.
Eu apenas aperto meu aperto em torno de suas pernas e
a coloco mais alto no meu ombro. Toda a caminhada pelo
gramado é pontuada por seus gritos e palavrões. Ela bate os
punhos nas minhas costas e puxa suas pernas fortes sob o
meu aperto. Eu apenas fecho meus braços em torno deles.
Quando abro a porta da frente, a pobre Ziggy está lá,
boquiaberta. Ren põe a mão sobre os olhos dela e a arrasta
de volta para a cozinha. Willa parece sentir que estamos indo
para o meu quarto porque seu pânico se instala na forma de
punhos socando minhas costas.
— Me. — Soco. — Coloca. — Soco. — No. — Soco — Chão.
Depois de fechar minha porta, eu a deixo deslizar pelo
meu corpo, e imediatamente ganho um soco no peito. Nossos
olhos se encontram.
— Diga-me por que você está com raiva. Diga-me para
que eu possa–
— Para você poder arranjar uma maneira de sair disso?
Para que você possa me enganar de outra forma enquanto
cobre sua bunda?
Eu cambaleio.
— Willa, não. Eu... eu nunca quis te enganar.
— Exceto quando você escondeu seu aparelho auditivo
de mim. Quando você nunca me disse que jogava futebol.
Quando você descobriu que minha mãe é a paciente do seu
pai. Quando você soube que ela estaria morando aqui.
Quando o seu procedimento "pequeno" para seus ouvidos
era, na verdade, destinado a revisar sua audição e devolver
sua fala. Explique-me como você conseguiu fazer tudo isso
sem querer me enganar.
Eu passo uma mão instável pelo meu cabelo.
— Ok, quando você coloca dessa maneira–
— Inferno, Ryder. Essa é a única maneira de colocar isso!
Como você teve a audácia de me segurar aqui, esperando
que eu me desculpasse...
— Usei o aparelho auditivo porque queria ouvir sua voz
— digo. — Porque quando eu ouvi você na aula de Aiden,
não foi o suficiente.
O queixo de Willa cai.
— E-eu não sabia que você murmurava para si mesma.
Eu não sabia porque nunca tinha ouvido isso antes. Eu não
sabia até que estava acontecendo, Willa. Não contei a você
sobre futebol porque parecia inutilmente triste. Eu estava
tentando seguir em frente. Não falei sobre sua mãe porque
você nunca falou sobre ela. Eu tentei, Willa, mas você não
facilita. Você afasta as pessoas quando elas querem estar
perto de você.
Eu faço uma pausa enquanto minha garganta aperta.
Willa me encara, seus olhos se arregalando. Ela parece
assustada, como um animal selvagem encurralado.
— Eu sei que você está em choque. Eu sei que este é um
pequeno mundo distorcido, mas, Willa, ainda sou eu. Não,
não temos sido tão abertos sobre algumas coisas, mas
estivemos lá quando precisávamos um do outro–
Ela fica rígida. Seus olhos se contraem de pânico.
— Eu não precisava de você.
Essas palavras me atingiram como um golpe físico.
— Todo mundo precisa de alguém, Willa.
— Eu não. — Ela se inclina, fixando os olhos em mim. —
Eu. Não. Preciso. De. Qualquer um. Exceto mamãe. — Ela
funga e limpa o nariz com força. — De quem eu vou
certifique-se de que está tudo bem. Mamãe nunca mentiu
para mim. Posso dizer o mesmo sobre você?
Estou vazio de palavras. Não, não posso dizer que não
menti por omissão. Não, não posso negar que retive partes
da minha vida. Mas Willa também. Ela está apenas
vasculhando cada pedaço de material que pode e jogando
contra mim. Qualquer coisa para manter distância.
Willa puxa os ombros para trás, sua mandíbula cerrada
enquanto ela interpreta meu silêncio exatamente como ela
precisa.
— Isso foi o que eu pensei.
Ela abre minha porta e sai, mas desta vez, eu não a
persigo. Desta vez, eu caio no chão e deixo essas palavras se
estabelecerem.
Eu não preciso de você.
Eu não preciso de ninguém.
— Mas, raio de sol — murmuro para a sala vazia. — e se
eu precisar de você?

— Ryder, você quer leite?


A voz da mamãe me tira dos meus devaneios. Sua mão
paira sobre meu café com uma pequena jarra.
— Oh, não, obrigado, mãe.
Ela sorri e parece que está chorando.
— Não consigo deixar de ouvir sua voz. — Enxugando
os olhos, ela abaixa a jarra e se volta para o pão recém-assado
que está fatiando. — É mais profunda do que eu lembrava.
— Isso é porque suas bolas finalmente caíram.— Axe me
cutuca enquanto cai em um banquinho ao lado.
— Axel! — Mamãe lhe dá um olhar severo, mas ainda
desliza uma xícara de café em sua direção.
— Desculpe, mãe. Então, sua amiga. — Axe abaixa sua
voz e toma um gole de café, seus olhos, que são iguais aos
meus, enrugando-se sobre sua caneca. — Ela é gostosa.
Eu aperto minha mandíbula.
— Ela não é sua. Ela também é tipo... dez anos mais nova
que você.
Axe zomba.
— Seis, se ela for da sua idade, e as mulheres gostam de
homens mais velhos. Eles gostam de maturidade. Uma
carreira estabelecida.
— O que explica por que você está solteiro, Axelrod. —
Ren se abaixa do meu outro lado e alcança a tábua, pegando
uma fatia de pão de passas mais rápido do que mamãe
consegue afastar sua mão.
— Vai se foder, Søren — Axe resmunga em seu café.
As bochechas de Ren escurecem com um rubor de raiva
enquanto ele enfia o pedaço inteiro de pão em sua boca. Ele
parece prestes a dar a merda de um ataque. Ren odeia seu
nome completo.
— Meninos. — Mamãe levanta as sobrancelhas. Algo na
intensidade de sua carranca estranhamente me lembra Willa.
Meu café coalha no meu estômago. — Eu uso esse termo,
meninos, deliberadamente. Você vê seus irmãos mais novos
agindo assim? Por que estou ensinando os mais velhos?
— Porque eles ainda estão dormindo — Ren murmura
com a boca cheia. — Dê tempo para Viggo e Ollie acordarem
e pergunte o que eles fizeram no quintal.
Os olhos da mamãe se arregalam em alarme antes de
fecharem e ela respira fundo. Esses dois colocaram os
primeiros sinais de envelhecimento em sua testa e perto de
seus olhos.
— Eu vou lidar com isso mais tarde. A questão é que é
Julafton. Noite de Natal. Eu gostaria que vocês fingissem por
um dia que não tem bocas nojentas e que vocês gostam um
do outro, förstått?
É a versão sueca de estamos entendidos? com a expectativa
enfática de ser bem compreendido.
— Sim, mãe — todos nós murmuramos.
— Agora. Quero discutir sobre Willa e Joy — Mamãe
volta a fatiar o resto do pão e começa a colocá-lo
cuidadosamente na cesta à sua frente. — Acho que devemos
convidá-las para o jantar de Natal esta noite.
Eu engasgo com meu café. Axe aproveita a oportunidade
para bater nas minhas costas com mais força do que o
necessário.
— Sai fora. — Eu o empurro com tanta força que ele quase
cai do banco.
— Ryder? — Mamãe me observa, com a cabeça inclinada.
— É a sua casa, mãe. Sua decisão. Eu não esperaria que
elas dissessem sim, no entanto. Willa está chateada comigo.
Mamãe toma um gole de café e arrasta um banquinho
para o lado dela no balcão. Ela se senta com um suspiro.
— Por quê?
— Ela diz que fui desonesto, que escondi muito de mim
mesmo, mas ela também o fez. Nós dois estávamos jogando
o mesmo jogo–
Ren ri.
— Aquele em que vocês fingiam que se odiavam, mas
tudo o que você realmente queria fazer era...
Eu coloco a mão sobre sua boca e levanto minhas
sobrancelhas, gesticulando em direção a mamãe. Mamãe
sorri e bebe seu café. Quando estou confiante de que Ren não
vai continuar com essa linha de pensamento, eu largo minha
mão.
— Já faz um tempo que brincamos com fogo. Não acho
que Willa goste de sentir como se ela tivesse se queimado e
eu não.
Mamãe acena com a cabeça e pousa sua xícara.
— Mas você se queimou também, não é? Talvez você
tenha até se queimado pior?
Seus olhos prendem os meus em compreensão. É difícil
pensar e impossível dizer o quão furtivamente meus
sentimentos por Willa mudaram.
— Ela não sabe disso.
— Ela vai se você contar a ela — mamãe diz suavemente.
Eu mexo com meu guardanapo.
— Não tenho certeza se ela quer ouvir.
Os olhos dos meus irmãos perfuram os lados da minha
cabeça, enquanto eles percebem o que estamos dizendo.
Mamãe pega minha mão e a agarra.
— Seja corajoso, älskling, e dê uma chance a ela. Se não o
fizer, acho que vai se arrepender por muito tempo.
Assentindo, eu consigo sorrir. A ideia da mamãe é boa
em teoria. Mas ela não conhece Willa. Ela não sabe tudo o
que estou enfrentando.
— Obrigado, mãe. Vou pensar sobre isso.
Meu telefone vibra. Embora sua visão realmente tenha se
deteriorado, Joy descobriu a arte de ditar textos. Abrindo
meu telefone, li:
É a visita de Darcy a Longbourn hoje.
Traga sua bunda aqui e leia
me meu feliz para sempre.
Uma risada que não consigo parar sai do meu peito.

Ao seu serviço, milady.


Século errado, senhor.
— Família difícil — eu murmuro.
— O quê? — Mamãe pergunta.
De pé, coloco meu telefone no bolso da calça de pijama.
— Desculpa, nada. — Contornando o balcão, dou um
beijo na bochecha da mamãe. — Obrigado pelo café da
manhã. Volto em breve.
— Não demore muito! — Mamãe grita. — Eu preciso de
ajuda com o julskinka.
— Eu não vou, prometo.
Correndo para o meu quarto, coloco jeans e uma flanela,
é claro. As piadas de Willa sobre eles ecoam na minha cabeça
enquanto abotoo minha camisa. Ela pode provocar o quanto
quiser, mas usar uma camisa de flanela é como usar um
cobertor de segurança socialmente aceitável. Me processe,
gosto de estar confortável e confortado.
Uma vez lá embaixo, dou a volta no corrimão e caminho
pelo corredor até o quarto de Joy. Batendo duas vezes, espero
por sua voz.
— Entre — ela diz dramaticamente.
Eu sorrio enquanto entro porque não consigo evitar. Eu
gosto de Joy. Ela é uma espertinha, como Willa, com toda a
diversão e uma fração do sarcasmo. Ao contrário de Willa,
ela é incrivelmente direta, mas eu também sou, então
funciona bem. Ela também é muito inteligente. Cada vez que
leio para ela, Joy explica contextos culturais que eu nunca
conheci em Orgulho e Preconceito, e conta anedotas
engraçadas aleatórias quando algo na história desperta sua
memória. Não que Willa não iria amá-la pelo simples fato de
Joy ser sua mãe, mas eu posso ver porque Willa a ama tanto
assim. Joy Sutter é um bom momento.
— Você está me dando aquele olhar de novo. — Ela se
mexe na cama e suspira pesadamente.
— Não estou. — Sentando, eu examino Orgulho e
Preconceito. Eu franzo a testa quando abro o livro. — Foi aqui
que paramos há dois dias.
— Willa estava muito cansada para ler ontem à noite. Ela
apenas se enrolou na minha cama e desmaiou.
Cansada minha bunda. Willa estava um caco, é o que ela
estava. A culpa me atinge como um chute no estômago.
— Não é sua culpa, Lenhador. Willa é um campo minado
emocional, o que, para seu crédito, tem um bom motivo. —
Joy suspira novamente e levanta a cama. — Willa nunca teve
um pai. Ela cresceu sendo carregada por todo o país por
causa da minha carreira militar. As únicas constantes em sua
vida têm sido a bola de futebol a seus pés e sua mãe
assobiando para ela nas arquibancadas.
Joy puxa uma respiração estremecida e trai uma rara
janela de emoção.
— E ela está prestes a perder um desses.
Reflexivamente, envolvo minha mão na dela. O silêncio
paira entre nós enquanto procuro seus olhos.
— Ela sabe disso?
Ela balança a cabeça.
— Eu não posso.
— Sra. Sutter, você tem que contar a ela.
A mão de Joy agarra a minha com força enquanto ela
pisca para o teto.
— Eu não sei como. Não sei como partir o coração da
minha filha. Uma promessa que sempre fiz à Willa é que
nunca a deixarei, que neste mundo ela poderia contar com a
presença de sua mãe para apoiá-la.
Eu acaricio meu polegar suavemente ao longo de sua
pele.
— Com o devido respeito, você fez uma promessa que
nunca poderia cumprir. Os pais sempre deixam seus filhos,
a menos que terrivelmente seus filhos os deixem primeiro.
Willa sabe disso. Ela vai sofrer e lutar, mas não porque você
falhou com ela. Você não está fazendo mal por ela, por estar
doente, por estar...
Lágrimas pintam suas bochechas enquanto ela olha para
o teto.
— Morrendo — sussurra Joy.
Eu engulo um nó na minha garganta.
O silêncio volta a cair enquanto o sol se esconde atrás de
uma nuvem, banhando-nos nas sombras. Joy aperta minha
mão e me puxa para mais perto.
— Prometa-me uma coisa? — Seus olhos encontram os
meus. — Não desista dela, ok?
Eu apenas aceno, porque estou lutando para encontrar as
palavras certas. Joy solta minha mão e levanta seu dedo
mindinho.
— Falo sério, Bergman, ou vou te assombrar.
Eu rio com a espessura da minha voz, piscando para
afastar as lágrimas enquanto fecho os dedos com ela.
— Combinado.
— Agora. — Joy solta meu dedo e se recosta, as mãos
cruzadas afetadamente em seu colo enquanto seus olhos se
fecham. — Onde nós estávamos?
23

COM UMA ORELHA PRESSIONADA EM UMA FRESTA DA PORTA ,


meus olhos se fecham em concentração. É a primeira vez que
ouço as palavras faladas em voz alta. Minha mãe está
morrendo. Recusei-me a reconhecê-lo, mas eu sabia.
Subliminalmente, eu sabia por que ela estava saindo do
hospital, mas ouvir, pensar é muito mais doloroso.
Devo estar em choque porque não estou chorando. Não
estou nem respirando com dificuldade. Meu coração partido
é uma faca incandescente, cortando meu esterno. Ele rasga
meu peito, e eu sinto como se estivesse assistindo meu
coração bater, então pular para fora do meu peito, onde cai
com um estrondo no chão de madeira. Em seguida, é como
se meu intestino se desfizesse lentamente, um desenrolar
constante e ininterrupto. Há um paralelo triste e doentio em
como tirei aquele lenço do pescoço e revelei meu corpo para
torturar Ryder.
Ryder.
Eu ouço sua voz do outro lado da porta.
Meu corpo está distante da minha consciência. Estou
flutuando para longe, olhando para mim mesma, caída no
chão em uma piscina fragmentada de peças. Meus pulmões
são a próxima vítima. Eles entram em colapso sobre si
mesmos. Eles apertam e murcham enquanto eu suspiro por
ar.
Eu me vejo enrolada no chão.
Meus soluços são silenciosos. Estou sem ar, destruída,
quebrada, até...
Risada. A risada da barriga da mamãe me puxa para
baixo contra o meu corpo, prendendo tudo dentro de mim
novamente, me tricotando. Meus pulmões se enchem. Meu
coração bate com segurança dentro do meu peito. Meu
estômago aperta. Tudo está onde deveria estar, enquanto
ouço. O clima muda na sala.
— Releia o primeiro pedido, por favor — diz mamãe.
— Em vão, tenho lutado comigo mesmo. — A voz de Ryder
é profunda e áspera. Ele lê a voz de Darcy com um
sofrimento tão crível quanto expressivo.
Ele é seu cavalheiro leitor.
Oh, porra.
Quentes, gordas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Esse
idiota. Aquele lenhador idiota irritante está lendo para
minha mãe doente e envergonhando Colin Firth.
“De nada adianta. Meus sentimentos se recusam a se deixar
dominar. A senhorita deve me permitir lhe dizer quanto a admiro e
a amo ardentemente.”
Eu escuto, extasiada, meu ouvido pressionado contra a
porta. A famosa discussão acalorada quando Darcy degrada
estupidamente a família de Elizabeth, aponta todas as suas
falhas. Quando ele termina, ouço mamãe suspirar
pesadamente.
— Sempre desejei que Austen não tivesse nos torturado.
— diz ela antes que uma tosse úmida a pare. Finalmente, ela
recupera o fôlego. — Todo aquele anseio em Pemberley, os
mal-entendidos sobre Jane e depois Wickham. Gostaria que
Lizzie e Darcy contassem um ao outro o que estava
acontecendo. Então eles poderiam ter ido direto para felizes
para sempre.
— Quero dizer, na vida real, estou cem por cento com
você. — diz Ryder. — Não vejo sentido em nada além da
comunicação direta.
Mamãe tosse.
— Amém. Se todos falassem a sua verdade, todos nós
evitaríamos muito drama.
— Concordo. Mas, parece que não é tão simples para a
maioria das pessoas. Dizer verdades duras exige tempo e
coragem, ao passo que, para pessoas objetivas e analíticas
como você e eu, é o nosso cabeamento. Não é uma virtude, é
apenas nossa natureza.
— E, claro, no caso de Lizzie e Darcy, isso é literatura. É
feito para nos torturar, por falta de uma palavra melhor, em
uma espécie de prazer do caminho. Essa tensão prolongada,
é a melhor parte.
A voz de Ryder é baixa e extremamente áspera. Parece
que ele conseguiu tomar um café antes de mamãe o convocar
para ler para ela.
— Você tem que trabalhar duro por sua habilidade
forçada de ser vulnerável, seu medo obstinado de se abrir
que causa todos aqueles mal-entendidos, antes de sua
reconciliação. Isso é o que o torna tão gratificante e
significativo — diz ele. — A doçura de admitir seus
sentimentos só é poderosa porque passaram por muito para
chegar a esse entendimento. Eles têm que superar suas
inseguranças e suposições, lutar para descobrir a verdade.
Então, e só então, eles percebem o que significam um para o
outro.
Mamãe ri baixinho.
— Você fala como se tivesse alguma ideia sobre isso, meu
jovem.
Eu ouço o corpo de Ryder se mexer na cadeira. Sua
garganta fica limpa.
— É... é uma boa história. Já li isso antes, tive que estudar
para uma aula no ano passado. Qualquer um diria a você o
que estou dizendo.
— Mas talvez nem todos tivessem sentido isso.
Há um longo silêncio até que a voz de Ryder finalmente
o rompe.
— Possivelmente.
— Tudo bem. Vou parar de fazer você usar suas palavras
sentimentais. Obrigada por reler isso. Agora vamos começar
com a parte boa.
— Certo. — Ryder pigarreia.
Fico ali sentada mais tempo do que deveria, ouvindo
Darcy e Lizzie esclarecer a confusão, o segundo pedido de
Darcy. Eu escuto, cometendo a mesma transgressão pela
qual acusei Ryder como uma idiota, mas estou mergulhada
no pescoço da minha hipocrisia, enraizada no local. Ryder
continua lendo, parando para o que parece ser um copo
d'água antes de limpar a garganta. Ele lê a surpresa da
família Bennet com seu noivado e meus pensamentos vagam
com a história. Estou mais calma, contente com esse final
feliz, até que o diálogo deles, começando com as palavras de
Lizzie para Darcy, faz um suor frio escorrer pela minha
espinha.
“Meu comportamento com você, para dizer o mínimo, sempre
beirou a descortesia, e eu mais lhe dirigia a palavra para importuná-
lo do que não. Agora, seja sincero: você me admirou pela minha
impertinência?”
“Pela vivacidade de sua mente, sim.”
Meu coração bate em dobro em meus ouvidos. O toque
abafa todos os outros sons. É como se Austen estivesse nos
descrevendo.
Ryder continua lendo, mas eu não ouço claramente até
que o zumbido em meus ouvidos diminua, assim que ele lê
a frase de Lizzie: “Em especial, por que, quando fez a visita,
pareceu não se importar comigo?”
Ele lê a resposta de Darcy com uma naturalidade estoica
que é Ryder puro. “Porque você estava austera e silenciosa e não
me deu nenhum encorajamento.”
Já li este livro muitas vezes para contar, então meus lábios
falam a linha de Lizzie automaticamente. “Mas eu estava
envergonhada.”
“E eu também.”
As palavras saem silenciosamente da minha boca. “Você
devia ter falado mais comigo quando veio jantar.”
Ele faz uma pausa. A resposta de Darcy na voz de Ryder
fez meu coração pular. “Um homem que tivesse menos
sentimentos poderia.”
Eu caio no chão completamente e olho para o teto.
Pensamentos assustadores passam pela minha cabeça. Eu
vejo toda a nossa animizade em uma montagem
arrebatadora. Mal-entendidos. Quieto ponderado. Longos
olhares. Debate implacável. Toques lúdicos, puxões de
cabelo, cutucadas de costelas.
Cada. Beijo.
Muitas emoções se enredam em meu peito, apertando e
apertando. É mais difícil respirar novamente. Em um
segundo, meu coração dispara em direção à minha mãe, no
próximo, em direção a este retrato da realidade que se
desenrola lentamente entre Ryder e eu.
Antes que eu possa pensar mais sobre isso, sou arrancada
dos meus pensamentos quando a voz de Ryder fica mais
perto. Tive de entrar pela porta da frente porque a entrada
externa do quarto da mamãe estava trancada. Eu não queria
arriscar acordá-la quando percebi que estupidamente
esqueci minha chave. Era sufocar e pegar a entrada principal
pela casa, ou esperar até que fosse tarde o suficiente para
ligar para minha mãe para que alguém me deixasse entrar.
Erguendo-me com dificuldade, mergulho no quarto
vizinho e me escondo atrás da porta, ouvindo o clique da
porta de mamãe sendo fechada e, em seguida, os passos
constantes de Ryder enquanto ele caminha pelo corredor. Ele
faz uma pausa por uma fração de segundo do lado de fora
da sala em que estou alojada. Seu nariz levanta. Seus olhos
se estreitam. Ele se parece com um gato selvagem que sentiu
o cheiro de sua presa. Quando sua cabeça cai, eu vejo, o
pequeno disco aninhado em seu cabelo loiro espesso, um
pedaço de cabelo raspado, bem atrás de sua orelha.
Como funciona? Parece elétrico e complicado. Ele tira no
chuveiro? Ele usa quando vai para a cama à noite? Quando
ele está na cama por outros motivos?
Não. Não pense em Ryder em ambientes sexualmente
sugestivos.
Finalmente, ele se afasta. Uma longa exalação me deixa.
Ufa. Estou segura.
Cuidadosamente, coloco minha cabeça para fora e me
esgueiro de volta para o corredor, antes de entrar no quarto
de mamãe.
— Willa. — Ela sorri para mim, dando tapinhas na cama.
— Adivinha? Fomos convidadas para o jantar de Natal.
Um gemido me deixa. Talvez não tão segura, afinal.
Mamãe e eu temos uma discussão. Que fica acalorada. Eu
saio do quarto dela e bato a porta como uma criança
petulante. É meu último Natal com ela, não sou burra. Não
quero compartilhá-la com mais ninguém.
Quando eu volto, moderadamente mais calma, mamãe
pula de volta para isso. Ela realmente adoraria ser paga para
argumentar para viver. Ela vive por uma boa briga.
— Eles são uma família gentil, Willa. Você é amiga do
filho deles...
— Aminimiga — eu corrijo.
Mamãe não se intimidou.
— Você conhece bem o Dr. B. Qual é o problema? — ela
pergunta com voz rouca.
Quando ela tosse em seu braço, eu simplesmente me
sinto culpada. Eu sei que estou sendo difícil e obstinada. Não
significa que posso me obrigar a parar.
— Tudo bem, eles são uma boa família, mas não são
minha família.
— Mas eles podem ser uma família para você.
Raiva e lágrimas quentes sufocam minha garganta.
— Não, você não pode, Joy Sutter. Você não pode me
passar por cima deles. Você não se foi. Ainda não.
— Mas eu irei! — ela grita, batendo as mãos no cobertor.
— E você nem me deixa fazer o que posso para cuidar de
você. Para ter certeza de que você não vai passar o próximo
Natal sozinha... — Seus ombros tremem enquanto ela cobre
o rosto. Eu imediatamente jogo meus braços ao redor dela.
— Sinto muito — eu sussurro.
— Você é tão teimosa, Willa. — Ela enxuga os olhos. —
Ter o jantar de Natal com eles não causará minha morte.
Ficar sentada aqui sozinha comigo nesta sala também não vai
atrasar.
— Ok — eu digo apressadamente, esfregando suas
costas, me sentindo péssima por fazê-la chorar. Mamãe
nunca chora. — Eu sinto muito. Eu vou fazer isso. Podemos
ir quando você estiver pronta.
Mamãe suspira trêmula e se recosta.
— Obrigada.
Depois de um cochilo aconchegante que vai de alguma
forma restaurar nosso humor, eu a ajudo a colocar um suéter
de tricô quente e um par de calças de moletom macias. Nós
a envolvemos em um cobertor grosso quando ela desliza
para fora da cama em sua cadeira de rodas. Encontro seus
brincos de argola de ouro e os prendo porque suas mãos
estão muito trêmulas.
Quando eu me afasto, eu olho para ela.
— Maravilhosa como sempre.
Mamãe sorri genuinamente, estalando os lábios
enquanto aplica o protetor labial colorido.
— Ora, obrigada. Você, no entanto, está horrível. Vá
tomar banho, doma o ninho daquele pássaro e tire esse trapo.
Eu olho para a minha camiseta vintage Mia Hamm.
— Como é que é?!.
Mamãe sorri e cruza as mãos no colo.
— Estou esperando.
Um banho rápido e um pouco de creme para controlar os
cachos depois, coloco uma calça de ioga preta e um suéter
vermelho desleixado que tende a escorregar do meu ombro.
Isso me deixa maluca, mas mamãe diz que é sofisticado.
— Meu sutiã continua aparecendo.
Mamãe revira os olhos.
— Honestamente, você tem vinte e poucos anos ou eu?
Esse é o ponto.
Eu dou a ela um bom olhar.
— Não vou ao jantar de Natal para seduzir ninguém, Joy
Sutter.
Ela faz um ruído evasivo com a garganta.
— Vamos, prole obstinada. É hora de ver você se
contorcer.
— Mãe!
Cacarejando, mamãe se coloca à minha frente. Eu sigo em
seu rastro, empurrando a cadeira de rodas quando seus
braços começam a se cansar e ela coloca as mãos no colo.
Como da primeira vez que me aventurei neste corredor, o
ruído se amplifica, a luz cresce. Os nervos apertam meu
estômago.
— Acho que vou vomitar — murmuro.
— Absurdo. Respire fundo. É a ceia de Natal, não a
Última Ceia.
— Poderia ter me enganado.
Quando viramos a esquina, meu coração pula na minha
garganta. É uma explosão de Natal. Guirlanda fresca, velas
acesas em todas as superfícies possíveis. O violão tocando
música de Natal é um pano de fundo suave para a parede
iluminada pelas estrelas de janelas e portas de vidro da sala
enorme deles. Uma árvore de Natal está coberta de enfeites
feitos à mão e luzes cintilantes. As pessoas se aninham em
um sofá enorme em frente ao fogo, mãos segurando canecas
fumegantes, pegando peças de um jogo de tabuleiro, rindo,
conversando, se misturando.
É enjoativamente alegre.
Mas então, longe do caos aconchegante, Ryder está ao
lado de sua mãe na cozinha, conversando. Ela fala em um
idioma que não consigo entender, mas Ryder parece segui-
la, balançando a cabeça enquanto ela aponta para um
presunto enorme no balcão. Seguindo suas instruções, Ryder
está pronto para cortá-lo. Mas então ele abaixa a faca.
Observo suas mãos agarrarem e enxugarem a toalha,
depois desabotoar os punhos e dobrar lentamente o tecido
ao longo dos braços. É outro maldito strip-tease de antebraço
enquanto ele enrola uma flanela macia e gasta. Esta é uma
verde cor de árvore de Natal, quadriculada com branco e
vinho tinto. É muito festivo. Ele parece um sonho molhado
de Natal.
Eu engulo tão alto que o Papai Noel me ouve no Polo
Norte.
Ryder deve ouvir também, com seus novos aparelhos
auditivos, porque seus olhos se erguem e se fixam nos meus.
Aqueles olhos verdes se enrugam com o que parece um
sorriso, mas quem sabe, a barba espessa o esconde. Quando
ele pega a toalha novamente, eu engulo em seco, observando
sua mão trabalhar no tecido.
Eu preciso transar. Isto não está certo. Estou erotizando a
secagem das mãos.
— Oi. — eu consigo dizer.
Mamãe praticamente se solta do meu aperto e se vira
para frente, enquanto o Dr. B a guia para um espaço na mesa
que eles liberaram para sua cadeira de rodas.
Ryder se aproxima enquanto enfia a toalha no bolso de
trás. Mesmo isso é quente. Não há misericórdia neste
mundo.
— Oi. — ele diz baixinho. Seus olhos fixam-se nos meus
e a sala fica duas vezes mais quente. — Willa, sobre a noite
passada. Sobre tudo... desculpe. Eu queria... — Ele suspira e
passa a mão pelo cabelo. Seus dedos prendem as mechas,
lembrando-o de que estão puxadas para trás. Eu tenho que
sofrer enquanto ele prende o cabelo, observando aqueles
malditos músculos se acumulando sob sua camisa, seus
dedos longos e calejados puxando cada mecha loira para trás
em um coque apertado. — Eu gostaria de ter contado mais a
você. Eu estava com medo do que aconteceria se eu contasse
tudo. Segurar minhas cartas parecia necessário porque
estávamos jogando um jogo bastante brutal. As apostas eram
altas.
Eu concordo.
— Entendo. Eu também. — Eu deveria dizer mais. Eu
deveria assumir minha parte mais plenamente, mas mal
consigo falar.
Ryder não parece se importar com minha resposta
insignificante. Ele sorri.
— Perdoado?
— Perdoado. — Eu engulo em seco. — E eu?
Ele franze a testa e dá um passo mais perto, em seguida,
envolve a mão em meu ombro.
— Claro.
Seu toque completa o circuito que perdi. Eletricidade
estala faísca entre nós. Eu balanço em direção a ele, então me
puxo para fora disso.
— Você está incrível. — Sua mão gentilmente procura um
cacho meu e o enrola em seu dedo. — Você e essa cor.
Lembra-me do infame guardanapo vermelho.
Eu afasto sua mão.
— Não me lembro de você não ter gostado daquele
guardanapo na época.
Ryder sorri, mas seus olhos perfuram minha pele. Eu
sinto seu calor, seu peso enquanto viajam por meu corpo.
— Eu nunca disse que sim.
— Seus olhos são meio assustadores agora, Ryder. —
Suas pupilas são tão largas, eu só sei a cor de seus olhos
porque já vi isso antes. Ele tem a mesma intensidade de
apertar as coxas de quando o conheci.
Ele engole e pisca, se recuperando.
— Desculpa. Momento do homem das cavernas.
Um sorriso puxa minha boca.
— Momento do homem das cavernas?
— Você é linda. Tenho quatro irmãos prestes a ver você.
Estou me sentindo um pouco possessivo.
Essas palavras saem de sua língua e dançam em minha
pele.
— Oh. — eu digo estupidamente.
Esfregando o rosto, ele então deixa cair as mãos.
— Me ignore.— Seus olhos seguram os meus por um
longo minuto, antes de se inclinar e dar um beijo suave na
minha têmpora. — Feliz Natal, raio de sol.
Eu fico no lugar depois que seus lábios me deixam,
depois que seus passos desaparecem. Estou enraizada no
local, meus olhos fechados, o mundo condensado no eco de
seu beijo, queimando com significado.
24

MACCORMACK ESTÁ EM seu melhor comportamento não


professoral, e quando ele me encontra depois do jantar, ele
parece um cachorro com o rabo entre as pernas.
— Willa, eu quero me desculpar.
— Pelo que, Mac?
Ele limpa a garganta, seus olhos deslizando para Freya,
que está aninhada no sofá. Ela dá um pequeno aceno
enquanto seus olhos brilham ameaçadoramente para o
marido. Se eu não achasse isso um olhar tão admirável em
uma garota durona, eu estaria morrendo de medo por ele.
— Bem, isso chamou minha atenção, depois de algum
pensamento e reflexão, e, claro, o insight muito sábio de
minha adorável esposa–
— Mac, não vou contar à Freya sobre o seu
comportamento.
— Talvez não. — Ele enxuga a testa. — Mas ela está
assistindo, acredite em mim. Ela tem ouvidos em todos os
lugares.
Eu bufo uma risada.
— Cara, você está pirando.
Ele limpa a garganta.
— Direto ao ponto: eu confundi as linhas profissionais e
pessoais. Minhas intenções no início eram boas. Eu vi uma
aluna esforçada e uma pessoa próspera em você, e um aluno
disciplinado e uma pessoa cada vez menor em Ryder. Eu
sabia que ele seria capaz de lhe dar toda a ajuda de que você
precisava academicamente, e você seria persistente o
suficiente para perseguir o que queria e, com sorte, tirá-lo de
sua rotina. Pareceu um bom exercício de construção de
caráter.
— Oh, ele construiu caráter, certo. Também perdi cinco
anos da minha vida, facilmente.
Ele concorda.
— Sim, como eu disse, eu deixei sair do controle. Eu
investi no que vi entre vocês dois. Eu vi seu potencial e eu...
bem, eu brinquei de Deus um pouco e não deveria. Eu sinto
muito. Se você decidir levar isso aos meus superiores, vou
entender completamente.
— Mac. — Um sorriso inclina minha boca. — Por mais
que eu tenha fantasiado sobre muitas maneiras de matar
você durante o sono, estou grata. Depois de tudo dito e feito,
eu me saí bem naquela aula, graças a Ryder e ao fato de que
trabalhar com ele exigia que eu me recompusesse. Não, você
nem sempre foi legal, ou são, ou profissional, mas você me
deu o que eu precisava.
Meus olhos desviam para Ryder. Ele se levanta, braços
cruzados, conversando com os gêmeos irlandeses, Viggo e
Oliver. Meu coração dá um salto quando vejo todos os três
explodirem em gargalhadas, enquanto sua cabeça tomba
para trás com um sorriso.
— Eu não mudaria isso por nada no mundo — digo a
Mac.
Uma vez que Mac retorna para Freya no sofá, ela levanta
o copo para mim. Eu a aplaudo no ar e absorvo o momento
sozinha, fazendo um balanço da noite. Tem sido
incrivelmente agradável. A família de Ryder está além de
calorosa. As irmãs dele são comunicativas e gentis, Freya
conversou comigo sobre o programa de futebol feminino da
UCLA – ela também jogou, "uma vida atrás", como disse – e
Ziggy me cercou porque quer seguir os passos da irmã e
meus.
Os irmãos... todos se apresentaram. Mas de cada um
deles eu tinha o distinto senso de propriedade cautelosa,
como se eles não estivessem realmente sendo eles mesmos,
mas em seu melhor e mais digno comportamento. É quase
como se Ryder tivesse dito a eles para se comportarem ou
então...
— Isso é porque ele disse.
Uma voz próxima à de Ryder, mas não tão áspera, menos
barítona, corta meus pensamentos. Eu suspiro.
— Tenho uma lamentável incapacidade de não pensar
em voz alta.
Ren sorri.
— Ah, não se preocupe. E acredite em mim, fique feliz
por Ryder ter conversado com eles. Axe é um pau espinhoso
e os filhotes de homem ainda mal conseguiram dominar a
casa.
— Mas, quero dizer, eventualmente, eles não vão agir
assim, certo? Eles vão falar comigo sem parecer que estão
com medo de que Ry vai quebrar seus polegares?
Ren dá um tapinha no meu ombro suavemente.
— Confie em mim, você terá um trote em breve. Por
enquanto, você está sob a proteção de Ryder. — Seus olhos
azul-acinzentados cintilam. — Ele é louco por você. Ele
quebraria minhas rótulas se soubesse que eu te disse isso,
mas é óbvio. Você obviamente está louca por ele também.
Então, qual é o problema?
Eu cruzo meus braços sobre meu peito.
— Agora, Renny Roo, não devemos nos insinuar nos
negócios de outras pessoas.
Ele torce o nariz.
— Renny Roo? Meu nome é Søren, Winifred.
— Pare com isso. Isso não soa nem remotamente como
Willa.
— Foi improvisado. Não sou bom como Ryder. Vai com
calma comigo.
— Eu não posso. Eu sou uma antagonista de coração. —
Eu encolho os ombros e sorrio enquanto seus olhos estreitam
em irritação. — Razão pela qual eu tive que te cutucar sobre
seu nome. Søren é foda e Ryder disse que você não gosta. Por
que?
A expressão de Ren fecha ligeiramente antes que ele se
recupere com um sorriso e um olhar tímido de diversão.
— Eu vou responder a Ren, meio litro. — Ele se esquiva
da minha tentativa de cutucá-lo violentamente. — Você
deveria ter mais medo de me provocar. Sou um viking
gigante ruivo que ganha a vida patinando sob facas...
— Ei. — Ryder interrompe. Ele faz o sinal da cruz. — Não
falamos sobre a queda do filho pródigo.— Sua voz ainda é
nova, mas de alguma forma familiar. Meu estômago aperta,
ouvindo suas notas profundas e ásperas.
Ren suspira cansado.
— O hóquei não é tão terrível. Garanto que Bergmans
anda patinando no gelo há muito mais tempo do que
perseguindo uma bola em um gramado, parecendo ovelhas
dementes.
Ryder o empurra.
— Você também era bom no futebol. Isso é o que dói.
— Espere, você escolheu hóquei em vez de futebol? — Eu
me inclino e encontro os olhos de Ren. — E eles ainda te
reconhecem como família?
Ren levanta as mãos.
— Eu sou um maldito jogador profissional de hóquei e
você pensou que vendo órgãos no mercado negro. Jesus. Ele
nem te contou?
— Não. — Ryder coloca o braço em volta de mim e me
puxa para perto antes que eu o empurre. — Estou tentando
protegê-la. Ela não precisa saber sobre o mundo sórdido de
luvas de hóquei fedorentas, barbas de playoff e maria-patins.
Dr. B chama o nome de Ren enquanto ele ri.
— Salvo pelo Grande B. Eu não posso suportar a
perseguição — Ren diz ironicamente. — Até mais, mini Mia.
— Isso é um elogio! — Eu falo atrás dele. A parte de Mia
Hamm7. Não a parte mini. Eu não sou mini. Tenho um metro
e setenta e cinco, muito obrigada.
Meus olhos viajam de Ren, através da sala, então pousam
em mamãe. Ela está aninhada no sofá, jogando cartas com os
pais de Ryder e Axel.
— Ei — diz Ryder. Eu olho para ele e meu coração bate
em dobro.
Quando ele chega perto de mim, quase caio na árvore de
Natal.
— Devagar. — Seus olhos vagueiam sobre mim em
avaliação. — Você bebeu gemada um pouco demais no
jantar?
Eu o empurro.
— Estou sóbria, Abominável Homem das Neves.
— Não parece. — Seus olhos em mim são demais, então
eu me viro e olho para a árvore.
— Um pouco de orgulho nacional? — Uma centena de
pequenas bandeiras suecas salpicam os galhos. Gnomos,

7
Mia Hamm é uma ex-futebolista norte-americana. Hamm ganhou por duas vezes o título de Melhor
Jogadora do ano.
recortes de pão de mel duro e desenhos de palha trançada. É
perfeito.
Ryder sorri enquanto bebe sua xícara fumegante de vinho
com especiarias e não diz nada. Estou acostumada com sua
quietude, mas isso parece diferente. Esse silêncio tem um
peso com o qual me incomodo.
— Sua casa é filha de West Elm e da IKEA — eu deixo
escapar. — Seus irmãos são engraçados, inteligentes e
acolhedores. Sua família parece um cartão de Natal sueco.
Sua mãe cozinhou a melhor comida que já comi. Ela é um
gênio da culinária e uma supermodelo. Mistura de Julia
Child com Claudia Schiffer. Eu poderia cortar queijo em suas
bochechas.
Ryder engasga com sua bebida, em seguida, leva a mão
aos lábios e os enxuga.
— Jesus, Willa. De onde você tira metade da merda que
sai voando da sua boca?
— O absurdo é meu dom espiritual, mamãe diz. — Meus
olhos procuram a árvore, admirando-a, tanto quanto ela me
tortura. Que casa eles têm, família tão unida. Sei que a
abundância deles não equivale à minha falta, mas parece um
litro de suco de limão despejado em uma ferida aberta.
Ryder agarra meu cotovelo, fazendo minha respiração
engasgar na minha garganta.
— Willa, eu quero conversar. Podemos ir a algum lugar
privado?
Minha cabeça vira em sua direção.
— Por quê?
Sua mão alisa a barba, um novo hábito que surgiu à
medida que os pelos faciais infernais cresciam para um
comprimento de sobrevivência no meio da floresta.
— Bem, se eu te contasse, isso anularia o propósito de
falar em particular.
— Então diga aqui e esqueça a parte privada.
Ryder suspira, seus olhos se fechando antes de abrir
lentamente. Mais uma vez, suas íris brilhantes e verdes me
irritam. Elas são lindas demais. Esta noite inteira é uma
grande e bela justaposição à minha realidade.
— Tudo bem. — Ele coloca o vinho em uma mesa lateral
e se aproxima, deslizando as mãos pelos meus braços e
travando-os quando tento recuar. — Eu quero uma trégua.
Um cessar-fogo.
— Um o quê?
— Não quero mais ser aminimigo.
— O-o que você quer? — Minha voz está rouca. Parece
que minha calcinha está encharcada e a renda do meu sutiã
está prestes a se enrolar na minha pele em chamas porque
são os fatos.
A mão de Ryder segura meu queixo, seu polegar
acariciando ao longo do osso.
— Quero você.
— Você me tem. — Eu engulo. — Estou aqui.
Ryder balança a cabeça.
— Não como tem sido. Eu quero mais. Eu quero tudo.
— E-eu não faço isso.
Sua testa franze.
— Não faz o quê?
— Eu não tenho relacionamentos. Namorar não é para
mim. Tenho que me concentrar no futebol e na graduação, e
depois ir para o time feminino profissional que quiser. Ficar
apegada a alguém aqui é uma receita para o desastre... —
Minha voz some, enquanto seu polegar circula a pele atrás
da minha orelha. Meus olhos quase se fecham enquanto ele
desliza pelo meu pescoço.
— Hm. — Ryder se aproxima ainda mais, fundindo
nossas frentes. Cada plano duro de seu corpo, cada
mergulho e ondulação do meu. Um pequeno ruído patético
sai de mim. As bandeiras já estão a meio mastro, batendo no
meu estômago. — Que pena — diz ele calmamente.
Ele vai recuar, posso sentir. Eu aperto sua camisa antes
que ele possa, torcendo aquele material macio dentro dos
meus dedos, desejando estar envolvida nele. Eu gostaria que
fosse arrancado de seu corpo, um cobertor embaixo de nós
enquanto ele me enchia.
— M-mas, posso considerar expandir os parâmetros da
nossa animizade.
O corpo de Ryder fica imóvel.
— Então, você só me quer para... sexo — diz ele
calmamente. — Só para foder.
As palavras são simples, mas sua voz agita minhas
costelas e entre as minhas coxas com um sonoro estrondo.
— Sim — eu sussurro.
Seu polegar ainda está trabalhando, vagando ao longo da
minha clavícula exposta. Eu quero que ele morda. Eu quero
que ele me jogue por cima do ombro novamente e nos
tranque em seu quarto. Eu preciso que ele arranque minhas
roupas, me prenda contra a parede e me foda com minhas
leggings amarrando meus joelhos. Quero coisas imundas e
depravadas dele.
A boca de Ryder mergulha no meu ouvido, enquanto
meu corpo muda de estado de sólido para líquido.
— O que você está pensando agora?
Eu engulo alto.
— Coisas sujas. Coisas que eu não deveria pensar.
Sua risada silenciosa vibra em minha pele.
— A expressão em seu rosto sugeria isso.
— Uh. — Ele sai ofegante e fraco. Estou procurando o que
quer que solidifique minha estrutura molecular, tudo o que
normalmente define minha espinha dorsal com aço e envia
esses sentimentos suaves e nebulosos para longe de minha
mente. Mas não consigo encontrar.
Sua mão se curva sobre meu ombro e bate em cada
vértebra da minha espinha. Parece obscenamente sexual.
— Estamos em um impasse, então.
— N-não, não estamos. Você me quer, eu quero você. —
Eu me inclino em seu toque, observando com satisfação
enquanto ele assobia uma respiração e inclina sua pélvis para
longe. — Eu senti isso.
— Não significa que ele está conseguindo o que quer.
— Ok, então estamos falando sobre o seu mastro na
terceira pessoa agora...
— Sutter, então me ajude. — Ele aperta a ponte do nariz
e respira profundamente.
— Vamos. Nós podemos fazer isso. Não teremos mais
aulas juntos, não nos veremos a menos que tenhamos tempo
para isso. Podemos ter uma amizade colorida.
Ryder estremece quando eu digo isso. Percebo que disse
algo que ele não queria ouvir, mas é tudo o que tenho a dizer.
Eu gostaria de pensar que poderia dar a Ryder o que ele
quer, mas não posso. Eu não posso me preparar para um
coração partido. Não posso ser vulnerável quando estou
prestes a passar pela pior dor da minha vida ao me despedir
de mamãe. Não posso fraturar minha alma em outro pedaço
e dá-la a outra pessoa, só para ter que dizer adeus a ele
também.
— Lenhador, se eu desse a alguém, seria você. Mas eu não
posso.
Seu rosto se contrai. Uma grande mão envolve minha
cintura.
— Me desse o quê?
Eu me pressiono na ponta dos pés e beijo logo acima de
sua barba, enquanto sussurro:
— Tudo.
Covardemente. Willa, o leão covarde. Eu me afasto e me
junto à mamãe no sofá, enroscando meus braços nos dela. Ela
cheira a óleo de hortelã-pimenta e sorvete de baunilha.
Ela dá um tapinha na minha coxa suavemente.
— Como está minha garota?
Eu sorrio para ela e beijo sua bochecha.
— Ok. Como você está?
Mamãe sorri, virando-se por tempo suficiente para
colocar uma carta que parece garantir a vitória. Ela levanta a
mão em um punho comemorativo, dando início a uma
memória arrebatadora de sua presença na minha carreira no
futebol. Atinge meu peito com a força de uma marreta.
Mamãe gritando nas arquibancadas, com os punhos
erguidos. Aquele apito agudo que ela lançou no ar da noite.
Eu sempre ouvi isso. Sempre soube que ela estava lá,
torcendo por mim.
O que vou fazer quando não conseguir ouvi-la mais?
Como vou saber que ela ainda está aí?
— Você sempre saberá, Willa — ela sussurra, batendo no
meu coração. — Eu estou bem aí, para sempre. Escute com
atenção e você ouvirá. Eu prometo.

Mamãe morreu no dia de Ano Novo. Na noite anterior,


vimos a bola da Times Square descer da TV em seu quarto,
enroladas uma ao redor da outra sob uma pilha de
cobertores. Ela tinha ficado quieta a maior parte do dia,
olhando muito pela janela. Ela segurou minha mão e me
pediu para cantar para ela, canções de ninar que ela cantava
para mim, quando eu era criança. Eu massageei seu corpo
com sua loção de baunilha favorita, esfreguei seus pés
quando ela disse que eles estavam com frio. Ela não estava
com fome. Ela lambeu os lábios e queria protetor labial, mas
não bebeu nenhuma vez que inclinei o canudo em sua
direção. Eu sabia que significava que o adeus estava se
aproximando. Mas eu não sabia que estava tão perto. Eu
acho que ninguém sabia.
Adormeci, meus braços em volta de sua cintura fina,
minha cabeça enterrada em seu pescoço. E quando acordei
com o chilrear dos pássaros e a luz fraca do nascer do sol, eu
sabia que ela havia sumido. A sala parecia vazia. O mundo
parecia mais escuro.
Não parecia cheio ou brilhante desde então.
Deitei com ela por horas e chorei. Beijei sua bochecha fria
e sussurrei todos os meus medos sobre como viveria sem ela.
Eu emaranhei meus dedos nos dela e prometi que não
esqueceria um único momento, que tudo que ela me deu
estava trancado a salvo em meu coração. Olhei para seu
lindo rosto e disse que ela era corajosa, e se eu fosse metade
de quem ela era, ficaria orgulhosa disso. Então eu a beijei
mais uma vez, enquanto sussurrava um adeus contra seus
lábios.
No momento em que o Dr. B assumiu o meu lugar, andei
pela sala em transe e coloquei cada traço de nós em duas
mochilas. A vida da minha mãe e a minha, tão facilmente
contida em alguns fragmentos de tecido. Quando voltei para
o meu apartamento vazio, joguei-os contra a parede e gritei
tão alto que as janelas tremeram.
Eu ignorei as ligações de Ryder. Eu não fiz um funeral.
Suas cinzas estão em uma urna de cerâmica branca na minha
cômoda. Falo com ela sempre que estou em casa, me
escondendo de Rooney, da treinadora e de Ryder, de Tucker
e Becks e de toda a minha equipe. Qualquer pessoa que se
importe foi excluída. Porque meu coração está selado a
vácuo. Se eu abri-lo minimamente, se um sopro de ar entrar
sorrateiramente, minhas memórias não estão seguras e
minha vida segue em frente.
Eu não quero uma vida sem minha mãe. Eu não quero
seguir em frente.
Eu ouvi Rooney falando ao telefone. Eu ouvi Ryder entrar
no meu apartamento. Peguei a comida que ele deixou. Eu vi
as notas que ele rabiscou. Uma vez, quando ele se atreveu a
entrar no meu quarto, me escondi na cama, as mantas
jogadas sobre mim. Ryder ficou com a mão nas minhas
costas por longos minutos, até que, lentamente, seus dedos
deslizaram em meu cabelo, tentando estupidamente fazer
ordem no caos.
Assim como mamãe.
De alguma forma, eu apreciei. Por um momento
desesperado, eu me permiti fingir que cada carícia suave em
meu cabelo selvagem eram suas mãos, a presença firme e
quente atrás de mim, dela, após um longo turno no hospital.
Fechei os olhos, prendi a respiração e me banhei naquele
sonho até que seu toque desapareceu e a porta se fechou.
Então eu chorei até o nascer do sol brilhar através de minhas
cortinas.
Eu fiz progresso. Eu como regularmente agora. Eu corro
e malho algumas vezes por semana. Acompanho meus
exercícios de campo com Rooney. Mas sou uma casca de
mim mesmo. Eu sei disso. Só não sei mais ser outra coisa.
— Ei você. — Rooney coloca uma mão quente nas minhas
costas. — Você está com fome de quê?
Eu fico olhando para o meu dever de casa, sabendo que
preciso memorizar essas equações, mas também sabendo
que estou muito cansada e faminta para realizar qualquer
coisa. Com um suspiro pesado, deixo cair minha caneta.
— Nada. Sua vez.
Rooney se senta lentamente à mesa da sala de jantar e
aperta minha mão.
— Willa, eu quero dizer algo. Eu acho... Não. Deixe-me
começar de novo. Willa, sua dor é válida. Sua dor é real.
Eu fico olhando para ela.
— Mas?
— Mas nada. — Rooney se mexe em sua cadeira,
chegando mais perto. — E está ameaçando seu bem-estar.
Acho que é hora de falar com alguém. Vá para o
aconselhamento de luto. Não sei se eles são apropriados para
isso, mas talvez também procure antidepressivos. Não para
que você possa ser uma pessoa anormalmente feliz, mas para
que possa viver de novo. Já se passaram meses e você ainda
está lutando para funcionar, Willa. Não há vergonha no luto.
Você vai sofrer o tempo que precisar. Só há espaço para
cautela quando isso está comprometendo seu bem-estar.
Rooney enxuga as lágrimas do meu rosto que eu não
sabia que estavam lá.
— Estou aqui para lembrá-la de quem você é e do que
deseja, Willa. Você sempre será filha de Joy Sutter. Isso
nunca vai mudar. Mas você nem sempre será uma potência
do futebol. Você nem sempre terá essa educação gratuita.
Você nem sempre terá um homem esperando na sua porta
para lhe dar conforto. Algumas coisas são atemporais, o
amor de sua mãe, a marca dela em sua vida. Mas muito mais,
você tem que encontrar a força para agarrá-los antes que
desapareçam.
— Roo, eu não sei como — eu engasgo. Ela me puxa em
sua direção, me balançando em seus braços.
— Eu sei. Shhh. — Rooney beija meu cabelo. Isso me faz
pensar em Ryder e seus beijos nas minhas mechas loucas.
Sinto falta daquela faísca e fogo que costumava crepitar e
rugir entre nós. Sinto falta de sua barba espessa e de sua
flanela de lenhador macia como manteiga. Sinto falta de
nossos silêncios carregados tanto quanto de sua voz
profunda e recém-descoberta.
— Primeiro as coisas importantes, ok? — Rooney diz. —
Vamos falar com um conselheiro universitário. Fazer com
que você se sinta melhor descansada e com a mente clara.
Coloque suas notas de volta nos trilhos. Então pegamos o
cara.
Eu ri.
— Sim, isso ainda não está acontecendo. Não da maneira
que você pensa. Eu preciso de amigos, Roo. Nada mais.
Rooney pausa seu balanço por apenas um momento e me
aperta com mais força.
— Está tudo bem, Willa. Está tudo bem.
25

— QUEM FEZ ISSO!? — Eu rujo.


Tanto Tucker quanto Becks têm a sabedoria de parecer
aterrorizados.
— Sim! — Eu chuto uma bola de futebol errante direto
para eles e vejo com satisfação enquanto eles se espalham
para evitar serem pregados. — Vocês ainda estão felizes por
eu ter minha voz de volta? Seus filhos da puta! — Eu pulo
em direção a Tucker, rapidamente o derrubando no chão.
Suas costas estão presas sob meu joelho e eu tenho seu braço
torcido em uma posição que espero que seja dolorosa.
— Foi ideia dele! — Tuck uiva.
Eu solto Tucker com uma estocada vertical e corro para
Becks. Ele mal me evita antes de tropeçar, então bate na mesa
e desmorona no chão.
— Por favor! — Becks levanta as mãos. Ele parece que
está prestes a se cagar, e deveria. Meu um metro e noventa
de altura e meus noventa quilos estão para o sul tanto na
altura de Becks quanto no peso de Tucker, mas não importa.
Sou um homem zangado e chateado e, quando estou
chateado, meu sangue viking ruge em minhas veias,
exigindo violência.
— Dê-me um bom motivo para não quebrar seu maldito
braço, Beckett Beckerson.
Becks choraminga quando eu coloco meu pé em sua
garganta.
— P-porque você vai me agradecer uma vez que raspar
aquele animal do seu rosto e isso bater na bunda de Willa.
Eu assobio em uma respiração porque dói ouvir a voz
dela. Não falamos sobre Willa. Fiquei muito bêbado há
alguns meses, não muito depois que Joy morreu e Willa me
excluiu, e eu contei tudo a eles. Então eu os fiz jurar não falar
sobre Willa ou me torturar com qualquer coisa relacionada a
ela. Eles têm sido santos quanto a isso.
Até agora.
— Por quê? — Eu rosno.
Becks olha para Tucker, depois de volta para mim.
— Rooney disse que ela vai para o aconselhamento de
luto e, finalmente, está voltando. Antes disso, ela estava
ficando ruim...
— Não faça isso. — Eu não consigo ouvir. Eu quase perdi
minha cabeça no começo, desesperado para me empurrar
sobre ela, quando eu sabia o quanto ela estava sofrendo.
Tentei tudo que pude pensar e, ainda assim, ela não olhava
para mim, falava comigo, respondia minhas mensagens de
texto, ligações ou anotações.
Eu entendi que ela precisava sofrer, e que ela sofreria do
seu próprio jeito, que era obviamente totalmente sozinha.
Mas, pela primeira vez, entender algo logicamente não fez
com que doesse menos.
Respirando longa e lentamente, olho entre os dois.
— Então, porque Willa está de volta ao controle, vocês
dois decidiram que esta era a melhor hora para raspar o meio
da porra da minha barba do meu rosto.
Tucker tem a audácia idiota de rir do canto, onde ele se
encolhe. Eu finjo uma investida nele e ganho um grito agudo.
— Filho da puta — eu resmungo.
A garganta de Becks ainda está presa sob meu peito do
pé. Eu sinto seu pomo de Adão rolar sob o arco do meu pé
quando ele engole.
— Ok, foi... um pouco agressivo. Mas eu vi você tomar
melatonina. Essa merda te deixa louco–
— Porque eu tive insônia! — Eu grito. Desde que Willa
me bloqueou, minha mente estava correndo constantemente
à noite. Continuei tendo pesadelos horríveis sobre ela
entrando no Pacífico e se afogando, caminhando sozinha,
perdendo-se e caindo de penhascos. Meu pai me disse que a
melatonina era um suplemento suave e não viciante que me
ajudaria a adormecer e, como todos sabem, Ryder fraco para
sedativo. A melatonina não apenas acalma minha mente – ela
me nocauteia.
— Ok. — Becks engole nervosamente. — Ok, então isso
foi um pouco de merda, atacar seu estado drogado. Mas a
intenção era nobre.
— Nobre. — Esfregando meu rosto, eu olho para o teto,
me lembrando de que matá-los vai colocar uma cãibra em
meu estilo de vida ao ar livre. A prisão é claustrofóbica como
o diabo, pelo que ouvi. Quase qualquer hora do lado de fora.
— Raspe essa coisa até o fim, cara — Becks tem coragem
de dizer. — Pareça menos com um lenhador do fim do
mundo e um pouco mais com um gostoso colegial.
Tucker bufa.
— Gostoso é um exagero.
— Por favor. — Becks revira os olhos. — Todos nós
sabemos por que Ryder deixou crescer a barba. Porque ele
recebia muita atenção quando barbeado, e quando suas
orelhas ficavam ruins, atenção era a última coisa que ele
queria.
— Droga. Ok, Dr. Phil. — Eu solto a garganta de Becks e
caminho de volta para o meu banheiro, olhando o dano.
Eles são estúpidos o suficiente para me seguir e ficar atrás
de mim enquanto eu encaro o espelho. Eu inclino minha
cabeça de um ângulo para outro, tentando descobrir como
salvar isso sem raspar minha barba inteira.
Não tem jeito.
— A menos que você queira costeletas de carneiro —
oferece Tucker. — Mas considerando que cresci ao lado de
um cara assustador com costeletas de carneiro que sempre
tentava me oferecer picolés, eu sentia uma vibração
pedofílica muito forte. Seus pelos faciais seriam um gatilho,
então, para minha segurança emocional, isso só me deixa
raspar totalmente seu rosto.
Eu fico olhando para ele no espelho.
— Você tem coragem de raspar a pista de pouso do meu
rosto, então inventar gatilhos emocionais e um vizinho
pedofílico.
Tucker geme.
— Você é muito difícil de mentir.
— Nah. Você é apenas um mentiroso de merda — Becks
entra na conversa.
Eu levanto a mão, silenciando-os.
— Vocês dois. Saiam.
Tucker bombeia o ar com o punho.
— Você vai fazer isso?
Eu o nivelo com um olhar que faz sua mão cair
lentamente para o lado.
— Certo. Estamos indo embora.
— Desculpe de novo — Becks diz pouco antes de
fecharem a porta.
Olhando para o meu reflexo, suspiro longamente.
Quando abro a gaveta da penteadeira, a tesoura de cabelo
está bem na frente, brilhando como se estivessem esperando
por mim.
A voz de Joy ecoa em minha cabeça. “Prometa-me algo.
Não desista dela, ok?”
— Tudo bem, Joy. — Eu puxo o primeiro pedaço de barba
para longe do meu rosto, em seguida, arrasto a tesoura por
ele com um recorte ecoante. — Este é para você.

Eu me sinto nu. Enquanto caminho pelo campus, é como


aqueles sonhos recorrentes que tive quando era criança.
Aqueles em que apareci na escola vestindo apenas meu
casaco. O momento em que o sonho se tornou um pesadelo
foi quando comecei a abrir o zíper do meu casaco, apenas
para perceber que não tinha nada por baixo. No meu sonho,
eu puxava o zíper para cima e me escondia no armário de
casacos até que mamãe viesse me buscar.
Mas desta vez, não há zíper para me proteger, nenhuma
mãe a caminho para salvar o dia. A barba sumiu, apenas uma
leve penugem loira cobrindo meu queixo. Um vento quente
passa pelo meu rosto, lembrando-me o quão pouco agora me
protege do mundo exterior.
Eu não tinha ideia do quanto me escondia atrás daquela
barba até que ela foi abruptamente tirada de mim. Pelo
menos ainda tenho minhas camisas de flanela. Esta é a
favorita de Willa. Xadrez azul e verde. Seus olhos sempre
iluminavam um pouco mais quando eu a vestia.
Becks, maldito seja, não está errado sobre a atenção que
meu rosto recebe sem a barba. Sinto mais olhos em mim
enquanto caminho. Eu não quero mais olhos. Eu quero os de
Willa. Eu puxo meu boné para baixo e verifico meu telefone
quando ele zumbe. Velhos hábitos são difíceis de morrer –
ainda mantenho meu telefone ligado, vibrando em vez de
tocar, e ainda espero que seja Willa o tempo todo.
É uma mensagem do homem que começou essa merda.
Eu vejo uma gostosa.
Eu rosno. Eu vou matar Becks. Olhando ao redor, tento
encontrar seu esconderijo. Enquanto estou distraidamente
procurando por ele, minha cabeça acima do mar da maioria
dos outros que eu perambulo, de repente bato em um corpo
pequeno e compacto.
— Jesus, olhe para onde você está indo... — a voz de Willa
morre enquanto ela me encara com os olhos arregalados de
descrença. Ela balança de forma alarmante, então eu agarro
seu braço, franzindo a testa com a quantidade de massa que
existe ali. Ela está mais magra. Uma risadinha estranha sai
dela.
— Algo engraçado? — Eu pergunto.
Ela grita e pula para trás.
— Quem diabos é você?
Eu levanto minhas sobrancelhas, levantando a aba do
meu chapéu.
— Raio de sol, você está falando sério?
Willa faz um pequeno ruído de dor.
— Porra, Ryder?
Seus olhos percorrem meu rosto enquanto ela se inclina
em minha direção e morde aquele perigoso lábio picado de
abelha. Quando seus olhos encontram os meus, eu arrasto
meu polegar ao longo da plenitude macia de sua boca,
puxando-o para fora de seus dentes.
Seus olhos brilham com o que parece estranhamente com
lágrimas.
— O rabo de esquilo sumiu. Você é ainda mais bonito.
Eu rio e reviro meus olhos.
— Cale a boca, Sutter.
— Não, eu estou… — Ela geme, enquanto sua testa atinge
meu peito. — Oh céus.
— Tínhamos todo um lance de A Bela e a Fera
acontecendo. Eu tinha que ter certeza de que você gostava de
mim pela minha personalidade deslumbrante, não pelas
maçãs do rosto da minha mãe.
— Queijo — ela murmura. — Eu poderia cortar um pouco
de queijo suíço nesses filhotes.
Isso me faz rir de novo. Não ria há meses. Mergulhando
minha cabeça até que minha boca esteja perto de sua orelha,
eu sussurro:
— Posso te abraçar?
Willa acena com a cabeça contra o meu peito, seguido por
uma fungada. Chegando mais perto, eu envolvo meus
braços em torno de seus ombros e aperto até que ela esteja
nivelada contra mim, até que posso sentir seu coração
batendo contra o meu peito. Deus, é tão bom abraçá-la assim.
Ela cheira a protetor solar, ar fresco e flores e eu quero tanto
beijá-la que mal consigo pensar em mais nada.
Suas mãos rastejam tentativamente em volta da minha
cintura e, em seguida, trancam nas minhas costas.
— Senti sua falta — ela sussurra.
Eu pressiono um beijo em seu cabelo, uma mão
esfregando lentamente entre suas omoplatas.
— Também senti sua falta.
— Sinto muito ter desaparecido — ela murmura em meu
peito. — Meus motivos para excluir todos pareciam
inegavelmente necessários na época, mas meu conselheiro
de luto explicou que, embora compreensível, não foi a
escolha mais saudável que fiz.
— Você levou o tempo que precisava, Willa. Eu sempre
estaria aqui esperando.
Ela acena com a cabeça e funga novamente.
— Eu sei. Eu sabia. E isso significava... muito. Obrigada
por toda a comida também. E a massagem nas costas. E
brincar com meu cabelo como mamãe... — Sua voz falha.
— Ela fazia isso em você?
Willa acena com a cabeça.
— Ela também assobiava nos meus jogos, como você.
— Como você sabia que era eu?
Colocando o queixo no meu peito, Willa olha para cima.
— Você era o idiota do lenhador vestindo uma camisa
xadrez de flanela inconfundível, assobiando tão alto que eles
ouviram você em Orange County. Quando ouvi aquele som,
eu sabia racionalmente que mamãe não estava lá, mas
parecia que ela estava. Você a fez parecer próxima.
Os olhos de Willa procuram os meus com curiosidade.
— Talvez você me lembre um pouco dela. Isso é
estranho?
Meu coração dói. Conheci Joy Sutter apenas algumas
semanas insuficientes e sinto tanto a falta dela. Não tenho
ideia de quanto Willa está sofrendo, ou o quão difícil deve
ser falar sobre ela. Só sei que é o maior elogio de Willa, dizer
que a lembro de sua mãe.
Eu esfrego suas costas um pouco mais e sorrio para ela.
— Não é estranho. Tínhamos algumas coisas em comum.
Assobiadores excelentes. Respostas diretas. Impermeável às
suas besteiras. — Meus dedos deslizam por seu cabelo
indomado. — Uma apreciação profunda pelo seu cabelo
maluco, das suas metáforas estranhas e das coisas bizarras
que saem da sua boca.
Willa se inclina e morde suavemente minha camisa. Isso
envia um arrepio pelo meu corpo, enquanto eu aperto meu
aperto em suas costas.
— Comporte-se.
Ela sorri.
— Agora, por que eu iria começar a fazer isso, Homem
das Montanhas? Você gosta de mim do jeito que eu sou.

As coisas não são fáceis da noite para o dia, mas Willa não
desaparece mais, e ela responde minhas mensagens.
Algumas noites depois, ela concorda em jantar comigo,
desde que os meninos e Rooney também estejam lá. Ela
ainda está colocando todas as barreiras possíveis entre
sermos apenas nós dois, enquanto ela conseguir.
Eu entendo o porquê. Tudo o que ela disse no Natal ainda
está de pé. Ela está saindo deste lugar com o mundo do
futebol para tomar conta e, pelo que ela sabe, estarei dando
aulas de canoa em The Middle of Nowhere, Washington. Seu
coração ainda está sensível também. Ela está de luto. Ela vai
ficar de luto por um longo tempo.
Agora, ela precisa de um amigo. Posso ser um amigo que
está prestes a morrer com a necessidade de ser mais, mas sou
amigo dela mesmo assim. Ou, mais precisamente, de volta
ao antigo e familiar território: seu aminimigo.
— Como diabos você chama isso?
Eu olho por cima do ombro. Willa está cutucando o
guacamole que fiz com um olhar desdenhoso no rosto.
— É guacamole, raio de sol. Você precisa de óculos ou
algo assim?
— Estou ciente de que é guacamole, Maromba. Ou
conhecia até que você jogou manga nele. — Ela joga a colher
de mistura no chão com nojo. — Que porra é essa?
— Há algo errado com você. Todo mundo adora
guacamole melhorado.
— Esta mulher aqui não. Tucker? Becks? Rooney?
Tucker e Rooney estão jogando FIFA no Nintendo. Becks
olha para o jogo deles. Nenhum deles responde a ela. Willa
se vira para mim e encolhe os ombros.
— As crianças nos dias de hoje. Viciados em jogos.
Eu tenho um daqueles momentos que está se tornando
mais difícil de conter – o desejo feroz de erguê-la por sua
bunda fantástica, envolver suas coxas em volta de mim e
beijá-la até deixá-la sem sentido.
O olhar de Willa passa rapidamente entre minha boca e
meus olhos.
— Você parece com fome.
— Eu estou.
Ela engole ruidosamente.
— O-ok. Bem, os tacos estão praticamente prontos. Nós
podemos comer.
Eu me afasto dela, desejando que meu corpo esfrie. Não
funciona. Nada para de fazer cada centímetro de mim
queimar por ela. É uma tortura do caralho. Abraços e beijos
platônicos na testa. Balançando-a em meus braços e
mantendo minha respiração estável. Cada pequena
pincelada de cotovelos e quadris. O farfalhar de seu cabelo e
seu aroma tentador que nunca vai embora.
Mãos batem em meus ombros, interrompendo meus
pensamentos. Eu me viro para encarar Becks enquanto ele
libera seu aperto com um aperto.
— Cheira bem.
Tucker e Rooney entram, pegando coberturas e
ingredientes. Mais uma vez, meus olhos se fixam em Willa.
Ficamos parados como se a vida estivesse em câmera lenta,
nossos amigos nos rodeando como um borrão.
— Gente? — Tucker me cutuca. Eu finalmente viro minha
cabeça em sua direção, fazendo-o pular para trás. — Jesus,
você é assustador. Você tem olhos psicóticos. Você precisa
correr ou o quê?
— Isso é exatamente o que eu preciso, ou o quê — eu
murmuro.
As bochechas de Willa ficam rosadas. Ela pega a pilha de
pratos e os segura até os nós de seus dedos estarem brancos.
Quando eu caminho até ela, seu peito está pesado, um rubor
escurecendo seu pescoço e orelhas.
— Você pode ficar depois do jantar? — Eu pergunto.
Seus olhos saltam de sua cabeça.
— Hum, o quê?
— Apenas fique depois que eles saírem. Eu quero colocar
algo para você.
Outra de suas risadinhas bufantes foge. Eu descobri que
é sua risada nervosa.
— Isso parecia nojento, Bergman.
Levantando uma sobrancelha, pego os pratos dela.
— Pervertida. Sente-se e coma alguns tacos.
Ela morde o lábio e, pela primeira vez, em muito tempo,
sorri como a Willa que eu conhecia. Aquela que tinha algo na
vida para sorrir.
Tucker e Becks são universitários, então eles destroem
uma grande quantidade de comida. Rooney não está muito
atrás deles, mas é Willa que eu observo, pegando seus feijões
pretos, colocando-os na boca como se ela estivesse se
preparando para comer. Meus olhos travam nos dela,
enquanto mais uma vez o tempo e o espaço desaparecem na
periferia. Eu preciso que todos saiam para que eu possa
perguntar a ela. E então eu preciso que ela diga sim.
Os olhos de Willa levantam e encontram os meus.
Primeiro, eles se alargam, tipo, o que você está olhando? Mas
enquanto eu seguro seu olhar, eles se estreitam em fendas
irritadas.
Becks pega seu telefone.
— Cronômetro.
— Apostas — grita Tucker.
Rooney joga seu taco com nojo.
— Não. Não estou mais permitindo isso. Estou farto de
mamãe e papai brigando. — De pé, ela arranca o telefone da
mão de Becks, enfia o dinheiro de Tuck em sua camisa e puxa
os dois pelos braços. — Fora. Esses dois precisam acabar com
essa tensão sexual astronômica e lidar com isso da maneira
antiga.
O queixo de Willa cai quando ela olha para Rooney.
— Sério, Rooster?
Rooney balança a cabeça.
— Eu estou tão cansada disso. Vocês dois. Conversem. Se
toquem. Transem. Por favor, Deus, acabe com a tortura.
Estou me afogando nisso. Estou com tesão de contato perto
de vocês–
— Eu posso ajudar com isso — oferece Tucker.
Becks dá um tapa na cabeça dele.
— Pare com isso.
— Eu posso me cuidar bem, meninos — Rooney diz antes
de se dirigir à Willa e eu. — O ponto é este: já chega.
Resolvam isso.
Rooney arrasta os caras com ela para fora da porta da
frente e a bate atrás dela.
Willa rastreia o movimento deles, mas, eventualmente,
sua cabeça vira para trás na minha direção, a descrença
apertando suas feições. Ela parece extremamente
desconfortável, e quando Willa Rose Sutter está
desconfortável, ela não fala sobre isso.
— Bem, isso veio do nada.
Correção. Ela falará sobre isso se conseguir minimizar ou
negar.
— Não realmente, Willa. — Eu me levanto e recolho os
pratos, empilhando-os até que se tornem uma torre de sobras
oscilantes.
Willa gagueja enquanto ela pula e reúne os pratos de
acompanhamentos, varrendo o queijo ralado da borda da
mesa e correndo com seu punhado.
— Que porra você está falando?
Viro-me para ela, jogando os pratos na pia com estrépito.
Willa empurra cuidadosamente o conteúdo de seus braços
sobre o balcão, em seguida, se vira para me encarar.
— Eu disse a você o que queria no Natal.
— Sim — ela estala. — E então minha mãe morreu, me
perdoe.
— Eu não quis dizer isso. — Um suspiro corre para fora
de mim. — Estou dizendo que Rooney está afirmando o
óbvio.
A mandíbula de Willa aperta enquanto seus olhos
brilham como cobre furioso.
— Não é óbvio. Não somos óbvios.
— Oh? — Lentamente, ando em direção a ela. Willa dá
um passo para trás em sincronia comigo, até que sua bunda
bate no balcão. Eu coloco minhas mãos em sua superfície,
segurando meus braços para que ela fique presa dentro do
meu corpo. Ela tem que esticar o pescoço para olhar para
mim. Seu pulso bate na base de sua garganta. A cor inunda
suas bochechas. Seus mamilos são como diamantes por baixo
da camiseta surrada da Mia Hamm, e ela pressiona as coxas
uma contra a outra.
— Da cabeça aos pés, raio de sol, diz que você me quer.
Olhe para mim e diga que você não vê a mesma coisa.
Ela projeta o queixo para cima, seus olhos encontrando
os meus. Sem barba para esconder meu próprio rubor ou a
forma como minha garganta gruda quando tento engolir.
Minha camisa não faz nada para cobrir minha respiração
rápida. Meus jeans são uma causa perdida. Nenhum
material possível poderia esconder que estou duro como
pedra por ela. Meus dedos estão agarrados ao balcão. Somos
uma reação de combustão um momento antes de seus
elementos se encontrarem.
Eu mergulho minha cabeça, deslizando meus lábios ao
longo da concha de sua orelha.
— Diga que você não vê, Willa.
Ela estremece.
— Eu vejo.
— Porque você quer — eu sussurro contra seu pescoço,
em seguida, beijo fracos em sua garganta.
— Eu não quero isso... mais do que você.
Uma risada seca me deixa.
— E se eu disser que quero tanto que não consigo pensar
direito?
Ela engole.
— Bem, então eu admito que quero tanto, mas não como
você quer.
— E como eu quero? — Eu sussurro contra seu pescoço.
Ela bufa um suspiro de frustração, mas se inclina para o
meu toque.
— Você sabe o que eu quero dizer. Você quer carinhos
quentes. E eu só quero sexo.
— Isso é besteira, Willa. — Eu me endireito e pressiono
minha pélvis contra a dela. Willa choraminga. — Você quer
mais. Você só está com medo.
— Não estou — ela raspa.
— Que tal isso. Venha comigo para a cabana em
Washington durante as férias de primavera. Dê-me esse
tempo para mostrar que não há nada do que temer. Você. Eu.
O bosque. Quatro dias.
Willa morde o lábio.
— Eu deveria ficar aqui e estudar.
Eu me afasto do balcão. Puxando uma toalha do suporte,
eu a jogo por cima do ombro.
— Estude na cabana. Estude nua. Estudo vestida. Eu não
me importo. Eu vou cozinhar. Você descansa. Você precisa
de um pouco de descanso e relaxar.
Ela está me olhando. Suas íris são inexistentes, suas
pernas fechadas em tesoura. Seu cabelo praticamente estala
com energia crua. Willa está em guerra consigo mesma,
lutando sobre o que ela quer e como ela viveu toda a sua
vida. Eles são mutuamente exclusivos. Você não pode se
entregar a alguém e se isolar.
Ela está encurralada e sabe disso. Chamei-nos pelo que
somos – duas pessoas que se importam muito mais, querem
muito mais do que nos permitimos admitir. Primeiro,
estávamos irritados demais para ver o que realmente estava
lá. Então, quando o calor de nossa tensão começou a
transbordar e a estrutura real de nossa dinâmica se revelou,
ficamos ambos chocados e apreensivos demais para fazer
qualquer coisa a respeito.
Isso foi antes. Isto é agora.
Passei as últimas oito semanas sem Willa na minha vida.
Eu nunca quero que isso aconteça novamente. Eu cansei de
fingir que essa aminimizade empolada funciona. Só posso
esperar que Willa esteja pronta para desistir também.
— Você está babando em mim, raio de sol?
Seus olhos se estreitam e escurecem.
— Porra, eu estou.
— Bom. — Eu me viro em direção à pia e abro a torneira.
— Então é um plano.
— Ryder, eu não... quero dizer, não é… — Ela engasga
com suas palavras e fica perdida. — Oh, pelo amor de Deus.
— Caminhando até mim, ela pressiona sua frente nas minhas
costas. — Você precisa entender que esta é uma causa
perdida. Eu não sou o tipo para namorada. Você não vai
mudar minha opinião. Quando você vir o bom senso, vamos
foder como coelhos, mas não haverá amarras, nem
compromisso. Então eu vou te destruir com um orgasmo
sem emoção após o outro, pelo qual espero ser retribuída
com almôndegas suecas e aquelas deliciosas mini-linguiças
que você fez no Natal.
Lentamente, me viro para encará-la, inclinando o quadril
contra o balcão. A bravata de Willa desaparece um pouco
quando ela vê meus olhos.
— Willa, se alguém vai ser destruída será você. —
Empurrando a borda, dou um passo em direção a ela e
envolvo um cacho dela em volta do meu dedo. — Eu sempre
joguei limpo com você, raio de sol, mas eu não preciso.
Suas pernas se apertam.
— Isso é uma ameaça? — ela administra com voz rouca.
— Não, Willa. É uma promessa.
Girando para longe, eu volto para a pia, em seguida,
esguicho sabão nos pratos e abro mais água. Seus olhos estão
cem por cento na minha bunda. Eu posso ouvir seu coração
batendo forte daqui. Pode demorar um pouco, mas vou
convencer Willa Sutter de que ela está segura para
compartilhar tudo comigo, para dar o salto e arriscar seu
coração comigo, se for a última coisa que eu fizer.
— Ponha uma blusa na mala — eu digo por cima do meu
ombro. — Washington é frio em março.
26

— WILLA, RELAXE.
Eu me assusto com tanta força que derramo metade do
café no colo.
— Jesus, Bergman. Um pequeno aviso.
As sobrancelhas de Ryder levantam sobre seus óculos de
sol.
— Um pequeno aviso antes de falar com você?
Apenas... maldito seja ele. Ele era desprezivelmente
sexual para começar, mas agora que só está trabalhando
aquela barba de uma semana, o jogo acabou. Sua barba
áspera não faz nada para esconder seus lábios macios que
são, como eu previ, injustamente carnudos enquanto ainda
são masculinos. Jogue nos cílios grossos e esfumados, nas
maçãs do rosto invejáveis, uma mandíbula com a qual você
poderia cortar vidro, e estou arruinada. Eu sou uma poça de
luxúria vergonhosa.
Então há, você sabe, toda a sua personalidade. Ele é um
idiota, das maneiras certas. Ele empurra de volta quando eu
empurro primeiro, quando ele sabe que estou procurando
uma luta inofensiva e preciso da nossa pressão e frieza. Ele
encontra maneiras estranhas de descobrir meus sentimentos
e humores sem me fazer sentir como se tivesse acabado de
ter outra conversa exaustiva no sofá do psiquiatra. Ele faz a
melhor comida sueca do caralho e sabe exatamente como dar
uma massagem nas costas. Seus abraços afirmam a vida.
Seria muito fácil se apaixonar por ele. Se eu fizesse esse
tipo de coisa. O que eu não faço. Pelo menos, quando eu for
capaz de manter todos os meus limites, paredes e
mecanismos de distanciamento, muitos dos quais foram
arrancados de mim no momento em que ele me enfiou em
seu Explorer, então nos fez pular um voo para Seattle e
dirigir pelo lindo terreno do estado de Washington.
E eu voluntariamente concordei com essa merda.
Eu resmungo algo evasivo e olho pela janela, olhando ao
meu redor enquanto dirigimos para o sul na I-5. É Ryder em
topografia. Pinheiros e águas paradas profundas. É
inebriantemente lindo.
Ryder mal me tocou desde que embarcamos. Nosso único
contato físico foi eu adormecer em seu ombro. Para meu
horror, eu babei muito. Eu só sei disso porque quando nosso
avião pousou bruscamente e eu bufei acordando, seu ombro
inteiro estava encharcado. Ryder parecia imperturbável, mas
eu queria murchar em meu assento de mortificação e
desaparecer.
Isso é tudo. Nada de abraços fáceis, nada de brincar com
meu cabelo. Sem beijos na minha testa quando eu caio em
seu peito, que é o melhor alvo para minha frustração com o
mundo. O console central entre nós no SUV parece ter uma
milha de largura e um milímetro de espessura. Demais.
Insuficiente.
Estou enlouquecendo.
— Estou nervosa — finalmente consigo dizer.
Ele sorri como um idiota sexy.
— É mesmo?
— Estamos quase lá?
Ryder acena com a cabeça, verificando seu espelho antes
de fazer uma curva suave à esquerda. Eu fico olhando para
ele, presa em um daqueles momentos em que acho
particularmente surreal poder ver seu rosto e ouvir sua voz.
Eu gostava tanto dele quando não tinha nenhum deles.
Como posso resistir a ele agora?
— Onde caralho estamos?
Ryder sorri.
— Se eu te contasse, teria que te matar.
— Não é engraçado. — Eu bato em seu braço e machuco
minha mão. — Jesus, Bergman. Você está tomado bomba?
— Você me conhece? Bombas são horríveis para o meio
ambiente. Explodindo as coisas e... Ai!
Encontrei aquele ponto especial abaixo de seu cotovelo e
o belisquei.
— Você sabe o que eu quero dizer. Anabolizantes.
Bomba.
Sua garganta balança enquanto ele engole. Eu vejo seu
pomo de adão balançar e tenho que cruzar os braços sobre
meus mamilos duros como pedra.
— Tive que fazer algo nos últimos dois meses — diz ele.
— O que isso significa?
Ryder olha para mim brevemente, antes de seus olhos
viajarem de volta para a estrada.
— Eu estava preocupado com você, raio de sol. Fiquei
louco por algumas semanas. Fiquei bêbado diariamente por
um período, então percebi que malhar compulsivamente era
uma estratégia de enfrentamento melhor.
Minha garganta está um deserto. Meu coração bate forte
no meu peito.
— Oh.
Ryder pigarreia e aponta à frente dele.
— É isso.
Meu queixo cai. Uma casa em forma de A de tirar o fôlego
nos cumprimenta enquanto descemos o caminho de
cascalho. Vidros do chão ao teto empoleiram-se entre vigas
de madeira profundas que triangulam a casa. Tudo é
marrom rico, verde-escuro ou azul-celeste. Abetos e
pinheiros, céu sem limites, águas brilhantes não muito longe.
Uma densa mancha de mata circunda a casa, apenas o
suficiente para uma magnífica vista para o mar.
— A propriedade é privada — Ryder diz, jogando o carro
no estacionamento. — Você pode vagar pela floresta de
topless, nadar nua… — Ele engole em seco. — É seu para
usar, quero dizer.
Estou pasma.
— Ryder, isto é muito legal.
Ele encolhe os ombros.
— Papai investiu bem por um tempo e comprou.
Sabiamente pagou adiantado. Quando a recessão atingiu, ele
perdeu a maior parte de seus investimentos, mas pelo menos
estava pago. Os irmãos mais velhos se revezam durante o
ano visitando e fazendo manutenção. É assim que ganhamos
nosso uso dele.
— Você não paga ninguém para mantê-lo?
— Não. — Ele encara analiticamente a casa como se
estivesse listando uma lista de tarefas pendentes. — Esse tipo
de manutenção custa mais do que meus pais podem pagar.
Eu rolo meus olhos.
— Vocês parecem que estão bem financeiramente.
— Bem, Sunshine, às vezes as aparências enganam. Sim,
papai é médico, mas somos sete, e todos, exceto os dois
últimos, foram para a faculdade e acumularam despesas com
as mensalidades. Além disso, tivemos algumas merdas
surgindo ao longo dos anos que drenaram as finanças muito
rapidamente. — Ele desvia o olhar para a água e se recosta
na cadeira. Sua mão se desloca reflexivamente para o
receptor externo que ele usa atrás da orelha. — É por isso que
demorou tanto. Tivemos que provar para a seguradora que
os aparelhos auditivos não estavam funcionando, e isso
significava...
— Você teve que sofrer com eles por um tempo, para
provar o quão insuficientes eles eram. — Depois que mamãe
passou anos doente, estou familiarizada com o quão as
companhias de seguro saúde desgraçadas podem ser. — Ry,
sinto muito. Eu não sabia.
Ele sorri suavemente, antes de abrir a porta do carro.
— Tudo bem. Eu não te contei, contei? Venha, vamos
esticar um pouco as pernas.
Eu o sigo para fora do carro, indo para o porta-malas, mas
Ryder envolve seus dedos em volta do meu pulso e puxa
suavemente.
— Deixa. Primeiro, quero te mostrar uma coisa.
Ele se vira e caminha em direção a um caminho estreito
de terra na floresta.
— Mas estou com fome — lamento. Uma barra de granola
voa por cima de seu ombro e me atinge. — Uau.
— Eu antecipei sua fome, Sutter. Comer e caminhar.
Vamos lá.
— Eu preciso de água. — Eu não estou pronta para isso.
Ryder tem algo na manga. Parece a morte de nosso
relacionamento, como eu conheço e amo. Eu quero mais?
Claro que sim. Mas estou apavorada com o desconhecido,
com a perda que poderia experimentar se desse esse salto.
Um cantil fica pendurado no dedo de Ryder enquanto ele
o levanta sobre a cabeça, ainda sem olhar para trás.
— Não me faça jogá-lo por cima do ombro.
Eu rosno, arrancando a embalagem de granola e pisando
forte atrás dele.
— Lenhador idiota.
— Puta merda. — Meus pulmões puxam por ar. A
caminhada não me enrolou. É a visão que tem a culpa.
Ryder sorri para mim enquanto eu aprecio a vista.
Estamos no alto, olhando para a água abaixo de nós, a terra
ao redor pontilhada com pequenos triângulos de árvores
organizados. Nuvens varrem e cortam o sol, salpicando o
mundo com manchas de luz solar.
— É... eu nem tenho palavras.
Ryder ri baixinho.
— Primeira vez para tudo.
Eu soco seu ombro, nunca quebrando meu olhar.
— Como você deixa isso assim?
Sua expiração é pesada.
— Não facilmente.
— Eu posso imaginar. — Suas palavras afundam e, em
seguida, pesam como uma pedra em meu estômago. Este é o
lugar que o deixa feliz. Ryder disse que é aqui que ele quer
morar. Esse é meu problema. Ele diz que me quer, mas não
pode querer a vida que terei. Por mais que eu odeie que ele
tenha dito isso, não posso negar que, em certo sentido, Ryder
estava certo: seu mundo não é o meu mundo, sua vida ideal
não se alinha com a minha. Então, do que caralhos estamos
fingindo?
Virando, pego sua camisa e o puxo para mim. Ryder cai
perto, suas mãos pousando em meus quadris.
— Por que você está fazendo isso? — Pergunto-lhe. — O
que você quer de mim?
A testa de Ryder franze. O idiota até fica lindo quando
está totalmente confuso.
— O quê?
Eu suspiro de frustração.
— Ryder, este é o seu lugar feliz, é onde você quer estar.
Temos um ano de faculdade ainda, e então eu tenho nenhuma
ideia de onde eu vou acabar assinando. Por que deveríamos
seguir por um caminho que só vai acabar machucando nós
dois?
Ele sorri. Eu resisto à vontade de dar um soco no
estômago dele por parecer tão composto. Ele é muito
imperturbável.
— Do que você está sorrindo? — Eu estalo.
Balançando a cabeça, Ryder desliza os dedos pelo meu
cabelo e alisa as manchas suadas da minha testa.
— Você realmente acha que, uma vez que tivesse você, eu
algum dia nos deixaria terminar por algo tão irrelevante.
Meu coração torce.
— A localização e o estilo de vida não são irrelevantes.
— Eu posso ser feliz em qualquer lugar, Willa. Contanto
que você esteja lá, e haja terra e céu ao meu redor. — Seu
sorriso se aprofunda. — Mas você não quer que seja tão
simples. Porque você está com medo de onde isso vai levar.
— Claro que estou com medo. Estou com quatro alarmes
de incêndio enlouquecendo.
O sorriso de Ryder cai enquanto suas mãos descem para
a nuca suada do meu pescoço. Eu sei que é melhor não tentar
me afastar ou me preocupar se isso vai deixá-lo enojado. Ele
se aproxima ainda mais para que nossas frentes se roçam.
— Adivinha? — ele sussurra.
Eu lambo meus lábios e vejo sua cabeça inclinar em
direção à minha.
— O quê?
— Eu também estou com medo, raio de sol. Isso é uma
bosta vulnerável. — Sua boca está a um fôlego da minha. —
Só sei que prefiro ter medo com você do que não ter medo
com qualquer outra pessoa.
Ele me beija como não fazia há meses. Habilmente,
pacientemente. Meu corpo ruge para a vida quando minhas
pernas fraquejam. Eu agarro Ryder como se ele fosse minha
âncora para o mundo enquanto suas mãos embalam minha
cabeça, e o impulso de chorar engata na minha garganta.
Seus lábios... sem a barba, eu os sinto muito mais enquanto
eles patinam sobre os meus, enquanto passam pelas minhas
bochechas. Eles são quentes e suaves, prodígios em
provocar, reclamar, insultar. Seus dentes arranham meu
lábio inferior, enviando um raio de necessidade sacudindo
meu corpo.
Nossas bocas se abrem juntas, respirando sem fôlego,
enquanto suas mãos caem e ele me envolve em seus braços.
Meus dedos mergulham em seu cabelo, saboreando aqueles
fios grossos e sedosos. Minhas unhas arranham sua barba
por fazer. Um arrepio percorre meus ossos.
— Willa — ele sussurra. Suas mãos estão com fome. Eles
estão puxando minha camisa, arranhando minha pele
sensível. Cintura, estômago, costelas.
— Sim. — Eu não consigo parar de beijá-lo. Eu não
consigo parar de afundar neste homem que me segura como
se eu não tivesse que segurar tudo sozinha. Eu o sinto, duro
como ferro, pressionando meu estômago através de sua calça
jeans. — Você tem um três por quatro lá embaixo. Como isso
vai funcionar?
Ryder ri contra meus lábios, balançando a cabeça.
— Vai ficar tudo bem. Vamos fazer caber.
— Como você sabe? — Eu sussurro.
— Nós vamos, raio de sol. Sempre nos adaptamos.
— E se você me machucar, Ryder?
Todo o seu corpo congela. Ryder se afasta apenas o
suficiente para que meu olhar possa cair de cabeça nas íris
verdes. A cor exata das árvores que nos cobrem, a terra sob
nossos pés.
— Willa Rose Sutter, farei tudo o que for humanamente
possível com cada respiração que nunca tive para não te
machucar.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha e Ryder a
afasta.
— Dito isso, vou bagunçar tudo. Eu sei que sou muito
perfeito, mas ainda sou humano.
Pego sua camisa e o empurro sem muita vontade. Seu
sorriso aquece seu rosto e faz seus olhos brilharem.
— Eu quero… — Eu raspo meu lábio entre meus dentes
enquanto eu olho para ele. Seu sorriso é caloroso, seus olhos
são pacientes. Sua mão envolve com força meu ombro
enquanto ele me segura perto.
— Você não tem que dizer nada, raio de sol, não até que
as palavras sejam reais e certas. — Ryder beija minha
têmpora e expira lentamente. — Eu não estou indo a lugar
nenhum. Pelo menos não nos próximos dias. Alguém precisa
manter os ursos-pardos longe.
Eu engulo em seco quando ele se afasta e pega nosso
cantil.
— Você está... espere, Bergman, você está falando sério?
A risada de Ryder ecoa nas árvores enquanto ele começa
a descer o caminho.
— Se eu te contar, onde está a diversão nisso?
Eu corro para ele e, em seguida, salto como um macaco
em suas costas. Ele nem mesmo diminui o passo.
— O último urso pardo da Califórnia conhecido, Ursus
arctos californicus, uma subespécie agora extinta do urso
pardo, foi morto há cerca de um século — Ryder diz
suavemente, me puxando mais alto em suas mãos.
— Bem, isso é um alívio. Você não é apenas uma pequena
enciclopédia selvagem da Califórnia.
Ryder aperta minhas pernas, suas mãos quase
envolvendo minhas coxas. Talvez não tão pouco.
Deixando cair minha cabeça em seu pescoço, lembro-me
de nossa caminhada até as cachoeiras. O cheiro limpo e forte
de seu suor. Músculos movendo-se em suas costas. Mais
uma vez, eu os sinto. Respiro o ar profundo da montanha e
o corpo quente de Ryder. Eu pressiono meus lábios em sua
pele como eu estava com muito medo da última vez. Ele
aperta minhas pernas com mais força e, quando ele olha para
o caminho à frente, um sorriso aquece seu rosto.
As folhas das árvores sussurram com a brisa. O sol se põe
mais baixo no céu. Ryder me carrega por todo o caminho.

Adicione cozinhar a franzir a testa, abrir bolsas de laptop,


enrolar punhos da camisa de manga e outras atividades
mundanas que Ryder Bergman magicamente torna
pornográficas. Sempre que comi na casa dele, a comida já
estava praticamente pronta quando eu chegava lá, o que
denuncia a profunda sabedoria daquele homem. Só aguento
cerca de cinco minutos de fome em torno do cheiro da
comida antes de precisar comer. Antes que eu me transforme
em um troll de comida zangado.
Mas esta noite, o idiota teve a audácia de preparar uma
bandeja de lanches sofisticados, me servir um copo de vinho
tinto e não apenas arregaçar as mangas na minha frente, mas
também preparar nossa refeição do zero.
— Está gostando do show? — Seus olhos estão em suas
mãos enquanto ele pica uma cebola, mas o sorriso espertinho
em seu rosto é inconfundível.
Eu jogo um caju na cabeça dele. Ele faz uma pausa apenas
o tempo suficiente para colocá-lo na boca e continuar a picar
enquanto mastiga. Jesus Cristinho, vê-lo mastigar e engolir é
ainda repugnantemente sexy.
— Estou encantada — eu respondo secamente. O sorriso
malicioso de Ryder diz que ele não acredita no sarcasmo,
mas eu pego o caminho certo porque ele está cozinhando
para mim. Se eu chutasse a bunda dele antes do jantar
terminar, o que eu comeria? — De onde veio essa comida,
afinal?
— Eu pedi isto, raio de sol. Existe uma maravilha
moderna chamada pedido e entrega de mantimentos online.
— Bergman, é melhor você cuidar dessa boca. Eu sou
uma mulher vingativa com um dom para travessuras
noturnas, e não será difícil encontrar onde você dorme esta
noite.
— Não vai ser nada difícil. Já que vamos ficar na mesma
cama.
Eu engasgo com meu vinho.
— Nós vamos o quê?
— Bem, podemos começar em quartos separados, mas
você é uma mariquinha do sul da Califórnia que estremece
quando a temperatura cai abaixo de quinze graus. Aqui, cai
para quase um grau negativo à noite.
Um barulho patético escapa da minha garganta.
— Isso é fodidamente ártico.
Ryder bufa enquanto raspa os vegetais picados na panela
e aumenta o fogo.
— Para você, Willa, sim. Cinquenta dólares que você não
passa da meia-noite antes de vir rastejando até mim para o
calor do corpo.
Agora, só parece legal. Eu escutei Ryder pela primeira
vez e arrumei moletons e camisas de manga comprida. Estou
coberta de roupas, coroada com moletons extragrandes e
meias felpudas. Muito sedutor. Mas pelo menos não estou
congelando. Ainda.
Soltei um suspiro trêmulo.
— Você não tem aquecedor?
— Madeira queimando. — Ryder acena com a cabeça em
direção à lareira. — Os ventiladores enviam o calor do fogo
por toda a casa.
Eu fico olhando para ele. A lareira está fria e vazia.
— Você vai acender, então?
Ryder franze a testa, erguendo os olhos lentamente do
frango que começou a fazer borboletas.
— Eu não estava planejando isso, não.
— O-o quê? — Eu gaguejo enquanto meus olhos se
arregalam. — Mas vou sentir frio.
Ele encolhe os ombros.
— É ambientalmente irresponsável aquecer todo este
lugar para duas pessoas. Não vou fazer isso, mas se você
puder começar o fogo sozinha, fique à vontade. Ou você
pode considerar fazer a sua parte para proteger as calotas
polares cada vez menores, arautos da iminente catástrofe da
mudança climática e dividir a cama com um humano de
sangue quente. Sua escolha.
Eu gemo e esfrego meu rosto.
— Sobrevivente que abraça a árvore.
— O que é isso, querida? — Ele coloca a mão na orelha.
Eu jogo uma lasca de cebola picada escapada em sua
cabeça.
— Você me ouviu. — Eu não sei nada sobre essas merdas
de escoteiros, e Ryder sabe disso.
Mais uma vez, fico tentada a abusar dele, mas a comida
cheira muito bem e gostaria que ele a acompanhasse até o
fim. Talvez então eu pegue suas bolas e o faça acender o fogo.
Meu estômago ronca, então coloco um punhado de
cheddar inglês e tâmaras na boca e mastigo, lutando para
odiar alguém que pode fazer uma tábua de charcutaria tão
saborosa.
— Você está jogando sujo, Bergman.
Seu sorriso é quase imperceptível antes que ele direcione
seu rosto.
— Eu avisei que nem sempre jogaria limpo.
Ele está brincando comigo, e é isso que sempre fizemos.
Ele me dá uma cotovelada, eu dou uma cotovelada nele. Nós
nos revezamos no papel de gato e rato, provocando um ao
outro, cutucando a outra pessoa até que ela fique
encurralada onde queremos, antes de termos misericórdia e
deixá-la ir.
Mas ele está se inclinando, aplicando mais pressão. Ele
não está apenas me encurralando. Ryder está forçando
minha mão. Porque enquanto ele sabe que eu dormiria com
ele na queda de temperatura – que mulher em sã consciência
não iria? – Ryder não quer isso. Ele quer que eu queira mais
de um metro e noventa de músculos, rosto bonito e idiota
apenas o suficiente para torná-lo meu tipo de ranzinza. Ele
quer que eu o queira. Ele quer que eu faça o movimento que
mostra isso a ele.
Bebo meu vinho e fico olhando para ele, pensando em
nossa caminhada de hoje. Eu me senti corajosa de novo ao
topo daquela montanha. Eu me permito pensar em
possibilidades aterrorizantes com quedas tão abruptas
quanto daquela altitude. Mas nossa descida estava voltando
à realidade – o que é assustador, como meu coração é
delicado.
O medo atravessa meu corpo, e ainda assim quero
empurrá-lo de volta. Estou morrendo de medo, mas também
não posso mentir mais. Não posso dizer que não quero tentar
de alguma forma dar sentido ao que está acontecendo entre
Ryder e eu. Como posso começar a fazer isso se nunca dou o
primeiro passo no caminho da possibilidade?
Preciso de um primeiro movimento sólido. Não pode ser
pequeno. Não pode ser meia-boca. É comigo que estamos
lidando. A única coisa que posso pensar em fazer é o que
sempre fizemos, ver a aposta de Ryder e aumentá-la.
De pé, coloco meu vinho no balcão e tiro meu moletom,
sobre a cabeça. Em seguida, minha camisa de manga
comprida. Estou usando uma regata branca e sem sutiã. A
mão de Ryder segurando a faca desacelera, então para.
— O que você está fazendo? — ele resmunga.
Eu me curvo para remover minha calça de moletom, em
seguida, tiro minhas meias felpudas. Agora estou com
calcinha e uma regata.
— Bem, se eu vou congelar a noite toda, eu poderia muito
bem me aquecer naquela banheira de hidromassagem
primeiro. Parece bem quentinho.
Ryder faz um barulho estrangulado.
Afastando-me do balcão, vou em direção à porta de vidro
e a empurro para abri-la. A banheira de hidromassagem fica
a apenas um metro e meio de distância, o céu é uma cúpula
negra salpicada de estrelas brilhantes, tão longe das luzes da
cidade. De costas para Ryder, eu olho por cima do ombro. Eu
mantenho seus olhos enquanto tiro minha blusa e a deixo
cair no chão.
A cabeça de Ryder cai. Suas mãos se apoiam no balcão.
— Vou jantar lá fora, Maromba. Obrigada.
27

MINHAS MÃOS TREMEM enquanto coloco o frango na


frigideira. A pele estala quando atinge o fogo. Parece o que
eu sinto, observando Willa inclinar a cabeça para trás na
banheira de hidromassagem. Quente, agitado.
Perigosamente perto de explodir em chamas.
Ela está completamente nua lá. Posso ver a calcinha e a
camisa dela empapadas como leite derramado no deck
escuro do pátio. O luar banha sua pele de azul, e a curva de
seus seios aparece acima da água borbulhante da banheira.
Estou tão duro, meu pau está prestes a estourar meu
zíper. Tenho que ficar me lembrando de respirar para não
desmaiar em uma panela de frango grelhado e adicionar
queimaduras de terceiro grau ao impressionante repertório
da minha cabeça.
Não consigo parar de imaginar como ela é e estou
morrendo de vontade de tocá-la. Ela se despiu, tudo bem,
mas eu não vi acontecer, não totalmente. Desviei meus olhos
quando aqueles polegares engancharam dentro de sua
calcinha. Eu não pude. Eu não poderia deixar a primeira vez
que vi Willa nua ser um momento tão incompleto. Quando
eu a vir, vai estar tudo bem e ela vai estar tão faminta por
mim quanto eu estou por ela. Este é um jogo que não vou
jogar.
Eu sou bom o suficiente para levar vinho para Willa. Ela
sorri para mim e se mexe sob as bolhas enquanto aceita o
copo. Ela faz nenhum esforço para não olhar para a situação
em meus jeans.
— Caramba, Lenhador. Esse tronco parece
desconfortável.
Eu faço uma carranca para ela, então volto para dentro, a
irritação crescendo quando ouço sua risada gutural. Eu
adiciono os toques finais à comida e, em seguida, coloco-a
em pratos para nós dois. Verificando se o fogão está
apagado, os pratos na mão, coloco minha cerveja debaixo do
braço e saio para me juntar a ela. Willa está olhando para as
estrelas, um braço esticado ao longo da borda da banheira,
girando o vinho.
Quando seus olhos encontram os meus, eles são mais
suaves. Quente, marrom chocolate, com manchas de
caramelo. O copo dela está quase vazio. O vinho a deixa um
pouco flexível e, pela expressão em seus olhos, com muito
tesão. O vinho leva a olhos com tesão. Pode apostar que vou
arquivar isso para uso futuro.
Enquanto entrego o prato a Willa, ela sorri para mim.
— Obrigada.
Comemos em silêncio algumas mordidas, eu em uma
cadeira Adirondack ao lado, Willa na banheira, seu prato
seguro sobre as bolhas. Ela usa os dedos para comer, pois
não pode usar o colo e cortar com garfo e faca. Primeiro o
frango, depois ela desliza alguns feijões-verdes entre os
dentes e mastiga.
— Droga, você sabe cozinhar, Ry.
Eu faço um barulho evasivo enquanto tomo um gole da
minha cerveja.
— Ryder.
Eu olho para ela.
— Hm?
Seus olhos suavizam ainda mais. Suas íris mudam para
uma luz de vela pálida e dourada.
— Venha aqui.
Nosso olhar se mantém por um longo tempo. Meu dedo
bate na minha garrafa de cerveja.
— Por quê? — Eu finalmente consigo dizer.
Willa não pisca para longe. Ela apenas respira fundo e
suspira.
— Porque eu quero você.
Quase deixo cair minha cerveja. Colocando a garrafa e
meu prato na mesa, eu olho para ela mais uma vez.
— Eu preciso de mais do que isso.
Willa morde o lábio, em seguida, pisca para longe,
olhando para o horizonte escuro.
— Eu quero Ryder Stellan Bergman. Rei da flanela e
destemido homem das montanhas. Eu quero meu parceiro
de Matemática de Negócios. Eu quero o cara que estraga
guacamole e que sabe tocar no meu cabelo. Eu quero o idiota
que assobia nos meus jogos e me abraça com tanta força que
meus pulmões parecem que vão explodir. — Ela engole. —
Eu amo aquela sensação quando você está tão perto de
empurrar muito forte, apertar com muita força, então você
sabe exatamente quando parar. Você sabe quando lutar e
quando pedir desculpas.
Minha respiração sai irregular. Meu coração está
despedaçado em um torno de emoções que as palavras de
Willa apenas torcem com força.
— Eu quero Ryder que leia para minha mãe acamada —
ela sussurra. — Eu quero Ryder que me trouxe uísque e potes
de manteiga de amendoim e foi o primeiro homem a ir mais
devagar e me segurar e me ajudar a me sentir segura o
suficiente para desmoronar. Eu quero o homem que me
carregou montanha abaixo hoje. Eu quero sua força tranquila
e seu grande coração. Quero você.
Eu fico de pé. Willa também. E tudo muda.
O ar sai correndo de mim. Ela é tão linda, não há palavras.
Não há palavras para descrever a aparência do luar nas
linhas de seus músculos em seus ombros, seu estômago, suas
pernas. Nenhuma palavra para capturar a curva suave de
seus quadris, a curva de seus seios e seus mamilos tensos que
se contraem com o frio.
Seus dedos dançam ao seu lado enquanto ela espera. Sei
que estou respirando porque ainda estou vivo, mas não
sinto. Estou atordoado.
— Ryder — diz ela calmamente.
Meus olhos encontram os dela e meu coração arde com o
conhecimento. Eu a amo. Eu sabia que a amava, mas a
verdade estoura dentro do meu peito, sobe pela minha
garganta e bate uma tatuagem violenta dentro da minha
mente enquanto eu olho em seus olhos.
— Venha aqui — ela sussurra.
Eu me aproximo. Willa também. Ela se inclina para a
borda dentro da banheira, colocando-a no nível dos olhos.
Eu mantenho seu olhar enquanto suas mãos pousam no
primeiro botão da minha camisa que ainda está fechado,
abrindo-os um por um.
No meio do caminho com meus botões, ela faz uma
pausa. Ela dá um beijo na minha testa e balança. Minhas
mãos vão para seus quadris, segurando-a firme enquanto ela
volta a desabotoar minha camisa. Sua pele é lisa e esticada,
quente por causa da água. Quando ela tira minha camisa dos
meus ombros, eu a sacudo e finalmente faço o que não posso
evitar mais.
Arrasto minha boca avidamente sobre seu seio e provo
sua pele. Seu mamilo está duro, o mais lindo rosa
avermelhado. Eu o coloco em minha mão e rolo minha
língua em sua superfície.
Suas mãos estão em meu cabelo e o ar sai dela.
— Oh, Deus — ela geme.
Willa cai de joelhos na água, puxando furiosamente
minha fivela, abrindo o botão. Ela abaixa o zíper e tira meu
jeans dos meus quadris. Eu puxo para baixo o resto do
caminho, tirando minha boxer em seguida.
Os olhos de Willa estão arregalados enquanto ela me
encara. É o mais duro que já estive, meu comprimento tão
apertado e grosso, que bate no meu umbigo enquanto se
solta.
Um lento sorriso ilumina seu rosto.
— Bom? — ela diz. — O que você está esperando?
As banheiras de hidromassagem são relaxantes, mas não
são ótimas para isso. Eu quero vê-la bem. Eu quero levar meu
tempo. Eu preciso do meu juízo sobre mim, e o corpo nu de
Willa sobre o meu em uma Jacuzzi significa um desastre para
isso. Sem mencionar que as banheiras de hidromassagem
também são terrivelmente anti-higiênicas para qualquer
coisa relacionada ao sexo, não que eu esteja dizendo isso à
Willa. Ela vai me dar uma merda pela minha limpeza
neurótica.
Minhas mãos deslizam de seus ombros até sua cintura,
enquanto eu mantenho seu olhar. Ela grita enquanto eu a
puxo para fora da água, envolvo-a em volta do meu torso e
dou um passo para trás pela porta.
O sorriso de Willa é contagiante enquanto ela passa os
braços em volta do meu pescoço e aperta suas coxas. Eu
tenho que morder minha bochecha para não perder meus
sentidos porque ela está a centímetros de deslizar pelo meu
pau.
— Aonde estamos indo? — ela sussurra.
Abro a porta do enorme banheiro do primeiro andar com
o ombro. Uma ducha de vidro com um banco de azulejos e
duas bicas cascatas piscam do outro lado do comodo.
Os olhos de Willa seguem os meus.
— Uau — diz ela sem fôlego.
Eu a coloco no chão e ligo o interruptor de luz. Abro a
água, ajusto e ligo o aquecedor de toalhas. Willa estremece
um pouco e eu a arrasto comigo em direção ao espaço
ecoante.
Ela olha em volta, suas mãos correndo ao longo dos meus
braços distraidamente.
— Por que você não está entrando? — Seus olhos seguem
minhas mãos enquanto alcançam meu cabelo, perto de
minhas orelhas. — Eles têm que sair.
Eu concordo.
Willa hesita, então se aproxima, segurando meu braço.
— Você quer que eu saia, para que você não precise–
— Eu nunca serei capaz. Eles vão cair com... com esse tipo
de movimento.
Willa cora, mas há tristeza em seus olhos.
— Então você não vai ouvir–
— Vou ouvir você bem, Willa. — Eu beijo seu pulso,
nunca deixando meus olhos deixarem os dela. — Sempre
ouvi.
Cuidadosamente, eu retiro meus processadores e
transmissores auditivos, colocando-os no balcão. O
telescópio de sons do mundo mais uma vez. Foram-se
aqueles muitos ruídos de ambiente que eu já comecei a
aceitar inconscientemente. Eu fico com o puxão da minha
respiração, o sussurro rouco de Willa. Meu batimento
cardíaco bate em meus ouvidos.
— Vamos, Willa. — Lentamente eu a levo para o
chuveiro, deixando a água cair sobre nós.
Seus olhos se erguem e seguram os meus.
— Você disse isso.
Sei o que significa para ela falar, dizer seu nome quando
tenho muito pouca noção de como soa. Antes dos implantes,
eu nunca fiz isso, nem uma vez. Eu estava muito
envergonhado, muito inseguro por ter perdido o som da
minha voz. Mas eu quero que Willa saiba que o medo e a
hesitação não estão mais aqui entre nós. Quero mostrar que
as paredes dela podem cair, mesmo depois de você ter
dedicado tempo e energia para construí-las.
— Ryder. — Eu vejo meu nome em seus lábios mais do
que ouço. Eu sinto seu som vibrar em meu peito e se
estabelecer em meu coração.
Ela fica na ponta dos pés e me dá um beijo que sempre
lembrarei. Não é um confronto selvagem de línguas e bocas.
Não é uma batalha pelo controle. É gentil e com medo.
Esperançoso e frágil. Seus lábios estão incrivelmente cheios
enquanto deslizam e pressionam contra os meus. Puxões e
mordidas, lufadas de ar silenciosas que dançam sobre meu
rosto.
Eu seguro seu pescoço e me inclino entre suas pernas.
Meus polegares suavizam suas bochechas enquanto suas
mãos envolvem minha cintura e me puxam para mais perto.
Eu provo uma doçura indescritível que é apenas Willa,
enquanto eu chupo seu lábio inferior e deslizo minha língua
ao longo de sua plenitude.
Seu gemido dança sobre minha pele e me faz estremecer.
Um último beijo, antes de puxá-la com força contra mim. Ela
olha para baixo entre nós, então de volta para mim com um
enorme levantar de suas sobrancelhas.
Isso me faz rir baixinho. Eu balanço minha cabeça,
levantando minha mão, para que ela saiba que pretendo
tocá-la assim, não levá-la para os finalmentes. Ainda não. É
perfeito, nosso salto de volta à nossa dinâmica original –
linguagem corporal, contato visual, compreensão silenciosa.
Seus seios são cheios e macios, implorando por minha
boca. Eu os beijo, chupando seus mamilos rudemente
enquanto coloco a mão em sua cintura e a encontro, quente
e suave. Meus dedos separam a pele incrivelmente sedosa,
um dedo, depois dois, afundando dentro. As mãos de Willa
agarram meus ombros. Ela cai em mim, seu peito esmagado
contra o meu, sua boca aberta contra meu pescoço.
Meu polegar encontra seu clitóris e gira em um círculo
lento e leve. Eu sinto cada explosão de ar quente, o presente
de seu som quando ela leva sua boca ao meu ouvido bom e
suspira contra ele. A mão de Willa deixa meu braço e envolve
com força a base do meu pau.
Eu gemo e jogo minha cabeça para trás enquanto ela
aperta, então arrasta seu aperto até a cabeça. Seu polegar
varre sobre a ponta do meu pau quando um som me deixa
que eu não poderia me importar menos. A boca de Willa
permanece pressionada no meu ouvido, cada ruído
desesperado dela é meu para afogar. Seu aperto é perfeito,
seu toque lento o suficiente para me torturar. Suas coxas
começam a tremer, sua respiração fica mais entrecortada.
Meus quadris balançam em seu aperto. Minha boca se
vira e encontra a dela. Nós nos beijamos e respiramos um
contra o outro enquanto aprendemos sob o jato de água – nos
atrapalhando e rindo um pouco, quando encontramos
aquele toque ali que faz o outro se desfazer. Eu a seguro com
força contra mim, meus olhos grudados nos dela enquanto
seus quadris vacilam, enquanto suas unhas cavam em minha
pele.
Suas pálpebras tremem. Um rubor rosado percorre seu
peito, depois pinta suas bochechas. Eu vejo seus lábios
carnudos dizerem “Q-quase” e enrolar meus dedos com mais
força, esfregar dentro dela, mais forte, mais rápido. Um calor
desesperado sobe pelas minhas pernas e chia na minha
espinha. Meu corpo está tenso como um arame, e suas mãos
pequenas e macias apertadas ao redor do meu comprimento
grosso me deixam tonto. Willa começa a tremer enquanto
seus olhos se arregalam, sua boca abre. Ela vem em volta da
minha mão, tremendo enquanto geme no meu beijo, e vê-la
gozar me envia com ela. Um último impulso em seu punho
apertado, então eu derramo por uma pequena eternidade
contra seu estômago.
Willa se inclina para mim, enrolando seus braços
ferozmente em volta do meu pescoço. Seus lábios
pressionam meu ouvido, minhas bochechas, minha boca.
Nossas testas descansam uma contra a outra antes que ela
roube um último beijo. Ela se afasta, corada e de tirar o fôlego
enquanto um sorriso trêmulo ilumina seus olhos. Em
seguida, sua mão passa sobre o rosto, antes de beliscar e
sacudir no ar.
Ela sabe o que isso significa agora, e não posso deixar de
sorrir de volta.
Bonita.

Eu cedi e fiz uma fogueira. Vendo que cruzamos um


obstáculo no chuveiro, tenho um palpite de que Willa vai me
deixar ser a conchinha maior dela na cama em algumas horas
de qualquer maneira. Ela está esticada no sofá, com os pés
no meu colo. Seus dedos do pé se mexem enquanto eu
deslizo meus polegares para cima no arco de seu pé.
— Vamos jogar um jogo — digo a ela.
Willa deixa de olhar para o fogo e me encara.
— Um jogo?
Eu concordo.
— Chama-se preencher os espaços em branco.
— Preencher os espaços em branco de quê?
— Sua vida. — Seu pé começa a se afastar, mas eu o
agarro. — Willa.
Seus olhos ficam mais escuros, pressagiando raiva.
— O quê?
— Fale comigo. O que te perturba com isso?
Ela suspira, sua cabeça caindo para trás para o braço do
sofá.
— Eu não gosto de falar sobre mim.
— Sim, mas quando as crianças forem mais velhas, quem
vai explicar a elas por que mamãe sempre fica estranha com
salsichão, conversas difíceis e ursos pardos?
— Ok, eu não fico estranha com salsichão. Eles são
simplesmente nojentos. E os ursos pardos, embora
supostamente extintos no estado da Califórnia, ainda são
assustadores.
— E conversas difíceis?
Willa faz uma careta.
— Eu iria questionar a parte crianças dessa declaração, a
seguir.
— Você disse que precisava de tempo, e eu darei a você
todo o tempo que você precisar, raio de sol. Vou esperar até
que você termine de ganhar as medalhas de ouro olímpicas,
então, quando estiver pronta, quero mordedores de
tornozelos raivosos com cabelo loucos correndo por aí.
A carranca de Willa se aprofunda.
— Isso não é uma questão de brincadeira.
— Totalmente de acordo. — Eu puxo suas pernas mais
profundamente no meu colo e passo a esfregar o outro pé.
— Ryder… — Ela esfrega o rosto. — Eca. Sentimentos.
Conversa.
Faço uma pausa na massagem em seu pé e bato nele para
que ela olhe para mim.
— Pequenos passos, ok?
A expressão de Willa vacila. Ela parece tão assustada que
meu peito aperta em um reflexo de proteção. Eu esfrego seu
calcanhar e trabalho até massagear seu tendão de Aquiles.
Seus olhos se fecham enquanto ela geme.
— Onde você nasceu? — Eu pergunto.
— Tulsa — ela diz calmamente.
— Você?
Eu sorrio.
— Aqui.
A cabeça de Willa se levanta. Ela olha ao redor,
parecendo perturbada, como se a evidência de um parto
traumático ainda estivesse em algum lugar espalhado pelo
chão de madeira.
— A história continua, mamãe disse que estava com dor
nas costas, levantou-se do sofá e caminhou até a porta antes
de se sentar e me empurrar para fora, bem no pé da escada.
Willa fica horrorizada. Isso faz uma gargalhada explodir
de mim.
— Quer dizer, eu era o número quatro. É uma espécie de
processo automático nesse ponto.
— Falado como a metade de nossa espécie que nunca terá
que empurrar a próxima geração para fora de sua vagina —
Willa diz categoricamente.
Isso me faz rir ainda mais.
— Eu traumatizei você.
— Jesus. OK. — Ela balança a cabeça. — Então. Minha
vez. — Seus dedos tocam seus lábios. — Eu quero saber
exatamente o que aconteceu com a sua audição.
É como um balde de água gelada sobre minha cabeça,
mas estou pedindo a ela que seja corajosa. Eu também tenho
que ser.
— Meningite bacteriana. Eu estava na metade do
treinamento de verão para minha temporada de calouro na
UCLA. Tive uma febre horrível, tive uma dor de cabeça tão
dolorosa que não conseguia abrir os olhos. Meus pais me
levaram para o hospital. Eu perdi a consciência em algum
momento, e quando voltei, minha audição era assim.
Willa pisca para afastar as lágrimas.
— Deus. Sinto muito, Ryder.
Eu encolho os ombros.
— Tudo bem.
— Não, não é — ela diz com urgência, endireitando o
corpo. — Você perdeu algo que amava.
— Eu sei. Mas eu sofri. Às vezes ainda me sinto triste,
mas segui em frente. Não há nada a ser feito agora. Apenas
vida para viver nesta nova direção.
Ela hesita por um instante, suas mãos procurando
minhas pernas. Ela esfrega minha canela para cima e para
baixo, como sempre fez. Como se estivéssemos acostumados
a enroscar nossas pernas na frente de uma fogueira,
abrigados no glorioso meio do nada.
— Que posição? — ela finalmente pergunta.
— Defesa. Lateral esquerda. Eu teria seu número, raio de
sol.
Seus olhos brilham. A irritabilidade estala nas pontas de
seu cabelo.
— O inferno que você teria.
Eu rio na boca da minha garrafa de cerveja antes de tomar
um gole.
— Eu te garanto.
— Eu duvido.
Abaixando a garrafa, encontro seus olhos.
— Amanhã então. Vai estar quente ao meio-dia. Vamos
descer para o campo.
Willa fica boquiaberta.
— Você tem um campo?
— Bem, costumávamos passar muito tempo aqui. Somos
sete e todos nós jogamos ou, no meu caso, jogávamos...
Ela bate na minha canela.
— Você ainda joga. Talvez não como você fazia antes,
mas você ainda joga.
Eu aceno, meus olhos segurando os dela. O silêncio se
estende confortavelmente entre nós enquanto Willa bebe seu
vinho. O fogo estala intermitentemente e projeta em seu
rosto um brilho quente e ardente.
— Eu quero saber sobre o seu pai.
Willa se enrijece e sua mandíbula se contrai.
— Meu pai era um morador local que ficou e largou
minha mãe durante uma pausa em sua viagem. Ele não
queria nada com a gravidez dela, e eu nunca soube quem ele
era.
Eu aperto sua perna.
— Eu sinto muito.
Ela encolhe os ombros.
— Tanto faz.
— Tanto faz? Você nunca teve um pai, raio de sol.
— Sim, obrigada. Nunca percebi isso.
Eu suspiro.
— Willa, só estou tentando ter empatia.
— Bem, não tenha. Eu não preciso de pena. — Ela bebe
seu vinho e toma um gole generoso.
— Eu não tenho pena de você, e você sabe disso.
Ela levanta um ombro.
— Certo, tudo bem.
— Você sabe que está tudo bem em odiá-lo com a sua
alma por ser o maior idiota da vida, certo?
— Jesus. — Ela joga minhas pernas para longe dela e se
levanta. — Eu realmente não preciso da sessão de psiquiatra.
— Willa, espere. — Eu me levanto do sofá lentamente. —
Estou tentando falar com você sobre isso. Sobre o fato de que
o primeiro homem em sua vida foi uma decepção completa
e você está inclinada a ver a maioria dos homens dessa
maneira. Você disse isso para mim. Não estou colocando
palavras na sua boca.
Willa me encara.
— Isso porque a maioria dos homens que conheci são
decepções completas. Foram todos palavras bonitas e
promessas até a vida real chegar. Então eles se foram.
Ela se vira, arrastando um cobertor do sofá com ela
enquanto se dirige para as escadas.
— Estou cansada e ciente de que estou na defensiva. Eu
quero conversar mais, mas não posso, ok? Não agora. Vou
dizer algo do qual vou me arrepender.
Eu fico olhando para ela, decifrando seu rosto. Ela parece
vulnerável e triste. Ela parece que se sente culpada, mas ela
não precisa. Ela está me dizendo seu limite. Ela não está
fugindo. Ela está adiando.
— Ok. Sinto muito por ter pressionado, raio de sol.
Ela me olha com uma surpresa velada.
— Você não está bravo?
— Não, Willa. De jeito nenhum.
Seus ombros caem de alívio.
— Ok, bem... eu só vou para a cama, então. —
Caminhando em minha direção com o cobertor engolindo-a,
Willa pressiona um beijo no meu esterno e sussurra: — Boa
noite.
Eu a vejo subir os degraus. Ela para no patamar e faz uma
pausa para olhar para mim com curiosidade, antes de subir
as escadas o resto do caminho.
Olhando para o fogo, deixo meus pensamentos se
acalmarem. Eu penso sobre o quanto eu quero enrolar em
torno dela no sono esta noite, mas o quanto mais importante
é que eu mostre a Willa que posso respeitar seu processo.
Pequenos passos, eu disse a ela. É isso que eu quero que ela
veja. Que não vou fugir quando ela se eriçar, que não vou
puni-la quando ela me colocar seus limites. Que não vou
ficar ressentido quando ela disser isso é tudo que posso fazer,
especialmente quando cada palavra que leio nas entrelinhas
diz, mas quero fazer mais.
As chamas da lareira diminuem e os passos de Willa se
acalmam no andar de cima. Eu quebro as brasas, tranco as
portas e subo as escadas. Quando a verifico, ela é exatamente
como a encontrei meses atrás, depois que Joy morreu.
Escondida sob cobertores, fingindo estar dormindo. E assim
como da última vez, coloco minha mão nas costas dela e
deslizo meus dedos por seus cabelos. Eu mantenho minha
promessa.
Eu não vou desistir de Willa. Assim como Willa, mesmo
com medo e com cicatrizes, nunca desistiu de mim.
28

— BOM DIA, RAIO DE SOL. — Sua voz é rouca pela manhã e


meus mamilos ficam tensos em resposta. Viu?, eles dizem.
Essa boca áspera poderia ter sido dirigida a nós a noite toda.
Lambendo, mordendo, chupando, sussurrando contra nós
enquanto ele faz aquela coisa com sua língua–
— Cale a boca, peitos.
Ryder fica imóvel do outro lado do balcão.
— Você acabou de falar com seus peitos?
— Não ligue pra isso. Café. — Eu deslizo para um
banquinho na ilha de café da manhã e aceito a caneca que ele
coloca na minha frente com um sorriso fraco.
— Obrigada — eu digo após o primeiro gole. Olhando
para dentro da minha xícara, percebo que é exatamente como
eu gosto. — Você sabe como eu bebo meu café?
— Eu valorizo minha vida. — Ryder completa sua caneca
e sorri para mim. — Eu vi você manhãs o suficiente para
descobrir isso. Café forte recém-coado. Respingo de leite.
Minha barriga dá um salto mortal.
— Ryder, sobre a noite passada… — Eu deslizo meu
dedo ao longo da borda da xícara, olhando para o meu café.
Não seria bom se as palavras fossem soletradas naqueles
redemoinhos de leite? Falar sobre essas coisas é tão difícil. —
Eu sinto muito. — Eu encontro seus olhos. Eles são calorosos
e gentis como sempre. Ele é tão calmo. Inabalável.
— Pelo que você está se desculpando?
— Eu fui termonuclear. — Um suspiro pesado me deixa.
— O dia de ontem e a noite foram tão fantásticos quanto
assustadores. Tenho tentado trabalhar minhas emoções com
o conselheiro, mas meus problemas de relacionamento e
confiança são... profundos. É sobre a raiva e o ressentimento
que sinto em relação ao doador de esperma. É sobre passar
por muitas confusões ao longo da minha infância, mudando-
me constantemente, fazendo amigos e depois perdendo-os.
Eu joguei tudo para amar minha mãe porque onde ela ia, eu
ia. Ela era minha mãe, meu pai, minha melhor amiga, meu
tudo. Então, quando ela estava doente, passei anos
preocupada, estressada e com o coração partido por perder
a única pessoa que me permiti amar de todo o coração.
— Eu… comecei a adotar o hábito de nunca me deixar
apegar para evitar me machucar. Esse não é um
comportamento que simplesmente desaparecerá da noite
para o dia.
— Eu sei — diz ele calmamente.
E como na noite passada, outra fechadura no meu
coração se abre e cai. Como na noite anterior, ele não está
bravo, impaciente ou impressionado por isso ser o melhor
que posso fazer por enquanto.
Minha voz está fraca, mas preciso passar a mensagem. Eu
preciso que ele entenda no que está se metendo.
— Fingir que fazer este tipo de coisas não me assusta de
verdade mesmo é impossível. Eu não sou boa nisso. Nunca fiz
isso antes.
Ryder me encara. Ele pousa a mão no balcão, com a
palma para cima. Eu entrego a ele sem hesitar, então suspiro
quando seus dedos acariciam minha mão suavemente.
— Isso é uma coisa difícil de dizer, raio de sol.
Meus olhos lacrimejam quando eu aceno.
— Obrigado — ele diz baixinho enquanto aperta minha
mão.
Eu mordo meu lábio e aperto de volta. Quando ele me
solta, tomo uma xícara de café para me aquecer. O calor vem
rápido o suficiente, no entanto. Isso sobe pela minha espinha
enquanto vejo Ryder beber de sua caneca e ver toda a sua
adorável aparência matinal. Ele tem uma ótima cara de sono
e uma linha de pele que o distrai aparecendo entre a camisa
e a calça do pijama.
— Então. — Ryder dá um gole em seu café e o pousa no
balcão. — Esse tipo de coisa. Isso. Sobre o que estamos
conversando?
— Eu não usei palavras sentimentais suficientes esta
manhã?
Ryder apenas me encara e sorri.
Eu xingo baixinho e tomo um gole de café.
— Você e eu, Lenhador. O que somos.
Ele se curva o suficiente para apoiar os cotovelos no
balcão. Ele está vestindo uma camisa térmica cinza que é
desgastada e ajustada nos lugares certos. Ela abraça os
músculos cortados de seus ombros e braços, estendendo-se
confortavelmente ao longo de sua cintura fina. Estou com
medo de ver o que está abaixo desse ponto. Tenho quase
certeza de que é flanela xadrez, e não tenho certeza se estou
preparada para tanta gostosura sexual de lenhador.
— O que somos — ele repete. — Qual é…?
Abro a boca, mas nenhuma palavra sai. Eu quero ser
corajosa, eu quero dizer o que Ryder significa para mim, o
que eu quero que nós tentemos ser, mas a minha coragem
trava em algum lugar entre minha garganta e minha língua.
Seu telefone quebra o silêncio enquanto zumbe,
deslizando ao longo da bancada de quartzo. Ryder silencia
seu celular sem olhar para ele, mas estupidamente, meus
olhos viajam para a tela. Emma.
O vermelho tinge minha visão. Emma? Quem adoráveis
diabos é Emma?
— Ninguém importante — Ryder diz uniformemente.
Meus olhos se voltam para os dele.
— Eu disse isso em voz alta?
— Você disse, Willa. — Ryder sorri e gentilmente tira um
dos meus cachos da minha testa. — Sério, ela não é ninguém
para mim.
Eu fico olhando para ele, piscando rapidamente. Coisas
muito estranhas estão acontecendo no meu peito. Parece que
alguém bateu nele com um pé de cabra, e as rachaduras se
formaram rapidamente. Minha pele está quente, minha
cabeça latejando. Eu acho... acho que estou com ciúmes?
Ryder desliza o telefone na minha direção.
— Não acredite em mim, veja por si mesma.
O telefone grita comigo para abri-lo, para mergulhar
fundo nas mensagens de Ryder. Quem mais está mandando
mensagens para ele? Que outras garotas com nomes bem
contemporâneos, em vez de inspirados por autores do século
20 obcecados por Pradarias, estão explodindo seu telefone?
Fecho meus olhos e expiro lentamente.
— Eu confio em você.
— Você ainda pode olhar ele.
Meus olhos se abrem e se estreitam para ele.
— Você quer que eu olhe?
Ryder encolhe os ombros.
— Eu não me importo se você fizer. Eu ficaria um pouco
curioso se algum cara estivesse explodindo seu telefone. Eu
confio em você implicitamente, mas eu não me importaria de
saber o que ele estava dizendo, eu acho. Vá em frente, raio
de sol.
Pegando o café do balcão, Ryder se afasta. Droga, meus
piores medos se confirmaram. Ryder Bergman usa flanela
em sua bunda fantástica e nas pernas de homem das
montanhas, assim como a usa sobre a parte superior do
corpo que pode ser derrubada por árvores.
— Eu vou me refrescar. Pode olhar.
Ele se foi sem outra palavra, deixando-me com seu
telefone queimando na minha mão.
Eu bato meus dedos no balcão. O relógio bate. Meu café
esfria.
— Oh caralho. — Eu abro seu telefone porque sim, eu sei
sua senha agora.
Começa inócuo, essa leitura do celular de Ryder. Ele
manda muitas mensagens para seus irmãos, e isso aquece
meu coração. Estou com ciúmes e extremamente feliz por ele
ter uma família tão próxima. Ele manda mensagens para a
mãe todas as manhãs. Isso torce meu intestino. Eu evito
deliberadamente mensagens de texto de Sadie, Emma, Haley
e Olivia.
Até eu não conseguir.
Fodidas idiotas. Essas garotas não são sutis. Convites
para um café, há muito tempo sem visualização. Vamos jantar
algum dia. Presumivelmente, são conquistas anteriores dele.
Sexo casual. Não namoradas, porque Ryder deixou claro que
não namorou desde o colégio – por que ele foi tão enfático
sobre isso, quem sabe. O que eu sei é que todos estes textos
começam aproximadamente em torno do momento do
ataque no rosto de Fort Ryder, quando Becks e Tucker
forçaram sua mão raspando o meio de sua barba.
Não estou surpresa. Sempre achei Ryder gostoso,
verdadeiramente bonito. Há uma sensualidade tranquila em
um homem que não exibe tudo o que tem a oferecer e,
embora eu não tenha percebido que é minha erva-do-gatos,
claramente é. Posso ter desejado estrangulá-lo desde o
primeiro momento em que nos conhecemos, mas não
demorei muito para perceber que também o achava
profundamente atraente.
Sem a barba, porém, Ryder é como... bem, ele é material
de modelo. Ele tem feições de beleza clássica, ásperas com
masculinidade e arestas duras, o desgaste do sol e os anos do
lado de fora, para fazê-lo parecer maduro e ainda mais velho
do que realmente é. Ryder é um homem entre um mar de
meninos. Quando a barba foi eliminada, esse fato foi
totalmente exposto.
Meu coração bate forte. Ryder não respondeu a nenhuma
delas. Ele deixou seus recibos de leitura para deixar claro que
os tinha visto e os estava ignorando. Ele enviou uma
mensagem muito clara. Mas ainda estou tremendo com essa
nova sensação de coceira sob minha pele. Tenho o impulso
ridículo de correr atrás dele e atacá-lo, de morder sua pele
quente e esticada da cabeça aos pés, beijá-lo até perder os
sentidos e depois cavalgar naquele bosque de lenhador a
manhã toda. Quero que cada centímetro quadrado de Ryder
diga que ele é de Willa. Quero que todos saibam que ele é
meu, eu sou dele e somos os únicos que o outro deseja.
Puta merda. Puuuuta merda.
A realidade me dá um tapa na cabeça. Se eu o visse com
qualquer uma dessas mulheres, se ele tivesse concordado em
receber uma porra de uma xícara de chá, eu teria sentido
como se meu coração tivesse sido arrancado do meu peito.
Não é possessividade. Este não é um jogo feminino
mesquinho no qual estou me permitindo ser sugada.
Quando tento imaginá-lo com outra pessoa, outra mulher
segurando sua mão, puxando seu cabelo, outra mulher
beijando ou tocando-o, afundando-se em suas mãos quentes,
esfregando sua cabeça quando uma enxaqueca bate, parece
que está de pé na frente de um dos aqueles espelhos
distorcidos na casa de diversões. É a imagem errada.
Instintivamente, positivamente, sei que não está certo. Não é
assim que deveria ser, nunca.
Por quê? A resposta bate cada vez mais alto dentro de
mim até que a verdade está sacudindo meus ossos,
sacudindo a gaiola em que a tranquei.
— Raio de sol?
Sua voz ecoa do andar de cima. O carinho e familiaridade
em meu apelido é um cobertor quente de garantia,
envolvendo-me. É a versão audível de seus abraços, aqueles
grandes apertos de braço que incitam um sentimento que
tenho há meses. Que quando estou com Ryder Bergman,
estou exatamente onde deveria estar.
— O quê?
— Parece que a chuva está chegando mais cedo ou mais
tarde. Se vou chutar o seu traseiro no campo, é melhor irmos
andando.
A certeza se instala com um peso terrível em meu peito.
Ela afunda em meu estômago e cai pesado, sólido,
inquestionável. Não posso acreditar no que estou prestes a
fazer, mas estou determinada a fazer, agora que entendo.
Agora que está cantando em meus ouvidos, enchendo meu
coração, exigindo ser falado.
— Estou indo!

Ryder fica quieto na caminhada pelo caminho sinuoso.


Perto do fundo, meus pés prendem-se em pedras soltas. Sua
mão se projeta imediatamente, envolvendo meu cotovelo.
— Huh, você tem olhos atrás de sua cabeça? Você tem
reflexos estranhos.
Ryder sorri, seus olhos à frente.
— Reflexos que você logo verá treinando você no campo.
Eu o empurro de brincadeira, e ele nem mesmo se move.
Ele realmente se levantou enquanto eu hibernava na minha
caverna de luto.
— Você está quieto, Maromba.
— Estou sempre quieto, Willa.
— Não, você não está. Quer dizer, às vezes você fica, mas,
geralmente, você fala bastante comigo.
Ryder para na trilha, me fazendo esbarrar nele.
Lentamente, ele se vira e olha para mim.
— Eu acho que sim. Mas isso é diferente. Só quando
somos nós.
Lá está meu coração grinch novamente, crescendo
crescendo. Só quando somos nós.
Eu pisco para ele. Os olhos de Ryder são verdes
profundos e serenos, cercados por árvores. Seus traços são
cautelosos, imbuídos de algo estourando nas costuras de sua
expressão. Eu quero agarrar seus braços e sacudi-lo, como
um doce preso na máquina de venda automática.
Dois pássaros gorjeiam na árvore acima de nós e
quebram nosso silêncio quando voam para o céu. Eles se
arqueiam e se precipitam, seu voo é uma perseguição e
provocação dançantes, até que finalmente se achatam com o
vento e voam juntos.
— Só quando somos nós?
Ryder me encara.
— Você me viu falar com outra mulher além de minhas
irmãs ou mãe, desde que te conheci?
Eu balancei minha cabeça lentamente.
— Já olhei para alguma?
Dou um puxão forte no lábio inferior entre os dentes.
Minha frequência cardíaca dispara e dispara a toda
velocidade.
— Não — eu sussurro.
Seus olhos queimam e um rubor sobe por seu pescoço.
— Desde que eu consegui isso — ele aponta para o
hardware atrás das orelhas — alguma coisa mudou?
— N-não.
A mandíbula de Ryder aperta. Sem outra palavra, ele se
vira, retomando nossa caminhada pela trilha. Eu mais ou
menos caio atrás dele, alcançando o momento em que
quebramos a floresta em uma clareira.
Virando-se, Ryder caminha em direção a um galpão,
passando os números em uma fechadura até que ela se abra.
Ele desaparece lá dentro e rapidamente puxa uma rede de
tamanho médio e algumas bolas. Percebo que ele está sem
seu aparelho auditivo agora. Deve ter escondido no galpão
para mantê-lo seguro. Pego uma bola, depois uma bomba, e
a encho, observando Ryder enquanto ele endireita a rede à
distância.
Largando a bola, eu a toco para frente. Algo sobre o vento
forte, o cheiro de grama cortada, me lembra da infância. Sou
transportada para meus primeiros dias com uma bola de
futebol, aquela felicidade despreocupada que senti,
enquanto o ar do outono sugava minha camisa contra meu
corpo magro e fazia a bola rolar para fora do curso. Lembro-
me de fatias de laranja e chuteiras de segunda mão, vovó
Rose trançando meu cabelo e o mantra de mamãe sussurrado
em mim enquanto ela passava protetor solar em minhas
bochechas.
Você é forte. Você é corajosa. Você pode fazer qualquer coisa que
definir em seu coração e mente.
Ainda digo a mim mesma essas palavras antes de cada
jogo. Estou dizendo a mim mesma essas palavras agora.
Ryder ergue os olhos da rede e me observa enquanto eu
driblo. Eu me exibo um pouco, sacudindo a bola facilmente
dou uma lambreta e pegando-a no topo do meu pé. Eu giro
meu pé, nunca perdendo a bola, e a pego novamente,
apoiando-a em minhas omoplatas. Então eu rolo no meu
ombro e o tiro. Ela voa pelo ar e pousa diretamente aos pés
de Ryder.
Ele luta e não consegue esconder sua diversão.
— Talentosa.
Como ontem à noite no chuveiro, ele falava, sem o auxílio
de seus implantes. Sou pega de surpresa e meu coração se
contorce com aquele sentimento assustador que quase disse
a mim mesma na cozinha.
Sua voz é diferente sem seus implantes. Enviesado em
torno das vogais. Eu não pensei que significaria tanto para
mim, se ele falasse comigo sem eles, mas significa. Uma
vulnerabilidade tão imensa. Limpo minha garganta,
tentando não parecer que estou fazendo alguma coisa, já que
Ryder está agindo como se não fosse grande coisa.
Certifico-me de que ele pode ver minha boca quando
digo:
— If you got it, flaunt it.
— Você acabou de citar Bey... — Sua voz falha. Ele engole
e tenta novamente. — Beyoncé?
Eu o bato no ombro e roubo a bola de seus pés, girando
para que ele possa me ver falar.
— Você diz isso como se eu deveria ficar envergonhada
quando você é o homem adulto que reconhece 'Yoncé da
velha guarda.
Ryder sorri.
— Duas irmãs, raio de sol. Fiquei surdo tarde demais.
Eu paro com a bola e sinto uma carranca puxar minha
boca.
— Isso não é engraçado. Eu não gosto quando você brinca
sobre isso.
Seu sorriso vacila.
— Por quê?
— Porque… — Eu faço malabarismos com a bola,
escondendo meus sentimentos por trás dos meus
movimentos. — Eu não sei. Você está zombando de alguém
que significa muito para mim. Provoque-me o quanto quiser,
mas não brinque às suas próprias custas.
Ryder inclina a cabeça para o lado.
— Desse jeito alguém pode pensar que você gosta de
mim, raio de sol.
— Esse alguém estaria correto, Lenhador. — Eu mando a
bola para o ar, então bato com um chute de bicicleta na rede.
Ryder recua para recuperá-la, em seguida, aproveita a
bola para cima e é a sua vez de se exibir. Oh inferno. Ohhhh,
maldito inferno. Seus lábios franzem enquanto ele faz
embaixadinhas, aqueles olhos verdes afiados estreitados em
foco. Seus cílios se espalham sobre as maçãs do rosto e seu
cabelo brilha ao sol. Seu corpo são linhas longas, graça,
poder. Parece fácil. Estou no máximo, trinta minutos de
morrer de fome sexual. Aquela diversão no chuveiro na noite
passada não foi suficiente. Nem mesmo perto.
Quando seus olhos encontram os meus, eles se
arregalam.
— Uau. Você parece…
Enlouquecida por sexo. Mais excitada do que
humanamente possível. Sim. Sim eu estou.
Eu respiro profundamente.
— Estou pronta para chutar o seu traseiro. Agora vamos.
Um contra um é difícil. Mesmo o melhor jogador do
mundo fica exausto trabalhando sozinho no campo, nunca
um companheiro de equipe para passar a bola e correr para
dar e ir. É só você e suas habilidades com os pés, sua
velocidade e agilidade para derrubar seu oponente e chegar
ao gol.
— Você primeiro. — Ryder lança a bola na minha direção.
Eu a pego na minha coxa, jogo-a imediatamente no chão e
saio correndo. — Merda, raio de sol!
Uma risada sai de mim. Ryder cai, seus quadríceps
insanos flexionando enquanto seu corpo assume uma
posição defensiva. As pernas dele são um pouco largas,
então procuro uma brecha, para enfiar a bola entre elas. Ele
antecipa isso, deixando cair sua canela e pegando-o, então
imediatamente puxa um Maradona que o puxa de mim.
— Idiota — murmuro.
— Você pensou que poderia me enganar, Willa?
Eu o empurro. Ele não se move.
— Mantenha limpo, raio de sol.
Ele está me provocando. Me provocando. Seus pés
pairam sobre a bola, sua postura é arrogante e confiante. Eu
salto para ele e ele me contorna, acertando um chute para o
gol.
Eu fico olhando para a rede, então lentamente viro meu
olhar para ele.
— Sorte de principiante.
Seu sorriso é mais amplo do que o campo.
— É o que você diz.
Isso resolve. Deixo a rede com a bola, puxando-a para
cima do que seria a caixa se fosse pintada na grama. Ryder
cai novamente, e desta vez eu não me concentro em suas
pernas assassinas. Eu vejo todo o espaço e faço algo corajoso.
Eu finjo para a esquerda, depois avanço para a direita,
jogando a bola por cima do ombro dele. Ryder foi pego na
direção que eu fingi enquanto eu cortava, prendendo a bola
no meu peito até a minha coxa, onde eu a chutei na rede.
Os olhos de Ryder disparam da rede para mim.
— Droga. Isso foi sexy.
Eu mordo meu lábio para lutar contra um sorriso.
— E pensar que estou apenas começando.
Jogamos por muito tempo. Eu consigo alguns gols
passando por ele, mas Ryder é formidável. Ele é rápido e
físico. Ele também tem 23 centímetros a mais que eu, o que
ajuda.
Estou cansada. Minhas coxas tremem com o esforço e
Ryder está encharcado de suor. Nossas brincadeiras ficam
mais ásperas, os toques aumentam e nossos corpos ficam
mais próximos. Estou praticamente sentada em seu colo, a
grande mão de Ryder contra minha coxa enquanto seguro a
bola, protegendo-a do alcance de seu pé.
O trovão ronca longe. Ryder olha para o céu, depois para
mim.
— Último gol.
Eu assobio. É minha posse. Estamos empatados. Se eu
marcar isso, eu ganho. Eu mudo um pouco, e Ryder está bem
contra mim, do lado do gol. Defesa perfeita. Seu corpo está
baixo, seu centro de gravidade exatamente como deveria
estar. Ele parece uma parede pela qual nunca vou
ultrapassar. Cada vez que passei, parecia um milagre. Não
consigo nem pensar nos truques que deixei.
— O que ela vai fazer? — Eu sussurro, olhando para ele
por cima do meu ombro. Nós dois estamos pingando de
suor, a mandíbula de Ryder está apertada. — Você anunciou
o último gol, Bergman. O que vai ser? — Seu punho aperta
minha camisa enquanto eu envio minha bunda direto para
sua virilha.
— Você me diz, Willa. — Ele manda seus quadris de volta
para mim, fazendo meus olhos vibrarem por apenas um
momento antes de abrirem. — É sua decisão, como isso
termina. Eu fiz o que pude.
De repente, o ar sai correndo dos meus pulmões quando
nossos olhos se encontram. Não estamos falando sobre esta
pequena competição. Não estamos falando de um jogo
amigável um contra um.
— Não, não estamos. — Sua cabeça se inclina para mais
perto. Eu posso sentir o cheiro perfeito de seu suor. O calor
escorre de seu corpo.
— Eu disse isso em voz alta — eu sussurro.
Ele concorda.
— Faça o que você tem que fazer, Willa, mas, por favor,
faça logo. Tire-me da minha miséria.
Lágrimas brotam dos meus olhos enquanto endireito
minha espinha. Arrastando a bola para a esquerda, eu me
inclino para ele. Eu me inclino com tanta força que se ele se
afastar, eu cairia de bunda, e ele sabe disso. Ele poderia me
deixar cair na grama, arrancar a bola de mim e marcar, sem
problemas.
Mas ele não quer.
— Você poderia me deixar perder agora.
— Eu sei — ele range para fora.
Eu empurro nele novamente.
— Por que não?
Ele balança a cabeça, suas mãos apertando minha cintura.
— Porque é um movimento sujo. Existe confiança. Você
se inclina para mim e eu me inclino para trás.
Eu olho para ele e sinto lágrimas estúpidas escorrendo
pelo meu rosto.
Seu corpo fica imóvel. A chuva varre a grama, fina e
quente. Salpica as bochechas de Ryder, aglomera seus cílios.
Chuto a bola para longe e giro antes que meus punhos
encontrem sua camisa, em seguida, aperto com força.
— Eu não quero a última palavra agora. Eu não quero
vencer. E isso não é normal.
Ryder exala trêmulo, seus olhos procurando os meus.
— Eu quero o que você quiser — digo a ele, alto e claro,
lento e seguro. Eu não quero que ele perca uma palavra do
que eu digo. — Tudo, justo e honesto. Quero ter medo com
você, em vez de estar sem medo e sozinha. Só quando somos
nós.
As mãos de Ryder são garras de torno na minha cintura.
— Porque eu te amo, Ryder Bergman. Estou morrendo de
medo de dizer isso, mas eu te amo. Eu te amo e sempre te
amarei.
O ar sai correndo de seus pulmões enquanto Ryder me
esmaga contra ele.
— Willa — ele murmura no meu cabelo. Um longo beijo
em meus cachos, enquanto ele respira, depois suspira. — Eu
amo você.
Eu beijo seu coração, alcanço seu pescoço. Beijo lá
também. Eu quero beijá-lo em todos os lugares. Eu quero que
ele sinta o quanto ele significa para mim. Eu quero recuperar
tanto o tempo perdido.
— Eu te amo — diz ele novamente, seus lábios macios ao
longo do meu pescoço. — Sim, desde que você olhou para
mim e parecia que queria assar minha pele para o jantar.
Uma risada úmida e forte explode de mim, enquanto a
chuva aumenta. É muito pouco romântico, como pareço
infernal. Meu cabelo está grudado na minha cabeça, ranho
escorrendo pelo meu nariz. Meus olhos estão vermelhos. Eu
sou uma chorona feia.
— Não, você não é. — Suas mãos alisam meu cabelo do
meu rosto. — Você é linda, sempre, e eu te amo
infinitamente, Willa Rose Sutter. Eu não posso evitar. Eu
gostaria de poder. Eu sei que isso torna sua vida mais
complicada. Eu sei que torturei você. Eu sei que nós
irritamos um ao outro tanto quanto fazemos um ao outro
feliz. Sei que quero uma vida tranquila e a sua não será nada
além de extremamente excitante, como você merece.
— Mas eu quero que sua vida seja minha vida, raio de sol.
Farei o que for preciso para que o seu mundo seja o meu.
— Ryder. — Eu pressiono minha testa em seu peito. Meu
ouvido repousa sobre seu coração. Está batendo rápido. É
um pequeno lembrete de que o homem que está me
segurando é tão frágil quanto. Ele é facilmente ferido e
quebrado. Ele está se arriscando, me amando.
A chuva cai sobre nós enquanto balançamos. Até que
uma mão áspera agarra meu queixo e ergue meu rosto.
Os olhos de Ryder procuram os meus, um sorriso
tranquilo e bonito pintando seu rosto.
— Eu te amo, Willa Rose.
Meu sorriso é ridículo. É um sorriso cômico, de palhaço
de circo, de criança de Natal.
— Eu também te amo, Ryder.
Seu beijo é suave e terno. É uma pressão silenciosa de sua
boca, abrindo suavemente, desdobrando-se em algo quente
e profundamente gratificante. Eu agito minha língua e
encontro a dele. Eu o provo, saboreio-o, enquanto nossos
corpos se prendem com força. Mãos encontram cabelo,
tecido e pele, e puxam, implorando por mais.
— Mais — eu sussurro. — Eu quero tudo isso.
Seu sorriso é suave contra meus lábios, seu suspiro de
contentamento tão quente quanto a brisa que nos cerca.
— Eu também, raio de sol.
29

Eu fico em uma poça de água aos meus pés. A chuva


aumentou em nossa caminhada de volta. Estamos aquecidos
e encharcados. Ryder me encara, o peito subindo e descendo
como se ele estivesse tentando acalmar a tempestade dentro
de si. Nuvens de tempestade escurecem o céu, lançando o
quarto em tons sonolentos de cinza e cinza, azul da água da
chuva.
Ryder se aproxima e passa as mãos pelos meus braços.
Seus lábios pressionam minha têmpora. Beijos suaves e
quentes enquanto seus dedos se enrolam na bainha da minha
camisa. Ele despe meu torso e pega no meu cabelo molhado
antes que ele o puxe resolutamente. Ryder respira fundo, a
expressão mais bonita em seu rosto. Espanto dolorido. Não
é nem a primeira vez que ele me vê nua, mas ele parece
desfeito.
Duas mãos trêmulas agarram o zíper do meu sutiã
esportivo, o som desenrolando ecoando na sala antes que ele
o empurre dos meus ombros.
— Deus, Willa. — Ele pisca rapidamente e enxuga os
olhos rapidamente.
— Você está chorando, Maromba?
— Pare com isso — ele murmura, me beijando
rapidamente. — Diga meu nome.
— Ryder — eu sussurro. Suas mãos deslizam ao longo da
minha cintura, para o meu short e calcinha, os dedos
enganchando no material e puxando-os para baixo. Ele se
ajoelha enquanto desliza.
— Espere — ele ordena baixinho.
Eu agarro seus ombros enquanto tiro minhas roupas, mas
Ryder não se levanta. Suas mãos sobem pelas minhas coxas,
através da minha pélvis, então para baixo–
— Willa. — Ryder me encara, seus dedos lentamente
brincando ao longo da pele impossivelmente sensível.
Um zumbido de prazer escapa.
— Sim?
Ele sorri enquanto pressiona um beijo no meu quadril.
Meus olhos se fecham.
— Eu sabia que as coisas pareciam suaves ontem à noite...
Mas não imaginei que você fosse alguém que se depila ao
invés de raspar.
— Rooney disse que eu deveria. Disse que se eu não
gostava da sua barba, não deveria fazer você lidar com a
minha.
Ryder ri contra minha pele.
Meu Deus, preciso de um filtro. Um rubor quente surge
em minhas bochechas.
— Eu não queria dizer tudo isso em voz alta.
Seus lábios beijam o caminho para baixo do meu quadril,
ao longo da pele macia dentro das minhas pernas, antes de
subir novamente.
— Eu teria sido feliz não importa o que acontecesse. Nada
me impediria de fazer isso.
— Ryder, eu não... historicamente, isto é, isso
normalmente não me faz… ohhh.
— Shhh — ele murmura contra a minha pele. — Já
estabelecemos que isso não depende de você.
Meu aperto aumenta em seus ombros enquanto Ryder
me abre suavemente. O ar corre por toda parte que é quente,
úmida e dolorida. Estou corada, com calor e tremendo.
Quando sua língua passa por mim novamente,
provocadoramente lenta, eu contraio em sua boca
instintivamente.
— Ryder — eu sussurro.
Ele sorri contra minha pele.
— Maldição, você tem um gosto bom, Willa. Tão tão bom.
Eu coro espetacularmente.
— Mesmo?
— Inferno, sim — ele rosna. Suas mãos seguram minha
bunda e me puxam para mais perto.
Algo que ele faz com a língua desta vez faz cócegas e eu
rio reflexivamente. O constrangimento aquece minhas
bochechas. E se eu o ofendesse? Eu estraguei o clima? Ryder
se afasta e sorri para mim. Apenas sorri.
— Muito macio? — ele pergunta.
— Eu acho que sim. Fez cócegas.
Ele olha para tudo à sua frente. Ele parece incrivelmente
analítico por um segundo, exatamente como ele fez quando
ele estava falando ontem sobre solucionar problemas de
vazamento no telhado. Em seguida, um sorriso puxa sua
boca.
— Tão bonita. Eu posso ver isso, provar isso, para
sempre.
— Para sempre, hein? — Eu pergunto sem fôlego,
tentando soar petulante. Mesmo que meu coração esteja
disparado com o peso e a promessa de suas palavras. Ryder
me quer. Para sempre.
— Sim — ele diz baixinho entre beijos que me provocam
e me torturam, tão perto de onde estou morrendo de vontade
de ser tocada. — Eu sou como uma... coruja de celeiro. Um e
pronto.
Eu bufo e quase me dobro sobre ele enquanto rio.
— Uma coruja de celeiro?
Ryder dá de ombros e beija minha barriga enquanto eu
me endireito, suas mãos massageando minha bunda.
— Primeira espécie monogâmica que me veio à mente.
Eles escolhem um companheiro para a vida. — Ele fuça
minha pele nua e lambe suavemente, mais firme desta vez.
— Fique feliz por não ter te cortejado com ratos mortos. Você
teria que ser muito educada sobre isso, já que, é claro,
aceitaria minha oferta.
Seus lábios sussurram sobre meu osso pélvico. Eu sinto
uma onda de prazer girar em minha barriga e dançar para
meus seios.
— E-e como eu aceitaria esta oferta?
— Bem, se você fosse como uma coruja de celeiro fêmea,
você faria um som de coaxar. — Ele pressiona um beijo logo
acima do meu clitóris. Meus joelhos dobram quando algum
tipo de barulho ímpio me deixa.
— Muito parecido com isso. — Ryder faz isso de novo.
Outro beijo direto sobre a pele sensível protegendo onde
estou extremamente sensível. Eu suspiro e me inclino para
ele.
— Ahh — ele murmura. — Ela gosta disso. Anotado.
Eu suspiro quando ele me beija daquele jeito uma e outra
vez, enquanto seus dedos lentamente provocam onde eu
estou tão molhada, eu estou começando a escorrer pelas
minhas coxas. O que – eu gostaria de deixar registrado –
nunca nunca aconteceu antes. Minhas mãos vão
reflexivamente para seu cabelo loiro espesso, metade fora do
coque. Eu puxo seu laço de cabelo e corro meus dedos por
aqueles fios suaves e dourados, agarrando-os.
Isso não acontece rapidamente, mas Ryder não parece se
importar. Eu enredo meus dedos mais profundamente em
seu cabelo e encontro um ritmo contra sua boca que é
incrível. É uma construção quieta e estável, um pavio de vela
acendendo, então lentamente queimando mais brilhante,
mais brilhante–
— Estou perto. Oh Deus — eu grito tão alto que se há
pessoas a quilômetros de distância, elas ouvem. Eu não
poderia me importar menos.
Ryder acena com a cabeça suavemente, um zumbido
suave deixando sua boca. Com ternura, ele abaixa os lábios
para o meu clitóris e suga, até que meu orgasmo voa pelo
meu corpo, meus dedos dos pés, meus dedos, meus seios e
se estabelece pesadamente na pulsação entre minhas coxas.
Mais beijos persuasivos e palavras gentis, então Ryder se
levanta e me envolve em seus braços como se fosse uma
coreografia que ele terminou no primeiro passo.
— Tão linda — ele sussurra. Eu agarro seu rosto e o beijo
enquanto ele me segura. Eu sinto o meu gosto e o dele, e eu
o quero tanto que não consigo encontrar ar, não consigo ver
o mundo ao meu redor. Eu apenas vejo, sinto e desejo Ryder.
Quando ele me coloca na cama, eu me sento, puxando
suas roupas encharcadas. Ryder estremece enquanto eu
esfrego minhas mãos para cima e para baixo em seus braços,
puxando os lençóis e o edredom grosso, em seguida, o
arrasto para dentro. Fazendo uma pausa, ele solta os
mecanismos atrás das orelhas e os coloca cuidadosamente na
mesa de cabeceira.
Quando ele se vira para mim, ele sorri um daqueles raros
e brilhantes sorrisos dele. Melhor do que o sol saindo de trás
de uma nuvem escura, a luz do fogo brilhando na escuridão
da meia-noite. Isso tira o ar dos meus pulmões.
Seus olhos percorrem meu corpo, seguindo o caminho de
sua mão enquanto ela segura meu seio, desce pela minha
cintura, envolvendo-se firmemente em meu traseiro e me
puxando para perto. Nós dois ofegamos quando sua ereção
pressiona entre nós. Instintivamente, eu o agarro e deslizo
meu polegar ao longo da parte inferior sensível de seu
comprimento. Eu o saboreio como o saboreei ontem à noite,
deliciando-me com a pele macia e aveludada que se move
suavemente com minha mão, a rigidez espessa de seu pênis,
como ele pulsa quando eu o acaricio.
Os olhos de Ryder fecham quando eu deslizo seu
comprimento ao longo da minha entrada encharcada. Sua
cabeça cai para trás quando ele cai no travesseiro. Estou
fazendo isso. Estou fazendo ele desmoronar. Quando seus
olhos se abrem, eu sinalizo Bom. Tão bom.
Ele sorri suavemente e sinaliza de volta. Então eu faço
algo, deslizando-me contra ele, que ganha um som de dor de
desespero. Agarrando seus braços, puxo Ryder por cima de
mim. Ele deixa cair seu peso entre minhas pernas, me
fazendo gritar, e é incrível ser coberta da cabeça aos pés por
seu corpo enorme, me sentir presa, sustentada e consumida.
O corpo longo e poderoso de Ryder, queimando quente, tão
sólido sobre o meu, é incrivelmente sensual. É reconfortante.
Nosso olhar se mantém enquanto ele passa por cima de mim,
deslizando a cabeça de sua ereção ao longo do meu clitóris.
Eu passo minhas mãos sobre seu traseiro fantástico,
apreciando a flexão suave de seus músculos enquanto ele se
move contra mim. Eventualmente, minhas mãos viajam por
suas costas para envolver seu pescoço. Eu o trago para perto
e falo ao seu ouvido bom.
— Estou tomando pílula. Eu não quero nada entre nós.
Sua testa cai para o meu ombro quando um gemido o
deixa, e quando ele levanta a cabeça, seus olhos são chamas
esmeraldas. Gemas derretidas, puro desejo, enquanto ele se
inclina para trás e se guia até que apenas a ponta se encaixe
dentro de mim. Ele é lento, cuidadoso ao começar a se mover.
Eu agarro seu pulso e aperto para ganhar sua atenção.
Mais, eu sinalizo.
Uma exalação corre para fora dele, enquanto nossos
olhos se prendem, enquanto com cuidado meticuloso e
firmeza, Ryder me preenche.
— Ry — eu suspiro.
É opressor. Estou cheia e esticada, mas muito mais, estou
presa por seu olhar, com o coração emocionado quando sua
boca se abre na primeira vez que ele se arrasta para trás e
enfia em mim.
— Ok? — ele pergunta.
Eu aceno furiosamente.
— Sim. — Eu seguro sua bochecha e ele se inclina para
ela, virando-se para dar um beijo na minha palma.
No próximo movimento de seus quadris, faíscas dançam
sobre minha pele. Cada vez é mais fácil, à medida que meu
corpo relaxa, à medida que fico mais molhada. Estou
encharcada e Ryder está gloriosamente duro. De alguma
forma, nos encaixamos, exatamente como ele prometeu.
Ryder cai sobre os cotovelos e suas mãos embalam minha
cabeça. Seus olhos seguram os meus, com cada impulso
medido e seguro que envia o ar silenciosamente correndo de
meus pulmões.
Eu pisco para conter as lágrimas que ele afastou com o
dedo. Ele pressiona seus lábios no meu ouvido e sussurra, a
cadência irregular, quase suave demais.
— Me toque.
Meu coração aperta. Ele também está nervoso. Puxando-
o para perto em meus braços, beijo a curva de seu pescoço e
ombro, esfregando suas costas, massageando seus músculos.
Ryder se inclina para trás o suficiente para me observar
novamente. Ele cutuca minhas pernas com suas coxas e as
pressiona mais amplamente, esfregando sua pélvis contra a
minha. Esfrega meu clitóris, como sua língua fazia antes.
Círculos firmes e suaves enquanto ele gira os quadris.
Seu pau está mais grosso. Sua respiração está difícil. O
suor goteja em sua têmpora e uma rajada de ar o deixa
quando eu me aperto em torno de seu comprimento. Seu
ritmo vacila quando eu faço isso de novo, mas os olhos de
Ryder nunca deixam os meus.
Uma necessidade dolorida e tenra cresce dentro de mim,
um nó apertado prestes a se romper. É duro, urgente. Cada
vez que Ryder sai à deriva e depois penetra em mim, fico
mais desesperada, mais frenética. Meus dedos do pé
enrolam, minhas mãos tateando os lençóis. Qualquer coisa
para me ancorar.
Ryder abaixa a cabeça e sussurra em meu ouvido:
— Solte.
Meu corpo aperta, liberando impossivelmente perto. Não
quero que essa bela e aterrorizante bem-aventurança acabe.
Cada golpe, meu corpo enrola mais forte, a tensão aumenta.
— Solte-se e relaxe, Willa. — Ele agarra minhas mãos e
fecha nossos dedos. — Eu vou pegar você. — Sua voz
gagueja conforme seu movimento fica mais rápido.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Meu corpo inteiro
treme. É a coisa mais não sexy e de alguma forma ainda me
sinto tão bonita quando os olhos de Ryder prendem os meus,
enquanto ele me beija e me beija, sem nunca quebrar o
contato visual. Sentando-se dentro do meu corpo, Ryder
empurra seus quadris nos meus.
— Sinto muito — ele murmura contra meus lábios.
Sua sobrancelha aperta, sua boca se abre enquanto ele
derrama, quente e longo dentro de mim. Eu vejo seu rosto se
apertar, seus braços tremerem, mas seus olhos nunca deixam
os meus. Eu sei que ele não queria vir antes de mim, mas é o
que eu preciso. Mais uma vez, Ryder corajosamente segue
em frente, me mostrando que é seguro, então eu sei que
posso confiar para segui-lo.
Eu choro seu nome quando a primeira onda esmagadora
me atinge. Estou agarrando Ryder, ofegando por ar. A
próxima onda surge e eu grito. Seus quadris rolam nos meus,
ele empurra mais fundo, dando-me a sensação ainda
poderosa de seu comprimento dentro de mim. Outra onda,
depois outra. Eu tremo e soluço, arqueando para ele,
obliterada.
É o momento mais assustador, impressionante e cru da
minha vida. Eu gostaria que nunca tivesse que acabar.
Com um último movimento suave de seus quadris,
Ryder cai sobre mim, então para o lado, seus braços me
pegando e me embalando contra seu peito. Nossa respiração
é irregular e alta, nossos corpos pesam. Minhas mãos estão
por toda parte. Seu cabelo, suas bochechas, sua mandíbula,
seus braços. Eu o beijo sempre que posso, fazendo-o rir
baixinho.
Logo as mãos de Ryder acariciam meu corpo, amassando
e acariciando até encontrar minha coxa. Com um movimento
rápido, minha perna é jogada sobre seu quadril e estou sendo
cutucada no estômago por...
— Já? — Meus olhos se arregalam enquanto ele desliza a
ponta dura de seu comprimento entre minhas coxas.
Ryder ri.
— Sim, Willa. Já. — Outro arrepio de felicidade sussurra
através de mim, ao ouvi-lo falar quando ele não consegue
ouvir, sem insegurança ou constrangimento. Porque, como
ele disse, estamos seguros um com o outro. — Só entrei uns
três minutos. Essa foi uma prévia. Agora é hora do ato
principal.
Eu me aconchego mais perto dele, mas ainda mostro meu
rosto para que ele possa ler meus lábios.
— Foi perfeito. Eu vim rápido também.
Ryder sorri enquanto eu o beijo.
— Verdade. Mas agora tenho que me exibir. Uau com
minha resistência e movimentos de lenhador.
— Oh sim, por favor.— Alcançando além de sua cintura,
eu seguro sua bunda e aperto afetuosamente. Pãezinhos
maravilhosos. — Eu queria fazer isso há muitos meses.
Ryder desliza dentro de mim e nós dois ofegamos.
— Eu também, raio de sol.
Meus lábios encontram seu ouvido bom e pressionam o
beijo mais fraco antes de sussurrar:
— Eu te amo.
Ele suspira feliz e acena com a cabeça. Sua mão levanta,
um punho em seu coração, para o meu. Eu amo você.
Não saímos daquela cama por muito, muito tempo.
30

ESTOU NO TELHADO, finalmente conseguindo recolocar a


calha de onde ela saiu. Já terminei de remendar a chaminé,
de onde vinha o vazamento.
Estou no meio do embalo quando ouço.
Um grito agudo. Um grito terrível e horripilante. Nunca
fui tão grato pelos implantes cocleares porque não há
nenhuma maneira no inferno que eu a teria escutado de
outra forma.
— Willa! — Eu grito de volta. — Você está bem? — Estou
jogando tudo na bolsa de ferramentas que carreguei escada
acima. Eu desço até a metade da escada, pulo do resto do
caminho e corro para dentro de casa. Willa está congelada na
entrada, olhando para o chão.
— Willa — eu chamo enquanto ando em direção a ela.
Quando ela ainda não responde, eu envolvo meus braços em
volta dela, verificando se há ossos quebrados, uma
hemorragia. Qualquer coisa para explicar por que ela gritou
como se estivesse morrendo.
— A-ali — ela sussurra trêmula.
Eu rastreio o caminho de seu olho e localizo algo pequeno
e escuro correndo pelo chão.
— Uma aranha — eu digo com naturalidade.
— Shh. Não. Você vai invocá-la. — Ela volta para mim, e
eu não posso deixar de sorrir com o quão adorável ela é
quando enfrenta as poucas coisas no mundo que assustam
Willa Rose Sutter. Ursos. Cobras. Aranhas. É sobre isso.
— É um papai de pernas compridas, Willa.
— O inferno, é isso. — Ela se vira e sobe em mim como se
eu fosse uma árvore até que ela esteja enrolada na minha
cintura. — Mate isso.
Eu rolo meus olhos.
— Eu não vou matar. As aranhas desempenham um
papel importante no ecossistema–
— Ryder. Stellan. Bergman. — Willa agarra meu queixo
e me olha bem nos olhos. — Se você quiser transar esta noite,
você vai matar aquela porra de aranha.
— Isso não é justo. Nós concordamos que ameaças
sexuais não eram um jogo justo.
Ela suspira e encosta a testa na curva do meu pescoço.
— Tudo bem. Por favor, apenas por favor, mate-a. Se
estiver vivo, não vou conseguir dormir. Ou comer. Ou
pensar em qualquer outra coisa.
— Willa. — Eu pressiono um beijo em sua têmpora
enquanto caminho em direção à aranha e a sinto se agarrar
com mais força a mim. — Eu não vou matar uma criatura
inofensiva–
Eu paro, olhando de perto para ele. Willa levanta a cabeça
o suficiente para olhar para o chão também, e estremece.
— Ok, não se preocupe. — Eu a empurro. — Essa é uma
viúva negra.
Willa grita bem quando minha bota pousa nela.
Uma vez que meu ouvido para de zumbir, eu coloco
Willa no chão e limpo o dano. Quando eu me endireito dessa
tarefa, Willa está olhando para mim. Seus olhos são castanho
chocolate transformando-se em caramelo. Eu conheço esses
olhos agora. Olhos de tesão.
Eu mantenho seu olhar e luto contra o impulso real de
jogá-la por cima do ombro e levá-la para a cama novamente,
mas ainda tenho que fazer minha parte na manutenção da
casa em forma de A enquanto estou aqui e não terminei de
consertar as calhas.
— Vou terminar no telhado agora.
Willa balança a cabeça lentamente.
— O jantar está a caminho. Deve estar pronto em cerca de
uma hora.
— Perfeito. — Eu a beijo uma vez, forte, nos lábios. — Eu
estarei pronto e limpo até lá. — Ela me puxa de volta para
mais um beijo e, quando me afasto, instintivamente lhe dou
um tapinha afetuoso na bunda.
Willa soluça e me encara com os olhos arregalados.
Eu olho para trás, então limpo minha garganta.
— Desculpa. Não sei exatamente de onde veio isso.
— O inferno que você não sabe — ela sussurra. Willa
morde o lábio e se inclina para mim. — E não se desculpe.
Eu não desgostei disso, só para constar. Eu não desgostei
mesmo.
Meu desconforto se dissipa e eu a puxo para perto,
beijando-a lentamente.
Quando nos separamos, seu sorriso é caloroso, tão
incrivelmente confiante e afetuoso. Não consigo deixar de
ver aqueles lábios carnudos se abrindo, aquele sorriso largo
e deslumbrante que eu só a vi me dar.
— Agora saia daqui, Matador de Aranhas. — Willa dá
um tapa na minha bunda. — E volte com fome.

— Merda.
Eu chupo meu dedo em minha boca. É a segunda vez que
me apunhalei com uma faca nos últimos cinco minutos. Isso
é o que ganho por tentar descascar morangos enquanto vejo
Willa dançar em apenas uma das minhas camisas de flanela.
Puta que pariu.
Ela se inclina sobre a mesa da sala de jantar, terminando
de colocá-la. Talheres adequados, grandes taças de vinho.
Ela até saiu para uma caminhada atrás de algumas flores
silvestres e as enfiou em um vaso.
— Tudo parece e cheira bem, Willa.
Endireitando-se, ela se vira e sorri para mim.
— Obrigada. Eu queria torná-lo agradável, dar-lhe um
grande banquete. Tudo o que você fez foi cozinhar e cuidar
de mim. — Ela caminha na minha direção e envolve os
braços em volta da minha cintura. — Agora é minha vez.
Eu gostei de cuidar de Willa. Agora estou começando a
não me importar quando ela quer cuidar de mim também.
Embora eu sempre goste de cozinhar para ela, preparar um
banho quente para ela, dizer a ela para colocar os pés para
cima e relaxar, foi estranhamente confortável terminar
minha lista de coisas a fazer na casa mais cedo e depois
entrar para vê-la segurando um livro de suspense em uma
mão enquanto mexe au jus para a carne que termina no forno.
Willa me beija e seu cabelo selvagem faz cócegas em
meus braços. Eu a puxo para perto e respiro. Protetor solar e
flores, um toque de ervas e vinho tinto por cozinhar.
Depois de mais um beijo, eu a soltei. Willa apoia o livro
de suspense do balcão, que ela tirou da biblioteca de
miscelânea da casa. Eu a vejo caminhar do outro lado do
balcão, virar uma página e distraidamente tomar um gole de
vinho. Seu cabelo está maior do que já esteve porque eu
literalmente não consigo manter minhas mãos longe dela. Eu
continuo arrastando-a de volta para a cama, empurrando
meus dedos nessas lindas ondas encaracoladas, puxando,
dando nós, respirando-as.
Eeeeee estou duro agora.
Eu olho para o meu pau insistentemente tentando acertar
minha calça de moletom.
— Acalme-se, cara.
— Você está falando com o seu bloqueador de toras,
Lenhador?
Eu me assusto e deixo cair a faca antes de me esfaquear
novamente. Um rubor sobe pelas minhas bochechas.
— Talvez.
Willa cambaleia pelo resto da ilha e se joga em um
banquinho. A carne só tem que descansar no forno. O jantar
está pronto. Estou fazendo sobremesa. Willa parece satisfeita
em sentar-se no silêncio da cozinha e ler. Isso faz meu
coração disparar enquanto eu a vejo lendo e um rubor
tingindo suas bochechas.
— Isso é algum livro erótico vintage que você encontrou,
raio de sol.
Willa bufa e deixa cair o livro apenas o suficiente para
encontrar meus olhos.
— É tão bom. Este duque é meu tipo de idiota.
— Isso não é muito misógino? Não são todas donzelas em
perigo, precisando de uma boa degradação? — Jogo os
morangos em uma tigela e acrescento a sambuca, o Grand
Marnier e o açúcar. Willa adora morangos apimentados,
então estou fazendo acontecer.
— Algumas delas são, sim. Mas outras não. Como este.
— Willa vira a página e toma um gole de seu vinho. — É
feminista, embora haja “degradação”, porque ela quer ser
degradada. É feminista como o inferno, reivindicando suas
preferências sexuais, incluindo ou não um pouco de dor.
Congelo com o creme na mão, colher na outra.
— P-perdão? — Minha voz falha. Excelente. Pareço um
adolescente corado.
Willa abaixa o livro novamente. Suas bochechas estão
rosadas.
— Você bateu na minha bunda antes.
Jesus.
— Eu fiz.
— E eu gostei. — Willa bebe seu vinho e me dá uma
olhada. — Você se lembra daquela mensagem que você
enviou?
Eu despejo creme sobre os morangos e começo a mexer.
— Eu te enviei um monte de mensagens, Willa.
Ela revira os olhos.
— Quando eu estava na estrada para as semifinais.
Ameacei raspar sua barba quando voltasse, e você me disse
que se eu colocasse a mão em seus pelos faciais...
— Você não seria capaz de se sentar por dias. — Limpo
minha garganta enquanto o calor inunda minhas bochechas.
— Sim, isso foi inapropriado da minha parte.
— Mas eu gostei disso também — ela disse calmamente.
— Eu praticamente deixei cair meu telefone de tão excitada.
Eu senti como se eu deslizasse minha mão dentro da minha
calcinha naquele momento, eu teria explodido como um fogo
de artifício.
O sangue ruge em meus ouvidos. Eu não quero machucar
Willa. Na verdade, odeio a ideia de machucá-la. Eu apenas
gosto da ideia de ser intenso. De abraçá-la com força e foder
com força, porque expressa o quanto ela me faz sentir, o quão
profundamente eu quero estar conectado a ela e ao seu
corpo. E, sim, eu posso admitir alguma parte primal de mim
fica excitado, golpeando bem a bunda de Willa e observando
que deixa ela excitada.
Mas como posso fazer isso se não consigo ouvi-la bem?
Não tenho sido duro porque não estou confiante de que
posso fazer isso com segurança. E se eu não conseguir ouvir
Willa dizendo não? E se eu perder alguma dica silenciosa de
que a estou deixando desconfortável ou a machucando?
Eu fico olhando para os morangos e mexo-os lentamente.
— Antes... antes que as coisas mudassem, eu estaria lá
com você, raio de sol. Mas, não sei se posso fazer isso agora.
Ela abaixa o livro e pega minha mão. Eu entrego a ela
automaticamente e vejo seu pequeno aperto envolver o meu
da melhor maneira possível.
— Você pode desligar o forno?
Meu estômago se revira.
— Por quê?
Willa sorri timidamente e solta meus dedos.
— Tenho algo que quero experimentar. O jantar pode
esperar um pouco.
Eu viro o registro para desligar o forno e circulo a ilha.
Willa pega minha mão novamente e me puxa pela sala de
jantar para a sala de estar rebaixada. Eu mostrei a ela como
ligar a lareira na outra noite, e ela o fez. Há um mar de
cobertores em frente à lareira crepitante que ela construiu.
Meu estômago dá um nó ainda mais apertado.
— O que é isso?
Willa aperta minha mão, em seguida, leva-a aos lábios
para um beijo.
— Espera.
Dando um passo para o lado da estante, ela puxa um
espelho que reconheço pertencer a um dos quartos. É um
retângulo superdimensionado que geralmente fica
encostado na parede para funcionar como um espelho de
corpo inteiro. Willa o arrasta com cuidado, um cobertor por
baixo de sua lateral. Em seguida, ela o inclina e o encosta na
ponta do sofá.
Ela se vira e sorri para mim.
— Eu espero que você não ache que se assistir seja
brochante. Essa foi a minha solução. Você vai assistir. Você
pode ler meus lábios.
Cubro minha boca com a mão e mordo a palma. Eu me
sinto estupidamente perto de chorar.
— Deus, Willa.
Ela corre em minha direção.
— O que está errado? Eu... é ruim? É isso–
Eu a puxo contra mim e a beijo rudemente. Língua,
possessividade. Eu mordo a ponta de seu lábio.
— Não. Não está errado. Você apenas... sempre me levou
na esportiva. Aceitou-me como sou.
Willa franze a testa.
— O que mais eu faria, Ryder? Eu te amo como você é.
Claro, eu te aceito por quem você é. Assim como você me
aceitou.
Um suspiro trêmulo me deixa enquanto eu a puxo para
perto de mim novamente.
— Talvez seja porque você me conheceu quando eu já era
assim, mas você foi a primeira pessoa que só rolou com os
socos. Que não tomou minha quietude mal-humorada pelo
valor de face. Você superou isso e agiu como se fôssemos
apenas duas pessoas, estando juntos.
— Porque nós éramos. Nós somos. — Willa beija meu
peito. — Foi isso que aconteceu com a sua família? Seus
outros amigos?
Eu concordo.
— Foi minha culpa. Eu bloqueie. Eu não facilitei para eles.
— Sinto muito, Ryder — ela sussurra. — Mas adivinhe?
Você não tornou isso fácil porque não foi fácil para você
também, e isso é compreensível. — Seu hálito quente faz
cócegas no meu peito enquanto ela enlaça as mãos atrás do
meu pescoço e me puxa para um beijo.
Eu sorrio contra seus lábios.
— Raio de sol. Estou tão viciado em você — eu rosno
enquanto a beijo. — Deus, é assustador o quanto eu te amo.
— Ryder. — Sua voz falha quando ela rasga minha
camisa, abrindo os botões loucamente. — Por favor. Agora.
— Diga-me. — Eu puxo seus botões também.
— Você é meu e eu te amo — ela rosna de volta, puxando-
me para um beijo áspero. — Para sempre. Eu não me importo
com o que alguém diga, o que a vida traz. Você é meu.
O calor queima meu corpo. Eu empurro a camisa de Willa
de seu corpo e vejo a luz do fogo banhar cada uma de suas
lindas curvas. Ela puxa minha camisa e eu a ajudo, puxando-
a pela cabeça e jogando-a de lado. Ajoelhada, ela tira meu
moletom e cueca e me leva profundamente em sua boca.
Minhas mãos vão para sua cabeça enquanto ela me bombeia,
lambendo a ponta sensível. Deus, isso é bom, mas irei gozar
logo se ela continuar.
— Pare. — Minha voz está baixa. Rude.
Willa estremece quando ela se levanta e envolve os
braços em volta do meu pescoço. Eu a levanto e a abraço,
beijando-a profundamente. Caminhando para os cobertores,
eu a deito e corro minhas mãos ao longo de suas costelas,
beijando meu caminho para aquela linda pele sedosa. Eu a
lambo, provo. Carícias suaves e constantes, beijos
provocantes e mordidas. Eu quero tomá-la um pouco mais
forte, e não há nenhuma maneira de fazer isso
confortavelmente sem relaxar seu corpo, dando-lhe um
orgasmo. Além disso, adoro fazê-la gozar. Eu nunca vou
superar o quão quente é senti-la gozar na minha boca, meus
dedos, meu pau.
Apenas três dias depois, e eu sei exatamente como fazê-
la chegar ao limite rapidamente. Eu lambo, chupo, enrolo
meus dedos e a vejo tremer em uma liberação rápida e
poderosa que envia um rubor por seu peito e garganta.
Eu a beijo lentamente, provocando mordidas seguidas
pela língua enquanto rastejo sobre seu corpo. Então eu a viro
e ouço seu suspiro. É o último som completo que ouvirei até
terminarmos. Tiro os transmissores e processadores e coloco-
os na mesa de centro. Voltando-me para Willa, eu a agarro
pelos quadris e puxo-os para cima. Nossos olhos se
encontram no espelho e eu poderia gozar naquele momento.
Seus olhos estão semicerrados, suas bochechas coradas.
Seus seios balançam sob ela, macios e cheios, seus mamilos
apertados, pequenas cerejas que adoro raspar entre os
dentes, depois chupar até que ela esteja xingado uma
tempestade e exigindo meu pau.
Lentamente, coloco minha mão entre suas omoplatas e
pressiono seu peito no chão. Nossos olhos se fixam enquanto
eu deslizo minha mão ao longo de sua coluna, descendo pela
costura de sua bunda e abaixo. Eu brinco com ela, provoco
seu botão apertado e a vejo morder o lábio.
Ela se mexe, em busca de um toque satisfatório, mas eu
agarro seu quadril e travo os olhos com ela.
— Fique quieta.
Willa engole em seco e acena com a cabeça.
Minhas mãos apertam suas nádegas antes de me curvar
e lambê-la. Eu vou tortuosamente devagar. Golpes longos,
leves e giratórios. Nunca o suficiente para satisfazê-la,
apenas o suficiente para fazê-la arder e implorar.
Endireitando-me, eu travo os olhos com ela e deslizo meu
comprimento sobre sua pele molhada. Meu aperto é forte em
seus quadris enquanto eu me esfrego contra ela, e ela se
empurra contra mim. Eu esfrego a mão suavemente sobre
sua bunda e vejo seus lábios se abrirem.
Por favor, sua boca diz enquanto ela se mexe. Eu levanto
minha mão e bato em sua bunda.
— Eu disse quieta, Willa.
Ela pula e seu gemido reverbera por seu corpo até o meu.
Então ela empurra seus quadris em mim novamente. Eu bato
e provoco o outro lado de sua bunda redonda, me curvo e
beijo, em seguida, mordo. Então eu observo seu reflexo
enquanto bato nela. Ela tem um sorriso eufórico no rosto.
— Mais — ela murmura. — Mais, Ryder.
Eu me inclino sobre ela e mordo sua orelha, beijando seu
pescoço. Mordidas longas e tentadoras. Posso sentir sua
respiração ofegante, como seu corpo treme enquanto
provoco seus mamilos com meus dedos. Meu comprimento
desliza perfeitamente por aquela pele quente e acetinada,
porque nos encaixamos como se fôssemos feitos um para o
outro. Ela está encharcada e meu pau está coberto por ela.
— Tão linda — eu sussurro.
Ela se vira para eu beijá-la. Eu pego, em seguida, provoco
seu seio novamente. Eu não posso deixar de morder seu lábio
enquanto a beijo. Ela quase cai, mas eu a puxo para cima,
sentando-a no meu colo. Nos olhamos no espelho juntos
enquanto eu seguro seus quadris com força e empurro cada
centímetro latejante contra seu calor úmido. Com um
impulso seguro, eu me coloco totalmente dentro dela e vejo
sua boca se abrir, seus olhos se fechando de prazer. Eu a
esfrego suavemente e sussurro em seu ouvido.
— Olhe para mim.
Os olhos de Willa se abrem, então travam nos meus. Ela
morde o lábio enquanto eu a encaro, enquanto minha
mandíbula aperta e meu corpo aperta com a necessidade.
Seu corpo é tão pequeno dentro do meu, mas ela é poderosa,
seus músculos, sua força compacta. Ela envolve um braço em
volta do meu pescoço, enquanto sua outra mão cai e segura
minhas bolas enquanto eu entro nela. Eu esfrego seu clitóris
inchado, mas com minha mão livre, aperto sua garganta e
pressiono meus lábios em sua orelha.
— Não se contenha. Eu quero sentir o seu som.
Eu bombeio debaixo dela e a preencho ao máximo,
sentindo seus gemidos ressoarem sob minha mão, enquanto
ela grita meu nome novamente e novamente. Cada impulso
dentro dela é quente como veludo, tão incrivelmente
apertado em torno de mim enquanto eu libero a força do
meu corpo, quando dou à Willa tudo que ela pede, quando
ela me encontra impulso por impulso.
Eu provo sua pele, a beijo, a adoro. Olho para ela com
admiração porque isso é incrivelmente novo, vulnerável e
poderoso. Achei que Willa e eu nos conhecíamos em cada
camada complicada de quem éramos, mas agora eu sei, isso
foi o que restou.
Ela grita, arqueando o peito, seu corpo apertando, o
poder ondulante de seu orgasmo apertando meu pau.
Eu chamo o nome dela, não me importando como eu soe,
porque eu sei que Willa me ama, que não importa como saia,
o que importa para ela não é como eu digo o nome dela,
apenas que é o nome dela que estou chamando. Eu a beijo,
engulo seus gemidos, sentindo cada som sob minha palma.
Um raio atinge meu coração quando Willa levanta a mão
para a minha bochecha e a suaviza, virando seu rosto para
me beijar com uma ternura impossível. O raio daquele toque
surge através do meu sistema e me faz detonar bem no fundo
dela.
Nós desabamos sobre os cobertores, a luz dourada do
fogo se espalhando por nós. Os olhos de Willa são suaves,
seu corpo mole e quente contra o meu. Eu a beijo, um
emaranhado suave de línguas e lábios exploradores.
— Você está bem? — Eu pergunto com voz rouca.
— Eu me sinto despedaçada e recomposta, tudo de uma
vez — ela sussurra. — Isso faz algum sentido?
Eu traço meus dedos sobre seus lábios.
— Eu acho que sim. Do mesmo jeito que me sinto
também.
Ela leva meus dedos suavemente em sua boca antes de
liberá-los com um sorriso.
— Eu acho que é isso que significa amar do jeito que eu
te amo. Para amar tanto, você se sente quebrado e, ao mesmo
tempo, curado. Talvez seja isso que significa ser vulnerável?
Talvez isso seja intimidade? Seja o que for, seja o que for que
signifique, quero que nunca acabe. Nunca quero deixar de
sentir esse tipo de amor por você. Quero que nos amemos tão
profundamente, tão poderosamente, sempre. Prometa-me,
Ryder.
Eu seguro sua bochecha, trago-a para mais um beijo
gentil. Um dos milhares e milhares que desejo dela pelo resto
do tempo que nos for dado.
— Prometo, raio de sol. Sempre.
31

UM ANO DEPOIS

— WILLA, VOCÊ SE IMPORTARIA DE ME AJUDAR?


Elin gesticula em direção à porta deslizante que leva ao
pátio de sua casa. Ela segura uma enorme bandeja de lanches
não muito diferente das que Ryder usou para mim
constantemente durante nosso amor de quatro dias no ano
passado na casa em forma de A. Essas tábuas de lanche
foram úteis quando eu não o deixei sair da cama por tempo
suficiente para cozinhar para nós quando eu estava com
fome sem fim apenas por ele. Quando eu fiz ele ser minha
conchinha e jogar horas de seu jogo, preencha os espaços em
branco.
Eu corro, abrindo a porta para ela e abrindo espaço na
mesa.
— Obrigada. — Ela sorri enquanto se endireita depois de
colocar a bandeja. No ano passado, passei a conhecer e amar
a mãe de Ryder. Ela é quieta, como Ryder, e é gentil e
afetuosa, mas não exagerada, o que torna administrável para
eu recebê-la. Ryder diz que isso é muito sueco, essa
abordagem moderada e equilibrada de quase tudo. Nada de
mais. Apenas o suficiente. Lagom é chamado. Sou quase tão
não-lagom quanto eles, mas Ryder e sua mãe – toda a sua
família – me amam de qualquer maneira.
Elin suspira e coloca as mãos nos quadris.
— Por que não nos sentamos e tomamos um pouco de
vinho, você e eu? Ryder e Alex não voltarão por mais alguns
minutos de sua missão.
Eu aceno, engolindo nervosismo. Elin está no meu plano.
É a razão pela qual pedi a ela que ficasse só para nós quatro
esta noite, sabendo que era um grande pedido. Elin sempre
quer todos os filhos juntos, e depois de passar um ano inteiro
de aniversários e feriados com eles, eu entendo. Sim, eu
preciso de pausas e fugas do caos para o quarto de Ryder,
mas os irmãos são muito bons uns com os outros. Eles são
gentis e engraçados. Eles gostam de jogos de tabuleiro e
futebol americano, e fazem uma comida incrível. Eles tocam
música antiga e assistem a filmes emocionantes que me
fazem sentir meus sentimentos. Eu entendo por que ela
adora ter sua família junta.
Mas hoje, eu preciso ser apenas nós.
Ryder e eu nos formamos ontem, ele com honras e eu com
honra o suficiente para que, embora eu não fosse uma aluna
com as melhores notas, eu estava orgulhosa de tirar notas
decentes enquanto jogava esportes da Divisão-1. Estamos
comemorando com os pais dele, enquanto eu analiso uma
informação assustadora e uma pergunta ainda mais
assustadora.
— Vou buscar o vinho — digo a ela. — Por que você não
se senta e relaxa?
Elin sorri enquanto se senta.
— Obrigada, Willa.
Deslizando para dentro, eu puxo uma garrafa gelada de
vinho branco da geladeira e pego dois copos. Quando fecho
a porta atrás de mim, Elin está olhando para o bosque com
uma expressão triste no rosto.
— Qual é o problema?
— Hm? — Ela se vira para mim. — Oh. Eu estava
pensando em morte e desgosto. E eu estava pensando em sua
mãe.
O ar sai correndo de mim. Eu caio lentamente em meu
assento.
Cuidado com o que pergunta a um sueco, Ryder me disse. Eles
vão te dizer exatamente a verdade, nada menos. Perda de emprego,
parentes morrendo, casos. Eu não estou brincando.
Eu pensei que ele estava brincando.
Limpando a garganta, desarrolho o vinho e coloco uma
taça para ela, depois para mim.
— Então, pensando o que sobre ela?
Elin inclina seu copo para o meu em tim-tim silenciosos.
— O equilíbrio da vida, nascimento e morte, o ciclo da
existência, é inevitável, claro. Mas também é triste. Eu sofro
por você, e sinto muito por ela não estar aqui. — Depois de
um segundo, ela diz: — Joy ficaria muito orgulhosa de você.
Eu pisco para afastar as lágrimas. A cada dia, desde a
morte de mamãe, sinto que posso respirar um pouco melhor,
mas a dor surda em meu coração ainda nem começou a
diminuir. Ryder me mantém muitas noites na cama e me
deixa chorar. Eu choro mais agora do que antes. Abrir meu
coração para amar alguém como amo Ryder significa abrir
meu coração para todos os outros sentimentos. Ryder nunca
fica impaciente, nunca fica ressentido, mesmo que isso
interrompa o ato sexual ou interrompa o jantar. Ele apenas
me segura e fica bem ali comigo em seu jeito silencioso.
— Espero que sim. Eu sinto falta dela.
Elin sorri suavemente.
— Eu vejo muito dela em você. Você sempre a tem com
você, Willa.
Eu sorrio de volta para ela.
— Foi o que ela disse também.
O silêncio desce entre nós por um minuto enquanto
bebemos nosso vinho e o sol se põe no céu. O jardim deles é
uma explosão de flores, a grama tão verde quanto os olhos
de Ryder. Borboletas voam em meu estômago, quando
penso nele. Ainda estou naquela fase de loucura de amor.
Não tenho certeza de que nunca estarei. Todas as manhãs eu
acordo ao lado dele é bom demais para ser verdade.
Elin aperta minha mão.
— Eu tenho algo a dizer a você.
— A respeito de?
Ela aperta minha mão e se recosta, seus olhos azul-claros
fixos nos meus.
— Ryder morrerá um dia.
Eu engasgo com meu vinho.
— Jesus, Elin.
— O quê? — Ela encolhe os ombros. — Ele vai. Ele
também machucará seu coração de maneiras muito
humanas, ao longo dos anos. Ele pode até quebrá-lo.
— Bom. — Sento-me e tomo um gole gigante de vinho.
— O mistério de onde Ryder consegue sua sequência
contundente agora está resolvido.
Elin ri.
— Oh, Willa, não estou me explicando bem. O que quero
dizer é... se você vai fazer o que eu acho que vai fazer esta
noite, espero que saiba que apoio vocês dois, não apesar do
que a vida já jogou em vocês dois, mas por causa disso. Eu vi
seu amor um pelo outro. Seu amor é forte e testado, ainda
mais forte porque a vida já trouxe sofrimento a vocês dois.
Suas palavras afundam. A velha Willa nunca teria
chegado a esta noite com Ryder para ouvir essa afirmação.
Ela nunca estaria aqui, acenando com a cabeça, admitindo o
quão vulnerável é amá-lo, o quão aberto à dor de cabeça
recebê-lo cada vez mais profundamente em sua vida tem e
continuará a torná-la. Mas a nova Willa, com mais de um ano
de aconselhamento, incluindo várias sessões conjuntas com
seu namorado para trabalhar na construção de uma
confiança mais profunda e melhor comunicação, senta-se
aqui, sabendo que essa sensação assustadora de fundo de
poço em seu estômago não é algo a temer – é uma medida da
profundidade do amor dela.
Respiro devagar e giro meu vinho, concentrando-me nas
ondas do líquido.
— Obrigada por dizer que você acredita em nós.
O sorriso de Elin é gentil enquanto sua mão aperta
suavemente a minha novamente.
— Espero não ter ultrapassado os limites. Quero
encorajá-la, mas sei que não sou sua mãe e nunca poderei
substituí-la. Mas eu sou a mãe de sete pessoas e meus braços
estão sempre abertos. Meu coração também.
Encontrando seu sorriso, aperto sua mão de volta.
— Obrigada.
— Olá, raio de sol. — Ryder pisa na varanda, se curvando
e me beijando imediatamente. É tão emocionante quanto
familiar, o jeito que sempre começa com uma pressão
inocente de lábios e então se abre para um sabor suave, um
lembrete silencioso de que o desejo e a fome nunca estão
longe para ele.
— Oi para você — eu digo.
Ele se endireita, apertando meu ombro antes de se
inclinar e beijar a bochecha de sua mãe. Sentando-se entre
nós em uma cadeira, Ryder vasculha a tábua de aperitivos,
colocando algumas nozes, algumas frutas secas e uma fatia
de salame duro na palma da mão. Os olhos de Elin
encontram os meus sobre sua cabeça e eu aceno.
Ela se levanta e dá um tapinha nas costas de Ryder.
— Eu vou ajudar seu pai a separar a comida que vocês
dois pegaram. Volto daqui a pouco.
Ryder está na metade do caminho.
— Você não precisa, mãe. Eu disse que ajudaria meu pai
a cozinhar...
— Não. — Elin o pressiona de volta na cadeira. — Eu
quero um pouco de tempo com ele. Ele tem trabalhado muito
nos últimos dias. Vocês dois relaxem. É a sua celebração,
lembra, sötnos?
As sobrancelhas de Ryder se contraem.
— Ok?
Elin me dá uma piscadela e desaparece dentro. No
momento em que ela se foi, Ryder puxa sua cadeira para
mais perto e coloca a mão no alto da minha coxa. Seus olhos
estão em mim, viajando pelo meu corpo.
— Fica ainda melhor em você do que eu pensava, Willa.
Eu sorrio. Ryder me surpreendeu com o vestido que
estou usando. É o estilo envelope amarelo açafrão, não muito
diferente da camisa infame, com uma faixa na cintura tão
vermelha quanto o vestido de guardanapo. Eu descruzo e
troco as pernas enquanto os olhos de Ryder escurecem.
— Então, meu lenhador. Por que demorou tanto? Você e
Papa B decidiram buscar jantar no rio novamente? Matar
ursos negros ou leões da montanha no caminho para casa?
Ryder me dá uma olhada enquanto coloca mais comida
na boca e mastiga.
— Eu não ouvi você reclamando da minha masculinidade
montanhosa quando você nos perdeu naquela caminhada e
eu fui capaz de nos navegar de volta à casa em forma de A
usando as estrelas da noite.
Eu jogo um cranberry nele, que cai com sucesso na frente
de sua flanela. Eu levanto um punho comemorativo.
— Eu não nos perdi. Ficar perdido implicaria que eu
sabia para onde estava indo em primeiro lugar.
Ryder bufa.
— Justo. Ei, você tem algo — Ele aponta para um ponto
sobre seu esterno, espelhando onde esta suposta substância
está em meu corpo. — Ali.
— Certo. Nunca ouvi isso antes. — Eu me recuso a olhar
para o meu peito e levar uma pancada no nariz. Já que não
torturamos severamente um ao outro como costumávamos
fazer, somos reduzidos a pegadinhas inofensivas como essa
que geralmente levam a amassos e sexo. Nem sexo, nem
amassos estão acontecendo agora, então não estou
mordendo a isca.
— Estou falando sério, raio de sol. É geleia de figo e está
prestes a pingar em seu vestido novo.
— Não.
Ryder suspira e olha para as portas de vidro, olhando
para a cozinha onde seus pais estão.
— Tudo bem — ele resmunga.
Abro a boca para dizer algo inteligente, mas um suspiro
salta quando ele se inclina e sua língua quente desliza ao
longo do meu seio. Uma pequena mordida faz minhas coxas
se fecharem.
Ryder se endireita e me beija.
— Mulher teimosa — ele murmura contra meus lábios.
Eu o provo. Ryder quente e decadente. E... geleia de figo.
— Droga.
Ele encolhe os ombros e sorri ao se recostar.
— Às vezes eu não estou fodendo com você, raio de sol.
Às vezes.
Eu fico olhando para ele e sinto meu coração triste ficar
cada vez maior. É quase como se não fosse mais um coração
triste, sem cantos frígidos e rígidos. Apenas um espaço
amplo, seguro e amado.
— Ryder.
— Hm?
Eu entrelaço meus dedos com os dele onde eles
descansam na minha coxa, e respiro longa e lentamente.
— Precisamos conversar sobre algo.
A preocupação aperta suas feições.
— Está tudo bem?
— Mhmm. — Eu engulo a emoção que engrossa minha
garganta e pisco para afastar as lágrimas ameaçadoras.
Ele se inclina para frente para suavizar minha bochecha.
— Então por que você está chorando?
— Eu não estou — eu sussurro com voz rouca.
Um sorriso suave aparece em seu rosto.
— Raio de sol, o que é?
Limpando minha garganta, chego atrás de mim, dentro
da minha bolsa. Há um envelope pardo, bem amarrado no
topo. Eu coloco sobre a mesa e deslizo em direção a Ryder.
Ryder olha para ele, sua mão caindo do meu rosto.
— O que é isso, Willa?
— Abra.
Os olhos de Ryder dançam até os meus antes de caírem
para o envelope mais uma vez.
— Vá em frente — digo a ele.
Suas mãos agarram o barbante e rapidamente o
desenrolam. Com cuidado, ele enfia a mão e tira um pedaço
de papel, ainda quente da impressora. Um barulho fica preso
em sua garganta quando ele vê a insígnia no topo.
Reign FC.
— Willa — ele sussurra. Uma risada alta de alegria pula
para fora dele enquanto ele me pega e me segura em seus
braços. — Você assinou, raio de sol!
Eu aceno, sorrindo ridiculamente largo. Seu beijo é longo
e apaixonado, seu abraço é a intensidade de esmagar os ossos
e apertar os pulmões para a qual vivo.
— Oh meu Deus, Willa, estou tão orgulhoso de você.
Estou tão feliz por você.
Eu deslizo meus dedos por seu cabelo e roubo mais um
beijo antes de mexer, minha deixa para ele me colocar no
chão. Nossos olhos se mantêm enquanto eu coloco meus
dedos sobre o envelope.
— Onde fica a base do Reign, Lenhador?
Ryder franze a testa em confusão.
— Washington. Tacoma, Washington.
Eu inclino minha cabeça e sorrio.
— Huh. Tacoma, Washington, você diz? Bem na água?
No meio caminho entre Olympia e Seattle? Essa é Tacoma?
A testa de Ryder franze mais profundamente, mas um
pequeno sorriso aparece também.
— Sim, Willa.
— Hm. — Eu bato meus dedos no envelope. — Bem, eu
não sei como chegar lá. Eu esperava não estar totalmente
sozinha quando me mudar para lá no mês que vem.
O corpo de Ryder fica imóvel.
Minha voz vacila, mas eu percebo.
— Você se importaria de verificar o envelope mais
adiante, para ver se há algo que possa me dar alguma
garantia de que vou me estabelecer como espero?
Ryder me lança um olhar cauteloso enquanto alcança
novamente o envelope, lentamente pressionando sua mão
dentro. Seus dedos procuram, ele abaixa a cabeça. Então,
uma calma mortal o invade.
— Willa — ele sussurra.
— Sim, Ryder. — Minha voz está cheia de lágrimas
enquanto eu perco a batalha. Minha rara demonstração de
maquiagem está arruinada, rímel escorrendo, blush borrado.
— H-há uma chave aqui.
Eu concordo.
— Eu sei.
A cabeça de Ryder se levanta.
— O que é isso?
Dou um passo mais perto dele, segurando seu rosto em
minhas mãos.
— Eu estava me perguntando, Ryder Bergman, o amor
lenhador da minha vida, se você não se importaria de se
mudar para o estado de Washington comigo. Encontrei um
bangalô para alugar perto da água e um monte de campos
de caminhada nas proximidades. É o local perfeito para um
homem da montanha como você se estabelecer e começar seu
próprio negócio de homem ao ar livre, não acha?
Ryder deixa cair a cabeça no meu ombro e seu abraço é
forte. Seus lábios pressionam suavemente contra meu
pescoço, minhas bochechas, meus lábios.
— Isso é um sim?
Ryder se afasta, seu sorriso mil vezes mais brilhante do
que o pôr do sol atrás dele.
— É um fodendo sim, Willa. É o melhor sim da minha
vida.
Nossos beijos são sem pressa, apaixonadamente ternos,
enquanto o sol se põe abaixo do horizonte atrás de nós. Eu
choro e rio e sinto cada sentimento que posso. Porque eu
quero me lembrar desse momento, mesmo quando nosso
amor é felizmente antigo e esplendidamente envelhecido.
Quero fechar meus olhos e sentir a lembrança do momento
apenas quando somos nós, passamos a ser apenas nós, para
sempre.

O FIM
AGRADECIMENTOS

Algumas histórias são impossíveis de creditar


individualmente. Elas se materializam a partir de memórias
e vozes que moldaram sua vida. Elas se desenrolam daqueles
que lutaram bravamente na batalha, amigos que ficaram ao
seu lado, os corações e corpos que o seguraram por perto e o
viram através de lugares sombrios.
Às vezes, uma história sai de você. Às vezes você escreve,
rápido e frenético, desejando ter mais horas no dia, mais
velocidade nos dedos. Alguns livros vêm da lenta cura do
seu coração.
Este é aquele tipo de livro. Obrigada por se arriscar –
espero que tenha sido um presente para você ler tanto
quanto foi para eu escrever.
XO,
Chloe

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