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Copyright © Réserver Editora, 2024

Copyright © Maren Moore / R.Holmes, 2021


Todos os direitos reservados
Produção Editorial Selo Love Story
Tradução Daniela Alkmim
Revisão Editorial Réserver
Capa Carol Lima
Ilustração Maria Vitoria dos Santos
Diagramação Editorial Réserver
Todos os direitos reservados.
Grafia atualizada segundo Acordo Ortográfico da língua Portuguesa
de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Os personagens e as situações deste original são reais apenas no
universo da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos e
não emitem opinião sobre eles.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, locais,
eventos e incidentes são frutos da imaginação da autora ou usados
ficticiamente.
Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou
eventos reais é mera coincidência.
Este livro ou qualquer parte dele não pode ser reproduzida ou
utilizada de qualquer forma que seja, sem a permissão expressa por
escrito de Maren Moore, exceto para uso de breves citações
incluídas em análises críticas e resenhas.
Para todas as garotas que merecem o amor do jeito que Briggs
Wilson dá.
Você é linda do jeito que você é.
Nunca se acomode.
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Epílogo
Capítulo Um
Briggs
Então
Segundas chances raramente são fáceis; acredite em mim,
um cara que ultrapassou a cota de cagadas nos últimos anos. Para
ser sincero, perdi o controle de quantas oportunidades tive e, desta
vez estou me esforçando ao máximo. Pode não parecer, mas estou
tentando. Ouvi dizer que é o que importa.
O psicólogo do time concorda e eu percebi que, se sou
obrigado a sentar e ouvir a conversa dele por uma hora , devo tirar
alguma coisa disso, além da dor de cabeça na hora de ir embora.
Afinal de contas, foi ele que me colocou aqui, treinando
hóquei juvenil, em primeiro lugar.
— Quando for segurar o taco, pegue na haste com firmeza.
De maneira confortável, permitindo que ele fique próximo e você
tenha espaço suficiente para manobrá-lo, mesmo quando em
disputa pelo disco com outro cara.
Uma dúzia de crianças usando capacete acenam,
concordando com as minhas instruções.
— Certo, vamos praticar um pouco. Dez minutos. Quero que
se familiarizem com o taco e o disco antes de movimentarmos de
verdade no gelo.
Solto um apito muito alto e as crianças se espalham pelo gelo
em busca dos seus lugares, para a prática do exercício.
Eu tenho muitas habilidades. Conseguir irritar meu treinador
em dois segundos é uma delas. Geralmente, preciso de, pelo
menos, um desses itens: uísque, Maria Patins ou uma câmera.
Algumas vezes me envolvo em brigas, em outras, passo a noite na
prisão até ficar sóbrio o suficiente para ir embora sozinho.
Eu nunca disse que nenhuma dessas habilidades eram boas.
Na maioria das vezes, não são. Mas, se existe algo gratificante na
minha vida além de jogar hóquei profissional no Avalanches, é isso.
Treinar os Mighty Pucks, uma equipe de hóquei juvenil com crianças
carentes, patrocinada pelo meu time. Começou como punição pelo
meu comportamento e única forma de manter o meu lugar no time,
e transformou-se em um dos meus principais motivos para acordar
de manhã. É um propósito na minha vida, uma maneira de
reconsiderar tudo que eu estraguei.
Então eu percebi que essas crianças precisam muito de mim,
e que nada se compara ao orgulho que sinto ao ver o brilho nos
olhos delas e o empenho ao realizar as atividades que ensino no
gelo. Porém, se for pensar direito, sou eu quem precisa deles. Eles
me ensinaram a ser paciente e compreensivo e me mostraram o
que realmente importa na vida. É engraçado como as coisas podem
mudar rapidamente.
— Ei, Treinador Wilson, assim? — Nolan Alfred pergunta,
manobrando o disco em um círculo ao seu redor.
— Perfeito. Continue praticando, assim mesmo. Você deve
conseguir fazer isso com os olhos fechados.
Ele franze o nariz e tenta patinar em círculo com os olhos
fechados, mas perde o equilíbrio e despenca no gelo. Esta não será
a última, nem a sua pior queda. Mas a cada tombo que toma… você
aprende um pouco. A maneira certa de bater no disco, a forma de
evitar que a defesa tente roubá-lo bem debaixo do seu nariz. Posso
sentar aqui o dia todo e explicar como acertar um disco na rede,
mas o que estou ensinando a essas crianças vai além disso.
A maioria delas vem de uma situação doméstica totalmente
inadequada, mesmo estando em lares adotivos, orfanatos ou
vivendo com parentes que as acolheram. Alguns de seus pais são
viciados, outros morreram ou estão presos. Dá para ver nos olhos
delas que participar, ter a oportunidade de jogar hóquei, é o ponto
alto do dia. Quando tirei a minha cabeça de dentro da bunda e
deixei de ser um egoísta fodido, percebi que sou eu quem tem a
sorte de poder estar aqui e ensiná-las. É a forma de me redimir
pelas coisas que eu fiz.
Por toda a merda que passei nos últimos anos, por todo
tempo que pensei chegar ao fundo do poço e acabei caindo um
pouco mais, e por todas as pessoas que tentaram me ajudar. Foi
preciso um monte de crianças para me fazer enxergar a luz no fim
do túnel. Vai entender.
Meu telefone começa a vibrar repetidamente, e a minha
cabeça lateja em sincronia com o zumbido sem fim. Só existe uma
pessoa que liga no mínimo dez vezes se eu não atender.
Minha mãe.
Eu o puxo do meu bolso, rejeito a chamada e coloco no modo
silencioso. Não consigo falar com ela, não agora. Por estar com a
cabeça fodida, faz mais de uma semana que não atendo as ligações
dela. Quando estou nessa condição mental, quanto menos eu puder
lidar com a minha família, melhor.
Afasto o assunto da minha cabeça e me concentro nas
crianças. Nessa temporada, elas estão ansiosas e dispostas a
aprender. Isso faz com que os treinos passem em um ritmo mais
rápido do que o normal e, antes que eu perceba, é hora de ir
embora.
— Tudo bem pessoal, vejo vocês aqui na quarta-feira.
Pratiquem em casa se tiverem tempo, não esqueçam de treinar
patinação de costas e, qual é a regra número um? — pergunto para
o grupo.
— Não ter medo do gelo. — eles entoam em uníssono.
— Ótimo, tenham um boa noite.
Quando começam a juntar as suas coisas, fico de olho em
todas as crianças. Algumas são novas este ano e não sei muito
sobre elas, além do que tem no formulário de informações. Alguns
são os mesmos do ano passado que ficarão comigo mais um ano,
antes de subirem na liga.
Todos saíram logo, menos um garoto. Eu o observei quando
chegou pela primeira vez no treino de hoje. Tímido e,
provavelmente, o menor do time. Não tinha muito a dizer a ninguém,
mas seguiu todas as instruções que eu dei. É óbvio que não é a
primeira vez que joga hóquei, mas eu ainda não tive a chance de ter
um tête-à-tête com ele.
Jake é o seu nome.
Eu o assisto jogar o disco repetidamente pelo espaço vazio.
O cabelo preto, crescido e malcuidado cai no seu rosto. Notei que
ele o afastava na maior parte do treino e, quando estava de
capacete, quase cobria seus olhos. Quando patino em sua direção,
me observa com olhos verdes brilhantes e admiráveis, que
harmonizam com um punhado de sardas discordantes ao longo do
seu nariz.
— O seu slap shot tá bom — eu digo a ele.
Ele acena com a cabeça, me olha por um momento e vira
para a rede de novo.
— Pratico há muito tempo. Os garotos pegam no meu pé,
falam que sou muito pequeno pra ter uma tacada poderosa.
Crianças são brutais pra caralho, eu me lembro dessa época.
Fui um garoto pequeno e precisei de esforço e muito treino antes
que alguém me levasse a sério.
— Não, não é verdade. Conheço muitos caras que não são
construídos como um muro de tijolos e tem tacadas poderosas.
Jake arregala os olhos, com o seu cabelo grande caindo
neles mais uma vez. Rapidamente ele o afasta do rosto para me
observar.
— Não tem nada a ver com tamanho, tem a ver com técnica;
o segredo é continuar treinando. Pratique tacadas na rede, centenas
por dia. Mas use sua mão oposta. Você é canhoto?
Ele assente, então eu pego o taco e coloco em sua mão
direita.
— Atire com a mão direita. Seu corpo tem memória muscular
e seus músculos estão acostumados com você usando a esquerda.
Se treinar cem tacadas por dia com a mão direita, você vai
conseguir uma memória muscular permanente. Tudo é questão de
repetição. Não permita que ninguém diga que você não é capaz;
prove que estão errados. Mostre a sua capacidade.
Usando o meu taco, atiro com a mão oposta e o disco atinge
a rede tão rápido que os olhos de Jake mal conseguem assistir o
seu vôo.
— Puta merda! — sussurra em admiração.
— Olha a boca! — eu digo severamente, apesar de ter falado
merdas muito piores quando tinha a idade dele. — Outra coisa.
Quando você praticar em casa com a rede, não se esqueça de
dobrar os joelhos da mesma forma que faz no gelo. Não fique em
pé, use a força de suas pernas e do seu corpo para acertar a
tacada.
— É fantástico! Obrigado, treinador.
Eu aceno com a cabeça, e o meu peito enche de orgulho.
Ensinar para estas crianças é maravilhoso; é muito bom contribuir
depois de toda merda que eu fiz.
— Sua carona tá chegando? — eu pergunto.
— Sim. Meu pai adotivo trabalha até mais tarde, às vezes. —
Ele encolhe os ombros. — Vou treinar mais um pouco enquanto
espero.
— Quer uma carona?
Ele parece chocado com a minha oferta. Com os olhos meio
arregalados, pergunta: — Sério?
Encolho os ombros. — Não tenho mais nada para fazer.
— Eu posso ir a pé. De vez em quando eu vou, da escola ou
de outros lugares. Não é grande coisa.
— Onde você mora?
— Southside, rua 42. — Seu tom de voz é baixo. Ele tem
caminhado até o Southside à noite? São pelo menos trinta minutos
de carro.
— Fica no caminho. Aqui, ligue para o seu pai e avise que
vou te deixar lá.
Jake assente e pega o telefone que estendo em sua direção.
Enquanto ele fala com o pai, tiro os patins, jogo dentro do meu saco
de hóquei e calço os meus Nikes.
Quando estou terminando ele patina para fora do gelo.
— Ele pediu para agradecer, a reunião de trabalho atrasou.
Obrigado por me levar para casa, gostei muito. — Ele baixa o olhar
para os seus patins.
— Não é nada demais. Vamos.
Destravo a caminhonete ao caminharmos em sua direção.
Ele sobe no banco do passageiro e, antes que eu precise falar, ouço
o barulho do cinto de segurança. A viagem para Southside é
tranquila, Jake fica olhando pela janela, com as mãos cruzadas no
colo.
— Continue a praticar aquela tacada e vai conseguir
rapidinho. Se quiser um pouco mais de tempo no gelo, ou treino
individual, é só me avisar — eu digo enquanto dirijo.
— Você... faria isso?
Encolho os ombros.
— Eu sou o treinador. Preciso ter certeza que você sabe o
que está fazendo. Se não for desse jeito, pega mal para mim.
Ele sorri, concordando.
— Tudo bem. Legal.
Percorremos o resto do caminho em silêncio até eu descer a
sua rua. As casas estão depredadas e negligenciadas, a maioria
deve ter falhado na inspeção. As pessoas não costumam dar
importância a esta parte da cidade, sem que algo seja notícia.
— Última casa à direita — ele diz, apontado para uma casa
azul-clara em estilo vitoriano, com fachadas apodrecidas e
venezianas caídas na frente. A grama está alta, mas, por outro lado,
a propriedade está limpa, apesar das condições precárias.
— Mais uma vez, obrigado pela carona, treinador. Vou
continuar praticando e ficar ainda melhor para o treino da próxima
semana! — exclama, me dando um sorriso largo de dentes tortos.
E é por isso que faço o que faço. É por isso que continuo com
essas crianças, mesmo que o meu treinador não me obrigue mais a
treiná-las, como publicidade para limpar a minha imagem. Estas
crianças querem alguém para admirar e é isso que darei a elas.
— Disponha. Tchau Jake.
Ele agarra na maçaneta, abre a porta enquanto pega o saco
de hóquei do banco traseiro, e corre para dentro.
Durante o trajeto de volta para casa, só posso pensar que
provavelmente fiz o dia daquelas crianças, e que isso me fez bem
pra caralho. Então, paro na minha garagem, vejo o Mercedes da
minha mãe estacionado, e gemo. Bem, lá vamos nós.
Droga.
Eu deveria saber que ela apareceria aqui, depois de eu ter
evitado seus telefonemas e mensagens na semana passada. Andei
deprimido nos últimos meses e, honestamente, lidar com a minha
mãe é a última coisa que eu quero fazer.
Impetuosamente, coloco o câmbio da caminhonete na
posição park. Pulo para fora, pego meu saco de hóquei, jogo-o
sobre o ombro e saio na direção da minha garagem.
Quando abro a porta, passo pelo átrio e entro na cozinha,
minha mãe está sentada à mesa, dobrando uma das minhas
cuecas. Parece haver um tempo que ela está aqui, uma vez que o
resto das roupas está dobrado em pilhas na mesa à sua frente.
— Oi mãe. — eu digo, jogando minhas chaves na vasilha em
cima da mesa.
— Oi querido.
Eu a amo, de verdade. Ela é minha mãe, mas se esquece
que sou um adulto. Toda vez que aparece e fica tão à vontade
quando não estou aqui, me arrependo do dia que decidi entregar
uma chave para ela.
— Eu só quis passar para ver como você está. Não tive
notícias suas durante toda a semana e você não atendeu quando
liguei mais cedo, então aqui estou eu. — Ela ri.
— Sim, aqui está você. Mãe, você não precisa fazer isso. Já
te disse mil vezes.
Ela encolhe os ombros, me dá um sorriso tímido e sopra uma
mecha de franja loira que escapa do coque frouxo em seu pescoço.
— Eu sei Briggs, mas isso é o que as mães fazem. Elas
cuidam dos seus bebês… mesmo se já tiverem crescido.
— Obrigado. Fico feliz, mesmo assim.
Eu me aproximo e puxo-a para os meus braços, em um forte
abraço. Às vezes eu desejava que as coisas fossem diferentes e
que eu não estivesse fodido como estou. Pelo menos… pelo bem
dela. Eu odeio que ela esteja no meio de tudo isso.
Mamãe se afasta e dá um tapinha na minha bochecha.
— Você precisa raspar isso, está ficando grande.
— Eu vou.
— Passei aqui para saber se você poderia ir jantar nesse fim
de semana, como um favor. Para mim.
Ela segura as minhas mãos e me olha com esperança.
Sinto um desconforto na boca do estômago, que vai me
consumindo por dentro e se movendo para fora. Jantares de família
costumavam ser semanais em nossa casa. Antes. Todo domingo,
meu irmão e eu íamos jantar com mamãe e papai e assistir qualquer
jogo de hóquei que estivesse passando. Não importava onde
estávamos, ou quais eram nossos planos. Tudo ficava para trás
para estarmos lá. A visão do seu rosto iluminado e do sorriso
sincero toda vez que atravessávamos a porta, fazia qualquer
sacrifício valer a pena.
Eu odeio ser quem destrói suas esperanças toda vez que ela
tenta unir nossa família de novo, mas algumas coisas…
simplesmente não podem ser consertadas.
— Mãe… — Aperto os dentes e minha mandíbula enrijece.
Parece que a ferida antiga, mas ainda dolorida, se abre de novo a
cada vez. A lembrança constante de que, no fim do dia, sempre
atrapalho a união da família, mesmo que tenha sido o meu irmão a
destruí-la primeiro.
Passo por ela, vou até a geladeira e pego um Gatorade,
louco por um momento para me recompor. Preciso me lembrar que
não sou mais um garoto. Dei duro para me tornar o homem que sou
e não vou permitir que escape entre os meus dedos.
— Briggs, querido, eu sei... Eu sei que você ainda está
magoado, mas nós somos sua família. Eu e o seu pai sentimos sua
falta, o seu irmão...
Fecho meus olhos quando ela o menciona.
— Ainda não estou pronto. Não estarei por muito tempo,
mãe. Olha, eu também tenho saudades de como era antes. Sinto
nostalgia de quando tudo não era tão fodido… mas eu ainda não
posso. Sinto muito se isso machuca você.
O semblante de mamãe se entristece com minhas palavras,
mas há muita história. Muita raiva. Muita traição. Meu irmão não
apenas destruiu o nosso relacionamento de forma irreparável, ele
dividiu a família.
— Eu entendo, só queria que tudo fosse diferente. Queria
que, como sua mãe, pudesse arrancar a dor que você está sentindo.
Queria poder consertar tudo.
Balançando a cabeça, eu digo:
— Mas você não pode, mãe. Essa é a verdade e, é melhor
aceitá-la exatamente como é. Eu aceitei. Papai aceitou. A posição
dele sobre o assunto está mais do que explícita e ele está do lado
de Beau, não importa o que aconteça, estando ele certo ou errado.
Lágrimas umedecem seus olhos enquanto ela se aproxima e
me abraça.
— Eu sinto muito, Briggs. Seu pai... ele ... seu pai ama você.
Espero que saiba que, independentemente de qualquer coisa, nós
dois o amamos. Demais.
Na maioria das vezes que a minha mãe aparece, evitamos a
todo custo falar sobre nossos problemas familiares. Por isso, essa
conversa reabre todas as feridas e a dor me consome mais uma
vez. Não que alguma vez tenha desaparecido, de jeito nenhum, é
tipo uma dorzinha chata que sempre está lá, debaixo da superfície.
— Te ligo em breve, tudo bem? — digo a ela.
Ela funga, mas se afasta e rapidamente enxuga as lágrimas.
— Você vai a algum lugar quando acabar a temporada?
Encolho os ombros, porque ainda não pensei sobre o período
de descanso.
— Acho que não. Ainda estou treinando os Mighty Pucks,
estamos nos preparando para os jogos e eu não posso me afastar.
— Fico feliz que ainda esteja envolvido com aquelas
crianças. Me orgulho muito de você. — Ela me dá um abraço rápido
(sem lágrimas desta vez), pega sua bolsa da mesa do hall de
entrada e caminha em direção à porta. — Sei que ainda não
consegue enxergar, mas você mudou Briggs, vejo a cada vez que
olho para você. Esta dor no seu coração vai desaparecer e, do jeito
que você é, desde que ela passe, é apenas o que importa. Te amo.
A porta bate atrás dela e, pelo resto da noite, fico repassando
suas palavras na minha cabeça.
Que tipo de homem eu seria se minha alma não tivesse tão
quebrada e carregada?
Capítulo Dois
Briggs

Voltei a ler o artigo, como se ainda não tivesse memorizado


mais uma artimanha da garota que se esconde atrás do seu teclado.
Talvez não devesse me incomodar tanto, mas incomoda pra caralho.
Em parte, porque não sei quem ela é, e em parte porque ela está
certa.
Nunca falha, sempre acerta na mosca. Ela bate na mesma
tecla e me faz sentir como merda a respeito de algo que, sem
dúvida eu estraguei. Como se não bastasse eu ter me causado isso,
o mundo todo tinha que compartilhar da minha queda.
— Quer dizer, quem ela pensa que é? — resmungo, batendo
o meu dedo na tela ao deslizá-la. — Por que eu? Por que, entre
todos os idiotas da NHL, ela me escolheu?
A blogueira esportiva anônima que se cognomina como Maria
Patins, faz da minha vida um inferno desde o dia que descobriu que
eu seria aquele que facilitaria o seu trabalho. Ela escreve
principalmente sobre estatísticas, placares e fofocas relacionadas
ao hóquei e, por alguma razão, ela me odeia. E não me refiro a uma
antipatia forte, quero dizer que ela me detesta. Toda vez que
mencionou o meu nome naquela porcaria de blog, foi para arrastá-lo
pela lama e eu não consigo descobrir o motivo de ela estar tão
obcecada por mim.
— Se você dá a ela merda suficiente para falar a respeito, ela
continua postando, dã. — Graham encolhe os ombros e dá um
gemido profundo e dramático. O controle voa da sua mão quando
ele morre, de novo, em seja qual for o jogo que está jogando no
Xbox. Erra por pouco a tela plana de setenta polegadas na minha
parede e eu estreito os meus olhos para ele. Melhor amigo ou não,
não foda com a minha man cave, principalmente no que se refere à
minha tv.
— Se você quebrar minha televisão por causa do seu
descontrole emocional, vai me comprar outra. Dez polegadas maior.
Não, dobre para vinte. — Bebo o resto da minha cerveja e coloco a
garrafa de novo na mesa à minha frente. — E quem se importa com
o que eu faço? — De todos os atletas do muno, ela escolheu
concentrar em mim as suas baboseiras cruéis.
— Quem ao menos disse que é uma garota? Não seja
sexista, Briggs. — Hudson, meu outro melhor amigo e defensor dos
Avalanches, balança a cabeça. — Quer dizer, você pode presumir
que seja, porque usa uma boca como assinatura, mas pode ser um
cara que explora o seu lado feminino. Estou só dizendo.
Merda, nunca tinha pensado nisso. Mas, novamente, tento o
meu melhor para não pensar nela. O que ela aparentemente torna
impossível, já que sou o trending topic do seu site na maioria das
vezes. Como sou ávido por punição, tenho um alerta configurado
para mostrar quando ela publica algo sobre mim.
— Definitivamente é uma mulher. Ela sempre usa aquela
imagem de beijo rosa. Totalmente mulherzinha — adiciona Graham.
— Tudo bem, qualquer pessoa que seja, eu só desejo que
foque em outro. Ela me deixa louco, se metendo nos meus assuntos
o tempo todo.
— Diga isso a ela, então.
Olhamos para Asher, que está na extremidade oposta do sofá
lendo algum tipo de romance gótico e dando o seu melhor para
ignorar as tendências homicidas de jogador de Graham, sentado
perto dele. É muito cômico o quanto somos diferentes, e ainda
assim, eles são os melhores amigos que eu já tive. Os únicos em
quem confiei. Inferno, eles me resgataram do fundo do poço. Eles
são a minha família, mesmo que não tenhamos o mesmo sangue, e
já me provaram várias vezes.
— O que foi?
Asher dá de ombros.
— Se você está farto dessa merda, fale com ela. Tem uma
página de contato no site.
— Isso aí, esse é o tipo de entretenimento que eu preciso em
uma noite de domingo — Graham diz.
Jesus Cristo.
— Na lista de besteiras que poderíamos fazer esta noite,
provocar ainda mais a garota que obviamente quer me prejudicar
não é a melhor ideia.
Hudson balança a cabeça e se levanta da poltrona.
— Não. Asher está certo. Talvez seja isso que ela quer? Ela
está sacaneando com você há tempos, talvez queira que entre em
contato. É obvio que ela fez isso para te provocar, pelo menos é o
que eu penso.
— O que eu acho é que vocês, idiotas, estão pensando
demais sobre isso. Briggs não foi muito exemplar nos últimos anos.
Não é difícil focar na pessoa que está falhando quando você tem um
blog dedicado a jogadores de hóquei e as merdas escandalosas que
eles fazem — Graham interrompe.
— Obrigado, babaca. Não se esqueça que você é o novato, e
posso chutar seu traseiro a qualquer momento — eu murmuro.
Ele encolhe os ombros.
— Também sou seu melhor amigo. E, além do mais, é
verdade.
Porém, pode ser que ele esteja certo. Talvez eu seja um
gostoso problemático, mas tenho um motivo real. Não que isso
deixe nada melhor. Não que eu não tenha tentado me recompor,
nem que alguém ao menos tenha notado, mas percorri um longo
caminho nos últimos anos. Não o suficiente, ainda não. Mas, pelo
menos, estou tentando.
Estou tentando pra caralho.
Volto a olhar para a postagem do blog no meu telefone.
Um dos últimos posts sobre mim tem o título "Bad boy
limpando a sua imagem com... hóquei juvenil? E essa merda me
irritou. Por que zombar da minha ação legitimamente boa?
— Acho que você deveria fazer isso. — Asher insiste. — De
qualquer forma, ela vai perceber que realmente lê esta porcaria e
que, além de um nome, você é uma pessoa com sentimentos.
— Oh Deus, vocês três são ridículos — Graham sussurra,
caindo de costas no sofá e gemendo. — Briggs, você realmente
está me dizendo que se importa com o que essa garota aleatória
tem a dizer a seu respeito na internet?
Estreito meus olhos para ele enquanto meu maxilar se aperta
automaticamente.
— Você sabe, é perturbador. Olhe, tenho me esforçado
bastante para me recompor e tudo vai por água abaixo. Por causa
desta… garota, o mundo inteiro ainda vê tudo que eu faço por uma
ótica negativa.
— Tá vendo? Escreva para ela. — Hudson me encoraja.
Asher assente com a cabeça.
— Isso, diga a ela como sente. Provavelmente vai ficar
melhor ao tirar isso do peito.
Cerro os dentes dolorosamente. Porra, provavelmente nem
vai ler . Mas, inferno, se ela ler, talvez me tire desse sofrimento.
Clico no botão, digito meu endereço de e-mail e uma
mensagem.
"Querida Maria Patins,
Um nome cativante, a propósito. Briggs Wilson aqui. Eu vi a
sua publicação recente sobre o tamanho do meu taco de hóquei e
como estou compensando por outros quesitos. E por quesitos, você
quis dizer o meu pau. "
Mostro a tela do telefone para Hudson e ele ri.
Continuando, eu digito:
"Estou apenas tentando te dizer que não preciso ser
compensado por nada, e caso queira… eu posso provar. Diga a
hora e o lugar e conseguirá o seu encontro."
Assim que digito a mensagem, percebo como seria estúpido
enviá-la. Por que dar a essa garota mais munição contra mim?
Obviamente, ela tem algum tipo de agressão reprimida a meu
respeito.
— De qualquer forma, parece um pouco melhor colocar pra
fora. — Dou de ombros e apago o e-mail antes de clicar em enviar.
Me irrita que ela constantemente me exponha, minhas falhas estão
sempre em destaque mesmo em comparação com outros idiotas da
NHL. Até as minhas boas ações, como treinar os Mighty Pucks,
fazer eventos de caridade, me voluntariar no tempo livre... ela
manipula e transforma em outra coisa. Por que não pode ser algo
benéfico ao invés de um castigo pelo que fiz no passado, ou as
ações que as relações públicas me obrigaram a fazer, e que se eu
não fizesse, o meu lugar no time estaria comprometido?
Todas as vezes que entrei em uma briga ou algum tipo de
confusão digna de notícia, ela foi a primeira a publicar. Admito que
entreguei o conteúdo para ela, enrolado em um laço vermelho
reluzente. Os piores momentos da minha vida aconteceram com
holofotes apontando em minha direção e o mundo inteiro assistindo
a minha queda. Em determinado momento eu liguei o foda-se e
deixei de me importar. Fiz o que pude para aliviar a dor e a
cobertura da mídia que se danasse.
Só fico puto porque os seus artigos estúpidos mancham
ainda mais a minha reputação. E foi isso que me trouxe até aqui.
Com a minha carreira pendurada por um fio, todo mundo pensando
que sou um péssimo investimento e meus amigos ameaçando me
encher de pancada se eu não me controlar. As pessoas dizem
compreender que estou magoado, mas na verdade não entendem.
Só quem passa por isso é capaz de entender.
— Acho que foi bom você não ter enviado, mas eu pagaria
uma boa grana para ver a cara dela quando lesse — Hudson
declara.
Dou de ombros.
— Sim… mas isso não vale a consequência e ela… ela
sempre tem algo a dizer. Vou apenas parar de ler essas merdas.
— Eu estou fora, o meu encontro de domingo à noite acabou
de enviar uma mensagem. Graham levanta do sofá e joga o controle
na mesa de centro.
Nem um pouco surpreendente. Sim, ele é um cara bonito,
mas é o charme que conta. Ele tem uma garota para cada dia da
semana e, honestamente, eu não sei como arranja tempo, nem
como consegue acompanhar todas elas. Minha cabeça dói só de
pensar nisso.
— É Sarah, acertei? — Asher pergunta.
— Negativo, ela é a de terça — Graham responde.
Eu reviro os olhos. Criança do caralho.
— Mais tarde. — Pego minha garrafa de cerveja vazia e levo
até a lixeira da cozinha. Durante a baixa temporada, no domingo
temos a noite dos caras. Bebemos cerveja, assistimos aos
destaques e relaxamos. Ficar fora seis meses por ano faz você
apreciar o pouco tempo que passa em casa. Com exceção das
vezes que saímos para o bar, ficamos em casa na maioria das
vezes.
— Briggs, você tem notícias do Reed? — Hudson menciona o
meu melhor amigo que costuma estar aqui, mas que está sumido
ultimamente.
— Sim, ele disse que estava ocupado, mas que talvez vá
aparecer mais tarde.
Tenho certeza que ocupado quer dizer Maria Patins, mas a
sua presença tem sido rara ultimamente. Só aparece no que é
obrigatório. Faço uma nota mental para chamar sua atenção na
próxima vez que falar com ele.
Pego o meu telefone e percebo que ainda está no silencioso
e que tenho uma dúzia de mensagens do meu agente, Conrad.
Inferno, seis delas chegaram nos últimos três minutos.
Conrad: Não ligue a televisão.
Confuso, franzo a testa e digito uma resposta rápida.
Eu: Pouca informação. Por que?
O status de digitação aparece enquanto ele responde.
Conrad: Estarei aí em menos de cinco minutos.
Ou seja... ele já está a caminho. Tudo bem, então.
— Ah, Briggs. — Levanto o olhar para Asher que encara o
seu telefone com expressão de espanto. Hudson levanta e vai até
ele, depois vira para mim com os olhos arregalados.
Okay, que diabos está acontecendo?
— O que foi?
Então ouço um barulho vindo da minha porta de entrada. Alto
e forte. Deve ser Conrad. Merda, ele não estava brincando quando
disse que estava a caminho. Ando até a porta e a abro. Antes que
eu possa falar alguma coisa, ele passa por mim com a maleta na
mão, divagando pelo fone de ouvido.
— Certo, entendi. Sim. Sim. Tudo bem, … sim. Farei isso.
Entendi. Obrigado.
Conrad tem um metro e sessenta, é calvo e usa ternos
Armani de três peças todos os dias de sua vida. Está comigo desde
a minha convocação e confio nele com minha vida. Ele lidou com
cada contratempo, cada merda, cada confusão em que me meti e,
de alguma forma, me livrou de tudo isso. Ele é um filho da puta
exigente, mas sei que é capaz de resolver qualquer tipo de
problema.
Então, quando ele olha para mim e fala:
— Briggs, meu homem, tenho más notícias e é provável que
você queira sentar para ouvi-las. — o meu estômago embrulha.
Más notícias? Nos últimos três anos, tive más notícias
suficientes para o resto da minha vida. Como quando meu contrato
estava suspenso e eles se recusaram a renová-lo até que eu me
controlasse. Os patrocínios que eu perdi. Inferno, recentemente
passei mais tempo na penalty box do que no gelo.
Porra, vão me demitir do Avalanches?
— O que foi? — pergunto quando ele demora a falar.
— Seu irmão vai ter um bebê.
O chão balança debaixo dos meus pés e eu agarro o balcão
da cozinha para me equilibrar.
— Eu sinto muito, Briggs. Sei que não deve ser fácil de ouvir.
Sinto mesmo, filho. — Conrad me olha com pena e isso é tudo que
mais odeio.
A porra da compaixão. O fato de todo mundo ter
conhecimento do que aconteceu comigo. De saberem quão
quebrado e quão vazio eu sou e o quanto me odeio mais do que
tudo. Eles testemunharam o meu declínio, me viram foder com a
minha vida. Pessoas do mundo inteiro assistiram pelos seus
telefones ou por televisões sentados em suas salas de estar. Um
baita assento de primeira.
E agora… a vida arranja uma forma cruel de derramar sal em
uma ferida aberta.
Eu deveria saber que nada permanece bem por muito tempo.
Capítulo Três
Briggs

Imagine ser traído pelas duas pessoas que você mais confia
entre todas do mundo. Pense nelas cortando o seu coração,
assistindo-o sangrar sem levantarem um dedo para ajudar. Então
idealize como seria lembrar disso dia sim dia não, percebendo que
eles não só te feriram. Te enganaram da pior maneira imaginável, e
o mundo tem uma madeira fodida de nunca permitir que você
esqueça.
A dor nunca acaba; não existe um botão para desligar. Você
só consegue ignorar por um tempo até se tornar uma dormência
permanente na sua alma.
Quando a notícia do bebê de Beau veio à tona, a última coisa
que eu queria era ficar em Chicago, onde o mundo inteiro tinha uma
poltrona na primeira fila para assistir a maior traição da minha vida.
Eu quis socar a parede e quebrar a minha casa inteira, mas em vez
disso, bebi uma garrafa de uísque toda, vomitei minhas entranhas e
fui para a cama.
Sozinho. Exatamente como nas outras noites.
Na tarde seguinte, quando tive condições de abrir os olhos,
encontrei meu telefone no sofá com uma mensagem de Conrad
dizendo que me reservou uma pequena pousada em Lake Geneva
por quatro dias. Acho que ele concordava que eu iria precisar de
tempo para digerir tudo, e a última coisa que desejava era me
encontrar, mais uma vez, em destaque na página inicial do blog
Declarações de uma Maria Patins. Por sorte, quando eu voltar para
casa, os tabloides já terão encontrado outro motivo para se agarrar.
Como se fosse tão fácil.
Desativo as notificações do meu telefone e o silencio pelo
resto do dia. Não atendo ligações dos caras, dos meus pais e nem
de Conrad.
Além da necessidade de ficar sozinho para processar o que
está acontecendo, o sentimento de traição mais uma vez chega
para mostrar a sua cara feia.
Sentado na caminhonete encaro as portas de Brickhouse,
tentando manter minha cabeça fora de lugares onde não quero ir,
enquanto uma tempestade se forma acima de mim, escurecendo o
céu que cobre a pousada. Gotas de chuva grossas e pesadas
começam a cair, batendo contra a minha caminhonete.
De certa forma, a batida ritmada da chuva contra o estanho
do telhado da pousada, é reconfortante. Percebo que,
provavelmente, é a melhor coisa que poderia me acontecer. Eu
preciso de tempo fora de Chicago para clarear a minha mente. Não
estar rodeado de lembranças diárias da mídia e da minha família
sobre tudo que eu passei nos últimos dois anos.
A chuva começa a engrossar lá fora e, se eu não sair agora
vou acabar preso em um pé-d'água. Uma mensagem de alerta
meteorológico vem do meu telefone e parece que a tempestade não
vai passar tão cedo. Dou um suspiro profundo, pego minha mochila
do banco do passageiro e desligo a caminhonete. No segundo que
abro a porta, o vento bate contra ela e a chuva atinge o meu rosto.
Puta merda.
O vento sopra chicoteando quando caminho em direção à
varanda da pousada, até finalmente me abrigar embaixo dela.
Balanço o cabelo, tentando tirar a água dos meus olhos. O céu caiu,
de repente, em uma chuva torrencial.
Envolvo meus dedos na maçaneta da porta e a abro, dando
um passo para dentro. Água de chuva ainda pinga do meu cabelo e
escorre pelos meus olhos, minha camiseta já ensopada e a minha
bolsa enquanto aguardo na entrada. Eu examino a pequena sala,
passando os olhos pelos móveis antigos, e percebo que é muito
mais aconchegante do que eu esperava.
Nessa situação, provavelmente o inferno é muito mais
aconchegante do que lá fora agora.
— Olá, tem alguém para o check-in?
Uma senhora de cabelos grisalhos usando óculos de
armação fina entra na sala. Ela está com um vestido longo, tem um
avental rosa claro coberto de farinha, amarrado ao pescoço, e
parece que acabou de sair da cozinha onde assava alguma coisa.
— Olá, estou aqui para dar entrada. Eu liguei mais cedo… —
baixando a minha voz eu digo: — Briggs Wilson?
— Ah sim, Sr. Wilson. Meu nome é Margaret e eu administro
a pousada. Fico feliz em fazer o seu check-in e te mostrar o quarto.
Eu concordo com a cabeça.
— Obrigado.
Margaret digita no computador do balcão e me olha com um
sorriso, e uma expressão gentil e calorosa.
— Que droga! O computador está fora do ar por causa da
tempestade. Deixe eu anotar aqui e quando o sistema voltar eu faço
o registro.
Com a caneta que estava ao lado do bloco de notas, ela
escreve algumas linhas confusas, depois olha para cima e sorri
amplamente para mim. Me sinto à vontade imediatamente.
— Certo, tudo nos conformes. O café da manhã é as oito, eu
levo toalhas novas todos os dias e, caso precise de alguma coisa,
há um telefone no seu quarto. Como eu estava dizendo, infelizmente
devido à tempestade a internet e os telefones não estão
funcionando, mas esperamos que, em breve, tudo se resolva.
— Sem problemas. Obrigado.
O sorriso dela é terno e verdadeiro.
— Venha comigo para eu poder te mos…
A porta de entrada se abre atrás de mim, uma forte rajada de
vento a empurra contra a parede oposta e por pouco me joga no
chão. Entretanto, a garota que atravessa a soleira, me derruba de
verdade. Ela tromba em mim com tanta força que nós dois vamos
direto para o chão.
A madeira range embaixo de mim quando a atingimos. O
cotovelo dela vai direto para as minhas bolas e eu gemo na mesma
hora. A dor forte irradia para o meu estômago, e me causa ânsia de
vômito.
— Oh, caralho!
Ela deve ter um metro e meio de altura, pelo menos trinta
centímetros a menos do que eu e acabou de nos derrubar no chão
como uma porra de um linebacker,[1] tendo minhas bolas como
vítimas exclusivas.
— Eu sinto muito, oh meu Deus, me desculpe, eu sinto
tannn… — a pequena terrorista se desculpa excessivamente. Eu
mal enxergo o seu rosto escondido atrás de uma cortina de cabelo
loiro, mas vejo vagamente as íris cor de avelã e mel dos seus olhos
arregalados que me encaram.
— Está tudo certo, eu estou bem. Você está bem.
— Oh minha nossa, você está bem, minha querida? —
Margareth pergunta, se agachando ao nosso lado para tentar ajudar
a garota a levantar. A senhora a puxa pelo braço e elas levantam ao
mesmo tempo. Logo que está de pé, afasta os cachos loiros
ensopados do seu rosto e, apesar da aparência de cachorro
molhado eu não posso deixar de notar que … ela é linda pra
caralho.
Ela está completamente encharcada, não há uma parte seca
sequer. Sua blusa amarelo-clara está colada no corpo acentuando
os quadris e as curvas. Vejo o contorno do sutiã de renda, mas
afasto rapidamente o olhar de parecer um pervertido.
Firmo nos meus cotovelos e me levanto da madeira molhada,
ficando de frente para ela e Margareth.
— Mais uma vez, eu sinto muito, muito mesmo. Minha
sandália… acho que ela enganchou na varanda, e o vento, eu
apenas… me desculpe. — Ela sorri e suas bochechas ficam
vermelhas de vergonha. Olhos avelã com manchas douradas,
cabelos loiro claros compridos, arcada dentária perfeita e lábios cor
de pêssego.
Ficar preso no meio do nada durante uma tempestade com
uma linda garota, não é o tipo de sorte que eu tenho, mas foda-se
se eu não vou aceitar.
— Não é grande coisa. Nenhum dano, nenhuma culpa. — Eu
pego minha mochila do chão e Margaret olha para a garota.
— Só um instante, querida. Vou mostrar o quarto para este
hóspede e depois te encontro na cozinha.
A bela loira assente com a cabeça e, sem jeito, acena em
despedida. Sorrio para ela e sigo atrás de Margareth. Caminhamos
por um longo corredor que tem a parede coberta de pinturas antigas
e retratos de pessoas de diferentes épocas.
— Você vai ter que perdoar a minha neta Maddison. Ela é
meio desastrada.
Eu apenas balanço a cabeça.
— Não tem problema, está escorregadio lá fora. Eu sou um
cara grande e quase fui derrubado por aquele vento.
Ela sorri.
— Chegamos. — Ela me leva por um pequeno corredor com
apenas duas portas opostas. Parece bastante privado, exceto pela
porta em frente à minha. Fica em outra ala, separado do restante
dos quartos. Margareth tira uma velha chave mestra do avental e
me entrega. — Este é o seu quarto, se precisar de alguma coisa, me
avise por favor. Será um prazer te ajudar. Espero que o telefone e a
internet voltem a funcionar em breve.
— Sem problemas. Obrigado por me instalar tão depressa.
— Oh, não foi nada querido. Estamos felizes em ter você em
Brickside. Se precisar de qualquer coisa, me diga por favor. — Ela
sorri mais uma vez e passa pela porta.
O silêncio ao meu redor me acalma. Neste momento estou,
literalmente, isolado do resto do mundo, sem internet ou TV a cabo
por causa da tempestade. Tiro meu telefone do bolso e vejo que a
barra de sinal está reta, indicando que estou realmente isolado do
mundo por estar aqui.
Não que eu receba nada além de e-mails ocasionais, poucas
ligações e mensagens. Saí da mídia social alguns anos atrás,
depois que tudo veio à tona. Sinceramente, foi o melhor que já fiz e
não tenho intenção de voltar atrás. Só acompanho o blog da Maria
Patins estúpida – já que pareço ser um sádico e amar um castigo –
e poucos sites de esportes. O resto eu evito e é melhor assim.
Coloco minha bolsa na cômoda e olho em volta. No meio do
quarto há uma cama de dossel com cortinas. Criados
correspondentes ficam em cada lado e o cômodo inteiro parece
acolhedor e confortável.
No fim das contas, pode ser que vir para o meio do nada para
fugir dos seus problemas não seja um problema.
Capítulo Quatro
Briggs

Faz uma hora que estou com a mesma cerveja pela metade e
em temperatura ambiente. Meus olhos encaram o fogo e a minha
cabeça se perde em algum lugar do passado, quando ela entra na
sala.
Sinto sua presença no momento que passa pela soleira da
porta. O cabelo loiro que parecia mais escuro quando molhado pela
chuva, agora está seco e amarrado na nuca. Com as bochechas
rosadas e a testa franzida, uma expressão de concentração define o
seu rosto.
Aproveitando que ainda não notou a minha presença, tiro um
momento para admirá-la. Ela sussurra palavrões enquanto carrega
o seu laptop e tenta se concentrar na tela, até esbarrar direto na
borda da mesinha de madeira.
— Droga! — Então, solta um suspiro frustrado. Uma risada
baixa escapa dos meus lábios, fazendo-a olhar na minha direção.
— Merda, me desculpe. Não percebi que havia mais alguém
aqui — ela praticamente guincha ao observar que não está sozinha.
Mesmo com pouca luz, o brilho do fogo me permite ver suas
bochechas em chamas. — Ah, você é o cara que ataquei mais cedo.
— Ela desliga o computador e franze o nariz em um pedido de
desculpas. — Ainda sinto muito pelo que aconteceu. Eu costumo ser
um pouquinho desajeitada.
— Não foi grande coisa. Não é como se eu nunca tivesse …
— Algo me impede de dizer que toda semana luto no gelo com
caras três vezes maiores do que ela. Há uma grande chance de não
saber quem eu sou. Não o fodido do Avalanche, nem um
profissional qualquer do hóquei. Porra, quando foi a última vez que
me aproximei de alguém que não estivesse cego pelos símbolos de
dólar, durante uma conversa ou entrevista a respeito de hóquei?
Inferno, analisando a primeira reação ao me conhecer, existe
uma grande chance nem mesmo ser uma fã.
Encolho os ombros despreocupadamente.
— Não foi nada. Não se preocupe. De verdade.
— Me deixa pegar outra cerveja para você, pelo menos. Por
minha conta. — Ela acena na direção da minha bebida quente,
depois levanta a mão. — Prometo me comportar direitinho.
— Se você faz questão, mas é sério, eu estou bem.
Ela coloca o computador na mesinha ao meu lado e
desaparece pela porta, voltando um pouco depois com uma garrafa
de tequila e dois copos com tema natalino.
— Uh, na verdade estamos sem cerveja e eu não queria
voltar com as mãos vazias, então eu peguei isso. — Ela levanta a
garrafa e encolhe os ombros.
— Nossa, você está tentando me embebedar… e abusar de
mim? — Eu sorrio.
— Não, oh Deus! De jeito nenhum. Definitivamente não — ela
diz em imediato, obviamente corando com a minha provocação. —
Eu só estava dizendo que tequila é tudo que tem por aqui e, depois
do dia que tive hoje, preciso beber. Além do mais, depois de nosso
primeiro encontro, acho que você merece esta bebida tanto quanto
eu.
Ela coloca a garrafa e os copos perto do seu computador.
Com a proximidade, consigo ver melhor as suas feições . Os
impressionantes olhos cor de mel, os cílios grandes e a boca em
forma de coração que de repente, tenho vontade de devorar.
Ela é linda pra caralho. O tipo de beleza que te atinge no
momento que ela chega no lugar.
— Eu sou Maddison e, honestamente, tive uma semana meio
difícil. Agora quero tomar algumas doses desta merda de tequila
com um completo estranho que não vai me julgar por estar
perturbada.
Gesticulo para ela sentar perto de mim e dou de ombros.
— Eu sou Briggs e ... de forma alguma. Eu não tenho o
hábito de julgar, e agora estou por sua conta. — Espero ver algum
tipo de reconhecimento no seu rosto, mas nada acontece, e eu
respiro aliviado. Ela não faz ideia de quem sou.
— Obrigado.
Quando ela se joga na cadeira e suspira fundo, levanto as
sobrancelhas.
— Eu já ia perguntar se você quer falar sobre isso, mas…
— Não. Eu não quero. Na verdade, falar sobre isso é a última
coisa que quero fazer. Podemos apenas beber e falar sobre
qualquer coisa além dos nossos problemas? — Ela estende a mão
para abrir a tampa, serve duas doses até a borda dos copos e me
entrega uma.
Pego o copo, levanto e mando para dentro. Queima, e não é
bom. É como se a tequila tivesse dez anos e viesse de um posto de
gasolina, mas eu engulo mesmo assim.
— Tudo bem. — Balanço a cabeça para aliviar o gosto ruim.
— É realmente uma merda de tequila. Você acertou em cheio com
ela.
Maddison franze o rosto em desgosto, mas então um sorriso
perverso se espalha em seus lábios rosados, ela joga a cabeça para
trás e gargalha.
— Realmente.
O seu telefone toca enquanto serve outra dose, mas ela o
ignora. Isso me lembra que se o celular dela está funcionando, pode
ser que eu tenha sinal, mas sinceramente…Estou gostando do
silêncio. Não quero checar meu e-mail, responder os textos de
Conrad nem ler todas as mensagens que perguntam se estou bem
ou se preciso de alguma coisa. Só por esse motivo, mantenho meu
aparelho no bolso e concentro minha atenção na mulher sentada à
minha frente.
Ela me entrega outra dose e, juntos, mandamos para dentro
pela segunda vez.
— Deus, pensei que ficaria melhor depois da primeira, mas
não. Seus ombros balançam com um arrepio de corpo inteiro, e o
rosto contorce em desgosto.
— De jeito nenhum. — Eu pigarreio. — Para falar a verdade,
acho que está piorando, se isso for possível.
Assentindo, ela lambe uma gota de tequila do canto do lábio
e eu quase gemo alto.
— Bem, é o que temos e eu sou do tipo de garota "já que vai
fazer, faz direito".
— Tem razão. O ponto positivo é que depois de algumas
doses, provavelmente não sentiremos mais o gosto. — Eu rio e ela
solta uma risadinha. — Bem…Já que vamos terminar essa tequila
repugnante juntos, acho que deveríamos nos conhecer.
O lábio inferior carnudo e rosado, que ela parece mastigar
quando está nervosa é empurrado entre os seus dentes quando
senta de novo na cadeira. Ela se afasta um pouco, hesitante.
— Não tem muita coisa para saber. Você já viu o básico. Sou
capitã de flag football[2] disfarçada, gosto de bebida barata e sou
totalmente desajeitada.
— Você derrubou noventa quilos no chão, estou tentado a
acreditar. Não tenho muita certeza sobre ser desajeitada. Talvez
apenas lhe falte um pouco de coordenação.
Ela sorri de leve e revira os olhos.
— Honestamente, eu gosto do fato de não te conhecer e
você não me conhecer. Deixa as coisas mais interessantes.
— Vou tomar uma dose por isso. — Eu sorrio. Ela não
imagina o quanto gosto da ideia de não ter que ser o que eu não
quero agora. Para ela eu sou algum cara que nunca viu antes,
hospedado na pousada dos seus avós, sem as correntes do meu
passado para ajudá-la a descobrir.
Eu não sou aquele que quase perdeu sua carreira de hóquei
depois de ser traído pelo próprio irmão. Ou o cara que passou noites
incontáveis em uma cela, esperando ficar sóbrio o suficiente para
ser resgatado pelos seus amigos ou seus pais. Ela não me conhece
como aquele que procura briga apenas para sentir alguma coisa.
Aquele que estava tão entorpecido por dentro que a única forma de
sentir era se me machucar.
Ela não conhece aquele cara, ela não faz ideia de quem eu
sou ou pelo que eu já passei.
É libertador.
Seus dedos, cujas unhas estão pintadas de rosa choque,
circulam a borda do copo. Ela pega a garrafa, derrama mais uma
dose para cada um de nós e levanta a mão para um brinde.
— Aos estranhos e à tequila barata.
Nós brindamos e viramos a tequila.
De alguma forma, uma dose se transforma em duas, depois
quatro e então bem, perdi a conta. Uma hora depois sentamos um
ao lado do outro no sofá, nos encarando. Lágrimas descem pelo
rosto de Maddison enquanto ela ri da história que eu conto.
— Então ele corre pela sala com a bunda de fora, e não
vamos deixá-lo esquecer nunca mais.
Ela se dobra toda, rindo e porra, não posso evitar o sorriso
que isso traz ao meu rosto. Ela é contagiante. Engraçada,
audaciosa e tudo que eu não imaginei que ela fosse, quando entrou
pela sala ontem à noite. E o melhor de tudo é … que ela não faz a
menor ideia de quem eu sou. A conexão é cem por cento
verdadeira. Enquanto conversamos sobre nossas vidas e as
pessoas que fazem parte dela, ela não pressionou sobre minha
profissão. Evitamos deliberadamente qualquer tema profundo e,
caralho, está sendo ótimo.
Aproveitar a noite sem compromisso nem expectativa.
Estou perdido em pensamentos quando Maddison me
chama.
— Briggs?
Olho para cima, encontro o olhar dela e perco totalmente o
raciocínio.
— Desculpe, a tequila barata está subindo para a minha
cabeça. O que você disse?
O seu dedo mindinho traça a borda do copo e ela ri.
— Eu estava falando que seus amigos parecem ser ótimos. É
maravilhoso ter um grupo de pessoas que conseguem extrair o
melhor de você, podendo ser espontâneo quando está com eles.
— Sim, com certeza tenho sorte por tê-los.
Pego os copos e a garrafa de tequila atrás de mim e nos sirvo
outra dose. Ela pega o copo da minha mão e viramos o líquido ao
mesmo tempo. Mesmo perdendo a conta de quantas doses
tomamos, ainda tem gosto de lixo.
Provavelmente já passa de uma da manhã, mas ainda não
estou pronto para encerrar a noite. Não estou pronto para me
despedir de Maddison.
— Eu tenho uma ideia. Há menos de meia garrafa sobrando.
vamos acabar com ela de uma forma diferente. Quero que você me
diga uma verdade e uma mentira. Se eu acertar qual é a verdade,
você bebe. Se eu errar, bebo eu — sugiro.
— Tudo bem, mas acho que é uma má ideia. Preciso te
informar que sou extremamente competitiva e odeio perder.— Ela
sorri de forma atrevida e, em expectativa, traz a unha rosa bem
cuidada para os seus lábios.
— Tenho a sensação que você está indo direto para as
minhas bolas. — Rio e reviro os olhos de brincadeira.
— Só tentando pensar em algo realmente bom.
Estou tão atraído por ela que não consigo pensar em outra
coisa além do desejo de deitá-la nesse sofá. Ela é uma corrente de
ar fresco. Sua risada, seu humor, sua sinceridade descarada.
Mesmo pensando que estar aqui com ela é a última coisa que eu
deveria fazer, não estou pronto para dizer adeus e subir as escadas.
Eu quero mais. Disso. Dela.
Excitação arrasta pela minha espinha quando ela geme
baixinho em frustração.
— Merda. Tenho tantas boas que não sei por onde começar.
Okay...Okay. Eu fui capitã do time de xadrez e… eu perdi minha
virgindade no estábulo de uma fazenda.
Arregalo os olhos.
— Time de xadrez?
— Das duas opções, é essa que te surpreende? Vá em
frente, me diga qual delas é a verdade e qual é a mentira.
Eu penso por um minuto. Porra, ela é boa. Eu apostaria
dinheiro naquela cara de pôquer, não revela absolutamente nada.
Me faz imaginar quem realmente ela é. Quem está sob esse
exterior de tirar o fôlego?
— Certo. Vou apostar tudo que tenho nessa. A do time de
xadrez é mentira. A do estábulo da fazenda é verdade.
Seus olhos brilham.
— Desculpe, Casanova, mas você provavelmente não
deveria ir ao cassino tão cedo. Beba.
— Sério? — Eu digo, perplexo. Puta que pariu. — Você foi
capitã do time de xadrez?
Ela acena com a cabeça, sorrindo descaradamente.
— Não se surpreenda tanto. Só porque sou bonita não quer
dizer que não seja inteligente. O meu QI é de 180. Beleza e cérebro.
Ela é. Completamente, caralho. Porra, eu amo essa
confiança. É sensual e raro de ver em uma mulher. Ela está
completamente confortável em sua pele e assume isso.
Tomo a dose que me serve e tento não estremecer quando
ainda queima. Merda, quando essa bosta vai deixar de ser tão ruim?
— Tudo bem, vamos lá. — Eu sorrio. — Fui ao meu baile de
formatura com o meu primo.
Ela arregala os olhos, ergue as sobrancelhas em surpresa e
cobre a boca quando dá uma risadinha.
— O que é tão engraçado, Cérebro?
— Sinto muito, mas se isso for verdade vou precisar de um
tempo para história. Desculpe, desculpe, tudo bem, continue.
Balançando a cabeça, eu rio.
— E, eu falo três idiomas.
— Oh, eu vou ganhar isso! — Ela recosta no sofá, com
bochechas coradas os olhos brilhantes por causa do fogo que está
quase se apagando. É tão linda que tira a porra do meu fôlego.
Minhas mãos coçam para puxá-la para o meu braço e beijá-la até
que ela não consiga mais respirar.
— Vou dizer que a dos três idiomas é mentira.
Fico em silêncio por um momento, depois assinto. É verdade,
eu realmente levei meu primo para o baile.
— Ha! Droga, eu deveria ir a Vegas e apostar todas as fichas.
— Ela solta uma risada baixa e rouca. Quando ela se inclina, à
frente da blusa se afasta e eu tenho um vislumbre dos seus seios
fartos e apetitosos.
Rio para reprimir um gemido.
— Veja, Beleza e Cérebro, não se precipite aqui. Você
ganhou duas rodadas, mas eu estou apenas começando. O jogo
ainda não acabou.
— Só estou dizendo que não parece muito bom para você,
companheiro. — O meu coração acelera no peito com a
provocação. Uma batida constante me faz recordar que, mesmo
depois de tudo, ele ainda pulsa em algum lugar dentro de mim.
Pacientemente, me sento e a espero escolher sua próxima
questão. Meus olhos examinam seu rosto, me familiarizando com a
pequena curva dos lábios quando sorri, e a forma como os olhos
parecem brilhar sempre que ela me provoca.
Ela está gostando da surra que está me dando.
— Okay, okay, eu não apostaria tudo nessa. Estou
aumentando a aposta.
Ela arregala as íris douradas com manchas cor de mel e
levanta as sobrancelhas em questionamento.
— Estou ouvindo.
— Se você ganhar essa rodada eu bebo duas doses, mas se
eu ganhar… eu quero um beijo.
Ouço sua respiração delicada, porém profunda,
completamente surpreendida pelo meu pedido e, por um segundo,
imagino se passei dos limites. Depois de um breve momento de
hesitação, ela endurece sua mandíbula com determinação.
— Estou dentro, Romeu.
No momento que decidi provocá-la com essa… aposta
específica, soube exatamente o que dizer.
— Eu quebrei um recorde mundial e… quebrei o mesmo
braço três vezes.
Ela não vacila. Continua coma mandíbula cerrada e muita
determinação no olhar. É sexy pra caralho. Quanto mais admiro a
sua competitividade, mais espero que ela erre esta, porque não sei
se consigo durar mais um minuto sem beijar aqueles lábios.
Os momentos passam e ela fica em silêncio antes de
finalmente falar:
— Recorde mundial.
— É a sua resposta final?
Ela revira os olhos.
— Sim Regis, agora me faça milionária.
Eu não respondo de imediato. Em vez disso, me inclino para
a frente, diminuindo ligeiramente a distância entre nós. Chego tão
perto que consigo inalar o seu aroma floral, limpo e cítrico e sentir
seu hálito quente em meus lábios.
— Errado. Deveria ter ligado para um amigo.
Observo quando ela engole visivelmente, o pulso do seu
pescoço lateja enquanto me inclino para mais perto. Tudo é
permitido com tequila barata e verdade e mentira, e eu vou coletar
meus ganhos.
Seu olhar fixa no meu.
— Você quebrou um recorde mundial?
Eu sorrio, aceno com a cabeça e encolho os ombros.
— Nunca subestime o Romeu, Cérebro.
E então meus lábios estão nos dela. Eu vou de encontro a ela
do jeito que uma onda agitada e hesitante chegaria na praia. Ela é
suave, doce e, porra, quando os lábios dela movem contra os meus
eu uso todo o meu controle para ir devagar, tomar meu tempo e
saborear o momento. Minha língua mergulha na boca dela,
roubando todos os suspiros e os mantendo como reféns. Suas mãos
deslizam pelo meu cabelo e ela se aproxima, pronta deslizar para o
meu colo.
Eu me afasto rudemente, quebrando nosso beijo. Nós dois
estamos ofegantes, e se ela se sente como eu, seu coração ameaça
sair do peito.
Puta merda, isso foi intenso. Maddison levanta a mão e
arrasta os dedos levemente pelos seus lábios agora inchados.
— Desde que te vi, não consegui parar de pensar em como
seria beijar você.
— Não… não me olhe assim — sussurra.
— Assim como?
Ela suga o ar antes de responder:
— Como estranhos não deveriam se olhar.
— Maddison… — Eu começo, mas ela me interrompe
colocando seu dedo nos meus lábios.
— Posso ser honesta com você?
Com sua pergunta repentina, meu coração martela em meu
peito, e minha garganta parece engrossar.
— Sempre.
Ela vira completamente para mim, puxa as pernas na direção
do seu peito e descansa o queixo nelas.
— Esta é a única conversa, desde que me lembro, que
parece verdadeira. Que não é com algum cara que conheci em
aplicativos e parece ter que mentir sobre tudo para me impressionar.
Apenas parece… sincera. E eu nem mesmo sei o seu sobrenome.
— Eu sei exatamente o que você quer dizer. Faz muito tempo
desde que me senti como se pudesse… não sei, apenas conversar
com alguém da forma que fizemos esta noite.
Quase terminamos a garrafa de tequila, e até perdi a noção
de como já está tarde. Inferno, eu não tinha olhado para o relógio
desde que ela sentou perto de mim.
— Eu posso ser honesto com você? — pergunto. Me
aproximo e meu coração bate forte enquanto espero pela resposta.
Ela acena com a cabeça.
— Sempre.
— Eu não estou pronto para encerrar esta noite com você.
Ela abre os lábios e os umedece com a língua.
— Nem eu.
— Tenho uma ideia. Você vai confiar em mim?
— Eu deveria? Confiar em você? Somos estranhos …
lembra? — responde me desafiando por pedir a uma garota com
quem passei menos do que um dia inteiro para confiar em mim,
mesmo que eu tenha passado os últimos dois anos afastando todo
mundo.
Sem acreditar em ninguém depois que traíram a minha
confiança.
— Tem razão. E se eu prometer me comportar muito bem
pelo resto da noite?
Ela se afasta em silêncio e quase posso ver as engrenagens
girando em sua cabeça.
— Tudo bem. Uma noite Romeu.
Uma noite é tudo que eu preciso.
Capítulo Cinco
Briggs

— Você é louco. Totalmente insano.


Encolho os ombros.
— Talvez sim. Talvez não. Mas você ainda vai entrar nesta
água.
Estamos no velho cais de madeira que fica atrás da pousada
e em frente a um enorme lago. Está escuro pra cassete porque a lua
ainda se esconde atrás de nuvens calmas no céu, mas mesmo
fraca, a luz é suficiente para destacar seus traços. A água está
totalmente escura e parada.
— Sem chance. Não há absolutamente nenhuma maneira de
eu entrar nessa água. Nenhuma. Veja, eu sou uma garota do lago, é
verdade. Mas se a água está muito escura e eu não consigo ver o
fundo, passou do meu limite. Não.
Eu sorrio.
— Oh? A Sra. Competitiva é na verdade uma... cagona?
Nossa, Maddison, eu não imaginei que você fosse o tipo de garota
que corre de um desafio.
Tiro a camisa puxando pela nuca e jogo de lado. Os olhos
dela descem pelo meu corpo e param no meu abdome e nas linhas
afiadas do V que seguem para dentro dos meus jeans. Ela não
desvia o olhar quando eu abro o botão da calça e a arrasto para
baixo dos quadris. Apenas fecha os olhos – e geme – quando fico
só com a minha cueca preta colada e prendo o olhar no dela.
— O meu Deus, nós realmente vamos fazer isso? Eu não
imaginei que você fosse o tipo de cara que gostaria de nadar pelado
na calada da noite, em um lugar onde há grande chance de sermos
comidos por alguma criatura aquática.
— Com certeza não há nada nesta água que possa te comer,
mas se você está com tanto medo, então… — Eu me calo, caminho
até o fim do cais, tiro a cueca e deixo de lado.
Ouço um assobio agudo atrás de mim e sorrio. Eu sou o tipo
de cara que vai até o fim. Olho para trás por cima do ombro, pisco
para ela e mergulho de cabeça na água escura. Por estarmos no fim
de agosto está um pouco fria, mas é incrível pra caralho.
Eu volto para a superfície, sacudo o cabelo e grito:
— Coloque essa bunda bonita na água.
Jogo água na lateral do cais, rezando para ela ceder à minha
provocação e se juntar a mim, porque tudo que quero é mais alguns
minutos com essa garota que me desperta um sentimento há muito
tempo adormecido no meu peito.
— Acho que vou ter que contar pra todo mundo que você é
uma perdedora.
Ela fecha a cara para mim e cruza os braços acima do seu
peito.
— Tudo bem. Mas se eu morrer, vai ser culpa sua.
Nervosa, ela olha ao redor, tira as sapatilhas e puxa a blusa
larga pela cabeça revelando um sutiã preto de renda. Seus quadris
são largos e cheios e, mentalmente os adiciono à lista de coisas que
me atraem. Parece que o corpo dela seria bem flexível sob minhas
mãos. Não há nada mais sensual do que uma mulher que tenha
onde pegar. Seus seios maleáveis ameaçam transbordar da taça de
renda que os aprisiona. Em toda minha vida, nunca quis tanto
afundar os meus dentes em uma coisa. Só queria ver se o rubor dos
mamilos rosados combina com o das suas bochechas.
Ela enrola os dedos no cós de seu short jeans e, devagar, a
arrasta pelos quadris. Durante o processo, seus olhos nunca deixam
os meus, é como se fosse um show. Ela se despindo para mim sem
hesitação, embora minha intenção fosse apenas passar mais tempo
com ela.
Mas se é esta direção que está seguindo, não sou eu quem
vai parar.
— Vamos lá! Quanto mais tempo ficar neste cais, maior é a
probabilidade de eu me afogar aqui sem você.
Ela balança a cabeça rindo, estende a mão para trás e
lentamente desabotoa a renda preta, deixando-a cair. Seus seios
perfeitos transbordam.
Minha boca seca, engulo um pouco de água e quase me
afogo de verdade.
Porra, ela é perfeita. Ela muda de um pé para o outro e os
seios fartos e pesados balançam. O tom de rosa dos seus mamilos
é exatamente como eu imaginei. Os bicos enrijecidos imploram por
atenção, gananciosos e desavergonhados. Meu pau desperta no
segundo que fixo o meu olhar no seu corpo macio e flexível.
— Já pra água, Maddison — murmuro, incapaz de aguentar
outro segundo sem tocá-la.
Ela respira fundo e pula no lago, perto de mim. Segundos
depois, reaparece com uma gargalhada.
— Deus, me sinto como uma adolescente agora!
Eu me aproximo bastante, corro minhas mãos pelo seu corpo
e depois espirro água nela.
Ela guincha, joga água em mim para dar o troco e eu rio da
tentativa inútil, balanço o cabelo e deixo respingar nela.
— A água está incrível. Mesmo achando que alguma coisa
pode morder meus pés ou se alimentar de mim, está uma delícia.
Eu concordo com a cabeça.
— Bom saber que você decidiu confiar em mim a respeito de
algo tão sério quanto seus pés. — Me aproximo mais e me inclino.
— Verdade?
Minha voz está rouca com a excitação, quero essa garota
mais do que tudo que quis na vida. Quero passar as mãos no seu
corpo e os lábios em cada parte que eu puder alcançar.
Ela acena com a cabeça. Seus olhos prendem os meus e o
tempo para quando a tensão do ar que nos rodeia parece
multiplicar, ficando mais densa a cada segundo.
— Verdade? — ela sussurra, e o seu peito sobe e desce com
a respiração.
— Sempre.
— Não parei de pensar em como seria te beijar desde o
momento que te derrubei no chão — Maddison sussurra.
Sem perder nem mais um segundo, eu abaixo e cubro os
seus lábios com os meus. Porra, a segunda vez é ainda melhor, se
é que isso é possível. Maddison tem gosto de perdão e retaliação.
Doce e suave, picante e cítrica. Nos últimos dois anos fiz merda
suficiente para durar uma vida inteira. Fiz escolhas que me
arrependi, magoei pessoas que não mereciam minha fúria e me
odiei pelo que estraguei. Sinto que posso ter uma chance de mudar
tudo.
Beijar Maddison parece um indulto por todas as coisas
erradas que já fiz. É como se ela exalasse o bem dentro de mim, um
perdão que eu não mereço por direito. Como se fosse o alimento
para uma fome que, com o tempo, se tornou voraz.
Eu tiro os lábios dos dela e me afasto um pouquinho, olhando
as íris cor de mel que me encaram. Suas mãos enlaçam o meu
pescoço, os seios pressionam o meu peito e as pernas estão em
volta da minha cintura.
— Isto é loucura — ela resmunga contra os meus lábios.
— Quer parar?
Ela balança a cabeça.
— Não, não quero.
Com isso, coloco meus lábios nos dela em um beijo lento e
profundo, inalando cada pouquinho de bondade que ela passa para
mim.
Eu não mereço essa merda, mas sou egoísta o suficiente
para não interromper o que quer que esteja acontecendo.
— Está quase amanhecendo — diz, olhando para o horizonte
por cima do meu ombro.
Droga, nós realmente passamos a noite toda juntos e, na
maior parte do tempo, apenas nos conhecendo.
— Quer assistir ao nascer do sol?
Ela acena com a cabeça, desvencilha dos meus braços e
nadamos juntos até o cais. Ao chegarmos nas escadas, o
cavalheirismo me obriga a olhar para o lado, mesmo que o meu pau
não tenha recebido o memorando e eu esteja morrendo de vontade
de observar o rebolado durante a subida.
Assim que nos vestimos, sentamos ombro a ombro no fim do
cais e olhamos para o sol que nasce lentamente diante de nós.
Estar com ela hoje fez desse dia o melhor que tive em muito tempo.
— Eu quase desejei que o sol não nascesse — ela fala
baixinho olhando para o céu. — Acho que devemos voltar antes dos
outros hóspedes acordarem.
Concordo com a cabeça.
— Sim. Acompanho você? Até o seu quarto?
— Seria maravilhoso.
Levantamos do cais, voltamos para a pousada, entramos
silenciosamente pela porta dos fundos e subimos as escadas. Deixo
que ela lidere o caminho porque não tinha certeza de onde era o
seu quarto, mas me surpreendi quando chegamos à pequena ala
onde também ficava o meu.
— É este. — Ela aponta para a porta que fica em frente à
minha.
— Engraçado porque eu estou neste. — Sorrio, indicando a
outra.
— Hum. Que sorte a nossa. — Apoiando-se na ponta dos
pés, ela planta um doce beijo no canto dos meus lábios, em
seguida, puxa a chave do bolso do short jeans e destranca a
fechadura. — Boa noite, Briggs. Obrigada por esta noite.
— O prazer foi meu.

Então ela desaparece pela porta antiga. Eu


permaneço encarado nela, desejando que fosse a entrada do meu
dormitório.

Assim que volto para o meu quarto, a luz do sol começa a


entrar pelas cortinas transparentes, lançando um brilho quente ao
seu redor. Sorrio como uma idiota ao me jogar na cama.
Porra, hoje foi muito bom.
Exatamente o que eu precisava depois do show de merda
que deixei em Chicago. Pode não ser o que Conrad define como
"desintoxicação", mas me sinto mais leve. Melhor. E eu sei que tem
tudo a ver com a garota dos olhos dourados e boca em formato de
coração.
Estou prestes a ficar só de cueca quando ouço uma batida
fraca e delicada na porta. Olho para ela e tento me lembrar se
coloquei a placa de "não perturbe" antes de trancá-la.
Saio da cama, me aproximo e a abro. Movimento a boca para
falar, mas não consigo pronunciar as palavras porque Maddison
pula em mim e fecha os lábios doces sobre os meus em um beijo
tão inebriante que me faz sentir até os dedos dos pés. Minhas mãos
acariciam o seu queixo, e eu retribuo forte e profundamente. Com
certeza, não há suavidade ou doçura nesse beijo.
É desesperado, intenso e completamente fora de controle.
Ela separa seus lábios dos meus de fala:
— Sei que é loucura, mas tentei dormir e não consegui parar
de pensar em você. Sabe como é? Encontrar um estranho e sentir
um forte desejo de tirar a roupa dele e montá-lo literalmente até o
nascer do sol mas eu só…
Eu a interrompo com um beijo ardente, mostrando em ações
que eu me sentia exatamente da mesma forma, porque sou péssimo
com palavras. Ela não faz a mínima ideia do quanto eu quero isso.
O quanto eu a desejo.
Quebrando o beijo, desço meus lábios pelo seu pescoço
delicado, raspando os dentes pela sua pele, mordiscando a carne
sensível. Cada vez que ela suspira sem fôlego, suas mãos se
fecham no meu cabelo, me puxando para mais perto. Ela estremece
em meus braços quando raspo meus dentes pelo pulso latejante em
sua garganta. Ele bate em sincronia com o meu, numa rápida
sequência que me diz o quanto ela foi afetada pelo meu beijo.
Deslizo minhas mãos para baixo, tentando memorizar cada
centímetro do seu corpo e rezando para me lembrar exatamente da
sensação de tocá-la, quando isso acabar. Ao alcançar a sua bunda,
eu a levanto sem afastar a minha boca. A arrasto para cima do meu
corpo até ela envolver as pernas na minha cintura, e pressionar o
seu centro aquecido contra o meu pau latejante.
Afastando-se, ela murmura sem fôlego:
— Isso é loucura, nós somos loucos.
Sorrio, acariciando as costas dela, sob o tecido fino da blusa.
Minhas mãos tocam a pele nua e ela estremece.
— Pare de pensar, sinta.
— Eu estou sentindo. Mas as vezes o meu cérebro não
desliga e, honestamente é um problema e eu que…
Nervosa, começa a divagar de novo e embora seja fofo pra
caralho, eu preciso informá-la que nunca tentaria avançar se ela
tivesse a intenção de ir devagar.
— Maddison, não precisamos fazer nada que não te deixe
confortável. Você dita as regras aqui. Se quiser parar, basta dizer.
Ela balança a cabeça.
— Não. Não, isso definitivamente não é a minha vontade. Eu
só queria conseguir desligar o cérebro por pelo menos cinco
minutos.
A acomodo na cama e pairo sobre ela com uma mão em
cada lado do seu corpo.
— Confia em mim?
— Sim, mesmo que isso me torne insana.
Sorrio e coloco os meus lábios no seu peito novamente,
beijando o V revelado pelo seu decote, sob o tecido da sua
camiseta. O cabelo loiro espalha acima dela e, do jeito que o sol
bate nos seus fios dourados, parece formar uma auréola.
Ela parece a porra de um anjo, e eu juro que a minha boca
seca quando ela senta, tira a blusa sobre a cabeça e a joga na
cama.
Meus olhos fixam na renda preta que quase não contém os
seus seios e na pele leitosa que parece transbordar das taças. Eu
mal consigo ver os mamilos cor-de-rosa que espreitam pelo tecido,
carentes e suplicantes por atenção. Estendo a mão, empurro a taça
para baixo e chupo o bico rígido em minha boca, rolando-o entre os
dentes até ela ficar ofegante. Descendo com os meus beijos, arrasto
a língua pela barriga reta, mergulhando nas curvas do seu corpo.
Continuo baixando até a minha língua deslizar pelo cós de
seu jeans. Engancho os dedos nele e arrasto pelo seu quadril até
removê-lo.
Nesse momento ela parece uma deusa embaixo de mim, com
a uma auréola de cabelo loiro formada pela luz da manhã.
Seu corpo é perfeito. Agora, na luz do dia, consigo apreciar o
quanto ele é maravilhoso. Tem uma pele macia e flexível que quero
afundar os dentes, ou melhor, que eu planejo afundar os dentes em
um futuro muito próximo.
Suas íris ardentes, verdes e douradas seguram as minhas
enquanto eu corro o nariz pela costura da calcinha de renda, me
conectando com a pequena protuberância gananciosa de seu clitóris
através do tecido. Quando eu o acaricio suavemente, suas costas
inclinam da cama em direção ao meu rosto.
É incrível o quanto ela é receptiva ao meu toque. Meu pau dói
com a expectativa de se afundar dentro dela. Mas não é disso que
se trata, ainda não. Satisfazê-la e observar enquanto ela se desfaz
embaixo de mim apenas com minha língua e minhas mãos é tudo
que eu quero agora. Eu quero descobrir se o gosto dela é tão doce
quanto parece.
Centímetro por centímetro, arrasto lentamente o pedacinho
de renda pelas suas pernas, deixando-a totalmente nua na minha
frente. Meus olhos percorrem seu corpo, na mais lenta das leituras,
enquanto tento gravar sua imagem em meu cérebro, para nunca
mais esquecer. Eu me inclino para frente, beijando a superfície lisa e
nua de sua boceta, sorrindo quando seus quadris flexionam contra
meus lábios.
Levanto as vistas para encará-la enquanto ajoelho entre suas
pernas e seus olhos aquecem. Eles queimam pra caralho. Sem
quebrar a nossa conexão, eu a separo com os meus dedos. Só
então deixo meus olhos voltarem para sua boceta rosa perfeita. Ela
é tão linda que é difícil acreditar que seja de verdade.
Mulheres como Maddison tem os homens de joelhos, e eu
sou a prova disso quando me curvo diante dela. Minha boca saliva
com a expectativa de provar, provocar, de levá-la até o limite. Eu
trago meu polegar para sua boceta e deslizo através de sua
umidade até que a sua ponta áspera encoste no seu clitóris
insaciável.
— Briggs! — ela implora.
Ouço o desespero em sua voz e vejo o seu peito subir e
descer em respirações curtas e superficiais. As mãos agarram os
lençóis ao lado do corpo quando os meus dedos a provocam. Ela
está tensa e desesperada por liberação.
— Você tem a boceta mais bonita — eu elogio. Trilho meus
lábios até a carne sensível de dentro da sua coxa, sorrindo quando
ela remexe na minha boca. Subo, beijando em direção ao ponto que
vai aliviar a sua dor, uma parte de cada vez, arrastando os dentes
pela sua pele.
— Tão rosada e linda. — Continuando a minha trajetória,
paro no ápice da sua coxa, pressiono a língua e depois deslizo para
cima em uma tortura lenta.
— Oh Deus.
— Não sou Deus, linda. Mas vou te venerar se você me
permitir.
Lambo a sua boceta com movimentos lentos e lânguidos e
ela move os quadris quando eu chupo seu clitóris com força.
Empurro um dedo dentro dela e gemo com a compressão ao redor
dele.
Deus, ela é apertada e está encharcada pra caralho. Meu
dedo entra com facilidade e, quando sugo a pequena saliência,
movendo-a com a língua, ela se contrai ao redor dele.
Como um jantar de ação de graças digno de um rei, me
banqueteio mais e mais com sua boceta. Eu a fodo com meu dedo,
lambendo e provocando o seu clitóris, saboreando seu doce sabor
em minha língua. Quando enrijece embaixo de mim, coloco a palma
no seu estômago para imobilizá-la enquanto a devoro.
As mãos de Maddison agarram meus cabelos, puxando-me
para mais perto dela.
— Eu vou… — Sem fôlego, ela interrompe.
— Vai o quê, linda? Fale pra mim. Quero escutar as palavras
saindo da sua boca. — Minha voz está rouca, exigente e grosseira.
Quero ouvi-la dizer que fui eu quem a fez gozar. Que fui eu
quem trouxe a corrente de prazer que está explodindo dentro dela.
— Diga-me, Maddison.
— Eu vou gozar. Deus, Briggs, eu vou…
Puxo o seu clitóris suavemente entre meus dentes, na
mesma hora que insiro outro dedo e giro, acariciando o seu interior
em um movimento tortuosamente lento.
— Isso linda, goze na minha cara — eu murmuro, elogiando-
a. — Boa menina.
No segundo que as palavras saem da minha boca, ela contrai
o corpo e os músculos das suas coxas enrijecem, enquanto ela
pulsa ao redor da minha língua. Ela goza tão forte que parece que a
boceta está apertando os meus dedos. Continuo a acariciá-la por
dentro. A minha língua intensifica o trabalho no seu clitóris até ela
ficar muito sensível e começar a debater em meus braços. Só então
puxo meus dedos do seu corpo. Nossos olhos se conectam e eu os
coloco em minha boca avidamente, sugando-a de meus dedos.
Mesmo tendo acabado de gozar, ela me olha com expressão
de calor. Isto está longe de acabar.
— Briggs…
Um som alto e estridente ecoa pelo quarto, nos fazendo
pular.
— Que inferno é esse? — Eu grito.
Maddison joga a cabeça para trás e ri, sentando-se sobre os
cotovelos, me excitando novamente com a visão dos seus seios.
Perfeitas porções que eu preciso mais e mais.
— Esse é o sinal do café da manhã da Nana.
— Sinal de café da manhã?
Ela acena com a cabeça.
— Você se acostuma. Quer dizer que o café da manhã está
pronto e servido na sala de jantar. — Ela puxa o lábio carnudo entre
os dentes. — Acho que significa que teremos que voltar a isso mais
tarde.
Suas bochechas ficam rosadas. Aparentemente, o rubor
desce pelo seu pescoço até o bico dos seios.
Eu me inclino sobre seu corpo, pairando em alinhamento,
sem toque. Meu pau lateja contra o cós da minha cueca, mas
parece que fomos chamados para o café da manhã, então acalme
amigo.
— Acho que sim. — Encosto meus lábios nos dela e a beijo
lenta e profundamente. É um juramento que ainda não acabamos.
— Não posso acreditar que fizemos isso — sussurra,
descendo dos cotovelos. — Mas eu tenho que te dizer. Você é muito
talentoso.
Eu rio.
— É mesmo?
Ela concorda e senta, conserta seu sutiã, encontra sua
camiseta e passa pela cabeça. Depois de abrir um sorriso largo, ela
se inclina, beija meus lábios rapidamente e desliza para fora da
cama.
— Te vejo no café da manhã.
Quando desaparece pela porta, eu caio de volta na cama e
dou ao meu pau um momento para se acalmar.
Porra.
Essa garota. Ela é incrível. Seu sorriso, sua irreverência, seu
corpo. Foda-se, o gosto dela continua em meus lábios mesmo
depois que ela se foi. O jeito que ela ri das minhas piadas cafonas e
o fato de me enxergar como pessoa, não apenas como um jogador
de hóquei com uma conta bancária recheada me faz sentir como se
eu pudesse ser … eu. Mesmo sendo completamente estranhos, ela
ainda tem a habilidade de me fazer sentir à vontade agindo apenas
como o cara que sou.
Ao entrar nesta pousada, a última coisa que eu poderia
esperar era encontrar uma garota. Principalmente uma garota que
irrompeu como a tempestade em que fomos pegos. A verdade é que
ela é o primeiro sopro de ar fresco que respiro em muito tempo.
Isso tanto me apavora quanto me emociona.
Capítulo Seis
Briggs

Depois do que deveria ter sido um banho rápido, acabou se


prolongando por causa da minha obsessão por Maddison e pelo
gosto dela que ficou nos meus lábios, coloquei um short e uma
camiseta limpa e desci as escadas para o café da manhã.
Se me lembro corretamente, a sala de jantar fica ao lado da
sala principal. Eu levei um tempo para chegar lá porque, enquanto
caminhava, me deparei com algumas fotos no corredor principal que
estou convicto que são de Maddison.
Seu cabelo está mais claro, na altura dos ombros, e ondula
para fora. Ela sorri para a câmera com um sorriso torto e sem
dentes. Ela está adorável pra caralho.
— Ah, esta é Maddison quando tinha cerca de seis anos e
estava convencida que seria a próxima pescadora americana.
Margareth, avó de Maddison, diz ao se aproximar de mim,
admirando a foto com amor em seu olhar. Os óculos estão na ponta
do seu nariz e ela olha por cima da armação.
— Aquela garota, eu juro. Desde quando era um pedacinho
de gente, já estava pronta para enfrentar o mundo.
Independentemente do que fosse, ela estava convencida de que se
se dedicasse, conseguiria qualquer coisa.
Eu concordo com a cabeça. Quando era mais novo, eu era
assim também, ingênuo, tinha estrelas nos olhos. No minuto que
pisei no gelo, me senti imbatível, como um rei olhando para o seu
castelo.
Engraçado como a vida te derruba quando você acha que
está no auge. É a forma dela humilhar você.
— De qualquer maneira, o café da manhã está ali, querido. —
Ela gesticula para o fim do corredor.
— Obrigado.
Com as mãos nos bolsos, caminho até a sala de jantar. Ao
entrar, me recordo do quanto ela é espaçosa. Olhando por fora, a
pousada não parece pequena, mas ela é, definitivamente, dez vezes
maior do que parece. A sala é comprida e tem uma mesa enorme de
carvalho escuro com configurações individuais de lugar, cujo centro
está arrumado com tudo o que você poderia imaginar para um café
da manhã: ovos, bacon, muffins, hash browns, biscoitos.
Inferno, só de olhar eu sei que vou ter que malhar duas vezes
por dia quando voltar para casa, ou vou acabar com a bunda no
gelo.
Com o timing perfeito, meu estômago ronca quando meu
apetite aumenta.
Eu sou um cara grande, o que posso dizer?
Meus olhos correm pela sala à procura de Maddison, e a
encontro no fim da mesa. Ela conversa com um senhor que está
sentado à sua esquerda e, por sorte, o assento à sua frente não
está ocupado. Eu me aproximo e puxo a cadeira para me sentar.
Ela sorri timidamente ao olhar para mim com seus olhos
brilhantes. Quero dizer a ela que, depois de sua boceta ter estado
na minha língua há menos de uma hora, não há motivo para timidez,
mas acho que a mesa de café da manhã da sua avó não é o lugar
indicado para isso.
— Oi — eu sorrio.
Seus olhos de mel brilham.
— Oi.
Nenhum de nós fala mais nada, mas eu sinto que é um
daqueles momentos que não há nada para dizer.
Seus olhos me contam tudo que eu preciso saber.
Segundos depois, sua avó passa pela porta dupla francesa,
fechando a atrás dela. Apesar de ser pouco antes das oito horas da
manhã, seu avental já está coberto de farinha e ela tem uma
mancha na bochecha. Algo que não notei antes.
— Bom dia, pessoal. Sintam-se à vontade para atacar.
Posso dizer que ela é muito parecida com a minha avó, o tipo
de mulher que tem prazer em hospedar e alimentar a todos. Ela
adorava nos receber depois do treino de hóquei, para nos alimentar
e reclamar da sujeira que deixávamos, embora todo mundo
soubesse que vivia para aqueles dias. Ela morreu quando eu era
adolescente e eu ainda sinto sua falta todos os dias.
Todos começam a fazer os pratos, eu inclusive. Encho com
ovos, panquecas e bacon extra porque sou um tipo carnívoro de
cara, e o tempo inteiro troco olhares calorosos e secretos com
Maddison.
Sorrio quando deixa escapar a salsicha ao tentar pegá-la com
o garfo, porque estamos fodendo com os olhos à mesa. Parecemos
adolescentes agora, mas porra, estou totalmente na dela e não dou
a mínima.
Depois que servimos e todos estão sentados à mesa
perdidos na conversa, a avó de Maddison se junta a nós na
cabeceira da mesa com seu prato e fala:
— Maddison, querida, você dormiu bem na noite passada? —
ela pergunta.
Os olhos de Maddison imediatamente encontram os meus e
nos encaramos por um momento. Ela aperta os lábios para reprimir
um sorriso, mas nenhum de nós se contém. Rimos tanto que a
mesa inteira treme à nossa frente.
Sua avó parece alarmada e corre os olhos entre nós dois.
— Sim, Nana, tive uma noite perfeita. Muito prazerosa.
Eu tinha acabado de colocar um pouco dos ovos do meu
prato na boca, e quase morro engasgado com eles.
Jesus Cristo.
Ela realmente é a garota dos meus sonhos. Em carne e osso,
sentada diante de mim.
De alguma forma, consigo me livrar dos ovos e limpar a
garganta com um gole do suco de laranja que está na minha frente.
— Você tem uma pousada adorável, Margareth — digo à sua
avó, abrindo o meu sorriso mais encantador, determinado a
conquistá-la também.
Ela sorri e seus olhos se enrugam.
— Oh, você é tão amável, muito obrigada. Meu marido Henry
e eu trabalhamos nesse lugar antigo desde que não éramos muito
mais velhos do que Maddison. Mamãe e Papai eram os donos, mas
quando resolveram se aposentar passaram para mim e Henry. Com
certeza há muito amor nessas paredes. Agora que Henry se foi e
fiquei sozinha, ainda estão cheias de amor, mesmo quebrando
constantemente e me custando bastante dinheiro. Ela ri baixinho.
Maddison concorda.
— Eu amo isso aqui. Muitas vezes não tenho a chance de vir
por causa da faculdade, mas quando tenho, venho direto para um
fim de semana relaxante, longe do estresse.
Sua avó dá um tapinha na mão dela, sorrindo.
— E nós temos muito orgulho de você, querida.
— Obrigada, Nana.
— Então, qual é a programação de hoje? — a avó pergunta
para ela.
Eu ainda estou metendo o pau na comida. Como não comia
há uma semana, fiquei morrendo de fome de repente. Não consigo
lembrar da última vez que saboreei uma comida caseira além da
que é feita pela minha empregada, que se compadece de mim.
Jantar na casa dos meus pais não faz mais sentido, então somos
apenas eu e todos aqueles cardápios de comidas para entrega.
— Tive uma ideia, as chaves estão na prateleira?
A avó dela balança a cabeça.
— Estão, com certeza. Mas tenha cuidado querida, parece
que pode haver outra tempestade esta noite. Mantenha o rádio
ligado e fique de olho no tempo.
Isso desperta meu interesse e eu olho para Maddison com as
sobrancelhas erguidas, em questionamento. Ela apenas sorri e joga
outra uva na boca. Quem poderia imaginar que comer uma fruta
seria tão sexy?
De alguma forma, ela torna erótico, e eu sufoco um gemido.
Mesmo depois do meu tempo extra no chuveiro, ainda estou meio
duro por causa dela. Isso diz muito, visto que a avó dela está
sentada à distância de um metro.
Eu vou para o inferno. Assinado e carimbado.
O restante do café da manhã passa com uma lentidão
torturante e, finalmente, os hóspedes começam a dispersar.
Margaret passa a recolher o lixo e a louça suja e eu me levanto para
ajudá-la.
— Oh não, querido. Você é um hóspede. Vá se divertir no
lago, por favor.
— Tem certeza?
Ela concorda com a cabeça, sorrindo calorosamente.
— Claro que sim. Vá em frente, tenha um bom dia. — Indo
para a cozinha, ela diz por cima do ombro: — Vocês dois fiquem
longe de problemas, entenderam?
Maddison volta para a sala de jantar, vestindo shorts curtos
desgastados nas pernas, uma camiseta com um biquíni brilhante
por baixo e um sorriso misterioso nos seus lábios cintilantes. Ela usa
um chapéu floppy rosa choque, os cachos loiros caem em cascata
nas costas e o que parece ser uma bolsa de praia no seu ombro,
está cheia até na borda.
— Vai a algum lugar? — eu pergunto.
Ela encolhe os ombros.
— Confia em mim?
Noto que ela devolve minhas falas.
— Sim. Eu seria um insano por isso? — Eu rio.
— Vá lá em cima, pegue um short de banho e uma escova de
dentes. Me encontre no cais em dez minutos.
Antes da minha resposta, ela gira nos calcanhares e eu fico
plantado na sala de jantar, imaginando qual seria o seu plano.
Subo as escadas correndo, escovo os dentes e visto um
short de banho. Esvazio a minha mochila, jogo minha escova de
dentes, uma cueca limpa, uma muda de roupa dentro dela e tranco
a porta atrás de mim.
Quando chego, Maddison está parada perto de um barco
com o nome Lucille escrito na lateral. É velho, mas obviamente,
ainda em excelente forma. A pintura ainda brilha com a projeção da
luz do sol.
— Nossa! — eu digo seguindo para o seu lado. Ela usa
óculos aviador e sorri ao me ver.
— Que tal uma aventura?
Encolho os ombros.
— Dizem que sou um cara meio aventureiro.
Com o sorriso mais largo, pega a minha mão e me leva para
o barco. No segundo que estou em segurança a bordo, ela se
inclina em meus braços e eu a puxo para mim, selando meus lábios
nos dela.
Somos como dois adolescentes apaixonados e, no momento,
não consigo nem me importar.
— Oi — eu digo.
— Oi.
Jogo a mochila no banco que fica na parte traseira e olho ao
redor.
— Belo barco. É de vocês?
Ela se afasta dos meus braços, caminha até a cabine, dá um
giro e meu coração dispara no peito.
— Do meu avô. Acho que a primeira vez que pilotei, eu tinha
uns cinco anos. Quando era adolescente eu conseguia sair sozinha,
porque praticamente vivi atrás do leme desde que aprendi a andar.
É o que mais gosto de fazer quando venho visitar minha avó.
Eu me aproximo e posiciono a mão sobre a dela no leme.
— Então, quer dizer que estou deixando a minha vida em
suas mãos, não é mesmo?
Ela sorri.
— Foi exatamente o que eu disse. Por que, você acha que
uma garota não é capaz de lidar com essa coisa enorme?
Tenho certeza que não foi assim que ela quis dizer, mas, de
qualquer maneira, eu rio e balanço a cabeça com a insinuação por
trás das palavras.
— Não tenho dúvidas de que você possa lidar com coisas
enormes, Mads.
Suas bochechas coram imediatamente.
— Oh Deus, não era essa a minha intenção, eu só queria
dizer…
Eu a silencio com meus lábios, mergulhando minha língua
dentro de sua boca e beijando-a até suas mãos se agarrarem a
minha camiseta.
— Eu sei, linda. Só estou brincando.
O nível de conforto entre nós… é chocante. Conheço a
garota há pouco mais de vinte quatro horas e me sinto mais à
vontade com ela do que com qualquer pessoa que fez parte da
minha vida durante o ano passado. Ao me olhar, não parece que
consiga ver, através de mim, todas as coisas fodidas que eu tenho
feito. Ela parece me enxergar. O meu eu verdadeiro.
O homem que realmente sou.
O cara leal, compassivo e honesto.
— Pronto? — pergunta.
Eu concordo com a cabeça.
— Assim que você estiver. Mas lembre-se que tem uma
mercadoria preciosa aqui.
Ela revira os olhos e se posiciona atrás do leme, que parece
ter o dobro do tamanho dela. Pressiona alguns botões, caminha até
a parte de trás do barco, desamarra-o do cais e pula de volta.
Fico por perto e vejo que ela faz um checklist mental nos
preparando para partir.
O barco é antigo, mas me impressiono com o seu estado de
conservação. Uma escotilha revela um lance de escadas para a
cabine, que leva a entender que, provavelmente, tem um pequeno
quarto, um banheiro e uma cozinha. Há um ponto para mastros, e
uma caixa de equipamentos sob o banco da frente.
Para não causar rastro, Maddison nos afasta do cais com
cautela porque há algumas pessoas nadando na praia. Eu sento no
banco oposto ao dela e observo enquanto ela manobra com
habilidade. Tão feminina e delicada, fazendo algo complicado como
pilotar um barco me surpreende.
— Ouvi dizer que queria ser pescadora profissional, quando
pequena.
Em um movimento rápido, ela vira a cabeça na minha
direção, seus olhos arregalam e o rubor da sua bochecha fica mais
evidente.
— Deus, Nana precisa contar para todo mundo que vê aquela
foto?
Eu rio.
— Adorei. Você era uma criança encantadora.
— Eu queria ser um tanto de coisas — ela fala, pisando no
acelerador e aumentando a velocidade. — Sempre fui uma criança
que tinha grandes ideias, esperanças e sonhos eram ainda maiores.
Por isso levo minha carreira muito a sério. Ela é dominada,
principalmente por homens, mas eu me recuso a permitir que o fato
de ser mulher me atrapalhe de alguma forma.
— Eu respeito a sua atitude. Tenho certeza que as pessoas
que trabalham com você também.
Ela acena com a cabeça.
— Às vezes. Quer vir aprender uma coisa ou duas? — Ela
abre um grande sorriso, mudando de assunto.
Eu caminho até ficar atrás dela, pressionando contra o seu
pequeno corpo. Com facilidade, encaixo meus braços sobre seus
ombros para pegar o leme, e juntos pilotarmos pelo lago. Tento me
concentrar nos diferentes comandos que ela me explica, mas o meu
foco total está no cheiro dela e na forma como o seu corpo encaixa
ao meu. Sinto como se estivesse embriagado. De Maddison.
— Briggs, preste atenção. — ela me repreende, em
provocação.
— Eu não consigo evitar. Você me distrai e eu perco a
concentração. — Com minha mão direita, afasto o cabelo do seu
pescoço, depois corro meu nariz pela delicada inclinação do ombro
bronzeado e dou um único beijo ao longo de seu ponto de pulsação.
— Você me deixa louca.
— Igualmente, linda.
Eu me desvencilho dela e volto a sentar no banco. Odeio
colocar distância entre nós, mas é obvio que ela tem a intenção de
pilotar pelo lago e, enquanto eu tiver tocando nela, não chegaremos
a lugar nenhum.
— Estamos quase lá.
Ela conduz o barco pelo lago com o vento agitando o seu
cabelo loiro e movimentando o chapéu na sua cabeça. Mais à
frente, há uma grande falésia na beira do lago com uma prainha que
parece ser o nosso destino. Quanto mais aproximamos, tenho a
impressão de que o penhasco é mais alto. Todo o lugar parece ter
saído de uma revista de natureza. Dominado por pinheiros, possui
uma costa arenosa próxima a um penhasco de argila coberto por
árvores espaças.
— Nossa, é lindo.
Ela acena com a cabeça.
— É o meu lugar favorito, vamos atracar no cais logo ali.
Podemos deixar as bolsas no barco, no quarto de baixo.
— Maddison, estou chocado. Você pensou que eu estava
pronto para uma festa do pijama?
Ela revira os olhos com a minha provocação.
— Eu preciso te lembrar do que fizemos mais cedo, antes do
café?
— Quer saber? Sim. Eu preciso de uma lembrança. Na
verdade, você pode me fazer um relato detalhado, embaixo do
convés.
Ela empurra meu ombro ao passar para amarrar o barco.
— Você é incorrigível.
Depois de ajudá-la amarrar o barco, seguimos abaixo do
convés e colocamos nossas malas na cama queen-size. Tenho um
metro e noventa e, é bem provável que meus pés fiquem
pendurados para fora. É apertado, mas aconchegante. Além do
quarto, há uma pequena cozinha e um banheiro simples, com um
vaso sanitário à direita do chuveiro.
O meu eu de um metro e noventa, precisa abaixar para
passar pelas portas, e Maddison acha engraçado pra caralho.
— Eu não tinha percebido como você é alto até te ver aqui.
— Ela dá uma risadinha e senta na cama, se apoiando nos braços.
Ela está apetitosa e eu não deixo de dizer a ela.
— Por mais que eu queira te devorar em cima desta cama,
acho que se não sairmos daqui nos próximos trinta segundos, não
veremos nada além desse barco.
Seus olhos se derretem, mas ela se levanta e passa, me
olhando por cima do ombro com um sorriso malicioso ao subir as
escadas.
Esta garota vai me matar.
Sigo-a até o cais, onde ela pega sua bolsa de praia.
— Pronto?
— Pra?
Ela olha para o topo do penhasco e depois volta para mim
— Nós vamos pular.
Arregalo os olhos.
— Nem pensar. Nós não vamos pular da porra de um
penhasco, Maddison — gaguejo.
Inferno, eu não tenho medo de muitas coisas, mas de altura?
Sim, está no primeiríssimo lugar da minha lista. Nem morto eu subo
lá.
Maddison chega mais perto, coloca as mãos no meu peito e
me encara com seus grandes olhos salpicados de dourado.
— Você tem medo de altura?
Engulo em seco, encaro o penhasco e fecho os meus olhos.
— Tenho.
— E eu aqui pensando que você era destemido, Briggs.
Lembra que ontem você me chamou de cagona por eu não querer
pular naquele lago totalmente escuro, no meio da noite?
Nem fodendo. Não há motivo que me faça subir lá. Nem
mesmo se ela me chamar de cagão.
Ela suspira fundo e bate os cílios dramaticamente.
— Acho que, no fim das contas, não vou te dar aquilo que
venho pensando desde cedo.
— Mulher, agora você está me chantageando?
— Chame do que você quiser, mas… ela encolhe os ombros,
para de falar e começa a andar na direção do penhasco.
Ela vai me abandonar aqui e pular desta coisa sozinha. Nem
fodendo.
Eu gemo.
— Porra.
Isso não está acontecendo. Eu venho para esse lugar no
meio do nada a fim de desintoxicar e relaxar e, de alguma forma,
encontro a mulher dos meus sonhos que me faz pensar em pular
dessa coisa maldita. Vou voltar para Chicago em um caixão. Adeus
carreira de hóquei, adeus vida.
— Nós vamos morrer — digo a ela com sinceridade.
Maddison ri e o som me atinge direto no estômago. É suave e
feminino, doce pra caralho.
— Você é muito dramático. Nós não vamos morrer, Briggs.
Sabe quantas crianças pulam dessa coisa todo verão?
Eu olho para a monstruosidade iminente e, se meu estômago
embrulha só de pensar em escalar, imagine pular. O seu tamanho
assustador me dá dor de barriga.
— Bem, que tal apenas nadar e reprisar o que aconteceu
antes do café da manhã?
Com um sorriso malicioso, ela caminha de costas pelo cais
em direção à trilha que leva ao penhasco e eu gemo de novo.
— Eu não acredito que vou fazer essa merda.
Ela ri.
— Enfrentar seus medos é libertador, Briggs. Não importa se
eles são grandes ou pequenos.
— Sim, certo. — eu resmungo.
Quando chego perto, ela pega a minha mão e aperta com
suavidade, me tranquilizando. Continuamos no caminho que leva
para o topo, e eu sei que é melhor não olhar para o penhasco para
não desmaiar.
Durante toda a subida eu fico me animando. Me dizendo que
é só uma porra de um penhasco e que eu tenho capacidade. Que a
coisa toda só vai durar cinco minutos. Eu consigo pular. Eu vou
pular.
— Você está bem?
Eu concordo com a cabeça.
— Tentando me convencer que nós dois não vamos morrer.
Ela para, vira na minha direção e passa a mão pela minha
barba.
— Eu juro para você. Nós não vamos morrer. Além do mais, a
vista… é incrível. Você precisa ver. E depois que pular a primeira
vez, vai querer de novo.
— Tenho minhas dúvidas.
Finalmente, depois de vinte minutos de caminhada chegamos
ao topo e avistamos o lago inteiro. Dá para ver o que parecem ser
quilômetros, por cima das árvores.
— Inferno. — praguejo.
— Vamos sentar?
— Sim, por favor — eu balbucio.
Encontramos um lugar a uma distância aceitável da borda
que, de imediato, me fez sentir melhor
Maddison solta uma risadinha ao pegar na minha mão e
sentir a umidade.— Sinto muito por te instigar a subir aqui.
— Eu estou bem. Não sou muito fã de altura, é só isso.
— Vou te contar outro medo meu e você tem total permissão
para rir, porque eu sei que é ridículo. — Ela diz, olhando para mim
com o seu cabelo loiro caindo sobre os ombros como uma cortina.
— Duvido que eu vá rir, mas tudo bem, me faça sentir melhor.
— Jack in the box.
Meus ombros sacodem com a minha risada.
— A rede de fast food?
— Oh meu Deus, não! É um brinquedo dos anos cinquenta
que você gira a manivela e uma coisa pula para te assustar. Sério,
eu não entendo o motivo de comprarem essas coisas assustadoras
para crianças.
— Tudo bem, eu admito que estas coisas são estranhas.
Acho que minha avó tinha uma quando era mais jovem e guardava
como se fosse uma relíquia ou alguma merda assim, mas nenhum
de nós tocava quando estávamos por lá.
— Tá vendo? — ela exclama, rindo. — Pelo menos não sou a
única. Eu me sinto melhor agora.
Acaricio sua mão, fazendo círculos suaves com o meu
polegar. Contemplamos a distância, confortáveis apenas em
estarmos... juntos, sem nenhuma pressa de deixar o momento
passar. Posso dizer que foi a primeira vez na minha vida que me
senti muito ligado a uma mulher, com tanta facilidade.
— O que mais te assusta?
Eu pondero antes de responder. Meus medos não eram todos
estereotipados, como alturas ou aranhas. A maioria deles eram
medos internos contra os quais eu lutava diariamente.
Consequência dos últimos anos da minha vida.
— Fracassar. Dar todo o meu amor para alguém apenas para
ser traído. — eu sussurro.
Eu não tenho certeza se teria capacidade de amar alguém e
me entregar totalmente outra vez. Não depois de tudo que passei.
Não sei se consigo confiar totalmente em outra pessoa.
Eu odeio isso. Odeio o que eles fizeram comigo. Por estar
muito ferido, fiquei relutante em acreditar em qualquer pessoa.
— Confiar é difícil. Eu estive lá, passei por isso. Lembra
daquele problema que eu não queria falar?
Eu concordo com a cabeça.
— Eu e meu melhor amigo brigamos por um motivo que se
transformou em algo muito maior. Palavras que não podem ser
retiradas foram ditas, e isso magoa muito. Dói, mesmo que sejam
apenas por causa da raiva. Você não pode desdizer, mesmo que
tenha dito só por causa da dor. — Ela fala baixinho com os olhos
cheios de tristeza.
— O motivo não faz doer menos. Eu entendo. Eu… magoei
muitas pessoas na minha vida recentemente e, mesmo que eu
tenha uma razão verdadeira para agir daquela forma, o sofrimento
delas não foi menor. E agora vivo com a culpa, de tudo que fodi ao
lidar com a minha dor.
Maddison segura a minha mão, fazendo círculos suaves com
o polegar. Esse momento parece verdadeiro e natural, como se
fosse a primeira conversa espontânea e sincera que tive em anos.
Seu olhar segura o meu e uma eletricidade passa entre nós
dois. Algo tangível. Uma explosão de energia que nos une nesse
momento.
— A vida não é só preto no branco, Briggs. Às vezes as
bordas não são arredondadas e você precisa permitir que os cantos
afiados te perfurem para se curar e fazer melhor do que antes — ela
fala baixinho.
Capítulo Sete
Briggs
Repito as palavras dela várias e várias vezes, para a ficha
cair.
— Sei que combinamos de não falar sobre os nossos
problemas, mas eu não sei, depois deste fim de semana, sinto como
se pudesse te falar sobre qualquer coisa. Sinceramente, mais do
que com muitas pessoas na minha vida. Então, se você quiser
conversar... estou aqui para você também. — ela diz calmamente e
seus olhos suavizam ao encontrarem os meus.
Dou um pequeno sorriso.
— Só se você me falar sobre os seus.
Ela respira fundo e concorda com a cabeça.
— Okay. Ela vira para mim, puxa os joelhos até o peito e
começa: — Tyler é o meu melhor amigo. Nós crescemos muito
próximos e fazíamos tudo junto. Tudo mesmo. Eu não consigo
lembrar de nada da minha infância que Tyler não tenha participado,
passávamos nossos verões aqui com vovô e vovó, nesse mesmo
lago. Fomos juntos para a faculdade. Nossos dormitórios ficavam
em lados contrários do campus, mas guardamos dinheiro dos
nossos trabalhos de meio período e, por fim, fomos morar juntos.
O pensamento de ela ter tido algo mais com esse cara me
irrita, e percebo o quanto é estúpido. Não tenho direito, mas a
chama de ciúmes dentro de mim não se apaga. Eu não sei seu
sobrenome, nem de onde ela é. É uma aventura, mas não me
impede de sentir assim.
Ela olha para o horizonte, mordendo o lábio inferior.
— Todo mundo acreditava que ficaríamos juntos. Sabe,
estávamos sempre juntos, mas conosco não era assim. Nenhum de
nós tinha algum sentimento que fosse mais do que platônico. — Ela
interrompe e volta a olhar para mim. — Outra noite, tivemos uma
briga boba, estúpida. Ele ficou zangado com… um lance do meu
trabalho. Algo que ele discordava e nós dois dissemos coisas que
não queríamos e, uma vez falado… não tinha como voltar atrás. Era
tarde demais. Elas já haviam perfurado meu coração e eu não podia
simplesmente esquecer que foram ditas. Eu venho lutando, tentando
salvar a nossa amizade, nos resgatar apesar do que foi falado. —
Ela limpa uma lágrima que caiu. — Quer dizer, ele me conhece
melhor do que qualquer outra pessoa. Ele sabe do meu caráter e
quem eu sou de verdade. Eu só pensei que ele fosse me apoiar,
independente de tudo.
Seus olhos enchem de lágrimas.
— Ele é como um irmão para mim, eu o amo e sei que ele
nunca me machucaria. Ele só … preocupava demais e estourava
comigo na hora da raiva.
— Vem cá — eu digo, envolvendo-a com os meus braços.
Seu corpo pequeno se encaixa no meu peito enquanto sobe no meu
colo e se entrega ao meu abraço. Ela funga, e eu me sinto mal por
trazer essa merda à tona em primeiro lugar.
— Nós nos desculpamos e combinamos de seguir em frente,
mas… eu fiquei chateada e não consigo esquecer o que aconteceu.
Eu só… queria que ele nunca tivesse falado aquelas coisas.
Concordo com a cabeça.
— Eu entendo. Você tem todo direito de se magoar, mas as
pessoas dizem muitas coisas quando estão irritadas. Confie em
mim, eu já fiz isso demais. Todo mundo é digno de perdão. Parece
que vocês se amam e vão superar, independentemente de qualquer
coisa.
Seus olhos cheios de lágrimas encontram os meus e
compartilhamos um olhar tão intenso que me causa borboletas no
estômago. Ela se inclina e me beija com doçura.
— Obrigada, Briggs. É um conselho e tanto.
Parte de mim tem curiosidade de saber qual é o problema
que o seu amigo tem com o trabalho dela, mas concordamos em
nos mantermos estranhos e eu não quero aproveitar desse
momento de vulnerabilidade com minhas dúvidas, então escolho
algo mais leve.
— Você é uma espiã? — eu pergunto. — Porque é o que
parece, e eu quero te dizer que sou muito bom com coisas do tipo
Sr. e Sra. Smith. Acho meio sexy. — Eu digo para aliviar o humor.
Ela joga a cabeça para trás e ri.
— Não é bem assim. Nada tão escandaloso, Romeu. Agora é
a sua vez. Eu te revelei a minha verdade.
Inferno, eu não estou pronto para essa conversa. Acho que
nunca vou estar. Aquela dor familiar surge dentro de mim, e eu a
controlo.
Mesmo que me doa falar em voz alta, eu digo e acho que
Maddison tem tudo a ver com isso.
— Encontrei meu irmão transando com a minha noiva, na
nossa cama.
Assim que as palavras saem da minha boca, Maddison
endurece nos meus braços e suspira fundo.
— Oh Briggs — ela sussurra, vira no meu colo e coloca uma
perna de cada lado do meu quadril, enquanto passa as mãos pela
minha barba por fazer. — Sinto tanto.
Eu pigarreio, tentando liberar a minha garganta da emoção
que quase me sufoca.
— A verdade é que não me incomodei em perdê-la, ela
nunca foi a pessoa certa para mim e essa palhaçada abriu os meus
olhos. Mas, perder meu irmão? Isso me matou. Me mata até hoje.
Colocar para fora deveria me aliviar, mas sinto ainda mais
mágoa e rancor por Beau e tudo que ele causou à nossa família. A
mim.
— Nem preciso dizer que isso fodeu com a minha confiança.
Fui traído pelas duas pessoas mais importantes para mim. Eu perdi
o meu rumo, literal e figurativamente. Magoei todos que amava
porque estava decepcionado. Você já ouviu dizer que, se com ferro
foi ferido, com ferro vai ferir? A minha vida foi assim por dois anos.
Eu fodi com tudo o tempo inteiro e agora… agora estou tentando
consertar os meus erros. Mas parece que onde quer que eu vá,
continuam a me lembrar deles e eu nunca consigo superá-los.
Um olhar que não consigo identificar passa pelo rosto de
Maddison. Pena? Provavelmente. Por isso eu nunca quis que ela
soubesse quem eu sou. Por isso eu não falei sobre hóquei, ou
assuntos que possam surgir quando estamos sob o olhar de uma
plateia. Tenho medo de ela encontrar todos os artigos sobre as
minhas cagadas, descobrir o cuzão que fui nesses últimos dois
anos, e nunca mais me olhar da mesma forma.
Ela me conhece além dessa merda que me afunda. O
verdadeiro eu, sem essas palhaçadas.
— Me escute. — Ela vira o meu rosto com as mãos e meus
olhos encontram os dela. — O seu passado não te define, você tem
o direito se magoar. Pode fazer qualquer coisa para seguir em frente
e, desde que sirva de aprendizado, as pessoas que te amam não
usarão isso contra você. É crescimento. Não dê mais nenhum
segundo da sua vida para aqueles que não te merecem.
Sem parar para pensar, me inclino e dou um beijo nela.
Mostrei o quanto eu precisava dessas palavras para sentir, pela
primeira vez, que sou mais do que um monte de merda. Que a dor e
a traição são apenas temporárias e que um dia serei melhor do que
antes.
Eu me perco nela. Ignoro o resto e apenas sinto os seus
lábios sob os meus. O seu corpo me conduz de uma forma
libertadora.
— Merda! — ela sussurra nos meus lábios, ainda
pressionada em mim enquanto respiramos com dificuldade.
Eu me afasto para trás e vejo do que ela está falando. O céu
ao nosso redor escureceu e nuvens de tempestade apareceram de
repente.
— Temos que ir. Agora. — Ela salta do meu colo e joga a
bolsa sobre o ombro. Pego a mão dela e, desta vez, não perdemos
tempo ao descer a trilha em direção ao barco. A última coisa que
precisávamos era que outra tempestade – como a de ontem quando
chegamos na pousada – nos pegasse. Uma chuva torrencial.
Quando chegamos ao sopé, a chuva começou a cair em
gotas grandes e pesadas. Nós pulamos para dentro do barco.
Enquanto ela liga o motor eu nos desamarro do cais e uso o pé para
pegar impulso.
Mesmo com chuva caindo de todas direções e nos
encharcando completamente, Maddison nos leva de volta com
rapidez. Eu a ajudo amarrar o barco e corremos de mãos dadas em
direção à pousada. Estamos encharcados até os ossos e Maddison
ri durante todo o caminho. O cabelo loiro ensopado gruda no seu
rosto e, mesmo parecendo um pinto molhado, ela está gostosa pra
caralho.
Chegando na varanda, paramos para tentar recuperar o
fôlego enquanto a chuva cai ao nosso lado.
— Puta merda, o céu tá caindo! — Ela ri, tentando torcer o
cabelo.
— Eu sei. Surgiu do nada.
Ela acena com a cabeça.
— Bem-vindo à vida no lago.
Estendo a mão e puxo-a para o meu corpo. Seus mamilos
rígidos pressionam contra a blusa e sinto os bicos arrepiados no
meu peito.
— Você é tão linda — digo a ela, segurando seu rosto e
passando o polegar na sua bochecha. — Tão linda que dói.
— Não quero te causar dor, Romeu. — Ela dá um sorriso
travesso, fica na ponta dos pés e enlaça as mãos no meu pescoço.
No segundo que a sua boca toca a minha, o dilúvio ao nosso redor
faz dissipar o fato de estarmos congelando na chuva fria de verão, e
a realidade de que qualquer pessoa poderia nos pegar beijando
como adolescentes. Nada mais importa além dos seus lábios e dos
seus gemidos quando deslizo minha língua na sua boca e a beijo
até perder o fôlego.
— Briggs — ela murmura ao interromper o nosso beijo. — Lá
em cima. Agora. Por favor.
Não precisa me pedir duas vezes. Estou morrendo de
vontade de tê-la de novo desde que a devorei esta manhã. Em cada
segundo do dia, desejei estar entre aquelas quatro paredes e poder
me fartar dela.
Suas mãos atrapalhadas abrem a porta e revelam um hall
vazio. Obrigado Senhor! Por mais que eu a queira, prefiro que seja
em um lugar privado, longe da sua avó ou qualquer outro
espectador.
A porta bate às nossas costas. Sua mão agarra a minha
camisa me puxando em sua direção e tomando o que precisa. Eu a
beijo com força, mordiscando aquele lábio inferior que me
enlouqueceu nas últimas quarenta e oito horas. Quando o rolo entre
os meus dentes ela geme na minha boca, enviando uma onda de
excitação direto para o meu pau.
— Silêncio — sussurra contra os meus lábios e eu concordo
com a cabeça.
Nesse ritmo, nunca subiremos as escadas. Nossos beijos se
tornam mais impacientes a cada degrau e se repetem
desesperadamente no nosso trajeto para o quarto. Que se dane! No
meio do caminho tiro os seus pés do chão e a arrasto para cima
pela bunda. Ela envolve as pernas na minha cintura e mexe o
quadril e nos faz gemer.
Quando o barulho ecoa nas escadas, ela se afasta com os
olhos arregalados e coloca um dedo nos lábios.
— Shh.
Antes que eu possa responder, ela cola a boca na minha
outra vez, e passa os dedos pelos meus cachos ensopados. Enfim,
subimos as escadas e chegamos no meu quarto. Coloco Maddison
de pé para tirar a chave do meu bolso e abro a porta. Empurro-a
para dentro, tranco a fechadura e fim de jogo.
Ela tira a blusa pela cabeça, puxa a corda do seu biquíni, e
ele cai livremente. Os seios pesados e cheios transbordam e os
mamilos rosados e rígidos ficam em posição de sentido, pedindo
para serem sugados. Para serem mordidos.
Seu olhar escurece ao me ver observando o seu corpo. Ela
abre o botão do short esfarrapado e o desliza lentamente pelos
quadris. Centímetro por centímetro até ele cair aos seus pés, e ela
ficar apenas com o minúsculo triângulo do seu biquíni atrevido.
Minha boca seca. O corpo dela é lindo pra caralho e eu
preciso de todo o meu controle para manter as mãos longe dela e
assistir ao show que ela está dando. Minhas mãos coçam para
correr pelas amplas curvas e cavar meus dedos na sua carne
enquanto a fodo.
Mordendo os lábios, ela desamarra os cordões laterais da
calcinha do biquíni que cai no chão imediatamente, deixando-a
completamente nua. É um espetáculo a ser observado.
— Porra! — praguejo, mordendo o meu punho.
— Sua vez — ela sussurra, subindo as mãos pelo corpo até
chegarem aos seios. Eu a observo girar os mamilos entre os dedos.
Estendo a mão atrás da cabeça, tiro a camisa molhada que
está colando no meu corpo e jogo para o lado. Chuto os sapatos e
empurro a sunga até ela cair aos meus pés. Quando nossos olhos
se encontram, a expressão dela é de puro desejo.
Foda-se.
Eu diminuo a distância entre nós e acaricio os cabelos sua da
nuca. Puxando-a para mim, fecho os lábios sobre os dela e gemo
quando, levemente, arrasta as unhas pelo meu estômago.
Estamos desesperados por isso. Um pelo outro. Eu a carrego
até a cama e a coloco sobre o colchão macio. Rindo, ela arrasta
para trás em provocação. Eu agarro o seu tornozelo, puxando-a
para mim. Prendo o seu mamilo eriçado entre os dentes e chupo
um, depois o outro. Em seguida, beijo a carne sensível ao redor
deles e sugo a pele, cansado de saber que vou deixar marcas.
Eu quero. Não, eu preciso marcá-la, para mostrar ao mundo
inteiro que ela é minha, nem que seja apenas por agora.
Enquanto admiro seus seios gloriosos, ela empurra meu
peito, e nos gira. Com a sua boceta encostada no meu pau e
apenas uma fina barreira formada pela minha cueca ensopada, ela
balança para frente e para trás. Um gemido sem fôlego sai dos seus
lábios e, juro por Deus, eu quase gozo. Meu pau lateja, sintonizado
com o coração que bate no meu peito. Maddison me dá um sorriso
atrevido, inclina e captura o meu mamilo com a boca.
Ela suga um e arrasta a unha pelo outro, enquanto acaricio o
meu pau, desesperado para me afundar dentro dela.
Seus lábios descem acompanhando as suas elevações do
meu abdômen, até encontrarem o caminho de pelos que leva até a
minha cueca. Ela traça o cinto de Adônis com a língua e meus
quadris estremecem.
Porra, ela causa um frenesi dentro de mim. Me sinto como
um homem das cavernas, pronto para me libertar e reivindicá-la de
todas as maneiras possíveis.
— Deus, você deve treinar vinte quatro horas por dia, sete
dias por semana.
— Tipo isso. — Solto um gemido quando ela, suavemente,
beija o meu pau sobre o tecido molhado e depois o libera,
enganchando os dedos na minha cueca e arrastando para baixo.
Ele bate na minha barriga, duro e ereto com líquido ejaculatório
escorrendo pela abertura.
Ela me envolve com mãos minúsculas, e bombeia sem
pressa, me torturando antes de se inclinar e fechar aquela boca
perfeita em forma de coração, ao redor do meu pau.
Se eu pensei que o paraíso existisse antes desse momento,
foi um engano. Ele só existe se Maddison estiver presente. Eu não
sei o que fiz para merecer depois de tanta merda. Mas, Deus, ela é
como um anjo.
Um anjo com uma boca capaz de fazer qualquer homem
pecar. Eu não hesitaria em realizar qualquer pedido ela me fizesse
agora.
— Poooorra! — eu gemo. Alcanço seu cabelo com as mãos e
os envolvo ao redor do meu pulso. Meus quadris flexionam quando
ela me insere na sua boca. Maddison não hesita e, em movimentos
rápidos me permite alcançar o fundo da sua garganta. Depois de
poucos segundos torturantes, estou a ponto de explodir. Ela me
bombeia e me leva profundamente na garganta, consumindo o meu
pau.
Com uma mão acariciando minhas bolas, ela suga a minha
vida para fora de mim.
Tão forte que me faz ver estrelas.
Sinto algo crescer dentro de mim, despertando e fazendo a
base da minha espinha formigar. Minhas bolas se enchem e estão
prontas para explodir quando eu me afasto da boca dela. Sua boca
é o último lugar onde eu quero gozar, eu desejo que seja dentro
dela.
— Estou quase gozando e mal posso esperar para me
afundar em você. — falo antes de beijá-la. Deito Maddison na
cama, embaixo de mim, e levo os dedos até a sua boceta, e a
encontro encharcada. Meus dedos escorregam com o contato. —
Quer que eu te faça gozar, garota gananciosa? — pergunto.
Acaricio o seu clitóris com o polegar e o gemido que ela dá
vai direto para o meu pau. O melhor som que já ouvi. Formando
pequenos círculos, acaricio a sua pequena protuberância. Ela
afunda as unhas no meu antebraço, me segurando firme. Nós dois
estamos ansiosos. Parecemos muito necessitados e eu duvido que
qualquer um de nós consiga impedir o que vai acontecer no
momento que eu entrar no calor úmido dela.
— Por favor — Maddison implora.
— Fala pra mim linda, fala pra mim o que você precisa.
Ela me olha com as pálpebras pesadas.
— Eu preciso que você me foda. Não posso esperar nem
mais um segundo. — Ela abaixa, e segura o meu pau guiando-o
para a sua entrada, até que a minha mão substitui a dela e eu
deslizo a glande pela boceta ensopada.
Empurro devagar. Gentilmente insiro apenas a cabeça, e
gememos em uníssono. Ela é tão apertada, que mal posso respirar.
É como se todo fluxo de ar direcionado para o meu cérebro, fosse
cortado pelo aperto da sua boceta no meu pau.
Desse jeito não vou durar. Assim não. Não com ela.
Ela é tão incrível que eu começo a recitar o alfabeto na
cabeça, me esforçando para não explodir sem trazê-la comigo.
Deslizo minha mão pelo seu corpo, seguro o quadril dela para
levantar a perna e deslizar para dentro, centímetro por centímetro
até me acomodar totalmente. Seus olhos estão bem fechados e eu
dou a ela um momento para se ajustar.
Só depois que ela abre os olhos e um suspiro delicioso e
ofegante escapa dos seus lábios, eu me empurro mais fundo dentro
dela.
— Tudo bem?
Ela assente com entusiasmo.
— Mais. — Sua voz baixa e rouca, misturada com excitação
me atinge por dentro e acaricia o meu lado primitivo que é louco por
ela. Saio quase totalmente e deslizo de volta, afundando de vez. A
cada investida dos meus quadris, sinto a cabeça do meu pau atingir
o útero dela.
Toda vez que empurro, ela geme mais alto. Sabendo que o
corredor inteiro pode nos ouvir, eu a silencio com a minha boca.
Minhas mãos percorrem dos quadris até o bico dos seios dela e eu
os enrolo entre o polegar e o indicador. Deixo minha testa encostar
na dela e fodo como se ela fosse uma tábua de salvação, e a única
maneira de sair desse quarto, inteiro novamente depois de tanto
tempo quebrado.
— Briggs — ela clama. Sinto-a me sugar, apertando ao redor
do meu pau.
Com nossas testas unidas, estamos presos nesse…
momento tão grandioso que as paredes altas que nos cercam não
conseguem conter. Traz uma sensação de poder. É emocionante.
Uma puta transformação.
Algo que nunca experimentei com ninguém mais.
— Eu sei, linda — eu sussurro, entendendo o seu clamor. Eu
senti pra caralho. Até nos meus ossos. Uma conexão que nunca tive
antes desse momento.
Eu deslizo minhas mãos pelo seu estômago até chegar no
clitóris. Esfrego círculos rápidos enquanto a fodo, empurrando e
tirando o pau com investidas fortes e profundas. Junto nossas mãos
acima da cabeça dela, e os seus olhos prendem nos meus.
— Goze para mim. Goze no meu pau, Maddison — Eu
comando e levo a mão para o seu clitóris, usando os dedos e o meu
pau para levá-la ao limite. Noto a pulsação dentro dela, ao redor do
meu pau sólido como rocha. Suas unhas arranham as minhas cosas
tão profundamente que sinto a ardência e foda-se, eu fico ainda
mais duro.
Eu quero possuir cada centímetro dela.
— Agora, linda. — incito. Segundos depois, entramos em
êxtase e explodimos juntos. Uma bomba com um milhão de facetas
diferentes, todas brilhando na luz. A boceta dela comprime ao meu
redor quando eu empurro profundamente, gozando com um rugido.
Ela grita curvando as costas na cama e o seu corpo treme
com um orgasmo tão intenso quanto o meu. Minhas estocadas
diminuem e, gradualmente, desço do paraíso para a terra. Estamos
pegajosos de suor quando caio ao seu lado na cama, trazendo-a
comigo. Meu pau ainda está enterrado dentro dela, e é tão bom que
se eu pudesse, ficaria aqui pelo resto da minha vida.
— Nossa! — murmura contra a minha pele.
Eu a aperto um pouco mais e enterro o rosto no seu cabelo.
— Vou levar isso como um elogio.
Ela ri, se aconchegando mais em mim.
Foi intenso pra caralho, sem dúvida o melhor sexo da minha
vida.
Intenso nem parece ser forte o suficiente para definir o que
acabou de acontecer. Mas agora, com a força do meu êxtase, não
tenho palavras.
Seja lá o que for, pareceu… mais. Maddison parece ser mais.
— Se vamos perder isso, é provável que continuar como
estranhos não vai ser vantagem. — É uma provocação e, ao mesmo
tempo, não é. Eu a quero de novo. Agora mesmo meu pau se
contorce com o pensamento de estar dentro dela.
Seus grandes olhos cor de avelã movem de encontro aos
meus, quando sua mão minúscula envolve o meu comprimento
duro. O desejo se acende nas profundezas, eu a giro por cima de
mim e passamos o resto da noite fodendo em cada superfície do
quarto, até ela finalmente cair, sem força. Depois de poucos
minutos, Maddison amolece em meus braços e logo que sua
respiração estabiliza, eu sigo atrás dela.
Adormeço com a cabeça dela no meu peito e o meu sono é o
melhor que tenho em meses. Talvez até anos. Pela primeira vez, a
última coisa que penso antes de fechar os olhos não é no quanto eu
odeio em quem me transformei, como muitas vezes no passado. Eu
agradeço quem quer que esteja lá em cima, por essa mulher que
me fez sentir de novo.
Até a manhã seguinte, quando acordo com a cama fria e
vazia.
Abro os olhos, a luz do sol brilhante e quente passa pelas
cortinas transparentes e eu descubro que ela se foi.
A única coisa que ficou no seu lugar…
Foi uma nota confusa que diz: "Sinto muito."
E apenas assim …o melhor fim de semana da minha vida
acabou.
Capítulo Oito

Maddison

Nove Meses Depois


— Pegou o cobertor? — pergunto por cima do ombro,
observando a pilha de roupas e coisas aleatórias no tapete azul
escuro à minha frente.
— Sim.
— E o creme?
— Peguei também.
O peso nos meus ombros, ou melhor, no meu corpo inteiro,
me faz bufar. Tudo dói e eu quero dizer... tudo. Estou dolorida em
partes que eu nem mesmo sabia que existiam, até agora.
— Maddison, você já conferiu tudo pelo menos umas três
vezes. Acho que você está tão preparada quanto poderia estar.
— Eu estou grávida de trinta e nove semanas, Ty. Estar muito
bem preparada é o melhor que eu posso fazer.
Ele olha com simpatia e me puxa para um abraço – do jeito
que dá – com uma barriga de basquete gigante entre nós.
Momentos assim são responsáveis por minha enorme gratidão por
Tyler e Kyler. Sem eles eu não teria como passar… por tudo isso
sozinha. Eles sacrificaram a euforia de recém-casados para apoiar a
minha gravidez, e significa tudo para mim.
— Que tal tentar relaxar antes de você, literalmente,
estourar? — Ty me provoca. — Está muito sobrecarregada. Tire um
tempinho para sentar e descansar.
Com o passar do tempo, a realidade vai aparecendo. Estou
ficando nervosa, ansiosa e honestamente… apavorada, como
qualquer mãe de primeira viagem. Mas, mesmo aos vinte e três
anos, minha experiência não é nada parecida com a da maioria das
mães que esperam o primeiro filho.
A lembrança faz meus olhos marejarem. A mesma que me
atormenta desde o momento que vi aquelas duas linhas cor de rosa
e percebi que minha vida nunca mais seria a mesma.
— Está chorando outra vez? — Tyler pergunta.
Eu fungo e aceno com a cabeça.
— São os hormônios, Ty. Me dê um desconto.
A verdade é que aceitei o que aconteceu. Sabendo que
estaria sozinha, fiz o melhor que pude para seguir em frente e me
preparar para receber minha garotinha. Bem, com Ty e Kyle ao meu
lado.
Talvez essa não seja toda a verdade. Pode ser que, às vezes,
tarde da noite quando estou sozinha, eu acaricie a minha barriga
pensando no futuro, e sonhando que tudo fosse diferente.
Para começar, tem momentos que desejo nunca o ter
conhecido. O cara de olhos cinzentos que parecia ter sido feito para
mim, que partiu meu coração em apenas um fim de semana e
continuou a quebrá-lo mais e mais a cada dia. Mas, ele me deu a
minha filha e no fim das coisas, é só o que importa. Nós ficaríamos
bem. Apenas eu e ela contra o resto do mundo.
Honestamente, Tyler ter encontrado Kyle aconteceu no
momento perfeito. Eu precisava de alguém mais para me defender.
Alguém que eu pudesse confiar e apoiar. Eles se conheceram pouco
depois do que aconteceu. Quando cheguei de Brickside, Tyler e eu
tivemos uma longa e necessária conversa sobre o passado e o meu
trabalho. Muitas lágrimas foram derramadas, mas, no final, ficamos
mais próximos. E agora? Kyle é tão importante para mim quanto Ty.
É o cabeça fria da nossa amizade.
— Perdida em pensamentos de novo? — Ty me olha com
pena. Eu odeio esse olhar e, desde que ficou sabendo, é sempre
assim.
— Eu estou bem. Apenas conferindo mentalmente a minha
lista de tarefas.
Pela sua expressão vejo que não acredita, mas, felizmente
ele não insiste. Não que eu não tenha pensado no homem que
partiu o meu coração nos últimos nove meses. Com a criança dele
crescendo dentro de mim, seria impossível. Mas eu tentei,
desesperadamente, expulsá-lo da minha mente depois de tudo que
aconteceu.
Me lembro de quando eu descobri que estava grávida.
— Oh Deus! — Chorando, minha mão treme tanto que mal
consigo segurar a vareta. — Não, apenas não… não tem jeito, Ty.
Assim como os meus, seus olhos enchem de lágrimas. Esse
nunca foi o plano, isso nunca fez parte do plano.
— Foi só uma noite — eu choro. — Uma noite estúpida e
imprudente que ouvi meu coração em vez da razão, e acontece
isso? A primeira e única vez que me permito ser livre por um
momento.
Caio no chão do banheiro, puxo meus joelhos para o meu
peito e choro. O choro rapidamente se transforma em soluços tão
fortes que meu corpo balança contra o chão. Ty cai de joelhos e me
puxa para os seus braços. Eu me aprofundo no seu abraço,
desesperada por algum tipo de conexão nesse momento que me
sinto usada e totalmente sozinha.
— Não é o fim do mundo, querida.
Viro para ele com os olhos manchados de rímel e cheios de
lágrimas.
— Ty, é um bebê. Vou ter um bebê sozinha.
A gravidade da situação afunda em meus ossos e eu caio no
seu abraço.
Uma noite... transformou-se em muito mais.
A minha vida nunca mais seria a mesma.
— Você não precisa ficar sozinha, Madds, você pode
procurá-lo. — Tyler diz simplesmente. Se fosse assim tão fácil.
— Ele nem me conhece. Foi um caso de fim de semana, não
era para ser mais do que isso.
Solto um gemido e uma nova enxurrada de lágrimas desce
pelo meu rosto. Isso é um sonho ruim. Um pesadelo real que eu não
consigo acordar. Tinha que ser comigo. Ficar com o cara mais
charmoso, bonito e real do planeta, e ser tudo mentira. Quando fui à
pousada da minha avó naquele dia, a última coisa que esperava era
trombar com Briggs. Quer dizer, literalmente trombar com ele e
depois derrubá-lo no chão da entrada no estilo linebacker.
Ele foi gentil e encantador com seu sorriso de covinha e, ao
mesmo tempo, tranquilo e meio chocado. Mais tarde naquela noite
quando todos dormiam, cometi um pequeno e insano erro de
julgamento. Eu o encontrei de novo e peguei uma garrafa de tequila.
Com os lindos olhos azuis fitando o fogo e a testa franzida de
concentração, ele nem me ouviu aproximar. Eu soube quem ele era
no momento que o vi, mas como ele não disse nada a respeito da
sua profissão ou da sua fama, deduzi que não queria que eu o
reconhecesse. Imagino que a fama e o fato de todo mundo saber
quem ele é podem ser esmagadores, então eu entrei no jogo. Tentei
esquecer tudo que sabia sobre Briggs Wilson, centro do Avalanche
de Chicago e todas as manchetes que o seguiam. E sabe o que eu
descobri? Ele é diferente do que todo mundo pensa. Do que eu
divulguei sobre ele. Quando se trata da sua família e dos seus
amigos ele é amoroso, compassivo e altruísta. Ele é muito mais do
que o público pensa. Diferente do que eu pensei.
O que começou de forma inocente se tornou inflamável, com
chamas tão ardentes que nenhum de nós conseguiria não se
queimar.
Eu o deixei na manhã seguinte, depois de ficar acordada por
horas ouvindo o som da sua respiração. Ir embora não deveria ser
tão difícil. Era para ser um fim de semana rápido. Eu queria desviar
meus pensamentos da grande confusão entre mim e Ty, mas
depois… se transformou em muito mais. No entanto, eu sabia que a
nossa noite não daria em nada. Ele é um jogador profissional de
hóquei e eu tenho mais segredos no meu armário do que eu poderia
suportar se viessem à tona. Ele me odiaria se descobrisse a
verdade e eu queria que ele tivesse boas memórias desse tempo
que passamos juntos, e não algo que alimentasse o ódio dele por
mim.
Foram os melhores dias da minha vida e eu me afastei.
Mas o destino tem planos diferentes para mim e agora eu
preciso encarar as consequências dos meus atos.
— Nós não trocamos números nem sobrenomes. Sim, é claro
que sei quem ele é, mas não posso apenas aparecer e dizer: "oi,
lembra de mim? A garota que você fodeu até não poder mais aquela
noite, e ah, estou grávida. Do seu bebê.
Tyler me olha sem acreditar, balança a cabeça e fala em tom
firme.
— Sim, sim, você pode. Olhe, vocês não foram cem por cento
honestos naquele fim de semana, e tá tudo bem. Vocês tiveram uma
noite inesquecível, mas essa merda é vida real, Maddison. Você não
pode esconder esse bebê dele e não deveria criá-lo sozinha.
— Eu nunca esconderia uma criança do seu pai. Esta é a pior
atitude do mundo. Você me conhece, eu nunca faria uma coisa
dessas.
Ele concorda com a cabeça.
— Então você precisa encontrar uma maneira de falar com
ele.
Eu sei que ele está certo, mas parte de mim teme, com todas
as forças, ficar cara a cara com Briggs de novo. Não apenas por ter
que contar para ele sobre o bebê. Também por ter que falar a
verdade sobre mim.
Quem eu sou.
— Eu sei, eu vou. Eu… só não consigo acreditar… — Eu me
perco, olhando para o teste que ainda aperto na mão. Não parece
ser verdade, mesmo que esteja em destaque na minha frente.
Sentada no chão frio do banheiro nos braços do meu melhor
amigo, eu decido que aconteça o que acontecer,
independentemente da decisão de Briggs, eu vou ficar com essa
criança. Não estava nos meus planos, não por um bom tempo.
Porém, é a minha realidade agora e não importa o que aconteça, eu
vou tê-lo. Ele vai poder contar comigo para cuidar, amar e ser a
melhor mãe que eu puder ser.
Eu quero esse bebê. Quero dar todo o meu amor para ele.
Mesmo que sejamos só nós dois. Enfrentando o mundo.
— Tudo vai se acertar, querida. Prometo a você. Nunca se
sabe, ele pode te surpreender. Nem todo mundo é como aparenta
do lado de fora. E se ele decidir não participar da vida do bebê, eu e
Kyle seremos os papais mais fodas do mundo.
Concordando com Ty, eu rio por cima das lágrimas.
— Você tem razão. Vou bolar um plano. E tudo vai dar certo,
não é mesmo?
Tyler assente com a cabeça.
— Você não está sozinha, Briggs vai assumir e nós
estaremos ao seu lado em cada etapa. Ele vai reconhecer.
Na verdade, ele não era nada do que pensei que fosse,
mesmo depois do pouco tempo que passamos juntos. E agora,
passei os últimos nove meses me preparando para receber o meu
bebê, sozinha.
Um rangido alto e desagradável vindo de cima, me afasta das
memórias agridoces que ainda envolvem o meu coração,
aprisionando-o como uma força inabalável.
— O que é isso pelo amor de Deus? — Ty grita, olhando
para o teto manchado.
Sinto as minhas bochechas aquecerem.
— Bem, parece que eu ganhei novos vizinhos no andar de
cima depois que a Sr. Hanley foi para o lar de idosos e, digamos que
eles realizam muitas atividades extracurriculares.
No exato momento ouvimos um gemido masculino e eu fecho
os meus olhos, tentando não morrer de vergonha no tapete velho do
meu quarto.
— Maddison. — Ty sussurra, horrorizado. — Eu vou lá em
cima, agora! É inaceitável. Jesus, ele parece um astro pornô de pau
pequeno!
— Não, não, não! — eu grito, estendendo a mão para detê-lo
antes que ele consiga passar pela porta. — Isso só vai tornar
estranho e desconfortável se, em algum momento, nos
encontrarmos no elevador. Está tudo bem. Eu apenas coloco meus
fones de ouvido e faço de conta que não ouço.
Tyler balança a cabeça, sem acreditar.
— Madds, você precisa sair desse lugar. — Ele olha ao redor
do meu apartamento e eu concordo.
— Eu sei, mas é o que temos por agora. É o suficiente para
mim e Olive. Nós ficaremos bem. Acho que o cara da manutenção
virá consertar o vazamento da torneira e dar uma olhada no
chuveiro, na próxima semana. Ele disse que vai tentar consertar
tudo logo.
— Se precisar de alguma coisa estou aqui, linda. Nosso
apartamento é pequeno, mas podemos arrumar um quarto para
você e Olive a qualquer hora. Ele pode ter que dormir na banheira.
E quero dizer Kyle, não Olive. — Ele ri e estende os braços para eu
entrar. Quando o abraço, ele acaricia minhas costas suavemente e
eu suspiro.
— Tudo vai dar certo, como era para ser. Por enquanto …
temos meias para dobrar — eu digo.
Tyler geme e fala:
— Mostre o caminho.
Capítulo Nove
Maddison

Quando Ellie, a garota tímida que se sentou ao meu lado


durante todo o ano nas aulas de comunicação, me pediu para
participar da conferência de imprensa de hoje, eu quase disse não,
mesmo com a minha personalidade de "boazinha demais". Primeiro
porque, bem, estou literalmente do tamanho de uma casa e,
segundo, tenho certeza que os meus tornozelos não caberiam nos
Louboutins ridiculamente caros que eu investi no ano passado.
Acabou que eu estava errada. Surpreendentemente, eles
couberam e agora estou me amaldiçoando por ter concordado.
Meus pés doem, eu estou exausta e mesmo que no final tudo valha
a pena, o meu rosto e os meus tornozelos inchados não são nada
que eu queira ver na câmera. Para não dizer que eu estou mais
cansada do que o normal, desde que venho me preparando para a
chegada de Olive. Ty e Kyle vêm ao meu apartamento o tempo
inteiro para me ajudar nos preparativos, e o meu corpo parece estar
à beira de um ataque de nervos.
— Saltos estúpidos — eu murmuro enquanto jogo a bolsa do
meu laptop por cima do ombro. Está pesada, eu estou farta desses
sapatos ridículos e, honestamente, preferiria ficar em casa de
pijamas com os meus pés apoiados em um travesseiro.
Eu me sinto culpada por reclamar, mas então me lembro que
estou prestes a explodir depois de carregar esse bebê nos últimos
nove meses, e tenho um pouco de compaixão por mim. Perdida em
pensamentos e frustrada por tentar suportar tudo antes mesmo de
entrar no escritório, não presto muita atenção por onde estou
andando.
Esbarro no que parece uma parede de tijolos, os cadernos
voam dos meus braços e a bolsa cai na direção oposta. Meus
joelhos estremecem em reação, e eu tento me manter em pé.
— Merda! — Eu ouço o xingamento em uma voz de barítono
baixa e profunda.
Afasto o cabelo do rosto e imediatamente me agacho para
pegar tudo. Depois me desculpo por não prestar atenção no
caminho.
— Eu sinto muito, eu não estava prestando at …
— Maddison?
Volto o olhar para o homem agachado à minha frente e meu
estômago embrulha. A frustração se transforma em pavor e a minha
boca seca.
Não. Não. Não.
Isso não está acontecendo.
Eu engulo com dificuldade e levanto instável nos meus saltos.
— Briggs — sussurro.
Fico perplexa e o meu nervosismo volta. A vontade de dar um
soco direto no pau dele me atinge nas entranhas. Ao mesmo tempo,
minha garotinha chuta forte a minha barriga, provavelmente me
avisando que dar à luz em uma cela de prisão não faz parte do
nosso plano.
— Puta merda … é você. Eu te procurei… eu estou te
procurando por quase um ano. — A mão que ele estendeu para me
estabilizar ainda está no meu braço. Eu a empurro como se
estivesse sido incendiada, e eu acho que … eu fui incendiada.
Muitas vezes por Briggs Wilson, mas essa conversa não vai
acontecer.
Ele é um mentiroso e eu me recuso a ouvi-lo.
Ainda em silêncio, aperto o meu casaco ao redor da barriga.
Seus olhos azul-claros se arregalam ao baixarem até a minha
cintura.
— Uau! — ele suspira, com o rosto em choque. — Você está
grávida. Grávida de verdade. — A perplexidade nas suas palavras
me deixa ainda mais nervosa.
Que idiota!
Eu ironizo.
— Sai da minha frente, Briggs.
Passo por ele para pegar a bolsa do chão, mas quase tombo
por causa da minha bola de basquete frontal. Esses saltos vão me
fazer cair de bunda se eu não for para casa logo. De repente, mãos
fortes agarram a minha cintura. Quando olho para trás, Briggs está
muito perto de mim e eu tento recuar do seu toque.
— Não me toque — eu quase cuspo.
A raiva em minhas veias é palpável, ela irradia em ondas e
eu espero que ele possa sentir. Eu, não nós, não quero ter nada a
ver com ele. Nem agora e nem nunca.
— Nossa, por que tanta raiva, Maddison? Qual é o problema?
— A sinceridade no tom me faz parar e levantar o olhar. A sua testa
está enrugada em desentendimento. Ele parece tão verdadeiro que,
por um segundo, eu quase acredito. Então me lembro do que ele
fez, e da sua escolha.
— Não se atreva a me insultar dessa maneira, agindo como
se não soubesse da minha gravidez. — Fúria reveste as minhas
palavras e, quando muitos olhares se voltam em nossa direção, eu
percebo que falei muito mais alto do que pretendia. Baixo a minha
voz. — Agora por favor, saia do meu caminho.
Sua sobrancelha franze ainda mais, criando um vinco entre
os seus olhos sagazes. Ele baixa o olhar para o meu estômago
protuberante e volta a olhar para mim.
— Puta merda… Espere… eu … nós estivemos juntos dez
meses atrás… na pousada… você foi embora antes que eu… — ele
diz em voz alta, mas parece falar consigo mesmo, como se
estivesse juntando pontos invisíveis.
Me lembro claramente do dia que ele mudou a minha vida
para sempre. E eu não me refiro à noite que ele me engravidou. O
dia que ele abriu mão do filho e nem teve coragem de me olhar nos
olhos. Naquele momento eu pensei que Briggs Wilson estivesse fora
da minha vida e, por Deus, nós estávamos melhor sem ele.
Então imagine o meu espanto e a minha raiva ao vê-lo aqui.
Mesmo se eu não estivesse exausta, dolorida em todos os lugares
errados, e muito, muito grávida, eu ainda não estaria no clima para
isso.
Respiro fundo e sinto como se conseguisse forças para
chegar mais perto de Briggs, do espaço dele. Tão perto, que eu
sinto o cheiro suave da sua loção pós-barba e de tudo o que Briggs
é. Um pouquinho de cedro com toques cítricos. Eu reconheceria em
qualquer lugar, pois ficou na minha memória por meses depois
daquele fim de semana. E eu o amaldiçoei diariamente por mudar,
para mim, a essência dessas três coisas para sempre.
Tudo mudou para sempre depois daquela noite.
Eu levanto o queixo e olho para ele.
— Não sei qual é o inferno do seu problema ou se você
pensa que é algum tipo de piada de mau gosto, mas eu não tenho
nada para falar com você, se é que ainda não fui clara. Acho que
não deveria me admirar que você, de todas as pessoas, não levasse
esse tipo de coisa a sério. Isso não é brincadeira Briggs. É a minha
vida, a vida da minha filha, tudo o que você decidiu não fazer parte
— baixo minha voz para um sussurro. — Você fez a sua escolha e
está tudo bem para mim. Nós não precisamos de você. Eu só quero
que nos deixe em paz, como você prometeu.
Briggs arregala os olhos, a expressão de choque toma conta
do seu rosto e a sua mandíbula cai levemente.
— Espere, aguente aí… — Ele começa, mas não me dou ao
trabalho de ficar nem mais um minuto para ouvir o que ele tem a
dizer. Eu ajeito a bolsa no meu ombro, levanto o queixo e passo por
ele em direção ao escritório.
A conversa toda me abalou profundamente. Estou muito
impactada. Foi inesperado demais encontrar com o homem que
quebrou o meu coração, antes mesmo que fosse dele de verdade.
Pressiono as mãos trêmulas na barriga, tentando me recompor.
Lágrimas ameaçam cair e eu me recuso a dar este gosto para ele.
Me ver chorar. Ele não merece minhas lágrimas.
— Maddison, espere — ele grita atrás de mim, mas eu o
ignoro e caminho mais depressa.
Logo quando vou abrir a porta do escritório, uma mão puxa
levemente o meu braço. Olho na direção de Briggs e seus olhos
estão cheios de … algo que não consigo identificar, mas para mim
basta.
— Me deixe ir — eu sibilo.
— Por favor, me dê apenas cinco minutos. Só cinco minutos
Maddison, por favor — implora. — Estou perdido pra caralho.
Eu não sei dizer porque parei, nem mesmo porque decidi
conceder a ele os cinco minutos que pediu. Não foi por mérito dele,
nem porque a raiva que senti não esteja mais correndo nas minhas
veias. Pode ser porque, em algum lugar lá no fundo da parte
chamuscada do meu coração, tenha sido enterrada uma parte que
seja só dele.
Não importa se ele merece ou não.
Meus olhos travam nos dele, tentando descobrir se suas
intenções são verdadeiras, mas no fim, eu apenas concordo.
— Cinco minutos.
— Cinco minutos.
Passo por ele em direção ao pequeno banco do jardim. Estou
desesperada para sentar um pouco e aliviar os meus pés desses
saltos. Quando me sento no concreto, não imagino que Briggs vá se
acomodar ao meu lado, mas me engano.
— Maddison, eu não sabia que você estava grávida.
Eu absorvo as palavras dele e fico tão nervosa que sinto um
mal-estar no estômago.
— Como você pode se sentar ao meu lado, olhar nos meus
olhos e mentir para mim, quando nem mesmo olhou na minha
direção quando assinou aqueles papéis?
Ele balança a cabeça.
— Quais papéis? Eu não estou mentindo. Sabe por quanto
tempo eu procurei por você? Eu revirei todos os lugares possíveis.
Eu até pedi informações para a sua avó quando fui embora da
pousada, mas ela disse que você pediu para ela não me falar.
Maddison, eu acordei e você tinha sumido depois do melhor fim de
semana da minha vida. Porra, isso acabou comigo. — Ele coloca a
mão sobre o coração e eu vejo a dor nos seus olhos.
Ou talvez seja a minha imaginação desejando que exista algo
que eu não consiga ver.
Aperto os meus olhos fechados, desesperada por retomar o
controle que mantive nos últimos dez meses. Desde aquela noite. A
parede que formei para me separar de Briggs e de qualquer menção
a ele, parece desmoronar em uma pilha de detritos aos meus pés.
— Maddison — ele diz de forma suave. Eu abro os meus
olhos e encontro os dele. — Juro por Deus e por tudo o que eu amo,
que com certeza não é muita coisa, mas garanto a você que eu não
fazia ideia. Você está dizendo … que ela é minha? É minha filha?
Uma lágrima solitária escorre pela minha bochecha. Eu a
enxugo depressa, reunindo minha compostura. Eu não estava
preparada para essa conversa nem para a dor que ela poderia me
causar.
— Sim. Eu não compreendo. Não entendo como você não
sabe que tem uma filha. Seu nome estava nos documentos. Você
abriu mão dos seus direitos, Briggs. Eu li a carta.
Ele respira profundamente, baixa a cabeça nas mãos e
coloca os cotovelos nos joelhos.
— Eu nem sei quais são esses documentos, Maddison. Estou
tão perdido quanto você. Qual caralho de carta? Que porra
aconteceu?
Eu sempre fui uma boa julgadora de caráter. Uma
característica que puxei do meu pai e, considerando a forma como
Briggs está nesse exato momento, eu acredito que alguma merda
deve ter acontecido. Que o bastardo do agente dele deve estar por
trás do que aconteceu.
— O seu agente — eu sussurro, cheia de percepção.
— Conrad? Você encontrou Conrad?
Eu concordo com a cabeça.
— Eu acho… acho que foi ele que aconteceu.
Uma parte de mim está furiosa por ter ocorrido algo tão
fodido e cruel e por eu ter passado os últimos nove meses odiando
um cara que não merece a minha revolta. A outra parte … bem, está
triste por Briggs ter perdido a oportunidade de acompanhar a minha
gravidez e o desenvolvimento da filha.
— Por favor, me diga o que aconteceu, do início sem deixar
nada de fora — sussurra, abatido.
Eu engulo em seco, tentando empurrar as emoções que
obstruem a minha garganta. Um banco no jardim de uma
conferência de imprensa não é o lugar para perder a compostura.
— Descobri que estava grávida seis semanas depois de
chegar em casa, soube antes mesmo de ver as linhas do teste.
Minha menstruação atrasou e eu estava enjoando, nada ficava no
meu estômago e, o meu melhor amigo, Ty, me forçou a fazer um
teste. Evitei o tanto que eu pude porque estava apavorada com o
que ia descobrir. — Eu pigarreio antes de continuar. — Eu sei que
você mentiu para mim. Soube quem você era desde a primeira vez
que te vi.
— Soube?
Eu concordo com a cabeça.
— Achei que se você quisesse revelar a respeito da sua
carreira do hóquei, teria falado a respeito. Eu trabalho com muitos
atletas. Estou na faculdade de jornalismo e lá tem um monte de
jogadores que preferem ficar fora do radar. Enfim, depois do
resultado positivo do teste de farmácia, marquei uma consulta.
Estava tão nervosa que quase desmaiei quando o médico confirmou
a gestação. Não há nenhuma dúvida… que ela seja sua. Eu não
estive com mais ninguém. Logo que confirmei, soube que teria que
te falar, mas não sabia como. Não trocamos nenhuma informação e
eu sabia que você não gostava de redes sociais. Não depois... de
pensar que era apenas uma aventura, Briggs. Foi por isso que pedi
à Nana para não te passar nenhuma informação. E por imaginar que
nunca mais teríamos nada depois daquele fim de semana, até
descobrir que estava grávida.
Briggs acena com a cabeça. Seus olhos demonstram a
mesma emoção que estou sentindo.
— Então, você não usava redes sociais e eu não tinha seu e-
mail ou informações de contato. Eu não tinha outra maneira de te
encontrar, senão aparecer no estádio, e … eu não ia fazer isso. Eu
procurei a Nana e ela me deu o número que estava registrado nos
seus arquivos. Ele acabou sendo do agente que reservou a sua
estadia. Eu liguei para ele.
Com a menção de Conrad, a realização aparece na
expressão de Briggs.
— Aquele filho da puta.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu não tinha outra maneira de encontrar você. A princípio,
ele não me levou a sério. Aparentemente, muitas Marias Patins já
disseram estar grávidas dos seus bebês.
Ele estremece com as minhas palavras, mas eu sigo assim
mesmo.
— Finalmente, quando eu ameacei aparecer no próximo lugar
que você estivesse se ele não agendasse uma reunião, ele me
ouviu. Combinamos um horário e, para dizer o mínimo, não foi nada
como eu esperei. Quando cheguei, você nem estava lá. Apenas
Conrad.
A mandíbula de Briggs quase cai nessa hora. Nitidamente
chateado, ele levanta do banco, passa a mão pelo cabelo, dá um
puxão nas pontas e a desliza sobre o rosto.
— Isto é mais do que fodido. Eu nem sei o que dizer.
— Conrad disse que vocês discutiram detalhadamente a
situação, e que você decidiu abrir mão dos seus direitos sobre a
criança, mediante um teste de paternidade, é claro. Disse que ele
estava preocupado com a sua imagem … depois de tudo que
aconteceu com o seu irmão e que você não estava em condições
mentais para este … escândalo. Ele chamou a nossa criança de
"um escândalo" e ainda se ofereceu para me pagar, Briggs. Ele me
ofereceu um cheque … com mais zeros do que já vi em minha vida.
As lágrimas estão de volta, ameaçando descer sobre as
minhas pálpebras, mesmo que eu tente segurá-las
desesperadamente. É mais difícil do que eu pensei.
Enquanto eu falo, Briggs vai e vem no pequeno espaço à
nossa frente, passando a mão no rosto mais uma vez, como se
tivesse absorvendo as minhas palavras. É óbvio que ele foi
enganado … nós dois fomos.
— Eles me deram uma carta escrita por você, dizendo que
sentia muito, mas não queria nenhuma ligação com a criança e que
ela teria uma vida livre de mídia e publicidade com a sua renúncia.
Como se nossa filha crescer sem pai fosse uma vantagem. A carta
falava que você sentia muito por a nossa "aventura" de fim de
semana ter resultado nisso e que não queria contato comigo. Em
que mais eu deveria acreditar, Briggs?
— Maddison, eu…
Eu levanto a mão para interrompê-lo. Assim eu posso
concluir e tirar isso do meu peito.
— Eles me mostraram os documentos onde você renunciava
aos seus direitos. Disseram que se eu entrasse em contato com
você depois de assinar esse acordo, não teriam escolha além de
conseguir uma ordem de restrição, como se eu fosse uma ameaça
para você. Conrad disse que você passou por muitas coisas nos
últimos anos e que não estava em condições de cuidar de uma
criança. Só financeiramente, é claro. Li a carta várias vezes e
encarei o contrato de guarda até que não conseguisse ver além das
lágrimas. Nunca me senti tão magoada na minha vida. Tão
decepcionada. Nem era porque você não queria nada comigo, era
porque você não queria o nosso bebê. Nós a fizemos, juntos. Nós
fizemos uma garotinha linda juntos, e você abriu mão dela sem
pensar duas vezes. Eu recusei o dinheiro. Cada centavo dele. Eu
não tinha a intenção de te subornar, não foi por isso que procurei
você. Eu queria que participasse da vida da nossa filha. Era tudo
que eu desejava. Passei os últimos nove meses te odiando, Briggs.
Desconsolada por causa da sua decisão.
Briggs grita, chuta uma lata de lixo próxima, com o peito
arfando e as narinas alargando.
— Eu jamais faria isso. Eu nunca assinaria a porra desses
papéis. Tudo que sempre quis foi uma família, minha própria família.
Aquele pedaço de merda do caralho!
Eu balanço a cabeça, sentindo a intensidade da sua dor por
terem nos privado de algo tão importante.
— Deus, Maddison, eu sinto pra caralho, sinto tanto por não
ter ficado do seu lado. Se eu soubesse … se eu imaginasse, não
perderia nem um segundo. Eu sinto muito mesmo.
Eu fico surpresa ao ver lágrimas brotarem nos seus olhos.
Esse cara está falando a verdade, vejo a sinceridade no seu olhar e
sinto em suas palavras.
Eu me levanto do banco e caminho até onde ele está.
Quando estou prestes a abrir a boca, sinto um líquido quente
escorrer pelo interior da minha coxa.
— Puta merda! Eu acabei de me mijar?
Olho para baixo, vejo mais líquido jorrar e percebo que esta
pode ser a pior segunda chance de encontrar o amor de todos os
tempos. Minha bolsa estourou.
— Oh meu Deus! — eu sussurro. Isso não pode acontecer.
Não nesse momento. Não agora.
Não. Não. Não.
Briggs olha para baixo e arregala os olhos.
— Maddison … O que está acontecendo?
Eu olho entre as minhas pernas mais uma vez.
— Com certeza a minha bolsa acabou de estourar … parece
que vamos conhecer a nossa filha. Uh … agora mesmo.
Capítulo dez
Briggs

Eu me congelo por um segundo. Não consigo me mover.


Literalmente, é como se eu tivesse esquecido como me portar como
um humano normal.
Que porra é essa? Eu sussurro para mim mesmo, tentando
interpretar a informação que Maddison acabou de me dar. Mas não
está funcionando.
— Oh Deus! — Maddison grita, morrendo de dor. Isso me faz
espantar a nuvem de choque da minha cabeça e focar nela, curvada
na minha frente. Ela com certeza está sofrendo, e isso torna a
situação muito mais real.
Oh Porra.
Porra.
Isso realmente está acontecendo. Exatamente agora.
Eu, literalmente, acabei de descobrir que vou ser pai cinco
segundos atrás. Agora estamos indo para o hospital.
Eu nem consigo processar o fato, já que Maddison continua
curvada de dor.
Porra.
Corro para a frente e coloco minha mão nas suas costas,
amparando-a. Sua mão pequena agarra meu bíceps com tanta força
que, provavelmente, ficarei marcado. Mas essa não é a minha
preocupação, a expressão de agonia no rosto dela que é.
— Você está bem? O que eu posso fazer? Devo chamar uma
ambulância?
Ela olha para mim, o seu rosto contorce de dor mais uma vez,
e eu me sinto impotente. Eu não faço a mínima ideia do que fazer
nessa situação. Inferno, as únicas grávidas que eu já vi estavam em
programas de televisão.
Com um suspiro, ela aperta a barriga novamente.
— Preciso sentar e cronometrar as contrações, m-m-aas elas
estão vindo rápido. — Enquanto faz movimentos de inspiração e
expiração, pego o telefone do bolso da minha calça e ligo o
cronômetro. Depois a ajudo a sentar no banco.
Seus dedos ainda apertam o meu braço com ferocidade
enquanto ela continua com a respiração. É óbvio que está muito
mais preparada para isso do que eu, visto que eu acabei de
descobrir que vou dar boas-vindas à minha filha. Outra contração a
atinge e o aperto aumenta, perfurando o meu braço enquanto ela
agarra a barriga e fecha os olhos. Seu rosto lindo está contorcido de
dor, e a cada vez, parece que um martelo enferrujado bate mais um
prego no meu coração.
Jesus.
— Quanto tempo durou essa?
Olho para o meu telefone.
— Seis minutos e trinta e três segundos.
— Merda! — ela sussurra. — Eu pensei que a dor que estava
sentindo eram apenas braxton hicks, mas são as contrações de
verdade. Temos que ir para o hospital … agora.
— Vou pegar a minha caminhonete. Espere aqui.
Com os dentes cerrados, ela ri.
— Como se eu pudesse ir a algum lugar, Briggs…
Porra, eu sou um idiota. Hesitante, deixo-a no banco e corro
sem parar até chegar na caminhonete. Pulo dentro dela, ligo o
motor e acelero para onde ela ficou sentada. Assim que estaciono,
saio deixando as chaves na ignição e corro até o banco para ajudá-
la entrar.
— Okay, isso dói. Tipo …dói de verdade — ela diz.
— Vamos te levar até o hospital e então eles vão te dar uma
coisa boa. Eles fazem isso, eu acho, não é mesmo?
Engulo em seco. Estou tão fora da minha zona de conforto.
Gravidez? Nascimento? Porra, meu estômago embrulha pensando
na logística. Eu não sou burro, sei como acontece um parto. Mas
agora, acho que a melhor coisa a fazer, realmente, é não imaginar.
— Vou seguir o procedimento natural. Sem medicação.
Meus olhos arregalam enquanto a ajudo subir na
caminhonete. Ela joga a cabeça para trás contra o couro e
recomeça o seu exercício de respirações profundas e combinadas.
Eu não perco meu tempo, fecho a porta e corro para o banco do
motorista.
Mantenho o braço no console para o caso de ela precisar, e
saio com o carro pela rodovia. De segundo em segundo, verifico se
está bem e ela geme alto.
— Acho que posso ter arruinado seus bancos de couro,
acidentalmente.
Solto uma risada rouca e preocupada.
— Porra, Maddison, eu não dou a mínima para a porcaria do
banco. Vou substituir caminhonete inteira se precisar.
Seu olhar se encaixa no meu e lembro que ela não conhece
a minha verdadeira personalidade. O homem escondido atrás do
capacete de hóquei, do clamor da multidão ou da manchete de um
blog.
— Sim — ela sussurra, agarrando o meu braço e a porta, por
causa de outra contração. — Será que você consegue ser mais
lento?
Por uma olhada no velocímetro, vejo que estou dirigindo mais
devagar do que a minha avó, mas inferno, a mãe da minha filha está
no banco da frente. Se existe uma carga preciosa, é essa.
— Briggs, eu vou ter esse bebê no tapete da sua
caminhonete se você não se apressar. Anda. Caralho! — ela grita. A
dor reprimida em sua voz me faz pisar fundo no acelerador.
Vivo preparado para muita merda. Minha mãe entra na minha
casa sem me avisar, o treinador me corta por causa de problemas
de comportamento, meus amigos me sacaneiam por objetivo de
vida, mas isso? O nascimento de um bebê no banco da frente do
meu carro?
Sem chance. Não estou nem um pouco preparado. Meu pé
afunda mais no acelerador e eu ligo o pisca-alerta para evitar que a
polícia me pare e nos cause problemas.
— Respire, Maddison — murmuro quando ela enfia suas
unhas curtas no meu braço, quase cortando a pele. — Estamos
quase lá.
Com os olhos bem fechados ela mantém o aperto, e acena
com a cabeça em uma sequência de respirações profundas.
De alguma forma, conseguimos chegar no hospital inteiros,
sem Maddison dar à luz no banco da frente. Graças a Deus eu tive a
ideia de ligar com antecedência, porque uma enfermeira já nos
esperava com uma cadeira de rodas em frente ao PS.
Maddison foi levada e eu fiquei com uma funcionária de
uniforme rosa choque.
— Para onde eu vou?
Ela me olha com um sorriso.
— Bem, papai, parece que você vai conhecer a sua pequena.
Está na hora da mamãe se instalar no quarto. Venha comigo.

Eu pensei que não era um cara sensível. Ao jogar hóquei, vi


ferimentos que fariam até o estômago mais forte revirar. Ossos
quebrados, dentes perdidos, cortes tão fundos que expunham
músculos e tendões.
Mas nada, quer dizer, porra nenhuma se compara ao que
está acontecendo agora.
— Oh Deus! — Maddison chora e aperta o meu braço com
tanta força que perdi a sensibilidade há muito tempo. Me preocupo
se realmente vou ser capaz de segurar um taco de hóquei de novo.
Se vinte quatro horas atrás você dissesse que eu estaria em
um quarto de hospital, assistindo a mãe da minha filha dar à luz, eu
riria da sua cara.
Sério, te chamaria de insano e daria as costas.
Honestamente, nem eu consigo acreditar, acho que a ficha
ainda não caiu totalmente. Olho para os nós brancos dos dedos de
Maddison, que apertam fortemente o meu braço. Sua maquiagem
está manchada e o rosto lindo coberto de suor, enquanto ela se
prepara para mais uma contração.
Eu aprendi muito nas últimas três horas. Por um lado, estou
muito feliz por ser jogador de hóquei ao invés de médico ou algo
parecido, porque me sinto meio enjoado.
Toda vez que ela empurra e solta um grito estrangulado, o nó
do meu estômago fica mais apertado. Eu não nasci para isso, nem
de longe. E quando o médico pergunta se ela quer espelhos para
que possamos assistir ao nascimento?
Eu quase desmaio no chão, balançando a cabeça
fervorosamente. Até porque é a sua vontade e eu apoio qualquer
decisão dela.
Vou ficar em segurança aqui. Com os olhos fechados. A
qualquer custo.
Como minha vida se transformou nisso?
É inacreditável, mas eu sei como foi. A minha lembrança
daquele fim de semana é mais vívida do que qualquer outra. Foi o
tempo melhor da minha vida e, mesmo depois de ela ter me
deixado, eu a procurei por todos os lugares. Fiquei devastado pra
caralho. E isso é muito, partindo de um cara que só teve um
relacionamento na vida. Mas veja como acabou. Eu pensei que, de
alguma forma, tinha estragado tudo como de costume. Mas, o que
aconteceu de verdade foi ainda pior. Eu não consigo acreditar que
algo tão fodido tenha o dedo de Conrad.
Maddison empurra forte soltando um grito que pode ser
comparado ao de um guerreiro viking em batalha, e fica vermelha
como beterraba.
— Você está indo muito bem, Maddison, estamos quase lá!
— seu médico, Dr. Brown, diz sorridente. Completamente
imperturbável. — Oh, eu vejo cabelos!
Então, ele levanta uma luva ensanguentada e o chão começa
a balançar debaixo dos meus pés.
Porra, porra, porra.
Meu estômago dá um nó muito apertado e sinto uma forte
ânsia de vômito.
— Sr. Wilson? Está tudo bem?
Minha filha.
— Sim — eu chio, desviando o olhar completamente. Aperto
os olhos e respiro fundo, tentando controlar a náusea.
Porra, quem diria que assistir a um parto seria a única coisa
que o meu estômago não iria suportar? Ainda bem que os caras não
estão aqui ou nunca me livraria disso.
— Briggs, se você me deixar agora, juro por Deus que
quando eu puder andar de novo, vou acabar com você — Maddison
fala entre os dentes cerrados.
— Eu não vou, não vou — prometo para ela. Ou talvez eu
tente prometer para mim porque, nesse exato momento, não confio
muito que eu vá conseguir passar por toda essa provação.
Outra contração vem e Maddison aperta os dentes, me
puxando com uma mão e agarrando a cama do hospital com a
outra.
— Certo, Maddison, acho que esse será o último empurrão.
Preciso que respire fundo e empurre o mais forte que conseguir.
Maddison assente, com lágrimas descendo pelas bochechas.
Eu as enxugo rapidamente, sem me preocupar em levar um soco,
considerando a sua indisposição do momento.
Eu ainda estou em choque por ter esbarrado nela e pelo que
está acontecendo diante dos meus olhos, depois de procurá-la por
tanto tempo. Tudo por acaso, um golpe de sorte e porra, todo
mundo sabe que eu não tenho muita. É como se fosse … destino.
Não consigo acreditar no quanto ela é incrível. Estou encantado
pela sua força. Porra, não consigo acreditar que ela passou por tudo
isso sozinha por nove meses.
Eu mal compreendo. Tudo está acontecendo muito rápido,
mas sei que desejo Maddison mais do que nunca, quero nossa filha
e o pacote completo.
Nem sei o que vem nesse pacote, mas eu quero. Se elas
vêm junto, pode vir qualquer coisa.
— Isso! — o médico exclama. — Olha ela aqui! — Baixo o
olhar e o vejo levantar um bebê pequeno e sujo, com o cordão
umbilical ainda ligado à Maddison. Ela está coberta com uma…
coisa branca e sangue. E mesmo de onde estou, consigo ver uma
leve sombra do seu cabelo loiro.
Nada poderia me preparar para esse momento.
Nada.
Sinto lágrimas nos olhos antes mesmo de compreender o que
está acontecendo, o fato de ela ser minha … filha. Olho para
Maddison, que soluça enquanto o médico coloca o bebê sobre o seu
peito. Pele com pele, ela suspira enquanto embala nossa garotinha
preciosa.
Meu peito se enche de orgulho e uma sensação
avassaladora de… adoração. Sinto necessidade de protegê-las.
— Parabéns, ela é linda! Papai… você gostaria de ter a honra
de cortar o cordão umbilical?
Engulo em seco, subitamente descobrindo que estou
acenando com a cabeça. Ele me entrega uma tesoura brilhante,
maior do que a minha mão. Ao invés das lâminas normais, as dela
são curvadas e formam uma letra "o".
No segundo que minha mão encontra com o aço frio, e o
médico levanta o cordão roxo azulado, o chão desaparece e tudo
fica preto.
Capítulo Onze
Briggs

— Sr. Wilson? Pode me ouvir? Sr. Wilson?


Ouço uma voz distante e próxima ao mesmo tempo.
Tento abrir os olhos, mas eles estão muito pesados. Na
verdade, parece que tudo está pesado. De alguma forma, consigo
abrir um deles, mas fecho na mesma hora. A primeira coisa que vejo
é o brilho ofuscante de uma lâmpada fluorescente.
— Oi Sr. Wilson, meu nome é Sarah. Consegue me ouvir?
Abro meus olhos outra vez. Noto uma senhora de cabelos
grisalhos encaracolados inclinada sobre mim, bloqueando o brilho
da luz. Ela segura um pequeno frasco e a compreensão me atinge
como um caminhão Mack Truck.
Merda! Desmaiei quando fui cortar o cordão. Eu me sento
abruptamente, abro os olhos e observo o quarto girar em 360 graus
ao meu redor.
— Ei, cuidado! Você desmaiou e o seu corpo precisa de
tempo para se recompor.
— Onde está Maddison? Minha filha… — Esfregando as
mãos na têmpora para me orientar, me arrasto até me levantar.
Porra, me sinto o maior maricas do planeta.
— Bem, se você quer saber, muitos homens não estão
preparados para o parto, o que é muito coerente. Afinal, são as suas
esposas fortes e resilientes, que realmente dão à luz.
Olho para ela, seus lábios estão pressionados em uma linha
fina, constrangida.
— Não percebi que tinha falado em voz alta, sinto muito.
Minha cabeça ainda está fodida. Perdão, quero dizer confusa.
Ela assente.
— Aqui, deixa eu te ajudar. Acho que tem alguém que você
precisa conhecer.
Com a ajuda de Sarah, consigo me levantar do linóleo frio do
piso do hospital e ficar em pé, momentaneamente instável.
— Sinto muito. Parece que não me dou muito bem com
sangue e…
— Líquido amniótico — ela diz, simplesmente.
A imagem vem à minha cabeça e eu estremeço.
— Sim, isso. Posso vê-las?
Acena com a cabeça.
— Vem comigo.
Ela me guia para fora do quarto vazio. Passamos por um
corredor silencioso, onde a última porta à direita está aberta.
— Acho que ela está dormindo, mas você está entregue. —
Sarah aponta para dentro do quarto e eu entro.
A primeira coisa que vejo é o anjinho que está nos braços de
Maddison, embrulhado em um cobertor rosa claro. Ela olha para
mim e falta ar ao nosso redor.
Ela segura a minha filha.
A manta rosa que a envolve, combina com o laço do gorro
em sua cabeça.
— Briggs — Maddison fala baixinho, parecendo estar
exausta. Apesar das bolsas escuras embaixo dos olhos, ela me dá
um pequeno sorriso.
— Nossa! — eu sussurro. As palavras me escapam. Não sei
o que dizer agora.
Ela ri baixinho e baixa o olhar para a nossa filha.
— Ela não é maravilhosa?
De alguma forma, meus pés me aproximam da cama.
Finalmente posso vê-la de perto. Ela é minúscula e tem as
bochechas cor-de-rosa. Os pequenos lábios fazem movimentos de
sucção enquanto ela dorme profundamente nos braços de
Maddison.
— Ela é um anjo.
Maddison concorda.
— Ela é. Eu… eu quero que o nome dela seja Olive.
— Olive — testo o nome em voz alta e decido que o amo,
imediatamente. Ela tem cara de Olive.
— Olive Elizabeth — Maddison adiciona. Seus olhos estão
grudados em Olive, assim como os meus. Eu só quero vê-la dormir.
— Quer segurar ela?
— Quero — falo com voz rouca, com emoção obstruindo a
minha garganta.
Um tsunami que me afoga.
Maddison coloca Olive nos meus braços.
— Estou fazendo direito?
Ela acena com a cabeça.
— Sim, só apoie o pescocinho, assim mesmo.
Ela tem pouco mais de três quilos e é a coisa mais importante
que já segurei. Sei que a partir desse momento não há nada que eu
não faça por ela. Se me pedisse a lua eu daria um jeito de
conseguir. O nariz dela é igualzinho ao meu, mas é tão fofo que faz
meus olhos lacrimejarem. Arredondado, como se fosse o menor de
todos os botões. Os cílios são grandes e escuros, como os de
Maddison, espalhados pelas bochechinhas rosadas. Ela parece uma
boneca de verdade, em sono profundo nos meus braços.
Enquanto a observo, ela franze os lábios em formato de
coração e vibra as pálpebras. Quem me dera saber o que se passa
por detrás daqueles olhinhos. Qual é o seu sonho.
Só sei que realizarei todos, custe o que custar.
— Não acredito que estou segurando a minha filha… — Eu
interrompo, levantando o olhar para Maddison que está com os
olhos cheios de lágrimas não derramadas. — Esse momento é tão
poderoso que o meu peito está cheio de emoções diferentes.
Alegria. Orgulho. Remorso por só estar aqui agora.
— Fico feliz por isso. Eu… eu não sei o que acontece de
agora em diante, mas me sinto bem por Olive ter a oportunidade de
conviver com o pai.
As palavras me atingem e minha mente voa para Conrad e a
tempestade de merda que vem por aí. Mas eu me recuso a permitir
que ele me prive desse momento.
Ou qualquer pessoa.
— Ela é minúscula, não posso acreditar que seja tão
pequena — sussurro. Ela remexe nos meus braços, tremulando os
olhinhos ao abri-los. — Oi meu anjinho, sou seu papai.
Maddison clareia a garganta e, quando olho para ela, vejo
aquelas lágrimas não derramadas molhando as suas bochechas.
Merda, provavelmente já fodi com tudo.
— Ela deve estar ficando com fome. Vê como ela suga a
mão?
Concordo, assistindo o movimento com admiração.
Cuidadosamente, volto Oliver para os braços da sua mãe.
— Eu vou ao corredor fazer uma ligação enquanto você…eh,
a alimenta?
— Obrigada. Você é bem-vindo aqui pelo tempo que quiser,
Briggs. Nana vai chegar em breve, meus amigos Ty e Kyle também.
— Que ótimo. Tudo bem se os caras do time vierem vê-la?
Eu ainda não contei para a minha família, então…
Por um momento, Maddison parece apavorada. Talvez os
meus olhos vejam o que não existe, e ela concorda.
— Claro.
Deixo as duas no quarto e saio para corredor. Caminho até
enxergar portas duplas que vão para o pátio, e empurrá-las. Assim
que estou fora e tenho privacidade, tiro meu telefone do bolso.
Minha primeira ligação não é para os caras. É para a pessoa
que quase roubou o meu futuro.
Conrad atende depois de alguns toques.
— E aí, homem?
— Preciso falar com você. Está livre?
Ouço uma confusão, uma mistura de vozes ao fundo. Ele
fala:
— Claro, está tudo bem? Tenho uma reunião daqui a uns dez
minutos.
— Cancele.
Minha voz soa estranha até para mim, baixa e carregada de
ódio.
— Algum problema?
— Conrad, você sabe que é meu agente desde antes da
convocação. Eu entreguei a minha carreira em suas mãos,
entreguei a minha vida inteira em suas mãos, porra. Nunca te
questionei. Nenhuma vez. Nem sobre o que seria melhor para mim.
Nem sobre nada.
— Briggs, o que está acontecendo? Você e eu, nós…
— Cale a boca, Conrad — eu disparo.
Se eu não tivesse vendo que a chamada ainda estava em
curso, poderia preocupar por ele ter desligado. O outro lado da linha
estava muito silencioso.
— Você tentou subornar a mãe da minha filha. Falsificou o
caralho da minha assinatura em documentos que eu jamais
assinaria nessa droga de vida.
Estou tão consumido pela raiva que mal consigo enxergar
além dos pontos pretos que dançam na frente dos meus olhos.
Nunca na minha vida, estive com tanta raiva, tão enojado.
Nem quando peguei o meu irmão fodendo com a minha
noiva, em nossa cama.
Aquilo não chegou nem perto do ódio que sinto agora.
— Espere aí, me escute okay, só…
— Eu falei pra calar a porra dessa boca. Nada que você
disser agora vai aliviar. Soube como Beau me traiu, não é?
Inacreditável, caralho. A partir de agora, você não é mais o meu
agente. Você não me representa. Você não fala mais em meu nome.
Se sair um murmúrio dos seus lábios de merda com o meu nome,
acabo com você. Entendeu?
— Briggs, você não pode me largar. Não é assim que
funciona, nós temos um contrato. Eu só estava cuidando dos seus
principais interesses. A-a papelada nem ao menos tem v-validade,
pelo amor de Deus — ele gagueja, tentando tirar o seu da reta e
apenas se afundando ainda mais no buraco.
— Contrato? Você quer falar sobre a porra do contrato,
Conrad? Eu vou te arruinar. Cada jogador da NHL vai saber que
você é um imundo do caralho. Continue me testando e vai perder
cada maldito cliente que você tem. E se eu souber que você
sussurrou uma palavra para alguém a respeito do nascimento da
minha filha, dentro de uma hora o seu nome vai pipocar na ESPN.
Sem falar que falsificação de assinatura é ilegal. Mas se você quer
seguir essa linha, vou te processar por tudo que valha a pena. Não
se meta na minha vida. Se você entrar em contato comigo, com a
minha família ou com alguém do meu time outra vez, vai ter que
arcar com as consequências. Eu não tenho mais nada pra te dizer.
Ele respira fundo, percebendo que perdeu a batalha.
— Eu pensei que estava fazendo a coisa certa.
— Bem, passou tão longe que chega a ser surreal. Acabou.
Não entre em me procure mais.
Antes que ele possa dizer outra palavra, encerro a ligação.
Não há mais nada a dizer. Ele tem sorte de eu não aparecer no
escritório dele e espancá-lo pelo que ele fez.
Prometi a mim e a Olive que, independentemente de
qualquer coisa, eu vou protegê-la. Eu a amo. Ela se tornou
prioridade na minha vida e o primeiro passo para isso é me livrar de
alguém em quem eu não possa confiar.
Porra, Conrad para mim era como um parente. E cá estou eu,
mais uma vez, sendo traído pela família.
Exatamente como Beau.
Parece ser recorrente na minha vida: minha família me
fodendo sempre que possível.
Já vai tarde.

Posso imaginar que a última coisa que Reed, Graham,


Hudson ou Asher pensaram quando eu escrevi para eles virem ao
hospital logo que possível, foi que conheceriam a minha filha
novinha em folha, com menos de vinte e quatro horas de vida.
Inferno, nem eu posso acreditar nisso.
Na verdade, aposto todo o meu salário que eles pensaram
que eu tinha feito algo para foder tudo de novo, e eu não os culpo
por isso. Eu já os coloquei em muito mais merda do que eles
mereciam nos últimos anos. É por isso que estou tão empolgado por
uma coisa… boa. Por uma mudança.
Enviei a mensagem por um motivo incrível. Não por ficar
bêbado e brigar com um cara num bar, ou por precisar de uma
carona porque dirigi a minha caminhonete três pontos abaixo do
limite legal no bafômetro. Por tudo que já fiz de errado, agradeço por
estar do outro lado. Por tirar a minha cabeça da bunda e perceber
que a vida é digna de ser vivida, mesmo depois de ter o seu coração
arrancado do seu peito.
— Tudo bem se eu e os caras formos ao berçário ver ela? —
eu pergunto a Maddison que está descansando. Sua avó, Ty e Kyle
acabaram de visitá-la e ela parece ainda mais cansada.
Sinceramente, estou impressionado com a força que tem.
Quando pensamos em força, na maioria das vezes,
imaginamos força bruta. Mas hoje? O que testemunhei Maddison
fazer, essa é a verdadeira força. Uma espécie que eu nunca vou ter,
independentemente do quanto eu ficar no banco, ou de quão forte
eu puder marcar alguém no gelo. Ela é incrível pra caralho.
— Descanse um pouco e me envie uma mensagem se
precisar de alguma coisa. Volto daqui a pouco, okay?
Ela assente, com os olhos já fechados. Eu quero me
aproximar, afastar o cabelo que caiu na sua testa e baixar meus
lábios nos seus cabelos loiros e macios, mas eu não vou.
Não importa o quanto eu queira.
Saio para o corredor e fecho a porta cuidadosamente. Ando
até a sala de espera e vejo os caras entrando pelas portas.
— Espera aí, ala da maternidade? — o sussurro de Graham
mais parece um grito. Ele nunca consegue ser discreto. — Por que
estamos aqui? É uma punição?
— Feche a matraca, Graham — Reed resmunga.
Quando finalmente paro diante deles, todos os olhos
questionadores estão em mim.
— Obrigado pela presença, pessoal. Eh, eu sou um papai,
tenho uma filha e o nome dela é Olive.
O queixo de Asher cai, literalmente. Graham parece que vai
desabar no chão. Hudson arregala os olhos e Reed está totalmente
chocado.
Então Graham ri. Ele ri tão alto que cada cabeça da ala do
hospital vira em sua direção. Ele se dobra de tanto gargalhar, e
Asher e Hudson se entreolham e começam a rir também. Como
dominós caindo juntos em fila. Reed sacode a cabeça, perturbado, e
então até ele solta uma risada.
Dura pelo menos um minuto, até Reed me encarar com olhos
esbugalhados.
— Espera, você está falando sério?
Todo mundo para de rir.
— Sim, minha filha acabou de nascer.
O silêncio se instala entre nós, até Asher falar:
— Essa é a última coisa que imaginei. Pensei que fosse
brincadeira.
— O mesmo aqui — Graham brinca. — Como? Quer dizer…
é claro que eu sei como, mas com quem? Quando? Onde? Você
não pode nos chamar aqui e apenas jogar essa bomba.
Ele fala tão rápido que as palavras saem emboladas.
— Vamos para o pátio.
Eu os guio além das portas duplas até o pequeno espaço ao
ar livre, de onde liguei para Conrad mais cedo. Eles sentam seus
enormes corpos nos pequenos bancos de cimento. Eu começo do
único ponto que posso.
Do começo.
Quando termino, seus olhares chocados só intensificam, mas
porra, me sinto bem em tirar isso do peito. Contar para as únicas
pessoas que realmente confio nesse mundo.
Os únicos que fizeram por merecer a minha confiança.
Falei sobre o fim de semana que eu e Maddison passamos
juntos, sobre o que aconteceu com Conrad, e como ele quase
acabou com a minha vida usando a desculpa de ter "os meus
principais interesses em mente."
— Aquele filho da puta — Reed pragueja.
Eu concordo com a cabeça.
— O assunto com ele está encerrado. Meu objetivo agora é
cuidar de Olive. Minha filha. É quase como se… mesmo depois de
todas as merdas, todas as besteiras que fiz e todas as pessoas que
eu magoei, ainda recebesse uma chance. Uma oportunidade de
fazer algo incrível por essa garotinha.
Graham acena em concordância.
— Na verdade, nunca pensei em ser tio. Crianças não eram a
minha coisa, mas eu acho que pode ser legal. Posso ver ela?
— Isso mesmo — Completa Asher, e depois Hudson
Eu rio.
— Sim, vamos lá.
Seguimos juntos até o berçário e paramos em frente à parede
de vidro onde ficam todos os bebês. Encontro o seu minúsculo
corpo embrulhado, em um berço à direita.
— Ela é aquela ali. Aquela é Olive Elizabeth — falo,
orgulhoso. Minha garotinha.
— Oh meu Deus, ela é fofa pra caralho — Graham grita,
colocando a mão sobre o peito. — O nosso santo bateu.
— Deus, você é um maricas. Mas…espere até a primeira vez
que segurar ela. Ela tem aquele… cheirinho de bebê que é o melhor
do mundo. Eu não consigo nem descrever.
Reed concorda.
— A paternidade foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida. Sei que você vai ser um pai maravilhoso. — Ele dá um tapinha
nas minhas costas, depois coloca o braço ao redor do meu ombro e
me puxa em sua direção. Acho que a situação de Reed é como a
minha, no sentido que ambos somos pais de primeira viagem e
fomos pegos de surpresa. No ano passado, sua irmã distante e o
marido morreram e deixaram um filho, Evan. Reed era o seu único
parente vivo, e agora … é o seu pai. E cara, ele cumpre o papel
perfeitamente. Sem dúvida, seria para ele que eu pediria conselhos.
— Alguém tem que ligar para Liam. Ele vai cagar um tijolo —
Asher fala.
— É mesmo, você pode imaginar? — Hudson concorda.
Meus olhos ainda estão grudados em Olive, mas eu concordo
com a cabeça.
— Sim, logo que estivermos acomodados em casa. Maddison
está exausta.
— Vamos deixar você voltar para a sua garota, ou melhor… a
mãe do seu bebê. — Graham sorri. — Dê notícias no grupo, okay?
Eu concordo com a cabeça.
— Obrigado pessoal. Isso significa… significa muito para
mim, a presença de vocês. E o apoio incondicional que me deram
nos últimos anos, eu nunca vou poder retribuir.
— É para isso que existem os amigos, Briggs — Reed fala.
— Isso, e chega dessas merdas sentimentais antes de eu
começar a chorar. Nós te amamos, cara. — Asher me puxa para um
abraço rápido, depois aperta a minha mão.
— Preciso pensar no que vou comprar pra ela — Graham
acrescenta enquanto eles se afastam, e eu balanço a cabeça.
A empolgação dele me deixa feliz, mas também estou
nervoso a respeito do que o futuro reserva para mim, Olive e
Maddison.
Capítulo Doze
Briggs
Pouquíssimas vezes na minha vida, senti essa felicidade pura
e digna. O tipo de emoção que envia uma carga de serotonina direto
para o seu cérebro, a qualquer momento que você recordar.
Como a primeira vez que entrei no gelo como um Avalanche.
Ou o meu primeiro dia como treinador dos Mighty Pucks e a primeira
grande vitória em uma partida. Ou quando segurei a taça Stanley
depois da temporada mais brutal e gratificante que eu já joguei.
Mas nada, e eu quero dizer que absolutamente nada chega
aos pés do que sinto agora, com esse delicado pacotinho,
embrulhado de rosa, que se aconchega nos meus braços.
Eu sou pai.
Tenho uma filha e Deus, ela é a coisa mais perfeita que eu já
vi. Não consegui parar de olhar para ela nas últimas quarenta e oito
horas, preocupado em fechar os olhos, mesmo que por um
momento, e ela desaparecer da minha frente tão rápido quanto
apareceu. Talvez seja um pouco de neura. Se na semana passada,
me dissesse que nesse momento eu embalaria um bebê,
principalmente o meu, eu diria que você era maluco pra caralho.
Mas agora que estou aqui, com ela nos braços, entendo o que todos
dizem sobre "pais de primeira viagem". Eu nunca quero magoá-la, e
jamais esquecerei a sensação desse momento. Ela dorme com a
mãozinha enrolada no meu dedo e suas pálpebras vibram por causa
do sonho, enquanto eu memorizo cada pedacinho dela.
Seu peito sobe e desce regularmente enquanto ela dorme, e
o tempo todo eu conto as respirações. É a prova de que ela está
aqui, é minha e, se eu piscar, ela realmente não vai desaparecer no
ar.
Eu nem quero pensar sobre o que acontecerá quando
passarmos por aquelas portas, porque estou assustado pra caralho.
Como vai ser quando sairmos da bolha segura e intocável que
vivemos desde o seu nascimento?
Maddison vai permitir a minha presença na vida delas?
Seriam esses meus últimos momentos com Olive antes que tudo vá
por água abaixo? Só o pensamento deixa o meu peito em estado de
pânico. Eu nunca acreditei em amor à primeira vista, não até agora.
No instante que meus olhos pousaram nela, recém-saída da barriga
da mãe, tive uma sensação estranha no meu peito. Uma que, até
aquele momento, nunca havia sentido. Uma mistura de orgulho e
amor avassalador, por saber que fiz esse bebezinho com os
pulmões fortes e as bochechas mais fofas que já vi.
Eu não preciso de teste de paternidade para saber que ela é
minha. Ela tem o meu nariz e o meu queixo, e quer saber, se parece
mais comigo do que com Maddison. E como a mãe dela é a mulher
mais bonita que já conheci, foi um azar para Olive. Meus olhos
examinam o seu rosto pela milionésima vez, memorizando a
inclinação do seu nariz e os cílios escuros e compridos que
espalham pelas suas bochechas. Ela franze os lábios durante o
sono e eu sorrio, orgulhoso.
Não posso acreditar que criei uma perfeição dessas. Não
consigo acreditar que sou pai. Não dá para acreditar no tanto que já
a amo, sendo que ela só nasceu há dois dias.
— Briggs?
Os olhos de Maddison encontram os meus. Ela tem um
pequeno sorriso nos lábios, aquele que é só meu, quase como um
segredo que só nós dois compartilhamos.
— Sim? — eu sussurro com cautela, para não atrapalhar o
sono tranquilo da minha garotinha. Quem sabe quanto tempo vai
durar. Ela acordou de hora em hora para mamar, e se eu puder
carregá-la um segundo a mais, eu vou.
— Vamos ter alta em breve. Para ir para casa,
Quase machuco a minha bochecha com uma mordida. Eu
não quero deixá-la, nem agora e nem nunca. Engolindo em seco,
respondo:
— Eu sei. Gostaria que não tivéssemos.
Ela suaviza o olhar e minha atenção volta para Olive.
— Acho que temos assuntos realmente importantes para
discutir. Precisamos tomar decisões e o hospital não é lugar para
isso — Ela interrompe, pigarreando porque a exaustão deixa a sua
voz rouca. — Se quiser ir para casa conosco hoje, está tudo bem
para mim. Quer dizer, se for a sua vontade.
Ela parede tão atordoada quanto eu, e eu entendo. A vida de
nós dois foi virada de cabeça para baixo nas últimas quarenta e oito
horas. Parece surreal pensar que as decisões que tomarmos nos
próximos dias, mudarão as nossas vidas ainda mais, para sempre.
Eu só espero que ela me permita participar da vida de Olive. Da vida
delas.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu vou adorar. Eu realmente não quero deixá-la.
Ela estica os lábios em um sorriso que só pode ser descrito
como adoração.
— Ela é absolutamente perfeita.
— Eu já a amo tanto, Maddison. Morro de medo de tirar os
olhos dela, mesmo que por um segundo.
— Eu também. Estou paranoica. Tenho medo de desviar o
olhar e ela parar de respirar. É tão pequenininha. Tão indefesa.
Como se nos ouvisse falar dela, Olive remexe nos meus
braços e começa a abrir os olhos e me encara com aqueles olhos
verde-escuros que, definitivamente, herdou da mãe.
Então começa a chorar e eu sei que está com fome. De hora
em hora, como um reloginho. Eu me levanto da cadeira e vou até
Maddison. Gentilmente, coloco Olive nos braços dela e desvio o
olhar quando começa a abrir o seu top.
Ela nunca me pediu, mas dou privacidade durante o tempo
que ela amamenta Olive. A minha parte primitiva quer assisti-la
alimentar a nossa filha, mas ela poderia ficar desconfortável, já que
não discutimos a respeito.
Em vez disso, sorrio e saio do quarto para enviar mensagem
para os caras. Meu telefone explode com mensagens do nosso
grupo. Eu rolo através delas e a minha risada é inevitável.
Graham e Hudson discutem o tempo todo sobre quem vai ser
o melhor tio. Se eu tivesse que adivinhar, diria que Reed e Asher
juntarão a eles em um segundo.
Graham: Nem fodendo, eu vou comprar muito mais
coisas legais para ela e, por isso, vai gostar mais de
mim.
Hudsdon: Emoji com olhos revirados Ninguém nunca te
disse que não se compra o amor das pessoas, novato?
Essa garota vai me amar mais porque vou levá-la para
todos os jogos de hóquei imagináveis. Vou colocá-la ela
no gelo no mesmo instante que aprender a andar.
Reed: Seus dois idiotas, não se compra o afeto de uma
criança. Além do mais, o pai dela é jogador de hóquei,
acham que vão conseguir conquistá-la levando aos
jogos? Não, eu tenho uma criança, sei exatamente o que
fazer. Só vou deixar vocês dois correrem em círculos
enquanto a vitória é minha.

Continuo rolando a tela, rindo desses idiotas que chamo de


amigos, até me dar conta de tudo que eu perdi. Graham envia a foto
de uma camisa personalizada com seu nome e número nas costas.
Tolos. Mas inferno, eles são os meus melhores amigos.
Independentemente de qualquer coisa, sempre estão do meu lado
provando as suas lealdades. Eles me ampararam na minha pior fase
e, quando o peso ficou grande para eu suportar, me carregaram. Eu
devo tudo a eles.
Eu: Vejam como ela fica fofa quando está dormindo.

Digito rapidamente e adiciono uma foto de Olive que tirei


quando ela estava dormindo, com um sorriso nos lábios minúsculos.
Estou orgulhoso pra caralho
Imediatamente, eles respondem à imagem.
Graham: Porra, por que os bebês são tão lindos, quando
a única coisa que fazem é cagar? Comer. Ou dormir. Por
que agora fiquei louco para ter um bebê? Alguém fale
para o meu pau ir se foder.
Reed: Deleta essa merda do seu cérebro agora mesmo.
Bebês cagam MUITO. E você pode dar adeus ao sono.
Mas… B, ela é perfeita pra caralho e eu mal posso
esperar para pegá-la no colo. Holland pediu pra te dizer
que vai carregá-la por uma hora inteira e vai lutar
fisicamente com qualquer pessoa que atravessar o seu
caminho. Ela me venceu na queda de braço na noite
passada, e isso não teve nada a ver com o fato de ela
estar nua. Não deixem a pouca altura enganar vocês, ela
é uma selvagem.

Eu rio em voz alta


Cara, meu melhor amigo foi chicoteado. Ele está casado há
pouco tempo com Holland, que é simplesmente a melhor amiga da
irmã mais nova dele. Eles tiveram um início difícil, depois de
tentarem esconder o relacionamento. Mas, no fim das contas,
quando veio à tona, todo mundo ficou feliz por eles. Eles só tiveram
que resolver suas questões particulares. Agora, Holland é parte da
família. E acredite em mim quando eu digo. Eu sei que ela vai
estourar as minhas bolas e eu sou muito apegado a elas, então…
Eu: Aprendi essa lição do jeito mais difícil: não provocar o
chaveirinho.
Reed: Com certeza. Essa é a minha garota.
Hudson: Não posso acreditar que estou dizendo isso,
mas… acho que derramei uma lágrima. Estou feliz por
você, mano. Tem que ser um bom exemplo para ela.
Graham: Acabei de comprar o primeiro taco de hóquei pra
ela, e o menor par de patins feito pela Bauer.
Asher: Novato, ela tem dois dias de vida.
Graham: Emoji de encolher de ombros Eu disse que vou
ser o tio favorito.

Eu rio como um idiota durante toda a troca de mensagens.


Isso me ajuda a desviar a mente da ansiedade no meu estômago,
por pensar que essa porcaria pode não acontecer como eu espero.
Sem falar na tempestade de merda que vai acontecer, quando eu
sair daqui e tiver que encarar os meus pais.
Ao lembrar de Conrad, a traição dilacera as minhas
entranhas. Porra, parece que a cada giro que dou, alguém que eu
confio me trai. Cansei de permitir que ele estrague esse momento.
Ele já arruinou o suficiente e eu estou cansado de perder tempo
com ele. Não vou mais.
Esse tempo está reservado para Maddison. Não vou permitir
que ninguém, principalmente aquele idiota, me leve o momento que
nunca terei de volta.
Minha maior preocupação é proteger Olive e Maddison da
mídia, da exposição ao público que advém de ser um jogador
profissional de hóquei, e de idiotas como Conrad.
Eu: Tenho que voltar e ver a minha garotinha. Em
breve enviarei mensagem com detalhes, para os
TITIOS a visitarem outra vez.

Coloco meu telefone no bolso de novo, e bato levemente no


quarto de Maddison. Quando a ouço dizer que posso entrar, abro a
porta e entro no lugar espaçoso. Olive ainda está aninhada em seus
braços, dormindo como um anjo.
Não sei como é possível me encantar mais, a cada vez eu
olho para ela. Emoção obstrui a minha garganta e o meu peito incha
de orgulho.
Minha filha.
Maddison olha para mim e sorri, passando o polegar
delicadamente pela bochecha dela, enquanto velamos o seu sono.
— Eu sei que isso… isso não é o que esperava, e que você
perdeu muito da minha gravidez, mas estou feliz por estar presente
aqui, Briggs.
Isso me atinge no estômago. As palavras dela, tanto quanto
eu queria ouvi-las, eu me preocupo que sejam um adeus.
— Obrigado por permitir a minha presença, Maddison. Depois
de tudo… — Eu interrompo e ela acena com a cabeça.
Enquanto observo minha filha dormir, tudo que posso fazer é
rezar para ter a chance de estar presente em todos os momentos
importantes da vida dela.
O apartamento de Maddison fica a menos de quinze minutos
do Northwestern Memorial. Durante todo o trajeto, olhei para Olive
no banco de trás pelo menos cinquenta vezes. Ter um filho
desbloqueia novos medos. Uns que você nem mesmo imaginava
existirem, até aparecer um recém-nascido minúsculo e frágil que a
vida esteja literalmente em suas mãos.
— Ela está bem, Briggs. Está ressonando, pode dirigir mais
depressa.
Eu concordo com a cabeça, ela tem razão. Okay, está tudo
bem lá atrás. Aumento minha velocidade para quarenta e Maddison
apenas ri. Este pode ser o percurso mais assustador da minha vida.
Apesar de os pneus da minha caminhonete serem próprios para a
neve, não são revestidos de aço blindado. Portanto eu vou me
preocupar. Quem se importa se são apenas estradas secundárias?
Finalmente, depois do que parece ser uma eternidade, entro
no estacionamento do apartamento dela. Eu salto para fora, corro
para abrir a porta de Maddison e estendo minha mão para ajudá-la a
sair.
Quando as mãos macias e delicadas deslizam nas minhas,
eu contenho um arrepio. Meus pensamentos voltam imediatamente
para a noite que nos conhecemos. Aquela que mudou tudo. Me
lembro do movimento simultâneo dos nossos corpos suados e dela
se contorcendo embaixo de mim.
Ela desce da caminhonete vagarosamente e me olha.
— Pega Olive para mim? Ainda não posso carregar peso. A
cadeirinha dela…
— Claro. Qualquer coisa que você precisar.
Libero o bebê conforto de Olive, jogo a bolsa dela sobre o
ombro e me certifico que o cobertor não está cobrindo o rosto dela.
Mais cedo, quando ela estava dormindo, entrei na Amazon. Rolei
por, pelo menos, vinte páginas de livros sobre bebês e encomendei
os dez mais vendidos.
Eu não sei merda nenhuma sobre crianças, mas farei
qualquer coisa para ser o melhor pai possível para a minha filha.
Inclusive passar todo o meu tempo lendo qualquer livro de bebês
que eu encontrar. Maddison pega a chave dentro da sua bolsa e vira
na direção do apartamento. Olive e eu vamos atrás dela e, enquanto
isso, verifico a vizinhança.
Essa não é a melhor parte da cidade, o que me preocupa.
Então faço uma nota mental para falar com ela sobre isso depois.
— Não é grande coisa, mas é minha — ela diz enquanto abre
a porta e me leva para dentro. Porra, é minúsculo.
Isso me faz parecer um idiota, então mantenho meus
pensamentos para mim. Mas como diabos elas vão viver nesse
lugar? Deixo a bolsa de fraldas na mesa de café e coloco o bebê
conforto, delicadamente, no chão. Meus olhos ainda examinam o
pequeno lugar.
Onde ela vai guardar todas aquelas bugigangas de bebês?
— Quer um tour? Não tem muita coisa para ver.
Eu concordo com a cabeça.
— É claro.
Meus olhos voltam para a porta da frente, percebendo que há
apenas uma fechadura. Uma onda de proteção surge no meu peito.
Daqui vou direto para a loja de ferragens, comprar mais três
trancas.
Com Olive dormindo tranquilamente na cadeirinha, sigo atrás
de Maddison, tentando o meu melhor para tirar os olhos da sua
bunda e me voltar para o espaço que ela me mostra, apesar de não
ter muita coisa para eu ver. Ela me leva até o quarto, lotado com as
coisas dela e de Olive.
Há um fungo preto suspeito crescendo no ventilador de teto,
o papel de parede está desbotado e descascado devido aos anos
de uso e desgaste, e as dobradiças da porta rangem tão alto que
não tem como não acordar Olive. Não tem berço nem um Moisés.
Lendo meus pensamentos, ela diz:
— Ela vai dormir aqui em um chiqueiro berço, está guardado
no armário. Ela aponta para a porta ao lado de uma pilha de fraldas.
— Na verdade, não há espaço suficiente para um berço, então isso
vai servir por enquanto.
Ela tem razão ao dizer que não é muito, mas é óbvio que ela
mantém tudo limpo e organizado. Ainda não me sinto melhor sobre
ela ou a minha filha dormirem aqui. Especialmente com aquela
fechadura meia boca na porta. Olho para Maddison de novo, ela
mexe as mãos ansiosamente e depois levanta o olhar para
encontrar o meu.
— Se quiser tomar um banho ou descansar, eu fico mais do
que satisfeito em cuidar de Olive. Na verdade, se você não se
importar, eu gostaria.
Ela assente na mesma hora que as palavras saem da minha
boca. Embora nossa situação não seja normal de forma alguma,
acho que encontramos consolo um no outro, pelo simples fato de
não navegarmos sozinhos em águas desconhecidas.
— Seria maravilhoso. Acho que eu vou ah…— Ela olha para
a blusa. Duas manchas úmidas se formam no exterior do seu
moletom. Um rubor sobe do seu pescoço até as bochechas e ela
fala: — Oh D-d-deus é tão embaraçoso. — Apoia a cabeça nas suas
mãos e eu me aproximo imediatamente, afastando-as do seu rosto.
— Ei, não precisa ficar com vergonha de mim, Maddison.
Você me deu o melhor presente que eu poderia imaginar. Seu corpo
fez coisas extraordinárias. — Sem pensar, eu estendo a mão e
passo por uma mecha de cabelo que soltou do coque bagunçado na
sua nuca. — Vá tomar banho e relaxar, ela e eu ficaremos bem. Se
precisar de alguma coisa, fala para mim.
Dou um sorriso por cima do ombro, volto para a pequena sala
de estar e começo a tirar Olive do assento. Ela estica os bracinhos e
as perninhas, depois se enrola de novo nos meus braços, formando
a menor de todas as bolas. Usando uma mão, coloco a manta dela
em cima do sofá e tento me lembrar de como a enfermeira nos
ensinou a enrolar, ou como diabos isso é chamado.
Ela parece gostar de ficar com o tecido apertado ao seu
redor. Então eu a coloco cuidadosamente sobre ele e embrulho
exatamente conforme a enfermeira ensinou. Fica solto em algumas
partes, mas porra, até ontem eu nem sabia que inferno era um
cueiro. Vou melhorar com o tempo. Me afundo na poltrona com ela
em meus braços e observo a sala de estar e a pequena cozinha.
Quando eu e Maddison conversarmos sobre o futuro de nós
três, a primeira coisa que quero fazer é tirar elas duas daqui.
Capítulo Treze
Maddison
A água escaldante do chuveiro cai na minha pele e o meu
corpo relaxa tanto que parece até pecado. Eu precisava desse
banho e de um segundo para respirar mais do que imaginei, embora
eu fique ansiosa por ficar longe de Oliver mesmo que por um
segundo.
Depois da primeira visita de Nana, Ty e Kyle, expliquei o que
estava acontecendo e pedi um pouco de espaço. Por mais
perplexos que estivessem por eu permitir que Briggs estivesse aqui,
perto de Olive, eles ainda respeitavam meus desejos. Ainda não
expliquei exatamente o que aconteceu, porque os últimos dois dias
foram um turbilhão. Eu nem mesmo tenho certeza se entendi o que
está acontecendo. Só sei que Briggs realmente não sabia nada
sobre Olive.
Ele foi enganado, tanto quanto eu. Só que no caso dele foi
uma traição muito, muito pior. Além de não ter conhecimento do que
estava acontecendo, perdeu a oportunidade de acompanhar o
desenvolvimento de Olive na barriga e particularidades da minha
gestação que não posso devolver a ele.
Se eu estou nervosa? Sim. Estou lívida pra caralho. Odeio
que tenham nos roubado um tempo que nunca mais teremos de
volta, e que durante toda a minha gravidez, desde o momento que li
a carta dele, minha raiva foi equivocada. Eu realmente não fazia
ideia, e agora estamos indecisos a respeito do que vai acontecer.
Eu me questionei se conseguiria viver sabendo que o privei
de mais alguma coisa. Do aniversário de Olive? De vê-la se
estabelecer no mundo? Será que tudo que passamos nesse pouco
tempo que nos conhecemos, independentemente de ser bom ou
ruim, o impediria de ser um bom pai?
A única resposta que posso encontrar é não, eu não o
privaria de mais nada. Mas, se depois de tudo ele decidisse não
participar da vida de Olive, seria uma decisão que ele iria tomar,
depois de ver a filha.
Então notei o seu olhar no momento que viu a nossa filha,
chorando a plenos pulmões, vermelha e irritada. Eu vi os olhos
cobertos de lágrimas e a emoção gravada no seu rosto. Quando ele
a carregou pela primeira vez, eu soube imediatamente que Briggs
Wilson seria o melhor pai do mundo e eu o permitiria ser.
Gemo enquanto meus dedos massageiam o couro cabeludo,
me proporcionando um breve período de descanso. Relembro a
minha conversa com Briggs, quando ele disse que o meu corpo fez
coisas extraordinárias.
Ele fez. Mas hoje, contrariamente, me sinto uma sombra do
que costumava ser. Quando o sabonete escorre, olho para a minha
barriga meio saliente e para as estrias causadas pelo parto. Linhas
irritadas e irregulares que serpenteiam pelas laterais do meu corpo,
abdômen e coxas. Uma partícula egoísta de mim se alegra por
Briggs nunca ter me visto grávida, e por não estarmos juntos
romanticamente. Porque mesmo que meu corpo tenha gerado um
bebê, tenho plena consciência do que ficou para trás.
Não que eu esteja pensando em ficar com Briggs de alguma
forma, é claro que não. Solto um gemido alto, olho para o teto e
aperto os olhos.
Não, a última coisa que eu deveria fazer é me envolver com o
pai da minha filha. É a pior ideia que existe, e quando digo a ele que
a coparentalidade é o melhor caminho para nós, eu não tenho
intenção de cruzar essa linha.
Não importa o quanto ele seja lindo, o quanto seus bíceps
ficam maravilhosos quando flexionados sob a manga apertada da
sua camiseta, ou como uma covinha aparece na sua bochecha
quando ele sor…
— Maddison?
A voz de Briggs do outro lado da porta me faz pular.
— Oi?
— Só queria saber se tá tudo bem com você. Acho que a
nossa garotinha tá ficando com fome. Ela tá sugando a mão e eu
ah… não tenho as partes certas para alimentar ela.
Rio baixinho. É claro que não, seu tolo.
— Saio em um segundo — digo.
Impedindo a minha mente de voltar para Briggs, aplico
rapidamente o condicionador no cabelo, lavo o meu corpo e depois
saio lentamente do chuveiro. Não estou com tanta dor quanto
estava no hospital, mas o meu corpo com certeza precisa de tempo
para voltar a ser como antes.
Visto uma camiseta velha e shorts de pijama bem depressa,
desembaraço o cabelo com uma escova, faço a minha higiene bucal
e abro a porta. Briggs não deve ouvir a porta se abrir, porque
continua a sussurrar para Olive.
— Espero que a sua mamãe me deixe ficar por perto,
garotinha. Eu quero muito. Sim, eu sei. Não faço ideia de que merda
estou fazendo. Desculpe, não posso falar merda, sinto muito. Mas…
eu quero tentar. Provavelmente vou fazer uma confusão. É evidente
que eu não sei como trocar uma fralda, preparar uma mamadeira ou
qualquer outra coisa, mas eu te amo. Isso importa, né? Eu já te amo
muito.
Meu coração acelera e meus olhos lacrimejam. A última coisa
que eu esperava era que um jogador de hóquei profissional com um
metro e oitenta, pai de um bebê seria tão… calmo, carinhoso e
cuidadoso. Como se Olive fosse quebrar em suas mãos sempre que
a pegasse no colo. A mãozinha de Olive está enrolada no dedo de
Briggs enquanto ele fala com ela. Essa cena me deixa com lágrimas
nos olhos e me faz fungar.
Sentindo a minha presença, ele levanta o olhar com a
expressão alarmada.
— Me desculpe, não ouvi você sair. Só estava em uma
conversinha com Olive.
Eu assinto, com um sorriso. Chorar por algo tão pequeno, só
pode ser desequilíbrio hormonal. Mas isso não é pouco, é bastante.
É um momento que vou lembrar mesmo se as coisas com Briggs
não derem certo.
— Não tem problema. Vou alimentar ela rápido e depois
colocar no berço. Quer esperar eu terminar pra gente conversar? —
Nervosa, mordo o meu lábio. Além da primeira noite, nunca fiquei
sozinha com Briggs. Vê-lo aqui no meu apartamento pequeno e
danificado, de repente me fez sentir menor. Me fez desejar que ele
fosse um pouco mais bonito ou situasse em uma parte melhor da
cidade.
— Eu quero muito, se estiver tudo bem. Ajudo com qualquer
coisa que precisar. É sério.
— Obrigada. Por estar aqui e por ser tão… legal.
Ele ri baixinho enquanto transfere Olive para os meus braços.
— A mídia faz o que quer da minha imagem, mas eu gosto de
pensar que sou um cara bom.
As palavras dele pesam como chumbo no meu estômago.
Quando Olive começa a acordar, eu a aperto no meu peito e
passo o nariz pelo seu rosto, sentido o cheirinho de bebê recém-
nascido. Briggs recosta no sofá e o seu corpo grande ocupa a maior
parte do móvel velho e desgastado. Eu sorrio levemente para ele,
entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim.
No segundo que ela bate, pressiono minhas costas na
madeira fria, tentando desesperadamente me recompor. Olho para a
minha filha, que suga o punho faminta e recosto na cabeceira da
cama para amamentá-la. Eu a observo mamar e, durante todo o
tempo, muitos pensamentos passam pela minha cabeça.
Assim que ela adormece ainda agarrada a mim, ajeito o
berço ao lado da minha cama rapidamente. Depois de colocá-la
dentro dele, vou até Briggs. Ele continua sentado no sofá, com o
celular na mão.
Clareio a garganta, ansiosa.
— Oi — minha saudação sai em um sussurro. Eu não sei o
motivo, mas agora que Olive não está conosco, estou ainda mais
nervosa.
Ele olha para cima e sorri.
— Oi.
Mesmo agora, sem nos vermos por nove meses, o seu rosto
maravilhoso ainda me causa borboletas no estômago sem ao
menos tentar.
Chego mais perto, pego o monitor que deixei em cima da
bancada, ligo e sento na outra ponta do sofá. Considerando que ele
ocupou a maior parte do espaço, não me sobrou muito.
— Entãããão… — Eu paro, passando os dedos pelas pontas
ainda úmidas do meu cabelo de forma nervosa.
— Eu nunca fui de fazer rodeios, Maddison — ele diz. —
Nunca vou conseguir me desculpar pelo que Conrad fez. Quero que
saiba que demiti ele.
Arregalo os olhos e ele assente, com a mandíbula tensa por
cerrar os dentes.
— Ele nunca mais vai ser um problema. Eu sinto pra caralho.
Eu… eu quero participar da vida de Olive. Quero ser o pai dela,
estar sempre presente. — Ansioso, passa a mão na barba por fazer.
— Ela é minha filha e espero que você me dê a chance acompanhar
o crescimento dela, mesmo depois do que aconteceu. Quero que
saiba que se me permitir ser parte da vida de vocês, vou fazer tudo
o que puder para te proteger e colocar as duas sempre em primeiro
lugar.
A sinceridade na voz dele me atinge como um soco no
estômago. Dá para perceber a angústia, a dor, a esperança.
Sem pensar, coloco a mão no seu antebraço rígido.
— Briggs, eu não estou com raiva de você pelo que
aconteceu. Você não sabia. É óbvio que se soubesse a respeito de
Olive, tudo seria diferente. Se o seu desejo é participar da vida dela,
nunca vou impedir. Garotinhas precisam dos seus papais.
Os olhos de Briggs fixam-se nos meus.
— Sério?
Eu concordo com a cabeça.
— Sim. Não quero que Olive cresça sem pai, especialmente
porque você quer estar na vida dela. Não é justo com nenhum de
vocês, ela é sua filha e você tem tanto direito quanto eu.
Sinceramente, não sei nada sobre coparentalidade, mas quero
tentar. Trabalharemos juntos para criar a nossa filha. Com sua
agenda de hóquei... não sei exatamente como vai funcionar, mas
podemos enfrentar os desafios dia após dia.
— Eu vou estar aqui. Dia ou noite. Independentemente do
que você precisar. Vou fazer qualquer coisa para estar aqui por ela.
— Ele sustenta o meu olhar, com a voz cheia de emoção.
— Eu… eu só quero que tudo seja por Olive, apenas por ela.
Estritamente coparentalidade. Depois daquela noite, quer dizer, não
que eu pense nela o tempo todo, mas… — Minhas bochechas
ardem de vergonha, Deus estou tropeçando nas palavras como uma
adolescente. — Eu só quero dizer que não desejo complicar mais as
coisas. É claro que a noite que passamos juntos mudou tudo. Ela
nos deu a nossa filha, mas eu não quero entrar nisso com ideias
românticas. Quero que o nosso relacionamento seja a baseado em
Olive.
Briggs parece querer dizer alguma coisa, mas finalmente
concorda.
— Eu entendo e respeito a sua decisão.
— Obrigada. E os documentos que assinamos? Temos que
fazer alguma coisa pra ela ter o seu sobrenome? Restabelecer os
direitos dela? — eu pergunto. É a única dúvida que tenho desde o
hospital, mas do jeito que tudo aconteceu, não conseguimos discutir
o assunto até agora. Eu nem sabia que ele tinha demitido Conrad
até essa noite.
— Ele falsificou, Maddison. Aquele cuzão do caralho falsificou
a minha assinatura. Ele planejou tudo. Aqueles documentos nunca
tiveram valor legal.
O alívio me inunda, o que é surpreendente, visto que há
poucos dias eu odiava o chão que ele pisava. É uma loucura. Dentro
de poucos dias tudo mudou. Não apenas porque temos Olive
conosco, mas o fato de ele estar aqui.
E de termos sido enganados por aquele agente nojento dele.
— Isso é bom. Acho que nós só… nós só precisamos viver
um dia de cada vez. Ser mãe é novidade pra mim, assim como ser
pai é pra você. Vamos aprender ao longo do caminho.
— Também acho. E ouça, preciso que saiba de uma coisa
que é importante pra mim. Quero manter você e Olive fora da mídia.
Não suporto a falta de privacidade e a exposição. Não quero isso
pra minha filha nem pra você. A mídia, os sites de fofoca e essa
merda toda… eles fizeram da minha vida um inferno quando passei
pelo que passei com meu irmão e…— Ele clareia a garganta e eu
vejo a dor crua em seus olhos, quando menciona o escândalo com o
irmão e a sua ex-noiva. — Eu só não quero lidar com isso. De jeito
nenhum. Nunca mais quero passar pelo que passei. Colocar Olive
em primeiro lugar significa deixar ela fora dessas coisas. E você
também. Sinceramente, nunca estive tão deprimido como naquela
época. Eu me recuso a permitir que algo aconteça com vocês duas.
Engulo em seco. De repente a emoção me atrapalha a
respirar. Eu não sabia o quanto Briggs realmente odiava a mídia,
não até agora. Não até ver a dor refletida em seus olhos enquanto
ele fala sobre o que passou.
Deus, Maddison… você teve participação nisso. Você
divulgou aquelas manchetes sem considerar que ele poderia se
magoar de verdade. Sem saber quais consequências as suas ações
teriam na vida dele.
Agora me sinto muito culpada. Por tê-lo magoado, mesmo de
forma inconsciente e sem saber quem ele era. Nunca percebi que
minhas manchetes realmente poderiam causar essa ... turbulência
interna ou provocar mais dor de cabeça em sua vida.
— Sinto muito por despejar tudo em você. Eu só queria tirar
esse assunto do caminho e dizer que, independentemente de
qualquer coisa, vou proteger você e Olive. Vocês são minha
prioridade.
Aceno com a cabeça, sem saber o que mais poderia dizer. Eu
jamais conseguiria revelar quem sou, não quando ele falou
abertamente sobre o que a mídia o fez passar. Que bem isso faria?
Nós não vamos ficar juntos romanticamente, não mesmo.
Decidimos estritamente pela coparentalidade de Olive e falar para
ele só iria magoar e abrir velhas feridas. Não é isso que eu quero.
Nunca quis.
Falar para ele só vai sacudir um barco já está instável.
— Eu sinto muito, mal consigo manter meus olhos abertos —
digo, tentando mudar o assunto que ficou muito pesado e, nesse
momento, estou tão cansada que não sei como seguir em frente. O
parto em si é exaustivo, mas nos últimos dias quase não dormi por
não conseguir tirar os olhos de Olive. Mesmo agora, com a babá
eletrônica, estou quase levantando para ver como ela está. Estamos
separadas apenas por uma parede, mas ficar longe dela é difícil.
— Eu posso ir embora pra vocês descansarem um pouco.
Eu concordo com a cabeça.
— Você pode voltar amanhã? Quer dizer, se você quiser…?
— Eu paro.
— Eu quero. Que tal eu trazer o café? Tenho umas coisas pra
resolver de manhã, posso vir por volta das dez?
— Pra mim está ótimo. Você está com o seu celular?
Ele assente, tira o telefone do bolso dianteiro do seu jeans e
me entrega.
Digito meu número rapidamente, salvo como Maddison e
devolvo para ele.
— Te vejo amanhã?
— Sim.
Levantamos do sofá e nos olhamos sem jeito por um
momento, até que, ele me abraça gentilmente. Os braços fortes
circulam o meu corpo e, por um instante, inspiro o seu cheiro limpo
e terroso que bem me lembro do fim de semana que passamos
juntos. Depois me afasto e raspo a garganta.
— Boa noite, Maddison. Dá um beijo em Olive por mim?
Ele anda em direção à porta da frente, sai e eu fico sozinha
na sala. Sinto que a coparentalidade com Briggs Wilson vai ser
muito mais difícil do que eu pensei. E não tem nada a ver com ele, e
sim com aqueles sentimentos que nunca vão embora desde aquele
fim de semana.
Capítulo Quatorze
Briggs
Eu odiei sair por aquela porta. Deixar Olive. E Maddison.
Eu poderia fingir que é porque ela é uma mãe maravilhosa,
que carregou minha filha por nove meses. Mas eu me recuso a
mentir para mim mesmo. Eu não parei de pensar nela desde aquele
fim de semana incrível que passamos na pousada e mudou minha
vida. Agora … temos uma filha juntos.
Ainda é difícil entender. Os antigos sentimentos que eu
tentava esquecer desde a noite que ela foi embora, despertaram
quando a vi novamente. Em um minuto ela estava em meus braços
me fazendo mais feliz do que em meses. Depois, quando eu
acordei… ela tinha desaparecido, deixando apenas o bilhete que me
destruiu.
Eu não conseguia concentrar nos sentimentos reprimidos por
Maddison, não quando ela enfatizou a importância da
coparentalidade de Olive. Eu gostaria de poder desligar o que sinto
por ela. Se pudesse ser assim, minha vida seria muito mais fácil.
E eu sei que ela está certa. Nossa filha vem primeiro, eu vou
colocá-la sempre em primeiro lugar. Vou colocar as duas em
primeiro lugar na minha vida. Antes de qualquer coisa, começando
hoje… vou provar isso para ela. Parte de mim ainda quer saber o
motivo de ela ter ido embora naquela noite, qual a razão de não ter
ficado mais um pouco, mas agora … que ela optou por concentrar
em Olive, sinto que perguntar só vai trazer à tona memórias que ela
não quer recordar.
O que não vai acontecer se dividirmos a custódia de Olive e
nada mais.
No momento que a minha filha respirou pela primeira vez,
algo mudou dentro de mim. Um lado protetor e sentimental que eu
nunca tinha experimentado, até ouvir o seu choro baixo e profundo.
Agora, por causa da minha garotinha, minha vida ficou
diferente.
Em marcha ré, saio da pequena vaga de estacionamento em
frente à casa de Maddison e sigo com a minha caminhonete pela
rodovia. Faço o caminho de volta para casa mecanicamente. Não
consigo parar de pensar em Olive e na mãe dela.
Naquele apartamento fodido. Na porta sem tranca. No
maldito teto que pode desabar.
Como vou cuidar dela sem estar presente? Sabendo que
tudo está desmoronando e que coisas estranhas crescem no
telhado?
Ela tem tudo que um bebê precisa? Meus pensamentos estão
a mil por hora e juro que perdi o poder de raciocínio. Fecho os olhos
e aperto a ponte do nariz com uma mão, enquanto a outra segura
forte no volante.
No segundo que entro com o carro na minha garagem e
coloco o câmbio no P, pego o telefone e faço uma pesquisa no
Google sobre necessidades dos bebês. Trinta minutos depois, meu
carro ainda está ligado e eu estou mais perdido do que antes.
Preciso ir até à loja de artigos para infantis mais próxima.
Imediatamente.
Depois de digitar uma mensagem rápida para Reed, ligo para
Graham e, enquanto o espero atender, bato ansiosamente o dedo
no volante. Não consigo me acalmar, sinto como se subisse uma
parede enorme e nunca conseguisse alcançar o topo.
— Oi — ele atende depois do terceiro toque. Ao fundo, ouço
sons de jogo e palavrões de Asher. Provavelmente não têm nada
para fazer numa noite de quarta-feira e estão jogando Xbox.
— Preciso de vocês. De vocês dois. O mais rápido possível.
Graham silencia Asher e coloca a TV no mudo antes de falar:
— O que vamos fazer? Tudo bem com Olive-you?
Eu enrugo a testa.
— Você já deu um apelido para a minha filha de três dias,
novato?
— Claro que sim! Deu pra entender? ILOVEYOU, Olive-you?
Não importa. O que está acontecendo?
— Preciso que vocês venham comigo a uma loja de bebês e
escolham… sei lá, coisas de bebê. Muitas delas.
Graham ri e Asher murmura ao fundo.
— Espera, o que é tão engraçado?
— Cara, você está nos pedindo ajuda. Tudo que sei sobre
bebês é o que vejo na televisão. Também conhecido como: ficção.
Onde está Reed?
— Vai nos encontrar na loja. Olha, eu preciso de ajuda.
Podem me encontrar lá em vinte minutos? Estou saindo de casa.
Não posso voltar de mãos abanando.
Graham suspira.
— As merdas que eu faço por amor. Te vejo em breve
papaizinho.
A linha fica muda e eu saio da minha garagem. Preciso me
preparar para voltar à casa de Maddison.
Quinze minutos depois, estou no estacionamento da maior
loja de produtos infantis de Chicago. O site informa que ela tem tudo
que os bebê precisam. Coincidentemente, é exatamente o que eu
preciso.
Estaciono no fundo e caminho até a entrada da loja onde
Reed sorri, encostado em uma pilastra.
— Sinceramente, nunca pensei que ia ver esse dia.
— É, nem eu. Ela é maravilhosa, cara. Mal posso esperar
para vocês irem visitá-la.
Reed concorda.
— Nós também. Contamos pra Evan sobre ela, ele está muito
empolgado. Holland só fala sobre bebês nos últimos três dias e eu
estou preocupado. Acabamos de desfraldar, mano.
Ele parece em pânico e eu rio alto, percebendo que me sinto
da mesma forma desde que Olive respirou pela primeira vez, porém
por razões totalmente diferentes.
— Acontece naturalmente, é como... sei lá, no segundo que
coloquei os olhos nela, a minha vida mudou de rumo. Sei que pode
parecer insano, mas nada é como antes. Eu me sinto um homem
melhor, apenas por saber que ela existe no mesmo mundo que eu, e
que ela é minha.
Reed dá um tapinha nas minhas costas e me puxa para um
abraço. Esse cara não tem noção de espaço pessoal, mas dessa
vez eu deixo. Por enquanto. Culpando a sobrecarga emocional que
tem me atravessado.
— Uau, vocês dois são a coisa mais fofa que eu já vi.
Eu me afasto e vejo Graham e Asher caminhando em nossa
direção, com sorrisos largos nos rostos. Se existe algo sobre
Graham é que a porra do timing dele é impecável.
— Vamos nessa.
Atravessamos as enormes portas duplas e entramos no que
parece ser um mundo totalmente novo.
As luzes fluorescentes brilham o suficiente para me causar
dor de cabeça, e há mais artigos para crianças do que eu vi em toda
a minha vida. Fico ainda mais confuso.
— Puta merda! — Asher murmura.
— Fala sério! — Graham concorda e caminha para pegar um
carrinho de compras. — Com certeza vamos precisar de um desses.
Pensando bem, quer saber? Pegue mais um Asher, provavelmente
vamos precisar de dois.
Ele parece meio atordoado, como um garoto em uma loja de
doces, em vez de um jogador de hóquei em uma loja de bebês.
— Por onde começamos? — Asher pergunta, empurrando o
segundo carrinho.
— O caralho que eu sei. Bebês se alimentam, disso eu tenho
certeza.
Reed revira os olhos, zombando.
— Sim, mas Olive alimenta de leite materno ou fórmula?
Oh merda, ele tem razão.
— Leite materno.
Eu tento não pensar nos peitos de Maddison no meio da loja,
mas falho miseravelmente. O meu desejo por ela só parece
aumentar nos últimos dias. Ela é incrível pra caralh…
— Oh garoto apaixonado, foco — Reed reclama.
Graham e Asher se olham com um sorriso.
— Roupas. Devemos começar por elas.
— Lidere o caminho, senhor.
Duas horas depois, estamos parados na seção de cadeiras,
com ambos os carrinhos lotados de compras. Graham luta com uma
engenhoca que, de assento de veículo se transforma em carrinho de
bebê.
Estou começando a perceber o quanto estou perdido.
Existem muitos tipos diferentes de alimentos. Para fases diferentes.
Orgânicos. Sem glúten. Talheres de plástico normal e sem Bisfenol
A. Porra, nem me fale sobre os diferentes tipos de escovas para
garrafas. De quantas maneiras diferentes você consegue lavar uma
garrafa? Uma tonelada do caralho. Essa é a quantidade.
— Você está bem? — Reed pergunta baixinho enquanto
observamos Graham quase jogar a coisa no chão. Seu rosto está
vermelho e ele inspira e expira como se estivesse se exercitando.
Certamente há uma alavanca vermelha na parte inferior, pelo menos
é o que dizem as instruções no folheto. Mas prefiro vê-lo perder a
cabeça ao tentar descobrir. O entretenimento é muito maior.
— Um pouco sobrecarregado. Reed, eu vou foder com tudo.
Como eu sempre fiz. Você sabe, você sabe disso. Eu só não quero
magoar nem decepcionar ela. Quer dizer, não só no futuro… inferno,
eu tenho certeza que ela acompanha as notícias, o Twitter ou os
sites de fofoca. Metade da merda é verdade, mas a outra metade
não. É provável que ela esteja preocupada com o tipo de pai que eu
vou ser. Afinal, tudo que viu deve ter feito ela questionar que tipo de
homem eu sou. Porra, eu fiquei no banco por quase um ano. Não
acredito que eles não me dispensaram. Perdi todos os meus
patrocínios porque me tornei um risco. Eu não quero ser um risco
para ela. Quero provar que não sou mais aquele homem, que sou
uma pessoa melhor e que tudo foi por causa de toda aquela merda
que passei.
— Não, mano. Você vai conseguir. Não deixe o passado
arruinar o presente que você recebeu. Sim… as coisas ficaram
difíceis por um tempo, mas ninguém é perfeito. O importante é que
você mudou. Você percebeu o que estava errado e mudou tudo.
Tenho orgulho te chamar de irmão, Briggs. Acredito em você. Você
só precisa acreditar também. Maddison vai ver o homem que você é
de verdade, o passado não importa.
Eu aceno com a cabeça, mudando de um pé para outro. O
meu passado e as pessoas que fazem parte dele nunca afetarão a
minha filha, disso eu tenho certeza. Já faz muito tempo, preciso
deixar tudo passar e seguir em frente.
— Porra — Graham grunhe, chutando a roda do carrinho.
Asher se dobra de tanto rir e lágrimas molham as suas
bochechas.
— Cara, eu deveria colocar essa merda online para todo
mundo poder ver.
Inferno, a Maria Patins com certeza vai ver antes que
qualquer outra pessoa tenha a chance.
— Faça isso e pode se considerar morto.
Finalmente encontra a alavanca e o assento dobra com
facilidade. Tão fácil que a surpresa faz queixo dele cair. Ele vira e
olha pra nós três com uma expressão de acusação.
— Seus desgraçados! Vocês sabiam o tempo todo que a
alavanca estava lá e me deixaram passar por isso.
Desta vez somos eu e Reed que perdemos o controle e rimos
até doer o estômago. Ele coloca a caixa do assento no fundo do
carrinho e caminhamos até a frente da loja para finalizar a compra.
Paramos em uma vitrine promocional onde uns caras expõem seus
filhos enrolados em alguma coisa… no peito deles.
— Que diabos é aquilo? — Eu pergunto.
Reed olha para a caixa e descobre na mesma hora.
— Oh merda, é um carregador de bebê.
Um carregador de bebê?
As pessoas enrolam os bebês nisso?
Pelo amor de Deus.
Os seis livros para bebês que comprei serão ainda mais úteis
do que pensei. Aparentemente, não sei nem metade do que deveria
saber.
— Você precisa de um desses. — Uma adolescente se
aproxima, sorrindo. Ela usa uma camisa polo com a logomarca da
loja e alívio me inunda imediatamente.
Obrigado Senhor. Uma funcionária.
— Sim, mas qual deles? Tem uns doze tipos diferentes.
Ela vai até a vitrine e pega o mais caro.
— Com certeza, esse. Acho que é o Cadillac de todos os
carregadores de bebês. Não só porque o bebê será transportado
com estilo — Ela pausa com um sorriso, vira e aponta para as
informações da caixa —, papai e mamãe terão mais conforto e
segurança quando estiverem usando. Além do mais, a garantia é
vitalícia.
Eu engulo em seco.
— Okay, perfeito. Obrigado. — Pego a caixa da mão dela,
coloco no carrinho e seguimos para efetuar o pagamento.
— Eu vou usar essa merda primeiro e Olive-you e eu
podemos praticar aventuras.
— O que você acha de tentarmos sair inteiros da loja antes
de planejar grandes aventuras?
Graham concorda solenemente:
— Verdade.
***
Nervosismo não é nem o início do que sinto parado em frente
à porta de Maddison na manhã seguinte. Graham, Asher, Reed, e
Hudson flanqueiam os meus lados. Nossas mãos estão cheias de
sacolas e caixas. Admito que exageramos um pouco ontem, mas o
que está feito, está feito. Eu só espero que ela não se importe por
eu ter comprado tudo isso para Olive.
— Não acredito que vocês foram sem mim — Hudson
resmunga de novo. Deve ser a décima vez desde que nos
encontramos na minha casa esta manhã, e pedimos que nos
ajudasse a levar essas coisas todas para o apartamento de
Maddison.
— Você estava na casa da sua Maria Patins, queria que a
gente fizesse o que? Aparecesse lá no papaimóvel? — Graham
retruca.
Porra, minha caminhonete não é um papaimóvel. Ou é?
Segundos depois, a porta abre e Maddison aparece com
Olive aninhada em seu peito. O seu cabelo está preso em um coque
bagunçado no topo da cabeça, e manchas escuras azuis e roxas
circulam seus olhos. Ela parece exausta e continua tão linda que o
meu peito até dói.
— Oh meu Deus! — ela exala ao pousar os olhos em cada
um dos loucos parados ao meu lado. Além da surpresa, não consigo
avaliar sua expressão para saber se é um “oh meu Deus” bom ou
ruim.
— Oi — eu digo.
— E aí, linda? — Graham sorri. Dou a ele um olhar mortal
que diz que é melhor parar, se quiser sair vivo daqui.
— Uh, Briggs? Que diabos é tudo isso? — Seu olhar passa
por todos nós novamente. Olive remexe em seus braços, soltando
um gritinho, e meu coração dá um salto.
Deus, como eu a amo.
— Uau! — Graham exclama: — Posso segurar ela? Por
favor?
Maddison dá um sorrisinho.
— Sem ofensa, mas eu nem te conheço.
— Merda, me desculpe. Esses são Graham, Asher, Hudson e
Reed. Meus melhores amigos e companheiros de time.
Por um segundo, Maddison parece entrar em pânico, mas
balança a cabeça.
— Oi, eu sou Maddison. Eu sou…eh, a …
Ela gagueja, mas Arsher fala:
— Mãe do bebê de Briggs.
Suas bochechas ficam rosadas com a atenção, mas ela
balança a cabeça.
— Acho que sim. — Voltando sua atenção para mim, ela fala:
— Briggs, o que é tudo isso?
— Coisas de bebê. Sinceramente, eu nem sei o que metade
disso é, mas a garota da loja disse que é tudo que ela vai precisar.
Maddison puxa o lábio inferior para dentro da boca e abre
mais a porta.
— Entrem. Me desculpem, fiquei um pouco chocada.
— Eu tenho esse efeito nas mulheres — Graham brinca.
Levanto minha mão cheia de sacolas e ainda consigo acertar
a nuca dele.
— O que foi? É verdade.
Porra, eu vou matá-lo.
Entramos no apartamento de Maddison, um de cada vez, e
colocamos as sacolas e caixas no chão da sala de estar. Agora que
estou realmente prestando atenção, acho que exageramos.
— Nossa! É muita coisa. — Maddison diz e arregala os olhos
ao observar todas as compras.
Eu concordo com a cabeça.
— Posso ter enlouquecido um pouco.
— Eu nem sei onde vou colocar tudo isso.
Graham se joga no sofá, e Asher e Hudson se sentam ao
lado dele, sentindo-se em casa.
Vejo que Maddison está seriamente sobrecarregada e agora
Olive começa a agitar nos seus braços.
— Ei pessoal, obrigado pela ajuda para trazer tudo isso até
aqui. Ligo pra vocês mais tarde?
Reed acena com a cabeça, da porta da frente onde está
encostado.
— Mas eu ainda nem carreguei ela — Graham reclama.
— Graham, calado.
Nervosa, Maddison ri da nossa conversa e eu percebo que
podemos ser um pouco demais, principalmente todos juntos. Eu
deveria ter falado com ela antes de comprar metade da loja e trazer
para o apartamento.
Merda. Mal passaram três dias e eu já estou fodendo com
tudo.
— Mando mensagem mais tarde.
Eles se despedem de Maddison e seguem Reed para fora da
porta, batendo-a atrás deles. O silêncio se instala ao nosso redor
até eu dizer:
— Me desculpe, Maddison. Eu devia ter falado com você
antes, não queria aparecer de mãos vazias. Então nós chegamos lá
e, caralho, tinha muita… coisa. Eu não quis deixar nada que ela
pudesse precisar pra trás , e …
— Briggs — ela fala calmamente. — Está tudo bem. Eu
gostei. Achei legal a sua atitude.
Obrigado Senhor! Meu coração martela contra minha caixa
torácica.
— Posso levar tudo de volta, de verdade. Principalmente
aquela droga de assento de carro que é um pé no saco.
Ela olha para a caixa dele.
— Puta merda! É um Doona? Briggs, não. Você tem que
devolver. Isso custa mais do que… uns três meses do meu aluguel.
— Minha garotinha merece o melhor, Mads. Eu li todos os
guias de segurança e ele foi classificado como o número um. É o
mais qualificado, após várias rodadas de testes de segurança e
durabilidade.
Balançando a cabeça, ela gagueja:
— Mas... é muito caro. Não tem como. Eu não posso aceitar.
Eu me aproximo e coloco a mão no braço dela.
— Você pode. Escute, eu sei que você é independente. Não
estou, de forma alguma, tentando entrar na sua vida e assumir o
controle. É só que… eu perdi muito. Eu perdi a oportunidade de ver
Olive crescendo dentro de você, e de te apoiar em tudo mais que eu
deveria. É assim que eu posso tentar compensar a minha ausência.
Eu vou fazer o que puder para que ela tenha o melhor.
Ela morde o lábio, nervosa.
— Eu sei. Eu sei. Nós podemos resolver isso. Juntos. Então
podemos decidir o que devolver. Eu não tenho espaço pra todas
essas coisas.
Eu concordo com a cabeça.
— Se é isso que vai fazer você e Olive felizes, então sim.
— Okay, segura ela enquanto eu começo?
Olho para a minha filha e a adoração cresce no meu peito, se
prendendo ao meu coração pelo que parece uma eternidade.
— Sempre. Vem aqui minha garotinha — eu sussurro,
pegando-a dos braços da sua mãe.
Pela primeira vez desde que entrei no apartamento de
Maddison, me sinto útil. Mesmo que toda a minha tonelada de
compras não vá ficar, fiz algo sem estragar totalmente. Fico feliz por
poder fazer isso por Olive e Maddison.
Capítulo Quinze

Maddison

Aperto a tecla Backspace. De novo. Pelo que parece ser a


milésima vez esta noite. Acho que perdi a capacidade de escrever
uma postagem simples e nada fora do comum para o blog e,
honestamente?
Penso que tem tudo a ver com Briggs. Eu gemo e deixo cair a
cabeça no meu laptop na mesa da cozinha. Observando o reloginho
no canto direito do meu computador, vejo a marcação de três e vinte
e sete da manhã. Estou sentada aqui por duas horas e não tenho
nenhuma palavra para exibir. Depois que Olive acordou para a
mamada da meia-noite, finalmente consegui fazê-la dormir de novo
e me sentei em frente ao computador para criar… nada.
Na verdade, haveria muitas palavras se não tivesse apagado.
Cada. Uma. Delas.
O meu cérebro está oficialmente derretido e não tenho ideia
do motivo. Talvez eu esteja exausta por causa do bebê, ou porque
Briggs abriu seu coração e algo dentro de mim está… diferente. A
realização se infiltrou na minha cabeça e agora eu duvido de tudo.
Desde que Briggs comentou sobre o impacto da mídia em
sua carreira, durante um dos piores momentos da sua vida, tenho
questionado sobre o Declarações de uma Maria Patins.
Completamente.
Será que os outros se sentem da mesma forma que ele?
Será que magoei outras pessoas com o que, e com quem eu
denuncio?
Comecei esse blog esportivo anônimo quando mal tinha vinte
anos. Já passaram quatro anos e ele está crescendo absurdamente.
Muito mais do que jamais imaginei e às vezes é difícil acreditar que
atingiu essa dimensão. Acho que da última vez que verifiquei, tinha
mais de um milhão de inscritos. O Declarações de uma Maria Patins
começou como um espaço para compartilhar o meu amor pelo
hóquei e pelo jornalismo no mesmo lugar. Quando eu era pequena,
era o único jogo que a Nana sempre assistia na televisão. Antes de
falecer, vovô era um grande fã de hóquei e, em algum momento,
acabei me apaixonando também. Eu esperava ansiosamente para
assistir e acabei percebendo que gostava mais de ver os destaques.
O resto é história.
Eu acabei descobrindo que jornalismo era a minha vocação...
Senti que formar em jornalismo e começar o Declarações de
Uma Maria Patins era… certo. Escrever postagens que às vezes
eram divertidas, mas que também focavam no outro lado do hóquei.
Não apenas nos jogadores e nas estatísticas dos times.
No lado dos escândalos.
Tudo era diversão e brincadeira até que… fiquei grávida de
Olive. O que era um hobby se transformou em algo
exponencialmente maior e o crescimento gerou receita.
Um rendimento que eu precisava desesperadamente, agora
que era uma mãe solteira.
Foi por isso que continuei com o blog durante toda a minha
gravidez. Eu precisava do dinheiro ainda mais do que antes. Eu
estava na faculdade e, por ser autônoma, não tinha plano de saúde
e ainda tinha que me programar para ter um bebê sem a ajuda de
Briggs. Só as contas médicas levaram grande parte das minhas
economias. Eu jamais pediria ajuda à Nana, a não ser que não
tivesse nenhuma outra escolha.
Ela já tinha muita preocupação com o trabalho e o alto custo
para manter Brickside.
— Vamos Maddison, é literalmente um parágrafo. Você
consegue. — Tento me convencer. Meus dedos pairam sobre o
teclado mais uma vez, e digito uma frase simples.
O blog Declarações de Uma Maria Patins está oficialmente…
fora dos escândalos.
Backspace. Backspace. Backspace.
Será que Briggs me vai me odiar da mesma forma que odeia
o restante da mídia? Será que ele vai me odiar pelas postagens que
fiz antes de conhecê-lo?
Não consigo parar de pensar no que ele disse e no fato de
poder ter magoado outras pessoas com o que escrevi.
Mas é o meu trabalho. Um trabalho necessário para sustentar
minha filha, mesmo que eu tenha conseguido aumentar as minhas
economias. Sempre foi apenas um trabalho, uma maneira de
realizar meus sonhos.
Só não quero ser responsável por magoar Briggs, não depois
de tudo que ele passou… mesmo que não estejamos juntos, ele
ainda é o pai de Olive e não quero machucá-lo.
Já que ficou óbvio que não vou conseguir escrever o post
para o blog, abro a barra de pesquisa do Google e digito o nome
dele.
Briggs Wilson.
Uma dúzia de artigos aparece imediatamente. Principalmente
matérias sobre as suas últimas estatísticas do hóquei e alguns dos
meus posts.
Briggs Wilson traído pelo próprio sangue, irmão é flagrado na
cama com noiva traidora. Com certeza, jantares em família serão
estranhos a partir de agora.
Bad boy de Chicago ataca novamente, preso por embriaguez
e desordem. Quando será que o jogador centro dos Avalanches vai
consertar?
Próxima parada… bem longe da equipe do Avalanche?
Briggs Wilson, uma receita para o desastre, diz locutor da NHL.
Deus, são horríveis. Engolindo em seco, eu seguro minhas
lágrimas. Jesus Maddison, você não pode continuar com isso, não
pode fazer parte de tanta… crueldade. Ele é o pai de Olive. Não
posso nem pensar em Olive crescer e descobrir que participei de
algo que tanto magoou Briggs.
Abro o meu e-mail e apago todas as informações que recebi
no mês passado. Aquelas que nem verifiquei porque tentava
sobreviver à maternidade. Sequer consigo olhar para elas sem me
sentir mal. Não quando o pai de Olive é o tema de tantas delas.
E não apenas por ele ser o pai dela, mas porque ele é um
bom homem e já me provou isso. Ele e seus amigos estão sempre
por aqui, nos apoiando.
Aqui e agora, tomo a única decisão que me é possível. A
única que parece correta.
O futuro do blog Declarações de uma Maria Patins está em
espera e não sei por quanto tempo. Só sei que nunca mais vou
magoá-lo. Não quando eu sei quem ele é de verdade, e o que
aquelas manchetes lhe causaram.
Fechando meu laptop, eu exalo.
Acabou.
Capítulo Dezesseis
Maddison

Santo inferno. Jesus, Maria e José.


Estou no meu limite e sei que vou surtar a qualquer
momento. E a culpa é de quem? Do pai do meu bebê, ridiculamente
atraente, que insiste em ser o oposto de tudo o que eu pensei que
fosse. Ele é doce, atencioso e tão bom para a nossa filha, que faz
meu coração querer saltar do peito a cada vez que vejo os dois
juntos.
Faz uma semana desde que ele apareceu na minha casa
com outros quatro jogadores de hóquei muito bem-apessoados,
trazendo nos braços uma loja de departamentos inteira para Olive.
As coisas têm sido… interessantes. Surpreendentes, se eu
for honesta. Ser mãe de primeira viagem é desafiador por si. Juntar
Briggs ao pacote, faz disso um mundo completamente novo para
mim e minha garotinha Olive.
Minha doce menina é um anjinho na terra, mesmo que eu
não tenha conseguido dormir nos últimos dias. Adicione às
demandas dela os meus pensamentos atormentados por Briggs e o
sono que não vem com facilidade.
— Deixe o turno da noite comigo hoje, você está exausta —
Briggs diz, sentado ao meu lado no sofá, enquanto me observa
colocar Olive para arrotar.
— Está tudo bem, sua agenda deve estar cheia.
Coloco-a na cadeirinha de balanço à minha frente e assisto
enquanto tenta sugar seus pequenos punhos cobertos de luva,
arrulhando de forma suave.
— Maddison, olhe pra mim. — A voz de Briggs é baixa e
rouca, com um tom de comando que eu não ouvia desde aquela
noite em Brickside. Ela me causa arrepios na espinha. Viro o rosto
na direção dele, nossos olhares se encontram e ele fala: — Você
está exausta, precisa de tempo para descansar. Eu sou capaz de
cuidar dela por uma noite. Se algo acontecer eu vou te acordar.
Estaremos separados por uma porta. Você tirou leite suficiente para
uma noite, certo?
Eu concordo e mastigo o meu lábio nervosamente, ao pensar
em ficar uma noite inteira longe de Olive, mesmo estando a apenas
uma porta de distância. Não que eu pense que Briggs não seja
capaz, sei que ele é. Só é difícil confiar em alguém que não seja
você, com algo tão precioso quanto a sua garotinha.
— Vou tentar. Mas não prometo nada.
Ele concorda com a cabeça.
— Basta o berço dela, um travesseiro e um cobertor e
ficaremos bem.
Ele está tentando aprender tudo o que pode sobre a
paternidade e eu agradeço a cada segundo por isso. Assisti-lo
inclinar, lutando para trocar a fralda da sua filha tão pequena e frágil,
pode ser a coisa mais fofa que eu já vi. Ainda não chegamos ao
território do cocô. Mas a última vez que ele a trocou, pelo menos
colocou a fralda do lado certo. Imagine vê-lo tentar prender as abas
ao contrário.
É.
A lembrança me rende uma risadinha e ele me olha confuso,
com a testa franzida.
— Só estou me lembrando da vez que você tentou colocar a
fralda nela… do lado contrário.
Ele ri.
— Vou te falar, colocar esse negócio no bebê é muito
complicado. Mas eu assisti alguns vídeos no YouTube e estou
totalmente preparado para a próxima vez.
— É mesmo? — Eu rio.
Os olhos de Briggs escurecem diante de mim, se
transformando totalmente enquanto ele me observa.
— Senti saudades da sua risada. — Ele fala tão baixinho que
quase não escuto.
Engulo em seco, empurrando a emoção que obstruía a minha
garganta. Estou sensível demais para abordar esse assunto.
Ultimamente ele está deixando a barba crescer e, se é que isso é
possível, o pelo escuro destaca ainda mais os seus olhos. Eu não
deveria perceber esse tipo de coisa, mas dá para evitar.
O pai da minha filha é ridiculamente lindo e o tempo não faz
nada além de torná-lo ainda mais bonito.
— Então, e o jantar? Eu sei fazer um macarrão delicioso e
acho que tenho todos os ingredientes aqui.
Ele assente com a cabeça e, apesar de parecer que ele quer,
não diz mais nada.
Quando estou na cozinha preparando nosso jantar rápido,
Olive começa a se mexer. Briggs a levanta da cadeirinha, falando
em uma voz tão doce e calma que eu me derreto como um mingau.
Deus, homens e os seus bebês devem ser a coisa mais sexy
do planeta.
Missão abortada, Maddison. Existem regras em vigor por um
motivo. Uma infinidade delas. Você não pode e não vai complicar as
coisas entre vocês, mais do que já estão.
Complicado não chega nem perto do que vai acontecer
quando descobrir o que eu estou escondendo. Ele pode sair por
aquela porta e nunca mais voltar. Meu estômago revira só de
pensar.
É a razão principal de eu não sentar com ele e contar tudo,
explicar o meu trabalho e o passado do Declarações de Uma Maria
Patins. Eu não sei falar de uma forma que não o magoe, sem
abordar o passado que ele, tão desesperadamente, tenta superar.
Temo que ele vá embora me odiando, no segundo que contar a ele.
Não quero causar conflitos entre nós, e sem dúvida, o seu
relacionamento com Olive será prejudicado.
Eu não quero isso. O pensamento faz meu estômago
embrulhar.
Douro a carne moída, adiciono o molho caseiro que preparei
e coloco o macarrão para ferver, quando percebo que a sala está
silenciosa. Pego o pano de prato da alça do forno e seco minhas
mãos antes de checar Olive e Briggs.
Paro na metade do caminho. Olive dorme profundamente no
peito de Briggs, que a segura de forma protetora, enquanto ronca
levemente.
Nos vinte minutos que fiquei na cozinha, eles adormeceram
juntos. Se eu pensei que meus ovários estavam tendo um ataque
antes... bem, agora eles estão explodindo. Suspirando, balanço a
cabeça para afastar os maus pensamentos dessa intrusão. Mas,
olhando para eles, parece ser impossível.
Tiro o celular do bolso do meu moletom desgastado e mando
uma mensagem para Ty.
Eu: Não sei qual parte lógica e inteligente de mim pensou
que seria fácil.

Volto para a cozinha para mexer o molho e o meu telefone


apita com sua resposta.
Ty: Querida, aquele homem exala sensualidade e
confiança. Pensou que seria fácil? Eu deveria te lembrar
como ele chegou por aqui em primeiro lugar?

Não, com certeza não. Eu nunca vou esquecer o fim de


semana turbulento que passamos no lago. Mesmo enquanto o
odiava, não consegui tira-lo da minha cabeça, por mais que eu
tentasse esquecê-lo.
A verdade é que, por mais que me magoasse, fui embora
naquela noite por saber exatamente quem era Briggs. Ou pelo
menos pensei que soubesse. E, mesmo achando que o conhecia de
verdade, eu sabia que nada que acontecesse entre nós iria durar.
Eu pensei: ele é um jogador profissional de hóquei… que vive nas
manchetes. A última coisa que eu poderia fazer, seria começar um
relacionamento com uma pessoa que não pode se comprometer.
Nunca pensei que acabaria grávida, nem que tudo
aconteceria daquela forma.
Agora navegamos juntos as águas complexas e turbulentas
da coparentalidade. Estou tentando manter distância,
desesperadamente, porque meu coração não aguenta e, no final
das contas, Olive é o que importa. Garantir que o nosso trabalho em
equipe seja perfeito é o que importa.
Meu coração não tem voz no assunto, mesmo ele sendo o
homem mais charmoso do planeta.
Eu: Olha isso.

Eu digito, caminhando até o arco. Tiro uma foto de Briggs e


Olive dormindo abraçados no sofá e anexo à mensagem para Ty.
O status de digitação aparece de imediato.
Ty: Oh meu Deus. Tá brincando comigo? (Emoji morto)
Até Kyle disse que isso é muito fofo e você sabe que ele
ainda guarda um rancor do tamanho do Texas.

Rio alto e cubro a boca depressa para abafar o som, tomando


cuidado para não acordá-los e respondo a mensagem.
Eu: eu sei. É difícil, Ty. Eu só... não quero
contar a ele sobre o blog. Só vai machucá-lo,
qual benefício teria? Já estamos muito
envolvidos nessa bagunça. Não sei o que fazer.
Ty: Eu sei, querida, mas e se você não contar?
O que vai acontecer no final? Ele vai ficar com
raiva por não ter contado no início e pensar
que você mentiu? Talvez seria melhor se abrir
pra ele. Começariam do zero e tudo seria
muito melhor do que imaginou.
Lágrimas surgem nos meus olhos e eu as enxugo com
rapidez. Jesus, meus hormônios estão completamente
descontrolados. Eu os culpo, mas no fundo tenho medo. Cada dia
que passa, mais eu luto para fazer a coisa certa, tomar a decisão
correta. Para ser honesta, estou com medo de que isso o destrua
ainda mais, e não tenho estômago para isso. Mas... ao mesmo
tempo, se eu não contar a ele, o que vai acontecer? O que o futuro
reserva? Depois da conversa na noite que voltamos do hospital, só
consigo pensar nisso. Independente da coparentalidade, ele é o pai
da minha filhinha.
Eu: Te amo, Ty. Dê um beijo no Kyle por mim. Vem nos
ver em breve?
Ty: Você sabe, querida. Tio Kyle e eu mal podemos
esperar para apertar essa garotinha doce.

Quando termino de enviar a mensagem para Ty, a água da


panela de macarrão já ferveu e eu resmungo:
— Merda!
De repente, sinto alguém se aproximar. Levanto o olhar e
vejo Briggs parado atrás de mim, estendendo a mão para tirar a
panela do fogão, onde eu quase queimei o meu dedo.
— Eu cuido disso — ele diz suavemente e passa por mim
para despejar a água no escorredor.
— Obrigada, eu me distraí. — Levo a mão à testa e
massageio a dor que começa a se formar atrás dos meus olhos. —
Acho que você tem razão. Estou exausta.
Ele assente com a cabeça e ergue os lábios de forma sutil. —
Você tem que descansar. Vamos comer, depois você toma um
banho quente e relaxa. Eu cuido de Olive.
— Tem certeza? Estou bem, de verdade. Assim que mamar
última vez ela vai… — Ele me corta colocando a ponta áspera do
seu dedo nos meus lábios.
— Sim, Maddison. Eu já entendi. Relaxa.
— Okay.
Juntos, arrumamos a mesa para dois e sentamos. Ele pega a
comida enquanto coloco gelo nos nossos copos antes de enchê-los
de água. Isso é… estranho. Na verdade, pensei que nunca mais
encontraria Briggs. Agora estamos sentados, comendo enquanto
nossa filha dorme pacificamente a poucos metros de distância.
— Seus amigos são hilários — eu digo a ele. — Aquele alto,
loiro dos olhos azuis? Ele é, claramente, o mais engraçado dentre
todos vocês, machões.
Estou zombando, mas ele finge se ofender.
— Você está dizendo que eu não sou engraçado, Maddison?
Seu sorriso com covinhas faz meu coração palpitar. Adoro
quando ele me provoca assim, especialmente quando é sobre os
seus amigos ou o hóquei. Nós quase não falamos sobre o trabalho
dele. Por razões óbvias, é um assunto delicado que nunca
discutimos. Trazê-los aqui hoje abriu uma nova porta e não
podemos ficar calados e ignorar. Mesmo depois do tempo que
passamos juntos, ainda há um lado, uma grande parte da vida de
Briggs que eu não sei a respeito.
— Não. — Eu rio. — Com certeza posso dizer que ele é o
mais extrovertido.
Briggs toma um gole de água gelada de um dos únicos copos
bonitos que possuo. Foi um presente de inauguração de Ty e Kyle
quando saí do apartamento que dividíamos e me mudei para este.
Depois ele assente.
— Graham Adams, ele é o novato. O garoto não tem dias
ruins. É sempre aquele chihuahua pé no saco com uma quantidade
infinita de energia que parece se reciclar e transformar em ainda
mais.
— Que analogia horrorosa, Briggs.
Ele encolhe os ombros e solta uma risada profunda e baixa.
— Sim, mas é verdade. É um bom garoto. Treina mais do que
todo mundo e sei que ele vai ser o melhor do hóquei. Está sempre
tentando melhorar. Eu o respeito por isso. Quer dizer, ele bate em
qualquer coisa que tenha duas pernas, mas na maioria das vezes,
nós simplesmente ignoramos.
— Isso, eu posso ver. — Eu rio. — Foi legal da parte deles…
sabe… virem aqui ajudar. Graham parece apaixonado por Olive.
— Acredite em mim, ele está. Melhor que seja pelo filho de
outra pessoa do que o dele. É a última coisa que ele precisa.
Eu engulo em seco.
— Eu costumava falar isso. Mas não trocaria Olive por nada.
— Nem eu. Ela é a melhor coisa que já me aconteceu. —
Quando ele fala, a sinceridade brilha no seu olhar, e o meu coração
já acelerado parece que vai sair do peito.
Terminamos nossa refeição em um silêncio confortável.
Depois do jantar, Briggs limpa a mesa para mim. Bem na hora, o
meu peito começa a doer, sinalizando que está na hora de tirar o
leite ou amamentar Olive. Olho para o relógio e percebo que é hora
dela mamar.
— Vou alimentar Olive antes de ir para a cama. Se tiver tudo
bem pra você, vai ser aqui — eu digo, apontando para o sofá.
— Claro. Nossa filha está com fome, precisa comer. — Ele
fixa os olhos nos meus e se aproxima, acariciando suavemente a
bochechinha rosada de Olive. — A menos que fique desconfortável,
jamais sinta que precisa esconder de mim.
Por que, de repente, as emoções começam a obstruir a
minha garganta? Eu não sei. Eu sei que a proximidade de Briggs faz
meu coração disparar a mil por hora. Quando ele lança seu charme
e fala palavras ridiculamente doces e atenciosas, então, me
transformo em massa nas suas mãos.
Eu pigarreio.
— Obrigada. Só queria ter certeza que não seria um
incômodo para você.
Ele arruma a cozinha enquanto me acomodo com Olive no
sofá. Coloco a almofada embaixo dela e puxo minha regata para
começar a nossa rotina de amamentação noturna. Ela remexe e
suga os punhos por causa da fome.
— Me desculpe minha doce Olive. Mamãe também precisava
comer alguma coisa. — Ela pega com facilidade e começa a sugar,
assim que a coloco na frente do meu peito cheio.
Fico totalmente maravilhada ao observá-la mamar. É difícil
acreditar que ela seja tão linda, que Briggs e eu fomos capazes de
criar um bebezinho tão perfeito. Sinto que estou sendo observada e
levanto o meu olhar. Briggs está encostado na parede à nossa
frente, com os braços cruzados sobre o peito. Os músculos dos
seus antebraços, firmes e volumosos, espreitam das mangas de sua
camiseta preta desbotada.
— Sei que devo estar muito diferente… você sabe, daquela
época. — Assim que digo, minhas bochechas esquentam de
vergonha, mas achei necessário colocar para fora. — Ando por aí
com o cabelo sem lavar por praticamente dois dias, meus seios
vazam… tenho mais estrias do que nunca. Tem certeza que quer
estar aqui comigo em vez de sair com uma modelo super gostosa?
Briggs balança a cabeça, caminha até onde Olive e eu
estamos sentadas e se agacha à nossa frente.
— Você tem ideia de como estou encantado com você? Do
quanto te acho forte e bonita? Eu sei, coparentalidade, mas… nunca
mais fale de você dessa maneira.
Os olhos dele estão cheios de calor e a intensidade do
momento me faz engolir em seco.
— Você está alimentando a minha filha e isso é a coisa
melhor do mundo. Eu te acho maravilhosa e não há nenhum outro
lugar que eu queria estar. Lugar nenhum. Saiba disso.
Ele estende a mão, acaricia a bochecha de Olive com o
polegar e sorri. O sorriso é tão lindo e ofuscante que me tira o
fôlego. Mesmo quando não deveria. A parte mais difícil vai ser
resistir a ele e ao seu charme. Eu soube disso desde o dia que ele
voltou para as nossas vidas.
— Obrigada por estar aqui.
— Você não tem que me agradecer. Estarei sempre aqui. A
temporada vai acabar em breve e eu vou ter mais tempo. Mais
tempo para passar com Olive.
— Isso vai ser bom. Tranquei o semestre, mas faço alguns
trabalhos pela internet para uma emissora de notícias. Tentarei
cuidar disso quando você estiver aqui.
— Posso vir de manhã, antes ou depois do treino. — Ele fala.
Eu concordo com a cabeça.
— Se você quiser... o sofá está sempre à disposição. Quer
dizer, a decisão é sua. Evita de você ir e voltar tantas vezes, e todas
as coisas de Olive estão aqui.
Oferecer o sofá parece pouco… mas para nós? É um passo
enorme. Juntos.
Capítulo Dezessete
Briggs
As próximas semanas passaram muito rápido. Em um piscar
de olhos Olive se tornou essa garotinha de olhos brilhantes que
balbucia o tempo todo e me tem enrolada em volta do seu dedo. Ela
está crescendo tão rápido que tenho medo de desviar o olhar,
mesmo que por um segundo, e perder alguma coisa.
Por muito tempo, o hóquei foi a minha vida. Foi o centro do
meu universo, eu vivia e respirava gelo. Tudo que eu fazia era
pensando na minha carreira. Agora, a minha vida é Olive. Claro e
simples: ela é o motivo das batidas do meu coração. O meu mundo
inteiro.
— Jesus Cristo, por que isso é tão complicado? — murmuro,
tentando abotoar a parte de baixo, ou talvez a lateral do macacão de
Olive. Inferno, a essa altura do campeonato quem é que sabe? Não
deveriam ter tantos botões em uma roupa de bebê.
— Merda!
Droga. Eu não posso xingar na frente de Olive. Mesmo que
ela ainda não entenda.
Gentilmente, abraço-a contra o meu peito e sussurro:
— Me desculpe garotinha, o papai sente muito. Não fale essa
palavra, viu? Não quero que a sua mãe pense que sou uma má
influência.
Ela balbucia alegremente e, mesmo sendo suspeito para
falar, abre o sorriso sem dentes mais lindo do mundo. Volto a minha
atenção para o macacão.
— Deve ter um jeito mais fácil de vestir essa coisa. Tem que
ter.
Ainda estou resmungando quanto Maddison entra na sala e ri
alto ao ver a minha batalha. Suas bochechas estão coradas, o rosto
não tem maquiagem e os cabelos cacheados estão soltos. Está tão
bonita que fico sem ar toda vez que olho para ela. Nas últimas seis
semanas, passei mais noites no seu sofá retrátil do que na minha
cama. Olhar para ela ainda me faz doer para tê-la em meus braços
de novo.
Fiéis ao nosso acordo, mantivemos distância e as coisas têm
sido estritamente platônicas entre nós.
Mesmo que não tenhamos ultrapassado os limites e voltado
ao nosso relacionamento anterior, não significa que meus
sentimentos tenham desaparecido.
Na verdade, eles estão mais fortes do que nunca. Estou
louco por ela.
Ela é a mãe mais maravilhosa, atenciosa, paciente e altruísta
com Olive. Para mim, ela ficou ainda mais bonita depois de ser mãe.
Às vezes eu tenho que sair de perto para não agarrá-la e beijar até
perder o fôlego. Além da maternidade, descobri como ela é gentil e
incrivelmente abnegada com todos. Ela é forte, resiliente e, de
alguma forma, o sorriso desta mulher é a cura para qualquer dia
ruim.
— Está com problemas? — Ela sorri. Embora tenha pouco
mais de um metro e meio, ela me tira do caminho provocativamente
e se abaixa, conversando com Olive com o que eu chamo de
linguagem da mamãe.
— Será que o papai vestiu sua roupa de forma errada, minha
garotinha Olive? — Ela ri e desabotoa a engenhoca. — Ele é um
bobão, né? O papai é muito bobo.
Ela faz cócegas na barriga de Olive, tentando arrancar uma
risada dela. Nosso objetivo de vida é ver quantas vezes
conseguimos fazê-la rir e, no momento, estamos empatados.
— Ei, eu não sou culpado por eles fazerem essa coisa como
um cubo mágico para bebês — baixo a voz em um sussurro. —
Essa droga é complicada.
Maddison ri.
— Briggs, é um macacão com tutu. Olha, esses dois se
juntam. — Ela pega o lado oposto do que eu tentava encaixar e,
com um estalo rápido, veste a roupa inteira. Corretamente.
Gemo, me jogo na cama ao lado de Olive e seguro a
mãozinha dela.
— Papai ama você, pequenina Olive. Só não me deixe
responsável por seu lindo figurino e tudo vai ficar bem.
Sua mãe observa nossa conversa com o lábio entre os
dentes e um sorrisinho. A boca em formato de coração me faz
querer beijá-la sem parar. As coisas que quero fazer com essa
boca… não quero nem pensar enquanto Olive estiver por perto.
Maddison vai à consulta de seis semanas com o seu médico
hoje. Isso quer dizer que Olive e eu vamos curtir com tio Graham, tio
Asher e tio Hudson.
— Tem certeza que está tudo bem se eles passarem por
aqui? — pergunto pela milionésima vez. Tudo que mais quero é
sugerir que fiquem na minha casa comigo, mas eu conheço
Maddison. Não quero ofendê-la, nem causar a impressão de estar
intrometendo na vida delas.
Maddison revira os olhos enquanto coloca pequenas argolas
nas orelhas. Nosso olhar se conecta através do espelho que fica em
frente à cama dela.
— Sim, não é grande coisa. Eu só odeio que meu
apartamento seja tão... pequeno. Parece uma caixa de sapato
quando todos vocês estão aqui.
Vejo a incerteza nos olhos dela. Antes de me convencer do
contrário, menciono o assunto.
— Eu estava pensando... e se a gente, sei lá, fosse passar
um tempo na minha casa?
Sua expressão é hesitante quando olha para mim.
— Briggs.
Levanto as mãos em sinal de rendição.
— É só uma ideia. O cara da manutenção ainda não veio
aqui e já se passaram semanas. Só na semana passada consertei a
torneira da pia e vedei a janela. É apenas sugestão, Mads. Minha
casa é enorme, tem muito mais espaço do que eu conseguiria
ocupar. Não sei, acho que gostaria de ter vocês duas lá.
Maddison olha para mim:
— Isso complicaria as coisas. Concordamos em não fazer
isso, lembra?
Eu concordo com a cabeça.
— Lembro, mas quero fazer tudo que for possível para cuidar
de Olive… e de você. Eu fico sempre por aqui. Do mesmo jeito,
podemos ficar juntos na minha casa.
Ela arregala os olhos e vejo o movimento da sua garganta ao
engolir. Depois olha para baixo e verifica o relógio no seu pulso.
— Podemos falar sobre isso quando eu voltar? Se não for
logo, vou acabar me atrasando.
— Claro. Tenha cuidado. Olive e eu vamos assistir a um jogo
com tio Graham, tio Asher e tio Hudson. Não é verdade, minha
pequena Olive? — digo, acariciando levemente a sua bochecha.
Levanto o olhar e noto o rosto de Maddison suavizar
enquanto ela olha para nós dois.
— Mais tarde. Tudo bem? Obrigada por ficar com ela. Me
ligue se precisar de qualquer coisa. Estou falando sério, qualquer
coisa.
— Mads, eu cuido disso, certo? Não se preocupe.
Ela balança a cabeça com nervosismo, dá um sorrisinho e
pega a bolsa. Eu e Olive continuamos lá parados, assistindo a sua
partida.
— Não sei se você sabe, Olive, mas a sua mãe é paranoica.
Temos tudo sob controle, são só umas horinhas. O que poderia dar
errado?

— Oh meu Deus! Isso é ruim. Ruim pra caralho.


— Vou vomitar.
— O que a gente vai fazer? Graham, pare de engasgar e me
ajude aqui. Graham!
— Asher, limpe a pia. Hudson... pesquise no Google. Não,
abra o YouTube.
Apenas para o conhecimento, não está nada bem. Na
verdade, é uma porra de um desastre.
— Cara, você tem que ligar pra ela. — Asher balança a
cabeça, ainda tapando o nariz.
— Eu não vou ligar. Ela vai pensar que eu, não nós todos
somos incapazes de cuidar de Olive sozinhos.
Nós somos capazes. Mais do que capazes. Somos adultos,
jogamos hóquei profissional na liga mais implacável e competitiva
do mundo, droga!
Porra, não sei se vamos conseguir.
— Eu realmente estou a ponto de vomitar nesse carpete. Me
desculpe Olive-you, mas você cheira mal. — Graham sussurra, com
a mão no estômago. Honestamente, parece estar meio verde.
Inferno, é provável que estejamos todos.
Tudo corria bem. Eu e os caras assistíamos a um jogo com
Olive à nossa frente, brincando no seu tapetinho musical iluminado,
até que… sentimos esse cheiro.
No começo, Asher pensou que era Hudson e Hudson disse
que era Graham, mas na verdade, era Olive. Não suspeitamos de
nada, fomos totalmente enganados pelos seus arrulhos e risadinhas
de bebê.
Acontece que essas pequenas fraldas não seguram merda
nenhuma. Literalmente. Houve uma explosão de proporções épicas
e antes que eu pudesse tirá-la do tapete, de alguma forma, ela ficou
coberta da cabeça aos pés. Merda. Por todo lugar.
Nela, na roupa, no tapetinho, no carpete e até em mim que
sou apenas um expectador inocente.
— Na real, é meio preocupante que uma pessoa tão pequena
consiga causar um dano tão grande. — Graham me olha,
horrorizado. — Briggs... acho que espirrou no teto. Como é que
chegou lá em cima? Oh Deus, é isso, eu vou vomitar.
Ele passa pela porta da frente como se estivesse pegando
fogo. Consigo ouvi-lo vomitar lá fora. Se tudo na sala (inclusive eu e
Olive), não estivesse coberto de merda, eu provavelmente riria
dessa situação.
Simulo uma respiração profunda, considerando que é
impossível respirar nesse momento, e olho para Asher.
— Vou levar ela para a pia. Confira se a água está morna,
não pode estar quente. Rápido.
Ele assente e corre para a cozinha. Seguro Olive com os
braços estendidos, com cuidado para que a sua explosão não suje
mais nada. Inclusive eu.
— Vou pegar uma toalha. — Hudson diz.
Até que enfim, um deles usa o cérebro.
— Certo, Olive. Não vou mentir, garotinha. Você nos pegou
de surpresa com essa bomba de merda, ou melhor, bomba de cocô.
Agora, teremos que tomar umas medidas drásticas.
Sem a mínima ideia do que estou falando, ela me encara
como se eu tivesse perdido a cabeça. É impressionante como ela
mudou em menos de dois meses. Acho que se parece mais com
Maddison a cada dia e, a cada dia que passa, me apaixono mais por
ela.
— Pronto! — Asher grita da cozinha.
Carrego Olive da sala até a cozinha, onde Asher espera com
a água morna ligada e o pulverizador da pia na mão.
— Na dúvida, pulverize.
— Isso não é uma competição. — Balanço a cabeça.
Ele encolhe os ombros.
— É uma competição. Eu fiz disso uma competição.
— Peguei! — Hudson chega deslizando pela cozinha com
toalha e sabonete na mão e … começamos a trabalhar.
Asher borrifa água nas pernas de Olive, e o cocô se espalha
pela pia. Pedacinhos nojentos escorrem pelas pernas dela,
enquanto ele gagueja dramaticamente.
Quase sem conseguir continuar, ele diz:
— Oh Deus, a situação é muito ruim. Como você pensou que
conseguiríamos lidar com isso? Não podemos fazer isso, mano.
Tudo bem com você, Olive? Como está a nossa garotinha?
Com um sorriso desdentado, Olive arrulha em resposta. Por
ironia do destino, estamos todos destinados a morrer e a culpada
está sorrindo e fazendo barulhinhos como se soubesse exatamente
como agir.
Está podre.
Literalmente.
— Continue borrifando. Vamos limpar a maior parte dela. O
que diz o YouTube? Devemos incendiar o macacão? Ele pode ser
recuperado? Quer dizer… podemos, pelo menos lavá-lo? — Olho
para Hudson, que encolhe os ombros. — Porra, essa é uma das
roupas favoritas de Maddison. É cheio de babados e dessas
merdas.
Do jeitinho que as mulheres amam. Se Maddison descobrir
que eu o destruí em uma batalha, pode nunca mais me deixe ficar
com Olive de novo.
Eu gemo. Sinto que, apesar de dar tudo de mim, estou
falhando. Só espero que Olive e Maddison percebam isso.
Graham reaparece na cozinha, meio esverdeado ainda. Da
porta, ele mantém distância cobrindo a boca com a mão.
— Por que é tão verde?
Encolho os ombros.
— Sei lá, deve ser por causa do leite materno.
Juntos, eu e Asher conseguimos tirar a maior parte do cocô
dela. Então fiz o meu melhor para remover a roupa com dois dedos,
me certificando de não deixá-la cair no processo.
— Olive, espero que você saiba o quanto amamos você. —
Hudson fala, quando consigo tirar o macacão e estendo a mão para
entregá-lo.
Ele sai da cozinha e volta em seguida, com o sabonete. Algo
que esqueci de usar, no processo de pulverização.
De alguma forma, por um milagre do caralho conseguimos
deixá-la completamente limpa. Tiramos a merda de cada superfície
que nos foi possível e então lhe dou a mamadeira. Ela segura o meu
dedo enquanto dorme no meu peito, e os caras se jogam ao nosso
redor. Graham se esparrama no chão e Hudson e Asher se sentam
ao meu lado.
— Foi traumatizante. Não vou mentir.
— Pare de fazer drama, foi só um pouquinho de cocô.
Em choque, Hudson levanta as sobrancelhas.
— Se essa é a sua definição de pouquinho, não quero nem
saber o que é um tantão. Foi uma explosão. Não subestime o que
passamos.
Eu rio e Olive remexe no meu peito. Passo o meu polegar
sobre a pele suave das suas bochechas, olhando para ela.
— Afinal, como as coisas estão? Com Maddison? — Asher
pergunta.
Encolho os ombros.
— Não sei. Somos pais de Olive. Ela não está interessada
em... reacender as coisas. Inferno, nem sei como definir aquele fim
de semana. Ela não quer complicação, apenas focar em Olive e eu
respeito isso. Só que… eu não sei. Nesse momento, eu a quero
mais do que nunca. Ainda mais do que a desejei logo depois que
ficamos juntos.
Virando a cabeça em minha direção, Graham se senta
abruptamente.
— A verdadeira questão é: você quer ficar com Maddison?
Mesmo se Olive não existisse, me desculpe garotinha, você ainda
gostaria de estar com ela?
Eu não hesito, nem sequer preciso pensar no assunto. Já sei
a resposta.
— Sem a menor dúvida. Olive apenas consolidou os meus
sentimentos por ela. Mano… é que… é incrível observar as duas.
Saber que fizemos essa garotinha maravilhosa e que, juntos,
cuidamos tão bem dela que tudo parece mais fácil. Nós só, sei lá,
nos damos bem.
— Então, sabe o que tem que fazer? — Graham diz,
apoiando os cotovelos no tapete puído: —Você tem que fazê-la se
apaixonar por você.
Diz isso como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Fazer
Maddison se apaixonar por mim. Como se eu já não tivesse
pensado em um milhão de maneiras diferentes de estar com ela de
novo.
— Fazer ela se apaixonar por mim.
Asher assente com a cabeça.
— Não, Graham descobriu algo aí. Veja, se quer ficar com
Maddison, a primeira coisa que deve fazer é relembrar o que ela
ama em você.
Talvez eles tenham razão. Sei que algum motivo a impede, e
não quero pressioná-la. Parece que está ansiosa com alguma coisa.
Em última análise, eu entendi... ela está preocupada que
nosso relacionamento possa dar errado e afetar a nossa interação
como pais, mas talvez os caras estejam no caminho certo.
— Você tem que conquistar ela. — Graham diz naturalmente,
como se fosse a solução mais fácil do mundo, e ele não
conseguisse acreditar que eu não pensei nisso sozinho.
— Mostre o que ela está perdendo e o quanto vocês podem
ser felizes como um casal. Basta isso, cara. Agora, terminarmos de
falar sobre nossos sentimentos e de trançar os cabelos um do
outro? Estou com fome pra caralho. Querem ir ao Chipotle?
Asher e Hudson pulam do sofá imediatamente.
— Claro, porra.
— Me mande fotos de Olive-you mais tarde. — Graham fala
por cima do ombro enquanto eles saem.
Quando Maddison chega, estou cochilando. Ela fecha a porta
com cuidado, olhando para Olive no meu peito. Abre um sorriso tão
meigo que sinto borboletas no estômago.
— Ei — ela sussurra, tirando a bolsa e pendurando no
gancho ao lado da porta.
— Ei, desculpe. Devo ter adormecido junto com Olive.
Ela balança a cabeça, sorrindo.
— Não tem problema. Eu acho muito fofo quando ela
adormece com você.
— Como foi a consulta?
Ela se aproxima e senta do outro lado do sofá, colocando as
pernas embaixo do corpo.
— Está tudo … bem. Estou liberada para retornar às
atividades normais.
Olho intensamente para ela, que fica corada sob o meu
escrutínio.
— Tipo academia — ela se apressa em dizer. — Olive me fez
ganhar muito peso, e eu realmente estou tentando reduzir e
monitorar a minha alimentação. Estou empolgada com a
possibilidade de voltar para a academia e para o trabalho. Posso
usar o tempo livre da escola para me concentrar nisso, já que meu
trabalho paralelo é.… online.
— Você está perfeita, Maddison. — Eu digo com total
honestidade. Ao contrário do que pensa, ela ficou ainda mais sexy
depois da gravidez. Seus quadris alargaram, seus seios cresceram
por estarem cheios de leite para alimentar nossa filha. Minha boca
saliva só de pensar no formato do seu corpo e na necessidade de
sentir cada centímetro dele em minhas mãos.
Então percebo que Graham tem razão.
Eu preciso conquistá-la. Lembrá-la de como foi quando
ficamos juntos e de como algo tão maravilhoso surgiu da nossa
união. Mostrar para ela que juntos… nós funcionamos.
O plano? Simples.
Fazer a mãe da minha garotinha cair de amores por mim.
Capítulo Dezoito
Briggs
— Maddison? — eu grito, destrancando a porta com a chave
que recebi dela ontem e entro.
Alguns dias atrás, comentei de novo sobre ela e Olive
morarem comigo. Estava me matando… as noites que tive que
deixar Olive, partiram meu coração. Queria mandar mensagens ou
ligar para Maddison o tempo todo para ver estava tudo bem com
ela.
Reed disse que é um hábito comum dos pais, mas também
não quero que ela se sinta sufocada. Então... só abordei o assunto
com cuidado, principalmente pela hesitação que vi nos olhos dela.
Eu entendo. É um grande passo e nós não estamos juntos.
Somos apenas pais de Olive.
Ela disse que não estava pronta e que nós não estávamos
preparados. Eu respeito a sua opinião, mas então... Maddison me
deu uma chave do apartamento e afirmou que eu poderia visitar
Olive a qualquer momento. Como eu dormia no sofá do apartamento
dela quase todos os dias, fez todo sentido. Então, cá estamos nós.
Caminhando juntos. Criando confiança. Construindo um
relacionamento centrado em nossa filha.
Isso me fez crer na possibilidade de haver algo mais entre
nós. Depois da primeira noite no apartamento e da nossa discussão,
tirei da cabeça a ideia de algum dia retomar o que tivemos naquele
fim de semana no lago. Olive foi o motivo. Juntos, focamos em ser
os melhores pais que podemos para ela. Eu venho tentando me
concentrar apenas nisso e não na necessidade de envolver
Maddison nos meus braços a cada vez que a encontro. Mas a cada
dia ao lado dela, a vontade fica maior. Depois da noite passada e da
nossa conversa, decidi ir em frente. Sempre corri atrás dos meus
desejos. E o meu desejo é Maddison.
Eu quero estar com ela. Quero estar com a minha família.
Sou louco por ela demais.
E se eu não confessar os meus sentimentos e convencê-la
de que devemos ser uma família, pode aparecer alguém e roubar
Olive e ela bem debaixo do meu nariz.
A verdade é que nunca deixei de pensar naquele fim de
semana. Eu nunca parei de lembrar do brilho dos olhos dela sob a
lua clara do lago ou na sensação de tê-la embaixo de mim, terna e
aconchegante enquanto criávamos algo tão perfeito. Ela era uma
estranha e, naquela época, eu já sentia como se me conhecesse
melhor do que as pessoas do meu convívio diário.
É a minha chance de fazê-la se apaixonar por mim e de
mostrar para ela que podemos ser uma família. De ganhar a sua
confiança, mostrar que posso ser um pai maravilhoso para Olive e
que, o fato de ser a mãe da minha filha, me faz desejá-la ainda
mais.
Só tenho que fazer Maddison se apaixonar por mim.
Fácil, não é?
— Estou aqui! Tirando Olive da banheira. — Maddison grita
do banheiro minúsculo ao lado do seu quarto.
Guardo o vinho que comprei no mercado. Aquele que ela vive
falando que não vê a hora de poder tomar de novo, desde quando
Olive nasceu. Sigo até o banheiro e vejo que Maddison colocou
Olive em cima da bancada. Ela está enrolada na sua toalha de
patinho rosa favorita, com um sorriso desdentado e gosmento no
rosto. Maddison faz cócegas na sua barriga, e ela ri. A imagem das
duas deixa meu coração apertado.
Eu nunca soube o que estava perdendo até Olive e Maddison
aparecerem na minha vida. A felicidade que sinto perto delas é
inexplicável, diferente de tudo que já senti antes.
— Essa é a minha garota — sussurro ao me aproximar da
bancada para pegá-la. Eu a acomodo no meu peito e sopro a sua
barriguinha fofa para fazer cócegas. Ela tem cheiro de bebê, da
minha Olive.
— Ei, comprei uma surpresa para você no mercado. Quer dar
uma olhada enquanto visto o pijama em Olive?
Maddison me olha com a testa franzida em uma expressão
de surpresa, mas sorri com diversão ao acenar com a cabeça.
— Eu amo surpresas. Obrigada.
— Você ainda nem sabe o que é. — Eu rio. Olive puxa minha
orelha, atraindo a minha atenção de volta para ela. Suas bochechas
estão rosadas e seus olhos tem o mesmo tom de verde amarelado
dos da mãe. Na minha opinião, ela parece mais com Maddison a
cada dia, mas Maddison acha que ela é a minha cara.
De qualquer forma, é a garota mais linda do mundo.
Agora que a temporada de hóquei acabou, consigo estar aqui
no meu momento favorito do dia, a hora do banho. Olive e eu temos
uma rotina noturna. Eu me certifico de escovar seu cabelo com a
escovinha de bebê, passar a loção de lavanda e camomila, antes de
colocar o pijama que Maddison separou para ela.
É o nosso momento.
Geralmente, Maddison arruma a cozinha do jantar, ou se for
dia de treino, vai para a academia. Então somos só Olive e eu.
Pego um livro da sua estante e leio. Mesmo que ela não faça
ideia do que estou dizendo, é o nosso tempo e eu anseio por ele
todos os dias.
Depois que está em meus braços, enrolada no cobertor rosa
favorito, leio a história dos três porquinhos. Quando suas pálpebras
começam a cair, Maddison a toma dos meus braços e a alimenta.
Depois, eu a coloco para arrotar para evitar dor de barriga quando
dormir.
Cuidadosamente, acomodo-a no meu ombro e dou batidinhas
suaves nas suas costas, o tempo todo balançando para um lado e
para o outro. Esse movimento serve para aliviar os gases dos
bebês. Pelo menos é o que diz o livro que estou lendo.
Homens de verdade leem livros de bebês para saberem o
que estão fazendo, e eu vou morrer tentando. Melhor estar muito
preparado do que despreparado.
— Vamos lá garotinha Olive, dê um arroto pro papai. Só um
arroto pequenininho. Um? Só um? Se eu te deixar assistir
Cocomelon quando a mamãe não estiver aqui, eu ganho um
arrotozinho?
Jesus Cristo Briggs, você barganha com uma criança que
ainda nem sabe falar. Aparentemente, meu pequeno suborno tem o
efeito oposto porque, um segundo depois, Olive golfa nas costas da
minha camisa.
É um grude fedorento e eu luto contra a ânsia de vômito.
Posso senti-lo escorrendo pelo tecido fino da minha camiseta.
— Oh Olive, doce garotinha. Ai meu Deus, Briggs... sua
camisa — Maddison grita, pegando Olive dos meus braços. — Tire
ela logo e vou jogar na lavadora, senão vai ficar arruinada. — fala
sobre o ombro enquanto vai limpar e trocar Olive no seu quarto. Ela
se ausenta por poucos minutos e quando volta para a sala eu
seguro a minha camisa toda vomitada.
Ela parece se assustar quando desce os olhos pelo meu
corpo, como se não o tivesse visto antes. Percorre a extensão do
meu peito e continua até eu limpar a minha garganta, com um
sorriso esparramado nos lábios.
Pega no flagra.
Engolindo em seco, ela pigarreia de forma nervosa.
— Eu vou só, vou só colocar na máquina.
Não vou mentir, vê-la agitada assim enche o meu peito de
satisfação. Suas bochechas estão coradas quando ela pega a
camisa da minha mão e corre para a lavanderia.
Maddison pode fingir o quanto quiser, mas sei que ela é tão
afetada por mim quanto eu sou por ela.
Ao retornar, sorri timidamente, ainda tropeçando ligeiramente
nas palavras.
— Eu coloquei na lavagem rápida, deve levar apenas alguns
minutos. Uh, sinto muito por isso.
— Não se desculpe. — Não me preocupo nem um pouco
com a camisa. — Tudo bem se eu tomar um banho rápido?
Ela acena com a cabeça.
— Sim, é claro. Vem aqui, deixe eu te mostrar a torneira, é
complicada.
Eu sigo de perto enquanto Maddison me guia até o banheiro
minúsculo. É pequeno até para ela, mas com a minha altura e nós
dois lá dentro, parece ficar ainda menor.
Quando fecho a porta para nos dar mais espaço, os olhos de
dela se arregalam.
— Apenas liberando um pouco de espaço.
— Sim, e nós não queremos acordar Olive... ela desmaiou
logo depois que eu a limpei.
— Claro.
Na ponta dos pés, alcança o registro do chuveiro e esbarra
em mim no processo. Ela se atrapalha e suspira frustrada porque
não consegue ligar a água. O banheiro é muito pequeno. Sem ter
para onde ir, chego para trás e me encosto no toalheiro.
— Sinto muito, esse registro tá quebrado. Com certeza você
vai ter que movimentar ele desse jeito. — Usando toda a força,
empurra a alavanca que solta e cai no chão do chuveiro, fazendo-a
desequilibrar e tombar para frente. Tentando se estabilizar, ela
agarra os meus ombros e nós caímos antes que eu possa segurar
na parede para nos deter.
Desabamos no chão como da primeira vez que nos
encontramos e, por ironia do destino, o chuveiro liga e a água
gelada que espirra sobre nós, nos deixa ensopados.
Maddison levanta a cabeça do meu peito, a água escorre
pelo seu rosto e ela ri.
O seu corpo treme com as risadas, e isso não favorece em
nada o meu pau que está duro embaixo dela. Aperto a cintura dela
tentando mantê-la no lugar, mas não tenho sucesso.
— Eu sinto tannnnnto! — Ela fala, sem conseguir parar de rir.
— Essa droga de chuveiro. Você se machucou? Deus eu sou tão
dessas…
Ela não fala mais nenhuma palavra, porque minhas mãos
deslizam suavemente por sua mandíbula, pelos cabelos molhados e
emaranhados da sua nuca, e trago-a para mim. Eu a silencio com
meus lábios em um beijo firme e exigente. Deslizo minha língua
dentro da sua boca e já sinto uma doçura que vai compensar todas
as noites que sonhei com ela. Os dias incontáveis que passei à
procura da garota que caiu como uma tempestade e mudou minha
vida naquele fim de semana. Quando a língua dela entra na minha
boca, devoro o choramingo delicado, aperto a sua nuca para
mantê-la no lugar enquanto absorvo todos os protestos. Compenso
todos os dias que pensei nela, sem nunca imaginar que estivesse
grávida.
Quero que, por um momento, ela pare de pensar nas
consequências ou nos aborrecimentos que poderiam acontecer e
apenas sinta. Saiba o que senti por ela a cada maldito dia.
Ela movimenta os quadris contra os meus enquanto fricciono
meu pau contra o seu centro. Suas mãos percorrem o meu peito
molhado e escorregadio até chegarem na sombra da barba por
fazer, quando afasta abruptamente e retira os lábios dos meus.
— O Deus! — murmura e sai de cima de mim, quase
deslizando pelo piso molhado.
— Ei, cuidado! — digo, estendendo a mão para segurá-la.
Logo que sai do chuveiro, e seus pés estão estáveis no chão
do banheiro, ela grita para mim:
— O que você está fazendo? Por que acabou de me beijar,
Briggs? — Sua voz sai em um chiado fraco, e sinto o quanto está
agitada.
Foda-se, valeu a pena.
— Porque eu queria, e você também.
Digo simplesmente. Essa á a verdade e não gosto de perder
tempo com mentiras.
Ela joga as mãos para cima.
— Ah, porque você queria? Não concordamos que a gente
não faria isso? Que era para focar na coparentalidade de Olive sem
ficar junto?
Isso me faz sair do spray congelante e chegar perto dela, até
as suas costas encostarem na parede e minhas mãos ficarem acima
da sua cabeça. Ambos estamos muito molhados.
— Me deixe esclarecer uma coisa, Maddison. Eu quero você.
Eu sempre vou te querer, porra! Te desejo desde o dia que saiu da
minha vida e ainda mais depois que voltou pra ela.
Sinto sua respiração ofegante contra os meus lábios. Ela
arregala os olhos e encosta as mãos em punho na parede como se
tentasse desesperadamente não me tocar.
— Só porque concordei em priorizar a coparentalidade de
Olive não quer dizer que não te quero. Eu quero. Quero a minha
família, caralho.
— Mas… — Eu silencio a boca dela com a minha. Este beijo,
ainda áspero e exigente, cumpre seu objetivo com precisão.
— Fui claro?
Ela se afasta e olha para mim com as íris douradas cheias de
emoção. Cruzando os braços sobre o peito, ela acena com a
cabeça.
— Como cristal. — Sai do banheiro fechando a porta atrás
dela.
O banho gelado que veio em seguida foi exatamente o que
eu precisava, em mais de um sentido.
Capítulo Dezenove
Maddison
— Então… ele acabou de te beijar? Do nada? — Tyler
suspira pelo alto-falante do telefone. A voz dele subiu uma oitava
desde que comecei a contar o que aconteceu com Briggs.
— Sim, do nada. Deus, Ty, o que vou fazer? Isso é,
literalmente, um desastre.
Já se passaram três dias e não parei de pensar naquele
beijo. Ou em Briggs. Ou em Briggs me beijando nua, e molhada no
chu …
— Mads!
A voz de Tyler me liberta do sonho e me traz de volta ao
presente. Eu gemo. Jesus, isso está ficando fora de controle. Um
beijo e enlouqueço de repente, fantasiando como uma adolescente
apaixonada.
— Perdão, o que?
— Tava pensando nele, não é? — Pelo tom da voz,
praticamente vejo o sorriso de Tyler através do telefone. Ele está
amando essa situação.
— Não, tava pensando que preciso trocar a fralda de Oliver.
Quer se voluntariar?
— Pfft. Estou esperando pelo Dia do Tio, você está
monopolizando a criança.
Por falar em Olive, ela balbucia deitada no seu tapete que
está no chão. Está se saindo muito bem, levantando a cabeça em
coordenação óculo-manual. É agridoce ver a rapidez que ela cresce.
— Garotinha doce, a mamãe tem muito orgulho de você —
murmuro, levanto do chão e me jogo no sofá, deixando o rosto ao
lado dela.
Dramática, eu sei. Mas esta situação exige uma performance.
O pai da minha filha está determinado a me matar.
Literalmente. Depois do nosso tombo no chuveiro, vai pensar que
sou desastrada. Certo, ele está mantendo o nosso relacionamento
estritamente platônico e deixando a decisão para mim.
— E eu não esperava que fosse... querer mais. Depois
daquele dia. Como se tivesse sufocado os próprios sentimentos,
muito ocupada em ser mãe e preocupada em proteger a mim,
Olive.... e Briggs. Sem intenção, fiz coisas que o machucaram e
quando contar para ele … vai me odiar. Como conseguirá me
perdoar tendo tanta raiva e tanto ressentimento da mídia e de
daqueles que o traíram? As pessoas que supostamente o amavam.
Havia uma guerra dentro de mim. Meu coração dizia uma
coisa e a minha cabeça outra. Neste ponto, quem pode saber o que
é certo?
— Foi o melhor beijo da minha vida, acho que ainda melhor
do que antes. E agora… não consigo parar de pensar nele. Eu solto
um suspiro que é parcialmente sufocado pelo travesseiro por eu
estar de bruços.
— Tá com medo dele não te querer mais, ou por causa de
Olive? — Tyler pergunta baixinho.
A verdade? As duas coisas. Estou com medo de prejudicar a
dinâmica que estabelecemos para cuidar de Olive, porque tem sido
muito fácil e muito... compatível em todos os aspectos. Jamais
gostaria que a nossa relação romântica ficasse entre o vínculo dele
com Olive. Ele é um pai incrível.
Foi por isso que fiz questão que tudo resumisse às
necessidades de Olive. Eu sabia por experiência anterior que meu
coração seria vulnerável a Briggs Wilson. Me senti uma marionete
nas mãos dele, mesmo sabendo que deveria ter me afastado.
E também porque quando eu contar a ele, vai me odiar.
— Tenho medo de ser honesta e ele ir embora. Não quero
isso, Ty, desejo ele aqui... quero ele com Olive e comigo. E se a
gente namorar e depois terminar sem suportar o outro? Já vi
colegas e amigos que tiveram a coparentalidade prejudicada por
causa de um relacionamento. Só que... eu tenho que contar para ele
Ty, não posso mais esconder. Não quando as coisas estão se
transformando em algo mais — eu sussurro, como se ele estivesse
no outro cômodo e pudesse ouvir.
— Escuta, querida, ninguém pode te dizer o que fazer nesse
momento. Você tem que seguir o seu coração. Parece que já
decidiu contar pra ele. Ter medo não é um problema, mas seja fiel
ao que você é. Pense no fim da partida e no que pode acontecer de
acordo com a sua escolha.
— Estou apavorada, Ty. Nunca esperei que as coisas
ficassem tão... confusas e descontroladas. Sinto que vou magoá-lo,
não importa qual decisão eu tomar.
— Olhe, eu não estou dizendo que você deve se
comprometer neste momento. Só quero… que pense no futuro.
Pense numa opção benéfica para os dois. Amo você, Madds.
Suspirando, eu viro as costas e olho para Olive, que ainda
balbucia em seu tapete. — Amo você também, Ty. Obrigada pelo
conselho. Tenha um bom dia no trabalho, vamos jantar este fim de
semana, okay?
— Pode apostar. Dê um beijo em Olive por mim. Amo você.
— Amo você.
Encerramos a ligação e eu me sinto ainda mais confusa. Fico
analisando as opções pelo resto da noite até ouvir uma batida na
porta, e a balança pender em favor do meu coração.
Ao abrir, vejo Briggs do outro lado, vestindo uma camisa de
botão cinza-escura com calça e paletó esportivo pretos. A cor da
camisa deixa o tom intenso dos seus olhos mais impressionante,
eles são tão profundos que, quando você os encara, parece que vai
afogar.
— Ei — sussurro, incerta de como agir depois daquela noite.
— Oi. Eu estava por perto e pensei em trazer comida e ver a
minha garota. — Ele segura um saco de papel com a logomarca do
meu restaurante italiano favorito, junto com uma garrafa do vinho
que mais gosto.
Minhas entranhas imediatamente se transformam em mingau.
— Do Ruffino? — exclamo. — Oh Deus, eu não como uma
refeição de lá desde a gravidez de Olive. Como soube que era o
meu favorito? Oh, desculpe, entre.
Ele encolhe os ombros.
— Golpe de sorte. Eu vou brincar com Olive se você quiser
sentar e tomar uma taça de vinho.
Ele atravessa a porta da frente e vai até a cozinha. Coloca o
vinho e a comida em cima da mesa e depois se agacha para pegar
Olive. Há algo ridiculamente sexy em um homem de terno
segurando uma garotinha. Fica ainda pior quando ele faz cócegas
na barriga dela e diz que é a sua garota favorita.
— Briggs, posso colocá-la pra dormir. Sério, você saiu do seu
caminho pra trazer o jantar.
— Sente-se.
A ordem me pega de surpresa por um momento, mas depois
um novo sentimento surge dentro de mim. Desejo.
Uma palavra. É tudo o que precisa para ele me deixar
ardendo.
Papai Briggs é uma coisa, mas... Papai Alfa Briggs?
Oh Deus, eu nunca tive a chance.
— Você está exausta. Tome uma taça de vinho para relaxar.
— Humm — sussurro e limpo a garganta, desviando o meu
olhar. Ainda sinto os olhos dele em mim quando viro na direção da
cozinha. — Tudo bem. Obrigada. — Eu vou até o armário de taças
e pego a minha preferida. Abro o vinho com um saca rolhas e
despejo uma quantidade generosa, enquanto ouço Briggs com Olive
no chão da sala de estar.
— Você está bem arrumado, tem algo importante esta noite?
— eu pergunto.
Olho para cima e meu olhar conecta com o de Briggs. Ele
acena com a cabeça, abrindo um sorriso orgulhoso.
— Treino uma equipe de hóquei juvenil, os Mighty Pucks, e
esta noite, tivemos a nossa festa de premiação. — Ele pega o
celular no bolso e vira para me mostrar.
É uma foto de Briggs com um grupo de crianças. Todos tem
sorrisos tortos e seguram troféus. O que mais se destaca? A
expressão no rosto de Briggs. O orgulho dele é visível.
— Uau, eles parecem ótimas crianças.
Ele coloca o telefone no bolso de novo, e assente.
— Eles são ótimas crianças. Eu... uh, depois das coisas que
aconteceram há alguns anos, eu costumava ter alguns problemas
com o time.
O irmão dele.
Ele não precisa dizer em voz alta para me lembrar da dor
gravada em suas palavras ao me contar o que aconteceu.
Eu apenas aceno com a cabeça, e trago o copo de vinho até
os lábios, tomando um grande gole. O líquido doce e picante tem
gosto de céu e alivia o sentimento de culpa.
— De qualquer forma, comecei a treiná-los por uma exigência
do meu treinador, mas honestamente... aqueles garotos me
salvaram. Estou aqui por causa deles. Venho falando sobre Olive
para eles há semanas. — Ele olha para ela, que agora dorme em
seus braços, e sorri. Um sorriso doce que reserva apenas para a
sua garotinha.
— É muito nobre da sua parte, Briggs. Usar o seu tempo livre
sendo treinador.
Eu já sabia, até escrevi sobre isso. Embora não tenha
parecido a sua atitude mais escandalosa, a culpa me consome
enquanto ele me conta sobre sua noite. Eu me sinto péssima e fico
com mais medo de contar para ele.
Eu estou sendo covarde.
— Não há outro lugar que eu prefira estar, além de aqui, é
claro. Com vocês duas. Quando os seus olhos encontram os meus,
parecem um pouco mais escuros. Ele não precisa me explicar o
significado das palavras.
— Podemos conversar? Sobre o que aconteceu na outra
noite?
Qualquer assunto que não seja a imagem de Briggs em pé na
minha frente com essa camisa justa de botão vai ser uma distração.
Ele é atraente demais para ser verdade. Outra razão para eu
proteger meu coração e ficar longe. Eu sei o tipo de homem que ele
é, ou pelo menos a maneira que a mídia o retrata.
— Podemos, mas antes dessa conversa, vou te avisar que eu
quis dizer cada palavra que falei na outra noite, e mesmo que você
não queira o mesmo, nada vai mudar para mim.
— Pode colocar Olive no berço antes de a gente conversar?
Briggs acena com a cabeça e continua a balançar Olive
suavemente. Eu o observo levá-la para o quarto que
compartilhamos, até a sua estrutura elevada desaparecer dentro
dele.
Acho que vou precisar de outro copo de vinho para esta
conversa. Arrumo a mesa e desembalo a comida enquanto ele põe
Olive para dormir. Sento para tomar o meu vinho... lentamente, até
ele se juntar a mim na cozinha. Sem o paletó e com as mangas da
camisa enroladas mostrando os antebraços grossos e venosos que
enxeriam de água a boca de qualquer mulher.
— Imaginei que poderíamos comer enquanto conversamos.
Tudo bem pra você?
— De qualquer jeito pra mim tá bom. Na verdade, estou
morrendo de fome, não como desde o almoço.
Eu estendo a mão e gesticulo na direção da comida.
— Vamos comer.
Compartilhamos a refeição e, pela primeira vez, o ar fica
pesado. Coloco as almôndegas recheadas no meu prato, reunindo
coragem, depois olho para Briggs.
Sua mandíbula é forte e esculpida, assim como as maçãs do
rosto afiadas que sustentam os olhos de aço penetrantes.
— Você não pode simplesmente... me beijar assim. — Eu
resmungo.
— Assim como?
Abro a boca para falar e fecho em seguida, porque este
homem... sabe exatamente como.
— Daquele jeito.
Os cantos dos seus lábios abrem um daqueles sorrisos
presunçosos.
— Que jeito Maddison?
Ele está gostando demais disso. Minhas bochechas aquecem
tanto sob o seu olhar, que sinto o rubor descer pelo meu pescoço.
— Do jeito que você fez. Nós não podemos, Briggs. Não
importa o que queremos, não no final das contas. O importante é
Olive.
Ele coloca o garfo no prato quase vazio, usa o guardanapo
de linho, descarta e move a cadeira. Sem dizer nada, ele fecha a
distância entre nós.
— Vem aqui. — Não sei se é o desejo cru em seus olhos ou a
tom de comando da sua voz grossa que me faz deixar o garfo cair
no prato e a minha cadeira raspar no piso barato enquanto eu me
levanto lentamente, olhando para ele.
Briggs me puxa gentilmente, até eu me encostar no seu
corpo atlético. Ele desliza as mãos pelo meu queixo com muita
ternura como se eu pudesse quebrar ao seu toque. Esse gesto me
desarma de uma forma que eu não esperava. Sinto a minha
determinação diminuir a cada segundo que suas mãos me tocam.
— O que você está fazendo? — sussurro.
Engulo a emoção inesperada que se formou na minha
garganta.
— Te mostrando. Eu poderia ficar aqui o dia todo até me
exaurir, te explicando como me sinto. Não importa, Mads. Eu preciso
te mostrar.
Suas palavras me causam borboletas no estômago. Sei que
eu deveria me soltar dele e dar um passo para trás para proteger
meu coração. Mas parece que os meus pés plantaram no lugar, por
conta própria. Depois de tudo que passamos, o seu toque parece…
proibido. Mas parte de mim se deleita com ele.
— Me fale uma boa razão para não tentarmos, Mads. —
Suavemente, ele arrasta o polegar pela parte côncava da minha
bochecha. Seus olhos fixam nos meus, nossas respirações estão
combinadas. — Olive? Ela é a razão? Porque, na verdade,
Maddison, nossa filha apenas fortaleceu o que sinto por você. É isso
o que eu quero. Eu quero a nossa família.
Deus, suas palavras derretem as minhas entranhas ao
penetrarem no meu coração.
— Não sei se eu posso, Briggs.
Minha voz é um mero sussurro, enquanto a emoção me
domina. A necessidade avassaladora não apenas de proteger o
meu coração, mas de preservar o dele.
Dia a dia, a culpa me corrompe por dentro como uma doença,
por saber que parte da dor que vive dentro dele é de minha
responsabilidade. É por minha causa que o mundo o vê como vilão,
quando na verdade…ele é apenas um cara quebrado que foi ferido
por pessoas que deveriam amá-lo.
Aquelas manchetes eram minhas.
Aqueles artigos eram meus.
Apesar de não ter conhecimento na época, eu sou a razão de
ele se arrepender por todas as coisas que fez quando estava
magoado, e toda vez que penso nisso fico destruída.
Isto, o que quer que esteja acontecendo entre nós, está
condenado desde o dia que o deixei no Brickside com um coração
meio partido e mais culpa do que eu já vi na vida. O que pensei ser
um caso de fim de semana era muito mais, mesmo antes de
descobrir a respeito de Olive. Ele vai considerar uma traição minha.
Como poderia me perdoar, se nunca perdoou sua família?
Contar a verdade vai afastá-lo da minha vida e eu não sei
como vou suportar. Não quando eu já estava me apaixonando…
— Eu nunca vou te magoar, Maddison. Prefiro me jogar do
prédio mais alto de Chicago do que machucar você ou Olive. Tudo
que peço é uma chance, uma oportunidade de provar que
poderíamos ser felizes. A família mais alegre da face da terra. Eu
faria qualquer coisa para agradar a vocês duas. Qualquer coisa,
Mads.
Aperto os meus olhos enquanto ele fala, até que sua mão
desliza para baixo e ele puxa o meu queixo na sua direção. Seus
olhos escuros parecem segurar uma tempestade nesta noite.
— Uma chance, Mads. É tudo que preciso pra te provar. Me
deixa entrar, linda, por favor.
— E se a gente estragar tudo? E se eu concordar e
atrapalhar o seu relacionamento com a sua filha? Ela é a coisa mais
importante da minha vida, Briggs. Eu nunca vou querer ser a razão
dela estar magoada. Quero dizer... Briggs, ainda assim, há muitas
coisas que não sabemos um sobre o outro.
Ele balança a cabeça, sua mandíbula está apertada.
— Bem, podemos namorar. Podemos nos conhecer melhor.
Só sei que quero você, e não importa o que aconteça, Olive estará
sempre em primeiro lugar. Nada vai mudar isso. Só quero uma
oportunidade para a nossa família ficar junta. Sou louco pra caralho
por você.
— Eu... só preciso de tempo para pensar. Pode me dar uns
dias, por favor?
Assentindo, ele acaricia distraidamente minhas bochechas
com o polegar, depois o afasta e dá um passo para trás.
— Você tem o tempo que precisar, Mads. Apenas não me
exclua, por favor. Me dê a chance de dar o mundo a vocês duas. Ele
se inclina, dá um beijo longo na minha bochecha, depois tira o
casaco da parte de trás da cadeira o coloca sobre os ombros.
— Me ligue quando estiver pronta. Vou ficar esperando.
Sem dizer mais nada, ele segue em direção à porta da frente,
deixando meu coração e minha cabeça no maior conflito do mundo.
Capítulo Vinte
Briggs
Há vinte e quatro horas, saí do apartamento de Maddison e
deixei o nosso futuro por conta dela. Passei vinte e quatro horas
obcecado pela decisão. Vinte e quatro horas com o estômago em
nós. Por isso, quando Reed me chamou para encontrar com ele e
os caras no rinque, eu pulei de alegria.
Precisava sair de casa e parar de checar o telefone a cada
cinco minutos, esperando a ligação dela.
O plano era me manter ocupado, mas eu não estava indo
muito bem, desde que só conseguia pensar nas minhas meninas.
— Mano, ela é linda, Wilson. Definitivamente, tem o seu nariz
— Bart, o gerente de equipamentos dos Avalanches, diz ao olhar
para a foto de Olive no meu telefone. Eu não conseguia evitar.
Aonde quer que eu fosse, queria mostrá-la ao mundo. Só que, por
causa da mídia, eu não podia. Assim que descobrirem sobre Olive,
ela será o assunto de todos os noticiários nacionais e quero evitar a
exposição, dela e de Maddison. Tenho medo de eles mancharem
tudo que eu e Maddison realizamos, transmitindo de forma indigna.
Só quero mantê-las protegidas, sempre ao meu lado. Por isso
expliquei para ela, em primeiro lugar, como é importante que
estejam perto de mim. Eu não vou parar e assistir algo acontecer
com elas. Quero que qualquer comunicado seja nos nossos termos.
Estou surpreso que ainda não esteja na homepage do blog
Declarações de Uma Maria Patins. Ela tem o prazer de divulgar tudo
o que puder sobre mim. Mesmo tendo feito de tudo para me manter
fora do radar dela, principalmente neste momento.
— Obrigada. Eu amo essa garotinha mais do que tudo. Ela é
o meu mundo.
Batendo nas minhas costas, ele ri.
— É exatamente assim que acontece. De repente, essa
pequena entra na sua vida e vira tudo de cabeça pra baixo.
Eu concordo com a cabeça e olho para a foto de Olive. Ele
tem razão. Antes dela a minha vida era… vazia. E eu só me dei
conta depois de vê-la pela primeira vez. As bochechinhas rosadas, o
sorriso torto e sem dentes que me lembram muito a mãe dela. Me
parte o coração. Faz apenas um dia que a vi e parece uma
eternidade. Sinto falta dela. Maddison não me impede de vê-la, mas
quero dar espaço para ela tomar a decisão.
Reed e Graham aparecem patinando bem na hora que
bloqueio o meu telefone e coloco em cima do banco.
— Boa jogada, Davis. Pensei que não seria capaz de me
superar por causa da sua velhice. — Graham ri, esbarra o seu taco
no de Reed e recebe um rabo de olho.
— Para quem está no primeiro ano aqui, você fala muita
merda Adams. Pare de falar pela bunda.
— Posso ser um novato, mas minhas estatísticas são
melhores que as suas, então...— Graham dá de ombros.
— Calem a boca, os dois — eu berro, irritado. Normalmente,
as discussões deles não me irritam, mas depois de deixar Maddison
fiquei mal-humorado.
Eles olham para mim. Reed ergue as sobrancelhas escuras e
grossas, e Graham parece apreensivo.
— O que foi? — resmungo. Ambos me olham com
julgamento.
— Está muito incomodado hoje, alguma razão específica? —
Reed fala com sarcasmo, passando uma mão pelo rosto para
enxugar o suor que escorre do cabelo desgrenhado.
Tenho problemas em contar sobre as merdas da minha vida,
mesmo que seja para os meus melhores amigos. Passei muito
tempo mantendo tudo preso dentro de mim e tentando não jogar em
mais ninguém. É um hábito que venho tentando quebrar. Pouco a
pouco.
— Não vejo Maddison ou Olive desde ontem.
— Como está a minha Olive-you? Outro dia, quando fui à Las
Vegas, comprei uma camiseta fofa pra ela. Tem escrito "Baby
Roller". [3] Entendeu? Uma patinadora de grandes jogadas.
— Sim, eu entendi, Graham.
— Então, o que aconteceu? Vocês brigaram? — Reed
pergunta, se jogando no banco ao meu lado.
Balanço a cabeça.
— Não, não foi nada disso. Eu me abri pra ela, Reed. Falei
como me sentia e ela pediu um tempo pra pensar no que isso
significava pra nós. Porra, acho que estou apavorado com a
possibilidade de perder ela e Olive.
Reed me olha por um momento, depois ri balançando a
cabeça.
— Mano, tá de quatro por ela, hein? Pensei que jamais o
veria apaixonado.
— Eu não estou apaixonado por Maddison.
Graham zomba.
— Cai na real, cara. Ela tem as suas bolas na bolsa de
fraldas da Olive.
— Olhe, foi exatamente assim quando contei tudo para
Holland. Passei a semana inteira pensando ter perdido a primeira
garota que amei, mas tudo deu certo. Você tem o hábito de pensar o
pior de todos ao seu redor… considerando…
Ele está falando sobre Beau, e está errado. Eu me
condicionei a esperar o pior para nunca me decepcionar com o
resultado. Mas só de pensar em perder Maddison e Olive meu peito
aperta.
— Briggs, você merece ser amado, não sei por que se
convenceu do contrário. Entendo que teve uma experiência difícil, e
que fez um bocado de merda, mas isso não quer dizer que não seja
digno do que é bom. — Ele prende o olhar no meu e continua: — Dê
uma chance. Acredite nela com a mesma intensidade do seu
sentimento.
— Vai me fazer chorar, caralho. É sério — Graham funga. —
O que foi? Pare de me olhar assim. Homens de verdade não sabem
lidar com suas emoções.
— Cale a boca, Graham — Reed resmunga e joga a luva no
rosto de Graham, mas ela bate no nariz dele e volta para mim. —
Ela te pediu tempo, dê a ela. Mas, mesmo que não seja a reação
que você esperava, se você a ama... e você ama, não pode desistir
dela.
Eu concordo com a cabeça.
— Não vou, mas eu nem sei como amar, Reed. O único amor
que conheço é do tipo fodido e traiçoeiro. E se Maddison tiver
razão? Se acaso ela me der uma chance, vamos estragar tudo?
Nessa hora, ele encolhe os ombros e volta a olhar para o
gelo à nossa frente.
— Não há nada neste mundo que eu não faria por Holland ou
Evan. Nada. Eu sacrificaria cada centavo que ganhasse, a minha
carreira, ou qualquer coisa que você falasse. Isso é que é amor. Não
existe nada definido, nunca é preto no branco. Você descobre a
partir dos seus erros. Inferno, eu posso nunca acertar, mas se a
minha garota dorme à noite sabendo que eu sacrificaria qualquer
coisa no mundo por ela, fico feliz. Sendo assim estou fazendo
alguma coisa certa.
— Eu vi a forma como ela olha pra você, Wilson. Não se
preocupe. Sempre que você está por perto ela tem o mesmo olhar
— Graham intervém: — Vou procurar Asher e Huds, pra ver se eles
querem ir ao bar esta noite. Vocês topam?
Reed nega com a cabeça.
— Não, eu tenho um encontro com a minha garota hoje.
— Não, tenho umas merdas pra resolver. Fica pra próxima.
Graham concorda com um aceno.
— Me avise quando for ver Olive-you de novo. Eu também
vou. Quero entregar os presentes que o Tio Graham comprou pra
ela.
— Vou avisar.
Ele sai patinando e Reed levanta.
— Vou tomar banho e depois ir pra casa. Quero ficar sozinho
com Holland antes que eu morra.
Eu sorrio. Reed é tão obcecado por Holland que chega a ser
doentio. Mas me lembro que sou da mesma forma com Maddison, e
provavelmente é melhor ficar calado.
— Te ligo depois. Ele me dá um tapinha nas costas e me
deixa sozinho no banco, com os meus pensamentos.
Eu tenho poucos minutos ininterruptos de silêncio até o meu
telefone tocar. Pego-o no banco em um salto e vejo o número da
minha mãe na tela. Eu gemo.
Porra.
Se eu ignorar, ela vai aparecer lá em casa, e essa é a última
coisa que eu preciso agora.
Deslizando o dedo sobre a tela, eu atendo.
— Oi mãe.
— Oi meu amor. Quero apenas saber de você, está tudo
bem?
Culpa rasteja imediatamente pela minha espinha. Os meus
pais ainda não sabem que são avós, e não estou pronto para falar
para eles. A voz dela que, geralmente, me traz conforto, só faz o
meu estômago embrulhar. Me sinto um idiota por esconder Olive
dela.
— Hum, estou bem, mãe. Na verdade, estou no rinque agora,
e não posso falar por muito tempo. Como você está?
Há uma breve pausa.
— Oh, você sabe, o mesmo de sempre. O seu pai passa a
maioria do tempo trabalhando na loja dele e Beau… — ela
interrompe. — Sinto muito, querido.
— Não se desculpe, mãe.
— Eu me preocupo com você, querido, e sinto como se
nunca mais fosse te ver e…
Ela balbucia, mas meu foco se vai quando o telefone toca
com uma notificação. Eu verifico e vejo que é uma mensagem de
Maddison.
Porra, estou nervoso. Meus dedos pairam sobre a mensagem
enquanto minha mãe chama meu nome.
— Briggs?
— Me desculpe mãe, tenho uma chamada em espera, posso
te retornar mais tarde?
É impossível não notar a decepção em seu suspiro.
— Com certeza, querido. Você sabe que eu te amo, não é?
Sempre. Não demore a me ligar.
— Não vou demorar, mãe. Eu também te amo.
Encerramos a chamada e eu abro a mensagem de Maddison.
Maddison: Jantar? Hoje? Às sete. Estou fazendo
lasanha e acho que deveríamos conversar…

Eu respondo rapidamente.
Briggs: Te vejo então.
Acho que hoje é o dia da verdade.
Capítulo Vinte Um
Maddison
Me sinto tão nervosa que minhas mãos estão pegajosas. Eu
limpo as palmas suadas no jeans e me forço a respirar fundo.
Pelo amor de Deus, Maddison, você passou um fim de
semana de sexo quente, suado e incrivelmente bom com o homem
e depois teve a filha dele. Isso não é nada. É só um jantar.
Ou pelo menos é o que eu continuo a dizer, mesmo sabendo
que é muito mais. Passei um dia inteiro preocupada com uma
decisão que já tinha tomado, quando ele confessou seus
sentimentos para mim na minha cozinha.
Eu só precisava ter certeza.
E eu tenho. Eu quero Briggs Wilson desde o momento que
ele entrou na pousada dos meus avós. Aquele foi um dos fins de
semana mais memoráveis da minha vida. E, testemunhar o quanto
ele é incrível e paciente como pai da nossa garotinha? Deixa meu
coração mais mole a cada vez que os vejo juntos.
Vou contar para ele nessa noite, e é por isso que o meu
estômago parece estar amarrado em dez nós. Sinto que vou vomitar
quando eu tiro a lasanha do forno e coloco na prateleira de
resfriamento. Este apartamento é do tamanho de uma caixa de
sapatos, fazer refeições complexas como esta já é estressante por
si só.
— Merda — xingo, quando vejo as bordas o meio queimadas
por ficarem muito tempo no forno. É claro que todas as coisas do
mundo tiveram que dar errado desde que chamei Briggs para jantar
aqui essa noite. Para começar, enquanto eu preparava a lasanha,
passei um pouco do horário de tirar o leite. Logo, meu suéter que
demorei uma hora para escolher, ficou com dois círculos molhados.
O alarme do meu telefone toca.
Quinze minutos. Okay, preciso colocar o pão no forno e
depois está tudo certo.
— Tá pronta pra ver o papai, garotinha Olive? — eu pergunto.
Ela me olha com grandes olhos verdes e sorri, enquanto
mastiga os punhos relaxadamente. É o que mais gosta de fazer. Eu
até combinei com Ty e Kyle um encontro com os titios esta noite,
para eu e Briggs termos tempo para conversar.
Cinco minutos depois de colocar o pão de alho no forno, ouço
uma batida na minha porta. Sabendo que provavelmente são Ty e
Kyle no outro lado, grito ao abrir:
— Graças a Deus!
Só que não são eles. É Briggs, com um sorriso pretencioso.
Ele está muito bonito, vestindo jeans escuro e uma camisa de botão
com as mangas dobradas até o cotovelo. Ele encosta na porta
casualmente.
Eu engulo em seco. Com certeza, um homem ser tão
atraente, é injusto com todas as mulheres. Acho que perdi a fala.
— Fico feliz por você se animar com a minha chegada,
Madds.
— E-eu… — gaguejo e o sorriso dele alarga, enquanto o meu
nervosismo aumenta. — Pensei que fosse Ty. Ele e Kyle vêm
buscar Olive em poucos minutos. Vão ficar com ela esta noite.
Ao mencionar Olive, seus olhos brilham em um forte
contraste com a cor escura da sua roupa.
— Bom, então eu ganho poucos minutos pra ficar com ela.
Felizmente, de alguma forma consegui recuperar a fala.
Limpo a garganta e afasto mais a porta.
— Entre. Me desculpe.
Ele passa pela porta, mas assim que acaba de entrar vira em
minha direção.
— Você parece nervosa, Madds. Tá tudo bem?
Meu coração bate forte contra minhas costelas quando ele
invade o meu espaço. Ele para bem na minha frente, com os cantos
dos lábios levantados em um pequeno sorriso que não faz nada
para acalmar o meu pulso acelerado.
Deus, ele é maravilhoso. A mandíbula forte e afiada me faz
recordar a noite que a tracei com a língua, provando o sabor
salgado da pele dele.
Me arrepio com o pensamento e ele desliza as mãos pela
minha cintura.
— Preciso da sua resposta, Maddison. Eu sou um cara
paciente, mas mal posso esperar para te tocar de novo.
Com isso ele me deixa ir e caminha até o assento Bumbo de
Olive para pegá-la, e eu me derreto em uma poça.
Nunca vou entender como ele consegue me causar essa
reação apenas com palavras simples e um toque leve.
Eu me junto a eles na cozinha e observo como embala Olive
em seus braços. O meu coração não aguenta, está completamente
vulnerável.
— Ei minha garotinha linda. Papai sentiu muitas saudades,
você sentiu minha falta? — Suas mãos gordinhas alcançam a
sombra da barba no queixo dele, e ela balbucia alegremente.
Depois dá uns gritinhos enquanto ele movimenta em círculos, rindo.
Outra batida me interrompe e volto para a entrada. Abro a
porta e Ty e Kyle, finalmente, estão do outro lado. Meus nervos
acalmam só de vê-los.
— Oi amor! — Ty passa por mim à procura de Olive, e Kyle
apenas ri, balança a cabeça e me dá um abraço apertado.
— Oi linda, tá pronta para a noite? — sussurra em meu
ouvido. Eu aceno em seu abraço e quando ele me liberta, afasta o
cabelo do meu rosto bem na hora que Briggs chega atrás de nós.
Limpando a minha garganta, eu os apresento.
— Uh, Kyle, Ty… este é Briggs, meu…
— O pai da sua filha. — Ele sorri, estendendo a mão para
Kyle, agora que Ty pegou Olive.
Eu rio de nervosismo.
— Okay, estou feliz porque foram apresentados. Ty, posso
falar com você por um instante, no meu quarto? Eu só preciso pegar
a bolsa de Olive.
— Há algo em que eu possa ajudar para o jantar, Mads? —
Briggs pergunta antes de sairmos.
— Mads? — Ty me olha com as sobrancelhas erguidas.
— Se você puder abrir o vinho, vai ser ótimo.
Briggs acena com a cabeça e Ty e eu entramos no meu
quarto. Eu fecho a porta e baixo a minha cabeça contra ela.
— Merda. Merda. Droga, Ty, não posso fazer isso. Sinto
como se fosse o meu primeiro encontro de novo. Não faço isto
desde... sei lá, desde sempre. E eu vou falar pra ele essa noite. Vou
falar tudo pra ele.
Ty revira os olhos e coloca Olive na cama, depois se
aproxima e toma meu rosto em suas mãos.
— Tudo vai se acertar, querida. Você está seguindo seu
coração, é a coisa certa a fazer. Acho que assim que contar, tudo
vai ficar bem. Ele também é louco por você. Nesse pouco tempo eu
consegui notar e penso que não vai mudar. Acho que ele não vai a
lugar nenhum.
Espero que ele esteja certo, mas nem mesmo o seu discurso
de encorajamento acalma o bando de borboletas agitadas no meu
estômago.
Inspiro profundamente e expiro em seguida, enquanto Ty me
segura e me instrui. Uma amizade da vida inteira faz isso por você.
Ele me ajuda a ver claramente quando minha cabeça está confusa.
— Eu e Kyle estaremos em casa cuidando de Olive. Se você
quiser falar com ela ou saber como está, o meu celular vai ficar ao
meu lado. Tudo bem?
— Tudo bem. Entendi, aqui a bolsa dela. — Suas mãos
caem, e eu caminho até a bolsa de fraldas que arrumei há pouco
tempo. Posso ter exagerado um pouco, mas tem todos os itens
essenciais. — Coloquei três mamadeiras por precaução, mas acho
que ela só vai tomar duas. Se precisar de mim, estou a uma ligação
de distância.
Ele acena com a cabeça, dá um beijo rápido na minha
bochecha e pega Olive da cama.
— Entendi. Estamos bem, voltamos mais tarde. Te amo,
tchau
Mal tenho tempo para dar um beijo em Olive antes dele
atravessar a porta e me deixar sozinha.
Estou mais calma do que antes, mas ainda sinto que vou
passar mal a qualquer momento.
Tudo, e eu quero dizer tudo, muda quando você tem um
bebê. Eu e Briggs não apenas passamos um fim de semana juntos.
Ele me viu antes de Olive… viu o meu corpo antes da gravidez. Ele
não imagina o que o espera e, no momento que olhar para mim, vai
correr na direção contrária. Meu corpo está cheio de estrias, meus
peitos estão caídos por causa da amamentação, e a pele da minha
barriga está flácida, depois de esticar por causa da gravidez.
Eu gemo.
Tudo vai ficar bem, Maddison. Relaxe. Dando mais uma
olhada no espelho de corpo inteiro atrás da porta, eu aliso meu
suéter e ajeito o cabelo. Volto para a cozinha e encontro Briggs
encostado no balcão, de olho no telefone.
Quando passo pela porta ele me olha, foca a sua atenção no
meu corpo e volta a me encarar.
— Pronto pra comer? — Minha voz sai aguda, e ele dá uma
risada baixa e rouca.
— Sim, quando você estiver. Servi um pouco de vinho.
— Obrigada.
Faço os nossos pratos e sentamos à mesa um em frente ao
outro. Briggs começa a comer imediatamente, sem mencionar o
motivo real do meu convite para esse jantar.
— Meu Deus, é a melhor coisa que já comi. — ele geme em
volta do seu garfo cheio de lasanha. — Bem... quase.
Seus olhos brilham com a insinuação, e meu rosto enrubesce
sob seu olhar.
— Obrigada. É a receita da Nana. Acho que já passou por
três gerações. Na verdade, eu amo a culinária. Só não cozinho mais
por causa do meu trabalho e dessa cozinha minúscula.
— Está deliciosa.
Tomo um longo gole de vinho com o intuito de aliviar a tensão
e, antes que eu perceba, esvazio o copo e me sinto um pouco mais
relaxada. Antes de perder a coragem, falo, tentando nem ao menos
pensar assunto.
— Eu gostaria de tentar levar as coisas... lentamente.
Briggs levanta o olhar na direção do meu, e move o canto da
boca lentamente. Ele pousa o garfo em silêncio, une as mãos sob o
queixo.
— Preciso que você elabore, Mads.
Minhas bochechas queimam enquanto eu engulo o meu
nervosismo.
— Isso. Nós. Juntos. Você tem razão, quero dar uma chance.
Mas acho que deveríamos ir com calma e nos conhecermos melhor,
já que só passamos juntos o fim de semana da concepção de Olive.
— Um fim de semana incrível — diz ele.
Foi, e isso é parte do motivo de eu estar aberta a explorar o
que quer que tenha despertado entre nós.
Eu concordo com a cabeça.
— Foi. O que você disse no outro dia ... sobre não conseguir
esquecer? Eu também não consegui. Mesmo durante a gravidez e
depois do que aconteceu...eu não pude. Mesmo que eu devesse ter
conseguido na época.
Ele estende a mão e gentilmente pega a minha. Sua palma é
quente, e consideravelmente menos pegajosa. Pela primeira vez
nesta noite, eu sinto meu nervosismo aliviar.
— Nunca vou magoar você ou Olive, Maddison. E, se me
permitir, vou te provar todos os dias, linda.
Linda.
Eu limpo a garganta tentando conter minhas emoções e
como mais um pouco de lasanha, enquanto Briggs me serve outro
copo de vinho.
Depois do jantar, ele limpa a mesa e coloca as louças na
máquina. Eu tentei ajudar, mas ele insistiu para que eu desfrutasse
do meu vinho desde que já tinha cozinhado. Três taças para dentro,
e agora me pergunto porque estava tão nervosa.
Encosto minha cabeça no batente da porta, descansando na
madeira ao observá-lo limpar. Talvez seja o vinho, depois de um
tempo sem poder beber, ou pode ser apenas porque o Briggs é
assim...intoxicante. Pura masculinidade, mas estou aprendendo que
sob esse exterior, ele é atencioso e determinado.
O oposto do homem que costumava ser, ou pelo menos
parecia ser. Mais disciplinado.
— Posso sentir os seus olhos em mim daqui. — Logo que ele
vira e nossos olhares se encontram, sinto no meu âmago.
— Só observando.
Ele joga o pano no balcão e caminha em minha direção.
Vagarosamente. Até ficar em frente a mim. Tão perto que eu posso
sentir o cheiro fresco e amadeirado do seu sabonete, e minha
respiração acelera.
— Humm. Quer compartilhar essas observações, Mads?
Eu balanço a cabeça e trago a taça de vinho aos meus lábios
de novo, aproveitando demais disso, para quem disse que queria
levar as coisas devagar. Briggs coloca as mãos nas laterais da porta
atrás de mim e se inclina sem me tocar, mas perto o suficiente para
eu sentir o seu cheiro ao inspirar.
Ele me acalma como o olho de um furacão mantém a
quietude, mesmo durante as tempestades mais caóticas. Mas, de
alguma forma, momentos deixa o meu coração acelerado de um
jeito que não acontecia desde a noite que passei nos braços dele.
— Que tal você me dizer porque estava tão nervosa mais
cedo?
Eu desdenho baixinho.
— Eu? Nervosa? Nunca.
Briggs sorri e, em vez de responder, bebo o último gole do
meu vinho e pressiono a taça no seu peito em provocação. A bebida
agita o meu sangue e me sinto mais confiante. Menos nervosa. Mais
como eu era antes.
— Parece muito com um primeiro encontro, só isso. Os
primeiros encontros são assustadores.
— Um primeiro encontro? Maddison, passei uma noite inteira
dentro da sua boceta, acho que já passámos do primeiro encontro.
Suas palavras sujas causam palpitações no meu núcleo
traidor. Briggs se aproxima mais, passando o nariz por um ponto
sensível no meu queixo que me faz respirar fundo. Sem quebrar o
contato visual, ele pega a taça da minha mão e coloca no balcão ao
seu lado.
— Era pra gente ir devagar, lembra? — sussurro.
— Hum, eu lembro.
Sinto os lábios dele ali, bem debaixo do lugar que passou a
língua antes. O mesmo ponto que me fez arquear contra ele
enquanto afundava dentro de mim.
— Briggs, preciso te contar uma coisa. — minha voz é
apenas um sussurro.
Ele se afasta com os olhos de aço fixos nos meus e, por um
momento, só existe o som da nossa respiração irregular. A tensão é
tão grande que parece sugar todo o ar do cômodo, me deixando
desesperada para inspirar novamente.
Inspirá-lo.
— Preciso te beijar, Maddison, agora — ele ofega.
Meu corpo fica mais quente a cada segundo que passa. O
calor começa nos dedos dos pés e se espalha como fogo.
Então nos chocamos como se ambos estivéssemos em
período de seca. A confissão morre nos meus lábios, quando Briggs
me puxa em sua direção e posiciona os meus braços ao redor do
seu pescoço e cabelo grosso da sua nuca. Ele me beija com força e
empurra a língua na minha boca. Eu a abro, silenciosamente
implorando por mais. Desço as mãos do seu cabelo para o suéter
escuro em seus ombros, e agarro o material macio quando tento
trazê-lo para mais perto de mim. Sinto suas mãos descerem pelas
minhas laterais, passando dos meus quadris para a minha bunda,
enquanto ele me ergue contra a porta. Travo as pernas ao redor da
sua cintura quando ele inclina o meu queixo para aprofundar mais a
língua, roubando a respiração dos meus pulmões.
Tudo acontece muito rápido, eu pisco, e de repente nos
atacamos como adolescentes. Mas a dor maçante entre minhas
coxas, só piora a cada segundo que sua boca quente está sobre a
minha pele. Sua língua, hábil como sempre, traça um caminho
ardente pela minha garganta enquanto ele belisca a minha pele, e
eu arqueio na porta, encostando nele.
De alguma forma, no nevoeiro da luxúria que tomou conta do
meu cérebro, consigo me afastar e encher meus pulmões de ar
enquanto ele desce beijando da minha garganta até o V profundo da
minha camiseta.
Não sei se é o vinho, ou se são os hormônios furiosos que
aparentemente tomaram conta do meu corpo desde que tive Olive,
que me fazem querer mais. Eu preciso de mais. Eu preciso dele.
— Mais — ofego quando os dedos dele forçam o material do
sutiã e roçam os meus mamilos eriçados.
— Espere, espere — diz bruscamente, se afastando e
puxando o ar.
Eu arregalo os olhos.
— O que foi? Não, sem espera. — Eu tento trazê-lo de volta
para mim, mas ele balança a cabeça e geme.
Uma vibração atravessa o seu corpo e passa para o meu
núcleo dolorido.
— Você não faz ideia de como eu te quero, Maddison, do
quanto quero enterrar o meu pau dentro de você. Mas estou
tentando ser um bom homem. Você disse que queria pegar leve.
Com um suspiro profundo, eu encosto a cabeça na porta de
novo e murmuro:
— Retiro tudo o que eu disse. Digo isso com sinceridade, nós
tivemos uma filha antes mesmo de você saber o número do meu
telefone. Isso passa longe de pegar leve, Wilson.
Ele ri.
— Humm, vamos usar apelidos agora? Aprovo. Que tal
Papaizinho em vez disso?
— Minha resposta é não com letra maiúscula — suspiro.
Em vez de continuar, ele me dá um beijo suave e longo na
boca e, lentamente, me abaixa para o chão. Fico com um caso sério
de bolas azuis femininas, mas ele tem razão.
O sexo não me informa tudo o que quero saber sobre ele.
— Confie em mim. Quando for a hora certa, vou adorar cada
centímetro do seu corpo, Maddison. — Desejo emana das suas
palavras, mas não fazem nada além de deixar o meu clitóris
pulsando por antecipação.
— Pare!
Agora ele ri de forma insolente, porque sabe exatamente o
que está fazendo. Ele baixa o olhar para o relógio preto em seu
pulso que só agora eu percebi, porque não fui capaz de tirar os
olhos dele desde que passou pela porta.
— Além disso, Ty e Kyle chegarão a qualquer minuto com
Olive. A última coisa que quero é começar algo que não vou poder
terminar. Queria te perguntar, eu tenho um evento… um evento do
time. Todos os caras estarão lá com suas esposas e namoradas. Eu
sei que é meio precoce, mas você gostaria de ir? É casual.
Eu mastigo meu lábio com nervosismo ao pensar sobre isso.
Estou pronta para enfrentar o time de Briggs? Meu coração fraqueja
com a ideia de eles descobrirem quem eu sou. Dá para imaginar
como eles ficariam bravos? Agora, mais do que nunca, odeio ter
começado o Declarações de Uma Maria Patins. E isso parece ser o
oposto de lento, mas no nosso verdadeiro estilo… parece que
fazemos tudo além de pegar leve.
— Não vou te pressionar, mas eu adoraria que você fosse. E
eu quero que todos conheçam Olive, não apenas os rapazes. As
esposas deles estão morrendo de vontade de vê-la.
Ouço na voz dele o quanto quer que estejamos lá, e por isso,
acabo concordando em última análise.
— Okay, claro.
— Sério? — Seus olhos se iluminam.
Eu concordo com a cabeça.
— Contanto que você tenha certeza.
— Você não tem ideia do quanto eu quero vocês duas lá.
Parece bom demais para ser verdade... pelo menos para mim.
Desde a semana passada, é a segunda vez que ele fica
vulnerável comigo. A segunda vez que a culpa me consumiu tanto
que meus joelhos fraquejaram, como se o chão pudesse se abrir
debaixo dos meus pés.
Já fomos separados por um segredo uma vez e, se eu não
for honesta, vai nos separar novamente.
Capítulo Vinte e Dois
Briggs
— Está nervosa? — eu pergunto. Ela está no banco da
frente da minha caminhonete usando uma regata justa e jeans
escuros apertados que marcam a cintura, e fazem meu pau se
contorcer.
Ela balança a cabeça em negação, mas vejo como mexe os
dedos e mordisca o esmalte roxo das unhas. Mesmo que não
tenhamos feito disso um grande problema... ele é. É a nossa
primeira aparição juntos e, mesmo sendo apenas a equipe e os
familiares, ainda é enorme.
É um grande passo na nossa relação, que ainda é nova.
Mesmo assim, mal posso esperar para apresentar Olive e ela a
todos. Alcanço o console e entrelaço os meus dedos nos dela.
Trago a parte de trás da sua mão até a minha boca e coloco meus
lábios suavemente.
— Não fique nervosa. Eles vão te amar. Na verdade, todos
vão se encantar muito com Olive, e acho que estaremos fora do
radar.
Com isso, ela ri. De forma baixa e feminina, e eu adoro o
som. Tanto que quero ouvir de novo e de novo. Nunca vou me
cansar.
— Isso me faz sentir um pouco melhor — fala baixinho. Ela
passa todo o percurso em silêncio, mas o modo como segura forte
na minha mão me deixa confortável.
Depois de mais alguns minutos, saio da rodovia e passo pelo
portão da garagem de Reed. Ele e Holland são os anfitriões de hoje,
principalmente porque, de todos nós, a casa de Reed é a maior.
Sem falar que Holland adora extravasar com a irmã dele, Emery,
quando o assunto é festa ou confraternização. Bem, na maioria das
vezes é Emery, mas ela sempre faz Holland socorrê-la.
— Nossa! — Madison solta logo que os portões pretos de
ferro se abrem, revelando a casa acadiana de dois andares e meio.
Pintada de um branco brilhante, possui venezianas pretas e uma
varanda ao seu redor. Parece que saiu de uma revista.
Depois que Holland e Reed se casaram, há alguns meses,
eles construíram esta casa juntos. Reed diz que é porque quer mais
filhos, mas Holland fala que é para o entretenimento. Todos nós
sabemos qual é a história real. Reed está obcecado por engravidar
Holland, apesar de eles terem seu sobrinho, Evan, que ele adotou
como filho.
Eu não era um cara ligado em crianças antes de Olive, mas
amo aquele garotinho. Ele é adorável e tem uma obsessão por
animais marinhos.
— Esta casa é maior do que todo o meu complexo de
apartamentos. — Maddison observa com os olhos arregalados e
aperta um pouco mais a minha mão. Eu a puxo gentilmente em
minha direção e beijo os seus lábios suavemente, até senti-la
relaxar contra mim.
— Prometo que vai ficar tudo bem. Vai amar as garotas.
Mais uma vez, ela concorda sem dizer nada. Ansiosa, puxa o
lábio inferior em sua boca. Eu uso meu polegar para afastá-lo e
deslizo levemente sobre seu lábio carnudo. A excitação aumenta
dentro de mim e eu a controlo. Entrar na casa de Reed com uma
ereção é a última coisa que precisamos.
Desligo a caminhonete, abro a minha porta e saio em direção
à de Maddison pra ajudá-la a descer. Ela corre as mãos pelo seu
suéter e ajeita o cabelo enquanto eu pego Olive e o seu bebê
conforto no banco de trás. Ela abre os olhos assim que destravo o
cinto de segurança. Boceja sonolenta e estica os bracinhos sobre a
cabeça. Ela é muito fofa.
Droga, tudo que ela faz é fofo. Ela só tem dois meses e meio
e, mesmo sem saber, faz de mim o que quer.
Maddison pega o saco de fraldas do assoalho, e eu estendo
a minha mão livre para ela segurar.
— Pronta?
Ela balança a cabeça, deslizando a palma úmida na minha.
Juntos, passamos pelo portão que leva ao pátio dos fundos, depois
pela pequena entrada. Quando chegamos, Holland, Emery e Juliet
gritam no segundo que nos veem. Elas vêm correndo até nós e,
imediatamente, começam a falar com Olive.
— Maddison, esta é a Juliet, a mulher do Liam, que foi nosso
treinador há alguns anos.
— Oi, Maddison. Estou muito feliz em te conhecer. Eu mal
posso esperar para segurar essa garotinha doce. Ela é muito fofa.
— Juliet exclama, fazendo cócegas na sola dos pés de Olive, e
recebendo um grande sorriso. Ela ergue o corpo e puxa Maddison
para um abraço apertado, nem um pouco preocupada em agarrar
uma estranha.
No início, Maddison parece um pouco confusa, mas
rapidamente o choque inicial passa e ela retorna o abraço de Juliet,
sorrindo.
— Oi. É tão bom te conhecer! Ouvi falar muito bem de você.
Juliet sorri e abre espaço para Emery. Ela abraça Maddison e
afasta para trás, segurando os ombros para olhar para ela.
— Você é muito gata. Eu disse ao meu irmão que você seria.
As bochechas de Maddison enrubescem com o elogio e,
desta vez, sou eu quem sorri.
Ela é gata. Gata pra caralho e toda minha.
— Er, obrigada. Você também é muito bonita.
Emery sorri.
— Eu sou Emery, a incrível irmã de Reed. Estou muito
contente por você ter vindo.
— Emery! — Reed grita do outro lado do pátio, gesticulando
para ela.
— O dever me chama, mas eu volto para adular esse bebê.
Ela revira os olhos antes de se afastar de Maddison e sair rebolando
na direção dele.
Holland balança a cabeça diante da personalidade barulhenta
e dramática da sua melhor amiga.
— Me desculpe. Ela é uma figura.
— Está tudo bem, preciso sair da minha concha.
— Quando a vi pela primeira vez, ela perguntou se meus
peitos eram verdadeiros e se podia pegar neles — diz Juliet, com as
sobrancelhas levantadas. — Eles são, a propósito.
— E… essa é a minha deixa — digo. Coloco o bebê conforto
de Olive no chão ao lado da sua mãe e dou um beijo rápido nela.
Depois me levanto e puxo Maddison para mim, sussurrando em seu
ouvido: — Vai ficar bem se eu for?
Ela acena com a cabeça contra mim e pressiona os lábios
para o meu rosto não barbeado.
— Até mais, senhoras — falo com um aceno rápido e saio
para cumprimentar os rapazes. Todos estão perto da grelha com
cervejas nas mãos.
— Wilson, e aí, cara? Parabéns pela pequena — Liam diz
quando me junto a eles. Eu ainda me culpo pelas minhas ações e
pelo que aconteceu no seu casamento. Mesmo tendo conversado
com ele e me desculpado mais vezes do que poderia me lembrar,
ainda sinto uma pontada de culpa.
— Obrigado. Ela é a melhor coisa que me aconteceu.
Liam concorda.
— Sei exatamente como se sente. Ken e Ari mudaram a
minha vida. É desnecessário dizer que nunca pensei em me
fantasiar para brincar de festa do chá, mas….tivemos uma festa do
chá real na noite passada — ele ri. — Eu não mudaria isso por nada
no mundo.
É exatamente como me sinto. Minha relação com Maddison é
a coisa mais distante do convencional que existe. Nossa filha é fruto
de um caso de fim de semana e eu não mudaria nada porque foi ele
que nos trouxe Olive. E, de alguma forma, acabei ficando com a
garota, merecendo ou não. Nunca vou deixar de provar que sou
digno dela.
Cumprimento os outros caras com um aperto de mão. Asher
parece ter passado a noite em claro e Graham está mais enérgico
do que nunca.
Hudson parece entediado.
Reed, com o seu avental e uma espátula na mão, é a
verdadeira definição de um pai. Do tipo que usaria um par de
Reeboks.
— Figurino bacana — eu sorrio e recebo um olhar furioso.
O fato de ele estar completamente ofendido me faz rir.
— Não seja desagradável. Foi o meu presente de aniversário
de Holland, e eu vou usar.
Graham ri.
— Você é o retrato do pai de meia idade.
Reed franze a testa, cerra a mandíbula e aponta a espátula
para ele.
— Cala a boca. Eu não tenho corpo de pai de meia idade.
Esses dois brigam mais do que um casal.
Graham se aproxima de Reed, coloca as mãos bochechas
dele e murmura:
— Não tem problema admitir, Davis. Honestamente, as
garotas de hoje curtem corpos de pai de meia idade.
Com o queixo apertado, Reed parece estar a cinco segundos
de enfiar aquela espátula na bunda de Graham, mas Holland, Juliet,
Madison e minha garotinha se aproximam e interrompem a briga.
Quando Maddison caminha para o meu lado, coloco o braço
ao redor dos seus ombros puxando-a para mim. Em seguida, a
apresento à Liam, que é a única pessoa que ainda não conhece.
— Maddison, este é Liam, o marido de Juliet. Os outros
idiotas você já conhece.
Ela assente e me dá uma cotovelada de brincadeira por
chamá-los de idiotas.
— Oi pessoal.
— Oi, posso segurar Olive agora? — Graham pergunta.
— Claro.
Ele passa os próximos dez minutos agachado, tentando
destravar o cinto do bebê conforto porque, aparentemente, algo tão
simples quanto uma fivela de cadeirinha veicular está acima do seu
nível de habilidade. Maddison tenta intervir para ajudar, mas eu a
puxo e sorrio.
— Consegui! — ele murmura, quando finalmente vai
conseguir tirar as alças de Olive e levantá-la em seus braços. Ela é
tão pequena comparada a ele.
— Oi pequena Olive-you, sabia que o Tio Graham te trouxe
um presente muito legal de Vegas? Um dia, quando você for maior,
vou te levar, e podemos fazer todas as coisas que forem proibidas
pelos seus pais.
— Graham — eu o aviso.
Ele sorri e volta a olhar para ela.
— Não se preocupe, não vou contar pra eles.
Olive balbucia alegremente para ele, que a balança em seus
braços com suavidade. A atenção e a gentileza dele com ela me
surpreendeu. Esse cara passa longe de ser paternal, mas é incrível
com ela.
— Se os seus pais, alguma vez, me deixarem tomar conta de
você, vamos fazer tatuagens iguais, O. Acha que vai ser legal?
— Pare de ser inconsequente com o bebê, Adams — Emery
mete o bedelho, tira Olive dos braços dele com cuidado e se
aconchega a ela rapidamente. — Deus, eu amo bebês.
— Eu também — Graham murmura, chocando a todos nós.
— Quer beber alguma coisa, linda? — pergunto a Maddison,
que ri da história de Reed e Liam sobre as últimas travessuras em
que as garotas se meteram, incluindo algo com um tubo de rímel
que está além dos meus conhecimentos.
Ela me olha e eu perco o ar por causa dos seus olhos cor de
mel.
— Claro.
Entrelaço nossas mãos e caminhamos em direção à casa.
Passamos pela piscina enorme, pela casa da piscina e depois
atravessamos até a porta dos fundos que leva diretamente à
cozinha. Logo que entramos, pego uma garrafa de água na
geladeira, mas antes que ela possa tomar um gole, eu a trago para
mim e tomo sua boca.
Parece que já faz uma semana que coloquei meus lábios nos
dela. Concordamos em pegar leve, mas estou desesperado por
essa mulher desde o momento que ela me deixou na pousada.
Saber que ela carregou a minha filha me faz desejá-la ainda mais
agora.
Sempre que ela amamenta Olive, desperta uma parte
primitiva em mim. O meu lado cru, neandertal, nunca antes revelado
aparece quando ela faz as coisas mais simples.
Mandando a real, sou louco por ela.
— Briggs — ela murmura contra os meus lábios, agarrando o
tecido da minha camiseta.
— Mmm — respondo, invadindo a sua boca mais uma vez,
minha língua saboreando cada centímetro dela.
Andando de costas pelo corredor, a arrasto comigo até
entrarmos no banheiro. Fecho a porta atrás dela e me certifico de
trancar.
— Nós não vamos ficar de pegação como adolescentes no
banheiro — ela sussurra pausando, sem fôlego. — Vamos?
Jogo minha cabeça para trás e rio.
— Porra, você é linda, Maddison.
Nós ficamos. Pelos próximos dez minutos nos pegamos no
banheiro como púberes, até a minha barba deixar o seu pescoço
deliciosamente vermelho, seus lábios ficarem feridos e ela ter sido
beijada pra caralho.
— Temos que voltar — ela sussurra, mas não faz nenhum
movimento para se libertar de mim. Eu também não quero me
mexer. Fico ainda mais ansioso para ter tempo a sós com ela, longe
dos olhos dos nossos amigos.
— Qual é o seu encontro dos sonhos? Se pudesse ter
qualquer coisa, o que seria?
Ela me olha pensativa, mastigando o lábio. — Não ria. — Sua
voz é severa, e ela toca no meu peito para passar a mensagem.
— Por que eu riria?
— Porque provavelmente é exagerado e ridículo, mas....
Sempre quis fazer um passeio de helicóptero sobre a noite Chicago.
Adoro as luzes da cidade, elas me deixam à vontade e desde
pequena, sonho sobrevoar à noite. Ela interrompe.
— O que foi?
Ela encolhe os ombros.
— Acho que meu encontro dos sonhos seria com alguém que
se interessasse pelo que eu tenho a dizer. Sobre a minha vida,
meus objetivos, meus sonhos. Quero me conectar com alguém em
um nível mais profundo. Talvez um jantar à luz de velas num
restaurante chique, seguido de um passeio de helicóptero sobre
Chicago.
— Humm. E o que acontece depois do passeio de
helicóptero? — eu digo.
Ela revira os olhos dourados.
— Acho que você já sabe, Briggs Wilson. Pare de tentar me
fazer dizer.
— Eu quero ouvir, linda. Eu quero saber como é o seu
encontro dos sonhos, me diga todos os detalhes sujos e lascivos.
— Eu quero o melhor, mais apaixonado e mais intenso sexo
da minha vida.
Sua voz é rouca e baixa, e vai direto para meu pau. Maddison
sabe exatamente o que suas palavras provocam em mim, porque
ela arrasta a mão do meu peito até o meu abdômen reto, e rígido.
Depois fricciona por cima do cós da minha calça jeans até me fazer
gemer e endurecer sob o tecido grosso.
— Eu me lembro muito bem do quanto a sua língua é incrível,
Briggs.
Ela chega mais até eu poder sentir seus lábios se moverem
nos meus, enquanto fala:
— Mal posso esperar para sentir aquilo de novo.
— É isso, dessa vez vai ser você. Está me deixando louco,
mulher. Deus, como eu te quero.
Ela levanta na ponta dos pés, passa os dedos pelos meus
cabelos e depois beija meus lábios suave e docemente, com os
olhos brilhando de diversão. Está mais do que satisfeita por ter
conseguido essa resposta de mim.
Devassa.
— Depois, linda.
Com isso, ela se afasta, abre a porta e sai como se não
tivesse acabado de me dar o pior caso de bolas azuis da minha
vida.
Nos juntamos a todos lá fora, no momento em Reed tira a
carne da grelha. As garotas estão em volta da mesa com Olive, e
Maddison se junta a elas. Eu vou ver se Reed precisa de alguma
ajuda.
— Posso fazer alguma coisa?
Olhando por cima do ombro na direção das meninas, ele
aponta para a casa. — Abre a porta para mim? Vou levar isso para
todos prepararem seus pratos lá dentro.
Graham e Asher se juntaram às meninas e agora estão em
uma conversa muito acalorada sobre…. coletores menstruais. Acho
que apenas Reed, Hudson, Liam e eu vamos nos preparar para
comer.
Esses caras.
Logo que abro a porta e entramos na cozinha enorme, Reed
coloca a panela com bifes, hambúrgueres e frango na bancada de
mármore, e tira o avental. Poucos minutos depois, as garotas
passam pela porta em fila. Todos nós preparamos nossos pratos e
decidimos comê-los lá dentro.
Nunca faltam mãos para segurar Olive enquanto eu e
Maddison fazemos os nossos pratos. Como estou dirigindo, sirvo
uma taça de vinho para Maddison, e ela sorri ao receber.
— Obrigada, Briggs.
— Disponha, linda.
Emery diz:
— Vocês são muito fofos, esse relacionamento é quase tão
doentio quanto o do meu irmão e Holland.
— Calada, Em! — Reed resmunga, já sentado conosco e
com uma pilha de comida no prato. O cara é bom de garfo.
Minha filhinha finalmente volta para os meus braços. Com
uma das mãos, tiro um pedaço do meu hambúrguer enquanto
Maddison conversa com as meninas. Hoje, tudo foi muito melhor do
que planejei. E isso é bom pra caralho.
Exibir Maddison. Apresentar a minha garotinha a todos.
— Oh Maddison, qual é o seu número? Hoje à noite vou te
mandar uma mensagem sobre o jantar deste fim de semana.
Maddison dita o número dela e eu arqueio as minhas
sobrancelhas.
— Jantar? — eu sussurro no ouvido dela.
— Sim, Juliet e Holland me convidaram para jantar com elas
neste fim de semana. Uma espécie de jantar de meninas. Já ia
verificar se posso levar Olive ou se Ty e Kyle estarão ocupados.
Balanço a cabeça.
— Eu posso cuidar de Olive, linda. — Olho na direção dos
caras. — Sábado vai ter um jantar de garotas. O que vocês acham
de termos um dia de rapazes... e Olive aqui?
Graham abre um grande sorriso e faz cócegas na bochecha
de Olive.
— Definitivamente!
O resto dos caras também concordam, então é isso.
— Resolvido. — Coloco meus lábios na cabeça de Maddison
em um beijo rápido, e ela encosta em mim por um momento. Parece
certo. Certo pra caralho.
Aqui com as minhas garotas, cercado por todas as outras
pessoas que amo, faz parecer que, pela primeira vez em muito
tempo, estou exatamente onde eu deveria estar.
Com a minha família.
Uma coisa que aprendi nos últimos anos é que uma família
não é formada apenas pelas pessoas quem têm o mesmo sangue.
Uma família é formada por pessoas que ficam ao seu lado quando
não sobrou nada.
Que te apanham quando não consegue levantar do chão.
Pessoas que te amam mesmo depois de você ter dado todos
os motivos para o contrário.
Capítulo Vinte e Três
Maddison
Alguns dias se passam enquanto espero para jantar com
Holland e Juliet. Seria mentira dizer que que não estava ansiosa
desde que me convidaram. Apesar de ser amiga te Ty por uma vida
inteira e de ter recebido Kyle de braços abertos quanto ficaram
juntos, ainda é bom passar tempo com duas mulheres que também
são mães e se relacionam com jogadores de hóquei profissionais.
Muita coisa em comum... E tenho certeza que elas têm conselhos
que preciso desesperadamente quando se trata do homem que
derrete as minhas entranhas quando está por perto.
Estou acabando de modelar o cabelo quando vejo Briggs
pelo espelho. Ele entra, desliza as mãos em volta da minha cintura,
e me puxa contra o corpo duro. Afastando o cabelo da minha nuca,
ele planta um beijo molhado e quente contra a pele sensível onde o
meu ombro se encontra com o pescoço. Um ponto que ele sabe que
me incendeia, apenas por ele.
— Que tal a gente cancelar o dia das garotas e dos garotos e
ficar em casa? Só eu, você e Olive?
Eu reviro os olhos e balanço a cabeça em negação.
— Não posso, me desculpe, amor. Prometi a Holland e Juliet.
Além disso, acho que Graham vai ficar muito desapontado se não
passar um tempo com Olive. Ele a ama.
Coloco o modelador de cachos na bancada, para não
queimar nenhum de nós e passo os dedos nas ondas ainda
quentes. Não quero que fique totalmente cacheado, apenas com um
visual praiano.
Briggs geme e deixa a cabeça cair em meu ombro.
— Mal posso esperar para passar um tempo sozinho com
você. Eu amo minha filha, pra caralho, mas também quero muito te
devorar em cada superfície da minha casa.
Por falar nisso... estamos discutindo sobre Olive e eu
mudarmos para casa dele, outra vez. Por mais que eu queira, a
parte lógica em mim diz que é muito rápido, que não exploramos o
nosso relacionamento suficientemente ou que não nos conhecemos
bem para um passo tão grande.
Briggs logo me lembrou que não seria diferente, pois sempre
fizemos tudo ao contrário.
Meu contrato termina no final do mês, e a decisão está
pesando sobre mim.
Quero estar com Briggs, no espaço dele, com Olive. Sem
falar que a casa é dez vezes maior do que o meu apartamento,
completamente livre de vizinhos do andar de cima que transam
como estrelas pornô detestáveis, e tem um chuveiro que funciona
sem quebrar as peças quando tentamos ligar.
Eu apenas... preciso ser honesta com ele logo. Não posso
continuar guardando este segredo. A cada segundo que passa,
sinto que vai nos destruir. Continuo me dizendo que vou encontrar o
momento certo e deixar de ser covarde. Mas esse momento perfeito
existe? O momento certo para quebrar o coração do homem que
você está se apaixonada?
— Os rapazes estão aqui, linda. — Ele me vira na direção
dele, desliza as mãos pelo meu queixo, e me dá um beijo tão doce
que uma parte de mim simplesmente murcha com a suavidade dos
seus lábios. Depois ele afasta as mãos e eu fico sentido a falta
delas. Ele sai pela porta do banheiro e, no último segundo, vira com
o cabelo caindo nos olhos. Confusão estampa o rosto dele.
— Onde está aquela coisa que você prende? Para carregar
Olive?
Demoro um minuto para perceber do que ele está falando.
— O porta-bebês?
Ele concorda com a cabeça.
— Aquela coisa de carregar bebês, para eu colocar nela.
Parte de mim derrete no chão com o pensamento de Briggs
usando-o com a nossa filha. Esse homem alto e sexy, com cara de
poucos amigos, orgulhoso por carregar a sua garotinha, deixa os
meus ovários meio animados.
— Tá me olhando assim, por quê? — Ele franze a testa.
— Só pensando se a gente deve ter outro bebê — eu brinco,
e seus olhos escurecem de desejo.
— É só me dizer quando, e vou alegremente colocar outro
bebê na sua barriga, Maddison. — fala asperamente.
— Oh Deus, vai logo. Não posso com isso agora. Tá na parte
de cima do armário do corredor. Tchau.
Ele ri.
— Tchau, linda. — Com isso ele sai e eu fico ponderando se
perdi a minha mente, e se tudo isso é culpa de Briggs.
Holland escolheu um lugar que eu estava morrendo de
vontade de ir, desde a abertura. Mas é quase impossível conseguir
reservas, a menos que você conheça alguém... influente. Porém,
acho que quando você é casada com um dos melhores jogadores
de hóquei da cidade (na verdade do país), você consegue fazer isso
acontecer.
Joy Lounge é um lounge no centro de Chicago, que tem um
bar na cobertura com algumas das melhores vistas da cidade. Ela
não poderia ter escolhido um ambiente mais confortável e
descontraído para a nossa noite de meninas.
— Não acredito que você conseguiu uma mesa aqui! — eu
grito enquanto caminhamos pela entrada.
Seu rosto se ilumina.
— Eu tava louca de vontade de vir desde a inauguração.
Quando eu disse a Reed sobre a nossa noite de meninas, ele pediu
um favor ao seu amigo Roddy. Acho que ele e sua irmã são os
proprietários.
— Uau! — Juliet exclama. Ela usa um vestido de festa preto e
justo, com saltos que deixam suas panturrilhas lindas. Holland tem
olhos esfumaçados e delineados, veste uma calça de alfaiataria e
um top que amarra na cintura e tem as mangas caídas nos ombros.
As duas estão maravilhosas e, de repente, me sinto
malvestida com saia lápis e top liso.
— Vocês estão incríveis! — digo a elas. Aguardamos
enquanto a hostess localiza a nossa mesa e Holland olha para a sua
roupa.
— Obrigada. Pra ser sincera, essas calças disfarçam a minha
barriga, e eu sou totalmente a favor. — Holland fala, gesticulando
para a faixa amarrada ao redor da sua cintura.
Juliet levanta a mão.
— Garotas, um pronunciamento: o único jeito de caber nessa
coisa é usar uma cinta que corta a minha circulação e segura todas
as minhas sobras. Vamos ser verdadeiras.
Isso faz a minha preocupação desaparecer imediatamente,
as duas são naturalmente lindas. Eu esqueço que elas também são
mães e, como eu, também têm inseguranças. Isso me faz sentir
imensamente melhor.
— Que bom! Fico feliz com o comentário de vocês, essa foi a
única roupa que encontrei e que gostei mais ou menos. Engordei
muito depois de Olive. Sinto falta do meu corpo de antes.
Juliet se aproxima e coloca a mão no meu braço.
— Você não está sozinha, garota. Acredite em mim, estamos
juntas nessa. Se você precisar desabafar ou chorar porque não
consegue fechar o seu jeans, conte conosco.
— Sim, exatamente o que ela disse. O que vocês acham de
darmos uma olhada no lugar enquanto esperamos?
Holland enlaça o braço ao meu e, quando assinto,
improvisamos um tour pelo salão. Pegamos o elevador até o bar da
cobertura, que tem grandes bancos de madeira em forma de U com
confortáveis almofadas estampadas . Em uma parede à nossa
direita, a palavra "alegria" está escrita no meio das flores mais lindas
que já vi. Uma grande quantidade de garotas tira selfies e fotos em
grupo lá.
— Nossa, esse lugar é incrível! Estou muito feliz por
conseguimos vir — Holland fala, empolgada. Encontramos um
banco vazio no lado mais silencioso do bar, mas ainda é bem
iluminado pelas luzes espalhadas por todo o piso.
— Aqui seria perfeito. O que vocês acham? — Juliet
pergunta, gesticulando para o local.
— Com certeza.
Meu telefone toca dentro da bolsa, e eu o pego rapidamente
enquanto Juliet e Holland analisam o menu de bebidas.
Não consigo segurar o sorriso quando vejo que é uma
mensagem de Briggs.
Briggs: Tô com saudade pra caralho.

Sorrindo, respondo rapidamente.


Maddison: Eu também. Como está Olive?

Segundos depois, recebo uma foto de Olive no porta-bebês


amarrado ao peito de um Briggs sorridente ao lado de Graham,
Reed e Hudson. Na legenda ele escreveu: "Dia dos rapazes +
Olive."
Meu coração derrete com a foto, e mostro para Holland e
Juliet.
— Fala sério garota. Existe algo mais sexy do que um
homem carregando um bebê? — Holland pergunta.
— Com certeza. Vamos lá, conte, queremos todos os
detalhes! — Juliet brinca.
A garçonete aparece quando estou prestes a falar. Mas
quando o assunto é sobre mim e Briggs, eu não tenho ideia de por
onde começar. Todas nós pedimos as bebidas. Eu fico com o meu
fiel vinho branco, enquanto as meninas são mais aventureiras e
escolhem algo frutado e congelado do menu.
— Bem... acho que tecnicamente sou a estatística que
ninguém quer falar. Engravidei após passarmos o fim de semana
juntos na pousada dos meus avós no Lago Genebra.
Holland e Juliet olham uma para a outra, e voltam a olhar
para mim como se implorassem para eu continuar. Fico feliz em
saber que a nossa situação não tem sido discutida, nem mesmo no
seu grupo de amigos.
— Nós basicamente nunca trocamos sobrenomes nem
números. Eu entendi que Briggs queria manter o anonimato, e
respeitei. Compartilhamos uma garrafa de tequila barata e bem...
passamos o resto do fim de semana juntos. Então, no domingo eu
fui embora porque, sei lá… entendi que os nossos mundos eram
muito diferentes e eu não teria lugar na vida dele. Eu não quis
estragar o fim de semana que passamos juntos.
Holland se aproxima e coloca a mão no meu braço em
conforto.
— Depois eu descobri que estava grávida, e o resto é
história. Agora Olive é o nosso mundo. Foi só há pouco tempo... que
decidimos explorar a nossa relação. Pra mim era muito importante
que o nosso relacionamento de pais ficasse em primeiro lugar. Eu
não quero que nada fique entre Olive e o pai dela. Agora, estamos
aprendendo a ser um casal... e pais da Olive.
Juliet fala em seguida:
— Eu sei como é. Pra você imaginar, quando conheci Liam,
eu era babá das filhas dele.
— Uau!
Ela acena com a cabeça.
— Sim, foi uma situação muito louca. Nós nos esforçamos
para agir de forma profissional, e ele era muito rabugento. Foi a
única forma de conseguir separar os seus sentimentos por mim da
relação de trabalho. Eu e as garotinhas, Ari e Kennedy nos
apaixonamos, e então, eu e Liam também. É meio engraçado...
olhar pra trás. Se tivéssemos uma comunicação melhor, as coisas
teriam sido muito mais fáceis, mas acho que a gente vai vivendo e
aprendendo.
As palavras dela são familiares demais para mim.
Com o passar dos dias, parece que a culpa vai me comer
viva. Eu sei que a coisa certa a fazer é contar para Briggs que eu
sou a Maria Patins que escreve no blog que colocou sua vida em
exibição. Eu não fazia ideia de quem ele realmente era na época,
mas não dá para ser preto no branco. Não é só contar para ele.
Se eu falar, tudo vai mudar.
Ele vai me odiar. Não importa o que me motivou.
Além de me odiar, ele nunca mais vai confiar em mim. Eu não
posso perdê-lo. O pensamento faz o meu estômago embrulhar.
— Maddison? — Holland diz, me tirando do devaneio.
— Desculpe, me perdi em pensamentos. O que você disse?
Ela ri.
— Está parecendo comigo. Eu juro. Esses dias não estou
conseguindo manter o foco por mais de quinze segundos. Te
perguntei se você está pensando em mudar para a casa de Briggs.
Acho que ele disse algo a Reed sobre isso, mas eu não tenho
certeza se eu ouvi corretamente.
— Pra falar a verdade, ainda não tenho certeza. Estamos
levando as coisas no dia a dia, sabe?
Holland concorda com a cabeça e os seus cachos loiros, que
nessa noite combinam com os meus, saltam com seus movimentos.
— Não estou sendo intrometida, eu juro. Acho que só fiquei
curiosa a respeito da garota por quem o Briggs se apaixonou.
Como?
Espera aí, ela disse que Briggs se apaixonou por mim? Isso...
isso não é verdade.
… ou é?
— Não se assuste tanto, querida. Vai me dizer que não sabia
que ele é louco por você?
Engolindo o caroço na minha garganta, eu balanço minha
cabeça.
— Eu-eu… quer dizer, nunca comentamos sobre isso, e só
somos um casal de verdade há algumas semanas.
Desta vez, é Juliet que ri e me olha incrédula.
— Se há algo que eu aprendi sobre esses homens é que...
eles amam, e amam muito. Não importa se foi um dia, uma semana,
ou três anos. Se aquele homem te ama, ele te ama, o tempo não
define. Liam ainda me olha como naquela época. Pelo contrário,
acho que ele ficou mais apaixonado por mim. — Ela sorri. — Se eu
posso te dar um conselho, fique à vontade para me mandar enfiá-lo
em algum lugar, eu vou te dizer… que eu vejo muito de mim em
você, e que é nítido o quanto vocês se importam um com o outro.
— Mas, amor? Ainda é muito cedo e eu…
Ela acena com a cabeça.
— Preste atenção. Ouvir além das palavras foi o melhor
conselho que recebi da minha avó. Às vezes as pessoas falam pela
raiva, ou dizem o que não querem dizer. Outras vezes, elas apenas
não são boas com palavras. E em vez disso, demonstram o seu
amor. Em ações. Em afirmações. Em toques. Se comunique da
maneira que for melhor pra você. Mesmo sabendo que não faz
muito tempo, o que você sente quando estão juntos? Isso vai te
dizer o que precisa saber.
— Nossa! — Holland murmura: — Acho que vou chorar, esse
é um conselho maravilhoso. Manter um relacionamento é difícil e
criar filhos é ainda mais. Mas comunicar e apoiar no seu homem
quando as coisas estão difíceis é o que importa.
De repente, parece faltar ar à minha volta. Não é porque não
aprecio o conselho delas, eu apenas não esperava que fosse tão
adequado à nossa situação.
Por causa do segredo que estou escondendo.
Agora, mais do que nunca, sei que preciso ser honesta com
Briggs se quisermos continuar juntos. Urgente.
— Okay, chega de assuntos pesados, eu tenho uma ideia...
vocês estão dentro? — Juliet dá um sorriso malicioso, e eu
imediatamente concordo com a cabeça. Topo qualquer coisa para
me distrair da conversa que acabamos de ter.
— Vamos.

— Meu Deus, Maddison, você parece... uma deusa.


— Um verdadeiro anjo.
Juliet e Holland me olham com o queixo caído e os olhos
arregalados.
No início, achei a ideia de Juliet terrível e me perguntei por
que concordei em ir às cegas. Mas agora... acho que é exatamente
o que eu precisava.
— Eu juro, se Briggs não arrancar isso de você e te atacar,
farei isso eu mesma — Holland me garante. Ela está com uma peça
completamente diferente, e sinceramente, parece uma
supermodelo. Receber esse elogio dela me faz sentir incrível.
— Tem certeza?
Volto a olhar para o espelho e observo o meu reflexo com
uma lingerie rendada, colada ao meu corpo como uma segunda
pele. É diferente de tudo que eu já usei, mas Juliet e Holland
insistiram para eu pelo menos experimentar, e estou muito feliz por
isso.
A renda branca faz minha pele parecer mais escura, quase
como se ela brilhasse contra o tecido. A peça transparente empina
os meus peitos e desce ajustada até a cintura, onde encontra com
calcinha e cinta liga dourada correspondentes. O conjunto completo
me faz parecer uma deusa vestida de branco e dourado.
As ligas douradas se prendem em um par de meias cor da
pele que acentuam minhas coxas e panturrilhas. Pela primeira vez
desde que tive Olive, me sinto sexy.
Mesmo com estrias, quadris mais largos, e barriga não muito
plana, me sinto confiante. Sensual. Bonita na minha nova pele.
— Sim, tenho certeza. Oh meu Deus! Você está perfeita. —
Holland me assegura. Ela mexe com a fita da sua liga, depois
endireita o corpo para se olhar no espelho.
— Definitivamente, é esse. A cor vermelha é a mais sexy de
todos os tempos, e de alguma forma, em você fica ainda melhor —
eu digo a ela.
— É a cor favorita de Reed — ela sorri. — Nem por isso ele
vai deixar de transformá-la em uma pilha no chão depois de cinco
segundos.
O pensamento de Briggs rasgando a roupa no meu corpo me
faz apertar uma coxa na outra. Me imagino usando para ele, já
prevendo a sua reação.
E é exatamente por isso que eu decido comprar, antes que
eu possa me convencer do contrário.
— Tá pronta, Juliet? — Holland pergunta.
— Sim. Apesar dessa coisa ser tããããoooo transparente.
Eu rio.
— Uh, bem, estamos aqui usando quase nada, agora é a sua
vez.
Segundos depois, a porta do provador se abre e Juliet sai
usando uma lingerie de renda preta. Ela tem um sutiã embutido e
seu comprimento vai até as coxas. É ainda mais linda no corpo dela.
— O que vocês acham? É demais? Ela mexe com a alça
cruzada de forma nervosa.
— É incrível! Oh Deus Juliet, você tem que comprar! —
Holland grita, descendo da plataforma para ajudar Juliet a
desenrolar a alça nas suas costas. Assim que termina, Juliet vira
para o espelho de novo e balança a cabeça. — Sim, é esse.
— Eu não vou mentir. Quando você me falou, achei que seria
uma péssima ideia, mas agora estou muito feliz por ter vindo. Desde
que tive Olive, não me sentia o meu eu verdadeiro. Por causa de
todas as mudanças no meu corpo e porque acho que nunca mais
voltarei a ser como eu era. Hoje me sinto como antes. Eu me sinto
sexy.
— Eu também. Estou muito feliz por termos vindo. A maioria
das amigas provavelmente não experimentaria lingerie no primeiro
encontro, mas acho que isso abre um precedente. Juliet dá uma
risadinha e Holland joga a cabeça para trás e ri.
— Estou feliz também. Eu realmente precisava de estar com
amigas com quem eu pudesse ser eu mesma. Vocês me receberem
de braços abertos significa muito pra mim.
Holland sorri.
— Você está presa conosco para sempre, irmã.
— É a melhor coisa que ouvi nessa semana toda.
Hoje estou mais grata do que nunca.
Agora... é só criar coragem para usar para Briggs.
Capítulo Vinte e Quatro
Briggs
— Vai me dizer o que você planejou? — Maddison pergunta.
Ela está arrumando a bolsa para a primeira noite fora de Olive. É o
seu primeiro passeio sem a mamãe, e eu sei que Maddison está
nervosa.
Aprendi algumas coisas sobre ela e agora a conheço bem.
Quando está ansiosa, fica inquieta. Mexe nas unhas, puxa um fio
solto no suéter, ou neste caso, tira tudo da bolsa que ela acabou de
arrumar para ter certeza que não esqueceu nada.
Eu a entendo, também vou sentir falta da minha garotinha
Olive. Mas Maddison e eu precisamos desta noite.
O telefone toca no meu bolso. Eu o pego e vejo o nome da
minha mãe na tela. Pressiono o botão lateral para silenciá-lo e volto
com ele para o bolso.
Quando olho para cima, Maddison para de mexer na bolsa e
me olha com uma expressão afetuosa.
— Seus pais? — pergunta baixinho.
Eu concordo com a cabeça.
— Minha mãe. Eu ainda não estou pronto.
— Okay.
Para não estragar o clima, mudo rapidamente de assunto,
arquivando a conversa sobre minha família fodida.
— Vou trocar Olive e ficar um tempo com ela antes da sua
avó chegar. Depois vou embora e te pego às sete para o nosso
encontro.
Ela respira fundo.
— Você não pode me dizer nada? Pelo menos o que eu
deveria usar.
— Linda — eu rio, me aproximo e envolvo os meus braços na
cintura dela. Ela geme contra o meu peito e me olha com seus
grandes olhos dourados, que sempre me desarmam com muita
facilidade.
— Você está me deixando louca. — Seus dedos deslizam
pelo meu peito e eu quase estremeço.
Estou desesperado por ela.
Tudo que ela faz me deixa no limite.
Baixo meus lábios rapidamente, dou um beijo forte e exigente
nela, mas me afasto antes de esquecer tudo que eu programei para
esta noite. Passei a semana inteira planejando, embora ela não
tenha ideia do que a espera.
— Mais tarde — eu sussurro contra a boca dela.
— Tudo bem.
Ela dá um passo para trás e caminha até a bolsa de Olive na
cama, e eu não consigo deixar de rir. Há apenas algumas semanas,
dissemos que íamos pegar leve, mas esse é um ritmo que nenhum
de nós parece ser capaz de manter.
Entro na sala de estar e vejo Olive em seu exersaucer[4],
entretida com os brinquedos que vem nele. Ela balbucia na língua
dos bebês até eu levantá-la ainda nele, segurar sobre a minha
cabeça como um aviãozinho de neném.
— Você já tá crescidinha, Olive. O que o papai vai fazer
quando você for ainda maior? Sabe que mesmo quando estiver
grande ainda será a minha garotinha, certo?
Mal posso esperar pelo dia que ela vai me responder. Mal
posso esperar para acompanhar o crescimento dela.
— Briggs, a Nana está aqui — Maddison chama do quarto,
aparecendo momentos depois com a mochila, um brinquedo de
Olive debaixo de um braço e a bolsa pendurada no outro.
— Mulher, eu te falei pra deixar as coisas pesadas pra eu
pegar.
— Eu dou conta. Você leva Olive.
Descemos para encontrar a avó e colocar as coisas no carro.
O rosto dela se ilumina quando vê Olive.
— Oh garotinha querida, como você cresceu desde a última
vez que te vi. — Ela caminha, pega Olive com gentileza e me dá um
tapinha na bochecha. — Ela parece ainda maior do que nas fotos
que você tem me enviado, Maddison.
Parece que a cada vez que eu pisco Olive faz algo novo. Ela
aprendeu rolar das costas para a barriga e da barriga para as
costas. Maddison gritou, filmou e enviou para Juliet, Holland, Ty,
Kyle, Nana e depois Emery.
— Ela está crescendo como uma erva daninha, com toda
certeza. Obrigada por deixá-la passar a noite, Nana. Estou um
pouco nervosa.
A avó dela zomba.
— Criei você, não criei Maddison? Ela vai ficar bem. Vamos
fazer uns biscoitos para os hóspedes e depois examinaremos todas
as suas coisas de bebê, para ver o que posso passar para ela. Não
é isso, Olive? — Virando em minha direção, ela diz: — Bom te ver
de novo, Briggs. Mas isso não é uma surpresa pra mim.
Seus olhos brilham e ela pisca.
— Bom te ver também, senhora. Obrigado pelo apoio que
deu a Maddison, quando eu não pude.
Nana acena com a cabeça.
— Eu sabia que, de algum jeito, vocês encontrariam o
caminho de volta um para o outro. Às vezes a vida é mais
complicada do que deveria.
É a mais pura verdade.
Me faz pensar na minha família e no quanto somos
desapegados e distantes.
— Tudo bem, temos que voltar, garotinha doce. Dê tchau
para o papai e para a mamãe.
Nos revezamos para beijar Olive, ajudamos a Nana colocar o
bebê conforto no seu SUV e a observamos se afastar.
— Foi muito mais difícil do que eu pensei — Maddison
murmura, e afasta uma lágrima que cai dos seus olhos castanhos.
— Porra, linda, não chore. Por favor. — Envolvo os braços
nos seus ombros e a trago pra mim, beijando o topo da sua cabeça.
— Tenho certeza que ela vai se sair muito bem. Além disso, você vai
adorar o que eu planejei.
— Eu sei, mas é difícil me afastar dela.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu te entendo. Que tal você se preparar, relaxar um
pouco, e nos vemos às sete da noite?
— É um encontro.

Preciso que esta noite seja perfeita.


Para minha sorte, trabalho bem sob pressão e sou atento aos
mínimos detalhes. Isso me deixa mais tranquilo com relação aos
meus planos para Maddison.
Antes de abrir a porta para sair, arrumo a minha gravata no
espelho da limusine pela última vez, me certificando que ela está
perfeitamente no lugar, assim como as abotoaduras.
Alugar uma limusine para nosso primeiro encontro oficial é
um pouco exagerado? Absolutamente. Eu dou a mínima?
Absolutamente não. Quero que seja o encontro dos sonhos de
Maddison e me empenhei ao máximo para fazer acontecer.
Ela merece ser adorada. Ter um dia todo, um fim de semana
inteiro, dedicado à sua felicidade.
Parado ao lado da limusine, verifico o relógio pela última vez
e, às sete em ponto, vejo a porta da frente de Maddison abrir.
Quando ela sai, é como se todo o ar fosse sugado dos meus
pulmões de uma vez.
Ela parece um anjo. É como se o meu sonho tivesse ganhado
vida.
Quebrando a rotina, hoje ela está maquiada. O seu cabelo
loiro tem presilhas nas laterais e está solto em cascatas na parte de
trás. Os olhos pretos esfumaçados e os lábios pintados de vermelho
escuro se destacam.
Porra, esses lábios.
Acho que gemi em voz alta, mas não posso ter certeza. Não
consigo pensar em nada além da sensação de ver aqueles lábios
perfeitos ao redor do meu pau enquanto ela me leva até a garganta.
Ver o meu comprimento manchado com aquele vermelho intenso.
Ainda nem cheguei ao vestido, e já estou pronto para
arrancá-lo do seu corpo e me enterrar dentro dela. O vestido preto
foi feito para ela. É justo ao redor do seu peito volumoso e afunilado
na cintura, acentuando seus quadris largos e bunda deliciosa.
Ela é tão linda.
— Você está maravilhosa, Maddison.
Sinceramente, ela parece boa o suficiente para comer.
— Obrigada, Briggs… você está lindo. Amei a gravata.
Mesmo com a luz fraca, vejo a retração das suas bochechas
com o elogio. Mal posso esperar para louvar e adorar cada
centímetro do corpo dela.
Sorrindo, eu a trago para mim e coloco um beijo casto no
canto da sua boca. Não me atreveria a borrar o seu batom.
— Adorei o vestido. Foi feito pra você.
— Na verdade é de Holland, ela me emprestou. Ficou melhor
do que eu pensava, Holland é muito pequena. — Ela desvia o olhar
para o tecido preto.
— Ei — eu murmuro, segurando o seu queixo com o polegar
e o indicador, trazendo os olhar dela para os meu. — Está perfeito.
— Obrigada por esta noite. Estou morrendo de vontade de
ver o que você planejou.
Eu tenho certeza que ela vai amar esta noite. Programei
exatamente o que ela me disse há poucos dias.
— Bem, vamos antes de atrasarmos. Madame. — Eu
estendo minha mão para ajudá-la a entrar no carro. Ela senta no
banco traseiro e eu entro logo após.
Eu a aconchego ao meu lado. Ansiosa, mexe nas unhas
recém pintadas e morde o lábio durante todo o trajeto até o
restaurante.
Ela não faz a mínima ideia do que planejei, e eu adoro.
— Não fique nervosa.
— Não estou — fala com voz rouca. — Não estou. Okay,
estou meio ansiosa.
Eu rio.
— Eu sei, mas não fique. Confie em mim.
Ela faz uma expressão que até então eu não conhecia e
balança a cabeça.
— Eu confio, Briggs.
Suas palavras soam pesadas, como se significassem algo
mais, mas eu a não pressiono. Ela fica quieta e pensativa pelo resto
do caminho, até a limusine parar em frente ao Monteverde, o
restaurante que escolhi para hoje.
— Como conseguiu reservar aqui? — Ela vira a cabeça
rapidamente em minha direção, com os olhos arregalados pela
surpresa.
Não vou mentir, faz bem ao meu ego.
Eu sorrio.
— Cobrei alguns favores.
Ela gagueja por um momento.
— Eu, eu… nossa! A última vez que o Ty tentou fazer uma
reserva aqui, eles estavam lotados por dois anos. Nem sei o que
vou comer amanhã, quanto mais daqui a dois anos. Estou
impressionada, Wilson.
— Queria te agradar, linda — eu respondo, de forma
provocante.
Fico feliz por ela se impressionar, porque tive que doar
ingressos ao proprietário para as temporadas... dos próximos dois
anos e pagar uma quantia enorme de dinheiro. Mas eu faria essa
merda novamente em um piscar de olhos, se fosse receber o sorriso
que agora está em seu rosto. Para vê-la sorrir, vale tudo.
Ela desliza a mão na minha enquanto estamos do lado de fora do
restaurante. Eu a trago para perto de mim e beijo o canto da sua boca.
— Vamos, linda.
De mãos dadas, entramos no Monteverde e somos recebidos
por uma hostess sorridente.
— Oi, nós temos uma reserva em nome de Wilson.
A garota arregala os olhos, e gagueja um pouco.
— B-Briggs Wilson, certo? Concordo com a cabeça, olhando
para Maddison, que levanta a sobrancelha.
— Claro, eh, o Sr. Russo disse que vocês terão exclusividade
na área de jantar essa noite.
Maddison fica ao meu lado, e quando o meu olhar se
encontra com seus grandes olhos verdes, ela parece
completamente chocada.
— Espera, como assim? Nós seremos as únicas pessoas
aqui? Em absoluto? Ela olha de mim para a hostess, que acena
lentamente.
— Se me acompanharem, eu vou acomodá-los e trazer a
carta de vinhos em breve.
A mão de Maddison aperta a minha e eu rio.
— É tudo ou nada para impressionar a minha gata.
— Uau!
Seguimos a anfitriã, que nos leva para a área de jantar
completamente vazia. Há uma mesa aconchegante e pitoresca com
uma toalha de linho creme, adornada com várias velas de baixa
chama, que lançam um brilho romântico.
Eu te devo uma, Russo.
Puxo a cadeira para a minha garota, arrasto-a para perto de
mim e sento ao seu lado enquanto a hostess nos mostra o menu de
vinhos. Eu deixo Maddison escolher, porque não me importo com
nada além do gosto que vai deixar na boca dela.
Estou obcecado por essa garota, e mal posso esperar para
beijar seus lábios vermelhos.
O chef nos preparou uma refeição exclusiva. Enquanto
esperamos que seja servida, ela observa ao redor com os olhos
brilhando.
— Deus, esse lugar é incrível Briggs. Eu não consigo
acreditar que você organizou tudo isso.
Encolho os ombros.
— Faço tudo por você, linda.
Seus olhos brilham com lágrimas não derramadas, e ela
entrelaça nossas mãos em seu colo.
— Eu tenho que te contar a última ideia que Graham teve a
respeito de Olive. Quer construir uma casa na árvore para ela — diz
Maddison, rindo.
Por toda a noite trocamos histórias das nossas infâncias e
demos risadas. Passamos nosso tempo juntos nos conhecendo de
maneiras que não tivemos o luxo até esse momento, e se isso for
possível, percebo que sou ainda mais louco por essa garota linda,
sarcástica e levemente nerd. O tempo todo, ela passa a mão pela
minha coxa debaixo da mesa, acaricia a minha mão e o meu
antebraço, com os mais suaves toques. Nós ainda…não
conseguimos manter as mãos longe um do outro.
Estou pronto para ir embora com ela e passar o resto da noite
compensando o tempo perdido.
Enquanto termina a taça de vinho, subo a mão pela coxa dela
até os meus dedos encontrarem a bainha do vestido. Estou
morrendo de vontade de trocar os dedos pela minha língua e
observá-la se desfazer debaixo de mim.
— Briggs — ela suspira. Não é um aviso… é mais como um
convite, e nesse momento eu percebo que precisamos sair daqui,
rapidamente.
Um homem nunca é tão forte quando se trata de resistir à sua
mulher.
— Vamos, antes que eu deite você nesta mesa e coma a
minha sobremesa.
Ela arregala os olhos, e eu vejo o movimento da sua garganta
ao engolir.
Levantando a mão, ela diz:
— A conta, por favor.
Eu já paguei por todo o serviço do restaurante, mas a
emoção me faz quase cair da cadeira.
A próxima coisa que planejei... bem, acho que pode até ser
melhor que o jantar.
Depois de deixarmos o restaurante e percorrermos uma curta
distância até o nosso próximo destino, cubro seus olhos quando
saímos da limusine e vamos para o local onde acontecerá a próxima
parte do nosso encontro.
— Briggs, mal consigo andar com estes saltos quando
consigo ver, então... posso olhar agora?
Sorrindo, eu a viro depressa, destampo os seus olhos e
espero por sua reação.
— Oh meu Deus — ela sussurra, cobrindo a boca. — Oh
meu Deus.
No heliporto à nossa frente, há um pomposo helicóptero preto
AS350 e um piloto parado ao lado da porta. Ele também é um fã de
hóquei e amigo, por isso pedi um favor.
— Oi Roger. — Sorrio ao me aproximar , praticamente
arrastando uma Maddison chocada atrás de mim. — Essa é a minha
garota, Maddison.
—Ei-i — diz ela.
Ela me olha e balança a cabeça.
— Eu não posso acreditar que você fez isso. Briggs…
Eu concordo.
— Eu sei, linda.
Eu faria isso todos os dias só para ver esse sorriso.
Enquanto Roger providencia nossos fones, eu a ajudo a
entrar no helicóptero e se acomodar. Ela segura a minha mão o
tempo todo, apertando como se o momento fosse passar caso a
soltasse.
— Obrigada, por tudo. É incrível — fala baixinho, assim que
as hélices começam a girar.
— Sempre.
Alguns minutos depois, estamos no ar. Durante a decolagem
a mão dela comprime a minha, mas os seus olhos nunca deixam a
cidade que brilha abaixo de nós. O céu está limpo e a brisa calma
quando Roger nos conduz sobre o panorama de Chicago, indicando
vários lugares, da cabine. Maddison observa admirada, e quando
avista a arena, vira rapidamente em minha direção. Empolgada, ela
aponta para me mostrar.
— Olha, é ali que você joga!
Eu concordo, sorrindo.
— Eu sei, linda. Por falar nisso... quero que você e Olive
venham a alguns jogos quando a temporada desse ano começar.
— Eu adoraria.
A única palavra que descreve o restante da noite, é
felicidade. Não me lembro da última vez que ri até doer o maxilar.
Eu estou feliz pra caralho.
E tem tudo a ver com Maddison.
Tudo que eu quero é recriar esta noite para ela sempre que
puder. Ver essa felicidade nos seus olhos. Sempre.
Quando chegamos ao seu prédio e a ajudo a sair da
caminhonete, ela está sorrindo.
— Lembra do que acontece a seguir, no meu encontro dos
sonhos?
— Como se eu pudesse esquecer. Leve essa sua bunda
gostosa para dentro daquela porta.
Ela ri quando a minha mão bate na sua bunda atrevida.
Eu fecho a porta atrás de mim e viro para Maddison. Ela me
encara com os olhos cheios de luxúria. Como a cada vez que
acariciei a pele dela, cada vez que ela puxou o lábio vermelho para
dentro da boca e o rolou entre os dentes, cada vez que a mão dela
deslizou pela minha coxa debaixo da mesa.
Ela vai me enlouquecer.
E ela sabe disso.
— Espere aqui, por favor — diz ela com voz rouca.
Dou-lhe um aceno. Ela vira e desaparece pela porta do seu
quarto, fechando-a atrás dela. Eu desabotoo a minha jaqueta
esportiva, sento na almofada macia do seu sofá desgastado e
espero.
Adrenalina misturada com uma quantidade nebulosa de tesão
bombeia em minhas veias.
Esperei tanto tempo por este momento, que tenho de dizer a
mim mesmo para acalmar e aproveitar.
Alguns minutos depois, a porta do seu quarto se abre, e ela
sai. Nesse momento, a respiração é arrancada dos meus pulmões e
tenho quase certeza que engoli a porra da minha língua.
Minha boca seca.
— Puta merda! Quase não consigo tirá-la da boca, mas, de
alguma forma, as palavras me escapam.
Maddison não está usando nada além de um pedaço de
renda branca que mal cobre todos os lugares que estou morrendo
de vontade de tocar. A lingerie deixa pouco para a imaginação. O
tecido cobre os mamilos cor-de-rosa e envolve os quadris até o
pequeno pedaço de pano entre as pernas.
Porra, vou gozar nas calças como um adolescente.
— Você gosta? — ela sussurra. Considerando a forma que os
seus dedos tocam a liga da perna, ela está nervosa e, foda-se.
Eu me levanto abruptamente, me aproximo dela e seguro o
seu queixo.
— Você parece um anjo. Estou maravilhado. Deus,
Maddison, você é perfeita.
Baixo o meu olhar mais uma vez, arrasto os olhos sobre seu
corpo novamente, e abafo um gemido. Ela usa ligas bege e
douradas e sua bunda deliciosa está em exibição. Nunca vi nada
mais sexy, em toda a minha vida.
Esta mulher foi feita para mim.
— Eu fiquei muito nervosa ao escolher porque o meu corpo...
ficou muito diferente depois de Olive. Eu tenho estrias…— Ela
aponta para a sua barriga. — Eu não estou tão em forma como
antes. Deus, isto é tão embaraçoso. Só queria ficar sexy pra você.
Ela faz um movimento para cobrir o rosto, mas eu
rapidamente afasto as suas mãos e inclino o seu queixo. Os olhos
dela parecem mais escuros esta noite, tempestuosos.
— Esse corpo? Ele carregou o meu bebê. Não há nada mais
sexy, e eu vou te provar a noite inteira — eu falo com a voz rouca.
Parece que a mulher parada na minha frente afixou emoção e
luxúria no meu peito. — Sou louco por você e por estas curvas.
Desço as minhas mãos pela sua mandíbula, passo pelo
declive da garganta e chego ao peito. Seus mamilos atrevidos
eriçam, pressionando contra a fina renda da lingerie. Deslizo as
mãos sobre eles e continuo descendo-as pelo seu corpo, passando
pela barriga reta e chegando até os quadris, que aperto fortemente
pressionando o seu corpo contra o meu.
Meu pau está tão duro que força o zíper como se fosse
perfurá-lo.
— Sente isso? — Eu forço meus quadris contra ela, que
choraminga levemente. — É pra você, Maddison, apenas pra você.
É você que faz isso comigo. Sei que devemos pegar leve, mas eu
fico louco de desejo. No segundo que me permitir, vou colocar outro
bebê dentro de você. Você é minha.
Ela arregala os olhos ao engolir.
— Você... você quer outro bebê?
Encolho os ombros.
— Quero ter todos os bebês com você. Nada é mais sexy do
que o seu corpo, especialmente depois de carregar a nossa filha.
Linda…— Eu paro, apertando seus quadris levemente. — Quando
eu disse que estava dentro, estava falando a verdade. Não foi só
uma besteira que eu lancei para pegar você. Eu estou envolvido.
Sou o seu parceiro e pai de Olive. Não vou a lugar nenhum.
Antes de eu terminar de falar, Maddison fica na ponta dos
pés, inclina a boca na minha direção e pressiona aqueles lábios
manchados de vermelho nos meus. Suas mãos apertam minha
camisa, depois seguem para a nuca, onde ela se segura enquanto
insere a língua na minha boca e choraminga contra os meus lábios.
Afastando da minha boca, ela ofega:
— Essa é a coisa mais sexy que você já disse.
Eu rio.
— Se você achou sexy… que tal eu te mostrar?
Ela acena com a cabeça, dá um pulo, envolve os braços no
meu pescoço e eu a agarro. Prende as pernas ao redor da minha
cintura, e libera a gravata do meu pescoço com dedos trêmulos.
Considerando o quanto eu a quero e o frenesi das mãos dela
sobre mim, acho que não vamos conseguir chegar no quarto. Suas
unhas afundam em meu pescoço quando fecho a boca no seu
mamilo, através do tecido de renda. Eu sugo o bico enrijecido,
depois arrasto os meus dentes sobre ele. Ela arqueia as costas,
pressionando a boceta contra meu pau dolorido.
— Briggs — murmura ela, jogando a cabeça para trás.
— Por favor, me diga que posso tirar isso — eu imploro.
Ela dá uma risadinha e balança a cabeça. Eu nos conduzo
pela sala parcialmente escura, até as costas dela esbarrarem na
porta do quarto. Eu sugo um ponto sensível no seu pescoço, ela fica
louca e se contorce nos meus braços.
Eu me atrapalho com a maçaneta da porta do quarto, mas
finalmente consigo abri-lo. Ela se escancara, revela um quarto
escuro, mas felizmente eu conheço o apartamento de os olhos
fechados. Eu paro, a deito de costas na cama, depois acendo a
lâmpada. O brilho dourado ilumina o quarto e, por um breve
segundo, aproveito o tempo para apreciar a lingerie que eu sei que
ela escolheu com exclusividade para mim.
Ela está maravilhosa, mas minha determinação desapareceu
e não consigo esperar nem mais um segundo antes de tê-la nua na
minha frente.
Deslizo minha mão por baixo do tecido até o seu peito e
puxo, rasgando-o diretamente do corpo. O som do material se
partindo ecoa pelo quarto, junto a um suspiro chocado de Maddison.
— Briggs! — ela grita — isso custou uma pequena fortuna.
— Perguntei se eu poderia tirar, Linda. — Sorrio, e meus
olhos ficam sedentos com a visão dos peitos pesados e cheios. —
Eu te compro a loja inteira se você prometer usar todas as noites
pra mim.
Ela revira os olhos, mas eu vejo a sugestão de um sorriso em
seus lábios. Removo o resto do tecido do seu corpo e arrasto meus
dedos lentamente pela pele macia da barriga, passo suavemente
por seu monte até chegar no topo das coxas grossas e deliciosas.
Seus dedos tremem enquanto ela me ajuda a remover a alça da
liga.
Balançando a cabeça, murmuro rouco:
— Deixe comigo.
Ela concorda com a cabeça e volta a deitar em seus
cotovelos, me observando trabalhar. Removo uma liga de cada vez,
observando as alças caírem no chão e me deixarem a um passo de
tê-la nua e esparramada na minha frente.
Por mais que eu queira me afundar dentro de Maddison,
planejo passar uma quantidade significativa de tempo entre suas
coxas, devorando-a. Eu sonhei com a o gosto dela, com os sons
que ela fez quando gozou na minha língua, com a sensação das
suas mãos puxando o meu cabelo, e também com o modo que ela
se arqueava da cama, incapaz de impedir o seu orgasmo por mais
tempo.
O fim de semana que passei com Maddison não foi suficiente
e, agora que a tenho de volta, nunca mais vou deixar que ela vá
embora. Vou passar o resto dos meus dias fazendo por merecer.
Adorando-a. Dedicando cada minuto à felicidade dela e de Olive.
Finalmente, solto a última liga e arrasto pelas pernas dela
junto com as meias, deixando-a absolutamente sem nada, deitada
na minha frente como uma deusa. Pego o seu pequeno pé e dou um
beijo no arco, outro na sua panturrilha esculpida, e depois na
delicada pele detrás do seu joelho. Beijos quentes e úmidos que a
fazem tremer sob meu toque.
— Por favor.
Uma simples palavra, um apelo para acabar com a pulsação
entre as suas coxas. Mal ela sabe que eu só estou começando.
Capítulo Vinte e Cinco

Maddison
Os lábios desse homem deveriam ser um pecado. Na
verdade, há muitas coisas sobre Briggs Wilson que devem ser
completamente imperdoáveis. O jeito dele me olhar me dá a
impressão de que me engoliria inteira com apenas uma mordida,
como o grande lobo mau, ou a forma que seus lábios conhecem
cada parte de mim e me fazem ganhar vida.
Um fio de eletricidade move pelo meu corpo, uma corrente
tão forte que sinto da cabeça até os dedos dos pés. É uma tão
poderosa, que poderia me fazer gozar com um simples toque. Ele
arrasta a língua para cima da minha coxa e suga, definitivamente
deixando uma marca.
Outra das mesmas que adornaram a minha pele na última
vez que passámos a noite juntos.
Me lembro de observar o quanto se destacavam no meu
corpo, e de desejar não me ter afastado, mesmo sabendo que era a
coisa certa a fazer. Agora, recordo vividamente o que senti ao me
marcar.
Me reivindicar.
Nunca esqueci a sensação de ser acariciada com a língua
daquela forma. Passei mais noites do que deveria, desejando
desesperadamente poder ficar com ele mais uma vez. Mas Olive
era minha principal preocupação, os meus desejos e a minha
esperança realmente não tinha importância.
Estou nua e completamente exposta para ele na cama. Ele
se ajoelha na borda, entre as minhas pernas e enterra a cabeça no
meio das minhas coxas. Sinto o olhar dele vagando sobre mim,
deixando rastros de fogo.
— Sonhei com essa boceta — ele sussurra contra a carne da
minha coxa. — Linda e rosada pra caralho, sempre disposta e
molhada para mim.
Se existe a possibilidade de explodir apenas com
preliminares, estou a caminho de uma morte prematura. Uma que
aceitarei com prazer nesse momento se a pulsação entre as minhas
pernas for aliviada.
Meu clitóris pulsa com a pressão dos lábios dele nas minhas
coxas, em sincronia com as batidas do meu coração.
— Deus, eu quero te olhar por horas.
Ele me abre bem com os dedos, e eu observo o desejo nos
seus olhos.
Apesar de ter ficado nervosa e constrangida por usar a
lingerie para ele, no segundo que apareci na sua frente, ele fez tudo
certo. Tudo para me deixar confiante. Sensual. Desejada.
Eu tento ser paciente e agarro o lençol da minha cama
quando ele segue com os lábios nas minhas coxas, chegando cada
vez mais perto do lugar onde quero que eles estejam.
Eu preciso desses lábios. Desesperadamente, mais do que
tudo que precisei na vida.
— Quer que eu coloque minha boca em você, Maddison?—
ele pergunta entre as minhas pernas, com olhos azuis acinzentados
que encontram os meus. Sua voz é baixa, grave, e atinge o fundo
da minha alma e reflete na pulsação entre minhas as pernas. Por
conta própria, minhas coxas se apertam tentando encontrar alívio.
— Quero que seja uma boa garota e coloque as mãos na
cama. Não tire até eu falar, okay?
— Okay.
Como recompensa pela minha paciência, ele passa a língua
delicadamente pela minha boceta. Depois me abre com os dedos
mais uma vez, lambendo de uma forma tão lenta e sensual, que faz
as minhas costas arquearem para fora da cama.
Ele envolve o meu clitóris com os lábios e chupa.
— Oh Deus! — eu grito ao soltar os lençóis e entrelaçar os
dedos no cabelo dele.
— Mãos na cama, Maddison! — ele ordena. Deus, é possível
esse homem ficar ainda mais sexy? Bastam poucas palavras dele
para me excitar.
Nem são as palavras que me deixam com mais tesão, é o
tom superior e autoritário que usa.
Ele continua entre as minhas pernas, mas se inclina e paira
sobre o meu corpo com uma mão em cada lado da minha cabeça,
tão próximo que a sua expiração sopra nos meus lábios.
— Eu quero que confie em mim, linda. Você consegue? —
ele pergunta. — Não apenas com o coração, com o seu corpo
também.
Se ainda havia algum tipo de apreensão dentro de mim, suas
palavras acabaram de aliviar. Desde que Olive nasceu, o tempo
todo ele me provou ser um bom homem. E agora? Preciso mostrar
que confio nele. Totalmente.
Em todos os sentidos.
Eu balanço a cabeça devagar.
Ele sorri, me levanta pelos braços e rapidamente me vira de
bruços. Desliza as mãos até a minha cintura, levanta o meu quadril
e separa minhas pernas levemente. Depois empurra a metade
superior do meu corpo para o colchão, deixando a bunda para cima.
Leva à mão na gravata já meio folgada, rapidamente desfaz o nó e a
retira do pescoço.
— Preciso que seja uma boa menina, Maddison, ou vou ter
que usar isso para te deixar quieta. — Ele desliza a gravata de cetim
pela minha bunda, delicadamente. O material é macio como uma
nuvem e eu fico arrepiada.
— Tudo bem?
Eu concordo, virando minha bochecha no colchão para olhar
nos olhos dele. Nunca estive tão excitada na minha vida. Percebo o
quanto estou molhada. Se não tivesse tão enlouquecida de tesão,
me envergonharia por sentir a umidade escorrer da minha boceta
enquanto eu estou deitada e exposta para ele.
Briggs aparece atrás de mim e agarra a minha bunda. Cada
nádega se encaixa perfeitamente em suas grandes palmas, então
ele me abre mais e geme.
— Você é perfeita, e é minha, Maddison — ele sussurra,
lambendo do clitóris até o local sensível, apertado e nunca tocado
por ninguém, antes que eu possa responder.
Um som carente e estranho escapa dos meus lábios quando
começa a se banquetear comigo. Ele acaricia meu clitóris com a
língua, movimentando repetidamente até eu me empurrar contra a
sua boca, com as mãos tão agarradas ao lençol, que os nós dos
dedos ficaram brancos.
Estou enlouquecendo. Minhas vistas ficam escuras e
embaçadas quando um orgasmo ameaça me atingir por completo.
— Boa garota, mãos no colchão. Não goze até eu mandar,
Maddison.
Cada vez que ele fala "boa garota", minha boceta comprime e
meu clitóris palpita.
Eu nunca soube o quanto gostava de elogios até eles saírem
dos lábios de Briggs. O quanto precisava ouvi-lo me chamar de boa
garota e dizer como sou perfeita.
Isso me deixou ainda mais ardente, com uma sensação na
pele de estar queimando por dentro.
— Você gosta quando te chamo de boa garota, Maddison?
Eu sei que gosta. A sua boceta está pingando para mim — ele
sussurra, em seguida, enterra a cabeça entre as minhas pernas
enquanto me come por trás.
— Por favor — eu imploro enquanto ele dá atenção ao meu
clitóris carente —, por favor, Briggs.
Ele empurra um dedo dentro de mim. Eu aperto ao seu redor
e ele empurra mais fundo, friccionando na carne hipersensível do
meu ponto G. Eu passei anos tentando encontrar esse lugar, e
Briggs o encontra assim que enfia os dedos dentro de mim.
— Porra, você é muito apertada, Maddison — ele geme. Olho
para trás e o vejo esfregar o pau por cima da calça. Estou muito
perto de desobedecê-lo e gozar.
— Tão perto que vou perder o controle a qualquer momento.
Ele desliza outro dedo dentro de mim. Então dobra os dois
para cima e traz a boca para o meu clitóris, me chupando e fodendo
com os dedos.
— Goze na minha língua — diz ele.
Quando roça os dentes no meu clitóris, eu explodo.
Grito contra os lençóis, gozando tão forte que, por um
momento, meu corpo sacode, minhas costas arqueiam na sua boca,
e eu me liberto.
— É isso aí, linda. É isso, caralho!
O poder do orgasmo me faz tremer. Briggs sabe exatamente
como tocar o meu corpo enquanto extrai cada grama do meu prazer,
até me transformar em uma pilha de ossos. Eu desabo na cama,
minhas pernas estão muito pesadas para me segurar por mais
tempo.
Briggs se aproxima e afasta o cabelo ensopado de suor (e
agora emaranhado) do meu rosto.
— Foi bom pra você, ou fui longe demais?
— Não. — Eu coloco o dedo nos seus lábios que ainda
brilham com a minha umidade. Ela reveste a barba curta do seu
queixo e de repente eu o quero novamente, mesmo tendo acabado
de conseguir o meu primeiro orgasmo depois de meses. — Foi
perfeito. Amei cada segundo.
Ele acena com a cabeça e um pequeno sorriso aparece no
canto dos seus lábios. Ele chupa o meu dedo com diversão,
circulando a língua ao redor da ponta. Isso me remete ao que
gostaria de fazer agora, se tivesse um pouco de energia dentro de
mim.
— Bom, sabe por quanto tempo esperei por isso? O quanto
eu sonhei desde aquela noite na pousada? Quantas vezes eu
fantasiei esse exato momento?
Aceno com a cabeça. Sei exatamente o que ele quer dizer
porque eu também esperei. Embora não devesse, sonhei com ele
durante meses. Com o sabor da sua língua e a sensação dos seus
lábios roçando o meu corpo.
Ele para na frente da cama e começa a desabotoar a camisa
branca engomada. A cada botão que ele abre, a peça se afasta
mais do seu corpo, expondo a extensão plana de seu peito. As
marcas do abdome que tento contar, mas me perco em torno de
seis, quando a trilha de cabelos escuros abaixo do seu umbigo,
aparece.
É chamado de caminho da felicidade por uma razão, e, de
repente, quero traçá-lo com a língua. A excitação sobe pelo meu
corpo quando ele se despe na minha frente. Mal posso acreditar que
esse homem é meu.
— Pare de me olhar assim, linda — ele diz com voz rouca,
abre o cinto e o deixa cair no chão assim que desabotoa o botão da
calça e abaixa o zíper.
É como um show exclusivo para mim, e minhas coxas se
apertam em antecipação. Apoiada nos cotovelos, puxo meu lábio
inferior entre os dentes e olho para cima com expressão de flerte.
— Assim como?
Seus olhos estão escuros e exalam calor.
— Como se quisesse ser fodida.
As palavras sujas me fazem ofegar em antecipação. É isso o
que eu quero, desejo mais do que tudo. Descaradamente, abro um
pouco as pernas e exponho o meu centro que ainda pulsa por causa
da sua boca. Noto que o seu pequeno fio de determinação se
rompe.
Ele desliza a calça junto com a cueca pelos quadris, depois
as chuta de lado ficando na minha frente, completamente nu.
Meus olhos se arregalam ao verem como ele é grosso e o
quanto está duro, apontando para mim. Um pouquinho de liquido
pré-ejaculatório escorre da ponta. Como consegui esquecer o
quanto ele é grande e vigoroso?
— Não vou mentir, linda, isso está fazendo muito bem para o
meu ego. — Sua voz interrompe o meu escrutínio.
— Mas você tem que olhar para mim. — Eu me sento direito
e os meus olhos ficam no mesmo nível do seu pau. Eu o encaro
com um olhar provocante enquanto o peito dele se movimenta.
Sobe e desce. Continuamente.
— É justo que eu também tenha uma chance.
Estendo uma mão trêmula e acaricio a pele aveludada do seu
pênis. Quando o seguro com carinho, ele solta um silvo sufocado e
joga a cabeça para trás imediatamente, tomado de prazer.
Nunca vi nada mais sexy na minha vida. Briggs tem uma
masculinidade natural, sem dizer uma palavra ele consegue toda a
atenção.
Os seus gemidos fazem a minha espinha arrepiar.
Estou em êxtase. Completamente absorvida pelo seu cheiro,
pelo seu toque… por ele.
Levo os lábios para o seu pau e traço a língua pela da parte
de baixo da cabeça grossa, enquanto envolvo minhas duas mãos ao
redor do seu comprimento.
Ele se inclina ligeiramente e torce os meus mamilos sensíveis
com os dedos, rolando-os entre o polegar e o indicador, e eu juro…
quase me desfaço apenas com isso.
— Você é tão sensível — ele murmura. — Eu amo isso.
Continuo a provocá-lo, deslizando a língua na sua fenda e
provando a gota salgada que brilha sobre ela. Meus lábios circulam
a sua cabeça em um "O" que o faz gemer e agarrar o meu cabelo.
— Linda, por mais que eu queira que você faça isso
diariamente pelo resto da minha vida, eu preciso estar dentro de
você.
Ele nem me permite começar e puxa a minha boca para fora
dele, com gentileza. Se inclina e sela os lábios sobre os meus me
beijando com força, incitando a excitação dentro de mim, deixando o
meu fogo ainda mais ardente.
Meu corpo está muito sensível depois de uma noite inteira de
toques e promessas silenciosas.
Ternamente, Brings me deita de novo na cama à sua frente e,
mesmo que eu veja a fome nos seus olhos, leva o seu tempo.
Ele não se apressa.
— Eu quero apreciar esse momento — diz com voz rouca, ao
ler a minha mente. — Você finalmente é minha.
Eu concordo e desço as mãos pelo seu peito, passo pelo
abdome trincado, e roço as unhas pela fina faixa de pelos que
fazem o meu núcleo formigar em antecipação.
Quando posiciona em cima de mim ele traz os lábios para o
meu queixo, trilhando um caminho pela minha orelha. Minhas mãos
afundam nos músculos dos seus antebraços quando ele o suga o
meu lóbulo.
A necessidade me deixa tão zonza que o quarto começa a
girar ao meu redor. Meus olhos se fecham enquanto eu respiro,
tentando acalmar o terremoto dentro do meu peito.
— Eu preciso de você, Briggs. Por favor.
Ele levanta a cabeça, seu olhar determinado captura o meu,
ele acena com a cabeça e entrelaça as nossas mãos. Na sequência,
ele as levanta acima da minha cabeça, e gentilmente, empurra o
pau para dentro de mim. Quando fricciona a cabeça no meu clitóris,
um prazer ofuscante corre pela minha espinha.
Sinto que não aguento mais nenhum momento de
provocação. Estou tão tensa que vou explodir.
Ele libera uma das minhas mãos, guia o seu pau para a
minha abertura e empurra levemente para dentro, fazendo nós dois
sibilarmos. A sensação dele dentro de mim, esticando o meu corpo
com aquela cabeça grossa não deveria ser tão gostosa.
Ele agarra os meus quadris e impulsiona gentilmente. Me
segura com muita ternura como se eu pudesse quebrar com o seu
toque. Enfim, ele estoca mais fundo e me enche completamente,
circulando os quadris e se esfregando no meu clitóris sensível.
É quase demais. O prazer cresce dentro de mim, ameaçando
detonar a qualquer momento.
— Oh Deus, Briggs! — eu grito, enquanto ele entra devagar e
profundamente dentro de mim.
Seu toque é gentil e possessivo.
Doce e perverso.
Desesperado e paciente.
Muito parecido com quem ele é. Briggs Wilson não é nada do
que pensei, e ainda é muito mais.
Levantando mais a minha perna para encaixá-la no seu
quadril, ele começa a me foder.
Embora ainda seja tudo o que preciso desesperadamente, é
cru, passional e íntimo de uma maneira só nossa.
O jeito dos seus lábios percorrerem minha pele e os
grunhidos que se misturam aos meus gemidos de prazer.
Ele é um enigma e eu estou perdendo a batalha de não me
apaixonar por ele.
De repente, sai de dentro de mim e me vira de barriga para
baixo. Depois me agarra pela bunda e me puxa em sua direção.
— Amo quando você fica nessa posição — ele geme
enquanto alinha o seu pau, mergulhando de novo dentro de mim e
deixa a cabeça cair nas minhas costas. — Perfeita pra caralho.
Não consigo formar palavras neste momento. Não com ele
tão fundo dentro de mim, me preenchendo toda e roubando
qualquer pensamento racional.
Ele tira quase tudo para fora, empurra para dentro de novo,
me fodendo com tanta força que meus seios balançam a cada
impulso. Ele me fode duro, de forma natural e despreocupada. O
descontrole dele faz desse momento, o mais erótico da minha vida.
— Eu vou — respiro. — Eu vou gozar.
Meus olhos apertam enquanto me quebro, me desfaço sob o
toque dele. O orgasmo se constrói a cada impulso dos seus quadris
contra os meus. Ele ainda está atrás de mim, profundamente
enraizado quando goza com um rugido.
— Caralho, Maddison — ele ofega e agarra os meus quadris
com tanta força que, provavelmente, terei hematomas amanhã. E eu
quero cada um deles.
Desejo que ele marque o meu corpo exatamente como
naquela noite.
Estou subindo, cada vez mais extasiada. O poder desse
orgasmo me faz tremer. Finalmente, depois que a emoção pós-
orgástica passa pelo meu corpo, desço do meu êxtase e me conecto
de novo com a Terra.
Existe orgasmo e existe… seja lá o que aconteceu.
Euforia.
Briggs trilha um caminho de beijos na minha coluna e sai de
dentro de mim. Sinto como se a cama me engolisse com a sua
partida. Eu me afundo no colchão, de repente exausta demais para
me sustentar por mais tempo. Quando Briggs volta para o quarto
estou quase dormindo. Sinto um pano morno e reconfortante entre
as minhas pernas quando ele me limpa, e depois deita ao meu lado.
Ele me pega em seus braços e me segura contra o peito, os
nossos corações ainda acelerados.
— Sei que esse não é o melhor momento, mas eu acho…
que você e Olive deveriam morar comigo.
— Briggs… — eu começo, mas ele me cala com um beijo.
— Ouça, o seu contrato encerra daqui a três semanas, e
acabei de ver uma coisa questionável crescendo debaixo da pia
quando fui pegar aquele pano. Eu não estou falando pra você casar
comigo. Só estou dizendo que tenho aquela casa enorme com
espaço suficiente pra vocês duas, e que assim eu vou ter mais
tempo com Olive. E com você.
Esta não é a primeira vez que discutimos isso, e
honestamente... minhas desculpas estão completamente
desgastadas. Talvez seja porque eu estou saciada e na euforia do
meu orgasmo, ou porque ele está certo e eu estou cansada de viver
aqui com Olive.
Ela merece uma casa melhor, e Briggs está disposto a dar a
ela.
— Tudo bem.
Ele olha para mim com um sorrisão de menino.
— Sério?
Eu concordo com a cabeça.
— Mas eu ainda acho que deveríamos levar cada coisa no
seu tempo.
— Nós vamos, linda. Nós vamos.
Só que... se nos mudarmos, agora mais do que nunca, sei
que preciso conversar com ele sobre eu ser a Maria Patins. Tenho
que parar de temer o que vai acontecer. Eu sei o que devo fazer e,
deixar para depois só vai piorar. E mesmo assim... continuo a adiar
o inevitável, por medo de perdê-lo.
A última coisa que penso antes de adormecer, quente e
segura nos braços dele, é que logo estaremos instalados e tudo
será resolvido. Eu vou contar para ele. Está passando da hora.
Capítulo Vinte e Seis
Briggs
— Esta foi uma ideia do caralho. — Graham sorri com o peito
inchado de orgulho enquanto amarramos Olive a ele no porta-
bebês. Abaixando a cabeça ligeiramente, ele diz a ela: — Sabe,
Olive-you, esta pode ser a melhor ideia que eu já tive. Pode ser que
saiamos daqui com uma nova tia.
Eu reviro os olhos. Posso jurar que a paternidade me trouxe
muita paciência e essa é a única coisa que salva Graham no dia a
dia.
— Eu não acredito que você vai deixar ela ir com ele —
Asher resmunga, claramente irritado por não ter conseguido.
— Uh, ele não me pediu, foi pra Maddison. Ela me obrigou.
— reclamo. O idiota sabia exatamente o que estava fazendo e foi
direto na mãe. Não foi de nenhuma ajuda, Maddison ter me olhado
com aqueles olhos dourados que me roubam o ar. Sem falar que ela
estava aninhada nos meus braços depois do melhor sexo de toda a
minha vida.
Eu fui enganado.
— Podem me culpar? — Graham tampa os ouvidos de Olive.
— Vocês, idiotas, sempre monopolizam a minha garota. Às vezes,
eu tenho que tomar algumas providências.
Ele remove as mãos e belisca suas bochechas levemente
enquanto ela ri.
— Me fale de novo. Como você finalmente convenceu
Maddison a se mudar para a sua casa? — Hudson pergunta.
Encolho os ombros.
— O contrato dela venceu e aquele lugar é um desastre
ambulante. Sempre tem alguma merda estragada e o cara da
manutenção só fala que vai arrumar. Eu já consertei mais coisas no
tempo que estou por lá, do que ele provavelmente arrumou desde
que ela alugou o apartamento — resmungo. — Sem falar sobre
Paul, um ator pornô que mora no apartamento acima do dela. Já
chegou ao ponto de atrapalhar o sono de Olive.
As sobrancelhas de Hudson se levantam de surpresa.
— E você ainda não fez uma visitinha a ele? Estou chocado.
— Estou tentando fazer escolhas melhores. Sabe como é,
por causa de Olive.
Ele concorda com a cabeça.
— Nobre.
— Certo, estão prontos pra ir? — Graham pergunta, com as
mãos nos quadris e Olive bem amarrada ao peito. Quando ele se
sacode um pouco, ela balança para cima e para baixo e ri.
Na próxima semana, Olive e Maddison se mudarão
oficialmente. Isso quer dizer que eu e os caras temos menos de sete
dias para transformar a minha casa de solteiro em um lar habitável
para uma família com um bebê. Honestamente, passei mais noites
no sofá de Maddison do que na minha cama nos últimos meses.
Espero conseguir convencê-la a dormir comigo em uma cama de
verdade.
Uma que não tenha um astro pornô logo acima nem um
respiradouro mofado.
— Qual é o plano?
Estamos parados em frente a uma loja para comprar os
móveis de Olive, enquanto Maddison foi almoçar com Ty e Kyle. Eu
não disse a ela que compraria, mas espero que ela concorde.
Combinamos de nos encontrar depois.
— Nós entramos e saímos. E ninguém, especialmente
Graham, toca em nada.
Graham revira os olhos, mas acena com a cabeça.
Hoje é um dia que Reed deveria estar aqui, mas ele foi levar
Evan em uma viagem de homens. É a primeira vez que vai pescar,
então eu vou ter que lidar com esses caras sozinho.
Passamos, nós quatro, pela entrada da loja e logo seguimos
as indicações para o setor de móveis de bebês.
Surpreendentemente, levamos menos de vinte minutos para
escolher um conjunto, pagar por ele e providenciar a entrega em
domicílio.
— Nossa, isso foi rápido — diz Hudson. Ele tem andado
quieto ultimamente, e eu faço uma nota mental para verificar o que
está acontecendo, quando estivermos sozinhos novamente.
— Foi mais fácil do que eu pensei — concordo.
— Isso quer dizer que precisamos levar Olive para o treinador
e o resto da equipe conhecerem — eu digo, ao pegar o meu
telefone. Envio uma mensagem rápida para Maddison, avisando que
terminamos um pouco mais cedo e que encontraremos com ela no
rinque.
Caminhamos até a caminhonete, tiramos Olive do porta bebê,
colocamos na cadeirinha e seguimos para o rinque. O tráfego é
leve, e chegamos no estacionamento assim que ela adormece no
seu bebê conforto.
Veja bem, não estou dizendo que fiquei mole, porque eu não
fiquei. Ainda sou másculo e controlo as minhas emoções.
Ver os meus melhores amigos, meus irmãos por escolha,
amarem a minha filha da mesma maneira que eu… me traz uma
sensação desconhecida e, quando olho para trás, vejo que Olive
adormeceu com a mãozinha enrolada no dedo de Graham,
enquanto ele descansa a mão no assento do carro.
É fofo pra caralho.
Não que eu vá dizer isso a ele, mas eu não consigo deixar de
notar.
Eu estaciono na minha vaga e dou a volta no carro para tirar
o bebê conforto de Olive. Como um profissional, devo acrescentar.
Sabe, quando descobri que ia ser pai, além de me emocionar
e ficar feliz pra caralho, eu também me apavorei. Tive que absorver
em um intervalo de cinco minutos, mas eu também entendi que
crianças podem não ser fáceis, mas são indulgentes.
Olive não precisa que eu seja perfeito, apenas que eu seja
um bom pai. E cada dia que passamos juntos é um aprendizado,
todos os dias aprendo algo novo.
Para começar, compreendi como separar um bebê conforto
da base de um assento veicular. Felizmente, tivemos alguns meses
de prática, e agora é como uma segunda natureza.
Encontramos o treinador Evans no escritório do rinque. Ele
estava em uma conversa acalorada ao telefone, mas prontamente
encerrou ao nos ver entrar com Olive.
— Caramba nunca pensei que um dia fosse conhecê-la
Wilson.
Eu sorrio.
— Ela é uma garota difícil de superar. Pergunte ao Graham.
Graham resmunga com o meu comentário, e olha para o
telefone. Em seguida diz ter algo para resolver e sai da sala.
O treinador Evans é o substituto de Liam e eles não poderiam
ser mais diferentes. É alto e o peito e os ombros largos, fazem
parecer que pertence a um campo de futebol. Tem cerca de
sessenta anos, cabelos grisalhos e um nariz ligeiramente torto.
Ele também é um dos melhores treinadores que já tivemos.
Leal, determinado e paciente, nos empurra além dos nossos limites,
porque sabe do que somos capazes. Liam e eu ficamos amigos, ele
me apoiou no momento mais difícil. Odiei vê-lo ir embora, mas sei
que a família sempre vem em primeiro lugar.
— Ela parece um anjo, Wilson. É uma bonequinha. Tem
certeza que você fez uma coisinha tão perfeita? — ele sorri, me
provocando descaradamente.
Eu ironizo.
— Acredite em mim, ela é a cara da mãe.
— Não, o nariz e o queixo definitivamente são seus, mas os
olhos são de Maddison — Hudson intervém.
Conversamos com o treinador por mais alguns minutos antes
de voltarmos para a pista. Hudson e Asher vão atrás de Graham,
enquanto procuro por Maddison.
Eu a encontro perto do gelo, conversando com um dos caras
da manutenção. Ela ouve atentamente o que ele diz, depois joga a
cabeça para trás e ri. Ele se aproxima e coloca a mão no braço dela,
isso a faz insegurança borbulhar dentro de mim.
Não lembro de ter me sentido assim, é a primeira vez.
Ciúmes.
Mesmo quando descobri a respeito de Beau… e… eu não
fiquei enciumado. Na verdade, nem me importei que ela tenha me
largado para ficar com o meu irmão. Estávamos juntos por
comodismo, para passar o tempo. Era confortável e, como ambos
sentíamos dessa forma, por que mudar?
Eu não tive vontade de rasgar a garganta do meu irmão
porque ele estava dormindo com ela. Eu quis cortá-la porque ele
traiu a relação de confiança que existia entre nós. Ele quebrou um
vínculo de uma vida, e isso não tem como reparar.
É por isso que odeio Beau e não tenho a menor intenção de
perdoá-lo.
— Ei, linda — eu digo com um sorriso largo, ao me
aproximar.
Os olhos de Devon encontram com os meus. Ele se encolhe
um pouco e volta a olhar para Maddison.
— Oh, como vai, Wilson? Acabei de comentar sobre Olive
com Maddison. Ela é muito fofa. Parabéns.
Eu resmungo um obrigado e aceno com a cabeça, aliviado
por ele sair em direção contrária.
Maddison levanta uma sobrancelha.
— O que foi isso?
— O que foi o que?
— Você foi grosseiro com ele. — Ela cruza os braços em
cima do peito e estreita os olhos. — Espere aí, você está com
ciúmes? Briggs… enciumado?
Há um tom de provocação na voz dela, mas eu apenas dou
de ombros.
— Você é minha.
Digo simplesmente, porque essa é a verdade, ninguém mais
vai tocar no que é meu. Delicadamente, acomodo o bebê conforto
de Olive no chão. Puxo Maddison para mim e coloco os meus lábios
nos dela, em um beijo voraz que, com certeza, vai mostrar para
Devon que ele não tem a mínima chance por aqui.
E, se ele olhar para ela de novo, vou partir todos os seus
membros.
Maddison se afasta sem fôlego, e olha para mim, passando
as mãos nos meus ombros.
— Você é insano. Sabe disso, não é?
— Talvez sim. Talvez não. Escute, eu quero te apresentar
para algumas pessoas e depois tenho uma surpresa na minha casa
pra você. Estava pensando em ficar por lá essa noite, o que você
acha?
Ela fica alguns instantes em silêncio, depois concorda,
balançando a cabeça.
— Eu adoraria.
Eu deslizo uma mão na dela e pego Olive com o braço
oposto. Ando pela pista apresentando-a para vários membros da
equipe e para a esposa do treinador que veio encontrá-lo para o
almoço. Finalmente, conectamos Olive no assento de novo e
dirigimos os trinta minutos até minha casa.
Maddison fica quieta durante todo o trajeto, mas eu concedo
esse tempo para ela processar. Há muita mudança ao mesmo
tempo e, mesmo que ela esteja bem com o que está acontecendo,
eu sei o quanto pode ser difícil se ajustar.
Quando chegamos em casa, abro o portão da garagem e
entro.
— Pronta?
Ela acena com a cabeça, parecendo apreensiva.
— Estou nervosa.
Eu rio.
— Vamos acomodar Olive e depois mostro pra você.
Maddison salta da caminhonete e pega Olive do seu
transportador. Pego a bolsa de fraldas e, juntos, entramos pela porta
que leva à cozinha.
— Minha garotinha doce está acordada — ela arrulha,
passando a mão sobre o cabelo loiro encaracolado de Olive. Acho
que ele vai escurecer, já mudou depois que ela nasceu.
— Perfeito, assim ela pode ver a surpresa da mamãe.
Maddison me olha e eu apenas sorrio.
— Vamos, por aqui — eu digo, conduzindo-a pelo corredor e
subindo as escadas que levam ao segundo andar.
No segundo andar fica a suíte principal e mais dois cômodos.
Um deles será o quarto de Olive.
O outro eu deixei especialmente para Maddison.
Paro diante da porta e viro em direção a ela e Olive.
— Não é grande coisa.
Ela me olha ceticamente. Eu abro a porta e revelo o interior
do cômodo, um escritório elegante e feminino que foi projetado para
Maddison. Eu sei que trancou esse semestre da faculdade, mas ela
precisa de um espaço onde se sinta criativa e possa trabalhar sem
interrupção.
Com o diploma de jornalismo, muitas oportunidades vão
surgir. Como ela e Olive virão morar comigo, eu quis preparar um
espaço que fosse só dela. Para estudar, se dedicar ao trabalho ou
qualquer coisa que desejar.
— Briggs — ela sussurra, com a voz rouca e baixa. —
Você… o que… — ela interrompe e gira em um círculo completo,
passando os olhos por cada superfície.
No meio do cômodo há uma mesa rústica branca, equipada
com um iMac novinho em folha, uma impressora, cadernos, canetas
e tudo mais que ela possa precisar. Nas paredes, as obras de arte
combinam com o resto da decoração.
— É brilhante, confortável e exatamente o que eu imagino
para o lugar de trabalho de Maddison.
— Não surte, linda. Eu só quis que você tivesse um lugar
para poder trabalhar sem interrupções, e que fosse só seu. — Eu
aponto para o móvel embutido na parede do lado direito. — Essa
estante é para colocar os seus livros. Você disse que gosta de ler e
eu reparei que no seu apartamento tinha uma pequena prateleira.
Ainda carregando Olive, Maddison corre em minha direção e
joga os braços ao redor do meu pescoço, pressionando forte contra
mim. Envolvo o braço nas suas costas e a seguro.
— Obrigada. É … é muito. Não sei como aceitar. — ela fala
baixinho.
— Bem, já está pronto, linda. Não tem como devolver. Agora
você vai ter que usar ele.
Quando ela se afasta, seus olhos estão cheios de lágrimas.
Ela funga de forma suave, enquanto elas descem calmamente pelo
seu rosto.
— Ei — eu digo, afastando uma lágrima. — Não chore. Não é
nada.
Ela balança a cabeça repetidamente.
— Não, é tudo, Briggs. É a coisa mais atenciosa que alguém
já fez por mim. Não sei o que fiz para te merecer, eu não sou digna
de você.
— Você merece o mundo e eu vou fazer tudo que puder para
dar ele a você, Maddison.
Se ela soubesse até onde eu iria pela felicidade delas. Eu
sou capaz de qualquer coisa por ela e Olive. Eu moveria a Terra se
fosse necessário.
— Obrigada, Briggs, por ser o homem mais maravilhoso do
mundo. Espero que saiba o que isso significa para mim.
Eu concordo com a cabeça. Para mim, é só mais um detalhe
para deixá-la feliz e confortável.
Mas ela estar aqui? Significa tudo para mim.
Capítulo Vinte e Sete
Maddison
— Meus braços parecem gelatina — eu gemo, me afundando
no sofá felpudo de Briggs, com os músculos doendo de tanto
carregar caixas. Okay, os caras fizeram a maior parte do trabalho,
mas estou seriamente fora de forma.
Eu deveria ter levado o retorno à academia mais a sério,
enfim #vidademãe. Acho melhor usar os meus minutos livres para
recuperar o sono ou tomar um banho de espuma do que me matar
em uma esteira. É um defeito que vou ter que viver com ele.
Parte de mim ainda tenta entender o fato de que estou
morando com Briggs agora. Desde que discutimos sobre isso, eu
tenho pensado muito, e logicamente... sim, faz sentido. Mas se é um
passo enorme em qualquer relacionamento, imagine em um que
carrega segredos.
Porém, deixando minhas preocupações de lado, é o melhor
para Olive, para Briggs e para mim, com o fim do meu contrato de
aluguel. Não havia a mínima chance de eu querer renová-lo e, com
a instabilidade atual do mercado imobiliário, definitivamente, foi a
atitude mais inteligente.
— Pelo menos tudo está aqui e nós já terminamos — Briggs
diz, puxando o meu pé cansado e dolorido para o seu colo, e
massageando o arco sensível.
— Oh Deus, isso é o paraíso — sussurro. Eu não tenho
energia nem para abrir os olhos agora.
Ponto para o papai do bebê.
Os nossos últimos dias foram... incríveis. Ao contrário do que
imaginei, e acho que o tempo está voando. Passo a noite acordada,
rolando na cama e tentando descobrir o que dizer para consertar a
bagunça que, com certeza, eu criei para nós.
— Acha que hoje seria uma boa noite para usar a banheira
de hidromassagem? — Briggs diz, levantando a sobrancelha.
Banheira de hidromassagem? Como perdi isso no grande
tour?
— Okay, passei totalmente despercebida quando você me
mostrou a casa. Acho que é porque caberiam três apartamentos do
tamanho do meu aqui. Vou precisar de um mapa.
Briggs solta uma risada baixa e rouca.
— Você se acostuma, linda. Vai ser ótimo pra você e Olive.
Você não terá que lidar com coisas quebrando o tempo todo, e não
temos vizinhos barulhentos. Sem mencionar que eu quero vocês
duas aqui. Estou muito feliz.
Este homem merece toda a felicidade.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu também estou feliz. Foi muito atencioso da sua parte,
decorar o quarto de Olive. Eu amei.
— Eu estava ansioso, com medo de você não gostar.
Podemos pintar ele juntos? Eu não quis considerar apenas rosa ou
lilás, porque ela é menina. Pode ser que ela goste de amarelo. —
Ele encolhe os ombros, de repente envergonhado, e eu subo no seu
colo.
Com uma coxa dolorida de cada lado do quadril dele, eu dou
um beijo macio e doce nos seus lábios, mostrando o quanto eu
aprecio o fato de ele sempre pensar em mim e Olive.
— Você é maravilhoso, Briggs — sussurro contra seus lábios,
inalando seu cheiro limpo e amadeirado.
Ele se afasta, mas seus olhos azul-claros se prendem nos
meus, procurando por algo que não consigo identificar, e o canto da
sua boca se levanta em um pequeno sorriso.
— Suba, coloque aquelas porcarias de menina no banho, e
relaxe. Depois de dar uma olhada em Olive, levo uma taça de vinho
pra você.
Balanço a cabeça.
— Briggs, não. Eu tenho muita coisa pra fa…
Ele coloca o dedo nos meus lábios, me puxa para ele e me
beija até eu perder o fôlego. Com a sua mão enorme, bate na minha
bunda e me faz rir.
— Vá. Não foi uma sugestão, linda.
Oh, então ele é o Alfa Briggs esta noite. O meu favorito.
Eu o beijo de novo e saio do seu colo antes que me bata
outra vez. Depois, sigo as suas instruções e faço o meu caminho até
a escada enorme que dá acesso ao quarto principal.
O espaço de Reed é exatamente como eu imaginei: limpo e
organizado. Em tons neutros quentes. No centro, há uma enorme
cama king-size feita de carvalho escuro, ladeada por criados
combinando.
Masculino e ao mesmo tempo confortável e convidativo, com
um toque de requinte.
Amei.
Corro os olhos pela cama. Lembrar que a dividiremos faz
renascer em mim uma excitação familiar.
Ela não é só de Briggs, é a nossa cama. É nela que
dormiremos todas as noites, com exceção daquelas que ele estiver
na estrada durante a temporada.
Balançando a cabeça, entro no cômodo depressa. Não posso
deixar meus nervos me dominarem e, eventualmente estragarem a
nossa primeira noite na casa.
O banheiro principal é elegante e luxuoso, assim como o
quarto. Toda a decoração é contemporânea, com um toque
masculino nas cores. Eu caminho até a banheira de hidromassagem
e quase gemo alto ao ver os jatos ao redor dela.
Esta pode ser a minha nova parte favorita da casa de Brig...
quer dizer, da nossa casa.
Minha outra parte favorita é a sala de cinema do no porão. É
equipada com enormes cadeiras confortáveis que parecem te
abraçar quando você afunda nelas, e uma tela de projeção que
ocupa toda a parede. Já estou sonhando com todos os programas
do Hallmark que vou assistir lá.
Eu olho na caixa das coisas de banheiro que trouxemos do
meu apartamento e não vejo nenhuma espuma de banho ou
sabonete que eu embalei.
Merda! Briggs deve ter guardado, mas não sei onde. Procuro
por todo armário e não encontro nada além de papel higiênico extra
e coisas de homens.
Fecho as gavetas e volto para o corredor. Estou prestes a
descer as escadas para procurar Briggs quando ouço um murmúrio
suave vindo do quarto de Olive. Calmamente, vou até lá e espio do
canto da porta.
Briggs carrega aquele pequeno corpo, sentado na cadeira de
balanço que comprou exclusivamente para ela. O ambiente está
escuro. A única luz vem das minúsculas bailarinas que são
projetadas no teto, e mal ilumina os dois. Ele a encara com muito
amor. Há tanta adoração no olhar dele, que falta ar nos meus
pulmões.
Não quero que ele saiba que estou aqui, testemunhando este
momento. É tão puro, tão perfeito que eu não quero atrapalhar. Eu
cubro a minha boca para abafar o soluço que ameaça sair dos meus
lábios.
Enquanto a balança, ele acaricia a bochecha dela com o
polegar, sempre a olhando nos olhos.
— Sabe o quanto o papai te ama, bonequinha Olive? Mais do
que você poderia imaginar. Eu faço qualquer coisa para te ver sorrir.
Qualquer coisa para te fazer feliz. Você sabe disso? Que em
qualquer situação, o papai sempre vai estar ao seu lado. Que eu
nunca vou te deixar, independentemente da idade que você tenha,
mesmo quando achar que o papai não é mais tão legal e não quiser
que eu lhe dê beijos de boa noite ou te carregue nas costas. Eu vou
te amar ainda mais.
Oh Deus, meu coração. Sinto a ardência das lágrimas
quando elas inundam os meus olhos. Observá-lo balançar a minha
filha, fazendo carinho no rosto dela com tanta ternura está
enfraquecendo os meus joelhos.
— E sabe o que mais, Olive? Um dia, eu vou casar com a
mamãe.
Respiro sob a palma da minha mão com as palavras dele.
— Eu sou louco por ela tanto quanto sou por você. Um dia,
quando tiver irmãos e irmãs para brincar com você, ainda será a
minha garota favorita. A minha eterna garota. Papai te ama mais do
que tudo.
Em algum momento durante a conversa, os olhos de Olive
fecharam e ela adormeceu nos braços do pai, completamente
acalentada pelo som da sua voz. Quando ele se levanta para
colocá-la no berço, enxugo as lágrimas e volto rapidamente para o
banheiro antes que ele descubra que o ouvi.
Eu ligo a água quente, adiciono um pouquinho da fria, me
dispo depressa e entro na água com cautela. Quando a banheira
enche, eu desligo a torneira e ligo os jatos.
Se eu não estivesse com nós no estômago, poderia até
aproveitar. Mas a cada respiração, parece que eles ficam mais
apertados.
Eu me sinto culpada, já passou da hora e postergar mais só
vai piorar tudo. Deito encostada na banheira, fecho os olhos e tento
respirar de forma calma e regular. Os jatos me acalmam e eu
adormeço.
— Linda — sussurra Briggs.
Abro os olhos lentamente, ergo a cabeça e o vejo parado
acima de mim.
— Oh Deus, eu dormi. Me desculpe.
Tento sair da água agora morna, mas ele coloca uma mão
firme no meu ombro.
— Fique.
Ele abaixa, exibindo os músculos do antebraço quando
desliga os jatos e deixa a água drenar. Depois liga a água quente
mais uma vez. Quando ele levanta o corpo e tira a camisa puxando
a gola pela nuca, fico com a boca seca.
Não importa quantas vezes tenha visto ou tocado nesse
corpo, eu jamais vou deixar de me admirar com a visão dele. É a
perfeição representada por uma barriga reta que termina em um V
estreito debaixo do cós da sua calça jeans. Eu o observo
desabotoar a calça, abrir o zíper e empurrá-la pelos quadris junto
com a cueca preta apertada. Logo que termina, entra na banheira
comigo.
Ela é enorme, projetada para mais de uma pessoa. Mas
mesmo estando um pouco constrangida, amo que sejamos apenas
nós dois.
Ele senta de frente para mim, com as costas apoiadas perto
da torneira. Me posiciona entre as suas pernas e massageia a sola
do meu pé, dando uma atenção maior ao arco dolorido, como hoje,
mais cedo.
— Você tá quieta hoje, aconteceu alguma coisa?
Eu concordo com a cabeça.
— Apenas cansada. Sobrecarga sensorial.
Sua mão permanece no meu pé. Eu balanço a cabeça com
entusiasmo e estreito os olhos de brincadeira.
— Se você parar…
Ele começa a esfregar novamente, rindo e eu afundo ainda
mais em seu toque.
— Eu tô muito feliz em ter você aqui, Madds. Me sinto
realmente em casa.
Nunca falha, Briggs sempre sabe exatamente o que dizer
para me fazer derreter e tornar massinha em suas mãos. Em vez de
responder, me levanto e sento no seu colo. Eu me inclino para perto
e meus mamilos roçam no peito dele quando o beijo docemente nos
lábios. Suas mãos acariciam a minha bunda, sobem pelas costas e
ele me pressiona ainda mais contra ele.
— Eu também — sussurro me afastando.
Neste momento, não quero falar. Não quero pensar no
segredo que pode nos separar. Não quero sentir a ansiedade no
meu estômago ao pensar em perdê-lo.
Era para ser uma aventura, um caso de fim de semana e
depois seguiríamos caminhos separados. Mas agora... é muito
mais.
Sei, sem sombra de dúvidas, que estou me apaixonando por
Briggs Wilson e não há nada que eu possa fazer para impedir isso.
Só quero me perder nos seus braços. Amanhã vai ser o dia
que vou contar para ele. Vou confessar tudo e rezar para ele não me
odiar e ficar comigo.
Meu beijo se torna mais intenso e mais desesperado. Ele
puxa os lábios dos meus e olha para mim.
Ele avança no meu mamilo e o afunda na sua boca. Eu
arqueio o meu corpo na direção dele e enfio a mão no seu cabelo. A
sensação de sua língua enquanto ele se esbanja com o bico eriçado
do meu mamilo é incrível.
— Briggs — gemo alto. Meus quadris se contorcem no colo
dele a cada puxão do meu mamilo. — Eu não posso esperar,
preciso de você — imploro.
Preciso dele dentro de mim, agora. Fico de joelhos e me
afundo na água, pressionando a cabeça do pau dele na minha
entrada. Coloco as minhas mãos no ombro dele enquanto as dele
pairam na minha cintura.
Me abaixo lentamente, centímetro por centímetro, até ele me
preencher completamente. Ele baixa a cabeça no meu peito e geme
quando atinge o ponto mais fundo dentro de mim.
— Porra, linda, você vai me matar.
Eu não respondo, apenas giro os meus quadris e passo a
montá-lo. Balanço em cima dele, lento e profundamente. A água da
banheira espirra para os lados quando afundo cada vez mais.
Gememos em sincronia.
As mãos de Briggs guiam o meu quadril para cima e para
baixo do seu pau. O ritmo é tortuosamente lento enquanto ele me
beija em todos os lugares que os seus lábios conseguem alcançar.
Meus mamilos, a parte inferior macia do meu peito e minha
clavícula. Uma trilha de fogo sobe pelo meu pescoço quando ele
mordisca a minha orelha.
Foram esses pequenos toques que me incendiaram.
O sexo lento, combinado à forma que meu clitóris roça o osso
púbico dele a cada movimento do meu quadril, me deixa o mais
tenso possível.
Sinto o orgasmo crescer dentro de mim. Cada vez mais.
Cega de prazer e nocauteada pelo fogo que vem do meu
interior, me movimento freneticamente. Estou desesperada para me
conectar com Briggs e sentir o seu gozo me marcando como sua.
Quando ele passa do nível da água e esfrega o polegar no
meu clitóris, enquanto puxa meu mamilo muito sensível, eu
explodo.
Jogo a cabeça para trás e grito. Aperto os meus olhos
enquanto fogos de artifício irrompem atrás de minhas pálpebras. O
meu corpo se contrai, vibrando de prazer e a energia do meu
orgasmo me traz leveza e euforia. Segundos depois, ouço o gemido
profundo e gutural de Briggs, antes dele empurrar e se deixar levar.
Seus quadris avançam lentamente enquanto ele goza.
Sêmen quente se espalha, cobre o meu interior e o meu prazer
aumenta ainda mais.
Assim que consigo enxergar o quarto novamente e minha
frequência cardíaca diminui, abro os olhos e encontro Briggs me
observando com um pequeno sorriso.
Ele também sentiu. Não foi só sexo.
Briggs e eu fizemos amor, e independentemente do que
acontecer amanhã, nunca esquecerei deste momento. Me inclino
para frente e deito a cabeça no ombro dele, ele passa os braços ao
meu redor e me segura firmemente. Ficamos abraçados assim até a
água escoar. Escuto o ritmo constante do seu coração, contando
cada batida e rezando para conseguir nos salvar antes que seja
tarde demais.
Capítulo Vinte e Oito
Briggs

Por fim, é Maddison quem consolida a minha decisão de


contar à minha família sobre Olive, juntamente com a culpa enorme
que me pesa no peito sempre que recebo uma mensagem ou um
telefonema da minha mãe.
Ela não é culpada pelo meu irmão destruir a nossa família,
nem por meu pai romper o último fio que mantinha unido qualquer
coisa que tenhamos sido. A minha mãe não é a vilã da nossa
história.
Liguei para ela ontem, perguntando se poderia passar por
aqui hoje, porque tinha algo muito importante para falar.
Especificamente, é a coisa mais importante da minha vida. Mas ela
ainda não sabe.
Estaciono a minha caminhonete na garagem e aperto o
volante enquanto olho para Maddison. Ela me estende a mão,
oferecendo conforto.
— Se você ainda não está pronto, podemos vir outro dia —
ela fala baixinho.
Balanço a cabeça.
— Não, a hora é essa. Já passou do tempo, mas minha
própria cautela impediu de fazer a coisa certa.
Eu não sou assim. Não mais.
— Eu preciso fazer isso. Não apenas por eles. Por mim. — E
por Olive.
Ela acena com a cabeça e aperta levemente a minha mão.
— Tudo bem, vai ser do jeito que você quiser, eu vou te
apoiar,
Depois de tirar Olive do carro, jogo a bolsa de fraldas no meu
ombro e aperto seu assento na minha mão com tanta força que
meus dedos ficam brancos.
— Vai dar tudo certo, Briggs — Maddison sussurra ao meu
lado e aperta a minha mão antes de se aproximar para apertar a
campainha.
Então … nós esperamos.
Esta casa está cheia de memórias. Passei minha infância
aqui, nesta mesma varanda, disparando caminhões escada abaixo e
atravessando a grade que ladeia a varanda. Logo à direita, está um
enorme carvalho que é mais velho do que todos nós juntos, foi lá
que consegui o meu primeiro braço quebrado. A lagoa que fica atrás
da casa foi onde peguei num taco e patinei pela primeira vez.
Foi aqui que me apaixonei pelo hóquei.
É a casa da minha infância, e agora as memórias estão
manchadas com a traição do meu irmão.
A porta abre e vejo a minha mãe parada do outro lado. Ela
tem um coque no cabelo loiro grisalho e usa blusa básica e jeans.
Está descalça, como sempre, e me lembra dos velhos tempos,
quando as coisas eram mais fáceis.
— Briggs, o que … — Ela pausa, e baixa o olhar para o bebê
conforto na minha mão, volta a olhar para mim, e depois para
Maddison.
— Oi mãe. Estas são Maddison... e Olive, a minha filha.
Mamãe segura um soluço. Cobre a boca com a mão para
cobrir o som, e lágrimas frescas inundam seus olhos.
— O que você quer dizer, sua filha… Briggs?
— Podemos entrar, mamãe?
Ela acena com a cabeça.
— Oh Deus, me desculpem. Eu estou em choque, entrem por
favor.
Eu não tinha a intenção de jogar a bomba nela antes de
entrar, mas não poderia simplesmente trazer um bebê para sua
casa sem uma explicação.
Assim que passo pela soleira da porta, percebo que há anos
não entro na casa dos meus pais. Claro que eu sabia desde quando
não entrava aqui, mas protegi o meu coração por tanto tempo que
não só agora senti o efeito completo.
Faz anos que vi o meu pai ou entrei na casa onde cresci.
Não esperava sentir... arrependimento. Mas eu senti.
Seguimos atrás da minha mãe que nos guia até a sala, que
continua exatamente como era três anos atrás. A mesma poltrona
velha de couro no canto, com o mesmo ponto desgastado e macio
onde meu pai senta até hoje.
Só que agora ela está vazia. E isso significa que ele
provavelmente saiu porque eu estava chegando.
Está tudo bem, Não vim aqui para tentar consertar nada com
meu pai. Estou aqui exclusivamente por causa da minha mãe.
Eu e Maddison sentamos juntos na namoradeira de frente
para a minha mãe, que parece estar quase desmaiando.
— Respire, mãe — falo baixinho.
Ela fixa o olhar em Olive que ainda dorme no seu assento.
Passamos boa parte da noite de ontem acordados por causa de
cólicas. Enquanto ela tira um cochilo que é muito necessário, nos dá
tempo para conversar.
Estendo a minha mão, entrelaço na de Maddison e respiro
fundo.
— Olive é sua neta. Maddison e eu estamos morando juntos
há pouco tempo, e... ela é a razão de eu estar aqui. Por causa dela
e de Olive.
— Briggs, como você pode esconder isso de nós? — diz
minha mãe, com uma expressão tensa e cheia de emoção. — Uma
filha? Por Deus, Briggs!
Ela levanta e começa a andar para frente e para trás diante
do sofá, passando a mão pelo cabelo.
— Só quero esclarecer que eu não devo satisfações a
ninguém. A vida é minha, e as escolhas que eu faço só dizem
respeito a mim, mãe.
Seus olhos disparam para os meus e eu vejo lágrimas
preenchê-los gradativamente.
— Olha, mãe, eu não escondi Olive para te ofender. Depois
do que passei com a mídia, depois de tudo que aconteceu com
Beau... eu sabia que precisava proteger minha filha e mantê-la perto
de mim. Tudo que me importa agora é proteger Olive e me certificar
que nada vai magoá-la. Como pai dela, é a minha obrigação.
Com essa declaração, Maddison aperta a minha mão e me
conforta. Nem sempre é fácil estabelecer limites. Eu amo minha
mãe, com todo o meu coração, mas minha filha sempre estará em
primeiro lugar. Tomar medidas para garantir sua segurança e
felicidade é o que importa agora.
— Quero que você faça parte da vida dela. É por isso... esse
é o motivo de eu estar aqui. Só preciso que entenda que … depois
de tudo o que aconteceu, precisamos definir algumas coisas.
Ela para de andar e olha para mim com mágoa estampada
nos olhos.
— Você acha que eu poderia… fazer alguma coisa para
magoar ela? A minha própria neta?
— Não, eu não acho. Mas pessoas também se magoam por
motivos não intencionais. Eu só quero esclarecer tudo e reconstruir
o nosso relacionamento, mãe. Quero poder confiar.
Ela balança a cabeça.
— Eu jamais faria algo para prejudicar ela.
Eu concordo com a cabeça.
— Eu sei.
Maddison pigarreia baixinho.
— Você gostaria… de pegar ela?
— Eu gostaria. Muito — a minha mãe responde. Ela caminha
até o bebê conforto e observa Olive, ainda dormindo. — Deus, ela é
tão pequena. É linda.
— É a mãe dela todinha — eu concordo.
— Vejo muito de você nela, Briggs. Ela tem o seu nariz.
Maddison se abaixa e tira Olive do assento, acariciando sua
bochecha. Ela abre os olhos, sonolenta, e observa com aqueles
grandes olhos verdes que definitivamente recebeu da sua mãe.
Quando está totalmente acordada, Maddison a coloca nos
braços da minha mãe.
— Oi Olive, eu sou a sua vovó, mas você pode me chamar de
Mimi. — Ela olha para mim e para a Maddison. — Tudo bem?
Maddison concorda.
— Sim. A minha avó é Nana.
Mamãe embala Olive e passa os dedos na sua barriga,
fazendo cócegas suavemente até ela rir.
— Obrigada a vocês dois, por trazerem ela pra me conhecer.
Eu quero participar da vida dela.
— E você pode, Mãe. Eu só… não estou pronto para fazer as
pazes com Beau e não quero me sentir pressionado. Se eu decidir
falar com ele, quero que seja nos meus termos e não por ser
forçado a isso.
— Eu entendo.
A porta da frente fecha com força e, segundos depois, meu
pai entra na sala. Ele envelheceu nos três anos que fiquei sem vê-
lo. Acho que nós dois.
Nos últimos três anos, eu mudei. Não sou mais o mesmo
homem que era quando passei por aquelas porta e porra … eu me
orgulho disso. Atravessei o inferno e tenho cicatrizes que podem
provar.
Lembro especificamente de uma noite que bebi quase meio
litro de uísque e fiquei completamente bêbado. Eu mal conseguia
ficar em pé e comecei uma briga em um bar.
Não me entenda mal, mesmo antes de iniciar eu já sabia que
não tinha a menor condição de terminar bem. E foi por isso que
comecei. Estava tão entorpecido com tudo, tão fechado para o
mundo que eu queria fazer qualquer coisa para… sentir. E começar
uma briga com um cara ainda maior do que eu e levar uma surra?
Bem, esse é o tipo de coisa que me faria sentir.
Fui preso naquela noite. Passei a noite inteira em uma cela
para ficar sóbrio. Mas foi quando a embriaguez passou que eu senti
de verdade. Algumas costelas estavam quebradas, eu deveria ter
levado pontos e havia a possibilidade de uma concussão.
Mas, sabe o que me mais me magoou? Não foi a sova que
eu levei. Foi a decepção que vi nos olhos do meu pai. Eu nunca me
esqueci. Ainda consigo senti-la.
Ainda consigo vê-la nos olhos dele.
Foi a gota d'água que fez o copo transbordar. Naquela noite
ele disse que estava cansado, que estava farto de me ver destruir a
minha vida e jogar fora "a única coisa boa que eu fiz", ou seja, a
minha carreira no hóquei.
Ele não estava errado.
Mas… apesar disso, testemunhou tudo o que passei e nunca
se afastou do lado de Beau. Ele o apoiou e me deixou juntar os
cacos da minha vida, sozinho.
Eu não sei se um dia vou conseguir perdoá-lo por isso, mas
estou aqui. Dei o primeiro passo.
— Pai — eu falo.
— Filho.
Ele olha para mamãe que ainda embala Olive em seus
braços, em seguida, volta a olhar para mim.
— O que está acontecendo?
— Estas são a minha filha, Olive e a minha namorada,
Maddison.
Eu tenho que admitir que o olhar dele é um misto de choque
e decepção.
Meu pai sempre foi estoico. Um homem de poucas palavras e
pouquíssimo afeto. Desde quando eu era pequeno, sempre me senti
em competição com meu irmão pelo amor dele, e honestamente …
é cansativo.
— Como foi que isso aconteceu? — diz ele, enfiando as
mãos nos bolsos da calça jeans. Ele está com uma camisa dos
Wolves, o time de basebol do meu irmão.
Sempre o seu maior fã. Isso nunca vai mudar.
— Isso realmente tem importância? Ela é a minha filha e eu
estou dando a vocês a oportunidade de fazer parte da vida dela, se
quiserem.
Meu pai fala em tom de escárnio.
— Você acha que pode simplesmente apagar tudo o que
aconteceu nos últimos três anos? A forma que envergonhou a nossa
família e toda a merda que fez?
— Jason! — a minha mãe sibila.
Levanto a mão.
— Não, deixe ele falar — digo a ela.
— Você nem sequer apareceu nesta casa desde aquele dia,
Briggs, não pode simplesmente voltar aqui e esperar que todos se
curvem aos seus pés. Com a filha ou não.
Ele diz isso de forma tão leviana, tão sem emoção, que me
dá vontade de socar a parede. Mas eu não vou. Porque, ao
contrário dele, eu mudei.
Sou um homem melhor e foi Olive que me fez assim.
— Eu não espero nada de você.
Ele balança a cabeça.
— Eu sabia que este momento ia chegar e, francamente,
você deveria ter vergonha de colocar sua mãe no meio disso.
Permito que ele continue, desabafe. Mas caminho até a
minha mãe, gentilmente tiro Olive dos braços dela e começo a
acomodá-la de volta no assento do carro. Para início de conversa,
eu gostaria de não ter vindo submeter Maddison ou Olive a esse
show de merda.
Ao me levantar, olho novamente para o meu pai.
— Sabe do que eu tenho vergonha? De você continuar sendo
a mesma pessoa depois de todo esse tempo. Sinto muito por você.
Com isso eu me viro, abro a porta da frente e desço as
escadas antes de dizer algo de que realmente possa me
arrepender.
Ficar longe desta casa nos últimos três anos foi a melhor
decisão que já tomei. Não apenas por mim, mas pelo homem que
quero ser. A verdade é que não precisava da validação do meu pai.
Inferno, eu não preciso nem quero a aprovação ou o amor dele. Eu
precisava de saber que sou um homem melhor do que antes e que,
depois de tudo isso, posso viver com a pessoa que me tornei.
Eu não posso dizer o mesmo a respeito dele, e o dia de hoje
foi o último prego em um caixão já lacrado.
O que posso dizer agora é que estou melhor sem ele.
Capítulo Vinte e Nove
Maddison
O amor é um sentimento não discriminatório.
Independentemente de você estar preparado ou não, ele
chega e te joga aos seus pés.
Eu deveria saber. Percebi neste momento, ao observar o
homem por quem estou perdidamente apaixonada ter o coração
partido pelo próprio pai, que faria qualquer coisa no mundo para
garantir que ele nunca mais se sentisse assim.
Talvez seja isso que me faz corajosa. Que me dá coragem
para fazer algo que nunca teria feito antes. Depois de testemunhar o
que aconteceu, fúria legítima corre nas minhas veias.
A meio caminho da porta, viro com os punhos cerrados nas
minhas laterais.
— Se alguém aqui deveria ter vergonha, esse alguém é
você.
O pai dele fica boquiaberto por um instante, mas fecha a
boca rapidamente e começa a falar. Acontece que eu ainda não
terminei e não estou nem perto disso.
— Você pelo menos conhece aquele homem que está lá
fora? — Eu aponto para a garagem com um dedo instável. Estou
tremendo tanto, que mal consigo evitar que os meus dentes batam.
A adrenalina tomou conta e alimenta a minha raiva. — Você
conhece seu próprio filho? Ou pensa que conhece o homem que ele
costumava ser? Você está tão cego pelo ódio ou pela mágoa que
guarda, que não consegue enxergar o filho incrível que tem. Ele é
bom, altruísta e compassivo. É o melhor pai do mundo e o melhor
homem que já conheci. Ele nos coloca em primeiro lugar em tudo o
que faz. Em qualquer decisão que precise tomar. Ele faz tudo ao
seu alcance para ser o melhor pai para aquela garotinha, e você
deveria se envergonhar por jogar o passado na cara dele. Sabe o
que as pessoas têm de melhor? A capacidade de mudar. Não
apenas elas mesmas, mas o futuro também.
Quando termino de falar e caminho em direção à porta, estou
ofegante.
— Espero que um dia você perceba o que está perdendo e
mude. Por que agora? Você não merece ele. Você não merece a
nossa filha. Você não merece o amor dele, mas não se preocupe,
Olive e eu o amamos o suficiente para compensar.
Eu giro nos calcanhares, saio da casa e bato a porta atrás de
mim. Quando chego à varanda, Briggs está parado no final da
escada com uma expressão que não consigo ler.
— V- você ouviu tudo aquilo? — Engulo em seco enquanto
desço as escadas, cautelosamente uma a uma.
Ele acena com a cabeça, depois me puxa em sua direção e
coloca os lábios nos meus.
Sinto a resposta na forma como as suas mãos deslizam do
meu queixo até o meu cabelo enquanto ele me beija de forma
profunda e reconfortante.
— Você me ama, hein? — sorri contra os meus lábios, com
os olhos brilhando de diversão.
Eu sinto o calor das minhas bochechas sob seu olhar, mas
dou de ombros.
— Um pouquinho. Eu acho.
Jogando a cabeça para trás, ele ri.
— Acho que te amo também, sabia? Só que já faz muito
tempo e eu estou feliz pra caralho por finalmente poder te falar. Eu
te amo, Maddison.
— Amo você, Briggs Wilson. Obrigado por escolher Olive e
eu.
— Eu sempre vou escolher vocês, linda. Você e Olive sempre
serão as minhas garotas.
Suas palavras penetram no meu coração, e eu quase o perco
em seu abraço. Nesse mesmo instante, quase me quebro e conto
tudo o que eu tenho ocultado. Mas não posso falar algo assim,
depois do que acabou de acontecer com os seus pais. Não depois
de ser tão difícil para ele, ser tratado dessa forma pelo pai.
— Vamos pra casa.
— Pensei que você nunca ia chamar.

Depois de chegarmos em casa e Olive estar dormindo de


banho tomado, encontro Briggs na nossa cama, sem camisa com o
laptop. Ele olha atentamente para a tela, com a testa franzida.
Uma imagem muito boa de ver. Seu cabelo ainda está úmido
por causa do banho, e quando ele olha para cima e me vê entrar no
quarto, seus olhos azuis parecem brilhar.
— Vem aqui.
Eu me arrasto na cama ao lado dele, entro debaixo do
cobertor grosso, e me aninho ao seu lado. Ele passa o braço no
meu ombro e pressiona os lábios no topo da minha cabeça, em um
beijo doce.
— Sinto muito por você ter que ouvir aquilo hoje — diz ele
contra o meu cabelo.
Chegando para trás, eu olho para ele e balanço a cabeça.
— Não se atreva a pedir desculpas por ele.
— Honestamente, isso ter acontecido... me deu uma
sensação de encerramento. As coisas entre nós sempre pareciam
inacabadas, e agora eu sei qual é a sua opinião. E está tudo bem.
Se isso me ensinou alguma coisa, Mads, é que a família é quem a
gente escolhe. Não é só quem vem do mesmo sangue.
Enquanto ele fala, seu polegar percorre distraidamente a
carne do meu braço, e eu apenas ouço.
— Fiquei muito feliz por você estar lá. Ele se aproxima do
criado e apaga o abajur. — Durma um pouco, linda. Porque amanhã
… eu vou levar você e Olive para algum lugar pelo fim de semana.
Uma escapada surpresa, com uma babá incluída.
Isso me faz sentar ereta.
Meus olhos ainda se ajustam à escuridão, mas levanto uma
sobrancelha.
— Uma surpresa? Uma babá?
Ele concorda com a cabeça.
— Isso. Agora vá dormir.
— Você não pode simplesmente falar sobre uma surpresa e
depois ficar todo alfa me mandando ir dormir.
Briggs ri, me puxando suavemente de novo para seus braços
e me aconchegando ao seu lado.
— Tanto posso quanto fiz. Vá dormir. Você precisará de toda
a sua energia para o que eu planejei.
Humm. Olho para a babá eletrônica e vejo que todas as luzes
estão corretamente acesas, sinalizando que está ligada,
funcionando durante a noite.
Quando começo a adormecer, decido que neste fim de
semana, quando estivermos fora e Olive não estiver conosco, vou
contar para ele quem eu sou. Sei que, incerta do quanto ele vai se
magoar, não existe um momento correto para falar. Mas, pelo
menos, estaremos sozinhos quando a verdade vier à tona.
Na manhã seguinte, o brilho do sol, rosa e alaranjado, que
passa entre as cortinas abertas no nosso quarto me acorda.
Consciente de ter dormido a noite inteira, me levanto da cama.
Esfrego os meus olhos sonolentos, olho para o lugar de
Briggs e não o vejo. Quando estendo a mão, sinto que os lençóis
macios estão frios.
Certo, eu obviamente estava muito mais cansada do que
imaginava, o que é basicamente a minha vida todos os dias agora.
Tão exausta que adormeci em questão de minutos. Pouco me
lembro da hora de dormir. Apenas que Briggs me abraçou contra o
seu corpo.
Jogo os pés para o lado da cama e sigo pelo corredor para o
quarto de Olive. Vazio. A compreensão me atinge. Briggs deve ter
cuidado dela ontem à noite para me deixar dormir.
Para alguém cuja linguagem do amor é afirmação e sono…
ele acerta em cheio. Toda vez.
O cheiro de bacon me alcança, e o meu estômago ronca alto.
Quando chego ao térreo, encontro Olive e Briggs na cozinha. Ele a
colocou em seu assento Bumbo rosa brilhante e a alimenta com o
que parece ser... banana? Não tenho certeza, já que parece que a
roupa está comendo mais do que ela.
Ele tem um pano de prato pendurado no ombro, música toca
no rádio e no fogão há bacon e ovos.
Nenhum homem deveria fazer a multitarefa parecer tão fácil.
— Bom dia, linda. — Ele sorri e leva outro avião barulhento
na forma de colher de banana, em direção a Olive. Ela balbucia tão
feliz que meu coração se contorce sentindo um amor avassalador.
Não consigo acreditar que ela é a nossa garota.
— Bom dia. — Eu me aproximo, fico na ponta dos pés, dou
um beijo carinhoso nele e em Olive.
Isso mesmo, banana.
— Está me julgando agora? — ele diz, com a sobrancelha
levantada.
Não consigo impedir os meus lábios de abrirem um sorriso.
— Não exatamente. Eu só não pude deixar de observar que a
nossa doce Olive parece vestir mais banana do que realmente
colocou na boca. Que tal eu assumir pra você poder se concentrar
no bacon?
— Ou que tal você fazer a sua mala e a de Olive para alguns
dias? Eu e minha garotinha estamos com tudo sob total controle.
Enquanto ele fala, Olive cospe o pedaço de banana que
acabou receber, rindo e balbuciando.
— Okay, está tudo bem, posso limpar isso. Você, lá pra cima.
Arrume a sua bagagem. — Ele bate na minha bunda, brincando. —
Quando você terminar, pode tomar o café da manhã e já vamos.
Sua surpresa, lembra?
Eu concordo com a cabeça.
— Como se eu pudesse esquecer. Tudo bem. Já volto.
Deixo Briggs e a sua bagunça na cozinha, subo as escadas e
rapidamente faço uma mala para Olive e para mim. Você nunca
sabe quanta coisa tem até ser obrigada a fazer as malas para
“alguns dias”.
Não sei para onde iremos e me certifico de levar várias
roupas para cada uma. Logo depois, desço as escadas e entro na
cozinha. Desta vez Olive está praticamente limpa. Enquanto Briggs
prepara o café da manhã com uma das mãos, ele a carrega no outro
braço.
— Bem na hora — diz ele, notando minha presença. Pego
Olive, dou outro beijo carinhoso nela e depois a coloco no tapete
para tomarmos o café da manhã.
Briggs coloca os nossos pratos na mesa e enche copos com
suco de laranja para cada um de nós enquanto eu observo.
Puxando meu lábio entre os dentes, reprimo um sorriso.
— O que foi? — ele pergunta.
Encolho os ombros.
— Isso é bom. Tomar café da manhã junto, morar junto.
E é mesmo. Dividir um espaço com Briggs é ainda melhor do
que eu imaginei e, mesmo que tenham se passado apenas alguns
dias, sei que quero isso a longo prazo.
Briggs se junta a mim na mesa e, depois de um café da
manhã rápido, nos preparamos para sair. A mochila preta dele já
está na porta dos fundos. Enquanto ele leva as coisas minhas e de
Olive até lá, eu troco a roupa dela e a preparo para a viagem.
— Agora você pode me dizer? — Pergunto, virando para ele
com a minha melhor expressão de olhos de cachorrinho.
Ele balança a cabeça em um não consistente.
— Coloca essa bunda gostosa dentro do carro.
Tudo bem. Ugh. Esse homem não vai ceder.
Depois que acomodo Olive no seu assento, subo no banco
do passageiro ao lado de Briggs e ele nos conduz para a rodovia.
Presto atenção nas placas de sinalização tentando descobrir alguma
pista do nosso destino. Levo uns vinte minutos para perceber que
estamos deixando Chicago para trás, mas não na direção do
aeroporto.
— Estamos indo para Brickside? Ver a Nana? — Pergunto
com entusiasmo.
Um sorriso se espalha nos lábios dele.
— Eu queria voltar com você para onde tudo começou. E sua
avó pode ter me persuadido fortemente a ir passar o fim de semana,
para ficar um pouco com Olive. Percebi que era uma chance para
você vê-la e para passarmos algum tempo juntos. Eu me lembro
especificamente do quanto você amava quando eu…
Eu me inclino e pressiono meus dedos nos seus lábios para
silenciá-lo, enquanto minhas bochechas ficam vermelhas de
vergonha.
A boca desse homem, vou te dizer, é uma tentação.
Chegamos à pousada logo depois da hora do almoço.
Quando paramos na longa e sinuosa entrada que vai para o meu
lugar favorito, Nana nos encontra do lado de fora, usando seu
avental característico e o maior sorriso no rosto.
Estou tão feliz que poderia chorar. Passaram meses desde
que pude vir aqui visitá-la.
No segundo que meus pés tocam o chão, Nana já está ao
meu lado.
— Minha garota querida! Senti tantas saudades. — Ela me
puxa para um abraço apertado e caloroso que me faz sentir em
casa.
Em meu lar.
Algo que tenho pensado muito ultimamente. Ainda mais
agora que Olive e eu moramos com Briggs.
— Oi Nana. Sentimos muito a sua falta.
Ela me segura por mais um momento, depois vira para Briggs
e o abraça também, me aquecendo por dentro ainda mais.
— Olá — ela diz.
Briggs circula seus grandes braços em volta dela, segurando-
a contra ele.
— Oi Nana.
Lembro de ontem à noite, quando Briggs e eu conversamos
sobre família ser quem você escolhe, e percebo que espero...
espero que depois desta viagem e de tudo o que acontecer lá, ele
ainda me escolha.
Capítulo Trinta
Briggs
A primeira coisa que fizemos depois que Nana insistiu em
nos alimentar, foi cair no lago. O tempo estava perfeito, diferente da
primeira vez que estivemos aqui e, honestamente… qualquer
chance que eu tiver de ver a minha garota naquele minúsculo
biquíni rosa choque, eu vou aproveitar.
Ela e Olive combinam trajes de banho, e eu nunca tinha
pensado nisso até ver as duas em biquínis florais rosa. Foi aí que eu
percebi que é encantador pra caralho. O tutu fofinho e cheio de
babados de Olive é a coisa mais linda que já vi.
Não há dúvida, eu sou o pai de uma garota e uso esse título
com orgulho.
O laço de Olive combina com o biquíni. O tempo todo que ela
está na praia, de bruços em cima do seu cobertor, fica com ele na
boca e deixa a sua mãe preocupada.
— Bonequinha Olive, isso é pra usar. Não pra comer. — Ela
ri. Porra, adoro esse som. Mais ainda quando ela está de biquíni.
Menos, Briggs. Jesus.
Passamos a maior parte da tarde debaixo de um guarda-sol
grande, exceto nos poucos minutos que Maddison sai para nadar.
Ao voltar, a parte superior dos ombros está tingida de rosa e
combina com suas bochechas.
— Você pegou um pouco de sol, linda. Quer entrar? Acho
que sua avó vai passar a noite com Olive. Estava pensando em
fazermos um passeio de barco só nós dois, o que acha?
Os olhos de Maddison se iluminam com a menção do barco.
Minha garota adora o lago e o barco ainda mais. Minha mente volta
para a primeira vez que nos encontramos. Eu quero mais do que
tudo, que Maddison olhe para trás, para aqueles dias e pense neles
com nada além de carinho.
Foi por isso quis voltar aqui nesse fim de semana, para fugir
da cidade. Depois do que aconteceu na casa dos meus pais, eu quis
ver as minhas meninas felizes. Eu precisava disso.
Sabia que era o lugar perfeito para isso acontecer.
Um lugar onde Maddison chama de lar e, qualquer lugar onde
ela esteja... bem, é onde eu quero estar. Ela e Olive são o meu lar.
— Eu adoraria sair de barco. Esse é o dia mais lindo de
todos. Posso levar ela pra Nana e depois tomar um banho rápido?
Concordo com a cabeça, e paro ao lado de Olive sob a
sombra do guarda-sol, depois me aproximo e puxo Maddison.
Minhas mãos deslizam pela pele quente e beijada pelo sol de suas
costas, pressionando-a firmemente contra mim.
— Tenho planos para a cama daquele barco. Eu sorrio.
Ela levanta a sobrancelha.
— Tem? Bem… então é melhor eu tomar um banho logo.
Seus olhos brilham de alegria.
Quase gemo alto quando ela volta para Olive, balançando os
quadris e tremendo aquela bunda gostosa a cada passo. Ela sabe
exatamente o que está fazendo.
Arrumamos nossas bolsas e voltamos para a pousada.
Enquanto Maddison vai preparar Olive e encontrar Nana para a
festa do pijama (que ela insistiu para Maddison e eu passarmos
algum tempo sozinhos), tomo um banho rápido e tiro toda a areia.
Então, visto um short cáqui e uma camisa polo.
Amo minha garotinha Olive mais do que tudo, mas também
adoro ficar sozinho com a mãe dela. Mal posso esperar para tê-la só
para mim por uma noite inteira.
Maddison entra na sala alguns minutos depois, e sorri ao me
ver mexendo no telefone.
— Oi, bonitão. Vou tomar um banho rápido. Sinto como se
tivesse areia… em todo lugar. — Ela franze o nariz. — Em todos os
orifícios.
Eu rio, balançando a cabeça.
— Provavelmente vai ser uma perda de tempo, já que vou
sujar você…
Revirando os olhos, ela me dá um beijo rápido na boca e
desaparece no banheiro. Em seguida, ouço o barulho da torneira
abrindo.
Um som de alerta vem do meu telefone. Volto o meu olhar
para a tela e vejo a notificação de um e-mail. Outro dia no rinque, o
treinador disse que precisaria de nós em um evento próximo, e que
Samantha – a relações públicas – nos enviaria um e-mail com todos
os detalhes.
Quando abro a minha caixa de entrada e vejo uma
mensagem dela, clico para abrir e minha tela fica preta.
Porra, é claro que meu telefone descarrega bem quando vou
verificá-la. Ontem à noite eu dormi antes de colocá-lo para carregar.
Usar o GPS para ir ao lago hoje deve ter usado toda a carga
restante. Droga.
— Linda, vou usar seu telefone rapidinho para responder ao
e-mail de Samantha — eu falo com Maddison acima do barulho do
chuveiro.
— Tudo bem.
Pego o celular de Maddison que está no criado. A senha dela
é a coisa mais fácil de lembrar (o aniversário de Olive), então digito
rapidamente e o desbloqueio. Tudo parece estar separado por
cores. Encontro rapidamente a pasta rosa de “e-mails” e a abro.
Antes que eu possa sair da conta dela e preencher os meus
dados de login, o que vejo me interrompe.
Para o meu coração no meu peito fodido.
Dezenas… não, talvez centenas de e-mails endereçados à
Maria Patins.
Que porra é essa?
Certamente estou lendo errado. Não tem como Maddison
ser… A Maria Patins.
Minha mente imediatamente volta para a última vez que li
algo do blog Declarações de uma Maria Patins e percebo que já se
passaram meses. Com Olive e tudo que está acontecendo com
Maddison, eu honestamente não tinha pensado no fato de ela não
ter se manifestado. Presumi ser porque eu não estava dando
motivos para falar e porque não era época de temporada, mas...
será que é porque ela é Maddison?
O timing… não.
Sem chance, porra; eu me recuso a acreditar.
Porém, agora que que vi isso, minha mente volta a reproduzir
todos os cenários e conectar coisas que talvez nem estejam lá.
Maddison está estudando jornalismo, essa é a carreira que
ela quer ter. É realmente tão absurdo pensar que ela poderia ser A
Maria Patins?
Isso significaria que ela mentiu. Que desde o primeiro dia que
me encontrou, sabia quem eu era. Ela estava escrevendo sobre
mim durante... anos. Que. Porra. É. Essa?
Abro um dos e-mails com o assunto “DICA”. É uma
mensagem de alguém que envia uma denúncia anônima sobre um
centro dos Bears.
Porra. Porra. Porra.
Engulo em seco, tentando processar tudo o que estou lendo,
mas com o coração batendo forte nas costelas e a pulsação soando
nos ouvidos, não consigo me concentrar.
— Briggs? — A voz de Maddison me assusta. Ela está
parada na minha frente, com o cabelo ainda pingando do chuveiro.
Enrolada em uma toalha branca, ela me encara com os olhos
arregalados.
— Me diga que isso é alguma piada de mau gosto,
Maddison.
Ela dispara em minha direção e eu me levanto abruptamente,
erguendo a mão para impedi-la.
Eu não posso.
Não depois de ler isso. Não depois do que acho que acabei
de descobrir.
— Fala pra mim, Maddison. Porra, me diz agora mesmo que
você não é... A Maria Patins. Fala por favor.
Preciso ouvir da boca dela… que o que estou vendo não é
verdade.
Apertando os olhos, ela seca uma lágrima.
— Eu não posso te dizer isso. Não vou dizer porque não vou
mentir para você, Briggs.
Sinto como se o chão abrisse embaixo de mim, se
preparando para me engolir inteiro. Eu pensei que conhecia a dor,
pensei que sabia o que era um desgosto real e verdadeiro. Achei
que sabia o quanto a marca que a traição deixava na nossa carne
era profunda. Até agora.
Agora percebo que estava redondamente enganado.
Meus dedos cortam as palmas das minhas mãos enquanto os
aperto. Balanço a cabeça para tentar clareá-la, mas não adianta. A
raiva se infiltra dentro de mim.
— Isso é maravilhoso, considerando que você mente pra mim
desde o dia que eu te conheci. Depois de tudo… como? Como você
pôde fazer isso, Maddison? Porra, como você conseguiu deitar ao
meu lado à noite e esconder essa merda de mim? Essa é você de
verdade? A garota que tenta prejudicar a todos apenas para o seu
benefício. Sinto como se o meu coração estivesse partido dentro do
meu peito. — ironizo. — Pelo menos essa porra era real? Nós? Ou
eu era apenas um meio de conseguir informações, dados
privilegiados sobre a NHL? Caralho, você quase acabou com o
casamento de Liam e Juliet. Você cavou ainda mais o fundo do poço
pra mim.
Meu coração está apertado. Sentimentos que pensei não
precisar tolerar novamente tomam conta da minha cabeça. Mágoa.
Traição
Ela dá um passo para frente e estende a mão para mim, mas
me afasto para trás, mantendo o espaço entre nós.
Com isso ela parece entender que eu estou farto. Ela cobre a
boca e lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto.
— Não, oh Deus, não, claro que isso foi real. Briggs, por
favor, apenas me escute. Eu… eu tentei te contar tantas vezes. Eu
simplesmente não queria te machucar, não queria que isso
acontecesse. Não desse jeito. Planejei te contar nesse fim de
semana — ela implora, ainda tentando se aproximar, mas eu
continuo recuando.
Não posso ficar perto dela. Não agora, da forma que estou
magoado. Do quanto estou furioso. Ela finalmente parece entender
que é da verdade que eu preciso. Então senta na cama, segurando
a toalha em volta do corpo, com os olhos vermelhos e inchados
pelas lágrimas já derramadas.
— Eu não imaginava te ver de novo, não depois daquela
noite. Quando descobri que estava grávida, independentemente da
minha profissão, sabia que precisava entrar em contato com você. E
depois de tudo o que aconteceu com Conrad… eu não esperava ter
notícias suas novamente. Não depois da papelada, da carta e de
você ter renunciado aos seus direitos. Então, eu esbarrei em você.
— Ela engole em seco e me encara com os olhos verdes, quando
fala: — E… no começo eu percebi que, como era apenas
coparentalidade, trazer isso à tona só reabriria velhas feridas e eu
não queria causar confusão. Eu não queria falar pra ninguém,
Briggs. Foi por isso que omiti por tanto tempo. Declarações de Uma
Maria Patins era pra ser um blog anônimo, uma incógnita eterna.
Mas então as coisas começaram a mudar. Briggs, nunca esperei me
apaixonar por você, eu tentei tanto… assim que começamos a
namorar, tive consciência que deveria te contar. Eu planejei falar pra
você, Deus, eu quis tantas vezes. Simplesmente não consegui, sem
saber o quanto isso iria te machucar. Dizia a mim mesma que nunca
era o momento certo, eu estava apavorada. — Ela faz uma pausa e
respira fundo, seu peito sobe e desce enquanto tenta se acalmar. —
Eu estava com muito medo de você me odiar, ir embora, e nunca
mais me perdoar.
Cada palavra que ela diz é como um corte mais profundo no
meu coração. A mulher que amo mais do que tudo me traiu, assim
como todas as outras pessoas que já amei.
— Qual é o momento certo para magoar a pessoa que você
ama? Nenhum, Briggs. Mesmo consciente da necessidade, em
nenhum momento me senti bem em fazer isso. Briggs, assim que
você voltou para nossas vidas, parei de falar sobre a sua vida
pessoal. Não falei sobre a vida pessoal de ninguém, na verdade.
Eu ironizo.
— Ah, então isso torna tudo melhor? Anula o fato de você ter
passado os três últimos anos expondo cada merda que eu fiz?
Porra, não consigo nem imaginar uma coisa dessas.
Deslizo a mão pelo rosto, sem acreditar no que está
acontecendo. Nunca passou pela minha cabeça. A porra da Maria
Patins?
— Era trabalho, Briggs. Nunca tive a intenção de machucar
você, nem ninguém de nenhuma maneira. Só divulguei as notícias,
assim como qualquer outro meio de comunicação. Como você acha
que paguei a faculdade? Sustentei a mim e a Olive, sozinha durante
a minha gravidez? Era com ele que eu contava.
Volto a olhar para ela.
—Você não tem ideia do que eu passei, Maddison. Perdi
patrocínios, quase fiquei sem a minha carreira no hóquei, me afastei
da minha família. E cada pequena parte disso estava publicada na
sua página para visualização. Durante o ponto mais baixo da minha
vida, você focou em mim e fez tudo piorar.
— Briggs — ela começa.
— Não. Não dou conta de ficar aqui neste momento. Eu não
consigo. — Eu conheço o que estou sentindo, preciso colocar
espaço entre mim e Madison. — Só pra esclarecer. Não importa o
que aconteça entre nós… eu jamais vou abandonar a minha filha.
Vou sair daqui agora porque, honestamente, não consigo nem olhar
para você. Mas não vou deixar Olive.
Mesmo morrendo de raiva, ver Maddison chorar acaba
comigo. Testemunhar suas lágrimas me causa dor física, mas eu
não aguento ficar aqui nem mais um segundo.
Eu nem sei para onde ir, mas tenho que sair desse lugar
agora, antes de falar alguma coisa que não possa retirar.
— Eu só quero te dizer que sinto muito e que
independentemente do que aconteça, amo você. Mesmo você
estando com raiva de mim... eu nunca quis te machucar, Briggs. Se
soubesse que te machucaria dessa forma, jamais teria publicado.
Por favor, me perdoe. Eu sinto muito, eu… eu. — Ela gagueja e eu
preciso de todas as minhas forças para não desmoronar junto com
ela.
Emoção bloqueia a minha garganta enquanto tento respirar
fundo, mas meu peito parece estar aberto.
— Se fosse verdade, você nunca teria deixado durar tanto
tempo. Você me humilhou, me traiu, e se desculpar não é suficiente.
Eu não consigo.
O seu choro aumenta quando eu falo, e o meu coração parte
um pouco mais.
Abro a porta e saio, me forçando a não olhar para trás.

Me encontro na mesma doca que sentei com Maddison, há


pouco mais de um ano. O sol se põe atrás das nuvens e a sombra
projeta no lago. Há uma quietude ao meu redor, um sossego que eu
não presenciava há muito tempo. Estou realmente sozinho com
meus pensamentos.
Estou tentando processar o que eu descobri, mas só a
lembrança me causa náuseas. Maddison é a Maria Patins, e não
importa o quanto seja difícil, eu preciso aceitar.
Porra, ela poderia muito bem ter arrancado o coração do meu
peito.
Isso significa que quando eu pensar na blogueira anônima
que fez da minha vida um inferno nos últimos três anos, terei que
pensar em Maddison. A mulher que eu amo, com cada partícula do
meu ser. A mãe da minha filha. A mulher que me mudou em mais
aspectos do que posso dizer.
Ela me ensinou a ter paciência. Ela ajudou a me transformar
em um homem de quem eu possa orgulhar. Um que não age com
raiva, que pondera bastante antes de tomar decisões. Ela e Olive.
Elas me mudaram.
E eu já sabia disso. No instante que vi Olive, soube que a
minha vida nunca mais seria a mesma, e ela não está sendo. Ela
está incrível pra caralho.
Ter uma família. Ter duas garotas que são o centro do meu
universo. Saber que no final do dia, mesmo quando tudo der errado,
posso voltar para casa e para elas.
Por que ela tinha que mentir? Por que não pode
simplesmente me contar? Se ela tivesse me falado, tudo seria
diferente.
Eu não me sentiria como se mal a conhecesse, ou como se
tudo até agora fosse uma mentira. Será que eu conheço a
verdadeira Maddison?
Parte de mim quer acreditar que sim, que a conheço melhor
do que ninguém, por dentro e por fora. Mas agora estou duvidando
de tudo.
De nós. Do nosso relacionamento. Tudo que foi tocado por
ela, agora parece manchado por sua traição.
Sentado aqui na mesma doca onde, sem saber, comecei a
me apaixonar por Maddison, meu coração despedaça e eu não sei
como juntá-lo novamente.
Não sei o que vai acontecer. Sei que preciso colocar espaço
entre mim e tudo que me lembra Maddison. Tenho que pensar
nessa merda com a cabeça limpa, sem que cada coisinha que me
cerca seja parte dela.
Fico muito tempo na doca, e o sol se põe. O crepúsculo se
estabelece ao redor do lago e minha bunda adormece de tanto ficar
sentado. Eu me levanto, enfio as mãos nos bolsos e volto para
Brickside. Mesmo com o estômago em nós, subo as escadas e volto
para a nossa suíte.
Ao abrir a porta, encontro Maddison dormindo enrolada no
lado dela da cama. Mesmo sob o pálido luar, consigo ver os olhos
dela vermelhos e inchados. Isso quer dizer que ela deve ter chorado
muito depois que eu saí.
Eu odeio isso, odeio que tenha chegado a esse ponto. Por
causa do segredo que ela escondeu de mim, não poder mais confiar
nela.
Precisar me afastar dela para clarear a cabeça.
Tomando cuidado para não acordá-la, encontro minha
mochila e uso o bloco de notas e a caneta com o logotipo da
Brickside.
Escrevo um bilhete rapidamente e dou uma última olhada
nela. Saio e a fecho a porta atrás de mim.
Desta vez quem vai embora sou eu e, da mesma forma que
aconteceu quando Maddison me deixou um ano atrás com apenas
um bilhete, dói.
Desta vez quem vai embora sou eu, mas não importa o que
aconteça, nunca vou deixar a minha filha para trás.
Capítulo Trinta e Um
Briggs
— Isso parece assustadoramente familiar — diz Reed.
Olho para ele, estreitando os olhos.
— O que você quer dizer com familiar?
Ele encolhe os ombros e toma outro gole da sua cerveja.
— Quero dizer que tenho quase certeza que fiz essa mesma
merda quando Holland e eu passamos por tudo. Tenho plena
certeza que não tomei banho por uma semana e sobrevivi com
sobras de burritos e cerveja.
Eu resmungo em resposta.
Faz três dias que estou acampado no quarto de hóspedes de
Reed, chafurdando na minha miséria. Três longos, miseráveis e
angustiantes dias passei sem ver Olive... nem Maddison.
No entanto, penso nas duas durante todo o tempo que estou
acordado. Ainda estou tão magoado e furioso que toda vez que
fecho os olhos, só consigo sentir dor.
Holland se compadeceu e enfiou um pop-tart por baixo da
porta. Evan até me deu seu polvo de pelúcia, e quase me fez
chorar.
Estou num verdadeiro caos.
E tudo isso só serviu para desenterrar o passado. Trouxe à
tona todo o sofrimento, me levando a pensar mais um pouco, e
permitir que ele me consuma mais uma vez.
Meu irmão. Conrad.
Duas pessoas em quem eu tinha plena confiança,
literalmente em cada aspecto da minha vida, que me traíram. E
então penso em como cheguei longe nos últimos três anos e como,
apesar de ser um homem melhor, ainda sinto muita raiva por me
encontrar em uma situação como essa novamente.
Enganado por alguém que amo.
Traído pela pessoa que confiei.
Parei de guardar rancor de Beau há muito tempo. Acabei
aceitando que, por causa de suas mentiras e da sua traição, nunca
mais teríamos um relacionamento. Em primeiro lugar, porque eu não
tinha mais vontade, e em segundo lugar, porque nunca mais poderia
confiar nele.
Mas recentemente? Tem sido mais fácil pensar em perdoá-lo
pela merda que fez porque, no final das contas, ele me fez um favor.
Ele me ajudou – mesmo que de uma forma horrível – a perceber
que nunca amei a minha ex de verdade. Nem de longe. Ela nunca
foi a pessoa certa para mim e nos enganamos ao acreditar que o
que tínhamos era real.
Tudo o que Beau fez foi me acordar e me forçar a perceber
que eu não era feliz. Eu só estava… sobrevivendo ao invés de viver
de verdade.
Foi preciso um infortúnio para eu perceber o quanto a vida é
muito mais do que festejar e perder meu tempo com alguém que
nunca foi feito para mim.
Ele me conduziu até Maddison e Olive.
E, bem, Conrad… Ele é apenas um idiota. Me livrar dele foi a
melhor coisa que já fiz. Alguém com moral e padrões tão baixos não
poderia permanecer na minha equipe, e mesmo que eu ainda queira
quebrar o pau dele pelo que ele fez, estou feliz que o que aconteceu
no escuro apareceu na luz.
Mesmo assim, quero que ele se foda.
Eu não consigo ficar mais nenhum dia longe de Olive.
Amanhã de manhã Maddison e eu nos encontraremos para que eu
possa vê-la. Fui para a casa de Reed para nos dar o espaço que
precisávamos, embora ela tenha escolhido ficar com Ty e Kyle.
A verdade é que não conseguia me imaginar voltando para
uma casa vazia, onde cada canto me lembrava das minhas garotas.
Minhas garotas.
Olive sempre será minha garota, aconteça o que acontecer.
Ela é o motivo de eu acordar todas as manhãs e respirar. É por ela
que eu pretendo ser um homem melhor. Espero que se orgulhe de
mim, quero ser o tipo de pai que apoia e torce por sua filha em tudo
o que ela decida fazer. O tipo de pai que está ao seu lado, não
importa o que aconteça.
Eu quero ser melhor, melhor para ela.
— Porra, eu simplesmente odeio esse homem — eu digo. —
Me sinto... vazio.
Reed concorda.
— Eu sei. Parece que o seu coração está vivendo fora do
peito, não é?
É verdade, e eu odeio isso. Odeio sentir falta delas, odeio
ficar longe delas. Não parece certo.
Apesar da mágoa e da raiva, eu odeio ainda estar tão
apaixonado por ela que não consigo ver direito.
Meu coração e a minha mente estão em guerra e eu não sei
quem está ganhando.
— Acho que você só precisa se perguntar se quer viver sem
ela. O que aconteceu é algo que você não consegue superar ou
perdoar? Sua vida vai ser melhor sem ela? Olha, não estou
justificando o que ela fez, não estou. Mas Briggs, você pode se
colocar no lugar dela por um segundo e imaginar a sua atitude
diante da situação?
Cerrando o queixo, olho pela janela enquanto reflito sobre
suas palavras. Mesmo com raiva, não consigo imaginar a minha
vida sem Maddison. Não com ela enraizada em meu coração, em
um lugar completamente fora de alcance.
— Foi ela que me fez sentir, pela primeira vez, que lar não
era um lugar, e sim uma pessoa — digo a ele. — Mas Reed, estou
com muita raiva. Ela só tinha que me contar. Admitir, ser sincera e,
eu entenderia... ela não escreveu sobre mim desde que descobriu
quem eu era, e agradeço por isso, mas como vou conseguir seguir
em frente? Como posso esquecer o que aconteceu? Como posso
fingir que a minha confiança não está abalada? — Eu digo,
apertando o maxilar a cada palavra.
Ele respira profundamente, e vira ainda mais em minha
direção.
— Você sabe o que eu fiz Briggs … menti para Emery,
pensando que a coisa certa era não contar a ela sobre mim e
Holland. Tentei protegê-la da verdade porque pensamos que ela ia
ficar magoada. Não é muito diferente do que Maddison fez.
Ele está se referindo à maneira como ele e Holland agiram no
início do relacionamento. A irmã dele, Emery, é a melhor amiga de
Holland há muito tempo. Ela descobriu que Holland e Reed
mantinham o relacionamento em segredo há meses.
Levanto uma sobrancelha e começo a falar, mas ele me
interrompe.
— Escute, eu pensava que era o correto a fazer. Porra, cara,
eu acreditava do fundo do meu coração que escondendo a verdade,
eu protegeria Emery e Holland, cada uma à sua maneira.
Francamente, estraguei tudo por não ser honesto desde o início,
mas eu só percebi quando tudo explodiu na minha cara. Por pouco
eu não perdi a minha garota e quase estraguei o relacionamento
com minha irmã, que é minha melhor amiga. Só digo que entendo o
fato de ela pensar que, ao não contar pra você, pouparia seus
sentimentos. Ela não queria te magoar, trazer à tona um passado
que abriria velhas feridas. Não concordo, nem afirmo que é o que
ela deveria ter feito. Apenas falo que depois de passar por uma
situação desagradável pra caralho, às vezes você faz o que acha
que é certo naquele momento, mesmo que no fim das contas, não
seja.
Depois disso, ficamos em silêncio por alguns momentos,
cada um pensando no que acabou de dizer.
Reed é meu melhor amigo, mas é como se fosse um irmão,
tem a minha total confiança. Ele nunca pôs a sua lealdade à prova e
comprovou a sua amizade em várias ocasiões. Neste momento,
preciso dos seus conselhos e os valorizo mais do que tudo.
Especialmente porque o meu coração quase não está
batendo nos últimos dias.
— Não pense que estou inventando desculpas porque não
estou. Quando isso aconteceu com Emery, Holland e eu, tivemos
que assumir nossas merdas, não apenas um para o outro, para
Emery também. Acho que você deveria pensar no motivo de ela ter
feito o que fez. Ela tinha a intenção de te proteger, e não te magoar.
Suas palavras caem como uma descarga elétrica na minha
cabeça.
Porra, ele está certo.
Meus pensamentos voltam para meu irmão. Beau me
enganou de propósito, tendo um caso com minha noiva. Ele não se
importou com as consequências, mesmo sabendo que me
magoaria. Eu fiquei tão desorientado que comparei Maddison com
Beau.
Beau fez uma escolha consciente e eu fui um dano colateral.
Maddison se tornou a Maria Patins muito antes de me conhecer e,
embora tenha me magoado, foi sem saber quem eu era. Ela teve
medo de reabrir aquelas feridas ainda sangrentas que o passado
havia deixado para trás.
— Essa é uma decisão que só você pode tomar. Precisa
parar e pensar sobre tudo, imaginar a vida sem ela. E se isso for o
que deseja… então, que assim seja. Porém, se você não se imagina
acordando sem ela ao seu lado, já sabe a resposta. Pense no
porquê e não no como. Talvez você deva dar a ela uma chance …
de se explicar melhor. De qualquer forma, vou contigo até o fim,
irmão, você sabe disso. Tudo o que Holland e eu queremos é que
você seja feliz.
Pelo resto da noite, só consigo pensar na minha conversa
com Reed. Penso em meu irmão, Conrad, Olive e Maddison.
Penso em quem eu sou e no que o futuro me reserva.
No que isso significa para mim.
Meu coração e minha mente estão em uma luta constante, e
apenas um vai sair vitorioso.

Ontem à noite, virei e revirei na cama do quarto de hóspedes


de Reed até que finalmente, por volta das quatro da manhã, percebi
que não conseguiria dormir. Não com a minha cabeça fodida desse
jeito.
Não quando não dava para interromper o fluxo dos meus
pensamentos ou impedir as coisas de acontecerem repetidamente.
Corri duas vezes pelos arredores da casa de Reed. Tomei
café e esperei até as oito, quando deveria ir para casa encontrar
Maddison e Olive. Optamos pela casa porque as coisas da Olive
estão lá, e porque é o ambiente dela. O relógio parecia andar em
um ritmo torturantemente lento. Cada minuto passava mais devagar
do que o anterior. Finalmente, entrei na minha caminhonete e dirigi a
curta distância, com o estômago embrulhando por todo o trajeto.
Eu odeio isso.
Quando destranco a porta da frente e entro, Maddison e Olive
já estão lá. Ouço Olive balbuciar no saguão.
Apenas o som deixa o meu estômago em nós. Sinto falta da
sua risada e da conversa de bebê, apesar de terem passados
apenas alguns dias.
Quando passo pela entrada, Maddison está no sofá com
Olive no colo, enquanto ela brinca com o seu ursinho de pelúcia.
O urso que ganhou de Graham no dia que ela nasceu e não
desgruda dele desde então.
Maddison parece estar sentido da mesma forma que eu. Com
o cabelo loiro puxado para trás, sem maquiagem e com círculos
roxos ao redor dos olhos, ela parece completamente exausta. Ao
notar que entrei na sala, seus olhos se erguem encontram os meus
e se enchem de lágrimas imediatamente.
Porra, isso vai ser mais difícil do que eu imaginei. Essa visão
faz o meu peito doer, e eu quero muito estender a minha mão e
esfregar e a dor que está se formando.
— Oi — ela fala baixinho.
— Oi.
Ela levanta do sofá e, nervosa, solta um pigarro.
— Vou passar uns dias na casa de Tyler e Kyle, então vou
arrumar algumas coisas enquanto você e Olive brincam.
Suas palavras perfuram meu coração, intensificando a dor.
Sim, isso é uma tortura do caralho.
— Sabe que você e Olive não precisam ir a lugar nenhum,
Maddison. Esta casa é de vocês — digo, mantendo minhas poucas
palavras. Não confio em mim mesmo para dizer mais nada. Não
com essa emoção na garganta e a necessidade de puxá-la para os
meus braços e dizer para o mundo se foder.
Eu me aproximo, pego Olive e a aperto forte contra o meu
peito, inalando o seu cheirinho de bebê. Senti muita falta e não
quero me afastar dela nunca mais.
Saber que vou ter que sair por aquela porta sem ela... deixa
tudo muito pior.
— Briggs… — Maddison diz, piscando para afastar as
lágrimas — eu sinto minto muito. Eu só preciso que você saiba o
quanto estou arrependida.
— Obrigado. — Eu digo, voltando a olhar para Olive. Faço
carinho na bochecha e dou um beijo nela, enquanto Maddison sobe
as escadas. Me obrigo a não olhar para ela e em vez disso, foco a
minha atenção em Olive. Eu preciso da minha garotinha, ainda mais
do que imaginei. Com ela em meus braços, tenho esperança.
Depois de tudo, não consigo falar com Maddison. Não agora, não
quando estou tão confuso, irritado e magoado pra caralho.
Brinco com Olive por alguns minutos até Maddison descer as
escadas com uma mala na mão, e outras coisas de bebê, como o
assento Bumbo e o cercadinho.
— Eu vou ficar na casa de Reed, você e Olive não precisam
ir a lugar nenhum — eu começo a dizer mais uma vez, mas ela
balança a cabeça, coloca as coisas no chão da escada e enxuga as
lágrimas que molham as suas bochechas.
— Eu não posso, Briggs. Não consigo ficar aqui, sabendo
que as coisas entre nós estão assim. Esta é a sua casa, e embora
eu saiba que você faria qualquer coisa por Olive, eu só… eu não me
sinto bem em ficar aqui quando tudo aconteceu por minha culpa. Eu
não mereço sua generosidade. Eu não mereço a sua gentileza. —
Sua voz é baixa, pouco mais do que um sussurro. Está tão
carregada de emoção que quase me destrói. — Sinto muito pelo
que fiz, queria poder voltar atrás para fazer tudo certo. Lamento ter
te magoado e não ter sido honesta antes. Eu só... sinto muito,
Briggs.
Eu me aproximo com Olive ainda em meus braços,
balbuciando baixinho.
— Você é a mãe da minha filha. Não sei o que vai acontecer
entre nós agora nem enquanto eu ainda estiver com raiva. Sei que
sempre serei amigável com você, pelo bem da nossa garotinha. Eu
não quero que pense que tem que ir embora. Aqui sempre será a
sua casa.
— Eu não mereço isso e acho que preciso te dar espaço.
Para… pensar em tudo o que aconteceu. Só quero que saiba que
vou consertar isso. Assumo total responsabilidade e farei o que for
preciso.
Suas lágrimas escorrem livremente pelo rosto já úmido. Ela
olha para o teto, tentando recuperar a compostura, e esfrega os
olhos já vermelhos e inchados.
— Eu sinto muito.
Vê-la chorar me machuca. Ainda mais porque sou parte do
motivo das suas lágrimas. Sim, ela fez algo que me magoou pra
caralho. Mas, ainda assim, não quero vê-la machucada em troca.
Esta não é uma competição sobre quem é capaz de ferir
mais. Eu não sou essa pessoa, nem ela.
— Por favor, me ligue para combinarmos algo com Olive.
Briggs… eu- eu espero que saiba que nunca faria nada para magoar
você. Sinto muito por ter causado toda essa confusão. Faria
qualquer coisa para reconquistar sua confiança.
Suas palavras deveriam aliviar a sensação de chumbo em
meu estômago, mas só fazem pesar mais. O pensamento de que
isso poderia ser uma realidade… percebo neste momento o quanto
odeio isso. O quanto eu não quero isso
Só não sei se meu coração está disposto a deixá-la entrar
novamente, não depois de tudo.
Capítulo Trinta e Dois
Maddison
Uma semana depois.
Já se passaram nove dias. Nove dias seguindo a rotina.
Cuidando de Olive, dando a ela todo o meu amor possível,
comendo, tomando banho, dormindo. Mecanicamente.
Parece que falta um pedaço de mim e o resto… adormeceu.
Só sinto a dor no coração que insiste em mostrar que está
presente. A parte que me falta faz doer.
Eu odeio isso. Odeio ter magoado Briggs e odeio que o meu
próprio medo tenha me feito agir de forma egoísta e esconder dele.
Se eu fosse honesta, talvez tudo fosse diferente. Pode ser que não.
Talvez ele ainda me odiasse pelo que fiz. Não foi apenas por medo
de ele não me perdoar que não contei a verdade. Também porque
depois de tudo que passou e do quanto a mídia o prejudicou, eu não
queria magoá-lo mais do que ele tinha sido magoado.
Eu não quis trazer o passado à tona e fazer dele um lembrete
constante na sua vida, depois de ele ter feito tudo para mudar.
Em contrapartida, eu estraguei tudo.
Magoei o amor da minha vida. Dei a entender que ele não me
conhecia porque eu não fui sincera.
Tudo o que posso fazer agora é dar a ele o espaço que pediu
e esperar que me perdoe, apesar de tudo.
Arrasto a escova pelo meu cabelo, seguindo com os
movimentos para me arrumar, apaticamente. Esta é a primeira vez
que saio da casa de Ty desde que tudo aconteceu, mas hoje
Holland me ligou e perguntou se eu gostaria de jantar com ela e
Emery.
Eu tentei dizer não, de verdade. Não estou com vontade de
ficar perto de ninguém, quero tomar um pote de sorvete e chorar.
Mas ela insistiu e absolutamente não aceitaria um não como
resposta.
Assim que Ty soube disso, praticamente me forçou a aceitar.
Ele acha que preciso de interação social e que me afundar na pena
não vai me fazer sentir melhor.
Ele tem razão, mas mesmo assim.
É por isso que estou aqui, tentando domar meu cabelo e ter
uma aparência meio decente para sair em público. Hoje mais cedo,
Briggs buscou Olive para passar o dia com ele. Então estou aqui
sozinha e isso é uma merda.
Chorei todas as lágrimas possíveis, e agora tenho que fingir e
agir como se tudo estivesse bem.
Depois de pentear o meu cabelo, pego um vestido preto t-
shirt da minha mala e o visto com o meu converse favorito rosa-
choque. Eu me olho no espelho e noto que em uma semana, perdi
peso suficiente para ele ficar muito mais folgado do que da última
vez que usei.
Lembro que há apenas um mês eu estava morrendo de
vontade de emagrecer, e agora... sinto como se minhas bochechas
tivessem sido sugadas. Perder peso por causa de um coração
partido não é a melhor opção. Acredite em mim. E então cada vez
que me lembro de estar com o coração partido e com dor... me sinto
culpada.
Me sinto ainda pior por ser a razão de tudo que está
acontecendo. E se eu estou sofrendo, imagino o quanto Briggs deve
estar. Estar magoada pode parecer egoísmo da minha parte, já que
fui eu quem provocou tudo isso, mas não consigo controlar
o meu coração. Sinto falta dele, da nossa família, e da forma que
sorri quando me provoca. Sinto falta do jeito que ele prepara o café
da manhã, vestindo apenas um moletom largo caído nos quadris,
que me faz querer arrastá-lo de volta para o quarto, a cada vez que
o vejo.
Deus, pior ainda é testemunhar os encontros adoráveis dele
com Olive, depois de alguns dias. Vejo em seus olhos o quanto ele
sente a falta dela e o meu ódio pela situação fica maior.
Odeio tudo isso e, embora ainda não saiba como, tenho
certeza que farei o que for preciso para consertar.
A campainha toca sinalizando a chegada de alguém, e
percebo que isso terá que servir. Apesar de não me sentir como eu
mesma, tenho que agir como a adulta que sou e encarar meus
amigos.
Pego a bolsa na mesa da sala e me certifico de trancar a
porta depois de sair. Caminho até o elevador e, ao descer, sinto um
desconforto no estômago pela incerteza de como vai ser o dia de
hoje. Eu sei que Holland e Emery são minhas amigas…, mas
também são amigas de Briggs. A esposa e a irmã de Reed.
Eles devem saber o que está acontecendo. Quem eu sou
realmente.
Agora, mais do que nunca, odeio que o Declarações de Uma
Maria Patins tenha se transformado em algo de que não me orgulho.
Eu ficava feliz e me sentia envaidecida por saber que uma criação
minha agradava às pessoas e fazia sucesso. Elas curtiam as
minhas postagens e se inscreviam para ter mais acesso. Parecia
que o meu sonho de menina tinha se tornado realidade. Eu
segurava o meu microfone falso na frente de uma sala cheia de
hóspedes de Brickside e reportava falsas notícias. Nunca me
esqueci daquele sentimento, daquela euforia por estar lá. Agora,
depois de todos esses anos, sentia como se, finalmente, meus
sonhos estivessem se desenrolando diante dos meus olhos, até
perceber o buraco negro para o onde fui sugada por causa das
minhas ações.
Reconheço agora que, apesar de informar o que acreditava
ser verdade, as pessoas se magoavam. Mesmo que não fosse essa
a intenção, agora cabe a mim resolver. Eu tenho a responsabilidade
de me desculpar com cada uma das pessoas que machuquei.
Poderia chorar o dia todo e compadecer de mim mesma, mas no
final... a culpada e a única que pode mudar as coisas sou eu.
Mesmo que eu perca Briggs de forma irrecuperável.
Abro o portão de saída e vejo Holland e Emery paradas na
calçada.
— Oi, querida! — Holland sorri, me puxando para um abraço
apertado. — Como você está?
Ela se afasta e me olha com simpatia.
Dou de ombros e sorrio levemente.
— Sobrevivendo. Você soube de tudo?
Holland encolhe os ombros se desculpando.
— Você conhece o meu marido, né? Sem falar que o pai da
sua filha está dormindo no meu quarto de hóspedes e ronca como
um trem de carga.
Olho para Emery, que me abraça gentilmente.
— Oi, amor.
— Oi.
Holland passa o braço pelo meu.
— Vem, vamos fazer um brunch e beber alguma coisa. Sei
que você deve estar precisando.
Juntas, caminhamos a curta distância entre o apartamento de
Ty e o restaurante. Uma vantagem de morar no centro.
Chegamos ao pequeno bar e churrascaria e esperamos para
nos sentar.
Quando chegamos à mesa, Holland pede mimosas e um
aperitivo para todas e fala:
— Deixe conosco, querida. Você precisa tirar isso do peito.
Emery concorda:
— Sim, Mads, nós somos suas amigas, é para isso que
estamos aqui.
Apesar de confiar nelas e querer me abrir, depois de tudo que
aconteceu, parte de mim ainda tem medo de ser sincera sobre
quem eu sou. De dizer em voz alta e admitir para alguém que não
seja Tyler ou Briggs.
Respiro fundo e tento me acalmar antes de ficar muito
emotiva.
— Obrigada, por virem me arrastar para fora de casa,
meninas. Eu precisava de um pouco de ar fresco.
Holland assente com a cabeça.
— Sempre. Mesmo que você não queira falar sobre o
assunto, saiba que estamos aqui e te apoiaremos,
independentemente do que acontecer.
Não consigo segurar as lágrimas que brotam dos meus olhos.
Baixo a cabeça nas minhas mãos e suspiro.
— Deus, acabei estragando tudo — digo baixinho. — E não
sei como consertar. Não sei se consigo consertar. Só sei que
preciso.
— Acho que não importa o que tenha acontecido, Briggs ama
você. É óbvio que, sem a menor dúvida, ele está completamente
apaixonado por você. E, mesmo que um dos dois cometa um erro, o
amor não acaba — Holland diz. Acredite em mim, eu descobri por
experiência própria.
— Eu omiti uma informação de Briggs — digo, olhando entre
as duas. — Primeiramente, acho que preciso ser honesta. Não ter
sido sincera desde o início foi o que causou isso em primeiro lugar.
Eu tenho um blog esportivo — bem, acho que não mais — chamado
Declarações de uma Maria Patins. Não sei se vocês já ouviram falar
dele… Eu paro.
Holland arregala os olhos e o queixo de Emery cai.
— Puta merda, o que? — Holland grita: — Você é a Maria
Patins!? Pai do céu!
— Oh meu Deus, adoro ler suas postagens! Garota, você é
hilária! — exclama Emery. — Quer dizer, eu sei que alguns deles
foram um pouco reveladores quando se tratava de Briggs. Oh
merda, espere, foi isso que aconteceu, não foi?
Aceno com a cabeça e me viro para Holland.
— Holland, só quero pedir desculpas… se alguma coisa que
relatei magoou você ou Reed de alguma forma. Eu realmente nunca
tive a intenção de machucar ninguém e assumo total
responsabilidade.
Holland assente, me oferecendo um pequeno sorriso.
— Nada a perdoar, querida.
— Eu não contei a ele no início, bem, porque realmente achei
que não deveria. Quer dizer, nós mal nos conhecíamos. O fim de
semana turbulento que passamos juntos, acabou nos trazendo
Olive. Depois ele assistiu ao nascimento dela, mas... decidimos
manter o relacionamento apenas como coparentalidade. Achei que
não deveria contar a ele. Seria um assunto difícil e o nosso
relacionamento era muito recente. Mas em algum momento ao
longo do caminho, as coisas mudaram. Eu me apaixonei por ele
sem perceber e então pareceu ser tarde demais pra contar. Fiquei
me perguntando quando seria a hora certa. Qual é o momento certo
para fazer algo que você sabe que vai machucar a pessoa que você
ama? E depois que ele me disse o quanto a mídia o machucou,
fiquei doente só de pensar em contar a ele, reabrir aquelas velhas
feridas e causar mais dor. Mas eu decidi falar. — Faço uma pausa
para tentar recuperar o fôlego, com lágrimas escorrendo livremente
pelo meu rosto. Holland estende a mão e pega a minha, apertando-
a me tranquilizar. — Eu continuava a dizer a mim mesma que
esperaria o momento. Mas nunca encontrei o momento certo. Meu
Deus, Holland, eu tinha tanto medo de machucá-lo e tanto medo
dele me abandonar quando contasse, que continuei adiando.
Estávamos deitados na cama e eu quase falei, mas ele disse que
passaríamos o fim de semana fora. Então pensei que seria o
momento perfeito. Olha como eu estava errada. Ele acabou
descobrindo e tudo explodiu antes que eu pudesse impedir.
Agora estou chorando baixinho, incapaz de conter a mágoa e
a dor que borbulham dentro de mim, ameaçando transbordar.
Emery se levanta e me puxa para os seus braços,
agachando-se ao lado da minha cadeira.
— Ei, todas nós cometemos erros, Maddison. Eu te ouço. Eu
ouço tudo o que você está dizendo, mas sabe o que vejo? Eu vejo o
quanto você o ama. Se eu consigo enxergar, sei que ele também
pode. Querida, tem que lutar por ele. Você complicou tudo, claro,
mas isso não significa que acabou para sempre.
— Exatamente — acrescenta Holland —, quando Reed e eu
passamos por um momento difícil… eu lutei por ele. Porque deixei
que algo insignificante quase nos separasse, e eu estaria perdida
sem ele. Você vai lutar, Maddison, vai mostrar que o que importa é o
seu amor por ele. Não é o passado nem os erros que foram
cometidos.
Tento conter o choro, enxugando o nariz com o guardanapo
de linho que está sobre a mesa, mas o conselho delas parece me
fazer chorar ainda mais.
— Eu sinto muito por tudo isso.
— Maddison, já te dissemos. Somos amigas e é por isso que
estamos aqui. Para te apoiar quando estiver deprimida. Todo mundo
comete erros — diz Holland.
Eu concordo com a cabeça.
Quero, mais do que tudo, mostrar a Briggs que o amo e,
embora tenha errado ao não ser sincera, não tive a intenção de
enganá-lo. Eu só tive medo de perdê-lo, mas essa foi uma maneira
errada de demonstrar o meu amor. Uma maneira que veio de um
lugar de afeto, de sentimento genuíno que faria qualquer coisa para
não machucar quem você ama. Mas eu deixei minhas inseguranças
interferirem.
O garçom decide trazer nossas mimosas para a mesa nessa
hora. Quando vê que estou chorando e tenho ranho escorrendo por
toda parte, arregala os olhos e para.
— Hum … eu deveria voltar ou? — ele pergunta de forma
nervosa.
— Deixe as mimosas, senhor, e recue lentamente — diz
Emery, me fazendo rir, apesar das lágrimas ainda estarem frescas
no meu rosto.
Tomo um gole da mistura de suco de laranja e champanhe e
me recosto na cadeira.
— Faz algum tempo que não escrevo nada para o
Declarações de Uma Maria Patins. A última vez que sentei para
tentar… eu simplesmente não consegui. Não depois de saber que
isso havia machucado Briggs. Tenho pensado muito nos últimos
dias, sobre qual será o futuro do blog. Sabe, só fiz isso porque
quero ser jornalista, adoro hóquei e, e o dinheiro era ótimo. Eu
precisava pagar os estudos e depois que descobri que estava
grávida, precisei mais do que nunca. Mas acho que sei o que quero
fazer. Mas vou precisar de uma ajudinha.
Um grande sorriso se espalha nos lábios de Holland.
— Você está nos dizendo que precisa de ajuda para
reconquistar seu homem?
Concordo com a cabeça, mordendo o lábio.
— Acho que sim. Não sei se vai dar certo ou se ele vai me
perdoar, mas preciso tentar. Como você disse, tenho que lutar por
ele, pela nossa família. Eu o amo e quero consertar isso mais do
que qualquer coisa.
Emery sorri e seus olhos brilham enquanto ela se inclina para
frente e coloca o queixo nas mãos, ansiosamente.
— Agora você falou de uma coisa que sou boa. Vamos fazer
isso.
Capítulo Trinta e Três
Briggs
Recostado no sofá, solto o ar que segurei, aparentemente,
durante toda a leitura da postagem. Já corro os olhos pela tela mais
uma vez, com a intenção de reler.
Meu nome é Maddison Thorne e sou a voz por trás do
blog Declarações de Uma Maria Patins. Nos últimos três anos,
fiz reportagens sobre tudo que se relacionava ao hóquei.
Estatísticas e escândalos.
Quero contar um pouco da história de fundo e explicar
por que, depois de todo esse tempo, não serei mais anônima.
Quando comecei o blog, a minha intenção era falar sobre
hóquei e permanecer fiel a quem eu sou. Sincera, empática e
gentil. Em algum lugar ao longo do caminho, perdi o meu
objetivo de vista.
Eu relatei coisas que, embora ainda envolvessem hóquei,
inadvertidamente machucaram as pessoas. E essa não sou eu.
Embora apenas tenha relatado a verdade e fatos concretos, não
percebi que magoava pessoas. Reconheço que, apesar de a
maioria dos meios de comunicação ser intrusiva, apenas
dificultei a vida das pessoas de quem falei.
Eu passei a não suportar mais as manchetes que um dia
me causaram orgulho.
Gostaria de pensar que o tempo me fez mudar e, por
isso, deixei de reportar escândalos e me concentrei mais nas
estatísticas, até parar completamente.
É
Essa postagem é sobre responsabilidade. É sobre admitir
meus erros e tentar corrigi-los. Tomar uma atitude em vez de
apenas escrever, como deveria ter feito muito antes.
Honestamente, este post é para você, leitor.
É o que você merece.
Essa publicação é para te informar que, de agora em
diante, relatarei apenas as coisas positivas, encorajadoras e
significativas que acontecem na comunidade do hóquei. Além
disso, estou trabalhando com algumas pessoas que me alegro
em chamar de amigas. Mesmo depois de tudo que aconteceu
podemos tornar o estigma ao redor das redes sociais...
diferente. Melhor.
A partir deste momento, assumo a responsabilidade e
peço desculpas por qualquer dano que tenha causado.
Eu sinto muito. Ninguém consegue mudar o passado;
podemos apenas evoluir através dos erros que nós
cometemos. Eu e várias outras pessoas, trabalharemos na
comunidade esportiva de Chicago com o objetivo de espalhar
positividade e oferecer orientação aos jovens jogadores que
passam por dificuldades. Apoiar e incentivar é a nossa
prioridade.
Encerro esta mensagem com um pedido público de
desculpas a uma pessoa mais do que merecedora. Briggs
Wilson.
Não apenas pela necessidade de informar para o mundo
que estou perdidamente apaixonada por ele, mas também
porque foi ele quem mais magoei com as minhas reportagens.
Quero que o mundo inteiro testemunhe que ele é o merecedor
desse pedido de desculpas. Saiba como eu sinto
profundamente.
Ele é o treinador de um incrível time de hóquei juvenil
que acaba de ganhar o seu primeiro campeonato. Pra cima
Mighty Pucks! Ele dedicou inúmeras horas a essas crianças
maravilhosas a quem ele inspira, e que o admiram. Confira na
próxima página o vídeo de alguns dos seus jogadores
explicando um pouco do que aprenderam com ele neste ano.
Ele não apenas treinou hóquei juvenil. Também se
voluntariou para inúmeras atividades filantrópicas e doou todo
o seu salário para uma instituição de caridade que apoia
vítimas de violência contra a mulher.
Não cito tudo isso para me gabar. Só quero mostrar que,
no lugar das notícias que publiquei, era sobre isso que eu
deveria falar. Estou eternamente arrependida.
Briggs é gentil, compassivo, altruísta e o homem mais
incrível que já conheci. Eu espero que se ele estiver lendo,
encontre em seu coração a capacidade de me perdoar por não
ter sido honesta antes. Mas, mesmo que isso não aconteça,
você merece toda a verdade. A história deste homem que eu
não contei.
Com tudo que foi falado, me sinto bem em ser honesta.
Na próxima semana, apresentarei alguns jogadores que
foram muito solidários com a nossa comunidade, e espero que
participe da minha live com o capitão favorito de Chicago, Reed
Davidson, que vai falar sobre os efeitos das redes sociais nos
pontos de vista profissional e pessoal.
Torço para que me ajude de agora em diante. Esteja
presente para os caras favoritos de Chicago e colabore para
transformar o mundo das notícias mais positivo, uma
reportagem de cada vez.
Sinceramente,
Maria Patins. BEIJOS
Puta merda.
Não posso acreditar que ela mostrou ao mundo quem é. Eu
não esperava por isso e jamais pediria a ela para revelar a sua
identidade, independentemente do custo.
Ela está mudando tudo sobre o Declarações de Uma Maria
Patins?
Minha mente está girando, tentando desesperadamente me
agarrar a alguma coisa depois da chicotada da última semana e
meia.
Passei por muitas emoções diferentes: mágoa, raiva, a
sensação de ser traído de novo … questionei não apenas Maddison,
também a mim e às minhas escolhas.
Querendo saber como diabos acabamos aqui, e em seguida,
ela apenas fala... ela assume a responsabilidade e declara para o
mundo inteiro quem ela é.
A campainha toca assim que fecho o laptop e o coloco na
mesa de centro. Voltei para casa há apenas alguns dias. De tanto
ouvir Reed e Holland a noite toda, eu estava pronto para bater
minha cabeça na parede, mas… a casa é deles.
Ao abrir a porta, me surpreendo ao ver Maddison parada do
outro lado. Hoje ela está com o cabelo cacheado solto, e a única
maquiagem que usa é o gloss nos lábios carnudos. Não consigo
deixar de observar esses detalhes nela. Ela usa uma blusa rosa que
cai de forma modesta na altura dos seios e revela um decote que
tento desesperadamente não notar, combinada com jeans escuros e
sandálias.
Arrasto meus olhos de volta para os dela e digo:
— Oi.
— Oi. — Um pequeno sorriso surge em seus lábios. — Eh,
podemos conversar por um minuto?
Faço que sim com a cabeça, abrindo mais a porta para ela
entrar.
— Onde está Olive? — eu pergunto.
— Ty e Kyle estão com ela em um programa de tios. Achei
que deveríamos conversar a sós e eles queriam ir ao parque com
ela.
Lado a lado, andamos até o sofá e nos sentamos. Mais do
que nunca, gostaria que as coisas fossem diferentes, para poder
envolvê-la em meus braços.
— Vi o seu post — digo antes que ela possa dizer alguma
coisa.
Sua garganta movimenta ao engolir e, como sempre
acontece quando está nervosa, ela cutuca o esmalte das unhas.
— Eu tinha esperança que você visse.
Eu concordo com a cabeça.
— Reed me enviou esta manhã.
— Briggs… não sei por onde começar. Acho que nada que eu
disser vai ser apropriado, mas preciso falar de qualquer maneira. —
Ela respira fundo, olhando para suas mãos antes de seus olhos
encontrarem os meus novamente. — Eu não queria me apaixonar
por você. Foi um acidente e, mesmo me dizendo que isso não
poderia ocorrer, acabou acontecendo. Eu não tive escolha.
Honestamente, o meu coração já era seu muito antes de eu
perceber. No começo eu não ia te contar. Qual era o objetivo?
Decidimos que não haveria relacionamento romântico, era apenas
coparentalidade. Então, eu não queria trazer o passado à tona.
Naquele ponto, dei um passo para trás em relação ao blog porque
eu era uma mãe recente, e não queria desestabilizar a nossa
relação.
Ela pausa para enxugar uma lágrima antes de continuar:
— Então, a próxima coisa que percebi foi que estava se
tornando uma bola de neve, e eu sabia que precisava te contar.
Assim que decidimos levar o nosso relacionamento adiante, tive
certeza que seria honesta com você, mas fiquei com medo. Inventei
desculpas sobre o momento certo, as interrupções e a
prematuridade da nossa relação porque estava com medo te de
perder, e parte de mim não queria nem mesmo admitir. O fato é que
eu fui uma covarde. — Observo o movimento da sua garganta, e ela
fala novamente. — Eu deveria ter confiado no seu coração, mas tive
tanto medo de te perder que adiei contar. Pensei que haveria um
momento perfeito, que descobriria como fazer doer menos e no
final, só te machuquei mais e, sinto muito por isso. Eu te amo,
Briggs, eu te amo muito, e a ideia de magoar você faz meu
estômago revirar. Achei que me odiaria e nunca seria capaz de me
perdoar.
— Maddison, eu jamais odiaria você — falo baixinho,
apertando a minha mandíbula. Só de pensar nela acreditando nisso
me causa dor no estômago. Zangado ou não, eu nunca poderia
odiá-la.
— Eu sabia que no momento que eu te contasse, você iria
embora. Briggs, a minha família não é grande. Apenas a Nana, Tyler
e Kyle. Então, ganhei Olive e você. É o suficiente para mim porque
estou cercada por pessoas que me amam incondicionalmente, mas
a ideia de perder você… — A voz dela falha, me destruindo ainda
mais. — Eu fui uma covarde e não deveria ter deixado minhas
inseguranças ficarem entre nós. Sinto muito, mais do que você
possa imaginar. E aquela postagem? Não foi apenas para te pedir
perdão. Foi também para ter certeza de que fiz as coisas certas, não
apenas para você, mas para todos os outros. Pra ser sincera, eu
devia isso a todos. Espero que você possa me perdoar, mas mesmo
que não possa, eu ainda preciso assumir a responsabilidade pelos
meus atos.
Sua voz é pouco mais que um sussurro, e eu tenho vontade
de estender a mão e enxugar as lágrimas do seu rosto.
— Porra, odeio ver você chorar — eu digo honestamente.
O que só a faz chorar mais. Ela cobre a boca, reprimindo um
soluço.
— Será que algum dia você vai me perdoar? Vamos
conseguir consertar isso?
O silêncio se instala por um momento, eu estendo os meus
braços e passo ao redor dos ombros dela, puxando-a para mim.
Ela enrijece por um instante, pega de surpresa pelo meu
abraço repentino, mas eu apenas a aperto mais.
Ouvir o choro dela, testemunhar a dor crua e o sofrimento na
sua voz, me deixou doente, e eu não aguentei nem mais um
segundo.
A verdade honesta diante de Deus, é que na semana
passada pensei mais sobre os últimos três anos da minha vida do
que nunca. É meio difícil não refletir quando se é forçado a recuar e
confrontar toda a merda que guardava lá no fundo.
Sim, eu mudei e o catalisador de toda essa transformação foi
o meu irmão. A traição dele.
Mas eu ainda não tinha superado, não quando estava
enterrada tão fundo, ressurgindo apenas em momentos como este.
Depois de conversar com Reed, percebi que Maddison não
escondeu de mim com a intenção de me machucar. Me enganar ou
me trair de alguma forma, não.
Ela não é Beau, e já era hora de parar de comparar todo
mundo com ele, porque no final das contas… ele é o único
responsável por suas ações. Não posso presumir automaticamente
que cada pessoa que tenha a minha confiança irá quebrá-la com
más intenções. As pessoas cometerão erros, ninguém é perfeito,
mas isso ainda não as transforma em Beau.
Não quando estou cercado por pessoas boas que me
mostraram amizade, lealdade e amor verdadeiros.
E é em momentos como este que essas características
parecem reais.
Reed me ajudou a superar a minha dor e a encontrar uma
maneira de lidar com ela, aceitá-la e perceber que nem todo mundo
que amo vai me quebrar da mesma forma que o meu irmão.
Maddison escondeu a verdade de mim porque ela não queria
me magoar.
— Quer dizer que você me p-perdoa? — ela gagueja. Sinto
suas lágrimas molharem o tecido fino da minha camiseta e vou fazer
o que puder para acabar com elas, porque não aguento mais.
— Linda, por favor, pare de chorar. Eu não suporto isso. Por
favor — eu imploro.
Ela se afasta fungando e olha para mim.
— Me desculpe, Briggs. Lamento muito ter escondido isso de
você. Sinto muito por não ter tido coragem. Eu tive t-tanto medo de
p-perder v-v-você.
Puxo-a de volta para mim.
— Shh, pare de chorar, linda. Escute, eu odeio isso. Odeio
que isso tenha acontecido, mas nos amamos e quando as pessoas
se amam, elas resolvem seus problemas. Eles param, ouvem e não
desistem quando fica difícil. Se tem uma coisa que aprendi nos
últimos anos, é sobre aqueles que você deveria amar. Não há
dúvida quanto ao lugar que deveriam ocupar na sua vida. Eu sei que
minha vida não é nada sem você ou Olive, Maddison.
— Eu só quero a nossa família junta de novo. Eu nunca
esperei constituir uma família, e então formamos uma. Eu a destruí
e vou fazer qualquer coisa para merecer a sua confiança outra vez.
Eu sei exatamente o que ela quer dizer, e isso tem tudo a ver
com a minha decisão de seguir em frente. Me agarrar a essa raiva,
recusar a superar… só vai machucar a todos no final. Meu coração
sabe que ela foi feita para mim.
Não há dúvida. Nenhuma questão. Ela é minha e eu sou
dela.
Maddison é o amor da minha vida, e lutaremos pelo nosso
amor, custe o que custar.
Sim, ela cometeu um erro. Garanto que não foi o primeiro
nem o último que nenhum de nós vai cometer. Relacionamentos dão
muito trabalho, mas sei que o meu amor por ela não pode ser
abalado e confio no seu sentimento por mim.
Vamos passar por isso e seremos mais fortes do que antes.
Não apenas porque ela aprendeu com o erro, mas porque isso me
forçou a enfrentar os meus problemas. Não posso ter medo de
perdoar só porque uma pessoa que eu amava me magoou. Se
quero que me vejam além das minhas falhas, preciso ser capaz de
ver além dos erros dos outros.
Para começar, acho que vou sentar com o meu irmão e
conseguir o encerramento. Preciso disso para seguir em frente com
minha vida sem tanta raiva e amargura no meu coração. Não por
ele, mas por mim. Porque, na verdade, eu mereço.
Mereço poder seguir em frente sem me permitir desanimar
pelo que aconteceu.
Quero amar minhas meninas e me orgulhar do homem que
me tornei.
— Só sei que você e Olive são o meu futuro. Não consigo
nem imaginar em acordar sem vocês duas. Eu te amo e não sei se
você sabe, mas eu disse a Olive que um dia me casaria com você.
E a questão é… eu sempre cumpro minhas promessas,
especialmente as que faço para a minha garotinha. — Levo meus
lábios aos dela e a beijo. De forma lenta e carinhosa.
Mostrando que, independentemente do que acontecer, elas
sempre serão as minhas garotas.
Spotted: [5]Briggs Wilson finalmente conseguiu a
garota. Acho que, no fim das contas ele deu uma dentro;)
Sinceramente,
Briggs Wilson
Epílogo
Briggs
Se eu não tiver que encher outro balão nunca mais na minha
vida, ainda vai ser pouco. Graham geme do sofá, onde está deitado
de bruços.
— Eu não sabia que era um meio de tortura até agora.
Obrigado por isso, pessoal.
— Graham, você estourou acho que uns vinte? Ou talvez uns
dez. — Maddison ri. Olive está no colo dela, rindo do seu tio G. Eu
jamais admitiria em voz alta, principalmente porque não preciso de
inflar ainda mais o ego de Graham, mas ele provavelmente é seu tio
favorito. Eles compartilham um vínculo, que não nos surpreende
considerando o tanto que Graham a ama. Quando ele está na
estrada, ela constantemente rasteja pela casa dizendo “G-G-G-G”.
Olive tem muito a dizer atualmente e eu adoro isso. Agradeço
a Deus todos os dias por ter mandado ela e Maddison para mim.
Observá-la crescer e se tornar essa garotinha linda, inteligente e
curiosa está sendo a minha melhor experiência. Este foi o melhor
ano da minha vida e parece que enfim, estou começando a viver.
Olho para Maddison, dou uma piscadinha e rio quando suas
bochechas ficam rosadas. Você a vê agora com um vestido rosa,
cabelo arrumado e maquiada para a primeira festa de aniversário de
Olive que vai acontecer em cerca de uma hora, mas esta manhã?
Bem, digamos apenas que lhe dei orgasmos suficientes para você
pensar que o aniversário era dela.
A maioria dos dias é caótica. Olive está oficialmente
engatinhando e se metendo em toda e qualquer coisa onde possa
colocar as suas mãozinhas. Ela está passando por uma regressão
do sono e Maddison está exausta. Eu estou exausto.
Mas estamos felizes. Não passo um dia sem mostrar às
minhas meninas, de todas as maneiras possíveis, o quanto as amo.
Ajudo Maddison nas tarefas de casa sem ela precisar pedir.
Dependendo do dia, surpreendo-a com flores ou chocolates.
Organizo um encontro noturno ou um momento para ela e as
meninas irem ao spa. Para Olive, isso significa roubar os picolés de
iogurte quando Maddison não está olhando, assistir inúmeras
reprises de CocoMelon e ler sua história favorita de bailarina todas
as noites antes dela dormir. Eu poderia recitar as falas de ambos
durante o meu sono e, às vezes, sinto vontade de arrancar os meus
cabelos. Mas, vamos ser honestos, não há nada que eu não faria
pela minha garotinha.
— Okay Madds, mas acrescente mais uns cinquenta e talvez
se aproxime da quantidade correta. — Graham fala para Maddison,
usando o apelido que deu a ela. Eles ficaram surpreendentemente
próximos nos últimos meses e acho que ela fala com ele tanto
quanto com Holland, Emery e Juliet.
— Você é o homem mais dramático que já conheci.
Ele encolhe os ombros, vira de costas e coloca as mãos atrás
da cabeça:
— É uma dádiva. É verdade que teremos aquelas
salsichinhas hoje? Sabe aquelas que você faz na panela elétrica
com molho barbecue, e que tem gosto de pedacinho do paraíso em
forma de salsicha?
— Lil' smokies? — eu pergunto.
Ele aponta para mim.
— Sim! Essas.
Maddison balança a cabeça:
— Certo, vocês dois não estão ajudando em nada. Temos
menos de uma hora antes de todo mundo chegar. Graham, vá
pendurar isso. — Ela joga um monte de enfeites para ele. — Pode
ser que depois você tenha as suas salsichas como recompensa.
Ela olha para mim.
— Pode colocar os balões lá fora? Vou tentar fazer Olive
cochilar um pouco antes das pessoas chegarem.
— Claro que sim, linda. — Eu me abaixo e dou um beijo
rápido nela. — Não se estresse, tudo vai dar certo.
— Pa pa pa pa — Olive balbucia, estendendo as mãozinhas
para eu pegá-la. Eu a pego dos braços de Maddison gentilmente, e
aninho contra mim. Nada no mundo se compara a tê-la em meus
braços, com os bracinhos fofos enrolados no meu pescoço
enquanto descansa a cabeça no meu ombro.
Um sinal claro de que ela está pronta para o cochilo.
— Se quiser, posso fazer ela dormir pra você organizar tudo.
O que vai te ajudar mais?
Vejo o estresse nos olhos dela e, quando digo, seus olhos
suavizam:
— Eu não te mereço.
— Você merece o mundo, linda. — Eu me inclino e dou um
beijo nela, engolindo o pequeno suspiro que sai de seus lábios: —
Não se preocupe com Olive. Deixe a nossa garota comigo e apenas
cuide da festa.
Ela balança a cabeça, me dá um beijo casto e sai para me
deixar ir até o quarto de Olive. Com Olive dormindo no meu ombro,
subo as escadas com cuidado. Eu pude sentir o momento que a sua
respiração acalmou e ela relaxou nos meus braços. Quando chego
ao quarto dela, apago a luz e a coloco no berço cautelosamente. Ela
está com o seu look de aniversário completo, que tem um tutu que é
a coisa mais bonitinha que eu já vi.
Na verdade, eu falo muito isso, mas vivo me surpreendendo
com as coisas fofas que Olive faz. Antes de sair, observo-a dormir
pacificamente e me lembro de um ano atrás, na primeira vez que a
carreguei enquanto dormia.
Minha garotinha, o motivo da minha respiração. Ela é tudo
para mim. Minha melhor amiga, minha fã número um. Tudo que
aconteceu na minha vida me levou a ela e a Maddison. Às vezes é
difícil acreditar que tive essa sorte.
Acendo a luz do projetor e ligo o ruído branco antes de voltar
pelo corredor, deixando a porta entreaberta. De volta ao primeiro
piso, tudo parece pronto para a festa. Maddison está trabalhando
nisso há meses e tudo ficou ótimo. Não tenho dúvidas que, como
sempre, a nossa menina vai passar um dia maravilhoso,
comemorando com todas as pessoas que a amam.
***
—Tenho quase certeza que Olive está em coma de açúcar.
— Maddison ri ao carregar a criança, que ronca levemente, ainda
coberta de bolo de aniversário da cabeça aos pés. Ela precisa de
um banho, mas parece tão tranquila que Maddison e eu estamos
sentados na escada há trinta minutos, apenas observando-a dormir.
A festa dela desenrolou sem nenhum problema, exatamente como
eu esperava. Agora que todos foram embora e finalmente estamos
sozinhos… estou desfrutando desse momento com as minhas
garotas. Aproveitando o sossego, a calmaria depois da tempestade.
— Não acredito que Graham e Asher compraram um jipe da
Barbie de quatro portas, para ela. — Maddison diz.
Eu encolho os ombros:
— Você está surpresa mesmo? — eu rio: — Estamos falando
de Graham… e Asher. Além do mais, eles precisavam superar o
presente de Reed que era uma casa na árvore, então…
Maddison ri, fazendo Olive se mexer em seus braços,
sonolenta. Ela silenciosamente agarra a blusa da mãe, que sorri.
— Vou dar um banho rápido e colocar o pijama nela. Vejo
você em alguns minutos?
Eu aceno com a cabeça e me inclino para beijar a boca dela.
— Se precisar de alguma coisa, me avise, linda.
Enquanto ela dá banho e prepara Olive para dormir, me lavo
depressa. Os últimos treinos no gelo foram cansativos. Esforcei
muito os meus músculos e venho sentindo recentemente. Fiquei
ainda mais dolorido porque levei um golpe. Ele deixou uma
contusão no meu o meu lado esquerdo e com certeza quebrou
algumas costelas.
Desligando o chuveiro, pego a toalha branca felpuda do
cabide e me seco antes de vestir uma cueca boxer preta. Estou
secando o meu cabelo com uma toalha enorme, caindo nos meus
olhos, quando passo outra vez pela porta do quarto e vejo
Maddison. Ela está sentada na cama, com as pernas cruzadas e
tem uma caixinha vermelha com um laço branco na sua frente.
— O que é isso?
Ela puxa o lábio inferior para dentro da boca e dá um tapinha
na cama ao seu lado. Jogo a toalha no cesto de roupa suja e sento
ao lado dela.
— Comprei uma coisa para você. — Ela arregala ligeiramente
os olhos castanhos e eu fico confuso. Meu aniversário ainda vai
demorar.
— Mas o aniversário é de Olive, não meu.
— Eu sei, mas é algo especial. — Maddison empurra
caixinha em minha direção com um pequeno sorriso e eu franzo a
testa. Pego-a com delicadeza e desamarro o laço, deixando-o cair
livremente, depois retiro a tampa.
Há um pedacinho de papel branco dentro. Pego e o encaro
por um momento, confuso.
— Vire ao contrário — ela sussurra. Levanto o olhar para
encontrar o dela e vejo lágrimas não derramadas nublando meu tom
favorito de verde no interior das suas íris.
Ao virar o papel, vejo uma pequena foto em preto e branco do
que parece ser um círculo cinza. Meu coração bate tão forte que
meu peito parece que vai estourar.
Estou segurando um ultrassom.
Volto a olhar para Maddison:
— Isso é... você está? Madds — eu sussurro. — Você está
grávida? É o nosso bebê?
Depois de um segundo, ela balança a cabeça repetidamente
enquanto lágrimas escorrem pelo seu rosto:
— Vamos ter um bebê, Briggs. Olive vai ser uma irmã mais
velha.
Felicidade me inunda, emoção obstrui o meu peito e eu me
levanto da cama e grito.
— Porra! Vamos ter um filho!
Ainda segurando a ultrassonografia, levanto Maddison da
cama e giro, beijando-a em todos os lugares que consigo alcançar.
— Jesus, linda! Nem consigo acreditar, estou feliz pra
caralho. Não acredito que vou ser pai de outro bebê perfeito.
Obrigado.
Maddison solta uma risada úmida e rouca:
— Por que você está me agradecendo?
— Por me dar os meus bebês. Por me amar. Por ser a melhor
coisa que já me aconteceu. Porra, eu te amo demais.
Um pequeno sorriso aparece na sua boca, enquanto as
lágrimas caem livremente dos seus olhos:
— Eu também não consigo acreditar. Quer dizer, não
estávamos prevenindo rigorosamente, mas eu não esperava que
isso acontecesse tão rápido.
Com gentileza, coloco-a na cama e fico parado, com as mãos
entrelaçadas atrás da cabeça, tentando processar o que acabei de
descobrir. Não acredito que vamos ter outro filho.
— Acho que deveríamos nos preparar para mais noites sem
dormir, hein? Aquelas noites parecem ter acontecido há muito
tempo.
Sinto como se tivesse passado muito tempo, mas estou
pronto. Aqueles foram alguns dos meus dias favoritos e nunca vou
esquecê-los.
Desta vez… vou estar presente em todos os momentos da
gravidez de Maddison.
— Mal posso esperar para ver sua barriga ficar grande e
redonda com o meu bebê. — eu gemo: — Só de pensar já fico duro.
Maddison sorri, fica de joelhos e se aproxima de mim na
beirada da cama:
— Sabe, nesses últimos dias…estou cheia de tesão. É um
benefício da gravidez.
Eu sorrio, deslizo os meus braços ao redor da sua cintura,
puxando-a até pressioná-la firmemente contra mim.
— É mesmo?
Ela acena com a cabeça.
— Lembra que eu disse a Olive que me casaria com você,
quando ela era apenas um bebê? Acho que preciso te dar o meu
sobrenome o mais rápido possível, para poder satisfazer minha
esposa durante a gravidez.
— Humm. Isso é uma proposta, Briggs Wilson?
— Bem, escondi um anel na minha gaveta de meias pelos
últimos seis meses... acho que já é hora da mulher que eu amo,
com quem quero passar o resto da minha, usá-lo. Case comigo,
Maddison. Preciso passar todos os meus dias te amando do mesmo
jeito que te amei no momento que coloquei os olhos em você.
— Você está falando sério?
Eu rio:
— Claro que estou falando sério. Na verdade, já estava
morrendo de vontade de pedir para você casar comigo desde o dia
que prometi à nossa filha. Eu só tive que esperar até você estar
pronta. Diga que sim. Por favor.
— Sim, claro, sim, vou me casar com você, seu maluco! —
ela ri entre soluços, e joga os braços em volta do meu pescoço.
Eu me apaixonei por Maddison na primeira vez que a vi.
Talvez não soubesse, naquele momento, o que o nosso futuro
reservava, mas acho que parte de mim sempre soube que ela era
tudo na minha vida. Ela foi a brisa fresca que entrou nos meus
pulmões, depois de eu quase não conseguir respirar por muito
tempo.
Ela, Olive, e agora o nosso bebê... eles são o meu mundo.
Eles são tudo que eu desejei. Tudo que eu sonhei.
O meu final feliz
Aquele que lutei para conseguir e que nunca iria desistir.

FIM
Sobre a autora

Maren Moore é o alter ego de R.Holmes. Autor de um romance


sombrio, angustiante e proibido. Desesperada para deixar o lado
mais leve e fofinho reinar livre, ela criou Maren.
Você sempre pode esperar pais gostosos e finais felizes!
A Editora nasceu em 2019 e, em agosto de 2020 atravessou o país,
literalmente indo do Sul ao Norte. Essa mudança trouxe não só uma nova
administração, mas, com ela, nasceram novas ideias, novos objetivos sem perder
sua essência que é proporcionar aos leitores o melhor da literatura nacional e,
agora também, da literatura estrangeira. Uma editora que aos poucos conquistou
o Brasil, seus leitores e autores, que respeita seu público e que abre portas para
novas oportunidades. Acreditamos que há um imenso mercado literário a ser
explorado e vamos investir nisso: em diversidade, qualidade e representatividade.
Cada lançamento será especial e único, pensando especialmente em você, leitor.
Contato:

sac@grupoeditorialreserver.com.br

Site: www.reservereditora.com.br
Instagram: @selo_lovestory
@selo_reservereditora

[1]
O linebacker é uma posição na defesa que tarefa é impedir o ataque. O linebacker se alinha atrás dos
defensores de linha e costuma ser o capitão da defesa.
[2]
Nascido a partir de uma variação mais suave do futebol americano, o Flagbol, tem por objetivo avançar
territorialmente em direção a zona de pontuação do campo adversário, buscando concretizar o
touchdown. (pontuação máxima) . Sua origem é dos Estados Unidos.
[3]
É uma analogia entre as palavras Baby (bebê) e Roller (tipo de patins) e a expressão idiomática High
Roller (grande apostador).
[4]
Uma espécie de cadeirinha para bebês. Tem o formato parecido com um andador, mas não se movimenta
e possui brinquedos.
[5]
É um correio elegante virtual.

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