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A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
VOLUME I
De antes da origem a 1961
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
VOLUME I
De antes da origem a 1961
PROPRIEDADE INTELECTUAL
Sociedade Vicra Desportiva, S. A.
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VOLUME I
De antes da origem a 1961
Capítulo I
As origens
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
Taça Mitropa
Do ideário de Hugo Meisl nasceu competição que acolheu,
inicialmente, clubes do espaço central europeu
1927
A Taça que nasceu
(sem ser dos Campeões)
por causa da arrogância dos ingleses
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taça em seu nome) clubes da Bélgica e da Holanda — e a segunda edição embrulhou-se
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abandonaram o campo, descabelados com o árbitro: «por permitir jogo sujo aos seus com-
patriotas». A polémica em fogacho acabou por levar à criação de «instituição que regu-
lasse e uniformizasse o futebol internacional» — e foi assim que começou a nascer a FIFA.
A 17 de Julho de 1927 lançou-se em Viena a Taça Mitropa. Idealizada por Hugo Meisl, abriu-
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tantes da Áustria, da Hungria, da Checoslováquia e da Jugoslávia, não tardaram juntar-se ro-
menos e italianos. (Filho de banqueiros da Boémia, aos 10 anos Hugo Meisl foi viver para Viena.
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foi jogador e árbitro — e numa viagem a Inglaterra tornou-se amigo de Jimmy Hogan. Adaptou
as suas ideias de jogo — e as de Herbert Chapmann — à Áustria, não tardou tornar-se no que se
tornou como treinador: mais do que um mestre da tática, um revolucionário da tática, lançando,
como seu princípio, frase que se tornou famosa: «A melhor defesa é o ataque». Com ele a se-
lecionador, a Áustria virou Wunderteam: Equipa Maravilha — e, não fora ter morrido de ataque
cardíaco pouco antes de Hitler subjugar Viena, o mais provável era que Meisl tivesse acabado
gaseado num campo de concentração…)
Com a Taça Mitropa, cujo primeiro vencedor foi o Sparta de Praga, a ganhar cada vez
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que os campeões da Áustria, da Hungria, da Bélgica, da Checoslováquia, da Alemanha, da
Itália, da Holanda e da Espanha se lhe juntassem no que denominara Taça das Nações — e
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minando-se «Campeão dos Campeões».
9
Marcador de 5000 golos
(era o que se dizia…) perseguido por nazis
(e por comunistas também)
A Taça das Nações não passou dessa primeira edição — a Taça Mitropa
continuou a crescer em entusiasmo e fama, em fulgor vivendo até ao início da
II Guerra Mundial — e algumas das estrelas que por lá tinham passado foram
caindo ou fugindo dos vários infernos entretanto abertos — Josef Bican, por
exemplo. Nascera, em 1913, no pobre bairro operário de Viena, filho de che-
cos. O pai jogara futebol no Hertha de Viena, combatera na I Guerra Mundial,
de lá viera ileso mas morreu pouco depois por não ter dinheiro para fazer ope-
ração a um rim, lesionado durante um jogo de futebol. Josef tinha oito anos, a
mãe continuou a trabalhar como cozinheira, mas era tão pouco o dinheiro que
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lhe calhava do ofício que Bican tinha de jogar descalço. Uma vez revelou-o:
— No meio da miséria, foi a minha sorte, não ter que calçar ajudou-me a dominar a
bola com mais habilidade.
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equipa de juniores. De lá saltou Josef Bican, ainda antes dos 20 anos, para o Rapid de
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que, por janeiro de 1936, empolgou Portugal — e foi nos seus pés que se fez o golo
que deu a vitória à Áustria (por 3-2).
Perante sinais de que Hitler se preparava para anexar a Áustria fugiu, sorrateiro
para Praga, foi para o Slavia (clube dominado pela alta burguesia da cidade). Também
brilhara no atletismo, correndo os 100 metros em 10,8 segundos — e quando, em
1939, a Alemanha invadiu a Checoslováquia, agentes da Gestapo chamaram-no aos
seus serviços com uma proposta na manga:
— … naturalizar-me alemão, para jogar pela seleção nazi. Quando entrei na sala, os
generais estavam sentados, levantaram-se, aplaudiram-me. Quando ouviram a minha
resposta, pediram-me que, então, saísse e depressa, saindo já como se fosse um
vira-latas — ou pior: subversivo, perigoso.
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'NHFSYFRGRGWNQMTZSTFYQJYNXRT Temendo as represálias do pé para a mão, Josef Bican viveu mais ou menos es-
— Não, obrigado!
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— Não sei se haveria gente que acreditasse em mim quando eu mostrasse que tinha
cinco vezes mais golos do que Pelé.
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11
Mathias Sindelar
Mozart da Bola, assim também haveria de ser conhecido
em razão da sua habilidade enquanto futebolista
1927
Ɖ8·YJRTXIJTFSNVZNQFWXJOFQ¥HTRTKTWƓ
O «Homem de Papel»
a gozar com os Fosse pelo brado ou não, o certo é que Sindelar foi neutralizado à
Em 1931 e 1932, a Áustria vencera a Copa Internacional da Europa Três semanas após o Anschluss, a anexação da Áustria pelo Tercei-
(JSYWFQƉJ1ZNX2TSYNVZJIJUTNXIJYJWXNITȁSFQNXYFIT2ZSINFQIJ WT7JNHMTWLFSN_TZXJTVZJXJHMFRTZTo/TLTIF7JHTSHNQNF«§T
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YFQHTRT,ZFNYFFSFHNT- Foi no Prater a 3 de abril de 1938, com o estádio todo decorado por
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8NSIJQFWTFWWFXYTZSJXXJXIJXFȁTXHTRTXFZXYW±FHTXVZJXZUQNHTZ seleção austríaca, contra uma Alemanha — que, ainda não se sabia,
F;NYYTWNT5T__TVZJTIJN]FXXJIJKTWFIFJVZNUFSFȁSFQIT2ZSINFQ repudiaria. As ordens eram para que acabasse empatado. Sindelar
murmurando-lhe: passou o jogo a falhar golos de modo trocista — a meio da segunda
parte decidiu marcar golo e fez mais um golo de placa. Depois, quando
ƉVZJVZFSIT[JOTJXXJ8NSIJQFW¤RNSMFKWJSYJȁHTQTZHT Sesta, o capitão de equipa, que também jogara no Lima, fez o 2-0,
ou deixo de ser eu. Matthias correu em direção à tribuna onde estavam as altas patentes
nazis, atirando-se a provocadora dança de felicidade que os deixou
Não, Pozzo não o deixou de fora — e conta-se que a sua resposta JRNWF3TȁRITOTLTYFRGRQMJXWJHZXTZFXFZIF«§TSF_N[NWTZ
fora simplesmente assim: ostensivo, a cara para o lado. E Karl Sesta fez-lhes o mesmo.
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A Noite dos Cristais, na Áustria e na Alemanha, marcaria momento de desenfreado ataque nazi a judeus Sindelar, protagonista do futebol elegante
e inteligente
No dia seguinte à falácia do «Jogo da Reconciliação», Mathias Sindelar e Karl Sesta fo-
ram interrogados pela Gestapo — e detidos numa prisão de Viena. Temendo tumultos na
cidade, acabaram por libertá-los — e de Sesta receberam promessa de que sim, que, de
futuro, aceitaria, jogar pela seleção da Alemanha. Pela Alemanha Nazi jogou ele e tal como
ele outros austríacos que tinham ganho por 3-2 a Portugal no Lima: o Franz Wagner, o Josef
Stroh, o Rudolf Raftl e o Johann Mock. (Depois do adeus, Sesta dedicou-se à luta, chegou a
campeão… alemão. Passou a cantor de vaudeville — e até um disco de ouro ganhou.)
A Sindelar, Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda Nazi, mandou dizer-lhe que todas
as suas afrontas seriam esquecidas se aceitasse jogar pela Alemanha no Mundial de 1938, a
resposta deu-a num remate fechado de ironia:
— Foi levado para a rua, em pijama, mas acabou por ser salvo por vários populares.
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empataram 2-2. O Matthias fez um golo e celebrou-o, uma vez mais, sem fazer a sau-
dação nazi. Depois disso, nunca mais foi visto em público…
Tal como Sindelar, Josef Bican, Peter Platzer e Karl Zischek também se recusaram a jogar
na seleção nazi — e Weisgram revelou-o:
15
Mathias Sindelar
Aplaudido nos campos de futebol, perseguido por destemidamente
provocar nazis a destino terrível não escapou
1927
O suborno do amigo
para não se falar de suicídio
Nos relatórios de autópsia de Matthias Sindelar e Camilla colocou-se como causa
da morte «inalação de monóxido de carbono» — contudo, as notícias do dia seguinte
— falaram em acidente, muitos anos depois, Egon Ulbrich, um dos seus amigos, reve-
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se devera a uma fuga de gás, de modo a que Sindelar pudesse ter o que ele achava
que era o merecimento mínimo: «um funeral com honras de estado, que, de acordo,
com as leis nazis só seria possível se não se tratasse de suicídio.»
À sede do atacado FK Austria Viena chegaram só numa manhã 15 mil telegramas de con-
dolências — e, apesar da «ameaça da suástica» mais de 40 mil pessoas seguiram a urna em
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muito longe dele, estão os de Brahms, Beethoven, Strauss e Schubert. E, com o corpo a descer
à terra, Michael Schwärs, o presidente do clube, murmurou, por entre o pranto:
— Com Matthias Sindelar morre uma parte da Áustria, do melhor que a Áustria tem.
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fuga acidental de gás enquanto Matthias e Camila dormiam, pró-nazis juntaram-se
quase todos na mesma ideia:
— Se foi suicídio, foi porque Sindelar entrara em depressão por saber que chegara
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Não, não foi isso. Sabendo que ele e Camilla tinham o destino marcado: fugiram
à morte num campo de concentração, matando-se. À rua onde viveu, e morreu, a
LaaerbergStrasse, mudaram-lhe o nome para SindelarStrasse. À placa, juntaram-lhe
as estrofes de um poema que Friedrich Torberg lhe dedicara:
Lutar, lutava – mas de outro modo, fora do campo. (E seis décadas após a sua mor-
te, Matthias Sindelar foi eleito o Melhor Jogador de Futebol do século XX da Áustria.)
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Com jogadores presos, o rei da Roménia
(que era um ‘playboy’) foi para selecionador
(e exilado, morreu em Cascais)
O Sparta de Praga foi quem primeiro conquistou a Taça Mitropa. Foram, claro, dispensados.
Seguiram-se-lhe, no rol dos vencedores: Ferencváros (1928 e 1937), No barco que levou a Roménia para Montevideu foram igual-
Ujpeste (1929 e 1939), Rapid Viena (1930), First Viena (1931), Bolo- mente as seleções de França e da Bélgica — e Jules Rimet, o pre-
nha (1932 e 1934), Austria Viena (1933 e 1936), Sparta Praga (1935) sidente da FIFA, com a taça para o campeão do mundo, dentro de
e Slavia Praga (1938). Para a edição de 1940 inscreveram-se apenas uma das suas malas. Na escala no Rio, juntaram-se os brasileiros
oito clubes: três da Hungria, três da Jugoslávia e dois da Roménia) — — e continuou a suceder o que sucedera ao longo das duas sema-
JFȁSFQJSYWJT+JWJSH[¥WTXJT7FUNI'ZHZWJXYNO¥S§TXJWJFQN_TZ nas até lá se atracar: os jogadores a treinarem-se nos 10 decks do
— porque forçada a abdicação por parte do rei Carol II, com o apoio navio — e Carol II a «bater bolas» com os seus em todos os treinos.
de Hitler o poder passou para as mãos do general Ion Antonescu — e
parte Transilvânia entregue pela Roménia à Hungria. Com os romenos eliminados pelo Uruguai, Carol II regressou a
8JRFSFXFSYJXȁHFWFFMNXY·WNFITKZYJGTQWTRJSTRFWHFITUTW Bucareste ainda com maior entusiasmo. Gabriel Marinescu torna-
outra peripécia (aliás, pior…): Gabriel Marinescu era para além de mi- WFXJ JSYWJYFSYT UWJXNIJSYJ IT ;JSZX 'ZHFWJXYJ Ɖ J F ȁSFQ IF
nistro dos Assuntos Internos e comandante da Polícia de Bucareste, o Taça da Roménia de 1940 entrou em súbito alvoroço. Por entre
«braço direito do rei no futebol» — e rei encantado com o futebol não polémica e jogos repetidos, o Rapid Bucuresti acabou por vencê-la
se vira como se via Carol II. — e estando, os seus jogadores, a festejá-la, num jantar, um es-
quadrão da polícia de Marinescu entrou de roldão no salão e levou
«Mulherengo e playboy», tendo chegado ao trono romeno, sema- presos os seus quatro melhores jogadores, a pretexto de terem
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nato do Mundo — a primeira ação de Carol II foi atirar-se a manobras Venus — pois, com eles na cadeia, logo chegou ao presidente do
diplomáticas que abrissem vaga à da Roménia, conseguiu-a três dias Rapid a informação de que os libertariam se ele aceitasse repetir o
antes do fecho das inscrições. Afastando do cargo Costel Radulescu, jogo. Aceitou — e o Rapid voltou a ganhar.
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que convocou eram do Rapid Bucuresti, clube que fora fundado por 3T WJ[TQYJNT IF UTQ±YNHF UJWFSYJ LWZUT SF_N F FUTIJWFWXJ IT
ferroviários de Grivita — e, ao perceberem que a «aventura do rei» ti- poder, Gabriel Marinescu não tardou a ir parar à prisão — e lá o
raria alguns deles do trabalho nas suas fábricas durante mais de dois mataram. Por 1939, Carol II recebeu de Óscar Carmona o Presi-
meses, os patrões ameaçaram não dispensá-los. Gestor de empresa IJSYJIF7JU¾GQNHFIJ8FQF_FWFQYFHTSIJHTWF«§TF'FSIFIFX
NSLQJXFQNLFIFFTXUJYW·QJTXKJ_UNTWF[NXTZVZJTXKZYJGTQNXYFXVZJ Três Ordens — mas já enfraquecido pela entrega forçada da Tran-
lá trabalhavam que se ausentassem para o Campeonato do Mundo XNQ[¦SNFFTXM¾SLFWTXTLT[JWSTSF_NIJ.TS&SYTSJXHZJ]NLNZQMJ
seriam imediatamente despedidos — e Carol II, ao sabê-lo, pegou no a abdicação, garantindo-lhe, porém, saída livre para o exílio — e a 6
telefone e retorquiu-lhe: de setembro de 1940, partiu, com amante pela mão, num comboio
carregado de «todos os seus objetos de valor». Ainda tentou o
— Se não os dispensar, mando fechar a empresa! Brasil, preferiu Portugal — e em Cascais morreu, em abril de 1953.
1930
Taça Mitropa
A competição idealizada por Hugo Meisl teve várias interrupções.
Ao retomá-la, após uma delas, Zentropa foi designação atribuída
1927
O húngaro que se tornou Patrão
do Futebol depois das complicações
que lhe causou uma greve em Paris
Dois anos antes da morte de Carol II, retomara-se a Taça Mitropa (designada como
Zentropa – com o Zen a representar a Europa Central) – e o Rapid Viena venceu-a,
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IFXRJNFXȁSFNXXF±WFR[JSHNITXT)±SFRT?FLWJG
e a Lazio). Após três anos de nova paragem, fez-se uma vez mais – e campeão foi o
Vörös Lobogo que, com a passagem da Hungria à esfera comunista, deixara de ser o
MTK (dos judeus de Budapeste, o MTK onde jogara Béla Guttmann).
Senhor Futebol na Hungria era cada vez Gustav Sebes. Lançara-se como jogador
no Hungaria, tendo, na sua baliza, o Janos Biri, que em Portugal haveria de fazer do
'JSȁHFHFRUJ§T
— Após uma greve, fui despedido da fábrica onde trabalhava. Parti, então, para Pa-
ris e após várias semanas bem difíceis encontrei trabalho nas fábricas da Renault. Fui
convidado para jogar no Red Star, declinei, voltei a Budapeste em 1940.
Com a Hungria a entrar na órbita comunista após a II Guerra Mundial, não tardou
que se puxasse Gustav Sebes a vice-ministro do desporto — sem que ele largasse o
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— Foi assim que ganhei o título de Patrão da Equipa da Hungria. Com uma certa
razão, porque eu era o chefe supremo do nosso futebol. Montei a a equipa que viria a
ser designada por críticos de todos os cantos do mundo como a «maior de todos os
tempos». O primeiro grande triunfo desse Dream Team foi nos Jogos Olímpicos de
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6-3. Faltou-nos apenas a vitória no Mundial de 1954, o que perdemos com a Alema-
nha, contra todas as previsões.
O Honved, clube de que se apoderara o exército húngaro, era a base nuclear desse
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cenário que Gustav Sebes entrou na comissão que haveria de levar (ainda sob jurisdi-
ção do L´Équipe) à Taça dos Clubes Campeões Europeus — quando também já havia
a Taça Latina e a Taça Mitropa se mantinha hibernada.
21
22 CHAMPIONS A HISTÓRIA COMO NUNCA SE CONTOU
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Depois de fundar A BOLA, XTZIJUTNXIJOTLFITWF¥WGNYWTƉJIZWFSYJOTLTJSYWJT,FWJS-
Ribeiro dos Reis SJ)T[JXJT'JSJ[TQJSHJ[N[JZRTRJSYTFSLZXYNFSYJWJRFYJ
23
No rescaldo da tragédia do Torino,
o adeus aos Cinco Violinos
(com Cândido de Oliveira)
Espírito que se acordou, de pronto: que a Taça Latina era competição de clubes e de
nações também — representadas pelo seu campeão. O troféu posto à disputa, ofere-
ceu-o a federação espanhola de Calero. Por sorteio, coube a Madrid a primeira edição
— e primeiro adversário do Sporting, a 26 de junho de 1949, no Estádio Municipal, foi
o Torino (o Torino que restara da tragédia de Superga, treinado por Copernico, com
juvenis e juniores em campo). Ganhou por 3-1, com três golos de Fernando Peyroteo.
No Torino brilhou Carapellese que não viera à festa de Francisco Ferreira devido
a doença de nervos de que já se queixara no Itália-Portugal, de Génova, depois do
Cinco Violinos, linha avançada para a eternidade
portista Virgílio o ter pura e simplesmente neutralizado — e por isso se salvou do avião
da tragédia.
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guistas (na última vez dos Cinco Violinos na sua histórica formação: Jesus Correia,
Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano) disputou-se em Chamartin. Curta apertou a
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verde.
A Marca também achou, admitiu que sim, que aquele Sporting (treinado por Cândi-
(JQJGWF«§TGJSȁVZNXYF
SFȁSFQIF9F«F1FYNSFJR do de Oliveira) era «equipa valiosa e perigosa, mas longe de ser o onze sem rival que
os portugueses querem fazer crer».
27
Travaços
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1951
Com o Sporting na Taça Latina, moeda
ao ar recusada no jogo que teve de acabar
porque a noite chegara…
Nos princípios de julho de 1951, ressurgiu a Taça Mitropa – com toque na denominação: Zen-
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29
De Carlos Gomes traído
pelas «bolas luminosas»
ao lagarto que não deu
sorte ao Sporting
33
Vitória do Wolverhampton sobre o Honved,
por 3-2, foi exaltada de forma exacerbada
Como vitória do Wolverhampton
levou um francês (que escapara
a trabalhos forçados de nazis)
a criar a Taça dos Campeões
(que não se queria assim)
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Ao lê-lo, Gabriel Hanot, escreveu no L´Équipe crónica a refutá-lo: que sim, que
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manho: «Será melhor que viajem até Moscovo ou até Budapeste para vermos se, de
facto, são a melhor equipa do Mundo, não esquecendo que, na Europa, há outros
clubes reconhecidos internacionalmente: o AC Milan ou o Real Madrid, para só citar
dois» — e, no balanço do remoque, Hanot abriu o futuro ao seu remate: «Assim sen-
do, um Campeonato do Mundo de Clubes, ou pelo menos um Campeonato Europeu
mais alargado e prestigiante do que a Taça Mitropa ou a Taça Latina e mais original do
que uma competição para seleções nacionais deveria ser lançado».
Jacques Goddet, o diretor do L´Équipe, encantou-se com a hipótese, pensando que, as-
sim, poderia incrementar as vendas ao longo no tempo em que o futebol estivesse parado
e as atenções se centravam quase só no Tour de France — e encarregou Jacques Ferran
de atiçar-lhe o rastilho. Filho de um magistrado e de uma herdeira de um joalheiro italiano
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Montpellier — e após terminá-los conseguira escapar ao drama da STO — campanha de
trabalhos forçados em minas, fábricas e campos agrícolas imposta pelos ocupantes nazis
ao Governo de Vichy, que deportou mais de um milhão de franceses para a Alemanha —
refugiando-se, sorrateiro, numa propriedade de família em Aveyron. Os primeiros passos
no jornalismo, deu-os no Tigre, semanário criado por prisioneiros de guerra. Ao L´Équipe
Ferran chegara algures por 1948, indicado, como «jovem prodígio», a Jacques Goddet por
Emmanuel Gambardella, então presidente da Federação Francesa de Futebol.
35
No Barcelona
achou-se que era utopia,
Santiago Bernabéu
Percebeu que era o futuro
(que começara
com mulher a pedir ao marido
que telefonasse…)
— Isso é uma utopia. Nunca se fará. E o que queremos é rea- Miró-Sans, presidente do Barcelona, não quis ouvir proposta para que o seu clube
participasse numa competição europeia
tivar o campeonato catalão.
Ao regressar, desolado, a casa, Pardo contou à mulher o de grande persuasão para que o presidente do Real agarras-
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do Saporta, amigo judeu que se tornara braço direito de San- achando que o «futuro estava ali, mesmo ali». E, pelo cami-
tiago Bernabéu. Ao escutá-lo, Saporta exclamou-lhe: nho, vários outros clubes foram fazendo o mesmo.
— Pensar numa Taça da Europa?! Isso pode ser uma mara- A ideia foi borbulhando cada vez mais em Jacques Ferran
vilha. (que, no seio do L´Équipe, criara, em 1946, a mais prestigiada
revista de futebol que havia: a France Football), embrulhando-
Solicitou-lhe que apanhasse o primeiro avião para Madrid -a numa pergunta bem mais do que retórica:
— em Barajas tinha o motorista de Bernabéu à sua cata. Na
sede, receberam-no Saporta e Bernabéu — e não necessitou — Como pode a Europa do futebol estar à frente do Resto
37
Quando em A BOLA
se falou em indignação
por a UEFA ter feito o que fez
(e Santiago Bernabéu
foi uma das suas vítimas)
Jacques Ferran não deixou de ser o que já era, igualmente: crítico de teatro no La France
Catholique — e desvendou-o:
— O nosso objetivo era um, sobretudo: pôr a competição no terreno para nos ajudar a
vender mais jornais a meio da semana, daí a ideia dos jogos à quarta-feira. E, depois de
concebermos a criança, preocupação passou a ser encontrar quem a pudesse adotar.
A 6 de maio de 1955, a UEFA solicitou à FIFA parecer sobre a «competição que o L´Équi-
pe tinha em mente» — e colheu garantia de que a FIFA o reconheceria se fosse «organi-
zado sob a sua autoridade e responsabilidade». Não perdeu tempo a assumi-lo, curando,
contudo, de lhe vetar o nome porque Taça da Europa era o que a UEFA escolhera para o
campeonato de seleções que tinha em projeto.
Do triunvirato, salvou-se Sebes — e, por entre jogo do Belenenses com o Real Madrid,
Alberto Valente apanhou de Ernest Bédrignants o descontentamento e lamúria:
— Não está certo que nós estudássemos esta organização para agora os dirigentes
da União Europeia virem, sem mais nem menos, tomar conta de tudo e pôr em marcha
uma coisa que já estava a andar.
39
O Chelsea impedido de lá estar,
o Barcelona a preferir a Taça das Feiras
e os soviéticos a queixarem-se da neve…
Por essa altura já se sabia: a primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Eu-
ropeus (mesmo que em A BOLA ainda aparecesse Taça da Europa) não teria lá o
Chelsea — que fora dos primeiros clubes a aconchegar-se à ideia de Jacques Fer-
ran para a sua criação e que John Battersby, seu secretário-geral tivesse sido um
dos membros escolhidos para a Comissão L´Équipe, representando a Inglaterra,
a Escócia, a Suécia e a Dinamarca.
41
Capítulo II
1955/56
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
Sporting abriu
a Taça dos Campeões
sem que da Jugoslávia
viesse o clube
de anticomunistas presos
45
Como Travaços e ao Sporting se foi oferecer para seu jogador de futebol.
Recebeu-o Joseph Szabo que, vendo-o espigadote, mas
fugiu do que se achava franzino, lhe atirou, brusco, água para a fervura onde ele
(para o ter no FC Porto) — Minino precisa comer muitos batata com bacalhau!
de se tornar o Zé da Europa de. Sem tardar, levou-o à prova em que Tomás Paquete ba-
teu o recorde ibérico dos 100 metros com 10,6 segundos — e
ele saiu de lá com 11,0 segundos, uma das melhores marcas
Havendo ainda a Taça Latina, o Benfica deu ao Belenen- nacionais de juniores de sempre.
ses (que golo de João Martins impedira, à beira do fim, de
ser campeão) o seu lugar na prova — e, nesse Sporting, que Chegou-se a 1946 — e um emissário do FC Porto foi à ofi-
recebera «convite de honra» para a Taça dos Clubes Cam- cina da CUF, onde Travaços trabalhava como serralheiro,
peões Europeus (nome que ficou, oficial, na competição), a perguntar-lhe o que queria para se mudar para lá. Respon-
estrela era José Travaços, o Travaços que acabara de jogar deu-lhe, de chofre:
pela seleção da Europa.
— 20 contos de luvas e boa casa montada na cidade.
José António Barreto Travaços nasceu, algures por 1926,
numa casa que ficava entre dois famosos campos de fute- Logo recebeu sim como resposta. O rumor do acordo che-
bol: Lumiar e Campo Grande. O pai era rendeiro da quinta gou ao Sporting — e um dos seus dirigentes achou que se-
com portão na Alameda das Linhas de Torres, n.º 105 — a guro era mandá-lo de férias para Torres Vedras. Ao cabo de
quinta que haveria de ser destruída para que lá se construís- 15 dias por Torres, deixaram-no sair para que pudesse par-
se o Estádio de Alvalade. Aos 13 anos foi para uma oficina ticipar numa corrida de atletismo — e, de um instante para o
aprender o ofício de torneiro. Ouvindo contar que a CUF outro, despareceu. Diretor portista descobrira-o — e levou-o
estava a admitir pessoal, dando preferência a jogadores de de imediato para o Porto, onde o hospedou num hotel, com
futebol, Travaços tentou a sua chance. Aprovaram-no, mas direito a tratamento VIP. Como o Sporting estava para jogar
para isso teve de haver pedido de autorização a um ministro em Coimbra por essa altura — acharam que mais prudente
de Salazar: sim, como ainda não fizera 16 anos, não poden- seria escondê-lo em Escamarão, aldeia perto de Cinfães,
do alinhar pelos juniores, sem a «permissão superior» não cruzada pelo Douro, que nem no mapa aparecia.
o deixariam jogar. Deram-lha — a CUF pô-lo a trabalhar nos
seus estaleiros e ele não tardou a espalhar o seu génio pela Por Lisboa soltaram-se queixas de que o FC Porto o raptara —
equipa da empresa, o Unidos de Lisboa, que jogava, então, e, num impulso do coração, José Travaços escreveu, sorrateiro,
no Lumiar B, mesmo à beira da casa onde vivia, na Vila Rosa. ao irmão a dizer onde estava, pedindo-lhe que, de combinação
com dirigentes do Sporting, fossem lá buscá-lo. O estratagema
Tinha, porém, desde pequenino, o Sporting no coração — foi telegrama que lhe despacharam — dizendo que tinha de se
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47
Primeiro golo
da Taça dos Campeões
para Martins, o corticeiro
que ao assinar pelo Sporting
recebeu 100 escudos
(que não davam
para três galinhas)
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negro Matateu, que se comportou como atacante terrível pela
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do, minutos depois, tratado pelo massagista…)
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Perdendo no campo, o Belenenses (esse Belenenses que tam-
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João Batista Martins nascera em Sines por setembro de 1927, — Achei uma fortuna.
mas como a família era pobre, a vida difícil, mal acabou a quar-
ta classe puseram-no a trabalhar na indústria da cortiça, como Ao chegar a Lisboa, João Martins pesava apenas 48 quilos,
entalhador de rolhas. Na fábrica descobriram-lhe o jeito para a RJINFRJYWTX&TȁRIJYW®XRJXJXIJ8UTWYNSLVZJQMJ
bola, levaram-no para o Sport Lisboa e Sines — e no seu primei- pagava as «refeições reforçadas» para que não continuasse a
ro jogo, contra o Barrosinha, em Alcácer do Sal, abriu bocas XJWZRoUFZIJȁTO¥YNSMFJSLTWIFITVZNQTXƉJFUTZHT
de espanto, abriu-as de tal forma que, pouco depois, o chefe e pouco, foi agarrando destino que era mais do que só suplente
IJZRFK¥GWNHFIJHTSXJW[FXTIJXFȁTZUFWFF.IN[NX§TUFWFT de Peyroteo…
Olhanense. Acabara de fazer 17 anos, foi sozinho de comboio
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casa apertaram desapareceu sem deixar rasto.
49
Partizan
Juntamente com o Sporting, a equipa jugoslava do Partizan faria
história ao participar, a 4 de setembro de 1955, no Jamor, naquele
que foi o primeiro jogo da Taça dos Campeões Europeus
1955
51
Por que ao abrir a porta
a uma mulher Carlos Gomes
(o primeiro português
a sofrer golo
na Taça dos Campeões)
foi parar aos calabouços
da PIDE
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XZFUWNRJNWFUTHFVZFYWTOTLTXGFXYFWFRUFWFQMJIFWTXJZ — Pois mete na tua cabeça, se é que a tens, que enquanto eu for
UWNRJNWTY±YZQTIJHFRUJ§T3FXJLZNSYJSFIJFNSIF presidente do Sporting são cinco contos ou nada. Para que queres
KTNHTR&_J[JITSFGFQN_FVZJT8UTWYNSLFGWNZTHFRUJTSFYT tu mais dinheiro? Para putas e automóveis?
53
Retorquiu-lhe que não aceitava que lhe pagassem «cinco palhaço?! Está diante do Ministro da Defesa Nacional» — e por
miseráveis contos», havendo no clube quem recebesse 20 ou causa disso, fui castigado com três dias de detenção em quartel.
mais. Góis Mota urrou:
Pior lhe sucedeu depois:
— Mentira, o clube nada dá a mais aos outros. E se há alguém
que recebe algum extra, isso deve-se à dádiva de algum sócio. — Possuía um velho carro descapotável (o ganho não dava para
mais) e estava sempre rodeado de belas mulheres. Uma das mi-
Atirou com a porta à cara do presidente, que também era nhas íntimas era estrangeira. Como necessitava de um visto,
comandante da Legião, exclamando-lhe, ao virar de costas: acompanhei-a ao tenebroso edifício da PIDE. Ao parar o carro,
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— Pois então trate de encontrar-me um sócio desses para mim tu! Tira daí essa carroça. Por acaso não sabes, idiota, que aqui é
ou um outro guarda-redes para si. proibido estacionar?!»
Deixou de aparecer aos treinos, estava a cumprir tropa na Carlos Gomes abriu, cavalheiro, a porta à menina, murmurou:
Ajuda, apercebeu-se de rumores de que, por causa da sua
rebeldia, o poderiam despachar para África, voltou à Rua do — Bando de chacais!
Passadiço, para dizer ao presidente:
Acordou nos calabouços da PIDE com um olho num trambo-
— Regresso, mas com uma condição: que me tire da tropa. lho e mossas pelo corpo todo — e, horas depois, Santos Costa
telefonou a Francisco Cazal-Ribeiro, que, entretanto, subira
,·NX2TYFFȁWRTZQMJ a presidente do Sporting, sucedendo a Góis Mota (e que era,
como o outro, comandante da tenebrosa Legião Portuguesa,
— Tirar-te da tropa, isso não, que é dever sagrado de todo o por- a milícia do regime) para um desabafo:
tuguês.
— Se não fosse o futebol, o Sporting, teria mandado o gajo para
Mas, através de telefonema ali mesmo, conseguiu que San- onde ele merecia, para Peniche ou para o Tarrafal. Mas, para que o
tos Costa, ministro de Salazar, o pusesse em pouco serviço no malandro não se julgue impune, vai ter de cumprir 10 dias de prisão
seu próprio gabinete. militar».
Antes de partir para a Bélgica, para o Campeonato da Eu- Logo ali, Santos Costa e Cazal-Ribeiro decidiram, porém,
ropa de militares, Santos Costa chamou a Seleção, coman- que só cumpriria a pena depois do jogo com o FC Porto, que,
dada por António Ribeiro dos Reis, a jantar de despedida em por essa altura, ainda andava em luta pelo título, com o Spor-
Queluz: ting — no campeonato de 1957/58, o primeiro a dar ao Spor-
ting lugar na Taça dos Campeões Europeus de pleno direito.
— A certa altura, o ministro contou-nos uma história idiota, qual-
quer coisa como um jogador que meteu um penálti com a cabeça (Em 1958, pela transferência de Carlos Gomes para o Gra-
— e, naquele silêncio impressionante, desatei a rir à gargalhada. nada de Scopelli, o Sporting recebeu um milhão de pesetas,
Olhando de viés, avançou direito a mim: «Cabo, eu tenho cara de cerca de 570 contos. Como o máximo que a federação espa-
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nhola permitia que se pagasse a um jogador era 125 mil pese- (TSYFHYFWF HTSYWFGFSINXYF UFWF T UFXXFW ZR YNU·LWFKT UFWF
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ZRFJRUWJLFIF&UFWJHJZQMJJXUFRUFSFSYJZRFWFUFWNLF — Comigo na baliza, Portugal teria sido campeão do Mundo e o
ƉUFWFTJRUWJLT Sporting teria ganho mais do que uma Taça das Taças...)
55
No segundo golo do Partizan, pretendeu fazer boxe, arrastando os companheiros para cenas
deploráveis. Os ânimos serenaram, dois portugueses cumpri-
o azar de Passos mentaram, então, dois jugoslavos, o sossego voltou e o Sporting
A caminho do balneário, a Manuel Passos logo se apanhou — Eles, os jugoslavos, são bons jogadores, mas… mas nós mere-
mágoa a soltar-se: cíamos ter ganho. Não fomos afortunados. Perdemos alguns golos
por um triz — e a nossa defesa também não teve a ampará-la o
— Tive azar, muito azar no segundo do Partizan. fator sorte. No terceiro golo, sim: a nossa defesa foi batida apenas
por virtude dos lances envolventes e das rapidíssimas desmarca-
A seu lado, Carlos Gomes esboçou-lhe a consolação: ções dos jugoslavos — que, nisso, são muito perigosos.
— Quase o evitava, com uma palmada mais em cheio na bola. Esse terceiro golo, o que pôs o placard em Sporting, 2-Parti-
Mas o chuto foi muito à queima. zan, 3 — marcou-o Stjepan Bobek aos 73 minutos. Era, então,
o mais badalado jogador do Partizan. Nascido em dezembro de
E Passos continuou a remoer o golpe do destino: 1923 — para que o pudessem inscrever pelo Viktorija Zagreb,
com apenas 13 anos, usaram-se documentos do irmão mais
— Azar, um grande azar… Fiz-me à jogada, queria deter a bola velho. Para o Partizan o levaram quando, por outubro de 1945,
com o corpo, mas ela passou-me por baixo do braço — ao menos, combatentes na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial
que lhe tivesse batido, que só teria sido falta. o fundaram em homenagem aos partizans (como se chamavam
às milícias comunistas) — logo se tornando o clube do exército
Entretanto, agitou-se o Jamor com escaramuça: levando para do Marechal Tito. Vice-campeão olímpico em Londres e em Es-
lá do limite, a rudeza com que o Partizan vinha jogando, Pajevic tocolmo — Bobek não deixara também de espalhar o seu brilho
JSYWTZ[NTQJSYTXTGWJ9WF[F«TXJSLFQȁSMFSITXJZRSTTZYWT (e o seu instinto goleador) pelo Mundial de 1954 (e por tudo isso
houve pugilato no campo, Tavares da Silva revelou-o: «Dois mi- em 1995 foi eleito o Melhor Jogador de Todos os Tempos do Par-
nutos depois, o jogo parou de novo porque um defesa jugoslavo tizan).
57
XJXFGJƓS§TKTNT-TS[JIVZJWJUWJXJSYTZF-ZSLWNFSFXZF
Ao clube do Puskas primeira edição.
prenderam-lhe o guarda-redes
— e em vez do Honved Quando, em 1949, a Hungria se tornou estado comunista e
,ZXYF[T8JGJXXZGNZF[NHJ2NSNXYWTIT)JXUTWYTQTLTTIJHN-
a Hungria mandou diu: concentrar a base da sua seleção em dois clubes apenas.
(TRTT+JWJSH[FWTXJXYF[FHTSTYFITHTRSFHNTSFQNXYFXJINX-
à Taça dos Campeões sidentes do PC, escolheu para o seu plano o MTK, que passou
o clube da polícia política FXJWTHQZGJIF&;-FUTQ±HNFUTQ±YNHFITWJLNRJ2ZIFSITQMJ
TSTRJHTRJ«TZUTWXJW'¥XY^F8*JIJUTNXFNSIFHTRRFNX
(e trágico foi o destino KJW[TWWJ[TQZHNTS¥WNTUFXXTZF;TWTX1TLTGT8*
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do seu goleador) GTXNLSNȁHFGFSIJNWF[JWRJQMF&T290OZSYTZT0NXUJXY&(
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Ao saber da ideia do L´Équipe, o Chelsea não perdeu tempo VZJJRM¾SLFWTXNLSNȁHFTXIJKJSXTWJXIFYJWWFR§J
a agarrar-se a ela: que sim, que estaria também na Taça dos
Campeões Europeus — dela desistindo, largando como des- &IJWWTYFIJ'JWSFIJN]FWFKJWNIFGJRFGJWYFSTHTWF«§TITX
HZQUFoINȁHZQIFIJXUFWFFWYNHZQFWHFQJSI¥WNTXWJ[JQFSITXJ M¾SLFWTXJSYWJJQJXMF[NFVZJRFHMFXXJVZJFHZQUFIFIJW-
porém, logo depois que fora a FA que lhe proibira o intento por WTYF SF ȁSFQ IT 2ZSINFQ IJ KTWF IJ 5ZXPFX
J ITX XJZX
oFHMFWVZJYFQUTIJWNFXJWUJWNLTXTUTIJWNFIJX[NFWFXFYJS- HTRUFSMJNWTXIT-TS[JIJUTWNXXTSFXXJRFSFXVZJXJQMJ
«¹JXIFXZF1NLFƉHMFRFSITXJJRXJZQZLFWTXUTQFHTXIT XJLZNWFRXJRUWJVZJT-TS[JIOTLF[FFUZUF[FRSTNSXZQYF-
Gwardia Warszawa. [FRST+TNUJWIJSITFUFHN®SHNFZRF[J_FGFSITSTZTHFR-
UT3TZYWFKJ_UNTWYNWTZUWT[THFITWTXHFQ«¹JXJRWJXUTXYF
3FVZJQFKFRTXFYFWIJJRVZJT-TS[JIOTLTZJR.SLQFYJW- a apupos que se soltaram das bancadas — e por causa disso
WFHTRT<TQ[JWMFRUYTSIJXFȁTFUWJXJSYFITHTRTToIZJQT JXYJ[J[¥WNTXOTLTXXZXUJSXT
UFWFIJHNINWVZFQFRJQMTWJVZNUFIJKZYJGTQITRZSITMTZ[J
truque: apesar de ser dezembro, dezembro de 1954, não cho- .RUJINITIJOTLFWUJQFUTQ±HNFUTQ±YNHFJRUWNX§TITRNHNQN¥-
[NFƉJJSHMFWHTZXJTWJQ[FITHTRZRUWTU·XNYTJXHTSINIT WNF UTW oXZG[JWX§T
HTSYWF T WJLNRJ HTRZSNXYF HTSYNSZF[F
oNRUJINWTOTLTȂZ±ITITXRFLNFWJX&HFGTZHTRIJWWTYFIT ,^ZQF,WTXNHXƉJFNSIFFXXNRT-TS[JILFSMTZHFRUJTSFYT
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UFYJ F 5ZXPFX ST 2ZSINFQ F FSZQFW T YFRGR IJN]FSIT VZJZROTLTTIFHTSXFLWF«§TITXHFRUJ¹JX&HFGTZƉ
5ZXPFXFVZJN]FWXJKZWNTXTIJoRFNXZRWTZGT J ST OTWSFQ 0UJX 8UTWY JXHWJ[JZXJ o8J ZRF UFWYNIF IJ KZ-
tebol tem 16 golos, a primeira reação é achar-se que não foi
9FQ HTRT -FSTY IJXHFGJQFIT ȁHTZ 5ZXPFX FT UJWHJGJW WJFQRJSYJXWNF2FXS§TKTNJXXJTHFXT5JQTHTSYW¥WNTTVZJ
T VZJ XJ JXHWJ[JWF STX OTWSFNX NSLQJXJX IT INF XJLZNSYJ Ɖ F resultou desse brilhante placard foi que cada uma das equipas,
RJXRF HTS[NH«§T WJUJYNIF o& RJQMTW JVZNUF IT 2ZSIT X§T T-TS[JIJT;TWTX1TGTL·VZJWJSITRTXYWFWVZJRJWFWJFQ-
TX<TQ[JX*FUJXFWIJYJWXNITT-TS[JIFQJ[FW¤NIJFQN_F- RJSYJRJQMTWȁ_JWFRYFQ[J_TOTLTRFNXKFSY¥XYNHTIFMNXY·WNF
«§TIF9F«FIF*ZWTUF
VZJS§TȁHTZFXXNRIJSTRJHTRTO¥ IF-ZSLWNF
& UWNRJNWF R§T ITX TNYF[TX IJ ȁSFQ ST 290 8YFINTS IJ ,FSMFSITJR2FIWNIUTWJUJWIJSITJR2NQ§TUTWT
'ZIFUJXYJ FHFGTZ HTR T UQFHFWI F Ɖ J SJXXJ INF IJ 7JFQJQNRNSTZT&(2NQFSƉJFXXNRF9F«FITX(QZGJX(FRUJ¹JX
XJYJRGWTIJ5YJW5FQTY¥XYTWSTZXJTUWNRJNWTOTLFITW *ZWTUJZXIJWJUJYNZSTRJXRTUFQHTFȁSFQIF9F«F1FYN-
F KF_JW MFYYWNHP SF HTRUJYNǤT *WF ZRF IFX VZFYWT JXYWJQFX SFIJ9WJNSFITWITXRFIWNQJSTXIJN]FWFIJXJWTZWZLZFNT
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FX TZYWFX JWFR 3¥SITW -NIJLPZYN 2NM¥Q^ *SWNVZJ+JWS¥SIJ_
VZJJRMF[JWNFIJKF_JWIT8UTWYNSL
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O¥FHFRNSMTIJIJXYNSTKFYFQYW®XFSTXIJUTNXFUFSMFWFRQMJ
UWTGQJRF ST HTWF«§T FU·X OTLT IF XJQJ«§T HTSYWF 5TWYZLFQ Depois de ter sido discreto guarda-redes em Córdoba, Vil-
TGWNLFWFRSTFFGFSITSFWTKZYJGTQƉJIJFYFVZJHFWI±FHT QFQTSLF IJINHTZXJ XTGWJYZIT ¤ HFWWJNWF RNQNYFW )ZWFSYJ F
RTWWJZFQLZWJXUTW ,ZJWWF(N[NQ*XUFSMTQFKTNITXRFNXIJXYFHFITXHTRFSIFSYJX
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6ZFYWTOTLTXFUJSFXKJ_5FQTY¥XSFJIN«§TIJIF JXUJHNFQN_FITJR*IZHF«§T+±XNHFYTWSTZXJUWTKJXXTWIF*X-
9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZX
RFNXYW®XLTQTXRFWHFSITUTW- HZJQFIJ*SYWJSFITWJX8FSYNFLT'JWSFGZVZJHTRTJQJYFR-
que o Voros Logogó saiu eliminado pelo Stade de Reims dos GRHTRGFYJWFWJUZGQNHFSTXSFXMTXYJXKFQFSLNXYFXIJXFȁTZ-
VZFWYTXIJȁSFQ
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UTWJR2FIWNI[JSHJWFRUTWJR'JQLWFIT)JUTNXITX 6ZFSITJRIJ_JRGWTIJ*SWNVZJ+JWS¥SIJ_KTNIJX-
XJNXLTQTXF(FWQTX,TRJX2NQTX2NQZYNST[NHKJ_RFNXITNXƉJ UJINITJRHMTVZJHTRFINWJ«§TXZGNZ;NQQFQTSLFFYWJNSFITW
JXXJXTNYTYTWSFWFRSTTUWNRJNWTRJQMTWRFWHFITWIFHTRUJ- UWNSHNUFQGWNSHFSITHTRTIJXYNST
YNǤT
— E eu que pensava que só me queriam para tratar de corpos…
48YFIJIJ7JNRXFKFXYTZIFȁSFQ
VZJMF[NFRZNYTXJXFGNF
XJWNFJR5FWNXST5FWVZJITX5W±SHNUJXT-NGJWSNFS+(.SX·-
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WTSIFFSYJWNTWHFGJSITQMJXOTLFWHTRT)OZWLFWIJSXFTFUJW- IJHFRUJ§TJXUFSMTQ[TQYFSITFXJWƉJUTW'JWSF-
ceberem-se de que agrestes condições meteorológicas impe- GZS§TQMJVZJWJWIFWTINSMJNWTVZJQMJJ]NLNZIJN]TZT7JFQ
INFRIJXFȁTFHJNYFWFRKF_JWFRGFXFXR§TXSF*XH·HNF3T [TQYTZ FT VZFWYJQ ;NQQFQTSLF YNSMF UTWR RFNX MNXY·WNF ¤ XZF
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FKZSHNTSFWHTRTXZFHFXFUJWIJWFR JXUJWFƉKTNHTRJQJFXJQJHNTSFITWVZJF*XUFSMFLFSMTZT
UTWJST*FXYJW7TFIIJ*INRGZWLTUTW *ZWT
59
Como o acidente de França, a mais de 600 metros de profundidade, no meio do pó,
da água e da escuridão. Tornei-me no que se chama um galibot,
na mina (que lhe levou mineiro em calão do Norte. No dia de folga fazia tudo para jogar
KZYJGTQ5TWȁRHTSXJLZNYWJNSFW¤YFWIJSTRJZHQZGJ8FGNFVZJ
dedo de uma mão) era a minha única arma para me escapar da mina — e logo depois
mudou a vida a Kopa daquela cidade.»
)FRNSF
TSIJYNSMFUTWXJW[N«TJRUZWWFWTXHFWWTXFYFKZQMF-
+TNFIJOZSMTIJFȁSFQIFUWNRJNWF9F«FITX(FR- ITXIJHFW[§TUJQTXJXHTSXTXJJXYWJNYTXHTWWJITWJXUTW[J_JX
UJ¹JXƉFSYJRNQJXUJYFITWJXST5FWVZJITX5W±SHNUJX6ZF- FRFNXIJRJYWTXITXTQTJXHFUTZJRIWFRFFTFHFGFWIJ
XJ¤RJXRFMTWFXJQJ«§TIJ'ZIFUJXYJ
RNXYZWFSITOTLFITWJX KF_JWFSTXWTHMFHFNZIJZRHFWWNSMTJJXKFHJQTZQMJTNSIN-
IT-TS[JIJIT;TWTX1TLTG·HTRFQLZSXIJQJXTXIT-TS[JI HFITWIFR§TJXVZJWIF;JSITTFRUZYFITIJWFRQMJUJSX§T
S§T RZNYT QTSLJ IJ XJ YTWSFWJR ST VZJ XJ YTWSFWFR J]NQFITX IJNS[FQNIJ_J0TUFX_J\XPN
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UTQ±YNHTXNSFZLZWF[FHTSYWFT8UTWYNSLFNQZRNSF«§TIT*XY¥INT UTWXZLJXY§TIJZRUWTKJXXTWVZFSITFNSIFFSIF[FSFJXHTQF
IJ&Q[FQFIJƉJSFU¥LNSFIJINHFIFJR&'41&FTOTLTIJ5F- UWNR¥WNF ȁHTZ HTR RFNX YJRUT QN[WJ UFWF FQNSMFW UJQF JVZNUF
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JXNRMF[NFRZNYFXFTXRFLTYJX UWTRJXXFXƉJS§TQMJIJWFRNRUTWY¦SHNFIJRFNTWUTWTFHMF-
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QTYFǤTIJUFWFRNQJXUJYFITWJX FSFHNTSFQNIFIJKWFSHJXF
48YFIJIJ7JNRXJWFF¾SNHFJVZNUFVZJFNSIFS§TUJWIJWF Ɖ&VZNQTS§TYNSMFLWFSIJXJSYNITUFWJHNFRJRZNYTFWYNȁHNFQ
ƉUTWJSYWJTXTSMTIJFXXNRHTSYNSZFWNSXNSZF[FXJXTRGWF Tínhamos de marcar cantos, livres, e fazer uma corrida cronome-
UTWR0TUFFXZFJXYWJQFRFNTWJXYF[FoKJWNITSZRYTWST_J- trada tipo slalom. De qualquer modo, pensei que surgisse um dos
QTƉJX·¤¾QYNRFMTWFXJXFGJWNFXJNSȁQYWF«§TIJFSFQLXNHT grandes clubes do Norte a oferecer-me contrato: o Lille, o Lens, o
QMJUJWRNYNWNFOTLFWTZS§T Valenciennes ou o Roubaix — e não deixou de ser desilusão para
mim ver que só o Angers, da segunda divisão, me fez oferta.
0TUF JWF T INRNSZYN[T IJ 0TUFX_J\XPN Ɖ J S§T T FUJQNIT
S§TJSLFSF[FȁQMTIJUTQFHTVZJKZLNWFIF&QJRFSMFUFWFF +TNJRƉJITNXFSTX[TQ[NITX0TUFXFQYTZIJQ¥
JR
+WFS«FIJUTNXIF.,ZJWWF2ZSINFQJKTWFYWFGFQMFWUFWFFXRN- SJL·HNT JS[TQ[JSIT RNQM¹JX IJ KWFSHTX UFWF T 8YFIJ IJ
SFXIJHFW[§T3TJZ]QJX2NSJX5TWQ¥SFXHJZFIJTZYZGWT 7JNRX
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IJƉJKWFSH®XKTNTSTRJVZJTUFNQMJU¸X7F^RTSI3F 5FWH5TRRJW^KZSIFIFSTXJNTIFK¥GWNHFIJHMFRUFSMJ5TR-
GNTLWFȁFVZJMF[JWNFIJJXHWJ[JWo2TS+TTYGFQQHTSYTZT RJW^,WJSTUWTUWNJIFIJIT2JWHMNTWIJ5TQNLSFHRFWVZ®X
VZJFNSIFUJSTZFQLZRYJRUTFHZXFITIJHTQFGTWFHNTSNXRT
— A partir dos 14 anos comecei a trabalhar numa mina do norte HTRFTHZUF«§TSF_N
4 ¥WGNYWT JWF T NSLQ®X &WYMZW *QQNX VZJ XJ YTWSFWF KFRTXT — Acabei com o jogo porque eles precisam de aprender o que
UTW YJW FUNYFIT ST 2ZSINFQ IJ OTLT ITX VZFWYTX IJ é o fair-play, o espírito desportivo. Os sul-americanos são muito
KNSFQJSYWJT'WFXNQJF-ZSLWNFVZJUFXXFWF¤MNXY·WNFHTRT mais excitáveis que nós, muito mais apaixonados que nós. Impul-
F'FYFQMFIJ'JWSF&TXRNSZYTX[JSIT3±QYTS8FSYTXJ sivos, fazem coisas loucas — e, minutos depois, já estão profunda
'T_XNP FTX XTHTX J]UZQXTZTX 6ZFSIT O¥ ¤ GJNWF IT KNR JLJSZNSFRJSYJFWWJUJSINITX5TWNXXTITVZJȁ_XJS§TLZFWIT
0THXNXU¸XTUQFHFWIJR-ZRGJWYT9T__NIJN]TZFGTQF arrependimento, também não guardo rancor.
61
Ter sido grevista
impediu Rial
de regressar à Argentina,
Di Stéfano pediu a Bernabéu
que o fosse buscar
(e ele marcou
dois golos ao Reims)
— Em 1952 quis voltar a San Lorenzo mas como tinha sido gre-
vista e a AFA estava sob mando de Péron, não me deixaram.
— Depois do que vi neste jogo, não sei por que o Real precisa
de mim…
63
OITAVOS DE FINAL QUARTOS DE FINAL
Sporting (Portugal) – Partizan (Jugoslávia) Djurgårdens IF (Suécia) – Hibernian (Escócia)
3–3 // 2–5 1–3 // 0–1
Vörös Lobogo (Hungria) – Anderlecht (Bélgica) Stade de Reims (França) – Vörös Lobogo (Hungria)
6–3 // 4–1 4–2 // 4–4
Servette (Suíça) – Real Madrid (Espanha) Real Madrid (Espanha) – Partizan(Jugoslávia)
0–2 // 0–5 4–0 // 0–3
Rot-Weiss Essen (RFA) – Hibernian (Escócia) Rapid Viena (Áustria) – AC Milan (Itália)
0–4 // 1–1 1–1 // 2–7
Djurgårdens IF (Suécia) – Gwardia Warszawa (Polónia)
0–0 // 4–1
AGF (Dinamarca) – Stade de Reims (França)
0–2 // 2–2
Rapid Viena (Áustria) – PSV Eindhoven (Holanda)
6–1 // 0–1 MEIAS-FINAIS
AC Milan (Itália) – FC Saarbrücken (Sarre)
3–4 // 4–1 Real Madrid (Espanha) – AC Milan (Itália)
4–2 // 1–2
Stade de Reims (França) – Hibernian (Escócia)
2–0 // 1–0 MELHORES MARCADORES
0LORå0LOXWLQRYLþ3DUWL]DQ
8 (4 jogos)
Péter Palotás (Vörös Lobogó S. E.)
6 (4 jogos)
Léon Glovacki (Stade de Reims)
6 (7 jogos)
René Bliard (Stade de Reims)
5 (7 jogos)
Alfredo Di Stéfano (Real Madrid)
5 (7 jogos)
Héctor Rial (Real Madrid)
5 (7 jogos)
FINAL
Taça dos Campeões Europeus, 1955/1956
3 Stade de Reims
4 Real Madrid
Final
13 de junho de 1956
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
A habilidade de Franco para -centro, por ter as pernas arqueadas e fazer o que nunca an-
tes se vira pelos campos do Brasil: lançar-se aos adversários
desviar Di Stéfano do Barça para lhes disputar a bola em carrinhos temerários — recebeu
Foi de lá que saltou para o Flamengo. Jogava a médio- Flávio Costa agarrou-o pelo colarinho — e por entre sa-
Clamor maior causou picardia de Flávio Costa com Heleno — Só faço o que é melhor para os meus times.
de Freitas. Não estando ainda o craque caprichoso atacado
pela sífilis que haveria de o atirar para hospital de loucos Não admitia que os seus pupilos jogassem de meias em
onde morreu, estava já marcado pela boémia, a bebida e baixo ou camisolas de fora, com gorros ou fitas — definia
até o modo como tinham de vestir-se fora de campo e o que
tinham de comer. Por isso, dele se dizia:
— O senhor é o autor?!
69
IJF[N§TƉHTR;NWL±QNTTHFUNY§TUTWYNXYFFQJRGWFWVZJSFX
O capitão do FC Porto &SYFX,FNS_FTFRJF«FWFIJRTWYJJR'NQGFZ
a queixar-se da ameaça 3§T,FNS_FS§TRFYTZ;NWL±QNTT&YQMQJYNHTGWNLTZT+(5TW-
YTFIJXUJINWXJIF9F«FITX(FRUJ¹JXRFXYFQHTRT)FZHNP
de que em Bilbau o matavam UWJ[NWFIJHTWF«¹JXYWJRNITXƉJTXUTWYNXYFXYTITX¤ZRFF
(e o que lá houve QFRJSYFWJRTIJXYNSTJRoLWFSIJWTZGT&TXVZFYWTRNSZYTX
-JWS¦SNU¸XTUQFHFWIJRFTX/FGZWZU¸QTJR4
foi um «grande roubo») &YMQJYNHKJ_SZRUJS¥QYNIJGWFIFWFTXHZX+Q¥[NT(TXYF
FYKTNRFNXQTSLJ
Continuando, porém, a ganhar por outras frentes, quando — Sofremos dois golos irregulares.
(JX¥WNT'TSNYTTIJXFȁTZUFWFXZGXYNYZNW)TWN[FQ>ZXYWNHM+Q¥-
[NT(TXYFHTRJ«TZUTWJ]NLNWHTSYTXUJQTUWRNTIJFXXN- (FWQTX)ZFWYJFOZITZ¤QFR¾WNF
SFYZWFJRFNXIJ[JSHNRJSYTRJSXFQƉFHFGFSITUTWR
UTWFHJNYFWFU·XQFWLFSJLTHNF«§TFTYJQJKTSJVZJTTWIJSFIT — Fomos eliminados pelo árbitro.
KTXXJRFNXGFN]TJSY§THTSYTX2FQHMJLTZU¸XT+(5TWYT
FOTLFWoKZYJGTQSZRFGJQJ_FHTRTS§TXJ[NWFƉJKTNSJXXF 4¥WGNYWTKTNTNYFQNFST2FZWJQQNƉJ&WYJHMJTRFWHFITWIJ
KVZJFIJXJYJRGWTIJXJQFS«TZ¤UWNRJNWFR§TIF ITNX ITX YW®X LTQTX IF XZF JVZNUF
FTX J RNSZYTX
UWNRJNWFJQNRNSFY·WNFIF9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZXHTSYWF WJHTSMJHJZVZJSFVZJQFYFWIJ)JZXKTWFGFXHT
TT&YMQJYNH'NQGFT
— O FC Porto foi a melhor equipa que atuou em Bilbau nos últi-
&TXTNYTRNSZYTXUTSYFUIJ,FNS_FIJZJRKWFSLTIJ&H¾W- mos seis anos, o que nós sofremos, ninguém imagina.
HNT
VZJ JWF YFRGR LZFWIFWJIJX IF XJQJ«§T IJ M·VZJN JR
UFYNSXƉJIJXYWT«FITJSYWTZSTGFQSJ¥WNTFHMTWFWJUJINZ
IJXHZQUFFTXHTRUFSMJNWTXƓ
/TX2FWNFFNSIFJRUFYTZFTXRNSZYTX(FSNYTKJ_T
FRNSZYTXITȁRƉJ+JWSFSIT)FZHNP
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YNHƉJFT+(5TWYTMF[JWNFIJNWUFWFWƓS§TXFNZITJXY¥INT
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FU·XTOTLT5JWSTNYFWFRST1ZXTFYNWFSITXJIJUTNXUFWFINF
NSYJNWT¤JXYWFIF6ZJTF[N§TJWFQZ]TINXUJSX¥[JQOZXYNȁHFWFR
TX XJZX INWNLJSYJX 5TWR UFWF T 5F±X 'FXHT KTN T +( 5TWYT Na época de 1956/57, o FC Porto despediu-se da Taça dos Campeões em Bilbau
1956
71
Com Puskas na loja
de ferramentas entrou
Guttmann na sua vida
(e por sua causa
foi-se embora, zangado…)
-NYQJWYTRTZTUTIJWSF&QJRFSMFJUFWFVZJTȁQMTS§Tȁ-
casse com o apelido alemão com que o batizara: Purczeld — foi
a um conservatório mudá-lo, dando-lhe toque mais húngaro:
5ZXPFXƉHZOTXNLSNȁHFITƓJXUNSLFWIF
8NRS§TIJN]TZIJ
ter algo de premonitório, no seu simbolismo.) Aproveitou e fez
TRJXRTȁHFWFRFRGTX5ZXPFX+JWJSH5ZXPFXƉZRT+JWJSH
5ZXPFX8WTZYWTT+JWJSH5ZXPFX/W*KTNT+JWJSH5ZXPFX/W
quem o contou em Puskas, Uma Lenda do Futebol:
Ɖ5TNXJSY§TȁHFYZFYTRFWHTSYFIFJVZNUFƓ
*_FSLFITO¥S§T[TQYTZXJVZJWFTHFRUTUFWFFXJLZSIF
UFWYJ
5TZHTXRJXJXIJUTNX,ZYYRFSSJXYF[FJR.Y¥QNFFYWJNSFWT
5FIT[FƈKZLNSITITF[FS«TITXHTRZSNXYFXHTRTFSYJXKZLN
WFIFFRJF«FITXSF_NXQJ[FSITHTSXNLTUTWRFWJ[TQZ«§T
Y¥HYNHFVZJHWNFWFHTR,ZXYF[8JGJXJ2FWNTS'ZPT[NFYWFSX
KTWRF«§TIT<2JR]]Ɠ
4 GFYJW IJ UTWYF IJ 'QF ,ZYYRFSS U¸X IJ ST[T +JWJSH
5ZXPFX
TUFNFYWJNSFWT0NXUJXYN&(ƉVZJQTLTIJXJLZNIF
Desentendido com Puskas, Guttmann abandonou o Kispesti a meio dum jogo… IJN]TZIJXJW0NXUJXYNJUFXXTZFXJW-TS[JI
73
Se o FC Porto não fosse eliminado,
talvez os exilados do Honved
tivessem partido de Portugal
Apesar de campeão, à primeira edição da Taça dos Campeões Europeus não foi
o Honved, foi o Voros Lobogó (o MTK entretanto transformado no clube da polícia
política) — e foi o Athletic Bilbao (que eliminara o FC Porto, nas circunstâncias
que já se sabe…) que lhe calhou em sorte nos oitavos de final.
Foi sob esse pano de fundo que o Honved jogou em Bilbau. Perdeu por 3-2
e, claro, a segunda mão não se pôde fazer em Budapeste, fez-se na Suíça. Os
húngaros jogaram com a cabeça a arder – sem saberem de notícias da família, se
estavam vivos ou mortos, empataram 3-3, foram eliminados.
Da Suíça, saltou a equipa para o exílio, dos seus principais jogadores só regres-
sariam a Budapeste, o Hidegkuti, o Grocsis e o Bozsik. (O Bozsik, que tivera a
Durante a sua aventura italiana, Béla Guttmann saltara de Pádua para o Triestina
— e, em 1955/56 fez do AC Milan campeão. Entrou, porém, em desentendimento
com o seu presidente — por lhe exigir mais dinheiro, acabou pura e simplesmente
despedido, na hora do adeus a Milão espantou os jornalistas com a frase que
largou, magoado:
— Não sendo nem criminoso, nem maricas, fui demitido, fui demitido sendo campeão,
mas vão arrepender-se…
E voltou para Viena. Foi lá que acolheu todos os exilados do Honved e lhes deu
a ideia:
— Se a FIFA não vos deixa jogar por não quererem voltar a Budapeste, joguem em digres-
sões pelo Mundo, arranjando, assim, dinheiro para viverem.
Foi o que fizeram e apesar de o treinador do Honved, Jeno Kalmar — que, depois,
haveria de passar pelo FC Porto —, se ter tornado exilado também, foi Béla Gutt-
mann o escolhido para comandar os húngaros que desataram a jogar (rebeldes e
«proscritos» pela FIFA) por quase todo o lado: de Itália a Espanha, de Portugal
ao Brasil.
75
Manchester United não admitiu
o que ao Chelsea se proibira
(e para jogar em Madrid o Real
deu 1950 contos ao Rapid de Viena)
Se, na edição anterior, o Chelsea fora impedido pela FA de entrar na Taça dos Cam-
peões (entrando na Taça das Cidades com Feiras) — o Manchester United não permi-
tiu que tal lhe sucedesse. Matt Busby, seu treinador, exigiu à FA que lhe enviasse a
candidatura à UEFA, embrulhando-o num convicto alvitre:
Após vitória por 2-0 ao Bruxelas, o United esmagou o Anderlecht em Manchester — e não,
não foi em Old Traford — porque os holofotes para iluminação do campo não estavam prontos
ainda, foi no estádio rival, no Maine Road do City — e cronista do Times espalhou júbilo pelo
jornal: «Não é difícil entrar-se em êxtase perante a explosão dos Busby Babes. A sua preci-
são, a sua arte e o seu ritmo, numa equipa com uma média de idades de 22 anos, teria pulve-
rizado qualquer outro time britânico — e certamente a maioria dos outros times europeus».
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— Não acredito que haja alguma equipa na Europa capaz de nos ganhar por três golos de
diferença…
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)FZHNPJSLFSTZXJT2FSHMJXYJW:SNYJI[JSHJZUTW
77
Como Portugal pôs ainda mais
«escândalo» numa seleção
de Itália que diziam
que parecia o Cambodja
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Y¦SNHTXƉJMTZ[JFYVZJRXZLJWNXXJVZJXJoXZXUJSIJXXJR Seleção portuguesa obteve, em maio de 1957, com três golos marcados
sem que a Itália a eles tivesse respondido, a primeira vitória em jogos
YTITXTXOTLTXNSYJWSFHNTSFNXIJ.Y¥QNFUTWYJRUTNSIJȁSNIT* de apuramento para Mundiais
mais remoques houve-os assim:
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jogadores da Fiorentina: Magnini, Cervatto, Chiappella e Mon-
tuori.
79
Os incríveis sentimentalismos de Julinho
Botelho e a polémica com a luz que levou
Bernabéu à demissão (que não foi)
De Itália não era a estrela da Fiorentina, o Julinho Botelho — que, assim, chegou
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— O sol é uma das riquezas de Espanha e não há razão para privar o jogo de tão
formoso elemento.
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adeptos:
— Talvez seja bom então que o dr. La Fuentes vá assistir à partida de pé e ao sol,
exatamente como os espetadores das entradas populares.
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81
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Como holandês ZRGJRRFNXKFRTXTVZJS§TXJSITHQZGJJXXJSHNFQRJSYJIJ
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que esteve em rocambolesco &OF]+TNUFWFQ¥VZJ1JT-TWSVZNXNWƓ
roubo de armas a nazis
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abriu caminho à vitória OTJQMTIZWFSYJZROTLTQJ[TZFVZJTHTSXNIJWFXXJRNSFUYT
do Real por não ligar UFWF T KZYJGTQ *RUWJLTZXJ SF 1JMRFSS (T K¥GWNHF IJ
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— Não, não me correu nada bem — e eu até cheguei a casa
Um «penalty» dos discutíveis abriu caminho à vitória do Real a pensar não voltar a usar mais o apito. Só voltei porque Edgar
Madrid não me deixou desistir.
opção mais ousada: levando Catharina, a mulher, com ele, jun- po a corpo os 11 soldados alemães, não os quiseram matar,
tou-se à Resistência. Tal como ela, passou a viver por Amester- deixaram-nos amarrados por lá — e, com ele ao comando do
dão com identidade falsa. George, o irmão mais novo, salvou-se comboio, foram entregar as armas a um esconderijo da resis-
da deportação por ter sido escondido num sótão (como Anne tência em Havenstraat, à beira do Estádio Olímpico (por onde
+WFSPUTWHNRFITXJZHFKUTW0ZPN0WTQ
HZOTȁQMTMF[JWNFIJ haveria de passar também a sua história, numa grande história
tornar-se estrela do futebol mundial no Ajax, o Ruud Krol), mas UFWFT'JSȁHFƓ
a Edgar, o irmão que o levara para árbitro, a Gestapo atirou-o
para Sobibor, morreu na câmara de gás… Estava o jogo já para além da hora, quando Horn assinalou
penálti a favor do Real — por entre um não disfarçado esgar de
Tomando o falso nome de doutor Van Dongen, cruzava de nervosismo. Os italianos precipitaram-se para ele, descabe-
&RJXYJWI§TSZRFGNHNHQJYFNIJSYNȁHFIFHTRTGFXY§TIJ*X- lados, em urros:
culápio, o símbolo da medicina, como se fosse médico — e
a sua célula na Resistência especializou-se em sabotagens e — É off-side, é off-side!
roubos de armas aos nazis. A mais famosa operação do gru-
UTUTW1JTQNIJWFITKTNHTRFLZJWWFVZFXJSTȁRTZ[NSIT Sim, a rasteira de Orzan a Mateo não deixara fímbria de dú-
rumor de que a Wehrmacht estava a armazenar armas para [NIFTȁXHFQIJQNSMFS§TIJN]FWFIJFYNWFWFGFSIJNWNSMFFTFW
levar de comboio dali — Horn e os seus 10 homens entraram, — a dar sinal de fora-de-jogo que Leo Horn devia ter assinalado
sorrateiros, pela janela do armazém, dominaram em luta cor- e não assinalou.
83
Como um eletricista
pôs Di Stéfano no seu destino
e uma greve o pôs
a caminho do Real
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85
Di Stéfano, forte presença na área, elegância e inteligência, um verdadeiro terror para as defensivas contrárias
Seis minutos após o penálti convertido por Di Stéfano, Gento Se, para Cândido de Oliveira, Di Stéfano foi «sem dúvida» (e
fez o 2-0 para o Real Madrid — e com o placard assim fechado de novo) o «atacante mais perigoso» e por Chamartín (foi assim
coube a Francisco Franco, o generalíssimo Franco, entregar a Taça que A BOLA denominou o estádio e não Santiago Bernabéu) ainda
dos Campeões a Miguel Munoz, por entre estádio a arder de júbilo se viram laivos da «perfurante velocidade de Gento» — a princi-
— sem que a euforia o enfarinhasse, como se aquela vitória fosse UFQoȁLZWFRFNXXFQNJSYJITIJXFȁTYFQ[J_YN[JXXJXNIT(JW[FYT
apenas uma vitória no futebol… pelo seu «poder atlético, o seu fantástico poder de antecipação»
e a sua técnica individual, pouco normal em defesas. Sim, Sérgio
Durante a Guerra Civil que o levou a tornar-se o Salazar de Es- Cervato era um defesa diferente — também por ter uma mão como
panha, para Franco a batalha contra os republicanos também era tinha. Lançara-se no futebol como lateral esquerdo de modestas
batalha contra o Barcelona. Quando a cidade caiu, os falangistas equipas de Lampo di Carmignano — e indo oferecer-se a teste à
de Franco (por onde também andara Santiago Bernabéu) mataram Sampdoria mandaram-no embora. Não tinha polegar na mão di-
inúmeros deles (ligados ao clube), enterrando-os em valas comuns reita, amputaram-no na sequência dum acidente com ferramenta
SF HTQNSF 2TSYOZNH * +WFSHT FȁFS«F[FT TWLZQMTXT [J_JX XJR agrícola no campo onde trabalhava desde pequenote. Tentou a
conta: Fiorentina, não o desprezaram — e a sua estreia pela seleção foi
em Portugal, numa vitória da azzura por 4-1, em 1951. (Quando,
— Sou capaz de recitar as formações completas do Real Madrid, depois, se tornou treinador — percebeu-se-lhe um dom: descobrir
recuando décadas e décadas… «talentos de futebol inteligente», um deles foi Fabio Capello…)
1957
87
RONDA PRÉVIA QUARTOS DE FINAL
AGF Århus (Dinamarca) – Nice (França) Athletic Bilbao (Espanha) – Man. United (Inglaterra)
1 – 1 // 1 – 5 5 – 3 // 0 – 3
FC Porto (Portugal) – Athletic Bilbao (Espanha) Fiorentina (Itália) – Grasshopper (Suíça)
1 – 2 // 2 – 3 3 – 1 // 2 – 2
R.S.C. Anderlecht (Bélgica) – Man. United (Inglaterra) Real Madrid (Espanha) – Nice (Franaça)
0 – 2 // 0 – 10 3 – 0 // 3 – 2
B. Dortmund (RFA) – CA Spora Luxembourg (Luxemburgo) Estrela Vermelha-XJRVOiYLD²&'1$6RÀ\D%XOJiULD
4 – 3 // 1 – 2 // 7 – 0 3 – 1 // 1 – 2
Dínamo Bucareste 5RPrQLD²*DODWDVDUD\7XUTXLD
3 – 1 // 1 – 2.
Slovan Bratislava (Checoslováquia) – Legia Warszawa
(Polónia)
4 – 0 // 0 – 2
2 Real Madrid
0 Fiorentina
Final
30 de maio de 1957
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
Se o avião No dia seguinte, cada um tinha no seu cacifo notícia de multa
IJJXHZITXoUTWSJLQNL®SHNFJUTWS§TYJWJRFHFYFITFX
do Manchester United TWIJSXITYWJNSFITWJQJJWFRJXRTFXXNRƉJSLJQT2FW-
YNSXTXJZIJKJXFINWJNYTWJ[JQTZJSYWJYFSYT
não se tivesse transformado
numa bola de fogo, — Criou-se o Lar dos Jogadores, que era uma espécie de re-
o Real teria ganho gime de vigilância máxima — quem não cumprisse os horários
era multado a doer. Havia também controlo para quem não vivia
a sua terceira Taça? no Lar, os casados. Uma vez, fui apanhado em casa de uma vizi-
nha às 23.10 horas, estava na sua festa de anos, aplicaram-me
1000 escudos de multa — e eu só ganhava 750 por mês. Tudo
Por meados de 1954, Joaquim Ferreira Bogalho encantou-se isso ajudou a mudar-nos a mentalidade…
com o modo como um treinador de 35 anos (que era neto de por-
tugueses e deixara em suspenso o curso de direito) pusera o Vasco 4KZQLTWIJXXJ'JSȁHFUJWHJGJZXJSF9F«F1FYNSFIJ
IF,FRFFOTLFWƉJIJXFȁTZTUFWFT'JSȁHF(MFRF[FXJ4YYT
F¾QYNRFVZJXJINXUZYTZYFRGRKTNTSLJQTVZJTHTSYTZ
2FWYNSXIF,Q·WNF&TFXXNSFWHTSYWFYTWJHJGJZHTSYTXƉJȁHTZ
FLFSMFWJXHZITXUTWR®X4ZYWFUWTRJXXFWJHJGJZJSYWJ- — Para além da vitória no campeonato, ganhámos a Taça de
YFSYTVZJVZFQVZJWY±YZQTIJHFRUJ§TQMJ[FQJWNFZRG·SZXIJ 5TWYZLFQFT(T[NQM§ƉJSFXRJNFXȁSFNXIF9F«F1FYNSF[JSHJ-
HTSYTX.RUQJRJSYTZFXHTSHJSYWF«¹JXJTXJXY¥LNTXUWTNGNZTX mos o Saint Etiénne, fui eu que marquei o golo da vitória. Para
OTLFITWJXIJ[¥WNFXHTNXFXƈIJZYNQN_FWTHFQ§TUTWJ]JRUQT9FR- FGFQN_FKTNT(TXYF5JWJNWF)JUTNXSFȁSFQSTJXY¥INTIJQJX
GRIJHNINZVZJSJRXJVZJW'TLFQMTUTINFJSYWFWSTGFQSJ¥WNTJ em Madrid, perdemos por 1-0 com o Real, golo do Di Stéfano,
KFQFWHTRTXOTLFITWJXFXJZGJQYFQFSYJUFWFQ¥NWYNSMFIJQMJUJ- o guarda-redes foi o Bastos. Ficaram todos muito espantados,
INWFZYTWN_F«§T5¸XFJVZNUFFOTLFWJR]]Y¥YNHFNLZFQRJSYJ UJWLZSYFSITHTRTVZJT'JSȁHFYNSMFITNXLZFWIFWJIJXFX-
WJ[TQZHNTS¥WNFVZJMF[JWNFIJKF_JWIT'WFXNQHFRUJ§TIT2ZSIT sim, fartaram-se de rir quando seu Otto explicou que o Costa
VZFYWTFSTXIJUTNXSF8ZHNF Pereira era para jogos mais do tipo dos franceses, com cruza-
mentos e bolas pelo ar, o Bastos mais para o jogo rendilhado,
+J_IJUWTSYTIT'JSȁHFHFRUJ§THFRUJ§TIJ como o deles. Era mesmo assim — e foi mais uma lição de co-
Ɖ RFX S§T NXXT S§T QMJ FGWNZ FHJXXT ¤ INXUZYF IF 9F«F ITX nhecimento e de estratégia que o homem deu. Contra o Real,
(FRUJ¹JXƉVZJSFXZFUWNRJNWFJIN«§TXJKJ_UTWHTS[NYJXT marquei o Gento, o Di Stéfano mostrou o que era, o melhor jo-
HTS[NYJHTZGJFT8UTWYNSL4+(5TWYTNRUJINZQMJFWJ[FQNIF- gador que eu vi. Sim, era extraordinário, jogava com os ombros,
«§TITY±YZQTƉWF_§TUTWVZJFJXYWJNFIT'JSȁHFX·XJIJZSF com os calcanhares, com tudo — só com as mãos é que não.
JIN«§TIJ&SYJXIJQ¥HMJLFWFUFSMTZZRYWJRJSIT Sem ele, nunca o Real Madrid, que já tinha vencido a Taça dos
XZXYTSF1Z_FSYJXIFRJNFMTWFO¥T'JQJSJSXJX[JSHNFUTW Campeões, nos teria ganho aquela Taça Latina...
FHFGTZJRUFYFITHTR4YYT,Q·WNFSZRXNSFQITXJZ
JXU±WNYT_FSLFITFJRUJWYNLFWXJ &SYJXIJXJQFS«FWUJQFUWNRJNWF[J_SF9F«FITX(FRUJ¹JX
F IJ XJYJRGWT IJ T 'JSȁHF FGWNZ T HFRUJTSFYT IJ
— Os jogadores não cumpriram o que lhes disse, deve ter- HTRFT;NY·WNFJR8JY¾GFQƉFUJXFWIJLWF[JJS-
-lhes dado alguma coisa na cabeça. YTWXJYJWFYNWFIT(TXYF5JWJNWFUFWFTJXYFQJNWT3§TU¸IJUTW
4YYT,Q·WNFFIRNSNXYWFYWJNSTST'JSȁHF9JSITLFSMTQTLTSFUTHFIJJXYWJNFFTQJRJITXJSHFWSFITXTHFRUJTSFYTSFHNTSFQIJS§TINXUZYTZFUWNRJNWF
JIN«§TIF9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZXJR&JXXFKTNT8UTWYNSLƓUTWHTS[NYJ
93
Com um furúnculo
numa perna, Palmeiro
+K
na Taça dos Campeões
5FWF(¦SINITOTLFITWJXJRIJXYFVZJKTWFRT'FXYTXJT5FQ-
RJNWTƉJ/TX
LZFXJSYWTZSTGFQSJ¥WNTFVZJN]FWXJFRFWLF-
mente:
(TQZSFS§TITZWTZFU±QZQF GJRUJQTHTSYW¥WNT
Ɖ3§TLTXYJNITOTLTSJRIT'JSȁHF48J[NQMFOTLTZRZNYT
bem e nós muito mal…
Vendo Bastos defender o que parecia impossível, viram-se 7JHJGJWF F GTQF IJ (TQZSF FSYJX IT WJRFYJ KZQLZWFSYJ UTW
adeptos do Sevilha soltando «ohs!» de exclamação, gritando em FQYTIJN]FWFJXYTSYJFITHTRTXJZIWNGQJ(FRUFSFQT(FRUFSFQ
UFXRT VZJXJSITJXYWJQFRFNTWIT8J[NQMFRFQXFNZITHFRUTFȁFS«TZ
95
dos 3-1 achara que tinha a eliminatória garantida, deu o dito
( Ä+K por não dito:
(e era um truque) nha para Lisboa sem grandes apreensões, mas isso é uma
daquelas coisas que nos saem quando o entusiasmo pode
mais do que o raciocínio. Por isso lhe garanto, dois golos é
Campanal fora no campo do Nevrion o mais impetuoso vantagem insignificante para um adversário da categoria do
jogador do Sevilha, sendo, também, o mais cauteloso fora Benfica.
dele:
Na véspera do desafio, Otto Glória levou os seus pupilos
— Por mim, acho que vai haver terceiro jogo. Nós vence- ao Hospital de Santa Maria — e em A BOLA desvelou-se:
mos em Sevilha e o Benfica vai derrotar-nos em Lisboa. «… por lá tomaram banhos de agulheta e, depois, no Campo
Grande efetuaram exercícios físicos, bateram bolas e sujei-
Não, não era essa a ideia de Eduardo Teus, jornalista do taram-se a novos banhos — de imersão».
Ya:
Como o Estádio da Luz ainda não tinha luz, o jogo com o
— A velocidade do Sevilha dominou o segundo tempo. O Sevilha fez-se à tarde, numa tarde de quinta-feira e o título
Benfica perdeu por 3-1 e podia ter perdido por maior conta- da crónica de Vítor Santos em A BOLA foi:
gem. Não se pode dizer que o resultado não é justo porque
na segunda parte o Sevilha dominou sempre. Não se pode O Sevilha jogou sempre como se houvesse só uma baliza
nem sequer invocar a desculpa usada na final da Taça Lati- (a sua).
na, contra o Real Madrid, de que Zezinho tinha sido expulso.
Desta vez, se Zezinho não jogou foi porque foi substituído Por isso, tudo acabou como acabou. Com 0-0. Mal entrou
por Pegado, um dos jogadores mais em voga em Portugal. O no balneário, Ângelo atirou-se para um dos seus recantos —
Benfica não tem, portanto, nenhuma desculpa para invocar e desatou a chorar, «a chorar copiosamente de desespero».
desta vez… O médico do Benfica explicou a um jornalista espanhol em
espanto:
A viagem para Lisboa, fê-la o Sevilha três dias antes
do jogo da segunda mão — e em A BOLA não deixou de — É um homem que sente a camisola como ninguém e que
escrever-se: «O Sevilha preparou com todos os cuidados quando perde tem estas crises nervosas. Mas não há nada a
a sua deslocação, num processo totalmente diferente do recriminar. Quer o Ângelo, quer os demais rapazes, fizeram
Benfica, que fez a viagem de avião para lá, no próprio dia tudo o que puderam.
do jogo».
Ângelo levara do campo a bola do jogo — sem saber que
Antes da partida, ficaram os espanhóis a saber que o Ben- pertencia ao Sevilha e, com ele ainda em lágrimas, apareceu
fica batera o Oriental por 7-0 — e Satur Grech, que na noite alguém a pedi-la. Vendo o que se passava perguntou:
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jogou forte na ironia:
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Palmeiro confessou ter pedido ao árbitro para expulsar Campanal, jogador fabuloso
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97
Di Stéfano e Puskas
Dupla temível do Real Madrid, já Di Stéfano era o que era quando Puskas,
então trintão, se lhe junta em Madrid
1958
Com a URSS de fora, Ɖ8NRXNRXJSMTWJX)N8YKFSTZROTLFITWKFGZQTXT*T7JFQ
para a RDA a sorte da moeda ZRFJVZNUFKFGZQTXFYFRGR2FXFHWJINYJRRJQMTWITVZJ)N
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ao ar (pela primeira vez) 8FSYNFLT'JWSFGZKTWFITXVZJJXHZYFWF(XTWIFXVZJGWFSIT
TXNQ®SHNTSZRGFN]TRZWR¾WNTYFQ[J_HTRFUZQLFFYW¥XIFTWJQMF
99
que o garoto de Yorkshire carregasse o peso de ser o primei-
A tragédia de Munique ro jogador de 30 mil libras, Busby teve uma das suas insólitas
Billy Foulker salvou-se e depois contou: /FHPNJ 'QFSHMȂT\JW J /TMSS^ 'JWW^ XFQ[FWFRXJ RFX S§T
mais puderam jogar futebol.
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RNI¥[JQ VZJ XFHZINZ T FUFWJQMT J Y±SMFRTX F NRUWJXX§T VZJ Matt Busby estava, em redor de dois ou três corpos inertes,
STXXTXY±RUFSTXJ]UQTINFR estendido na neve onde se viam, arrepiantes, tufos vermelhos
de sangue — e quando Foulkes se aproximou, ouviu um som de
O aparelho não ganhara a altura necessária, chocando violen- agonia:
YFRJSYJHTRZRUWINTXNYZFITSTȁRIFUNXYFYWFSXKTWRTZXJ
numa bola de fogo. Whelan teve morte imediata. Ele e Geoff Ɖ 5JSXJN VZJ FVZJQJ LJRNIT YJWW±[JQ JWF T ȁR IF QNSMF UFWF
Bent, Roger Byrne, Eddie Colman, Mark Jones, David Pegg e 8NW2FYY
Tommy Taylor.
No hospital descobriram-lhe um pulmão perfurado, várias
Aos 26 anos, Taylor era o avançado-centro da equipa, na se- costelas partidas — e, por duas vezes, um padre surgiu a dar-
mana anterior chegara a Manchester notícia de que o AC Milan -lhe a extrema unção. Após esses dois meses entre a vida e a
tinha 650 mil libras para oferecer pela sua contratação, mas morte, Busby voltou a casa — e decidiu:
Busby avisou de pronto:
Ɖ+ZYJGTQUFWFRNRSZSHFRFNXFITWVZJXNSYTS§TIJN]F
Ɖ3JRUJSXJRJRSJLTHNFWXJVZJW
Jen, a mulher de Matt Busby, convenceu-o, tocando-lhe ao
Viera, cinco anos antes, do Barnsley por... 29.999 libras. Para sentimento:
A dúvida, carregada de sentimentalismo (ou talvez não) nun- Sim, lá, nesse Mundial de 50, no Brasil, Obdulio Varela era
ca mais se desfez, nunca se desfará: se o avião do United não o dono do time, o dono da bola celeste e Ghiggia entrou
se tivesse transformado em tragédia do fogo e destroços, o para a história como o mago que descobriu o ouro na ponta
Real Madrid teria ganho a sua terceira Taça dos Campeões Eu- do pé:
ropeus?
— Só três pessoas calaram o Maracanã: o papa, Frank Si-
Sobreviventes da catástrofe que acabaram por ter mais natra e eu.
história à sua espera, foram, por exemplo, William Foulkes,
antigo mineiro que, numa crónica de A BOLA, se dizia que Schiaffino foi o que já era e continuou a ser: avançado-
era uma «montanha de força, verdadeiramente granítico, -centro de toque rápido e remate de precisão mortal, e iro-
quase intransponível», e os ingleses afiançavam que, no seu nia do destino: o golo mais importante da sua vida não foi
raio de ação, ninguém toca na bola e onde mete o pé mais nada assim, o golo que marcou a Barbosa e pôs o Uruguai a
ninguém leva a melhor; David Herd, que o United comprara caminho do título de campeão do Mundo (com selecionador
por 2400 contos, era filho de Alec Herd que fora estrela em que era filho de portugueses…), contava-o assim:
Manchester, mas no City — temível no ataque porque «nun-
ca pára, está sempre onde se encontra a bola, possui remate — Tentei escorar a bola de raspão, só que acertei com o
fulminante, poder de elevação notável e resistência ao cho- peito do pé. Em vez de ir para o canto direito, ela foi para o
que que surpreende os adversários mais rudes»; e Bobby ângulo esquerdo, foi uma sorte espantosa.
Charlton, o sobrinho de Jackie Milburn, o grande avançado-
-centro da geração anterior, um «avançado terrível pelo seu Dez pessoas morreram no Maracanã de ataque cardíaco,
poder de remate». nos dias seguintes nos jornais brasileiros houve relatos vá-
rios de suicídios, notas de uma noite malvada em rixas e za-
Antes do regresso ao futuro, o Manchester United não dei- ragatas. Os golos de Schiaffino e Ghiggia transformaram em
xou de fazer, com os jogadores que lhe restavam, os dois de- inferno o resto da vida de Moacir Barbosa, o guarda-redes
safios das meias-finais, frente ao AC Milan. Em Old Trafford do escrete. (Por Abril de 2000, quase 50 anos após o Ma-
venceram por 2-1, no Giuseppe Meazza perderam por 4-0. racanazo, morreu de acidente vascular cerebral — não pa-
rando de escutar a lengalenga de que «brasileiro não pode
Nesse AC Milan, em fulgor continuava Juan Alberto Schia- confiar em goleiro negro», passando pela humilhação de lhe
ffino, contratado após o Mundial da Suíça, em 1954, ao barrarem a entrada no hotel onde a selecção que haveria de
Peñarol por 72 mil libras esterlinas — que equivaliam a mais disputar o Mundial de 94 estava em estágio para não dar
de 5600 contos (e foi, então, recorde mundial de transferên- azar! Foi nessa tarde que chorou outra vez, balbuciou:
cias). Seis meses depois, com dupla nacionalidade, já estava
a jogar na seleção de Itália — e sempre que lhe falavam do — No Brasil a pena máxima por um homicídio brutal é de 30
Maracanazo retorquia às gargalhadas: anos e eu pago há 44 por um crime que não cometi.)
101
Da desgraça
que poderia ter sido
o tornozelo de Rial à terceira
vitória do Real tirada dos pés
em fogo de Gento
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103
RONDA PRÉVIA
Sevilla CF (VSDQKD²%HQÀFD3RUWXJDO
3 – 1 // 0 – 0
Århus GF (Dinamarca) – Glenavon F. C. (Irlanda Norte)
0 – 0 // 3 – 0 QUARTOS DE FINAL
Gwardia Warszawa (Pol.) – Wismut Karl-Marx-Stadt
(RDA)
Real Madrid (Espanha) – Sevilla FC
3 – 1 // 1 – 3 // 1 – 1 (moeda ao ar) 8 – 0 // 2 – 2
&'1$6RÀ\D%XOJiULD²Budapesti Vasas SC (Hungria)
Man. United (Inglaterra) – Estrela Vermelha (Jugoslávia)
2 – 1 // 1 – 6 2 – 1 // 3 – 3
Shamrock Rovers FC (Irlanda) – Man. United (Inglaterra)
Ajax (Holanda) – Budapesti Vasas SC (Hungria)
0 – 6 // 2 – 3 2 – 2 // 0 – 4
Stade Dudelange (Lux.) – Estrela Vermelha (Jugoslávia)
Borussia Dortmund (RFA) – AC Milan (Itália)
0 – 5 // 1 – 9 1 – 1 // 1 – 4
Glasgow Rangers (Escócia) – A. S. Saint-Étienne (França)
3 – 1 // 1 – 2.
AC Milan (Itália) – S. K. Rapid Wien (Áustria)
4 – 1 // 2 – 5 // 4 – 2
3 Real Madrid
2 *ap AC Milan
Final
28 de maio de 1958
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
No tetra do Real, perdera o posto para Luís Villalonga, que a Chamartín
chegara como revolucionário preparador físico.
Puskas não jogou
e Santiago Bernabéu Empatados a 43 pontos com o FC Porto, esse campeonato ga-
nharam-no os sportinguistas — no goal average (em Alvalade ven-
mandou o treinador para a rua ceram por 3-0, nas Antas perderam por 2-1) — e a três jornadas
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porque os portistas tropeçaram em Braga. Complicado foi o desa-
Fidel Castro lutava contra Fulgêncio Baptista em Cuba — e ȁTXJLZNSYJHTSYWFT'FWWJNWJSXJƉHTR[NY·WNFFWWFSHFIFFKJWWTX
a seu lado tinha um argentino chamado Ernesto Guevara, o golo de Joaquim José aos 87 minutos e Silvino, guarda-redes do
Che, que durante as aventuras revolucionárias pela América Barreirense, inconformado, denunciou-o, agreste:
procurava sempre arranjar equipas de futebol para treinar. Os
Estados Unidos lançaram um satélite aos céus — e na Suécia — Foi ilegal, o golo. Estava bem dentro do lance e se Vasques
explodiram duas estrelas: Pelé e Garrincha, começou a dese- não tivesse desviado a bola com a mão eu teria intercetado o esfé-
nhar-se o futuro em 4x2x4. As travessas nas botas já tinham rico. Perder assim é penoso, custa muito.
passado à história por quase todo o lado, era o tempo dos pi-
tons — e para o Mundial de 1958 a Puma lançara chuteiras em O árbitro, Álvaro Rodrigues, assinalou de pronto o golo re-
design vanguardista, todas brancas e ponteadas a dourado — cusando dirigir-se, apesar das súplicas frenéticas dos barrei-
não pegaram porque os jogadores de então eram pouco dados WJSXJXFTXJZȁXHFQIJQNSMFVZJȁ_JWFXNSFQHTRFGFSIJNWTQF
a modernices e preferiam o couro preto, o aspeto tradicional, de algo de que se apercebera mas que nunca mais se saberia
revelaram-no. o quê. Com esse golo, o Sporting só não venceria o Campeo-
nato se o Caldas não deixasse. 3-0 em Alvalade, primeiro golo
Nasceu a Barbie, a boneca da moda, na publicidade de... Travaços, o «rei do azar». Pensara mesmo ir à bruxa, para
em Portugal começaram a aparecer modelos mostrando desfazer o «mau-olhado», o título era o seu consolo no adeus
as pernas, desfiles em lingerie faziam-se, discretos, nos a insinuar-se:
corredores de hotéis, usar biquíni nas praias não era só
pecado soprado do Vaticano, podia dar multa até 5000 — E vão oito! Estou há doze anos no Sporting e este é o meu
escudos e não havia, em Portugal, jogador que tivesse oitavo título nacional.
ordenado mensal assim. Num outro traço de «modernis-
mo», organizaram-se concursos Miss Praia e uma das Façanha igual rubricou Vasques — que ainda jogou na Taça
suas vencedoras até foi a Alvalade posar (mas não em dos Campeões, o Travaços é que não.
fato de banho) entre os jogadores numa tarde que a equi-
pa do Sporting entrou em campo com o equipamento al- Alejandro Scopelli fora para Espanha — e convencera Fran-
ternativo: todo verde, gola branca, calções pretos — esse cisco Cazal-Ribeiro, o presidente que era comandante da Le-
Sporting que, depois do jejum de 1954/55, 1955/56, gião, a libertar Carlos Gomes para o Granada. Com isso o clube
1956/57, voltou a campeão, sob comando de Enrique Fer- ganhou um milhão de pesetas, o guarda-redes 250 mil — e,
nández — o uruguaio que lançara as bases do Real Madrid num ano apenas, recebeu mais do que em oito de Sporting, o
campeão da Europa, mas que, antes do primeiro título, ordenado mensal andava-lhe pelos cinco contos.
1958
109
Depois da primeira vitória portuguesa (através do Sporting),
o desconsolo da má noite com bolas cor de laranja
Por entre a comoção que fora o acidente de Munique, que lhe Por ideia de Béla Guttmann (para que, não podendo jogar
dilacerara a equipa, Ebbe Schwartz decidira abrir, simbólica e sob a égide da FIFA, pudessem ganhar dinheiro) criara-se a
emocionalmente, a edição de 1958/59 ao Manchester United. «Equipa dos Refugiados Políticos da Hungria», ficando ele
Os seus dirigentes agradeceram-lhe o gesto, mas acharam me- seu treinador — e de cinco jogos no Rio de Janeiro e em
lhor não — e assim Inglaterra teve apenas à liça o seu campeão: São Paulo, levaram 70 mil dólares. Como em qualquer outro
o Wolverhampton Wanderers FC (que, no fundo, fora, através lado o dinheiro era dividido por todos, em partes iguais, a
da sua famosa vitória ante o Honved, a razão da criação da cada jogador coube 3600 dólares. Do Brasil, não regressou
Taça dos Clubes Campeões Europeus — e não passou da pri- Guttmann — contagiado pela magia do seu futebol, Laudo
meira eliminatória, foi o Schalke 04 quem se apurou). Natel, o presidente do São Paulo que haveria de chegar
a governador do Estado, desafiou-o para seu técnico. Foi
Aos primeiros tempos de exílio, soltaram-se notícias dando Ferenc campeão — e era sempre assim: sendo campeão, Guttmann
Puskas como morto — que era boato percebeu-se ao verem-no pela pediu mais dinheiro. O São Paulo achou que era de mais, ele
Áustria. Por lá tentou jogar, não pôde. AC Milan e Juventus também despediu-se, o FC Porto foi lá buscá-lo, nas Antas ganhou o
o puseram nos seus desejos — e a FIFA não dava indício de ceder, campeonato de 1958/59 — e antes de jogar a final da Taça
de lhe tirar (e aos demais exilados) o castigo que lhe impusera por com o Benfica, assinou pelo Benfica. Ao sabê-lo, o presi-
se recusar a voltar a Budapeste na sequência da invasão soviética. dente do FC Porto proibiu-o de ir ao Jamor.
111
Carniglia obrigou Puskas
a perder 15 quilos
de um instante para o outro
e ainda se viu provocação
do Barcelona
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FQ[NYWTZQMJX
Toda a sua ideia de jogo funcionava em torno de Di Stéfano, — Kopa, Di Stéfano e Puskas roubaram-nos o sonho, por eles
mas a sua criatividade fazia com que, às vezes, espantasse as tenho de dizê-lo: é justa a vitória…
hostes, pondo Kopa a lateral ou a médio-direito ou Santamaría
a médio — dando à equipa (e à tática) mobilidade como até en-
tão se não vira.
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de 1958/59, o obstáculo mais picante que o Real apanhou foi
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maior fulgor, o Vavá. Naquele tempo em que os golos fora não
contavam para desempate, houve uma vitória para cada lado:
2-1 para o Real, 1-0 para o Atlético — e, assim, decisão atirada
para terceiro jogo.
113
Do Di Stéfano como «chefe» e «amparo» ao modo
como Gento pôs francês em «noite horrível»
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Por esse Stade que tinha em destaque o Penverne e o Jon- WTUJZXVZJT8YFIJIJ7JNRXUJWIJZ
UJQFXJLZSIF[J_UFWFT
quet, o Piantoni — teve uma vez mais o Just Fontaine. Aos 12 7JFQ2FIWNITNSKJWSTFGWNZXJQMJFTXUXIJKJXFIT8THMFZ]
minutos, rematou à trave de Rogelio Dominguez, na sequência KWFYZWTZQMJFY±GNFJTUJW·SNT3T[JRJXJXFU·XWJLWJXXTZ¤
IJ ZRF IFX RFNX JSQJFSYJX OTLFIFX IT IJXFȁT
oJR YWTHF IJ QN«FƉJ[TQYTZFYJWTINFGT¤JXUWJNYF¤VZNSYFJXVZNSF
passes entre ele e Bilard») — e nunca deixou de ter os espanhóis
de olho nele e coração nas mãos. Ao Reims chegara para ocupar — Ao quinto jogo voltei a partir a perna — e, mesmo tendo 27
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HTSYWFYFITUJQT7JFQFNSIFFSYJXIFUWNRJNWF FSTXFUJSFXUJWHJGNVZJJWFYJWW±[JQTRJZȁR
ȁSFQIF9F«FITX(FRUJ¹JXJSYWJFRGTXTXHQZGJX
&KFRFIJOTLFITWIJZF/ZXY+TSYFNSJTZYWTHFRNSMTO¥LWF-
Just Fontaine nascera, por agosto de 1933, em Marraquexe [FWFZRINXHTIJINHTZXJ¤R¾XNHF
ƉJTXUWNRJNWTXHMZYTXSFGTQFIF[FTXFRN¾IJUJQTXU¥YNTX
ITX UFQ¥HNTX J ITX Y±UNHTX OFWINSX IF HNIFIJ TSIJ T UFN YWFGF- — Tinha uma voz suave e agradável, sabia que não era grande
QMF[FHTRTKZSHNTS¥WNTIF(TRUFSMNF*XYFYFQIJ9FGFHTX+TWF cantor, só que vendia discos, pagavam-me bem.
um outro marroquino, Mario Zatelli, quem sugerira ao Nice que
TKTXXJRGZXHFWF2FWWTHTXƉVZJJWFZRFƓoUWTQF
JFSYJX A pouco e pouco foi-se tornando homem de negócios, ainda
IJUFWFQ¥XFQYFWFNSIFYJ[JIJUJSFWSFYWTUFJRGFYFQM§TVZJ FSITZUJQTKZYJGTQHTRTKZLF_XJQJHNTSFITWSFHNTSFQƉJYWJNSF-
UFXXTZUJQFLZJWWFSF&WLQNF ITWFIOZSYTIT5FWNX8FNSY,JWRFNS
INWNLNSIT-ZRGJWYT(TJQMT
por exemplo). Assumiu a presidência do Sindicato de Jogadores
8FQYTZUFWFT8YFIJIJ7JNRXTVZJTU¸XSFXGTHFXITRZS- ƉIFXZFQZYFSFXHJWFRTXUWNSHNUFNXINWJNYTXQFGTWFNXFIVZNWNITX
ITKTWFRFXU¥LNSFXNRTWYFNXIFXZFK¥GZQFST8ZHNF UJQTXUWTȁXXNTSFNXJR+WFS«F(TRRZNYTRFNXXZHJXXTYTWSTZ-
LTQTXSZRFX·KFXJȁSFQIJZR(FRUJTSFYTIT2ZSITSZSHF XJHTRJSYFITWIJ9;[T_FRFWHFWUTW+WFS«FOTLTXIF9F«F
SNSLZRRFWHFWFSZSHFRFNXSNSLZRRFWHTZƉJNSHW±[JQKTN ITX(FRUJ¹JX
JRFNXƓ
HTRT+TSYFNSJFGWNZFXFLF
4 JU±QTLT VZJ YFQ[J_ SNSLZR NRFLNSFXXJ VZJ XJ UZIJXXJ
— Dez dias antes do primeiro jogo, frente ao Paraguai, repa- XTQYFWIFVZFWYF[NY·WNFIT7JFQ2FIWNISF9F«FITX(FRUJ¹JX
rei que as chuteiras que me deram não me serviam. Como não *ZWTUJZXYJWXNITFYNWFITUFWFKTWFIFJVZNUFHTSYWFT7JNRX
tínhamos patrocinadores, cada um de nós levara para a Suécia JXUFQMTZRTXYFWIFUJQTSFWN_IJ5ZXPFXƉJHTRFVZJXYN¾SHZQF
um par apenas — e, a minha sorte, foi que Stéphane Bruey, ha- HFIF[J_RFNXFTWZGWTJSYWJJQJJTYWJNSFITW8FSYNFLT'JWSF-
bitualmente suplente, calçava o mesmo número que eu, com as GZIJXUJINZ(FWSNLQNFVZJKTNUFWFF+NTWJSYNSFUTW.Y¥QNFS§T
botas que eram para ele passei, então, a jogar e a marcar todos IJN]TZIJNWKF_JSITRFNXMNXY·WNFƉJ5ZXPFXYFRGRJRFNTWF
aqueles golos. KJ_ST7JFQƓ
1959
117
RONDA PRÉVIA
-XYHQWXV)&,WiOLD²Wiener Sport-Club ÉXVWULD QUARTOS DE FINAL
3 – 1 // 0 – 7
'tQ=DJUHE-XJRVOiYLD²Dukla Praga&KHF :LHQHU6SRUW&OXEÉXVWULD²Real Madrid (Espanha)
2 – 2 // 1 – 2 0 – 0 // 1 – 7
.%.¡EHQKDYQ'LQDPDUFD²FC Schalke 04 (RFA) Atlético de Madrid(VSDQKD²)&6FKDONH5)$
3 – 0 // 2 – 5 // 1 – 3 3 – 0 // 1 – 1
Atl. Madrid(VSDQKD²'UXPFRQGUD)&'XEOLQ,UODQGD Young Boys6XtoD²:LVPXW.DUO0DU[6WDGW5'$
8 – 0 // 5 – 1 2 – 0 // 0 – 2 // 2 – 1
SC W. Karl-Marx-Stadt5'$²3HWUROXO3ORLHVWL5RPpQLD 6WDQGDUG/LqJH%pOJLFD²Stade de Reims)UDQoD
4 – 2 // 0 – 2 // 4 – 0 2 – 0 // 0 – 3
$6/D-HXQHVVHG·(VFK/X[HPEXUJR²IFK Göteborg6XpFLD
1 – 2 // 1 – 0 // 1 – 5
6.3RORQLD%\WRP3ROyQLD²MTK Budapest +XQJULD
0 – 3 // 0 – 3
'268WUHFKW+RODQGD²Sporting CP3RUWXJDO
3 – 4 // 1 – 2
Standard Liège%pOJLFD²+HDUW2I0LGORWKLDQ)&(VFyFLD
5 – 1 // 1 – 2
$UGV)&1HZWRQDUGV,UO1RUWH²Stade de Reims)UDQoD MEIAS-FINAIS
1 – 4 // 2 – 6
Real Madrid(VSDQKD²$WOpWLFRGH0DGULG(VSDQKD
2 – 1 // 0 – 1 // 2 – 1
<RXQJ%R\V6XtoD²Stade de Reims)UDQoD
1 – 0 // 0 – 3
OITAVOS DE FINAL
Real Madrid(VSDQKD²%HüLNWDü6.úVWDQEXO7XUTXLD
2 – 0 // 1 – 1 MELHORES MARCADORES
Wiener Sport-ClubÉXVWULD²'XNOD3UDJD&KHFRVORYiTXLD
3 – 1 // 0 – 1 $OIUHGR'L6WpIDQR5HDO0DGULG
:ROYHUKDPSWRQ:DQGHUHUV,QJ²FC Schalke 04 (RFA) 6 golos (7 jogos)
2 – 2 // 1 – 2 9DYi$WOpWLFRGH0DGULG
Atletico de Madrid(VSDQKD²&'1$6yÀD%XOJiULD 5 golos (8 jogos)
-XVW)RQWDLQH6WDGHGH5HLPV
2 – 1 // 0 – 1 // 3 – 1 4 golos (5 jogos)
07.%XGDSHVW+XQJULD²Young Boys6XtoD .ODXV=LQN:LVPXW.DUO0DU[6WDGW
1 – 2 // 1 – 4 4 golos (5 jogos)
,).*|WHERUJ6XpFLD²Wismut Karl-Marx-Stadt5'$ (XJHQ0HLHU<RXQJ%R\V
4 golos (7 jogos)
2 – 2 // 0 – 4 (UQVW:HFKVHOEHUJHU<RXQJ%R\V
6SRUWLQJ&33RUWXJDO²Standard Liège%pOJLFD 4 golos (7 jogos)
2 – 3 // 0 – 3
Stade de Reims)UDQoD²+36+HOVLQNL)LQOkQGLD
4 – 0 // 3 – 0
FINAL
Taça dos Campeões da Europa 1958/59
2 Real Madrid
0 Stade de Reims
Final
3 de junho de 1959
Neckarstadion, Estugarda
Árbitro: Albrt Dusch (RFA)
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
122 CHAMPIONS A HISTÓRIA COMO NUNCA SE CONTOU
Quando se achou que o futebol dos judeus de Bucareste, o Ciocanul, a troco de 700 dólares por mês
— e Pista Kaufmann, que o levara para a Roménia, revelou-o:
atingiu a perfeição, Puskas usou
— Antes da chegada de Mister G, a única coisa que os joga-
K
dores do Ciocanul sabiam sobre bola era que ela era redonda e
p i
ÄĤq ele transformou o nosso 11 de pés de chumbo na equipa com o
futebol mais bonito de toda a Roménia.
Quando, depois, os nazis invadiram a Hungria, Béla Gutt- Sem muito tardar, Béla Guttmann aventurou-se a Itália. Saltou
mann viveu quase todo o ano de 1944 escondido no sótão do de Pádua para o Triestina — e por meados de 1953 o AC Mi-
salão de cabeleireiro de um irmão da namorada (que não era lan chamou-o a treinador. Pô-lo, num ápice, a caminho do título,
OZINFƉJHTRF,ZJWWFFHTWWJWUFWFTȁRFUFSMFSITTFNSIF achando que, assim, merecia mais dinheiro, exigiu-o - entrou em
o atiraram para campo de trabalhos forçados à beira de Buda- desentendimento com o seu presidente, acabou despedido. Na
peste — e de lá conseguiu fugir, rocambolesco. hora do adeus a Milão largou, magoado, o coração pela ponta
da língua:
Salvou-se de Auschwitz — e após a rendição dos alemães, o Vasas
de Budapeste chamou-o a seu treinador. Face à escassez de alimen- — Não sendo nem criminoso, nem maricas, fui demitido, fui de-
tos, naquele tempo do mercado negro em frenesim e desespero, Béla mitido sendo campeão, mas vão arrepender-se…
Guttmann pediu que lhe pagassem metade do salário em batatas, fa-
rinha, banha, açúcar, carne, peixe, frutas e vegetais (que era negócio E, não, talvez se não tenham arrependido porque indo Ettore Puri-
de um dos seus dirigentes). Pouco tempo lá esteve, foi para o clube celli para o seu lugar, o scudetto não escapou ao AC Milan.
123
O treinador que fez do AC Milan campeão
(em vez de Guttmann) foi para o FC Porto e
o seu guarda-redes irritou-se: «Como se po-
dem ganhar jogos sem se atirar à baliza?»
De digressão que a «Equipa dos Refugiados Políticos da Hungria» fez pelo Brasil, Gut-
RFSSS§TWJLWJXXTZƉȁHTZFYWJNSFWT8§T5FZQT)JQ¥XFQYTZUFWFT+(5TWYTKJ_IT+(
5TWYTHFRUJ§TƉJNSITUFWFT'JSȁHFUFWFXJZXZGXYNYZYTSFX&SYFXJXHTQMJZXJ*YYTWJ
Puricelli.
(TRF(MJHTXQT[¥VZNFJRKJW[TWWJ[TQZHNTS¥WNTT.SYJW'WFYNXQF[FYTWSTZXJ7ZI¥-[J-
_[IF'WFYNXQF[FƉTZXJOF*XYWJQF;JWRJQMFIJ'WFYNXQF[FƉJKTNHTSYWFVZJRT+(5TWYT
OTLTZF7TSIF5W[NFIF9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZXIJ
IJVZJHTSYNSZFWFR
desligados noruegueses, islandeses, albaneses e soviéticos — e de Moscovo soltou-se no-
tícia de que foguetão russo fora lançado à lua…)
4+(5TWYTUJWIJZUTW&9JN]JNWFTRFWHFITWITXJZLTQTFSZQFWFRQMJTZYWTUTW
TKKXNIJ
JRFQJTVZJIJZF[NY·WNFFT7ZI¥-[J_[IFTIJ8HMJWJWT¥WGNYWTS§TTFSZQTZ
UTWTKKXNIJ
JRFQƉJFNSIFFXXNRIF*XQT[¥VZNFXF±WFRTXUTWYNXYFXJRGTFK0FWJQ
'TMWNTYWJNSFITWFI[JWX¥WNTVZJS§T
GJRUJQTHTSYW¥WNT
— Há uma coisa que eu não posso fazer: rematar à baliza. Aos meus jogadores, ensi-
nei-lhes como deviam jogar e sempre que seguiram as minhas instruções as avançadas
HTWWJWFRGJRȁ_JRTXITNXLTQTXƉJHTRTXUXFȁSFITXUTIJW±FRTXYJWKJNYTRFNXITNX
talvez. Tirando isso, esqueceram-se que remates frontais só podem dar em malogro. Es-
tão abatidos, o meu maior problema vai ser combater-lhes o derrotismo, no Porto…
3FX&SYFXTIJXHFQFGWTKTNITTZYWTQFITƉIJWWTYFUTWYNXYFUTWVZFXJYNWTZFUFQF[WF
— Perdemos e muito bem. Eles remataram e nós não. Como é que se podem ganhar
jogos se não se atirar à baliza? No meu caso, olhe, fui infeliz: o primeiro golo só entrou
porque a bola batendo no Monteiro da Costa entrou, de outro modo eu nunca a deixaria
entrar — e no segundo golo ninguém podia fazer o que quer que fosse para o evitar.
A receita de bilheteira nas Antas foi de 400 contos, 400 contos equivaliam a 100
000 coroas dinamarquesas. Meses antes A BOLA noticiara-o: por uma só partida em
Copenhaga, o Real Madrid, uma vez mais campeão europeu, exigiu cachet de 100
000 coroas que foi quanto pagou por junto e atacado a Associação Dinamarquesa
de Futebol aos brasileiros do Vasco da Gama e do Botafogo para que, com vários
HFRUJ¹JXIT2ZSITSTXJZXJNTQ¥ȁ_JXXJR[¥WNTXOTLTXƉJHQFWTJWFNSJVZ±[THT
o sinal do que era, cada vez mais, a Taça dos Campeões Europeus, no fervor que espi-
caçava, no entusiasmo que despertava, sobretudo quando se ganhava (e o horizonte
não se enegrecia).
)T5TWYTT*XYWJQF;JWRJQMFIJZXFQYNSMTF1NXGTFUFWFOTLTSF1Z_ƉJUJWIJZUTW
Quatro semanas depois, Ettore Puricelli deixou o FC Porto pelo buraco do ponto após
derrota com o SC Braga, nas Antas (nas Antas também já tinha ganho o Sporting e o Be-
QJSJSXJX1Z±X+JWWJNWF&Q[JXTUWJXNIJSYJFUTXYTZJR+JWSFSIT)FZHNPƉVZJSFUTHF
FSYJWNTWQJ[FWFT&YQYNHTIJ2FIWNI¤XRJNFXȁSFNXIF9F«FITX(FRUJ¹JX
TGWNLFSITT
7JFQFYJWHJNWTOTLTUFWFXJFUZWFWHTRJQJYWTZ]JTȁQMTUFWFOTLFWYFRGR
125
Como depois de fugir
escondido num camião com
a farda de soldado soviético,
Kubala se livrou do avião
da morte que vinha de Lisboa
*R2NQ§TXJFTXNYFQNFSTXQMJXKFQYF[F8HMNFKȁSTFTXHFYFQ§JX
faltavam-lhes Kubala e os dois exilados húngaros que lhes chega-
ram, como Puskas chegara ao Real Madrid: Kocsis e Czibor. Ainda
assim, a vitória foi por 2-0, com os dois golos de fogacho no pri-
meiro quarto de hora — e Helenio Herrera, o seu treinador, resu-
miu-a assim: «A nossa tática foi sensivelmente anular Liedholm, o
cérebro inteligente do jogo do AC Milan».
Por Kubala se erigiu Camp Nou, para acolher adeptos que o idolatravam
5TWS§TUTIJWOTLFWUWTȁXXNTSFQRJSYJ1F_QT0ZGFQFTWLFSN_TZ (TSYZITUTWXJWFXXNRKTNXJFGWNSITHTSȂNYTJSYWJJQJJ-JQJ-
clube amador a que chamou Hungaria — nele juntando vários fu- nio Herrera (que para lá fora do Belenenses), o clube dividiu-se em
tebolistas que, tal como ele, eram «fugitivos do comunismo» (ou defesa de um ou de outro, ganhou a hoste de Kubala — e mesmo
viviam a esperança de «fugir do comunismo»). com o Barcelona a sagrar-se campeão de Espanha de 1959/60,
3ZRF INLWJXX§T UTW *XUFSMF 'FWHJQTSF J 7JFQ 2FIWNI JSYZ- Herrera teve de se ir embora, o pretexto foi, sobretudo, o ter sido
127
*IZFWIT,TZ[JNF¥WGNYWTUTWYZLZ®XUWTYFLTSN_TZSTXVZFWYTXIJȁSFQIF9F«FITX(FRUJ¹JXIJJUNX·INTHFWNHFYT
2FZITR±SNTIJWJQ·LNTVZJQMJKTWFTKJWYFITJRNSZYTXKTNVZFSYTIZWTZFXJLZSIFRJYFIJITOTLT
SFFQYZWFS§TMF[NFFIN«§TIJYJRUTIJHTRUJSXF«§TƓ
eliminado nesta edição da Taça dos Campeões pelo Real Madrid, 3F[XUJWFIT7JFQ3NHJ;NHJSYJ(FGFQQJWT(FRFHMTFSYNLT
SFXRJNFXȁSFNXHTRIZFXIJWWTYFXJ&SYJXINXXTKZQLZ- ¥WGNYWTIJXQTHTZXJFTMTYJQƉJUTWHTWYJXNFTKJWJHJZQMJZR
WFSYJYNSMFRXNITTXVZFWYTXIJȁSFQHTRRFNXIZFXF[FXXFQFIT- WJQ·LNT&HZXYTTFHJNYTZUTWVZJ(FGFQQJWWTQMJFȁFS«TZ
WFX[NY·WNFXIT'FW«FFSYJT<TQ[JWMFRUYTSƉUTWJ
— É o mais fácil que existe para controlo do tempo de jogo — e
(TS[ZQXF XJ YTWSTZ YFRGR JSYWJYFSYT F [NIF ST 7JFQ infalível!
2FIWNI9JSIT+JWJSH5ZXPFXKTW«FITFXF±IFIJ1ZNX&SYT-
SNT(FWSNLQNF8FSYNFLT'JWSFGZ
VZJYNSMFHTRTUQFST' 3§TS§TJWFJXJRVZJ,TZ[JNFXJFUJWHJGJXXJ
IJ[NITF
4YYT ,Q·WNF FUTXYTZ JR 2FSZJQ +QJNYFX 8TQNHM Ɖ VZJ FU·X YTVZJNRUJWHJY±[JQSFFQYZWFITUJS¥QYNƓFXJLZSIFUFWYJHMJ-
QJ[FWT5FWFLZFN¤[NY·WNFSF(TUF&RWNHFIJYTWSF- LTZFTXRNSZYTXƉJZRITXYW®XLTQTXIJ)N8YKFSTKTNFTX
WFT+QFRJSLTYWNHFRUJ§THFWNTHF
T+QFRJSLTVZJGFYJWF ƉVZFSITIFXGFSHFIFXO¥XJJXHZYF[FTHQFRTW
FYWF[X IJ ZR KZYJGTQ JR NST[FITW ]] XJRUWJ [NWFIT
UFWF T FYFVZJ J F UFWF F GJQJ_F IJ KTWRF IJXQZRGWFSYJ J — Reloj, reloj, reloj…
XJSXFHNTSFQ F *VZNUF ITX 7JKZLNFITX 5TQ±YNHTX IJ ,ZYY-
RFSS HTR 5ZXPFX 0THXNX J (_NGTW SF XZF INLWJXX§T UJQT /TFVZNR (FRUTX J -JWR±SNT 8TFWJX XJZX ȁXHFNX IJ QNSMF
'WFXNQ X·THTSXJLZNWFRF[NXFWITJWWT
VZJJWFITWJQ·LNTƓVZFSIT
,TZ[JNF FUNYTZ UFWF T VZJ OZQLF[F XJW T RNSZYT Ɖ J SZR
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YJSMFXNITFTFGWNWITXVZFWYTXIJȁSFQƉSFIJWWTYFJR3NHJ IJ[JWFFȁSFQFKFQMF
XJRNRUWJ[NI®SHNFSJRXJVZJWHFXYN-
UTW
HTR YW®X LTQTX IJ ;NHYTW 3ZWJRGJWL
QZ]JRGZWLZ®X LTZ*IZFWIT,TZ[JNFƉVZJHTSYZITRFWHFITUJQTJUNX·INT
VZJ YFRGR KJ_ [NIF HTRT JRUWJLFIT IJ ZR ITX RFNX LQF- VZFSITUTWH¥FUFWJHNFUFWFFWGNYWFWIJXFȁTS§TJWFWFWTTZ-
RTWTXTXHFXNSTXIFHNIFIJƉJTFGFQTYWF[TZXJSTXIT [NW JR YWTUJQ
J MF[JSIT VZJR S§T XJ XFYNXȁ_JXXJ HTR F XZF
8FSYNFLT'JWSFGZƉHTRFMNXY·WNFIF9F«FITX(FRUJ¹JXF FWGNYWFLJRJSY§TJWFHJWYNSMT
HWZ_FWXJ IJXHTSHJWYFSYJ HTR ¥WGNYWT UTWYZLZ®X T *IZFWIT
,TZ[JNF
VZJKTWFOTLFITWIT5FQRJQJSXJ — Olha o relógio, olha o relógio!
Ɖ&THMJLFWF2FIWNIIN_NFRVZJJWF*Q'WZOTJTVZJXJ[NZKTNVZJFȁSFQJWFZRXJX-
XJSY§TZQYWFUFXXFIT
Mal Miguel Muñoz, o capitão das duas primeiras Taças dos Campeões, o adjunto de Luis
Antonio Carniglia nas duas seguintes, se tornou treinador principal retomou o 3x2x5 — e,
SFXJLZSIFR§TIFXRJNFXȁSFNXIF9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZXT7JFQ[TQYTZF[JSHJW
em Barcelona (novamente por 3-1), na partida que condenou Helenio Herrera por, cada
[J_RFNXF_ZHWNSFITHTR0ZGFQFTYJWYNWFITIFJVZNUF)JXXJOTLTȁHTZMNXY·WNHTTZYWT
JUNX·INT¤RJINIFVZJXJHTWWNFUFWFTȁSFQITOTLTFXGFSHFIFXIJ(FRU3TZHFIF[J_
mais se levantavam nos aplausos aos madrilenos.
4HFRNSMTUFWFFȁSFQK®QTT*NSYWFHMY+WFSPKZWYJQNRNSFSITTXXZ±«TXIT>TZSL'T^X
e os austríacos do Wiener SC — e impressionante foi o modo como agarrou o bilhete para
,QFXLT\HTR[NY·WNFXUTWJKWJSYJFT7FSLJWX8JSITTFI[JWX¥WNTIT7JFQVZJR
JWFQTLTXJFYJTZUTQRNHFSTWJXHFQITIFȁSFQIT2ZSINFQIJVZJF-ZSLWNFUJW-
IJWFHTRF7+&5ZXPFXFYNWFWFJRFQ[TWT«TNSXNSZF«§T
FQN¥XUNTWƓIJVZJTXFQJR§JX
estavam dopados (e outros remoques considerados «desrespeitosos e abusivos») — e,
em réplica, a federação da Alemanha Ocidental proibiu os seus clubes de jogarem con-
tra qualquer equipa que tivesse Ferenc Puskas no seu seio — e para que não houvesse
«incidente diplomático» (ou caso que o pudesse afastar da relva do Hampden Park) ele
escreveu, sentimental, carta à DFB com «pedido de desculpas» — e assim se desfez o
veto para sempre.
129
Di Stéfano
47JFQ2FIWNIKTNIJXQZRGWFSYJSFȁSFQIJHTSYWFT*NSYWFHMYHTSYFSITHTRF
inquestionável liderança de Alfredo Di Stéfano
1960
131
Se Di Stéfano
«foi maior que Pelé»,
Puskas parecia «grávida safada»
(e só Didi andava, gelado, pelas
ruas da amargura)
Michel Platini nunca o escondeu: — Contra o América, senti dor no peito do pé. Para cobrar a
falta sem me magoar mais decidi bater no meio da bola usando
— Di Stéfano era soberbo tecnicamente, veloz e um goleador apenas 3 dedos e foi o que foi…
temível e não foi só ele e com Puskas que aquele Real Madrid
inventou o futebol moderno. &HMFSITTIJRFXNFITINXUQNHJSYJT+QZRNSJSXJU¸QT¤[JS-
IFJRRJFITXIJ4'TYFKTLTIJZRNQM¹JXIJHWZ_JNWTX
3TINFFXJLZNW¤ȁSFQIJ,QFXLT\ZROTWSFQNXYFNSLQ®XJXHWJ- UTWJQJƉSZSHFSJSMZROTLFITWHZXYFWFYFSYT
[JZo:RKZYJGTQIJXTSMTIJFWYNXYFXTITXJXUFSM·NXVZJ
KF_HTRVZJTSTXXTTITXGWNY¦SNHTXUFWJ«FIJXJLZSIFHF- )JKTQMFXJHFHTSYWFT5JW¾FUZWTZT'WFXNQUFWFT2ZSINFQ
YJLTWNFZRFYWNXYJ_F)ZWFSYJFSTXF''(WJYWFSXRNYNZJXXJ IJƉT'WFXNQXFNZIJQ¥HFRUJ§TJQJXFNZIJQ¥HTRTT
OTLTITINFIJ3FYFQHTRTZRITXoRFNTWJXJXUJY¥HZQTXVZJF 2JQMTW/TLFITWIF(TUF
MZRFSNIFIJYNSMFUFWFRTXYWFW
J]UQNHF[FXJƉJIJVZFSIT
JRVZFSITXZWLNF0JSSJYM<TQXYJSMTQRJTFKFRFITHTRJS- 47JFQHTSYWFYTZTX·Q¥)NINKFQMTZƉJWJ[JQTZXJ
YFITWIF''(FFȁFS«FQTJRHQFRTW
— Falhou por causa do boicote que Di Stéfano lhe fez por
— O Real em Hampden foi de longe o banquete mais delicioso medo…
que eu descrevi, jogando futebol como se estivessem tocados
por anjos… 5FWF (FS¥WNT S§T KTN HTSYZIT X· UTW NXXT VZJ )NIN KFQMTZ
JR2FIWNI
3JXXJ7JFQIFVZNSYF9F«FITX(FRUJ¹JXMF[NF
JRJXUFS-
YTYFQ[J_ZRFJXYWJQFFUFLFIFT)NIN5JVZJSNSTHTRJ«FWFF — Problema maior foi o Didi não se acostumar muito aqui ao
OTLFWHTRLJSYJLWFSIJSFXUJQFIFXIJ(FRUTXƉJZRF[J_ clima. Teve um jogo no Santiago Bernabéu que me deu pena.
WJLWJXXTZFHFXFRZNYTRFHMZHFIT&F[·YWFYTZTHTRWJ_FX Nós começámos a jogar e começou a nevar. Quando terminou,
J·QJTXIJWNRIJHFWSJNWTRFXFKJWNIFLFSLWJSTZ-TZ[JR- sabe o que Didi fez? Foi correndo para o vestiário, abriu a água
INHTVZJFHMTZVZJYJWNFRIJQMJFRUZYFWFUJWSFX·S§TFR- quente, meteu a mão debaixo, só então os dedos dele mexe-
UZYFWFRUTWVZJFFSHN§S§TIJN]TZ&HFGTZHZWFSITTHTRFX ram…
133
RONDA PRÉVIA
La Jeunesse d’Esch/X[HPEXUJR²â.6âRGŧ3ROyQLD
5 – 0 // 1 – 2
Fenerbahçe7XUTXLD²&VHSHO6&+XQJULD
1 – 1 // 3 – 2
Nice)UDQoD²6KDPURFN5RYHUV)&,UODQGD
3 – 2 // 1 – 1
9RUZlUWV%HUOLQ5'$²Wolverhampton,QJODWHUUD QUARTOS DE FINAL
2 – 1 // 0 – 2
2O\PSLDNRV*UpFLD²AC Milan ,WiOLD 1LFH)UDQoD²Real Madrid (Espanha)
2 – 2 // 1 – 3 3 – 2 // 0 – 4
&'1$6RI\LD%XOJiULD²Barcelona (Espanha) Barcelona(VSDQKD²:ROYHUKDPSWRQ,QJODWHUUD
2 – 2 // 2 – 6 4 – 0 // 5 – 2
Glasgow Rangers(VFyFLD²$QGHUOHFKW%pOJLFD 6SDUWD5RWWHUGDP+RODQGD²Glasgow Rangers(VFyFLD
5 – 2 // 2 – 0 2 – 3 // 1 – 0 // 2 – 3
Rudá Hvezda Bratislava&KHFRVORYiTXLD²)&3RUWR Eintracht Frankfurt 5)$²:LHQHU6SRUW&OXEÉXVWULD
3RUWXJDO
2 – 1 // 1 – 1
2- – 1 // 2 – 0
/LQÀHOG,UODQGDGR1RUWH²IFK Göteborg6XpFLD
2 – 1 // 1 – 6
Wiener Sport-ClubÉXVWULD²3HWUROXO3ORLHüWL5RPpQLD
0 – 0 // 2 – 1
7 Real Madrid
3 Eintracht Frankfurt
Final
18 de maio de 1960
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
/TX &ZLZXYT KTWF IJKJXF IT 'FWWJNWJSXJ )J ZR INF UFWF
Guttmann queria TTZYWTHTRJ«TZFXJSYNWXJHFSXFITIJRFNXUFWFTK¸QJLT
200 contos de prémio VZJYNSMFJQTLTXJUJWHJGJZVZJJWFTIJXYNSTFFYWFN«T¥QT
&UFSMFWFYZGJWHZQTXJƉJHTRTJWFHTRUFIWJIJ+WFSHNXHT
pela Taça dos Campeões, +JWWJNWFTHFUNY§TIT'JSKNHFT(MNHTFWWFSOTZKTWRFIJT
o dirigente de pouca fé 'JSKNHFNWIZFX[J_JXFT'FWWJNWTƉUFWFFXXNRXJFWWFSOFW
INSMJNWTUFWFTFOZIFWFYWFYFWIFITJS«FTZSTZYWFXHTNXFX
disse-lhe: «Oh, homem RFNXVZJUWJHNXFXXJ
ponha lá mais 100!»
&YZGJWHZQTXJRFYTZTFTXFSTXFQLZWJXUTWFSIF[F
(e 300 contos /TX&ZLZXYTUJQTXFSTX
foi o que ele ganhou,
sem que o tivessem — Não tinha irmãos para ajudar a minha mãe a pagar as contas,
logo tive de arranjar trabalho.
deixado entrar na Hungria…)
+TN UFWF FUWJSIN_ IJ RJYFQTRJH¦SNHT SF (5 F[JSYZWTZXJ F
LZFWIFWJIJXIT'FWWJNWJSXJ
Na edição de 1960/61 da Taça dos Campeões Europeus deu-se,
JSȁRNSXHWN«§TITHFRUJ§TIF3TWZJLFT+WJIWNPXYFI+TTY'FQ- — À custa de boas notas, adquiri certo estatuto na CP, pedi para
QPQZGG ƉVZJXZWUWJXFKTN YJW JQNRNSFIT T &OF] SF 7TSIF 5W[NF ser estofador — e assim passei a tratar dos bancos dos comboios e
&SYJXITXJZNS±HNTT,QJSF[TS+(
IF.WQFSIFIT3TWYJJT((& até dos barcos, era, claro, trabalho menos duro e mais limpo.
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IF(MJHTXQT[¥VZNFƉJIJXXF7TSIF5W[NFIJVZJT'JSȁHFXJ YWJNSFITWRFSITZTUFWFF[FS«FIT
S§TQN[WTZ
JNXXTYFRGRQMJIJZMNXY·WNFSZSHFFSYJXHQZGJVZJ
HTRJ«FWFUTWFQNFHFGTZFLFSM¥QFƓ — Marquei nove golos, não voltei mais a guarda-redes. Gostava
daquilo, gostava muito.
3JXXF UWNRJNWF KFXJ FTX GJSȁVZNXYFX HTZGJQMJX IJKWTSYFW T
-JFWYXTK2NIQTYMNFS*R*INRGZWLT[JSHJWFRUTWHTRLTQTX 3T'FWWJNWJSXJYFRGROTLF[FGFXVZJYJGTQ&TXFSTXINWJ-
IJ/TX
LZFXJ/TX&ZLZXYT3F1Z_LFSMFWFRUTW/TX YTWQFS«TZQMJZQYNRFYTTZZRFHTNXFTZFTZYWFƉJ/TX&ZLZXYT
LZFXKJ_RFNXITNXLTQTX/TX&ZLZXYTRFNXZRƉJS§TYFWIFWNF JXHTQMJZTKZYJGTQ1TLTKTNUFWFTUWNRJNWTYNRJHTRTF[FS«FIT-
VZJUTWJSYWJ[¥WNTXTZYWTXLTQTXFTQTSLTIFHFRUFSMFJKTLF- HJSYWTFTXJLZSITOTLTU¸X[¥WNFXGTHFXFGJWYFXIJJXUFSYTT
HMTX FNSIF RFNX NRUWJXXNTSFSYJX ,FGWNJQ -FSTY
T OTWSFQNXYF IT 8UTWYNSLLFSMTZST'FWWJNWTUTWJQJRFWHTZYW®XLTQTX
1xVZNUJVZJFYJFWFTWFXYNQMT¤HTRUJYN«§TTYN[JXXJFȁWRFIT
Ɖ/TX&ZLZXYTT,FWWNSHMFIF*ZWTUF — Não, não é engano, marquei três golos ao Carlos Gomes —
e só me validaram dois. O árbitro era um sportinguista chamado
*XYF[FST'JSKNHFJRKZWTWYFQ[J_S§TJXYN[JXXJQ¥XJS§T Borges Leal e o golo que me anulou, o que teria dado 3-3, deu num
YN[JXXJ T HTWF«§T VZJ YNSMF &QJ]FSIWJ &QRJNIF T UFN IJ falatório que nem se imagina…
O Sporting fez menção de o contratar, com esse campeonato Ɖ 3§T RJ JXVZJHJSIT IT VZJ T 'JSȁHF ȁ_JWF UJQT RJZ UFN
IJFNSIFJRHZWXT+(5TWYTJ'JSȁHFRFSNKJXYFWFRNLZFQ VZFSITȁHTZITJSYJITXUZQR¹JXX·FIRNYNFNWUFWFTZYWTQFITXJ
NSYJWJXXJUTWJQJTUWJXNIJSYJIT'FWWJNWJSXJWJ[JQTZT T'JSȁHFS§TRJVZNXJXXJ
— Pedimos 1000 contos pela sua carta, exatamente para nin- 6ZJT'JSȁHFTVZJWNFXTZGJT/TX&ZLZXYTFYWF[XIJ2F
guém lhe pegar. SZJQIF1Z_&KTSXTVZFSITJXYF[FSFJXYF«§TIJ8FSYF&UTQ·SNF
¤ JXUJWF IT HTRGTNT UFWF T 5TWYT F HFRNSMT IT +( 5TWYT Ɖ J
Não foram, porém, precisos 1000 contos para três anos depois o [TQYTZUFWFYW¥X1Z_HMJLTZHTRTF[FS«FITHJSYWTRFXYJSIT
'JSȁHFTQJ[FWIT'FWWJNWT+TNJRRJFITXIJ/TX&ZLZXYT /TX
LZFXSFUTXN«§T'QF,ZYYRFSSU¸QTFJ]YWJRTINWJNYTƉJ
J]UQNHTZFWF_§TTHTWF«§T KTNX¾GNYFFXZFJ]UQTX§TƓ
139
ses após a conquista do título — e por lá ficou, a jogar num
Como Guttmann outro Hakoah, o New York Hakoah. Enriqueceu — e no crash
141
+K
Ä
+
O Ujpest, que calhara ao Benfica para os oitavos de final da Taça dos Campeões
Europeus, levara oito dos seus jogadores às seleções da Hungria que procura-
vam refazer-se do esfarelamento que a Invasão Soviética causara no seu Dream
Team (forçando Puskas, Czibor, Kocsis & mais ilustre companhia ao exílio) — e
na primeira mão, na Luz, no domingo de chuva em que se inaugurou o Terceiro
Anel — saltou o Benfica a sétima dimensão: aos 28 minutos já vencia por 5-0 com
golos de Cavém (1), Águas (6 e 28), José Augusto (12) e Santana (16). Gorocs
(69) e Pataki (77) reduziram — e, aos 87 minutos, José Augusto fechou o placard
em 6-2.
Para a segunda mão, no Nepstadion, a cautela do Benfica foi outra: não que-
rendo que a sua presença na cidade de onde se exilara pudesse causar «mal-en-
tendidos» ou «dar sinal de provocação», a direção de Maurício Vieira de Brito
decidiu que Béla Guttmann ficaria retido no hotel de Viena onde a comitiva fizera
escala. Foi assim, tentando, por vezes, apanhar em aparelho de rádio sinal de
relato — ou esperando, como combinado, que o irmão que continuara a viver em
Budapeste, lhe passasse pelo telefone, informações fugazes — que o treinador
do Benfica soube que logo aos seis minutos Santana fizera 0-1 e que através de
golos de Halapi e Szusza o Ujpest acabou por dar a volta ao jogo.
Nesses oitavos de final, faiscante foi, sem dúvida, o duelo entre Real Madrid e
Barcelona — que de lés a lés se achou a «final antecipada» da Taça dos Cam-
peões Europeus. A primeira mão, no Santiago Bernabeu, deu em 2-2. O empate
do Barça saiu de um penálti assinalado pelo inglês Arthur Ellis, a três minutos do
fim. Luís Suarez fez golo, Miguel Munõz, treinador do Real, denunciou-o:
— Queixas temos nós, o golo anulado a Villaverde foi legítimo, não estava nada
fora de jogo.
— Ainda estou para saber porque o árbitro nos anulou pelo menos dois dos três golos
que marcámos.
O brilharete não bastou para que Ljubisa Brocic salvasse a sua pele. Para além
de treinador do Estrela Vermelha de Belgrado, também era selecionador da Ju-
goslávia quando, algures por 1953, numa digressão pelo Brasil, agente secreto
da polícia política o apanhou à conversa com anticomunistas sérvios e croatas
que viviam, exilados, por lá, deixando-os fotografarem-se com vários dos seus
jogadores. Temendo sofrer «graves represálias», Brocic não voltou à Jugoslávia.
Apareceu, aventureiro, pelo Egito e pelo Líbano, andou pela Juventus — e foi ao
PSV Eindhoven que Francesc Miró-Sans, magnata da indústria têxtil catalã, o foi
buscar para treinador do Barcelona, quatro meses o foi, após eliminar o Real pe-
diu demissão «para não perturbar a vida ao clube», que a federação continuava
a impedir-lhe acesso ao banco — e, por isso, já não foi Ljubisa que defrontou o
Benfica na final…
Ainda sem conhecer o desfecho do duelo entre o Real e o Barcelona, Béla Gutt-
mann confidenciou-o:
Foi mesmo o Aarhus que lhe calhou — e mais duas foram as vitórias do Benfica:
3-1 na Luz, 4-1 no Municipal de Aarhus. Por essa altura vivia Portugal em frenesim
por causa de Eusébio — e Eusébio em desencanto por não o deixarem jogar.
143
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Sem que Eusébio VZJ NXXT JWF X· ZR UTWRJSTW VZJ JZ ȁHF[F YFRGR QMJ WJ-
Estoirando notícia do ataque do Benfica, o Sporting Clube Ruth segue Vera Cruz.
de Portugal jogou a sua cartada pelo lado de fora do cora-
ção: Brás Medeiros, o presidente, determinou que Eusébio Nem o Vera Cruz era o paquete, nem a Ruth era a Ruth.
a vir, teria de vir para Alvalade à experiência — e Eusébio Em mais uma «manobra de segurança», todos os contac-
cortou-lhe de pronto a ideia: tos de Lourenço Marques para Lisboa tinham-se feito com
nomes de código. Eusébio era Ruth, Tavares de Melo era
— Os meus irmãos mais velhos disseram: ou vai com contrato Conceição Malosso. E quer Ruth, quer Conceição Malosso
assinado, ou não vai. E não foi só: a malta do Sporting não foi existiam mesmo em Lourenço Marques, eram filha e mulher
muito correta quando telefonou a dizer que me queria. Pensa- de Albertino Malosso, igualmente talhante, igualmente ben-
vam que estavam a falar com um gajo qualquer e não estavam, fiquista fanático...
o meu irmão era engenheiro e perguntou-lhes: O FC Porto já
TKJWJHJZHTSYTXT'JSȁHFO¥TKJWJHJZHTSYTX[TH®X A 16 de dezembro de 1960, Eusébio aterrou na Portela
TKJWJHJRTVZ®$.SXNXYNWFRSFMNXY·WNFIFJ]UJWN®SHNFTRJZNW- — e sem que do Sporting de Lourenço Marques chegasse
mão Jaime lembrou que o Seminário estava a ganhar 80 contos a «carta de desobrigação» com o Benfica cada vez mais
UTWR®XST8UTWYNSLJVZJJZJWFRJQMTWITVZJT8JRNS¥WNT perto do paraíso na Taça dos Campeões era no inferno que
até porque só tinha 18 anos. Riram-se. Depois, quando o Hilário Eusébio se sentia:
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ƉRJQMTWITVZJYTITXS·XOZSYTX<WFX·XFGJWVZJR[FN
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7ZYMSTRJȁHY±HNTJXYFWNF
FZYTWN_FITUJQFR§JFOZSYFWXJFT'JSȁHF sair para ele entrar...
145
Em Viena, Águas
pediu ao árbitro que marcasse
¯ +K
(e do estádio tiveram
de sair os portugueses
em carrinhas da polícia)
Saber quem sairia para Eusébio entrar continuou sem ser ques-
Y§TSTXOTLTXIFXRJNFXȁSFNXHTSYWFT7FUNI3FUWNRJNWFR§TSF
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ITJXY¥INTOTLFITWJXFZXYW±FHTXUWTRJYJWFRo[NSLFWF[JWLTSMF
ƉJSNSLZRUJWHJGJZIJVZJ[JWLTSMFKFQF[FR Cavém beija a taça, José Águas (ao centro) e Mário Coluna (dir. )
;JWLTSMF KTN T VZJ FHTSYJHJZ INFX IJUTNX ST <NJSJW 8YF- Chamaram-se reforços, vieram guardas e carros do exército arma-
INTS&TXRNSZYTX
LZFXKJ_&TX8PTHNPJRUFYTZ3T ITXHTRRJYWFQMFITWFX(TRTTFZYTHFWWTVZJQJ[FWFT'JSȁHF
¾QYNRTRNSZYT8PTHNPHFNZSF¥WJF7JLNSFQI1JFKJRFSITZXJLZNW fora quase destruído pela chuva de pedras, a comitiva teve de ir ao
'QF,ZYYRFSSU¸XFXR§TX¤HFGJ«FUWJXXJSYNSITFJ]UQTX§TIF monte nas carrinhas da polícia.
NWF/TX
LZFXYFRGRƉHTWWJZUFWFT¥WGNYWTJXZUQNHTZQMJVZJ
FXXNSFQFXXJLWFSIJUJSFQNIFIJHTSYWFT'JSȁHFVZJRFNXZRLTQT &UJXFW IJ YZIT ¤ RJNFSTNYJ TX GJSȁVZNXYFX WJXTQ[JWFR NW
S§TYJWNFVZFQVZJWJKJNYTSFJQNRNSFY·WNFRFX1JFKJWJXUTSIJZVZJ FT GFSVZJYJ
VZJ JWF YWFINHNTSFQ IJUTNX IJ YTIFX FX UFWYNIFX
S§TVZJS§TKTWFSFIF8PTHNPIJUTNXIJZRXTHTFZRGJSȁVZNX- IF9F«FITX(FRUJ¹JX*ZWTUJZX3§TJSHTSYWFWFR¤RJXFIF
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UTWYJWRNSFITKZLNZUFWFFXHFGNSFXFHTSXJQMTZTXGJSȁVZNXYFX INFXJLZNSYJYJWNFRIJNWYWFGFQMFWƉJS§TJWF[JWIFIJJWFRO¥
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RTSYFWFRTRTXYWFITWITWJQ·LNTFWWFSHFWFRHFIJNWFXJUWJHNUN- *ZXGNTKJ_TJ]FRJIFVZFWYFHQFXXJVZJXJJ]NLNFFTXOTLFIT-
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/TX&ZLZXYTHTSYTZT FGWNFJRI¾[NIFXJIJXHTSHJWYTX
— Lá dentro tínhamos martelos, ferros de bater nos pitons, as — As notícias nos jornais desorientavam-me, desesperavam-me.
navalhas de raspar as pernas. Estávamos preparados para rece- 2FXKZWNTXTȁVZJNFTXFGJWVZJFYYJQJKTSFWFR¤RNSMFR§JKF_JS-
bê-los. Os primeiros a entrar caíam. Depois era uma avalancha. ITXJUFXXFWUTWRNRUWTHZWFSITHTS[JSH®QFFYNWFWRJIF1Z_
147
— Azar assim, bem distribuído, dava para perder 10 jogos segui-
Coluna fez golo dos. Se houvesse um penálti para o Kubala marcar, mesmo que
de nariz partido (sem o saber..) não estivesse lá o Costa Pereira, haveria de aparecer um passari-
nho que levava a bola no bico...
e John Kennedy tirou
Lembrando as quatro bolas nos postes (ainda quadrados),
+K Zóltan Czibor praguejou contra o destino:
na televisão
— Não volto a pisar este estádio maldito…
Esse seu golo — e o de Zoltán Czibor aos 75 (o que fechou — Era amador, mas dos bons, batia-se bem, até com estrangeiros.
o placard em 3-2) já se não viu em direto na televisão. Ken-
nedy acabara de aterrar em Paris, a TV francesa que estava Morreu cedo, porém — por um cruel capricho do destino:
responsável pela transmissão de Berna ao intervalo puxou numa festa de aniversário da fábrica de açúcar da Catum-
as imagens de JFK em direto para o sinal da Eurovisão e só bela, fez-se competição de jogo da corda — e tendo-se ex-
depois, em diferido, se passou a segunda parte — a parte cedido mais do que podia acabou levado de urgência para
da heróica resistência benfiquista que levou Costa Pereira à o hospital, fatal foi a hemorragia interna que sofrera. Zeca,
revelação em clamor: o filho que nascera em Luanda, ainda não tinha quatro anos
— para o criar (a ele e aos três irmãos) a mãe passou a la-
— Tive um trabalho horrível, acho que só não defendi com os den- var a roupa dos navios que ancoravam no Lobito. Disso fez
tes. negócio que cresceu, pelo caminho também abriu casa que
recebia hóspedes, servia refeições:
A manchete da Marca era: «Houve bruxas em Wankdorf» —
Enrique Orizaola, que saltara de adjunto de Ljubisa Brocic para — A minha mãe achava-me menino fraco de mais para aquelas
treinador principal do Barça, pôs poesia no desencanto: andanças — e não queria que a má sorte voltasse a atacar-nos
cruel, era o que mais temia — e, por isso, só aos 15 anos me deixou equipa e ele correu a colá-lo na parede do seu quarto. Achou
calçar pela primeira vez umas botas de futebol. que não bastava, comprou outro — e pendurou-o no escritório
onde trabalhava. Dias depois, a digressão de mês e meio que
Por essa altura teve de ir trabalhar para dar ajuda à família. JXXJ 'JSȁHF JXYF[F F KF_JW UTW &SLTQF 2T«FRGNVZJ 9WFSX-
Empregou-se como dactilógrafo na Casa Robson Hudson, em- [FFQJ(TSLT'JQLFUFXXTZUJQT1TGNYTUFWFOTLTVZJQMJRFW-
UWJXF IJ [JSIF IJ FZYTR·[JNX J KTN SF JVZNUF IF ȁWRF VZJ HTZTIJXYNST&XJQJ«§TIF-Z±QFLFSMTZFT'JSȁHFUTWJ
começou a jogar. O jeito não lhe estava apenas no futebol, tam- José Águas marcou dois golos, um deles levou a que se ouvisse
bém estava nas corridas e nos saltos (e no voleibol e no pingue- de Ted Smith:
-pongue). O destino, porém, voltou a pregar terrível partida à
família Águas: uma meningite matou-lhe Aníbal, o irmão: Ɖ:RLTQTFXXNRYWFYFITIJKZYJGTQIJȁSJFGNYTQFIJZROT-
gador!
— Jogava muito melhor do que eu.
E, no fim do jogo, pediu-lhe que passasse pelo hotel do
E, aos 17 anos, morreu-lhe a mãe: Benfica, para uma conversa. O FC Porto tinha-o convidado
a testes na Constituição — e da conversa do hotel saiu José
— … de coração cansado. Águas com o casaco de benfiquista que Ted Smith lhe deu.
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Tinha dois ídolos, o Rogério e o Julinho — e após a vitória do nadar dentro dele — mas com ele seguiu a caminho do seu
'JSȁHFSF9F«F1FYNSFOTWSFQFSLTQFSTUZGQNHTZUTXYJWHTRF futuro…
149
CHAMPIONS
A HISTÓRIA
COMO NUNCA
SE CONTOU
(mesmo quando não se chamava assim)
VOLUME I
De antes da origem a 1961
Treinador do Barcelona falou da derrota
através de um passarinho com a bola no
b +K
e Neto acabou a vender peixe na praça
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RJWFRQMJFXR§TXGFLFXIJXZTWRFSFWFRQMJIFKWTSYJIJXKFQJHJZIJJRT«§T
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JXHFRFX J LZJQWFX GFWGFYFSFX J ȁTX IJ XFSLZJ F [JSIJW UJN]J Ɖ J F 3JYT FUF-
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TVZJJQJKTWF
— Ganhava-se pouco, três contos por mês. Só depois, quando o Sporting passou a pagar
VZFYWTVZJT'JSȁHFKTNFYW¥X5TNXRJXRT[JWIFIJ[JWIFINSMFKTRTXHFRUJ¹JXIF
Europa, vivendo a três ou quatro contos por mês e umas luvas quando se assinavam os
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FXXNRHTSXJLZNZXJIN[NINWTXHTSYTXJRUWJXYF«¹JXVZJKZNWJHJGJSITIJYW®XJRYW®X
meses.
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RFSSWJHJGJZUJQF[NY·WNFƉ[J_JXRFNXITVZJHFIFZRITXXJZXUZUNQTX
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RFSSINWNLNZXJF;NJNWFIJ'WNYTJRZWRZWTZQMJ
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151
RONDA PRÉVIA
(Hearts Of Midlothian FC (Escócia) –'JSȁHF (Portugal)
1 – 2 // 0 – 3
Estrela Vermelha de Belgrado (Jug.) – :OUJXYN)T_XF (Hungria)
1 – 2 // 0 – 3
+WJIWNPXYFI+0 (Noruega) – Ajax (Holanda)
4 – 3 // 0 – 0
Aarhus (Dinamarca) – Legia Warszawa (Polónia) QUARTOS DE FINAL
3 – 0 // 0 – 1
Juventus (Itália) – CDNA Sofyia (Bulgária) 'JSȁHF(Portugal) – Aarhus (Dinamarca)
2 – 0 // 1 – 4 3 – 1 // 4 – 1
HIFK Helsinki (Finlândia) – 2FQRº (Suécia) 7FUNI<NJS (Áustria) – Malmö (Suécia)
1 – 3 // 1 – 2 2 – 0 // 2 – 0
7FUNI<NJSÉXVWULD²%HüLNWDV7XUTXLD Burnley FC (Inglaterra) – -FRGZWLT (RFA)
4 – 0 // 0 – 1 3 – 1 // 1 – 4
Limerick (Irlanda) – >TZSL'T^X (Suíça) 'FWHJQTSF(España) – Spartak Hradec Králové (Che.)
0 – 5 // 2 – 4 4 – 0 // 1 – 1
8YFIJIJ7JNRX)U²/D-HXQHVVH'·(VFK/X[
6 – 1 // 5 – 0
'FWHJQTSF (Espanha) – Lierse SK (Bélgica)
2 – 0 // 3 – 0
3 )LUÄJH
2 )HYJLSVUH
Final
31 de maio de 1961