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Renato Lemos
REALIZAÇÃO
I P H A N - 6" S u p e r i n t e n d ê n c i a Regional
989.205 Constant. Benjamin, 1836-1891.
c757c Cartas da G u e r r a : Benjamin
Constant na Campanha do
Parafluai/Transcriçào, organização
e i n t r o d u ç ã o Renato Lemos. -
Rio de Janeiro: ! P H A N / 6 , S R /
Museu Casa de Benjamin
Constant.1999.
220p.
S e c r e t a r i a do Patrimônio
Museus e Artes Plásticas
Octávio Elísio Alves de Brito
I n s l i l u t o do Patrimônio Hislórico
e Artístico Nacional - IPHAN
Carlos Henrique Heck
IPHAN
6^ S u p e i i n t o n d ê n c i a Regional
J o s é Simões de Belmont Pessoa
M u s e u C a s a de B e n j a m i n Ojnslant
F á t i m a Beviláqua Contursi
A s s o c i a ç ã o de A m i g o s do M u s e u
C a s a de B e n j a m i n (Constant
Presidente
Renato Lemos
Diretor Secretário
Anna Acker
Diretor Tesoureiro
Affonso Escobar B e v i l á q u a
Agradecimentos
B á r b a r a Rocha
Izolete Raisson
Mónica da Costa
In m e m o r i a n
Hercília Canosa Vianna
PETROBRAS
Sumário
5 Apresentação
11 Introdução
18 Nota do autor
Cartas
7
63 Benjamin Constant para C l á u d i o Luís da Costa, 29 de novembro de 1866.
2 de setembro de 1866.
Tirada por ocasião de sua partida paru a (lucrra dn raraguai.
10
Introdução
M a r c i a n o A u g u s t o Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
Benjamin
M a r c i a n o A u g u s t o Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
* * *
Mariquinhas
Sta. C a t a r i n a , C i d a d e do D e s t e r r o
5 de setembro de 1866
Dá l e m b r a n ç a s a todos de n o s s a s fam"', ao V e i g a , G u i m a r ã e s ,
H o n ó r i o , Luiz, C o i m b r a , etc. e aceita o c o r a ç ã o saudoso do teu m a r i -
do teu amigo, que muito te ama.
B e n j a m i n C o n s t a n t B . de M a g a l .
Mariquinha
M o n t e v i d e u 13 de setembro de 1866
14 de setembro
M i n h a q u e r i d a esposa
Passo Verde, a bordo do transporte S. José
3" feira, 25 de setembro de 1866
M i n h a boa e v e r d a d e i r a a m i g a . C o n f o r m e te m a n d e i d i z e r na c a r t a
datada de 15 do corrente e escrita de Montevideu, deixei nesse dia essa
c i d a d e e segui p a r a C o r r i e n t e s no t r a n s p o r t e S. José, deixando o
M a r c i a n o empregado aí em bom emprego e bem recomendado. A v i a -
gem tem sido excelente, tenho passado muito bem de s a ú d e , n ã o tenho
enjoado, temos tido dias muito bonitos e l i n d í s s i m a s noites de luar.
Incomodam-me p o r é m e bastante as saudades de ti, de m i n h a filhinha,
de minha família e de meus amigos. N u n c a passei uma v i d a t ã o e s t ú p i -
da como a que estou tendo agora. E n c a l h a m o s em um grande banco de
areia e h á 4 dias que aqui estamos em lugar deserto sem e s p e r a n ç a s
de t ã o cedo desencalhar o vapor. A á g u a que aqui se bebe é do P a r a n á ,
muito o r d i n á r i a , carne j á nos vai faltando, p o r é m n ã o havemos de mor-
r e r à fome. O comandante do v a p o r mandou o p r á t i c o a t e r r a a v e r se
descobria alguma e s t â n c i a para c o m p r a r gado e alguns v í v e r e s . Se por
acaso n ã o encontrar, i r á a m a n h ã à c i d a d e de L a Paz que fica 6 ou 7
l é g u a s distante deste lugar e onde e n c o n t r a r á p r o v i s õ e s . A b a i x o te dou
n o t í c i a s mais m i n u c i o s a s de tudo o que tem o c o r r i d o nesta v i a g e m .
M a n d a - m e n o t í c i a s tuas, de m i n h a A l d i n a , de m i n h a M ã e , m i n h a s
manas, do P e ç a n h a , de D. O l í m p i a , D. M a r i q u i n h a s , teu Pai, D. A l c i d a
e seu E r n e s t o , enfim de todas as pessoas de fam" e de amizade. J á te
mandei p r e v e n i r que quando me q u i s e r e m e s c r e v e r devem fechar as
cartas com o sobrescrito p a r a m i m em um envelope d i r i g i n d o - a s p a r a
M o n t e v i d e u ao Major de E n g e n h e i r o s Dr. A n t ô n i o Pedro Monteiro de
Drummond, diretor do Hospital Militar em Montevideu, ou ao Marciano,
p o r q u e d a í me s e r ã o r e m e t i d a s p a r a o l u g a r em que eu estiver. E u
e s c r e v e r e i por todos os t r a n s p o r t e s ou paquetes que p a r a lá forem.
M a n d a - m e dizer minuciosamente tudo o que tiver o c o r r i d o em nossa
c a s a desde que d a í p a r t i . O Dr. B a r r e t o ficou de ir d i r e t a m e n t e a
B a e p e n d i , por especial favor, saber n o t í c i a s do P e ç a n h a . Deus queira
que se tenha dado bem. M a n d a - m e dizer como v a i a M a r i q u i n h a s da
d i a r r e i a e se a preta que ficou ainda e s t á em casa e se vai servindo bem.
Diz-me o que iiouve sobre os empregos que deixei. C o m o esta te che-
g a r á à s m ã o s depois do dia 4 ou 5 de outubro manda-me dizer se rece-
beste a c o n s i g n a ç ã o de 200$000 que te deixei na pagadoria das tropas.
Se por acaso t i v e r h a v i d o a l g u m a d ú v i d a a esse respeito, o que n ã o
j u l g o p o s s í v e l , pois deixei tudo prevenido, manda-me dizer com fran-
queza p a r a que eu tome p r o v i d ê n c i a s . N ã o deixe de escrever-me. N ã o
podes fazer ideia da aflição em que estou por n ã o ter ainda recebido
cartas tuas. B e m sei n ã o haver ainda tempo de r e c e b ê - l a s . D i s s e r a m -
nos na cidade de R o s á r i o que tinha havido uma longa c o n f e r ê n c i a entre
L o p e z , M i t r e e F l o r e s e que t r a t a r a - s e das c o n d i ç õ e s da paz. O G a l .
P o l i d o r o n ã o quis a s s i s t i r a ela e fez b e m . N ã o h á paz p o s s í v e l c o m
s e m e l h a n t e m o n s t r o , s ó aquela que s o b r e v i e r a j u s t a v i n g a n ç a que
estamos tomando. E s t a n o t í c i a c o r r e aqui como certa e falam dela as
folhas oficiais. Deus q u e i r a que n ã o tenhamos alguma paz v e r g o n h o -
sa depois de tantos s a c r i f í c i o s . No desterro em que estamos n ã o temos
tido n o t í c i a alguma mais a esse respeito.
Vou dar-te agora n o t í c i a s do que tem o c o r r i d o desde que parti de
M o n t e v i d e u a t é este ponto em que o vapor encalhou. {Mando-te ligei-
ros apontamentos que tomei depressa.) No s á b a d o dia 15 à s 5 1/2 da
tarde seguimos v i a g e m para C o r r i e n t e s . Navegamos pelo rio da P r a t a
a c i m a . É um i m e n s o e majestoso r i o . C o l o c a d o no meio dele n ã o se
avistam as margens, s ó se v ê (sic) c é u e á g u a s . O vapor fundeou à s 10
horas da noite e seguiu v i a g e m no outro dia à s 6 horas da m a n h ã . A o
meio-dia [...] em frente à cidade de B u e n o s A i r e s . O comandante foi
b u s c a r um p r á t i c o p a r a podermos continuar a viagem. A pouca demo-
r a que d e v í a m o s ter n ã o permitiu que f ô s s e m o s a t e r r a . Senti bastan-
te. Desejava ver esta cidade que faz h o n r a ã A m é r i c a do S u l . Na volta
espero vê-la. O comandante voltou à s 4 da tarde trazendo o p r á t i c o .
S u s p e n d e m o s e s e g u i m o s v i a g e m rio a c i m a , h a v i a muita c e r r a ç ã o e
s o p r a v a o vento N . Passamos pelo v a p o r e n c o u r a ç a d o Herval e demos
fundo à s 8 horas da noite. No dia seguinte seguimos viagem às 5 horas
da m a n h ã e à s 9 avistamos M a r t i n G a r c i a . É uma pequena ilha mal for-
tificada e g u a r n e c i d a por um destacamento de f o r ç a s A r g e n t i n a s . H á
um quartel e algumas casas pequenas. H a v i a um navio fundeado perto
tendo a bandeira A r g e n t i n a . À s lOh e 40m e s t á v a m o s em um ponto em
(sic) os dois r i o s U r u g u a i e P a r a n á j u n t a m suas á g u a s formando o rio
da P r a t a . É um l u g a r b e l í s s i m o . V ê e m - s e i m e n s a s ilhas c o b e r t a s de
m a c e g a e pequenos a r b u s t o s . O rio U r u g u a i divide-se aí em muitos
b r a ç o s formando as muitas e grandes ilinas de que falei. E s t á v a m o s em
frente à boca do G u a s s u , que é uma das bocas do U r u g u a i . Seguimos
pelo P a r a n á . A s margens aqui s ã o mais p r ó x i m a s , ou por outra o rio é
mais estreito. Às l l h demos reboque a uma escuna que estava encalha-
da e d e m a n d a v a a cidade do P a r a n á . D u r a n t e todo o dia í a m o s vendo
p l a n í c i e s imensas, ilhas, bonitas enseadas. À s 5 1/2 passamos por um
lugar muito pitoresco. E r a uma pequena mas bonita ilha b o r d a d a por
uma p r a i a de areia. H a v i a um lago no i n t e r i o r e à beira do lago g r a n -
des e copadas á r v o r e s . A o p é havia uma pequena casa de s a p é e alguns
í n d i o s sentados à porta. Isolados no meio do r i o , longe dos povoados
aquela pobre gente vive entregue aos r e c u r s o s da natureza. A c a ç a e a
pesca s ã o os ú n i c o s meios de s u b s i s t ê n c i a . F u n d e a m o s à s 10 horas da
noite. No dia s e g " 18 seguimos v i a g e m à s 6 h o r a s da m a n h ã . À s 9 pas-
samos por T o n e l e r o s - v i m o s a b a r r a n c a da qual as f o r ç a s de R o s a s
fizeram fogo sobre os vapores B r a s i l e i r o s que l e v a v a m f o r ç a s nossas
p a r a unirem-se ao G a l . U r q u i z a . A o meio-dia e s t á v a m o s em frente ao
pueblo de S. Nicolau. É uma pequena p o v o a ç ã o que fica à m a r g e m di-
reita do P a r a n á e situada 1/4 de l é g u a distante dela. V ê - s e (sic) com au-
xílio de ó c u l o s a l g u n s e d i f í c i o s d i s p o s t o s em q u a d r a s f o r m a n d o o
n ú c l e o deste p o v o a d o e a l g u n s outros d i s p e r s o s em t o r n o dele. H á
alguns sobrados de m á c o n s t r u ç ã o , uns caiados e outros n ã o , algumas
casas s ã o munidas de s ó t ã o e outras cobertas de palha. A m a r g e m do
rio neste povoado é uma extensa p r a i a de areia (o que acontece r a r a s
vezes nestas paragens). À uma hora e meia avistamos algumas casas e
as duas t o r r e s de uma igreja da Vila da C o n s t i t u i ç ã o ( P r o v í n c i a de S.
Fé). A m a r g e m e s q u e r d a é uma b a r r a n c a de 3 b r a ç a s de a l t u r a que
medem a e l e v a ç ã o do solo plano na horizontal. A b a i x o um pouco a v i s -
ta se estende por uma vasta p l a n í c i e coberta de g r a m a e de salseiros
dispersos. E x i s t e por aí alguma e s t â n c i a de c r i a ç ã o pois vimos imensos
rebanhos, muito gado, cavalos que p a s t a v a m . E m frente a este ponto
fica a ilha do P a v ã o - tendo em seu centro uma vasta lagoa. U m exten-
so banco de areia de 5 b r a ç a s de l a r g u r a c o m 200 mais ou menos de
comprimento fecha a entrada de uma enseada formando a lagoa acima
m e n c i o n a d a . À s 2 h o r a s passamos por um v a p o r que e s t á h á mais de
15 dias e n c a l h a d o . [...] nestas p a r a g e n s bonitas p r a i a s e um g r a n d e
banco que [...] 4 ou 6 palmos a c i m a das á g u a s . A s margens, como por
toda parte em M o n t e v i d e u , s ã o imensas p l a n í c i e s cobertas de mace-
gas e pequenos arbustos. Avista-se ainda daqui a Vila da C o n s t i t u i ç ã o .
Deste ponto a t é a cidade de R o s á r i o o rio alarga-se muito, forma g r a n -
des e bonitas ilhas tendo quase todas imensos lagos no seu i n t e r i o r e
as margens s ã o p l a n í c i e s e paludais (sic).
À s 5 1/2 c h e g a m o s à cidade de R o s á r i o . F u n d e a m o s muito perto
dela e saltamos. S u b i m o s uma pequena ladeira depois de termos pas-
sado um largo que fica perto do desembarque onde h á 5 ou 6 [...] pe-
quenas, e fomos ter à P r a ç a 25 de M a i o - onde existe a igreja que é
bonita; há um alpendre na frente sustentado por [...] intervalados de 15
palmos ( n ã o pudemos vê-la por dentro). A cidade é cortada por muitas
ruas de 40 a 50 palmos de l a r g u r a e muito c o m p r i d a s , que se c r u z a m
perpendicularmente dividindo-se em muitas quadras. Há alguns edifí-
cios bons, sobrados e casas t é r r e a s ; a m a i o r parte é p o r é m formada
por pequenas casas t é r r e a s e de muito m á c o n s t r u ç ã o e arquitetura.
Mesmo dentro da cidade encontram-se muitas casas cobertas de palha,
havendo muitas delas nas extremidades das ruas que do centro condu-
zem aos a r r a b a l d e s . A s p r a ç a s s ã o quadradas [...] q u a d r a s vazias no
interior da cidade. A p r i n c i p a l é a 25 de M a i o de que acima falei. F i c a
(sic) aí a igreja, o quartel de polícia e alguns edifícios piíblicos. A s casas
que g u a r n e c e m a p r a ç a s ã o das t é r r e a s à e x c e ç ã o de 2 s o b r a d o s e 2
pequenos s ó t ã o s , todos de m á a p a r ê n c i a . De cada v é r t i c e partem duas
ruas seguindo os prolongamentos dos lados do quadrado que forma a
p r a ç a . H á no meio dela uma coluna de 50 a 60 palmos de altura. Nas 4
faces do pedestal l ê e m - s e as seguintes i n s c r i ç õ e s , em frente da igreja
- 25 de Maio de 1810 - do lado esquerdo - h i s t a l a ç ã o da Municipalidade
em 18 de f e v e r e i r o de 1850 - à d i r e i t a - J u r a m e n t o da C o n s t i t u i ç ã o
P r o v i n c i a l em | . . . ] agosto de 1856 e na outra face - 9 de j u l h o de 1816.
U m a grade de ferro c e r c a a coluna. H á 4 e s t á t u a s colocadas nas pilas-
t r a s que f o r m a m os v é r t i c e s do q u a d r a d o cujos lados s ã o fechados
pelas grades de ferro.
Há nesta cidade muitas casas de n e g ó c i o s boas e bem sortidas, mui-
tas lojas de manufaturas tornando-se n o t á v e i s , uma loja de roupa feita
com grande e v a r i a d o sortimento, uma casa de m ó v e i s onde se encon-
t r a m r i c a s m o b í l i a s de j a c a r a n d á , mogno etc. (é um d e p ó s i t o de bons
e ricos trastes), muitos d e p ó s i t o s de l a m p i õ e s a querosene, que podem
r i v a l i z a r com o grande e m p ó r i o do R i o de J a n e i r o e com a sua filial de
Montevideu. H á muitas f a r m á c i a s sortidas e arranjadas com luxo, m u i -
tos cafés e bilhares r i q u í s s i m o s (como por exemplo o de Paris). Haviam
(sic) aí 4 bilhares, muitas mesas [...] p a r a tomar café; s o f á s estofados.
g r a n d e s e ricos [...] e quadros. H á bons liotéis, muitas lojas de f e r r a -
gens, lojas de [...], de alfaiates, etc. A s ruas s ã o , umas c a l ç a d a s e outras
sem c a l ç a m e n t o a l g u m . Os passeios das ruas de tijolos e estes maus
(alguns passeios s ã o sustentados por tirantes de madeira). A s ruas s ã o
todas [...] e as á g u a s da chuva bem canalizadas. N ã o h á , assim como em
M o n t e v i d e u , chafariz algum na cidade. Bebe-se á g u a do P a r a n á [...]
A l g i b e s (cisternas de que s ã o munidas todas as casas e onde se [...] a
á g u a da c h u v a . A s s o t é i a s s ã o para esse fim munidas de tubos [...] que
conduzem a á g u a para os algibes. E s t a á g u a n ã o é das melhores, nem
das mais asseadas, pois as s o t é i a s n ã o s ã o tratadas com cuidado. A
cidade é i l u m i n a d a por l a m p i õ e s de querosene. Os l a m p i õ e s s ã o colo-
cados a d i s t â n c i a s convenientes p a r a a boa i l u m i n a ç ã o (a i l u m i n a ç ã o é
sustentada pelos p a r t i c u l a r e s ) . E m todas as esquinas, os l a m p i õ e s s ã o
s u b s t i t u í d o s por g r a n d e s a r a n d e l a s e h á em c a d a uma das e s q u i n a s
frades de madeira que impedem que os c a r r o s estraguem [...]. H á pou-
cos sobrados, mas estes g r a n d e s e de elegante arquitetura. Todos os
edifícios s ã o c o n s t r u í d o s de tijolos. A m a d e i r a e a pedra s ã o aqui r a r í s -
simas. S ó as portas e j a n e l a s s ã o de m a d e i r a , tudo mais é tijolo. Nas
p r o x i m i d a d e s da cidade e em torno dela h á muitas c a s i n h a s pobres de
pau-a-pique, cobertas de s a p é . O desembarque é p é s s i m o . N ã o h á uma
ú n i c a o b r a de c o n s t r u ç ã o p a r a m e l h o r á - l o . O povo aqui é o que h á de
pior. O s homens da classe baixa andam todos vestidos de - c h i v i p á s -
no que fazem c o n s i s t i r todo o seu [...]. S ã o todos de m á a p a r ê n c i a e, ou
por ignorantes ou por [...] seus chefes, i n i m i g o s dos B r a s i l e i r o s . C o n -
c o r r e m t a m b é m muito p a r a isso os F r a n c e s e s e Italianos que por aqui
a b u n d a m . C h e g a o ó d i o [...] por estas, c o m o por q u a l q u e r destas
pequenas cidades do P r a t a , que p r o v o c a m aos B r a s i l e i r o s (principal-
mente os militares) com palavras e [...] p r ó p r i o s de um povo como este
t ã o p r ó x i m o ainda do estado selvagem. Muitos fatos de roubos e assas-
sinatos que se t ê m dado [...] ver que é sempre com risco que os estran-
geiros, p r i n c i p a l m e n t e os B r a s i l e i r o s , v i s i t a m estas cidades, porque
e s t ã o quase sempre expostos aos p u n h a i s dos a s s a s s i n o s ou dos l a -
d r õ e s . A hospitalidade que se encontra nestes m i s e r á v e i s é a do punhal
e a do r e v ó l v e r e aquela que se pode obter é c o m p r a d a a peso de ouro.
E s t e s infames, por i g n o r â n c i a ou por seus maus instintos, em lugar de
receber como amigos aos filhos do p a í s que tantos b e n e f í c i o s lhes tem
feito, se limitam a t r a t á - l o s com i n g r a t i d ã o , v ã o adiante, s ã o os nos-
sos mais e n c a r n i ç a d o s inimigos. Pode ser que assim n ã o a c o n t e ç a , mas
as a p a r ê n c i a s s ã o condenadoras e os fatos que se t ê m dado d e i x a m -
nos m u n i d o s c o n t r a esta gente. No dia seguinte (19) d e i x a m o s esta
c i d a d e . [...] A v i a g e m nada teve de n o t á v e l . P a s s a m o s por a l g u m a s
p o v o a ç õ e s muito pequenas e situadas a grandes d i s t â n c i a s umas das
outras. A mais n o t á v e l é a de Diamante. A margem do rio é aqui m o n -
t a n h o s a e a v e g e t a ç ã o mais v a r i a d a e abundante, c i r c u n s t â n c i a s que
n ã o se e n c o n t r a m em nenhum outro ponto do rio. Fundeamos à s 7 ho-
ras da noite e seguimos v i a g e m no outro dia à s 6 da m a n h ã . A o meio-
dia saltamos no norte da cidade do P a r a n á . O v e s t í b u l o c o r r e s p o n d e
perfeitamente ao edifício. À entrada do porto v ê e m - s e umas p a l h o ç a s ,
m i s e r á v e i s h a b i t a ç õ e s de pescadores e catraieiros [...] fornos mal cons-
t r u í d o s p a r a a c a l c i n a ç ã o do - g r é s - que aqui abunda e donde extraem
a cal. O rio em frente ao porto é bastante largo, n ã o permitindo mesmo
a ó c u l o distinguir-se os pontos da margem oposta. Há perto do desem-
barque uma ilha coberta de salsos - á r v o r e que por aqui abunda e en-
costado à outra m a r g e m um pouco abaixo um grande banco de areia.
U m a b a r r a n c a que se estende ao longo da margem esquerda forma os
m u r o s da cidade e oculta a vista dela, que e s t á situada a mais de uma
l é g u a do desembarque. Neste ponto n ã o h á um cais, uma ponte, abso-
lutamente nada que m e l h o r e o mau d e s e m b a r q u e que a n a t u r e z a aí
oferece. V ê - s e (sic) como te disse alguns [...] de palha muito pequenos
e mal c o n s t r u í d o s , lembrando as aldeias de nossos selvagens, montes
de pedras c a l c á r e a s dispostos em frente dos mal c o n s t r u í d o s fornos,
que os t ê m de reduzir a cal por meio da c a l c i n a ç ã o , homens de cor bron-
zeada e de m á catadura, ridiculamente vestidos com c a l ç a s largas e ca-
misolas, como a dos [...], com um pano passado por entre as pernas,
cujas pontas s ã o [...] à c i n t u r a , tomando o aspecto de saiotes curtos (a
que d ã o o nome de c h i v i p á s ) e d e s c a l ç o s , e uma grande quantidade de
mulheres lavando à beira do rio (as mulheres vestem-se como as nos-
sas). O que forma aqui a m a i o r i a da p o p u l a ç ã o é uma [...] cruzada de
E s p a n h ó i s e G u a r a n i s . S ã o p o r é m estes povos por seus costumes, sua
i g n o r â n c i a , sua i n d o l ê n c i a e t c , mais p r ó x i m o s dos G u a r a n i s do que E s -
p a n h ó i s . É um povo ainda inferior ao do R o s á r i o inimigo dos B r a s i -
leiros e de m á s t r a d i ç õ e s . A s i n f o r m a ç õ e s que tivemos previnem-nos
contra esta gente. E s t a p r e v e n ç ã o n ã o é p o r é m mal-entendido. Os mui-
tos fatos de roubos e assassinatos feitos em estrangeiros, principalmen-
te B r a s i l e i r o s , n ã o d ã o lugar a d ú v i d a s a esse respeito, f...] testemu-
nha da n e n h u m a hospitalidade, do modo indigno, insolente e brutal
por que somos aqui recebidos (e s ã o nossos aliados). Os homens covar-
des e p u s i l â n i m e s c o r r e s p o n d e m respeitosos aos c o m p r i m e n t o s (sic)
que lhes [...] quando passeamos por seus povoados e, pelas costas, c h a -
m a m - n o s de m a c a c o s , macaquitos, d ã o a s s o v i o s , etc. Respeitam-nos
quando a n d a m o s em n" suficiente p a r a r e p e l i r os seus insultos, mas
insultam-nos e p r o v o c a m - n o s quando andamos dispersos. E n f i m , nin-
g u é m sai d e s a r m a d o p a r a passear nestas cidades. O p r ó p r i o c ô n s u l é
o 1" a prevenir-nos para que n ã o passeemos à noite pela cidade porque
podemos sofrer alguma v i o l ê n c i a . Por aqui se pode avaliar de sua c i v i -
l i z a ç ã o . O governador é uma e s p é c i e de cacique a quem este povo obe-
dece como escravo. Longe de excitar-nos ó d i o e ideias de v i n g a n ç a essa
gente excita-nos a c o m p a i x ã o . S e m i n s t r u ç ã o , sem i n d ú s t r i a , sem [...],
c a r r e g a d o s de impostos e sem d i s t r a ç ã o s ã o apenas cegos i n s t r u m e n -
tos daqueles que os g o v e r n a m . I m b u í r a m - l h e s ideias falsas a respeito
do B r a s i l e j u l g a m - n o s seus inimigos, apesar das muitas p r o v a s que o
I m p é r i o tem dado de sua b o a - f é e suas boas i n t e n ç õ e s a estes maus vizi-
nhos. Os enormes s a c r i f í c i o s de sangue e de d i n h e i r o que temos feito
por eles s ã o sempre mal interpretados. A g o r a que a t r í p l i c e a l i a n ç a do
B r a s i l c o m estas r e p ú b l i c a s todas [...] f a v o r á v e l aos aliados e i m i n e n -
temente d e s f a v o r á v e l e a t é [...] deixa v e r a toda luz quanta generosida-
de v e r d a d e i r a e a t é [...] b o a - f é tem-se tido com eles, ainda muitos j o r -
nais nos insultam, atribuem-nos m á s i n t e n ç õ e s que n ã o temos e n u n c a
tivemos. E n t r e as pessoas mais ilustradas destas r e p ú b l i c a s h á felizmen-
te muitas que s ã o j u s t a s p a r a conosco e nossos amigos (sic), a m a i o r i a
p o r é m é formada de inimigos nossos. Desejo s i n c e r a m e n t e que estes
j u í z o s que [...] quase todas as pessoas, que c o n h e c e m esta [...] expli-
c a ç ã o que lhes seja f a v o r á v e l . S e m ser p o l í t i c o creio que devemos pro-
c u r a r uma política A m e r i c a n a , uma a l i a n ç a entre todos os E s t a d o s das
duas A m é r i c a s que oponha fortes b a r r e i r a s à s desenfreadas a m b i ç õ e s
da E u r o p a , p r i n c i p a l m e n t e da I n g l a t e r r a ; mas me parece i m p o s s í v e l
ou ao menos muito difícil. O s nossos sábios políticos - tratantes - , que
j á tantas vezes se t ê m p r o n u n c i a d o n e s s e sentido n e c e s s a r i a m e n t e
r e s o l v e r ã o esse grande e importante [...]. Vejo-lhes p o r é m pouco j e i t o
a c o n t i n u a r e m nesta [...] tantos anos tem sido seguida no r i o da Prata
e que t ã o funestos r e s u l t a d o s tem tido, l e v a n d o o B r a s i l a e n o r m e s
s a c r i f í c i o s de s a n g u e e de [...] e fazendo-o r e p r e s e n t a r o m a i s t r i s t e
papel. S i r v a de prova o tratado da Tríplice A l i a n ç a . Deixemos p o r é m de
parte estas tolices m i n h a s e voltemos à cidade do P a r a n á .
A cidade é pequena e de p é s s i m a c o n s t r u ç ã o . A s ruas s ã o c o m p r i -
das e b e m a l i n h a d a s ; n ã o h á p o r é m a t e r r o s n e m d e s a t e r r o s , o b r a
alguma praticada no terreno para t o r n á - l o s (sic) planos (sic), seguem to-
das as o n d u l a ç õ e s e i r r e g u l a r i d a d e s do t e r r e n o . A s casas s ã o quase
todas muito pequenas, muito baixas, sem arquitetura alguma e de p é s -
s i m a c o n s t r u ç ã o . C o m o em Montevideu e R o s á r i o t ê m quase todas [...]
e seguem as mesmas d i v i s õ e s i n t e r n a s . U m a saleta na frente, [...] ao
lado, dando para a rua, uma á r e a depois da sala da [...] munida do inse-
p a r á v e l algibe para receber á g u a da c h u v a , [...] e quartos ao longo da
casa. A s janelas das casas t é r r e a s s ã o todas munidas de grossas grades
de ferro do mesmo modo que nas outras cidades acima mencionadas.
Há dez ou doze sobrados em toda a [...] e estes mesmos maus e peque-
nos. Os melhores s ã o os 5 que ficam situados n a p r a ç a p r i n c i p a l . U m
deles é a casa do G e n e r a l Urquiza, com cinco janelas de grade de ferro,
tem p o r é m muito pouco fundo. Outros h á iguais a este, um dos quais
e s t á do mesmo lado onde se reunia a assembleia, [...] ficando por baixo
dele algumas r e p a r t i ç õ e s p ú b l i c a s , [...] defronte, r e s i d ê n c i a do gover-
nador, e o 5" n a esquina da r u a do G e n e r a l U r q u i z a . Os outros edifí-
cios que f o r m a m a p r a ç a s ã o a igreja e algumas casas t é r r e a s o r d i n á -
rias. E s t a p r a ç a é pouco m a i o r que a [...] no R i o de J a n e i r o . A Igreja
M a t r i z é grande, para a p o p u l a ç ã o , [...] b a i x a n ã o guardando h a r m o -
nia com a altura de suas duas torres [...] no sistema seguido pelos j e s u í -
tas. O corpo da igreja é alto [...] e sustentado por colunas. Há uma nave
onde e s t ã o [...] capelas; entre elas há uma onde e s t á uma grande e boni-
ta imagem do S e n h o r dos Passos. O orago da igreja é - J e s u s , M a r i a ,
J o s é . S ã o M i g u e l , por n ã o estar c o n c l u í d a a sua igreja, é hospede da
Igreja M a t r i z . O padroeiro do lugar é S ã o M i g u e l . O exterior da Igreja
M a t r i z é de m á a p a r ê n c i a . A cidade dividida em d i v e r s a s quadras. A s
ruas s ã o estreitas e muito compridas, n ã o h á c a l ç a m e n t o algum, os pas-
seios s ã o de tijolos e muito maus, isto nas p r i n c i p a i s , porque a maior
parte n ã o os tem. H á no i n t e r i o r da c i d a d e [...] c a s i n h a s o r d i n á r i a s
cobertas de palha, poucas casas de [...] boas. A s melhores s ã o todas
e s t r a n g e i r a s (de Italianos ou de F r a n c e s e s ) essas m e s m a s m a l s o r t i -
das; as outras s ã o vendas e [...] muito pobres. H á muitas boticas sofrí-
veis, a melhor é a da Matriz (é n o t á v e l a quantidade de boticas que se
e n c o n t r a m nestas c i d a d e z i n h a s . N ã o é b o m i n d í c i o de sua s a l u b r i d a -
de). H á na m e s m a p r a ç a u m a loja de fazenda e a r m a r i n h o bem [...]
algum luxo p a r a este lugar. A i l u m i n a ç ã o da cidade é feita por particu-
lares. É de querosene. Bebe-se a á g u a do P a r a n á ou a dos algibes. N ã o
vi nem um j a r d i m , nem uma c h á c a r a , n e n h u m a horta [...] que fosse. A
cidade fica situada sobre uma vasta p l a n í c i e , tem pouca e l e v a ç ã o . (Toda
esta extensa p l a n í c i e sobre a qual [...] os dois grandes rios - U r u g u a i e
P a r a n á é formada [...] e s t é r e i s e completamente abandonadas ã natu-
reza que apenas [...] produz alguns pastos maus. A o menos é o que se
o b s e r v a à s margens a t é onde a vista pode a l c a n ç a r . A natureza é aqui
sempre a mesma e n ã o h á variedade nem no aspecto do terreno nem na
v e g e t a ç ã o . U m a e s p é c i e de s a p é a que c h a m a m macega, arbustos e [...]
de m á a p a r ê n c i a e s p a l h a m a m o n o t o n i a por t o d a s estas [...] estas
pequenas cidades, alguns povoados m i s e r á v e i s e algumas p a l h o ç a s de
í n d i o s muito distantes entre s i , tudo o m a i s é um completo deserto.
N ã o h á por aqui o que se c o m p a r e à poesia e beleza que nos oferece a
natureza no nosso p a í s . H á p a n o r a m a s bonitos com efeito mas n u n c a
iguais aos que oferecem nossas verdes florestas, nossos campos, nos-
sos r i o s , etc.) E s t e p a r ê n t e s i s j á ia c o m p r i d o e atoleimado, por isso
fechei-o d e p r e s s a . [...] cidade. H á por aqui uma P r a ç a do M e r c a d o
pequena e m á , 4 ou 5 [...] dos estrangeiros (o melhor em q u e j a n t a m o s
é o H o t e l de F r a n ç a , situado na R u a G e n e r a l U r q u i z a perto da p r a ç a .
A l é m da Igreja Matriz h á outra que é a de S. Miguel. F i c a em um peque-
no l a r g o em frente à R u a do S e n h o r dos P a s s o s . H á somente duas
pequenas escolas de i n s t r u ç ã o p r i m á r i a , u m a p a r a o sexo [...] o u t r a
p a r a os c h i v i p a z i n h o s e estas m e s m a s m a l freqtientadas. N ã o h á
b i b l i o t e c a ou l i v r a r i a , h á a p e n a s u m a r m a r i n h o onde se v e n d e m
alguns [...] m a i o r parte folhetos e alguns r o m a n c e s maus. A s duas m a l
o r g a n i z a d a s escolas s ã o o ú n i c o foco de i n s t r u ç ã o p a r a este pobre
povo. N ã o h á um passeio p ú b l i c o , um s ó teatro, enfim n ã o [há] meio
algum de d i s t r a ç ã o p a r a esta gente. A l a v o u r a e a a g r i c u l t u r a s ã o aqui
completamente desprezadas. Na p r o x i m i d a d e s da cidade e em torno
dela h á uma grande quantidade de p a l h o ç a s muito pobres, [...] umas
l a r a n j e i r a s ( ú n i c a á r v o r e f r u t í f e r a que a q u i e n c o n t r e i ) . F r u t o s n ã o
havia. D i s s e r a m - m e que na P r o v í n c i a h á algumas e s t â n c i a s e peque-
nas c h á c a r a s , mas insuficientes mesmo p a r a abastecerem o mercado
desta cidade. A s mulheres da melhor classe s ã o em geral claras, coradas
e de f i s i o n o m i a s a g r a d á v e i s ( n ã o v á s ficar c o m c i ú m e s . [...] n e m ao
menos quis i r c o m meus c o m p a n h e i r o s a a l g u m a s casas c o n h e c i d a s
[ . . . ] . A s da p i o r c l a s s e ( v i r g e m n o s s a s e n h o r a ) s ã o u m a s c a s c a v é i s ,
bichos feios e a t é [...].
Os soldados e os policiais andam d e s c a l ç o s , vestidos de c h i v i p á s e
trazem c h a p é u s de palha ou de feltro, sem nenhuma uniformidade, es-
padas tortas e [...]. F a l a - s e muito o g u a r a n i por esta cidade (a gente
baixa). N ã o se ouve, quando p a s s a m pelos outros, s e n ã o - b a t e c ó p a ,
batecopora - , isto em língua de gente quer dizer: como e s t á s , estou bem,
obrigado. E u t a m b é m fui dando b a t e c ó p a s a toda aquela gente e quan-
do me d a v a m b a t e c ó p a a r r u m a v a - l h e s com o batecopora. F o i s ó o que
aprendi, mas fui [...] e x t r a ç ã o a estes meus conhecimentos. Dei b a t e c ó -
pa a um meninozinho, a um batecopazinho e falou mais de 10 minutos
sem dizer batecopora; n e c e s s a r i a m e n t e estava me passando alguma
grande descompostura. A l é m das grandes e s t â n c i a s de c r i a ç ã o , a i n -
d ú s t r i a limita-se aqui à f a b r i c a ç ã o de manteiga, que é sofrível, queijo,
que é mau, tijolos e isso mesmo em muito pequena escala. O leite é mau
em c o n s e q u ê n c i a dos pastos que s ã o ruins e escassos. A s s i s t i m o s aqui
à p r o c i s s ã o de S. M i g u e l . T í n h a m o s acabado de j a n t a r e í a m o s p a r a
bordo quando disseram que havia uma p r o c i s s ã o . Demoramo-nos para
vê-la. Percorremos toda a Rua de .S. Miguel que é uma daquelas por on-
de a p r o c i s s ã o tinha de passar. E m quase todas as casas havia mesas
pequenas [...] todas as j a n e l a s com vasos de flores e folhas. A rua esta-
va cheia de [...] d i s t â n c i a havia no meio da rua mesas cobertas com toa-
lhas de damasco p a r a d e s c a n s a r e m o andor. O santo é pequenino (do
tamanho da nossa pequerrucha) pelas portas, pelas s o t é i a s (pelas j a n e -
las n ã o porque esta gente n ã o chega à janela em c o n s e q u ê n c i a das gros-
sas g r a d e s [...] h a v i a m (sic) muitas m o ç a s (e velhas). À s cinco horas
saiu a p r o c i s s ã o ([...] me dizer que as r u a s e s t a v a m e m b a n d e i r a d a s .
H a v i a m (sic) bandeiras de todas as n a ç õ e s menos a bandeira Brasileira.
O mesmo se d á em qualquer festa em Montevideu. E s ã o nossos alia-
dos!) Quatro homens vestidos de opas pretas carregavam o andor e seis
padres armados de grandes tochas iam na frente, a t r á s do andor vinha
um a l u v i ã o de mulheres trazendo todas um xale ou pano pela c a b e ç a ,
muitos c h i v i p á s e opas, uma quantidade e x t r a o r d i n á r i a de meninos etc.
( h a v i a m (sic) t a m b é m m o ç a s vestidas como as nossas). A t r á s de tudo
isto v i n h a uma g u a r d a de soldados de p é s d e s c a l ç o s , com os seus c h i -
v i p á s , suas espadas desembainhadas e gingando como fazem os m e n i -
nos que representam os anjinhos em nossas p r o c i s s õ e s . T a m b é m estas
lorpas e r a m os ú n i c o s [...] da p r o c i s s ã o . A p r o c i s s ã o foi p a r a a igreja,
entrou por uma porta e saiu pela outra e mande E l Rei Nosso S e n h o r
contar outra. N ã o é assim que costumam acabar as nossas h i s t ó r i a s ?
o v a p o r desencalhou no dia 28 e seguimos v i a g e m depois de 6 dias
de encalhe em um lugar mau e completamente [...]. De Corrientes ou do
E x é r c i t o te mandarei dizer tudo o que v i r em m i n h a v i a g e m . E s t a é a 3"
carta que te escrevo [...] no correio cartas minhas caso n ã o tenhas rece-
bido as longas cartas que te e s c r e v i . U m a de S t a . C a t a r i n a , outra de
M o n t e v i d e u . E s c r e v a m - m e por M o n t e v i d e u d i r i g i n d o as c a r t a s ao
Major Dr. A n t ô n i o Pedro M o n t e i r o de D r u m m o n d conforme disse ou
ao M a r c i a n o . A c h o bom que escrevas as tuas cartas em duplicata divin-
do (sic) uma pelo c o r r e i o outra pelo Q'''-Gen''' ou outra qualquer v i a .
C o m o vai a m i n h a filhinha? D á - l h e muitos beijos por m i m , a b e n ç o a - a
de m i n h a parte. T e n h o tido muitas s a u d a d e s tuas ( n ã o podes fazer
ideia. Contento-me p o r é m em olhar p a r a o teu retrato que sempre me
h á - d e acompanhar). C a d a vez sinto mais com verdadeiro prazer quan-
to sou teu amigo e sei que t a m b é m sentes o mesmo. D á muitas lem-
b r a n ç a s a todos de nossa fam" e a todas as pessoas de nossa amizade.
O G u i m a r ã e s , Veiga, H o n ó r i o , C o i m b r a , Luiz que me e s c r e v a m [...] se
zanguem por lhes ter escrito. L e m b r e m - s e sempre em (sic) m i m o v e r -
dadeiro e sincero amigo agradecido. Dá l e m b r a n ç a s ao [...] e fala-lhe
sobre a I r m a n d a d e da C r u z e sobre a m i n h a patente. M a n d a - m e dizer
p a r a onde te mudaste. Pergunta pelos retratos ao G u i m a r ã e s .
A d e u s , m i n h a boa amiga, aceita um apertado a b r a ç o do teu marido
que muito ama e respeita.
B e n j a m i n C o n s t a n t Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
M i n h a q u e r i d a esposa
C o r r i e n t e s 3 de outubro de 1866
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
E s c r e v a m t a m b é m ao M a r c i a n o que c o m o d i s s e nas m i n h a s c a r t a s
a n t e r i o r e s ficou em M o n t e v i d e u empregado. E l e t a m b é m pode de lá
e n v i a r - m e as c a r t a s que v i e r e m . M a n d a - m e dizer o n" da c a s a de D .
A l c i d a que n ã o me lembro e para onde te mudaste.
* * *
C o r r i e n t e s 3 de outubro de 1866
Meu sogro e bom amigo
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
Benjamin
* * *
Tuiuti, C a p ã o do P i r e s
6 de outubro de 1866
M i n h a q u e r i d a esposa
* * *
2^ v i a
Tuiuti j u n t o ao C a p ã o Pires
M i n h a querida esposa
30 de outubro de 1866
N . B . E s t o u e m p r e g a d o como A s s i s t e n t e do Q u a r t e l - M e s t r e - G e n e r a l
j u n t o à 1" D i v i s ã o c o m a n d a d a pelo G e n e r a l A r g o l o . E m outra c a r t a te
m a n d a r e i dizer quais s ã o as m i n h a s d i v e r s a s o b r i g a ç õ e s e a luta em
que [...] estado comigo fornecedores e comerciantes l a d r õ e s .
* * *
P a r a g u a i A c a m p a m e n t o no Potreiro Pires
M i n h a q u e r i d a esposa
1" de novembro de 1866
C o n f o r m e te m a n d e i dizer estou e m p r e g a d o c o m o A s s i s t e n t e do
Q u a r t e l - M e s t r e - G e n e r a l j u n t o à 1" D i v i s ã o c o m a n d a d a pelo G e n e r a l
A r g o l o , p a r a o qual trouxe a c a r t a do G e n e r a l C a l d w e l l a quem muito
recomendo a s s i m como à sua família. Diz ao J o ã o que n ã o v e n h a p a r a
cá que isto por aqui é muito diferente do que por lá imaginam. O F e r r a z
tem d i m i n u í d o muito nossos vencimentos, mas felizmente vamos viven-
do. O T i b ú r c i o com quem m o r o tem me feito m u i t í s s i m o s o b s é q u i o s .
Conforme sempre te disse tenho nele um verdadeiro amigo, como mili-
tar, [...] de todo elogio, é muito estimado e considerado n ã o s ó por seus
c o m p a n h e i r o s como por todos os seus chefes.
Vê se por i n t e r m é d i o de a l g u é m podes mandar-me alguma r o u p a
da que ficou, principalmente camisas. A s que trouxe e s t ã o muito velhas
e a dar a c a s c a . M a n d a - m e t a m b é m se for p o s s í v e l dois v i d r o s c o m
pimentas a v e r se levo melhor esta m o r r i n h e n t a carne que por aqui se
come. N ã o te amofines se n ã o puderes m a n d a r o que te p e ç o .
Indiferente à etiqueta n ã o te falei em p r i m e i r o lugar do portador
desta que é o meu amigo A n t ô n i o M a s c a r e n h a s Teles de F r e i t a s , de
quem muitas vezes te falei. É um muito distinto por suas bonitas qua-
l i d a d e s e meu colega de c l a s s e e de estudos. E s p e r o que o trates o
melhor p o s s í v e l .
A d e u s , m i n h a boa e querida amiguinha, aceita um apertado a b r a ç o
e o c o r a ç ã o saudoso do teu amigo
B e n j a m i n C o n s t a n t Botelho de M a g a l h ã e s
P.S. Estou vendo se obtenho para mandar-te passada para o piano uma
v a l s a que aqui se toca nos b a t a l h õ e s e que desejo que toques, tenho
gostado muito dela (talvez pelo título). Chama-se " A Saudade e o E n c o n -
tro". Saudade tenho eu e bem profunda, o encontro n ã o sei quando s e r á ,
mas espero que seja breve. Recebe o c o r a ç ã o do Benjamin Constant
* * *
P a r a g u a i Potreiro Pires
Meu sogro e bom amigo
1" de n o v e m b r o de 1866
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
P a r a g u a i Potreiro Pires
IVlinha q u e r i d a esposa
3 de n o v e m b r o de 1866
O p o r t a d o r desta é o S e n h o r A l f e r e s C a r l o s M a n o e l F e r r e i r a de
A r a ú j o , m o ç o de q u e m t e n h o muito boas i n f o r m a ç õ e s . R e c e b e - o o
m e l h o r que puderes; é amigo do T i b ú r c i o .
O n t e m e s c r e v i - t e uma l o n g a c a r t a por p o r t a d o r s e g u r o , hoje,
sabendo que o S e n h o r A l f e r e s C a r l o s ia p a r a essa C o r t e , quis a p r o -
v e i t a r esta o c a s i ã o o p o r t u n a p a r a mandar-te mais esta c a r t i n h a . J á
que n ã o t e n h o a felicidade de estar c o n t i g o ao menos e s c r e v o - t e o
mais que posso. F a z o mesmo, n ã o sejas t ã o p r e g u i ç o s a . Se soubes-
ses ao certo quantas vezes e c o m que p r a z e r leio as tuas c a r t i n h a s
estavas s e m p r e a e s c r e v e r - m e . A c r e d i t a que o ú n i c o p r a z e r real que
tenho aqui neste nojento p a í s é o de receber uma c a r t a tua, dando-me
n o t í c i a s de t i , de m i n h a f i l h i n h a , de n o s s a f a m í l i a , enfim de nossos
a m i g o s . F i c a c e r t a de que n ã o é a v i d a t r a b a l h o s a que aqui passo o
que me incomoda, mas as saudades que tenho de minha família, espe-
cialmente de ti. N ã o podes a v a l i a r quanto me tem custado esta sepa-
r a ç ã o . P e n s e i que fosse m a i s forte p a r a estes golpes ( a i n d a os n ã o
t i n h a e x p e r i m e n t a d o , por isso j u l g a v a - m e s o b r a n c e i r o a eles). A a m i -
zade de um filho, de um i r m ã o , de um a m i g o v e r d a d e i r o é n o b r e e eu
a sinto c o m muita intensidade, mas a de um m a r i d o , a de uma espo-
sa tem a l g u m a c o i s a de mais veemente, de mais m i s t e r i o s o , de mais
d i v i n o mesmo que n ã o se pode e x p l i c a r . Q u a n d o te digo que sou teu
v e r d a d e i r o amigo, que te amo, e t c , estas p a l a v r a s p a r e c e m - m e frias
e n ã o e x p r i m e m o que sinto por ti, s ó o que sei e o que te j u r o sobre
a alma de meu pai é que fazes a m i n h a ú n i c a v e n t u r a , a m i n h a m a i o r
felicidade neste mundo. A c r e d i t a na s i n c e r i d a d e destas p a l a v r a s que
te diz um h o m e m h o n r a d o e leal c o m o me ufano de ser (isto a i n d a
a c a b a em c a r t i n h a de n a m o r o , por isso n ã o digo mais nada). C o m o
v a i a pxinicoque? J á tens feito m u i t o s c u e i r o s e f r a l d i n h a s p a r a o
nosso s e g u n d o f i l h i n h o ? A A l d i n a a i n d a se l e m b r a de m i m ? do seu
pobre p a p a i ? D á - l h e todos os dias muitos a b r a ç o s , muitos beijinhos
e a b e n ç o a - a por m i m . Tem p a c i ê n c i a . Sofre com r e s i g n a ç ã o esta dolo-
r o s a a u s ê n c i a . A g u e r r a e s t á p a r a a c a b a r - s e . E m breve estarei c o n t i -
go p a r a n u n c a m a i s nos s e p a r a r m o s . M a n d a - m e n o t í c i a s tuas e de
t o d a s as p e s s o a s da f a m í l i a e de a m i z a d e e n ã o te e s q u e ç a s do teu
v e r d a d e i r o amigo
Benjamin Constant B o t e l í i o de M a g a l h ã e s .
* * *
Benjamin C o n s t a n t
* * *
29 de n o v e m b r o de 1866
B e n j a m i n Constant
* * *
Benjamin Constant
12 de dezembro de 1866
P a r a g u a i Tuiuti
[13] de dezembro de 1866
IVlinha q u e r i d a esposa
A m i g o s i n c e r o , esposo fiel
* * *
P a r a g u a i Porto do I t a p i r u
IVlinlna adorada esposa
19 de dezembro de 1866
B e n j a m i n C o n s t a n t Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
Paraguai I t a p i r u
M e u sogro e bom amigo
22 de dezembro de 1866
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
1" v i a
Paraguai Itapiru
M i n l i a adorada esposa
[sem data]
B e n j a m i n Constant B . de M a g a l h ã e s
À m a r g e m : F a r e i sempre em duplicata todas as cartas que te escrever
p a r a v e r se a s s i m recebes ao menos u m a . A 2" v i a da c a r t a n ã o s e r á
sempre [...].
* * *
P a r a g u a i Itapiru
M i n h a adorada esposa e a m i g a
[25] dezembro de 1866
A d e u s , m i n h a muito a m a d a e s p o s a e boa a m i g u i n h a . A c e i t a um
beijo e um apertado a b r a ç o e o c o r a ç ã o saudoso e apaixonado de teu
esposo fiel e amigo leal
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
Benjamin
Benjamin
N ã o t e n d o p a r t i d o a i n d a o M a j o r P i n h e i r o G u e d e s [...] c a r t a p a r a
dizer-te que v i n d o de bordo do v a p o r [...) onde fui v i s i t a r o D o u t o r
R o i z da C o s t a e saber [...] encontrei no I t a p i r u t r ê s cartas p a r a m i m
v i n d a s do B r a s i l pelo c o r r e i o . U m a era tua datada de 5 de dezembro.
A s outras e r a m a 1" e T vias de uma c a r t a de teu Pai datada de 4 de
dezembro. G r a ç a s a Deus [...] chegando cartas de família. M a n d a sem-
pre cartas pela mala do c o r r e i o porque é o meio seguro, como tenho
r e c o n h e c i d o . Todas as tuas [...] pelo c o r r e i o me t ê m v i n d o à s m ã o s .
F a l t a m - m e a i n d a as o u t r a s duas de 5 de o u t u b r o que v i e r a m pelo
v a p o r Brasil. A s tuas cartas [...] t ê m sido bem d i r i g i d a s . A c a r t a de 10
de outubro recebida a 25 chegou aqui a 23. T r o u x e portanto 12 - n ã o
p o d i a v i r m a i s d e p r e s s a . E u t a m b é m m a n d a r e i s e m p r e pelo c o r r e i o
salvo o caso de algum p o r t a d o r em quem muito confie, e sempre que
t i v e r tempo e s c r e v e r e i em 2 vias uma com o s o b r e s c r i t o d i r i g i d o a ti e
outra d i r i g i d a a teu P a i .
M a n d a - m e dizer que o d i n h e i r o que te deixei [...]! Deus q u e i r a que
ele te chegue p a r a as p r i m e i r a s n e c e s s i d a d e s . Tu pelo que me dizes
e s t á s fazendo ainda mais s a c r i f í c i o s do que aqueles a que eras o b r i g a -
da pelas c i r c u n s t â n c i a s em que te deixei. L e m b r a - t e que tens de a m a -
mentar uma filha que é franzina e que afinal h á s - d e te ver obrigada a
t o m a r uma a m a . A l i m e n t a - t e o melhor que puderes. E u o que sinto é
n ã o poder m a n d a r [...] algum d i n h e i r o . N ã o tenhas cuidado comigo,
m i n h a querida, eu n ã o hei-de m o r r e r ã fome. N ã o preciso de dinheiro.
A l g u m a s coisas que preciso mandei-te pedir bem c o n s t r a n g i d o por-
que sei que é pouco o dinheiro que deixei p a r a as tuas despesas.
B r e v e respondo as outras cartas tuas. E s c r e v e , minha querida, abre
sempre comigo o teu c o r a ç ã o , n ã o tenhas v e x a m e de dizer tudo que
sentires. T u sempre [...] que te d i r i g i a s ao teu maior amigo, a quem te
ama [...].
Adeus. Lembra-te sempre daquelas horas felizes [...] em que [...] j u n -
tos. Que saudades tenho de ti. A c e i t a mais um apertado a b r a ç o do teu
Benjamin
* * *
Paraguai Itapiru
M i n h a a d o r a d a esposa
[31] de dezembro de 1866
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
P a r a g u a i Potreiro Pires
M i n h a adorada esposa
1" de j a n e i r o de 1867
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
89
Benjamin
C u r u z u Zí d e j a n e i r o de 1867
Marciano
Marciano
* * *
Paraguai Itapiru
Meu Pai e bom amigo
23 d e j a n e i r o de 1867
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
P a r a g u a i Tuiuti
26 d e j a n e i r o de 1867
Veiga
* * *
C i d a d e de C o r r i e n t e s
M i n h a adorada esposa
[3] de fevereiro de 1867
* * *
P a r a g u a i Tuiuti
M i n h a adorada esposa e v e r d a d e i r a amiga
[8] de fevereiro de 1867
B e n j a m i n Constant
* * *
N " 31
[...] fevereiro de 1867
Minha amiguinha
P a r a g u a i no Tuiuti
B e n j a m i n C o n s t a n t Botelho de M a g a l h ã e s
Benjamin
M u i t a s l e m b r a n ç a s a todos [...] e a b r a ç o s por mim na A d o z i n d a e n a
m i n h a gaiata A l d i n i n h a . Dá muitas [...] à m i n h a pobre M ã e e aceita [...]
do teu B e n j a m i n Constant.
* * *
P a r a g u a i Tuiuti
M i n h a adorada esposa e boa amiga
20 de fevereiro de 1867
(33" carta)
105
o tempo que tenho p a r a d o r m i r de dia é sempre nas horas mais quen-
tes e no fim [de duas ou t r ê s h o r a s ] de um sono ligeiro acordo deses-
perado com as moscas e todo banhado em suor. N ã o h á vida mais rude
que esta que passo. A m a n h ã ou depois c o m e ç a m as f o r t i f i c a ç õ e s da
e x t r e m a direita os engenheiros que j á te m e n c i o n e i . E u , a l é m dos t r a -
balhos das t r i n c h e i r a s (que e s t á muito adiantado (sic)) v o u dar come-
ç o a m a n h ã à s t r ê s [ b a t e r i a s em] que j á te falei. N ã o t e n h a s receio,
m i n h a querida, nada me h á - d e acontecer, a P r o v i d ê n c i a parece prote-
ger-me. B r e v e [pretendo] escrever-te participando-te que j á e s t á con-
c l u í d o o trabalho. Felizmente estou [que em] menos [de] oito dias esta-
rá pronto; por isso [que o] niimero de trabalhadores foi elevado a [320]
a pedido meu e tenho a l é m disso 100 homens entre O r i e n t a i s e P a r a -
guaios (mansos) oferecidos pelo G e n e r a l C a s t r o para ajudar-me. C o m
420 h o m e n s t r a b a l h a d o r e s o t r a b a l h o tem sido feito com muita pres-
teza. N ã o [...] nestes quinze dias que te e s c r e v a cartas longas. Hei-de
escrever-te por todos os c o r r e i o s [...] cartas pequenas somente p a r a
dar-te n o t í c i a s minhas. O pouco tempo que me resta n ã o me d á tempo
a ( s i c ) e s c r e v e r muito p r o v a v e l m e n t e por c a u s a do calor e das mos-
cas que s ã o infernais. No p r ó x i m o c o r r e i o mando a p r o c u r a ç ã o p a r a
o b a t i z a d o da f i l h i n h a da A l c i d a [...] m u i t o da m i n h a p a r t e a D .
M a r i q u i n h a s e ao seu E r n e s t o a h o n r a e o p r a z e r que me deram esco-
I h e n d o - m e p a r a p a d r i n h o de [...]. E m b r e v e lhes e s c r e v e r e i c o m o
mesmo [...]. Vou a g o r a fazer sobre os g é n e r o s e o d i n h e i r o as obser-
v a ç õ e s que prometi: em m i n h a s cartas passadas disse-te que me m a n -
dasses alguns g é n e r o s e n ã o m a n d a s s e s d i n h e i r o , agora digo-te que
em lugar dos g é n e r o s me mandes algum d i n h e i r o (somente a quantia
que t e r i a s de g a s t a r p a r a a c o m p r a dos g é n e r o s que me m a n d a s ) . É
uma perfeita c o n t r a d i ç ã o , n ã o é a s s i m ? M a s eu te explico a r a z ã o [...]
a g o r a em a p a r e n t e c o n t r a d i ç ã o . E n q u a n t o m o r a v a c o m o T i b ú r c i o
tinha [...] c a m a r a d a e c o n ó m i c o que lhe fazia as compras e as despesas,
hoje p o r é m que o T i b ú r c i o [...] doente a C o r r i e n t e s ( n ã o é coisa de cui-
dado) [...] quando voltar n ã o t o m a r mais conta do [...] (por isso que
e s t á c o m toda r a z ã o m a ç a d o com o C a x i a s que cometeu a g r a v e injus-
t i ç a ) tive de m o r a r [...] meu c a m a r a d a é muito fiel, p o r é m [...] é mais
sem m é t o d o do que eu para economia d o m é s t i c a , basta te dizer que h á
seis dias j á n ã o [...] café, nem a ç ú c a r , nem manteiga. Felizmente, um
c a p i t ã o de e s t a d o - m a i o r a m i g o meu e um tenente f a l a r a m - m e p a r a
a r r a n c h a r m o s j u n t o s . E l e s e s t ã o a r e s p e i t o de v e n c i m e n t o s p o u c o
m e l h o r do que [...]. A c e i t e i [...] a s s e g u r a m - m e que n ã o h á - d e exceder
[...] v e n c i m e n t o s a parte de c a d a um no [...] do m ê s . U m deles, o te-
nente, é o e n c a r r e g a d o de fazer as c o m p r a s dos mantimentos, etc. J á
v ê s que n ã o h á c o n t r a d i ç ã o entre o que a g o r a te digo e o que te m a n -
dei dizer nas cartas passadas. N ã o era como [...] uma a s n e i r a m a n d a r
v i r os g é n e r o s da C o r t e , tanto assim que é j u s t a m e n t e [...] o tenente
m a n d a v i r do B r a s i l / R i o de J a n e i r o os g é n e r o s de que necessitamos
que podemos aqui [...] alguma economia p a s s a r c o m os nossos v e n c i -
mentos. Se te mando pedir a l g u m d i n h e i r o (contanto que n ã o f a ç a s
mais [...] do que tens feito) é somente para que atenda a alguma neces-
sidade eventual. C a s o possas, manda-me somente o que g a s t a r i a s se
t i v e s s e s que c o m p r a r os g é n e r o s p a r a m a n d a r - m e e [...] quantia p a r a
baixo. O fato de te pedir que me m a n d a s s e s de lá os g é n e r o s pareceu
talvez e s q u i s i t o ? Talvez que [...] t r o u x e s s e à m e m ó r i a o fato do [...]
que ia da C o r t e fazer a b a r b a [...] G r a n d e somente porque lá lhe [...]
quatro v i n t é n s menos, n ã o se lembrando que gastava doze v i n t é n s em
passagens. [...] realmente uma insensatez. Felizmente [...] n ã o h á entre
esses fatos e o pedido que [...] a menor paridade. Se n ã o h o u v e s s e m
(sic) outras r a z õ e s , b a s t a r i a l e m b r a r que (conforme o meu pedido) os
g é n e r o s n ã o p a g a r ã o [...] porte do R i o de J a n e i r o a t é a m i n h a b a r r a -
ca, o que com efeito se d á com os g é n e r o s [...] p a r a m i m e t ê m v i n d o
p a r a o Tenente [...] Pinto com quem estou a r r a n c h a d o . N ã o estou zan-
gado, quis muito e x p l i c a r o [...] que dei, o que e r a n e c e s s á r i o porque
[...] entre as m i n h a s p a l a v r a s [...] meus atos a m a i o r h a r m o n i a , [...]
d ú v i d a do que digo ou de m i n h a s i n t e n ç õ e s q u a n t o m a i s h a v e n d o
entre eles [...] c o n t r a d i ç ã o ( e m b o r a aparente) d e i x e m o s esse assunto.
M a n d a - m e n o t í c i a s de m i n h a M ã e e t o d a s as p e s s o a s de n o s s a s
f a m í l i a s e de nossa amizade. N ã o te e s q u e ç a s dos retratos que te pedi
e d á muitos beijinhos e muitos a b r a ç o s nas nossas pequerruchas. M a n -
da-me dizer m i n u c i o s a m e n t e quanto recebes por m ê s do Veiga, G u i -
m a r ã e s e C o i m b r a , a s s i m c o m o do montepio de m i n h a c o n s i g n a ç ã o ,
a s s i m como quanto d á s p a r a D . A l c i d a pelo s ó t ã o e pela c a s a e q u a n -
to te fica de saldo em c a d a [...] e t c , o que n ã o tens feito s e n ã o de um
modo muito vago. Diz a teu Pai e ao P e ç a n h a que n ã o lhes escrevo por
n ã o ter tido tempo, atendendo [...] que j á a c i m a te dei, mas que h e i -
de escrever-lhes por todos os correios ainda que sejam algumas linhas
p a r a dar n o t í c i a s minhas e saber das suas. E u que respondi a uma por-
ç ã o de c a r t a s que tenho recebido n ã o o posso fazer j á . O P e ç a n h a [...]
tem deixado de e s c r e v e r - m e . O teu mano J o ã o e s t á bom, e s t á quase
s e m p r e c o m i g o , e s c r e v e por este c o r r e i o a D . O l í m p i a , a D . M a r i -
quinhas, a ti e ao nosso bom P a i . O M a r c i a n o e s t á bom. E s t á ainda em
C u r u z u , 2" C o r p o de E x é r c i t o . E s t e v e por um tempo doente, mas j á
e s t á bom.
Adeus, minha muito amada esposa e verdadeira amiga. Dá lembran-
ç a s a D. D e l m i r a - diz-lhe que cada vez lhe sou mais grato pelas aten-
ç õ e s e trabalhos que tem tido com [...] mesmo que faças a D. A l c i d a e
seu E r n e s t o . A b e n ç o a por mim as nossas queridas filhinhas e aceita o
c o r a ç ã o saudoso do teu amigo v e r d a d e i r o e esposo [...]
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
Benjamin Constant
M a n d a - m e dizer se recebeste a c a r t a da A l d i n a .
* * *
P a r a g u a i Tuiuti
Minha querida
26 de fevereiro do 1867
B e n j a m i n Constant Botelho de M a g a l h ã e s
N . B . A c a b o de r e c e b e r duas d ú z i a s de p ê s s e g o s que me m a n d o u de
p r e s e n t e o S e n h o r C â m a r a - C o m a n d a n t e do C u e v a s - que e s t á no
Passo da P á t r i a , sinto n ã o poder ir v i s i t á - l o . A d e u s , aceita um aperta-
do a b r a ç o do feu amigo v e r d a d e i r o e a b e n ç o a os nossos anjinhos.
B e n j a m i n Constant
* * *
Curuzu
2 de m a r ç o de 67
Benjamin
M a r c i a n o A u g u s t o Botelho de M a g a l h ã e s
* * *
P a r a g u a i Tuiuti
9 de [...] de 1867
M i n h a adorada esposa e amiga
* * *
Paraguai Tuiuti
Meu Pai e bom amigo
5 de m a r ç o de 1867
* * *
nossa sociedade [a quem] podiam tornar mais podre do que está [com]
o seu contato asqueroso aí vem para desafrontar a honra e os brios da
n a ç ã o Brasileira!!... De [envolta] com os criminosos aí v ê m os escravos
libertados com o fim muito nobre e tiumanitário de obterem - aqueles
que os cedem ao a ç o u g u e monstro do I m p é r i o ( P a r a g u a i ) - h o n r a s ,
c o n d e c o r a ç õ e s , títulos de nobreza, p o s i ç õ e s oficiais, que lhes preparam
resultados mais úteis do que lhes poderiam dar os e s t ú p i d o s e m i s e r á -
veis cativos. Que patriotismo! Quanto é moralizador o nosso governo e
o nosso p a í s ! . . . Que belo futuro nos espera. C o m o é nobre a classe mili-
tar a que p e r t e n ç o ! . . . Q u e m n ã o f a r á s a c r i f í c i o s por esta nossa bela
p á t r i a ! N ã o podem pois os nossos governantes esperar mais auxílios de
f o r ç a s , o p a t r i o t i s m o m o r r e u ( n ã o sei por q u ê ) , as cadeias j á e s t ã o
vazias de criminosos, 3 ou 4 escravos bastam para os maiores títulos de
nobreza que o I m p é r i o possa dar, poucos s ã o os que e s t ã o em circuns-
t â n c i a s de fazerem esse sacrifício e desses muitos j á os t ê m feito. O que
se e s p e r a v a pois? Que se t o r n e m mais l i s o n j e i r a s as c i r c u n s t â n c i a s
p e c u n i á r i a s do p a í s . E h a v e r á quem possa hoje alimentar essas espe-
r a n ç a s , quando o fundo de reserva, o ouro de nossos [bancos] j á e s t á
em c i r c u l a ç ã o como ú l t i m o recurso, quando a dívida externa tem assu-
mido p r o p o r ç õ e s assustadoras e medonhas, quando o nosso [crédito]
e s t á abatido e a b a l a d í s s i m o nas p r a ç a s estrangeiras, quando as despe-
sas aumentam de um modo assustador, quando os b r a ç o s arrancados
pela g u e r r a e pelo p â n i c o à lavoura, ao c o m é r c i o , à s artes e i n d ú s t r i a s
deixam em completa i n a n i ç ã o a essas fontes de riqueza p ú b l i c a ? Se a t é
agora poucos eram os resultados que delas t i r á v a m o s pela m á d i r e ç ã o
e quase abandono em que as deixavam os nossos governantes, muitas
n ã o tendo sido nem ainda exploradas, o que se deve fazer agora em que
a falta de b r a ç o s que a guerra tem tirado e o medo de ser c a ç a d o para
soldado t ê m embrenhado pelos matos ao povo do interior de nossas
P r o v í n c i a s ? E s p e r a r pelos recursos p e c u n i á r i o s quando a bancarrota
medonha e t e r r í v e l nos a m e a ç a de perto?!... E para q u ê ? O Lopez n ã o é
s u s c e t í v e l de suborno, n ã o se vende. O C a x i a s s u p ô s que mal adquirido
p r e s t í g i o de seu nome, com os imensos recursos de que o governo o
rodeia podia assombrar o Paraguai. A i l u s ã o desfez-se em frente à ter-
rível realidade. O e x é r c i t o de moedas com que pretendia, como sempre,
vencer o inimigo tem desaparecido esterilmente, como esterilmente vai
desaparecendo o E x é r c i t o que e s t ú p i d a e desajeitadamente comanda.
Os oficiais e soldados v ã o desaparecendo fulminados pela peste e pelas
balas inimigas nos c o n t í n u o s tiroteios sem [ s i g n i f i c a ç ã o ] . E em geral
cada homem que morre é uma família que fica ao desamparo e que tem
p a r a futuro a m i s é r i a e muitas vezes as p r o s t i t u i ç ã o . E estes generais
assistem i m p a s s í v e i s aos gritos de agonia da p á t r i a , aos dolorosos
gemidos que soltam as v í t i m a s que v ã o fazendo por sua inércia filha de
sua i g n o r â n c i a e c o v a r d i a . A d o r m e c e m indolentemente ao som dos
hinos que a m i s e r á v e l lisonja e servilismo baixo e imundo lhes v ã o can-
tando aos ouvidos e t ê m sonhos a g r a d á v e i s , v i t ó r i a s e s p l ê n d i d a s , triun-
fos inauditos e ainda meio dormindo c o m u n i c a m a um governo suas
sonhadas v i t ó r i a s , seus planos e s t r a t é g i c o s e a b o a - f é do p a í s vai sendo
ilaqueada (sic). A o acordar de seus sonhos encantados t ê m os sentidos
embotados e a c h u s m a de lisonjeiros n ã o os deixa ouvir os gritos de
agonia das v í t i m a s , n ã o os deixa v e r os seus fantasmas errantes em
torno de seus dourados leitos. Tomemos para exemplo o general que
agora dirige [o destino] dos e x é r c i t o s . Se a h i s t ó r i a da sua vida p ú b l i c a
c o n t e m p o r â n e a n ã o p r o v a s s e a sua i n a p t i d ã o p a r a c o i s a a l g u m a os
imensos recursos, o e x t r a o r d i n á r i o p r e s t í g i o que lhe t ê m dado, os meios
de a ç ã o que lhe t ê m fornecido dando o E x é r c i t o e a E s q u a d r a , e uma
cornucopia que despeja com a b u n d â n c i a o ouro, as g r a ç a s , as p o s i ç õ e s
para premiar ao m é r i t o e atrair os m i s e r á v e i s e tirar alguma utilidade
real pelo suborno que t ã o bem parecia manejar, tudo isto em frente à
e s t ú p i d a i n a n i ç ã o em que tem estado diante de um inimigo convicto de
sua i m p o t ê n c i a e já fraco e abatido b a s t a r ã o para p r o v á - l a .
O galo que m a r i s c a v a no esterco encontrando um diamante atirou-o
para o lado e continuou na procura dos vermes nojentos; mas a fábula
o imaginou soltando estas palavras: [si quis vidissct tui] mas o nosso
fofo general despreza o que tem nas m ã o s porque se n ã o lhes reconhe-
ce o valor. A p o s i ç ã o elevada que tem o M a r q u ê s , o p r e s t í g i o imenso de
que está rodeado o seu nome s ã o mais que um f e n ó m e n o inexplicável,
i n c o m p r e e n s í v e l , é uma verdadeira a b e r r a ç ã o de todas as leis sociais.
Quando se estuda um fato novo, difícil é ao observador a c o m p a n h á - l o
em suas diversas fases, atender a todas as suas causas variatrizes (sic),
apreciar todas as m o d i f i c a ç õ e s de que ele é s u s c e t í v e l ; mas o b s e r v a -
ç õ e s repetidas e bem d i r i g i d a s levam-nos a esse resultado, d ã o o
conhecimento da lei que rege o f e n ó m e n o . E s t a lei é no dizer de um
grande filósofo moderno - a c o n s t â n c i a na variedade, é uma o r d e m
i n v a r i á v e l que é a c o n s e q u ê n c i a mesma da conhecida variabilidade das
diversas c i r c u n s t â n c i a s que o acompanham, ou que o constituem. Pois
bem, conhecida a lei que rege o f e n ó m e n o físico, q u í m i c o , m e c â n i c o ,
a s t r o n ó m i c o , moral é fácil determinar todas as m o d i f i c a ç õ e s , todas as
fases que a p r e s e n t a r á em conhecidas e determinadas c o n d i ç õ e s . Qual-
quer m o d i f i c a ç ã o profunda que esteja em o p o s i ç ã o com a lei do f e n ó m e -
no, que n ã o seja uma c o n s e q u ê n c i a dela é uma a b e r r a ç ã o do f e n ó m e n o
e suas leis. Um corpo pesado que abandonado a si mesmo conservasse
em repouso ou se afastasse da superfície da terra seria uma violência a
uma lei fundamental da natureza, s e r i a uma a b e r r a ç ã o à g r a v i t a ç ã o
universal. Como os f e n ó m e n o s citados, os f e n ó m e n o s sociais t ê m tam-
b é m suas leis e suas a b e r r a ç õ e s . A multiplicidade de causas de v a r i a -
ç õ e s tem sido um o b s t á c u l o a um perfeito conhecimento, mas n ã o se
segue d a í que ela n ã o exista t ã o perfeita, t ã o regular como nos outros
f e n ó m e n o s onde j á está conhecida. A l g u n s s á b i o s filósofos num atento
exame do passado, no estudo profundo da h i s t ó r i a da humanidade j á
as t ê m surpreendido e denunciado. Se n ã o se [tem] delas um perfeito
conhecimento, conhece-se com alguma a p r o x i m a ç ã o a n o r m a que
seguem estes f e n ó m e n o s , os elos que os encadeiam. N ã o me demorarei
em falar-lhe nas diversas e s p é c i e s de f e n ó m e n o s sociais a que elas (sic)
leis se aplicam. J á vai longa esta desajeitada d i v a g a ç ã o ; mas direi resu-
mindo quando em virtude dessas mesmas leis, em virtude das r e l a ç õ e s
que ligam entre si diversos i n d i v í d u o s que formam o sistema inteiro da
h u m a n i d a d e , em qualquer p o r ç ã o dela, quando um h o m e m se eleva
acima da tona da sociedade em que vive, rodeado dos aplausos e da
a d m i r a ç ã o de seus c o n t e m p o r â n e o s , quando a posteridade recebe e vai
transmitindo respeitosamente o seu nome, ele tem algum m é r i t o que o
distingue bastante, é um grande filósofo, um grande naturalista, um
grande m a t e m á t i c o , um grande artista, um grande poeta, um grande
militar, um grande orador, um grande escritor, etc. que tem em qual-
quer dessas artes, ciências e a p t i d õ e s feitos importantes e n o t á v e i s , ser-
viços reais prestados ã humanidade ou à sociedade em que vive. Mas o
M a r q u ê s surge sem m é r i t o no meio da sociedade em que v i v e m o s ,
eleva-se triunfante e majestosamente acima dela assumindo por uma
escala ascendente todas as p o s i ç õ e s as mais importantes do I m p é r i o ,
que s ó deviam pertencer e servir de passos aos homens de verdadeiro
m é r i t o , de verdadeiro p r e s t í g i o . E nessa a s c e n s ã o que j á o elevou ã cú-
pula do edifício social, que j á o elevou à s grimpas das mais altas e mais
importantes r e g i õ e s do poder, acompanham-no os votos de quase toda
a n a ç ã o , os aplausos e a a d m i r a ç ã o dos homens mais ilustrados do país
e ao mesmo tempo o p r ó p r i o e esses p r ó p r i o s homens que o d e r a m
c o n h e c e m - l h e a i n a p t i d ã o , falam bem c l a r o de sua falta de m é r i t o .
Nisso e s t á a a b e r r a ç ã o . Que é dos feitos desse homem? Como orador
na tribuna que é dos seus discursos? Na imprensa que é dos seus escri-
tos, na m i l i t a n ç a (sic) que é dos seus atos de bravura, que é dos planos
e s t r a t é g i c o s que tem dado ou posto em e x e c u ç ã o , que é de sua perspi-
c á c i a ? G e n e r a l p a c i f i c a d o r por e x c e l ê n c i a o temos visto sempre em
frente ao i n i m i g o ou aos revoltosos nos ú l t i m o s p a r o x i s m o s de sua
r e s i s t ê n c i a , j á fracos e impotentes, tomar p o s i ç ã o à d i s t â n c i a respeitosa
com a m ã o e s q u e r d a acenar-lhes de longe com a outra m ã o com as
baionetas de que dispuser mas com a bolsa recheada, com o cofre das
g r a ç a s das p o s i ç õ e s oficiais, com o suborno, com a p r o s t i t u i ç ã o . S e r á
devido a esta leveza de s e r v i ç o s , de m é r i t o , de p r e s t í g i o , que ele tem
subido. É em virtude de uma lei física perfeitamente estabelecida que
os corpos leves tomam sempre as p o s i ç õ e s superiores. É assim que o
h i d r o g é n i o , o mais leve dos gases, um desprendido, sobe à s mais eleva-
das r e g i õ e s da atmosfera. É assim que numa [...] as bolhas de s a b ã o
elevam-se graciosamente aumentando de volume, a sua superfície lisa
brilha aos raios de sol tomando todas as lindas cores do íris, asseme-
Ihando-se a globos [...]; mas qualquer pequena corrente de ar, qualquer
pequena r e s i s t ê n c i a que encontrar fá-las rebentar e desaparecer com-
pletamente, deixando apenas um insignificante r e s í d u o de carbonato
de p o t á s s i o . S e r á o C a x i a s no mundo social o que é a bolha de s a b ã o no
mundo físico? Mas n ã o . O povo das ú l t i m a s camadas, assim como o das
camadas mais elevadas, sentem-lhe o pernicioso peso, a esterilidade de
sua vida faz sentir a enormidade dos recursos p e c u n i á r i o s que o p a í s
inutilmente tem despendido com ele. A p o s i ç ã o d e s g r a ç a d a em que tem
estado em frente ao inimigo externo j á desmoralizado é bem conhecida
de todas as n a ç õ e s do mundo, é uma vergonha para a h i s t ó r i a da nossa
p á t r i a . E s t a carta j á vai longa e o portador tem pressa, por isso paro
aqui. Direi ainda que Deus queira por amor do Brasil que este homem
venha aqui no Paraguai ganhar direitos à s e l e v a d í s s i m a s p o s i ç õ e s que
tem tido sempre a vencer e que ainda n ã o venceu. Deus queira que ele
agora que e s t á à frente dos e x é r c i t o s aliados represente dignamente a
nossa n a ç ã o , que eleve bem alto e com nobreza o seu p a v i l h ã o ; mas n ã o
tenho fé neste resultado, parece-me que por mais e s p l ê n d i d a s que
sejam as v i t ó r i a s que alcancemos ao inimigo j á n ã o nos pode t i r a r de
cima a lama que nos cobre. Deus queira t a m b é m e ainda por amor do
B r a s i l que eu e todos os muitos que pensam comigo tenhamos errado
nos j u í z o s que formamos do M a r q u ê s , que estejamos em i g n o r â n c i a a
respeito de seus feitos e que ele seja realmente digno do p r e s t í g i o e dis-
t i n ç õ e s que tem recebido; mas por ora continuo a duvidar convicto de
que n ã o poderei mudar de c r e n ç a s a seu respeito.
* * *
Paraguai Tuiuti
M i n i i a adorada esposa e amiga
6 de m a r ç o de 1867 (35" carta)
123
obstar a c o n s t r u ç ã o das fortificações; tenho sido muito feliz e como te
disse espero muito breve participar-te que e s t á acabado o trabalho e
que eu nada sofri. A t é o dia 23 de fevereiro fizeram somente fogo de
fuzilaria, no dia 23 (3 horas da madrugada) fizeram bombardeamento
vivíssimo acompanhado de um muito nutrido fogo de fuzilaria confor-
me te mandei dizer e d a í para cá tem continuado o mesmo gosto do dia
23. H á t r ê s dias p o r é m [tem] cessado, e mesmo t é m sido raros os fogos
de fuzilaria. Temos sido felicíssimos, tem havido por dia somente 4 a 5
soldados fora de combate, entre mortos e feridos pelas linhas P a r a -
guaias. A esquadra tem bombardeado muito C u r u p a i t i estes ú l t i m o s
dias e eles t ê m respondido com muito d e s e m b a r a ç o . Os P a r a g u a i o s
t ê m metralhado muito o nosso acampamento do Potreiro Pires, pou-
cos p o r é m t ê m sido os mortos e feridos. Na o c a s i ã o em que te escrevo
e s t ã o eles atirando muitas bombas e granadas sobre o Potreiro Pires.
De vez em quando levanto-me para ver onde rebentou a bomba. N ã o te
assustes com isto. Estou escrevendo na minha b a r r a c a que fica j u n t o
do Quartel-General-em-Chefe, que está completamente fora do alcance
da artilharia inimiga (o C a x i a s n ã o era capaz de cair na [...] de fazer o
seu rancho em lugar perigoso). Continuo a passar as noites em claro o
que me tem feito algum mal, n ã o estou doente, mas ando com muito
fastio e abatido. Neste momento, 3 da tarde, deram os Paraguaios uma
d e s c a r g a de a r t i l h a r i a sobre o a c a m p a m e n t o da 2" D i v i s ã o ( C a p ã o
Pires). É um e s p e t á c u l o grandioso, posto que n ã o seja dos melhores,
ouvir rebentar a um tempo de 10 e 12 bombas de grosso calibre como
agora se [...]. Minha querida, diz-se que por todo este [...] c o m e ç a r ã o as
o p e r a ç õ e s d e c i s i v a s . N ã o tenho p o r é m fé nisto, apesar de haver por
a g o r a algum movimento de preparativos. O que for s o a r á . A n t e s de
ontem o chefe da C o m i s s ã o de Engenheiros reuniu a todos os membros
da c o m i s s ã o e apresentou diversos planos de ataque para exame. ( N ã o
sei se isso foi realmente com [o fim] de escolher o melhor plano, ou se
foi algum [pequeno] ensaio de algum grande bailo de m á s c a r a s [que se]
pretenda dar.) Na d i s c u s s ã o que houve expus com toda a franqueza o
meu fraco modo de pensar, disse algumas verdades, que n ã o [são] boas
de ouvir, propus algumas medidas que me pareceram i n d i s p e n s á v e i s ,
tornei-me como dizem os a d u l õ e s - inconveniente - contra a ideia de
deixar-se 2.000 homens no C u r u z u expostos a um golpe de m ã o , pois a
esquadra tem de subir sem que deles se possa tirar o m í n i m o proveito;
mas d i s s e r a m que era i n d i s p e n s á v e l sustentar aquela p o s i ç ã o [onde]
levamos muita pancada. Deus queira que se n ã o realizem os inconve-
nientes que [apontei]. O plano em que se assenta é mais ou menos este:
o 2" C o r p o que está em C u r u z u r e ú n e - s e ao 1", ficando 2.000 homens
comandados por um oficial general, suponho que s e r á o A n d r e a s . Todo
o E x é r c i t o divide-se em 2 corpos de exército; um fica aqui sustentando
esta p o s i ç ã o e bombardeando as f o r ç a s Paraguaias que nos ficam em
frente; o outro a v a n ç a pela direita de nosso acampamento geral e bate
estas f o r t i f i c a ç õ e s pela r e t a g u a r d a . E x p e l i d o s d a í os P a r a g u a i o s
seguem estes [reunidos] para Humaita [etc. etc.]. Como disse, o que for
s o a r á . O que realmente desejo é que toda esta porcaria acabe o mais
depressa p o s s í v e l ; tenho muita saudade de t i , de m i n h a s filhinhas, e
desejo quanto antes voltar para a b r a ç á - l a s e vivermos juntos e felizes e
que nunca mais nos separemos. Forte para os trabalhos, contrarieda-
des, e t c , sou muito fraco pelo c o r a ç ã o . A s saudades de ti j á se v ã o tor-
nando i n s u p o r t á v e i s . E u troco pela felicidade de estar contigo e com
toda a nossa família todas estas fofas g l ó r i a s do mundo. N ã o sou susce-
tível destes v ã o s entusiasmos. C u m p r o o meu dever como militar e hei-
de cumpri-lo simplesmente para estar bem com a m i n h a c o n s c i ê n c i a ,
nada mais tenho em vista, porque n ã o posso e n ã o devo ser militar com
a n u m e r o s a família que tenho e pelos n e n h u n s recursos que d á esta
d e s g r a ç a d a classe em nosso p a í s . Tenho me exposto [já] muito e [muito]
que n i n g u é m suponha que fujo ao perigo e felizmente n i n g u é m h á que
ponha isso em d ú v i d a (dos que por cá e s t ã o ) , mas digo com toda a fran-
queza que tenho tido a t é remorsos [disso] atendendo a p é s s i m a d i r e ç ã o
que v ã o tendo as nossas coisas, o abandono criminoso em que s ã o dei-
xadas e o nenhum resultado de que disso se tira para o militar ou para o
p a í s . A h i s t ó r i a imparcial h á - d e um dia analisar com honestidade justa
todos estes medonhos e p i s ó d i o s e o c r i m e que t ê m aqui cometido o
nosso governo, os nossos diplomatas e os nossos generais, excetuando
os muito novos. M i n h a boa a m i g u i n h a , m a n d a - m e sempre n o t í c i a s
tuas, de nossas filhinhas, de toda a nossa família e de nossos bons e
verdadeiros amigos. Diz ao C o i m b r a que nesta data lhe escrevo uma 2"
carta e [...] que t a m b é m lhe escrevo agora. A o H o n ó r i o j á escrevi uma
carta e talvez por [...] lhe escreva 2'. A o Sá ainda n ã o [...] escrever. Diz
ao G u i m a r ã e s que me desculpe [...], breve lhe escreverei. Tenho uma
carta para teu Pai, que n ã o sei se terei tempo de acabar por ficar muito
longa. Se n ã o puder a c a b a r que (sic) sai mala m a n d á - l a - e i [...], no
entanto hei-de escrever-lhe sempre, ainda que seja uma pequena carta.
12,5
Diz-lhe que o J o ã o e s t á bom, a r r a n j e i com que fosse empregado na
r e p a r t i ç ã o do Q u a r t e l - M e s t r e - G e n e r a l [...] sempre comigo, e s t á tam-
b é m arranchado comigo e os outros oficiais em (sic) que te falei em car-
tas passadas. Estou fazendo um pequeno rancho de palha e e n t ã o ele
virá morar comigo assim como o Marciano, a quem escrevo por estes
dias e p a r a quem a r r a n j e i um emprego semelhante ao do J o ã o . O
emprego tem a vantagem de [...], f o r m a t u r a s , guardas e todos estes
m a ç a n t e s s e r v i ç o s de soldado que ele teria de fazer e d á - l h e 15$000 que
podem s e r v i r [...] c i g a r r o s e lavagem de roupa. E s t á [...] mochila. O
J o ã o tem escrito constantemente ao nosso bom velho, a ti, D. Olímpia,
D. M a r i q u i n h a s e nesta data escreve [...]. E s t á m u i t í s s i m o gordo. O
Marciano ainda está em C u r u z u ; mandei-lhe dizer que viesse para cá e
espero por ele breve. Tibúrcio e s t á em Corrientes tratando-se e contra-
riado e com muita r a z ã o por uma injustiça que lhe fez o e s t ú p i d o do
Caxias. A s s i m que acabar o trabalho em que estou hei-de ver se obte-
nho alguns dias de licença para ir visitá-lo. C o m mais vagar te explica-
rei o que houve com ele. O C a x i a s é insuficiente para p ô r o b s t á c u l o s à
brilhante c a r r e i r a que ele ia levando.
E m minhas cartas passadas mando-te dizer que, em lugar de man-
dares g é n e r o s , mandes-me o dinheiro que gastarias para c o m p r á - l o s
quando puderes fazê-lo sem s a c r i f í c i o . Se n ã o recebeste essas cartas
h á s - d e ficar surpreendida com este pedido, que e s t á em c o n t r a d i ç ã o
completa com o que te mandei dizer em minhas cartas anteriores, mas
se as tiveres recebido, como espero, h á s - d e reconhecer que a contradi-
ç ã o n ã o é s e n ã o aparente, nada tem de real. N ã o p e ç o sacrifício. B e m
sei que tens todo o prazer em poder ser-me útil, que és muito minha
amiga e por isso mesmo é que desejo e exijo que n ã o faças sacrifício;
pois tu é s muito capaz de f a z ê - l o s somente p a r a ser-me útil. A d e u s ,
minha muito amada esposa e verdadeira amiga, recomenda-me ao teu
bom P a i , a D. O l í m p i a , D. M a r i q u i n h a s , [...], D . D e l m i r a e a todas as
pessoas de nossa amizade. A b e n ç o a e beija por mim muitas vezes as
nossas q u e r i d a s f i l h i n h a s e aceita um apertado a b r a ç o daquele de
quem fazes a ú n i c a felicidade, teu esposo extremoso, teu amigo dedica-
do e leal
Benjamin
* * *
Paraguai Tuiuti
Meu bom Pai e amigo
7 de m a r ç o de 1867
Soube por uma carta de minha mulher que o Senhor tem andado adoen-
tado; escrevo-lhe à s pressas esta pequena carta com o fim de saber de
sua p r e c i o s a s a ú d e , desejando-lhe s i n c e r a m e n t e que ela o encontre
perfeitamente restabelecido e p a r a pedir-lhe n o t í c i a s de D. O l í m p i a ,
D . Mariquinhas, D. Maria Marcelina, enfim de todas as pessoas de nossa
família e de nossa comum amizade. Desejava escrever-lhe uma carta mais
longa e minuciosa, que estava a t é c o m e ç a d a , mas n ã o me é isso possível
porque ando m u i t í s s i m o ocupado e t a m b é m porque nunca se sabe com
a n t e c e d ê n c i a quando sai mala deste Exército para o Brasil. Esta reparti-
ç ã o com a chegada do Caxias está i n s u p o r t á v e l . E u , o Marciano e o J o ã o
estamos bons. O Marciano está ainda no 2" Corpo mas mandei-lhe dizer
que viesse e estou à espera dele por estes dias. O J o ã o está bom e muitís-
simo gordo. Está empregado na r e p a r t i ç ã o do Deputado do Quartel-
Mestre-General, fica assim livre da mochila e dos e x e r c í c i o s , guardas,
piquetes, faxinas, etc. e tem uma pequena gratificação que lhe serve para
c i g a r r o s e sapatos. N ã o tive o menor trabalho em arranjar-lhe este
pequeno emprego e por isso nada tem que me agradecer por t ã o insigni-
ficante coisa. O chefe da r e p a r t i ç ã o disse-me que haviam (sic) duas vagas
de amanuense em sua r e p a r t i ç ã o e que as punha à minha d i s p o s i ç ã o para
algum amigo meu, e e n t ã o apresentei o J o ã o e meu mano. Estimei no
entanto bastante isso porque assim fica o J o ã o livre de acompanhar os
soldados para o s e r v i ç o das trincheiras que estou construindo, s e r v i ç o
que além de muito m a ç a n t e por ser toda a noite é m u i t í s s i m o arriscado
pois estamos a meia distância de revólver das linhas inimigas e fazem-nos
vivo fogo. Ele tem-lhe escrito, assim como à D. Olímpia, à D. Mariquinhas
e à minha mulher. É seu amigo e amigo de sua família; n ã o faça mau juízo
de seu filho supondo-o ingrato, etc. que realmente n ã o é, tenho prazer em
asseverar-lhe isso. Diz-se que por todo este m ê s o Exército tem de come-
ç a r as o p e r a ç õ e s decisivas. O que for s o a r á . O Chefe da C o m i s s ã o de
Engenheiros reuniu há 3 dias os membros da c o m i s s ã o para apresentar a
nosso exame e estudo os diversos planos que podem apresentar. Depois
de uma ligeira d i s c u s s ã o em que todos tomamos parte e em que eu disse
algumas verdades duras de ouvir-se, citei muitos fatos que se t ê m dado e
que s ã o a e x p r e s s ã o da estupidez de muitos de nossos generais, apontan-
do os seus nomes, propus algumas medidas que no meu fraco modo de
entender pareceram-me n e c e s s á r i a s (em uma d i s c u s s ã o enfim em que eu,
no dizer dos m i s e r á v e i s a d u l õ e s , tornei-me - inconveniente) e assentou-
se no seguinte: O 2" Corpo nas v é s p e r a s do ataque r e ú n e - s e ao 1", ficando
em Curuzu 2.000 homens comandados por um oficial general a fim de
sustentar n ã o sei que força moral do i m p é r i o nesse lugar onde apanha-
mos tanta pancada, nessa p o s i ç ã o que no meu modo de entender nenhu-
ma i m p o r t â n c i a tem num plano bem combinado, tornando-se a t é nociva
a sua o c u p a ç ã o . (Se eu tivesse tempo lhe provaria facilmente o que acabo
de dizer. Concordam no que eu digo, mas respondem às minhas o b j e ç õ e s
dizendo que é indispensável deixar lá uma pequena força para sustentar
a nossa força moral. Deus queira que os Paraguaios n ã o lhes d ê e m uma
boa lição.) Basta dizer-lhe em resumo que além de dividirmos muito o
E x é r c i t o , C u r u z u fica em frente a Curupaiti, o ponto mais fortificado
depois de Humaita, que ali t ê m os Paraguaios muita força reunida e que
os dois mil homens ficam completamente abandonados a seus p r ó p r i o s e
mui fracos recursos, pois a esquadra tem de subir o rio. Mas como lhe ia
dizendo, reunido o 2" Corpo ao 1" deixando em Curuzu dois mil homens,
divide-se toda a força dos exércitos aliados em 2 corpos de exército: um
fica aqui sustentando estas p o s i ç õ e s e bombardeando as fortificações
que nos ficam em frente e o outro a v a n ç a pela direita de nosso acampa-
mento geral procurando bater estas f o r t i f i c a ç õ e s pela retaguarda.
Expelidos os Paraguaios das p o s i ç õ e s que nos ficam em frente, vai-se a
Curupaiti procurando t a m b é m batê-los pela retaguarda e assim se conti-
n u a r á marchando para Humaita, se os Paraguaios estiverem pelo ajuste.
N ã o sei se com efeito se pretende p ô r em e x e c u ç ã o este ou qualquer
outro plano de ataque, o que lhe assevero é que estes homens que nos
dirigem j á e s t ã o muito desacreditados. Talvez que seja isto algum ensaio
preliminar para algum baile de m á s c a r a s que se pretenda dar com o fim
de iludir mais uma vez a boa-fé do país; eu sou deste parecer, penso que o
C a x i a s n ã o tenciona atacar; mas quer fazer constar que tem vontade
disso. Pode ser que esteja enganado. No entanto faz-se (sic) alguns (muito
poucos) preparativos. E u estou construindo baterias e trincheiras a 200
b r a ç a s além das nossas ú l t i m a s vedetas, a meia d i s t â n c i a de revólver e
debaixo das baterias Paraguaias. Tenho trabalhado sempre debaixo de
fogo de fuzilaria e de cargas de artilharia. A p r i n c í p i o os Paraguaios limi-
tavam-se a fazer fogo de fuzilaria com o fim de obstar as c o n s t r u ç õ e s , no
dia 23 de madrugada p o r é m deram fortes descargas de artilharia de cali-
bre 68 j o g a n d o bombas e granadas e acompanhando estas descargas
com um fogo vivíssimo de infantaria, desse dia para cá t ê m continuado
principalmente nos dias 24, 25 e 26, depois alternaram e v a r i a r a m nas
horas. Há seis dias que n ã o me atrapalham no s e r v i ç o e h á 3 que nem
fazem mais fogos de infantaria, ontem podiam-se contar os tiros, deram
14, anteontem 23. N ã o faz ideia quanto tenho sido feliz. Todos se t é m
admirado do quase nenhum efeito que estes fogos t é m produzido. Sou
obrigado a trabalhar à noite, por ter-se assim a vantagem de n ã o sofrer-
mos fogos de pontaria. À noite atiram sobre o grupo, mas o escuro n ã o
lhes permite fixar a pontaria. Breve terei o prazer de participar-lhe que o
trabalho está acabado e que nada me aconteceu. Hoje tenho mais enge-
nheiros ajudando-me e o serviço apressa-se mais. ADeus, meu bom pai e
amigo, recomenda-me a D. Olímpia, D. Mariquinhas, D. Maria Marcelina,
a todas as pessoas de nossa amizade. P e ç o - l h e que diga ao G u i m a r ã e s
que desta vez n ã o lhe escrevo, mas que no 1" vapor o farei. Aceite um
apertado a b r a ç o e o c o r a ç ã o leal de seu filho e verdadeiro amigo
Benjamin
* * *
Paraguai Tuiuti
IVIiniia adorada esposa e verdadeira amiga
[20] de m a r ç o de 1867
C a r t a n" 36
130
tro dias eu tinha bolhas como acontece [às queimaduras, no p e s c o ç o ] ,
nas costas das m ã o s e t a m b é m nas solas dos p é s , em c o n s e q u ê n c i a da
areia em brasa em que pisava. Felizmente em c o n s e q u ê n c i a [dos mui-
tos] soldados que c a í a m doentes com febres [e de muitos soldados]
mortos em m i n h a [faxina] por tiros [de pontaria o] Polidoro ordenou
que n ã o trabalhasse [mais] de dia. Suponho que esta soalheira [foi a]
causa de minha m o l é s t i a . Vou agora [contar-te] umas poucas novidades
que [por cá] tem [havido]. Ter-te-ia escrito pela mala que daqui [saiu] no
dia 12 se tivesse ciência disso, soube que ela tinha partido. [A n ã o ser
nos dias 23 e 7] de cada m ê s e que sempre h á mala, qualquer [mala]
e x t r a o r d i n á r i a parte daqui sem o E x é r c i t o [ter conhecimento]. Quanto
à c o n s t r u ç ã o das trincheiras, n ã o tenho sido t ã o feliz como ao p r i n c í p i o
visto que ultimamente tenho tido muitos soldados mortos e feridos;
está p o r é m quase pronta, o que resta a fazer é trabalho [que se faz sem
o] menor risco, porque é feito na parte de dentro e aí se e s t á perfeita-
mente protegido dos fogos do inimigo. O que te queria [dizer que] é a
maior novidade consiste na vinda [de um] piquete Paraguaio com ban-
deira branca, [isto é,] p a r l a m e n t á r i o . No dia [11] pelas 11 1/2 da m a n h ã
trabalhava eu na minha bateria [depois de ter] estendido uma linha de
a t i r a d o r e s na frente dela p a r a responder ao fogo dos P a r a g u a i o s ,
quando aproximou-se [um] piquete da c a v a l a r i a trazendo [bandeira]
b r a n c a ; mandei imediatamente [cessar fogo] nas l i n h a s e d i r i g i - m e
para um [laranjal para] onde ia o piquete, quando cheguei estavam os
oficiais apeando-se, dirigi-me [ao c a p i t ã o ] Paraguaio que [comandava
o piquete e] perguntei-lhe com quem desejava [falar]. Disse-me com um
c a p i t ã o Oriental [seu conhecido] a fim de que ele pedisse ao [ M a r q u ê s ]
por parte do Lopez licença para o Ministro Norte-Americano que [esta-
va] no Paraguai passasse ao acampamento [aliado], mandei chamar o
c a p i t ã o e enquanto o e s p e r a v a estive c o n v e r s a n d o com os oficiais
Paraguaios que eram um c a p i t ã o , um alferes e um tenente. Gostei de
c o n v e r s a r com eles, achei-os muito t r a t á v e i s e m u i t í s s i m o delicados.
E s t á v a m o s [e (sic)] outros oficiais [que chegaram] conversando com os
Paraguaios [da bateria] fizeram tiros de bombas sobre as linhas para-
guaias. Disse-nos o c a p i t ã o em castelhano; [Vêem os S r s . , apesar de
trazermos bandeira branca sofremos] fogo por todo o caminho. [Notei-
Ihe que] os Paraguaios provocavam-nos a [isso por isso] que fizeram
fogo mesmo durante a [passagem do] piquete. Disse-nos o c a p i t ã o que
um [engano em horas] era [a causa] disso mas que a fia nç a va que dentro
de 5 minutos h a v e r i a completa s u s p e n s ã o das hostilidades, o que de
fato [se deu]. O c a p i t ã o ofereceu-nos charutos e como [ e s t á v a m o s ]
fumando n ã o aceitamos, eu fiz c i g a r r o s e ofereci-lhe, mas o c a p i t ã o
[disse-me] risonho: eu desejaria aceitar o cigarro, p o r é m n ã o quiseram
aceitar os charutos que lhes ofereci e por isso obrigam-me a n ã o acei-
tar o seu oferecimento. Disse-lhe que n ã o t í n h a m o s aceitado porque
e s t á v a m o s fumando, mas que a c e i t á v a m o s [agora] provando-lhes que
n ã o havia a [menor] i n t e n ç ã o de m o l e s t á - l o s . [Então] trocamos os cigar-
ros, eles deram [-nos laranjas etc.]. Chegou o c a p i t ã o por quem e s p e r á -
vamos e e n t ã o retiramo-nos. Foi um dia [de festa] em todo o Exército;
os nossos soldados [trepavam-se] sobre as trincheiras [para conversar]
com os Paraguaios. E u fui [a uma] trincheira Paraguaia e estive [con-
versando] com o oficial que [elogiou muito os brasileiros] referindo-se
ao ataque de Curupaiti. [Às 4 horas] estava o Ministro com o M a r q u ê s ;
[atravessou] o campo em um carro puxado a cavalos e aqui se demorou
dois dias. [O M a r q u ê s cortou] a q u e s t ã o das propostas de paz [de que o]
M i n i s t r o era mensageiro, dizendo [que tinha] ordem de seu governo
para n ã o fazer [trato] algum com o Lopez, que se ele [se retirasse] esta-
va feita a paz. Quando o Ministro [retirou-se] disse-lhe o M a r q u ê s ; se o
Lopez se [retirar do] Paraguai entramos em paz e diga-lhe [que ao] ini-
migo que se retira se [fornece uma] ponte de ouro!! Tudo [ p o r é m pare-
ceu] ficar no mesmo p é . A n t e s de ontem [chegou a] T r ê s B o c a s uma
corveta Norte-Americana e o comandante veio ao E x é r c i t o e pediu ao
M a r q u ê s p a r a passar ao acampamento inimigo. Passou com efeito e
ainda voltou. N ã o sei o que foi fazer, [dizem] no entanto que esta corve-
ta veio para dar e s c á p u l a ao Lopez. N ã o posso [...] longa carta [...] lê
esta carta a teu Pai [...] como escrever-lhe, estou ainda muito [...]. N ã o
escrevo pela mesma r a z ã o ao Ernesto [...]. [...] A l c i d a mando-lhe a pro-
c u r a ç ã o [...] a g r a d e ç o - l h e [...] fineza que me quiseram fazer [...] que
foram felizes na escolha [...]. A d e u s , m i n h a muito amada esposa e
amiga, a b e n ç o a e beija muitas vezes as nossas inocentes filhinhas e
aceita o c o r a ç ã o e um apertado a b r a ç o do esposo e verdadeiro amigo
Paraguai Tuiuti
Meu bom Pai e amigo
23 de m a r ç o de 1867
Ontem escrevi uma carta à minlia mullier e pedi-llne que Ília desse para
ler, pois j u l g a v a n ã o poder escrever-lhe. Caí de doente no dia 16 com
uma intermitente de um c a r á t e r medonho. Durante quatro dias n ã o dei
acordo de mim, ardia numa febre que parecia querer devorar-me. O Dr.
J o ã o S e v e r i a n o da F o n s e c a foi quem tratou-me, fazia t r ê s visitas por
dia e ficava ã s vezes muito tempo a observar-me a fim, me parece, de
bem determinar o c a r á t e r da febre. N ã o comi nesses quatro dias abso-
lutamente nada, t i n h a uma sede e x c e s s i v a e o rosto, as palmas das
m ã o s e as solas dos p é s a b r a s a v a m de calor. No dia 20 felizmente a
febre c o m e ç o u a declinar e à noite pude escrever a c a r t a de que lhe
falei, t ã o aliviado me achava. E s t a v a p o r é m muito abatido. Desse dia
a t é hoje n ã o tenho tido felizmente mais nada a n ã o ser fastio e um
excessivo abatimento. Hoje j á dei alguns passeios muito curtos porque
quase que nem me posso ter de p é e como sei que a mala ainda n ã o se
fechou aproveito a c i r c u n s t â n c i a para saber de sua preciosa s a ú d e , de
D. O l í m p i a e de D . M a r i q u i n h a s . Muito estimarei que estejam com
s a ú d e . Estou ainda muito fraco e por isso n ã o posso escrever-lhe uma
carta em que lhe d ê minuciosas n o t í c i a s do que por aqui tem havido.
T a m b é m n ã o s ã o elas de grande t r a n s c e n d ê n c i a . N u n c a os e s p í r i t o s
a n d a r a m t ã o incertos, t ã o mistificados como a g o r a . Somente lá os
Senhores G e n e r a i s Chefes dos E x é r c i t o s p o d e r ã o saber ao certo em
que c i r c u n s t â n c i a s estamos. U m dia dizem todos: há paz, o C a x i a s d á a
entender que j á se estava em n e g o c i a ç õ e s ; outro dia dizem: n ã o h á
absolutamente e s p e r a n ç a alguma de que o Lopez submeta-se às condi-
ç õ e s propostas para a paz (mas n i n g u é m sabe ao certo quais s ã o essas
c o n d i ç õ e s ) . Às vezes aparece aqui uma e s p é c i e de frenesi de preparati-
vos para combate, expede-se ordem para virem m u n i ç õ e s , fardamento,
e t c , manda-se aliviar as bagagens, etc. Depois manda-se sustar esta
ordem e assim andamos ( s ã o febres intermitentes). No dia 11 do cor-
rente às 11 horas veio um piquete Paraguaio com bandeira branca e fui
o 1" que falou com o c a p i t ã o do piquete; disse-me que vinha pedir licen-
ça ao M a r q u ê s para que o M i n i s t r o A m e r i c a n o que e s t á no P a r a g u a i
viesse ao acampamento aliado ter com o mesmo M a r q u ê s uma confe-
r ê n c i a . U m c a p i t ã o Oriental levou a n o t í c i a ao C a x i a s e o Ministro veio
p a r a o Quartel-General e aí esteve dois dias. Consta que nada obtive-
r a m pois que o M a r q u ê s cortou-lhe a q u e s t ã o de propostas de paz
dizendo que com o Lopez n ã o tratava coisa alguma. Que a paz se faria
no momento em que ele se retirasse do Paraguai e acrescentou: diga-
lhe que ao i n i m i g o que se r e t i r a fornece-se a t é uma ponte de ouro!
(dizem por aqui que foram estas as p a l a v r a s do C a x i a s ) . Quatro dias
depois que o Ministro voltou para o Paraguai, chegou a Três Bocas uma
corveta Norte-Americana, o comandante veio ao nosso acampamento,
pediu l i c e n ç a ao C a x i a s para ir ao P a r a g u a i ; p a r a lá foi e lá ainda se
c o n s e r v a . A l g u n s querem enxergar em tudo isto que se pretende dar
e s c á p u l a ao Lopez, n ã o duvido. Hoje foi um b a t a l h ã o para I t a p u ã prote-
ger a passagem do G e n e r a l O s ó r i o que pretende atravessar o P a r a n á
com o seu 3" C o r p o de E x é r c i t o de 4 a 5 mil homens. Houve ontem no
forte do Potreiro Pires uma r e u n i ã o de generais onde dizem que estive-
ram o M a r q u ê s de C a x i a s , o Argolo, todos os comandantes de d i v i s õ e s ,
o Visconde de Porto Alegre e [Joaquim] J o s é I n á c i o (o que se passou na
c o n f e r ê n c i a é segredo de abelhas, pode ser que realmente de nada tra-
tasse). A g o r a corre a notícia de que h á um grande ataque no dia 5 de
abril ( h á - d e ser logro de 1" de abril). C r e i o tanto neste ataque como
acreditei naquele que estava marcado p a r a o dia 15 do corrente. No
entanto com estas delongas as nossas famílias v ã o sofrendo, os tiro-
teios e a peste v ã o fazendo d e s a p a r e c e r nossos oficiais e soldados.
Sabe quantos homens doentes temos nos hospitais? 11.500 (onze mil e
quinhentos!), e o n ú m e r o de doentes vai crescendo extraordinariamen-
te. Quando aparecerem por lá c o r r e s p o n d ê n c i a s onde dizem que tudo
por aqui anda na melhor ordem e que o E x é r c i t o nunca esteve em con-
d i ç õ e s t ã o f a v o r á v e i s , n ã o lhes d ê c r é d i t o . S ã o de um Dr. Dória, o ho-
mem (negro) mais adulador, mais imundo que c o n h e ç o . É t ã o falto de
vergonha que n ã o teme afrontar a 40.000 homens que aqui e s t ã o para
desmentir tudo quanto ele diz em suas nojentas c o r r e s p o n d ê n c i a s s ó
com o fim de elogiar aos generais, principalmente ao C a x i a s , a quem
atribui passeios à bateria de morteiros, nossa p o s i ç ã o mais a v a n ç a d a e
nunca o C a x i a s lá apareceu, nem ao menos para fazer uma ideia daque-
la p o s i ç ã o . H á t a m b é m um outro correspondente do mesmo gosto, mas
que n ã o c o n h e ç o nem de nome. J á vê que n ã o tendo tempo para escre-
ver-lhe uma carta minuciosa nada perde por notícias, pois em resumo o
que lhe disse acima é a e x p r e s s ã o real do que por aqui h á . Faltou-me
somente dizer-lhe que o [H.] está fazendo peloticas (sic) aqui no campo
e que tem-se parado o trabalho das baterias por falta de t á b u a s que
foram empregadas em fazer um pequeno tablado onde ele diverte a
gente! ADeus, meu bom Pai e verdadeiro amigo, d ê muitas l e m b r a n ç a s
ã D. Olímpia, D . Mariquinhas, D. M a r i a Marcelina, D. Maria Rocha, o
seu [...], ao C ó n e g o L i r a , o Dr. Almeida e aos meninos cegos e aceite um
apertado a b r a ç o e o c o r a ç ã o saudoso de seu filho e verdadeiro amigo
* * *
Corrientes 29 de m a r ç o de 1867
M i n h a adorada esposa e boa amiga
137
mulher e das minhas filhinhas, das minhas i r m ã s e M ã e , p o r é m trago às
costas um pesado fardo [que nenhumj futuro dá a n i n g u é m neste nosso
d e s g r a ç a d o p a í s e que no entanto [ i m p õ e - m e ] deveres, que o meu c a r á -
ter e brio exigem que sejam fielmente cumpridos e h ã o - d e ser. Nas lutas
e n é r g i c a s que em mim se d ã o entre o c o r a ç ã o e o dever, este último h á -
de ser sempre o vencedor. Tem p a c i ê n c i a , resigna-te à m á sorte do teu
marido, lembrando-te que a [ i n t e n ç ã o ] dele n ã o é fazer-te passar des-
gostos e p r o v a ç õ e s , que deseja mais que tudo a tua felicidade e descan-
so, que para o b t é - l o s faria, se fosse n e c e s s á r i o , o sacrifício da vida {que
julgaria muito pequeno). Sou, além de teu marido, teu verdadeiro amigo
e a f e i ç o a d o , e fazer a tua felicidade seria, se me fosse possível, a minha
maior ventura; no entanto farei todos os e s f o r ç o s que [tendam a] esse
t ã o desejado fim.
A s trincheiras e baterias que estava construindo j á e s t ã o completa-
mente acabadas, custaram a vida a alguns pobres soldados e os gemidos
dolorosos que soltam nos hospitais os que foram somente feridos ou ata-
cados pelas febres, p o r é m a frente de todo o nosso E,xército está comple-
tamente [coberta]. A m i s s ã o de que me incumbiram está cumprida.
Tem-me incomodado bastante o extravio que tem havido em minhas
cartas e do qual fazes m e n ç ã o , é mais um a p ê n d i c e aos sacrifícios que
aqui faço. Esta é a t r i g é s i m a s é t i m a carta que te escrevo. A carta [...]
uma para minha M ã e e outra do teu mano J o ã o dentro de uma muito
longa carta datada de 23 e 30 d e j a n e i r o com d i r e ç ã o no Malaquias e
supunha que foi essa a carta [...] P e ç a n h a perdeu. Nesta carta, falava-te
com franqueza das [...] que d a í parti; descrevia-te o nosso acampamen-
to, etc. Muito senti tivesse perdido essa carta que tanto desejava que te
c h e g a s s e à s m ã o s . Dá de m i n h a parte muitos e muitos p a r a b é n s ao
E r n e s t o pela n o m e a ç ã o de Comandante do Galgo. Nesse lugar, p o d e r á
ele com tempo formar licitamente com seu trabalho um capital que lhe
permita abandonar a pesada vida do mar para viver tranquilo e feliz ao
lado da sua mulher e de seus filhos; que obtenha esse resultado é o que
muito desejo. Pela mala da [...] mandei a p r o c u r a ç ã o para o batizado da
filhinha do E r n e s t o [...] e agradeci-lhe a honra e o prazer que me deram
sentindo que [...] infelizes na escolha. Por estes quatro dias volto para o
E x é r c i t o . Estou ansioso pela chegada do Arinos para ter o teu [...] das
minhas filhinhas, especialmente da minha Adozinda, que desejo conhe-
cer. Talvez ele chegue nestes quatro dias e tenha [...] nele p a r a o
E x é r c i t o . O J o ã o está bom, manda-te l e m b r a n ç a s assim como [...] Pai e
D. O l í m p i a , D. M a r i q u i n h a s , disse-lhe que de Corrientes h á - d e escre-
ver-te e ele pediu-me que o recomendasse, o que acabo de [...] indo
bem no emprego. N ã o repares na pequenez de minhas cartas. E s c r e v e -
me cartas longas e minuciosas que quando puder farei o mesmo.
Adeus, minha muito amada esposa e boa amiguinha. A b e n ç o a por
m i m as m i n h a s q u e r i d a s filhinhas, d á muitas, muitas l e m b r a n ç a s ao
nosso bom Pai e amigo, assim como a D . O l í m p i a e D. M a r i q u i n h a s [...]
um muito apertado a b r a ç o e o c o r a ç ã o cada vez mais [...] de teu marido
e verdadeiro amigo
* * *
Corrientes 31 de m a r ç o de 1867
M i n h a muito amada esposa
(Carta n" 38)
Benjamin Constant
* * *
* * *
145
dado em minlias cartas passadas. Nas primeiras cartas pedi-te que me
mandasses g é n e r o s e n ã o me mandasses dinheiro; hoje p e ç o - t e que
me mandes dinheiro e n ã o me mandes g é n e r o s . É uma c o n t r a d i ç ã o , mas
essa c o n t r a d i ç ã o j á está explicada essas (sic) cartas que te tinha escrito.
Pelo Malaquias p o d e r á s obter os meios fáceis de mandar-me dinheiro
pelo comandante do vapor S. José ou pelo [...] Dr. Roiz da Costa. M a n -
da-me t a m b é m papel para cartas. [...] o G u i m a r ã e s a fim de veres se é
possível que [...] comece no j o r n a l a p u b l i c a ç ã o de um pequeno traba-
lho que deixei com ele. Se isso trouxer sacrifícios n ã o quero que publi-
quem. Manda-me n o t í c i a s de minha M ã e e de todos de casa. Meu anjo,
que te hei-de dizer de minha s i t u a ç ã o ou teu respeito? Que o extremoso
amor e excessiva amizade que tenho por ti fazem o tormento [...]. Se
n ã o fizesse isso talvez eu n ã o sofresse [...] tua imagem, o teu amor, as
saudades que tenho de ti acompanham-me por toda parte como à som-
bra de meu corpo. Se no excessivo amor e amizade de teu marido esti-
ver a tua felicidade és muito feliz. Adeus, minha querida, minha adora-
da esposa e amiga. A b e n ç o a por m i m a esses dois anjinhos, d á - l h e s
sempre beijos pelo seu papai. Dá muitas l e m b r a n ç a s às tuas boas ami-
gas D. A l c i d a e D. Delmira e t a m b é m ao Sr. E r n e s t o , teu Pai, D. Olímpia,
D. M a r i q u i n h a s e a todas as pessoas de nossa amizade e aceita um
beijo, um a b r a ç o e o c o r a ç ã o leal e saudoso do esposo fiel e apaixonado
amigo
149
beres. Suponho que foi a carta que o P e ç a n h a perdeu, vê se ele a [...].
Foi por i n t e r m é d i o do M a l a q u i a s e [...] pode ser outra. Pergunte ao
P e ç a n h a (se falares com ele) se a carta que perdeu n ã o era muito volu-
mosa. Dentro dela iam t a m b é m cartas do J o ã o para ti, D. Mariquinhas,
teu Pai e suponho que t a m b é m ia uma para D. Olímpia. Tu dizes que me
tens escrito muito, tens [...] alguma coisa, é verdade, p o r é m o n ú m e r o
de cartas minhas é maior, esta tem o n° 40 e tuas s ó [...] 34 e e s t á s em
melhores c o n d i ç õ e s de escrever-me.
Adeus, minha muito amada esposa e amiga, beija e a b r a ç a por mim
às nossas filhinhas e d á l e m b r a n ç a s a todas as pessoas de nossa família
e de nossa amizade e aceita uma a b r a ç o cada vez mais apertado e o
c o r a ç ã o cada vez mais saudoso e leal do seu fiel e verdadeiro amigo
* * *
Benjamin Constant
* * *
Corrientes 11 de abril
Meu bom Pai e amigo
Benjamin
* * *
* * *
Corrientes 16 de abril de 1867
M i n h a muito adorada esposa e amiga
(Carta n" 42)
Completas hoje teus anos, meu anjo. Quanto és infeliz por minha causa!
No entanto (Deus o sabe) eu s ó desejo a tua completa felicidade. Deus
permita que tenhas uma longa e feliz e x i s t ê n c i a . Deus derrame sobre ti
e sobre as minhas pobres e adoradas filhinhas a sua b ê n ç ã o e vos guie
sempre pelo caminho da honra e do dever, ú n i c o que nos leva ã verda-
deira felicidade. E s t á s hoje no seio da nossa família, ao lado de teu bom
Pai, de tuas i r m ã s , de nossas filhinhas, de todas as pessoas que te s ã o
a f e i ç o a d a s , todos te oferecem um mimo, uma lembrancinha, e x p r e s s ã o
da afeição que sentem por ti. O que te pode oferecer o teu infeliz espo-
so, o teu esposo fiel e apaixonado, o teu maior amigo, aquele de quem
fazes a ú n i c a felicidade, s e n ã o uma amizade e a f e i ç ã o que n ã o posso
definir-te porque a linguagem humana é pobre para traduzir esses do-
ces sentimentos d'alma: um amor [...] que faz a minha suprema ventu-
ra, assim como é t a m b é m causa dos momentos de minha suprema an-
g ú s t i a ; um nome obscuro sem nenhuma p o s i ç ã o ? U m a vida limpa à [...]
de qualquer n ó d o a , mas triste, m e l a n c ó l i c a e pobre, carregada de des-
gostos e de infelicidade de toda e s p é c i e ? U m a e x i s t ê n c i a que n u n c a
teve, n ã o tem e n ã o t e r á um s ó momento de verdadeira felicidade? (a n ã o
ser a que [...] amizade e extremoso amor que te tenho, a p r á t i c a cons-
tante, serena e vigorosa de todos os deveres de um esposo fiel, de um
amigo dedicado e leal? O desejo v ã o p o r é m ardente de fazê-la feliz? E o
que significa tudo isso? O que importa?... O que vale esta niilidade (sic)
ante a p r e s e n ç a da grande ventura que me d á s e da nobreza e v e e m ê n -
cia dos sentimentos que [...] e uniram por toda a vida o meu ao teu [...]?
Nada absolutamente. És feliz? N ã o . No entanto ver-te contente e feliz é
o meu ú n i c o desejo. O que te posso oferecer p o r é m [...] n o t á v e l e feliz
para m i m , neste dia [...] daquele em que h á quatro anos ( t ã o [...]) me
trouxeste, depois de tantos desgostos, tantos dias c r u é i s , a ú n i c a ventu-
ra que tenho gozado no mundo? Nada absolutamente. [...] certa que se
a tua felicidade dependesse de t o r n a r - m e o m a i s d e s g r a ç a d o dos
h o m e n s eu a c e i t a r i a resignado, contente, c u r v a r - m e - i a [...] ao peso
desse futuro de bronze, aceitaria [...] maiores sofrimentos e esperaria
t r a n q u i l o a morte com a certeza de que a t é lá por todo o tempo que
vivesse n ã o teria um s ó momento de descanso, contanto que tu fosses
feliz [...] m i n h a s a d o r a d a s filhinhas. E u s e r i a bastante feliz, e m b o r a
d e s g r a ç a d o aos olhos do mundo. D i r á s que e s t a b e l e ç o esta h i p ó t e s e
porque ela n ã o se pode realizar. N ã o o creias, o futuro é um m i s t é r i o
i n s o n d á v e l e t ã o [...] e variados s ã o os e p i s ó d i o s da vida humana que,
talvez, ainda tenhas [...] uma prova i r r e c u s á v e l . N ã o o desejo [...] espe-
ro porque v i v e r m o s juntos fazendo a nossa r e c í p r o c a felicidade e de
nossos filhos é o meu sonho dourado, o meu mais ardente desejo e
espero a l c a n ç á - l o s , porque tenho a c o n v i c ç ã o de que possuo em ti,
além de uma esposa [...] e digna, uma amiga extremosa e leal.
Passemos a outro assunto. Disse-te em minhas cartas passadas que
falava-se por aqui que a c r e d i t a v a m que h a v e r i a aqui combates p a r a
comemorar a passagem do P a r a n á que teve lugar há um ano e os j o r -
nais dessa Corte [...] constar t a m b é m ; pois este dia passou-se em rela-
ç ã o ao E x é r c i t o no mesmo criminoso marasmo. O ataque transferiu-se
conforme [...] para daqui a dois meses. O r a [...] mais que absurda [...]
do país. O c ó l e r a vai felizmente desaparecendo desta cidade, posto que
ainda esteja m u i t í s s i m o forte no 2" Corpo. E u estou felizmente bom das
febres intermitentes que tanto me acometeram; a vida que aqui passo é
d e t e s t á v e l [...] estou ao p é de ti n ã o pode ser boa. [...] minha amigui-
nha, é meia-noite e estou fatigado, trabalhei hoje bastante. A m a n h ã
[...]. A t é lá, meu anjo.
[...] 17. Passei uma noite muito m á , perdi o sono e s ó depois de 3
horas pude dormir. O que me fez perder o sono? E m que [...] s e r á ?
[...] continuo a carta que ontem comecei. Vou contar-te agora o que
ontem se passou em r e l a ç ã o ao dia de teus anos. A D. A n a Néri, uma
r e s p e i t á v e l s e n h o r a B r a s i l e i r a v i z i n h a de um oficial de M a r i n h a que
aqui encontrei e que é muito m i n h a amiga, sabendo que eu me tinha
casado e que era bem o dia de teus anos, c o n v i d o u - m e p a r a que eu
fosse j a n t a r com ela e seus filhos (que s ã o t r ê s e todos s e r v e m no
E x é r c i t o : um é militar e dois s ã o m é d i c o s , um da A r m a d a , outro do
E x é r c i t o ) . Procurei esquivar-me, p o r é m n ã o pude. Sabendo que eu era
amigo do T i b ú r c i o (que é muito amigo dela) e de alguns outros m o ç o s
que cá e s t a v a m , uns que t i n h a m v i n d o do R i o G r a n d e , outros do
E x é r c i t o , convidou-os t a m b é m [...] nesse dia em casa dessa r e s p e i t á v e l
senhora rodeado ao mesmo tempo de alguns amigos sinceros que eram
o T i b ú r c i o , o primo do Tibúrcio, que é um m o ç o distinto, o Tenente de
Estado-Maior Bacharel A n t ô n i o de Sena Madureira e o i r m ã o Tenente
de E n g e n h e i r o s [...] de S e n a M a d u r e i r a , o C a p i t ã o - T e n e n t e Pinto,
Comandante do Rvcife (vapor), os filhos de D. A n a e o C a p i t ã o Sousa de
Infantaria [...] e mais n i n g u é m . F i z e r a m - m e e a ti as mais lisonjeiras
s a ú d e s . E u estava naturalmente triste, pensava em ti, n ã o fazes ideia o
que fez a pobre senhora com o fim de distrair-me. Vendo que a incomo-
dava procurei animar-me e fingi-me alegre. F o r a de [...] nas minhas cir-
c u n s t â n c i a s , n ã o poderia passar melhor dia do que passei, mas trocaria
tudo pelo prazer de ver-te ao menos. Pintar-te as c o m o ç õ e s que [...] n ã o
é p o s s í v e l . À noite despedi-me da boa velha e v i m com todos os compa-
nheiros para o B a t a l h ã o P r o v i s ó r i o , para a casa do T i b ú r c i o . O T i b ú r c i o
cantou algumas modinhas, o c a p i t ã o tocava violão e assim estivemos
a t é às 10 horas. Queria escrever-te e v i m para isso para a casa do [...]
p r i m o do T i b ú r c i o onde havia mais sossego e aqui estou a i n d a hoje
escrevendo-te esta c a r t i n h a . De m a n h ã ontem (sic) fui à casa do
C a p i t ã o Ataliba que e s t á empregado nesta cidade e mora com a família:
mulher e t r é s filhos, um menino e duas meninas. O Ataliba e sua senho-
ra, que é [...] esposa tipo de honestidade e d e d i c a ç ã o , quiseram tam-
b é m obsequiar-me e como n ã o podia ir lá passar todo o dia porque f i -
quei de j a n t a r com a D. A n a , fui de m a n h ã muito cedo quando o Ataliba
me veio buscar e lá estive a t é à s 10 horas saindo depois para o meu tra-
balho. Aí fui tratado com a mesma amizade, com a mesma d e d i c a ç ã o
que na casa da D. A n a . Tanto a D. Isabel, mulher do Ataliba, como a D.
A n a Néri s ã o muito tuas amigas e te mandam, embora te n ã o conhe-
ç a m , muitas l e m b r a n ç a s . S ã o amizades que muito estimarei que [...]
suas. C o m o está a Aldina, lembra-se ainda de mim, ou j á me esqueceu?
E a A d o z i n d a , como vai? E s t á mais bonitinha ou n ã o ? E s t ã o bons os
nossos a n j i n h o s ? A b e n ç o a - a s e beija-as por m i m . A i n d a e s t á s no
Instituto? C o n t i n u a s a dar-te com a A l c i d a ? A D e l m i r a , como v a i ?
Consta-me que moras no Instituto e por isso tenho-te escrito dirigindo
sempre todas as cartas para lá. Conta-me com franqueza tudo que tiver
havido por lá, n ã o me omitas coisa alguma que é mais [...]. Dá lembran-
ç a s a teu Pai, D . O l í m p i a e a todos de nossa ( v e r d a d e i r a ) amizade.
Adeus, minha adorada esposa, aceita um beijo, um apertado a b r a ç o e o
c o r a ç ã o saudoso daquele que tem verdadeiro prazer em poder assinar:
teu esposo fiel e apaixonado, amigo a f e i ç o a d o e leal
* * *
* * *
Paraguai Tuiuti
1 de j u n h o de 1867
M i n h a adorada esposa e amiga
C o m o e s t á s , m i n h a boa a m i g u i n h a ? C o m o v ã o os nossos a n j i n h o s ?
Quantas saudades tenho de todos [...]. Terminei hoje os trabalhos das
f o r t i f i c a ç õ e s , [trincheiras], c a m i n h o s cobertos, e t c , que fui e n c a r r e -
gado de c o n s t r u i r p a r a c o b r i r e defender toda a frente deste corpo de
e x é r c i t o . N ã o fazes ideia de quanto tenho t r a b a l h a d o . S a b e s pelas
cartas que te e s c r e v i que comecei estes trabalhos em 6 de j a n e i r o e
que a p a n h e i uma f o r t í s s i m a febre que quase me leva p a r a a outra
v i d a . Pois [ p a r a r a m ] os t r a b a l h o s e quando voltei de C o r r i e n t e s fui
encarregado de c o n c l u í - l o s . Desde que o E r n e s t o saiu daqui a t é hoje
n ã o tenho tido o m í n i m o d e s c a n s o , t r a b a l h o dia e noite nas l i n h a s
a v a n ç a d a s e nos pontos mais a r r i s c a d o s , n ã o tendo nem tempo para
dormir, acabo quase sempre o trabalho às 3 e 4 horas da madrugada
p a r a r e c o m e ç a r à s 6. Vê que n ã o tenho tempo de descanso. A l m o ç o ,
j a n t o e ceio nas linhas, onde o c a m a r a d a me vai levar a minha r e f e i ç ã o
e durmo por ali, isto é, passo pelo sono embaixo da b a r r a c a de qual-
quer companheiro e algumas vezes deito-me no campo em qualquer
lugar tendo o poncho para c o l c h ã o e cobertura (e [o frio por] aqui j á
vai forte demais). E s t a s ú l t i m a s 8 noites tenho dormido absolutamen-
te n a d a . E s t o u como n ã o podes fazer ideia, m a g r o , com fastio [ex-
t r a o r d i n á r i o ] , e t c ; mas enfim o t r a b a l h o e s t á c o n c l u í d o . F u i muito
feliz, nem ao menos fui ferido e no entanto perto de 70 homens en-
tre soldados e oficiais ali p e r d e r a m a v i d a . S ó do B a t a l h ã o de
E n g e n h e i r o s m o r r e r a m 22 soldados ( n ã o [conto aqui] os que foram
s i m p l e s m e n t e f e r i d o s ) . T e n h o na v e r d a d e r e c e b i d o muitos elogios
destes g e n e r a i s , destes chefes e do p r ó p r i o M a r q u ê s r e c e b i uma
n o m e a ç ã o , provas de que ao menos se tem reconhecido os meus ser-
v i ç o s . Tenho recebido do Chefe da C o m i s s ã o de E n g e n h e i r o s ofícios
os mais lisonjeiros. E m um deles, reconheceu que empreguei e s f o r ç o s
e x t r a o r d i n á r i o s para t e r m i n a r com p e r f e i ç ã o e presteza o trabalho de
f o r t i f i c a ç ã o de que fui encarregado e que eram insuficientes os recur-
sos que me d a v a m p a r a e f e t u á - l o s ( s ã o p a l a v r a s do o f í c i o que me
m a n d o u e que acaba fazendo-me muitos elogios). M a s respondi-lhe
dizendo que nada mais t i n h a feito que o simples c u m p r i m e n t o de um
dever, que n ã o s e r v i a a s u p e r i o r algum, nem t i n h a em vista elogios,
nem recompensas, que s e r v i a a meu p a í s , ou melhor, ã m i n h a cons-
c i ê n c i a e que estar bem com ela era o meu ú n i c o fito. Hoje, ao chegar
das l i n h a s a v a n ç a d a s onde tenho estado n u m a e s p é c i e de desterro,
soube das novidades que t é m havido na c o m i s s ã o . Fez-se d i s t r i b u i ç ã o
dos engenheiros pelos diversos [corpos] de E x é r c i t o e n ã o obstante as
r e q u i s i ç õ e s que [fez] o A r g o l o p a r a que eu ficasse s e r v i n d o [com ele]
fui designado para s e r v i r j u n t o ao Comando-em-Chefe e elevaram-me
à categoria de membro efetivo desta s e ç ã o . A g r a d e c i a i n t e n ç ã o que
t i v e r a m em d i s t i n g u i r - m e e devo d a r - m e por muito satisfeito. Isto
decerto n ã o recompensa os s a c r i f í c i o s que estou fazendo, o desgosto
em que v i v o por [ver a m á ] d i r e ç ã o que v a i tendo esta d e s g r a ç a d a
g u e r r a , mas enfim ao menos reconhecem que tenho c u m p r i d o o meu
dever. C o m esta n o m e a ç ã o tenho mais cem mil r é i s por m ê s . Se com
50$000 que [há] poucos meses tenho recebido pude me ir sustentan-
do, a g o r a que tenho 150$000 c o m muito mais r a z ã o : n ã o te c a n s e s
pois em mandar-me coisa alguma. E u s ó no fim deste m ê s c o m e ç o a
perceber este aumento e depois quero c o m p r a r alguma roupa de lã de
que muito necessito, pois o frio j á custa a suportar-se e vai aumentar,
mas te mandarei todos os meses o mais que puder, o que exceder as
d e s p e s a s m a i s u r g e n t e s . S e i que d e i x e i - t e muito pouco d i n h e i r o ,
embora [digas] o c o n t r á r i o ; mas sabes t a m b é m que deixei o mais que
me foi p o s s í v e l . P a r a descansar do trabalho que acabei recebi hoje à
noite um ofício pelo qual fui encarregado de dar um b a l a n ç o geral em
todos os grandes e pequenos d e p ó s i t o s do E x é r c i t o , devendo come-
ç a r pelos do acampamento, passando depois aos do Passo da P á t r i a ,
Itapiru, [Ilha] do C e r r i t o e terminando nos de C o r r i e n t e s . Devo e n v i a r
ao Q u a r t e l - G e n e r a l r e l a t ó r i o s c i r c u n s t a n c i a d o s sobre o estado em
que os encontro, do que h á em mau estado, da e s c r i t u r a ç ã o , e t c , etc.
J á me e s t ã o c a n s a n d o e aborrecendo estes empregos de [ c o n f i a n ç a ]
pois querem dizer trabalho e muito trabalho, comprometimentos, etc.
N ã o é o trabalho que mais me incomoda, porque estou [afeito] a ele, o
que me i n c o m o d a é v e r o [ m a r a s m o e o d e s â n i m o ] em que e s t á o
E x é r c i t o e principalmente a [ c o n t i n u a ç ã o ] deste infeliz estado de coi-
sas. Q u a n d o v o l t a r e i ao seio de m i n h a f a m í l i a ? . . . Q u a n d o terei o
imenso prazer de ver-te a a b r a ç a r - t e e às minhas filhinhas?... Agora
nem me escreves cartas longas. Recebo umas cartinhas muito homeo-
p á t i c a s [...] muito i n t e r v a l o de tempo entre [...]. R e c e b i ontem n a
Bateria-Ipiranga quando estava acabando a tua c a r t i n h a (muito
pequenininha) de 22 de abril, a s s i m como uma do [...] e outra de D.
O l í m p i a que me causou uma s u r p r e s a feliz. Tenho vontade de escre-
ver a todos, mas estou t ã o cansado que n ã o o posso fazer porque s ã o
dez h o r a s da noite e eu estou a cair de sono; mas em breve o farei.
A m a n h ã c o m e ç o o b a l a n ç o dos d e p ó s i t o s do E x é r c i t o e te direi o que
houver a respeito; quando [passar] aos outros te participarei t a m b é m .
[ H á s - d e ] g o s t a r deste e m p r e g o em que estou porque pelo menos
estou livre das balas enquanto estiver nele, n ã o é a s s i m ? D e s c a n s a ,
m i n h a querida e boa amiga, que eu hei-de ter a fortuna de voltar para
n u n c a mais nos separarmos. Tu dizes que a pxinicoque reza todas as
noites por m i m . Deus h á - d e o u v i r as inocentes preces deste anjinho.
[Pobrezinha,] repete as tuas p a l a v r a s sem saber-lhes a s i g n i f i c a ç ã o
mas h ã o - d e ser atendidas, pedem por um pai e marido que é t a m b é m
o seu m a i o r e mais leal amigo. M a n d a - m e n o t í c i a s de m i n h a pobre
M ã e , de m i n h a s manas; n ã o recebo c a r t a alguma delas. Conta-me o
que tem havido de novidade por lá, se acaso isto for p o s s í v e l . E s c r e v o
nesta data uma pequena c a r t a ao P e ç a n h a . A d e u s , m i n h a adorada e
boa a m i g u i n h a , d á muitas l e m b r a n ç a s ao nosso bom v e l h o , a D .
O l í m p i a , D. M a r i q u i n h a s e a todas as pessoas de nossa amizade. N ã o
posso ser mais extenso, o sono [...]. A b e n ç o a e beija por mim as nos-
sas filhinhas e recebe o c o r a ç ã o cada vez mais [...] amigo do teu espo-
so fiel e apaixonado e amigo verdadeiro.
Benjamin Constant
N . B . N ã o tenhas p r e g u i ç a em me escrever. Dá l e m b r a n ç a s a D. A l c i d a ,
D. Delmira. [...] e n ã o te e s q u e ç a s de mim, do teu amigo sincero e afei-
çoado
Benjamin Constant
* * *
Paraguai Tuiuti
M i n h a querida esposa e boa amiga
[5] de j u n h o de 1867
169
parecem a t é i m p r ó p r i a s nesta o c a s i ã o mas que realmente n ã o o s ã o .
Mostrando-te que as c r e n ç a s [positivas], que mais ou menos te dei a
conhecer, [confirmo] tudo quanto disse e tenho dito em r e l a ç ã o ao
extremo amor que te tenho e esse é o meu fim. O tempo e o meu proce-
dimento te d a r ã o nova e m a i o r c o n f i r m a ç ã o a esta verdade. F a z um
e s f o r ç o sobre ti e n ã o te entregues tanto ã saudade que naturalmente
[sentes], p r o c u r a resignar-te que c u m p r e s t a m b é m um dever muito
sagrado. A r e s i g n a ç ã o , nestas c o n d i ç õ e s , é uma grande virtude e além
de virtuosa deves ser t a m b é m resignada. Falta pouco tempo para me
teres ao p é de ti para nunca mais deixar-te, para sermos felizes, muito
felizes; espera portanto com p a c i ê n c i a mais algum tempo. Faz t a m b é m
isso por mim, porque me afliges com a tua falta de r e s i g n a ç ã o , com os
teus desejos naturais, mas que n ã o posso satisfazer nas c o n d i ç õ e s em
que [pedes] mas sim naquelas em que te prometo.
M i n h a boa amiga, pedes-me que diminua a c o n s i g n a ç ã o que te dei-
xei, porque ela te chega com sobras! Realmente para a d i s t r i b u i ç ã o que
tens feito do pouco dinheiro que pude deixar-te parece à p r i m e i r a vista
que assim é, mas pela [ r e l a ç ã o ] que me mandaste vejo que s ó gastas
contigo quarenta mil réis!... T i r a n d o d a í 16$000 para aluguel da escra-
va ficam vinte e quatro mil réis, 24$000!... E é possível que me conven-
ç a s que com essa m i s é r i a podes passar sem ser muito e muito pesada à
família do E r n e s t o ? Decerto que n ã o . A c h a s que posso e devo aprovar
esse teu procedimento decerto. Longe de seres quem me deve [mandar]
eu é que devo fazer. Se ao p r i n c í p i o [te mandei] pedir a r a z ã o era n ã o
receber absolutamente nada, pois estava pagando o m ê s de l o c o m o ç ã o
que se v e n c e u em v i a g e m . Passei a s s i m [quatro] meses. E m j a n e i r o
recebi 30$000, saldo que [tinha] a meu favor e d a í para cá tenho recebi-
do 56$000 com que me vou remediando perfeitamente. Do fim deste
m ê s em diante tenho de vencimentos 156$000 t i r a d a a c o n s i g n a ç ã o .
Deste d i n h e i r o tiro uma [mesada de c e r c a de 30$000] que dou ao
Marciano, e o resto d á - m e de sobra. Tanto assim que [falei] ao Chefe da
R e p a r t i ç ã o Fiscal para aumentar de 60$000 a c o n s i g n a ç ã o de 200$000
que te deixei, mas n ã o foi p o s s í v e l porque [há] um aviso do M i n i s t r o
P a r a n a g u á [proibindo] aos oficiais deixarem mais que o [simples] soldo
e s ó permitindo que continuassem as c o n s i g n a ç õ e s que estavam feitas.
[ A s s i m ] n ã o pude conseguir o que devia e o que desejava fazer; mas
s e m p r e que h o u v e r p o r t a d o r seguro te m a n d a r e i aquilo que puder.
P e ç o - t e que n ã o me mandes mais nada absolutamente, nem g é n e r o s .
nem dinheiro. Se eu precisar de qualquer coisa eu mandarei pedir. Sei,
minha querida, que tens verdadeiro prazer em servir-me e que farias
a t é s a c r i f í c i o s se fosse preciso, mas n ã o é e j á os tens feito demais.
C o n t a v a responder completamente à s tuas a g r a d á v e i s cartinhas, assim
às de D. O l í m p i a , teu Pai, P e ç a n h a ; mas n ã o o posso fazer hoje porque
s ó soube h á pouco que a mala sai a m a n h ã bem cedo, e s ã o 11 da noite.
Q u a n t o à G u i l h e r m i n a j á te e s c r e v i a esse respeito pelo E r n e s t o [...]
t a m b é m ao P e ç a n h a , a G u i l h e r m i n a [...] ao J ú l i o . Breve te escreverei
com mais v a g a r A D e u s , minha muito amada esposa e amiga, a b e n ç o a
as nossas filhinhas e recomenda-me a todas as pessoas de família e de
amizade e aceita um apertado a b r a ç o e o c o r a ç ã o leal do
Benjamin Constant
* * *
[n° 50)
Paraguai Tuiuti
M i n h a adorada esposa e boa amiga
7 de j u n h o de 1867
175
s a ú d e para retirar-me ao B r a s i l e para isso tenho a i n f l a m a ç ã o do fíga-
do que aqui se agravou [um pouco] por causa das febres intermitentes
que [apanhei]. Os sofrimentos do f í g a d o t ê m sido muito [atendidos]
pela j u n t a de s a ú d e e t ê m servido de base para l i c e n ç a s concedidas a
oficiais p a r a voltarem ao B r a s i l , s e r v i r á t a m b é m a m i m . O r a , m i n h a
a m i g a , o que te posso prometer m a i s ? E s p e r a m a i s um m ê s c o m
p a c i ê n c i a e r e s i g n a ç ã o que teremos a felicidade de nos t o r n a r m o s a
ver. A g o r a podes esperar com mais sossego de e s p í r i t o , n ã o s ó porque
j á atendi aos teus [...] desejos, como t a m b é m porque sabes que estou
na c o m i s s ã o a mais p a c í f i c a p o s s í v e l . Tem um pouco de p a c i ê n c i a e
r e s i g n a ç ã o que [...] t a m b é m um g r a n d e b e n e f í c i o . V a m o s a g o r a a
outro assunto constante em tuas cartas. Refiro-me à ideia em que e s t á s
de que eu estou passando m i s é r i a s e devo diminuir a pequena consig-
n a ç ã o que [pude] deixar-te. Nos quatro primeiros meses que aqui pas-
sei n ã o recebi um s ó real, mas m o r a v a com o T i b ú r c i o e n ã o precisava
de dinheiro; em j a n e i r o comecei a ter direito a vencimentos e recebi
em fevereiro [30$000], parte desses vencimentos que me tocava por
[saldo] de contas. D a í para cá tenho recebido [mensalmente] 56$000.
Tendo de estar s ó , pois fui para Itapiru, esta quantia é realmente insu-
ficiente: p r i m e i r o porque [aí tudo é] mais caro; 2" porque eu mesmo
n ã o tenho jeito para despenseiro, ou com o que o valha e [tenho um]
c a m a r a d a fiel, p o r é m ainda mais desajeitado para esse mister do que
eu. F o i por isso que te pedi que mandasses alguns g é n e r o s ; mas o tal
meu camarada provou-me, com a sua falta de m é t o d o para regular as
c o i s a s , que eu t i n h a c a í d o em g r a n d e e r r o , fazendo-te este pedido;
pois no fim de dez dias ficava eu sem g é n e r o s e sem dinheiro e e n t ã o
apelava p a r a o c e l e b é r r i m o c h u r r a s c o com farinha, a t é que viesse o
fim do m ê s para [ e n t ã o m e l h o r a r ] um pouco esta crítica s i t u a ç ã o . [A
g r a ç a é que] quando via o n e g ó c i o mal parado, fingia-me aborrecido
das comidas que o c a m a r a d a me fazia e e n t ã o com um soberano des-
prezo por elas dava-lhe ordem para que n ã o fizesse s e n ã o - c h u r r a s c o .
Lembras-te da h i s t ó r i a da raposa e as uvas; pois [fazia] como a raposa,
dizia que as uvas estavam verdes porque n ã o podia chegar-lhes; mas
como estes soldados s ã o muito gaiatos e finos, o meu c a m a r a d a
[havia] por força ter conhecido a verdadeira r a z ã o deste meu fingido
enjoo. N u n c a pensei que o tal c h u r r a s c o , em que tanto o u v i a falar,
v i e s s e r e p r e s e n t a r papel t ã o i m p o r t a n t e em m i n h a vida!... S e m p r e
[bom e] generoso atendia aos apelos que lhe fazia nas horas de aperto.
T a m b é m ou seja por g r a t i d ã o ou por ter coniiecido as suas excelentes
qualidades, o certo é que ganhei-lhe tanta afeição, tenho-lhe tal simpa-
tia que sou i n s e p a r á v e l dele (nas h o r a s de r e f e i ç ã o ) . N ã o q u e r e n d o
p o r é m abusar muito do p r é s t i m o do a m á v e l c h u r r a s c o e n ã o me fiando
no tino a d m i n i s t r a t i v o e nos [ c o n h e c i m e n t o s ] f i n a n c e i r o s do meu
camarada, tomei a firme d i s p o s i ç ã o de dar um - golpe de estado - em
meu [sistema] de v i d a . P r o c u r e i um c o m p a n h e i r o mais p r á t i c o e
conhecedor do que eu destes n e g ó c i o s e c o n t r a í uma a l i a n ç a ofensiva
e defensiva c o n t r a a [ i g n o r â n c i a ] e falta de zelo do [meu] c a m a r a d a
[(nosso figadal ou estomacal inimigo)]. O meu digno aliado em i d ê n t i -
cas c o n d i ç õ e s tinha c o n t r a í d o t a m b é m muita amizade ao - c h u r r a s c o ,
de modo que, a falar-te a verdade, c o n t r a í m o s uma g r a n d e t r í p l i c e
a l i a n ç a (muito mais leal e verdadeira do que aquela que os nossos esta-
distas c o n t r a í r a m com M i t r e e F l o r e s ) . O meu c o m p a n h e i r o t i n h a
[ p o r é m o mau] h á b i t o de gostar de c a f é com leite ao a l m o ç o e i s s o
desorientou-me um pouco; a l é m disso o meu cavalo [emagrecia] e r i n -
c h a v a muito durante a noite, a ponto de i n c o m o d a r - m e . D i s s e - m e o
meu [bagageiro] (que é um pouco v e t e r i n á r i o ) que estes rinchos que-
rem dizer falta de milho. E n t ã o , em p r e s e n ç a destas duas grandes e
s é r i a s dificuldades, o café com leite para o a l m o ç o do meu aliado e o
m i l h o p a r a o meu c a v a l o , n ã o tive r e m é d i o s e n ã o a b r i r um c r é d i t o
suplementar e foi e n t ã o que te mandei pedir que me mandasses todos
os meses uma [pequena] quantia para atender a estas verbas do meu
o r ç a m e n t o . A s s i m me conservei a t é o [31] de maio em que por meus
e s f o r ç o s [obtive] sem esperar um aumento constante em m i n h a recei-
t a . " C o m este inesperado acontecimento as coisas m u d a r a m i n t e i r a -
mente de face; n ã o s ó n ã o é mais p r e c i s o que me m a n d e s d i n h e i r o
algum como é a mim que compete fazer isto desta data em diante, pois,
feitas todas as despesas, fica-me um saldo a favor. Tenho pois historia-
dos os fatos que me o b r i g a r a m a pedir, p r i m e i r o g é n e r o s , depois
d i n h e i r o em l u g a r de g é n e r o s e finalmente que n ã o me m a n d a s s e s
mais, nem g é n e r o s , nem dinheiro. P e ç o - t e que aceites o pouco que te
puder mandar todos os meses. A c r e d i t a que n ã o faço o menor sacrifí-
cio para isso. Os vencimentos que tenho atualmente chegam e sobram
para as minhas despesas que [...] reguladas. Pelo Dr. B e r n a r d i n o man-
dei-te cem mil r é i s (100$000) em cinco moedas de [...] e p e ç o - t e que
aceites este pequenino aumento que posso fazer-te este m ê s . E u te
mandarei todos os meses cinqiienta ou sessenta mil r é i s [...] aumentar
a pouca c o n s i g n a ç ã o que deixei-te. N ã o deixes de receber este peque-
no aumento que agora posso fazer-te porque isso me desgostaria. Sei
que n ã o preciso falar-te nisto, mas p e ç o - t e que se for possível (sem o
menor sacrifício) c o n c o r r a s com alguma c o i s a p a r a os a r r a n j o s que
p r e c i s a r m i n h a m a n a caso se realize o casamento. E u jíí escrevi ao
P e ç a n h a mostrando-lhe a realidade de minhas m á s c i r c u n s t â n c i a s [...]
meio de que podia l a n ç a r m ã o . D i s s e - l h e t a m b é m que c o n c o r r e r i a s
com aquilo que pudesses certo [...] na tua amizade e certo t a m b é m que
n ã o é tua o b r i g a ç ã o , mas que o f a r á s se puderes. P e ç o - t e ainda mais
uma vez que n ã o faças sacrifícios.
Manda-me dizer em que dia e em que j o r n a l c o m e ç o u a ser publica-
do o meu trabalho. Hei-de escrever ao G u i m a r ã e s a respeito do que
me mandaste dizer [...] que houve no Instituto P o l i t é c n i c o . O m o ç o de
quem falaste é muito inteligente, muito distinto e faço dele o melhor
conceito. Talvez te enganasses [...]. Respondi aos diversos quesitos de
tuas cartas [...] o que hei-de p o r é m responder à s provas de verdadeira
amizade, de verdadeiro amor que me tens dado? Que estes sentimen-
tos acham eco em meu c o r a ç ã o , que sou teu verdadeiro e leal amigo,
que te amo mais que tudo e a todos, que fazes a minha ú n i c a felicidade
com a feliz certeza de ter em ti além de uma esposa nobre e digna uma
amiga extremosa. Quando te tornarei a ver e a b r a ç a r e às minhas que-
ridas filhinhas? Talvez daqui [...] 40 dias o mais tardar. É pouco tempo
p o r é m para n ó s é realmente muito. N ã o és tu a ú n i c a impaciente. E u
t a m b é m sou, mas d o m i n o a m i n h a i m p a c i ê n c i a , r e s i g n o - m e . F a z o
mesmo que c u m p r i r um dever. Diz à D . O l í m p i a e ao nosso bom [...]
a m i g o que n ã o lhes e s c r e v o a i n d a desta vez pela d e m a s i a d a pressa
com que s a i o Arinos. P o r i n t e r m é d i o do Dr. C a p i t ã o Luís V i e i r a
F e r r e i r a que foi [...] ao B r a s i l no vapor Galgo (do E r n e s t o ) escrevi ao
teu Pai uma cartinha falando-lhe a respeito da [...] que me mandou e
agradecendo-lhe o [...] tomou. Recebi os g é n e r o s e as cartas no dia [...]
de maio e em perfeito estado n ã o obstante [...] e contratempos que
sofreram. Entreguei ao [...] do quanto veio para ele. O J o ã o e s t á bom e
manda-te l e m b r a n ç a s . Recebi t a m b é m os 50$000 que me mandaste
pelo Dr. B e r n a r d i n o . Recebe t a m b é m agora os 100$000 que te mando.
Q u a n d o puderes m a n d a - m e um pouco de [...] e papel de c i g a r r o s .
Manda-me n o t í c i a s de m i n h a pobre M ã e e de minhas manas e cunha-
da. Mandei dentro de uma carta do P e ç a n h a uma cartinha para minha
M ã e ; n ã o sei s e j a a [...].
A D e u s , minha muito amada esposa e verdadeira amiga, d á l e m b r a n ç a s
a todas as pessoas de nossa família e de n o s s a amizade e aceita um
apertado a b r a ç o do c o r a ç ã o cada vez mais apaixonado do teu
Benjamin Constant
Meu amor
* * *
(n° 52)
Paraguai Passo da Pátria
24 de j u n h o de 1867
M i n h a adorada esposa e verdadeira amiga
Benjamin Constant
N . B . J o ã o e s t á bom e manda-te l e m b r a n ç a s .
* * *
(n° 53)
Paraguai Passo da Pátria
A bordo do Cuevas
30 de j u n h o de 1867
M i n h a adorada esposa e boa amiga
185
m a i o r p r a z e r em satisfazer a qualquer pedido meu nesse sentido,
assim como satisfizeste, talvez sem poder, a tantos que te fiz, mas por
hora n ã o é n e c e s s á r i o , quando for te mandarei dizer com toda a fran-
queza). E u posso agora mandar-te todos os meses 50 ou 60$000 rs sem
o menor s a c r i f í c i o e p e ç o - t e que aceites este pequeno aumento que
posso fazer-te. O Dr. B e r n a r d i n o devia ser portador de cem mil r é i s ,
que te mandava, mas n ã o foi pelas r a z õ e s que te dei em minha ú l t i m a
carta: com data de ontem fiz entrega à Pagadoria do E x é r c i t o da quan-
tia de cento e sessenta mil réis (160$000) que deve ser entregue a teu
Pai e tu a r e c e b e r á s da [...] dele. A f i a n ç o u - m e o Chefe da P a g a d o r i a
que este dinheiro iria pelo primeiro vapor que daqui partisse; por isso
p e ç o - t e que fales a teu Pai p a r a p r o c u r á - l o , ou m a n d a r p r o c u r a r na
Pagadoria das [...] ou na Secretaria da G u e r r a . A ordem é para teu Pai.
Passei a ele porque melhor do que tu pode h a v ê - l o . Manda-me dizer o
que h á a respeito do casamento da G u i l h e r m i n a ; caso se realize, espe-
ro que f a r á s (contanto que n ã o faças o menor sacrifício) tudo quanto
puderes. E s t o u h á oito dias no Passo da P átria e sempre com t e n ç ã o de
passar um dia a bordo do Cuevas com a D. Carolina e seu marido, mas
n ã o obstante estar convalescendo tenho andado muito ocupado com a
p r o m p t i f i c a ç ã o dos t r e n s de pontes sobre tubos de b o r r a c h a que
devem servir de passagem do E x é r c i t o pelos rios e banhados, caso ele
se m o v a . P o r isso s ó ontem pude v i r ao Cuevas. A D. Carolina e o
C â m a r a me t é m tratado o melhor p o s s í v e l . Durante todo o dia e g r a n -
de parte [...] muito conversamos sobre ti, D. O l í m p i a , D. M a r i q u i n h a s ,
D. A l c i d a [...] pessoas de nossa família e de nossa amizade. Passei um
dia muito [...] e muito me lembrei de ti. Tive inveja de ver o C â m a r a
com sua esposa e filhinho e senti o quanto seria feliz se pudesse estar
no seu caso. E s t e casal p a r e c e - m e muito unido e muito feliz. A D .
C a r o l i n a recebeu a tua cartinha (que me deu a ler) mas que tu n ã o aca-
baste, nem a s s i n a s t e (que e s q u e c i m e n t o foi este?). A D e u s , m i n h a
muito amada esposa e amiga, a b e n ç o a e beija muitas vezes por mim as
nossas filhinhas, recomenda-me a todas as pessoas de nossa família e
amizade e aceita muitos apertados a b r a ç o s e o c o r a ç ã o saudoso do
teu, sempre o mesmo
Benjamin Constant
N . B . O J o ã o e s t á bom e manda l e m b r a n ç a s a todos. N ã o te e s q u e ç a s
[...] a teu Pai sobre o dinheiro que te mandei com d i r e ç ã o a ele.
A D e u s , minha amiguinha
* * *
Paraguai Passo da P á t r i a
A bordo do Cuevas
5 de julho de 1867
M i n h a adorada esposa e verdadeira amiga
Recebi hoje com imenso prazer a carta que me escreveste com data de 18
de junho. Tu e s t á s t ã o prevenida que encontras censuras, indiretas, e n ã o
sei mais o que em tudo quanto te escrevo. Peço-te que deixes disso. E u
acabo de receber um ofício em que se me comunica que devo neste ins-
tante seguir para a extrema direita a fim de fazer reconhecimentos mili-
tares e t o p o g r á f i c o s das f o r m a ç õ e s inimigas, reconhecer os [diversos
passos] e fazer as obras n e c e s s á r i a s a [seu] melhoramento; por isso, meu
anjo, n ã o posso escrever-te agora s e n ã o à s pressas e uma pequena carta.
Só te digo que de uma vez por todas dá inteira fé no que tantas vezes te
tenho dito e que é verdade: sou o teu maior amigo, amo-te apaixonada-
mente e este amor que sinto crescer cada vez mais e que vai se tornando
uma e s p é c i e de culto por ti e por minhas filhinhas faz a maior e única feli-
cidade real de minha vida. C o n h e ç o hoje quanto és minha amiga e fazes-
me mais que feliz. Tu te zangas com o [saberes do] que tenho feito e do
quanto me tenho [exposto] no cumprimento dos meus deveres, tomando
isso como falta de amizade a ti, a minhas filhinhas, e t c ; n ã o sabes quanto
me martiriza isso, pareces n ã o fazer ideia do que é para um homem de
brio o cumprimento de um dever Sabes que és a minha religião, que te
adoro e às minhas filhinhas e tens ainda d ú v i d a a respeito? O que tenho
feito mais que cumprir simplesmente o meu dever de soldado. N ã o dese-
j a v a s decerto que o teu marido fosse tratado como um infame, um covar-
de, negando-se às c o m i s s õ e s que fossem arriscadas s ó para conservar a
vida em a t e n ç ã o à família. Repito-te: acima do [amor, do culto] que faço e
farei por ti, por minhas filhinhas, está o cumprimento do meu dever. N ã o
temas por esta c o m i s s ã o , ela é muito menos arriscada que as outras que
tive e em que tenho sido feliz. A tua imagem e a de minhas filhinhas me
a c o m p a n h a r ã o por toda parte como a sombra o meu corpo. Se hoje temo
a morte é somente por ti, minhas filhinhas, a minha pobre M ã e , minhas
pobres i r m ã s . Tu p o r é m tens sobre todos a vantagem de ter transforma-
do completamente a melancólica existência que eu parecia condenado a
levar. Foste tu que com o teu amor e extremosa amizade encheste de fé e
[inundaste] da mais doce felicidade esta minha e x i s t ê n c i a que parecia
votar-me somente aos trabalhos e a toda sorte de desgostos e contrarie-
dades. O amor que sinto por ti n ã o se pode exprimir, ao menos eu s ó sei
senti-lo, n ã o o sei manifestar. Acredita em mim pelo amor que me tens.
Se eu morrer por aqui, o que n ã o espero, levo um profundo desgosto, [o]
de n ã o te ter visto ao menos uma vez [mais] a b r a ç a r - t e , apertar-te bem ao
c o r a ç ã o [que] é t ã o leal. Espero p o r é m ter em breve o e x t r a o r d i n á r i o pra-
zer de ver-te e a b r a ç a r - t e ainda muitas vezes. Quanto seremos felizes!
Como avaliarás bem o que agora eu s ó sei balbuciar? ADeus, meu anjo,
a b e n ç o a e beija muitas vezes por mim as minhas lindas filhinhas. Dá lem-
b r a n ç a s a teu Pai, a D . Olímpia, D. Mariquinhas, D. Maria Marcelina, o
Joaquim Rocha. Manda-me notícias de minha M ã e e minha irmã. [O bote
está] à minha espera, vou embarcar [...] Ernesto que tenho tido muitas
saudades dele e que as o p e r a ç õ e s v ã o [...]. Recomenda-me muito a D .
Alcida e a D. Delmira. A D. Carolina e o marido t é m - s e esmerado em tra-
tar-me o melhor que é possível, conversamos quase sempre sobre ti, n ã o
deixe de escrever-lhe. Aceita um muito e muito apertado a b r a ç o e o cora-
ç ã o cada vez mais leal, fiel e apaixonado do teu maior e mais extremoso
amigo, que é, foi e s e r á sempre o mesmo
N . B . O M a r c i a n o e o J o ã o e s t ã o bons.
* * *
6 de j u l h o [de 1867]
[...] escrevendo uma carta a teu Pai quando [...] que veio ver umas enco-
mendas que o Ernesto lhe [...] perguntou-me ele s e j a tinha lido ou sabi-
do [...] cartas que o J o ã o recebeu; disse-lhe que n ã o . [...] o Pego disse-
me que nessas cartas supunham [...] num estado miserável, de mau trato,
abandono [...] fazia s e r v i ç o e camarada, e t c , e t c , e t c , etc. [...] incomo-
dei-me bastante com isso. [...]-me ofendido em terem acreditado que
isso fosse possível. Tenho felizmente muitos amigos no Exército e quan-
do n ã o pudesse eu fazer qualquer coisa por teu mano, os amigos fariam.
M i n h a amiga, estou a t é com nojo de entrar em e x p l i c a ç õ e s ; f a ç a m o
j u í z o que quiserem [...] interpretem os meus atos da maneira que lhes
aprouver. Estou habituado a estas i n t e r p r e t a ç õ e s . [...] julgado sempre
de um modo bem diverso [...] que o deviam fazer. S ó te digo que n ã o
tenho [...] s a c r i f í c i o s por ele, mas tenho feito o pouco ou nada que
posso e devo fazer por um i r m ã o . N ã o podia dar-lhe dinheiro porque o
pouco ou quase nada que tinha gastava em comedorias e o J o ã o passa-
va como eu, mal, é verdade, porque no campo n ã o se pode passar bem;
no entanto quando tive um pequeno aumento disse-lhe que lhe d a r i a
305000 por m ê s para as suas despesas e que podia tomar adiantado o
dinheiro [...] Pego que eu pagaria e assim o fiz. [...] pelo Pego que teu
Pai mandou dar-lhe uma [...] suponho que da mesma quantia e que a
[...] na Corte à D. Isolina, e por isso o Pego [...] a teu Pai que te desse os
sessenta mil réis que cá havia dado ao J o ã o , conforme [...] dizer no N . B .
da carta de ontem. E n f i m , minha amiga, n ã o li nem pretendo ler as car-
tas que [...] J o ã o , mas qualquer que seja o seu c o n t e ú d o n ã o [...] a míni-
ma e x p l i c a ç ã o do meu procedimento a respeito dele e ainda mais por-
que tanto acreditaram no que [...] sei quem lhes mandou dizer, ou nos
maus sonhos que tiveram que em nada me tocaram e desejo que [...];
porque n ã o darei a menor e x p l i c a ç ã o [...] como devo crer e creio, s ã o
exatas as n o t í c i a s que me deu o Pego. A D e u s , m i n h a muito a m a d a
esposa e amiga; e acredita que a despeito de todos os j u í z o s e interpre-
t a ç õ e s que queiram dar aos meus atos eu tenho verdadeiro orgulho em
[...] proceder sempre como homem de honra que sou [...] especialmen-
te teu esposo fiel e apaixonado, teu verdadeiro e extremoso amigo
192
galinhas e a t é p a v õ e s , de uma [ e s t â n c i a ] em que estiveram por t r á s e
muito [perto] de Humaita. Tem havido extrema [demora] nas marchas:
em t r ê s dias, quando muito, c h e g a r í a m o s ao ponto em que estamos;
mas a falta de m é t o d o é companheira i n s e p a r á v e l de nossa [administra-
ç ã o ] e a c o n t í n u a i n d e c i s ã o dos nossos generais tem sido a causa de
tudo. A g o r a espera-se n ã o sei por q u ê , [talvez] se espere que o Lopez se
fortifique para depois atacar. E e n t ã o teremos a r e p e t i ç ã o das semanas
de marasmo de Tuiuti. Fala-se em sitiar Humaita; n ã o sei quando deve-
r ã o c o m e ç a r este sítio, o que sei p o r é m é que quanto mais tempo ficar-
mos em i n d e c i s ã o , tanto mais difícil se t o r n a r á a nossa s i t u a ç ã o . A
[longa m a r c h a ] que fizemos por o r a n ã o tem p a r a [mim] n e n h u m a
e x p l i c a ç ã o que satisfaça. Temos as c o m u n i c a ç õ e s cortadas pelo inimi-
go. A falta de pastos, milho, etc. tem emagrecido extraordinariamente
a boiada e a cavalhada e os p r ó p r i o s soldados t é m [sofrido] pois estive-
r a m dois dias a 1/6 de [ r a ç ã o ] no entanto que (sic) fomos p a r a uma
[posição] para onde nos t r a n s p o r t a r í a m o s [em] meio dia de marcha por
uma estrada muito melhor, longe das fortificações inimigas e por onde
o e x é r c i t o podia mover-se sem ser incomodado [até ocupar] a mesma
p o s i ç ã o que t ã o difícil e longa marcha nos custou. É este o tino dos nos-
sos generais. E n f i m tomara esta m a ç a d a acabe depressa, pois cada vez
[sinto] a saudade apertar-me com mais força o c o r a ç ã o [e chamar-me]
ao seio de minha família. Durante toda esta marcha trabalhei bastante e
diz-me a c o n s c i ê n c i a que tenho prestado algum s e r v i ç o ; é isso quanto
basta. N ã o faço alarde dos poucos s e r v i ç o s que tenho feito, nem dou,
nem darei parte oficial [por escrito] do que fizer. Sei que este n ã o é o
p r o c e d i m e n t o que se deve ter, mas eu o tenho. N ã o sei lisonjear o
a m o r - p r ó p r i o dos generais, sei c u m p r i r fiel e serenamente as minhas
o b r i g a ç õ e s e felizmente n i n g u é m duvida nem pode duvidar [disso,] s ã o
muitas as provas que tenho dado e s ã o muitas as testemunhas que as
t é m observado. Teu Pai manda-me dizer que n ã o tem aparecido o meu
nome em n e n h u m a ordem do dia, respondi que n ã o tem aparecido e
que n u n c a h á - d e aparecer, no entanto pode ele acreditar no que lhe
tenho mandado dizer a respeito do pouco ou nada que tenho feito, h á
(felizmente) milhares de pessoas que podem testemunhar-lhe a veraci-
dade. A r a z ã o desse fato é antiga e conhecida no E x é r c i t o , n ã o s ó em
r e l a ç ã o a mim como em r e l a ç ã o a todos os da C o m i s s ã o de Engenheiros
e oficiais de [ a r m a s ] c i e n t í f i c a s . N ã o h á como parece [ i n d i s p o s i ç ã o ] ,
esse fato é c o n s e q i i ê n c i a n a t u r a l do procedimento que t ê m aqueles
[ m o ç o s de certos] p r i n c í p i o s que n ã o fazem da farda [o seu] futuro cum-
prindo no entanto religiosamente todos os seus deveres. N ã o sou eu só,
s ã o todos os que e s t ã o e c o n t i n u a r ã o nas mesmas c i r c u n s t â n c i a s . E l e o
s a b e r á depois perguntando a qualquer oficial do 1" Corpo, e especial-
mente da 1" Divisão - com quem mais tenho servido [e com] todos os
oficiais e soldados [do B a t a l h ã o ] de Engenheiros que quase sempre me
acompanha nos trabalhos. A minha c o n s c i ê n c i a e a m o r - p r ó p r i o e s t ã o
mais [que] lisonjeados. O [dito] do teu Pai é muito [natural,] muito sim-
ples e ele com r a z ã o se [admira] da singularidade do fato, no entanto [é]
ele uma verdade e c o n t i n u a r á [a sê-lo, ao menos] em r e l a ç ã o a mim e
como [disse] n ã o tem sua origem em d e s a f e i ç õ e s [ou] i n j u s t i ç a s , n ã o
decerto, h a v e r á falta de chefe, h a v e r á no meu modo de proceder [que]
s e r á sempre o mesmo e em mais nada. [Também] nada mais tenho feito
do que c u m p r i r fielmente o meu dever. Passemos a outro assunto de
mais interesse para mim. Tive m u i t í s s i m o prazer em saber que a minha
pobre M ã e e s t á mais gorda e mais [...] e que tem sido bem tratada,
a s s i m como que todos gozam de boa s a ú d e . O P e ç a n h a e s c r e v e - m e
poucas c a r t a s e estas poucos noticiosas; eu tenho-lhe escrito [...].
Quase nada sei do que tem havido a respeito do casamento da Guilher-
mina [...] tu tens me dado muito mais i n f o r m a ç õ e s . Se falares com ele,
diz-lhe que me escreva mais a m i ú d e e cartas mais [...]. Diz-me t a m b é m
como vai ele da [...] que tinha, n i n g u é m me tem dito nada a respeito. Tu
esperavas-me pelo Galgo [mas] por ele te mandei dizer a r a z ã o por que
n ã o ia. Estou inteiramente bom [das aborrecidas] febres e melhor do
f í g a d o ; [...] tratamento que tenho tido me tem feito muito b e n e f í c i o ,
estou mais gordo, muito [forte] e portanto n ã o tenho as mesmas r a z õ e s
que t i n h a p a r a pedir l i c e n ç a e muito menos p a r a pedir i n s p e ç ã o de
s a ú d e . N ã o penses que n ã o tenho os mesmos desejos de ver-me no seio
da minha família, cada vez s ã o mais fortes, p o r é m , o que se pode fazer?
Prometi-te que voltaria ou te m a n d a r i a buscar, mas as c i r c u n s t â n c i a s
[mudaram t ã o ] bruscamente que hoje n ã o posso, nem voltar nem man-
dar-te buscar. N ã o tenho meios de o fazer. Poderias estar aqui com a D.
C a r o l i n a , mas os i n c ó m o d o s de uma viagem, a falta de comodidade,
etc. [...] a coragem de dizer-te - Vem - no entanto deixo isso inteira-
mente à tua [...] pensa e se te resolveres a dar esse passo n ã o te esque-
ç a s de todas as r e c o m e n d a ç õ e s que te fiz a respeito da c o n s i g n a ç ã o [...]
e t c , a c h a r á s sempre em mim o teu maior amigo, receber-te-ei com os
b r a ç o s abertos para apertar-te entre eles, unir-te bem ao c o r a ç ã o que a
ti é t ã o [...]. Tenlio tido sempre um e x t r a o r d i n á r i o d o m í n i o sobre mim,
mas o c o r a ç ã o n ã o se deixa dominar sem grandes v i o l ê n c i a s . Quando
eu pensei em dizer quem amo [...] vem trazer-me a felicidade, vem [...] o
desejo ardente que tenho de ver-te [...] sabendo que isso lhe custaria
muitos i n c ó m o d o s ? N ã o o disse positivamente [...] ã tua d i s p o s i ç ã o que
é o mesmo, pois sei que nutre os mesmos desejos e [...] todos os sacrifí-
cios para estarmos juntos. M i n h a adorada amiga, para que insististe na
ideia de v i r ? E u que repelia essa ideia porque sabia quanto é i n c ó m o d a
e [...] p r i v a ç õ e s tens que sofrer, j á n ã o tenho f o r ç a s p a r a resistir aos
teus desejos que s ã o os meus, e a c i r c u n s t â n c i a de estar [...] com a famí-
lia foi um pretexto bastante [...] p a r a m u d a r de ideias (sic), j á acho
algum cabimento nas tuas e x i g ê n c i a s . O r a , realmente o amor [...] de
tudo. Passo horas inteiras a imaginar a felicidade que teria em ver-te
aqui ao [...] m i m , sonho a t é com isso [...] tenho â n i m o de dizer-te positi-
vamente que v e n h a s , n ã o quero ter r e m o r s o s de ver-te sofrer [...].
Enfim, meu anjo, deixemos falar o c o r a ç ã o ; [se] vires que n ã o há gran-
de transtorno na tua vinda - Vem. Vem juntar-te ao teu maior amigo,
vem que fazes minha linica e verdadeira felicidade e eu n ã o posso [...]
m a i s a u s ê n c i a que j á me [...] i n s u p o r t á v e l . Q u e r e s m a i o r p r o v a de
minha extrema amizade? N ã o fazes ideia de quanto e s t á me custando
escrever-te estas [...]. A amizade deve exigir os sacrifícios que exijo de
ti? N ã o sei, mas [...] que é a amizade que me leva a condescender com
eles; eu pagar-te-ei estes sacrifícios com a mais extrema amizade, com
o mais ardente amor. Se n ã o estiver por cá quando chegares, voarei a
teus b r a ç o s assim que tiver a n o t í c i a dela. E e n t ã o procurarei [...] de
estar contigo o maior n ú m e r o de vezes, procurarei c o m i s s õ e s que faci-
litem estar sempre j u n t o de ti. Tenho trabalhado bastante, bastantes
vezes durante a m i n h a vida. N i n g u é m decerto h á - d e c e n s u r a r - m e , e
que censurem, que importa, se tenho tranquila a c o n s c i ê n c i a . [...] per-
d o a r á s se com esta c o n d e s c e n d ê n c i a [...] dos teus desejos de vir, tiveres
de sofrer de muitos modos com a v i a g e m ou em c o n s e q u ê n c i a [...].
A m o - t e mais que a tudo e j u r o - t e que se nos t o r n a r m o s a ver, como
espero, nunca mais me separarei de ti; s ó a morte t e r á esse poder. É a
c r e n ç a na tua amizade, na pureza da tua afeição [que] faz-me imensa-
mente feliz. A Aldina escreveu-me uma cartinha [...] n ã o poder respon-
der, pois s ã o 11 horas e tenho de sair à s 4 da madrugada. E m breve o
farei. D á - l h e muitos beijos por m i m , diz-lhe que o seu papai lhe quer
muito bem, assim como à maninha, que é muito [...] ambas. A Adozinda
ainda está muito [...] muitas vezes por mim. N ã o tenhio tempo de escre-
ver ao nosso bom velho mas mostra-lhe a [...] desta carta em que conto
o que por cá tem havido e desculpa-me com ele. Faz o mesmo com o
P e ç a n h a . Queria ir a bordo do [...] mas cheguei ao Cuevas e caiu um [...]
t ã o forte que o C â m a r a julgou imprudente meter-me num pequeno [...]
e por isso n ã o fui, mas vou escrever [...] que te envio por ele. Manda-me
dizer s e j a recebeste os cento e sessenta mil r é i s que te mandei pela
Pagadoria assim [...] os sessenta que teu Pai te deve dar em c o n s e q u ê n -
cia do trato com o Pego? J á dei ao J o ã o o dinheiro para dar ao Pego.
Diz à D. Olímpia que n ã o fique zangada comigo pela falta em que tenho
estado deixando de escrever-lhe, eu tenho desejo de [...] um carta bem
[...] e afinal nunca me chega o tempo, mas [...] o farei. Diz ao Ernesto
que n ã o lhe [...] t a m b é m pela mesma r a z ã o (falta de tempo). Dá muitas
l e m b r a n ç a s a todos e aceites o c o r a ç ã o cada vez mais saudoso do teu
fiel e verdadeiro amigo
* * *
54
Paraguai Tuiuti
11 de julho de 1867
M i n h a adorada esposa e amiga
Benjamin Constant
Dia 13
Benjamin
* * *
Paraguai T u i u c u ê
29 de agosto de 1867
Meu anjo
Álvaro
Saudades do Cloro
* * *
[sem local e d a t a ]
Benjamin
Teu amigo
Álvaro
202
A r r a b a l d e s do Tuiucuê
25 de novembro de 1867
A m i g o Benjamin
Amigo
Cloro
* * *
Tuiucuê
29 de m a r ç o de 1868
Meu i r m ã o e amigo
205
o B a r b o s a ficou bastante sentido porque tu partiste daqui sem des-
pedir-te dele e o Fialho e o Dr. Á l v a r o sempre me falam sobre o n ã o lhes
ter escrito uma carta desde que daqui partiste. N ã o desejo por modo
algum seguir esta vida t ã o m i s e r á v e l para os desprotegidos e s ó conti-
nuarei nela, se por acaso voltar, até vencer alguns estudos para seguir
outra; é esta a minha o p i n i ã o desde que daqui te retiraste e da qual s ó
me arredarei se a d e s g r a ç a perseguir-me.
J á v é s que tendo essas ideias do que me vale p a s s a r p a r a outra
arma, para sofrer mais?
Nada mais espero nesta vida a n ã o ser o fim disto para poder realizar
o que tanto almejo; g l ó r i a s , louros e t c , etc. isso tudo para mim nada
vale. O J o ã o e s t á empregado na telegrafia do Taií, goza s a ú d e e e s t á
satisfeito. O A n t ó n i o Madureira teve uma q u e s t ã o com o Fonseca Costa
da qual resultou a p r i s ã o daquele na guarda do E x é r c i t o h á oito dias e
responder a Conselho. Vou t a m b é m escrever ao P e ç a n h a , Leopoldina e
minha M ã e . Dá l e m b r a n ç a s ao Júlio, Guilhermina e um a b r a ç o em todas
as sobrinhas, recebendo v o c ê o c o r a ç ã o do teu i r m ã o e amigo
Marciano
* * *
P a r e c u ê 28 de abril de 1868
Meu caro Benjamin
207
para o C h a c o e e n t ã o fecharmos por meio de verdadeiro sítio a gargan-
ta dos Humaitaenses. C o m o militar aceitei a n o m e a ç ã o com muito pra-
zer, aparente, pelo fato de ser soldado quanto ao n ã o poder fazer recla-
m a ç õ e s que fossem atendidas e como particular porque n ã o e s t á em
meus brios fazer qualquer o b j e ç ã o por ser essa empresa que se v a i
levar a efeito bastante difícil e arriscada, pelo n ú m e r o diminuto de gen-
tes que vamos passar com ela (sic) o rio (4.000) e tirarmos toda a comu-
n i c a ç ã o que t ê m por esse lado. Apresentei-me ao dito C a p i t ã o Fialho e
ele achou conforme mostrar satisfeito (sic) n ã o estando eu assim tam-
b é m porque a bateria é composta somente de Belgas, A l e m ã e s , Turcos,
Prussianos, o diabo enfim e s ó posso entender-me isso (sic) apenas com
dois ou t r é s no pouco que sei do f r a n c ê s , que é nada; demais, a bateria
e s t á a p é e pouco amo andar a pedibus calcantibus (sic). O oficial que
ela tem sabe p o r t u g u ê s p o r é m s ó faz isso comigo; o Fialho t a m b é m s ó
comigo é que fala, de modo que querem-me fazer a l e m ã o por força, eu
que tenho ó d i o de semelhante l í n g u a de [...]. E n f i m , Benjamin, j á que
sou soldado vou seguir teu conselho, qual de pedir nada e sim fazer t ã o
somente cumprir-me nas ordens que se me d ã o .
Dos b a t a l h õ e s que se s u p õ e seguir s ó sei do 1" de Infantaria, 7" dito,
1" dito e 8" dito que e s t á no Taií e a d m i r o muito n ã o ir t a m b é m o
T i b ú r c i o que é sempre chamado para o lugar onde há perigo por ter o
comando de um guapo b a t a l h ã o . Aqui parei ontem ã noite porque tive
que levantar-me da escrita a fim de ir buscar m u n i ç õ e s a fim de com-
pletar as armas. S ã o seis horas da m a n h ã . Soube agora que o Tibúrcio
chegou com o Hermes do Taií e tem de seguir para o Chaco, tendo sido
c h a m a d o ontem à noite por um t e l e g r a m a do M a r q u ê s ; estou mais
satisfeito porque sigo com ele e tenho no 16" B a t a l h ã o alguns rapazes
conhecidos.
Vou escrever t a m b é m ao nosso P e ç a n h a para que ele n ã o se masse
comigo; n ã o o faço à Leopoldina porque tenho muito que fazer e estou
preparando-me p a r a a v i a g e m . O acampamento em que estamos é
junto ao reduto-estabelecimento à retaguarda de Humaita onde temos
uma bateria de 10 p e ç a s de W i t w o r t h de 10 p e ç a s , cinco de 12 F r a n -
cesas e seis morteiros de 32 polegadas de d i â m e t r o ; comanda a de 12 o
C a p i t ã o Felinto e a de 32 o C a p i t ã o M a r i a n o do 1" de A r t i l h a r i a . O 2"
C o r p o e s t á ocupando a frente de Humaita, acima de Curupaiti. Quando
me e s c r e v e r e s agora remete-me as cartas p a r a o C h a c o , bateria de
Voluntários Alemães.
Estive com o C a p i t ã o Barbosa, teu amigo verdadeiro e a quem devo
milhares de o b s é q u i o s , ele queixa-se de ti por n ã o lhe teres escrito uma
s ó vez. Mandam-lhe muitas r e c o m e n d a ç õ e s o Á l v a r o , Cloro, T i b ú r c i o ,
Pego, que e s t á no Taií c o m a n d a n d o a 1" B a t e r i a , Mayer, B a r b o s a ,
C a p i t ã o Monte, J o ã o , e t c , etc.
Dá r e c o m e n d a ç õ e s m i n h a s à m i n h a M ã e , P e ç a n h a , L e o p o l d i n a ,
Guilhermina, minha tia, um a b r a ç o em todas as sobrinhas e recebas o
c o r a ç ã o e um a b r a ç o de teu i r m ã o que muito e muito te preza
Marciano
Adiós.
* * *
P a r e c u é , 28 de maio de 68
Meu caro Benjamin
210
A i n d a n ã o te falei na tua carta que recebi h á tempos. A nde i com ela
nos bolsos durante muitos dias, como faço com as de minha família, e
li-a mais de cem vezes. A h , meu Benjamin! eu à s vezes tenho necessida-
de de que me console, e me d ê f o r ç a s para suportar esta cruz!
Vou dar fim a esta. A i n d a tenho de e s c r e v e r à m i n h a M ã e , e j á é
tarde. ^
A D e u s , meu Benjamin.
Desejo que fiques completamente livre das tais febres e que gozes
de perfeita s a ú d e no meio dos teus. Tuas filhinhas e s t ã o sempre galanti-
nhas, como eram nos retratos?
A D e u s . Recebe muitos a b r a ç o s e saudades do
Teu amigo do c o r a ç ã o
Álvaro
* * *
A c a m p a m e n t o de A s s u n ç ã o
30 de m a r ç o de 1869
Meu querido i r m ã o e amigo
M a r c i a n o Augusto Botelho de M a g a l h ã e s
Teu i r m ã o e amigo
Marciano
Cronologia da g u e r r a
e índice r e m i s s i v o
Cronologia sumária da Guerra do Paraguai
Guerra Civil dos Estados Unidos, 13 com a esposa, 86-87, 138-150; boas
217
r e p r e s s ã o a levante correntino contra patriótica da guerra, 175; viuvez e
brasileiros, 163; perseguido pela pobreza, 112; volta da guerra em difi-
adversidade, 73, 81-82, 104, 115, 137, culdades materiais, 14;
145, 147, 159-160; perseguido pelas Magalhães, Maria .loaquina Costa Botelho
aparências, 31: porgue seu nome n ã o de; tenta evitar a c o n v o c a ç ã o de
aparece nos jornais, 193-194; p o s i ç ã o Benjamin Constant, 14: vai ao Paraguai
sobre a guerra, 14; p r e o c u p a ç ã o com a buscar Benjamin Constant, 12
s e g u r a n ç a material da família, 14; pre- Maizena, 30
o c u p a ç ã o com imagem de covarde, 67, Marciano 11, 13, 24, 31-32, 200; afirmação
73, 99, 125, 151, 169, 187-188; preocu- de patriotismo, 22; comunica a
p a ç ã o com os empregos no Rio de Benjamin Constant d e c i s ã o de partir
Janeiro, 49; p r e o c u p a ç ã o com seus para o Paraguai, 22; c o n d e c o r a ç õ e s
documentos, 83; p r e o c u p a ç ã o com o por favorecimento, 207; critica direção
sustento da família, 85, 88-89, 137-138, da guerra, 204; dinheiro recebido de
170; primeira fotografia da segunda Benjamin Constant, 113-114; dis-
filha, 115; prostitutas e orgias no p o s i ç ã o de deixar o Exército, 206;
acampamento, 101-102; p rovid ên cias empenha-se em obter cí>ntato com
para a esposa ir encontrá-lo, 181, 184; Caxias, 114; emprego em Montevideu,
qualifica de criminosos os governantes 33; pede a Benjamin Constant que
brasileiros, 174-175; guase ferido, 172; interceda em seu favor por p r o m o ç ã o ,
gueixa dos reduzidos vencimentos e 90; promete a Benjamin Constant
altos p r e ç o s dos bens, 67-68, 77; tornar-se um bom aluno, 21
recusa c o m i s s ã o administrativa, 31; Mariz e Barros, 25
relatório sobre irregularidades em M a r g u ê s de Caxias, 67, 89, 113, 154, 190;
Itapiru, 95-96; renda deixada no Rio de criticado por Benjamin Constant, 62,
Janeiro, 68; reproduz o roteiro de vida
77; criticado por amigos de Benjamin
paterno, 14; resiste a que a esposa vá
Constant, 200, 203-204, 210; s i n ó n i m o
encontrá-lo no Paraguai, 110-111, 168;
de disciplina, 15-16
saúde, 112, 124, 130-131, 134, 140-141,
Martin Carcia, 36
144, 155-157, 175-176, 180, 184, 194;
Matos, Cunha, 211-212
sistema de abastecimento pela esposa,
Mendes, Raimundo leixeira, 12;
103, 107, 126, 145; sua m ã e , 115;
biografia de Benjamin Constant, 16
sustento da esposa, 36; termos espa-
Montevideu, 11, 23, 27, 31-32;
nhóis, 92; trabalho nas trincheiras, 12;
hostilidade contra os brasileiros, 33
trabalho no Rio de Janeiro, 99-100;
Mota, Dr. Silveira da, 74
velhas e novas epidemias, 94, 142;
Néri, D. Ana, 160-161, 185
versus Caxias, 16-17; viagem de barco
Nunes, Major de Engenheiros
por Santa Catarina, 24 e segs.; v i s ã o
Francisco Duarte, 68
Oiapoque, 31 p r o d u ç ã o agrícola, 27-28; p r o d u ç ã o
Benjainin Conslant, 47 Tibúrcio, 51, 58, 62-64, 76, 88-93, 106, 136,
Paraná Icidade argentinal, 40, 41; 139, 141, 143-144, 154, 158,
Rio da Prata, 36
/?io de Jtincim, 34
Rio de Janeiro; c o m p a r a ç ã o com
Montevideu, 32-33
Rio Paraná, 36-37
Rio Uruguai, 36-37
Rocha, D. Joaguina, 112
Rocha, Justiniano, 112-113
Rosário, 38;
219
Impresso na gráfica Imprinta
em novembro de 1999