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Visconde de Taunay (Alfred d’Escragnolle Taunay), engenheiro militar, professor,

político, historiador, sociólogo, romancista e memorialista, nasceu no Rio de


Janeiro, RJ, em 22 de fevereiro de 1843, e faleceu também no Rio de Janeiro em 25
de janeiro de 1899. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde
criou a Cadeira n. 13, que tem como patrono Francisco Otaviano.

Era filho de Félix Emílio Taunay, barão de Taunay, e de mulher Gabriela de Robert
d’Escragnolle. Seu avô, o famoso pintor Nicolau Antônio Taunay, foi um dos chefes
da Missão Artística francesa de 1818 e seu pai foi um dos preceptores de D. Pedro
II e durante muito tempo dirigiu a Escola Nacional de Belas Artes. Pelo lado
materno, era neto do conde d’Escragnolle, emigrado da França pelas contingências da
Revolução.

Criado em ambiente culto, impregnado de arte e literatura, desenvolveu bem cedo a


paixão literária e o gosto pela música e o desenho. Estudou humanidades no Colégio
Pedro II, onde se bacharelou em letras em 1858. No ano seguinte ingressou no curso
de Ciências Físicas e Matemáticas da Escola Militar. Alferes-aluno em 1862,
bacharel em matemáticas em 1863, foi promovido a segundo-tenente de artilharia em
1864, inscrevendo-se no 2o ano de Engenharia Militar, que não terminou, por receber
ordem de mobilização, com os outros oficiais alunos, em 1865, no início da Guerra
do Paraguai. Foi incorporado à Expedição de Mato Grosso como ajudante da Comissão
de Engenheiros, para trazer ao governo imperial notícias do corpo expedicionário de
Mato Grosso, que havia muito se supunha perdido e aniquilado. Trouxe da campanha
profunda experiência do país e inspiração para a maior parte dos seus escritos, a
começar do primeiro livro, Cenas de viagem (1868). Em 1869, o Conde d’Eu,
comandante-em-chefe das forças brasileiras em operação no Paraguai, convidou o
primeiro-tenente Taunay para secretário do seu Estado-Maior, sendo encarregado de
redigir o Diário do Exército, cujo conteúdo foi, em 1870, reproduzido no livro do
mesmo nome. Terminada a guerra, foi promovido a capitão, e terminou o curso de
Engenharia, passando a professor de geologia e mineralogia da Escola Militar.

Em 1871, publicou o primeiro romance, Mocidade de Trajano, com o pseudônimo de


Sílvio Dinarte, que usaria na maior parte das suas obras de ficção, e, em francês,
A retirada da laguna, sobre o desastroso e heróico episódio de que participou. A
publicação chama a atenção de todo o Brasil para o jovem escritor. Por indicação do
Visconde do Rio Branco, candidatou-se a deputado geral pelo Estado de Goiás, que o
elegeu para a Câmara dos Deputados em 1872, mandato que foi renovado em 1875. Foi
de 76 a 77 presidente da província de Santa Catarina.

Nunca mais voltaria ao serviço ativo do Exército. Promovido a major em 1875,


demitiu-se do posto em 1885, já tomado por atividades na política e nas letras. Em
1878, caindo o Partido Conservador, em cujas fileiras militava, partiu para a
Europa, em longa de viagem de estudos.

De volta ao Brasil em 1880, encetou uma fase de intensa atividade em prol de


medidas como o casamento civil, a imigração, a libertação gradual dos escravos, a
naturalização automática de estrangeiros. Deputado novamente de 81 a 84, por Santa
Catarina. Em 1885 foi candidato a deputado pelo Rio de Janeiro, mas foi derrotado.
Presidiu o Paraná de 85 a 86, pondo em prática a sua política imigratória. Em 86
foi eleito deputado geral por Santa Catarina e, logo a seguir, senador pela mesma
província, na vaga do Barão de Laguna. Foi no Senado um dos mais ardorosos
partidários da Abolição. Em 6 de setembro de 1889 recebia o título de Visconde, com
grandeza. Estava no início de uma alta preeminência nos negócios públicos quando a
proclamação da República lhe cortou a carreira, dada a intransigente fidelidade com
que permaneceu monarquista até à morte. Na imprensa da época há numerosos artigos
seus que se destinavam a pôr em destaque as virtudes do imperador banido e do
regime que a República destruíra.

Foi oficial da Ordem da Rosa, Cavaleiro da Ordem de São Bento, da Ordem de Aviz e
da Ordem de Cristo.

Taunay foi um infatigável trabalhador, patriota, homem público esclarecido e


apaixonado homem de letras. Teve a plena realização do seu talento no terreno
literário. Sua obra de ficção abrange, além do romance, as narrativas de guerra e
viagem, descrições, recordações, depoimentos, artigos de crítica e escritos
políticos. Foi também pintor, restando dele telas dignas de estudo. Era grande
apaixonado da música, tendo deixado várias composições. Estudioso da vida e da obra
dos grandes compositores, manteve com escritores e jornalistas polêmicas sobre essa
arte, notadamente com Tobias Barreto.

Obras: Mocidade de Trajano, romance (1870); A retirada da laguna, narrativa de


campanha (1872, edição francesa; 1874, edição brasileira, traduzida pelo autor);
Inocência, romance (1872); Lágrimas do coração, romance (1873); Histórias
brasileiras, contos (1874); Ouro sobre azul, romance (1875); Narrativas militares,
contos (1878); Céus e terras do Brasil, evocações (1882); Estudos críticos, 2 vols.
(1881 e 1883); O encilhamento, romance (1894); No declínio (1899). TEATRO: Da mão à
boca se perde a sopa (1874); Por um triz coronel (1880); Amélia Smith (1886).

OBRAS PÓSTUMAS: Reminiscências (1908); Trechos de minha vida (1911); Viagens de


outrora (1921); Visões do sertão, descrições (1923); Dias de guerra e do sertão
(1923); Homens e coisas do Império (1924). Em sua bibliografia constam ainda obras
de história, corografia e etnologia brasileira e sobre questões políticas e
sociais.

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Trecheo do livro "Viagens de Outrora", do Visconde de Taunay

"Conheceis, por acaso, a Floresta da Tijuca?

Mui naturalmente não, pois a população do Rio Janeiro, por mais inteligente e
ilustrada que seja, no geral se distingue pela sua falta de curiosidade e de
interesse, por quasi invencível torpor, em assumptos de arte e belleza naturaes.

Ide á Floresta da Tijuca.

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Casa do Barão de Escragnolle | Atual Restaurante Os Esquilos

Antiga residência do do Barão de Escragnolle, que após ser reformada por Castro
Maya, passou a abrigar o restaurante "Os Esquilos", que funciona no local desde
1943. A aparência atual da casa pode ter sido um pouco descaracterizada com relação
à original.

Caminho na mata densa na Floresta da Tijuca

Caminho na mata densa na Floresta da Tijuca. Esta é a estrada do Mirante Excelcior


como se encontra hoje. Usei está foto para dar uma ideia da mata densa da floresta.

Floresta da Tijuca próxima ao restaurante Esquilos

Caminho pavimentado da Floresta da Tijuca cercado de mata densa em direção à antiga


residência do Barão de Escragnolle, atual restaurante Os Esquilos. Embora
atualmente pavimentada, deve ser um dos locais descritos pelo Visconde de Taunay.

Casa do Barão de Escragnolle, atual restaurante Os Esquilos


Acima outra foto da Casa do Barão de Escragnole em meio à densa mata com árvores
gigantescas, descrita pelo Visconde de Taunay. Atualmente no local funciona o
restaurante Os Esquilos. A casa se encontrava em ruinas em 1943, e foi restaurada
sem precisão histórica, porém na tentativa de respeitar o passado, segundo
descreveu Castro Maya, administrador e restaurador do Parque Floresta da Tijuca na
época. Foi nesta mesma época, por volta de 1943 que Castro Maya a reformou,
transformando-a em restaurante.

Castinha da Tijuca ou Cascata Taunay

Cascatinha da Tijuca ou Cascata Taunay fotografada da Ponte Job de Alcantara. A


queda dágua tem aproximadamente 35 metros de queda d´agua. Observe que do lado
esquerdo tem um pequeno caminho cercado por grade, que permite ver a cascata mais
de perto. Entretanto, visto da ponte, o cenário é praticamente o mesmo contemplado
pelo Visconde Taunay em 1885.

Matas e montanhas vistas de uma parada na Estrada Barão de Escragnolle

O esplendor da florestas com suas matas densas, plantas e arvóres de diferentes


espécies, algumas com com folhagem de cores vívas, e muitas montanhas ao fundo são
vistas na foto acima.

Viagens de Outrora, livro do Visconde TaunayA foto foi tirada de um ponto de


observação, na verdade uma parada e mirante menos conhecido, na Estrada Barão de
Escragnolle, que fica entre um ponto que hoje em dia se chama "A Fazenda" e o
restaurante "Os Esquilos", restaurante este que situa-se onde era a residência do
Barão de Escragnolle.

Alo lado capa de uma edição do livro "Viagens de Outrora", do Visconde de Taynay.

Só lá n'aquellas encostas e planaltos, cobertos de copados bosques resguardados do


machado devastador, pela solicitude dos poderes públicos, a bem da manutenção de
parte dos mananciais que abastecem de agua esta cidade; só n'aquelles sombrios
recantos, é que encontrareis, com indizível sorpreza, a combinação harmónica,
positivamente eurythmica de duas grandes e poderosas forças — a natureza
brasileira, com todo o seu prestígio e inexcedível poesia — e a intelligencia
humana, no desenvolvimento do mais elevado pensamento artístico e na procura
inquieta e insaciável do Bello, do Ideal. ..

Formoso passeio por um dia claro e fresco é a caminhada a pé do Alto da Boa Vista á
casa do Barão de Escragnolle; caminhada, sim, pois preenche uns bons 30 a 35
minutos de marcha regular em que se vencem dois ou três declives um tanto ásperos,
que os engenheiros do districto deveriam ter já tratado de rebaixar ou contornar...

Tome porém, o turista a pouca distância do Alto da Boa Vista, a estrada do Barão de
Taunay, toda ensombrada por espessas mattas, e em cujas orlas florescem e
embalsamam os ares nos mezes de Janeiro e Março, altas e antigas dracenas, e dentro
em cinco minutos contemplará a bellissima Cascatinha, do alto de uma ponte severa e
grandiosa de todo o ponto condigna da mysteriosa belleza do sitio, a que dá mais
realce e até magestade.

Defronte demora a pequena e pittoresca vivenda edificada ha mais de 60 anos pelo


Barão de Taunay; e em todos esses recantos da Tijuca parece ainda pairar aquelle
espírito superior que viveu sempre identificado com a natureza do Brasil. . .

Quem não conhece a Cascatinha Taunay, tão pittoresca e popularisada, já por


gravuras, já pela photographia, ou pintura? De boa altura, precipita-se o rio
Maracanã (*) formando dois pannos de agua distinctos, á maneira de andares de
grandiosa construção. O de cima cae de um jacto sobre enorme rocha, que parece
encostada á grande parede de fundo; o de baixo, separa-se em dois ramos, a cercarem
de grossos borbotões a rocha, além de um sem número de fios, uns longos e contínuos
até a bacia inferior, outros mais ténues e intermittentes, que se pulverisam no
espaço, borrifando de húmido bafejo, já as innumeras plantinhas rochosas, agrupadas
de todos os lados, nas menores saliências da pedra, já a copa das grandes arvores
mais chegadas. . .

D'ahi até ao alto do Mesquita, sóbe-se bastante, por planos tão húmidos no inverno,
quanto refrigerantes e gratos em dias de sol forte. Depois, alcançada a beira
superior do estreito valle — espécie de funil — que encerra o sitio da Cascatinha,
abre-se larga a estrada chamada do Imperador, cuja conservação embora em terras
particulares, pertence já á zelosa administração da Floresta.. .

Continuemos, porém, a caminhar.

Pelas abertas nas franças do arvoredo, vêem-se, á direita, dois alterosos cabecos,
do Bico do Papagaio e o Pico da Tijuca e, à esquerda, de vez em quando a Gávea nos
apresenta a pittoresca e conhecida configuração do cume, a pétrea e estreita
planura que lhe deu o nome.

A cada volta da estrada, deparam-se-nos, então, immensas rochas, umas a meio


desnudas, outras revestidas de vegetação que ora simula fino e miúdo péllo, ora cae
em festões como mantos soltos ou desgrenhadas cabelleiras.

Começam então, as sorprezas.

Eis o ponte da Baroneza, fronteira á cascata Diamantina, uma jóia, obra de arte
como Alphand, o magico jardineiro de Pariz não faria melhor, porquanto alli só
interveio o homem para descortinar com geito e discreção tudo quanto as forças
naturaes crearam em adorável desalinho. . .

Uns passos adiante, outra sorpreza — a gruta de Paulo e Virgina, dois enormes
penedos encostados um ao outro e que parecem abrigar, em poética evocação, os
castos amores dos dois eternamente pranteados heróes de Bernardin de Saint-
Pierre. . .

Prosigamos.

Logo adiante da gruta de Paulo e Virgínia, aparece outra menor, mas igualmente
caracteristica, com basto revestimento de vegetação que frondeia alto ou se agarra
á pedra e se despenha em contorcidos rolos, á maneira de grossos cabos pintados de
verde.

A sopé da rocha murmura um regato que desapparece n'u-ma calha, para surgir do
outro lado do caminho, a juntar as buliçosas aguas ás da cascata Diamantina, que
logo apóz a ponte da Baroneza, se despejam em nova queda, limpando cada vez mais as
bonitas rochas de feldspatho branco, em que deslizam o espumante espanejar.

É a gruta de Bernardo de Oliveira dedicada a um dos amigos da Floresta, incansável


em proporcionar ao Barão de Escragnolle sementes e plantinhas de toda a parte a que
vá, principalmente do Paraná, mandando vir, á expensas suas, e de bem longe, mudas
espécimens valiosos, sem outro interesse que não o de verificar, de cada vez que
sobe á Tijuca, os progressos dos pupillos entregues aos cuidados de vigilante
preceptor. . .

Depois de algumas voltas de caminho, sempre elegantes e por declives insensíveis,


eis-nos chegados a um dos mais bellos pontos da Floresta.

É a vista do Almirante, outra homenagem de família.


E deveras, se há lugar em que possa pairar com gosto a sombra de um velho lobo do
mar, o Almirante Beaurepaire, é alli, ante aquelles largos horizontes, enfrentando
com o colossal massiço da Gávea, cuja forma lembra gigantesca não de guerra, como
que a meio desarvorada, immovel e encalhada apóz medonha tempestade, com o oceano
largo; infinito, de ambos os lados, tranquillo, ao longe, como um lago, ao passo
que as ondas se quebram na incessante fúria de encontro aos rochedos da restinga da
Tijuca, que uma quebrada de terras deixa ver Ia em baixo. . .

Depois da Vista do Almirante, tem-se o Labyrintho e, logo em seguida, apontada por


graciosa mão em taboleta branca, a estrada do Pico da Tijuca, cujo massiço se ergue
próximo, sombrio, listado de grandes sulcos, a imitarem caracteres graphicos.. .

... a cascata Gabriela, dedicada á baroneza de Taunay, irmã do Barão de


Escragnolle, últimos filhos do Conde de Escragnolle, o qual, tocado de França, sua
pátria, pelo furacão revolucionário de 1789, passou-se para Portugal e, com o Rei
D. João VI, para o Brasil, onde morreu, em 1828, na província do Maranhão, como
comandante das armas.

Muito interessante e característica é essa queda d'agua despenhando-se grosso e


limpidissimo veio do alto de uma grande rocha, que foi partida ao meio por algum
corisco. Uma das metatades escorregou e afundou uns palmos no terreno, ao passo que
a outra se conservou firme, formando-se entre as duas pedras uma calha natural em
que corre agua e da qual ella se atira de jacto em bacias de brancas áreas.

E em torno, reina luz mysteriosa, quase verde, coada pela densa cupola do arvoredo,
a dar pela lei do contraste, mais brilho ás scintillações argênteas da cascata.

Que esplendida decoração para inspirado quadro, como o Banho de Diana, do


Dominiquino, obra prima em que tanto se admiram as illuminações internas da agua,
quando n'ella caem de soslaio os raios do sol. . .

Todas as bellezas que procuramos descrever e das quaes temos dado imperfeitos
esboços, mais para excitar a curiosidade dos turistas, do que por pretenção de
fixarmos no papel e a outrem transmitir as múltiplas e indizíveis impressões que
nos deixou a floresta da Tijuca; todas aquellas bellezas se acham na região que
demora ou acima da casa da administração central ou á sua direita, para onde mais
particularmente se voltaram as vistas e cuidados do creador e zelador de todo
aquelle immenso e estupendo parque..."

(*) O Visconde de Taunay usa impropriamente o nome de Rio Maracanã; devia ser Rio
Cachoeira.

Fim do texto citado por R.O.Castro Maya

Referências
A Floresta da Tijuca, de Raymundo Ottoni de Castro Maya
Viagens de Outrora

histórias arqueológicas do parque nacional da tijuca.


maria de lurdes pesquisadora da uerj
dr. floriano de lemos

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