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Ricardo Neumann 1
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Professor colaborador da Universidade Estadual de Santa Catarina, CERES
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ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.
Vila de Laguna e nela fundaram a Republica Juliana em 29 de Julho de 1839. No entanto sem
o apoio dos republicanos rio-grandenses, a Vila, atacada por terra e por mar, é novamente
incorporada ao Império brasileiro, em 15 de novembro do mesmo ano.
No final do século XIX, por volta de 1880, a cidade volta a ganhar importância no
cenário estadual com a entrada de imigrantes italianos por seu porto, que também ganhou
importância como ponto de saída para a produção de carvão, que se iniciava nessa época mais
ao sul de Santa Catarina. A paisagem se modificava, o porto crescia, os casarões ecléticos
eram construídos e a estrada de ferro trazia o “progresso” à cidade.
Durante o século XX várias regiões se emanciparam de Laguna: Tubarão, Araranguá,
Criciúma. O porto da cidade foi perdendo importância para o de Imbituba, de maior calado. A
cidade foi se estagnando. No entanto, minha intenção como já afirmei, não é contar uma
história factual da cidade de Laguna. Muitas biografias da cidade já foram redigidas por
historiadores ou amadores da história local. Assim me propus a estudar não a cidade dos
heróis fundadores, dos donos do poder, dos eruditos, dos poetas e historiadores oficiais
(Bresciani), mas a cidade dos homens e mulheres, negras e índios, portugueses, brasileiros,
italianos, que nela nasceram, morreram, ouviram, cantaram, sofreram, trabalharam, sorriram e
choraram. Nesse sentido me pus a buscar que não seja a mera ordenação cronológica de datas
e fatos (Bresciani).
Na busca por uma história subterrânea da cidade vou analisar a princípio alguns
símbolos da cidade, que tem por função afirmar uma versão da história de Laguna a seu povo,
mas que, no entanto, se observados criticamente podem nos contar outras versões das mesmas
histórias.
Um dos símbolos da cidade é o marco do Tratado de Todesilhas e é daí que podemos
partir, já que para muitos foi um tratado do século XV, feito na Europa que primeiro colocou
Laguna na história. Todavia não é essa a história que os lindos monólitos dos sambaquianos
expostos no museu da República ou os enormes montes de cascalho do farol de Santa Marta,
nos contam. A arte e a arquitetura dos sambaquianos nos mostram que antes mesmo dos
Carijós, os indígenas mortos e expulsos pelos bandeirantes habitarem a região, chamada pelos
mesmos de Ibiriça, povos neolíticos deixaram a sua história nestas terras.
Quando se observa outro símbolo da cidade, a estátua de Francisco de Brito Peixoto,
eternizado como fundador de Laguna, podemos, através de algumas leituras sobre a história
da cidade, ver que o herói da cidade é, por outro ponto de vista um vilão. E, respeitando as
opiniões contrárias, para mim, mesmo com a importância do bandeirante para a efetivação do
domínio português no sul de sua colônia, sua estatua me dá arrepios, quando penso nas vidas
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que o mesmo tirou ou ordenou que seus escravos tirassem dos povos indígenas que habitavam
a esquecida pela história Ibiriça.
O esquecimento recai não apenas sobre as atrocidades cometidas pelo fundador da
cidade, mas também sobre a história de suas vitimas e daqueles que obrigados tiveram que
sujar as mãos de sangue inocente e depois lavar as mesmas para construir a cidade, os
escravos, que juntamente com os indígenas são seres quase que invisíveis para a historiografia
da cidade.
Subtrações por um lado, adições por outro. Quando se vai ao centro histórico dá
cidade se pode observar ao lado da Igreja Matriz, uma CSA em estilo luso-brasileiro
apresentada a todos que a visitam como casa de Anita. Anita Garibaldi, que é intitulada “a
heroína dos dois mundos”, mulher guerreira, que seguiu, após a queda da República Juliana, o
revolucionário italiano, Guioseppi Garibaldi, e que para aminha surpresa, após algumas
pesquisas, nunca havia morado na casa a que chamam de sua. Essa casa era na verdade um
lugar onde as noivas se arrumavam antes de se casar e no qual Anita, em seu primeiro
casamento, antes de fugir com Garibaldi, também havia se arrumado, mas jamais morado.
A encenação feita anualmente na cidade, por atores globais como Tiago Lacerda, a
respeito do episodio da proclamação da República Juliana e do romance entre Guioseppi e
Anita Garibaldi é um outro símbolo da cidade. No entanto, a versão romantizada do episodio
da tomada de Laguna, apesar de emocionante, não mostra ao público o episodio do “massacre
do Imaruí”, uma das muitas atrocidades cometidas pelos farroupilhas na sua aventura
republicana no sul de Santa Catarina.
Esses símbolos da cidade afirmam uma versão da história de laguna, que deixa de lado
muitas outras leituras da mesma e submete muito de seus personagens ao anonimato.
Sambaquianos, carijós, afrodescentes, imigrantes e seus mundos de diversidade cultural ficam
ocultos sobre o espectro da história dos “heróis” da cidade.
Os símbolos aqui explorados expõe uma ínfima parte daquilo que podemos escavar do
subsolo da história lagunense, porém em outras fontes, nem sempre oficiais ou examinadas
com olhar critico, muitas outras histórias esperam latentes por mais estudos e novos olhares .
Nesse sentido o projeto por nos desenvolvido no Centro de Educação Superior da Região Sul,
Universidade Estadual de Santa Catarina, “Brincando e Aprendendo”, visa trazer, através de
uma forma lúdica, uma história em quadrinhos e jogos didáticos, uma história de Laguna
embasada em uma pesquisa que percebe não apenas aquilo que a historiografia oficial da
cidade narra, mas, principalmente, aquilo e aqueles a que está subtrai e delega ao ostracismo.
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