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EMENTA:

Imagens urbanas de Goiás: olhares sobre a literatura do século XIX e


XX
Prof. Dr. Marcos Antonio de Menezes

A disciplina vai, a partir da leitura da produção dos naturalistas que visitaram


Goiás no século XIX e através da ficção: contos, poesias, romances e novelas escritas
no século passado, procurar compreender a formação do espaço urbano da região de
Goiás.
O objetivo é cruzar Literatura e História para melhor compreender a formação
das cidades do Estado. Indagar sobre as representações da cidade na cena escrita
construída pela literatura é, basicamente, ler textos que leem a cidade, considerando não
só os aspectos físico-geográficos (a paisagem urbana), os dados culturais mais
específicos, os costumes, os tipos humanos, mas também a cartografia simbólica, em
que se cruzam o imaginário, a história, a memória da cidade e a cidade da memória. É,
enfim, considerar a cidade como um discurso, verdadeiramente uma linguagem, uma
vez que fala a seus habitantes, revela a eles suas partes e seu todo. Compartilhamos aqui
com o pensando de Barthes de que os escritores são aqueles que mais se aproximaram
da construção de uma semiótica urbana.
Os primeiros núcleos de povoamento da, ainda, capitania de São Paulo datam
do início do século XVIII o Arraial de Sant’Anna é fundado em 1727, mais tarde se
chamaria Vila Boa de Goiás e se tornaria sede do governo da nova capitania, Meia
Ponte (atual Pirenópolis) em 1731, Crixás em 1734, Traíras e São José do Tocantins
(Niquelândia) em 1735, São Félix em 1736, Córrego do Jaraguá (Jaraguá) em 1737 e
Santa Luzia (Luziânia) em 1746.
Os pioneiros viajantes, normalmente europeus, foram os interessados em retratar
as paisagens e cidades brasileiras no século XIX, período em que elas passavam por
grandes transformações. Transformações que não atingiu todas as cidades da ex-colônia.
A cidade de Goiás é um exemplo. Com o esgotamento do minério ouro muitos de seus
habitantes deslocaram para outras regiões do país. As mudanças ao longo do século
XIX foram extremamente lentas na paisagem das cidades goianas.
Na pintura dos viajantes a cidade brasileira do século XIX foi a protagonista
onde aparece com suas ruas e casas denotando variações regionais o que atraia, ainda
mais, o olhar do artista estrangeiros. Thomas Ender artista austríaco, que percorreu as
terras goianas foi um dos que retratou as cidades e vilas da Província. Em boa parte de
suas obras as construções aparecem na linha do horizonte, com o céu acima e amplos
espaços livres a baixo, o que permite ver em detalhe a arquitetura oferecendo uma visão
de conjunto das construções. A cidade do artista é a cidade colonial edificada no século
XVIII e antes das transformações ocorrida nelas no século XIX. Outro artista da Áustria
que, também, visitou a Província de Goiás foi Johann Emmanuel Pohl no período de
dezembro de 1818 a junho de 1819.
O inglês William John Burchell, que visitou o Brasil a partir de 1825 e esteve
em Goiás no ano de 1828, quando se dirigia à Belém, produziu alguns relatos
icnográficos sobre as cidades da Província Goiana com destaque para os trabalhos sobre
a cidade de Goiás. Oscar Leal, viajante de descendência portuguesa, foi um dos últimos
a passar por Goiás já em 1882 e diferente dos seus antecessores não mais fala de
decadência, mas sim de progresso.
Desde que a família Imperial se transferiu de Portugal para o Brasil em 1808 e
Dom João VI decretou a abertura dos portos brasileiros viajantes estrangeiros passaram
a visitar o país com frequência a colônia. Há, em várias línguas, mais de 260 obras,
sobre os habitantes, vida social, usos e costumes, fauna, flora e outros aspectos da
antiga colônia portuguesa.
Estas narrativas nos ajudam a compor um mapa da vida brasileira dos séculos
XVI a XIX, pois descrevem aspectos da terra, da gente, dos usos e costumes. Os
viajantes do século XIX que visitaram Goiás, a fim de compreender o ritmo de vida da
população da então província contribuem com seus relatos para melhor conhecermos as
cidades que aqui foram erguidas.

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