Para Hobsbawm, o século XIX, marcado pelo romantismo, busca do nacionalismo e
das origens, é um breve século XX. Estoura em 1922, na perspectiva nacionalista, a retomada do período colonial, o que é uma marca do Brasil nesse sentido. Há influências da Belle Époque, de Paris como cidade luz, da torre Eiffel, a invenção da vacina, da fotografia, do início do rádio e do cinema, o que potencializou as questões artísticas do fim do século XIX e ecoou no século XX. O surto industrial fez com que vários imigrantes viessem para o Brasil, os quais não são vistos como inimigos, na verdade, suas características são apropriadas e transformadas no nacional. Nesse cenário, o Brasil é um dos únicos países que ao em vez de buscar igualdade, que é considerada uma das bases do racismo, pensa as diferenças como uma das bases da identidade brasileira por meio da apropriação de características estrangeiras. Há um contraste entre o Brasil da tolerância e os movimentos intolerantes em 1922, tais como a marcha sobre roma, a tentativa de Hitler de assumir o poder e o stalinismo. Nesse sentido, o Brasil seria importante para mudar essa mentalidade de igualdade. Na poesia, a arte funciona como instrumento da paz, pois respeita o diferente e muitas vezes não possui métrica. Após a Segunda Guerra Mundial surgem novas tecnologias e ocorre o aumento da sociedade de consumo e da produção da indústria cultural, além disso, os modelos rígidos dos anos trinta, que geraram a Primeira Guerra Mundial, passam a ser vistos como ultrapassados, dando espaço aos espetáculos artísticos contra a guerra.
Questão urbana e semana de arte moderna
O movimento modernista brasileiro tem como pontapé inicial a semana de arte
moderna em 1922 e os artistas são influenciados pelo futurismo, que surgiu na Europa. Os autores falam sobre o que vivenciam ou imaginam, o Brasil era rural e exportava café, que era considerado o ouro brasileiro. Não havia locais para promover cultura e o encontro era difícil, o que se modificou na medida em que surgem estações de trem, que se tornam palco de vários poemas. O mundo começa a ficar urbano e industrial, o que também chega no Brasil, provocando fascínio e desejo pelas cidades, que são símbolo da diversidade quando comparadas com as áreas rurais, o que provoca êxodo rural. Percebe-se que as cidades não tiveram planejamento, no poema “A Procissão”, de Oswald de Andrade, a cidade é expressa por meio do verso livre, já que as cidades são assim devido a falta de gestão e planejamento da área urbana, além do caráter urbano-rural que possuíam.
Ao longo dos anos houve inúmeras tentativas de representar o Brasil na literatura,
tais como o arcadismo, o romantismo, o realismo e o parnasianismo, entretanto, a pluralidade do Brasil só passa a ser entendida, de fato, no modernismo. Além disso, a sociologia brasileira foi muito influenciada pelo pensamento de resgate da diversidade. Para Darcy Ribeiro não somos um Brasil, e sim vários Brasis dentro de um mesmo território. Há também a desconstrução da divisão entre o popular e o sofisticado, deve-se reconhecer que a poesia está em reconhecer as coisas do cotidiano que formam nossa identidade, valorizando a linguagem coloquial não apenas pela estética, mas sim por uma questão social, pois valoriza a linguagem e as pessoas que a usam.
Reflexões sobre a contemporaneidade cultural do Japão e seu legado histórico: clusters etnoculturais, aculturação e japonicidade. In: SAITO, N. I. C. et al. (Orgs).Japonicidades: Estudos sobre Sociedade e Cultura Japonesa no Brasil Central. Editora CRV: Curitiba, PR, Brasil, 2012, p. 39-87