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Andrade
Volker Jaeckel
5 Conclusão
Notas
ABSTRACT
the big city by an author of German expressionism, Georg Heym, and the
Brazilian modernist Mario de Andrade. The aim is to compare the poetic visions
of two cities, Berlin and Sao Paulo, at the beginning of the twentieth century and
highlight both, the coincidences and differences in the perception of urban life,
based on the ideas of the German sociologist Georg Simmel on the life of man
1 Simmel sobre a cidade
a vida do espírito), das bases da vida nas grandes cidades. Ele chama “a
atos foram impostas ao morador pela vida nas grandes cidades e encontra-se
em estreita relação com a economia monetária, por não se tratar de uma luta
com a natureza pela aquisição dos alimentos, senão de uma luta com os seres
Simmel diz sobre o morador típico da grande cidade: “Talvez não haja outro
grande como o caráter blasé.”[2] Como definição desta atitude, ele diz que: “A
toda a pluralidade das coisas; exprime todas distinções qualitativas entre elas
nunca foram sentidas tão fortemente, no que diz respeito ao seu resultado para
habitantes.
no início do século XX. Por volta de 1920, a cidade não contava mais de
foi considerada uma cidade febril, industrializada e habitada por todos os tipos
brasilidade e modernidade.
Along with Mexico City and Buenos Aires (…), São Paulo became one of the
seats of a fully affirmed project of modernity that was only made possible by an
unusual influx of wealth and the prosperity and its derivates such wealth
wherewithal to produce culture and individuals with the leisure and sociopolitical
uma vez que alguns dos seus maiores poetas, Mário de Andrade e José Luis
Alemanha.
atingiu, entre 1910 e 1920, todas as artes com efeitos recíprocos, além das
[7]
fundamentos muitas vezes está ligado a uma visão de ocaso da grande cidade.
Heym, que viveu na metrópole cultural do início do século XX, Berlim, percebeu
cultura literária. Foi uma revolução que começou nas artes com a Semana de
importante. A cidade de São Paulo com seu dinamismo, suas fábricas e seu
modernidade.
e de uma nova nação. Ele teve o seu primeiro contato com a arte
moderna na Alemanha.
qual Mário de Andrade explica num tipo de tratado poético as suas teorias
percepção das coisas exteriores. Para ele, escrever arte moderna não significa
mas exprimir o espírito moderno, ainda que por meio de temas antigos.[16] A
O autor fornece uma visão global de uma cidade e de sua vida, descompondo
Mário não constrói e não mitifica uma cidade imaginária calcada no passado,
que está por trás, no subterrâneo do tecido urbano e que tem relação com
cidade de São Paulo com as suas ruas e parques. Neste aspecto, observamos
de Georg Heym escritas num ambiente totalmente diferente e com uma década
urbano) e natureza. Dessa forma, São Paulo aparece com as suas ruas,
imaginário regionalista que destina São Paulo a ser o cartão de visita do Brasil.
das cidades, do homem e a si mesmo. O cidadão sofre por ter que se adaptar à
O sujeito dirige-se à cidade real, a São Paulo dos anos 20 e não a uma cidade
Perfumes de Paris...Arys!
PAISAGEM N°1
Necessidade a prisão
como
example of the roaming urban crazies, (...) an integral part of the city’s
landscaping and a form of natural shade for a street person who has no hope of
any other protection from the sun; and the presence of the city police, whose
a paradigm.[29]
predominantemente industriais.
da cidade de Berlim.
Berlin II foi o primeiro de uma série de sonetos de Georg Heym que tratam do
Papierne Fähnchen Bandeirinhas de papel
Menschenströme (V.3), Kremser (V. 5), Busse (V.
variações mais diversas nas poesias sobre a grande cidade de Heym. Por
lírico muda da cidade para o campo e faz o caminho inverso de Georg Heym,
que migrou com a sua família do interior de uma cidade pequena da Silésia
para a o ser humano procurar a paz interna longe do centro urbano, no campo.
esta poesia, como as outras do ciclo Berlin I-VIII, de Heym, trata da existência
acontece no poema:
Os Cortejos
(...)
Horríveis as cidades!
Mário mostra nas suas poesias o sujeito perdido na cidade moderna, sua
como já foi retratado pelo poeta expressionista Heym; porém, Mário “vê a
com o sofrimento do humano nas cidades modernas que foi tanto denunciado
ainda não atingiu a ironia amarga e afinada com a qual moldará os versos de
em Tietê.
Também nas crônicas de Mário sentimos a rivalidade entre São Paulo e Rio de
5 Conclusão
interpretações diferentes.
pela tecnologia.
as raízes culturais do Brasil, por outro lado pretende contribuir para com a
Notas
30/06/08.
Expressionismus, 34a ed.. Hamburg: Rowohlt, 2006, p. 23. Até hoje continua
doutorado).
[12] MORICONI, Italo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio
2003, p. 12
setembro de
2005,http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R1994-1.pdf A
cesso em 29/06/08.
[33] Neste contexto seja lembrado que palavras muito recorrentes nas poesias
de Heym
são Ruß (fuligem), Rauch (fumaça), Gestank (fedor), schmutzig (sujo), ölig (ole
menos uma postura crítica aos avanços da industrialização. Cf. HEYM, 2006, p.
9.
organização, introdução e notas Telê Ancona Lopez. São Paulo: Editora Senac,
2004, p. 71.
Volker Jaeckel
Claudia Peterlini
A cidade moderna, pode-
se dizer, inaugura um campo de reflexão e pesquisa orientadoespecificamente
locus
sociais advindas destes meios com a vida das e nas grandes cidades –
relação, esta, que inclui o que o autor designa como “técnica da vida”. O estudo
individuais, sendo este fator o âmago de onde brotam “os problemas mais
SIMMEL, Georg.
(1903).
In
:
Mana
segunda metade do século 20. Com sua produção intelectual contribui para o
concluiu que as práticas mágicas realizadas pelo feiticeiro tem sua eficácia:
Não há, pois, razão de duvidar da eficácia de certas práticas mágicas. Mas, vê-
magia do feiticeiro.
consciência que foi alvo da magia, neste caso, maléfica. Além da própria
grupo, incluindo parentes e amigos, que ele já está condenado e ainda exerce
perigo para os demais, que por sua vez, o isolam com medo de serem
contagiados pelos malefícios da magia que recaio sobre ele. Além de mantê-
lo distante, o grupo, com a certeza de sua morte futura, passa a tratá-lo como
trovão para justificar “uma atitude profana”, que no caso, foram encontros com
antigos compatriotas. Porém, tal versão recaía para o lado das conjecturas,
enquanto a versão em que o trovão o havia levado para longe dali, recaía
simplesmente inaceitáveis.
com magia, o que o levaria à morte. Temendo tal fim, muda sua defesa e conta
diversas versões para o fato de ter supostamente levado uma mocinha a ter
uma crise nervosa através de poderes mágicos. As versões são contadas com
julgava, não estava, (com o passar do tempo, das versões e dos aumentos dos
mostrar muito próximo de nós, quando ele cita a motivação dúbia para o início
podem ser aceitas como verdadeiras, mesmo elas sendo incompatíveis entre si
e ainda, a depender da ocasião, tal crença pode ainda passar de uma a outra,
doente e o feiticeiro precisam ter crença na magia que está sendo realizada,
problema.
Em O feiticeiro e sua magia, Lévi-Strauss explica que a crença na magia é o que justifica sua
eficácia e ela se divide em três componentes: a crença do feiticeiro em suas próprias técnicas e
as crenças do enfeitiçado e da comunidade no poder do feiticeiro. Quanto à última, ela se
traduz como "(...) a confiança e as exigências da opinião coletiva, que formam a cada instante
uma espécie de campo de gravitação no seio do qual se definem e se situam as relações entre
o feiticeiro e aqueles que ele enfeitiça." (Lévi-Strauss, 1949a/1975, p. 194/5) A experiência, no
processo xamânico, de uma realidade desconhecida se manifesta, então, sobre três suportes:
a experiência do xamã que vive a força de estados psicossomáticos - quer possua uma crença
genuína em seus procedimentos, quer os dissimule deliberadamente -, a experiência do doente
que possui a chance de receber a cura e a do grupo que, com seu arrebatamento afetivo, com
sua catarse, e por meio do funcionamento do sistema simbólico, fornece as garantias de que o
acontecimento mágico será coerente com o nível do pensamento. Estas três pontas da
experiência são intrínsecas ao que Lévi-Strauss chama de "complexo xamanístico", sendo que
as extremidades é que possuem aí um valor explicativo acentuado: "(...) [os elementos do
complexo] se organizam em torno de dois pólos, formados, um pela experiência íntima do
xamã, o outro pelo consensus coletivo." (Lévi-Strauss, 1949a/1975, p. 207) A experiência do
doente se situa mais como uma espécie de efeito de todo o processo e está totalmente
submetida ao esquema representativo do grupo (o que reflete o princípio lévi-straussiano de
que o psiquismo individual é uma das formas de inflexão do sistema simbólico). Apesar disso,
existe, com relação a ela, um fato a ser sublinhado (e aqui se inicia o cotejamento do
xamanismo com a psicanálise). É que "(...) um doente curado por um xamã está
particularmente apto para se tornar, por sua vez, xamã (...)" (Lévi-Strauss, 1949a/1975, p. 208),
tal como um analisando poderá um dia transpor o divã e tornar-se psicanalista, sendo a
experiência de se submeter a uma análise uma condição para tal transposição.
Lévi-Strauss lembra que o xamã geralmente possui, de fato, conhecimentos e técnicas capazes
de garantir, em parte, o alcance da cura. Além disso, existem doenças de caráter
psicossomático que se resolvem positivamente com uma terapêutica psicológica. Os casos
curados por causa desses dois fatores contribuem ainda mais para a crença do grupo em seus
poderes. Mas, como não se trata de procurar causas nem na fisiologia, nem na psicologia,
torna-se preciso explicar que, mesmo estes dois níveis da existência humana - organismo e
psique - estão submetidos e são até mesmo constituídos por fatores de ordem sociológica, esta
entendida como sinônima da ordem simbólica. Portanto, somente o pólo coletivo do sistema
pode fornecer a causa última da eficácia do xamã. Dessa forma, a questão central pertence à
existência de uma relação especial entre alguns indivíduos e certas exigências sociais.
O autor recorre, então, a um conceito freudiano para continuar a explicar a função social do
xamã. Com a encenação de um espetáculo que envolve as reações da vítima e dos
espectadores e que retoma as origens do mal que atinge a primeira, o xamã logra uma espécie
de "ab-reação". No Vocabulário da Psicanálise, encontramos o conceito de ab-reação definido
como "Descarga emocional pela qual um sujeito se liberta do afeto ligado à recordação de um
acontecimento traumático, permitindo assim que ele não se torne ou não continue sendo
patogênico." (Laplanche & Pontalis, 1967/1992, p. 1) Para Freud, pelo início de sua obra, ab-
reagir um afeto através da linguagem funciona como um substituto para a ação que fora
reprimida à época do trauma. Daí a importância central desse conceito para a teorização de um
método terapêutico que se baseava, então, no objetivo de promover a catarse do paciente.
Assim, Lévi-Strauss aplica essa noção ao procedimento do xamã (designando-o como um "ab-
reator profissional"), pois este também visa a reviver, através da expressão verbal, os
acontecimentos - até então incompreensíveis - que remontam à origem da desordem,
representando o momento decisivo da cura do doente.
O ponto em comum seria que os dois métodos visariam a vencer conflitos e resistências
inconscientes por meio da transposição de seus conteúdos ao nível da consciência. No caso do
xamanismo, trata-se de fornecer um invólucro psíquico a algo que se passava em nível
orgânico. Quanto à psicanálise, é contra a força do recalque que se tem que lutar, pois é ela
que procura impedir que certos conteúdos psíquicos acedam à consciência. De qualquer forma,
nos dois casos, procura-se produzir uma experiência de ab-reação capaz de promover a
dissolução dos conflitos, pois é durante essa experiência que "(...) os conflitos se realizam
numa ordem e num plano que permitem seu livre desenvolvimento e conduzem ao seu
desenlace." (Lévi-Strauss, 1949b/1975, p. 229) Se a psicanálise conta com o fenômeno da
transferência no qual é envolvida a dupla presença do analista como alguém que participa da
fantasia ainda informulada do paciente ao mesmo tempo em que exerce a função de escutá-la,
também na experiência mágica, o xamã assumirá uma duplicidade análoga. É certo que, ao
invés de escutar, o xamã será o orador dos acontecimentos. Mas sua função não é somente
falar pela vítima e relatar o combate contra o espírito malfazejo. Ele será o herói dessa luta,
assumindo, tanto quanto o psicanalista, funções de protagonista na resolução dos conflitos, ou
seja, na experiência de ab-reação durante a qual "(...) mecanismos situados fora do controle do
sujeito se ajustam espontaneamente, para chegar a um funcionamento ordenado." (Lévi-
Strauss, 1949b/1975, p. 229)
Nesta nova argumentação, para que o paralelismo entre xamanismo e psicanálise fosse mais
completo, seria necessário ainda admitir e comprovar a existência de uma base fisiológica
última para os conflitos psicológicos. Se assim fosse, os dois procedimentos conservariam o
objetivo comum de obter uma influência sobre o funcionamento orgânico do sujeito,
promovendo aí uma transformação, uma reorganização estrutural cujo princípio seria a
existência de uma analogia entre a estrutura mítica inconsciente e a estrutura do que se passa
em nível orgânico. Assim, a eficácia simbólica pode ser entendida como a influência que
estruturas homólogas são capazes de exercer entre si.
Com base em todos os índices dessa analogia, Lévi-Strauss chega a designar a psicanálise
como uma "forma moderna de xamanismo" e aposta que essa disciplina teria muito a ganhar,
em termos teóricos, ao se voltar para o estudo da eficácia simbólica na magia indígena:
"(...) a psicanálise pode recolher uma confirmação de sua validade, ao mesmo tempo que a
esperança de aprofundar suas bases teóricas e de melhor compreender o mecanismo de sua
eficácia, por uma confrontação de seus métodos e de suas finalidades com os de seus grandes
predecessores: os xamãs e os feiticeiros." (Lévi-Strauss, 1949b/1975, p. 236)
Indica o caminho a ser seguido ao supor que esse ganho teórico da psicanálise estaria
especialmente ligado à releitura das noções de mito e de inconsciente. Escolha nada vã já que
se trata de dois pilares do pensamento estruturalista, ainda mais que eles serão redefinidos a
partir da função simbólica como fator explicativo. É justamente a isso que Lacan vai se dedicar:
redefinir o inconsciente freudiano a partir dos princípios estruturalistas - projeto que se
estenderá por um vasto período de sua obra - e repensar a neurose a partir da noção de mito,
também transformada e entendida sob os mesmos princípios, tarefa a que se presta na
conferência que inaugura sua nova forma de pensar.
Quanto ao inconsciente (14), ele será entendido exatamente como um conjunto de estruturas
regidas por leis intemporais presentes tanto no pensamento primitivo quanto no homem
civilizado. Estranho a conteúdos psíquicos, pulsões, afetos e representações, o inconsciente
que Lévi-Strauss deseja que ganhe terreno na psicanálise é conceitualizado exclusivamente
em termos de uma forma vazia. Sua realidade é a da lei de estrutura e sua função é ser o
campo da atualização do sistema simbólico:
"O inconsciente deixa de ser o inefável refúgio das particularidades individuais, o depositário de
uma história única, que faz de cada um de nós um ser insubstituível. Ele se reduz a um termo
pelo qual nós designamos uma função: a função simbólica, especificamente humana, sem
dúvida, mas que, em todos os homens, se exerce segundo as mesmas leis; que se reduz, de
fato, ao conjunto destas leis." (Lévi-Strauss, 1949b/1975, p. 234)
É interessante observar que, neste artigo, Lévi-Strauss afirma que as leis do inconsciente como
forma vazia são impostas a "elementos inarticulados" que se organizam noutro lugar, chamado
por ele de "subconsciente". Pulsões, emoções, representações, recordações pertencem às
histórias individuais e só chegam a produzir significação quando organizados pelas leis
estruturais do inconsciente, capazes de transformá-los em um "discurso" (por analogia à
aplicação das leis lingüísticas sobre o vocabulário). Será exatamente esse o conjunto de
fenômenos relacionados por Lacan ao registro do imaginário, embora ele jamais incorpore o
termo "subconsciente" a seu vocabulário. Assim, a relação que Lévi-Strauss estipulou entre um
inconsciente formal e o subconsciente - o primeiro a organizar, processar e determinar o
segundo - é do mesmo tipo da relação que Lacan pensou existir entre simbólico e imaginário.
Aqueles termos presentes na obra de Freud serão submetidos a uma leitura que confere,
então, soberania à dimensão simbólica, ou seja, ao ponto de vista formal - ao menos até perto
do final da década de cinqüenta, época em que se pode constatar uma virada nítida em seu
pensamento com relação a diversas premissas.
Com isso, assistimos ao desaparecimento da última diferença que restava entre a psicanálise e
o xamanismo. Dada a intemporalidade das leis estruturais e o fato de que elas se reduzem a
um pequeno número constante, independentemente de variações históricas ou geográficas,
não faz mais sentido recorrer a considerações sobre a gênese individual ou coletiva dos mitos.
Todos os mitos possuem, na verdade, uma origem social. Se a psicanálise se depara
constantemente com mitos individuais não é porque estes sejam essencialmente diferentes dos
mitos indígenas, mas sim por causa do contexto social da modernidade, o qual só reserva para
a individualidade a atualização da função mítica: "Esta forma moderna da técnica xamanística,
que é a psicanálise, tira, pois, seus caracteres particulares do fato de que, na civilização
mecânica, não há mais lugar para o tempo mítico, senão no próprio homem." (Lévi-Strauss,
1949b/1975, p. 236)