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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH

Escola de Museologia

Museologia e Arte Ocidental IV

Nome: Ana Paula Rocha de Oliveira

Matrícula: 20131342019

Questões

1- Se você fosse um historiador da arte, e recebesse uma encomenda para escrever


um livro sobre a Arte Moderna Ocidental, que conteúdo seria essencial a este
livro? Tudo o que fosse desenvolvido, estaria descrito no prefácio. Escreva o
prefácio deste livro.

Os conteúdos que desenvolveria seriam, em sumário:

1. Romantismo, Realismo, Impressionismo: antecedentes;


2. Pós-impressionismo;
3. Vanguardas Europeias:
3.1.Expressionismo;
3.2.Fauvismo;
3.3.Cubismo;
3.4.Futurismo;
3.5.Suprematismo;
3.6.Dadaísmo e Surrealismo;
3.7.Neoplasticismo;
4. Expressionismo Abstrato, Abstração pós-pictórica e premissas da arte
contemporânea;
5. Modernismo latino-americano: a antropofagia da produção artística.
Prefácio:

O termo arte moderna engloba as vanguardas europeias do início do século XX


bem como acompanha o deslocamento do eixo da produção artística de Paris para Nova
York, após a Segunda Guerra Mundial, com o expressionismo abstrato e abstração pós-
pictórica, proporcionando também pilares para se desenvolver na América Latina com
as premissas e preocupações próprias da região. Apesar das controvérsias a respeito dos
limites temporais, tem-se a convenção em localizar o início da arte moderna
geograficamente na França do século XIX. É importante frisar que nem toda arte do
período moderno é moderna, o que caracteriza essa classificação é uma nova atitude e
compreensão perante o mundo e as artes.

A Revolução Industrial, a ascensão da burguesia, as novas tecnologias, a crise do


artesanato e, consequentemente, o novo entendimento do que vem a ser um artista
fornece os pilares da modernidade. A arte moderna é a representação da crise
proporcionada pela industrialização e o conjunto de suas consequências. Caracteriza-se,
principalmente, por sua pluralidade ao abarcar uma série de movimentos artísticos
dentro de uma compreensão que unia personagens tão diversos em suas formulações e
ideologias: a da busca pela autonomia do fazer artístico.

O Romantismo, com sua atitude crítica em relação aos temas oficiais e


convenções artísticas; o Realismo, com sua representação do povo operário e da vida
cotidiana; o Impressionismo, com sua representação do olhar momentâneo do artista e
quebra da utilização da cor local (cor real pertencente aos corpos) e o Pós-
Impressionismo, que abarca singulares artistas como Cézanne, Van Gogh e Gauguin,
apesar de não comporem a modernidade, dão importantes faíscas para o
desenvolvimento dos movimentos subsequentes.

As produções artísticas das décadas de 1960 e 1970, nos EUA principalmente,


segundo grande parte da crítica, refletem a instauração de novos parâmetros, distantes
do vocabulário e pauta modernistas, o que talvez indique um limite entre o moderno e o
contemporâneo. Já no caso do Brasil, a arte tem como marco simbólico a produção
realizada no âmbito da Semana de Arte Moderna de 1922.

2- Tendo como base a leitura do texto "O Ato Criador" - O que Duchamp quis
dizer por "Ato Criador"? Quais aspectos do texto você considera mais
importantes? A partir disso, escolha e analise uma obra do artista.

O Ato Criador de Duchamp trata-se de um texto que traz questões a respeito da


criação artística dividindo-a em dois importantes pólos: o artista e o público.
Primeiramente, o artista tem a possibilidade da execução artística independente da
intervenção de terceiros, bem como pode, com isso, autoproclamar-se um gênio.
Segundo ele, muitos artistas tem a arbitrariedade de criar, no entanto, nem sempre suas
obras se legitimam no circuito arte. O que legitimaria essa produção seria justamente a
posteridade, instituição que abrange mais do que o público, é o que delimita a
transcendência de uma obra no tempo, a História da Arte é um exemplo.

Sobre a relação com o público, Duchamp explica que o artista cria sob certas
motivações, estando ou não consciente disso, e a transfere aos espectadores. A reação
do público perante tal obra está diretamente ligada ao o artista quis transmitir e o que ele
transmitiu sem intenção. A essa falha de expressão, ou seja, a diferença entre o que o
artista quis realizar e o que realizou é o “coeficiente artístico” pessoal contido em sua
obra. Em resumo, a arte será refinada pelo público, sendo o ato criador não
completamente executado pelo artista sozinho. É o público quem estabelece relações
entre a obra e o mundo exterior e acrescenta suas significações.

Na minha opinião, é essa atribuição de importância ao público a grande


contribuição do texto de Duchamp. Essa ideia da esfera das artes se dá também, por
exemplo, nas noções trabalhadas no campo da Museologia, como os estudos de público,
cada vez mais aprimorados e preocupados em compreender qualitativa e não
quantitativamente seus visitantes, e a montagem de exposições cada vez mais interativas
e interessadas não mais com uma transmissão de saber pedagógico – ideia do “museu
templo do conhecimento” – mas com uma troca, partindo da premissa que o público
também possui algo a acrescentar, trocar e dialogar com essa instituição.
O Porta-garrafa, criado por Duchamp em 1914, trata-se de uma obra
representativa da noção de ready-made, termo este atribuído somente em 1915. O
ready-made trata-se, em resumo, do deslocamento de um objeto utilitário, produzido
industrialmente sem finalidades artísticas, da sua função habitual para um espaço de
arte.

O autor seleciona, segundo ele, sem razão de caráter estético, de bom ou mau
gosto, um porta-garrafas, objeto comum às casas da época com função de escorredor
das garrafas em vidro de leite, formado por cinco suportes de dez andares. O objeto,
comprado no Bazar I’Hôtel de Ville, com o simples gesto e atribuição do artista se
converte em obra de arte, alterando todos os parâmetros de originalidade e autenticidade
no campo das artes. O ato criador aqui não está mais diretamente relacionado a
conhecimentos técnicos, como vinha sendo entendido nas artes até então, mas à uma
escolha do artista.

Bottle Dryer (Porta-garrafas ou secador de garrafas), 64 cm, metal edição de 8 unidades


numeradas e assinadas, 1964 Galeria Arthuro Schwarz.

3 - Compare o Dadaísmo com o Surrealismo, analisando suas semelhanças e


divergências conceituais. Situe temporal e espacialmente os dois movimentos.
Reflita sobre suas principais características, artistas mais importantes e influências
(no âmbito da arte, filosofia, psiquiatria, etc).

O dadá, onomatopeia para “nada”, se desenvolve na Suíça a partir de 1916.


Tendo que a Primeira Guerra Mundial tem início em 1914, esse país se torna viável para
o desenvolvimento de um movimento nesse período por conta de sua neutralidade
perante a guerra. Ele toma forma a partir de uma insatisfação comum aos artistas, não
compreendidos dessa forma por eles mesmos, com a guerra e tudo que a envolvia, como
o individualismo, o capital, a burguesia e suas mazelas. Para isso, os artistas lançam
mão de novas ideias em torno do fazer artístico, com o uso de objetos antiarte, a adesão
da ideia de ready-made fortemente pensada por Duchamp – artista que entra em contato
e influencia o dadá, mas não faz parte do movimento propriamente dito –, a recusa da
tradição ao evitar o uso da pintura a óleo, além da valorização da ideia do acaso na
criação das obras – noção que proporciona terreno fértil ao surrealismo posteriormente.

Os artistas, que criticavam fortemente o capitalismo; o consumismo e o


comércio de obras de arte, mas que, por outro lado, precisavam sobreviver nesse
sistema, realizavam novas experimentações cobrando ingresso no Cabaré Voltaire,
clube artístico localizado em Zurique, no qual havia um teatro e uma sala de exposições
e conferências. Lá os dadaístas passaram a se reunir. Os integrantes do dadaísmo eram,
em sua maioria, artistas refugiados, que teriam sido convocados para a Primeira Guerra
Mundial caso estivessem em seus países de origem. Dentre os principais expoentes do
Dadaísmo estão Francis Picabia, Hugo Ball, Max Ernst, Man Ray, Raoul Hausmann,
Richard Huelsenbeck, Marcel Janco, Hans Arp, Georg Grosz, John Heartfield, Hanna
Hoech, Sophie Tauber-Arp, Tristan Tzara e Kurt Schwitters.

Com o Manifesto Dadá de Tzara, criado em 1918, se evidencia o tom agressivo


e ao mesmo tempo niilista do movimento: os artistas se valiam de ironia extremamente
ácida e negavam a todos os preceitos políticos, religiosos, ideológicos, econômicos e
sociais. Um dos ganhos dessa noção é o entendimento propiciado pelo grupo da não
superioridade do artista em detrimento a outros agentes, rompendo, em primeiro lugar,
com a diferenciação entre objeto feito pelo homem daquele feito pela máquina, tendo
seu ápice nos redy-made já citados. E, em segundo lugar, com o rompimento da relação
entre objeto e criador, como na obra “L’oeil Cacodylate” de Picabia, onde se evidencia
que a única intervenção pessoal possível feita numa obra de arte é a escolha.
A fim de pontuar a relação que o fazer artístico estabelece com seu contexto
sócio-político, Dawn Ades enfatiza o caso do dadá em Berlim, Alemanha, onde, com o
desespero e desilusão do pós-guerra e não advento do comunismo, tem-se um Dadaísmo
de viés mais político e de ideais marxistas. Para o autor, isso se torna possível uma vez
que a Alemanha já contava com um estilo de instrospecção, niilismo e renúncia de
objetividade – características essas semelhantes ao dadá suíço: o Expressionismo.

Tendo esse panorama, ao negar tudo o dadá nega a si mesmo. Aproveitando essa
incoerência, André Breton, com intuito de reconstruir a partir das ruínas desse
movimento algo com formulação teórica e princípios organizados, insere o Dadaísmo
no circuito da história da arte proporcionando, assim, sua defasagem.

O surrealismo, palavra que data de 1917 criada em Paris por Guillaume


Apollinaire, tem seu primeiro manifesto escrito por Breton em 1924 onde é anunciado
como um movimento literário, mencionando a pintura apenas numa nota de rodapé. As
artes plásticas seriam auxiliares ao surrealismo, cujos interesses eram a poesia, filosofia
e política. Dentre os principais expoentes do Surrealismo estão André Breton, René
Magritte, Salvador Dalí, Paul Delvaux, Man Ray, Max Ernst, Hans Arp, Yves Tanguy,
Joan Miró, André Masson, Meret Oppenhei, Roberto Matta.

O estilo tem o tema fornecido por Freud e seus estudos de psicanálise, campo
clínico e de investigação teórica da psique humana, e embora os surrealistas não
tivessem interesse na interpretação os sonhos – uma vez que, para eles, os sonhos se
sustentavam por si mesmos – acreditavam na ação do inconsciente na produção das
artes, tendo que elas deveriam se originar a partir da sequência das primeiras imagens
ou palavras que viessem à mente. Nas artes plásticas essa característica se demonstra
nas técnicas de frottage e grattage.

No frottage (do francês, "friccionar"), método "automático" de produção criativa


desenvolvido por Max Ernst, o artista utiliza um lápis ou outra ferramenta de desenho e
faz uma "fricção" sobre uma superfície texturizada. O desenho pode ser deixado como
está, ou pode ser utilizado como base para aperfeiçoamento. Embora superficialmente
similar à fricção em latão e a outras formas de "esfregar", visando reproduzir um objeto
já existente, a técnica do frottage difere por ser aleatória. O grattage (do francês,
“raspagem”) trata-se uma técnica na qual, uma vez seca, a pintura se desprende da tela
através de rupturas, criando um efeito de relevo com textura e aparência tridimensional.

O surrealismo herda dos dadaístas a crítica aos ideais de guerra e burguesia, mas
ao invés do anarquismo, se dedicou à formulação teórica e abolição dos vetos aplicados
à arte, eliminando, desta forma, a necessidade da ironia não construtiva. Assim sendo, a
imagem surrealista se estabelece como a justaposição de diferentes realidades. O artista
De Chirico fornece as pistas para o encaminhamento da representação desse estilo. É o
caso da “pintura onírica” surrealista, com o predomínio da técnica ilusionista
identificada em autores como Tanguy, e da “pintura dos sonhos”, em que se tem a
representação da irracionalidade refletindo as condições dos sonhos, cujos alguns dos
expoentes foram Dalí e Magritte. Embora encontrem inspiração nos estudos freudianos,
o próprio Freud criticava a arte surrealista, uma vez que para ele os autores criavam
deliberadamente o inconsciente, assim como encorajavam os desejos indisciplinados do
homem, proposta contrária ao que ele propunha.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, os artistas precisam sair de Paris.


Breton, Ernst e Masso vão para Nova York e influenciam e precedem os movimentos
americanos pós-guerra.

4 - Disserte a respeito do Expressionismo Abstrato e da Abstração Pós-Pictórica,


apresentando as principais características na arte, e os artistas mais importantes.
Comente sobre as características históricas do período.

O Expressionismo Abstrato se desenvolve nos Estados Unidos durante os anos


1940 e 1950 a partir da influência de artistas europeus que vão ao país fugindo do
nazismo no contexto da Segunda Guerra.

O diferencial do Expressionismo Abstrato está, em primeiro lugar, no descarte


da noção de composição, característica da abstração geométrica e da abstração lírica e,
em segundo lugar, na pintura com cores planas e contornos. Alguns dos principais
antecedentes do movimento são a primeira exposição moderna nos EUA, a Armony
show (1913); a fundação do MoMa em 1929 que proporciona a divulgação da arte de
vanguarda europeia; em 1930 o financiamento do Estado para desenvolvimento da
cultura, o New Deal.
Essa arte se caracteriza pela grandiosidade e construção de obras monumentais
proporcionando, assim, que o espectador não se “desloque” de seu tamanho habitual
para apreciação da obra. Pela revolta contra repressão proporcionada pelo sistema
tecnológico, econômico e social. Além de compreender o artista em sua individualidade,
sua movimentação pela tela se dá de forma instintiva, não condicionando ao
comportamento coletivo da tecnologia industrial ideia que já vinha sendo criticada em
períodos anteriores e em outras expressões artísticas, como é explicitado no filme de
1936 “Tempos modernos” de Chaplin.

Alguns expoentes do Expressionismo Abstrato são Pollock, cujo termo utilizado


pelo estilo mais dá conta da obra. Pollock se inspira na produção de Picasso e no
Surrealismo de Miró. Sendo o primeiro pintor a abandonar o cavalete e pintar em
grande escala, utiliza da técnica de dripping (gotejamento) em que a obra é colocada o
chão e a tinta é respingada pela tela, valendo-se portanto do acaso – já utilizado pelos
dadaístas e surrealistas na Europa que enfatizam a criação espontânea que emana do
inconsciente e não é inibida pela razão – e na improvisação proporcionada pelo jazz,
além disso sua arte vem da experimentação de novas técnicas como a do abandono dos
pincéis e da ideia de pintura de ação, onde o autor caminha sobre a tela. Retira-se,
portanto, questões de espaço e perspectiva.

Bannet Newman trabalha a questão do vazio, através de grandes campos de cor


monocromáticas, como substância. Para ele, o abstracionismo europeu ainda carregava
a perspectiva. Rothko trabalha as cores enquanto formas emocionais, queria que o
espectador se aproximasse das pinturas e sentisse aquecimento e frieza que as cores
transmitem.

A Abstração pós-pictórica se desenvolve também em Nova York, durante a


década de 1960. Tem como principais nomes Morris Louis, Keneth Noland, Ellsworth
Kelly, Frank Stella.

O termo, que evoca o pós-impressionismo, entende que a abstração pós-pictórica


estaria na linha da tendência do expressionismo abstrato. Nesse novo estilo, o artista não
manuseia a tinta diretamente e tem a liberdade de trabalhar o chassi do quadro em
outras formas que não o retângulo. É o caso da obra “Curva branca” de Ellswoth Kelly,
onde tem-se uma tela completamente branca com chassi de formato triangular na base e
circular na parte superior. A arte moderna nas artes plásticas busca a autonomia da
pintura, retirando tudo que não pertence à uma pintura das produções. A partir disso,
como vimos, uma série de tendências, e com elas vetos, vão surgindo a fim de atender a
esse princípio moderno.

Ao nos depararmos com as criações da abstração pós-pictórica, com telas


coloridas por completo de uma única e, por vezes, totalmente branca, restam poucas
opções para as artes encontrarem meios para continuar a se desenvolver. Uma delas é a
abdicação da pintura, proporcionando a arte conceitual, a outra é a abdicação do veto,
reincorporando o mundo e criando vias para o desenvolvimento, por exemplo, da Pop
Art.

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