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Da Pré-História às obras recém-finalizadas pelos artistas da atualidade, a arte sofreu grandes modificações em suas técnicas

e em seus propósitos. Apesar do fato de essas mudanças serem muito significativas, as produções artísticas não devem ser
encaradas como se estivessem em uma linha evolutiva. Assim, a arte atual não é melhor ou mais evoluída do que aquela que foi
feita em qualquer outro momento do passado. O que existe no campo da arte são diferentes desenvolvimentos e propostas
artísticas. Dito isso, vamos agora adentrar no universo daquilo que é mais recente em termos de criação artística, as vertentes da
arte contemporânea, categoria que frequentemente é alvo de críticas negativas e não fundamentadas.
TEXTO I – Arte Contemporânea
A expressão “arte contemporânea” diz respeito à produção artística realizada no mundo a partir da segunda metade do
século XX. Englobando manifestações nas diferentes linguagens da arte – artes visuais, teatro, dança, música e artes híbridas –, ela
é muito abrangente. É justamente essa amplitude, a sua imensa capacidade de acolher tantas formas diferentes de fazer arte, que a
transforma em um assunto de difícil entendimento para algumas pessoas, que podem inclusive vê-la com aversão: quando algo
não é compreendido, há uma tendência a se tornar alvo de preconceito e ideias preconcebidas, sem argumentação sólida. Para
desenvolvermos critérios próprios sobre a qualidade das obras de arte contemporâneas, é importante conhecermos a base que
fundamenta essa vertente artística. Ao contrário de outros movimentos históricos, como as vanguardas artísticas do século XX,
os artistas contemporâneos muitas vezes não compartilharam semelhanças de conceitos, técnicas ou
propósitos artísticos. O que une as obras desses artistas, que são muito diferentes entre si, é a existência de características em
comum. Assim, pode-se dizer que uma obra de arte contemporânea, independentemente de sua linguagem, apresentará ao menos
um dos seguintes elementos:

• Uso de materiais que não fazem parte da tradição da arte;


• Essência conceitual;
• Caráter crítico, provocativo e questionador;
• Conexão com temas sociais, inclusive políticos;
• Ocupação de espaços que não tradicionais da arte;
• Mistura de técnicas;
• Subversão de valores artísticos do passado;
• Proposição de releituras;
• Caráter transitório;
• Uso de tecnologias;
• Possibilidade de não ter materialidade;
• Autoria compartilhada;
• Interação com o público;
• Metalinguagem;
• União de diferentes linguagens artísticas;
• Proposta de antiarte.

MARCEL DUCHAMP, O “PAI” DA ARTE CONTEMPORÂNEA – TEXTO II

O artista e teórico francês Marcel Duchamp (1887-1968) não se insere na arte contemporânea, já que na linha temporal ele está
classificado como artista moderno. No entanto, por que ele é importante para a arte atual? Duchamp, assim como outros criadores do
passado, foi um homem versátil e à frente de seu tempo. Ele nunca aceitou rótulos e transitou por diferentes movimentos artísticos
como o Cubismo, o Futurismo e o Dadaísmo. Sua maior contribuição para a arte atual foi a criação do ready-made. Os ready-mades
eram artefatos artísticos, feitos a partir da união de objetos do cotidiano, em geral industrializados. O primeiro ready-made de Duchamp
foi Roda de bicicleta, uma composição tridimensional em que ele reuniu um banco e uma roda. Por que o ready-made é uma forma de
arte? Porque a sua essência como objeto artístico não está baseada na estética (aparência), ou na forma como foi realizado (técnica), mas,
sim, no seu conceito (ideia): no ready-made, e em muitas obras contemporâneas, o conceito é o coração do trabalho e justifica a sua
existência como forma de arte. Curiosamente, Duchamp afirmava que seus ready-mades deviam ser encarados como aquilo que intitulou
antiarte. Assim, são objetos que merecem o título de obra de arte por ousarem questionar a existência, a validade de si mesmos e também
o mercado da arte e todas as suas implicações. Além de Roda de bicicleta, outro importante ready-made de Duchamp é A fonte.
Em A fonte, Marcel Duchamp levou a provocação da antiarte para outros parâmetros: ele desafiou os próprios mecanismos
de legitimação da arte. Em 1917, o artista inscreveu A fonte em um concurso artístico, assinando a obra e a ficha de inscrição com um
nome falso, R. Mutt. Como criação de R. Mutt, A fonte foi rejeitada; quando vista como criação de Marcel Duchamp, um nome
reconhecido no mercado de arte, a obra tornou-se alvo do desejo de consumo. Várias cópias da obra foram vendidas para galerias e
colecionadores particulares. Passados mais de cem anos, a obra completa de Duchamp ainda sofre resistência por parte do grande público.
Apesar de todos os termos a liberdade de escolher aquilo que julgamos belo ou interessante, não se deve simplesmente desmerecer o
trabalho de um artista.
Ao fazê-lo, agimos com parâmetros reducionistas, não considerando o significado das obras, o propósito de sua existência, o
trabalho de criação do artista e o enfrentamento para adentrar no mundo da arte ou permanecer criando na contramão do mercado da
arte. Assim como Marcel Duchamp permanece incompreendido no século XXI, muitos artistas contemporâneos enfrentam grande
resistência em relação às suas obras.

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