O livro de Rafael Cardoso, Modernidade em preto e branco, desafia a narrativa de que a Semana de Arte Moderna de 1922 marcou o início do modernismo no Brasil. Ele argumenta que havia diversos modernismos no país desde a década de 1890, influenciados pelo contexto da abolição, da República e da imigração. O livro também examina como artistas no Rio de Janeiro retrataram a modernização urbana e a desigualdade racial na virada do século XX.
O livro de Rafael Cardoso, Modernidade em preto e branco, desafia a narrativa de que a Semana de Arte Moderna de 1922 marcou o início do modernismo no Brasil. Ele argumenta que havia diversos modernismos no país desde a década de 1890, influenciados pelo contexto da abolição, da República e da imigração. O livro também examina como artistas no Rio de Janeiro retrataram a modernização urbana e a desigualdade racial na virada do século XX.
O livro de Rafael Cardoso, Modernidade em preto e branco, desafia a narrativa de que a Semana de Arte Moderna de 1922 marcou o início do modernismo no Brasil. Ele argumenta que havia diversos modernismos no país desde a década de 1890, influenciados pelo contexto da abolição, da República e da imigração. O livro também examina como artistas no Rio de Janeiro retrataram a modernização urbana e a desigualdade racial na virada do século XX.
CARDOSO, Rafael. Modernidade em preto e branco: arte e imagem, raça e
identidade no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. 372 p.
De vez em quando, aparece um livro apesar de sua grande prosperidade”
que desloca o debate em torno de um (p. 18). As inovações estéticas da determinado assunto de tal forma que geração anterior foram ofuscadas por se torna impossível, ou, no mínimo, este mito propagado por intelectuais desaconselhável, entrar na discussão paulistas durante a segunda metade do sem lidar com ele. Estes livros século XX. O centenário da Semana raramente apresentam argumentos de 1922 ocasionou uma infinidade inteiramente novos, mas conse- de eventos e publicações, em grande guem captar e sintetizar de modo parte comemorativas, tornando a instigador uma crítica que circula Modernidade em preto e branco uma há algum tempo. Como trechos de intervenção bem-vinda. Bem escrito e pavimentação sobre caminhos de enriquecido com uma impressionante terra, eles se estendem e solidificam coleção de ilustrações coloridas, está trilhas previamente batidas. É o caso destinado a se tornar um clássico do novo estudo de Rafael Cardoso, da historiografia da modernidade Modernidade em preto e branco, que cultural brasileira. defende uma compreensão tempo- Seguindo a injunção de Perry ralmente expansiva do modernismo Anderson de que devemos falar em brasileiro que desafia o “mito de “multiplicidade de modernismos” 1922” associado à Semana de Arte (p. 17), Cardoso rejeita qualquer Moderna em São Paulo, descrita definição formalista relativa a como uma cidade “ainda provinciana princípios estéticos ou categorias
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estilísticas. O modernismo foi, incipiente, a eletrificação urbana e a ao invés disso, reação a uma chegada de novas tecnologias de trans- condição de modernidade marcada porte e comunicação. Como em outras por profunda ambivalência, já que cidades daquela época, a “belle époque a promessa de liberdade pessoal, tropical” do Rio de Janeiro alimentou novas oportunidades de emprego e uma cultura francófila na literatura, emergentes formas de representação arte visual, arquitetura e no plane- democráticas coincidiram com a jamento urbano. Um concomitante exploração capitalista do trabalho, desprezo e medo pela vasta população novas tecnologias de violência e a de negros e mestiços se baseou em uma destruição de formas de vida tradi- ideologia de supremacia branca, típica cionais, levando a um sentimento de das elites intelectuais durante a era do alienação e insegurança, sobretudo racismo científico. A destruição dos para os habitantes das cidades. Com o cortiços do centro da cidade para dar advento da modernidade capitalista, lugar aos projetos de renovação urbana “tudo que é sólido se desmancha inspirados no barão Haussmann, no ar”, para lembrar a expressão de que reformou Paris no século XIX, Marx. Contra a narrativa evolucio- levaria à formação de favelas, local nista da história da arte, com sua de moradia para uma grande parte da periodização correlata a uma população pobre, incluindo antigos sucessão de estilos, Cardoso aponta escravizados, imigrantes recém- para “uma série de modernismos -chegados e veteranos da guerra de alternativos, que se entrecruzam e Canudos. Por outro lado, o Rio de se sobrepõem a partir da década de Janeiro do início do século XX 1890” (p. 17). também contou com grandes escritores O surgimento desses modernismos afrodescendentes, como Lima Barreto plurais no Brasil ocorreu dentro de e João do Rio, a primeira geração de um contexto histórico marcado pela sambistas, como Donga e Pixinguinha, abolição da escravatura, o fim da e uma comunidade artística inter-racial monarquia e a fundação da Primeira que estava profundamente envolvida República, que coincidiu com a com a vida social e a cultura popular imigração europeia, a industrialização da cidade.
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Cardoso critica a tendência de se da ilustração, do humor e do jorna- entender o modernismo segundo as lismo, sobretudo a crônica, em vez esferas linguísticas do inglês, francês das belas artes e da literatura. Antes ou alemão, ignorando que o termo disso, o estudo Cinematógrafo de “modernismo” foi cunhado pela letras: literatura, técnica e moder- primeira vez em espanhol, na década de nização do Brasil (1987), de Flora 1880, pelo poeta nicaraguense Ruben Süssekind, mostrou como a técnica Darío. O poeta foi um dos primeiros literária se transformou ao adotar defensores latino-americanos do novas estratégias de representação parnasianismo francês, um estilo associadas à fotografia, ao cinema e literário altamente formalista que ao desenho gráfico. Um dos insights rejeitou os impulsos nacionalistas do mais aguçados de Süssekind foi romantismo e promoveu o credo esteti- mostrar que poetas canônicos como cista da l’art pour l’art. Seu poema Olavo Bilac, o principal proponente mais famoso, “El cisne” (1888), do parnasianismo no Brasil, estavam um soneto alexandrino, exaltava a muito mais sintonizados com a moder- graciosa ave como um símbolo da nidade urbana, tanto na forma quanto renovação artística anunciada pelo no conteúdo, ao mesmo tempo que, modernismo. Em 1906, Darío passou enquanto jornalistas e publicitários, pelo Rio de Janeiro onde se encontrou produziam diariamente crônicas sobre com membros da elite literária, a vida cotidiana e propagandas para incluindo Elysio de Carvalho, ateu e vender produtos. De certa forma, eles anarquista, tradutor de Oscar Wilde, levavam vidas duplas, uma reservada que publicou naquele mesmo ano um ao elevado reino da poesia e a outra – livro sobre o poeta nicaraguense para suas ocupações diurnas – aos ritmos o público brasileiro (p. 22). da vida e do comércio da cidade. Modernidade em preto e branco Enfocando a cultura visual, dialoga com o livro de Mônica Cardoso chama nossa atenção para Pimenta Velloso, Modernismo no pintores como Eliseu Visconti e Rio de Janeiro (1996), que mostrou Gustavo Dall’Ara, o fotógrafo que a modernidade artística surgiu Augusto Malta e os artistas gráficos no Rio do fin de siècle nos domínios J. Carlos, Raul Pederneiras e Calixto
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Cordeiro, conhecido como “K. Lixto”, Cardoso conta a história de que ilustravam uma série de revistas um grupo de artistas boêmios que como O Malho, Fon-Fon! e Careta. participavam do carnaval, dançavam Esses artistas produziram algumas das o maxixe nos salões de festa e se primeiras imagens da vida cotidiana divertiam nos cafés e cabarés do nas favelas. Uma rua da favela (1890), centro da cidade e no bairro adjacente de Visconti, e Tarefa Pesada: Favela da Lapa. Somos apresentados ao (1913), de Dall’Ara, são caracterizadas grupo multidisciplinar de artistas e pelo naturalismo documental que escritores imortalizados no quadro Cardoso compara favoravelmente ao Boêmia, de Helios Seelinger (1903), Morro da favela, de Tarsila do Amaral que Cardoso descreve como uma (1924), que sugere “a estetização da espécie de alegoria das noitadas miséria” (p. 64). As ilustrações de cariocas. Como “manifesto visual” J. Carlos, em contraste, são frequen- de um novo espírito artístico (p. 103), temente imbuídas de estereótipos a pintura foi notada por sua técnica racistas semelhantes aos encontrados descontraída e solta, seduzindo o júri nos Estados Unidos, que retratam a do salão da Escola Nacional de Belas favela como um espaço de negritude Artes (ENBA), que concedeu ao estigmatizada. A obra de J. Carlos artista um cobiçado prêmio de viagem é mais interessante quando está para estudar na Europa. Os boêmios zombando da alta sociedade ou das no quadro de Seelinger incluíam os celebridades estrangeiras, como principais artistas e escritores do F. T. Marinetti, o futurista italiano que dia, alguns dos quais, como João do se tornou propagador do fascismo, Rio, Rodolpho Chambelland, Raul que fez uma viagem ao Rio, em 1926, Pederneiras e K. Lixto, se interes- e visitou o Morro da Favela. Em uma saram particularmente pelo potencial capa para O Malho, J. Carlos mostra estético do carnaval, que lhes oferecia um Marinetti arrogante, com um um contexto para o encontro entre a rosto que parece uma máscara branca, elite e as classes populares. K. Lixto pairando sobre o Morro da Favela, foi um dos vários ilustradores da numa postura ridícula de comando época que emprestou seus conside- enquanto olha para o céu. ráveis talentos como cenógrafo às
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Grandes Sociedades, os grupos carna- representação negra e desigualdade valescos de classe média branca que racial como sugerido pelo contraste dominaram o carnaval do Rio até o entre o folião branco indo dormir e o advento das escolas de samba, no final operário negro que precisa trabalhar da década de 1920. Ao mesmo tempo, após as festividades (p. 132). ele criou algumas das mais dinâmicas O modernismo carioca era, ilustrações de capa com temas carna- segundo Cardoso, “de fabricação valescos para O Malho e Fon-Fon! própria”, com uma gama de práticas Pintores acadêmicos treinados na e discursos divergentes, “sem ser ENBA também voltaram sua atenção importado pronto de algum teórico para o carnaval como uma forma de ou movimento autorizado” (p. 146). vivenciar a sociedade para além da As expressões visuais mais inovadoras comunidade das belas artes (p. 127). da modernidade carioca surgiram no A pintura Baile à fantasia (1913), domínio das artes gráficas relacionadas de Rodolpho Chambelland, apresenta com a nova cultura dos periódicos de quatro casais de foliões fantasiados, grande circulação. Em graus variados, sensualmente enlaçados enquanto elas estavam comprometidas com a dançam o maxixe, que um crítico art nouveau, um estilo internacional da época elogiou por sua “técnica de artes decorativas e arquitetura colorista” e “grande caráter local” que “virou febre Rio de Janeiro” (p. 130). O dia seguinte (1913), com sua “sinuosidade vegetal, suas de Arthur Timotheo da Costa, retrata curvas assimétricas e seus ornamentos um homem branco de ressaca, vestido característicos” (p. 149). Promovida de Pierrot, sendo levado à casa por um por artistas eruditos como Eliseu amigo. Um trabalhador negro limpa Visconti, Helio Seelinger e o influente a calçada depois do carnaval, sob o crítico Gonzaga Duque, que contri- olhar atento do motorista atrás do buíram para revistas de curta duração volante de um automóvel, então uma como Atheneida, Renascença e novidade para os mais ricos. O mais Kósmos durante a primeira década do renomado pintor negro do início século XX, a art nouveau teve conti- do século XX, Timotheo da Costa nuidade nas revistas já citadas na década estava em sintonia com questões de seguinte (p. 155). A art nouveau era
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bem adequada aos artistas dedicados seguintes, irromperam movimentos de a quebrar barreiras entre artes acadê- vanguardia em vários países hispano- micas e aplicadas, incluindo um jovem -americanos. No Brasil, Manoel Emiliano Di Calvalcanti que mais Bandeira ridicularizou o formalismo tarde aplicaria elementos do estilo em dos parnasianos em “Os sapos” (1919) sua capa do programa de exposições (“A grande arte é como lavor de da Semana de 1922. joalheiro”), que leu na Semana de Os modernistas cariocas, segundo 1922, seguido por “Ode ao burguês”, Cardoso, nunca assumiram a “postura de Mário de Andrade (“Eu insulto o agressiva de oposição” que definiu burguês-funesto! O indigesto feijão as vanguardas em outros contextos com toucinho, dono das tradições!”). históricos (p. 136). De fato, o termo Esses escritores certamente não se “vanguarda” raramente aparece no entendiam como modernistas no livro, o que está de acordo com o sentido parnasiano ou simbolista projeto de Cardoso de considerar associado a Darío. Críticos literários “uma multiplicidade de modernismos” e historiadores há muito entenderam o (entre 1890 e 1945), vistos em termos modernismo brasileiro como análogo de diferença e não de ruptura. às vanguardas hispano-americanas e Há vantagens nessa abordagem, ligado a vanguardas históricas como que evita a falácia historicista implícita o cubismo, o surrealismo, o constru- na expressão “pré-modernismo”, tivismo e o dadaísmo. Não está claro que felizmente caiu em desuso. como Cardoso entende as vanguardas No entanto, também obscurece pontos em relação aos modernismos de fin de descontinuidade e revolta. Já em de siècle. Será que representaram 1911, apenas cinco anos após a visita uma ruptura, como a maioria dos triunfante de Ruben Darío ao Rio de estudiosos têm argumentado, ou uma Janeiro, o poeta mexicano Enrique iteração meramente “agressiva” González Martínez escreveu “Tuércele do modernismo? el cuello al cisne de engañoso Cardoso chama a atenção plumaje”, um soneto que clamava por para os problemas do modernismo torcer o pescoço do cisne e deixar para paulista, assim como seu elitismo, trás o modernismo dariano. Nos anos suas polêmicas gratuitas e sua inflada
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autoimportância. Sua crítica mais a um coro de estudiosos contempo- incisiva é dirigida a Oswald de Andrade râneos que tem criticado a antropofagia e Tarsila do Amaral, retratados como por apropriar-se das culturas alheias, paulistas brancos e ricos que sabiam se resultando no “apagamento de vozes posicionar como modernos “segundo marginalizadas” (p. 218). No entanto, padrões parisienses” para melhor tal conclusão subestima a crítica convencer os formadores de opinião anticolonial da civilização cristã, (p. 23). O quadro A Negra (1923), mercantil e patriarcal do movimento de Tarsila, ele argumenta, “deve [sua antropofágico e seu desejo utópico fama] mais à voga primitivista pela de uma alteridade radical, que aspira chamada négrophilie que fazia sucesso tornar-se o outro ao reconhecer o outro em Paris, do que aos debates sobre a em si. Dos concretos aos tropicalistas, questão racial” no Brasil (p. 206). de Elza Soares a Emicida, de Hélio Escreve com razão que a obra, Oiticica a Adriana Varejão, a antro- que retrata uma mulher negra nua, pofagia tem inspirado um espírito sentada, com traços desfigurados, não de cosmopolitismo e invenção nas pode ser interpretada como “afirmativa artes brasileiras. da identidade afro-brasileira” (p. 206). A pesquisa de Cardoso é meticu- Mas não considera se “o caráter losa, mas tende a ignorar contraexem- ambivalente” da obra poderia sugerir plos importantes que atenuariam uma crítica paródica, tanto do primi- ou complicariam seus argumentos. tivismo parisiense como das imagens Ele observa com razão que os moder- estereotipadas e pejorativas que nistas de 1922 criticaram a geração circulavam no Brasil, assim como os anterior por copiar modelos europeus, desenhos racistas de J. Carlos. mas estavam igualmente presos Anos mais tarde, Oswald e aos modelos parisienses. Continua, Tarsila, entre outros, lançariam a entretanto, que por isso “deixaram de antropofagia, um movimento que reconhecer expressões vibrantes da exaltava a figura do índio selvagem, vida moderna, como a cultura nascente que praticava o canibalismo ritual dos do samba e do Carnaval” (p. 90), uma inimigos vencidos como um símbolo afirmação que é mais difícil de sustentar. de autonomia cultural. Cardoso se une É bem conhecido que a extensa
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pesquisa etnomusicológica de Mário numerosas referências à fotografia, de Andrade menosprezou a música teatro, cinema, música popular, popular urbana, mas ele também foi carnaval, e até mesmo à recém- o autor de “Carnaval Carioca”, talvez -inventada televisão, que logo se o melhor poema modernista dedicado tornaria uma tecnologia de entreteni- precisamente à “cultura nascente do mento de massa. samba e do Carnaval”: Ficamos com uma imagem distorcida dos modernistas paulistanos Em baixo do Hotel Avenida em 1923 Na mais pujante civilização do Brasil como estetas chatos e mal-humorados, Os negros sambando em cadência. recolhidos em seus ateliês e salões em Tão sublime, tão áfrica! São Paulo, ignorantes de seu privilégio de classe, da cultura popular e das O próprio Pixinguinha lembrou tecnologias modernas. É uma imagem que Mário de Andrade sempre que espelha a visão redutora da elite acompanhava os sambistas durante cultural da belle époque tropical do suas visitas ao Rio, de acordo Rio que Cardoso procura desmentir. com João Baptista Pereira em seu No final da Introdução, Cardoso estudo clássico, Cor, profissão e oferece estes contrastes: mobilidade. Por sua vez, Oswald Comparadas à fina manipulação que saudou aos “cordões de Botafogo” Lampião exerceu sobre a imprensa como uma espécie de antídoto para por meio de mídias como fotografia e cinema, as estratégias de Oswald Wagner, o epítome da música erudita de Andrade para promover a europeia, e os declarou “bárbaro e Antropofagia mais parecem nosso” em seu “Manifesto da Poesia travessuras de um colegial peralta. Pau-Brasil” (1924). O que quer que Comparadas ao poder retumbante de um desfile de Carnaval, as ideias se pense da linguagem exaltadora de Mário de Andrade sobre música desses trechos, eles sugerem que ecoam os corredores vazios da os modernistas paulistas não torre de marfim. Comparadas ao arrojo gráfico de K. Lixto ou ignoraram a cultura popular. Tanto J. Carlos, obras de arte produzidas no “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” com o intuito declarado de serem como no subsequente “Manifesto revolucionárias parecem hoje insípidas (p. 37). Antropófago” (1928) encontramos
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São boutades divertidas, mas o J. Carlos melhor comparado com seus que significam essas comparações? contemporâneos internacionais, como Como podemos comparar as estra- o tcheco Alfons Mucha, o alemão tégias promocionais de um poeta de Adolfo Hohenstein e o inglês Aubrey vanguarda com as de um cangaceiro Beardsley, que também trabalhavam procurado por um cineasta local com a estética art nouveau? enquanto era caçado pelas autori- Apesar de minhas ressalvas sobre dades federais? Talvez a manipulação a discussão de Cardoso com os moder- da mídia por Lampião seja melhor nistas paulistas, o seu estudo é uma comparada ao uso mais impactante realização notável. Publicado em inglês (e obviamente obsceno) da fotografia como Modernity in Black and White: por aqueles que exibiram como adver- Art and Image, Race and Identity tência sua cabeça cortada e as de outros in Brazil, 1890-1945 (Cambridge cangaceiros – uma mise-en-scène University Press, 2021), já foi macabra analisada no último capítulo agraciado como um dos vencedores do de Modernidade em preto e branco. Prêmio Roberto Reis, concedido pela Quais ideias sobre música poderiam Brazilian Studies Association. Mais se comparar ao “poder retumbante” importante, tem provocado numerosos de um desfile carnavalesco? Havia debates e servido como pedra de toque críticos de música da belle époque para a reavaliação do modernismo tropical cuja escrita tinha um poder tão brasileiro. Embora o livro focalize forte e lúdico? Suponho que Tarsila do o modernismo carioca e sua relação Amaral é alvo da última farpa, mas não com o mito de 1922, ele serve também me lembro de ela ter se declarado como um convite para repensar os revolucionária. De qualquer forma, modernismos brasileiros além do eixo não seria o arrojo gráfico de K. Lixto e Rio-São Paulo.