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ICONOGRAFIAS DA NEGRITUDE EM SALVADOR

ROMO, Anadelia. Selling Black Brazil: Race, Nation, and Visual Culture in
Salvador, Bahia. Austin: University of Texas Press, 2022. 348 p.

Em seu novo livro, a historiadora complexa e reveladora. Selling Black


Anadelia Romo explora a construção Brazil conta essa história.
de Salvador da Bahia como uma Romo coloca esses guias turísticos
cidade “negra” por meio de uma fonte no centro de profundas transformações
inovadora: guias turísticos ilustrados nas formas de representar a cidade em
da cidade, escritos em português, meados do século XX. Em contraste
dirigidos ao público nacional, em um com representações visuais anteriores,
momento de expansão do turismo que buscavam branquear a paisagem
doméstico (décadas de 1940-1960). urbana e minimizar as influências
Os guias, na sua maioria escritos por africanas, as novas iconografias,
romancistas, jornalistas ou acadê- criadas por artistas e autores brancos
micos conhecidos, documentam em pareceria com lideranças e comuni-
mudanças importantes nas concep- dades religiosas afro-brasileiras,
ções de identidade local e regional. passavam a exaltar a negritude do povo
Mas eles são especialmente revela- e das culturas populares. Ao mesmo
dores, argumenta Romo, pelas formas tempo, argumenta Romo, o repertório
com que suas ilustrações ajudaram visual cristalizado como resultado
a estabelecer uma nova iconografia dessas visões modernistas retratava os
da cidade – uma iconografia que, ela corpos negros como felizes, festivos,
argumenta, tornou-se “aceita como pré-modernos e sempre nas ruas e
comum e natural” (p. 9), mas (natu- outros espaços ao ar livre, criando uma
ralmente) possui uma história apreciação (ou apropriação) seletiva,

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estereotipada e comercializada da diálogos transnacionais. Este é um dos
cultura negra que, em última análise, grandes prazeres do livro, que deixa
não redundou em direitos políticos patenteado como a formação das
concretos para a população negra identidades locais e regionais em
da cidade. Salvador estava ligada a processos
No plano mais amplo, o livro semelhantes em lugares como Buenos
levanta uma questão que é central Aires, Lima ou México.
para a história de quase todas as Romo desenvolve essas conexões
nações latino-americanas entre latino-americanas ao longo do
o início e meados do século XX: livro. O primeiro capítulo analisa a
como a cultura dos setores populares representação de pessoas negras no
(e especialmente das populações repertório visual de Salvador, desde
negras e indígenas) foi explorada meados até finais do século XIX,
para criar identidades nacionais ou por  meio de imagens fotográficas
regionais consideradas “autênticas” (cartes-de-visite e, posteriormente,
e distintas? Romo insiste em tratar o cartões postais) que, salvo raras
Brasil como parte da trajetória mais exceções, apresentavam seus retra-
ampla desses processos na América tados como “tipos raciais” geralmente
Latina, em vez de tratá-lo como um associados a modos particulares de
caso isolado. Em parte, essa escolha trabalhar, vestimentir e posar. Romo
responde ao fato de que o livro foi vincula esse repertório visual conser-
escrito principalmente para um vador ao costumbrismo comum
público norte-americano não neces- em toda a América espanhola no
sariamente especializado na história mesmo período, onde represen-
brasileira. Mas também responde, tações racializadas de homens e
como veremos, ao fato de que vários mulheres, retratados no trabalho ou
dos indivíduos que ajudaram a criar no lazer, serviam como emblemas
essa nova iconografia para Salvador de determinadas regiões ou nações.
chegaram na cidade imediatamente Mas enquanto grande parte da
depois de experiências formativas tradição costumbrista na América
em outras partes da América Latina, espanhola surgiu através de desenhos
e continuaram a manter conexões e e pinturas, Romo observa que o uso da

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fotografia na Salvador do século XIX os ideais dominantes de branquea-
complicou a tentativa (inerente ao mento, “civilização” e “progresso”
costumbrismo) de reduzir os sujeitos levaram a um novo registro visual para
inteiramente a tipos ou arquétipos. a cidade. Nos guias turísticos escritos
Em diálogo com historiadores da nas décadas de 1920 e 1930, as cenas
fotografia e da cultura visual no Brasil, urbanas apareciam ordenadas, arquite-
Romo destaca a habilidade e perícia das tonicamente modernas e desprovidas
próprias pessoas no arranjo das cenas e de presença humana, servindo para
poses, argumentando que “o meio da “apagar a presença dos cidadãos
fotografia, apesar de tudo, permitiu negros na vida da cidade precisamente
que a humanidade dos [retratados] quando os ex-escravizados lutavam
passasse pelas lentes, intencional- para encontrar um novo espaço após a
mente ou não” (p. 31). Romo conecta abolição” (p. 57).
a cronologia da fotografia (a evolução Romo continua a compatibilizar
em suas maneiras de retratar negros a trajetória de Salvador (e do Brasil)
escravizados, libertos ou livres) à da com uma trajetória latino-americana
abolição no século XIX, mostrando ao designar como “modernistas” os
como aquelas imagens de traba- artistas que ilustraram os guias de
lhadores afro-brasileiros estáticos meados do século XX. Ela define
e aparentemente complacentes amplamente como modernistas
ganharam popularidade precisamente
o conjunto de artistas, intelec-
nas décadas da emancipação gradual, tuais e funcionários do governo
e continuaram a circular como que vieram desafiar as formas
tradicionais de compreender [as
cartões postais populares após 1888,
identidades locais ou nacionais] e
servindo de tentativas “para colocar os recorreram a histórias nativas para
indivíduos negros firmemente de volta fazê-lo (p. 11).
ao seu antigo lugar, imobilizando-
-os em um estúdio atemporal de (Essa designação também serve
servidão” (p. 49). Como em outras para traçar um paralelo com os famosos
partes da América Latina, Romo modernistas paulistas que, igualmente,
mostra ao final do capítulo que, afirmavam ter “descoberto” um Brasil
na Salvador da Primeira República, profundo por meio das culturas negras

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ou indígenas, e ajuda a desafiar a Salvador. Este livro, segundo Romo,
associação restritiva do modernismo foi um dos primeiros a romper com
brasileiro com São Paulo.) O trabalho a tendência nos escritos regionalistas
de tais artistas e pensadores é parte de nordestinos de celebrar a mestiçagem
uma história comum na América Latina e (em menor grau) as raízes africanas
na primeira metade do século XX: só na linguagem do texto, e não na
a celebração seletiva de raízes linguagem visual, esta que continuava
não-brancas e o surgimento de novas mostrando as mesmas ruas vazias
ideologias de inclusão racial, sendo a e igrejas coloniais europeias dos
“democracia racial” do Brasil talvez guias da Primeira República. Em seu
o exemplo mais famoso. Ao mesmo guia, Amado foi um dos primeiros
tempo, Romo destaca que as imagens modernistas da região a vincular a
e os textos relacionados às ideias de identidade local explicita e afirma-
inclusão racial no Brasil seguiram tivamente à negritude. Salvador,
cronologias diferentes. Embora uma para Amado, era a “cidade negra do
ênfase na negritude e nas contribuições Brasil por excelência”, e o seu guia
culturais africanas tenha surgido com chamava a atenção dos leitores para
bastante força na palavra impressa, diversas manifestações da cultura
pelo menos desde as décadas de 1920 afro-baiana – especialmente o
e 1930, seria somente nas décadas de Candomblé, que ele retratou como
1940 e 1950 que a mesma ênfase se uma atração imperdível para turistas.
manifestaria na cultura visual. Ainda mais notáveis foram as
O núcleo do livro, os capítulos 2 ilustrações para esse livro do artista
a 5, examina de perto os guias de Manuel Martins, que celebravam
viagem das décadas de 1940 e 1950 a cidade “negra” através de novas
(o corpus principal da investigação) técnicas e estéticas (desenhos em
e suas representações modernistas da branco sobre um fundo preto, de tal
negritude. O segundo capítulo analisa forma que a cidade inteira e seus
um guia inovador de Salvador, habitantes compartilhassem essa cor,
escrito por Jorge Amado em 1945: agora valorizada). Longe de destacar
Bahia de Todos os Santos: guia das a arquitetura europeia de uma cidade
ruas e dos mistérios da Cidade do despovoada, Martins retratava a

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população negra: suas expressões como a história anterior e a perspectiva
culturais e suas formas de trabalho específica de cada artista, juntamente
e lazer. A obra de Martins também com suas eventuais conexões com
foi revolucionária ao expor e criticar os modernistas baianos, moldaram
a pobreza e as precárias condições suas visões de Salvador. Quanto a
de vida de seus habitantes, ao invés Verger, Romo se concentra em seus
de simplesmente romantizá-los. primeiros anos na Bahia (1946-1951),
No entanto, como argumenta Romo, quando o fotógrafo francês era recém-
este guia foi, em última análise, -chegado e trabalhava para a revista
“retrógrado e vanguardista” (p. 71) O Cruzeiro. Ela demonstra como
ao mesmo tempo, na medida em o foco em “tipos” e no pitoresco,
que se baseava em uma linguagem desenvolvido durante viagens para
visual de “tipos étnicos” herdada de outros lugares da América Latina
um momento histórico anterior, e a (especialmente países com grandes
reproduzia. À medida que o texto populações indígenas, como México e
se tornou um enorme sucesso após Peru) aguçou o foco de Verger no que
a década de 1960, Amado foi aos ele considerava culturalmente “outro”
poucos substituindo a arte crítica de na Bahia: as pessoas e expressões
Martins por um tipo de ilustração culturais negras. Romo ressalta que
mais celebratória e romantizada que essas primeiras fotografias de Verger,
surgiria, precisamente, nos anos que que acompanharam matérias escritas
se seguiram à primeira edição de seu pelo jornalista Odorico Tavares,
guia, e que se tornaria cada vez mais foram destinadas ao público do sul e
a norma estética nas representações sudeste do Brasil, com o objetivo de
da cidade. promover o turismo na Bahia. Verger
Os capítulos 3 e 4 examinam o continuou na veia de Amado de
desenvolvimento dessa nova norma retratar Salvador como uma cidade
no trabalho de dois estrangeiros que negra, mas ao contrário das ilustrações
tiveram um impacto decisivo na de Martins, ele evitou mostrar cenas
cultura visual de Salvador nas décadas de pobreza ou precariedade. Em vez
de 1940 e 1950: Pierre Verger e Carybé. disso, focou sua lente em cenas de rua,
Em ambos os casos, Romo analisa festividades e formas pré-modernas de

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trabalho, sempre destacando a beleza uma tradição modernista latino-
da forma humana. O modo como -americana mais ampla, citando suas
Verger destacava os indivíduos negros viagens pela região, seu interesse
nas suas fotografias, argumenta Romo, pelas culturas indígenas e populares,
junto com os textos muitas vezes e seus primeiros trabalhos retratando
insensíveis, não escolhidos por ele, o Brasil para os públicos local e
que as acompanhavam, contribuíram estrangeiro. Romo traça as influências
para a tendência, no longo prazo, de Verger sobre Carybé, mostrando
de representar indivíduos negros como como este último destilou o trabalho
“tipos” regionais atemporais. Assim fotográfico de Verger em um estilo
como os cartões-postais do início de desenho minimalista, elegante e
do século XX, a fotografia de Verger atraente que colocou sujeitos negros
em O Cruzeiro pode ter servido para estilizados e anônimos contra fundos
tranquilizar os leitores (principalmente brancos e atemporais. Essa estética
brancos) em lugares como Rio ou São peculiar mostrou-se especialmente
Paulo de que a população negra do adequada para guias turísticos que
nordeste conhecia o seu “lugar” social. retratariam Salvador como espaço
Romo termina o capítulo com de lazer, festas e tradições pré-mo-
uma análise breve, mas importante, dernas, bem como para argumentos
das maneiras pelas quais o trabalho contemporâneos sobre a harmonia
fotográfico de Verger nesses primeiros racial, supostamente única, no Brasil.
anos foi eventualmente usado nos Assim foi que as ansiedades sobre
estudos da Organização das Nações o “progresso” na Bahia de meados
Unidas para a Educação, Ciência e do século se transformariam em
Cultura (UNESCO) dos anos 1950 uma narrativa celebratória da cidade
como evidência, supostamente centrada na negritude voltada para
“documental”, para, ironicamente, um público externo.
reafirmar o conceito de “tipos” raciais Esses primeiros experimentos
em trabalhos destinados a desmas- artísticos no pós-guerra abriram
carar a raça como verdade científica. caminho para o que Romo chama
O capítulo sobre o argentino (no capítulo 5) de uma “consoli-
Carybé também situa o artista em dação” de representações visuais em

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torno a uma cidade decididamente das visões modernistas da cidade
“negra” nos guias turísticos do que surgiram nos guias turísticos
final dos anos 1950. Ao examinar de meados do século XX. Romo
outros guias turísticos da mesma demonstra como as lideranças de
década, Romo mostra que as visões terreiros famosos (principalmente
de Amado, Verger, Carybé e outros Mãe Senhora), na tentativa de moldar
modernistas coexistiam e competiam a imagem pública de Candomblé em
com várias outras que continuavam uma direção positiva, negociaram a
a enfatizar a mestiçagem ou a tensão entre abrir seus terreiros para
branquitude e a minimizar a cultura artistas e fotógrafos modernistas
afro-baiana. Mesmo quando os guias influentes, por um lado, e por outro,
do final dos anos 1950 e começo preservar o sigilo, o controle e sua
dos 1960 reconheciam cada vez própria autoridade. Enquanto as
mais o Candomblé, as baianas e a colaborações estratégicas dos líderes
capoeira como elementos essenciais do Candomblé com figuras da elite
da cidade, seus autores mostravam-se política, intelectual e cultural, neste
relutantes em nomear Salvador e em outros períodos, têm sido
explicitamente como uma cidade abordadas por vários estudiosos,
negra ou em discutir abertamente a a análise de Romo destaca as
cultura afro-baiana. É por isso que, dimensões específicas delas no
para Romo, as representações visuais interesse de tornar o Candomblé
são tão importantes – a arte, como (e especialmente determinados
alguns estudiosos de raça e cultura terreiros) em atração turística e
visual têm argumentado para outras símbolo da própria cidade.
partes da América Latina, é capaz Este é um capítulo crucial do
de complementar ou minar o texto livro, estabelecendo claramente que
que a acompanha, dizendo de forma pensadores e líderes negros foram
visual o que não pode ser dito de tão ativos na formação de uma icono-
forma verbal. grafia afro para a cidade quanto seus
O capítulo final examina o papel colegas brancos, mesmo que nem
dos afro-baianos, particularmente sempre (aliás, nunca) em condições
o povo do Candomblé, na criação de igualdade de poder e de acesso aos

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meios de representação. Romo, como a arte que eles contêm, são fontes
mencionei anteriormente, considera riquíssimas, como Romo evidencia
o protagonismo e a autorrepresen- com sucesso ao longo deste livro.
tação dos negros que posaram para Mas também são fontes curiosas,
fotógrafos do século  XIX no seu peculiares. Durante a maior parte
primeiro capítulo. Mas os capítulos do período abordado no livro –
centrais maiormente contam a na verdade, ao que parece, até o
história – matizada e crítica – de um final dos anos 1950 e início dos
conjunto de homens brancos que anos 1960 – a indústria do turismo
se ergueram, para si mesmos e para em Salvador permaneceu em grande
públicos de fora, como intérpretes parte latente ou aspiracional. Como
principais da negritude em Salvador. a própria Romo observa, esses guias
Eu me pergunto como mudaria a de turismo surgiram bem antes de o
história se Romo tivesse tentado turismo na região realmente florescer.
reconstruir, ao longo do livro, Como tal, os “guias” eram estranha-
os muitos encontros e interações mente desprovidos de informações
pessoais, as situações contextuais, práticas, como hotéis, restaurantes ou
as trocas (desiguais) de saberes e as transporte. Eles não eram, portanto,
múltiplas autorrepresentações que guias turísticos em sentido estrito –
ficaram por trás dessas criações moder- isto é, provavelmente não foram
nistas, e as constituíram? É claro que destinados a serem consultados
grande parte desse processo não é rapidamente nas esquinas por um
possível de documentar, mas a mesma viajante desorientado; em vez disso,
ênfase narrativa e analítica sobre essas eles pareciam pensados, de forma
questões que aparece nos capítulos 1 quase literária, para “abrir as mentes
e 6 teria sido muito esclarecedora nos dos leitores para um mundo distante
capítulos intermediários. que eles nunca visitariam” (p. 17).
A ideia de usar esses guias Nesse sentido, o título “Vender o
turísticos como um ponto de entrada Brasil Negro” parece um pouco
para uma nova história da formação fora de sincronia com a ênfase
da identidade local e regional é realmente tênue, ao longo do livro,
fantástica. Os guias, e especialmente em um mercado de turismo concreto

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(no Epílogo, a autora reconhece que em termos textuais e visuais, os
as forças do mercado permanecem modernistas reforçavam as próprias
em grande parte em segundo plano credenciais artísticas e políticas. Essa
na narrativa). Talvez as palavras dimensão escrita, literária, escapista
“Fazer”, “Imaginar” ou “Retratar o ou discursiva dos textos, penso eu,
Brasil Negro” descrevam com mais teve um peso decisivo nas limitações
precisão os processos em questão. sociais e políticas do modernismo que
Ao longo do livro, vemos que Romo analisa. Uma discussão mais
os autores desses guias – na sua profunda da dimensão literária, e não
maioria homens brancos da elite – apenas prática, desses guias também
estavam engajados principalmente ajudaria a explicar por que o turismo
em um exercício discursivo e e o mercado turístico, concretamente,
ficcional. Os supostos guias turísticos são menos centrais para a história
parecem ter sido, mais precisamente, relatada no livro do que o foco nos
literatura de viagem escrita por guias de turismo sugeriria.
pessoas locais — uma literatura de Selling Black Brazil é extrema-
escapismo, fantasia e prazer estético. mente valioso e inovador no uso de
Notavelmente, quase todos os textos metodologias relativamente novas
expressavam o desejo de dominar nos estudos afro-latino-americanos –
e revelar seletivamente os muitos análise da cultura visual e da
“mistérios” de Salvador; muitos história do turismo – para esclarecer
deles também se dirigiam expli- questões de longa data: a relação
citamente a um público feminino. entre cultura e direitos políticos,
Ambas as características sugerem a apropriação das culturas negras e
uma autoridade masculina ávida por indígenas na construção de identi-
exibir seu próprio poder de revelar, dades locais e nacionais, e a criação
expor e (re)definir a cidade, convidar e contestação de ideias de inclusão
forasteiros, erguer-se em magnânimo racial nas Américas. Sobretudo,
especialista-anfitrião e moldar a a ênfase da autora em obras de arte
perspectiva ou direcionar a atenção que circularam massivamente fora
do leitor e da leitora. No processo do espaço rarefeito dos museus
de reimaginar a cidade de Salvador expande nossa compreensão do lugar

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dos afrodescendentes na cultura visualidade na criação, manutenção
visual cotidiana dos países latino- e desmantelamento de hierarquias
-americanos e o papel fundamental da raciais arraigadas.

Paulina L. Alberto
Universidade Harvard

doi: 10.9771/aa.v0i66.52087

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