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Apontamento de Leitura:
- Mário aproxima a figura de Deus com a linguagem da Música. Ambos os domínios requerem
uma compreensão que vai além da lógica, paralógica, extraintelectual. O modo de apreender
Deus e a música seria puramente sentimental e fisiológica, estados de sensibilidade afetiva que
não teriam significado intelectual. Mário se detém, então, em uma Quadra popular, poesia do
povo que segundo ele conteria semelhante estrutura Paralógica. A quadra conteria elementos
que seriam apreciados pelo Povo através da Rima, do Corpo, das imagens que suscita.
- Dessa aproximação feita por Mário surgem pares como Intelectual x povo, Corpo x
inteligência. Haveria uma compreensão intelectual, puramente racional, e outra que
envolveria corpo e inteligência, uma compreensão integral fruto da totalização do ser. Mário
diz crer em Deus de modo integral, tal qual a compreensão paralógica do Homem do povo.
- Música, catolicismo e o Modernismo aparecem no pensamento de Mário como instâncias
totalizadoras. O movimento modernista encarna a totalidade do nacional, e o próprio Mário
afirma ter deixado de ser estadualizado para ser Brasileiro. Mário busca construir a narrativa
do Modernismo como paradigma último de interpretação da literatura brasileira e, aceita sua
visão dos fatos, críticos e historiadores posteriores colocariam a primazia do modernismo
paulista na historiografia da literatura brasileira.
- O capítulo do livro então foca sobre três intelectuais que situam-se em uma linhagem
modernista: Graça Aranha, Paulo Prado e Gilberto Freyre.
- Graça Aranha estava entre os fundadores da Academia brasileira de letras, o que demonstra
suas ótimas relações dentro do campo literário da então capital federal. Em 1924 volta-se
contra a ABL acusando-a de imobilista e passadista, ao passo que demonstra apoio ao
movimento modernista. Mário, porém, demonstra certas reservas com Graça Aranha e outros
intelectuais do Rio de Janeiro. Seu livro A estética da vida, dedica-se em boa parte uma
metafísica vazia e pedante, de tom espiritualista. A modernidade do escrito, segundo Fischer,
encontra-se na visão anti-dogmática com que o livro aborda temas caros ao catolicismo. Em
capítulo denominado “A imaginação brasileira” Graça Aranha trata da questão da Raça,
expressando uma visão racista e estigmatizada do negro e do índio. Conecta Raça e Cultura tal
qual seus contemporâneos e, assim como para Mário de Andrade, a unidade da raça seria uma
precondição para dar sentido pleno a Cultura.
- Paulo Prado. Vindo de família rica, financiou a semana de arte moderna de 1922. Seu livro
Retrato do Brasil estabelece uma cronologia da história do Brasil através de capítulos
nomeados Luxúria, cobiça, tristeza e Romantismo. Católico e Reacionário, Paulo Prado
condena a renascença e o paganismo, responsáveis estes pela sensualidade desenfreada que
se forjou na colônia.
- O livro mobiliza categorias tais como Povo, País, Terra, temas caros ao modernismo; Também
encontram-se ecos das teorias evolucionistas através de noções como Endogamia e Seleção. O
livro transita entre o contexto geográfico de SP e pretensões generalistas de representar o
Brasil como um todo. Ao referir-se ao século do ouro no Brasil (XVIII) como uma era de
Martírio que empobreceu o Brasil, nota-se um deslocamento semântico entre SP e Brasil, visto
que a província paulista quem perdeu domínio e influência a partir da ascensão de Minas
Gerais.
- Citando Carlos Berriel em livro sobre a obra de Paulo Prado, define-se o livro de Prado como
a defesa do mito do bandeirante enquanto construtor do país e as elites cafeicultoras como
polo dinâmico e desenvolvido em meio a um país atrasado. Com o modernismo as elites
paulistas tornam homólogas sua trajetória e a trajetória do país, e o seu projeto de classe
torna-se um projeto de nação.
- Gilberto Freyre. A singularidade de Freyre reside no fato de ter outra formação em relação
aos outros modernistas aqui citados. Estudou ciências sociais nos estados unidos; trata-se de
um ponto de vista perdedor, uma vez que nunca teve a relevância das outras perspectivas na
política cultural elaborada nos grandes centros (SP e RJ). Na universidade de Columbia foi
aluno de Franz Boas, com quem aprendeu a distinguir Raça, ambiente histórico e Cultura. Daí
estava a base para analisar a cultura brasileira e o papel da mestiçagem na construção da
nação.
- Sua visão acolhe o popular ao lado do senhorial, embora este último ganhe destaque no par
Casa grande – Senzala. A casa grande seria nesse esquema a mais legítima organização social
presente na formação brasileira.
- Em 1926 é publicada a segunda edição do livro Vultos do meu caminho de João Pinto da Silva.
Em ensaio intitulado “A poesia nova e o Rio Grande” o escritor expõe sua visão do
modernismo através de uma visão organicista que lembra em muito a de Gilberto Freyre,
distante do entusiasmo com as mudanças e rupturas próprias do modernismo paulista, e
afinado com a ideia de um ritmo de modernização que levasse em conta os fatores internos do
país. João Pinto afirma que ao invés de lerdo e fatalista, como muitos descrevem, o Brasileiro
seria precipitado, não esperaria o tempo certo para agir. Precipitados teriam sido a
Independência, a abolição, a Indústria, a renovação artística, fruto de um esquecimento das
peculiaridades de nossa formação e absorção desmedida de novidades vindas de fora.
- A defesa da Obra de Simões Lopes Neto, definido como o mais original dos Regionalista com
imagens dignas de um moderno. Simões teria realizado a dimensão nacionalista do
modernismo. Assim como para Freyre, o Regionalismo não seria antagônico ao modernismo,
mas um caminho para se atingir o moderno. Opõe o cerebralismo dos modernos paulistas à
espontaneidade de um Riacho que os escritores regionalistas colocam em suas obras. A
discussão modernista em Porto Alegre ressaltava as qualidade um organicismo, um ritmo
manso, a maturação das relações entre Arte e Sociedade evitando rupturas.