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brasileira ao Arcadismo
Quinhentismo: contexto histórico e cultural
A literatura quinhentista brasileira reflete o contexto da colonização, marcada pela expansão do cris-
tianismo e pelo cultivo da cana-de-açúcar, que impulsionou a vinda de africanos escravizados.
Pode ser dividida em literatura de informação e literatura de formação. Na primeira, escrita
em prosa, o objetivo é levar ao conhecimento dos leitores as características das terras recém-des-
cobertas e de seu povo. É composta de crônicas históricas, roteiros de navegação, diários de bor-
do e cartas à Coroa. A segunda, constituída por prosa moralista, poesia e peças teatrais, era escrita
predominantemente por missionários da Companhia de Jesus, que vieram para o Brasil catequizar
os povos indígenas.
Padre José de Anchieta e Pero Vaz de Caminha
Dois autores destacam-se na literatura quinhentista do Brasil: José de Anchieta e Pero Vaz de Caminha.
O missionário jesuíta Anchieta deixou uma vasta obra, que inclui prosa, dramaturgia e poemas,
parte dela escrita em tupi-guarani. Os temas religiosos percorrem o conjunto da obra e podem ser
vistos no teatro, por exemplo, que foi usado como meio para a catequização dos nativos. Também
aparece na poesia, que, dotada de linguagem simples e métrica popular, é considerado o gênero com
melhor realização artística.
Pero Vaz de Caminha notabilizou-se pela escrita da Carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do
Brasil, que documenta os acontecimentos da viagem de Portugal ao Brasil e suas impressões da nova
terra, principalmente sua perplexidade diante da natureza local e dos povos indígenas, como evidencia
o trecho a seguir.
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. An-
dam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas
do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. [...]
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cris-
tãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. [...]
Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000292.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2012.
Antônio Vieira
Barroco no Brasil
A sociedade do Brasil Colônia do século XVII era composta de estratos sociais: uma pequena
nobreza; um clero poderoso; negros e indígenas escravizados; e o povo – formado, sobretudo,
de lavradores, comerciantes, artesãos e, nos centros urbanos como Salvador e Rio de Janeiro, de
burocratas (homens letrados, em sua maioria bacharéis em Direito).
A relação entre o Brasil e Portugal se baseava na exploração de riquezas da Colônia pela Me-
trópole. A economia se pautava na agricultura e na exportação de cana-de-açúcar e de tabaco.
Gregório de Matos Guerra (1636-1696) é considerado o principal nome da literatura barro-
ca no Brasil.
Gregório de Matos
O poeta baiano Gregório de Matos não publicou livros em vida. Sua obra circulava oralmen-
te e em cópias manuscritas. Por isso, a autoria de alguns poemas seus é contestada. Não obs-
tante, sua obra é volumosa e rica, abrangendo a poesia lírica, satírica, religiosa e encomiás-
tica (gênero poético em que o eu lírico elogia pessoas poderosas, em geral com a intenção de
obter favores delas).
Poesia lírica
Os poemas líricos de Gregório de Matos podem ser divididos em dois grupos: os de temática
amorosa; e os de natureza reflexiva e filosófica. No primeiro grupo, predominam os temas re-
lativos ao paradoxo da experiência amorosa e à beleza da mulher em contraste com a passagem
do tempo. No segundo grupo, aparecem, principalmente, o desconcerto do mundo e a incons-
tância das coisas, em poemas repletos de figuras de linguagem, como a antítese e o paradoxo.
O gosto pelos contrastes aparece em ambos os grupos.
Poesia satírica: o “Boca do inferno”
A faceta satírica de Gregório de Matos é decerto a mais popular. As suas críticas ferinas aos
governantes da Colônia, e da Bahia em especial, valeram-lhe o apelido de “Boca do Inferno”.
No conhecido soneto “À cidade da Bahia”, o eu lírico critica a exploração da Bahia pe-
los comerciantes estrangeiros, cidade que, “abelhuda”, troca o “açúcar excelente” por “dro-
gas inúteis”.
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Poesia religiosa
São recorrentes na produção poética de Gregório de Matos textos de temática religiosa. Neles
se expressa o conflito entre fé e razão. Um exemplo de soneto com essa temática é “A Cristo
S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida”, no qual o autor argumenta que o
amor de Deus é “mui grande” e “infinito” e que, por maior que tenham sido seus pecados, essa
“razão” o obriga a confiar em sua salvação.
Arcadismo em Portugal
No século XVIII, Portugal acumulou muita riqueza e iniciou um processo de moderniza-
ção. O primeiro-ministro, o Marquês de Pombal (governou de 1750 a 1777), realizou algu-
mas mudanças na administração da nação, principalmente a diminuição do poder da Igreja e
a submissão do poder do Estado ao rei, instaurando um modo de governo conhecido como
despotismo esclarecido.
Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) é o grande expoente do Arcadismo português.
Utilizando o pseudônimo Elmano Sadino, produziu em diferentes formas poéticas, como o so-
neto, a ode, a elegia e o canto, marcados pelo domínio de técnicas de composição e versificação.
Bocage também se tornou um dos poetas mais populares de Portugal: o seu trabalho não ficou
reservado à Corte; atingiu um público variado, admiradores de suas sátiras das instituições e
seus poemas amorosos de temática sexual.
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Arcadismo no Brasil
A extração de ouro e as cidades de Vila Rica (atual Ouro Preto) e Mariana formavam o
ambiente propício para o surgimento do Arcadismo no Brasil. Com o aumento dos impostos
Parte I, Lira II
Pintam, Marília, os Poetas Porém eu, Marília, nego,
A um menino vendado, Que assim seja Amor, pois ele
Com uma aljava de setas, Nem é moço nem é cego,
Arco empunhado na mão; Nem setas nem asas tem.
Ligeiras asas nos ombros, Ora pois, eu vou formar-lhe
O tenro corpo despido, Um retrato mais perfeito,
E de Amor ou de Cupido Que ele já feriu meu peito;
São os nomes, que lhe dão. Por isso o conheço bem.
Tomás Antônio Gonzaga também possui uma importante obra satírica, denominada Cartas
chilenas, em que, parecendo criticar o governador do Chile, censura o governo brasileiro.
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LXII
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que ‘té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, foi o gran-
de tema literário à época neoclássica, quando a literatura também expressou
uma resistência à Cidade, considerada então violento símbolo do poder mo-
nárquico e da corrupção moral. Interprete as opções abaixo e assinale aque-
la em que se sintetiza o modo de resistência expresso nos versos de Cláudio
Manuel da Costa acima transcritos:
a) apego à metrificação tradicional
b) bucolismo e paralelismo
c) aurea mediocritas
d) inutilia truncat
e) fugere urbem
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Sabe-se que o Arcadismo foi um dos estilos mais fiéis aos modelos e temas
da literatura europeia, sobretudo ao Renascimento. Apesar da obediência ao
gosto europeu, aspectos da experiência cultural na colônia também se impri-
mem nos textos desse estilo. Exemplo disso é o poema acima, de Cláudio Ma-
noel da Costa, em que se observa:
a) a criação de imagens que sugerem a geografia colonial, como a do álamo
copado em cujas margens vê-se uma ninfa cantar.
b) que o gosto formal pelo soneto, forma poética europeia, serve à expres-
são da paisagem colonial, afastando-se parcialmente das convenções
bucólicas.
c) a valorização da vida serena, prudente e racional, livre de paixões desen-
freadas e cuja representação perfeita é o pastor de ovelhas.
d) a fidelidade descritiva com que é tratada a paisagem portuguesa em suas
semelhanças com a natureza bucólica e pastoril da colônia.
e) o tema da áurea mediocritas expresso no desejo humano de abandonar
qualquer excesso emotivo ou impulso irracional.
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