Estilo pós-renascentista que herda as formas do renascimento, mas em um contexto
social distinto. Surgiu em um mundo em defensiva, em uma Europa pré-industrial, aristocrática e jesuítica, fortemente marcada pela contrarreforma. Em Portugal e Espanha adquiriu uma concepção triunfalista e messiânica da coroa e nobreza rural e mercantil, sobretudo durante o auge da contrarreforma e do conflito do império filipino contra os ideais do protestantismo e do racionalismo burguês crescente na França, na Inglaterra e nos Países Baixos. Lá se enraizou e resistiu por mais tempo contra uma realidade social e cultural atravessada pela ofensiva da modernidade burguesa, científica e leiga. No Brasil houve ecos do barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII. É apenas na segunda metade do século XVIII, porém, que o ciclo do ouro daria um substrato material à arquitetura, à escultura e à vida musical de tal maneira que é possível falar em um barroco mineiro. A poesia do período, no entanto, era apenas residualmente barroca e muito mais rococó, arcádica e neoclássica. É possível dizer que o nível de consciência dos produtores de literatura arcádica estava mais próximo da ilustração burguesa europeia do que os mestres de obra e os compositores religiosos de Minas e Bahia, os quais os modelos ainda remontavam o Barroco seis-setecentista. Aleijadinho esculpe e constrói em fins do século XVIII ignora o neoclassicismo; a música de Lobo de Mesquita e Marcos Coelho Neto mais lembram compositores e sinfonias barrocas que qualquer outra coisa. É possível distinguir entre uma ecos de uma poesia barroca na vida colonial e um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na musica que apenas se tornou realidade cultural quando a exploração das minas permitiu o florescer de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina ou deu nova vida a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.
Características principais:
Herança renascentista e utopia contrarreformista
Ambiguidade, dualismo e contradição. Oposição entre desejo e moral. Pecado e virtude. O eterno e o efêmero Inconstância da vida e carpe diem. Aproveitar a vida e o tempo pois ela é efêmera. Ao mesmo lidar com a culpa pelo excesso. Discurso sagrado e moralista convivia com aqueles satíricos e obscenos Cultismo: jogo de palavras Conceptismo: jogo de ideias Pessimismo objetivo e Melancolia Figuras de linguagem predominantes: antítese (coexistência entre ideais opostas), paradoxo (fusão de ideias opostas), hipérbato (inversão da ordem sintática dos elementos, hipérbole (aparência monumental às ideias e as expressões de angústia) Grandes expoentes: Gregório de Mattos (poesia), Padre Antônio Vieira (prosa), Bento Teixeira, Botelho de Oliveira Arcadismo A literatura dos setecentos possuiu dois movimentos ideais na literatura dignos de nota. O poético, que tem sua origem num encontro com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da tradição clássica. O movimento ideológico, traduzido esse pela crítica burguesa ilustrada aos abusos da nobreza e do clero. Incorporou a dupla face do iluminismo: a secura geométrica de Voltaire e a afetividade pré-romântica de Rousseau. O primeiro era a ponta-de-lança dos meios urbanos contra os preconceitos da nobreza e do clero. Já o segundo era quem abria as estradas largas do pensamento democrático, da pedagogia intuitiva e da religiosidade natural. Ambos renegam o absolutismo instaurado pela nobreza e o alto clero e fazem-no recorrendo à liberdade, à natureza e à razão - volta à natureza é o tema de Rousseau. Antes da revolução industrial e da revolução francesa, o burguês, ainda sob tutela do na nobreza via no campo o paraíso proibido como reino da espontaneidade. Ambientes e figuras bucólicas povoam os versos dos autores setecentistas, tendo a gênese dessa temática a própria burguesia enquanto hipótese sociológica principal. A poesia pastoral como tema se vincula ao desenvolvimento de uma cultura urbana que transforma o campo num bem perdido. O desajustamento da convivência social se explica pela perda da vida anterior o que fez do campo o cenário mítico de uma euforia perdida ou felicidade perdida. Não obstante, o artifício da vida rústica da poesia arcádica também deve se levar em conta o mito do homem natural (“o bom selvagem”) O arcadismo, por assim dizer, é a visão literária do iluminismo vitorioso, passando, a partir do século XVIII, a um estilo específico de pensamento voltado para o racional, o claro, o regular e o verossímil. Enquanto estilo tem como marca a busca do natural e do simples, esquemas que representam formas menores e específicas de beleza e de ser afetado por temas bucólicos. Denominador comum das tendências arcádicas: procura pelo verossímil, a arte como cópia da natureza. O arcadismo toma forma a partir dos sonetos de Claudio Manuel da Costa; do engajamento pombalino da épica de Basílio da Gama; da sátira política de Gonzaga. No contexto brasileiro, as teses ilustradas, clandestinamente trazidas para cá, formaram a bagagem ideológica dos arcades: Os mitos do homem natural, do bom selvagem, do herói pacífico; Certo mordente satírico em relação aos abusos dos tiranetes, dos juízes venais, do clero fanático, mordente a que se limitou, de resto, a consciência libertária dos intelectuais da Conjuração Mineira. O gosto da clareza e da simplicidade graças ao qual puderam superar a pesada maquinaria cultista;