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ARCADISMO BRASILEIRO

De acordo com os neoclassicistas, só haveria arte, se os artistas resgatassem os ideais gregos e renascentistas.
Dessa forma, a arte nesse período era considerada bela. Nas escolas de belas-artes, os alunos deveriam
conhecer a arte do período antigo e por isso era produzida baseada na técnica e nas convenções gregas e
romanas.
Em todas as partes, via-se a arte grega e o renascimento. Um exemplo está nas edificações, como em casas ou
em templos religiosos, colunas, frisos, estátuas, planta dos edifícios com forma de cruz, etc. As obras
arquitetônicas que mais se destacaram foram: A igreja de Santa Genoveva, projetada por Jacques Germain
Souflot, um dos primeiros arquitetos do estilo, e, a Porta de Brandemburgo, localizada em Berlim, projetada pelo
arquiteto Karl Gotthard Langhans.
A pintura é inspirada na escultura clássica grega e na pintura renascentista italiana, principalmente em Rafael, um
pintor que se destacou por usar o equilíbrio entre as cores. As Revoluções Francesa e Industrial causaram
grandes mudanças nas artes nesse período. Geralmente as obras expressavam fortes emoções e um realismo,
fazendo da obra uma grande influência para a época.

CONTEXTO HISTÓRICO

O século XVIII marcou o definitivo fim dos ideais medievais, embora pareça estranho. No Renascimento - vide
"Clacissismo" - a concepção do Homem mudou radicalmente. Porém, durante a Contrarreforma católica a Igreja quis voltar a
pregar sua autoridade e os ideais medievais - vide "Barroco". Agora, no chamado "Século das Luzes", além da mudança
econômica, vive-se uma mudança política e social.
É lançada a Enciclopédia, dicionário arrazoado das ciências, das artes e dos ofícios, redigida pelos maiores pensadores
da época, como Russeau e Voltaire. Os novos ideais, além de refletirem-se nas artes, influenciam a política, incentivando
monarcas absolutos da época a adaptar-se a esses, o que acabou gerando o conhecido despotismo esclarecido.
Tanto a Revolução Francesa quanto a independência dos Estados Unidos foram propulsadas, também, à nova
concepção universal.
Não podemos deixar de lado também o fenômeno que foi a Revolução Industrial, as grandes fábricas, o crescimento
das cidades, as longas jornadas de trabalho.
Neste momento histórico, D. José assume o reino e nomeia como primeiro-ministro o Marquês de Pombal, que
permanecerá no poder de 1750 a 1777. Típico representante do despotismo esclarecido, Pombal inicia uma série de reformas
para salvar Portugal da decadência em que mergulhara desde meados do século XVI. O violento terremoto que destrói Lisboa,
em 1755, amplia as necessidades financeiras do tesouro luso e os impostos são brutalmente aumentados.
O reformismo de Pombal enfrenta resistências, e ele decide expulsar os jesuítas dos territórios portugueses, no ano de
1758. Também a parcela da nobreza que se opunha a seus projetos é aprisionada e silenciada. Um grande esforço industrial
sacode a pasmaceira da Corte. Monopólios comerciais privados e empreendimentos fabris comandam a tentativa de mudança
do modelo econômico. O ouro do Brasil funciona como lastro destas reformas.
A morte de D. José, em 1777, assinala também a queda de Pombal. A sucessora do trono, D. Maria, procura tapar os
rombos (cada vez maiores) do Erário Real, aumentando ainda mais a pressão econômica sobre a Colônia. Além dos impostos
extorsivos, ela proíbe toda e qualquer atividade industrial em nosso país. Criam-se assim as condições para o surgimento de um
sentimento nativista.
A Inconfidência Mineira - O crescente endividamento dos proprietários de minas com a Coroa aumenta o desconforto e
a repulsa pelo fisco insaciável. Na consciência de muitos ecoa o sucesso da Independência Americana, de 1776. E também a
força subversiva das idéias iluministas - expressas em livros que circulam clandestinamente por Vila Rica e outras cidades.
Tudo isso termina por estimular membros das elites e alguns representantes populares ao levante de 1789.
Apenas a traição de Joaquim Silvério impedirá que a Inconfidência Mineira chegue a bom termo. Porém, o martírio de
Tiradentes e a participação de poetas árcades (ainda que tênue e por vezes equivocada), no esforço revolucionário,
transformam a sedição no episódio de maior grandeza do passado colonial brasileiro.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O rompimento com a estética cultista barroca começou no Brasil com a publicação das Obras, de Cláudio Manuel da Costa,
em 1768. O movimento árcade permaneceu como tendência literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.

Árcades mineiros - Não existiu, no Brasil, uma Arcádia, como em Portugal. Um vigoroso grupo intelectual - o "grupo
mineiro" - destacou-se na arte literária e na prática política, participando ativamente da Inconfidência Mineira. Esse grupo,
constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Manuel Inácio da Silva
Alvarenga e outros intelectuais, foi desfeito de forma violenta, com a prisão, desterro ou morte de alguns poetas, à época da
repressão política em torno do episódio da Inconfidência.

Fugere urbem - A base material do progresso consubstanciava-se nas cidades. Mudava o mundo, modernizavam-se as cidades
e, consequentemente, redobravam os problemas dos conglomerados urbanos. A natureza acenava com a ordem nos prados e
nos campos, os indivíduos resgatavam sentimentos roídos pelo progresso. Os árcades buscavam uma vida simples, bucólica,
longe do burburinho citadino.

Abaixo o exagero: inutilia truncar - A frase em latim resume grande parte da estética árcade. Ela significa que "as inutilidades
devem ser banidas" e vai ao encontro do desprezo pelo exagero e pelo rebuscamento, característicos do Barroco. Por isso,
outros modelos eram buscados pelos árcades: paradigmas clássicos e renascentistas, que significavam a simplicidade e o
equilíbrio.

Pseudônimos pastoris - Fingir que são pastores foi a saída encontrada pelos árcades para realizar (na imaginação) o ideal da
mediocridade dourada (aurea mediocritas), ou seja, as louvações à vida equilibrada, espontânea, pobre (em contato com a
natureza).

Carpe diem - Aproveitar o dia, viver o momento presente com grande intensidade, foi uma atitude inteiramente assumida por
esses poetas - pastores, cuja noção de que "o tempo não pára e por isso deve ser vivido em todos os sentidos" era muito forte.

Bucolismo e poesia política - Cláudio Manuel da Costa foi o primeiro modelo e o mais forte de todos para os poetas mineiros.
Influenciou significativamente Tomás Antônio Gonzaga, de quem era o "amigo mais velho". Cláudio, considerado o mais
árcade dos poetas do grupo, teve uma formação rigorosamente clássica. A sua poesia bucólica focaliza, sobretudo, a paisagem
montanhosa de Minas Gerais. Alvarenga Peixoto, um dos poetas "ilustrados", construiu uma obra bem marcada pelo seu
aspecto político, em defesa da República, contra a guerra e em prol dos escravos. Silva Alvarenga, por sua vez, tem uma obra
lírica plena de musicalidade.

Apego aos valores da terra - A simplicidade na poesia e a idéia de abolir as inutilidades (inutilia truncat) foram, também,
objetivos dos árcades brasileiros. O ambiente peculiar oferecido pela localização geográfica do "grupo mineiro" fez brotar um
nativismo que incorporou os valores da terra ao ideário da estética bucólica, em voga no Arcadismo. Emerge a natureza
brasileira como pano de fundo para a poesia dos "pastores".
Incorporação do elemento indígena - A valorização do índio foi importante no Arcadismo brasileiro: ele reflete o ideal do
"bom selvagem", tão caro aos iluministas (o pensamento de Rousseau baseado na premissa de que a natureza fez o homem
feliz e bom, mas a sociedade o corrompe e o transforma). A incorporação do índio como elemento literário dará um colorido
diferente do europeu ao Arcadismo brasileiro.

QUANTO À FORMA QUANTO AO CONTEÚDO

Vocabulário simples Pastoralismo

Frases na ordem direta Bucolismo

Ausência quase total de figuras de linguagem Fugere urbem

Manutenção do verso decassílabo, do soneto e de outras formas Aurea mediocritas


clássicas

Elementos da cultura greco-latina

Convencionalismo amoroso

Idealização amorosa

Racionalismo

Idéias iluministas

Carpe diem

Autores Brasileiros

Tomás Antonio Gonzaga nasceu a 11 de agosto de 1744, na cidade do Porto (Portugal), e faleceu presumivelmente em 1810,
em Moçambique (África).
Era filho e neto de brasileiros. Com sete anos apenas, veio para o Brasil em companhia de seus genitores, Iniciando os
estudos, no Colégio aos Jesuítas, da Bahia. Completou sua educação, na Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1761,
bacharelando-se em Leis. Aluno aplicado, ao terminar o curso, aos dezenove anos, pensou concorrer à cátedra.
Posteriormente, exerceu o cargo de Juiz de Direito em Beja, permanecendo nele por três anos. Em 1782 sendo nomeado
ouvidor em Vila-Rica (Minas Gerais), transportou-se para o Brasil. Desempenhou este cargo com simpatia e agrado e era
consultado pelos governadores em todos os negócios difíceis e complicados. Por essa época, apaixonou-se por Maria Dorotéa
Joaquina de Seixas Brandão, que haveria de se Imortalizar como "Marília de Dirceu". Envolvendo-se na Conjuração Mineira,
foi preso a 21-5-1787, sendo removido para a prisão da ilha das Cobras, tendo seus bens confiscados.
Sofrendo pena de desterro, foi enviado a 23-51792, para a costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a
sentença de 10 anos de degredo. Hospedando-se em casa de abastado comerciante, velo a se casar com a filha do mesmo, Júlia
de Sousa Mascarenhas, vivendo depois disso, durante quinze anos, rico e considerado, até morrer. No desterro, ocupou os
cargos de procurador da Coroa e da Fazenda, e o de juiz de Alfândega.
Sua obra foi reunida em uma coleção de poesias, conhecida com o nome de "Marília de Dirceu" publicada em Lisboa,
pela primeira vez, em 1792. "Cartas Chilenas" e "Tratado de Direito Natural".
A análise biográfica de Gonzaga nos revela uma vida que, se por um lado teve seus instantes de atribulação, por outro,
teve suas compensações. Uma cumplicidade gratuita vem cortar-lhe o fio da venturosa existência em Vila Rica. A sua
intervenção na revolta de Minas foi urdidura caluniosa dos próprios adversários. Não acreditando ele nas quiméricas aspirações
dos amigos, deu-lhes abrigo para reuniões no seu domicílio. Prestigiado pela probidade e pelo saber jurídico, propalaram os
conjurados, para angariar adeptos, que o Poeta seria eleito primeiro presidente da futura república.
Tomás Antônio Gonzaga, entretanto, correto funcionário da justiça, propugnava a reabilitação total das finanças pelo
arrecadamento em bloco dos quintos atrasados. Seus inimigos, que sem dúvida eram os mais endividados com o governo,
Inculcaram depois que tal medida fora tomada de acordo com os conjurados, para maior descontentamento do povo. E mais
que todos foi Gonzaga indigitado como responsável pelo levante. Mas ele protesta contra os delatores perversos:

Esta mão, esta mão que ré parece


Ah! não foi uma vez, não foi só uma
Que em defesa dos bens que são do Estado
Moveu a sábia pluma.

Nos vários interrogatórios o poeta reivindica a sua inocência e insiste na sua abstenção do movimento:

Tu, Marília, se ouvires


Que diante de teu rosto aflito
0 meu nome se ultraja
Co'o suspeito delito,
Dize severa, assim, em meu abono:
Não toma as armas contra um certo justo
Alma digna de um trono.

Esteve à beira do desespero. Só o amor que nutria para com a futura consorte libertou-o do suicídio. Da hórrida prisão
que durou três anos, assim descreve sua deplorável miséria e abandono:

Deixo a cama ao romper d'alva;


O meio dia tem dado
E cabelo inda flutua
Pelas costas desgrenhado.
Não tenho valor, não tenho
Nem para de mim cuidar.
Vem um tabuleiro entrando
De vários manjares cheio.
Põe-se na mesa a toalha
E eu pensativo passeio.
De todo, o comer esfria
Sem nêle poder tocar.

Escrevia seus versos na parede com o carvão da candeia. Depois os transportava para o papel. Veio enfim a sentença.
Marília não o seguiu no exílio. Despede-se, pois, neste protesto, que a verdade histórica virá desmentir cabalmente:

Na desgraça a lei fatal


Pode de ti separar-me
Mas nunca d'alma tirar-me
A glória de te querer.

Para crítico literário Silvio Romero, foi Gonzaga, "o mais afamado poeta mineiro". No dizer de Ronald de Carvalho,
"sua poesia apesar dos vícios literários que se lhe percebem, como na de todos os poetas do tempo, é simples e sem os vaidosos
requintes.
Depois dos Lusíadas, não há livro que mais edições tenha tido que as suas líricas. Publicou ainda uma ode à aclamação
de D. Maria I e um tratado de "Direito Natural".
Toda obra de Tomás Antônio Gonzaga possui um caráter eufêmico pois a realidade rude dos pastores foi em parte
fantasiada e os dramas humanos ornados de recursos retóricos a fim de não chocar ou ferir, visto que a poesia deveria agradar.
Gonzaga é um pintor de situações, as emoções são deduzidas sugeridas a partir dos elementos presentes, Nos seus poemas não
existe inquietação, seu idílio é tranqüilo, mostrando-se confiante. Na realidade, gozava de reputação, tinha um alto posto,
casar-se-ia com uma adolescente. A prisão e a acusação não o Impressionaram. Confiava na absolvição.
Tomás Antônio Gonzaga, cujo nome arcádico era Dirceu, tomou como forma de inspiração a lira. É uma espécie de
canção, em geral de assunto madrigalesco. As suas liras foram comumente talhadas em redondilha popular, em redondilha
menor ou em descassílabos quebrados. A obra se divide em duas partes. A primeira são poesias anteriores à prisão. Canta a
ventura. A segunda, elaborada no cárcere, lamenta o infortúnio.
Na terceira edição (1800), surgiu uma terceira parte, mas de autenticidade questionável. Seu lirismo é de profunda
intimidade. Não foi certamente original, porque o gênero pastoril ou bucólico vem desde Teócrito e Virgílio. Em celebrar o
amor, a beleza e a vida feliz foi mestre Anacreonte. Mas a Intensidade de subjetivismo era alguma coisa de novo naquela época
formalística e fria do vazio arcáico. Caíram suas poesias no agrado do povo.
A primeira edição foi em 1792, ano de exílio do autor. Ao morrer, 18 anos depois, já eram seis as edições. E já foram
traduzidas para o francês, Italiano e em parte para o latim. Depois de Os Lusíadas, parece ser o livro mais lido em nossa língua.
É que predomina a nota de naturalidade, de singeleza, quer nos sentimentos quer na expressão e vocabulário. Todas as poesias
eram como missiva à sua Marília que não seria pessoa de erudição. A metrificação, leve e fluente. Não há no idioma versos tão
maviosos. Mesmo nos temas mais realistas, não falta a graciosidade, a delicadeza:

Atende como aquela vaca preta Repara, como cheio de ternura


0 novilho seu dos mais separa, Entre as asas o filho essa ave agüenta
E lambe, enquanto chupa a lisa teta. Como aquela esgravata a terra dura
Atende mais, ó cara, E os seus assim sustenta;
Como a ruiva cadela Como se encoleriza
Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salta sem receio a todo o vulto,
E salte em cima dela. Que Junto deles pisa!

E algumas vezes conceitos morais:

As glórias que vêm tarde já vêm frias.


Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.

Seus temas são de preferência domésticos. Era um tipo caseiro. Tinha o gosto do lar:

Nas noites de serão nos sentaremos


Co'os filhos, se os tivermos, à fogueira;
Entre as falsas histórias que contares
Lhes contarás a minha verdadeira.

O lirismo de Gonzaga foi muito nobre. Transparece muito mais ternura que sensualidade. A paisagem é artificial, muito
européia. A influência arcádica ausentou o Brasil de sua obra. Permanece o mérito de ter sido, talvez, o poeta mais delicioso da
língua portuguesa.

"CARTAS CHILENAS"

As Cartas Chilenas são 13 cartas escritas por Critrilo (pseudônimo do autor que por muito tempo ficou obscuro)
relatando os desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros
administrativos, jurídicos e morais quanto pudessem ser relatados em versos decassílabos do "Fanfarrão Minésio" ( o
governador Luís Cunha Meneses) no governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica). Elas são sempre dirigidas a "Doroteu" (que
tem uma epístola após as 13 cartas), ninguém mais do que Cláudio Manuel da Costa.

Carta 1ª (fragmentos)
feições compridas e olhadura feia;
Não cuides, Doroteu, que vou contar-te tem grossas sobrancelhas, testa curta,
por verdadeira história uma novela nariz direito e grande, fala pouco
da classe das patranhas, que nos contam em rouco, baixo som de mau falsete;
verbosos navegantes, que já deram sem ser velho, já tem cabelo ruço,
ao globo deste mundo volta inteira. e cobre este defeito e fria calva
Uma velha madrasta me persiga, à força de polvilho que lhe deita.
uma mulher zelosa me atormente Ainda me parece que o estou vendo
e tenha um bando de gatunos filhos, no gordo rocinante escarranchado,
que um chavo não me deixem, se este chefe as longas calças pelo embigo atadas,
não fez ainda mais do que eu refiro. amarelo colete, e sobre tudo
................................................................................ vestida uma vermelha e justa farda.
Tem pesado semblante, a cor é baça,
o corpo de estatura um tanto esbelta,

"MARÍLIA DE DIRCEU"

Marília de Dirceu é uma obra pré-romântica; o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor, mas é árcade em
todas as outras características. Existe também preocupação com forma. A primeira das três partes de Marília de Dirceu é
dividida em 33 liras. Nela, o autor canta a beleza de sua "pastora" "Marília" (na verdade, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas).
Descreve sempre apenas sua beleza (que compara a de Afrodite) e nunca sua psique; usa de várias figuras mitológicas; os
refrães de cada lira apresentam estruturas semelhantes, mas diferentes de lira para lira. O autor também se dirige a seus amigos
"Glauceste" e "Alceu" (Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto), seus "colegas pastores" (os três foram, em algum
momento, juizes).O bucolismo nesta parte da obra é extremo, com referências permanentes ao campo e à vida pastoril
idealizada pelos árcades. A segunda parte é dividida em 37 liras. Tomás Antônio Gonzaga escreveu esta parte na prisão, após
ser preso em 1789. Nela o bucolismo é diminuído, mas a adoração a Marília continua. Nesta parte existe a angústia da
separação e o sentimento de ter sido injuriado (as acusações eram falsas e mentirosas). Isto tudo aumenta a declarada paixão
por Marília. Aparece também a angústia da separação que sofreu com seu amigo "Glauceste". (Tomás Antônio Gonzaga estava
em regime de incomunicabilidade e não sabia do suicídio de Cláudio Manuel da Costa.). A terceira parte não possui apenas
suas 8 liras; tem também sonetos e outras formas de poesia. Mas apenas as 8 liras possuem referências a Marília; quando elas
acabam começam a aparecer outras poesias de "Dirceu", visto que não escreveu após o degredo.

Marília de Dirceu, Lira I Teu lindo corpo bálsamos vapora.


Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Para glória de Amor igual tesouro.
Que viva de guardar alheio gado; Graças, Marília bela,
De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Graças à minha Estrela!
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto; Leve-me a sementeira muito embora
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; O rio sobre os campos levantado:
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, Acabe, acabe a peste matadora,
E mais as finas lãs, de que me visto. Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Graças, Marília bela, Já destes bens, Marília, não preciso:
Graças à minha Estrela! Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Eu vi o meu semblante numa fonte, Que os olhos movas, e me dês um riso.
Dos anos inda não está cortado: Graças, Marília bela,
Os pastores, que habitam este monte, Graças à minha Estrela!
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste: Irás a divertir-te na floresta,
Ao som dela concerto a voz celeste; Sustentada, Marília, no meu braço;
Nem canto letra, que não seja minha, Ali descansarei a quente sesta,
Graças, Marília bela, Dormindo um leve sono em teu regaço:
Graças à minha Estrela! Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Mas tendo tantos dotes da ventura, Toucarei teus cabelos de boninas,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Nos troncos gravarei os teus louvores.
Depois que teu afeto me segura, Graças, Marília bela,
Que queres do que tenho ser senhora. Graças à minha Estrela!
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado; Depois de nos ferir a mão da morte,
Porém, gentil Pastora, o teu agrado Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono. Nossos corpos terão, terão a sorte
Graças, Marília bela, De consumir os dois a mesma terra.
Graças à minha Estrela! Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
Os teus olhos espalham luz divina, "Quem quiser ser feliz nos seus amores,
A quem a luz do Sol em vão se atreve: Siga os exemplos, que nos deram estes."
Papoula, ou rosa delicada, e fina, Graças, Marília bela,
Te cobre as faces, que são cor de neve. Graças à minha Estrela!
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Cláudio Manuel da Costa, filho de portugueses ligados à mineração, nasceu em Mariana, em 1729. Depois dos estudos
iniciais em Ouro Preto, foi educado no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1754, ao regressar de Portugal, onde
estudou Direito, exerceu, em Vila Rica, a advocacia e gerenciou bens fundiários que herdou. Exerceu, também, cargos
públicos, chegando a secretário do Governo da Capitania, entre 1762 e 1765.
Foi o membro mais velho do grupo mineiro. Pode ser que, durante as reuniões, além das idéias francesas e assuntos poéticos,
tenha tramado a libertação do Brasil. É implicado na Inconfidência Mineira e preso, o que foi um duro golpe para o seu
temperamento brando e para a sua idade: sessenta anos. No único interrogatório, acovardou-se, comprometendo os amigos. No
dia 4 de julho de 1789, foi encontrado morto em sua cela. Oficialmente, dizem que, numa crise de desespero, teria se
suicidado.

Características - Glauceste Saturnino, pseudônimo pastoril de Cláudio Manuel da Costa, é o poeta mais representativo do
Arcadismo brasileiro. De acordo com a estética árcade, cultiva a simplicidade, a poesia bucólica e pastoril, que exalta a
natureza, a inquietação amorosa platônica e Nize, sua musa mais freqüente. O cenário rochoso de Minas é uma constante em
seus versos que expressam mortificação interior causada pelo contraste entre o rústico mineiro e a experiência cultural
européia. Seus sonetos, de cadência camoniana, se destacam pela perfeição formal, lingüística, pelo verso decassílabo e pela
contemplação da vida.

Soneto I Soneto II

Destes penhascos fez a natureza Para cantar de amor tenros cuidados,


O berço, em que nasci: oh! quem cuidara, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Que entre penhas tão duras se criara Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Uma alma terna, um peito sem dureza! Se é, que de compaixão sois animados:

Amor, que vence os tigres, por empresa Já vós vistes, que aos ecos magoados
Tomou logo render-me; ele declara Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Contra o meu coração guerra tão rara, Da lira de Anfião ao doce acento
Que não me foi bastante a fortaleza. Se viram os rochedos abalados.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, Bem sei, que de outros gênios o Destino,
A que dava ocasião minha brandura, Para cingir de Apolo a verde rama,
Nunca pude fugir ao cego engano: Lhes influiu na lira estro divino:

Vós, que ostentais a condição mais dura, O canto, pois, que a minha voz derrama,
Temei, penhas, temei, que Amor tirano, Porque ao menos o entoa um peregrino,
Onde há mais resistência, mais se apura. Se faz digno entre vós também de fama.

COSTA, Cláudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes - poesia completa de Cláudio Manuel da Costa,
Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 95.

Manuel Inácio da Silva Alvarenga nasceu em Ouro Preto, em 1749. Apesar de bastardo, mestiço e pobre, com a ajuda de
amigos, estudou Humanidades no Rio de Janeiro e bacharelou-se em Direito, em Coimbra, onde conviveu com Basílio da
Gama. Nesse período, defendeu ardorosamente a nova política educacional do Marquês de Pombal, de quem se tornou
protegido. De volta ao Rio, se dedicou à advocacia e ao ensino. Fundou uma associação literária (1786), que logo descambou
em clube de idéias democráticas. Após denúncia, junto com outros sócios, foi preso e seus bens foram confiscados.
Permaneceu preso por quase três anos, quando, por clemência de D. Maria I, foi libertado, em 1797. Voltou a ensinar e, com a
fundação d'O Patriota, se tornou um dos nossos primeiros jornalistas. Morreu no Rio de Janeiro em 1814.

Características - As poesias e sátiras do árcade, Alcindo Palmireno (Silva Alvarenga), revelam humor, coerência formal e
pensamento crítico. Demonstram, também, sua relação com os poderes da Colônia e da Corte, que oscila entre o espírito servil
e o independente, atitude que tem a ver com o crescente sentimento nativista. Em suas obras, critica o gosto reinante das
louvações, regulares e obrigatórias, feitas aos mandatários e também o artificialismo formal e temático, resultante desse tipo de
poesia encomiástica. Os temas de seus rondós e madrigais de intensa musicalidade são fiéis ao Arcadismo: a pastora Glaura
vivendo a existência simples e pacata do campo, envolta em uma auréola de galante sensualidade. Todavia, há momentos em
que o poeta, liberando-se do rigor clássico, expõe sua personalidade brasileira, incorporando à paisagem bucólica elementos
típicos da nossa natureza. Em meio a faunos e ninfas, há lugar para a atmosfera tropical: um cajueiro ou mangueira sob a qual
Glaura descansa. Por isso, é considerado precursor do Romantismo no Brasil.

O Amante Satisfeito - Rondó Novos sons o Fauno ouvindo Quem os sabe conhecer.
XXVI Destro move o pé felpudo:
Cauteloso, agreste e mudo Canto alegre nesta gruta,
Canto alegre nesta gruta, Vem saindo por me ver. E me escuta o vale e o monte:
E me escuta o vale e o monte: Se na fonte Glaura vejo,
Se na fonte Glaura vejo, Quanto vale uma capela Não desejo mais prazer.
Não desejo mais prazer. De jasmins, lírios e rosas,
Que co'as Dríades mimosas Os metais adore o mundo;
Este rio sossegado, Glaura bela foi colher! Ame as pedras, com que sonha,
Que das margens se enamora, Do feliz Jequitinhonha,
Vê co'as lágrimas da Aurora Canto alegre nesta gruta, Que em seu fundo as viu nascer.
Bosque e prado florescer. E me escuta o vale e o monte.
Se na fonte Glaura vejo, Eu contente nestas brenhas
Puro Zéfiro amoroso Não desejo mais prazer. Amo Glaura e amo a lira,
Abre as asas lisonjeiras, Onde terno amor suspira,
E entre as folhas das mangueiras Receou tristes agoiros Que estas penhas faz gemer.
Vai saudoso adormecer. A inocência abandonada;
E aqui veio retirada Canto alegre nesta gruta,
Canto alegre nesta gruta, Seus tesoiros esconder. E me escuta o vale e o monte:
E me escuta o vale e o monte: Se na fonte Glaura vejo,
Se na fonte Glaura vejo, O mortal, que em si não cabe, Não desejo mais prazer.
Não desejo mais prazer. Busque a paz de clima em clima;
Que os seus dons no campo estima,

In: ALVARENGA, Silva. Glaura: poemas eróticos. Pref. Afonso Arinos de Melo Franco. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. (Biblioteca popular brasileira, 16)

Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro em 1744. Inicialmente estudou Humanidades no Colégio dos
Jesuítas no Rio de Janeiro e, mais tarde, se doutorou em Leis pela Universidade de Coimbra em 1767. No Brasil, exerceu a
função de ouvidor no Rio das Mortes, onde conheceeu Bárbara Heliodora, com quem se casa. Freqüentou Outro Preto e se
tornaou amigo de Cláudio Manuel da Costa e Gonzaga. Como proprietário de lavras no sul de Minas, descontentou-se com a
"derrama", por isso teria participado da Inconfidência. Criou o lema de Virgílio: Libertas quae sera tamen para a nova
república. Foi preso, julgado e desterrado, vindo a morrer de desgosto no presídio, em 1793.

Características - A pequena produção poética de Alvarenga Peixoto é irregular. Atreladas às intenções do Arcadismo.
Apresenta traços espalhados de forte nativismo sentimental que, muitas vezes, se mescla com o poder luso, ou seja, concilia
desenvolvimento com respeito a um governo forte, déspota. O tema do herói pacífico atinge sua perfeita expressão na Ode
dedicada ao Marquês de Pombal. Nesta lira laudatória, as contraposições têm como pano de fundo, o cenário mítico arcádico.

De açucenas e rosas misturadas

De açucenas e rosas misturadas


não se adornam as vossas faces belas, Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
nem as formosas tranças são daquelas a cor dos olhos e as tranças d'oiro
que dos raios do sol foram forjadas. podem fazer mil Ninfas melindrosas;

As meninas dos olhos delicadas, Porém quanto é caduco esse tesoiro:


verde, preto ou azul não brilha nelas; vós, sobre a sorte toda das formosas,
mas o autor soberano das estrelas inda ostentais na sábia frente o loiro!
nenhumas fez a elas comparadas.

In: LAPA, M. Rodrigues. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: INL, 1960.
Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Minas Gerais, em 1722. Iniciou seus estudos no Colégio dos Jesuítas, transferindo-
se, aos nove anos de idade, para Portugal. Poucos anos depois ingressou na Ordem de Santo Agostinho, e doutorou-se em
Teologia e Filosofia pela Universidade de Coimbra. Por desavenças no meio religioso, fugiu para a Itália. Retornou a Portugal,
após a queda Pombalina, onde assumiu a cátedra de Teologia na Universidade de Coimbra e iniciou a elaboração de Caramuru.
Morreu em Lisboa, em 1784.

Características - A manifestação poética de Santa Rita Durão, em Caramuru expressa um nativismo, estampado na exaltação
da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Apesar do retrocesso ao tipo de
crônica informativa do Seiscentismo, sua intenção maior é analítica e, como pertencente ao Arcadismo, paga o tributo ao
século XVIII, valorizando a vida natural e simples distante da corrupção. Faz referências a fatos históricos, do século XVI até
sua época. Em versos decassílabos com dez cantos e cinco partes, retoma fielmente o modelo camoniano.Todavia, utiliza-se de
um conservadorismo cristão no lugar da mitologia pagã, característica épica. Aceita outros recursos expressivos e técnicos,
quando emprega sonhos, previsões, vaticínios, discurso indireto e direto, união de material descritivo com narrativo, projeções
futuras a partir do evento central no século XVI.

Caramuru (fragmentos)

"Só tu tutelar anjo, que o acompanhas,


Sabes quanta virtude ali se arrisca
Essas fúrias da paixão, que acende, estranhas
Essa de insano amor doce faísca
ânsia no coração sentiu tamanhas
Que houvera de perder-se naqu’hora
Se não fora cristão, se herói fora."
"Paraguaçu gentil (tal nome teve),
Bem diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve
Olhos de bela luz, testa espaçosa."

José Basílio da Gama nasceu, em 1741, no Arraial de São José do Rio das Mortes, hoje Tiradentes, Minas Gerais. Quando foi
decretada a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, em 1759, foi noviço no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro. Fugiu
para Roma, onde fez parte da Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipílio. Foi a Portugal, e lá foi preso e
condenado ao degredo na África. O epitalâmio para as bodas da filha do Marquês de Pombal livrou-o do exílio e lhe deu a
confiança de Pombal, de quem tornou-se secretário.O Uraguai (1769) revela seu antijesuitismo e sua subserviência ao déspota.
Permanece no Brasil, na época mais efervescente do ciclo da mineração. Faleceu em Lisboa, a 31 de julho de 1795.

Características - O Uruguai obra principal de Basílio da Gama, parte de um tema contemporâneo do autor, a louvação de
Pombal e o heroísmo indígena. Apesar de não ser assunto tão grandioso para o gênero épico, consegue criar uma poesia de boa
qualidade, ágil, expressiva, e, no conjunto, a melhor que se fez na época entre nós. Os versos, em decassílabos brancos e sem
divisão de estrofes, distribuem-se em apenas cinco cantos (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo). Esse tipo
de verso e o movimento oscilatório entre os decassílabos heróicos e sáficos apressam a estrutura do poema, tornando-o mais
lírico-narrativo do que épico. No poema é narrada, apesar de ainda exaltar a natureza (que não chega a ser bucólica), a tomada
de Sacramento pelos portugueses após o Tratado de Madri em 1750. No drama principal, além dos personagens jesuítas
caricaturizados e do herói português que comandou a tomada, os índios Sepé (o famoso Sepé Tiaraju), Cacambo e Lindóia.
Sepé morre logo no começo e depois o também guerreiro Cacambo morre. Lindóia, que era sua esposa, fica extremamente
deprimida e deixa que uma cobra a pique.

O Uruguai (fragmentos)

"O rei é vosso pai: quer-vos felizes. Que lhe dê Buenos Aires e Corrientes.
Sois livres, como eu sou; e sereis livres. E outras, que tem por estes vastos climas;
Não sendo aqui, em qualquer outra parte. Porém não pode dar-lhe os nossos povos (...)"
Mas deveis entregar-nos estas terras. "Gentes de Europa, nunca vos trouxera
Ao bem público cede o bem privado. O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
O sossego da Europa assim pede. Estendeu entre nós a natureza
Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes, Todo esse plano espaço imenso de águas."
Se não obedeceis; mas os rebeldes
Eu sei que não sois vós - são os "bons" padres, O trecho abaixo refere-se à expressão doce de Lindóia, já
Que vos dizem a todos que sois livres, morta:
E se servem de vós como de escravos, "Inda conserva o pálido semblante
E armados de orações vos põem no campo." Um não sei quê de magoado e triste.
Que os corações mais duros enternece,
Os trechos abaixo pertencem a Cacambo, chefe guarani: Tanto era bela no seu rosto a morte!"
"...Se o rei da Espanha
Ao teu rei quer dar terras com mão larga

QUESTÃO 01

Aquele, Doroteu, que não é Santo


Mas quer fingir-se Santo aos outros homens,
Pratica muito mais, do que pratica,
Quem segue os sãos caminhos da verdade.
Mal se põe nas Igrejas, de joelhos,
Abre os braços em cruz, a terra beija,
Entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
Faz que chora, suspira, fere o peito;
E executa outras muitas macaquices,
Estando em parte, onde o mundo as veja.

GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas Chilenas. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 68-69.

O fragmento anterior foi extraído de Cartas Chilenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga, da Carta 2 em que Critilo (Gonzaga), dirigindo-se
ao seu amigo Doroteu (Cláudio Manuel da Costa), narra o comportamento do Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses, governador de
Minas). Considerando as informações apresentadas e esse fragmento poético, entende-se que o autor

a) descreve as atitudes do governador de Minas sem fazer uso de um tom irônico.


b) critica algumas atitudes do governador de Minas, julgando-as dissimuladas.
c) escreve, com humor, o comportamento do governador de Minas, sem apresentar um posicionamento crítico.
d) não destaca nesse fragmento o tom satírico, pois, aqui, há apenas a descrição das práticas religiosas do Fanfarrão Minésio.
e) chama a atenção para o fato de que o governador de Minas age com fervor, longe dos olhos dos fiéis.

QUESTÃO 02

TEXTO I
TEXTO II
Cresce o desejo, falta o sofrimento,
Sofrendo morro, morro desejando, Para cantar de amor tenros cuidados,
Por uma, e outra parte estou penando Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;
Sem poder dar alívio a meu tormento. Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Se é, que de compaixão sois animados:
Se quero declarar meu pensamento,
Está-me um gesto grave acobardando, Já vós vistes, que aos ecos magoados
E tenho por melhor morrer calando, Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Que fiar-me de um néscio atrevimento. Da lira de Anfião ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Quem pretende alcançar, espera, e cala,
Porque quem temerário se abalança, Bem sei, que de outros gênios o Destino,
Muitas vezes o amor o desiguala. Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:
Pois se aquele, que espera se alcança,
Quero ter por melhor morrer sem fala, O canto, pois, que a minha voz derrama,
Que falando, perder toda esperança. Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.
Gregório de Matos Guerra
Cláudio Manuel da Costa
.

Considerando-se a produção poética de Gregório de Matos e Cláudio Manuel da Costa, depreende-se que

a) cultivaram o soneto, forma fixa pela qual exploraram temas e recursos poéticos próprios dos diferentes períodos e estilos
literários que tão bem representaram.
b) cultivaram o soneto, pois valorizaram o mesmo estilo de época predominante no século XVII, quando essa forma fixa de poesia
era considerada superior a todas as demais.
c) notabilizaram-se pela sátira, dirigida contra os mandatários da Coroa portuguesa responsáveis pela exploração econômica do
açúcar e pela corrupção política na Bahia.
d) notabilizaram-se por um tipo de lirismo sentimental que já prenunciava o movimento romântico, influindo diretamente nas
obras de Gonçalves Dias e Álvares de Azevedo.
e) notabilizaram-se pela idealização do amor e da natureza, esses dois elementos centrais para a lírica que seguia os padrões e os
valores do chamado estilo neoclássico.

QUESTÃO 03

Nos dois poemas a seguir, Tomás Antônio Gonzaga e Ricardo Reis refletem, de maneira diferente, sobre a passagem do tempo,
dela extraindo uma "filosofia de vida". Leia-os com atenção:

LIRA 14 (Parte I)

Minha bela Marília, tudo passa; As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
a sorte deste mundo é mal segura; e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
se vem depois dos males a ventura, Ah! não, minha Marília,
vem depois dos prazeres a desgraça. Aproveite-se o tempo, antes que faça
.................................................................... o estrago de roubar ao corpo as forças
Que havemos de esperar, Marília bela? e ao semblante a graça.
que vão passando os florescentes dias?

TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA, "Marília de Dirceu"

Quando, Lídia, vier o nosso outono Nem para o estio, de quem somos mortos,
Com o inverno que há nele, reservemos Senão para o que fica do que passa -
Um pensamento, não para a futura O amarelo atual que as folhas vivem
Primavera, que é de outrem, E as torna diferentes.

RICARDO REIS, "Odes"

Em que consiste a "filosofia de vida" que a passagem do tempo sugere ao eu lírico do poema de Tomás Antônio Gonzaga? Os
dois poetas valorizam o momento presente, embora o façam de maneira diferente. Em que consiste essa diferença?
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