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AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO
BARROCO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um
deles você encontrará atividades que o/a ajudarão a fixar os conhecimentos
abordados.
TÓPICO 3 – O ARCADISMO
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UNIDADE 2
TÓPICO 1
A LITERATURA SEISCENTISTA
1 INTRODUÇÃO
O Barroco, um estilo artístico iniciado entre os séculos XVII e XVIII, teve
origem na Europa e se estendeu para a América. O movimento deu continuidade
ao Renascimento, porque ambos eram perpassados por um profundo interesse
pela arte da Antiguidade clássica, ainda que diferentemente a interpretassem e a
expressassem.
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UNIDADE 2 | AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO BARROCO
2 O MANEIRISMO
A Itália, a partir do Renascimento, tornou-se o maior polo de atração
artística, centro iluminador de influência de toda a Europa. Entre os anos de
1515 e 1600 surge na Itália o Maneirismo, um movimento de estilo autônomo,
derivado do Renascimento. Tinha por concepção a revisão dos valores clássicos e
naturalistas prestigiados pelo Humanismo renascentista.
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TÓPICO 1 | A LITERATURA SEISCENTISTA
Jerusalém Libertada
[...]
Canto XX
Desta arte vence Godofredo; e tanto
Resta ainda do dia aos esplendores
Que à cidade já livre, e ao templo santo
Do Salvador, conduz os vencedores.
Sem que deponha o sanguinoso manto,
Entra co’os mais libertadores;
E ali suspende as armas, e devoto
O grã Sepulcro adora, e cumpre o voto.
FONTE: TASSO, Torquato. Jerusalém libertada. Tradução de José Ramos
Coelho. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
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UNIDADE 2 | AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO BARROCO
Sobre a escultura pode-se afirmar que ela concebe um estilo tipificado, cuja
forma predominante é a figura serpentinata. A ideia remontava aos gregos, que
consideravam a linha sinuosa o melhor veículo para a expressão do movimento.
Na Renascença tal conceito foi absorvido por Leonardo da Vinci e Michelangelo,
que o transferiram para a figura humana.
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TÓPICO 1 | A LITERATURA SEISCENTISTA
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De acordo com Afrânio Coutinho (2004b, p. 18), “[...] para a teoria moderna o
Barroco é um conceito amplo que abarca manifestações variadas e diferentes conforme
o país, outrora conhecidas pelos termos locais de Conceitismo e Culteranismo (Espanha
e Portugal), Maneirismo e Seiscentismo (Itália), Eufuísmo (Inglaterra), Preciosismo (França),
Silesianismo (Alemanha), muitas delas formas imperfeitas ou não desenvolvidas”.
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TÓPICO 1 | A LITERATURA SEISCENTISTA
Em seu livro, Erasmo personifica a loucura que conversa com o leitor e faz
o seu próprio elogio.
Todas as coisas humanas têm dois aspectos... para dizer a verdade,
todo este mundo não é senão uma sombra e uma aparência; mas
esta grande e interminável comédia não pode representar-se de
um outro modo. Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão
oposto, que não podemos nos assegurar de nenhuma verdade.
(ROTTERDAM, 2004, p. 62).
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Veja, caro/a acadêmico/a, alguns aspectos abordados por Lutero. Ele faz
menção à possibilidade de salvação pela fé e pelo arrependimento; à sujeição dos papas
ao “erro” como qualquer ser humano; ao celibato do clero; às imagens presentes nas igrejas
católicas entendidas por Lutero como idolatria; e ainda, a veneração e o culto deveriam ser
prestados somente a Deus e, no que diz respeito ao rito da comunhão, reafirmava a fé na
ressurreição de Cristo e na sua promessa de resgatar os pecados.
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DICAS
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TÓPICO 1 | A LITERATURA SEISCENTISTA
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TÓPICO 1 | A LITERATURA SEISCENTISTA
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UNIDADE 2 | AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO BARROCO
Observe:
Mas tão cego ia ele em que eram gigantes, que nem ouvia as vozes de Sancho
nem reconhecia, com o estar já muito perto, o que era; antes ia dizendo a brado:
– Não fujas, covardes e vis criaturas; é um só cavaleiro o que vos investe.
Levantou-se neste comenos um pouco de vento, e começaram as velas a mover-
se; vendo isto Dom Quixote, disse:
– Ainda que movais mais braços que os do gigante Briaréu, heis de mo pagar.
E dizendo isto, encomendando-se todo o coração à sua Senhora Dulcineia,
pedindo-lhe que em tamanho transe o socorresse, bem coberto da sua rodela,
com a lança em riste, arremeteu a todo galope do Rocinante, e se aviou contra o
primeiro moinho que estava diante, e dando-lhe uma lançada na vela, o vento a
volveu com tanta fúria, que fez a lança em pedaços, levando desastradamente
cavalo e cavaleiro, que foi rodando miseravelmente pelo campo afora.[...]
(SAAVEDRA, 2003, p. 116).
para evidenciar os pontos fracos do herói, uma personagem que, se analisada sob
o viés psicológico, passou pelo encurtamento da alma, deixando escapar toda
aquela aptidão da totalidade épica.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você, viu que:
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• No Barroco as categorias são visuais, profundas, subordinadas, abertas
ao observador e com uma claridade relativa. Na literatura, as formas são
complicadas, artifício que não deve ser confundido com um ornamento
supérfluo, mas condição fundamental de beleza. Esse traço é conhecido por
fusionismo, o qual unifica num todo múltiplos pormenores para associar e
mesclar, numa unidade orgânica, elementos contraditórios.
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AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 2 TÓPICO 2
O BARROCO NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
O Barroco chega ao Brasil quase cem anos depois do início da colonização.
As primeiras vilas produziam cultura num período em que os residentes lutavam
por estabelecer a própria economia, daí a dizer que o movimento se desenvolveu
diversamente daquele europeu.
O seu valor histórico advém por ter sido a primeira obra literária
publicada no Brasil. Escrita em oitava rima, ou seja, as estrofes contêm oito versos
(decassílabos), denotando, desse modo, a influência do poema épico de Camões
que cantou os feitos lusitanos. Assim é elaborado o texto de Bento Teixeira: “[...]
sem divisão de cantos, nem numeração de estrofes, cheio de reminiscências,
imitações, arremedos e paródias dos Lusíadas. (VERÍSSIMO, 1998, p. 51).
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TÓPICO 2 | O BARROCO NO BRASIL
[...] são prosaicos, como banais [...]. A língua não tem distinção nem
relevo, e o estilo já traz todos os defeitos que maculam o pior estilo
poético do tempo, [...] o vazio ou o afetado da ideia e a penúria do
sentimento poético, cujo realce se procurava com efeitos mitológicos e
reminiscências clássicas, impróprios e incongruentes, sem sombra do
gênio com que Camões, com sucesso único, restaurara esses recursos
na poesia do seu tempo. (1998, p. 52).
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3 GREGÓRIO DE MATOS
Conforme já enfatizamos, o Barroco foi caracterizado pela crise: um
homem dividido em dois pensamentos, conflito gerado pelo temor do pecado e a
preocupação com a salvação da alma, e a literatura era testemunho desse estado.
Os acontecimentos oriundos da Europa relacionados à Reforma e Contrarreforma,
e a fundação da Companhia de Jesus, também se manifestaram no Brasil, cuja
arte os representou tanto na forma quanto no conteúdo.
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TÓPICO 2 | O BARROCO NO BRASIL
Aos vícios
Veja que o poeta se define como aquele que denuncia os vícios do seu
tempo, a desonestidade e a corrupção. É conhecido também por marcar nossa
literatura com temas que versam sobre a transitoriedade e a perda: Vejamos:
No soneto, observa-se o efêmero das coisas, como vemos em: “Nasce o Sol;
e não dura mais que um dia”, bem como a antítese “Depois da Luz, se segue a noite
escura”: para explicar o dualismo e a luta de forças opostas que o arrastam. Matos
confronta elementos como noite/dia, tristeza/alegria, firmeza/inconstância, dentre
outros, cujo intuito era a descrição do oposto. Vê-se aqui, caro/a acadêmico/a, a
antítese, uma figura de linguagem muito presente na literatura barroca. Além
disso, expõe um visualismo e os exageros dos recursos expressivos.
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TÓPICO 2 | O BARROCO NO BRASIL
Triste Bahia
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UNIDADE 2 | AS ANTÍTESES E PARADOXOS DO BARROCO
Pequei, Senhor, mas não porque hei Vos tem para o perdão lisonjeado.
pecado, Se uma ovelha perdida e já cobrada
Da vossa alta clemência me despido; Glória tal e prazer tão repentino
Porque, quanto mais tenho Vos deu, como afirmais na Sacra
delinquido, História,
Vos tenho a perdoar mais
empenhado. Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor
Se basta a vós irar tanto pecado, Divino,
A abrandar-vos sobeja um só gemido: Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Que a mesma culpa, que vos há
ofendido, (MATOS, 1979, p.108)
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TÓPICO 2 | O BARROCO NO BRASIL
[...] por demonstrar que ‘as palavras sem obras são tiro sem bala; atroam,
mas não ferem’ o que era um jeito de reduzir a nada as prédicas que se
dirigiam a tais ouvintes, mais inclinados à beleza exterior do discurso
que às doutrinas de pura edificação moral. (COUTINHO, 2004b, p. 89).
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" [...] quero hoje à imitação de Santo Antonio voltar-me de terra ao mar,
e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto,
que bem me ouvirão" (VEIRA, 1960, p. 135).
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" [...] Olhai, peixes, lá no mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos
digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a
cidade é que haveis de olhar" (VIEIRA, 1960, p. 136).
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Até o século XV a canção madrigal apresentava forma fixa: dois ou três tercetos
seguidos de um ou dois dísticos, em versos decassílabos rimados. “Adquiriu, posteriormente,
estrutura livre quanto ao número de versos, ao metro empregado e ao esquema de rimas.
Vingou, porém, a tendência para se resumir numa única estrofe de cerca de dez versos, em
que se alteram o decassílabo e o hexassílabo. Associado intimamente à musica, [...] o madrigal
aparentava-se à pastorela e ao idílio”. (MOISÉS, 2004, p. 272).
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Quatro AA:
Tenho recopilado
O que o Brasil contém para invejado
E para preferir a toda a terra
Em si perfeitos quatro AA encerra.
Tem o primeiro A, nos arvoredos
Sempre verdes aos olhos, sempre ledos;
Tem o segundo A, nos ares puros
Na tempérie agradáveis e seguros;
Tem o terceiro A, nas águas frias,
Que refrescam o peito, e são sadias;
O quarto A, no açúcar deleitoso.
Que é do Mundo o regalo mais mimoso.
São pois os quatro AA por singulares
Arvoredos, Açúcar, Águas, Ares.
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"Sabei que é este mundo estrada de Peregrinos, não lugar nem habitação
de moradores, porque a verdadeira Pátria é o Céu. Como assim advertiu S.
Gregório Papa: que por isso enquanto andam os homens neste mundo lhes
chamam caminhantes" (PEREIRA apud COUTINHO, 2004b,).
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FIGURA 8 – IGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS – OURO PRETO, CUJO INTERIOR REVESTIDO
DE TALHA DOURADA LHE RENDEU O TÍTULO DE IGREJA MAIS RICA DO BRASIL
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LEITURA COMPLEMENTAR
Alfredo Bosi
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Posto o discurso nessa chave, o que dele se seguiria, caso fosse mantido o
seu grau de coerência interna? Sobreviria a condenação pura e simples do que se
praticava então no Brasil, ou seja, tomaria forma lógica o repúdio a qualquer tipo
de cativeiro. Para aí caminha o ímpeto dos argumentos éticos. Para aí levam os
símiles com a dupla rota da estrela de Belém, a qual primeiro conduziu os magos
a Cristo (figura da conversão dos gentios) e, em seguida, os desviou do caminho
onde Herodes os faria matar – figura da libertação dos mesmos índios das garras
dos colonos. Analogamente, essa viria a ser a dupla missão dos jesuítas: levar a
boa nova às almas dos tupinambás e defender os seus corpos quando ameaçados
de cair às mãos dos brancos.
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Em síntese:
3) Os que vivem nos sertões. Destes (na verdade, a grande mina das bandeiras e
dos colonos) só poderiam ser tirados aqueles que já estivessem cativos de tribos
inimigas e na iminência de serem mortos. Os colonos os libertariam trazendo-
os à cidade como escravos. É o que se chamava “operação de resgate”, pela
qual os portugueses levavam consigo os condenados, os “índios de corda”.
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TÓPICO 2 | O BARROCO NO BRASIL
FONTE: BOSI, Alfredo. Vieira ou a cruz da desigualdade. In: Dialética da Colonização. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992. p. 119-148.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você, viu que:
• Padre Antônio Vieira teve papel importante na nossa literatura porque seus
Sermões se constituem num conjunto de obras de oratória.
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• A Música do Parnaso enaltece a terra brasileira, descrevendo com detalhes
geográficos a região baiana, uma visão da terra natal, envolto em uma atmosfera
lírica, através de símiles, imagens, metáforas e também descreve a natureza tal
como se apresenta.
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AUTOATIVIDADE
“O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja.
Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão
em xadrez de palavras”. O trecho do Sermão da Sexagésima, do Padre Antônio
Vieira, enfatiza:
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