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Luiz Paixão
1 – OBJETIVO
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2.1 - A relação capital/trabalho se manifesta e se aprofunda nas primeiras
décadas do séc. XX no Brasil. A burguesia industrial e urbana, substituindo a burguesia
rural cafeeira que se encontrava em franca decadência, se assenhora da produção
econômica do país, expandindo seu poder nos diversos setores, promovendo com isso o
surgimento da classe operária brasileira.
2.2 - A luta contra a escravidão no Brasil não ficou restrita à ação de intelectuais,
juristas, artistas e pessoas de bem que repudiavam essa terrível relação de trabalho. Ao
contrário do que sempre ouvimos, o negro não se “adaptou” ao trabalho escravo. Vários
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foram os mecanismos encontrados para se libertar do jugo opressor:
O próprio título já nos remete ao espaço em que a cena transcorre. Sabemos que
é um espaço privilegiado para a organização dos trabalhadores, suas reivindicações e
sua luta contra a burguesia. A expressão LUTA DE CLASSES nos remete ao conflito
fundamental capital/trabalho, patrão/empregado ou, definindo melhor a questão de
classes, burguesia/proletariado. Tomamos conhecimento também de que é um lugar
pobre. Os elementos figurativos denotam essa realidade: uma mesa, uma toalha velha.
Uma moringa, copos. Uma campainha que falha.
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A narradora nos lança uma frase aparentemente solta, no início do capítulo – Nós
nunca temos tempo de conhecer nossos filhos! –, ameaçando um discurso de um
personagem qualquer, porém interrompe a narrativa, nos remetendo a um “elemento
retardador” (AUERBACH, 1976, 3), descreve o espaço e o motivo de estarem aquelas
pessoas reunidas – Sessão de um sindicato regional – para só depois, então, retornar ao
discurso do personagem em questão.
As mãos do cozinheiro são marcadas pelo uso, são “enérgicas” e trazem a marca
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de sua utilização no trabalho – Estão manchadas pelas dezenas e dezenas de cebolas
picadas diariamente no restaurante rico onde trabalha. O discurso do personagem
descreve a trajetória diária do trabalhador explorado pelo capital. Sua vida é toda em
função do trabalho – Não temos descanso dominical. A narradora confirma a veracidade
de suas palavras, assumindo uma postura claramente favorável ao trabalhador – A voz
da verdade, todos se agitam nos bancos duros. A sala toda sua. – A verdade é tão
contundente que a sala sua devido ao calor de cada palavra dita pelo cozinheiro, que
reflete a condição de cada um ali presente, com exceção do policial Miguetti, infiltrado
na reunião.
Para encerrar o capítulo cria uma simultaneidade de imagens para nos revelar
que do outro lado da cidade, no espaço reservado aos burgueses, os teatros estão cheios
e as mesas fartas. E reforça a denúncia da exploração burguesa quando apresenta o
abismo que separa burgueses e proletários: As operárias trabalham cinco anos para
ganhar o preço de um vestido burguês. Precisam trabalhar a vida toda para comprar
um berço.
A revolta está sendo preparada em fogo brando: Isso tudo é tirado de nós. O
nosso suor se transforma diariamente no champanhe que eles jogam fora! (33)
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3.2 – “SAUDAÇÃO A PALMARES”
No caso dos quilombos a realidade não era diferente, pois eles “viviam nas
florestas, nas matas, nas montanhas e, ao mesmo tempo, em contato com a sociedade
envolvente que as rodeava, as vigiava, controlava e perseguia” (SIQUEIRA, 4). Essa
característica física e geográfica foi fundamental para a longa existência do Quilombo
dos Palmares, localizado no estado de Alagoas.
Para encerrar a primeira estrofe, o narrador fala dos palmares (palmeiras) para
nos descrever Palmares (quilombo, primeiro verso da terceira estrofe):
O desafio é lançado, pois sabe sua força, seu poder e sua garra. Não vai se curvar
ante a ameaça. E não para por aí: ironiza, debocha. E o poeta percebe e exalta
O riso de um monte!
E a ironia... de um chacal!
Torna-se difícil separar, na obra alvesiana, o aspecto lírico do épico, uma vez
que toda ela se constitui do reflexo de uma natureza sensível ao amor, em toda a
sua gama: do amor à mulher ao da natureza e ao do seu semelhante, quando
defende as causas da justiça e da liberdade, pregando igualdade entre os
homens. (HILL, 1978: 34-35)
A obra de arte responde ao seu tempo e à sua história, e a história é feita de luta
de classes (MARX, 1998: 135), portanto, a obra de arte está inserida no seio da luta de
classes. Cabe ao artista engajar-se nessa luta.
Castro Alves e Pagú, embora tão distantes no tempo, no espaço e nas propostas
estéticas, lançaram mão da palavra e dela fizeram instrumento de luta em favor daquilo
que julgavam justo e correto: a defesa dos oprimidos e explorados. Os dois se
comprometeram com a luta de classes, cada um no seu tempo e em seu espaço enfrentou
a burguesia e estabeleceu um discurso que não deixa dúvidas em relação à posição
assumida: Castro, os escravos; Pagú, o proletário.
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Antônio de Castro Alves (1847-1871)
foi a militante do ideal. Por toda sua vida, colocou-se a serviço de ideias,
ideologias e do progresso cultural, corporificando a noção de engajamento e
envolvimento a um grau máximo. (FERRAZ, 2006: 7)
Castro Alves e Pagú assumiram um compromisso com seu tempo e sua história e
fizeram da palavra “a arena privilegiada onde se desenvolve a luta de classes”
(BAKHTIN, 1988: 32), e criaram, ambos, obras, embora distintas em sua forma,
bastante próximas em seu conteúdo, pois trazem a marca da denúncia de uma realidade
social injusta e cruel. E com essa obra lutaram por um tempo melhor.
5 - CONCLUSÃO II
NOTA
(1)
A frase, que pertence ao personagem Galileu, na peça Vida de Galileu, de Bertolt Brecht, é a seguinte:
“Eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a canseira da existência humana”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e discurso – história e literatura. São Paulo: Editora Ática, 2007
FERRAZ, Geraldo Galvão. Apresentação. In: GALVÃO, Patrícia. Parque industrial. Rio de Janeiro: José
Olympio Editora, 2006.
GALVÃO, Patrícia. Parque industrial. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2006.
HILL, Telenia. Castro Alves e o poema lírico. Brasília: Edições Tempo Brasileiro, 1978.
ENGELS, Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, in MARX, Karl
e ENGELS, Friedrich. Textos I. São Paulo: Edições Sociais Ltda, 1975.
MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Inverta, 1998