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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho objetiva fazer o estudo histórico, temático e estrutural da poesia de Gregório de Matos, A
Jesus Cristo Nosso Senhor, e peregrinar através da comparação temática entre esta, e os sonetos A
Jesus Cristo crucificado, estando o poeta para morrer, e Buscando a Cristo, tendo por base da análise
estrutural o livro de Norma Goldstein, Versos, Sons e Rítmos, e para a compreensão do contexto
histórico da análise temática, o romance de Ana Miranda Boca do Inferno.
A eleição da poesia A Jesus Cristo Nosso Senhor, em confronto interpretativo com os sonetos A Jesus
Cristo crucificado, estando o poeta para morrer; e Buscando a Cristo, justifica-se no argumento de que
ambas se prestam melhor à compreensão da contradição entre o conteúdo significativo, satírico, da
primeira poesia (A Jesus Cristo Nosso Senhor), em contraste com a comoção de sentimentos, e a
subserviência beata, dos outros dois poemas.
A escolha do autor barroco Gregório de Matos legitima-se pela proeminência do mesmo em representar
as contradições existentes no estilo poético dessa escola literária, quer pela fuga da afirmação de uma
verdade convencional, quer pela tentativa de negação da arte enquanto cópia do estilo mimético da
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realidade, segundo o princípio clássico protocolar, cerimonioso, do Renascimento.
O primeiro capítulo aproxima o leitor do personagem e de seu tempo. Expõe como era viver na principal
capital do país, escrevendo poesia popular que satirizava o comportamento das autoridades, recitando-
as nas tabernas, numa época em que a Inquisição estava faminta por fazer vítimas, e que a impunidade
dos excessos das autoridades já se desenhava como uma praga que, até o início do século XXI, ainda
marca presença na sociedade brasileira, a avassalar as esperanças da população carente de justiça,
saúde, habitação, emprego e segurança.
Quando em vida publicou-se dele apenas alguns “Sonetos de Maldizer, Louvor e Contrição”. A produção
lírica e sacra, assim como as crônicas do viver baiano Setecentista, foram editadas apenas após sua
morte.
Gregório de Matos amava a Bahia, ao mesmo tempo tinha dela uma opinião paradoxal, ao estilo de vida
e do poetar barroco: “A Bahia é um vil monturo da Corte, aqui só há roubo, injustiça e tirania... Os bens
do mundo são inconstantes, o sol não dura mais que um dia na vida que perdura como uma noite
escura...”
No capítulo segundo o autor desta monografia promove a análise temática das três composições
poéticas, sacras, de 14 versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, conhecido por soneto
italiano.
O autor desta designou a poesia de Gregório de Matos, de modo a melhor avaliar as influências literárias
posteriores do estilo barroco, que, derivado do maneirismo, conseguiu superar essa influência histórica e
afirmar-se enquanto, mais que predecessor, inspirador do estilo ornamental do rococó, e principalmente,
das influências de estilo (deformação exagerada da realidade) característica do Expresionismo.
As influências do barroco não terminaram aí, no item 2.4., chamo a atenção do leitor para a opinião,
outra vez reproduzida entre aspas: “O expressionismo representou a arte e a técnica que tende a
deformar ou exagerar a realidade, por meios que expressam o sentimento e a percepção de maneira
intensa e direta. À maneira intensa do barroco, mas não à maneira direta. Muito pelo contrário: o
barroco era muito irregular, ornamentado, sobrecarregado, exuberante, extravagante e excêntrico.”
Ignoro se estas avaliações são ou não originais. Certamente outros trabalhos, outras dissertações, já
tenham refletido sobre as influências mencionadas na praxe literária, poética, do estilo barroco, com
relação a ele ser classificado enquanto precursor do rococó e mensageiro do expressionismo.
Até mesmo os críticos mais insensíveis de sua obra, a exemplo do famigerado ex-governador da Bahia e
capitão-general do Brasil, Antônio de Souza Meneses, que reconhecia nela, na intimidade de seus
amigos mais próximos, a sutileza, a inteligência, o discurso congruente, por detrás do estilo dos
excessos de curvas caprichosas, da exuberância sobrecarregada de ornamentos estilísticos, que
representavam a dramaticidade congruente das emoções e dos sentimentos contraditórios da vida
administrativa da época, das influências políticas deletérias da Corte, propagadas pelo estilo barroco.
Gregório de Matos apaixonou-se por uma mulher casada de nome Maria Berco. Ele a conhecera na casa
da família Ravasco, aparentada do padre Antônio Vieira, numa noite festiva num casarão da rua
Debaixo. Foi uma paixão longa e platônica, desde que eles se gostavam mas não imergiram na relação
física. Ela mantinha dele uma imagem estereotipada: poeta, sedicioso, possuía as mulheres e depois
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fugia de uma relação de compromisso. Escrevia poemas que ajudavam à conspiração de pessoas do
clero e da sociedade baiana, contra a máquina governamental do governador e capitão-general do
Brasil, o déspota, cruel e sádico, Antônio de Souza de Menezes.
O estilo sacro na poesia de Gregório de Matos entra em contradição consigo mesmo. Veja-se o primeiro
soneto objeto deste estudo (A Jesus Cristo Nosso Senhor). Nele, ele preserva o espírito de sátira que
caracterizou a maior parte da produção poética. Nos outros dois poemas, presume-se que seu estado de
saúde já está por demais comprometido, e ele é insistentemente solicitado pelos monges que o atendem
no leito de morte, a arrepender-se de suas atitudes, por alguns deles consideradas heréticas, de crítica
mordaz da religiosidade hipócrita de uma sociedade servil aos interesses da Corte.
O barroco, do final do século XVI ao final do século XVII, estende-se a todas as manifestações culturais
européias e latino-americanas. Enquanto movimento literário, foi anunciado pelo maneirismo (ausência
de naturalidade, de atitudes espontâneas na linguagem, nas manifestações literárias e artísticas), cria
então as condições necessárias para a transfiguração, a metamorfose, o questionamento das tradições,
naquele momento histórico, já vetustas, da escola do Classicismo.
Na sociedade da primeira metade do século XVIII, existiam academias literárias com uma dupla função
na sociedade colonial. Ao mesmo tempo em que se organizavam enquanto centros de propagação do
barroco, eram também agremiações voltadas para o ensino de conceitos da cultura humanística,
afastada da religiosidade jesuítica, que se destacaram na segunda metade do século: Academia Brasílica
dos Esquecidos (1724/25), Academia Brasílica dos Renascidos (1759), ambas com sede na Bahia e a
Academia dos Felizes (1736-1740) sediada no Rio de Janeiro.
2.1. CONTEXTO HISTÓRICO “RIDES-AGAIN”: VIDA E OBRA DO POETA BARROCO COGNOME O “BOCA
DO INFERNO”
O conflito entre essas tradições ocorre no século XVII. Nesta época a burguesia mercantilista prosseguia
seu processo de laicização da cultura medieval. A Igreja, na Espanha e em Portugal, reagia a esse
projeto através da Contra-reforma e da Inquisição, movimentos religiosos que reafirmavam as posições
do clero, as quais se opunham à Reforma protestante e ao racionalismo classicista.
Oficializada no século XVI, a Inquisição condenava à morte filósofos, artistas, cientistas, pessoas de
modo geral, principalmente as que ousavam questionar os dogmas da “Santa Madre”. Desse conflito,
das causas de seu desdobramento histórico, surgiu a expressão artística denominada barroco. Esta
expressão artística materializa a contradição, a depreciação existencial do homem do século XVII
dividido entre o humanismo da renascença e o teocentrismo medieval.
O termo barroco passou a ser vulgarizado para designar o estilo que, partindo das artes plásticas,
alcançou seu zênite literário no século XVII, prolongando-se até meados do século XVIII. Razões e
motivações didáticas delimitaram este movimento, no Brasil, entre 1601 e 1768.
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Não era nada fácil conciliar estas duas tendências, digamos, “maniqueístas”, entre viver voltado para os
prazeres do corpo, as paixões desse mundo, a ciência, o racional, ao mesmo tempo que afirmando a
precariedade das coisas do mundo, a busca da salvação da alma, a vida após a morte, a necessidade do
perdão de Deus e de encarar a eternidade. Nesse sentido, a arte barroca é o princípio da ruptura da
ordem inativa, estacionária, conformista, dos clássicos.
O estilo clássico era caracterizado pela imobilidade versus o dinamismo barroco. O ajustado versus a
inquietação, plano X curvo; banal X libertário, lógico X imaginário; racional X ilusório, linear X pitoresco;
luz X sombra, branco X sombrio; verossímil X fantástico, exato X errôneo; o absoluto X relativo.
A época, a escola literária a que pertence a poesia barroca, objeto de análise deste estudo, teve início
no Brasil-Colônia com a publicação do poemeto épico-laudatório, influenciado pelo Quinhentismo
português, de autoria de Bento Teixeira, Prosopopéia, em 1601, estende-se até a divulgação de Obras
Poéticas, de Cláudio Manoel da Costa, em 1768. Esta data marca a transição do estilo barroco para o
arcádico (bucólico, rústico, pastoril, campestre).
O autor, Gregório de Matos e Guerra (o “Boca do Inferno”), nasceu na Bahia em 1636, doutorou-se em
leis na Universidade de Coimbra, e faleceu em Recife, aos 59 anos, em 1695. Exerceu a magistratura
em Lisboa. Popularizou-se ao escrever poesia satírica, até ser deportado para Angola e voltar para a
terra pátria, desta vez estabelecendo-se em Pernambuco.
Com Gregório de Matos e Guerra, Manuel Botelho de Oliveira e Frei Manuel de Santa Maria Itaparica,
todos baianos, consuma-se a transição das manifestações poéticas do século XVII para as do século
XVIII. Gregório de Matos destaca-se dos demais autores, considerado o principal representante da
poesia barroca no Brasil.
O estilo barroco começou a florescer em fins do século XVI (nas artes plásticas, na literatura, escultura,
arquitetura e música) e afirmou sua influência até princípios do século XIX.
Quer pelo sentimento, quer pelos processos técnicos e expressivos, Gregório de Matos destaca-se na
poesia lírica, religiosa (sacra), e amorosa do barroco. Tendo-se sobressaído mais pela produção poética
de caráter social satírico.
O barroco brasileiro caracterizou-se por duas tendências literárias. A primeira, o Cultismo, manifestação
afetada da erudição, maneirismo, o purismo metafórico das figuras de linguagem, do jogo de palavras e
de imagens. Esta, a prática vocabular dos notáveis Sermões do Padre Antônio Vieira, a mais
proeminente personagem do estilo culto do discurso sacro barroco. Preleção caracterizada pela
impetuosidade dos profetas, pela interpretação ecumênica, humanista, de cada texto bíblico que ele
associava ao mundo em sua volta, à zelosa hipocrisia e a suscetibilidade das melindrosas da sociedade
de seu tempo.
No barroco a angústia existencial toma conta do ser humano e emerge de seu discernimento imaginativo
enquanto fonte inesgotável de pessimismo. A linguagem barroca é rebuscada, exterioriza a percepção
confusa, sobressaltada, turbulenta, de uma mundividência instável, volátil, insegura, contraditória.
As figuras de linguagem que mais se destacaram nesse estilo foram: a metáfora, a assonância, a
antítese, o paradoxo, a hipérbole, a sinestesia e o hipérbato, ou inversão da ordem natural das palavras
nas orações.
Talvez esses recursos de linguagem tenham sido motivados pelo medo de sofrerem, os poetas e
oradores do barroco, a repressão das autoridades por suas produções poéticas que tinham por principal
objetivo cultural, político, a depreciação crítica aos desmandos de uma sociedade caracterizada pela
desordem, a licenciosidade, a libertinagem, o desregramento excessivo dos sentidos, a obscenidade, a
perversão perceptiva dos poderosos, deformada pela prática contumaz dos mais variados vícios.
2.1.2. CRONOLOGIA
Gregório compôs sonetos, décimos, motes, glosas e romances. Nos motes mais conhecidos introduzia,
na linguagem poética, termos em tupi e em linguajares africanos, ao mesmo tempo em que incluía
referências clássicas indispensáveis no produção de um poeta erudito.
Nasceu em 26.12.1636. filho de Gregório de Mattos com Maria da Guerra, ambos naturais da província
de Guimaraens, em Portugal. Filho de uma família de proprietários rurais, empreiteiros e funcionários da
administração da Corte.
Após 32∗ anos vividos em Portugal, Gregório de Matos voltou à Bahia. Ano seguinte, em 1683 é
empossado Desembargador da Relação Eclesiástica e Tesoureiro da Sé baiana, para, no ano seguinte,
1684, ser destituído de ambos os ofícios, pelo novo arcebispo, João da Madre de Deus, por não querer
usar a batina, e não aceitar a imposição (restrições de comportamento) provenientes da hierarquia das
ordens maiores necessárias ao exercício de suas funções junto ao arcebispado. A Sé era denominada
pelo vate, em seus poemas satíricos de “presépio de bestas”.
Houve uma divergência estilística que dividiu a prática da escrita poética satírica de Gregório de Matos.
Por um lado ele foi o principal criador desta corrente, a partir das influências do barroco espanhol e do
português (educou-se na península Ibérica, em Portugal, na universidade de Coimbra), por outro lado,
enquanto brasileiro, baiano, foi o primeiro grande trovador.
Alguns críticos dizem que ele plagiou Gôngora, Quevedo, Petrarca e Camões. Há semelhanças entre sua
produção poética e a destes autores. O barroco é parte de uma época da história em que a imitação não
possuía a feição negativa que hoje possui. Em todas as escolas anteriores ao Romantismo, imitar
significava homenagear: a intertextualidade era prática comum.
Ele cantava seus versos nas tavernas, nos bares, com sua sátira por vezes sutil, outras vezes mordaz,
mas sempre incômoda aos donos do poder, com a linguagem coloquial e mestiça das ruas, com sua
paixão pelas mulatas, Gregório de Matos implantou a expressão artística do sentimento nacionalista,
com sua produção poética múltipla, ele foi criativo e generoso, o mais barroco dos poetas barrocos.
Zagunchou com seus vitupérios, a incapacidade administrativa dos portugueses e a facilidade dos
brasileiros em se tornarem bajuladores dos poderosos e do clero, visando usufruírem vantagens, por
mais irrisórias que fossem. Criticou a corrupção e a negligência excessiva dos costumes. O conjunto de
sua obra perfaz um painel conclusivo da história da sociedade de seu tempo.
O barroco teve seu apogeu literário no século XVII, desdobrou-se até meados do século XVIII. Da Idade
Média até o Renascimento, a Igreja exerceu notável influência política, social e econômica. Estava
infiltrada por elementos que tinham por único objetivo, conseguir, através dela, Igreja, prestígio social e
autoridade maquiavélica. Desejavam alcançar e manter, a qualquer preço, “status” através da atuação
clerical, quer vivessem como respeitáveis senhores da nobreza, quer como dissipadores contumazes da
riqueza de outros, via influência política nos tribunais da Inquisição, que, após a condenação de
inocentes ricos à fogueira, apossava-se avidamente de seus bens. De qualquer forma os inquisidores
estavam a contrariar sobejamente os princípios de humildade e simplicidade característicos da genuína
doutrina cristã.
À Reforma Protestante de Martinho Lutero, iniciada em 1517, seguiu-se a adesão de João Calvino em
1532. Os reformadores, Lutero na Alemanha, Calvino na França, reivindicaram a reaproximação da
Igreja do espírito cristão primitivo. Todos os fiéis, segundo Calvino, podem ter acesso ao sacerdócio,
inclusive as mulheres. Ele extingue a hierarquia e institui os pastores como ministros da Igreja. O
casamento desses pastores é permitido. Ele pregava a predestinação. A salvação Deus teria reservado
àqueles poucos eleitos, que, através do trabalho e da vida moderada na ética protestante, conseguiam
tornar a exploração capitalista, justificada e atraente.
A Igreja católica, ao verificar o êxito parcial dos reformistas, organizou a Contra-Reforma ao convocar o
Concílio de Trento (1545/63), com o objetivo de estabelecer a disciplina do clero e a reafirmação dos
dogmas e crenças católicos.
Os artistas barrocos afirmaram a invenção de uma linguagem angustiada. Seus representantes queriam
superar o impasse expressivo que se fazia vigente naquele momento histórico, e criar formas não
convencionais de exprimir a nova maneira de visualização das possibilidades de superação do impasse
de Ter o que dizer e não saber como. A alma de uma época querendo expressar-se através da criação
artística.
Desse impasse surgiu uma nova, inventiva e realista participação do homem nos destinos do próprio
homem: o estilo barroco de interpretar o mundo. A inserção do artista, enquanto ser coletivo que se
importa com seu destino, com a direção política que os poderosos imprimem à sociedade, de acordo
com seus interesses pessoais, sem questionamentos. As pessoas eram, como nos dias de hoje, usadas
em função da satisfação de suas conveniências. O estilo barroco denunciava esta situação de inquietude
coletiva.
A dessemelhança cronológica separa a literatura barroca brasileira de sua música (de Lobo de Mesquita,
de Marcos Coelho), da escultura (do Aleijadinho, de Manoel da Costa Ataíde) e da arquitetura.
A Bahia produzia entre catorze e quinze mil caixas de trinta e cinco arrobas de açúcar por ano. Elas
valiam entre mil setecentos e mil e oitocentos contos. Em 1684, os estabelecimentos agrícolas
destinados à cultura de cana e à fabricação do açúcar, tiveram de baixar o preço devido ao excesso de
produção.
Os produtores de cana-de-açúcar usufruíam nessa safra de 1684, de farto lucro comercial devido a
produtividade exuberante da terra. A mercadoria açúcar fino, valia dinheiro sonante, principalmente nos
mercados europeu e asiático. A falta de navios cargueiros para o transporte do açúcar fino, contribuiu
para a baixa dos preços no mercado interno. Os produtores, sedentos de lucro comercial, queimavam
toneladas do produto devido à superabundância da produção. Enquanto o preço dos escravos, do cobre,
do ferro, do tabaco, dos tecidos, dos materiais que supriam os engenhos, aumentava.
A riqueza do açúcar e do tabaco servia de remédio milagroso para as aflições e tormentos causados pela
guerra contra os holandeses, pela qual os baianos estavam pagando até aquele momento, através dos
impostos denominados “Dote da Inglaterra” e “Paz da Holanda”, instituídos pôr Francisco Barreto de
Meneses, o general vitorioso da guerra pernambucana.
A colônia era atrelada a Portugal, mas as moeda e a riqueza produzida não permaneciam no Brasil. A
economia da colônia declinava mais e mais, conforme as circunstâncias econômicas, históricas, que
eram moldadas para atender as necessidades do regime fazendário da metrópole. Da Corte.
Trocavam açúcar por sal, tabaco pôr azeite, aguardente por vinho. No sistema de escambo o açúcar
substituía a moeda. Os valores das mercadorias no mercado interno, nas colônias, eram mínimos,
miseráveis. Em Portugal, astronômicos. Havia filas nas bodegas e feiras para a aquisição de qualquer
produto. Parte da população culpava a Câmara pelas privações que afligiam e penalizavam os habitantes
das cidades. Outros, incriminavam a frota que partia em direção à Corte abarrotada de gêneros
alimentícios: carnes, peixes, frutos do mar, feijões, verduras, frutas, legumes, enquanto as panelas dos
brasileiros permaneciam quase que vazias de certas iguarias.
Os profissionais de medicina eram raros, atuavam como médicos os jesuítas, alguns judeus e outro
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tanto de cristãos-novos transmigrados da Europa. Os poucos médicos formados eram burocratas da
Coroa, trabalhando na Câmara e nas tropas. Os cirurgiões-barbeiros e os licenciados exerciam a cirurgia
sem inspeção, assim como os aprendizes boticários, anatomistas, curandeiros, pajés e curiosos exerciam
a medicina sem nenhuma inspeção.
O medo da doença infecto-contagiosa espalhava o terror da morte. A dor da perda dos parentes, amigos
e conhecidos, levava os habitantes da cidade a evitarem o contato com seus semelhantes. Temiam a
proximidade de tudo e de todos, mesmo dos que ficavam dentro de casa.
Pelas ruas desertas, migravam muitos dos que restaram, enquanto seus familiares padeciam e morriam
a caminho de outras vilas próximas e cidades. Os navios não atracavam no porto, onde algumas
embarcações vazias de tripulantes permaneciam. O guindaste não levantava nem descia cargas. As
tabernas estavam fechadas e a prostituição findara, provisoriamente.
Faltava sal, farinha, azeite, bacalhau, vinho, tecidos. As mercadorias eram raras. Consumiam-se
produtos da terra, de salubridade duvidosa. A sociedade carecia de meias, chapéus, aniagem,
armamentos, cobre fundido, produtos para engenhos, droguetes, sarjas, brocados, linha e papel. Em
decorrência da escassez, os preços, subiam aos céus, enquanto os fregueses clamavam aos santos.
Nos cemitérios, os escravos abriam covas rasas, enquanto os monges inumavam vários corpos na vala
comum em cerimônias muito rápidas. As enfermarias, conventos, mosteiros e casas estavam entulhados
de corpos, uns doentes, outros agonizantes. Em noventa dias (3 meses) havia sido sepultada a maior
parte da população da Bahia. Inclusive o arcebispo João da Madre de Deus e o desembargador Palma.
Depois do governo do marquês de Minas, Gregório de Matos teve novos conflitos com o poder.
Governava então a Bahia Antônio Luiz da Câmara Coutinho, cognome Tucano, devido a um nariz enorme
e à corcova nas costas à altura da omoplata direita. O vate barroco escreveu poesias satirizando a
atuação do governador, comparando-a a seus defeitos físicos.
Ao terminar o governo do Tucano, ficou na Bahia um sobrinho desse governador com o intuito de vitimar
Gregório de Matos. O sucessor de Tucano, o governador João de Lencastre, amigo do poeta, decidiu
prendê-lo alegando protegê-lo com a prisão, assegurar-lhe a integridade física.
Refugiou-se ele na ilha Madre de Deus, mas, traído por Gonçalo Ravasco, ex-aliado nas lutas contra o
ex-governador “Braço de Prata”, foi preso pelos guardas de João de Lencastre, ocasião em que foi
deportado para Angola, após um período como presidiário da Lioneira.
Ora, por mais corajoso que fosse o poeta, ele era produto das influências culturais do século XVII. Havia
tido uma vida atribulada, de presidiário da Lioneira e de degredado em Angola, para onde viajou numa
caravela onde seguia, também, a tropa de cavalos de el rey, dom Pedro, para Benguela. Devia ter medo
da “caça às bruxas” promovida pela Contra-reforma e a Inquisição. Estava rodeado de padres fanáticos
(tipo “a Inquisição Salva, o Cristo do perdão, da remissão, da misericórdia, da Páscoa, que se dane”),
assim como da religiosidade culpada e medrosa do mosteiro.
Traído, Gregório de Matos ausentou-se definitivamente da terra natal, a Bahia que tanto amava e,
exemplar poeta barroco, desamava, ao mesmo tempo. Obrigaram-no à pobreza, ao refúgio, negaram-
lhe mercês, agrediram-no, prenderam e deportaram para Angola. Em Luanda, após envolvimento numa
sublevação de militares contra os impostos excessivos, a miséria e a fome em Angola, por ter
colaborado com o então governador, obteve a recompensa da liberdade de voltar ao Brasil.
Suas poesias foram coletadas e registradas em livro por pessoas do povo, a pedido do governador João
de Lencastre. O livro ficava aberto numa sala do palácio e havia, por vezes, filas de pessoas com sátiras
e poemas líricos em mãos, ou recitados de cor, para serem transcritos, supostamente, todos eles, de
autoria de Gregório de Matos.
Ninguém tinha a certeza de que eram de autoria dele, o “Boca do Inferno”, o grande mestre das sátiras,
das imprecações, dos xingamentos condenatórios, da ridicularização popular das autoridades ridículas,
da ambivalência, do preconceito, da subserviência, do puxasaquismo, da dessacralização, da
irreverência, das histórias escatológicas de amor, sexualidade, paixão e dor.
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O poeta, doente, sem recursos, viveu até 1695. A força vital o abandonou definitivamente em Recife.
Tudo que se escrevesse sobre esses enredos era, sem dúvida, um pouco da vida e do talento de
Gregório de Matos e Guerra.
O expressionismo representou a arte e a técnica que tende a deformar ou exagerar a realidade, por
meios que expressam o sentimento e a percepção de maneira intensa e direta. À maneira intensa do
barroco, mas não direta. Muito pelo contrário: o barroco era muito irregular, ornamentado,
sobrecarregado, exuberante, extravagante e estrambótico.
Como afirmou Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil: “Uma suavidade dengosa e açucarada
invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial. Nos próprios domínios da arte e da literatura, ela
encontra meios de exprimir-se, principalmente a partir do setecentos e do rococó.”
3. ANÁLISE TEMÁTICA DAS TRÊS POESIAS SACRAS DO POETA BARROCO GREGÓRIO DE MATOS (O
“BOCA DE BRASA”)
No primeiro quarteto o poeta invoca o Senhor afirmando ter pecado e, ao mesmo tempo, não ter
cometido nenhuma transgressão ao pecar. Ele se despiu da clemência de Deus por muito ter delinqüido,
e afirma que, quanto mais comete delitos, mais a perdoar à divindade se empenha. Isto porque, se a
pessoa divina o perdoa, também Ela merece perdão por necessitar dos pecados do pecador, para
exercitar seu atributo divino.
Na segunda estrofe ele deseja promover um basta à ira divina por tantos pecados cometidos, e quer
abrandar a Cristo, por demais, num só gemido, fazendo-O compreender que a culpa que o terá ofendido
é a mesma que O lisonjeia, desvanece e honra, desde que, se não fosse o pecado, como poderia Ele
exercitar o perdão? Fica claro que o poeta quer dizer que a mesma culpa que melindra e insulta, é a
mesma que incensa, adula e afaga.
No primeiro e no segundo tercetos o poeta evoca-se enquanto ovelha perdida, já cobrada a penitência
pelo pecado, que terá dado glória e prazer repentino a Jesus. O bardo reconhece-se outra vez ovelha
perdida, desgarrada, enquanto motiva o pastor divino (em caixa baixa) a cobrá-lo, ao sugerir, desta
forma, não perder a oportunidade de manter intacta a divina glória.
O vate reconhece que Deus tira seu poder, sua celebridade e reputação divina, do ato de perdoar cada
penitente por seus inúmeros e repetidos delitos. O poeta, em sendo um pecador especial, porque
compreende a natureza do pecar e do perdão, quer valorizar-se a si mesmo, ao valorizar a atitude
divina de agente fornecedor do perdão.
Como poderia o agente fornecedor do perdão ser valorizado sem a anuência do agente fornecedor do
pecado? As circunstâncias aleatórias e naturais do cotidiano das pessoas, dos pecadores, fornece as
condições do pecar. O pecar justificava a existência do pecador, assim como a efetividade do perdão ao
penitente estabelece e patenteia a dependência de ambos: do que comete a transgressão e do ser
divino que concede o perdão. Sem um, o outro não teria serventia, valor religioso e sustentação
teológica.
Gregório de Matos estava longe de ser um pecador que se arrependia de seus pecados. Seus pecados
eram uma maneira de prestigiar os atributos e a glória do Divino. Seus pecados significavam o modo
pelo qual ele era seduzido e influenciado a cometê-los, porque sem o pecador, como poderia a divindade
não apenas revelar, mas utilizar o Dom do perdão?
No primeiro quarteto o poeta recorre, desesperado, a Jesus Cristo, ao sentir, no leito de morte, a aziaga
aproximar-se. Invoca-O dizendo que em sua lei há de morrer. E que esta resolução é simplesmente
inabalável. Ele teme e lamenta, mas sabe que o próprio filho de Deus sustenta sua figura religiosa mais
emblemática pendente em um madeiro.
No segundo quarteto, quando está definida a situação infausta, e ele sente sua vida escapulir de seus
sentidos, clama a Jesus, manso Cordeiro, pedindo que o acolha com brandura paterna em seu
passamento, desde que já se configura o definitivo anoitecer.
No primeiro e no segundo tercetos ele declara o grande amor de Cristo e, ao mesmo tempo, afirma seu
manifesto sentimento de culpa, no momento em que tem fim qualquer possibilidade de transgressão,
mas não o infinito amor do Deus que se fez homem. O vate, em razão dessa certeza de ser amado pela
divindade que invoca, afirma a vida como sendo um lugar de conflito, e declara que, por mais que tenha
pecado, nesse momento, estimulado pela confiança do perdão de Deus, espera Nele, por seu amor à
humanidade, e a ele, bardo, salvar-se.
“BUSCANDO A CRISTO”
No primeiro quarteto a imaginação aedo, inspirada pela situação infeliz que se avizinha, recorre à
imagem sacrossanta do crucificado. Ele visualiza seus braços sagrados, cravados em cruz à descoberto,
para sustentar a impossibilidade física de, com eles, castigá-lo.
No segundo quarteto ele canta os olhos divinos ocultos pelo sangue e pelas lágrimas revestidos, mas
que ele tem certeza que estão despertos, apesar de fechados e de flagelados pela dor do suplício dos
açoites dos soldados romanos. Olhos que a tudo vêem, vêem certamente, que a eles o poeta confia suas
súplicas, seus rogos, e, decerto, a postura divina do Deus feito homem, por ser absolutamente
misericordioso, vai anuir à vontade de perdão do pecador.
No primeiro e no segundo tercetos, ele clama, aos pés do Crucificado, implorando que seu sangue possa
vir a ungi-lo, e Sua cabeça baixa chamá-lo. Ele quer unir-se a esse sofrimento manifesto, evidente. Aos
cravos preciosos de Cristo deseja aparceirar-se, encontrar paz espiritual. A mesma quieta serenidade de
remanso, característica de um homem que doou o próprio corpo ao flagelo, e, como se ignorasse todo
sofrimento imposto por seus carrascos, transmite uma invejável bem-aventurança do alto de sua
imagem martirizada.
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A classificação dos versos da poesia indica que eles são regulares. Isto porque possuem a mesma
quantidade de sílabas métricas e de rimas: 10 (dez) sílabas métricas são igual a um verso decassílabo.
Segundo a classificação de Orlando Pires são versos isométricos, isto é, que possuem as mesmas
dimensões.
O verso de dez sílabas, decassílabo, era o predileto dos poetas do século XVI. Vide Camões, no poema
épico Os lusíadas. O verso de dez sílaba, neste período, foi o mais utilizado, não apenas nessa época,
mas em todas as épocas, ele sempre foi, é, e, tudo indica, continuará sendo um verso musical de
vigoroso efeito sonoro. A partir dessa época, o decassílabo foi sendo enriquecido ritmicamente com
variantes de novos acentos em relação aos tipos iniciais.
4.1.2. POEMA DE FORMA FIXA: SONETO E CLASSIFICAÇÃO DAS ESTROFES SEGUNDO A QUANTIDADE
DE VERSOS:
A classificação estrutural da poesia em pauta afirma-se como sendo um soneto. Um soneto é uma
poesia composta em dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos), totalizando: 4 + 4 + 3
+ 3 = 14 versos.
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O soneto é o poema de forma fixa mais encontrado. É composto de dois quartetos e de dois tercetos.
Geralmente apresenta versos de dez ou doze sílabas. Aparecem rimas de um tipo nos quartetos (AB), e
de outro, nos tercetos (CD) ou (ABC). O soneto costuma conter uma reflexão sobre um tema ligado à
vida humana.
Neste soneto, o poeta presta uma homenagem ao estilo da sátira social. Na unidade de 14 versos da
poesia, é possível perceber as subunidades formadas pela estrofe. Neste poema o verso é o decassílabo.
As rimas apresentam o esquema ABBA ABBA ABC ABC. O soneto em pauta possui um desenvolvimento
progressivo, num aumento de intensidade que vai envolvendo o leitor até a dramaticidade afirmativa do
verso final: 14 Perder da vossa ovelha a vossa glória. C
São dois os modos de conceituar rima rica e rima pobre: o primeiro critério é gramatical. O segundo,
fônico. De acordo com o critério gramatical, a rima pobre ocorre entre palavras pertencentes à mesma
categoria gramatical (dois verbos, dois substantivos, dois adjetivos, e outros). E a rima rica acontece
entre termos pertencentes a diferentes categorias da gramática.
Na primeira estrofe há dois pares de rimas ricas e pobres: No final dos versos 01 e 04 a palavra pecado
é um substantivo masculino, e rima com empenhado, que é um verbo pronominal, originando, desta
forma, rimas ricas. O outro par, versos 02 e 03, é de rimas pobres, considerando-se que as palavras
finais do segundo e do terceiro versos são ambas adjetivas: despido indica um sujeito sem vestuário,
nu, e, em sentido figurado, quer dizer livre, isento, desprovido. Delinqüido é também adjetivo, quer
dizer desmaiado, desfalecido, em linguagem popular (Gregório de Matos era um poeta popular), muito
magro, enfermiço, debilitado.
Os versos 05 e 08 da segunda estrofe constituem rimas ricas: repete-se o substantivo masculino pecado
(transgressão de preceito religioso, por extensão falta, erro, culpa, vício), desta vez a rimar com o verbo
pronominal lisonjeado (sentir prazer recebendo lisonjas, sentir orgulho, honrar-se, vangloriar-se,
desvanecer-se). Os versos 06 e 07 consistem também em rimas ricas, desde que a palavra gemido
significa, neste contexto do verso poético, ato de gemer, lamentação, som lastimoso e plangente, ou
seja um substantivo masculino a rimar com o adjetivo ofendido, a nomear aquele que recebeu ou sofreu
ofensa, alguém injuriado, ressentido, que teve seus direitos molestados. Na época em que este poema
foi criado, havia, na Bahia, um ditado popular que dizia: “Vida gemida, vida comprida”. A palavra
gemida, neste contexto constitui-se num adjetivo.
Os ver sos 09 e 12, do primeiro e do segundo tercetos elegem-se rimas ricas: o verbo pronominal no
infinitivo feminino cobrada (refeita, restaurada, recuperada), rima com o adjetivo feminino desgarrada
(erradia, sem abrigo, sem arrimo, extraviada, sozinha). Os versos 10 e 13 são formados por rimas
pobres: o adjetivo repentino (súbito, inopinado, imprevisto, inesperado), verseja com outro adjetivo,
divino (sublime, perfeito, encantador, maravilhoso). A versificação 11 e 14, o substantivo feminino
história (narração metódica dos fatos ocorridos na vida sagrada de Jesus Cristo), resolve-se em verso
rimado com o também substantivo feminino glória (magnificência, celebridade, renome, reputação,
brilho, esplendor, prestígio, bem-aventurança, honra, superioridade), constituindo-se numa rima pobre,
segundo o conceito poético/literário supra mencionado.
Lexical: O vocabulário do texto revela um nível de linguagem culto, mas também coloquial. As palavras
delinqüido, sobeja, lisonjeado, sacra história, desgarrada, estão situadas num contexto
lingüístico/poético religioso e instruído, que se constrói num procedimento estético excelente para os
padrões da época. O poeta utiliza o Conceptismo, um encadeamento de idéias que parecem
contraditórias, mas que revelam, para o leitor mais atento, uma idéia central, supostamente sacra, mas
realmente profana, que se destaca das demais com grande força característica de uma ironia mordaz,
que não se podia revelar de outra forma, naqueles tempos de repressão eclesiástica feroz.
Sintático: Existem combinações semelhantes de substantivos e adjetivos, com verbos usados no mesmo
tempo verbal infinitivo (perdoar, irar, perder) e/ou particípio (despido, perdida, delinqüido, empenhado,
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gemido, ofendido, lisonjeado, cobrada, desgarrada). A sintaxe confessional usa expressões verbais no
presente do indicativo, tipo Pequei, Tenho, Sou.
Semântico: O aspecto semântico sempre está presente quando se fala em organização sintática,
vocabulário, ortografia, e emprego de categorias gramaticais que somente podem e devem ser
analisadas tendo-se em vista o sentido geral do texto poético. As relações de significação nos signos
usados pelo poeta Gregório de Matos, servem à representação poética e, igualmente, à análise crítica
pertinente ao autor e à escola literária na qual se destacou: Assim como à vivência da poesia Barroca no
seu estilo Conceptista, no qual afirmou-se historicamente memorável.
ASSONÂNCIA, nome da repetição da mesma vogal na poesia. A vogal I é a mais repetida com intenção
de produzir efeito sonoro pertinente: pequeI, heI, clemêncIa, despIdo, maIs, delInqüIdo, maIs, Irar,
gemIdo, ofendIdo, lIsonjeado, perdIda, glórIa, repentIno, afIrmaIs, histórIa, queIraIs, dIvIno, glórIa.
METÁFORA: Substituição de um termo pôr outro, possível pôr existirem semelhanças, pontos de contato
entre as duas realidades. Uma comparação feita subjetivamente, não explicitamente. Tropo (emprego
de palavra ou expressão usada em sentido figurado) que consiste na transferência de uma palavra de
um âmbito semântico para outro que não é o objeto designado por ela. Fundamenta-se numa relação de
semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado, translação.
ANTÍTESE: Presença de idéias contrárias num mesmo enunciado. Figura através da qual se sobressai a
oposição entre duas palavras ou idéias. Enantiose.
PARADOXO: Aproximação de idéias que contrariam a normalidade, o senso comum. Figura em que uma
afirmação aparentemente contraditória é, no entanto, verdadeira.
HIPÉRBOLE: Consiste numa idéia exagerada. Figura que engrandece ou diminui excessivamente a
verdade das coisas, de uma afirmação.
PROSOPOPÉIA: Figura pela qual se insere vivacidade na ação, no movimento, e na voz das coisas
inanimadas. Se empresta fala a pessoas ausentes ou mortas, e a animais. Personificação, metagoge.
As Figuras de Linguagem são utilizadas pelos autores para melhor estilizar a expressão literária,
construindo representações gradativas, dramatizadas, que aumentam a intensidade do discurso poético
e literário. São mais identificadas nos textos versejados, umas mais, outras menos, dependendo do
momento histórico de certa escola literária, ou do uso individualizado de certo poeta que nela se tenha
sobressaído.
5. CONCLUSÃO:
A partir da análise estrutural e da análise temática da primeira poesia de Gregório de Matos, comentada
neste trabalho de fim de período, A Jesus Cristo Nosso Senhor, assim como dos outros dois poemas,
sonetos, concluiu-se que houve uma expressiva diferença de conteúdo entre o primeiro soneto, objeto
da análise estrutural e temática, e os outros dois, matéria da análise apenas temática.
Contra evidência inexiste argumento pertinente. A verdade manifesta nos dois últimos sonetos é a de
que é público e notório que, quando uma pessoa está defrontando-se com a morte, a decadência dos
sentidos, da vontade, se faz presente. A pessoa não está mais dona de seus melhores reflexos e de sua
melhor percepção da realidade. A ceifeira faz o moribundo sentir que o corpo e a mente estão em vias
de extinção.
Se hoje, a situação frente a aziaga, não mudou quase nada, e as pessoas mantêm as mesmas
inquietações e dúvidas a propósito de uma suposta outra vida, dá-se um desconto ao vate quanto à sua
entrega ao medo do aniquilamento do corpo, da partida deste mundo, então promovido pela
onipresença da ceifeira de vidas, armada com a terrível foice, que em breve iria levá-lo para o Hades,
aonde queimaria eternamente no fogo turbulento da danação, em meio aos sofrimentos proporcionados
pelos sete níveis de mortificação dos infernos.
Em seus delírios terminais, Gregório de Matos possivelmente antevia, em cada um desses níveis de
algaravia, os monges, aqueles supostamente portadores de um capeta sádico, coadjuvantes do
demônio, por isso mesmo colaboradores da Inquisição, extremamente indigestos, estariam lá, no
suposto outro mundo, à espera das almas desse, em cada portal fabuloso, com um tridente trêmulo em
mãos, pronto para usar no que restou dos pobres mortais que teriam feito jus a esse satânico mundo
cão.
Gregório de Matos viveu uma vida de dissipações. Gostava das mulheres de modo geral (mulatas,
negras, brancas, solteiras, vadias, casadas, separadas, amaziadas, novas, balzaquianas, altas, baixas,
magras, pobres, ricas, remediadas), era lúdico e lúbrico. Gregório de Matos fazia parte do grupo liderado
pelo padre Antônio Vieira, que, juntamente com as famílias Ravasco, Brito, os Araújo Gois, o rabino
Samuel da Fonseca, os Bonicho e os Serotinos, promovia a oposição ao então 25° governador e capitão-
general do Brasil, o temido, tirânico e perverso Antônio de Souza Meneses, o “Braço de Prata”, que após
a pressão desse grupo e as denúncias à Corte feitas por Antônio Vieira, originou um édito de el rey, dom
Pedro, destituindo-o do cargo de governador da Bahia e capitão-general do Brasil.