Você está na página 1de 12

Gregório de Matos:

Poesia Satírica

Seminário de literatura
GREGÓRIO DE MATOS: SATÍRICO (BARROCO)

Integrantes do grupo:
Arthur Pereira;
Clara Cunha;
Júlia Rogoski;
Mathias Eduardo;
Miguel Leal; e
Victoria Ruback.

Professora: Helenice Serikaku

Ponta Porã, 23 de outubro de 2023


O Barroco foi um estilo que englobou toda a arte do século XVII, o que inclui a
pintura, a literatura e a música.
Surgiu no final do período Renascentista e mostrava grande ostentação, exagero
e grandiosidade da burguesia que comandava a colonização. Teve seu início na Itália e
se alastrou por outros países europeus na arquitetura, música, escultura, dentre
outros.

O Barroco é fundamentalmente uma expressão do conflito entre o humanismo


renascentista e a tentativa de restauração de uma religiosidade "medieval", entre a
razão e a fé, entre o material e o espiritual.

Características do barroco:

• Antropocentrismo versus teocentrismo


• Sagrado versus profano
• Luz versus sombra
• Paganismo versus cristianismo
• Racional versus irracional
• Fé versus razão
• Carne versus espírito
• Pecado versus perdão
• Juventude versus velhice
• Céu versus terra
• Erotismo versus espiritualidade

1) A evasão ao conflito existencial enunciado no item anterior foi buscada através


de uma valorização exagerada da forma, que resultou numa literatura marcada pelo
rebuscamento da linguagem, sobrecarregando o texto com figuras de estilo, como a
metáfora, a alegoria, a hipérbole e a antítese.

2) A arte é identificada com a engenhosidade do artista que pode se dar no nível


da forma (cultismo) ou do conteúdo (conceptismo).
No Brasil, o Barroco (ou seiscentismo) foi introduzido por meio dos jesuítas no final
do século XVI e começou a se generalizar tardiamente, entre os séculos XVII e XVIII,
em grandes centros de produção açucareira, como na Bahia por meio das igrejas.
Logo após esta fase, o Barroco se atingiu Minas Gerais. Ele segue os modelos ibéricos
e há grande influência espanhola, pois o Barroco, na literatura portuguesa, começou em
Portugal durante a União Ibérica e sofre também forte influência da Contra-Reforma -
movimento com que a Igreja católica buscou restaurar o poder político e social que perdeu
durante o Renascimento.

Marco Inicial:

• Publicação do poema épico "Prosopopeia", de Bento Teixeira, em 1601.

Marco Final:

• Publicação das "Obras Poéticas", de Cláudio Manuel da Costa e fundação da Arcádia


Ultramarina, movimento poético-literário que dá início ao Arcadismo, em 1768.

Os principais escritores brasileiros desse período foram:

• Bento Teixeira (1561-1618)

• Gregório de Matos (1636-1696)

• Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)

• Frei Vicente de Salvador (1564-1636)

• Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768)

• Padre Antonio Vieira (1608-1697) - Prosa


Gregório de Matos e Guerra, filho de dois nobres portugueses, nasceu em Salvador
(BA), então capital da colônia, em 20 de dezembro de 1636. Após concluir os estudos de
letras no Colégio dos Jesuítas, mudou-se para Coimbra e se formou pela Faculdade de
Direito onde escreveu a sua tese de doutorado que inclusive foi toda em latim.
Gregório de Matos, conhecido pelo apelido Boca do Inferno, foi um poeta brasileiro do
século XVII conhecido por suas letras satíricas que ridicularizavam a cultura colonial
baiana.
Durante o século XVII, quando a cultura colonial brasileira prevalecia, ele foi um dos
escritores mais conhecidos da literatura. Além disso, é patrono da cadeira número 16 da
Academia Brasileira de Letras e um excelente exemplo do movimento barroco no Brasil.
Muitos dos versos do Boca do Inferno eram muitos contundentes, satíricos e assumem
uma postura crítica contra a administração colonial corrupta e excessivamente localista, a
nobreza brasileira, o clero moralista e moralista e todos os demais que fizeram parte da
sociedade colonial degradada.
As três facetas da obra de Gregório de Matos são a lírico-amorosa, cujos poemas se
dividem entre temas de amor e religião; a sacra; e a sarcástica, que é composta pelos versos
ridicularizadores pelos quais ganhou notoriedade e foi apelidado de Boca do Inferno.
O poeta ecoa elementos literários barrocos em sua escrita, incluindo a moralização da vida
na Terra, a personalidade contra reformista, o dualismo e o sofrimento humano.
Gregório de Matos compôs rimas em diversas formas, incluindo sonetos, quadras,
sextis e poemas. Ele também aderiu ao esquema métrico padrão em uso na época, o que
simplificou a memorização. Os sonetos apresentam a mais forte influência barroca em
sua escrita, repletos de jogos de palavras, silogismos e oposições (sagrado-profano,
amor-pecado, sublime-grotesco, etc. ).

Características da Escrita de Gregório de Matos


• Jogo de Palavras
• Uso abusivo de figuras de linguagem
• Sentido nacional
• Feísmo
• Decadência moral, social e econômica
Poesia Satírica
• Fidalguia barroca
• Ativez dos políticos letrados
• Arbitrariedade dos governadores
• Corrupção da igreja
• Moral baiana
Análise de “Poemas Escolhidos de Gregório de Matos”:
"Poemas Escolhidos de Gregório de Matos" é um livro com suas melhores obras. Nos
poemas satíricos de Gregório, ele critica a sociedade em dois grupos: um considerado
normal e outro absurdo. A sociedade "normal" é vista como absurda quando comparada à
realidade da Bahia, onde ele vivia. Suas críticas são diretas, rudes e sem censura,
frequentemente apontando falhas de políticos e figuras importantes.

Análise de Poemas Satíricos de Gregório de Matos:

Poema 1: Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante (A)


Estás e estou do nosso antigo estado! (B)
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, (B)
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. (A)

A ti trocou-te a máquina mercante, (A)


Que em tua larga barra tem entrado, (B)
A mim foi-me trocando, e tem trocado, (B)
Tanto negócio e tanto negociante. (B)

Deste em dar tanto açúcar excelente (C)


Pelas drogas inúteis, que abelhuda (D)
Simples aceitas do sagaz Brichote. (E)

Oh se quisera Deus que de repente (C)


Um dia amanheceras tão sisuda (D)
Que fora de algodão o teu capote! (E)

O poema "Triste Bahia!" reflete a uma crítica mordaz à sociedade baiana do século
XVII. O autor, utiliza sua poesia satírica para denunciar a corrupção e promiscuidade
dos habitantes da Bahia. Entre os alvos das críticas, estão os negociantes ambiciosos, a
nobreza estúpida e vaidosa, a justiça corrupta, os religiosos hipócritas e a economia
açucareira decadente.

O espelhamento entre o indivíduo e o espaço é expresso através de antíteses,


paralelismos e quiasmas na primeira estrofe. O sujeito vê a pobreza da Bahia refletir-se
em seu próprio estado.
O poema faz referência à entrada de navios estrangeiros na Bahia e ao surgimento
de uma classe mercante. A "máquina mercante" representa a mudança na economia,
enquanto o termo "sagaz Brichote" faz uma alusão irônica aos ingleses. O poeta não
protesta apenas contra o empobrecimento da Bahia, mas também expressa a situação
dele enquanto representante do antigo estado em declínio (filiado à aristocracia
açucareira), diante do surgimento de uma nova ordem econômica mais aberta ao comércio
internacional.

Com relação à versificação/métrica:

• O poema é um soneto, uma forma poética composta por 14 versos;


• a estrutura de rima deste soneto é ABBA ABBA CDE CDE;
• possui 12 sílabas métricas cada verso;
• possui rima interpolada ou oposta;
• a acentuação das rimas é classificada como GRAVE.

Além disso, o poema está na ordem indireta.

Poema 2: Conselho para quem quiser viver na Bahia estimado e procurado por todos

Quem cá quiser viver, seja um gatão, (A)


Infeste toda a terra, invada os mares, (B)
Seja um Chegay, ou um Gaspar Soares, (B)
E por si terá toda a Relação. (A)

Sobejar-lhe-á na mesa vinho, e pão, (A)


E siga, os que lhe dou, por exemplares, (B)
Que a vida passará sem ter pesares, (B)
Assim como os não tem Pedro de Unhão. (A)

Quem cá se quer meter a ser sisudo, (C)


Um Gil nunca lhe falta que o persiga, (D)
E é mais aperreado que um cornudo. (C)

Coma, beba, e mais furte e tenha amiga, (D)


Porque o nome d'EI-Rei dá para tudo (C)
A todos, que El-Rei trazem na barriga (D)

O poema é um soneto composto por quatorze versos, normalmente divididos em duas


estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).
No caso deste soneto de Gregório de Matos, a estrutura é a seguinte:

• Quarteto 1: ABBA
• Quarteto 2: ABBA
• Terceto 1: CDC
• Terceto 2: DCD

Esta estrutura é conhecida como esquema de rima do soneto italiano ou petrarquista.

Quanto à análise do poema, neste soneto, ele parece estar criticando a corrupção e
a hipocrisia da sociedade de sua época. Ele sugere que aqueles que desejam prosperar
comportam-se de maneira desonesta e imoral, como indicado pelos versos “Coma, beba, e
mais furte e tenha amiga”.

O poema também sugere que aqueles que agem dessa maneira não enfrentam
consequências por suas ações, como indicado pelos versos “Porque o nome d’EI-Rei dá
para tudo / A todos, que El-Rei trazem na barriga”. Isso pode ser interpretado como uma
crítica à impunidade dos poderosos.

Com relação à versificação/métrica:

• O poema é um soneto, uma forma poética composta por 14 versos;


• a estrutura de rima deste soneto é ABBA ABBA CDC DCD;
• possui rima interpolada ou oposta;
• a acentuação das rimas é classificada como GRAVE.
Poema 3: Aos vícios

Eu sou aquele que os passados anos


Cantei na minha lira maldizente E quando vê talvez na doce treva
Torpezas do Brasil, vícios e enganos. Louvado o bem, e o mal vituperado,
A tudo faz focinho, e nada aprova.
E bem que os descantei bastantemente,
Canto segunda vez na mesma lira Diz logo prudentaço e repousado:
O mesmo assunto em pletro diferente. - Fulano é um satírico, é um louco,
De língua má, de coração danado.
Já sinto que me inflama e que me inspira
Talía, que anjo é da minha guarda Néscio, se disso entendes nada ou pouco,
Des que Apolo mandou que me assistira. Como mofas com riso e algazarras
Musas, que estimo ter, quando as invoco?
Arda Baiona, e todo o mundo arda,
Que a quem de profissão falta à verdade Se souberas falar, também falaras,
Nunca a dominga das verdades tarda. Também satirizaras, se souberas,
E se foras poeta, poetizaras.
Nenhum tempo excetua a cristandade
Ao pobre pegureiro do Parnaso A ignorância dos homens destas eras
Para falar em sua liberdade Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas feras.
A narração há de igualar ao caso,
E se talvez ao caso não iguala, Há bons, por não poder ser insolentes,
Não tenho por poeta o que é Pégaso. Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não - por não ter
De que pode servir calar quem cala? dentes.
Nunca se há de falar o que se sente?!
Sempre se há de sentir o que se fala. Quantos há que os telhados têm vidrosos,
e deixam de atirar sua pedrada,
Qual homem pode haver tão paciente, De sua mesma telha receosos?
Que, vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire e não lamente? Uma só natureza nos foi dada;
Não criou Deus os naturais diversos;
Isto faz a discreta fantasia: Um só Adão criou, e esse de nada.
Discorre em um e outro desconcerto, Todos somos ruins, todos perversos,
Condena o roubo, increpa a hipocrisia. Só os distingue o vício e a virtude,
De que uns são comensais, outros adversos.
O néscio, o ignorante, o inexperto, Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Que não eleje o bom, nem mau reprova, Esse só me censure, esse me note,
Por tudo passa deslumbrado e incerto. Calem-se os mais, chitom, e haja saúde.
O poema "Aos Vícios" de Gregório de Matos é uma sátira que critica o Brasil colonial.

O poema pode ser dividido em três partes.

• Na primeira parte, o poeta reflete sobre sua poesia satírica anterior, prometendo
uma mudança de tom; ele menciona sua "lira maldizente" que denunciou os vícios e
enganos do Brasil. A primeira estrofe descreve a natureza satírica de sua poesia.

• Na segunda parte, ele faz um juramento e enfatiza a importância da liberdade e


responsabilidade cívica na crítica dos erros.

• Na terceira parte, ele reitera a importância de expressar inquietação diante dos


problemas do Brasil e critica aqueles que atacam sua sátira, mas são incapazes de
produzir críticas construtivas; ele condena a maldade ativa e passiva, destacando
a incapacidade de algumas pessoas em distinguir entre o bem e o mal.

O poema é composto por tercetos decassilábicos com rima cruzada (ABABCBCDC).


A métrica é decassílaba heroica. Ao contrário de um soneto com uma estrutura
fechada, este poema mantém um encadeamento contínuo de estrofe para estrofe.

Com relação à versificação/métrica:

• A estrutura de rima deste soneto é, majoritariamente, composta por rima cruzada


(ABABCBCDC);
• possui rimas interpoladas ou opostas;
• a acentuação das rimas é classificada como GRAVE.

Nesta jornada através do Barroco e da obra de Gregório de Matos, uma


característica que se destaca é a riqueza das dualidades e contradições presentes neste
período. O Barroco, como movimento artístico, capturou de forma magistral as tensões
entre a razão e a fé, o sagrado e o profano, a luz e a sombra. Essa complexidade ressoa
na poesia de Gregório de Matos, que habilmente abordou as injustiças e corrupções que
corroíam a sociedade colonial da Bahia.

As críticas e sátiras de Gregório de Matos são atemporais, tratando de temas que


permanecem relevantes, como a corrupção, a decadência econômica e a impunidade. Seu
uso eloquente da linguagem, repleto de figuras de estilo, adiciona uma camada de
sofisticação à sua poesia, tornando-a um exemplo icônico do estilo barroco.
Fontes Bibliográficas:

a) https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-barroco.htm

b) https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/barroco-no-brasil-
caracteristicas-do-movimento-na-literatura.htm?cmpid=copiaecola

c) https://brasilescola.uol.com.br/literatura/gregorio-matos-guerra.htm

d) https://revistas.ufrj.br/index.php/tm/article/view/17831/10820

e) http://www.cespe.unb.br/interacao/Poemas_Selecionados_%20Gregorio_de_
Matos.pdf

f) https://www.aio.com.br/questions/content/texto-aos-vicios-eu-sou-aquele-
que-os-passados-anos-cantei-na-minha

g) https://www.academia.edu/5577282/Greg%C3%B3rio_de_Matos_Aos_v%C3
%ADcios

h) https://www.youtube.com/watch?v=KJ7lQNzCt_Q

Você também pode gostar