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Gregório de Matos

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Gregório de Matos Guerra (Salvador, 23 de


dezembro de 1636[2] – Recife, 26 de novembro de Gregório de Matos
1696), alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de
Brasa, foi um advogado e poeta do Brasil Colônia.
É considerado um dos maiores poetas do barroco
em Portugal e no Brasil e o mais importante poeta
satírico da literatura em língua portuguesa no
período colonial.[3]

Índice
Biografia
Alcunha
Obras Gregório de Matos, século XIX, F. Briguiet.
Nome Gregório de Matos Guerra
Poemas completo
Referências Outros nomes Boca do Inferno
Ligações externas Boca de Brasa
Nascimento 23 de dezembro de 1636
Salvador, Capitania da Baía
Brasil Colonial
Biografia Morte 26 de novembro de 1696 (59 anos)
Recife, Capitania de Pernambuco
Um de seus mais antigos biógrafos foi Manuel Brasil Colonial
Pereira Rabelo.[4] Gregório de Matos nasceu numa Nacionalidade Português
família abastada, de empreiteiros de obras e Brasil Colonial
funcionários administrativos (seu pai era português, Progenitores Mãe: Maria da Guerra [1]
natural de Guimarães). Assim como todos os Pai: Gregório de Matos [1]
brasileiros de sua época, sua nacionalidade era
portuguesa, pois o Brasil só se tornaria Ocupação Advogado e poeta
independente no século XIX.[5] Todos os cidadãos Escola/tradição Barroco
nascidos antes da independência eram luso- Religião Catolicismo
brasileiros.[5]

Em 1642, estudou em Senador Canedo no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Continuou os seus estudos em
Lisboa em 1650 e, em 1652, na Universidade de Coimbra, onde se formou em cânones, em 1661. Em 1663
foi nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que era "puro de sangue", como
determinavam as normas jurídicas da época.[6]

Em 27 de janeiro de 1668, representou a Bahia nas Cortes de Lisboa. Em 1672 o Senado da Câmara da
Bahia outorgou-lhe o cargo de procurador. A 20 de janeiro de 1674 foi novamente representante da Bahia
nas cortes. Foi, contudo, destituído do cargo de procurador.
Voltou ao Brasil em 1679, nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça, desembargador da Relação
Eclesiástica da Bahia. Em 1682, D. Pedro II, rei de Portugal, nomeou Gregório de Matos como tesoureiro-
mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em Portugal já ganhara a reputação de poeta
satírico e improvisador.[7]

Foi destituído dos cargos pelo novo arcebispo, frei João da Madre de Deus, por não querer usar batina nem
aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções a que tinha sido incumbido.

Começou então a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha
infernal") ou aos nobres (apelidados de "caramurus" [4]). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase
ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e mesmo sagrados.

Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta


português Tomás Pinto Brandão.[6]

Em 1685 o promotor eclesiástico da Bahia denunciou os seus


costumes livres ao tribunal da inquisição. Ele foi acusado, por
exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência,
tirando o barrete da cabeça ao passar por uma procissão. A acusação
não teve seguimento.

Entretanto, as inimizades cresceram em relação direta com os


poemas que vai criando. Em 1694, acusado por vários lados
(principalmente por parte do governador Antônio Luís Gonçalves da
Câmara Coutinho) e correndo o risco de ser assassinado, é deportado
para Angola. A condenação tida como mais leve é atribuída ao
amigo e protetor D. João de Lencastre, então governador da Bahia.
Dizem que Lencastre mantinha livro público no qual eram copiadas
as poesias de Gregório.[4]

Como recompensa por ter ajudado o governo local a combater uma Frontispício de edição de 1775 dos
conspiração militar, recebeu a permissão de voltar ao Brasil, ainda poemas de Gregório de Matos.
que sem permissão de voltar à Bahia. Morreu em Recife, vitimado
por uma febre contraída em Angola.[5]

Alcunha
A alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes
atacando padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador, como neste soneto:[5]

Tristes sucessos, casos lastimosos,


Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos

Sentimo-nos confusos e teimosos


Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.

Levou-me o dinheiro, a má fortuna,


Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.

Por tal motivo, entre outros citados na sua biografia, como sua poesia pornográfica, os quais fizeram de
Gregório um poeta considerado "rebelde" que, apesar de ser um clássico, hoje ainda muitos consideram
também um poeta maldito, ele se torna o primeiro poeta do Brasil que poderíamos, de certo modo, definir
desta forma.[8]

Obras
Em 1831,[4] o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na coletânea
Florilégio da Poesia Brasileira (1850 em Lisboa).

Afrânio Peixoto edita a restante obra, de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de
Letras, reunidos nos códices existentes na Biblioteca Nacional e na Biblioteca Varnhagem, do Ministério das
Relações Exteriores,[4] exceto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James
Amado.[5]

A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de
alguns de seus versos.[4]

Entre seus grandes poemas está o "A cada canto um grande conselheiro", no qual critica os governantes da
"cidade da Bahia" de sua época. Esta crítica é, no entanto, atemporal e universal - os "grandes conselheiros"
não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que "nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem
governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro".[5] A figura do "grande conselheiro" é a figura
do hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar aos seus. Em resumo, é aquele que aconselha mas
não segue os seus preceitos.

Perto de seu fim, Gregório de Matos expressou culpa e arrependimento no que concernia a sua relação com
a Igreja Católica. Através de suas obras "Buscando a Cristo" e "A Cristo N. S. Crucificado", onde procura
demonstrar "a insignificância do homem perante Deus", onde se percebe, de sua parte, a consciência nítida
do pecado e a busca do perdão. Nestes momentos de pungente arrependimento, Gregório explicita seu
conhecimento religioso, contrastando as ideias de Deus e de pecado, opostas e, ao mesmo turno,
complementares: Deus, ainda que detentor do poder de condenação das almas, permite claramente a
esperança do homem em se salvar pelo Seu perdão, em virtude de Sua infinita misericórdia e bondade.

O poema "Buscando a Cristo" incluído em "Obras Completas", organizadas pela Academia Brasileira de
Letras, todavia, é objeto de polêmica sobre a sua real autoria. Angel Salcedo Ruiz, num capítulo do tomo III
de La literatura española, 2ª Ed., Madrid, 1916, relata a atribuição ao poeta colombiano Juan Manuel
García Tejada, falecido em 1845, cujo poema em espanhol tem o título "A Jesus Crucificado". O mesmo
autor, contudo, menciona Menéndez y Pelayo (História de la Literatura Hispano-Americana) que disse sem
precisar ter lido o poema em obra anterior a García Tejada. Outros escritores em língua portuguesa que se ou
lhes foram atribuídos como autores do poema foram o Padre Manuel Bernardes (que está de acordo com a
versão espanhola) e um Doutor Manuel da Nóbrega (citado por Inocêncio Francisco da Silva em Dicionário
Bibliográfico Português, tomo 6º, pg. 69). Segundo Clóvis Monteiro, que reuniu as informações
mencionadas nesse parágrafo, "Tudo faz crer, pois, que não é Gregório de Matos o autor desse soneto".[4]

Segundo Valentin (2013), as primeiras representações da homossexualidade na literatura brasileira das quais
se tem conhecimento estão em alguns poemas satíricos de Gregório de Matos.[9]

Poemas
Pica-flor[10]
Anjo bento
Senhora Dona Bahia
Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia
Finge que defende a honra da cidade e aponto os vícios
Define sua cidade
A Nossa Senhora da Madre de Deus indo lá o poeta
Ao mesmo assunto e na mesma ocasião
Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu
A NSJC com actos de arrependido e suspiros de amor
Ao Santíssimo Sacramento estando para comungar
A S. Francisco tomando o poeta o habito de terceiro
No dia em que fazia anos
Impaciência do poeta
Buscando a Cristo
Soneto - Carregado de mim ando no mundo
Soneto I - À margem de uma fonte, que corria
Soneto II - Na confusão do mais horrendo dia
Soneto III - Ditoso aquele, e bem-aventurado
Soneto IV - Casou-se nesta terra esta e aquele
Soneto V - Bote a sua casaca de veludo
Soneto VI - A cada canto um grande conselheiro
Triste Bahia

Referências
1. «Gregório de Matos» (http://www.academia.org.br/academicos/gregorio-de-matos/biografia).
Academia Brasileira de Letras. Consultado em 4 de fevereiro de 2019
2. «Fundação Gregório de Mattos» (http://www.cultura.salvador.ba.gov.br/apresentacao.php).
Salvador, BA, BR: Secretaria da Cultura. Consultado em 31 de julho de 2009. Cópia arquivada
em 15 de março de 2010 (http://web.archive.org/web/20100315053300/http://www.cultura.salv
ador.ba.gov.br/apresentacao.php)
3. Peres, Fernando da Rocha. «Gregório de Matos e Guerra. Notação Biográfica» (http://www2.u
fba.br/~gmg/gregorio.html). UFBA, BA, BR. Consultado em 31 de julho de 2009
4. MONTEIRO, Clóvis - Esboços de história literária - Livraria Acadêmica - 1961 - Rio de Janeiro
- pgs. 60-62-67 a 70
5. Cristiana Gomes (3 de março de 2008). «Gregório de Matos Guerra» (http://www.infoescola.co
m/escritores/gregorio-de-matos-guerra/). InfoEscola. Consultado em 26 de novembro de 2012
6. Sabrina Vilarinho. «Gregório de Matos Guerra» (http://www.brasilescola.com/literatura/gregorio
-matos-guerra.htm). R7. Brasil Escola. Consultado em 26 de novembro de 2012
7. Manuel Bernardes escreveu sobre um versejador "que glossava motes (por dificultosos e
paradoxos que fossem), sem deter-se mais do que enquanto corria a mão pelo bigode,
torcendo-o na ponta..." - cf. João Ribeiro em O Fabordão (1910), pg. 56 - citado por Clovis
Monteiro em "Esboços de História Literária" - Livraria Acadêmica - 1961 - Rio de Janeiro -
pg.60
8. Barros, Higino. Gregório de Matos - Os Melhores Poemas do Boca do Inferno, o Primeiro
Poeta Maldito Brasileiro - Antologia. Organização de Higino Barros. Julho de 1999. L&PM.
9. Valentin, Leandro Henrique Aparecido. «Representações da homossexualidade em poemas
de Gregório de Matos» (https://www.academia.edu/5536531/Representa%C3%A7%C3%B5es
_da_homossexualidade_em_poemas_de_Greg%C3%B3rio_de_Matos). Littera Docente &
Discente em Revista – via www.academia.edu
10. «Pica-Flor - Poema de Gregório de Matos e Guerra» (https://www.escritas.org/pt/t/3716/pica-fl
or). escritas.org. Consultado em 6 de setembro de 2018

Ligações externas
Perfil no sítio oficial da Academia Brasileira de Letras (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilu
a.exe/sys/start.htm?sid=190) (em português)
Fundação Gregório de Matos (http://www.cultura.salvador.ba.gov.br/)
Biografia e obras de Gregório de Matos (http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=275
9) no Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística
Obras Poéticas de Gregório de Matos (http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?acti
on=midias&id=144677)
Memória Viva de Gregório de Matos (http://www.memoriaviva.com.br/gregorio/)
Jornal da Poesia - Gregório de Matos (https://web.archive.org/web/20090628090200/http://ww
w.revista.agulha.nom.br/grego.html)
A Música no Tempo de Gregório de Matos (https://www.academia.edu/3846021/A_M%C3%BA
sica_no_Tempo_de_Greg%C3%B3rio_de_Mattos_Music_in_the_time_of_Greg%C3%B3rio_d
e_Mattos_2004_)
Sucedido por
Precedido por ABL - patrono da cadeira 16 Araripe Júnior

(fundador)

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