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08 DE AGOSTO DE 2021 VICTORIA DREY
Finalmente, em 1906, Tolstói, aos 75 anos, escreveu um amplo ensaio explicando sua
intensa aversão por Shakespeare. “Lembro-me da surpresa que senti durante a
primeira leitura de Shakespeare”, escreveu o russo. “Esperei receber o grande
prazer estético. Mas ao ler, uma após outra, aquelas consideradas as melhores
dentre suas obras, ‘Rei Lear’, ‘Romeu e Julieta’, ‘Hamlet’ e ‘Macbeth’, não só não
senti prazer como experimentei a repugnância irresistível, o tédio e o receio de
estar louco por achar insignificantes e francamente ruins obras consideradas o auge
de perfeição por todo o mundo erudito, ou então o valor atribuído por esse mundo
erudito às obras de Shakespeare é insensato”, continuou.
Para Tolstói, as obras de Shakespeare eram imorais, e ele chegou a escrever que as
peças do inglês não tinham quase nenhum mérito artístico. Ele não podia negar a
enorme influência e popularidade de Shakespeare, mas seu ponto principal era que
todos admiravam o escritor britânico, mas quase ninguém conseguia explicar
claramente o por quê. O escritor russo estava certo de que Goethe, a quem
considerava um “ditador do pensamento filosófico e das leis estéticas”, havia feito
uma enorme contribuição para a popularidade global de Shakespeare. Tolstói
reduzia o apelo generalizado do dramaturgo a “uma série de circunstâncias”, e,
embora sua opinião não tenha recebido muito apoio, ele a manteve até sua morte.
Púchkin, o insignificante
A atitude de Tolstói em relação a Púchkin era bastante controversa. Ele negava que
o poeta merecesse o título de tesouro literário nacional, alegando que sua poesia
quase não tinha valor; ainda assim, muitos críticos literários – e até mesmo o
próprio Tolstói – percebiam a evidente influência de Púchkin nas obras de Tolstói.
É por isso que, apesar não suportar a poesia de Púchkin, Tolstói o respeitava como
escritor, alegando que a visão do poeta sobre arte literária servia de inspiração.
Retrato de Aleksandr Púchkin por Orest Kiprénski.
Galeria Tretiakov
“Um dramaturgo deve levar o espectador pela mão na direção que ele quiser. E
aonde posso seguir o seu personagem? Para o sofá da sala e de volta – porque seu
personagem não tem outro lugar para ir”, disse.
No “Livro da Vida” (1922), Piotr Gneditch, colega de Tchekhov, lembra uma das
declarações do dramaturgo sobre seu relacionamento com Tolstói. “Visitei
recentemente Tolstói em Gaspra. Ele estava acamado devido a uma doença. Entre
outras coisas, ele falou sobre mim e meus trabalhos. Quando eu estava prestes a
dizer adeus, ele pegou minha mão e disse: ‘Me dê um beijo de adeus’. Enquanto eu
me inclinava sobre ele e lhe dava um beijo, ele sussurrou no meu ouvido com uma
voz ainda enérgica: “Sabe, eu odeio suas peças. Shakespeare era um escritor ruim, e
considero suas peças ainda piores do que as dele”.
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