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Vygótski, L. S. (1922/2017) Outubro na poesia. In: Gomide, B.

(org) Escritos de
outubro: os intelectuais e a revolução russa. São Paulo: Boitempo. p. 110-114.

OUTUBRO NA POESIA*

G. Leliévitch** proferiu uma palestra sobre esse tema no Partklub***.


Ele merece uma conversa séria.
“Outubro na poesia” são palavras que compreendem dois ternas
completamente diferentes: 1) como Outubro se reflete na poesia; 2) о
Outubro o propriamente dito, a reviravolta na própria arte da palavra,
análoga ao Outubro socialista e literário. A esse segundo tema, o pales-
trante aludiu apenas no fim e de forma vaga e indefinida, limitando-se
a uma analogia entre a revolução socialista política e a poética, segundo
a fórmula: uma é idêntica à outra, assim por diante. Mas qual conteúdo
político real se insere nessa fórmula? A questão parece ser simples e
realmente se esgotar na analogia. Mas esse é um enorme equívoco. Pre-
judicial tanto para a consciência artística da contemporaneidade quanto
para a política que dirige a arte. De fato, comparem o que tais represen-
tantes comunistas da arte, corno Fritche, Brik. Lunatchárski, Meye-
rhold, Serafimóvitch e Leliévitch, pressupõem com essa fórmula e che-
garão a conclusões artísticas completamente distintas, mutuamente ex-
cludentes e polares, que partem de premissas sociais e políticas idênti-
cas. Quem não sabe que essas palavras ainda não receberam urna inter-
pretação comunista única e universalmente aceita? Ocorre que não se
pode simplesmente transportar, transpor por analogia, as leis de um
conjunto de fenômenos para outro. Assim, a revolução poética, o Ou-
tubro na poesia, é apenas um tropo, urna metáfora, um uso figurado
das palavras, h completamente diferente da revolução nas ruas de Pe-
tersburgo e na economia conduzida pelo governo. Agora, no final do
quinto ano, todos parecem ter se dado conta disso. O lema deve ser,
antes de tudo, preciso e claro. Por aqui tudo é vazio e não evidente.

* Tradução de Priscila Marques. (N. E.)


** Um dos pseudônimos de Labori Guilelevitch Kalmanson (1901-1937), poeta
e crítico literário. (N. E.)
*** Abreviação de партийный клуб/ partiinyi klub [clube do partido]. (N. E.)

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ESCRITOS DE OUTUBRO

О único delineamento que confere alguma clareza é o que indica o


grupo de poetas proletários como precursor do Outubro poético. É uma
bússola, repleta de sentido real. Contudo, isso parece já tão ultrapas-
sado – não em relação à Nova Política Econômica (NEP), não, mas em
vista dos êxitos e dos fracassos, das manifestações em geral, geradas
pela produção experimental da arte proletária nos últimos cinco anos.
Construída a partir de uma característica específica da criação artística,
hoje ela parece não encontrar defensores entre os próprios poetas pro-
letários.
Tal ideologia foi recusada por seus próprios criadores. Essa é a es-
sência da questão que precisa ser assimilada. Saber o que significa a
linha literária do Izviéstiia*, em que os versos do poeta proletário
Obradóvitch são publicados juntamente com o “arruaceiro” Marienhof,
com o camponês P. Oriéchin e com B. Vassiliénko.
O que significa Krásnaia Nov [Solo Virgem Vermelho]**, que reúne de
tudo, desde a obra clássica de Mandelstam até Kázin?
O que significa tudo isso (assim como muitas outras coisas que não
consegui citar), senão a supressão da ideologia anterior dos Prolet-
kults*** e sua substituição por outra completamente nova, poeticamente
distante da anterior, como a luz elétrica o é da tocha?
Leliévitch deve saber que exatamente o mesmo ocorreu no campo do
teatro.
Meyerhold propagava o teatro de Outubro e propunha o cadeado
nos teatros acadêmicos. Agora ele está mais ocupado com a biomecâ-
nica do que com os editoriais do VT [Teatro Vakhtángov]. Com O cor-
nudo (grão-russo) magnífico****, que parece ser tão distante de Outubro

* Importante jornal diário na época soviética. (N. E.)


** Editora soviética. (N.E.)
*** Proletkult (Proletárskaia Kultura [cultura proletária]) foi uma organização

artística soviética que surgiu logo após a revolução de 1917. Visava a promo-
ver em todos os campos da arte a criação de uma nova estética, condizente
com a ideologia revolucionária. (N. E.)
**** Trata-se provavelmente de Le cocu magnifique, peça publicada em 1921

pelo dramaturgo belga Fernand Crommelynck. Foi encenada na Rússia pela


primeira vez em 1922, por Meyerhold, no Teatro do Ator. Em sua primeira
tradução para o russo, a peça foi chamada Velikodúchny Rogonossiets [O cor-
nudo magnânimo]. O nome original, com “magnífico” (velikolépni), em vez de
magnânimo, passou a ser utilizado somente mais tarde. Contudo, nenhuma
referência foi encontrada à forma aqui utilizada por Vygótski, ou seja, veli-
dorúski [“grão-russo”]. (N. E.)

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LIEV VYGÓTSKI

lembrem-se da avaliação de Lunatchárski, ele prepara uma revolução


teatral de escala mundial. O teatro operário e camponês foi deixado nos
arquivos da seção teatral. Os poetas proletários, por sua vez, estão bem
vivos, e o surpreendente não é que estejam, mas que convivam perfei-
tamente nas mesmas páginas com camponeses e membros da intelligen-
tsia. Um Outubro anêmico como um vegetariano é bom: você fica na
página da direita, eu na da esquerda, só que despejados no mesmo cal-
deirão. E de fato é no mesmo caldeirão. Poeticamente falando, Kázin e
Aleksándrovski não criaram nada de novo no campo da engenharia
poética, como se diz hoje, não somente antes de Outubro, como nem
mesmo antes de fevereiro. Eles foram educados com Balmont e Blok.
Isso é facílimo de se demonstrar. E todo mundo já sabe.
A questão é que, se vocês pegarem uma lâmpada de querosene com
um carimbo da RSFSR [República Socialista Federativa Soviética Russa]
e uma elétrica com um carimbo de uma fábrica do império, a elétrica,
apesar do carimbo, será mais revolucionária e mais próxima de Outu-
bro.
O mesmo ocorre com a poesia.
Pasternak está mais à esquerda do que Kázin, assim como Man-
delstam em relação a Aleksándrovski, apesar da origem. A propósito,
a respeito deste último: acredito que, mesmo no sentido social, a iden-
tidade de classe de certos trabalhadores que saíram da fábrica e a dos
camponeses que vivem no sexto andar dificilmente pode ser determi-
nada inteiramente pela origem.
Os poetas proletários são o ponteiro de uma bússola que aponta
para trás, não para a frente, que não leva a Outubro, e sim para longe
dele. Hoje isso é defendido por muitos comunistas. O trabalho dos Pro-
letkults foi apenas a introdução na literatura de alguns poetas de ori-
gem proletária de talento variado, mas principalmente em papéis se-
cundários ou terciários.
Assim, quando se pensa no sentido de Outubro, mesmo esse deli-
neamento é vazio e falso. São necessários outros. Até mesmo uma sim-
ples informação sobre o estado das coisas seria preciosa para qualquer
um próximo da questão da arte na RSFSR. Se ainda não temos todas as
fórmulas mágicas, ao menos a elaboração preliminar da questão já atin-
giu tamanha complexidade que exigiu um exame detido.
Costumamos ouvir: invoquem Outubro na poesia e ele chegará,
mas de onde espera-lo e como saber o que está a seu favor e o que está
contra? Sobre isso ninguém diz palavra.
Nada pior do que transformar essa formula em palavras vazias.

112
ESCRITOS DE OUTUBRO

Quanto ao outro tema. ele foi colocado na palestra de Leliévitch de


forma mais nítida e clara e, no geral, é menos discutível.
Antes de tudo está o desvio poético de toda a poesia antioutubrista:
os sonhos sobre pão e caviar de Severiánin e a medíocre invectiva de
Guippius certamente não são poesia. Mas será que nisso se esgota a
abordagem literária de oposição? Como esquecer a Молитва о России/
Molitva o Rossii [Oração para a Rússia] de Ehrenburg e a contrarrevolu-
ção interna de Akhmátora, cuja alta tensão encontrou admiradores até
nas páginas do Izviéstiia? E há mais.
Restam três grupos que refletem Outubro: os membros da intelli-
gentsia (Blok e Maiakóvski), que sentiram a grandeza dos ventos de
Outubro, mas não se entregaram a eles por inteiro: os poetas campone-
ses, que uniram Outubro à mística do paraíso camponês e enxergaram
em Lênin o espírito de Kiérjenski* e o chamado do iegúmen** nos decre-
tos (Iessiénin, Oriéchin e outros); e os poetas proletários (Kázin,
Aleksándrovski e outros) em cuja voz ressoam os novos sons pré-outu-
bristas da nova consciência coletivista nascente.
Em uma análise brilhante e concisa, o palestrante apresentou todos
esses três grupos. Ele pode ser acusado apenas de excessiva simplifica-
ção e inevitável vulgarização de coisas como o poema “Os doze”, de
Blok, ou de Maiakóvski etc.
Leliévitch é um excelente orador. Disso se esquecem e é melhor
nem comentar. A meu ver, essa falta de atenção aos seus e ao que é
próximo é certo provincianismo deslavado. Somente em uma província
espiritual pode aparecer o desprezo que se costuma relacionar à pala-
vra “doméstico”. Essa mesma estupidez pequeno-burguesa foi magni-
ficamente registrada nas placas dos alfaiates de Archávia*** e dos padei-
ros de Odessa. Se no livro de Leliévitch, não em sua palestra, houvesse
um carimbo de Archávia, talvez pudessem discernir melhor que Lelié-
vitch tem de ser simplesmente ouvido, pois o próprio ofício do discurso
oratório vivo, realizado com energia volitiva leve e admirável, deco-
rado claramente, é um talento e uma alegria.

*
Reserva ecológica localizada na Sibéria. Velhos crentes se estabeleceram
nessa região a partir da metade do século XVII e no começo do século ХVIII
para escapar da perseguição do governo tsarista e das autoridades da Igreja
Ortodoxa. (N. E.)
**
Líder do monastério da Igreja Ortodoxa. (N. E.)
***
Referência à descrição da “cidade-sede da província de NN”, presente em
Almas mortas, de Nikolai Gógol, primeiro destino do protagonista Pável
Ivánovitch Tchítchikov. (N. E.)

113
LIEV VYGÓTSKI

Depois da palestra, o artista Bábuchkin recitou versos que a ilustra-


vam. Em sua declamação, realizada com entonação dramática e brados
lógicos em pontos fortes (que tornaram a declamação de Maiakóvski
insuportavelmente caricata), já aparece algo novo, que se tornará parte
indispensável de qualquer apresentação literária: a elucidação da de-
clamação literária de prosa e versos, em particular de lírica, em uma
tarefa estilística independente que nada tem em comum com a apresen-
tação dramática do discurso. Porém, o problema da recitação artística
de versos, que atualmente surge de forma muito aguda, precisa ser
abordado em separado. Apenas um ponto: por que de Leliévitch foi
lida somente a prosa rimada mal escrita intitulada “Batam os martelos”,
quando ele tem versos realmente sonoros?
Por fim, é preciso organizar debates literários com mais frequência.

Fonte: Liev Vygotski, “Октябрь в поэзии”/ “Oktiábr v poézii” [Outubro na po-


esia], em Наш Понедельник/ Nach Ponediélnik [Nossa Segunda-Feira], Gó-
mel, n. 6, 1922, p. 4.

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O U TU BRO NA POESIA*

I.г Iirvi It h** p ro lc im uma palestrasobre- esse tema no Partklub***.


i le m erece nina conversa séria.
Outubro na poesia sào palavras que compreendem dois ternas com­
pletam ente diferente s: 1^ com o Outubro se reí lelilí na piresia; 2) о ()ц-
íubro i)oeti( o propriamente dito, a reviravolta na própria arte da palavra,
a na loga ao í >u(ubro socialista e literario. A esse segundo terna, o palé*
rraníe aludiu apenas no íim e ríe forma vaga e indefinida, lirnitando-se a
uma analogia entre a revolução socialista política c a poética, segundo a
fórmula: urna é idéntica à outra, assim por diante. Mas qual conteúdo
político real se insere nessa fórmula? Л questão parece ser simples e
realm ente se esgotar na analogia. Mas esse é uní enorme equívoco. Pre-
judir ia) tanto para a const iérre ia artística da con tern poraneidade quanto
para a política que dir ige a arte. De fato, comparem o que tais represen­
tantes comunistas da ar te, corno Fr ite be, Br ik. Límateirarski, Meyerhold,
Seralimo\it( Ir e Leliévití Ir, presstipoein corn essa fórmula e chegarão a
coin lus<>es ai tísúcas com plejam ente distintas, mutuamente excluder!tes
e polares, que partem de premissas soc iais e políticas idénticas. Quem
nao sabe que essas palavras ainda não receberam urna interpretação co­
munista única e universalmente aceita? Ocorre que não se pode simples-
menu* transportar, transpor por analogia, as leis de um conjunto di
termínenos para outro. Assim, a revolução poética, o Outubro na poesia,
é apenas urn tropo, urna metáfora, um uso figur ado das palavras, h com­
pletamente diferente da revolução nas ruas de Pctersburgo e na econo­
mia conduzida pelo governo. Agora, no final do quinto ano, todos
parecem ter se dado conta disso. O lerna deve ser, antes de tudo, preciso
e claro. Por aqui tudo é va/io e nao evidente.

h adujan de P úsola Marques. (N. E.)


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O que significa Krásnaia Nov [Solo Virgem Vermelho)**, que reúne
de ludo, desde a obra clássica de Mandelstam até Ká/.in? *'
O que significa tudo isso (assim como muitas outras coisas que
nâo consegui citar), senão a supressão cia ideologia anterior dos
Proletkults*** e sua substituição por outra completamente nova, poe­
ticamente distante da anterior, como a luz elétrica o é da tocha?
Leliévitch deve saber que exatamente o mesmo ocorreu no campo
do teatro.
Meyerhold propagava o teatro de Outubro e propunha o cadeado
nos teatros acadêmicos. Agora ele está mais ocupado com a biomecá­
nica do que com os editoriais no VT [Teatro Vakhtángov]. Com 0
carnudo (¡¿гшупто) rruigníjiaj****, que parece ser tão distante de Outubro

Importante jornal diário na época soviética. (N. E.)


Editora soviética. (N. E.)
Proletkult (I*roletársk(iia Kalium [Cultura proletária)) foi uma organização ar­
tística soviética que surgiu logo após a Revolução de 1917. Visava a promover em
todos os campos da arte a criação de uma nova estética, condizente com a ideolo­
gia revolucionária. (N. E.)
Ti ata-se provavelmente de Le соси magnifique, peça publicada em 1921 ptlo
dramaturgo belga Fernand Crommelynck. Foi encenada na Rússia pela primeira
Vez ern 1^22, por Meyerhold, no Teatro do Ator. Em sua primeira tradução para
<> nisso, a peça foi chamada Velikodúchny Rogtmossiets [O cornudo magnánimoj.
nome original, com “m agnífico” (velikoléfmí), em vez de magnánimo, passou a
er utilizado som ente mais tarde. Contudo, nenhuma referência foi ei^ °^ tra( A
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flembrem-se da avaliação de Lunatchárski), eie prepara uma revolu­


ção teatral de escala mundial. O teatro operário e camponês foi deixa­
do nos arquivo* da seção teatral. Os poetas proletários, por sua vez.
esrao bem vtyo*t e 0 surpreendente náo é que estejam. mas que convi­
vam perfertamente nas mesmas páginas com camponeses e membros
da muUiqmtna. L m Outubro anémico como um vegetariano é bom:
%or'^ na р^фпа da direita, eu na da esquerda, só que despejados no
mesmo caldeirão. E de fato é no mesmo caldeirão. Poeticamente falan­
do. Kázm e Aíeksándrovsícj náo criaram nada de novo no campo da
engenharia poética, com o se diz hoje. náo somente ames de Outubro,
como nem mesmo antes de fevereiro. Eles foram educados com Bal-
fTiom e Blok. Kso é facílimo de se demonstrar. E todo mundo já sabe.
Л queváo é que. v: vocês pegarem uma lâmpada de querosene com
um carimbo da RSFSR [República Socialista Federativa Soviética Russa]
e uma eíétnca com um carimbo de uma fábrica do império, a elétrica,
apesar do rarimbo, será mais revolucionária e mals próxima de Outubro.
() mesmo recorre corn a poesía.
Pas ferric к está mais a esquerda do que Kázin, assim como Mandel-
sram em reiacáo a Aletsándrovsld, apesar da origem. A propósito, a
respeito desfe último: acredito que, mesmo no sentido social, a iden­
tidad#- de r laxve de certos trateIhadores que saíram da fábrica e a dos
#ampon#-v-s que vivern no sexto andar difícilmente pode ser determi­
narla mteírarnente pela origem.
f Js prietas proletário* são o ponteiro de uma bússola que aponta
para trás. nao para a frente, que náo leva a Outubro, e sim para longe
dele. Hoje isso é defendido por muí tos comunistas. O trabalho dos
Proletkulcs foí ajanas a introdução na literatura de alguns poetas de
ong#rn proletária el#- talento variarlo, mas principalmente em papeis
v*c undárío* ou terciário*.
Лчмгп, quando se [К-risa no sentido de Outubro, mesmo esse dele
neametilo é va/io e falso. São necevsárir/s outros. Até mesmo uma sim-
pie* informação v>bre o estarlo rias coisas seria preciosa para qualquer
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fórmulas maguas, ao rnenos a elaboração preliminar da questão ja
atingiu tamanha complexidade que exigiu um exame detido.
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mas de onde e*perá-lo e como saber o que está a se u favor e o que
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contrarrevoluçao interna de Akhmátora. cu,a alta tensão enconuou
admiradores ate nas páginas do hvihtüñ E há mais.
Restam três grupos que refletem Outubro: os membros da
genlsia (Blok e Maiakóvski), que sentiram a grandeza dos ventos de
Outubro, mas não se entregaram a eles por inteiro: os poetas campo­
neses, que uniram Outubro à mística do paraíso camponês e enxer­
garam em Lênin o espírito de Kiéijenski* e o chamado do itgúmm**
nos decretos (Iessiénin. Oriéchin e outros); e os poetas proletários
(Kázin, Aleksándrovski e outros) em cuja voz ressoam os novos sons
pré-outubristas da nova consciência coletivista nascente.
Em uma análise brilhante e concisa, o palestrante apresentou to­
dos esses três grupos. Ele pode ser acusado apenas de excessiva sim­
plificação e inevitável vulgarização de coisas como o poema “Os
dozeg de Blok, ou de Maiakóvski etc.
Leliévitch é um excelente orador. Disso se esquecem e é melhor
nem comentar. A meu ver, essa falta de atenção aos seus e ao que é
próximo é certo provincianismo deslavado. Somente em uma provin­
da espiritual pode aparecer o desprezo que se costuma relacionar à
palavra “doméstico"’. Essa mesma estupidez pequeno-burguesa foi
magnificam ente registrada nas placas dos alfaiates de Archávia*** e dos
padeiros de Odessa. Se no livro de Leliévitch. náo em sua palestra,
houvesse um carimbo de Archávia, talvez pudessem discernir melhor
que Leliévitch tem de ser simplesmente ouvido, pois o próprio ofício
do discurso oratório vivo, realizado com energia volitiva leve e admirá-
decorado claramente, é um talento e uma alegria.

Reserva ecológica localizada na Sibéria. Velhos crentes se estabeleceram nessa


(£ ?ao a Partir da metade do século X\1I e no começo do século ХМП para escapar
^^Ruiçáo do governo tsarista e Няч autoridades da Igreja Ortodoxa. <N. t
— er monastério da Igreja Ortodoxa. (N. E.)
Л/т/ / еГСпС1а à descrição da “cidade-sede da provincia de NN". presente em
^chítchil^^ ^ ^ikolai Gógol, primeiro destino do protagonista Pásel bánoriu
UEY W GÓTSkl

Dornas da palestra, o artista Babuchkin recitou versos que a ilustra­


v a m . Em sua declamação, realizada com entonação dramática e brados

lóceos em pontos fortes (que tornaram a declamação de Maiakóvski


insuportavelmente caricata), já aparece algo novo, que se tornará
parte indispensável de qualquer apresentação literaria, a elucidação
da declamação literária de prosa e versos, em particular de lírica, em
uma tarefa estilística independente que nada tem em comum com a
apresentação dramática do discurso. Porém, o problema da recitação
artística de versos, que atualmente surge de forma muito aguda, pre­
cisa ser abordado em separado. Apenas um ponto: por que de Lelié-
\ich toi lida somente a prosa rimada mal escrita intitulada “Batam os
martelos , quando ele tem versos realmente sonoros?
Por fim, é preciso organizar debates literarios com mais frequência.

Fonte: Liev Vygotski, “Октябрь в поэзии”/ “Oktiábr v poézii” TOutubro

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С d a e d iç ã o , B o ite m p o , 2017

/ ¿/> edit/mal I'.'ana Jin ki n gs


hdvção Bibiana I^m e
Awisthuia ediU/naL Thaisa Burani e Artur Renzo
ТгаЛщ/м Bruno Gomide. Cássio de Oliveira. Cecilia
Rosas. Gabriela Soares da Si Ira, Mário Ramos
Paula Yaz de Almeida. Priscila Marques e
Rafael Frate (conforme identificação em
cada texto)
Rruisão Thais Rimkus
Indice r/rvsmástico Luca Jinkings
СгипЛпицш) dc produção Lisia Campos
Capa Ivana Jinkings g y¡
(sobre estudo de Liubov Popora para o figurino
do ator n. 7 da peça Le соси magnifique, de Femand
Crommelvnck, encenada por Vsiévolod Meverhold Au
no Teatro do Estado, em Moscou, 1921) ^ •
Diagramação Crayon Editorial

Equipe de apoio: Alian Jones / Ana Yumi Kajiki / Camilla Rillo / Eduardo Marques / PlC
i.laiiie Ramos / Frederico Indiani / Heleni Andrade / Isabella Barboza / Isabella Marcatti / P rç
Ivam Oliveira / Kirn Doria / Marlene Baptista / Mauricio Barbosa / Renato Soares /
Thais Barros / Tulio Candiotto
L ie
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO A le
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
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Escritos de outubro : os intelectuais e a revolução russa, 1917-1924 Rev
/ organização Bruno Gomide ; [tradução Cecília Rosa et al.]. -1 . ed.
- São Paulo : Boitempo, 2017.
ii. Iva:
Tradução de: Tradução de artigos diversos Dia
Inclui índice
ISBN 978-85-7559-571-8 y EL

1. Ensaio brasileiro. I. Gomide, Bruno. II. Rosa, Cecília. U ni


17-43184 CDD: 869.94
_______________________________ CDU: 821.134.3(81)-4 ISA4
Os r
É vedada a reprodução de qualquer Q p.
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Ia edição: setembro de 2017 D avi

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