• No soneto “A um poeta”, o eu lírico utiliza verbos no
imperativo (“escreve”, “trabalha”) para fornecer uma receita da prática poética, que denomina “arte pura”. Um poema, segundo sua visão, é construído à custa de muito trabalho e sofrimento. • O texto é resultado do hábil manejo dos recursos formais. • Substantivos comuns são grafados com inicial maiúscula. No parnasianismo, a “beleza” se associa à “verdade” e torna-se o fim da escrita poética. • “Olavo bilac” não foi voz isolada. Esse tipo de concepção de poesia, em que o culto à forma é colocado em primeiro plano foi denominado parnasianismo. Quase ao mesmo tempo dele, outro movimento surgiu, o simbolismo, que se vale de recursos formais semelhantes, mas dirigidos a outras escolhas temáticas. PARNASIANISMO: A ARTE PELA ARTE • As últimas décadas do século XIX foram marcadas pelo antirromantismo, ou seja, pelo combate ao movimento romântico. • Nesse período, uma discussão dominava alguns círculos intelectuais: qual seria a função da arte? Em 1856, Théophile Gautier divulgou um manifesto na França que imortalizou a expressão “arte pela arte”. • Para o escritor francês, a arte não tinha obrigação de se ocupar de temas sociais ou políticos (como defendiam os realistas- naturalistas), mas de expressar o belo, conquistado, no caso da poesia, à custa de um trabalho intenso com a palavra. • No final do século XIX, os escritores Baudelaire, Oscar Wilde e Edgar Allan Poe aderiram a esse ideal, cultuando quase uma “religião da beleza” na arte. O PARNASIANISMO NO BRASIL Inspirados na concepção da “arte pela arte” de Gautier, os parnasianos brasileiros pregavam, entre outros, os seguintes preceitos para a poesia: 1. Culto à forma: Como reação ao transbordamento emocional típico dos românticos, os parnasianos defendem o culto da forma (grafavam a palavra com inicial maiúscula), buscando inspiração na tradição clássica. Sonetos com rimas ricas (entre palavras de classes gramaticais diferentes); 2. Universalismo: a busca pelo geral nos poemas parnasianos, em lugar dos temas antes valorizados pelos românticos, como pátria e mulher amada, surgem outros mais universalistas, como mitologia greco-latina; conceitos abstratos, como beleza e verdade. 3. Racionalismo e descritivíssimo: combate à subjetividade na poesia parnasiana, o sentimentalismo romântico cede lugar ao racionalismo. É frequente o uso da terceira pessoa (em lugar da primeira), e o poeta coloca-se como um observador que apenas constata. Dedica-se a descrever, o mais objetivamente possível, paisagens e objetos decorativos (vasos, taças, leques, estátuas tumulares etc.). As formas do corpo também são descritas, usando um vocabulário mais objetivo e ousado do que aquele adotado pelos românticos (poema superficial). A TRÍADE PARNASIANA Três poetas destacaram-se no parnasianismo brasileiro: Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Cabe ao poeta fluminense Alberto de Oliveira (1857-1937) o posto de “mestre parnasiano”, já que foram seus poemas aqueles que mais se aproximaram da ideia de uma poesia descritivista e isenta de sentimentos. • O poema mostra o esforço de Alberto de Oliveira em manter-se nos padrões rígidos que ajudou a propagar. O poeta esmerou-se em uma descrição plástica, isto é, capaz de tornar o objeto mais real a partir de recursos que sugerem cores, odores, volumes, sensações térmicas. • Já o maranhense Raimundo Correia (1859-1911), embora tenha cultivado o rigor formal na construção, principalmente de sonetos, produziu poemas ainda relacionados à herança romântica. Seus versos investigam os mistérios da existência, a hipocrisia, o tédio, a crueldade, as máscaras sociais e a hipocrisia. • O terceiro componente da tríade é o fluminense Olavo Bilac (1865- 1918), um dos escritores mais populares e prestigiados que o Brasil já teve. • Desde sua primeira obra, Poesias, de 1888, o escritor pregou os ideais parnasianos de sua geração: os versos caprichosos, naturais e sem defeitos. Essa defesa apaixonada da perfeição da forma permitiu que Bilac conquistasse prestígio junto à elite intelectual apoiadora das rígidas normas impostas pelo parnasianismo, mas o poema que realmente o popularizou, o Soneto XIII da obra Via Láctea (1886), caracteriza-se por algumas marcas tipicamente românticas. • Talvez a popularidade da poesia de Bilac seja explicada pelo fato de nela conviverem elementos da tradição clássica com versos repletos de imagens e sentimentos românicos. Simbolismo: novo mergulho na subjetividade • Enquanto muitos escritores realistas-naturalistas, influenciados pelo positivismo, defendiam em suas obras a supremacia da ciência e da objetividade, nasceu na França, por volta de 1880, um movimento de reação a essa postura cientificista. Esse movimento respondia à percepção de que os avanços científicos e tecnológicos também haviam trazido prejuízos: o operário viu-se na condição de mera peça de uma grande máquina desumana, as desigualdades sociais se evidenciaram e a competição se acirrou.
• Conscientes desse contexto e da ineficácia da explicação dos fenômenos humanos
unicamente pela ciência e pela razão, jovens artistas viram-se em crise e reagiram a ela por meio da fuga do real, da indiferença ao mundo. A esse estado de espírito, marcado por uma sensação de mal-estar diante do mundo e revolta contra a sociedade burguesa, denominou-se decadentismo, termo mais tarde substituído por simbolismo. A INFLUÊNCIA DE BAUDELAIRE • Publicada em 1857, a coletânea As Flores do mal, de Charles Baudelaire, é considerada o marco inicial do movimento simbolista europeu. Leitor e tradutor de Edgar Allan Poe (que muito o influenciou), Baudelaire revolucionou a poesia francesa propondo que o poeta seria, na verdade, não um criador, mas um decifrador. De acordo com essa concepção, a realidade representaria um grande “poema” que deveria ser traduzido pelo poeta. 1. O “eu” como objeto - os simbolistas pregam o retorno ao egocentrismo. Nessa investigação do “eu” profundo, interessou aos escritores o universo do sonho e da loucura. 2. Sugerir, mas não descrever – os simbolistas defendem o uso da sugestão em sua obra literária. Dessa forma, as palavras que compõem os poemas devem sugerir, mas não definir os objetos; evocar, mas não os descrever. Daí o gosto pela aparência. 3. Uma reconciliação com o universo místico e espiritual - opondo-se ao racionalismo defendido pelo realismo-naturalismo e pelo parnasianismo, os simbolistas buscaram o misticismo e o espiritualismo. A ideia da morte como possibilidade de transcendência e de integração ao infinito também é forte entre os poetas dessa escola literária. 4. A musicalidade acima de tudo - os simbolistas defendem que a música é a mais sugestiva das artes, dada sua intensa subjetividade, por isso se esforçam por aproximar dela sua poesia e se valem de aliterações, rimas e outros mecanismos sonoros. São comuns também poemas simbolistas que fazem referência a instrumentos como violões, flautas etc. O SIMBOLISMO EM PORTUGAL POETAS NAS NUVENS: OS NEFELIBATAS • Se no restante da Europa os autores de fim de século foram chamados de decadentistas e de simbolistas, em terras portuguesas eles receberam o apelido de nefelibatas (aqueles que andam ou vivem nas nuvens), por estarem em descompasso com os aspectos mais práticos da vida. • O simbolismo português caminhou em paralelo com a literatura realista-naturalista até o início do século XX e não se pode desconsiderar que parte dos inúmeros artistas que se auto intitulavam simbolistas cultivaram, na verdade, um romantismo tardio (ou neorromantismo), como Eugênio de Castro e Antônio Nobre. • Camilo Pessanha (1867-1926) é considerado o poeta que, de fato, inseriu-se na corrente simbolista. Reuniu em sua poesia o sentido abstrato. O SIMBOLISMO NO BRASIL • Surgido no final do século XIX, o Simbolismo brasileiro foi desprestigiado por parte da crítica literária e ignorado pelo grande público. O movimento enfrentou uma dupla oposição: de um lado, os realistas-naturalistas, que acreditavam em uma literatura conectada diretamente aos problemas do mundo concreto; e, de outro, os prestigiados parnasianos, que defendiam a impessoalidade e o descritivismo em suas produções. Somente nas décadas iniciais do século XX o movimento teve sua importância reconhecida, principalmente entre os modernistas. Autores: (mineiro Alphonsus de Guimaraens) e o (catarinense Cruz e Sousa). CRUZ E SOUSA: UMA OBRA REVOLUCIONÁRIA • O catarinense CRUZ E SOUSA (1861-1898) deixou uma obra cuja originalidade é comparada à de simbolistas como os franceses Baudelaire, Rimbaud e Verlaine. Em 1893, o poeta surpreendeu o público com a publicação de Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poemas em versos), obras que romperam com uma série de convenções poéticas vigentes no brasil desde o Arcadismo e desafiaram o leitor a entrar em um universo misterioso, cheio de sons, símbolos, sensações e ambiguidades. • Grande parte da produção poética simbolista de Cruz e Sousa é marcada pelo profundo sentimento de angústia espiritual. E não foram poucas as dores sofridas por ele: preconceito racial, solidão, pobreza, doença da esposa, morte dos filhos. Mas é, em grande parte, o pessimismo de seu tempo que muito o influencia.