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Contexto histórico
Contemporâneo das escolas realista e naturalista, o parnasianismo é um herdeiro das
escolas cientificista, determinista e positivista do último quarto do século XIX. À época, popularizavam-se as
ideias positivistas de Auguste Comte, que exaltavam o método científico como o único meio de se chegar
ao conhecimento e ao progresso.
A burguesia industrial consolidava-se no poder, ocasionando o surgimento de um proletariado
explorado e, por consequência, da luta de classes. Temas relacionados a acontecimentos sociais e históricos,
entretanto, não eram abordados pelos autores parnasianos.
Características do parnasianismo
Rigor formal: descartaram os versos livres do romantismo e substituíram-nos por métrica e rima
regulares, especialmente versos alexandrinos (doze sílabas métricas) ou decassílabos (dez sílabas
métricas);
“A arte pela arte”: a produção artística não deve ser útil, mas pura, alheia e erudita, um culto ao belo, à
perfeição, sem se ocupar dos problemas da realidade;
Valorização e enobrecimento do artista: o poeta é comparado a um artífice da palavra, um ourives,
responsável por lapidar o texto tal como se lapida uma pedra em estado bruto para que se torne uma
joia;
Distanciamento da linguagem oral: buscando as formas clássicas (como o verso alexandrino e a
presença de deuses da mitologia greco-romana);
Inversão sintática: (como “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / de um povo heroico um brado
retumbante” em lugar de “As margens plácidas do Ipiranga ouviram um brado retumbante de um povo
heroico”);
Vocabulário acurado e complexo: palavras pouco populares, elitização da linguagem, poesia como
aristocratização espiritual;
Afastamento das questões reais do presente: preferência por temáticas reflexivas e universais,
descrições de objetos e de cenas da natureza;
Impessoalidade: em oposição à subjetividade acentuada do romantismo.
Parnasianismo no Brasil
O Brasil dos anos 1800 foi marcado por intensa influência da cultura francesa. O abandono do estilo
romântico preconizado pelos parnasianos tencionava equiparar a produção artística brasileira àquela feita em
Paris.
A tendência literária importada pelos parnasianos vinha acompanhada de outro ideal importante para o
entendimento do Brasil do final do século XIX: o positivismo. Escola filosófica de Auguste Comte, considerado o
pai da Sociologia, preconizava o progresso científico como o principal horizonte da humanidade, que, por sua
vez, também seria regida por leis naturais e positivas, como as leis da Física.
O positivismo foi muito popular entre os intelectuais da época e, principalmente, entre os
militares que integravam o movimento republicano. Os dizeres “Ordem e progresso”, que compõem a Bandeira
Nacional, são inspirados em uma citação de Comte: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por
fim”.
Os poetas parnasianos, em sua maioria, também eram republicanos. A partir de 1889,
o parnasianismo tornou-se um método de composição “oficial” no Brasil: o Hino Nacional Brasileiro, o Hino da
Proclamação da República e o Hino à Bandeira do Brasil são composições parnasianas.
Via Láctea
XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(Via Láctea, 1888)
“A Pátria” é um exemplo de sua obra voltada ao público infantil, onde se nota a inclinação nacionalista do autor:
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Outras publicações
Ironia e Piedade (1916) [crônicas]
A Defesa Nacional (1917) [discursos]
Alberto de Oliveira (Saquarema, 1857 – Niterói, 1937)
Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Sonetos e poemas, 1886)
Em “Vestígios divinos”, pode-se notar a influência da mitologia greco-romana na composição, inspirada pelos
montes da Serra do Marumbi, localizada no estado do Paraná, cujo cume mais alto chama-se Olimpo.
Vestígios divinos
(Na Serra de Marumbi)
Houve deuses aqui, se não me engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.
Nos arredores, na montanha ou plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.
Por toda esta extensíssima campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.
Os convivas pagãos ainda hoje os topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.
(Poesias, 4ª série, 1928)
o Obras de Alberto de Oliveira
o Canções românticas (1878)
o Meridionais (1884)
o Sonetos e poemas (1885)
o Versos e rimas (1895)
o Poesias, 1ª. Série (1900)
o Poesias, 2ª. Série (1906)
o Poesias, 2 vols. (1912)
o Poesias, 3ª. Série (1913)
o Poesias, 4ª. Série (1928)
o Poesias escolhidas (1933)
o Póstumas (1944)
o Raimundo Correia (Costa do Maranhão, 1860 – Paris, 1911)
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883)
“Desdéns” é um exemplo de sua lírica amorosa, evidência de como os parnasianos abordam o amor e a mulher
de maneira muito diferente dos poetas românticos:
Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evola;
O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...
Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!
Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
(Versos e versões, 1887)