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Arcadismo

(Neoclassicismo)
Imagem:
François-Édouard
Picot / The Siege
of Calais, 1838 /
Palácio de
Versailles / Public
domain
A ORIGEM
DO NOME


Arcadismo vem da
palavra Arcádia – região do
Peloponeso na Grécia –
considerada região de morada
dos deuses. Lá habitavam
pastores que, além do
pastoreio, se dedicavam à
poesia.

As arcádias portuguesas
foram grupos de poetas que
queriam redescobrir o
equilíbrio e a sabedoria da
antiguidade greco-latina,
também chamada de clássica.
Daí, então, o nome
NEOCLASSICISMO.

Imagem: Badseed / public domain


ENTENDENDO O CONTEXTO
A luz da razão volta a brilhar forte sobre a Europa do
século XVIII. O cientista olha para o céu e se pergunta
sobre a configuração das estrelas, o filósofo questiona o
direito da nobreza a uma vida privilegiada. Assim, razão e
ciência iluminam a trajetória humana, explicando
fenômenos e propondo novas formas de organizar a
sociedade. A filosofia desenvolvia-se – “A enciclopédia “-
símbolo da revolução científico cultural. O homem
privilegia a Razão e ciência.
O SÉCULO DAS LUZES
O Iluminismo

Conjunto de tendências
ideológicas, filosóficas e
científicas desenvolvidas no
século XVIII, como
consequência da recuperação
de um espírito experimental,
racional, que buscava o saber
enciclopédico.
Imagem:Nicolas Lancret / O Balanço, 1730.
DEFININDO NEOCLASSICISMO
Foi um movimento literário formado por artistas e
intelectuais que se concentraram no combate à
mentalidade religiosa e à arte barroca através do
resgate do racionalismo e do equilíbrio do
Classicismo do século XVI.

Imagem a:
Vincenzo
Camuccini /
Portrait des
de:August Grahl
(1791-1868) /
domínio público
Principais características
1 - EQUILÍBRIO
Os árcades propunham o retorno ao modelo clássico porque
neles encontravam o equilíbrio dos sentimentos por meio
da razão. Essa razão é a força controladora dos excessos.

No Neoclassicismo, a linguagem simples, sem muitas


figuras de linguagem, combatia, então, os exageros do
Barroco.
2 - BUCOLISMO
Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio, (fugere
urbem) fugir da cidade, os árcades acreditavam que
somente em contato com a natureza o homem poderia
alcançar o equilíbrio, a sabedoria e a espiritualidade.

Em seus poemas, os árcades apresentavam temas ligados a


cenários de vida no campo. No entanto, os poetas
continuavam na cidade e usavam a natureza como moldura
para seus poemas.
3- PASTORALISMO

Os poetas são simples e humildes. Fazem referências à terra


e ao mundo natural em tom confessional;

O estado de espírito e espontaneidade dos sentimentos


exaltam a pureza, a ingenuidade e a beleza de sua pastora, a
amada.
4 - CONVENCIONALISMO

Frases feitas, clichês, lugar comum. Combate ao


rebuscamento do Barroco.

Os árcades usam expressões como: Campos verdes,


árvores frondosas, ovelhas e gado, dias ensolarados, regatos
de água cristalina, aves que cantam.
O mito do
bom selvagem
Bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos
nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e
pastoril. O ARCADISMO brasileiro foi o primeiro movimento literário a colocar o índio
como personagem importante.
Cabe ressaltar, no entanto, que os
membros da Arcádia eram todos
burgueses e habitantes dos
centros urbanos. Por isso a eles
são atribuídos um fingimento
poético, isto é, a simulação de
sentimentos fictícios.
Expressões latinas
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam
associadas ao estilo de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas:

- Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas


obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.

- Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;

-Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos


centros urbanos monárquicos;

- Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo,


convida sua amada a aproveitar o momento presente.

- Aurea Mediocritas: valorização da vida simples, sem bens materiais


Exemplo: Análise:
• Nesse poema, percebemos que
Camões, grande Camões, quão semelhante o sujeito lírico dialoga
Camões, grande Camões, quão semelhante ( processo intertextual) com o
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! poeta renascentista Luís de
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Camões.
Arrostar co'o sacrílego gigante;  • É como se o escritor de Os
lusíadas fosse uma espécie de
Como tu, junto ao Ganges sussurrante, mestre para o eu lírico,
demonstrando clara valorização
Da penúria cruel no horror me vejo;
da cultura do classicismo., e dos
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, valores clássicos.
Também carpindo estou, saudoso amante.
  • Soneto
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura • Pares de rima ABBA, ABBA,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza CDC, DCD
De que só terei paz na sepultura. • Personificação de elementos
  “Sorte”, “Natureza”
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Bocage
De olho em outras linguagens
Vento No Litoral
Legião Urbana
Agora está tão longe
De tarde quero descansar ver a linha do horizonte me
Chegar até a praia e ver distrai
Se o vento ainda está forte Dos nossos planos é que tenho
E vai ser bom subir nas pedras mais saudade
Sei que faço isso pra esquecer Quando olhávamos juntos
Eu deixo a onda me acertar Na mesma direção
E o vento vai levando Aonde está você agora
Tudo embora... Além de aqui dentro de mim...
NEOCLASSICISMO EM
PORTUGAL
O século XVIII representou para Portugal o início de um
processo de modernização econômica, política,
administrativa, educacional e cultural. A produção cultural
foi ampla e variada, incentivada pelas academias literárias
árcades.

Manuel Maria du Bocage foi a principal expressão


literária desse período.
BOCAGE
Com uma vida marcada por conflitos e
desilusões, sua trajetória literária
começou em 1793, com seu primeiro
volume das “Rimas”.
Poesia lírica = presa aos valores do
Arcadismo (pastores, cenas naturais);
Poesia satírica = voltada
principalmente contra o absolutismo
político e religioso;
Poesia ecomiástica – destinada à
bajulação;
Poesia erótica – muito censurada,
marcada por uma linguagem direta,
maliciosa, trazendo, muitas vezes,
cenas de atos obscenos.
Imagem: Autor Desconhecido / Pintura do poeta Bocage /
public domain
SONETO DE TODAS AS PUTAS

Não lamentes, ó Nize, o teu estado;


Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem [reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;


Cleopatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,
O teu conno não passa por honrado:

Essa da Russia imperatriz famosa,


Que inda há pouco morreu (diz a [Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:


 
Não fiques, pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo
[peta.
 
NEOCLASSICISM
O NO BRASIL
Imagens da esquerda para direita: (a) Morio / GNU Free
Documentation License. (b) Victor Meirelles / Batalha dos
Guararapes / Museu Nacional de Belas Artes, Rio de
Janeiro / domínio público.
 Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, o
centro econômico migra do Nordeste para o
Sudeste. Destaca-se, nessa época, Vila Rica (atual
MOMENTO Ouro Preto) como polo irradiador de ideias.

HISTÓRICO  Acontece nesse período a Inconfidência Mineira –


revolta contra os pesados tributos cobrados por

DO 
Portugal.
Funda-se a chamada “Escola mineira”, com poetas
ARCADISMO influenciados pelo Iluminismo e comprometidos
com o pensamento mais avançado do século XVIII.
BRASILEIRO
O
NEOCLASSICISMO
no Brasil inicia-se em
1678 com a publicação
de “Obras poéticas”
de Cláudio Manuel da
Costa e se estende até
1836 com a publicação
de “Suspiros poéticos e
Saudades” de
Gonçalves de
Magalhães.
Imagem: Cláudio Manuel da Costa / Obras poéticas
de Claudio Manoel da Costa / domínio público
PRINCIPAIS
AUTORES ÁRCADES
Cláudio Manuel da Costa

Seu pseudônimo árcade era


“Glauceste Satúrnio”. Sua
obra lírica era bastante
influenciada pelo
Classicismo português,
embora tenha traços do
Barroco.
Temas: o sentimento
amoroso e a natureza.

Imagem: Autor Desconhecido / Poeta brasileiro neoclassicista Cláudio


Manuel da Costa / public domain
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA

Pseudônimo poético: Dirceu;


e sua musa inspiradora:
Marília.
Importantes obras: Marília
de Dirceu/ Cartas chilenas.

Preso e degredado para


Moçambique por participar
da Inconfidência Mineira.

Imagens da esquerda para direita: (a) Tomás Antonio Gonzaga / Capa de Marília de Dirceu, 1824 / public domain. (b) Autor desconhecido / Tomás Antônio Gonzaga /
GNU Free Documentation License.
Marília de Dirceu
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
Análise
E mais as finas lãs, de que me visto. • No poema de Tomás Antônio Gonzaga,
Graças, Marília bela, percebemos vários dos preceitos latinos
Graças à minha Estrela! anteriormente citados. Trata-se de um
  sujeito lírico (pastor) vivendo no campo
Eu vi o meu semblante numa fonte, (locus amoenus), cultivando uma vida
Dos anos inda não está cortado: simples (aurea mediocritas), longe das
Os pastores, que habitam este monte, dinâmicas de vida na cidade (fugere
Com tal destreza toco a sanfoninha, urbem).
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
• Além disso, percebemos também a
Nem canto letra, que não seja minha,
valorização do amor e a idealização da
Graças, Marília bela, amada, característica árcade que perduraria
Graças à minha Estrela! pelo movimento seguinte, o romantismo.
Marília de Dirceu, de Tomás Antônio
Gonzaga
Cartas Chilenas
• As Cartas Chilenas, constituem uma espécie de “romance epistolar”
em versos onde Critilo, pseudônimo de Tomás Antonio Gonzaga,
descreve ao amigo Doroteu a corrupção, crueldade e os desmandos
existentes na fictícia capitania de Chile.
• As cartas, que ao todo são treze, narram na verdade o governo de d.
Luís da Cunha Meneses, governador da capitania de Minas Gerais de
1783 a 1788.
• O inconfidente Tomás Antônio Gonzaga escreve comentários satíricos
e mordazes contra o governo daquele que em seu texto nomeia
“Fanfarrão Minésio” e, por intermédio da ironia, descreve e critica os
mandos e desmandos ocorridos nas Minas Gerais durante o final do
século XVIII.
“CARTA lª Em que se descreve a entrada que fez Fanfarrão em Chile

Amigo Doroteu, prezado amigo,


Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras.
Análise
“Que coisas, ( tu dirás ), que coisas podes • A sátira dá o tom da obra, o narrador também,
Contar que valham tanto, quanto vale durante a narrativa, refere-se ora a Doroteu (seu
Dormir a noite fria em mole cama, destinatário amigo), ora ao Fanfarrão e outras
Quando salta a saraiva nos telhados personagens, invocando-os com suas perguntas
E quando o sudoeste e outros ventos e exigindo respostas.
Movem dos troncos os frondosos ramos?”
É doce esse descanso, não te nego. • Dessa forma, com Cartas Chilenas, Gonzaga
Também, prezado amigo, também gosto ultrapassa a crítica ao governo de Fanfarrão para
De estar amadornado, mal ouvindo o autoritarismo colonial em si, fazendo com que
Das águas despenhadas brando estrondo, a obra ganhe a importância e o prestígio que tem
E vendo, ao mesmo tempo, as vãs até hoje.
quimeras…”
BASÍLIO DA
GAMA
• Obra principal: o poema
épico “O Uraguai” – uma
luta entre índios e o
exército luso-espanhol.

• O índio aparece, pela


primeira vez, como o bom
selvagem.

Imagens de cima para baixo: (a) F. Briguiet / O poeta Basílio da Gama por F. Briguiet /
FREIRE, Laudelino, org. e GARNIER, M. J. des. Sonetos brasileiros: desenho dos
sonetos. Rio de Janeiro: F. Briguiet, [189-?]. 12 v. [1]. (b) Basilio da Gama (1740 —
1795) / O Uraguay de Basílio da Gama, 1769 / domínio público
O Uraguai é uma obra
de Basílio da Gama, Nos versos abaixo a descrição da morte de Lindóia é
poeta brasileiro. O livro é apresentada de forma fantasiosa e bucólica,
considerado um poema características típicas do Arcadismo (1768-1836).
épico de 1769 que tinha o
objetivo de exaltar a “Descobrem que se enrola no seu corpo
política do Marquês de Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pombal contra os Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
jesuítas. Utilizando
Fogem de a ver assim sobressaltados,
a Guerra
Guaranítica como tema E param cheios de temor ao longe;
histórico, Basílio da E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Gama coloca a culpa do Que desperte assustada, e irrite o monstro”.
massacre indígena nos
jesuítas.
SANTA RITA DURÃO
Sua obra mais importante: o
poema épico “Caramuru”, que
se caracterizava pela exaltação
da paisagem brasileira e contra
a chegada dos portugueses à
Bahia.
Personagens principais: o
português Diogo Álvares
Correia (o Caramuru) e as
índias Paraguaçu e Moema.

Imagens de cima para baixo: (a) Autor desconhecido / O administrador colonial português Tomé de Sousa e
um índio, século XVIII / domínio público. (b) Santa Rita Durão / domínio público
Canto VI
XXXVII
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Caramuru (1781), Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
cujo subtítulo, Poema Era Moema, que de inveja geme,
épico do E já vizinha à nau se apega ao leme.

descobrimento da
Bahia, remonta ao XLII

tempo em que os Perde o lume dos olhos, pasma e treme,


Pálida a cor, o aspecto moribundo;
primeiros europeus Com mão já sem vigor, soltando o leme,
chegaram ao Brasil e Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
travaram contato com Tornando a aparecer desde o profundo,
os nativos. - Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.

Os versos acima retratam a morte da índia Moema, uma das mais belas
cenas já descritas na literatura brasileira.
 A) POESIA LÍRICA – poesias descritivas e
NEOCLASSICISM elogiosas da vida rural;
O no Brasil foi um  B) POESIA SATÍRICA – denuncia desmandos
movimento administrativos da Capitania de Minas;

essencialmente  C) POESIA ÉPICA – inova com a utilização de


temas de nossa história colonial.
poético:

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