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LITERATURA

PARNASIANISMO
LÍNGUA PORTUGUESA
PROFª ANA ELIZABETH LOURENÇO

A ARTE PELA ARTE


O parnasianismo nasceu na França, em 1866, com a
publicação Parnasse Contemporain (“Parnaso Contemporâneo”) e
teve como prioridades o culto à forma, a “arte pela arte”, a
objetividade temática e o distanciamento de questões de cunho
social. Assim como o realismo, foi um movimento de oposição
ao romantismo, que já estava em franco declínio.
CONTEXTO HISTÓRICO
• Contemporâneo das escolas realista e naturalista, o parnasianismo
é um herdeiro das escolas cientificista, determinista e positivista do
último quarto do século XIX. À época, popularizavam-se as ideias
positivistas de Auguste Comte, que exaltavam o método
científico como o único meio de se chegar ao conhecimento e
ao progresso.
• A burguesia industrial consolidava-se no poder, ocasionando o
surgimento de um proletariado explorado e, por consequência, da
luta de classes. Temas relacionados a acontecimentos sociais e
históricos, entretanto, não eram abordados pelos autores
parnasianos.
PARNASIANISMO NO BRASIL
• O Brasil dos anos 1800 foi marcado por intensa influência da cultura
francesa. O abandono do estilo romântico preconizado pelos
parnasianos tencionava equiparar a produção artística brasileira
àquela feita em Paris.
• A tendência literária importada pelos parnasianos vinha
acompanhada de outro ideal importante para o entendimento do
Brasil do final do século XIX: o positivismo. Escola filosófica de
Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia, preconizava
o progresso científico como o principal horizonte da humanidade,
que, por sua vez, também seria regida por leis naturais e positivas,
como as leis da Física.
PARNASIANISMO NO BRASIL
• O positivismo foi muito popular entre os intelectuais da época
e, principalmente, entre os militares que integravam o movimento
republicano. Os dizeres “Ordem e progresso”, que compõem a
Bandeira Nacional, são inspirados em uma citação de Comte: “O
amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.
• Os poetas parnasianos, em sua maioria, também eram
republicanos. A partir de 1889, o parnasianismo tornou-se um
método de composição “oficial” no Brasil: o Hino Nacional
Brasileiro, o Hino da Proclamação da República e o Hino à Bandeira
do Brasil são composições parnasianas.
Recorte do afresco “Parnaso”, de Rafael Sanzio,
no Palácio do Vaticano (1511).
O nome do movimento remete ao monte
Parnaso, na Grécia Antiga, morada de
Apolo, o deus inspirador dos artistas e
dos poetas, patrono da beleza ideal. Foi,
portanto, uma tendência literária
que valorizava e retomava elementos da
Antiguidade Clássica.
CARACTERÍSTICAS DO PARNASIANISMO
• Rigor formal: descartaram os versos livres do romantismo e substituíram-nos por métrica e rima
regulares, especialmente versos alexandrinos (doze sílabas métricas) ou decassílabos (dez sílabas
métricas);
• “A arte pela arte”: a produção artística não deve ser útil, mas pura, alheia e erudita, um culto ao belo, à
perfeição, sem se ocupar dos problemas da realidade;
• Valorização e enobrecimento do artista: o poeta é comparado a um artífice da palavra, um ourives,
responsável por lapidar o texto tal como se lapida uma pedra em estado bruto para que se torne uma
joia;
• Distanciamento da linguagem oral: buscando as formas clássicas (como o verso alexandrino e a
presença de deuses da mitologia greco-romana);
• Inversão sintática: (como “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / de um povo heroico um brado
retumbante” em lugar de “As margens plácidas do Ipiranga ouviram um brado retumbante de um povo
heroico”);
• Vocabulário acurado e complexo: palavras pouco populares, elitização da linguagem, poesia como
aristocratização espiritual;
• Afastamento das questões reais do presente: preferência por temáticas reflexivas e universais,
descrições de objetos e de cenas da natureza;
• Impessoalidade: em oposição à subjetividade acentuada do romantismo.
PRINCIPAIS AUTORES:
TRINDADE PARNASIANA
OLAVO BILAC (RIO DE JANEIRO, 1865-1918)
• O mais conhecido dos poetas parnasianos brasileiros e um
dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Olavo Brás
Martins dos Guimarães Bilac foi também jornalista e orador
ativo na política brasileira. Defensor dos ideais republicanos,
participou de campanhas com alcance nacional, sendo
perseguido e preso durante a Revolta da Armada, que
ocorreu entre os anos de 1893 e 1894.
• Teve notória estreia literária com a publicação Poesias, em
1888. Em seus diversos livros, Bilac contemplou as temáticas
do amor – platônico, espiritual, sensual –, da mitologia greco-
romana e de cunho filosófico, criando atmosferas
de reflexão sobre o sentido da vida. Escreveu
também poesias didáticas e patrióticas, além de ser o autor
do Hino à Bandeira do Brasil.
Via Láctea
XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(Via Láctea, 1888)
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(Poesias Infantis, 1904)
ALBERTO DE OLIVEIRA (SAQUAREMA, 1827- NITERÓI, 1937)
• Antônio Mariano Alberto de Oliveira foi poeta, professor
de literatura e diretor de Instrução Pública do Rio de
Janeiro. Em meados de 1880, conheceu o grupo de
intelectuais formado, entre outros nomes, por Olavo Bilac,
Raimundo Correa, Aluísio Azevedo e Raul Pompeia, que se
reuniam em Niterói, na casa de Alberto de Oliveira.
Publicou seu primeiro livro em 1877, ainda sob influência
da estética romântica. O livro seguinte, de 1884, tem
prefácio assinado por Machado de Assis.
• Uma de suas composições mais famosas é “Vaso chinês”,
exemplo de soneto parnasiano que toma por tema
a descrição de um objeto que inspira pela perfeição de sua
forma, pelo trabalho artístico de sua feitura.
Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Sonetos e poemas, 1886)
Vestígios divinos
(Na Serra de Marumbi)
Houve deuses aqui, se não me engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.
Nos arredores, na montanha ou plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.
Por toda esta extensíssima campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.
Os convivas pagãos ainda hoje os topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.
(Poesias, 4ª série, 1928)

RAIMUNDO CORREIA (COSTA DO MARANHÃO, 1860 – PARIS, 1911)
• Nascido a bordo de um navio no litoral
maranhense, Raimundo da Mota Azevedo
Correia foi poeta, juiz e professor. Formou-se em
Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São
Paulo, e foi juiz e promotor nos estados de Minas
Gerais e Rio de Janeiro. Foi também fundador da
Academia Brasileira de Letras.
• Sua primeira obra, Primeiros sonhos (1879), ainda
evidencia traços da poesia romântica. Recebeu
influência da filosofia de Arthur Schopenhauer, de
ressonância pessimista, registrando em seus versos
tons mais sombrios, imagens de ruínas, da moralidade
deteriorada. Consolidou-se como autor parnasiano
com Sinfonias (1883), e segundo os métodos de
composição dessa escola literária, foi um dos mais
perfeitos poetas da língua portuguesa.
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883)
Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evola;
O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...
Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!
Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
(Versos e versões, 1887)

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