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“O ritmo não só o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como ainda não é
difícil que seja anterior à própria fala” (p.11)
“O ritmo é condição do poema, enquanto que é inessencial para prosa” (p.11)
“À linguagem por inclinação natural, tende a ser ritmo Como se obedecessem a uma
misteriosa lei de gravidade, as palavras retornam à poesia espontaneamente No fundo de
toda prosa circula, mais ou menos rarefeita pelas exigências do discurso, a invisível
corrente rítmica. E o pensamento, na medida em que é linguagem, sofre o mesmo
fascínio” (p.12)
“Enquanto o poema se apresenta como uma ordem fechada, a prosa tende a manifestar-
se como uma construção aberta e linear” (p.12)
"Os antigos retóricos diziam que o ritmo é o pai da métrica. Quando um metro se
esvazia de conteúdo e se converte em forma inerte, mera casca sonora, O ritmo continua
engendrando novos metros." (p.13)
"A distinção entre metro e ritmo proíbe chamar de poemas a um grande número de
obras corretamente versificadas que, por pura inércia, constam como tais nos manuais
de literatura." (p.14)
“(...) Assim, as citações do poema - suas fontes espirituais — podem dividir-se em duas
partes. Ao mundo de salvação pessoal e cósmica aludem as citações de Dante, Buda,
Santo Agostinho, os Upanishad e os mitos da vegetação. A segunda metade se
subdivide, por sua vez, em duas: a primeira corresponde ao nascimento de nossa idade,
a segunda, à sua presente situação.” (p.19)
"Os alemães deram à França uma visão do mundo e uma filosofia simbólica, os
ingleses, um mito a imagem do poeta como um desterrado, em luta contra os homens e
os astros." (p.24)
"A poesia francesa moderna nasce com a prosa romântica e seus precursores são
Rousseau e Chateaubriand. A prosa deixa de ser uma servidora da razão e torna-se
confidente da sensibilidade. Seu ritmo obedece às efusões do coração e aos saltos da
fantasia logo converte-se em poema."(p.25)
“O verso espanhol, qualquer que seja a sua longitude, consiste em uma combinação de
acentos — passos de dança — e medida silábica. É uma unidade na qual se abraçam
dois contrários um que é dança e outro que é relato linear, marcha, no sentido militar da
palavra. Nosso verso tradicional, o octossílabo, é um verso a cavalo, feito para trotar e
pelejar, mas
Universidade Federal de Santa Catarina
Letras Francês - Ciclo Básico
Estudos Literários II
Juliana Aparecida Cabral
“Os acentos espanhóis nos levam a conceber o homem como um ser extremoso e ao
mesmo tempo como região de encontro dos mundos inferiores e superiores Agudos,
graves, esdrúxulos, bi esdrúxulos — pancadas sobre o couro do tambor, palmas, gritos,
clarins: a poesia de língua espanhola é dança festiva e fúnebre, dança erótica e voo
místico. Quase todos os nossos poemas, sem excluir os místicos, podem ser cantados e
dançados, como dizem que dançavam os seus os filósofos pré-socráticos.” (p.29)
"(...) Assim, a prosa tende a confundir-se com a poesia, a ser ela mesma poesia. O
poema, pelo contrário não pode apoiar-se na prosa espanhola." (p.31)
“A poesia moderna de nossa língua é mais um exemplo das relações entre prosa e verso,
ritmo e metro. A descrição poderia estender-se ao italiano, que possui uma estrutura
semelhante ao castelhano, ou ao alemão, mina de ritmos. No que diz respeito ao
espanhol, vale a pena repetir que o apogeu da versificação rítmica, consequência da
reforma levada a cabo pelos poetas hispano-americanos, é na realidade uma volta ao
verso espanhol tradicional.” (p.36)
“Convém advertir, pois, que designamos com a palavra imagem toda forma
verbal, frase ou conjunto de frases, que o poeta diz é que unidas compõem um poema.”
(p.37)
“O mesmo não ocorre com a poesia. O poeta nomeia as coisas estas são plumas,
aquelas são Pedras, E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto e aquilo. Os
elementos da imagem não perdem seu caráter concreto e singular as pedras continuam
sendo pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo pedras
pesadas. E as plumas, plumas leves.” (p.38)
“O pensamento oriental não sofreu deste horror ao “outro”, ao que é, e não é ao mesmo
tempo. O mundo ocidental é o do isto ou aquilo” Já no mais antigo Upanishad se afirma
sem reticências o princípio da realidade dos contrários “Tu és mulher, Tu es homem, És
o rapaz e também a donzela. Tu, como um velho, te apoias em um cajado, tu és o
pássaro azul escuro e o verde de olhos vermelhos, tu és as estações e os mares! E estas
afirmações o Upanishad Chandogya condensa-as na célebre fórmula “Tu és aquilo”
Toda a história do pensamento oriental parte desta antiquíssima afirmação, do mesmo
modo que a do Ocidente se origina da de Parmênides.” (p.39)
“Chuang-Tse assim explica o caráter funcional e relativo dos opostos: "Não há nada
que não seja isto; não há nada que não seja aquilo. Isto vive em função daquilo tal e a
doutrina da interdependência de isto e aquilo. A vida é vida diante da morte E vice-
versa. A afirmação o é diante da negação. E vice-versa.” (p.41)
“Pensar é respirar porque pensamento e vida não são universos separados e sim vasos
comunicantes, isto é, aquilo. A identidade última entre o homem e o mundo, a
consciência e o ser, O ser e à existência, é a crença mais antiga do homem e a raiz da
ciência e da religião,
magia e poesia.” (p.42)
silêncio, reino das evidências ou lugar onde os nomes e as coisas se fundem e são a
mesma coisa, à poesia, reina onde nomear é ser.” (p.44)
“(...) ou, dizendo de outro modo em si! Mesmo o idioma é uma infinita possibilidade de
significados, ao atualizar-se em uma frase, ao converter-se verdadeira- mente em
linguagem, essa possibilidade se fixa em uma única direção. Na prosa, a unidade da
frase é conseguida através do sentido, que e algo como uma flecha que obriga todas as
palavras a apontarem para um mesmo objeto ou para uma mesma direção. Ora, a
imagem é uma frase em que a pluralidade de significados não desaparece.” (p.44, 45)
“As imagens do poeta têm sentido em diversos níveis, em primeiro lugar, possuem
autenticidade o poeta as viu ou Ouviu são à expressão genuína de sua visão e
experiência do mundo Trata-se, pois, de uma verdade de ordem psicológica, que
evidentemente nada tem a ver com o problema que nos preocupa. Em segundo lugar,
essas imagens constituem uma realidade objetiva, válida por si mesma: são obras.”
(p.45)
“Toda frase possui uma referência a outra, é suscetível de ser explicada por outra
Graças à mobilidade dos signos as palavras podem ser explicadas pelas palavras.
Quando tropeçamos com uma sentença obscura, dizemos “O que estas palavras querem
dizer é isto ou aquilo” E para dizer “isto ou aquilo” recorremos a outras palavras.”
(p.47)
‘O sentido da imagem, pelo contrário, é a própria imagem não se pode dizer com outras
palavras. A imagem explica-se a si mesma Nada, exceto ela, pode dizer o que quer dizer
Sentido e imagem são a mesmas coisas.” (p.47)
“O mesmo ocorre com o poema suas imagens não nos levam a outra coisa, como ocorre
com a prosa, mas nos colocam diante de uma realidade concreta.” (p.47)
“(...) imagem reconcilia os contrários, mas esta reconciliação não pode ser explicada
pelas palavras, exceto pelas da imagem, que já deixaram de sê-lo. Assim, a imagem é
um recurso desesperado contra o silêncio que nos invade cada vez que tentamos
exprimir a terrível experiência do que nos rodeia é de nós mesmos.” (p.48)