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Universidade Federal de Santa Catarina

Letras Francês - Ciclo Básico


Estudos Literários II
Juliana Aparecida Cabral

Fichamento Signos em rotação


- Octavio Paz-

“O ritmo não só o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como ainda não é
difícil que seja anterior à própria fala” (p.11)
“O ritmo é condição do poema, enquanto que é inessencial para prosa” (p.11)
“À linguagem por inclinação natural, tende a ser ritmo Como se obedecessem a uma
misteriosa lei de gravidade, as palavras retornam à poesia espontaneamente No fundo de
toda prosa circula, mais ou menos rarefeita pelas exigências do discurso, a invisível
corrente rítmica. E o pensamento, na medida em que é linguagem, sofre o mesmo
fascínio” (p.12)

“A prosa é um gênero tardio, filho da desconfiança do pensamento ante as tendências


naturais do idioma. A poesia pertence a todas as épocas é a forma natural de expressão
dos homens. Não há povos sem poesia, mas existem os que não têm prosa portanto,
pode-se dizer que a prosa não é uma forma de expressão inerente à
sociedade enquanto é inconcebível a existência de uma sociedade sem canções, mitos
ou outras expressões poéticas” (p.12)

“Enquanto o poema se apresenta como uma ordem fechada, a prosa tende a manifestar-
se como uma construção aberta e linear” (p.12)

"Os antigos retóricos diziam que o ritmo é o pai da métrica. Quando um metro se
esvazia de conteúdo e se converte em forma inerte, mera casca sonora, O ritmo continua
engendrando novos metros." (p.13)

"Todo ritmo verbal contém já em si mesmo a imagem e constitui, real ou


potencialmente, uma frase poética completa." (p.13)

“O metro é medida que tende a separar-se da linguagem; o ritmo jamais se separa da


fala porque é a própria fala. O metro é procedimento, maneira, o ritmo é temporalidade
concreta.” (p.14)

"A distinção entre metro e ritmo proíbe chamar de poemas a um grande número de
obras corretamente versificadas que, por pura inércia, constam como tais nos manuais
de literatura." (p.14)

“As virgulas e os pontos sobram o poema é um fluxo e refluxo rítmico de palavras.”


(p.15)

“Nas línguas modernas os metros são compostos por um determinado número de


sílabas, duração cortada por acentos tônicos e pausas Os acentos e as pausas constituem
a parte mais antiga e mais puramente rítmica do metro, estão ainda próximos da
pancada do tambor, da cerimônia ritual e dos calcanhares dançantes que batem no
chão.” (p.15)
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“As linguagens oscilam entre à prosa e o poema, o ritmo e o discurso. Em algumas é


visível o predomínio rítmico, em outras se observa um crescimento excessivo dos
elementos analíticos e discursivo os, às expensas dos rítmicos e imaginativos.” (p.16)

“A evolução da poesia moderna em francês e em inglês é um exemplo das relações


entre ritmo verbal e criação poética. O francês é uma língua sem acentos tônicos e os
recursos da pausa e o da cesura os substituem. No inglês, o que realmente conta é o
acento. A poesia inglesa tende a ser puro ritmo dança, canção. A francesa discurso,
'meditação poética.” (p.17)

“A renovação da poesia inglesa moderna deve-se principalmente a dois


poetas e a um ficcionista Ezra Pound T S. Eliot e James Joyce. Apesar de suas obras
serem muito diferentes, uma nota em comum as une: todas são uma reconquista da
herança europeia.” (p.18)

“(...) Assim, as citações do poema - suas fontes espirituais — podem dividir-se em duas
partes. Ao mundo de salvação pessoal e cósmica aludem as citações de Dante, Buda,
Santo Agostinho, os Upanishad e os mitos da vegetação. A segunda metade se
subdivide, por sua vez, em duas: a primeira corresponde ao nascimento de nossa idade,
a segunda, à sua presente situação.” (p.19)

"Analogia é a linguagem do poeta. Analogia é ritmo." (p.23)

"Concluo: a reforma poética de Pound, Eliot, Wallace Stevens, Cummings e Marianne


Moore pode ser vista como uma re-latinização da poesia de língua inglesa. É revelador
que todos esses poetas fossem oriundos dos Estados Unidos." (p.23)

"Os alemães deram à França uma visão do mundo e uma filosofia simbólica, os
ingleses, um mito a imagem do poeta como um desterrado, em luta contra os homens e
os astros." (p.24)

"A poesia francesa moderna nasce com a prosa romântica e seus precursores são
Rousseau e Chateaubriand. A prosa deixa de ser uma servidora da razão e torna-se
confidente da sensibilidade. Seu ritmo obedece às efusões do coração e aos saltos da
fantasia logo converte-se em poema."(p.25)

"No centro de uma nação raçiocinadora brotou um bosque de imagens,


uma nova ordem de cavalaria armada dos pés à cabeça com armas envenenadas A cem
anos de distância do romantismo alemão, a poesia voltou a combater nas mesmas
fronteiras. E essa rebelião foi primordialmente rebelião contra o verso francês, contra a
versificação silábica e o discurso poético." (p.27)

“O verso espanhol, qualquer que seja a sua longitude, consiste em uma combinação de
acentos — passos de dança — e medida silábica. É uma unidade na qual se abraçam
dois contrários um que é dança e outro que é relato linear, marcha, no sentido militar da
palavra. Nosso verso tradicional, o octossílabo, é um verso a cavalo, feito para trotar e
pelejar, mas
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também para dançar.” (p.28)

“Os acentos espanhóis nos levam a conceber o homem como um ser extremoso e ao
mesmo tempo como região de encontro dos mundos inferiores e superiores Agudos,
graves, esdrúxulos, bi esdrúxulos — pancadas sobre o couro do tambor, palmas, gritos,
clarins: a poesia de língua espanhola é dança festiva e fúnebre, dança erótica e voo
místico. Quase todos os nossos poemas, sem excluir os místicos, podem ser cantados e
dançados, como dizem que dançavam os seus os filósofos pré-socráticos.” (p.29)

"(...) Assim, a prosa tende a confundir-se com a poesia, a ser ela mesma poesia. O
poema, pelo contrário não pode apoiar-se na prosa espanhola." (p.31)

“O período moderno se divide em dois momentos o “modernista”, apogeu das


influências parnasianas e simbolistas da França, e o contemporâneo. Em ambos, os
poetas hispano-americanos foram os iniciadores da reforma e em duas ocasiões a crítica
peninsular denunciou o “galicismo mental” dos hispano-americanos — para mais tarde
reconhecer que essas importações e inovações eram também, e sobretudo, uma
redescoberta dos poderes verbas do castelhano.” (p.32)

“O método de associação poética dos “modernistas” às vezes verdadeira mania, e a


sinestesia Correspondência entre música e cores, ritmo e ideias, mundo de sensações
que rimam com realidades invisíveis.” (p.32)

“O “modernismo" também abre a via da interpenetração entre prosa e verso. A


linguagem falada, e, portanto, o vocábulo técnico e o da ciência, a expressão em francês
ou em inglês e, enfim, tudo o que constitua a fala urbana. Surgem o humor, o monólogo,
a conversação, a collage verbal.” (p.34)

“Como na época do modernismo” os dois centros da vanguarda foram Buenos Aires


(Borges, Girondo, Molinari) e México (Pellicer Viliaurrutia, Gorostiza). Em Cuba surge
a poesia mulata para cantar, dançar e maldizer (Nicolás Guillén, Emiho Ballagas), no
Equador. Jorge Carrera Andrade inicia um “registro do mundo”, inventário de imagens
americanas, Mas o poeta que encarna melhor este período é Pablo Neruda.” (p.35)

“A poesia moderna de nossa língua é mais um exemplo das relações entre prosa e verso,
ritmo e metro. A descrição poderia estender-se ao italiano, que possui uma estrutura
semelhante ao castelhano, ou ao alemão, mina de ritmos. No que diz respeito ao
espanhol, vale a pena repetir que o apogeu da versificação rítmica, consequência da
reforma levada a cabo pelos poetas hispano-americanos, é na realidade uma volta ao
verso espanhol tradicional.” (p.36)

“(...)as imagens são produtos imaginários." (p.37)

“Convém advertir, pois, que designamos com a palavra imagem toda forma
verbal, frase ou conjunto de frases, que o poeta diz é que unidas compõem um poema.”
(p.37)

"(...)A imagem é cifra da condição humana." (p.38)


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“Épica, dramática ou lírica, condensada em uma frase ou desenvolvida em mil páginas,


toda imagem aproxima ou conjuga realidades opostas, indiferentes ou distanciadas entre
si.” (p.38)

“O mesmo não ocorre com a poesia. O poeta nomeia as coisas estas são plumas,
aquelas são Pedras, E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto e aquilo. Os
elementos da imagem não perdem seu caráter concreto e singular as pedras continuam
sendo pedras, ásperas, duras, impenetráveis, amarelas de sol ou verdes de musgo pedras
pesadas. E as plumas, plumas leves.” (p.38)

“O pensamento oriental não sofreu deste horror ao “outro”, ao que é, e não é ao mesmo
tempo. O mundo ocidental é o do isto ou aquilo” Já no mais antigo Upanishad se afirma
sem reticências o princípio da realidade dos contrários “Tu és mulher, Tu es homem, És
o rapaz e também a donzela. Tu, como um velho, te apoias em um cajado, tu és o
pássaro azul escuro e o verde de olhos vermelhos, tu és as estações e os mares! E estas
afirmações o Upanishad Chandogya condensa-as na célebre fórmula “Tu és aquilo”
Toda a história do pensamento oriental parte desta antiquíssima afirmação, do mesmo
modo que a do Ocidente se origina da de Parmênides.” (p.39)

“Chuang-Tse assim explica o caráter funcional e relativo dos opostos: "Não há nada
que não seja isto; não há nada que não seja aquilo. Isto vive em função daquilo tal e a
doutrina da interdependência de isto e aquilo. A vida é vida diante da morte E vice-
versa. A afirmação o é diante da negação. E vice-versa.” (p.41)

“Pensar é respirar porque pensamento e vida não são universos separados e sim vasos
comunicantes, isto é, aquilo. A identidade última entre o homem e o mundo, a
consciência e o ser, O ser e à existência, é a crença mais antiga do homem e a raiz da
ciência e da religião,
magia e poesia.” (p.42)

“Os centros sensíveis são nós de energia, confluências de correntes estelares,


sanguíneas, nervosas. Cada uma das posturas dos corpos abraçados e o signo de um
zodíaco regido pelo ritmo tríplice da seiva, do sangue e da luz.” (p.42)

“Para a tradição oriental a verdade e uma experiência pessoal, portanto, em sentido


estrito, e comunicável cada um deve começar e refazer por si mesmo o processo de
verdade. E ninguém, exceto aquele que empreende a aventura, pode saber se chegou ou
não à plenitude, à identidade com o ser. O conhecimento é mutável, às vezes, este “estar
no saber” sé exprime em uma gargalhada, um sorriso ou um paradoxo, mas esse sorriso
pode também indicar que o adepto não encontrou nada Todo o conhecimento se
reduzira então a saber que o conhecimento é impossível.” (p.43)

“(...)Diz que esta experiência de regresso ao que somos originalmente é “entrar na


gaiola dos pássaros sem fazê-los cantar” Fan é gala e regresso, ring é canto e nomes”
Assim, a frase quer dizer também “regressar ali onde os nomes não são necessários”, ao
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silêncio, reino das evidências ou lugar onde os nomes e as coisas se fundem e são a
mesma coisa, à poesia, reina onde nomear é ser.” (p.44)

“A Linguagem é significado, sentido de isto ou aquilo. As plumas são leves, as pedras,


pesadas O leve é leve em relação ao pesado, o escuro diante do luminoso etc.” (p.44)

“(...) ou, dizendo de outro modo em si! Mesmo o idioma é uma infinita possibilidade de
significados, ao atualizar-se em uma frase, ao converter-se verdadeira- mente em
linguagem, essa possibilidade se fixa em uma única direção. Na prosa, a unidade da
frase é conseguida através do sentido, que e algo como uma flecha que obriga todas as
palavras a apontarem para um mesmo objeto ou para uma mesma direção. Ora, a
imagem é uma frase em que a pluralidade de significados não desaparece.” (p.44, 45)

“As imagens do poeta têm sentido em diversos níveis, em primeiro lugar, possuem
autenticidade o poeta as viu ou Ouviu são à expressão genuína de sua visão e
experiência do mundo Trata-se, pois, de uma verdade de ordem psicológica, que
evidentemente nada tem a ver com o problema que nos preocupa. Em segundo lugar,
essas imagens constituem uma realidade objetiva, válida por si mesma: são obras.”
(p.45)

“Toda frase possui uma referência a outra, é suscetível de ser explicada por outra
Graças à mobilidade dos signos as palavras podem ser explicadas pelas palavras.
Quando tropeçamos com uma sentença obscura, dizemos “O que estas palavras querem
dizer é isto ou aquilo” E para dizer “isto ou aquilo” recorremos a outras palavras.”
(p.47)

‘O sentido da imagem, pelo contrário, é a própria imagem não se pode dizer com outras
palavras. A imagem explica-se a si mesma Nada, exceto ela, pode dizer o que quer dizer
Sentido e imagem são a mesmas coisas.” (p.47)

“O mesmo ocorre com o poema suas imagens não nos levam a outra coisa, como ocorre
com a prosa, mas nos colocam diante de uma realidade concreta.” (p.47)

“Derivados da natureza significante da linguagem, dois atributos distinguem as palavras


primeiro, sua mobilidade ou intermutabilidade, segundo, por virtude de sua
mobilidade, a capacidade de uma palavra de poder ser explicada por outra. Podemos
dizer de muitas maneiras a ideia mais simples, ou mudar as palavras de um texto ou de
uma frase sem alterar gravemente o sentido ou explicar uma sentença por outra. Nada
disto é possível com a imagem.” (p.48)

“(...) imagem reconcilia os contrários, mas esta reconciliação não pode ser explicada
pelas palavras, exceto pelas da imagem, que já deixaram de sê-lo. Assim, a imagem é
um recurso desesperado contra o silêncio que nos invade cada vez que tentamos
exprimir a terrível experiência do que nos rodeia é de nós mesmos.” (p.48)

“A linguagem ultrapassa o círculo dos significados relativos, O isto e O aquilo, e diz o


indizível as pedras são plumas, isto é, aquilo. A linguagem indica, representa; o poema
não explica nem Representa: apresenta.” (p.49,50)
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“A imagem não explica convida-nos a recriá-la e, literalmente, a revivê-la. O dizer do


poeta se encama na comunhão poética. A imagem transmuta o homem e converte-o por
sua vez em imagem, isto é, em espaço onde os contrários se fundem.” (p.50)

“A poesia e metamorfose, mudança, operação alquimia, e por isso é limítrofe da magia,


da religião e de outras tentativas para transformar o homem e fazer deste” ou “daquele”
esse “outro” que é ele mesmo.” (p.50)

“A poesia coloca o homem fora de si e, simultaneamente, o faz regressar ao seu ser


original volta-o para si. O homem é sua imagem dele mesmo e aquele outro Através da
frase que é ritmo, que é imagem, o homem.” (p.50)

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