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Estreara como homem de letras. Ensaios filosóficos o tomaram conhecido antes de consagrar-se à
política.
Fama de indomável liberal, de. magnífico, poderoso e suntuoso orador político.
Ao explodir 8. Revolução francesa, declina a fama do grande whig; os Jovens acham antiquada sua
eloqüência; diversas vezes. pareceu faltar-lhe o senso das proporções; em seu próprio partido,
deixam-no à parte: demasiado imperioso Intratável e violento; os inimigos insistem em desacreditá-
lo' perseguem-no; metade da nação inglesa, segundo nos dizem: considera-o então como "um
louco" cheio de talento.
Contradição Burke tomar partido dos americanos? Não. Jefferson e Franklin, tinham-se alimentado
com as ideias de Locke e as do século XVIII francês, por sua vez alimentado com Locke. Mas não
eram essas ideias que Burke defendia; não era a noção dos direitos naturais abstratos, dO' homem
nascido "livre e igual" a qualquer outro. Muito pelo contrário, . Burke recusava absolutamente
entrar na discussão abstrata dos direitos abstratos dos colonos americanos.
A questão para mim, exclamava Burke, não é saber se tendes o direito de tomar infeliz o vosso
povo, mas se não é vosso interesse torná-lo feliz." Burke pensava também que, sendo as liberdades
reivindicadas pelos colonos, ingleses de além-mar, liberdades inglesas, o emprego da força vitoriosa
contra os colonos significaria a morte dessas mesmas liberdades inglesas.
Burke sobre Maria Antonieta. Exaltação na monarquia. O quê! a sua estrela da manhã, a sua radiosa
delfIna de 1773, depois elevada ao posto de rainha, Maria Antonieta, alvo dos ultrajes da po-
pulaça! Ah! sem dúvida "passou o século do cavalheirismo; sucedeu-lhe o dos sofistas, economistas
e calculadores, achan- do-se para sempre extinta a glória da Europa".
Uma primeira parte é consagrada a mostrar, tomando, por texto o revoltante sermão do Doutor
Price, o completo contraste entre a Revolução inglesa. de 1688 e a Revolução francesa, contraste
integralmente vantajoso para aquela. Não é aceita pelos autores ingleses a interpretação dada por
Burke, excessivamente conservadora, dos acontecimentos de 1688.
contrários à razão, à natureza (boa em si), à felicidade terrestre (aspiração legítima de todo ser
humano na terra); para construir inteiramente de novo uma sociedade razoável, regida por uma
moral laica, permitindo dispensar Deus, pretexto para todos os fanatismos, dirigir-se ao progresso
indefinido; eram os principais dogmas dessa concepção, tão dógmática quanto aquela que combatia.
Essa é a essência do espírito do século XVIII (Zeitgeist frances). possuía uma raiz científica: as
ciências exatas, sobretudo, físicas e naturais, haviam alcançado enormes progressos no século
XVIII.
Esse espírito, essa concepção que burke pretente esmagar em “as Reflexões”.
O horror ao abstrato; uma noção inédita de natureza; uma noção original da razão geral ou política:
pode classi-ficar-se, sob essas três rubricas, sem excesso de artifício, a argumentação virulenta e
torrencial de Burke, em suas Reflexões, contra o espírito do século.
Horror ao Abstrato
Sabe-se que Burke já exprimia esse horror em seus. Discursos sobre a revolução americana; de
forma alguma estava defendendo a liberdade abstrata, mas liberdades concretas, as liberdades
inglesas transplantadas à América;
Citação: “Não entro nessas distinções metafísicas, odeio até o som dessas palavras.”
Nas Reflexões. Recusa-se a discutir o abstrato (além das circunstâncias de tempo, de lugar, de
pessoa).
Citação: “as circunstâncias, que nada valem para algumas pessoas, são todavia, na realidade, o que
dá a um princípio de política sua tonalidade distintiva e verdadeiro caráter, sendo elas que tomam
um plano civil e político útil ou nocivo ao gênero humano”.
Para burke: Erro, é a noção dos direitos do homem em sua abstração e em seu sentido absoluto,
tratasse dos verdadeiros direitos, todos os homens têm direito à justiça, aos produtos de sua
indústria e a todos os meios de fazê-los frutificar.
Mas, na linguagem dos revolucionários franceses, tais direitos do homem são “mina... preparada
sob o solo”, se reivindica é o direito de partilhar o poder, a autoridade, a direção dos negócios do
Estado.
Citação: Ora, tal direito, sempre negarei, muito formalmente, que pertença ao número dos direitos
diretos e primitivos dos homens em sociedade civil. O governo não é feito em virtude dos direitos
naturais. Tais direitos são muito mais evidentes e mais perfeitos em sua abstração, mas esta
perfeição abstrata é o seu defeito prático; “tendo direito a tudo, de tudo se carece”. O Governo é
uma invenção humana, para satisfazer as necessidades dos homens. Em nome de todas essas
necessidades, deve convir-se que a mais sensível é a de restringir suficientemente as paixões …
Nesse sentido, inclui-se a repressão, tanto quanto a liberdade, entre os direitos dos homens.
Burke rejeita as definições dos direitos metafísicos dos franceses como vaidade.
Nessa massa dos interesses humanos, os direitos dos homens são refratados e refletidos em tão
grande número de direções cruzadas e diversas, que se torna interesses humanos, os direitos dos
homens são refratados e refletidos em tão grande número de direções cruzadas, que se torna absurdo
falar neles com a sua primitiva simplicidade… Todos os pretensos direitos desses teóricos são
metafisicamente verdadeiros, quanto moral e politicamente falsos. Os direitos dos homens acham-se
numa espécie de meio impossível de definir, mas acrescenta burke, “não impossível de perceber”
← os “direitos verdadeiros”.
Sob a monarquia, as instituições ligadas à pessoa do rei, possuíam um caráter pessoal que os
abstratores franceses, procuram encarniçadamente destruir. Tal despersonalização consterna e irrita
Burke; nela vê (com razão, e que bom né hahahah) o fim de um sistema mesclado de opiniões e
sentimentos, sistema que tivera sua origem no antigo cavalheirismo e dera seu cunho à europa
moderna.
Parafraseando montesquieu: “Agora, porém, tudo irá mudar, todas as sedutoras ilusões que
tornavam amável o poder e liberal a obediência… Arrancam-se, cruelmente, todas as roupagens que
eram ornato da vida.”
Para burke, um rei tomar-se-á um homem como qualquer outro, a rainha simplesmente “uma
mulher” e “uma mulher não é mais do que um animal, e não da primeira ordem”.
Segundo burke os ideais franceses “não pode ter nascido senão em cor~ções gelados e em espíritos
envilecidos”.
Ele diz que que as discussões metafisicas(dos iluministas) não traz remédio algum aos males
sociais.
Citação: “Quando escuto louvarem a simplicidade de invenção a que se pretender chegar em novas
Constituições políticas, não posso deixar de concluir que quem trabalha para isso não conhece o seu
ofício ou muito negligencia o seu dever”.
Burke é o primeiro a operar a reversão sistemática da palavra natureza, que fará escola em todos os
escritores contra-revolucionários. A seus olhos, é natural, não o que vale para todos os homens. O
que é inerente à natureza humana em todos os tempos e lugares.
É natural, para Burke, o que aparece como resultado de Um longo desenvolvimento histórico, de um
longo hábito; por outras palavras, natureza equivale a história, experiência histórica, hábito
criado pela história. Para ele as coisas têm uma maneira natural de operar, a qual nos é revelada
pela história.
Citação: “abandonadas a si mesmas, as coisas acham geralmente a ordem que lhes convém”.
Tal concepção arrisca-se a terminar na- santificação do hábito. Santifica, em todo caso, a herança e
os preconceitos. A herança. - Incontestavelmente, é exigida pela natureza. Burke é inesgotável nesse
ponto.
A ordem do mundo é a ordem da natureza; o sistema político inglês é um sistema natural, na medida
em que é fruto do desenvolvimento histórico, não perturbado pela lógica abstrata. Notemos, que
essa argumentação, não deixa de lembrar aquela com que Bossuet justificava a monarquia
hereditária de varão em varão; nesse sentido, o grande bispo francês pode apresentar-se como ilustre
precursor da “política natural”.
Os Preconceitos
Os preconceitos são, para Burke, naturais na medida em que a história os explica, em que são o seu
resultado. Em particular, nada mais natural que o preconceito do nascimento, no qual se funda a
nobreza.
Nada mais natural que o vigoroso esforço de cada indivíduo para defender a posse das propriedades
e das prerrogativas que lhe foram transmitidas. Prender-se energicamente a tais preconceitos é como
que um instinto (o que há de mais natural senão um instinto?).
O que não é natural é a igualdade, tão cara aos revolucionários franceses. Pretensa igualdade!
Pretenso pois: “em todas as sociedades, necessariamente compostas de diferentes classes de
cidadãos, é preciso que haja uma que domine”.
O chanceler da frança disse que são honrosas todas as funções, dizendo que toda função é honrosa,
somos obrigados a admitir alguma distinção. A ocupação de um cabeleireiro ou de um cirieiro(quem
faz velas), para não falar de muitas outras, a ninguém pode ser motivo de honra. O Estado não deve
exercer opressão algum! sobre homens, dessa classe; mas deles sofreria muito grande opressão, se
lhes permitissem governarem.
Basicamente, Sutor ne ultra crepidam (do latim, “sapateiro, não além dos sapatos”).
Burke insurge-se contra, contra a lei única do numero, contra a exclusão de todas as preeminências,
de qualquer preferencia devido nascimento e à propriedade hereditária.
Diz-se que Vinte e quatro milhões de homens devem prevalecer sobre duzentos mil. é ridícula para
homens que podem raciocinar a sangue-frio. A vontade da maioria e os seus interesses raramente
coincidem.
A conservação do que existe, combinada a uma lenta adaptação ao que vem a existir, eis o que é
natural.
O mérito de Burke consiste, como o leitor já pôde verificar, em retomar numerosas vezes,
infatigavelmente, o mesmo tema, colorindo-o de maneira diversa.
Que desprezo, nessas linhas virulentas, por todas as súbitas mudanças à francesa é, repitamo-lo, no
respeito ao desenvolvimento da história em seu desenrolar natural!
Eis aqui um novo emprego do processo de: reversão do argumento adversário(a razão). Eis também
uma nova forma de reabilitação do preconceito.
Essa razão individual, perante a qual se ajoelha o espírito do século(iluministas franceses), Burke
não a nega, mas lhe atribui pouca eficácia.
Para os pensadores abstratos, à francesa, convêm odiar o preconceito, bani-lo, porque a razão
Individual, que não o escolheu, sente-se chocada em sua presença. Os Ingleses raciocinam de forma
diversa: Muitos dos nossos pensadores, em vez de banir os preconceitos gerais, empregam toda a
sagacidade em descobrir a sabedoria oculta que domina em cada um. Se alcançam o seu objetivo, o
que raras vezes deixa de acontecer, acham que é muito mais prudente conservar o preconceito com
o fundo de razão que encerra.
O preconceito, veste de uma razão oculta! Essa notável reabilitação impressionará vivamente Taine
que, em “As Origens”, repetirá: o preconceito, “espécie de razao que se ignora”, “como o instinto,
forma cega da razao”. E Barrès, discípulo de Taine, daí tirará uma imagem bem conhecida;
“Cubramo-nos com nossos preconceitos, eles nos aquecem”.
Taine fará eco diretamente a Burke ao professar com energia que uma doutrina só se toma ativa, se
se transforma móvel de ação quando se toma "cega” introduzindo-se nos espíritos como “crença
formada, hábito adquirido, inclinação estabelecida”
Assim essa razão geral está longe de ser uma usurpadora, prevalece naturalmente sobre a razão toda
abstrata, como o deve fazer “uma irmã mais velha”. Por conseguinte, a partir de Burke Se acharia
edificada uma das mais vigorosas e valiosas pilastras em apoio da concepção tradicionalista ou
conservadora da sociedade política.
Final
O sucesso do livro deveria ser prodigioso; onze edições em menos de doze meses, trinta mil
exemplares vendidos até a morte de Burke, em julho de 1797.
Na Inglaterra ante das Reflexões, a Revolução francesa inspirava certa simpatia. Após o livro de
Burke: “De súbito dividiu a nação em duas partes” (segundo Lord Morley)
Os tories, para quem,o grande whig Burke fora em tantas ocasiões o pior inimigo, reuniram-se com
entusiasmo sob o novo estandarte que desfraldava com tanto brilho.
Jorge III, o autoritário, vibrou de alegria: excelente livro que devia ser lido por todo gentleman.
Após o 10 de agosto de 1792 e a queda do trono, veio a execução de Luís XVI que despertou no
coração da Inglaterra inteira a mesma onda de cólera, a mesma sede de castigo que cumulavam o
coração de Burke.
Em suma: em sua famosa obra, Burke não só adivinhara e traduzira maravilhosamente como
precedera os profundos sentimentos dos ingleses en: face da Revolução, fenômeno continental
decididamente incompreensível. Fora a voz da Inglaterra de então
Assim, parece menos estranho do que à primeira vista poderia parecer, o fato de que a Inglaterra,
pátria de Locke tenha produzido o primeiro manual de filosofia política diretamente dirigido contra
aquela - toda lockiana - que dera origem a revolução francesa.