PARNASIANISMO
PARNASIANISMO
“A armadura de Perseu”, de Edward Burne-
Jones (1885). O pintor em questão, à época do
parnasianismo, retomou, na pintura, os temas de
influência clássica.
O Parnasianismo se desenvolve paralelamente ao Realismo
e ao Naturalismo. O movimento também é influenciado
pelos pensamentos da segunda metade do século XIX, mas
constrói uma estética própria, muito diferente da realista
e da naturalista. Foi um movimento literário que surgiu
tendo como principal bandeira a oposição ao Realismo
e ao Naturalismo. No Brasil, esse movimento opunha-se
principalmente ao romantismo, já que, apesar dos ideais
românticos terem dado lugar ao Realismo e ao Naturalismo
na prosa, ainda eram fortes suas características na poesia.
Assim, os poetas parnasianos incorporaram em suas
produções poéticas traços que se opunham diretamente
à poesia romântica, uma vez que não interessava aos
artistas românticos uma volta à Grécia Antiga, mas antes
uma representação capaz de ir ao encontro da burguesia
crescente.
2 ARTES
Este movimento tem início na França, em meados da
década de 1860, e chega ao Brasil na década de 1880.
Seu próprio nome já é um indicativo de sua principal
característica: o forte interesse pela cultura greco-latina.
Isso pois o nome “Parnasianismo” tem origem no Monte
Parnaso, a montanha consagrada a Apolo e às Musas da
poesia na mitologia grega.
Além de sua origem mítica, “Parnasianismo” também foi
escolhido para intitular o movimento em razão de uma
antologia, publicada em três volumes, sendo o primeiro
em 1866, intitulada “Parnasse contemporain” (Parnaso
contemporâneo).
A obra inaugural do movimento foi publicada em
Paris, no ano de 1866. Trata-se de uma antologia
poética intitulada Parnasse Contemporain (ou Parnaso
Contemporâneo, na tradução), explicitando a forte
influência da arte clássica nesta produção literária.
CONTEXTO HISTÓRICO
Na Europa, acentua-se a valorização da ciência. A segunda
metade do século XIX foi marcada pelas crescentes
inovações científicas e tecnológicas, as quais modificaram
a mentalidade das pessoas. Assim, o período era palco
de avanços e mudanças à economia, à sociedade. O
parnasianismo, pois, surgiu como um movimento
concomitante ao Realismo e ao Naturalismo, porém tendo
o gênero lírico como sua principal manifestação.
O cientificismo positivista mudava cada vez mais o
pensamento das pessoas. Desse modo, rompia-se com
o subjetivismo do Romantismo, agora considerado “um
cadáver, e pouco respeitado”, nas palavras de Sílvio
Romero (um importante crítico literário do século XIX).
Entre as inovações do período, o Parnasianismo, permeado
pelas ideias científicas e pelo Realismo, surge como uma
poesia científica, cujas características veremos a seguir.
PROJETO LITERÁRIO DO
PARNASIANISMO
O objetivo declarado dos poetas parnasianos era apenas
um: devolver a “beleza” formal à poesia, eliminando o que
Características da arte
consideravam os excessos sentimentalistas românticos parnasiana
que comprometeriam a qualidade artística dos poemas.
Na base desse projeto, estava a crença de que a função Dos aspectos mais formais:
essencial da arte era produzir o “belo”. O lema adotado
▸ Linguagem objetiva, em oposição à linguagem mais
pelos parnasianos, “a arte pela arte”, traduz essa crença.
subjetiva do Romantismo;
Segundo esse princípio, a produção artística deve ter fim
em si mesma. Isso significa que a função da arte é ser arte, ▸ Predomínio de vocabulários e estrutura sintática
não provocar mudanças sociais. cultos;
Esse valor foi determinado por Émile Zola, um importante ▸ Busca pelo equilíbrio formal;
escritor francês que defendeu uma arte científica e
▸ Predileção pelo soneto.
impessoal. A postura do autor é vista no trecho:

Dos aspectos de conteúdo:

[O artista não tem o direito de] expressar ▸ Paganismo greco-latino, em oposição ao
a sua opinião sobre coisa alguma, não cristianismo e ao misticismo do simbolismo;
importando do que se trate. Deus já
▸ Retomada de elementos da tradição clássica;
expressou alguma vez uma opinião…
Creio que a grande arte é científica ▸ Materialismo e racionalismo;
e impessoal… Não quero nem amor
▸ Contenção de sentimentos, em oposição à
nem ódio, nem piedade nem raiva… Já
externalização amorosa romântica;
não é tempo de introduzir a justiça na arte?
A imparcialidade da descrição tornar-se-ia, então, igual à ▸ A busca da arte pela arte.
majestade da lei.
(Émile Zola, em carta a George Sand. In: FISCHER, E. A Necessidade da
Arte. 5 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 89)

PARNASIANISMO NO
Outro valor importante para o Parnasianismo é o
cientificismo. Esse se manifesta no fato da produção BRASIL
artística postar-se como um estudo da própria arte. Por
No Brasil, no decorrer do século XIX, aprofundava-se a crise
isso, o Parnasianismo é dotado de metalinguagem, pois
da monarquia. Em 1889, a Proclamação da República
muitas vezes o poeta reflete sobre o processo de criação
mudou a história do país, marcando o rompimento com os
da poesia.
moldes econômicos do Antigo Sistema Colonial.
Os parnasianos se dedicam à edição dos textos, buscando
A tradição colonial determinava a economia e a cultura
cada vez mais a perfeição formal. Esses artistas são
do Brasil até então. Em pleno século XIX, a sociedade
apelidados poetas na torre de marfim,
brasileira continuava seguindo o sistema agrário,
pois vivem alheios à sociedade.
monocultor, exportador, latifundiário e escravista, tendo
A arte parnasiana também é dotada apenas trocado a produção do açúcar pela do café.
de descritivismo, uma preferência
A Proclamação da República, portanto, determinou a
pela descrição de objetos inertes,
emancipação do Brasil, que finalmente deu um passo
principalmente os que exigem
significativo rumo à modernidade. A república promoveu
descrições detalhadas.
uma reforma no país, que agora investe no combate ao
Esses princípios se traduzem no culto tráfico negreiro e na inserção dos moldes capitalistas de
à estética e no formalismo. Para compra e venda. No âmbito legislativo, durante o caminho
atingir a perfeição da forma, portanto, que levou à Proclamação, foram criadas: a Lei Eusébio de
os parnasianos resgata os valores da Queirós (1850), que aboliu o tráfico de pessoas africanas
arte clássica. para a Colônia; e a Lei de Terras (1850), que foi o dispositivo

ARTES 3
legal que, pela primeira vez, buscou regulamentar a
questão fundiária no Império do Brasil.
No Brasil, durante esse percurso temporal e a partir de 1871,
há a Lei do Ventre Livre; e, em 1884, há a criação da Lei dos
Sexagenários. Essas leis determinaram, respectivamente,
que deviam ser livres os filhos de escravos e os escravos
idosos. A Lei Áurea, de 1888, consolidou de vez o fim do
regime escravista, libertando cerca de 700.000 escravos.
O sistema capitalista provocou o impulso da
industrialização. O capital acumulado da produção do café
foi investido em outros setores, como os bancos, a ferrovia
e o comércio internacional. A chegada de trabalhadores
imigrantes consolidou a criação de um proletariado urbano
e um rural.
A abolição, a imigração e a República provocaram mudanças
no estatuto da cidadania. As mudanças, principalmente em
relação à abolição, entretanto, aprofundaram diversos
problemas sociais, como a má distribuição de renda. A falta
de acompanhamentos assistencialistas do governo deixou
os ex-escravos à margem da sociedade.
O Parnasianismo é inaugurado no Brasil
com a publicação de Fanfarras, de
Teófilo Dias, no ano de 1882, em meio
ao processo de abolição da escravidão,
quando as mudanças sociais se tornavam
ainda mais profundas. Entretanto, ao
contrário do Realismo e do Naturalismo,
o Parnasianismo não se envolve com os
problemas da sociedade, não tomando para
si a responsabilidade de provocar mudanças sociais.
Poetas parnasianos
No Brasil, três poetas foram os principais responsáveis pela
promoção dos ideais parnasianos: Olavo Bilac, Raimundo
Correia e Alberto de Oliveira. Por sua importância para a
produção literária do período, eles ficaram conhecidos
como tríade parnasiana.
4 ARTES
Alberto de Oliveira (1857-1937)
Foi o mais parnasiano dos poetas
brasileiros, pois sua obra foi a que
mais absorveu os princípios do
movimento.
Produziu uma poesia fria e
intelectualizada, com um gosto
acentuado pelo preciosismo formal
e linguístico. Sua obra é marcada
por um forte descritivismo. O poeta
compunha imagens perfeitas, como
quadros e cenas.
Também foi o poeta brasileiro que mais defendeu a
arte pela arte. Manteve-se alheio à realidade brasileira,
buscando inspiração nos modelos clássicos.
Vaso grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás-de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
Raimundo Correia (1859-1911)
É conhecido por não ter subjugado
sua sensibilidade à perfeição formal.
Compôs sonetos que oscilam entre a
descrição e a sugestão, explorando
imagens sugestivas.
Sua poesia representa um momento de
descontração e de investigação. Nela se
verificam três fases:
▸ A fase romântica: com influência de Casimiro de
Abreu e Fagundes Varela, é representada por Primeiros
sonhos (1879);
 ▸ A fase parnasiana propriamente dita: representada ▸ Harmonização do rigor formal e da sensibilidade
pelas obras Sinfonias (1883) e Versos e versões romântica;
(1887), é marcada pelo pessimismo de Schopenhauer
▸ Uso da metalinguagem;
– pensador alemão que defendia a ideia de que todas as
dores e males do mundo provêm da vontade de viver – ▸ Presença de uma métrica perfeita e de uma linguagem
e por reflexões de ordem moral e social; culta;

▸ A fase pré-simbolista: nela, o pessimismo diante da ▸ Relato de episódios da história do Brasil;

condição humana busca refúgio na metafísica e na ▸ Retomadas à mitologia greco-latina.
religião, enquanto a linguagem apresenta uma pesquisa
em musicalidade e sinestesia.
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
As Pombas
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Vai-se a primeira pomba despertada...
Ouro nativo, que na ganga impura
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
E à tarde, quando a rígida nortada
Que tens o trom e o silvo da procela
Também dos corações onde abotoam
E o arrolo da saudade e da ternura!
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
No azul da adolescência as asas soltam,
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Voltam todas em bando e em revoada...
(Publicado em Tarde, 1919)
E eles aos corações não voltam mais.

XXX
Olavo Bilac (1865-1918)
Até hoje, é um dos mais cultuados Ao coração que sofre, separado
poetas brasileiros, e sua importância
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
é muito atribuída ao fato de que
Bilac pouco aderiu ao formalismo Não basta o afeto simples e sagrado
parnasiano. Também foi mais ativo Com que das desventuras me protejo.
socialmente, tendo fundado, junto a
Machado de Assis, a Academia Brasileira de
Não me basta saber que sou amado,
Letras.
Nem só desejo o teu amor: desejo
Sua obra tem traços de nacionalismo e sensualidade,
Ter nos braços teu corpo delicado,
aproximando-se, por vezes, dos ideais Românticos. Bilac
foi um patriota, e compôs o Hino à Bandeira. Ter na boca a doçura de teu beijo.

Bilac foi um exímio sonetista. Publicou seus primeiros

poemas em Poesias (1888). O sucesso desses sonetos o E as justas ambições que me consomem
levou a abandonar a carreira de Medicina e iniciar o curso Não me envergonham: pois maior baixeza
de Direito. Não há que a terra pelo céu trocar;
São características gerais de sua obra:

ARTES 5
E mais eleva o coração de um homem Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Ser de homem sempre e, na maior pureza, Inda as procuro pelo céu deserto.
Ficar na terra e humanamente amar.
(Publicado em Antologia Poética – Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 4) Direis agora! “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Via Láctea (trecho XIII) Tem o que dizem, quando estão contigo?”
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Que, para ouvi-las, muita vez desperto Pois só quem ama pode ter ouvido
E abro as janelas, pálido de espanto… Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(Publicado em Antologia Poética – Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 28)
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,

Anotações

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