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Parnasianismo e Simbolismo

Surgidos quase concomitantemente, o Parnasianismo e o Simbolismo estão ligados às transforma-


ções decorrentes da afirmação da Revolução Industrial.

  Parnasianismo: contexto histórico e cultural


A segunda metade do século XIX é marcada pela consolidação da Segunda Revolução Industrial,
que, entre outras mudanças, traz grande prosperidade econômica a uma parcela da burguesia. Nas últi-
mas décadas do século, tal prosperidade dá origem à Belle Époque (“bela época”) – uma era de otimis-
mo e aumento do conforto material –, berço da Art Nouveau (“arte nova”), movimento artístico que
pratica o gosto pela ornamentação.
O Parnasianismo partilha de muitos ideais da Art Nouveau, buscando uma poesia que supervaloriza
o aspecto formal. Mas, ao contrário da Art Nouveau, rejeita a adaptação da arte à vida cotidiana. A pro-
posta do movimento, que combate o lirismo romântico, é uma criação poética que retoma o modelo
estético clássico, com sua busca pela beleza e precisão, a “arte pela arte” – sem finalidades práticas ou
crítica social e com extremo preciosismo linguístico. Cria-se a imagem do “poeta artesão”.

  Parnasianismo no Brasil
A Abolição da Escravidão (1888) e a Proclamação da República (1889) marcam o final do século
XIX no país. A produção cafeeira traz melhorias socioeconômicas, e o capital acumulado passa a ser
investido em outras áreas. Similarmente ao que ocorre na Europa, a aristocracia brasileira, beneficiada
pelos lucros do café, valoriza o luxo e o requinte. As obras de arte são consideradas preciosas.
Olavo Bilac (1865-1918) é o maior nome do Parnasianismo brasileiro. Em Poesias, seu primeiro li-
vro poético, adota o princípio da “arte pela arte”, esvaziando a temática, ao máximo, de qualquer sub-
jetividade, em favor do rigor estético. Nos versos de um de seus mais conhecidos poemas, “Profissão de
fé”, anuncia a eleição da forma como objetivo maior da poesia.

E horas sem conta passo, mudo,


A olhar atento,
A trabalhar longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... Nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
BILAC, Olavo. Antologia da poesia parnasiana brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional: Lazuli Editora, 2007. p. 151.

O eu lírico destaca, nesses versos, a concentração necessária ao fazer poético, que deve evitar tan-
to questões sociais quanto manifestações de qualquer estado de espírito. O poeta dedica-se ao objetivo
maior de atingir a perfeição formal.
Não obstante, vê-se, principalmente nos sonetos da seção “Via Láctea”, certo sentimentalismo con-
tido. Tais resquícios da subjetividade romântica, presentes também nos quadros naturais da poesia de
Vicente de Carvalho (1866-1924), marcam a especificidade do Parnasianismo brasileiro em oposição
ao que se cultivou principalmente na França.
Ao lado de Bilac, completavam a chamada “tríade parnasiana” os poetas Raimundo Correia (1859-
-1911), que conquistou grande prestígio pela fluência formal de sua obra e pela criação de imagens de
grande força poética, e Alberto de Oliveira (1859-1937), cujos versos revelam a excelência na combi-
nação entre a descrição e o rigor formal.
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  Simbolismo: contexto histórico e cultural
Com os efeitos negativos da industrialização vindo à tona, a passagem do século XIX para o
século XX suscita questionamentos do modelo socioeconômico vigente e da visão de mundo
materialista e racionalista, dando origem a uma poesia repleta de elementos transcendentais.
Charles Baudelaire, autor de As flores do mal (1857), é considerado fundador do Simbolismo.
Em torno dele, reúne-se um grupo de artistas e intelectuais, os chamados decadentistas, que
explora o mórbido, o gosto pelo artificial e extravagante, além do culto à dor.

Parnasianismo e Simbolismo
Os pressupostos do movimento são claramente antinaturalistas e antiparnasianos:
ƒ busca pelo mundo impalpável;
ƒ uso de símbolos para evocar o inefável;
ƒ musicalidade e sinestesia para estimular os sentidos;
ƒ temáticas religiosas e místicas;
ƒ valorização da subjetividade sem o sentimentalismo romântico.

  Simbolismo em Portugal
Na passagem do século XIX para o XX, o país vive uma grande turbulência política e econômica.
A monarquia portuguesa está em franca decadência, provocada principalmente pelos recentes fra-
cassos em sua campanha expansionista – situação que determina a queda do sistema monárquico
em 1910. No Simbolismo português, tais conflitos inspiram obras negativas e saudosistas.
Eugênio de Castro (1869-1944) e Antônio Nobre (1867-1900) estão entre os pioneiros.
Outro nome de destaque é Camilo Pessanha (1867-1926), cujo livro Clepsidra (1920) privile-
gia a musicalidade. Sua lírica alterna instantes de consciência e inconsciência. Para o eu lírico,
a dor é a experiência mais vital, por meio da qual se alcança o êxtase.
  Simbolismo no Brasil
A poesia parnasiana tem destaque no início da República, quando a elite brasileira, entusias-
mada com o progresso nacional e indiferente às condições de vida da população, busca um mo-
delo de “civilidade” e de distanciamento da realidade nacional.
Na década de 1890, no entanto, poetas de várias partes do país identificam-se com a estética
simbolista, desenvolvendo-a, embora sem conquistar a crítica e os leitores da época.
Cruz e Sousa (1861-1898) inaugura o Simbolismo no Brasil com os livros Missal e Broquéis
(1893). Sua obra demonstra um rigor formal típico do Parnasianismo, porém explora o subje-
tivo, o espiritual e o sinestésico. Destaca-se também uma dualidade constante, representada
pelo conflito entre o plano material e o desejo de alcançar o plano transcendental em busca da
purificação, como exemplifica a estrofe a seguir.

Para as Estrelas de cristais gelados


As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo... Glossário
CRUZ E SOUSA, João da. Missal Broquéis. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 139. sideral: pertencente aos astros, celeste

Outro expoente é Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), em cuja poesia o tema mais re-
corrente é a morte da amada.

Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
GUIMARAENS, Alphonsus de. In: Ricieri, F. (Org.). Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. São Paulo:
Companhia Editora Nacional/Lazuli, 2007. p. 99.

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Todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Questões

1. (Ufam) Coloque V para afirmativas verdadeiras e F para as falsas. Assinale a


sequência correta.
Pode-se descrever o Parnasianismo como um movimento:
( ) cujo conteúdo é mais importante que a forma de seus textos.
( ) que trabalha com temas greco-latinos e prefere formas fixas, como o soneto.
( ) que legou obras de cunho social, preocupado com a situação do país em
seu tempo.
( ) cujo descritivismo dos poemas se iguala ao Romantismo, ambos preocu-
pados com o ambiente político de seus respectivos momentos históricos.
( ) em que a mulher é apresentada como a musa inspiradora, situada em
meio à natureza brasileira.
a) F – V – F – V – F
b) V – V – F – F – V
c) F – V – F – F – F
d) F – F – F – V – V
e) V – F – F – F – V
2. (FGV-SP – Adaptada) Leia o texto e responda à questão.

Vila Rica
O ouro fulvo1 do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos2 de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
Olavo Bilac
fulvo: de cor alaranjada.
1

laivos: marcas; manchas; desenhos estreitos e coloridos nas pedras; restos ou vestígios.
2

Das características abaixo, todas presentes no texto, a que ocorre mais rara-
mente na poesia parnasiana é:
a) o rigor formal na estruturação dos versos.
b) o emprego de forma fixa, por exemplo, o soneto.
c) a sujeição às normas da língua culta.
d) o gosto pela rima rica (rima entre palavras de classes gramaticais diferentes).
e) a visão subjetiva da realidade, embora desprovida de sentimentalismo.
3. (Uesc-BA)

Ah! lilásis de Ângelus harmoniosos,


Neblinas vesperais, crepusculares,
Guslas gementes, bandolins saudosos,
Plangências magoadíssimas dos ares...
Serenidades etereais d‘incensos,
De salmos evangélicos, sagrados,
Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
Névoas de céus espiritualizados.
[...]

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É nas horas dos Ângelus, nas horas
Do claro-escuro emocional aéreo,
Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras
Ondulações e brumas do Mistério.
[...]
Apareces por sonhos neblinantes
Com requintes de graça e nervosismos,

Parnasianismo e Simbolismo
fulgores flavos de festins flamantes,
como a Estrela Polar dos Simbolismos.
CRUZ E SOUSA, João da. Broquéis. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 90.

Marque V ou F, conforme sejam as afirmativas verdadeiras ou falsas.


Os versos de Cruz e Sousa traduzem a estética simbolista, pois apresentam:
( ) descrição sintética do mundo imediato.
( ) uso de recursos estilísticos criando imagens sensoriais.
( ) enfoque de uma realidade transfigurada pelo transcendente.
( ) apreensão de um dado da realidade sugestivamente ambígua.
( ) imagens poéticas que tematizam o amor em sua dimensão física.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a:
01. F – V – V – V – F. 04. V – F – V – F – F.
02. V – F – F – V – F. 05. V – F – V – F – V.
03. V – F – V – V – F.
4. (Ufam) Considere o poema abaixo, de Alphonsus de Guimaraens:

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Sobre ele é incorreto afirmar que:
a) é um texto que caracteriza a essência do Simbolismo ao usar a loucura e a
torre como alegorias do distanciamento do mundo terreno.
b) a presença da música, da cor prateada, da loucura, do mar e do céu confirmam a
inserção do texto no Simbolismo.
c) a dualidade corpo e alma está presente no poema, nas imagens do mar e do céu,
unidas pelo objeto de desejo: a lua.
d) é um poema que traz como tema o suicídio religioso.
e) Ismália recebeu um par de asas para o corpo e outro para a alma, conduzin-
do a alma ao céu e o corpo ao mar, desfazendo a ideia de suicídio, que pres-
suporia queda.
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