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Parnasianismo no Brasil
A Abolição da Escravidão (1888) e a Proclamação da República (1889) marcam o final do século
XIX no país. A produção cafeeira traz melhorias socioeconômicas, e o capital acumulado passa a ser
investido em outras áreas. Similarmente ao que ocorre na Europa, a aristocracia brasileira, beneficiada
pelos lucros do café, valoriza o luxo e o requinte. As obras de arte são consideradas preciosas.
Olavo Bilac (1865-1918) é o maior nome do Parnasianismo brasileiro. Em Poesias, seu primeiro li-
vro poético, adota o princípio da “arte pela arte”, esvaziando a temática, ao máximo, de qualquer sub-
jetividade, em favor do rigor estético. Nos versos de um de seus mais conhecidos poemas, “Profissão de
fé”, anuncia a eleição da forma como objetivo maior da poesia.
O eu lírico destaca, nesses versos, a concentração necessária ao fazer poético, que deve evitar tan-
to questões sociais quanto manifestações de qualquer estado de espírito. O poeta dedica-se ao objetivo
maior de atingir a perfeição formal.
Não obstante, vê-se, principalmente nos sonetos da seção “Via Láctea”, certo sentimentalismo con-
tido. Tais resquícios da subjetividade romântica, presentes também nos quadros naturais da poesia de
Vicente de Carvalho (1866-1924), marcam a especificidade do Parnasianismo brasileiro em oposição
ao que se cultivou principalmente na França.
Ao lado de Bilac, completavam a chamada “tríade parnasiana” os poetas Raimundo Correia (1859-
-1911), que conquistou grande prestígio pela fluência formal de sua obra e pela criação de imagens de
grande força poética, e Alberto de Oliveira (1859-1937), cujos versos revelam a excelência na combi-
nação entre a descrição e o rigor formal.
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Parnasianismo e Simbolismo
Os pressupostos do movimento são claramente antinaturalistas e antiparnasianos:
busca pelo mundo impalpável;
uso de símbolos para evocar o inefável;
musicalidade e sinestesia para estimular os sentidos;
temáticas religiosas e místicas;
valorização da subjetividade sem o sentimentalismo romântico.
Simbolismo em Portugal
Na passagem do século XIX para o XX, o país vive uma grande turbulência política e econômica.
A monarquia portuguesa está em franca decadência, provocada principalmente pelos recentes fra-
cassos em sua campanha expansionista – situação que determina a queda do sistema monárquico
em 1910. No Simbolismo português, tais conflitos inspiram obras negativas e saudosistas.
Eugênio de Castro (1869-1944) e Antônio Nobre (1867-1900) estão entre os pioneiros.
Outro nome de destaque é Camilo Pessanha (1867-1926), cujo livro Clepsidra (1920) privile-
gia a musicalidade. Sua lírica alterna instantes de consciência e inconsciência. Para o eu lírico,
a dor é a experiência mais vital, por meio da qual se alcança o êxtase.
Simbolismo no Brasil
A poesia parnasiana tem destaque no início da República, quando a elite brasileira, entusias-
mada com o progresso nacional e indiferente às condições de vida da população, busca um mo-
delo de “civilidade” e de distanciamento da realidade nacional.
Na década de 1890, no entanto, poetas de várias partes do país identificam-se com a estética
simbolista, desenvolvendo-a, embora sem conquistar a crítica e os leitores da época.
Cruz e Sousa (1861-1898) inaugura o Simbolismo no Brasil com os livros Missal e Broquéis
(1893). Sua obra demonstra um rigor formal típico do Parnasianismo, porém explora o subje-
tivo, o espiritual e o sinestésico. Destaca-se também uma dualidade constante, representada
pelo conflito entre o plano material e o desejo de alcançar o plano transcendental em busca da
purificação, como exemplifica a estrofe a seguir.
Outro expoente é Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), em cuja poesia o tema mais re-
corrente é a morte da amada.
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
GUIMARAENS, Alphonsus de. In: Ricieri, F. (Org.). Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. São Paulo:
Companhia Editora Nacional/Lazuli, 2007. p. 99.
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Vila Rica
O ouro fulvo1 do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos2 de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
Olavo Bilac
fulvo: de cor alaranjada.
1
laivos: marcas; manchas; desenhos estreitos e coloridos nas pedras; restos ou vestígios.
2
Das características abaixo, todas presentes no texto, a que ocorre mais rara-
mente na poesia parnasiana é:
a) o rigor formal na estruturação dos versos.
b) o emprego de forma fixa, por exemplo, o soneto.
c) a sujeição às normas da língua culta.
d) o gosto pela rima rica (rima entre palavras de classes gramaticais diferentes).
e) a visão subjetiva da realidade, embora desprovida de sentimentalismo.
3. (Uesc-BA)
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Parnasianismo e Simbolismo
fulgores flavos de festins flamantes,
como a Estrela Polar dos Simbolismos.
CRUZ E SOUSA, João da. Broquéis. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 90.