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Origem: Surgiu a partir da crise cultural e do pessimismo no fim do século XIX, como resultado dos

efeitos ruins da Revolução Industrial, da razão e dos pressupostos científicos e positivistas. Nasceu na
França em 1857 quando Charles Baudelaire (1821- 1867) publicou “As Flores do Mal”. Em 1866,
Baudelaire lançou o seu primeiro número da antologia “Le Parnasse Contemporain”, expondo
composições simbolistas e produções parnasianas, o poeta Jean Moréas publica no jornal Le Fígaro o
“Manifesto Simbolista”, uma oposição ao pensamento lógico-racional, originário das teorias científicas da
época. Segundo Mallarmé, os parnasianos buscam descrever as coisas, enquanto que o sonho está em
sugeri-las. A visão simbolista consiste no envolvimento entre o “eu” e as coisas. Essa misteriosa relação
entre o estado de espírito do poeta e o mundo não pode ser descrita, apenas sugerida. Schopenhauer
contesta o princípio positivista da realidade e diz que ela é mera ilusão, longe do contato racional.
Schopenhauer ainda complementa que o nosso corpo é contaminado pelo mundo exterior, fazendo uma
relação entre o ser e a natureza, havendo, portanto, uma correspondência entre eles.

É uma época de sensação de desalento e de descrença nos valores. É quando os aristocratas


entregam-se à uma vida apenas contemplativa, cuja atitude recebe o nome de “Decadentismo”, e é nesse
clima pessimista que nasce o Simbolismo, cuja relação estética encontra suas raízes no Romantismo,
com identidade espiritualista em relação à crença num ideal e no desapego do materialismo, nem sempre
muito perceptível pelos homens. O Simbolismo representa uma espécie de volta ao Romantismo,
especificamente ao "mal do século", que marcou a segunda fase romântica. Mas o mergulho simbolista
no universo metafísico foi mais profundo que a imersão no movimento anterior. Os simbolistas buscavam
integrar a poesia na vida cósmica, usando uma linguagem indireta e figurada. Cabe ainda ressaltar que
a diferença entre o Simbolismo e o Parnasianismo não está primeiramente na forma, já que ambos
empregam certos formalismos (uso do soneto, da métrica tradicional, das rimas ricas e raras e de
vocabulário rico), mas no conteúdo e na visão de mundo do artista. Os simbolistas são os críticos em
movimento, repudiando o romantismo, pelo seu emocionalismo e linguagem convencional metafórica e
à ideia de que o acaso viria a interferir na criação poética. Enquanto os poetas Simbolistas viam a
Divindade como uma situação que chegaria somente até aos limites da natureza e agregado a coisas,
os românticos descreviam como algo além da realidade, procurando fazer uma poesia pura. Com isso,
o fazer poético fica sendo uma tarefa essencial do homem.
A doutrina do Simbolismo começa em 1857, com a profissão de fé simbolista de Baudelaire, no soneto
“Correspondências”. No manifesto de Jean Moréas, de 1886, é utilizada pela primeira vez a palavra
“Simbolismo”. Na concepção simbolista o louco era um ser completamente livre, por não obedecer às
regras, e teoricamente o poeta simbolista é um ser feliz.
Decadência do Positivismo: Na Europa, por volta de 1870, as ciências positivistas e materialistas
vão perdendo terreno e se tornando impotentes, surgindo então uma nova forma de encarar o mundo, a
partir da explicação dos “mistérios” da realidade e verdades espirituais adormecidas como a Fé, as
verdades do sentimento e do inconsciente. Nesse período a Europa vê-se atingida por uma série de
crises de ordem política, social e econômica. O progresso industrial não atende mais às necessidades
das massas populares e a decadência é inevitável; as rivalidades entre monarquistas e republicanos se
intensificam; as desavenças entre a Áustria e a Rússia agravam-se, e a guerra é iminente. De um lado,
a luta das nações mais poderosas por mercados consumidores e produtores da matéria-prima; por outro
lado, as classes trabalhadoras, cientes da exploração dos capitalistas, reivindicam melhores salários e
melhores condições de trabalho.
Contexto histórico no Brasil:
Como vimos, o Simbolismo tem início com Baudelaire, que não se limitava a explicar a relação do
homem com o mundo. Os românticos admitiam a unidade entre o ser e o mundo, ao mesmo tempo em
que viviam tentando explicar a consciência entre o sujeito e o objeto, do “eu” e do mundo. Na
correspondência em Baudelaire vai surgir a perfeita interação entre o sujeito e o objeto e o homem e a
natureza, para tentar explicar a separação difundida pelo Racionalismo ou pelo culto apenas do “eu”
provocando um distanciamento do ser no mundo. Indiretamente ele denuncia a desagregação do homem
com a natureza e com si mesmo. Para que o homem penetre no estado edênico (relativo ao jardim do
Éden), ele deve ser um decifrador da natureza da linguagem da natureza. Mais especificamente,
apresentou algumas características, tais como:
- Predominância da emoção;
- Sugestionamento - O objeto deve estar subentendido, não se mostrando claramente – daí o símbolo";
- Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e outras figuras de estilo);
- Referências a cores, principalmente à branca;
- Presença de motivos religiosos; a poesia representaria uma espécie de ritual;
- Sonho, imaginação e espiritualismo;
- Subjetividade;
- Culto à forma, com influências parnasianas;
- Uso da figura de linguagem sinestesia, que representa a fusão de sensações (beijo amargo, cheiro
azul), além de outras como personificação e metáfora;
- Abordagem vaga de impressões subjetivas e/ou sensoriais (Impressionismo), sobretudo na pintura;
- Linguagem vaga, fluida, que busca sugerir em vez de nomear;
- Abundância de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias e sinestesias;
- Cultivo do soneto e de outras formas de composição poéticas;
- Antimaterialismo, antirracionalismo;
- Misticismo, religiosidade;
- Interesse pelas zonas profundas da mente humana e pela loucura;
- Pessimismo, dor de existir;
- Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte;
- Retomada de elementos da tradição romântica.
Como se percebe, o Simbolismo tem seu conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o
subconsciente: ideia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte,
introspecção, com mais ênfase pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização
máxima do “eu interior”; tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea:
valorização máxima do cosmos, do misticismo e negação à Terra. Normalmente os textos retratam seres
efêmeros (fumaça, gases, neve...); imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a ideia de
liberdade; um conhecimento intuitivo e não lógico, com ênfase na imaginação e na fantasia; desprezo à
natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural; pouco interesse pelo enredo e ação
narrativa: pouquíssimos textos em prosa; preferência por momentos incomuns: amanhecer ou
entardecer, faixas de transição entre dia e noite; linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e
cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a
sugestão e não a narração.
Estética do Simbolismo: alguns dos fundamentos se aproximam dos fundamentos esotéricos,
fazendo com que o conhecimento da natureza ou de um poema se pareça com uma experiência mística,
quando um iniciante tem contato com uma linguagem ambígua. Por isso é que Rimbaud define o poeta
como um vidente, desagregando os sentidos, controlados pelos simbolistas. As expressões como
“sugestão” e “evocação” tornam-se mais comuns aos simbolistas. Uma das correntes do Simbolismo
chegou a defender a criação simbólica como algo espontâneo, condenando toda artificialidade e
intencionalidade no ato de criação e da alegoria. Apesar de seguir alguns efeitos estéticos do Parnaso,
esse movimento desrespeitou a gramática tradicional com o intuito de não limitar a arte ao objeto,
trabalhando conteúdos místicos e sentimentais, usando para tanto a sinestesia (mistura de sensações:
tato, visão, olfato...). A poesia simbolista está ligada à ideia de decadência, daí seu primeiro nome ter
sido Decadentismo; só mais tarde essa nova estética passou a chamar-se Simbolismo.
Oposição entre o Parnasianismo e o Simbolismo:

João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Nossa Senhora do Desterro,


hoje Florianópolis, Santa Catarina, no dia 24 de novembro de 1861. Filho de escravos
alforriados nasceu livre. Foi criado como filho adotivo do Marechal de Campo,
Guilherme Xavier de Sousa e Clarinda Fagundes de Sousa, de quem herdou o
sobrenome. Aos sete anos fez seus primeiros versos. Aos oito anos declamava em
salões e teatrinhos. Em 1871, com dez anos, matriculou-se no colégio Ateneu
Provincial Catarinense, onde estudou durante 5 anos. Amante das letras, em 1877,
Cruz e Sousa da aula particular e começa a publicar seus versos em jornais da
província. Em 1881, funda junto com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal literário
"Colombo". Durante dois anos percorreu várias cidades brasileiras, junto com a Companhia de teatro de
Julieta dos Santos. Em 1883, aproxima-se do então presidente de Santa Catarina, Gama Rosa e, em
1884, foi nomeado promotor de Laguna, mas foi recusado pelos políticos e não toma posse. Nessa
época, Cruz e Sousa já se destacava como fervoroso conferencista pró-abolição. Em 1885, Cruz e Sousa
estreia na literatura com "Tropas e Fantasias", em parceria com Virgílio Várzea. Nesse mesmo ano
assumiu a direção do jornal "O Moleque". No ano da abolição, 1888, o poeta vai para o Rio de Janeiro,
onde em 1890 fixa residência definitivamente, trabalhando como arquivista na Central do Brasil. Em
1893, casa-se com a também poetisa, Gavita Rosa Gonçalves. Nesse mesmo ano, publica "Missal",
poemas em prosa, e "Broquéis", versos. Com eles, Cruz e Sousa rompia com o Parnasianismo e
introduzia o Simbolismo, em que a poesia aparece repleta de musicalidade. Seus desgostos agravaram-
se com o casamento e sua vida se transformou numa luta contra a miséria e a infelicidade, quando
poucos reconheceram seu valor como poeta. Sua esposa tem crises nervosas, seus filhos são atacados
pela tuberculose. A mesma moléstia atinge o poeta, que em 1898, muda-se para a cidade de Sítio, em
Minas Gerais, à procura de alívio para o mal, mas faleceu logo depois. Seu corpo foi transladado para o
Rio, num vagão de transporte de animais. Em 1905, seu grande amigo e admirador, Nestor Vítor,
publicou, em Paris, a obra maior do poeta, "Últimos Sonetos". A crítica francesa o considerou um dos
mais importantes simbolistas da poesia ocidental. Sua obra completa, "Cruz e Souza, Obra Completa"
foi publicada num volume de mais de oitocentas páginas, em comemorações do centenário de seu
nascimento. Cruz e Sousa faleceu na cidade de Sítio, em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1898.
Uma característica inconfundível na obra de Cruz e Sousa é o uso de um vocabulário em que
predominam, de modo obsessivo, termos associados à cor branca, como neve névoa, alva, brumas,
lírios, palidez, lua. Essa recorrência indica uma busca incessante pela “pureza das formas eternas, das
essências das coisas”, que define a base do projeto literário simbolista.
Obras de Cruz e Sousa: Tropos e Fantasias, poesia em prosa, 1885; Missal, poesia em prosa, 1893;
Broquéis, poesia, 1893; Evocação, poesia em prosa, 1898; Faróis, poesia, 1900, póstuma; Últimos
Sonetos, poesia, 1905, póstuma; Outras evocações, poesia em prosa, 1961, póstuma; O Livro
Derradeiro, poesia em prosa, 1961, póstuma; Dispersos, poesia em prosa, 1961, póstuma; Cruz e Sousa,
Obra Completa, 1961, póstuma.

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) nasceu em Ouro Preto, Minas


Gerais, no dia 24 de julho de 1870. Filho do comerciante português Albino da
Costa Guimarães e de Francisca de Paula Guimarães Alvim. Fez os cursos
básicos em Minas Gerais e aos 17 anos se apaixona pela prima Constança, filha
do escritor Bernardo Guimarães seu tio-avô. Com a morte prematura da prima, em
1888, o poeta se entrega a vida boêmia. Marcado pela morte de sua prima
Constança – a quem amava e estava com apenas dezessete anos, sua poesia é
quase toda caracterizada pelo tema da morte da mulher amada. Todos os outros
temas que explorou como religião, natureza e arte, de alguma forma, se
relacionam com o mesmo tema da morte. Essa época já colaborava no Almanaque Administrativo,
Mercantil, Industrial, Científico e Literário do município de Ouro Preto. Viaja para São Paulo com o amigo
José Severino de Resende. Inicia o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,
em 1891. Volta para Ouro Preto, em 1893, onde termina o curso de Direito na recém-criada Academia
Livre de Direito de Minas Gerais. Volta para São Paulo onde estuda Ciências Sociais, terminando o curso
em 1895. Vai ao Rio de Janeiro, onde conhece Cruz e Souza, poeta que já admirava e de quem tornou-
se amigo. Volta para Minas e é nomeado promotor de Conceição do Serro, hoje Conceição do Mato
Dentro, ocupando em seguida o cargo de juiz substituto. Em 1897, casa-se com Zenaide de Oliveira,
com quem teve 14 filhos. Sua poesia expressa uma atitude melancólica sobre o tema morte. O
sentimento resignado, o sofrimento e a desesperança estão presentes em seus versos. O seu
espiritualismo é voltado para a religiosidade e o misticismo. Seus três primeiros livros foram publicados
no Rio de Janeiro, em 1899, são: Dona Mística, Câmara Ardente e o Setenário das Dores de Nossa
Senhora. Kiriali que foi escrito antes, só foi publicado em 1902, na cidade do Porto, em Portugal. Em
1905 é nomeado juiz municipal da cidade de Mariana. Afonso Henrique da Costa Guimarães (seu nome
civil) morreu na cidade de Mariana, Minas Gerais, no dia 15 de julho de 1921.
Obras de Alphonsus de Guimaraens: Setenário das Dores de Nossa Senhora, poesia 1899; Dona
Mística, poesia, 1899 Câmara Ardente, poesia, 1899; Kiriale, poesia, 1902; Mendigos, prosa, 1920;
Pauvre Lyre, poesia, 1921; Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, poesia, 1923; Poesias (Nova
Primavera, Escada de Jacó, Pulvis, poesia, 1938.

Antologia Poética do
Simbolismo Brasileiro

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