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SIMBOLISMO

Prof. Capim
Simbolismo - introdução
A literatura simbolista foi uma reação às correntes
cientificistas e positivistas do último quartel do
século XIX.
A Europa vivenciava a ebulição da Segunda Revolução
Industrial, que trazia consigo, além do capitalismo
financeiro, as ideologias do empirismo e do determinismo.
Trata-se de uma
concepção técnico
analítica do mundo, em
que a realidade é apreendida
apenas pela quantificação e
análise de dados, em
prol do desenvolvimento da
técnica.
Simbolismo - introdução
É o auge da evolução burguesa, com a disputa das
grandes potências pela diversificação de mercados, de
consumidores e matéria-prima.
No entanto, essa mudança foi,
em grande parte,
negativa para os escritores
simbolistas que priorizavam
sobretudo, a exploração dos
ASPECTOS HUMANOS.

Nesse sentido, o SIMBOLISMO surgiu como uma recusa a


todos os valores ideológicos e existenciais da burguesia,
e não apenas como uma estética oposta à literatura, objetiva,
descritiva e plástica, mais especificamente a POESIA LÍRICA.
Simbolismo
O Simbolismo surge como consequência de uma CRISE
INDIVIDUAL que se instaura no fim do séc. XIX.
A crise é, portanto, marcada por fundo
pessimismo, devido à crença generalizada de que a
essência de tudo reside num mais além inacessível aos
homens, a preocupação com a “FORMAÇÃO DO EU”
Essa atitude de espírito recebe o nome de
Decadentismo, mais um estado de alma que
propriamente um movimento estético e à sensação de
decadência da civilização.
Nas artes, a projeção é de frustração, medo e desilusão
e o Simbolismo surge como uma forma de negar a realidade
objetiva. Renascem, assim, os IDEAIS ESPIRITUALISTAS.
Simbolismo
O artista assume então uma
POSTURA DISTANTE, afastada
da sociedade.
VOLTA-SE PARA SI MESMO
Impressões e intuições que
REFLETEM O TÉDIO E A
ANGÚSTIA provocados pelo
mundo que o rodeia
Com o FIM DO SÉCULO,
instaura-se o PESSIMISMO, o
questionamento sobre o lugar
da humanidade nesse “novo
mundo”
Arthur Schopenhauer “MEDO DO FIM DO MUNDO”
Simbolismo
O Simbolismo foi um movimento artístico que surgiu na
FRANÇA em fins do século XIX, sendo manifestado nas artes
plásticas, no teatro e na literatura.
O primeiro escritor a se rebelar foi
o poeta francês Charles
Baudelaire, hoje considerado
patrono da lírica moderna e
impulsionador de movimentos
como o PARNASIANISMO,
DECADENTISMO, MODERNISMO
e o próprio SIMBOLISMO.
Teve como marco inicial a
publicação da obra “As Flores
Charles Baudelaire
do Mal” (1857)
SPLEEN
Quando o céu plúmbeo e baixo pesa como tampa
Sobre o espírito exposto aos tédios e aos açoites,
E, ungindo toda a curva do horizonte, estampa
Um dia mais escuro e triste do que as noites;
Quando a terra se torna um calabouço horrendo,
Onde a Esperança, qual morcego espavorido,
As asas tímidas nos muros vai batendo
E a cabeça roçando o teto apodrecido;
Quando a chuva, a escorrer as tranças fugidias,
Imita as grades de uma lúgubre cadeia,
E a muda multidão das aranhas sombrias Tão renovadora para
Estende em nosso cérebro uma espessa teia, época que teve algumas
Os sinos dobram, de repente, furibundos edições proibidas por ser
E lançam contra o céu um uivo horripilante,
Como os espíritos sem pátria e vagabundos considerada imoral e
Que se põem a gemer com voz recalcitrante. obscura demais, ao
- Sem música ou tambor, desfila lentamente retratar sem meandros a
Em minha alma uma esguia e fúnebre carreta;
Chora a Esperança, e a Angústia, atroz e prepotente,
sexualidade, o uso de
Enterra-me no crânio uma bandeira preta. drogas e o satanismo.
“Tudo passa a ser visto como símbolo de uma
essência distante e praticamente inacessível
para o ser humano, que vaga perdido à vaga
procura de sentido para sua existência”
Simbolismo – Características literárias

Conhecimento
ilógico e intuitivo
da realidade
Valoriza a intuição
e os sentidos
humanos

Percepção das
essências
Lado obscuro
das coisas
Simbolismo – Características literárias
Sinestesia
Construção de versos que descrevem sons, aromas e
cores, pois os CINCO SENTIDOS são instrumentos de
captação dos símbolos ao redor

Explora o mundo visível, racional e objetivo.


Simbolismo – Características literárias
Subjetivismo

Uso da intuição como forma de aproximação


da realidade, texto centrado na visão
individual, onírica
Simbolismo – Características literárias
Concepção mística
do mundo
Abandono do
cientificismo e do
POSITIVISMO
Os simbolistas voltam-se para
a FÉ, MISTICISMO DIFUSO
ligado à tradição cristã
Clima de fluidez e
mistério
Crença na existência de um mundo ideal
alcançado somente pela beleza e pureza da poesia
Simbolismo – Características literárias

Alienação social
A sociedade não
interessa
A principal preocupação é
a sondagem do “eu”

Busca interior através


da sensibilidade, intuição
e busca do elemento
místico, espiritual.
Simbolismo – Características literárias
Linguagem evocativa
Para conseguir os efeitos
sugestivos, os autores
utilizam a “evocação de
imagens literárias”
Muita sonoridade e
musicalidade através de
aliterações e
assonâncias
Recursos imagéticos ,
metáforas, percepções
visuais.
Simbolismo em Portugal
Em Portugal registrou-se um
grande momento de crise
de natureza econômica
nos anos 90 e 91, assinalando
o descrédito do povo em
relação à monarquia.

É nessa conjuntura que surge


o grupo de escritores
conhecido como
“OS VENCIDOS DA VIDA”,
denominação que revela o
espírito depressivo que
se viveu na época .
Havia um ambiente
propício à mudança
de pensamento.
A nova concepção estética
passou a ser muito
debatida entre os
intelectuais da época.
Eça de Queiróz
chegou a publicar um ensaio
“Positivismo e
idealismo” no qual
observa uma reação
contra o positivismo e
a objetividade realista-
naturalista-parnasiana.
Essas inovações representaram uma quebra de continuidade
artísticas e foram bastante criticadas tanto pela
intelectualidade quanto pelo público.
O marco do Simbolismo
em Portugal é a publicação da
obra Oaristos (1890), livro de
poemas de Eugênio de
Castro.
O movimento literário, contudo,
já influenciava Portugal a partir
das revistas acadêmicas "Os
Insubmissos" e "Boêmia
Nova" que tinham entre seus
colaboradores os autores Eugênio
de Castro e Antônio Nobre.
Eugênio de Castro
O autor nasceu na cidade de
Coimbra, em 1869 e morreu em
1944.
Fez o curso de Letras em Lisboa
e, ainda estudante publica alguns livros,
mas sem tornar-se conhecido.
Após a formatura vai a Paris e entra em
contato com o Simbolismo
francês.
Foi injustiçado quanto à fama – foi
autor de poemas que nos mostram uma
musicalidade sem
precedentes em Portugal.
Uso de SINESTESIAS, uso excessivo de ALITERAÇÕES, emprego
sistemático de RIMAS RARAS, uso de PALAVRAS EXÓTICAS.
Antônio Nobre
Nascido no Porto, em 1867,
onde fez seus estudos iniciais
Parte para Coimbra com a finalidade
de ingressar no curso de
Direito.
Decepcionado com a vida acadêmica
portuguesa, vai à Paris buscar alento
para fazer outros cursos e entra em
contato direto com o
Simbolismo.
Em 1892 publica, ainda na França, o livro
Só, única obra editada em vida.
Volta a Portugal, perambula pela Ilha da Madeira, Suíça e Nova
York. Volta a Portugal, onde falece de tuberculose em 1900
Recebeu grande influência de Paul Verlaine
Poesia delicada de traços nitidamente femininos,
sentimentais e emotivos.
Virgens que passais...
Virgens que passais, ao Sol-poente,
Musicalidade, Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
melancolia e tédio Que me transporte ao meu perdido lar.

marcam sua poesia. Cantai-me, nessa voz omnipotente,


O sol que tomba, aureolando o Mar
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!
Aparecem em seus Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
poemas a sinestesia Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas
e o spleen Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz...cantai !
Um tema constante do poeta é a INFÂNCIA e as imagens
que retira dela: detalhes, sugestões, manchas de recordações,
misturados aos ambientes provincianos de Portugal.
Menino e moço
Tombou da haste a flor da minha infância alada,
É PESSIMISTA,
Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim: inconformado – usa
Voou aos altos Céus a pomba enamorada tom marcadamente
Que dantes estendia as asas sobre mim. coloquial.
Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada
E que era sempre dia, e nunca tinha fim
Essa visão de luar que vivia encantada,
Num castelo de prata embutido a marfim!
O livro Só, ficou
conhecido como
Mas, hoje, as pombas de oiro, aves da minha infância,
Que me enchiam de Lua o coração, outrora, “o livro mais triste
Partiram e no Céu evolam-se, a distância! que há em
Debalde clamo e choro, erguendo aos Céus meus ais: Portugal”
Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,
Elas, porém, Senhor! elas não voltam mais...
Camilo Pessanha
Camilo de Almeida Pessanha nasceu em Coimbra,
Portugal, no dia 7 de setembro de 1867.
Filho de António de Almeida
Pessanha, um profissional do
direito, e de Maria do Espírito
Santo Duarte Nunes Pereira, uma
empregada da família de
António
Durante sua infância, viveu
em várias regiões de
Portugal, já que seu pai,
agora como juiz, era de
tempos em tempos transferido
para outras comarcas.
Logo após terminar o ensino médio, Camilo Pessanha ingressa
no Curso de Direito da Universidade de Coimbra.
Durante seu período acadêmico, começou a publicar poemas em
revistas e jornais da região e levava uma vida boêmia,
o que refletia em sua saúde.
Em 1891, se torna bacharel em
direito e um ano depois, ingressa na
magistratura, tornando-se
procurador régio da cidade de
Mirandela.
Após sofrer uma desilusão
amorosa, por ter seu pedido de
casamento recusado, escolheu
Macau, na época colônia de
Portugal, para seu exílio voluntário.
Após um concurso para professores para a escola secundária de
Macau, em 1894, passou a atuar como professor de filosofia.
Anos mais tarde, também lecionou economia, direito
comercial e português. Tornou-se servidor público em
1900 e 4 anos depois chegou a juiz substituto.

Sua saúde frágil, aliado ao vício em ópio levou Pessanha a


fazer várias viagens à Portugal a fim de se tratar.
O uso excessivo de ópio, fez com que o poeta desenvolvesse
tuberculose, doença que tirou sua vida no dia 1 de março
de 1926.
É o mais autêntico, o mais importante e o mais singular
entre todos os simbolistas portugueses.
Seus poemas demonstravam a CAMINHO I

dor da existência e o Tenho sonhos cruéis; n'alma doente


peso da realidade – Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
características do simbolismo. Embebido em saudades do presente...

Além disso, eles apresentavam Saudades desta dor que em vão procuro
ruptura total com Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
estruturas tradicionais da Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

escrita para aquela época. Porque a dor, esta falta d'harmonia,


Toda a luz desgrenhada que alumia
Jogo com as palavras e As almas doidamente, o céu d'agora,
estruturas musicais são Sem ela o coração é quase nada:
frequentes em suas produções Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
literárias.
Entre as “imagens vivas” encontradas em suas poesias
destacam-se a pintura, a música e principalmente as cores.
Constantemente sugeria a criação de atmosferas
abstratas e com sensações sensoriais.
AO LONGE OS BARCOS DE FLORES
Algumas de suas obras
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranqüila, foram inspiradas na
- Perdida voz que de entre as mais se exila, união de seus
- Festões de som dissimulando a hora
pais.
Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora... Ele, estudante de direito e
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila. membro da
E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora, aristocracia e ela,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
uma criada que
Quem sabe a dor que sem razão deplora? trabalhava na casa de sua
Só, incessante, um som de flauta chora... família.
Captava o vago, o sutil, o quase intraduzível em palavras
Expunha os estados NA CADEIA

indefiníveis da alma na cadeia os bandidos presos!


o seu ar de contemplativos!
que sofre que é das feras de olhos acesos?!
pobres dos seus olhos cativos
Musicalidade passeiam mudos entre as grades,
delicada e fina parecem peixes num aquário.
- campo florido das saudades,
A relação entre o corpo e porque rebentas tumultuário?

a alma (mais
serenos... serenos... serenos...
trouxe-os algemados a escolta.
especificadamente, o - estranha taça de venenos
meu coração sempre em revolta.
‘estranhamento’ entre o
coração, quietinho... quietinho...
corpo e o ‘eu’); porque te insurges e blasfemas?
pschiu... não batas... devagarinho...
Fuga ao tom declamatório olha os soldados, as algemas

ou retórico.
Simbolismo no Brasil
Na segunda metade do século
XIX, o capitalismo europeu
deixava evidente a
disparidade social
entre a elite econômica e o
proletariado.

Se, de um lado, a
burguesia enriquecia, de
outro, os trabalhadores
viviam uma realidade de
miséria.
No Brasil, o Simbolismo surgiu após a Abolição da
Escravatura (1888) e a Proclamação da
República (1889).

Nesse contexto, havia a miséria dos escravos


libertos, um problema social e étnico que se estenderia pelas
gerações afora, além dos conflitos políticos ocasionados pela
ditadura empreendida por Floriano Peixoto (1839-1895),
que durou de 1891 a 1894.
Além do mais, no Nordeste, os problemas sociais relacionados
à seca levaram à Guerra de Canudos (1896-1897).
Esse estilo surgiu como uma forma de negar a realidade
objetiva, em um momento marcado pela frustração e medo.

A vida como ela é já não interessava mais a esses artistas, nem a


um povo cansado de tão dura realidade. Assim sendo, as obras
de caráter realista, segundo aqueles mais sensíveis, deveriam ser
substituídas pela subjetividade e
espiritualidade
O Simbolismo no Brasil
surgiu como influência para o teatro
e as artes plásticas, além da
literatura.

Seu marco no país foi em 1893,


quando o poeta Cruz e Souza
publicou as obras “Missal” e
“Broquéis”.
Cruz e Sousa
João da Cruz e Sousa nasceu em novembro de 1861,
em Desterro (hoje Florianópolis-SC). Negro, filho de escravos.
Receberia, como de costume na
sociedade escravocrata e paternalista
da época, sobrenome e proteção
dos donos da fazenda, Marechal
Guilherme Xavier de
Sousa e sua mulher Clarinda
da Cruz e Sousa , firmados no
apadrinhamento e na educação
formal enquanto, simultaneamente,
os pais continuavam vivendo no
porão da casa senhorial.
Talentoso, aos oito anos de idade Cruz e
Sousa revela-se um poeta precoce ao declamar
versos de sua autoria, homenageando o
retorno do coronel Xavier de Sousa da Guerra
do Paraguai e sua promoção a marechal.
No período de 1871 a 1875, o jovem cursa, como
bolsista, o Ateneu Provincial Catarinense,
estabelecimento educacional frequentado pelos
filhos das camadas dominantes do Desterro.
Aluno brilhante, Cruz e Sousa destaca-se em
matemática e línguas: francês, inglês, latim e grego.
Culto e erudito, o poeta foi leitor sofisticado:
Baudelaire, Leconte de Lisle, Leopardi, Antero
de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros
autores europeus de seu tempo.
Foi diretor do jornal abolicionista Tribuna Popular em 1881.
Dois anos mais tarde, foi nomeado promotor público
de Laguna (SC), no entanto, nunca assumiu o cargo
por ser negro.
Depois de algum tempo no Rio Grande
do Sul e após enfrentar
represália para não sair de sua terra
natal por motivo de preconceito, o
autor fixa residência no Rio de Janeiro,
onde trabalhou em empregos que não
condiziam com sua
capacidade e formação
Foi colaborador do jornal "Folha
Popular" e das revistas “Ilustrada” e
“Novidades”.
Casou-se com Gavita Gonçalves, com quem teve
quatro filhos, os quais morreram precocemente
por tuberculose, o que deixou-a enlouquecida em
1896. Foi o escritor quem cuidou da esposa, em casa mesmo.
Esse momento trágico de sua vida está refletido em algumas de
suas obras, as quais estão pautadas nos temas da
solidão, dor e sofrimento.
Cruz e Souza também foi acometido pela tuberculose.
Assim, resolve mudar para Minas Gerais com o intuito de
melhorar sua saúde.
Faleceu na cidade mineira de Curral Novo, em 19 de março
de 1898 com 36 anos, vítima de tuberculose.
Ele foi apelidado de “Dante Negro” em referência ao
escritor humanista italiano Dante Alighieri.
Sua poesia, inicialmente, foi
influenciada pelo Romantismo
No entanto, essas
de origem contestadora de
influências foram dando
Castro Alves e pela ideia realista
lugar à visão simbolista
baseada na crítica social,
mais voltada à
carregada de impulsos pessoais
poetização de verdades
e dos sofrimentos causados pela
existenciais subjetivas.
miséria, desprezo e condição
social.

Suas obras são marcadas pela musicalidade (uso de


aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, ora
pelo desespero, ora pelo apaziguamento, além de uma
obsessão pela cor branca - manifestada por sua
condição racial e a tentativa de superá-la.
Cruz e Souza
1ª Fase 2ª Fase 3ª Fase
A primeira fase A segunda fase do A terceira fase de
corresponde aos poeta corresponde à Cruz e Sousa é
livros Missal e publicação de revelada nos
Broquéis (1893). Faróis (1900), onde é versos de Últimos
Onde o poeta revelada a Sonetos,
demonstra a angústia e a publicados em
dor e o melancolia. 1905.
sofrimento de Seus poemas trazem É considerado o
ser negro, e os como tema período que
conflitos entre principal a reflete a
o morte, o tédio, resignação e
transcendental a revolta e o a fé conquistadas
e os apelos desespero pelo poeta.
sensuais. interior.
A MORTE
SONHO BRANCO
Oh! que doce tristeza e que ternura
De linho e rosas brancas vais vestido,
No olhar ansioso, aflito dos que
Sonho virgem que cantas no meu peito!...
morrem…
És do Luar o claro deus eleito,
De que âncoras profundas se socorrem
Das estrelas puríssimas nascido.
Os que penetram nessa noite escura!
Por caminho aromal, enflorescido,
Da vida aos frios véus da sepultura
Alvo, sereno, límpido, direito,
Vagos momentos trêmulos decorrem…
Segues radiante, no esplendor perfeito,
E dos olhos as lágrimas escorrem
No perfeito esplendor indefinido...
Como faróis da humana Desventura.
As aves sonorizam-te o caminho...
Descem então aos golfos congelados
E as vestes frescas, do mais puro linho
Os que na terra vagam suspirando,
E as rosas brancas dão-te um ar nevado...
Com os velhos corações tantalizados.
No entanto, Ó Sonho branco de
Tudo negro e sinistro vai rolando
quermesse!
Báratro a baixo, aos ecos soluçados
Nessa alegria em que tu vais, parece
Do vendaval da Morte ondeando,
Que vais infantilmente amortalhado!
uivando…
Alphonsus de Guimaraens
Afonso Henrique da Costa Guimarães, nasceu em Ouro
Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de 1870.
Aos 17 anos se apaixonou pela prima Constança,
filha do escritor Bernardo Guimarães seu tio-avô
Com a morte prematura da prima,
em 1888, o poeta abandona o curso de
Engenharia e se entrega a vida boêmia.
Em 1891 inicia o curso de Direito na
Faculdade de Direito do Largo de
São Francisco, entrando em contato
com os poetas simbolistas.
Casou-se com Zenaide,
uma jovem de dezessete anos com
quem teve quatorze filhos.
Alphonsus de Guimaraens é nomeado promotor de Conceição
de Serro e algum tempo depois Juiz em Mariana, Minas
Gerais, onde reside definitivamente até a sua morte.

Por volta dos 29 anos, em 1899, o poeta publica seus primeiros


livros de poemas. “Setenário das Dores de Nossa Senhora”,
“Câmara Ardente” e “Dona Mística”.
Muitas de suas obras foram divulgadas depois de ocorrer seu
falecimento, entretanto, Alphonsus lançou “Kiriale” com
poesias com características do Simbolismo e “Mendigos”,
um livro de crônicas, antes de sua morte.
A poesia de Alphonsus Seus sonetos apresentam uma
de Guimaraens é estrutura clássica e são
marcadamente profundamente religiosos e
mística e envolvida sensíveis, a medida em que
com religiosidade explora o sentido da
católica morte, do amor
impossível, da solidão e da
O tom místico imprime inadaptação ao mundo.
em sua obra um
sentimento de Característica marcante de sua
aceitação e obra é a espiritualidade da
resignação diante figura feminina, que descrita
da própria vida, dos como anjo, ou um ser celestial.
sofrimentos e É simultaneamente neo-
dores. romântico e simbolista.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Piedosa: o olhar nunca baixou à terra Viu outra lua no mar.
Fitava o céu, porque era pura e santa ... No sonho em que se perdeu,
Tinha o orgulho fidalgo de uma Infanta Banhou-se toda em luar...
Que entre escudeiros e lacaios erra. Queria subir ao céu,
Deusa nenhuma, por mais alta, encerra Queria descer ao mar...
Em si, talvez, misericórdia tanta: E, no desvario seu,
Ainda hoje na minha alma se alevanta Na torre pôs-se a cantar...
Como uma cruz no cimo de uma serra. Estava perto do céu,
Foi-lhe a vida um eterno mês-de-maio. Estava longe do mar...
Cheio de rezas brancas a Maria, E como um anjo perdeu
Que ela vivera como num desmaio. As asas para voar...
Tão branca assim! Fizera-se de cera ... Queria a lua do céu,
Sorriu-lhe Deus e ela que lhe sorria, Queria a lua do mar...
Virgem voltou como do céu descera. As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

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