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Simbolismo no

Brasil
Prof. Evelyn Assis de Souza
O que foi o Simbolismo
O simbolismo é um movimento artístico que surgiu no século XIX e teve como
principais características o subjetivismo, o espiritualismo, a religiosidade e o
misticismo. Na época em que se desenvolveu, o capitalismo e a industrialização
estavam se consolidando na cena mundial, e diversas descobertas científicas
transmitiam a ideia de evolução da civilização. No entanto, isso acabou gerando
muitos problemas sociais, como o aumento das desigualdades, o que levou os
artistas a negarem a ideia de progresso. Essa corrente artística, que se manifestou
na literatura e na pintura, se aproximou dos ideais românticos de subjetivismo,
idealismo e individualismo. Assim, a objetividade foi posta de lado para dar lugar a
uma nova abordagem mais subjetiva, individual, pessimista e ilógica. O simbolismo
rejeitou as ideias dos movimentos anteriores. Ele se afastou do rigor estético e do
equilíbrio formal do movimento parnasiano, buscando se distanciar do materialismo
extremo e da razão. Dessa forma, explorou temas mais espirituais representando a
realidade de uma forma diferente e mais idealizada. Houve grande interesse pelas
zonas mais profundas da mente humana, como o universo inconsciente e
subconsciente, mostrando uma arte mais pessoal, emocional e misteriosa.
O que estava acontecendo?
• O progresso do capitalismo;
• O aumento das desigualdades
sociais;
• A disputa dos interesses
econômicos e políticos de algumas
potências europeias;
• O imperialismo e o neocolonialismo
alavancados pela industrialização.
Simbolismo no Brasil
● O simbolismo no Brasil surge em
1893 com a publicação de "Missal" e
"Broquéis", de Cruz e Souza. Esse é
considerado o maior representante
do movimento no país, ao lado de
Alphonsus de Guimarães.
Características
1. Oposição à realidade objetiva

Os temas abordados pelos artistas simbolistas


como a morte, a dor de existir, a loucura e o
pessimismo são subjetivos, se afastando da
realidade objetiva e de assuntos relacionados com
a esfera social.

A projeção é de frustração, medo e desilusão, e o


simbolismo surge como uma forma de negar a
realidade objetiva. Renascem, assim, os ideais
espiritualistas.
2. Transcendência, misticismo e
espiritualidade
A arte simbolista busca transcender a realidade por meio
do misticismo e da espiritualidade, ao mesmo tempo que
tenta encontrar nas zonas mais profundas da alma
respostas para as angústias e dores.

Esses fatores se relacionam diretamente com o contexto


histórico em que está inserida essa corrente artística,
pois esse momento é marcado por uma crise espiritual.
Isso leva os artistas a sentirem e analisarem o mundo,
as coisas e os seres de maneira diferente.
3. Presença de religiosidade
Embora diversos temas da arte simbolista estejam relacionados com um universo
mais sombrio e misterioso, é possível identificar em algumas obras uma visão
cristã aliada ao desejo da fuga da realidade.

Marcado pela busca do homem pelo sacro e de um sentimento de totalidade, a


literatura simbolista faz da poesia uma espécie de religião. Dessa forma, muitos
escritores simbolistas utilizam palavras do vocabulário litúrgico que reforçam essa
característica, tais como: altar, arcanjo, catedral, incenso, salmo, cântico.
4. Valorização do “Eu” e da psiquê humana

Contrário ao objetivismo, no movimento simbolista


o “eu” é valorizado e a verdade é encontrada
através da consciência humana.

Dessa maneira, há um grande interesse pelas


zonas mais profundas da mente, como o
inconsciente e o subconsciente.
5. Linguagem vaga, imprecisa e sugestiva

O simbolismo apresenta uma linguagem muito particular,


envolta em mistério e com grande expressividade e
musicalidade. Esses atributos proporcionam às obras os
ideais imateriais e psíquicos característicos do
movimento.

Assim, a linguagem simbolista é sugestiva, pois sugere


algo em vez de nomear, ou explicar objetivamente.
6. Uso excessivo de figuras de linguagem
Nas obras simbolistas, há forte presença das figuras de linguagem, pois mais
importante do que o significado real das palavras, estão os sentidos poéticos, as
sonoridades e as sensações.

As figuras mais utilizadas são: as metáforas e as comparações (que focam no


sentido poético); as aliterações, as assonâncias e as onomatopeias (que
promovem a sonoridade); e as sinestesias (que sugerem a mistura de campos
sensoriais distintos).
7. Preferência pelos sonetos

Embora tenha se manifestado na prosa, foi na


poesia que o simbolismo atingiu grande
reconhecimento.

De caráter subjetivo e lírico, os escritores


simbolistas preferiram expressar seus dramas
existenciais através de sonetos, forma fixa poética
composta por dois quartetos e dois tercetos.
8. Retomada de elementos Românticos

O simbolismo retoma alguns elementos românticos


almejando ir além do aspecto palpável das coisas.
Podemos citar o subjetivismo, a irracionalidade, o gosto
pelo mistério e por ambientes noturnos.

Dessa forma, os temas explorados por ambos


movimentos se aproximam como a dor de viver, a
angústia do ser humano, os dramas existenciais, a
tristeza profunda e a insatisfação.
6. Valorização da simbologia, em oposição ao
cientificismo
A arte simbolista opõe-se ao cientificismo, levantando a questão sobre a validade
da ciência para explicar os fenômenos da natureza.

Os artistas simbolistas acreditam que a ciência é limitante, colocando em dúvida


sua capacidade absoluta. Dessa maneira, as ideias são apresentadas de maneira
simbólica, na qual se acredita estar o verdadeiro sentido de tudo.
10. Oposição ao mecanismo e a
aproximação do universo do sonho
O movimento simbolista passa a ser a rejeição ao
mecanicismo, por meio do sonho, da tendência
cósmica e do absoluto.

Aliado à sondagem interior da mente, os artistas


humanistas buscavam explicações através de
sonhos, onde o universo onírico (relativo aos
sonhos) fazia parte da realidade subjetiva e dos
estados contemplativos.
Principais
autores e obras
Cruz e Sousa (1861 – 1898)
Considerado o precursor do simbolismo no
Brasil, João da Cruz e Sousa foi um poeta
brasileiro nascido em Florianópolis.

Sua obra é marcada pela musicalidade e


espiritualidade com temáticas individualistas,
satânicas, sensuais. Suas principais obras: Missal
(1893), Broquéis (1893), Tropos e fantasias
(1885), Faróis (1900) e Últimos Sonetos (1905).
Livre
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava


dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,


mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,


para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
Alphonsus de Guimarães
(1870 – 1921)
Um dos principais poetas simbolistas do
Brasil, Afonso Henrique da Costa Guimarães,
possui uma obra marcada pela sensibilidade,
espiritualidade, misticismo, religiosidade. Sua
temática é a morte, a solidão, o sofrimento e o
amor.

Sua produção literária apresenta características


neorromântico, árcades e simbolistas. Principais
obras: Setenário das dores de Nossa Senhora
(1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902),
Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923).
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu, E como um anjo pendeu
Viu outra lua no mar. As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
No sonho em que se perdeu, Queria a lua do mar...
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu, As asas que Deus lhe deu
Queria descer ao mar... Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
E, no desvario seu, Seu corpo desceu ao mar...
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...
Augusto dos Anjos
(1884 – 1914)
Foi um dos grandes poetas brasileiros simbolistas,
embora, muitas vezes, sua obra apresente
características pré-modernas.

Patrono da cadeira número 1 da Academia


Paraibana de Letras, publicou um livro intitulado
“Eu”, e foi chamado de “Poeta da morte”. Isso
porque seus poemas exploram temas sombrios.
Ecos d’Alma
Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
Sombra perdida lá do meu Passado, Mas quando vibrar a última balada
Vinde entornar a clâmide puríssima Da tarde e se calar a passarada
Da luz que fulge no ideal sagrado! Na bruma sepulcral que o céu embaça,

Longe das tristes noutes tumulares Quem me dera morrer então risonho,
Quem me dera viver entre quimeras, Fitando a nebulosa do meu Sonho
Por entre o resplandor das Primaveras E a Via-Láctea da Ilusão que passa!
Oh! madrugada azul dos meus sonhares;

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