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Patrocínio:

Simbolismo
Movimento literário do fim do século XIX, o
simbolismo propunha um retorno poético
ao transcendente e às questões
metafísicas abandonadas pela objetividade
realista.

Desenho de livros, papel, tinta e pena,


símbolos que evocam o fazer literário.

O simbolismo foi uma tendência


literária que nasceu na França, com as
teorias estéticas de Charles Baudelaire,
e floresceu principalmente na poesia, em
diversas partes do mundo ocidental, no
final do século XIX. É o último
movimento antes do surgimento do
modernismo na literatura, por isso é
também considerado pré-moderno.

Como o nome aponta, a poesia


simbolista propunha um resgate dos
símbolos, isto é, de uma linguagem que
compreendesse uma universalidade. O
poeta é, aqui, um decifrador dos
símbolos que compõem a natureza ao
seu redor. Contra a superficialidade
material do corpo, a objetividade do
realismo e as descrições animalescas do
naturalismo, o simbolismo quer
mergulhar no espírito, que se relaciona a
algo maior, a uma instância coletiva
universal, a uma transcendência.

Saiba mais: Linguagem literária: qual é a


diferença?

Resumo sobre o
simbolismo
Foi um movimento literário do final
do século XIX, de origem francesa.
Buscava, por meio da palavra, a
conexão entre o mundo material e
espiritual.
Tinha temáticas transcendentes e
metafísicas.
Sinestesia, vocabulário etéreo,
antíteses e paradoxos, uso de
pausas, aliterações e musicalidade
rítmica são características dessas
composições.
Principais autores europeus:
Baudelaire, Mallarmé, Verlaine,
Rimbaud.
Principais autores brasileiros: Cruz
e Sousa, Alphonsus de
Guimaraens, Augusto dos Anjos
(este último tido como “pós-
simbolista” ou “pré-moderno”).

Contexto histórico
A literatura simbolista foi uma reação
às correntes cientificistas e positivistas
do último quartel do século XIX. A
Europa vivenciava a ebulição da Segunda
Revolução Industrial, que trazia consigo,
além do capitalismo financeiro, as
ideologias do empirismo e do
determinismo. Trata-se de uma
concepção técnico analítica do mundo,
em que a realidade é apreendida apenas
pela quantificação e análise de dados,
em prol do desenvolvimento da técnica.

Havia um otimismo predominante no


avanço da indústria, expresso na ideia
do progresso. Os simbolistas,
entretanto, percebem no surgimento
das metrópoles, acompanhado da
miséria, da sujeira industrial e da
exploração da força de trabalho, uma
decadência desesperada, uma morbidez
que nada tem de progressista.

Por isso, direcionam sua lírica não para


as descrições objetivas, mas para uma
tentativa de conciliação entre matéria
e espírito, tentativa de resgate de uma
humanidade deteriorada. Por essa
postura, foram também chamados
“decadentistas” e “malditos”.

Os simbolistas questionaram as
conclusões racionalistas e mecânicas
em voga na época, pois elas não davam
espaço à existência do sujeito, servindo
apenas como combustível para a
ascensão da burguesia industrial.
Buscavam algo além do materialismo
e além do empirismo: um sentido de
universalidade, que seria recuperado por
meio da linguagem poética. Buscavam,
ao contrário da impessoalidade
numérica e tecnológica, os valores
transcendentais — o Bom, o Verdadeiro,
o Belo.

Leia também: Romantismo: movimento


estético que se baseava nos valores
burgueses

Características do
simbolismo
Uso de pausas, reticências, espaços
em branco e rupturas sintáticas
para representar o silêncio
metafísico;
Sinestesia: construção de versos
que descrevem sons, aromas e
cores, pois os cinco sentidos são
instrumentos de captação dos
símbolos ao redor;
Temáticas voltadas à interioridade
humana, ao êxtase do espírito;
Vocabulário etéreo e remissões ao
Nada e ao Absoluto;
Presença comum de antíteses e
oposições, graças às tentativas de
encarnar o que é divino e
espiritualizar o que é terreno: o
poema é a forma de conciliação
entre os planos material e
espiritual;
Entendimento da poesia como uma
visão da existência;
Presença da religiosidade, não
somente cristã como também
oriental, compondo a busca
simbolista da transcendência;
Descrições crepusculares,
presença simultânea de luz e
sombra;
Imagens sombrias, lúgubres,
decadentes;
Afrouxamento do rigor métrico
parnasiano, dando espaço para
metrificações irregulares e versos
livres;
Conceito musical do poema.

O poema “Correspondências”, de
Charles Baudelaire, tem no seu próprio
título a ideia central do simbolismo: a
linguagem simbolista pretende
estabelecer uma correspondência
entre o plano material e o plano
transcendental, entre o divino e o
profano.

Correspondências

A Natureza é um templo vivo em que os


pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque
de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos
familiares.

Como ecos longos que à distância se


matizam
Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a
claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se
harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos


infantes,
Doces como o oboé, verdes como a
campina,
E outros, já dissolutos, ricos e
triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais


termina,
Como o almíscar, o incenso e as resinas
do Oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da
mente.

(Charles Baudelaire, As flores do mal,


1857, trad. Ivan Junqueira)

A evocação da espiritualidade está


presente já no primeiro verso, em que a
Natureza, iniciada em letra maiúscula,
como uma entidade, é caracterizada
como um templo vivo, ou seja, há uma
vida espiritual oculta por trás da
existência material das coisas. O homem
cruza esse templo vivo em meio a um
bosque de símbolos. E esses símbolos
olham os homens com familiaridade —
pois aqueles geralmente são
convencionais, isto é, existem por
causa de seu sentido coletivo.

O poeta fala em ecos, sons, cores e


perfumes: é a presença da captação
sinestésica dos símbolos. A linguagem
poética é a decifradora, a que
estabelece uma ponte, uma
correspondência entre o mundo material
e o mundo do espírito. A referência ao
almíscar, incenso e resinas do Oriente
também retoma essa sensibilidade
sinestésica, bem como faz referência a
um universo espiritual, que faz uso
dessa prática aromática como contato
com o transcendental.

É possível verificar as típicas


características simbolistas também em
Cruz e Sousa, principal expoente
brasileiro do movimento:

Imortal atitude

Abre os olhos à Vida e fica mudo!


Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado tudo
De uma luz imortal e transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,


A alma risonha, lúcida, vidente...
E abandonar o sujo deus cornudo,
O sátiro da Carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,


O infinito gemido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços


Para o eterno Silêncio dos Espaços
e no Silêncio emudecer olhando...

(Cruz e Sousa, Últimos sonetos, 1905)

O poema começa com a sugestão ao


sentido da visão: abrindo os olhos à Vida
(também o recurso das letras
maiúsculas como evocação simbólica do
vocábulo), tudo se ilumina, tudo tende à
transcendência. A segunda estrofe
equipara a fé à sensibilidade, e despreza
o aspecto material, carnal da existência,
preferindo a exaltação do espírito — a
alma risonha abandona “o sujo deus
cornudo”, “sátiro da Carne”.

Na terceira estrofe, Cruz e Sousa passa


a descrever emanações sensoriais
auditivas — rugidos e gemidos da
existência mortal fazem oposição ao
“eterno Silêncio dos Espaços” que
aparece na última estrofe, seguindo a
cadência de antíteses e paradoxos
simbolista.

Simbolismo na Europa
É na França da última metade do século
XIX que surge o simbolismo,
caracterizado por ser uma escola de
“poetas malditos” e “decadentes”,
boêmios, frequentadores da noite
parisiense e não raro apresentando
comportamentos escandalosos.

Charles Baudelaire (1821-


1867)

Retrato do poeta Charles Baudelaire,


importante poeta simbolista.[1]

Sua publicação intitulada As flores do


mal, lançada em 1857, é considerada
precursora do movimento simbolista.
Sua teoria das correspondências
concebe o mundo visível como uma
correspondência de um mundo invisível
e superior, que deve ser alcançado pelo
poeta por meio de seu trabalho com a
linguagem, e acabou por inspirar ou
preconizar o simbolismo francês, que
surgiria como movimento algum tempo
depois.

A descrição etérea do poente no poema


“Harmonia da tarde”, proposta de um
mundo que evapora, repleto de sons e
aromas e da evocação de um Universo
que concebe mais do que a mera
apresentação objetiva do movimento da
terra em torno do Sol, é um exemplo da
influência que Baudelaire exercerá na
corrente literária simbolista:

Harmonia da tarde

Chegado é o tempo em que, vibrando o


caule virgem,
Cada flor se evapora igual a um
incensório;
Sons e perfumes pulsam no ar quase
incorpóreo;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!

Cada flor se evapora igual a um


incensório;
Fremem violinos como fibras que se
afligem;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!
É triste e belo o céu como um grande
oratório.

Fremem violinos como fibras que se


afligem,
Almas ternas que odeiam o nada vasto e
inglório!
É triste e belo o céu como um grande
oratório;
O sol se afoga em ondas que de sangue
o tingem.

Almas ternas que odeiam o Nada vasto e


inglório
Recolhem do passado as ilusões que o
fingem!
O sol se afoga agora em ondas que de
sangue o tingem...
Fulge a tua lembrança em mim qual
ostensório!

(Charles Baudelaire, As flores do mal,


1857, trad. Ivan Junqueira)

Baudelaire escreveu também ensaios


em que usou a palavra modernidade
para descrever as mudanças trazidas
pelo impacto do desenvolvimento da
indústria em uma Europa que
rapidamente transformava-se. Foi um
dos primeiros autores a dar essa
sugestão, chamando atenção de seus
contemporâneos para a conscientização
de si mesmos enquanto modernos.

É considerado um pioneiro do que


depois se entendeu por modernismo,
por sua tendência a desprezar aquilo
que fora concebido como cultura
clássica, roupa que já não servia ao seu
tempo presente, efêmero, da produção
e urbanização em larga escala.

Principais obras de Baudelaire: As flores


do mal (1857) — poesia; Curiosidades
estéticas (1869) — prosa; Pequenos
poemas em prosa (1869).

Stéphane Mallarmé (1842-


1898)

Autor conhecido por seu hermetismo:


a complexidade do mundo que se erigia
perpassa a construção de seus versos,
guiados pela temática da
impossibilidade e por uma busca
perpétua da perfeição da forma, em
constante angústia que o leva a propor
jogos de composição poética, cuja
genialidade foi reconhecida tardiamente.

Foi um grande influenciador das


vanguardas literárias e está entre os
precursores da poesia concreta,
principalmente pelo poema longo “Um
jogo de dados”, escrito em versos livres
e em tipografia revolucionária para a
época.

“Tristeza de verão”, por sua vez, é um


dos diversos exemplos de textos do
autor relacionados à tradição simbolista:

Tristeza de verão
O sol, na areia, aquece, ó brava
adormecida,
O ouro da tua coma em banho
langoroso,
Queimando o seu incenso em tua face
aguerrida,
E mistura aos teus prantos um filtro
amoroso.

Desse branco fulgor a imóvel calmaria


Te faz dizer, dolente, ó carícias
discretas,
‘Jamais nós dois seremos uma múmia
fria
Sob o antigo deserto e as palmeiras
eretas!’

Porém os teus cabelos, rio morno,


imploram
Para afogar sem medo a nossa alma
triste
E encontrar esse Nada que em teu ser
não medra.

Degustarei o bistre que teus cílios


choram
Para ver se ele doa àquele que feriste
A insensibilidade do azul e da pedra.

(Stéphane Mallarmé, 1864, trad.


Augusto de Campos)

No exemplo destacam-se como


elementos tipicamente simbolistas: as
descrições sinestésicas do calor do
sol em analogia ao incenso; a presença
da morbidez da múmia em contraste
com a visão solar, vital; o componente
da tristeza, sinal do descompasso com o
mundo contemporâneo; a temática do
Nada, aspiração do esvaziamento
absoluto; e o trabalho com o simbólico
evocado pelos termos “azul” e “pedra”
como veiculadores de insensibilidade.

Principais obras de Mallarmé: Poesias


(1887); e Divagações (1897) — ensaios
em prosa.

Paul Verlaine (1844-1896)

Grande influenciador do brasileiro


Alphonsus de Guimaraens, Verlaine é
conhecido por seus tons outonais e sua
constante tentativa de conciliação entre
um comportamento reprovável (o autor
chegou a atirar no próprio amante, o
célebre Rimbaud) e uma aspiração
mística com ares de pureza
transcendental.

É ele, aliás, quem propõe o termo “poeta


maldito”. Além de sonetos, compôs
também em prosa e em versos livres.
Apesar de o poeta nunca ter se
entendido como vinculado a nenhuma
corrente, sua obra tem nítidos matizes
da escola simbolista:

Canção de outono

Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.

(Paul Verlaine, 1866, trad. Guilherme de


Almeida)

O trabalho com as aliterações dá ao


poema uma musicalidade que evoca
sinestesicamente o próprio som dos
violões que descreve. O tom outonal, a
resposta melancólica e pálida, a vida
comparada a uma folha caída que voa
com o vento ressoam a atmosfera
simbolista.

Principais obras de Verlaine: Poemas


saturninos (1866); e Os poetas malditos
(1884).

Arthur Rimbaud (1854-1891)

Ícone da poesia francesa, Rimbaud


recebeu influências de Verlaine e
influenciou-o — os dois conheceram-se
em meados dos anos 1870 e
envolveram-se amorosamente,
relacionamento que escandalizou a
cidade à época. O caráter sensorial dos
versos de Rimbaud eternizou-o
canonicamente como um dos maiores
poetas de seu tempo, embora tenha
escrito apenas até os 20 anos de idade.

Retrato do jovem poeta Arthur


Rimbaud.

A eternidade

De novo me invade.
Quem? — A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,


Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.

(Arthur Rimbaud, trad. Augusto de


Campos)

A musicalidade dos versos, o trabalho


com o domínio do simbólico (noite, fogo,
mar, sol) e a temática da existência
mortal com a dimensão transcendental
da Eternidade e da alma são
características do simbolismo nesse
poema de Rimbaud.

Principais obras de Rimbaud:


Iluminações, 1872 (poesia); e Uma
temporada no inferno, 1873 (poemas em
prosa).

Simbolismo no Brasil
O movimento simbolista brasileiro
incorporou, grosso modo, os
procedimentos composicionais do
simbolismo francês. No entanto, as
cenas noturnas de boemia e o epíteto de
malditos são substituídos por uma
literatura de tons mais religiosos e
litúrgicos.

João da Cruz e Sousa (1863-


1898)

Figura central do Simbolismo


brasileiro, Cruz e Sousa nasceu em
Florianópolis. Filho de escravos
alforriados, mas, tendo participado de
uma educação formal elitizada, sua obra
revela uma erudição inconciliável com
a situação racial de um Brasil que
acabara de abolir oficialmente a prática
escravista.

É a partir da publicação de Missais, livro


de prosas líricas, e de Broquéis, escrito
em versos, ambos publicados em 1893,
que se percebe o desenvolvimento de
uma estética simbolista no Brasil. Seu
trabalho traz grande novidade ao
procedimento literário brasileiro:
aliterações, prolongamentos sonoros,
rompimento com o rigor parnasiano da
métrica, ressonâncias internas, entre
outros.

Carnal e místico

Pelas regiões tenuíssimas da bruma


vagam as Virgens e as Estrelas raras...
Como que o leve aroma das searas
todo o horizonte em derredor perfuma.

Numa evaporação de branca espuma


vão diluindo as perspectivas claras...
Com brilhos crus e fúlgidos de tiaras
as Estrelas apagam-se uma a uma.

E então, na treva, em místicas


dormências,
desfila, com sidéreas latescências,
das Virgens o sonâmbulo cortejo...

Ó Formas vagas, nebulosidades!


Essência das eternas virgindades!
Ó intensas quimeras do Desejo...

(Cruz e Sousa, Broquéis, 1893)

“Carnal e místico” é uma sugestão da


própria dualidade que os simbolistas
pretendem conciliar. A imprecisão e a
nebulosidade trazidas por Cruz e
Sousa — bruma, diluição das
perspectivas, Formas vagas — são
temas característicos do simbolismo,
bem como a sinestesia, evocada no
“leve aroma das searas” que “todo o
horizonte em derredor perfuma”, como
se o autor construísse o poema com
base em sensibilidades diversas. O uso
das maiúsculas para dar valor absoluto
a determinados termos também é um
recurso recorrente do autor.

Afonso Henriques da Costa


Guimarães (1870-1921)

Mais conhecido como Alphonsus de


Guimaraens, o autor latinizou seu nome
em 1894, intenção mística e que o
aproximava dos hinos católicos dos
quais tanto gostava. Quando tinha
apenas 17 anos, faleceu uma prima que
ele muito amava e considerava como
noiva. O episódio deixou-o obcecado
com a temática da morte, que tanto
atravessa seus versos. Há um perene
desencanto com o mundo que se
traduz em lamento mórbido, e que
coexiste com uma temática religiosa,
litúrgica.

Em “Ismália”, talvez seu poema mais


famoso, Alphonsus delineia a dualidade
matéria-espírito, fazendo uso de
símbolos como a Lua, o céu, o mar, o
sonho, o anjo, em sugestão nitidamente
simbolista. Vida e morte, real e
imaginário, claridade e escuridão: os
versos são feitos de antagonismos, do
lado claro e obscuro da humanidade, do
carnal e do transcendente:

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

(Alphonsus de Guimaraens)

Leia mais: Cinco poemas de Alphonsus de


Guimaraens

Augusto de Carvalho
Rodrigues dos Anjos (1884-
1914)

Difícil de encaixar-se em qualquer


movimento literário, estando ao mesmo
tempo fora e acima disso, Augusto dos
Anjos retoma de Cruz e Sousa a
dificuldade de adaptar-se ao cotidiano e
a estrutura de alguns versos. No entanto
a novidade trazida pelo poeta, entendido
por Otto Maria Carpeaux como o mais
original de todos os poetas
brasileiros, era a mistura de uma
terminologia científica com uma obra
permeada por profunda tristeza e
amargura.

Perturbado por uma enorme angústia


metafísica, Augusto dos Anjos
aproxima-se dos simbolistas pela ânsia
da unidade, da superação de todos os
contrastes matéria-espírito. Escreveu
um único livro, intitulado Eu (1912), e
morreu prematuramente, aos 30 anos,
vítima de tuberculose.

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,


Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à
ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —


Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-


los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos)

O vocabulário patológico mistura-se


às aspirações místicas — elementos
químicos convivem com os signos do
zodíaco. O mal-estar constante e
mórbido traduz-se na única resolução
possível: o fim da matéria.

Veja também: Entre o átomo e o cosmo -


cinco poemas de Augusto dos Anjos

Exercícios resolvidos
sobre o simbolismo
1) (Enem)

Cárcere das almas

“Ah! Toda a alma num cárcere anda


presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza


Quando a alma entre grilhões as
liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas


Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,


que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!”

(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa.


Florianópolis: Fundação Catarinense de
Cultura / Fundação Banco do Brasil,
1993.)

Os elementos formais e temáticos


relacionados ao contexto cultural do
simbolismo encontrados no poema
“Cárcere das almas”, de Cruz e Sousa,
são:

a) a opção pela abordagem, em


linguagem simples e direta, de temas
filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e
intimista em relação à temática
nacionalista.
c) o refinamento estético da forma
poética e o tratamento metafísico de
temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico
com a realidade social expressa em
imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura
poética que dispensa a rima e a métrica
tradicionais em favor de temas do
cotidiano.

2) (PUC-Campinas)

"Ah! plangentes violões dormentes,


mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

.........................................................................

Sutis palpitações à luz da lua.


Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão
soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas
gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras
tremem.

.........................................................................

Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."

As estrofes anteriores, claramente


representativas do_____, não
apresentam _____.

Assinale a alternativa que completa


corretamente AS DUAS lacunas
anteriores.

a) Romantismo - sinestesia

b) Simbolismo - aliterações e
assonâncias

c) Romantismo - musicalidade

d) Parnasianismo - metáforas e
metonímias

e) Simbolismo - versos brancos e livres.

Resolução comentada

1. Alternativa c - a poesia de Cruz e


Sousa apoia-se em um trabalho
refinado com a linguagem poética,
que se nota pelo uso dos
decassílabos e pela musicalidade
do poema mencionado. Está
presente o tratamento metafísico
de temas universais, como o
mistério da existência.
2. Alternativa e - o poema é um claro
representante do simbolismo por
sua tendência sinestésica, e não
apresenta versos livres em sua
composição, de rima regular.

Por Luiza Brandino


Professora de Literatura

Gostaria de fazer a referência deste texto em


um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

BRANDINO, Luiza. "Simbolismo"; Brasil


Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/simbolism
Acesso em 23 de outubro de 2023.

Vídeoaulas

Vídeo 1

Lista de exercícios

Exercício 1

(ENEM – 2010)

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,


Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as
liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa.


Florianópolis: Fundação Catarinense de
Cultura / Fundação Banco do Brasil,
1993.)

Os elementos formais e temáticos


relacionados com o contexto cultural do
Simbolismo encontrados no poema
Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:

a) a opção pela abordagem, em


linguagem simples e direta, de temas
filosóficos.

b) a prevalência do lirismo amoroso e


intimista em relação à temática
nacionalista.

c) o refinamento estético da forma


poética e o tratamento metafísico de
temas universais.

d) a evidente preocupação do eu lírico


com a realidade social expressa em
imagens poéticas inovadoras.

e) a liberdade formal da estrutura poética


que dispensa a rima e a métrica
tradicionais em favor de temas do
cotidiano.

Exercício 2

(Mackenzie)

“Ah! plangentes violões dormentes,


mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento…
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
Sutis palpitações à luz da lua.
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão
soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas
gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras
tremem.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”

As estrofes anteriores, claramente


representativas do_____ , não
apresentam _____ .

Assinale a alternativa que completa


corretamente AS DUAS lacunas
anteriores.

a) Romantismo – sinestesia

b) Simbolismo – aliterações e
assonâncias

c) Romantismo – musicalidade

d) Parnasianismo – metáforas e
metonímias

e) Simbolismo – versos brancos e livres

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