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Simbolismo

O império do sonho e da fantasia.


https://www.youtube.com/watch?v=cD9h55Mq-Ns
Contexto histórico-cultural
 Fim do século XIX;
 Contrapõe-se à objetividade dos poetas parnasianos;
 Semelhanças com o Romantismo; retorno à subjetividade, com predomínio das
sugestões;
O que é?
 É possível compreender o simbolismo como uma estética que reagiu
ao cientificismo que acompanhou o desenvolvimento da sociedade
industrial da segunda metade do século XIX;
 Reagindo à sociedade industrial, os simbolistas se refugiam em sua
torre de marfim, buscando uma beleza ideal e intocada. Desejando
salvar o mundo do seu materialismo extremado, identificam-se com a
natureza e a religião (Ocultismo, Espiritismo, Rosa-Cruz), buscando seus
temas na Bíblia e na mitologia;
 Reação contra o Positivismo e o Materialismo;
 Transição do século XIX para o século XX;
 Momento Histórico. Novas descobertas: a lâmpada elétrica, o
fonógrafo, a fotografia de ampla definição, os primeiros carros; o
cinema começava a se desenvolver; nascimento da psicanálise
freudiana (inconsciente); acontecimentos que deram origem à
Primeira Guerra Mundial e à Revolução Russa.
Odilon Redon – pessoas mergulhadas em seus próprios pensamentos -
Retrato de Violette Heymann
Duas jovens entre flores - Redon
 A poesia simbolista expressa a vida interior, a “alma” das coisas, que a
linguagem poética – mais do que qualquer outra – permite alcançar, por
detrás das aparências;
 Sonda os mistérios do mundo e o universo inconsciente por meio de
sugestões, do ritmo musical e do poder encantatório das palavras;
 França: Mallarmé, Baudelaire, Paul Verlaine e Rimbaud;
 Características da poesia simbolista:
Musicalidade
Sugestão:
Uso de sinestesias:
Cromatismos
Uso de maiúsculas alegorizantes
Conflito do EuXMundo e a negação absoluta do
Materialismo, do Cientificismo, do Experimentalismo, do
Positivismo
Associações inconscientes
Uso de reticências
Indicam que o sentido vai além do que é dito;
Indicam imprecisão, sugestão de um pensamento incompleto;

VIOLONCELO
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!... (Camilo Pessanha)
Distanciamento das questões realistas –
descompromisso com o social
Preferência pelo soneto
Pelo culto da rima, pelo ritmo, pela forma, mas sem desprezar as outras formas
estruturais.
Palavras fora de uso – são empregadas
palavras arcaicas
Exercício:
Leia o poema e responda: Vocabulário:
O poema de Cruz e Sousa destaca estímulos Alado: dotado de asas.
sensoriais que trazem sugestões cromáticas.
Explique que estímulos são esses e por que Aromal: aromático.
reforçam a ideia de espiritualidade, Cântico: canto religioso
característica do Simbolismo.”
Cítara: instrumento de cordas parecido com
Siderações (Cruz e Sousa) a lira.
Para as Estrelas de cristais gelados Cortejo: procissão.
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados Etéreo: sublime.
De nuvens brancas a amplidão vestindo… Galgar: elevar-se, subir.
Num cortejo de cânticos alados Rito: prática realizada durante cerimônias
Os arcanjos, as cítaras ferindo, religiosas.
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo… Sideração: influência de um astro na vida de
alguém.
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve, Sideral: relativo aos astros.
Ondas nevoentas de Visões levanta… Turíbulo: vaso em que se queima incenso nas
E as ânsias e os desejos infinitos missas.
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta…
Gabarito:
 Nesse soneto, encontramos elementos que trazem sugestões cromáticas
(relativas às cores). Esses estímulos aparecem nos versos “galgando azuis
e siderais noivados”, “passam das vestes anos troféus prateados”, “as asas
de ouro finamente abrindo…”.
 Uma das características mais marcantes do Simbolismo era a
utilização de vocabulário religioso, como pode ser observado pelo uso
dos vocábulos “cânticos”, “arcanjos”, “incensos”, “eternidade”, que
remetem à religiosidade católica e combinam com o desejo de vida
sublime presente nos textos simbolistas.
 A sonoridade é um recurso estilístico importante na obra simbolista.
O poeta utiliza figuras de construção como a aliteração para dar
musicalidade ao texto. Note-se a intensa repetição do fonema sibilante
/s/: “Para as estrelas de cristais gelados / as ânsias e os desejos”
 As sugestões cromáticas e o vocabulário religioso reforçam a ideia de
transcendência que o poema quer transmitir, a ideia de que os desejos e
as ânsias vão em direção às estrelas.
SIMBOLISMO NO BRASIL
Marco inicial:

 1893 – o poeta Cruz e Sousa lança dois livros:


- Missal (poemas em prosa);
Pequeno livro com as orações principais da missa e freq. com outras rezas
importantes para o católico, que este leva consigo para acompanhar aquela
cerimônia litúrgica.
- Broquéis (poemas).
Pequenos escudos de formato circular.
- Simbolismo não teve no Brasil a mesma recepção calorosa que teve a
poesia parnasiana.
CRUZ E SOUSA
João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo
Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho
que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos
protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.

Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de
promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em
contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns
jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só
consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central.

Casa-se com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a
falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta
contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade,
vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.
Vida Obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,


ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro


a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,


magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos


sei que cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
Antífona*
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras Que brilhe a correção dos alabastros
De luares, de neves, de neblinas! Sonoramente, luminosamente.
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras Forças originais, essência, graça
Formas do Amor, constelarmante puras, De carnes de mulher, delicadezas...
De Virgens e de Santas vaporosas... Todo esse eflúvio que por ondas passa
Brilhos errantes, mádidas frescuras Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
E dolências de lírios e de rosas ...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Indefiníveis músicas supremas, Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Harmonias da Cor e do Perfume... Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Os mais estranhos estremecimentos...
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Flores negras do tédio e flores vagas
Visões, salmos e cânticos serenos, De amores vãos, tantálicos, doentios...
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Fundas vermelhidões de velhas chagas
Dormências de volúpicos venenos Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Infinitos espíritos dispersos, Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Inefáveis, edênicos, aéreos, Passe, cantando, ante o perfil medonho
Fecundai o Mistério destes versos E o tropel cabalístico da Morte...
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades *Antífona: versículo que se diz ou se entoa antes de um
Que fuljam, que na Estrofe se levantem salmo ou de um cântico religioso e depois se canta inteiro ou
E as emoções, todas as castidades se repete alternadamente em coro.
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Sonho branco
De linho e rosas brancas vais vestido,
Sonho virgem que cantas no meu peito!...
És do Luar o claro deus eleito,
Das estrelas puríssimas nascido.

Por caminho aromal, enflorescido,


Alvo, sereno, límpido, direito,
Segues radiante, no esplendor perfeito,
No perfeito esplendor indefinido...

As aves sonorizam-te o caminho...


E as vestes frescas, do mais puro linho
E as rosas brancas dão-te um ar nevado...

No entanto, Ó Sonho branco de quermesse!


Nessa alegria em que tu vais, parece
Que vais infantilmente amortalhado!
Violões que Choram
Violões que choram
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram,
Ah! plangentes violões dormentes, mornos, Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos, E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Bocas murmurejantes de lamento. Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noites de além, remotas, que eu recordo, Noturnamente, entre remagens frias.
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da fantasia bordo, Vozes veladas, veludosas vozes,
Vou constelando de visões ignotas. Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Sutis palpitações à luz da lua. Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Anseio dos momentos mais saudosos, Tudo nas cordas dos violões ecoa
Quando lá choram na deserta rua E vibra e se contorce no ar, convulso...
As cordas vivas dos violões chorosos. Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem, Que esses violões nevoentos e tristonhos
E vão dilacerando e deliciando, São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Rasgando as almas que nas sombras tremem. Para onde vão, fatigadas no sonho,
Almas que se abismaram no mistério.
Harmonias que pungem, que laceram,
ALPHONSUS DE GUIMARAES
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi um poeta brasileiro. Um dos principais representantes
do Movimento Simbolista no Brasil. Marcado pela morte de sua prima Constança – a quem
amava e estava com apenas dezessete anos, sua poesia é quase toda caracterizada pelo
tema da morte da mulher amada. Todos os outros temas que explorou como religião, natureza
e arte, de alguma forma, se relacionam com o mesmo tema da morte.
Sua poesia expressa uma atitude melancólica sobre o tema morte. O sentimento resignado, o
sofrimento e a desesperança estão presentes em seus versos. O seu espiritualismo é voltado para
a religiosidade e o misticismo.
Hão de chorar por ela os cinamomos - Alphonsus de Guimaraens

Hão de chorar por ela os cinamomos,


Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,


Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,


Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...


E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"
A Passiflora
A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.
Quantas mãos a colhê-la, e quantos seios nus
Vêm, suaves, aninhá-la em queixas e lamentos!
Ao tristonho clarão dos poentes sonolentos,
Sangram dentro da flor os emblemas da Cruz...
Nas noites brancas, quando a lua é toda círios,
O seu cálice é como entristecido altar
Onde se adora a dor dos eternos Martírios...
Dizem que então Jesus, como em tempos de outrora,
Entre as pétalas pousa, inundado de luar...
Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!
Quadro comparativo – Parnasianismo e
Simbolismo
Exercício:
Música da Morte (Cruz e Souza)

A música da Morte, a nebulosa, a) O eu lírico trata do tema de maneira sugestiva


e subjetiva ou propõe uma definição concreta
estranha, imensa música sombria, e objetiva para a morte? Justifique sua resposta
passa a tremer pela minh'alma e fria com elementos do texto.
gela, fica a tremer, maravilhosa... b) As impressões do eu lírico sobre a “Música da
morte” se opõem, são contrárias umas às
outras. Identifique essas contradições e explique
Onda nervosa e atroz, onda nervosa, o sentido que elas constroem no poema.
letes sinistro e torvo da agonia, c) Os poetas simbolistas se interessavam pelos
recresce a lancinante sinfonia níveis mais profundos da mente humana. Como
esse interesse é expresso no texto? Justifique sua
sobe, numa volúpia dolorosa...
resposta com elementos do texto.
d) Identifique uma passagem no texto que explora
Sobe, recresce, tumultuando e amarga, a linguagem sinestésica e indique os órgãos
tremenda, absurda, imponderada e larga, sensoriais neles envolvidos.
de pavores e trevas alucina...

E alucinando e em trevas delirando,


como um ópio letal, vertiginando,
os meus nervos, letárgica, fascina...
Gabarito:
a) Trata do tema de maneira subjetiva, por meio de sugestões, em que associa a morte a uma
música que lhe desperta diferentes sentimentos e sensações: “gela”, “estranha”, “maravilhosa”,
“onda nervosa”, “absurda”, “tremenda” etc.
b) A “Música da Morte” é um “ópio letal” que “fascina”; é “imensa música sombria”, mas
“maravilhosa”; é prazer e dor (“volúpia dolorosa”). Essas faces opostas expressam a atração e, ao
mesmo tempo, o temor que a morte desperta no eu lírico.
c) Para o eu lírico, a “Música da Morte” toca os níveis mais profundos de sua mente: ela “alucina”
“como um ópio letal”, provoca vertigens (“vertiginando”) e fascina os seus “nervos”.
d) “Música da Morte... Passa a tremer pela minh’alma e fria/gela” (audição e tato).
João da Cruz e Sousa - De Lá Pra Cá
https://www.youtube.com/watch?v=z72-Gf6ch4c

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